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MULHERES
E MENINAS
NA CIÊNCIA
ORGANIZADORAS
Cristina Araripe Ferreira
Cristiani Vieira Machado
1
Catalogação na fonte
Fundação Oswaldo Cruz
Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde
Biblioteca de Saúde Pública
ISBN: 978-65-87063-12-6
Inclui Bibliografia.
Endereço:
Av. Brasil 4.036, sala 1016A · Maré,
Rio de Janeiro · RJ, Brasil · CEP 21040-361
e-mail: mulheres.ciencia@fiocruz.br
FICHA TÉCNICA Agradecimento especial às equipes da Vídeo
Saúde Distribuidora/Icict e Canal Saúde/
Organizadoras Fiocruz
Cristina Araripe Ferreira
Cristiani Vieria Machado Autores
Alexsandra Rodrigues de Mendonça Favacho
Pesquisa Aline Lopes Lacerda
Cristina Araripe Ferreira Aline Pessoa
Sabrina Behar Jorge Amanda Forte Ferreira
Amanda Reyes
Edição de textos Ana Lucia de M. Pontes
Jefferson de Matos Campos Anakeila Stauffer
João Marcello Boueri Rossigneux Ananda Santana Mateus
Sabrina Behar Jorge André de Faria Pereira Neto
Thatiana Victoria dos Santos Machado André Luiz da Silva Lima
Valentina dos Santos Leite Andrea da Luz Carvalho
Aryella Maryah Couto Correa
Revisão de textos Beatriz Grinsztejn
Jefferson de Matos Campos Camily Evangelista de Almeida
Marcus Marconi Palmeira Guimarães Carolina Cunha Monteiro
Beth Nardelli Claudilene Silva Gonçalves
Constância Ayres
Transcrição de áudios Corina Helena Figueira Mendes
Ana Lecticia Angelotti Cristiana Ferreira Alves de Brito
Cristiana Grumbach
Projeto gráfico e diagramação Cristiane Nogueira Braga
dorotéia design Cristiani Vieira Machado
Adriana Campos Cristina Araripe Ferreira
B. Benedicto Daiana Galdino Pinto da Silva
Daiane Rossi
Colaboração Dalia Romero
Beatris Duqueviz Delaine Costa
Beatriz Velho Denise Nacif Pimenta
Gabriel Rosa Deusilene Souza Vieira Dall’acqua
Inez Sodré Eduardo de Castro Ferreira
Luciene Moraes Elaine Ferreira do Nascimento
Marcelo Garcia Elisa Urbano Ramos
Pedro Henrique Nunes Jorge Elizabeth Leite
Rita de Cássia Duarte Emilly Yorio Camargo Barbosa
Sabrina Amâncio Estephane Gonçalves Santos
Wagner Nagib Fabiana Damasio
Fabiane Vinente dos Santos
Geisa Paulino Caprini Evaristo
Genimar Rebouças Julião
Gláucia Elisete Barbosa Marcon
Hilda Gomes
Hipamaallhe – Braulina Aurora
Inara do Nascimento Tavares
Isabela Soares Santos
Isadora Cristina de Siqueira
Jaqueline Goes
Jislaine de Fátima Guilhermino
João Marcello Boueri Rossigneux
José Gadelha da Silva Junior
Joziléia Daniza Jagso Kaingang
Juliana Machado Santos
Karine Araújo Damasceno
Lenira Zancan
Leticia Lucas Mattos
Letícia Nunes Barros Rodrigues
Luana Linda da Silva
Luciana Pereira Lindenmeyer
Luciana Quillet Heymann
Luiz Otávio Ferreira
Manuella Vitória Alves da Silva
Marcia Correa e Castro
Margareth Dalcolmo
Margareth Portela
Maria Cecilia de Souza Minayo
Maria das Graças Rojas Soto
Maria Eduarda Bento Sampaio
Maria Eduarda Monteiro da Silva Marques
Maria Inês Carsalade Martins
Maria Lúcia Cardoso
Maria Luiza Moreira dos Santos
Mariella Silva de Oliveira-Costa
Marilda de Souza Gonçalves
Marilda Siqueira
Marina Maria
Martha Cristina Nunes Moreira
Milena Mota da Silva Rodrigues
Mychelle Alves
Nara Azevedo
Natalia Machado Tavares
Nísia Trindade Lima
Paloma Ferreira Coelho Silva
Paula Dias Bevilacqua
Roberta Gondim
Rosana Magalhães
Rosane Cuber Guimarães
Roseane Corrêa
Simone Petraglia Kropf
Stephanie dos Santos Cabral
Valdiléa Veloso
Valentina dos Santos Leite
Vanira Matos Pessoa
Zélia Maria Profeta da Luz
Zoraida Del Carmen Fernandez Grillo
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO.............................................................................................................................................................. 16
PÓS-GRADUANDAS
MEMÓRIA INSTITUCIONAL
10. MULHERES NA FIOCRUZ: TRAJETÓRIAS · Luiz Otávio Ferreira, com a participação das pesquisadoras
Nara Azevedo, Simone Petraglia Kropf, Luciana Quillet Heymann e Aline Lopes Lacerda, dos bolsistas
recém-doutores André Lima e Daiane Rossi, e da documentarista Cristiana Grumbach................................................. 58
DEPOIMENTOS DE ESTUDANTES
12. FIOCRUZ MATO GROSSO DO SUL - MULHERES NA CIÊNCIA: PASSADO, PRESENTE E FUTURO ..................... 118
AÇÕES EDUCATIVAS
MINIBIOGRAFIAS
16
A Fiocruz cumpre aqui e nas suas diversas frentes A emergência sanitária acarretada pela Covid-19
de atuação seu papel enquanto instituição de nos trouxe desafios que procuramos abordar com
referência em nível nacional e global. Com as uma seção dedicada ao tema. Vimos novamente
suas unidades espalhadas pelo país, promovemos o papel fundamental de cada uma das servidoras
e lideramos o debate, impactando positivamente da instituição no enfrentamento da pandemia em
as comunidades nas quais estamos inseridas. suas diversas frentes de atuação – seja na gestão,
Mobilizamos os serviços de saúde, escolas e toda nos serviços de saúde, em nossas pesquisas e
a rede de Ciência e Tecnologia, com agentes de no desenvolvimento tecnológico. Uma rápida
saúde, estudantes e professores, além de alunos resposta, antes mesmo de o vírus chegar ao Brasil,
de pós-graduação e universidades. planejada e executada por muitas mulheres.
PARTE 1
MULHERES
E MENINAS
NA FIOCRUZ
20
CRIAR CONDIÇÕES,
ESTIMULAR E
VALORIZAR QUE
MAIS MULHERES
ESTEJAM NAS
POSIÇÕES
DE LIDERANÇA
21
MULHERES E CIÊNCIA
NÍSIA TRINDADE LIMA
ASSEGURAR O
DIREITO DE TODAS
CONHECEREM
POSSIBILIDADES,
TEREM
OPORTUNIDADES
E ESCOLHEREM
SEUS PRÓPRIOS
CAMINHOS
25
REFERÊNCIAS
CORALINA, C. Ofertas de Aninha (aos moços). In:
CORALINA, C. Vintém de cobre: meias confissões de
Aninha. 6. ed. São Paulo: Global Editora, 1997. p. 145.
JELIN, E. Unequal differences. Gender, ethinicity/
race and citizenship in class societies (historical
realities, analytical approaches). In: JELIN, E.; MOTTA,
R.; COSTA, S. (ed.). Global Entangled Inequalities.
Conceptual debates and evidence from Latin America.
London; New York: Routeledge, 2018.
UN WOMAN. Visualizing the data: women’s
representation in society. Disponível em: https://www.
unwomen.org/en/digital-library/multimedia/2020/2/
infographic-visualizing-the-data-womens-
representation. Acesso em: ago. 2021.
