Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1. Schopenhauer
. Fundador do pessimismo e crítico dos sistemas filosóficos e das filosofias da história; influenciou Nietzsche, Wittgenstein, Horkheimer, Kafka e Thomas Mann;
. Critica os materialistas, os realistas e os idealistas (Hegel: sicário da verdade, acadêmico mercenário, sua obra é uma palhaçada filosófica) e parte de Kant, que dizia que o
fenômeno era a única realidade cognoscível;
. O mundo é uma representação minha e minhas representações acessam apenas os fenômenos. Ele é ordenado pelo espaço, tempo e causalidade. Ele reduz as 12 categorias de Kant a
causalidade; as 4 formas de causalidade que determinam as categorias dos objetos cognoscíveis são: 1. necessidade física: objetos materiais: tornar-se; 2. necessidade lógica:
conhecer; 3. necessidade matemática: ser; 4. Necessidade moral: agir; são essas as quatro formas do princípio de causalidade, quatro formas de necessidade que estruturam
rigidamente todo o mundo da representação. Para Kant, o fenômeno é a única realidade cognoscível, mas, para Schopenhauer, o fenômeno é a ilusão que envolve a realidade das
coisas em sua essência primigênia e autêntica;
. O mundo como vontade, i. é, como númeno. Para Schopenhauer, pode-se alcançar essa essência da realidade, o númeno que, para Kant, permanece incognoscível; o corpo é
dado ao sujeito que conhece de dois modos inteiramente diversos: de um lado, como representação, e como objeto entre objetos, submetido as suas leis; por outro lado, é dado
como algo de imediatamente conhecido de cada um e que é designado pelo nome de vontade.
. O corpo é, portanto, vontade tornada visível. Sem dúvida podemos olhar nosso corpo e falar dele como de qualquer outro objeto – e, nesse caso, ele é fenômeno. Mas é por
meio de nosso corpo que sentimos que vivemos, experimentamos prazer e dor e percebemos o anseio de viver e o impulso de conservação. E é por meio do próprio corpo que
cada um de nós sente que “a essência intima do próprio fenômeno não é mais que sua vontade, que constitui o objeto imediato de sua própria consciência”. E essa vontade não se
enquadra no modo de conhecimento em que sujeito e objeto se contrapõem um ao outro, “mas se nos apresenta por via imediata, na qual não se pode mais distinguir claramente
entre sujeito e objeto”. A essência do nosso ser é, portanto, vontade; a imersão no profundo de nós mesmos faz com que descubramos que somos vontade. Mas, ao mesmo
tempo, essa imersão rompe o “véu de Maya” e faz com que nos vejamos como partes daquela vontade única, daquele “cego e irresistível ímpeto” que permeia, se agita e se
esquadrinha por todo o universo. Em outras palavras, a consciência e o sentimento de nosso corpo como vontade levam-nos a reconhecer que toda a universalidade dos
fenômenos, embora tão diversos em suas manifestações, tem uma só e idêntica essência: a vontade. A vontade é um cego robusto que carrega um aleijado que enxerga.
. Os fenômenos, ligados ao princípio de identificação que é o espaço-tempo, são múltiplos, ao passo que a vontade é única. E é cega, livre, sem objetivo e irracional. É a
insaciabilidade e a eterna insatisfação que darão lugar a uma cadeia ascensional de seres nas forças da natureza, no reino vegetal, no reino animal e no reino humano, seres que,
premidos por impulso cego e irresistível, lutam um contra o outro para se imporem e dominarem o real. Essa dilaceração, essa luta sem trégua e sem fim, aguça-se na ação
consciente do homem, subjugando e explorando a natureza, por um lado, e no cruel conflito entre os diversos egoísmos indomáveis, por outro.
. A essência do mundo é vontade insaciável. A vontade é conflito e dilaceração e, portanto, dor. E “a medida que o conhecimento torna-se mais distinto, e que a consciência se
eleva, cresce também o tormento, que alcança no homem o grau mais alto, tanto mais elevado quanto mais inteligente é o homem; o homem de gênio é o que sofre mais”. A
essência da natureza inconsciente é aspiração constante, sem objetivo e sem repouso. E, ao mesmo tempo, a essência do animal e do homem é querer e aspirar: sede inextinguível.
E “o homem, sendo a objetivação mais perfeita da vontade de viver, é também o mais necessitado dos seres; nada mais é que vontade e necessidade, de modo que se poderia
defini-lo até como concretude de necessidades”.
. A vida é necessidade e dor. Se a necessidade é satisfeita, então mergulhamos na saciedade e no tédio. Segue-se daí que a vida humana oscila, como pêndulo, entre a dor e o tédio.
Dos sete dias da semana, seis são dor e necessidade, e o sétimo é tédio. Schopenhauer sustenta que, no fundo, o homem é um animal selvagem e feroz. Conhecemos o homem
somente naquele estado de mansidão e domesticidade chamado civilização, mas basta um pouco de anarquia para que nele se manifeste a verdadeira natureza humana: “o homem
é o único animal que faz os outros sofrerem pelo único objetivo de fazer sofrer”.
. Substancialmente, o que é positivo, ou seja, real, é a dor; ao passo que o que é negativo, ou seja, ilusório, é a felicidade. E a dor e a tragédia não são somente a essência da vida
dos indivíduos, mas também a essência da história de toda a humanidade. A vida é dor e a história é acaso cego. O progresso é uma ilusão. A história não é, como pretende Hegel,
racionalidade e progresso; todo finalismo e qualquer otimismo sio injustificáveis.
. O mundo como fenômeno é representação. Mas, em sua essência, é vontade cega e irrefreável, perenemente insatisfeita, dilacerando-se entre forças contrastantes. Todavia,
quando o homem, aprofundando-se em seu próprio íntimo, consegue compreender isso, ou seja, que a realidade é vontade e que ele próprio é vontade, então está pronto para sua
redenção, e esta só pode se dar “com o deixar de querer”. Em suma, na opinião de Schopenhauer, só podemos nos libertar da dor e do tédio e nos subtrair à cadeia infinita das
necessidades mediante a arte e a ascese.
. Libertação por meio da arte: a experiência estética, principalmente a música, torna objetiva a vontade e é anulação temporária. Na experiência estética não estamos mais
conscientes de nós mesmos, mas somente dos objetos intuídos. A experiência estética é a anulação temporária da vontade e, portanto, da dor. Na intuição estética, o intelecto
rompe sua servidão à vontade, deixando de ser o instrumento que procura os meios para satisfazê-la; torna-se puro olho que contempla. A arte – que, da arquitetura (que expressa
a ideia das forças naturais) a escultura, da pintura a poesia, chega à tragédia, a mais elevada forma de arte – objetiva a vontade.
. A redenção por meio da ascese: justiça (reconhecimento dos outros como iguais a nós), bondade (compaixão – fundamento da ética); ascese (erradicar a vontade de viver, que é
raiz do mal) e quando a voluntas torna-se noluntas o homem está redimido.
. Emil Cioran é conhecido pelo seu pessimismo (de Schopenhauer), ceticismo (de Montaigne), cinismo (de Diógenes), niilismo (de Nietzsche) e antinatalismo. Um jornal britânico
o chamou de “o rei dos pessimistas”, um francês de “arauto de miséria humana”, e “o niilista que o século XX profetizou”. Suicídio, morte, obsessão e vazio são seus temas de
interesse. Cioran se considerava um discípulo do argentino Jorge Luis Borges. “O que sei aos 60 sabia aos 20, 40 longos anos de um trabalho inútil de verificação.” “A arte de
amar? Saber unir um temperamento de vampiro a discrição de uma anêmona.” “Acredito na salvação da humanidade, o futuro do cianureto.” “Todos os seres são infelizes; mas
quantos o sabem?” “O limite de cada dor é uma dor maior.” “Começar uma família. Creio que me seria mais tranquilo começar um império.” “Ser é estar encurralado.” “Deus é
um desespero que começa onde todos os outros acabam.” “A obsessão pelo suicídio é própria de quem não pode viver, nem morrer, e cuja atenção nunca se afasta dessa dupla
impossibilidade.” “Há dois mil anos Jesus de Nazaré desconta em nós o fato de não ter morrido num sofá.” Em livros como “A Queda no Tempo” (1964), “O Demiurgo
Aziago” (1969) e “Desgarramento” (1979), o filósofo empenha-se em demonstrar que a criação é uma “sabotagem definitiva”. “As espécies animais teriam durado milhões de
anos se o homem não tivesse acabado com elas, mas a aventura humana não pode ser indefinida. O homem já deu o melhor de si. Todos sentimos que as grandes civilizações
ficaram para trás. O que não sabemos é como será o fim”, escreveu Cioran.
2. Kierkegaard
. A filosofia de Kierkegaard tem sido de maior importância no desenvolvimento da filosofia do século XX, especialmente no existencialismo e no pós-modernismo. Kierkegaard
foi um filósofo do século XIX que foi chamado de “pai do existencialismo”. A sua filosofia também influenciou o desenvolvimento da psicologia existencial. Kierkegaard criticou
aspectos dos sistemas filosóficos trazidos por filósofos como Hegel. Ele foi também indiretamente influenciado pela filosofia de Immanuel Kant. Afirmava o modelo da filosofia
encontrada em Sócrates, que focava a atenção não em sistemas explicativos, mas ao assunto de como cada ser humano existe. Um dos temas recorrentes em Kierkegaard é a
importância da subjetividade, que tem a ver com a maneira como as pessoas se relacionam com a verdade objetiva. Em Post Scriptum Final Não-Científico às Migalhas Filosóficas,
argumenta que “subjetividade é a verdade” e “a verdade é subjetividade”, significando que a verdade não é somente uma matéria que corresponde à descoberta da verdade.
. O existencialismo cristão baseia-se na compreensão de cristianismo de Kierkegaard. Ele argumentava que o universo é, fundamentalmente, paradoxal e que o seu maior
paradoxo é a união transcendente de Deus e do homem na pessoa de Jesus Cristo. Cada ser humano é confrontado pela primeira vez com a responsabilidade de saber de sua
própria vontade, e depois com o facto de que uma escolha, mesmo que errada, deve ser feita a fim de viver autenticamente.
. Kierkegaard também defendeu a ideia de que cada pessoa existe em uma das três esferas (ou planos) de existência:
. 1) O estádio estético, no qual o homem se abandona à imediatidade, não há uma aceitação consciente de um ideal. A busca pelo prazer imediato faz com que o esteta atribua
maior importância à possibilidade de realização do que à própria realização. São três os modos de ser do estádio estético: a sensualidade, representada por Don Juan; a dúvida, por
Fausto; o desespero, pelo judeu errante Ahasverus.
. 2) O estádio ético, no qual o homem submete-se à lei moral e opta por si mesmo. Ao falar do estádio ético, Kierkegaard fala do marido fiel: o modo de vida ético é o modo de
vida do indivíduo que é correto com a família e trabalhador. Trata-se não mais do indivíduo que busca o prazer, trata-se do indivíduo que ordena sua vida em relação ao
cumprimento do dever. Diz Kierkegaard: “a esfera ética é uma esfera de transição, que todavia não é atravessada de uma vez por todas”. Ela oferece uma forma de preparação
para o estádio religioso.
. 3) O estádio religioso: o último estádio proposto por Kierkegaard, é o que vai além do estádio ético e é o ponto mais alto a que se pode chegar; é, portanto, o estádio onde se
efetiva a realização do indivíduo. Se, no estádio ético, o homem pode transgredir uma lei feita por homens, no estádio religioso, o erro é contra leis estabelecidas por Deus;
portanto, significa pecado. O estádio religioso suspende o estádio ético quando o indivíduo estiver diante de uma escolha que implica em uma finalidade maior. O exemplo que
Kierkegaard oferece é o de Abraão que aceita sacrificar seu filho para que se cumpra a promessa da divindade na qual ele acredita.
