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● Pluralista: art 266 da CF, leis complementares e tribunais. Para constituir uma
família não há um rol taxativo. O rol do art. 266 é entendido como exemplificativo;
Muito se fala da tábua axiológica da CF88, que é um conjunto de valores que a CF trouxe.
● Princípio que vai impedir que qualquer pessoa natural ou jurídica que venha intervir
no que a família está fazendo no seu recesso íntimo.
● A solidariedade vai estabelecer uma série de deveres jurídicos de uns em relação aos
outros. De uma forma geral a CF 88 determina uma tutela qualitativa e quantitativa
diferenciada para alguma pessoa que tenha alguma forma de vulnerabilidade.
Princípio da monogamia
● Ao entender como um princípio (porque existe uma linha permeando o ordenamento
jurídico nesse sentido), todas as relações, além da monogamia, não receberão tutela
jurisdicional. Entendendo que não se trata (mais) de um princípio, essas uniões
poderão ser tuteladas.
● A professora Tânia da Silva Pereira afirma que tal princípio se prende ao instituto do
parens patriae, que foi utilizado na Inglaterra para proteger aqueles que não podiam
faze-lo por conta própria. Embora fora utilizado para a guarda de pessoas incapazes e
de suas propriedades, essa responsabilidade foi pensada e definida como a
autoridade herdada pelo Estado para atuar como guardião de um indivíduo que tem
uma limitação jurídica.
Princípio da afetividade
● Marca do direito de família contemporâneo.
CASAMENTO
Resumo doutrina Tepedino (2020)
NOÇÕES GERAIS
O Código Civil de 1916 refletiu a visão matrimonializada e patriarcal da família, a qual só se
constituía oficialmente pelo matrimônio. Tal perspectiva só foi rompida com o advento da
Constituição Federal de 1988, que contemplou expressamente outras formas de constituição
da família, a partir de uma visão mais inclusiva.
Natureza jurídica
O casamento pode ser concebido:
I. Como ato ou negócio jurídico, já que pressupõe a prévia reflexão de quem o contrai
para a regulamentação de seus interesses, daí decorrendo imediatamente uma série
de efeitos que lhe são próprios - dada a certeza e a segurança que oferecem os atos
solenes.
↳ Os efeitos jurídicos decorrem do ato solene consubstanciado pelo casamento, cujo
substrato axiológico se vincula ao estado civil e à segurança que as relações sociais
reclamam.
↳ Sob tal perspectiva, o casamento confere aos cônjuges o estado civil de casados,
fator de identificação na sociedade, atraindo os efeitos próprios deste status,
qualidade jurídica que, à evidência, não pode ser atribuída a ninguém que não seja
casado;
II. Como entidade familiar, assim compreendida a relação estabelecida com a sua
celebração, de modo a produzir os efeitos jurídicos próprios da família, não
diferenciando o constituinte, para efeito de proteção do Estado, a entidade familiar
constituída pelo casamento daquela formada pela conduta espontânea e continuada
dos companheiros, não fundada no matrimônio.
★ Casamento: ato jurídico solene, público e complexo, reconhecido pelo Estado, por
meio do qual duas pessoas constituem família, manifestando livremente a sua
vontade.
CAPACIDADE
A lei estabeleceu regras próprias sobre a capacidade para casar, não se submetendo, simples
e integralmente, ao regime das incapacidades previsto nos arts. 3º e 4º do Código Civil.
O art. 1.517 do Código Civil fixa a idade núbil aos 16 anos, desde que haja autorização de
ambos os pais ou representantes legais, quando um ou ambos os nubentes ainda não tiverem
alcançado os 18 anos.
⇒ No caso de divergência entre os pais, a questão deve ser submetida à decisão judicial, vez
que a autorização para o casamento é ato adstrito ao exercício da autoridade parental e não
ao regime de guarda, de modo que o estado civil dos pais em nada influencia na concessão da
autorização. Apenas o genitor que perdeu o poder familiar está dispensado de manifestar sua
decisão.
⇒ A autorização poderá ser revogada pelos pais ou tutores até o momento da celebração do
casamento. A revogação deve ser baseada em motivo razoável; caso contrário, poderá ser
suprida pelo juiz.
IMPEDIMENTOS
Não podem casar (art. 1.521 do CC):
II. Os afins em linha reta: também não podem se casar sogros com noras ou genros, bem
como padrastos, madrastas com seus enteados. Por se tratar de situação que se
assemelha à "ordem familiar biológica”, tais uniões não são aceitáveis moralmente.
III. O adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do
adotante. Pela mesma razão, o adotante não pode casar com sua madrasta ou
padrasto, independentemente de o parentesco ser biológico ou civil.
IV. Os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive.
V. O adotado com o filho do adotante. A lei civil proíbe o casamento entre irmãos
adotivos, confirmando que o parentesco civil também gera impedimento para o
casamento.
OBS.: Os impedimentos são aplicáveis à união estável, por força do art. 1.723, §1º do Código
Civil, exceto o que se refere à pessoa casada, se ela estiver separada de fato ou for separada
judicialmente.
CAUSAS SUSPENSIVAS
São situações que desaconselham - mas não impedem - a realização do casamento, não
abalando a validade do ato, mas impondo o regime da separação de bens (CC, art. 1.641).
Não devem se casar:
I. O viúvo ou viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário
dos bens do casal e der partilha aos herdeiros, de modo a evitar que os bens se
misturem com os do novo casamento.
II. A viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até
dez meses depois do começo da viuvez ou dissolução da sociedade conjugal. Isso
porque, caso a mulher esteja grávida, não haverá dúvidas quanto à paternidade (com
o advento do DNA não faz sentido essa disposição).
III. O divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens
do casal. Mesma finalidade de evitar confusão entre os bens.
⇒ Os nubentes podem solicitar ao juiz a não aplicação das causas suspensivas (CC, art.
1.523, parágrafo único).
Habilitação
Consiste na apresentação de documentos a fim de se fazer uma primeira investigação sobre a
existência de parentesco entre os nubentes.
O requerimento de habilitação para o casamento será firmado por ambos os nubentes - como
primeira manifestação de vontade de se unirem - e deve ser instruído com os seguintes
documentos: (i) certidão de nascimento ou documento equivalente a fim de se comprovar
idade núbil; (ii) autorização por escrito das pessoas sob cuja dependência legal estiverem, ou
ato judicial que a supra; (iii) declaração de duas testemunhas maiores, parentes ou não, que
atestem conhecê-los e afirmem não existir impedimento que os iniba de casar; (iv)
declaração do estado civil, do domicílio e da residência atual dos contraentes e de seus pais,
se forem conhecidos; (v) certidão de óbito do cônjuge falecido, de sentença declaratória de
nulidade ou de anulação de casamento, transitada em julgado, ou do registro da sentença de
divórcio.