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ESTAMOS FAZENDO
HISTÓRIA E VAMOS
MOSTRAR QUE AS
MULHERES PODEM,
SIM, TRABALHAR
COM CIÊNCIA E
TECNOLOGIA
29
e representarem 51% dos autores de artigos países, para a conquista do direito ao voto.
científicos, de acordo com dados do Conselho Essa vitória histórica no Brasil se deu em 1932,
Nacional de Desenvolvimento Científico e e envolveu inúmeros desafios, entre eles, o do
Tecnológico (CNPq), elas ocupam apenas 2% dos direito de ter acesso à educação. Sem letramento,
cargos de liderança política na área da ciência, não haveria como avançar. Grande parte das
tecnologia e inovação (CT&I). sufragistas brasileiras eram professoras. Talvez
o direito à educação seja, ainda hoje, uma das
A Organização das Nações Unidas para a nossas principais batalhas no campo da conquista
Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) lançou, da cidadania plena.
recentemente, uma campanha cujo mote é: Para
ser inteligente, a revolução digital precisará ser Depois de tantas lutas importantes, ao olharmos
inclusiva. E isso abrange fundamentalmente as para trás, nós ainda percebemos que existem
meninas. Estudos ligados ao crescimento do lacunas a serem preenchidas com fatos
mercado de trabalho para mulheres, por exemplo, (cronologias), biografias e objetos de estudo e,
nas engenharias e áreas tecnológicas como a assim, mais do que nunca, queremos também
da informação/informática, de um modo geral, buscar novas inspirações para continuarmos
apontam para a necessidade imperiosa de revisão lutando. O acesso das mulheres e meninas
de critérios de seleção que sejam mais inclusivos. aos direitos humanos, políticos, à saúde não
De maneira mais ampla, a história da inclusão existirá no Brasil sem o acesso à educação e aos
das mulheres na vida pública, compreendendo espaços de poder para as decisões necessárias
também o mundo da ciência e tecnologia, é no tempo presente.
marcada por muitos senões. Nas universidades
e sociedades científicas, os empecilhos NA MINHA PERSPECTIVA DE
históricos disfarçados com meras formalidades PESQUISADORA QUE ATUA NA
administrativas e burocráticas foram constantes INTERFACE EDUCAÇÃO E DIVULGAÇÃO
– das convicções políticas pautadas pela CIENTÍFICA EM SAÚDE, ESSE DUPLO
misoginia à falta de autorização do marido para OBJETIVO É FUNDAMENTAL E TEM
estudar e trabalhar – e marcarão para sempre QUE ACONTECER SE QUISERMOS
os numerosos preconceitos e tabus. Ao mesmo TRANSFORMAR A REALIDADE ATUAL.
tempo, provocaram a lentidão do processo
político-social, que visa ampliar a participação
das mulheres na esfera pública e, especialmente, A Fundação Oswaldo Cruz, instituição centenária
nas posições de poder que podem contribuir para de pesquisa em saúde pública, não é diferente
a conquista da cidadania plena, emancipatória e de nenhuma outra instituição no mundo que
democrática por definição. atua, concomitantemente, em muitas áreas
do conhecimento científico e tecnológico.
Em pleno ano de 2021, no século XXI, depois Existem especificidades de áreas e diferenças
de mais de um século de lutas pela defesa dos socioculturais que marcam a sua trajetória e
direitos das mulheres, que começaram no início reforçam a percepção de que estamos fazendo
do século XX e atingiram o seu ápice com o progressos no tocante às políticas afirmativas
movimento internacional sufragista, mobilizando e de igualdade de gênero, mas, ao mesmo
milhares e milhares de mulheres, em diferentes tempo, enfrentamos disputas que atravessam os
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diversos campos de sua atuação institucional. fortalecer e ampliar as iniciativas voltadas para
Dos estudos em políticas de saúde ao cotidiano as jovens estudantes que querem seguir carreiras
na área dos cuidados em saúde, observa-se científicas. E pluralistas porque entendemos
uma grande e óbvia diferença de gênero. É que precisamos atrair a atenção de múltiplos e
evidente que existem importantes avanços na diversos atores sociais independentemente de
construção de discursos e práticas profissionais suas convicções religiosas, interesses político-
menos desiguais, mas, a despeito de conquistas econômicos ou filiações político-partidárias.
históricas, ainda temos uma tendência a
esbarrar no “teto de vidro”, como batizado por Temos que nos preocupar com o futuro da
cientistas que estudam carreiras científicas de ciência, que se mostra muito mais feminino,
mulheres. Existem obstáculos persistentes que tanto na perspectiva das discussões sobre
impedem pesquisadoras com alta qualificação gênero quanto das etnias/raças, que precisam de
e performance acadêmicas de alcançarem políticas para se somar ao conjunto dos esforços
postos elevados de direção dentro de grupos, voltados para afirmação da CT&I como um
laboratórios, universidades e centros de pesquisa. requisito essencial para o desenvolvimento social
Este “teto” implica com frequência assumirem e econômico das nações que pleiteiam um lugar
posições subalternas dentro de equipes de de destaque na história contemporânea.
trabalho. Alguns mecanismos de subordinação ao
chefe de laboratório do gênero masculino passam No meu microuniverso cultural e profissional,
pela ausência de políticas para que levem em algumas ideias-força têm sido valiosas. Uma certa
consideração o papel das mulheres como mães, clareza em relação às finalidades de uma política
cônjuges, cuidadoras, entre outros. institucional que privilegie as relações entre
ciência, gênero, raça e educação foi determinante
Na Fiocruz, o Programa Mulheres e Meninas no início das minhas reflexões. Atualmente,
na Ciência, criado na gestão da professora e muitas perspectivas têm sido abertas com a
socióloga Nísia Trindade Lima, primeira mulher intenção de compreender melhor o que está em
a dirigir nacionalmente a instituição, é resultado jogo ao nos debruçarmos sobre a necessidade de
de uma articulação que tem características aceleração do trabalho voltado para as políticas
plurais e pluralistas. Sem perder de vista as institucionais afirmativas. Além do imperativo de
políticas estruturantes de saúde, de CT&I e, em inclusão das mulheres e meninas no debate sobre
particular, de igualdade de gênero e raça, as o futuro da CT&I no Brasil e no mundo, podemos
quais são essenciais para dar maior envergadura ponderar que existe urgência em termos do
ao processo de construção democrática empoderamento feminino. Voltamos ao ODS 5 da
da sociedade brasileira. Por que plurais? Agenda 2030 da ONU, que prevê a eliminação de
Por que pluralistas? Plurais porque temos a desigualdades extremamente básicas.
ambição de envolver todos os trabalhadores
e as trabalhadoras, os alunos e as alunas, os
colaboradores e as colaboradoras, de todas OS DIREITOS UNIVERSAIS SÃO
as categoriais profissionais, nessa empreitada FUNDAMENTAIS, MAS HÁ TAMBÉM
de grande amplitude que envolve dar maior QUESTÕES DE PODER ENVOLVIDAS.
visibilidade ao trabalho das mulheres cientistas
e suas colaboradoras diretas e, com isso,
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Para terminar esta apresentação, vou citar a Hirata (2014) nos advertiu, assumimos que o
experiência da Olimpíada Brasileira de Saúde conceito de interseccionalidade nos faz “avançar no
e Meio Ambiente da Fiocruz, que vem abrindo conhecimento da dinâmica e da interdependência
espaço para esse debate junto às escolas, das relações sociais e na luta contra as múltiplas
professores e alunos da educação básica e formas conjugadas de opressão”.
