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- Falando em leitura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
- Como e quando começamos a ler . . . • . . . . 11
- Ampliando a noção de leitura . . . . . . . . . . . 22
- O ato de ler e os sentidos, as emoções e a
razão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
- A leitura ao jeito de cada leitor. . . . . . . . . . 82
- 1 ndicações para leitura ........... ·. . . . . 88
- Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
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O mais dillcíl� mesmo, é a arte de desler
Maria Quintana
FALANDO EM LEITURA...
1 1
sumo.
• * •
,. ..,
certamente muitos outros, simpatiza com minha
proposta, embora fique pouco à vontade em seu
"contra"forte de letrado".
Daí ser preciso não só reve1ar a insatisfação
quanto aos limites de noções estratificadas pelos
séculos. como também ousar questioná-las.,
aventando a1ternativas.
• • •
As inumeras concepções vigentes de /eiturs i
grosso modo, podem ser sintetizadas em duas
caracterizações:
1) como uma decodificação mecânica de signos
lingü(sticos_ por meio de aprendizado estabelecido
a partir do condicionamento estímulo•resposta
(perspectiva beh avio rista-s k i n n er ia na):
2) como um processo de compreensão abran-
gente, cuja dinâmica envolve componentes senso
riais, emocionais, intelectuais� fisiológicos,
neurotógicos, bem como culturais, econômicos o
pol (ticos (perspectiva cognitivo--sociol6gica}.
Conforme as investigações interdisciplinares vfm·
apontando, esta últlma concepção dá cond;ções
de uma abordagem mais ampla e mesmo mais
aprofundada do assunto. Por certo cada área do
conhecimento enfatiza um aspecto mas_ não se
propondo delimitações estanques ,. está aberta ao
interdimbio de inf armações e experiências. Além
disso_ o debate ""decodificação versus compreensão f �
..._
32 Maria HeleM Martim
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O ATO DE LER E OS SENTIDOS,
AS EMOÇÕES E A RAZÃO
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Praticamente cada estudioso tem uma visão
diferenciada, talvez· por ser questão cada vez mais
repensada e acrescida de novas perspectivas, o
que sempre aumenta as possibilidades de com..
preendê--la 4
Leitura sensorial
A visão, o tato, a audição, o olfato e o gosto
podem ser apontados como os referenciais mais
. elementares do ato de ler. O exemplo, visto
anteriormente, dos momentos iniciais da relação
d� criança com o mundo ilustra a leitura sensorial.
De certa forma caracteriza a descoberta do
universo adulto no qual todos nós preçisamos
aprender a viver para sobreviver. Não se trata de
uma teitura elaborada; é antes uma resposta ime
d iata às. exigências e ofertas que esse mundo
apresenta; rei aciona-se com as primeiras esco I has
e motiva as primeiras revetações. Talvez, por isso
mesmo, R'la rcantes.
Essa leitura se nsoria I começa. po i S muito cedo
i
1
te na pélgina certa\ fazendo-os estarar. Debalde: eu
não tinha a sensação de possu (-los. Tentei sem
maior exito tratá ftlos como bonecas ,_ aca lentá-los t
betjâ-1os, surrá-los. Quase em lágrimas, acabei por
depô-los sobre os joelhos de minha mãe. Ela
levantou os olhos de seu trabalho: 'O que queres
que eu te leia, querido? As Fadas?' Perguntei,
incrédulo: As Fadas estão ai dentro?"
.Jâ os adultos tendem a uma postura mais inibida
diante do objeto livro� lsso porque há t sem dúvida ,.
urna tradição de culto a ele. Mesmo quando não
tinham a forma pera qual hoje os conhecemos, os
lrvros eram vistos como escritura sagrada, porta
dora da verdade, enigmática ou perigosa. E ê
inegável a seriedade que uma biblioteca sugere.