Proclamas
Se a documentação estiver em conformidade com as exigências legais, a fase seguinte
consistirá em dar publicidade à vontade dos nubentes.
O oficial extrairá o edital, que será afixado nas circunscrições territoriais do Registro Civil de
ambos os nubentes - em local ostensivo do cartório, além de se publicar na imprensa local, se
houver.
Celebração do casamento
A solenidade deverá ser realizada na sede do cartório, com portas abertas, presentes no
mínimo duas testemunhas de modo a atribuir ao ato toda a publicidade possível.
Se for a vontade dos nubentes e desde que autorizado pela autoridade celebrante, a
cerimônia poderá ocorrer em outro edifício público ou particular (as portas deverão
permanecer abertas para possibilitar o acesso para a oposição de impedimentos ou causas
suspensivas e deverão estar presentes quatro testemunhas).
⇒ O termo ou assento do casamento religioso deverá ser subscrito pela autoridade religiosa
celebrante, nubente e duas testemunhas.
OBS.: O mandato pode ser revogado, desde que o seja antes da celebração do casamento,
também por meio de instrumento público.
↳ O ideal é que a revogação chegue ao conhecimento do mandatário antes da celebração das
núpcias pois, uma vez celebrado o casamento sem que o mandatário ou o outro contraente
tivessem ciência da revogação, responderá o mandante por perdas e danos.
Casamento nuncupativo
É aquele realizado quando um dos cônjuges está em iminente risco de morte. Por isso,
dispensa-se grande parte das formalidades, em prol da eficácia da vontade desse cônjuge de
se casar e resguardando-se seus efeitos sucessórios.
⇒ Caso não se obtenha a presença da autoridade celebrante e nem do seu substituto para
presidir o ato, o casamento poderá ser celebrado apenas na presença de seis testemunhas,
que com os nubentes não tenham parentesco em linha reta ou na colateral, até segundo grau
(art. 1.540, CC).
Casamento homoafetivo
As autoridades competentes não podem se recusar à habilitação do casamento civil ou de
conversão de união estável em casamento homoafetivo.
PROVAS DO CASAMENTO
O casamento se prova pela certidão de registro. Caso o cônjuge justifique sua falta ou perda,
o casamento pode ser demonstrado por meio de outra espécie de prova (art. 1.543, CC).
“O registro não é meramente declaratório, pois integra o núcleo do suporte fático do
casamento, tendo natureza constitutiva”.
INVALIDADES DO CASAMENTO
Ressalta-se que casamento de pessoa com deficiência não é inválido. Intensifica-se o respeito
à dignidade do deficiente mais como liberdade do que como vulnerabilidade. Por isso,
independentemente da pessoa estar ou não sob curatela, ela deve poder exercer suas
liberdades existenciais na maior medida possível.
Nesse sentido, o art. 85 do EPD determinou que a curatela deve se restringir apenas aos
aspectos negociais e patrimoniais.
O art. 1.550, §2º do CC afirma que a pessoa com deficiência mental ou intelectual em idade
núbil poderá contrair matrimônio, expressando sua vontade diretamente ou por meio de seu
responsável ou curador.
Casamento inexistente
O exame dos fatos jurídicos deve ser feito em dois planos: primeiramente, verifica-se se
existem elementos para sua existência (plano da existência) e, posteriormente, se ele passa a
produzir efeitos (plano da eficácia). A declaração deve ser válida (plano da validade).
Casamento nulo
O negócio jurídico é nulo ou anulável em decorrência de vício em algum dos requisitos de
validade, ou seja, nas características exigidas pela lei em relação aos elementos essenciais do
negócio.
↳ Exige-se que:
- a vontade manifestada resulte de processo volitivo manifestado com plena
consciência da realidade, de forma livre;
- o objeto seja lícito, possível, determinado ou determinável;
- forma prescrita ou não defesa em lei.
O casamento nulo contém vício considerado excessivamente grave pela ordem jurídica.
Atualmente, a única previsão expressa de nulidade é a infração a impedimentos. A leis os
considera atentatórios à ordem pública interna, impossibilitando a produção de efeitos do
casamento.
OBS.: O casamento nulo pode assim permanecer durante toda a vida dos cônjuges, desde
que não seja proposta ação própria de nulidade. Qualquer pessoa interessada e o Ministério
Público são partes legítimas para ajuizar a ação com vistas ao pronunciamento sobre a
nulidade do casamento, não sendo possível ao juiz declará-la de ofício.
Casamento anulável
O casamento será anulável quando ocorrerem vícios menos graves, motivadores da
invalidade do vínculo, basicamente de origem privada, estando o pedido de anulação adstrito
à vontade das partes.
As hipóteses são:
● Vício de vontade: erro essencial quanto à pessoa do outro cônjuge ou coação. O erro
essencial se refere às qualidades essenciais da pessoa, ou seja, suas características
morais, intelectuais, espirituais, físicas, socioprofissionais, que a distinguem das
outras pessoas.
Para que haja a configuração do erro essencial, é necessário que:
- o fato ignorado já exista no momento do casamento;
- o conhecimento da circunstância ocorra depois das núpcias;
- que essa descoberta torne insuportável a vida em comum.
Adoção do patronímico
Há a possibilidade de ambos os cônjuges adotarem o patronímico do outro, opção a ser feita
durante o procedimento de habilitação para o casamento.
Dever de fidelidade
Trata-se de regra decorrente do princípio da monogamia, que tem sido objeto de grande
debate sobre sua coercitividade e sua natureza de valor ou princípio jurídico.
Coabitação
Vida em comum no domicílio conjugal (art. 1.566, I, CC). Contudo, o fato de morarem na
mesma casa ou não e de como será o seu arranjo sexual está fora da esfera de legislação do
Estado, compondo a esfera íntima das liberdades existenciais de cada um.
Mútua assistência
Trata-se do fundamento de fixação de alimentos entre cônjuges no caso de divórcio. Além
disso, é dever de pais de filhos menores o sustento, guarda e educação dos filhos.
REGIME DE BENS
Resumo doutrina Tepedino (2020)
O regime de bens inicia sua vigência a partir da constituição da família - com a celebração do
casamento ou com o início da união estável - e tem como objeto as relações patrimoniais
entre cônjuges e companheiros, e entre esses e terceiros, estabelecendo os alicerces e os
limites das relações econômicas do casal.
⇒ A disciplina dos regimes de bens subordina-se aos princípios gerais dos contratos.
Agregam-se a tais preceitos três princípios específicos:
a) variedade dos regimes dos bens;
b) liberdade dos pactos antenupciais;
c) mutabilidade do regime contratado no curso do casamento.
PACTO ANTENUPCIAL
Fixação prévia de normas relativas ao regime de bens, não havendo qualquer restrição ao
estabelecimento de regimes híbridos ou atípicos.
