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MINISTÉRIO DA SAÚDE

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

na Atenção Primária
à Saúde e sua inserção
nos instrumentos de
planejamento e de
gestão do SUS
Versão preliminar

BRASÍLIA - DF
2023
MINISTÉRIO DA SAÚDE
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

DA

Versão preliminar

BRASÍLIA - DF
2023
2023 Ministério da Saúde.
Esta obra é disponibilizada nos termos da Licença CreativeCommons – Atribuição – Não Comercial –
Compartilhamento pela mesma licença 4.0 Internacional. É permitida a reprodução parcial ou total
desta obra, desde que citada a fonte. A coleção institucional do Ministério da Saúde pode ser acessa-
da, na íntegra, na Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde: http://bvsms.saude.gov.br.

Tiragem: 1ª edição – 2023 – versão eletrônica

Elaboração, distribuição e informações: CENTRO DE ESTUDOS, PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO EM


MINISTÉRIO DA SAÚDE CIDADES SAUDÁVEIS (CEPEDOC)
Secretaria de Atenção Primária à Saúde Coordenação geral Douglas Roque Andrade, Rosilda Mendes
Departamento de Prevenção e Promoção da Saúde Supervisão de campo Grace Peixoto Noronha
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Bloco B, 4º andar. Pamela Lamarca Pigozi
CEP: 70058-900 - Brasília / DF
Site: aps.saude.gov.br Elaboração de texto
E-mail: deppros@saude.gov.br Alessandra Xavier Bueno
Evelyn Helena Corgosinho Ribeiro
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Fabio Fortunato Brasil de Carvalho
Rua Delfino Conti, S/N, Trindade, Inaian Pignatti Teixeira
Departamento de Saúde Pública/CCS/UFSC. Leticia Aparecida Calderão Sposito
CEP: 88040-370 - Florianópolis / SC Luis Carlos de Oliveira
Telefone (48) 3721-4869 Margarethe Thaisi Garro Knebel
Site: https://unasus.ufsc.br/ Maria Cecília Marinho Tenório
E-mail: abunasus.ccs@contato.ufsc.br
Pesquisadores
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Lote 19 - Avenida das Nações, SEN - Asa Norte. Alex Antonio Florindo
CEP: 70312-970 - Brasília / DF Átila Alexandre Trapé
Site: https://www.paho.org/pt/brasil Cristiane Kerches da Silva Leite
E-mail: comunicacaoopasbrasil@paho.org Daniele Pompei Sacardo
Douglas Roque Andrade
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Nésio Fernandes de Medeiros Junior Elisabete Agrela de Andrade
Andrey Roosewelt Chagas Lemos Evelyn Helena Corgosinho Ribeiro
Fabio Fortunato Brasil de Carvalho
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Daniel Rogério Petreça Inaian Pignatti Teixeira
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Dorian Chim Smarzaro Juan Carlos Aneiros Fernandez
Gaia Salvador Claumann Letícia Sposito
Graziela Tavares Luís Carlos de Oliveira
Fabiana Vieira Santos Azevedo Cavalcante Luiz Fernando Rodrigues Ocanha
Jean Augusto Coelho Guimarães Margarethe Thaisi Garro Knebel
Lorena Lima Magalhães Maria Cecília Marinho Tenório
Matheus Rodrigues Rangel Pamela Lamarca Pigozi
Paulo Henrique Gomes da Silva Rosilda Mendes
Sofia Wolker Manta
Validação dos conteúdos
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE/ Amana Lima
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE NO BRASIL Leonardo Araújo Vieira
Coordenação de Determinantes da Saúde, Doenças Crônicas Paola Moreno Bernardi
Não Transmissíveis e Saúde Mental Paula Fabricio Sandreschi
Rafaela Nobrega
Colaboração técnica Tatiana Martins Ferraz
Elisa Prieto Lara Tatiana Campos
Luisete Moraes Bandeira Tadeuma Araújo
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Reitor Irineu Manoel de Souza Assessoria pedagógica Fernando Hellmann
Vice-reitora Joana Célia dos Passos Apoio pedagógico Eliane Ricardo Charneski
Pró-reitor de Pós-graduação Werner Kraus Apoio produção online Thaiara Dornelles Lago
Pró-reitora de Extensão Olga Regina Zigelli Garcia Desenvolvimento Web Tcharlies Dejandir Schmitz,
Juliana Coelho Stahelin
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Diretor Fabrício de Souza Neves Diagramação e ilustração Laura Martins Rodrigues
Vice-diretor Ricardo de Souza Magini Produção audiovisual Aterra Lab, Éder Braz
Projeto gráfico Nicole Alessandra Gelle
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Subchefe de departamento Sheila Rubia Lindner Bancos de imagens Freepik, Flaticon, Ministério da Saúde

UNIVERSIDADE ABERTA DO SUS - UNA-SUS/UFSC Ministério da Saúde


Representante institucional Sheila Rubia Lindner Coordenação editorial Júlio César de Carvalho e Silva
Revisão do Projeto gráfico e diagramação
Equipe de desenvolvimento do projeto Normalização
Coordenação geral Marta Verdi
Coordenação pedagógica Maria Claudia Matias
Coordenação produção online Sabrina Blasius Faust

B823p Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de


Prevenção e Promoção da Saúde.
Promoção da atividade física na atenção primária à saúde e sua inserção nos
instrumentos de planejamento e de gestão do SUS [versão preliminar] / Ministério da
Saúde, Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Prevenção e Promoção
da Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde; Florianópolis: Universidade Federal de Santa
Catarina, 2023.
165 p. ; il.

Modo de acesso: World Wide Web: xxxxxxx


ISBN xxx-xx-xxx-xxxx-x

1. Atenção primária à saúde. 2. Atividade física. 3. Instrumentos de planejamento. 4.


Gestão em saúde. I. Título.

CDU 616-022.6:578.834

Catalogação na fonte – Coordenação-Geral de Documentação e Informação – Editora MS – OS 2023/xxxx


Título para indexação: Promoção da atividade física na Atenção Primária à Saúde e sua inserção nos
instrumentos de planejamento e de gestão do SUS.
APRE S E N TAÇÃO

Caro leitor e cara leitora,

Este material de apoio ao Curso de Promoção da atividade física na atenção primária à saúde e sua
inserção nos instrumentos de planejamento e de gestão do SUS foi desenvolvido por uma equipe de
pesquisadores e técnicos do Centro de Estudos, Pesquisa e Documentação em Cidades Saudáveis
(CEPEDOC), do Grupo de Estudos e Pesquisas Epidemiológicas em Atividade Física e Saúde (GEPAF)
ambos vinculados à Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Aberta do Sistema Único de
Saúde, polo da Universidade Federal de Santa Catarina (UNA-SUS/UFSC) e da Organização Pan-Ameri-
cana de Saúde (OPAS). Contamos nesse percurso com a valiosa participação de profissionais de saúde
de todas as regiões do país que, de forma colaborativa, apoiaram todo o processo de produção, em
suas diferentes fases.

Continuamente ouvimos e reafirmamos que “a atividade física faz bem para a saúde” e que o acesso
deve ser um direito garantido, ou seja, “promove mais saúde”. Entretanto, cabe sempre nos pergun-
tar: faz bem para quem? Quais seus propósitos? Quais as ferramentas apoiam a produção integral do
cuidado em saúde? Como podemos garantir esse acesso?

Esses são alguns elementos que estão presentes nas quatro Unidades deste livro. Estes escritos são
fruto da experiência dos autores e profissionais de saúde que se debruçam a problematizar a pro-
moção da atividade física nas políticas públicas comprometidas com a equidade e a justiça social. A
primeira Unidade discute a importância da promoção da atividade física na agenda global da saúde
pública e no SUS; a segunda traz aportes para compreender as perspectivas econômicas e políticas da
promoção da atividade física e o papel dos gestores do SUS; a terceira Unidade aponta os principais
fatores que devem ser considerados no planejamento e na implementação de ações, programas e po-
líticas de promoção da atividade física, de maneira a ampliar ou promover a efetiva oferta e o acesso
a esse serviço na Atenção Primária à Saúde (APS) e, por último, a quarta unidade traz elementos para
pensar e incluir o monitoramento e avaliação como ferramentas do processo de gestão de ações,
programas e políticas de promoção da atividade física.

Nosso propósito com essa iniciativa é mobilizar gestores e os profissionais da atenção primária do
sistema de saúde e do planejamento para que possam compreender de forma mais abrangente
as razões pelas quais a promoção da atividade física deva ser discutida, diagnosticada, implantada/
implementada, monitorada e avaliada como prioridade no ciclo da política pública e presente nos
diferentes instrumentos de gestão do SUS.

Esperamos que essas reflexões possam ajudá-los/las a viabilizar a oferta de ações, programas e po-
líticas de promoção da atividade física no SUS, assim como de processos de educação permanente
de gestores e profissionais de saúde, a fim de garantir práticas de promoção da saúde vinculadas à
construção da autonomia dos sujeitos, à participação social, à produção da saúde compartilhada e
comprometida com a defesa da vida.

Bom percurso e boa leitura!

Equipe de Coordenação
O BJETIVO S DE E N S I N O D O CU R S O

Proporcionar conhecimentos, atitudes e práticas aos concluintes, profissionais e gestores do Sistema


Único de Saúde (SUS), para planejamento e implementação de ações, programas e políticas de pro-
moção da atividade física (AF).

Estimular a inclusão da AF na Atenção Primária à Saúde (APS) por meio do registro nos Planos Muni-
cipais e Distrital de Saúde e demais instrumentos de planejamento e gestão, com isso, fomentando
recursos humanos, materiais e financeiros com vistas à ampliação da oferta e do acesso pela popula-
ção usuária do SUS.

OBJETIVO DE APR E N D I ZAG E M D O CU R S O

Ao final do curso, profissionais e gestores do SUS deverão ser capazes de incluir ações de promoção
da AF nos instrumentos de planejamento e gestão do SUS; trabalhando as etapas de planejamento,
implementação, monitoramento e avaliação, com vistas à ampliação da oferta e do acesso, e inserindo
a promoção da AF no processo de cuidado integral na APS.
S U MÁR I O

UNIDADE 1
A importância da promoção da atividade física na agenda global
da saúde pública e no SUS 10

1.1 | Introdução 12
1.2 | A importância da promoção da atividade física na agenda global
da saúde pública e no SUS 12
1.2.1 | Uma visão ampliada da atividade física 12
1.2.2 | A Promoção da atividade física na agenda da Saúde Pública Global 20
1.2.3 | A importância da promoção da atividade física na agenda do SUS 26
1.2.4 | Benefícios da prática da atividade física na promoção da saúde 35
1.3 | Encerramento 40
1.4 | Referências 41

UNIDADE 2
Perspectivas econômica e política da promoção da atividade física
e o papel dos gestores do Sistema Único de Saúde 46

2.1 | Introdução 48
2.2 | Inclusão da promoção da atividade física nos instrumentos de gestão
e de planejamento da gestão pública e do SUS 49
2.2.1 | Plano Plurianual 49
2.2.2 | Leis orçamentárias 57
2.2.3 | Plano Municipal de Saúde (PMS), Programação Anual
de Saúde (PAS) e Relatório Anual de Gestão (RAG) 60
2.2.4 | Conferências e Conselhos de Saúde 64
2.2.5 | Plano Diretor 66
2.3 | Os papéis dos gestores federais, estaduais, distrital e municipais 67
2.3.1 | Responsabilidades comuns ao Ministério da Saúde, Secretarias
Estaduais, Distrital e Municipais de Saúde 67
2.3.2 | Ministério da Saúde e Secretarias Estaduais e Distrital de Saúde
e do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) 68
2.3.3 | Secretarias Municipais e Distrital de Saúde 69
2.4 | Vale a pena investir em promoção da atividade física 71
2.4.1 | Ampliar a resolutividade da APS por meio do acesso
à prática de atividade física 71
2.5 | A importância de investir em políticas públicas e ações intersetoriais 74
2.6 | Promoção da atividade física como uma agenda positiva
da gestão municipal 75
2.7 | Encerramento 77
2.8 | Referências 78

UNIDADE 3
Do planejamento à ação 82

3.1 | Introdução 84
3.2 | Planejando ações, programas e políticas de promoção da atividade física 84
3.2.1 | Planejamento participativo das ações no SUS 87
3.2.2 | Ferramentas para auxiliar a construção do PES 100
3.2.3 | A importância da intersetorialidade, da participação
e do controle social nas etapas do PES 104
3.3 | O papel dos profissionais de saúde na promoção da atividade
física no cuidado em saúde 109
3.3.1 | Arranjos interdisciplinares, interprofissionais, matriciamento
e suas possibilidades com enfoque no cuidado em saúde 110
3.3.2 | A promoção da atividade física é papel de todos
os profissionais de saúde e da comunidade 111
3.3.3 | A atuação estratégica do profissional de educação física
na saúde para além de sua atuação no núcleo profissional 113
3.4 | Experiências municipais exitosas na perspectiva da gestão,
de implantação de programas e ações de atividade física 114
3.5 | Encerramento 121
3.6 | Referências 123

UNIDADE 4
Monitoramento e avaliação como ferramentas do processo de gestão de ações,
programas e políticas de promoção da atividade física 126

4.1 | Introdução da unidade 128


4.2 | Monitoramento e avaliação: elaboração da pergunta de avaliação
e de indicadores de acompanhamento de ações, programas
e políticas de promoção da atividade física 129
4.2.1 | Pergunta avaliativa no âmbito da APS no SUS 131
4.2.2 | Pactuação de indicadores de processo e resultado 134
4.2.3 | Acompanhamento dos dados dos sistemas de informação
do Ministério da Saúde e de outras fontes de dados
no âmbito do SUS 148
4.2.4 | Estratégias para sistematizar, analisar os dados
e comunicar os resultados 153
4.2.5 | Criação de espaços coletivos para dar sustentabilidade
aos processos participativos e colaborativos de
monitoramento e avaliação 158
4.3 | Encerramento da Unidade 159
4.4 | Referências 160

ENCERRAMENTO DO CURSO 161


MINICURRÍCULO DOS AUTORES 162
UNIDADE 1
A IMPORTÂNCIA DA PROMOÇÃO
DA ATIVIDADE FÍSICA NA AGENDA
GLOBAL DA SAÚDE PÚBLICA E NO SUS
Inaian Pignatti Teixeira
Alessandra Xavier Bueno
UNIDADE 1
OBJETIVO GERAL

Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de


compreender, de forma ampliada, a importância da
promoção da atividade física, considerando as agen-
das da saúde pública global e do SUS.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

▶ Compreender a concepção da atividade física


como um direito.

▶ Reconhecer que a vida fisicamente ativa é in-


fluenciada por diferentes fatores, não sendo
considerada apenas uma escolha individual.

▶ Identificar agendas globais relacionadas à pro-


moção da atividade física.

▶ Apresentar a importância da atividade física na


integralidade do cuidado em saúde.

▶ Conhecer um breve histórico da promoção da


atividade física na Atenção Primária à Saúde
(APS).

▶ Compreender os principais benefícios da prática


de atividade física para a promoção da saúde,
para a prevenção e para o tratamento de algu-
mas doenças e agravos.

Carga horária recomendada para esta unidade:


15 horas
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1

1.1 | Introdução

Estimativas apontam que as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs) são a causa de quase ¾ das
mortes no Brasil e no mundo, sendo representadas, especialmente pelas doenças cardiovasculares,
cânceres e doenças respiratórias, cujos determinantes são sociais, ambientais, comerciais e genéticos
(OMS, 2019).

A atividade física está diretamente associada à prevenção e ao tratamento de doenças crônicas, mas,
também, pode promover sociabilidades, sentimento de pertencimento a grupo e/ou comunidade e
novos aprendizados que ampliam o repertório sociocultural das pessoas, e permitem maior autono-
mia para realização de atividades do cotidiano. Deve, assim, ser compreendida com um direito.

Além disso, com o aumento da prática regular de atividade física, os indicadores de saúde poderiam
ser melhores e muitas mortes poderiam ser evitadas, reduzindo, também, os custos em saúde, afinal,
“a atividade física é uma variável importante para a economia de recursos financeiros em saúde pú-
blica” (BUENO, 2016, p. 1007).

Assim, é preciso olhar para o tema com a devida atenção e incluí-lo no planejamento das ações de
saúde a curto, médio e longo prazo. Nesta Unidade, você irá aprender sobre atividade física em uma
perspectiva ampliada, entender os benefícios para a população, passando pela agenda global e pelas
proposições no Sistema Único de Saúde (SUS).

1.2 | A importância da promoção da atividade física na


agenda global da saúde pública e no SUS

Vamos agora acompanhar a importância da promoção da atividade física na agenda global da saúde
pública e no SUS, para uma visão ampliada sobre o tema e sobre os benefícios dessa prática na pro-
moção da saúde. Acompanhe!

1.2.1 | Uma visão ampliada da atividade física

A constituição física dos seres humanos foi produzida por meio dos processos evolutivos para que
houvesse níveis de atividade física muito maiores do que temos hoje. Há dois milhões de anos, os
humanos eram caçadores-coletores e dependiam do movimento corporal ágil e forte para sobreviver.
Há mais ou menos 10.000 anos surgiu a agricultura e ainda precisávamos de força e resistência física
para garantir alimento. Da revolução industrial para cá, há cerca de 200 anos, as máquinas foram
ganhando espaço e substituindo uma boa parte do trabalho físico humano e, atualmente, os modos
de vida estão nos tornando ainda menos ativos fisicamente, especialmente com a entrada da era
digital (SMIRMAUL, 2019).

A relação entre atividade física e saúde não é algo recente. Há mais


de 2 mil anos, Hipócrates, considerado o pai da medicina, disse que
“se pudéssemos dar a cada indivíduo a quantidade certa de nutrição
e exercício, nem pouco nem muito, teríamos encontrado o caminho
mais seguro para a saúde” (HIPÓCRATES, 1955).

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PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1

Atividade física é um tema muito importante quando se pensa em promoção da saúde e prevenção de
doenças. Atualmente, a inatividade física é tida como um dos principais fatores de risco modificáveis
para as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs) pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Em função disso, existe uma vasta rede de sistemas de vigilância em saúde para rastrear tendências
temporais de atividade física populacional em mais de 122 países (BULL et al., 2020; HALLAL et al.,
2012; TROIANO; STAMATAKIS; BULL, 2020).

Em estudo publicado em 2012, constatou-se que esse número significava 31% da população mundial,
os pesquisadores afirmam que se trata de uma pandemia tendo em vista a alta prevalência, o alcance
global e os efeitos da inatividade física na saúde, com consequências sanitárias, econômicas, ambien-
tais e sociais de longo alcance (KOHL et al., 2012).

O que parece simples de resolver - aumentar a oferta de atividade física e tornar a população mais
ativa - é, na verdade, um fenômeno complexo (TONELLI et al., 2018) que merece atenção quando
da organização da oferta nos serviços na Atenção Primária à Saúde (APS) para que se torne efetiva.
Podemos pensar em duas situações que geram essa complexidade: uma se refere à noção de saúde
de forma ampla, a qual é influenciada por diversos fatores, como cultura, educação, economia entre
outros, dentre eles a temática atividade física; a segunda está relacionada aos diferentes termos utili-
zados na área específica, como a diferenciação conceitual de atividade física e práticas corporais, que
envolve elementos da cultura, ou mesmo dos sentidos, e significados que o fenômeno tem para as
pessoas – neste caso, o corpo em movimento.

Você já deve ter ouvido os termos atividade física, práticas corporais e exercícios físicos como sinônimos,
mas não são. Confira nos quadros abaixo os exemplos.

Exercícios físicos

São planejados, com fins de melhorar ou manter Práticas corporais


as capacidades físicas, como por exemplo, um
grupo de pessoas fazendo ginástica em um As práticas corporais podem ser
parque, duas vezes por semana, com orientação consideradas manifestações da
de um profissional de educação física. cultura corporal de determinado
grupo que carregam significados
que as pessoas lhe atribuem, e
Atividade física devem contemplar as vivências
lúdicas e de organização cultural.
Remete a pessoas que fazem atividades por Existem várias formas de práti-
conta própria, por exemplo quando alguém cas corporais: recreativas,
caminha de manhã em alguns dias da semana esportivas, culturais e cotidianas.
ou vai andando ou pedalando para o trabalho.

Atividade física é um termo abrangente e abarca muitas práticas que envolvem o movimento corporal,
mas é importante ressaltar que todo exercício físico é atividade física, mas nem toda atividade física
é exercício físico.

Acesse audiobook do Guia de Atividade Física para a População Brasileira e reflita


um pouco sobre o conceito de atividade física. Disponível em: https://aps.saude.
gov.br/ape/gaf/.

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PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1

Atividade física é um comportamento que envolve os movimentos voluntários do


corpo, com gasto de energia acima do nível de repouso, promovendo interações
sociais e com o ambiente, podendo acontecer no tempo livre, no deslocamento, no
trabalho ou estudo e nas tarefas domésticas.

Exercício físico é, então, um tipo de atividade física planejada, estruturada e repetitiva que tem o
objetivo de melhorar ou manter as capacidades físicas e o peso adequado.

SAIBA MAIS

Acesse as recomendações de quantidade de atividade física por ciclo de vida no


vídeo “Por dentro do Guia de Atividade Física para População Brasileira”, disponí-
vel em: https://youtu.be/AHtYfKATDWU.

Podemos pensar em muitos exemplos diferentes para falar dos variados sentidos e significados que o
termo atividade física tem para as pessoas, tanto no senso comum, como no âmbito dos profissionais
de saúde. Nas políticas públicas de saúde do SUS, é comum nos depararmos com os termos atividade
física e práticas corporais. De fato, existem diferenças conceituais entre esses termos que são discu-
tidos, especialmente no campo específico da Educação Física e Saúde, mas o importante, quando se
refere à APS, é compreender como eles se articulam com o cuidado em saúde.

Se temos clareza do conceito de saúde como direito humano, o primeiro passo que precisamos ter em
mente é que atividade física não é um fenômeno restrito aos benefícios “biológicos” da saúde (como,
por exemplo, os efeitos conhecidos sobre a hipertensão arterial, o diabetes e a obesidade). Entender
a saúde como direito implica em considerar que os aspectos que produzem saúde estão relacionados
com fatores da estrutura da sociedade: acesso a bens e serviços ou melhores oportunidades para
conduzir a vida, por exemplo, o que nos leva à necessidade de estratégias de ação como a produ-
ção de políticas públicas saudáveis e equitativas. Esses benefícios são muito importantes, ninguém
tem dúvida disso, mas a atividade física também pode ser importante para a saúde mental, para as
sociabilidades (por sua característica gregária, “de juntar pessoas”), para o lazer, para a cultura, para
o sentimento de pertencimento à comunidade ou mesmo como um dispositivo complementar de
acompanhamento da equipe de saúde.

Se há um grupo para a prática de alguma ativi-


dade física, como por exemplo, ginástica, todas
as segundas, quartas e sextas na Unidade de
Saúde, é possível aproveitar esse encontro para
fazer ou ampliar o contato com outros profis-
sionais. Profissionais da enfermagem, medicina,
nutrição e outras áreas da saúde podem encon-
trar seus usuários naquele espaço e realizar um
acompanhamento importante, sem a necessida-
de de abrir a agenda para uma consulta. Antes
da atividade, podem aproveitar o momento e
realizar outras ações de cuidado, como informar
sobre um evento ou programação da unidade,
por exemplo.

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PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1

REFLEXÃO
Um grupo que se encontra para a atividade física também se torna um espaço
de trocas culturais, de socialização, de participação social, ou seja, é um espaço
de produção de saúde, em sentido mais amplo e integral. A rotina de cuidado
desses usuários, no que tange manter informações breves e atualizadas, pode
ter no grupo de atividade física um ponto de contato frequente, quando orga-
nizados também nesse sentido. Pensando nos grupos que já acontecem em
sua realidade quais outras ações poderiam ser planejadas aproveitando esses
espaços de encontro e compartilhamento de experiências que possam ampliar
o cuidado e promover mais saúde?

Um segundo passo é entender a atividade física como um direito. Em 2013, por meio da Lei nº 12.864,
de 24 de setembro de 2013, a atividade física foi inserida no artigo 3º da Lei 8.080 como um dos fatores
determinantes e condicionantes da saúde (BRASIL, 1990). Os níveis de saúde expressam a organiza-
ção social e econômica do país. A saúde tem como determinantes e condicionantes a alimentação, a
moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade física, o
transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais, entre outros (BRASIL, 2013).

A Carta Internacional de Educação Física, Atividade Física e Esporte da Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) propõe que uma abordagem baseada em direitos hu-
manos, deve ser um princípio orientador para os países durante a implementação do plano de ação.
Adotada em 2015 pela Conferência Geral da UNESCO, a Carta declara que todo ser humano tem o direito
fundamental ao acesso à educação física, atividade física e esporte (UNESCO, 2015a).

É importante então considerar os usuários como sujeitos de direi-


Pensar em tos, e esses direitos remetem à função do Estado em construir e
atividade física implementar políticas públicas que garantam isso, respeitando a
como um direito diversidade de cada sujeito, cada território, assim como a presen-
parece simples, ça ou não de outros direitos básicos como estudar, morar, alimen-
mas não é. tar-se, dentre outros. Enquanto agente público a serviço do
Estado, tal função é também sua, profissional e gestor da saúde.

Além disso, ao assumir a saúde como Ao tomar o usuário como sujeito de


direito, conforme o Art. 196 da Constitui- direitos, são relevantes as conexões
ção Federal de 1988, o desafio é de, então, existentes no território, as diversida-
produzir gestões democráticas para des e as subjetividades, convocando
fomentar a participação social de acordo representantes da comunidade local
com as diretrizes do SUS, reforçada pelos para o diálogo. O que gera ainda outro
componentes da Política Nacional de ganho, a solidariedade entre as identi-
Promoção da Saúde (PNPS). dades locais.

As condições econômicas e sociais que permeiam a vida das pessoas (por exemplo, mora-
dia e trabalho), bem como às relacionadas ao nascimento e envelhecimento, produzem
maior ou menor carga de doenças.

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PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1

Os Determinantes Sociais da Saúde (DSS) incluem aspectos sociais, econômicos, comerciais, políticos,
culturais e ambientais. A atividade física é um dos elementos, dentre vários, que determinam e/ou
condicionam a saúde dos povos e dos cidadãos, e a saúde, por sua vez, é um direito constitucional
(FIOCRUZ, 2012). Por essa razão, a atividade física deve estar inserida em uma agenda permanente,
vinculada ao sistema de saúde, em especial à APS, como parte das ações de promoção da saúde que
não podem ser deixadas de lado.

O modo como a tecnologia, o trabalho e a vida urbana afetam o cotidiano limitam as oportunidades
e as possibilidades de praticar a atividade física de forma espontânea. O comportamento sedentário
pode ser representado por todas as atividades, realizadas quando você está acordado, ou seja, sen-
tado, reclinado ou deitado e gastando pouca energia. Por exemplo, quando você está em uma dessas
posições para usar celular, computador, tablet, videogame, assistir à televisão, realizar trabalhos ma-
nuais, jogar cartas ou jogos de mesa, dentro do carro, ônibus ou metrô (BRASIL, 2021a).

REFLEXÃO
E você deve estar pensando: mas essas atividades fazem parte do dia a dia das
pessoas, não é mesmo? Como foi apresentado anteriormente, os modos de
levar a vida contemporânea, especialmente nos centros urbanos, estão nos
deixando cada vez mais parados, ou melhor, com menos oportunidades de
nos movimentarmos ao longo do dia. Quanto tempo você passa em compor-
tamento sedentário em um dia de semana? E no fim de semana? Quais estra-
tégias poderiam ser adotadas para diminuir o comportamento sedentário no
ambiente de trabalho?

A prática insuficiente de atividade física - pessoas adultas, maiores de 18 anos, que praticam menos
de 150 minutos de atividades físicas por semana - é responsável por milhões de mortes no mundo
por DCNTs, o que torna os custos em saúde também enormes (BRASIL, 2021a). Se considerarmos as
pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade, esse cenário não é uma questão de escolha.

A atividade física também pode ser influenciada pela cultura: segundo documento da OMS, em muitos
países, meninas, mulheres, pessoas idosas, grupos vulneráveis, pessoas com deficiência e pessoas
com DCNTs têm menos oportunidades de acesso seguro a programas e espaços para serem ativos
fisicamente (OMS, 2018).

O relatório Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) “Movimento é vida” nos
mostra que a renda e o gênero também fazem diferença no acesso à atividade física: os que mais pra-
ticam atividade física são homens, com renda acima de 5 salários-mínimos, enquanto as que menos
praticam, são mulheres com renda de até meio salário mínimo. Conforme a renda aumenta, é possível
verificar maior acesso à atividade física, mas mesmo dentro da faixa de renda, as mulheres têm menos
acesso (PNUD, 2017).

SAIBA MAIS

Para dados estratificados por estado, você pode consultar o Sistema de Vigilância
de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico
(VIGITEL) em: http://plataforma.saude.gov.br/vigitel/.

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PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1

Você já deve ter percebido que o termo atividade física, como utilizado no senso comum, abrange
diferentes sentidos e significados para as pessoas. Se saúde é um direito, podemos concluir que o
acesso à prática de atividade física também deve ser. Como poderíamos pensar a atividade física em
articulação com o cuidado integral à saúde? Continue a leitura para ter mais elementos que possam
ajudar a responder esta pergunta. Lembremos do conceito de atividade física do Guia de Atividade
Física para a População Brasileira:

“ Atividade física é um comportamento que envolve os movimentos voluntários do cor-


po, com gasto de energia acima do nível de repouso, promovendo interações sociais e
com o ambiente, podendo acontecer no tempo livre, no deslocamento, no trabalho ou
estudo e nas tarefas domésticas (BRASIL, 2021a, p. 7).

Mas, o que significa na prática esse conceito?

Este conceito está relacionado aos movimentos do corpo, com gasto de energia
maior do que se estivéssemos deitados ou sentados, incluindo interações e contex-
tos em que a atividade física pode acontecer.

Então, podemos desdobrar alguns elementos desse conceito, que nos ajudariam a compreender que
a atividade física pode ser realizada:

▶ pelas pessoas, com objetivo de manutenção da saúde de forma geral;

▶ em grupo ou individualmente;

▶ com uma intensidade leve, moderada ou vigorosa somados a determinação do tempo e tipo
da atividade podem promover objetivos almejados.

Para reconhecer a intensidade da atividade física praticada, oriente a prestar atenção


sobre como a pessoa se sente no momento da prática. A intensidade pode ser:

Leve Moderada Vigorosa

Exige mínimo esforço físico e Exige mais esforço físico, faz Exige um grande esforço
causa pequeno aumento da você respirar mais rápido físico, faz você respirar
respiração e dos batimentos que o normal e aumenta muito mais rápido que o
do seu coração. Numa escala moderadamente os normal e aumenta muito
de 0 a 10, a percepção de batimentos do seu coração. os batimentos do seu
esforço é de 1 a 4. Você vai Numa escala de 0 a 10, a coração. Numa escala de
conseguir respirar percepção de esforço é 5 e 0 a 10, a percepção de
tranquilamente e conversar 6. Você vai conseguir esforço é 7 e 8. Você não
normalmente enquanto se conversar com dificuldade vai conseguir nem
movimenta ou até mesmo enquanto se movimenta e conversar enquanto se
cantar uma música. não vai conseguir cantar. movimenta.

Fonte: Brasil (2001a).

17
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1

REFLEXÃO
A orientação ou o aconselhamento para essas especificidades devem ser toma-
dos em conjunto com um profissional de saúde. Uma atividade mais voltada
para desenvolvimento de aptidão cardiorrespiratória, outra para melhora de
mobilidade articular de acordo com o grupo que necessita deste direcionamento.

▶ Pode ser feita ao ar livre, em espaços públicos ou comunitários (como gramados, praças, ruas,
ginásios) e em horários diversos, de acordo com as oportunidades e atividades de vida dos
usuários. Você poderá consultar sobre os quatro domínios da atividade física, a saber: trabalho
ou estudo, doméstico, tempo livre e deslocamento, consultando a página 7, do Guia de Ativida-
de Física para a População Brasileira.

Tarefas
domésticas
Comportamento
sedentário

Trabalho
ou estudo
Atividade física de
intensidade leve
Atividade
Física
Deslocamento
Atividade física de
intensidade moderada

Tempo
livre
Atividade física de
intensidade vigorosa

Fonte: adaptado de Benedetti e colaboradores (2021).

Agora que conseguimos ter mais informações sobre o conceito de atividade física, podemos imaginar,
baseados também nas nossas experiências, alguns exemplos de práticas de atividade física. Já vimos
alguns:

▶ caminhada, que pode ser leve, moderada ou até mesmo se desdobrando em uma corrida leve
(leve porque a corrida por si só já é mais intensa que a caminhada, ou seja, já exige um esforço
a mais);
▶ ginástica, que pode conter exercícios de força muscular, mas também de alongamento e até
mesmo acrescentando passos de dança;
▶ danças circulares ou outras atividades rítmicas e lúdicas que podem fortalecer os valores cole-
tivos e sentimentos de empatia, solidariedade e pertencimento;
▶ Yoga, Lian Gong e outras práticas ligadas à Medicina Tradicional Chinesa;
▶ jogos cooperativos e outras atividades adaptadas.

18
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1

Veja o vídeo chamado “Movimento é vida”, do Relatório Nacional de Desenvolvi-


mento Humano no Brasil, sobre diferentes sentidos e significados da prática de
atividade física, disponível no link: https://youtu.be/7ASWIO02LWw.

Essas atividades físicas, colocadas como parte da oferta dos serviços na APS, também podem influen-
ciar na qualidade de vida da população desde que também tenham como objetivo compor o cuidado
integral dos usuários, além dos benefícios mais conhecidos da atividade física (parâmetros físicos de
saúde, como alteração da pressão arterial, ou redução do peso, por exemplo) (FERREIRA et al., 2015).

Isso porque a atividade física pode promover:

▶ Benefícios que podem ser chamados de “indiretos”, como a criação de espaços para conversar
sobre outros temas, que podem iniciar processos mais profundos de reflexão sobre a vida e a
saúde, fomentando futuras mudanças.

▶ Novas habilidades motoras.

▶ Novos aprendizados, que não são somente corporais, mas que ampliam o repertório sociocul-
tural das pessoas.

▶ O uso e a apropriação de espaços públicos como parques, praças e ciclovias, que podem pro-
piciar sentimento de pertencimento ao território e à comunidade.

Espaços de fala, de compartilhamento de experiências diversas (em que o ponto de partida é a ativi-
dade física), podem apoiar a criação de vínculos com o território e a unidade de saúde, melhorando a
interação entre profissionais e usuários.

É importante lembrar que as escolhas individuais, no que diz respeito aos hábitos de vida, na verdade,
estão muito mais ligadas a questões sociais como, por exemplo, os grupos a que pertencem, recursos
que acessam e repertório sociocultural. Ou seja, “os indivíduos não são independentes dos seus gru-
pos sociais na escolha dos hábitos de vida” (BARATA, 2009, p. 246).

Por isso, é importante ressaltar que não basta só ofertar alguma atividade para os usuários, mas tentar
entender um conjunto de fatores que se relacionam com as características das pessoas e do território
que vivem nele (horários, rotinas, sentidos e significados, modos de vida) para poder pensar, em conjun-
to com as equipes, na melhor forma para construir a oferta de atividade física nas unidades de saúde.

REFLEXÃO
Pense nisso: não adianta ofertar grupo de ciclismo para pessoas que passam o
dia em um trabalho que necessite esforço físico, como acontece com trabalha-
dores de entrega por aplicativo, que usam bicicleta para realizar as entregas e
passam o dia pedalando. Talvez não faça sentido para esses trabalhadores ade-
rirem a programas em que fariam mais esforço físico. Para o planejamento das
ofertas, inclusive as de atividade física, é necessário considerar os aspectos da
vida da população atendida, bem como os sentidos e significados das práticas.

O conceito de DSS nos lembra que existem problemas de saúde relacionados às condições de vida
e trabalho das pessoas, e estas condições, por sua vez, estão relacionadas aos resultados em saúde.
Por exemplo, sabemos que algumas pessoas têm risco de adoecimento maior do que outras devido à
exposição a condições de maior vulnerabilidade (moradia, trabalho etc.).

19
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1

Da mesma maneira, as condições de trabalho podem influenciar na prática de atividade física. Po-
deríamos pensar em outros exemplos em que as condições de vida influenciam os resultados em
saúde, mas o que é preciso ressaltar aqui, é que, nem sempre, as pessoas podem escolher mudar
essas condições (pois envolvem condições estruturais coletivas, dadas por políticas públicas – ou a
falta delas). Em suma, os DSS são os fatores sociais, econômicos, comerciais, culturais, étnicos/raciais,
psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores
de risco na população.

Veja o vídeo do professor Alberto Pellegrini, da Fiocruz, sobre Determinantes


Sociais da Saúde, disponível em: https://youtu.be/bVmc-gngyVI.

Os Determinantes Comerciais da Saúde (DCS) abrangem fatores como comportamentos e escolhas


individuais relacionados a consumo e estilo de vida, e questões relacionadas à sociedade global,
como riscos de consumo, economia política e globalização. Os DCS, gerados pela internacionalização
do mercado e do capital, pelo crescimento da demanda e pela expansão do alcance das corpora-
ções, têm um impacto no ambiente, nos consumidores e na saúde. Os resultados ou impactos na
saúde são determinados pela influência dos canais no ambiente onde as pessoas vivem, trabalham
e circulam, em particular, na disponibilidade e acessibilidade de produtos não saudáveis a preços
acessíveis, moldando os estilos de vida e as escolhas dos consumidores (KICKBUSH et. al, 2016;
MCKEE, STUCKLER, 2018).

PARA PENSAR E PLANEJAR


O que você acha sobre esse tema? Faça anotações de pontos a serem lem-
brados durante o planejamento das ações depois de pensar um pouco sobre.
Você pode saber mais sobre este tópico na Vitrine do Conhecimento sobre a
Dimensão Comercial dos Determinantes Sociais da Saúde em: https://bvsalud.
org/vitrinas/post_vitrines/5061/.

E é por isso que ações interprofissionais, intrassetoriais e intersetoriais são importantes no conjunto do
planejamento em saúde, pois outros fatores relativos às condições da vida em sociedade podem influen-
ciar nas decisões dos indivíduos aderirem ou não às ações de promoção da saúde. Não basta somente
oferecer acesso às atividades físicas, mas pensar em como isso pode compor a produção do cuidado.

1.2.2 | A Promoção da atividade física na agenda da Saúde Pública Global

Alguns países tiveram, em diferentes momentos de suas histórias, agendas próprias de promoção de
atividade física. Existe um movimento global de Saúde Pública visando uma sinergia na promoção da
atividade física como estratégia de promoção de saúde. Atualmente, por exemplo, existe o Plano de
Ação Global sobre Atividade Física, em que a OMS estabeleceu diversas estratégias para reduzir os ní-
veis globais de inatividade física em 15% até 2030, tendo como referência o ano de 2016 (OMS, 2018).

PARA PENSAR E PLANEJAR


No seu território, você acha factível a meta de reduzir em 15% a inatividade
física? Tome nota dos fatores que você acredita serem essenciais para que essa
meta seja atingida.

20
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1

A incorporação da atividade física na OMS passou por diversas fases. Confira uma linha do tempo que
contextualiza essa incorporação até a década de 2010:

Décadas de 1960 e 1970

Nas décadas de 1960 e 1970, a OMS atuava principalmente na participação e no apoio de


estudos e projetos relacionados a doenças cardíacas e seus fatores de risco, incluindo
inatividade física, avaliação da atividade física e aptidão física e reabilitação de pacientes
com doença coronariana (LANGE et al., 1978).

Década de 1980

Na década de 1980, com a aprovação da Carta de Ottawa, em 1986, a promoção da saúde


tornou-se um tema relevante na OMS e a importância da atividade física passou a crescer
gradativamente (OMS, 1986).

Década de 1990

Na década de 1990, com o estabelecimento de um Comitê Interdepartamental sobre Ativi-


dade Física, Esportes e Saúde, a OMS designou diversos centros colaboradores na Austrá-
lia, na Finlândia, na Grã-Bretanha, em Hong Kong, no Japão e nos Estados Unidos. Além
disso, divulgou declarações conjuntas com outras entidades internacionais de cardiologia
e medicina esportiva sobre a inatividade física como fator de risco e seu papel para a
saúde (OMS, 1993; 1994).

Anos 2000

Nos anos 2000, foi desenvolvida e aprovada a Estratégia Global em Alimentação, Atividade
Física e Saúde e sua implementação começou nos países membros (OMS, 2017a). Em
2002, o tema do Dia Mundial da Saúde (celebrado no dia 7 de abril) foi a atividade física e
a OMS lançou em São Paulo o dia 6 de abril como o Dia Mundial da Atividade Física. Nessa
década também foram produzidos os primeiros documentos de políticas de atividade
física (SHEPHARD et al., 2002).

Década de 2010

No início da década de 2010, pela primeira vez, a OMS emitiu Recomendações Globais
sobre Atividade Física para a Saúde (OMS, 2010) e, em 2013, a Assembleia Mundial da
Saúde, órgão decisório da OMS, aprovou o Plano de Ação Global de DCNTs, sendo o Brasil
signatário (OMS, 2013). Nesse plano, visando uma redução de 25% da mortalidade prema-
tura por DCNTs até 2025, definiu-se a inatividade física como um dos quatro fatores de
risco que merecem atenção, com olhar ampliado, para que seus níveis possam ser melho-
rados. Os outros três fatores são: consumo de tabaco, consumo nocivo de álcool e alimen-
tação não saudável. Dentre as ações propostas neste plano estão as seguintes:
 adoção e implementação de diretrizes nacionais sobre atividade física para a saúde;
 desenvolvimento de parcerias e engajamento de todos os atores interessados no

aumento da atividade física em todas as idades;


 desenvolvimento de medidas políticas para promover a atividade física tanto no

tempo livre/lazer quanto no deslocamento, trabalho/escola e no ambiente doméstico;


 criação e preservação de ambientes construídos e naturais que fomentem a

atividade física;
 realização de campanhas públicas baseadas em evidências e iniciativas de marke-

ting social para informar e motivar as pessoas sobre os benefícios da atividade física.

21
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1

Em 2015, na Assembleia Geral da ONU, composta por 193 Estados-membros, foram definidas metas
mundiais para um mundo mais sustentável. Essa agenda, conhecida como Agenda 2030, é centrada
em 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS) e, para se ter êxito em atingi-los, é funda-
mental o esforço conjunto entre governos, empresas, instituições e sociedade civil. Em linhas gerais,
esses 17 objetivos, interconectados, visam erradicar a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima
e garantir paz e prosperidade para todas as pessoas. Veja a seguir cada um dos objetivos pactuados.

ERRADICAÇÃO FOME ZERO E SAÚDE E EDUCAÇÃO DE IGUALDADE


DA POBREZA AGRICULTURA BEM-ESTAR QUALIDADE DE GÊNERO
SUSTENTÁVEL

ÁGUA POTÁVEL ENERGIA LIMPA TRABALHO DECENTE INDÚSTRIA, INOVAÇÃO REDUÇÃO DAS
E SANEAMENTO E ACESSÍVEL E CRESCIMENTO E INFRAESTRUTURA DESIGUALDADES
ECONÔMICO

CIDADES E CONSUMO E AÇÃO CONTRA A VIDA NA VIDA


COMUNIDADES PRODUÇÃO MUDANÇA GLOBAL ÁGUA TERRESTRE
SUSTENTÁVEIS RESPONSÁVEIS DO CLIMA

PAZ, JUSTIÇA PARCERIAS E MEIOS


E INSTITUIÇÕES DE IMPLEMENTAÇÃO
EFICAZES

Fonte: adaptado de https://www.un.org/sustainabledevelopment/news/communications-material/.

Em 2016, a IX Conferência Global de Promoção da Saúde de Xangai gerou importantes interconexões


com os ODS reconhecendo a saúde e o bem-estar como fatores essenciais para alcançar o desenvol-
vimento sustentável (OMS, 2017b). Considerando a Agenda 2030 e o compromisso assumido pelos
líderes mundiais de desenvolver respostas nacionais ambiciosas aos ODS, apresenta-se aqui uma
excelente oportunidade para reorientar, renovar e combinar esforços coletivos para conectar-se à
PNPS e promover a atividade física. Isso porque investimentos em promoção da atividade física po-
dem contribuir com os diversos ODS, principalmente em países de baixa e média renda, como o Brasil
(SALVO et al., 2021).

PARA PENSAR E PLANEJAR


Antes de continuar, olhe novamente os 17 ODS na figura acima. Reflita como a
atividade física contribui para que seus objetivos sejam atingidos, e que tipos
de atividades são necessárias para isso. Anote a sua resposta!

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PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1

Provavelmente, o ODS 3 (referente à saúde e bem-estar) deve ter sido o primeiro identificado por
você, uma vez que esse ODS 3 visa assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todas
as pessoas independentemente da idade, a atividade física pode contribuir diretamente com a redu-
ção da mortalidade prematura por DCNTs por meio da prevenção e do tratamento, da promoção da
saúde mental e da promoção do bem-estar.

Especificamente relacionado à atividade física no deslocamento pelo município, por exemplo, a ativi-
dade física pode contribuir para uma redução de mortes e agravos por acidentes de trânsito, proteção
do risco financeiro – já que deslocar-se ativamente pode ser uma alternativa econômica e saudável
de ir de um lugar ao outro – e para a redução da poluição do ar. Todos esses benefícios da prática de
atividade física para a saúde e bem-estar serão tratados detalhadamente um pouco mais à frente em
nosso curso.

