É a psicologia social. Ela reconstrói as instituições da teoria da intersubjetividade de
Hegel num quadro pós-metafísico, procurando, assim como Axel, fazer da luta por reconhecimento o ponto referencial de uma construção teórica que deve explicar a evolução moral da sociedade. Mead tem a intenção de que a psicologia que atue empiricamente possa contribuir para aprendermos mais sobre as operações cognitivas particulares do ser humano. Como a psicologia pode obter acesso ao seu objeto: o psíquico? Numa visão pragmatista, ele entende que os problemas que se apresentam a um sujeito o impedindo de seguir em suas atividades habituais faz com que o ser humano aproveite suas operações cognitivas. Nesse caso é que se apresenta o psíquico, como experiências que o sujeito faz consigo próprio quando um problema se apresenta e o impede de seguir em sua rotina. Assim, a psicologia obtém acesso ao seu objeto, quando o sujeito é forçado a reinterpretar a situação posta. Mas ele entende que este caso não basta para explicar o objeto da psicologia. Passa então a adotar uma visão darwinista: numa interação de vários organismos, no caso de crise, todos os indivíduos são obrigados a reconsiderar sua própria atitude reativa. No comportamento social bem sucedido, a consciência de suas atitudes pelo sujeito auxilia no controle do comportamento de outros. Para um sujeito alcançar a consciência do significado social de suas manifestações práticas, ele precisa primeiramente possuir conhecimento de qual o sentido de seu comportamento para o outro com quem interage, colocando-se, a psicologia social na perspectiva desse indivíduo e, então, compreendendo o surgimento de uma consciência da própria subjetividade, a formação da autoconsciência. Um indivíduo somente tem essa consciência intersubjetiva quando é capaz de se ouvir e desencadear em si próprio a mesma reação que causou no outro. Só o “gesto vocal” (ao contrário dos demais gestos não vocais) é capaz de produzir no indivíduo a mesma reação no agente e no defrontante. Através da capacidade de suscitar em si o significado que a própria ação tem para o outro, abre-se para o sujeito, ao mesmo tempo, a possibilidade de considerar-se a si mesmo como um objeto social das ações de seu parceiro de interação, obtendo uma auto imagem para chegar à consciência de minha identidade. Conceito de “Me” - experiências subjetivas produzidas a partir do estímulo provocado pelo indivíduo e sua reação ao seu próprio estímulo, as chamadas experiências subjetivas. O indivíduo torna-se consciente de si mesmo na posição de objeto, representando a imagem que o outro tem de mim, minha atividade momentânea como algo já passado. O que é diferente do “Eu” que é a instância atual de minha resposta criativa aos problemas práticos. Entre o Eu e o Me existe uma relação comparável ao relacionamento entre parceiros de um diálogo. Um sujeito apenas pode adquirir consciência de si mesmo na medida em que ele aprende a perceber sua própria ação da perspectiva simbolicamente representada de uma segunda pessoa. Sem o outro, o indivíduo não poderia influir sobre si mesmo com base em manifestações auto perceptíveis. Me seria para Mead a imagem cognitiva que o sujeito tem de si mesmo, tão logo aprenda a perceber-se da perspectiva da segunda pessoa. Uma criança somente julga seu comportamento como bom ou mau quando ela reage a suas próprias ações lembrando as palavras de seus pais. Ao crescer, o Me vai se generalizando face à ampliação do círculo de interação da criança, ampliando seu quadro de referência de sua auto imagem. Mead trata das Duas fases da atividade lúdica infantil - etapa play, jogo dos papéis, a criança se comunica consigo mesma imitando o comportamento de um parceiro para só depois reagir a isso complementariamente em sua ação; a etapa game, do jogo de competição, requer que a criança represente em si mesma ao mesmo tempo as expectativas de comportamento de todos os seus companheiros de jogo para perceber o seu papel. Na passagem de uma etapa para outra, migra para dentro da criança a sua autoimagem prática com as normas sociais de ação. No último a criança já tem em si o comportamento dos outros participantes. Assim como a criança, com a passagem para o game, adquire a capacidade de orientar seu próprio comportamento por uma regra que ela obteve da sintetização das perspectivas dos companheiros, o processo de socialização em geral se efetua na forma de uma interiorização de normas de ação, provenientes da generalização das expectativas de comportamento de todos os membros da sociedade. Dessa forma o sujeito vai adquirindo pouco a pouco as normas sociais a ponto de chegar a representar as expectativas normativas em si mesmo. Na medida em que o sujeito assume as atitudes do grupo social organizado ao qual ele pertence, ele pode desenvolver uma identidade completa e possuir a que ele desenvolveu. O reconhecimento então é empregado na medida em que o sujeito, pelo fato de aprender a assumir as normas sociais de ação