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CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTÁCIO DE GOIÁS

CURSO DE PSICOLOGIA
PRODUÇÃO AVANÇADA DE TRABALHO ACADÊMICO I

AGNES CAROLINE SALES MORAIS - 201902556445


GHILHERME AUGUSTO RODRIGUES DE CARVALHO - 201901210421
INGRID PATRÍCIA GOMES DOS SANTOS - 201901210431

O PAPEL DA CULPA NAS RELAÇÕES AFETIVAS A PARTIR DA VISÃO


PSICANALÍTICA
(PROVISÓRIO)

Goiânia – GO
2023
AGNES CAROLINE SALES MORAIS - 201902556445
GHILHERME AUGUSTO RODRIGUES DE CARVALHO - 201901210421
INGRID PATRÍCIA GOMES DOS SANTOS - 201901210431

PAPEL DA CULPA NAS RELAÇÕES AFETIVAS A PARTIR DA VISÃO


PSICANALÍTICA

Projeto de pesquisa apresentado ao Curso de Psicologia do


Centro Universitário Estácio de Goiás como requisito parcial de
avaliação da disciplina Produção Avançada de Trabalho
Acadêmico I.

Orientador: Prof. Dr. Leandro Duclos

Goiânia- GO
2023
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1 INTRODUÇÃO

Relações humanas são a base do desenvolvimento humano, a maneira como nos


relacionamos com os outros, como vivemos em sociedade e como interagimos com o outro e
o meio ambiente até o fim da vida. As relações humanas são interações que ocorrem entre
duas ou mais pessoas, elas podem ser positivas ou negativas e acontecem em várias fases vida
pessoal, profissional e familiar. O conceito de relações humanas segundo Mira em (1951) as
relações humanas compreendem um conjunto de ações que influi sobre o sucesso e o bem-
estar, que o indivíduo sociável e o que vive socialmente, propaganda, publicidade, trabalho,
política tudo que envolva algum contato individual, de uma pessoa com outra, de uma pessoa
com um grupo é identificado como uma relação humana, assim entendido que tem uma vida
social proveitosa organizada.

Para Sampaio (2000) as relações humanas são consideradas como interação entre
duas ou mais pessoas, que ocorrem em sociedade de diferentes formas, algumas ciências que
estuda as relações são a psicologia, a antropologia e a sociologia. Às relações humanas
precisam ser conquistadas, preservadas e sempre ser mantidas e relembradas de tempo em
tempo, porque depois que se obtém confiança numa relação, fica mais fácil contar com a
cooperação e participação de todos.

Cultivamos relações humanas pois somos valorizados nelas, somos respeitados,


amados e elas são benéficas para o nosso crescimento humano, pessoal e espiritual, quando
são relações saudáveis, entretanto quando são doentias causam um grande sofrimento e um
abalo emocional. As relações humanas acontecem com enfoque em resolver problemas, em
diferentes lugares como no trabalho, família, igreja, academia, escola, clubes, facilitando o dia
a dia, geralmente evitamos ter conflitos e tentamos ter interações agradáveis. Essas relações se
constituem em sermos educados com as pessoas, tratar elas bem e demonstrar que
importamos com elas, e que fazem diferença na nossa vida, seja elogiando, conversando,
sorrindo e cuidando, isso é o básico que se faz para tentar manter uma relação, mas como em
toda relação algumas atitudes podem gerar conflitos e atritos e alguns comportamentos podem
gerar algumas vezes julgamentos e críticas. (SAMPAIO,2004).

Construir e praticar relações humanas significa, portanto, muito mais do que


estabelecermos e/ou mantermos contatos com outros indivíduos. Significa que somos e
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estarmos condicionados, nessas nossas relações, por uma atitude, um estado de espírito ou
uma maneira de ver as coisas, que nos permita compreender o nosso interlocutor, respeitando
a sua personalidade, cuja estrutura é, sem dúvida, diferente da nossa. Isto quer dizer que
praticar relações humanas não equivale simplesmente a amar ao próximo como a nós mesmos
pois o que é bom para uns não é necessariamente válido para outros, em decorrência das
diferenças de composição e estrutura de suas necessidades (CORDEIRO, 2015).

