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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
BRASILEIRA
Disciplina na Modalidade a Distância
São Luís
2012
Universidade Federal do Maranhão
Reitor
Natalino Salgado Filho
Vice-Reitor
Antonio José Silva Oliveira
Pró-Reitora de Ensino
Sônia Maria Corrêa Pereira Mugschl
Diretor do Núcleo de Ensino a Distância - NEaD
Othon de Carvalho Bastos Filho
Diretor do Núcleo de Tecnologia da Informação - NTI
Nélio Alves Guilhon
Coordenador do Curso de Pedagogia
João Batista Bottentuit Júnior
Coordenador de Tutoria do Curso de Pedagogia
Francilene Duarte Santos
Secretário do Curso de Pedagogia
Leandro Freitas Pedroso
Coordenador de Gestão Pedagógica
Reinaldo Portal Domingo
Coordenadora Pedagógica de Hipermídia para Aprendizagem - NEaD
Rosane de Fátima Antunes Obregon
Coordenador Tecnológico - NEaD
Leonardo de Castro Mesquita
Coordenador da Universidade Aberta do Brasil na UFMA
Othon de Carvalho Bastos Filho
Coordenador Adjunto da Universidade Aberta do Brasil na UFMA
Reinaldo Portal Domingo
Projeto Gráfico, Capa
Luciana Santos Sousa
Diagramação
Erika Veras de Castro
f.: 141.
Inclui bibliografia
CDU 37 (091)
PROGRAMA DA DISCIPLINA HISTÓRIA DA
EDUCAÇÃO BRASILEIRA EMENTA
A pesquisa histórica e historiográfica em educação no Brasil. O Estudo da realidade
educacional brasileira, compreendida como objeto histórico e constituída no âmbito da for-
mação capitalista do país. História das formas de organização e lutas sociais do povo afro-
-brasileiro e indígena e sua participação na educação brasileira.
UNIDADES
OBJETIVOS:
1. Compreender o processo de constituição da História como campo de estudo, desta-
cando os fatores que interferem na produção do conhecimento histórico e que dão origem
às diferentes abordagens teórico-metodológicas na escrita da história.
Explicitar o quadro teórico, a partir do qual se buscará a compreensão da história da educa-
ção brasileira, com ênfase nas categorias do modo de produção, trabalho, infra-estrutura e
superestrutura na perspectiva do materialismo histórico-dialético.
Reconhecer as diferentes acepções do termo História, estabelecendo a distinção entre histó-
ria e historiografia.
Caracterizar a concepção materialista-dialética da história, destacando a importân-
cia do trabalho como categoria central na constituição dos homens como sujeitos da histó-
ria, em relação com a natureza e com os outros homens.
Compreender a origem e o desenvolvimento da historiografia da educação brasi-
leira, destacando as dificuldades enfrentadas no processo de constituição desse campo de
pesquisa, bem como as suas principais temáticas, períodos e fontes.
Compreender o caráter reflexivo e não-pragmático do conhecimento da história da
educação brasileira para a formação e prática do educador, como forma de alcançar uma
compreensão orgânica e coerente da realidade em que atua como profissional e da proble-
mática com a qual se defronta no cotidiano da escola.
UNIDADE II – Colonialismo Mercantilista e Educação: academicismo e catequese em tem-
pos de dominação patrimonial
OBJETIVOS:
Justificar a periodização utilizada para abordagem da História da Educação Bra-
sileira a partir da organização da produção material, que enseja as formas de organização
política, social e cultural.
Compreender o sistema colonial no contexto do capitalismo mercantilista.
Contextualizar o sistema colonial mercantilista no Brasil e sua relação com a educa-
ção.
Caracterizar o modelo agroexportador e as formas de organização econômica, polí-
tica e sociais materializadas no período colonial no Brasil.
Identificar a função da educação no contexto da sociedade colonial.
Identificar o papel da educação na consolidação das relações sociais, pautadas no
autoritarismo e na dominação de classe.
OBJETIVOS
Caracterizar a sociedade brasileira no período imperial em seus aspectos econômi-
cos, políticos e sociais.
Explicitar a função desempenhada pela educação na manutenção da estrutura eco-
nômica e social do Brasil Império.
Descrever como se apresentou a organização do sistema educacional no período
imperial, a partir das diversas reformas efetuadas no período.
Analisar a figura do professor nesse período da história da educação brasileira, seu
processo formativo, condições de trabalho e remuneração, traçando um paralelo com os
dias atuais.
OBJETIVOS:
Destacar as principais transformações da sociedade brasileira com o advento do
regime republicano.
Identificar as questões ideológicas que movimentaram o debate sobre educação no
período.
Caracterizar o “Entusiasmo pela Educação” e o “Otimismo Pedagógico” no cenário
educacional da Primeira República.
OBJETIVOS
Reconhecer a década de 1930 como período marcante no desenvolvimento da his-
tória da educação brasileira, enfatizando as rupturas ocorridas no plano político, econômico
e social e seus reflexos na educação.
Caracterizar os movimentos ideológicos ocorridos no período, enfatizando as ques-
tões em disputa, os segmentos sociais envolvidos e as consequências desses movimentos
para a organização da educação brasileira.
Identificar como se apresentou o dualismo no sistema educacional brasileiro, nos
diferentes contextos políticos do período em estudo.
Identificar as formas de utilização ideológica da cultura e do sistema escolar na Era
Vargas.
Demonstrar como foram definidas nas Constituições do período e na legislação edu-
cacional as questões do financiamento da educação, da obrigatoriedade escolar e da res-
ponsabilidade dos entes federados em relação à educação.
Avaliar em que medida as políticas adotadas pelo estado para a educação favorece-
ram o acesso das camadas populares a esse direito.
OBJETIVOS
Explicitar o contexto histórico em que ocorre o golpe militar de 1964 no Brasil,
enfatizando as transformações econômicas, políticas e sociais que caracterizaram o cenário
nacional da época.
Caracterizar os elementos que configuraram a crise do sistema educacional no final
da década de 1960 e as medidas adotadas pelo governo na estruturação de uma educação
voltada para os interesses do sistema econômico.
Identificar experiências de educação oriundas dos movimentos populares na déca-
da de 1960, destacando seus fundamentos teóricos, metodologia, objetivos e a atuação do
regime na repressão a esses movimentos.
Analisar criticamente a política educacional adotada pelo governo militar, através da
reforma da educação básica e da reforma universitária.
Mostrar como se deu a interferência externa na definição da política educacional do
período, através dos Acordos MEC-USAID.
Identificar aspectos da política educacional dos governos militares que tiveram influ-
ência duradoura no sistema educacional brasileiro.
APRESENTAÇÃO
moveram ou dificultaram o alcance desse objetivo.
Nesse caminho, utilizaremos algumas ferramentas que nos ajudarão a compreender
nosso objeto de estudo. São os pressupostos teórico-metodológicos que servirão como len-
tes, através das quais pretendemos obter uma visão que seja mais clara possível da realidade
que estamos nos propondo a conhecer. Esses pressupostos teórico-metodológicos têm por
base uma determinada visão de mundo, que orientará a seleção dos conteúdos e fontes a
serem consideradas nesse estudo.
O primeiro deles aparece na afirmação em epígrafe. Considerar a história como ci-
ência equivale a afirmar a inteligibilidade do real, reconhecendo o caráter ativo dos sujeitos
históricos e a intencionalidade dos atos humanos.
Afirmar o homem como sujeito da história equivale a afirmar a racionalidade da
realidade social engendrada pelo mesmo. É o homem racional quem produz e reproduz a
realidade social, podendo, portanto, compreendê-la e transformá-la.
É claro que a adoção desse paradigma para a abordagem da história da educação
brasileira significará a necessidade de seleção de determinados temas e não outros. É, por-
tanto, uma opção eminentemente política, não desprovida de intencionalidade.
Nesse curso, adotaremos a concepção fundada no materialismo histórico-dialético
e, portanto, nos acercaremos da história da educação brasileira como a história das lutas
em torno do direito à educação, numa sociedade marcada por uma brutal desigualdade
econômica, num país periférico do sistema capitalista globalizado, destacando os fatores
econômicos, sociais, políticos e culturais intervenientes nas ações e estratégias adotadas
pelos diferentes segmentos responsáveis pela definição e implementação das políticas edu-
cacionais, assim como os resultados dessas ações em termos do sistema educacional que se
conseguiu construir e seus benefícios individuais e coletivos.
Tomando como pressuposto a compreensão da História a partir do desenvolvimen-
to dos modos de produção da existência material dos homens, e assumindo que os fatos
sociais não podem ser entendidos isoladamente, mas apenas quando referidos ao contexto
no qual se originam e se desenvolvem, abordaremos a História da Educação Brasileira no
contexto do processo de constituição histórica da sociedade brasileira.
