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CEARÁ
Bolsistas Bolsistas
ORGANIZADORES
Inclui bibliografia.
ISBN: 978-65-00-00169-3
CDU 613.2
Boa leitura!
LISTA DE SIGLAS
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Capítulo 1
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5) Os pontos de chegada – em que abordaremos os desafios
encontrados durante o percurso, e as conclusões práticas
decorrentes do aprendizado com a experiência, bem como as
contribuições do projeto para o fortalecimento do SISAN.
Esta sistematização baseia-se numa concepção metodológica
dialética “que entende a realidade histórico-social como uma totalidade, como
processo histórico: a realidade é, ao mesmo tempo, una, mutante e contraditória
porque é histórica; porque é produto da atividade transformadora, criadora dos
seres humanos” (HOLLIDAY, 2006, p. 8).
A EXPERIÊNCIA EM FOCO
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mecanismos de gestão do SISAN, implementação da Política Nacional de
Segurança Alimentar e Nutricional (PNSAN) e realização do Direito Humano à
Alimentação Adequada (DHAA)” (BRASIL, 2013).
Em nível nacional, o Programa de Segurança Alimentar e Nutricional
compôs o Plano Plurianual (PPA) do período 2012–2015, que contemplou entre
seus objetivos a realização de ações de promoção da institucionalização e
fortalecimento da gestão do SISAN, bem como o apoio a elaboração de planos
estaduais e municipais de segurança alimentar e nutricional. Dessa forma, a
referida Chamada Pública se deu no âmbito do Programa Temático - 2069:
Segurança Alimentar Nutricional, na Ação – 8624: Apoio à Implantação e Gestão
do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (BRASIL, 2011).
Pelas normas da chamada pública os projetos apresentados deveriam
contemplar mais de um estado (conforme os grupos de estados constantes do
edital que cobriam todos os estados e o distrito federal) e contar com o
conhecimento do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA) e
da Câmara Intersetorial de Segurança Alimentar e Nutricional (CAISAN) do
estado sede da universidade proponente. O lote de estados em que a
Universidade Estadual do Ceará (UECE) propôs era composto pelo Ceará, Piauí
e Maranhão.
O incentivo para a UECE elaborar um projeto para concorrer à
chamada pública partiu da CAISAN-CE, na pessoa de sua secretária executiva,
que assim se expressa em relação ao fato:
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Desenvolvimento Social (STDS) atualmente Secretaria de Proteção Social,
Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS), principalmente na
elaboração de uma das metas, a que trata da construção de um software de
monitoramento da implantação do SISAN nos municípios, denominado
AcompanhaSisan. No decorrer do projeto, houve a perda de parceria com a UFC,
por motivo de aposentadoria das professoras que participaram do projeto até o
ano de 2016.
Dada a exigência da chamada pública do projeto ser proposto pela
universidade, a coordenação do mesmo ficou sob a responsabilidade de duas
professoras, assim, contou com uma coordenação acadêmica e uma
operacional, sendo esta última representada pela professora que submeteu a
proposta.
Conforme a chamada pública, após apresentadas, as propostas
passavam por uma etapa de seleção, depois de selecionadas se dava início ao
processo de habilitação concluído com a formalização do convênio com o MDS.
Durante o processo habilitação o projeto passou por uma fase de ajustes,
momento em que contamos com a colaboração de um técnico do MDS e
integraram-se à equipe na UECE mais uma professora como assessora da
coordenação operacional e a presidente do CONSEA-CE. O projeto foi
formalizado por meio do Convênio MDS/UECE publicado no DOU nº 8 de 13 de
janeiro de 2015 (BRASIL, 2015).
Após a etapa de habilitação, houve um encontro das universidades
selecionadas em Brasília, da qual participaram a secretária executiva da
CAISAN-CE e a coordenadora acadêmica do ConsolidaSisan. Esta foi a primeira
oportunidade de conversar presencialmente com representantes dos CONSEA
e CAISAN dos estados do Piauí e Maranhão, pois anteriormente, durante a fase
de elaboração do projeto, essa articulação foi tentada, mas não logrou êxito.
Contudo, ainda durante a fase de elaboração foi realizado contato com os Cursos
de Nutrição das universidades federais do Piauí e Maranhão e identificadas em
cada uma das professoras que se interessaram pelo projeto, já contando,
portanto, desde aí, com essa articulação entre as universidades.
A participação da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e da
Universidade Federal do Maranhão (UFMA) no projeto ocorreu a partir da
instituição de parceria com a FUNECE/UECE, por intermédio de instrumento de
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cooperação acadêmica e científica entre as suas respectivas áreas de atuação,
visando o desenvolvimento do referido projeto nos estados do Ceará, Piauí e
Maranhão no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Saúde da
UECE e dos Departamentos de Nutrição de ambas universidades e, sendo
previstas a realização de atividades relacionadas à Segurança Alimentar e
Nutricional, o que favoreceria o intercâmbio entre profissionais e acadêmicos nas
áreas de interesse comum, voltadas para o ensino, pesquisa e extensão,
assinado pelos gestores das respectivas Instituições de Ensino Superior (IES).
As Universidades concordaram em desenvolver o projeto, visando:
a) Realizar pesquisas no campo da Segurança Alimentar e
Nutricional, elaboração e divulgação de trabalhos científicos
em eventos da área e afins;
b) Realizar oficinas, os encontros de planejamento e avaliação
das atividades;
c) O fortalecimento do SISAN nos três Estados.
Em março de 2015, foi realizado o primeiro seminário, em
Fortaleza-CE, envolvendo representações do Maranhão, Piauí e Ceará,
visando a apresentação do Projeto ConsolidaSisan e do plano de trabalho.
Na oportunidade, foi discutido e acordado, entre as universidades
parceiras, a realização de uma pesquisa em SAN, em cada estado, durante
a V Conferência Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional, que será
apresentada posteriormente. Em dezembro de 2015 e fevereiro de 2016
realizamos o segundo e terceiro seminário nos Estados do Maranhão e
Piauí respectivamente, com o objetivo de apresentar o projeto para os
demais parceiros nos estados e o quadro situacional da SAN, para posterior
construção do diagnóstico do SISAN. É válido ressaltar que no Maranhão
houve a socialização dos resultados preliminares da pesquisa realizada
pela UFPI sobre o perfil dos delegados da V Conferência Estadual de
Segurança Alimentar e Nutricional.
Ainda em 2016, conforme previsto no Projeto ConsolidaSisan,
foram selecionados e contratados bolsistas de apoio às atividades do
projeto, os quais foram incorporados às equipes de cada estado. Assim, as
atividades do projeto, foram planejadas e realizadas de forma participativa
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entres as três equipes, sendo a equipe do Ceará responsável pela
coordenação geral.
O termo consolidação do título do projeto foi escolhido na
perspectiva de que este propõe fortalecer o SISAN dos estados do Ceará, Piauí
e Maranhão, ou seja:
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O segundo objetivo visou desenvolver e implantar um sistema online
para acompanhamento da implantação dos componentes do SISAN nos
municípios do Ceará, Piauí e Maranhão. Para tanto, realizou-se a elaboração do
software, o desenvolvimento do banco de dados e a capacitação dos atores
locais para sua utilização.
O terceiro objetivo contemplou a capacitação de gestores públicos,
conselheiros e representantes da sociedade civil no âmbito municipal para
incentivar a elaboração e/ou revisão dos planos municipais de Segurança
Alimentar e Nutricional, visando a efetivação da adesão ao SISAN. Sua
realização envolveu três oficinas, uma por estado, para elaboração/revisão dos
planos municipais de SAN.
O quarto objetivo foi assessorar os CONSEA e as CAISAN nos
estados e municípios no desenvolvimento e implantação de metodologias,
mecanismos institucionais e ferramentas para o monitoramento e avaliação dos
PLANSAN, no âmbito dos sistemas estaduais e municipais de SAN. Para sua
efetivação, foram realizados mapeamento dos modelos, ferramentas e
mecanismos institucionais e de tecnologia de informação existentes para
monitoramento e avaliação dos PLANSAN nos municípios dos estados do CE,
PI e MA; capacitação de gestores e conselheiros nos três estados para o
desenvolvimento e implantação das ferramentas de monitoramento e avaliação
dos PLANSAN e da Política de SAN nos municípios; elaboração e distribuição
de material educativo para os CONSEA e CAISAN estaduais e municipais nos
três estados e estruturação de um núcleo de produção técnico-científica de
referência regional na área de SAN.
Com esta sistematização esperamos refletir criticamente sobre o
processo vivido, no âmbito da execução operacional, bem como racionalizar os
problemas e dificuldades enfrentadas neste percurso, propor caminhos de
superação e também realçar os êxitos obtidos. Na perspectiva acadêmico, a
sistematização poderá contribuir para refletir criticamente sobre as
potencialidades e desafios encontrados durante a experiência de fortalecimento
do SISAN nos estados parceiros.
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O PROCESSO VIVIDO
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Além dos parceiros do Projeto ConsolidaSisan, estiveram presentes
conselheiros do CONSEA - MA e integrantes da CAISAN-MA, representantes da
Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Agricultura Familiar (SEDES)
e Secretaria Adjunta de Segurança Alimentar e Nutricional do Maranhão (SASAN),
além de algumas representações políticas do estado.
O diagnóstico dos componentes do SISAN nos estados do Ceará,
Piauí e Maranhão realizado pelo projeto, levantou as informações sobre os
marcos regulatórios e sobre os Planos de SAN, inclusive os processos de
construção, estrutura, desafios e principalmente, observou-se as deliberações
das conferências, como elemento fundante a ser contemplado nos planos, bem
como sua vinculação ao PPA do governo estadual e por fim, trazendo a
oportunidade para que pesquisadores, gestores e representantes da sociedade
civil avaliassem de forma coletiva o quadro apresentado e levantassem
propostas sobre o que poderia ser melhorado. Ressaltamos que no Ceará já
estava em execução o segundo PLANSAN (2016-2019), no Maranhão o primeiro
PLANESAN (2012-2015) estava em andamento e o no Piauí o primeiro plano
estava em fase de elaboração.
Neste contexto, foi necessário abordar no seminário em Teresina o
processo de revisão do primeiro PLANSAN-CE e apresentar a experiência das
etapas de elaboração dos planos do Piauí e Maranhão. Essa atividade ocorreu
em setembro de 2016 e dele participaram as três equipes, às quais já haviam se
incorporado os bolsistas; conselheiros e integrantes do CONSEA e CAISAN-PI
e duas técnicas do MDS que expuseram sobre a sua experiência na elaboração,
revisão e monitoramento do PLANSAN nacional. Além disso, foi realizada
avaliação das etapas cumpridas e planejamento das próximas oficinas.
Paralelamente, um bolsista foi selecionado para desenvolvimento do
software. Sua primeira tarefa foi criar a página do ConsolidaSisan, abrigada no
sítio da UECE, como forma de publicizar e dar transparência às atividades do
projeto. Um aspecto discutido quanto ao objetivo da criação do software, foi a
continuidade da sua operacionalização após o término do projeto, o que depende
unicamente da decisão de cada estado.
A etapa seguinte foi a realização de oficinas com o objetivo de
capacitar gestores públicos, conselheiros e representantes da sociedade civil no
âmbito municipal para incentivar a elaboração dos Planos Municipais de
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Segurança Alimentar e Nutricional - PLANSAN, visando o fortalecimento do
Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – SISAN. Foi uma etapa
em que se contou com as contribuições dos participantes e a troca de
experiências, trazendo para o debate os avanços e as dificuldades dos
municípios na implementação da agenda de segurança alimentar e nutricional.
O planejamento metodológico foi conduzido pela bolsista de
planejamento e execução de oficinas do Ceará com a participação da equipe,
após a elaboração inicial a proposta foi encaminhada às equipes do Piauí e
Maranhão para sugestões e só então foi finalizada. O critério de inclusão dos
municípios foi a adesão ao SISAN (concluída ou em processo), a sensibilização
e mobilização dos municípios foi realizada pela CAISAN - CE com apoio do
CONSEA-CE.
As oficinas realizadas com carga horária de 16 horas abordaram os
seguintes temas: Segurança Alimentar e Nutricional (conceitos: SAN, SISAN,
Plano e PNSAN); Apresentação do Diagnóstico do SISAN nos três Estados
(Panorama da situação de cada município convidado); Experiência do Estado e
de municípios na elaboração dos Planos de Segurança Alimentar e Nutricional;
Exposição sobre as diretrizes da Política Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional; Experiência municipal de funcionamento da CAISAN e de execução
de programas, projetos e ações de SAN.
Em dezembro de 2017, foi realizada na UECE a primeira oficina com
municípios cearenses e os parceiros dos três estados. Deveriam participar 33
municípios, porém apenas 16 enviaram representantes, integrantes dos
CONSEA e CAISAN, quais sejam: Cariús, Caucaia, Crateús, Fortaleza, Ipueiras,
Itapipoca, Lavras da Mangabeira, Maracanaú, Martinópolis, Monsenhor Tabosa,
Novo Oriente, Pacatuba, Palhano, Paracuru, Piquet Carneiro e São Luís do Curu,
totalizando 51 participantes (UECE, 2018).
Como encaminhamento dessa oficina, foi solicitada a construção de
um Plano de Providências para elaboração dos Planos Municipais de SAN. Essa
atividade buscou contribuir com os municípios em processo de adesão ao
SISAN, no fortalecimento dos marcos regulatórios e com a CAISAN Ceará no
assessoramento realizado junto aos municípios.
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Ao finalizarmos essa oficina, as equipes do Ceará, Piauí e Maranhão
se reuniram para avaliar a oficina realizada e ver se precisava de ajustes para
ser executadas nos outros dois Estados.
A segunda oficina foi realizada em abril de 2018, na sede da
Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB/PI), sob a condução da equipe
no Piauí, com o auxílio das equipes do Maranhão e Ceará, além de órgãos
parceiros como CAISAN/Secretaria de Ação Social e Cidadania, CONSEA, UFPI
e CONAB/PI.
Deveriam participar 26 municípios piauienses, porém apenas 15
enviaram representantes, integrantes dos CONSEA e CAISAN: Teresina, São
Domingos, Água Branca, Curralinhos, Júlio Borges, Acauã, Pimenteiras, Piripiri,
Passagem Franca, Olho D'água, Itainópolis, Sebastião Leal, Santo Antônio dos
Milagres, Brasileira e São Lourenço, totalizando 58 participantes (UECE, 2018).
