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O ESTADO NOVO

Histórico

A partir da crise de exportação em conseqüência da crise de 1929 e


em seguida a depressão dos anos 30, no Brasil, abrem-se as condições
sociopolíticas para o processo de democratização do Estado. A revolução de
1930 é o ponto de partida para uma nova fase da história brasileira, o qual
promoveu um desenvolvimento histórico político com tendências de liquidação
do Estado Oligárquico, alicerçado em uma estrutura social à base da grande
propriedade agrária e de formação de um Estado Democrático apoiado nas
massas populares urbanas.

Certamente, o período que se estende de 1945 (fim da Ditadura


Vargas e início da redemocratização) até a queda do Governo Goulart realiza a
passagem de uma “democracia com participação limitada a uma ampliada”.

Por se tratar de um período de ampla liberdade de expressão, as


tendências e forças políticas desembocaram numa série de crises que termina
em abril de 1964.

Como observa Celso Furtado, a decadência da economia de


exportação e a desagregação da economia cafeeira, na década de 30,
resultam da conjunção da crise nos mercados mundiais e da superprodução
interna, permitirá a renovação da cúpula dirigente, baseada nos interesses
exclusivistas do café. Começa, então, uma política realista (distinta da
tradicional política da valorização do café) que cria condições para a instalação
do capitalismo industrial, defendendo deste modo o nível de emprego em
condições de declínio da capacidade de importar. O somatório destes fatos
possibilita à economia brasileira uma não dependência exclusiva dos impulsos
externos. Nesse sentido, é nítido que a condição de marginalidade e de
dependência econômica do processo de industrialização em relação à estrutura
agrária afeta diretamente o econômico-social-político do país. Celso Furtado
esclarece que esta marginalidade como fato econômico torna-se condição e
resultado do processo ocorrido afetando diretamente a estrutura do poder e
permitindo uma política realista de defesa do café, por intermédio da defesa do
nível de emprego. Constituindo o ponto de partida para análise da estrutura do
Estado no Brasil.

Encontram-se na classe média urbana o grupo que pressionou a


derrubada da oligarquia. Formada por funcionários públicos, militares,
empregados em serviços e profissionais liberais, surgem daí os líderes radicais
(em geral militares, os tenentes) dos movimentos da década de 20, que
buscavam as aspirações liberais-democráticas (particularmente o voto secreto).
Esses grupos situavam-se nos grandes centros urbanos, fora da esfera de
influência direta do “coronelismo” que dominava as áreas rurais, constituíram
então, a base dos movimentos inconformistas contra a estrutura do poder
baseado nos interesses agrários, em particular os do café.

Deste modo, a revolução de 1930 aparece como o ponto culminante


da pressão política destes grupos urbanos. Essas classes médias não
possuíam condições sociais e econômicas que permitissem uma ação política
autônoma e radical em face dos interesses vinculados à propriedade agrária.
Em conseqüência suas ações não puderam superar com eficácia os limites
institucionais definidos pelos grupos dominantes (propriedades agrárias). Deste
modo, suas ações mais radicais, empreendidas em geral por militares jovens e
das quais a Coluna Prestes é o exemplo mais brilhantes, tendem, por força de
um desespero social, à negação romântica da sociedade estabelecida e
perdem toda eficiência.

Assim, estes setores médios, se constituíram na grande força de


opinião que conduz à profunda crise do regime oligárquico em 1930, não
possuíram condições para negar de maneira radical e eficaz o quadro
institucional, mas conseguiram redefinir suas relações com ele.

A Revolução de 30 denuncia, este compromisso fundamental entre


os setores urbanos e os grupos agrários dominantes. Implicitamente,
comprovada pela frase de Antônio Carlos 1 “Façamos a Revolução antes que o

1
Chefe do Governo do Estado de Minas, forte representante dos setores agrários e chefe da
Revolução.
povo a faça”.Poder-se-ia dizer, que, com efeito, que em 30 certos setores
urbanos e definiram deste modo os limites de ação deste últimos.