Mas, e os outros ODS? Neste momento, você deve estar imaginando: Como a atividade física pode
estar relacionada aos outros tão diversos ODS?. Quem nos explica isso é a própria ONU que, em um
documento publicado em 2018, chamado “Plano de ação global sobre atividade física 2018–2030: mais
pessoas ativas para um mundo mais saudável”, detalhou o papel da atividade física para contribuir
com cada um dos outros 12 ODS dispostos a seguir (OMS, 2018). Abaixo, refletiremos um pouco mais
sobre essas conexões. Acompanhe.

FOME
FOMEZERO
ZEROEE ODS 2
AGRICULTURA
AGRICULTURA
SUSTENTÁVEL
SUSTENTÁVEL
Esse objetivo visa, dentre outras coisas, melhorar a nutrição, sendo que tanto
o sobrepeso quanto a obesidade podem estar relacionados à má-nutrição. A
atividade física contribui tanto com a manutenção do peso saudável, quanto
com a redução/perda de peso daqueles com excesso de peso.

EDUCAÇÃO
EDUCAÇÃODEDE ODS 4
QUALIDADE
QUALIDADE
A melhoria da qualidade educacional e a participação dos estudantes que pra-
ticam atividades físicas levam a uma maior capacidade de concentração e me-
lhora da função cognitiva, contribuindo para melhores resultados escolares/
acadêmicos (UNESCO, 2015b). Além disso, a atividade física nas escolas ajuda
a desenvolver a socialização, as condições físicas, e também, a “educação em
saúde”, fomentando atitudes e hábitos positivos em saúde, aumentando o
prazer e o significado da atividade física (OMS, 2017c). Dada sua importân-
cia, o Guia de Atividade Física para a População Brasileira, lançado em 2021,
contempla recomendações e benefícios da atividade física no contexto da
educação física escolar, orientando que sejam realizadas, pelo menos, três
aulas de 50 minutos por semana de educação física escolar (BRASIL, 2021a).

IGUALDADE
IGUALDADE ODS 5
DE
DEGÊNERO
GÊNERO

Assim como em boa parte dos países, no Brasil também há uma importan-
te questão de gênero no acesso e na participação da atividade física, com
homens mais propensos e com mais oportunidades de serem ativos do que
mulheres (BRASIL, 2021b). Sabendo disso e, pautado no princípio da equida-
de, aumentar o acesso e as condições de manutenção da prática de atividade
física, principalmente no tempo livre, entre meninas e mulheres contribui
para reduzir as desigualdades entre os gêneros.

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PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1

TRABALHO
TRABALHODECENTE
DECENTE ODS 8
EECRESCIMENTO
CRESCIMENTO
ECONÔMICO
ECONÔMICO
Ao se promover a atividade física, seja por meio de oferta de aulas/interven-
ções (serviços) ou pela criação de estruturas pode-se estimular a criação de
novos empregos tanto para os prestadores diretos dos serviços e programas
como para aqueles envolvidos em serviços de treinamento e desenvolvimen-
to profissional. Além disso, no âmbito da infraestrutura, como por exemplo
a criação de calçadões para caminhada e/ou ciclovias/ciclofaixas, também é
possível oferecer oportunidades de emprego e desenvolvimento econômico.
Por fim, grandes eventos esportivos podem promover o turismo, fortalecendo
as economias locais, aumentando o emprego e contribuindo para o cresci-
mento econômico.

INDÚSTRIA,
INDÚSTRIA,INOVAÇÃO
INOVAÇÃO ODS 9
EEINFRAESTRUTURA
INFRAESTRUTURA
A criação de infraestrutura para caminhada e para o uso de bicicleta, além
de contribuir para o desenvolvimento econômico, tem sido considerada uma
alternativa fundamental para o engajamento tanto em atividades físicas
como no deslocamento. Nesse sentido, além de contribuir para o transporte
sustentável, essas estruturas são importantes para a atividade física e para o
bem-estar humano, incluindo a saúde física e mental. Por fim, é importante
considerar que esses tipos de estruturas, além de sustentáveis, são resilien-
tes, equitativas e acessíveis.

REDUÇÃO
REDUÇÃODAS
DAS ODS 10
DESIGUALDADES
DESIGUALDADES
Geralmente, a atividade física e os esportes estão associados a valores como
justiça, inclusão e empoderamento, que podem encorajar maior contribuição
para os domínios social, econômico e político. Assim, a atividade física leva à
reflexões importantes para fomentar sociedades inclusivas.

CIDADES
CIDADESEE ODS 11
COMUNIDADES
COMUNIDADES
SUSTENTÁVEIS
SUSTENTÁVEIS
Ao considerarmos que a caminhada e a bicicleta são meios de transporte sus-
tentáveis e que podem ser financeiramente acessíveis, especialmente para
aqueles em situações vulneráveis, a melhoria da infraestrutura para caminha-
da e uso da bicicleta, além de contribuir para a prática de atividade física,
também pode melhorar a segurança viária para todos os usuários (PUCHER
et al., 2003). Além disso, não basta só ampliar a extensão dessas estruturas
nos municípios para aumentar a conectividade entre os bairros, também é
necessário melhorar a qualidade, a segurança e a sinalização (OPAS, 2020).

Outro aspecto a ser considerado é que a infraestrutura para a atividade


física como deslocamento não se restringe apenas a calçadões e ciclovias/
ciclofaixas. Ao melhorar o sistema de transporte público, como, por exemplo,
estações de metrô, trem e terminais de ônibus e veículos sobre trilhos (VLT)
também se contribui para o aumento da caminhada e do ciclismo, dada a
necessidade de deslocamento da origem até o acesso ao transporte público
e do transporte público até o destino final (OMS, 2016). Outras melhorias que
favoreçam a interação entre o uso da bicicleta e os sistemas de transporte

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PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1

em massa, como, por exemplo, bicicletários nas estações ou a possibilidade


de transporte da bicicleta no metrô, poderiam tornar o uso da bicicleta mais
atrativo. Além do aumento da atividade física, o deslocamento ativo e o trans-
porte público levam à redução do uso do automóvel e, portanto, à menor
emissão de gases poluentes, reduzindo assim o impacto ambiental.

CONSUMO
CONSUMOEE ODS 12
PRODUÇÃO
PRODUÇÃO
RESPONSÁVEIS
RESPONSÁVEIS
Aumentar as oportunidades da caminhada e do uso da bicicleta como meio
de deslocamento contribui para a sustentabilidade e a preservação da natu-
reza por meio da redução do uso de veículos motores e maior conscientização
sobre o impacto ambiental dos indivíduos. Além disso, o engajamento em
atividades físicas na natureza, seja em áreas verdes como parques e praças,
ou áreas azuis, como próximo a rios, lagos ou oceano, e a exposição à nature-
za podem favorecer a valorização desses espaços e o incentivo às atividades
turísticas, promovendo maior procura de espaços semelhantes e preservação
dos espaços existentes (WARD; PARKER; SHACKLETON, 2009). Favorecer a
criação e ampliação de áreas verdes nos municípios também é uma forma de
melhorar a qualidade do ar e de oportunizar práticas de atividade física ao ar
livre com segurança e qualidade de infraestrutura nesses espaços públicos.

AÇÃO
AÇÃOCONTRA
CONTRAAA ODS 13
MUDANÇA
MUDANÇAGLOBAL
GLOBAL
DO
DOCLIMA
CLIMA
Uma política adequada quanto ao uso do solo, como, por exemplo, zonea-
mentos que contemplem tanto áreas residenciais como comerciais, e inter-
venções fiscais, ambientais e educacionais que apoiem os deslocamentos
ativos contribuem para reduzir o uso do automóvel para transporte (SUS-
TAINABLE MOBILITY FOR ALL, 2017). Por meio da redução da demanda por
combustíveis fósseis e suas consequências para o clima global, a atividade
física como forma de deslocamento ajuda a mitigar as mudanças climáticas.
A Agenda Convergente Mobilidade Sustentável e Saúde, liderada pela OPAS,
reúne uma série de evidências, reflexões e propostas de ações para facilitar
a compreensão e orientar os gestores públicos municipais em questões rela-
tivas à mobilidade urbana. Nesse documento, é reforçada a necessidade de
um adensamento da cidade e uma cidade polinucleada, estimulando novas
centralidades econômicas na malha urbana (OPAS, 2020).

VIDA
VIDA ODS 15
TERRESTRE
TERRESTRE
A atividade física em ambientes naturais contribui para seu uso sustentável e
para a valorização, conservação e restauração da natureza. A valorização e a
“apropriação” desses espaços pela comunidade aumentam a demanda pela
preservação do mesmo, contribuindo para garantir a biodiversidade e ajudar
a proteger/prevenir a extinção de espécies ameaçadas.

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PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1

PAZ,
PAZ,JUSTIÇA
JUSTIÇA ODS 16
EEINSTITUIÇÕES
INSTITUIÇÕES
EFICAZES
EFICAZES
A atividade física e os esportes, especialmente os coletivos, em geral são as-
sociados a valores positivos como inclusão e cooperação, unindo pessoas de
diferentes idades, sexo, status socioeconômico e crenças políticas. Um maior
senso de comunidade por meio da atividade física pode ajudar a reduzir a
violência e os conflitos.

PARCERIAS
PARCERIASEEMEIOS
MEIOS ODS 17
DE
DEIMPLEMENTAÇÃO
IMPLEMENTAÇÃO
Ao propor ações nacionais de promoção de atividade física, como, por exem-
plo, o Programa Academia da Saúde (PAS) e o Incentivo Financeiro de Ativi-
dade Física (IAF) na APS, faz-se necessário o fortalecimento de parcerias de
todas as partes interessadas, incluindo o governo federal, estadual, distrital
e principalmente municipal, bem como a própria sociedade civil. Além disso,
ações intersetoriais podem ser fortalecidas, como, por exemplo, os setores de
saúde e educação, no Programa Saúde na Escola (PSE).

Todas essas conexões mostram o quanto a compreensão da saúde de forma ampliada não fica res-
trita apenas ao ODS 3, sendo necessários diferentes cenários propositivos. Assumir a importância da
atividade física como parte da produção do cuidado em saúde contribui na busca por outros atores
e objetiva a interlocução e a troca de saberes, por meio da articulação de redes interdisciplinares e
multiprofissionais, estimulando a produção e o planejamento de intervenções promotoras de saúde.

REFLEXÃO
Dado esse breve histórico sobre a promoção da atividade física na agenda da
saúde pública global, como você observa o papel da atividade física nas publi-
cações da OMS? Você consegue observar a transição de um interesse leve e
temporário, nas décadas de 1960 e 1970, para um protagonismo importante
nas estratégias e ações globais? Ficou claro para você a consolidação da ativida-
de física como parte importante para o desenvolvimento sustentável no debate
internacional? Por fim, e não menos importante: como esse movimento global
impactou a agenda nacional da atividade física?

1.2.3 | A importância da promoção da atividade física na agenda do SUS

Muito embora tenhamos discutido um pouco no item anterior sobre o histórico da promoção da ativi-
dade física na agenda da saúde pública global, é fundamental explorar e entender o papel da atividade
física especialmente no contexto da saúde pública brasileira, principalmente na agenda do SUS.

Após a implementação do SUS, em 1990, teve início o processo de busca pelo rompimento de um
importante paradigma na saúde brasileira, focado principalmente na doença e no tratamento dos
seus agravos. No novo sistema, regido pelos princípios da universalidade, equidade e integralidade,
a APS passou a ganhar maior espaço. Nesse sentido, passou a ser mais valorizado o cuidado integral
com as pessoas, por meio das reflexões e ações acerca da promoção da saúde, em vez de apenas
tratar doenças ou condições específicas.

26
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1

Realizado por meio de uma assistência abrangente, acessível e baseada na comunidade, o SUS passou
a contemplar um amplo espectro de serviços que vão desde ações de promoção da saúde no territó-
rio, a partir do entendimento dos DSS, até a prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento, controle
de doenças e cuidados paliativos. O Sistema busca atuar, inclusive, em outros determinantes, como
os econômicos, os culturais e os ambientais, que normalmente vão além do próprio setor da saúde e
requerem articulações intrassetoriais, intersetoriais e multiprofissionais.

Para entendermos mais sobre a importância da promoção da atividade física na agenda do SUS, dis-
cutiremos políticas e programas do Ministério da Saúde (MS) de 2006 a 2022, conforme a linha do
tempo a seguir.

Atividade Física na agenda do SUS

2006

• Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares


• Política Nacional de Atenção Básica
• Política Nacional de Promoção da Saúde
• Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças
Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel)

2008

2007 Núcleo Ampliado de


Saúde da Família
Programa Saúde na Escola

2011

• Programa Academia da Saúde


• Revisão da Política Nacional
2013
de Atenção Básica
Revisão do Programa
Academia da Saúde

2015

2014 Lançamento do Caderno


de Práticas Corporais,
Revisão da Política Nacional Atividade Física e Lazer do
de Promoção da Saúde Programa Saúde na Escola

2016

Revisão do Programa Academia da Saúde

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E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1

2017
‡ Revisão da Política Nacional
de Atenção Básica
2021
‡ Consolidação
das Portarias do
Ministério da Saúde • Lançamento do
Guia de Atividade
‡ Revisão do
Física para a
Programa Saúde
População Brasileira
na Escola
• Lançamento das Recomendações para
o Desenvolvimento de Práticas Exitosas
de Atividade Física na APS do SUS
• Lançamento do Guia de Atividade Física
para a População Brasileira:
recomendações para gestores e
profissionais de saúde
2022 • Plano de ações estratégicas para o
enfrentamento das doenças crônicas e
• Incentivo federal de custeio para agravos não transmissíveis no Brasil
implementação de ações de atividade 2021-2030
física no âmbito da APS nos municípios e
no Distrito Federal
• Plano estratégico de difusão,
disseminação e implementação do guia
de atividade física para a população • Políticas Públicas de Atividade Física Análise
brasileira: documento orientativo às de Documentos Governamentais em Âmbito
instituições de ensino superior Mundial
• Plano estratégico de difusão, • Recomendações para Operacionalização da
disseminação e implementação do guia Política Nacional de Promoção da Saúde na
de atividade física para a população Atenção Primária à Saúde
brasileira: documento orientativo para
• Caderno temático e Guia de Bolso do PSE:
Ministérios do Governo Federal
promoção da atividade física
• Plano estratégico de difusão,
• Proteja – Estratégia Nacional para Prevenção
disseminação e implementação do guia
e Atenção à Obesidade infantil: orientações
de atividade física para a população
técnicas
brasileira: documento orientativo às
Secretarias de Estado de Saúde

No ano de 2006 foram instituídos e publicados importantes marcos normativos para a promoção de
saúde e da atividade física na agenda do SUS, como a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), a
Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPICS) e a Política Nacional de Promo-
ção da Saúde (PNPS).

Em 2006, a PNPICS incluiu as Práticas Corporais e Atividades Físicas na Tabela de Serviços/Classifica-


ções do Sistema de Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde – SCNES/SUS. Naquele contexto,
a implantação de práticas corporais abertas à população em sua rede de Unidades de Saúde buscava
formas diferenciadas de produzir saúde, compor relações sociais e promover possibilidades para

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melhorar a qualidade de vida da população (MORETTI et al., 2009). A inserção formal do profissional
de educação física, a partir de recursos federais, no âmbito do SUS, ocorreu somente em 2008, com a
criação dos Núcleos Ampliados de Saúde da Família (NASF). Mas é importante lembrar, também, que
mesmo anteriormente a atividade física já tinha um papel importante na APS, sendo oferecida pelos
profissionais de saúde.

Visando o fortalecimento da promoção da saúde no SUS, foi organizada a vigilância de fatores de risco
e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico, a Vigitel, o que possibilitou o monitoramen-
to de indicadores da prática de atividade física por meio de inquéritos populacionais. Adicionalmente,
foram financiados projetos de atividade física em cerca de 1.500 municípios entre 2005 e 2010 (MALTA
et al., 2014).

Abordaremos a seguir a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB); passando pela Política Nacional de
Promoção da Saúde (PNPS); Programa Saúde na Escola (PSE); Política Nacional de Práticas Integrativas
e Complementares (PNPICS);a equipes multiprofissionais; Programa Academia da Saúde (PAS); Centro
de Atenção Psicossocial (CAPS); culminando no incentivo federal de custeio para implementação de
ações de atividade física no âmbito da APS nos municípios e no Distrito Federal (IAF).

A PNAB, publicada em 2006 e revisada em 2011 e 2017,


busca fortalecer a APS fomentando a ampliação da cober-
tura, provendo cuidados integrais e promovendo saúde. A
revisão de 2011 foi particularmente importante, pois possi-
bilitou a ampliação das ações intersetoriais e de promoção
de saúde, inclusive a partir de programas como o PAS e o
PSE, que abordaremos em breve. No SUS, a política de pro-
moção da saúde é vista como uma articulação transversal,
que considera os fatores que colocam a saúde da popu-
lação em risco e as diferentes necessidades, territórios e
culturas, articulando mecanismos que reduzam situações
de vulnerabilidades, promovam equidade e fomentem a
participação e o controle social.

É importante destacar a Portaria Interministerial nº 1.010, de 8 de maio de 2006, que se refere à


diretrizes para a promoção da alimentação saudável nas escolas de educação infantil, fundamental e
nível médio das redes públicas e privadas, em âmbito nacional, e a Portaria Interministerial nº 1.055,
de 25 de abril de 2017, que estabelece critérios para adesão ao PSE. Ambas estabelecem como uma
das ações a promoção das práticas corporais, da atividade física e do lazer nas escolas.

A PNPS, em 2006, já destacava a educação em saúde com ênfase na promoção da atividade física
e das práticas corporais na promoção de hábitos saudáveis de vida. Em 2014, com a revisão dessa
política, destacou-se as práticas corporais e as atividades físicas como um dos oito temas prioritários
(BRASIL, 2018).

Nesse sentido, um dos eixos de implementação da Política Nacional de Promoção de


Saúde (PNPS) é promover ações, aconselhamento e divulgação de práticas corporais
e atividades físicas, incentivando a melhoria das condições dos espaços públicos,
considerando a cultura local e incorporando brincadeiras, jogos, danças populares,
entre outras práticas.

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Dado esse contexto de articulação política e a agenda nacional de enfrentamento das DCNTs, tendo
a PNPS como norteadora, em 2011 foi criado o Programa Academia da Saúde (PAS). Esse programa,
depois de pouco mais de uma década de existência, pode ser considerado um dos maiores progra-
mas de promoção de saúde já implementados no Brasil. Embora tenha sido instituído em 2011, foi
baseado em experiências exitosas e promissoras, como o Serviço de Orientação ao Exercício (SOE)
da Prefeitura de Vitória (ES) e o Programa Academia da Cidade nos municípios de Recife (PE), Curitiba
(PR), Aracaju (SE) e Belo Horizonte (MG) (MALTA; MIELKE; PEREIRA DA COSTA, 2020). Essas experiências
locais tinham como ponto comum a atividade física e outras ações de promoção da saúde, além da
presença de profissionais de educação física e nutricionistas, dentre outros, com o uso de espaços
públicos e custeio pelo poder público.

Com estrutura e quadro de profissionais diferentes das estruturas tradicionais dos serviços de saúde, o
Programa Academia da Saúde passou a ser um ponto de atenção na rede de serviços, configurando-se
como uma nova porta de entrada na APS, promovendo possibilidades de encontros e aproximações
com os usuários, contribuindo para a promoção da saúde e de modos de vida saudáveis.

A estrutura, também chamada de polo e financiada com recurso federal e das gestões locais, é com-
posta de áreas cobertas e descobertas, com equipamentos para a prática de atividade física, e pode ter
três configurações diferentes, indo da modalidade básica a uma mais ampliada. Além da possibilidade
de construir polos com recurso federal, o programa incorpora também iniciativas municipais/distrital
que foram consideradas similares à proposta, que podem receber o recurso de custeio do Ministério
da Saúde, adequando-se às suas normativas.

Além da estrutura em si, outro fator essencial para o sucesso do Programa são os 13 tipos de profis-
sionais qualificados, que desenvolvem atividades culturalmente inseridas e adaptadas ao território,
contemplando os eixos descritos a seguir.

Eixos do Programa Academia da Saúde

1 Práticas corporais e Atividades físicas. 5 Práticas artísticas e culturais.

2 Produção do cuidado e de modos de vida saudáveis. 6 Educação em saúde.

3 Promoção da alimentação saudável. 7 Planejamento e gestão.

4 Práticas integrativas e complementares. 8 Mobilização da comunidade.

Os 13 profissionais que podem atuar no PAS são os seguintes: profissional de educação física
na saúde; fisioterapeuta geral; assistente social; terapeuta ocupacional; fonoaudiólogo geral;
nutricionista; psicólogo; sanitarista; educador social; musicoterapeuta; arteterapeuta; artistas
de dança; dançarinos tradicionais populares.

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Note que as ações do PAS se baseiam em uma visão ampliada, em que a oferta da atividade física está
interligada à cultura local, em conformidade com as necessidades do território.

Em um relatório de 2019, observou-se que as ações de promoção da atividade física mais frequentes
foram alongamento (76%), ginástica aeróbica (62%) e treinamento funcional (59%) (BRASIL, 2022a). Al-
guns estudos recentes mostram resultados promissores do impacto da criação do PAS na diminuição
de internações por acidente vascular cerebral (AVC), gastos com internações hospitalares por doenças
cerebrovasculares e redução na taxa de mortalidade por hipertensão e por câncer de cólon (LIMA et
al., 2020; RODRIGUES, 2021; RODRIGUES et al., 2021; SILVA, 2021).

SAIBA MAIS

Seu município tem polo do PAS? Clique aqui, no link https://aps.saude.gov.br/ape/


academia, e saiba mais como implantar um polo do PAS no seu município.

Ainda, com o fortalecimento da pauta da promoção da atividade física, o PSE, instituído em 2007
e atualizado em 2017, tem como objetivo ações de promoção, prevenção e atenção à saúde para
os estudantes da rede pública da educação básica. Surgiu como uma política intersetorial entre o
Ministério da Saúde e o Ministério da Educação, no âmbito das escolas e Unidades Básicas de Saúde
(UBS), realizada pelas Equipes de Saúde e Educação de forma integrada. Assim, a escola se torna um
lócus privilegiado de promoção da saúde, em seu sentido amplo de produção de saúde. Visando o
pleno desenvolvimento desses estudantes, esse programa prevê 13 ações, confira.

Ações do Programa Saúde na Escola

1 Verificação da situação vacinal


2 Alimentação saudável e prevenção da obesidade infantil
3 Promoção e avaliação de saúde bucal e aplicação tópica de flúor
4 Saúde ocular e identificação de possíveis sinais de alteração
5 Combate ao mosquito Aedes aegypti
6 Saúde auditiva e identificação de possíveis sinais de alteração
7 Prevenção ao uso de álcool, tabaco, crack e outras drogas
8 Identificação de sinais de agravos de doenças em eliminação
9 Prevenção de violências e acidentes
10 Práticas corporais, atividade física e lazer nas escolas Ação inserida no programa
11 Promoção da cultura de paz, cidadania e direitos humanos a partir da publicação da
Direito sexual e reprodutivo e prevenção de DST/Aids Portaria nº 1.857, de 28 de
12
julho de 2020.
13 Prevenção à Covid-19 nas escolas

Um trabalho, com dados de 2014 a 2020, registrou um crescente número de ações de práticas cor-
porais e atividade física no contexto do PSE. Os autores reforçaram ainda que, no ciclo 2019-2020, o
PSE atingiu em torno de 95% dos municípios brasileiros e foi considerado um importante meio para o
fortalecimento das articulações entre os setores da educação e saúde (MANTA, 2022).

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Contudo, os resultados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), de 2019, apontam que
apenas 28,1% dos estudantes brasileiros eram fisicamente ativos (realizaram 300 minutos ou mais
de atividades físicas na semana anterior à pesquisa), sendo 38,6% dos meninos e 18,8% das meninas
(IBGE, 2019).

Nesse sentido, além de aumentar o número de estudantes fisicamente ativos, por meio de práticas
desportivas, lúdicas e jogos, as ações no contexto do PSE devem contribuir com a promoção da saúde
e da educação dos estudantes, em um caráter coletivo, porém potencializando a construção de apren-
dizagens sobre si mesmo (FRAGA; WACHS, 2007). Ademais, esse tipo de ação na escola pode estimular
os alunos a conhecer e refletir sobre as possibilidades de prática de atividade física, a partir de uma
perspectiva histórica e cultural e uma ampliação do saber-fazer na educação (VIANA; MAIA; MORGAN,
2017). Também, há evidências de que a atividade física regular contribui e melhora as habilidades
cognitivas, em função da regulação hormonal e de neurotransmissores (SCHMOLESKY, 2013).

O Guia de Atividade Física para a População Brasileira elenca também uma série de outros benefícios
para a saúde física, motora, psicológica e social dos estudantes. Além disso, ressalta a importância de
uma educação física escolar de qualidade que deve ser preferencialmente ministrada por um professor
de educação física, em pelo menos três aulas semanais de 50 minutos cada, incluindo conteúdos que
possibilitem experiências positivas e abordagens inovadoras ao longo de todos os anos da educação
básica, incluindo a educação infantil.

SAIBA MAIS

Para saber como ter o Programa Saúde na Escola no seu município, acesse:
https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/saps/pse

É importante destacar também o papel das equipes multiprofissionais em ações, programas e polí-
ticas para a promoção da atividade física no SUS. Vimos anteriormente a relação entre os diversos
determinantes de saúde presentes também nos 17 ODS e a promoção da atividade física – lembra de
quantos ODS a atividade física pode colaborar? Dos 17 ODS, a atividade física pode colaborar em 13
deles, o que demanda o envolvimento de todos os profissionais do setor saúde e de outros setores.

Nesse sentido, o Núcleo Ampliado de Saúde da Família (NASF), criado em 2008 e redefinido como
equipe multidisciplinar em 2020, contribuiu de forma significativa para o desafio da integração de
diferentes saberes e produção do cuidado compartilhado. Suas ações e diretrizes consideraram uma
abordagem da determinação social do processo saúde-doença. A equipe do NASF poderia ser com-
posta por:

▶ profissionais de educação ▶ médico ginecologista,


física na saúde, ▶ médico homeopata,
▶ médico acupunturista, ▶ nutricionista,
▶ assistente social, ▶ médico pediatra,
▶ farmacêutico, ▶ psicólogo,
▶ fisioterapeuta, ▶ médico psiquiatra e
▶ fonoaudiólogo, ▶ terapeuta ocupacional.

Posteriormente, outros profissionais foram incluídos como médico veterinário, médico do trabalho,
profissional de arte/educação, entre outros (BRASIL, 2014; 2017).

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Histórico da atuação do profissional de educação física em equipes multiprofissionais

Assim como os demais profissionais de saúde envolvi-


dos no cuidado dos usuários, o profissional de educa-
ção física atuava a partir de saberes relacionados ao
campo - saberes compartilhados, em torno de um
mesmo objetivo de trabalho da equipe - bem como à
atuação a partir de saberes e domínios técnicos especí-
ficos de cada profissional (OLIVEIRA, 2010). Em relação a
isso, no âmbito da atividade física, o papel do profissio-
nal de educação física era de coordenar, planejar, reali-
zar treinamentos especializados, e, como saber de
núcleo, participar de equipes multidisciplinares e inter-
disciplinares, constituindo planos de cuidado com a
equipe multiprofissional, inserindo as ações de ativida-
de física e práticas corporais, entre outros.

Após a revisão da PNAB, em 2017, e a implementação do Programa Previne Brasil, em 2019, os profis-
sionais dos NASF foram direcionados à Rede de Atenção à Saúde (RAS) e seus serviços, incluindo a APS,
a exemplo do CAPS, do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST), dos ambulatórios
especializados, entre outras redes. Os CAPS, por exemplo, voltados aos atendimentos de pessoas com
algum grau de sofrimento psíquico ou transtorno mental, passaram a ser beneficiados pela oferta
de atividade física (BRASIL, 2012). O tratamento de reabilitação para usuários de substância psicoa-
tiva, como uso de álcool, crack e outras substâncias, quando aliado com a atividade física, apresenta
benefícios, como controle de ansiedade, depressão, além de promover a socialização, cooperação e
auxiliar na redução de danos (ORBON; MERCADO; BALILA, 2015; RAVINDRAN; SILVA, 2013).

Nesse sentido, existem várias formas pelas quais o profissional de educação física pode atuar, por
meio de programas com esportes, danças, lutas, alongamentos, jogos e brincadeiras, dentre outros.
Ainda, por meio do aconselhamento para a prática de atividade física e que pode ser feito por qual-
quer profissional de saúde, partindo dos modos de vida de cada pessoa e seu contexto de vida.

Com a descontinuação dos credenciamentos de Núcleos Ampliados de Saúde da Família (NASF), em


janeiro de 2020, cada município passou a ter autonomia para elaborar a equipe conforme suas neces-
sidades locais, e o novo modelo de financiamento da APS passou a ter como métrica o resultado dos
indicadores em saúde, mudanças que demandam novos desafios à gestão (BRASIL, 2022b).

Assim, de modo a aumentar a oferta de ações de atividade física pelos estabelecimentos de saúde
da APS, foi publicada a Portaria GM/MS nº 1.105, de 15 de maio de 2022, quando o Ministério da
Saúde instituiu o IAF. Essa iniciativa, cujo objetivo é fomentar e estimular a prática de atividade física,
financia, além da contratação de profissionais de educação física na saúde, a readequação de espaços
para a prática de atividade física e a compra de materiais para a qualificação da oferta de ações de
atividade física. Em 2022 foram credenciados 8.230 estabelecimentos de saúde da APS, do SUS, em
4.128 municípios e no Distrito Federal, por meio da Portaria GM/MS nº 2.103, de 30 de junho de 2022.

Vale destacar que o IAF não substitui o PAS, que continua sendo financiado e incentivado pelo Ministé-
rio da Saúde, tanto para os polos já existentes quanto para a implementação de novos polos (BRASIL,
2022c), sendo as duas iniciativas estratégias complementares para o aumento da oferta de atividade
física na APS.

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PARA PENSAR E PLANEJAR


Conheça o Manual de Credenciamento para o Incentivo Financeiro de Ativida-
de Física (IAF) por meio do link: https://aps.saude.gov.br/biblioteca/visualizar/
MjExNw.

Mais recentemente, o Ministério da Saúde lançou o Programa e-Multi, que instituiu o incentivo finan-
ceiro federal de implantação, custeio e desempenho para as equipes Multiprofissionais na Atenção
Primária à Saúde. A Portaria 635, de 22 de maio de 2023, apresenta os valores do repasse aos estados
e municípios, bem como a relação das 22 especialidades que passam a constituir essas equipes, dentre
eles o profissional de Educação Física na Saúde. Além da ampliação do rol de especialistas que podem
compor a e-Multi, outra novidade do Programa é a possibilidade de atendimento remoto: consultas e
atendimento de demandas gerenciais poderão ser realizadas pelos profissionais de saúde da e-Multi,
por meio da utilização de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). O Programa prevê também
o pagamento por desempenho, com ciclos quadrimestrais de monitoramento dos indicadores acom-
panhados pelo Programa e apuração de resultados a partir de janeiro de 2024.

SAIBA MAIS

Para entender melhor como funciona o Programa e- Multi, acesse o link da Porta-
ria 635, de 22 de maio de 2023: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-gm/
ms-n-635-de-22-de-maio-de-2023-484773799.

Para finalizarmos, fica claro que, assim como na agenda global, a atividade física foi ganhando espaço
na agenda da saúde brasileira. Nesse sentido, em 2021, como vimos anteriormente, o Ministério da
Saúde lançou o Guia de Atividade Física para a População Brasileira, trazendo suas primeiras reco-
mendações e informações sobre atividade física para que a população tenha uma vida mais ativa fisi-
camente, promovendo a saúde e as possibilidades para a melhoria da qualidade de vida.

O Ministério da Saúde atua também na oferta de aconselhamento de atividade física e modos de vida
saudável. Dentre as iniciativas, podemos destacar o ConecteSUS e o Portal Saúde Brasil. O primeiro
consiste em um aplicativo, desenvolvido pelo SUS, que possui uma funcionalidade chamada Peso
Saudável. Nessa funcionalidade, há um programa de 12 semanas com dois eixos, sendo um de alimen-
tação saudável e outro de atividade física, baseado em orientações, desafios e recomendações para
melhoria desses dois aspectos.

LINKS

O aplicativo está disponível para toda a população. Acesse o ConecteSUS no link:


saude.gov.br.

Outro canal de comunicação do Ministério da Saúde com a população é o Portal Saúde Brasil. Esse
portal surgiu da necessidade de levar aos brasileiros conteúdos informativos e de serviço com base
em cinco pilares:

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Eu quero me Eu quero ter Prevenção ao câncer (incluído


1 alimentar melhor 3 peso saudável 5 em out/nov de 2022)

Informações sobre
Eu quero Eu quero Coronavírus (retirado
2 me exercitar 4 parar de fumar em out/nov de 2022)

LINKS

Você pode acessar o Portal Saúde Brasil no link:


https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-brasil.

Os conteúdos apresentados neste site são bastante diversificados e desenvolvidos em vários forma-
tos (textos, podcasts, vídeos, figuras), sendo bastante acessados e compartilhados pela população.
Dentre esses conteúdos, há uma série de informações relevantes e atuais sobre atividade física.

1.2.4 | Benefícios da prática da atividade física na promoção da saúde

Baseado no que vimos até agora e a partir de seus próprios conhecimentos e experiências, a afir-
mação “atividade física faz bem” provavelmente não causa estranhamento ou soa como inverídica.
Por isso, neste tópico, exploraremos um pouco mais essa questão, aprofundando pontos como: “Faz
bem?”, “Para quem?”, “Em quais aspectos?”, “Quanto de atividade física seria necessário para alcançar
esses benefícios?”, dentre outros pontos. Acompanhe.

Globalmente, 7,2% das mortes por todas as causas e 7,6%


das mortes por doenças cardiovasculares podem ser
atribuídas à inatividade física.

Dentre as DCNTs, a proporção de casos atribuídos à


inatividade física varia de 1,6% para hipertensão a 8,1%
para demência.

No Brasil, um estudo recente utilizando dados populacionais


de 2017, apontou uma mortalidade atribuída à inatividade
física de 15 mortes a cada 100 mil habitantes (Silva e
colaboradores, 2020).

Fonte: adaptado de Silva e colaboradores (2020).

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Ao refletirmos sobre os dados vistos, fica evidente a importância da atividade física na prevenção de
mortes prematuras. Porém, além de evitar essas possíveis mortes, a atividade física também pode
ser fundamental para promover a qualidade de vida das pessoas. Nesse sentido, os benefícios da
atividade física para a saúde são bem descritos na literatura, incluindo, por exemplo, menor risco
de doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes, câncer de mama e cólon, demência, excesso de
peso e problemas de saúde mental (GUTHOLD, 2018).

Considerando que o construto de qualidade de


vida envolve o bem-estar espiritual, físico, men-
tal, emocional, social, nos próximos parágrafos
exploraremos, a partir da ótica do Guia de Ativi-
dade Física para a População Brasileira, uma sé-
rie de benefícios da atividade física para a saúde
dos brasileiros, desde bebês até idosos, além de
gestantes, mulheres no período puerperal e pes-
soas com deficiência. Mas, antes de explorarmos
mais essas questões, é importante refletir que o
padrão de atividade física pode mudar ao longo
dos ciclos de vida, e normalmente é o que ocorre,
e isso não é um problema.

Existem algumas evidências que podem nos ajudar a entender esses comportamentos de atividade
física ao longo da vida e que, portanto, podem trazer desdobramentos importantes para a saúde
pública em geral.

Há estudos sobre estilo de vida pregresso que indicam que crianças e jovens fisicamente ativos ten-
dem a ter mais chances de manter esse padrão ativo na vida adulta (VAN SLUIJS et al., 2021). Além
disso, suas práticas de atividade física tendem a ser menos afetadas por outros eventos da vida,
como, por exemplo, entrar na universidade, começar a trabalhar e mudanças na estrutura familiar
(HIRVENSALO; LINTUNEN, 2011). Nesse sentido, o Guia de Atividade Física para a População Brasileira
contempla recomendações e informações do Ministério da Saúde sobre atividade física, em todos os
ciclos de vida, visando a promoção da saúde e as possibilidades para a melhoria da qualidade de vida
(BRASIL, 2021a).

REFLEXÃO
Pare um pouco para refletir sobre suas práticas de atividade física ao longo da
vida. Provavelmente os jogos e as brincadeiras estavam mais presentes em sua
infância do que agora, certo? A esse respeito quais são as suas memórias afe-
tivas? Você acredita que o seu envolvimento com a atividade física ao longo da
vida foi similar ao de outras pessoas da sua geração? Olhar esses aspectos do
ponto de vista da população como um todo é uma tarefa desafiadora. Como es-
sas informações podem compor um diagnóstico de um determinado território?

Antes de falarmos acerca de informações e benefícios da atividade física em cada um desses ciclos de
vida, seria relevante destacarmos que as recomendações de atividade física propostas para a popula-
ção brasileira variam de acordo com o contexto de cada grupo populacional, diferenciando-se quanto
ao tipo de atividade, ao volume e à intensidade.

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Para crianças de até um ano, por exemplo, a recomendação é de pelo menos 30 minutos por dia de
barriga para baixo (posição de bruços) enquanto para adultos a recomendação é realizar pelo menos
150 minutos de atividade física moderada ao longo da semana, ou pelo menos 75 minutos de ativida-
de vigorosa, ou uma combinação equivalente. Além disso, recomenda-se atividades de fortalecimento
muscular, envolvendo os principais grupos musculares, em dois ou mais dias da semana.

SAIBA MAIS

Saiba mais sobre as recomendações e informações do Ministério da Saúde so-


bre atividade física nos diferentes ciclos de vida disponível em: https://youtu.be/
AHtYfKATDWU.

Você também pode acessar os Cards Oficiais do Guia de Atividade Física para a
população brasileira no link: https://drive.google.com/drive/folders/
1DkzOWFXcXTZ7Qrd3raEm8ZI-1IlAus2F.

BENEFÍCIOS DA ATIVIDADE FÍSICA

Crianças até 5 anos

Auxilia no(a):

• crescimento e desenvolvimento • aprendizado


saudável • integração e no desenvolvimento de
• controle do peso adequado habilidades psicológicas e sociais
• diminuição do risco de obesidade • crescimento saudável de
• qualidade do sono músculos e ossos
• coordenação motora • saúde do coração e a condição física
• funções cognitivas

6 a 17 anos

Auxilia no(a):

• desenvolvimento humano • redução da sensação de


e bem-estar estresse e nos sintomas de
• saúde do coração ansiedade e de depressão
• condição física • diminui risco de obesidade
• desenvolvimento de • adoção de uma vida saudável
habilidades motoras • melhora da alimentação
• humor • diminuição do tempo em
• desempenho escolar comportamento sedentário
• controle do peso adequado

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Adultos

Auxilia no(a):

• desenvolvimento humano • diminui o estresse e sintomas


e bem-estar de ansiedade e de depressão
• prevenção e redução na • promove prazer, relaxamento,
mortalidade por diversas divertimento e disposição
doenças crônica • ajuda na inclusão social, na criação
• controle do peso e no fortalecimento de laços
• sintomas da asma sociais, vínculos e solidariedade
• redução no uso de medicamentos • resgata e mantém vivos diversos
• melhora o sono aspectos da cultura local

Idosos

Além dos benefícios citados para


o grupo de adultos, auxilia no(a):

• aumento na energia, disposição, • redução de dores nas


autonomia e independência para articulações e nas costas
realizar as atividades do dia a dia • redução do risco de
• redução do cansaço quedas e lesões
• melhora da capacidade • manutenção da memória, da
para se movimentar atenção, da concentração,
• fortalecimento de músculos e ossos do raciocínio e do foco
• melhora na postura e no equilíbrio • redução no risco de demência

Período gestacional e pós-parto

Auxilia no(a):

• relaxamento, divertimento • redução da intensidade


e disposição das dores nas costas
• controle do peso corporal • redução do risco de depressão
• redução do risco de • criação e fortalecimento de laços
desenvolvimento de pressão sociais, vínculos e solidariedade
alta e diabetes gestacional • redução do risco de
• redução do risco de nascimento prematuro
desenvolvimento de pré-eclâmpsia • contribui para o peso
• melhora da capacidade de fazer adequado do bebê
as atividades do dia a dia

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Pessoas com deficiência

Além dos benefícios listados para cada


faixa etária, auxilia no(a):

• aumento da autonomia para • melhoria das habilidades de


realização das atividades diárias socialização e ajuda na criação e
• promoção de relaxamento, diverti- no fortalecimento de laços sociais,
mento e disposição vínculos e solidariedade
• aumento da força muscular, da • melhoria da imunidade, da atenção,
resistência, da coordenação moto- da memória, do raciocínio e do
ra, do equilíbrio, da flexibilidade e humor
da agilidade • controle do peso
• redução da sensação de estresse • redução dos riscos de doenças do
e dos sintomas de ansiedade e de coração, diabetes, pressão alta e
depressão colesterol alto

Conforme observado, para todas as faixas etárias, a atividade física pode proporcionar benefícios
substanciais para a saúde e a qualidade de vida. Note que, agora, você é capaz de ir além da “simples”
frase: “Atividade física faz bem!”. Ao observarmos os benefícios da atividade física em cada ciclo da
vida, há potencialidades de conexão da atividade física como produção do cuidado em todos os níveis
da atenção à saúde (primária, secundária e terciária).

É importante refletirmos sobre os objetivos da atividade física para crianças e adolescentes, não so-
mente para promover saúde e prevenir doenças, e também sobre o quão importante ela também é
para adultos e idosos, cujos objetivos da atividade física não são apenas para o tratamento de doenças
e agravos. É claro que, como vimos anteriormente, quanto mais ativo fisicamente nos ciclos iniciais
maiores as chances de se manter ativo na vida adulta.

Logo, a atividade física para crianças e adoles-


centes teria um maior potencial de impactar a
promoção de saúde ao longo da vida. Indepen-
dentemente disso, relembramos que a atividade
física é um dos elementos que determinam e/ou
condicionam a saúde da população, além de ser
um direito de todas as pessoas.

Ainda sobre os impactos positivos da atividade


física, você deve ter notado que, para todas as
faixas etárias, além dos benefícios biológicos
existem os psíquicos e sociais, frutos da convi-
vência em grupo, da construção de vínculos e do
pertencimento.

Esse momento de interação, pode oportunizar a formação de laços de amizade, troca de experiências,
conversas sobre diversos assuntos, risadas e diversão. Além disso, como bem colocado no ODS 10
(redução das desigualdades), a atividade física e os esportes estão associados a valores como justiça,
inclusão e empoderamento, que podem encorajar maior contribuição social, fortalecer os sujeitos no
território e gerar comunidades mais solidárias.

39
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1

Como consequência, nos mais jovens, por exemplo, essa interação social mediada pela atividade física
pode potencializar a noção de coletividade e o exercício da cidadania. Já para idosos e entre aqueles
em sofrimento psíquico pode contribuir para a saúde mental. Um estudo britânico apontou que as-
pectos sociais, como o aumento no número de amizades, são fatores relevantes para a saúde mental,
reduzindo as chances de sintomas de depressão e de ansiedade em 50% (HARVEY et al., 2010).

PARA PENSAR E PLANEJAR


Após refletir sobre as questões abordadas, você como estudante vislumbra
possibilidades de desenvolver ou fortalecer ações, programas e políticas de
ofertas de atividade física em seu território?

1.3 | Encerramento

O objetivo desta unidade foi compreender, de forma ampliada, a importância da promoção da ati-
vidade física, entendendo seus benefícios para a população, passando pela agenda global e pelas
proposições no SUS.

Nesta unidade, vimos que a atividade física é um direito e que se relaciona com os determinantes
e condicionantes da saúde, sendo influenciada por diferentes fatores, não sendo, portanto, apenas
uma escolha individual. Conhecemos historicamente sua inserção em agendas globais e nacionais,
entendendo-a como parte fundamental na integralidade do cuidado em saúde a partir de uma visão
ampliada. Exploramos a atividade física como uma importante ferramenta de promoção da saúde, da
qualidade de vida, da prevenção e do tratamento de algumas doenças e agravos. Fica evidente que a
temática da atividade física está em constante mudança e que pesquisas, políticas e programas para
a promoção da atividade física estão em constantes evoluções sendo mais que importante seu estudo
continuado para o desenvolvimento profissional.

Nós, Inaian e Alessandra, nos despedimos de


você e esperamos que você desfrute de cada
novo conhecimento que virá no restante desta
trajetória do curso. Sinceramente, esperamos
que você possa finalizar o curso muito mais
preparado para trabalhar com a temática da
atividade física. Desejamos que você, gestor ou
profissional de saúde, sinta-se mais encorajado
para implantar e implementar ações, programas
ou políticas de promoção da atividade física no
contexto do SUS, e incluir esse tema na gestão
do seu município. Destacamos a sensibilidade
e a intencionalidade que o gestor deve ter para
garantir que os processos de trabalho incluam
as perspectivas multiprofissionais, interdiscipli-
nares e intersetoriais e que essa formação possa
ser traduzida em mais pessoas fisicamente ativas
e saudáveis em nossas comunidades.

Nesse sentido, a próxima unidade é de fundamental importância pois, baseado no conhecimento, nas
políticas e nos programas atuais, trará a você uma série de instrumentos de planejamento e de gestão
para a inclusão da promoção da atividade física no SUS e de como investimentos nessa temática
podem ser vantajosos para o SUS.

