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Como Funciona

Aparelhos, Circuitos e Componen-

tes Eletrônicos

Volume 29

Newton C. Braga

Patrocinado por
São Paulo - 2023

Instituto NCB
www.newtoncbraga.com.br
leitor@newtoncbraga.com.br

Diretor responsável: Newton C. Braga


Coordenação: Renato Paiotti
Revisão: Marcelo Braga
Impressão: Agbook
Como Funciona - Volume 29
Autores: Newton C. Braga
São Paulo - Brasil - 2023
Palavras-chave: Eletrônica - Como Funciona
- componentes eletrônicos

Copyright by
INSTITUTO NEWTON C BRAGA.
1ª edição
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução
total ou parcial, por qualquer meio ou processo, espe-
cialmente por sistemas gráficos, microfílmicos, foto-
gráficos, reprográficos, fonográficos, videográficos,
atualmente existentes ou que venham a ser inventa-
dos. Vedada a memorização e/ou a recuperação total
ou parcial em qualquer parte da obra em qualquer
programa juscibernético atualmente em uso ou que
venha a ser desenvolvido ou implantado no futuro.
Essas proibições aplicam-se também às característi-
cas gráficas da obra e à sua editoração. A violação
dos direitos autorais é punível como crime (art. 184 e
parágrafos, do Código Penal, cf. Lei nº 6.895, de
17/12/80) com pena de prisão e multa, conjuntamen-
te com busca e apreensão e indenização diversas (ar-
tigos 122, 123, 124, 126 da Lei nº 5.988, de
14/12/73, Lei dos Direitos Autorais).
Índice

Apresentação da Série..................................6
Ignição por Descarga Capacitiva................12
Os Amplificadores Magnéticos...................36
O Que São Frequencímetros.......................52
Medidas do Ruído Ambiente.......................66
Um Osciloscópio de Amostragem de Tempo
Equivalente e um Osciloscópio de Tempo
Real ?..........................................................87
Pontes Para Sensores...............................101
O Plotter de Bode.....................................119
Medidores de Isolamento.........................136
Frequencímetros.......................................158
Conheça os Prescalers..............................183
Medida de Distâncias Através de Sons.....199
Multímetro no Automóvel.........................220
Multímetro na Reparação de TV...............241
Radiotelescópio.........................................258
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Apresentação da
Série

Estamos em nosso vigésimo primeiro


nono desta série de livros que levamos aos
nossos leitores sob patrocínio da Mouser Elec-
tronics (br.mouser.com). Esta série é baseada
na grande quantidade de artigos que escreve-
mos ao longo de nossa carreira como escritor
técnico e que publicamos em diversas revis-
tas, folhetos, livros, cursos e no nosso próprio
site tanto em português, como em espanhol e
em inglês. São artigos que representam mais
de 50 anos de evolução das tecnologias ele-
trônicas e, portanto, têm diversos graus de

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Newton C. Braga

atualidade. Os mais antigos foram analisados


sendo feitas alterações e atualizações que jul-
gamos necessárias. Outros pela sua finalidade
didática, tratando de tecnologias antigas e
mesmo de ciência (matemática, física, quími-
ca e astronomia) não foram muito alterados a
não ser pela linguagem, que sofreu modifica-
ções se bem que em alguns casos mantivemos
os termos originais da época em que foram
escritos. Não estranhem se alguns deles tive-
ram ainda a ortografia antiga que foi mantida
por motivos históricos. Os livros da série con-
sistirão numa excelente fonte de informações
para os nossos leitores.
Os artigos têm diversos níveis de abor-
dagem, indo dos mais simples que são indica-
dos para os que gostam de tecnologia, mas
que não possuem uma fundamentação teórica
forte ou ainda não são do ramo. Neles aborda-
mos o funcionamento de aparelhos de uso co-

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

mum como eletroeletrônicos, não nos apro-


fundando em detalhes técnicos que exijam co-
nhecimento de teorias que são dadas nos cur-
sos técnicos ou de engenharia.
Outros tratam de componentes e circui-
tos, ideais para os que gostam de eletrônica e
já possuem uma fundamentação quer seja es-
tudando ou praticando com as montagens que
descrevemos em nossos artigos. Estes já exi-
gem um pequeno conhecimento básico da ele-
trônica que também podem ser obtidos em ar-
tigos de nosso site, livros e os cursos EAD. Es-
tes artigos também vão ser uma excelente
fonte de consulta para professores que dese-
jam preparar suas aulas e alunos que desejam
enriquecer seus trabalhos
Temos ainda os artigos teóricos que tra-
tam de circuitos e tecnologias de uma forma
mais profunda com a abordagem de instru-
mentação e exigindo uma fundamentação téc-

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Newton C. Braga

nica mais alta. São indicados para os técnicos


com maior experiência, engenheiros e profes-
sores.
Também lembramos que no formato vir-
tual o livro conta com links importantes, ví-
deos e até mesmo pode passar por atualiza-
ções on-line que faremos sempre que julgar-
mos necessário.
Neste volume trataremos de assuntos
técnicos variados, sendo especialmente indi-
cado aos que já possuam um conhecimento
técnico, que estejam estudando ou que preci-
sam de material de consulta para suas aulas
ou trabalhos práticos.
Trata-se de mais um livro que certamen-
te será importante na sua biblioteca de con-
sulta, devendo ser carregado no seu tablet,
laptop ou celular para consulta imediata. Os
livros podem ser baixados gratuitamente no
nosso site e um link será dado para os que de-

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

sejarem ter a versão impressa pagando ape-


nas pela impressão e frete.

Newton C. Braga

Nota sobre a ortografia: Os artigos que cole-


tamos para fazer parte das edições da série Como
Funcionam foram escritos a partir de 1965. Desde
aquela época, a língua portuguesa passou por mui-
tas transformações, como a perda do trema em fre-
quência, do acento em polo, termos que foram subs-
tituídos por equivalentes modernos, tanto em inglês
como em português. O próprio uso da vírgula mu-
dou. Assim, em muitos casos, ao recuperar os arti-
gos dependendo da época, mantivemos a forma ori-
ginal (pelo valor histórico) como também fizemos al-
terações para o português moderno. Assim, eventu-
ais “erros” que o leitor encontre, não são erros, mas
a manutenção da forma original. Para usar estes ar-
tigos em eventuais trabalhos, o leitor estará livre
para manter a forma original, indicando isso, ou de
fazer alterações para o português moderno, onde se
fizer necessário, com a devida observação.
O autor

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Newton C. Braga

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Ignição por Descar-


ga Capacitiva

A eletrônica automotiva vem se tornan-


do cada dia mais complexa, com microproces-
sadores controlando não só o sistema de igni-
ção como muitas outras funções. Assim, os
profissionais desse setor, devem cada vez
mais conhecer eletrônica profundamente, e
estar por dentro das principais técnicas usa-
das em todos os circuitos de um carro.

Nota: Este artigo faz parte de nos-


so livro Aprenda Eletrônica – Eletrônica
Automotiva

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Newton C. Braga

Para entender um pouco mais das van-


tagens da ignição por descarga capacitiva, va-
mos recordar o funcionamento da ignição tra-
dicional, com ênfase para a intensidade da fa-
ísca da vela. A ignição eletrônica, que era sim-
ples nos veículos antigos se aperfeiçoou e
hoje temos circuitos eletrônicos bastante com-
plexos para produzir as faíscas responsáveis
pelo funcionamento de um motor.
Num motor a combustão interna, como
os encontrados em automóveis e outros veícu-
los, conforme vimos, uma faísca elétrica é a
responsável pela explosão do combustível no
interior do cilindro, conforme mostra a figura
1.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Figura 1 – A faísca da vela provoca a ignição do


combustível no cilindro.

Nos carros antigos, usando sistemas


tradicionais, o circuito do sistema de ignição
era muito simples. A energia da bateria era
comutada por uma chave rotativa acoplada ao
eixo do motor. Essa chave, denominada “plati-
nado” abria e fechava seus contatos exata-
mente no instante em que a faísca deveria ser
produzida, conforme a posição do pistão cor-

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Newton C. Braga

respondente, conforme já analisamos no capí-


tulo anterior.
Logicamente, a tensão de 12 V da bate-
ria era insuficiente para se produzir uma faís-
ca capaz de detonar a mistura ar-combustível
no interior dos cilindros. Assim, os pulsos de
corrente produzidos pelo platinado eram apli-
cados ao enrolamento primário de uma bobi-
na de alta tensão. Restava ainda, levar a alta
tensão para a vela do cilindro correspondente.
Essa função é feita pelo distribuidor, que
nada mais é do que uma chave rotativa de alta
tensão. Girando em sincronismo com o motor,
ele tem por função levar a alta tensão à vela
que precisa produzir a faísca naquele instan-
te.
Operando com altas tensões, da ordem
de milhares de volts, que escapam com extre-
ma facilidade, o distribuidor é um ponto sensí-
vel do sistema de ignição. Qualquer penetra-

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

ção de umidade ou sujeira provoca fugas ou


faíscas internas nesse componente, desviando
a energia da vela, levando o motor a falhas e
mesmo paralisações. Os elementos finais do
sistema são as velas.
Elas possuem eletrodos distanciados de
tal forma a permitir que entre eles salte uma
faísca quando a alta tensão do sistema lhes é
aplicada, conforme mostra a figura 2.

Figura 2 – Os eletrodos da vela de ignição

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Newton C. Braga

Essa faísca é justamente a responsável


pela queima ou detonação da mistura ar-com-
bustível no interior do cilindro. Com essa
queima, a expansão dos gases produz a força
que movimenta os cilindros e o motor. Eviden-
temente, trata-se de uma solução simples,
mas que tem suas desvantagens:

a) A duração da faísca não é constante, e


nas altas rotações do motor, sua dura-
ção tende a ser menor, provocando me-
nor rendimento. O motor não mantém o
torque nas altas rotações, conforme
mostra o gráfico da figura 3.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Figura 3 – Variação do torque com a rotação.

b) O instante em que a faísca é aplicada ao


circuito também muda com a rotação,
tornando a curva de rendimento do mo-
tor variável. Isso afeta também o consu-
mo de combustível.

A necessidade de se obter motores com


altos rendimentos, inclusive nas altas rota-
ções, menor nível de poluição com a queima
total do combustível, exige que um sistema
mais sofisticado seja usado. Isso pode ser con-
seguido com os sistemas por descarga capaci-

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Newton C. Braga

tiva. A ideia básica da ignição por descarga


capacitiva continua a mesma: ”gerar alta ten-
são para as velas” a partir da bateria. Mas, o
modo como isso é feito é diferente.

Nota: Carro elétrico


Os carros elétricos não possuem
velas e não precisam de alta tensão. As-
sim, quando estes veículos se tornarem
comuns, substituindo os carros com mo-
tores a combustão, o sistema de ignição
vai deixar de existir

A Ignição por descarga Capa-


citiva
Na figura 4 temos o diagrama de blocos
de um sistema de ignição capacitiva convenci-
onal.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Figura 4 – Diagrama de blocos de um sistema de ig-


nição por descarga capacitiva.

Na entrada, temos um circuito inversor


que eleva os 12 V da bateria do veículo para
uma tensão contínua entre 200 e 600 V de-
pendendo do circuito e da aplicação. Normal-
mente são usados pares de transistores de po-
tência formando osciladores em contrafase
com realimentação direta pelo transformador,
ou circuitos com MOSFETs de Potência, ou
transistores bipolares, excitados por oscilado-
res com circuitos integrados.
Na figura 5 temos uma configuração
típica do setor inversor de um sistema de igni-
ção capacitiva convencional.

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Newton C. Braga

Figura 5 – Circuito inversor de uma ignição por des-


carga capacitiva.

Este circuito nada mais do que um osci-


lador de baixa frequência, operando em al-
guns quilohertz de modo que no secundário
do transformador seja obtida uma alta tensão
alternada. Esta alta tensão é retificada de
modo a pode ser usada para carregar o capa-
citor de alta tensão. Na prática, os osciladores

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

usados nestes inversores podem ter as mais


diversas configurações, sendo comum os Har-
tley e os osciladores em contrafase, como
este.
Observe que esses transistores traba-
lham numa condição-limite de corrente e ten-
são, já que na comutação pulsos de alta ten-
são são retornados pelos enrolamentos do
transformador. Assim, os transistores usados
nesses circuitos são normalmente tipos espe-
ciais com características de alta corrente e
alta tensão. Na prática, por trabalharem nes-
sas condições-limite, esses transistores são
componentes bastante sujeitos à queimas. A
alta tensão gerada pelo inversor é usada para
carregar um capacitor. Esse capacitor entre
470 nF e 4 uF tipicamente determina a “ener-
gia” de cada faísca. Em outras palavras, é a
energia (em milijoules) armazenada nesse ca-

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Newton C. Braga

pacitor que vai ser aplicada ao transformador


de alta tensão para resultar na faísca.
Entre em seguida em jogo, o sistema
comutador que deve fazer com que a faísca
seja produzida exatamente no instante em
que ela é necessária. Esse circuito leva por
base um sensor da posição do eixo do motor
que pode ser de diversos tipos. Uma possibili-
dade muito usada é usar um sensor de efeito
Hall, pelo seu campo magnético, conforme
mostra a figura 6.

Figura 6 – O gerador de pulsos usando um sensor


Hall.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

A cada passagem é produzido um pulso


de comando que ativa o circuito de controle
de produção da faísca. Outra possibilidade,
mostrada na figura 7, que já vimos ao estudar
a ignição assistida com este componente, e
detectada por sensores magnéticos é a que
aproveita ressaltos no eixo do motor.

Figura 7 – Gerador de pulsos usando sensor induti-


vo (bobina).

Quatro ressaltos ou dentes no motor


produzem quatro pulsos por volta, num motor
de quatro cilindros. Veja que o fato de não ha-
ver contatos nesse sistema, sua eficiência e

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Newton C. Braga

durabilidade são muito maiores. Nos sistemas


antigos, com platinados, além da necessidade
de troca periódica, pois seus contatos desgas-
tavam-se e queimavam-se, sempre existe o
problema da falha mecânica devido a diversos
fatores. Os sinais dos sensores são levados ao
bloco comutador propriamente dito que, na
maioria das aplicações, consiste num SCR. O
SCR forma com o primário da bobina de igni-
ção e o capacitor num circuito fechado, con-
forme mostra a figura 8.

Figura 8 – O disparo do SCR provoca a descarga do


capacitor.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

A cada pulso de comando do sensor o


SCR liga provoca a descarga do capacitor
através do primário da bobina de ignição, que
forma o bloco seguinte. Veja que mesmo tra-
balhando com altas tensões e uma corrente de
descarga intensa, o SCR não é um componen-
te tão crítico nesse tipo de projeto. A bobina
de ignição consiste num autotransformador
que gera tensões entre 5 000 e 20 000 volts
tipicamente. Nos veículos de competição, essa
tensão pode ser ainda maior. O elemento final
do circuito é o conjunto de velas onde as faís-
cas são produzidas.

Topologias
Diversas são as possibilidades de se im-
plementar os circuitos dos blocos que mostra-
mos nas aplicações práticas. Assim, na figura
9 mostramos uma topologia para circuito de

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Newton C. Braga

disparo em que um diodo antiparalelo com o


SCR é acrescentado.

Figura 9 – Ligação do diodo antiparalelo.

A finalidade desse diodo é conduzir os


semiciclos negativos que são gerados na co-
mutação quando o campo magnético da bobi-
na se contrai. Nessas condições temos uma
corrente no circuito conforme a mostrada na
figura 10.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Figura 10 – Formas amortecidas do sinal na bobina,


SCR e no diodo.

Uma segunda topologia também encon-


trada nas aplicações práticas é a mostrada na
figura 11 em que o diodo é ligado em paralelo
com a bobina.

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Newton C. Braga

Figura 11 – Topologia com diodo em paralelo com a


bobina.

Nesse caso, o diodo produzindo a forma


de onda mostrada na figura 12.
Um circuito quase que completo para
um sistema de ignição, como os encontrados
em veículos e que faz uso de um sensor mag-
nético (uma bobina) é mostrado na figura 13.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Figura 12 – Forma de onda no circuito.

Figura 13 – Um circuito com um sensor magnético

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Newton C. Braga

A forma de onda produzida pelo sensor


e que dispara o circuito é mostrada na figura
14.

Figura 14 – Forma de onda no sensor de disparo.

Esse circuito pode fazer uso de diodos


de 400 V em lugar dos circuitos convencionais
que usam diodos de 1 000 V. Nos picos positi-
vos da tensão retificada, o capacitor se carre-
ga. Um circuito completo de uma ignição por
descarga capacitiva comercial da Siemens, é
mostrado na figura 15.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Figura 15 – Ignição por descarga capacitiva para 6 e


12 V da Siemens

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Newton C. Braga

Microcontroladores
Nos veículos modernos os pontos de dis-
paro dos circuitos de ignição não são determi-
nados apenas pela posição do rotor do motor.
Outros fatores como a aceleração que está
sendo impressa pelo acionamento do pela, a
velocidade, a própria inclinação da pista, tem-
peratura do motor, etc. devem ser levados em
conta e para essa finalidade existe o micro-
processador.
Conforme mostra a figura 16 o controle
do sistema de ignição e de injeção de combus-
tíveis estão ligados a um bloco microcontrola-
do onde os sinais de diversos sensores são
responsáveis pelo envio de informações. Nos
próximos capítulos analisaremos o controle
das diversas funções de um veículo por um
microcontrolador.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Figura 16 – Diagrama de blocos de um sistema de


ignição microcontrolado.

Mais do que isso, cada vela tem um cir-


cuito de disparo independente, o que pode le-
var a topologias conforme a mostrada na figu-
ra 17.

Figura 17 – sistema de ignição com circuitos de dis-


paro independentes.