A casa onde se encontra uma estante com íivros
por s.i só já conota certo refinamento de espírito,
int� igência, cultura de seus moradores. Quanto
matS livros melhor. Não é à toa que se compra
(às vezes por metro) belos exemplares encaderna�
dos e se os põe bem à mostra ,. alardeando aos
visitantes o status I etrad a. Mesmo que esses I iv ros
jamajs sejam manuseadas, sua simples presença
fiisjca basta para indiciar sabedoria t Os fetichistas
compram & nos indiscriminadamente ,. .mais em
função de seu aspecto do que pe�a sua representa
tnt'idade, devido ao seu vaf ar intr(nseco, por seu
conteúdo ou autor. Há ainda um tipo de fetichista
mars sutil: o bibliófilo, co1ecionador de raridades,
as �ais muitas vezes sequer tem condições de
O que é Lf!ítura 45
•
avaliar, mas exibe�s com tal orgulho como se a
mera posse dos exemplares já lhe facultasse o
reconhecimento efetivo de import�ncia cu,tura1
e social, quando não a exclusividade de manuseio,
· deixando aos demais leitores apenas a possibUidade
de ler mediados por uma vitrina.
Diante de tal poder - a simples posse do objeto
livro pode significar erudição; sua leitura levar â
salvação os incrédulos, como quando repositório
das palavras de Cristo nos Evangelhos. ou construir
a loucura, como a do cavaleiro andante Quixote-�
a atitude do homem comum á historicamente
de respeito.
Mesmo o advento da era eletrônica, com o
rádio e a televisão, antes de arrefecer o culto aos
meios impressos e especialmente ao livro, acabou
enfatizando sua importância .. A suspeita - amea•
çadora para uns Uetrados) e alentadora para outros
(iletrados} - de que a escrita não seria ma;s
''indispensável para saber das coisas'' não se co ncre•
tizou. Pelo contraste entre o faciUtário da comu
nicação eletrônica ou da comunicação ora1 e a
complex,dade da escrita, acabam ainda sendo mais
valorizados os textos impressas, os I ivros; em
particular� e seus leitores. Estes optam pelo mais
"difícil" e, por sera escrita mais diffcU de entender,
seria possivelmente mais importânte que os outros
meios. Esse tipo de racioc(nio t comum entre a
popu1açfo iletrada e ,. sem dúvida, estimulado pelos
intelectuais. resulta ser um dos fatores maiores
46 ltfaria Helen11 Martíns
...
de sustentação do culto da letra e dos livros.
Os possuidores do poder da paravra escrita se
encarregam de sublinhar e alargar a aura mistifiª
cadota que a envolve ., certos de estarem, etes
t.arnbém, sob a proteção dos deuses; enquanto ao
leitor em geral cabe a submissão: o que está escrito .,
impresso e, principalmente ., publicado em forma
de Jivro é ;nquestion�vel; significa sabedoria,
ciência ,, arte a que o comum dos mortais só atinge
a, mo receptor passivo .. Não era de graça que Catulo
da Paixão Cearense, quando mostrava a alguém
seus manuscritos, advertia para o fato de que,
depois de impressos, ficariam melhores e ,. ao s.a{rem
em I ivro, esta riam excelentes.
Corolário desse poder é a ameaça que os textos
escritos podem inspirar. Daí as queimas e destrui
ções f as proibições daqueres considerados perigosos
pelos seus concorrentes na força de persuasão e
opressores do pensamento e expressão livres.
O exemplo mais acabado encontramos no lndex
Librorum Proibitorum ([ndice dos Livros Proibi
dos). uma lista de títulos elaborada pela tgreja
Católica Romana ...... para impedir a contaminação
da fé ou a corrupção moral u . De meadas do
séa.Jlo XVi até 1966, quando foi suspenso .. inúme
ras edições do lndex toram publicadas e, conse
quentemente, milhares de punições executadas, em
função da desobediência às proibições. Há quem
tenha rezado muitas Ave-Marias de penitência por
tef' lido algum dos livros malditos, quando nãq
...
