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Como Funciona
Aparelhos, Circuitos e
Componentes Eletrônicos
Volume 8

Newton C. Braga

Patrocinado por

2
São Paulo - Brasil - 2021

Instituto NCB
www.newtoncbraga.com.br
leitor@newtoncbraga.com.br

Diretor responsável: Newton C. Braga


Coordenação: Renato Paiotti
Impressão: AgBook – Clube de Autores

Nosso Podcast

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 8
Autor: Newton C. Braga
São Paulo - Brasil - 2021
Palavras-chave: Eletrônica – aparelhos eletrônicos –
componentes – física – química – circuitos eletrônicos – como
funciona

Copyright by
INTITUTO NEWTON C BRAGA.
1ª edição

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por


qualquer meio ou processo, especialmente por sistemas gráficos, microfílmicos,
fotográficos, reprográficos, fonográficos, videográficos, atualmente existentes ou
que venham a ser inventados. Vedada a memorização e/ou a recuperação total ou
parcial em qualquer parte da obra em qualquer programa juscibernético
atualmente em uso ou que venha a ser desenvolvido ou implantado no futuro.
Essas proibições aplicam-se também às características gráficas da obra e à sua
editoração. A violação dos direitos autorais é punível como crime (art. 184 e
parágrafos, do Código Penal, cf. Lei nº 6.895, de 17/12/80) com pena de prisão e
multa, conjuntamente com busca e apreensão e indenização diversas (artigos 122,
123, 124, 126 da Lei nº 5.988, de 14/12/73, Lei dos Direitos Autorais).

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Índice
APRESENTAÇÃO DA SÉRIE..........................................................8
APRESENTAÇÃO......................................................................10
AS BATERIAS E AS PILHAS.......................................................11
Células Primárias.....................................................................14
A célula de Leclanché.................................................14
Funcionamento...........................................................17
Pilhas comuns não são recarregáveis.........................19
Células Secundárias................................................................19
Bateria Chumbo-Ácido................................................19
A Bateria Automotiva.................................................22
O Hidrômetro ou Densímetro.....................................25
Células de Níquel Cádmio...........................................26
Aperfeiçoamentos......................................................28
Célula de Edison ou Hidróxido de Níquel-Ferro...........28
Conclusão................................................................................28
DÍNAMOS E ALTERNADORES....................................................29
O Alternador por dentro..........................................................35
DISSIPADORES DE CALOR........................................................40
Tipos de Dissipadores.............................................................41
Como Medir a Resistência Térmica de um Dissipador 43
Compostos ou Pastas Térmicas...............................................47
Inércia Térmica.......................................................................48
Conclusão................................................................................49
CÉLULAS À COMBUSTÍVEL........................................................50
O QUE SÃO AS CÉLULAS À COMBUSTÍVEL...............................51
COMO FUNCIONAM AS CÉLULAS À COMBUSTÍVEL...................52
OUTROS TIPOS DE CÉLULAS....................................................55
a) MCFC (Molten Carbonate Fuel Cell)........................55
b) SOFC (Solid Oxide Fuel Cell)...................................57
c) PAFC (Phosphoric Acid Fuel Cell)............................57
APLICAÇÕES DIFERENTES........................................................58
UMA IDEIA PARA O FUTURO....................................................58
NEBUS - O ÔNIBUS DA MERCEDEZ QUE ESTARÁ EM
CIRCULAÇÃO NO BRASIL..............................................................59

5
RELÊS/TRANSFORMADORES/MOTORES.....................................62
OS RELÊS................................................................................62
TRANSFORMADORES...............................................................68
MOTORES................................................................................73
CAPACITORES.........................................................................77
Associação de Capacitores......................................................81
Associação em Paralelo..............................................81
Associação em Série..................................................82
Tipos de capacitores...............................................................84
Capacitores SMD.....................................................................88
INDUTÂNCIAS..........................................................................90
REFORÇANDO O CAMPO..........................................................93
INDUTÂNCIA............................................................................97
REATÂNCIA INDUTIVA.................................................98
INDUTÂNCIA.............................................................100
REATÂNCIA E OSCILAÇÕES.......................................101
Conclusão..............................................................................104
CHAVES E ACOPLADORES ÓPTICOS.........................................105
Acopladores Ópticos..............................................................106
Circuitos Práticos com Acopladores Ópticos..........................107
Circuito básico com optoacoplador:.........................107
Disparo de SCR.........................................................109
Excitando Amplificador Operacional.........................110
Acoplador de Alta Velocidade...................................111
Monoestável com Optoacoplador.............................112
Schmitt Trigger........................................................113
Flip-Flop R-S.............................................................113
Excitação de Triacs..................................................114
Tipos Comuns........................................................................115
4N25/4N25A/4N26/4N27/4N28.................................116
MOC3009/MOC3010/MOC3011/MOC3012................117
MOC3020/MOC3021/MOC3022/MOC3023................118
Chaves Ópticas.....................................................................120
Circuitos Práticos..................................................................124
Chave Óptica para 10 mm........................................124
Chave Óptica para 15 mm........................................124
Chave Óptica Disparadora (Schmitt) para 15 mm....125
Chave Óptica para 30 mm........................................126
Interface Reconhecedora de Direção........................127
Contador Dependente da Direção............................128

6
Controle Digital de Rotação......................................129
SUPERCONDUTORES..............................................................131
ZERO ABSOLUTO...................................................................134
SUPERCONDUTIVIDADE.........................................................135
EXPLICAÇÕES PARA O FENÔMENO........................................137
APLICAÇÕES.............................................................139
COMO FUNCIONA O MICROFONE.............................................142
a) Fidelidade.........................................................................143
b) Sensibilidade.....................................................................143
c) Diretividade.......................................................................144
TIPOS DE MICROFONES.........................................................144
a) carvão..................................................................145
b) Microfone dinâmico..............................................146
c) Microfones piezoelétricos.....................................147
d) Microfone de eletreto...........................................148
IMPEDÂNCIA E NÍVEL DE SINAL.............................................150
PRÉAMPLIFICADORES............................................................151
CONHEÇA OS AMPLIFICADORES OPERACIONAIS RRIO..............154
Seguidor de tensão..................................................158
Conversor Corrente x Tensão...................................159
Amplificador com saída Rail-to-Rail para
instrumentação...................................................................159
Gerador retângula até 600 kHz................................160
Conclusão..............................................................................160
O DIODO SEMICONDUTOR......................................................162
O diodo semicondutor...........................................................164
Tipos de diodos.....................................................................169
Diodos Retificadores de Silício..................................169
Especificações dos diodos de silício.........................170
Especificações de tensão e corrente........................171
OUTROS MAIS DE 160 LIVROS DE ELETRÔNICA E TECNOLOGIA DO
INCB.....................................................................................175

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

APRESENTAÇÃO DA SÉRIE
Esta é uma série de livros que levamos aos nossos leitores
sob patrocínio da Mouser Electronics (www.mouser.com). Os
livros são baseados nos artigos que ao longo de nossa carreira
como escritor técnico publicamos em diversas revistas, livros e no
nosso site. São artigos que representam 50 anos de evolução das
tecnologias eletrônicas e, portanto, têm diversos graus de
atualidade. Os mais antigos foram analisados com eventuais
atualizações. Outros pela sua finalidade didática, tratando de
tecnologias antigas e mesmo de ciência não foram muito
alterados a não ser pela linguagem que sofreu modificações. Os
livros da série consistirão numa excelente fonte de informações
para nossos leitores.
Os artigos têm diversos níveis de abordagem, indo dos
mais simples que são indicados para os que gostam de
tecnologia, mas que não possuem uma fundamentação teórica
forte ou ainda não são do ramo. Neles abordamos o
funcionamento de aparelhos de uso comum como
eletroeletrônicos, não nos aprofundando em detalhes técnicos
que exijam conhecimento de teorias que são dadas nos cursos
técnicos ou de engenharia.
Outros tratam de componentes, ideais para os que
gostam de eletrônica e já possuem uma fundamentação quer seja
estudando ou praticando com as montagens que descrevemos
em nossos artigos. Estes já exigem um pequeno conhecimento
básico da eletrônica. Estes artigos também vão ser uma
excelente fonte de consulta para professores que desejam
preparar suas aulas.
Temos ainda os artigos teóricos que tratam de circuitos e
tecnologias de uma forma mais profunda com a abordagem de
instrumentação e exigindo uma fundamentação técnica mais alta.
São indicados aos técnicos com maior experiência, engenheiros e
professores.
Também lembramos que no formato virtual o livro conta
com links importantes, vídeos e até mesmo pode passar por
atualizações on-line que faremos sempre que julgarmos
necessário.

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NEWTON C. BRAGA

Trata-se de mais um livro que certamente será importante


na sua biblioteca de consulta, devendo ser carregado no seu
tablete, laptop ou celular para consulta imediata.
Os livros podem ser baixados gratuitamente no nosso site
e um link será dado para os que desejarem ter a versão impressa
pagando apenas pela impressão e frete.

Newton C. Braga

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

APRESENTAÇÃO
Saber como funcionam componentes, circuitos e
equipamentos eletrônicos é fundamental não apenas para os
profissionais da eletrônica que usam de forma prática a
tecnologia em seu dia a dia como também para aqueles que não
sendo técnicos, mas possuindo certo conhecimento, precisam
conhecer o funcionamento básico das coisas.
São os profissionais de outras áreas que, para usar melhor
equipamentos e tecnologias precisam ter um conhecimento
básico que os ajude.
Assim, tratando de conceitos básicos sobre componentes e
circuitos neste primeiro volume e depois de equipamentos
prontos num segundo, levamos ao leitor algo muito importante
que já se tornou relevante em recente estudo feito por
profissionais.
A maior parte dos acidentes que ocorrem com o uso de
equipamentos de novas tecnologias ocorre com pessoas que não
tem um mínimo de conhecimento sobre o seu princípio de
funcionamento.
A finalidade deste livro não é, portanto, ajudar apenas os
estudantes, professores e profissionais, mas também os que
usam tecnologia no dia a dia e desejam saber um pouco mais
para melhor aproveitá-la e não cometer erros que podem
comprometer a integridade de seus equipamentos e até causar
acidentes graves.

Nota importante: componentes


básicos como os resistores,
capacitores, indutores,
transformadores, diodos, transistores,
também têm a seu princípio de
funcionamento explicado na nossa
série de livros “Curso de Eletrônica”.
Neste livro, abordamos alguns
componentes que especificamente
têm explicações mais detalhadas do
que as encontradas naquelas
publicações.

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NEWTON C. BRAGA

AS BATERIAS E AS PILHAS
Para entender melhor como energia pode ser obtida a
partir desses dispositivos será interessante ter uma ideia de como
os diversos tipos de bateria funcionam. Além disso, com a
chegada do carro elétrica, as técnicas que hoje não são
encontradas nos carros podem estar presentes sendo, por esse
motivo ter uma ideia de como funcionam.
As baterias consistem em geradores químicos de energia
elétrica No entanto, as baterias não são todas iguais.
Dependendo da forma como devam ser usadas, se estacionárias
ou móveis, da quantidade de energia que devem fornecer e por
quanto tempo, existe o tipo específico a ser usado.
Desde sua invenção, a bateria passou por uma evolução
constante, tanto para atender as exigências da tecnologia
moderna como para torná-las mais eficientes e baratas.
Assim, a partir de uma reação química de redução e
oxidação que ocorram simultaneamente, pode-se obter um fluxo
de elétrons e com isso energia elétrica. Este é o princípio básico
de operação das células ou baterias, onde uma substância é
reduzida e outra oxidada e no processo a energia liberada pode
ser aproveitada na forma de eletricidade.
As células podem ser classificadas em duas grandes
categorias:

a) Primárias
Aquelas que já contém a energia a partir do momento em
que são fabricadas, e não podem ser carregadas posteriormente.
O processo químico de produção de energia ocorre a partir de
uma reação irreversível.

b) Secundárias
Aquelas que, ao serem fabricadas, não dispõem de
energia. Elas precisam ser carregadas e o ciclo de carga e
descarga pode ser repetido um número elevado de vezes.

A reação que ocorre nestas células é reversível. As células


secundárias também são chamadas “acumuladores”. As
aplicações automotivas dos dois tipos de células não se limitam

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

ao fornecimento de energia em grande quantidade. Pequenas


células podem ser necessárias para a alimentação de
equipamentos de sensoriamento remoto, pequenas automações,
e muito mais.
Neste ponto é interessante diferenciarmos o que se
denomina célula e bateria. Conforme mostra a figura 1, a célula é
a unidade de fornecimento de energia, constando de um par de
eletrodos e uma substância ativa (eletrólito) que os interfaceia
eletricamente.

Figura 1 – Uma célula comum de fornecimento de energia

Quando associamos diversas células formamos uma


bateria, conforme mostra a figura 2.

Figura 2 – Símbolo para uma bateria de pilhas ou células

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NEWTON C. BRAGA

O conceito de pilha vem da “pilha” de volta que realmente


era bateria de células primárias onde as diversas células,
formadas por discos de cobre e zinco, eram “empilhadas”,
conforme mostra a figura 3.

Figura 3 – A pilha de Volta

Desta forma, ficou o conceito de “pilha” para as pequenas


unidades primárias que usamos em rádios, gravadores e outros
equipamentos e o conceito de bateria para as unidades formadas
pela associação dessas células, como as baterias de 9 V.
O termo bateria também é empregado popularmente para
designar as células secundárias que normalmente são fornecidas
isoladamente ou associadas, conforme mostra a figura 4. Assim,
as chamadas “baterias” nada mais são do que conjuntos de
células de 1,5 V que fornecem 9 V.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Figura 4 – A bateria de 9 V

Veja que estamos nos referindo apenas às baterias


químicas já que podemos adotar os mesmos conceitos para
baterias solares, baterias atômicas etc.

Células Primárias
Os principais tipos de células primárias são:
a) Células secas
b) Células úmidas
c) Células de eletrólito sólido
d) Células de reserva

A célula de Leclanché
O tipo mais comum de célula em uso atualmente é a de
Leclanché, nome dado em homenagem ao seu inventor em 1868.
Nesta célula, representada na figura 5, o eletrodo de anodo é o
zinco que forma o invólucro externo, normalmente em forma de
folha.

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NEWTON C. BRAGA

Figura 5 – A pilha seca comum

O eletrodo positivo é a solução de cloreto de zinco e


cloreto de amônia que existe em seu interior na forma de uma
pasta. Como eletrodo positivo ou anodo é usado um bastão de
grafite. O eletrólito de catodo é formado por uma pasta de dióxido
de manganês e carbono. As duas meia-células são separadas por
uma barreira porosa.
As células deste tipo são vendidas tipicamente na forma
de unidades cilíndricas que são as pilhas secas comuns ou na
forma de baterias em que 3 a 4 unidades são associadas em
série, conforme mostra a figura 6.
Também deste tipo são as pilhas do tipo botão
encontradas nas chaves do carro para acionar o sistema de
controle remoto.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Figura 6 – As baterias secas

O método mais comum de fabricação é por extrusão, mas


existe um método usado principalmente na China em que o zinco
é forçado por um mandril estreito que faz seu alongamento na
forma de um copo. O terceiro, também usado na china consiste
em enrolar e soldar folhas de zinco para formar os copos.
Em muitas dessas células o zinco é amalgamado com
mercúrio para aumentar a resistência à corrosão. Normalmente é
usada uma proporção de 0,1% de mercúrio. Outro processo de
aumentar a resistência do zinco à corrosão é pelo acréscimo do
cádmio (0,05% tip) o que torna essas pilhas perigosas para o
meio ambiente em caso de descarte.
Alguns países possuem legislações que proíbem o uso de
tais materiais tóxicos na fabricação das pilhas. No Brasil, por
exemplo, é proibido o uso do mercúrio deste 1999.
Neste grupo podemos incluir as células alcalinas. Essas
pilhas têm a estrutura mostrada na figura 7.

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NEWTON C. BRAGA

Figura 7 – Estrutura de uma pilha alcalina

O eletrodo positivo é formado por dióxido de manganês ao


mesmo tempo em que o eletrodo negativo também é o zinco. A
solução, entretanto, é de hidróxido de potássio (KOH) que é uma
substância alcalina (daí a denominação dada a esta pilha).
A tensão de cada célula e 1,5 V, e ela se caracteriza por
ter maior capacidade de fornecimento de energia que as pilhas
secas.

Funcionamento
Quando a corrente é solicitada, a movimentação de cargas
elétricas no circuito tem início na forma de íons na substância e a
reação química passa a ocorrer. A substância começa então a
reagir com o eletrodo negativo (copinho de zinco) de modo a
liberar íons e com isso manter a corrente elétrica no circuito.
O resultado é que nesta reação a substância se
transforma entregando a energia de que dispõe e o copinho de
zinco é consumido no processo.
À medida que a pilha vai fornecendo sua energia, a
substância do eletrólito vai se desgastando, o copinho de zinco

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

consumido e com isso cada vez menos corrente vai se tornando


disponível.
Chega um determinado momento, em que a energia se
reduz a tal ponto que a resistência interna da pilha aumenta e a
corrente já não pode mais ser fornecida ao circuito externo com a
mesma intensidade. A tensão entre os polos da pilha cai.
A pilha está em sua fase final de esgotamento. A figura 8
mostra a curva típica de fornecimento de uma pilha seca
comparada a de outros tipos.

Figura 8 – Curvas típicas de descarga de alguns tipos de células, inclusive


recarregáveis (Nicad)

Veja que as pilhas secas possuem uma proteção adicional


de papelão e aço sobre o copinho de zinco, justamente para
evitar que a substância “vaze” quando a pilha se esgota. Essa
substância é corrosiva, podendo afetar os aparelhos em que ela
se encontrar, se o vazamento ocorrer.
É por esse motivo que se recomenda retirar as pilhas dos
aparelhos que vão ficar muito tempo sem uso. Mesmo sem usar, a
reação ainda ocorre de forma muito vagarosa, mas ao final de

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NEWTON C. BRAGA

muito tempo, uma pilha deixada num aparelho, se esgota e pode


vazar...
Se você tem um multímetro automotivo, por exemplo,
retire suas pilhas ou baterias se ele for deixado muito tempo sem
uso. Isso vale também para sua lanterna.

Pilhas comuns não são recarregáveis


Nas pilhas comuns (alcalinas, secas e outras) a reação que
ocorre quando a energia é fornecida é irreversível, ou seja, “não
tem volta”. Uma vez que a substância reagente entregue a
energia. Em alguns casos, aquecendo um pouco a pilha ou ainda
deixando-a em repouso pode-se reativar o restante da substância
que ainda pode reagir e assim prolongar a vida útil da pilha.
A ideia de que colocar as pilhas na geladeira, adotada por
muitos, não é válida, pois o que faz a pilha reativar um pouco não
é o frio, mas sim o repouso...

Células Secundárias
O tipo mais comum de célula secundária em uso no mundo
é a chumbo-ácido, devido sua aplicação nos automóveis. Em
segundo lugar temos as células de níquel-cádmio (Nicad) e ferro-
níquel (células de Edison).
Além dessas temos as células de brometo de zinco, sulfato
de sódio, e outras que fazem uso do lítio como elemento básico.
Com a chegada do carro elétrico muitas destas tecnologias
de baterias estão sendo aperfeiçoadas para que baterias potentes
e com grande autonomia sejam criadas para alimentar estes
veículos. Analisemos os principais tipos, com ênfase para o tipo
chumbo-ácido que é o mais usado atualmente nos carros:

Bateria Chumbo-Ácido
A ideia de se recarregar uma célula ou bateria é simples:
se passarmos pela substância fornecedora de energia uma
corrente no sentido contrário àquela que ela fornece
normalmente, a reação se inverte e a substância “absorve” a
energia liberada, voltando à sua condição inicial.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

A forma mais simples e mais tradicional de se fazer isso é


com a bateria chumbo-ácido que é encontrada nos automóveis e
que tem a estrutura mostrada na figura 9.

Figura 9 – Estrutura de uma bateria chumbo-ácido de 12 V

Para entender como ela funciona vamos partir de uma


célula única que tem dois eletrodos de chumbo e que no nosso
caso, vamos omitir o separador, deixando apenas na figura o
eletrólito, que é uma solução diluída de ácido sulfúrico (ácido
sulfúrico mais água), conforme mostra a figura 11.
Cada par de placas fornece uma tensão de pouco mais 2 V
quando carregada, o que significa que uma bateria de carro de 12
V tem 6 pares deste tipo fornecendo uma tensão em torno de
13,6 V.
Quando a bateria está descarregada as duas placas são de
chumbo puro. Ao se fazer circular uma corrente de carga nesta
bateria, conforme mostra a figura 10, o ácido reage com uma das
placas formando uma substância nova que é o óxido de chumbo
que recobre a placa positiva.

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NEWTON C. BRAGA

Esta substância contém a energia armazenada que a


bateria pode fornecer depois numa reação química.

Figura 10 – A corrente de carga

Veja que a carga da bateria é forçada a circular no sentido


contrário àquele que a corrente circula quando a bateria fornece
energia. Assim, quando a bateria fornece energia a corrente
convencional circula do positivo para o negativo e quando a
bateria é carregada a corrente circula do negativo para o positivo.
Quando uma carga é ligada à bateria, uma lâmpada, por
exemplo, conforme mostra a figura 11, a corrente começa a
circular pela lâmpada e pelo eletrólito na forma de íons, dando
início a uma reação que começa a consumir a substância em que
a energia está armazenada.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Figura 11 – Ligando uma lâmpada como carga.

Esse fornecimento continua até o momento em que a


substância armazenada na placa seja consumida totalmente, com
o eletrodo de chumbo voltando à sua condição inicial.
Se uma corrente for agora forçada a circular no sentido
inverso, a reação inversa ocorre, com a placa recompondo a
substância com a energia disponível.

A Bateria Automotiva
Conforme vimos, a bateria de 12 V é formada por 6 células
de 2 V. O ambiente hostil do automóvel e as exigências de
corrente exigem das baterias comerciais uma construção robusta.
As placas dilatam-se e contraem-se quando se carregam e
descarregam-se, podendo deformar e rachar. Recursos especiais
de construção e o uso de separadores são importantes para
garantir a durabilidade das baterias.

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NEWTON C. BRAGA

Na figura 12 temos então a construção simplificada de


uma bateria deste tipo.

