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Sexualidade & Afetos - Adolescência

A sexualidade é uma combinação do sexo e da orientação sexual das pessoas, dos seus
sentimentos sexuais pelos outros e dos sentimentos sobre si próprias enquanto seres
sexuais. A sexualidade não tem a ver apenas com sexo, mas também com todos os
sentimentos e afetos que a envolvem. Explorar e descobrir a nossa sexualidade pode ser
confuso, excitante, difícil e maravilhoso, tudo ao mesmo tempo.
Descobrir a sexualidade significa descobrir quem somos sexualmente. Podemos
começar a querer ou desejar coisas e pessoas que não queríamos nem desejávamos
antes. Por exemplo, podemos experienciar sensações diferentes no nosso corpo que nos
fazem querer ter experiências de intimidade com outra pessoa.
O facto de termos pensamentos sexuais e sentimentos sexuais por alguém (ambas as
coisas perfeitamente normais, parte de sermos humanos!) não significa necessariamente
que tenhamos que as transformar em atos. Podemos explorar os nossos pensamentos
sexuais através de fantasias, masturbação, escrita, música, dança… A decisão de ter
relações sexuais com alguém é uma decisão importante e complexa, ter sexo significa
mais do que fazer uma coisa apenas porque nos faz sentir bem.
Estas mudanças sexuais são difíceis, mas acontecem a toda a gente. Podem ser um
choque para nós ou podem acontecer de forma muito gradual. Falar com alguém em
quem confiemos (um dos nossos pais, um irmão, um amigo, um professor ou um
Psicólogo, por exemplo) sobre o que se está a passar connosco e o que estamos a sentir,
pode ser muito útil e ajudar neste processo.

O desenvolvimento da nossa sexualidade acontece a ritmos diferentes para cada um de


nós. Por isso é importante explorarmos a sexualidade ao nosso próprio ritmo, sem
deixar que ninguém nos pressione a sentir ou a fazer coisas que ainda não queremos
fazer ou para as quais não nos sentimos preparados.
Descobrir a sexualidade é também descobrir a nossa capacidade de amar
romanticamente. O amor romântico é diferente daquele que sentimos pelos pais, irmãos,
amigos ou animais de estimação. É um sentimento intenso, novo, diferente de todos
estes tipos de amor.

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O Amor

Quando temos oito anos e descobrimos que alguém gosta de nós, podemos ficar um
pouco envergonhados ou não ligar nenhuma. Nessa idade o amor não ocupa a nossa
cabeça. Mas na adolescência, quando o nosso corpo começa a mudar e os nossos
pensamentos mudam também, a ideia de ter um namorado ou namorada pode ser tão
excitante que nem conseguimos pensar noutra coisa.
Muitos adolescentes acham que ter um namorado/a é grande parte de ser adolescente. E
embora seja verdade que as emoções intensas que vivemos durante a adolescência nos
possam levar a sentirmo-nos atraídos por outras pessoas e nos levem a iniciar relações
românticas, isso nem sempre acontece. Se formos um dos milhões de adolescentes que
nunca se apaixonaram ou tiveram um namorado/a não há nada de errado connosco.
Devemos ficar preocupados e arranjar rapidamente um/a namorado/a? Claro que não!
Tudo tem o seu tempo e o mais provável é que, mais tarde ou mais cedo, seja a nossa
vez de encontrar o amor.
O amor é uma emoção humana muito poderosa e têm sido muitos os especialistas que a
tentam estudar. Mas, na verdade, ninguém compreende inteiramente o que é o amor, até
porque o amor é diferente para cada um de nós. O amor tem sido associado a três
qualidades principais:

