Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PROBLEMATIZANDO AS
IDENTIDADES
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Esta unidade tem por objetivos:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. Você encontrará atividades que
visam a compreensão dos conteúdos apresentados no final de cada tópico.
TÓPICO 1 –
A IDENTIDADE PARA OS ANTIGOS: ESSENCIALISMO
IDENTITÁRIO
1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
Aquilo que o sujeito é acompanha os acontecimentos e contextos
socialmente objetivados na forma de relações sociais e de fronteiras que se deslocam
constantemente. E muitas das atuais questões polêmicas ligadas às mudanças nos
padrões identitários – aos níveis individuais e coletivos – estão ancoradas em
afirmações nebulosas localizadas nesses passados.
Neste tópico, vamos fazer uma jornada pela história. As relações entre
diferentes culturas em períodos da antiguidade até os dias de hoje e de que maneira
esses encontros promoveram identidades e diferenças. Com isso, esperamos abrir
caminhos para o aprofundamento de seus conhecimentos sobre a historicidade
dos conceitos. Como veremos a seguir, mesmo no passado as fronteiras não eram
percebidas apenas como geográficas.
Vamos lá?
3
UNIDADE 1 | PROBLEMATIZANDO AS IDENTIDADES
Tal ideia tem gerado hoje críticas e novos modelos teóricos propostos para
entender como funcionam as identidades contemporâneas, articulando identidade
e diferença.
Porém, como dissemos, nem sempre foi assim. Os povos antigos e da Idade
Média tinham outra concepção identitária, autossuficiente, fechada em si mesma.
Os outros povos não tinham uma identidade específica. Eram os diferentes:
selvagens e bárbaros cujas palavras são invenção do passado.
4
TÓPICO 1 | A IDENTIDADE PARA OS ANTIGOS: ESSENCIALISMO IDENTITÁRIO
5
UNIDADE 1 | PROBLEMATIZANDO AS IDENTIDADES
Apesar disso, como aponta Stuart Hall (2006), essas versões serviram para
equilibrar e estabilizar o mundo social, apontando “quadros de referência que davam
aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social” (p. 7). Conforme o autor:
[...] A lógica do discurso identitário assume um sujeito estável, isto é, temos
assumido que há algo que nós podemos chamar de nossa identidade, o
que, em um mundo que muda rapidamente, tem a grande vantagem
de permanecer imóvel. Identidades são uma forma de garantia de que
o mundo não está se desmoronando tão rapidamente quanto algumas
vezes parece. É um tipo de ponto fixo do pensamento e do ser, uma base
de ação, um ponto parado no mundo em transformação. Este é o tipo de
garantia última que a identidade parece nos prover (HALL, 2016, p. 317).
Neste sentido, essa visão essencialista estimula nos seus adeptos a ilusão de
um conjunto de características autênticas e que são partilhadas e experimentadas
por um grupo inteiro. É com este caráter que falamos, por exemplo, em identidade
brasileira. Quando nos referimos a essa identidade, todas as diferenças internas
do país são anuladas em torno de uma unidade. E nós sabemos que cada região
brasileira possui características sociais e culturais muito distintas, que tornam
complexo pensar uma unidade!
6
TÓPICO 1 | A IDENTIDADE PARA OS ANTIGOS: ESSENCIALISMO IDENTITÁRIO
7
UNIDADE 1 | PROBLEMATIZANDO AS IDENTIDADES
Para Claude Mossé (2004, p. 7), a civilização grega é, “antes de mais nada,
civilização da pólis, civilização política”. E conforme Jean-Pierre Vernant (2002), a
pólis estimulou o desenvolvimento de novas mentalidades, especialmente entre os
atenienses e suas colônias. Esta resultou em transformações materiais que foram
incorporadas à vida: a predominância da palavra no debate público, a publicidade
das suas manifestações políticas e culturais e uma ideia de interesse comum entre
os seus habitantes.
