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rápicos na Atenção Básica, concebido, desenvolvido e ofertado pela parceria entre o Ministério da Saúde, a Fundação
Oswaldo Cruz e a Universidade Federal do Pará.
O curso completo pode ser acessado em: www.avasus.ufrn.br
Coordenação Geral
Joseane Carvalho Costa
Reitoria
Emmanuel Zagury Tourinho
Vice-Reitoria
Gilmar Pereira da Silva
Pró-Reitoria de Extensão
Nelson José de Souza Júnior
Coordenação Administrativa
Ivanete Guedes Pampolha
2016 Ministério da Saúde | Fundação Oswaldo Cruz | Universidade Federal do Pará
Esta obra é disponibilizada nos termos da Licença Creative Commons – Atribuição – Não Comercial – Compartilhamen-
to pela mesma licença 4.0 Internacional. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra em qualquer suporte ou
formato, desde que citada a fonte.
A coleção institucional do Ministério da Saúde pode ser acessada, na íntegra, na Biblioteca Virtual em Saúde do Ministé-
rio da Saúde [www.bvsms.saude.gov.br]. Todo o material do curso também está disponível na RetisFito [www.retisfito.
org.br] e no repositório institucional UFPA Multimídia [www.multimidia.ufpa.br].
ISBN 978-85-65054-42-3
Nesse sentido, nesta etapa do Curso, você poderá conhecer os marcos regulatórios e legais
que norteiam a introdução, pelos profissionais de saúde, de plantas medicinais e fitoterápicos
como recurso terapêutico na Atenção Básica à Saúde, de forma segura e racional.
Para isso, você verá como conteúdos os marcos legais e políticos da Fitoterapia brasileira e
as resoluções norteadoras para a inserção da Fitoterapia na assistência farmacêutica, normas
que abordam as plantas medicinais e fitoterápicos em interface com a Atenção Básica.
À medida que você for lendo o texto, sugerimos que busque também as legislações pertinen-
tes para complementar e aprofundar os seus conhecimentos.
Atente para o fato de que os marcos regulatórios são importantes para que sejam garantidas a
eficácia, a qualidade e a segurança das plantas medicinais e/ou fitoterápicos industrializados,
alcançando um uso racional e seguro.
Bons estudos!
06
1 MARCOS POLÍTICOS E LEGAIS
DA FITOTERAPIA BRASILEIRA
Um dos marcos regulatórios importantes no âmbito da saúde no Brasil que você deve consul-
tar é a Constituição Brasileira (BRASIL, 1988), que no seu Artigo 196, dispõe sobre a criação do
Serviço Único de Saúde (SUS) e estabelece o conjunto de ações que devem ser seguidas por
instituições privadas e públicas, nas esferas federais, estaduais e municipais.
Dois anos após a reforma da Constituição, em 1990, foi regulamentada a Lei Orgânica da Saú-
de (BRASIL, 1990), que criou o Sistema Único de Saúde (SUS) e estabeleceu, pela primeira
vez, de forma relevante, um conceito sobre a saúde. De um modelo assistencial centrado na
doença e baseado no atendimento a quem procura, passou-se para um modelo de atenção
integral à saúde, em que se propõe a incorporação progressiva das atividades de promoção,
prevenção e recuperação da saúde.
Em primeiro lugar, incorpora o conceito mais abrangente de que a saúde tem como fatores
determinantes e condicionantes: o meio físico (condições geográficas, água, alimentação, ha-
bitação, etc.), o meio socioeconômico e cultural (ocupação, renda, educação, etc.), os fatores
biológicos (idade, sexo, herança genética, etc.) e a oportunidade de acesso aos serviços que
visem à promoção, proteção e recuperação da saúde. Isso implica que, para se ter saúde, são
necessárias ações em vários setores, o que só uma política governamental integrada pode
assegurar.
