Você está na página 1de 5

RELACIONAMENTO ABERTO E OUTRAS NUANCES DE AMOR

Redatoras:
Ana Clara Feitosa
Ana Paula Almeida
Emilly Vitória Melo

Você já ouviu falar sobre relacionamento aberto? Considerado por muitos como um
tipo de relacionamento “livre”, esse tipo de interação afetiva vem tomando cada vez
mais espaço na sociedade, principalmente entre os jovens. Um estudo descrito na
Psychology Today em 2014 constatou que entre 23% e 40% dos homens e 11% e
22% das mulheres estão curiosos para experimentá-lo.

Para entender esse tipo de relação é preciso ter em mente que ele foge do modelo
tradicional: o monogâmico. Assim, é muito comum as pessoas fazerem confusão
entre ​relacionamento aberto​ e ​poliamor.
Os adeptos de um relacionamento aberto acreditam na existência do desejo sexual
por outras pessoas e que esse desejo não deve ser reprimido por normas e
imposições sociais que determinam a forma como as pessoas se relacionam, dessa
maneira, o envolvimento físico com outras pessoas, em uma relação aberta, é visto
como natural e não como infidelidade. Entretanto, essa configuração de
relacionamento baseia-se na confiança e no bom diálogo entre o casal para que se
tenha uma boa relação.

HÁ DIFERENÇAS ENTRE POLIAMOR, RELACIONAMENTO ABERTO E AMOR


LIVRE?
A confusão entre poliamor, relacionamento aberto e amor livre é comum, pois
ambos têm a concepção de liberdade dos envolvidos com outras pessoas,
entretanto, no poliamor há uma liberdade maior, porque o casal pode se envolver
tanto no sentido físico quanto afetivo com outras pessoas, e podendo, muitas vezes,
configurar uma relação com 2, 3 ou mais parceiros ao mesmo tempo, mas sem
priorizar nenhuma delas, o que não pode ser confundido com poligamia, pois esta
tem relação com aspectos religiosos, e apenas um dos parceiros pode ter o
envolvimento com outras pessoas, e geralmente é o homem, esse tipo de relação é
comum nos países de religião muçulmana. Outra configuração de relacionamento é
o amor livre, nele há a rejeição das imposições de rótulos propostos pela
sociedade, Estado ou Igreja, portanto não há idealização de namoro, casamento ou
qualquer outra concepção que possa remeter à posse do seu parceiro(a), podendo
assumir tanto o caráter monogâmico quanto o poliamoroso.

Fonte: Google Imagens

É importante ressaltar que esses tipos de interações devem ser consentida entre o
casal, havendo sempre respeito e transparência, comunicando ao outro quando um
se relacionar com uma pessoa de fora. Há muito o que se dizer sobre
relacionamento aberto e uma das alegações feitas por praticantes é que esse tipo
de interação afasta os ciúmes. Porém, segundo Cristiano Pimenta, secretário geral
da Escola Brasileira de Psicanálise de Goiás e Distrito Federal, os ciúmes fazem
parte da natureza humana, e o relacionamento aberto é uma “tentativa fracassada
de afastar os ciúmes” - palavras ditas por Pimenta em entrevista concedida ao
Jornal Opção.

Para ter uma noção mais prática sobre o assunto, entrevistamos um casal adepto
desse tipo relacionamento: Lua*, estudante, 19 anos, e Tássia*, estudante de 20
anos, nos esclareceram algumas questões. Elas afirmaram já terem iniciado o
relacionamento com essa flexibilidade na relação.
*Nomes meramente fictícios. Decidimos não revelar os nomes verdadeiros das
entrevistadas em respeito à privacidade das mesmas.

Diferentemente do que muitos acreditam, em um relacionamento aberto há sim


cobranças e ciúmes, entretanto, há acordos preestabelecidos entre as duas
pessoas para poder lidar com essas questões. Lua e Tássia afirmam que são
questões bem específicas, porém, é tudo resolvido na base do diálogo, "a gente lida
conversando bastante mesmo, discute até chegar em uma
conclusão que seja boa para ambas", declara Lua.