Figura 12 – Estrutura de uma bateria

A metade da célula correspondente ao anodo é feita de


chumbo ou uma grade de uma liga de chumbo. O eletrólito
consiste em ácido sulfúrico diluído.
A metade correspondente ao catodo consiste em chumbo
ou uma grade com uma liga de chumbo e dióxido de chumbo
esponjoso sobre ela. O eletrólito também consiste em ácido
sulfúrico diluído. As duas meias células são separadas por uma
barreira porosa.
O chumbo do anodo, nas aplicações comerciais é obtido
por métodos que permitem obter uma porcentagem de 40%
desse elemento. Aditivos como a água, ácido sulfúrico e outros
como o sulfato de bário são adicionados para evitar a
densificação do carbono poroso usado no processo devido aos
ciclos de carga e descarga da célula.
Densificação significa perder a porosidade e encolher o
que pode causar deformação das placas.
A grade na qual as misturas do anodo e catodo são
colocadas consiste numa liga de chumbo. Ligas de antimônio e

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

arsênico são usadas, além de outros metais. O uso de ligas visa


aumentar a resistência à corrosão e ao esforço mecânico.
Nas baterias com ciclos rápidos de carga e descarga 8% de
antimônio é usado. Nas outras aplicações proporções de 1 a 3%
são usadas. O eletrólito usado nessas baterias é uma solução de
ácido sulfúrico que deve ser livre de impurezas. A concentração
normalmente é de 6 M, o que em termos comerciais significa uma
densidade específica de 1,27 a 1,3.
A tabela abaixo mostra como as concentrações dependem
tanto da aplicação da bateria como ao próprio clima do local em
que ela deve funcionar.

Aplicação Gravidade Específica Gravidade Específica


(clima temperado) (clima tropical)
SLI (*) 1,27 a 1,29 1,22 a 1,24
Força Motora 1,28 a 1,32 1,24 a 1,28
Standby (carregada) 1,22 a 1,24 1,20 a 1,22
Standby (descarregada) 1,27 a 1,30 1,26 a 1,28
Aeronaves 1,26 a 1,28 1,26 a 1,28
(*) Este termo refere-se a aplicação da bateria em uso automotivo e na partida de
motores.

As barreiras que separam as duas metades da célula, ou


separadores, são normalmente feitas de celulose, polipropileno ou
PVC. A porosidade é expressão em porcentagens ficando
tipicamente entre 45% e 90% o que resulta em resistências
especificas de 0,1 a 0,30 ohms/cm2.
As baterias chumbo-ácido encontram diversos campos de
aplicação além dos carros, tais como:

 SLI e automotivas que são usadas em veículos de


combustão interna no acionamento do motor de partida e
mesmo na propulsão de veículos elétricos.
 Estacionárias, que são usadas com fontes auxiliares de
energia.
 Portáteis, que são usadas na alimentação de
equipamentos portáteis.
 Aeronaves e armazenamento renovável de energia

Asa modernas baterias de carro de uso automotivo são


seladas, ou seja, não há acesso para o eletrólito de cada célula.
Assim, não é preciso fazer qualquer tipo de manutenção.

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NEWTON C. BRAGA

No entanto, existem baterias que não são seladas,


havendo um acesso na forma de uma rosca com um respiro para
cada célula. Com o tempo, a água do eletrólito evaporava o que
mudava a densidade da solução e com isso afetada sua
condutividade e o funcionamento da bateria. Na figura 13 uma
bateria desse tipo.

Figura 13 – Bateria não selada

De tempos em tempos em tempos era necessário verificar


a densidade do eletrólito de cada célula, o que era feito com a
ajuda de um simples aparelho denominado densímetro ou
hidrômetro.
Constatando-se que a densidade estava alterada, fora dos
valores da tabela que demos, era necessário acrescentar água
destilada até se chegar à densidade normal.

O Hidrômetro ou Densímetro
O hidrômetro ou densímetro mede a densidade da solução
de uma bateria. Ele consiste num bulbo flexível que permite
absorver uma certa quantidade da solução até uma cavidade em
que existe um flutuador graduado.
A flutuação desta peça depende da densidade de modo
que ele afunda até a marca da escala graduada, bastando então
ler o valor da densidade. Na figura 14 temos o modo de se usar o
densímetro.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Figura 14 – Medindo a concentração da solução

Células de Níquel Cádmio


Atualmente, estas células não são usadas especificamente
no circuito elétrico de um automóvel, mas com a vinda do carro
elétrico, em breve elas serão mais comuns, com tecnologias
derivadas dos tipos mais comuns.
Por esse motivo é interessante conhecer um pouco sobre
suas características e seu princípio de funcionamento. As mais
comuns são as baterias chatas, botão e as de formato cilíndrico
visando as mesmas aplicações das pilhas comuns.
A tecnologia de montagem depende da forma e tamanho
da célula ou bateria, já que podemos encontrar desde os tipos
botão e cilíndricas de pequenas dimensões até as chatas maiores
usadas em celulares e outros equipamentos.
Para este tipo de bateria os eletrodos de anodo consistem
numa mistura de cádmio com outras substâncias ao mesmo
tempo em que o catodo consiste em hidróxido de níquel além de
outras substâncias. Da mesma forma que nas baterias chumbo-

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NEWTON C. BRAGA

ácido tanto o anodo como catodo estão imersos no mesmo


eletrólito.
A substância usada neste caso é o hidróxido de potássio.
Na figura 15 temos a construção típica de uma célula de Nicad
típica.

Figura 15 – Estrutura de uma célula de nicad cilíndrica

Industrialmente o para o anodo temos o hidróxido de


níquel e a grafite misturados. O grafite em pó entra numa
proporção de 20% do material do eletrodo.
Para o catodo temos o hidróxido de cádmio, óxido de ferro,
grafite e alguns aditivos orgânicos. O material entra no processo
de fabricação na forma de pó. Por um processo de evaporação do
cádmio é produzido óxido de cádmio o qual é convertido em
hidróxido de cádmio por hidratação.
Em determinado momento do processo oxido de ferro é
adicionado e em seguida a grafite e os aditivos orgânicos.
Para o eletrólito a condutância máxima ocorre quando a
solução tem uma densidade de 1,26 a 25 oC. Nas aplicações
comerciais é adicionado hidróxido de lítio ao hidróxido de potássio
numa concentração de 8 a 20 g.l com a finalidade de se evitar
que o ferro contamine o catodo.

27
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Aperfeiçoamentos
Uma exigência das aplicações modernas é que suas
baterias tenham o mínimo de manutenção. Para isso, foram
desenvolvidas tecnologias baseadas no uso de ciclos de
recombinação de oxigênio para evitar a perda de água.
Outra tecnologia envolve novas arquiteturas para o
material que envolve a bateria como, por exemplo, placas de
fibras de níquel ou ainda placas de plástico ou borracha.

Célula de Edison ou Hidróxido de Níquel-Ferro


Trata-se de um tipo de célula secundária muito
semelhante a célula de Níquel-Cádmio. A principal diferença está
no fato do anodo ser ferro.

Esta célula foi patenteada em 1901, mas não teve o


mesmo sucesso das baterias de Níquel-Cádmio devido a sua
baixa capacidade de retenção de carga. A vantagem principal,
entretanto, está no fato de que o ferro é mais barato que o
cádmio e é muito menos tóxico.

Conclusão
As baterias têm passado por um desenvolvimento muito
grande dado aumento de seu uso, principalmente nas aplicações
portáteis e à necessidade de grande capacidade de
armazenamento como no caso do carro elétrico.
Assim, como recentes desenvolvimentos temos as baterias
de hidreto metálico, as baterias de lítio e as baterias de eletrólito
sólido. As características dessas baterias, cada vez permitem a
sua utilização em aplicações específicas.

28
NEWTON C. BRAGA

DÍNAMOS E ALTERNADORES
Para manter a bateria carregada e acionar diversos
dispositivos do circuito elétrico de um carro com o motor em
movimento, utiliza-se um gerador que converte energia mecânica
em energia elétrica.
Na verdade, neste grupo, existem dois tipos principais de
geradores capazes de fazer isso. O dínamo se caracteriza por
produzir corrente contínua e o alternador, se caracteriza por
produzir corrente alternada.
Na figura 1 temos um exemplo de dínamo de bicicleta que
converte a energia mecânica da roda da bicicleta que gira em
energia elétrica para o farol.

Figura 1 – O dínamo da bicicleta

A obtenção de energia elétrica a partir de energia


mecânica como a que se dispõe de um motor em movimento é
relativamente simples.
Os primeiros veículos com motor à explosão já utilizavam
os dínamos com a finalidade de obter energia elétrica para a
carga da bateria e consequentemente para a faísca das velas,
indispensável ao sistema de ignição.
Era um sistema simples em que um dínamo era acionado
pelo motor, gerando uma baixa tensão contínua e que passando
por um sistema regulador de tensão alimentava tanto os
dispositivos elétricos do carro que além do sistema de ignição

29
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

incluíam os faróis, como também carregava com o excedente da


energia, a bateria.
Assim, conforme mostra o diagrama simples da figura 2, a
finalidade do dínamo seria a de fornecer energia para o sistema
elétrico com o carro em movimento.
Para a partida e eventualmente para acender um farol com
o carro parado, deveria entrar em ação a bateria.

Figura 2 – Circuito simples de carga com dínamo

A grande desvantagem do dínamo é que se exige uma


velocidade mínima de rotação do motor para que ele produza
tensão suficiente para alimentar os circuitos, daí a necessidade
de um sistema regulador de tensão que entra em ação quando a
tensão atinge o mínimo exigido.
A tensão mínima é dada pela necessidade de se polarizar o
diodo do circuito no sentido direto e então passar a circular a
corrente de carga.
Para veículos que trafegam na cidade e que, portanto,
estão sujeitos a consequentes paradas ou baixas velocidades com
a redução da rotação do motor, o uso do dínamo tem sérios
inconvenientes, pois existe o perigo dele não fornecer pelo tempo
necessário a energia para a carga da bateria.
O circuito vai operar num regime em que o tempo de
carga é menor do que o tempo de consumo da energia da bateria.
Nos veículos antigos havia uma lâmpada no painel que alertava
quando a bateria do carro não estava sendo carregada, exigindo
que o motorista acelerasse um pouco até ela apagar...
Gerando tensões alternadas e com o uso de diodos
semicondutores e mesmo circuitos eletrônicos é possível obter
um desempenho muito melhor para o sistema elétrico dos
veículos e é isso o que ocorre nos veículos modernos que usam
apenas a solução do alternador como fonte de energia a partir do
motor.

30
NEWTON C. BRAGA

Apenas nos sistemas elétricos de veículos mais simples


encontramos a mesma configuração que faz uso do dínamo,
como, por exemplo, em bicicletas para acender um farol ou luzes
de sinalização.
Nos veículos automotores atuais que são mais sofisticados
a eletrônica aparece em quase todas as funções deste circuito e
mesmo em funções adicionais que visam melhorar o
desempenho.
O alternador que é o ponto de partida deste sistema é um
dispositivo eletromecânico e como tal, além de desgastes das
partes móveis podem apresentar defeitos.
A presença nos modelos atuais de alguns dispositivos
eletrônicos internos neste dispositivo faz com que muito
eletricistas de automóveis tenham certo receio no seu manuseio,
mas com as explicações que daremos a seguir, os leitores verão
que isso não se justifica.
O princípio de funcionamento de um dínamo é muito
simples: se tivermos uma bobina que gire dentro do campo
magnético criado por um conjunto de imãs ou ainda por outras
bobinas, conforme mostra a figura 3, cada vez que as espiras
dessa bobina cortarem as linhas de força do campo magnético
aparece nos extremos da bobina uma tensão elétrica.

Figura 3 – Funcionamento do alternador

Ligando uma lâmpada ou outro dispositivo capaz de


converter energia elétrica em outra forma de energia, ele
funcionará: no caso da lâmpada ela acenderá. Isso indica que,
para cortar as linhas de força do campo magnético é preciso fazer

31
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

um esforço mecânico na bobina, e a energia mecânica necessária


a isso se converte em energia elétrica.
O problema do dispositivo que vimos é que a cada meia
volta que a bobina dá dentro do campo magnético ela corta duas
vezes as suas linhas de força e isso em sentidos opostos.
Percebemos então que cada volta, cortando as linhas duas
vezes em direção oposta, a bobina gera uma tensão ora com o
polo positivo de um lado, ora do outro. Em outras palavras,
girando nestas condições, temos a produção de uma corrente
alternada.
De modo a corrigir este problema, na saída da bobina liga-
se um sistema de escovas, conforme mostra a figura 4, que
inverte um dos polos numa das meias voltas, de modo que
tenhamos a corrente circulando sempre no mesmo sentido, ou
seja, para que obtenhamos uma corrente contínua.

Figura 4 – Obtendo corrente contínua

Esse fato nos leva a dispositivos denominados dínamos. Se


eliminarmos o sistema que inverte o sentido da corrente a cada
meia volta das espiras, o dispositivo passa a gerar correntes
alternadas, ou seja, teremos um alternador.
Antigamente não era simples converter a corrente
alternada na corrente contínua necessária a muitos dos
dispositivos elétricos e eletrônicos de um carro e por isso o uso
dos dínamos era obrigatório.
No entanto, com a disponibilidade dos diodos de silício,
podemos facilmente converter correntes alternadas em

32
NEWTON C. BRAGA

contínuas, de modo que tanto faz para um circuito elétrico se ele


tenha como fonte de energia tensão contínua como alternada.
Por esses motivos, nos veículos modernos, em lugar de
usarmos dínamos temos alternadores, ou seja, dispositivos
semelhantes em que temos um conjunto de bobinas móveis que
gira dentro do campo magnético de um conjunto de bobinas fixas,
conforme mostra a figura 5.

Figura 5 – As bobinas do alternador

Neste caso, como a polaridade da corrente se inverte


constantemente, ou seja, os polos se alternam, temos um
alternador. Diodos são acrescentados no próprio dispositivo de
modo a se obter a corrente contínua que o circuito elétrico do
automóvel precisa para funcionar.
Na figura 6 temos a disposição dos diodos mostrando que
para facilitar a produção de energia de forma mais constante são
empregados três conjuntos de bobinas e, portanto, três conjuntos
(pares) de diodos na maioria dos circuitos.

33
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Figura 6 – Estrutura do alternador – 1-Bobinas móveis, 2-conjunto de


diodos, 4-bobina fixa, 5- comutadores, 6-regulador de tensão.

O funcionamento de um alternador num veículo,


entretanto, não apresenta uma linearidade, o que não é
interessante para o circuito elétrico do carro.
Os diversos dispositivos que são alimentados pela
eletricidade no carro exigem uma tensão fixa, ou pelo menos que
oscile numa faixa estreita de valores. Variações da tensão muito
grandes podem causar danos a diversos desses dispositivos.
Sabemos que a tensão que um dínamo apresenta na sua
saída, conforme mostra a figura 7 depende de diversos fatores
como, por exemplo, a velocidade que o motor gira e a intensidade
da corrente exigida pelos circuitos a ele ligados.

Figura 7 – Dentro da variação possível da tensão gerada existe uma faixa


de regulagem em que a tensão deve ser mantida.

34
NEWTON C. BRAGA

O problema maior ocorre pela enorme faixa de variação de


velocidade de um motor de carro que pode ter rotações entre 500
e 6000 rpm. Para que o circuito elétrico do carro se veja
alimentado por uma tensão dentro de uma faixa segura, devem
ser agregados dispositivos reguladores de tensão.

O Alternador por dentro


Na figura 8 temos uma vista explodida de um alternador
de carro típico mostrando suas diversas partes.

Figura 8 – O alternador em vista explodida. 1 é a placa com os diodos. 2 é


o regulador e 3 as escovas.

Internamente observamos dois conjuntos de


enrolamentos: os enrolamentos de campo que geram o campo
magnético que as espiras do outro enrolamento devem cortar e o
enrolamento estator que gera a energia.
Internamente também temos uma placa em que seis
diodos de potência são instalados para retificar a corrente
alternada gerada. Estes diodos são fixados numa peça única de
metal que também serve de dissipador de calor (1 na figura 8).
A regulagem da tensão nos veículos mais antigos era feita
por um dispositivo eletromecânico como nos carros que
utilizavam dínamos conforme mostra a figura 9.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Figura 9 – Um regulador de tensão eletromecânico encontrado nos modelos


de carro mais antigos.

Nos veículos modernos, entretanto são usados reguladores


de tensão com transistores de potência em configurações como a
mostrada na figura 10.

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NEWTON C. BRAGA

Figura 10 – Alternador com circuito regulador de tensão utilizando


transistores de potência.

Normalmente o que temos é a tradicional configuração do


regulador série em que um transistor de potência funciona como
um reostato ou resistor variável dosando a corrente de excitação
do enrolamento de excitação de modo a controlar a intensidade
do campo magnético cujas espiras do enrolamento móvel vão
cortar.
Este processo é muito melhor do que se tentarmos
controlar a corrente principal gerada pelo dínamo que é da ordem
de dezenas de ampères exigindo assim transistores de potência
muito alta. Mesmo assim o transistor usado deve ser de tipo de
alta corrente (20 A ou mais) já que esta é a ordem de grandeza
da corrente gerada.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

A referência de tensão para a saída tanto pode ser dada


por diodos zener como por circuitos integrados. No circuito
mostrado como exemplo, o diodo zener Z2 fixa a tensão para o
transistor T2 que funciona como driver, controlando a corrente
principal através do transistor T1. N a figura 11 temos as
correntes neste circuito quando em funcionamento.

Figura 11 – Circulação das correntes no circuito regulador de tensão.

Observe que neste circuito está ligada a lâmpada


indicadora de painel que apaga quando a tensão gerada é
aplicada ao circuito o que ocorre quando o motor entra em
funcionamento.
Configurações mais complexas podem ter até 5
transistores sendo também encontradas em alguns veículos. Na
figura 12 mostramos uma configuração em que temos um
regulador controlado por um SCR.

38
NEWTON C. BRAGA

Figura 12 – Circuito regulador de tensão utilizando SCRs.

Neste circuito o ponto de disparo do SCR após a


comutação é determinado pela tensão gerada, funcionando o
mesmo como um controle de fase.
É importante observar que o uso de equipamentos
eletrônicos delicados no carro, principalmente os circuitos de
microcontroladores que fazem todo o controle do sistema elétrico
e do motor não admitem variações grandes da tensão de
alimentação, podendo sofrer danos com facilidade daí a
necessidade de circuitos reguladores precisos e eficientes.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

DISSIPADORES DE CALOR
Apesar da maioria dos circuitos de potência modernos ter
um rendimento elevado, a quantidade de calor gerado e que deve
ser dissipado, é uma preocupação crescente. Os dispositivos
operam com potências cada vez mais elevadas e no limite de
suas capacidades de dissipação. O uso do dissipador de calor
correto, instalação perfeita e ventilação adequada são
preocupações tão importantes quanto a própria parte elétrica do
circuito.
Fontes de alimentação, controles de potência e
amplificadores de áudio são apenas alguns exemplos de circuitos
que operam com potências elevadas, usando componentes que
trabalham próximos de seus limites. Como transferir o calor
gerado por esses componentes para o meio ambiente é uma
grande preocupação que os projetistas devem enfrentar para não
terem problemas posteriores de funcionamento.
Um dos pontos de partida para a escolha do dissipador
apropriado está na própria durabilidade de um componente
semicondutor como um transistor, MOSFET, Triac ou mesmo
circuito integrado de potência. A confiabilidade e a durabilidade
de um dispositivo semicondutor são inversamente proporcionais
ao quadrado das variações de temperatura da junção. Isso
significa que reduzindo à metade à temperatura de um
dispositivo, podemos esperar uma durabilidade quatro vezes
maior.
O processo de transferência do calor gerado na junção de
um dispositivo semicondutor envolve um circuito térmico com
diversas etapas, conforme mostra a figura 1.

40
NEWTON C. BRAGA

Três componentes se destacam nesse circuito: a


resistência térmica do invólucro do dispositivo ao passar para o
dissipador, a inércia térmica do dissipador de calor (que é
grande), e a resistência térmica entre o dissipador e o meio
ambiente.
Nesse circuito deve-se encontrar um estado de equilíbrio
térmico, que permita a transferência do calor gerado para o meio
ambiente sem, entretanto, que a temperatura da junção do
dispositivo semicondutor ultrapasse os limites estabelecidos pelo
fabricante.

Tipos de Dissipadores
Partindo da ideia de que qualquer corpo que conduza e
irradie calor pode funcionar como um radiador de calor, podemos
ter diversas técnicas para a construção de dissipadores para uso
em aplicações eletrônicas. A maioria dos tipos tem na circulação
do ar a transferência da maior parte do calor gerado, conforme
mostra a figura 2.

41
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Os principais tipos são, cujos formatos são mostrados na


figura 3, são:

a) Estampados – são dissipadores formados por folhas de


cobre ou alumínio, estampados de modo a adquirir o
formato desejado. Esse tipo de dissipador é bastante
usado na maioria das aplicações eletrônicas por serem
baratos e por serem de fabricação fácil.

b) Por extrusão – são os mais comuns em aplicações de


potência como fontes de alimentação, amplificadores, etc.

42
NEWTON C. BRAGA

O processo de extrusão facilita a obtenção de formatos


bidimensionais com a capacidade de dissipar grandes
quantidades de calor. Além disso, eles podem ser cortados
e trabalhados de diversas maneiras. A possibilidade de se
cortar aletas em corte cruzado permite a elaboração de
padrões que possibilitam o aumento da performance de 10
a 20%.

c) Juntas de Tiras Pré-fabricadas – a limitação da capacidade


de dissipação dos tipos que operam por convecção pode
ser contornada se a superfície de contato com o ar for
aumentada. A maior exposição à corrente de ar facilita a
transferência do calor gerado. Os dissipadores desse tipo
são formados por aletas de alumínio coladas com epóxi a
uma base fabricada por extrusão.

d) Fundidos – areia, um cerne e processo de fundição para


dissipadores podem ser feitos em alumínio sem a
necessidade de vácuo, cobre ou bronze. Esse tipo de
dissipador tem maior desempenho em sistemas de
ventilação forçada.

e) Aletas dobradas – folhas de alumínio ou cobre corrugado


são usadas para aumentar a área da superfície em
contacto com o ar nesse tipo de dissipador. O sistema é
então fixado a uma placa que serve de base ou mesmo
colado na superfície de onde o calor deve ser removido.

Como Medir a Resistência Térmica de um


Dissipador
O método descrito é empírico, servindo para determinar
com razoável precisão a resistência térmica de um dissipador de
calor.
Tudo que o leitor precisa é de um termômetro
(preferivelmente do tipo de contacto digital) e de uma fonte de
calor conhecida. A fonte de calor pode ser um resistor de potência
ou ainda um transistor, conforme mostra a figura 4 ligados a uma
fonte ajustável de tensão.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

O resistor ou o transistor devem ser capazes de fornecer


uma boa potência, por exemplo, o 2N3055. Será interessante que
na determinação das características do dissipador, ele esteja o
mais próximo possível das condições reais em que ele vai ser
usado.
Por exemplo, ele já pode ser fixado na caixa do aparelho
em que vai ser instalado de modo a se verificar se o sistema de
ventilação é eficiente. O que se faz então é montar o dissipador
em contato com o resistor ou transistor usado como fonte de
calor. O contato térmico perfeito é essencial para a precisão das
medidas, conforme mostra a figura 5.

