Você está na página 1de 29

FILOSOFIA

THAMARA NOGUEIRA DE SOUSA


Noção de razão na modernidade
Iremos conhecer e discutir um importante tema da filosofia. Muitos pensadores se
preocuparam com esse assunto e você poderá perceber como esse tema a “noção de razão
na modernidade” também diz respeito a todos nós. Então, vamos conhecer uma pouca
mais da filosofia?! Muitas vezes são atribuídas à modernidade ou à racionalidade, ou à
razão, ou à "racionalidade moderna", entre outros nomes, as inúmeras atrocidades que
tiveram lugar no século XX.
Entre os mais importantes dos primeiros pensadores
hostis à "razão moderna" encontra-se Pascal. Mais
próximos de nós, os pensamentos de Nietzsche,
Heidegger, por um lado, e de Max Weber e Adorno,
por outro, são, provavelmente, as mais importantes
matrizes contemporâneas dessa desconfiança. Entre
os contemporâneos, são muitos os que, como
Zygmunt Bauman, argumentam que os genocídios e
massacres do século passado resultaram das
concepções modernas da sociedade.
O cientista político e antropólogo norte-americano James Scott afirma que grande parte
das tragédias políticas do século XX "agitaram a bandeira do progresso, da emancipação
e da reforma" que, segundo ele, caracterizam os tempos modernos.
Blaise Pascal

Crítico do racionalismo, vertente filosófica baseada na razão, em


sua obra intitulada “Pensamentos” Pascal apresenta suas principais
indagações acerca da existência de um Deus baseado no
racionalismo.
Conforme o filósofo, o ser humano seria impotente para desvendar
os mistérios do divino e, portanto, relaciona seus estudos na busca
da verdade, bem como na tragédia humana.
Assim, para ele, a razão não seria o fim ideal para provar a
existência de Deus, uma vez que o ser humano está limitado às
aparências. Nas palavras do filósofo:

“É o coração que sente Deus e não a razão. Eis o que é a fé: Deus sensível ao coração.”
A razão não é suficiente a si mesma, ela tem limites, e Pascal reconhece esses limites.
Estabelece que a ética, a vida social e a religião é que definem o mundo humano real e
esse mundo real em grande parte foge das possibilidades da razão.
Mas mesmo no mundo natural a razão é limitada, pois os segredos da natureza estão
encobertos na experiência que constantemente aumenta em quantidade, intensidade e
valor. Uma hipótese que busca explicar um acontecimento na natureza pode ser
validada, negada ou permanecer duvidosa, e a experiência permanecendo duvidosa
demonstra claramente que a razão tem seus limites.

A razão também demonstra ser limitada quando busca


definir as noções fundamentais de uma área do
conhecimento pois ela não consegue definir os princípios
últimos da própria razão.
Pascal demonstrou grande preocupação com as questões
teológicas de sua época, defendia que as ações humanas não
são suficientes para a salvação dos indivíduos, para que as
pessoas se salvem é necessária a interferência, o auxílio de
Deus, a salvação dessa forma se torna mais difícil e não é o
resultado direto das ações humanas. São nas nossas ações que
vão aparecer o livre arbítrio e no livre arbítrio aparece a ação
de Deus pois foi ele que nos concedeu a liberdade de escolher
nossos atos.
O conhecimento científico é independente dos conhecimentos da fé que são imutáveis, a fé nos
faz dizer creio, e a ciência, sei. O conhecimento científico para ter credibilidade tem que estar
baseado em um método, mas nenhum método é capaz de nos dar uma verdade científica
completa.
Pascal acreditava que uma das prioridades do nosso pensamento é pensar a nós próprios e não
somente as coisas exteriores a nós. A tarefa principal do homem é conhecer a si mesmo, mas
para cumprir esse empreendimento a razão não nos pode ajudar muito, pois ela é fraca,
desnecessária e imprecisa e cai constantemente na fantasia, no sentimentalismo e no hábito. Para
conhecer-nos o melhor caminho é o do coração.
Nós fazemos parte da natureza e nos localizamos entre dois infinitos dela, o infinitamente
pequeno e o infinitamente grande e somos incapazes de entender ambos. Somos ainda
impossibilitados de entender o nada de onde viemos e entender o infinito onde estamos
imersos. Nós somos alguma coisa, mas não tudo. Nós conhecemos algumas coisas, mas nunca
conheceremos tudo, pois os nossos sentidos não percebem as coisas extremas. Nós estamos
situados entre o ser e o nada.
Mas mesmo limitados somos os únicos seres pensantes da natureza. Somos também
um dos seres mais fracos da natureza, mas somos fracos pensantes e é no
pensamento que está nossa dignidade, nossa nobreza e superioridade frente à
natureza. Nós somos miseráveis e mortais, mas sabermos que somos miseráveis e
mortais e nisso está nossa grandeza.
Heidegger