Em segundo lugar, a Lei Orgânica da Saúde também legitima o direito de todos, sem qual-
quer discriminação, às ações de saúde em todos os níveis, assim como explica que o dever de
prover o pleno gozo desse direito é de responsabilidade do Estado. O dever do poder público,
no entanto, não exclui o dever do próprio cidadão, da família, da empresa e de outros setores
sociais. Isso significa que, a partir da nova constituição, a única condição para se ter direito de
acesso às ações de saúde é precisar delas.
Em terceiro lugar, é regulamentado o Sistema Único de Saúde, de caráter público, formado
por uma rede de serviços de assistência à saúde, regionalizada, hierarquizada e descentraliza-
da, com direção única em cada esfera de governo e sob controle dos seus usuários.
07
Dentro das diretrizes básicas traçadas, umas das que mais se aproxima do uso de plantas me-
dicinais é a regionalização e o controle social, que permite a participação do usuário do Siste-
ma Único de Saúde como corresponsável pela própria saúde,trabalhando pela promoção da
saúde de seus familiares e de sua comunidade (BRASIL, 1990).
Assista ao vídeo
sobre o papel da O interesse popular e institucional, por meio de suas representações, vem crescendo no senti-
participação social do de fortalecer a Fitoterapia no SUS, uma vez que, depois da década de 1990, diversas reso-
no fortalecimento
das PICs e da Fito-
luções, portarias e relatórios foram elaborados com ênfase na questão das plantas medicinais.
terapia na Etapa 5.
Nas últimas décadas, as Conferências Nacionais de Saúde contemplaram deliberações para
o desenvolvimento da Política Nacional de Medicamentos (Portaria GM/MS nº 3.916, de
30/10/1998), da Política Nacional de Assistência Farmacêutica (Resolução CNS nº 388, de
06/05/2004), da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (Portaria nº 971,
de 03/05/2006) e da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (Decreto nº 5.813,
de 22/06/2006).
No texto-base da
Etapa 1, você pode
ler sobre a implan-
Vale ressaltar que, em 1986, o relatório final da 8ª Conferência Nacional de Saúde, realizada
tação da PNPMF no em Brasília-DF, já se referia à introdução de práticas alternativas no sistema público de saúde
Brasil. e ao acesso democrático de escolher a terapêutica preferida, de acordo com as orientações da
Organização Mundial da Saúde.
Após a criação do Sistema Único de Saúde, a 10ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em
1996, contemplou em seu relatório final as seguintes deliberações:
Cabe aos gestores do SUS estimular e ampliar pesquisas realizadas em parceria com Uni-
versidades Públicas que analisem a efetividade das práticas populares alternativas em saúde
com o apoio das agências oficiais de fomento à pesquisa.
Incorporação ao Sistema Único de Saúde, em todo o país, das práticas de saúde como a
Fitoterapia, acupuntura e homeopatia, contemplando as terapias alternativas e práticas po-
pulares.
O Ministério da Saúde deve incentivar a Fitoterapia na Assistência Farmacêutica Pública
e elaborar normas para sua utilização. Este trabalho deverá ser amplamente discutido com
os trabalhadores em saúde, especialistas, participação popular e gestores mais empenhados
com a questão da cidadania e dos movimentos populares.
Outra questão importante na década de 1990 foi que o Brasil, como signatário da Convenção
para a Diversidade Biológica (CDB) durante a ECO 92, precisava cumprir metas e compro-
missos estabelecidos perante a comunidade internacional. A Estratégia Global para Conser-
vação de Plantas (GSPC), estabelecida na Conferência das Partes da CDB, buscou facilitar o
consenso e a sinergia aos níveis global, regional e local, a fim de impulsionar o conhecimento
e a conservação de plantas. Essas medidas procuraram evitar a perda dos recursos
Nesta Etapa 5, vegetais e, em consequência, dos conhecimentos e práticas locais que apoiam a subsistência
você encontra uma
apresentação em
e o cuidado com a saúde nessas populações (RBJB, 2006).
slides sobre o Con-
selho de Gestão do
Patrimônio Gené-
tico com maiores
informação sobre
a CDB.