40
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1

1.4 | Referências

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BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Promoção


da Saúde. Guia de Atividade Física para a População Brasileira [recurso eletrônico]. Brasília:
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Custeio para Ações de Atividade Física na Atenção Primária à Saúde - Versão preliminar.
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41
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1

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42
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
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44
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
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45
UNIDADE 2
PERSPECTIVAS ECONÔMICA E POLÍTICA DA
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA E O PAPEL
DOS GESTORES DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
Fabio Fortunato Brasil de Carvalho
Leticia Aparecida Calderão Sposito
UNIDADE 2
OBJETIVO GERAL

Ao final do estudo desta unidade, você será capaz


de compreender o papel da gestão na inserção da
promoção da atividade física nos instrumentos de
planejamento e de gestão, no contexto do Sistema
Único de Saúde (SUS), considerando a responsabi-
lidade intersetorial e as perspectivas econômicas,
políticas e sociais.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

▶ Apresentar instrumentos de gestão e de planeja-


mento da gestão pública e do SUS.

▶ Relacionar a inclusão da promoção da atividade


física nos instrumentos de gestão e de planeja-
mento do SUS.

▶ Especificar as atribuições dos diferentes atores


no âmbito da gestão tripartite do SUS.

▶ Compreender como os investimentos em pro-


moção da atividade física podem ser vantajosos
para o SUS.

▶ Reconhecer a articulação intersetorial a partir do


setor saúde como forma de fortalecer programas
e ações de promoção da atividade física.

Carga horária recomendada para esta unidade:


15 horas
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN2

2.1 | Introdução

Como já é de seu conhecimento, muitos instrumentos usados no planejamento da gestão pública e


do SUS podem abordar o tema promoção da atividade física, dentre os quais serão trabalhados nesta
Unidade: Planos Plurianuais; Leis Orçamentárias; Plano Municipal/Distrital de Saúde, Programação
Anual de Saúde e Relatório Anual de Gestão; Conferências e Conselhos de Saúde; Plano Diretor, Pla-
nos Intersetoriais, Planos de Mobilidade e outros.

Nesta unidade serão abordadas formas de in-


clusão de ações e programas de promoção da
atividade física nos instrumentos de gestão e de
planejamento setoriais da saúde. Maior enfoque
será dado ao plano municipal/distrital de saúde,
à programação anual de saúde e ao relatório
anual de gestão – e, de forma mais ampla, à ques-
tão orçamentária, para efetivar a promoção da
atividade física no SUS como uma estratégia de
cuidado e como uma possibilidade de articulação
intersetorial a partir do setor saúde.

A partir da defesa da saúde como um direito e resultado das condições sociais nas quais as pessoas
estão inseridas, há a necessidade de os serviços e profissionais de saúde contribuírem para a forma-
ção de ambientes favoráveis à promoção da saúde da população, sendo também uma possibilidade
de implementação da promoção da atividade física nos territórios.

Como a saúde é influenciada por diferentes fatores como transporte, educação, alimentação, entre
outros, não podemos perder de vista que vivemos em um contexto de grandes iniquidades, no qual
o acesso a serviços que facilitem a prática da atividade física ainda é escasso e desigual. Assim, a fun-
ção dos serviços e profissionais de saúde é gerar cenários propositivos para que as pessoas tenham
oportunidade de realizar atividades promotoras de saúde. Nesse sentido, o planejamento das ações
é fundamental, em especial ao ser pautado como uma das formas de provocar mudanças nos pro-
cessos de gestão. Com isso, torna-se essencial que as diferentes áreas do setor saúde, em conjunto
com as demais áreas do governo, dialoguem sobre seus objetivos para a saúde da população, seus
propósitos, como podem se articular, com que recursos podem contar, ou seja, é preciso planejar em
conjunto, pois assim ficam registrados os objetivos e compromissos de cada um.

O planejamento é considerado uma ferramenta importante para a gestão, pois é um compromisso


estabelecido com as ações e, em nosso caso, ao pautar a temática da promoção da atividade física no
SUS (nos diferentes planos), estamos assumindo o compromisso de fazê-la acontecer e registrando
que uma de nossas tarefas será incorporar a atividade física no cotidiano das ações do SUS. Assim, se
faz necessário fortalecer a institucionalização das práticas estruturadas de planejamento, superando
aquelas verticais, ritualísticas e com baixo compromisso com ações concretas, que não levam em
conta as reais necessidades dos territórios e das comunidades e servem apenas como resposta a
obrigatoriedades em uma etapa burocrática.

REFLEXÃO
Em relação aos papéis dos gestores do SUS (federal, estaduais/distritais e muni-
cipais), você, estudante, que está conosco, neste momento é importante que se
pergunte: o que pode ser feito pela gestão para implantar e implementar ações,
programas e políticas de promoção da atividade física?

48
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN2

A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) e a Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) são
importantes políticas do SUS que referem a atividade física como uma das responsabilidades comuns
a todas as esferas de governo. Entendendo que o principal lócus de oferta da atividade física no SUS
é a APS, podemos compreender a relevância de incluir a promoção da atividade física nos referidos
instrumentos do planejamento da gestão pública e do SUS. Alguns pontos são importantes para for-
talecer a promoção da atividade física no SUS:

▶ no âmbito da Secretaria de Saúde, a existência de uma área técnica de forma a dar visibilidade
ao tema e buscar mais recursos com a finalidade de gerir as ações;

▶ a oferta de ações e programas, a partir de recurso federal, estadual/distrital e/ou do próprio


município, portanto, tendo o financiamento como elemento importante.

Esses pontos permitirão a definição de processos de trabalho, objetivos tangíveis, contexto institucional
favorável para a organização do trabalho multiprofissional e interdisciplinar, etc. A partir daí, conside-
rando que a gestão do SUS é compartilhada entre os entes federativos, destacaremos nesta unidade de
estudos algumas responsabilidades e possibilidades de ação da gestão da saúde de cada esfera pública,
utilizando como base principalmente a PNAB e a PNPS. Existem responsabilidades comuns ao Ministério
da Saúde (União), às Secretarias Estaduais (Estados) e às Secretarias Municipais de Saúde (Municípios). A
Secretaria Distrital de Saúde (Distrito Federal) compartilha aquelas estaduais e municipais.

2.2 | Inclusão da promoção da atividade física nos instrumentos de


gestão e de planejamento da gestão pública e do SUS

O êxito da promoção de atividade física no âmbito municipal, estadual e nacional poderá acontecer a
partir do debate, planejamento e inserção dessa agenda nos diversos instrumentos de gestão. A figura
a seguir ilustra os instrumentos de planejamento e gestão do SUS que serão apresentados nesta
unidade. É importante considerar que, apesar de serem descritos na ordem lógica do macro ao micro,
eles são interdependentes e podem percorrer diversos caminhos para a sua concretização.

Planejamento Plano Plurianual Lei Orçamentária Prestação de Contas


Governamental (PPA) Anual (LOA) Balanço Anual

Instrumentos Plano Municipal Programação Anual Relatório Anual


Gestão SUS de Saúde de Saúde de Gestão

Agora, vamos conhecer melhor cada um desses pontos, confira.

2.2.1 | Plano Plurianual

O Plano Plurianual (PPA) é um instrumento de planejamento governamental de médio prazo que


define procedimentos, objetivos e metas para cada ente federativo. Nesse sentido, sabemos que
existe uma legislação que garante a sua institucionalização – Art. 165 da Constituição Federal. Vamos
entender como pode ser planejado, quais são os atores envolvidos e os seus princípios básicos.

O PPA é elaborado para um período de quatro anos – planeja-se no primeiro ano de gestão e aplica-se
nos próximos quatro anos, adentrando ao primeiro ano do próximo mandato. Seu propósito é estabe-
lecer diretrizes, metas e objetivos da gestão pública por meio de propostas apresentadas pela popu-
lação e pelos poderes legislativos (vereadores, deputados estaduais/distritais ou deputados federais e
senadores) e executivo (prefeito, governadores ou presidente), para o desenvolvimento do Município,

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Estado, Distrito Federal ou União. É importante que diferentes atores estejam envolvidos, inclusive a
sociedade civil, visto que o seu impacto será sentido diretamente no dia a dia da vida em comunidade.
Podemos dizer a você que o PPA tem relação com os seus planos de trabalho, visto que você atua
diretamente com a população e é um dos responsáveis por fazer acontecer as políticas públicas.

Estratégias para um planejamento mais inclusivo

Fortalecer a participação social em Disponibilizar formulários online para


todos os espaços formais e informais. consulta pública.

Criar e fortalecer os espaços Envolver representantes do poder executivo,


institucionalizados como conselhos. legislativo e judiciário.

Instituir fóruns intersetoriais (saúde, Garantir sessões públicas para a discussão


esporte e lazer, transporte, meio sobre o PPA no Poder Legislativo (Câmaras
ambiente, cultura, entre outros). municipais, estaduais, distrital, federal e no
Senado), principalmente no âmbito dos
municípios com os/as vereadores/as.

Confira no infográfico abaixo como podem ser planejadas as ações no âmbito municipal.

De janeiro a agosto do primeiro ano de mandato


No primeiro, dos quatro anos de gestão do município após as eleições, o PPA
deve ser enviado à câmara municipal pelo poder executivo (prefeito) até o mês
de agosto, para que o poder legislativo (vereadores) possa analisar, aprovar,
vetar e adicionar emendas ao documento.

Até final de dezembro do primeiro ano de mandato


Até o final de dezembro do mesmo ano o documento deverá ser votado, para
que possa vigorar a partir do primeiro dia de janeiro do ano seguinte (no
segundo ano de mandato).

Aprovação e publicação (documento planejado para quatro anos)


Assim, após a aprovação, o documento volta ao poder executivo para sanção do
prefeito e, posteriormente, publicação no diário oficial como lei. Porém, vale
lembrar que a proposta orçamentária sempre será organizada para quatro anos,
independentemente de a gestão continuar nos próximos anos ou não, ou seja, é
esperado que as políticas públicas tenham continuidade em uma nova gestão.

Como possibilidade de inclusão ao PPA, a gestão pública municipal/distrital pode considerar a inclusão
da oferta de programas e ações de promoção da atividade física nas unidades de saúde e no território
como um todo. Sabemos que os recursos financeiros são sempre uma pauta muito importante na
gestão dos municípios. Nesse sentido, deverão estar descritos além de propostas de políticas públicas
que suportem os problemas da população e as necessidades do território, também, os investimentos
que serão utilizados nos quatro anos seguintes.

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PARA PENSAR E PLANEJAR


Gostaríamos de convidar você a revisitar e analisar o PPA do seu município/
Distrito Federal e observar se há alguma proposta que esteja relacionada à
promoção de atividade física. Vale ressaltar que o plano pode e deve ser revisto
anualmente, sobretudo, em caso de início de propostas que ultrapassem o
exercício financeiro já estipulado para o ano.

Portanto, merece atenção os aspectos e a discussão das propostas e do planejamento do PPA, utili-
zando estratégias mais participativas, com técnicas que consideram os imprevistos e, principalmente,
a capacidade de atingir as metas dentro do período de quatro anos. Como exemplo, a metodologia
SMART (acrônimo em inglês) é uma técnica utilizada para auxiliar no planejamento e na construção
de metas específicas, mensuráveis, realistas, relevantes e temporais e, com isso, contribuir para o
desenvolvimento dos projetos vinculados ao PPA. Lembramos de que esses itens podem não ser
respondidos em uma única sequência.

Observe um exemplo a seguir dirigido à população em geral.

Específico Mensurável Alcançável Realista Temporal


(Specific) (Measurable) (Achievable) (Realistic) (Time based)

Metas específicas: uma meta específica favorece a sua ação e evita a descontinuidade, de
modo a alimentar o seu alcance dentro da proposta ou do programa.

• Ofertar ações de promoção da atividade física para população geral, em dez equipamentos
sociais do município (unidades de saúde, centros sociais, igrejas ou outros espaços públicos
abertos como praças, parques, ciclovias e academias ao ar livre, próximos ao território dos
estabelecimentos de saúde).

Mensurável: uma meta só será factível se for possível de mensurar/medir/qualificar e se for


compreensível a todos os envolvidos.

• A partir da meta sobre a oferta de práticas de atividade física em dez equipamentos sociais,
localizados próximos às unidades de saúde, será preciso mensurá-la, pois o sucesso depen-
derá de grande parte dessa condição.

• Nesse caso, em um primeiro momento, sugere-se um acompanhamento trimestral junto aos


responsáveis pela implementação das práticas de atividade física nos equipamentos sociais
(no caso deste curso, a Secretaria de Saúde, os profissionais vinculados, os coordenadores
das UBS, entre outros, mas também pode ser a Secretaria de Esporte e Lazer, por exemplo).

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• Nesse acompanhamento, é importante ter direcionamentos para cada três meses, de modo
que a proposta possa ser atingida em 18 meses, por exemplo. Junto aos direcionamentos,
deve haver uma avaliação continuada dos profissionais em relação à oferta e, a partir deles,
em um primeiro momento (período de implantação), compreender qual a percepção dos
usuários sobre a prática por meio de informações qualitativas, mas que poderão ajudar no
processo de implementação de novos locais, como o horário da atividade, o tipo de atividade
e quais as principais barreiras para que aquela população local possa participar, entre outros.

Alcançável: uma meta poderá ser atingida considerando os recursos disponíveis (humanos,
materiais, financeiros, etc.) e as suas restrições.

• Em debates prévios foi apontado ser possível implementar a oferta de atividade física em dez
equipamentos sociais, considerando os desafios da falta de capacitação sobre a promoção da
atividade física, juntamente com a inadequação de espaços públicos, como praças e parques.
Na sequencia, ficou pactuado e planejado com diferentes atores e setores da prefeitura que
seriam realizadas ações de educação permanente com 50% dos profissionais atuantes na
APS em parceria com a instituição de ensino superior, além de pequenas reformas, reparos
e limpeza em curto a médio prazo, viabilizando a utilização dos espaços. Importante conside-
rar que as restrições políticas podem ser mitigadas com um planejamento mais participativo.

Realista: uma meta deve estar relacionada a uma demanda, um problema local, conjuntamente
a uma agenda governamental, pois isso facilitará a sua inserção.

• A atividade física é um direito que traz benefícios para a saúde e a qualidade de vida. Portan-
to, não ampliar o acesso às pessoas é não permitir que elas desfrutem dessas possibilidades,
sendo um problema a ser enfrentado. Diferentes incentivos como o Programa Academia da
Saúde (PAS), o Incentivo de Atividade Física (IAF) e documentos norteadores, como a PNAB,
a PNPS e o Guia de Atividade Física para a População Brasileira destacam a importância da
promoção da atividade física. Os gestores e demais trabalhadores que atuam no SUS podem
ser embaixadores da agenda da atividade física em seus contextos locais, participando da
construção da agenda junto à comunidade, no cotidiano das ações e em arenas e lugares de
conversa com a maior abrangência possível de atores e setores.

Temporalidade: uma meta deve possuir um tempo para ser concretizada.

• Inserção/início da promoção de atividades físicas em dez equipamentos sociais em até 18


meses. É possível escalonar a meta no período, por exemplo, dois equipamentos a cada três
meses em média

Como puderam verificar a estratégia SMART poderá ser uma ferramenta no estabelecimento de me-
tas sobre a promoção da atividade física. Para não esquecer, deixe o acrômio na sua mesa de trabalho
e sempre que necessário retorne aqui para relembrá-lo. Agora, um assunto que vale atenção é a
intersetorialidade, um dos princípios da PNPS.

No processo de construção do PPA, vale lembrar que a intersetorialidade é um dos princípios da PNPS
e objetiva ampliar a atuação sobre determinantes e condicionantes da saúde, sendo definida como:

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“processo de articulação de saberes, potencialidades e experiências de sujeitos, grupos e setores na


construção de intervenções compartilhadas, estabelecendo vínculos, corresponsabilidade e cogestão
para objetivos comuns” (BRASIL, 2017). Por meio desse conceito é possível articular sujeitos e proces-
sos organizacionais, superar a fragmentação, tomar o território como referência para ações e produzir
sinergia para potencializar o enfrentamento de problemas complexos. Por isso, leva à reflexão sobre
noções de reciprocidade e de complementaridade na ação humana.

A promoção da atividade física certamente poderá se beneficiar da intersetorialidade


– como, por exemplo, por meio da parceria do setor saúde com o setor do esporte,
que impactará o acesso a ações e programas de atividade física. Outro exemplo é a
relação do setor saúde com o setor de urbanismo e infraestrutura, com a melhoria
da mobilidade, que pode favorecer o deslocamento ativo. Ambas as parcerias se
conectam com diversas metas dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Vale lembrar, também, que os princípios e as diretrizes do SUS e da PNPS evidenciam a relevância da
participação dos profissionais de saúde e de outros setores e da população na análise e na formulação
de ações que visem a produção de saúde e do cuidado. Por isso, ressaltamos a participação da popu-
lação e de profissionais de saúde na construção do planejamento em todas as etapas: dos planos de
trabalho em cada equipamento até os planos com diretrizes de ações vinculadas ao orçamento.

Após compreender como o PPA pode ser planejado e quais são os atores e setores envolvidos, é
importante pensar sobre algumas etapas durante o seu processo de construção, no qual você pode
atuar de maneira direta ou indireta. Para tal, ajudaremos fazendo alguns apontamentos:

Identificação clara dos objetivos e


das prioridades da gestão local

Identificação de atores e dos órgãos gestores


dos programas e ações governamentais

Organização dos propósitos da


administração pública em programas

Otimização dos recursos orçamentários

Transparência

Conheça a seguir cada um dos temas.

A – Identificação clara dos objetivos e prioridades da gestão local

Espera-se que você, enquanto gestor e profissional atuante na área da saúde, possa contribuir para
identificar os objetivos e as prioridades (fragilidades e/ou potencialidades) do território que precisam
ser atendidas a partir de projetos e estratégias e, por esse caminho, construídos a partir do diálogo
com a população. O tema da promoção da atividade física na APS certamente tem enorme potencial
de contribuição nos diálogos sobre saúde, bem-estar e qualidade de vida, e é uma pauta positiva para
a gestão municipal/distrital.

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Por exemplo, a promoção da atividade física está relacionada a diferentes ODS da ONU. Como vimos
anteriormente, são 17 ODS, dentre os quais em 13, a depender da sensibilidade e intencionalidade
da gestão, podem ser feitas relações com a promoção da atividade física, com destaque para: saúde e
bem-estar; educação de qualidade; igualdade de gênero; redução das desigualdades; cidades e comu-
nidades sustentáveis; ação contra a mudança global do clima; entre outros.

Outro referencial que pode fortalecer a promoção da atividade física são as agendas urbanas como
as de cidades saudáveis, que reconhecem a complexidade do viver nas cidades de forma integrada,
com vistas a oportunizar acesso e opções mais saudáveis para todas as pessoas. A atividade física,
nesse caso, pode ser promovida por meio do acesso à ciclofaixas e ciclovias interligadas ao transporte
público e aos espaços públicos de lazer, como praças e parques, por exemplo.

SAIBA MAIS

Para conhecer os Critérios globais para cidades saudáveis, acesse:


https://docs.bvsalud.org/biblioref/2022/05/1370193/31_rr_depros_cidades-
saudaveis_final.pdf

Além da promoção da atividade física nos serviços do SUS, a busca de parcerias (inclusive para a
ampliar a oferta em outros espaços públicos como praças, ciclovias, clubes, ruas de lazer e vias ade-
quadas) pode ampliar as possibilidades e formas de as pessoas serem mais ativas fisicamente, por
exemplo oportunizando o deslocamento ativo.

As escolas abertas nos fins de semana para a prática esportiva de lazer, brincadeiras e jogos também
são opções para ampliar o acesso às atividades físicas. Especificamente sobre a promoção da ativi-
dade física a partir das unidades de saúde, é importante que essa esteja nos Planos Plurianuais para
que tenha visibilidade e seja executada em conformidade com as metas estabelecidas, ou seja, que
seja incluída no cotidiano dos processos de trabalho, e nas arenas municipais, regionais, distritais e
estaduais de formulação de instrumentos de planejamento e de gestão.

B – Identificação de atores e dos órgãos gestores dos programas e ações governamentais

Cabe ainda considerar quais redes existem no território, que assumem algum lugar na gestão local,
pois cada ator envolvido possui conhecimentos importantes sobre os problemas e as potencialidades
locais (inclusive organizações sociais, movimentos e coletivos). Assim, espera-se que a Secretaria de
Saúde esteja envolvida diretamente em ações, programas e políticas ao organizar as suas áreas com
responsabilidades e metas claras, além de participar, como convidada, ou liderar a proposição de
projetos e iniciativas com outras secretarias.

Aqui é importante mapear quem são os atores responsáveis e participantes dos programas, quais
os níveis de gestão estão envolvidos, além do municipal, para que seja possível debater e pactuar a
inclusão no Plano Plurianual Por exemplo: o setor saúde pode criar condições para implementar ou
implantar o Programa Academia da Saúde e promover uma articulação para a sua estruturação ou
ampliação em relação à oferta de ações e programas de promoção da atividade física com outras
secretarias como educação, lazer, esporte, cultura, etc., assim como com outros atores do município
do terceiro setor, Sistema S (SESC, SESI, SENAI, SENAC, etc.), entre outros.

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C – Organização dos propósitos da administração pública em programas

O envolvimento da Secretaria de Saúde em programas de promoção da atividade física deve estar


alicerçado na PNAB, na PNPS, no Guia de Atividade Física para a População Brasileira e em outras
normativas do SUS. Segundo a PNPS, é função das três esferas de gestão do SUS incluir a promoção
da saúde em conformidade com os instrumentos de planejamento e gestão do SUS, considerando as
especificidades locorregionais. Cabe assim deixar claro quais são os propósitos da gestão municipal
quanto ao tema saúde, e no que diz respeito ao fomento da atividade física nos seus serviços de saúde.

Ao considerar a atividade física um direito e fomentá-la na APS do seu município, é possível aumentar
os níveis de atividade física, contribuir para o enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissí-
veis (DCNTs) e melhorar a qualidade de vida da população.

D – Otimização dos recursos orçamentários

Os programas devem considerar o repasse de recursos para a Secretaria Municipal de saúde vindos
do Ministério da Saúde e da Secretaria Estadual/Distrital de saúde, assim como recursos próprios do
município, e as parcerias intersetoriais para o desenvolvimento de ações e programas. No caso da
promoção da atividade física, os setores da gestão pública podem otimizar recursos orçamentários
para o desenvolvimento de ações, programas e políticas intersetoriais. Como exemplo, é possível
que o município busque por meio das emendas parlamentares o recurso para a construção de polos
do Programa Academia da Saúde que são estabelecimentos de saúde da APS, ou a solicitação de
credenciamento ao Incentivo de Atividade Física (IAF) na APS. Além disso, a integração com outras
áreas da gestão pública poderá estimular a atividade física como forma de deslocamento ativo, seja
de caminhada e/ou uso da bicicleta com a estruturação ou melhoria de calçadas, ciclofaixas e ciclovias.
Aproveitar a semana do dia 6 de abril, na qual comemora-se o Dia Mundial da atividade física.

Vale considerar que caso o município já tenha esses espaços em funcionamento, cabe também a
sua divulgação por meio de eventos públicos a população e que estimulem a promoção da atividade
física, por exemplo: caminhadas coletivas, dia da bicicleta, entre tantas ideias possíveis e que podem
ser realizadas em parceria com os demais setores, como: educação, turismo, cultura e esporte. É
importante considerar que, para além de ter os espaços, é necessário que a população compreenda
as possibilidades de uso.

LINKS

Portarias relacionadas com o Incentivo de Atividade Física (IAF):

• Instituição: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-gm/ms-n-1.105-de-15-de-
maio-de-2022-400410284
• Credenciamento: https://www.in.gov.br/web/dou/-/portaria-gm/ms-n-2.103-de-30-
de-junho-de-2022-412326237
• Homologação: https://www.in.gov.br/web/dou/-/portaria-gm/ms-n-3.872-de-26-de-
outubro-de-2022-440258107

E – Transparência

Dar visibilidade a todo o processo de gestão e de planejamento nos diversos canais de comunicação,
desde a identificação dos objetivos e a estruturação de ações, programas e políticas, a fim de garantir
a representatividade dos interessados, inclusive na determinação dos recursos utilizados, assim como
a possibilidade de realização do controle e da fiscalização.

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REFLEXÃO
Bom, agora é o momento de refletir na prática sobre um problema ou uma ne-
cessidade que possa ser incorporada ao PPA. Vamos pensar em um exemplo do
setor saúde e das condições que devem ser consideradas ao longo do processo,
tudo bem? Acompanhe.

Há diversas maneiras de identificar uma necessidade ou um problema e pensar em como resolvê-lo;


em seguida teremos seis questões orientadoras em diferentes fases, para ajudar no desenvolvimento
de um projeto. A estrutura a seguir é conhecida como modelo lógico, sendo usada pelo Ministério
da Saúde para formulação de políticas públicas. Este esquema oferece elementos que auxiliam no
processo de implementação, pré, durante e pós, de uma política pública, para isso, observe a seguir.

Qual o problema ou necessidade merece atenção/coordenação da secretaria de saúde?

Exemplo: Muitas pessoas (alta prevalência) com sobrepeso e obesidade (total


de pessoas com sobrepeso e obesidade cadastradas nas Unidades de Saúde).

Quais os recursos/insumos necessários para atendê-lo?

Fase de implementação: Antes.


Exemplo: Contratação de equipe multiprofissional, da qual farão parte
o Profissional de Educação Física e nutricionista.

O que será avaliado durante esse processo?

Fase de implementação: Durante.


Exemplo: Acompanhamento sobre a participação de pessoas com
sobrepeso e obesidade nas atividades (aulas de atividade física, momentos
de educação em saúde, consultas, etc.) ofertadas nas unidades de saúde.

Qual o produto esperado a partir dos recursos/insumos?

Fase de implementação: Depois.


Exemplos: Aumento do percentual de participação de pessoas com sobrepeso e obesidade
nas atividades ofertadas nas unidades de saúde. Aumento do percentual de registro de
atividades ofertadas pela equipe multiprofissional de saúde no Sistema de Informação em
Saúde para a Atenção Básica (SISAB).

Qual o resultado esperado?

Fase de implementação: Depois.


Exemplos: Aumento da participação de pessoas com sobrepeso e obesidade nas atividades
ofertadas nas unidades de saúde. Redução do crescimento (diminuição da prevalência) do
número de pessoas com sobrepeso e obesidade no município. Redução do Índice de Massa
Corporal (IMC) dos participantes (acompanhamento a cada 6 meses).

Qual o impacto de se resolver esse problema?

Fase de implementação: Depois.


Exemplos: Aumentar a qualidade de vida das pessoas com sobrepeso e obesidade. Diminuir
o risco do desenvolvimento de outras DCNTs, como diabetes, hipertensão e depressão.

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A partir do exemplo ilustrado, sugerimos que você faça uma reflexão sobre uma necessidade e/ou
problema no seu município que poderá ser incorporada ao PPA e pense em uma possível resolução a
partir do modelo lógico usado anteriormente.

PARA PENSAR E PLANEJAR


Para conhecer um exemplo de PPA, acesse o documento em âmbito federal
disponível em: https://www.gov.br/economia/pt-br/assuntos/planejamento-e-
orcamento/plano-plurianual-ppa.

2.2.2 | Leis orçamentárias

Os gestores municipais e o distrital, apesar de terem certa autonomia para gerir os recursos públicos,
devem respeitar uma série de diretrizes e planejamentos. Por exemplo, há investimentos mínimos
em áreas prioritárias como a saúde conforme legislação vigente e, além deles, deve ser seguido o
previsto em três documentos essenciais: o PPA, a Lei Orçamentária Anual (LOA) e a Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO).

É importante relembrar que o PPA é o documento oficial que transforma as necessidades da popula-
ção em programas e futuras políticas públicas. Para o seu efetivo desenvolvimento, é necessário esta-
belecer o orçamento que atenda a essas necessidades, por meio da LDO e da LOA, ambas instituídas
na Constituição Federal no Artigo 165. Com essas três ferramentas é formado o modelo orçamentário
brasileiro em todas as esferas de governo.

A LDO é planejada anualmente, em âmbito municipal, pelo poder executivo (prefeito) e serve para de-
talhar e organizar os objetivos e metas do PPA para o ano seguinte. A LDO estabelece diretrizes para
a confecção da LOA, contendo metas e prioridades do governo, além das despesas de capital para o
exercício financeiro seguinte, dentre outros. Com isso, a LDO norteará a LOA, que será votada pelo
legislativo (vereadores). A LDO deve ser enviada até abril e a LOA até agosto à Câmara Municipal e à
Distrital. Aqui fica evidente a importância da articulação do poder executivo (prefeito) com o legislativo
(vereadores) para que a promoção da atividade física, enfoque deste curso, seja contemplada em
proposições que constarão nos documentos relacionados ao orçamento municipal e distrital.

LINKS

Lembre-se de que também é necessário considerar a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF),


a Constituição Federal no que dispõe sobre a saúde, a Lei nº 141/2012 e a lei orgânica do
município para elaboração da LDO.

• LRF: https://www.gov.br/tesouronacional/pt-br/execucao-orcamentaria-e-
financeira/lei-de-responsabilidade-fiscal

• Constituição Federal: https://conselho.saude.gov.br/web_sus20anos/20anossus/


legislacao/constituicaofederal.pdf

• Lei nº 141/2012: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp141.htm

De modo geral, após o estabelecimento de metas de médio prazo para as ações e os programas
descritos no PPA, são discriminadas as diretrizes orçamentárias, por meio da LDO, para implementar
esses programas. Já a LOA fixa os gastos públicos que podem ser investidos em cada área e programa
e estabelece de onde virão os recursos para arcar com as despesas decorrentes dos programas.

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Em termos práticos, os valores que poderão ser investidos por área e programa dependem do históri-
co de arrecadação, da previsão de arrecadação para o próximo ano e do planejamento do município.
Apesar de não significar que o valor estipulado estará disponível para o desenvolvimento de progra-
mas, vale pontuar que o principal ponto positivo da fixação de valores é poder orientar o gestor de
cada área para que consiga planejar e executar as ações e os programas para o próximo ano.

Assim, por meio da LOA, os governos municipais e o distrital estimam o quanto esperam arrecadar e
receber via transferências governamentais estaduais e federais, e onde os recursos serão investidos,
sendo que a LOA estabelece limites previamente planejados. Sua elaboração se dá com base nas
diretrizes anteriormente apontadas pelo PPA e pela LDO, ambos definidos pelo executivo, a partir de
discussões com os munícipes e com o poder legislativo.

Ou seja, na LOA está contido um planejamento de gastos que define as ações prioritárias para o
município e o distrito federal, levando em conta os recursos disponíveis. Assim, é importante que a
promoção da atividade física seja contemplada na LOA.

Agora, para ajudar a fixar alguns conceitos, observe o quadro a seguir.

Instrumento de planejamento governamental de médio prazo que define


procedimentos, objetivos e metas da gestão.

PPA Você já pensou sobre os objetivos e as metas de promoção da atividade física


que podem ser ampliados e/ou implantados no seu município?

Por exemplo: já pensou na possibilidade de iniciar ou ampliar as práticas de


atividades físicas nas UBS do seu município?

Estabelece as diretrizes orçamentárias detalhadas para implementar os


programas.

Quais os custos das ações de promoção da atividade física?


LDO
Por exemplo: será necessário contratar profissionais de educação física e
adquirir materiais para o desenvolvimento das atividades? Seria possível
ampliar o processo de educação permanente no tema atividade física e
incluir outros profissionais?

Fixa os gastos públicos que podem ser investidos em cada programa e esta-
belece de onde virão os recursos para arcar com as despesas decorrentes.

Quais as possibilidades de financiamento que existem para a promoção da


LOA atividade física no seu município?

Por exemplo: pleitear auxílio financeiro federal, como o Incentivo de Ativi-


dade Física (IAF), além de organizar recursos advindos para o setor saúde e
estabelecer parte deles para a oferta da atividade física, como o pagamento
de recursos humanos, materiais, educação permanente, etc.

Nesse sentido, é importante se atentar aos objetivos, às metas e aos recursos que serão investidos em
cada área, de modo que ações e programas possam ser atendidos integralmente dentro do planejado.
Por esse caminho, vamos refletir sobre uma meta que iniciou no PPA e como ela será incorporada. A
seguir confira uma imagem com informações importantes sobre o PPA, LDO e LOA.

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Plano Plurianual
O Sistema Orçamentário Brasileiro
possui os seguintes instrumentos: Vigência de quatro anos
Programas/objetivos/metas/indicadores
Elaborado no primeiro ano de mandato

Lei de Diretrizes Orçamentárias


Lei Orçamentária Anual
Vigência anual
Regras: elaboração e execução do Orçamento Vigência anual
Metas fiscais e prioridades orçamentárias Receitas (origem) x Despesas (aplicação)
Elaborada até abril de cada ano Classificação das Receitas e Despesas
Elaborado até agosto de cada ano

PLANEJAMENTO PLANEJAMENTO
PROMOÇÃO DA AF ENTE FEDERADO

Projetos PPA

LDO
Plano de Ação
LOA

Fique atento aos prazos:


O PPA deve ser elaborado no primeiro ano de mandato, até quatro meses antes do
encerramento do exercício (Art. 35, §2º, I do ADCT).
A LDO é anual e deve ser elaborada até oito meses antes do encerramento do exercício (Art. 35,
§2º, II do ADCT).
A LOA também é anual, mas deve ser elaborada até quatro meses antes do encerramento do
exercício (Art. 35, §2º, III do ADCT).

Fonte: adaptado de adaptado de Ministério Público do Estado da Bahia - MPBA (s.d.).


Disponível em: https://www.mpba.mp.br/area/caoca/dica2.

Agora, acompanhe um exemplo.

Objetivo: favorecer o acesso à prática de atividade física aos grupos populacionais mais vulneráveis.

Na cidade de Goá, a meta traçada pela prefeitura no PPA para os próximos quatro anos foi garan-
tir o acesso de 30% da população a programas de atividade física nos espaços públicos de lazer. A
equipe de saúde sabe que alguns grupos populacionais, como meninas e mulheres, pessoas mais
velhas, com menor renda e escolaridade e pessoas negras, praticam menos atividade física no
tempo livre ou de lazer e tem como desafio ou objetivo a ampliação do acesso de forma a garantir
a equidade.

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Na LDO do segundo ano de gestão, a prefeitura de Goá acrescentou como meta o acesso de 15%
da população a espaços públicos de lazer, como praças, parques e clubes públicos, que favoreçam
a prática de atividade física no tempo livre. Para atender as metas propostas no PPA, previu-se
a parceria da secretaria de infraestrutura, de mobilidade urbana, de ambiente, de turismo, etc.,
e a oferta de programas gratuitos de atividade física em unidades de saúde e centros sociais em
conjunto com a secretaria de esportes e lazer e de assistência social.

Pois bem, esses são alguns pontos para se pensar em relação a essas metas:

▶ Quais são os custos de ofertar atividade física nas unidades de saúde?

▶ Quais são os custos para que 15% da população, em especial os grupos populacionais que
menos praticam atividade física no tempo livre ou de lazer, tenham acesso a espaços públicos?

▶ Será necessário revitalizar os espaços?

▶ Será necessário construir novos espaços?

▶ Será preciso contratar e/ou capacitar profissionais?

▶ Será possível melhorar e ampliar a oferta?

LINKS

Nesse sentido, para conhecer a LDO e LOA do âmbito federal, acesse: https://www.gov.br/
economia/pt-br/assuntos/planejamento-e-orcamento/orcamento.

Ainda, após conhecer o PPA do seu município, recomendamos que você também busque pela LDO
e LOA. Verifique se há a inserção da temática e discuta junto com as pessoas as necessidades e pro-
blemas referentes à promoção da atividade física que podem ser incluídos no PPA e, posteriormente,
detalhadas em metas na LDO e criadas previsões orçamentárias para atingi-las, por meio da LOA.

2.2.3 | Plano Municipal de Saúde (PMS), Programação Anual de Saúde (PAS) e Relatório
Anual de Gestão (RAG)

Como vimos, os instrumentos de gestão e de planejamento mais gerais da gestão pública são relevantes
por apontarem elementos essenciais para a promoção da atividade física que vamos discutir a seguir.
O Plano Municipal de Saúde (PMS) e suas programações anuais de saúde são orientados e aprovados
pelo Conselho Municipal/Distrital de Saúde. Além disso, esses documentos estão interligados também
ao PPA, LDO e LOA, sendo instrumentos de gestão do SUS e também previstos na Constituição Federal.

O PMS é um instrumento de planejamento para o período de quatro anos e possui a mesma lógica
de funcionamento do PPA, ou seja, planeja-se no primeiro ano de gestão e aplica-se nos próximos
quatro anos, adentrando ao primeiro ano do próximo mandato. A norma legal dispõe sobre o Plano
de Saúde. Entretanto, para efeitos didáticos, vamos nos referir aos Planos de Saúde dos municípios
como Plano Municipal de Saúde (PMS) e ao Plano de Saúde do Distrito Federal como Plano Distrital de
Saúde (PDS). O documento atribui o compromisso do município com o setor saúde, sendo que, por
meio dele, se realiza o diagnóstico dos principais problemas e demandas do município e também se
inserem as metas advindas da conferência municipal de saúde, no qual espera-se que as necessida-
des da população sejam contempladas. Podemos fazer uma analogia desse documento com o PPA,
entretanto, o PMS possui o foco apenas no setor saúde. Portanto, é apropriado e indicado incluir o
planejamento de objetivos e metas referentes à promoção da atividade física no PMS.

60
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN2

Ainda, aliada ao PMS temos a Programação Anual de Saúde (PAS), que é um documento de base anual
e de característica detalhada, que busca operacionalizar o planejamento e as metas do PMS. A PAS
é elaborada no ano em curso e executada no ano subsequente, além de ser atualizada anualmente
para orientar a LDO. Além disso, a Programação deve ser repassada ao sistema online de gestão do
SUS - DigiSUS Gestor - Sistema Digital dos Instrumentos de Planejamento.

Acesse o link do PMS e da Programação Anual de Saúde em:


https://digisusgmp.saude.gov.br/informacao/noticia/nota-informativa-no-82021-
cgfipdgipsems

Como resultado do PMS e da Programação Anual de Saúde, temos o Relatório Anual de Gestão (RAG),
um documento imprescindível para as atividades de controle e prestação de contas do SUS, no qual
são apresentados os resultados alcançados da atenção integral à saúde a partir da execução da PAS e,
também, orienta eventuais redirecionamentos que se fizerem necessários no PMS.

O Relatório Anual de Gestão (RAG) deverá ser apresentado até o dia 30 de março do ano seguinte
ao da execução financeira, ao respectivo Conselho de Saúde, cabendo ao Conselho de Saúde emitir
parecer conclusivo sobre o cumprimento ou não das normas estabelecidas.

Além disso, é importante considerar que a produção do PMS e da PAS deve ser incorporada pelos
gestores do SUS no sistema eletrônico do Governo Federal. Antigamente, os instrumentos de pla-
nejamento do SUS: PNS, PAS e RAG, ocorriam no Sistema de Apoio à Construção do Relatório de
Gestão (SargSUS), entretanto, atualmente, o DigiSUS Gestor – Sistema Digital dos Instrumentos de
Planejamento, incorporou tais funções. Confira na figura a seguir.

Fonte: Manual do usuário - DigiSUS Gestor, 2021

O DigiSUS Gestor é um sistema de informação para estados, Distrito Federal e municípios, desen-
volvido a partir das normativas do planejamento do SUS e da internalização da lógica do ciclo de
planejamento.

Você pode acessar o DigiSUS Gestor em: https://digisusgmp.saude.gov.br/

E para compreendê-lo em detalhes, basta acessar o Manual do Usuário em:


https://digisusgmp.saude.gov.br/informacao/biblioteca/manual-do-usuario-2021-no-prelo

61
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN2

O PMS deve conter na sua estrutura os seguintes itens:

▶ análise de situação de saúde;


▶ diretrizes, objetivos, metas (valor da meta, unidade de medida e meta prevista);
▶ indicadores (variáveis DOMI: diretrizes, objetivos, metas e indicadores);
▶ processo de monitoramento e avaliação.

A alimentação do Sistema DigiSUS tem início com o registro das variáveis DOMI constantes no PMS e
referente aos quatro anos de gestão. Ainda, deve ser anexado o PMS no sistema e indicado o status
de aprovação pelo Conselho de Saúde: “aprovado”, “não aprovado” ou “em análise”, sendo possível
alterá-lo mediante justificativa.

O preenchimento das variáveis DOMI é essencial para que os componentes da Programação Anual
de Saúde e do Relatório Anual de Gestão sejam disponibilizados, uma vez que o PMS e os demais
instrumentos de gestão estão interligados.

Para fixar e auxiliar na produção do documento, vamos entender o conceito das variáveis
DOMI, sugeridas pelo Manual de Planejamento no SUS (BRASIL, 2016b), disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/articulacao_interfederativa_v4_manual_
planejamento_atual.pdf

Agora, acompanhe mais informações sobre o tema.

Diretriz: Expressam ideais de realização e orientam escolhas estratégicas e prioritárias.


Devem ser definidas em função das características epidemiológicas, da organização dos
serviços, do sistema de saúde e dos marcos da política de saúde.

Objetivo: Expressam resultados desejados, refletindo as situações a serem alteradas pela


implementação de estratégias e ações. Declaram e comunicam os aspectos da realidade
que serão submetidos a intervenções diretas, permitindo a agregação de um conjunto de
iniciativas gestoras de formulação coordenada. Referem-se à declaração “do que se quer”
ao final do período considerado.

Meta: Expressa a medida de alcance do objetivo. Um


mesmo objetivo pode apresentar mais de uma meta
em função da relevância dessas para seu alcance, ao
mesmo tempo que é recomendável estabelecer metas
que expressam os desafios a serem enfrentados.

Indicador: Conjunto de parâmetros que permite


identificar, mensurar, acompanhar e comunicar,
de forma simples, a evolução de determinado
aspecto da intervenção proposta. Devem ser
passíveis de apuração periódica, de forma a
possibilitar a avaliação da intervenção.

Vamos pensar em algumas situações práticas relacionadas à temática deste curso e baseadas nos
itens DOMI que devem ser inseridos no sistema, confira a seguir. Observação importante: para cada
diretriz pode haver um ou mais objetivos, assim como para cada objetivo poderá ter uma ou mais
metas e indicadores.

62
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN2

Exemplo 1:

Diretriz Garantir o acesso da população à atividade física na APS, de


maneira equânime.

Objetivo Estabelecer parcerias intersetoriais para aumentar o acesso da


população às práticas de atividade física.

1. Ampliar em 30% o acesso a práticas de atividade física em


unidades de saúde e equipamentos sociais/esportivos
próximos (como centros sociais urbanos, igrejas, escolas,
Metas quadras, ginásios esportivos, clubes públicos, academias ao
ar livre e demais locais públicos favoráveis para a prática).
2. Ampliar em 30% o acesso a espaços de lazer, como praças e
parques, preferencialmente em bairros com maior vulnera-
bilidade social.

Valor da meta 60

Unidade de medida Percentual

Meta prevista para 2022 a 2025 2022: 10%, 2023: 30%, 2024: 50% e 2025: 60%

% da população usuária praticando atividade física em uni-


Indicadores dades de saúde, equipamentos sociais/esportivos próximos;
% da população cadastrada na unidade de saúde frequentando
espaços públicos e gratuitos de lazer.

Exemplo 2:

Diretriz Ampliar o tema de promoção à atividade física no processo de


educação permanente.

Objetivo Estabelecer uma agenda municipal que fortaleça o tema.

1. Incluir nos espaços de educação permanente assuntos rela-


cionados à temática de promoção da atividade física, como
prevenção e promoção da saúde, tratamento e manejo de
diabetes/hipertensão/saúde mental/ direcionados a profis-
sionais de saúde, envolvendo a temática de atividade física
(palestras, apresentando o Guia de Atividade Física para a
Metas População Brasileira, o Guia de Atividade Física para a Popula-
ção Brasileira: Recomendações para Gestores e Profissionais
de Saúde e o Guia de Orientações para o Aconselhamento
Breve sobre Atividade Física na APS do SUS.
2. Criar ou utilizar dias específicos para abordar o assunto (por
exemplo: semana do dia que comemora-se o dia mundial da
atividade física, em 6 de abril).

Valor da meta 100

Unidade de medida Percentual

Meta prevista para 2022 a 2025 2022: 30%, 2023: 60%, 2024: 90% e 2025: 100%

Indicador % de profissionais de saúde vinculados à APS que declaram


aconselhar sobre atividade física

63
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN2

Exemplo 3:

Diretriz Criar condições para favorecer a mudança do perfil epidemioló-


gico sobre os níveis de atividade física da população.

Objetivo Monitorar os níveis de atividade física da população.

Favorecer que 100% das unidades de saúde dos territórios mo-


nitorem os níveis de atividade física da população, por meio da
seguinte estratégia:
1. Incentivar a inclusão do monitoramento dos níveis de ativi-
dade física dos usuários vinculados às unidades de saúde,
como a frequência e duração da prática de atividade física
no tempo livre ou deslocamento (por exemplo: no perfil
Metas epidemiológico da unidades de saúde é possível incluir além
dos dados quantitativos de gestantes, pessoas idosas, hiper-
tensas e diabetes, quantas pessoas por microárea atingem
150 minutos/semanais de atividade física no tempo livre e
de lazer.
2. Perguntar: “Você pratica atividade física no tempo livre?”,
com resposta “sim” ou “não”. Em caso afirmativo, quanto
tempo de atividade física pratica por semana no seu tempo
livre ou no descolamento?

