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EXISTENCIA E LIBERDADE – Paulo Perdigão

Parte I – A Individualidade

Capítulo 1 – O PARA-SI
O SER
a) A pergunta fundamental
 Em Ser e Tempo, Heidegger retomou a questão do sentido do Ser, para ele
o Ser é algo que está sempre velado, é algo que foge ao nosso saber e do
qual só possuímos um entendimento fugidiço. Heidegger analisa a
existência humana que conhecemos apenas como via de acesso a nível
transcendental (a descoberta do mistério do Ser)
 Para Sartre, ele não aborda o Ser como Heidegger, que procura desvenda-
lo, e sim se restringe a encarar o Ser por seus infinitos modos de
manifestação. Sartre mantem-se assentada no mundo concreto e na vida
cotidiana

b) “Tudo está em ato”


 Sartre elimina o dualismo aristotélico de “ato-e-potencia” e o dualismo
kantiano “fenômeno-e-nomeno”
 Segue o princípio de Husserl “tudo está em ato”, ou seja, a aparência
(fenômeno) das coisas já encerra toda a essência (nomeno)
 Os fenômenos que nos aparecem (os “entes” de Heidegger”) são totalmente
reveladores de si mesmos e nada contem de oculto: são exatamente aquilo
que mostram ser, e não devemos supor que existem potencias ocultas ou
essências armazenadas por detrás das aparências que podemos observar
 Todos os fenômenos através dos quais se manifesta o Ser (sejam os objetos,
as emoções, os conflitos humanos, etc) estão em ato e só existem dando
provas dessa existência em ato
 Porém, o fenômeno por nós percebido não é integralmente o Ser
propriamente dito:
o O Ser de uma aparição é algo que escapa à simples aparição
o Não se reduz ao conhecimento que temos de um fenômeno
 Não se trata de uma essência oculta por trás do fenômeno, mas sim é que o
Ser de um fenômeno não se esgota na aparição ou na série de aparições
desse fenômeno
 O Ser existe mesmo quando não nos aparece, o Ser também é ausência
(sentimos falta de algo ou alguém quando não está ali)

c) A contingência
 O Ser é regido pelo princípio de identidade: ele é somente aquilo que é
 O Ser é o que é, nada além disso (positividade)
 Contingente = não necessário
 Nada parece impor ou justificar o aparecimento do Ser = Gratuidade
 A brusca revelação dessa contingencia, da gratuidade e da absurdidade do
Ser, produz um sentimento de sufocamento = Náusea
o Diz Roquentin: “Ora, nenhum Ser necessário pode explicar a existência: a
contingência não é uma ilusão de ótica, uma aparência enganadora que se
possa desnudar. E o absoluto e, por conseguinte, a gratuidade perfeita. Tudo
é gratuito: esta cidade, este jardim, eu mesmo”.

A CONSCIÊNCIA
a) Distância a si
 Metáfora de se afastar do quadro para poder abarcar o quadro com o
olhar, afastar do objeto a ser percebido exatamente para poder percebe-
lo
 A consciência também precisa recuar de algum modo diante do objeto
visado para ser consciente dele
 A consciência não se identifica como se fosse coisa entre coisa, mas
sim, em presença dele, colocado à distância dele
 O homem não está “no meio” do mundo, mas “em presença” dele, de
“frente” a ele
 O Ser é o “Ser das lonjuras”
 Consciência – ao fazer-se consciência, o Ser perde-se como uno e
positivo, a identidade de si a si desagrega-se – tornando consciência, o
Ser se torna uma “presença”, uma “distância a”
 A identidade do Ser cede lugar a uma relação, relação que a consciência
mantém de si para si mesma
 EM-SÍ – DESIGNA O SER, compreendendo a realidade material, o
mundo inorgânico dos objetos – designa a tudo que existe, exceto a
consciência humana
 PARA-SÍ – É A CONSCIÊNCIA, pois trata-se de uma relação de si
para si – esta expressão define a consciência como distância ao Ser (o
Ser que experimenta uma desorganização interna, rompe-se e se descola
de si
 Quando o EM-SÍ se rompe para converte-se em PARA-SÍ, ocorre não a
destruição (exemplo do átomo que constitui o universo fosse destruído),
mas a “aparição” mesma do mundo
o A consciência faz com que o mundo surja diante dela como existente
 O EM-SÍ não se reduz a consciência, não necessita do PARA-SÍ para
existir, mas precisa do PARA-SÍ para existir enquanto aparição ou
fenômeno
o Exemplo: assim como não preciso de um espelho para existir, mas
aparece a mim
 A CONSCIÊNCIA é que faz com que o Ser “se mostre”, não cria o
mundo, apenas o contasta, é a consciencia que tras as interrogações do
mundo, as indagações já aparecem com o PARA-SÍ