Não obstante, rompido o equilíbrio do regime oligárquico, assentado


no eixo estabelecido entre os Estados de São Paulo (sob o impacto da crise do
café) e Minas Gerais, com a adesão deste ao Governo do Rio Grande do Sul
(Getúlio Vargas), impõe-se à necessidade de uma nova estruturação do poder.
Perdem-se as viabilidades dos interesses cafeeiros.

Devido à falta de autonomia política das classes médias, não


conseguem estabelecer solidamente as bases do novo poder no processo da
Revolução. Conseguem deslocar a representação política dos interesses
cafeeiros, mas não podem negar o fato de que o café ainda é a base decisiva
da economia.

O resultado foi uma situação em que nenhum dos grupos (classes


médias, setor cafeeiro, setores agrários menos vinculados à exportação),
detém com exclusividade o poder político.

Não obstante, o compromisso não legitima o Estado e este não


subsiste sem legitimidade.

Depois de 1930, contudo, estabelece-se uma solução de


compromisso de novo tipo, em que nenhum dos grupos participantes do poder
(direta ou indiretamente) pode oferecer as bases da legitimidade do Estado: as
classes médias porque não possuem autonomia política frente aos interesses
tradicionais em geral; os interesses cafeeiros porque foram deslocados do
poder político sob o peso da crise econômica; os setores menos vinculados à
exportação porque não se encontram vinculados aos centros básicos da
economia. Por razão de nenhum destes setores servir de base para a
expressão dos interesses gerais, aparece na história brasileira u novo
personagem: as massas populares urbanas. É a única fonte de letigimidade
possível ao novo Estado brasileiro.

Deste modo, o poder conquistado pelos revolucionários só


encontraria condições de persistência se tornasse receptivo às aspirações
populares na medida em que fossem capazes de uma liberdade relativa frente
aos grupos dominantes e de ampliar a esfera de compromisso.
Aparece, assim, o fantasma do povo na história política brasileira,
que será manipulado soberanamente por Getúlio Vargas durante 15 anos.
Através de Getúlio, o Estado criará uma estrutura sindical que controlará
durante toas às décadas posteriores, “doará” uma legislação trabalhista
(atendendo a pressão das massas urbanas), estabelecerá através dos órgãos
oficiais de propaganda, a ideologia do “pai dos pobres”, reconhecerá o direito
de reivindicações.

Firmando seu prestígio nas massas urbanas, Getúlio estabelece o


poder do Estado como instituição, que através de mecanismos de
manipulação, passa a impor-se inclusive aos grupos economicamente
dominantes, sem deixar (o Estado) de ser solução de compromisso e de
equilíbrio. Conduto, como pode se legitimar através das massas, encontra
naquele compromisso uma nova fonte de poder; passa à condição de árbitro
que decide em nome dos interesses nacionais. Encontra, portanto, a
possibilidade de formular uma política econômica e social, - muitas vezes
contraditória e descontínua pois atende ao inevitável jogo das pressões dos
interesses imediatos dos grupos dominantes.

Necessitados do apoio das massas urbanas, os detentores do poder


se vêem obrigados a decidir, no jogo dos interesses, pelas alternativas que se
enquadram nas linhas de menor resistência ou de maior apoio popular,
encontrando assim, condições de abrir-se a todos os tipos de pressões sem se
subordinar. Já não é mais uma oligarquia, é um Estado de massa.

2.1 AUTORITARISMO E DEMOCRACIA

No período ditatorial, a soberania do Estado sobre os diferentes


setores sociais é óbvia, diante da capacidade do Estado legitimar-se nas
massas através de manipulação. Realizando sempre uma política realista, mas
preservando seu domínio entre as pressões dos grupos e suas necessidade de
apoio popular.