⇒ As cláusulas do acordo nupcial não podem contrariar disposições legais (CC, art. 1.655) e,
se o fizerem, serão nulas. Vincula-se a validade do pacto antenupcial à licitude e
possibilidade do seu objeto.
OBS.: Parte da doutrina entende que o pacto antenupcial pode versar sobre matéria
extrapatrimonial, sendo esta a legítima vontade das partes.
↳ O pacto transcende os contornos do contrato, associado à patrimonialidade de seu
conteúdo, tornando-se negócio jurídico com feição híbrida, de natureza patrimonial e
existencial.
★ O Código Civil requer escritura pública do pacto, ou seja, exige-se a forma prevista
em lei sob pena de nulidade. Além disso, o pacto será ineficaz se a ele não se seguir o
casamento (condição suspensiva).
É necessário levar o pacto a registro para que tenha eficácia perante terceiros.
OBS.: Parte da doutrina entende ser necessária a justificativa das razões que levaram aos
cônjuges pleitearem a mudança do regime. A outra parte defende não ser necessária com
base na liberdade conferida pelo Código Civil aos cônjuges para a escolha do regime de bens.
OUTORGA CONJUGAL
Trata-se de limitação à autonomia privada dos cônjuges devido ao risco de que alguns atos,
praticados por apenas um deles, acarretem a diminuição do patrimônio da sociedade
conjugal, ou mesmo do patrimônio particular do outro consorte.
↳ Considera-se que a outorga pode ser conferida antes da celebração do negócio jurídico ou
no mesmo ato; quando posterior, terá a natureza de confirmação ou ratificação,
considerando-se anulável o ato desprovido de autorização conjugal.
Art. 1.647 do CC → rol taxativo de atos que não podem ser praticados sem a autorização do
outro.
II. Casamento dos que dependerem, para casar, de suprimento judicial. Tendo
em vista que o patrimônio pode ser a fonte de prejuízo para o adolescente que
se casa, a lei determina que se imponha o regime da separação de bens, de
modo a se evitar qualquer risco patrimonial para o menor.
III. Casamento contraído quando pelo menos um dos nubentes é maior de 70
anos. Crítica doutrinária devido à interdição compulsória dos maiores de 70
anos, como se eles não tivessem capacidade para escolher os rumos
patrimoniais de sua relação amorosa.
⇒ Trata-se do regime legal para o casamento (CC, art. 1.640), estendido por empréstimo
legal à união estável (CC, art. 1.725).
A regra geral desse regime é a que estabelece a comunhão dos aquestos - ou seja, dos bens
adquiridos onerosamente na constância do casamento - ou por fato eventual, criando a
presunção absoluta de esforço comum entre os cônjuges.
↳ O esforço pode ser direto ou indireto, ou seja, com a colaboração econômica para aquisição
do bem ou com o suporte doméstico e familiar para que o outro tenha condições de se
dedicar à carreira e prosperar profissionalmente.
Exceções à comunhão
Art. 1.659 do CC - hipóteses de afastamento desse comando genérico, de modo que todos os
bens adquiridos durante o casamento fazem parte da massa patrimonial comum.
Não se comunicam:
I. Os bens que cada cônjuge possuir ao casar e os que lhe sobrevierem na constância do
casamento por doação ou sucessão, bem como os sub-rogados em seu lugar.
↪ Assim, bens anteriores ao casamento e os adquiridos durante o matrimônio a título
gratuito não se comunicam. Também mantêm a característica de particulares os bens
que forem sub-rogados (substituídos pelo produto da venda/permuta dos bens
incomunicáveis).
IV. Os bens particulares, que são as obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo se se
reverterem em proveito do casal. Isso porque a responsabilidade pelo ato ilícito deve
se limitar à pessoa que o cometeu (unuscuique sua culpa nocet).
VI. Os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge, ou seja, o valor utilizado para a
sobrevivência daquele que laborou. Superado tal valor, a quantia remanescente
dirigida a investimentos da família transforma-se em bens adquiridos onerosamente
na constância do casamento, perdendo sua característica original.
II. Bens adquiridos por meio de fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou
despesa anterior. Presunção absoluta de esforço comum como pressuposto para
partilha dos bens, uma vez que o fato eventual não necessariamente pressupõe
cooperação recíproca para que pudesse haver acréscimo patrimonial.
III. Bens adquiridos gratuitamente - por meio de doação, herança ou legado - desde que
em favor de ambos os cônjuges. Não é possível presumir que o ato gratuito se estenda
ao outro cônjuge, se não houver declaração expressa nesse sentido.
V. Os frutos dos bens comuns ou dos particulares de cada cônjuge, percebidos durante o
casamento ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão.
OBS.: Também se presumem adquiridos na constância do casamento os bens móveis.
Trata-se de presunção relativa, uma vez que é possível excluí-los da comunhão, caso se
demonstre ter sido adquirido em data anterior ao matrimônio.
Além disso, no momento da aquisição de novos bens, eles passam a integrar o patrimônio
comum independentemente de esforço recíproco para a comunicação dos bens. Esse estado
de propriedade comum sobre todo o patrimônio (chamada de mancomunhão) persiste até
que haja sentença de partilha.
III. As dívidas anteriores ao casamento, exceto se tiverem origem nas despesas com os
aprestos ou se reverterem em proveito comum.
IV. As doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ou ao outro com cláusula de
incomunicabilidade. A doação pura e simples de um cônjuge ao outro no regime da
comunhão universal de bens é ineficaz, já que praticamente todos os bens são
comuns.
V. Os bens referidos nos incisos V a VII do art. 1659, dos quais também se excluem no
regime da comunhão parcial. Trata-se da incomunicabilidade dos proventos,
pensões, meios-soldos e montepios, que não se comunicam enquanto significar o
custeio da sobrevivência, mas que sendo usados para aquisição de bens durante o
casamento, comunicam-se.
OBS.: A responsabilidade de um dos cônjuges para com os credores do outro cessa com a
extinção da comunhão e com a divisão do ativo e do passivo, ou seja, com o trânsito em
julgado da decisão que decreta a partilha de bens (CC, art. 1.671).
Participação final nos aquestos
Elaborado com o objetivo de harmonizar o reconhecimento do esforço comum dos cônjuges
e a liberdade individual na gestão dos próprios bens, afirma-se em doutrina que se trata de
regime híbrido, por associar à administração típica do regime da separação total a
comunicação do saldo dos aquestos efetuados durante a vigência da sociedade conjugal.
⇒ A ideia central do regime é conferir aos cônjuges a livre administração de seus bens,
garantindo-se, por outro lado, na hipótese de extinção do vínculo conjugal, a participação de
cada um deles sobre o patrimônio residual.