A terceira oficina foi realizada no Maranhão em maio de 2018.
Estiveram presentes 30 municípios: Lagoa do Mato, Itapecuru Mirim,
Maracaçumé, São Luís, São Mateus, São Raimundo das Mangabeiras, Pastos
Bons, Paço do Lumiar, Fernando Falcão, Nova Iorque, Raposa, Buriti Bravo,
Santa Helena, São José de Ribamar, Estreito, São Pedro dos Crentes, Barra do
Corda, Marajá do Sena, Codó, Tufilândia, São Domingos do Maranhão, Pio XII,
Viana, Grajaú, Santa Filomena, Lima Campos, Imperatriz, Afonso Cunha,
Matões do Norte e Jenipapo dos Vieiras, totalizando 100 participantes (UECE,
2018).
Na execução do plano de SAN, dado o seu caráter intersetorial, uma
questão desafiadora é o monitoramento, isto exige ampla e sólida articulação
entre as diversas áreas administrativas nos níveis estadual e municipal. Assim,
dando seguimento ao projeto, a oficina de monitoramento foi realizada nos três
estados, para assessorar os CONSEA e as CAISAN estaduais e municípios no
desenvolvimento e implantação de metodologias, mecanismos institucionais e
ferramentas para o monitoramento e avaliação dos PLANSAN, no âmbito dos
sistemas estaduais e municipais de SAN.
A oficina com duração de 16 horas pautou-se na elaboração e
proposição de metodologias de monitoramento das ações de SAN;
aperfeiçoamento dos instrumentos já existentes; construção de matriz de
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indicadores e o próprio fortalecimento da ação intersetorial dentro da política
estadual e municipal de SAN.
Foram planejadas conjuntamente com as equipes de cada estado, e
novamente convidados todos os municípios adesos ou em processo de adesão
ao SISAN. Os temas abordados foram: o que é monitoramento, a sua
importância para o acompanhamento das ações, projetos e programas de SAN
e como monitorar as ações de SAN; identificação das ações de SAN nos
municípios e possíveis estratégias de monitoramento; a experiência de
monitoramento do PLANSAN Nacional; monitoramento de ações, projetos e
programas de SAN em âmbito estadual; a experiência de acompanhamento de
ações, projetos e programas em âmbito local; a experiência da construção de
uma matriz de indicadores para o monitoramento do PLANSAN Municipal e
software de Monitoramento do SISAN.
Importante ressaltar que o monitoramento foi uma temática
relativamente nova para a equipe executora do ConsolidaSisan, e o
aprofundamento necessário para subsidiar a capacitação proposta no projeto
envolveu a produção de uma dissertação, cujo objeto de estudo foi a elaboração
de uma matriz de indicadores com potencial para nortear o monitoramento dos
planos municipais (LIMA NETA, 2016) e ainda um estudo em nível de iniciação
científica, cujas atividades se relacionaram à elaboração da referida matriz.
A primeira oficina de monitoramento foi realizada em Fortaleza,
Ceará, no mês de setembro de 2018, dela participaram 110 representantes de
24 municípios cearenses: Alcântaras, Arneiroz, Cariré, Cariús, Caucaia, Cruz,
Fortaleza, Icó, Iguatu, Ipueiras, Itapipoca, Maracanaú, Milhã, Novo Oriente,
Pacatuba, Palhano, Paracuru, Parambu, Piquet Carneiro, Russas, Salitre, São
Gonçalo do Amarante, São João do Jaguaribe e Tamboril (UECE, 2019).
A segunda oficina ocorreu em São Luís, Maranhão, em dezembro de
2018. Estiveram presentes 61 representantes de 19 municípios maranhenses:
Cândido Mendes, Santa Helena, Davinópolis, Colinas, São José de Ribamar,
Santa Inês, Paço do Lumiar, Buriti Bravo, São Raimundo das Mangabeiras, São
Luís Gonzaga, Itapecuru-Mirim, Santa Luzia, São João do Soter, Estreito, Bom
Jesus das Selvas, Marajá do Sena, Grajaú, Viana e Pastos Bons (UECE, 2019).
A terceira oficina foi em Teresina, Piauí, também em dezembro de
2018, contou com 55 representantes de nove municípios piauienses: Júlio
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Borges, Teresina, Sebastião Leal, Água Branca, Corrente, Olho D'água, São
Lourenço, Passagem Franca, Brasileira, e 03 maranhenses: Parnarama, Paço
do Lumiar e Caxias (UECE, 2019).
Outra ação desta etapa, foi a estruturação do espaço físico e
equipamentos do Núcleo de Referência Regional em SAN e a elaboração do
material pedagógico composto por uma cartilha ilustrada sobre o SISAN, a ser
distribuída nos municípios do Ceará, Piauí e Maranhão como material de apoio
na criação e consolidação do SISAN em nível municipal, e o livro “Formando a
teia da Segurança Alimentar e Nutricional: o relato da experiência do Projeto
ConsolidaSisan” por meio do qual compartilhamos os saberes obtidos e
aperfeiçoados nesses cinco anos de implementação de projeto.
O Núcleo de Referência em Segurança Alimentar e Nutricional,
localizado no Mestrado de Nutrição e Saúde - UECE, realizará atividades de
pesquisa e formação na área de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional
e do Direito Humano à Alimentação Adequada e Saudável, congregando
pesquisadores e estudantes de diversas áreas do conhecimento e instituições
nacionais e estrangeiras, oferecendo subsídios para atuação dos CONSEA e
CAISAN, além de oferecer suporte à formação da rede regional de
pesquisadores em soberania e segurança alimentar e nutricional.
A REFLEXÃO DE FUNDO
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as atividades de formação. Este desafio mostra uma falha no planejamento, que
deveria ter previsto a realização das oficinas nos municípios, o que certamente
possibilitaria maior participação e envolvimento com os atores locais. Outro
aspecto importante foi a forma de mobilização realizada por meio de ofício via e-
mail seguido de contato telefônico, subestimando o uso das redes sociais.
Outro desafio se relaciona aos vários entraves burocráticos, tais
como: obrigatoriedade dos processos licitatórios, chamadas públicas para a
vinculação dos bolsistas, alterações necessárias no Plano de Trabalho, que não
poderiam ser previstas a priori que paralisavam o Sistema de Convênios
(SICONV) e repercutiam diretamente na liberação de recursos financeiros
causando o atraso no cronograma previsto; a falta de feedback das avaliações
de processo realizadas pelo órgão financiador.
A coordenação geral do projeto buscou sempre compartilhar com as
coordenações do Piauí e Maranhão todas as intercorrências que resultaram em
atrasos na realização atividades. O ideal seria o encontro presencial periódico
das três equipes, o que era inviável do ponto de vista financeiro. Para superação
deste desafio a estratégia foi o uso de videoconferência sistematicamente.
Também há que se destacar o desafio relacionado ao fortalecimento
do SISAN nos municípios, a lição aprendida nos mostrou que não é bastante ter
projetos de capacitação/qualificação dos atores locais. Nas oficinas foram
ressaltados que a falta de compromisso dos gestores e o desconhecimento
sobre a política de SAN, os parcos recursos para os programas e ações que
concretizam a política, a desarticulação dos programas e políticas de SAN, a
ausência de dados para a construção do PLANSAN (planejamento, execução,
monitoramento e avaliação), a falta de capacitação continuada na temática para
representantes do poder público e da sociedade civil, o fortalecimento da
participação e do controle social, a necessidade de ampliar parcerias buscando
a intersetorialidade são obstáculos que precisam ser ultrapassados para a
implementação/consolidação desse sistema.
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OS PONTOS DE CHEGADA
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soberania e segurança alimentar e nutricional, o que associado à desarticulação
entre CONSEA e CAISAN estadual / municipal resulta no enfraquecimento dessa
política social.
As dificuldades enfrentadas para execução do projeto foram a
necessidade de pessoal qualificado para operacionalizar o Sistema de Gestão
de Convênios e Contratos de Repasse do Direito Federal (SICONV); a diferença
entre as normas de administração orçamentária e financeira da administração
pública federal e estadual; o excesso de burocracia para alterações no Plano de
Trabalho aprovado. Num projeto com as características do ConsolidaSisan os
reajustes são esperados e deles dependem a regularidade das ações, porém a
necessidade de alterar o plano de trabalho significava parar o SICONV, o que
por sua vez atrasava a realização das atividades.
A parceria Universidades/CONSEA/CAISAN teve um grande
potencial para a construção de conhecimentos e aprendizagens, ilustrada no
quadro a seguir:
Pesquisas pontuais
Participação Social na V Conferência Estadual de Segurança Alimentar e
Nutricional do Ceará
A participação de sujeitos sociais na V Conferência Estadual de Segurança
Alimentar e Nutricional do Piauí
Dissertações/Teses/Iniciação Cientifica
Monitoramento do Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional no Ceará,
Piauí e Maranhão (Iniciação Científica)
Participação Social na Política de Segurança Alimentar e Nutricional em
Fortaleza, Ceará (Dissertação)
Consolidação do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional no
estado do Maranhão: desafios e conquistas do cenário sociopolítico
(Dissertação)
Monitoramento e avaliação da Política de Segurança Alimentar e Nutricional:
proposta de uma matriz de indicadores no município de Maracanaú, Ceará
(Dissertação)
Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional – Ceará e a Formulação da
Política Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional (Tese)
Trabalhos apresentados em eventos
Formação e percepção sobre participação social de delegados da V
Conferência Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional do Ceará
Percepção dos delegados da V Conferência Estadual de SAN sobre sua
contribuição na promoção da segurança alimentar e nutricional no Ceará
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A V Conferência Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional do Ceará:
Organização e participação social em Foco
Segmentos e espaços sociais representados na V Conferência Estadual de
Segurança Alimentar e Nutricional do Ceará
Conferências de Segurança Alimentar e Nutricional como Espaço de Formação
Caracterização da participação dos conselheiros, estadual e municipais, e o seu
papel no Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional (Piauí)
Elaboração de matriz de indicadores voltada a políticas municipais de
Segurança Alimentar e Nutricional
Monitoramento do Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional:
sistematização de experiência
Desenvolvimento e implementação de um canal de comunicação para
acompanhamento da efetivação do Sistema de Segurança Alimentar e
Nutricional (SISAN) nos munícipios dos estados do Ceará, Piauí e Maranhão
Análise do II Plano Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional do Ceará
Indicadores de monitoramento e avaliação da política de segurança alimentar e
nutricional a nível municipal
Elaboração de matriz de indicadores de saúde e nutrição voltados à política
municipal de segurança alimentar e nutricional em Fortaleza-Ce
Contribuições para as ações de Segurança Alimentar e Nutricional de
delegados da 5ª Conferência Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional do
Ceará
Diagnóstico dos componentes do Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional
nos estados do Ceará, Piauí e Maranhão
Construção do I Seminário Internacional de Soberania e Segurança Alimentar
dos Países de Língua Lusófona na Universidade Estadual do Ceará
Produção Técnica
Manual de Orientações Básicas para Monitoramento de Planos de Segurança
Alimentar e Nutricional
Cartilha “Passo a passo da construção do SISAN no município”
Livro “Formando a teia da segurança alimentar e nutricional: o relato da
experiência do Projeto ConsolidaSisan”
Publicações em periódicos
Percepção de atores da Política de Segurança Alimentar e Nutricional sobre
participação social
Fonte: Autoria própria.
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conselheiros têm uma visão limitada sobre o conceito de SAN e da dimensão da
alimentação enquanto direito social (ARAUJO, 2015). Neste contexto, para que
a sociedade civil intervenha efetivamente na política de SAN é de suma
importância fortalecer o papel do conselheiro enquanto representante de seus
segmentos como estratégia de fortalecimento da participação social, cuja
qualificação é fator decisivo na sensibilização dos gestores quanto à
essencialidade da política de segurança alimentar e nutricional, o que pode
repercutir na consolidação do SISAN nos estados e municípios (MUNIZ et
al.,2017; MOURA FÉ, 2018).
Para essa qualificação, é necessário instituir formação continuada
para os conselheiros sobre a política de segurança alimentar e nutricional como
o caminho para o cumprimento do direito à alimentação, o ciclo das políticas
públicas cultura política, que são alguns dos conhecimentos fundamentais para
qualificar a sua participação na elaboração da política e do plano de segurança
alimentar e nutricional nos estados e municípios. Compreendemos ser essa uma
estratégia potente para ampliar as práticas de participação e fortalecer os valores
democráticos (MOURA FÉ, 2018).
Os estudos evidenciaram ainda, a necessidade de fortalecer a
articulação sociedade civil e poder público, principalmente para a criação dos
marcos legais e garantia da continuidade das ações articuladas, para que de fato
a intersetorialidade esteja presente no financiamento, e para tal é essencial a
participação da sociedade civil no planejamento orçamentário, ponto sensível
dos planos de SAN, que além disso requerem dos governos federal e estadual
o apoio técnico para as etapas de planejamento, implantação e
acompanhamento da execução (MOURA FÉ, 2018; MUNIZ, 2014).
Também é essencial que seja estimulado o diálogo entre os
representantes e representados, de tal modo que estes de fato representem os
interesses de suas bases e sejam o elo entre estas e os espaços decisórios, nos
quais a voz dos movimentos sociais e dos segmentos da população
historicamente silenciados precisam ser ouvidas (AMORIM, 2014).
A divulgação sobre a segurança alimentar e nutricional tem papel de
destaque na sua visibilidade enquanto política pública, sendo portanto
fundamental a maior divulgação das atividades e demandas dos conselhos de
SAN nos diversos ambientes: comunitários, acadêmicos, político e até mesmo
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empresarial, para que as demandas sejam mais bem equalizadas e o conselho
possa exercer seu verdadeiro papel na política de SAN (AMORIM, 2014).
Os estudos realizados sinalizam pistas para novas pesquisas focando
nos desafios relacionados à garantia orçamentária, intersetorialidade,
monitoramento e avaliação, considerados nós críticos para a efetividade dos
planos de SAN nos estados (MOURA FÉ, 2018).
Por fim, outro produto do ConsolidaSisan que guarda relação direta
com a construção de conhecimentos foi a estruturação do Núcleo de Referência
Regional em SAN, que se constitui em espaço de fomento de estudos e
qualificação na temática, com o potencial de contribuir na formação de uma rede
regional de pesquisadores, dando continuidade às parcerias estabelecidas no
ConsolidaSisan e buscando agregar pesquisadores de demais estados do
Nordeste.