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Newton C. Braga

Manutenção
A manutenção de um sistema de ignição
por descarga capacitiva não é difícil, princi-
palmente se levarmos em conta que os com-
ponentes que mais queimam são os semicon-
dutores de potência, e esses são justamente
componentes discretos que podem ser substi-
tuídos com certa facilidade.
Assim, a medida das tensões nos diver-
sos pontos, o teste individual dos componen-
tes e a verificação dos sinais de comando, par-
tindo-se do conhecimento do princípio de fun-
cionamento de um sistema podem ajudar mui-
to na descoberta de eventuais falhas. O osci-
loscópio pode mostrar as formas de onda no
inversor e nos sensores enquanto um simples
multímetro ajuda a conferir as tensões nos di-
versos pontos.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Os Amplificadores
Magnéticos

Quando analisamos a história da ele-


trônica, normalmente colocamos na sequência
básica de tecnologias o início com componen-
tes passivos, depois as válvulas, os transisto-
res e agora a era dos circuitos integrados com
vista para a eletrônica quântica. Mas, não fal-
ta nada nessa sequência? É o que veremos
neste artigo em que viajamos ao passado e va-
mos descobrir que no tempo das válvulas já
havia uma tecnologia paralela, que ficou um
pouco esquecida, a dos amplificadores mag-
néticos.

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Newton C. Braga

A ideia de se poder amplificar sinais


elétricos não é nova. Na verdade, ela já exis-
tia muito antes das válvulas e mesmo de se
ter início a era do rádio. Segundo documenta-
ção antiga, a ideia de se ter um componente
com o qual seria possível controlar grandes
potências a partir de sinais de pequenas po-
tências já era analisada em 1888, se bem que
o nome amplificador ainda não era usado.
A ideia era usar núcleos saturáveis no
controle de máquinas elétricas, principalmen-
te de uso pesado, como ocorria com equipa-
mentos usados em navios, feitos desde 1900.
Com a chegada das válvulas, as pesquisas no
sentido de se utilizar núcleos magnéticos para
o desenvolvimento de circuitos de controle fo-
ram reduzidas, pois as válvulas pareciam ter
melhor desempenho nessa função.
As pesquisas feitas na época mostram
que, segundo se indica, foram os alemães que

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

inventaram os amplificadores magnéticos,


mas hoje essa invenção é atribuída aos ameri-
canos. A descoberta dos retificadores de selê-
nio parece ter contribuído para a ampliação
do uso desses amplificadores. O fato é que os
alemães usaram na primeira metade do sécu-
lo passado amplificadores magnéticos em sis-
temas estabilizadores para canhões, pilotos
automáticos, controle de servos, mísseis inclu-
sive no controle de estabilizadoras na famosa
bomba voadora V2. (Figura 1)

Figura 1 – A V2 usava estabilizadores controlados


por amplificadores magnéticos – imagem da internet

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Newton C. Braga

Segundo consta, as aplicações civis dos


amplificadores magnéticos também se esten-
deram a computadores, caminhões, locomoti-
vas e até no controle de linhas de transmissão
envolvendo potências que chegavam a 50 000
kVA. Consta também que na época que vai do
início do século até 1950, muitos países fize-
ram esforços no sentido de desenvolver tecno-
logias com esse tipo de componente que não
usava tubos de vácuo e bem materiais semi-
condutores.
Dizem que os esforços alemães na se-
gunda guerra para desenvolver essa tecnolo-
gia estava na fragilidade da válvula e sua me-
nor durabilidade quando comparada aos am-
plificadores magnéticos. Os próprios america-
nos, durante a segunda guerra retomaram as
pesquisas com esta tecnologia, chegando a
usá-los em radares, computadores e outros
circuitos. Mas, o que é afinal um amplificador

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

magnético? Um componente de uma tecnolo-


gia disruptiva que ainda pode ser usado em
nossos dias?

O amplificador magnético
Para entender como funciona este tipo
de componente, podemos partir de uma analo-
gia hidráulica. Podemos controlar um fluxo de
água que seja capaz de exercer uma grande
pressão através de uma válvula que possa ser
ativada com uma pequena pressão, conforme
mostra a figura 2.

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Newton C. Braga

Figura 2 – Válvula de controle hidráulico

Com uma pequena pressão podemos en-


tão controlar um fluxo com uma pressão mui-
to maior. É segundo esse princípio que funcio-
nam os freios hidráulicos dos automóveis.
Mas, podemos transferir esse princípio aos
circuitos eletrônicos, partindo de uma confi-
guração simples de corrente alternada mos-
trada na figura 3.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Figura 3 – O circuito de corrente alternada

Se tivermos uma bobina em série com


uma carga, conforme mostra a figura, sabe-
mos que a indutância dessa bobina represen-
tará uma oposição à passagem da corrente
que chega até a carga. Com maior indutância
temos menos potência a carga e com menor
indutância teremos maior potência. Mas, o im-
portante é que podemos controlar essa indu-
tância com a movimentação de um núcleo no
interior da bobina. Assim, com pequeno esfor-
ço, podemos controlar a potência aplicada a
carga, o que representa um ganho de potên-
cia.

41
Newton C. Braga

Neste caso, o que temos é o controle


pela presença do núcleo, com sua movimenta-
ção, ou seja, controlamos corrente elétrica
com força mecânica. No entanto, numa aplica-
ção mais eficiente, o que podemos fazer é
usar um núcleo fixo e controlar a permeabili-
dade do núcleo através de um campo criado
por uma bobina de controle, conforme mostra
a figura 4.

Figura 4 – A configuração em que controlamos cor-


rente com corrente

Assim, com uma corrente menor circu-


lando num enrolamento de controle, se usar-
mos um núcleo saturável, podemos controlar
uma corrente muito maior que seja aplicada a
uma carga. A relação amperes/espira do enro-
lamento de controle e amperes/espiras do en-

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

rolamento de carga dá o ganho deste circuito


amplificador. É claro que também podemos
pensar na sua aplicação num circuito de cor-
rente contínua para a carga, agregando um
diodo retificador, conforme mostra a figura 5.

Figura 5 – Configuração com retificador

É claro que este é um circuito teórico


simplificado. Na prática, alguns problemas
que podem ocorrer neste circuito podem ser
eliminados. Um dos problemas é que, se ob-
servarmos o circuito, vemos que se trata de
um transformador e que a corrente que circu-
la no enrolamento da carga pode induzir uma
alta tensão no enrolamento de controle, capaz

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Newton C. Braga

de afetar o circuito de entrada. Assim, pode-


mos partir do circuito básico e fazer algumas
melhorias como, por exemplo, agregar reali-
mentação (feedback), conforme mostra a figu-
ra 6.

Figura 6 – Agregando realimentação

Ganhos de potência muito altos podem


ser obtidos num circuito desse tipo. Eles po-
dem passar de diversos milhões de vezes. Na
figura 7 temos um circuito que mostra como

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

podemos usar um amplificador magnético


para controlar a velocidade de um motor e
também inverter seu sentido de rotação.

Figura 7 – Um circuito de controle de motor

Um circuito simples que pode ser usado


em aplicações didáticas é o de um Dimmer ou
controle de potência para uma lâmpada incan-
descente.

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Newton C. Braga

Figura 8 – Um Dimmer com amplificador magnético

Numa publicação de 1957 encontramos


um amplificador magnético que usava um
novo componente, um reator saturável que
era usado numa simples fonte de alimentação
para polarização, mostrada numa revista Ra-
dio News da época. O circuito é mostrado na
figura 9.

46
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Figura 9 – Amplificador magnético usando um ferris-


tor
E, coisas mais complexas podiam ser
feitas como o multivibrador monoestável mos-
trado na figura 10.
E mais um circuito prático muito inte-
ressante encontrado em documentação atual.
Trata-se de um circuito que usa um microfone
de carvão para modular uma bobina de Tesla.

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Newton C. Braga

Figura 10 – Um monoestável com amplificador mag-


nético de 1957.

Figura 11 – Modulador para bobina de Tesla

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Na foto da figura 12 um antigo amplifi-


cador magnético de pequeno porte. Unidades
gigantescas usadas em indústrias existiram
nos anos anteriores a 1950.

Figura 12 – Um amplificador magnético


Referências: U.S. Navy (1951) – High Voltage Press
- 2000

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Newton C. Braga

O Que São Frequen-


címetros

Um dos instrumentos de maior utilidade


na bancada do profissional de eletrônica e
mesmo em aplicações diversas é o frequencí-
metro. Disponível em diversas configurações
ele tem por finalidade a medida da frequência
de um sinal. Veja neste artigo como funcio-
nam os diversos tipos disponíveis.
Os equipamentos eletrônicos em geral
trabalham com sinais cujas frequências po-
dem variar entre poucos hertz até bilhões de
hertz. Em muitos casos, tanto na monitoração
do funcionamento desses equipamentos como

50
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

no seu ajuste pode ser necessário medir a fre-


quência de um sinal. Para esta finalidade são
usados instrumentos ou mesmo equipamentos
denominados frequencímetros.
Diversos são os tipos de frequencíme-
tros que podemos encontrar nas aplicações
práticas. O mais simples é o frequencímetro
de lâminas ou lingueta, cujo aspecto é mostra-
do na figura 1.

51
Newton C. Braga

Trata-se de um pequeno instrumento de


painel que é dotado de uma bobina e um con-
junto de lâminas ou linguetas de comprimen-

52
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

tos diferentes de tal modo que cada uma ten-


da a vibrar numa frequência diferente.
Assim, quando a bobina do instrumento
é percorrida por uma corrente alternada, so-
mente a lâmina que tenha o comprimento
ajustado para a frequência desta corrente vi-
brará com maior intensidade, excitada pelo
campo magnético produzido, dando assim
uma indicação visual. Estes instrumentos, no
entanto, têm seu uso bastante limitado, sendo
normalmente usados para monitorar a fre-
quência de uma rede de energia ou de um ge-
rador simples de corrente alternada de 50 Hz
ou 60 Hz.
Nas aplicações mais abrangentes da ele-
trônica, em que temos uma gama muito ampla
de frequências, é preciso contar com um ins-
trumento de maior alcance. Para esta finalida-
de temos os frequencímetros eletrônicos, os

53
Newton C. Braga

quais podem ser separados em duas categori-


as: analógicos e digitais.
Os frequencímetros analógicos dão uma
indicação da frequência num instrumento
analógico, por exemplo, convertendo as fre-
quências numa corrente ou tensão um galva-
nômetro. Conforme mostra a figura 2, este
instrumento terá sua escala calibrada em ter-
mos de frequência.

É pelo fato de haver uma correspondên-


cia entre a frequência medida e a tensão indi-

54
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

cada (ou corrente) numa escala contínua, que


dizemos que se trata de um instrumento ana-
lógico.
É claro que a precisão de um frequencí-
metro deste tipo depende não apenas dos ele-
mentos que fazem a conversão da frequência
em outras grandezas como também da preci-
são do instrumento indicador usado. Na práti-
ca, estes frequencímetros são usados em cir-
cuitos até algumas dezenas de quilohertz.
Nos frequencímetros digitais a indica-
ção é feita através de displays que mostram
valores numéricos (dígitos) que correspon-
dem à frequência do sinal medido. Um fre-
quencímetro em que tenha dois dígitos e que
meça frequências de 1 kHz a 99 kHz, confor-
me mostra a figura 3, só teremos a definição
de valores mínimos de 1 kHz, o que quer dizer
que não podemos diferenciar frequências de

55
Newton C. Braga

22,1 kHz e 22,3 kHz, pois para as duas, a indi-


cação será 22.

Os frequencímetros digitais modernos


apresentam uma grande precisão e grande
definição, pelo elevado número de dígitos e
pelo uso de circuitos bastante elaborados.
Frequencímetros que alcançam mais de 1
GHz são hoje comuns, com números de dígi-
tos de 8 ou mais. Na figura 4 temos um exem-
plo de um frequencímetro deste tipo.

56
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Figua 4

O princípio de funcionamento de m fre-


quencímetro básico é mostrado na forma de
blocos na figura 5.

57
Newton C. Braga

O sinal do qual se deseja medir a fre-


quência é levado à entrada do instrumento
onde é feita uma amostragem por um tempo
determinado, por exemplo, 0,1 segundo. Isso
significa que se o sinal for de 5 000 Hz, em
0,1 segundos são contados 500 ciclos. Essa
contagem é então apresentada no display com
um fator de multiplicação x10.
É claro que, como a frequência muda ou
pode mudar constantemente, uma amostra-
gem apenas não é suficiente para se obter
uma medida precisa. Isso significa que o cir-
cuito fica constantemente fazendo amostra-
gem e ao final de cada uma projeta o valor no
display. Os instrumentos comuns ficam mu-
dando de indicação se o sinal variar, o que é
normal. Assim, se um instrumento ficar cons-
tantemente mudando de 555 Hz para 556 Hz,
é sinal que a frequência exata do sinal, prova-
velmente está num valor intermediário. Veja

58
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

que, para que a medida da frequência seja


exata, é necessário que a amostragem seja
feita de forma muito precisa. Assim, este é o
ponto mais crítico num equipamento deste
tipo. Para esta finalidade os principais recur-
sos utilizados são:

a) Emprega-se um cristal de quartzo para


determina a frequência da amostragem,
ou seja, o tempo em que os sinais são
amostrados. Com isso pode-se ter gran-
de precisão, pois os cristais mantêm es-
tável a frequência com variações que
são medidas em poucas partes por mi-
lhão.
b) Emprega-se a própria frequência da
rede de energia 50 Hz ou 60 Hz, como
referência, já que esta se mantém bas-
tante estável por exigência da lei.

59
Newton C. Braga

Na aquisição de um frequencímetro di-


gital para sua oficina, hoje com preços bastan-
te acessíveis, tenha em mente sua faixa de
operação que deve estar de acordo com o tipo
de trabalho que você realiza. Existem fre-
quencímetros de custo acessível até uns 100
MHz que são ideais para o técnico comum
que trabalha com rádio, TV, som, etc. e exis-
tem aqueles que vão a mais de 1 GHz que são
indicados para os profissionais que trabalham
com equipamentos de telecomunicações.

Frequencímetros Virtuais e
Agregados
Existem instrumentos que, como parte
de seus recursos, podem realizar a medida de
frequências como, por exemplo, osciloscópios.
Assim, osciloscópios mais avançados, como o
mostrado na figura 6, além de mostrarem a

60
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

forma de onda do sinal, também indicam na


forma digital sua frequência.
Temos finalmente os frequencímetros
virtuais que estão presentes em programas
como o Multisim. Estes frequencímetros po-
dem medir a frequência de um circuito que
está sendo simulado, conforme mostra a figu-
ra 7.

Figura 6

61
Newton C. Braga

Figura 7

Conclusão
Frequencímetros são instrumentos de
grande utilidade para qualquer um que traba-
lhe com eletrônica. Hoje em dia, podendo ser
encontrado até mesmo em versões portáteis
de baixo custo, eles podem ser de grande aju-
da no diagnóstico de problemas, ajuste e mes-

62
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

mo comprovação de funcionamento de uma


grande gama de equipamentos eletrônicos.

63
Newton C. Braga

Medidas do Ruído
Ambiente

Se existe uma preocupação importante


nos meios industriais é a que está relacionada
com o nível de ruído ambiente. Excesso de ba-
rulho pode causar danos irreversíveis ao apa-
relho auditivo além de outros danos que en-
volvem a própria saúde mental do profissional
envolvido. Para a medida dos ruídos, assim
como da intensidade sonora são utilizados
aparelhos denominados Medidores de Intensi-
dade Sonora ou Decibelímetros. Como esses
instrumentos funcionam e devem ser usados
depende muito do conhecimento da natureza

64
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

dos sons. Assim, é justamente por aí que co-


meçamos: falando num primeiro artigo da na-
tureza do ruído e de sua medida.
Som consiste em vibrações de um meio
material que se propagam com velocidade fi-
nita. No ar, o som consiste em ondas de com-
pressão e descompressão que se propagam
em CNTP a uma velocidade de aproximada-
mente 334 metros por segundo, conforme
mostra a figura 1.

Figura 1 – A natureza do som

65
Newton C. Braga

Quando essas vibrações se encontram


dentro de uma faixa definida de frequências
elas podem sensibilizar nossos ouvidos. Dize-
mos que se trata de vibrações da faixa audível
ou simplesmente, sons audíveis.
No entanto, fora dessa faixa, as vibra-
ções ainda existem, não sendo, entretanto, ou-
vida por seres humanos. Certos animais como
o morcego, cães e golfinhos podem ouvir vi-
brações acima da faixa audível, ou seja, ul-
trassons. Por outro lado, existem animais
como a medusa que podem perceber através
de órgãos sensoriais específicos vibrações na
faixa dos infrassons. Na figura 2 mostramos o
espectro sonoro, com as três faixas de fre-
quências acima citadas.

66
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Ruído
Fisiologicamente define-se ruído como
os sons desagradáveis, irritantes que são pro-
duzidos por objetos que vibrem de forma irre-
gular. Tecnicamente, um ruído é uma vibra-
ção que não tenha uma frequência fixa, mas
que ocupa um espectro de frequências de for-
ma absolutamente irregular, conforme mostra
a figura 3.

67
Newton C. Braga

Para efeitos atuação sobre o ouvido hu-


mano, o ruído é classificado em três categori-
as:

Ruído contínuo – é o ruído em que o ní-


vel de pressão sonora (NPS) varia em +/- 3
dB durante um longo intervalo de tempo, nor-
malmente mais de 15 minutos.

Ruído Intermitente – é o que NPS varia


numa gama de +/- 3 dB em intervalos de tem-
pos curtos, entre 0,2 segundos e 15 minutos.

68
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Ruído de Impacto – é o formado por pi-


cos de vibrações ou energia acústica com du-
ração inferior a 1 segundo e produzido em in-
tervalos maiores do que 1 segundo.

Na figura 4 temos uma representação


gráfica desses ruídos.

69
Newton C. Braga

Sensibilidade Auditiva
Para que uma pessoa possa ouvir um
som não basta que as suas vibrações estejam
dentro da faixa de frequências audíveis. As

70
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

pessoas têm uma sensibilidade diferente para


as diversas frequências, mas dentro da faixa
audível existe um limiar que é dado pela vari-
ação da pressão da onda sonora.
Esse limiar, para pessoas saudáveis, es-
tá em torno de 0,0002 N/m2, valor que se con-
vencionou ser de 0 dB. Por outro lado, o valor
máximo da intensidade sonora que uma pes-
soa pode ouvir de modo normal, pois acima
disso, começa a haver a dor, é de 200 N/m 2,
que corresponde a 140 dB.
A adoção do dB para a medida das in-
tensidades sonoras é justificada pela enorme
gama de intensidades que teríamos de consi-
derar se adotássemos a unidade Newton por
metro quadrado. Como o dB é uma unidade
logarítmica, toda a faixa audível cabe entre os
valores que vão de 0 a 140 dB, conforme mos-
tra a figura 5.