Valor da meta 100

Unidade de medida Percentual

Meta prevista para 2022 a 2025 2022: 30%, 2023: 60%, 2024: 90% e 2025: 100%

Indicador % das unidades de saúde dos territórios que monitoram os


níveis de atividade física da população usuária.

Para dar continuidade aos estudos, vamos agora conhecer melhor as conferências e os Conselhos de
Saúde.

2.2.4 | Conferências e Conselhos de Saúde

Com a inclusão da promoção da atividade física nos instrumentos já abordados, as conferências de


saúde e os Conselhos de Saúde, principais instâncias participativas do SUS, têm um papel importante
para incluir ou ampliar o tema atividade física a fim de melhorar a gestão de ações, programas e
políticas de saúde dos territórios.

Vamos iniciar pelas conferências de saúde, uma arena de participação e controle social do SUS, nas
quais são deliberadas diversas pautas com efetivo poder de ação. Uma das mais importantes, em âm-
bito nacional, foi a 8ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986, cujo relatório final orientou a
criação do SUS com a sua efetiva regulamentação na Constituição Federal de 1988 (artigos 196 a 200).

As conferências são realizadas em âmbito federal, estadual/distrital, regional e


municipal e acontecem a cada quatro anos, especificamente, no primeiro ano de
mandato da gestão, a fim de embasar o PMS. As deliberações em âmbito municipal
são encaminhadas para as conferências regionais de saúde e, se, aprovadas, são
discutidas nas conferências seguintes (estadual e federal).

64
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN2

De maneira pragmática, o objetivo principal das conferências municipais de saúde é avaliar a situação
de saúde do município/distrito federal e pensar em propostas para a melhoria desse setor. As confe-
rências de saúde precisam contar, necessariamente, com a participação de gestores e prestadores de
serviço (25%), profissionais de saúde (25%) e usuários, entidades e movimentos sociais ligados à área
da saúde (50%). A institucionalização das conferências garante a construção de espaços colaborativos
e democráticos, como fóruns importantes de participação social.

Já o Conselho de Saúde possui a mesma paridade de participação obrigatória elencada nas conferên-
cias de saúde e é responsável por monitorar regularmente a prestação de contas do município refe-
rente aos gastos em saúde, deliberar principalmente sobre o PMS e outros instrumentos de gestão
do SUS, identificar e analisar demandas da população e denúncias em geral, entre outras ações que
são deliberadas pelo órgão e homologadas pelo poder executivo (prefeito). O conselho de saúde rea-
liza reuniões periódicas e abertas à população. É relevante que você, gestor e profissional de saúde,
divulgue-as e participe a fim de dialogar com as demandas da população e refletir sobre as ações da
gestão municipal.

Nesse sentido, incentivamos que a promoção da atividade física como uma estratégia de cuidado no
âmbito da APS seja um dos temas instituídos na agenda das reuniões do Conselho e nas conferências
municipais/distrital de saúde, englobando no debate pontos como:

▶ qualificação da oferta das ações de atividade física,

▶ formação de equipes multiprofissionais,

▶ previsão orçamentária para a realização das ações e para a contratação de profissionais,

▶ ampliação do acesso da população aos espaços públicos e programas gratuitos de atividade


física e a outros setores que podem estar envolvidos para esse avanço, por exemplo.

Dentre as características elementares das conferências e dos Conselhos está a possibilidade de am-
pliar a participação da população e atender ao controle social. Dessa maneira, quem usa, quem gere
e quem trabalha no dia a dia do SUS pode colaborar para subsidiar ao longo de todo processo de

UBS

65
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN2

planejamento de ações, programas e políticas públicas, pois conhecem as necessidades diárias do


SUS. Como estratégia de garantia da democratização, esses espaços podem exercer papel importante
na efetivação do empoderamento da população, pois são canais de interlocução com as demandas
das pessoas, das comunidades e dos territórios.

Caso você, Gestor ou profissional, participe do Conselho de Saúde, recomendamos que aproveite a
oportunidade para levantar o tema da promoção da atividade física nas Conferências de Saúde. Mas
aí você se pergunta, por onde eu começo a falar sobre esse assunto?

Para tal, pensando no futuro, indicamos a leitura dos seguintes materiais:

Guia de Atividade Física para a População Brasileira: recomendações para gestores e


profissionais de saúde. Nele são abordadas a difusão, a disseminação, a implementação,
o monitoramento e a avaliação. O Guia também dá dicas de como abordar o Guia de
Atividade Física para a População Brasileira (referência para os usuários). Disponível em:
https://aps.saude.gov.br/biblioteca/visualizar/MjA1NA==.

Recomendações para o Desenvolvimento de Práticas Exitosas de Atividade Física na


Atenção Primária à Saúde do Sistema Único de Saúde. Disponível em: https://aps.saude.
gov.br/biblioteca/visualizar/MjA2MQ==.

Esses são materiais produzidos com muitos detalhes e em uma linguagem acessível a todos, e que
poderão ajudar você nos direcionamentos e na condução sobre essa temática.

2.2.5 | Plano Diretor

Após apresentar os instrumentos de gestão mais gerais da gestão pública e os do SUS, abordaremos
o Plano Diretor. Assim como os demais documentos citados anteriormente, ele também está presen-
te na Constituição Brasileira, sendo um Instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão
urbana (descrito no parágrafo 1º do artigo 40). Trata-se de um plano elaborado pelo poder executivo
(prefeito), o qual fica sob a responsabilidade técnica de um arquiteto urbanista. A sua construção e a
sua validação são constituídas por uma equipe multidisciplinar, devendo ser aprovada pela Câmara
Municipal.

Notavelmente, o Plano Diretor busca intercalar as necessidades da gestão, os desafios impostos e as


demandas da população. Nesse sentido, assim como o PPA, também é possível envolver a participação
popular na construção do documento. Além disso, espera-se que o Plano Diretor esteja alinhado aos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), a Nova Agenda Urbana (NAU) e ao Pacto climático
do Acordo de Paris. Para estruturar o seu plano, basta você consultar o Guia para Elaboração e Revi-
são de Planos Diretores.

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS): https://brasil.un.org/pt-br/sdgs.

Nova Agenda Urbana (NAU): https://habitat3.org/wp-content/uploads/NUA-Portuguese-


Brazil.pdf.

Pacto climático do Acordo de Paris: https://www.gov.br/mcti/pt-br/acompanhe-o-mcti/


sirene/publicacoes/acordo-de-paris-e-ndc/acordo-de-paris.

Guia para Elaboração e Revisão de Planos Diretores: https://www.gov.br/mdr/pt-br/


assuntos/desenvolvimento-urbano/guia-para-elaboracao-e-revisao-de-planos-diretores.

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PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN2

Por esse caminho, sabendo que o Plano Diretor é um documento que pensa sobre a forma de construir
e habitar na cidade, nele são incorporados planos e estratégias específicas, dentre os quais os planos
de saneamento e habitação, obras públicas e mobilidade urbana. Esses dois últimos, especificamente,
podem estar relacionados à promoção da atividade física, sobretudo pela melhoria e implementação
de estruturas e espaços como calçadas, praças, parques, ciclovias e ciclofaixas, por exemplo.

Sabemos que a presença e a percepção de estruturas e espaços públicos abertos, como os citados
anteriormente, podem aumentar o deslocamento ativo por meio da caminhada e bicicleta, principal-
mente se essas estruturas estiverem próximas à residência (a 500 metros, por exemplo) e favorecerem
a percepção de segurança do usuário.

Nesse sentido, seria uma boa oportunidade você, estudante, desenvolver parceria com os outros
setores para que a cidade seja pensada também de uma maneira que possibilite aos seus moradores
se movimentarem mais, de forma segura e prazerosa, a partir de mudanças no ambiente urbano e,
consequentemente, favorecendo o aumento nos níveis de atividade física da população. A longo prazo,
isso poderá impactar na saúde, no bem-estar e na qualidade de vida do indivíduo e das comunidades,
visto que a prática do deslocamento ativo está associada à redução de CO2 (dióxido de carbono ou
gás carbônico), contribuindo para a preservação do meio ambiente e convergindo com as agendas
nacionais e internacionais sobre as mudanças climáticas.

PARA PENSAR E PLANEJAR


De maneira complementar, conheça a experiência do “Elevado João Goulart
(Minhocão)” como espaço de lazer na cidade de São Paulo - SP, para pedestres
e ciclistas, em: https://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/projetos-urbanos/
minhocao-espaco-de-lazer/.

2.3 | Os papéis dos gestores federais, estaduais, distrital e municipais

2.3.1 | Responsabilidades comuns ao Ministério da Saúde, Secretarias Estaduais, Distrital


e Municipais de Saúde

Como responsabilidades e possibilidades de ação comuns entre os entes federados para a promoção
da atividade física destacamos os itens a seguir:

Responsabilidades comuns

Planejamento, apoio, monitoramento e avaliação de programas e ações de promoção da ativida-


de física por meio do estabelecimento de instrumentos e indicadores de gestão.

Alocação de recursos orçamentários e financeiros para que haja contribuição para o financia-
mento tripartite para o fortalecimento da promoção da atividade física no SUS. Se no momento
de interação com esse conteúdo isso não for possível, por exemplo porque o orçamento e a
Programação Anual de Saúde já foram pactuados, é importante que você, gestor, se organize
para propor o debate sobre o tema para que se torne uma possibilidade em breve.

Garantia de infraestrutura adequada e com boas condições para a oferta de programas e ações
de promoção da atividade física.

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PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN2

Disponibilização de sistemas de informação vigentes com a finalidade do uso qualificado para


que seja possível divulgar as informações e os resultados, estimulando a utilização dos dados
para o planejamento, o monitoramento e a avaliação das ações com vistas à institucionalização
desses processos de gestão.

Estímulo e fortalecimento da participação popular e do controle social, inclusive pautando o tema


nos respectivos Conselhos de Saúde, como instâncias de gestão democrática e participativa com
vistas a torná-los partícipes da gestão dos programas e ações e assim tornando a oferta de ações
de promoção da atividade física adequadas às necessidades e potencialidades do território e dos
usuários e, assim, buscando a equidade.

Estabelecimento de parcerias, promovendo a articulação intersetorial – com educação, esporte


e lazer, assistência social, mobilidade urbana, transporte, meio ambiente, etc., e intrassetorial –
com áreas específicas como a de DCNTs, saúde das mulheres, saúde da pessoa idosa, saúde da
população negra, quilombolas, saúde da população do campo, floresta e águas, etc., inclusive
com mecanismos formais de articulação como reuniões em uma temporalidade combinada,
pactuação de plano de trabalho, compartilhamento de ações e metas, etc.

Fonte: baseado na Política Nacional de Promoção da Saúde (PNSP)


e na Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), (BRASIL, 2014; 2017).

2.3.2 | Ministério da Saúde e Secretarias Estaduais e Distrital de Saúde e do Conselho


Nacional de Secretários de Saúde (CONASS)

Como responsabilidades e possibilidades de ação do Ministério da Saúde, gestor federal do SUS, se-
cretarias estaduais e distrital de saúde, gestor estadual e distrital do SUS para a promoção da atividade
física destacamos os itens a seguir, confira.

Ministério da Saúde Secretarias Estaduais e Distrital de saúde

Garantia de recursos federais para compor Garantia de recursos estaduais ou distrital


o financiamento tripartite de programas e para compor o financiamento tripartite de
ações, preferencialmente de modo mensal, programas e ações. Sabemos que entre o texto
regular e automático, prevendo, entre ou- normativo de uma política e a realidade podem
tras formas, o repasse fundo a fundo para existir desafios. Por exemplo, se na atualidade
custeio e investimento. Principais formas as Secretarias Estaduais e a Distrital de Saúde
de financiamento pelo MS – recurso de cus- não financiarem ou cofinanciarem, por meio
teio para a implementação do Incentivo de de transferências de recursos para a gestão
Atividade Física (IAF) e para a manutenção municipal, programas e ações de promoção da
do Programa Academia da Saúde e recurso atividade física, é importante que você, gestor
de investimento para a implementação estadual ou distrital, possa pensar sobre o
deste Programa. O Previne Brasil, atual tema e propor o debate sobre ele nas instân-
modelo de financiamento da APS, também cias necessárias. Tal questão é relacionada, em
pode ser utilizado. geral, aos estados e ao distrito federal concen-
trarem seus recursos na atenção especializada
ambulatorial e hospitalar e não na APS.

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PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN2

Proposição e pactuação na Comissão Inter- Pactuação na Comissão Intergestores Bipar-


gestores Tripartite (CIT) da agenda prioritá- tite (CIB) e Colegiado de Gestão no distrito
ria de promoção da atividade física na APS. federal de estratégias, diretrizes e normas
para implementação da agenda prioritária de
promoção da atividade física na APS.

Apoio a gestores estaduais, distritais e Apoio a gestores municipais no processo de


municipais no processo de planejamento, planejamento, operacionalização, monitora-
operacionalização, monitoramento e ava- mento e avaliação dos programas e ações de
liação dos programas e ações de promoção promoção da atividade física a partir do perfil
da atividade física a partir do perfil epide- epidemiológico e das necessidades em saúde.
miológico e das necessidades em saúde.

Proposição e articulação de estratégias de Proposição, considerando a agenda do Minis-


formação e educação permanente visando tério da Saúde, e articulação com a gestão mu-
a inclusão da atividade física no processo nicipal de estratégias de formação e educação
de cuidado da APS. permanente visando a inclusão da atividade
física no processo de cuidado da APS.

Fonte: baseado na Política Nacional de Promoção da Saúde (PNSP)


e na Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), (BRASIL, 2014; 2017).

O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) congrega os secretários estaduais e o distrital


de saúde. Possui como principais objetivos fortalecer a gestão estadual e a distrital e torná-la mais
participativa. Assim, é um fórum importante para o gestor pautar debates e iniciativas de promoção
da atividade física com o objetivo de apoiar o planejamento e a implementação.

2.3.3 | Secretarias Municipais e Distrital de Saúde

Como responsabilidades e possibilidades de ação das Secretarias Municipais e Distrital de Saúde,


gestores municipais e distrital do SUS, para a promoção da atividade física destacamos os itens a
seguir:

Secretarias Municipais e Distrital de Saúde

Garantia de recursos municipais e distrital para compor o financiamento tripartite de programas


e ações de promoção da atividade física.

Organização, execução e gerenciamento de programas e ações de promoção da atividade física a


partir de sua base territorial de acordo com as necessidades de saúde identificadas na população
usuária.

Pactuação na Comissão Intergestores Bipartite (CIB) e no colegiado de gestão do distrito federal


de estratégias, diretrizes e normas para implementação da agenda prioritária de promoção da
atividade física na APS.

69
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN2

Apoio a gestores e profissionais das unidades de saúde no processo de planejamento, operacio-


nalização, monitoramento e avaliação dos programas e ações de promoção da atividade física a
partir do perfil epidemiológico e das necessidades em saúde dos territórios.

Garantia de infraestrutura adequada, recursos materiais, equipamentos e insumos suficientes


para o funcionamento dos programas e ações de promoção da atividade física.

Análise e verificação da qualidade e consistência dos dados inseridos nos sistemas de informa-
ção, além de utilizá-los no planejamento das ações e divulgar os resultados obtidos.

Manutenção do cadastro de equipes, profissionais, carga horária, serviços disponibilizados, equi-


pamentos e outros relacionados à promoção da atividade física, no sistema de Cadastro Nacional
de Estabelecimentos de Saúde, atualizado mensalmente, conforme regulamentação específica.

Participação no processo de monitoramento e avaliação de programas e ações de promoção da


atividade física, a partir do plano e da Programação Anual de Saúde.

Seleção, contratação e remuneração de profissionais que atuarão nos programas e ações de


promoção da atividade física, em conformidade com a legislação vigente.

Articulação com a gestão estadual, a partir da agenda do Ministério da Saúde, para a construção
de estratégias de formação e educação permanente visando a inclusão da atividade física no
processo de cuidado da APS.

Fomento da mobilização das equipes e dos profissionais de saúde e garantia de espaços para a
participação da comunidade no exercício do controle social.

Promoção da articulação intra e intersetorial para apoio à implementação de programas e ações


de promoção da atividade física.

Fonte: baseado na Política Nacional de Promoção da Saúde (PNSP)


e na Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), (BRASIL, 2014; 2017).

Os COSEMS são colegiados de Secretarias Municipais de Saúde que representam os gestores munici-
pais, no âmbito estadual, para tratar de agendas referentes ao SUS. Já o Conselho Nacional de Secreta-
rias Municipais de Saúde (CONASEMS) é a representação nacional dos gestores municipais e participa
nas instâncias decisórias e consultivas do SUS. Essas instituições auxiliam os gestores municipais na
formulação de estratégias voltadas ao aperfeiçoamento do contexto local de saúde, primando pelo
intercâmbio de informações e pela cooperação técnica. Assim, também são fóruns importantes para o
gestor municipal pautar debates e iniciativas de promoção da atividade física a partir da compreensão
do processo de formulação de políticas públicas e não somente da execução dos programas e ações.
Por meio da CIB, em âmbito estadual, e da CIT, em âmbito federal, que contam com a participação das
instituições supracitadas, poderão ser realizadas as pactuações para a ampliação da oferta de ações e
programas de promoção da atividade física.

70
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN2

Para concluir o que foi apresentado sobre os papéis dos gestores do SUS, a mensa-
gem que deixamos é: gestor municipal, você não está sozinho para debater, planejar
e implementar ações e programas de promoção da atividade física. Como vimos,
diferentes instituições como o Ministério da Saúde, o CONASS, o CONASEMS e o
COSEMS podem oferecer apoio nesse processo.

2.4 | Vale a pena investir em promoção da atividade física

2.4.1 | Ampliar a resolutividade da APS por meio do acesso à prática de atividade física

Neste momento, você pode estar se perguntando: “A promoção da atividade física trará impactos
econômicos para seu território?”. Então, prossiga para compreendermos ainda melhor tal resposta!

A prática de atividade física é um direito, está relacionada ao desenvolvimento humano, à fruição, à


diversão, ao compartilhamento de laços e também pode promover a economia de recursos do SUS.
Os programas públicos são uma importante forma de acesso à atividade física, contudo ainda são
pouco conhecidos e com baixa participação. Mesmo assim, entre os participantes estão aqueles que
menos praticam atividade física no tempo livre, como mulheres, pessoas mais idosas e aquelas fora
do mercado de trabalho. Ou seja, ampliar as ações e os programas atenderá justamente quem mais
precisa, cumprindo o princípio da equidade.

O financiamento é um elemento essencial e vem


sendo apontado como um dos principais desafios
para o fortalecimento do SUS. Conversaremos
então sobre as contribuições da atividade física
para essa questão com vistas à ampliação da
oferta de ações e programas, com financiamento
adequado e suficiente.

As pesquisas indicam que investir em atividade


física, na perspectiva econômica, vale a pena já
que pode impactar na redução da utilização de
medicamentos, consultas ambulatoriais, interna-
ções hospitalares, cirurgias, dentre outros. Tam-
bém é importante lembrar que as DCNTs têm muitas repercussões para as pessoas, para as famílias
e para a sociedade. Ou seja, ao focar na perspectiva econômica não estamos propondo olhar apenas
para isso, mas sim reconhecer a relevância desse aspecto.

Uma pesquisa avaliou o custo de internações por DCNTs no SUS atribuível à inatividade física e
verificou que, em 2013, 15% do total de internações hospitalares pelas referidas doenças (doenças
isquêmicas do coração, hipertensão, câncer de cólon e mama, doenças cerebrovasculares, diabetes e
osteoporose) foram atribuídas à inatividade física, resultando em um custo total estimado de mais de
R$ 275 milhões (BIELEMANN et al., 2015). Em outra pesquisa, estimou-se que o impacto da inatividade
física nos custos de internações hospitalares de idosos (60 anos ou mais) com DCNTs (doenças coro-
nárias, diabetes mellitus tipo 2, câncer de mama e cólon) no SUS, de janeiro de 2015 a abril de 2016, foi
mais de R$ 86 milhões (MOREIRA et al., 2017). O Instituto Nacional de Câncer (INCA) identificou que em
2018 os custos oncológicos atribuíveis à inatividade física no lazer, no Brasil, foram de R$ 94,6 milhões
e há a estimativa de que em 2030 o custo chegará a R$ 146,9 milhões. Por outro lado, estima-se que
diminuir em 10% o número de pessoas inativas fisicamente no lazer em 2030 economizaria R$ 20,3
milhões na atenção (hospitalar e ambulatorial) oncológica do SUS em 2040 (INCA, 2022).

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PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN2

2013 Custo

15% das internações no SUS decorrentes de


DCNT foram relacionadas à inatividade física R$ 275 milhões

2015 a 2016

Internações de idosos no SUS por DCNT


atribuídas à inatividade física R$ 86 milhões

2018

Custos oncológicos decorrentes


Estimativa para 2030:
de inatividade física R$ 94,6 milhões
R$ 146,9 milhões

Estima-se que a diminuição em 10% no número de pessoas inativas fisicamente em


2030 economizaria R$ 20,3 milhões na atenção oncológica do SUS em 2040.

Usar o valor relacionado à prevenção de câncer como exemplo nos faz pensar que, nas ações e nos
programas que envolvem a oferta de atividade física, daria para construir mais de 60 polos do Pro-
grama Academia da Saúde e custear mais de 500 desses estabelecimentos por ano (considerando o
valor dos recursos federais de R$ 300 mil para construção e R$ 3 mil mensais para custeio mensal). Ou
custear, por ano, em torno de 850 unidades de saúde com profissionais de educação física por meio
do Incentivo de Atividade Física (IAF). Ainda, poderia ser utilizado para a atenção à saúde relacionada
às DCNTs ou outras ofertas de serviços do SUS, por exemplo.

As variações nos valores estimados se devem às diferenças de dados analisados, o ano em que a ati-
vidade física foi medida na população brasileira e quando os custos foram calculados, com utilização
de correção ou não dos valores gastos nas ações de saúde em âmbito ambulatorial e hospitalar, quais
condições de saúde foram consideradas, se toda a população ou aquela que utiliza exclusivamente os
serviços do SUS, etc.

Fica evidenciado que a atividade física tem muito a contribuir para a economia e
otimização de recursos financeiros do SUS.

Assim, é importante acompanhar as formas de obtenção de recursos federais, estaduais/distrital e


municipais para a promoção da atividade física. Como citado anteriormente, atualmente há duas
principais formas de financiamento federal:

▶ o Incentivo de Atividade Física (IAF), que repassa recursos para Unidades de Saúde elegíveis
mediante credenciamento pelo Ministério da Saúde; e

▶ o Programa Academia da Saúde, que necessita de articulação com um parlamentar do legis-


lativo federal (deputado federal ou senador) para solicitação de recursos para construção de
polos por meio de emendas parlamentares.

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PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN2

PARA PENSAR E PLANEJAR


Pesquise também na Secretaria Estadual/Distrital de Saúde ou em outras Se-
cretarias de governo para saber se existe algum recurso financeiro disponível.

SAIBA MAIS

Para saber mais sobre o Incentivo de Atividade Física (IAF), acesse:


https://brasilsus.com.br/wp-content/uploads/2022/05/portaria1105.pdf.

Para saber mais sobre o Programa Academia da Saúde (PAS), acesse:


https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/saps/academia-da-saude.

Para avançarmos um pouco mais nessa relação entre recursos financeiros e atividade física, vamos
fazer um exercício juntos. Reflita e considere o exposto adiante.

Em 2022, o Programa Academia da Saúde, umas das principais formas de oferta de atividade física na
APS, possuía um orçamento de custeio de aproximadamente R$ 50 milhões, valor médio dos últimos
anos, para os aproximadamente 1.800 polos credenciados, contabilizados até dezembro de 2022. E foi
anunciado que o Incentivo de Atividade Física (IAF), em 2022, teria um orçamento de quase R$ 100 mi-
lhões. De acordo a Pesquisa Nacional de Saúde de 2019, aproximadamente 4,3 milhões de brasileiros
participaram de programas de incentivo à atividade física, em 2019 (BRASIL, 2020), programas esses
que não necessariamente são o Programa Academia da Saúde ou ofertados pelo SUS, mas lembre-se
de que este é um exercício e por isso faremos essa aproximação hipotética.

Orçamento do Programa Academia da Saúde em 2022

aproximadamente
R$ 50 milhões 4,3 milhões de pessoas 12 meses R$ 0,97 por pessoa
por mês

Orçamento Incentivo de Atividade Física (IAF) em 2022

aproximadamente
R$ 100 milhões 4,3 milhões de pessoas 12 meses R$ 1,94 por
pessoa por mês

Ou seja, seriam gastos em


torno de R$ 2,91 (R$ 0,97 + R$
1,94) por pessoa/mês.

Ora, mesmo não existindo parâmetros, ainda que o recurso federal do Incentivo de Atividade Físi-
ca (IAF) seja uma importante sinalização de aumento do investimento, parece ser possível afirmar

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PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN2

que ampliar os investimentos trará maior possibilidade de acesso à população usuária da APS. Aqui
olhamos apenas para os recursos federais e, ainda que o valor possa aumentar, se incluirmos os
orçamentos dos demais entes federativos, estados e principalmente dos municípios, esse quantitativo
nos dá uma pista de que são necessários mais investimentos na promoção da atividade física na APS.

Assim, é necessário investir em programas e ações de promoção da atividade física, eles darão mais
oportunidades para as pessoas que mais precisam, de acordo com o que vimos no início deste tópico,
o que trará um importante retorno (não só de recursos financeiros) para o gestor, conforme veremos
no próximo item.

2.5 | A importância de investir em políticas públicas e ações intersetoriais

Ainda que estejamos em um curso para gestores e profissionais do SUS, com enfoque no orçamento,
nos instrumentos e no planejamento setorial da saúde, não podemos perder de vista que o envol-
vimento das outras áreas (de educação, esporte e lazer, assistência social, cultura, entre outros) é
essencial para a mudança do atual cenário brasileiro no qual muitas pessoas ainda têm barreiras
importantes para serem (mais) ativas fisicamente. Assim, não há dúvidas de que o SUS e o setor saúde
têm um importante papel na promoção da atividade física e pode assumir a liderança deste processo,
mas é necessário reconhecer que convergir esforços intersetoriais é uma condição para ampliar a
oferta e o acesso com vistas a aumentar a prática de atividade física pela população brasileira.

Além de programas mais estruturados, vale pensar também em setores como mobilidade e transpor-
te, que podem contribuir com formas seguras de atividade física no deslocamento, por exemplo, com
a construção de ciclovias, adaptações de ciclofaixas, controle de tráfego de veículos automotores ou
até mesmo com iniciativas como as ruas de lazer, quando algumas delas são fechadas para veículos
em determinados dias ou períodos.

Vale lembrar que o SUS disponibiliza formas de financiamento para ações e programas, mas não é o
único setor da gestão pública que o faz.

A Sociedade Internacional de Atividade


Física e Saúde publicou um documento
que aborda oito investimentos que
funcionam para a atividade física:

1 Programas de saúde na escola


2 Transporte ativo
3 Desenho urbano ativo
4 Profissionais de saúde
5 Campanhas de educação em saúde
6 Esporte e lazer para todos
7 Ambiente de trabalho
8 Programas comunitários

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PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN2

Para conhecer mais sobre esses investimentos, acesse o documento completo disponível
em: https://ispah.org/wp-content/uploads/2020/12/Portuguese-Translation-Eight-
Investments-That-Work-FINAL.pdf.

2.6 | Promoção da atividade física como uma


agenda positiva da gestão municipal

O retorno do investimento em programas e ações relacionados à atividade física é importante na pers-


pectiva econômica, além disso são ações e programas que, em geral, têm boa aceitação por serem
divertidos e trazerem boas avaliações para a gestão.

Como elemento de desenvolvimento humano e relacionada à autopercepção positiva de saúde, a


atividade física na perspectiva mais ampliada tem o potencial de aumentar a liberdade de escolha
das pessoas para que possam construir oportunidades e usufruí-las já que podem estar relacionadas
a prazer, fruição, satisfação, alegria, entre outros sentimentos positivos de valorização da vida. Cabe
ainda ressaltar benefícios na dimensão subjetiva das pessoas e comunidades.

A atividade física proporciona às pessoas o encontro, a participação em atividades


culturais, o reconhecimento de suas potencialidades, já que tratam de iniciativas
comunitárias voltadas para a criação de espaços favoráveis à convivência saudável,
produtora de vida, gerando uma cultura de solidariedade, confiança e cooperação.

Isso contribui para que essas pessoas possam ter maior adesão ao autocuidado, o que extrapola as
ações e os programas de atividade física estritamente curativista e se relaciona com outros temas
importantes para a saúde como a alimentação saudável, entre outros.

Lembramos também que, em geral, os profissionais que trabalham em atividades coletivas possuem
habilidades ligadas à liderança, proatividade, etc., por necessidade e características da própria ativida-
de, o que pode torná-los pessoas carismáticas e com isso contribuir para a ampliação da visibilidade
dessas ações.

Assim, considerando o potencial na prevenção e no cuidado de diferentes condições de saúde, a


gestão municipal, que oferta ações e programas de promoção da atividade física, pode colher impor-
tantes frutos ao dar visibilidade aos profissionais e suas ações, inclusive compartilhando os resultados
mediante avaliação, tema que será abordado em outra unidade deste curso.

PARA PENSAR E PLANEJAR


Para concluir esta unidade, vamos pensar em uma situação que ilustre o que
foi apresentado até aqui. Partimos do princípio de você deseja criar ou ampliar
ações e programas de promoção da atividade física. Algumas perguntas iniciais
podem ajudá-lo a pensar como obter o apoio intersetorial e/ou das instituições
não-governamentais. Confira algumas!

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PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN2

Existe alguma iniciativa relacionada à promoção da atividade


física nos instrumentos de gestão do seu município?

Como veremos a seguir, desde a necessidade de recursos orçamentários e financeiros até a prio-
rização de quais unidades de saúde e equipamentos sociais ofertarão as atividades, passarão pelo
planejamento abordado por meio dos instrumentos de gestão gerais e do SUS. Caso a iniciativa não
tenha sido implementada, podemos identificar o que impediu o início das atividades. Caso a iniciativa
não tenha sido incluída nos instrumentos de gestão, vamos pensar juntos o que fazer.

É uma iniciativa esporádica ou contínua?

Pensar sobre isso é relevante pois tanto a estruturação quanto a operacionalização serão diferentes.
De forma ideal, programas continuados darão maior possibilidade de participação das pessoas, mas
isso não quer dizer que ações esporádicas não possam ocorrer na forma de eventos.

É possível identificar ou estabelecer sinergias entre as


ações existentes ou planejadas no território?

É importante pensar no que já existe, pois isso dará subsídios para planejar a partir da necessidade do ter-
ritório. Por exemplo, entre dois bairros, um que já oferece um programa da Secretaria de Esporte e Lazer
e outro que não, podemos dizer que a prioridade será daquele que não tem. Em bairros onde já existam
ofertas, pensar em como integrar essas iniciativas. Além disso, qualificar os espaços públicos abertos
como praças, parques, ciclovias, clubes públicos, etc., que oportunizarão a prática de atividade física.

Em quantas e quais unidades de saúde ou equipamentos sociais vou ofertar?

Isso estará diretamente relacionado à eventual necessidade de contratação de profissionais, do custo e


se será esporádico ou contínuo. Certamente quanto maior a oferta de ações e programas maiores serão
as chances de as pessoas participarem e praticarem mais atividade física – mas, não podemos perder
de vista que será necessário equacionar as possibilidades da gestão, as necessidades e as demandas
do território e da população. Eventualmente, não sendo possível em curto prazo iniciar uma ação nas
unidades de saúde, analisar quais outros espaços poderiam ser utilizados e indicados à população e se
seria possível estabelecer parcerias com outras ações ou programas que já vêm sendo desenvolvidos.

Quais profissionais de saúde estarão envolvidos no programa ou na ação?

Inegavelmente, o Profissional de Educação Física tem importante contribuição na promoção da ati-


vidade física, mas não é o único profissional que pode utilizá-la no processo de cuidado à saúde das
pessoas. Por meio do aconselhamento, por exemplo, todo e qualquer profissional de saúde pode
contribuir para ampliação da prática pelas pessoas.

Será necessário fazer novas contratações?

É essencial dimensionar a força de trabalho existente e se haverá necessidade de novos profissionais.


Em caso positivo, é importante planejar a forma e o cronograma de contratação. Caso os recursos da
gestão não permitam novas contratações, é importante planejá-las para um futuro próximo. Vale lem-
brar que a cessão de profissional bacharel de educação física de outra Secretaria é uma possibilidade.

76
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN2

A gestão já possui os recursos financeiros necessários?

Será necessário calcular todos os custos, desde a eventual contratação de profissionais de saúde,
adequação dos locais onde as atividades serão ofertadas, da aquisição de materiais e insumos, dentre
outros. A partir desses cálculos, a articulação interna com outras Secretarias e externa com o legislati-
vo (vereadores) permitirá a identificação do montante necessário e das fontes dos recursos de forma
a dimensionar as possibilidades de implantação e/ou implementação de ações e programas.

2.7 | Encerramento

Esta unidade apresentou a importância da inser-


ção da promoção da atividade física nos instru-
mentos de planejamento e de gestão, gerais e
no contexto do SUS, como os planos plurianuais;
as leis orçamentárias; o plano municipal de saú-
de; a Programação Anual de Saúde; o Relatório
Anual de Gestão, dentre outros, considerando a
responsabilidade intersetorial e as perspectivas
econômicas, políticas e sociais. Tais instrumentos
de gestão e de planejamento do SUS foram re-
lacionados à inclusão da promoção da atividade
física. Além disso, foram especificadas as atribui-
ções dos diferentes atores no âmbito da gestão
tripartite do SUS, Ministério da Saúde, Secreta-
rias Estaduais/Distrital e as Municipais de Saúde,
além de instituições que representam o conjunto dos estados e o dos municípios, e foi destacado que
os investimentos em promoção da atividade física podem ser vantajosos para o SUS e a articulação
intersetorial a partir do setor saúde como forma de fortalecer programas e ações de promoção da
atividade física.

Como palavras finais reafirmamos que você, estudante do nosso curso, não está sozinho para debater,
planejar e implementar ações e programas de promoção da atividade física. Como vimos, diferentes
instituições como o Ministério da Saúde, o CONASS, o CONASEMS/ COSEMS podem oferecer apoio
nesse processo. Na Unidade 2 foram abordados desde a inclusão da promoção da atividade física
nos instrumentos de gestão e de planejamento da gestão pública e do SUS, os papéis dos gestores
federais, estaduais, municipais e distrital; o esclarecimento de que vale a pena investir em promoção
da atividade física e até a importância de investir em políticas e ações intersetoriais de promoção da
atividade física, que é uma agenda positiva nas ações da gestão municipal.

Nesta unidade houve o esclarecimento de que vale a pena investir


em promoção da atividade física e até a importância de investir em
políticas e ações intersetoriais de promoção da atividade física, que
é uma agenda positiva nas ações da gestão municipal. Nesse senti-
do, a partir da referida abordagem, esperamos e acreditamos que
você conseguirá propor e debater a inclusão de ações de promo-
ção da atividade física nos instrumentos de gestão do SUS, traba-
lhar nas etapas de planejamento, implementação, monitoramento
e avaliação, com vistas à ampliação da oferta e do acesso à ativida-
de física enquanto parte do processo de cuidado integral na APS.

77
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN2

Certamente o conteúdo apresentado contribuirá para a promoção da atividade física na APS do SUS;
contudo, o estudo continuado é absolutamente necessário para o desenvolvimento profissional, desde
a consulta a outros materiais sobre os temas até trazê-los para o cotidiano de trabalho, conversando
com colegas de trabalho e buscando aprender juntos.

Na próxima unidade deste curso, que abordará temas do planejamento à ação, vamos apontar os prin-
cipais fatores que devem ser considerados no planejamento e na implementação de ações, programas
e políticas de promoção da atividade física. Em conjunto com o que foi apresentado até aqui, será mais
um importante passo para a ampliação da oferta e do acesso à atividade física na APS do SUS.

Nós, Fabio e Letícia, nos despedimos momentaneamente de vocês, esperamos que nossa conversa
tenha sido proveitosa para você e esperamos encontrá-lo pelos caminhos do SUS, certos de que esta-
mos juntos no desafio de oportunizar uma vida fisicamente (mais) ativa a mais brasileiras e brasileiros.

2.8 | Referências

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Altera a Portaria de Consolidação GM/MS nº 6, de 28 de setembro de 2017, para instituir o incentivo
financeiro federal de custeio, destinado à implementação de ações de atividade física na Atenção
Primária à Saúde (APS).

BRASIL. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria de Consolidação nº 2 de 28 de


setembro de 2017. Consolidação das normas sobre as políticas nacionais de saúde do Sistema
Único de Saúde. Anexo XXII. Política Nacional de Atenção Básica (PNAB).

BRASIL. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria de Consolidação nº 2 de 28 de


setembro de 2017. Consolidação das normas sobre as políticas nacionais de saúde do Sistema
Único de Saúde. Anexo I. Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS).

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TEIXEIRA, I. P. Impacto da implementação de ciclofaixas na utilização da bicicleta como meio de


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81
UNIDADE 3
DO PLANEJAMENTO À AÇÃO
Maria Cecília Marinho Tenório
Margarethe Thaisi Garro Knebel
UNIDADE 3
OBJETIVO GERAL

Ao final desta unidade você será capaz de apontar


os principais fatores que devem ser considerados no
planejamento e na implementação de ações, progra-
mas e políticas de promoção da atividade física, de
maneira a ampliar ou promover a efetiva oferta e o
acesso a esse serviço na Atenção Primária à Saúde
(APS) do Sistema Único de Saúde (SUS).

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

▶ Melhorar habilidades de planejamento e de exe-


cução de ações, programas e políticas de promo-
ção da atividade física, em especial, na APS;

▶ Identificar as ações de organização e gestão dos


recursos necessários para o funcionamento das
ações, programas e políticas de promoção da
atividade física;

▶ Indicar o papel dos profissionais de saúde na


promoção da atividade física;

▶ Reconhecer a relevância de envolver a partici-


pação da comunidade e de profissionais no pla-
nejamento, na gestão e na execução das ações,
dos programas e das políticas de promoção da
atividade física na APS.

Carga horária recomendada para esta unidade:


15 horas
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

3.1 | Introdução

Após a apresentação do tema atividade física na APS, na Unidade 1, vamos agora discutir como a ges-
tão ocupa lugar fundamental na formulação de ações, o que exige diálogos entre diferentes setores
e atores sociais e atenção às especificidades do território presentes em cada contexto de trabalho.
Nesta Unidade, apresentaremos os elementos e as ferramentas para o planejamento e a gestão no
seu município e destacaremos todos os envolvidos nessa construção, como gestores, profissionais de
saúde e comunidade.

O processo de planejamento em saúde é de responsabilidade de cada ente federado, a ser desenvol-


vido de forma contínua, articulada, progressiva, integrada e solidária entre as três esferas de governo
(municipal, estadual/distrital e federal), na medida em que visa dar direcionalidade à gestão pública da
saúde. Além disso, o monitoramento e a avaliação devem ser processos periódicos, orientados pelas
diretrizes e metas, e pelos objetivos e indicadores descritos no planejamento.

O Planejamento Estratégico Situacional (PES) em saúde possibilita a explicação de um problema a


partir da visão dos atores envolvidos, da identificação das possíveis causas e a busca por diferentes
modos de abordar e propor soluções. O planejamento é estruturado em quatro momentos, que serão
apresentados nesta Unidade. Confira!

Momento
Momento Momento Momento
tático-
explicativo normativo estratégico
operacional

Também serão apresentadas ferramentas para auxiliar nessa construção. Neste método de plane-
jamento, o diagnóstico, a execução e a avaliação são indissociáveis. Destacamos a importância da
intersetorialidade e da participação da comunidade no controle social, no planejamento, na execução,
no monitoramento e na avaliação das ações.

3.2 | Planejando ações, programas e políticas de promoção da atividade física

Planejar significa imaginar o percurso, reduzir incertezas, influir no futuro, descobrir e antecipar res-
postas e auxiliar na tomada de decisão. Nesse contexto, o planejamento em saúde busca interferir
na realidade social para transformá-la em uma direção pensada em conjunto com todos os setores e
atores que contribuem com seus conhecimentos específicos e diferentes leituras da realidade. Não
existem explicações e soluções únicas para a resolução de um problema. A partir desse planejamento,
é possível pensar sobre “o quê, para quê, para quem, com quem, como e de que forma” implantar ou for-
talecer a solução de um problema, como uma iniciativa de promoção da atividade física, por exemplo.

84
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

PARA
QUÊ? DE QUE
PARA FORMA?
QUEM?

O QUÊ? COM
COMO? QUEM?

Ao considerar o contexto da APS, quais seriam nossas referências iniciais?

Apresentamos a seguir aspectos que estruturam a Rede de Atenção à Saúde (RAS) e a Política Nacional
de Promoção da Saúde (PNPS) como ações que contribuem para a promoção da atividade física como
cuidado em saúde.

A Portaria de Consolidação GM/MS nº3, de 28/09/2017, estabelece diretrizes para a organização da


“RAS como estratégia para superar a fragmentação da atenção e da gestão nas Regiões de Saúde
e aperfeiçoar o funcionamento político-institucional do Sistema Único de Saúde (SUS) com vistas
a assegurar ao usuário o conjunto de ações e serviços que necessita com efetividade e eficiência”
(BRASIL, 2017).

ORGANIZADAS por critérios de eficiência


microeconômica na aplicação dos recursos

INTEGRADAS a partir da complementaridade


de diferentes densidades tecnológicas

REDES DE
OBJETIVADAS pela provisão de atenção contínua, integral
ATENÇÃO À
de qualidade, responsável e humanizada à saúde
SAÚDE

CONSTRUÍDAS mediante o planejamento, a gestão e


o financiamento intragovernamentais cooperativos

VOLTADAS para as necessidades populacionais


de cada espaço regional singular

Fonte: adaptado de Vasconcelos, 2011.

85
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

Alguns pontos de atenção à saúde podem integrar a RAS, como: as Unidades Básicas de Saúde, os
polos do Programa Academia da Saúde (PAS), as Unidades Ambulatoriais Especializadas, os Centros
de Atenção Psicossocial (CAPS), as Residências Terapêuticas, a Rede Hospitalar, dentre outros. Os
hospitais podem abrigar distintos pontos de atendimento como por exemplo ambulatório de pronto
atendimento, unidade de cirurgia ambulatorial, centro cirúrgico e maternidade (BRASIL, 2017).

Como sabemos, a APS é o primeiro nível de atenção à saúde, a porta de entrada do usuário no siste-
ma, o local de primeiro contato com o SUS.

A APS
deve:
Ser voltada para o cuidado dos
problemas mais comuns de saúde.

Ser centro coordenador


do cuidado em rede.

Incluir ações visando a promoção, proteção da saúde,


prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento, reabilitação,
redução de danos etc.

Fonte: Brasil (2017).

Na PNPS (BRASIL, 2018), o princípio da integralidade pressupõe a articulação entre os serviços de saúde
e uma atuação intersetorial entre as diferentes áreas que tenham interface com a saúde e a qualidade
de vida das pessoas. Além disso, a integralidade é uma estratégia que respeita as especificidades e as
potencialidades na construção de projetos terapêuticos e na organização do trabalho em saúde, por
meio da escuta qualificada dos trabalhadores e dos usuários, de modo a deslocar a atenção em saúde
da perspectiva biomédica para a dos determinantes sociais do processo saúde-doença.

A fim de assegurar o direito à saúde integral é essencial promover outras ações intersetoriais para a
construção de territórios saudáveis, incluindo ambientes promotores da atividade física, da mobili-
dade e locomoção seguras, espaços de lazer e convivência, locais saudáveis para o desempenho de
atividades laborais e educativas, espaços de manifestação cultural, artística e de lazer etc.

Essas ações colaboram para a promoção da


atividade física, como a oferta do cuidado na
APS. A promoção de territórios saudáveis
envolve o diálogo com trabalhadores dos
serviços de diversas áreas e a participação de
gestores e da população, na perspectiva de
promover uma rede de ações intrassetoriais e
intersetoriais que mobilizem espaços e
recursos de forma compartilhada e sinérgica.

86
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

Nesse sentido, a promoção da atividade física pode ser contemplada como ação de promoção da
saúde em diferentes contextos da RAS. Um exemplo disso são as práticas das equipes multiprofis-
sionais e o Programa Academia da Saúde (PAS). Com o novo modelo de financiamento de custeio da
APS instituído pelo Programa Previne Brasil, por meio da Portaria nº 2.979, de 12 de novembro de
2019, o financiamento das equipes multiprofissionais da APS (antigos Núcleos Ampliados de Saúde da
Família e Atenção Básica – NASF), passaram a ser de responsabilidade da gestão municipal, conforme
as necessidades do território. Após essa medida, em maio de 2023 foi instituído o Programa e-Multi,
conforme citado na Unidade 1, retomando o incentivo financeiro federal de implantação, custeio e
desempenho para as equipes Multiprofissionais na Atenção Primária à Saúde. Relembrando, além
da ampliação do rol de especialistas que podem compor a e-Multi, outra novidade do Programa é a
possibilidade de atendimento remoto: consultas e atendimento de demandas gerenciais poderão
ser realizadas pelos profissionais de saúde da e-Multi, por meio da utilização de Tecnologias de In-
formação e Comunicação (TIC). O Programa prevê também o pagamento por desempenho e ciclos
quadrimestrais de monitoramento dos indicadores.