homenageou com um prêmio especial, na sua
10ª. edição, a cientista Bertha Lutz. Para juntas À guisa de conclusão, vou fazer uma avaliação
buscarmos inspirações, criamos, em 2019, o geral do quadro de percepções que se me
Prêmio Menina Hoje, Cientista Amanhã para avizinha. No nosso mundo da CT&I ainda
que tentássemos fazer com que chegassem ouvimos piadas machistas e convivemos com a
aos ensinos fundamental e médio as políticas misoginia nas mais diversas situações. Apesar
e estratégias de apoio e incentivo às mulheres de mudanças estarem ocorrendo em várias
e meninas na ciência. As lutas iniciadas por instâncias e áreas ligadas ao mundo do trabalho
Bertha Lutz, que organizou e mobilizou outras e da ética em pesquisa, muitas percepções
mulheres para que ocorressem mudanças de negativas em relação aos problemas contumazes
comportamento em relação ao papel de todas aparecem bem claramente nas falas públicas das
na sociedade, ainda estão presentes e nos mulheres e meninas que atuam nas instituições
guiam em momentos decisivos. Suas lutas nos científicas, incluindo o período em que estão
movem! Passadas décadas e décadas, mulheres iniciando os estudos universitários. Tanto em
sofrem com discriminações de diferentes termos da ausência de avanços significativos no
origens, dos preconceitos machistas às lutas contexto de adversidades políticas enfrentadas
pelo poder, passando pela falta de incentivos. atualmente no Brasil quanto no que diz respeito
Muitas de nós vivem a realidade do patriarcado às necessárias críticas e reflexões que precisam
enraizado há séculos em todas as regiões do acontecer para que mudanças possam mais
país e/ou territórios de vulnerabilidade social facilmente ocorrer. Se uma mulher precisa
manifestamente conhecidos. A grande maioria não acompanhar crianças, idosos, familiares em
tem a menor chance de se contrapor aos desígnios momentos especiais da vida privada, de
que lhe impõe a cultura macho-ocidental, que usa vulnerabilidade ligada a doenças ou agravos
com frequência a violência para se impor. (intercorrentes ou de longa duração), nada mais
óbvio do que garantir regras específicas para
E, assim, uma multidão de mulheres e meninas ela no mundo do trabalho. Desde o início da
enfrentam no seu dia a dia o peso das iniquidades pandemia de Covid-19, as mulheres têm falado
de gênero, sem terem acesso a oportunidades bastante sobre esse acúmulo de funções e tarefas
que poderiam transformar a vida de muitas delas, domésticas ligadas aos cuidados com a família,
em todos os setores da vida social, econômica, portanto, trata-se de levarmos em consideração
política, profissional e, até mesmo, acadêmica! Não as condições materiais e psicossociais que
entraremos em detalhes, porém, é imprescindível envolvem cada indivíduo. Se alguém tinha dúvida
assinalar que essas discussões passam pelo tema em relação a essas questões básicas do cotidiano,
do empoderamento feminino. Tampouco trataremos não podemos mais titubear: família, saúde e
aqui dos problemas decorrentes do conceito de doença ainda são “coisas de mulheres”.
interseccionalidade de gênero e sua aplicação
no campo das pesquisas sociais. Como Helena
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Na Fiocruz, outro elemento de grande interesse para educação e às oportunidades de estudo são
definições estratégicas do nosso Programa Mulheres majoritariamente as meninas negras e pobres.
e Meninas na Ciência refere-se às prioridades Com tantas desigualdades persistentes, não
que estão sendo elencadas pelo conjunto dos são poucas as tarefas que se apresentam com
atores sociais e institucionais presentes na arena o propósito de mudarmos a realidade das
pública. No que tange a políticas que incentivam meninas excluídas das escolas, universidades,
meninas a seguir carreiras científicas e conferem instituições de pesquisa. Iniciativas como a
visibilidade a mulheres que atuam na pesquisa, é nossa, que visam estimular e apoiar a inserção de
inegável que existem conjunturas e circunstâncias mais meninas na ciência, precisam partir dessas
a serem assumidas e tratadas coletivamente. muitas desigualdades sociais. Ao propormos a
Entre esses atores, algumas cientistas e entidades estruturação de um programa institucional, temos
têm desempenhado o papel de porta-vozes de como orientação básica as diretrizes político-
movimentos que envolvem mulheres na luta por institucionais aprovadas no VIII Congresso
direitos e contra as iniquidades. Muitas dificuldades Interno da Fiocruz com o objetivo de ampliar o
práticas referem-se à consolidação de suas carreiras, acesso da sociedade à saúde, à educação e aos
as quais são construídas a partir de índices e conhecimentos científicos e tecnológicos.
avaliações da produtividade científica atrelados Eu citarei, para concluir, um texto muito curto que
a um conjunto de critérios que não levam em está no Portal Geledés em defesa de mulheres
consideração os diferentes papéis sociais atribuídos e negros, escrito por uma jovem mulher negra,
às mulheres, que envolvem a maternidade, os Tatiane Souza, que diz assim:
cuidados, entre outros. Além do aprisionamento
social ligado aos papéis específicos de mãe, avó e Se você estuda demais, você é arrogante. Se não
esposa, que está fartamente descrito na literatura estuda, você é preguiçosa. Se trabalha demais, é
clássica dos estudos de gênero, temos que lidar, egoísta. Se fala algo ou tem uma opinião, é metida.
cada vez mais, com controvérsias relativas ao Se temos qualidade, não consideram. Se temos
cuidado que, de uma maneira geral, não estão defeito, somos julgadas. Se somos persistentes, somos
estabilizadas. Como uma categoria de análise que apenas suficientes. Não podemos ser humanas? Por
traz dimensões pouco exploradas no que se refere que o nosso esforço tem que ser sempre melhor e
às mulheres cientistas, vale a pena registrar que com maior do que o dos outros? (SOUZA, 2020, [S./p.])
a pandemia de Covid-19 aumentou, enormemente,
o número de inquéritos e pesquisas a respeito do Estamos fazendo história e vamos mostrar
assunto, incluindo em muitos deles as imposições que as mulheres podem, sim, trabalhar com
profissionais da própria área da saúde. Que o ciência e tecnologia. E a última frase não poderia
acúmulo de atividades/papéis está sendo pesado ser outra: lugar de mulher é onde ela quiser,
para as mulheres cientistas e meninas que estudam, inclusive na ciência!
não é em si uma novidade, mas apresenta um
problema persistente que traz questionamentos REFERÊNCIAS
históricos acerca da divisão sexual do trabalho nas HIRATA, H. Gênero, classe e raça. Tempo Social, São Paulo, vol.
26, n. 1, p. 61-73, 2014
sociedades contemporâneas.
SOUZA, Tatiane. Quando fere minha existência, serei
resistência. Portal Geledés, 18 fev. 2020. Disponível em:
E, por fim, não vamos nos esquecer de que
https://www.geledes.org.br/quando-fere-minha-existencia-
as meninas ainda privadas de acesso pleno à serei-resistencia/.
34
CRIAR ESPAÇO DE
REPRESENTATIVIDADE,
PORQUE AS
MULHERES NEGRAS
PRECISAM SABER
QUE PODEM
ESTAR EM TODOS
OS ESPAÇOS
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porque as negras precisam saber que podem inserção na universidade. Então, eu acho que
estar em todos os espaços. Não ocupar somente a Fiocruz, com o compromisso que tem com
os espaços que reservaram para a gente, mas a população brasileira, precisará dar sequência
conquistar espaços nos quais somos capazes de aos estudos de políticas públicas porque vamos
estar. Ainda há bastante a avançar. ver futuramente o impacto disso na educação
– principalmente, na população mais pobre
desse país, que engloba a população negra. A
NO BRASIL, O RACISMO É MUITO desigualdade social vai ser um empecilho. Nós
VELADO. CAPACIDADE E INTELIGÊNCIA sabemos a grande evasão que está ocorrendo, mas
NÓS TEMOS, MAS SOMOS PRETOS. é importante não desanimarmos, com certeza.
Então, já percebi que, quando as pessoas me Acho importante também pontuarmos que
veem pessoalmente, elas têm um olhar de daqui a quatro, cinco anos vai aumentar esse
espanto, de que não era o que esperavam como cenário de mulheres cientistas aqui no Brasil.
uma pesquisadora ou gestora. Nós, mulheres Não desanimem. É possível, sim, ser uma
negras, nos cobramos demais. Por mais que eu cientista. Claro que é preciso muita dedicação,
esteja trabalhando muito, acho que não posso estudo e apoio.
errar. Isso porque, se errarmos, como mulheres
negras vamos ser cobradas imediatamente por Eu tenho muita gratidão à Fundação Oswaldo
conta do racismo. E com a mulher não negra, Cruz. Ingressei aqui como terceirizada, como
isso é diferente. Quando falo da minha trajetória, técnica em Química, e a Fundação me deu a
sempre relato um episódio de racismo que sofri, oportunidade de fazer o mestrado e o doutorado.
pois participei de uma seleção de estágio em Aqui passei primeiro para técnica de Saúde
uma multinacional e, de acordo com a seleção, Pública; depois, no último concurso, passei
os primeiros três colocados iriam para a próxima como pesquisadora, então eu sou uma mulher
fase. Eu fiquei em terceiro, mas chamaram a negra cientista. A minha instituição me deu essa
pessoa que ficou em quarto lugar, que era uma oportunidade de ser pesquisadora e eu sei desse
mulher branca. Mas isso só me deu forças papel transformador, social e comprometido com
para conquistar cada vez mais meus sonhos e a ciência que a Fiocruz desempenha.
contrariar as estatísticas.