As obras de Heidegger partem, primeiramente,


do afastamento das questões metafísicas. No entanto, para
que aconteça a superação da metafísica clássica é preciso uma
releitura das obras em que exista certa violência interpretativa,
segundo o autor.
Para Heidegger é preciso haver a superação da teoria,
entretanto a destruição da metafísica depende de mais do que
apenas a simples negação da teoria, por isso a necessidade de
uma leitura mais violenta, mais enfática e que de fato, consiga
acabar definitivamente com as ideias antigas.
O autor defende que os questionamentos filosóficos devem estar centrados no
ser e o homem é o único capaz de propor esse tipo de questionamento, de
pensar sobre ele e de desenvolver teorias. A centralidade no ser, afasta ainda
mais a teoria metafísica. Para complementar as explicações e
questionamentos sobre o ser, Heidegger propõe o conceito de daisen.
Heidegger considera o homem como sendo um daisen, verbo alemão
que significa ser, ou seja, o homem é a própria representação do ser no
mundo, por isso a importância do questionamento sobre o ser e sobre o homem
ser o único no mundo capaz de fazê-lo.
Cada daisen tem a capacidade de escolher aquilo que deseja ser e, para isso, é
capaz de reunir esforços para garantir seus objetivos. O homem não escolhe estar
no mundo e nem mesmo tem escolhas sobre o tempo, mas é capaz de
transformar sua própria existência até a morte.
Ao centrar os questionamentos no ser o daisen passa a existir de maneira
autêntica, efetiva e a partir de escolhas transformadoras. Os homens que não
compreenderam a importância do ser ou que, de alguma maneira, não aceitam o fim
da vida, são chamados de dasman e vivem em uma realidade de existência
inautêntica.
Na existência inautêntica, o homem perde seu poder de escolha, de percepção e
de decisão, apenas vive sendo levado pelo mundo, deixando que os outros decidam
o rumo de sua vida, que pensem por ele. O dasman torna-se então parte da massa
e encontra-se perdido sobre seu posicionamento em relação ao mundo.
A existência e a Angústia

Por ter plena noção de sua condição no mundo e portanto, de sua morte, Heidegger
afirma que os homens enxergam as possibilidades infinitas como limitadas, já que a
morte é inevitável.

Essa consciência gera no homem angústia e é este o sentimento que determinará as


ações e comportamentos do homem diante dos acontecimentos. Para que o homem
consiga atingir o estado de existência autêntica é necessária a aceitação da morte.
Existencialismo

As ideias de Heidegger foram as precursoras para o desenvolvimento do existencialismo,


desenvolvido posteriormente por Jean-Paul Sartre. O existencialismo defende a liberdade
como de extrema importância, além da ligação entre liberdade e condições de existência do ser.

Para os existencialistas a essência humana é formada a partir das escolhas, por isso a
importância da liberdade, para que o homem consiga livremente formar sua própria essência. A
responsabilidade sobre as escolhas e ações é também de inteira responsabilidade do homem.
Heidegger, Camus, Sartre, Merleau Ponty e Kierkegaard são os principais nomes dessa
corrente.
Nietzsche