71
Newton C. Braga

Características
Quando fazemos uma análise fisiológica
do som, existem algumas características im-
portantes que se sobressaem. Elas são:

a) Frequência/Comprimento de onda
É o número de vibrações por segundo,
sendo esse valor medido em hertz (Hz). Asso-
ciado à frequência está o comprimento de
onda que corresponde a distância entre qual-
quer ponto de uma onda e o ponto correspon-

72
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

dente na onda seguinte, conforme mostra a fi-


gura 6.

Podemos associar às ondas sonoras os


termos graves, médios e agudos, onde os sons
mais graves são aqueles que têm maior com-
primento de onda ou menor frequência.

b) Intensidade
A intensidade do som é dada pela quan-
tidade de energia que as ondas sonoras trans-

73
Newton C. Braga

portam. Essa intensidade é proporcional à


amplitude das vibrações da fonte que produz
o som.

c) Audibilidade
Esta é uma característica fisiológica do
som. É a força que o som aparenta ter quando
percebido pelos nossos ouvidos. Dois sons de
mesma intensidade, porém de frequências di-
ferentes não são percebidos da mesma forma.

d) Timbre
O timbre está relacionado com a forma
de onda. Dois sons de mesma frequência
(mesma nota) produzidos por dois instrumen-
tos diferentes são percebidos de forma dife-
rente.

74
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Comportamento do Som
Quando analisamos as ondas sonoras,
elas possuem um comportamento próprio que
depende do meio em que se propagam. Desta-
cam-se no comportamento das ondas sonoras
os seguintes itens:
a) velocidade – depende do meio – 331 m/s
(CNTP)
b) reflexão – as ondas sonoras podem re-
fletir-se em determinados meios.
c) refração – quando as ondas sonoras pas-
sam de um meio para outro com carac-
terísticas diferentes elas sofrem altera-
ção da velocidade e da direção de pro-
pagação.
d) difração – é o espalhamento das ondas
sonoras quando passam pela borda de
um objeto ou por uma abertura
e) ressonância – é o reforço do som quan-
do uma pequena força repetida, aplica-

75
Newton C. Braga

da na mesma frequência natural de vi-


bração de um objeto produz vibrações
de cada vez maior intensidade neste ob-
jeto.
f) batimento – ocorre quando dois sons de
frequências diferentes se combinam,
produzindo dois novos sons cujas fre-
quências são a soma e diferença das fre-
quências dos sons originais.

Medindo o Ruído
Para medir a intensidade de um ruído
ou de sons em geral é utilizado um aparelho
denominado decibelímetro, mostrado na figu-
ra 7.
.

76
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Figura 7 – foto de um decibelímetro

77
Newton C. Braga

A tabela abaixo dá as intensidades de al-


guns sons comuns:

Fonte Sonora Níveis em Deci-


béis
Limiar da audibilidade 0 dB
Vento balançando folhas 10 dB
suavemente
Jardim silencioso 20 dB
Estúdio de Rádio 20 dB
Murmúrio 20 dB
Quarto silencioso 30 dB
Violino tocando muito 30 dB
baixo
Música tocando baixo 40 dB
Conversa em voz normal 60 dB
Aparelho de Ar-Condicio- 60 dB
nado a 6 m
Voz Humana a 1 m 70 dB
Campainha do Telefone 70 dB
Aspirador de Pó 80 dB
Caminhão pesado a 15 m 90 dB
Sirene de polícia 90 dB
Caminhão de coleta de 100 dB
lixo
Serra circular 100 dB
Bate estacas 110 dB
Conjunto de Rock Ampli- 120 dB
ficado, discoteca
Buzina de Carro 120 dB
Jato na decolagem 140 dB

78
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Limites
No Brasil, a NR-15 fixa os limites de to-
lerância à exposição aos ruídos contínuos ou
intermitentes.
Para uma jornada de trabalho consi-
dera-se o efeito cumulativo da exposição aos
ruídos. A exposição é calculada levando-se em
conta o tempo de exposição e a intensidade.
Assim, uma tabela pode ser dada levan-
do em conta a exposição máxima diária:

79
Newton C. Braga

Nível de Ruído Exposição Diária Máxima Permissível

85 dB 8 horas

86 dB 7 horas

87 dB 6 horas

88 dB 5 horas

89 dB 4 horas e meia

90 dB 4 horas

91 dB 3 horas e meia

92 dB 3 horas

93 dB 2 horas e 40 minutos

94 dB 2 horas e 15 minutos

95 dB 2 horas

96 dB 1 hora e 45 minutos

98 dB 1 hora e 15 minutos

100 dB 1 hora

102 dB 45 minutos

104 dB 35 minutos

105 dB 30 minutos

108 dB 20 minutos

110 dB 15 minutos

80
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Danos Causados ao Organismo


As principais lesões causadas pelo ruído
ocorrem na membrana basilar. Os sons mais
graves lesam a parte basal da espiral e os
agudos a parte apical.
A lesão ocorre quando um som intenso
atua por muito tempo. No entanto, os órgãos
sensoriais possuem uma capacidade de adap-
tação.
A adaptação imediata dura alguns mi-
lésimos de segundos e existe uma adaptação
tardia que dura de 4 a 5 minutos. Ocorre, en-
tretanto, um fenômeno de fadiga que é o es-
gotamento da capacidade de adaptação.
Se um som tem uma única frequência
(puro) ele lesa apenas uma parte da membra-
na basilar. No entanto, num ambiente de
fábrica ou equivalente, o que temos são ruí-
dos, formados por um amplo espectro de fre-

81
Newton C. Braga

quências, ou seja, ruído branco. Esse tipo de


ruído complexo, lesa toda a membrana.
Também é importante observar que,
mesmo não sendo audíveis, os infrassons e ul-
trassons também lesam o ouvido. Uma exposi-
ção prolongada aos ruídos num ambiente in-
dustrial causa a degeneração do órgão de
Corti, com degeneração das células do gân-
glio espiral e fibras nervosas associadas.
Os principais sintomas de problemas
com ruídos são o zumbido, vertigem e fadiga.
Consequências psíquicas e somáticas são a ir-
ritação, nervosismo, taquicardia, aumento da
pressão arterial, etc.

Conclusão
Para poder controlar os níveis de ruído
de um local de trabalho é preciso saber como
medi-lo. Na próxima edição trataremos do ins-

82
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

trumento usado para esta finalidade e como


ele deve ser usado.

83
Newton C. Braga

84
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Um Osciloscópio de
Amostragem de
Tempo Equivalente e
um Osciloscópio de
Tempo Real ?
Neste artigo, baseados no Application
Note 1608 da Agilent Technologies (www.agi-
lent.com) mostramos que os dois tipos de os-
ciloscópios são diferentes, possibilitando as-
sim ao profissional fazer a escolha certa para
o seu tipo de trabalho.
No passado, a decisão entre um oscilos-
cópio de amostragem de tempo equivalente e
um osciloscópio de tempo real estava relacio-

85
Newton C. Braga

nada com as exigências de largura de faixa,


mas hoje com instrumentos de alta perfor-
mance, essa decisão não é mais clara. Neste
artigo discutimos o modo como cada tipo
amostra o sinal e as exigências de disparo.

O Osciloscópio de Tempo Real


é um ADC
Um osciloscópio de tempo real é tam-
bém chamado algumas vezes de osciloscópio
“single-shot” (um disparo). Ele captura um ci-
clo completo do sinal a cada evento de dispa-
ro. De outra forma, isso significa que um nú-
mero elevado de pontos de dados é capturado
numa gravação contínua. Para melhor enten-
der esse tipo de aquisição de dados, imagine
um conversor analógico-digital (ADC) extre-
mamente rápido, no qual a taxa de amostra-
gem determina o espaçamento das amostras e

86
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

a profundidade da memória o número de pon-


tos que vão ser mostrados na tela. Para captu-
rar qualquer forma de onda, a taxa de amos-
tragem do ADC precisa ser muito maior do
que a frequência do sinal que chega. Essa
taxa de amostragem, que pode chegar aos 40
GSa/s (40 giga-amostragens por segundo) de-
termina que a faixa correspondente chega aos
13 GHz.

O Disparo num Osciloscópio


de Tempo Real
Um osciloscópio de tempo real pode ser
disparado na chegada dos dados propriamen-
te ditos, ou mesmo quando a amplitude do si-
nal de entrada atinge um determinado valor.
Neste ponto, o osciloscópio começa a conver-
ter a forma de onda analógica para dados di-
gitais numa velocidade não sincronizada e,

87
Newton C. Braga

portanto, não relacionada com a taxa de da-


dos do sinal de entrada. Esta taxa de conver-
são, conhecida como taxa de amostragem, é
tipicamente derivada de um sinal de clock in-
terno. O osciloscópio amostra a amplitude do
sinal de entrada e armazena o valor na memó-
ria, e continua com a próxima amostragem,
como ilustrado na figura 1.

Figura 1

88
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

A principal tarefa do disparo é fornecer


um ponto de referência de tempo horizontal
para os dados de entrada.

Uma amostragem por ciclo


Um osciloscópio de tempo de amostra-
gem equivalente, algumas vezes simplesmen-
te chamado osciloscópio de amostragem ou
sampling oscilloscope, mede apenas a ampli-
tude instantânea da forma do sinal no instan-
te da amostragem. Em contraste com um osci-
loscópio de tempo real, o sinal de entrada é
amostrado apenas uma vez por pulso de dis-
paro. No momento seguinte em que o oscilos-
cópio é amostrado, um pequeno retardo é adi-
cionado e uma outra amostragem tomada. O
número de amostragens visado determina o
número de ciclos necessário para reproduzir a
forma de onda. A largura da faixa de medida é

89
Newton C. Braga

determinada pela resposta de frequência do


amostrador que atualmente pode ser estendi-
da aos 70 GHz.

Metodologia de Amostragem
O disparo e a amostragem subsequente
para um osciloscópio de amostragem de tem-
po equivalente é diferente de um osciloscópio
de tempo real de diversas formas tangíveis.
De forma mais importante o osciloscópio de
amostragem de tempo equivalente precisa de
um disparo explícito para operar e este dispa-
ro precisa estar sincronizado com os dados de
entrada. Tipicamente, este sinal é fornecido
pelo usuário usando um módulo de hardware
clock de recuperação. A amostragem opera da
seguinte maneira: um evento de disparo inicia
a aquisição da primeira amostra e então o os-
ciloscópio rearma e espera por outro evento
de disparo. O tempo de rearme é de aproxi-

90
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

madamente 25 us. O evento seguinte de dis-


paro inicia a segunda aquisição e acrescenta
um retardo preciso antes de amostrar o se-
gundo ponto de dados. Este tempo de retardo
incremental é determinado pela base de tem-
po ajustada e o número de tempo de amostra-
gem. Este processo, que é ilustrado na figura
2, é repetido até que a forma de onda inteira
seja adquirida.

Figura 2

91
Newton C. Braga

Disparo no osciloscópio de
amostragem de tempo equiva-
lente
Existem duas maneiras de se disparar
um osciloscópio de amostragem de tempo
equivalente, e os resultados obtidos são dife-
rentes quanto ao formato de vídeo, tanto uma
corrente de bits ou um diagrama de olho. Ver
os bits individuais no sinal permite ao usuário
ver as dependências do padrão no sistema,
mas não permite para alta resolução com um
número elevado de bits. De modo a visualizar
um trem de bits, o disparo deve pulsar apenas
uma vez durante o período do padrão de en-
trada e deve estar na mesma localização rela-
tiva no padrão de bits para cada evento. O si-
nal de entrada é então amostrado e sob a pre-
sença do evento seguinte de disparo, o retar-

92
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

do incremental é somada e o trem de bits é


amostrado até que a forma de onda inteira
seja adquirida. De modo a se visualizar o trem
de bits num osciloscópio de tempo equivalen-
te, deve-se ter uma forma de onda repetitiva;
de outra maneira um osciloscópio de tempo
real será necessário. O processo de disparo
para mostrar uma forma de onda do trem de
bits é mostrado na figura 3.

Figura 3

93
Newton C. Braga

Criando um diagrama de olho


A outra forma de se visualizar o sinal é
o diagrama de olho. Este modo não exige uma
forma de onda repetitiva e pode ajudar a de-
terminar ruído, jitter, distorção e intensidade
de sinal entre muitas outras medidas. Ele for-
nece uma vista estatística da performance do
sistema já que ele se parece como uma cober-
tura de todas as combinações de bits na cor-
rente de bits. O disparo necessário para este
modo é um sinal de clock assíncrono. Em cada
evento de disparo, permitindo o tempo de re-
arme, o osciloscópio amostra os dados e cons-
trói a combinação de todas as combinações
possíveis de 0 e 1 na tela. Clocks de taxa
máxima, assim como clocks com taxas dividi-
das podem ser usados para disparo, no entan-
to se o comprimento do padrão é um número
ímpar da taxa de divisão do clock, o diagrama
de olho pode ter a ausência de combinações e

94
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

dessa forma será incompleto. Além disso, se


os dados forem usados como seu próprio dis-
paro, o diagrama de olho deve aparecer com-
pleto, mas o osciloscópio somente será dispa-
rado nas fontes positivas do padrão de dados.
Isso deve ser evitado para se obter medidas
precisas com o diagrama de olho. O processo
de disparo para se obter um diagrama de olho
é mostrado na figura 4.
f

Figura 4

95
Newton C. Braga

Olhos em tempo real


É importante notar que um diagrama de
olho pode ser visto nos novos osciloscópios
em tempo real. Estes diagramas de olhos em
tempo real ou single-shot (disparo único), são
construídos usando um clock recuperado por
software ou um clock explícito externo, forne-
cido pelo usuário. Os osciloscópios em tempo
real fatia uma longa forma de onda de captura
única em tempos iguais ao ciclo do clock recu-
perado e sobrepõe estes bits para recriar o di-
agrama de olho.

Vantagens dos osciloscópios


em tempo real:
● Capacidade de mostrar eventos transi-

entes que ocorram uma vez

96
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

● Não necessita de disparo explícito

● Não precisam de formas de onda repeti-

tivas

● Medem o jitter ciclo por ciclo direta-

mente

● Grandes comprimentos de gravação/me-

mória profunda

● Ótimo para reparação

Vantagens do Osciloscópio por


Tempo Equivalente
● Baixas taxas de amostragem possibili-

tando conversão ADC de alta resolução

● Largura de faixa maior

97
Newton C. Braga

● Piso de ruído mais baixo

● Jitter intrínseco mais baixo

● Pode incluir módulos frontais e ópticos

● Pode ser usado para TDR para obter

medidas de impedância e parâmetro S]

● Pode alcançar soluções a preço reduzi-

do.

98
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Pontes Para Senso-


res
Muitos sensores usados em instrumen-
tos de medidas apresentam a configuração em
ponte. É o caso de sensores de temperatura e
pressão que consistem em pontes de Wheats-
tone as quais são desequilibradas em função
da grandeza que está sendo medido. Estes
sensores possuem, portanto, duas saídas que
devem ser aplicadas a amplificadores operaci-
onais de modo a fornecer uma tensão ou cor-
rente proporcional ao valor da grandeza medi-
da. Não basta, entretanto, fazer a ligação a
um amplificador operacional para se ter o de-
sempenho desejado para o circuito. Existem

99
Newton C. Braga

diversas configurações possíveis e é delas que


trataremos neste artigo, baseados na docu-
mentação da Linear Technologies (www.line-
ar.com).
As pontes de medida são bastante anti-
gas, devendo sua origem ao conhecido Char-
les Wheatstone em 1830 aproximadamente,
criou a configuração que hoje recebe seu
nome. Nesta ponte, que todos conhece, quan-
do os resistores têm valores que estão na pro-
porção RA/RB = RC/RD ela estará em equilí-
brio e a tensão de saída será nula, conforme
mostra a figura 1.

100
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Figura 1

Quando um dos resistores é variável,


por exemplo, um sensor, a tensão na saída se
altera e assumirá um valor proporcional ao re-
sistor, possibilitando assim a medida de gran-
dezas associadas à variação da resistência
desse sensor.
Nas configurações antigas tradicionais,
um dos resistores é o sensor ou ainda a resis-
tência que se deseja medida enquanto é colo-
cado um resistor variável na configuração de

101
Newton C. Braga

modo a se poder obter o equilíbrio da ponte


pelo seu ajuste, conforme mostra a figura 2.

Figura 2

Para detectar o equilíbrio pode-se usar


um simples galvanômetro ou ainda, se alimen-
tarmos a ponte com um sinal de áudio, pode-
mos usar como detector de nulo um fone de
ouvido, conforme mostra a figura 3.

102
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Figura 3

Nas configurações modernas, o que se


faz é detectar ou medir a tensão de saída com
um amplificador operacional. Conforme sabe-
mos, o amplificador operacional vai amplificar
a diferença entre as tensões aplicadas às suas
entradas podendo, portanto, ser ligado direta-
mente na saída da ponte, conforme mostra a
figura 4.

103
Newton C. Braga

Figura 4

No entanto, nas aplicações modernas


em que se exige precisão e onde existem di-
versos fatores que podem afetar o funciona-
mento de um amplificador na configuração in-
dicada, deve-se analisar o circuito antes de se
escolher o modo de se fazer a conexão do sen-
sor ao amplificador. Influi neste caso princi-
palmente a chamada Relação de Rejeição em
Modo Comum ou Common Mode Rejection
Ratio, abreviada por CMRR.

104
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

O que ocorre é que quando as tensões


nas duas entradas de um amplificador opera-
cional são iguais, teoricamente a saída deve-
ria ser nula, conforme mostra a figura 5.

Figura 5

Na prática, entretanto, isso não ocorre e


uma pequena tensão surge, afetando assim a
indicação de nulo, se o amplificador for usado
numa ponte. Para se evitar esse problema é
que se deve, antes de se partir para a simples
conexão do sensor a um amplificador, estudar
qual vai ser a configuração usada. Dependen-
do da configuração ela pode apresentar vanta-
gens em relação a CMMR e também a outros

105
Newton C. Braga

fatores que podem influir no desempenho de


um circuito sensor em ponte.

As configurações
A primeira configuração possível é jus-
tamente a tradicional, que liga diretamente a
saída da ponte sensora à entrada de um am-
plificador operacional, conforme mostra a fi-
gura 6.