Fundado em agosto de 1976, o sindicato E para finalizar, trago uma reflexão sobre a
nacional das trabalhadoras e trabalhadores da minha vida:
Fiocruz atua como entidade sindical desde 1986
e tem entre os principais objetivos defender “Desde menina eu tinha um sonho de fazer uma
os direitos dos associados, representá-los em faculdade e, à medida que o tempo passava, fui
ações judiciais coletivas, organizar movimentos tendo mais oportunidades que me levaram para
políticos e sindicais. área da ciência, me formei em Química Industrial, e
não fiquei satisfeita com apenas esse título, fui em
Mais do que isso, defende políticas que protejam busca de novos sonhos e desafios, me tornei mestre
a saúde do trabalhador, dos ambientes e das em tecnologia de processos químicos e bioquímicos,
condições saudáveis de trabalho; participa das professora universitária e doutora em tecnologia
macrodecisões institucionais da Fiocruz em nome de processos químicos e bioquímicos. Só que me
dos servidores, integrando as instâncias coletivas faltava algo para me realizar no campo da ciência,
de decisão; representa também o interesse deles e fui em busca de um novo sonho, que foi me tornar
diante das demais entidades sindicais, instâncias pesquisadora em saúde pública da Fiocruz”.
governamentais e da sociedade; promove a
circulação de informação e comunicação, bem
como realiza atividades culturais, esportivas e REFERÊNCIAS
sociais que levem ao congraçamento, à união e ao SINDICATO DOS SERVIDORES DE CIÊNCIA,
bem-estar dos associados. TECNOLOGIA, PRODUÇÃO E INOVAÇÃO EM SAÚDE
PÚBLICA – ASFOC. Portal. Disponível em: http://www.
asfoc.fiocruz.br/portal/.
38
DAR PROTAGONISMO
ÀS PESSOAS QUE
HISTORICAMENTE
ESTIVERAM OU
ESTÃO NA
BASE SOCIAL
39
Andrea: Quando conseguimos incluir Andrea: Em 2018, foi implantado um 1. O texto da Tese 11
a Tese 11 no Congresso Interno, Sistema de Gestão de Integridade pode ser lido, na íntegra,
no Relatório Final do
chamamos atenção da comunidade na Fiocruz composto por Ouvidoria,
VIII Congresso Interno
Fiocruz para o fato de que não existe Comitê de Ética, Corregedoria, Fiocruz, disponível em:
separação entre uma ética interna e Controladoria, Auditoria Interna, Comitê
externa. Portanto, o compromisso e Gestor da Lei de Acesso à Informação,
a posição ética institucional devem Comissão Permanente de Acesso à
ser coerentes com os nossos valores Informação, Comissão de Integridade
e lutas, seja por mulheres, negros ou Científica e Agentes de Integridade. 2. É possível conhecer
pelo grupo LGBTQIA+. As discussões O Sistema apura as denúncias2, que mais sobre o Sistema de
Gestão de Integridade
possibilitaram ao Comitê incluir essas podem ser feitas por qualquer pessoa
na Fiocruz por meio do
questões na agenda das unidades. a partir da Ouvidoria, via internet3. documento síntese do
A Ouvidoria analisa e encaminha Programa de Integridade
O “Trajetórias Negras” foi um a denúncia. Ela pode propor uma Pública Fiocruz,
disponível em:
projeto muito bonito do Comitê, mediação, se for um conflito entre as
abordando a trajetória de servidores partes; encaminhar para a apuração do
públicos negros da Fiocruz. Um dos Comitê de Ética da Fiocruz, se envolver
focos da iniciativa é evidenciar as desvios éticos, ou para a Corregedoria,
dificuldades que se entrecruzam nas se for uma suspeita de assédio (moral
jornadas individual e institucional no ou sexual) ou uma outra forma de 3.
enfrentamento do racismo. violência. Se a denúncia se constitui
em algo que já tenha uma previsão
Ainda hoje temos um mar de legal, como no caso de assédio e
denúncias de assédios sexuais e importunação sexual, ela deve também
morais. Por isso, estamos revisando ser encaminhada para a delegacia. 4. Já é possível visualizar
e atualizando nossa cartilha sobre o Regimento de Pós-
Graduação Stricto Sensu,
assédio, incluindo outras violências Valentina: Muitas mudanças ocorreram
Especialização Lato Sensu
no trabalho, como racismo, xenofobia, na Fiocruz, no país e no mundo no que e Cursos de Qualificação
LGBTfobia e as questões geracionais. diz respeito às relações de trabalho. da Fundação Oswaldo
Você gostaria de destacar alguma Cruz de 2021 por
meio do documento
Valentina: De que forma as pessoas conquista política dos últimos anos?
disponível abaixo
podem realizar essas denúncias
(trabalhadores e comunidade Fiocruz)? Andrea: No nosso contexto, a
conquista política é resistir, não deixar
que essas questões, raciais e de
gênero, fiquem invisibilizadas.
É necessário reforçar o papel BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz. Documento
institucional de eliminar as barreiras síntese do Programa de Integridade Pública. Fundação Oswaldo Cruz.
que impedem o acesso dos indivíduos. Disponível em: https://portal.fiocruz.br/sites/portal.fiocruz.br/files/
Uma Fiocruz inclusiva e diversa é documentos/programa_de_integridade_fiocruz_pagina_da_fiocruz.pdf.
um caminho que estamos ainda
trilhando. Para que o direito seja FLEURY-TEIXEIRA, Elizabeth; MENEGHEL, Stela Nazareth.
ampliado de forma evidente, para que Dicionário Feminino da Infâmia. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2015.
as pessoas possam ter a liberdade
de ser, combatendo toda a violência
que naturalizamos, minimizamos e
reproduzimos no nosso cotidiano. REFORÇAR O PAPEL INSTITUCIONAL DE
ELIMINAR AS BARREIRAS QUE IMPEDEM
O ACESSO DOS INDIVÍDUOS
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação
NÓS DEFENDEMOS
A EQUIDADE
COMO UM VALOR
45
Para quem ainda não conhece o nosso O nosso comitê tem o objetivo de
comitê, acho que vale aproveitarmos colaborar para que a diversidade de
este momento para compartilhar meninas e mulheres seja garantida e
algumas informações. Somos um seja, sobretudo, reconhecida como um
coletivo vibrante e potente que vem valor, como uma potência, pela nossa
atuando desde 2009 na Fiocruz, em instituição. Temos buscado formas de
sua diversidade. Reunimos pessoas de ampliar essas possibilidades na prática,
diferentes unidades e o nosso objetivo cientes do quanto essas desigualdades
é consolidar uma agenda institucional e desafios para o desenvolvimento da
pelo fortalecimento da equidade de carreira de cientista são atravessados
gênero e das relações étnico-raciais na pelas questões de gênero e raça.
nossa instituição, no cotidiano. Temos
buscado colaborar constantemente
para atualização e reorientação das É IMPORTANTE PENSARMOS NAS
nossas políticas, das nossas ações, POSSIBILIDADES TAMBÉM DE
seja nas relações de trabalho, seja no ENFRENTAR ESSAS SITUAÇÕES DE
atendimento ao público e na produção VULNERABILIDADE QUE FAZEM PARTE
e popularização do conhecimento DO NOSSO PAÍS E QUE IMPACTAM O
científico. E na pluralidade de áreas que PROCESSO DE DIREITO À EDUCAÇÃO,
a ciência apresenta neste processo de À SAÚDE E À DIGNIDADE HUMANA.
desenvolvimento do conhecimento.