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41
Capítulo 2
42
fora do Mapa da Fome, em 2014. Foi neste cenário que se iniciou a
implementação do projeto Consolidação do Sistema Nacional de Segurança
Alimentar e Nutricional nos estados do Ceará, Piauí e Maranhão –
ConsolidaSisan.
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Nutricional bem como a capacitação para a elaboração e monitoramento dos
planos de segurança alimentar e nutricional nos três estados e seus municípios,
O Projeto ConsolidaSisan teve a incumbência de contribuir para a
consolidação do SISAN nos referidos estados e contribuir para aumentar o
potencial desse sistema em seu papel de assegurar o DHAA, por meio de
políticas públicas de SAN com forte componente intersetorial.
Para tanto, o projeto propôs a capacitação de gestores de políticas
públicas e de representantes da sociedade civil integrantes das CAISAN e
CONSEA tanto na esfera estadual, como municipal para a elaboração de Planos
de Segurança Alimentar e Nutricional e a revisão dos planos já em curso.
Um desafio assumido de forma coletiva pelos entes envolvidos na
coordenação, na gestão e na execução do ConsolidaSisan por meio de um
trabalho de parceria que otimizou o seu desenvolvimento e permitiu olhar
acuradamente as realidades expressas nas diversas gradações em que se
encontram os componentes do SISAN nos três estados.
A parceria estabelecida para a execução do projeto entre as
Universidades, o CONSEA e a CAISAN, teve portanto como força motriz a
aproximação de forma enriquecedora da área acadêmica, do espaço de controle
social das políticas públicas e da instância responsável pela coordenação e
monitoramento das ações da Política e do Plano de Segurança Alimentar e
Nutricional nos âmbitos estadual e municipais.
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Participaram dos grupos focais as equipes do ConsolidaSisan em
cada estado, com algumas especificidades: no Maranhão, houve a participação
de técnicos da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social; no Piauí, da
gestora que estava à frente da SASC nos primeiros dois anos do projeto. Após
a transcrição das falas dos participantes, estas foram analisadas buscando
identificar as principais contribuições do projeto para o fortalecimento do SISAN,
as quais serão apresentadas a seguir.
Do grupo focal do Ceará, participaram doze pessoas e sua análise
apontou que o ConsolidaSisan contribuiu no fortalecimento do SISAN-CE,
evidenciando os seguintes pontos: elaboração do II PLANSAN-CE (2016-2019),
na medida em que seu processo de construção contemplou algumas
sinalizações sugeridas a partir da parceria com a universidade; desenvolvimento
de um sistema para acompanhamento da implantação do SISAN nos municípios
(AcompanhaSisan), subsídio importante às CAISAN estaduais no
monitoramento sistemático sobre a situação local de SAN (principais programas
e ações desenvolvidas) nos municípios, favorecendo assim, o fortalecimento da
política de SAN e consequentemente a implementação do SISAN.
Outro resultado considerado importante pela equipe foi a
oportunidade trazida pelo projeto de aprofundar conhecimentos teóricos, aspecto
em que foi salientado o estudo dos indicadores relacionados à SAN (definição e
uso), bem como suas especificações – resultado, de produto, de impacto, de
processos – proporcionando melhor qualificação dos técnicos das CAISAN
estaduais para assessorarem os municípios. Um aspecto também considerado
importante foi a troca de experiência, mostrando como cada estado estava em
relação ao monitoramento dos seus planos. A atuação dos bolsistas do
ConsolidaSisan foi destacada como fator essencial à troca de experiências entre
os estados, favorecimento da adesão dos municípios ao SISAN, enriquecimento
de conhecimentos e proposições pedagógicas na condução do processo
formativo. A troca de conhecimentos e experiências entre os bolsistas, motivou
a elaboração pela equipe do Ceará de um manual sobre monitoramento de
planos de SAN, inspirado em material elaborado pela equipe do Maranhão.
A criação do Núcleo de Estudos em Segurança Alimentar Nutricional
(NURESAN), vinculado à UECE foi outra contribuição do projeto. Este dispositivo
visa fomentar estudos sobre SAN, de caráter regional, dando continuidade à
45
parceria estabelecida pelo ConsolidaSisan e a ampliando para demais estados
do Nordeste, contribuindo para a formação de uma rede regional de pesquisa
em soberania e segurança alimentar e nutricional.
No grupo focal do Maranhão, estiveram presentes dezessete
pessoas, sendo as principais contribuições apontadas relacionadas ao
fortalecimento da política de SAN nos municípios por meio do assessoramento
aos gestores públicos das CAISAN estaduais, indivíduos da sociedade civil
vinculados aos CONSEA estaduais e municipais e o favorecimento do diálogo
entre CAISAN e CONSEA. Para esse grupo, o projeto possibilitou também a
compreensão e empoderamento sobre a política de SAN nos municípios por
meio das capacitações realizadas de forma intersetorial, em conjunto com a
CAISAN, CONSEA, Universidades e bolsistas; o assessoramento e articulação
com vários órgãos do governo e entidades da sociedade civil, o que deu
visibilidade às possibilidades da articulação ensino-pesquisa e extensão na
efetivação no combate à insegurança alimentar; a criação de um grupo de
trabalho para o fortalecimento do SISAN no estado; a troca de conhecimentos e
experiências entre os estados e municípios.
Demais contribuições reveladas foram a realização de capacitação
para conselheiros e representantes da sociedade civil no âmbito municipal, tanto
por meio das oficinas quanto pelo assessoramento dado a cada município pelos
integrantes do projeto e o incentivo à elaboração e revisão dos planos municipais
de SAN; assessoramento do CONSEA e CAISAN no estado do Maranhão para
a implantação de metodologias, mecanismos institucionais e ferramentas para o
monitoramento e avaliação dos planos de SAN no âmbito estadual e municipal;
e ainda, a criação do AcompanhaSisan, ferramenta que facilitará a inserção de
dados referentes à atual situação do SISAN em cada cidade.
Participaram do grupo focal do Piauí dezesseis pessoas, que
apontaram como uma das principais contribuições do ConsolidaSisan a
elaboração do plano de SAN estadual:
46
[...] foi um projeto que veio assim modificar, ajudar em muitas
das situações do fortalecimento do SISAN no Piauí, primeiro foi
a questão do plano que nós só engatinhávamos, tínhamos
montado só um grupo de trabalho, mas quando chegou a
primeira bolsista aqui, que uma das atribuições dela foi ajudar a
CAISAN e colaborar com a CAISAN para produção do plano, e
o plano podemos dizer que se não fosse o ConsolidaSisan e a
Universidade Federal do Piauí o plano talvez não tivesse saído,
não sairia (Grupo Focal, Piauí, 12/12/2018).
47
Além desse aspecto, também foi ressaltada a contribuição por meio
do suporte com recursos financeiros e humanos para a CAISAN e CONSEA-PI:
48
SAN, como também analisar o que está contemplado no PPA,
fazendo um rebatimento com deliberações das conferências;
b) Quanto à intersetorialidade: é necessário a articulação contínua
entre CONSEA e CAISAN; aprofundar debates em torno da
relação e atuação sinérgica com outros sistemas, com destaque
ao Sistema Único da Assistência Social (SUAS) e Sistema Único
de Saúde (SUS); fortalecer os grupos gestores intersetoriais (a
exemplo dos comitês do Programa Bolsa Família, Programa
Saúde na Escola e outros; definir coletivamente as atribuições,
competências e responsabilidades dos entes federados e setores
correlatos à dinâmica da SAN;
c) Quanto à participação e controle social: é imprescindível que haja
o fortalecimento dos conselhos municipais e estadual de
segurança alimentar, para que possam acompanhar a execução
da ações, projetos e programas de SAN e assim monitorar o
cumprimento do direito à alimentação;
d) Quanto à formação e produção do conhecimento: é fundamental
promover cursos, oficinas e capacitações diversas e continuadas
sobre DHAA, gestão em SAN e controle social; aproximar
continuamente as Universidades e as agendas de SAN, inclusive
estimulando a temática como linha de pesquisa; incentivar a
inclusão de conteúdos relacionados à segurança alimentar e
nutricional, participação e controle social nos currículos dos
cursos pertinentes nas universidades; formação da Rede de
Parceiros, com destaque a essa que foi iniciada com nove
Universidades selecionadas para apoiar os estados por meio do
chamamento público que financiou o Projeto ConsolidaSisan.
Por fim, ao olharmos o que foi realizado pelo projeto avaliamos que o
mesmo trouxe uma oportunidade de aprendizado, crescimento e até mesmo de
ousadia, pois lançou um olhar abrangente para o cenário real de implementação
do SISAN, tanto na esfera estadual, como municipal e possibilitou verificar os
avanços e desafios que exigem de todos os entes envolvidos, compromisso,
perseverança, ideal e coragem.
49
Podemos dizer que foi um laboratório onde os elementos que são
intrínsecos à implementação e ao fortalecimento do SISAN foram expostos para
serem estudados e esmiuçados de forma participativa, permitindo uma análise
dos meios de consecução do que pode levar efetivamente ao alcance do Direito
Humano à Alimentação Adequada.
50
51
PARTE II
52
53
Capítulo 3
A diversidade de olhares é a
maior virtude do SISAN.
(Elisabeta Recine)
54
parcelas populacionais mais vulneráveis, objetos a serem contemplados pelo
sistema de segurança alimentar, cuja estruturação passamos a detalhar:
55
Secretaria de Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos
(SPS).
Uma característica peculiar deste Conselho, que o difere dos demais,
é que sua presidência sempre deverá ser exercida por um representante da
sociedade civil, além disto, no Ceará, este é um órgão de proposição e
assessoramento ao Estado.
O CONSEA-CE tem como missão discutir e propor políticas e
programas de SAN; acompanhar e socializar experiências e projetos; exercer o
controle social das políticas de SAN; estimular a criação e fortalecimento de
CONSEA municipais; promover e apoiar as conferências de SAN em nível
municipal, territorial e estadual. Além disto, contribui no processo de elaboração
e monitoramento do PLANSAN, através da participação de dois representantes
da sociedade civil e seus respectivos suplentes durante todo o processo de
elaboração do plano.
Até 2014, os representantes da sociedade civil eram explicitados no
decreto de criação do conselho. A partir de então passaram a ser escolhidos
conforme os critérios estabelecidos em edital público e de acordo com as
diretrizes da Conferência Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional. Os
segmentos que compõem o CONSEA-CE são: trabalhadores rurais,
trabalhadores urbanos, representantes da indústria, comércio e agricultura,
redes e fóruns, associações e movimentos sociais, entidades de ensino e
pesquisa, entidades que trabalham com pessoas com necessidades alimentares
especiais, pastorais sociais e entidades religiosas, povos e comunidades
tradicionais, entidades que atuam nas áreas de direitos humanos e sociais, de
gênero e gerações, de economia solidária, da produção agroecológica e
orgânica (excetuando as empresas multi e transnacionais), e entidades que
representem o comitê territorial em nível estadual.
Sua estrutura organizacional tem a seguinte forma: Plenário;
Presidência (Sociedade Civil); Vice-Presidência (Poder Público); Secretaria
Executiva; e Mesa Diretiva, composta pela Presidência e vice, secretaria
executiva e coordenadores de câmaras temáticas, as reuniões ordinárias são
mensais. O conselho conta com três câmaras temáticas: A câmara temática de
saúde, educação e nutrição que possui como objetivo monitorar, analisar e
divulgar dados sobre a situação alimentar e nutricional de cada segmento
56
populacional, priorizando os mais vulneráveis; a câmara temática de produção e
abastecimento visa discutir as possibilidades para que toda a população tenha
acesso a alimentos em qualidade, quantidade, preço e adequação; a câmara
temática de criação e fortalecimento dos conselhos municipais de SAN se propõe
a incentivar a criação e fortalecer os Conselhos Municipais de SAN, por meio de
uma articulação permanente com os municípios. Ademais, conforme a
necessidade, podem ser criados grupos de trabalhos temporários.
Os desafios internos apontados para consecução da missão do
CONSEA-CE se relacionam à necessidade de buscar interação com os demais
conselhos sociais e ao fato das conferências não acontecerem no mesmo
período da elaboração do Plano Plurianual (PPA), o que inviabiliza neste, a
inclusão das deliberações emanadas da conferência. Outros desafios são o
acompanhamento dos programas e ações de SAN no estado e os cortes no
orçamento nos níveis federal, estadual e municipal que causaram impacto
negativo nas instâncias do sistema, afetando programas e ações.
57
tem acento na CAISAN e secretaria e órgãos convidados), responsáveis pelo
monitoramento do PLANSAN-CE, compras Institucionais e pacto pela
alimentação saudável.
As atividades da CAISAN-CE são: formalizar a adesão dos municípios
ao SISAN e a participação das entidades governamentais e sem fins lucrativos;
monitorar e avaliar de forma integrada o destino e a aplicação de recursos em
ações e programas de interesse da SAN no plano plurianual e nos orçamentos
anuais, monitorar e avaliar os resultados e impactos da política e do plano de
SAN, disciplinar, após consulta ao CONSEA, os procedimentos necessários para
a elaboração dos instrumentos de pactuação, definições quanto à composição e
a forma de organização do fórum bipartite; e elaboração do PLANSAN-CE.
58
Além do conselho, da câmara intersetorial e conferências, o SISAN-
CE conta com mais dois componentes, as instituições privadas e os órgãos e
entidades de SAN. Contudo, em relação a estes, ainda não há regulamentação
em nível nacional, sobre o seu funcionamento no âmbito do SISAN.
Cumprindo o disposto na Política Nacional de SAN (PNSAN)
conforme o decreto nº 7.272/2010 (BRASIL, 2010a), o Ceará elaborou seus
planos de segurança alimentar e nutricional, abordados a seguir.
59
técnico; formação de um núcleo executivo de consolidação
composto por quatro secretarias; identificação de programas,
projetos e ações de SAN no PPA; elaboração e envio de fichas
técnicas para a coleta das informações de SAN por cada setorial;
realização de estudo de documentos sobre indicadores de SAN;
levantamento dos indicadores de SAN existentes; consolidação
das fichas técnicas por diretriz, relacionando com objetivos,
metas, ações e orçamento; estudo do PLANSAN Nacional e dos
relatórios das Conferências Nacional e Estadual; apropriação da
experiência de elaboração do PLANSAN Nacional.