b) O Nada
 Fissura interna, distancia de si da consciência
 Ser consciente de alguma coisa é colocar-se “à distância” da coisa de
uma maneira espacial: uma distância feita de nada
 O que caracteriza a CONSCIÊNCIA É ESSE NADA que a distância do
Ser
 Lei Suprema do PARA-SÍ: é estar separado de si e do mundo por um
NADA
 NADA – o nada é o NÃO É, não existe positivamente – contaminado
pelo Nada, o PARA-SÍ apresenta-se como plena NEGATIVIDADE
o NADA NEGATIVIDADE / NÃO É
 O PARA-SÍ é o Nada que invade o ser e provoca abertura ao mundo
 Existem dois modos distintos do Ser e não é uma identidade absoluta
entre eles, pois não pode reunir as noções de EM-SÍ e PARA-SÍ
o Entre o EM-SÍ e o PARA-SÍ ocorre um transito de um para ao outro,
mas jamais se opera completamente
o Sartre chama de “curto-circuito”
o O EM-SÍ e PARA-SÍ estão unidos em uma conexão que é feita pelo
PARA-SÍ, pois o PARA-SÍ é por natureza uma “relação com o EM-SÍ”
(lembrando que o EM-SÍ não necessita do PARA-SÍ, mas precisa do
PARA-SÍ para aparecer)
 A única realidade que o PARA-SÍ possui é de ser uma nadificação do
Ser
o Exemplo: sem o EM-SÍ, o PARA-SÍ seria uma abstração, assim como
não pode existir o som sem intensidade e timbre ou sombra que não seja
sombra de algo.
o O fato de que o NADA segregado pelo PARA-SÍ só pode ser concebido
como “NADA de alguma coisa positiva (EM-SÍ)
o O NADA só pode surgir em relação ao Ser, implícito no Ser e
fundamentado em alfo concreto, pressupondo o Ser para NEGÁ-LO
o Todo NADA é NADA de alguma coisa concreta (EM-SÍ)
 “O mundo é tudo aquilo que não sou”
o O “NADA” é o próprio PARA-SÍ, pois o PARA-SÍ (consciência) se
constitui como NÃO SENDO (negatividade) o EM-SÍ (o Ser, objeto)
o Negação do todo
 Recuo nadificador – ao recuar diante do ser, a consciência afeta-se de
um caráter de negação, injetando a nadificação na plena positividade do
ser
o Exemplo: quando perguntamos sobre algo é porque não sabemos a
resposta, lançamos sobre o objeto indagado e sobre nós mesmos a
negatividade (saber por algo é assim e não do outro jeito)
o É o NADA (consciência) que condiciona e sustenta qualquer juízo
negativo
 Consciência Perceptiva (percepção) – coloca tudo sobre um modo de
não ser, ao perceber um objeto lançamos a negatividade sobre:
o A) o objeto
o B) os outros objetos ao redor
o C) nós mesmos
o Assim, podendo afirmar que este objeto é um livro, porque nadifiquei o
objeto livro e as coisas ao redor como não sendo eu e os objetos ao
redor como não sendo livro, inclusive eu
o Negando percebo o objeto
 Dupla negação – externa (este corpo não é aquela mesa) e a interna (não
sou este copo)