Conforme descrito na Unidade 1, o Programa Academia da Saúde (PAS) foi instituído em 2011, pelo
Ministério da Saúde, por meio da Portaria GM/MS nº 719, de 7 de abril de 2011, a partir de experiên-
cias locais. O Programa teve seus objetivos ampliados para contribuir com a promoção da saúde, a
produção do cuidado e de modos de vida saudáveis e sustentáveis da população por meio de ati-
vidade físicas/práticas corporais, alimentação saudável, práticas integrativas e complementares, da
ampliação da autonomia dos indivíduos sobre as escolhas de modos de vida saudáveis, por exemplo.

Além disso, podemos destacar o papel dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) de promover o
acesso das pessoas em sofrimento mental e com outras demandas de saúde mental, além daquelas
com necessidades decorrentes do uso de substâncias psicoativas, incluindo a atividade física no cui-
dado em saúde.

Assim, para a implementação de ações e programas de promoção da atividade física, os gestores


devem pensar e considerar, no planejamento, estratégias de produção da saúde com ações que res-
pondam às necessidades em um processo de constante diálogo e reflexão conjunta, para que suas
necessidades e desejos sejam construídos na relação com os profissionais. A fim de que todas essas
ações aconteçam é muito importante a construção do planejamento participativo, tema que vamos
aprofundar a seguir.

3.2.1 | Planejamento participativo das ações no SUS

A Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) consolidou o compromisso do Estado brasileiro com
a ampliação e a qualificação de ações de promoção da saúde nos serviços e na gestão do SUS, sendo
inserida na agenda estratégica dos gestores e no Plano Nacional de Saúde, fortalecendo as políticas
públicas existentes (BRASIL, 2018).

A PNPS destaca as práticas corporais e atividades físicas como um dos temas prioritários, conceituan-
do esse tema como: “promoção de ações, aconselhamento e divulgação de práticas corporais e de
atividades físicas, incentivando a melhoria das condições dos espaços públicos, considerando a cul-
tura local e incorporando brincadeiras, jogos, danças populares, entre outras práticas” (PNPS, 2018).

REFLEXÃO
Quais são as possibilidades de colocar em prática esse tema prioritário da PNPS
no campo da APS e incluí-lo no planejamento participativo?

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PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

As recomendações para a operacionalização da PNPS na APS, publicada pelo Ministério da Saúde,


apresenta possibilidades de articulações para a promoção de atividade física, como, por exemplo,
parcerias intersetoriais no território, parcerias para viabilizar recursos para implementação e manu-
tenção de espaços públicos que possibilitem a prática de atividade física, entre outros.

LINKS

Para conhecer o documento acesse o link: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/


recomendacoes_politica_promocao_atencao_saude.pdf

O planejamento participativo busca interferir na realidade social para transformá-la em uma direção
estabelecida em conjunto com todos os que dele participam. Possibilita decidir coletivamente o quê,
para quê, como e de que forma implementar uma nova iniciativa de promoção da atividade física. Isso
pode otimizar o tempo, os recursos e aumentar a chance de alcançar os objetivos no desenvolvimento
e na implementação dessas ações. Trata-se do processo de criação que pode estabelecer um objetivo
e auxiliar na tomada de decisão, tarefa muito importante na gestão e administração de ações, progra-
mas e políticas de promoção da atividade física.

O Plano Municipal de Saúde (PMS), na perspectiva


de um planejamento mais inclusivo e participativo, Planejamento
pode ser um instrumento utilizado para ampliar
a participação dos atores, conforme elencado na
Unidade 2. É importante mencionar que nosso
Avaliação Implementação
foco nesta Unidade se circunscreve ao planeja-
mento municipal/local, tendo em vista que será
nesse âmbito que ações, programas e políticas
de promoção da atividade física serão planejados, Monitoramento
implementados, monitorados e avaliados.

Para isso, é preciso refletir e escolher um um método de planejamento que possibilite a compreensão
dos conceitos e instrumentos utilizados e contribua para a comunicação e participação de todos aque-
les envolvidos na formulação, operacionalização e institucionalização do planejamento.

REFLEXÃO
Como você e a equipe do seu município têm organizado o planejamento?
Quem são os atores envolvidos?
Que ferramentas vocês utilizam na construção do planejamento?

Não existe um único caminho a ser seguido no processo de planejamento. Uma das possibilidades
de construção colaborativa poderia ser o uso do Planejamento Estratégico Situacional (PES) (MATUS,
1993, 1997).

O PES é bastante utilizado no planejamento na área da saúde nos diferentes níveis de atenção. Ele
considera as articulações entre o presente e o futuro e entre o necessário e o possível. Nesse método,
quem planeja (ator social) desenvolve o processo de planejamento em articulação, diálogo e interação
com outros atores sociais. Este processo deve ser participativo, buscar a incorporação dos pontos de
vista dos vários atores sociais para a compreensão das diferentes demandas, propostas e estratégias
de solução e criar corresponsabilidade e viabilidade do planejamento.

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PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

Para estruturar um PES, você e sua equipe deverão fazer uma análise de quatro
diferentes momentos: explicativo, normativo, estratégico e tático-operacional. Esses
momentos não necessariamente estão relacionados de forma contínua. Uma das
vantagens possíveis da utilização do PES é que pode ser organizado em momentos
que não se caracterizam em etapas sequenciais, mas que podem ser trabalhadas e
revisadas conforme a necessidade dos atores envolvidos no planejamento.

Explicativo Normativo

Fazer o diagnóstico para Formular soluções para


conhecer a situação atual enfrentar os problemas
Identificar, priorizar e Definir os objetivos e
analisar os problemas indicadores

Características
dos momentos
do PES

Estratégico Tático-operacional

Analisar e construir a Executar o plano


viabilidade (recursos) Implementar o modelo
Formular estratégias para de gestão
alcançar os objetivos Monitorar os indicadores

Agora, vamos aprofundar conhecimentos sobre cada um desses momentos.

A) Momento explicativo

No momento explicativo é importante reconhecer e caracterizar os problemas de acordo com dados


objetivos, considerando as perspectivas e vivências dos atores sobre os problemas apresentados. O
problema pode ser definido como a diferença entre uma situação real e uma situação desejada, sob
a ótica dos envolvidos, passível de ser transformada na direção almejada. Por isso, quanto maior a
participação social, maiores as chances de diminuição desse hiato entre o desejado e o real. Aqueles
que vivenciam o problema, com diferentes perspectivas e saberes, junto com a gestão, se tornam
pertencentes e coautores na busca de possíveis soluções.

A seguir, podemos nos referir a um caso hipotético de um município brasileiro.

Município de Beira

O município de Beira posssui três distritos com suas Unidades de Saúde. Na área adscrita da Unidade
de Saúde Flores, foi percebida pelos profissionais de saúde a baixa participação da população nas
práticas de atividade física no tempo livre. Com o propósito de ampliar essa participação, o grupo

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PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

envolvido no planejamento das ações da Unidade de Saúde revisitou o PMS e não identificou metas
relacionadas a este objetivo e sobre o tema atividade física. Paralelo a isso, a equipe já possuía infor-
mações de outros documentos nacionais e internacionais que apontavam a importância de explicitar
metas relativas à promoção da AF nos instrumentos de governança, como por exemplo nos planos de
gestão.

A partir dessa constatação, a equipe passou a discutir de forma mais ampla como a cidade planejava
a promoção da atividade na produção do cuidado em saúde.

REFLEXÃO
Para a definição do problema, você pode pensar nas seguintes questões:
• Qual o problema que as ações, os programas e as políticas de promoção de
atividade física na APS se propõe a enfrentar?
• Quais as principais consequências do problema?
• Por que esse problema existe? Quais as causas mais importantes?
• Existem outras ações, programas e políticas de promoção de atividade
física na APS (federais, estaduais/distritais, municipais, iniciativa privada,
Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPS), Organiza-
ções Não Governamentais (ONGs), fora do setor saúde que atuam sobre
causas desse problema?
• Quais são as pessoas mais afetadas por esse problema?
• Quem são os representantes locais da comunidade? Como trazê-los para
o diálogo?
• Como as pessoas reconhecem o impacto e a efetividade de ações, progra-
mas e políticas de promoção de atividade física na APS?

Neste momento, é realizado o diagnóstico situacional, que é o resultado de um processo de coleta,


tratamento e análise dos dados e informações no local onde se deseja realizar a ação ou o programa
que atuarão sobre o problema. Os dados, após analisados, podem ser entendidos como um conjunto
de informações que geram conhecimento. “O conhecimento precisa ser divulgado por processos de
comunicação adequados e eficientes para influenciar a tomada de decisão em saúde e produzir uma
ação” (OPAS, 2018, p. 6).

Esses dados e essas informações, consideradas fontes primárias, têm origem na participação efetiva
das pessoas que atuam no local como, por exemplo, gestores, profissionais, usuários, trabalhadores
terceirizados, entre outros. Para a coleta dos dados podem ser utilizados diferentes recursos como
entrevistas, rodas de conversa, observação, mapa do território, registros de fontes secundárias (fichas
ou sistemas), entre outros.

Deve conter uma breve explicação do objetivo, perguntas para caracterização


Roda de
do informante (idade, Observação Mapaetc.)
função, tempo no serviço do e perguntasFontes
sobre a te-
Entrevista
conversa
mática território
que se quer saber mais. Para verificar secundárias
o entendimento das questões e
o tempo necessário para cada entrevista, a equipe responsável pode fazer um
pré-teste. Os roteiros podem ser abertos ou mais estruturados (fechados).

90
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

Roda de É uma abordagem que criaMapacondições


do para a produção
Fontes de saberes e reflexões
revista Observação
compartilhadas, sobre território
experiências individuais ou coletivas. O propósito é
conversa secundárias
ampliar a participação efetiva dos sujeitos neste processo.

É um processo de acompanhamento direto das situações e/ou cenários a


da de Mapa
serem do
analisados Fontes
a partir de uma descrição detalhada. Também é recomen-
Observação
nversa território secundárias
dada a elaboração de um roteiro das variáveis que serão observadas, que
podem ser relacionadas aos aspectos subjetivos ou ambiente físico como, por
exemplo, forma de supervisão das atividades, rotina dos processos de traba-
lhos, aspectos administrativos como forma de registros de usuários, as condições de praças,
parques, vias públicas, ciclovias, academias ao ar livre, como também variáveis relacionadas
aos serviços ofertados, entre outros.

É a identificação de características e singularidades do bairro ou do território


Mapa do sob aFontes
responsabilidade da equipe de saúde. Também pode trazer quais são
ervação
território secundárias
os fatores produtores de saúde, quais são os recursos, as habilidades e as
potencialidades do território. Uma possibilidade é utilizar o mapa territorial
(geofísico) e definir a área de abrangência do serviço, identificando além das
delimitações físicas as fragilidades e potencialidades do território como os aspectos demo-
gráficos, ambientais, epidemiológicos, sanitários e micropolíticos, etc. Os Agentes Comunitá-
rios de Saúde (ACS) e as lideranças da comunidade podem contribuir com essa construção.

São canais de informações que podem fornecer indicadores para a descrição


pa do Fontes dos problemas, como por exemplo: Sistema de Notificação de Agravos (Sinan),
ritório secundárias Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (Sisab), Portal do
Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Algumas
pesquisas como a Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crô-
nicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL) do Ministério da Saúde e as pesquisas que envolvem
indicadores de risco e de proteção para doenças – Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar
(PeNSE), Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(PNAD) – também podem ser consultadas.

Quando o município não conta com dados sobre a população nos sistemas de vigilância cita-
dos, é possível também recorrer às fontes disponíveis no local como, por exemplo, reuniões
das associações de moradores, reuniões escolares, faculdades/universidades, coletivos e
organizações não governamentais que podem já ter algum levantamento de dados sobre a
população-alvo.

Exemplos de fontes secundárias para acesso:

DATASUS: https://datasus.saude.gov.br/informacoes-de-saude-tabnet/

VIGITEL: http://plataforma.saude.gov.br/vigitel/

Painel de Indicadores de Saúde:


https://www.pns.icict.fiocruz.br/painel-de-indicadores-mobile-desktop/

91
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

É importante destacar que os municípios podem ter registros próprios, tais como o número de par-
ques, de praças, de pistas de caminhada, de ciclofaixas, informações sobre os profissionais (número,
formação, funções, carga horária, lotação, etc.). Todas essas informações coletadas podem auxiliar no
conhecimento da situação do município para a construção do planejamento.

PARA PENSAR E PLANEJAR


• Quais são as fontes e os instrumentos de coleta de dados e informações que
você e sua equipe estão utilizando?
• Quais dados e informações se conectam com a Atividade Física? São suficien-
tes?
• Os dados apoiaram a formulação de um diagnóstico da situação?
• Esses dados estão relacionados com as metas propostas no PMS e com os ODS?

Visualize o mapa territorial com alguns equipamentos públicos:

ONGs e Instituições
CAPS
de Ensino Superior
CRAS

Sistema S

UBS
Clubes
Municipais
Centros de
Convivência
Praças, parques
e ciclovias
Associações
de amigos
de bairro Quadras,
campos de
futebol

A partir desse mapeamento, você pode fazer algumas perguntas:

▶ Há uma boa distribuição dos equipamentos/serviços públicos de saúde para a prática de ativi-
dade física no seu município?

▶ Há concentração de equipamentos/serviços públicos em alguma região do seu município?

▶ Há pontos de encontro e interação entre as pessoas?

92
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

▶ Há espaços públicos disponíveis para a prática de atividade física?

▶ São identificadas vulnerabilidades sociais e econômicas no seu município?

▶ Quais são os espaços que contribuem para a saúde do território?

▶ São identificadas fragilidades de equipamentos, locais e/ou recursos humanos?

▶ São identificadas potencialidades, equipamentos, locais e/ou recursos humanos?

B) Momento normativo

No momento normativo é importante definir objetivos, indicadores e resultados a serem alcançados,


além de estratégias e ações que viabilizem superar os problemas identificados. É neste momento
que é definido o plano de intervenção e o caminho a ser seguido. Deve-se pensar nas ações e nos
programas concretos que visem o alcance dos resultados.

Você e a equipe de planejamento devem observar os obstáculos e as oportunidades internas e exter-


nas, bem como o tempo exigido para a resolução dos problemas e as ações necessárias à gestão do
plano. Sugerimos também a revisão dos instrumentos de planejamento e gestão tais como o PPA e
PMS. É necessário reconhecer a realidade que permeia o planejamento da ação e os recursos disponí-
veis naquele momento, visto que o plano de intervenção deve estar adaptado a essa realidade.

É importante também estabelecer indicadores potenciais e tangíveis, que contribuam para o monito-
ramento e a avaliação. Os indicadores quali-quantitativos operacionalizam, de forma simples, a iden-
tificação, o acompanhamento e a comunicação da evolução da ação. Devem também ser passíveis
de revisão periódica, de forma a possibilitar o monitoramento e a avaliação da ação e, sempre que
possível, a inclusão no PPA e no PMS.

Há vários tipos e funções de indicadores quantitativos (número, porcentagem, taxas, proporções


etc.) e qualitativos (expressos por expressos por depoimentos, narrativas, histórias, imagens, vídeos
etc.). Os indicadores servem para acompanhar os resultados pretendidos com a ação e para balizar
o quanto do que foi planejado está sendo alcançado. Como o próprio nome sugere, indicadores são
marcas ou sinalizadores, que buscam expressar algum aspecto da realidade sob uma forma para que
possamos observá-lo ou mensurá-lo (VALARELLI, 1999, apud PASSOS, 2003). É desejável que o registro
do indicador seja acompanhado periodicamente.

Atributos de um bom indicador

Ser mensurável: deve basear-se Ser preciso: deve permitir o registro,


em dados disponíveis ou fáceis de a coleta e a transmissão dos dados
conseguir. adequados.

Ser sensível: deve captar as mudanças Ser relevante: deve ser importante
ocorridas. para a tomada de decisão.

Ser específico: deve identificar se as Ter simplicidade técnica: deve ser de


mudanças ocorridas são reais. fácil entendimento.

Fonte: Brasil (2017).

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PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

Retomamos o caso da cidade de Beira a seguir, acompanhe.

Município de Beira

A equipe da Unidade de Saúde Flores passou a discutir de forma mais ampla como a cidade planejava
a promoção da atividade na produção do cuidado em saúde. Identificaram que Beira desenvolvia algu-
mas ações e programas inovadores no setor de esporte e algumas potentes práticas no setor saúde,
porém com poucas informações registradas e sem sistematização dos momentos de planejamento.
Isso posto, como forma de visibilizar os registros, a equipe identificou o objetivo, resultado e possíveis
indicadores relacionados ao problema identificado.

As questões a seguir podem ajudar nessa construção.

▶ Qual o objetivo das ações e programas de promoção da atividade física?

▶ Qual o público-alvo?

▶ Quais os possíveis indicadores das ações e programas de promoção da atividade física?

▶ Que resultados posso alcançar com a realização das ações planejadas?

▶ Quais situações (fatores internos e externos) podem dificultar/facilitar o alcance dos resultados?

▶ Como adequar as ações para superar os obstáculos?

▶ Quais impactos os resultados podem provocar?

A seguir apresentamos sugestões de problema, objetivo e indicadores que você poderá usar como
modelo. Confira.

Município de Beira

Exemplo para a construção de problema, objetivo e indicadores do momento normativo do PES da


Unidade de Saúde Flores:

Problema: baixa participação da população nas atividades físicas no tempo livre.

Objetivo: ampliar a participação da população adscrita na Unidade de Saúde nas atividades físicas no
tempo livre.

Resultado: aumento da participação da população adscrita na Unidade de Saúde nas práticas de


atividades físicas no tempo livre.

Indicadores:

▶ Taxa de pessoas adscrita na Unidade de Saúde que acessaram as práticas de atividade física
após o primeiro aconselhamento dado por um profissional de saúde da Unidade de Saúde.

▶ Média de usuários adscritos na Unidade de Saúde participantes das ações de atividades físicas
oferecidas pelo município.

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PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

▶ Frequência semanal de participação dos usuários adscritos na Unidade de Saúde nas ações de
atividade física.

▶ Percepção da participação da população pelos trabalhadores de saúde da Unidade de Saúde.

▶ Percepção da importância da atividade física pelos usuários adscritos na Unidade de Saúde.

▶ Existência de registro de proposições e questões relevantes dos usuários adscritos na Unidade


de Saúde e/ou trabalhadores da Unidade de Saúde em relação à participação na prática de
atividade física.

▶ Nível de participação intersetorial (presença nas reuniões, votação, parcerias estabelecidas,


disposição para dar opinião e interesse no processo) na construção/manutenção das práticas
de atividade física.

C) Momento estratégico

No momento estratégico deve-se analisar os recursos políticos, econômicos (financeiros) e adminis-


trativos (recursos materiais, humanos), necessários e/ou disponíveis, para cada ação.

Você pode pensar nas seguintes questões:

▶ Meu município tem todos os recursos (materiais, humanos, econômicos, políticos, etc.) neces-
sários para implementar o plano de intervenção?

▶ A proposta é viável?

▶ Os indicadores propostos são adequados?

Para a realização das intervenções de promoção da atividade física é importante considerar os recur-
sos necessários para que seja possível aumentar a chance de alcançar os objetivos. Os recursos são
de diferentes tipos: econômico, organizacional, cognitivo e político. Confira a descrição de cada um
deles a seguir.

Recurso Econômico Recurso Organizacional


Denominado recurso financeiro, se Estrutura física, recursos humanos, processos
refere à verba que será necessária de trabalho, materiais e equipamentos
para custeio das ações, contratação necessários para a implantação e/ou
de profissionais, entre outros. implementação das ações.

Recurso Cognitivo Recurso Político


Conhecimentos disponíveis e Articulação intrassetorial e intersetorial,
acumulados entre os atores incluindo organizações governamentais e
envolvidos. não-governamentais, coletivos, etc.).

95
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

Agora, vamos aprofundar mais conhecimentos sobre cada um.

Recursos econômicos:

• Você pode refletir com a equipe, neste momento ou anteriormente, onde estão e como captar
os recursos próprios e de outros entes federativos (Incentivo da Atividade Física na Atenção
Primária à Saúde - IAF, Programa Academia da Saúde - PAS, Programa Saúde na Escola - PSE,
Lei de Incentivo ao esporte, Fundos de Desenvolvimento Urbano e/ou de Esporte e Lazer, etc.).

Recursos organizacionais:

• É importante prever as necessidades materiais para as ações de educação e cuidado em saú-


de, para as práticas de atividades físicas propriamente ditas, incluindo os materiais, para a
avaliação dessas ações, dentre outros.
• Em relação à estrutura física é importante considerar os espaços físicos reconhecidos pela
comunidade, os espaços públicos abertos como praças, parques, clubes, escolas, paróquias/
igrejas, academias ao ar livre, polos do Programa Academia da Saúde e, enfatizando a neces-
sidade de aceitação pelos usuários (exemplo: sensação positiva em relação à manutenção,
segurança, acessibilidade). É interessante buscar oportunidades de parcerias e compartilha-
mento de quadras e espaços com outras secretarias e instituições do território. Além disso, ter
informações sobre ações e programas já existentes.
• Os recursos humanos necessários para o desenvolvimento das ações também devem ser
previstos e descritos no planejamento.
• Sobre a oferta das atividades é importante estimular a inserção, o fortalecimento e a susten-
tabilidade de ações de promoção das atividades físicas e o cuidado em saúde já existentes no
território, como também resgatar as atividades físicas realizadas de forma regular em escolas,
universidades e demais espaços públicos. Além disso, os atores que fazem parte dos serviços
de saúde devem estar envolvidos direta ou indiretamente na promoção da atividade física.

Recursos cognitivos:

• É importante estimular as atividades de educação continuada e permanente em conteúdos de


promoção da saúde e da atividade física, incluindo monitoramento e avaliação como parte do
processo. Esses recursos são importantes para estimular práticas coletivas colaborativas na
articulação de saberes e práticas.
• Estimular a qualificação de todos os profissionais de saúde sobre o aconselhamento breve da
atividade física e a inclusão nas práticas da APS.

Recursos políticos:

• É pertinente incentivar as articulações intrassetoriais, intersetoriais e parcerias para a me-


lhoria das condições dos espaços públicos e fortalecimento da gestão compartilhada para a
realização de atividades físicas (qualificação dos espaços públicos; criação e manutenção de
ciclovias e pistas de caminhadas seguras, entre outros).
• O estímulo à formação de redes horizontais de troca de experiências entre as equipes de
saúde do território e entre municípios é importante para a construção do planejamento. Além
disso, pactuar com os gestores do SUS e outros setores nos três níveis de gestão a importân-
cia de desenvolver ações voltadas para modos de vida saudáveis, mobilizando os recursos
existentes.

96
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

Município de Beira

Como mencionado anteriormente, a equipe da Unidade de Saúde Flores percebeu a necessidade de


registrar e sistematizar as informações sobre a participação da população nas práticas de atividade
física. Desta forma, para responder aos indicadores levantados, a equipe reuniu os recursos (econômi-
cos, organizacionais, cognitivos e políticos) disponíveis no âmbito da Unidade de Saúde e da Secretaria
Municipal de Saúde, dentre outros setores.

Apresentamos, a seguir, exemplos de recursos (econômico, organizacional, cognitivo e político) para


cada indicador, para você pensar nos recursos disponíveis e necessários no seu município:

Problema: baixa participação da população nas atividades físicas no tempo livre.

Objetivo: ampliar a participação da população adscrita na Unidade Básica de Saúde nas atividades
físicas no tempo livre.

Recursos (econômico, organizacional,


Indicadores
cognitivo e político)

Taxa de pessoas adscritas na Unidade de Saúde • Ficha de Atividade Coletiva do e-SUS (ver Ativi-
que acessaram as práticas de atividade física dade - Atendimento em Grupo ou Avaliação/
após o primeiro aconselhamento dado por um Procedimento Coletivo > Práticas em Saúde -
profissional de saúde da Unidade de Saúde Práticas Corporais e Atividade Física).
• Registro interno realizado pela equipe da Uni-
dade de Saúde.

Média de usuários adscritos na Unidade de • Ficha de Atividade Coletiva do e-SUS (ver Ativi-
Saúde participantes das ações de atividades dade - Atendimento em Grupo ou Avaliação/
físicas oferecidas pelo município Procedimento Coletivo > Práticas em Saúde -
Práticas Corporais e Atividade Física).
• Registro interno realizado pela equipe da Uni-
dade de Saúde.

Frequência semanal de participação dos usuá- • Registro interno da participação semanal reali-
rios adscritos na Unidade de Saúde nas ações zado pela equipe da Unidade de Saúde.
de atividade física

Percepção da participação da população pelos • Entrevistas, questionários, grupo focal, rodas


trabalhadores de saúde da Unidade de Saúde de conversas etc.

Percepção da importância da atividade física • Entrevistas, questionários, grupo focal, rodas


pelos usuários adscritos na Unidade de Saúde de conversas etc.

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PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

Existência de registro de proposições e ques- • Ficha de Atividade Coletiva do e-SUS (ver


tões relevantes dos usuários adscritos na Uni- Atividade - Reunião de equipe ou Reunião in-
dade de Saúde e/ou trabalhadores da Unidade tersetorial/Conselho Local de Saúde/ Controle
de Saúde em relação à participação na prática Social > Temas para Reunião - Diagnóstico/
de atividade física Monitoramento do Território, dentre outros.
• Registros (atas e outros documentos) dos en-
contros com os usuários.
• Entrevistas, rodas de conversa e outras formas
de documentação que possam responder a
este indicador.

Nível de participação intersetorial (presença • Ficha de Atividade Coletiva do e-SUS (ver Ativi-
nas reuniões, votação, disposição para dar opi- dade - Reunião intersetorial/Conselho Local de
nião e interesse no processo) na construção/ Saúde/ Controle Social).
manutenção das práticas de atividade física • Registro das reuniões, assembleias de votação
e fóruns intersetoriais com a comunidade.
• Registro da existência das ações e programas
intersetoriais de atividade físicas.

D) Momento tático-operacional

No momento tático-operacional, deve-se implementar as ações previstas incluindo cronograma, ato-


res responsáveis e outros participantes. Deve-se também monitorar e avaliar utilizando estratégias
participativas, a fim de adequar e ajustar os rumos na condução do planejamento.

Município de Beira

Exemplo de cronograma e responsáveis no momento tático-operacional do PES da Unidade de Saúde


Flores:

Problema: baixa participação da população nas atividades físicas no tempo livre.

Objetivo: ampliar a participação da população adscrita nas atividades físicas da UBS Flores.

Prazo
Indicadores Ações Responsáveis
(meses)

Taxa de pessoas adscri- Divulgação das atividades Atores principais: 4 meses


tas na Unidade de Saúde físicas que serão realiza- • Profissionais de saúde
que acessaram as práticas das na comunidade. • Usuários do SUS
de atividade física após o • Líderes comunitários
primeiro aconselhamento Qualificação dos profis-
dado por um profissional Outros parceiros:
sionais de saúde.
de saúde da Unidade de • Organizações e insti-
Saúde. tuições do território

98
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Prazo
Indicadores Ações Responsáveis
(meses)

Número de usuários Aumento da oferta e Atores principais: 6 meses


adscritos na Unidade acesso às atividades • Profissionais de
de Saúde participantes físicas para população. educação física
das ações de atividades
Qualificação dos profis-
• Profissionais de saúde
físicas oferecidas pelo
sionais de saúde.
• Usuários do SUS
município.
Outros parceiros:
Aplicação de questioná-
rio para acompanhar o
• Organizações e insti-
tuições do território
acesso e a satisfação os
usuários.

Frequência semanal de Aumento da oferta e Atores principais: 6 meses


participação dos usuários do acesso às atividades • Profissionais de
adscritos na Unidade físicas para população. educação física
de Saúde nas ações de
Registro do número
• Profissionais de saúde
atividade física.
de participantes nas
• Usuários do SUS
atividades. Outros parceiros:
• Organizações e insti-
tuições do território

Percepção da participa- Realização de entrevistas Atores principais: 3 meses


ção da população pelos e rodas de conversa. • Profissionais de saúde
trabalhadores de saúde • Líderes comunitários
da Unidade de Saúde. • Usuários do SUS
Outros parceiros:
• Organizações e insti-
tuições do território

Percepção da importân- Divulgação das atividades Atores principais: 4 meses


cia da atividade física que serão realizadas na • Gestor municipal de
pelos usuários adscritos comunidade. saúde
na Básica de Saúde.
Inclusão do tema Ativida-
• Usuários do SUS
de Física nas estratégias
• Líderes comunitários
de educação permanente.
• Profissionais de saúde
Outros parceiros:
Realização de entrevistas
e rodas de conversa com
• Organizações e insti-
tuições do território
usuários e profissionais
de saúde.

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E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

Existência de registro de Verificação de registros Atores principais: 6 meses


proposições e questões (atas e outros documen- • Profissionais de saúde
relevantes dos usuários tos) dos encontros com • Usuários do SUS
adscritos na Unidade de os usuários. • Líderes comunitários
Saúde e/ou trabalhadores
da Unidade de Saúde em Realização de entrevistas Outros parceiros:
relação à participação na e rodas de conversa com • Organizações e insti-
prática de atividade física. os usuários e os profis- tuições do território
sionais de saúde.

Nível de participação Registro da presença nas Atores principais: 6 meses


intersetorial (presença reuniões e assembleia de • Gestores
nas reuniões, votação, votação. • Profissionais de saúde
parcerias estabelecidas,
Registro da existência
• Líderes comunitários
disposição para dar
das ações e dos progra-
• Usuários do SUS
opinião e interesse no
processo) na construção/ mas intersetoriais de Outros parceiros:
manutenção das práticas atividade físicas. • Técnicos de outras
de atividade física. secretarias (educação,
Realização de fóruns esporte e lazer,
intersetoriais com a urbanismo, cultura,
comunidade. assistência social, pla-
nejamento, segurança
pública, entre outras)

3.2.2 | Ferramentas para auxiliar a construção do PES

Para a construção dos momentos do PES, algumas ferramentas podem ser utilizadas para colaborar
na captação das informações como, por exemplo, a matriz 5W2H, Brainstorming (tempestade de
ideias) e o Modelo Lógico. Qualquer ferramenta de planejamento e gestão tem a possibilidade de
envolver todos os atores interessados garantindo assim a ampla participação.

A matriz 5W2H (LUCINADA, What O que será feito?


2016), que utiliza termos em
inglês (what, who, where, when, Who Quem irá executar? Quem irá participar da ação?
why, how e how much), é utili-
zada por vários setores, princi-
Where Onde será executada a ação?
palmente administrativos, por
ser simples e com o objetivo de
When Quando a ação será executada?
colaborar com a sistematização
do que será feito. Para com-
Why Por que a ação será executada?
preender a sua utilização apre-
sentamos a seguir as questões
que devem ser respondidas. How Como a ação será executada?

É importante manter a objetivi- How much Quanto custa para execução da ação?
dade nas respostas, que devem
estar interligadas para ajudar nas definições dos momentos e na visualização dos responsáveis. A
delimitação do tempo disponível para a realização de cada ação deve ser considerada e o incentivo à
participação dos atores envolvidos no processo de planejamento é recomendado.

100
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E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

Já o Brainstorming (tempestade de ideias) é um método coletivo, utilizado em dinâmica de grupo, que


visa levantar ideias. Para a sua realização deve-se definir uma pessoa responsável pela coordenação
da sessão para que faça a exposição e o debate do assunto, estimulando a participação de todos.

Deve-se permitir a expressão livre de ideias, sem crítica, censura ou julgamento e registrar todas as
ideias que forem expressas. A partir da discussão do grupo o moderador/relator faz as anotações das
ideias que surgiram, seleciona e prioriza, de maneira participativa, os itens sugeridos, estabelecendo
assim aquelas ideias que serão incluídas no planejamento.

Para aprofundar seus conhecimentos sobre Brainstorming acesse:


https://bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.
nsf/741A876FE828908203256E7C00614A23/$File/NT00002206.pdf.

O Modelo Lógico é uma ferramenta interativa que pode ser usada como um quadro de referência
durante todo o planejamento, a implantação, a implementação, o monitoramento e a avaliação das
ações, programas e políticas. Ele busca, de maneira sistemática e visual, caracterizar a cadeia causal
subjacente ao funcionamento do programa. O seu desenvolvimento permite, ao mesmo tempo, orien-
tar a execução do planejamento, descrevendo recursos, atividades, produtos e metas, como também
possibilitar a avaliação das ações e desempenhar a função de modelo para outros programas.

Um Modelo Lógico ajuda a:

▶ Esclarecer a estratégia das ações, programas e políticas.

▶ Justificar a implementação das ações, programas e políticas.

▶ Definir objetivos adequados.

▶ Estabelecer prioridades para a distribuição dos recursos.

▶ Fazer ajustes e melhorias durante o andamento das ações, programas e políticas.

▶ Especificar o tipo de perguntas que devem ser feitas na avaliação.

▶ Fazer com que as partes interessadas prestem contas com relação aos processos e resultados
das ações, programas e políticas.

▶ Desenvolver melhor ações, programas e políticas na medida em que todos sabem o que leva a
que, ou seja, é possível identificar a cadeia de causas e efeitos que organiza um programa.

É importante lembrar que não existe uma única forma de criar o Modelo Lógico. Os componentes
básicos estão listados a seguir e devem estar conectados. Ele permite começar do objetivo para o
impacto ou o contrário.

SAIBA MAIS

Caso queira saber mais sobre o uso do modelo lógico, acesse a publicação “Cinco
passos para o monitoramento e avaliação (M&A) das ações de IST, HIV/AIDS e
hepatites virais” (BRASIL, 2017), disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/
publicacoes/cinco_passos_monitoramento_avaliacao_acoes_ist_hiv_aids_hepati-
tes_virais.pdf.

Você, na rotina de planejamento e gestão, poderá construir o Modelo Lógico de forma descrita (a
seguir) ou a partir de elementos gráficos (como, por exemplo, em quadros). Essa ferramenta pode
representar ações e programas em andamento ou futuros.

101
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

Os componentes do Modelo Lógico são os seguintes.

Insumos/recursos Fatores influenciadores

Investimentos ou Fatores que podem influenciar no êxito do programa, positiva


recursos (exemplos: ou negativamente (exemplos: fatores socioeconômicos,
tempo, pessoal, rotatividade de pessoal, política, outras iniciativas, normas e
voluntários, recursos condições sociais, histórico do programa, fase de
financeiros, materiais). desenvolvimento).

Atividades
Produtos Resultados iniciais
Eventos, ações,
atividades que serão Produtos diretos do Efeito do programa a
desenvolvidas programa (exemplos: curto prazo (exemplo:
(exemplos: workshops, número de pessoas mudanças no grau de
desenvolvimento de atendidas ou sessões conhecimento, nas
planos de aulas, realizadas, número de atitudes, habilidades e
treinamento, marketing profissionais treinados). nível de conscientização).
social, eventos especiais,
defesa de direitos).
Resultados a Resultados
longo prazo intermediários

Objetivo Resultados a médio


Impacto final (exemplo:
prazo (exemplo: assidui-
melhoria de marca-
dade dos participantes,
Missão ou finalidade dores de saúde dos
mudanças comporta-
das ações, programas participantes, mudanças
mentais, normativas ou
e/ou políticas. sociais ou ambientais).
nas políticas).

Confira também o Modelo Lógico realizado na cidade de São Carlos:

Modelo lógico – Programa Caminhada Orientada

Insumos

Recursos Humanos: Recursos Materiais:


• Equipe das USFs e do NASF • Materiais de Divulgação
• Profissionais de Educação Física e Gerontologia • Instrumentos de Medidas
• Docentes da UFSCar Antropométricas
• Estudantes de Educação Física e Gerontologia • Questionários e materiais
educacionais em papel
Recursos Financeiros: • Pedômetros, Frequencímetros, Escala
• Prefeitura Municipal de São Carlos de Borg e Acelerômetros
• ProEx (UFSCar) • Espaço da USF, calçadas públicas e
• CNPq instituições de assistência social do
• FAPESP bairro

102
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

Atividades

Divulgação na área de abrangência das • Gestão de materiais, informações,


USFs avaliações, divulgação e produção científica
Controle de presença dos participantes
nas sessões Planejamento de:
Avaliações dos participantes pré, pós • Sessões de exercícios físicos
intervenção • Ações educativas
Reuniões de equipe entre membros • Dicas de saúde
das USFs, NASF e UFSCar • Sessões de orientação nutricional
Reuniões semanais de planejamento e • Sessões de oficina de memória
de pesquisa dos agentes interventores • Atividades de integração entre o grupo e a
da UFSCar equipe de saúde

Produtos

• 395 pessoas avaliadas sobre nível de AF • Resumos em congressos


• 195 pessoas que participaram do • Elaboração de artigos científicos
programa pelo menos uma vez • Utilização de espaços públicos e
• 120 sessões de exercícios físicos instituições públicas para prática de AF
• 20 sessões de orientação nutricional • Capacitação da equipe de saúde para
• 20 sessões de oficina de memória promoção de AF na USF
• Ligações semanais para ausentes e • Participação em reuniões de equipe da USF
desistentes • Divulgação da atuação profissional de
• 8 pôsteres de divulgação profissionais de Educação Física e de
• 4000 folders Gerontologia

Resultados

Curto prazo Médio prazo


• Implementação de programa de AF nas USFs Maior conhecimento sobre exercícios
• Inserção da prática de AF no cotidiano dos físicos, estratégias de estimulação
participantes cognitiva e de alimentação saudável
• Aumento dos vínculos sociais entre usuários Fortalecimento de vínculos do usuário
com USF
Longo prazo Aumento no conhecimento de
• Manutenção do programa e aumento de estratégias para mudança de
promoção de AF nas USFs comportamento e autocuidado
• Empoderamento dos usuários da USF em Controle do peso corporal, pressão
relação à adoção de um estilo de vida ativo arterial e glicemia
• Fortalecimento da parceria entre a UFSCar e Maior sensibilização da equipe sobre
a Atenção Básica do município promoção de AF no contexto da
Estratégia de Saúde da Família

Objetivo

Aumentar o nível de AF e estimular a mudança de hábitos saudáveis para melhoria da


qualidade de vida da população em contexto de alta vulnerabilidade, auxiliando e
capacitando os profissionais de saúde das USFs na realização de ações que contemplem
promoção e prevenção de saúde na Atenção Básica.

Fonte: Cerri et al, 2017.

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SAIBA MAIS

Conheça outros Modelos Lógicos nos links a seguir:

O Modelo Lógico como ferramenta de planejamento, implantação e avaliação de


PS, disponível em: https://rbafs.org.br/RBAFS/article/view/2404.

Avaliabilidade do Programa Academia da Saúde no Município do Recife,


disponível em: http://cadernos.ensp.fiocruz.br/static//arquivo/1678-4464-csp-33-
04-e00159415.pdf.

Como elaborar Modelo Lógico: roteiro para formular programas e organizar


avaliação, disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/5810/1/
NT_n06_Como-elaborar-modelo-logico_Disoc_2010-set.pdf.

Para que as ações do planejamento participativo possam contribuir para o aperfeiçoamento da gestão
do programa e/ou das ações de promoção da atividade física na APS, é muito importante o compro-
metimento dos atores locais com o processo de elaboração do Modelo Lógico, assim como com o
monitoramento e a avaliação dos resultados alcançados e das estratégias empregadas.

REFLEXÃO
Você já utilizou outras estratégias para apoiar o planejamento?
Identifique os pontos positivos e negativos que percebeu em cada uma das
estratégias!
Quais dessas estratégias poderiam ser utilizadas em seu município?

3.2.3 | A importância da intersetorialidade, da participação


e do controle social nas etapas do PES

A intersetorialidade, a participação e o controle social são componentes da PNPS e do SUS. No nível


municipal, os gestores devem promover articulação intersetorial para a efetivação dessa política e
enfatizar a participação no planejamento, de forma a envolver todos os setores do governo municipal
e representantes da sociedade civil, no qual os determinantes e condicionantes da saúde sejam a
base para formulação das ações de intervenção. Nessa articulação é vantajoso explicitar as ações, os
programas e os benefícios compartilhados da atividade física aos setores.

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) reconhece quatro principais sinaliza-
dores que convergem para o êxito nos programas e políticas. São eles:

▶ a intersetorialidade,

▶ o controle social,

▶ a gestão eficiente e

▶ gestores e sociedade compartilhando valores claros a respeito dos problemas enfrentados e


das soluções em pauta.

A intersetorialidade, a participação e o controle social são indispensáveis para a política pública. Quan-
do ações, programas e políticas e todas as suas etapas são acompanhados pela população, maiores
são as chances de alcançar os resultados esperados (PNUD, 2017).

104
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

Intersetorialidade

O desafio colocado aos atores sociais de planejar ações que promovam a atividade física na APS de-
manda ampla articulação de diferentes setores administrativos, como saúde, educação, meio ambien-
te, transportes e mobilidade. Podemos pensar em diferentes efeitos diretos e indiretos do aumento
do nível de atividade física na abrangência desses setores:

▶ redução das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs),

▶ prevenção e diminuição de transtornos mentais comuns e sintomas de ansiedade e depressão,


melhor percepção sobre a qualidade de vida,

▶ melhora do desenvolvimento integral,

▶ melhora no desempenho acadêmico e motor de escolares,

▶ substituição do uso de veículos motorizados individuais pelo uso de meios de transporte ativos
e sustentáveis (exemplo: caminhando, pedalando),

▶ melhora da mobilidade urbana e redução da emissão de partículas poluentes na atmosfera.

Com isso, é necessário reconhecer a insuficiência da abordagem setorial para o enfrentamento dos
complexos problemas do território.

A articulação intersetorial potencializa a


utilização de recursos financeiros e humanos,
favorece redes sociais e gera soluções
integradas para as partes (MALTA et al., 2009).

Também cabe aos gestores incentivar articulações intersetoriais para a melhoria das condições dos
espaços públicos para a realização de atividades físicas, como, por exemplo, a qualificação de parques
e praças, a criação de ciclovias e pistas de caminhadas, o aumento da segurança e da iluminação,
entre outros.

Outras ações intersetoriais visam a mobilização de parceiros por meio de redes horizontais de troca
de experiência entre serviços (ou equipamentos) e entre os municípios:

▶ resgate das atividades físicas nas escolas, universidades e demais espaços públicos,

▶ articulação e parcerias estimulando atividades físicas no ambiente de trabalho,

▶ estímulo e fortalecimento de ações já existentes na comunidade.

A participação e o controle social devem ser incorporados em todas as etapas do


planejamento e da gestão das ações, dos programas e das políticas públicas.

É importante que os gestores busquem estabelecer parcerias e articulações intersetoriais no território


para desenvolvimento de ações educativas e inclusivas visando o incentivo da atividade física nas

105
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diferentes fases do curso da vida, com utilização de equipamentos sociais disponíveis no território,
tais como:

▶ clubes esportivos, clubes de recreação, escolas de esportes;

▶ equipamentos de esporte oferecidos pelo governo, como ginásios, quadras poliesportivas,


parques infantis, praças, parques, etc.;

▶ associações de bairros.

Essa articulação pode ser realizada desde o processo de planejamento, para que os envolvidos pos-
sam participar ativamente do processo de construção do programa ou ação, a fim de estabelecer
relações de confiança e de responsabilidades compartilhadas.

A ação intersetorial intencional e planejada também pode facilitar a conexão com as Instituições de
Ensino Superior (IES). Essas instituições geralmente conseguem oferecer espaço físico e recursos
humanos – professores, estagiários, apoio técnico e especializado – para fortalecer a relação entre
ensino, pesquisa, extensão, serviços e comunidade, em uma relação colaborativa e horizontal na pro-
dução do conhecimento. Existem casos de programas de promoção da atividade física nos quais as
IES têm oferecido a estrutura física, e a gestão da Unidade de Saúde disponibiliza os demais materiais,
como colchonetes, halteres, entre outros.

Como mencionados na Unidade 2, reforçamos que os instrumentos de gestão como Plano Munici-
pal de Saúde (PMS), Plano Diretor, Plano Plurianual (PPA), Plano de Transporte Urbano/Mobilidade
e outros devem ser revisados de forma articulada e periódica, incorporando a intersetorialidade e
conectando medidas para priorizar a redução das DCNTs decorrentes de poluição do ar e do baixo
nível de atividades físicas, os transportes não motorizados e os coletivos sobre os individuais e as
condições para atividades físicas no deslocamento (OPAS, 2020).

É necessário o conhecimento dos setores envolvidos para o desenvolvimento de


ações, programas e políticas de promoção da saúde e atividades físicas, pois sa-
bemos que a intersetorialidade é uma estratégia política complexa, cujo resultado
na gestão de um município é a superação da fragmentação das políticas nas várias
áreas onde são executadas.

Para que a gestão articule pessoas e instituições no planejamento é necessária a utilização de fer-
ramentas e tecnologias de informação e comunicação. Portais, redes sociais, sites, dentre outros,
devidamente atrativos e atualizados podem viabilizar a articulação de órgãos, conselhos, coletivos e
usuários. Esses espaços favorecem expressões pessoais, interações desburocratizadas, democracia
direta, além de comunicação horizontal e descentralizada.

PARA PENSAR E PLANEJAR


Para fortalecer a relação intersetorial podemos utilizar as seguintes estratégias:
traçar objetivos comuns entre setores; utilizar de informações e dados setoriais
de forma integrada; elaborar orçamento intersetorial, buscando diretrizes e
metas conjuntas; identificar e integrar estratégias similares para otimizar re-
cursos. Como é possível melhorar essas ações em seu município?