PARTILHA DE BENS
Pode ser realizada judicial ou extrajudicialmente (nesse caso, sendo desnecessária a
homologação judicial), desde que seja consensual, não haja filhos menores ou incapazes e
que seja acompanhada por advogado.
A partilha pode ocorrer junto com o divórcio ou posteriormente à sua decretação, vez que os
cônjuges podem continuar com a mancomunhão se entenderem que se trata de um bom
negócio para ambos ou se não tiverem chegado a um acordo sobre a divisão dos bens.
OBS.: Caso um dos ex-cônjuges se case antes da solução da partilha, cabe lembrar que lhe
será imposto o regime da separação obrigatória (CC, art. 1.641, I), vez que casamento com
essa pendência configura causa suspensiva do casamento, que só não será imposta se
demonstrada a ausência de prejuízo.
Divórcio extrajudicial
Os requisitos para que seja obtido o divórcio por meio de escritura pública são:
a) Ser consensual;
b) Não haver nascituro ou ter filhos menores ou incapazes;
c) Todos estarem representados por advogado.
OBS.: Apenas os cônjuges são partes legítimas para propor ação de divórcio → natureza
personalíssima.
Exceção - pessoa incapaz.
SEPARAÇÃO
A separação põe fim apenas à sociedade conjugal e não ao vínculo matrimonial, como faz o
divórcio.
Por isso, a propositura de ação de separação judicial litigiosa poderia ensejar pleito
reconvencional de divórcio que engloba o pedido de simples cessação da sociedade conjugal
(art. 1.576, CC).
Separação de fato
Trata-se de situação de fato geradora de eficácia jurídica, na medida em que demonstra a
vontade dos cônjuges de não mais viverem juntos de modo a expressar, portanto, a liberdade
de desconstituição da comunhão plena de vida.
Gera efeitos em relação ao fim dos deveres do casamento e atua como marco final do regime
de bens.
UNIÃO ESTÁVEL
Resumo doutrina Tepedino (2020)
⇒ A partir dos anos 30 e consolidadas nos anos 60, estabeleceu-se decisões que entendiam
que os bens adquiridos na constância do concubinato deveriam ser partilhados, desde que
demonstrado o esforço direto ou mesmo indireto do outro concubino, assegurando-se, por
outro lado, indenização judicial a título de serviços prestados, nas hipóteses em que se não
conseguia demonstrar o concurso do esforço comum necessário à repartição dos bens.
OBS.: Pessoas separadas de fato também podem conviver em união estável (art. 1.723, CC).
Trata-se da valorização da comunhão de vida, do relacionamento que de fato existe em
detrimento daquele que só permanece nos arquivos cartoriais.
OBS.: As causas suspensivas (art. 1.523, CC) também não impedem a caracterização da
união estável.
OBS.: A procriação não é mais elemento essencial para se configurar a entidade familiar. A
coabitação também não é requisito indispensável da união estável, porém, quando presente,
se traduz em forte indício da presença de união estável, já que, geralmente, compartilham
projeto familiar comum e exteriorizam componentes que indicam a presença da mútua
assistência e corresponsabilidade que ultrapassam o simples namoro.
EFEITOS PESSOAIS
Uso do patronímico
O art. 57, §2º, da Lei 6.015/1973 autoriza a companheira a requerer ao juiz competente,
mediante motivo ponderável, que seja averbado o patronímico do seu companheiro no
registro de nascimento, sem prejuízo dos próprios apelidos de família, se houver
impedimento legal para o casamento, decorrente do estado civil de qualquer das partes ou de
ambos.
EFEITOS PATRIMONIAIS
O pacto de convivência desempenha papel relevante no momento da dissolução da união
estável, na medida em que facilita a partilha de bens.
Pode ser alterado a qualquer tempo, inclusive para modificar o regime de bens, desde que
não haja prejuízo para terceiros → não se exige autorização judicial.
Exige-se apenas que o pacto tenha forma escrita.
Contrato de namoro → pactos por meio dos quais casais de namorados passaram a
estabelecer convencionalmente a ausência de comprometimento recíproco e a
incomunicabilidade de seus respectivos patrimônios, em busca de segurança jurídica.
OBS.: Esse tipo de contratação não terá o condão de afastar a comunicação de bens
efetivamente adquiridos com esforço comum, sob pena de permitir o enriquecimento sem
causa.
RELAÇÕES DE PARENTESCO
Resumo doutrina Tepedino (2020)
Parentesco é o liame jurídico entre pessoas do mesmo tronco ancestral ou estabelecido pela
lei ou por decisão judicial, que vincula pessoas de uma mesma família e gera uma série de
efeitos jurídicos.
Linha: série de pessoas advindas do mesmo tronco ancestral. Cada geração forma um grau,
sendo definido como a distância entre gerações. A sequência de graus forma a linha.
⇒ A contagem dos graus de parentesco é feita de forma diferente, existe um passo a passo.
FILIAÇÃO
Resumo doutrina Tepedino (2020)
Parentesco: vínculo jurídico estabelecido entre pessoas pela consanguinidade ou por outra
origem, daí decorrendo o parentesco consanguíneo e o parentesco civil.
➔ Parentesco consanguíneo: quando duas ou mais pessoas se originam de um ancestral
em comum;
➔ Parentesco civil: quando o vínculo é estabelecido não por laços de sangue, mas por
ato jurídico voluntário, como adoção ou estabelecimento de vínculos de
socioafetividade.
Filiação: vínculo de parentesco que se estabelece entre pais e filhos, sendo designada, do
ponto de vista dos pais, como uma relação de paternidade e maternidade.
Código de 1916
A filiação no Código Civil de 1916 classificava-se da seguinte forma:
❖ Biológica
● Legítima: se concebida na constância do casamento;
● Ilegítima: proveniente de relação extraconjugal, que pode ser:
➢ Natural (advinda de relação extramatrimonial entre pessoas que não
tenham impedimento legal para o casamento);
➢ Espúria (advinda de relação extramatrimonial entre pessoas com
impedimento legal para o casamento)
- Adulterina: proveniente de relação adulterina, materna ou
paterna, vale dizer, filhos de leito extramatrimonial de pessoa
casada;
- Incestuosa: proveniente de relação sexual entre parentes
próximos.
❖ Civil (adotiva)
Filiação presumida
A paternidade decorrente de relação matrimonial se prova pela simples demonstração do
estado de casado. Prevalece a presunção de paternidade do marido: pater is est quem justae
nuptiae demonstrant.
Nas relações extraconjugais, entretanto, há que se reconhecer o estado de filho, não sendo
consentido o estabelecimento de presunção própria da relação matrimonial. É, pois, o
reconhecimento o ato de declaração, voluntária ou judicial, da filiação extramatrimonial.
