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Fenomenologia Existencialismo e Humanismo

- O que é ser humano?

Nós somos seres humanos, temos questões que nenhum outro animal tem. Sempre necessitamos
humanizar nossas relações. Humano refere-se àquilo que é mais humanizado no indivíduo. Tudo o
que é técnica/máquina é possível corrigir. O humano possui erros, é singular.

- O que é o humanismo? Quando nasceu? Com quem?

Humanismo não é abordagem/teoria, é um movimento, arte, literatura, posicionamento de mundo.


Não há uma corrente humanista ou uma escola humanista que se possa destacar da história do
pensamento - seja na filosofia ou em qualquer das ciências humanas sociais. É um movimento
amplo.
É apropriado encarar o humanismo como um movimento contínuo que brota em duas direções:
- Crítica às apropriações diversas que des-subjetivizam a realidade ou desapropriam o sujeito
humano de sua própria perspectiva e privilegiam valores específicos em detrimento de uma visão
de globalidade. - Todas as correntes que diminuem o homem a uma normativa, é criticada pelo
humanismo. O homem é potente, total. O humanismo considera o livre-arbítro.
- Como um projeto de valorização (ou de re-valorização) do humano. - O humano fala, tem voz.

O humanismo pode ser compreendido:

- Como o esforço de compreender um mundo de experiências humanas. - O humanismo vem no


movimento de acolher a singularidade;
- Doutrina através da qual o homem, do ponto de vista moral, deve ser ater exclusivamente ao que
é da ordem do humano; assim, designa uma concepção geral da vida (seja esta política, ética ou
econômica), que se funda na crença da saúde do homem por suas próprias forças, neste sentido,
opõe-se ao Cristianismo que crê somente na força de Deus - Crítica ao cristianismo. Considera
primeiro o homem e depois Deus, considera o poder do homem de transformar sua vida através de
si.
- Homem moderno e não mais submisso à vontade de Deus, mas senhor e possuidor da natureza. -
Está ligado aos sentidos do homem. Não precisa crer em Deus para dar conta de sua
potencialidade.

Humanismo:

- Como movimento literário e filosófico, com origem na Itália renascentista, na segunda metade do
séc XIV;
- Como qualquer movimento filosófico que considera como fundamento a natureza humana, seus
limites ou seus interesses; ou seja, toda filosofia que tome o homem como a “medida de qualquer
coisa”. - O ponto central do humanismo é o próprio homem.
- Termo generalizado para qualquer filosofia que coloque o homem no centro de suas
preocupações, ou como adjetivo aplicável a outros movimentos, como é o caso da “psicologia
humanista”;
- Humanismo: atitude concreta em favor do homem;
- Valorização do relativismo da subjetividade: singularidade do indivíduo;
- Renascimento do ideal de poder e potencialidade do ser humano;
- Valorização da interioridade, introspecção, mundo interno e privacidade;
- Valorização do humano: de sua independência, singularidade e seu destaque do mundo da
natureza - ver o ser humano como único, que vai se desenvolver e se transformar;
- O homem que se define por si próprio e a partir das suas realizações pessoais.

O Humanismo caracteriza-se pelo máximo interesse dedicado ao problema do homem, da sua


natureza, origem, destino e posição no mundo.
- É toda possibilidade de definição do homem: toda forma de visão do homem a partir da qual este
se coloca no mundo;
- Reconhecimento da totalidade do homem (corpo e alma);
- Negação da superioridade da vida contemplativa sobre a vida ativa;
- Exaltação da dignidade e da liberdade do homem. - Se diferencia do Cristianismo, onde o mesmo
não acredita na liberdade do homem, trazendo a culpa e o pecado. O humanismo irá dizer sobre a
liberdade.
- Reconhecimento do sentido de historicidade do homem;
- Apoio ao valor humano nas letras clássicas (poesia, história ética e política).

Psicologia Humanista: conhecida como terceira força da psicologia.


- Representa a rejeição/crítica ao suposto mecanicista, impessoal, hierárquico e elitista da
psicanálise e ao Behaviorismo, excessivamente cientificista, frio e distante.
- Psicólogos humanísticos criticam a ideia de que o comportamento humano pudesse ser reduzido
a instintos biológicos recalcados ou simples processos de condicionamento; rejeitavam a ideia de
que a história pessoal limitasse inevitavelmente as possibilidades futuras e negavam os
pressupostos deterministas das duas outras “forças” da psicologia.

Em vez disso, propunham que as qualidades que melhor caracterizam os seres humanos eram:
- O livre-arbítrio - O indivíduo pode tudo o que quer e tem condições de conseguir, pois pode
desenvolver sua potencialidade para conseguir. Diferente da Existencial, que acredita que o
indivíduo não pode ter tudo o que quer e sim, somente aquilo que seu mundo sustenta;
- A sensação de responsabilidade e propósito - obtém livre arbítrio, porém, obtém
responsabilidades;
- A busca eterna e progressiva de sentido na vida;
- A tendência inata de crescer rumo à assim chamada , ou seja, atingir seu potencial de vida em
toda a sua plenitude - Indivíduo está no mundo para se autorrealizar.

1. Força - Behaviorismo:

Calcado numa ênfase objetivista, empirista e positivista, este modelo buscou aplicar os métodos
e valores das ciências físicas ao estudo do ser humano, o que gerou uma série de críticas, como a
exclusão da subjetividade de sua consideração do ser humano, além de não abordar a
complexidade da personalidade e de seu desenvolvimento.