As relações humanas atualmente estão em crise, elas se tornaram uma fonte de


ansiedade, pois as relações eram para ser algo seguro, tranquilo e que esperamos estreitar as
relações e convivermos em harmonia, estão demonstrando frágeis, e fracas e que não possuem
mais confiança (Bauman, 2004). Segundo Birman (2005) a atualidade está marcada pelo uso
da imagem, e como tudo e muito rápido e intenso, tudo está acontecendo rápido demais, e
sempre com grandes excessos, e com muitas informações que atrapalham as relações
humanas, e a durabilidade delas, pois estamos temos umas variedades de opções, modelos e
sugestões de como se relacionar, como ser sozinho e que acaba que as relações não estão
sendo, mas tão valorizadas como era. (BARBOSA, 2021)

O termo relações humanas é uma denominação genérica dada aos diversos tipos de
relações entre pessoas e grupos e entre grupos. De acordo com esta definição, o fator
definidor é o contato, a interação, a convivência, a comunicação dia a dia entre duas ou mais
pessoas é denominado uma relação humana. Existem diferentes tipos de relações humanas,
interpessoal, intrapessoal e as relações afetivas (VERÍSSIMO, 2021)

As relações afetivas na infância, adolescência e terceira idade, são algumas das


características presentes nas relações humanas. A afetividade é um dos nichos principais para
a criação de vínculos nas relações afetivas, para Wallon (1954), a afetividade tem dois fatores:
orgânico e social, o desenvolvimento humano não se conclui por um fator apenas, apesar da
constituição biológica já estar formada ao nascer da criança, o ambiente em que esta, interfere
diretamente em sua formação e fica sujeito a mudanças conforme esse espaço muda.

A afetividade para Piaget (1968), através dos estágios do desenvolvimento, é vista


como uma interação social, considera-se que o meio interfere diretamente da formação do
sujeito e se assemelha com a visão de Wallon (1954). Para Vygotsky (1999), o ambiente
também tem sua importância, mas tem uma maior semelhança com a teoria psicanalítica de
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Freud, através da busca pela satisfação do prazer e realização de desejos. As relações afetivas
são repletas de sentimentos, um deles que interfere diretamente é a culpa.

Segundo Freud (1930) a origem do termo sentimento de culpa está relacionada com o
desamparo humano e o medo da perda do amor do outro, pois vivemos em uma sociedade
onde reprimimos a nossa sexualidade e nossa agressividade, sendo assim Freud conceitua a
culpa como o mal-estar da cultura. Pontuamos que tudo em nós e tudo o que é nosso parece
indigno ou ineficiente, o sentimento de culpa nos convoca a buscarmos algo de fora, que não
existe, mas que é a única coisa que pode nos salvar. Freud chamou de tensão entre o eu e o eu
ideal, e o que ele considerava um sentimento de culpa normal por ser uma confecção do ego
pela sua instância crítica.

A Obsessão se faz por conta do deslocamento da angústia de castração, que passa do


inconsciente para o consciente, fazendo assim o sentimento de culpa, essa angústia envolve a
expectativa de um castigo. Sendo assim a obsessão está diretamente ligada não só com o
sentimento de culpa, mas também com a frustação, pois quando estamos obcecados por algum
objeto criamos e recriamos expectativas que possivelmente não vai ser atendidas.
(NASIO,2007)

A palavra frustração representa um conceito psicológico usualmente utilizado no dia-


a-dia, embora muito suscetível a diferentes significados. Tal diferença aparece até mesmo
entre psicólogos, que ora consideram este fenômeno como uma condição instigadora externa,
ora o consideram como a reação de um organismo a determinado evento (Berkowitz,1993).
Neste sentido, a frustração vem sendo, tradicionalmente, compreendida sob dois diferentes
prismas.

