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EAD

ATUALIZAÇÃO EM DIREITO DE
FAMÍLIA
PROF. Solange Guimarães
CONTATO: professorasolange1966@gmail. com

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EAD
Aula 2

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POLIAMOR
Estamos em uma situação totalmente nova, ainda não
reconhecida pela legislação e também não pacificada nos
Tribunais: a família poliafetiva e o poliamor.
Poliamor é a definição de um tipo de relacionamento
simultâneo entre três ou mais pessoas ao mesmo tempo e
com o conhecimento de todos.

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Essas relações não são novidade na maneira como as
pessoas se relacionam entre si. Desde os primórdios da
civilização, a humanidade convive com uniões compostas
por mais de dois membros, principalmente seguindo certos
preceitos religiosos orientais ou até mesmo com intenção
de buscar opções ao modelo ocidental mais comum.

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Daniel Cardoso, professor e pesquisador da Universidade
Lusófona, em Lisboa, vive uma relação poliamorosa há
vários anos. É autor da tese Amando Vári@s:
Individualização, Redes, Ética e Poliamor, concluída em
2010. Ao ser entrevistado, Cardoso diz que os sujeitos
lidam com os constrangimentos contemporâneos de uma
sociedade individualizada de forma a produzirem-se como
sujeitos poliamorosos.

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A discriminação existe de várias formas, todos tentam
interferir nas relações impondo um perfil que não condiz
com a realidade. Para ele, é necessário que se forme um
movimento organizado a respeito do assunto

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Existem diversos tipos de relacionamentos poliamorosos.
Na polifidelidade existe o envolvimento de muitas relações
românticas com contato sexual restrito a parceiros
específicos do grupo. Há os sub-relacionamentos, nos
quais as relações distinguem-se entre “primárias” e
“secundárias“, como na maioria dos casamentos abertos.

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Existem as relações ou os casamentos em grupo em que
todos estão associados de forma igualitária. Há também as
redes de relacionamentos interconectados, nas quais uma
pessoa em particular pode ter relações de diversas
naturezas com diversas pessoas. Há as relações mono/poli
em que um parceiro é monogâmico, mas permite que o
outro tenha outras relações. Há também os denominados
acordos geométricos, que são descritos de acordo com o
número de pessoas envolvidas e pelas suas ligações.
Alguns exemplos são os “trios” e “quadras“, organizados
conforme as geometrias das letras “V” e “N”
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A ideia de quem defende as relações poliamorososas é de
que existem vários amores simultaneamente, dividindo ou
somando todos ao mesmo tempo. Não importa o gênero
das pessoas envolvidas: o que importa é que se reconheça
que há uma necessidade dessas pessoas se completarem.
Isso vai além do simples consentimento de relações sexuais
adversas, porque envolve também a afetividade, uma
característica que até então se entendia monogâmica.

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O conceito de poligamia está via de regra associado ao
casamento de um homem com várias mulheres (poliginia),
em oposição à poliandria (uma mulher casada com vários
homens). O Poliamor pressupõe uma igualdade de direitos,
não só entre sexos, mas entre as pessoas envolvidas. O
homem pode ter relações com várias mulheres, mas cada
uma delas pode também ter outras relações, com pessoas
que por sua vez poderão ter a mesma liberdade. Cabe a
cada pessoa definir o tipo de relações que quer para si, e
não se limitar aos modelos rígidos que a sociedade lhe
impõe

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“O amor romântico começa a sair de cena, levando com
ele a sua principal característica: a exigência de
exclusividade. Sem a ideia de encontrar alguém que lhe
complete, abre-se um espaço para novas formas de
relacionamento amoroso, com a possibilidade de se amar
e de se relacionar sexualmente com mais de uma pessoa
ao mesmo tempo.” (Regina Navarro Lins, O livro do amor.
Rio de Janeiro: Best Seller. v. 2. p. 242)

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Em nosso país, uma das tentativas mais inovadoras de
levar as discussões sobre Poliamor para fora das redes
sociais foi a organização do Poliencontro, no Rio de
Janeiro, e que já teve 10 edições. Mesmo assim, o
poliamor ainda é desconhecido pela maioria da sociedade.
Mas tem grande representação e muitos grupos de
discussão, sobretudo na internet, e já chegou às
universidades, onde é discutido nos cursos de Ciências
Sociais, Antropologia, Direito e outros.

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FAMÍLIAS PARALELAS E POLIAMOR: HÁ DIFERENÇA?