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Participação e controle social

O controle social é a capacidade que os movimentos sociais e a sociedade civil têm de participar,
intervir, acompanhar e interferir nas ações dos governantes, nos gastos públicos e na execução de
políticas públicas, a fim de estabelecer e monitorar os objetivos, processos e resultados de interesse
da população.

O controle social sobre o SUS foi eixo de debate na VIII Conferência Nacional de Saúde (1986) mas,
somente em 1990, vigorou a lei sobre a participação da comunidade na gestão do SUS (Lei nº 8.142,
de 28 de dezembro de 1990). Há muito tempo o controle social é considerado um dos principais
instrumentos para a democratização do SUS, porém ainda há muitas limitações e dificuldades em
exercer esse mecanismo.

Os Conselhos de Saúde constituem uma instância para o controle social, composta por represen-
tantes do governo, prestadores de serviço, profissionais de saúde e usuários, mas que nem sempre
conseguem cumprir a função de participar da formulação e do controle da política de saúde.

Na gestão de ações e programas para a atividade


física, essa dificuldade também foi observada, como
o escasso e pouco qualificado controle social
durante a implementação do Programa Esporte e
Lazer da Cidade (PELC), pois havia poucos conselhos
municipais envolvidos. Havia também a indicação
de outras entidades que não representavam o
território, nem agiam como referência de debate de
implementação do PELC, ou ainda foi atribuído o
controle social a uma única associação/entidade
que representava um clube de futebol local
(UNGHERI; ISAYAMA, 2020).

Nas ações de promoção da atividade física na APS, o controle social deve ser fortalecido por meio
da mobilização popular individual e coletiva, para facilitar o acesso da população ao planejamento e,
consequentemente, às informações e aos serviços e direcionar as atividades às reais necessidades e
demandas das pessoas, com significativo impacto na percepção de saúde. São formas de participa-
ção em políticas públicas as conferências e conselhos, orçamento participativo, plenárias temáticas,
audiências públicas e congressos municipais, com o objetivo de discussão coletiva e articulação dos
atores sociais para o planejamento.

É valioso que os gestores estimulem e consultem os conselhos municipais e outros


instrumentos de participação popular, e procurem medir/avaliar o controle social
em sua gestão.

Confira a seguir exemplos de ações intersetoriais reais articuladas de modo a resolver problemas so-
ciais e beneficiar a prática de atividades físicas. Vamos apresentá-las para fins ilustrativos, acompanhe.

107
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

Exemplo 1: Vias Calmas

Sabemos que o trânsito brasileiro faz muitas vítimas anualmente. Dados da OPAS (2012) demonstram
que o pedestre que é atingido por um veículo a 60 km/h tem alta probabilidade de ir a óbito.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a redução dos limites de velocidade das vias, e já
existem campanhas e metas para 2030 para que os países adotem as vias calmas, onde o limite de ve-
locidade é de 30 km/h. Se atingido por um veículo a 30 km/h, um pedestre tem menos de 20% de pro-
babilidade de ir a óbito em decorrência do atropelamento. Podemos fazer o exercício de refletir sobre
o problema em questão e quais setores são afetados e devem ser mobilizados. Acidentes de trânsito
exigem muitos recursos do setor de saúde, transportes, infraestrutura e segurança, por exemplo. E
para aderir à recomendação global de vias calmas de 30 km/h, esses setores precisam dialogar entre
si, trabalhar estrategicamente, planejar juntos e incluir a participação popular, sobretudo em regiões
do país em que o automóvel representa um bem altamente desejado e símbolo de status social. No
Brasil, alguns municípios estão implementando vias calmas de 30 km/h, e essa implementação deve
ser avaliada para verificar se as metas serão alcançadas, tais como:

▶ reduzir acidentes de trânsito;

▶ reduzir óbitos evitáveis;

▶ reduzir gastos com saúde;

▶ atrair mais pedestres e ciclistas, pois as pessoas caminham e pedalam mais quando se sentem
seguras;

▶ aumentar escolhas de meios de transporte sustentáveis.

Essa intervenção está ligada à promoção da


atividade física no deslocamento de bicicleta e
caminhada, pois promove a superação de uma
barreira muito importante que é a percepção de
insegurança do trânsito. Com a implementação
dessas vias mais calmas, aumenta a chance de
os ciclistas escolherem esses caminhos, pois
melhora a sensação de segurança. Essa é uma al-
ternativa para atrair sobretudo mulheres, idosos
e crianças pequenas. Além disso, é uma forma de
ampliar o espaço nos municípios para ciclistas e
pedestres, já que os carros têm sido priorizados
na ocupação do solo e nos planejamentos urba-
nísticos. Como mencionamos, o impacto da redução da velocidade máxima sobre a atividade física
da população deve ser mensurado. Podemos observar se ocorre o aumento no número de pedestres
e ciclistas utilizando a via e a redução de acidentes, e realizar entrevistas com pedestres, ciclistas,
motoristas, de várias idades, homens e mulheres.

Exemplo 2: Eventos

É muito interessante investir na ampliação e difusão de eventos de participação que promovam ativi-
dades físicas e defendam sociedades ativas e saudáveis – esses eventos, inclusive, podem fortalecer a
visibilidade política. Os eventos de participação podem ser considerados indicadores. A OMS, em 2022,
avaliou os países também pelo critério de eventos de participação sobre atividade física (OMS - Global
Status Report on Physical Activity 2022). Esse indicador, ao lado de vários outros, auxiliou na formação

108
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

do perfil de cada país em relação à promoção da atividade física. Com isso, tem sido recomendado o
fortalecimento, agendamento, planejamento, execução e avaliação dos eventos de participação sobre
atividade física e temas transversais nos municípios, estados e no nível nacional.

A realização de eventos como uma estratégia de sensibilização sobre a importância da atividade física
é uma ação muito comum e reconhecida como uma estratégia importante pela OMS. No Brasil, é
comum a celebração mensal de temas específicos como outubro rosa, novembro azul etc. A Virada
Esportiva em São Paulo organizada pela prefeitura e o Dia do Desafio, organizado pelo Serviço Social
do Comércio (SESC) na última quarta do mês de maio, são exemplos de eventos, que não devem ser a
única estratégia, que conectam à promoção da atividade física.

O Dia Mundial da Saúde é comemorado no dia 7 de abril pela OMS, tendo como objetivo conscientizar
a população a respeito da qualidade de vida e dos diferentes fatores que afetam a saúde, no qual
cada ano um tema é adotado. Em 2019, o tema “Saúde universal: para todas e todos, em todos os
lugares” abrangeu a mobilização de gestores, profissionais, comunidade e mídia/imprensa para pen-
sar e discutir a importância do planejamento e da implementação de políticas e ações com enfoque
multissetorial para abordar os determinantes sociais da saúde e promover o comprometimento de
toda a sociedade com a saúde e o bem-estar. Em 2002, o tema do Dia Mundial da Saúde foi a atividade
física, nesse dia a diretora da OMS lançou, em São Paulo, o Dia Mundial da Atividade Física, tema
que é celebrado até hoje, na data de 6 de abril, e tem estimulado o chamado mês verde, dedicado à
promoção da atividade física.

3.3 | O papel dos profissionais de saúde na promoção da


atividade física no cuidado em saúde

Os profissionais de saúde têm um papel fundamental na articulação e execução das ações de promo-
ção da atividade física como uma estratégia da integralidade do cuidado. Sendo assim, este aspecto
deve ser considerado nas reflexões da equipe de planejamento e de gestão, estando explícito nos
instrumentos de gestão de forma a ser efetivamente operacionalizado.

Sobre o entendimento do significado do cuidado, acompanhe a seguir!

O conjunto de ações interligadas que perpassam todos os


níveis de atenção à saúde.
Por cuidado,
entende-se:
Considerando a integralidade do sujeito e integração dos
setores que intervêm nos determinantes sociais da saúde.

Busca-se a qualidade técnica e ética por meio do reconheci-


mento dos direitos, da subjetividade e das referências culturais
do usuário, garantindo o respeito às questões de gênero, etnia,
raça, situação econômica, orientação sexual, entre outros.

Ou seja, a definição já remete ao cuidado integral em saúde.

Fonte: adaptado de Brasil (2013).

109
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

É importante reafirmar que as ações de promoção da saúde e da atividade física não se opõem às ações
de cuidado, elas podem se conectar e coexistir. Para tanto, é importante que as ações, os programas
e as políticas se mantenham em uma perspectiva de valorização e defesa da vida, reconhecendo e
respeitando a complexidade e singularidade das pessoas e coletividades, com partilha de responsa-
bilidades entre os envolvidos no processo e com acesso equitativo, o que remete ao direito à saúde
como um benefício da vida em sociedade (BRASIL, 2014) e que desconstrua a centralidade biomédica
no cuidado. Como afirma Carvalho e colaboradores (2020), as ações de cuidado e promoção da saúde
podem ser implementadas de forma articulada no contexto da promoção da atividade física e das
práticas corporais, respeitando-se os objetivos e, também, as intercessões entre elas. Um exemplo
são as ações de promoção da saúde no cuidado nos grupos de hipertensão arterial, diabetes, dor,
entre outras.

É fundamental que o gestor tenha a intencionalidade de promover a reflexão e a reorientação dos


serviços de saúde, nessa direção, considerando a prática diária de todos os profissionais de saúde,
incluindo também o acesso à atividade física como estratégia de cuidado. Além disso, deve incentivar
e gerir nessa direção, incluindo aspectos da educação continuada e permanente.

3.3.1 | Arranjos interdisciplinares, interprofissionais, matriciamento e suas possibilidades


com enfoque no cuidado em saúde

O Apoio Matricial, também chamado de matriciamento, é um modo de realizar a atenção em saúde de


forma compartilhada com vistas à integralidade e à resolubilidade da atenção, por meio do trabalho
interdisciplinar.

O processo de construção de ações interdisciplinares, interprofissionais e intersetoriais resulta na


troca e na construção coletiva de saberes, linguagens e práticas entre os diversos atores e setores
envolvidos na tentativa de equacionar determinada questão de saúde de modo que se consiga pro-
duzir processos potentes de produção de saúde, incluindo uma reflexão crítica sobre os determi-
nantes e condicionantes sociais de saúde. Tal processo propicia a cada área, setor e profissional a
ampliação de sua capacidade de analisar e de transformar seu modo de operar a partir do convívio
com a perspectiva dos outros, abrindo caminho para que os esforços de todos sejam mais efetivos e
eficazes. Acompanhe no infográfico a descrição sobre a interdisciplinaridade, interprofissionalidade e
intersetorialidade com enfoque no cuidado em saúde.

A interdisciplinaridade é a construção do conhecimento,


com aquisição de competências, interação e articulação
entre as diversas disciplinas.

A interprofissionalidade corresponde à prática


profissional em que se desenvolve o trabalho em equipe,
articulando diferentes campos de práticas e fortalecendo a
centralidade no usuário e suas necessidades na dinâmica
da produção dos serviços de saúde.

A intersetorialidade é o processo de articulação de


saberes, potencialidades e experiências de sujeitos, grupos
e setores na construção de intervenções compartilhadas,
estabelecendo vínculos, corresponsabilidade e cogestão
para objetivos comuns.

110
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

3.3.2 | A promoção da atividade física é papel de todos os profissionais de saúde e da


comunidade

A promoção da atividade física envolve informar e motivar os gestores quanto aos diferentes profis-
sionais (por exemplo, nutricionista, ACS, médico, psicólogo, farmacêutico, enfermeiro, fisioterapeuta,
profissional de educação física) e estratégias envolvidas na promoção da atividade física, indicando
possibilidades, tais como:

▶ aconselhar sobre os benefícios de praticar atividades físicas e sobre as recomendações da AF


para a população brasileira;

▶ aconselhar a praticar;

▶ conhecer/perguntar sobre o nível de atividade física e sobre as barreiras para a prática, com-
partilhando soluções para transpor essas barreiras.

Reforçamos que a Sociedade Internacional de Atividade Física e Saúde considera o envolvimento de


todos os profissionais de saúde na promoção da atividade física como um dos oito investimentos
efetivos na área. Essa é uma visão estratégica que surgiu a partir das melhores evidências no mundo.

Campanhas
Programas de
de educação
saúde na escola
em saúde

Transporte Esporte e lazer


ativo 8 para todos
investimentos
para a
atividade
Desenho Ambiente de
física
urbano ativo trabalho

Profissionais Programas
de saúde comunitários

Nesse link, você terá acesso detalhado aos oito investimentos que funcionam
para a atividade física, e que têm o objetivo de auxiliar países, estados, municípios
e distritos. Os oito investimentos foram pontuados pela International Society for
Phisical Activity and Health e pela OMS.

Disponível em: https://ispah.org/wp-content/uploads/2020/12/Portuguese-


Translation-Eight-Investments-That-Work-FINAL.pdf

Também é muito importante que os profissionais de saúde comuniquem as atividades, as ações e os


programas de atividade física disponíveis no território. Em um estudo realizado, com dados da PNS,
identificou-se que somente 20% dos entrevistados conheciam algum programa público de atividade

111
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

física e, desses, somente 9% frequentavam esses programas (FERREIRA et al., 2019). Além disso, é
importante lembrar que, para maior adesão da população e êxito dos programas públicos de promo-
ção da atividade física, a equipe do planejamento deve conhecer as barreiras, ou seja, os fatores que
dificultam a participação nos programas.

Para compreender a relevância dessa informação, apresentamos os dados de um estudo realizado


em todo território nacional que identificou as barreiras relacionadas a não prática de atividade física
em programas públicos (FERREIRA et al., 2019). A falta de tempo foi a mais frequente, relatada por
quase metade dos participantes (41,4%). É fundamental que a falta de tempo não seja considerada
apenas uma falta de organização ou vontade pessoal, mas uma reflexão sobre por que falta tempo
para as pessoas fazerem atividade física. Alguns fatores podem contribuir para explicar essas barrei-
ras como, por exemplo, acúmulo de trabalho, de atividades domésticas, de estudo e de compromissos
familiares. Desta forma, as “causas das causas” podem ser identificadas com mais clareza.

Uma estratégia potente no SUS é o


aconselhamento breve sobre atividade física.
Esse aconselhamento pode ser realizado por
todos os profissionais de saúde no contexto da
APS de forma verbal ou por escrito (papel ou
e-mail), com apoio nas informações do Guia de
Atividade Física para a População Brasileira e
do Guia de Orientação para o Aconselhamento
Breve sobre Atividade Física na Atenção
Primária à Saúde do Sistema Único de Saúde.

Lembramos que o Guia de Atividade Física para a População Brasileira conversa diretamente com a
população em sua linguagem e formato e pode ser disseminado em consultas, grupos, rodas de con-
versa, ações, “dias D”, campanhas, nas escolas, nos conselhos etc. Para que isso ocorra, é necessário
que a equipe multiprofissional seja integrada e sensibilizada para promover atividades físicas. Essa
abordagem também qualifica outros atores, eleva as chances de aumentar os níveis de atividade física
das pessoas e descentraliza as demandas sobre os profissionais de educação física, que nem sempre
estão presentes nas Unidades de Saúde.

SAIBA MAIS

No Guia de Atividade Física Para a População Brasileira: recomendações para ges-


tores e profissionais de saúde, você encontrará uma série de sugestões de como
incluir o Guia de AF nas atividades do SUS. Disponível em: http://189.28.128.100/
dab/docs/portaldab/publicacoes/guia_atv_gestores.pdf.

A promoção da atividade física por todos os profissionais de saúde necessita de formação permanente
e/ou continuada dos envolvidos e a atividade física como cuidado em saúde deve ocupar mais espaço
nos processos de educação continuada e permanente, pois é um tema transversal que permanece
como demanda no planejamento. Devemos estimular a articulação com a população nas decisões e
planejamento de ações de promoção da atividade física destacando os sentimentos de pertencimento
e aumento do controle social. Além disso, também devemos priorizar estratégias para aumentar a
adesão e aderência às ações e destacar a importância da motivação, do suporte social e da transposi-
ção de barreiras reportadas pela população.

112
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

Retomando os desafios colocados no planejamento das ações intersetoriais, reconhecemos a impor-


tância dos atores nas escolas como promotores de atividades físicas, com a vantagem de poderem
intervir nas idades escolares, quando os comportamentos de saúde estão se estabelecendo e, conse-
quentemente, nos seus familiares. Diretores, pedagogos, professores, outros trabalhadores da escola
e famílias podem trabalhar a promoção da atividade física de forma intencional e combinada com
outras disciplinas e temas curriculares, mediante o estímulo na educação permanente e capacitações
específicas.

Exemplos de projetos de intervenção internacionais (BORDE et al., 2017) e alguns nacionais, como o
Movimente (https://movimente.ufsc.br/) utilizaram essa abordagem envolvendo a formação e o empo-
deramento de professores e observaram resultados positivos nos comportamentos de saúde dos es-
colares (exemplo: redução do tempo assistindo televisão ou mais tempo praticando atividades físicas).

SAIBA MAIS

O Caderno Temático do Programa Saúde na Escola: Promoção da Atividade Física


(https://aps.saude.gov.br/biblioteca/visualizar/MjEzOQ==) e o Guia de Bolso do
Programa Saúde na Escola: Promoção da Atividade Física (https://aps.saude.gov.
br/biblioteca/visualizar/MjE0MA==) são materiais que contribuem no desenvolvi-
mento de intervenções que podem tornar o ambiente escolar mais ativo.

3.3.3 | A atuação estratégica do profissional de educação física na saúde para além de sua
atuação no núcleo profissional

Com a consolidação das políticas de promoção da saúde e abrangência das ações como a promoção
da atividade física na APS, os profissionais de educação física foram inseridos em 2008 nas equipes
multiprofissionais. O Incentivo de Atividade Física (IAF) estimula a contratação de profissionais de
educação física na saúde, cuja dificuldade tem sido apontada como desafio na promoção da atividade
física. O Programa Academia da Saúde (PAS) também insere o profissional de educação física na saúde
ao elencá-lo na lista dos 13 profissionais de saúde que podem atuar no programa, sendo esse o pro-
fissional que mais atua no PAS.

Cabe também destacar outro desafio recorrente que é, em geral, a qualificação insuficiente dos pro-
fissionais de educação física para atuar na saúde pública, em especial na APS. É prioridade investir
na formação e capacitação inicial desses profissionais para a atuação, também, na saúde pública,
gerando demandas de disciplinas curriculares às IES. Reformular a formação profissional com ênfase
nas especificidades da APS no SUS, bem como investir em educação permanente, são recomendações
para fortalecer esse nível de atenção à saúde, assim como criar ou ampliar as relações entre o ensino
das IES e os serviços do SUS.

LINKS

O Ministério da Saúde estruturou diversas Linhas de Cuidado nas quais o profissional de


educação física, por características de sua graduação e formação, tem competência espe-
cializada de atuação. Você pode acessar em: https://linhasdecuidado.saude.gov.br/portal/.

Um exemplo é o profissional de educação física integrando a equipe da Linha de Cuidado em Obesi-


dade para intervir com avaliações dos níveis de atividade física, prestando orientações e atendimento
para a prática regular de exercícios físicos e mudanças comportamentais. Esse profissional tem a
competência de planejar programas de exercícios físicos com foco em pacientes obesos, ajudar na

113
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

motivação e desenvolver mecanismos de superação de barreiras junto aos pacientes. É um profis-


sional capacitado para disseminar educação permanente e o matriciamento sobre os benefícios do
estilo de vida ativo, visando potencializar a prevenção de comorbidades e redução do peso. Muitas
são as possibilidades de atuação desse profissional. Confira a seguir algumas aplicações das Linhas
de Cuidado.

As Linhas de Cuidado de diversas doenças e condições de


saúde que acometem principalmente os adultos, tais como:

acidente vascular cerebral (AVC) São exemplos nos quais a


asma atividade física é um fator
depressão não-medicamentoso de
diabetes mellitus tipo 2 proteção/prevenção que
doença renal crônica (DRC) pode contribuir para a
hipertensão arterial sistêmica (HAS) melhorar a qualidade de
transtornos de ansiedade vida dos indivíduos.

As Linhas de Cuidado descrevem rotinas do itinerário do paciente, fornecendo informações relativas


às ações e atividades de promoção, prevenção, tratamento e reabilitação a serem desenvolvidas por
equipe multidisciplinar em cada serviço de saúde. Esses fluxos e rotinas viabilizam a comunicação
entre as equipes, serviços e usuários na RAS, de forma a padronizar as ações, organizando o serviço
de forma sincronizada, nas quais todos os envolvidos conhecem o passo a passo assistencial.

Perceba que a superação dos desafios relacionados com falha de comunicação e articulação do profis-
sional de educação física com os demais na equipe multiprofissional é fundamental para que o fluxo
dentro da Linha de Cuidado aconteça. Para implementação de uma Linha de Cuidado, estratégias de
gestão devem incidir tanto sobre as práticas clínicas e de saúde coletiva como na organização dos
serviços da RAS.

SAIBA MAIS

No site do Ministério da Saúde estão dispostas as Linhas de Cuidado com infor-


mações detalhadas voltadas para gestores, profissionais de saúde e cidadãos.
Disponível em: https://linhasdecuidado.saude.gov.br/portal/todas-linhas.

Conheça também a experiência na Região do ABC em São Paulo sobre o uso do


Guia Alimentar e o Guia de Atividade Física para a População Brasileira na Linha
de Cuidado de Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde. No link abai-
xo você encontrará mais informações e quatro manuais instrutivos. Disponível
em: https://www.fsp.usp.br/lcsoabcpaulista/.

3.4 | Experiências municipais exitosas na perspectiva da gestão, de


implantação de programas e ações de atividade física

As experiências exitosas são aquelas que promovem aumento da atividade física dos participantes
por meio de um processo planejado, replicável e sustentável que garante e promove participação e
autonomia (BENEDETTI et al., 2020). Essa definição é apresentada no documento Recomendações para
o Desenvolvimento de Práticas Exitosas de Atividade Física na Atenção Primária à Saúde do Sistema
Único de Saúde (BRASIL, 2021).

114
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

As palavras em destaque descritas a seguir são consideradas como atributos essenciais às práticas
exitosas, e gostaríamos de aprofundar com você.

▶ Autonomia: A ação promove autonomia dos participantes para o engajamento nas decisões e
conhecimentos que possam contribuir para o autocuidado e corresponsabilidade com a saúde
individual.

▶ Planejamento: A ação é planejada de acordo com a realidade do local (como demandas do


território; demandas por serviços; recursos financeiros, humanos e materiais; cultura e capaci-
dade técnica) e de forma colaborativa (entre usuários, profissionais de saúde e gestão), que ex-
plicita para qual grupo é destinada. Além disso, possui objetivos tangíveis e metas mensuráveis
que necessitam ser avaliadas continuamente tanto para a ação quanto para os participantes.

▶ Sustentabilidade: A ação é mantida e continuada pelo local com potencial para ser institucio-
nalizada e capaz de aumentar a atividade física dos participantes de modo sustentável.

▶ Replicação: A ação é descrita com clareza e aplicável em outros locais respeitando cada con-
texto.

▶ Participação: A ação promove o engajamento e o vínculo dos usuários com o serviço, e tem
adesão e assiduidade dos participantes.

O passo a passo no planejamento e na implementação de uma ação ou um programa de atividade


física, para que seja exitosa, envolve oito estratégias que apresentaremos a seguir. Mas, antes de
conhecê-las, é importante que você saiba que este passo a passo é baseado em experiências reais
desenvolvidas no SUS em todas as regiões do Brasil, e o seu desenvolvimento incluiu profissionais de
saúde, gestores municipais e usuários participantes das ações de atividade física (BENEDETTI et al.,
2020; BRASIL, 2021; SANDRESCHI, 2022). Este conteúdo pode ser consultado na íntegra.

estratégias para o planejamento e implementação de


estratégias
uma ação ou para o planejamento
programa e implementação
de atividade física de
uma ação ou programa de atividade física

1 Divulgar as ações realizadas


1 Divulgar as ações realizadas

2 divulgação
A Manter umadas frequência e regularidade
ações de atividade da oferta
física pode das ações
ser realizada pelos ACS, por cartazes no território,
2 Manter uma frequência e regularidade da oferta das ações
pelas redes sociais, por reuniões na Unidade de Saúde, por comunicação boca a boca e pelas equi-
pes de saúde.
3 Realizar O ideal é que sejam adotadas e combinadas três ou mais estratégias de divulgação.
avaliações
3 divulgação
A Realizar avaliações
deve ser contínua no serviço de saúde, pois há grande rotatividade de usuários da
APS e diariamente novos entram no sistema. Além disso, para estimular a cultura do movimento
4 Manter regularidade nas avaliações
cada vez mais
4 estratégias
Manter forte
parana
regularidade sociedade e promover
nas avaliações
o planejamento a conscientização
e implementação de para o estilo de vida ativo, de
forma paralela às ofertas semanais, é
uma ação ou programa de atividade física recomendado incluir nos planejamentos e calendários a
5 Entregar
realização deos resultados
eventos dasàs
alusivos avaliações
datas temáticas que são comemoradas, como o Dia da Atividade
5 Entregar os resultados das avaliações
Física (6 de abril), o Dia Mundial da Saúde (7 de abril), o Dia Mundial sem Carro (22 de setembro) e
1
o
6 DiaDivulgar asa ações
do Profissional
Controlar realizadas
de Educação
assiduidade Física (1 de setembro).
dos participantes
6 Controlar a assiduidade dos participantes
2
7 Manter uma
Monitorar asfrequência
razões das edesistências
regularidade da oferta das ações
7 Monitorar as razões das desistências
3
Os Realizar
8 principaisavaliações
desafios,
Buscar apoio relacionados às ações em si, de promover atividades físicas na APS, são
da gestão
8 seguintes:
os Buscar apoio da gestão
descontinuidade das ações; oferta insuficiente para atender à demanda; e horários
que não atendem
4 Manter bem ànas
regularidade população.
avaliaçõesPara superar esses desafios, é recomendado aumentar a
frequência semanal de oferta das atividades (maior ou igual a duas vezes na semana) em horários
diversificados. O uso de tecnologias como redes sociais, grupos de whatsapp, aulas remotas e
5 Entregar os resultados das avaliações
outros é incentivado como aliado nesse esforço de aumentar a promoção da atividade física.

6 Controlar a assiduidade dos participantes


115
7 Monitorar as razões das desistências
estratégias para o planejamento e implementação de
uma ação ou programa de atividade física
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3
1 Divulgar as ações realizadas

2 Manter uma frequência e regularidade da oferta das ações


estratégias para o planejamento e implementação de
3 Realizar
uma açãoavaliações
ou programa de atividade física

É4 ideal
Manter
que regularidade
os nas sejam
as participantes
avaliações
avaliados antes e apósdeo período das atividades, segundo o
1 estratégias
Divulgar para o
ações planejamento
realizadas e implementação
cronograma
uma açãodaouoferta dessas.
programa deAatividade
avaliaçãofísica
dos participantes deve estar alinhada ao objetivo da
atividade.
5 EntregarPorosexemplo, se adas
resultados ação tem a intenção de reduzir o Índice de Massa Corporal (IMC) dos
avaliações
2 Manter uma
participantes porfrequência e regularidade
meio da prática da oferta
de exercícios físicos,das ações
é necessário mensurar e acompanhar o IMC
1 Divulgar as ações realizadas
por meio de metodologia válida e reprodutível. Na próxima Unidade deste curso, aprofundaremos
6 tema
Controlar a assiduidade dos participantes
3 Realizar
no de avaliações.
avaliações
2 Manter uma frequência e regularidade da oferta das ações
7 estratégias
Monitorar aspara o planejamento
razões das
nasdesistências
e implementação de
4 uma
Manter regularidade
ação ou programa avaliações
de atividade física
3 Realizar avaliações
8 Buscar apoio da gestão
Entregar os
5 avaliações
As resultados
das ações dedas avaliações
atividade física e dos participantes devem ser realizadas pelo menos
1 Divulgar as ações realizadas
duas vezes ao ano, como veremos
4 Manter regularidade nas avaliaçõesna próxima Unidade deste curso.
6 Controlar a assiduidade dos participantes
2 Manter uma frequência e regularidade da oferta das ações
5 estratégias para o planejamento
Entregar os resultados e implementação de
das avaliações
7 Monitorar as razões das desistências física
uma ação ou programa de atividade
3 Realizar avaliações
O6 s participantes precisam tomar
Controlar a assiduidade nota das suas avaliações, pois isso promove envolvimento, con-
dos participantes
tribui
1 para
8 Divulgar a autonomia
Buscar apoio da gestão
as ações e motivação,
realizadas é uma oportunidade de promover educação em saúde e
4 Manter
estimula a regularidade
busca por nas avaliações
melhores resultados. Compartilhar e discutir os resultados das avaliações
7 Monitorar as razões das desistências
junto da equipe multiprofissional possibilita identificar facilitadores e barreiras percebidas pelos
2 Manter umapara frequência e regularidade da oferta das ações
5 estratégias
participantes
Entregar ospara queo adaptações
planejamento
resultados e implementação
sejam
das avaliações de
planejadas e as metas alcançadas.
8 uma
Buscar apoio da gestão
ação ou programa de atividade física
3 Realizar avaliações
6 Controlar a assiduidade dos participantes
1 Divulgar as ações realizadas
4 Manter regularidade nas avaliações
É7 recomendado
Monitorar aspararazões das desistências
promover ações de atividade física exitosas monitorar:
•2 oManter
númerouma de participantes cadastrados na
frequência e regularidade da ação;
oferta das ações
•58 oEntregar
número os
de resultados dasem
participantes
Buscar apoio da gestão
avaliações
cada sessão;
•3 oRealizar
número e a identificação de participantes com faltas consecutivas; e
avaliações
•6 Controlar
o número de desistências.dos participantes
a assiduidade

4 Manter regularidade nas avaliações


7 Monitorar as razões das desistências

5 Entregar os resultados das avaliações


8 desistências
As Buscar apoiopodem ocorrer devido às características da própria oferta, e ao tomar nota de-
da gestão
las, é possível reestruturá-las com foco na aderência dos participantes. Em caso de desistência,
é6 interessante
Controlar aoferecer
assiduidade
um dos participantes remoto ou orientar práticas de atividades físicas
acompanhamento
independentes dos encontros presenciais, e dar suporte social para os participantes, compreen-
7 Monitorar
dendo suas necessidades.
as razões das desistências

8 Buscar apoio da gestão

Os membros envolvidos na gestão devem estar sensibilizados para a promoção da atividade física.
Sabemos que a falta de apoio político e de reconhecimento da atividade física na APS é um desafio
a ser superado. A gestão voltada para práticas exitosas busca e cria iniciativas para consolidar e
promover as atividades físicas para a população. Também é participativa e conhecedora de todas
as fases de elaboração de políticas e programas, acessa os relatórios e horizontaliza a relação com
a equipe multiprofissional. O apoio da gestão também inclui levar as necessidades e os apelos das
ações de promoção da atividade física para as reuniões intersetoriais e os encontros oficiais de
governança, tais como reuniões técnicas, audiências, assembleias, congressos, e auxilia a institu-
cionalizar o serviço em protocolos, planos, agendas, legislações e diretrizes.

116
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

SAIBA MAIS

Saiba mais estratégias para Atividade Física no material Recomendações para o


Desenvolvimento de Práticas Exitosas de Atividade Física na Atenção Primária
à Saúde do Sistema Único de Saúde, disponível em: http://189.28.128.100/dab/
docs/portaldab/publicacoes/desenvolvimento_atividade_fisica.pdf.

Agora que conhece as estratégias para desenvolver ações exitosas de promoção de atividade física,
contamos com você para que efetivamente novas ações, programas e políticas sejam planejadas, im-
plementadas, monitoradas e avaliadas. Você sabia que, no Brasil, apenas 5,2% das ações de atividade
física monitoradas na APS foram consideradas exitosas (SANDRESCHI, 2022)? Portanto, sua aderência
é muito importante para que possamos fortalecer a promoção da atividade física na APS do SUS.

Apresentaremos a seguir alguns exemplos de ações, programas e políticas de promoção de atividade


física, mostrando as principais características de cada uma tanto de ações que ganharam abrangência
nacional quanto de experiências locais em municípios de pequeno porte.

a) Serviço de Orientação ao Exercício (SOE) - Vitória/ES

O SOE se estabelece por meio de legislação municipal em 1985 e seu primeiro módulo foi implantado
em 1990. É um dos programas pioneiros na promoção da atividade física no SUS e exemplo de uti-
lização dos espaços públicos abertos do município (parques, hortos, praças, orla da praia). Para sua
disseminação, uma unidade móvel atende aos territórios com dificuldades de acesso aos polos fixos
do SOE. As atividades também acontecem o ano todo e no período noturno para contemplar traba-
lhadores. No verão, os horários de atendimento são prolongados e estendidos aos sábados. Essas
estratégias podem, direta ou indiretamente, ampliar o acesso e contribuir para a adesão e aderência
da população.

Os cidadãos de Vitória/ES podem se informar sobre o SOE no site da prefeitura. Foi realizado estudo
para verificar os interesses e as características dos praticantes de exercício em cada local do mu-
nicípio e onde as atividades seriam realizadas. Outro aspecto relevante em relação à participação
da comunidade é a articulação desse serviço com as lideranças comunitárias tanto nos processos
decisórios quanto para mobilização nas atividades. Também, há avaliação permanente do serviço com
a aplicação de questionários, o que permite adequação e aprimoramento das estratégias de forma
alinhada aos interesses da população (REZENDE, 1997).

SAIBA MAIS

Em 2020, foi publicado o artigo sobre os 30 anos do SOE: “30 anos do Serviço
de Orientação ao Exercício em Vitória/ES: pioneirismo nas práticas corporais e
atividades físicas no SUS” (VIEIRA et al., 2020), disponível em: https://seer.ufrgs.
br/Movimento/article/view/103142.

b) Programa Academia da Cidade (PAC) - Recife/PE

O Programa Academia da Cidade (PAC) do Recife é vinculado à Secretaria Municipal da Saúde do


Recife/PE e foi institucionalizado pelo Decreto Municipal nº 19.808, de 3 de abril de 2003, tornando-se
uma política municipal de promoção da saúde em 2006, pela Portaria nº 122/2006. É importante des-
tacar que esse programa foi um dos que contribuíram para a implementação do Programa Academia
da Saúde.

117
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

O Programa Academia da Cidade tem como


principal característica a requalificação ou cons-
trução de espaços físicos públicos de convivência
e lazer, denominados polos, com estruturas que
favorecem a vivência de práticas corporais como
ginástica, dança, caminhada, corrida, jogos, brin-
cadeiras, além de palestras, oficinas, reuniões e
serviços de orientação nutricional, prescrição de
exercícios físicos e avaliação física. As atividades
ocorrem durante a semana (de segunda a sexta-
-feira) das 5h30 às 11h30 e das 14h às 20h em
praças, parques e avenidas do município.

O uso e a potencialização dos espaços públicos de lazer para a oferta de ações para a prática da ativi-
dade física são algumas características desse programa. O programa oferece as seguintes atividades:

▶ Aulas de ginástica e dança, corrida e caminhada.

▶ Rodas de diálogos relacionadas a temas sociais e de saúde.

▶ Festivais, serestas, jogos e passeios temáticos.

▶ Prescrição de exercícios e orientação nutricional a hipertensos, diabéticos, obesos e cardiopatas.

▶ Bloco Carnavalesco e São João do programa.

▶ Ações de comemoração ao Dia Mundial da Promoção da Qualidade de Vida.

▶ Seminário de Integração Usuários, Profissionais e Gestores.

▶ Estímulo à participação dos usuários em reuniões, fóruns, seminários promovidos pelo pro-
grama, conferências, instâncias de controles sociais e diversos setores internos e externos à
Secretaria Municipal da Saúde.

Em relação ao processo de planejamento e gestão do programa, vale destacar alguns aspectos im-
portantes: a realização de concurso público específico para o quadro de profissionais responsáveis
pela condução e oferta de atividades físicas, favorecendo a sustentabilidade das ações locais e a
compreensão do profissional de educação física enquanto profissional de saúde pública, mantendo o
alinhamento das atividades planejadas e implementadas com os atributos do SUS e da APS.

Os profissionais envolvidos As ações de educação em saúde


na promoção da atividade também foram implementadas,
física buscaram: possibilitando:

Ampliação dos conhecimentos acerca


Valorizar a cultura popular do sistema de saúde.
nas ações ofertadas.
Ganhos em autonomia no processo de
Gerar a identificação da tomada de decisões em saúde.
população com as aulas.

Aumentar o vínculo com os Empoderamento da população.


usuários.

118
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

Para os profissionais, a gestão priorizou espaços de educação permanente nos quais, além de encon-
tros visando o aumento de conhecimento, eram debatidas as ações importantes do programa, com
garantia de que todos os profissionais envolvidos fossem ouvidos, sejam profissionais da ponta ou da
gestão. Outro aspecto importante foi o aumento da compreensão dos profissionais envolvidos acerca
da importância social do PAC, ampliando o olhar sobre saúde, além da dimensão física.

Para os usuários, a valorização do saber popular em saúde foi um fator que ajudou a criar um
sentimento de pertencimento e autoconfiança. O controle social foi valorizado e considerado um
fator importante para que a população compreendesse os benefícios sociais do programa além dos
referentes à prática de exercícios físicos, e apresentasse a demanda por outros polos do programa
nas comunidades. Por exemplo: requalificação dos espaços de lazer, urbanização do local com sa-
neamento e iluminação pública.

SAIBA MAIS

Você pode ter mais informações em: https://dssbr.ensp.fiocruz.br/programa-


academia-da-cidade-do-recife-minimizando-contrastes-sociais/.

c) Programa Agita São Paulo

O Programa Agita São Paulo, lançado em dezembro de 1996, foi implementado por meio de um con-
vênio entre a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e o Centro de Estudos do Laboratório de
Aptidão Física de São Caetano do Sul (CELAFISCS). O planejamento inicial do Programa contou com
a parceria e assessoria de grupos internacionais experientes em promoção da atividade física, na
ocasião, o Center for Disease Control and Prevention (CDC), o Health Education Authority (Inglaterra)
e o programa Active (Austrália).

Outro fator-chave para a ampliação da munici-


palização do Programa Agita São Paulo foram
as parcerias firmadas entre as instituições go-
vernamentais, não-governamentais, instituições
privadas com e sem fins lucrativos, e a represen-
tação de diversos setores governamentais e não
governamentais como educação, esportes, saúde
e o Sistema S. As instituições parceiras assinaram
uma carta de intenções, em que manifestaram a
vontade de contribuir para as metas do Programa
Agita São Paulo, e chegou a reunir a implantação
de ações e programas em mais de 500 municípios.

O Agita São Paulo ocupou espaço no planejamento quadrienal da Secretaria Estadual de São Paulo e
foi incentivada a implementação dos indicadores de avaliação dos processos e resultados das ações.
Fazia parte da implementação do programa uma agenda de treinamentos regulares com o objetivo de
fortalecer a rede de equipes promotoras da atividade física.

A educação em saúde facilita e estimula a participação da população nos programas de atividades


físicas. Sabendo disso, o Programa Agita São Paulo desenvolveu para os participantes materiais educa-
tivos (folders, cartazes, pirâmides, adesivos, manuais), incluindo conteúdos de saúde que dialogassem
especificamente com cada grupo etário, desde escolares até idosos. O programa, desde seu início,
aplicou estratégias de marketing e de comunicação com o público-alvo.

119
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

O plano de ações do Programa Agita São Paulo combina ações permanentes, realizadas de forma
longitudinal, e ações pontuais, realizadas em datas comemorativas ou voltadas para um público espe-
cífico. Entre as ações permanentes estão a realização de reuniões mensais desde a sua implantação,
a manutenção de um interlocutor do programa nas 17 regionais de saúde do Estado de São Paulo, a
realização anual do fórum de boas práticas, encontros regionais, entre outras atividades.

Exemplos de ações pontuais são o “AGITA Trabalhador” celebrado no dia 1º de Maio para prestar
orientações de saúde e medir o nível de atividade física dos trabalhadores e o “AGITA Mundo” em
celebração ao dia Mundial da Atividade Física, quando há oferta de atividades físicas e incentivo do
estilo de vida ativo. Lembramos, é claro, que quaisquer ações que sejam planejadas e executadas
precisam de indicadores para que seja possível avaliar seus impactos, e no Programa Agita São Paulo
não foi diferente, dado que muitos são os resultados positivos encontrados nesses anos de existência.

Segundo o CDC, o programa foi custo-efetivo, pois todos os recursos investidos no Programa Agita São
Paulo foram recuperados. O Banco Mundial também analisou o programa e concluiu que o modelo
representava um potencial de economia de mais de 300 milhões de dólares ao ano no setor saúde.

No município de São Paulo, o Programa Municipal de Atividade Física Agita Sampa, de natureza per-
manente, foi instituído pela Lei nº 14.409, de 22 de maio de 2007 (Projeto de Lei nº 539/2006 com
regulamentação no Decreto Municipal nº 48.454, de 20 de junho de 2007). A institucionalização do
programa por meio de leis e decretos não garante sua sustentabilidade.

Mesmo sem recursos estaduais para a manutenção, a rede criada entre os municípios participantes,
as instituições e o CELAFISCS se apropriou do programa e mantém sua sustentação. Novamente, ve-
mos que a instituição de leis não garante a sustentabilidade dos programas.

d) Programa de Educação em Saúde de Dona Francisca/RS, experiência


de um município de pequeno porte

O Programa de Educação em Saúde de Dona Francisca/RS (município de pequeno porte), envolveu


treinamento dos ACS para promover a educação em saúde e intervenções voltadas aos comporta-
mentos relacionados à alimentação, à atividade física e ao controle do estresse no público dos 50
aos 80 anos de idade. O município tem como principal atividade econômica a agricultura, predomina
a religião católica – o que se tornou uma característica estratégica para o programa – e tem cerca de
3.500 habitantes. Há apenas uma Unidade Básica de Saúde (UBS) para atender à população.

A articulação para o programa envolveu as Universidades de Illinois (USA) e Federal de Pelotas (RS), a
prefeitura de Dona Francisca, a UBS e os ACS. A característica marcante deste programa foi a partici-
pação dos ACS, oito no total, e a utilização de recursos já existentes no município. O planejamento das
ações considerou a realidade local ao selecionar os ACS, que é uma estratégia com maiores chances
de sucesso, pois os ACS são atores essenciais que conhecem os costumes e problemas daquela comu-
nidade e têm a confiança da população local. A exigência foi que os ACS recebessem treinamento para
que se tornassem multiplicadores. Claramente, a valorização e o respeito a esse profissional devem
ser centrais nesta abordagem.

O treinamento dos ACS levou em consideração uma característica marcante da população que é a
religiosidade, dado que a maioria era católica, incluindo conteúdos religiosos nos encontros. Isso
aproximou os idosos das atividades. Esse diagnóstico da população-alvo foi muito relevante e estraté-
gico para que a comunicação e formulação do material fosse adaptada aos interesses dela, tornando
as ações mais significativas.

120
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

Os ACS receberam as apostilas do treinamento, e você pode acessar o conteúdo no link:


https://osf.io/qxd8y.

Como o programa envolvia encontros educacionais individuais e coletivos, os ACS realizam simulações
como parte do treinamento.

Atividades desenvolvidas:

▶ Qualificação dos ACS.

▶ Avaliação do estado de saúde, nutrição, atividade física e estresse.

▶ Conversas sobre metas pessoais a curto, médio e longo prazo pessoalmente e por telefone.

▶ Encontro educacional mensal em grupo.

▶ Leituras de materiais informativos.

▶ Distribuição de brindes e imagens de santos do catolicismo (santinho).

▶ Apoio dos especialistas das universidades.

O cronograma do programa, que é um item indispensável, continha avaliações dos participantes após
6 e 12 meses para observar as mudanças nos indicadores de saúde, nutrição, atividade física e estres-
se. Além disso, houve outra avaliação com os participantes, ACS e líderes comunitários por meio de
entrevistas, que objetivou conhecer os desafios e as potencialidades encontradas na implementação
do programa. A qualificação dos ACS foi considerada como o resultado a curto prazo do programa,
ao passo que a mudança nos comportamentos de alimentação, atividade física e controle do estresse
dos participantes foram os resultados de médio e longo prazo.

3.5 | Encerramento

Nesta Unidade foram apresentados os principais fatores que devem ser considerados no planejamen-
to e na implementação de ações, programas e políticas de promoção da atividade física, de maneira a
ampliar ou promover a efetiva oferta e o acesso a esse serviço na APS.

É importante destacar que o processo de plane-


jamento deve ser permanente, contínuo e par-
ticipativo, incluindo todos os atores: o controle
social, gestores, profissionais de saúde, comuni-
dade e áreas intersetoriais nessa construção.

Apesar de os orçamentos serem setoriais, o pla-


nejamento e execução das ações de atividades
físicas podem e devem articular com outros seto-
res e instituições. As chances de resolverem um
problema municipal em comum torna-se maior.
Vimos também que o controle social democratiza
os processos e facilita o caminho para o sucesso das ações/intervenções. Falamos sobre o papel do
profissional de educação física na APS, dos incentivos para contratação e da necessidade de integrá-lo
à equipe multiprofissional.

121
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

Também apresentamos as ferramentas que podem ser utilizadas para auxiliar na construção do pla-
nejamento. Foi apresentado o modelo lógico como possibilidade de utilização de maneira sistemática
e visual, de referência durante todo o planejamento, implementação e avaliação das ações, programas
e políticas.

Vimos que existem investimentos que funcionam para a atividade física e uma série de práticas exitosas
que promovem aumento da atividade física por meio de um processo planejado, replicável e susten-
tável, que garante e promove participação e autonomia. A equipe de planejamento deve considerar
os recursos necessários para aumentar a chance de alcançar os objetivos. Para isso, é importante
a articulação intersetorial, favorecendo as redes sociais e gerando propostas de programas, ações,
programas e políticas integradas entre todos os envolvidos.