Atração. Tem a ver com o interesse físico e sexual que duas pessoas sentem uma pela
outra. A atracão é responsável pelo desejo que sentimos de beijar a outra pessoa, por
exemplo, ou pelas “borboletas no estômago” que sentimos quando ela está perto. Mas
não amamos todas as pessoas por quem nos sentimos atraídos!
Proximidade. É o laço que se desenvolve quando partilhamos com alguém sentimentos
e pensamentos que não partilhamos com mais ninguém. Quando nos sentimos próximos
do nosso namorado/a, sentimo-nos apoiados, compreendidos e aceites por sermos quem
somos. A confiança é uma grande parte da proximidade.
Compromisso. É a promessa ou a decisão de nos mantermos próximos da outra pessoa
durante as fases boas e más da relação.
Estas três qualidades podem ser combinadas de forma diferente e resultam em diferentes
tipos de relações. Por exemplo, a atracão sem a proximidade é mais uma paixão –
sentimo-nos fisicamente atraídos por alguém mas não conhecemos suficientemente bem
a pessoa para sentirmos a proximidade que advém da partilha de sentimentos e
experiências pessoais.
No amor romântico combinam-se a atracão e a proximidade. Muitas relações começam
por uma atracão inicial e depois desenvolvem a proximidade. Também é possível uma

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amizade passar da proximidade à atracão, quando dois amigos percebem que se sentem
atraídos um pelo outro e que o interesse mútuo vai para lá da amizade.

Algumas pessoas apaixonam-se no secundário e mantém uma relação de compromisso


durante a idade adulta. Mas na maior parte das vezes, as relações durante a adolescência
são mais curtas. Isto acontece porque a adolescência é uma fase da nossa vida em que
queremos experimentar coisas diferentes e andamos à procura daquilo que realmente
queremos e nos faz sentir mais confortáveis. Um outro motivo é porque queremos
coisas diferentes de uma relação em fases diferentes da nossa vida. Na adolescência,
namorar é muitas vezes uma forma de nos divertirmos, de termos companhia para irmos
a vários sítios. Também pode ser uma forma de sentirmos que pertencemos ao grupo,
sobretudo se a maior parte dos nossos amigos já namoram, podemos sentir-nos
pressionados para arranjar um namorado/a. As revistas, a televisão, os filmes, também
nos fazem sentir que devíamos apaixonar-nos e namorar.

No final da adolescência, as relações já não têm tanto a ver com nos integrarmos no
grupo. A proximidade, a partilha, a confiança em alguém tornam-se mais importantes
quer para os rapazes quer para as raparigas. Quando chegam aos 20s a maior parte dos
rapazes e raparigas valorizam a proximidade, o apoio, a comunicação e a paixão numa
relação. Começam a pensar em encontrar alguém com quem se possam comprometer a
longo prazo.

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As Relações Saudáveis - Adolescência

Quando nos sentimos prontos para nos aventurarmos numa relação romântica uma das
principais preocupações é como é que vamos fazer a relação funcionar. E para isso é
fundamental manter uma relação saudável com o/a nosso/a namorado/a.
Nas relações saudáveis há respeito mútuo. O respeito mútuo significa que cada um
valoriza o outro e o compreende, respeitando os limites de cada um. Por exemplo, o
nosso/a parceiro/a ouve-nos quando dizemos que não nos sentimos confortáveis com
determinada coisa e respeita isso.
Nas relações saudáveis há confiança. Ou seja, sabemos que podemos contar um com o
outro e que ambos queremos o bem-estar um do outro. É normal ter um pouco de
ciúmes, ter ciúmes é uma emoção natural. Mas o que interessa é a forma como reagimos
e lidamos com os ciúmes. Por exemplo, não é normal que o nosso/a namorado/a se
passe da cabeça porque nos vê falar com um outro/a colega da escola. Não é possível
termos uma relação saudável se não confiarmos um no outro.
Nas relações saudáveis há honestidade. A honestidade é a liberdade de sermos como
somos, sem fingir. Significa que falamos abertamente e sinceramente, partilhamos os
nossos sentimentos e opiniões. A honestidade anda de mão-dada com a confiança, não é
possível confiar em alguém que não seja honesto. Já apanhamos o nosso/a namorado/a
numa mentira? Numa relação honesta nenhum dos dois está preocupado se o outro está
a dizer a verdade, partem do pressuposto que está.
Nas relações saudáveis há apoio mútuo. E o apoio mútuo não acontece apenas nos
períodos maus, quando tudo corre mal, mas também nos períodos bons, quando tudo
corre bem. Numa relação saudável temos alguém com quem podemos chorar e alguém
com quem podemos celebrar (e somos esse alguém também!).
Nas relações saudáveis há igualdade. Dá-se e recebe-se. Umas vezes somos nós a
escolher o filme que vamos ver, noutras é o nosso/a namorado/a. Umas vezes fazemos
programas com os nossos amigos, noutras vezes com os amigos do/a nosso/a
namorado/a. Claro que não precisamos de andar a contar quantas vezes fazemos estas
coisas. A ideia é que deve ser equilibrado e justo. As relações deixam de ser saudáveis
rapidamente quando uma pessoa quer ser sempre ela a mandar, a decidir, a controlar.
Nas relações saudáveis temos identidades separadas. Numa relação saudável temos de
fazer compromissos. Mas isso não significa deixarmos de ser quem somos. Antes desta
relação ambos tinham a sua própria família, amigos, interesses, etc. e isso deve
continuar! Ninguém deve ter de fingir ser uma coisa que não é, deixar de ver amigos ou
largar atividades de que gosta.
Nas relações saudáveis há privacidade. Lá porque estamos numa relação não quer dizer
que tenhamos que partilhar tudo e que tenhamos que estar o tempo todo juntos. Nas
relações saudáveis para além de tempo a dois, cada um tem o seu espaço.

