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Fichamento do cap 4.

RECONHECIMENTO E SOCIALIZAÇÃO: MEAD E A


TRANSFORMAÇÃO NATURALISTA DA IDEIA HEGELIANA

É a psicologia  social. Ela reconstrói as instituições da teoria da intersubjetividade de


Hegel num quadro pós-metafísico, procurando, assim como Axel, fazer da luta por
reconhecimento o ponto referencial de uma construção teórica que deve explicar a
evolução moral da sociedade.
Mead tem a intenção de que a psicologia que atue empiricamente possa contribuir para
aprendermos mais sobre as operações cognitivas particulares do ser humano.
Como a psicologia pode obter acesso ao seu objeto: o psíquico? Numa visão
pragmatista, ele entende que os problemas que se apresentam a um sujeito o impedindo
de seguir em suas atividades habituais  faz com que o ser humano aproveite suas
operações cognitivas. Nesse caso é que se apresenta o psíquico, como experiências que
o sujeito faz consigo próprio quando um problema se apresenta e o impede de seguir em
sua rotina. Assim, a psicologia obtém acesso ao seu objeto, quando o sujeito é forçado a
reinterpretar a situação posta.
Mas ele entende que este caso não basta para explicar o objeto da psicologia.
Passa então a adotar uma visão darwinista: numa interação de vários organismos, no
caso de crise, todos os indivíduos são obrigados a reconsiderar sua própria atitude
reativa.
No comportamento social bem sucedido, a consciência de suas atitudes pelo sujeito
auxilia no controle do comportamento de outros.
Para um sujeito alcançar a consciência do significado social de suas manifestações
práticas, ele precisa primeiramente possuir conhecimento de qual o sentido de seu
comportamento para o outro com quem interage, colocando-se, a psicologia social na
perspectiva desse indivíduo e, então, compreendendo o surgimento de uma consciência
da própria subjetividade, a formação da autoconsciência.
Um indivíduo somente tem essa consciência intersubjetiva quando é capaz de se ouvir e
desencadear em si próprio a mesma reação que causou no outro. Só o “gesto vocal” (ao
contrário dos demais gestos não vocais) é capaz de produzir no indivíduo a mesma
reação no agente e no defrontante. Através da capacidade de suscitar em si o significado
que a própria ação tem para o outro, abre-se para o sujeito, ao mesmo tempo, a
possibilidade de considerar-se a si mesmo como um objeto social das ações de seu
parceiro de interação, obtendo uma auto imagem para chegar à consciência de minha
identidade.
Conceito de “Me” - experiências subjetivas produzidas a partir do estímulo provocado
pelo indivíduo e sua reação ao seu próprio estímulo, as chamadas experiências
subjetivas. O indivíduo torna-se consciente de si mesmo na posição de objeto,
representando a imagem que o outro tem de mim, minha atividade momentânea como
algo já passado. O que é diferente do “Eu” que é a instância atual de minha resposta
criativa aos problemas práticos. Entre o Eu e o Me existe uma relação comparável ao
relacionamento entre parceiros de um diálogo.
Um sujeito apenas pode adquirir consciência de si mesmo na medida em que ele
aprende a perceber sua própria ação da perspectiva simbolicamente representada de uma
segunda pessoa. Sem o outro, o indivíduo não poderia influir sobre si mesmo com base
em manifestações auto perceptíveis.
Me seria para Mead a imagem cognitiva que o sujeito tem de si mesmo, tão logo
aprenda a perceber-se da perspectiva da segunda pessoa.
Uma criança somente julga seu comportamento como bom ou mau quando ela reage a
suas próprias ações lembrando as palavras de seus pais.
Ao crescer, o Me vai se generalizando face à ampliação do círculo de interação da
criança, ampliando seu quadro de referência de sua auto imagem.
Mead trata das Duas fases da atividade lúdica infantil - etapa play, jogo dos papéis, a
criança se comunica consigo mesma imitando o comportamento de um parceiro para só
depois reagir a isso complementariamente em sua ação; a etapa game, do jogo de
competição, requer que a criança represente em si mesma ao mesmo tempo as
expectativas de comportamento de todos os seus companheiros de jogo para perceber o
seu papel. Na passagem de uma etapa para outra, migra para dentro da criança a sua
autoimagem prática com as normas sociais de ação. No último a criança já tem em si o
comportamento dos outros participantes.
Assim como a criança, com a passagem para o game, adquire a capacidade de orientar
seu próprio comportamento por uma regra que ela obteve da sintetização das
perspectivas dos companheiros, o processo de socialização em geral se efetua na forma
de uma interiorização de normas de ação, provenientes da generalização das
expectativas de comportamento de todos os membros da sociedade.
Dessa forma o sujeito vai adquirindo pouco a pouco as normas sociais a ponto de chegar
a representar as expectativas normativas em si mesmo.
Na medida em que o sujeito assume as atitudes do grupo social organizado ao qual ele
pertence, ele pode desenvolver uma identidade completa e possuir a que ele
desenvolveu.
O reconhecimento então é empregado na medida em que o sujeito, pelo fato de aprender