Utilizaremos para isso a periodização já consagrada na historiografia que considera
o processo de desenvolvimento brasileiro a partir do predomínio dos seguintes modelos
econômicos:
1- Modelo Agro-Exportador Dependente que se estende, grosso modo, da Co-
lônia à I República (1549-1920);
2- Modelo Nacional-Desenvolvimentista com Base na Industrialização ( 1920 –
1964);
3- Modelo de Internacionalização da Economia e Ruptura com a Ideologia Na-
cionalista (1964 – 1985);
4- Modelo Neoliberal sob a Égide dos Organismos Econômicos Internacionais
(1985 até nossos dias).
Portanto, procuraremos demonstrar como o sistema educacional brasileiro se consti-
tuiu em resposta às demandas do sistema econômico e político, bem como em que medida
as aspirações das classes menos favorecidas em relação à educação foram ou não atendidas
e de que forma.
As unidades estão organizadas em textos em que são apresentados os principais as-
pectos dos temas abordados, seguidos de atividades destinadas à fixação da aprendizagem
e aprofundamento. Em alguns casos, sugerimos vídeos para complementar a compreensão
dos temas e pesquisas para ampliação da compreensão.
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA HISTORIA........................................... 13
CAPÍTULO
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA
1. História: conceituações e elucidações
HISTÓRIA
NICA ou RELATO (Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa) e ainda PESQUISA, IN-
FORMAÇÃO ou NARRAÇÃO, ou seja, resenha ou narração dos fatos humanos (AB-
BAGNANO, 2007, p. 583). Modernamente, também foi introduzida a variante popular e
arcaica do termo – estória – na linguagem das ciências humanas e no folclore, para designar
especificamente, os contos, as narrativas, tradições e lendas do povo (Dicionário Etimológi-
co da Língua Portuguesa).
“O primeiro fato histórico é, portanto, a produção dos meios que permitam satisfa-
zer essas necessidades, a produção da própria vida material. Produzir a vida, tanto
a sua própria vida pelo trabalho, quanto a dos outros, pela procriação, nos aparece
portanto, a partir de agora, como uma dupla relação: por um lado, como relação
natural, por outro como uma relação social (...) ação conjugada de vários indivíduos
(...)”.
“Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem segundo a sua livre von-
tade; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se
defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado”. (MARX, K. O dezoito
brumário de L. Bonaparte).
Portanto, a História dos homens relaciona-se à forma como estes organizam a pro-
dução de sua existência material, ou seja, ao seu modo de produção.
Por esse motivo, visualizamos ao longo da história, uma sucessão de modos de pro-
dução (Primitivo, Asiático, Escravismo Antigo, Feudal e Capitalismo), que se caracterizam,
basicamente, pela forma como os homens organizam socialmente a produção da existência
material do grupo. Esta forma específica de produzir a existência material influencia a orga-
nização da sociedade nas dimensões social, política, cultural e as formas de consciência dela
decorrentes.
***
Após essa breve exposição sobre a acepção do termo história como processo históri-
co ou realidade histórica, passemos agora a uma reflexão sobre o outro significado atribuído
ao termo, qual seja a História como ciência, o conhecimento da história em distinção a rea-
lidade histórica. Para tanto, entraremos na seara da epistemologia, ou seja, do estudo acerca
da produção do conhecimento, nesse caso, do conhecimento histórico, o que nos remete a
filosofia da ciência.
O termo História (com h maiúsculo) também tem sido utilizado como sinônimo de
“historiografia”, no sentido de designar o conhecimento histórico. O termo historiogra-
fia foi cunhado por T. Campanella (1638) para indicar “a arte de escrever corretamente a
história”, mas também para designar o conhecimento histórico em geral ou o conjunto das
ciências históricas (ABBAGNANO, 2007, p. 591). Etimologicamente, historiografia deriva
da composição de dois termos: graphia e historia, podendo ser traduzido, na língua portu-
guesa, como escrita da história (LOMBARDI, 2006, p. 78).
No processo de escrita da história, existem alguns complicadores de ordem filosó-
fica, política e ideológica que produzem uma complexidade específica e dão origem a uma
6 O movimento conhecido como “Nova História” emerge do grupo dos Annales, conhecida como
3ª geração dos Annales, que operaram uma ampliação ainda maior quanto aos métodos e objetos
de estudo da história. Este movimento se caracteriza por uma concepção heterogênea em termos
teórico-metodológicos, que abrange História Cultural, História Antropológica, História do Imaginário.
tificam uma “explosão dos temas e objetos de pesquisa em história da educação nos
anos 90.” Percebe-se, paralelamente, uma dispersão e uma concentração de temáti-
cas referentes a certos períodos da história. No entanto, as mais predominantes nos
estudos e pesquisas são: história das políticas educacionais, história e difusão das
ideias pedagógicas, constituição dos sistemas escolares e, ultimamente, a história da
leitura e dos impressos, a história das práticas e processos de escolarização, a história
da profissão docente e culturas escolares, o que sugere certa renovação do ponto de
vista dos objetos de pesquisa, acompanhada por uma ampliação das fontes produ-
zidas e mobilizadas pelos pesquisadores.
Os estudos apontam ainda para a continuidade de utilização de fontes tradi-
cionalmente manipuladas pelos historiadores da educação, tais como, a legislação e
os relatórios oficiais, ao mesmo tempo em que emerge a utilização de outras ainda
não tão comuns ao meio: memórias e autobiografias, imagens, sobretudo fotográ-
ficas, revistas pedagógicas, jornais, livros didáticos e até mesmo filmes, músicas e
materiais escolares.
O volume das produções tem se ampliado significativamente, seguindo o im-
pulso da organização do campo da história da educação no Brasil, sobretudo a partir
dos anos 1990, o que aponta um novo indício da importância crescente da pesqui-
sa em história da educação. Dados levantados pelos vários balanços efetuados ao
final dos Congressos ocorridos nos últimos anos, como o I Congresso Brasileiro de
História da Educação e os I a III Luso-brasileiro de História da Educação, e por en-
comendas do GT de História da Educação da ANPEd, compilados por Faria Filho e
Vidal (2001) nos dão a dimensão da expansão do campo da história da educação
brasileira.
CONCLUINDO...
Nesta unidade discutimos acerca do conceito de história e vimos que este é
utilizado em duas acepções diferentes. Uma, diz respeito ao próprio processo his-
tórico ou realidade histórica, que se refere ao curso das ações humanas no tempo.
Vimos que o processo histórico não é algo estático e nem linear, mas é resultado
das relações entre os seres humanos na produção da sua própria existência. A outra
acepção do termo história, se refere ao estudo ou conhecimento produzido sobre o
processo histórico, ou seja, a escrita ou registro da história humana. Nesse sentido,
percebemos que esta escrita é mais orientada pelo presente do que pelo passado, na
medida em que os historiadores estão imersos vem seu tempo e suas preocupações
são decorrentes das problemáticas de seu tempo, pelas quais se recorre ao estudo
do passado.
Também discutimos o processo de constituição da História da Educação,
mais especificamente da História da Educação Brasileira, como campo de estudos e
pesquisas e o estágio atual dessa produção. E por fim, refletimos sobre a importância
da história para a formação do educador, desmistificando seu caráter mecânico e li-
near, como panacéia para a solução dos problemas do presente por meio do conhe-
cimento dos “erros” do passado, mas que nos fornece subsídios para compreender a
educação como fenômeno histórico que se desenvolve no bojo da história humana
ao longo do tempo, e que, por isso mesmo, reflete a sociedade na qual se insere e o
tipo de homem que se pretende formar. Com base nessas reflexões, iniciaremos nos-
sa incursão pela História da Educação Brasileira ao longo dos próximos capítulos.
ATIVIDADES AVALIATIVAS
1. Após a leitura deste capítulo, como você compreende o termo história?
2. Elabore um texto dissertativo sobre a importância do estudo da história na
formação do educador.
PARA REFLETIR
Ativar a memória para compreender o presente
TEXTO COMPLEMENTAR CAMBI p. 35-37
CARDOSO, Ciro Flamarion S. Uma introdução à história. 6. ed. São Paulo: Brasi-
liense, 1986.
LOPES. Eliane Marta Teixeira, GALVÃO, Ana Maria de Oliveira. História da Educa-
ção. – Rio de Janeiro: DP&A, 2001. – (Coleção O que você precisa saber sobre).
SANFELICE, J.L. Perspectivas atuais da História da educação. IN SCHELBAUER,
CAPÍTULO
8 Dentre o conjunto de ideias que constituem essa doutrina econômica, podemos destacar:
o metalismo, balança comercial favorável, estabelecimento de monopólios comerciais, política
protecionista, dentre outras.
Reflita um pouco sobre o que você aprendeu até agora. Como você
caracterizaria o Antigo sistema colonial no contexto do capitalismo
mercantilista?
9 A primeira forma de atividade comercial desenvolvida nas colônias, por meio da troca com
os nativos, de produtos naturais por produtos de origem europeia.