8
TÓPICO 1 | A IDENTIDADE PARA OS ANTIGOS: ESSENCIALISMO IDENTITÁRIO
O que ele quer dizer com “Paideia”? Ele implica a ideia de uma formação
moral, religiosa, cívica comum reproduzida através da educação grega. E isso
quer dizer o estudo e o conhecimento em termos da poesia, filosofia, retórica,
matemática, música, astronomia, idioma, elementos essenciais da “alma” do
cidadão grego do período a partir do século V a.C. Este conjunto era ensinado
através das Academias ou por professores particulares, por filósofos nas ruas,
pelas peças teatrais. Era uma moral do dia a dia, a fim de orientar o cidadão ao bem
comum e aos valores gregos. Para Jaeger, havia uma unidade e um núcleo comum
de ideias entre os gregos (JAEGER, 1986).
Temos, então, uma civilização excepcional para aquela época. Tal conjunto
de valores era compartilhado entre os cidadãos das poleis. Escravos e estrangeiros
não eram obrigados ou educados em termos gregos, com exceções. Tal educação
de valores tinha início na infância, tanto para homens quanto para mulheres,
apesar das distinções nas formas de ensinar e no objetivo destes conhecimentos.
Vale dizer que a sociedade grega era uma sociedade de cidadãos, mas a plenitude
cidadã era reservada somente aos homens.
9
UNIDADE 1 | PROBLEMATIZANDO AS IDENTIDADES
antes mesmo dos períodos Arcaico e Clássico. Havia interação e laços comerciais e
culturais entre os povos do Mar Mediterrâneo. Havia, sim, um sentimento de “ser
grego” compartilhado nos modos de vida e nas instituições sociais.
Antes dessas guerras contra persas, havia, entre os séculos VII e VI a.C.,
uma fascinação pelos povos como egípcios e localizados no Oriente Próximo
(HALL, 2001). A identidade helênica vinha sendo construída de “forma agregativa
por meio da percepção de similaridades com grupos de pares” (HALL, 2001,
p. 218-219). Ao longo deste período, os bárbaros eram aqueles que não falavam
grego. Que eram incompreensíveis, portanto. Mas a partir do século VI a.C. houve
mudanças cruciais para a cristalização da identidade grega.
10
TÓPICO 1 | A IDENTIDADE PARA OS ANTIGOS: ESSENCIALISMO IDENTITÁRIO
uma cultura, tradição antiga. Os traços culturais podem mudar. Depende, sim, da
delimitação de limites entre os grupos e de reforçar laços de solidariedade.
11
UNIDADE 1 | PROBLEMATIZANDO AS IDENTIDADES
12
TÓPICO 1 | A IDENTIDADE PARA OS ANTIGOS: ESSENCIALISMO IDENTITÁRIO
Além disso, existe uma visão clássica em torno de uma comunidade cultural
mediterrânea cuja potência criativa era a civilização romana. Isso levaria a destacar
um processo de assimilação da cultura romana pelos povos bárbaros dominados,
chamada de “romanização”, como apresentada. Esse termo está ligado a noções de
desenvolvimento, aculturação e à forma como os nativos adotaram e assimilaram
a cultura “romana”. A romanização tradicionalmente observada pela História
defende a ideia de difusão da cultura romana para regiões menos urbanas, mais
“bárbaras”. Tratava-se, em muitos casos, de uma “missão civilizatória romana”.
Essa crítica entende que:
13
UNIDADE 1 | PROBLEMATIZANDO AS IDENTIDADES
Isso não quer dizer que os romanos relativizavam as culturas de seus povos
dominados ou não se sentiam superiores. Pelo contrário, queremos dizer apenas
que a identidade romana era um assunto restrito à elite econômica, política, militar
e “sagrada”, ou alguns poucos segmentos mais ricos da sociedade romana.