2. Força - Psicanálise:

Emergiu da psicanálise freudiana e das chamadas “psicologias profundas” de Adler, Erikson, Jung,
Klein, entre outros. A ênfase desse modelo estava na dinâmica do inconsciente e na crença de que
o comportamento humano seria determinado prioritariamente pelo que ocorre na mente
inconsciente.
O centro de seu enfoque referencial é a pessoa em um contexto único e que tem o potencial de
transformar a vida dentro de si, de maneira continuada e infinita.

- O homem é percebido como ser livre, capaz de se recriar independentemente dos


condicionamentos, pois a própria realidade é percebida de maneira pessoal e está impregnada de
significados a consciência pessoal.
- O foco é a pessoa que experimenta o meio, que tem potencial para escolher, criar, apreciar-se e se
autorrealizar, preocupando-se com a dignidade e o valor do homem, interessando-se pelo
desenvolvimento das capacidades próprias de cada pessoa.

O que designa como “Psicologia Humanista” ou movimento humanista em Psicologia está


geralmente associado aos profissionais e à cultura americana, mas possui suas raízes na
ciência e filosofia europeias.

Envolve um resgate e reafirmação do valor e da dignidade dos seres humanos, desenvolvendo


suas ideais na direção contrária às ideologias, crenças e práticas que tornaram o homem um mero
acompanhante dos interesses políticos e econômicos. - Retira o indivíduo e na potencialidade
daquele indivíduo.

A Psicologia Humanista seria, então, uma “manifestação contemporânea” do compromisso com


esta valorização do ser humano.

- Seria uma “resposta” à negação do espírito humano motivada pelas ciências sociais e
comportamentais.

“A associação Americana de Psicologia Humanista se coloca como contraposição aos modelos


dominantes - considerado reducionista e determinista - propondo-se a fornecer “um novo
conjunto de valores na direção da compreensão da natureza humana e da condição humana”,
ampliando o espectro de ações de pesquisa do comportamento humano (em especial
questionando os formatos exclusivamente quantitativos de pesquisa, e estimulando novas formas de
pesquisa qualitativa) e oferecendo uma gama maior de métodos e técnicas de ação
psicoterápica”.

- O homem não é o bicho que fala, mas ele é a própria palavra - Discurso, linguagem;
- Não é a linguagem que se encontra no homem, mas o homem que se encontra na palavra;
- O humanismo não se trata de mudança de objeto, nem de uma mudança de método, nem de uma
mudança teória. Trata-se de uma mudança na relação com o objeto;
- Visão mais abrangente, capaz de conter a visões anteriores, só que como parciais;
- Algo mais amplo: consideração do sentido;
- Ser humano como movimento: não como resultado, mas como processo;
- O homem só aparece naquilo que ele tem de mais próprio, com a questão do sentido, não com a
questão de causa explicativa;
- O homem é constituído pelas questões do sentido.

Surge da reação da insatisfação sentida face aos dois conjuntos teóricos - behaviorismo e
psicanálise, porém, não desconsidera as descobertas anteriores.

Completar com slide - segunda foto.


Psicologia Humanista - Resumindo

- Diferentes teorias podem vir a ser humanistas, dado que o que as une não são suas ideias, mas
uma atitude em comum diante do homem e sua realidade - Trazer a concepção do homem enquanto
potência e senhor de si (obtém condições e potencialidades de transformar-se);
- Em seu sentido contemporâneo, uma psicologia humanista seria uma resposta à "crise" do
homem e de sua humanidade, numa época de crise de valores e crise moral; como uma
alternativa a questionamentos não respondidos e alento a anseios não satisfeitos, ou seja, a
expectativa de uma nova psicologia - Vem como uma terceira via, em uma postura que diferencia-se
do behaviorismo e psicanálise, sendo outra possibilidade de atuação;
- A ideia de uma Psicologia Humanista se insere, numa tradição filosófica que resgata o
significado e questiona a ciência em sua base mais fundamental - sua pretensão de neutralidade -
Obtém uma concepção do homem como um todo, questionando a ciência por ser determinista e
fundamentalista.

Existencialismo:

A psicologia humanista se desenvolveu em solo americano, enquanto a Psicologia Existencial


evoluiu na Europa. - Ocorre a confusão entre as teorias, decorrente da tradução.

Há elementos similares entre ambas. A Psicologia Humanista foi diretamente influenciada por
dissidentes freudianos de origem europeia e ambas as abordagens associam-se ao pensamento
fenomenológico e ao movimento existencial (também de origem europeia).

A polêmica que se criou ao redor desses dois movimentos calca-se muito mais em uma questão
semântica e hermenêutica do que em reais vínculos de diferenciação conceitual ou filosófica. -
Ambas se influenciam. Psicologia Humanista é influenciada pela Existencial.

Há atitudes de uma psicologia humanista e de uma existencial. Além disso, há atitudes que
transitam de uma para outra.

Alguns expoentes da Psicologia Humanista tem trabalhado na direção a um reconhecimento de suas


bases existenciais.
Separar uma psicologia humanista de uma psicologia existencial é tarefa inglória, é possível
estabelecer limites, separar não.