44
NEWTON C. BRAGA

No caso de um transistor é mais fácil fazer esse contato


pois já podemos usar pasta térmica para essa finalidade, como na
montagem final do componente que vai ser utilizado. Comece
aplicando uma pequena potência ao resistor ou transistor e
espere pelo menos uma hora para que ocorra o equilíbrio térmico.
Se o calor gerado for insuficiente para aquecer o
dissipador (que estará ainda muito frio), aumente a potência e
espere mais uma hora até a estabilização. Vá fazendo isso por
etapas até obter uma temperatura final do dissipador na faixa de
50 a 60º C aproximadamente. Anote a potência que está sendo
gerada Ph multiplicando a corrente no circuito pela tensão,
conforme mostra a figura 5. Anote a temperatura final medida no
dissipador (th) e a temperatura ambiente (ta). Podemos então
aplicar as seguintes fórmulas:

Variação da temperatura (tr)

tr = th – ta (1)

Onde:
th – temperatura do dissipador (°C)
ta – temperatura ambiente (°C)

Potência dissipada (aplicada ao dissipador) – W

P = V x I(2)

Onde
P – Potência aplicada e dissipada em watts

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

V – Tensão no elemento de aquecimento (V)


I – Corrente no elemento de aquecimento (I)

Finalmente temos o modo de se encontrar a resistência


térmica em °C/W:

Rth = Tr/P(3)

Onde:
Rth – Resistência térmica em °C/W
Tr – Variação da temperatura (°C)
P – Potência aplicada/dissipada (W)

Para obter maior precisão nos cálculos, o leitor pode


realizar a medida várias vezes e tirar a média. Na maioria dos
casos, a determinação será razoável pois os próprios fabricantes
dos dissipadores especificam seus produtos com uma tolerância
que chega aos 25% (para mais e para menos!).

Vamos dar um exemplo de cálculo:


Ao aplicar uma tensão de 12 V a corrente circulante no
elemento de aquecimento usado como prova é de 3 A. A
temperatura ambiente é 20º C e a temperatura final medida
depois de uma hora no dissipador 60º C. Qual é a resistência
térmica do dissipador?

Temos:
ta = 20 °C
th = 60 °C
V = 12 V
I=3A

Começamos por calcular tr:

tr = 60 – 20 = 40 °C

Depois calculamos P:

P = 12 x 3 = 36 W

A resistência térmica será:

46
NEWTON C. BRAGA

Rth = Tr/P = 40/36 = 1,11 °C/W

Compostos ou Pastas Térmicas


De modo a facilitar a transferência de calor entre o
componente (onde ele é gerado) e o dissipador de calor é comum
o emprego de compostos térmicos ou pastas térmicas, conforme
mostra a figura 6.

Muitos projetistas acham que se a utilização de um pouco


de pasta térmica é bom, colocar mais é melhor. Um erro grave
que pode comprometer a aplicação. Os compostos ou pastas
térmicas possuem uma resistência térmica que não é desprezível,
e um excesso de pasta em lugar de ajudar, pode agregar
resistência ao circuito térmico, diminuindo, em lugar de
aumentar, a capacidade de dissipação.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Inércia Térmica
Como o calor gerado não é transferido para o meio
ambiente imediatamente, precisando de certo tempo de
“trânsito” através do dissipador, isso se traduz numa inércia
térmica. Leva tempo para o dissipador “responder” às variações
de temperatura do componente nele montado.
Essa inércia deve-se basicamente à massa do dissipador, a
qual deve ser aquecida, absorvendo ou cedendo calor quando a
temperatura do ar ambiente ou do componente varia. Quanto
maior for um dissipador mais tempo ele demora até atingir a
temperatura final de funcionamento, conforme mostra o gráfico
da figura 7.

Veja então que um dissipador maior não significa


necessariamente que ele pode dissipar mais calor, mas sim que
ele demora mais tempo para chegar à temperatura de equilíbrio.
Uma grande inércia térmica pode ser interessante em
algumas aplicações, pois ela significa a capacidade de absorver o
calor gerado em transientes.
Deve-se também tomar cuidado com uma inércia
excessiva, pois a temperatura do radiador pode demorar para
subir atuando sobre um eventual dispositivo de proteção

48
NEWTON C. BRAGA

conectado a ele, quando a temperatura do próprio componente já


atingiu um valor capaz de causar sua queima.

Conclusão
Dissipadores de calor são elementos importantes de todos
os projetos que envolvem dispositivos semicondutores de
potência. Cuidados especiais devem ser tomados com esses
componentes, em especial atentando-se para o tipo de a
resistência térmica. Como calcular a resistência térmica de um
dissipador foi um dos assuntos deste artigo, além de alguns
cuidados que devem ser tomados com este tipo de componente.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

CÉLULAS À COMBUSTÍVEL
Energia fácil e barata sem poluição tanto para movimentar
veículos como para produzir eletricidade de uso comercial e
residencial. Este é o novo conceito que começa a ser explorado
em algumas aplicações práticas e deve estar disponível em maior
escala já no início do próximo século ao consumidor comum
graças a tecnologia da célula à combustível. Gerando energia
elétrica diretamente a partir da combustão de gases como o gás
comum, hidrogênio e outros, este sistema gera energia limpa com
alto rendimento. Veja neste artigo de que modo funcionam as
células à combustível e o que elas prometem para o futuro.

Este artigo é de 1997. Em outro artigo


mais recente temos uma outra
abordagem para o mesmo tema.

Um dos problemas da produção de eletricidade a partir de


fontes disponíveis atualmente como a dos rios, atômica e solar é
que os processos usados só têm bom rendimento na produção de
energia em grande escala. Assim, nossas fontes de energia são
centralizadas exigindo grandes redes de distribuição que, além de
custarem caro representam um ponto crítico no sistema, pois
apresentam perdas consideráveis.
A possibilidade de se gerar energia elétrica em pequena
escala a um baixo custo, usando processos que não sejam
poluentes, é procurada há muito tempo.
Pequenos geradores alimentados a gás poderiam
alimentar residências e movimentar veículos com um rendimento
muito maior, sem poluição e eliminariam a necessidade de uma
ampla rede de distribuição de energia.
Na verdade, nos locais em que existem redes de
distribuição de gás encanado, já se pensa em utilizar esta forma
de combustível para gerar eletricidade a partir do próximo ano,
como, por exemplo, na Califórnia.
Outra possibilidade importante é a movimentação de
veículos. Usando o hidrogênio como combustível é possível obter
energia em grande quantidade e barata e mais do que isso: o

50
NEWTON C. BRAGA

produto da queima do hidrogênio é a água que não polui de forma


alguma!
Mas, para gerar energia elétrica diretamente a partir da
queima de um combustível não é tão simples, e a tecnologia
exigida só agora toma um grande impulso.
Para gerar eletricidade a partir da queima de combustível
são usados dispositivos denominados "células à combustível" e é
delas que falaremos mais intensamente a partir de agora.

O QUE SÃO AS CÉLULAS À COMBUSTÍVEL


Para gerar eletricidade a partir da queima de um
combustível o processo tradicional utiliza uma série de
dispositivos intermediários que reduzem o seu rendimento,
encarecem sua elaboração e tornam seu tamanho proibitivo para
a maioria das aplicações, principalmente as que envolvem a
produção de pequenas quantidades de energia.
Assim, conforme mostra a figura 1, o que se faz
tradicionalmente é queimar um combustível para movimentar um
motor e este motor acionar um dínamo ou alternador.

A cada transformação de energia ocorre uma perda e,


além disso, os combustíveis usados atualmente para se
movimentar os motores são altamente poluentes como o óleo
diesel, gasolina, ou mesmo a queima de carvão ou lenha.

51
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Será que não existe algum meio de se obter eletricidade a


partir da queima de um combustível num processo único sem
dispositivos intermediários?
A descoberta da célula à combustível não é recente. Em
1839 Sir William Robert Grove descobriu que a dissociação de
vapor de água em hidrogênio e oxigênio podia ser obtida num
eletrodo de platina aquecido.
Novos materiais e novas técnicas desenvolvidos
principalmente a partir da subida da Gemini IV (que tinha um
sistema de células a combustível capaz de gerar 12 kW de
energia elétrica), estão levando a possibilidade de se gerar
eletricidade diretamente a partir de um processo químico em que
entrem gases comuns.

COMO FUNCIONAM AS CÉLULAS À


COMBUSTÍVEL
Se bem que o conhecimento do princípio funcionamento
da célula à combustível seja bastante antigo, o entendimento de
como ela realmente funciona é relativamente recente.
Enquanto uma bateria comum leva o seu combustível e o
comburente em seu interior de uma maneira que não podem ser
substituídos, mas eventualmente apenas recompostos pelos
processos de recarga, uma célula à combustível é diferente,
conforme podemos ver pela figura 2.

Na célula à combustível, o combustível (um gás, como o


hidrogênio) e o comburente (o oxigênio) são "bombeados" para o
seu interior e na combinação de ambos em eletrodos especiais
resulta em eletricidade que pode ser usada para alimentar um
circuito externo.

52
NEWTON C. BRAGA

As vantagens deste sistema são inúmeras, mas a principal


está na possibilidade do fornecimento de energia de forma
constante e ilimitada.
O que ocorre é que a capacidade de armazenamento de
energia das baterias comuns é pequena, exigindo-se para o caso
dos veículos baterias muito grandes, pesadas e caras para se
obter uma autonomia apenas razoável. Na célula à combustível, o
elemento que converte energia é pequeno, e a energia é
armazenada externamente na forma do combustível usado
podendo ser fornecida continuamente.
As células a combustível são classificadas por muitos como
"dispositivos de estado sólido" que convertem energia química
em energia elétrica sem a necessidade de dispositivos mecânicos.
No tipo básico, existem eletrodos porosos à base de
platina (que funciona como catalisador da reação) para onde é
bombeado o hidrogênio, conforme mostra a estrutura da figura 3.

Ocorre, entretanto que os poros do eletrodo poroso,


normalmente uma membrana de um polímero são menores que
os átomos de hidrogênio que então não conseguem passar na

53
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

forma normal. Forçados a perder um elétron, os átomos se


convertem em íons carregados positivamente que, pela ação do
catalisador passagem e se combinam com o oxigênio, liberando
energia e formando água e ao mesmo tempo dotando o catodo de
uma carga positiva. Do outro lado permanece o elétron que assim
"carrega" o anodo negativamente.
Neste processo, a presença de cargas de polaridades
diferentes no anodo e no catodo tornam disponíveis energia
elétrica para um circuito externo. A diferença de potencial obtida
por célula deste tipo é da ordem de 1,23 volt sem carga caindo
para 0,6 V com carga.
Este tipo de célula é denominado SPFC ou PEM (Proton
Exchange Membrane ou Membrana de Troca de Prótons).
Mas, a principal vantagem deste tipo de célula está no seu
elevado rendimento que pode chegar aos 60% o que é muito mais
do que o rendimento obtido por um motor a combustão típico que
não passa de 25% e, além disso, o fato de que o produto da
combustão é vapor d'água!
Alguns cuidados devem ser tomados com o hidrogênio
usado como combustível que é a remoção do enxofre e do
monóxido de carbono que é capaz de "envenenar" o catalisador
de platina afetando o funcionamento da célula.
Diversas são as empresas que trabalham hoje no
desenvolvimento de células do tipo PEM. Dentre elas podemos
destacar a ECN na Holanda, a Sere De Nora na Itália, e a Siemens
e a Dornier na Alemanha além da Rolls Royce e VESL. No Canadá
destacamos a Ballard Power System e nos Estados Unidos a
Energy Partners.
Na figura 4 temos a célula da Ballard que utiliza uma
membrana de polímero de flúor-carbono e apenas 0,05 a 0,18
mm de espessura.

54
NEWTON C. BRAGA

Esta empresa possui em sua linha de produtos células de 5


kW de potência, fornecendo correntes de 240 A sob tensão de 20
V quando alimentadas por hidrogênio sob pressão de 30 psi (o
que equivale a aproximadamente 2 atmosferas). Esta célula pesa
apenas 45 kg.
Um ônibus que é movimentado com esta célula já se
encontra em produção pela Mercedes-Benz e dele falaremos mais
adiante ainda neste artigo.

OUTROS TIPOS DE CÉLULAS


a) MCFC (Molten Carbonate Fuel Cell)
Um outro tipo de célula à combustível é a que usa
carbonato fundido como combustível sendo denominada MCFC
(Molten Carbonate Fuel Cell) e que tem a estrutura básica
mostrada na figura 5.

55
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Nesta célula temos um eletrodo que é aquecido a uma


temperatura de aproximadamente 650 graus centígrados. Nesta
temperatura o sal usado como eletrólito funde-se e se torna
condutor de corrente elétrica, permitindo que íons de carbonato
migrem para o anodo. Neste trajeto os íons encontram-se com o
hidrogênio ocorrendo então uma reação química. Nesta reação
forma-se água e dióxido de carbono (CO2).
Ao mesmo tempo, os íons de carbonato e o oxigênio
reagem para recolocar em circulação os íons de carbonato que
migraram para o anodo. Veja que nesta reação o dióxido de
carbono funciona apenas como um suporte na cadeia de
interações iônicas.
Uma das dificuldades que os projetistas destas células
encontram está na degeneração do eletrodo de óxido de níquel
(catodo) que, em contato com o eletrólito alcalino logo se estraga.

56
NEWTON C. BRAGA

Este tipo de célula tem uma eficiência na faixa dos 50 aos


60%, gera mais calor que o tipo PEM, e está sendo estudada com
especial atenção por algumas empresas japonesas como a
Hitachi, Toshiba e Mitsubishi.
Nos Estados Unidos um consórcio de empresas liderada
pela M-C Power realiza estudos com este tipo de célula pensando
em torná-la comercial brevemente. A vantagem deste tipo de
célula está na possibilidade de funcionar com gás natural,
metanol, propano, etanol em mistura com o hidrogênio o que
amplia sua gama de aplicações práticas.

b) SOFC (Solid Oxide Fuel Cell)


Este tipo de célula, ainda em fase de desenvolvimento tem
uma eficiência na faixa de 50 a 60%.
Nesta célula o combustível, que pode ser gás natural ou
outro tipo de gás combustível, é bombeado para um anodo
juntamente com vapor de água. Ocorre então uma reação
química em que monóxido de carbono e hidrogênio são
produzidos.
Na temperatura elevada em que o processo ocorre, íons de
oxigênio são produzidos e levados pelo eletrólito formando assim
uma corrente elétrica que se dirige ao anodo. Os íons que
chegam ao anodo podem então entregar seus elétrons formando
assim água e devolvendo ao anodo os elétrons para fechar o
percurso da corrente.
A Whestinghouse, nos Estados Unidos, é a principal
empresa que trabalha no desenvolvimento deste tipo de célula.

c) PAFC (Phosphoric Acid Fuel Cell)


Este tipo de célula se caracteriza pela altíssima densidade
de energia que pode fornecer, mais de 200 mA por centímetro
quadrado, sob tensão de 0,66 volts, com um rendimento na faixa
de 40 a 45 %. Muitas células são "empilhadas" de modo a se
obter maior tensão e assim poder alimentar um circuito externo.
A desvantagem está na necessidade de hidrogênio como
combustível num grau de pureza elevado, pois não pode conter
substâncias como o monóxido de carbono ou enxofre que podem
afetar o catalisador de platina.

57
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

APLICAÇÕES DIFERENTES
No futuro se prevê que a utilização das células à
combustível não se limite à propulsão. Geradores pequenos, de
baixo custo, podem ser instalados em residências que então não
precisão mais dispor de energia vinda por meio de fios e uma
usina distante. A eletricidade para o consumo local seria gerada
quer seja por gás engarrafado quer seja por gás encanado, que já
está disponível numa grande quantidade de locais.
Assim, existe um plano interessante que deve ter início já
no próximo ano, que consiste em se dotar residências de uma
cidade escolhida da Califórnia com pequenos geradores à base de
células a combustível que utilizariam gás encanado.
Com um bom rendimento, usando uma forma de energia
que ainda não é tão escassa como a hidroelétrica, estes pequenos
geradores poderiam resolver um grave problema de sobrecarga
dos sistemas de fornecimento convencionais que já ameaçam
algumas regiões dos Estados Unidos.
Os leitores que ainda não têm noção do grave problema
que de geração e distribuição de energia que ronda algumas
regiões dos Estados Unidos, especificamente a Califórnia devem
ler o romance "Colapso" de Arthur Hailey (Rio Gráfica Editora).
Os recentes "blackouts" de São Paulo também mostram
que aqui mesmo em nosso país, também estamos nos
aproximando de um ponto crítico na geração e fornecimento de
energia que talvez tenham como solução a nova tecnologia da
célula à combustível.

UMA IDEIA PARA O FUTURO


Talvez, no próximo século, a energia elétrica de que
disporemos em nossa casa seja obtida de uma completamente
diferente de hoje.
Em lugar de usinas centralizadas que gerem grande
quantidade de energia elétrica a partir da energia hidroelétrica,
atômica, marés, ou outra tenhamos algo diferente.
As grandes usinas farão a eletrólise da água gerando
grandes quantidades de hidrogênio que seriam engarrafados ou
canalizados, servindo como combustível limpo para células de

58
NEWTON C. BRAGA

todos os tipos que gerarão toda a eletricidade que precisamos,


conforme mostra a figura 6.

NEBUS - O ÔNIBUS DA MERCEDEZ QUE ESTARÁ


EM CIRCULAÇÃO NO BRASIL
Nestas últimas semanas notícias de que a prefeitura de
São Paulo, para minimizar os problemas de poluição, estaria
interessada em ônibus à hidrogênio" apareceu em alguns órgãos
da imprensa.
Pois bem, trata-se do NEBUS, o ônibus que utiliza células à
combustível e é fabricado pela Mercedes-Benz da Alemanha. Com
mais de 200 protótipos já funcionando em diversas cidades do
mundo, este tipo de ônibus utiliza células à combustível do tipo
PEM desenvolvidas pela Ballard, de que já falamos anteriormente.

59
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

O ônibus básico NEBUS modelo O 405 consiste num


veículo urbano de 12 metros de comprimento, 2,5 metros de
largura e 3,5 m de altura com 34 lugares para passageiros
sentados e mais 24 em pé.
Sob o compartimento de passageiros se encontra a
instalação de combustível, propulsão (motor) e a célula à
combustível, fabricada pela Ballard Power Systems que forma
com a Daimler-Benz um consórcio com 25% de participação.
O motor trabalha com um conversor que consiste num
pulso transformador ZF cuja finalidade é fornecer ao motor
energia elétrica numa forma diferente da contínua gerada pela
célula, o que permite também maior controle. Um sistema de
bombas leva à célula o combustível armazenado que consiste em
45 000 litros de hidrogênio, o que dá ao ônibus uma autonomia
de 250 km.
A célula a combustível é formada por 10 baterias de 25 kW
cada uma o que gera uma potência final de 250 kW. Subtraindo-
se a potência necessária ao próprio funcionamento da célula, que
se converte em calor, para alimentação do sistema elétrico e de
ar-condicionado sobra para a propulsão aproximadamente 190
kW que corresponde a uma potência de 260 CV.

60
NEWTON C. BRAGA

É interessante observar que o tamanho da célula usada


equivale ao de um motor a explosão comum, o que possibilita sua
instalação no mesmo local.
O resultado da combustão do hidrogênio usado é o vapor
d'água que é expelido a uma temperatura de aproximadamente
55 graus centígrados. Nos circuitos elétricos do NEBUS
encontramos três tensões: 600 volts para acionamento do motor
e dos eixos ZF integrados aos cubos das rodas; 380 volts para a
bomba de servo-direção e o compressor de ar e 24 volts para o
sistema elétrico de bordo.
No modelo original temos um outro detalhe "ecológico" a
ser considerado, que são as claraboias de ventilação soldar, que
tem por finalidade gerar a corrente elétrica para o funcionamento
dos condutores de ar-condicionado e ventilação. Isso significa que
a ventilação se mantém em funcionamento mesmo que a célula à
combustível esteja "desligada".
Uma alternativa para o futuro, que está sendo estudada
pela Mercedes-Benz consiste no uso de células que funcionem
com metanol.

61
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

RELÊS/TRANSFORMADORES/MOTORES
Existem alguns componentes eletrônicos que tem seu
funcionamento baseado no campo magnético criado por uma ou
mais bobinas. Neste artigo vamos focalizar três desses
componentes que, pela sua importância, devem ser bem
conhecidos de todos os praticantes da eletrônica assim como da
mecatrônica.
Os relês, transformadores e motores são componentes
básicos dos projetos de mecatrônica e robótica além de poderem
ser encontrados numa infinidade de equipamentos comerciais,
industriais e automotivos. Estes componentes podem ter as mais
diversas funções e aparências, mas o princípio de funcionamento
será sempre o mesmo.
Os três componentes que vamos analisar neste artigo têm
um ponto em comum: uma ou mais bobinas de fio esmaltado
enrolada em torno de um núcleo de material ferroso.
Evidentemente, a finalidade destas bobinas é criar um
campo magnético quando uma corrente as percorre, mas o que
vai ser feito com este campo magnético vai depender do que
desejamos dos componentes, e aí está a principal diferença.
Assim, ao analisarmos os três componentes citados num
único artigo, o fazemos apenas pelo seu aspecto comum que é a
bobina e o campo, se bem que no fundo, eles sirvam para coisas
completamente diferentes.

OS RELÊS
Um relê pode ser definido como um interruptor ou um
comutador eletromecânico. Na figura 1 temos a estrutura básica
simplificada de um relê comum.

62
NEWTON C. BRAGA

Quando fazemos circular uma corrente pela sua bobina, é


criado um forte campo magnético que torna o núcleo desta
bobina um eletroímã. Este eletroímã atrai uma armadura móvel
que possui conjuntos de contatos.
Com o movimento, os contatos encostam uns nos outros e
um circuito externo pode ser fechado ou comutado, conforme a
maneira como estes contatos estejam montados. Quando a
corrente na bobina é interrompida, o campo cessa e as
armaduras, deixando de ser atraídas, voltam à sua posição
normal.
Veja então que, a partir da corrente que circula na bobina
(que pode ser muito fraca) podemos controlar correntes muito
mais intensas ou sob tensões diferentes, pelos contatos
acionados. Na figura 2 temos os símbolos adotados para a
representação de um relê.