Rebelde e provocador, o alemão Friedrich Nietzsche


(1844-1900) se propôs a desmascarar as fundações da
cultura ocidental, mostrando que há interesses e
motivações ocultas, e não valores absolutos, em
conceitos como verdade, bem e mal. Com isso, Nietzsche
aplicou um golpe nos sistemas filosóficos, morais e
religiosos. Sua frase mais conhecida ("Deus está morto")
não trata especificamente de ateísmo, mas da
necessidade de romper a "moral de rebanho" - as
verdades tidas como inquestionáveis e o que é aceito por
imposição - para viver as potencialidades humanas em
sua plenitude.
Nietzsche foi um antidemocrático e um antitotalitário. O "super-homem
nietzschiano" não é um ser cuja vontade "deseje dominar", posto que se interprete
vontade de potência como anseio de dominar, onde se faz dela algo dependendo dos
valores instituídos.
Por outro lado, vontade de potência, significa "criar", "dar" e "avaliar". Seria então
alguém além do bem e do mal, depreendido de uma cultura decadente para gênese de
uma nova elite, não corrompida pelo cristianismo e pelo liberalismo.
Em outras palavras, intelectuais responsáveis pela transmutação de todos os valores e
proteção de uma cultura ameaçada pela banalidade democrática, forma histórica de
decadência do Estado conhecido por pensar em si ao invés de ponderar sobre a cultura e
sempre estar zeloso na formação de cidadãos dóceis. Daí sua tendência a impedir o
desenvolvimento da cultura livre, tornando-a estática e estereotipada.
O eterno retorno
A doutrina do eterno retorno, explica Scarlett Marton em Nietzsche,
a transvaloração dos valores, insere-se no contexto da cosmologia
nietzscheana. Para Nietzsche, só há um mundo: este. E ele é eterno e
infinito. Todavia, as forças que o compõem são finitas. Como o
tempo é infinito, só duas possibilidades se abrem: “ou o mundo
atingiria um estado de equilíbrio durável ou os estados por que ele
passasse se repetiriam”, escreve Scarlett.
No sistema do filósofo, porém, a força é dinâmica: busca tomar-se
ainda mais forte a cada instante. Por isso, não pode haver equilíbrio
nem estabilidade. O que há é o combate incessante, com a vontade de
potência impulsionando a força ao domínio sobre as demais. Diante
desse quadro, resta a alternativa da repetição.
”Todos os dados são conhecidos: finitas são as forças, finito é o número de combinações entre elas, mas o
mundo é eterno. Daí se segue que tudo já existiu e tudo tomará a existir. Se o número dos estados por que
passa o mundo é finito e se o tempo é infinito, todos os estados que hão de ocorrer no futuro já ocorreram
no passado.”

Ao homem — que pela doutrina do eterno retorno está condenado a viver repetidas vezes, “sem
razão ou objetivo” — não cabe reclamar desse destino, mas aceitá-lo e amá-lo. Nietzsche chama
essa aceitação de amor fati (amor ao destino), pelo qual o ser humano, ciente de que não há poder
transcendente que o ampare, dá sentido à própria vida. Isso implica amar cada momento como ele
se apresenta, “eternizando” o presente.
É desse modo que o homem supera as antigas oposições metafísicas (essência/aparência,
sensível/inteligível, mutável/permanente) e se toma consciente de estar integrado ao cosmo. Esse
processo o conduz à criação de novos valores, ascendentes, e ao fazer isso, nas palavras de
Scarlett, “ele intervém num momento qualquer do processo circular [o eterno retorno], que é o
mundo, e assim recria o passado e transforma o futuro”.
Zygmunt Bauman

Zygmunt Bauman foi um filósofo, sociólogo,


professor e escritor polonês. Sua obra influencia
estudos em sociologia, filosofia e psicologia. É um
dos maiores intelectuais do século XXI. Ao estudar
as interações humanas na Modernidade tardia,
também denominada Pós-Modernidade, ele
percebeu que “as relações escorrem pelo espaço
entre os dedos” .
Modernidade líquida:

As relações sociais desde a Idade Média eram sólidas. As pessoas mantinham-se em


relações que perduravam e criavam laços fixos. O casamento, por exemplo, era um
contrato firmado com solidez. As pessoas faziam amizades que tendiam a durar muito
tempo. A grande ruptura da modernidade líquida é, justamente, o modo de encarar-se
as relações sociais como meros contratos superficiais e temporários.