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Nas relações saudáveis há uma boa comunicação. Uma boa comunicação significa que é
possível falar livremente, sem assuntos tabu, que podemos expressar os nossos
sentimentos e pensamentos sem sentirmos receio de sermos julgados. Para que exista
uma boa comunicação é igualmente importante perguntarmos e esclarecermos se
estamos a perceber o que o/a nosso/a namorado/a nos está a dizer. Se não temos a
certeza devemos falar abertamente e honestamente para evitar problemas de
comunicação. Não devemos calar um sentimento ou um desejo porque temos medo que
o/a nosso/a namorado/a não goste ou porque temos receio de parecemos parvos/as.
Numa relação saudável temos o tempo que precisamos para pensar num assunto antes
de termos de falar sobre ele.
Nas relações saudáveis há reciprocidade. Em todos os aspetos, incluindo os emocionais
e sexuais. Ambos os parceiros se preocupam, ambos cuidam, ambos estão interessados
em proporcionar prazer um ao outro.
Para sabermos se a nossa relação é ou não saudável temos de saber reconhecer a forma
como o nosso/a namorado/a nos trata e como o/a tratamos a ele/a. Estas características
das relações saudáveis estão presentes? Como nos sentimos quando estamos com ele/a?
Numa relação saudável sentimo-nos confortáveis em partilhar os nossos sentimentos,
pensamentos e experiências; as coisas privadas que partilhamos mantêm-se entre os
dois; podemos falar e resolver conflitos; preocupamo-nos com a outra pessoa e a sua
opinião; sentimo-nos amados e valorizados simplesmente por sermos quem somos (não
pelas nossas roupas, pela nossa aparência, pelo nosso carro, etc.).

As Relações Podem Ser Difíceis!


Já todos ouvimos dizer que para gostarmos de alguém precisamos de gostar de nós
próprios em primeiro lugar. De facto, é uma grande barreira quando numa relação uma
das pessoas tem problemas de autoestima. O/a nosso/a namorado/a não serve para nos
sentirmos bem connosco próprios se não o conseguimos fazer sozinhos.
Quando sentimos que o/a nosso/a namorado/a exige demasiado de nós, se a relação é
mais um fardo e uma fonte de problemas do que de alegria, então provavelmente não é
o par certo para nós.
Relações muito intensas podem ser difíceis para os adolescentes. Quando somos
adolescentes estamos focados em desenvolver os nossos sentimentos e
responsabilidades, por isso pode não nos restar energia para responder aos sentimentos e
necessidades de outra pessoa. Para além disso, ainda estamos a crescer e a mudar, todos
os dias. A pessoa que parecia perfeita para nós há uns meses atrás, pode já não o ser. E é
melhor ficarem amigos do que investirem numa relação que já não parece certa.
Quer estejamos sozinhos ou numa relação devemos ser “picuinhas” quando escolhemos
alguém para manter uma relação próxima. Se não nos sentirmos preparados para uma
relação não é um problema!