. O salto entre um estádio e outro não é necessário e sim contingente: o salto é uma possibilidade, que se tornará real apenas se o indivíduo escolher.
. Além dos três estádios, Kierkegaard identifica duas zonas-limite: a ironia e o humor.
. Como toda a sua obra, a teoria dos estádios foi provavelmente escrita a partir da autobiografia do autor: atraído pelos prazeres da vida social, Kierkegaard abandona os estudos
na juventude para entregar-se aos prazeres. Pode-se dizer que ele estava vivendo esteticamente. Depois, o amor por Régine Olsen e a necessidade de romper o noivado porque
acreditava que isso iria contra sua atividade filosófica: podemos identificar aqui o confronto entre a existência ética e a existência religiosa.
3. Nietzsche
. O Nascimento da Tragédia no Espírito da Música (1872). Contra a concepção dos séculos XVIII e XIX, que tomavam a cultura grega como resumo da simplicidade, da calma e da
serena racionalidade, Nietzsche, então influenciado pelo romantismo, interpreta a cultura clássica grega como um embate de impulsos contrários: o dionisíaco, ligado à
exacerbação dos sentidos, à embriaguez extática e mística e à supremacia amoral dos instintos, cuja figura é Dionísio, deus do vinho, da dança e da música, e o apolíneo, face
ligada à perfeição, à medida das formas e das ações, à palavra e ao pensamento humanos (logos), representada pelo deus Apolo. Segundo Nietzsche, a vitalidade da cultura e do
homem grego, atestadas pelo surgimento da tragédia, deveu-se ao desenvolvimento de ambas as forças, e o adoecimento da mesma sobreveio ao advento do homem racional, cuja
marca é a figura de Sócrates, que pôs fim à afirmação do homem trágico e desencaminhou a cultura ocidental, que acabou vítima do cristianismo durante séculos. As obras de
Ésquilo e Sófocles representam o ápice da criação artística, a verdadeira realização da tragédia; ele afirma que é com Eurípides que a tragédia começa sua queda.
. A Filosofia na Idade Trágica dos Gregos (provavelmente os textos que o compõem remontam a 1873 - publicado postumamente). Trata-se de um livro deixado incompleto, mas que
se sabe ter sido intenção de Nietzsche publicar. Trata-se, no fundo, de um escrito ainda filológico, mas já de matriz filosófica disfarçada por uma pretensa intenção histórica; mas
o grande diferencial desta obra, sua inovação, consiste em sua interpretação psicológica dos pensadores originários. Considera os casos gregos de Tales, Anaximandro, Heráclito,
Parmênides e Anaxágoras sob uma perspectiva inovadora e interpretativa, relevadora da filosofia que é de Nietzsche.
. Sobre a Verdade e Mentiras em um Sentido Não-Moral (1873 - publicado postumamente). Ensaio no qual afirma que aquilo que consideramos verdade é mera “armadura de metáforas,
metonímias e antropomorfismos”: a verdade é resultado do trabalho do homem, que transforma metáforas intuitivas e imagens em esquemas e conceitos. Apesar de póstumo é
considerado por estudiosos como elemento-chave de seu pensamento.
. Considerações Extemporâneas ou Considerações Intempestivas (1873 a 1876). Série de quatro artigos (dos treze planejados) que criticam a cultura europeia e alemã da época de um ponto
de vista antimoderno, e anti-histórico, de crítica à modernidade: 1°. David Strauss, o Confessor e o Escritor (1873) no qual, ao atacar a ideia proposta por David Friedrich Strauss de
uma “nova fé” baseada no desvendamento científico do mundo, afirma que o princípio da vida é mais importante que o do conhecimento, que a busca de conhecimento
(posteriormente discutida no conceito de “vontade de verdade”) deve servir aos interesses da vida; 2°. Dos Usos e Desvantagens da História Para a Vida (1874): a necessária
subordinação da história à vida: o animal vive de maneira a-histórica; o ser humano, de maneira histórica, mas ele tem o poder de esquecer e isso é vital para libertá-lo do peso do
passado. É preciso converter o conhecimento histórico em benefício para a vida. Há 3 gêneros de história: 1°) monumental: o criador utiliza o passado como exemplo ou modelo;
2°) antiquária: o conservador enraíza sua vida e seus valores nos do passado; 3°) crítica: o reformador utiliza o passado para negá-lo e assim ultrapassá-lo. Elas podem ser tanto
úteis quanto nocivas à vida. 3°. Schopenhauer como Educador (1874): a crítica de Nietzsche à cultura de seu tempo elege Schopenhauer como um educador porque a cultura
toma demais o homem de si mesmo. Não há como ser grande dobrando-se à cultura, ela é um roubo de nossa constituição íntima; 4°. Richard Wagner em Bayreuth (1876):
Nietzsche chega a Bayreuth imaginando encontrar o público grego redivivo. No entanto, tudo aquilo que parecia ser criticado por Wagner desfilava nos dias festivos: vulgaridades
aristocráticas, exibicionismos e aquela sensação de que o público queria mesmo era distração ligeira e não distinguia a grande ópera dos dramas de Wagner.
. Humano, Demasiado Humano, um Livro para Espíritos Livres (1886). Primeiro de estilo aforismático do autor. É um livro para espíritos livres. Foi a primeira obra de Nietzsche após o
rompimento com o romantismo de Richard Wagner e o pessimismo de Arthur Schopenhauer. O autor mergulha na Filosofia e na Epistemologia implodindo as realidades eternas
e as verdades absolutas e nos alerta para a inocuidade da metafísica no futuro. Busca registrar o conceito de espírito livre, isto é, aquele que pensa de forma diferente do que se
espera dele: o homem do futuro. Nietzsche sacode a humanidade nesse livro-resumo da história da Filosofia e do nascimento da Ciência, que não cumpriram seus papéis de
criarem espíritos verdadeiramente livres, e que o homem precisa descobrir-se como Humano, Demasiado Humano.
. Aurora, Reflexões sobre Preconceitos Morais (1881). A compreensão hedonística das razões da ação humana e da moral são aqui substituídas, pela primeira vez, pela ideia de poder,
sensação de poder, início das reflexões sobre a vontade de poder, que só seriam explicitadas em Assim Falou Zaratustra. Trata da moral do sofrimento voluntário e das ressonâncias
do cristianismo na moral.
. A Gaia Ciência, traduzida também com Alegre Sabedoria, ou Ciência Gaiata (1882). No terceiro capítulo deste livro é lançada o famoso diagnóstico nietzschiano: “Deus está morto.
Deus continua morto. E fomos nós que o matamos”.
. Assim Falou Zaratustra, um Livro para Todos e para Ninguém (1883-85). A trama é centrada na figura do sábio solitário Zaratustra que, com 30 anos, deixou sua aldeia. Ele tinha
ficado lá por 10 anos gozando de seu espírito e solidão até que disse: “Estou farto de minha sabedoria. Quero doar e distribuir. Por isso, devo baixar às profundezas.” Na obra,
Nietzsche explica os passos através dos quais o homem pode se tornar um “além-homem”: 1. através da transvaloração de todos os valores do indivíduo; 2. através da sede de
poder (vontade de potência), manifestado criativamente em superar o niilismo e em reavaliar ideais velhos ou em criar novos; 3. e, de um processo contínuo de superação. O
além-homem, tem como qualidades principais a faculdade de esquecer, a afirmação da lei do eterno retorno e o amor fati (amor ao destino, ou seja, não deve haver
arrependimento do homem na vivência de seus valores). Na obra, aparece também a morte de Deus e o eterno retorno. Zaratustra não deve se tornar cão de um rebanho; ele não
desceu a montanha para criar um rebanho; ele quer aliados, não seguidores. Mas ele foi ingênuo. Deu pérolas aos porcos. O livro tem 4 partes e cada partes diversos capítulos.
Ex.: 1) Das três transformações: camelo (obediente), leão (combatente) e menino (criar, brincar e jogar).
. Além do Bem e do Mal, Prelúdio a uma Filosofia do Futuro (1886). Neste livro denso são expostos os conceitos de vontade de poder, a natureza da realidade considerada de dentro dela
mesma, sem apelar a ilusórias instâncias transcendentes, perspectivismo e outras noções importantes do pensador. Critica demolidoramente as filosofias metafísicas em todas as
suas formas, e fala da criação de valores como prerrogativa nobre que deve ser posta em prática por uma nova espécie de filósofos. Discute valores (verdade/falsidade, bem/mal)
sobre os quais a filosofia construiu seu discurso, para depois avaliá-los em termos de “afetos” e, portanto, “além do bem e do mal”. Aqui ele fala também em Vontade de
Poder/Potência. Há, na literatura, os conceitos “vontade de morrer”, de Philipp Mainländer e a “vontade de viver”, de Schopenhauer. O conceito de “Vontade de Potência” é
uma proposição ontológica que sustenta toda a sua teoria. A vida é Vontade de Potência, mas não se pode restringi-la apenas à vida orgânica; ela está presente em tudo, desde
reações químicas mais simples até à complexidade da psiquê humana. Tudo no mundo é Vontade de Potência porque todas as forças procuram a sua própria expansão. Neste
campo de instabilidade e luta, jogo constante de forças instáveis, a permanência é banida junto com a identidade: neste mundo reina a diferença. Força como superação, como
constante ir para além dos próprios limites. A vontade se mostra como sede de dominar, fazer-se mais forte, constranger outras forças mais fracas e assimilá-las. A vontade de
potência é a principal força motriz nos seres humanos, ou seja, é a realização, a ambição e o esforço para alcançar a posição mais alta possível na vida. Se, em física, potência é a
capacidade de realizar trabalho; na filosofia, Vontade de Potência é a capacidade que a Vontade tem de efetivar-se. Contra uma interpretação de Darwin, Nietzsche argumenta que
o homem não pode e não quer apenas conservar-se ou adaptar-se para sobreviver, só um homem doente desejaria isso; ele quer expandir-se, dominar, criar valores, dar sentidos
próprios. Isto significa ser ativo no mundo, criar suas próprias condições de potência. É um efetivar-se no encontro com outras forças.
. Genealogia da Moral, uma Polêmica (1887). A primeira parte, intitulada “Bom e mau – Bom e ruim”, consiste na psicologia do cristianismo. Nietzsche discute a origem dos
sentimentos morais a partir do antagonismo metafísico entre duas classes: a dos senhores e a dos escravos, na tentativa de explicação das condições de criação desses juízos e nas
consequências para o desenvolvimento da sociedade. A classe senhorial tem duas classes rivais: a guerreira e a sacerdotal; a primeira, dominante, cultua a virtude do corpo,
enquanto a outra inventa o espírito. Dessa rivalidade surgem as duas morais: moral dos senhores: os fortes, os nobres, os sadios utilizam o termo “bom” tendo como antônimo o
termo “ruim”. Essa é uma avaliação técnica. É afirmado e elaborado o conceito “bom” a partir de si mesmo – eu sou bom, eu sou belo, eu sou forte; em oposição cria-se o
conceito “ruim” para tudo aquilo que é baixo, vulgar, plebeu; moral dos escravos: os fracos, os doentes, os escravos usam o termo “bom” tendo como antônimo o termo “mau”.
Esses não julgam a técnica de luta, mas a crueldade. Dizem: nós somos bons e nossos adversários são maus, cruéis. Desta forma, surge uma avaliação moral. Esta é uma moral
que nasceu do ressentimento e é sempre uma reação ao que lhe vem de fora. A segunda parte, chamada de “A falta (culpa), a má consciência e o que se nos afigura”, encerra uma
psicologia da consciência moral. Na visão de Nietzsche, a antiga e remota história do homem nos ensina que observar alguém sofrer e ser castigado era uma alegria, pois a
crueldade fazia e faz parte da natureza humana, sendo um instinto fundamental. No tempo em que a humanidade não se envergonhava ainda de sua crueldade, a vida sobre a terra
era mais serena e feliz do que nesta época de pessimismo. Um doentio moralismo ensinou ao homem a envergonhar-se de todos os seus instintos. A interioridade é o resultado de
uma perversão dos instintos. Todos os instintos que não se chegam a exteriorizar, interiorizam-se. Na terceira parte, denominada “Qual é o fim de todo o ideal ascético?”, que trata
da psicologia do sacerdote, o filósofo interpreta a relação de várias figuras humanas, tais como a dos filósofos e dos sacerdotes com os ideais ascéticos, procurando apontar o que
significam esses ideais. Nietzsche salienta que os ideais ascéticos não significam a busca do vazio e do nada. Ao contrário, correspondem a uma característica fundamental da
vontade humana: seu horror ao vazio, e a necessidade de um objetivo.