2) A etapa de elaboração contemplou a produção do plano mediante
as seguintes ações – realização de uma oficina para definir
desafios (objetivos) e os indicadores; a elaboração do
diagnóstico; organização dos demais itens que devem constar do
plano; estruturação do capítulo referente ao monitoramento e à
avaliação; apresentação da versão preliminar do plano para o
CONSEA-CE e para o comitê técnico e realização dos ajustes
sugeridos.
3) Validação – nesta etapa foi realizada uma apresentação do plano
para os gestores das secretarias, posteriormente o envio ao
gabinete do governador para publicação e em seguida o envio à
CAISAN Nacional.
O primeiro PLANSAN-CE estipulou 26 objetivos, 104 metas e 168
iniciativas e foi assim estruturado: Contextualização/Diagnóstico; Programas,
Projetos e Ações de acordo com as Diretrizes do SISAN; Metas físicas e
financeiras; Iniciativas/Responsáveis/Recursos e Fontes. Contou com um
montante de R$126.172.209,09 para sua execução, sendo que destes recursos,
R$ 110.552.972,00 eram da União e R$ 15.619.237,09, provenientes do Estado.
O plano previa envolver mais de 100 mil pessoas beneficiárias com ações e
programas de SAN, no período estabelecido.
Para sua implementação foram listados seis desafios:
1. Implementar o Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional no
Ceará;
60
2. Impulsionar a Política de SAN pautada nos princípios da
Sustentabilidade e Soberania, numa perspectiva emancipatória
que propicie a superação da extrema pobreza e da insegurança
alimentar e nutricional;
3. Executar Programas e Ações de SAN envolvendo a dimensão
ambiental e territorial, integrando ações estruturantes e
emergenciais com enfoque no acesso à terra, à água e à produção
familiar agroecológica, priorizando os povos indígenas,
quilombolas e demais povos e comunidades tradicionais;
4. Ampliar as ações de vigilância sanitária, de combate ao uso de
agrotóxico e fazer gestões para que sejam estabelecidos
indicadores progressivos a fim de que, num futuro próximo, seja
retirada a isenção fiscal estabelecida pelo Governo Estadual a tais
produtos;
5. Estruturar um programa sistemático de educação alimentar e
nutricional integrando ações pontuais existentes e ampliando-as,
tendo como foco principal crianças e adolescentes;
6. Criar e implementar um sistema de monitoramento de indicadores
consubstanciados nas dimensões de SAN, com periodicidade
anual, definidos no PLANSAN/CE, como também no
acompanhamento e avaliação das ações empreendidas no Estado.
O monitoramento do PLANSAN-CE foi proposto de forma a
contemplar as sete dimensões de análise propostas na PNSAN, relacionando
indicadores existentes nos setores, os quais deveriam ser efetivamente
monitorados para possibilitar ajustes necessários. As dimensões de análise e
indicadores relacionados estão descritos a seguir:
a) Produção de alimentos: Produção por tipo de alimento -
quantidade, área plantada;
b) Disponibilidade de alimentos: Balanço da oferta e demanda de
alimentos, volume de alimentos comercializados e quantidade per
capita de pescado consumido;
c) Renda e condições de vida: Rendimento médio domiciliar per
capita; despesas das famílias com alimentação, percentual da
população na pobreza e extrema pobreza;
61
d) Acesso à alimentação adequada e saudável, incluindo água:
Percentual de macronutrientes no total de calorias na alimentação
domiciliar, percentual de escolas que ofertam a alimentação
escolar, percentual da população por grupo de idade beneficiadas
pela alimentação escolar, número de famílias beneficiadas com
cisternas, número de equipamentos públicos de alimentação e
nutrição em funcionamento ou em implantação, número de
refeições ofertadas em cozinhas comunitárias e restaurantes
populares;
e) Saúde, nutrição e acesso a serviços relacionados: prevalência de
anemia ferropriva, prevalência de hipovitaminose A, consumo de
alimentos seguros - percentual de amostras de sal satisfatórias em
relação ao teor de iodo; percentual de amostras de leite UHT e em
pó com resíduos de medicamentos veterinários; percentual de
amostras insatisfatórias sobre resíduos de agrotóxicos em frutas,
verduras e legumes e grãos, as condições de abastecimento de
água e saneamento nas escolas - percentual de escolas da
educação básica segundo tipo de abastecimento de água e por
situação censitária;
f) Educação: Média de anos de estudo de pessoas de referência dos
domicílios de 10 anos ou mais de idade, a taxa de analfabetismo
da população de 15 anos ou mais, percentual da população de 5 a
17 anos que não frequenta a escola;
g) Políticas Públicas - programas e ações relacionadas à SAN:
Percentual do orçamento destinado à SAN, por órgão, secretaria;
evolução do orçamento de SAN por tema; evolução do orçamento
e gasto de programas específicos; número de homens, mulheres e
jovens atendidos com ações de fortalecimentos das
territorialidades; número de marcos regulatórios de SAN
construídos; número de conselhos municipais criados; número de
famílias atendidas com o Programa Bolsa Família; número de
municípios assessorados.
Registra-se, no entanto, que o monitoramento não foi realizado como
concebido, haja vista as dificuldades de ordem diversas, tais como: o exercício
62
da intersetorialidade nas políticas públicas, a não alimentação de dados nos
sistemas das setoriais envolvidas; mudanças de gestão e de técnicos
responsáveis pelo monitoramento, dentre outras dificuldades operacionais.
Ressalta-se que somente algumas iniciativas e metas, como também
alguns recursos aplicados, puderam ser monitorados, não expressando em sua
totalidade e de forma mais fundamentada, os avanços e desafios da Política de
SAN no estado.
Quanto à avaliação, o I PLANSAN-CE teve seu primeiro processo
avaliativo em outubro de 2014, não se realizando portanto avaliação processual
que poderia ter indicado a correção de curso das ações, visando o alcance dos
objetivos, além de propiciar aprendizado para a elaboração do II Plano de
Segurança Alimentar e Nutricional, vigente para o período 2016 – 2019,
elaborado a partir das proposições da 5ª Conferência Estadual de Segurança
Alimentar e Nutricional e da 5ª Conferência Nacional de SAN, realizadas em
2015; proposições e prioridades estabelecidas pelo CONSEA – CE, o PPA 2016-
2019 e orientado pelas diretrizes da Política e do Plano Nacional de SAN
(CEARÁ, 2018).
No período de 2013 a 2016, 21 (vinte e um) municípios cearenses
tinham aderido ao SISAN, representando 16,80% do total de municípios, entre
estes, seis haviam elaborado seus planos de SAN. Até 2019, o número foi
ampliado para 41 municípios adesos ao SISAN, e 9 (nove) com planos
elaborados, tendo o Projeto ConsolidaSisan, contribuído para essa ampliação,
por meio da capacitação dos atores locais acerca do SISAN, elaboração e
monitoramento dos planos de SAN.
63
Capítulo 4
64
BRASIL, 2014; BRASIL, 2014a; BRASIL, 2016; BRASIL, 2016a; BRASIL, 2016b;
BRASIL, 2017; BRASIL, 2018; BRASIL, 2018a; BRASIL, 2018b).
65
Trabalho e Economia Solidária; Secretaria dos Direitos Humanos e Participação
Popular (SEDPOP); Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento; Delegacia do Desenvolvimento Agrário do Maranhão;
Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB); Federação dos Municípios do
Estado do Maranhão (FAMEM) e Banco do Brasil - Superintendência Maranhão.
Os representantes da sociedade civil são oriundos de movimentos
sociais e instituições, cuja escolha é realizada por meio do Fórum Maranhense
de Segurança Alimentar (FMSA), constituído em 2003. Esta instância se reúne
mensalmente, um dia antes da reunião ordinária do CONSEA-MA, e possui total
autonomia para a escolha das entidades que têm afinidades com a temática de
SAN para participar do CONSEA-MA. As entidades representantes de
segmentos da sociedade civil são: redes e fóruns, sindicatos e federação de
trabalhadores rurais, associações e movimentos sociais, pastorais, entidades
religiosas que trabalham com povos e comunidades tradicionais, entidades que
atuam nas áreas de direitos humanos e sociais, de gênero e gerações, de
economia solidária, da produção agroecológica e orgânica (MARANHÃO, 2015).
A direção do CONSEA-MA é exercida pelo presidente e secretário
geral, representantes da sociedade civil e secretário executivo, representante do
poder público, conta com seis comissões de trabalho: Programas e Projetos;
SISAN; DHAA; Comunicação; Povos e Comunidades Tradicionais e Finanças
(MARANHÃO, 2014; 2015).
Segundo Maranhão (2014) compete ao CONSEA-MA propor,
deliberar e aprovar o Plano Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional
Sustentável, em conformidade com as diretrizes das Conferências de Segurança
Alimentar e Nutricional; propor, deliberar, apreciar e monitorar planos, programas
e ações da política de segurança alimentar e nutricional, no âmbito estadual a
serem executados em todas as secretarias de estado; incentivar e deliberar
sobre parcerias que garantam mobilização e racionalização dos recursos
disponíveis; incentivar a criação dos Conselhos Municipais de Segurança
Alimentar e Nutricional no Maranhão, com os quais manterá estreitas relações
de cooperação na consecução da política estadual de segurança alimentar e
nutricional; deliberar sobre a realização, coordenar e promover campanhas de
educação alimentar e de formação da opinião pública sobre o direito humano à
alimentação adequada; deliberar sobre e apoiar a atuação integrada dos órgãos
66
governamentais e das organizações da sociedade civil envolvidos nas ações
voltadas à promoção da alimentação saudável e ao combate à fome e à
desnutrição; elaborar e votar seu regimento interno; deliberar sobre a aplicação
dos recursos públicos da política de segurança alimentar e nutricional, alocados
em todas as secretarias de estado e exercer outras atividades correlatas.
O CONSEA-MA contribui na elaboração e avaliação do plano de SAN
estadual, compondo o grupo de trabalho que orienta os consultores na
elaboração do plano. Dentre as ações realizadas, são destaques: reuniões
extraordinárias, mobilização social, participação em eventos nacionais,
estaduais e municipais, ações de monitoramento e participação em
conferências. Para o seu funcionamento conta com orçamento anual de R$
90.000,00 destinados a cobrir despesas referentes a custos com diárias,
materiais de expediente e gráficos, dentre outras.
Os desafios do CONSEA-MA se relacionam a ter maior domínio do
conhecimento da evolução da política de SAN; compreender sobre a política de
SAN nos setores do poder público estadual e municipal e da sociedade civil; ter
capacidade para acompanhar as políticas/programas de SAN definidos pelo
governo federal e estadual, bem como as demandas dos municípios, e a
implantação do Sistema Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional em
todos os municípios maranhenses.
As principais realizações do CONSEA-MA nos anos de 2015 a 2019
foram: monitoramento dos equipamentos de SAN, debates sobre a Política de
SAN, oficina de capacitação de conselheiros (as), oficinas de orientação com
municípios adesos ao SISAN, representação junto ao CONSEA Nacional e
demais instâncias com temáticas transversais à SAN. Salienta-se ainda, que o
CONSEA MA tem desenvolvido o monitoramento dos equipamentos de
alimentação e nutrição por meio de visitas para vistoria de cozinhas e
restaurantes, além do acompanhamento do Programa de Aquisição de
Alimentos (PAA), Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e Banco
de Alimentos.
67
CÂMARA INTERSETORIAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL
– CAISAN-MA
68
A 5ª Conferência Estadual de SAN realizada em agosto de 2015, foi
antecedida por 124 conferências municipais e três conferências de segmento:
Conferência de Segurança Alimentar de Segmento – Povos e Comunidades
Tradicionais: quilombolas, comunidades de matriz africana e população negra;
Conferência de Segurança Alimentar de Segmento – pescadores artesanais e
agricultores; e Conferência de Segurança Alimentar Regional – Mais IDH: 30
municípios com menor IDH do Maranhão. Esta contou com 600 participantes,
entre delegados/as e convidados de todas as regiões do estado e com a
presença de representantes do Ministério de Desenvolvimento Social e do
CONSEA Nacional.
69
A elaboração do plano foi consubstanciado nas diretrizes e ações
formuladas nas Conferências de SAN, a definição dos objetivos, ações, eixos
estratégicos, elaboração de uma síntese do diagnóstico sobre a situação de SAN
e a garantia do DHAA, bem como a identificação dos eixos causais de
insegurança alimentar no Estado, quais sejam: Falta de acesso do trabalhador
rural às terras e à infraestrutura produtiva; Baixos níveis de emprego e geração
de renda; Escassez de produção de alimentos pela agricultura familiar; Gestão
deficitária dos programas de SAN; Baixa; qualidade nutricional e higiênico-
sanitária da alimentação consumida pela população; Baixo nível de educação
alimentar e nutricional; Elevado índice de insegurança alimentar e nutricional da
população, sobretudo de Povos Indígenas e Quilombolas e Comunidades
Tradicionais; Ausência de profissionais que promovam alimentação saudável,
nos quadros funcionais do Maranhão; Baixos níveis de organização da
agricultura familiar, gerados pela falta de capacitação dos produtores no tocante
à organização social; Precariedade de informações sobre SAN; Baixa
institucionalização do SISAN; Elevados índices de desperdício de alimentos e
Baixo acesso aos programas federais de SAN e desarticulação entre eles
(MARANHÃO, 2014a).
Uma vez identificados os eixos causais, foram elaboradas sete
diretrizes, com eixos estratégicos e ações específicas, considerando as
diretrizes da -PNSAN, a base legal de SAN existente no estado, as propostas
emanadas dos GT da CAISAN-MA e os indicadores de insegurança alimentar e
nutricional identificados na etapa de diagnóstico do Plano.
Complementarmente, foi elaborado um instrumento com orientações
para o monitoramento, com indicadores definidos, e passos operacionais
contemplando ações presenciais e os sistemas de informação existentes, com o
objetivo de aprimorar o processo de monitoramento do plano.
Sendo assim, o PLANESAN do Maranhão, buscou contemplar as
demandas propostas pela sociedade e se constitui no principal instrumento de
apoio à gestão da PNSAN, pois nele estão contidas as diretrizes estratégicas
para a implementação de políticas transversais, que visam à garantia da
sustentabilidade e soberania alimentar e nutricional e à superação de obstáculos
na realização do DHAA por toda a população maranhense.