No primeiro caso temos um relê simples em que temos


dois contatos: o primeiro é o contacto fixo ou comum (C) e o outro
é o móvel ou NA (normalmente aberto). Isso significa que, quando
não há corrente na bobina, os contatos estão abertos e o circuito
interrompido. Os contatos são estabelecidos quando a corrente
circula pela bobina.
No segundo caso temos um relê simples com contacto NF
(normalmente fechado). Isso significa que neste relê, quando não
há corrente na bobina, os contatos estão encostados um no outro
e a corrente circula.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

A corrente é interrompida, quando o relê é acionado, ou


seja, quando passa corrente pela sua bobina. O terceiro exemplo
é um relê de contatos reversíveis em que temos dois contatos NA
e NF. Este relê pode ser usado como uma chave comutadora de 2
polos x 2 posições, ou seja, reversível (também chamada chave
H).
Quando a bobina se encontra sem corrente, o contacto
comum (C) encosta no NF. Quando a bobina ‚ energizada, ou seja,
circula corrente, o contacto comum (C) passa a encostar no NA.

Uso:
Podemos usar um relê para controlar correntes intensas a
partir de circuitos de baixa tensão e baixas correntes. Mas além
da possibilidade de fazermos isso, o relê tem ainda uma
característica importante que deve ser ressaltada: o circuito da
bobina é completamente isolado do circuito dos contatos.
Assim, como mostra a figura 3 podemos controlar um
circuito de alta tensão (110V ou 220V) a partir de um circuito
alimentado por baixa tensão de pilhas, com total segurança.

Podemos tocar em qualquer ponto do circuito de


acionamento, sem o perigo de choque. O relê pode então ser
usado como elemento de controle de segurança.

Especificações:
Para saber que relê devemos usar numa determinada
aplicação precisamos estar atentos às suas especificações. As
especificações mais importantes dos relês são as seguintes:

a) Tensão da bobina - trata-se da tensão que precisamos


aplicar entre os extremos da bobina para obter a corrente que vai
atrair os contatos, acionando-os. Normalmente, é indicado um
valor único, mas na prática o relê pode funcionar bem numa certa
faixa de valores. Assim, um relê de 6V funcionar  bem numa faixa
de uns 5,5 a 7 volts, sem problemas.

64
NEWTON C. BRAGA

Devemos escolher a tensão do relê de acordo com a


tensão que o circuito de acionamento vai fornecer. Em alguns
casos, é preciso levar em conta que o dispositivo que vai fazer o
acionamento pode apresentar uma pequena queda que deve ser
compensada. Por exemplo, no circuito da figura 4, o SCR "perde"
2 volts quando conduzindo a corrente, de modo que o relê só
recebe 4 volts dos 6 da alimentação. Se for usado um relê de 6V
ele pode ter problemas para o acionamento.

Melhor seria usar um relê de 5 V ou então alimentar o


circuito com 8 ou 9 volts.

b) Corrente da bobina
Trata-se da corrente que vai circular pela bobina para o
acionamento quando a tensão nominal ou tensão da bobina for
estabelecida.
Os relês sensíveis eletrônicos comuns possuem correntes
de acionamento bem pequenas com valores que no máximo
chegam a uns 100 mA. Estas correntes normalmente diminuem
quando os relês são especificados para trabalhar com tensões
maiores. Assim, é comum que um relê de 6V precise de até 100
mA quando o mesmo tipo para 12V precisa somente de 50 mA.
O valor desta corrente é importante pois ele vai
determinar que tipo de circuito eletrônico pode fazer seu
acionamento. Por exemplo, se tivermos um relê que precisa de 6V
x 100 mA não podemos ligá-lo na saída de um circuito integrado
que só fornece 6V x 10 mA, pois o acionamento será impossível.
Um circuito que permita obter maior corrente, como o da figura 5
deve ser usado.

65
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

c) Resistência do enrolamento
Os relês trabalham na maioria dos casos com correntes
contínuas puras, de modo que, em lugar de fornecermos a tensão
e a corrente, podemos em seu lugar, fornecer a tensão e a
resistência do enrolamento.
Pelo valor da resistência é possível calcular a corrente.
Assim, um relê de 6V com 60 ohms de resistência de enrolamento
precisa de 6/60 = 0,1 A ou 100 mA para o seu acionamento.
Basta dividir a tensão de acionamento pela resistência
para obter a corrente. Da mesma forma se dividirmos a tensão
pela corrente de um relê, vamos obter a resistência de seu
enrolamento.

d) Tipos de contatos
Conforme mostramos, os relês podem ter contatos simples
NA ou NF, ou então reversíveis, caso em que teremos relês
comutadores com os mais diversos números de contatos.
Saber que tipo de contacto tem um relê é importante para
a aplicação, principalmente se ela for mais do que a simples
interrupção da corrente num circuito. Isso ocorre, por exemplo, se
precisarmos de um relê tipo "H" ou reversível para inverter a
rotação de um motor num projeto de mecatrônica.

e) Corrente máxima dos contatos


Os relês são como os interruptores e chaves: a corrente
máxima que pode controlar está determinada pelo tipo e
tamanho dos contatos. Uma corrente mais intensa do que a
admitida pode aquecer e queimar os contatos e o controle de
cargas indutivas pode causar faiscamentos que acabam por
queimar os contatos.

66
NEWTON C. BRAGA

Com os contatos queimados, o relê pode falhar, travar


(grudar os contatos) e até mesmo não mais ser capaz de acionar
o circuito externo, exatamente como acontece com interruptores
e chaves comuns.
As correntes máximas dos relês são especificadas para
cargas indutivas e cargas resistivas e tem valores diferentes,
pelos motivos que explicamos.
Essas correntes são dadas em amperes. Na escolha de um
relê devemos ter o cuidado para que a corrente que ele seja
capaz de controlar seja sempre maior do que aquela que vai
encontrar no circuito de aplicação.
Assim, uma margem de segurança garante um bom
funcionamento para o relê em qualquer condição.
Também é importante observar que estas correntes são
especificadas para determinadas tensões.

f) Tensão de contatos
Os contatos dos relês, pela distância em que se mantém
quando abertos, têm também um limite para a tensão que devem
controlar. Não devemos nunca usar um relê para controlar um
circuito de tensão maior do que a máxima especificada para seus
contatos.
Normalmente as tensões são dadas em valores contínuos
ou alternados (Vdc ou Vac) e podem ser tipicamente de 250V
para as aplicações comuns.
Ao usar um relê na rede de energia lembre que a tensão
máxima encontrada na rede de 110V não é 110V, mas sim o valor
de pico que pode chegar aos 150V.

Tipos:
Na figura 6 temos alguns tipos comuns de relês usados em
montagens eletrônicas.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

O principal cuidado que o montador deve ter ao usar estes


relês é com a identificação dos terminais. Isso pode ser feito
facilmente com o multímetro, conforme mostra a figura 7.

A resistência entre alguns ohms até 100 ou 200 ohms


tipicamente indicará que estamos com o multímetro ligado nos
terminais da bobina.
A resistência nula mostrará que estamos entre os
terminais C e NF, e a infinita entre C e NA. Para saber qual é o C,
energize a bobina do relê (aplique a tensão que ele exige) e faça
a prova dos contatos: a inversão permite, por eliminação,
identificar o terminal C.

TRANSFORMADORES
Os transformadores são componentes formados por 2 ou
mais bobinas enroladas num núcleo de material ferroso comum.
Na figura 8 temos o símbolo e o aspecto deste tipo de
componente.

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NEWTON C. BRAGA

O transformador mais comum é o de alimentação ou força,


usado em fontes e que funciona da seguinte maneira: No
enrolamento primário é aplicada a tensão da rede de energia que
pode ser de 110V ou 220V conforme o caso.
Esta tensão estabelece uma corrente pelo enrolamento
que cria um campo magnético que tem as linhas de força
concentradas pelo núcleo de material ferroso.
As linhas de força se expandem e se contraem na mesma
frequência da corrente alternada de modo que, constantemente
elas cortam as espiras do enrolamento secundário. O resultado
disso é que neste enrolamento é induzida uma tensão elétrica
que se torna disponível nas suas extremidades.
O importante do transformador é que esta tensão de
secundário tem um valor diferente da tensão de primário e seu
valor depende da relação entre as voltas de fio (espiras) dos
enrolamentos. Assim, se no enrolamento primário de 1 000 voltas
aplicarmos 110 volts, no secundário de 100 voltas teremos
apenas 11 volts.
Podemos então alterar uma tensão alternada usando um
transformador, aumentando ou diminuindo seu valor conforme o
número de voltas dos enrolamentos. A espessura do fio usado vai
determinar a corrente máxima que podemos obter na saída do
transformador.
O importante, além disso, é que os enrolamentos estão
isolados um do outro, o que quer dizer que a energia passa
apenas por indução. Assim, se o primário está ligado à rede de
energia, podemos tocar no secundário, sem o perigo de choques.
O transformador, além de produzir a tensão que um
circuito precisa para funcionar também serve como elemento de
segurança isolando os circuitos da rede de energia.

Tipos:
Na figura 9 temos os símbolos de alguns tipos comuns de
transformadores.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

O primeiro tem um enrolamento duplo, ou seja, podemos


selecionar o número de voltas do primário, conforme a tensão da
rede de energia em que ele vai ser ligado.
O segundo tem um secundário dotado de uma tomada
central a partir da qual podemos ter duas tensões com fases
opostas. Este tipo de transformador facilita o processo de
retificação pois são usados apenas dois diodos na retificação de
onda completa.
O terceiro tipo é um transformador com dois enrolamentos
secundários: um de baixa tensão e outro de alta tensão. Este tipo
de transformador é encontrado em aparelhos valvulados.
Um tipo de transformador que está se tornando bastante
importante na atualidade é o que faz uso de núcleo toroidal e que
é mostrado na figura 10.

70
NEWTON C. BRAGA

Em lugar das chapas em forma de E, I ou F, este tipo de


transformador usa um núcleo em anel de pó de ferro ou ferrite.
Além de ser mais leve (o tamanho depende da potência, ou seja,
do produto da tensão pela corrente de secundário) ele é mais
eficiente.
O princípio de funcionamento, entretanto, é o mesmo: o
campo produzido pelo primário, induz a tensão do enrolamento
secundário.

Especificações:
Como qualquer outro componente, o transformador deve
ser escolhido de acordo com as suas especificações. Para os
transformadores comuns, usados em fontes de alimentação, as
especificações mais importantes são:

a) tensão de primário
É a tensão de entrada do transformador, ou seja, a tensão
que deve ser aplicada ao enrolamento primário para se obter as
tensões e correntes desejadas no secundário. Para os tipos
comuns ela pode ser 110V, 220V ou em alguns casos as duas.
Para os transformadores de duas tensões, conforme
mostra a figura 11, podemos ter um primário com um
enrolamento dotado de derivação ou ainda dois enrolamentos
primários.

b) tensão de secundário
É a tensão de saída, ou seja, a tensão que obtemos no
enrolamento secundário quando a tensão nominal é aplicada no
primário. Ela pode ser maior ou menor que a tensão do primário,
caso em que podemos ter transformadores elevadores ou
abaixadores de tensão.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Quando o transformador possui um enrolamento


secundário dotado de derivação, então ele apresenta duas
tensões, na realidade.
Assim, para os exemplos da figura 12, temos
transformadores de 6+6V e de 12+12V. Observe então que entre
os extremos do secundário do primeiro temos 12V e no segundo
temos 24V.
É interessante observar que a tensão do secundário de um
transformador não é obrigatoriamente a tensão que uma fonte
fornece. A tensão do secundário do transformador ao passar por
processos de retificação, filtragem e regulagem é alterada podem
então aparecer na saída com valores maiores ou menores.
Em suma, um transformador de 6V não é encontrado
obrigatoriamente numa fonte de 6V.

c) Corrente de secundário
É a corrente máxima que o enrolamento secundário pode
fornecer. Ela deve ser sempre maior ou igual a exigida pelo
circuito que vai ser alimentado.
Assim, podemos usar um transformador de 6V x 500 mA
para alimentar uma lâmpada de 6V x 200 mA mas não podemos
usar um transformador de 6V x 200 mA para alimentar uma
lâmpada de 6V x 500 mA.

d) Potência
Na verdade, esta característica não é indicada, mas é
importante e pode ser calculada facilmente multiplicando-se a
corrente de secundário pela tensão de secundário. Com isso, um
transformador de 12V x 500 mA tem, em princípio uma potência
de 6 watts.
Dizemos, em princípio, pois existem perdas, o que quer
dizer que na verdade, o transformador exige um pouco mais da
rede de energia, ficando a diferença por conta do calor gerado no
componente e das próprias perdas que ocorrem no seu
funcionamento pela dispersão do campo magnético.

Usando:
Para usar o transformador, observe em primeiro lugar, se a
tensão do primário ‚ igual à da rede em que você pretende ligá-lo.
Depois, verifique se a tensão e a corrente de secundário são

72
NEWTON C. BRAGA

compatíveis com a aplicação. A corrente pode ser maior ou igual


à exigida, mas com a tensão devemos tomar cuidado.
Somente nos circuitos que usam reguladores integrados ou
mesmo transistorizados, eventualmente podemos usar um
transformador de maior tensão sem problemas, desde que esteja
dentro dos limites que o dispositivo usado na regulagem admita.
Por exemplo, um regulador 7806 para sa¡da de 6V x 1A
pode operar com tensões de entrada de 8 a 25V. Assim, podemos
tanto usar, tanto transformadores de 9 V, 12V, como 15 V de
secundário, sem problemas!

MOTORES
A finalidade dos motores elétricos é converter energia
el‚trica em energia mecânica, ou seja, movimentar alguma coisa.
Encontramos muitos tipos motores de pequeno porte em
equipamentos eletrônicos com as mais diversas formas e
finalidades. Nos gravadores eles movimentam as fitas, nos CD-
players eles movimentar os CDs, nos comutadores movimentam
os disquetes e o disco rígido (Winchester), nos relógios
movimentam os ponteiros e assim por diante.
O tipo básico de motor de corrente contínua é mostrado na
figura 12.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Uma bobina ‚ percorrida por uma corrente, criando um


campo magnético que está em oposição com o campo magnético
de pequenos ímãs.
O resultado é que surge uma força de repulsão que
empurra a bobina de tal forma que, montada num eixo, ela pode
girar no sentido de encontrar um ponto de equilíbrio. Para
encontrar este ponto de equilíbrio a bobina deveria dar meia
volta, no entanto, ao fazer isso, os contatos da bobina com o
circuito externo invertem pelo seu próprio movimento. Isso
significa que a corrente, invertendo de sentido, faz com que o
campo volte a situação de oposição inicial e a bobina tenha de
dar mais meia volta para chegar ao equilíbrio.
Mais meia volta e novamente temos a comutação da
corrente. Isso significa que, por mais que gire, nunca a posição de
equilíbrio é encontrada. A bobina gira então constantemente
enquanto houver alimentação.
Variações desta configuração básica podem existir, por
exemplo, nos chamados motores de passo em que o controle da
posição da parte móvel (rotor) pode ser fixada com muita
precisão por diversas bobinas acionadas por circuitos lógicos,
conforme mostra a figura 13.

Motores deste tipo podem girar exatamente de um ângulo


desejado de modo a levar a bobina de um cabeçote de um driver
de disquete a ler a trilha e o setor em que está a informação
desejada. É um motor deste tipo que pode controlar a posição do
braço de um robô de modo a levá-lo na posição desejada.

Tipos:
O tipo mais comum de motor é o motor de corrente
contínua CC ou DC, usado para gerar força mecânica (sem muita
precisão) na movimentação de dispositivos.

74
NEWTON C. BRAGA

Estes motores são os mais usados em projetos de robótica


e mecatrônica simples, na propulsão assim como podem ser
encontrados em gravadores cassete, CD-players, brinquedos e
muitos outros pequenos aparelhos eletrônicos.
Estes motores também são denominados "de ímã
permanente" pela presença de pequenos ímãs em seu interior.
Normalmente, estes motores são suficientemente pequenos para
poderem ser alimentados por pilhas ou com baixas tensões, se
bem que isso signifique que também não possuam muita força.

Especificações:
Como qualquer dispositivo eletrônico os pequenos motores
também possuem especificações. Ocorre, entretanto, que as
especificações dos motores não são muito rígidas. Na verdade, a
velocidade com que eles giram não é constante, dependendo
tanto da tensão aplicada como também da força que têm de
fazer.
Assim, variando a tensão vemos que a velocidade varia e
da mesma forma, à medida que o motor tem de fazer mais força,
ele gira mais devagar. Nos aparelhos em que a velocidade deve
ser mantida constante são empregados circuitos reguladores
especiais.

a) Tensão de alimentação
Normalmente é dada uma certa tensão para o
funcionamento do motor, por exemplo 3 volts. No entanto, na
prática, um motor com esta tensão funcionará bem numa faixa
relativamente ampla de tensões, por exemplo, entre 1,5 e 5 V,
desconsiderando-se que a força vai variar. O que não se pode é
alimentar o mesmo motor com uma tensão muito maior que a
especificada, pois ele pode queimar.
Assim, muitos fabricantes, em lugar da tensão fixa,
indicam uma faixa de tensões em que um determinado motor
pode funcionar.
São dadas então indicações sobre a velocidade do motor
em função da tensão.

b) velocidade
A rotação depende da tensão e da carga, ou seja, da fora
mecânica que o motor tem de fazer. Assim, a especificação

75
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

melhor ‚ aquela em que se dá a rotação com determinada tensão,


quando o motor não faz força, ou seja, "em aberto".
Esta rotação é dada em rpm (rotações por minuto) e pode
ter valores entre 500 e 5000 para os pequenos motores usados
em aparelhos eletrônicos. Evidentemente, este valor cai bastante
quando o motor é acoplado a algum dispositivo mecânico, tendo
de fazer força.

c) Corrente
A corrente, juntamente com a tensão, numa determinada
faixa de velocidade e de forças determinam a potência do motor.
Lembrando que 1 HP corresponde a 736 watts, as potências dos
pequenos motores serão medidas em milésimos de cavalos ou
HP.
Assim, um motor de 6V que exige uma corrente de 100 mA
à plena carga trabalhará com uma potência de 0,6 watt ou menos
de 1 milésimo de HP. A corrente e consequentemente a potência
do motor estão ligados ao tamanho físico desse motor e também
a espessura do fio usado na bobina.
De modo a se obter maior corrente de funcionamento e
assim maior potência os adeptos de autoramas costumas enrolar
motores com fios grossos. Menor resistência significa corrente
muito maior e potência muito maior para os modelos.

76
NEWTON C. BRAGA

CAPACITORES
Capacitores são encontrados em praticamente todos os
equipamentos eletrônicos, nas mais diversas formas e tamanhos.
Estes componentes também são bastante críticos, devendo ser
usados com muito cuidado. Entender suas especificações,
conhecer os tipos existentes e suas características é de vital
importância para todo o praticante da eletrônica. Neste artigo
procuramos abordar tudo que há de importante nestes
componentes.
Os capacitores são encontrados em todos os
equipamentos eletrônicos. Se bem que seu princípio de
funcionamento seja muito simples, a maneira como os
capacitores podem ser construídos varia bastante, o que nos leva
a uma grande variedade de tipos.
A finalidade básica de um capacitor é apresentar uma
capacitância num circuito, ou seja, armazenar cargas elétricas e
através desse armazenamento ter determinados efeitos sobre um
circuito.
Houve tempo em que estes componentes eram chamados
”condensadores” e, até hoje, alguns fazem isso, porque
antigamente acreditava-se que estes componentes tenham a
propriedade de “condensar” a eletricidade. Na figura 1 temos o
símbolo utilizado para representar os capacitores fixos de
diversos tipos e seus aspectos típicos.
Denominamos capacitores fixos aqueles que têm uma
capacitância determinada pela sua construção, diferentemente
dos capacitores ajustáveis e variáveis que podem ter sua
capacitância alterada por uma ação externa.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Basicamente um capacitor é formado por dois eletrodos


metálicos os quais são denominados “armaduras”, sendo elas
separadas por um material isolante denominado “dielétrico”. O
dielétrico pode ser o papel, vidro, poliéster styroflex, mica, ar e
mesmo o vácuo.
Para muitos tipos de capacitores o dielétrico dá nome ao
capacitor. Assim, um capacitor de poliéster tem este material
plástico como isolante.
Quando ligamos às armaduras de um capacitor um
gerador (uma bateria, por exemplo), a armadura ligada ao polo
positivo da pilha se carrega positivamente, ao mesmo tempo em
que a outra se carrega negativamente.
A quantidade de cargas armazenadas na armadura
positiva é a mesma que a armazenada na armadura negativa,
diferindo apena quando à polaridade, conforme mostra a figura 2.

Mesmo depois de retiramos a bateria do circuito, o


capacitor mantém em suas armaduras as cargas elétricas e estas
apresentam a mesma diferença de potencial da bateria que foi
conectada. Dizemos que o capacitor se encontra carregado.
Para descarregar um capacitor é preciso oferecer um
percurso para que as cargas de uma armadura fluam para a outra
e ocorra a neutralização.
Assim, interligando as armaduras por um circuito externo,
os elétrons da armadura que os tem em excesso (negativa) fluem
para a positiva, ocorrendo a neutralização. Temos então a
descarga do capacitor, conforme mostra a figura 3.

78
NEWTON C. BRAGA

A relação entre a quantidade de cargas (Q) que pode ser


armazenada num capacitor e a tensão (V) que mantém estas
cargas nas armaduras é denominada capacitância ou capacidade
do capacitor (C), sendo medida em farads (F).

C = Q/V

Veja que, quanto maior for a tensão aplicada a um


capacitor, maior é a quantidade de cargas que ele pode
armazenar, pois a capacitância é constante e depende dos
seguintes fatores.

a) Superfície das armaduras: quanto maiores forem as


armaduras, maior será a capacitância do capacitor. Nos
tipos comuns, uma maneira de se obter maior
capacitância, consiste em se usar armaduras flexíveis no
formato de tiras, colocando entre elas o dielétrico e depois
enrolando-se estas tiras de modo a ocupar pequenos
espaços. Os capacitores deste tipo são denominados
“tubulares”. Na figura 4 temos um exemplo de capacitor
deste tipo.

79
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

b) Distância de separação entre as armaduras: quanto


maior for a separação entre as armaduras, menor será a
capacitância. Não devemos aproximar muito as armaduras
uma da outra, porque com isso, pode ocorrer a ruptura do
dielétrico com tensões mais altas, ou seja, a corrente pode
“saltar” entre as armaduras. A tensão máxima de um
capacitor é justamente determinada pela espessura do
dielétrico.

c) Natureza do dielétrico, ou seja, da “constante dielétrica”


da substância usada como isolante.

Os capacitores mais comuns, usados nas aplicações


práticas são os de dielétricos de diversos tipos de plásticos
(styroflex, poliéster, etc.) e os cerâmicos, além de encontrarmos
os tipos de mico nas aplicações mais críticas.
Temos também tipos especiais denominados eletrolíticos
como os de alumínio, tântalo e nióbio que possuem dielétricos
químicos, dos quais falaremos mais adiante.
As principais propriedades elétricas dos capacitores são as
seguintes:

a) Como existe um isolamento entre as armaduras de um


capacitor, entre os terminais deste componente não
podem circular correntes contínuas.
b) Os capacitores permitem a circulação de correntes
alternadas pelo processo de carga e descarga.
c) Os capacitores dificultam mais a passagem das correntes
de frequências mais baixas.