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Nesse sentido, temos tentado buscar formas Acho que termos a nossa presidenta Nísia
de elaborar estratégias para garantir que Trindade à frente da Fiocruz, assim como
mais meninas e mulheres negras, trans, toda essa mobilização do projeto “Meninas e
com deficiências – ou seja, essas meninas e Mulheres”, nos dá uma sensação de inspiração,
mulheres, nas suas diversidades – tenham alento e esperança de que temos, sim, a
o direito de sonhar, de se desenvolver, de se possibilidade de seguir adiante com a nossa força.
tornar cientistas a partir da nossa Fiocruz. Nós
defendemos a equidade como um valor. E a E para encerrar, gostaria de compartilhar o
equidade está no nome do nosso comitê. Vale papel determinante que a Fiocruz teve na minha
lembrar, neste momento de abertura dessa vida como instituição catalisadora de sonhos e
programação tão potente, que temos a tese 11, destacar esse papel catalisador da Fundação,
aprovada no 8º Congresso Interno da Fiocruz, no capaz de fazer meninas sonharem, crescerem e se
final de 2017, que reafirma o nosso compromisso tornarem cientistas. Este castelo da Fiocruz, com
institucional na luta por uma sociedade todo seu encantamento, sua luta, sua resistência,
mais justa, mais equânime, comprometida me inspirou, me fazia sair diariamente, com 14
com o reconhecimento da diversidade do anos, de Duque de Caxias (RJ), encarar trem,
povo brasileiro, das suas demandas e do ônibus cheio, nos anos em que eu estudei na
enfrentamento das formas de discriminação. Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio,
Esse referencial é muito importante para a e entender que eu poderia ser uma cientista.
atuação do comitê e para o comprometimento E não tinha um dia que eu não visse, na minha
da Fiocruz com a defesa dessa diversidade. escola Politécnica, o saudoso professor Jairo nos
perguntar “o que era ciência”. Era engraçado que
Essas realidades de violência e desigualdade eu tinha a sensação de que eu e meus colegas
que temos visto sendo denunciadas e de turma nunca sabíamos como responder à
relatadas, sobremaneira neste contexto de pergunta “o que era ciência”. E a cada dia, a
pandemia, é a realidade de muitas mulheres cada ano, aquela resposta ficava mais difícil. Eu
para além da pandemia. desconstruí também esse imaginário de que
cientista tem que ser aquela pessoa das Ciências
ACHO MUITO IMPORTANTE Biomédicas, da bancada do laboratório, com as
ENTENDERMOS QUE ESTAMOS pipetas, buretas, enfim... Eu sou uma cientista das
FALANDO DE UMA DIVERSIDADE DE ciências humanas, da comunicação, tecnologista
MULHERES, MARCADAS POR ESSA em saúde pública da Fiocruz e estou no Comitê
DESIGUALDADE, QUE ESTÃO NO Pró-Equidade de Gênero e Raça da Fiocruz. Sou
NOSSO PAÍS. servidora da casa colaborando para que a Fiocruz
não seja privilégio, mas condição fundamental e
direito para que tantas meninas e mulheres de
origem periférica também sonhem e se tornem o
que desejarem ser como cientistas.
47
NÓS TEMOS
FORTALECIDO
ESSES ESPAÇOS
CHEGANDO ATÉ ELES
E MOSTRANDO QUE
TAMBÉM PODEMOS
OCUPÁ-LOS
49
PÓS-GRADUANDAS
CONTAR COM
ESSA DIVERSIDADE
SÓ PODERIA
SER POSITIVO
53
IGUALDADE DE GÊNERO NA
CIÊNCIA: O QUE A COMUNICAÇÃO
TEM A VER COM ISSO?
MARCIA CORREA E CASTRO
Não foi à toa que, em 2015, a Organização das Nações Unidas declarou o Dia
Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. O campo científico reproduz o
machismo que estrutura a sociedade. No Brasil, apenas 40% dos pesquisadores
cadastrados na plataforma Lattes são mulheres. E ainda há as desigualdades
por área. Nas engenharias, por exemplo, as mulheres são apenas 26% dos
pesquisadores. Os dados são do Open Box da Ciência, um levantamento da
empresa Gênero e Número, financiada pelo Instituto Serrapilheira.
4. A autora desafiou
Sabemos que a situação da podemos citar o “Doutor Brow” da
padrões da época, mas na
primeira metade do século desigualdade de gênero se repete trilogia “De Volta para o Futuro”,
XIX ia ser pedir demais uma nos dois campos (científico e da nos anos 1980, e na TV o químico
protagonista feminina no comunicação) porque o machismo Walter White, da série Breaking
papel de cientista.
é estrutural na sociedade. Mas nos Bad, de 2008. Para as crianças, os
interessa olhar especificamente como desenhos animados entregam o “Dr
as duas áreas dialogam, Duffer Smith”, de “Phineas e Ferb” e
ao retroalimentar esse problema. “Dexter” do “Laboratório de Dexter”.
Todos homens: o gênero masculino
SOMOS O QUE OUVIMOS, integra o conjunto de características do
LEMOS E ESCUTAMOS. É A profissional de ciência estereotipado
PARTIR DAS MENSAGENS pelo campo da comunicação.
DISSEMINADAS
COLETIVAMENTE, QUE Em artigo de 2017, Carvalho
CONSTRUÍMOS OS SENTIDOS e Massarani apresentaram os
PARA O QUE NOS CERCA. resultados de uma pesquisa a partir
da grade de programação de duas
O American Way of Life foi difundido emissoras de TV aberta no Brasil (TV
mundialmente pelo cinema; a princesa Globo e TV Record). Elas analisaram
Isabel tornou-se a “salvadora dos 672 horas de programação, somando
negros” graças à linguagem empregada as duas emissoras. Em 0,8% desse
nos livros didáticos. Viver em um total (cinco horas, 39 minutos e 45
mundo em que os homens escrevem segundos), apareceram 137 cientistas,
e comandam a mídia e as produções em matérias jornalísticas e em
artísticas significa moldar e enxergar propagandas: 109 eram homens e
o mundo através do homem. É essa apenas 28 eram mulheres.
mídia e essa indústria cultural que nos
legaram “o cientista” (no masculino), Diante dessa avalanche de
excluindo as mulheres desse campo. representações, o mais provável é que
uma menina, ao idealizar seu futuro,
Temos Victor Frankenstein, do não vislumbre a possibilidade de uma
romance publicado por Mary Shelley4 carreira científica, o que contribui para a
em 1818. As revistas em quadrinhos manutenção de uma presença feminina
nos apresentaram o vilão Lex Luthor reduzida nesse campo. Com menos
(1940), os heróis cientistas “Senhor mulheres fazendo ciência, a chance de
Fantástico” (1961) e “Tony Stark” um jornalista entrevistar uma mulher,
(1963), além dos vários inimigos quando decidir fazer uma reportagem
do Homem Aranha (todos homens, sobre ciência, será menor. E assim
quase todos cientistas). No cinema alimentamos o ciclo vicioso que, por sua
vez, alimenta o machismo estrutural.
55
MEMÓRIA INSTITUCIONAL
Ampliação da
escolarização feminina em
nível secundário e superior, no
Brasil, que abre possibilidades
de ingresso de mulheres nas
ciências e nas instituições
científicas e universidades.
1920
A Fundação começa a receber
as primeiras mulheres.
Muitas ingressam por
1930/40
cursos oferecidos pelo
Instituto Oswaldo Cruz.
Mas elas só passam a ter mais
oportunidades profissionais,
depois da Segunda Guerra,
com a maior valorização
dos cientistas.
1. Dados retirados do
e-book “Menina Hoje,
Cientista amanhã”
editado pela Olimpíada
Brasileira de Saúde e
Meio Ambiente.
57
1960 1990
1970 até hoje
É POSSÍVEL CONHECER
SUAS HISTÓRIAS
DE VIDA, SUAS
CAMINHADAS DENTRO
DA INSTITUIÇÃO,
REFLETIR GÊNERO, RAÇA,
LUGARES DE FALA, ENTRE
OUTRAS POTENCIAIS
ANÁLISES QUE PODEM
SER FEITAS, GERANDO
FRUTOS A PARTIR
DESSAS PRODUÇÕES
59
1. Para Mulheres
A série de vídeos “Mulheres na Já o documentário “Mulheres na
na Fiocruz
Fiocruz: trajetórias” e o documentário Fiocruz: pioneiras”1 foi integralmente
“Mulheres na Fiocruz: pioneiras” estão produzido a partir de fontes
disponíveis no canal do YouTube da arquivísticas, sobretudo do vasto
Casa de Oswaldo Cruz. Os primeiros acervo documental sob a guarda
vídeos, lançados em junho de 2020, do Departamento de Arquivo de
contam as trajetórias das pesquisadoras Documentação (DAD) da COC que
Yara Traub-Cseko (IOC), Maria da Luz contempla, além das mais de 3.000
Fernandes Leal (Bio-Manguinhos) e horas de entrevistas já realizadas com
Lileia Diotaiuti (IRR/Fiocruz Minas). pesquisadoras da Fiocruz, um vasto
A produção foi elaborada a partir de conjunto de documentos: currículos,
depoimentos gravados, realizados notícias de jornal, publicações,
presencialmente em 2019, que foram fotografias, documentos textuais,
agregados ao acervo de história oral da diários de viagens e de laboratório,
COC e futuramente estarão disponíveis entre outros. Para produção do
para pesquisa e acesso na íntegra. documentário, utilizamos sete
entrevistas gravadas oriundas dos
projetos “Memória das Coleções
Científicas do Instituto Oswaldo
Cruz da Fiocruz”, liderado por Magali
Romero de Sá, e “Gênero e ciência:
61
carreira e profissionalização no
IOC, Museu Nacional e Instituto de
Biofísica”, liderado por Nara Azevedo.