Necessidade de separação:

1. A psicologia pode ser fragmentada;

2. A ideia de que o humanismo seria um sistema filosófico fechado, composto de ideias ordenadas,
conceitos próprios, gênese e desenvolvimento particulares, além de possuir um mentor intelectual.
Todavia, isto não acontece. O humanismo é uma ideia, não uma corrente independente de
pensamento. Em cada época do desenvolvimento do conhecimento e da humanidade, encontramos
figuras "humanistas";

3. A característica de ser "humanista" (relativo ao humano, ao homo, humanus) seria distinto de ser
"existencial" (relativo a existência, existere), e que, assim, seria
possível destacar o humano de suas relações com o mundo.
Psicologias Humanistas e Existencial: Se fosse realizado um quadro onde fossem estabelecidas
as bases das psicologias humanistas e existencial, seria algo assim:

Humanista:
- Fundamentos filosóficos: Implícitos;
- Bases: Fenomenologia, Existencialismo;
- Origem: Europa -> EUA

Existencial:
- Fundamentos filosóficos: Explícitos;
- Bases: Fenomenologia, Existencialismo;
- Origem: Europa

Mesmo assim, tem-se problemas em delimitar tão clara e forçosamente essas fronteiras. É
preferível, então, destacar suas similaridades.

- Existencialismo é uma filosofia contemporânea/moderna;


- Postula que a existência precede a essência.

O ser humano é livre para fazer escolhas e se tornar o que fizer da sua vida, nos limites das
condições físicas, psicológicas e sociais que o envolvem - Possibilidades que sustentam os sentidos
do mundo do indivíduo.

Não existe uma natureza humana que determine nossa existência, mas ela se forma e se transforma
na prática - Indeterminação originária.

Acredita que desde o nosso nascimento somos lançados no mundo e somos nós que criamos
nossos valores através de nossa própria liberdade e sob nossa responsabilidade - Indeterminação,
ter de ser.

Não há essência que nos defina previamente, mas existimos no mundo e construímos nossa
essência por meio de nossas escolhas existencias - Posicionamento e escolhas do indivíduo traz o
sentido de sua essência.

Existencialismo - Introdução às filosofias da existência

- O cerne do existencialismo é a liberdade, pois cada indivíduo é definido por aquilo que ele
faz - A questão da liberdade tem a ver com a indeterminação originária, indivíduo é livre desde que
seu mundo sustente essas questões.
- Sempre se está fazendo escolhas, mesmo quando decide não escolher, está-se escolhendo não
escolher;
- Porém, não há liberdade sem responsabilidade - O indivíduo se posiciona, decide, escolhe e se
responsabiliza. Isto é, banca suas decisões;
- Somos responsáveis por nós mesmos, pelas escolhas que fazemos e por tudo aquilo que
nos cerca - O indivíduo obtém autonomia e é dono de si. A maturidade é chegar no nível de tutelar
a vida, sabendo o que é seu e não responsabilizando outros por aquilo que você é;
- O fato de ser livre coloca o ser humano eticamente responsável pelas consequências das
escolhas que faz;
- "O homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e só depois se define " - Só
se define quando morre.

Há uma pluralidade de teóricos e concepções no existencialismo.

Apesar disto, há algumas ideias subjacentes ao existencialismo, que perpassam seus teóricos.
Assim o existencialismo:

- Busca compreender o ser humano, em seus aspectos concreto e singular - O paciente é


concreto, toma decisões concretas, porém é atravessados por questões ontológicas;
- Concreto no sentido oposto ao abstrato, metafísico ou idealista, mas como ser que existe
concretamente no mundo. Não é uma falsa representação de um ser ideal ou a materialização de
uma "alma", mas um ser que vive concretamente suas relações - Indivíduo é presente, atravessado
pelas histórias das pessoas que convivem com ele;
- Singular significa que uma pessoa não é igual a outra e que não há um modo de previamente
definido ou universal, mas cada pessoa desenvolve suas características e peculiaridades próprias,
que corresponde a seu modo de ser particular.

O ser humano para o existencialismo:

- Não é natural. Não há uma natureza universal que defina o modo de ser das pessoas - Igualmente
o discurso. Tudo o que o ser humano faz, é aprendido.
Aprende aquilo que experimenta, não é natural, por exemplo, o andar;
- Não é atemporal, ou seja, igual em qualquer tempo. Cada pessoa vive concretamente em um
tempo e espaço, num período histórico, num contexto e em uma série de relações que constituem
seu modo de ser - Há uma amplitude como, por exemplo, a cultura;
- Não é essência, como algo prévio que defina o ser humano antes mesmo de sua existência
material. Cada pessoa se faz de acordo com suas escolhas e irá se tornar o que fizer de si - Não é
determinado, a essência se faz a cada vez, a vivência antecede a essência;
- Não é alma, que habita um corpo e segue para outro corpo. O ser humano é o corpo que está
vivendo concretamente.

O ser humano se caracteriza por ser:

- Mortal: Toda pessoa um dia vai morrer. A vida acontece na condição de finitude, tudo o que fizer
de si um dia vai acabar;
- Em transformação: A pessoa nasce de um modo e se transforma de outro modo, estando sempre
em mutação;
- Emocional: Vivencia as emoções e se altera afetivamente de acordo com nossas experiências -
Sempre atravessados por afetos;
- Ser no mundo: Habita em um espaço físico, espacial, temporal e contextual, e nele se desenvolve,
estabelece valores, conceitos, desejos, gostos e etc. - Vê o homem como ser no mundo;

- Sonho é considerado experiência vivida.