08
Amplie seus estudos
A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD)
ou Rio-92, realizada em junho de 1992, reuniu Chefes de Estados e representantes de 179
países, viabilizando os mais importantes acordos internacionais ambientais da história:
Agenda 21, Declaração de Princípios para Florestas, Declaração do Rio para o Desenvolvi-
mento e Meio Ambiente, Convenção sobre Mudança do Clima e a Convenção sobre Diversi-
dade Biológica.
A Convenção para a Diversidade Biológica, um tratado da Organização das Nações Unidas,
foi estabelecida durante a ECO-92 e é considerada um dos mais importantes instrumentos
internacionais relacionados ao meio ambiente.
Convenção sobre Diversidade Biológica
Acesse em: http://www.mma.gov.br/estruturas/sbf_dpg/_arquivos/cdbport.pdf
Em maio de 2003, representantes da WWF, IUCN e OMS recomendaram a revisão das diretri-
zes de 1993, visto que novos fatos haviam surgido na área de plantas medicinais e de conser-
vação ao longo da década de 1990. Esses fatos tem como referência os novos paradigmas de
conservação e uso sustentável que impulsionaram o desenvolvimento de ações de gestão em
diferentes níveis da cadeia que envolve o cultivo, o beneficiamento, o transporte, a produção
e o uso de fitoterápicos. Após processo de consulta pública, a nova proposta foi concluída em
2005, estabelecendo, então, as Diretrizes para a Conservação de Plantas Medicinais (BRASIL,
2006).
Assista ao vídeo
sobre a Nova Lei
da Biodiversidade Nesse contexto, para a OMS, a introdução da Fitoterapia no sistema de saúde dos países
nesta Etapa 5. membros amplia e implementa a Assistência Farmacêutica, tendo em vista o amplo uso de
plantas medicinais pela população mundial.
Atenção!
Perceba que esse cenário propiciou a construção dessas novas políticas de saúde no Brasil,
cujo objetivo foi ampliar e melhorar o acesso aos serviços de saúde.
09
Amplie seus estudos
Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS
Autoria: Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção
Básica.
Ano: 2006
Acesse em: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/politica_nacional_praticas_integrativas_complementares_2ed.pdf
Dentre essas novas políticas, em 2003, o Relatório da 12ª Conferência Nacional de Saúde
(BRASIL, 2003) traz, em dois de seus eixos temáticos, as plantas medicinais tendo como foco
a educação permanente em saúde para todas as categorias de profissionais de saúde, com ên-
fase na qualificação em plantas medicinais e fitoterápicos no intuito de estimular a prescrição
de fitoterápicos e medicamentos manipulados em geral. Em outro eixo, o texto dispõe sobre
o incentivo à pesquisa sobre plantas medicinais realizadas por instituições nacionais visando
ao desenvolvimento do país.
10
Elaboração da Relação Nacional de Plantas Medicinais e da Relação Nacional de
Fitoterápicos.
Provimento do acesso a plantas medicinais e fitoterápicos aos usuários do SUS.
Formação e educação permanente dos profissionais de saúde em plantas medicinais e
Fitoterapia.
Acompanhamento e avaliação da inserção e implementação das plantas medicinais e
Fitoterapia no SUS.
Fortalecimento e ampliação da participação popular e do controle social.
Estabelecimento de política de financiamento para o desenvolvimento de ações voltadas à
implantação das plantas medicinais e da Fitoterapia no SUS.
Incentivo à pesquisa e desenvolvimento de plantas medicinais e fitoterápicos, priorizando
a biodiversidade do País.
Promoção do uso racional de plantas medicinais e dos fitoterápicos no SUS.
Garantia do monitoramento da qualidade dos fitoterápicos pelo Sistema Nacional de Vigi-
lância Sanitária.