Nesse sentido, as relações tendem a ser mais maleáveis e superficiais. Os últimos


trabalhos de Bauman, inclusive, tratam do fenômeno da rede social em relação à
amizade: faz-se muitos amigos virtuais, mas em que medida esses amigos são
realmente amigos, se comparados à relação de amizade sólida? Para Bauman, há
uma íntima relação entre o capitalismo e essas relações, pois essa visão estimula o
consumo. Para conhecer mais sobre esse importante conceito, leia: Modernidade
líquida.
Sociedade líquida

A modernidade líquida promove uma sociedade líquida. Como as relações sociais são
afetadas por esse novo modo de entender a sociedade, então há uma significativa
mudança social no século XX. As pessoas passaram a viver de outra forma, o que
fez surgir uma dinâmica social maleável em nossa época.

Amor líquido

Nas sociedades líquidas estabelecidas pela modernidade líquida, houve também uma
nova forma de encarar-se o amor e as relações afetivas mais íntimas entre pessoas. O
amor, que antes era encarado como uma relação sólida entre duas pessoas, passa a
ser algo transitório e passageiro. A frase “eu te amo” foi banalizada e desvalorizada
nas sociedades modernas.
Quando falamos sobre Zygmunt Bauman, tendemos a lembrar-nos das
palavras “líquido”, “líquida” e “liquidez”. Isso porque, de um modo geral, Bauman
identificou que as relações sociais no século XX perderam as características
essenciais que elas, majoritariamente, tinham nos séculos anteriores. É preciso,
primeiramente, localizar a teoria geral de Bauman para, então, partir para as suas
ramificações.
Weber

O processo de racionalização ao qual Weber refere-se


está relacionado com as mudanças estruturais, culturais e
sociais que as sociedades modernas passaram no decorrer
do tempo. Essas mudanças geraram grandes impactos,
como a gradual construção do capitalismo e a monstruosa
explosão do crescimento dos meios urbanos, que se
tornaram as bases da reordenação das organizações
tradicionais que predominavam até então. A preocupação
de Weber estava em tentar apreender os processos pelos
quais o pensamento racional, ou a racionalidade,
impactou as instituições modernas como o Estado, os
governos e ainda o âmbito cultural, social e individual do
sujeito moderno.
A racionalidade ou a racionalização, para Weber, possui aspectos distintos que se
diferenciam a partir do contexto nos quais eles são observados. A racionalização de um
pesquisador que busca apreender o mundo por intermédio da observação sistemática e
metódica do mundo é diferente da racionalização do cálculo que busca um fim
específico. Essa diferença, no entanto, não os separa, mas os distingue em sua
abordagem.

Etimologicamente, crítica quer dizer separação, distinção, escolha, seleção, juízo. É a


crítica que separa, por exemplo, a esfera religiosa da esfera secular, separação que
consideramos característica da modernidade.
É verdade que, além de ser crítica, a razão é também usada como um instrumento
para a construção de sistemas de pensamento: de teorias científicas, tecnologias,
obras de arte, conceitos filosóficos, concepções teológicas, ideologias e até de
religiões.
Contudo, na modernidade, essas mesmas construções da razão instrumental, como
tudo o que há, também estão sujeitas a serem criticadas pela própria razão. Pois
bem, na medida em que as construções da razão sejam subtraídas à crítica, esta as
rejeita. É o caso das ideologias que serviram de pretexto para justificar as violências
totalitárias.
Ainda mais grave e incompatível com a crítica é a constituição de impedimentos,
como a censura, para o seu exercício. Ora, uma vez que qualquer totalitarismo,
mesmo quando tenta justificar-se com argumentos racionalmente construídos,
estabelece impedimentos para o exercício da crítica universal, irrestrita e pública.
QUESTÕES

1.Qual era a principal critica de Pascal ao racionalismo?

2. O que seria o "super-homem nietzschiano"?

3.Por que para Heidegger a existência tem relação com a


angustia?

4.Explique o que seria o daisen e o dasman para


Heidegger.

5. O que o existencialismo defende ?

Você também pode gostar