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A natureza da co-dependência
Tópico II
Tópico III
O parentesco, afirmou Giddens, foi durante muito tempo visto como um elemento
estabelecido naturalmente, seja pelo viés biológico seja pelas relações determinadas por meio
do casamento. Entretanto, o autor discorda da afirmação de que as relações de parentesco
teriam declinado em razão do desenvolvimento das instituições modernas, fato que teria
levado também ao declínio da família nuclear. Para Giddens, houveram rearranjos resultando,
muitas vezes, em famílias recombinadas a partir da própria família nuclear. O que alterou-se
foi a natureza dessas relações, que passam a ter uma confiança e compromissos negociados,
onde antes eles eram “tacitamente aceitos.”
O autor cita o estudo de Janet Finch, que afirmou haver no interior das relações de
parentesco contemporâneas o elemento “decisão”. Os sujeitos optam por uma maneira de lidar
com seus parentes, e desse modo, vão dando forma ao que o autor chama de “uma nova ética
cotidiana”. Para a autora, as relações são estruturadas a partir de um “compromisso
negociado”, por meio do qual é decidido que comportamento ter diante das situações.
Ao se questionar acerca da semelhança das relações acima mencionadas com as
relações estabelecidas entre pais e filhos, Giddens afirma que elas também estão alicerçadas
sobre a negociação. A obrigação social, que poderia estruturar a mutualidade desses laços,
não é algo tão forte em muitas sociedades contemporâneas que acabam, em certa medida,
exigindo que essas relações tenham um compromisso negociado. Além disso,
contemporaneidade, afirma o autor, oferece novos arranjos familiares, como a existência de
padrastos e madrastas. O autor fala também dos compromissos cumulativos que fazem com
que o sujeito enxergue como obvio o cumprimento de certas obrigações.
Segundo Giddens, a interação pai-filho é complexa na fase da infância, pois de acordo
com ele, as ações dos pais acabam por dar forma à personalidade do filho. Mas a infância
também é afetada pelo relacionamento puro e pelas transformações que ele traz consigo.
Tranformações nessas relações foram evidenciadas, o que de acordo com o autor está
vinculado aos aspectos característicos do relacionamento, em que o foco na intimidade acaba
por substituir a autoridade materna e paterna, emergindo a necessidade de compreensão e
sensibilidade no interior da relação.
Tópico IV
Pais e filhos
Tópico V
Pais Tóxicos?
Giddens retoma o estudo efetuado por Forward para tratar da forma como os pais tem
agido em relação aos filhos na contemporaneidade. Ele cita pais caracterizados como
“emocionalmente inadequados”, controladores ou ainda condutas mais radicais, como o
alcoolismo, aqueles pais que cometem agressões verbais e físicas, além dos abusos sexuais.
Essas formas de comportamento, segundo Giddens, seriam a maneira como muitos pais agem
em relação a seus filhos no mundo contemporâneo.
O sociólogo explica que esse aspecto se vincula com o fato de as famílias terem
diminuído, o que fez com que os filhos fossem mais valorizados pelos pais, firmando a noção
de que as crianças deveriam obediência aos mais velhos. Entretanto, mesmo que essa noção
tenha emergido ela teve, desde seus primórdios, um terreno fértil para sua superação. Para
Giddens, essa ideia era vinculada ao domínio patriarcal que, com a invenção da maternidade,
perdeu sua força. A partir da emergência da maternidade enquanto uma construção histórica e
social, a disciplina de caráter dogmático e vinculada a tradição marcada pela figura paterna
perde sua primazia em detrimento de uma maneira mais branda de criar os filhos, uma forma
mais fundamentada em aspectos igualitários. A então nascente esfera da intimidade seria
responsável por transformar a dimensão das relações entre pais e filhos.
Ao analisar as orientações contidas nas obras de terapia acerca das relações pais-
filhos, Giddens afirma que ela se direcionam na busca por uma autonomia, uma
independência emocional em relação aos pais. Assim, o sujeito reavalia os elementos que
fundamentam a relação, a fim de estabelecer um laço pautado em aspectos igualitários em que
a escolha se torna um elemento central. “’Não posso’, ‘Não vou’ tornam-se, então, não apenas
um instrumento de desbloqueio, mas um ponto de partida negociado em cujos os termos o
indivíduo é capaz de exercer a escolha”. (p.122)
A questão dos pais tóxicos oferece um prisma acerca da associação entre o projeto
reflexivo do eu, o relacionamento puro e o estabelecimento de novas estruturas para a
elaboração de uma vida pessoal, pois ao impor uma autonomia emocional, o sujeito tem um
meio para alterar sua narrativa do eu e fazer valer direitos, reivindicá-los. Nesse sentido, o
autor fala de um direito que as crianças possuem de “ter seus sentimentos respeitados e suas
opiniões levadas em conta.” O amor confluente é igualmente importante para relações
estabelecidas entre pais e filhos.
Um passado com pais tóxicos impede o indivíduo de desenvolver uma
narrativa do eu, compreendida como um “relato biográfico” em que ele se
sente emocionalmente confortável. A falta de auto-estima, que normalmente
assume a forma de vergonha inconsciente ou não-reconhecida, é uma
consequência importante; mais básica e a incapacidade do indivíduo se
aproximar de outros adultos como sendo emocionalmente iguais. (p. 122)
Giddens afirma que na fase da infância, essa busca por direitos tem que ser efetuada
pelos pais. Com os vínculos entre pais e filhos estabelecidos em meio aos aspectos do
relacionamento puro, há uma liberalização da esfera pessoal, que envolve uma autoridade de
um tipo distinto.