Por meio de um intenso trabalho de
escuta, elaboração de roteiro, pesquisa
histórica e edição, o filme contempla
a trajetória das pesquisadoras Anna
Kohn, Delir Correa Gomes Maués da
Serra Freire, Dyrce Lacombe, Luiza
Krau, Monika Barth e Ottilia Affonso
Mitidieri, que ingressaram na instituição
entre as décadas de 1950 e 1960.
NÓS
TEMOS FORTALECIDO
ESSES ESPAÇOS
CHEGANDO ATÉ
ELES E MOSTRANDO
QUE TAMBÉM
PODEMOS
OCUPÁ-LOS
63
COMPROMISSO E DEDICAÇÃO:
A CONTRIBUIÇÃO DE MARIA CECILIA
DE SOUZA MINAYO NO CAMPO
DA SAÚDE COLETIVA
Entrevista1 concedida para o projeto “Memórias e Práticas”, do Departamento
de Ciências Sociais da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz),
realizada em 4 de dezembro de 2019, com a presença das pesquisadoras Lenira
Zancan, Maria Inês Carsalade Martins e Rosana Magalhães. A redação deste
texto síntese da entrevista é de autoria de Lenira Zancan, com a colaboração
de Delaine Costa e Maria Lúcia Cardoso. O projeto “Meninas e Mulheres na
Ciência” apoiou a edição da entrevista em formato audiovisual.
de duas coletâneas: “Demandas Populares e aula e depois corrigia a mim mesma, tentando
Políticas de Saúde” (MINAYO; COSTA; LEITÃO; melhorar o texto com as questões que eles
STOTZ, 1989) e “Saúde em Estado de Choque” traziam, com as dificuldades que eles traziam. O
(MINAYO, 1987). Coordenei esse trabalho de livro “O Desafio de Conhecimento” (MINAYO,
campo, por exemplo, nas favelas da Penha, que 2000), de certa forma, é uma memória desse
para mim foram a primeira entrada nas questões esforço como professora e, ao mesmo tempo,
de saúde. Quando entrei na ENSP, percebi que a como pesquisadora.
preocupação social como condição de saúde era
o foco da Fiocruz. Essa articulação da pesquisa Entrevistadoras: Qualquer projeto que a gente
com a questão social, com a população, com o pegue, a referência é Cecília Minayo.
comprometimento com a política de saúde, com
o comprometimento com a sociedade foi nicho Cecília: O Abel Parker diz que eu sou a autora
de trabalho com o qual sempre sonhei. O que eu brasileira mais citada nas ciências sociais – não
queria fazer, o que eu poderia contribuir era com a é na área de saúde, não, é nas ciências sociais.
pesquisa empírica, com a pesquisa qualitativa que, Isso é possível porque eu fiz um livro para ser
de certa forma, eu trouxe para o departamento. utilizado, para ser lido, para servir.
ENSP tinha apenas cinco doutores. Só que esses e eles contribuíram conosco porque passei
cinco doutores não orientavam, quem orientava a ser chamada pelo coordenador de área na
eram os mestres. Acho que só o Victor Valla Capes. Assim, após quatro anos, o mestrado e o
orientava. Era imensa a tarefa de reestruturação. doutorado estavam com nota 5, que era a maior
O conceito do doutorado era D, o do mestrado à época. Acho que o Paulo [Buss] tem um mérito
era C, além do curso ser avaliado dentro da muito grande nisso, porque era um chefe que
área de medicina. Comecei a trabalhar com os dava apoio. Ele bancou o projeto, ficava bravo,
doutores para fazermos a proposta das subáreas exigia, e não transigiu, e eu também não transigi.
de concentração e grupos de pesquisa. Tinha Todas eram pessoas muito queridas, mas havia as
muita gente relutante em mudar, e os mestres se normas, havia regras às quais nos submetíamos.
sentiram meio ameaçados. Ao mesmo tempo,
comecei a atuar em Brasília, porque na época Quando terminei meu período na pós-graduação,
não era a Capes que aprovava os cursos, era o em 1995, Paulo Buss, escolhido para ser vice-
Conselho Federal de Educação, e cada curso tinha presidente de ensino, me convidou para coordenar
um conselheiro-mor. Nós tínhamos o nosso, só a pós-graduação da instituição como um todo. Aí
que ninguém sabia quem era. Uma pessoa da eu comecei aquele trabalho de formiguinha com
Capes me ajudou a identificá-lo e fui conversar cada programa existente, e os reuni pela primeira
com ele; levei um projeto, falei que estávamos vez, porque nunca tinham se reunido. Vinha o
em pleno processo de reestruturação, e consegui pessoal do Instituto Fernandes Figueiras (IFF),
iniciar uma interlocução. Afinal, não dá para fazer da ENSP e dos programas do Instituto Oswaldo
as coisas sem entrar na política institucional e Cruz (IOC). Depois fomos criando programas
acadêmica. Enquanto isso, eu conversei com em Recife e Belo Horizonte. Aí redigimos, juntos,
Paulo Buss e falei o seguinte: “– Paulo, nós vamos um regulamento geral dos Programas de Pós-
arrumar orientador para todos, mas nós vamos Graduação da Fundação Oswaldo Cruz. Essa
dar um prazo para conclusão das dissertações, transversalidade não existia, porque cada um
particularmente”. Um prazo de um ano para os respondia independentemente por si.
mestres se titularem. Todos já estavam com as
matérias concluídas, era só escrever o trabalho. Acho que dei algumas contribuições também
Isso aconteceu e todos defenderam antes de quando fui vice-presidente de Comunicação,
31 de dezembro. Em seguida, retomamos o Informação e Ambiente da Fiocruz na gestão
doutorado com um currículo estabelecido pela do Eloi Garcia, de 1997 a 2000, e eu não sabia
Comissão de Pós-Graduação, com ênfase nos nada de informação e comunicação. Fui aprender.
mestres da casa. Ou seja, as duas primeiras Começamos por organizar cursos com o próprio
turmas de doutorado foram para qualificar o pessoal do Icict, para aqueles funcionários
pessoal interno. Foi maravilhoso! Nós temos que ficavam na biblioteca e nunca haviam tido
grandes teses dessa época com discussões oportunidade de estudar. Ao mesmo tempo,
excelentes. Isso porque tínhamos pessoas muito mandamos gente fazer mestrado e doutorado,
bem formadas, pessoas com muita capacidade. qualificamos. Até que se abriu o mestrado e
Faltava-lhes um complemento e escrever a doutorado lá. Minha contribuição foi colocar a
tese. Foi uma intensificação da formação em área de comunicação e informação como uma
saúde pública da própria ENSP. Sinto que área científica respeitável na Fiocruz, o que
contribuí também na avaliação da medicina continua cada vez mais. E a outra era ambiente.
66
O que era ambiente, quando eu entrei? O pessoal projeto de avaliação. Os resultados desse projeto
do IOC trabalhava com a ecologia dos bichos, de avaliação estão publicados na segunda e
o saneamento trabalhava com saneamento e o terceira edições da Revista Ciência e Saúde
pessoal do Cesteh (Centro de Estudos de Saúde Coletiva (MINAYO, 1997). Foi um projeto de
do Trabalhador e Ecologia Humana – Fiocruz) dois anos, nós fazíamos reuniões periódicas
já estava mais atinado, tinha uma visão mais com o grupo composto pelos mais importantes
ampla de ambiente. Muitos pesquisadores pesquisadores e pensadores das áreas, cujos
tinham participado da Rio-92. Então, comecei a nomes estão nos artigos. Foi um grupo grande.