Nesse sentido, a ação dos jesuítas junto aos nativos se move por esse
esforço de aculturação e de dominação por meio da pregação da doutrina cristã,
com o objetivo expresso de “salvar a alma” e com a função implícita de inculcação
dos valores europeus, de modo a tornar mais fácil o processo de dominação dos
nativos. Por este motivo, o trabalho catequético possuía um caráter pedagógico,
que se utilizava de estratégias formais (as escolas) e não-formais (o exemplo), que
penetravam profundamente a vida cotidiana dos nativos, em todos os seus domínios.
10 Cabe lembrar que a Companhia de Jesus foi criada no contexto da contra-reforma com o intuito
de fortalecer a fé católica frente as demais doutrinas religiosas que se difundiam a partir da Reforma
protestante. Assim, a Companhia se caracterizou pelo aspecto missionário, do qual foi imbuída pelo
Rei D. João III no âmbito do processo de colonização do Brasil.
Contudo, foi a partir da educação das elites que os jesuítas constituíram uma
ação pedagógica mais incisiva e culturalmente marcante, formando as lideranças da
sociedade colonial. Esta atuação junto às elites se dava por meio dos colégios e dos
seminários.
11 Cabe ressaltar que desta população eram excluídos os filhos primogênitos, encarregados da
direção dos negócios paternos, e as mulheres. Portanto, a escola era frequentada somente pelos filhos
homens não-primogênitos para os quais era reservado o oficio sacerdotal ou a formação intelectual,
reduzindo em muito o contingente das classes dominantes que frequentava a escola.
Com este intuito foram criados os colégios, voltados para o público externo
(filhos das elites que não tinham interesse em seguir a vida religiosa), onde eram
ministrados cursos de Humanidades, Filosofia e Teologia, abrangendo desde a
instrução elementar e secundária à superior, e apresentavam uma duração média
de dez anos. Contudo, esses cursos não podiam conceder diplomas, o que era
uma prerrogativa da metrópole, no entanto, se constituíam em meio intermediário
para a formação em nível superior, que era completada na Europa, geralmente da
Universidade de Coimbra, fornecendo, assim, a formação para os futuros quadros
de dirigentes da administração colonial local, estabelecendo total identificação com a
cultura metropolitana e prevenindo a formação de uma cultura local que ameaçasse,
com desejos de autonomia, a dominação colonial.
12 Plano geral de estudos organizado pela Companhia de Jesus, cuja elaboração se iniciou
formalmente em 1584 e cuja redação definitiva foi publicada em 1599. O Plano é constituído por
um conjunto de regras cobrindo todas as atividades dos agentes diretamente ligados ao ensino (do
Provincial, passando pelas do Reitor, do Prefeito de Estudos, dos professores de modo geral) e de
cada matéria de ensino, abrangendo as regras da prova escrita, da distribuição de prêmios, do bedel,
chegando às regras dos alunos e concluindo com as regras das diversas Academias (SAVIANI, 2007)
No século XVIII, após dois séculos de ação pedagógica dos jesuítas, através
do método elaborado e difundo, sobretudo por meio do Ratio e calcado em um
ensino que fechava os olhos para a Modernidade e para a revolução científica que
se processava na Europa desde o Renascimento, mantendo-se fiel aos cânones do
pensamento medieval, como São Tomas de Aquino e Aristóteles, o monopólio que
estes exerciam em matéria de ensino passou a ser questionado.
4. As reformas Pombalinas
Somente em 1772, treze anos após a expulsão dos jesuítas, foi implantado o
sistema oficial de ensino em substituição ao sistema jesuítico. O ensino ministrado nos
Colégios jesuíticos é substituído pelo sistema de Aulas Régias de disciplinas isoladas,
voltadas para o estudo de línguas modernas, desenho, aritmética, geografia, ciências
naturais, em contraponto ao plano de ensino voltado para o latim e humanidades
ministrado pelos jesuítas (ARANHA, 2006, p. 191).
13 Cabe lembrar que os professores formados na colônia provinham dos colégios e seminários
dos jesuítas, portanto, foram os naturais continuadores de sua ação pedagógica, apesar das críticas
ao plano de ensino e métodos adotados pelos padres. Estes compuseram o maior contingente de
professores recrutados para as aulas régias. Portanto, embora direcionado contra a pedagogia jesuítica,
as reformas não exterminaram a influência religiosa em matéria de educação no Brasil. (ROMANELLI, 2010,
p. 37)
14 O subsídio literário destinava-se a suprir todas as necessidades financeiras da instrução pública,
abrangendo os estudos menores e maiores e garantindo não apenas o pagamento dos salários e
demais despesas dos professores. Além disso, atenderia a outras necessidades como aquisição de
livros, organização de museus, criação de laboratórios de física, de jardim botânico, instalação de
academias de ciências físicas e de belas-artes (SAVIANI, 2007, p. 99).
15 Pelo número de aulas régias distribuídas por todo o império português, definida por meio da
Lei da reforma das escolas de primeiras letras, publicada em 6 de novembro de 1772, o Brasil ficou
com um total de 16 aulas régias, o que corresponde a 5,1% do total de aulas a serem implantadas
em todo território do reino e nas colônias (SAVIANI, 2007, p. 97-98).
ATIVIDADES AVALIATIVAS:
TEXTOS COMPLEMENTARES
1. O Ensino Jesuítico16
• Studia inferiora:
Núcleo de Educação a Distância - UFMA
- Filosofia e ciências (ou cursos de artes) também com duração de três anos,
tinha por finalidade formar o filósofo e oferecia disciplinas de lógica, introdução às
ciências, cosmologia, psicologia, física (aristotélica), metafísica e filosofia moral.
• Studia Superiora:
Nas classes de gramática, o latim era ensinado até o perfeito domínio da língua.
Isso porque, mesmo que no dia-a-dia as pessoas fizessem uso da língua materna,
ainda no Renascimento e na Idade Moderna, persistia o costume dos filósofos e
cientistas escreverem em latim, ultrapassando fronteiras das diversas nacionalidades
e promovendo a universalização da cultura. Os jesuítas tornavam obrigatório seu
uso até na mais trivial conversação, de modo que os alunos pudessem assimilá-lo
com a familiaridade da língua vernácula.
(...) Talvez devido a tão rigorosa organização, as sanções não se tornassem muito
constantes, mas aplicadas sempre que necessário, cabendo ao mestre castigar apenas
com palavras e admoestações. Quando não bastassem, ou a falta fosse muito grave,
as punições físicas ficavam a cargo de um “corretor”, pessoa alheia aos quadros da
Companhia e contratada só para esse serviço. “Para contrabalancear a disciplina, os
jesuítas estimulavam atividades recreativas, por proporcionarem um ambiente mais
alegre e uma vida mais saudável”.
***
2. O ensino laico
Para refletir...
Você acha que a situação das escolas hoje, ainda guarda alguma semelhança com
aquele período? Pense um pouco e escreva o resultado de suas reflexões.
1. A “pedagogia da escravidão” 17
Núcleo de Educação a Distância - UFMA
Para refletir...
FREITAG, B. Escola, Estado & sociedade. – 4 ed. rev. – São Paulo: Moraes,
1980. (Coleção educação universitária).
CAPÍTULO
A EDUCAÇÃO BRASILEIRA NO
PERÍODO IMPERIAL
1. O cenário social, político e econômico do Brasil Império
tos de contestação que eclodem no período em toda a colônia, tendo como marco
a Revolução Mineira.
No entanto, a independência política foi precipitada pelo panorama da Euro-
pa que veio a ter consequências definitivas no processo de emancipação política do
Brasil. Em 1808, devido a conflitos entre a França de Napoleão e a Inglaterra, aliada
de Portugal, a sede do reino português, juntamente com a Família Real, transferiu-se
para o Brasil, elevando a colônia à categoria de Reino Unido a Portugal e Algarves.
Com a instalação da burocracia portuguesa no Brasil, as limitações e exigên-
cias mantidas pelo Pacto Colonial foram revogadas e medidas de modernização, fo-
ram imediatamente tomadas para adaptar o território colonial a instalação da corte.
Além de medidas administrativas, houve um incremento nas atividades culturais.
Dentre as principais medidas tomadas pelo príncipe D. João nesse sentido, podemos
citar: a abertura dos portos brasileiros para o livre comércio com as “nações amigas”;
revogação do alvará que proibia a instalação de manufaturas no Brasil; criação de
uma imprensa oficial (Imprensa Régia), até então proibida no Brasil; criação de mu-
seus, bibliotecas e academias voltadas para a formação cultural da elite local.
No que se refere à organização da educação, o quadro até então existente
remontava ao período das reformas pombalinas, com algumas poucas aulas régias,
além de algumas escolas primárias e médias remanescentes das ordens religiosas,
assim como os seminários episcopais, que respondiam pela formação do clero. Essa
situação demandou a criação de escolas, sobretudo em nível superior, para atender
as necessidades de profissionais qualificados para o exercício de funções demanda-
das pela burocracia estatal. Deste modo, as principais medidas tomadas por D. João
no que concerne a educação foram a criação de escolas de nível superior voltadas
para a formação de oficiais do exército e da marinha, destinados a defesa do territó-
rio, engenheiros militares e médicos, além de diversos cursos superiores avulsos de
economia, química e agricultura.