A queda da ditadura de Vargas em 1945 e a redemocratização do


país alteraram substancialmente as condições políticas permitindo a formação
do novo sistema partidário caracterizado pela minimização da soberania do
Estado em relação à sociedade. Mais do que isto, a queda da ditadura,
concomitante com o fim da guerra contra o fascismo, parecia significar o fim do
fascismo no Brasil e unia, portanto, amplos setores urbanos. Parecia significar
o início da verdadeira democracia brasileira, sonho acalentado desde a década
de 20 pelas classes médias urbanas.

O período posterior a 30 é também um período em que ganham


intensidade os processos de industrialização e de urbanização.

Deste modo, as lideranças populistas aparecem com importância em


todos os pleitos nacionais: Gaspar Dutra conquistará, em 1946 a Presidência
apoiado no prestígio popular de Getúlio e nos dois partidos a este vinculados
(PSD e PTB); o ditador deposto se elegerá em 1950 com notável maioria de
votos; Juscelino Kubitschek vencerá em 1954 apoiado no esquema PSD-PTB;
Jânio Quadros derrotará este esquema em 1960; em fim, João Goulart,
discípulo dileto de Getúlio, será eleito Vice-Presidente em 1954, e, em 1961,
conquistará a Presidência após a renúncia de Quadros.

Nesta democracia de massas, o Estado se apresenta de maneira


direta a todos os cidadãos. Com efeito, todas as organizações importantes que
se apresentam como mediação entre o Estado e os indivíduos são, em
verdade, antes anexos do próprio Estado que órgãos efetivamente autônomos.
Como afirma Touraine, a organização sindical é “menos um instrumento nas
mãos da classe operária que a expressão de uma participação indireta e
involuntária no poder”.

O sistema partidário, tem bases nos dois agrupamentos: PSD e


PTB, criados por Getúlio, nasceram ao fim da ditadura. O primeiro (PSD)
deveria dar expressão política aos setores conservadores vinculados à
atividade agrária . O segundo (PTB), deveria dar expressão às massas
trabalhadoras urbanas. Nascidos do poder, e a ele sempre vinculados, estes
dois partidos convertem-se, particularmente o PSD, em partidos de
patronagem.

Adhomar de Barros cria um novo partido (PSP), sobre o qual tem


inteiro domínio desde 1947 até hoje, e que, no essencial, depende de seu
prestígio popular. Getúlio, chefe populista vê no partido um quadro para a
administração do seu poder pessoal. Jânio Quadros, por sua vez, não chega a
estabelecer o mais mínimo compromisso permanente com qualquer estrutura
partidária. Este líder de ascensão meteórica na política brasileira evidencia, em
nível extremo, a natureza do processo democrático que se abre em 1945.
Elege-se em 1953 para a Prefeitura de São Paulo apoiado quase
exclusivamente em seu estilo carismático e contra todo o sistema partidário,
inclusive contra os seguidores de Getúlio e Adhemar. E sua participação
eleitoral usa os partidos secundários, basicamente como legenda (pleitos para
a Prefeitura e para o Governo de São Paulo) ou como aliado eventual (pleito
para a Presidência da República em que se alia à UDN).

O nacionalismo passa a ser significativo politicamente quando o


governo federal (particularmente na Presidência Kubitschek) o encampa como
cobertura ideológica do “desenvolvimentismo”, ou seja, demonstrando a
consagração do Estado, como uma transfiguração teórica do populismo.

No Estado Novo a democracia brasileira é explicada por um


processo de massificação “prematura” ou “antecipada”.

Com efeito, a massificação no Brasil não significa, basicamente, a


pulverização de classes portadoras de uma tradição política e ideológica, mas
a ascensão à vida urbana e ao processo político das camadas populares do
interior e do campo. Marcada pelos fatores de impulso para o crescimento das
cidades, a pressão criada pelas péssimas condições da vida rural.

Para explicar o comportamento das massas é necessário


compreender que apenas uma parte dos emigrados pode-se integrar nas
atividades industriais como operários. Daí, o comportamento político dessa
massa não ser explicado pela abundância, mas pela escassez.