c) A Imaginação
 É onde mais se revela o caráter nadificador da consciência
 Ao imaginar, a consciência se dirige a um objeto totalmente destacado
do mundo real percebido e que não mantem qualquer ligação com ele
o Seja por não existir em parte alguma, por exemplo um unicórnio
o Seja por não estar presente a percepção, por exemplo quando Pedro não
se encontra no lugar
 Consciência da Imagem (Sartre prefere chamar de “Consciência
Imaginante”) – exclusão radical da capacidade de percepção do real
o Quando pensamos não podemos perceber, pois nadificamos o real,
nadificar o que é (objeto real) para atingirmos o que não é (consciência
da imagem – imaginação)
 A imaginação não pode coexistir com a percepção e não podemos
confundir uma coisa com a outra
o Se percebemos um objeto desenhado em uma folha de papel e de se
imaginarmos uma cena de que participamos horas antes, o objeto
“apaga-se” diante dos nossos olhos, ficamos no mundo da imaginação
enquanto imaginamos e depois voltamos ao real
o Esta confusão só ocorre no plano da memória, porque no passado as
percepções e imagens ficam niveladas no campo subjetivo, por isso, as
vezes não sabemos ao certo se determinado fato ocorreu realmente ou
se é fruto da nossa imaginação
o Reduzo o objeto-livro a nada para ver o que ele não é, nego a realidade
concreta do retrato para ver o que ele não é

d) O Absurdo Positivismo
 Ser positivo = consciência como objeto,
o O Ser positivo é incapaz de indagações, já que o positivo só pode
conceber o positivo
o Psicologia do comportamento/fisiologistas

e) O Inacabamento de PARA-SÍ
 A separação interna (o NADA e o Ser pleno e acabado) do PARA-SÍ
faz dele uma espécie de Ser inacabado, ao qual está sempre faltando
alguma coisa para se completar e preencher o seu meio
 Se o PARA-SÍ fosse algo dado e acabado, a consciência seria idêntica a
uma cosia
 A realidade humana é um constante estado de inacabamento
 Totalização-em-curso: expressão que Sartre prefere dizer sobre o que
Heidegger fala que o homem é sempre um “ainda-não que será” uma
não-totalidade ou uma totalidade inacabada, estamos sempre em busca
de uma totalidade que nos falta (o nosso sí)
 O PARA-SÍ vive tentando preencher esse vazio interior, essa distância
feita de NADA que o separa do seu Ser pleno e acabado
o Exemplo: os nossos desejos – a sede, o desejo de beber, não poderia ser
o efeito de uma necessidade fisiológica, porque a carência de agua no
organismo (fenômeno positivo) só pode gerar efeitos físicos
o Pois muito que bem...
o A sede, como todo desejo, é um tipo de consciência: a consciência de
alguma coisa que se deseja e que nos falta
o Se nada faltasse no meu Ser, o desejo sequer seria concebível, pois não
se entenderia que qualquer coisa pudesse fazer falta a um Ser completo
o Somos uma falta em nós mesmos
A RELAÇÃO ENTRE O SER E A CONSCIÊNCIA
a) A Intencionalidade
 “Toda consciência é consciência de alguma coisa”
o Todos os atos da consciência tendem para um objeto, visam um objeto
(imaginado, pensamento)
 A consciência manifesta-se sempre como constante movimento em
direção ao Ser para nadificá-lo, Husserl denominou essa característica
de INTENCIONALIDADE
o Não há consciência sem objeto ao qual ela se dirige intencionalmente
 Fora do EM-SÍ o que existe é literalmente NADA
o A consciência imaginante visa um NADA, mas isto não isola do EM-
SÍ, o PARA-SÍ precisa do EM-SÍ para existir, qualquer imagem,
mesmo a de um unicórnio, é sempre um NADA rebatido sobre um
FUNDO DE SER
 O Fundo de Ser = o NADA só pode surgir em relação aos Ser,
implícito no Ser e fundamentado em algo concreto, pressupondo o ser
para negá-lo; inevitavelmente ele aparece “sobre um FUNDO DE
SER” e em ligação com o Ser, dentro dos limites do ser e jamais fora
dele
 O PARA-SÍ precisa do EM-SÍ para existir
o Exemplo: a consciência de amar é consciência de “amar alguma coisa”
o No ódio, no amor, no desejo, algo é sempre odiado, amado, desejado
o A consciência é esse deslizamento, esse “partir em direção as coisas”
(o PARA-SÍ) só pode existir perseguindo o Ser, fazendo um “apelo ao
Ser”
o A realidade humana é um “dirigir-se para fora de si”, uma abertura
para o mundo

