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APOSTILA DE FILOSOFIA DO 3º ANO / PROF: ÁDILA CABRAL

O EXISTENCIALISMO DE JEAN-PAUL SARTRE

O conceito “Existencialismo” começou a ser usado depois da I Guerra Mundial, com a finalidade de
designar um amplo movimento filosófico. É chamado de Existencialismo porque seus grandes expoentes
interessaram-se fundamentalmente pelo problema da existência humana.

A ESSÊNCIA PRECEDE A EXISTÊNCIA: Consideremos um objeto fabricado, como por exemplo, um


lápis. Esse objeto foi fabricado por alguém que se inspirou na necessidade de escrever e que, portanto, já
determinou uma utilidade para o objeto mesmo antes de criá-lo, ou seja, uma essência. Nesse caso diremos
que o objeto possuiu primeiro a essência e só depois a existência.

SER-EM-SI: É esse objeto pensado, projetado e fabricado, que já tem sua essência definida antes mesmo
de existir.

A EXISTÊNCIA PRECEDE A ESSÊNCIA: Os que acreditam em Deus pensam nele como o supremo e
único criador, fazendo todas as coisas segundo a sua vontade, como fez o fabricante do lápis, Porém, Sartre
é ateu, ele nega a existência de deus afirmando que o homem é o único ser que não tem um criador, e,
portanto, ele existe primeiro para só depois construir a sua essência, é o NÃO-SER.

O NÃO-SER: É unicamente o homem. Primeiro ele existe, se descobre no mundo e só depois ele irá se
definir, ou seja, primeiramente ele é “nada”, e a medida que for fazendo suas escolhas ao longo da vida, ele
irá construindo sua essência. É o princípio do PARA-SI.

O PARA-SI: É a consciência humana que possui conhecimento a respeito de si mesmo e a respeito do


mundo, e é justamente isto que o difere dos demais seres. Mas, um SER é algo pronto e acabado e se o
homem fosse um SER o homem seria uma coisa, um objeto qualquer como o lápis que já foi pensado antes.
Para Sartre o homem não é um SER-EM-SI, ele é uma eterna indeterminação.

A LIBERDADE É UMA CONDENAÇÃO: Justamente por não ter um deus criador o homem é
obrigatoriamente livre. Suas ações dependem só dele mesmo. Não pode se queixar, não vale a pena rezar,
tem que ser forte e decidido. Sem ter vergonha de seus erros e assumindo suas ESCOLHAS o homem só
pode contar consigo mesmo para edificar sua vida, tomando consciência de sua vida e do grande desejo de
SER.

A ANGÚSTIA E A MÁ-FE “O MEDO DA LIBERDADE”

Para Sartre, quando o homem não se reconhece como livre, ele está se enganando, está negando sua própria
liberdade. Ele afirma que a maioria das pessoas define liberdade como algo fora de si, algo que está no
outro, como por exemplo, na sociedade em que vive na religião, nos costumes, etc.

A essa fuga da própria liberdade Sartre chama de MÁ-FÉ.

Mas, porque é tão difícil exercermos essa liberdade? Sarte afirma que é por causa da ANGÚSTIA. Esse
sentimento nos toma todas as vezes que temos de exercer nossas escolhas. Estamos sempre pensando nos
outros e no que eles pensam a nosso respeito e isso nos impede, muitas vezes, de sermos, de fato, pessoas
autônomas e construtoras de nós mesmos. Angústia ao enfrentar a sociedade, os parentes, os amigos, etc.

Mas, será enfrentando a angústia que seremos maiores e cada vez mais conscientes de nossa liberdade inata.
A angústia faz parte do PARA-SI, ela mostra que estamos no caminho certo. Que estamos enfrentando o
medo de SER , e sentindo estamos nos ligando ao mundo e à vida tal como ela é.
FRIEDRICH NIETZSCHE

O alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) se propôs a mostrar que há interesses e motivações ocultas, e não
valores absolutos, em conceitos como verdade, bem e mal. Nietzsche se preocupa em romper a "moral de
rebanho" - as verdades tidas como inquestionáveis e o que é aceito por imposição - para viver as
potencialidades humanas em sua plenitude.