Figura 6

Nesta configuração temos um CMRR


que alcança mais de 110 dB e um desvio de

106
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

0,05 uv/°C. A precisão no ganho pode chegar


aos 0,03% e o desvio de ganho com a tempe-
ratura é da ordem de 4 ppm/°C. A desvanta-
gem desta configuração está justamente no
ganho e na estabilidade nas aplicações que
exigem maior precisão. Nestes casos deve-se
utilizar uma segunda etapa para se ajustar o
ganho. Uma segunda configuração possível
permite melhorar o desempenho com a pro-
gramação de ganho e também o uso de capa-
citores para desacoplamentos, conforme mos-
tra a figura 7.

Figura 7

107
Newton C. Braga

Neste circuito a relação entre R1 e R2


determina o ganho do amplificador operacio-
nal. Com esta configuração pode-se elevar o
CMRR para mais de 120 dB e obter-se um
desvio com a temperatura de apenas 0,05
uV/°C. A precisão sobe para 0,001%. A finali-
dade dos capacitores é proporcionar uma
ação de filtro passa-baixas evitando assim a
interferência de sinais que possam afetar o
funcionamento do amplificador. Trata-se de
uma boa escolha para circuitos em que se de-
seja um alto-desempenho.
A desvantagem está na maior complexi-
dade do circuito e na faixa passante limitada.
A presença de resistores de realimentação
para fixar o ganho é outro fator a ser conside-
rado, pois estes elementos do circuito passam
a influir na sua precisão. Na figura 8 temos
outra opção para configuração de ponte em
que usamos um amplificador com ganho esta-

108
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

belecido por resistores de realimentação ex-


ternos.

Figura 8

Observe a diferença em relação ao cir-


cuito anterior em que as entradas são flutuan-
tes. Neste circuito, uma das saídas da ponte é
aterrada. Os resistores R2 e R1 determinam o
ganho do circuito.
A principal vantagem deste circuito é
que o CMRR pode chegar a mais de 160 dB e
o desvio com a temperatura a 0,05 uV/°C com
uma precisão de ganho de 0,001%. No entan-
to, com a fonte não flutuantes, não temos uma

109
Newton C. Braga

saída relaciométrica para a ponte o que pode


ser um obstáculo para sua aplicação em al-
guns casos. Outra desvantagem está na ne-
cessidade de componentes externos, no caso
resistores, que influem na sua precisão. O ruí-
do deste circuito também é muito baixo. Uma
aplicação interessante de circuito de ponte é
a que faz uso de uma alimentação estabilizada
para esta ponte, conforme mostrado na figura
9, em que um diodo zener é usado para esta
finalidade.

Figura 9

110
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

O CMRR deste circuito chega aos 140


db e o desvio com a temperatura a 0,05 uV/°C
com uma precisão que alcança os 0,001%. O
desvio no ganho é de 1 ppm/°C utilizando-se
resistores apropriados. O ganho deste circuito
será determinado pelos resistores no circuito
de realimentação do amplificador operacional.
Neste caso, pelo aterramento de um dos
braços da ponte não temos uma saída relacio-
métrica. Como outro fator de desvantagem,
temos o fato de que o zener pode ser um ele-
mento introdutor de erros nas medidas, prin-
cipalmente em termos de sua estabilidade
com a temperatura. Outro ponto é que, com a
presença do zener, necessita-se de uma cor-
rente mínima para a operação deste dispositi-
vo, o que pode ser um fator importante nos
projetos em que se visa o menor consumo pos-
sível.

111
Newton C. Braga

Passamos agora a uma configuração


mais complexa que exige uma fonte simétrica
para o amplificador operacional. Esta configu-
ração é mostrada na figura 10.

Figura 10

Observe que um dos braços da ponte é


ligado na tensão de zero volt da fonte simétri-
ca empregada. As vantagens deste circuito es-
tão na elevada relação de rejeição em modo
comum que chega aos 160 dB e na precisão

112
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

que chega aos 0,001%. O desvio com a tempe-


ratura é da ordem de 0,05 uV/°C. O ganho é
determinado pela relação entre os valores dos
resistores no circuito de realimentação do am-
plificador operacional. O ruído de saída é bas-
tante baixo, com o uso de técnicas apropria-
das.
A desvantagem principal está na neces-
sidade de uma etapa adicional que converte
os níveis de tensão de saída que oscilam entre
positivo e negativo para uma oscilação entre 0
e um valor que depende da aplicação. Isso
significa a necessidade de um circuito adicio-
nal de isolamento, o que pode ser um fator a
mais que vai influir na estabilidade e na preci-
são do circuito. Uma outra configuração inte-
ressante é a que faz uso de uma fonte simétri-
ca para a ponte e uma fonte simples para o
amplificador operacional, mostrada na figura
11.

113
Newton C. Braga

Figura 11

Com este circuito é possível obter uma


rejeição em modo comum na faixa de 120 a
140 dB e um desvio com a temperatura de
0,05 uV/°C. A precisão de ganho será da or-
dem de 0,001% com a utilização de compo-
nentes apropriados. O desvio de ganho, que
também depende dos componentes, pode che-
gar a apenas 1 ppm/°C. Também é possível
obter um baixo ruído para esta configuração.
A desvantagem está no usa da fonte simétrica
que deve ser bem precisa para se obter um

114
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

grau de simetria exigido para a precisão do


circuito e também para se obter o melhor
CMRR, A presença de resistores de realimen-
tação também é um fator que influi no desem-
penho do circuito.
Temos finalmente uma configuração
mais complexa que faz uso de dois amplifica-
dores operacionais e que é mostrada na figura
12.

Figura 12

Este circuito faz uso de um segundo am-


plificador operacional para realimentar a pró-

115
Newton C. Braga

pria ponte. Com isso pode-se elevar o CMRR


que, nesta configuração chega aos 160 dB. O
desvio com a temperatura é de 0,25 uV/°C e a
precisão de ganho é de 0,001%. A desvanta-
gem principal está na necessidade de se usar
dois amplificadores além de diversos outros
componentes externos que podem afetar a
precisão. Temos ainda a necessidade de uma
fonte simétrica para alimentar os amplificado-
res.

Conclusão
A escolha da melhor configuração está
condicionada a diversos fatores como o ga-
nho, precisão CMRR e número de componen-
tes externos. Também deve ser levado em
conta o consumo do circuito. Análise antes o
que você precisa para depois optar pelo me-
lhor circuito para sua ponte.

116
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

O Plotter de Bode
Um instrumento de grande utilidade,
encontrado principalmente em softwares de
simulação de funcionamento de circuitos é o
Plotter de Bode (Bode Plotter). Capaz de for-
necer dados sobre o comportamento de um
circuito num determinado espectro de fre-
quências, trata-se de instrumento ideal para
se analisar a curva de resposta de filtros, am-
plificadores, atenuadores e outros circuitos
que operam numa banda larga de frequên-
cias. Veja neste artigo o que é o Plotter de
Bode, e se você tem um programa de simula-
ção de circuitos, como usá-lo. Os leitores que
estão na eletrônica há mais tempo, não vão

117
Newton C. Braga

encontrar dificuldades em entender como fun-


ciona o Plotter de Bode ou Bode Plotter.
Basta lembrar que há algumas décadas,
era muito comum o uso de dois instrumentos
no ajuste de circuitos que devessem respon-
der somente a uma determinada faixa de fre-
quências: o Gerador de Varredura (Sweep Ge-
nerator) e o Osciloscópio. O gerador de varre-
dura produzida um sinal que mudava constan-
temente de frequência, varrendo um espectro
onde deveria ser feita a análise ou ajuste de
um determinado circuito. O osciloscópio per-
mitia que se visualizasse como esse circuito
estava se comportando e assim fosse feito o
ajuste.
A configuração mais comum era a de
ajuste de um circuito de FI de um receptor de
TV que deveria deixar passar uma faixa de
frequências de 4,5 MHz centralizada em 72

118
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

MHz, por exemplo, conforme mostra a figura


1.

Figura 1 – Usando o gerador de varredura (sweep


generator)

O circuito do gerador de varredura pro-


duzia constantemente sinais que varriam a
faixa de 65 a 80 MHz, por exemplo, os quais
eram aplicados ao circuito ressonante. Con-
forme o sinal se aproximava da frequência de
ressonância do circuito, sua intensidade au-
mentava e conforme a sintonia desse circuito
era visualizada a resposta do circuito. Os ge-
radores de varredura antigos eram instrumen-
tos relativamente simples. Existiam até tipos
em que a varredura de frequências era feita
por um sistema eletromecânico em que um

119
Newton C. Braga

capacitor variável tinha seu eixo girado por


um motor, conforme mostra a figura 2.

Figura 2 – Gerador com variável motorizado

Nos modelos mais avançados, a varre-


dura era feita por osciladores acoplados a va-
ricaps, conforme mostra a figura 3. Um oscila-
dor de baixa frequência fornece a base de var-
redura para visualização.

Figura 3 – Gerador de varredura com varicap

120
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

O Bode Plotter
Bode Plotter consiste numa evolução do
sistema de se levantar a curva de resposta de
um circuito, integrada num único instrumen-
to: com recursos para se aplicar sinais numa
determinada faixa de frequências a um circui-
to ele analisa e coloca num gráfico a resposta
de frequências desse circuito, conforme mos-
tra a figura 4.

Figura 4 – O Plotter de Bode

Mais do que isso, graças à presença de


microprocessadores e DSPs ele pode fornecer

121
Newton C. Braga

informações adicionais sobre o comportamen-


to do sinal do circuito tais como desvio de
fase.
É claro que a presença de um processa-
dor digital pode ainda levar a produção de in-
formações importantes nesse formato, as
quais facilmente seriam armazenadas num ar-
quivo. Uma possibilidade é a apresentação de
valores de intensidade e frequência numa ta-
bela, o que torna muito mais precisa uma
eventual análise de um circuito. A seguir, va-
mos dar como exemplo de uso de um Plotter
de Bode o encontrado no Multisim que já ex-
ploramos ao analisar filtros de uma coletânea
de projetos. (Muitos desses circuitos podem
ser acessados em Circuitos Simulados no nos-
so site (newtoncbraga.com.br).

122
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

O Bode Plotter do Multisim


Na caixa de ferramentas dos programas
de simulação que possuem esse instrumentos
encontramos o Bode Plotter com o símbolo
mostrado na figura 5.

Figura 5 – Caixa de Ferramentas, símbolo e aspecto


do Bode Plotter

Esse instrumento pode ser arrastado


pelo mouse até o circuito que está sendo si-

123
Newton C. Braga

mulado e ligado na sua saída. O Bode Plotter


possui ainda uma entrada que deve ser ligada
ao gerador de sinais do próprio programa que
vai fornecer os sinais de prova, conforme mos-
tra uma simulação de um filtro feita na figura
6.

Figura 6 – Filtro passa-baixas simulado com o uso


do Bode Plotter

124
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Clicando no instrumento podemos abrir


seu painel de controle que tem a aparência
mostrada na figura 7. Variações desse painel
podem ser encontradas conforme a versão do
programa.

Figura 7

Observe que temos na parte superior


dois controles importantes: magnitude (inten-
sidade) e phase (fase). Quando pressionamos

125
Newton C. Braga

usando o mouse o botão “magnitude”, o gráfi-


co projetado apresenta a intensidade do sinal
no espectro de frequências considerado.
Quando pressionamos o botão “phase”, o
gráfico apresenta a fase do sinal ao longo do
espectro de frequências. Em alguns progra-
mas temos a existência de um cursor que per-
mite realizar medidas precisas da intensidade
do sinal (ou fase) numa determinada frequên-
cia. Esse cursor pode ser arrastado ao longo
do gráfico com o uso do mouse.
Em outros programas temos simples-
mente um par de botões no painel que permi-
te deslocar a frequência (mostrada numa ja-
nela) e obter o valor numérico da frequência
ou fase, como no caso do Bode Plotter do Mul-
tisim, mostrado na figura 8. Nessa figura da-
mos a simulação de um filtro passa baixas,
tanto com o gráfico plotado em função da fre-
quência como da fase.

126
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

(a) Gráfico em função da frequência

127
Newton C. Braga

(b) Gráfico em função da fase


Figura 8 - Usando o Bode Plotter com frequência e
fase.

Observe que o Plotter é usado com a


sua ligação tanto na entrada como na saída do
circuito analisado. Os pontos em que isso é
feito são claramente mostrados na figura 6 de
simulação. Outro ponto importante, referente
aos controles do painel é que podemos ter a
escala horizontal e vertical, tanto expressas

128
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

em unidades lineares (lin) como logarítmicas


(log). Para isso basta fazer a seleção nos bo-
tões correspondentes do painel.

Exemplo de Aplicação
Podemos tomar como exemplo prático
de uso do Bode Plotter numa simulação um
filtro passa baixas, como o mostrado na figura
9.

(a) O circuito

129
Newton C. Braga

(b) A simulação
Figura 9

Neste circuito, a faixa de frequências


analisada foi ajustada para valores entre 1 Hz
e 1 MHz. A entrada “In” do Bode Plotter é li-
gada à entrada do filtro onde ligamos uma
fonte de sinal, no caso um gerador de corren-
te alternada de 120 V/60 Hz. A saída do filtro
é ligada aos terminais “OUT” do Bode Plot-
ter.

130
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Conclusão
O conhecimento da curva de resposta
de um circuito é importante principalmente
nos casos em que se projetam filtros. No en-
tanto, essa possibilidade não limita o uso des-
se útil instrumento a esta categoria de circui-
tos. Muito mais do que isso, amplificadores,
circuitos passivos de diversos tipos podem ter
suas performances analisadas em função da
frequência possibilitando assim a detecção de
pontos em que ocorram anormalidades de res-
postas e que possam ser responsáveis por
comportamentos indesejáveis.
Um amplificador que tenha uma respos-
ta não linear, com picos em frequências críti-
cas pode causar diversos tipos de problemas.
Em circuitos de áudio, por exemplo, uma
anormalidade de resposta pode ser desagra-
dável ao ouvido e mais do que isso, se coinci-
dir com as frequências de ressonâncias de

131
Newton C. Braga

alto-falantes, pode causar sérios problemas a


esses componentes.

132
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Medidores de Isola-
mento
Um ponto de vital importância para uma
instalação elétrica é o seu isolamento. Falhas
de isolamento não apenas podem causar per-
das de energia como colocar em risco vidas
humanas. Por esse motivo, a presença de um
medidor de isolamento com características
próprias ao tipo de análise a que se destina,
além de se poder contar com pessoas que sai-
bam como manejá-lo, são pontos fundamen-
tais em qualquer instalação que trabalhe com
energia. Nesse artigo trataremos do teste de
isolamento além das características dos ins-
trumentos que devem ser usados.

133
Newton C. Braga

O que um medidor de isolamento ou


Megohmetro faz é medir a resistência de iso-
lamento de uma instalação, motores, transfor-
madores, e instalações elétricas em geral
para verificar sua integridade. O método em-
pregado no teste depende do equipamento
que está sendo testado. Por exemplo, no teste
de um sistema em que fugas que dependem
de capacitância são pequenas, elas podem ser
desprezadas e a estabilização do instrumento
de medida ocorre rapidamente. Já num siste-
ma com elevadas capacitâncias, é preciso le-
var em conta o tempo que a corrente no cir-
cuito leva para estabilizar.
Existem casos em que essas capacitân-
cias são suficientemente altas para que a es-
tabilização da corrente do instrumento leve
horas. Para esses casos podem ser usados tes-
tes alternativos. A figura 1 mostra o que ocor-
re com resistências e capacitâncias parasitas

134
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

que podem estar presentes num cabo e que


podem afetar a medida de isolamento.

Razões para Testar o Isola-


mento
Existem basicamente duas razões para
que haja uma preocupação com o teste de iso-
lamento. A primeira é a própria segurança
pessoal. Uma fuga de alta tensão pode colocar
em risco a vida de pessoas. A outra finalidade
do teste é garantir a correta operação dos

135
Newton C. Braga

equipamentos além de sua durabilidade. As


instalações industriais, por exemplo, ficam su-
jeitas a diversos tipos de poluentes e de subs-
tâncias que atuam diretamente sobre elas, po-
dendo levar a uma rápida deterioração com o
aparecimento de falhas.
Testes periódicos de isolamento podem
revelar problemas antes que eles se agravem,
possibilitando assim a realização de uma ma-
nutenção preventiva.

Antes de Medir
A Fluke, fabricante de instrumentos de
medida de isolamento, faz algumas recomen-
dações importantes para serem seguidas an-
tes de se fazer um teste de isolamento num
equipamento ou numa instalação. O leitor
pode obter mais informações no site dessa
empresa na Internet em www.fluke.com. Es-

136
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

sas recomendações não só garantem um re-


sultado mais preciso nas medidas como a pró-
pria segurança de quem está realizando os
testes.

1. Certifique-se de que o equipamento ou


instalação a ser analisada está desco-
nectada e qualquer outro circuito exter-
no como chaves, protetores de transien-
tes, capacitores, disjuntores, etc. Deve-
se ter certeza de que nenhum elemento
externo por onde possa haver fuga de
corrente afete as medidas.

2. Deve-se garantir que o elemento em tes-


te esteja acima do ponto de condensa-
ção da umidade do ar no local. Caso
contrário pode se formar uma película
úmida condutora sobre o condutor ou

137
Newton C. Braga

elemento em teste que, sendo conduto-


ra, pode afetar os testes.

3. A superfície de um condutor em teste


deve estar livre de carbono ou outra
matéria estranha que, absorvendo umi-
dade pode se tornar condutora afetando
os resultados das medidas.

4. Deve-se tomar cuidado para que a ten-


são aplicada no dispositivo ou instalação
em teste esteja dentro de sua capacida-
de de isolamento.

5. Deve-se garantir que, se o sistema pos-


suir capacitores, eles devem estar com-
pletamente descarregados na realização
dos testes.

138
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

6. O efeito da temperatura ambiente deve


ser considerado, pois ela influi na capa-
cidade de isolamento de um sistema. A
resistência de isolamento tende a cair
quando a temperatura aumenta.

Segurança é outro item que devem ser


levados em conta na realização das medidas
de isolamento. Ela não depende apenas do
instrumento, mas também da maneira como
ele é usado. Para o caso de se trabalhar com
segurança, as seguintes recomendações são
dadas pela Fluke.