De forma geral, quanto ao parentesco presumido, a regra é de que o pai do filho havido
durante o casamento é o marido da esposa grávida. Assim, presumem-se havidos na
constância do casamento os filhos nascidos pelo menos 180 dias depois de estabelecida a
convivência conjugal e os nascidos nos 300 dias posteriores à dissolução da sociedade
conjugal.
OBS.: Por isso que não se devem casar a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por
nulidade ou anulabilidade, até 10 meses depois do começo da viuvez ou da dissolução da
sociedade conjugal, a fim de se evitar dúvida quanto à paternidade, caso haja gravidez (causa
suspensiva de casamento).
Filiação biológica
A máxima certeza resultante das ações de investigação de paternidade foi alcançada por meio
do exame de DNA.
Presunção e recusa em se submeter ao exame de DNA: a jurisprudência, tendencialmente,
tem negado o constrangimento físico do réu, servindo a recusa como presunção que milita
em favor do suposto filho, do vínculo de paternidade, a ser examinada pelo magistrado no
conjunto probatório.
Filiação socioafetiva
Novo modelo de parentesco, fundado no exercício fático da autoridade parental, que passou
a ser valorado juridicamente.
O art. 1.593 do CC criou uma cláusula geral de parentesco, que, atualmente, remete ao
parentesco socioafetivo, advindo da posse de estado.
OBS.: Parentesco socioafetivo estabelece vínculo de filiação → criação reflexa das linhas e
graus de parentesco → geração de efeitos pessoais e patrimoniais.
O que realmente cria o liame civil entre pais e filhos não é a mera expressão de sentimento de
amor ou afeto por si só, mas o exercício da autoridade parental, ou seja, a real e efetiva
prática das condutas necessárias para criar, sustentar e educar os filhos menores, com o
escopo de edificar sua personalidade, independente de vínculos consanguíneos que geram
essa obrigação.
OBS.: Parentesco é tipo de relação jurídica IRREVOGÁVEL. Uma vez estabelecido não pode
ser desfeito, exceto nos casos de adoção em que os vínculos com a família biológica se
rompem em prol da família adotiva, criando-se novos vínculos de socioafetividade.
MULTIPARENTALIDADE
Advém da formação de parentescos simultâneos, independentemente da origem - realidade
da pessoa que vivencia o exercício fático da autoridade parental por mais de um pai e/ou
mais de uma mãe.
ADOÇÃO
Resumo doutrina Tepedino (2020)
Código de 1916
Estabelecia ruptura pouco profunda com a família natural, insuscetível de estabelecer
vínculo de parentesco entre o adotando e os parentes do adotante, sendo constituída a partir
de ato jurídico consensual, e podendo-se desfazer, como consectário lógico e jurídico, por ato
extintivo da mesma natureza.
ADOÇÃO: ato complexo, consensual na sua origem e solene no seu aspecto formal.
↳ Consensual - se origina da vontade do adotante e é requisito de sua validade o
consentimento dos pais ou responsável;
↳ Solene - não se perfaz sem a participação do Estado através de provimento judicial.
PRINCÍPIOS APLICÁVEIS
REQUISITOS
Quem pode adotar:
● Maiores de 18 anos, devendo existir uma diferença de 16 anos entre o adotante e o
adotado;
● Independe-se do estado civil, de modo que é possível adoção por uma única pessoa,
constituindo uma família monoparental;
● Tratando-se de adoção conjunta, é requisito objetivo que as pessoas sejam casadas ou
que vivam em união estável (não é possível dois amigos adotarem conjuntamente);
● Comprovação de estabilidade da família.
OBS.: Veda a lei a adoção por ascendentes ou por irmãos do adotando, justificando-se o
impedimento na possível confusão na genealogia do adotando.
ESPÉCIES
Adoção unilateral
Há o rompimento do vínculo em relação a apenas um dos pais biológicos, mantendo o
adotando o vínculo com o(a) outro(a) genitor(a).
Quando constar somente o nome de um dos pais no registro de nascimento, deve haver a
concordância do pai ou da mãe que consta no registro.
Já nas hipóteses em que constar também o nome do outro pai ou mãe, será necessária a
destituição do poder familiar do genitor que irá perder o vínculo com o adotando.
Crítica: implica exceção à regra do art. 50 do ECA, que estabelece o respeito à ordem
cronológica no Cadastro Nacional de Adoção para o recebimento de crianças.
Para este tipo de adoção, os requisitos são os mesmos para a declaração de parentalidade
socioafetiva:
a) Comprovação de inequívoca vontade do de cujus em adotar;
b) Tratamento do adotando como se filho fosse;
c) Conhecimento público desse tratamento.
STJ: “a exigência do processo instaurado, a que alude o art. 42, §6º do ECA, pode ser
substituída por prova cabal que evidencie o propósito de adotar a criança, que só não se
concretizou por fato alheio”.
STJ: “estabelecida uma relação jurídica paterno-filial (vínculo afetivo), a adoção de pessoa
maior não pode ser refutada sem justa causa pelo pai biológico, em especial quando existente
manifestação livre de vontade de quem pretende adotar e de quem pode ser adotado”.
Adoção internacional
Ocorre quando a pessoa ou o casal postulante é residente ou domiciliado fora do Brasil;
também nesse caso, brasileiros têm prioridade em relação aos estrangeiros, em face da
identidade de cultura, língua, etc.
Essa modalidade de adoção só será cabível quando, após consulta ao Cadastro Nacional de
Adotantes, não for encontrado interessado na adoção daquela criança ou adolescente com
domicílio no Brasil (art. 50, §10, ECA).
Procedimento
No procedimento, a pessoa ou casal estrangeiro interessado em adotar o menor brasileiro
deverá formular pedido de habilitação à adoção perante a Autoridade Central em matéria de
adoção internacional no país de acolhida (onde está situada a sua residência habitual).
Essa instituição será responsável por avaliar se os solicitantes estão habilitados e aptos para
adotar, emitindo relatório com as informações sobre sua identidade, capacidade jurídica,
bem como sua situação pessoal, familiar e médica, seu meio social, motivos ensejadores e
aptidão para assumir uma adoção internacional.
Em seguida, a Autoridade Central do país de acolhida enviará à Autoridade Central Estadual
(copiando a Autoridade Central Federal Brasileira) relatório e toda documentação
necessária.
Constatada pela Autoridade Central Estadual a compatibilidade da legislação estrangeira
com a nacional, e estando preenchidos os requisitos objetivos e subjetivos necessários ao seu
deferimento por parte dos postulantes, será expedido laudo de habilitação à adoção
internacional (validade: 1 ano)
EFEITOS DA ADOÇÃO
A adoção atribui o status de filho ao adotado, inclusive em relação aos direitos sucessórios,
rompendo qualquer vínculo com pais e parentes biológicos, mantidos, contudo, os
impedimentos matrimoniais.
