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Professor: André de Sant Anna

Disciplina: Existencial Humanista


Discente: José Alexandrino Saraiva Filho

ESTUDO DIRIGIDO

Questões:
1. Como compreender a máxima existencialista de que “a existência, precede a
essência”?

Para Sartre se nós pensarmos nas coisas que conhecemos, podemos concluir que antes de
elas existirem de fato, já exista uma “concepção” pré-definida, ou seja, já existe um projeto para as
coisas e para que elas sirvam; mas para o existencialismo sartriano esse raciocínio não pode ser
aplicado aos seres humanos. Isso porque esse existencialismo do filósofo é ateu. Assim, se não há
um Deus para conceber o homem e para lhe dar alguma finalidade (a prévia das coisas), um Deus
logo construiria o homem à sua “imagem e semelhança”, então esse homem (Deus) simplesmente
existe, e a sua “essência” será apenas aquilo que ele fizer de si mesmo, aquilo que ele quiser.

9 - Apresente o significado de dasein.

O “Dasein” é diferente do pensar cartesiano por estar “sempre já” no mundo, e não
separado dele. Enquanto Descartes trata a sua mente de forma qualificada como uma fonte de
certeza e compara o mundo das coisas materiais com ela, Heidegger enfatiza a realidade vivida de
nosso ser em um mundo que não é de nossa própria escolha. Dasein tem um envolvimento muito
maior assim como uma existência incorporada e física situada no tempo e no cenário sócio-
histórico e até dimensões ignoradas pelo Eu cartesiano. O Ser de Dasein é um projeto em aberto
de “vir a ser”: ora, criamos a nós mesmos através de nossas escolhas e ações. Heidegger faz a
descrição das dimensões afetivas do ser, tais como as experiências do tédio, ansiedade, culpas e
medos. E por lidar com problemas gerais da condição humana, ele é visto, muitas vezes, como o
pai do existencialismo.

13 – Como o sentido dado ao fenômeno pode ser articulado na clínica existencial?

Cada ser humano é único e dono do seu destino, os nossos pensamentos quando
verbalizados em ações, invocam não o outro, mas a nós mesmos assumir a escolha, ou seja,
assumir a responsabilidade por todas as nossas ações, e os resultados que estas geram em nossas
vidas. Na clínica existencial somos exclusivamente senhores dos nossos destinos, não se pode
fugir das noções substancializadas por essas escolhas.

5. Apresente os estágios da existência de Kierkegaard.


Segundo o livro “O que é o Existencialismo”Kierkegaard - João da Pena – ele cita essa
divisão em três estágios: o estético, o ético e o religioso. Sendo que temos no 1º estágio, o
estético, o homem busca um sentido para sua existência. Enquanto investiga as razões de seu
viver, permanece sob o total domínio dos sentidos, dos sentimentos. Convicto de que é
inteiramente livre, vive ao sabor dos impulsos, procurando desfrutar, extraindo o máximo de
prazer, cada instante da vida, entregando-se a todos os prazeres e sensações, visto que percebe que
tudo é fugaz, passageiro, que as emoções vividas jamais se repetirão. Faz o que lhe dá na telha,
como na expressão popular.
Nessa fase, o indivíduo vive sob o signo da escolha, conceito que ocupará lugar de destaque na
doutrina existencialista, em especial na corrente sartriana. Não existem, segundo Kierkegaard,
razões lógicas que determinem como cada um deve se conduzir na vida. Racionalmente, é
impossível ao homem encontrar os motivos justificadores desta ou daquela forma de viver.
Inexistem critérios que estabeleçam a opção entre isto ou aquilo.
No íntimo, entretanto, o homem sente que a permanente disponibilidade para agir segundo seus
ditames pessoais não lhe traz satisfação. As experiências sensoriais, retidas na memória como
forma de fixar o momento que passa, não lhe oferecem a recompensa almejada, ou seja, a
revelação do sentido de sua existência.
Frustrado em seu objetivo, torna-se melancólico e entediado. Refugia-se, então, em seu passado,
que idealiza. Mas a fuga mostra-se inútil, pois através dela o homem se distancia cada vez mais da
solução de seu problema. Permanecer indefinidamente no estágio estético é condenar-se à total
depravação. Em vez de libertar-se, mais o homem se aprisiona numa existência vazia. Insatisfeito
nessa busca estética, o homem atormenta-se e cai no desespero. Mas o desespero, de acordo com
Kierkegaard, não é algo que rebaixe o indivíduo. Em O Desespero Humano, ele escreve que a
superioridade do homem sobre o animal consiste justamente em sua capacidade de se desesperar.
Através do desespero que o homem alcança o 2º estágio seguinte, o ético, pois só assim
abandonará as experiências dissipadoras e a atitude passiva diante da realidade. Vivendo
eticamente, sairá do marasmo existencial em que se encontrava. Mantendo ainda sua
individualidade, descobrirá, no entanto, que não pode ignorar as exigências do mundo exterior,
com suas normas e convenções. A vida não é um jogo, por isso impõe a cada. um assumir a
responsabilidade de seus atos, reconhecer os erros cometidos, admitir suas culpas. No estágio
ético, a personalidade do indivíduo permanece livre, mas nos limites estabelecidos pela sociedade.
O contraste entre o estético e o ético Kierkegaard exemplifica com as obrigações matrimoniais.
"Quanto aos esponsais — escreve no Diário — o diabo é haver neles sempre tanta ética, o que é
tão enfadonho quando se trata de ciência como quando se trata da vida. Que espantosa diferença!
Sob o céu da estética tudo é leve, belo, fugidio; mas assim que a ética se mete no assunto, tudo se
torna duro, anguloso e infinitamente fatigante".
Se as exigências da ética conscientizam o indivíduo de suas falhas, não conseguem, contudo,
proporcionar-lhe a existência pela qual anseia. Esta ele só encontrará no estágio religioso, a fase
culminante do desenvolvimento existencial. Mediante a religiosidade, o homem alcança uma
relação particular com o Absoluto. Deus torna-se a regra do indivíduo, a única fonte capaz de
realizá-lo plenamente.
No seu livro “Temor e Tremor”, Kierkegaard analisa o salto do ético para o religioso através das
versões que confere à narrativa bíblica de Abraão e Isaac. Deus exige de Abraão o sacrifício de
seu filho Isaac. Abraão tem de escolher entre as exigências racionais e éticas e a ordem divina,
entre a transgressão e a obediência. Certo da onipotência de Deus, Abraão repudia a ética e a razão
e escolhe a fé, "a mais alta paixão do homem", proclama Kierkegaard. A fé tudo suplanta. Ela está
acima dos princípios da razão e da moral.
A religião reina soberana sobre a ética. Só a fé pode resolver a única questão que se apresenta ao
homem: a do mal. Ao indivíduo resta apenas escolher, decidir o que é deverá fazer ou ser, sendo-
lhe impossível fugir à liberdade dessa escolha. Abraão fez sua escolha: saltou do ético para o
religioso.
Suspendeu o ético, o racional, e acatou o absurdo da exigência divina. Nenhuma escolha depende
de critérios racionais. A razão, na perspectiva kierkegaardiana, é impotente para guiar nossas
ações.