. O Crepúsculo dos Ídolos, ou como Filosofar com o Martelo (1888). Obra onde dilacera as crenças, os ídolos (ideais ou autores do cânone filosófico) e analisa toda a gênese da culpa no ser
humano. O título é uma paródia do título de uma opera de Wagner, Crepúsculo dos deuses. No subtítulo, a palavra “martelo” deve ser entendida como marreta, para destroçar os
ídolos e também como diapasão, para, ao tocar as estátuas dos ídolos, comprovar que são ocos. Sócrates, por exemplo, coloca a racionalidade acima dos instintos.
. O Anticristo – Praga contra o Cristianismo (1888). Apesar de apontar Cristo, mesmo em sua concepção “própria”, como sintoma de uma decadência análoga a que possibilitou o
surgimento do Budismo, nesta obra Nietzsche dirige suas críticas mais agudas a Paulo de Tarso, o codificador do cristianismo e fundador da Igreja. Acusa-o de deturpar o
ensinamento de seu mestre — pregador da salvação no agora deste mundo, realizada nele mesmo e não em promessas de um Além — forjando o mundo de Deus como acima e
além deste mundo. “O único cristão morreu na cruz”, como diz no livro que seria o início de uma obra maior a que deu sucessivamente os títulos de Vontade de Poder e
Transmutação de Todos os Valores.
. Ecce Homo, de como a gente se torna o que a gente é (1888) — Uma autobi(bli)ografia, onde Nietzsche, ciente de sua importância e acometido por delírios de grandeza, acha necessário,
antes de expor ao mundo a sua obra definitiva (jamais concluída), dizer quem ele é, por que escreve o que escreve e por que “é um destino”. Comenta as suas obras então
publicadas. Oferece uma consideração sobre o significado de Zaratustra. E por fim, dizendo saber o que o espera, anuncia o apocalipse: “Conheço minha sina. Um dia, meu nome
será ligado à lembrança de algo tremendo — de uma crise como jamais houve sobre a Terra, da mais profunda colisão de consciências, de uma decisão conjurada contra tudo o
que até então foi acreditado, santificado, requerido”.
. Os dois instintos da vida são o apolíneo e o dionisíaco. A decadência da civilização ocidental culmina com a morte de Deus, com a eliminação de todos os valores que foram
fundamento da humanidade. Consequência necessário disso é o niilismo: resta apenas o nada, o eterno retorno. Zaratustra é o profeta do amor fati e da transvaloração dos valores
e anuncia o além-homem.
2. DO HEGELIANISMO À TEORIA CRÍTICA DA ESCOLA DE FRANKFURT
1. Restauração e Positivismo
. A filosofia na França e na Itália na era da Restauração. Marcado por revoltas, a Revolução Industrial e o crescimento da classe média, o período da Restauração europeia
(1814-1848) refere-se à luta por parte dos partidários da monarquia europeia pela legitimidade interna contra os carbonários e por vezes militares que seguiam os ideais jacobinos
da Revolução Francesa. 1) na França: os ideólogos (Destutt de Tracy e Pierre Cabanis); o espiritualismo (Maine de Biran); o espiritualismo eclético (Victor de Cousin); os
tradicionalistas (Louis de Bonald e Joseph de Maistre); 2) na Itália: na esteira do Iluminismo (Romagnosi, Cattaneo e Ferrari); hostis ao Iluminismo (Galluppi, Rosmini e
Gioberti).
. O Positivismo na Cultura Europeia. As características do positivismo são as seguintes: 1) conhecimento à parte da metafisica: “Em ciência não há profundidade”. “Os
modernos, rejeitando formas substanciais e qualidades ocultas, têm-se esforçado para sujeitar os fenômenos da natureza às leis da matemática. (NEWTON, Philosophie naturalis
principia mathematica). A ciência não vai atrás do que sobreexcede as efetivas possibilidades do conhecimento humano; detém-se no que lhe é acessível: atém-se ao dado, ao
fundado empiricamente; 2) conhecimento relativo: é relativo por que diz respeito, no plano do objeto, à relações; seu objeto é o objeto que o homem, sujeito da relação do
conhecimento, e estritamente nas condições dela, pode apreender; 3) conhecimento descritivo: as ciências dizem como é o mundo, como os fatos se relacionam entre si. A ciência
não visa conhecer as causas primeiras ou finais, e nem conhecer o todo, mas apenas descrever os fenômenos; 4) conhecimento hipotético: “Provar por experimentos” (Newton);
“demonstrar por experiências sensíveis” (Galileu); “demonstrar pelo uso combinado entre raciocínio e observação” (Comte). As hipóteses que os positivistas defendem são:
proposições (sempre são falsas ou verdadeiras); testáveis empiricamente; plausíveis, verossímeis, articuladas com o conjunto das hipóteses cientificamente aceitas até o momento
atual; 5) conhecimento metódico: O método (indutivismo) é o mesmo para todas as ciências empíricas e por esse método a ciência se define. Pensadores. Ei-los: 1) o criador do
positivismo: Comte (França); 2) os difusores do positivismo na França: Laffitte, Littré, Renan, Taine e Bernard; 3) o positivismo utilitarista inglês: Malthus, Smith, Ricardo,
Bentham e James Mill. O positivismo influenciou o utilitarismo de Stuart Mill; 4) o positivismo evolucionista: Spencer (Inglaterra); 5) o positivismo na Itália: Lombroso,
Gabelli, Angiulli, Villari, Tommasi, Murri e Ardigò; 6) o positivismo materialista na Alemanha: Vogt, Moleschott, Büchner e Haeckel.
- Comte foi um filósofo francês que formulou a doutrina do Positivismo. Ele é considerado como o primeiro filósofo da ciência no sentido moderno do termo. Comte também é
visto como o fundador da disciplina acadêmica de Sociologia. Para Comte (1798-1857), o ser humano passa por três estágios: todo homem é teólogo, na infância; é metafísico, em
sua juventude; e é físico em sua maturidade. Com a lei dos três estágios, Comte constrói uma grandiosa filosofia da história, que se apresenta como o esquema de toda a evolução
da humanidade. O estágio atual, para Comte, é o estágio positivo. Os métodos teológicos e metafísicos não são mais empregados por ninguém. Considerando a evolução da
sociedade, o progresso social também segue a dinâmica dessas três leis: ao estágio teológico, corresponde a supremacia do poder militar (feudalismo); ao estágio metafísico,
corresponde a revolução (que começa com a Reforma Protestante e termina com a Revolução Francesa); ao estágio positivo, corresponde a sociedade industrial. Dessa forma, o
verdadeiro homem, que superou as superstições, as crenças e as idealizações, acredita somente no poder da ciência que, aliada à tecnologia, conduzirão a humanidade, enfim, a um
reino de bem-estar. Esse bem-estar será marcado pelo fim dos problemas materiais fundamentais que afligem a humanidade. A ciência positivista abandona a causa primeira e
valoriza o estado atual dos fenômenos, ou seja, não interessa à ciência como foi e o porquê é, mas sim o como é. A evolução e progresso são inexoráveis e seguem uma linha
evolutiva. O método defendido é o indutivo: as leis gerais que regem os fenômenos de toda ordem são descobertas a partir da observação sistemática. A teoria é extraída do real –
indução - e não o contrário – dedução. A ciência é a autoridade legítima acima da política e religião e ela trata apenas do observável e do fato. Do positivismo surgiu o
cientificismo, que é uma crença infundada de que a ciência pode e deve conhecer tudo.
- Malthus foi um economista britânico. É considerado o pai da demografia por sua teoria para o controle do aumento populacional, conhecida como malthusianismo. Em sua
obra Ensaio sobre o Princípio da População, Malthus deixou evidente seu pessimismo quanto ao desenvolvimento humano. Ele acreditava que a pobreza fazia parte do destino da
humanidade, baseado na premissa de que a população possuía potencial de crescimento ilimitado, ao contrário da produção de alimentos. Malthus concluiu que, se o crescimento
populacional não fosse contido, a população cresceria segundo uma progressão geométrica (2,4,8,16,32), e a produção de alimentos cresceria segundo uma progressão aritmética
(2,4,6,8,10,12). Malthus considerava que a população dobraria a cada 25 anos.
- Smith foi um filósofo e economista britânico nascido na Escócia. Teve como cenário para a sua vida o atribulado Século das Luzes, o século XVIII. É o pai da economia
moderna e é considerado o mais importante teórico do liberalismo econômico. Autor de Uma investigação sobre a natureza e a causa da riqueza das nações , a sua obra mais conhecida, e
que continua sendo usada como referência para gerações de economistas, na qual procurou demonstrar que a riqueza das nações resultava da atuação de indivíduos que, movidos
inclusive (e não apenas exclusivamente) pelo seu próprio interesse (self-interest), promoviam o crescimento econômico e a inovação tecnológica.
- Ricardo foi um economista e político britânico. Ele e sua família tem origens sefarditas que remontam a Holanda e Portugal. Ricardo exerceu uma grande influência tanto sobre
os economistas neoclássicos, como sobre os economistas marxistas, o que revela sua importância para o desenvolvimento da ciência econômica. Os temas presentes em suas
obras incluem a teoria do valor-trabalho, a teoria da distribuição (as relações entre o lucro e os salários), o comércio internacional, temas monetários. A principal questão levantada
por Ricardo nessa obra trata da distribuição do produto gerado pelo trabalho na sociedade. Isto é, segundo Ricardo, a aplicação conjunta de trabalho, maquinaria e capital no
processo produtivo gera um produto, o qual se divide entre as três classes da sociedade: proprietários de terra (sob a forma de renda da terra), trabalhadores assalariados (sob a
forma de salários) e os arrendatários capitalistas (sob a forma de lucros do capital). O papel da ciência econômica seria, então, o de determinar as leis naturais que orientam essa
distribuição, como modo de análise das perspectivas atuais da situação econômica, sem perder a preocupação com o crescimento em longo prazo.
- Bentham foi filósofo, jurista e um dos últimos iluministas a propor a construção de um sistema de filosofia moral, não apenas formal e especulativa, mas com a preocupação
radical de alcançar uma solução a prática exercida pela sociedade de sua época. As propostas têm, portanto, caráter filosófico, reformador e sistemático.
- James Mill foi um historiador e filósofo escocês e o pai de John Stuart Mill. Foi um partidário do liberalismo e um famoso representante do radicalismo filosófico, uma escola
de pensamento também conhecida por utilitarianismo, a qual defende uma base científica para a filosofia.
- John Stuart Mill foi um filósofo e economista britânico. É considerado por muitos como o filósofo de língua inglesa mais influente do século XIX. É conhecido principalmente
pelos seus trabalhos nos campos da filosofia política, ética, economia política e lógica, além de influenciar inúmeros pensadores e áreas do conhecimento. Defendeu o utilitarismo,
a teoria ética proposta inicialmente por seu padrinho, Jeremy Bentham. Além disso, é um dos mais proeminentes e reconhecidos defensores do liberalismo político, sendo seus
livros fontes de discussão e inspiração sobre as liberdades individuais ainda nos tempos atuais. Mill chegou a ser membro do Parlamento Britânico, eleito em 1865, tendo
defendido principalmente o direito das mulheres, chegando a apresentar uma petição para estender o sufrágio às mulheres.