No final da Unidade, você relembrou que não é coerente culpabilizar o usuário pela falta de adesão/
aderência às ações e aos programas oferecidos, pois o envolvimento com a atividade física está muito
além da vontade pessoal.

A tarefa de motivar, divulgar e aconselhar para


a prática de atividades físicas ocorre por toda a
rede, incluindo a equipe multiprofissional, que
deve estar atenta às preferências e caracterís-
ticas do público-alvo e contexto do território.
Obviamente, isso demanda carga-horária, pla-
nejamento, processos organizados e ajustados,
formação continuada, e dedicação para inserir
a atividade física nos tópicos de educação em
saúde e educação permanente.

A Unidade 4 tratará do próximo passo que suce-


de o planejamento e a ação, estamos falando da
etapa de monitoramento e avaliação. Uma vez
que as ações para promover atividades físicas estão em andamento, elas precisam ser monitoradas e
avaliadas para que haja clareza dos objetivos, processos e resultados. Do contrário, ficamos na incer-
teza e no escuro. A última Unidade deste curso é fundamental e encerra o ciclo da política pública. É o
passo que consegue verificar se houve êxito nas ações de promoção da atividade física e se há ou não
a necessidade de rever as estratégias.

Nós, Maria Cecília e Margarethe, nos colocamos à disposição e nos despedimos na Unidade 3. Nós
esperamos que você tenha aprendido algo novo e que ela tenha contribuído com o surgimento de
novas ideias para o desafio de gerenciar a APS. Parabenizamos você pelo esforço e comprometimento
com a pauta de promoção da atividade física! Estamos juntos neste desafio, contamos com você!

122
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E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

3.6 | Referências

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org/10.17765/2176-9206.2020v13n3p503-513.

BORDE, R.; SMITH, J. J.; SUTHERLAND, R.; NATHAN, N.; LUBANS, D. R. Methodological considerations
and impact of school-based interventions on objectively measured physical activity in adolescents: a
systematic review and meta-analysis: Effects of measured PA interventions. Obesity Reviews, v. 18,
n. 4, p. 476–490, abr. 2017.

BRASIL, Ministério da Saúde. Portaria de Consolidação nº 3, de 28 de setembro de 2017.


Consolidação das normas sobre as redes do Sistema Único de Saúde.

BRASIL, Ministério da saúde. Portaria de Consolidação nº 5, de 28 de setembro de 2017.


Consolidação das normas sobre as ações e os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde.

BRASIL, Ministério da saúde. Portaria nº 2.979, de 12 de novembro de 2019. Institui o Programa


Previne Brasil, que estabelece novo modelo de financiamento de custeio da Atenção Primária à
Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde, por meio da alteração da Portaria de Consolidação nº
6/GM/MS, de 28 de setembro de 2017.

BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Recomendações para o


Desenvolvimento de Práticas Exitosas de Atividade Física na Atenção Primária à Saúde do
Sistema Único de Saúde [recurso eletrônico]. Brasília: Ministério da Saúde, 2021.

BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Promoção


da Saúde. Guia de Atividade Física Para a População Brasileira: recomendações para gestores e
profissionais de saúde [recurso eletrônico]. Brasília: Ministério da Saúde, 2021

BRASIL. Relatório de Desenvolvimento Humano Nacional - Movimento é Vida: Atividades


Físicas e Esportivas para Todas as Pessoas: 2017. Brasília: Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento, 2017.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM de nº 2.488 de 21 de outubro de 2011. Aprova a Política


Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização da
Atenção Básica, para a Estratégia Saúde da Família (ESF) e o Programa de Agentes Comunitários de
Saúde (PACS). http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt2488_21_10_2011.html.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância,


Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids e das Hepatites Virais.
Cinco passos para o monitoramento e avaliação das ações de IST, HIV/AIDS e Hepatites Virais.
Brasília: Ministério da Saúde, 2017

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.


Política Nacional de Promoção da Saúde: PNPS: Anexo I da Portaria de Consolidação nº 2, de 28
de setembro de 2017. Consolida as normas sobre as políticas nacionais de saúde do SUS. Brasília:
Ministério da Saúde, 2018. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_promocao_
saude.pdf.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Secretaria de Vigilância em Saúde. Glossário


temático: promoção da saúde. Brasília, 2013.

123
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

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124
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN3

UNGHERI, B. O.; ISAYAMA, H. F. Controle e participação social no programa esporte e lazer da cidade
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125
UNIDADE 4
MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO COMO
FERRAMENTAS DO PROCESSO DE GESTÃO
DE AÇÕES, PROGRAMAS E POLÍTICAS DE
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA
Fabio Fortunato Brasil de Carvalho
Luis Carlos de Oliveira
Evelyn Helena Corgosinho Ribeiro
UNIDADE 4
OBJETIVO GERAL

Ao final desta Unidade, você deverá ser capaz de


utilizar estratégias e métodos para possibilitar o de-
senvolvimento de ações novas ou complementares
a um processo de monitoramento e avaliação das
ações de planejamento e implementação de ações,
programas e políticas de promoção da atividade físi-
ca relacionados ao alcance das metas contidas nos
Planos Municipais e Distrital de Saúde no contexto
do Sistema Único de Saúde.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

▶ Especificar estratégias para o monitoramento e


avaliação de ações, programas e políticas de pro-
moção da atividade física utilizando os sistemas
de informação do Ministério da Saúde;

▶ Identificar instrumentos, indicadores e estra-


tégias de monitoramento e avaliação de ações,
programas e políticas de promoção da atividade
física, com base nas metas propostas nos instru-
mentos de gestão locais;

▶ Entender como as ações de monitoramento e


avaliação integram o processo de formulação
e implementação dos instrumentos de plane-
jamento e de gestão dos Planos Municipais e
Distrital de Saúde no que tange à promoção da
atividade física.

Carga horária recomendada para esta unidade:


15 horas
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4.1 | Introdução da unidade

Nesta Unidade apresentaremos como a atividade física, enquanto a ação de cuidado e a promoção
da saúde podem ser potencializadas e ampliadas em seus benefícios. Iniciaremos com a pergunta
de avaliação, seguida da construção de indicadores e do processo de monitoramento e avaliação
das ações, dos programas e das políticas de promoção da atividade física. A pergunta de avaliação
é relevante para identificar com clareza o que se pretende avaliar e para pactuar coletivamente os
indicadores qualitativos e/ou quantitativos de processo e resultado.

Apresentaremos também os sistemas de informação do Ministério da Saúde e de outras fontes, em


especial da gestão municipal, que poderão ser estratégias para identificar e utilizar informações dis-
poníveis dos territórios, das unidades de saúde e de outros equipamentos sociais com vistas a apoiar
a gestão na formulação, implantação e implementação de ações, programas e políticas de promoção
da atividade física.

Discutiremos exemplos de informações que poderão ser produzidas, ou coletadas, como o número
de habitantes, de praticantes de atividade física, de condições de saúde, de morbidade, dentre outras
disponíveis.

Em seguida, abordaremos a sistematização das informações e a análise dos dados a partir da organi-
zação das informações coletadas, sejam descritivas ou analíticas. É importante que esses processos
ocorram em momentos coletivos e participativos de análise, garantindo os diferentes pontos de vista,
de maneira que se possa contribuir para a reflexão sobre a transformação dos dados coletados em
informações úteis que possam ajudar a guiar as práticas de saúde.

O conhecimento e apropriação pelos profissionais de saúde, gestores e população


do contexto do território é essencial para identificar ações e estratégias de monitora-
mento e avaliação, a fim de dar respostas às demandas e necessidades locais.

Confira no esquema as possibilidades de conhecimento desta unidade.

Você vai aprofundar conhecimentos também sobre a comunicação dos


resultados, que pode ser realizada de diferentes formas (exposição dialogada,
gráficos, tabelas, relatórios etc.) e por meio de diferentes espaços, como reuniões
da prefeitura setoriais e intersetoriais, audiências do poder legislativo, redes
sociais virtuais etc.

Vamos, inclusive, compartilhar os resultados que podem auxiliar você na


compreensão sobre potenciais aspectos, positivos e negativos, bem como
identificar caminhos de melhoria que aprimorem as ações, os programas e as
políticas avaliadas, em um contexto baseado na pergunta avaliativa.

Por fim, será destacada a importância da cocriação de espaços coletivos de


tomada de decisão no monitoramento e na avaliação para dar sustentabilidade
aos processos com os atores envolvidos: gestores, profissionais da saúde,
população usuária dos serviços de saúde, dentre outros.

128
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN4

É importante destacar que reformulações ou novas metas podem ser identificadas e inseridas de acor-
do com as demandas e necessidades no seu território. Assim, cabe reforçar que o aumento do acesso
à atividade física entre pessoas de todas as idades, um dos principais objetivos de ações, programas e
políticas relacionadas ao tema, traz benefícios individuais e coletivos e para o meio ambiente e para a
economia, dentre outras áreas. Desta forma, os processos de monitoramento e avaliação podem ser
essenciais para contribuir na efetivação desse objetivo. Vamos adiante e bons estudos nesta Unidade!

4.2 | Monitoramento e avaliação: elaboração da pergunta de avaliação e de indicadores de


acompanhamento de ações, programas e políticas de promoção da atividade física

A partir de agora, vamos acompanhar a importância de elaborar uma pergunta norteadora de ava-
liação e estabelecer indicadores de acompanhamento de ações, programas e políticas de promoção
da atividade física, fatores relevantes tanto para o monitoramento quanto para a avaliação. Para tal,
convidamos você a fazer uma reflexão.

Partiremos da ideia de que avaliar faz parte da vida. Por exemplo, no dia a dia
quando fazemos a opção por um caminho e não por outro, esta escolha foi
baseada num processo avaliativo. Mas, como ele já é usual e corriqueiro, não
pensamos nele como uma avaliação. Em geral, ouvir a palavra “avaliação” nos
remete ao período escolar quando por meio de provas e testes havia a tentativa
de aferição do nosso conhecimento. Muitas vezes, vinham com julgamentos
negativos e ficava a ideia de punição ou algo semelhante.

Na área da saúde, em geral, a avaliação é percebida como mais uma etapa do planejamento, como
um procedimento meramente burocrático de prestação de contas, sem conexão com as necessidades
e demandas cotidianas da gestão. Neste curso, nos parece essencial e oportuno ressignificar positi-
vamente o monitoramento e a avaliação. Dito isso, agora convidamos você a compreender o que é
monitoramento e avaliação e como eles se conectam.

Monitoramento

O monitoramento está relacionado ao


acompanhamento do desenvolvimento de ações,
programas e políticas ao longo do tempo, no cotidiano
das práticas dos serviços de saúde. A partir do registro,
da anotação e da observação, no dia a dia do trabalho,
permite-se a tomada de decisões de forma ágil, a fim de
refazer, quando necessário, os rumos do que foi

Ao tornar o monitoramento um ato de acompanhamento das variadas informações e dados que


são produzidos no cotidiano pode-se contribuir para a consolidação e a sustentabilidade de ações,
programas e políticas. O monitoramento é como o acompanhamento da situação de forma rotineira
para que não seja necessário trocar o pneu furado com o automóvel andando, ou seja, ele permitirá
perceber que o pneu está esvaziando e que medidas devem ser realizadas mais rapidamente.

129
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN4

Assim, as ferramentas e estratégias de monitoramento local são indispensáveis, pois permitem,


além de acompanhar, gerar informações que beneficiem e motivem a equipe e a comunidade. Por
exemplo, conhecer a percepção das pessoas sobre as ofertas de atividade física na UBS, mensurar
quantas pessoas realizaram atividades físicas em determinado período, ou quantos profissionais se
envolveram com as atividades, podem ser informações úteis no monitoramento.

Avaliação

Já a avaliação é mais ampla e macro em termos de


operacionalização em relação às ações, aos programas
e às políticas, e tem como objetivo entender os
resultados de processos da implementação de
determinada iniciativa, além de buscar conhecer o
impacto do que foi realizado. Visa, em geral, provocar
mudanças já que, por mais que a iniciativa tenha sido
bem formulada e operacionalizada, há diversos
elementos da realidade das pessoas, dos territórios e
serviços que demandam ajustes para que as iniciativas
possam ter mais êxito na busca de melhores resultados.

Os resultados e impactos podem ser influenciados por fatores fora do alcance dos profissionais da
saúde, e isso deve estar no radar da avaliação. Por exemplo, podem ser objeto de investigação as
causas das variações em indicadores de resultado, como o aumento ou não (frequência) da prática de
atividade física entre os beneficiários das práticas, as mudanças na percepção das pessoas em relação
às barreiras para a prática e os indicadores de impacto, como taxas de morbidade e mortalidade por
doenças cardiovasculares.

Monitoramento Avaliação

Faz parte do processo de avaliação e Possibilita emitir um juízo de valor acerca da ação,
tem foco em atividades mais rotinei- programa ou política, pois se apoia em visão
ras a partir do acompanhamento, panorâmica de todas as informações coletadas,
registro, anotação e documentação ampliando a compreensão acerca de tudo que foi
de forma sistemática e verificação monitorado. Diferencia-se do monitoramento pela
contínua. Assim, possibilita fazer complexidade (mais sofisticada) da análise realizada.
ajustes e mudar o rumo de uma Assim, determina o mérito ou o valor de uma ação ao
ação em tempo oportuno para buscar entender seus efeitos e compreender seus
subsidiar a tomada de decisão. resultados (de processo e finais) e impacto.

Fonte: OPAS e Ministério da Saúde 2023 (no prelo).

Assim, o ato de monitorar integra o processo de avaliação. De posse de dados e informações obtidas
ao longo do processo de formulação, implementação e operacionalização de ações, programas e
políticas, ficará facilitado o processo avaliativo quando for necessário realizá-lo. Sendo assim, ambos
permitem dar melhores respostas às necessidades e demandas dos envolvidos com vistas tanto a
valorizar o trabalho que foi feito quanto a cocriar uma cultura avaliativa de busca constante por me-
lhorias de ações, programas e políticas.

130
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN4

Para a finalidade deste curso, é importante in-


corporar mais um elemento: a participação junto
aos processos de monitoramento e avaliação.
Tais processos pressupõem o envolvimento das
pessoas que terão alguma interferência e capa-
cidade de impactar nos resultados da iniciativa,
desde os profissionais de saúde até as pessoas
que serão beneficiadas, tornando o processo
mais compartilhado, colaborativo e participativo.

O objetivo é ampliar a transparência e a efetividade dessas iniciativas e possibilitar aos envolvidos


repensar a ação de modo que possa facilitar mudanças identificadas como necessárias, já que contará
com visão e percepção dos diferentes atores que vivenciam as ações, os programas e as políticas.
Para isso, é essencial a criação e/ou o fortalecimento de espaços de escuta, de diálogo e de interação
de modo que os envolvidos, em especial as pessoas usuárias, possam colaborar, apoiar, legitimar a
avaliação proposta e, sobretudo, comunicar e utilizar os resultados para tomar decisões que busquem
fortalecer ou redirecionar a ação a partir dos problemas identificados.

É importante que você lembre que o processo de monitoramento e avaliação requer recursos huma-
nos e financeiros e, portanto, é necessário prevê-los. Ao debater a promoção da atividade física no
município, deve-se lembrar da necessidade de incluir nos planejamentos as horas de trabalho dos
profissionais dedicados a essas ações e algum recurso financeiro.

A maioria dos municípios não possui um setor específico para o monitoramento e a avaliação. Neste
caso, o monitoramento e a avaliação devem ser incentivados no processo de trabalho de diferentes
áreas, setores e grupos interessados. Uma das possibilidades é constituir Grupos de Trabalho (GT),
que eventualmente podem contar com o apoio da gestão estadual, com os envolvidos no monitora-
mento e na avaliação, o que tem sido uma estratégia metodológica utilizada em iniciativas da área de
educação e da saúde, entre outras.

4.2.1 | Pergunta avaliativa no âmbito da APS no SUS

Na Unidade 3 discutimos as ferramentas para auxiliar a construção do Planejamento Estratégico


Situacional (PES) e a potencialidade de envolver os atores interessados, garantindo assim a ampla
participação. As perguntas ali formuladas também auxiliavam na discussão sobre o monitoramento e
avaliação. Vamos relembrá-las.

O QUÊ? QUEM? ONDE? QUANDO?

POR QUÊ?
COMO? QUANTO CU
STA?

Vale lembrar que quando as ações, os programas e as políticas já vêm com estratégias de monito-
ramento e avaliação definidos e indicadores formulados pelo Ministério da Saúde ou Secretarias de
Estado é sempre possível revê-los e ampliá-los.

131
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN4

No decorrer deste curso abordamos a inclusão das iniciativas de atividade física nos instrumentos
da gestão pública e do SUS, como o Plano Municipal e Distrital de Saúde. Discutimos a ampliação da
oferta de ações de promoção da atividade física para a população em geral ou para o grande número
de pessoas (alta prevalência) com sobrepeso e obesidade acompanhadas pelas unidades de saúde.
Você acompanhou também o desafio da baixa participação da população.

Os atores envolvidos poderiam questionar sobre iniciativas em curso ou aquelas que estão sendo
planejadas como, por exemplo: “Por que algumas pessoas participam e outras não?” ou “O que faz
uma pessoa vir e a outra não?”. Assim, criamos duas perguntas: “Quais ações poderiam ser criadas ou
fortalecidas para ampliar o acesso e a permanência das pessoas nessas atividades?” e “Como pode-
mos monitorar e avaliar processos e resultados desejados ou alcançados?”.

Município de Beira

No município de Beira, a equipe de saúde passou a discutir de forma mais ampla como a cidade pla-
nejava a promoção da atividade na produção do cuidado em saúde. O município possui três distritos
e olharemos um deles, que possui três unidades de saúde e em duas delas há a oferta de atividade
física. Atualmente, 20 pessoas participam regularmente das atividades na UBS Flores, 15 na UBS Coli-
nas e em ambas em torno de 10 a 15 esporadicamente, respectivamente são 28 e 20 participantes por
dia na maior parte das vezes, e sabemos que aproximadamente 100 pessoas frequentam a UBS Flores
e 120 na UBS Colinas diariamente. Não há oferta de atividades na UBS Campos. A equipe de saúde
reconhece que o número absoluto de participantes é um avanço, mas deseja ampliar a participação,
incluindo grupos que nunca experimentaram programas estruturados de atividade física.

Participantes dos programas das unidades de saúde do município de Beira:

Usuários que
Participantes
Unidade de Saúde Inscritos frequentam a
por dia
unidade por dia

Flores 35 28 100

Colinas 25 20 120

Campos – – 80

A equipe olhou mais detalhadamente o que estava de fato sendo ofertado nas unidades de saúde em
relação aos horários e às modalidades, o perfil de participantes, o perfil da população atendida nas
unidades de saúde, os recursos humanos (profissionais de saúde envolvidos nas ações), os espaços
nos quais ocorriam as atividades e se a aquisição de insumos era necessária. São ações relacionadas
ao monitoramento, certo?

Você pode se perguntar se a equipe já deveria saber previamente dessas informações pois, caso con-
trário, como as ações estariam ocorrendo? Pois é, operacionalizar ações, programas e políticas sem se
atentar às suas particularidades e, ainda, sem monitorar, pode resultar em desfechos não desejados
e/ou fragilizados, deixados usualmente ao acaso.

A partir do problema informado anteriormente e da constatação que os processos de monitoramento


e avaliação participativos são importantes, um Grupo de Trabalho (GT) foi constituído por:

▶ técnicos da gestão municipal;

132
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E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN4

▶ gerentes das unidades;


▶ representantes dos usuários;
▶ representantes dos profissionais;
▶ representantes da universidade;
▶ representantes de outros setores do governo.

A proposta de formar um GT é justamente porque o monitoramento e a avaliação, quando realizados


de forma participativa, consideram um cenário de colaboração e pertencimento ao processo, em que
todos são corresponsáveis na busca de soluções.

Tenham capacidade de tomar decisões.


Algumas características
dos integrantes do GT Possuam influência no território.
merecem destaque e
são desejáveis. Mas não Tenham participado da formulação ou implementação da ação.
são condicionais, ou
seja, não é necessário Tenham interesse e tempo disponível para
ter o conjunto de todas acompanhar o monitoramento e a avaliação.
as características para
Sejam preferencialmente pessoas com engajamento no
participar, sejam
tema a ser avaliado, em especial as pessoas usuárias das
pessoas, coletivos ou
atividades e os profissionais de saúde que participam do
instituições.
seu desenvolvimento.

O GT, após algumas reuniões, pactuou a pergunta de avaliação, considerando as diferentes perspec-
tivas e conhecimentos dos participantes, cada um com o olhar voltado aos conhecimentos, ações e
necessidades cotidianas:

O que contribuiu ou dificultou o acesso das pessoas às iniciativas das unidades de


saúde do município de Beira que ofertam atividade física?

O monitoramento e a avaliação como processos participativos pressupõem a identificação das per-


cepções, dos valores e das questões de todos os grupos envolvidos (gestores, profissionais, usuários
e parceiros). Estes grupos devem ser impactados de alguma forma pelas ações, programas e políticas,
e devem ter interesse na utilização efetiva dos resultados.

Evitar que as respostas se limitem a “sim ou não”. Sugere também


Para produzir complementar com as indagações: “por quê?”, “como?” e “onde?”.
uma pergunta
avaliativa, Refletir sobre os aspectos que o grupo deseja monitorar e avaliar,
sugere-se: ou seja, o contexto, o processo ou o resultado.

Refletir sobre os resultados alcançados e qual foi a contribuição das


atividades ou iniciativas para obtê-los.

Observar se atende aos critérios relacionados à formulação,


utilização de linguagem clara e compreensível.

Observar medidas qualitativas e quantitativas úteis para a tomada


de decisão e relevantes para as pessoas envolvidas.

Pactuar os indicadores de processo e resultado.

133
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN4

No próximo item, após refletirmos sobre a pactuação de indicadores, retomaremos o exemplo apre-
sentado. Acompanhe!

4.2.2 | Pactuação de indicadores de processo e resultado

Indicadores são parâmetros qualitativos e/ou quantitativos que servem para detalhar em que medida
os objetivos de ações, programas e políticas foram alcançados, em um determinado período, território
e público. De forma mais ampla, podemos dizer que é uma forma de representar quali e quantitati-
vamente fenômenos, ou seja, dimensionar o que ocorre a partir de uma ideia abstrata. Por exemplo,
o indicador Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é uma forma de quantificar fenômenos sociais
sintetizados pela ideia do “desenvolvimento humano” na perspectiva de renda, educação e saúde,
conforme conceito definido na ONU.

LINKS

Para saber mais sobre o IDH acesse: www.undp.org/pt/brazil/idh

Quando nos referimos a indicadores, podemos dividi-los em subgrupos. Os indicadores de caráter


geral nos fornecem parâmetros para um potencial monitoramento e avaliação sobre o alcance e a
abrangência de ações, programas e políticas. Como já indicado na Unidade 3, os indicadores podem
ainda ser quantitativos, cujos valores numéricos são prioritariamente considerados para efeito de
avaliação, podendo ser expressos em números absolutos, percentual, taxas, índices, coeficientes,
razões ou chances; e qualitativos, voltados mais a aspectos de ações políticas ou administrativas a
partir dos sentidos e significados dos envolvidos sobre as ações realizadas.

Indicadores quantitativos Indicadores qualitativos

Valores numéricos (prioritariamente


considerados para efeito de avaliação): Voltados a aspectos de ações políticas
ou administrativas.
Números absolutos Coeficientes
Elaborados a partir de sentidos e
Percentual Razões
significados dos envolvidos sobre as
Taxas Chances
ações realizadas.
Índices

Veja, a seguir, um quadro que resume algumas taxonomias de indicadores.

Classificação dos Indicadores


Exemplos
(não excludentes)

Área temática: pode haver classificação em mais Taxa de mortalidade por DCNTs – Doenças Crô-
de uma área: saúde, educação, habitação etc. nicas Não Transmissíveis.

• Objetivos: Internação por agravos do diabe-


• Objetivos: referem-se a ocorrências concre-
tes, hipertensão e doença coronariana.
tas e empíricas.
• Subjetivo: Proporção de pessoas adultas que
• Subjetivos: referem-se a medidas construí-
atingem a recomendação de AF da OMS no
das a partir de avaliações subjetivas.
tempo de lazer.

134
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E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN4

Classificação dos Indicadores


Exemplos
(não excludentes)

• Descritivos: descrevem características e


• Descritivos: Taxa de Obesidade nas diferen-
aspectos da realidade empírica, baixos signifi-
tes faixas etárias da população.
cados valorativos e mais consensuais.
• Normativos: Proporção de pessoas que pra-
• Normativos: refletem juízos de valor ou
ticam atividade física no lazer e que habitam
critérios normativos de dimensões sociais
regiões de alta vulnerabilidade social.
estudadas.

• Simples: construídos a partir de uma estatís-


tica social específica.
• Simples: Renda familiar.
• Compostos ou Sintéticos: elaborados a par-
• Compostos ou Sintéticos: Índice de Desen-
tir da agregação de dois ou mais indicadores
volvimento Humano (IDH).
simples, referidos a uma mesma ou a diferen-
tes dimensões da realidade social.

• Estoque: relaciona-se à medida de uma de- • Estoque: Anos de escolaridade, esperança de


terminada dimensão social em um momento vida ao nascer, proporção de pessoas que se
específico. deslocam ativamente para trabalho.
• Performance: abrange mudanças entre dois • Performance: Aumento da expectativa de
momentos distintos. vida relacionado ao histórico de atividade.

• Relativo: valor depende de parâmetro, con- • Relativo: Proporção de crianças fisicamente


forme exemplo. ativas no tempo de lazer.
• Absoluto: valor em si, não depende de parâ- • Absoluto: Total de crianças fisicamente ativas
metro. no tempo de lazer.

Indicadores de Monitoramento
Exemplos
de políticas e programas sociais

Insumo: medidas associadas à disponibilidade Número de médicos, enfermeiros, profissionais


de recursos humanos, financeiros ou equipa- de educação física; orçamento previsto; número
mentos alocados em um programa social. de materiais lúdicos etc.

Processo: indicadores intermediários que


traduzem em medidas quantitativas o esforço Número de cidadãos cadastrados nos progra-
operacional de alocação de recursos humanos, mas de atividade física; Número de trabalhado-
físicos e financeiros para a obtenção de melho- res para a realização do cadastro.
rias efetivas de bem-estar.

Produto: mensura as entregas de benefícios,


Número de atividades realizadas; número de
bens e serviços realizados em um programa ou
cidadãos atendidos/atividades.
política.

Resultado: vinculados aos objetivos finais dos


Taxa de participação nos programas de ativida-
programas públicos, que permitem avaliar a efi-
de física.
cácia do cumprimento das metas especificadas:

Impacto: referem-se às dimensões empíricas


da realidade social, resultantes de processos
Taxa de participação comunitária.
sociais complexos ou avanço e retrocessos de
políticas sociais implementadas.

135
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Critérios de Avaliação Exemplos

Montante de orçamento gasto para implemen-


tação do programa de atividade física frente
à ampliação de acesso que oportunizará (ou
Eficiência: cálculo de custo/benefício dos recur-
outro benefício que se quer auferir). Trata-se de
sos utilizados. Avalia os efeitos do programa em
cálculo de uma relação “custo/benefício” (gasto
termos de justiça social
realizado nas atividades/mês; gasto realizado/
por equipamento, custo de operação de cada
projeto etc.).

Eficácia: cálculo da distância entre o realizado e Taxa de participação; taxa de cobertura popula-
a meta planejada. cional no território.

Efetividade: indica mudanças em dimensões Indicadores de bem-estar social, criminalidade,


planejadas ou não (inesperadas). lazer, esporte etc.

Fonte: adaptado de Jannuzzi (2017).

Aqui retomamos o exemplo apresentado anteriormente na Unidade 3 ao trazer o problema e os indi-


cadores relacionados à baixa participação da população nas atividades físicas no tempo livre que po-
dem fazer parte do processo de planejamento. O problema permite fazermos muitas perguntas, nesta
Unidade retomamos a pergunta de avaliação: “O que contribuiu ou dificultou o acesso das pessoas às
iniciativas das unidades de saúde do município de Beira que ofertam atividade física?”. A seguir, veja o
caso do município de Beira e leia a descrição da pergunta desse problema com os indicadores.

Município de Beira

Problema: baixa participação da população nas atividades físicas no tempo livre.

Pergunta de avaliação: o que contribuiu ou dificultou o acesso das pessoas às iniciativas das unida-
des de saúde do município de Beira que ofertam atividade física?

Exemplos de indicadores:

• Taxa de pessoas adscritas na unidade de saúde que acessaram as práticas de atividade física após
o primeiro aconselhamento dado por um profissional de saúde da unidade de saúde.

• Média de usuários adscritos na unidade de saúde participantes das ações de atividades físicas
oferecidas pelo município.

• Frequência semanal de participação dos usuários adscritos na unidade de saúde nas ações de
atividade física.

• Percepção da participação da população pelos trabalhadores de saúde da unidade de saúde.

• Percepção da importância da atividade física pelos usuários adscritos na unidade de saúde.

• Existência de registro de proposições e questões relevantes dos usuários adscritos na unidade de


saúde e/ou trabalhadores da unidade de saúde em relação à participação na prática de atividade
física.

• Nível de participação intersetorial (presença nas reuniões, votação, parcerias estabelecidas, dis-
posição para dar opinião e interesse no processo) na construção/manutenção das práticas de
atividade física.

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PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
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Algumas perguntas podem ser feitas para ajudar na construção dos indicadores:

▶ Como podemos saber se alcançamos um resultado ou se as mudanças estão seguindo o pla-


nejamento proposto?

▶ Como reconhecer quando um resultado ou mudança foi alcançado?

▶ Como isto poderia ser observado e medido quanti e qualitativamente?

PARA PENSAR E PLANEJAR


O indicador é uma mensuração que reflete uma determinada situação. Os
eventos (os atendimentos, por exemplo) podem ser medidos por estatísticas
públicas (número de atendimentos, número de pessoas atendidas etc.). As
estatísticas públicas podem gerar indicadores que expressam uma relação
(taxa de cobertura da população atendida = percentual da população atendida/
população total).
A existência de boas estatísticas públicas que fazem parte do cálculo de indica-
dores depende dos dados criados pelos profissionais de saúde que atuam nos
territórios, que observam os eventos (participação, realização das atividades,
diálogos etc.) como fontes para gerar formas de medição – número de partici-
pantes, de profissionais, de atividades realizadas por modalidade (dança, jogos
etc.), de rodas de conversa ou reuniões, de participantes dessas atividades
etc. Nesses exemplos pensamos em estatísticas públicas que estão na base da
criação de indicadores de processo, ou seja, que medem os esforços envolvidos
nas ações.

SAIBA MAIS

O Incentivo de Atividade Física, uma das possibilidades de solicitar recursos do


Ministério da Saúde para a promoção da atividade física na APS, estabeleceu
como metas para o recebimento de recursos, a depender do tipo de unidade de
saúde, um quantitativo de fichas de atividade coletiva que contemplem ações
de práticas corporais e de atividade física registrada no Sisab. Ou seja, um dos
indicadores que será acompanhado será o referido preenchimento.

Portaria GM/MS Nº 1.105, de 15 de maio de 2022, disponível em:


https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2022/prt1105_17_05_2022.html

Portaria GM/MS Nº 2.103, de 30 de junho de 2022, disponível em:


https://brasilsus.com.br/wp-content/uploads/2022/07/portaria2103.pdf

Portaria GM/MS Nº 3.872, de 26 de outubro de 2022, disponível em:


https://www.in.gov.br/web/dou/-/portaria-gm/ms-n-3.872-de-26-de-outubro-de-2022-440258107

Agora, convidamos você a pensar em uma importante pergunta: quais dados primários possuímos a
partir da situação descrita?

As informações das unidades de saúde, das atividades desenvolvidas, como o número de profissionais,
o número de dias e horários na semana nos quais as atividades são ofertadas, o número de usuários
por dia são alguns dos dados primários que irão auxiliar você na resolução do problema.

137
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Município de Beira

Informações das unidades de saúde e das atividades desenvolvidas:

Usuários que
Unidade de Número Participantes
Atividades Profissionais frequentam a
saúde de dias por dia
unidade por dia

Flores Dança 1 1 28 100

Colinas Caminhada 1 2 20 120

Sem
Campos — — — —
atividades

Para responder à pergunta avaliativa “O que contribuiu ou dificultou o acesso das pessoas às iniciativas
das unidades de saúde do município de Beira que ofertam atividade física?” foi inicialmente pensado e
analisado a taxa (percentual) de participação (número de participantes ÷ número de pessoas que
frequentam a unidade por dia x 100).

Taxa de participação:
• Unidades de Saúde Flores = 28%
= 28 (número de participantes) ÷ 100 (número de pessoas que frequentam a unidade) x 100
• Unidades de Saúde Colinas = 17%
= 20 (número de participantes) ÷ 120 (número de pessoas que frequentam a unidade) x 100

REFLEXÃO
Quais outros indicadores você visualiza a partir da sua prática e da realidade
local?

Poderíamos nos perguntar:

▶ Qual é a capacidade de atendimento de cada profissional de saúde ou da equipe que oferta as


atividades?
▶ Quantas pessoas poderiam ser atendidas sem comprometer a qualidade das atividades?
▶ Quantas atividades ele conseguiria ofertar por semana?
▶ Quais as informações básicas do programa como os objetivos, modalidades, horários etc.
chegaram à população interessada e nos profissionais?
▶ Houve práticas de capacitação e educação permanente que deram segurança para os profis-
sionais de saúde trabalharem?
▶ Há processos internos de monitoramento e avaliação que possibilitem correção e adequação
das práticas?
▶ Qual o perfil das pessoas que frequentam a unidade e daqueles que participam das atividades:
média de idade, sexo, raça/cor, renda, escolaridade, estado nutricional, comorbidades, benefi-
ciários de programas de transferência de renda etc.

138
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Acompanhe a pactuação do GT, a partir dos indicadores, no município de Beira:

Município de Beira

A partir desses indicadores, o GT pactuou a necessidade de realizar um diagnóstico sobre como as


ações estavam funcionando e, também, criar mecanismos para que os processos de monitoramento
e avaliação se tornassem perenes, mesmo quando esse grupo não existisse mais, a partir da incor-
poração no processo de trabalho da equipe da gestão municipal da saúde, sem abrir mão do caráter
participativo. Após a análise inicial, foi identificado que:

▶ Não havia conexão entre as ações, ainda que fossem realizadas em territórios próximos do
mesmo distrito do município Beira.
▶ Na UBS Flores, a oferta de atividade física era realizada por um profissional de educação física
cedido de um programa da Secretaria de Esporte e Lazer, a partir da intervenção de um líder
comunitário, uma vez por semana no início da noite. Já na UBS Colinas, a oferta de atividade
física era realizada por um Agente Comunitário de Saúde (ACS) duas vezes por semana, apenas
pela manhã, e na praça onde a unidade de saúde está situada.
▶ Na UBS Flores, a atividade física ofertada era dança e ocorria no pátio. Na UBS Colinas, era
caminhada sem supervisão profissional, apenas a partir da mobilização (anúncio e convite) do
profissional. Em dias chuvosos as atividades não funcionavam.
▶ Havia pedidos da comunidade, para que as atividades físicas fossem ofertadas em outros ho-
rários, para que mais pessoas pudessem participar.
▶ O perfil de participantes envolvia apenas mulheres com alguma Doença Crônica Não Transmis-
sível (DCNT), possivelmente indicando que a recomendação de participação se dava a partir da
condição de saúde, o que pode ser um fator limitante.
▶ As atividades físicas ofertadas não contavam com nenhum tipo de insumo ou material forneci-
do pela gestão municipal. Os profissionais levavam caixas de som que possuíam.
▶ Na UBS Campos não havia oferta de atividade física, tinha um perfil com muitas pessoas com
DCNTs e interesse da equipe de saúde em iniciar alguma ação de atividade física.
▶ Seria feita uma reavaliação dessa análise inicial após 6 meses.

Pontos positivos:

▶ Iniciativa própria de profissionais, o que indica envolvimento e interesse pela promoção da


atividade física.
▶ Atividades de baixo custo e sem necessidade de grandes investimentos.
▶ Possibilidade de ampliação do número de participantes a partir da oferta em outros horários.
▶ Melhoria na estrutura e insumos para realização das atividades físicas.
▶ O início da oferta de atividades na UBS Campos.

Pontos negativos:

▶ Baixo percentual de pessoas que estão se beneficiando das atividades físicas.


▶ Pouco envolvimento de homens e adolescentes nas atividades.
▶ Convites e indicação de participação apenas para quem possuía alguma DCNT.
▶ Falta de apoio da gestão municipal no fornecimento dos materiais necessários para a realiza-
ção das atividades físicas.

139
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN4

REFLEXÃO
Quais outros pontos positivos e negativos você imagina que poderiam explicar
o baixo envolvimento dos usuários? E no seu município, é diferente ou há seme-
lhanças com o exemplo citado?

Aqui destacamos que os territórios são o ponto de partida para que o GT possa pensar no planeja-
mento, no monitoramento e na avaliação das intervenções relacionadas à análise das condições de
saúde das populações, pois um olhar atento para sua dinâmica permite a organização do processo de
trabalho com base nas necessidades e demandas de saúde da população.

A partir do exposto, foi pactuado pelo GT:

▶ Na UBS Flores, a aula de dança ocorrerá duas vezes por semana, em um horário que permita
a participação das pessoas, após a jornada de trabalho.

▶ No território da UBS Colinas, além da continuidade da caminhada, a gestão municipal irá soli-
citar a disponibilização de um profissional de educação física da Secretaria de Educação, para
ofertar atividades coletivas de jogos adaptados na escola do bairro.

▶ Um espaço coberto da Secretaria de Assistência Social será disponibilizado para que as ativida-
des da UBS Flores, nos dias chuvosos, possam ser desenvolvidas.

▶ Serão realizadas ações de educação continuada e permanente sobre os benefícios da atividade


física para todos os profissionais e todos usuários da APS e não só para aqueles com DCNTs.

▶ Nessas ações de educação, além de buscar ampliar as possibilidades de indicação de incorpo-


ração de atividades física na rotina dos usuários, serão incluídas questões sobre o aconselha-
mento breve em atividade física (por exemplo: os profissionais de saúde abordam o tema no
processo de cuidado, independentemente da participação nas atividades).

▶ A gestão municipal irá adquirir equipamentos de som para as duas unidades de saúde.

▶ Serão distribuídas, periodicamente, fichas de avaliação das atividades para monitorar a satis-
fação dos usuários e permitir mudanças quando necessárias.

▶ Serão realizados um mapeamento e a divulgação de outros espaços e oportunidades no dis-


trito como opção para as pessoas que não participam das atividades físicas nas unidades de
saúde.

▶ Apesar de reconhecer a importância de ampliar as ações de atividade física para a terceira


unidade de saúde, a UBS Campos, a gestão municipal realizará o monitoramento dessas no-
vas medidas nas UBS Flores e UBS Colinas e, posteriormente, poderá implementá-las na UBS
Campos.

Nesse exemplo, monitorar e avaliar significa identificar se a ampliação da oferta,


a disponibilização de novos espaços, a existência de insumos mais adequados à
demanda e a maior qualificação de profissionais de saúde para indicar as atividades
físicas impactarão no aumento da participação.

O GT se reuniu algumas vezes e, também, discutiu a opção de utilizar o Modelo Lógico, apresentado
na Unidade 3, para o planejamento.

140
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN4

Município de Beira

Objetivo: ampliar o acesso da população do distrito à atividade física enquanto prática de promoção
da saúde e qualidade de vida.

Insumos/recursos: a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) possui recursos próprios para investir em
melhorias para alcançar o objetivo e incluiu no planejamento pleitear recursos do Ministério da Saúde
por meio do Incentivo de Atividade Física- IAF.

Atividades: dança, caminhada e jogos adaptados.

Produtos: mais pessoas atendidas pelas atividades físicas ofertadas.

Resultados iniciais: maior participação da comunidade do distrito.

Resultados intermediários: manutenção da prática de atividade física por meio de maior assiduida-
de dos participantes.

Resultados a longo prazo: melhoria dos indicadores de saúde e qualidade de vida.

Fatores influenciadores: clima, condições de saúde das pessoas, apoio da gestão municipal e maior
engajamento da equipe de saúde ao indicar as atividades.

Vale lembrar que o Modelo Lógico serve como uma referência no processo de planejamento e imple-
mentação de ações, programas e políticas, incluindo o processo de construção do PPA, ou seja, é um
quadro que deve ser revisitado sempre, pois suas informações nos fazem retomar o objetivo inicial,
verificar se o estamos alcançando ou estamos próximos de alcançá-lo, assim como tomar decisões
quanto à reformulação das atividades propostas para que o objetivo seja atingido.

Você, estudante, chegou até aqui e pode ter se perguntado: como a ação, o programa, a política ou a
oferta de atividades físicas já existia, faz sentido pensar e formular um Modelo Lógico?

A construção de um Modelo Lógico pode orientar com relação aos objetivos, às expectativas e às
avaliações já que ele será uma estratégia que sobre as ações que estão sendo desenvolvidas e outras
que eventualmente tenham que ser implementadas. Se a ação, o programa e a política já existem,
serão considerados no Modelo Lógico os fatores importantes para o alcance dos seus resultados,
inclusive para a expansão das ações. Por exemplo, o Programa Academia da Cidade (PAC) de Recife
(PE) se tornou uma experiência reconhecida e uma das iniciativas utilizadas pelo Ministério da Saúde
para a formulação do Programa Academia da Saúde (PAS), após sucessivas avaliações, inclusive com
atores externos ao programa.

Considerando o que já foi pactuado pelo GT e a possibilidade da construção de um Modelo Lógico,


mesmo para uma ação, um programa, uma política ou a oferta de atividades físicas já existentes,
podemos construir o quadro abaixo sobre a oferta de atividades físicas nas UBS Flores, Colinas e
Campos. Acompanhe!

141
PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN4

Município de Beira

Informações das atividades desenvolvidas nas UBS Flores, Colinas e Campos:

Unidade de Número Participantes Usuários da


Atividades Profissionais
Saúde de dias por dia unidade por dia

Flores Dança 1 2 Sem dados 100

Caminhada
1 2
Colinas Jogos Sem dados 120
1 1
adaptados

Sem
Campos — — — —
atividades

Com isso, os participantes do GT poderiam pensar juntos acerca dos indicadores de monitoramento:

▶ Taxa de participação: Número de participantes / Número de usuários que frequentam a uni-


dade de saúde

▶ Participação por dia e horário: número de participantes ÷ quantidade da oferta de atividades


(dias x atividades).

▶ Cobertura de profissionais de saúde: número de profissionais de saúde ÷ número de participantes.

▶ Taxa de satisfação: número de avaliações satisfatórias ÷ número total de avaliações.

A seguir apresentamos exemplos de indicadores que podem servir de inspiração e indicadores da ficha
do Serviço de Orientação ao Exercício (SOE) de Vitória (ES) e do Programa Academia da Saúde (PAS).

Relação nominal, classificação e objetivos dos indicadores do SOE

Nome Objetivo

Taxa de cobertura de Profissionais de Avaliar a cobertura de profissionais do SOE


Educação Física na Atenção Primária à Saúde na Atenção Primária à Saúde

Número de ofertas de Práticas Corporais e Avaliar o número de práticas corporais e


Atividades Físicas (PCAF) atividades físicas ofertadas pelo SOE

Taxa de participação no SOE Avaliar a adesão de usuários ao SOE


(alcance do programa)

Taxa de satisfação dos usuários com o SOE Avaliar a satisfação do usuário com a
estrutura, atendimento pelo profissional e
atividades ofertadas pelo SOE

Perfil do público atendido pelo SOE Avaliar o perfil dos usuários atendidos pelo
SOE

Fonte: Serviço de Orientação ao Exercício (SOE), Prefeitura Municipal de Vitória (ES).

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Número de ofertas de Práticas Corporais e de Atividade Física (PCAF)


Ficha de qualificação

Componente Descrição

1. Classificação Indicador de processo.

2. Aspecto de avaliação Oferta de PCAF.

3. Conceituação Monitorar o número de PCAF realizadas pelo SOE.

4. Interpretação Esse indicador avalia o número de PCAF ofertadas pelos PEF.

5. Usos Monitoramento das ações de PCAF realizadas pelo SOE.

6. Periodicidade Quadrimestral.

7. Limitações No método de cálculo não são considerados fatores que influenciam


na oferta das PCAF como: número de dias trabalhados, fatores
climáticos, reuniões e a participação dos PEF em outras ações intra e
intersetoriais.

8. Fontes Registro de procedimentos das ações de PCAF na Rede de Bem Estar


(Sistema de Informação e Saúde) registradas com os códigos dos
seguintes procedimentos:
Prática corporal/atividade física em grupo: 01.01.01.003-6
Yoga: 01.01.05.004-6
Práticas corporais em Medicina Tradicional Chinesa: 01.01.05.001-1
Práticas corporais em Centro de Atenção Psicossocial: 03.01.08.027-5

9. Método de cálculo Número de ações de PCAF realizadas pelos PEF.

10. Categorias 1) Local: território, região e município.


sugeridas para análise 2) Periodicidade: mensal, quadrimensal e anual.
3) Detalhamento por nome/código de procedimento.

11. Ações para a Ampliar o número de ofertas de PCAF por profissional.


melhoria do indicador

12. Observação Profissionais com duas matrículas devem ser avaliados


do indicador separadamente o número de ações realizadas por matrícula.