● Trabalhe sempre com o circuito dese-

nergizado. Procedimentos redobrados


para se garantir que realmente não há
energia no circuito analisado devem ser
levados em conta.

139
Newton C. Braga

● Para trabalhar em circuitos energiza-

dos, use recursos de proteção redobra-


dos como ferramentas isoladas, roupas
apropriadas, não use relógios ou joias,
permaneça em local isolado.

● Quando trabalhar em circuitos energiza-

dos, faça a conexão sempre antes no


terminal de terra e somente depois no
circuito energizado. Remova sempre a
ponta ou clip do terminal energizado an-
tes do terminal de terra.

● Não segure o instrumento com as mãos.

Pendure-o ou prenda-o em algum lugar


para evitar um contacto com ele, mini-
mizando assim as possibilidades de que
transientes possam atingi-lo. A figura 2
mostra esse caso.

140
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

● Use o modo de teste dos três pontos, es-

pecialmente com estiver verificando se


um circuito está “morto”. Primeiro teste
um circuito vivo conhecido. Depois teste
o circuito visado e finalmente teste o
circuito vivo novamente. Isso permite
verificar se o instrumento está funcio-
nando apropriadamente antes e depois
das medidas realizadas.

141
Newton C. Braga

● Use o velho truque dos eletricistas de

manter uma das mãos no bolso. Isso eli-


mina a possibilidade de suas duas mãos
formarem um circuito que passa pelo
seu coração! A figura 3 mostra o que
ocorre quando uma corrente passa en-
tre as mãos de uma pessoa em caso de
um acidente.

142
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Para realizar testes específi-


cos de isolamento:
● Nunca conecte o medidor de isolamento

a condutores energizados ou equipa-


mento energizado. Sempre siga as reco-
mendações do fabricante.

● Desligue completamente o equipamento

que está sendo analisado, retirando ou


abrindo fusíveis, chaves e disjuntores.

● Desconecte qualquer condutor que con-

sista numa ramificação para o circuito


em teste, condutores de terra, e todos
os equipamentos que eventualmente es-
tejam conectados ao circuito analisado.

143
Newton C. Braga

● Descarregue a capacitância do condu-

tor. Muitos instrumentos possuem uma


função para essa finalidade.

● Verifique se não existem correntes de

fuga através de chaves, fusíveis e outros


elementos do circuito em teste. Elas po-
dem causar indicações errôneas.

● Nunca use o instrumento em uma at-

mosfera explosiva ou inflável. Os transi-


entes podem gerar arcos capazes de
produzir incêndio ou explosão.

● Use luvas de borracha para conectar as

pontas de prova.

144
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

A Resistência de Isolamento
Não se trata de uma simples resistência
ôhmica que se mede quando se faz o teste de
isolamento de um circuito. Muito mais que
isso, a resistência de isolamento e as corren-
tes de fugas possuem diversas componentes
que devem ser levadas em conta num teste.
Quando o medidor de isolamento é usado, ao
se pressionar o botão de teste, uma alta ten-
são DC é gerada e aplicada ao circuito, produ-
zindo uma corrente da ordem de microampè-
res.
A intensidade dessa corrente revela o
estado do isolamento, mas ela não depende
apenas de uma eventual resistência ôhmica,
mas sim de três componentes que devem ser
levadas em conta e que são analisadas a se-
guir.

145
Newton C. Braga

1.Corrente de Fuga Condu-


zida
Conforme mostra a figura 4, essa cor-
rente da ordem de microampères normalmen-
te fui através do isolamento entre condutores
ou entre um condutor e a terra.

A intensidade dessa corrente aumenta


quando o isolamento se deteriora. Essa é a
corrente mais importante quando se analisa o
estado do isolamento de condutores.

146
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

2.Corrente de Fuga Capaci-


tiva
Conforme mostra a figura 5, dois condu-
tores que estão próximos ou que correm para-
lelos se comportam como um capacitor.

Devido a esse capacitor virtual, uma


corrente de fuga flui entre eles, sendo uma
corrente temporária que dura apenas alguns
segundos, o tempo suficiente para carregar o
capacitor virtual. Nos circuitos em que a ca-
pacitância é elevada, essa corrente pode de-

147
Newton C. Braga

morar para se reduzir a zero, o que deve ser


levado em conta na sua análise.

3.Corrente de Fuga por Ab-


sorção de Polarização
Essa corrente é provocada pela polari-
zação das moléculas do material dielétrico
usado no isolamento dos condutores. Nos cir-
cuitos de baixa capacitância, essa corrente é
intensa no início, caindo rapidamente até
zero. Nos circuitos de alta capacitância ou
ainda que tenham o isolante contaminado,
essa corrente não diminui, por longos interva-
los de tempo. Na figura 6 temos um gráfico
que mostra o comportamento das três corren-
tes que influem nos testes de isolamento.

148
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Testes Práticos
O teste básico de isolamento é uma pro-
va do tipo SIM ou NÃO, ou seja, o circuito es-
tá ou não bom para operação, eventualmente
devendo passar por um processo de manuten-
ção se for constatada uma degradação ou pro-
blemas mais graves. A instalação ou equipa-
mento em teste são considerados satisfatórios
se durante o teste não for constatada nenhum
problema de ruptura do isolamento. Para rea-

149
Newton C. Braga

lização do teste deve-se começar escolhendo a


tensão de teste.

A Tensão de Teste
Normalmente a tensão aplicada ao cir-
cuito que está sendo testado varia entre 500 e
5 000 volts, com uma duração da ordem de
um minuto. É comum que a instalação seja
testada com uma tensão acima da tensão nor-
mal de trabalho de modo a se detectar even-
tuais fugas que não ocorreriam em condições
normais.
Normalmente, para cabos novos a ten-
são é da ordem de apenas 60% a 80% da ten-
são de teste indicada pelo fabricante. Se essa
tensão não for conhecida uma prática comum
é aplicar uma tensão que seja o dobro da ten-
são nominal do cabo mais 1 000 V. A tensão
nominal do cabo é a tensão máxima que o

150
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

condutor pode ser exposto por um tempo pro-


longado, normalmente gravada no próprio
condutor. Veja que para sistemas de duas ou
três fases a tensão é especificada por fase.
Na figura 7 mostramos como o teste
deve ser feito.

Procedimento de Teste
Recomenda-se a seguinte sequência de
procedimentos para a realização de um teste
numa instalação.

151
Newton C. Braga

● Use a função de medida de tensões do

Megohmetro para verificar se o circuito


em teste não está energizado.

● Selecione a tensão de teste apropriada.

● Conecte o terminal de terra e toque a

ponta viva a um ponto de terra qualquer


para certificar-se de que o terra conec-
tado está operante.

● Conecte a ponta de prova vermelha no

circuito que vai ser testado.

● Pressione o botão de teste para aplicar

a tensão no circuito, lendo então a resis-


tência apresentada no indicador de cris-
tal líquido. Pode ser necessário esperar

152
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

algum tempo até que a leitura estabili-


ze.

● Quanto maior for a resistência lida me-

lhor as condições de isolamento do cir-


cuito.

153
Newton C. Braga

● Teste cada condutor do cabo em relação

à terra.

● Se algum condutor testado não passar

no teste procure verificar a causa.

Conclusão
Um bom isolamento de cabos e equipa-
mentos é fundamental em qualquer instala-
ção. Ter como testar esse isolamento é igual-
mente importante para todo o profissional.
Nesse artigo vimos como funciona o medidor
de isolamento ou Megohmetro e demos algu-
mas indicações sobre seu princípio de funcio-
namento e uso.

154
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Frequencímetros
A medida de frequências é fundamental
em muitos trabalhos de Eletrônica. Uma gran-
de quantidade de equipamentos depende da
frequência exata de um oscilador ou ainda de
um sinal de entrada para seu correto funcio-
namento. O ajuste ou monitoramento desta
frequência exige o uso de instrumentos espe-
ciais. Estes instrumentos são os frequencíme-
tros e podem ter diversos princípios de funci-
onamento, conforme veremos neste artigo.
Frequências tão baixas como os 60 Hz
da rede de energia ou tão altas como as pro-
duzidas pelo clock de um computador ou por
um transmissor de microondas, superando 1
GHz, formam o espectro de atuação do profis-

155
Newton C. Braga

sional da Eletrônica. Para atender estes pro-


fissionais na medição destas frequências, te-
mos aparelhos denominados frequencímetros
que podem ser basicamente de dois tipos:

a) Analógicos, em que existe um indica-


dor que pode ser uma agulha que corre numa
escala com divisões.

b) Digitais, em que a indicação é feita


por um indicador de dígitos, cuja quantidade
depende da precisão desejada.

Os princípios de funcionamento dos fre-


quencímetros variam conforme sua aplicação
e também a faixa de frequências que devem
medir.
Neste artigo, bastante útil para o técni-
co de instrumentação e o estudante, vamos

156
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

analisar o funcionamento de alguns tipos de


frequencímetros mais comuns.

FREQUENCÍMETRO DE LIN-
GUETAS
Na figura 1 temos o aspecto e a estrutu-
ra interna simplificada de um frequencímetro
de linguetas.

Figura 1 – Frequencímetro de linguetas

157
Newton C. Braga

Este frequencímetro normalmente é


usado para monitorar a frequência da rede de
energia de 60 Hz e por isso tem uma faixa de
medidas bastante estreita, normalmente de
uns 10% para cima e para baixo do valor cen-
tral, conforme podemos ver pela sua escala.
Seu princípio de funcionamento é bastante in-
teressante, pois se baseia na frequência de
ressonância de vibração de uma lingueta de
metal (daí o seu nome).
Temos então um conjunto de linguetas
de metal, cortadas em tamanhos diferentes e
colocadas em forma progressiva diante de um
eletroímã, de tal forma que cada uma tenha
uma frequência de ressonância diferente. As-
sim, a lâmina tenderá a vibrar mais intensa-
mente, produzindo um movimento de maior
amplitude na frequência que lhe seja própria.
Isso significa que, aplicando à bobina
uma tensão alternada de 60 Hz, todas as lâmi-

158
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

nas serão excitadas pelo campo alternado cri-


ado, tendendo a vibrar na sua frequência. No
entanto, a que consegue vibrar com mais am-
plitude é justamente a que foi cortada para
ressoar nesta frequência e isso pode ser facil-
mente observado pelo painel, verifique a figu-
ra 2.

Figura 2 – Frequencímetro de lingueta comum

Se a frequência da rede se alterar e


cair, digamos para 58 Hz, a lâmina que irá vi-
brar mais intensamente não mais será a que

159
Newton C. Braga

foi cortada para ter uma frequência de resso-


nância de lâmina vibrante 60 Hz, mas sim ou-
tra, e a indicação será visível. Veja que as lâ-
minas adjacentes àquela cuja frequência cor-
responda ao sinal também vibram com um
pouco mais de intensidade. Esta propriedade
dá a resolução do instrumento, que é da or-
dem de 0,5 a 2 hertz para os tipos comuns.

FREQUENCÍMETRO DE AB-
SORÇÃO
Este é um instrumento analógico bas-
tante simples que pode ser usado com sinais
de frequências relativamente altas e de inten-
sidade suficiente para excitar seu circuito,
que é mostrado na figura 3.

160
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Figura 3 – Frequencímetro de absorção

Temos então um circuito ressonante li-


gado a um detector e a um medidor de cor-
rente. Aplicando o sinal na entrada do circui-
to, ajustamos o capacitor variável até obter a
leitura maior de corrente, o que indica que o
circuito está ressoando na frequência do si-
nal. A escala do capacitor variável é calibrada
previamente em frequência, o que permite ao
usuário ler o seu valor diretamente. Um in-
conveniente deste circuito é que o indicador
com o diodo representa uma carga para o cir-

161
Newton C. Braga

cuito oscilante, amortecendo o sinal e diminu-


indo a sua seletividade.
Com pequena seletividade, a precisão
diminui, pois se torna difícil obter o ponto de
máximo. Uma saída para melhorar este circui-
to consiste na utilização de um amplificador
de alta impedância entre o circuito ressonan-
te e o instrumento indicador, conforme a figu-
ra 4.

Figura 4 – Usando amplificador de alta impedância

162
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Veja que o instrumento usado serve


apenas para indicar o momento em que se ob-
tém o ajuste para a frequência que deve ser
lida. O instrumento, neste caso, não indica di-
retamente a frequência do sinal.

FREQUENCÍMETRO ANALÓ-
GICO
Um tipo de instrumento analógico para
a medida de frequências e que tem boa preci-
são para frequências que não superem alguns
megahertz é o que faz uso de um conversor
D/A ou conversor frequência/tensão. Um cir-
cuito deste tipo, por exemplo, e que faz uso de
um timer do tipo 555, é mostrado na figura 5.
Este circuito não é para o leitor montar: serve
apenas de exemplo para as explicações que
daremos sobre seu princípio de funcionamen-
to.

163
Newton C. Braga

Figura 5 – Frequencímetro analógico

Temos um monoestável disparado pelos


sinais cuja frequência deve ser medida. Ligan-
do na entrada do circuito um conformador de
pulsos que gere transições rápidas, apenas
uma por ciclo, conforme observamos na figura
6, temos o sinal digital ideal para o disparo do
monoestável.

Figura 6- Sinal digital

164
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

No disparo, o monoestável produz um


pulso cuja duração independe da frequência
do sinal de entrada. A duração do pulso é de-
terminada pela constante de tempo de um cir-
cuito RC escolhido cuidadosamente de acordo
com a faixa de frequências que desejamos me-
dir. Isso significa que, com frequências muito
baixas, os pulsos são bem separados e à medi-
da que a frequência aumenta, os pulsos vão
"se juntando" até que na frequência máxima
que o aparelho pode medir, eles praticamente
"encostam" um no outro, figura 7.

165
Newton C. Braga

Figura 7 –Pulsos produzidos pelo circuito

O que se faz então é ligar na saída do


monoestável um medidor de tensão através de
um circuito integrador. O circuito integrador
vai fazer com que o instrumento não responda
à intensidade dos pulsos individuais produzi-
dos pelo monoestável, mas sim, à intensidade
média destes pulsos. Logo, se os pulsos esti-
verem bem separados, a intensidade média

166
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

será pequena, e pequena a tensão aplicada ao


instrumento, figura 8.

Figura 8 – A distância entre os pulsos varia confor-


me a frequência

Conforme verificamos na mesma figura,


à medida que a frequência aumenta, a intensi-
dade média da tensão também aumenta, isso
é indicado pelo instrumento. Podemos então
estabelecer uma correspondência direta entre
a frequência do sinal de entrada aplicado ao
circuito e a tensão que deve aparecer na saí-

167
Newton C. Braga

da. Esta tensão, que corresponde à frequência


máxima, depende justamente da constante de
tempo do circuito RC do monoestável.
Usando o 555, por exemplo, é possível
usar um circuito como este para medir fre-
quências de até algumas centenas de quilo-
hertz. Evidentemente, a precisão deste circui-
to vai depender de diversos fatores, como:
a) A precisão da escala do instrumento
usado, ou seja, do ajuste da escala deste ins-
trumento.
b) A estabilidade do próprio circuito que
pode variar com a tensão ou com a própria
temperatura.

FREQUENCÍMETRO DIGITAL
Sem dúvida, um dos tipos de frequencí-
metros mais eficientes e mais precisos é o di-
gital, cuja aparência é mostrada na figura 9.

168
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Figura 9 – Frequencímetro digital

A precisão dependerá do número de


dígitos e também do próprio modo de funcio-
namento. Lembramos que para este tipo de
instrumento podemos considerar as versões
virtuais que possuem o mesmo princípio bási-
co de funcionamento, mas que aplicam seus
sinais a um PC, possibilitando sua visualiza-
ção num monitor, gravação dos valores numa
memória e até a realização de cálculos com
estes valores. Analisemos o princípio de funci-
onamento de um frequencímetro digital co-
mum cujo diagrama de blocos é mostrado na
figura 10.

169
Newton C. Braga

Figura 10 – Diagrama de blocos de um frequencíme-


tro

A ideia básica do frequencímetro digital


é contar o número de ciclos do sinal a ser me-
dido num determinado intervalo de tempo. Se
o intervalo escolhido for 1 segundo a coisa
fica simplificada, pois a quantidade de ciclos

170
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

por segundo é numericamente igual à fre-


quência. No entanto, para muitas aplicações,
a contagem em intervalos de 1 segundo é
muito longa, e prefere-se fazer a contagem
em intervalos menores, por exemplo, de 0,1
segundo.
Assim, se contarmos 100 ciclos de um
sinal em uma amostragem de 0,1 segundo, sa-
bemos que em 1 segundo teremos 1 000 ci-
clos e que a frequência do sinal será de 1
kHz, conforme a figura 11.

Figura 11 – O tempo de amostragem

É claro que a amostragem não pode ser


única, pois em muitas análises de equipamen-

171
Newton C. Braga

tos, a frequência do sinal pode variar de mo-


mento a momento. O que temos então pode
ser visto pelo diagrama de blocos. Um circuito
de amostragem habilita um contador de pul-
sos do sinal de entrada em intervalos regula-
res, deixando-os passar por um certo tempo:

- tempo de amostragem.
Cada vez que este circuito habilita a
passagem dos sinais, ele ao mesmo tempo
zera um contador que vai receber estes sinais
e fazer sua contagem. A precisão deste tipo
de instrumento depende totalmente da preci-
são com que podemos obter o intervalo de
tempo de amostragem. Para esta finalidade
existem duas possibilidades:
Se o instrumento é alimentado pela
rede de energia, podemos usar o próprio sinal
desta rede para fazer o sincronismo do circui-

172
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

to de amostragem. Assim, conforme observa-


mos na figura 12, basta fazer a divisão do si-
nal de 60 Hz por 6 com circuitos integrados
comuns, para obter um sinal de 10 Hz e com
isso a amostragem de 0,1 segundo.