Estas condições sócias insatisfatórias associam-se, em seus efeitos


políticos, a outro aspecto importante para que se compreenda o processo de
massificação. A passagem do campo à cidade, ou versão do indivíduo em
cidadão politicamente ativo e para a dissolução dos padrões tradicionais de
submissão aos potentados rurais. Com efeito, as grandes cidades brasileiras
funcionam como caixa de ressonância de todo o processo político nacional.
2.2 ESTADO: MITO E COMPROMISSO

A continuidade da democracia das massas desde 1945 até a queda


de Goulart se deve à persistência em seus aspectos básicos, das condições
estruturais que passam a se configurar a partir de 1930. Segundo as análises
de Celso Furtado o processo de industrialização, embora se tenha intensificado
na década de 1950, não foi capaz de adquirir autonomia perante os influxos do
mercado externo, e por esse motivo, incapaz de formular uma política
autônoma e legitimidade para o Estado.

O que se torna visível é a dependência e expectativas dos diversos


grupos (massa, empresários, agrários) em relação as possíveis ações do
Estado.

A tomada de consciência na classe capitalista industrial da


contradição entre os interesses da industrialização e dos grupos agrícolas para
o mercado interno. (CELSO FURTADO)

Nestas condições, em que nenhum dos grupos dominantes é capaz


de oferecer as bases para uma política de reformas, as massas populares
aparecem novamente como a única força capaz de dar sustentação a esta
política e ao próprio Estado. Enquanto no período anterior, o processo político
construiu, através do populismo combinado com a relativa incapacidade política
dos grupos dominantes, a imagem de um Estado soberano – agora se impõe a
este Estado provar a realidade de sua soberania.

As massas conferem legitimidade a um chefe populista enquanto


servem de instrumento para a aquisição e preservação do poder, diante da
falta de condições hegemônicas dos demais grupos dominantes.

Assim, a gravidade da situação, desde a renúncia de Quadros


(1961), se revela na inconsistente estrutura de compromisso entre as massas,
os grupos dominantes e o Estado.

Exatamente nestas condições, as organizações populares de


esquerda passam a exigir do governo uma ação política pautada em critérios
explicitamente ideológicos; cobrando do Estado como se a única possibilidade
de solução para os problemas estruturais, minimizando a responsabilidade dos
grupos dominantes (indústrias e agrários).
3. ANÁLISE DOS CONCEITOS UTILIZADOS

3.1 AUTORITARISMO

O autoritarismo é utilizado pelas ciências sociais e políticas para


designar regimes que utilizam a força, privilegiam a autoridade, diminuem o
consenso e concentram o poder político nas mãos de poucos. O termo
autoritarismo, da mesma forma que ditadura é utilizado para acentuar a
ausência das “liberdades democráticas”.

Toda sociedade de classe ou aquela em que existem dirigentes e


dirigidos, governantes e governados, relações burocráticas e hierarquizadas, é
autoritária em suas relações, pois parte do pressuposto de que o comando
deve comandar e os subalternos devem obedecer.

Para designar tal situação, usaremos o termo ditadura e suas


variações, no lugar de autoritário, que também indica os regimes não-
democráticos.

O poder e a autoridade do Estado convertem-se em ditadura nos


momentos de crise. A concentração de forças em reduzidas esferas decisórias
permite administrar o conflito aberto e equilibrar as forças políticas. No caso
específico do Brasil, nos anos trinta, a ditadura foi utilizada para implementar
um projeto industrializante e modernizador; tratando de enfatizar os aspectos
transformistas que sobrepõe aos restauradores e que constrói uma base de
apoio popular, onde o Estado concentra em suas mãos atribuições que antes
pertenciam aos grupos e classes sociais.

A ditadura não tem poder suficiente para produzir mudanças que


ameacem as relações sociais dominantes. Entretanto, o transformismo produz
alterações no aparelho produtivo. A ditadura se apresenta para aqueles que
nela depositam suas aspirações e que a justificam, como algo realmente acima
das classes, uma força externa à sociedade.