- Utilitarismo. Bentham e Stuart Mill são os dois grandes pensadores utilitaristas. O utilitarismo é a doutrina que visa promover a maior felicidade para as pessoas envolvidas na
ação. Podemos ver a definição do Utilitarismo em três afirmações, as quais estão necessariamente relacionadas: 1. “As ações são julgadas certas ou erradas em virtude de sua
consequência”, isto é, se considerarmos que o nosso agir tem um início (intenção) e um fim (consequência), o utilitarismo julga o agir como certo ou errado através da
consequência/fim que ele obteve (diferente de Kant que julga o agir por meio da intenção); 2. Ao avaliar a consequência, a única coisa que importa é a quantidade de felicidade ou
infelicidade produzida, ou seja, o Utilitarismo considera a ação certa se ela produziu como consequência a maior felicidade/deleite das pessoas que estão envolvidas na ação; 3. A
felicidade deve ser promovida de maneira imparcial, ou seja, ao agir preciso produzir uma consequência que gere a maior felicidade para as pessoas envolvidas de maneira
imparcial.
- Spencer. Spencer foi um filósofo, biólogo e antropólogo inglês, bem como um dos representantes do liberalismo clássico. Ele foi um profundo admirador da obra de Charles
Darwin. É dele a expressão “sobrevivência do mais apto”, e em sua obra procurou aplicar as leis da evolução a todos os níveis da atividade humana. Spencer teve suas ideias
enormemente distorcidas. Essas distorções lhe renderam a alcunha de “Pai do Darwinismo Social”. Todavia, Spencer jamais utilizou este termo ou defendeu a morte de
indivíduos “mais fracos” assim como foi um notável opositor de governos militares e autoritários, de qualquer forma de coletivismo, do colonialismo, do imperialismo e das
guerras. Ele estudou o comportamento humano como um órgão biológico. O filósofo aplicou à sociologia ideias que retirou das ciências naturais, criando um sistema de
pensamento muito influente a seu tempo. Suas conclusões o levaram a defender a primazia do indivíduo perante a sociedade e o Estado, e a natureza como fonte da verdade,
incluindo a verdade moral. No campo pedagógico, Spencer fez campanha pelo ensino da ciência, combateu a interferência do Estado na educação e afirmou que o principal
objetivo da escola era a construção do caráter.
- Lombroso. Criador da antropologia criminal e suas ideias inovadoras deram nascimento à Escola Positiva de Direito Penal, mais precisamente a que se refere ao positivismo
evolucionista, que baseava sua interpretação em fatos e investigações científicas. Desenvolveu a teoria de que o criminoso é vítima principalmente de influências atávicas, isso é,
uma regressão hereditária a estágios mais primitivos da evolução, justificando sua tese com base nos estudos científicos de Charles Darwin. Uma de suas conclusões é possibilitar a
equivalência do criminoso a um doente que não pode responder por seus atos por lhe faltarem forças para lutar contra os ímpetos naturais. De fato, para ele o crime é uma
circunstância natural por ser de caráter primariamente hereditário, porém inaceitável socialmente e acabou por se mostrar favorável à pena de morte e prisão perpétua como
verificado em “As mais recentes descobertas e aplicações da psiquiatria e antropologia criminal” de 1893.
2. O neocriticismo e o historicismo
. O neocriticismo ou neocriticismo é uma corrente filosófica desenvolvida principalmente na Alemanha, a partir de meados do século XIX até os anos 1920. Preconizou o
retorno aos princípios de Immanuel Kant, opondo-se ao idealismo objetivo de Hegel, então predominante, e a todo tipo de metafísica, mas também se colocava contra o
cientificismo positivista e sua visão absoluta da ciência. O neokantismo pretendia, portanto, recuperar a atividade filosófica como reflexão crítica acerca das condições que tornam
válida a atividade cognitiva – principalmente a Ciência, mas também os demais campos do conhecimento – da Moral à Estética. As principais vertentes do neocriticismo alemão
foram a Escola de Baden, que tendia a enfatizar a lógica e a ciência, e a Escola de Marburgo, que influenciaram boa parte da filosofia alemã posterior, particularmente o
Historicismo e a Fenomenologia). Há duas escolas: 1) a Escola de Marburgo: Cohen, Natorp e Cassirer; 2) Escola de Baden: Windelband e Rickert.
. O historicismo caracteriza-se por ser um retorno à tradição das ciências do espírito fundamentado em uma hermenêutica radical, que problematiza as concepções de ciência
histórica. A tendência historicista surgiu no final do século XIX e perdurou até a década de 1930 em diversos contextos nacionais, tais como na Alemanha, Itália, Grã-Bretanha,
Espanha, França e Estados Unidos. Questionamentos como a natureza e o método da história, e de sua historicidade, o caráter científico ou não do método histórico são centrais
no historicismo. Os historicistas criticam a falta de reconhecimento da Escola Histórica Alemã da diferenciação metodológica entre as ciências da natureza e as ciências do espírito
e enfatizam o primado da razão histórica em oposição à razão científica. Nomes: Windelband, Rickert, Dilthey, Simmel, Spengler, Troeltsch e Meinecke
3. O neoidealismo
. Neoidealismo ou neo-hegelianismo refere-se a uma vertente (ou vertentes) do pensamento inspirada pelos trabalhos do filósofo idealista alemão Hegel e na qual se incluem as
doutrinas de um grupo de filósofos influentes na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos entre 1870 e 1920, além dos pensadores italianos Benedetto Croce e Giovanni Gentile.
. Sobre o neoidealismo italiano. O interesse pela doutrina hegeliana na Itália difundiu-se no século XIX, sobretudo através das obras de Augusto Vera e Bertrando Spaventa,
que pode ser considerado como o precursor, na Itália, da interpretação do pensamento hegeliano que associa as ideias de Kant e Fichte a temas idealistas. Destacam-se também os
estudos de Francesco De Sanctis sobre a estética hegeliana e, posteriormente, os trabalhos de Benedetto Croce e Giovanni Gentile. A Spaventa ligam-se Donato Jaia, Sebastião
Maturi e Gentile. Croce inspirou-se em De Sanctis. Em 1913, Giovanni Gentile publica A reforma da dialética hegeliana. Em sua obra, Gentile vê na lógica hegeliana a categoria do
devir como coincidente com o ato puro do pensamento, ao qual se transmite toda a realidade da natureza, da história e do espírito. A essa visão subjetivista de Gentile, contrapõe-
se, a partir de 1913, Benedetto Croce (primo de Bertrando Spaventa), que, no seu Ensaio sobre Hegel, interpreta o pensamento hegeliano como historicismo imanentista.
Autointitulado “filósofo do fascismo”, ele foi influente em fornecer uma base intelectual para o fascismo italiano, e escreveu sob pseudônimo parte de A Doutrina do Fascismo
(1932) com Benito Mussolini. Esse é um ensaio atribuído a Benito Mussolini. Na verdade, a primeira parte do ensaio, intitulado “Ideias Fundamentais” foi escrito pelo filósofo
Gentile, enquanto apenas a segunda parte (“Doutrina política e social”) é a obra do próprio Mussolini. Gentile estava envolvido no ressurgimento do neoidealismo hegeliano na
filosofia italiana e também desenvolveu seu próprio sistema de pensamento, que ele chamou de “idealismo real” ou “atualismo”, e que tem sido descrito como “o extremo
subjetivo da tradição idealista”. Benedetto Croce foi um filósofo, historiador e político italiano que escreveu sobre diversos assuntos, incluindo filosofia, história, historiografia e
estética. Em muitos aspectos, Croce era liberal, embora se opusesse ao livre comércio do laissez-faire. Exerceu considerável influência sobre outros intelectuais italianos, incluindo o
marxista Antonio Gramsci e o fascista Giovanni Gentile. Croce foi presidente da PEN International, a associação mundial de escritores, entre 1949 a 1952. Foi indicado ao Nobel
de Literatura dezesseis vezes.
. Sobre o neoidealismo inglês. Carlyle é um dos predecessores do neoidealismo inglês. Em 1865, o filósofo escocês James Hutchinson Stirling (1820-1909), ao publicar a obra O
segredo de Hegel, teve o mérito de haver introduzido e difundido na Inglaterra o pensamento hegeliano, apresentado então como uma evolução da filosofia transcendental de Kant.
O neo-hegelianismo, em contraposição ao positivismo imperante, pretendia satisfazer a necessidade de uma ética baseada em valores ideais e religiosos, contrapondo-a à moral
utilitarista. Nessa direção, desenvolvia-se a filosofia da religião de Thomas Hill Green e Edward Caird, mediante a aplicação do sistema dialético hegeliano aos princípios
religiosos. Entre os neo-hegelianos ingleses destaca-se Francis Herbert Bradley, que, em sua obra Aparência e realidade (1893), afirmava o aspecto contraditório da experiência
sensível e a necessidade de ir além da contingência, atingindo o absoluto hegeliano como síntese de finito e infinito. Efetivamente, o absoluto apresentado por Bradley aparece
num registro quase neoplatônico já que o aspecto finito da realidade desaparecia diante da prevalência do infinito. A concepção de Bradley despertou acesas polêmicas em que se
reivindicava, com Bernard Bosanquet, a função essencial da contradição na dialética hegeliana e, com John Ellis McTaggart, os aspectos espirituais do pensamento hegeliano. A
crise do neoidealismo inglês ocorre com James Black Baillie, que, em Estudos sobre a natureza humana, diante do drama da Primeira Guerra Mundial, repudia o otimismo idealista do
historicismo hegeliano e retoma a tradição empirista da filosofia inglesa.
. Sobre o neoidealismo estadunidense. Emerson é um dos predecessores do neoidealismo na América. Em 1890, com alguns estudos críticos de William Torrey Harris sobre a
Ciência da Lógica, de Hegel, o interesse pelo pensamento hegeliano, considerado sobretudo em seus aspectos religiosos, difundiu-se também nos Estados Unidos. O maior
intérprete dessa corrente religiosa neo-hegeliana foi Josiah Royce, que defendeu uma fusão entre a tradição do subjetivismo de Berkeley e a problemática das filosofias do espírito
pós-kantianas.
. O neo-hegelianismo, depois de ter marcado fortemente a cultura filosófica italiana por mais de quarenta anos, entra em crise no segundo pós-guerra, sendo substituído pelo
existencialismo, pelo neopositivismo, pela fenomenologia e pelo marxismo.
4. FENOMENOLOGIA, EXISTENCIALISMO E HERMENÊUTICA
1. A fenomenologia e o existencialismo
A Fenomenologia
. O objetivo aqui é superar o realismo/empirismo, o idealismo/racionalismo e o kantismo. Os pontos de partida de Husserl são: Bolzano (antipsicologismo) e Brentano
(intencionalidade). A fenomenologia quer estudar o objeto como ele se manifesta na sua rigorosa realidade, absolutamente pura, livre de qualquer mistura. É voltar às coisas
mesmas; é o estudo dos fenômenos (aquilo que se apresenta), dos “modos típicos”, em que coisas e fatos se apresentam à consciência. E a consciência é sempre consciência de
alguma coisa. Fora desta relação, a consciência não é nada, pois ela não é algo, mas ela somente existe neste movimento do olhar intelectual para as coisas. Não é ciência dos fatos,
mas das essências (ciência eidética), como por ex.: fatos perceptivos (cores, sons); fenômenos como simpatia, pudor, ressentimento e amor; ontologias regionais (moralidade,
religião).