Existem condições (é pra todos, a existência é atravessada por essas condições): Não há ser
humano que não experiencie essas condições

- Liberdade: Todos somos livres para fazer escolhas e responsáveis pelas escolhas que fazemos;
- Conflitos: Ao convivermos com outras pessoas atravessamos conflitos e contradições, pois temo
valores e desejos diferentes;
- Angústia: Nos angustiamos por não conseguir realizar todas as nossas possibilidades existenciais,
por sermos seres limitados;
- Sentidos da vida: Cada pessoa se move de acordo com o que faz sentido para si, em direção do
que a torna realizada.

O existencialismo:

Reconhece e valoriza os afetos (a partir do afeto irá fazer a leitura do paciente; "que afeto que surge
no discurso?” e emoções humanas. Entende que o ser humano não é somente razão, mas que,
antes de tudo, nossas experiências com o mundo são afetivas, e os afetos desempenham forte
papel em nossa existência e tomada de decisões. - O afeto sempre dará dicas do que está se
apresentando no paciente.

O ser humano não é um organismo neutro, isolado no mundo, mas um ser que habita e
convive com o mundo (Ser-aí, ser-com). Não há uma consciência separada do mundo, todo ser
se relaciona com o mundo numa relação dialética - É uma coisa só. Co-originários. O mundo irá
possibilitar ou não as decisões do indivíduo.

Diferente da ideia de "natureza humana", o existencialismo estuda sobre a "condição humana".


Entende que há condições que envolvem o existir humano, como a liberdade, a morte, a angústia,
os conflitos e etc. - São os existenciais. Indivíduo enfrenta algumas condições que são os
existenciais.

Ao contrário de uma concepção determinista, entende que nossa vida não é previamente
determinada, mas que nós a fazemos por meio de nossas escolhas, dentro de nossas
condições e da situação que vivemos.

Não há como entender modos de ser de cada pessoa sem compreender sua história e sua relação
com condições materiais.

Diferente do intuito de explicar o ser humano, o existencialismo tem como intenção


compreender - Atitude antinatural.

O Devir ou 'vir a ser”, representa transformação. Para o existencialismo, tudo está sempre em
transformação, tanto os seres quanto o mudo e as coisas. Nada permanece o mesmo, tudo está
sempre se alterando, se reconfigurando e se transmutando em outro. Estamos sempre em
transformação e nunca somos iguais. - Na psicoterapia existencial o principal feito é a
transformação.

A angústia não é algo ruim na visão existencial, mas um sentimento que surge da contatação de
nossa liberdade, finitude e de nossos limites. Nos angustiamos perante a dificuldade de escolher, na
não aceitação de limites ou da compreensão de que as coisas terminam.

Lida-se com a finitude e morte das coisas, das pessoas e de nós mesmos durante a vida. A
consciência dessa finitude pode ser angustiante, mas nos coloca a viver intensamente e com
sentido.
A subjetividade é característica do sujeito referente a tudo aquilo que é pessoal, interior e
individual. O modo como cada um percebe, sente e se relaciona com o mundo e consigo mesmo,
envolvendo sua constituição cultural, seus valores pessoais e seus afetos em relação às coisas.

A vida não é entendida como algo que possua em si um sentido já posto ("o sentido da vida"). Cada
pessoa dará sentido para sua vida, diante de suas escolhas. Este sentido se transforma todo mundo.

O que une então estes pensadores tão individualizados nas suas concepções filosóficas? O que os
une, e nisso concordam todos os autores, é a concepção de uma filosofia:

“Que seja concebida e se exerça como análise da existência, desde que por 'existência' se entenda
o modo de ser do homem no mundo. O existencialismo é assim caracterizado, em primeiro lugar,
pelo fato de questionar o modo de ser do homem; e, dado que entende este modo de ser como
modo de ser no mundo, caracteriza-se em segundo lugar pelo fato de questionar o próprio
'mundo', sem por isso pressupor o ser como já dado ou constituído. A análise da existência não
será então o simples esclarecimento ou interpretação dos modos como o homem se relaciona com o
mundo, nas suas possibilidades cognoscitivas, emotivas e práticas, mas também, e
simultaneamente, o esclarecimentos e a interpretação dos modos como o mundo se manifesta ao
homem e determina ou condiciona as suas possibilidades. A relação homem-mundo constitui
assim o tema único de toda filosofia existencialista (Abbagnano, 1984, p. 127) - Ponto de vista de
Heidegger. Dasein. Compreende o mundo a partir de seus sentidos e significados, a partir de suas
vivências singulares. Trama singular. Das possibilidades de cada um. Filosofia existencial -> homem
e mundo.

O termo "existencialismo" parece ter sido cunhado pelo filósofo francês Gabriel Marcel em meados
da década de 1940 e adotado por Jean-Paul Sartre. Período pós-guerra.

O rótulo foi aplicado retrospectivamente a outros filósofos para os quais a existência e, em particular,
a existência humana eram tópicos filosóficos fundamentais. - Questionamento do ser do mundo e
sua relação com ele.

O existencialismo foi inspirado nas obras de Schopenhauer, Kierkegaard, Dostoiévski, Nietzsche,


Husserl e Heidegger, foi particularmente popularizado em meados do século XX pelas obras do
escritor e filósofo francês Jean-Paul Sartre e da escritora e filósofa Simone de Beauvoir.

O ser humano é mais que qualquer teoria e não há como classificar uma pessoa em sistemas
explicativos, pois eles acabam a reduzir sua descrição.

Classificar é uma forma de rotular, isto desconsidera a singularidade de cada ser: “Quando você me
rotula, você me nega” (Kierkegaard).

Desta forma, o esquema de conceitos, qualquer que seja, é apenas uma possibilidade entre
outras; sua concretização depende inteiramente dos sujeitos e não dos conceitos e si.