b) O Vazio do PARA-SÍ
 O PARA-SÍ não tem por si mesmo nenhum conteúdo de Ser: é uma
extroversão vazia, um ponto-de-vista insubstancial sobre o mundo
 Força que se projeta a si mesma para fora visando o EM-SÍ
 O PARA-SÍ é fuga incessante em direção ao mundo e Nada em si
mesmo: ele constitui todos os objetos e valores do mundo e NÃO É
nem esses objetos e nem esses valores
 Se tudo esta fora do PARA-SÍ, pode-se dizer que a desaparição de todos
os objetos acarretaria a desaparição da consciência
o Sem mundo não haveria consciência
o Se fosse possível entrar na consciência, nós seriamos jogados para fora
e se removêssemos as coisas nas quais pensamos, nada mais
encontraríamos
 Sartre afirma que todo Ser acha-se fora de nós, no mundo do EM-SÍ –
inclusive o nosso próprio Eu (ego)
o O Eu não “habita” a consciência, situa-se fora dela, como um objeto do
mundo exterior
o Em todos os nossos pensamentos estamos “lá fora”, atingindo as coisas
reais ou imaginarias
o Aquilo que somos (o Ser da nossa consciência) acha-se nas coisas em
que pensamos: “somos este livro ou esta mesa de que temos consciência

c) Transcendência e Facticidade
 O paradoxo da realidade humana: somos ao mesmo tempo
transcendência e facticidade
o Transcendência:
 Indica a intencionalidade da consciência, o movimento da consciência
para fora de si e atingir seu objeto, a faculdade do PARA-SÍ de
ultrapassar-se para o mundo
 Somos transcendência porque um NADA nos separa do Ser que somos,
impossibilitando assim a nossa plena consciência conosco, somos um
ponto-de-vista sobre o mundo
o Facticidade:
 Heidegger usa esse termo indicando o caráter do que é puro fato, algo
dado, jogado aí, sem fundamento, como contingência injustificável
 Sartre usa a expressão para tratar os aspectos não escolhidos por nós, o
corpo que possuímos, a situação onde aparecemos, a época que
vivemos, etc
 Por causa do EM-SÍ que nos habita, temos de ser exatamente o que
somos, à maneira dos objetos do mundo, e por existirmos enquanto
facticidade que temos um corpo
 Pelo corpo estamos situados nesse mundo: as coisas se organizam a
nossa volta e a consciência é um centro de referência na percepção do
mundo
o O corpo toma relevância e chega a fazer parte integrante da consciência
o Não há consciência sem corpo, entre mente e o corpo não hpa lacuna a
preencher
o O PARA-SÍ é completamente consciência e completamente corpo
 O EM-SÍ que nos insfesta explime a nossa contigencia de “estar aí”, a
nossa maneira de existir não escolhida por nós
o Por causa desse EM-SÍ maciço do qual sou Nada, não posso fazer-me
outro que não eu mesmo
o Não escolhi nascer neste corpo, pertencente a determinada classe social
e determinada nacionalidade, etc

d) Definição do PARA-SÍ
 Enquanto o EM-SÍ é o que é, o PARA-SÍ não é o que é e é o que não é
o Por causa da TRANSCÊNDENCIA, o PARA-SÍ não é o que é, pois se
coloca à distância de si enquanto Ser, pelo recuo nadificador
o Por causa da FACTICIDADE, o PARA-SÍ também é o que não é, ou
seja, tem de ser esse Ser que não é, este Ser com o qual não me coincido
inteiramente
 “Não somos o ser que somos, mas igualmente somos este Ser que não
somos”
 Dois tipos ontologicamente diferentes do Ser:
o O EM-SÍ: não possui consciência, e seu existir não depende de qualquer
consciência que se tenha dele, em nada é afetado pelo PARA-SÍ (nós
não criamos o mundo, apenas o descobrimos)
 O EM-SÍ é pura FACTICIDADE, algo que está “dentro do mundo”
o O PARA-SÍ: é consciência e só pode existir na dependendia da
consciência que tenha dele mesmo
 O PARA-SÍ é pura TRANSCÊNDENCIA-FACTICIDADE, acha-se
tanto dentro do como mundo, como Ser, quanto fora dele como
consciência, “presença”, “distancia de”
 A realidade humana, diz Sartre, é, portanto, ÔNTICO-ONTOLOGICA