Vontade de verdade é desejo de fundamento: A vontade de verdade é o desejo que motiva o homem a
encontrar uma verdade eterna e imutável que estaria por trás da realidade. Mas Nietzsche acredita que a
vontade de verdade tem uma intenção prática e política de nivelar os homens, normatizar a vida e reduzir o
pensamento, barrando o fluxo de lembranças, vontades e desejos que sempre impulsionaram a humanidade.
Vontade de potência é desejo de viver: Vontade de potência é uma vontade de viver e não de saber a
verdade da vida. Ela é um fluxo individual e primitivo que nos liga à vida e ao mundo nos dando força,
significados e objetivos. O futuro da humanidade não pode estar depositado nas mãos dos líderes espirituais
e ou políticos egoístas da democracia (que Nietzsche considera outra mentira), mas nas mãos dos homens
fortes, de “espíritos livres que não acreditam mais na verdade”, que aceitam sua finitude e assumem a dor e
a alegria do mundo, ultrapassando simbolicamente sua condição humana.
Niilismo: O niilismo está presente no conjunto das obras de Nietzsche.O niilismo do latim nihil (nada), é
uma corrente filosófica que, em princípio, concebe a existência humana como desprovida de qualquer
sentido.
Niilista Negativo: Aqui, nega-se o mundo em nome de outros valores. O niilista negativo pensa em dois
mundos, um debaixo: sensível, mutável, corporal, temporal; outro supra-sensível: imutável, ordenado,
atemporal. Ele se acovarda e cria outros mundos para poder suportar este. A vontade se torna doente,
dependendo da ideia de deuses o que remete a mundos fora deste, uma forma de fugir da realidade.
Niilista Reativo moderno: O homem diz não crer mais em Deus, mas criou pra si outros deuses, o
dinheiro, a moda, a ciência, a revolução, em um outro homem suposto salvador de si e da sociedade. Declara
os direitos dos homens, fala em futuro, mas não vive o presente. Enfim, o homem matou a verdade fora
deste mundo, mas ainda acredita numa verdade metafísica neste mundo.
Niilista Passivo: O homem cada vez mais doente tem cada vez menos capacidade de afirmar-se. O niilismo
passivo é o dos últimos dos homens. Ele diz: “Onde está o mar para que eu possa me afogar?“, mas o mar
secou! O niilismo passivo é aquele que espera pela própria extinção. A chama se apaga, surge a escuridão
sem fim. São verdadeiros mortos-vivos.
Niilista Ativo: Para o niilista ativo é necessário viver a vida de tal maneira que ele “arregace as mangas” e
faça – viva de maneira intensa – o mundo é um ciclo ininterrupto. É um ETERNO DEVIR (como diria o
pré-socrático Heráclito). Ele é o ATIVO (como diria Espinosa), é o PARA-SI (como diria Sartre). Nietzsche
abomina os covardes. Nietzsche diz: “Eu não se assombro diante da vida e da modernidade, recebo os
“golpes” da vida, mas EU “sinto” e sentindo e sofrendo eu aprendo a superar as piores dificuldades e
barreiras da vida me tornando assim a superação, O SUPER-HOMEM.
„„deus está morto‟‟; Nietzsche afirma é que, a influência da religião em nossas vidas é cada vez menor. A
Igreja, os mitos, as ideias, os ritos, a moral por trás da Teologia, vemos tudo isso enfraquecendo e
desaparecendo pouco a pouco. Não só a religião, mas também a crença em seus valores metafísicos, a crença
em suas verdades últimas, a crença no Bem, Belo e Verdadeiro. Para Nietzsche a criação de um deus só
pode ser sintoma de uma vontade doente, triste, ou seja, um niilismo negativo. Ele afirmava que o
cristianismo tem seus dias contados, e já vemos algo novo emergir, um homem novo, livre da imposição da
religião, livre do medo de SER. Nietzsche explica: “deus está morto” como uma verdade eterna, como um
ser que controla e conduz o mundo, como um pai bondoso que justifica os acontecimentos, como sentido
último da existência como um grande ditador divino que exige obediência de seus servos, que dita leis e é
responsável pela verdade absoluta e unificadora. Assistimos à ruína dos valores cristãos! Eles são agora um
empecilho à existência! deus não é mais uma questão importante para se tratar.
BARUCH SPINOZA (1632-1677) A LIBERDADE DO DEUS IMANENTE X A LIBERDADE DO HOMEM.