80
NEWTON C. BRAGA

Na prática é comum expressarmos a capacitância de um


capacitor através de submúltiplos do farad (que é uma unidade
muito grande). Temos então:

Microfarad (uF) = 0,000 001 Farad = 10-6 F


Nanofarad (nF) = 0,000 000 001 Farad = 10-9 F
Picofarad (pF) = 0,000 000 000 001 Farad = 10-12 F

Associação de Capacitores
Associar capacitores é ligá-los em conjunto de modo a
combinar seus efeitos num circuito. Isso pode ser feito
basicamente das seguintes formas:

Associação em Paralelo
Dizemos que dois ou mais capacitores estão associados
em paralelo quando suas armaduras positivas são interligadas e
da mesma forma as armaduras negativas, conforme mostra a
figura 5.

A capacitância total que uma associação deste tipo


apresenta depende da capacitância dos capacitores associados.
Podemos, neste caso, dizer que a capacitância equivalente a uma
associação de capacitores em paralelo é igual à soma das
capacitâncias dos capacitores associados. Podemos escrever uma
fórmula para expressar isso:

C = C1 + C2 = C3 + ........... + Cn

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Onde:
C é a capacitância equivalente
C1, C2 ... Cn são as capacitâncias dos capacitores
associados.

Veja que todos os capacitores devem estar expressos pela


mesma unidade.
Propriedades da Associação de Capacitores em Paralelo:
1. Todos os capacitores ficam submetidos à mesma tensão
2. O capacitor de maior valor fica com a maior carga

Associação em Série
Dizemos que dois ou mais capacitores estão ligados ou
associados em série quando a armadura positiva do primeiro fica
livre, tornando-se o terminal positivo da associação.
A armadura negativa do primeiro é ligada á positiva do
segundo, a negativa do segundo à positiva do terceiro e assim
por diante até que no último a armadura negativa fica livre e se
torna a armadura negativa da associação, conforme mostra a
figura 6.

A capacitância total apresentada pela associação


dependerá dos valores de todos os capacitores associados.
Podemos dizer que “o inversor da capacitância equivalente será
igual à soma dos inversos das capacitâncias associadas”, ou
expressando isso de uma forma matemática ou expressando isso
de uma forma matemática.

82
NEWTON C. BRAGA

A capacitância total apresentada pela associação


dependerá dos valores de todos capacitores associados. Podemos
dizer que “o inverso da capacitância equivalente será igual à
soma dos inversos das capacitâncias associadas” ou de uma
forma matemática mais apropriada:

1/C = 1/C1 + 1/C2 + 1/C3 + .......... = 1/Cn

Onde:
C é a capacitância equivalente à associação
C1, C2, C3...Cn são as capacitâncias dos capacitores
associados.

Veja que todas as capacitâncias devem estar expressas no


mesmo submúltiplo do Farad ou em Farads.

Exemplo de cálculo:
Qual é a capacitância que se obtém quando ligamos em
série capacitores de 3 uF, 12 uF e 12 uF conforme mostra a figura
7?

Neste caso:
C1 = 3 uF
C2 = C3 = 12 uF

Aplicando a fórmula:
1/C = 1/3 + 1/12 + 1/12

Reduzindo ao mesmo denominador:

1/C = 4/12 + 1/12 + 1/12

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Fazendo a soma dos numerados:


1/C = 6/12

Resolvendo:
C = 12/6 = 2 uF

A capacitância equivalente é, portanto, 2 uF.


As principais propriedades da associação de capacitores
em série são:
a) A capacitância equivalente é sempre menor do que o
menor capacitor associado
b) Todos os capacitores ficam com a mesma carga
c) O maior capacitor fica submetido à menor tensão.

Tipos de capacitores
Existem diversos tipos de capacitores os quais se
diferenciam tanto pela técnica de construção como dos materiais.
Essas diferenças dotam estes capacitores de propriedades
específicas, que os torna ideais para determinados tipos de
aplicação. São os seguintes os principais tipos de capacitores:

a) Tubulares de papel e óleo - Na figura 8 temos os aspectos


destes capacitores que atualmente são pouco usados.
Estes capacitores eram praticamente os que
predominavam nos equipamentos valvulados antigos. No
entanto, o papel se deteriora e passa a apresentar fugas,
levando á necessidade de substituição frequente destes
componentes. Nestes capacitores, temos duas tiras de
metal (alumínio) e entre elas uma tira de papel (isolante).
Nos tipos de papel, utilizava-se uma folha de papel seco e
nos tipos a óleo, uma folha impregnada de um óleo com
características dielétricas importantes. Veja que o fato
destes capacitores serem enrolados, as armaduras se
comportam como uma bobina, o que os leva a apresentar
certa indutância. Isso impede que eles sejam usados de
forma eficiente em circuitos de altas frequências.

84
NEWTON C. BRAGA

b) Capacitores planos – são capacitores em que as armaduras


são planas assim como os dielétricos, como ocorre com
capacitores de mica e cerâmicos mostrados na figura 9.
Esta técnica permite obter capacitores com baixas
indutâncias, ideais para aplicações em circuitos de altas
frequências.

c) Capacitores de poliéster – trata-se de um tipo bastante


comum de capacitor que utiliza uma espécie de plástico,
sendo obtido colocando-se folhas de alumínio como
armaduras e folhas de poliéster entre elas, para formar o
dielétrico. Sua construção pode levar tanto a capacitores
planos como tubulares, conforme mostra a figura 10. Para
estes tipos, entretanto as características do poliéster o
tornam não apropriado para aplicações em circuitos de
altas frequências. Uma variação é o poliéster metalizado,

85
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

onde a armadura é feita pela deposição eletrolítica de uma


fina capa de metal sobre o poliéster.

d) Capacitores de papel e óleo – são construídos colocando-


se entre duas folhas de alumínio papel comum ou papel
embebido em óleo. São tubulares e suas características os
torna apropriados apenas para aplicações em circuitos de
baixas frequências. Já não mais são utilizados nas
aplicações modernas. Na figura 11 temos os aspectos
típicos destes capacitores.

e) Capacitores de mica – nestes capacitores duas placas de


metálica são colocadas de modo a haver uma ou mais
folhas de mica entre elas formando o dielétrico. Como a
mica não é flexível, estes capacitores só admitem a
construção plana. Como a mica é um material muito
estável e com propriedades ideais para aplicações em
altas frequências, estes capacitores são empregados em

86
NEWTON C. BRAGA

instrumentação, transmissão e outras aplicações


semelhantes. Na figura 12 temos os aspectos típicos
destes capacitores.

f) Capacitores cerâmicos – estes são os mais comuns


atualmente. Um tipo comum é tubular, se bem que suas
características não sejam indutivas, é obtido a partir de
um tubo oco de cerâmica sendo depositadas por meios
eletrolíticos uma armadura internamente e outras
externamente, conforme mostra a figura 13(a). Outro tipo
é obtido com pedaços planos de cerâmicas onde as
armaduras são depositadas nas faces, conforme mostra a
figura 13(b). para se obter maior capacitância podem ser
empilhados diversos conjuntos. Pelas suas características
estes capacitores podem ser usados numa ampla gama de
aplicações que vão dos circuitos de corrente contínua aos
circuitos de frequências muito altas.

g) Capacitores eletrolíticos – estes capacitores são


construídos a partir da formação de uma camada de óxido
de alumínio (eletrolíticos de alumínio) ou óxido de tântalo
(para os capacitores de tântalo) numa armadura do
mesmo metal. Como a camada de óxido é muito fina e tem

87
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

uma constante dielétrica elevada, podem ser obtidos


capacitores de valores elevados ocupando pequeno
espaço. Na figura 14 temos os aspectos mais comuns para
estes capacitores. Veja, entretanto que, pelas suas
características estes capacitores não se prestam à
aplicações que envolvam sinais de frequências elevadas.
São mais usados em desacoplamento, acoplamento e
filtragem de sinais de baixas frequências.

h) Outros tipos – existem outros tipos de capacitores menos


comuns, com as nomenclaturas dadas pelos materiais
usados nos dielétricos. Temos ainda a considerar os
eletrolíticos de nióbio que começam a se tornar comuns.

Capacitores SMD
Os componentes para montagem em superfície (SMD) são
utilizados nas montagens de equipamentos que devem ser
compactos e mesmo em muitos outros, onde se deseja que o
mínimo de espaço seja ocupado.
Estes componentes têm reduções muito pequenas e para
os capacitores isso também ocorre. Conforme mostra a figura 15
podemos encontrar capacitores de diversos tipos em invólucros
SMD.

88
NEWTON C. BRAGA

A identificação destes componentes é dada por um código


especial, e saber se temos diante de nós um capacitor ou outro
componente exige atenção e análise ao diagrama, pois os seus
aspectos são os mesmos de outros componentes como resistores,
indutores, diodos etc.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

INDUTÂNCIAS
Um componente bastante usado nas montagens
eletrônicas é o indutor, cuja finalidade, como o nome sugere, é
apresentar uma indutância. No entanto, a maioria dos
montadores não gosta muito das chamadas "bobinas", por
diversos motivos. Um deles é o desconhecimento de seu princípio
de funcionamento. O outro é a dificuldade em obtê-las. Neste
artigo vamos falar um pouco das indutâncias ou bobinas, dando
algumas orientações que, sem dúvida, serão de utilidade para
nossos leitores que usam este componente.
Foi Hans Christian Oersted, um professor Dinamarquês,
que no século XIX descobriu que era possível gerar campos
magnéticos a partir de correntes elétricas circulando por um
condutor.
O efeito magnético da corrente elétrica se manifestava,
quando uma corrente circulava por um fio e "criava" forças
suficientemente intensas para mudar de posição uma agulha
magnetizada colocada nas proximidades, conforme mostra a
figura 1.

90
NEWTON C. BRAGA

Evidentemente, naquela época o fenômeno não passou de


curiosidade, mas com o tempo, esse efeito foi mais bem
explorado, sendo aproveitado em diversos tipos de dispositivos, e
hoje é muito importante para a eletrônica.
Para que possamos entender como esse efeito é
aproveitado em muitos dispositivos eletrônicos, será interessante
estudarmos sua natureza desde o início. O que ocorre é que,
quando cargas elétricas se movimentam, em torno de sua
trajetória aparece um campo magnético, conforme mostra a
figura 2.

Veja que, devemos diferenciar a natureza do campo


elétrico da natureza do campo elétrico. São fenômenos distintos.
Enquanto o campo elétrico aparece em torno de uma carga
elétrica parada (estática), o campo magnético exige movimento
para que se manifeste.
Assim, sempre que houver cargas elétricas em movimento,
ou seja, correntes elétricas, teremos obrigatoriamente o
aparecimento de campos magnéticos.
Num fio percorrido por uma corrente, se representarmos
esta corrente no sentido convencional que vai do polo positivo
para o negativo, as linhas de força do campo magnético terão a
orientação indicada na figura 3.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Trata-se da conhecida "regra do saca-rolhas", estudada


nos cursos preparatórios aos vestibulares: o campo representa o
movimento do saca-rolhas para que ele avance no mesmo sentido
da corrente.
Veja que o campo produzido por uma corrente elétrica tem
a mesma natureza que o campo produzido por um imã. No imã, o
campo tem origem nos elétrons que giram de maneira organizada
em torno dos núcleos dos átomos, produzindo assim campos
conforme a orientação mostrada na figura 4.

Observe que as linhas de força dos campos magnéticos


são sempre fechadas, ou seja, sempre saem dos polos norte e
chegam aos polos sul e quando, como no caso da corrente, não

92
NEWTON C. BRAGA

podemos identificar esses polos, elas formam círculos


concêntricos.

REFORÇANDO O CAMPO
O campo magnético que aparece em torno de um fio
percorrido por uma corrente é muito fraco, mal conseguindo
deflexionar uma agulha imantada.
No entanto, é possível aumentar a intensidade desse
campo, se enrolarmos o fio condutor de modo a formar uma
bobina, conforme mostra a figura 5.

Tendo de passar pelo mesmo lugar, dando voltas em


espiras diferentes, a corrente cria campos que se somam, e a
bobina se comporta como um verdadeiro imã, com um polo Norte
e um polo Sul, conforme mostra a figura 6.

93
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Qual extremidade será o polo Norte e qual será o polo Sul


depende do sentido de circulação da corrente na bobina e isso
pode ser determinado pela mesma regra do saca-rolhas. O
dispositivo formado por uma bobina nas condições indicadas é
um solenoide.
Podemos concentrar o campo magnético criado por uma
bobina se, no seu interior, colocarmos um núcleo de material
ferroso, por exemplo, o ferro, aço, ou ainda o ferrite. Estes
materiais têm a propriedade de concentrar as linhas de força do
campo magnético, conforme mostra a figura 7.

Alguns dispositivos podem ser formados por bobinas com


ou sem núcleo, ou ainda com núcleos móveis.
Podemos citar o caso dos relés em que temos uma bobina
com um núcleo que atrai uma parte móvel (armadura) quando é
percorrida por uma corrente. A parte móvel tem contatos que
podem então abrir ou fechar em função da corrente da bobina,
conforme mostra a figura 8.

94
NEWTON C. BRAGA

Outro dispositivo é o solenoide que tem um núcleo móvel,


que é puxado para dentro com muita força quando uma corrente
na bobina cria um campo magnético. Este movimento pode ser
usado para abrir fechaduras em portas elétricas ou ainda para
abrir válvulas de água, como nas máquinas de lava-roupas.
Na figura 9 mostramos o princípio de funcionamento de
um solenoide comum.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Veja que todos estes dispositivos operam com uma


corrente contínua circulando pela bobina. Se aplicarmos uma
corrente de características diferentes a um dispositivo formado
por fio enrolado, o efeito do campo criado pode ser um pouco
diferente.

96
NEWTON C. BRAGA

Na realidade, este efeito é tão diferente, que pode ser


aproveitado numa outra categoria de componentes eletrônicos de
grande importância.

INDUTÂNCIA
Se tivermos uma bobina com fio de cobre, sua resistência
à passagem de uma corrente depende basicamente da
resistência do fio de cobre usado. Assim, podemos fazer circular
por bobinas correntes intensas e obter com isso campos
magnéticos muito fortes.
No entanto, existem alguns fenômenos que merecem ser
estudados e que envolvem o comportamento da bobina quando a
corrente varia.
Vejamos um primeiro caso em que temos uma bobina
ligada a uma pilha através de uma chave e que é mostrado na
figura 10.

No momento em que fechamos a chave, a corrente não


aumenta instantaneamente de intensidade até atingir o máximo.
O campo magnético tem de ser criado e isso significa que suas
linhas de força se expandem com certa velocidade finita.
Ora, ao se expandir estas linhas cortam as espiras da
mesma bobina causando um fenômeno de indução. O que ocorre
é que, se fios cortarem as linhas de um campo, quer seja pelo seu
próprio movimento como pelo movimento do campo, é induzida
uma tensão neste fio, conforme mostra a figura 11.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

No caso da bobina a tensão induzida tende justamente a


se opor ao estabelecimento da corrente. Em suma, a bobina
"reage" ao estabelecimento da corrente, oferecendo certa
oposição.
Da mesma forma, se a corrente for interrompida quando a
chave é aberta, as linhas de força do campo magnético não se
contraem instantaneamente, mas demoram um certo tempo.
E, nesta contração elas cortam as espiras da mesma
bobina, agora induzindo uma tensão contrária àquela que
provocou a corrente que as estabeleceu. O resultado disso é que,
por um instante, aparece uma tensão nas extremidades da
bobina enquanto as linhas se contraem.
Em algumas bobinas de grande número de espiras, esta
tensão chega ser suficientemente elevada para provocar uma
faísca entre os contatos da chave, quando ela é desligada.
Em suma, o que ocorre é que as bobinas não "gostam" de
variações da corrente, quer seja quando ela aumenta quer seja
quando diminui, pois isso implica em alterações do campo
magnético.
As bobinas reagem a isso e este fato nos leva a dizer que
as bobinas têm certa reatância.

REATÂNCIA INDUTIVA
Evidentemente, num circuito de corrente contínua só
teremos problemas com a indutância quando a corrente for
estabelecida ou desligada. No entanto, as bobinas podem ser

98
NEWTON C. BRAGA

usadas em circuitos de correntes alternadas, onde as correntes


estão variando constantemente.
Nestes circuitos, o que ocorre é que a bobina está
constantemente "reagindo" as variações da corrente. Isso
significa que, a intensidade da corrente que circula numa bobina,
quando ligada num circuito de corrente alternada, não depende
somente da resistência do fio usado, mas de um fator adicional: a
reatância.
As bobinas possuem então uma "reatância indutiva", que é
a sua propriedade de se opor à circulação de uma corrente
alternada.

Assim, uma bobina que tenha, por exemplo, uma


resistência de 10 ohms de fio para a circulação de uma corrente
contínua, apresenta uma oposição, 100 ohms, por exemplo,
quando num circuito de corrente alternada na frequência da rede
de energia, 60 Hz.
É o que ocorre com um pequeno transformador: se
medirmos com o multímetro a resistência de seu enrolamento
primário encontramos um valor baixo, que nos levaria a calcular
uma corrente muito alta quando ele fosse ligado na rede de
energia.
No entanto, ao ser ligado na rede de energia, o
transformador cujo enrolamento primário é uma bobina ou
indutor, deixa circular uma corrente muito menor, conforme
mostra a figura 13.

99
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Veja que a reatância indutiva também é medida em ohms,


pois ela é uma "oposição à passagem da corrente" exatamente
como a resistência elétrica comum ou resistência ôhmica, como
também é chamada.

INDUTÂNCIA
A principal característica de uma bobina é a sua
indutância. A indutância vai indicar de que modo essa bobina
"reage" às variações de corrente e de que modo ela produz um
campo magnético no seu interior.
A unidade de indutância é o Henry (H), mas nas aplicações
eletrônicas ‚ comum especificarmos as indutâncias em
submúltiplos do Henry como o milihenry (mH) e o microhenry
(uH). O milihenrry é a milésima parte do Henry e o microhenry a
milionésima parte do Henry.
A indutância de uma bobina depende de diversos fatores
como:
a) Número de espiras = quanto maior o número de
espiras, maior a indutância.
b) Diâmetro = quanto maior o diâmetro, maior será a
indutância

100
NEWTON C. BRAGA

c) comprimento = quanto maior o comprimento, maior


será a indutância.
d) existência ou não de núcleo = um núcleo de ferrite ou
de material ferroso aumenta a indutância.
A seguir, temos a fórmula que permite calcular com boa
aproximação a indutância de uma bobina.

Onde:
L é o coeficiente de autoindução ou indutância em Henry
(H)
N é o número de espiras
S é área da seção do núcleo da bobina em centímetros
quadrados (cm2)
M é o comprimento do solenoide em centímetros (cm)

REATÂNCIA E OSCILAÇÕES
Conforme vimos, as bobinas "reagem" às variações da
corrente, apresentando uma oposição que denominamos
reatância indutiva.
Ora, quanto mais rápidas forem as variações da corrente,
maior será a reação da bobina. Isso nos leva a concluir que a
reatância depende tanto da frequência como da indutância de
uma bobina. Assim, na figura 13 mostramos que a reatância
indutiva depende tanto da frequência como da indutância numa
proporção direta.
O fator "2 π" é uma constante que equivale a 6,28.
Um outro comportamento interessante das bobinas ocorre
quando as associamos à capacitores.
Na figura 14 temos um caso importante que é do circuito
ressonante LC, em que temos uma bobina ligada em paralelo com
um capacitor.

101
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Quando aplicamos um pulso de tensão neste circuito, esta


tensão carrega imediatamente o capacitor, pois a bobina "reage"
imediatamente a este pulso, não deixando de imediato circular
corrente alguma. No entanto, tão logo o capacitor esteja
carregado, a bobina não reage mais, deixando agora que o
capacitor se descarregue através dela.
Ora, com essa descarga um forte campo magnético é
produzido na bobina. No entanto, este campo não pode durar
muito, pois a corrente que o produz, com a descarga do capacitor,
desaparece. O campo, depois disso, se contrai, induzindo na
bobina uma tensão que carrega o capacitor, mas com polaridade
invertida.
A carga do capacitor não se mantém, entretanto. Uma vez
que o capacitor esteja carregado e a bobina sem corrente alguma
circulando, não há impedimento para a descarga do capacitor.
Uma forte corrente de descarga circula novamente com a
produção de outro campo. Na figura 15 mostramos o que ocorre.

102
NEWTON C. BRAGA

Se não existissem resistências no circuito de carga e


descarga do capacitor que provocassem a transformação da
energia neste circuito em calor, e se nenhuma parte da energia
fosse irradiada na forma de ondas eletromagnéticas, ele se
manteria nesse ciclo eternamente, ou seja, em oscilação. Na
prática, entretanto, à medida que a energia vai se dissipando no
circuito as oscilações vão se tornando mais fracas.
Podemos manter constante a amplitude dessas oscilações
se, à medida que a energia for se dissipando ou sendo
aproveitada externamente, a repusermos através de um circuito
externo.
Temos então um circuito oscilante ou oscilador, conforme
mostra a figura 16.

103
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

A frequência deste circuito é justamente determinada


pelas características da bobina e do capacitor, ou seja, da sua
tendência em manter o ciclo de carga e descarga numa
velocidade constante. Dizemos então que o circuito LC ressoa
numa determinada frequência, e nela ele tende a oscilar quando
excitado.

Conclusão
A utilização de bobinas tanto para oferecer uma oposição à
passagem de correntes ou variações bruscas é aproveitada em
filtros e em muitos outros circuitos eletrônicos.
Da mesma forma, os circuitos ressonantes LC são usados
em receptores, transmissores e muitos outros circuitos que
devem produzir ou receber sinais de determinadas frequências.
Assim, um componente comum nessas aplicações é justamente o
indutor, componente de que falamos neste artigo.