Irradiam-se todos os efeitos jurídicos derivados do estado de filiação, de modo que é
recíproco o direito sucessório entre adotado, seus descendentes, o adotante, seus
ascendentes, descendentes, e colaterais até o 4º grau, observada a ordem de vocação
hereditária, em igualdade, portanto, com o parentesco biológico.
OBS.: A adoção depende de sentença judicial, não sendo mais admitida a adoção por ato
extrajudicial.
OBS.: A adoção é irrevogável, ou seja, depois do trânsito em julgado da decisão que defere a
adoção, ela se torna definitiva e o estado de filiação incorporado definitivamente à
personalidade dos envolvidos.
GUARDA
Anotações de aula Civil VII 2021.1 (Konder)
INTRODUÇÃO
Base legal: arts. 1.583 a 1.590 do CC/2002.
⇒ A guarda é um instituto jurídico por meio do qual se atribui a uma pessoa denominada de
guardiã, um complexo de direitos e deveres a serem exercidos com o objetivo de proteger e
prover as necessidades de desenvolvimento que dele necessite, e colocada sob sua
responsabilidade em virtude de lei ou por decisão judicial.
↪ Traz tanto direitos quanto deveres, podendo ser atribuída por lei ou por decisão judicial,
sempre atentando para as necessidades de desenvolvimento da pessoa que está sob a guarda
do guardião.
A guarda, por lei, é atribuída aos pais, sendo uma decorrência do chamado poder
familiar/parental.
** Por ser uma decorrência do poder familiar, são os filhos menores que ficam sob guarda,
mas aplicam-se as questões relacionadas a guarda e alimentos aos filhos que são maiores,
mas que são incapazes (é possível que uma pessoa depois da maioridade seja declarada
incapaz, e aí vai se ter a situação de guarda aos pais em uma posição de curador, que se
assemelha muito ao instituto da guarda).
OBS.: A guarda não se confunde com o poder familiar, que é o poder dever que os pais têm
em relação a pessoa dos filhos, a guarda é apenas um dos aspectos desse poder familiar.
⇒ A guarda exercida pelos pais advinda da lei vai ter uma questão judicial normalmente
quando a união é dissolvida, sendo discutida com quem a guarda vai ficar ou se vai ser uma
guarda compartilhada.
⇒ Pode ser que a guarda seja atribuída a uma terceira pessoa por decisão judicial, em casos
nos quais os próprios pais dizem ao juiz que eles não possuem, naquele momento, as
condições necessárias para exercer a guarda (isso não significa que eles perderão o poder
familiar), de modo que a guarda normalmente passa para algum dos parentes próximos.
ESPÉCIES DE GUARDA
❖ Guarda unilateral: Essa guarda, hoje, é concedida somente por exceção, sendo a
guarda atribuída somente a uma pessoa, que pode ser um dos pais, mas pode
também ser um terceiro.
↳ O pai que não detém a guarda tem o direito de visitação do filho, que é extensivo
aos avós através de ação de regulamentação de visitas. Quando há litígio, o direito de
visitação vai ser fixado de maneira pormenorizada.
OBS.: O fato de um dos pais não ter a guarda não significa que ele perde o poder
familiar, de forma que as decisões mais fundamentais da vida da criança devem ser
feitas em conjunto por ambos os pais, a guarda está mais relacionada às decisões de
dia a dia (hora de dormir, se pode sair, etc.).
ALIENAÇÃO PARENTAL
Anotações de aula Civil VII 2021.2 (Konder)
CONCEITO E CARACTERÍSTICAS
⇒ Pode ser compreendida como um fenômeno que possui efeitos sociais, psicológicos e
jurídicos, e é praticada, em regra, por um dos pais (podendo também ser praticada por
outros membros da família que tenham qualquer poder de sugestão sobre a criança ou
adolescente, por exemplo, avós, tios, etc.
↳ Se dá pela insistente promoção no imaginário e na memória dos filhos de ideias distorcidas
sobre a moral/da pessoa do outro pai, com o objetivo de semear sentimentos de raiva, de
rejeição.
OBS.: Não se configura alienação parental quando os fatos são verídicos, reais.
PODER FAMILIAR
Anotações aula Civil VII 2021.2 (Konder)
Também chamado de poder parental, ou autoridade parental, mas NUNCA “pátrio poder” -
tal termo vem de patria potestas, que se refere ao poder da figura masculina.
Base legal:
CONCEITO
CARACTERÍSTICAS
⇒ Tal instituto é uma das atribuições do poder familiar, por isso ela poderia ser concedida a
um terceiro quando os pais não se sentirem em condições de exercer, por exemplo. Contudo,
frisou-se que a guarda não se confunde com o poder familiar.
Ex.: Os pais alegam não possuir condições de ficar com a guarda do filho naquele momento e
solicitam que seja concedida à avó materna. Nesse caso eles estão atribuindo um aspecto do
poder familiar que é possível atribuir naquele momento, mas o poder familiar continua com
os pais.
⇒ Início: em suma, há quem defenda que se inicia com a concepção sob justificativa da
possibilidade de requerer alimentos gravídicos, para os que assim não entendem, vai se
iniciar com o nascimento com vida.
O poder familiar é de ambos os pais, não há preponderância da vontade de nenhum dos pais.
Em caso de divergência que os pais tenham em relação aos filhos, o juiz vai decidir.
OBS.: Caso um dos pais faleça, tenha o poder familiar suspenso ou destituído, o outro
exercerá o poder familiar de forma exclusiva.
↳ Pode acontecer de ambos os pais falecerem ou serem suspensos ou destituídos do poder
familiar, os filhos serão submetidos à tutela.
⇒ Fim (extinção): considera-se extinto o poder familiar quando ocorre sua interrupção
definitiva. As hipóteses estão previstas no art. 1.635, CC.
Suspensão do poder familiar x Destituição do poder familiar por decisão
judicial
Suspensão: quando a questão não é grave o suficiente para extinção do poder familiar, mas
causa uma suspensão do mesmo.
Ex.: art. 1.637, CC.
OBS.: Tudo que esteja relacionado à disposição voluntária desses bens (venda,
doação ou instituição de ônus reais [tudo que possa onerar o bem ou que implique
mudança de titularidade]) os pais não podem fazer sem autorização judicial. Eles
precisam requerer um alvará.
ALIMENTOS
Anotação aula Civil VII 2021.2 (Konder)
BASE LEGAL
● Legislação especial:
- Lei nº 5.478/69 (possui alguma aplicação atualmente).
- Lei nº 11.804/08 (lei dos alimentos gravídicos).
- Lei 10.741/03 (estatuto do idoso).