Em 22 de junho de 2006, foi assinado o decreto nº 5813 que aprova a Política Nacional de Plan-
tas Medicinais e Fitoterápicos (BRASIL, 2006b). Essa política tem caráter interministerial e
tem como objetivo garantir à população brasileira o acesso seguro e o uso racional de plantas
medicinais e fitoterápicos, promovendo o uso sustentável da biodiversidade, o desenvolvi-
mento da cadeia produtiva e da indústria nacional (CORRÊA JUNIOR,2009).
11
Conforme previsto no PNPMF, foi criado, em 30 de setembro 2009, o Comitê Nacional de
Plantas Medicinais e Fitoterápicos, com caráter consultivo e deliberativo, para monitorar e
avaliar as ações para implantação do referido Programa no Brasil.
Esses marcos legais (PNPIC, Política de PMF e PNPMF) permearam e nortearam a elaboração
das diretrizes dos novos marcos regulatórios para as políticas de saúde em Fitoterapia no Bra-
sil, publicados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que envolve desde o uso
da biodiversidade até o conhecimento tradicional.
Nesta Etapa 5, veja
também a apre-
sentação em slides
sobre o Conselho
de Gestão do Pa-
trimônio Genético
(CGEN).
12
2 FARMACOPEIA BRASILEIRA E DEMAIS
RESOLUÇÕES NORTEADORAS
No Brasil, as plantas para uso medicinal carecem de uma visão crítica para propostas de uso
sustentável que contemplem o desenvolvimento de tecnologias apropriadas, de modo a pos-
sibilitar o avanço do conhecimento científico com o desenvolvimento de produtos com quali-
dade, eficácia e segurança, tendo como consequência ganhos de divisas e a garantia da dimi-
nuição da perda dos recursos vegetais.
Em 2008, como um dos resultados das diretrizes da PNPMF, houve a revisão da legislação
sanitária para fitoterápicos, o que, entre outros fatos, levou à ampliação do número de drogas
vegetais presentes na 5ª edição da Farmacopeia Brasileira (BRASIL, 2010a - FARMACOPEIA).
Nessa edição, constam 54 drogas vegetais, das quais 20% são nativas da flora do Brasil.
Esse formulário define as normas para manipulação de drogas vegetais, oficializando as for-
mulações produzidas de forma padronizada em farmácias de manipulação e Farmácias Vivas,
cuja relação de produtos foi estabelecida a partir das formulações apresentadas com espécies
vegetais mais frequentes nos serviços de Fitoterapia das diversas regiões do Brasil, dando
preferência para as constantes na Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS
(Renisus).
Você também
pode encontrar
informações sobre
A Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) n° 10/2010 (BRASIL, 2010b) também representou
a Renisus em uma avanço pela possibilidade da notificação de drogas vegetais, definindo regras quanto à poso-
apresentação em
slides e no texto
logia, indicação e controle da qualidade. Essa RDC permite o uso do infuso e/ou decocto, for-
-base da Etapa 6. ma mais frequente utilizada pela população - os chás. Por isso, esse regulamento apresenta
um número mais expressivo de espécies nativas (BRASIL, 2010b).
Já a RDC n° 14/2010 é uma resolução com características mais rígidas que as anteriores e regu-
lamenta o registro de fitoterápicos industrializados. Há, também, a RDC n° 17/2010 para boas
práticas de fabricação e controle (BPF) e a RDC n° 13/2013 de boas práticas para o Produto
Fitoterápico Tradicional normatizado pela RDC n° 26/2014, além de outras resoluções para
manipulação, tais como a RDC n° 67/2007 e a RDC n° 87/2008.
Em 13 de maio de 2014, foi publicada a RDC n° 26/2014 que dispõe sobre o registro de medi-
camentos fitoterápicos e o registro e a notificação de produtos tradicionais fitoterápicos, que
revogou as Resoluções de Diretoria Colegiada da Anvisa (RDC nº 14, de 31 de março de 2010,
13
e RDC nº 10, de 9 de março de 2010), a Resolução - RE nº 90, de 16 de março de 2004, e a Ins-
trução Normativa - IN nº 5, de 31 de março de 2010.