104
NEWTON C. BRAGA

CHAVES E ACOPLADORES ÓPTICOS


O controle óptico de máquinas e automatismos ou ainda a
transferência de sinais de controle e sensoriamento por meios
óticos ocupa um espaço cada vez maior na eletrônica industrial e
mesmo telecomunicações. Neste controle, dispositivos que
trabalham tanto com sinais elétricos como luz estão presentes em
grande quantidade e dentre eles destacamos as chaves e os
acopladores ópticos. Neste artigo especial abordamos a utilização
e funcionamento das chaves e acopladores ópticos com ênfase
para suas aplicações na indústria.
Optoeletrônica é o nome da ciência que analisa o princípio
de funcionamento e as aplicações dispositivos que trabalham
tanto com sinais elétricos como sinais ópticos (luz).
As fibras ópticas e o desenvolvimento cada vez maior de
sensores e emissores de luz como os LEDs têm levado a uma
ampliação das aplicações possíveis para a optoeletrônica tanto
em telecomunicações como na eletrônica industrial.
Nas telecomunicações são as fibras ópticas que conduzem
sinais por longos percursos na forma de luz, mas que devem na
sua origem e na sua chegada ter formatos elétricos. Na indústria
existem muitos dispositivos que utilizam a luz como elemento
básico de seu funcionamento. O posicionamento de peças,
controle de movimento, envio de sinais de sensores pode ser
feitos utilizando-se dispositivos optoeletrônicos.
Em especial, nestas aplicações destacamos os dispositivos
que trabalham simultaneamente com sinais elétricos e ópticos
como as chaves ópticas e os acopladores ópticos que serão
justamente abordados neste artigo.
As chaves ópticas podem ser usadas para controles de
posição, rotação, medida de velocidade, acionamento de
circuitos, sensoriamento de posição e muitas outras aplicações.
Os acopladores ópticos podem ser usados para transferir sinais de
controle e sensoriamento com alto grau de isolamento em
máquinas industriais de todos os tipos e em sistemas de
comunicação.

105
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Acopladores Ópticos
Os acopladores ópticos são dispositivos optoeletrônicos
formados por um emissor de luz (que pode ser visível ou
infravermelha) e um fotossensor num mesmo invólucro. O tipo
mais comum é o que faz uso de um LED emissor de luz e um
fototransistor em um invólucro DIL de 6 ou 8 pinos como o
mostrado na figura 1.

Quando o LED é excitado ele emite luz que atua sobre o


fototransistor.
Isso significa que aplicando um sinal ao LED podemos
transferi-lo para o fototransistor através da luz. Como não existe
um contacto elétrico entre o emissor e o receptor (LED e
fototransistor) o isolamento entre os dois circuitos é enorme.
De fato, os fabricantes dos opto-acopladores costumam
especificar o isolamento entre os dois em termos de milhares de
volts ou kV. Se bem que na maioria dos casos o foto-emissor seja
um LED, o receptor admite muitas opções conforme a aplicação
do dispositivo.
Assim, conforme mostra a figura 2, podemos ter os mais
diversos tipos de foto sensores num acoplador óptico.

106
NEWTON C. BRAGA

Podemos ter um fotodiodo para dispositivos rápidos, um


foto-disparador lógico para acoplamento direto com lógica digital,
um foto-Darlington para se obter maior sensibilidade ou ainda um
opto-diac para controle direto de um TRIAC.
As aplicações para este dispositivo são facilmente
percebidas: podemos controlar algum dispositivo a partir de um
sinal aplicado ao LED sem ter conexão elétrica com o circuito de
controle, ou seja, podemos ter um isolamento total entre os dois,
conforme mostra a figura 3.

Podemos também transferir um sinal de um circuito para


outro com total isolamento entre ambos.
Vamos analisar algumas aplicações típicas.

Circuitos Práticos com Acopladores Ópticos


A grande variedade de tipos de acopladores ópticos
disponível no mercado possibilita ao projetista escolher
facilmente uma configuração que se adapte exatamente a sua
aplicação sem muito trabalho. Os circuitos básicos que damos a
seguir foram sugeridos em dois manuais de optoeletrônica
bastante conhecidos: Optoeletctronics Device Data da Motorola e
Optoelectronics da Texas Instruments.

Circuito básico com optoacoplador:


Na configuração básica os optoacopladores podem operar
tanto no modo linear como pulsado. Na figura 4 mostramos os
dois circuitos típicos.

107
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Os valores dos resistores dependem no primeiro caso (R1)


da corrente necessária a excitação do LED o que é fornecido pelo
fabricante do dispositivo usado. O segundo resistor (RL) depende
da tensão de alimentação e da corrente no circuito para o sinal de
saída com a intensidade desejada.
Observe que nos dois circuitos a base do transistor
permanece desconectada. No entanto, a base também pode ser
usada como eletrodo de saída assim como se obter o sinal
também do coletor, conforme mostra a figura 5.

108
NEWTON C. BRAGA

Disparo de SCR
Na figura 6 mostramos o circuito básico para se usar um
optoacoplador 4N26 no disparo de um SCR da série 106 como por
exemplo o MCR106 ou TIC106.

109
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

O optoacoplador usado é o 4N26 que pode ser encontrado


na linha de produtos de diversos fabricantes. A corrente no LED
vai determinar o valor do resistor em série para uma correta
excitação.
Este circuito pode ser usado para se isolar uma saída de
controle lógica (TTL ou CMOS) de um circuito de potência
alimentado pela rede de energia, como por exemplo um relé de
alta tensão, um motor ou ainda uma carga resistiva de alta
potência como um elemento de aquecimento de um forno.
Observamos que o diodo em paralelo com a carga só é
necessário se ela for indutiva. O SCR é disparado quando o LED
acende, mas nada impede que um inversor seja acrescentado na
entrada de controle do LED para um acionamento por um nível
lógico zero ou ainda outra configuração apropriada como a
mostrada na figura 7.

Excitando Amplificador Operacional


Uma outra aplicação importante para um acoplador óptico
como o 4N26, que é bastante comum neste tipo de aplicação é
mostrada na figura 8.

110
NEWTON C. BRAGA

Neste circuito o acoplador transfere o sinal opara um


amplificador operacional com ganho 10 de tensão Neste caso
temos a transferência de sinais modulados ou sinal AC que passa
de um circuito a outro com total isolamento.
O sinal AC pode ser da saída de um conversor
tensão/frequência de um sensor de uma máquina e que deve ser
enviado à distância, sem perdas e com total isolamento para
maior segurança.
Observe que o amplificador operacional é acoplado
capacitivamente ao acoplador óptico de modo que a componente
DC no emissor não aparece no sinal.

Acoplador de Alta Velocidade


Uma maneira de se obter maior velocidade para a
transferência dos sinais num acoplador óptico é aproveitando a
junção base-coletor do transistor sensor que então passa a
funcionar como um fotodiodo.
No circuito mostrado na figura 9, por exemplo, pode-se
transferir pulsos de até 1 us de largura utilizando-se um
amplificador operacional de alta velocidade e um acoplador óptico
comum como o 4N26.

111
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Observe que neste circuito a saída é feita pela base do


fototransistor permanecendo o seu emissor aberto.

Monoestável com Optoacoplador


O circuito mostrado na figura 10 é uma outra aplicação
importante para os acopladores ópticos na indústria pois pode ser
usado para transmissão de sinais de controle ou de sensores com
maior precisão.

Este circuito produz um pulso com duração constante dada


por 0,7 x R x C no circuito quando um pulso de duração variável
menor que a de saída é aplicado ao LED de controle. O retardo e
o atraso na transmissão do pulso também dependem da tensão
de alimentação e das características do transistor usado.

112
NEWTON C. BRAGA

Schmitt Trigger
Os disparadores de Schmitt são elementos importantes
dos projetos pois fornecem uma saída retangular de qualidade
mesmo quando a entrada não seja um pulso perfeitamente
retangular.
O circuito mostrado na figura 11 é sugerido pela Motorola
e tem por base o acoplador óptico 4N26 além de um transistor
comutador de alta velocidade que pode ser substituído por
equivalente.

Este circuito é alimentado por 12 V na parte de saída e sua


entrada é para pulsos ue gerem uma corrente de pelo menos 30
mA no LED emissor do acoplador óptico.

Flip-Flop R-S
Na figura 12 temos um flip-flop R-S sugerido pela Motorola
para fazer uso do acoplador óptico 4N26.

113
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Os próprios transistores dos dois optoacopladores são


usados no circuito de realimentação, sendo polarizados por
resistores de 10 k ohms. Observe que a intensidade do sinal de
saída é de 4,5 V quando o circuito é alimentado com 5 V e que
para as entradas lógicas precisamos de níveis lógicos de apenas 2
V.

Excitação de Triacs
Para excitação de Triacs podemos usar optoacopladores
como o MOC3010 e MOC3020 (110 V e 220 V) que possuem em
seu interior como elemento sensível à luz um opto-diac. Assim,
temos na figura 13 uma aplicação típica do MOC3010 para a rede
de 110 V (120 VAC 60 Hz) excitando um triac a partir de saídas
lógicas.

114
NEWTON C. BRAGA

Para o MOC 3020, indicado para a rede de 220 V ou 240 V


temos o circuito de aplicação mostrado na figura 14.

Nos dois casos os triacs disparam quando o LED excitador


é aceso. A corrente neste LED vai depender do optoacoplador
(opto-diac) usado. Veja na parte de tipos comuns estas
características.
Estes circuitos são muito interessantes para o controle de
motores e outras cargas de potência a partir de lógica digital e
mesmo microcontroladores com total segurança devido ao
isolamento que proporcionam.
De fato, o circuito de controle fica totalmente isolado do
circuito controlado que é alimentado pela rede de energia. Um
isolamento de alguns milhares de volts é obtido facilmente nesta
aplicação. Por outro lado, o uso de opto-diacs garante uma
precisão de disparo no ângulo de condução certo, quando esta
característica é importante no projeto.

Tipos Comuns
Existem diversos tipos de optoacopladores que se
tornaram populares e por isso podem ser encontrados com a
marca de diversos fabricantes. Sempre é interessante fazer
projetos com tais componentes pois sabemos que na falta de um
deles de uma marca podemos substituí-lo com facilidade pelo
mesmo tipo de outro fabricante.

115
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Damos a seguir as características de alguns acopladores


ópticos que podem ser encontrados com facilidade e por isso
servem de base para inúmeros projetos.

4N25/4N25A/4N26/4N27/4N28
Estes acopladores fazem parte de uma ampla família com
características bastante próximas utilizando como emissor um
LED infravermelho e como receptor um fototransistor.
Na figura 15 temos o invólucro e a pinagem comum a
todos estes tipos

As características destes comuns componentes são:

LED de entrada (máximos):

Característica Símbolo Valor Unidade


Tensão Inversa VR 3 V
Corrente direta IF 60 mA
Dissipação Pd 120 mW

Transistor de saída (máximos)


Característica Símbolo Valor Unidade
Tensão coletor/emissor VCEO 30 V
Tensão coletor/base VCBO 70 V
Corrente de coletor IC 150 mA
Dissipação Pd 150 mW

116
NEWTON C. BRAGA

Para o componente total (máximos)


Característica Símbolo Valor Unidade
Dissipação Total Pd 250 mW
Tensão de Isolação Viso 7500 V

Características Elétricas:
Característica Símbolo Min. Tip. Max Unidade
.
Corrente de saída (coletor) 4N25,25
A,26 Ic 2 7 - mA
4N27, 4N28 1 5 - mA
Capacitância de isolação Ciso - 0,2 - pF

Mais informações sobre este componente podem ser


obtidas no site da ON Semiconductor (que agora incorpora a linha
de produtos Motorola – http://www.onsemi.com.

MOC3009/MOC3010/MOC3011/MOC3012
Os componentes desta série consistem em
optoacopladores com LED emissor infravermelho e um optodiac
como receptor. Este componente se destina ao controle de Triacs
na rede de 110V (117/125V). Na figura 16 temos a pinagem e o
invólucro dos componentes desta série.

Na mesma família temos diversos componentes que por


diferença têm apenas as correntes de disparo que devem ser
aplicadas ao LED conforme a seguinte tabela:

117
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Corrente no LED Símbolo Min Tip Max Unidade


para o disparo
MOC3009 IFT - 15 30 mA
MOC3010 IFT - 8 15 mA
MOC3011 IFT - 5 10 mA
MOC3012 IFT - 3 5 mA

Outras características para este componente:


LED de entrada (máximos):

Característica Símbolo Valor Unidade


Tensão inversa VR 3 V
Corrente direta IF 60 mA
Potência de dissipação PD 100 mW

Driver de Saída (máximos)

Característica Símbolo Valor Unidade


Tensão no terminal de saída no estado off VRRM 250 V
Corrente de pico (repetitiva) ITSM 1 A
Potência de dissipação PD 300 mW

Dispositivo total (máximos):

Característica Símbolo Valor Unidade


Tensão de isolação Viso 7500 V
Potência de dissipação PD 330 mW

MOC3020/MOC3021/MOC3022/MOC3023
Estes dispositivos consistem em optoacopladores com LED
emissores infravermelhos e na parte receptora, optodiacs. O que
diferencia os dispositivos desta família dos anteriores é que estes
são destinados à rede de 220 (240 V).
Na figura 17 temos a pinagem e o invólucro dos
componentes desta série.

118
NEWTON C. BRAGA

O que diferencia basicamente os diversos componentes


desta série é a corrente que deve ser aplicada ao LED emissor
para o disparo dada pela seguinte tabela.

Corrente no LED:
Corrente no LED para o disparo Símbolo Min Tip Max Unidade
MOC3009 IFT - 15 30 mA
MOC3010 IFT - 8 15 mA
MOC3011 IFT - 5 10 mA
MOC3012 IFT - 3 5 mA

Outras características:

LED de entrada (máximos):


Característica Símbolo Valor Unidade
Tensão inversa VR 3 V
Corrente direta IF 60 mA
Potência de dissipação PD 100 mW

Driver de Saída (máximos)


Característica Símbolo Valor Unidade
Tensão no terminal de saída no estado off VRRM 400 V
Corrente de pico (repetitiva) ITSM 1 A
Potência de dissipação PD 300 mW

Dispositivo total (máximos):


Característica Símbolo Valor Unidade
Tensão de isolação Viso 7500 V
Potência de dissipação PD 330 mW

119
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Chaves Ópticas
As chaves ópticas têm o mesmo princípio de
funcionamento dos acopladores: são formadas por um LED
emissor (tanto visível como infravermelho) e um sensor que
normalmente é um fototransistor.
A diferença está no fato de que existe uma fenda que
permite interromper com um objeto a luz que é emitida pelo LED
e que incide no sensor, conforme mostra a figura 18.

O formato com fenda das optoswitches como também são


chamadas permite que elas sejam usadas no controle de diversos
tipos de dispositivos.
Na figura 19 temos algumas aplicações para estas chaves
ópticas:

120
NEWTON C. BRAGA

Em (a) mostramos como uma chave deste tipo pode ser


usada para detectar o fim de curso de uma peça móvel numa
máquina industrial.
Em (b) temos um exemplo em que a passagem de uma
fenda numa peça giratória permite produzir um pulso de controle
para determinar o instante de acionamento de outra parte da
máquina ou mesmo contar o número de revoluções desta parte
móvel.
A mesma figura em (c) mostra uma roda dentada que
passa pelo acoplador de modo que para cada dente é produzido
um pulso elétrico que pode ser utilizado com as mais diversas
finalidades, como por exemplo controle de velocidade ou medida
de rotação.
Na figura 20 temos uma outra aplicação em que uma
chave óptica é usada para detectar a inserção de um cartão numa
máquina e assim ativar algum tipo de dispositivo de leitura.

121
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Finalmente, na figura 21 temos uma aplicação interessante


em que um conjunto de acopladores é usado para ler um código
num cartão o qual é determinado pelas fendas na sua parte
lateral.

Somente se a combinação de fendas corresponder ao


código é que o circuito de ativação será acionado. Pode-se usar o
mesmo sistema para identificar o cartão inserido numa máquina e
assim liberar ou não algum tipo de acesso ou de informação.
Conforme o leitor pode perceber as chaves ópticas são
usadas de uma forma um pouco diferente do que os acopladores.
Elas não visam propriamente o isolamento de dois circuitos na
transferência de sinais ou no controle, mas são usadas como

122
NEWTON C. BRAGA

elementos acionados pela presença de algum tipo de objeto na


sua fenda.
Por este motivo, as chaves que podem ser encontradas no
mercado já possuem invólucros com formatos que permitem este
tipo de aplicação. Na figura 22 temos os invólucros típicos que
possibilitam sua montagem de diversas maneiras.

Um tipo de chave que deve ser considerada em algumas


aplicações é a refletiva que não tem a fenda, mas os elementos
emissor e sensor montados lado a lado, conforme mostra a figura
23.

Neste tipo de chave o receptor (sensor) recebe a luz


quando na frente da chave passa algum tipo de objeto que pode
refletir a radiação emitida pelo sensor.
Na prática existem circuitos para todas as aplicações.
Selecionamos alguns circuitos práticos de manuais de
fabricantes destas chaves e que podem ser de utilidade para o
leitor que faz projetos, principalmente visando aplicações
industriais.
Alguns dos projetos que descrevemos não são para as
chaves prontas, mas permitem que o próprio projetista elabore

123
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

uma chave com componentes discretos, quando a separação


entre o sensor e o emissor deve ser maior do que a disponível nos
componentes padronizados.

Circuitos Práticos
Para os circuitos que usam fototransistores sugerimos o
emprego de tipos comuns como os da série TIL da Texas
Instruments que inclusive podem ser encontrados em versões
Darlington de alto ganho.

Chave Óptica para 10 mm


Nosso primeiro circuito, sugerido pela Texas Instruments
permite a elaboração de um opto-relé com uma fenda de
acionamento de 10 mm usando uma lâmpada comum como
emissor e um fototransistor como receptor. Este circuito é
mostrado na figura 24.

Este circuito não possui ajustes e evidentemente deve ser


cuidado para que apenas a luz do sensor incida no fototransistor,
o que pode ser conseguido com recursos ópticos simples. O relé
tem uma bobina de 50 ohms, mas tipos mais sensíveis conforme
a tensão usada, podem ser empregados.

Chave Óptica para 15 mm


Um circuito mais sensível que o anterior, também sugerido
pela Texas Instruments é mostrado na figura 25.

124
NEWTON C. BRAGA

Neste circuito o emissor que é uma lâmpada de 3 W para


12 V (250 mA) pode ficar até 15 mm longe do sensor. Transistores
equivalentes aos indicados podem ser experimentados.
O relé deve ter uma bobina de pelo menos 50 ohms. Neste
circuito, o resistor de 47 k ohms na base do primeiro transistor
determina a sensibilidade ao disparo podendo eventualmente ser
substituído por um trimpot de ajuste (100 k ohms em série com
um resistor 10 k ohms, por exemplo)

Chave Óptica Disparadora (Schmitt) para 15 mm


Uma chave com características de disparo rápido pode ser
obtida com a configuração mostrada na figura 26.

125
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Este circuito também é sugerido pela Texas Instruments e


faz uso de um relé sensível com uma resistência de bobina de
pelo menos 50 ohms.
A separação máxima entre o sensor e a lâmpada é de 15
mm. O sistema deve ser dotado de recursos ópticos para evitar a
influência da luz ambiente no sensor.

Chave Óptica para 30 mm


O circuito mostrado na figura 27 é de uma chave óptica
em que o sensor e o emissor podem ficar separados por uma
distância de até 30 mm.

126
NEWTON C. BRAGA

Neste caso o emissor é uma lâmpada de 250 mA e como


carga é usado um relé sensível com uma resistência de bobina de
pelo menos 50 ohms.
O fototransistor pode ser substituído por equivalentes.

Interface Reconhecedora de Direção


Uma aplicação importante das chaves ópticas na indústria
é aquela em que além de se detectar a passagem de um objeto
em movimento é preciso também enviar ao circuito de controle a
informação sobre o sentido de seu movimento.
Isso ocorre, por exemplo, no controle do movimento de fita
ou da rotação de um volante em que é preciso saber se a fita se
move para esquerda ou direita ou se o volante gira num ou
noutro sentido, conforme mostra a figura 28.

Um circuito que tem esta capacidade e que pode ser usado


em muitos projetos de controle de máquinas é mostrado na figura
29.

127
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Este circuito tem uma saída compatível com lógica TTL e


pode servir de base para contadores de objetos e dispositivos de
controle com a opção de sentido de movimento.
A passagem num sentido produz numa das saídas um
pulso negativo (transição de 1 para 0) e no sentido oposto o
mesmo tipo de transição na outra saída do circuito.
O circuito é baseado no funcionamento de flip-flops que
memorizam o disparo de um dos sensores e habilitam o seguinte
de modo a se obter uma indicação do sentido. Usando as mesmas
funções CMOS o leitor pode facilmente adaptar este circuito para
operar com esta tecnologia.

Contador Dependente da Direção


Um outro circuito que pode ser de grande utilidade na
contagem de objetos que passam diante de chaves ópticas ou de
sensores, com aplicações industriais ilimitadas é o mostrado na
figura 30.

128
NEWTON C. BRAGA

Este circuito aciona diretamente um contador do qual


mostramos apenas uma etapa (unidades) mas que pode ser
expandido indefinidamente conforme a aplicação.
O circuito é sugerido pela Texas Instruments em seu
manual de optoeletrônica e emprega circuitos integrados de
tecnologia TTL. No entanto, como no caso anterior ele pode ser
convertido facilmente para empregar as mesmas funções em
tecnologia CMOS inclusive o contador.
Na verdade, este contador pode ser facilmente
implementado também empregando-se microprocessadores como
o PIC ou COP8. Até mesmo as funções lógicas podem ser
implementadas com estes circuitos.
Uma das aplicações para este circuito é a medida do
comprimento de uma fita que tenha marcas de contagem e que
passa diante dos sensores.
Com adaptações, utilizando-se um contador programável o
circuito pode ser adaptado para ir até um determinado ponto de
uma fita.

Controle Digital de Rotação


O circuito mostrado na figura 31 é uma outra aplicação
bastante interessante de chaves ópticas no controle de máquina.
O que este circuito faz é criar um ponto de ajuste para a
velocidade de passagem dos objetos que devem ser contados, o
que é diferente das aplicações puramente digitais.

129
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Desta forma, o circuito conta os objetos apenas quando


eles passam diante dos sensores numa determinada frequência.
Quando a frequência muda, eles são ignorados.
A velocidade de contagem é dada por um oscilador que
determina o “clock” da contagem.
Trata-se de um circuito ideal para uma linha de
montagem, pois ele pode determinar o ritmo da produção ao
mesmo tempo que conta os produtos.

130
NEWTON C. BRAGA

SUPERCONDUTORES
De que modo a resistência de um material pode ser
reduzida virtualmente a zero e ele se tornar um supercondutor?
De que modo os supercondutores vão afetar a nossa vida, agora e
no futuro, com o aparecimento de dispositivos nunca antes
imaginados? De que modo trabalham os laboratórios
especializados no desenvolvimento de materiais
supercondutores? As respostas para todas estas perguntas estão
neste artigo em que resumimos os princípios de atuação de uma
das mais importantes descobertas para a moderna tecnologia.
Obs. O artigo é de 1987, o que significa que muitos
avanços nos estudos e aplicações da supercondutividade
ocorreram desde então. O artigo tem valor pois os princípios
abordados são ainda válidos.
Os melhores condutores, como a platina e o ouro,
apresentam ainda certa resistividade no sentido de que a
corrente elétrica não encontra uma liberdade total para sua
circulação nestes materiais.
De fato, não existem condutores perfeitos: entre os
melhores condutores e os isolantes podemos classificar os
materiais conhecidos numa faixa quase que contínua de
resistividades, conforme mostra a figura 1.