Nesse sentido, podemos afirmar que a principal mudança no quadro da or-
ganização educacional no Brasil, realizada pela presença da corte portuguesa foi a
criação dos primeiros cursos superiores não teológicos, com uma orien-
tação prático-profissional.
De acordo com Otaíza Romanelli, o significado da criação do ensino superior
no Brasil correspondia claramente à manutenção da estrutura de classe, existente
desde o período colonial, pois, de acordo com a autora:
“(...) o aspecto de maior relevância dessas iniciativas foi o fato de terem sido levadas
a cabo com o propósito exclusivo de proporcionar educação para uma elite aristo-
crática e nobre de que se compunha a corte. A preocupação exclusiva com a criação
do ensino superior e o abandono total em que ficaram os demais níveis de ensino
demonstram claramente esse objetivo, com o que se acentuou uma tradição – que
vinha da colônia – a tradição aristocrática” (ROMANELLI, 2010, p. 39).
O Ato Adicional de 1834 ou Ato Adicional Diogo de Feijó foi uma emenda a
Constituição de 1824 que descentralizou a administração pública no país, repartin-
do responsabilidades entre o governo central e os governos provinciais. No que se
refere à educação, a principal consequência desse ato foi a transferência da compe-
tência relativa às escolas primárias e secundárias para os governos das províncias,
enquanto que o governo central se limitou a promover e regulamentar a educação
no município da Corte e a educação superior em todo o Império.
Os efeitos dessa legislação trouxeram consequências graves para a educação,
tornando mais crítica a situação da instrução primária no Brasil, pois, além de pro-
mover a descentralização, que consistiu na prática, na omissão do poder central em
relação a esse nível de ensino e sua maior precarização, ainda instituiu uma duali-
dade de sistemas, que reproduziu, em nível escolar, as mesmas condições sociais
dadas, na medida em que, o ensino superior, direcionado as camadas abastadas da
população, alcançara melhores condições de funcionamento, garantidas pelo poder
central, enquanto que a educação primária, para a qual afluíam as camadas popula-
res, sob responsabilidade das províncias, se torna cada vez mais precarizada. Quanto
à educação secundária, os Liceus mantidos nas capitais das províncias eram redutos
das elites, pois consistiam em meio de acesso ao ensino superior, sendo também
espaço de atuação da iniciativa privada.
conforme pode ser percebido no art. 3º do Regulamento, que dispõe sobre as atri-
buições do inspetor geral:
também responsáveis pela sua nomeação após “exames públicos”. (Xavier, Ribeiro,
Noronha, 1994, p. 65).
Percebe-se, portanto, em relação à educação primária, “a desmotivação do
estado agroexportador e escravocrata em garantir as condições mínimas para o fun-
cionamento da escola pública” (Xavier, Ribeiro, Noronha, 1994, p. 65), traduzida no
descaso com relação a esse nível de ensino, agravado também pela falta de recursos,
por um sistema de tributação precário, para custear a construção e manutenção de
escolas, formação e remuneração de professores. Esse descaso foi agravado com a
aprovação do Ato Adicional de 1834 que transferiu para as províncias a competên-
cia para criar e manter as escolas de primeiras letras (ensino elementar), o ensino
secundário e a formação de professores. Diante desde quadro, Xavier, Ribeiro e
Noronha concluem que: “A instrução popular parecia desnecessária e, por isso, não
se atribuía função relevante a escola pública elementar. Daí a sua extensão ‘a todos
os cidadãos do Império’ não ter saído do texto da lei, senão para o discurso dema-
gógico” (Op. cit., 1994, p. 65).
b) Ensino Secundário
18 Destinado a formar a elite intelectual e a servir de padrão de ensino para os demais liceus do
país, o Colégio Pedro II era o único autorizado a realizar exames parcelados para conferir grau de
bacharel, exigência para o ingresso nos cursos superiores.
c) Ensino Profissionalizante/Normal
Deste modo, a criação de escolas normais passa a ser o padrão adotado para
a formação de professores das escolas primárias. A primeira iniciativa nesse sentido
foi a criação da Escola Normal de Niterói (1835), a primeira escola normal do
país, seguido pelas escolas normais da Bahia, 1836; Mato Grosso, 1842; São Paulo,
1846; Piauí, 1864; Rio Grande do Sul, 1869; Paraná e Sergipe, 1870; Espírito Santo
e Rio Grande do Norte, 1873; Paraíba, 1879; Rio de Janeiro (DF) e Santa Catarina,
1880; Goiás, 1884; Ceará, 1885; Maranhão, 1890. De acordo com Saviani (2009)
essas escolas tiveram existência intermitente, sendo fechadas e reabertas periodica-
mente.
mais um mecanismo de distinção social que era conferido pelo diploma de bacharel,
que frequentemente era obtido na Europa, nas faculdades de Coimbra e Évora, já
que durante o período colonial, a criação de Universidades foi proibida no Brasil –
diferentemente da América Espanhola - e a concessão de diplomas era monopólio
da Coroa. D. João, quando da vinda da Família Real para o Brasil, cria os primeiros
cursos superiores não teológicos, ligados a necessidade de formação de profissionais
para atuarem na defesa militar e na burocracia do Estado.
Em 1825, já no período imperial, implantam-se os primeiros cursos jurídicos,
seguidos de cursos de Medicina e Engenharia e as escolas isoladas de ensino supe-
rior se espalham por todo o Império. Visto que, pelo Ato Adicional de 1834, esse
nível de ensino foi legalmente definido como competência do governo central e não
faltou recursos para expandi-lo. No ideário nacional, o ensino superior era bus-
cado como forma de ascensão social.
No entanto, ciente de sua importância para a formação da elite intelectual do
país, o governo central exercia o Monopólio da concessão de diplomas, de modo
que, somente os diplomas obtidos em cursos superiores estatais tinham validade jurí-
dica nacional. Para os egressos de cursos superiores particulares exigiam-se exames
de equivalência. Cabe lembrar que, durante todo período imperial, o ensino supe-
rior mantém a forma de faculdades isoladas, sem que houvesse interesse na criação
de Universidades, que só surgirão no século XX.
Os cursos de Direito eram os que mais atraiam a preferência dos jovens,
percebendo-se, a partir da segunda metade do século XIX, uma significativa expan-
são desses cursos, pois, além do prestígio social, conferiam a formação profissional
adequada ao exercício de funções políticas, burocráticas, ao jornalismo e a própria
atividade jurídica, consideradas funções de destaque, à época.
Desde modo, percebe-se que o ensino superior constituiu-se em mais um
mecanismo de reprodução das relações sociais vigentes, na medida em que:
“(...) a especial atenção dada ao ensino superior reforçava o caráter elitista e aris-
tocrático da educação brasileira, que privilegiava o acesso aos nobres, aos proprie-
tários de terra e a uma camada intermediária, surgida da ampliação dos quadros
administrativos e burocráticos” (ARANHA, 2006, p. 226).
Além disso, a ênfase dada ao ensino superior revela a que de fato se des-
tinava a educação brasileira, como mecanismo de reprodução e conservação das
relações sociais vigentes, uma vez que não se questionou seriamente a necessidade
ou a finalidade do mesmo em um país destituído de educação elementar.
CONCLUINDO...
O período imperial marca um momento importante na história da educação
brasileira devido à maior atuação do Estado no âmbito da política educacional, pois,
conforme assinala Freitag (1980), até então, a educação era um domínio restrito as
ATIVIDADES AVALIATIVAS:
1. Descreva a organização do sistema de ensino no período monárquico,
destacando os aspectos principais da legislação educacional e as características dos
níveis de ensino (primário, secundário, profissional e superior).
TEXTOS COMPLEMENTARES
Núcleo de Educação a Distância - UFMA
Os filhos de famílias com recursos, que podiam aspirar a uma educação superior,
iniciavam a formação com tutores particulares, passavam depois por um Liceu, se-
minário ou, preferencialmente, pelo Pedro II, e afinal iam para a Europa ou esco-
lhiam entre as quatro escolas de direito e medicina. As quatro cobravam anuidade
e os cursos duravam de cinco anos (direito) a seis anos (medicina). Um estudante
típico entraria numa dessas escolas na idade de 16 anos e se formaria entre 21 e
22 anos. Outra alternativa para os ricos era a Escola Naval, sucessora da Academia
Real de 1808, onde, apesar da gratuidade do ensino, era mantido o recrutamento
seletivo baseado em mecanismos discriminatórios, o mais importante dos quais era
a exigência de custosos enxovais.
Essa escola é para alunos de ambos os sexos; tem três cadeiras – a primeira, de mé-
todo, mútuo e simultâneo com leituras da obra do barão Gerando; - a segunda, de
Gramática Filosófica com análise dos clássicos; - a terceira, de aritmética, desenho
linear e caligrafia. O curso é de dois anos, mas lecionando-se um dia aos homens e,
no outro, as senhoras, fica de fato reduzido a um somente. O professor de método
repete no segundo ano as matérias que ensina no primeiro; o de Gramática divide-a
para fazer o curso em dois anos; o terceiro professor dá em um ano aritmética e no
outro caligrafia e desenho.