Observe no Quadro 01 a seguir algumas mudanças que ocorreram nas legislações de plantas
medicinais e fitoterápicos:
Quadro 01 Mudanças nas legislações de plantas medicinais e fitoterápicos
Assunto Anterior a 2006 Situação atual
Registro de RDC n° 26/2014
Medicamento RDC n° 48/04 BULAS RDC n° 47/09
Fitoterápico RDC n° 14/2010
Registro IN n° 02/14
RE n° 89/04
Simplificado IN n° 05/08
Boas Práticas de
RDC n° 210/03 RDC n° 210/03
Fabricação (BPF)
5ª ed. FB (2010)
Farmacopeia
4 edições vigentes Formulário Fitoterá-
Brasileira (FB)
pico da FB (2011a)
14
A partir dessas mudanças, espera-se que os profissionais de saúde nos serviços públicos res-
pondam aos órgãos regulamentadores de forma efetiva, quanto à aplicação da prática fitote-
rápica, consonante com a legislação em que se estabelece os padrões de qualidade, destina-
dos a uma resposta terapêutica eficiente.
Nos últimos anos, estão sendo estimuladas várias atividades relativas à extensão e à pesquisa
com plantas medicinais em seus diversos aspectos, tais como a otimização do uso popular, vi-
sando garantir a saúde individual e coletiva; o cultivo monitorado para a produção de plantas
medicinais com segurança e eficácia para o consumo humano; e o resgate da herança cultural
em medicina tradicional brasileira.
O modelo Farmácia Viva – considerada pelo seu fundador, Prof. José de Abreu Matos (pesqui-
sador da Universidade Federal do Ceará) e seguidores, como “Farmácia Social do Povo para o
Povo” – foi normatizada por meio da Portaria do Ministério da Saúde nº 886 de 2010 e a RDC
nº 18/2013. Esse modelo de farmácia estimula a utilização de plantas medicinais produzidas
no próprio espaço acadêmico ou nos serviços públicos de saúde, além de estar sendo adotado
pelo Ministério da Saúde para a produção e dispensação de plantas medicinais e fitoterápicos
para o SUS.
Você encontrará in-
formações sobre as
Farmácias Vivas no
É importante ressaltar que os produtos manipulados na Farmácia Viva não necessitam de
texto-base da Eta- registro na Anvisa e seguem a RDC n° 18/2013, específica para Farmácia Viva, permitida ape-
pa 7 , assim como
poderá conhecer a
nas no âmbito do serviço público de saúde e, para a produção e controle, segue as boas práti-
primeira Farmácia cas gerais para manipulação.
Viva, no Ceará, em
um vídeo sobre
modelos de hortos
medicinais.
15
3 INSERÇÃO DA FITOTERAPIA NA
POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA
A Política Estadual de Assistência Farmacêutica deve estar em conformidade com a Política
Nacional de Medicamentos e com a Política Nacional de Assistência Farmacêutica. Dessa for-
ma, deve ser desenvolvido um conjunto de ações voltadas à promoção, à proteção e à recupe-
ração da saúde, tanto individual como coletiva, tendo o medicamento como insumo essencial
e visando ao acesso e ao seu uso racional.
Como exemplo, cita-se o programa FarmáciasVivas, como dito anteriormente, uma iniciativa
pioneira idealizada pelo Prof. Francisco Matos, pesquisador da Universidade Federal do Ceará.
Esse programa tem por objetivo atender pequenas comunidades usando plantas nativas da
região e validando-as cientificamente para produzir e oferecer à população formulações ofici-
nais. Em virtude da relevância dessas farmácias, o Ministério da Saúde, por meio da Portaria
GM nº 886/2010, instituiu a Farmácia Viva no âmbito do SUS, sob gestão estadual, municipal
e Distrito Federal. No campo da Fitoterapia na rede pública de saúde, o programa Farmácias
Vivas serve de modelo para grande parte das ações e programas dos municípios brasileiros.