O homem existente, portanto, não pode ser assimilado por um sistema de ideias, afirma ainda
Sartre, “por mais que se possa dizer e pensar sobre o sofrimento, ele escapa ao saber, na medida
em que é sofrido em si mesmo, para si mesmo, onde o saber permanece incapaz de transformá-lo”
(1987, p. 116). - Os conceitos, os pensamentos não dão conta de expressar o que se passa na
"pele" do indivíduo, principalmente quando se fala em sofrimento. Pode chegar muito perto, mas não
acessa a experiência. A solidão é viver a experiência da singularidade.

Em Kierkegaard, o Existencialismo é a expressão de uma experiência singular, individual, pois


existência é uma tensão entre o que o homem é e o que ele não é. - Não dá para bancar todos os
desejos. Tudo o que o indivíduo não é, revela o que ele é. "Tudo o que eu não sou, revela o que eu
sou.

Em suma, em suas obras filosóficas, prioriza a realidade humana concreta ao invés do


pensamento abstrato, dando importância à escolha e ao compromisso pessoal. - Ser enquanto sua
vivência concreta.

Foca na existência concreta do indivíduo, na subjetividade e na experiência pessoal, ao invés


de se ocupar do “conceito de ser”, de concepções idealistas, metafísicas ou especulativas.

Grande parte de sua obra são dedicadas às questões existenciais, como a liberdade, angústia,
desespero, subjetividade e indeterminação do ser humano. - Kierkegaard grande influencia do
Heidegger. Fala da indeterminação do ser humano.

A realidade humana é muito complexa e peculiar, por isso um sistema ou esquemas de


conceitos abstratos não daria conta de explicar essa realidade. A realidade humana só pode
ser compreendida, portanto, por meio da realidade singular e concreta de cada indivíduo. -
Nunca conseguimos sentir na pele o que o outro sente.

As generalizações tratam apenas de hipóteses genéricas, mas nada dizem sobre uma pessoa
específica. - A ciência faz isso o tempo todo, mas a nossa existência vai muito além e é anterior às
explicações. Existe o genérico, mas também existe o singular que a ciência não consegue abarcar.

Não existe escolha que não seja subjetiva, fruto de uma escolha interna. Somente o indivíduo
pode se aproximar de sua realidade, que é subjetiva.

"A subjetividade é verdade, a subjetividade é a realidade” (Kierkegaard)

Europa:

- Existencialismo parte de uma análise existencial (daseinsanálises);


- Considera que a existência é indeterminação originária;
- A angústia é positiva, pois movimenta o indivíduo;
- Intencionalidade é fluxo de consciência - consciência esta que aparece pro indivíduo dentro de
sua existência no movimento da existência do indivíduo;
- Considera o homem como pura possibilidade (abertura), potência pode se relacionar com o
poder ser mas é característica ôntica. A vontade não é soberana, as vezes o mundo não banca;
- Indivíduo não carrega as culpas, considera que há uma série de coisas atravessam as ocasiões
(consciência não pensada através da moral);
- Análise existencial (afinação e escuta -> transformação, acontece ali na relação paciente -
terapeta a cada vez atravessado por um afeto).

América do Norte:
- Humanismo - influência do existencialismo (traduziu e nomeou de humanismo);
- Kieergaarg - Anterior a fenomenologia, influenciou Heidegger, Freud e Lacan;
- Humanista Existencial considera que a existência é a pessoa, indivíduo. O homem é;
- Angústia negativa, atrapalha, deve ser curado;
- Intencionalidade é sujeito/vontade, tem a ver com intenção, vontade do eu;
- “Mantém a dicotomia, a vontade é soberana;
- “Mantém-se a moral, homem carrega culpa pelo o que sua vontade não alcança;
- Análise -> superação, mudança de comportamento.

Humanismo (América do Norte) X Existencialismo (Europa)

Psicopatologia fenomenológico existencial:

O que é normal e o que é patológico?

Patológico normalmente traz prejuízos funcionais para o indivíduo, distoa do comumente


apresentado. O "normal' é o que se apresenta com mais frequência. Essas caracterizações provém
do lugar de fala de cada indivíduo, do seu olhar. A forma que o indivíduo olha, chega a uma
determinada concepção do que o mesmo considera normal ou não.

Psicopatologia [de psic(o)+patologia.] se define como patologia das doenças mentais ou como o
estudo das causas e natureza das doenças mentais.

- Psic(o)-vem do grego-psyché-que significa alento, sopro de vida, alma;


- Patologia, afecção, dor, pato, que também provém do grego-pathos-que significa “doença, paixão,
sentimento”.

A loucura enquanto fenômeno psicossocial acompanha o homem em sua trajetória histórica. Em


quase todas as sociedades há indícios de pessoas que perderam o controle de suas emoções e
alteraram o seu comportamento a ponto de causar estranheza em seus semelhantes. A loucura é
um fenômeno tipicamente humano, pois é somente quando afetado em seu devir que o sujeito põe
em questão seu ser, constituindo a psicopatologia. - Atualmente o DSM se encontra em sua quinta
edição, considerando que, a sociedade vai se desenvolvendo, o DSM vai se encorpando e
adaptando-se. A medida que a sociedade vai se desenvolvendo, vai havendo manifestações dos
sintomas que não haviam manifestados antes, com isso a necessidade de adaptação. Para
fundamentar um diagnóstico, é necessário um tempo. A caracterização sempre vai acompanhar o
desenvolvimento histórico.