Portanto, o termo “autoritário” e suas variações serão empregados


com uma função descritiva do que ocorreu no Brasil, durante a primeira metade
deste século, se intitularam autoritários. Este emprego tem o mesmo sentido de
contraposição à liberal-democracia, porém com uma valoração positiva que se
contrapõe ao totalitarismo (autoritarismo negativo).

3.2 A AUTONOMIA DO ESTADO

O Estado é uma organização constituída por instituições, normas e


condutas que se referem ao fenômeno estatal e não, ao social. Possui
características próprias, vida autônoma e independente das relações sociais.
Essas características são definidas pela Carta Magna e decorrem do poder de
tomar decisões e da capacidade de obrigar o destinatário dessas decisões a
obedecer, pela presença de uma burocracia civil e militar obediente à
Constituição.

O Estado é o locus de unificação das classes dominantes, um fator


de “ordem” e um “princípio de organização”; expressão política, econômica,
social e cultural. Por tudo isso, o Estado é um processo em contínua
construção sociedade-civil em sociedade-política.

O Estado para exercer a função econômica-política e social e para


atingir a sua máxima capacidade e dirigir toda a sociedade dependerá da
perfeita correspondência entre as diretrizes do núcleo dirigente e a obediência
dos organismos executores e fiscalizadores. Para isso, ele terá que modificar
hábitos, condutas, formas de pensamento, convicções enraizadas, ou seja,
desenvolve uma ação hegemônica, que é a junção da força com a autoridade.
A primeira elimina os que se colocam contra a vontade estatal, enquanto a
segunda realiza a ligação entre o comando e os subordinados.

O Estado torna-se então temido e admirado, em outras palavras,


designa o que os ideólogos autoritários chamam de Estado- Nação.

A autonomia do Estado significará, então, que o aparelho estatal


(burocracia, corpo diretor e intelectuais-funcionários) passou a influir sobre as
relações sociais e sobre a estrutura produtiva, como mediador.
Entretanto, o Estado não é autônomo em relação às forças sociais
dominantes, determinadas pela estrutura material de produção – estrutura
fundiária, industrial, comercial, financeira e serviços – e nem com relação às
forças políticas – aquelas que alcançaram o estágio no qual podem disputar a
direção do Estado e da sociedade. Ele resulta da correlação dessas forças e
expressa um determinado equilíbrio de compromisso possível entre elas, num
determinado momento histórico.

No Brasil os latifundiários e não-exportadores (setor agrário


tradicional) são conhecidos por terceira força, e estes detém um poder político
superior ao seu papel socioeconômico. A postura dessa fração da classe
dominante determinará o rumo de menor risco a ser seguido pelo Estado, para
as relações sociais que assegurem o seu poder privado.

O Estado brasileiro, de instrumento dos interesses e domínio da


fração agroexportadora, a partir dos anos trinta, torna-se promotor do
“progresso nacional”: industrialização e modernização. Através do projeto
autoritário o Estado beneficiava o setor urbano-industrial interno, que era tido
como a solução dos “problemas nacionais”.

3.3 AUTONOMIA INTELECTUAL

Num contexto de autonomia do Estado e de transformismo,


sobressai o papel dos intelectuais, os quais são os produtores da ideologia (um
projeto político para a sociedade e o Estado), e exercem função organizadora
na produção cultural, político-administrativa, militar, econômica, social. Os
intelectuais estão graduados pela competência e influência.

A autonomia e formulação de valores dos intelectuais não derivam


diretamente dos interesses de uma determinada classe dominante. Pelo
contrário, as forças sociais e políticas funcionam como limites para a autonomia
dos intelectuais, que dentro desses limites, têm liberdade de ação.
3.4 IDEOLOGIA

Os politicólogos e cientistas sociais adoram a ideologia como


conceito neutro e funcional, para designar as crenças e valores ligados a
partidos, governos de grupos sociais, de tal forma que o “ideológico” é
contraposto ao “pragmático”, ao “objetivo”, e ao “científico”.