Fonte: Google Imagens

O que para o senso comum poderia ser considerado infidelidade, no relacionamento


aberto há a possibilidade de os parceiros se envolverem fisicamente de forma livre
com outras pessoas, para o casal Tássia e Lua é preciso respeitar os acordos das
relações, "por exemplo, ​o nosso acordo vai até 'X parte', a partir daí seria traição
porque rompe com o que a gente concordou", afirma Tássia. Por ser visto por
muitos como uma relação mais flexível, no relacionamento aberto há cobranças
como em todas as outras formas de se relacionar, mas o que diferencia é a
necessidade de ter mais diálogo com o seu parceiro(a), pois é preciso saber se
ele(a) se sente confortável em determinadas situações. Para o casal, é importante
ter muita conversa e transparência na relação para entender que acima de outra
pessoa há você também, "eu não sei se tem uma fórmula para isso, é só se esforçar
para poder atender as necessidades alheias e respeitar as próprias necessidades,
equilíbrio é tudo", declara Tássia.

CONTROVÉRSIAS
Entretanto, há aqueles que ainda preferem uma configuração mais tradicional de
relacionamento, como a monogamia. Um exemplo é o Fernando, com 32 anos e
engenheiro agrônomo, que sempre teve apenas relações monogâmicas, e para ele
relacionamentos abertos não dão certo pois em algum momento da relação o
ciúmes pode prevalecer, embora ele admita que em seus relacionamentos há
sempre uma tentativa mútua para passar confiança para o(a) parceiro(a): “Eu
procuro me sentir seguro o suficiente pra saber que não preciso sentir ciúmes",
declara. Quando a questão é infidelidade, Fernando afirma que traição não é
apenas o ato físico com outra pessoa, mas também a contradição em atitudes, e
que de qualquer maneira ter uma relação aberta não seria opção.

Para a psicóloga Lúcia Lobato, a monogamia não é natural dos seres humanos, pois
nas civilizações antigas as relações afetivas não eram restritas a só um homem e
uma mulher: “Até hoje em algumas sociedades, em que há uma forte influência da
religião muçulmana é comum a poligamia”. Uma grande característica das relações
humanas é a presença do ciúme, quando se trata de uma relação afetiva é natural
a presença do mesmo. Para a psicóloga, o ciúmes é um estado emocional do ser
humano que está ligado ao sentimento de propriedade, e se evidencia quando o
indivíduo se encontra em uma situação de ameaça que possa pôr em risco a
estabilidade de posse de algo ou de alguém. Ela ainda comenta sobre uma
pesquisa realizada pela ProSex da Universidade de São Paulo, que apontou o
número de homens que já traíram seus parceiro(a)s ser de 50,7% e o de mulheres,
30,2%. Lobato ainda explica que há uma carga cultural presente na sociedade nos
dias atuais: “Há um estigma de que os homens latinos possuem uma flexibilização
em seus relacionamentos. Para eles o envolvimento com outras mulheres fora do
seu relacionamento não é algo significante”.
Se você está pensando em aderir a esse tipo de relação, separamos algumas dicas
para você ter um bom relacionamento aberto:
Vale ressaltar a importância do consentimento de todas as partes envolvidas na
relação, não apenas o seu companheiro(a), mas também todas as pessoas que
você se relacionar. Outra dica é valorizar o diálogo, assim como em toda interação
afetiva, manter uma boa comunicação com o(a) parceiro(a), e deixá-lo(a) sempre
ciente sobre as pessoas com as quais você se relaciona , pois pode ocorrer de
algum de vocês acabarem se apaixonando por outrem. Alguns casais entram em
consenso para se relacionarem apenas com pessoas com as quais eles não
possuam nenhum forte vínculo afetivo, para justamente evitarem situações de
desconforto ou insegurança para seus parceiros.

Você também pode gostar