Fonte: Serviço de Orientação ao Exercício (SOE), Prefeitura Municipal de Vitória (ES).

A seguir, confira a descrição de alguns componentes-padrão e tipos de indicadores que podem compor
uma Ficha de Qualificação de Indicadores apresentados no Caderno Técnico de Apoio à Implantação
e Implementação do Programa Academia da Saúde (PAS), de 2019.

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Componentes-padrão de Ficha de Qualificação de Indicadores

Componente Descrição

1. Conceituação Definição de suas características e das formas como ele se


expressa.

2. Interpretação Resumo explicativo do tipo de informação obtida e o seu


significado.

3. Usos Formas principais de utilização dos dados, as quais devem ser


consideradas para fins de análise.

4. Limitações Fatores que restringem a interpretação do indicador, tanto ao


próprio conceito quanto às fontes utilizadas.

5. Fontes Instância responsável pela produção dos dados que são


utilizados para cálculo do indicador e pelos sistemas de
informação a que correspondem.

6. Método de cálculo Fórmula utilizada para calcular o indicador, definindo


precisamente os elementos que o compõem.

7. Categorias Níveis de desagregação dos dados que podem contribuir para


sugeridas para a interpretação da informação e que sejam, efetivamente,
análise disponíveis, tais como sexo, idade.

8. Dados estatísticos Tabelas resumidas e comentadas, que ilustram a aplicação do


e comentários indicador com base na situação real observada. Sempre que
possível, os dados devem ser desagregados por grandes
regiões e para anos selecionados da década anterior.

Fonte: Rede Interagencial de Informações para Saúde (2012) apud Ministério da Saúde, Caderno
Técnico de Apoio à Implantação e Implementação do Programa Academia da Saúde (2019).

LINKS

O Caderno Técnico de Apoio à Implantação e Implementação está disponível em:


http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/implatacao_academia_saude.pdf

Confira, agora, os tipos de indicadores do Programa Academia da Saúde (PAS) – indicadores de estru-
tura e de resultados – e seus objetivos, seus métodos de cálculo e suas metas.

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Tipos de Indicadores do Programa Academia da Saúde (PAS)

Indicadores de estrutura Indicadores de resultados

Objetivo Aumentar a capacidade de atendi- Diminuir a proporção de internações por


mento do polo do Programa Condições Sensíveis à APS relacionadas à
Academia da Saúde (PAS). hipertensão arterial sistêmica e diabetes da
população usuária da unidade de saúde que
contempla o território do polo do programa.

Indicador Número de profissionais da APS Proporção de usuários hipertensos ou


que atuam nos polos do programa. diabéticos participantes sistemáticos do
programa com redução ou suspensão de
medicamento de controle.

Método Número de profissionais da APS Número de usuários hipertensos ou diabéti-


de que podem desenvolver ações cos participantes sistemáticos do programa
cálculo nos polos do programa. com redução ou suspensão de medicamento
de controle dividido pelo número total de
usuários hipertensos ou diabéticos partici-
pantes sistemáticos do programa em deter-
minado período e polo, multiplicado por 100.

Meta Todos os profissionais da APS que Variação de 5% de usuários hipertensos e/ou


podem atuar no polo do progra- diabéticos com medicamentos reduzidos ou
ma desenvolvendo alguma ação suspensos (conforme resultados, a meta
ou serviço no polo (conforme pode ser repactuada para mais ou para
resultados, a meta pode repactuar menos).
para mais ou para menos).

Fonte: Rede Interagencial de Informações para Saúde (2012) apud Ministério da Saúde, Caderno
Técnico de Apoio à Implantação e Implementação do Programa Academia da Saúde (2019).

SAIBA MAIS

Outros exemplos podem ser consultados no Caderno Técnico de Apoio à Implan-


tação e Implementação, a partir da página 141.

Até aqui demos enfoque às análises e ações relacionadas à oferta de atividades físicas, certo? Mas é
importante destacar que outros enfoques são possíveis, como, por exemplo, os que veremos a seguir.

É possível monitorar o nível de atividade física da população usuária das unidades de saúde por meio
do questionário da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) – inquérito de saúde de base domiciliar, de
âmbito nacional, realizada pelo Ministério da Saúde – que pode ser visto aqui (Módulo P) conforme
mostrado a seguir.

145
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Fonte: Brasil. Pesquisa Nacional de Saúde. Questionário, Módulo P. 2019.

SAIBA MAIS

O questionário da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) pode ser acessado em:


https://www.pns.icict.fiocruz.br/wp-content/uploads/2021/02/Questionario-
PNS-2019.pdf.

Para conhecer outros indicadores ligados às condições de saúde visualize a


publicação: “Recomendações para o Desenvolvimento de Práticas Exitosas de
Atividade Física na Atenção Primária à Saúde do Sistema Único de Saúde” (p.
14 a 22), disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/
desenvolvimento_atividade_fisica.pdf.

Observe a forma de cálculo do nível de atividade física:

Definição do Indicador: Prática adequada de atividade física no lazer

Método de cálculo:
Percentual de indivíduos de 18 anos ou
mais que praticam no lazer atividades Número de indivíduos de 18 anos ou
físicas vigorosas* por 75 minutos ou mais mais que praticam atividade física × 100
por semana, ou atividades leves ou no lazer no tempo recomendado
moderadas** durante 150 minutos ou
mais por semana. Total de indivíduos de 18 anos ou mais

* As atividades vigorosas consideradas foram: corrida/cooper, corrida em esteira, musculação,


ginástica aeróbica/spinning/step/jump, futebol, basquete e tênis.
** As atividades leves ou moderadas consideradas foram: caminhada, caminhada em esteira,
hidroginástica, ginástica em geral/localizada/pilates/alongamento/yoga, natação, artes
marciais/luta, bicicleta/bicicleta ergométrica, voleibol, dança e outras atividades.

Fonte: Brasil. Fiocruz. Painel de Indicadores da Pesquisa Nacional de Saúde.

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Continuando com a compreensão de que outros enfoques são possíveis para além da oferta de
atividades física, imaginemos que o desafio identificado nas pessoas usuárias de uma unidade de
saúde é o alto número de pacientes com suspeita e/ou diagnóstico de glicemia em jejum alterada e/
ou diabetes mellitus tipo 2. A demanda é a construção de possibilidades de oferta de atividade física
como parte do cuidado.

Não é esperado que ocorram alterações substanciais nos indicadores de internação, prevalência ou
incidência das DCNTs em curto e médio prazos. Isso não necessariamente significa uma ineficácia de
um programa de atividade física. Nesse caso, o número de adultos com diabetes que aderiram e se
mantiveram no programa já pode ser considerado um efeito positivo das ações do planejamento local.

PARA PENSAR E PLANEJAR


E temos boas notícias: o Ministério da Saúde disponibiliza os Painéis de Indica-
dores da APS que têm como objetivo apresentar dados e informações de forma
a promover o conhecimento sobre a APS, subsidiar a tomada de decisão, am-
pliar as possibilidades de monitoramento e avaliação. Os painéis apresentam
informações em diversos formatos como tabelas, gráficos, mapas e documen-
tos técnicos com a finalidade de facilitar a interpretação e a análise dos dados.
Outro material importante, disponibilizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), é o
Painel de Indicadores de Saúde da PNS. Ele caracteriza as tendências socioespaciais da
situação de saúde, dos estilos de vida da população brasileira e da assistência de saúde,
no que se refere ao acesso e uso dos serviços de saúde. Assim, oportuniza o acesso
e monitoramento aos indicadores de saúde, essenciais para subsidiar a formulação de
políticas na área de promoção, vigilância e atenção à saúde.
Você encontra os dois documentos nos links:
https://sisaps.saude.gov.br/painelsaps/
https://www.pns.icict.fiocruz.br/painel-de-indicadores-mobile-desktop/

Por meio desses Painéis de Indicadores podemos acompanhar se e como a população brasileira está
praticando atividade física.

Prática adequada de atividade física no lazer (percentual): 2013 – 2019

Brasil

2013 22,70% (IC: 22,10% – 23,30%)

2019 30,10% (IC: 29,40% – 30,70%)

Total Capitais

2013 26,80% (IC: 25,90% – 27,70%)

2019 35,90% (IC: 35,00% – 36,90%)

0 5 10 15 20 25 30 35 40

IC: Intervalo de confiança Fonte: Fiocruz. Painel de Indicadores de Saúde – Pesquisa Nacional de Saúde (PNS).

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4.2.3 | Acompanhamento dos dados dos sistemas de informação do Ministério


da Saúde e de outras fontes de dados no âmbito do SUS

Agora, vamos dar continuidade aos estudos conferindo o acompanhamento dos dados dos sistemas
de informação do Ministério da Saúde e de outras fontes de dados no âmbito do SUS.

Município de Beira

A partir das ações pactuadas, o GT do município de Beira, questionou se as informações disponíveis


para monitorar e avaliar essas ações estariam contribuindo para atingir os propósitos do planejamento.

Os Sistemas de Informação em Saúde podem apoiar no processo de monitoramento e avaliação pois


são fontes importantes de informação acerca das características sociais, econômicas, demográficas e
sanitárias dos municípios e territórios. Informam também sobre os recursos que foram transferidos e
estão disponíveis, dentre outras possibilidades. Informações sobre possíveis mudanças em saúde de
um território são essenciais e podem ser úteis para subsidiar a tomada de decisão. Diferentes siste-
mas de informação em saúde estão disponíveis para nos ajudar, dentre eles destacamos os descritos
a seguir. Confira.

Sistema de Informação em Saúde para Atenção Básica (SISAB)

É o sistema de informação da APS vigente para fins de financiamento e de adesão aos programas e
estratégias da Política Nacional de Atenção Básica que propõe o incremento da gestão da informação,
a automação dos processos, a melhoria das condições de infraestrutura e a melhoria dos processos
de trabalho. Com o SISAB é possível obter informações da situação sanitária e de saúde da população
do território por meio de relatórios de saúde, bem como de relatórios de indicadores de saúde por
estado, Distrito Federal, município, região de saúde e equipes e das atividades e atendimentos reali-
zados nas unidades de saúde da APS.

Os dados e relatórios do SISAB estão disponíveis em: https://sisab.saude.gov.br/.

Fonte: Ministério da Saúde, SISAB. Consulta realizada em 12/10/2022.

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No SISAB é possível analisar as atividades coletivas relacionadas à atividade física que o município vem
ofertando. Em agosto de 2022, no Brasil, foram ofertadas pouco mais de 94.000 atividades coletivas
relacionadas às atividades físicas por equipes de APS com mais de 1.330.000 participantes. Você pode
ter acesso a essa informação sobre o seu município.

Fonte: Ministério da Saúde, Sisab. Consulta realizada em 12/10/2022.

Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES)

É o cadastro oficial do Ministério da Saúde no tocante à realidade da capacidade instalada, força de


trabalho e disponibilidade de serviços assistenciais de saúde no Brasil, em estabelecimentos de saúde
públicos ou privados, com convênio com o SUS ou não. Assim, é a base cadastral para operacionali-
zação de sistemas de informação em saúde como o SISAB, Sistema de Informação Ambulatorial (SIA),
Sistema de Informação Hospitalar (SIH), entre outros.

O CNES proporciona o conhecimento da realidade da rede assistencial existente e suas potenciali-


dades, de forma a auxiliar no planejamento em saúde das três esferas de governo, para uma gestão
eficaz e eficiente. Como destaque para a finalidade do CNES, por exemplo, está o fornecimento de
informações que apoiam a tomada de decisão, o planejamento, a programação e o conhecimento
pelos gestores, pesquisadores, trabalhadores e sociedade em geral acerca da organização, existência
e disponibilidade de serviços, força de trabalho e capacidade instalada dos estabelecimentos de saúde
nos territórios.

Fonte: Ministério da Saúde, CNES. Consulta realizada em 12/10/2022.

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No CNES é possível analisar o número de profissionais de saúde cadastrados no seu município. No


exemplo a seguir, usamos o Código Brasileiro de Ocupação do profissional de educação física na
saúde (CBO 224140), elegível para o recebimento de recursos do Programa Academia da Saúde e
do Incentivo de Atividade Física. Em agosto de 2022, havia pouco mais de 8.400 cadastros desses
profissionais no Brasil.

Fonte: Ministério da Saúde, CNES. Consulta em 12/10/2022.

O CNES pode ser acessado pelo link: http://cnes.datasus.gov.br/.

Fundo Nacional de Saúde (FNS)

O Fundo Nacional de Saúde (FNS) é o gestor financeiro dos recursos destinados a financiar as despe-
sas correntes/custeio e de capital/investimento repassados pelo Ministério da Saúde aos órgãos e às
entidades da administração direta e indireta, integrantes do SUS, contribuindo para o fortalecimento
da cidadania, mediante a melhoria contínua do financiamento das ações de saúde. Ainda, é respon-
sável pela gestão do capital tendo como base o Plano Nacional de Saúde e o Planejamento Anual
do Ministério da Saúde, nos termos das normas definidoras dos Orçamentos Anuais, das Diretrizes
Orçamentárias e dos Planos Plurianuais.

Os recursos alocados junto ao FNS são transferidos para os estados, municípios e o Distrito Federal
para que esses entes realizem de forma descentralizada ações e serviços de saúde, bem como para
que invistam na rede de serviços e na cobertura assistencial e hospitalar, no âmbito do SUS.

Fonte: Ministério da Saúde, FNS. Consulta realizada em 12/10/2022.

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No FNS, por meio dos Painéis de Informações – Repasses Fundo a Fundo, é possível conhecer os
recursos financeiros que o município recebeu. Em 2021, até a data que foi realizada a consulta, foram
repassados R$ 45.612.000,00 de recursos federais do Ministério da Saúde para o custeio do Programa
Academia da Saúde em 1.255 municípios brasileiros.

Fonte: Ministério da Saúde, FNS. Consulta realizada em 12/10/2022.

Site do FNS disponível em: https://portalfns.saude.gov.br/sobre-o-fns/.

Outras pesquisas como a PNS (sobre a qual já trouxemos o painel de indicadores) e o sistema de Vigi-
lância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) também
nos ajudam a compreender a situação da população brasileira no tocante à atividade física e podem
fornecer informações relevantes para pensar em indicadores que contribuam para o processo de
monitoramento e avaliação.

É importante dizer que o registro de dados nos instrumentos de gestão, como o Plano
Municipal de Saúde, a Programação Anual de Saúde, o Relatório Anual de Gestão (RAG)
na plataforma digital DigiSUS Gestor – Módulo Planejamento (DGMP), dentre outros,
pode trazer informações imprescindíveis para o monitoramento e a avaliação das
ações de promoção da saúde, e consequentemente da promoção da atividade física.

Município de Beira

Vamos voltar a refletir conjuntamente com o GT do município de Beira e olhar o que foi pactuado em
relação à questão de avaliação: “O que contribuiu ou dificultou o acesso das pessoas às iniciativas
das Unidades de Saúde do município de Beira que ofertam atividade física?”, pensando em algumas
estratégias para apoiar o monitoramento e avaliação:

▶ Acompanhar o SISAB e analisar se houve aumento na participação nas atividades físicas a partir
da mudança de horário, da disponibilidade de novos espaços e de equipamentos adequados.
▶ Verificar se foi feito o registro no CNES do profissional de educação física da secretaria da
educação, que ofertará as atividades coletivas de jogos adaptados na escola do bairro.

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Além dos sistemas de informação em saúde existentes, outras avaliações periódicas podem ser uma
possibilidade de acompanhamento. Monitorar a satisfação, por exemplo, permite identificar as po-
tencialidades e fragilidades a partir da percepção dos participantes das atividades propostas. Confira
a seguir algumas indicações de estratégias de monitoramento do Programa Academia da Saúde uti-
lizadas por gestores municipais.

Estratégias utilizadas para o monitoramento das ações


ofertadas nos polos do Programa Academia da Saúde

Solicitação de
38% 35% 27%
relatório ao SISAB

Aplicação de questionários
23% 41% 36%
com os usuários

Registra a participação dos


usuários nas ações ofertadas 70% 18% 12%

Registra os procedimentos
em planilha eletrônica 33% 32% 35%

Relatório
81% 10% 9%
do SISAB

0 20 40 60 80 100

Mais usada Menos usada Não usada

Fonte: Ministério da Saúde, Monitoramento do Programa Academia da Saúde, e-Gestor, 2019.

Desta forma, uma única abordagem metodológica pode ser insuficiente para compreensão das com-
plexas práticas em saúde, o que pode demandar perspectivas quantitativas e qualitativas. Assim, os
sistemas tradicionais de informação em saúde necessitam dessa complementaridade.

As técnicas de coleta de informações - grupos focais, rodas de conversa, observação e entrevistas -


podem trazer informações sobre como os participantes se sentem em relação às atividades ofertadas
ou o que contribuiria para que as pessoas usuárias das unidades de saúde que não participam das
atividades passem a realizá-las. E, ainda, se os profissionais de saúde têm alguma necessidade que,
caso atendida, aumentaria a qualidade do seu trabalho.

Você pode acompanhar algumas estratégias qualitativas:

▶ Relatos de acolhimento humanizado pelos usuários (afetados pelo problema) que realizam as
atividades físicas nas unidades de saúde.

▶ Análise e reflexão a partir da discussão de caso, Projeto Terapêutico Singular e/ou Matriciamento.

▶ Comunicação que utilize linguagens adequadas à cultura do território.

▶ Análise e reflexão a partir de reuniões dos comitês, grupos ou departamentos intersetoriais


para atuar nas demandas apresentadas pelos participantes e/ou pela comunidade.

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4.2.4 | Estratégias para sistematizar, analisar os dados e comunicar os resultados

Acompanhe, agora, algumas estratégias para sistematizar, analisar os dados e comunicar os resulta-
dos. Confira características e orientações sobre cada etapa!

a) Sistematização das informações e análise dos dados

Esta etapa requer a análise, interpretação de dados e reflexão sobre os resultados em vários estágios
do monitoramento e avaliação.

A partir das informações e dos dados que foram coletados nos sistemas de informações em saúde e
em outros espaços, será necessário organizar, pensar, debater e analisar as informações coletivamen-
te para garantir os diferentes pontos de vista que contribuam à reflexão sobre as informações úteis
capazes de ajudar na compreensão das práticas e no fortalecimento de ações, programas e políticas
de promoção da atividade física.

Município de Beira

Olhando para o exemplo do município de Beira, que estabeleceu o indicador “Número de ações de ati-
vidade física ofertadas nas unidades de saúde Flores e Colinas e registradas no SISAB”, quais informações
seriam necessárias para analisar as unidades de saúde do distrito? Quantidade de ações de atividades
físicas realizadas nas unidades de saúde Flores e Colinas e registradas no SISAB.

Então, em 3 meses, foram 27 atividades de dança, 24 de caminhada e 12 de jogos adaptados, tota-


lizando 63 atividades ofertadas. Outra informação relevante seria saber o número de profissionais
de saúde envolvidos na oferta dessas ações de atividade física. Como vimos anteriormente, são três
profissionais, após a pactuação do GT.

Agora, além do número de ações de atividade física realizadas nas unidades de saúde e registradas no
SISAB, também precisaremos saber: Número de profissionais cadastrados no CNES nas unidades de
saúde Flores e Colinas que realizam ações de atividade física.

A partir daí, o GT calculou a média do número de ações de atividade física ofertadas nas unidades de
saúde Flores e Colinas e registradas no SISAB de cada profissional que oferece essas ações: Número
de ações de atividade física realizadas nas unidades de saúde e registradas no SISAB ÷ Número de
Profissionais cadastrados no CNES nas Unidades de Saúde Flores e Colinas que ofertam ações de
atividade física = 63 ÷ 3 = 21. E, em média, 7 atividades por profissional por mês = 21 ÷ 3.

Então, como ficou a participação das pessoas durante esse período? Confira no quadro!

Unidade de Número Participantes Usuários da


Atividades Profissionais
Saúde de dias por dia unidade por dia

Flores Dança 1 2 42 100

Caminhada
1 2 26
Colinas Jogos 120
1 1 15
adaptados

Sem
Campos - - - -
atividades

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PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN4

O que nos indicará que houve aumento de 50% nas atividades de dança (aumentou de 28 para 42
pessoas por dia) e de 30% na caminhada (aumentou de 20 para 26 pessoas por dia) e o número de
participantes (15) dos jogos adaptados foi considerado satisfatório.

Os dados apresentados acima permitem ao GT afirmar que as medidas adotadas podem ser conside-
radas promissoras, levando em conta a pergunta de avaliação: “O que contribuiu ou dificultou o acesso
das pessoas às iniciativas das unidades de saúde do município de Beira que ofertam atividade física?”.
Essas medidas contribuíram para a ampliação do acesso e a permanência na prática de atividade física.

Lembre que o monitoramento e avaliação são processosdevem ser atividades perenes, de forma a
acompanhar o que está dando certo ou não e atuar para corrigir ou fortalecer as ações, programas e
políticas.

Olhar para as possíveis interpretações, de acordo com interesses, motivações, saberes e contribuições
de todos os participantes do GT, nos ajuda a entender a importância e magnitude das conquistas que
foram alcançadas:

▶ Gerentes das unidades de saúde e profissionais de saúde: maior satisfação ao ver o fruto do
seu trabalho ser bem avaliado e trazendo benefícios individuais e coletivos para a população
usuária.

▶ Participantes: benefícios para a saúde e qualidade de vida a partir da ampliação da participa-


ção nas ações de atividade física.

▶ Universidade: cumprimento do seu papel social de apoiar a sociedade em conquistas relevan-


tes para sua qualidade de vida.

REFLEXÃO
A partir do que foi descrito até aqui, como você iniciaria um processo de plane-
jamento, monitoramento e avaliação na Unidade de Saúde Campos a partir da
decisão em implementar a oferta de atividades físicas?

b) Monitoramento e avaliação de ações intersetoriais

Confira, então, como pode ocorrer o monitoramento e a avaliação de ações intersetoriais. Aproveite
para continuar aprofundando conhecimentos sobre o tema.

Município de Beira

O GT do município de Beira após essas ações iniciais refletiu sobre a possibilidade de ampliação da
formação do GT e das ações específicas do setor saúde para incluir outros setores do município.

Imagine que o GT tenha decidido incentivar o trabalho intersetorial e colaborativo por meio do trans-
porte ativo (isto é, se deslocar, ir de um lugar ao outro por meio da caminhada ou uso da bicicleta,
patins, skate, patinete – equipamentos que não sejam elétricos ou motorizados). Para isso, algumas
ações poderiam ser implementadas por diferentes setores governamentais.

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Secretaria de Comunicação

Desenvolver uma ampla campanha de divulgação sobre o uso do transporte ativo


e os seus benefícios para a saúde e bem-estar da população.

Secretaria de Infraestrutura e Planejamento Urbano

Planejar a criação de infraestrutura para o uso de ciclovias, ciclorrotas, faixas para o uso
de bicicletas ou outros equipamentos não-elétricos e/ou não-motorizados e calçadas –
mantendo-as em condições adequadas para a caminhada e viabilizando a comunicação
entre as principais ruas e avenidas do município. Aqui é importante lembrar que algu-
mas medidas não demandam recursos, obras, processos licitatórios etc. Ruas de lazer,
que são aquelas fechadas para o trânsito de veículos automotores em determinados
dias e horários ou a redução do limite de velocidade em algumas vias, é um exemplo de
ação que não necessariamente demanda novos recursos e obras.

Secretaria de Transporte

Implantar bicicletários em terminais de ônibus, metrô e trem.

Secretaria da Saúde

Desenvolver práticas educativas sobre os benefícios do uso do transporte ativo e, junta-


mente com a Secretaria do Esporte e Lazer, realizar eventos aos finais de semana como
caminhadas e/ou pedaladas e identificar percursos em diferentes regiões do município,
visando atingir toda população. Muitas vezes, ações como esta são desenvolvidas em
regiões centrais dos municípios, dificultam o acesso dos moradores de áreas periféricas
que, na maioria das vezes, são também aquelas com menos acessos a serviços e lazer.

REFLEXÃO
A partir do exemplo acima, quais indicadores você recomendaria para serem
monitorados e avaliados pelo GT do município de Beira?

Veja alguns exemplos de indicadores para o monitoramento e avaliação da efetividade do incentivo


ao transporte ativo:

▶ Narrativas de pessoas sobre o deslocamento a pé ou de bicicleta pela cidade.

▶ Quilômetros de ciclovias construídas no município.

▶ Percepção e satisfação dos usuários sobre a qualidade das ciclovias.

▶ Porcentagem de pessoas utilizando bicicleta ou outros equipamentos não elétricos/ motoriza-


dos para transporte diário.

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▶ Porcentagem de bicicletas estacionadas


nos bicicletários diariamente.

▶ Porcentagem de pessoas atingidas nas


campanhas de comunicação no município
sobre deslocamento ativo.

▶ Percepção e compreensão das mensa-


gens utilizadas nas campanhas de comu-
nicação.

▶ Porcentagem de eventos sobre desloca-


mento ativo realizados pelas Secretarias
de Saúde e Esporte e Lazer.

▶ Porcentagem de pessoas participantes


nos eventos sobre deslocamento ativo
das Secretarias de Saúde e Esporte e Lazer.

▶ Percepção e satisfação sobre os eventos.

▶ Porcentagem de pessoas, na área de cobertura da unidade de saúde, que utilizam o transporte


ativo para ir e voltar do trabalho/da escola.

▶ Porcentagem de pessoas que iniciaram ou aumentaram a atividade física no deslocamento e


conseguiram controlar a hipertensão, o diabetes e/ou o peso corporal.

▶ Quantidade de medicamentos dispensados nas farmácias das unidades básicas de saúde para
quem iniciou ou aumentou a realização de atividade física no deslocamento.

Lembre-se de que algumas informações e dados necessários para a construção dos indicadores ci-
tados estão nos sistemas de informação da saúde e outros precisam ser criados e pactuados com
outros setores do município. Por exemplo, um questionário que permita identificar quem passou a se
deslocar ativamente a partir do plano para incentivar o transporte ativo irá possibilitar o cálculo per-
centual das pessoas que, na área de cobertura da unidade de saúde, utilizam o transporte ativo para
ir e voltar do trabalho/escola. Também possibilitará o cálculo percentual de pessoas que iniciaram ou
aumentaram a atividade física no deslocamento e conseguiram controlar a hipertensão, o diabetes e/
ou o peso corporal.

c) Comunicação dos resultados

Comunicar os resultados se refere a dar retorno aos envolvidos (gestores, profissionais, usuários,
parceiros, dentre outros) acerca do que foi alcançado ou não, de forma a dar subsídios para a tomada
de decisão. Essa comunicação pode ser feita de várias formas: exposição dialogada, relatórios, divul-
gação nas redes sociais, rodas de conversa, apresentação em audiências públicas etc.

É cada vez mais comum que as prefeituras e secretarias municipais de saúde tenham perfis nas redes
sociais digitais, que podem ser os canais de divulgação dos resultados. O objetivo é que eles auxiliem
na reflexão sobre potenciais aspectos positivos e negativos e identificação de caminhos e possibili-
dades de melhoria, que aprimorem as ações, os programas e as políticas de promoção da atividade
física. A divulgação dos resultados também demonstra o compromisso com a transparência da gestão
e dos gestores em atuar em prol da população.

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A comunicação implica na interação e no diálogo entre os participan-


tes, não se restringindo a uma mera transmissão de conteúdos e
informações.

Apenas compartilhar os resultados sem, de fato, utilizá-los para


melhorar as ações, os programas e as políticas, significa dar somente
um caráter burocrático a essa etapa. A comunicação deve ter por
essência a produção de sentidos, fazendo com que aquele conteúdo
reflita situações experienciadas e potencialize a capacidade das
pessoas de operar em sua realidade.

É possível afirmar que há grande facilidade na divulgação de informações, em especial informações


em saúde. Muitas vezes, elas são tantas e sobre tantos temas, que podem se tornar desinteressantes
e inócuas, antes mesmo de serem aprofundadas. Para otimizar a informação e o conhecimento pro-
duzido no processo avaliativo, alguns pontos são relevantes. Confira a seguir.

1. Quem comunica? O papel social da instituição que informa.

Imagine que a Secretaria de Saúde divulgue informações sobre o clima e a Secretaria de


Educação sobre o resultado do jogo do time do município. Não seria surpresa se as
pessoas estranhassem a relação entre quem está comunicando e o que comunica.

2. Público-alvo: para quem as informações serão comunicadas?

Nos casos em que se espera falar com todos, independente de perfil, é comum acabar
não comunicando com ninguém, pois pessoas diferentes não se identificam com o
mesmo tipo de informação. Assim, é importante adequar a comunicação de acordo com
a audiência. A forma pode ser diferente para um gestor do que para as pessoas partici-
pantes das atividades.

3. O que será divulgado? Qual a informação mais útil para o público-alvo?

No caso do município de Beira, por exemplo, os resultados farão mais sentido para os
participantes das atividades? E para os usuários das unidades de saúde? Certamente é
desejável que mais pessoas conheçam os resultados, mas a forma de divulgação terá que
ser ampla, mas distinta entre as pessoas que vivenciaram as práticas e aquelas que não
participaram.

4. Como será divulgada? Qual será a linguagem e o meio de divulgação?

Em complemento ao abordado acima, cartaz, folder, panfleto, anúncios em rádios, carro


de som ou anuncicletas, campanhas na TV, internet, blog etc. são possibilidades de atingir
aqueles com quem se quer dialogar.

5. O que se espera com a divulgação?

Caso o objetivo seja aumentar a participação da população nas atividades, a comunica-


ção para os usuários das Unidades de Saúde é mais efetiva. Por exemplo, para iniciar as
atividades na UBS Campos (aquela que não tinha nenhuma oferta de atividade física),
talvez a comunicação deva ser dirigida preferencialmente aqueles tomadores de decisão
que detêm os recursos, como o gerente da unidade de saúde, os setores da gestão muni-
cipal ou os vereadores, para ganhar força e apoio desses atores.

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PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
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Município de Beira

A partir do nosso caso, uma estratégia de comunicação foi pactuada pelo GT e considerou a possibi-
lidade de envolver os setores de comunicação formais e não formais para a criação dos materiais e
para a divulgação dos resultados. A Secretaria de Saúde informará os participantes das atividades e
todas as unidades de saúde do município sobre o êxito das ações implementadas a partir da constitui-
ção do GT, que culminou no aumento da participação das atividades nas unidades de saúde Flores e
Colinas. Tal divulgação se dará por meio de reunião aberta na câmara de vereadores e de live no perfil
da rede social digital.Espera-se que mais usuários das unidades de saúde do município se interessem
em participar das atividades, pois o gestor compreendeu que, além de benefícios para a saúde e
qualidade de vida, as ações melhoram a avaliação da gestão municipal, que já planeja expandir as
atividades para os outros distritos do município.

Assim, espera-se que a comunicação seja mais do que simplesmente transmitir infor-
mações e que estas sejam também um espaço de diálogo entre todos os envolvidos
de forma que possa auxiliar na reflexão sobre potencialidades e fragilidades, bem
como na identificação de caminhos e possibilidades da melhoria e aprimoramento
contínuos das ações, dos programas e das políticas de promoção da atividade física.

Nos processos comunicativos que destacam a importância da atividade física, lembre-se de não culpa-
bilizar ou estigmatizar aqueles que ainda não a praticam, pois já aprendemos ao longo do curso que
pode haver barreiras além das individuais, que dificultam ou impedem as pessoas de se engajarem. É
muito importante o diálogo compreensivo, com escuta e acolhimento das pessoas com dificuldades
de incluir a atividade física na sua rotina, assim como buscar fazer novos e diferentes convites para
que elas possam refletir e, quem sabe, dar uma chance a experimentar a atividade física.

4.2.5 | Criação de espaços coletivos para dar sustentabilidade aos processos participativos
e colaborativos de monitoramento e avaliação

O processo participativo de monitoramento e avaliação pressupõe o efetivo envolvimento dos vá-


rios atores na elaboração, implementação e gestão de programas, ações e políticas de promoção da
atividade física. Vale destacar que, justamente por se propor a reunir diferentes pessoas e visões, ne-
cessariamente envolvem relações de poder que podem ser permeadas por conflitos e contradições,
o que demanda que o grupo debata e pactue posições contrastantes e delibere democraticamente.

Refletir sobre os caminhos possíveis do monito-


ramento e da avaliação participativos na constru-
ção dos indicadores contribui para visualizarmos
as vantagens quando esses processos avaliativos
se conectam à cultura local a partir da abertura à
consulta ampla e que garanta que os resultados
sejam compartilhados ao longo do processo.
Isso fortalecerá a capacidade avaliativa dos en-
volvidos, possibilitando eventuais correções de
percurso caso considerem necessário.

Assim, envolver sinergicamente pessoas, coletivos ou instituições influentes no município ou região


que debatam agendas globais como as dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável - (Agenda 2030),

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das Cidades Educadoras etc. poderá beneficiar e fortalecer as ações e os programas locais, além de
otimizar recursos humanos e financeiros.

Você, estudante que chegou agora ao final desta Unidade, percebeu que falamos de processos de
monitoramento e avaliação relacionados ao SUS e à APS, mas não podemos nos esquecer de que há
outros sistemas de informação sobre condições de vida e saúde em outros setores públicos ou não-
-governamentais que podem apoiar a implementação de ações, programas e políticas de promoção
da atividade física.

4.3 | Encerramento da Unidade

A Unidade 4 refere-se ao monitoramento e à avaliação de ações, programas ou políticas de promoção


da atividade física e devem ser considerados desde o momento do planejamento inicial, previsto para
fazer parte de todo o processo de implementação e desenvolvimento e culminando com a divulgação
dos resultados.

O monitoramento e a avaliação consistem na execução de uma série de ações que devem seguir
uma sequência. Esta sequência inicia com a a formulação de uma pergunta de avaliação, seguindo
para a formação do Grupo de Trabalho; proposição de indicadores (incluindo fontes de consulta, por
exemplo: sistemas de informações em saúde, comunidade beneficiada etc.) e definição de como os
resultados serão comunicados. Avançando, temos a definição das ações para tornar o processo de
monitoramento e avaliação permanentes, considerando a realidade e o contexto do território onde o
planejamento para a promoção da atividade física será realizado.

Monitorar a implementação de ações das estratégias nos planos de promoção da atividade física,
quer seja do Planos Municipais de Saúde (PMS) ou de programas mais específicos de intervenção,
tem uma importância essencial no sentido de fornecer a todos os envolvidos, gestores, profissionais e
população-alvo, as informações necessárias para a manutenção ou até o reforço das ações ou mesmo
uma eventual necessidade de correção da rota das ações.

Sabemos que o desenvolvimento de um Plano de Ação em Promoção da Atividade Física, sobretudo


no âmbito da saúde, é uma tarefa com um certo grau de complexidade. No entanto, esperamos que
os conteúdos aqui apresentados, bem como os modelos e exemplos contidos nesta Unidade, possam
subsidiar as ações de monitoramento e avaliação que devem ser executados pelos profissionais e
gestores da saúde e demais envolvidos, dos planos e programas voltados a ações de promoção da
atividade física no âmbito da APS e nos Planos Municipais de Saúde (PMS).

Finalizando, portanto, enfatizamos que monitorar, avaliar, divulgar e compartilhar as ações de um


plano ou programa de promoção da atividade física permite uma real validação das propostas, identi-
ficação de sua potencialidade e/ou efetividade ou, eventualmente, de suas fragilidades, permitindo a
sustentabilidade das ações exitosas ou que se faça correções e alterações necessárias.

Nós, Fabio, Luis e Evelyn, nos despedimos de você com um forte abraço, esperamos que tenha gosta-
do e visto possibilidades concretas de aplicação dos conteúdos do curso na sua atuação cotidiana na
gestão e serviços de saúde do SUS. Nos vemos por aí, nas unidades de saúde, nos polos do Programa
Academia da Saúde, enfim, nos territórios nos quais a saúde é produzida diariamente Brasil afora.

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PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN4

4.4 | Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES).


http://cnes.datasus.gov.br/. Acesso em: 12 out. 22.

BRASIL. Ministério da Saúde. Fundo Nacional de Saúde (FNS). https://portalfns.saude.gov.br/sobre-


o-fns/. Acesso em: 12 out. 22.

BRASIL. Ministério da Saúde. Monitoramento do Programa Academia da Saúde. Ciclo 2019.


https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/saps/academia-da-saude/material-de-apoio/
monitoramento-de-gestao-do-programa-academia-da-saude-e-gestor/manual_monitoramento_
academia_saude_ciclo2019.pdf/view. Acesso em: 19 out. 22.

BRASIL. Ministério da Saúde. Painéis de Indicadores da Atenção Primária à Saúde.


https://sisaps.saude.gov.br/painelsaps/. Acesso em: 12 out. 22.

BRASIL. Ministério da Saúde. Sistema de Informação em Saúde para Atenção Básica (Sisab).
https://sisab.saude.gov.br/. Acesso em: 12 out. 22.

BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Painel de Indicadores de Saúde
da Pesquisa Nacional de Saúde. https://www.pns.icict.fiocruz.br/painel-de-indicadores-mobile-
desktop/.Acesso em: 12 out. 22.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.


Programa Academia da Saúde: caderno técnico de apoio à implantação e implementação [recurso
eletrônico]. Brasília: Ministério da Saúde, 2018. 220 p.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância


de Doenças e Agravos não Transmissíveis e Promoção da Saúde. Panorama nacional de
implementação do Programa Academia da Saúde: monitoramento do Programa Academia da
Saúde: ciclo 2017.

CEPEDOC – Centro de estudos, pesquisa e documentação em cidades saudáveis. Monitoramento e


avaliação em Promoção da Saúde. No prelo.

DRAIBE, S. M. Avaliação de implementação: esboço de uma metodologia de trabalho em políticas


públicas. In: BARREIRA, M. C. R. N.; CARVALHO, M. C. B. (Orgs.) .Tendências e perspectivas na
avaliação de políticas e programas sociais. São Paulo: IEE/PUC-SP, 2001.

JANNUZZI, P. M. Indicadores Sociais no Brasil: conceitos, fontes de dados e aplicações. 6. ed.


Campinas, SP: Editora Alínea, 2017.

OPAS – Organização Pan-Americana da Saúde. Indicadores de Saúde: elementos conceituais e


práticos. 2018. https://iris.paho.org/handle/10665.2/49057. Acesso em: 10 out. 22.

WHO – World Health Organization 2022. Global status report on physical activity 2022. https://
www.who.int/publications/i/item/9789240059153. Acesso em: 18 out. 22.

160
ENCERRA ME N TO D O CU R S O

Estamos chegando não só ao final da Unidade 4, mas também do curso de promoção da atividade
física para profissionais e gestores de saúde. Nele passamos por diferentes fases do processo de pla-
nejamento e implementação de ações, programas e políticas de promoção da atividade física na APS.

Ao abordarmos estratégias e métodos relacionados ao processo de monitoramento e avaliação das


ações de planejamento e implementação de ações, programas e políticas de promoção da atividade
física, por meio de instrumentos, indicadores etc. esperamos que a busca pelo alcance de objetivos e
metas sejam facilitados e inclusive, se for necessário, reformulá-los para que se tornem mais realistas
e, de fato, contribuam para o êxito das atividades.

Resgatamos as palavras finais da Unidade 2: você, estudante do nosso curso, não está sozinho para
debater, planejar e implementar ações e programas de promoção da atividade física. Ao longo do
curso você viu que vale a pena investir nessa área e, acreditamos que mais ferramentas foram acres-
centadas ao seu fazer cotidiano, para que haja êxito em iniciativas e debates sobre o tema.

Agradecemos sua companhia até aqui e esperamos que tenha sido uma caminhada tranquila e agradá-
vel. Saiba que, apesar de aparentemente solitária, na frente de uma tela, estávamos aqui desde o início
debatendo, refletindo, revisando e preparando o conteúdo e a trajetória metodológica deste curso.

161
MI NI CURRÍ CU LO D O S AU TO R E S

Alessandra Xavier Bueno

Doutora em Ciências pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP - USP),
mestre em Ciências do Movimento Humano (UFRGS) e mestre em Saúde Coletiva (UFRGS). Atualmente
é pesquisadora no Centro de Estudos, Pesquisa e Documentação em Cidades Saudáveis (CEPEDOC) e
faz pós-doutorado na Faculdade de Saúde Pública da USP. Tem interesse em estudos sobre Sistemas
e Políticas Públicas de Saúde, Saúde Urbana, Sociologia da Saúde, Saúde Coletiva, dimensões sociais
das atividades físicas e saúde, determinantes sociais da saúde, implementação de programas de Pro-
moção da Saúde e cidades saudáveis.

Endereço do currículo na plataforma lattes: http://lattes.cnpq.br/5422239027505165

Evelyn Helena Corgosinho Ribeiro

Doutora e mestra em Ciências pelo Programa de Pós-graduação em Nutrição em Saúde Pública da


Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), graduada em Educação Física pela
Universidade Camilo Castelo Branco. No presente, é professora de Educação Física da rede municipal
de ensino de São Paulo, integra o Grupo de Estudos e Pesquisas Epidemiológicas em Atividade Física
e Saúde (GEPAF/USP) e atua em estudos envolvendo métodos de avaliação da atividade física em
populações, fatores determinantes para a prática de atividades físicas na infância e adolescência e
programas de intervenção para promover atividade física e saúde.

Endereço do currículo na plataforma lattes: http://lattes.cnpq.br/7618652565752614

Fabio Fortunato Brasil de Carvalho

Doutor e mestre em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP), assim
como, graduado em educação física pelo Centro Universitário da Cidade (UniverCidade). Atualmente é
Tecnologista em C&T do Ministério da Saúde, lotado no Instituto Nacional de Câncer (INCA). É também,
membro do Grupo de Trabalho de Promoção da Saúde e Desenvolvimento Sustentável da Associação
Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e do Grupo de Trabalho de Atividade Física e Saúde do Colégio
Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE). Tem experiência na área de Promoção da Saúde, atuando
principalmente nos temas de Práticas Corporais e Atividades Físicas, Gestão da Atenção Básica, Saúde
Coletiva e em Prevenção de Câncer.

Endereço do currículo na plataforma lattes: http://lattes.cnpq.br/6039891504056310

162
Inaian Pignatti Teixeira

Doutor em Atividade Física e Saúde e mestre em Biodinâmica da Motricidade pela Universidade Esta-
dual Paulista (UNESP), especialista em Fisiologia do Exercício e Ciência do Esporte pela Universidade
Federal de Uberlândia (UFU) e graduado em Educação Física também pela UFU. Fez pós-doutorado na
Escola de Engenharia de São Carlos (USP), na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP e na
School of Geography and the Environment (University of Oxford). Atualmente é professor no curso de
Educação Física da Universidade do Estado de Minas Gerais (Passos).

Endereço do currículo na plataforma lattes: http://lattes.cnpq.br/1001500969293728

Leticia Aparecida Calderão Sposito

Mestra em Ciências da Motricidade pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), licenciada e bachare-
la em Educação Física pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais
(IFSULDEMINAS). É doutoranda na Universidade Estadual Paulista (UNESP) na linha de Intervenção
pelo Movimento na Saúde. Possui experiência na área da Promoção de Atividade Física em popula-
ções de adultos, idosos, bem como, no desenvolvimento de Políticas Públicas para profissionais que
atuam no nível da Atenção Primária à Saúde do Sistema Único de Saúde.

Endereço do currículo na plataforma lattes: http://lattes.cnpq.br/6605447997980730

Luis Carlos de Oliveira

Mestre em Educação Física pela Universidade São Judas Tadeu (USJT) e possui graduação em educação
física pela Escola Superior de Educação Física de São Caetano do Sul. Atua como membro do Grupo de
Pesquisas em Promoção da Atividade Física e Saúde do Programa de Pós-graduação da USJT; consultor
técnico-científico da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo / Programa Agita São Paulo; Instrutor
de pesquisa do Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul (CELAFISCS).
Tem experiência na área de Educação Física, com ênfase em Atividade Física e Saúde, atuando princi-
palmente nos seguintes temas: atividade física do escolar, atividade física do trabalhador e promoção
da atividade física na comunidade.

Endereço do currículo na plataforma lattes: http://lattes.cnpq.br/9862265469701027

163
Margarethe Thaisi Garro Knebel

Doutoranda em Nutrição em Saúde Pública na Faculdade de Saúde Pública (USP), mestra em Edu-
cação Física pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e possui bacharelado em Educação
Física pela Universidade Federal de Minas Gerais. Colaboradora no Grupo de Estudos e Pesquisas
Epidemiológicas em Atividade Física e Saúde (GEPAF/USP).

Endereço do currículo na plataforma lattes: http://lattes.cnpq.br/2437810692647063

Maria Cecília Marinho Tenório

Doutora em Saúde da Criança e do Adolescente pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE),


mestre em Hebiatria pela Universidade de Pernambuco (UPE), especialista em doenças crônicas dege-
nerativas pela Universidade de Pernambuco (UPE) e graduada em Educação Física pela Universidade
de Pernambuco. Realizou pós-doutorado na Arnold School of Public Health na University of South
Carolina e é professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), desde 2010. Tem ex-
periência na área de Educação Física Escolar, com ênfase em Promoção da atividade física e Saúde de
crianças e adolescentes, atuando principalmente em temas como Educação Física Escolar, Atividade
Física, Motivação para Atividade Física, Esporte Educacional e Epidemiologia da Atividade Física.

Endereço do currículo na plataforma lattes: http://lattes.cnpq.br/5822053911842534

164
Ouvidoria Geral do SUS
www.saude.gov.br

Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde


www.saude.gov.br/bvs

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