A AC 70010787398, do TJRS, reconheceu a existência de


duplas células familiares, e no caso em análise, ficou
evidenciado que o cidadão mantinha dois vínculos afetivos
com duas mulheres simultaneamente, e isso não pode vir
em benefício dele próprio ou de uma das conviventes

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Sobre essa decisão, a Relatora Desembargadora Maria
Berenice Dias destaca que o Poder Judiciário não pode se
esquivar de tutelar as relações baseadas no afeto,
inobstante as formalidades muitas vezes impingidas pela
sociedade para que uma união seja “digna” de
reconhecimento judicial. Dessa forma, havendo duplicidade
de uniões estáveis, cabível a partição do patrimônio
amealhado na concomitância das duas relações

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Esse caso trata de união paralela, onde uma pessoa
compõem duas famílias distintas, mas não há o
consentimento de todos os envolvidos para que aconteça.

No poliamor , existe a necessidade do consentimento de


todos os envolvidos na relação amorosa.

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Vejamos a jurisprudência a seguir:

“Inicialmente se observou que a análise dos requisitos


ínsitos à união estável deve centrar-se na conjunção de
fatores presentes em cada hipótese, como a affectio
societatis familiar, a participação de esforços, a posse do
estado de casado, a continuidade da união, a fidelidade,
entre outros.

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Desse modo, entendeu-se que, no caso, a despeito do
reconhecimento, na dicção do acórdão recorrido, da união
estável entre o falecido e sua ex-mulher em concomitância
com união estável preexistente por ele mantida com a
recorrente, é certo que o casamento válido entre os ex-
cônjuges já fora dissolvido pelo divórcio nos termos do art.
1.571, § 1º, do CC/02, rompendo-se definitivamente os
laços matrimoniais outrora existentes.

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Destarte, a continuidade da relação sob a roupagem de
união estável não se enquadra nos moldes da norma civil
vigente (art. 1.724 do CC/02), porquanto esse
relacionamento encontra obstáculo intransponível no dever
de lealdade a ser observado entre os companheiros.” (STJ,
REsp 1.157.273/RN. Jurisprudências. Disponível em:
<http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?
livre=((%27RESP%27.clap.+ou+%27RESP%27.clas.)
+e+@num=%2711572>. Acesso em: 16 jul. 2015 – grifo
nosso)
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Com essas considerações, entre outras, a Turma deu
provimento ao recurso, para declarar o reconhecimento da
união estável mantida entre o falecido e a recorrente e
determinar, por conseguinte, o pagamento da pensão por
morte em favor unicamente dela, companheira do falecido.

Percebe-se que o STJ apresenta-se totalmente resistente


à ideia de que as famílias simultâneas devem ser
protegidas pelo direito, mantendo-se fiel ao dever de
lealdade, fidelidade e monogamia na formação da família.
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A revista Consultor Jurídico, do dia 18 de março de 2013,
informa que o relacionamento poliamoroso foi um dos
assuntos discutidos na Jornada de Direito Civil, promovida
pelo Centro de Estudos Jurídicos do Conselho da Justiça
Federal, que tem oferecido relevantes contribuições nas
interpretações de nosso ordenamento jurídico, pois conta
com a presença de especialistas, que após um período de
debates dão origem a uma melhor interpretação inerente
às normas do Código Civil.

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Nessa mesma reunião ficou evidenciada a rejeição quanto
às ideias de institucionalização da poligamia, rejeitando
todas as propostas de atribuição de efeitos de direito de
família às uniões paralelas ou simultâneas.

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PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA
HUMANA E POLIAMOR
A CF/88 reconhece a dignidade humana de forma
expressa. Está prevista no art. 1º, III, da CF, sendo
fundamento do Estado Democrático de Direito. Trata o
princípio de um direito inerente a todo ser humano.Esse
princípio é base para todas as demais regras e insere em
si outros princípios e valores essenciais . É com ele que se
deve resolver questões práticas envolvendo quaisquer
relações familiares, bem como sua estrutura como
entidade familiar.
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Os elementos que caracterizam uma relação poliafetiva
são os mesmos que norteiam qualquer relação. A
estabilidade é um elemento que pressupõe que esta
relação não pode ser uma relação eventual, ou acidental,
ela precisa ser uma relação duradoura e contínua. Essa
característica é bastante apresentada como um dos
requisitos para o estabelecimento de uma entidade
familiar, seja na união estável, ou em uma relação
poliamorosa consentida.

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A publicidade também é um elemento fundamental. A
relação precisa ser notória, transparente na sociedade. A
relação não deve ser às escondidas, de forma oculta ou
clandestina, ou seja, os membros dessa entidade familiar
devem se comportar naturalmente.