juntar gente que quisesse discutir ambiente. Tem Ao mesmo tempo, a gente decidiu que ia fazer
um artigo sobre isso na Revista da Academia um congresso de ciências sociais, porque só
Brasileira de Ciência, sobre esse processo a Comissão de Epidemiologia até então fazia
na Fiocruz, que publiquei junto com Carlos congresso. As ciências sociais trabalhavam
Machado (MINAYO, 1999). Enfim, começamos com seminários e simpósios. Na minha gestão,
a fazer grupos de discussão de abrangência fizemos um simpósio em Belo Horizonte, que foi
interinstitucional e nacional e fizemos dois sobre o ensino das ciências sociais na saúde, e o
eventos. Um seminário dentro da Fiocruz com 1º Congresso de Ciências Sociais e Humanas em
a contribuição dos oito grupos de trabalho e Saúde, em 1995, em Curitiba. Foi na minha gestão
regado com a “comida viva” do projeto “Terrapia”, também o primeiro congresso dos conselhos
do Centro de Saúde Escola. Depois fizemos um municipais de saúde, uma coisa belíssima,
grande seminário nacional com mais de 300 concomitantemente ao Congresso Internacional
pessoas, no Hotel Glória. Também criei aqui na de Epidemiologia. Depois de dois anos de
Fiocruz algo que continua a existir, coordenado iniciado meu mandato, realizamos um grande
por Ana Luzia do IOC: o “Fiocruz saudável”, seminário para apresentar os resultados da
que é o cuidado com o ambiente aqui dentro. pesquisa avaliativa das pós-graduações em saúde
Descobrimos internamente vários problemas nos coletiva. Tivemos dois ouvidores externos que
laboratórios e no campus e passamos a atuar. nos ajudaram: Dr. Sherman, da Carolina do Norte,
EUA, e Claudine Herzlich, da França. Convidamos
Entrevistadoras: E foi nesse mesmo período CNPq, Capes e Opas, e os resultados foram
que, entre a reestruturação da pós-graduação apresentados nesse seminário. Descobrimos
na ENSP e na Fiocruz, você esteve à frente da que a área de saúde coletiva não estava atrás de
Abrasco consolidando o campo da chamada área nenhuma. Os problemas existentes eram os
Saúde Coletiva. mesmos que outras áreas tinham. Houve várias
recomendações a partir do estudo e elas estão na
Cecília: O Arlindo Fabio, que presidia a edição que publicou os resultados da pesquisa.
Abrasco, me convidou para compor a nova Bem, o resultado desse movimento foi a criação
gestão para o período 1993 a 1997. Ele queria do Fórum de Coordenadores de Pós-Graduação
que o substituísse na presidência, alguém que em Saúde Coletiva – à época, eram 31 e hoje são
trabalhasse para levantar o conceito da área mais de 50.
de saúde coletiva, naquele momento muito
desacreditado tanto no CNPq quanto na Capes. Depois de 10 anos, quando o Cavalheiro foi
Eu fui eleita. Então, comecei a trabalhar como presidente da Abrasco, ele me pediu outra vez
eu sei trabalhar, juntando gente para fazer um para replicar a avaliação. Então a gente analisou
67
o percurso nessa etapa e outra vez a avaliação Cecília: Acho que há duas coisas combinadas,
também foi publicada na revista Ciência e Saúde e isso também vem desde a graduação. A
Coletiva (SOUZA; MINAYO; FRANCO, 2007). primeira é que eu escrevo para as pessoas
Junto com João Canossa, incrementamos mais a lerem. Quando estou escrevendo alguma coisa,
livraria. Fizemos muitas coisas, as que a diretoria estou conversando o tempo todo com o leitor.
considerou necessárias. Faltou uma avaliação Ele está na minha cabeça. Por exemplo, voltando
dos cursos de pós-graduação lato sensu, que para a questão da metodologia. Quando entrei
prometemos e não conseguimos realizar. Tudo aqui na Fiocruz, falava em metodologia e o
isso ocorreu com uma diretoria unida e solidária, pessoal achava que era bicho de sete cabeças,
que tinha também representações institucionais que metodologia era uma coisa abstrata, aí fiz
no Congresso Nacional e no Conselho Nacional o diálogo com os médicos. A outra questão é
de Saúde. Eu fui representante da Sociedade que não me furto ao diálogo com os leitores,
Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) no particularmente com os jovens.
Conselho Nacional de Saúde. A NOB 96, de que
tanto falam, foi feita naquela época e fiz parte Entrevistadoras: Como foi a criação do Centro
do comitê que a discutiu. Parece que há um Latino-americano de Violência e Saúde Jorge
estudo que compara as gestões da Abrasco e faz Careli, o Claves?
uma crítica da minha gestão, dizendo que ela se
preocupou pouco com a política e mais com a Cecília: Em 1990, Sérgio Arouca e Paulo
política institucional, com o papel da Abrasco. Buss queriam alguém da área de ciências
sociais para trabalhar na ENSP com o tema
da violência. A epidemiologia, de certa forma,
EU SEMPRE DIZIA: “– ACHO QUE NÓS, já estudava violência utilizando o conceito de
DA ABRASCO, TEMOS QUE FALAR E “causas externas”. Mas a violência é muito
ATUAR NA POLÍTICA SIM, MAS DE mais do que isso. O Claves começou ligado aos
FORMA QUALIFICADA. NÃO É PORQUE departamentos de ciências sociais, por meio
EU SENTEI NESSE LUGAR QUE EU ESTOU de Otávio Cruz Neto e eu, junto com Edinilsa
INVESTIDA DE AUTORIDADE, TENHO Ramos de Souza e Simone Gonçalves de Assis,
QUE ESTUDAR, TENHO QUE SABER da Epidemiologia. A gente tentou ter alguém do
DO QUE ESTOU FALANDO”. ENTÃO, Departamento de Planejamento, mas ninguém
ACHO QUE HÁ GESTÕES DIFERENTES quis. Violência sempre foi um tema estranho na
CONFORME AS CONJUNTURAS. área de saúde coletiva, até que se universalizou.
Nós nos organizamos em cima de projetos de
pesquisa e com foco. Mas um foco que bebia
Entrevistadoras: Uma pergunta que a gente faz é na fonte da epidemiologia e na das ciências
por que os seus artigos fazem tanto sucesso, suas sociais, acho que fomos conseguindo criar essa
publicações despertam esse interesse. Como é riqueza. Porque entendemos que a violência é
que você avalia isso? interdisciplinar. Conversei muito sobre isso com
a Sheila Mendonça, então coordenadora de
pesquisa da ENSP. Eu a convidei para vir ao Claves
e começamos a apresentar todos os trabalhos
que fazemos, e mostramos que publicamos as
68
PARTE 2
71
FIOCRUZ
EM AÇÃO
ENCONTRO
DE GERAÇÕES
72
A DEDICAÇÃO TEM
QUE SER CONTÍNUA,
E NÓS SEMPRE
PRECISAMOS ESTAR
ATENTAS A COMO A
MULHER SE COLOCA
NO MUNDO
DA PESQUISA
73
ENCONTRO DE GERAÇÕES
Nós tínhamos essa proposta de estudar e Nós somos hoje, muito provavelmente, o maior
produzir em HIV/Aids. Era um momento diferente grupo de pesquisa clínica em HIV/Aids do Brasil.
da história: a Fiocruz tinha programas como o Isso também é fruto de estabelecermos parcerias
Papes3, por meio do qual recebi meu primeiro internacionais, como as que temos com redes
financiamento em pesquisa e eu não tinha nem de pesquisa vinculadas aos institutos de saúde
mestrado. Tinha um bom projeto, e não havia do governo americano, o NIAID/NIH2, às quais
obrigatoriedade da pós-graduação. A instituição somos vinculados desde 2000.
propiciou que jovens pesquisadores pudessem
se lançar. Nada disso poderia ter acontecido Dentro dessas redes de pesquisa existe um
em outro lugar que não fosse a Fiocruz, onde propósito fundamental, que é fomentar jovens
recebemos suporte para construção de uma pesquisadores. Com toda a nossa trajetória
carreira, o que não necessariamente acontece em dentro das redes de pesquisa do NIAID/NIH
outras instituições. desde o início dos anos 2000, aprendemos
que isso é um valor que precisa ser cultivado.
A partir daí, foi uma feliz sucessão de eventos: fiz Sempre tivemos como meta, dentro da nossa
meu mestrado na Universidade Federal do Rio de evolução como grupo de pesquisa, ter alunos
Janeiro (UFRJ) e, em paralelo, o Evandro Chagas que pudessem vislumbrar que a pesquisa
também progredia. A minha carreira e a de outros clínica pode ser uma carreira bastante
colegas que ingressaram no hospital comigo, na interessante. No Brasil, infelizmente, a pesquisa
década de 1980, foi permeada pelo crescimento clínica não é uma área muito valorizada. Nós
da própria unidade. sempre tivemos como objetivo fomentar a
importância da pesquisa clínica, a construção
Éramos um departamento do Instituto Oswaldo de uma carreira em pesquisa clínica como uma
Cruz (IOC), depois passamos a ser o Centro de possibilidade a ser considerada.