Capítulo 2 – O CONHECIMENTO
Características gerais

a) O PARA-SÍ conhecedor
 O PARA-SÍ é um deslizamento para fora de si, e também uma presença
ao Ser, no qual insere o nada
 O PARA-SÍ, sendo uma “presença a” e capaz de negações, acha-se
habilitado a ficar presente aquilo que ele não é
 Conhecer alguma coisa é estar presente aquilo que não se é
o O conhecimento exige presença e negação
 (por isso o EM-SÍ, pura identidade e positividade, não pode conhecer)
 A consciência pode ser “negação do todo”: o mundo é tudo aquilo que
não sou
o Mas esse “todo mundo” aparece apenas enquanto fundo comum a
qualquer conhecimento
o Estamos presente à totalidade do mundo, e no entanto, jamais podemos
capta-lo como um todo, e sim somente através da apreensão deste ou
daquele objeto determinado
o Isto ocorre devido ao estado de inacabamento e do vazio do PARA-SÍ,
por ser inacabada, a consciência só está apta a conhecer “isto” ou
“aquilo”, jamais “tudo” (caso pudesse conhecer o tudo/todo, o PARA-
SÍ seria uma totalidade acabada)
 Do mesmo modo, o EM-SÍ é um tipo de ser incompleto, porque sozinho
jamais pode ser “EM-SÍ” para si mesmo, já que se auto-ignora e requer
o PARA-SÍ conhecedor para “ser” alguma coisa

b) Experiência e Conhecimento
 O conhecimento surge concomitantemente à própria aparição do
PARA-SÍ e deve preceder necessariamente toda experiência
 Quando investigamos o mundo, isso implica já possuirmos, de alguma
forma, um conhecimento desse mundo, caso contrário a experiência
seria, em princípio, impossível
o Quando indago quem sou, é sinal de que tenho, antes de qualquer
observação empírica, o CONHECIMENTO de que “sou eu”
 A experiência fornece o saber: primeiro preciso saber o que pe um
proletariado para depois ter condições de definir e identificar um
proletariado

c) A Verdade
 “estar na verdade” é uma estrutura constitutiva da consciência, pois o
conceito mesmo de “Verdade” é uma estrutura constitutiva da
consciência, pois o conceito mesmo de “verdade” já é um produto da
consciência e surge como ela própria, como sua parte integrante
 O mundo surge à consciência como um “há”, ou seja, uma verdade.
o Heidegger disse que as leis de newton, antes de serem descobertas, não
eram “verdades” embora o fato de a gravidade haver existido sempre
 Para que haja uma ”verdade” é necessário que uma consciência a afirme
como tal

Consciência e Conhecimento
a) Consciência irreflexiva e Consciência Reflexiva
 Consciência é uma coisa, conhecimento é outra
 Sartre mostra que o próprio conhecimento, para ser possível, requer um
funcionamento NÃO-COGNOSCENTE, que denomina de COGITO
PRÉ-REFLEXIVO
o COGITO – em latim “penso” (cogito, ergo sum – Descartes),
pensamento individual
 A CONSCIÊNCIA COGNOSCENTE apresenta-se de dois modos:
o CONSCIÊNCIA IRREFLEXIVA – voltadas para as coisas (sejam reais
ou imaginarias)
 É a mais comum, pois dela fazemos uso quase permanentemente,
pensando nisso ou naquilo
o CONSCIÊNCIA REFLEXIVA – aquela que toma consciência de si, faz
da consciência irreflexiva o seu objeto de conhecimento
 Só aparece quando fazemos uma reflexão sobre os nossos próprios
pensamentos
o A consciência irreflexiva não precisa da consciência reflexiva para
existir, pois quase sempre pensamos nas coisas sem refletir sobre esse
pensamento
o A consciência reflexiva exige sempre a consciência irreflexiva, visto
que é exatamente a esta que se dirige
 Husserl denominou as duas modalidades COGNOSCENTES da
consciência de POSICIONAIS
o Pois todo conhecimento põe em posição, coloca seu objeto como
existente no mundo
o POSICIONAL, para Husserl e Sartre significa “próprio para colocar ou
estabelecer”

