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Era Vargas é o nome que se dá ao período em que Getúlio Vargas governou o Brasil por 15
anos, de forma contínua (de 1930-1945). Esse período foi um marco na história brasileira, em
razão das inúmeras alterações que Getúlio Vargas fez no país, tanto sociais quanto
econômicas. Há também historiadores que admitem que a Era Vargas compreende todo o
período do primeiro governo até o fim do segundo governo de Getúlio Vargas (1930-1954).
Biografia resumida: Getúlio Dornelles Vargas nasceu em 19 de abril de 1882, na cidade de São
Borja (Rio Grande do Sul) e faleceu em 24 de agosto de 1954, na cidade do Rio de Janeiro (RJ).
Foi presidente do Brasil entre os anos de 1930 a 1945 e de 1951 a 1954, tendo sido o
presidente que mais tempo governou o Brasil.
A crise da República Velha e o Golpe de 1930
Em 1930, ocorreram eleições para presidência da República e, de acordo com a Política do
Café-com-leite, era a vez de um político mineiro, do PRM, assumir a cadeira presidencial.
Porém, o Partido Republicano Paulista, do presidente Washington Luís, indicou um político
paulista, Júlio Prestes, à sucessão, rompendo com o Café-com-leite. Descontente, o PRM se
juntou com políticos da Paraíba e do Rio Grande do Sul (formou-se a Aliança Liberal) para
lançar à presidência o gaúcho Getúlio Vargas.
Júlio Prestes saiu vencedor nas eleições de abril de 1930, deixando descontentes os políticos
da Aliança Liberal, que alegaram fraudes eleitorais. Liderados por Getúlio Vargas, políticos da
Aliança Liberal e militares insatisfeitos, provocaram a Revolução de 1930. Foi o fim da
República Velha e início da Era Vargas.
A Era Vargas pode ser dividida em quatro momentos:
➢ Governo Provisório: 1930-1934
➢ Constitucional: 1934-1937
➢ Estado Novo: 1937-1945
➢ Período democrático e Nacionalista: 1951-1954
GOVERNO PROVISÓRIO (1930-1934)
Logo no início de seu governo, Vargas buscou romper os laços entre o Estado e as elites
tradicionais que governavam até então. Para fazer isso, ele adotou políticas de centralização
do poder, como o fechamento do Congresso, e a abolição da Constituição de 1891. A ideia do
novo Presidente era de reestruturar o Estado, para romper completamente com os antigos
grupos poderosos que o controlavam.
Também com esse intuito, Vargas adotou medidas de substituição dos antigos cargos políticos,
vinculados às elites tradicionais. Os governadores dos estados foram substituídos por pessoas
nomeadas pelo novo Presidente, os chamados interventores. Em geral eram nomeados para
esse cargo tenentes que participaram da Revolução de 30, como forma de compensá-los por
sua participação no movimento. Com essa substituição, pretendia-se aniquilar o poder local
dos coronéis (que até então governavam através da chamada “política dos governadores”).
Como o nome desse período indica, a expectativa era de que o governo fosse apenas
transitório e convocasse novas eleições rapidamente. O descumprimento dessa expectativa,
juntamente com as ousadas transformações implementadas por Vargas, provocaram reações
das oligarquias locais. Em São Paulo as elites tradicionais convocaram a população para um
levante contra o governo, pedindo a realização de novas eleições e a convocação de uma
Constituinte. Esse movimento ficou conhecido como
“Revolução Constitucionalista de 32”.
O levante paulista foi suprimido pelo Governo, mas suas demandas foram parcialmente
atendidas. Pressionado pelo movimento paulista, Vargas convocou uma Assembleia
Constituinte para a elaboração de uma nova carta Constitucional, promulgada em 1934.