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Alguns Mitos sobre Relações
Os media, a música que ouvimos ou os filmes que vemos podem transmitir-nos algumas
ideias erradas sobre o que são as relações ou como nos devemos comportar numa
relação. É importante destruir alguns desses mitos:

Ter sexo com alguém não equivale a ter uma relação com alguém. Devemos, no
entanto, deixar sempre claro para o outro qual é a nossa intenção e perceber se o outro
tem as mesmas expectativas.
As relações não são uma competição.
O amor não é instantâneo.
É normal (e até desejável!) ter de trabalhar e termos de nos esforçar para construir uma
relação de amor e fazê-la funcionar.
Os homens não mandam numa relação. Ambos os parceiros mandam na relação e são
responsáveis por fazê-la funcionar.
Não são apenas as nossas características físicas que interessam nem são elas que
determinam se ou quem vamos namorar.

Quando Uma Relação Termina


Terminar uma relação é uma experiência dolorosa. Sobretudo se é o nosso primeiro
amor ou se a relação terminou sem nós querermos que isso acontecesse. Podemos
sentir-nos completamente esmagados e devastados. Por algum motivo existe a
expressão “coração partido”…
Às vezes, alguns adultos esperam que, como somos adolescentes e a relação que
terminámos era uma relação entre adolescentes, ultrapassemos isso e pronto. Mas se
estamos a sofrer é importante sentirmos o apoio de alguém em quem confiemos (um dos
nossos pais, um irmão, um amigo, um Professor ou um Psicólogo).
Ao início é difícil imaginar que nos vamos sentir melhor. Mas devagarinho os nossos
sentimentos vão tornar-se menos intensos e, eventualmente, até iniciaremos uma nova
relação. As relações que vamos mantendo ao longo da vida são sempre oportunidades
de experimentar o amor e de aprender a amar e a sermos amados.
Se a tristeza e a dor de terminar uma relação está a controlar a nossa vida e isso é a
única coisa em que conseguimos pensar, devemos procurar ajuda, falar com um
Professor ou um Psicólogo pode ajudar ((hiperligação para Procurar Ajuda).

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Decidir Ter Relações Sexuais

O sexo é um assunto complexo, quer para os adultos quer para os adolescentes. Isto
porque ser sexualmente ativo envolve emoções profundas e pode mudar as relações
(nem sempre para melhor).
A pressão para deixar de ser virgem é intensa quer para os rapazes quer para as
raparigas. Às vezes parece que toda a gente na escola não fala sobre outra coisa: quem
é, quem não, quem pode ser. E que ser virgem ou não é uma espécie de condição para
pertencermos ou não ao grupo, para sermos aceites.
Decidir ter relações sexuais com alguém é uma decisão muito importante. Da primeira
vez sobretudo, mas também das restantes. Cada um tem de confiar no seu julgamento e
decidir se é a altura certa e a pessoa certa.
O sexo não tem apenas consequências físicas (ex. engravidar, contrair uma doença
sexualmente transmissível), mas também emocionais. O sexo relaciona-se com prazer
tal como se relaciona com responsabilidade. Para além de termos consciência e
conhecermos os factos sobre menstruação, ovulação, recção, ejaculação, gravidez,
doenças sexualmente transmissíveis, precisamos igualmente de ter consciência do
impacto emocional das relações sexuais. Se nos tornamos sexualmente ativos sem
estarmos preparados podemos sentir-nos esmagados e confusos pelos sentimentos que
este tipo de intimidade gera. As relações sexuais deixam as pessoas mais
emocionalmente vulneráveis e próximas uma da outra. Quando não confiamos
inteiramente no nosso parceiro ou não nos sentimos totalmente respeitados/as, ter
relações sexuais pode fazer-nos sentir magoados, traídos, sozinhos. Por isso, é
realmente algo importante, embora alguns dos nossos amigos ou os filmes que vemos
na televisão possam encará-lo como algo muito simples e banal.