14
TÓPICO 1 | A IDENTIDADE PARA OS ANTIGOS: ESSENCIALISMO IDENTITÁRIO
UNI
As pessoas que viveram essa época possuíam um imaginário social bastante fértil numa
relação muito próxima de situações do universo sagrado e profano. Além disso, as populações
medievais não registravam o tempo como nós fazemos hoje. Este tinha um sentido biológico
e cíclico para a vida. É por isso que as celebrações religiosas ou não – como a celebração do
ano-novo – ressaltavam um ciclo eterno e a repetição de eventos.
15
UNIDADE 1 | PROBLEMATIZANDO AS IDENTIDADES
[...] o golpe de mestre de Clóvis foi o de se converter, com seu povo, não
ao arianismo, como os demais reis bárbaros, mas ao catolicismo. Com
isto pôde jogar a cartada religiosa e beneficiar-se do apoio, senão do
papado ainda fraco, ao menos do poder da hierarquia católica e do não
menos poderoso monasticismo (LE GOFF, 2005, p. 32).
DICAS
19
UNIDADE 1 | PROBLEMATIZANDO AS IDENTIDADES
Sob esse ponto de vista, categorias como asiático, leste, Oriente falam
mais sobre a Europa do que os povos que supostamente classificam e enquadram
(HOBSBAWM; RANGER, 1998). Na leitura de Hobsbawm e Ranger, o autor aponta
para obras antigas e modernas escritas por viajantes e conquistadores visando
descrever os outros povos em termos de categorias europeias, num “denominador
comum” ao intelecto europeu. Estas estariam em oposição à identidade europeia.
Em geral, esse antagonismo estava dirigido para o Oriente e o Islã.
20
TÓPICO 1 | A IDENTIDADE PARA OS ANTIGOS: ESSENCIALISMO IDENTITÁRIO
21
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
• Que a base dessa visão identitária fundamenta-se numa filosofia e num trabalho
social de produção de sentidos com bases metafísicas. Nela, a identidade é uma
essência, uma unidade, aquilo que um povo é.
23
24
UNIDADE 1
TÓPICO 2
IDENTIDADE E MODERNIDADE
1 INTRODUÇÃO
No Tópico 1, procuramos observar o debate sobre o essencialismo
identitário. Localizamos sua origem em povos da história antiga, especialmente,
gregos e romanos. Foram importantes na medida em que serviram de base e de
legitimação para versões sobre a identidade tanto na Idade Média quanto nos
séculos seguintes.
25
UNIDADE 1 | PROBLEMATIZANDO AS IDENTIDADES
26
TÓPICO 2 | IDENTIDADE E MODERNIDADE
27
UNIDADE 1 | PROBLEMATIZANDO AS IDENTIDADES
É clássica sua expressão latina “Cogito, ergo sum” (Penso, logo existo). Este é
o único conhecimento confiável. Aqui surge um sujeito conectado com as mudanças
sociais desse período: singular, mas capaz da dúvida e da reflexão racional. Os
sentidos, as experiências imediatas deviam ser colocadas sob suspeição.
[...] não há, pois, dúvida alguma de que sou, se ele [o gênio maligno]
me engana; e, por mais que me engane, não pode fazer com que eu
nada seja, enquanto eu pensar ser alguma coisa. De sorte que, após
ter pensado bastante nisto e de ter examinado todas as coisas, cumpre
enfim concluir e ter por constante que esta proposição, eu sou, eu existo,
é necessariamente verdadeira todas as vezes que a enuncio ou que a
concebo em meu espírito (DESCARTES, 1973, p. 92).
28
TÓPICO 2 | IDENTIDADE E MODERNIDADE
29
UNIDADE 1 | PROBLEMATIZANDO AS IDENTIDADES
30
TÓPICO 2 | IDENTIDADE E MODERNIDADE
E daí, claro, esta visão está articulada com suas críticas à Ciência, ao Estado, a
essa necessidade de controle e previsão dos fenômenos e dos sujeitos. A modernidade
de Nietzsche era aquela que confundia conquistas culturais com progresso geral.