70
71
Capítulo 5
Só a participação cidadã é
capaz de mudar o país.
(Betinho)
73
públicos, conselheiros e representantes da sociedade civil em âmbito estadual e
municipal, para o incentivo à elaboração dos Planos de Segurança Alimentar e
Nutricional nos municípios.
74
PLANO ESTADUAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL DO
ESTADO DO PIAUÍ – PESAN-PI
75
regional e que abrigam, no conjunto, cerca de 50% da população total residente
no estado. Já para o diagnóstico secundário, foi realizada a busca de dados em
fontes oficiais definidas durante a Oficina Estadual de Construção do Processo
Metodológico do PESAN-PI.
Nesse contexto, a elaboração do plano foi iniciada a partir da análise
da situação estadual de segurança alimentar e nutricional, a partir do diagnóstico
que possibilitou circunscrever a conjuntura na qual o plano se insere, embasado
por estudos e indicadores específicos de SAN estabelecidos previamente. Tais
indicadores contemplaram as seguintes dimensões de análise: características
demográficas, renda e condições de vida; acesso à alimentação adequada e
saudável; saúde, agravos e serviços relacionados; educação, agricultura,
recursos hídricos e meio ambiente; ações e aspectos relacionados à SAN.
O processo para diagnóstico de SAN, no Piauí, foi conduzido pela
CAISAN e contou com o uso de diversos recursos pedagógicos e didáticos,
dentre os quais se destacam as oficinas, reuniões sistemáticas de grupos
técnicos, consultas às deliberações e propostas emanadas das Conferências
Estaduais de Segurança Alimentar e Nutricional, as proposições e prioridades
definidas pelo CONSEA-PI e PPA vigente, adotando como base norteadora as
diretrizes da Política Nacional de SAN (PNSAN).
A CAISAN-PI buscou priorizar a intersetorialidade durante esse
processo com a participação de representantes de órgãos governamentais, de
instituições de ensino superior (IES) e da sociedade civil, que contribuíram para
a realização da análise da situação de SAN no estado e para a indicação dos
desafios, metas e ações visando dar concretude ao Direito Humano à
Alimentação Adequada aos piauienses.
76
a oportunidade de discutir o passo a passo do processo de construção do plano
estadual (PIAUÍ, s/d).
Desde então, a equipe que fazia parte do Projeto ConsolidaSisan,
realizou quatro oficinas, em cumprimento às metas I e III do referido projeto,
visando promover a formação continuada dos atores que integravam os
componentes do SISAN no Piauí, em nível estadual e municipal. A primeira
oficina foi realizada com o propósito de formar os atores sociais que atuam com
políticas públicas de SAN no estado, bem como, auxiliar na construção do
processo metodológico do I PESAN-PI.
Após a realização da primeira oficina e com o processo de construção
delimitado, os grupos de trabalho formados foram auxiliados no processo de
redação do plano pelas (os) bolsistas do Projeto ConsolidaSisan que prestavam
apoio à CAISAN-PI e ao CONSEA-PI. Em junho de 2017, com o diagnóstico do
panorama de SAN estadual concluído, realizou-se o “Seminário Piauiense de
Segurança Alimentar, Nutricional e Controle Social: Orientações Gerais”, com o
objetivo de capacitar e sensibilizar os gestores e conselheiros municipais a
respeito da construção dos planos municipais de SAN.
Nesta oficina, conduzida pela SASC, em parceria com o Projeto
ConsolidaSisan, os grupos de trabalho que coordenavam a construção do I
PESAN-PI, apresentaram os resultados do diagnóstico estadual para os
municípios presentes e realizaram oficinas paralelas com os representantes
municipais para avaliação e validação das metas e ações construídas.
Durante a elaboração do I PESAN-PI foram estratégias para garantir
a capacitação e participação da sociedade civil, a realização de oficinas de
formação e nivelamento, assim como, os encontros para definição das
prioridades do documento e sua validação bem como nos direcionamentos da
Política Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional.
Nesse processo de construção participativa, atores sociais do estado
e municípios tiveram a oportunidade de discutir os caminhos para finalização do
plano estadual de SAN, que foi fundamental para o sucesso durante a sua
validação, que ocorreu por consulta pública, em dezembro 2017, essencial para
contemplar amplamente as necessidades da população piauiense, no plano do
DHAA.
77
Após percorrer um longo processo, o I PESAN-PI foi concluído em
maio de 2018, com vigência de 2018 a 2021, configurando-se em um importante
instrumento de gestão e controle social da política de SAN no estado,
apresentando como objetivos: diagnosticar a situação de SAN; mapear as ações
de SAN nos dois níveis administrativos; definir metas e prazos para execução
das ações; articular de forma efetiva os programas e políticas relacionados à
SAN no estado; empoderar os titulares de direito sobre diferentes políticas,
programas e ações que possam garantir o DHAA; monitorar as ações e
programas de SAN; fortalecer o controle social no âmbito estadual da respectiva
política. No documento, foram indicadas nove prioridades (desafios), que
possuem correspondência com as oito diretrizes da PNSAN, o que constituiu a
base para a definição das suas ações, metas e mecanismos de monitoramento
e avaliação (PIAUÍ, s/d).
No processo de construção do plano, a CAISAN-PI enfrentou muitos
desafios, entre os quais o de realizar a intersetorialidade entre os órgãos e
setores envolvidos, assim como a participação dos municípios, necessários ao
processo participativo de elaboração e em conformidade com a PNSAN. Como
estratégias de superação estabeleceu-se parcerias com as Instituições de
Ensino Superior (IES), CONSEA, entidades e órgãos que compunham a CAISAN
PI. Cabe destacar o papel desempenhado pela UFPI e Universidade Estadual
do Piauí (UESPI), que fizeram parte desse processo, dando o apoio técnico
científico e interagindo com organizações sociais e governos, em uma dinâmica
construtiva, de caráter multidisciplinar e participativo.
Contudo, é importante ressaltar que o I PESAN-PI até novembro de
2019 ainda não havia sido publicado, o que guarda relação com o contexto
nacional de fragilidade da PNSAN e sua repercussão nos estados. O
fortalecimento dos componentes do SISAN-PI - CONSEA, CAISAN, Planos de
SAN está ainda a exigir alguns esforços, a não publicação do plano ilustra bem
essa necessidade. A atuação do poder público e da sociedade civil organizada
no estado e municípios é fundamental para este fortalecimento, pois dela
dependem o processo de adesão dos municípios ao sistema, o estabelecimento
das condições que possibilitem a pactuação federativa e o controle social das
políticas de SAN, essenciais ao funcionamento de um sistema de SAN robusto.
78
Quanto à intersetorialidade, controle e participação social, princípios
tão caros à PNSAN, existe ainda no estado, a necessidade de serem legitimados
pelo poder público. Alguns caminhos que podem contribuir para o fortalecimento
do SISAN-PI são a busca da articulação da gestão das políticas públicas e a
parceria com as IES no sentido de realizar atividades de pesquisa e extensão na
área da SAN, dando maior visibilidade à segurança alimentar e nutricional e a
sua problemática no nível estadual.
79
agroecológicas, quinzenalmente. Ademais, estabelece parcerias no âmbito
federal, estadual e municipal para realização de diversos eventos.
Ressalta-se que o Departamento de Nutrição da UFPI desenvolve
pesquisas na temática da segurança alimentar e nutricional. Entre estas,
destaca-se o “Estudo de práticas de vida saudável com estudantes de ensino
fundamental e médio na perspectiva da promoção da soberania e segurança
alimentar e nutricional”; o estudo “Perfil dos Conselheiros de Segurança
Alimentar e Nutricional no Piauí para os membros do CONSEA Estadual”, que
subsidiou propostas de capacitação sobre o efetivo papel do conselheiro de
SAN.
Destaca-se ainda, a pesquisa “A participação de sujeitos sociais na V
Conferência Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional no Piauí”1,
desenvolvida no âmbito do projeto ConsolidaSisan, teve seus resultados
apresentados em eventos nacional, regional e estadual.
Os resultados desta pesquisa possibilitaram identificar o perfil dos
conselheiros e identificar suas necessidades de qualificação para o efetivo
exercício de seu papel junto ao conselho e aos segmentos ali representados.
Permitiu também, conhecer como estes se manifestam e se comportam em
relação ao que estabelecem as instâncias legais na garantia do DHAA da
população, além de conhecer seus perfis e identificar as necessidades de
qualificação para o real cumprimento das suas competências junto ao respectivo
conselho, questões fundamentais para o fortalecimento da SAN em nível local.
1
Estudo financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do estado do Piauí - FAPEPI
80
81
PARTE III
82
83
Capítulo 6
84
pode intervir sobre a evolução de um processo inflamatório mais grave; o
acompanhamento sistemático de medidas corporais de um indivíduo
(indicadores), permite a análise do estado nutricional, demonstrando a
necessidade de adequação da alimentação em caso de desnutrição ou
sobrepeso antes que essa condição se estabeleça. Esses exemplos ajudam a
compreender a importância do monitoramento sistemático dos programas
sociais.
Os indicadores demonstrarão se as ações realizadas permitirão o
alcance dos objetivos do programa e em que medida os mesmos serão
alcançados, mostrando a necessidade de correção das ações, caso o
monitoramento revele fragilidades na sua execução, impossibilitando o
cumprimento das metas.
85
Ferramentas importantes que subsidiam o monitoramento são os
sistemas de informação de diversos setores e instituições governamentais por
agregarem indicadores que permitem monitorar programas e políticas públicas.
No âmbito da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (PNSAN),
destaca-se o portal DATASAN, planejado pela CAISAN Nacional em articulação
com a Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação (SAGI)1 do então
Ministério do Desenvolvimento Social. Este portal possibilitou conhecer, a partir
de 2011, o panorama da situação da SAN no País numa visão intersetorial,
contando com um conjunto de indicadores, tendo por base as dimensões de
análise da SAN (JANNUZZI, 2005; BRASIL, 2017).
Em 2012, foi elaborado o I Plano Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional 2012-2015 e, em seguida à sua publicação, iniciou-se o processo de
acompanhamento e monitoramento das metas dos programas e ações de SAN
de responsabilidade da esfera federal por meio do Sistema de Monitoramento do
Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISPLANSAN), no âmbito
da SAGI (BRASIL, 2017).
Conforme recomendação legal, o PLANSAN previa uma revisão
bienal. Assim, entre 2013 e 2014, o Plano passou por um processo de revisão,
priorizando ações, mantendo aquelas mais estratégicas, de forma a focalizar o
monitoramento dos programas mais relevantes para a consecução de seus
objetivos. O documento final da referida revisão, denominado “Balanço das
Ações do PLANSAN 2012/2015”, foi construído com base nas informações
registradas no SISPLANSAN e em oficinas de monitoramento realizadas pela
CAISAN Nacional (BRASIL, 2006; 2010a; 2017; CAISAN, 2017).
Outra ferramenta foi o Mapeamento de Segurança Alimentar e
Nutricional (MapaSAN), criada em 2014 com o objetivo de coletar no âmbito dos
estados e municípios informações sobre a gestão da PNSAN e componentes do
SISAN, incluindo ações e equipamentos públicos de SAN. Esse mapeamento foi
coordenado pela SAGI e pela CAISAN Nacional, com o apoio dos CONSEA e
CAISAN Estaduais. O MapaSAN foi realizado em 2015 e em 2018. Essa
continuidade permite conhecer e ampliar as possibilidades de monitoramento e
1
A SAGI institucionalizou a função de avaliar e monitorar, incorporando-a à gestão das políticas
e programas sociais executadas no âmbito do MDS.
86
divulgação de informações acerca do SISAN e da PNSAN, e podem subsidiar o
seu fortalecimento (CAISAN, 2019).
Em 2018 a SAGI disponibilizou o Visualizador de Dados Sociais (VIS
DATA), um sistema de gerenciamento e visualização dos diversos programas,
ações e serviços que ficavam no âmbito do MDS. Essa ferramenta permitiu
congregar as informações dispersas em diversos bancos de dados, como o
DATASAN, o MI Vetor, as Tabelas Sociais e o Atlas Social (BRASIL, 2019).
87
Quadro 1 – Aspectos dos monitoramentos do contexto e Política de SAN
e do PLANSAN
Etapa no ciclo de
Diagnóstico/Impactos Processo/Resultados
políticas públicas
Fonte: Autoria própria.
88
há conflito de escolha, dependendo da avaliação particularizada da situação
(BRASIL, 2012a; 2016; JANNUZZI, 2005).
Nesse sentido, algumas propriedades desejáveis aos indicadores do
PLANSAN podem ser citadas, como:
a) Validade: Critério fundamental na escolha de indicadores, pois é
desejável que se disponha de medidas tão “próximas” quanto
possível do conceito abstrato ou da demanda política que lhes
deram origem (JANNUZZI, 2005).
b) Representatividade: Captação das etapas mais importantes e
críticas dos processos, no local certo, para que seja
suficientemente representativo e abrangente. Dados
desnecessários ou inexistentes não devem ser coletados. Em
contrapartida, dados importantes devem ser precisos, atender aos
objetivos e ser buscados na fonte correta. Este atributo merece
certa atenção, pois indicadores muito representativos tendem a
ser mais difíceis de ser obtidos. Deve, portanto, haver um certo
equilíbrio entre a representatividade e a disponibilidade para
coleta (RUA, 2004).
c) Disponibilidade: Facilidade de acesso para coleta, estando
disponível a tempo, para as pessoas certas e sem distorções,
servindo de base para que decisões sejam tomadas. De nada
adiantaria informações atrasadas e desatualizadas, embora
corretas, ou informações atuais e corretas, mas para a pessoa
errada (RUA, 2004).
d) Comunicabilidade: Propriedade com a finalidade de garantir a
transparência das decisões técnicas tomadas pelos
administradores públicos e a compreensão delas por parte da
população, dos jornalistas, dos representantes comunitários e dos
demais agentes públicos (JANNUZZI, 2005).
e) Economia: Não deve ser gasto tempo demais procurando dados,
muito menos pesquisando ou aguardando novos métodos de
coleta. Os benefícios trazidos com os indicadores devem ser
maiores que os custos incorridos na medição (RUA, 2004).