Uma vez que os nossos valores morais, as nossas crenças religiosas, a educação que
tivemos da nossa família e as nossas emoções são diferentes, não é uma boa ideia
confiar na opinião dos nossos amigos para decidir se é a altura certa para fazer sexo. A
longo prazo, ter relações sexuais para impressionar alguém, fazer o/a nosso/a
namorado/a feliz ou sentirmos que temos alguma coisa em comum com os nossos
amigos não nos vai fazer sentir muito bem connosco próprios. Para além disso, um
verdadeiro amigo ou par romântico não quer saber se somos ou não virgens e respeita as
nossas decisões, sejam elas quais forem.
Nas relações entre adolescentes é comum um querer manter relações sexuais e o outro
não. E isso pode causar algum stresse na relação. No entanto, tal como em qualquer
outra decisão importante da nossa vida devemos fazer aquilo que nós achamos certo

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para nós e não aquilo que outra pessoa acha que devemos fazer. Não é boa ideia ter sexo
só porque o/a nosso/a namorado/a quer e está preparado para isso.

Se alguém nos tentar pressionar dizendo coisas como “se realmente gostasses de mim,
não dizias que não”, na verdade, não se preocupa nem gosta de nós. Está apenas a tentar
satisfazer os seus próprios sentimentos sexuais. Se sentirmos que temos que fazer sexo
porque temos medo de perder a outra pessoa, então talvez seja melhor ponderarmos
terminar a relação.
No que diz respeito a ter relações sexuais há duas coisas importantes das quais nos
devemos lembrar: 1) somos nós os responsáveis pela nossa felicidade e pelo nosso
corpo; 2) podemos esperar todo o tempo que for preciso até nos sentirmos seguros da
decisão de ter ou não sexo.
Mesmo que já tenhamos tido relações sexuais anteriormente (com o nosso namorado/a
atual ou outra pessoa) a decisão de continuar a ter relações sexuais é sempre nossa.
Podemos não querer ter relações sexuais a qualquer momento, seja quem for a pessoa
com quem estamos numa relação.
Quando nos sentimos confusos acerca de decisões relacionadas com sexo podemos falar
com alguém em quem confiemos, de preferência um adulto (um dos nossos pais, um
professor, um Psicólogo). Embora outras pessoas possam ter conselhos úteis para nós,
no fim, a decisão será sempre nossa.

Relações Abusivas

É completamente normal termos a sensação de ver o mundo através de óculos cor-de-


rosa quando estamos no início de uma relação. Mas ao fim de algum tempo e para
algumas pessoas esses “óculos” acabam por deixá-las “cegas”, impedindo-as de
reconhecer que estão numa relação pouco saudável.

Uma relação não é saudável quando envolve comportamentos desrespeitosos,


controladores e abusivos. Mesmo que, porventura, tenhamos assistido aos nossos pais
(ou outras pessoas) a discutirem, brigarem e desrespeitaram-se emocional, verbal e
fisicamente, isso não é normal! Nem está bem!

O abuso pode ser físico, emocional ou sexual. As relações são abusivas quando existe
alguma forma de violência. O abuso físico inclui bater, empurrar, puxar cabelos,
pontapear, etc. O abuso emocional – gozar, provocar, humilhar, chamar nomes, etc. –
pode ser mais difícil de reconhecer porque não deixa marcas físicas, mas as suas
consequências são mais duradouras. O abuso sexual pode acontecer a qualquer pessoa –
rapaz ou rapariga. Nunca está bem sermos forçados a ter qualquer tipo de experiência
sexual que não queiramos! Qualquer relação sexual não consentida é violação! Mesmo
com alguém com quem namoramos!