131
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Figura 1 – De condutores a isolantes

A existência desta resistividade impede a construção de


condutores com resistências nulas, o que seria ideal para a
transmissão de energia
De fato, estima-se que mais de 20% da energia gerada
numa usina como Itaipu se perde nos fios condutores, devido a
sua resistência, antes de chegar a centros consumidores como
São Paulo. Para que você tenha uma ideia de como a energia se
perde num condutor, um simples cálculo serve de exemplo:
Imagine que desejamos transmitir energia sob uma
corrente de 100 ampères através de um condutor de 100
quilômetros de comprimento que tenha uma resistência da ordem
de 1 ohm por quilômetro (Fio AWG No 5).
Aplicando a Lei de Ohm temos:
P=RxI
A resistência será de 100 ohms, pois temos 100
quilômetros de fio:

132
NEWTON C. BRAGA

P = 100 x 1002
P = 100 x 10 000
P = 1 000 000 watts
É pelo fato da perda ser dependente da corrente numa
proporção direta ao quadrado que se faz a transmissão de
energia sob alta tensão. Se transmitirmos a mesma quantidade
de energia, elevando em 10 vezes a tensão, a corrente pode ser
reduzida 10 vezes, no entanto a perda será:
P = 100 x 102
P = 100 x 100
P = 10 000 watts
O que é um valor 100 vezes menor! (figura 2)

Figura 2 - Perdas

Enfim, a resistência dos condutores é um grande problema


para a transmissão de energia, mesmo se elevarmos mais e mais
a tensão com que trabalhamos.
Mesmo em menor escala, existem casos em que a
resistência pode ser um problema a ser resolvido. Em bobinas,
por exemplo, a resistência do enrolamento implica numa
conversão desnecessária de energia elétrica em calor.
Mas, por que os condutores apresentam resistências?
Num metal (condutor) a resistência aumenta com a
elevação da temperatura, o que nos revela que a resistência de
certo modo está ligada à agitação dos átomos de sua estrutura.
De fato, esta agitação dificulta a movimentação dos elétrons
livres, que são os portadores de carga, os quais são obrigados a
desenvolver maior energia para poderem circular.

133
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Esta energia “gasta” a mais provoca maior agitação dos


átomos e com isso maior elevação de temperatura. Em outras
palavras, a energia gasta para vencer a oposição dos átomos de
um condutor a circulação da corrente é convertida em calor.
Seria possível fazer com que um material perdesse toda
sua resistência “congelando” seus átomos a uma temperatura
extremamente baixa? É o que veremos.

ZERO ABSOLUTO
A temperatura de um corpo é uma medida de grau de
agitação de seus átomos. Esta agitação traduz a quantidade de
energia que eles possuem e pode ser expressa em diversas
escalas.
A escala que mais usamos é de graus centígrados (Celsius)
que tem na fusão do gelo o seu valor 0. Temperaturas menores
que a da fusão do gelo serão expressas por números negativos
como -10, -20 graus etc. Veja, entretanto, que se a temperatura é
uma medida do grau de agitação das partículas de um corpo,
valores negativos não tem muito significado.
Se formos esfriando cada vez mais um corpo, seus átomos
vão vibrando cada vez menos até um instante teórico em que
devem parar. Como um movimento mais lento que o parado não
existe, este seria o grau máximo ou absoluto de esfriamento de
um corpo.
Experiências e cálculos mostram que ar temperatura em
que isso ocorreria seria de -273 °C ou seja, 273 graus abaixo de
zero na escala Celsius ou de Centígrados.
Nesta temperatura teríamos então “Zero Absoluto” de
vibrações de um corpo, um zero absoluto de temperatura. Existe
então uma escala mais apropriada à física para a medida da
temperatura que põe neste ponto o valor 0 que corresponde à
escala absoluta. (figura 3)

134
NEWTON C. BRAGA

Figura 3 – A escala absoluta

Os graus são medidos em “Kelvin” e cada grau Kelvin tem


o mesmo “tamanho” que um grau Centígrado, o que quer dizer
que o 0 °C passa a valer 273 graus centígrados. Para obter uma
temperatura qualquer em centígrados ou Celsius basta então
“somar 273”. A água ferve a 373 °K (graus Kelvin ou absolutos).
O zero grau Kelvin corresponde então à temperatura mais
fria que se pode obter, pois abaixo disso não há nada! Não
podemos ter um movimento mais lento que o parado!
Quando esfriamos corpos próximos desta temperatura,
coisas estranhas começam a ocorrer, e uma delas é a
supercondutividade.

SUPERCONDUTIVIDADE
Quando um metal (condutor) é esfriado gradualmente, sua
resistência vai diminuindo lentamente, até que perto do zero
absoluto ainda resta o que se chama de “resistência residual”. No
entanto, em determinado momento, esta resistência desaparece
e o material se torna um supercondutor.
Se induzirmos num material supercondutor uma corrente
elétrica, ela não pode ficar circulando durante dias antes de
desaparecer, mostrando que praticamente não existe resistência
elétrica. (figura 4)

135
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Figura 4 – Anel supercondutor

Este fenômeno foi descoberto pelo físico holandês


Kamerlingh Onnes e, em 1911, foi chamado de
“supercondutividade”. A temperatura em que um material se
torna supercondutor varia de material para material. Para metais
puros como, por exemplo, os dados a seguir, esta temperatura
varia entre 0,3 e 9°K

TABELA
Temperatura de transição para supercondutividade de
alguns materiais:
Material Temperatura (°K)
Zircônio 0,3
Cádmio 0,6
Zinco 0,8
Alumínio 1,2
Urânio 1,3
Mercúrio 4,1
Tântalo 4,4
Chumbo 7,3
Nióbio 9,2

Interessante é que determinadas ligas podem ser


supercondutoras em temperaturas bem mais elevadas, e que em
alguns casos os próprios elementos usados nestas ligas, quando
isolados, não manifestam o fenômeno da supercondutividade.
Temos alguns exemplos a seguir, tanto de ligas metálicas como
de compostos.

136
NEWTON C. BRAGA

Material (liga ou composto) Temperatura (°K)


Bi – Pt 0,16
Pb – Au 2,0 - 7,3
Sn - Zn 3,7
Pb – Hg 4,1 - 7,3
Sn - Hg 4,2
Pb - Ag 5,8 - 7,3
Pb - Sb 6,6
Pb - Ca 7,0
NiBi 4,2
PbSe 5,0
SrBi 3 5,5
NbB 6
MoC 7,6 - 8,3
Nb2C 9,2
NbC 10,1 - 10,5
NbN 15 - 16
V3Si 17,1
Nb3Sn 18

As variações se referem a diversas proporções em que os


elementos entram nas ligas, e nos compostos na forma com que
ocorrem as ligações atômicas.
Existem, além disso, ligas especiais que são formadas por
muitos componentes e que apresentam supercondutividade em
temperaturas bem elevadas. Assim, temos a liga Pb-As-Bi cujo
ponto de transição é em 90º K.
Não é difícil imaginar as dificuldades que existem para se
obter temperaturas tão baixas. O que se faz nos laboratórios é
utilizar o hélio líquido, cuja temperatura crítica é de -276,9º C ou
apenas aproximadamente 5º K, para “banhar” os elementos que
se deseja ter a supercondutividade e assim realizar as
experiências.

EXPLICAÇÕES PARA O FENÔMENO


Se bem que a descoberta seja antiga, existem ainda
muitos fatos sobre a supercondutividade que permanecem
desconhecidos.
Por que não são todos os materiais que se tornam
supercondutores quando esfriados a uma temperatura
suficientemente baixa? Por que materiais isolados não
manifestam supercondutividade e quando formam compostos ou
ligas com outros que eventualmente também não dão origem a

137
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

supercondutores, manifestam supercondutividade até em


temperaturas relativamente altas?
Observa-se que os materiais em que a supercondutividade
se manifesta são os elementos que ficam numa porção definida
da tabela de classificação periódica, mostrada abaixo.

Mas, sem dúvida algo que é um mistério é o motivo pelo


qual elétrons que colidem com átomos em uma estrutura
supercondutora, já que a energia não é zero, alguns graus acima
do zero absoluto conseguem se movimentar no material sem
encontrar resistência alguma.
Em 1957 foi proposta pela mecânica quântica uma
explicação para este fato: pares de elétrons conseguiriam ser
sincronizados pela vibração térmica do material numa fina
camada de energia.
Os elétrons em questão deveriam ter spins opostos para
poderem manifestar as propriedades em questão, daí sua
manifestação só poder ocorrer em determinados tipos de
substâncias. Podemos dizer que um supercondutor é formado por
duas “substâncias” na verdade: uma cada por pares de elétrons
numa fina camada de energia e outra formada por um gás de
elétrons livres.

138
NEWTON C. BRAGA

Se a temperatura do supercondutor subir gradualmente a


partir do zero absoluto, cada vez mais pares de elétrons da
substância supercondutora vão se desmanchando até que numa
temperatura crítica desaparece o efeito.
Observamos também que em torno do supercondutor
forma-se uma barreira magnética de tal forma que no seu interior
a intensidade do campo é nula. Se um campo magnético muito
forte for aplicado ao material, esta barreira é destruída e ele
deixa de ser supercondutor.
Para cada temperatura de um supercondutor existe uma
intensidade de campo magnético que “destrói” a
supercondutividade.

APLICAÇÕES
O que se procura hoje nos laboratórios é criar uma
substância que manifesta a supercondutividade à temperatura
ambiente. Assim poderíamos desfrutar dos benefícios da
ausência de resistência de uma forma muito mais simples.
Cerâmicas criadas em laboratórios brasileiros já
conseguem manifestar supercondutividade em temperaturas
relativamente altas, mas ainda muito longe da temperatura
ambiente.
A primeira possibilidade de aplicação de um supercondutor
seria na transmissão de energia. Não teríamos as perdas devidas
a resistência elétrica que hoje, como vimos, são responsáveis por
uma queda de mais de 30°/o da energia recebida em relação à
gerada.
Uma segunda possibilidade seria a produção de superímãs
capazes de sustentar enormes pesos.
Um anel de material supercondutor que recebesse uma
indução momentânea passaria a reter uma corrente que, dada a
falta de resistência, ficaria circulando por um tempo indefinido.
(figura 5)

139
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Figura 5 – Imã supercondutor

Esta corrente criaria um campo magnético proporcional à


sua intensidade, formando assim um poderoso ímã permanente.
Veículos poderiam então usar tais anéis e flutuar virtualmente
sobre campos magnéticos, deslizando sem atrito! (figura 6)

Figura 6 – Veículos suspensos em campos magnéticos


Obs. Hoje isto já é uma realidade

140
NEWTON C. BRAGA

Máquinas que usassem tais ímãs-supercondutores de


enorme intensidade poderiam ter partes móveis flutuando em
campos magnéticos e assim ser eliminado o atrito.
No espaço, onde não existe o problema da temperatura
(no vácuo o zero absoluto ou no máximo alguns graus Kelvin são
as temperaturas comuns) os supercondutores já poderiam
encontrar aplicações práticas importantes.
Anéis de supercondutores poderiam manter unidas partes
de uma nave ou estação espacial em fase de montagem. (figura
7)

Figura 7 – Motor iônico

Num motor iônico, anéis supercondutores poderiam ser


usados para acelerar feixes de íons.
Enfim, a eliminação da resistência elétrica nos materiais
condutores nos levaria a uma nova era para a eletricidade em
que novos e inimagináveis dispositivos seriam criados.

141
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

COMO FUNCIONA O MICROFONE


A finalidade de um microfone é converter sons em sinais
elétricos, para que estes sinais elétricos possam ser usados nos
circuitos eletrônicos. O microfone é um dos mais antigos
transdutores criados pelo homem, e também dos mais usados
atualmente. Veja neste artigo como funciona este dispositivo e
como usar os diversos tipos existentes.

Nota: esta versão deste tema é a


mais antiga, tendo sido republicada
em 2012. Existem outros artigos no
site que tratam do mesmo tema.

As ondas sonoras consistem em vibrações mecânicas de


um meio natural e se propagam com uma velocidade que
depende de diversos fatores, entre eles a natureza do meio.
Assim, no ar, estas ondas são de compressão e descompressão e
se propagam em condições normais a uma velocidade de
aproximadamente 340 metros por segundo.
Evidentemente, por serem ondas mecânicas, elas não
podem excitar diretamente os circuitos eletrônicos, daí a
necessidade de termos um dispositivo intermediário que faça sua
conversão em eletricidade.
Este dispositivo é um transdutor eletroacústico
denominado microfone.

142
NEWTON C. BRAGA

Podemos dizer que o microfone funciona de modo


"inverso" ao alto-falante: enquanto o alto-falante recebe os sinais
elétricos de um amplificador e os converte em som (energia
acústica), o microfone recebe os sons e os converte em energia
elétrica.
Para que possamos usar um microfone de maneira
eficiente num aparelho eletrônico, na gravação de música,
transmissão de voz ou num intercomunicador, ele deve ter
algumas características próprias bem definidas que são:

a) Fidelidade
A fidelidade significa a capacidade do microfone em
produzir um sinal elétrico que tenha as mesmas características
dos sons originais, ou seja, intensidade, frequência e forma de
onda.

Dependendo do tipo, o microfone pode ser mais sensível


para os sons de determinadas frequências o que nos leva a um
uso específico. Por exemplo, um microfone mais sensível aos sons
de médias frequências é apropriado a transmissão da palavra
falada.

b) Sensibilidade
A sensibilidade está relacionada com a capacidade que o
microfone tem de trabalhar com sons muito fracos. Dependendo
do uso, podemos ter microfones mais ou menos sensíveis.

143
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

c) Diretividade
Conforme a construção do microfone, ele pode ter mais
facilidade em captar os sons provenientes de determinadas
direções. Isso determina a diretividade do microfone que pode ser
representada por meio de um gráfico.
Na figura 3 damos alguns exemplos dos gráficos de
diretividade.

Em (a) temos um microfone unidirecional, ou seja, um


microfone que capta os sons somente de uma direção. Este tipo
de microfone é muito usado em estúdios ou num teatro pelo
apresentado, onde apenas uma pessoa deve ser ouvida. Em (b)
temos um microfone omnidirecional, ou seja, que tem a mesma
sensibilidade para os sons que chegam de todas as direções.

TIPOS DE MICROFONES
Diversos são os tipos de microfones que encontramos nas
aplicações práticas e que diferem tanto quanto às características
elétricas como também segundo o princípio de funcionamento.
Temos então os seguintes tipos de microfone (alguns pouco
usados atualmente, mas cujo conhecimento é importante por
motivos históricos):

144
NEWTON C. BRAGA

a) carvão
Este, sem dúvida, é o tipo mais antigo, já que os primeiros
microfones que existiram utilizam finos grãos de carvão numa
caixinha com um diafragma, conforme mostra a figura 4.

O diafragma consiste numa membrana de metal, plástico


ou outro material flexível que faz contato direto com os grãos de
carvão na caixinha.
A resistência apresentada pelo dispositivo, entre os
terminais A e B, depende do grau de compressão dos grãos de
carvão. Desta forma, o som ao incidir no diafragma, movimenta-o
de modo que ele passe a comprimir e distender os grãos de
carvão, variando assim a resistência entre os pontos A e B.
O microfone de carvão apresenta uma baixa impedância, e
como ele não gera energia elétrica, é necessário usar um circuito
com uma fonte de energia, normalmente uma pilha, conforme
mostra a figura 5.

145
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

A variação da resistência do microfone com a incidência do


som faz com que varie a corrente no enrolamento primário do
transformador. Induz-se então no secundário de alta impedância
do transformador um sinal cuja forma de onda e frequência
corresponde ao som captado.
Os microfones de carvão encontram aplicações em
telefonia onde a voz humana deve ser transmitida, já que
apresentam uma resposta melhor nas médias frequências.

b) Microfone dinâmico
Este tipo de microfone é formado por uma bobina presa a
um diafragma que a movimenta no campo magnético de um ímã
permanente, conforme mostra a figura 6.

Trata-se praticamente de um alto-falante funcionando "ao


contrário". Num alto-falante comum, quando a bobina é
percorrida por uma corrente que corresponde a um sinal de
áudio, é criado um campo magnético e consequentemente
aparece uma força que movimenta o cone para frente e para trás,
produzindo assim as ondas de compressão e descompressão do
ar que formam o som.
Se o som incidir no diafragma, ele movimenta o conjunto
inclusive a bobina móvel no campo do imã de modo a ser
induzida uma corrente cujas características correspondem a este
som.
Pequenos alto-falantes, por este motivo, podem funcionar
como microfones, bastando que se fale nas suas proximidades ou
que eles sejam apontados para a fonte sonora. No entanto, como
não são fabricados para esta finalidade, eles apresentam algumas
deficiências quando funcionam como microfones.

146
NEWTON C. BRAGA

Como eles são dispositivos de baixa impedância,


normalmente devem ser usados com um transformador que eleve
sua impedância como o da figura 7, ou ainda ligados em circuitos
adaptadores de impedância com transistores na configuração de
base comum.

c) Microfones piezoelétricos
Os microfones de cristal ou cerâmicos operam
aproveitando as propriedades piezoelétricas de determinadas
substâncias como por exemplo o sal de Rochelle ou as cerâmicas
como o titanato de bário.
Estas substâncias, ao sofrerem deformações mecânicas,
geram tensões elétricas proporcionais.
Assim, basta que um cristal de uma substância como
estas seja acoplado a um diafragma para que as ondas sonoras
captadas produzam forças mecânicas que fazem o cristal gerar
sinais elétricos.
Na figura 8 temos um exemplo de microfone deste tipo.

147
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Este microfone usa o Sal de Rochelle, sendo por isso,


denominado "microfone de cristal". Se bem que seja muito
sensível, fornecendo sinais relativamente intensos que podem
excitar diretamente os amplificadores, o microfone de cristal é
muito sensível ao calor e umidade. Por este motivo atualmente
ele praticamente não é mais usado, sendo substituído pelos
microfones cerâmicos que são mais robustos e praticamente não
são afetados pelo calor e umidade.

d) Microfone de eletreto
Existem substâncias denominadas eletretos que
apresentam propriedades elétricas interessantes.
Quando submetidas a uma deformação mecânica estas
substâncias carregam-se de eletricidade estática, manifestando
tensões elétricas proporcionais entre suas faces, de um modo
algo semelhante aos cristais piezoelétricos, conforme mostra a
figura 9.

Estas substâncias podem ser moldadas de modo a


formarem os diafragmas de um microfone e ligadas diretamente
à comporta de um transistor de efeito de campo.

148
NEWTON C. BRAGA

Desta forma, a corrente controlada pelo transistor vai


variar segundo as ondas sonoras que incidem no diafragma,
fornecendo na sua saída um sinal já amplificado, conforme mostra
a figura 10.

Os microfones de eletreto são muito sensíveis e pequenos,


pois o transistor de efeito de campo já atua como um pré-
amplificador.
Nos tipos de dois terminais devemos prever a polarização
do transistor por meio de um resistor, sendo feitas as conexões
mostradas na figura 11.

Nos tipos de três terminais, as conexões externas para seu


uso são as mostradas na figura 12.

149
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Veja que, para que o transistor de efeito de campo


funcione é preciso haver uma fonte de energia externa, daí a
necessidade da polarização externa.

IMPEDÂNCIA E NÍVEL DE SINAL


Os microfones apresentam características elétricas que
devem ser levadas em conta quando os usamos.
Uma primeira característica, de grande importância, é a
impedância que nos informa de que modo o microfone se
comporta eletricamente e como ele entrega o sinal elétrico em
sua saída. Um microfone só pode transferir todo o sinal elétrico
que ele gera ao circuito externo, quando sua impedância for igual
a da entrada do circuito externo, ou seja, houver um "casamento
de impedâncias" conforme mostra a figura 13.

Se ligarmos um microfone que tenha uma impedância


elevada numa entrada de menor impedância de um amplificador,
poderemos ainda ter o seu funcionamento, mas ocorrem perdas,
porque o os microfones de impedância mais alta normalmente
também fornecem um sinal de maior intensidade.

150
NEWTON C. BRAGA

Isso não ocorre com um m microfone de baixa impedância:


se o ligarmos à uma entrada de impedância mais alta de um
amplificador não haverá excitação, pois seu nível de sinal
também é insuficiente.
A segunda informação importante é, portanto, a
intensidade do sinal fornecido pelos microfones que é indicada
em milivolts (mV) ou microvolts (uV).
Microfones dinâmicos de baixa impedância fornecem sinais
da ordem de microvolts ao mesmo tempo em que os microfones
cerâmicos e de cristal fornecem sinais na faixa de 100 mV a 500
mV. Para que os microfones funcionem bem com amplificadores
comuns, na maioria dos casos são necessários circuitos
adaptadores denominados casadores de impedâncias ou pré-
amplificadores.
Os casadores de impedância simplesmente modificam a
impedância segundo o sinal é entregue ao circuito externo a
partir de um microfone, já o pré-amplificador também alteram sua
intensidade.

PRÉAMPLIFICADORES
A finalidade de um pré-amplificador é tanto aumentar a
intensidade do sinal fornecido por um microfone para que ele
possa excitar um amplificador como também casar suas
características de impedância de modo a se obter o rendimento
desejado.
Na figura 14 temos um exemplo simples de pré-
amplificador para microfones de baixa impedância (8 a 200 ohms)
utilizando apenas um transistor.

151
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Com este circuito, até mesmo um alto-falante comum, ou


um microfone dinâmico de gravador podem ser usados com
amplificadores que exigem entradas da ordem de 200 a 500 mV.
Na figura 15 temos um circuito pré-amplificador com
transistor de efeito de campo para microfones pouco sensíveis de
impedância mais elevada, permitindo assim sua utilização com
amplificadores comuns.

Finalmente, na figura 16 temos um circuito de um mixer


(misturador) que ao mesmo tempo que amplifica os sinais de
diversos microfones os mistura para entregar numa saída comum
e depois a um amplificador.

152
NEWTON C. BRAGA

Para este circuito a alimentação pode ser feita com pilhas


comuns ou bateria, já que o consumo é muito baixo.