do “outro generalizado”, alcança a identidade de um membro socialmente aceito de sua coletividade. É um reconhecimento mútuo: ao passo que o sujeito internaliza as normas sociais, ele próprio se reconhece como membro de seu contexto social de cooperação. Assim é construído um saber sobre direitos, ou seja, as pretensões que o sujeito sabe que será reconhecida pelo outro generalizado. Pela concessão de direitos, o sujeito passa a ser reconhecido como membro da sociedade. Mead trata ainda do “autorrespeito” que se dá pela atitude positiva para consigo mesmo pelo sujeito que tem pretensões reconhecidas pela coletividade. Manter a palavra, cumprir obrigações, issi garante o autorrespeito. Mead porém não trata do autorrespeito formado a partir do amor, da relação e da confiança emocional. A relação jurídica de reconhecimento é incompleta se não puder expressar positivamente as diferenças individuais entre os cidadãos de uma coletividade. O Eu é a reação do indivíduo à atitude da comunidade. Em contraponto ao Me. A mera internalização do outro generalizado não basta para a formação da identidade moral. O indivíduo passará por situações em que terá necessidades incompatíveis com as normas reconhecidas, pondo em prova seu próprio Me. Gerando atrito entre o Eu e o Me. O Me incorpora em defesa da respectiva coletividade, as normas convencionais que o sujeito procura constantemente ampliar por si mesmo, a fim de poder conferir expressão social à impulsividade e criatividade do Eu. Uma tensão entre a vontade global internalizada w as pretensões da individuação, levando a um conflito moral entre o sujeito e seu ambiente social, quando não há assentimento da sociedade para um desejo íntimo do sujeito. É a existência do Me que força o sujeito a engajar-se no interesse de seu Eu por novas formas de reconhecimento social. Para Mead o processo de evolução social se dá a partir das divergências morais do Eu, numa influência recíproca. Em toda época histórica acumulam-se novamente antecipações de relações de reconhecimento ampliadas, formando um sistema de pretensões normativas cuja sucessão força a evolução social em seu todo a uma permanente adaptação ao processo de individuação progressiva. A evolução se dá em direção à ampliação da liberação da individualidade. Na sociedade humana primitiva a identidade individual é determinada pelo padrão geral da atividade social, oferecendo muito menos espaço para a individualidade do que na sociedade civilizada. O motor para essa evolução é a luta através da qual os sujeitos procuram ininterruptamente ampliar a extensão dos direitos que lhes são interssubjetivamente garantidos, elevando o grau de autonomia pessoal, uma luta por reconhecimento. Esta luta é impulsionada pelas camadas incontroláveis do Eu que só podem se exteriorizar livremente quando encontram assentimento no outro generalizado, luta pela ampliação de reconhecimento jurídico. Nesses momentos históricos surgem grandes líderes com carisma que souberam ampliar o outro generalizado, em consonância com as expectativas intuitivas do contemporâneo. Ele ilustra Jesus com seu papel na comunidade a modificou, trazendo o conceito de comunidade. Mead porém não distingue com clareza as situações em que as normas sociais se ampliam, abrindo espaço para maior autonomia pessoal daquela em que os direitos existentes são extendidos a um número maior de pessoas. Para Hegel a relação amorosa precede a relação jurídica como uma primeira etapa de reconhecimento. O ser humano quer se reconhecer naquelas diferenças que o faz se sentir com vantagem em relação aos outros. Autorrealização - Mead entende que é o processo em que o sujeito desenvolve capacidades e propriedades de cujo valor para o meio social ele pode se convencer com base nas relações de reconhecimento de seu parceiro de interação. O Me da autorrealização não é aquele do controle normativo do comportamento que um sujeito adquire ao aprender a assumir as expectativas morais de um círculo cada vez maior de parceiros. O Me da autorrealização, porém, é um órgão de autocertificação ética que contém convicções axiológicas de uma coletividade.Assim o sujeito vai aprendendo a generalizar as convicções axiológicas de todos seus parceiros de interação, obtendo uma representação abstrata das finalidades comuns de sua coletividade. O vínculo entre a autorrealização e a experiência do trabalho socialmente útil é que o reconhecimento demonstrado a um sujeito por exercer bem sua função no trabalho basta para lhe proporcionar uma consciência de sua particularidade individual. Solidariedade - para demonstrar ao outro o reconhecimento que se apresenta num interesse solidário pelo seu modo de vida, é preciso antes um estímulo de uma experiência que me ensine que nós partilhamos uns com os outros num sentimento existencial a exposição a certos perigos.
Palavras-chave: pós-metafísico; constituição da autoconsciência; gesto vocal; Me; Duas
fases da atividade lúdica infantil; autorrespeito; autorrealização