Numa relação saudável há equilíbrio, ambos os parceiros são tratados de forma igual,
com os mesmos direitos. Numa relação abusiva, um dos parceiros sente-se mais

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importante, mais amado, controla mais o que acontece. Se temos uma relação romântica
desigual está na altura de falar sobre isso, fazer mudanças ou terminá-la e seguir em
frente.

Sinais de Alerta

Quando o/a nosso/a namorado/a usa insultos verbais, linguagem agressiva, comentários
negativos sobre nós, nos bate ou agride fisicamente, ou nos força a qualquer tipo de
atividade sexual, estes são sinais verbais, emocionais ou físicos de abusos.

É importante perguntarmos a nós mesmos se o/a nosso/a namorado:

 Fica zangado quando não desistimos dos nossos planos/interesses/atividades


para estarmos com ele/a ou fazer o que ele/a quer;

 Critica a forma como nos vestimos;

 Nos diz que nunca seremos capazes de encontrar outra pessoa que queira
namorar connosco;

 Quer saber tudo o que estamos a fazer, a toda a hora, por exemplo, envia
constantemente mensagens ou telefona a querer saber onde estamos, com quem
estamos, o que estamos a fazer;

 Quer que passemos todo o nosso tempo com ele/a;

 Tenta controlar os diferentes aspetos da nossa vida (como nos vestimos, com
quem falamos, o que dizemos, controla o nosso telefone, email ou redes sociais
sem permissão…);

 Nos impede de ver os nossos amigos ou de falar com outros rapazes/raparigas;

 Dá sempre a volta à situação fazendo parecer que a culpa das ações dele/a é
nossa;

 Já nos levantou a mão numa situação em que estava zangado/a ou nos ameaçou
bater;

 Nos pressiona para levar a nossa relação sexual para outro nível, para o qual não
nos sentimos preparados.

E estas não são as únicas questões a considerar. Se nos conseguirmos lembrar de


alguma vez que o/a nosso/a namorado/a nos tenha tentado controlar, fazer sentir mal
connosco próprios, isolado do resto do mundo ou nos magoou física ou sexualmente,
então essa é uma relação da qual devemos sair, rapidamente.

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As relações abusivas podem deixar-nos confusos porque os abusos (físicos, verbais,
emocionais, sexuais) podem acontecer só de vez em quando. Muitas vezes as relações
abusivas passam por fases, alternando entre períodos bons e maus. Noutros casos, o
abusador tão depressa agride o parceiro como no minuto seguinte pede desculpa e
parece arrependido. Porque o abusador também pode ser muito amoroso, torna difícil
sair da relação ou reconhecê-la como uma relação abusiva (fica-se sempre à espera que
não volte a repetir e que seja sempre amoroso…).

Pode parecer tentador inventar desculpas, achar que afinal não é violência ou abuso,
confundir a possessividade ou a agressividade com amor, mas mesmo que achemos que
a outra pessoa nos ama, não é uma relação saudável! Ninguém merece ser agredido,
menosprezado ou forçado a fazer algo que não quer.

É importante compreendermos que uma pessoa só muda se quiser, por isso não
podemos forçar ou convencer o/a nosso/a namorado a mudar os seus comportamentos,
sobretudo se ele/ela não os considerar errados. Tendencialmente, o abuso piora ao longo
da relação (não melhora!). Devemos sempre sentir-nos seguros e aceites numa relação,
se isso não acontece é tempo de mudarmos nós a nossa vida e garantir a nossa
segurança. Devemos considerar terminar a relação antes que o abuso se agrave.
Ninguém merece ser maltratado, agredido, castigado. Todos merecemos ser amados e
bem tratados.

Se sentimos que amamos a outra pessoa, mas ao mesmo tempo sentimos medo e não
estamos confortáveis nessa relação, é altura de sair dela e pedir ajuda. Às vezes
sentimo-nos envergonhados ou pensamos que ninguém vai acreditar em nós. Às vezes
já nos isolamos da nossa família e dos nossos amigos por causa da relação abusiva. Mas
as pessoas que realmente gostam de nós podem ajudar-nos nesta situação. Assim como
um Professor ou um Psicólogo. Contar a alguém em quem confiemos o que se está a
passar (um dos nossos pais, um irmão, um amigo, um Professor ou um Psicólogo) pode
ajudar-nos a manter em segurança e a sair da relação.