As matérias são insuficientes por que falta, pelo menos, música, desenho, princípios
de geometria, de geografia, de história do Brasil, a história sagrada, - a Religião, que
não se ensina, e assim, também em todo ou em parte o que os alemães chamam
didática, metódica e pedagogia.
Para Refletir...
Atividade
REFERÊNCIAS
Núcleo de Educação a Distância - UFMA
FREITAG, B. Escola, Estado & sociedade. – 4 ed. rev. – São Paulo: Moraes,
1980. (Coleção educação universitária).
CAPÍTULO
A EDUCAÇÃO BRASILEIRA NA 1ª
REPÚBLICA (1889-1930)
4. Rumo a uma sociedade urbano-industrial
20 Oligarquia significa “governo de poucos”, indicando que a escolha dos governantes não é
propriamente democrática, mas controlada por uma elite.
21 Os coronéis, título da antiga Guarda Nacional, geralmente concedido a grandes proprietários
rurais com base local de poder, foram muito poderosos no início do regime republicano, sobretudo no
Nordeste, controlando, por meio do “voto de cabresto” obtido em seus “currais eleitorais”, o resultado
das eleições, garantindo a vitória de seus candidatos.
66
Entretanto, o início do século XX também introduz mudanças importantes,
como reflexo da expansão das atividades econômicas de base urbana, que irão pro-
porcionar um surto de industrialização e a nacionalização da economia, sobretudo
Núcleo de Educação a Distância - UFMA
A principal iniciativa desse movimento foi a criação das “Ligas contra o anal-
fabetismo”, que se multiplicaram pelo país entre os anos 1910 e 1920. De acordo
com Ghiraldelli Jr (1994), essas ligas viam na expansão da escolarização e na desa-
nalfabetização do povo um instrumento político de combate ao pacto oligárquico,
no sentido de possibilitar o aumento do contingente eleitoral, na medida em que
o analfabetismo contribuía para a perpetuação das oligarquias no governo e que,
portanto, a alfabetização serviria como instrumento para as transformações pela via
político-eleitoral e assim, afrontar a política oligárquica.
Por conta desse movimento e das iniciativas governamentais, observou-se
um avanço da escolarização no decorrer da Primeira República. Dados apontados
por Romanelli (2010) evidenciam esse fenômeno a partir dos anos 1920, onde se
percebe o crescimento da demanda social por educação, por meio da conversão da
Essa significativa expansão da matrícula a partir dos anos 1920, fez com que
as preocupações em torno da educação se direcionassem em outro sentido, o que
ocasionou o surgimento de outro movimento voltado para as questões qualitativas e
de cunho pedagógico – o “Otimismo Pedagógico”- que marcará profunda influ-
ência sobre o pensamento educacional brasileiro ao longo do século XX.
Tal movimento, encampado pelos chamados “profissionais da educação”,
também possuía uma inspiração tipicamente liberal, pois advogava a expansão da
escola pública, gratuita e laica, contudo, suas reivindicações ultrapassavam o caráter
meramente quantitativo e adentravam ao âmbito pedagógico. Inspirado no ideário
pedagógico da Escola Nova23 centrava suas preocupações na reorganização interna
das escolas e no redirecionamento dos padrões didáticos e pedagógicos. O “Oti-
mismo Pedagógico” influenciou toda uma geração de educadores brasileiros, como
Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Paschoal Lemme, Lourenço Filho, Francisco
Campos, dentre outros, que implementaram importantes reformas nos sistemas es-
taduais de ensino ao longo da década de 1920.
Além disso, fundaram a Associação Brasileira de Educação, em 1924, que,
por meio das Conferencias Nacionais de Educação, tem o mérito de retirar do Con-
gresso Nacional o monopólio das discussões sobre os rumos da política educacional.
O ápice desse movimento, que suplanta o “Entusiasmo pela Educação” se deu na
década de 1930, quando da organização da IV Conferência Nacional de Educação,
quando é lançado o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, em 1932,
onde propunham as bases para a reformulação da política educacional no país, fun-
dada nos princípios liberais e pedagógicos da Escola Nova.
Ainda no âmbito dos embates ideológicos acerca da educação, não podemos
deixar de citar a influência da Igreja Católica, cujas concepções iam de encontro ao
pensamento liberal. Defensores da pedagogia tradicional, os católicos combatiam a
adoção de métodos novos e se aproximavam de grupos com concepções políticas
conservadoras, que se articularam para fundar na década de 1930 a Ação Integralis-
ta Brasileira (AIB), de inspiração fascista.
23 Movimento pedagógico inspirado nas ideias de John Dewey, que é difundido no Brasil a
partir dos anos 1920. Contrapõe-se a Pedagogia Tradicional, enfatiza os “métodos ativos” de ensino-
-aprendizagem, a liberdade da criança, interesse do educando, a centralidade da criança no processo
de aprendizagem e a educação como instrumento para a construção de uma sociedade democrática.
6. As reformas do ensino
ATIVIDADES:
1994.
1960
No Brasil, até 1930, a educação do povo não constituiu objeto de preocupa-
ção dos governantes, apesar de haver sido criado no início da Primeira República
um organismo destinado a tratar da questão – o Ministério da Instrução Pública,
Correios e Telégrafos. Tal situação está em consonância com o quadro econômico e
político do país, caracterizado por uma economia agro-exportadora, baseada em um
modelo político, caracterizado pelo autoritarismo e consubstanciado na democracia
formal viabilizada pelo “coronelismo”, o qual, por sua vez, possibilitava o desenvol-
vimento de um conjunto de relações que culminavam com o predomínio de interes-
ses particularistas no seio do aparelho de estado.
Assim, durante toda a Primeira República não se verificam ações efetivas
em matéria de educação popular, entretanto, os interesses das elites em matéria de
educação foram contemplados através da implantação de alguns cursos superiores.
A década de trinta, com todas as transformações que a caracterizaram, trou-
xe mudanças também na educação, que passa a ser considerada como condição
para que o país possa realizar as tarefas demandadas por seu processo de desenvol-
vimento.
É justo considerar a década de 1930 como um marco na história do Brasil e
na história da educação brasileira, pois nela se inicia o conjunto dos rompimentos
que constituirão a chamada “revolução brasileira”, responsável pela implantação e
consolidação do capitalismo no país (Lanni, 1978), processo no qual a educação vai
desempenhar papel relevante, como veremos.
A “crise do café” representou o estopim que determinou a queda de toda a
estrutura sócio-econômica baseada no modelo agro-exportador e que, até então,
tinha beneficiado as oligarquias rurais, sob a tutela do Estado. As transformações
econômicas e sociais da época – crescimento do eleitorado urbano, melhoria dos
meios de comunicação entre a zona urbana e a zona rural, início do processo de
industrialização oportunizado pela Primeira Guerra Mundial, com utilização de mão-
78
de-obra imigrante de tendências anarquistas – são alguns dos fatores que
concorrem para a corrosão do pacto coronelista, possibilitando a formação da Alian-
ça Liberal24 , que aglutina os segmentos insatisfeitos da classe dominante, com o
Núcleo de Educação a Distância - UFMA
apoio das classes populares urbanas, num conjunto de forças heterogêneas que de-
terminará um estilo conciliatório de governo, caracterizado por uma política de com-
promissos que não contempla os diferentes interesses em jogo (Cunha, 1991).
No interior do grupo revolucionário distinguem-se duas correntes principais:
• Os que desejavam apenas uma troca de pessoas no poder (militares
superiores, parcela dos plantadores de café e parte da elite de oposição que visava a
conquista do poder).
• Os que se propunham a lutar por mudanças mais profundas (os “Te-
nentes”, os intelectuais desiludidos e as massas populares). (Romanelli, 1991).
A meta da industrialização oferece o elemento unificador que cimenta os
diferentes interesses representados na Aliança Liberal. Um modelo centralizador e
intervencionista de política econômica articula-se a uma ideologia nacionalista para
efetuar as transformações necessárias à consolidação da etapa de substituição de
importações que vai se iniciar com a produção de bens de consumo não duráveis,
baseada em capitais extensivos com participação equilibrada de capitais nacionais
e estrangeiros.
O período que vai de 1930 a 1937 caracteriza-se por uma tendência de-
mocratizante, quando as camadas dominantes acatam as demandas das camadas
médias por liberdade de organização, representação e expressão, como forma de
alcançar a paz social por meio de reformas. Ocorrem nesse período movimentos so-
ciais de orientações diversas, tais como a Revolução Constitucionalista em S. Paulo,
a Intentona Comunista no Rio Grande do Norte e a Aliança Integralista de coloração
fascista, com alcance nacional.
