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Deus o vê. Para a racionalidade não existem coisas fortuitas.

Tudo é determinado:
nossos pensamentos, nossos desejos, nossas atitudes, os acontecimentos. Cards Filosofia
Liberdade em Spinoza: Professor: Marcinho - Disciplina: Filosofia
Liberdade e Necessidade - Para Spinoza a liberdade não é a
Baruch Spinoza
ausência de causa, mas a necessidade da causa interna, necessidade de ser aquilo (1632-1577)
que se é. Liberdade é agir adequadamente para a conservação e ampliação de
nossa potência de conhecer, existir e agir. Quanto mais um corpo é capaz, em Racionalismo e Liberalismo
comparação com outros, de agir simultaneamente sobre um número maior de
coisas, ou de padecer simultaneamente de um número maior de coisas, tanto mais Biografia: A 27 de julho de 1656, a
sua mente é capaz, em comparação com outras, de perceber, simultaneamente, um assembleia dos anciãos que dirige a
número maior de coisas. comunidade judaica de Amsterdã promulga
Todo aquele que age livremente, age de acordo com a natureza da um herem (excomunhão, em hebraico),
potência de agir – perseverança para viver de acordo com o Ser – e se aproxima da excluindo e banindo Espinosa, que, nessa época, tem 24 anos.
liberdade, da própria essência de Deus. O homem livre age de acordo com a Em 1670, aos 37 anos, Espinosa publica o Tratado Teológico-Político,
necessidade da eternidade de Deus, é guiado por Ele. impresso sem o nome do autor. A obra se destina à defesa da liberdade de
Espinosa faz, ao longo da Ética, o caminho que vai de Deus, que é a pensamento e de expressão. A 19 de julho de 1674, trazendo o brasão e as
substância infinitamente infinita e possui em si todos os atributos, para os modos, armas de Guilherme de Orange III, os Estados Gerais da Holanda, sob
que são os seres humanos, limitados no tempo e no espaço para depois fazer o orientação e exigência do Sínodo calvinista, promulgam um édito em que
percurso de volta. Com o propósito de, através do conhecimento de Deus, sair da
declaram o livro pernicioso, venenoso e abominável para a verdadeira religião
servidão e encontrar a liberdade. Servidão é toda vez que o homem não age por
e para a paz da república, proibindo sua impressão e divulgação.
sua natureza, ele está sendo conduzido por forças de fora. É impossível que o
homem não seja afetado e muitas vezes levado por estas forças que o contrariam. Em 1678, um ano após a morte de Espinosa, um novo édito do governo
Tudo se passa, então, como se devêssemos distinguir dois momentos da da Holanda proíbe a divulgação do conjunto de sua obra, publicada
razão ou da liberdade: aumentar a potência de agir ao mesmo tempo que nos postumamente por seus amigos.
esforçamos para experimentar o máximo de afecções passivas alegres; e dessa Afinal, o que dissera o jovem Espinosa – em 1656 –, o que escrevera o
maneira, passar ao estágio final no qual a potência de agir aumentou tanto que é filósofo – em 1670 – e o que deixara escrito – em 1678 –, para que fosse
capaz de produzir afecções elas mesmas ativas. Saímos da causa parcial e expulso da comunidade judaica e condenado pelas autoridades cristãs? Por
entramos na parte comum, onde temos parte na existência. É aqui que a ética que alguns leitores, seus contemporâneos, afirmam estar diante de “nova
nasce, em uma rede que se tece nas relações de modo que todos cresçam encarnação de Satã” e que seu nome, Benedictus em latim, deveria ser mudado
mutuamente e reforcem a alegria uns dos outros. O aumento da capacidade de agir para Maledictus?
implica em tomar parte, agir em conjunto, fazer aliados, conexões, criar A filosofia espinosana é a demolição do edifício filosófico-político
interdependências, ajuda mútua, crescer na conveniência das relações necessárias erguido sobre o fundamento da transcendência de Deus, da Natureza e da
entre as partes e diminuir a dependência infantil e impotente. Razão, voltando-se também contra o voluntarismo finalista que sustenta o
imaginário da contingência nas ações divinas, naturais e humanas.
A filosofia de Espinosa demonstra que a imagem de Deus, como
Este ‘card’ é parte integrante de todo material didático do intelecto e vontade livre, e a do homem, como animal racional e dotado de
professor de Filosofia e Sociologia Marcio de Oliveira, docente livre-arbítrio, agindo segundo fins, são imagens nascidas do desconhecimento
do Colégio e Curso Resolve em Carmo - RJ. das verdadeiras causas e ações de todas as coisas. Essas noções formam um
Fica proibido e vedado a cópia e o uso do mesmo sem a sistema de crenças e de preconceitos gerado pelo medo e pela esperança,
menção e referência do autor. sentimentos que dão origem à superstição, alimentando-a com a religião e
marcinhocarmo@hotmail.com Marcio de Oliveira conservando-a com a teologia, de um lado, e o moralismo normativo dos
filósofos, de outro.