b) O Cogito Pré-Reflexivo
 É preciso eliminar a ideia de que toda consciência é do tipo
COGNOSCENTE
 É preciso haver um terceiro modo de ser da consciência que não seja
posicional: a ele Sartre dá o nome de COGITO PRÉ-REFLEXIVO
o COGITO PRÉ-REFLEXIVO – precede e possibilita qualquer ato de
conhecimento, seja na consciência irreflexiva, seja na reflexão
o COGITO PRÉ-REFLEXIVO é a consciência que tenho de ser
consciência, mas de uma maneira NÃO-POSICIONAL, ou seja, o
COGITO não visa a consciência como objeto de conhecimento, não
coloca a consciência como existente no mundo, não posicional o
“penso” como objeto
o Exemplo de CONSCIÊNCIA IRREFLEXIVA – penso em meu amigo
Pedro (não importa se em uma percepção ou em imagem). Só posso ser
consciente de Pedro de modo COGNOSCENTE, neste momento,
porque, quando não penso nele, sou consciente de Pedro de modo
NÃO-COGNOSCENTE. É claro que, quando não penso em Pedro, ele
não se tornou um estranho para mim ou ficou “retido” em uma região
inconsciente (pois isso o deixaria inacessível à consciência). Se isso
sucedesse, Pedro já não me seria um rosto familiar toda vez que a ele
dirigisse meu pensamento. Quando não vejo Pedro, devo
necessariamente ser consciente dele, mas à maneira NÃO-
POSICIONAL, em forma de COGITO PRÉ-REFLEXIVO, sem
estabelecer com ele qualquer relação de conhecimento
o Exemplo de REFLEXÃO - Primeiro, minha consciência é irreflexiva:
leio um livro e posiciono (conheço) as palavras e o sentido das frases,
mas sem posicionar (conhecer) o ato de 1er propriamente dito. De
súbito, alguém me pergunta o que estou fazendo. Interrompo a leitura,
faço uma reflexão e respondo que estava lendo. Pois bem: para que eu
possa refletir sobre o que passou (ou seja, sobre o ato de estar lendo sem
ter então conhecimento disso), minha consciência anterior não poderia
ser unicamente irreflexiva. Necessariamente eu já era consciente do ato
de 1er, de maneira NÃO-POSICIONAL, porque, caso contrário, eu não
teria consciência de ter lido, nem então, nem agora, nem nunca.
o Ocorre que, ao refletir sobre o que estava fazendo, tomo consciência de
algo do qual eu já estava consciente antes, embora NÃO-
COGNOSCENTEMENTE
o Para haver reflexão, é preciso que exista já antes, de modo especial, a
própria reflexão, em forma não-posicional, precedendo e informando a
reflexão propriamente dita
 O COGITO PRÉ-REFLEXIVO conserva-se como fundo necessário de
qualquer pensamento, irreflexivo ou reflexivo. Ou seja: toda
consciência COGNOSCENTE é simultaneamente consciência não-
cognoscente (de) si
 Conclui-se então que ser consciente de algo é ser consciente de ser
consciente de algo. O COGITO PRÉ-REFLEXIVO pensa no próprio
pensa