31
UNIDADE 1 | PROBLEMATIZANDO AS IDENTIDADES
Estimulada pela Razão, essa modernidade fez as pessoas assimilarem esses valores
como questões de liberdade ou felicidade. A Ciência era vista como pretensiosa
e arrogante, cuja especialização levou à pobreza das epistemologias; na política,
ideologias como a socialista anulavam as bases de uma hierarquia meritocrática.
Esse contexto moderno indicado por Friedrich Nietzsche colocava o indivíduo de
joelhos, enfraquecia suas capacidades. Esse cenário levava o indivíduo à confusão, ao
equívoco intelectual. Em suma, ao invés de afirmar as potências humanas criativas, a
Modernidade “secou” o sujeito, tornando-o “rebanho”.
32
TÓPICO 2 | IDENTIDADE E MODERNIDADE
4 A MODERNIDADE
Como definir a Modernidade? Quais suas características e mudanças que
estimulou? E de que maneira os efeitos da Modernidade têm impactado a produção
social das identidades nas sociedades contemporâneas?
35
UNIDADE 1 | PROBLEMATIZANDO AS IDENTIDADES
36
TÓPICO 2 | IDENTIDADE E MODERNIDADE
produção capitalistas, quer dizer, patrão e operário. Para Marx, essas contradições
eram características da modernidade.
38
TÓPICO 2 | IDENTIDADE E MODERNIDADE
39
UNIDADE 1 | PROBLEMATIZANDO AS IDENTIDADES
40
TÓPICO 2 | IDENTIDADE E MODERNIDADE
ela implica a crescente diferenciação dos diversos setores da vida social: política,
economia, vida familiar, religião, arte em particular, porque a racionalidade
instrumental se exerce no interior de um tipo de atividade e exclui que qualquer
um deles seja organizado do exterior. A modernidade era uma ideia, ela se torna
por acréscimo uma vontade, mas sem que seja rompido o vínculo entre a ação dos
homens e as leis da natureza e da história.
41
UNIDADE 1 | PROBLEMATIZANDO AS IDENTIDADES
42
TÓPICO 2 | IDENTIDADE E MODERNIDADE
43
UNIDADE 1 | PROBLEMATIZANDO AS IDENTIDADES
44
TÓPICO 2 | IDENTIDADE E MODERNIDADE
LEITURA COMPLEMENTAR
45
UNIDADE 1 | PROBLEMATIZANDO AS IDENTIDADES
a este jugo, os obriga doravante a permanecer sob ele quando por alguns dos seus
tutores, pessoalmente incapazes de qualquer ilustração, é a isso incitado. Semear
preconceitos é muito danoso, porque acabam por se vingar dos que pessoalmente,
ou os seus predecessores, foram os seus autores. Por conseguinte, um público só
muito lentamente consegue chegar à ilustração. Por meio de uma revolução talvez
se possa levar a cabo a queda do despotismo pessoal e da opressão gananciosa
ou dominadora, mas nunca uma verdadeira reforma do modo de pensar. Novos
preconceitos, justamente como os antigos, servirão de rédeas à grande massa
destituída de pensamento.
[...]
FONTE: KANT, Immanuel. Resposta à pergunta: o que é o iluminismo? In: A paz perpétua e outros
opúsculos, Lisboa, Edições 70, 1990. Disponível em: <http://www.uel.br/cch/his/arqdoc/kantPDEHIS.
pdf>. Acesso em: 20 jun. 2017.
46
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• Descartes e Kant mudaram essa percepção. Ao passo que para Descartes o sujeito
é aquele que pensa (Cogito ergo sum) e que suspeita das fraudes e conhecimentos
falsos, Kant se preocupa com as bases e possibilidades de conhecimento, de
entendimento do mundo e das coisas.
• Que o sujeito passou a ser questionado pela filosofia e pelas nascentes Ciências
Sociais, promovendo análises e críticas tendo a Modernidade como um elemento
importante nas transformações. Disso, pode-se indicar a Escola de Chicago e o
Interacionismo Simbólico.