Em um aspecto, a frustração pode ser compreendida como a representação de um


objeto impeditivo da realização de uma necessidade, algo externo ao sujeito, ou seja, um
obstáculo ou um evento. Essa definição é referendada de maneira mais clara na literatura por
teorias que serão posteriormente analisadas. Observa-se, porém, noutro sentido dado a este
construto, que frustração se refere a um sentimento, ou, seja, um sentimento negativo
representando insucesso ou tristeza, por não se ter atingido algo pretendido (Moura e
Pasquali, 2006).
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De outro ponto de vista, a frustração poderia ser vinculada, na psicanálise, às


diferentes estratégias inconscientes que um indivíduo busca na tentativa de resolver situações
de conflito (Freud, 1920), na análise da imposição do superego ao id. Depois de formado, o
superego passa a impor ao id normas e deveres e torna-se, para ele, um obstáculo que impede
a satisfação de suas pulsões. Roudinesco e Plon (1944) expandem esse significado ao
afirmarem que é em decorrência da frustração que os seres humanos se tornam neuróticos ou
que a frustração deve ser, pelo menos, tratada como uma das causas da neurose. Por isso
Freud, (1927) afirma que a frustração é ¨ um estado que é inerente à condição humana¨
embora também seja fruto de limitações que são impostos pela cultura e sociedade. (Moura
2008)

Levando em consideração que a temática é emergente na sociedade atual e após buscas


realizadas no banco de dados do Pepsic, Portal Capes, Scielo. O estudo se torna necessário
porque contribui e agrega mais a valorização do outro, nas relações afetivas, além de
aprofundar a visibilidade e a consciência de ambos os envolvidos, cada qual reconhecendo o
seu papel e lugar dentro da relação, e como através da culpa as relações são afetadas. O
Sujeito que é tomado pelo sentimento de culpa logo se vê frustrado, a frustração em sí
interfere diretamente nas relações. Sendo de grande relevância o estudo do Papel da Culpa nas
Relações Afetivas a partir da Visão Psicanalítica que para a psicanálise a culpa primeiro gera
uma satisfação, depois um mal-estar e esse sentimento em uma relação pode causar muitos
conflitos e a psicanálise contribui com uma visão de porque esse sentimento afeta tanto o ser
humano.

Objetivo do trabalho: O Papel da Culpa nas relações afetivas a partir da visão


Psicanalítica.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 PSICANÁLISE

A psicanálise é uma teoria e método de tratamento psicológico que tem como objetivo
investigar e compreender os processos mentais inconscientes que influenciam o
comportamento humano. Segundo Freud (1976), grande parte do comportamento humano é
determinado por impulsos e desejos inconscientes que são reprimidos e não podem ser
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expressos de forma consciente. A psicanálise baseia-se na premissa de que a mente humana é


dividida em três partes: o id, o ego e o superego. O id é a parte mais primitiva e instintiva da
mente, que busca a gratificação imediata de desejos e impulsos. O ego é a parte da mente que
faz mediação entre o id e a realidade externa, enquanto o superego é a parte da mente que
internaliza as normas e valores sociais e culturais, Freud. (1976)

Para Melanie Klein (1981), a psicanálise é uma abordagem que busca compreender os
processos psicológicos inconscientes que influenciam o comportamento humano,
especialmente na primeira infância. Ela argumentou que os bebês já nascem com impulsos e
fantasias inconscientes que afetam suas interações com o mundo e com as pessoas ao seu
redor.
A teoria de Klein (1980) se concentra em particular na relação entre a mãe e o bebê,
que ela viu como fundamental para o desenvolvimento emocional saudável. Ela argumentou
que a mãe é a primeira "objeto" do bebê, que é visto como uma extensão de si mesmo. À
medida que o bebê se desenvolve, ele começa a perceber a mãe como um objeto separado,
com suas próprias necessidades e desejos. Esta transição pode ser difícil para o bebê, que
pode experimentar sentimentos de ansiedade, medo e inveja em relação à mãe.