No entanto, cada época histórica vai tratar deste fenômeno de um modo característico,
marcado pelo horizonte racional, cultural, social e político predominante no momento. Desta
forma, a loucura na Idade Média era possessão demoníaca e na modernidade, época do
Racionalismo, passa a ser a perda da razão. Em tempos de cuidados médicos torna-se
psicopatologia, concebida enquanto doença mental.

Para cuidar precisa de uma conexão e uma relação com o mundo do paciente.

Uma pessoa que obtém patologia experiencia uma vivência com uma patologia, ou seja, está restrito
a um modo de ser patológico, que encurta suas possibilidades.
Campo da psicopatologia:

- Diferentes abordagens (psicopatologia clássica x fenomenológica);


- Tensão: complexidade (psicopatologia) x biologia/ciências do comportamento.

Manuais classificatórios:

- O esforço de classificação (Tornar inteligível a complexidade humana/nomear sintomas) -


Somos todos “bicho homem”, mas, ao mesmo tempo, somos atravessados de maneira singular
pelo mundo (Encontro com a natureza trágica da vida/experiências e dos afetos que essa suscita).
Ainda que haja uma característica específica do transtorno específico, há uma singularidade na
manifestação destes transtornos.
- Desejo de dar sentido palpável ao sofrimento humano.

O sofrimento é anterior aos sintomas.

História dos manuais: Surgem no período pós-guerra como uma solicitação dos planos de saúde
norte americanos para lidar com as questões traumáticas da Guerra.

- Em 62 anos,avançamos de 106 categorias para mais de 300 categorias;


- Comosexos existenciais não atravessasse o indivíduo, não considerando a singularidade.
Havendo uma caracterização;
- DSM I: 1952, 106 categorias (130 páginas);
- DSM II: 1968, 180 categorias (aspiração dos transtornos da infância e adolescência e incluía a
homossexualidade). Onda de contestações (134 páginas);
- DSM III: 1980, revolução da psiquiatria biológica inflação diagnóstica, 295 categorias (567
páginas);
- DSM IV: 1994, 297 categorias (880 páginas);
- DSM V: 2013/2014, críticas. Mais de 300 categorias (992 páginas). A quinta edição lista um
conjunto de questões sociais e da vida que passam a ser consideradas na perspectiva
patológica, tais como: problemas de relacionamento, violência doméstica ou sexual, negligência ou
abuso, problemas ocupacionais e profissionais, situações de falta de domicílio, pobreza extrema,
discriminação social, a não aderência ao tratamento médico, entre outros (APA, 2013).

Perigo de as categorias fabricarem doença; medicalização da vida; patologização do


sofrimento.

Psicopatologia existencial - Fundamentação ontológica das pertubações do existir.

LUDWIG BINSWANGER: Uma psicopatologia fenomenológica

A psicopatologia como um campo diferenciado do saber - Biswanger defendeu a ideia:

- De especificar a psicopatologia em um campo diferente do das ciências naturais;

Propõe que se examine, a questão mais fundamental;

- A do Ser;
- Das relações do fenômeno psicopatológico com a existência do que padece. - Como o
homem experimenta sua vivência obtendo uma enfermidade.

Dessa forma a análise existencial abriria a possibilidade de um olhar sobre a totalidade da


existência do homem.

Método Fenomenológico x Método Psicopatológico

Binswanger adverte:

- É importante que não se cometa o engano de realizar uma psicopatologia meramente


descritiva ou meramente subjetiva. - Classificação. A psicopatologia clássica, Binswanger
considera a vivência da pessoa;
- Uma fenomenologia psicopatológica busca o sentido, a significação da palavra, a
experiência vivida;
- É no fenômeno particular, que a pessoa se faz conhecer e, inversamente, é o fenômeno que
faz o psicoterapeuta penetrar na pessoa - É através da experiência que o paciente pode se ver e
ao mesmo tempo, o psicoterapeuta pode vê-lo também. A escuta clínica acontece na relação
terapeuta-paciente.

O fenomenólogo, analisando a experiência psicopatológica vivida - O que a experiência revela no


encontro psicoterapêutico.

- busca se familiarizar com as significações que a expressão verbal do doente despertam


nele;
- ele busca os sinais desta experiência psicopatológica e o que se pode descobrir nela.

A psicopatologia Fenomenológica - O ser-psiquiatra depende, como referência:

- do encontro e da compreensão com o outro tomado em sua totalidade;


- Entende-se a psiquiatria como uma ciência do homem;
- cuja missão enquanto ciência é discriminar o que se aplica ao doente ou ao sadio - Determinação
ôntica e social ao que se refere a psicopatologia, precisando terapeuta também se beneficia
enquanto terapeuta, é recíproco;
- Desconstruir a ideia de que o paciente não está bem e o terapeuta está bem - Psicólogo também é
um humano, seres aí, sendo também atravessado por questões.
Necessário desconstruir a ideia de que o terapeuta dá cura.
- Desconstruir da verticalização da relação médico - paciente;
- Não se pode ter uma conduta pré-estabelecida - Não sabe o que vai aparecer na análise, não
sendo portando possível pré-estabelecer o que será dito na análise, ao fazer isto adota-se uma
postura de detentor do saber;
- Terapia significa confiança - A confiança tem que ser mútua e estar na própria relação que se
estabelece.
Confiança só se consegue de graça, no sentido de que não temos como produzir confiança
tecnicamente;
- O psicoterapeuta precisa conseguir em algum momento dar esse presente ao paciente e receber
esse presente do paciente, sendo este presente a confiança;

A psicoterapia daseinsanalítica não tem o intuito de "consertar" algo ou "curar".