. Husserl é um platonista e rejeita tudo o que se aproxima do nominalismo, afirmando que há universais e não somente particulares. Não se interessa por esta ou aquela norma
moral, mas porque esta é uma norma moral e não jurídica. Vemos esta cor, que é um caso particular da essência cor. As essências são os modos típicos do aparecer dos
fenômenos à consciência. O método fenomenológico consta de duas fases: 1) negativa: Epoché ou Redução Fenomenológica: o objeto (fenômeno) é isolado de tudo o que não
lhe é próprio a fim de poder revelar-se em sua pureza. Para se conhecer a verdadeira natureza do fenômeno é necessário aproximar-se dele com a consciência pura, abstendo-se de
pensar dele qualquer coisa que possa ser dita pela história, pela ciência, pela filosofia, pela literatura, pela religião e pelo senso comum. Não se trata da dúvida cartesiana, mas um
não fazer uso dos conhecimentos anteriores, a fim de poder começar do princípio; é suspender tudo e buscar somente o incontestável, o apodítico; 2) positiva: é aquela na qual o
olhar da inteligência se dirige para a própria coisa, penetra-a e faz com que ela se manifeste em toda a sua realidade. O resíduo fenomenológico será encontrado na consciência: a
existência da consciência é evidente. Há duas razões para Husserl usar o método fenomenológico. Ei-las: 1) desejo de libertar a doutrina do conhecimento do psicologismo do
empirismo inglês e o empiriocriticismo alemão, os quais tinham a pretensão de determinar o valor do conhecimento das sensações/experiência sensível; 2) desejo de pesquisar um
novo fundamento para a ciência. Na fenomenologia se estabelece como fundamento de pesquisa a experiência como ela se manifesta. O conhecimento tem caráter intencional.
Há três elementos no conhecimento: 1) nóesis: forma – momento subjetivo do conhecimento; a luz intelectual que dá sentido ao objeto, que o determina no seu “ser assim”; 2)
hýle: matéria – corresponde aos dados sensíveis que não são significativos por si mesmos, mas só depois de revestidos da luz da nóesis; 3) nóema: conceito – é o polo objetivo do
conhecimento, o significado ideal da coisa; este significado ideal é distinto do objeto físico, porque este pode não existir (no caso das essências, dos enunciados judicativos...), e
pode haver diversas nóema (Napoleão: vencedor em Austerlitz; vencido em Waterloo). O objeto da filosofia é o estudo do ser que tem significado/sentido (nóema). A
fenomenologia husserliana do conhecimento se divide em dois momentos: 1) redução eidética: a epoché diz respeito à suspensão do juízo sobre a existência do objeto real, a fim
de examinar apenas as representações; a fenomenologia é aplicada à análise das representações vistas como puras representações, prescindindo-se da existência tanto do sujeito
cognoscente como do objeto conhecido. Estudam-se, por exemplo, as representações da mesa consideradas em si mesmas, abstraindo-se da presença real de uma mesa real e dos
processos psicológicos que produziram tais representações. Se põe entre parênteses tanto aspectos psicológicos quanto a matéria do conhecimento, para se analisar somente as
representações enquanto representações; 2) redução transcendental: a epoché concerne à suspensão do juízo sobre qualquer conteúdo do conhecimento, para concentrar toda a
atenção na consciência pura. A fenomenologia é aplicada ao estudo do conhecimento, esvaziando-se de qualquer conteúdo, de qualquer objeto conhecido ou desejado. Não se
trata mais do exame daquilo que sinto, conheço, vejo ou quero, mas do “eu” que conhece, sente, quer etc. Disso decorre que o “eu”, enquanto consciência pura, transcendental,
se manifesta em todos os seus atos (cognitivos, apetitivos, volitivos etc.), como intencionalidade, como tendência para um objeto. A intencionalidade é precisamente a propriedade
do conhecimento e de todas as suas manifestações de tender para um objeto. A consciência é sempre intencional (consciência de alguma coisa). Husserl tem uma direção idealista:
os significados ou essências dos objetos, das instituições e dos valores são constituídos e postos pela consciência.
. Já Max Scheler tem uma direção realista: o olhar técnico desinteressado os intui enquanto dados objetivos.
. Nicolai Hartmann foi um dos poucos pensadores do século XX que se preocupou com todas as disciplinas filosóficas, desenvolvendo não apenas um teoria do conhecimento
e uma ontologia, mas também uma estética, uma ética, uma filosofia do espírito e uma doutrina de categorias na qual se insere a maior parte de suas investigações. Conclui que em
toda teoria do conhecimento há elementos metafísicos e em toda metafísica há elementos gnosiológicos. No campo da ontologia, dedicou-se ao exame de diferentes tipos de
categorias, tanto as que estruturam o mundo real quanto as que estruturam o mundo do espírito.
. Rudolf Otto trata do conceito do numinoso, o qual exprime uma profunda experiência emocional que ele argumentou estar no coração das religiões do mundo e que é
fundamental no entendimento religioso e filosófico da atualidade. Em O Sagrado e outras obras, Otto estabeleceu um paradigma para o estudo da religião que enfocava a
necessidade de perceber o religioso como uma categoria original não redutível por si só.
. Edith Stein, canonizada como Santa Teresa Benedita da Cruz, coloca-se em confronto teórico com a tradição fenomenológica, na busca de descrever a essência dos atos de
empatia e afirma a importância desta vivência, como elemento constituidor da singularidade da pessoa humana.
. Merleau-Ponty. A existência é ser-no-mundo, isto é, “certa maneira de enfrentar o mundo”. Mas esse ser-no-mundo é anterior a contraposição entre alma e corpo, entre o
psíquico e o físico. A interpretação causal das relações entre alma e corpo é rejeitada por Merleau-Ponty. Ele vê nessa relação muito mais uma dualidade dialética de
comportamentos. Ou melhor: alma e corpo indicam níveis de comportamento do homem, dotados de significado diverso. Todas as ciências inserem-se em um mundo completo e
“real”, sem se dar conta de que a experiência perceptiva tem valor constitutivo em relação a este mundo. Assim, encontramo-nos diante de um campo de percepções vividas que
são anteriores ao número, à medida, ao espaço, à causalidade e que, porém, não se apresenta como visão prospectiva de objetos dotados de propriedades estáveis, de mundo e de
espaço objetivos. O problema da percepção consiste em ver como é que, através desse campo, chega-se ao mundo intersubjetivo, do qual, pouco a pouco, a ciência precisa as
determinações. Em tal programa de análises, torna-se central o conceito de corpo, já que “meu corpo (...) é meu ponto de vista sobre o mundo”, “o corpo é nosso meio geral de
ter um mundo”. A percepção é a inserção do corpo no mundo. E se, por um lado, a percepção tem o caráter da “totalidade”, por outro lado ela permanece sempre “aberta”,
remetendo sempre a um além de sua manifestação singular, prometendo-nos outros ângulos de visão e, com isso, “algo mais a ver”. Portanto, o significado das coisas no mundo e
do próprio mundo permanece aberto ou ambíguo. E essa ambiguidade ou abertura é constitutiva da existência. Se é errado conceber a relação entre a consciência e o corpo como
relação causal entre duas substâncias, também é errado, portanto, ter uma concepção análoga sobre as relações entre o sujeito e o mundo. Mas, para Merleau-Ponty, também é
errado conceber uma relação de causalidade entre o homem e a sociedade. Por isso, se Sartre está fora de rumo com sua ideia da liberdade absoluta, também é errada a teoria
marxista da primazia causal do fato econômico sobre a constituição do homem e da sociedade. Na opinião de Merleau-Ponty, o homem é livre e não existe estrutura, como a
econômica, que possa anular sua liberdade constitutiva. Mas a liberdade do homem é liberdade condicionada: condicionada pelo mundo em que vive e pelo passado que viveu.
Assim, “jamais existe determinismo e jamais existe escolha absoluta; eu jamais sou coisa e jamais sou consciência nua”. A realidade é que nós escolhemos nosso mundo e o
mundo nos escolhe.
O Existencialismo
. Sartre iniciou sua atividade de pensador com análises de psicologia fenomenológica relativas ao eu, a imaginação e as emoções. Retoma de Husserl a ideia de intencionalidade da
consciência, censurando-o, porém, por ter caído no idealismo e no solipsismo com o seu sujeito transcendental. Em A transcendência do Ego, Sartre afirma que “o eu não é um
habitante da consciência”, pois ele “não está na consciência, mas fora dela, no mundo: é um ente do mundo como o eu de outro”. O homem, diz Sartre, é o ser cujo aparecimento
faz com que exista um mundo. O mundo não é a consciência. A consciência é abertura para o mundo; a consciência está encarnada na densa realidade do universo; o mundo pode
ser visto como um conjunto de utensílios. Mas o mundo não é a existência. E quando o homem não tem mais objetivos, o mundo fica privado de sentido. Essa é a tese expressa
por Sartre em A náusea, na qual o autor opõe o absurdo aos valores positivos da filosofia clássica. Se a experiência da náusea revela a gratuidade das coisas e do homem reduzido a
coisa e submerso nas coisas, a analise desenvolvida em O ser e o nada revela que a consciência é sempre Onisciência de algo, de algo que não é consciência. O exame da experiência
mostra-nos que desde o início o ser-em-si, isto é, os objetos que transcendem a consciência, não são a consciência. Eu tenho consciência dos objetos do mundo, mas nenhum
desses objetos é minha consciência: a consciência “é um nada de ser e, ao mesmo tempo, um poder nulificante, o nada”. O mundo é o “em-si”, é o dado “misturado de si
mesmo”, “opaco a si mesmo porque cheio de si mesmo”, absolutamente contingente e gratuito. Diante do “em si” está a consciência, que Sartre denomina o “para-si”. A
consciência é liberdade. A liberdade é constitutiva da consciência. Procurar desculpas significa estar de má-fé: a má-fé apresenta o desejado como necessidade inevitável. O
homem, portanto, se escolhe; sua liberdade não é condicionada; e ele pode mudar seu projeto fundamental a qualquer momento. Em O existencialismo é um humanismo (1946), Sartre
também identifica o homem com sua liberdade; o homem não está de modo algum sujeito ao determinismo; sua vida não se assemelha à da planta, cujo futuro já está “escrito” na
semente; o homem é o demiurgo de seu futuro; o homem não é uma essência fixa: ele é muito mais o que projeta ser. Nele, a existência precede a essência. Em 1946, Sartre tem
atrás de si uma guerra terrível e a experiência da Resistência; mas, diante dele, está a grande questão da reconstrução. Não podemos supor que Sartre defende o individualismo. O
primeiro esforço do existencialismo é o de pôr todo o homem no domínio do que ele é e de lhe atribuir a total responsabilidade da sua existência. Sartre afirma aderir sem reservas
à teoria do materialismo histórico; entretanto, ele rejeita o materialismo dialético.
. Simone de Beauvoir. O Segundo Sexo apresenta um existencialismo feminista que prescreve uma revolução moral. Como uma existencialista, de Beauvoir acreditava que a
existência precedia a essência e, portanto, não se nasce mulher, torna-se. Sua análise foca no conceito hegeliano do “Outro”. É a construção social da mulher como a
quintessência dos “Outros” que de Beauvoir identifica como fundamental para a opressão das mulheres. O “O” maiúsculo em “outros” indica “todos os outros”. De Beauvoir
afirmava que as mulheres são tão capazes de escolher quanto os homens e que, portanto, podem optar por elevar-se, movendo-se para além da “imanência”, a qual eram
anteriormente resignadas, para alcançarem a “transcendência”, uma posição em que um indivíduo assume a responsabilidade para si e para o mundo, onde se escolhe sua
liberdade.