CONCEITO DE ALIMENTOS
⇒ Professor Orlando Gomes: São prestações para a satisfação das necessidades vitais de
quem não pode provê-las por si. Têm por finalidade fornecer a um parente, cônjuge ou
companheiro o necessário à sua subsistência. Quanto ao conteúdo, os alimentos abrangem,
assim, o indispensável ao sustento, vestuário, habitação, assistência médica, instrução e
educação.
↪ Ou seja, aquele que não pode prover por si só o seu sustento, poderá demandar da pessoa
que é considerada devedora prestações para suprir as suas necessidades vitais com
dignidade.
OBS.: Não se trata apenas do que é necessário para sobreviver, vai além disso. Embora a
palavra alimentos carregue consigo a ideia de alimentação, o termo envolve suprimentos
para satisfação intelectual, preservação do padrão de vida (na medida do possível), questões
relacionadas à saúde, habitação, vestuário, lazer, etc.
Requerimento de alimentos
A fixação do valor pode se dar de duas formas: decisão judicial ou acordo assinado pelos
representantes dos pais (advogado ou defensor público). A fixação e o registro são
importantes para facilitar a execução, caso alguém deixe de cumprir com o que foi
estabelecido.
Fixação dos alimentos: em regra, os alimentos normalmente são fixados em pecúnia, ou seja,
em dinheiro. Só excepcionalmente, de maneira justificada, o Poder Judiciário tem permitido
a fixação dos chamados alimentos in natura.
- Alimentos in natura: possibilidade de pagar alguma coisa, por exemplo, ao invés de
pensionar com 20% dos ganhos líquidos, a pessoa se responsabiliza por pagar a
escola, pagar as comprar de supermercado, pagar o plano de saúde, etc.
Por regra, os alimentos in natura não são concedidos porque se considera que há uma
ingerência muito grande na vida do credor de alimentos. Se considera que o valor deve ser
prestado e o credor (ou seu representante ou assistente) o administra.
Binômio necessidade-possibilidade
Diz respeito à necessidade de quem requer os alimentos e a possibilidade financeira do
devedor. A ideia é não deixar o credor em desamparo, mas não levar o devedor à linha de
miserabilidade.
OBS.: As normas do direito de alimentos são de ordem pública, ou seja, normas que não
podem ser afastadas pela vontade das partes.
● Dever de sustento: advém do poder parental, é uma das funções desse poder. É um
dever que os pais têm em relação aos filhos. São os deveres que competem aos pais no
sentido de cuidar integralmente dos filhos, nos aspectos materiais, que vão
influenciar nos aspectos existenciais.
↳ EFEITO JURÍDICO: O dever de sustento gera uma presunção de necessidade.
Então, os filhos menores de idade têm presunção de necessidade de alimentos. Os
pais têm dever de sustento em relação aos filhos menores de idade, portanto quando
é necessário propor uma ação de alimentos para um credor que é menor de idade,
não é necessário discutir se esse credor menor de idade tem ou não necessidade de
alimentos, porque a necessidade já é presumida.
● Obrigação alimentar: vai incidir nas hipóteses em que parentes requerem alimentos
entre si, ou pedido entre ex-cônjuges/companheiros ou em casos em que os filhos
completam a maioridade civil (saem da esfera do dever de sustento), mas por
algumas razões precisam receber um valor a título de pensão alimentícia.
↳ EFEITO JURÍDICO: será justamente o contrário do dever de sustento, é a ausência
de presunção de necessidade. Ou seja, todos os sujeitos mencionados acima
precisarão provar cabalmente a necessidade (e depois a quantidade).
OBS.: Ao completar 18 anos, cessa o dever de sustento dos pais em relação aos filhos.
● Personalíssimos: muito importante para saber quem pode ser considerado sujeito
credor (alimentando, alimentário). O direito a alimentos é considerado um direito da
personalidade, se destinam à subsistência do alimentando. É um direito que cabe o
credor exercer se dele necessitar.
↪ Por ser considerado direito da personalidade, isso atrai outras características que
estão descritas no art. 1707, CC.
● Impenhoráveis: não pode ser penhorável para pagamento de nenhum tipo de dívida.
↳ Mas vale destacar que se a pessoa tem um débito de alimentos, tem sido permitido
que o credor, em uma execução de alimentos (quando há fixação do valor pelo juiz
numa ação condenatória ou quando há acordo entre as partes), tenha o FGTS
comprometido para pagamento de pensão. Portanto, se de um lado o direito a
alimentos não é penhorável, por outro lado tem o devedor pode ter o FGTS
penhorado para o pagamento de pensão alimentícia atrasada.
● Indisponível: não se admite contrato de cessão dos direitos a alimentos, seja a título
oneroso ou gratuito.
● Divisível (por regra): cada devedor deve contribuir com a sua parte, na medida da sua
possibilidade. Sendo a ação intentada em face de um, os outros devedores podem ser
chamados a integrar a lide. Porém não há solidariedade, mas sim divisibilidade (por
regra).
↳ EXCEÇÃO: presente no art. 12 da Lei nº 10.741/03 (Estatuto do Idoso) “A
obrigação alimentar é solidária, podendo o idoso optar entre os prestadores.” Nessa
hipótese, há solidariedade passiva, cada devedor é responsável pela totalidade da
dívida. Cabe ao idoso credor propor a ação em face de quem tem a maior
possibilidade de prestar a pensão alimentícia. A ideia é buscar a celeridade do
processo, para evitar discussão do litisconsórcio.
● Irrenunciável: pela lei (art. 1707, CC) não há dúvidas acerca da irrenunciabilidade do
direito a alimentos, contudo não existe doutrina ou jurisprudência majoritária sobre
o tema.
● Transmissível: foi uma modificação que o CC02 trouxe em seu art. 1.700, que
estabeleceu a transmissão causa mortis da obrigação alimentar. Duas perguntas
surgiram na época que o novo código entrou em vigor.
Serão transmitidas as dívidas já vencidas e não pagas do falecido. Não se transmite a
obrigação alimentar.
Quanto à natureza
➢ Naturais: são os alimentos que são fixados para atender a subsistência de quem
requerer os alimentos, têm como função suprir as necessidades de sobrevivência do
credor.
➢ Provisórios: Requisitos para propor ação pela Lei nº 5.478/68: prova pré-constituída
de relação de parentesco (envolvendo pais e filhos ou outros parentes) ou prova de
vínculo familiar (envolvendo companheiros e cônjuges, já que esses não são parentes
entre si, mas integram à família). Havendo uma dessas provas, podemos utilizar o
rito simples da lei em questão para requerer os alimentos provisórios.
⇒ Geralmente são estabelecidos antes de ouvir o réu e vai depender muito das provas
que forem levadas aos autos por parte do credor.
● Parentes:
- Em linha reta: ascendentes e descendentes;
- Em linha colateral: no máximo até o 2º grau (irmãos).