47
AUTOATIVIDADE
48
UNIDADE 1
TÓPICO 3
IDENTIDADES NA
CONTEMPORANEIDADE
1 INTRODUÇÃO
No tópico anterior, discutimos alguns eventos de caráter social que
preenchem nosso passado e que foram relevantes num contexto de investigação
sobre a produção de identidades sociais.
49
UNIDADE 1 | PROBLEMATIZANDO AS IDENTIDADES
Vamos lá?
Ou será que identidade é aquilo que está “dentro” de nós, nossa essência
individual que faz sermos o que somos? Quer dizer, a nossa individualidade
50
TÓPICO 3 | IDENTIDADES NA CONTEMPORANEIDADE
51
UNIDADE 1 | PROBLEMATIZANDO AS IDENTIDADES
Woodward (2015, p. 40): “As identidades são fabricadas por meio da marcação da
diferença. Essa marcação da diferença ocorre tanto por meio de sistemas simbólicos
de representação quanto por meio de formas de exclusão social. A identidade, pois,
não é o oposto da diferença: a identidade depende da diferença”.
53
UNIDADE 1 | PROBLEMATIZANDO AS IDENTIDADES
Quer dizer, mais que uma crise subjetiva, só do eu, tipo uma depressão,
a autora afirma que se trata de um fenômeno social e histórico, radicalizado em
nosso período em que vivemos. E que, na maioria dos casos, essa crise possui uma
dimensão conflitiva em torno do reconhecimento.
UNI
O PODER
Bobbio, Matteucci e Pasquino (1997, p. 933), numa definição clássica de visão social e política
do poder, assim o definem:
54
TÓPICO 3 | IDENTIDADES NA CONTEMPORANEIDADE
Foucault, em suas obras, sempre procurou constituir uma genealogia do poder. Dentre suas
reflexões, podemos apontar outro tipo especial do poder, característico da pós-modernidade,
o biopoder.
55
UNIDADE 1 | PROBLEMATIZANDO AS IDENTIDADES
56
TÓPICO 3 | IDENTIDADES NA CONTEMPORANEIDADE
57
UNIDADE 1 | PROBLEMATIZANDO AS IDENTIDADES
Ser uma "pessoa" não é apenas ser um ator reflexivo, mas ter o conceito
de uma pessoa (enquanto aplicável ao eu e aos outros). O que se
entende por "pessoa" certamente varia nas diferentes culturas, embora
58
TÓPICO 3 | IDENTIDADES NA CONTEMPORANEIDADE
haja elementos dessa noção que são comuns a todas elas. A capacidade
de usar "eu" em contextos diferentes, característica de toda cultura
conhecida, é o traço mais fundamental das concepções reflexivas da
pessoidade (GIDDENS, 2002, p. 54).
59
UNIDADE 1 | PROBLEMATIZANDO AS IDENTIDADES
60
TÓPICO 3 | IDENTIDADES NA CONTEMPORANEIDADE
Hoje em dia, nada nos faz falar de modo mais solene ou prazeroso do
que as “redes” de “conexão” ou “relacionamentos”, só porque a “coisa
concreta” — as redes firmemente entretecidas, as conexões firmes e
seguras, os relacionamentos plenamente maduros — praticamente caiu
por terra (BAUMAN, 2005, p. 100).
A identidade é uma produção, não se nasce com ela (HALL, 2014). Essa
é a grande mudança no paradigma dominante que pensava a identidade fixa,
imutável. Existe, nesse sentido, uma crise de identidades? De todas ou algumas
identidades? Em geral, existem formas diversas de iniciar uma resposta. Existem
novas identidades? De certa forma. Algumas emergem de processos sociais de
invisibilidades, como as etnias indígenas, a mulher, o negro – outras surgem em
razão de fenômenos contemporâneos.