Para explicar o problema da liberdade Espinosa utiliza a ideia da liberdade de Deus, já que para ele só Deus
é livre. Espinosa pensa em um “deus imanente”, ou seja, um Deus natureza que é composto de tudo que
existe, e assim sendo, Deus não seria criador, ele é produtivo, ele não precisa criar nada, só produzir a partir
de si mesmo, já que é composto de tudo que existe. Deus é a substância única do universo. Então, Espinoza
preocupado em compreender a ideia de liberdade, liga a ideia de liberdade à ideia de causa e diz que Deus é
atividade, ação, causa ativa e justamente por ser uma causa ativa, Deus é livre. Mas, livre por quê? Porque
para Espinoza liberdade se opõe a constrangimento (impedimento) e não há nada que impeça a ação de
Deus. Ele afirma que é livre todo ser que não é constrangido ao fazer a sua produção. Liberdade se explica
por “ausência de constrangimento”.

Já os homens, ao contrário de Deus não são livres porque são constrangidos (impedidos) entre as coisas e
entre os próprios homens e sofrem a influência das forças externas como opiniões, a cultura, a moda, as leis,
os relacionamentos pessoais, etc. Toda hora estamos nos confrontando com outros, diferente de Deus que
não há ninguém que o impeça ou influencie. Deus não tem cultura ou amigos ou televisão ou sentimentos
humanos que lhe façam ficar alegre ou triste, Deus não é atingido por nada, diferente dos homens que
sofrem, choram, tem esperança, ilusões, etc

Para Espinoza os seres são dotados de razão (racionalidade) e de paixão (sentimentos) e o homem composto
por forças que vêm de fora é um corpo apaixonado. É movido apenas por sentimentos e não pelo raciocínio.
Toda a questão do Espinosa é investigar se um dia o homem pode ser livre. Espinosa é um racionalista, logo
ele não afirma que podemos ser livres, ele investiga se podemos ser efetuadores de natureza e assim, livres.
Vivendo das forças que vêm de dentro o que Nietzsche chamaria de vontade de potência. Logo a liberdade
do homem é uma difícil questão.

Espinoza nos mostra, então, alguns estágios que nos permite vislumbrar uma possibilidade de liberdade.

1) O gênero da experiência vaga ou o gênero da consciência: Espinosa afirma que o que chamamos de
consciência é apenas o resultado dos encontros que os nossos corpos fazem na natureza, e nesses encontros,
nossos corpos irão receber marcas, essas marcas irão constituir o que somos. Logo, a consciência não passa
de mero resultado e feito desses encontros e dessas influências. Aqui o homem não usa as forças de dentro,
apenas as forças externas, e sendo assim nossa consciência não é ativa. Isso significa que o homem o homem
da consciência é constituído apenas pelo que ele recebe e não pelo que produz. É o homem da servidão.

2) A razão: É quando o homem começa a ter um início de atividade, ele já compreende a natureza e a sua
realidade através de um olhar científico e racional, através da física e das leis que regem o universo e não
através de mitos ou puro senso comum, é o que chamamos de conhecimento. A aqui o homem passa a
conhecer aquilo que está do lado de fora, ele já consegue compreender e avaliar as ligações pessoais, as
imposições da cultura, as implicações da política, a necessidade de aprender pra não viver só repercutindo
aquilo que ouve nas ruas e através da mídia. O segundo gênero busca conhecer a verdade e atingir um
comportamento moral, ele conhece a realidade, e ultrapassa a mera consciência, abrindo a possibilidades de
uma prática e um pensar mais racional e mas ainda não consegue efetuar a sua própria natureza..

3) Ciência intuitiva: Esse gênero ultrapassa a razão. Aqui o homem não só pensa e reflete sobre as coisas
que vêm de fora, ele produz, ele inventa, ele transforma o mundo ao seu redor. É o homem rigoroso,
criterioso e que não se aplica apenas a compreender o que está do lado de fora, mas a mudar por completo o
mundo através de sua ação. O terceiro gênero do conhecimento objetiva novos modos de vida, uma nova
música, uma nova arte. Ele não se preocupa em corrigir os erros do que está aí, ele vem trazer algo
totalmente novo e diferente para que a vida se torne nova e diferente, Afim de que possamos encontrar
sentido na vida e não apenas suporta-la. A função dele é ultrapassar aquilo que já é.

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