89
f) Transparência: A boa prática da pesquisa social recomenda que
os procedimentos de construção dos indicadores sejam claros e
transparentes, que as decisões metodológicas sejam justificadas
e que as escolhas subjetivas sejam explicitadas de forma objetiva
(JANNUZZI, 2005).
g) Periodicidade: Para que se possa acompanhar a mudança social,
avaliar o efeito de programas sociais implementados, corrigir
eventuais distorções de implementação, é necessário que se
disponha de indicadores levantados com certa regularidade
(RUA, 2004).
h) Desagregabilidade: É preciso que os indicadores se refiram, tanto
quanto possível, aos grupos sociais de interesse ou à população
alvo dos programas, isto é, deve ser possível construir
indicadores sociais referentes a espaços geográficos reduzidos,
grupos sociodemográficos (crianças, idosos, homens, mulheres,
brancos, negros, etc.), ou grupos vulneráveis específicos (famílias
pobres, desempregados, analfabetos, etc.) (JANNUZZI, 2005).
i) Sensibilidade e especificidade: É importante dispor de medidas
sensíveis e específicas às ações previstas nos programas, que
possibilitem avaliar rapidamente os efeitos (ou não efeitos) de
determinada intervenção (JANNUZZI, 2005).
É importante ressaltar ainda que, idealmente, a escolha de
indicadores deve ser fundamentada na avaliação crítica das propriedades
anteriormente discutidas e não simplesmente na tradição de uso2.
CLASSIFICAÇÃO DE INDICADORES
2
Para mais informações a respeito de indicadores e suas propriedades podem ser consultados
os trabalhos de Jannuzzi (JANNUZZI, 2005) e de Vaz (RUA, 2004).
90
exemplificadas na Figura 1 (BRASIL, 2010b; 2014, 2016; 2018ª; JANNUZZI,
2005; RAMOS; SCHABBACH, 2012).
91
Figura 1 - Exemplos de indicadores para cada etapa de um programa de
incentivo à oferta de alimentos orgânicos
92
Dessa forma, tendo por base tais referências normativas, identifica-se
alguns objetivos relacionados especificamente ao monitoramento:
a) Apoiar o gerenciamento do Plano de SAN, produzindo
informações sobre o desempenho e grau das metas almejadas;
b) Auxiliar na formulação do orçamento, fornecendo evidências sobre
a implementação e resultados das políticas públicas para tomada
de decisão;
c) Subsidiar a reflexão e análise sobre prioridades, dificuldades e
estratégias, fornecendo o retorno contínuo de informações para o
processo de gestão;
d) Acompanhar o desenvolvimento dos programas em relação às
metas, visando qualificar a gestão da política de SAN.
O monitoramento é parte integrante do plano e deve ser levado em
consideração durante todo o processo de planejamento. Metas mal formuladas
certamente prejudicam o monitoramento, portanto, recomenda-se que, na
ocasião do estabelecimento das metas, já se tenha em mente quais serão seus
indicadores de processo e como será feito o seu monitoramento (BRASIL, 2017).
As dimensões de análise para o monitoramento da Política de SAN
estão definidas no Art. 21 do Decreto nº 7.272/2010. São elas:
a) Produção de alimentos – Relativa à produção e à área cultivada,
essa dimensão visa mensurar o grau de intensificação da
produção agrícola e agropecuária de determinada localidade. É
ideal que haja distinção quanto suas possíveis formas de produção
– como agricultura familiar, agricultura orgânica, agricultura
agroecológica – e seus diferentes atores – como latifundiários,
camponeses, indígenas e quilombolas (BRASIL, 2010a; 2017;
CONSEA, 2010).
b) Disponibilidade de alimentos – Quantitativos de alimentos
disponíveis para serem consumidos e comercializados localmente,
visto que, muitas vezes, a quantidade produzida não
necessariamente representa o disponível para o consumo humano
local por motivos como a exportação de alimentos, o destino de
alimentos para consumo animal ou a aplicação na produção de
biocombustíveis. Conta, por exemplo, com indicadores dos
93
estoques locais de alimentos e das centrais de abastecimento
(BRASIL, 2010a; 2017; CONSEA, 2010).
c) Renda e condições de vida – Dimensão que permite mensurar o
potencial de compra de alimentos pela população. Inclui
indicadores como: pessoal ocupado; desigualdade social; pobreza
e extrema pobreza; gastos das famílias com alimentação total; e
situação de Insegurança Alimentar domiciliar de determinada
localidade (ALMEIDA et al., 2017; BRASIL, 2010a; 2017;
CONSEA, 2010).
d) Acesso à alimentação adequada e saudável – Relaciona-se ao
comportamento alimentar da população, que pode ser influenciado
tanto pelas escolhas pessoais, como por aspectos culturais,
sociais e pela qualidade e acesso à informação. Costumeiramente
incluem-se a essa dimensão indicadores sobre equipamentos
públicos de SAN, fornecimento de alimentação escolar e
distribuição de alimentos adequados para populações específicas
(ANTONACCIO et al., 2016; BRASIL, 2010a; 2017; CONSEA,
2010).
e) Saúde, nutrição e acesso a serviços relacionados – O
monitoramento da saúde e, especificamente, da nutrição, é
essencial à Política de SAN, se relacionando diretamente com a
utilização biológica dos alimentos. Permite acompanhar o estado
nutricional; a prevalência de intolerâncias, alergias, carências e
outras condições alimentares específicas; o estado de
saneamento básico do município; a incidência de surtos de
doenças transmitidas por alimentos; e indicadores
higiênicossanitários (BRASIL, 2010a; 2017; CONSEA, 2010).
f) Educação – O conhecimento do nível educacional de determina
população é essencial ao planejamento de diferentes tipos de
intervenção em SAN. O nível educacional ainda se relaciona à
situação de SAN domiciliar e com escolhas alimentares
adequadas. Indicadores dessa dimensão de análise permitem, por
exemplo, maior adequação no desenho de ações de Educação
94
Alimentar e Nutricional (EAN) ou de capacitações em práticas
agrícolas (BRASIL, 2010a; 2012a; 2017; 2018b; CONSEA, 2010).
g) Programas e ações relacionadas à Segurança Alimentar e
Nutricional – As políticas públicas representam as características
e os valores de um determinado governo, traduzindo a forma como
este usa as instituições públicas para se relacionar com a
sociedade e garantir os seus direitos. Assim, o monitoramento de
programas e ações relacionadas a SAN expressaria o
compromisso que o poder público local possui em relação a
destinação de recursos para assegurar o Direito Humano à
Alimentação Adequada (DHAA) (BRASIL, 2010a; 2017; CONSEA,
2010)
Contemplando estas dimensões, o CONSEA Nacional elaborou em
2010 o documento “A Segurança Alimentar e Nutricional e o Direito Humano à
Alimentação Adequada no Brasil”, visando auxiliar na escolha de indicadores
para o monitoramento dos planos de SAN (CONSEA, 2010). Dadas as
especificidades dos estados e municípios, adaptações serão necessárias no
intuito de adequar o elenco de indicadores aos diferentes contextos locais,
sempre visando a viabilidade do monitoramento e a abrangência do maior
número de dimensões de análise possível. Um exemplo é o documento “Balanço
das Ações do PLANSAN 2012/2015”, que relaciona indicadores de resultado
com cada uma das diretrizes da PNSAN (CAISAN, 2017).
Em relação ao monitoramento da PNSAN, o Decreto 7.272/10
(BRASIL, 2010a), em seu Artigo 21, parágrafos, 4 e 6, determina que:
O monitoramento e avaliação da PNSAN será feito por sistema
constituído de instrumentos, metodologias e recursos capazes de aferir a
realização progressiva do direito humano à alimentação adequada, o grau de
implementação daquela Política e o atendimento dos objetivos e metas
estabelecidas e pactuadas no Plano Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional
[...]
§ 4 - O sistema referido no caput terá como princípios a
participação social, equidade, transparência, publicidade e
facilidade de acesso às informações.
[...]
95
§ 6 - O sistema de monitoramento e avaliação deverá identificar
os grupos populacionais mais vulneráveis à violação do direito
humano à alimentação adequada, consolidando dados sobre
desigualdades sociais, étnico-raciais e de gênero (BRASIL,
2010a).
96
Outras fontes de indicadores já existentes também podem ser
encontradas por meio do acesso a plataformas virtuais de entidades da
administração pública. Estes indicadores, ressalta-se, devem ter suas
propriedades atentamente avaliadas no intuito de que não haja equívocos, como
a escolha de indicadores que não sejam adequados à realidade do município por
sua baixa validade ou periodicidade.
Exemplos de plataformas virtuais com dados relacionados à PNSAN
são o Portal de Informações Agropecuárias da Companhia Nacional de
Abastecimento (CONAB); A SAGI e o Sistema de Vigilância Alimentar e
Nutricional (SISVAN). Essas e outras plataformas devem ter seus indicadores
avaliados no intuito de mensurar eventuais ações e programas constantes dos
planos de segurança alimentar e nutricional. Exemplos de indicadores
desagregados a nível municipal disponibilizados por essas plataformas, estão
dispostos no Quadro 2.
Portal de Informações
Agropecuárias da • Entregas realizadas de alimentos do Programa de
Companhia Nacional de Aquisição de Alimentos (PAA)
Abastecimento (CONAB)
Fundação Nacional do
• Área total de demarcações indígenas
Índio (FUNAI)
Fundação Cultural
• Área total de demarcações quilombolas
Palmares
Instituto Nacional de
• Número de projetos de assentamento da reforma
Colonização e Reforma
agrária
Agrária (INCRA)
97
• Quantidade de alunos atendidos pelo Programa
Nacional de Alimentação Escolar
Fundo Nacional de • Percentual de compra de alimentos oriundos da
Desenvolvimento da agricultura familiar destinados para a alimentação
Educação (FNDE) escolar
Sistema de Vigilância
Alimentar e Nutricional • Estado nutricional em diferentes fases da vida de
(SISVAN) usuários do Sistema Único de Saúde
Departamento de
Informática do SUS
(DATASUS) • Incidência de baixo peso ao nascimento
Fonte: Autoria própria.
98
I - Definir instrumentos e metodologia para monitorar, avaliar e
divulgar a implementação dos objetivos e das metas pactuados
no I Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional -
PLANSAN 2012/2015, aprovado pela Resolução nº 1, de 30 de
abril de 2012, da Câmara Interministerial de Segurança
Alimentar e Nutricional - CAISAN;
99
Quadro 3 - Passos operacionais para monitoramento do PLANSAN
Etapa Passos / Atividades
Criação de Comitê Técnico (CT) de Monitoramento (com re-
presentantes da CAISAN e CONSEA) onde serão definidas
estratégias, rotinas padronizadas, processos e demais itens que
irão compor o plano de monitoramento.
100
Etapa Passos / Atividades
Validação do sistema pela CAISAN (Pleno Secretarial) e
CONSEA.
101
Balanço das ações e programas do PLANSAN
102
Não existe uma maneira pré-estabelecida de disposição de
indicadores. No entanto, a literatura sobre planejamento de políticas públicas e,
especificamente, sobre SAN nos traz formas de elencá-los. Um exemplo seria o
apresentado abaixo, no Quadro 4, onde indicadores são relacionados à sua
dimensão de análise, meta, periodicidade de coleta, fonte de obtenção e o
responsável pela execução. Poderiam, inclusive, ser adicionados outros
elementos, como justificativas e fórmulas de cálculo (BRASIL, 2010b; CONSEA,
2010).
Periodi-
Dimensão cidade de Fonte de Responsá-
de análise Meta Indicador coleta obtenção vel
Percentual
50% de de compras
Acesso à compras da da Site do Se-
Secretaria
alimentação agricultura agricultura tor Munici-
Trimestral Municipal de
adequada e familiar para familiar para pal de Edu-
Educação
saudável a alimenta- a ali- cação
ção escolar mentação
escolar
Capacita- Percentual
ção de de vende- Telefonema
Saúde, 100% dos dores am- à Coordena-
nutrição e vendedores bulantes ção Secretaria
acesso a ambulantes capacitados Semestral Municipal Municipal de
serviços em Boas em Boas de Vi- Saúde
relacionado Práticas de Práticas de gilância
Ma- Ma- Sanitária
nipulação nipulação
Fonte: Autoria própria.
103
diversos setores que a compõem e para o desenvolvimento de
sistema articulado de informação em todas as esferas de
governo (BRASIL, 2010a).
CONSIDERANÇÕES FINAIS
104
105
Capítulo 7
106
recursos, destacando-se aqui o recurso financeiro, uma vez que as políticas
públicas são financiadas com o dinheiro do contribuinte (ARRETCHE, 2007).
A literatura diferencia análise e avaliação das políticas públicas,
esclarecendo que a análise é mais ampla por ter como foco todo o processo
político que influiu na elaboração da política; enquanto a avaliação foca na
política específica. Assim, no ciclo de elaboração da política pública – consistindo
nas etapas de formulação, implementação e avaliação – temos então que a
avaliação é constitutiva da análise (VIANA, 1996; DIAS; MATOS, 2012; SECCHI,
2013).
Para análise e compreensão de uma política, é importante
(re)conhecer os grupos envolvidos e suas visões, buscando o entendimento dos
conflitos e negociações presentes na construção do texto legal. O ideal é não se
restringir aos enunciados formais e valorizar os processos e sujeitos envolvidos
na elaboração da política, pois é na prática política do dia a dia das instituições
e das relações sociais que se identifica o modo de constituir as políticas públicas
em cada contexto (BAPTISTA; MATTOS, 2011).
Esses autores destacam ainda que os caminhos para a análise de
políticas devem percorrer o contexto em que elas nasceram, buscar
compreender os sujeitos que fazem parte da sua história, os espaços de relação
e negociação utilizados pelos sujeitos e os processos de inserção e sustentação
de conteúdos e enunciados que fazem parte do texto da política proposta. Por
outro lado, o principal destinatário do conhecimento sobre as análises das
políticas sociais deve ser os sujeitos ou setores mais marginalizados, que
poderão usar esses resultados para realizar o controle social da política pública
e buscar a democratização.
Os programas que concretizam as políticas públicas são realizados
por meio de ações diversas, as quais requerem o acompanhamento como forma
de verificar sua efetividade, ou seja, o impacto relacionado aos objetivos da
política.
De acordo com Barreira (2000, p.13) a avaliação é fundamental “para
aferir o grau de eficiência, efetividade e eficácia que os serviços sociais
apresentam e em consequência realimentar decisões e ações no campo da
política social”.