⇒ Prisão civil: a execução que se processa com pedido de prisão civil tem como objeto a
prestação relativa até aos últimos 3 meses que antecedem o ajuizamento da ação ou o
cumprimento de sentença. Portanto, nos dois casos mencionados, pode haver pedido de
prisão civil por dívida.
↳ O juiz vai determinar a intimação pessoal do executado para que, em três dias, ele: pague o
débito, provar que fez o pagamento ou justificar a impossibilidade de efetuar o pagamento.
OBS.: Se a dívida não for paga até o esgotamento do prazo da prisão civil, a execução
automaticamente se transforma em penhora.
TUTELA
Anotação aula Civil VII 2021.2 (Konder)
Fachin: “O tutor ocupa o lugar jurídico deixado pelo vazio da autoridade parental.
Apresenta-se na morte dos pais, na suspensão ou na destituição daquela função. Trata-se de
um sujeito, titular de direitos e deveres, alçado à condição de assistência e representação de
menor que não esteja sob a autoridade dos pais”
⇒ Consiste no poder jurídico atribuído à pessoa diversa dos titulares da autoridade parental,
na falta ou no impedimento destes, para dirigir a educação e o sustento, zelar pela
integridade psicofísica e administrar os bens do menor incapaz.
Função da tutela
A tutela tem uma dupla função que gira em torno de garantir a proteção integral da criança
ou do adolescente:
- Interesses existenciais: tudo que decorra dos direitos da personalidade, ou seja, sua
integridade psicofísica, sua privacidade, direito de imagem, etc.
Não são obrigados por lei a prestar contas O tutor é obrigado a prestar contas ao juiz.
(no sentido mercantil, contábil) ao juiz,
sobre o exercício da parentalidade, da
administração dos bens, aspectos
existenciais etc.
Os pais exercem o poder familiar. O tutor não exerce o poder familiar. Ele
exerce um múnus público estabelecido pelo
judiciário.
ESPÉCIES DE TUTELA
Não são espécies que podem ser escolhidas. São espécies sucessivas que o juiz deve observar.
A seguinte só será observada se não for possível realizar a anterior.
OBS.: Para que a nomeação seja válida, os pais precisam estar no pleno gozo
do poder familiar na época da nomeação e no momento do falecimento (ou
outra hipótese).
2) Tutela legítima: decorre da lei. A lei prevê uma ordem de parentes do menor de idade
que deverão ser nomeados pelo juiz. A lei determina os parentes por presumir uma
maior afetividade e afinidade entre os parentes com grau mais próximo.
● Ascendentes: de grau mais próximo ao mais remoto;
● Colaterais: até o 3º grau; de grau mais próximo ou mais remoto. Se for no
mesmo grau será do mais velho para o mais novo.
OBS.: O STJ entende que esse rol não é inflexível, ele pode ser alterado com
base no melhor interesse da criança.
3) Tutela dativa: quando os pais não deixam um tutor nomeado ou quando não se têm
nenhum parente capaz de exercer a tutela. Colocará um terceiro totalmente estranho
ao menor de idade para dele cuidar e gerenciar os seus bens. O juiz precisa ter um
rigor enorme na nomeação de qualquer tutor, mas nesse caso é necessário mais
cuidado ainda.
⇒ Não confundir as pessoas que são incapazes de exercer tutela com aquelas que podem
apresentar escusas para não a exercer. A incapacidade para exercício da tutela é uma
proibição legal para que a pessoa seja nomeada tutor. Já a escusa é uma justificativa da
pessoa que já foi nomeada para ser tutora pode apresentar para ser dispensada do exercício
da tutela.
➢ Já nas escusas não há impedimento para o exercício da tutela, ela pode (de forma
voluntária) se afastar caso esteja dentro das possibilidades previstas no art. 1736, CC.
Existe prazo para alegação de escusas, já o impedimento para exercício não (a pessoa
sequer poderia ter sido nomeada).
Art. 1.735, CC. Não podem ser tutores e serão exonerados da tutela, caso a exerçam:
I - aqueles que não tiverem a livre administração de seus bens;
Se uma das funções da tutela é administrar os bens do menor de idade, se a pessoa não tem a
livre administração dos seus próprios bens, ela não vai conseguir administrar o bem do
menor de idade.
III - os inimigos do menor, ou de seus pais, ou que tiverem sido por estes expressamente
excluídos da tutela;
Às vezes os pais não deixam a indicação, mas deixam em documento aqueles que jamais
podem ser nomeados.
Dependendo da função pública, essa pessoa não teria condições de acompanhar o dia a dia
do menor de idade, etc.
Já foi objeto da Jornada de Direito Civil da CJF, onde foi defendida a revogação do inciso, já
que tem duvidosa constitucionalidade pela divisão de gênero. Ademais, se for modificado
para “homens e mulheres casados” quase inviabiliza a tutela.
III - aqueles que tiverem sob sua autoridade mais de três filhos;
Alguns autores criticam esse inciso, mas o objetivo dele é tratar dos militares que mudam de
domicílio com muita frequência, o que pode impossibilitar o exercício da tutela.
EXTINÇÃO DA TUTELA
CURATELA
Anotações aula Civil VII 2021.2 (Konder)
Sujeitos
Podem ser curatelados:
Art. 4º, CC. São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer:
Não é porque a pessoa é alcoólatra que pode ser curatelada. O alcoolismo tem que ser tal que,
pelo menos, diminua o discernimento do indivíduo.
Também não basta que a pessoa seja viciada em drogas, é necessário que a pessoa, em razão
do vício, tenha diminuição do discernimento.
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua
vontade;
Inciso muito criticado porque quando temos uma situação de incapacidade relativa, a pessoa
está assistida, ela não está representada (ou seja, ela opina, ela comparece aos atos, ela pode
ter conflito com seu assistente, etc.). Mas esse inciso diz respeito a quem não tem condições
alguma de exprimir a própria vontade, ela não deveria ser considerada relativamente
incapaz, mas sim absolutamente incapaz, mas a Lei nº 13.146 trouxe para o artigo 4º, CC.
IV - os pródigos.
Pródigo é a pessoa que gasta desmedidamente seu patrimônio, sem que ocorra um
discernimento para tal, ela não percebe o que está fazendo.
Questões importantes
BEM DE FAMÍLIA
Anotações aula Civil VII 2021.2 (Konder)
OBS.: Se a pessoa possuir mais de um bem de família para fins de residência, considera-se
para efeito de bem de família o de menor valor.
Súmula 486, STJ. É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja locado a
terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a
moradia da sua família.
Não é pela escritura pública ou pelo testamento que o bem de família voluntário será
considerado constituído, porque não basta isso. É imprescindível o seu registro no registro
de imóvel, é só a partir desse registro que será considerado constituído o bem de família
voluntário.
O bem de família voluntário é indisponível, por isso que muitos não utilizam desse instituto,
assim como muitos não o aceitam.