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“Sejam realistas: exijam o impossível!


Identidades sociais e culturais
Parte II
O DEBATE SOCIOLÓGICO SOBRE A
IDENTIDADE
SOCIOLOGIA E IDENTIDADE

• Vejamos algumas ideias sobre o tema


debatidas por teóricos como

George Herbert Mead (1863-1931),


Erving Goffman (1922-1982) e
Stuart Hall (1932-2014).
George Herbert Mead
Dizia que nós somos o que somos
porque adquirimos ao longo da
vida traços característicos do nosso “self”, por
meio das interações sociais que estabelecemos
com outros indivíduos.
Trata-se de um self social, ou seja, as atitudes do
indivíduo sobre o meio social em que vive
refletem a consciência que ele tem de si mesmo –
mas esta só é possível mediante contatos sociais.
Ela não é inata; não é biológica ou genética.
Um caso verídico ocorrido em 1820,
na Alemanha, ilustra bem a ideia
de Mead: Kaspar Hauser foi um me-
nino que permaneceu encarcerado
e teve o seu primeiro contato com
outros humanos aos 16 anos.
Somente então é que aprendeu a falar e a se comportar
na sociedade segundo os padrões socialmente
estabelecidos.
Esse caso ilustra como o self é impossível de ser
concebido sem qualquer contato com outras pessoas,
como afirmava Mead.
Cena do filme “O enigma de Kaspar Hauser”
(Alemanha, 1974). Direção: Werner Herzog
Erving Goffman
Dizia que a vida social do indivíduo – a
sua identidade – pode ser entendida
como representação teatral, ou seja, a ação de um
indivíduo em relação a outros é condicionada pelo
modo como este sujeito quer aparecer diante dos
outros.
Para Goffman, portanto, o indivíduo e sua
identidade são produtos de uma cena que é
representada durante uma determinada situação.
SOCIOLOGIA E IDENTIDADE
“Quando um indivíduo chega à presença de
outros, estes, geralmente, procuram obter
informação a seu respeito ou trazem à baila a
que já possuem [...]
A informação a respeito do indivíduo serve para
definir a situação, tornando os outros capazes
de conhecer antecipadamente o que ele
esperará delas e o que dele podem esperar.
Assim informados, saberão qual a melhor
maneira de agir para dele obter uma resposta
desejada”
(GOFFMAN, 1975, p. 11)
SOCIOLOGIA E IDENTIDADE
Podemos dizer, pelo que apresentamos
aqui, que a ideia de IDENTIDADE de
Goffman é bem semelhante à de Mead.
Em ambas, pode-se afirmar que os
indivíduos assumem diversas
identidades, dependendo de uma
determinada situação social em que
estes mesmos indivíduos se encontram.
Stuart Hall
Dizia a identidade corresponde a pa-
péis distintos assumidos pelo indiví-
duo enquanto sujeito histórico per-
tencente a uma dada sociedade. No
Ocidente, as identidades do sujeito se constituíram
historicamente de três formas distintas: (1) uma
identidade que se consolida no Iluminismo; (2)
outra, tendo como base uma ideia de sujeito
sociológico; e, por fim, (3) uma concebida como
característica de um sujeito pós-moderno.
SOCIOLOGIA E IDENTIDADE
Para Hall, a primeira identidade do sujeito
teve como base

uma concepção de pessoa humana como


um indivíduo totalmente centrado,
unificado, dotado de capacidades de
razão, de consciência e de ação
(HALL, 2004, p. 10).
SOCIOLOGIA E IDENTIDADE
Essa primeira concepção de identidade estava
associada à afirmação da centralidade do
homem (antropocentrismo), em oposição
ao teocentrismo vigente na Idade Média.
Esse “novo indivíduo” teve origem no
Renascimento (séc. XVI) e se consolidou no
Iluminismo (séc. XVIII) como afirmação da
razão humana e do desenvolvimento da
ciência e do capitalismo.
SOCIOLOGIA E IDENTIDADE
A segunda concepção de identidade é
desenvolvida a partir da anterior, mas
baseada na noção de um sujeito
sociológico, que coincidiu com a ascensão
da sociedade moderna, associada ao
capitalismo (séc. XIX). Trata-se de um
sujeito totalmente relacionado às
estruturas de poder, sendo branco,
europeu, anglo-saxão, do sexo masculino e
cristão. Identidades distintas dessas
características deveriam estar subordinadas
ao poder desse sujeito sociológico.
Antropocentrismo ou
EUROCENTRISMO?
SOCIOLOGIA E IDENTIDADE
A terceira concepção de identidade
começa pelo desmonte do sujeito
moderno citado anteriormente, que
ocorreu a partir da década de 1960.
Trata-se agora de um sujeito pós-
moderno, no qual coexistem diversas
identidades simultâneas e até
contraditórias, todas de caráter cultural.
SOCIOLOGIA E IDENTIDADE
Esse sujeito pós-moderno não teria um
“centro”, ou melhor, teria este “deslocado”,
desarticulado, perdido a estabilidade. Ao
contrário do sujeito sociológico do séc. XIX,
cuja identidade é centrada na sua
nacionalidade e nas suas características
físicas (cor da pele, sexo,...), o sujeito pós-
moderno apresentaria
múltiplas identidades, sem que uma
determinada se impusesse às demais.
O sujeito pós-moderno e suas
múltiplas identidades
(arte by Sadrack, p. 71)
SOCIOLOGIA E IDENTIDADE
Para finalizar, voltemos ao tema das
identidades dos jovens.
O que vocês acham agora, pensando na
realidade da juventude brasileira:
Podemos dizer que vocês – os jovens deste país
– têm uma determinada identidade?
Ou será que têm várias identidades?
Para além da condição juvenil, será que podemos
falar na existência de uma identidade
brasileira?
Vamos ao debate...
Referência:

“O enigma de Kaspar Hauser” (Jeder für sich


und Gott gegen alle, Alemanha, 1974). Direção:
Werner Herzog. Duração: 110min.

OLIVEIRA, L. F.; COSTA, R. C. R. Sociologia para


Jovens do Século XXI. 4ª ed. Rio de Janeiro:
Imperial Novo Milênio, 2016, p. 65-77 [Cap. 5]

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