As ideologias arbitrárias e desejadas distingue-se das ideologias


historicamente necessárias à determinada estrutura e construção do Estado e
à hegemonia. Estas teriam valor “psicológico”, existência concreta,
organizariam massas humanas, formariam o terreno sobre o qual os homens
se movimentam, adquirem consciência de sua posição e lutam.

O critério utilizado para com a ideologia é a sua capacidade de


unificar classes, frações e categorias sociais heterogêneas, em posição de
domínio e subordinação.

O conceito de ideologia pressupõe:

a) os aspectos conscientes e inconscientes, explícitos e


implícitos, materializados nas instituições;

b) as normas culturais, políticas, sociais e econômicas;

c) a concepção sobre o homem, os padrões de


comportamento individual, grupal e coletivo considerados corretos;

d) as aspirações individuais e coletivas;

e) os valores aglutinadores;

f) os valores morais, as interpretações da realidade


passada, presente e as aspirações para o futuro;

3.5 A IDÉIA DE PROGRESSO


A idéia de progresso é característica dominante a contar do século
XVIII; Nas quatro primeiras décadas do século XX predomina a concepção
historicista de progresso.

Algumas constantes que formam a idéia de progresso:

a) avanço do passado através do presente rumo ao progresso;

b) delimitação do período considerado;

c) o tempo visto como entidade real e uniliminar;

d) tendências predominantes: realização de um atributo do


passado;

e) processo contínuo;

f) a “arte do tirano” (controle pela força) substituída pela “arte do


estadista” (aceitação livre dos governados) (Platão, As Leis);

g) decorrência de um ambiente propício;

h) denotação de esperança e fé no futuro melhor;

i) tempo irreversível;

j) crença no poder da ciência e da tecnologia;

k) felicidade material e terrena;

l) educação como fator de intensificação do avanço e da melhoria


da sociedade no tempo;

m) aceitação do progresso como dogma = força operacional.

A idéia de progresso implica essencialmente em caráter valorativo,


como realização de um atributo do passado mas como melhoria constante no
nível material e social dos homens.

3.6 CORRELAÇÃO DAS FORÇAS

Implica três níveis distintos de forças:


1° Nível – A posição que cada classe ocupa na estrutura determina
seus interesses corporativos, sua força econômica, social, cultural e política e a
consciência que desenvolvem. Da mesma forma, a estrutura determina os
limites concretos de atuação das forças sociais e políticas.

O primeiro nível envolve os grupos sociais de consciência


corporativa ou econômica (a propriedade privada e as relações sociais
dominantes), e os grupos sociais de interesses particulares (não universais).

2° Nível – O segundo nível de relações é estabelecido pelas forças


que atingiram a consciência política, e são capazes de exercer a ação
hegemônica com vistas a estender seus interesses para a sociedade global
(política mais civil).

3° Nível – O terceiro nível é determinado pela correlação das forças


internacionais, e estas dependem do poder militar de cada país, e da sua
capacidade diplomática.

Tendo em vista essa orientação, parte-se da premissa de que o


Estado é uma superestrutura complexa e contraditória, gerada pelo processo
constitutivo do modo de produção capitalista. Não se sobrepõe e nem deriva da
estrutura material. Compõe uma formação social concreta, onde interagem
formas pretéritas e presentes de produção, sociedade, política e cultura,
submetendo-se, ainda, à correlação das forças internacionais.
CONCLUSÃO

O que se verifica no decorrer do trabalho é que as relações sociais


dominantes só são dominantes porque em seus conjuntos incluem-se as
classes economicamente proprietárias dos meios de produção, e estes são
dirigentes politicamente em relação às classes subalternas. Portanto, o conflito
político entre as frações da classe dominante tende a circunscrever à disputa
pela direção do aparelho estatal. Desta maneira, o Estado amplia como forma
de enquadrar todos os interesses em disputa e impedir que a contradição entre
eles provoque a ruptura do sistema social.

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