107
Diferentes conceitos são aplicados ao termo avaliar. Quando se trata
de avaliação de políticas públicas são bem definidas as tipologias de avaliação
de diagnóstico, de processos e de resultados, que por sua vez podem ser
operacionalizadas por diferentes metodologias a depender do objetivo da
avaliação e do objeto a ser avaliado.
No entanto, apesar de sua relevância evidente, historicamente não
há, no Brasil, a tradição de avaliar as políticas públicas. Somente a partir dos
anos 1990 a administração pública brasileira tem instituído sistemas de
avaliação às estruturas governamentais (VAITSMAN; PAES-SOUSA, 2009).
Neste contexto, em uma ação inovadora, foi criada no âmbito do
extinto Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) a
Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação (SAGI) que institucionalizou a
função de avaliar e monitorar, incorporando-a à gestão das políticas e programas
sociais executadas por aquele Ministério (VAITSMAN; PAES-SOUSA, 2009).
Uma contribuição inicial importante da SAGI foi a definição de um arcabouço
conceitual mínimo sobre avaliação e monitoramento contemplando as
dimensões: estrutura, processos, resultados e impactos.
A PNSAN operacionalizada até o ano 2018 pelo MDS é a forma
instituída do Estado brasileiro assegurar o Direito Humano à Alimentação
Adequada (DHAA), e objetiva de forma geral promover a soberania e a
segurança alimentar e nutricional da população brasileira, compreendida como
o “acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade
suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo
como base práticas alimentares promotoras de saúde, que respeitem a
diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente
sustentáveis” (BRASIL, 2006).
De natureza intrinsecamente intersetorial, cabe ao Sistema Nacional
de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN) articular os vários programas e
ações que dão concretude à PNSAN, que, não é demais frisar, dada a sua
natureza, requer a integração de políticas e programas de diferentes setores
para consecução de seus objetivos.
Instituída em 2010 pelo decreto nº 7.272 da Presidência da República,
a PNSAN estabelece os parâmetros para elaboração do Plano Nacional de
Segurança Alimentar e Nutricional (PLANSAN), que deve ser pactuado pelos
108
diversos setores da administração pública e se constitui no principal instrumento
de planejamento, gestão e execução da PNSAN, e, ainda, conforma os
componentes do SISAN, já previstos na Lei Orgânica de Segurança Alimentar e
Nutricional (LOSAN): Conferência Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional; Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA);
Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional (CAISAN); órgãos
e entidades do Poder Executivo Federal responsáveis pela implementação dos
programas e ações integrantes do PLANSAN; órgãos e entidades dos Estados
e do Distrito Federal; órgãos e entidades dos Municípios.
A avaliação e monitoramento da realização do DHAA estão previstos
na LOSAN enquanto dever do poder público (BRASIL, 2006), e de acordo com
a PNSAN, os mecanismos de monitoramento e avaliação do PLANSAN devem
ser definidos no Plano, que por sua vez deve ser revisado a cada dois anos.
O primeiro PLANSAN foi elaborado para o período 2012-2015, e o
segundo com vigência para os anos 2016-2019. Em 2015, em pleno processo
de implantação do SISAN no território nacional os estados foram elaborando
seus planos de SAN, alguns já encontravam-se na execução do segundo plano
estadual, enquanto outros ainda na execução do primeiro, o mesmo se aplicando
aos municípios, onde esse processo se dá muito lentamente. Dessa forma todos
estes entes federados se deparam com o mesmo desafio, avaliar os programas
e ações que buscam assegurar o DHAA.
Ao iniciar o Projeto ConsolidaSisan, os estados do Ceará, Piauí e
Maranhão estavam em diferentes momentos de elaboração dos planos
estaduais de SAN. No Ceará e Piauí estava em vigência o primeiro PLANSAN
elaborado para o período 2012-2015 e o Piauí estava em processo de
elaboração do primeiro plano. Dessa forma, uma das metas do projeto se
relacionava à capacitação dos gestores públicos, conselheiros e representantes
da sociedade civil no âmbito municipal para incentivar a elaboração e/ou revisão
dos PLANSAN, visando a adesão ao SISAN.
Importante esclarecer que ao descrever inicialmente a meta no
projeto, havia a suposição que os três estados já tinham seus planos, que
portanto, uma forma de contribuir na consolidação do SISAN seria colaborar na
revisão dos planos estaduais, com vistas a aperfeiçoar o segundo plano para o
109
período 2016-2019 e capacitar os atores sociais dos municípios para a
elaboração dos planos municipais.
Esta capacitação se deu por meio de oficinas, sendo realizada uma
em cada estado, e apesar das realidades diferentes, os temas abordados foram
praticamente os mesmos: Segurança Alimentar e Nutricional, abrangendo a
concepção de SAN, DHAA, SISAN, PNSAN, PLANSAN e os princípios
intersetorialidade e participação social na PNSAN; diagnóstico do SISAN em
cada estado; experiência dos estados e seus municípios na elaboração dos
Planos de Segurança Alimentar e Nutricional; exposição sobre as diretrizes da
PNSAN; apresentação da experiência municipal de funcionamento da CAISAN
e a execução de programas, projetos e ações de SAN; apresentação de
experiência sobre intersetorialidade em alguns municípios; o PLANSAN nos
estados e municípios - conceito e importância; roteiro do plano e etapas para sua
elaboração. Como atividade das oficinas foi sugerido um roteiro de análise dos
planos de SAN, contemplando a estrutura e o processo de elaboração.
Ao realizar-se a oficina sobre a elaboração dos planos de SAN, o
Ceará já estava na vigência do segundo PLANSAN referente ao período 2016-
2019. No Ceará a Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN-
CE), Lei nº 15.002, de 21.09.11 cria o SISAN-CE, a Câmara Intersetorial de
Segurança Alimentar e Nutricional (CAISAN-CE) e dispõe sobre a Política de
Segurança Alimentar e Nutricional (PSAN-CE). Em seu artigo 6o. afirma ser tal
política, estratégica para o desenvolvimento sustentável e no artigo 8o. aborda
o Plano de Segurança Alimentar e Nutricional. Especifica que o PLANSAN-CE
deve ser elaborado no âmbito do Plano Plurianual do Estado (PPA) e estabelece
a competência da CAISAN-CE na sua elaboração, monitoramento e avaliação.
Contudo, conforme Moura Fé (2018) o “PPA no Ceará possui uma limitada
capacidade de atender as demandas da sociedade civil na área de SAN, é
importante rever os programas e iniciativas de SAN inclusos nesse plano,
buscando ampliar essas ações e respectiva dotação orçamentária”.
Os planos de segurança alimentar e nutricional como instrumentos
que concretizam a PNSAN, devem propor ações que contemplem as oito
diretrizes desta política - Promoção do acesso universal à alimentação adequada
e saudável, com prioridade para aqueles em situação de INSAN; Promoção do
abastecimento, produção, extração, processamento e distribuição de alimentos;
110
Instituição de processos permanentes de educação alimentar e nutricional;
Promoção, universalização e coordenação de ações de SAN voltados para
quilombolas e demais povos e comunidades tradicionais; Fortalecimento das
ações de alimentação e nutrição em todos os níveis de atenção a saúde, de
modo articulado às demais ações de SAN; Promoção do acesso universal à
água, para a produção de alimentos da agricultura familiar, pesca e aquicultura;
Apoio a iniciativas de promoção da soberania alimentar, segurança alimentar e
nutricional e do direito humano à alimentação adequada; Monitoramento da
realização do Direito Humano à Alimentação Adequada (BRASIL, 2010a), - bem
como devem privilegiar as recomendações das conferências em seus níveis
específicos (nacional, estadual, municipal).
111
A etapa preparatória constituiu-se da apropriação do processo de
construção do PLANSAN (nacional) o que envolveu: o estudo do plano e o
contato com a CAISAN nacional para conhecer como se dera a experiência de
elaborar o plano; a identificação das ações de SAN no PPA; a elaboração de
formulários e fichas técnicas para as setoriais; estudo dos indicadores de SAN,
contemplando as sete dimensões de análise previstas na PNSAN (produção e
disponibilidade de alimentos, renda/ despesas com alimentação, acesso à
alimentação adequada e saudável, incluindo água, saúde e acesso a serviços
de saúde, educação e políticas públicas); estruturação de quadros onde para
cada diretriz foram relacionados objetivos, metas, programas, ações e
orçamento.
A etapa de elaboração incluiu a realização de oficina para definir
desafios e indicadores; a elaboração do diagnóstico; a elaboração de um capítulo
específico sobre monitoramento e avaliação do plano; organização do
documento preliminar e apreciação no CONSEA-CE; apresentação para o grupo
de trabalho e comissão técnica e posteriores ajustes.
Na etapa de validação, o plano foi apresentado para os gestores das
secretarias integrantes da CAISAN e em seguida enviado ao Gabinete do
Governador para publicação, a isto seguiu-se o envio para a CAISAN nacional
formalizando a adesão do Ceará ao SISAN. O passo seguinte foi a difusão do
plano junto aos municípios, para isso, a estratégia foi enviá-lo aos CONSEA e
prefeituras municipais. Ainda como parte desta etapa foi proposta a construção
de um sistema de monitoramento e avaliação, para o que seria formado um
grupo de trabalho (GT) composto por órgãos integrantes da CAISAN com o fim
de estruturar um sistema de monitoramento sistemático, visando a elaboração
de relatórios contínuos de análise da evolução dos indicadores das ações e
programas de SAN. A estruturação deste sistema refletiria o compromisso do
governo estadual com o cumprimento do Plano e o GT deveria ser nomeado em
até noventa dias após aprovação do mesmo.
O PLANSAN-CE (2012-2015) propôs seis desafios: Implementar o
SISAN, promovendo capacitações sistemáticas que estimulem a criação dos
marcos regulatórios municipais, mecanismos de gestão, financiamento e
controle social incorporando a concepção do DHAA, e da intersetorialidade na
Política, nos programas e ações de SAN efetivadas em todo território cearense;
112
Impulsionar a Política de SAN pautada nos princípios da sustentabilidade e
soberania, numa perspectiva emancipatória que propicie a superação da
extrema pobreza e da insegurança alimentar e nutricional; Executar programas
e ações de SAN envolvendo a dimensão ambiental e territorial, integrando ações
estruturantes e emergenciais com enfoque no acesso à terra, à água e à
produção familiar agroecológica, priorizando os indígenas, quilombolas e demais
povos e comunidades tradicionais; Ampliar as ações de vigilância sanitária, de
combate ao uso de agrotóxico e fazer gestões para que sejam estabelecidos
indicadores progressivos a fim de, num futuro próximo, seja retirada a isenção
fiscal estabelecida pelo Governo estadual a tais produtos; estabelecer
estratégias de enfrentamento aos transgênicos garantindo agro biodiversidade e
de quaisquer produtos que envolvam a possibilidade de risco à saúde, em todas
as fases de seus processos de produção dos bens e produtos submetidos ao
controle e fiscalização sanitária, incluindo a destinação dos respectivos resíduos;
Estruturar um programa sistemático de educação alimentar e nutricional
integrando ações pontuais existentes e ampliando-as, tendo como foco principal
crianças e adolescentes; Criar e implementar um sistema de monitoramento de
indicadores consubstanciados nas dimensões de SAN, com periodicidade anual,
definidos no PLANSAN/CE, como também no acompanhamento e avaliação das
ações empreendidas no estado. Para a busca de realização destes desafios
definiu 104 metas que envolviam 16 órgãos do Governo.
Quanto ao monitoramento e avaliação, o plano elencou 124
indicadores e previu revisões para 2013 e 2014, de forma a possibilitar ajustes e
adequações, uma avaliação processual em 2014 e uma avaliação de resultados
em 2016, realizada parcialmente.
O segundo PLANSAN-CE para o período 2016-2019 contemplou as
etapas de elaboração e validação que seguiram processo semelhante ao do
primeiro plano, sendo consideradas as propostas da 5ª Conferência Nacional de
Segurança Alimentar e Nutricional e da 5ª Conferência Estadual de Segurança
Alimentar e Nutricional do Ceará. Contudo, aqui foi prevista a implementação do
sistema de monitoramento e avaliação, para isto foi elaborado um Manual de
Orientações Básicas para Monitoramento de Planos de Segurança Alimentar e
Nutricional pela equipe técnica da Célula de Segurança Alimentar e Nutricional
do Ceará, que integra a Secretaria de Proteção Social, Justiça, Cidadania,
113
Mulheres e Direitos Humanos (antiga Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento
Social).
Contudo não foi realizado o monitoramento para as ações de SAN no
primeiro PLANSAN 2012-2015, o que poderia subsidiar a elaboração do
segundo plano. Poucas ações de acompanhamento das atividades de
implementação do plano anterior foram executadas, e o novo plano foi elaborado
sem realmente verificar o que foi ou não efetivado nas metas definidas.
Ressalta-se a importância da relação dos PLANSAN com os PPA
estaduais. A organização das ações de governo em PPA que resultem em bens
e serviços para a população está prevista na Constituição Federal e
regulamentada pelo Decreto no 2.829/1998. É o PPA de cada estado que definirá
os projetos e ações a serem executados, bem como a distribuição dos recursos
financeiros utilizados na gestão do poder executivo. Municípios, estados e o
governo federal devem elaborar e executar seus PPA e, nessa linha, os planos
de políticas públicas específicas servem para orientar as ações e programas
previstos, garantindo que respondam efetivamente pelo DHAA e segurança
alimentar e nutricional (MACHADO et al., 2018).
Para Machado et al (2018), ainda que a maioria dos estados com
planos publicados atendam a algumas normativas estabelecidas pela PNSAN,
esses instrumentos tornam-se frágeis e pouco exequíveis quando não estão
intimamente relacionados ao PPA, ou apresentam período de vigência diferente.
Quando não atrelados aos PPA, não possuem vinculação orçamentária para
suas metas. Algumas dificuldades para execução do II PLANSAN-CE - 2016-
2019 podem se relacionar com a divergência nos períodos de vigência, uma vez
que o planejamento do PPA para o mesmo período foi realizado em 2015, ou
seja, um ano antes da elaboração do plano o que repercute na redução dos
recursos destinados às ações de SAN.
O Plano Plurianual do Ceará para o período 2016-2019, concentra no
eixo Ceará Acolhedor para o qual são previstas menores dotações
orçamentárias. É neste eixo que estão as ações voltadas para a SAN,
assistência social, inclusão social e direitos humanos, habitação. A destinação
de recursos está assim distribuída: Assistência social (R$ 165.554.285,63);
inclusão social e direitos humanos (R$ 156.160.163,48); segurança alimentar e
nutricional (R$ 49.675.929,46); habitação (R$ 39.463.389,39).