Melanie Klein (1981) também desenvolveu a teoria das posições esquizoparanoides e


depressivas, que descreve os estágios do desenvolvimento emocional do bebê durante seus
primeiros meses de vida. Ela argumentou que os bebês passam por uma fase
esquizoparanoide, em que percebem o mundo como perigoso e hostil, e tentam controlá-lo
através de seus próprios impulsos agressivos e destrutivos. Mais tarde, eles passam por uma
fase depressiva, em que começam a desenvolver um senso de empatia e amor pelos outros,
mas também podem experimentar sentimento de culpa e tristeza.

Lacan (1986) é conhecido por sua contribuição à psicanálise a partir do estruturalismo


e do pensamento de linguagem. Ele propôs que a psicanálise poderia ser vista como uma
forma de linguagem, e que o objetivo do tratamento psicanalítico era ajudar o paciente a se
tornar consciente de seus padrões inconscientes de pensamento e comportamento. Para Lacan,
a psicanálise não se limita a uma abordagem terapêutica para tratar doenças mentais, mas é
uma teoria que pode ser aplicada em várias áreas, incluindo a literatura, a cultura e a filosofia.
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Lacan (2008) enfatizou a importância do conceito de linguagem na psicanálise. Ele


argumentou que a linguagem é a principal forma pela qual nos relacionamos com o mundo e
nos comunicamos com os outros. Para Lacan, a linguagem não é apenas um meio de
comunicação, mas também é uma forma de expressar nossos desejos e emoções. Lacan
também introduziu o conceito de "O Grande Outro" ou "O Nome-do-Pai", que representa a
autoridade simbólica que governa a sociedade e a cultura. Segundo Lacan, nossa relação com
O Grande Outro é fundamental para a nossa identidade e bem-estar emocional.

2.2 O SUJEITO PARA PSICANÁLISE


Lacan (1975), O sujeito é um indivíduo em constante transformação e se constrói
com ela e é constituído a partir de um saber inconsciente, ao inconsciente como saber.
(Askofaré, 2009). O sujeito na Psicanálise é pensado a partir da concepção do inconsciente e é
exatamente nesse quesito que demonstra a diferença entre a da Psicologia e a Psicanálise.
Quando Lacan escreve este conceito ele delimita que primeiramente era pensando como algo
consciência e, portanto, do eu, e depois percebe que é algo que se constitui e que perpassa o
inconsciente. Lacan começa verificando e pensando numa nova perspectiva o que a
constituição de um sujeito investigando a estrutura e história. A concepção de sujeito não é o
uma das matrizes principal da Psicanálise, mas os significantes são marcados pela história e
vivencias e completam o inconsciente que é estrutural. ( FERREIRA-LEMOS 2011)

CABAS (2009) se afastando do eu como fonte de todos dos atos humanos, faremos
sempre perguntas sobre o sujeito. Freud escreve que o sujeito não é um conceito construído,
mas algo que surge nas entrelinhas, se mostrando como o desejo. Que causa uma certa
estranheza porquê e inconsciente, vindo da pulsão. Ele é o que insiste, a repetição que se
impõe,pois repetimos para depois perlaborar. Logo, o sujeito não existe por si, vem a partir do
inconsciente (BARROSO,2012)
O sujeito do inconsciente foi formulado por Lacan como um local, função, que se
revelar no Eu e que possui desejos desconhecidos por esse Eu que suporta a subjetividade de
todo ser humano, ele não pertence a ninguém , a nenhum ser. Esse sujeito inconsciente e o
conjunto de vários aspectos sócio, econômico ,e histórico do ser e que sustentado pelo o outro
e pelo desejo que em Lacan e denominado de Outro e nesse Outro é o lugar que a criança vai
construir a sua singularidade ou seja sua subjetividade. (Kupfer,2010)
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A constituição do sujeito começa desde do bebê que receberá dos pais inscrições
psíquicas transmitidas a partir de uma referência e de que se manifesta na linguagem, que
Freud chama de Lei do Pai. Essas inscrições iram gera novos resultados, mas com uma
conexão com a primeira, o sujeito e demarcado pela linguagem, pela inscrição original e o
discurso do Eu. Essas marcas são o inconsciente e manifestações do Eu e sempre estarão
presente e poderão emergir vez ou outra, Lacan propõe ainda uma separação entre as noções
de eu e de sujeito, para dividir o consciente e inconsciente. (Kupfer,2010)