Com a instalação do Governo Provisório, cria-se o Ministério da Educação e
Saúde, tendo à frente Francisco Campos, que, através de uma série de decretos se
propõe a efetuar uma reforma que proporcione organicidade ao sistema de ensino,
cuja estrutura, até então fragmentária e desarticulada, ressentia-se da ausência de
uma política nacional.
O contexto da época proporciona a discussão da questão educacional, uma
vez que estava em gestação um novo modelo de desenvolvimento e de sociedade
que, em muitos aspectos se contrapunha à velha sociedade oligárquica. O caráter
heterogêneo da Aliança Liberal determinava a ausência de um corpo doutrinário
definido, estimulando a eclosão de lutas ideológicas no interior do bloco no poder.
No que diz respeito à educação, a polarização se dá entre os representantes da nova
ordem que se deseja implantar – os chamados Pioneiros da Educação Nova – e os
grupos ainda ligados à velha sociedade em extinção, que ficaram conhecidos como
a Ala Católica. Os primeiros, organizados na Associação Brasileira de Educação,
24 Coligação oposicionista de âmbito nacional formada no início de agosto de 1929 por iniciativa
de líderes políticos de Minas Gerais e Rio Grande do Sul com o objetivo de apoiar as candidaturas
de Getúlio Vargas e João Pessoa respectivamente à presidência e vice-presidência da República nas
eleições de 1º de março de 1930.
26 O laicismo é uma doutrina filosófica que defende e promove a separação entre Estado e Igreja,
assim como a neutralidade do Estado em matéria religiosa. Não deve ser confundido com ateísmo de
Estado. Os valores principais do laicismo são a liberdade de consciência, a igualdade entre cidadãos
em matéria religiosa e a origem humana e democraticamente estabelecida das leis do Estado.
“... a reintrodução do ensino religioso nas escolas, a assistência religiosa aos quadros
militares, a subvenção oficial através de verbas e a atuação no meio operário. Com
isso, pretendia-se um novo encontro dos valores da sociedade capitalista com os
valores religiosos, a princípio sem os vestígios da influencia maçônica positivista e
depois contra o perigo de uma revolução socialista.” (Idem, ibidem)
“ Certos os seus grandes homens, que unicamente pela educação é possível criar
uma Nação e engrandecer um povo. Educar é também o problema fundamental do
Brasil; resolvendo-o, teremos resolvido afinal os nossos destinos.”
em julho de 1949.
A segunda fase das discussões inicia-se somente em 1956 quando o processo
da LDB já contava com 14 documentos, entre projetos, pareceres e emendas. Em
meio a marchas e contramarchas na tramitação, um substitutivo apresentado pelo
deputado Carlos Lacerda levanta a questão da liberdade de ensino, que vai polarizar
os debates daí para frente.
Entendendo que, ao defender a escola pública, leiga e gratuita, o projeto ori-
ginal feria os interesses das escolas confessionais, os católicos reacendem a polêmica
sobre o ensino religioso, a partir de um entendimento peculiar de “liberdade de en-
sino” como sendo o direito das famílias de escolherem o tipo de educação que que-
rem para seus filhos, independente de sua condição econômica, devendo o Estado,
através de bolsas de estudos, assegurar-lhes esse direito. Tal direito estava ameaçado
a partir do momento em que os pais tinham que enviar seus filhos para uma escola
pública laica, cuja filosofia não se coaduna com seus princípios religiosos, visto não
poderem fazer face às despesas com a escola particular, confessional, caso o Estado
deixasse de subvencioná-la. Essa situação constituía, além do mais, uma injustiça
para as famílias católicas, que tinham que custear duas vezes a educação de seus
filhos: uma vez contribuindo com os impostos para a manutenção do ensino público
e outra vez, arcando com as despesas da freqüência dos filhos à escola particular
cuja orientação estivesse de acordo com suas convicções religiosas. Nesse sentido,
a gratuidade do ensino primário e secundário se impõe diretamente para as escolas
do Estado e indiretamente para as particulares, pois ao Estado cabe assegurar meios
para que a escola, pública ou particular, atinja seus fins.
Na realidade, o que estava em jogo era a destinação dos recursos públicos
para a manutenção do ensino. Os católicos acusavam os defensores da escola pú-
blica de pretenderem implantar o monopólio estatal no ensino, acusação completa-
mente descabida, uma vez que a maioria das escolas de nível médio e superior no
Brasil era particular.
Cumpria, portanto, ao Estado, primordialmente criar e manter um sistema
de ensino que atendesse à maioria da população e, secundariamente, favorecer a
iniciativa particular. Nisso não havia nenhuma coação à liberdade de ensino.
Um outro aspecto da liberdade de ensino como a entendiam os católicos é
explicitado por Roque Spencer Maciel de Barros, um dos signatários do Manifesto de
1932, ao esclarecer que a Igreja se auto-proclamava detentora da verdade eterna e
imutável, não admitindo a liberdade de ensinar aquilo que por ela era considerado
“erro”.
Anísio Teixeira, em sua defesa da escola pública, esclarece que não se trata
de defender o monopólio estatal em matéria de educação, mas de uma concepção
liberal democrática em que a escola pública seria o local de encontro de todos os
brasileiros, independente das diferenças de classe ou raça, para uma formação co-
mum, igualitária e unificadora, mesmo que depois venham a ocorrer separações.
Seria função da escola pública, segundo ele, a aproximação social e destruição de
ATIVIDADES AVALIATIVAS
1. A Revolução de 1930 é um marco na história do Brasil. Descreva
sinteticamente as transformações econômicas, sociais e políticas que caracterizaram
esse momento.
2. Quais questões movimentaram o debate educacional no período de
1930 a 1937? Caracterize os interlocutores, os interesses em jogo e as consequências
para a educação brasileira.
3. Destaque as principais realizações do Estado Novo em matéria de
educação, enfatizando a questão do dualismo.
4. Qual o tratamento dado pelo governo ao ensino primário durante a
Era Vargas?
5. No contexto da discussão sobre as diretrizes e bases da educação na-
cional a partir de 1946, desencadeia-se uma Campanha em Defesa da Escola Públi-
ca. Como se desenvolve essa Campanha, quais os seus interlocutores e os temas em
debate?
ALMEIDA, Maria das Graças Andrade Ataíde de. Estado Novo: projeto político pe-
Núcleo de Educação a Distância - UFMA
dagógico e a construção do saber. Rev. bras. Hist., São Paulo, v. 18, n. 36, 1998.
CUNHA, Luiz Antonio Rodrigues da. Educação, Estado e Democracia no Brasil. São
Paulo, Cortez/EDUFF/FLACSO, 1991.
do regime ditatorial instalado, sendo presos seus líderes. O mesmo acontece com as
demais iniciativas de educação popular em execução por todo o país. Em relação a
isso, assim testemunha Carlos Rodrigues Brandão
Não houve tempo para passar das primeiras experiências para os trabalhos de am-
plo fôlego com a alfabetização de adultos. Em fevereiro de 1964, o governo do
Estado da Guanabara apreendeu na gráfica, milhares de exemplares da cartilha do
Movimento de Educação de Base: Viver é Lutar. Logo nos primeiros dias de abril, a
Campanha Nacional de Alfabetização, idealizada sob direção de Paulo Freire, pelo
governo deposto, foi denunciada publicamente como “perigosamente subversiva”.
Em tempo de baioneta a cartilha que se cale. Aqueles foram anos — cada vez
piores, até 1968 — em que por toda a parte, educadores eram presos e trabalhos
de educação, condenados. Paulo Freire foi um dos primeiros educadores presos e,
depois, exilados. Foi para o Chile com a família, o sonho e o método. Todos exilados
do país por 16 anos. (BRANDÃO, 1984)
Esse foi um capítulo especial da história das lutas populares pela educação no
Brasil, que ainda não foi suficientemente registrado pela historiografia da educação
nacional. Incluímos na bibliografia algumas referências relacionadas ao tema para os
que desejarem aprofundar o estudo do mesmo.
Vale destacar a contradição entre a interrupção dessas experiências e a cria-
ção posterior do Mobral com o mesmo objetivo de alfabetizar a população, utilizan-
do de forma distorcida a metodologia de Paulo Freire pelo Mobral, onde se manteve
a técnica da palavra geradora com conteúdo ideológico alienante, de louvor às su-
postas características democráticas do regime e ao discurso do Brasil como potência
do futuro, salvaguardado por suas elites civis e militares.
ATIVIDADE PROPOSTA
REFERÊNCIAS
CUNHA, Luiz Antonio e GÓES, Moacir de. O Golpe na Educação. Rio de Janeiro,
Jorge Zahar Editor Ltda., 2002.
CAPÍTULO
PÓS-1964
minante no país com o surto de industrialização propiciado pela política econômica
de substituição de importações. A década se inicia com a eleição de Jânio Quadros
para a presidência da república, que apesar de eleito por um partido de elite – a
União Democrática Nacional (UDN)31, tinha como vice, João Goulart (Jango), do
Partido Trabalhista Brasileiro (PTB)32.