Figura 12 – Obtendo sinais de 1 a 10 Hz

Veja que neste circuito o sinal da rede


de energia passa por um circuito conformador
de pulsos que modifica a sua forma de onda
de modo que ela possa ser usada para dispa-
rar um circuito integrado digital. Se o instru-
mento é portátil, a frequência de amostragem
pode ser obtida por um oscilador a cristal aco-

173
Newton C. Braga

plado a um divisor de frequências devidamen-


te projetado para dar a frequência de amos-
tragem em sua saída.
Voltando ao bloco contador, ele não ali-
menta diretamente o mostrador, mas sim o
faz através de um circuito de latch (memória).
Assim, num primeiro instante, o circuito de
amostragem deixa passar os sinais a serem
contados e estes são levados ao Latch que os
armazena, aplicando-os ao mostrador. En-
quanto uma nova amostragem ocorre, o latch
mantém nos displays o valor anterior e só o
apresenta no final desta contagem.
Se o mostrador fosse ligado diretamente
aos circuitos contadores, os mostradores fica-
riam constantemente mudando de número e
não teríamos um valor fixo para leitura. Com
o uso dos latches controlados pelos circuitos
de amostragem, o que pode acontecer é uma
mudança de dígito no final da contagem, pela

174
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

pequena diferença que pode ocorrer quando a


frequência não é um múltiplo inteiro da fre-
quência de amostragem, sem prejudicar a lei-
tura.
Assim, é comum observarmos que o últi-
mo dígito apresentado por um frequencímetro
apresenta oscilações, mesmo quando estamos
medindo um sinal de frequência fixa. Veja que
a frequência máxima que um frequencímetro
deste tipo pode medir depende basicamente
da capacidade de resposta dos circuitos usa-
dos na entrada. Usando circuitos TTL comuns,
por exemplo, podemos ir a algumas dezenas
de megahertz, e usando integrados CMOS, o
valor máximo estará em torno de 10 MHz
para uma alimentação de 10 V aproximada-
mente.
No entanto, podemos ampliar bem o al-
cance deste tipo de instrumento usando cir-
cuitos TTL de alta velocidade ou circuitos

175
Newton C. Braga

prescalers. Os prescalers nada mais são do


que divisores de frequência, normalmente di-
visores por 10, intercalados entre a fonte de
sinal e o frequencímetro, conforme a figura
13.

Figura 13 – Usando prescalers

Usando circuitos integrados rápidos,


eles podem trabalhar com sinais de frequên-
cias muito mais altas do que as admitidas pe-
los frequencímetros. Assim, podemos usar um
prescaler para ampliar o alcance de um fre-
quencímetro de 30 MHz para 300 MHz, usan-
do um destes circuitos.

176
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

OUTROS PROCESSOS DE ME-


DIÇÃO DE FREQUÊNCIA
Existem outros processos para a medida
de frequências que não fazem uso de um ins-
trumento específico. Podemos medir a fre-
quência de um sinal usando um Osciloscópio e
um gerador de sinais. Acoplando a fonte de si-
nal e o gerador de sinais ao osciloscópio, ob-
temos figuras cuja forma depende da relação
de frequências entre os sinais, veja figura 14.

Figura 14 – Usando o osciloscópio

177
Newton C. Braga

Estas figuras de Lissajous possibilitam a


medição de frequências de sinais com boa
precisão, além de determinar suas fases. Te-
mos também a possibilidade de medir a fre-
quência de sinais usando pontes. Uma das
pontes usadas na medida de frequência é a
ponte de Wien, figura 15.

O equilíbrio da ponte depende da fre-


quência do sinal e do valor de um capacitor

178
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

que pode ser ajustável. Assim, o nulo da ponte


será obtido quando o capacitor, que tem uma
escala calibrada, estiver numa determinada
posição que depende justamente da frequên-
cia.

179
Newton C. Braga

Conheça os Presca-
lers

No projeto de frequencímetros para al-


tas frequências, sintetizadores de frequência
digitais, receptores digitais para as faixas
mais altas de VHF e UHF, um elemento indis-
pensável é o Prescaler. Reduzindo uma fre-
quência de entrada para um valor definido,
ele compatibiliza esta frequência com as ca-
racterísticas dos circuitos digitais de proces-
samento. normalmente mais lentos. Veja nes-
te artigo como funcionam estes circuitos e os
tipos comuns da National Semiconductor (*)
com que podemos contar.

180
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Os circuitos digitais de tecnologia TTL e


mesmo CMOS mais rápidos não podem operar
com frequências que vão além de algumas de-
zenas de megahertz. No entanto, a tecnologia
atual exige em alguns casos que estes circui-
tos tenham condições de processar informa-
ções que são disponíveis a partir de sinais de
frequências bem mais altas.
Receptores para a faixa de VHF e UHF
sintetizados digitalmente são comuns, e a pró-
pria recepção de FM e TV exige tais elemen-
tos. Na parte de instrumentação, osciloscó-
pios digitais, frequencímetros, e outros instru-
mentos como sintetizadores de frequências
exigem a operação em frequências que vão
muito além do que os mais modernos TTL e
CMOS conseguem.
A solução para a elaboração destes pro-
jetos, operando com sinais de frequências

181
Newton C. Braga

muito altas, mas usando lógica digital comum,


é a que passa pelo Prescaler.
Neste artigo focalizamos este importan-
te elemento de projeto com as características
de alguns tipos comuns que podem ser obti-
dos da National Semiconductor (agora Texas
Instruments – www.ti.com. Se tivermos um
frequencímetro cuja frequência máxima de
operação seja, por exemplo, 32 MHz, como o
que publicamos no site uma maneira simples
de conseguirmos elevar seu alcance é a liga-
ção na sua entrada de um divisor por um fator
conhecido da frequência de entrada, confor-
me mostra a figura 1.

Figura 1 – Dividindo frequências para medida

182
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Se este divisor conseguir operar até 320


MHz, poderemos facilmente medir sinais des-
ta frequência, pois eles corresponderão a 32
MHz na saída, o que está dentro do alcance
do aparelho. Bastará então mudar mental-
mente na leitura, à posição da vírgula, multi-
plicando o resultado por 10, que é o fator de
divisão do prescaler. É claro que a divisão por
múltiplos de 10 facilita a leitura e o próprio
uso do prescaler num projeto, mas estes divi-
sores não são obrigatórios.
Dependendo da aplicação, o número
pelo qual o sinal é dividido pode até ser esco-
lhido de modo a facilitar o projeto. Num caso
de aplicação em instrumento de medida, bas-
ta lembrar que o valor lido deve ser multipli-
cado pelo valor pelo qual foi feita a divisão da
frequência. Evidentemente, para se obter si-
nais compatíveis com tecnologia digital numa

183
Newton C. Braga

velocidade muito alta é preciso uma tecnolo-


gia especial. Desta forma, os prescalers dispo-
níveis na forma de circuitos integrados devem
ter algumas características que precisam ser
levadas em conta num projeto.
Embora eles sejam dotados de amplifi-
cadores internos de alta velocidade, a sensibi-
lidade de um prescaler normalmente é menor
do que a das entradas de circuitos integrados
TTL ou CMOS. Este fato precisa ser levado
em conta na medida de sinais fracos.
Outro ponto importante no projeto de
aparelhos que usem tais prescalers é o refe-
rente ao acoplamento do sinal de entrada ao
circuito. Conexões especiais com baixas per-
das e que mantenham a impedância necessá-
ria à transferência do sinal são obrigatórias.
Finalmente, temos a necessidade de ob-
servar os desacoplamentos do prescaler, com

184
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

a ligação de capacitores junto ao pino de ali-


mentação.

OS CIRCUITOS
A National Semiconductor possui diver-
sos circuitos integrados que se destinam à di-
visão de frequência de sinais da faixa de VHF
e mesmo UHF. Dentre eles destacamos os
DS8614, DS8615, DS8616 e DS8617, que se
destinam a frequências de operação de 130 a
225 MHz. Os tipos acima indicados se desti-
nam a divisão por 20/21, 32/33, 40/41 e
64/65, respectivamente.
Na figura 2 temos o diagrama em blocos
equivalente a estes dispositivos, observando-
se a existência de uma entrada de controle
(modulus control) que permite programar a
divisão por um valor e por este valor mais um
(20 ou 21, no caso do DS8614, por exemplo).

185
Newton C. Braga

Figura 2 – Diagrama de blocos dos dispositivos

As entradas do circuito são bufferizadas


de modo a se obter maior sensibilidade. Isso
leva o circuito a ter sensibilidades de 40 a 100
mV. As saídas complementares permitem que
o circuito seja utilizado tanto com configura-
ções totem-pole como open-Collector. Essas
saídas são projetadas para excitar integrados
TTL na transição positiva do sinal. A alimenta-
ção poderá ser feita tanto com tensão não re-
gulada de 5,5 a 13,5 V como a partir de ten-
são estabilizada de 5 V com tolerância de
10%. Na figura 3 temos a pinagem do compo-

186
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

nente, que é apresentado em invólucro DIL de


8 pinos.

Figura 3 – Pinagem do componente

A resistência de entrada do dispositivo


para um sinal de 100 MHz é de 1 k ohms, e a
capacitância de entrada é de 3 pF (min). Os
sufixos dos componentes indicam a frequên-
cia máxima de operação, conforme se segue:
Sufixo 4 - 130 MHz
Sufixo 3 -130 MHz
Sufixo 2 - 225 MHz
Sem sufixo - 225 MHz
Na figura 4 temos um circuito de aplica-
ção com fonte não estabilizada.

187
Newton C. Braga

Figura 4 – Circuito de aplicação

Observe que a entrada do sinal é feita


por meio de um capacitor de 1 nF. Para ope-
ração com fonte estabilizada temos o circuito
mostrado na figura 5.

Figura 5 – Circuito com fonte estabilizada

188
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Dentre as aplicações sugeridas pela Na-


tional temos a síntese de frequência em re-
ceptores de FM e VHF, além de frequencíme-
tros de baixo custo. Para a operação em fre-
quências mais elevadas a National tem o cir-
cuito Integrado DS8621, de 275 MHz a 1,2
GHz. Na figura 6 temos o diagrama de blocos
deste componente.

Figura 6 – O DS8621

A pinagem é apresentada na figura 7.

189
Newton C. Braga

Figura 7 - Pinagem do DS8621

A aplicação indicada pelo fabricante é


em sintonizadores de TV, realizando a divisão
de frequência por 64 a partir da entrada de
VHF e por 256 a partir da entrada de UHF. A
entrada bufferizada lhe garante uma sensibili-

190
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

dade de 50 mV tanto para frequências até 275


MHz (entrada de UHF) A saída deste compo-
nente é totalmente compatível com tecnologia
TTL. A entrada BSW permite a realização de
uma seleção eletrônica de qual sinal está sen-
do dividido. A tensão de alimentação do cir-
cuito é feita a partir de 5 V com uma tolerân-
cia de 10%. Outro prescaler da National com
divisão por 24 é o DS8627, que possui pratica-
mente a mesma estrutura interna do DS8628,
divisor por 20, conforme mostra a figura 8.

Figura 8 – o DS6827/28

191
Newton C. Braga

Na figura 9 temos a pinagem válida


para os dispositivos apresentados, em invólu-
cro DIL de 8 pinos.

Figura 9 – Pinagem do DS6827/28

Estes dispositivos podem operar com


frequências de 130 a 225 MHz, e a entrada
bufferizada lhes garante sensibilidades de 40
a 100 mV.
Os dispositivos com sufixo 3 e 4 são
para frequências de até 130 MHz, enquanto
os que apresentam sufixo 2 são para frequên-

192
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

cias de até 225 MHz. Na figura 10 temos um


circuito típico de aplicação, observando-se a
necessidade de capacitor de desacoplamento
de fonte junto ao pino de alimentação e que a
entrada de sinal é feita por um capacitor de 1
nF.
Um componente que tem especial inte-
resse para aplicações em frequencímetros é o
DS8629 da National, que divide a frequência
por 100 e pode operar até 120 MHz. Na figu-
ra 10 temos o diagrama em blocos correspon-
dente a este dispositivo.

Figura 10 - Diagrama de blocos do DS8629

193
Newton C. Braga

A disposição dos terminais em invólucro


DIL é mostrada na figura 11.

Figura 11 – Invólucro do DS8629

A alimentação é feita com tensão de 5,2


V com tolerância de 10%, e sua saída é com-
patível com a família TTL. O circuito prevê a
operação com sinais senoidais de entrada di-
retamente, na faixa de frequências entre 30 e
120 MHz. Na figura 12 temos um diagrama
de aplicação para este componente.

194
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Figura 12 – Circuito para o DS8629

Para frequências abaixo de 30 MHz a


operação do circuito torna-se dependente da
taxa de crescimento do sinal de entrada. Uma
taxa de crescimento de pelo menos 100 V/us é
importante para a correta operação do dispo-
sitivo. Se a fonte de sinais for TTL, a entrada
não utilizada de sinal deve ser aterrada via
um resistor de 10 k ohms, e o capacitor de
acoplamento de entrada deve ser eliminado.

195
Newton C. Braga

Medida de Distân-
cias Através de Sons
O experimento apresentado neste artigo
é bastante interessante e pode ser incluído na
parte prática de cursos de eletrônica, mostra
como podemos medir distâncias através de re-
flexão de sinais, especificamente os sons. Com
a experiência demonstramos na prática o
princípio de funcionamento do sonar e o es-
tendemos ao radar. Um circuito não crítico
apenas pode ser mantido no laboratório para
realização do experimento.
A demonstração do princípio do funcio-
namento do sonar e da medida de distância
por meio da reflexão de sons pode ser feita de
maneira simples num laboratório de eletrôni-

196
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

ca que possua um osciloscópio. Os poucos ele-


mentos adicionais necessários e que podem
ser montados até mesmo numa matriz de con-
tatos, facilitam a demonstração e sua precisão
é bastante boa dentro das dimensões de uma
sala de aula.
O circuito permite demonstrar como
funciona o sonar (medida de profundidade por
eco), a medida de distância por pulsos usada
em eletrônica industrial, e até mesmo pode
ser estendida ao radar, que tem como diferen-
te apenas o fato de usar ondas de rádio e não
ondas acústicas. Como no nosso projeto expe-
rimental usamos ondas sonoras de pequena
potência, a montagem não é crítica, não ofere-
ce perigos de manuseio além de usar compo-
nentes de baixo custo.

197
Newton C. Braga

CARACTERÍSTICAS DO PRO-
JETO
Alcance: 1 cm a 5 m
Frequência de operação: entre 20 e 10
000 Hz
Potência de emissão: inferior a 1 W
Tensão de alimentação: 6 a 12 V

O PRINCÍPIO ENVOLVIDO
O som se propaga pelo ar, em condições
normais de temperatura e pressão, a uma ve-
locidade que pode ser aproximada para 340
m/s. Isso significa que se o som puder ser re-
fletido num obstáculo, conforme ilustra a figu-
ra 1, teremos um retorno que demorará para
chegar à fonte emissora um tempo proporcio-
nal à distância.

198
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Figura 1 – A reflexão do som

Caso o obstáculo estiver a 17 m de dis-


tância, o som terá que percorrer 34 m para ir
e voltar e levará no trajeto 1/10 de segundo.
Se quisermos usar ondas sonoras para medir
distâncias o que precisamos então é de um
dispositivo emissor, um dispositivo que receba
o eco, e algo capaz de medir o tempo que de-
corre entre a emissão e recepção, conforme
ilustra a figura 2.

199
Newton C. Braga

Figura 2 – Princípio usado na medição de distâncias

O emissor para o caso de ondas sonoras


é um simples oscilador de áudio ligado a um
amplificador, e a um alto-falante. O receptor é
um microfone ligado a um amplificador, e o
dispositivo capaz de medir os tempos é um os-
ciloscópio. No entanto, para podermos atingir
nossos objetivos, algumas considerações téc-
nicas em relação aos sinais usados devem ser

200
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

feitas. Se trabalharmos com um sinal senoi-


dal, a ondulação que ele representa, pode
confundir-se facilmente com o eco e não tere-
mos definição do seu retorno.
Para termos uma definição no retorno,
precisamos trabalhar com pulsos de curta du-
ração. Desta forma, no nosso projeto temos
um oscilador que produz a uma certa frequên-
cia, pulsos de duração muito curta e que são
aplicados ao alto-falante. Desta forma, estes
pulsos são inicialmente aplicados ao Oscilos-
cópio para dar a referência a contagem de
distância, ou seja, para fazer a marcação do
zero de distância. O pulso propaga-se então
na forma de som, e ao ser captado de volta
pelo microfone é levado ao osciloscópio de-
pois de amplificado, resultando num pulso de
retorno, conforme mostra a figura 3.

201
Newton C. Braga

Figura 3 – Visualização dos pulsos num osciloscópio

A separação entre o pulso produzido e o


retorno, nos dá a distância entre o objeto re-
fletor e a fonte de sinal. Na figura 4 mostra-
mos que, se o pulso for de curta duração po-
demos facilmente distinguir o pulso refletido
do sinal emitido, o que não ocorre se o pulso
tiver uma duração mais longa, quando então
pode haver uma mistura do retorno do sinal
que ainda está indo, dificultando medidas de
distâncias curtas.

202
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Figura 4 – Definição precisa com pulsos curtos

A taxa de repetição dos pulsos é impor-


tante, pois determina a faixa de distâncias
que podemos medir. Isso deve ser levado em
conta, pois o pulso de retorno deve estar pre-
sente no microfone antes que o pulso seguinte
de envio seja produzido. Desta forma, se os
pulsos forem produzidos, numa frequência de
100 Hertz, isso significa que o som percorrerá
3,4 metros no intervalo de tempo existente
entre dois pulsos. Esta será a distância alcan-
çada, com esta frequência, (figura 5).

203
Newton C. Braga

Figura 5 – Exemplo prático de medida

É fácil perceber que, se formos medir as


distâncias maiores, precisaremos de frequên-
cias cada vez mais baixas. Para demonstra-
ções numa sala de aula, usamos um objeto de
médias dimensões (anteparo) pequeno como
refletor, frequências entre 50 e 200 Hertz po-
dem ser utilizadas sem problemas.

NOSSO CIRCUITO
Na figura 6 temos o diagrama completo
do equipamento experimental que usamos
para demonstrar estes princípios.

204
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Figura 6 – Diagrama do aparelho

O conjunto pode ser montado numa ma-


triz de contatos ou então em placa de circuito

205
Newton C. Braga

impresso com a disposição mostrada na figura


7.