(Lacan,1998). Na Psicanálise, o sujeito e do inconsciente se constitui totalmente pela


linguagem. A linguagem e fundamental na constituição do sujeito desde do princípio e um
aspecto crucial no que se constitui o sujeito, somos delimitados desde do surgimento, sujeitos
sem escolhas, no início o sujeito não fala, mas é falado. (Kupfer,2010)

Em Lacan, a noção de sujeito sofre uma série de transformações desde que ele
acrescenta na medida em que a teoria avança, várias concepções sobre o simbólico e à
concepção de gozo são simplificadas e ainda assim o tema não é abordado com toda a
extensão que possui, mesmo que Lacan e Freud avançaram o sujeito nunca vai deixar de ser
mutável porque ele e da ordem do efeito e da existência. (BARROSO, 2012)

Lacan trouxe uma nova forma de elaborar o termo sujeito, dando-lhe uma nova
concepção: o sujeito não é o indivíduo, pelo contrário, é um sujeito marcado pela divisão
consciente/ inconsciente. Lacan não se ateve somente criança ou ao bebê, mas que o sujeito e
constituído e tem bases fundamentais que e a alienação e a separação. (Couto 2017)

A separação segundo Lacan, vem separar aquilo anteriormente que estava alienado,
fundido. Esse elemento, que fica entre a mãe e a criança, é o falo. O falo como objeto a é a
causa de desejo da mãe para além da criança quando separado esses significantes, entre os
dois termos, no qual reside o desejo. E com isso a função da fala vai se demonstrar e o
aparecimento do sujeito dividido que está travado pelo desejo do Outro. Mas para isso
acontecer é necessário que a pessoa ocupe a função materna, falte algo, para o ser sentir
aquela falta, o ser humano é um ser faltante, e com isso a dimensão fálica vai surgir e para se
ter desejo por algo é preciso existir falta, pois o desejo surge sustentado na falta. Lacan
(1995) diz que temos o desejo e ele nos tem, e quando ele surgir como algo que faça algum
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sentido e nesse não saber se faz sentido ou não, algo que não conhecemos ou possuímos e que
nesse lugar que se constitui o desejo do sujeito. (Werner e Marsillac ,2021)

2.3 RELAÇÕES AFETIVAS

As relações afetivas estão presentes durante toda a vida do ser humano, desde o
nascimento até o dia de sua morte, através de vínculos construídos com familiares, amigos,
colegas de trabalho, consolidados pelo meio que o indivíduo está inserido. Ao falar sobre
relações afetivas, é imprescindível discorrer a respeito de sua evolução e mudanças ao longo
dos anos, as relações eram voltadas para necessidades da polis por meio de interesses
políticos, relações de poder na sociedade entre famílias feudais, onde anulava-se os indivíduos
na relação e ressaltava o interesse de terceiros, nas últimas décadas esse cenário mudou, o
amor e a afetividade começaram a ter o seu papel reconhecido para ambos os sujeitos
envolvidos na relação, ressaltando a individualidade de cada um. (IMBILLONI e SCHMITT,
2011)

Os estudos sobre vínculos afetivos se debruçam sobre a conceituação e caracterização


do termo afetividade. Segundo Wallon (1954) o termo afetividade é caracterizado como
primeira forma de interação com o meio ambiente, sendo a primeira força motriz do
movimento para o desenvolvimento da inteligência.