1. Hannah Arendt
. Arendt é marcada por três vertentes ou formas de pensar: a primeira, seria a utilização do mundo clássico como base para a verificação de proposições morais e políticas; a
segunda, seria a filosofia cristã baseada em Santo Agostinho, em especial a questão da responsabilidade pessoal, e a filosofia cosmopolita de Kant; a terceira, os filósofos da
tradição do existencialismo: Kierkegaard, Husserl e Heidegger. Em As Origens do Totalitarismo (1951), Arendt descreve o processo pelo qual, depois dos Tratados de Paz que
puseram fim à II Guerra mundial, os direitos do homem herdados da tradição das Revoluções, passaram por uma prova de fogo. Considerados inexistentes para uma categoria de
pessoas consideradas como “sem direitos” por serem apátridas, os direitos do homem demonstraram sua ineficácia quando desvinculados da cidadania. Em A Condição Humana
(1958), ela procura responder à pergunta: o que estamos fazendo? E a partir de três categorias de atividades da vida ativa – o labor, o trabalho e a ação – aponta para a destruição
das condições de existência do ser humano no mundo moderno, operada pela sociedade de massa. Nesta obra, sua proposta consiste em detectar o que é genérico e o que é
específico na condição humana, por meio do estudo dessas três atividades fundamentais, que integram o que ela denomina de vida ativa. Em 1961, foi enviada para Jerusalém para
assistir e cobrir, para a revista New Yorker, o julgamento do criminoso nazista Eichmann, que se transformaria posteriormente no livro, Eichmann em Jerusalém – Um relato sobre a
banalidade do mal. Segundo Arendt, Eichmann não era um monstro, mas era difícil não desconfiar que fosse um palhaço. Daí a expressão “banalidade do mal”.
3. Juspositivismo e pós-positivismo
. A Filosofia do Direito começa na Grécia. Os sofistas distinguiram a physis (natureza) do nomos (lei), identificando o direito com a última. Platão e Aristóteles colocaram a
necessidade de que se conciliasse nomos e physis por meio da justiça: o direito justo seria o nomos que está de acordo com a physis. Os estoicos introduziram a ideia de que,
estando todos os homens sujeitos à mesma physis, estão todos também sujeitos ao mesmo nomos, independentemente de pertencerem ou não à mesma pólis. Disso nasce a ideia
de um direito natural, racional, justo e universal. Com o advento do Cristianismo, a oposição entre direito natural e direito positivo passa a ser concebida como oposição entre um
direito de origem divina (fundado na justiça e na autoridade de Deus) e um direito de origem humana (fundado na força e na autoridade do governante). Com o advento do
Estado Moderno e a separação entre Estado e Igreja, buscam-se fundamentos laicos para o Direito. O Estado e o Direito são produtos de um contrato social, de onde retiram sua
autoridade e ganham seus limites. Surgem concepções que atrelam o Direito à moral (Kant), à história (Hegel), à economia (Marx) etc.
. As três teses do jusnaturalista clássico (período antigo, medieval e moderno) são: 1) tese da filosofia moral: existem princípios morais e de justiça que são universalmente válidos
e acessíveis à razão humana (esta tese pode ser desdobrada em uma tese de caráter ontológico, acerca da existência dos princípios morais universalmente válidos, e uma tese de
caráter lógico ou epistemológico, sobre a possibilidade de conhecimento desses princípios); 2) tese sobre a definição de direito: um sistema normativo ou uma norma não podem
ser qualificados de jurídicos se contradizerem os princípios do direito natural; 3) obediência moral ao direito: sendo que os princípios morais e de justiça universalmente válidos
existem e podem ser conhecidos e o direito se identifica com esses princípios (versão forte da tese jusnaturalista), ou pelo menos não os contradiz (versão fraca da tese
jusnaturalista), então, os indivíduos têm a obrigação moral de obedecer ao direito. Para os jusnaturalistas, a expressão “direito justo” é um pleonasmo e a expressão “direito
injusto”, uma contradição.
. O juspositivismo do séc. XIX tem três grandes escolas: 1. Escola da Exegese (França): doutrina da codificação; 2. Escola da Jurisprudência Analítica (Inglaterra): common law
(doutrina da jurisprudência); Bentham e Austin, este último criador da Jurisprudência Analítica; 3. Escola Histórica do Direito (Alemanha): Pandectismo ou Jurisprudência dos
Conceitos; Gustavo Hugo, Savigny e Georges Puchta.
. A Filosofia do Direito atual pode ser concebida como um debate em torno do Juspositivismo. O seu momento clássico surge com a publicação da Teoria Pura do Direito, de Hans
Kelsen, e de O Conceito de Direito, de Herbert L. A. Hart, ambos concebendo o direito como um conjunto de normas emanadas do Estado e garantidas mediante coação, distintas
e independentes da moral e da política. O Realismo Jurídico chamará atenção para o subjetivismo das decisões e a necessidade de levar em conta suas repercussões sociais. O
neoconstitucionalismo introduzirá o conceito de princípios jurídicos e chamará atenção para a problemática da interpretação e da argumentação jurídica.
. As três teses do juspositivismo do séc. XX são: 1) tese dos fatos sociais: a existência do direito depende de uma construção humana (certas atitudes, convenções,
comportamentos...). Nega-se, assim, a ideia de um Direito Natural; 2) tese da separabilidade entre direito e moral: a validade do direito não depende necessariamente de seu mérito
moral, o que implica que direito injusto ainda é direito. Nega-se, assim, a fundamentação do direito na moral; 3) tese da discricionariedade: o material jurídico invariavelmente se
esgota (em função de lacunas normativas, contradições normativas ou indeterminações linguísticas) e certos casos ficam sem respostas à luz do direito, fazendo com que o
responsável pela decisão tenha que exercer o seu poder discricionário.
. Da crítica de Dworkin ao juspositivismo, surgem (segundo Waluchow) duas posições acerca do caráter analítico do direito: 1. positivismo inclusivo (Hart, Coleman, Waluchow):
separabilidade entre direito e moral; 2. positivismo exclusivo (Raz, Gardner, Marmor): separação forte entre direito e moral. O apelo do positivismo inclusivo salta aos olhos
quando observamos que praticamente todos os países possuem uma constituição ou carta de direitos fundamentais contendo princípios formulados em uma linguagem
moralmente carregada. Mesmo sabendo disso, os positivistas exclusivos dizem que a mera incorporação da linguagem moral não faz com que a moral passe a fazer parte do
direito.
. Sobre o jusnaturalismo contemporâneo, Crowe diz que os filósofos contemporâneos adeptos do jusnaturalismo não se identificam com as teses clássicas. Direito, para eles, é
necessariamente um padrão racional de conduta. Em outras palavras, uma norma, ou um sistema de normas, que não é capaz de estabelecer um padrão racional de conduta é
necessariamente inválida(o) ou defeituosa(o) enquanto direito, apresentando, assim, um defeito de racionalidade. Essa tese (direito enquanto padrão racional de conduta),
dependendo o pensador, pode ser metafísica ou conceitual. Michael Moore defende a tese metafísica: o direito é um tipo natural, algo cuja existência se dá de forma parecida com
a existência de rochas ou montanhas, que não dependem de convenções humanas para existir. Tipos naturais são categorias ontológicas que podem ser descritas por certas
propriedades essenciais que independem do que pensamos. A norma que não oferecem razões decisivas para a ação é inválida. Lon Fuller também defende a tese metafísica, pois
o direito, para ele, descreve a realidade social. John Finnis defende a tese conceitual: privilegia a forma de como se concebe o direito, podendo, por exemplo, ser o conceito mais
amplo, adotado por uma comunidade de pessoas, ou um conceito mais restrito, abraçado por certos oficiais do sistema. Ao invés de buscar condições necessárias e suficientes
que definam o fenômeno jurídico, deve-se apenas focar nos casos centrais e paradigmáticos do direito. A norma que não oferecem razões decisivas para a ação é dotada de um
defeito de racionalidade.
. Realismo jurídico. O direito deve ser concebido não como ciência normativa e formal, mas como ciência sociológica, que capte a experiência prática do direito. Esse é o núcleo
comum partilhado por realistas como Alf Ross, Karl Olivecrona e Oliver W. Holmes, que desenvolvem, no mais, concepções diferentes sobre o direito. Os realistas entendem que
o direito é fruto de decisões judiciais, e a ciência do direito deve se ocupar tanto em analisar decisões judiciais anteriores quanto em prever como certas questões serão decididas –
tanto quanto possível, já que para o realismo o direito é fruto exclusivo da mente de juízes, e por isso, é dotado de elevado grau de incerteza.
. Miguel Reale e a teoria tridimensional do direito. Segundo Reale, o fenômeno jurídico se manifesta por meio do fato, do valor e da norma. Essa teoria da tridimensionalidade
quer superar o reducionismo jurídico, que defende que o direito é somente norma ou fato ou valor. Com o culturalismo jurídico de Reale, o direito passou a ser visto como
resultado de processualidade histórica da cultura. Isso possibilita ter uma visão integral e não parcial do direito. O tridimensionalismo surge como uma das principais
contribuições do culturalismo, pois consiste, em termos generalíssimos, em encarar o fenômeno jurídico em seu tríplice aspecto: histórico-social, axiológico e normativo, por meio
do que o direito passa a ser pensado como a realização histórica de um valor bilateral, através de uma norma de conduta.
. O pós-positivismo é uma tendência geral do pensamento atual que visa resolver o incômodo deixado pelo positivismo: o poder discricionário. Para isso, eles adotam um
conceito procedimental de validade. A validade do direito não é material como no jusnaturalismo, nem formal como no juspositivismo, mas procedimental. As teorias
procedimentais, como as de Habermas, Dworkin, Alexy e de todos aqueles que tentam desenvolver um tipo de teoria da interpretação (hermenêutica) que procure resolver o
problema do poder discricionário, atribuem um papel importante aos princípios jurídicos, um papel que os princípios jurídicos não tinham na teoria positivista. Diz Dworkin: “é
minha visão, de fato, que o direito é em grande parte filosofia.”
1. Espiritualismo, evolucionismo espiritualista, novas teologias, neoescolástica, personalismo, pragmatismo e filosofia teórica americana
. Espiritualismo. O espiritualismo é um termo que designa um grupo de filósofos dos séculos XVIII, XIX e XX que, apesar de possuírem profundas diferenças em termos
doutrinários, exploram, em profundidade, a teoria da ação, sobretudo a noção de “consciência ativa” orientada para o futuro. Para essa escola francesa, o caráter de consciência
revela-se particularmente importante para compreender as atitudes humanas ao movimento da mente. Os principais representantes do espiritualismo francês foram, James Ward,
Clement C. J. Webb, Hermann Fichte, Eduard von Hartmann, Afrikan Spir, Rudolph Eucken, Rudolph Hermann Lotze, Pedro Martinetti, Jules Lequier, Félix Ravaisson,
Émile Boutroux e Maurice Blondel. Segundo os espiritualistas, a filosofia não pode ser absorvida pela ciência. Esta ideia de filosofia tem como pressuposto a constatação da
especificidade do homem em relação a toda natureza: o homem é interioridade e liberdade, consciência e reflexão.
. Evolucionismo espiritualista. A filosofia de Bergson é uma afirmação da liberdade humana frente as vertentes científicas e filosóficas que querem reduzir a dimensão espiritual
do homem a leis previsíveis e manipuláveis, análogas as leis naturais, biológicas e como Comte imaginou. Seu pensamento está fundamentado na afirmação da possibilidade do
real ser compreendido pelo homem por meio da intuição da duração. O tempo vivido (ou duração interna ou simplesmente consciência) é o passado vivo no presente e aberto ao
futuro no espírito que compreende o real de modo imediato. É um tempo completamente indivisível por ser qualitativo e não quantitativo como o fator t. A duração, não sendo
compreendida por meio da inteligência técnica, também não pode, por consequência, ser entendida como sucessão linear de intervalos, pois ela é justamente o oposto disso, haja
vista que não há como justapor ou analisar o tempo vivido qualitativo. A intuição é uma forma de conhecimento que penetra no interior do objeto de modo imediato, isto é, sem
o ato de analisar e traduzir. A análise é o recorte da realidade, mediação entre sujeito e objeto. A tradução é a composição de símbolos linguísticos ou numéricos que,
analogamente a primeira, também servem de mediadores. Ambas são meios falhos e artificiais de acesso a realidade. Somente a intuição pode garantir uma coincidência imediata
com o real sem o uso de símbolos nem das repartições analíticas. A intuição pode ser entendida, portanto, como uma experiência metafísica. Bergson foi o expoente da linha de
filosofia intuicionista, assim chamada porque afirma constituir o verdadeiro conhecimento não nos conceitos abstratos, do intelecto racionalmente, mas na apreensão imediata, na
intuição, como é evidenciado pela experiência interior.
