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Um Catálogo de

Cosmovisões: Niilismo e
Existencialismo

• SIRE, James W. O universo ao lado: um


catálogo básico sobre cosmovisão. 4.ed. São
Paulo: Hagnos, 2009. (com adaptações)
Do que falávamos,
mesmo?...
“O homem é um produto de causas
que não têm previsão do fim que
estão promovendo; sua origem, suas
esperanças e medos, seus amores e
crenças são apenas resultados de
colocações acidentais de átomos, nem
fogo, nem heroísmo, nem intensidade
de pensamento, nem sentimento
poderão preservar um indivíduo na
vida além-túmulo”
(B. Russell)
Niilismo
• O Niilismo provém do latim (nihil, nada) e
consiste em um ceticismo radical quanto ao
conhecimento, a moral, a arte e demais
atividades humanas;

• Niilismo é mais um sentimento… talvez não uma


filosofia, mas uma negação dela, da
possibilidade de conhecimento e de tudo aquilo
que possui valor. (p.109)

• Em outras palavras, o niilismo é a negação de


todas as coisas – conhecimento, ética, beleza,
realidade. Nenhuma afirmação possui validade;
nada tem significado, tudo é dispensável, isto é,
apenas existe.(p.110)
Niilismo

• Os sentimentos de desespero, ansiedade e


tédio estão associados ao niilismo.
• As galerias de arte moderna estão repletas
de seus produtos – como se fosse possível
falar de algo (objetos de arte) provenientes
do nada (artistas que, se existem, negam o
valor supremo de sua própria existência).
• O ‘urinol de porcelana comum de Marcel
Duchamp’, assinado com um nome fictício
e rotulado como “A Fonte”, constitui-se
como um bom ponto de partida.(p.110)
Niilismo
• Implicações

• O niilista precisa lidar com a angústia


do vazio humano, de uma vida que é
desprovida de valor, de propósito, de
significado.(p.113)
• Toda vez que os niilistas pensam e
confiam em seu pensamento, eles
estão sendo inconsistentes, pois têm
negado que aquele pensamento
possui valor ou que pode levar ao
conhecimento. (p.135)
Existencialismo

• Em um ensaio publicado em 1950, Albert Camus


escreveu: “Uma literatura do desespero é uma
contradição de termos. [...]
• Nas profundezas mais sombrias do nosso niilismo
eu buscava apenas os meios de transcender o
niilismo”.
• Aqui se resume, em uma frase, a essência do
objetivo mais importante do existencialismo:
transcender o niilismo. (p. 131-132).
Existencialismo

• Algumas premissas:
• A matéria existe eternamente;
• Deus não existe;
• A morte é a extinção da personalidade e da individualidade;
• Por meio da razão humana inata e autônoma, incluindo os
métodos da ciência, podemos conhecer o universo;
• O cosmo, incluindo este mundo, encontra-se em seu estado
normal;
• A ética se relaciona apenas com os seres humanos;
• A história é o fluxo linear de acontecimentos ligados por causa
e efeito, mas sem propósito abrangente; (133)
Existencialismo

• O interesse principal do existencialismo reside na


humanidade e em como podemos ser
significativos em um mundo de outro modo
insignificante. (133)
Existencialismo

• A realidade, ao menos para os seres humanos, aparece em duas formas:


subjetiva e objetiva; (133)
• O mundo objetivo: o mundo da matéria, da lei inexorável, da causa e
efeito, do tempo cronológico, do fluxo, do mecanismo. [...] Aqui, dizem os
existencialistas, a ciência e a lógica obtêm sucesso.
• O mundo subjetivo: o mundo da mente, da consciência, da percepção ,
da liberdade, da estabilidade. Aqui a consciência interior da mente é um
presente consciente, o constante agora. O tempo não tem significado,
pois o sujeito é sempre presente para si mesmo, nunca passado, nunca
futuro. A ciência e a lógica não penetram nesse domínio; elas nada têm a
dizer sobre a subjetividade. Subjetividade é a auto apreensão do não eu;
subjetividade é fazer esse não eu parte de si mesmo. O sujeito assimila
conhecimento não como a garrafa assimila o líquido, mas como o
organismo assimila a comida. O conhecimento se transforma no
conhecedor. 134
Existencialismo
• O existencialismo enfatiza a desunião dos dois mundos e decide com vigor a favor do
subjetivo. [...] Somos os únicos seres no universo autoconscientes e autodeterminados, e
agimos, portanto, a partir desses dados. 135
 
• Nossa importância não depende de fatos do mundo objetivo sobre os quais não temos
nenhum controle, mas da consciência do mundo subjetivo sobre o qual temos controle
total. 135

• Não há de fato um elemento transcendente nos seres humanos, mas “Se Deus não existe,
há pelo menos um ser em quem a existência precede a essência, um ser existente antes
de poder ser definido por qualquer conceito, [...] este ser é o homem”. 135, citando
Sartre

• “Em primeiro lugar, o homem existe, cresce, entra em cena e só mais tarde define a si
mesmo” 135, citando Sartre;
Existencialismo

• Para Sartre: “Escolher ser isto ou aquilo


significa afirmar ao mesmo tempo o
valor do que escolhemos, porque nunca
podemos escolher o mal. Sempre
escolhemos o bem”. Assim, o bem é a
escolha da pessoa; ele faz parte da
subjetividade, não é medido pelo
padrão fora da dimensão humana
individual. 138
Existencialismo
• Dois problemas para a ética:
• A subjetividade leva ao solipsismo, a afirmação
de que cada pessoa determina os valores e há,
portanto, tantos centros de valor quanto
pessoas no cosmo em dado momento;
• Se criamos valor apenas ao escolher, e “nunca
podemos escolher o mal”, então o bem reside
no simples ato de escolher. Essa definição
satisfaz a sensibilidade moral humana? Será que
o bem consiste apenas em qualquer ação
escolhida com paixão? Muitos podem se
lembrar de ações aparentemente escolhidas
com consciência, que se revelaram erradas. 139
Existencialismo
• Na obra Os irmãos Karamazov (1880),
Dostoievski faz Ivan Karamazov dizer
que se Deus está morto, então tudo é
permitido. Em outras palavras, se não
existe um padrão transcendente do
bem, então, não há meios de se fazer
distinção entre o certo e o errado, o
bem e o mal, e não poderá haver
santos ou pecadores, tampouco
pessoas boas ou más. Se Deus está
morto, a ética torna-se impossível.
(p.153)
Existencialismo
No curso do pensamento ocidental, nós, por
fim, chegamos a um impasse:
• O naturalismo leva ao niilismo, e este, por
sua vez é difícil de transcender nos termos
que o mundo ocidental, permeado pelo
naturalismo, deseja aceitar.
• O existencialismo ateísta…é uma tentativa,
mas ele apresenta alguns problemas sérios.
• O teísmo é uma opção, mas, um naturalista
aceitaria a existência de um Deus
transcendente, infinito e pessoal?
• (p.179)

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