Dessa forma, a dupla Jânio-Jango personificava a própria contradição que
estivera latente na política brasileira durante toda a chamada Era Vargas, entre o
nacionalismo político de conotações populistas33 que acenava para o atendimento
de reivindicações das massas e a política econômica voltada para a industrialização
com a participação de capitais estrangeiros.
Depois de empossado, Jânio começa a inclinar-se para o nacionalismo, agin-
do contra os interesses da UDN, que, sentindo-se enganada, passa a atacá-lo, es-
pecialmente através do seu líder, Carlos Lacerda. Não suportando a pressão e não
tendo cultivado o apoio do povo, Jânio renuncia após sete meses de governo, desen-
cadeando uma crise política, pois os setores da burguesia não admitiam a posse de
Jango, sob a alegação de que ele tinha tendências políticas esquerdistas (na ocasião
da renúncia, Jango estava em visita à China comunista). A posse de Jango somente
foi aceita pelas elites e pelos três ministros militares após movimentos de resistência
encabeçados por Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, e, ainda
assim, após o estabelecimento do regime parlamentarista em que os poderes consti-
tucionais do presidente são reduzidos.
32 PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) – criado por GV com o objetivo de captar o apoio e os
votos do operariado. Base: a infra-estrutura sindical de caráter corporativista montada por Vargas e
constituída de uma liderança dócil.
33 O termo populismo é utilizado para designar um conjunto de práticas políticas que consiste
no estabelecimento de uma relação direta entre as massas e o líder carismático (caudilho), sem a
intermediação de partidos políticos. Assim, o “povo”, como categoria abstrata, é colocado no centro
da ação política, independentemente dos canais próprios da democracia representativa. (Wikipédia)
102
O pequeno período do governo de Jango (1961 -1963) foi muito conturba-
do. Sem apoio dos partidos mais fortes (UDN e PSD), Jango busca apoio nos sindi-
catos e movimentos sociais que começavam a se fortalecer. As chamadas Reformas
Núcleo de Educação a Distância - UFMA
34 Saviani justifica a utilização dessa expressão: “Preferimos utilizar aquela expressão para ca-
racterizar o regime implantado no Brasil em decorrência do golpe militar de 1964, porque tal golpe
fora justificado como necessário para salvar a democracia, proclamando-se, por sua vez, o referido
regime, não apenas como democrático, mas como guardião da democracia.” SAVIANI, 1988.
35 O AI-5 dava amplos poderes ao executivo, inclusive para decretar o fechamento do Congresso
Nacional, Assembléias Legislativas e Câmaras de Vereadores, intervir nos estados, cassar mandatos
de deputados federais, estaduais e vereadores, proibia manifestações populares de caráter político,
suspendia o direito de habeas corpus, impunha censura prévia para jornais, revistas, livros, músicas
e peças de teatro.
37 Série de acordos produzidos, nos anos 1960, entre o Ministério da Educação brasileiro (MEC)
e a United States Agency for International Development (USAID). Visavam estabelecer convênios de
assistência técnica e cooperação financeira à educação brasileira. Entre junho de 1964 e janeiro de
1968, período de maior intensidade nos acordos, foram firmados 12, abrangendo desde a educação
primária (atual ensino fundamental) ao ensino superior. O último dos acordos firmados foi no ano de
1976. In: http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/glossario/verb_c_mec-usaid%20.htm, con-
sultado em 11/08/2012.
38 Sua origem está ligada ao surgimento da disciplina Economia da Educação, nos Estados
Unidos, em meados dos anos 1950. Theodore W. Schultz, professor do departamento de economia
da Universidade de Chicago à época, é considerado o principal formulador dessa disciplina e da
idéia de capital humano. Esta disciplina específica surgiu da preocupação em explicar os ganhos de
produtividade gerados pelo “fator humano” na produção. A conclusão de tais esforços redundou na
concepção de que o trabalho humano, quando qualificado por meio da educação, era um dos mais
importantes meios para a ampliação da produtividade econômica, e, portanto, das taxas de lucro
do capital. Aplicada ao campo educacional, a idéia de capital humano gerou toda uma concepção
tecnicista sobre o ensino e sobre a organização da educação, o que acabou por mistificar seus reais
objetivos. Sob a predominância desta visão tecnicista, passou-se a disseminar a idéia de que a edu-
cação é o pressuposto do desenvolvimento econômico, bem como do desenvolvimento do indivíduo,
que, ao educar-se, estaria “valorizando” a si próprio, na mesma lógica em que se valoriza o capital.
O capital humano, portanto, deslocou para o âmbito individual os problemas da inserção social, do
emprego e do desempenho profissional e fez da educação um “valor econômico”, numa equação
perversa que equipara capital e trabalho como se fossem ambos igualmente meros “fatores de produ-
ção” (das teorias econômicas neoclássicas). Além disso, legitima a idéia de que os investimentos em
educação sejam determinados pelos critérios do investimento capitalista, uma vez que a educação
é o fator econômico considerado essencial para o desenvolvimento. Em 1968, Schultz recebeu o
prêmio Nobel de Economia pelo desenvolvimento da teoria do capital humano. http://www.histedbr.
fae.unicamp.br/navegando/glossario/verb_c_teoria_%20do_capital_humano.htm, consultado em 28
de agosto de 2012.
41 Conjunto de trabalhadores que não encontram lugar no mercado de trabalho, cuja função
é desestimular a reivindicação dos trabalhadores por maiores salários, mesmo em situações onde o
volume absoluto de força de trabalho empregada é crescente. Isto porque os capitalistas sabem (e os
trabalhadores também) que podem despedir muitos dos trabalhadores que empregam e contratar, no
seu lugar, outros oriundos do Exército Industrial de Reserva pelas mesmas condições. (Cunha, Op.
Cit. p. 266).
de ditadura militar, outros ainda de ditadura civil-militar. Por outro lado, os militares,
que ascenderam ao poder e comandaram o país por vinte anos, recusavam essas
denominações, e preferiam considerar sua intervenção como Revolução de 1964,
que teria tido a finalidade de impedir a instauração no país de um regime totalitário
de esquerda.
A polêmica se estende às realizações dos governos militares. Enquanto seus
críticos enfatizam a repressão, a tortura, a concentração de renda, o arrocho sa-
larial, seus defensores exaltam as grandes realizações no campo da infraestrutura,
como a construção de rodovias, portos, usinas nucleares e hidrelétricas, o “milagre
econômico”, iniciativas voltadas para a proteção do trabalhador, como o FGTS, o
PIS e o PASEP, a criação do Sistema Nacional de Habitação, Pró-Álcool, SUDENE
e SUDAM, Zona Franca de Manaus, e outras iniciativas no campo financeiro, todas
necessárias para a modernização do país e sua inserção no capitalismo mundial.
No campo educacional, Saviani considera como heranças do regime militar
a vinculação da educação pública aos interesses e necessidades do mercado, o fa-
vorecimento da privatização do ensino, a institucionalização da pós-graduação e a
implantação de uma estrutura organizacional que se consolidou e se encontra em
plena vigência, em que pesem as mudanças operacionalizadas no período subse-
quente. (Saviani, 2008)
A visão produtivista da educação se consolidou sob a influência da USAID
de mãos dadas com o empresariado nacional e até hoje permanece fundamentando
as políticas educacionais, apesar das críticas constantes dos setores progressistas.
Quanto à estrutura organizacional do ensino, foi mantida na LDB 9.394/96, com
um ensino fundamental de 8 anos, seguido de 3 anos de ensino médio. Também o
currículo na LDB manteve o formato consagrado na Lei 5.692/71, com um núcleo
comum, de abrangência nacional e uma parte diversificada, para atender às diferen-
ças regionais. As modificações ficaram por conta da retirada da Educação Moral e
Cívica e do retorno das disciplinas em substituição às áreas de estudo.
No que se refere à privatização, observou-se que esta ocorreu predominan-
temente no ensino superior com um crescimento de 744%, constatando-se que,
ao final dos governos militares, tínhamos a seguinte situação: entre 1964 e 1973,
enquanto o ensino primário cresceu 70,3%; o ginasial, 332%; o colegial, 391%;
o ensino superior foi muito além, tendo crescido no mesmo período 744,7%. E o
grande peso nessa expansão se deu por conta da iniciativa privada: entre 1968 e
1976, o número de instituições públicas de ensino superior passou de 129 para 222,
enquanto as instituições privadas saltaram de 243 para 663 (idem, ibid., p. 112).