Violência no Namoro

A violência no namoro acontece quando o/a nosso/a parceiro nos magoa (física,
emocional ou sexualmente) e nos controla a nós e à nossa relação. É um ato de
violência, pontual ou contínuo, que tem como objetivo ter mais poder e controlo do que
a outra pessoa envolvida na relação.

A violência no namoro pode acontecer quer as relações sejam “sérias” ou não, menos ou
mais longas. Quer as raparigas quer os rapazes podem ser violentos para os seus
parceiros. As relações em que existe violência não são todas iguais e não é obrigatório
que incluam violência física. Na mesma relação podem ocorrer várias formas de
violência.

Existem várias formas de violência no namoro:

 Violência Física. Quando somos empurrados, agarrados ou presos, nos atiram


objetos, nos dão bofetadas/pontapés/murros, nos ameaçam de nos bater, nos
bloqueiam a porta ou a saída, não nos deixam sair de determinado sítio.

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 Violência Sexual. Quando somos obrigados a praticar atos sexuais contra a
nossa vontade ou quando somos acariciados/tocados sem que queiramos.

 Violência Verbal. Quando nos chamam nomes ou gritam, nos humilham ou


fazem comentários negativos sobre nós, nos intimidam e ameaçam.

 Violência Psicológica. Quando nos partem ou estragam objetos, controlam a


nossa forma de vestir, controlam os nossos tempos livres e o que fazemos
durante o dia, nos ligam constantemente ou enviam mensagens, ameaçam
terminar a relação como estratégia de manipulação, nos dizem que mais
ninguém ficaria connosco, nos fazem sentir culpados/as por alguma coisa que
fizemos que não foi errada, nos fazem sentir que não merecemos ser amados/as,
nos dizem que somos nós que provocamos a violência.

 Violência Social. Quando nos envergonham ou humilham em público,


sobretudo junto de amigos; quando mexem no nosso telemóvel ou vigiam o que
fazemos nas redes sociais sem permissão; quando somos proibidos de conviver
com os nossos amigos e família.

 Violência Digital. Quando entram nas nossas contas de email, FB, etc., quando
controlam o que fazemos nas redes sociais, quando perseguem os nossos perfis.

Todas as formas de violência no namoro têm como objetivo magoar, humilhar, controlar
e assustar. A violência nunca é uma forma de expressar amor por outra pessoa.

Ser vítima de violência por parte de alguém com quem escolhemos namorar é uma
experiência dolorosa e complicada de resolver. É preciso primeiro perceber que o que
nos está a acontecer é violência e para nós é difícil acreditar e compreender que alguém
que gosta de nós também é capaz de nos fazer mal. Muitas vezes, apesar dos maus-
tratos, continuamos a gostar do nosso namorado/a. Podemos ter medo de não
conseguirmos namorar outra pessoa ou temos vergonhar de contar a alguém e pedir
ajuda. Também podemos ter medo que ninguém acredite em nós, que nos façam ainda
mais mal se contarmos ou que ninguém nos possa ajudar.

A violência no namoro pode fazer-nos sentir muito sozinhos, assustados,


envergonhados, culpados, inseguros, confusos, tristes e ansiosos. Mas é importante
lembrarmo-nos que a violência NUNCA é aceitável. NUNCA, sob qualquer motivo,
alguém tem o direito de ser violento/a connosco! A violência é uma forma errada de
resolver os problemas e as dificuldades de um namoro.

É fundamental procurar ajuda. Contar a um adulto em que confiemos o que se está a


passar é a única forma de outra pessoa saber o que se passa connosco e poder apoiar-nos
e proteger-nos. O Psicólogo da escola pode ajudar. Assim como ligar para a APAV – o
atendimento é gratuito e não é preciso dizermos o nosso nome, é confidencial.