Stuart Hall (2014) aponta para uma crise das “velhas identidades”. Segundo
o autor, estas identidades estabilizadoras estão em declínio, acompanhando o
deslocamento da estrutura e dos processos das sociedades modernas. As identidades
modernas estariam sendo descentradas, isto é, deslocadas ou fragmentadas, num
movimento de “duplo deslocamento”, cuja força é a descentração dos indivíduos
tanto do seu lugar no mundo social e cultural quanto de si mesmos.
Tomaz Tadeu Silva também percebe uma crise de identidades. Tais crises
se originam nas mudanças intensas promovidas pela globalização, pela migração,
pela crise de países e ideologias nos anos 1970 e 1980, que desestabilizaram,
deixaram um vazio na forma de pertencimento. Como resultado, o aparecimento
de identidades plurais, de novas afirmações étnicas, religiosas e nacionais (2014).
62
TÓPICO 3 | IDENTIDADES NA CONTEMPORANEIDADE
64
TÓPICO 3 | IDENTIDADES NA CONTEMPORANEIDADE
66
TÓPICO 3 | IDENTIDADES NA CONTEMPORANEIDADE
67
UNIDADE 1 | PROBLEMATIZANDO AS IDENTIDADES
68
TÓPICO 3 | IDENTIDADES NA CONTEMPORANEIDADE
69
UNIDADE 1 | PROBLEMATIZANDO AS IDENTIDADES
70
TÓPICO 3 | IDENTIDADES NA CONTEMPORANEIDADE
DICAS
• Luta por Reconhecimento – a gramática moral dos conflitos sociais, de Axel Honneth (2003).
• Reconhecimento sem ética? Artigo de Nancy Fraser (2007) publicado na Revista Lua Nova.
de identidade. Para romper com este dilema, Fraser propõe uma concepção
bidimensional de justiça, levando em consideração as preocupações tradicionais
da justiça distributiva e igualmente abarcar as preocupações recentes salientadas
pelas filosofias do reconhecimento (FRASER, 2002).
72
TÓPICO 3 | IDENTIDADES NA CONTEMPORANEIDADE
74
TÓPICO 3 | IDENTIDADES NA CONTEMPORANEIDADE
Apesar do que foi até aqui dito, seria um erro supor que, por serem
eivadas de eurocentrismo, a filosofia e a teoria social europeia dos
séculos XVIII e XIX em nada teriam contribuído para o desvelamento
de realidades históricas não europeias. Em verdade, pouco se escreveu
e analisou, até o início do século XX, acerca da história de outros povos
e civilizações. Há, entretanto, uma questão importante. O fato é que, ao
se expressarem como universalistas sendo, em verdade, provincialistas,
os europeus ajudaram a criar o instrumental teórico pelo qual os demais
povos poderiam, tendencialmente, ressignificar a imagem que aqueles
faziam de si (BARBOSA, 2008, p. 49)
Também podemos apontar para um efeito atual que pode ser percebido e
que exerce força para a elasticidade do termo “cultura”. O assunto é tratado por
George Yudice na obra “A Conveniência da Cultura” (2006). A tese é que diante dos
atuais problemas sociais, ambientais, culturais, políticos e econômicos, a cultura se
tornou um recurso conveniente. Veja:
75
UNIDADE 1 | PROBLEMATIZANDO AS IDENTIDADES
76
TÓPICO 3 | IDENTIDADES NA CONTEMPORANEIDADE
LEITURA COMPLEMENTAR
Marcello Musto
Jornal da UNICAMP
O VENTO POPULISTA
O segundo, por sua vez, nasceu com a onda antieuropeísta. Nos últimos
anos, surgiram novos movimentos políticos declarados “pós-ideológicos”, que se
77
UNIDADE 1 | PROBLEMATIZANDO AS IDENTIDADES
Por fim, na Noruega, com 16,3% dos votos, o Partido do Progresso chegou pela
primeira vez ao governo com posicionamentos políticos igualmente reacionários.
PERIGO NO LESTE
80
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
81
AUTOATIVIDADE
5 O que é uma identidade híbrida para Nestor Garcia Canclini e para Stuart
Hall?
82