Figura 7 – Placa para a montagem

O potenciômetro P1 ajusta a frequência


dos pulsos, enquanto o resistor R2 que pode
ser reduzido até 2,2 kg determina a duração

206
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

dos pulsos. O CI 4093 funciona como um osci-


lador onde a frequência depende também do
capacitor C2. Neste circuito o capacitor car-
rega-se através do diodo rapidamente pois
esse tempo é dado pelo resistor R2 e descar-
rega-se lentamente pelo resistor R1 e pelo po-
tenciômetro P1. O pulso é aplicado ao buffer e
depois ao transistor amplificador
Uma possibilidade de se obter pulsos
com polaridade invertida para monitoração é
mostrada pela ligação com linhas pontilhadas.
Para maiores potências, nada impede que em
lugar do circuito usado tenhamos a aplicação
dos pulsos a um amplificador de áudio mais
potente. O receptor é um microfone de eletre-
to que aplica os sinais a um integrado LM386.
No potenciômetro P2 temos a sensibilidade e
em P3 o nível de saturação para a entrada do
osciloscópio.

207
Newton C. Braga

Em operação, uma vez feito o ajuste de


P3, trabalharemos apenas com P1 e P2. Já que
temos frequências baixas, o emissor é um
tweeter, mas com pulsos de curtíssima dura-
ção que correspondem a uma velocidade de
resposta rápida.
O receptor é um eletreto comum. Os cir-
cuitos integrados podem ser montados em so-
quetes e os resistores são de 1/8 W. O capaci-
tor C2 será escolhido de acordo com a faixa
de frequências que se pretende gerar. Os ca-
pacitores eletrolíticos são para 12 V ou mais e
os demais capacitores podem ser de poliéster
ou cerâmicos.
Para conexão ao Osciloscópio reco-
menda-se o uso de cabos blindados para que
roncos da rede não se sobreponham ao sinal
deformando-o. D1 é um diodo de silício de
uso geral, e o transistor Q1 deve ser dotado
de um pequeno radiador de calor. Na figura 8

208
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

temos uma sugestão de fonte de alimentação


para este equipamento.

Figura 8 – Sugestão de fonte de alimentação

PROVA E USO
Ligue a saída do circuito à entrada ver-
tical do osciloscópio e selecione no osciloscó-
pio uma varredura lenta (1 ms, por exemplo).
Ajuste o osciloscópio e também P1 para obter
um pulso ou dois na tela, conforme mostra a
figura 9.

209
Newton C. Braga

Figura 9 – Ajustando o osciloscópio e P1

Aponte então o alto-falante para um ob-


jeto próximo (um anteparo com pelo menos
30 x 50 cm), a uma distância de 10 a 30 cm,
um livro por exemplo. O microfone do recep-
tor deve estar posicionado junto ao emissor,
conforme mostra a figura 10.

210
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Figura 10 – Posicionamento do microfone

Deve ser produzido um pulso de eco que


aparecerá na imagem depois de atuarmos so-
bre P2 e P3 para que ele tenha a maior inten-
sidade. Pela separação do pulso de eco do pul-
so emitido, temos a distância entre o objeto e
o aparelho emissor, (figura 11).

211
Newton C. Braga

Figura 11 – Exemplo de imagem obtida

Numa demonstração, o operador deve


movimentar o livro ou objeto que sirva de re-
fletor para frente e para trás e mostrar aos
presentes como a posição do eco se modifica
na tela. Veja também que a medida que o ob-
jeto se afasta a intensidade do eco diminui.
Num ambiente grande em que desejamos ob-
ter ecos de coisas a uma boa distância, o sis-

212
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

tema deve ser dotado de recursos direcionais


para que não ocorram reflexões múltiplas.
Num curso técnico, o professor pode propor
aos alunos problemas como:
Dado a frequência de varredura e a se-
paração dos pulsos, determinar a distância
em que se encontra o objeto detectado. Deter-
minar a maior frequência que se pode usar
para detectar um objeto até certa distância.
Supondo que em lugar de som sejam usadas
ondas de rádio que a distância estaria o obje-
to num certo experimento (dada a separação
dos pulsos).

LISTA DE MATERIAL
CI-1 - 4093 - circuito integrado CMOS
CI-2 - LM386 - circuito integrado
Q1 - TIP31 - transistor NPN de potência
D1 - 1N4148 - diodo de silício

213
Newton C. Braga

MIC - microfone de eletreto


FTE - 8 ohms x 10 cm ou tweeter - alto-
falante ou tweeter
P1 - 1 M ohms - potenciômetro
P2 - 10 k ohms - potenciômetro
P3 - 1 k ohms - trimpot
C1 e C3 - 100 uF x 12 V - capacitores
eletrolíticos
C2 - 100 nF a 470 nF - capacitor de poli-
éster ou cerâmico
C4 - 470 nF - capacitor cerâmico ou po-
liéster ou cerâmico
C5 - 220 uF x 12 V - capacitor eletrolíti-
co
C6 - 100 nF - capacitor cerâmico ou po-
liéster
R1, R2, R6 e R7-10 k ohms x1/8 W - re-
sistor (marrom, preto, laranja)
R3 - 2,2 k ohms x 1/8 W - resistor (ver-
melho, vermelho, vermelho)

214
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

R4 - 100 k ohms x 1/8 W – resistor (mar-


rom, preto, amarelo)
R5 - 4,7 k ohms x 1/8 W - resistor (ama-
relo, violeta, vermelho)
Diversos: placa de circuito impresso,
fonte de alimentação, soquetes DIL para os
circuitos integrados, jaque de saída, fios, bo-
tões para os potenciômetros, fios solda, etc.

215
Newton C. Braga

Multímetro no Auto-
móvel
Em diversas ocasiões temos abordado o
uso do multímetro no automóvel que, a cada
dia, se torna mais sofisticado, com a utilização
de recursos eletrônicos como a ignição ele-
trônica, injeção, sistemas de alarme, controles
de temperatura e pressão de óleo etc. Neste
artigo, focalizamos de maneira simples o uso
do multímetro em mais algumas análises da
parte elétrica do carro. O assunto pode ser es-
tudado de uma maneira mais ampla no Iivro
“Os Segredos no Uso do Multímetro.
A importância do multímetro nos traba-
lhos gerais de eletricidade como, por exem-
plo, no lar, na oficina de eletrodomésticos, no

216
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

barco, no carro e em muitos outros casos,


pode ser comprovada pelas aplicações deste
instrumento encontradas nos nossos livros
“Como testar Componentes” volumes de 1 a 4
e “Os segredos no Uso do Multímetro em que
mais centenas de aplicações pormenorizadas
de diversos tipos são descritas.
No entanto, com a utilização cada vez
maior dos recursos eletrônicos nos automó-
veis, um instrumento prático de análise como
o multímetro torna-se indispensável para
quem deseja instalações ou reparos.
Que tipo de testes o multímetro pode fa-
zer na instalação elétrica de um carro e nos
seus equipamentos? Isto é o que veremos de
maneira simples neste artigo.

217
Newton C. Braga

O MULTÍMETRO SIMPLES
Para trabalhos em eletricidade e ele-
trônica no automóvel um multímetro simples
de baixo custo, como o mostrado na foto, ser-
ve perfeitamente.

Usaremos neste multímetro basicamen-


te as escalas de tensões e resistências que são
selecionadas através de uma chave. Coloca-
mos então a chave na posição correspondente
a escala a ser usada e encaixamos as pontas

218
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

de prova nos respectivos furos. É muito im-


portante alertar aos manos experientes que
não se deve usar qualquer outra escala que
não a recomendada numa medida, pois isso
pode causar danos ao instrumento.
A leitura dos valores nas escalas é sim-
ples, devendo apenas o usuário ter o cuidado
de levar em conta os fatores de multiplicação
ou os fundos de escala marcados na chave.
Assim, como mostra a figura 1, temos leituras
de 5000 ohms na escala de resistências
(OHMS x 1k ou x 1000) e 20 V (V DC 0-100).

Figura 1 – Exemplos de leituras

219
Newton C. Braga

A polaridade das pontas de prova tam-


bém precisa ser observada nas medidas de
tensão (VoIts), pois nos carros temos a ali-
mentação por tensão contínua.

a) Interrupções de cabos
No circuito elétrico de um automóvel,
um dos condutores de energia é o próprio
chassi, geralmente conectado ao pólo negati-
vo da bateria, fazendo a função de terra,
como mostra a figura 2.

220
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Figura 2 – Usando o chassi como terra

Desta forma, para alimentar qualquer


dispositivo elétrico do carro, basta um fio, que
deve fazer conexão com o polo positivo. As-
sim, quando o fio estiver conectado ao pólo,
com o interruptor geral ligado, conforme mos-
tra a figura 3, devemos medir entre a ponta
deste fio e o chassi uma tensão igual à da ba-
teria, normalmente entre 12 e 13,6 V.

221
Newton C. Braga

Figura 3 – Verificando tensões no carro

Se houver uma interrupção interna do


fio ou um problema com o interruptor, a ten-
são lida será nula. Podemos saber se o proble-
ma é com o interruptor simplesmente verifi-
cando se antes dele temos a tensão da bate-
ria, conforme mostra a figura 4.

222
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Figura 4 – Testando o interruptor

Se após ligar o interruptor tivermos a


tensão, mas no extremo não, é sinal que exis-
te uma interrupção interna. O multímetro
deve estar na escala que permita ler Volts DC
até 15, aproximadamente. Quando existe ten-
são no final do fio, no ponto em que ele ali-
menta algum dispositivo como, por exemplo,

223
Newton C. Braga

uma lâmpada, um aparelho de som e outros, e


o dispositivo não funciona, os testes devem
ser feitos no dispositivo que é a causa do pro-
blema.

b) Testes de dispositivos diversos


O teste de dispositivos que devem apre-
sentar uma condutividade alta (baixa resistên-
cia) tais como lâmpadas, bobinas de relés e
fusíveis é simples, devendo ser feito com o
circuito desligado e o multímetro na escala
mais baixa de resistências, (Figura 5).

224
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Figura 5 – Teste de continuidade

Para o dispositivo bom (lâmpada e fusí-


vel) temos uma baixa resistência, variando en-
tre alguns ohms e algumas dezenas de ohms.
Um fusível queimado (aberto) ou uma lâmpa-
da queimada (aberta) deve apresentar uma
resistência infinita. É interessante testar o
dispositivo fora de seu suporte e depois no
próprio suporte, caso em que podemos cons-
tatar se o problema se deve a um mau contato

225
Newton C. Braga

no suporte. Este tipo de problema é comum


em soquetes de lâmpadas indicadoras.
Os painéis dos carros modernos são fei-
tos segundo a tecnologia do circuito impresso,
finas trilhas de cobre conduzem as correntes
para os instrumentos e lâmpadas indicadoras.
Estas trilhas, entretanto, podem ser rompidos
quer pelo manuseio (instalação ou troca de
um componente) quer por corrosão (figura 6).

Figura 6 – Recuperando trilhas

226
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Em alguns casos o local do rompimento


não pode ser descoberto visualmente, entre-
tanto em ação o multímetro.
O procedimento para uma emenda
numa trilha de placa rompida é bastante sim-
ples, sendo mostrado na figura 6. Raspamos
as trilhas no local do rompimento, deixando o
cobre completamente descoberto. Depois, co-
locamos um pouco de solda, de modo a esta-
belecer uma “ponte" para a corrente elétrica.
Um dos indicativos de que existem rompimen-
tos nas trilhas de um painel de instrumento é
a oscilação errática da agulha que ora indica
o valor normal e ora cai a zero, dependendo
da passagem do carro em buracos, ou quando
damos uma pancada no painel.
Os motores e relés de sistemas diversos
de um automóvel podem ser testados a partir
da medida de continuidade. Neste caso, en-
quadramos os relés de pisca-pisca, os motores

227
Newton C. Braga

de abertura de vidros, os solenoides de aber-


tura de porta-malas, os motores de antenas
elétricas etc. Na figura 7 temos o procedimen-
to básico de teste.

Figura 7 – Testando um motor

Observe que é preciso dar um pequeno


giro com a mão no eixo para que se verifique
a ação das escovas destes motores. A escala
utilizada no multímetro é a baixa de resistên-
cias (ohms x1), quando então verificamos a

228
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

continuidade dos enrolamentos. As resistên-


cias dos enrolamentos variam praticamente
entre zero e alguns ohms, pois as correntes
normalmente são elevadas (alguns ampères)
dada a força que alguns dos dispositivos exi-
gem para atuação.
É preciso observar que, em alguns ca-
sos, os enrolamentos dos dispositivos entram
em curto em lugar de abrir, causando assim a
queima do fusível. Neste caso, continuaremos
a medir uma baixa resistência na prova, mas o
dispositivo não poderá funcionar.
Devemos então fazer uma análise visual,
procurando sinais de queimado como, por
exemplo, o escurecimento dos fios esmalta-
dos, o forte cheiro de queimado etc.

229
Newton C. Braga

c) Alternadores
Os alternadores dos veículos modernos
são dotados de uma ponte retificadora com 6
diodos, conforme mostra a figura 8.

Figura 8 – Circuito do alternador

Se um ou mais dos diodos entrarem em


curto, o alternador deixa de produzir a cor-
rente que carrega a bateria e o veículo acaba
por ficar sem energia a bateria descarregada,
sem partida etc. A indicação de carga pode
ser obtida no próprio painel dos veículos que

230
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

possuem lâmpadas indicadoras ou então ins-


trumentos (voltímetros).
Se ao acelerar o veículo (ou ligá-lo) não
houver indicação de carga, os diodos do alter-
nador são suspeitos, assim como as bobinas
que podem ser provadas com o multímetro
numa simples prova de continuidade. Na figu-
ra 9 temos a parte do alternador em que fi-
cam os diodos interligados em ponte, que
deve ser retirada e desmontada.

Figura 9 – alternador típico

231
Newton C. Braga

Dessoldando os fios de conexão desta


parte ao circuito, podemos fazer a prova de
continuidade dos diodos em conjunto (não há
necessidade de retirar os diodos para esta
prova). Medimos a resistência no sentido dire-
to e no sentido inverso com o multímetro nas
escalas intermediárias de resistências.
A resistência num sentido deve ser bai-
xa (da ordem de dezenas ou centenas de
ohms), enquanto a resistência inversa deve
ser de muitos milhares de ohms (praticamen-
te infinito, no multímetro tomado como refe-
rência para este artigo).
Se numa das medidas encontrarmos as
resistências muito baixas ou muito altas nas
duas provas teremos encontrado a razão do
problema. Normalmente, no caso de proble-
mas com os diodos, o que se faz é trocar o
conjunto de diodos por um novo, pois eles já

232
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

vêm montado numa peça única acoplada do


alternador original
Os praticantes de eletrônica que se de-
frontarem com este tipo de problema e tive-
rem que trocar o conjunto de diodos, não de-
vem jogar o velho fora. Os diodos usados são
de aproximadamente 50 V x 5 A e podem ser
aproveitados em excelentes projetos de fontes
de alimentação de baixa tensão e alta corren-
te e até mesmo em carregadores de baterias.
Bastará retirar todos os diodos e testá-
los separadamente, guardando os que estive-
rem bons. Na figura 10 temos o circuito bási-
co de um sistema de carga que utiliza a ponte
de diodos num alternador trifásico como o in-
dicado.

233
Newton C. Braga

Figura 10 – Sistema de carga

Observe que a energia é gerada tendo a


ação de um campo magnético fixo criado pela
bobina de campo.
Esta bobina de campo deve ter sua con-
tinuidade testada. Interrupções dos enrola-
mentos indicam que o alternador deve ser tro-
cado. No sistema em questão podemos fazer a
verificação de carga ligando o multímetro na

234
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

escala de tensões contínuas (DC Volts) ›no


ponto indicado. A aceleração do motor deve
provocar variações da tensão, que tende a su-
bir no caso de um alternador em bom estado.
Se a subida da tensão não for acompa-
nhada de qualquer indicação da lâmpada, que
permanece apagada, esta deve ser verificada
e também o próprio resistor de derivação, que
pode estar queimado.

CONCLUSÃO
Não abordamos profundamente equipa-
mentos eletrônicos de carros ainda. (veja nos-
so livro Curso de Eletrônica – Eletrônica Auto-
motiva para saber mais)
Temos no site casos específicos de pro-
blemas em circuitos como ignição, indicado-
res eletrônicos, etc. O intuito deste artigo era
uma abordagem do assunto de forma simples
e acessível visando principalmente atender

235
Newton C. Braga

àqueles sem muita prática ou que desejam


uma noção básica do que se pode fazer no
carro, mesmo para quem é do setor de ele-
trônica.
Aperfeiçoamentos podem ser consegui-
dos com estudos mais detalhados dos siste-
mas eletrônicos, que variam bastante de mo-
delo para modelo de carro e entre as marcas.

236
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Multímetro na Repa-
ração de TV

Analisar o problema de um televisor


com o multímetro exige o conhecimento do
princípio de funcionamento de cada etapa. So-
mente desta forma o técnico pode saber que
tensão encontrar e como proceder sua medi-
da. Embora o multímetro só possa realizar a
medida de tensões contínuas e alternadas de
baixas frequências, sem indicar realmente as
tensões correspondentes a sinais de altas fre-
quências, sua utilização apropriada num tele-
visor permite a localização de problemas com
certa facilidade. Neste artigo falamos um pou-

237
Newton C. Braga

co do uso do multímetro na reparação de tele-


visores.
Obs. Este artigo é de 1989, servin-
do como referência para a reparação de
televisores da época e anteriores.

A maioria dos diagramas de televisores


traz indicadas as tensões contínuas que de-
vem ser medidas nos principais pontos quan-
do o aparelho se encontra em funcionamento
normal.
Desta forma, de posse de um simples
multímetro, podemos facilmente conferir es-
sas tensões e, com isso, chegar a componen-
tes que apresentam problemas. No entanto, é
preciso levar em conta que a medida de uma
tensão anormal nem sempre significa que é o
componente ligado àquele ponto que é o cau-
sador de um defeito.

238
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Num televisor, como em qualquer outro


aparelho eletrônico, os componentes funcio-
nam num equilíbrio dinâmico, de modo que
uma falha em um pode refletir na alteração de
tensões em diversos pontos. Diante de um te-
levisor inoperante, ou que tenha alguma fun-
ção inoperante, o primeiro passo a ser dado
pelo técnico consiste na verificação de sua
fonte de alimentação.
Conforme mostra a figura 1, os televiso-
res possuem fontes múltiplas que fornecem
diferentes tensões para diferentes etapas.