A Constituição de 1934 foi inovadora em seu caráter liberal e progressista, que pretendia uma
expansão dos direitos sociais para a população. Uma das principais novidades dessa
Constituição foi a garantia de direitos trabalhistas, com o estabelecimento da jornada de
trabalho de 8 horas, das férias e da previdência social. Destaca-se também a mudança na
legislação eleitoral, com o estabelecimento do voto secreto e ampliação da participação
política, através da implementação do voto feminino. Por fim, também é evidente o caráter
nacionalista da Constituição, com políticas de defesa de riquezas naturais.
GOVERNO CONSTITUCIONAL (1934-1937)
O governo constitucional foi a fase do período em que Getúlio Vargas esteve na presidência
que abrangeu os anos entre 1934 e 1937. Essa fase do governo de Vargas, apesar do nome, foi
marcada pela radicalização da política brasileira a partir da atuação de diversos grupos
políticos, bem como pela centralização do poder aplicada aos poucos, o que levou à
construção do Estado Novo.
Governo constitucional e a radicalização da política
O governo constitucional de Getúlio Vargas foi iniciado em meio ao clima de grande
expectativa a respeito da democratização da nação. Essa expectativa era resultado da
promulgação da Constituição de 1934, considerada, em partes, bastante avançada. A
expectativa com o futuro do país acontecia principalmente porque essa Constituição criava
prerrogativas que limitavam o poder do Executivo.
Vargas havia sido eleito em eleição indireta para um mandato de quatro anos, que, portanto,
teria fim em 1938. Diferentemente do que se esperava em 1934, a sociedade brasileira
caminhou para a radicalização. Isso refletia a tendência mundial em que as democracias
representativas e liberais estavam em franca decadência e regimes autoritários surgiam por
todo lado.
Além disso, o presidente Vargas em seu projeto de poder também tinha intenções de
radicalizar a forma que governava o país. Esse período da era varguista foi marcado por ações
que caminhavam no sentido de aumentar os poderes presidenciais.
Diferentes fases do governo Vargas, segundo o cartunista Belmonte (Benedito Carneiro Bastos
Barreto)
Grupos políticos
O cenário da política nacional radicalizou-se, e grupos políticos surgiram como reflexo das duas
tendências políticas que estavam em evidência no mundo. A década de 1930 ficou marcada
pelos regimes ditos totalitários, e isso refletia o sucesso de ideais que não valorizavam a
democracia e nem o liberalismo econômico – as tendências políticas e econômicas vigentes
anteriormente. O Brasil refletiu isso com grupos que à direita e à esquerda foram vistos pelos
historiadores como sinais da radicalização e polarização da nossa política.
Na extrema-direita, surgiu a Ação Integralista Brasileira (AIB), liderada por Plínio Salgado. Os
integralistas surgiram no meio do movimento constitucionalista que atingiu São Paulo em
1932. O Integralismo refletia a influência dos fascismos europeus no Brasil, sobretudo o
italiano. Os integralistas vestiam-se com uniformes com característica militar na cor verde,
organizavam grandes encontros públicos e formavam milícias, que agiam violentamente
contra grupos políticos da esquerda.
Os integralistas souberam explorar a insatisfação e o medo das classes médias baixas com as
dificuldades econômicas – fruto da Grande Depressão – e conquistaram milhares de adeptos.
A Ação Integralista Brasileira (AIB), sob o lema “Deus, pátria e família”, defendia um governo
forte e centralizado, o fim das liberdades democráticas e a perseguição ao comunismo. A
inspiração fascista era bastante visível: os integralistas utilizavam uniformes de aparência
militar com o símbolo ∑ nos ombros, e faziam cumprimentos com os braços estendidos, em
referência ao nazismo. Do lado da esquerda, formou-se a Aliança Nacional Libertadora (ANL),
apoiada no Partido Comunista do Brasil (PCB). A ANL inspirava-se no comunismo soviético,
àquela época controlado por Josef Stalin, e aqui no Brasil posicionava-se como uma frente de
combate ao fascismo. A ANL acabou tornando-se o principal articulador da luta revolucionária
defendida pelos comunistas daquela época.