Três formas de existência malograda (interrompido):

- Extravagância;
- Excentricidade;
- Amaneiramento.

Proporção e Desproporção Antropológica: Quando há perturbação, há uma desproporção,


quando há uma proporção, o indivíduo é considerado saudável.

Altura/Autopercepção/Identidade -> Eu. Maneira como o indivíduo se vê. Quanto mais


centralizado, mais saudável.

Amplidão -> Quanto mais próximo do que o outro vê, o indivíduo se aproxima do centro. Quanto
mais perto do centro, mais saudável. Há uma proporção. Quanto mais se afasta, mais longe do eixo
e menos saudável.

Desproporção horizontal: As pessoas vê o indivíduo como alguém fantástico e o próprio indivíduo


não se vê, é inseguro, retraído.

Desproporção Vertical: O indivíduo acha que é o mais incrível, porém ninguém o vê assim.

Proporção Antropológica: Quando existe uma aproximação da forma que nos vemos com a
maneira que somos vistos -> Saúde

Como isso se dá?

- Extravagância: Indivíduo está desconectado. Vaga por fora do eixo. Sai do eixo, já perdeu a
conexão com o outro. Trata o outro como objeto, perde a afinação. Fica coisificado;
- Excentricidade: Fora do centro. Patologia da identidade, desproporção do eixo vertical. Não
consegue manter uma identidade que permaneça no tempo. "maria vai com as outras" - reproduz o
modo de ser do outro;
- Amaneiramento: Pessoa que de certa maneira tem um compromisso em asusumir uma
personalidade que considera uma personalidade que deveria ser -> Inventa um modo de ser racional
e social. Presta muita atenção o tempo todo para que ele não cometa nenhum deslize.
No final do dia está sempre esgotado. Está sempre tentando parecer ser algo que ele somente
parcialmente é.

Desproporções antropológicas (daseinsanálise — antropologia existencial). Porque isso é


importante para nós?

- Se por um lado a analítica do Dasein é a analítica da constituição ontológica (existenciais


e/ou existenciários) e seus modos de ser, por outro lado, na clínica o que temos é uma
pessoa específica, que tem a sua história, sua condição de mundo e suas demandas - Seres
concretos -> decide, é atravessado por cultura, moral, obtém identificações -> nomeou como
antropologia existencial.

Objeto da psicoterapia:
- Nosso objeto de trabalho então é esse ser-aí, que não é um ser aí na sua estrutura
ontológica formal, mas é o ser-aí implicado hermeneuticamente dentro de um mundo;
- Trabalho é ôntico -> diferente disto é filosofia -> ser na realidade real que o mesmo enfrenta;
- O objeto da psicoterapia -> indivíduo concreto. Experiência concreta, como o fenômeno
acontece.

Medard Boss: Uma psicopatologia de inspiração daseinsanalítica

Acreditava que a psicopatologia muito se enriqueceria por um pensamento que não permitia a
colocação da distinção (separação) cartesiana sujeito-objeto e que, por outro lado, aproximava
a medicina da psicologia.

Concepção daseinsanálise:

- O homem pode se relacionar de diferentes modos, mas não pode não se relacionar - Por mais
que o indivíduo tente não se relacionar, ele está sempre em relação.
- Indiferença é um modo de relação -> Todo modo de ser é um modo de relacionar, mesmo a
indiferença;
- Embora o mundo seja particular, é um mundo compartilhado, cheio de conceitos.

A inspiração Daseinsanalítica na Psicopatologia - Usado por Biswanger, em que ele se inspira na


ideia dele.

"o modo de ser-doente só pode ser compreendido a partir do modo de ser-sadio e da


constituição fundamental do homem normal, não perturbado" (BOSS; CONDRAU, 1997, p. 29) -
Consideração dos sintomas que são diagnósticos. Consideram as psicoptologias, mas olham para
além dessas. Ser doente enquanto possibilidade. Para compreender o que é doença e sadio,
precisa de um medida, sendo a partir de um diagnóstico estruturado ou hipotético.

Na relação paciente-terapeuta: Necessário a relação com o paciente no sentido de compreender


as necessidades existenciais, assim entendendo o que é doente e saudável daquele ser.

A essência fundamental do homem sadio caracteriza-se pela liberdade (do ponto de vista
Sartreano) - Condenado a ser livre, somos livres para tomar decisões, mas não somos livres das
coisas, liberdade tem limitadores. Homem que
pode decidir-se por si.

Na doença ocorre uma privação mais acentuada do existir -> psicopatologia vem para mostrar esta
privação da liberdade.

O modo de ser-doente - Classificação das patologias psíquicas.

1. Ser-doente -> Perturbação da Corporeidade do existir humano -> Questões do corpo. Ex:
estética, transtornos alimentares, hipocondríaco;

2. Ser-doente -> Perturbação da espacialidade do seu ser-no-mundo-> Ex. Claustrofobia;

3. Modo do ser-doente -> caracterizado por uma limitação da disposição própria à essência da
pessoa/perturbação prevalente na realização da afinação existencial do afeto-> (temporalidade no
biswanger) -> Tonalidades afetivas fundamentais e cotidianas, disposições afetivas -> Ex. humor
deprimido, eufórico ->
Quando o humor perde a medida.