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A Associação de Direito de Família e das Sucessões
(ADFAS) requereu ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ)
que se manifestasse sobre o tema. Diante da provocação,
o CNJ determinou que a união estável poliafetiva, qual
seja, a união estável entre mais de duas pessoas não será
permitida, por não ser legal. A união estável segue as
mesmas normas do casamento, e no nosso ordenamento
jurídico não é permitido a poligamia, o casamento entre
mais de 2 (duas) pessoas.
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Decisão do CNJ que proíbe a lavratura de registro de
uniões poliafetivas é retrocesso, diz tabeliã responsável
por 4 registros

A tabeliã Fernanda de Freitas Leitão, do 15º Ofício de


Notas do Rio de Janeiro, foi a responsável pelo registro da
escrituras de Leandro, Thaís e Yasmin. Até agora, foram
realizadas, em sua Serventia, quatro escrituras de união
poliafetiva, sendo três delas entre um homem e duas
mulheres, e uma delas entre três mulheres.
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Segundo ela, até o momento não ocorreu nenhum
problema em função dessas escrituras. “Ao contrário, em
um dos casos, inclusive, no das três mulheres, as
partes conseguiram dois importantes efeitos: (i)
inscrever as demais no plano de saúde familiar e, (ii)
em outra situação, onde uma das partes teve um
veículo apreendido e recolhido ao pátio do Detran/RJ,
este órgão reconheceu a escritura de união poliafetiva
como documento válido para autorizar a retirada do
veículo pela companheira da proprietária do veículo.
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Sabe-se que apenas o cônjuge ou o companheiro do
proprietário do veículo apreendido são autorizados pelo
órgão para agir em seu nome sem procuração. Ou seja, o
Detran reconheceu a parte como companheira”,
ressalta.

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Para a tabeliã, a decisão do CNJ é um retrocesso. “As
uniões poliafetivas já são uma realidade social, se
descortinando como um novo formato de família. Ademais,
esse novo formato familiar converge perfeitamente com as
decisões do Supremo Tribunal Federal exaradas na ADI nº
4.277, na ADPF nº 132, e, por fim, com o brilhante voto do
Ministro Luís Roberto Barroso, no RE nº 878.694-MG,
onde o mesmo preconiza:

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‘Logo, se o Estado tem como principal meta a
promoção de uma vida digna a todos os indivíduos, e
se, para isso, depende da participação da família na
formação de seus membros, é lógico concluir que
existe um dever estatal de proteger não apenas as
famílias constituídas pelo casamento, mas qualquer
entidade familiar que seja apta a contribuir para o
desenvolvimento de seus integrantes, pelo amor, pelo
afeto e pela vontade de viver junto’”, destaca.

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"O 15º Ofício de Notas do Rio, na Barra, oficializou, na
última terça-feira, a primeira união entre três mulheres no
Brasil. As chamadas relações poliafetivas viraram um dos
assuntos do momento, inspirando, inclusive, a série
documental do GNT “Amores Livres”, de João Jardim,
diretor de “Lixo extraordinário”, indicado ao Oscar.

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O relacionamento que foi reconhecido em cartório envolve
uma empresária, de 32 anos, uma dentista, também de 32,
e uma gerente administrativa, de 34. Elas constituíram
uma união que inclui testamentos de bens e vitais
(caso uma das mulheres esteja à beira da morte, ligada
a aparelhos, por exemplo, apenas as outras duas
podem decidir o que fazer).

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Foram apenas três semanas entre a decisão de formalizar
a união, assistida pela advogada Marta Mendonça, e a
assinatura dos papéis. A ideia surgiu após a
empresária ter resolvido que vai engravidar em 2016.
Na certidão do nascimento do bebê, ela quer os
sobrenomes das três. E elas estão dispostas a brigar
na Justiça para que esse desejo vire realidade.

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Somos uma família. Nossa união é fruto de amor. Vou
engravidar, e estamos nos preparando para isso,
inclusive, financeiramente. A legalização é uma forma
de a criança e de nós mesmas não ficarmos
desamparadas. Queremos usufruir os direitos de
todos, como a licença-maternidade — diz a
empresária.O trio, que não mudou os sobrenomes, mora
em um apartamento de três quartos — mas todas dormem
na mesma cama. O sexo pode acontecer a três ou entre as
duas que estiverem mais dispostas na hora. Ciúme? Só no
início da relação. Hoje, garantem não ter mais.
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No que se acredita ser a primeira decisão no Canadá, um
tribunal da província de Newfoundland and Labrador -
Terra Nova e Labrador - reconheceu três adultos como os
pais legais de uma criança nascida dentro de sua família
poliamorosa, segundo informações do jornal “The Star”. A
família recorreu à Justiça depois que a província disse que
apenas dois pais poderiam ser listados na certidão de
nascimento da criança, filha biológica de terceiro
desconhecido que não integra o relacionamento poliafetivo.

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Relações poliamorosas são legais no Canadá. O juiz
Robert Fowler, da divisão familiar da Suprema Corte de
Newfoundland and Labrador, divulgou a decisão
dizendo que a família inclui dois homens em um
relacionamento com a mãe de uma criança nascida em
2017.“A sociedade está mudando continuamente e as
estruturas familiares estão mudando junto com ela”,
diz a decisão de Fowler. "Isso deve ser reconhecido
como uma realidade e não como um prejuízo para os
melhores interesses da criança."
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