É inegável, portanto, que se deu uma expansão do sistema em todos os ní-
veis, dada a importância fundamental da educação para o desenvolvimento, seja
qual for o regime político e ideológico. O que se discute são as características do
sistema que se expandiu: sua qualidade e a permanência da dualidade, pela coexis-
tência de trajetórias educacionais distintas de acordo com a origem sócio-econômica
da clientela, como também, a grande abertura para a privatização e o caráter tecni-
ATIVIDADES AVALIATIVAS
BIBLIOGRAFIA
Núcleo de Educação a Distância - UFMA
VÍDEOS SUGERIDOS
EDUCAÇÃO
Após dez anos, o regime autoritário instaurado no país em 1964, começa a
perder força por diversas razões, as principais relacionadas ao contexto sócio-eco-
nômico, caracterizado pelo esgotamento do chamado “milagre brasileiro”, período
de crescimento econômico que, no decorrer da década de 70, até o início da crise
internacional do petróleo, constituíra a base de sustentação da ditadura militar, na
implementação do modelo de desenvolvimento dependente em relação ao capital
externo. Com a escalada sempre crescente do processo inflacionário, a teoria do
“crescimento do bolo”42, cunhada pelo Ministro Delfim Neto, torna-se indefensável,
ante o progressivo avanço da exclusão social, o que vai se configurar como um dos
fatores de inviabilização do governo autoritário.
A crise econômica intensifica a instabilidade política no país, ocasionan-
do uma crise de hegemonia no âmbito do regime, que perde sustentação política.
Manifesta-se, assim a necessidade de mudanças na forma de exercício do poder,
tendo em vista a manutenção da dominação de classe. O regime busca apoio no
povo, “em um complexo processo dialético de concessão e conquista” (GERMANO,
2000), concorrendo, assim para o fortalecimento da sociedade civil.
A contradição interna do bloco no poder manifesta-se na existência de duas
facções entre os militares – a linha dura, representada pelos que defendiam a conti-
nuidade do regime e até o aprofundamento de sua face mais autoritária e uma ala
que defendia sua liberalização rumo à redemocratização do país. Na verdade, o pró-
prio contexto internacional estava mudando e os Estados Unidos, que no decorrer
da década de 1960 havia apoiado a instauração de governos ditatoriais na América
Latina, começava a adotar posição contrária, apresentando-se como paladino da
democracia.
42 Tese defendida pelos economistas do regime militar de que era necessário assegurar o aumento
da riqueza nacional antes de repartir os benefícios do desenvolvimento.
116
Instaura-se, portanto, um processo de transição, com a posse do General
Ernesto Geisel na presidência da República, em 1974 e que vai até o término do
governo do General João Figueiredo, em 1984, e a eleição de Tancredo Neves, em
Núcleo de Educação a Distância - UFMA
a qualidade.
As lutas dos setores populares, sobretudo dos educadores militantes, se for-
talecem e se manifestam de formas diversas, como os movimentos grevistas que se
intensificam entre os anos de 1978 e 1979, o fortalecimento dos sindicatos e as or-
ganizações corporativas (como a CNTE – Confederação Nacional dos Trabalhadores
da Educação, antiga CBP – Confederação Brasileira de Professores) por meio da
reivindicação não só dos direitos da categoria, mas também dos direitos do povo a
uma escola de qualidade mantida pelo poder público.
Importante contribuição é propiciada nesse momento pela produção teórica
elaborada no âmbito da pós-graduação, em teses e dissertações voltadas para a
compreensão da problemática educacional do país em relação com a realidade polí-
tica, econômica e social. A qualidade dessa produção é comprovada pelo reconheci-
mento da prestigiada Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que
a partir de 1980 abre espaço em suas reuniões anuais para discussão das questões
educacionais. Várias entidades científicas são criadas como a ANPEd (Associação
Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação), em 1977; o Centro de Estu-
dos Educação e Sociedade (CEDES), em 1978 e a ANDE (Associação Nacional de
Educação), em 1979. Essas entidades passarão a desempenhar papel decisivo nos
embates que se desenrolarão durante as décadas seguintes, como veremos.
A mobilização dos docentes dos três níveis de ensino, no âmbito econômi-
co-corporativo e acadêmico-científico (SAVIANI, 2007), resultou na realização das
Conferências Brasileiras de Educação (CBEs), bienalmente durante toda a década
de 1980, constituindo-se em espaços de discussão e divulgação de diagnósticos,
análises, críticas e, sobretudo, formulação de propostas para a construção de uma
escola pública de qualidade (SAVIANI, 2007). Portanto, a década de 1980 reedita o
clima de efervescência em defesa da escola pública, obrigatória e gratuita, já viven-
ciado nas décadas de 1930 e 1950, acrescendo-se agora a exigência da qualidade.
Acesso e permanência com qualidade foi a palavra de ordem dos movimentos dos
educadores nesse período. A democratização das estruturas de poder, tanto no âmbi-
to do sistema como no da unidade escolar, foi outro tema privilegiado no debate da
década e que deu origem a mudanças importantes, como veremos adiante.
47 Buscando ampliar a discussão, o novo Fórum aglutina novas entidades e organiza também
núcleos nos estados – os Fóruns Estaduais em Defesa da Escola Pública.
COMPREENDENDO...
48 Conceito desenvolvido por João Bernardo (2000) em contraposição ao Estado Restrito, carac-
terizado como conjunto de instituições que compõe o governo, o parlamento e os tribunais, ou seja,
os poderes executivos, legislativos e judiciário. O Estado Amplo, conforme o autor, é representado
pelos poderes da economia, mais especificamente das empresas, ou seja, se qualquer exercício de um
poder soberano é , por si só, uma atividade política e a organização da economia ( das empresas) é
ela própria, diretamente, um poder político, então o seu âmbito de ação é muito vasto. As empresas
podem ser consideradas parte do Estado Amplo na medida em que “ o governo, o parlamento e os tri-
bunais reconhecem aos proprietários privados e aos gestores uma enorme latitude na administração,
na condução e punição da força de trabalho, ou seja, reconhecem-lhes uma verdadeira soberania.”
50 Jornal do Brasil, 31 de agosto de 1994, p.13 - Especialista critica rumo da educação; Jornal
Em Defesa da Escola Pública, p.4 - Plano Decenal Atropela LDB.
oficial, e sua discussão foi percebida como mais uma tarefa formal a ser cumprida,
uma vez que não havia qualquer relação orgânica dos docentes com a proposta nele
apresentada.
O objetivo mais amplo do Plano era “assegurar, até ao ano 2003, a crianças,
jovens e adultos, conteúdos mínimos de aprendizagem que atendam às necessi-
dades elementares da sociedade contemporânea” (BRASIL/MEC, 1993) e coloca
como horizonte a reconstrução do sistema de educação básica. Apresenta-se mais
como uma declaração de intenções e justifica as indefinições como flexibilidade e
abertura aos novos aperfeiçoamentos.
Deveria servir de referência aos estados e municípios para elaboração de
seus planos, nos quais as metas globais de ação seriam detalhadas, como também
nos projetos pedagógicos das escolas que “elegerão as estratégias específicas mais
adequadas em cada contexto à execução dos objetivos globais do Plano.” (MEC,
Plano Decenal, 1994: p.15)
Dentre as Metas Globais destacam-se: elevar para 94% a cobertura da popu-
lação em idade escolar, regularizar o fluxo escolar pela redução da repetência de 1ª
a 5ª série, extensão do PRONAICA a 1,2 milhões de crianças e adolescentes, am-
pliação progressiva da participação da educação no PIB até o índice de 5,5% (em
92 era de 3,8%), implantação de novos esquemas de gestão nas escolas públicas
(concedendo-lhes autonomia financeira, administrativa e pedagógica), revisão crí-
tica dos cursos de licenciatura e escola normal, dotar as escolas urbanas e rurais de
condições básicas de funcionamento, aumentar progressivamente a remuneração do
magistério público, descentralizar progressivamente os programas do livro didático e
da merenda escolar.
Concluindo
51 Programa de mobilização social do Ministério da Educação (MEC), lançado em março de 1995, com o
objetivo de incentivar parcerias da sociedade civil com o poder público, como forma de melhorar a qualidade
do ensino e divulgar ações educacionais inovadoras em todo o país. As ações incluem programas educacionais,
intercâmbios, premiações, repasse de tecnologia e equipamentos, treinamento, valorização do professor, pales-
tras, seminários e outros eventos. As experiências de êxito, tanto no sistema público como privado e também
os desenvolvidos pelo terceiro setor ou organizações não-governamentais, são registrados num Banco de Ações
Educacionais (BAE).(MENEZES, 2002)
52 Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/politicas-publicas/analfabetismo-dez-anos-depois-nao-saimos-
-lugar-
BRASIL, MEC. Plano Decenal de Educação para Todos. Brasília, MEC, 1993.
GERMANO, José Willington. São Paulo, Cortez, 1993. Estado militar e educação no
Brasil: 1964-1985
MENEZES, Ebenezer Takuno de SANTOS, Thais Helena dos. “Acorda, Brasil. Está
na Hora da Escola!” (verbete). Dicionário Interativo da Educação Brasileira - Edu-
caBrasil. São Paulo: Midiamix Editora, 2002, http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/
dicionario.asp?id=99, visitado em 3/9/2012.
NEVES, Lúcia Maria Wandeley. Educação e Política no Brasil de Hoje. São Paulo,
Cortez, 1994, (Coleção Questões de Nossa Época, v.36).
____________________________ (coord). Políticas Educacionais nos Anos 90: De-
terminantes e Propostas. Recife, Ed. Universitária da UFPE, 1995.