16
Saiba que o Programa Estadual de Plantas Medicinais e Fitoterápicos tem como objetivo geral
estabelecer parâmetros à prática da Fitoterapia e estruturação dos Serviços de Fitoterapia no
SUS, no âmbito da Atenção Básica à Saúde. São seus objetivos específicos:
Como exemplo, podem ser citados o Programa Farmácia da Terra, da Universidade Federal
da Bahia (FITOBAHIA/SESAB), em Salvador-BA, e a Farmácia Viva da Universidade Federal do
Ceará (NUFITO/SESA), em Fortaleza-CE.
Na Etapa 7, você
poderá assistir
a vídeos sobre
Procure saber se no seu município e/ou estado há centros e grupos de pesquisa que atuam na
algumas dessas área de Fitoterapia e plantas medicinais. Pode ser um começo para você estabelecer conta-
experiências bra-
sileiras exitosas de
tos, participar de formações e conhecer mais sobre essa temática. É uma oportunidade de se
ações municipais engajar em programas ou conceber novas iniciativas de valorização e uso da Fitoterapia na
e estaduais de Atenção Básica.
fomento ao uso de
plantas medicinais
e da Fitoterapia.
17
4 CONCEITOS ADOTADOS PARA
PLANTAS MEDICINAIS E FITOTERÁPICOS
A Anvisa atualizou o Registro de Fitoterápicos pela RDC n° 26/2014, em que ampliou o elenco
das drogas vegetais na Farmacopeia Brasileira (FB) - 5ª edição. Pela primeira vez no país, a
Agência anulou as edições anteriores da FB, trouxe o primeiro Formulário Nacional da Farma-
copeia Brasileira (FFFB) e irá produzir o Memento Fitoterápico Nacional.
Outra inovação para a área também foram as primeiras listas negativas de plantas medicinais,
com restrição e proibição de comercialização (IN n° 02/2014), além dos novíssimos Produto
Tradicional Fitoterápico (PTF) e o elenco de chás medicinais (RDC n° 26/2014).
Assim, de forma esclarecedora, a Anvisa colocou nas novas legislações os conceitos dos ter-
mos técnicos da área, evitando a falta de compreensão entre as diferenças, por exemplo, en-
tre droga vegetal e planta medicinal, fitoterápico e preparado vegetal.
A seguir você encontra os termos com suas respectivas conceituações elaboradas pela Anvisa:
Planta medicinal
Documento
de referência Conceituação
RDC n° 14/2010
Espécie vegetal, cultivada ou não, utilizada com propósitos terapêuticos.
RDC n° 26/2014
Droga vegetal
Documento
de referência Conceituação
Planta medicinal, ou suas partes, que contenham as substâncias, ou
classes de substâncias, responsáveis pela ação terapêutica, após pro-
RDC n° 14/2010
cessos de coleta, estabilização, quando aplicável, e secagem, poden-
do estar na forma íntegra, rasurada, triturada ou pulverizada.
Planta medicinal, ou suas partes, que contenham as substâncias res-
RDC n° 26/2014 ponsáveis pela ação terapêutica, após processos de coleta/colheita,
estabilização, quando aplicável, e secagem, podendo estar na forma
íntegra, rasurada, triturada ou pulverizada.
18
Chá medicinal
Documento
de referência Conceituação
Droga vegetal com fins medicinais a ser preparada por meio de infu-
RDC n° 26/2014
são, decocção ou maceração em água pelo consumidor.
Decocção
Documento
de referência Conceituação
Preparação destinada a ser feita pelo consumidor, que consiste na
ebulição da droga vegetal em água potável por tempo determinado.
RDC n° 26/2014 Método indicado para partes de drogas vegetais com consistência
rígida, tais como cascas, raízes, rizomas, caules, sementes e folhas
coriáceas ou que contenham substâncias de interesse com baixa
solubilidade em água.