. Novas teologias. Ocorre, no século XX, uma renovação do pensamento teológico. Há uma renovação da teologia protestante, com Karl Barth, Paul Tillich, Rudolf Bultmann
e Dietrich Bonhoeffer; uma renovação da teologia católica, com Karl Rahner e Hans Urs von Balthasar; há também o surgimento da “teologia da morte de Deus” e a sua
“superação”, com Paul M. von Buren; e, por fim, a teologia da esperança, com Jürgen Moltmann, Wolfhardt Pannenberg, Johannes B. Metz e Edward Schillebeeckx.
. Neoescolástica. Também conhecida como neotomismo, é um movimento filosófico-teológico de revitalização da escolástica medieval. Representa uma recuperação criativa da
metafísica e epistemologia de Tomás de Aquino. Impulsionado pela encíclica Aeterni Patris, do Papa Leão XIII, de 1879 e Pascendi, de Pio X, de 1907, e desenvolvido na primeira
metade do século XIX, o movimento alcançou sua mais ampla difusão entre as décadas de 1910 e 1960. No século XVI, teve lugar um importante movimento de reavivamento
tomístico – a escola de Salamanca –, que enriqueceu a literatura escolástica com muitas contribuições eminentes. Gabriel Vásquez (1551-1604), Francisco de Toledo Herrera
(1532-1596), Pedro da Fonseca (1528-1599), Francisco de Vitoria (1483-1546), Domingo de Soto (1494 -1560), Luis de Molina (1535-1600) e, especialmente, Francisco Suárez
(1548-1617) foram pensadores profundos, dignos dos grandes mestres cujos princípios haviam adotado. É comum aplicar-se o termo neoescolástica à escola de Salamanca. Na
primeira metade do século XX, surgiram importantes escolas neotomistas, principalmente na França e na Bélgica (Universidade Católica de Louvain), mas também na Itália
(Universidade Católica do Sagrado Coração, em Milão), no Canadá (Universidade de Ottawa e Universidade Laval) e nos Estados Unidos (Universidade Católica da América, em
Washington). Entre os representantes contemporâneos mais conhecidos do neotomismo estão Jacques Maritain, Étienne Gilson, André Marc, Erich Przywara, Johannes
Baptist Lotz, Walter Brugger, Karl Rahner, Bernard Lonergan e Emerich Coreth.
. Personalismo. Movimento associado ao humanismo e não ligado a partido político, idealizado por Emmanuel Mounier, após a de 1929 da Europa e divulgado por uma revista
chamada “Esprit”, com a intenção de identificar a verdade em toda a circunstância. Ele acreditava que o problema das estruturas sociais era econômico e moral, e a saída para isso
era a teorização e a construção de uma “comunidade de pessoas”. O personalismo foi posteriormente adaptado pela Democracia Cristã e pelo Papa João Paulo II e,
consequentemente, muitos católicos. A ideia central do pensamento personalista é a ideia de pessoa em suas inobjetibilidade (o homem não consiste num simples conjunto de
matéria), inviolabilidade, liberdade, criatividade e responsabilidade, de pessoa com alma encarnada em um corpo, situada na história, e constitutivamente comunitária. Simone
Weil viveu os dilaceramentos da Segunda Guerra Mundial. Ela encontrou na vulnerabilidade da carne humana um caminho para a união com Deus e para a redenção. “Quanto
mais contemplamos a miséria humana, tanto mais O contemplamos”. Pecar é, para Simone, desconhecer essa miséria humana, espelho da face de Deus. Esse conhecimento “é
difícil para o rico, para o poderoso, porque ele é quase invencivelmente levado a crer que é alguma coisa. É igualmente difícil para o miserável porque ele é quase invencivelmente
levado a crer que o rico, o poderoso, é alguma coisa”. Contemplando a cruz, de onde as Escrituras e a tradição afirmam que vieram para nós a salvação e a redenção, Simone
encontra a chave para o segredo do caminho do ser humano em direção ao Absoluto: a vulnerabilidade e a mortalidade humanas. Esta mortalidade, esta vulnerabilidade da carne
humana foi o caminho de Simone para a união com Deus e para a redenção. Ela caminhou por esta via, contemplando sua mortalidade no mesmo Cristo a ela revelado nos
outros, seus irmãos, sobretudo naqueles e naquelas em quem a desgraça deixou mais expostos e mais nus em sua condição mortal. Aqueles em quem a desgraça e a morte
realizam cada dia seu trabalho predatório.
. Pragmatismo. O pragmatismo nasceu nos Estados Unidos nas últimas décadas do século XIX e sua força de expressão, tanto na América quanto na Europa, chegou a seu ponto
máximo nos primeiros quinze anos do século XX. Do ponto de vista sociológico, o pragmatismo representa a filosofia de uma nação voltada com confiança para o futuro,
enquanto do ponto de vista da história das ideias ele se configura como a contribuição mais significativa dos Estados Unidos à filosofia ocidental. O pragmatismo é a forma que o
empirismo tradicional assumiu nos Estados Unidos. Com efeito, enquanto o empirismo tradicional, de Bacon a Locke, de Berkeley a Hume, considerava válido o conhecimento
baseado na experiência e a ela redutível – concebendo a experiência como a acumulação e organização progressiva de dados sensíveis passados ou presentes –, para o
pragmatismo a experiência é abertura para o futuro, é previsão, é norma de ação. Os representantes mais prestigiosos do movimento pragmatista nos Estados Unidos foram:
Charles Peirce, William James e John Dewey. O pragmatismo lógico de Peirce: o método correto para fixar as crenças é apenas o científico. A abdução é um raciocínio para
explicar os fatos. Enquanto o empirismo (lógica indutiva) toma a experiência enquanto experiência passada, ou seja, como um patrimônio limitado que pode ser inventariado e
sistematizado de forma absoluta, o pragmatismo (lógica abdutiva) entende a experiência como abertura para o futuro, ou seja, como possibilidade de fundamentar a previsão, não
em confronto com a experiência passada, mas em relação com o possível uso futuro dessa experiência passada. O empirismo radical de James: “O pragmatismo é apenas
método” que se configura, em primeiro lugar, como uma atitude de pesquisa, como “a disposição de afastar o olhar das coisas primeiras, dos princípios, das ‘categorias’, das
pretensas necessidades e, ao contrário, voltar os olhos para as coisas ultimas, os resultados, as consequências, os fatos”. O pragmatismo é método para alcançar a clareza das ideias
que temos dos objetos. E esse método nos impõe “considerar quais efeitos práticos concebíveis essa ideia pode implicar, quais sensações podemos esperar e quais reações
devemos preparar. Nossa concepção desses efeitos, tanto imediata como remota, é então toda a concepção que temos do objeto, enquanto ela tiver significado positivo”. Uma
ideia é verdadeira quando nos permite andar adiante e leva-nos de uma parte a outra de nossa experiência, ligando as coisas de modo satisfatório, operando com segurança,
simplificando, economizando esforços. O instrumentalismo de John Dewey: a sua filosofia foi definida como “naturalismo”. É uma filosofia que se move no leito do
pragmatismo e se situa no quadro da tradição empirista. Entretanto, Dewey optou por chamar sua filosofia de instrumentalismo, que, em primeiro lugar, se diferencia do
empirismo clássico quanto ao conceito fundamental de experiência. A experiência dos empiristas clássicos é simplificada, ordenada e purificada de todos os elementos de
desordem e erro, reduzida a estados de consciência claros e distintos. “A experiência não é consciência, e sim história”; ou seja, ela não se reduz a um estado de consciência claro e
distinto. A experiência não se reduz tampouco ao conhecimento, ainda que o próprio conhecimento seja parte da experiência, seja uma experiência. Ela, de fato, inclui os sonhos,
a loucura, a doença, a morte, a guerra, a confusão, a ambiguidade, a mentira e o horror; inclui os sistemas transcendentais, e também os sistemas empíricos; inclui tanto a magia e a
superstição como a ciência. Inclui tanto a inclinação que impede de aprender da experiência como a habilidade que tira partido de seus mais fracos acenos.
. Filosofia teórica americana. Holismo epistêmico em Quine: ele pertenceu à tradição da filosofia analítica ao mesmo tempo que foi um dos principais proponentes da visão que a
filosofia não é análise conceitual. Quine mostrou que a distinção entre juízos sintéticos e juízos analíticos não estava apoiada em nada firme, era um dogma que era aceito sem
nenhuma justificação, apenas pela necessidade dos empiristas de isolar a convenção dos juízos testáveis. Sem este dogma, este princípio do atomismo na verificação também não
se sustenta e, portanto, é aceito apenas como um outro artigo de fé, um segundo dogma. Quine então conclama os empiristas a se livrarem dos dois dogmas e, sem distinção entre
juízos sintéticos e juízos analíticos e aderindo a um holismo quanto à verificação, a endossarem um empirismo sem dogmas. Embora Quine concorde com as duas teses básicas
do empirismo, quais sejam: (a) de que toda a evidência de que a ciência dispõe seja evidência sensorial e (b) de que qualquer processo de inculcar significados a palavras terá de
repousar numa evidência sensorial, o autor critica o empirismo clássico por abrigar o mito de que para todo enunciado empírico exista “um domínio único de eventos sensoriais
possíveis, tais que a ocorrência de qualquer um deles contribuiria para a probabilidade da verdade do enunciado”. Em termos gerais, sua posição é a de que eventos empíricos
podem corroborar uma teoria, ou confirmar as suas previsões, porém não confirmam uma única frase, equação ou lei, em separado, a não ser no caso de frases observacionais. Os
simultâneos apoio e crítica de Quine ao empirismo desembocam, pois, em uma posição holista em relação ao significado de conjuntos de frases em teorias ou sistemas
linguísticos. Essa concepção sustenta que os enunciados da ciência não podem ser submetidos à avaliação empírica isoladamente, mas apenas em conjuntos “mais ou menos
amplos”. Entre leis gerais das ciências e frases de observação, usadas em testes e experimentos científicos, temos frases com graus variados de conteúdo empírico. As inter-
relações entre as frases determinam o significado do todo, que, por sua vez, ajusta-se às modificações dos valores-verdade – verdadeiro ou falso, das frases observacionais da
periferia da totalidade do universo linguístico. Neopragmatismo em Richard Rorty. Foi justamente a leitura do “segundo” Wittgenstein que persuadiu Rorty a tomar distância do
pensamento analítico dominante nos Estados Unidos. Este pensamento – dirá Rorty – profissionalizou a filosofia, reduziu-a a uma disciplina acadêmica que se resolve na pesquisa
obsessiva dos fundamentos do conhecimento objetivo, tirou da filosofia toda dimensão histórica, arrancou-a dos problemas da vida. Auxiliado também pelas críticas internas ao
movimento analítico, Rorty se convenceu do esgotamento intrínseco da filosofia analítica (ou pós-filosófica, no sentido de estar distante da filosofia tradicional) des-
disciplinarizada e de andamento discursivo, à qual não cabe mais o papel de mãe ou de rainha da ciência, sempre em busca de um vocabulário definitivo e imortal sobre a base do
qual sintetizar ou descartar os resultados de outras esferas de atividade. A filosofia pós-analítica, de preferência, se democratiza na forma de uma “crítica da cultura” que a vê
transformada em uma disciplina entre as outras, fundada sobre critérios histórica e socialmente contextuais, e preposta ao estudo comparado das vantagens e das desvantagens das
diversas visões do mundo. Problemas eternos resolvidos por teorias perenes: eis a pretensão de fundo da filosofia tradicional, a qual se configura como filosofia fundacional em
relação a toda a cultura. E esta sua pretensão se apoia sobre o fato de que ela compreenderia os fundamentos do conhecimento e encontraria tais fundamentos por meio do
estudo da mente, dos “processos mentais”. Eis, portanto, que a tarefa central da filosofia tradicional está na construção de uma teoria geral da representação acurada tanto do
mundo externo, como do modo com que a mente constrói essas representações. Tudo isso, afirma Rorty, nos mostra que existe “uma imagem que mantém prisioneira a filosofia
tradicional”: é a imagem da mente como um grande espelho, que contém representações diversas – algumas acuradas, outras não – e pode ser estudado por meio de métodos
puros, não empíricos”. Cérebro numa cuba em Hilary Putnam. É uma das figuras centrais da filosofia ocidental desde a década de 1960, especialmente em filosofia da mente,
filosofia da linguagem e filosofia da ciência. Ele é conhecido pela sua prontidão em aplicar igual grau de escrutínio tanto às próprias posições filosóficas quanto às posições de
outros filósofos, submetendo cada posição a uma análise rigorosa e expondo seus defeitos. Como resultado, Putnam adquiriu a reputação de filósofo que muda frequentemente
de posição. Na filosofia da mente, Putnam é conhecido pelos seus argumentos contra a identidade-tipo dos estados mentais e físicos, baseado nas suas hipóteses da realização
múltipla da mente, e pelo conceito de funcionalismo, uma teoria influente sobre o problema corpo-mente. Na filosofia da língua, com Saul Kripke e outros, ele desenvolveu a
teoria causal da referência, que aplicou principalmente aos termos de espécie natural como água, tigre, etc. Formulou uma teoria original do significado que tenta levar em
consideração a linguagem, o mundo e a sociedade, criando com isto uma noção de externalismo semântico, baseado num famoso pensamento experiente chamado “Terra
Gêmea” (ou Twin Earth). Entretanto, Putnam já não acreditava mais nos resultados deste experimento mental. Putnam é conhecido pela criação de muitos experimentos mentais
com objetivo de explorar as possíveis consequências do princípio em questão. Eis outros exemplos famosos: cérebro numa cuba; a formiga que desenha Churchill. William
Warren Bartley III foi um filósofo americano especializado em filosofia, linguagem e lógica do século XX e no Círculo de Viena. Bartley e Popper tinham uma grande admiração
um pelo outro, em parte por causa de sua posição comum contra o justificacionismo. No entanto, no Colóquio Internacional de Filosofia da Ciência, no Bedford College,
Universidade de Londres, de 11 a 17 de julho de 1965, eles entraram em conflito entre si. Bartley apresentou um artigo intitulado Teorias da demarcação entre ciência e metafísica, no qual
ele acusou Popper de mostrar uma atitude positivista em seus primeiros trabalhos e propôs que o critério de demarcação de Popper não fosse tão importante quanto Popper
pensava que fosse. Popper tomou isso como um ataque pessoal e Bartley considerou sua resposta como indicando que Popper estava ignorando suas críticas. A amizade não foi
restaurada até 1974, após a publicação de A filosofia de Karl Popper. Bartley mudou o tom de suas observações sobre o critério de demarcação de Popper, tornando-o menos
agressivo. No entanto, apesar da amizade restaurada, a opinião de Bartley nunca foi aceita por Popper, que a criticou mesmo após a morte de Bartley. Adolf Grünbaum é
frequentemente visto como parte da marca americana do empirismo lógico, associada especialmente a Hans Reichenbach. Grünbaum não adotou a filosofia popperiana
predominante da ciência, especialmente entre os cientistas físicos, levando a alguma notoriedade na década de 1960, depois de ter sido ridicularizado pelo físico Richard Feynman.