Conceito de Substância: concebido sob uma forma humana ou com atributos humanos). Deus é a absoluta
necessidade (razão) que ordena o universo.
Spinoza parte de um conceito muito preciso, o de substância, isso é, de um “Ao causar-se a si
ser que existe em si e por si mesmo, que pode ser concebido em si e por si mesmo e mesmo, fazendo existir sua
sem o qual nada existe nem pode ser concebido. própria essência, Deus faz
Para a química, substância é qualquer composição dos elementos químicos: a existir todas coisas
água, o sal, o CO2, O2, ácido sulfúrico, ferro, etanol... singulares que O
Para Spinoza, substância é compreendo como aquilo que existe em si exprimem porque são
mesmo e que por si mesmo é concebido, isto é, aquilo cujo conceito não exige o efeitos de Sua potência
conceito de outra coisa do qual deva ser formado. É aquilo que não depende de infinita. Em outras palavras, a existência da substância absolutamente infinita é,
outra coisa para existir. simultaneamente, a existência de tudo o que sua potência gera e produz, pois, demonstra
Espinosa, no mesmo ato pelo qual Deus é causa de si Ele é também a causa de todas as
• Então a única verdadeira substância é Deus.
coisas.”
• Não existe outra substância além de Deus.
Para Spinoza, Deus se manifesta em tudo o que existe. As próprias leis da
• O mundo existe em Deus.
natureza podem ser identificadas com a mente de Deus. Os seres humanos,
constituídos pela união de um corpo e uma mente
(ou uma ideia), são modos finitos de Deus ou partes
✔ Para Spinoza Deus é natura Deus é um mecanismo
imanente da natureza e do da natureza infinita de Deus.
naturans, ou seja causa primeira de universo. Deus e natureza:
todas as coisas e enquanto dois nomes para a mesma
coisa.
Deus imanente: Considerar que Deus é
consequência é natura naturata, imanente significa concebê-lo como um ser que
atributo e modo finito de Deus. está no mundo e não fora dele. Deus imanente é
aquele que pode ser encontrado dentro de sua criação. Quando supomos
que Deus criou o mundo e se encontra presente nele, ele é imanente.
O Monismo de Spinoza: O monismo é uma corrente filosófica que Relação entre Corpo e Mente:
afirma que a relação mente-corpo é apenas Antes de Spinoza, Platão definiu a
uma, ou seja, o corpo humano não se difere mente, ou alma [Psykhé], como “o piloto do
substancialmente da mente no corpo. navio”, dando preferência para a alma que devia
Se não existe outra substância além de Deus, a natureza e Deus não são guiar o corpo. Aristóteles definia o corpo
realidades distintas, mas sim uma mesma “coisa”. A alma e o corpo, para como órganon da alma, o corpo humano não é
Spinoza são diferentes atributos da única substância existente (Deus). Os seres obstáculo, mas instrumento da alma racional, que
humanos, constituídos pela união de um corpo e uma mente (ou uma ideia), são é a forma do corpo.
modos finitos de Deus ou partes da natureza infinita de Deus. Para Spinoza, cada corpo é singular e define sua causa interna de
Concepção de Deus: Em geral, Deus é entendido como um Ser existência, rompendo com causas exteriores ou finalidades de qualquer tipo. Já a
mente consciente também é conatus (inclinação inata de uma coisa para continuar
Supremo presente em diversas
a existir e se aprimorar), uma ferramenta do ser para a auto preservação.
religiões. O termo Deus tem origem
Toda ideia procede de Deus, assim como todos os entes extensos também
no termo latino deus e divus, que
procedem. A mesma necessidade que relaciona os pensamentos concatena os
significa divindade ou deidade.
objetos físicos. Pensamento e extensão são duas perspectivas distintas de uma
Segundo Spinoza, o mundo é
mesma coisa. Nosso intelecto é um modo finito do intelecto infinito de Deus, e,
efeito necessário de Deus, todas as
portanto, nós podemos conhecer as coisas como Deus. Deus não vê o mundo como
coisas são Deus Panteísmo (tudo é
um conjunto de acontecimentos fortuitos, regulados pelo acaso.
Deus). Deus é um ser impessoal
Quando percebemos a necessidade segundo a qual as coisas e os
(não antropomórfico - descrito ou
acontecimentos estão conectados uns aos outros, então vemos o mundo como

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