O Eu
 O “Eu”, na maioria das vezes, não acompanha os nossos pensamentos, porque
no plano irreflexivo, quando penso nas coisas, fico absorto, não me dou conta
de que sou Eu que leio/Eu que corro
 A CONSCIÊNCIA IRREFLEXIVA é sempre impessoal, está mergulhada no
mundo dos objetos
 Na CONSCIÊNCIA REFLEXIVA pode-se fazer surgir o “Eu”, porem nem
sempre... (jaja faz sentido)
o O “Eu” só pode aparecer na reflexão – ao pensar um pensamento que tive, por
exemplo, lembrar que fui eu que viu tal paisagem, porém este “Eu” ainda
aárece de maneira espreita, pq na maioria das vezes que refletimos não nos
posicionamos de modo que eu, de fato, que foi eu quem viu a tal paisagem
o Neste caso a reflexão também pode ser impessoal
o O COGITO não é obrigatoriamente um “eu penso”, mas simplesmente um
“penso”
 Não há um EU-CONSCIENTE, mas só a CONSCIÊNCIA do EU
o Portanto, não se deve dizer “minha consciência”, mas “consciência de mim”,
ou melhor “eu sou consciente disso” e “há consciência disso”
o Ao aparecer na reflexão, o “Eu” traz todas as características de mero objeto do
nosso conhecimento, algo que está “fora de nós”, pois a consciência não tem
conteúdo
o Pois a consciência visa um “Eu”, quando reflete sobre esse “Eu”, dirige-se a
algo que não a habita
 A consciência encontra-se sempre “lá fora”, nos objetos visados por ela
o “somos” as coisas que percebemos ou imaginamos
o “o Eu é um objeto que temos diante de nós”
 A consciência é um “partir em direção ao Ser”
o Logo, a consciência é aquilo que visa, então, a unidade dos atos da consciência
também só pode nos chegar de fora
o Quando vejo uma arvore, ocorrer uma serie de “consciência de arvore”
o Essa serie é unificada não pela consciência dela mesma, mas sim pela própria
arvore, o processo de unificação da consciência pe dado pelo objeto exterior
posicionado
o O EM-SÍ exerce seu predomínio sobre o PARA-SÍ

A Terceira Via do Conhecimento


a) Idealismo e Materialismo
 Antes de Husserl e Sartre, o conhecimento se dividia em duas correntes
dominantes: o idealismo e o materialismo
o Idealismo: todas as coisas são produto das nossas ideias
o Materialismo: reduz toda a realidade à matéria, fazendo da consciência
um Ser positivo
 Para entender o fenômeno do conhecimento, não podemos separa-las,
como faz o senso comum
 Há uma correlação de base:
o 1) a consciência é sempre “consciência do mundo/de algo” (NOESE,
“pensamento”)
 O “eu penso” está sempre relacionado a um “objeto pensado”
o 2) o mundo, entenda-se como fenômeno do conhecimento, é sempre
“mundo para a consciência”, “objeto percebido” (NOEMA,
“percepção”)
 A consciência é a condição mesmo para que haja a “aparição” do
mundo, já que lhe cabe dotar o mundo de sentido (espaço, tempo, etc)
 O mundo não está “contido” na consciência, da mesma forma que a
consciência não está “contida” no mundo
 “Terceira via” do conhecimento
o O EM-SÍ não depende do PARA-SÍ para existir, apenas para ser
“descoberto”, enquanto o PARA-SÍ, sendo “apelo ao Ser”, precisa do
EM-SÍ ao qual tende e diante do qual se acha “em presença”, em recuo
nadificador
o Tratam-se de duas categorias diferentes da existência: o Ser e o Nada

b) A Transfenomenalidade do Sujeito e do Objeto


 Transfenomenal – tal Ser esta além do fenômeno que se manifesta (seja
a consciência conhecedora ou o mundo-conhecido)
 O Ser é TRANSFENOMENAL, isto significa que quando dissemos que
o fenômeno que nos aparece revela todo o Ser, mas que o Ser dessa
aparição é algo que transcende a simples aparição
o Portanto, a consciência não pode ser apenas um “fenômeno
conhecedor”, nem o mundo apenas um “fenômeno conhecido”
o Há, portanto um “Ser fenomenal” da consciência e um “Ser fenomenal”
do mundo
 O COGITO seria o “Ser transfenomenal” da consciência, visto que
sublinha todo pensamento irreflexivo ou reflexivo, mas não aparece
como fenômeno
 No COGITO PRÉ-REFLEXIVO a consciência existe sem ser
“conhecedora”, de si ou do mundo
 O mundo não se esgota em sua aparição a nós
o O mundo apresenta-se como objetivo e subjetivo:
 Objetivo: nos aparece como já existindo antes que nossa consciência o
revele
 Subjetivo: ao tomar-se conhecido, é transpassado por nossa
subjetividade
 A consciência nada cria no mundo, nada que percebemos vem de nós a
consciência nada acrescenta à realidade concreta do mundo, as coisas
estão dadas

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