114
O total de recurso destinado para a SAN no PPA foi distribuído entre
dois programas: um voltado para a promoção da segurança alimentar e
nutricional, de responsabilidade da Secretaria de Desenvolvimento Agrário, com
recursos em torno de R$ 47.215.525,25; e outro direcionado para gestão da
política de segurança alimentar e nutricional, sob coordenação da Secretaria de
Trabalho e Desenvolvimento Social, com o recurso de R$ 2.460.404,21
(CEARÁ,2018).
Observando os programas de SAN no PPA - eixo Ceará acolhedor,
identifica-se o tímido investimento do governo na área, revelando o incipiente
diálogo com as iniciativas propostas no II PLANSAN-CE, o que compromete a
consolidação da PSAN no estado. Assim, as iniciativas propostas pelo governo
são difíceis de serem executadas em todo o estado em razão da insuficiente
destinação de recursos financeiros e da pouca articulação intersetorial. É preciso
discutir como essas iniciativas foram escolhidas e inseridas no PPA, quem
participou dessas definições, levando proposições de alterações que realmente
possam dialogar com o PLANSAN Ceará (MOURA FÉ, 2018).
A CAISAN-CE reconhece alguns desafios relacionados à
operacionalização do plano estadual de SAN, os quais envolvem a
responsabilização dos órgãos e entidades integrantes do SISAN inclusive os da
União e municípios; o estabelecimento de mecanismos que assegurem a
integração com outros sistemas setoriais; a definição e acompanhamento do
orçamento para execução das ações; a incorporação de estratégias
intersetoriais e a instituição dos mecanismos de monitoramento e avaliação tanto
da destinação e aplicação dos recursos financeiros para a execução do plano,
quanto dos seus processos, resultados e impactos.
Este último desafio contribuiu para a avaliação parcial do plano ou
avaliação apenas de algumas ações, o que dá um caráter de parcialidade da
política, pois como referido anteriormente a avaliação é a última fase do ciclo das
políticas públicas e sua importância reside na verificação do cumprimento dos
objetivos e metas, do quanto foi possível cumprir e que dificuldades impediram
sua realização, o que repercute no grau de eficiência, efetividade e eficácia dos
programas e ações que concretizam o plano. O cumprimento dessa fase da
política pública dá o feedback para as decisões da gestão e respostas à
sociedade civil.
115
O PLANO ESTADUAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL DO
MARANHÃO- PLANESAN-MA
116
como formas de democratizar o regime de propriedade e
combater a pobreza rural;
Ampliar os níveis de Educação Alimentar e Nutricional (EAN) e
de promoção da alimentação adequada e saudável;
117
Promoção, universalização e coordenação de ações de
segurança alimentar e nutricional voltados para quilombolas e
demais povos e comunidades tradicionais de que trata o Decreto
6040/2007 e povos indígenas e assentados da reforma agrária;
Diretriz 5-Fortalecimento das ações de alimentação e nutrição
em todos os níveis de atenção à saúde, de modo articulado às
demais ações de SAN; Diretriz 6-Monitoramento da realização
do direito humano à alimentação adequada (MARANHÃO,
2014a).
Monitoramento e avaliação
118
Desafios para a execução
119
Secretaria de Estado da Educação (SEDUC-PI), CONSEA-PI, Diretoria da
Unidade de Segurança Alimentar e Erradicação da Fome (DUSAEF-PI),
Universidade Federal do Piauí (UFPI), Secretaria Municipal de Trabalho,
Cidadania e Assistencial Social de Teresina (SEMTCAS), e posteriormente, a
Secretaria Estadual de Planejamento (SEPLAN) e Universidade Estadual do
Piauí (UESPI) (PIAUÍ, s/d).
O objetivo geral do PESAN-PI é “aprimorar o desenvolvimento de
estratégias e mecanismos para aperfeiçoar o processo de construção do SISAN,
de forma que a União, os Estados e os Municípios possam, por meio de pactos
federativos, criar condições para assegurar a SAN da população brasileira”
(PIAUÍ, s/d, p. 10). Este objetivo realça a ênfase no fortalecimento do SISAN e
extrapola a ação para além do âmbito estadual, o que se configura como uma
impropriedade, e pode trazer impossibilidades de realização. Contudo, ao
examinarmos os objetivos específicos, vemos que todos são passíveis de
execução no âmbito estadual:
Podemos ainda fazer uma segunda leitura quanto aos objetivos geral
e específicos, é possível que a vivência de alguns integrantes da equipe de
elaboração do PESAN-PI no Projeto ConsolidaSisan tenha de certa forma
influenciado na elaboração do objetivo geral, além disso, os dois primeiros
objetivos específicos se constituíram em objetivos do referido projeto, mostrando
de forma positiva a influência deste na proposição do I PESAN-PI e na
configuração do SISAN no estado.
120
ações, que por sua vez encontram-se agrupadas por eixos denominados
“dimensões de análise”, que revelam a ênfase dada no plano a diferentes
aspectos dos desafios, por exemplo: o desafio 1 “promover o acesso universal à
alimentação adequada e saudável, com prioridade para as famílias e pessoas
em situação de insegurança alimentar e nutricional” (correspondente à diretriz 1
da PNSAN), enfatizou o aspecto renda, assim a dimensão de análise criada foi
“Transferência de renda”, a meta correspondente é transferir renda a 100% das
famílias vivendo em extrema pobreza e para isso estão elencadas as seguintes
ações: Mapear as áreas do estado/municípios prioritárias, urbanas e rurais,
identificando aquelas famílias em situação de extrema pobreza ou
vulnerabilidade social; Aumentar para pelo menos 60% o número de famílias em
situação de segurança alimentar e nutricional no estado; Reduzir os índices de
extrema pobreza nas áreas rurais e urbanas, do estado, em pelo menos 15%
para área rural e 6% para área urbana (PIAUÍ, s/d).
Dessa forma foram elencados os seguintes desafios: Promover o
acesso universal à alimentação adequada e saudável, com prioridade para as
famílias e pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional; Promover
e incentivar a alimentação adequada e saudável da população piauiense, com
estratégias de educação alimentar e nutricional e medidas regulatórias; Prevenir
e controlar os agravos decorrentes da má alimentação; Fortalecer a
implementação do SISAN, consolidando a gestão estadual e municipal, a
intersetorialidade e a participação social; Promover a inclusão produtiva rural em
grupos populacionais específicos, com ênfase em povos e comunidades
tradicionais e outros grupos sociais vulneráveis no meio rural; Promover a
produção de alimentos saudáveis e sustentáveis, a estruturação da agricultura
familiar e o fortalecimento de sistemas de produção de base agroecológica;
Ampliar a disponibilidade hídrica e o acesso à agua para a população, em
especial a população de baixa renda no meio rural; Promover e fortalecer o
direito humano à segurança alimentar, com ênfase nas pessoas com direitos
infringidos à alimentação adequada ou em situação de risco ou discriminação
social; Ampliar a atuação do profissional nutricionista nas políticas de saúde, com
vistas ao apoio técnico das ações de alimentação e nutrição, em diversos
programas (PIAUÍ, s/d).
121
Monitoramento e avaliação
122
CONCLUSÃO
123
hierárquico vinculado diretamente ao gabinete do presidente da república, não
se encontrando subordinado a qualquer ministério em específico. Tal
conformação era propícia à implementação intersetorial das ações de SAN, visto
que esse nível hierárquico facilita a convocação de representantes dos
ministérios para as reuniões intersetoriais, bem como possibilita o ordenamento
de despesas para atividades intersetoriais desempenhadas pelo CONSEA
nacional.
No entanto, tratando-se dos congêneres estaduais e municipais dessa
instância, os conselhos se encontravam sob a tutela de órgãos setoriais,
comumente secretarias relacionadas à assistência social e à agricultura, que têm
total propriedade com as questões, contudo, essa vinculação pode se relacionar
com o nível de prioridade dada à segurança alimentar e nutricional.
Os resultados dessa organização adotada com frequência são
barreiras à intersetorialidade. Não são incomuns relatos de ausência de órgãos
setoriais que seriam importantíssimos nas reuniões das instâncias responsáveis
pela proposição e acompanhamento dos planos de SAN, bem como observa-se
uma constante dificuldade em destinar e receber retorno de ações previstas,
alocadas nos diversos setores, sendo, teoricamente, tal dificuldade motivada
usualmente pelo desconhecimento da existência desse plano e dos motivos das
demandas.
c) Avaliação e monitoramento – Necessidade de definir claramente a
qual setor compete a coordenação do plano, que deve ser feito de
forma colaborativa, mas com a especificação das
responsabilidades e atribuições de cada setor / instância
responsável pelas ações necessárias à sua execução e
acompanhamento.
Uma dificuldade encontrada no âmbito das políticas públicas em geral
diz respeito ao processo de monitoramento e avaliação. O monitoramento da
política de SAN contempla duas perspectivas: o monitoramento sob a ótica do
controle social, realizado destacadamente pelos conselhos de segurança
alimentar e nutricional em suas respectivas esferas; e sob a ótica da gestão,
realizado pelos órgãos setoriais executores das ações.
Por um lado, o monitoramento realizado pelo controle social encontra
empecilhos devido a sua dependência de informações que são de obtenção
124
complexa para a população em geral sem o conhecimento técnico especializado
ou mesmo são inacessíveis para indivíduos estranhos à gestão governamental.
Por outro lado, se tratando de monitoramento gerencial, há dificuldades de
ordem técnica – planejamento, recursos, conhecimento específico – as quais
limitam e em última instância, inviabilizam o monitoramento das ações e
programas de SAN.
Essas mesmas dificuldades se aplicam à avaliação. A falta de
avaliação formativa impede a correção do curso da ação; por outro lado é comum
que programas não sejam avaliados de forma somativa, o que impede a
identificação de falhas no processo que poderiam ser corrigidas antes do
recomeço de outro ciclo de atividades dos programas em questão, prejudicando
assim a noção sobre a eficiência, eficácia e efetividade das ações executadas.
d) Financiamento – A dificuldade de utilizar indicadores consagrados
de acompanhamento da execução orçamentária, visto que a série
temporal de orçamento, empenho e gastos é obtida a partir da
delimitação e aplicação de recursos.
Tal conformação evidencia a dificuldade de gerir recursos financeiros
para as metas firmadas nos planos de segurança alimentar e nutricional, pois
essas só poderão ser implementadas a partir da destinação específica no
orçamento público, ou seja, por meio da inclusão na Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO), instrumento que estabelece as prioridades da gestão,
orientando a elaboração Lei Orçamentária Anual (LOA), conforme as
proposições do Plano Plurianual (PPA). A falta de sincronia entre a realização
das conferências de SAN, onde são deliberadas as ações para os planos de
segurança alimentar e nutricional, com a elaboração do planejamento
orçamentário é um enorme desafio para a execução de referidos planos.
e) Por fim, uma necessidade revelada na elaboração dos planos,
similar nos três estados, é a necessidade de uma assessoria
especializada no planejamento público, como forma de minimizar
algumas questões claramente relacionadas com a falta do
conhecimento técnico específico.
A adesão dos estados ao SISAN e consequente elaboração dos
planos de SAN se deu num contexto político em que o governo central favorecia
tal resposta. Contudo, durante a execução do Projeto ConsolidaSisan, ocorreu a
125
mudança na conjuntura sociopolítica a partir do golpe de Estado que destituiu a
presidenta Dilma Roussef em agosto de 2016, culminando com a extinção do
CONSEA nacional pela Medida Provisória 870/19, ato do governo federal que
depõe contra a jovem democracia brasileira e que repercute, acentuando a
fragilidade dos conselhos estaduais. Acentuando, porque a falta de apoio dos
governos estaduais aos conselhos de segurança alimentar e nutricional, já se
revelava pela não vinculação direta deste conselho ao poder executivo estadual,
o que traz duas consequências diretas: a dificuldade de planejar e executar de
forma intersetorial os planos de SAN e a fragilização da participação social via
CONSEA. Esta situação, em maior ou menor grau foi observada no Ceará,
Maranhão e Piauí, demonstrando a necessidade de revigorar a mobilização da
sociedade civil organizada na luta pela manutenção da garantia do direito
humano à alimentação adequada.
126
127
REFERÊNCIAS
128
BRASIL. Decreto nº 7.272, de 25 de agosto de 2010. Casa Civil. Regulamenta
a Lei no 11.346, de 15 de setembro de 2006, que cria o Sistema Nacional de
Segurança Alimentar e Nutricional - SISAN com vistas a assegurar o direito
humano à alimentação adequada, institui a Política Nacional de Segurança
Alimentar e Nutricional - PNSAN, estabelece os parâmetros para a elaboração
do Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, e dá outras
providências. Brasília: 2010a. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Decreto/D7272.htm.
Acesso em 18 de nov. de 2019.
129
http://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?jornal=1&pagina=88&
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130
20de%202016%20-%208%C2%AA%20ADES%C3%83O.pdf >. Acesso em 02
ago. 2017.
131
Disponível em: < http://www.in.gov.br/materia/-
/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/15726110/do1-2018-05-24-
resolucao-n-4-de-17-de-abril-de-2018-15726106> Acesso em 14 nov. 2019.
132
CEARÁ. Câmara Intersetorial de Segurança Alimentar e Nutricional- CAISAN-
CE. Institui o regimento interno da Câmara Intersetorial de Segurança
Alimentar e Nutricional – CAISAN -CEARÁ, criada pelo decreto nº 30.843,
de 07 de março de 2012. Fortaleza: 2013. Disponível em:
https://www.jusbrasil.com.br/diarios/64478410/doece-caderno-2-26-12-2013-
pg-99. Acesso em 18 de nov. de 2019.
133
https://www.mma.gov.br/estruturas/168/_publicacao/168_publicacao300120091
15508.pdf Acesso em 18 de nov. de 2019.
134
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2019.
135
do Estado do Piauí - SISAN-PI e a Política de Segurança Alimentar e Nutricional
do Estado do Piauí - PSAN-PI, e dá outras providências. Teresina, 2012.
Disponível em: https://www.normasbrasil.com.br/norma/lei-6164-2012-
pi_237000.html. Acesso em 18 de nov. de 2019.
136
137
138
139