7. O que significa afirmar que “a consciência é sempre consciência de alguma coisa”?

A seguinte afirmação é do filósofo Husserl, que indagou que os nossos atos mentais,
psíquicos tudo o que temos na consciência tem por finalidade um objeto; as coisas não ocorrem
aleatoriamente, nada ocorre no vazio, sem uma causa..e o método fenomenológico foi para ele a
terceira via, logo, as ideias só seriam ideias debruçadas sobre algo sobre si mesmas; os fenômenos
e as ideias(criação) se interligam, se provocam e a fenomenologia iria nessa busca da essência,
para vir como a experiência das coisas seriam processadas nas impressões da realidade, como vir a
coisa como ela é? Mas para isso precisaria que a pessoa fizesse a suspensão de seus juízos
analíticos sobre tudo que há; ser um expectador de si mesmo; sem afirmações, sem negar, com
uma renúncia do mundo e de si mesmo, uma espécie de redução fenomenológica a epoche – cessar
– e vivendo nesse estado de repouso mental, hibernação dos juízos, para assim, ao ser humano o
mundo real, objetivo só estaria pairado aquilo que seria impossível de ser negado, na consciência
como por ex. “eu existo” é o agora, não temos a garantia de nada” É uma observação pura do
pensamento e o objeto desse pensamento.

8. Como a epoche poder ser utilizada na clínica existencial?


O fazer da clínica, dos seus modos de agir, ser e estar no mundo, a clinica existencial, o
psicólogo não ignora a existência da realidade do sujeito, é importante o uso da suspensão
temporária dos juízos, das nossas interpretações, de encontro com a escuta da intencionalidade e
alteridade com o paciente, de modo que a fenomenologia de Husserl que há o olhar nas suas
manifestações individuais, e os mais diversos afetivos ou cognitivos.

11- Como articular liberdade, angústia e responsabilidade na clínica existencial?


As questões sartreanas, rigorosamente são provocativas, pois não se é menos livre porque
não se consegue o que se quer, mas seriamos “não-livres” (impossível) se todo o nosso querer
fosse condicionado; por ex. o homem é livre mesmo preso em uma cela, pode parecer paradoxo,
mas ele pode projetar o que quer naquilo que se revela a ele. As nossas adversidades não limitam a
nossa liberdade, a liberdade não se refere ao poder, mas ao querer. A liberdade não é uma
propriedade do homem, não é uma entidade, algo cravado no seu próprio espírito, ela é um ato, um
modo mesmo da ação humana no mundo. E para chegar à angústia pela liberdade que ele tem, ele
por saber que é livre plenamente, é essa revelação..é essa a possibilidade que ele é no mundo com
suas relações na reflexão, com a decisão nua a partir do nada, de decidir que pode romper e
separar-se; de saber que pode ir e voltar, de saber que pode decidir ou não, é essa descoberta que
ele o sabe angustiado de questões que ele pode recusar ou aceitar. A angústia, portanto é a
experiência que ele vive em face da descoberta da liberdade.
Para conceito de responsabilidade na clínica existencial, ela não tem um sentido jurídico;
ou seja, a pessoa não é chamada para explicar-se. Não é uma responsabilidade aos olhos dos
outros por alguma ação praticada, o conceito é muito mais amplo. A responsabilidade na
existencial seria no sentido de consciência de ser ele o autor de um evento ou objeto pela própria
liberdade; ela não é separada e anterior a mim, ela só existe por mim, exatamente na medida em
que minha liberdade se faz presente desta ou daquela maneira. Responsabilidade também seria a
consciência dessa culpa, essa interpretação poderia fazer supor que a culpa é uma reivindicação de
que o homem deve fazer das conseqüências de sua liberdade. E essa conseqüência é apontada
como sendo apenas a consciência de sua liberdade, que ele denomina responsabilidade. Se o
homem torna a sua responsabilidade culpada, isto é obra sua, de sua liberdade, ele deve assumir a
situação, com a consciência “orgulhosa de ser o autor da própria vida, liberdade e
responsabilidade, sem desculpas.

José Alexandrino S. Filho

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