4. Modo de ser-doente -> Ser aberto e da liberdade -> Somos aberturas de mundo e poder-ser.
Na psicopatologia há uma restrição da abertura, fica restrito. Há uma possibilidade, mas há uma
condição para essa possibilidade, sendo uma psicopatologia.

Classificação das patologias psíquicas:

1) Ser-doente caracterizado por uma perturbação evidente da corporeidade do existir humano.

Qualquer redução corpórea toca sempre e imediatamente o ser-no-mundo, e por isso todas as
possibilidades de relação com o mundo. - A experiência da corporalidade vem primeiro. Tudo do
mundo atravessa a questão corporal. Com isso, o ser-doente é caracterizado pela perturbação da
corporeidade.

2) Ser-doente caracterizado por uma perturbação prevalente na espacialidade e na temporalidade


do seu ser-no-mundo - Pacientes com demência (possibilidade do agora/presente, considerando sua
memória flutuante).

Nas psicoses orgânicas e demência senil da psiquiatria clássica, os pacientes estão reduzidos na
amplitude de sua abertura espaço temporal, ou seja, a dimensão temporal, (passado, presente e
futuro) está praticamente reduzida ao presente.

- Em relação à espacialidade podemos citar a agorafobia e a claustrofobia.

3) Modo de ser-doente caracterizado por uma limitação da disposição própria à essência da


pessoa/pertubação prevalente na realização da afinação existencial. -
tonalidades afetivas.

A afinação se refere ao humor (tonalidades afetivas).


Podemos citar:

- Melancolia;
- Mania;
- Psicose maníaco-depressiva (Transtorno afetivo-bipolar);
- Depressão

4) Modos de ser-doente concernentes a limitações na realização do ser-aberto e da liberdade.

- Citamos a esquizofrenia

Existiria no esquizofrênico uma dupla incapacidade:

- Torna-se incapaz de se engajar totalmente na abertura do seu existir, não respondendo ao


mundo, conforme os significados habituais presentes para as outras pessoas;
- Não consegue preservar seu si-mesmo capaz de manter uma relação livre com o que aparece
(TOC).
Na medida em que Boss desloca o entendimento da doença para a compreensão da experiência do
ser-doente, considera, então, a psicopatologia como redução ou perda das possibilidades
constitutivas dos modos do existir humano enquanto Dasein.

Situação clínica.

Transposição do pensamento filosófico para a psicologia clínica - Na clínica o profissional não


fica filosofando e sim somente se fundamenta na filosofia para a prática clínica. Considerando que o
paciente é pura possibilidade e concreto. Tomar cuidado para não tornar a clínica em uma filosofia
aplicada (filosofia clínica), ou o contrário, fazer uma mera aplicação teórica desses esclarecimentos
e concepções filosóficas. Mas sim realizar um exercício cuidadoso de questionamento e reflexão nos
sustentando num espaço que é um espaço de manter esse exercício de pensamento que a filosofia
nos proporciona e ao mesmo tempo pensar esse caráter ôntico e concreto da vida das suas
formulações existenciais e no seu sofrimento.
O perigo da prescrição clínica - O profissional não sabe o que é o melhor para o outro. Com isto
adota-se uma postura de detentor do saber, podendo levar ao corte do processo. Quando de certo
modo conhecemos de antemão aquilo que queremos alcançar, ou seja, podermos apontar
previamente um certo direcionamento moral, onde já tomamos aquilo que "é melhor”, “o caminho
ideal”, ou aquilo que entendemos de antemão como uma libertação ou cura.
A cura é o objetivo da clínica psicológica? - A partir do momento que fala-se em cura, pressupõe
que aquilo que o paciente traz é uma doença. Se fundamenta em conceitos do mundo.
Considerando que se cura o que não está legal, o que está doente. Teoricamente "cura" por que há
uma transformação do indivíduo, à medida que consegue observar novas possibilidades, novas
decisões e etc. O intuito é a transformação e não a cura propriamente dita.
Demorar no espaço do pensamento - Paciência. Pergunta ingênua. No sentido de oportunizar o
exercício do pensamento, ou seja, não responder às perguntas (perguntas da Flávia)e sustentar o
lugar do terapeuta enquanto aquele que não sabe as respostas. Não sustentar a expectativa da
Flávia: que ela vai alcançar as respostas prontas que procura (ela busca, a princípio, um caminho
mais ou menos direto e imagina que o analista dirá como ela deve agir). O analista não direciona as
escolhas da paciente.
Toda pergunta nos coloca diante de um não saber, de um não-ser. Nos coloca diante o caráter de
negatividade e de indeterminação. Abre-se possibilidades de singularização.
Não-resposta: A não resposta é um deixar aberto para sustentar o espaço de reflexão.
Questionamentos. Psicológo se demora mais.

A cristalização da identidade feminina de Flávia aparece na redução da realização de si (projeto


existencial encurtado), devido sua realização ser unicamente por meio das relações amorosas. A
realização da própria existência reduzida a conquista de uma relação amorosa (ser mulher é se
realizar por meio de uma relação afetiva). - Justamente por causa da cristalização, em que Flávia
obtinha como identificação de mulher, a questão de ser casada, com filhos e etc. Não vendo
nenhuma outra possibilidade. Pensamento em que ser mulher é se realizar por meio de uma relação
afetiva.

Sanar o sofrimento - Psicológico não cura nenhum sofrimento e sim acompanha o sofrimento do
indivíduo.

Compreender o motivo da dor para conseguir ajudar -> Possibilita investigação do fenômeno

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