Para se enxergar a afetividade como um todo, fazem parte de sua caracterização os


fatores sociais e orgânicos: emoção, sentimento e paixão, a emoção diz sobre estímulos
fisiológicos, através de expressões corporais e motoras, é o elo responsável pela criação de
laços entre os indivíduos, são reações instantâneas, diretas e contagiosas, que afetam
diretamente o físico e o social. Os sentimentos são representações expressas através da
linguagem corporal e/ou verbal, age como repressor dos impulsos presentes na emoção. Já a
paixão exercer o papel de mediador, o autocontrole sobre a situação, com enfoque no
cognitivo, direciona o comportamento para que atenda às necessidades afetivas. (ALMEIDA,
2007).

Piaget e Vygotsky também discorrem sobre o processo do desenvolvimento humano e


a importância da afetividade nas relações. Para Piaget (1968) a afetividade é formada como a
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enérgica das condutas, ou seja, baseia-se na constituição de uma força motriz, o afeto, a partir
de sua estrutura constitui a formação do elemento intelectual para as condutas humanas, que
modifica ou não diante de determinadas situações, por considerar os momentos sociais e
biológicos do desenvolvimento.

Segundo Vygotsky (1999) a compreensão do termo afetividade se aproxima da teoria


psicanalítica de Freud, ao se referir sobre o princípio do prazer, ou seja, no desenvolvimento
da criança, a motivação para a realização das atividades é voltada para a satisfação de suas
fantasias. (Vygotsky, 1999).

Na contemporaneidade as relações afetivas sofreram mudanças, o individualismo, a


fluidez e a efemeridade das relações emergiram, além de apresentar uma conotação mais
sexual, onde o indivíduo busca sua satisfação, preza pela intimidade e evita a concretização de
um relacionamento. A era digital das plataformas online, como sites e aplicativos de
encontros, que através de um click já se consegue o que deseja, teve grande influência nesse
empobrecimento de relações, ocorreu a preferência do online no lugar da identificação face a
face. (IMBILLONI e SCHMITT, 2011).

2.4 CULPA

Freud (1974), a culpa é um sentimento que se origina na infância, a partir da relação


da criança com seus pais ou cuidadores. A criança internaliza as normas e valores
transmitidos pelos adultos e, quando as transgredi, sente-se culpada. Esse sentimento é
reforçado pelo superego, a instância psíquica responsável por internalizar as normas e padrões
morais da sociedade.
Freud (1974) refere-se à sensação de responsabilidade por algo que foi feito ou
deixado de fazer e que viola as normas sociais ou os próprios padrões morais. Essa sensação
de culpa pode surgir tanto de atos concretos, quanto de desejos ou fantasias consideradas
inaceitáveis pela pessoa.
Lacan (1999) relaciona ao conceito de desejo, uma vez que o desejo é sempre
insatisfeito e a culpa surge como uma forma de punição pelo fracasso em satisfazê-lo. Além
disso, a culpa também está relacionada à lei simbólica, que é o conjunto de regras e normas
que regem o funcionamento da sociedade e que são internalizadas pelo sujeito.
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Lacan (1999) discute a relação entre a culpa e a neurose obsessiva, destacando que a
obsessão surge como uma forma de lidar com a culpa. O sujeito obsessivo busca controlar
tudo ao seu redor para evitar a possibilidade de falha e, consequentemente, de culpa.
Grinberg (1971) destaca que a origem e natureza dos sentimentos inconscientes de
culpa ainda são um ponto obscuro na teoria psicanalítica. Ele postula a existência de duas
qualidades distintas de culpa, a persecutória e a depressiva, relacionadas com os instintos de
morte e de vida.
Embora M. Klein (1974) tenha defendido a importância do sentimento de culpa no
desenvolvimento do indivíduo, ela também afirmou que não deve haver uma delimitação
rígida entre as posições esquizoparanóide e depressiva, e que alguns elementos de culpa
podem se manifestar precocemente. O problema da culpa e sua participação na evolução do
indivíduo ainda não foram totalmente elucidados.
Para Scotti (2003) a culpa não pode ser reduzida a uma noção moral ou religiosa, mas
sim como uma estrutura psíquica que está presente na constituição do sujeito. A culpa seria
uma resposta ao sentimento de falta e à impossibilidade de preencher essa falta.

3 METODOLOGIA

REFERÊNCIAS

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