O grande nome da ANL era o de Luís Carlos Prestes, nomeado presidente de honra do partido
e grande nome da luta popular no Brasil desde que havia liderado a Coluna Prestes, na década
de 1920.
Prestes era um tenentista que lutou contra as oligarquias e aderiu ardorosamente ao
comunismo, inclusive tendo morado alguns anos em Moscou.
Prestes foi mandado de volta para o Brasil como líder da ANL e como grande articulador de um
movimento revolucionário para tomar o poder no Brasil. Além disso, a ANL tinha como
objetivos realizar a reforma agrária no país e garantir liberdades individuais e direitos sociais.
A ANL acabou sendo, com membros do PCB, protagonista de um movimento que eclodiu em
1935 e que teve como objetivo derrubar Getúlio Vargas do poder. Esse movimento recebeu o
nome de Intentona Comunista e aconteceu entre 23 e 27 de novembro de 1935 em três
cidades brasileiras: Recife, Natal e Rio de Janeiro. A Intentona Comunista foi um grande
fracasso, pois se resumiu a um levante de militares de esquerda. Como consequência da
Intentona, Vargas ampliou os seus esforços no sentido de centralizar o poder.
O Plano Cohen
Segundo o que fora previsto pela constituição de 1934, o presidente Getúlio Vargas deveria
ceder o posto presidencial ao fim do quarto ano de mandato. A partir daquele momento, a
população seria imputada da responsabilidade de escolher diretamente o próximo
representante político da nação.
Entretanto, as coisas não se desenvolveram de forma tão pacata, como o que fora estipulado
por nossas leis.
No ano de 1937, último do mandato de Vargas, os partidos e grupos políticos se
movimentavam a favor da escolha de um novo presidente. Getúlio deixava tudo transcorrer
tranquilamente, reafirmando sua posição de defensor da democracia nacional. Entretanto, nos
fins daquele mesmo ano, o general Góes Monteiro fez o anúncio sobre a descoberta de um
terrível plano revolucionário arquitetado pelos comunas brasileiros, o Plano Cohen. Conforme
a declaração oficial, o plano envolvia a realização de várias ações violentas que executariam o
sequestro e assassinato de várias autoridades políticas importantes da época. A publicação do
ameaçador documento foi suficiente para que Getúlio Vargas declarasse Estado de Guerra
contra a “ameaça vermelha”. Já nesse momento, vários integrantes do movimento comunista
e outros opositores do regime varguista foram severamente perseguidos.
Logo em seguida, respaldado pelo apoio de algumas lideranças, o presidente ordenou que o
Exército cercasse o Congresso Nacional. Naquele mesmo dia, Getúlio Vargas anunciou a
criação de uma Nova Carta Constitucional (Constituição) que daria início ao chamado Estado
Novo. Segundo o texto inédito, as atribuições do Poder Executivo seriam ampliadas e a ação
dos partidos extinta. Dessa forma, uma situação de alarde foi capaz de fortalecer a
permanência de Vargas na presidência.
O Plano Cohen foi destacado novamente quando, em 1945, autoridades militares confessaram
que o documento era uma grande farsa arquitetada para prolongar a vida política de Vargas.
Na verdade, ele foi escrito pelo militante integralista Olímpio Mourão Filho. A intenção inicial
dele era promover um estudo pelo qual os integralistas pudessem supor como um golpe de
esquerda pudesse controlar o país.
Entretanto, o documento caiu nas mãos de influentes integrantes do Estado-Maior brasileiro.
Os integralistas, diretamente envolvidos na construção do Estado Novo, também foram
indagados sobre a falsidade do Plano Cohen. Plínio Salgado, mais importante figura do
movimento, também confessou sobre a falsidade do plano. Como justificativa, disse que
sustentou a farsa para que os membros do Exército não fossem brutalmente desmoralizados
no país. Ao fim, a invenção de uma ameaça inexistente acabou moldando uma das fases da
República Brasileira.