153
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

CONHEÇA OS AMPLIFICADORES
OPERACIONAIS RRIO
Já tratamos em artigo anterior dos amplificadores
operacionais Rail-To-Rail, mostrando suas características e
tratando de seu uso em aplicações modernas. Neste artigo,
trataremos de uma nova categoria de amplificadores
operacionais, que seguem os RRO (Rail to Rail Operational) que
são os amplificadores operacionais com entradas e saídas Rail to
Rail ou seja, Rail-to-Rail Input Output, abreviado por RRIO.
Conforme vimos, quando trabalhamos com amplificadores
operacionais alimentados com tensões baixas, como ocorre na
maioria das aplicações modernas em que a alimentação se situa
na faixa de 1 a 3 V, uma pequena variação na tensão de saída
pode afetar muito o desempenho de um circuito.
Se alimentamos um circuito com 1,2 V, por exemplo, e
excitamos um operacional de modo que ele sature, é de se
esperar que a saída fique a mais próxima possível de 1,2 V, ou
seja, próxima da linha de alimentação ou rail.
Assim, com uma alimentação simétrica de 1,2 V, é
importante que a tensão de saída seja capaz de oscilar entre as
duas linhas de alimentação (positiva e negativa) ou seja, rail-to-
rail.
Conforme vimos naquele artigo, existem vários
componentes no mercado que atendem a estas características
como o TLV2462 da Texas Instruments, mostrado na figura 1.

154
NEWTON C. BRAGA

Figura 1 – Observe que o amplificador TLV2462 da Texas Instruments,


cuja característica é mostrada praticamente alcança as tensões das linhas de
alimentação quando saturado.

A etapa de saída de um amplificador que seja capaz de ter


sua saída oscilando entre as linhas de alimentação obedece a
uma topologia específica, como mostrado na figura 2.
Conforme o Application Note SLOA039a da Texas
Instruments que pode ser acessado em
http://www.ti.com/lit/an/sloa039a/sloa039a.pdf as características
de saída deste circuito permitem que ele alcance as tensões de
alimentação, o que é mostrado na figura 3.

155
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Figura 2 – Topologia de saída de uma etapa rail-to-rail, conforme usada no


TLC227x da Texas Instruments.

Figura 3 - Características

Mas, não basta ter um amplificador operacional cuja saída


seja capaz de uma excursão total entre as tensões de

156
NEWTON C. BRAGA

alimentação. Existem aplicações em que precisamos de uma


característica rail-to-rail também na entrada.
Ocorre nos tipos normais que a entrada do operacional não
tenha essas características. A saturação ou capacidade que o
circuito tem de responder a um sinal externo termina antes dele
chegar a uma amplitude que corresponda à tensão de
alimentação.
Bons amplificadores operacionais podem ter uma pequena
banda de entre o ponto em que ocorre sua saturação e a tensão
de alimentação, por exemplo, 200 mV abaixo da tensão de
alimentação. No entanto, com uma alimentação de 1,2 V, esse
valor corresponde a quase 20% da faixa dinâmica de operação do
componente.
Nos amplificadores operacionais comuns, a etapa de
entrada consiste num par diferencial com uma topologia
conforme mostrada na figura 4.

Figura 4 – Etapa de entrada com amplificador diferencial

Para se obter uma etapa de entrada rail-to-rail, esta


tipologia deve ser modificada. Na figura 5 temos então o modo
como isso pode ser feito, tanto usando transistores bipolares
como CMOS.

157
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Figura 5 – Etapa de entrada rail-to-rail

Veja então que utilizando este tipo de entrada e a saída


que já vimos anteriormente, podemos ter amplificadores
operacionais RRIO, ou seja, como entradas (I) e saídas (O) rail-to-
rail (RR).
A Texas Instruments em seu application note apresenta
diversos circuitos práticos para o TLV246x, um amplificador
operacional que possui tanto a entrada como saída rail-to-rail.
Vejamos alguns deles:

Seguidor de tensão
O circuito mostrado na figura 6 é de um amplificador com
ganho unitário, ou seja, um seguidor de tensão que tem tanto
entrada como saída rail-to-rail.

Figura 6 – Amplificador com ganho unitário RRIO

158
NEWTON C. BRAGA

Conversor Corrente x Tensão


O circuito apresentado na figura 7 tem por finalidade
medir a corrente num circuito de 5 V. O resistor de shunt sobre oi
qual é medida a tensão é calculado pela fórmula Rs = 0,005/Imax.

Figura 7 – Conversor corrente x tensão

Amplificador com saída Rail-to-Rail para


instrumentação
Este circuito faz uso de dois amplificadores operacionais e
tem seu ganho determinado pelos componentes conforme a
fórmula junto ao diagrama. A rejeição em modo comum deste
circuito é de 100 dB e os resistores devem ter tolerância de 0,1%
ou menores.

Figura 8 – Amplificador pera instrumentação

Gerador retângula até 600 kHz


Este circuito gera um sinal retangular com amplitude de 5
V a partir de fonte de 5 V, ou seja, tem uma saída rail-to-rail com

159
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

uma taxa de crescimento de 10,5 V/us. A fórmula que permite


calcular os componentes para a frequência desejada está junto ao
diagrama.

Figura 9 – Oscilador rail-to-rail até 600 kHz.

Conclusão
A utilização de fontes de alimentação com tensões cada
vez mais baixa, a adoção de circuitos de precisão numa variedade
cada vez mais ampla de aplicações, exige uma evolução também
nos circuitos de apoio e neles incluímos os amplificadores
operacionais.
Amplificadores operacionais RRIO são fundamentais nas
aplicações modernas. Fique atento quando fizer seu novo projeto.
A Mouser Electronics possui em sua linha de produtos uma
grande quantidade de amplificadores operacionais RRIO
destacando os tipos da Texas Instruments como o TLV2771
(https://www.mouser.com/_/?Keyword=TLV2771CD)

160
NEWTON C. BRAGA

O DIODO SEMICONDUTOR
Este artigo é uma adaptação de dois capítulos que saíram
no nosso livro Curso de Eletrônica – Eletrônica Básica e Curso de
Eletrônica – Eletrônica de Potência, dando uma visão geral do
funcionamento dos diodos semicondutores, com ênfase aos
diodos de potência. Em outros artigos do site, o leitor pode
encontrar outras abordagens para o tema.
Estudamos nas lições do Curso Básico (volume da mesma
série) que existem dois tipos de comportamentos dos materiais
em relação à capacidade de conduzir a corrente elétrica. Existem
os materiais através da qual a corrente pode fluir com facilidade,
sendo denominados condutores, e os materiais em que a corrente
não pode passar, denominados isolantes.
Dentre os condutores destacamos os metais, os gases
ionizados, as soluções iônicas, etc. Dentre os isolantes
destacamos o vidro, a borracha, a mica, plásticos, etc.
Há, entretanto, uma terceira categoria de materiais, um
grupo intermediário de materiais que não são bons condutores,
pois a corrente tem dificuldade em passar através deles, mas não
são totalmente isolantes. Nestes materiais, os portadores de
carga podem se mover, mas com certa dificuldade. Estes
materiais são denominados “semicondutores”.
Dentre os materiais semicondutores mais importantes,
que apresentam essas propriedades, destacamos os elementos
químicos silício (Si), germânio (Ge) e o Selênio (Se). Numa escala
de capacidades de conduzir a corrente, eles ficariam em posições
intermediárias, conforme mostra a figura 1.

Figura 1 – A escala de condutividade dos materiais


Quando juntamos dois materiais semicondutores de tipos
diferentes, P e N formam-se entre eles uma junção que tem
propriedades elétricas importantes.

161
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Na verdade, são as propriedades das junções


semicondutoras que tornam possível a fabricação de todos os
dispositivos semicondutores modernos, do diodo, passando pelo
transistor ao circuito integrado.
Para entender como funciona a junção, vamos partir de
dois pedaços de materiais semicondutores, um P e outro N, que
são unidos, de modo a formar uma junção, conforme mostra a
figura 2.

Figura 2 – Obtendo uma junção PN

No local da junção, os elétrons que estão em excesso no


material N se deslocam até o material P, procurando então
lacunas, onde se fixam.
O resultado é que temos elétrons neutralizando lacunas,
ou seja, nesta região não temos mais material nem N e nem P,
mas sim material neutro. No entanto, ao mesmo tempo em que
ocorre a neutralização, uma pequena tensão elétrica passa a se
manifestar entre as duas regiões de material semicondutor.
Essa tensão, que aparece na junção, consiste numa
verdadeira barreira que precisa ser vencida para que possamos
fazer circular qualquer corrente entre os dois materiais. Conforme
o fenômeno sugere, o nome dado é “barreira de potencial”,
conforme mostra a figura 3.

162
NEWTON C. BRAGA

Figura 3 – A barreira de potencial

Esta barreira possui um valor que depende da natureza do


material semicondutor usado, sendo da ordem de 0,2 V para o
germânio e 0,6 V para o silício.
A estrutura indicada, com dois materiais semicondutores, P
e N, forma um componente que apresenta propriedades elétricas
importantes e que denominamos “diodo semicondutor”, ou
simplesmente “diodo”. É dele que trataremos no próximo item.

O diodo semicondutor
Para fazer uma corrente elétrica circular através de uma
estrutura, como a estudada no item anterior, com dois materiais P
e N formando uma junção, existem duas possibilidades, ou dois
sentidos possíveis: a corrente pode fluir do material P para o N, ou
vice-versa.
Na prática, veremos que diferentemente dos corpos
comuns que conduzem a eletricidade, a corrente não se comporta
da mesma maneira nos dois sentidos.
A presença da junção faz com que um comportamento
completamente diferente se manifeste em cada caso. Vamos
então supor inicialmente que uma bateria seja ligada a estrutura
formada pelos dois pedaços de material semicondutor que
formam a junção, ou seja, à estrutura PN.
O material P é ligado ao polo positivo da bateria, ao
mesmo tempo em que o material N é ligado ao polo negativo.
Ocorre então uma repulsão entre cargas que faz com que os
portadores de carga do material P, ou seja, as lacunas se
movimentem em direção à junção, ao mesmo tempo em que os

163
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

portadores de carga do material N, que são os elétrons livres, se


afastam do polo da bateria sendo empurrados em direção à
junção.
Os portadores de carga positivos (lacunas) e os negativos
(elétrons) se encontram na região da junção onde, por terem
polaridades diferentes se recombinam e são neutralizados.
A recombinação dessas cargas, “empurradas” pela bateria,
abre caminha para que novas cargas sejam empurradas para
essa região, formando assim um fluxo constante. Esse fluxo,
nada mais é do que uma corrente elétrica que pode fluir
livremente através do componente, sem encontrar muita
resistência ou oposição. Dizemos, nessas condições, que o
componente, esta polarizado no sentido direto, conforme mostra
a figura 4.

Figura 4 – Junção polarizada no sentido direto

Esse componente, denominado “diodo”, conforme já


vimos, deixa então a corrente passar sem oposição quando
polarizado no sentido direto.
Por outro lado, se invertermos a polaridade da bateria em
relação aos pedaços de material semicondutor dessa estrutura, o
fenômeno que se manifesta é diferente.
Os portadores do material N são atraídos para o polo
positivo do gerador se afastando da região da junção. A
polarização inversa pode ser visualizada na figura 5.

164
NEWTON C. BRAGA

Figura 5 – Junção polarizada no sentido inverso

Da mesma forma, os portadores do material P também se


afastam da junção, o que significa que temos um “alargamento
da junção”, com um aumento da barreira de potencial que
impede a circulação de qualquer corrente elétrica. A estrutura
polarizada desta forma, ou seja, polarizada no sentido inverso,
não deixa a corrente passar.
Na prática, uma pequena corrente da ordem de
milionésimos de ampère pode circular mesmo quando o diodo
está polarizado no sentido inverso. Esta corrente “de fuga” se
deve ao fato de que o calor ambiente agita os átomos do material
de tal forma que, um ou outro portador de carga pode ser
liberado, transportando corrente dessa forma.
Como a intensidade dessa corrente varia com a
temperatura, uma estrutura desse tipo, ou seja, um diodo,
também pode ser usado como um excelente sensor de
temperaturas. Veja então que uma simples estrutura PN de Silício
ou de Germânio já resulta num importante componente eletrônico
que é o diodo. Na figura 6 mostramos a estrutura e o símbolo
usado para representar o componente que lembra uma “seta”,
indicando o sentido da corrente.

165
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Figura 6 – Símbolo, estrutura e aspectos dos principais tipos de diodos

Na mesma figura temos os aspectos desses componentes,


cujo tamanho depende da intensidade da corrente que podem
controlar ou conduzir assim como da tensão máxima que pode se
manifestar entre seus terminais.
Veja que existe uma faixa ou anel em alguns tipos de
diodos, indicando o lado do catodo, ou seja, o lado do material N.
O próprio símbolo do componente pode ser gravado na posição
em que indica o anodo e o catodo.
O diodo semicondutor pode então ser polarizado de duas
formas, conforme mostra a figura 7.

Figura 7 – Polarização direta e polarização inversa de um diodo.

Se o diodo for polarizado como mostra a figura em (a),


com o polo positivo da bateria ou outra fonte de energia elétrica
em seu anodo, a corrente pode fluir com facilidade, pois o diodo
apresenta uma resistência muito baixa. Dizemos que o diodo está
polarizado no sentido direto.

166
NEWTON C. BRAGA

Se a polarização for feita conforme mostra a mesma


figura em (b), então nenhuma corrente pode circular. Dizemos
que o diodo está polarizado no sentido inverso. Observe ainda
que, devido ao fato de que precisamos vencer a barreira de
potencial de 0,2 V para os diodos de germânio, e 0,6 V para os
diodos de silício, quando ocorre a condução, aparece sobre o
componente sempre essa tensão, independentemente da
intensidade da corrente que está circulando através dele,
conforme é possível ver pela figura 8.

Figura 8 – Queda de tensão num diodo

Na verdade, como a resistência do diodo é muito baixa, na


sua condição de plena condução de corrente, se não existir um
componente que limite essa corrente no circuito, o diodo corre o
risco de se “queimar”, pois existe um valor máximo para a
intensidade da corrente que ele pode conduzir. Da mesma forma,
também existe um limite para a tensão máxima que podemos
aplicar num diodo ao polarizá-lo no sentido inverso.
Chega um ponto em que, mesmo polarizado inversamente,
a barreira de potência não mais pode conter o fluxo de cargas
“rompendo-se” com a queima do componente. Os diodos comuns
são então especificados em função da corrente máxima que pode
conduzir no sentido direto, abreviada por If (O f vem de forward
que em inglês quer dizer direto), e pela tensão máxima que
podem suportar no sentido inverso, abreviada por Vr (O r vem de
reverse que, em inglês, quer dizer inverso).
Analisaremos isso ao estudarmos as especificações dos
diodos, que no caso dos diodos de potência exigem um cuidado
especial

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Veremos também que existem alguns tipos de diodos


especiais que podem funcionar polarizados no sentido inverso e
que apresentam características muito interessantes para a
eletrônica.

Tipos de diodos
Conforme estudamos, o material semicondutor usado na
formação de junções tanto pode ser o germânio como o silício.
Assim, temos diodos tanto de germânio como de silício. E, nestes
grupos, os tipos podem ainda ter finalidades diferentes sendo, por
esse motivo, construídos de forma diferente.
No nosso Curso de Eletrônica – Eletrônica Analógica – Vol
2, estudamos diversos tipos de diodos que são encontrados nos
equipamentos eletrônicos.
Neste volume, em especial vamos nos aprofundar no
estudo dos diodos de potência, que são os diodos que se
destinam a operação com altas correntes e altas tensões. Assim,
numa primeira etapa estudaremos os diodos retificadores para
depois passar a outros tipos como os diodos zener, diodos
Schottky, diodos de quatro camadas e outros.

Diodos Retificadores de Silício


Os diodos mais comuns em aplicações de médias e altas
potências são os retificadores que, conforme estudamos no curso
de eletrônica analógica são usados em fontes de alimentação
como retificadores.
Diodos da série 1N4000 e 1N5000 são bastante comuns
assim como os da série SK. Estes diodos são encontrados em
fontes com correntes até 1 A ou 5 A no segundo caso. No
entanto, nas aplicações industriais, em veículos elétricos em
automação de alta potência são usados diodos retificadores com
correntes muito maiores.
Estes diodos são destinados à condução de correntes
intensas, também suportando tensões elevadas que podem
superar os 1 000 V. Na figura 9 temos os aspectos comuns destes
diodos que possuem recursos para montagem em dissipadores de
calor.

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NEWTON C. BRAGA

Figura 9 – diodos de alta corrente

Na construção desses diodos são usadas técnicas especiais


que visam uma geometria em que a corrente se distribua de
forma uniforme pela pastilha de silício. O que ocorre, é que no
momento em que se inicia a condução de um diodo deste tipo, a
corrente está concentrada numa pequena área, gerando assim
um pico de calor neste local.
À medida que a corrente aumenta, e se distribui, a
geração de calor também é distribuída de maneira mais uniforme.
Estes diodos podem ser encontrados em fontes de alimentação,
reguladores de tensão de alternadores, inversores de potência,
controles etc.
Assim como os diodos usados em outras aplicações, como
sinais, baixa corrente, detecção, os diodos de alta corrente
possuem especificações. No próximo item analisaremos as
especificações dos diodos.

Especificações dos diodos de silício


Para as especificações dos diodos são usados
normalmente símbolos, que os usuários dos diodos precisam
conhecer. O conhecimento desta simbologia é especialmente
importante quando precisamos interpretar as folhas de dados
(datasheets) de um determinado componente.
Lembramos que todos os componentes possuem limites
para sua utilização e estas especificações justamente definem
estes limites. Se forem ultrapassados, o componente pode sofrer
dano ou ainda ficar inutilizado. Nos símbolos normalmente são
usadas uma letra maiúscula que corresponde à unidade usada,
por exemplo, I para corrente, V para tensão, P para potencia, etc.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

Especificações de tensão e corrente


Para os diodos comuns normalmente duas especificações
de tensão são suficientes para nos permitir avaliar seu
funcionamento num circuito. Elas são:
Vf = queda de tensão no sentido direto – é a queda de
tensão que ocorre num diodo quando ele conduz a corrente.
Normalmente de 0,6 a 0,7 V nos diodos de silício
PIV = tensão inversa de pico (Peak Inverse Voltage), que é
a máxima tensão que se pode aplicar ao diodo quando polarizado
no sentido inverso.

Para a corrente, basta saber o valor de uma delas:


IF(AV) = corrente média no sentido direto e com isso
sabemos como usar o diodo.

No entanto, consultando datasheets encontramos outras


especificações de tensão que são igualmente importantes quando
pretendemos trabalhar com estes componentes. As principais
são:
VRRM= Tensão inversa máxima repetitiva (Maximum
Repetitive Reverse Voltage) – é a tensão máxima que o diodo
pode suportar no sentido inverso na forma de pulsos repetidos.
VR ou VDC = Tensão máxima contínua no sentido inverso
(Maximum DC Reverse Voltage) que o diodo pode suportar
quando polarizado no sentido inverso
VF = Tensão Máxima no sentido Direto (Maximum Forward
Voltage) – é a tensão que aparece num diodo quando ele conduz
uma determinada corrente, especificada no datasheet. Num diodo
ideal, essa tensão é nula, mas conforme estudamos nos diodos
comuns, ocorre sempre uma queda de tensão na condução que
se costuma adotar como valor típico nos diodos de silício de 0,7
V. Num cálculo mais exato, entretanto, ela depende da corrente.
IF(AV) = Corrente máxima (média) direta – Maximum
(average) forward current – é o máximo valor que a corrente
média no sentido direto pode conduzir quando polarizado no
sentido direto. Essa corrente é determinada basicamente pela
capacidade de dissipação do diodo, pois o calor gerado nestas
condições depende da queda de tensão que ocorre na junção,
multiplicada pela intensidade da corrente.
IFSM ou If(surge) = Corrente máxima de pico ou surto
no sentido direto – (Maximum (peak or surge) forward current - é

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NEWTON C. BRAGA

o pico máximo de corrente que o diodo é capaz de conduzir


quando polarizado no sentido direto. Este parâmetro é limitado
pela capacidade de dissipação da junção, sendo normalmente
muito alto devido à inércia térmica. Demora um certo tempo para
o calor gerado se propagar.
PD = Dissipação máxima de potência (Maximum Total
Dissipation) – é a capacidade de dissipação de potência do diodo
em watts (W). Como esta grandeza é dada por P = V x I, ela pode
ser calculada pela corrente conduzida multiplicada pela tensão
direta.
TSTG = Faixa de temperaturas de armazenamento
(Storage Temperature Range) – é a faixa de temperaturas em que
o diodo pode ser guardado (sem estar em funcionamento).
Tj = Temperatura máxima da junção (Maximum Operating
Temperature) ou máxima temperatura de funcionamento. Na
maioria dos casos é o mesmo valor da temperatura de
armazenamento.
R(ϴ) = Resistência Térmica (Thermal Resistance) é a
diferença de temperatura que ocorre entre a junção e o meio
exterior (ar) ou entre a junção e os terminais (JA ou JL) para uma
determinada dissipação. Esta especificação é dada em graus
Celsius por Watt (oC/W ). Seu valor seria zero se o invólucro do
diodo fosse um condutor perfeito, mas na prática não é. Esta
especificação é importante no dimensionamento de dissipadores
de calor.
IR = Corrente inversa (ou reversa) máxima (Maximum
Reverse Current) – é a corrente que circula pelo diodo quando ele
é polarizado com a tensão inversa máxima (DC), Também
encontramos esta corrente indicada como “corrente de fuga”
(leakage current). Num diodo ideal ela deve ser nula, mas na
prática depende de diversos fatores, sendo o principal, a
temperatura.
CJ = Capacitância típica da Junção (Typical Junction
Capacitance) – é a capacitância intrínseca que aparece entre as
junções devido à região de depleção que age como um dielétrico.
Trata-se de uma capacitância muito baixa, da ordem de
picofarads.
trr = Tempo de Recuperação Inversa (Reverse Recovery
Time) – trata-se do intervalo de tempo que ocorre entre o instante
em que a tensão num diodo em condução é invertida e ele
realmente deixa de conduzir. Veja mais adiante nesta lição, mais

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos – Volume 8

detalhes sobre este fenômeno em “diodos de recuperação


rápida”.
É importante observar que os parâmetros indicados variam
dependendo de diversos fatores, sendo o principal, a
temperatura. Assim, os fabricantes, na maioria dos casos, não
dão essas especificações através de um valor fixo, mas sim
através de gráficos.
Nestes gráficos, a especificação é plotada em função de
condições variáveis, o que pode ser muito importante nos
projetos mais críticos.
Na figura 10 temos um exemplo que mostra como a
corrente máxima de um diodo 1N5404 se comporta em função da
temperatura.

Figura 10 – Depois dos 100º C a capacidade de condução do diodo no


sentido direto que é de 2 A diminui rapidamente

O gráfico da figura 11 mostra como o diodo 1N5404


responde aos surtos de corrente no sentido direto quando a taxa
de repetição dos pulsos aumenta.

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Figura 11- comportamento do diodo com o aumento da frequência dos


surtos.

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