Infusão
Documento
de referência Conceituação
Preparação destinada a ser feita pelo consumidor, que consiste em
verter água potável fervente sobre a droga vegetal e, em seguida,
tampar ou abafar o recipiente por um período de tempo determina-
RDC n° 26/2014 do. Método indicado para partes de drogas vegetais de consistência
menos rígida, tais como folhas, flores, inflorescências e frutos, ou
com substâncias ativas voláteis ou ainda com boa solubilidade em
água.
Matéria-prima vegetal
Documento
de referência Conceituação
RDC n° 14/2010 Compreende a planta medicinal, a droga vegetal ou o derivado vegetal.
19
Insumo farmacêutico ativo vegetal (IFAV)
Documento
de referência Conceituação
Matéria-prima ativa vegetal, ou seja, droga ou derivado vegetal, utiliza-
RDC n° 26/2014
da no processo de fabricação de um fitoterápico.
Derivado vegetal
Documento
de referência Conceituação
Produto da extração da planta medicinal in natura ou da droga
RDC n° 14/2010 vegetal, podendo ocorrer na forma de extrato, tintura, alcoolatura,
óleo fixo e volátil, cera, exsudato e outros.
Produto da extração da planta medicinal fresca ou da droga vegetal,
que contenha as substâncias responsáveis pela ação terapêutica,
RDC n° 26/2014
podendo ocorrer na forma de extrato, óleo fixo e volátil, cera, exsu-
dato e outros.
Fitoterápico
Documento
de referência Conceituação
Produto obtido de matéria-prima ativa vegetal, exceto substâncias
isoladas, com finalidade profilática, curativa ou paliativa, incluindo
RDC n° 26/2014 medicamento fitoterápico e produto tradicional fitoterápico, poden-
do ser simples, quando o ativo é proveniente de uma única espécie
vegetal medicinal, ou composto, quando o ativo é proveniente de
mais de uma espécie vegetal.
Fitocomplexo
Documento
de referência Conceituação
Substâncias originadas no metabolismo primário e/ou secundário
RDC n° 14/2010 responsáveis, em conjunto, pelos efeitos biológicos de uma planta
medicinal ou de seus derivados.
Conjunto de todas as substâncias, originadas do metabolismo
RDC n° 26/2014 primário ou secundário, responsáveis, em conjunto, pelos efeitos
biológicos de uma planta medicinal ou de seus derivados.
20
Marcador
Documento
de referência Conceituação
Composto ou classe de compostos químicos (Ex.: alcaloides, fla-
vonoides, ácidos graxos, etc.) presentes na matéria prima vegetal,
RDC n° 14/2010 preferencialmente tendo correlação com o efeito terapêutico, que é
utilizado como referência no controle da qualidade da matéria-prima
vegetal e do medicamento fitoterápico.
Substância ou classe de substâncias (Ex.: alcaloides, flavonoides, áci-
dos graxos, etc.) utilizada como referência no controle da qualidade
da matéria-prima vegetal e do fitoterápico, preferencialmente tendo
RDC n° 26/2014 correlação com o efeito terapêutico. O marcador pode ser do tipo
ativo, quando relacionado com a atividade terapêutica do fitocom-
plexo, ou analítico, quando não demonstrada, até o momento, sua
relação com a atividade terapêutica do fitocomplexo.
Medicamento fitoterápico
Documento
de referência Conceituação
É aquele que não inclui na sua composição substâncias ativas
RDC n° 14/2010 isoladas, sintéticas ou naturais, nem as associações dessas com
extratos vegetais.
Medicamentos fitoterápicos são os obtidos com emprego exclusivo
de matérias-primas ativas vegetais cuja segurança e eficácia sejam
RDC n° 26/2014
baseadas em evidências clínicas e que sejam caracterizados pela
constância de sua qualidade.
21
Medicamento magistral
Documento
de referência Conceituação
É todo o medicamento cuja prescrição pormenoriza a composição, a
FFFB, 2011a forma farmacêutica e a posologia. É preparado na farmácia, por um
profissional farmacêutico habilitado ou sob sua supervisão direta.
22
REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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