239
Newton C. Braga

Figura 1 – Fonte múltipla de televisor

Se toda fonte não opera, devemos come-


çar sua análise a partir da entrada, verifican-
do se diodos, capacitores ou fusíveis não apre-
sentam problemas. O multímetro deve, neste
caso, ser utilizado na escala apropriada de
tensões contínuas (DC Volts) e sua ponta ne-
gativa ligada à referência de 0 V.
Um capacitor eletrolítico em curto, por
exemplo, pode fazer com que o fusível de pro-

240
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

teção ou o diodo queima. Veja que, encontran-


do capacitores em curto, é sempre importante
verificar se outros componentes também não
foram afetados por isso. Do mesmo modo, o
curto-circuito de um diodo pode afetar os ca-
pacitores e causar a queima do fusível de pro-
teção.
Para o caso de termos tensões em al-
guns setores, é preciso verificar cada saída de
tensão e os componentes associados. Veja
que, um curto numa etapa alimentada por um
setor de uma fonte pode causar uma queda
apreciável de sua tensão e até mesmo a pró-
pria queima de seus componentes, como su-
gere a figura 2.

241
Newton C. Braga

Figura 2 – Alterações de tensão

Uma vez verificada a situação de uma


fonte, se ela se encontrar em bom estado, de-
vemos passar à análise das etapas suspeitas.
A escolha da etapa depende da manifestação
do defeito. Um defeito na etapa de sincronis-
mo afeta a estabilidade da imagem, mas não o
brilho da tela e nem o som (é claro que existe
a possibilidade do defeito refletir-se na fonte,
e esta servir para a alimentação de outras eta-

242
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

pas, mas isso será comprovado no primeiro


teste).
As tensões indicadas nos diagramas dos
fabricantes normalmente são contínuas, em
condições de ausência de sinal, ou seja, sem
que o televisor esteja sintonizando alguma es-
tação. Nos televisores valvulados, trabalha-
mos com as escalas mais altas de tensões e
medimos seus valores nos catodos, grades e
placas.
Num televisor transistorizado, medimos
a tensão no coletor, emissor e base; e em ou-
tro que tenha circuitos integrados, nos pinos
dos integrados, como mostra a figura 3.

243
Newton C. Braga

Figura 3 – Etapas de televisores

Na verdade, nos televisores com válvu-


las e transistores, a simples medida da tensão
de catodo e de emissor (quando ele não está
ligado à terra) já serve para uma avaliação
imediata de estado. Uma tensão muito alta no
emissor ou catodo indica algum elemento em
curto, enquanto uma tensão anormalmente
baixa indica algum componente aberto. Pode-
mos partir de imediato para a busca de resis-

244
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

tores abertos ou capacitores em curto nesta


mesma etapa.
Não é necessário retirar um resistor do
circuito para se fazer uma avaliação de seu
estado. Basta desligar o televisor da alimenta-
ção e fazer a medida. Num circuito, a resis-
tência equivalente a uma associação, em que
o resistor se encontra em paralelo, é sempre
menor ou, no máximo, igual à resistência
apresentada por este resistor (figura 4).

Figura 4 – Medida de resistência

245
Newton C. Braga

Assim, se tentarmos medir com o multí-


metro o valor de um resistor num circuito e
encontrarmos um valor maior do que aquele
que esperamos para este resistor podemos
concluir que certamente ele está aberto ou al-
terado para mais (os resistores não se alteram
para menos, nem entram em curto).(Existem
exceções)
No entanto, se a medida resultar num
valor menor do que a resistência esperada, o
teste não é conclusivo e, em caso de dúvida,
seria preciso soltar um dos terminais do com-
ponente para comprovação de estado. Os tes-
tes de capacitores também podem ser feitos
com o multímetro. Um capacitor em curto al-
tera sensivelmente as tensões de polarização
de uma etapa, conforme mostra a figura 5.

246
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Figura 5 – Alteração por capacitor em curto

A medida de resistência de um capaci-


tor nestas condições indica um valor nulo ou
próximo disso. No entanto, se o capacitor esti-
ver aberto, o multímetro não pode indicar
nada. Para os casos de suspeita de capacitor
aberto, um procedimento simples consiste em
se ligar o televisor no circuito e colocar um
capacitor de mesmo valor em paralelo como
vemos na figura 6.

247
Newton C. Braga

Figura 6 – Utilizando capacitor externo

Uma caixa de substituição de capacito-


res, em que podemos selecionar valores por
meio de chaves, consiste, pois, num instru-
mento de trabalho bastante eficiente para ca-
sos como este, a não ser que o técnico dispo-
nha sempre de uma “caixa” com os próprios
componentes, soldados “de improviso “, para
realização do teste (figura 7).

248
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Figura 6 – Década de capacitores

Veja que a existência de um capacitor


em curto normalmente indica que algum re-
sistor deve ter recebido toda corrente circu-
lante. Assim, procure sempre “nas vizinhan-
ças“ algum resistor aberto ou alterado (com
sinais de queima) antes de fazer a troca e li-
gar novamente o aparelho. Nos circuitos tran-
sistorizados, é preciso levar em conta que as
junções dos transistores se comportam como
diodos.
Assim, quando medimos um resistor de
polarização dependendo da posição como é

249
Newton C. Braga

feita a conexão das pontas de prova, podemos


fazer uma polarização direta ou inversa da
junção que se encontra em paralelo, como su-
gere a figura 8.

Figura 8 – Teste de junções

Se a junção for polarizada no sentido di-


reto, certamente teremos uma indicação de
resistência muito baixa, bem menor do que a
representada pelo próprio valor do resistor.
Neste caso, devemos inverter as pontas de

250
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

prova para nova medida. Se a indicação for


ainda de baixa resistência, então o resistor
não está aberto, embora esta prova não seja
conclusiva; mas se a indicação for de resistên-
cia maior do que o valor do resistor, então
certamente ele estará alterado ou aberto.
Se todos os componentes em torno de
uma válvula ou transistor estiverem bons, mas
mesmo assim as tensões forem anormais, de-
vemos suspeitar da própria válvula cu transis-
tor. Medindo a tensão de coletor de um tran-
sistor ou placa de uma válvula, devemos en-
contrar um valor próximo da tensão de + B.
Um valor muito baixo ou num indica in-
terrupções no circuito de coletor ou placa,
que podem ser devidas a enrolamentos de bo-
binas, transformadores ou de resistores aber-
tos, conforme vemos na figura 9.

251
Newton C. Braga

Figura 9 – Medindo tensões

CONCLUSÃO
O multímetro quando usado adequada-
mente, pode constituir-se numa ferramenta de
grande eficiência para a localização de falhas
num televisor, tanto tipos antigos que utilizam
válvulas, como os intermediários que usam so-
mente transistores e até os mais modernos
que empregam grande quantidade de circui-
tos integrados. Para os leitores que desejam
iniciar se na reparação é fundamental conhe-

252
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

cer todas as possibilidades de uso do multíme-


tro.

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Newton C. Braga

Radiotelescópio

O estudo do universo não se resume


hoje aos que os olhos podem ver. Além dos te-
lescópios comuns, voltados para o infinito,
existem "olhos eletrônicos” capazes de perce-
ber radiações de um espectro muito mais am-
plo do que o compreendido pela luz visível.
Estendendo desde as ondas de rádio até os
raios X podemos captar e estudar radiações e
os corpos que as emitem com precisão. Os ra-
diotelescópios, que analisam as ondas de rá-
dio procedentes do espaço, são poderosos ins-
trumentos da pesquisa atual e que focaliza-
mos neste nosso artigo.

254
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Durante certo tempo, tudo que o ho-


mem podia descobrir a respeito do universo
dependia exclusivamente de seus olhos. Con-
tando primeiramente com instrumentos rudi-
mentares como lunetas do tipo que Galileu
usou para descobrir os satélites de Júpiter,
depois passou a instrumentos mais poderosos
como os telescópios de Monte Palomar, Mon-
te Wilson e outros com lentes de diâmetro su-
periores a 1 metro, captando assim tênues
porções de luz emitidas por estrelas, galáxias
e nebulosas distantes.
No entanto, a observação do universo a
partir da luz emitida pelos astros tem muitas
limitações. Uma delas está na própria atmos-
fera da Terra que atenua estes sinais e até de-
forma sua trajetória, prejudicando assim o as-
trônomo, conforme mostra afigura 1.

255
Newton C. Braga

Figura 1 – Efeito da atmosfera na observação dos


astros

São necessárias condições muito boas


de observação para que possamos ter ima-
gens de corpos muito fracos. Outra limitação
está no fato de que a radiação visível corres-
ponde a uma parcela muito estreita do espec-
tro eletromagnético (figura 2) e existem mui-
tos corpos celestes que tem suas emissões
concentradas justamente na parte do espectro
que não podemos ver.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

Figura 2 – Espectro das radiações

Tais objetos são totalmente invisíveis


quando observados por meio de telescópios
comuns, mas se tornam evidentes quando
analisados por algum instrumento que seja
capaz de captar as radiações que emitem.

257
Newton C. Braga

A RADIOASTRONOMIA
Nos primeiros dias do rádio já se obser-
vava que o sol era causador de importantes
interferências nas transmissões de rádio de
ondas curtas de longas distâncias. Em 1920
os engenheiros da Bell já trabalhavam num
projeto que visava determinar o modo segun-
do o sol, interferia nas ondas de rádio.
No entanto, foi somente em 1933 que
um engenheiro chamado Karl G. Jansky, tra-
balhando no ajuste de antenas de radar, notou
que ocorriam interferências em determinadas
posições destas antenas. Inicialmente Jansky
não suspeitou que estas interferências pudes-
sem vir do espaço exterior, mas fazendo um
levantamento da origem dos sinais estranhos,
este engenheiro notou posteriormente que a

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

fonte de interferência se movia no céu, exata-


mente como fazem as estrelas, o sol e a luz.
Isso levou-o a concluir que esta fonte de
radiação que interferia no seu equipamento
não estava na terra, mas sim no espaço. Os si-
nais interferentes captados por Jansky vinham
do centro de nossa galáxia na constelação de
Sagitário e que constituem-se num dos mais
poderosos fluxos de radiação que chegam até
nosso planeta, conforme mostra a figura 3.

Figura 3 – A radiação do centro da Galáxia

Jansky anunciou sua descoberta em 27


de abril de 1933, dia em que podemos consi-

259
Newton C. Braga

derar o nascimento da nova ciência, a Radio-


astronomia. Durante a segunda guerra, evi-
dentemente todos os esforços de pesquisa fo-
ram dirigidos para finalidades bélicas. Poste-
riormente levantamentos sobre as emissões
procedentes do espaço começaram a ser fei-
tos dando início então às pesquisas da nova
ciência.
Assim, Grote Riber, nos Estados Unidos,
um rádio engenheiro descobriu através de um
equipamento dotado de uma enorme antena
no quintal de sua casa, que a Via Láctea emi-
tia fortes sinais em grande faixa do espectro
de rádio, concentrando sua maior potência em
torno de 20,6 MHz.
Mais tarde, em 1951, já dispondo de
equipamento construído especificamente para
observar as radiações do espaço, ou seja, o ra-
diotelescópio, o Dr. Purcell, da Universidade
de Harvard, descobriu que o Hidrogênio exci-

260
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

tado existente no espaço emite radiação na


frequência de 1420 MHz o que corresponde a
um comprimento de onda de 21 cm. A abertu-
ra de uma “janela” para observação do uni-
verso, nesta parte do espectro levou os princi-
pais Institutos de Pesquisas a imaginar pode-
rosos equipamentos para a recepção.
Um dos primeiros a ser construído com
esta finalidade foi o enorme radiotelescópio
de Jordrell Banks na Inglaterra que consistia
num disco parabólico de aproximadamente 80
metros de diâmetro montado numa enorme
estrutura de metal capaz de movimentá-lo em
todas as direções e assim apontar

261
Newton C. Braga

Figura 4 – Jodrell Bank

O radiotelescópio de Jodrell Bank origi-


nal recentemente desmoronou, depois de
cumprir um poderoso trabalho de observação
com a coleta de dados que enriqueceram o co-
nhecimento do homem em relação ao univer-
so, mas hoje já podemos contar com instru-
mentos muito mais poderosos que o substitu-
em como o da foto que é a versão nova. Inclu-

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

sive em São Paulo, em Atibaia o lNPE mantém


seu centro de radioastronomia com um pode-
roso radiotelescópio que realiza importantes
estudos sobre as ondas eletromagnéticas que
são emitidas por corpos e regiões distantes de
nosso universo.

Figura 5 – Radiotelescópio do INPE em Atibaia

263
Newton C. Braga

POR QUE OS CORPOS CE-


LESTES EMITEM ONDAS DE
RADIO?
Sabemos que cargas elétricas dotadas
de movimentos rápidos são responsáveis pela
produção de ondas eletromagnéticas ou ondas
de rádio.
Ora, as violentas explosões que ocorrem
nas estrelas, o processo de radiação de uma
estrela, os fortes campos magnéticos que exis-
tem em torno de muitos corpos celestes po-
dem com facilidade acelerar ou agitar as car-
gas elétricas dos átomos ou mesmo retirá-las
destes átomos gerando assim enormes quanti-
dades de ondas de rádio. Podemos começar
com o Sol ao falar das fontes emissoras de ra-
diação.
As explosões que ocorrem na superfície
deste astro, o próprio processo interno de
produção de energia e o forte campo magnéti-

264
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

co que existe em torno dele, são responsáveis


pela produção de uma enorme quantidade de
energia na faixa das ondas de rádio, conforme
mostra a figura 8.

Figura 6 – Campos produzidos pelo Sol e onda pro-


duzidas

A chamada "estática" que ouvimos em


nossos rádios de ondas curtas e que se acen-
tua em determinadas épocas do ano, prejudi-
cando a propagação dos sinais de nossos
transmissores vem do nosso astro rei. Em de-
terminadas ocasiões, quando aumenta a quan-
tidade de manchas solares, a intensidade des-

265
Newton C. Braga

te fenômeno aumenta. Existe então um ciclo


de 11 anos em que temos máximos destas ati-
vidades e que prejudicam sensivelmente as
comunicações de ondas curtas em nosso pla-
neta. Na figura 7 um gráfico mostrando os
máximos e mínimos desta atividade.

Figura 7 – O ciclo dos anos das manchas solares

Uma outra fonte poderosa de radiação


eletromagnética na faixa das ondas curtas é o
planeta Júpiter.
O forte campo magnético que existe em
torno daquele planeta acelera as partículas
carregadas de eletricidade gerando assim

266
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

uma radiação na faixa de 18 a 30 MHz. O fato


destas ondas poderem ser captadas até mes-
mo em bons receptores de telecomunicações
(ondas curtas) comuns, torna a observação de
Júpiter uma tarefa que pode ser realizada até
por amadores. De fato, tudo o que se necessi-
ta é de uma boa antena de equipamento para
registrar os sinais captados para posterior es-
tudo além do receptor, conforme mostra a fi-
gura 8.

Figura 8 – Sistema completo

A antena deve ser direcional para que


sinais indesejáveis sejam eliminados. No en-

267
Newton C. Braga

tanto, existem fontes mais interessantes que


estão situadas a milhares, milhões, ou mesmo
bilhões de anos luz, e algumas das quais nem
podem ser associadas a objetos visíveis por
telescópios. Assim, processos violentos como
os que ocorrem com a explosão de estrelas
(novas e supernovas), também geram grande
quantidade de sinais de rádio.
Processos ainda desconhecidos que
ocorrem no centro de nossa Galáxia são res-
ponsáveis pela segunda fonte de intensidade
que conhecemos (Sagitário A). Existem ainda
outras fontes poderosas de energia, como os
quasares, pulsares, galáxias em colisão que
emitem de tal forma, que podemos a bilhões
de anos luz estudá-las. Enfim, um enorme co-
nhecimento do universo pode ser obtido com
a expansão dos estudos por todo o espectro
eletromagnético e isso só é possível graças
aos radiotelescópios.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

O RADIOTELESCÓPIO
Um dos grandes problemas na radioas-
tronomia é que, mesmo sendo poderosas, a
maioria das fontes de sinais que desejamos
estudar estão tão longe de nós que eles che-
gam até aqui com intensidade muito pequena.
Na verdade, esta intensidade quase chega a
ser superada pelo ruído de fundo, gerado
quer pelo próprio espaço (que não é totalmen-
te vazio), ou pelos equipamentos usados para
amplificá-los.
A agitação térmica gera sinais que são
captados dando origem ao que denominamos
"ruído de fundo". Como os equipamentos usa-
dos para amplificar os sinais captados não es-
tão totalmente frios (zero absoluto), eles tam-
bém podem gerar ruídos num nível inadmissí-
vel. ara evitar estes problemas, em primeiro

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Newton C. Braga

lugar precisamos de antenas enormes que


captem o máximo possível da energia do cor-
po distante, conforme mostra a figura 9.

Figura 9 – Quanto maior a antena mais energia é


captada

Em segundo lugar usamos MASERs (Mi-


crowave Amplification by Stimulated Emission
of Radiation). Os MASERs foram inventados
em 1953 e consistem em dispositivos que po-
dem amplificar sinais de frequências muito al-
tas e operam em temperaturas próximas do
zero absoluto, não gerando por este motivo

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

praticamente nenhum ruído próprio. Estes


dispositivos é que posteriormente deram ori-
gem ao laser que em lugar de amplificar si-
nais de rádio (Microwave), amplificam luz
(Light). Desta forma o radiotelescópio básico
consiste num sistema de antenas (que podem
ser parabólicas), e cujo em foco são colocados
amplificadores como, por exemplo o MASER
de baixíssimo nível de ruído, conforme mostra
a figura 10.

Figura 10 – Posicionamento do MASER no foco da


antena

O sinal amplificado do Maser é levado a


um receptor que então permite fazer seu re-

271
Newton C. Braga

gistro, estudo, análise através de computado-


res e outros recursos. É claro que o estudo sé-
rio do espaço através da radioastronomia é
caro pelo equipamento que exige, mas mesmo
assim existem amadores que, com equipamen-
tos comuns conseguem dar contribuições im-
portantes para a radioastronomia principal-
mente relativas a fontes próximas ou intensas
como o Sol, Júpiter, Sagitário A, etc.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos

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