a assumir as normas sociais de ação do “outro generalizado”, alcança a identidade de
um membro socialmente aceito de sua coletividade.
É um reconhecimento mútuo: ao passo que o sujeito internaliza as normas sociais, ele
próprio se reconhece como membro de seu contexto social de cooperação. Assim é
construído um saber sobre direitos, ou seja, as pretensões que o sujeito sabe que será
reconhecida pelo outro generalizado. Pela concessão de direitos, o sujeito passa a ser
reconhecido como membro da sociedade.
Mead trata ainda do “autorrespeito” que se dá pela atitude positiva para consigo mesmo
pelo sujeito que tem pretensões reconhecidas pela coletividade. Manter a palavra,
cumprir obrigações, issi garante o autorrespeito. Mead porém não trata do autorrespeito
formado a partir do amor, da relação e da confiança emocional.
A relação jurídica de reconhecimento é incompleta se não puder expressar
positivamente as diferenças individuais entre os cidadãos de uma coletividade.
O Eu é a reação do indivíduo à atitude da comunidade. Em contraponto ao Me.
A mera internalização do outro generalizado não basta para a formação da identidade
moral. O indivíduo passará por situações em que terá necessidades incompatíveis com
as normas reconhecidas, pondo em prova seu próprio Me. Gerando atrito entre o Eu e o
Me.
O Me incorpora em defesa da respectiva coletividade, as normas convencionais que o
sujeito procura constantemente ampliar por si mesmo, a fim de poder conferir expressão
social à impulsividade e criatividade do Eu. Uma tensão entre a vontade global
internalizada w as pretensões da individuação, levando a um conflito moral entre o
sujeito e seu ambiente social, quando não há assentimento da sociedade para um desejo
íntimo do sujeito. É a existência do Me que força o sujeito a engajar-se no interesse de
seu Eu por novas formas de reconhecimento social.
Para Mead o processo de evolução social se dá a partir das divergências morais do Eu,
numa influência recíproca. Em toda época histórica acumulam-se novamente
antecipações de relações de reconhecimento ampliadas, formando um sistema de
pretensões normativas cuja sucessão força a evolução social em seu todo a uma
permanente adaptação ao processo de individuação progressiva.
A evolução se dá  em direção à ampliação da liberação da individualidade. Na
sociedade humana primitiva a identidade individual é determinada pelo padrão geral da
atividade social, oferecendo muito menos espaço para a individualidade do que na
sociedade civilizada.
O motor para essa evolução é a luta através da qual os sujeitos procuram
ininterruptamente ampliar a extensão dos direitos que lhes são interssubjetivamente
garantidos, elevando o grau de autonomia pessoal, uma luta por reconhecimento. Esta
luta é impulsionada pelas camadas incontroláveis do Eu que só podem se exteriorizar
livremente quando encontram assentimento no outro generalizado, luta pela ampliação
de reconhecimento jurídico.
Nesses momentos históricos surgem grandes líderes com carisma que souberam ampliar
o outro generalizado, em consonância com as expectativas intuitivas do contemporâneo.
Ele ilustra Jesus com seu papel na comunidade a modificou, trazendo o conceito de
comunidade.
Mead porém não distingue com clareza as situações em que as normas sociais se
ampliam, abrindo espaço para maior autonomia pessoal daquela em que os direitos
existentes são extendidos a um número maior de pessoas.
Para Hegel a relação amorosa precede a relação jurídica como uma primeira etapa de
reconhecimento.
O ser humano quer se reconhecer naquelas diferenças que o faz se sentir com vantagem
em relação aos outros.
Autorrealização - Mead entende que é o processo em que o sujeito desenvolve
capacidades e propriedades de cujo valor para o meio social ele pode se convencer com
base nas relações de reconhecimento de seu parceiro de interação.
O Me da autorrealização não é aquele do controle normativo do comportamento que um
sujeito adquire ao aprender a assumir as expectativas morais de um círculo cada vez
maior de parceiros. O Me da autorrealização, porém, é um órgão de autocertificação
ética que contém convicções axiológicas de uma coletividade.Assim o sujeito vai
aprendendo a generalizar as convicções axiológicas de todos seus parceiros de
interação, obtendo uma representação abstrata das finalidades comuns de sua
coletividade.
O vínculo entre a autorrealização e a experiência do trabalho socialmente útil é que o
reconhecimento demonstrado a um sujeito por exercer bem sua função no trabalho basta
para lhe proporcionar uma consciência de sua particularidade individual.
Solidariedade - para demonstrar ao outro o reconhecimento que se apresenta num
interesse solidário pelo seu modo de vida, é preciso antes um estímulo de uma
experiência que me ensine que nós partilhamos uns com os outros num sentimento
existencial a exposição a certos perigos.

Palavras-chave: pós-metafísico; constituição da autoconsciência; gesto vocal; Me; Duas


fases da atividade lúdica infantil; autorrespeito; autorrealização

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