Uma troca muito citada seguiu a sugestão neo-leibniziana de Grünbaum de que o fluxo do tempo poderia ser uma ilusão apenas em entidades conscientes, nas quais Feynman
perguntou se os cães, depois as baratas, eram entidades suficientemente conscientes. Alegadamente como uma marca de mais desdém, Feynman se recusou a deixar seu nome ser
impresso, tornando-se o “Sr. X” facilmente reconhecível. Cerca de 40 anos depois, o escritor Jim Holt caracterizaria Grünbaum como, na década de 1950, “o principal pensador
das sutilezas do espaço e do tempo” e, como na década de 2000, “em dúvida o maior filósofo vivo da ciência”.
3. Filosofia espanhola, filosofia hebraica, filosofia pós-colonial, filosofia latino-americana e filosofia brasileira
. Filosofia Espanhola. Miguel de Unamuno: contra o intelectualismo; a loucura heróica contra a miséria do bom senso; o Deus é o “Deus vivo” de Pascal e de Kierkegaard. José
Ortega y Gasset: O pensamento de Ortega é geralmente dividido em três etapas: 1. Estágio objetivista (1902-1914): influenciado pelo neo-kantismo alemão e pela fenomenologia
de Husserl, chega a afirmar a primazia das coisas (e ideias) sobre as pessoas; 2. Estágio Perspectivista (1914-1923): começa com Meditações de Quixote. Neste momento, Ortega
descreve a situação espanhola em Espanha invertebrada (1921); 3. Estágio Raciovitalista (1924-1955): considera-se que Ortega entra em seu estágio de maturidade, com obras
como O tema de nosso tempo, História como um sistema, Ideias e crenças e A Rebelião das Massas. “Eu sou eu e minha circunstância”, encerra uma concepção do homem como um “eu-
circunstância”, indissociável do seu meio. Dito de outro modo, o “eu” é distinto da realidade à sua volta, mas inseparável desta. Já a segunda parte da frase, “se não salvo a ela,
não me salvo a mim”, exprime a ideia de que o homem que “quiser salvar-se, deverá também salvar sua própria circunstância”, isso é, a realidade à sua volta. Implicitamente, ela
subordina a melhoria da condição do homem à sua ação, em contraposição à ideia de melhoria por meio da omissão.
. Filosofia hebraica. Martin Buber deu ênfase à sua ideia de que não há existência sem comunicação e diálogo, e que os objetos não existem sem que haja uma interação com eles.
As palavras-princípio, Eu-Tu (relação), Eu-Isso (experiência), demonstram as duas dimensões da filosofia do diálogo que, segundo Buber, dizem respeito à própria existência. O
homem nasce com a capacidade de inter-relacionamento com seu semelhante, ou seja, a intersubjetividade. Intersubjetividade é a relação entre sujeito e sujeito e/ou sujeito e
objeto. O relacionamento, segundo o filósofo Martin Buber, acontece entre o Eu e o Tu, e denomina-se relacionamento Eu-Tu. A interrelação segundo Martin Buber, envolve o
diálogo, o encontro e a responsabilidade, entre dois sujeitos e/ou a relação que existe entre o sujeito e o objeto. Intersubjetividade é umas das áreas que envolve a vida do homem
e, por isso, precisa ser refletida e analisada pela filosofia, em especial pela Antropologia Filosófica. Emmanuel Levinas foi um filósofo francês nascido em uma família judaica na
Lituânia. Bastante influenciado pela fenomenologia de Edmund Husserl, de quem foi tradutor, assim como pelas obras de Martin Heidegger, Franz Rosenzweig e Monsieur
Chouchani, o pensamento de Levinas parte da ideia de que a Ética, e não a Ontologia, é a Filosofia primeira. É no face-a-face humano que se irrompe todo sentido. Diante do
rosto do Outro, o sujeito se descobre responsável e lhe vem à ideia o Infinito. Proponho que se inicie esta reflexão com alguns questionamentos que você pode responder a si
mesmo. Para Levinas, tem importância decisiva a alteridade: a diferença radical que se manifesta a partir do outro, sobre a qual nada pode ser previamente atribuído. A ética
inaugura a humanidade do homem.
. Filosofia pós-colonial. O pós-colonialismo é uma teoria e prática que, desde seu surgimento nos anos 1960 com Said, Bhabha, Spivak, Fanon, Gilroy e Glissant tem sido
recortada por debates e controvérsia. Uma das maiores críticas se dá sobre a forma em que essa tendência gera categorias binárias (tradição/modernidade, Ocidente/Oriente,
racional/irracional, língua inglesa/língua vernacular etc.).
. Filosofia latino-americana. Nomes: Quijano, Mignolo, Dussel e Lander. Em sua filosofia da libertação, Dussel não apenas critica o eurocentrismo como fornece uma ampla
teoria que abrange a dominação nos campos do gênero/sexualidade, pedagogia, religião e economia. Ele delineia uma articulação de dois conceitos: a totalidade totalizante como a
assimilação violenta de tudo que é alheio. Dussel foca na conquista europeia das Américas como o momento definidor da modernidade, deixando claro que o colonialismo
ocidental é a ilustração paradigmática da lógica da totalidade. A externalidade é o segundo conceito, que trata do “o âmbito em que outras pessoas, livres e não condicionadas
pelos sistemas do observador, não participando de seu mundo, se revelam.”
. Ubuntu e a filosofia africana. Uma sociedade sustentada pelos pilares do respeito e da solidariedade faz parte da essência de ubuntu, filosofia africana que trata da importância
das alianças e do relacionamento das pessoas, umas com as outras. Na tentativa da tradução para o português, ubuntu seria “humanidade para com os outros”. Uma pessoa com
ubuntu tem consciência de que é afetada quando seus semelhantes são diminuídos, oprimidos. De ubuntu, as pessoas devem saber que o mundo não é uma ilha: “Eu sou porque
nós somos”.
. Necropolítica em Mbembe. Necropolítica ocorre quando o Estado escolhe quem deve viver e quem deve morrer. Exercitar a soberania é exercer controle sobre a mortalidade e
definir a vida como a implantação e manifestação de poder. Ações ou omissões do Estado determinam qual parcela da sociedade pode viver e qual parcela deve morrer. Cito
Mbembe, em sua obra Necropolítica: “a soberania é a capacidade de definir quem importa e quem não importa, quem é ‘descartável’ e quem não é.” Sua preocupação é “com
aquelas formas de soberania cujo projeto central não é a luta pela autonomia, mas a instrumentalização generalizada da existência humana e a destruição material de corpos
humanos e populações”. A necropolítica pode ser pensada como uma relação entre política e morte. Há aqui a discriminação das vidas que serão cuidadas e das vidas que serão
expostas à morte, seja por serem identificadas com o inimigo que ameaça a coesão da sociedade, seja por fazerem parte do grupo que é eliminado em uma guerra que escolhe seus
inimigos.
. Filosofia brasileira. A História da Filosofia no Brasil refere-se à tradição do pensamento filosófico realizada por brasileiros dentro ou fora do Brasil. As atividades de reflexão
filosófica foram trazidas pelos padres jesuítas na segunda metade do século XVI com as atividades do descobrimento das Américas, e se estende até os dias atuais com o processo
de profissionalização universitária. Um dos pioneiros em utilizar a expressão “filosofia no Brasil” foi Sílvio Romero, em sua obra historiográfica A filosofia no Brasil (1878). É
possível separar em três grandes momentos o desenvolvimento da história da filosofia no Brasil. A primeira metodologia de estudo de filosofia no Brasil foi marcada pela
utilização do método da Ratio Studiorum introduzido pelos jesuítas no século XVI. No século XIX, foi marcado pela predominância do método ensaístico, com uma filosofia sem
referência à tradição, pois era formada por eruditos provenientes de diversas áreas do conhecimento. Por fim, o último modo moderno de se estudar filosofia teve seu princípio
no século XX, marcado pela profissionalização e especialização dos estudos universitários. Em 1908 surge a primeira faculdade de filosofia do Brasil, a Faculdade de São Bento.
No entanto, seu marco foi na década de 1940 com a missão francesa na Universidade de São Paulo, introduzido por Martial Gueroult e Victor Goldschmidt. Contudo, o estudo
da história da filosofia baseado apenas em comentários ocasionou pouca produtividade filosófica no país, como é atestado por Roberto Gomes no livro A Crítica da Razão
Tupiniquim (1977).