O que ê Leitura 47·
Leitura emocional
Sob o ponto de vista da cultura letrada, se a
le1tura sensorial parece menor, superficial pela sua
própria natureza, a leitura emocional também tem
seu teor de inferioridade: ela lida com os senti
mentos, o que necessariamente implicaria falta de
objetividade, subjetivismo. No terreno das emoções
as co1sas ficam ininteligíveis, escapam ao controle
do leitor f que se vê envo1vido por verdadeiras
arma:dilhas trançadas no seu inconsciente. Não
O que e Leitura 49
asp,
especial de n�ossas vidas. cheio de sonhas e
rações.
O que é Leitura SI
Leitura racional
Para muitos só agora estariamas no âmbito do
srarus letrado f próprjo da verdadeira capacidade
de produzir e apreciar a lin�agem, eni especial
a artist ica. Enfim, leitura � co;sa séria, dizem os
i n t el ect uai s. R e Ia ei o ná-1 a com nossas experiências
sensoriais e emociona is diminui sua sign if ícação .,
revela ignorãncia 4 1 magine-se o absurdo de ir ao
teatro e divertir-se com Otelo ou Ricardo Ili
O que é Leitura 63
as disposições em contriirio''.
Outro aspecto muito difundido dessa concepção
intelectua I liga·se ao fato de, em principio, limitar
a noção de leitura ao texto escrito, pres.s�pondo
educação farmai e ceno grau de rultura ou mesmo
erudição do leitor.
Como se viu de início ., discuto aqui a visão da
le •tu ra confinada à escrita e a o texto literário ou
às manifestações artísticas em gera 1 ., propondo
vê-la como um processo de compreensão abran
gente t no qual o leitor participa com todas as suas·
capacidades a fim de apreender as mais diversas
O que e Leitura 6S
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A LEITURA AO JEITO
DE CADA LEITOR
-
INDICAÇÕES PARA LEITURA
..
elementos substanciais para a questão da leitura..
. Comece por Paulo Freire. Na simplicidade de
sua linguagem. como nenhum outro ainda ., indica
os meios para aprender a ler e conquistar os
caminhos para a liberdade. Seu A Importância do
Ato de Ler é fundamental: fininho ., com três
·artigos_ um dos quais foi a pedra de toque para a
elaboração deste meu texto. Pedagogia do Oprimi-
.. ao; üm cJássico com numerosas edições e traduções..
Aí o grande educado-r brasileiro faz um retrato da
questão educacional e do problema da alfabetiza
ção em países subdesenvolvidos. Examina aspectos
básicos dos fracassos e propãe alternativas, tendo
em vista uma educação efetiva e liberadora.
Discutindo a teitura na escola e na universidade
brasileiras, Osman Lins., em Do Ideal e da Glória,
torna•se um refrigério para os estudantes. e profes
sores insatisfeitos com o que se considera leitura e
literatura" na sala de aula. Numa série de artiQOS ..,
em tom jomal(stico, faz a crítica e mostra como se
pode enfrentar o desânimo de uma leitura imposta...
Em A Art.e de ler, de Mortimer Adrer e Van
Doren .. se enoontra talvez o tEi>Cto mais robusto e
deJalhado publicado em português sobre_ leitura.
Lá estão os níveis de·reitura apresentados de modo
diferente do visto aqui� mas sem dúvida muito
esclarecedor.. A obra .. apesar de extensa, é em
linguagem acessível e está bem organizada, em itens
que podem ser facilmente consultados. Os autores
abordam desde o comportamento do leitor
O que é Leicuro 91
r ....
Bibliovrar.a
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Biografia
Caro laHor:
As opiniões expressos neste iivro sõo as do autor,
podem nôo ser os suas. Caso você ache que vale a
pena escrever um outro livro sobre o mesmo tema,
nós estamos dispostos a estudar sua pubUcaçõo
com o mesmo titulo como ��segunda visão'�.