Saber dizer Sim e Não no Namoro

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Nas relações saudáveis existe uma boa comunicação. Numa relação saudável devemos
sentir-nos confortáveis para falar sobre qualquer tema e expressarmo-nos de forma
assertiva.

Ser assertivo é saber dizer “Sim” e “Não”. A assertividade é uma forma saudável de
comunicar. É a capacidade de falarmos por nós mesmos, de dizermos e defendermos
aquilo que pensamos e sentimos, mas de forma honesta e respeitosa.

A assertividade pode ser especialmente importante quando falamos de relações sexuais.


Muitos adolescentes não se sentem preparados para ter relações sexuais, mesmo quando
gostam muito do seu/sua namorado/a. Temos sempre o direito de decidir se queremos
ou não ter relações sexuais. E para haver relações sexuais tem de haver consentimento.

O Consentimento

O consentimento significa que “sim” é “sim” e “não” é “não”. Sem um “sim” muito
claro não há consentimento e o sexo não deve acontecer. O consentimento significa
dizer “sim” e querer realmente dizer “sim”. Pode parecer muito simples, mas na verdade
nem sempre é assim tão simples e fácil. Isto porque o consentimento deve ser dado
livremente, ou seja, sem pressões, sem manipulação ou já a meio da relação sexual.

O consentimento também deve ser informado. Os parceiros devem ser honestos sobre
doenças sexualmente transmissíveis, a utilização de contracetivos e a existência ou não
de outros parceiros sexuais.

O consentimento pode ser retirado a qualquer momento. Podemos parar e mudar de


ideias em qualquer altura. Para além disso, dizer “sim” uma vez não significa dizer
“sim” sempre ou dizer “sim” a outras atividades sexuais. Mesmo numa relação
duradoura devemos dizer “sim” ao que queremos fazer e sentirmo-nos confortáveis para
dizer “não” àquilo que não queremos fazer. De todas as vezes!

O consentimento significa que ambos estão entusiasmados. Não significa apenas


“deixar acontecer”. O silêncio não é consentimento. Dizer “não sei” também não é
consentimento.

E não, não basta usar a linguagem corporal ou esperar que o nosso parceiro perceba que
não estamos interessados/as. É preciso usar as palavras, de forma clara e direta.

Dizer “não” pode ser difícil, mas é a forma certa de nos continuarmos a sentir bem
connosco próprios. É importante confiarmos em nós e naquilo que queremos. Não
devemos explicações a ninguém. Podemos explicar o nosso “não” se quisermos, mas
não precisamos de o fazer.

Como é que sabemos que temos o consentimento do nosso parceiro? Se ele nos disser
“sim” de forma totalmente clara. Quando ficamos na dúvida ou não temos a certeza,
perguntamos diretamente. Não ouvimos um “sim”? É para parar!

Quando o/a nosso/a namorado/a nos pressiona para termos relações sexuais ou ameaça
acabar connosco se não tivermos relações sexuais estamos, provavelmente,

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numa relação abusiva. O sexo só deve acontecer com alguém que nos respeita, não
alguém que nos pressiona ou nos faz sentir desconfortáveis.

E não basta termos o consentimento do nosso parceiro apenas uma vez. De TODAS as
vezes precisamos do seu consentimento. Todos temos o direito de dizer “não” seja ao
que for e seja quando for, independentemente de já termos dito que “sim” no passado.

O consentimento não atrapalha minimamente a relação sexual, nem “estraga o


momento”. Aliás, até pode ser bastante sexy. Dar consentimento pode ser uma forma de
mostrarmos ao nosso parceiro que gostamos realmente dele e dos momentos de
intimidade com ele. O mesmo acontece quando pedimos consentimento. Podemos dizer
“gostava que eu…” ou “queres experimentar…”. Desta forma não estamos apenas a
pedir consentimento, mas também estamos a falar sobre o que ambos gostamos, o que é
muito importante numa relação saudável.

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