Pesquisa Hospital Evandro Chagas (CPQHEC),
evoluímos para o Instituto de Pesquisa Clínica Durante esses anos, tive especial dedicação em
Evandro Chagas (Ipec) – ou seja, nos tornamos orientar jovens pesquisadoras, na construção de
um instituto, já uma unidade separada do IOC uma carreira em pesquisa.
– até que, bem mais recentemente, passamos a
ser o Instituto Nacional de Infectologia Evandro
Chagas (INI). EU GOSTARIA ESPECIFICAMENTE DE
FALAR PARA AS MENINAS: TUDO
O fato de não termos uma mentoria específica PARECE MUITO BONITO, MAS NADA É
para os jovens pesquisadores que estavam SIMPLES, AS COISAS SÃO COMPLEXAS.
se dedicando ao HIV nos deu uma enorme O QUE NOS LEVA A UM CAMINHO QUE
responsabilidade. Além de construir a nossa TENHA FRUTOS É O TRABALHO.
carreira, também teríamos de ser mentores,
para que pudéssemos criar uma nova geração
de pesquisadores que pudessem seguir essa A dedicação tem que ser contínua, e nós sempre
trilha e construir uma sólida linha de pesquisa precisamos estar atentas a como a mulher se
em HIV/Aids. coloca no mundo da pesquisa. Eu falo com essa
bagagem de mais de 30 anos e, no início, eu não
75
2. Programa Estratégico
tinha a menor noção de como era, nós não percebermos que isso é uma
de Apoio à Pesquisa
no mundo da pesquisa, a relação dos realidade, não nos estruturamos para em Saúde.
homens com uma pesquisadora jovem. lidar com ela, estaremos vulneráveis. Da sigla em inglês,
Eu levei muitos anos para entender Instituto Nacional de
Alergia e Doenças
Como mulher, naquela época, eu não que isso era uma questão. Nós temos
Infecciosas, parte do NIH
tinha a percepção de identificar e lidar que, obviamente, garantir que estamos (Institutos Nacionais
com o machismo, com a misoginia, fazendo o melhor trabalho técnico, de Saúde), instituição
coisas que hoje são muito claras mas também entender que existem estadunidense.
para mim e que há vários anos eu outras forças que podem exercer uma
percebo como podem ser prejudiciais influência muito importante na nossa
à nossa carreira. Eu acho que o mais carreira. Estarmos cientes disso é o
importante hoje, além da dedicação primeiro passo para que possamos
e do estudo, do trabalho árduo, é ter atuar, mitigando a interferência
o entendimento de que nós nunca dessas forças e persistindo no ideal de
podemos admitir qualquer atitude construir uma carreira de pesquisadora
de silenciamento, ou isso sempre no nosso país.
permeará a nossa vida profissional
como mulheres pesquisadoras. Se
FOTO: RAQUEL PORTUGAL | ACERVO FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ
76
APOIAR AS
OUTRAS MULHERES
É MUITO
IMPORTANTE:
TEMOS QUE
DAR AS MÃOS
77
1. A doença falciforme
Foi desafiador estar na diretoria do Patrícia Veras, que é vice-diretora de
é uma enfermidade
IGM. Tem sido uma nova provocação ensino, e a Dra. Camila Indiani – são genética com prevalência
a cada dia, porque a mulher ainda mulheres que têm nos dado muito mundial elevada,
tem que lutar diariamente para apoio na diretoria. Somos uma diretoria principalmente na
população africana ou
provar a sua competência. colegiada e, assim, as decisões são
de origem africana.
tomadas conjuntamente. Ela afeta a molécula
UMA MULHER TEM SEMPRE de hemoglobina,
QUE APOIAR A OUTRA A Fiocruz é uma instituição presente nas hemácias
e responsável pelo
MULHER. ESSA É UMA LIÇÃO que abraça o pesquisador
transporte do oxigênio.
QUE EU TAMBÉM TOMEI PARA independentemente do sexo, e isso Fonte: Fiocruz Bahia.
MINHA VIDA, QUE EU PRATICO tem sido mais visível na presidência,
NO MEU DIA A DIA. com Nísia Trindade no comando
da instituição. Realmente, eu tenho
Eu quero viver para ver o momento em um orgulho imenso de ser Fiocruz,
que as mulheres terão um tratamento também como eu tenho um orgulho
igual ao dos homens e eu quero ver imenso de ser da Universidade Federal
essa equidade de gêneros na pesquisa, da Bahia, que foram as instituições
em todos os cargos públicos. Eu quero que me deram todo o subsídio para eu
que as mulheres sejam creditadas chegar aonde eu cheguei.
pela competência que têm: nós
conseguimos lidar com as pessoas de
uma maneira que elas, na verdade, se A LUTA É GRANDE, MAS A
sintam respeitadas, ouvidas, atendidas VITÓRIA É CERTA. CONFIEM
nos seus desejos, e que realmente EM VOCÊS, ESSA CONFIANÇA
possam dar o seu melhor. É MUITO IMPORTANTE.
Apoiar as outras mulheres é muito NÃO DESISTAM. SE VOCÊS
importante: temos que dar as mãos. ACREDITAM, PODEM IR EM
Eu tenho duas mulheres muito fortes FRENTE, QUE EU TENHO
ao meu lado na diretoria: a Dra. CERTEZA DE QUE DARÁ CERTO.
80
É PRECISO ESTAR
ATENTA, ATÉ PORQUE
A CIÊNCIA É UMA
CONSTRUÇÃO
SOCIAL
HISTORICAMENTE
EXERCIDA POR
HOMENS BRANCOS
81
Sou muito encantada com a missão É uma instituição que nos permite falar,
da Fiocruz, desde meu ingresso na interagir, que abraça a diversidade e
instituição. Trabalhar com a saúde é na qual a construção coletiva é muito
pensar na vida das pessoas no seu estimulada, e isso faz toda a diferença.
sentido mais amplo e, no nosso caso
– e não poderia ser diferente – além Eu entrei como técnica quando o
de gerar conhecimento, tecnologias diretor da Fiocruz Minas era o Naftale
para melhorar a qualidade de vida Katz, um pesquisador brilhante, com
da população brasileira, temos como quem eu aprendi muito. Naquela
missão atuar para o fortalecimento e época, nós tínhamos muitos
a consolidação do Sistema Único de problemas com a criação de animais
Saúde (SUS), para o fortalecimento de laboratório, e o meu trabalho de
do Sistema Nacional de Ciência, técnica exigia camundongo o tempo
Tecnologia e Inovação (SNCTI) do país, todo. Precisávamos discutir melhorias
para a redução de desigualdades. para o biotério, e foi quando procurei o
Naftale pela primeira vez. A conversa
Para mim, a Fiocruz sempre foi uma com ele foi excelente e discutimos
“fábrica de sonhos”. A instituição vários temas, incluindo a importância
atua numa infinidade de campos e de o servidor participar ativamente
áreas e tem uma característica muito da vida institucional, de sonhar e de
interessante, que é a sua gestão “pensar grande”.
participativa em todos os níveis.
82
1. Mulheres na Ciência:
O desmonte do SUS e do Sistema amplo com a sociedade sobre a necessidade
uma reflexão sobre
Nacional de Ciência, Tecnologia e de uma luta pela equidade de gênero e pelos desigualdade de gênero e
Inovação, em todos os seus níveis, irá se direitos humanos, com estímulo às novas raça- Núcleo de Estudos de
refletir fortemente nos próximos anos. gerações e à formação de redes [...]. Gênero- Caderno, 2020.
A MINHA
MENSAGEM, PARA
AS MENINAS,
É DE PERSISTÊNCIA.
O CAMINHO
NÃO É FÁCIL,
MAS É POSSÍVEL
85
DORORIDADE, A SORORIDADE
APLICADA A NÓS, MULHERES PRETAS1
JAQUELINE GOES
Encarei o desafio, não foi fácil, mas Com o incentivo da dra. Valéria,
me adaptei rapidamente e contei com participei de algumas premiações e
o apoio dessas duas mulheres. venci, trazendo essas premiações para
a Fiocruz. Val foi, nesse período de
No meu retorno para a Fiocruz, em término do doutorado, uma pessoa que
2014, tive a oportunidade de conviver me incentivou muito. E hoje ainda me
mais com a professora Marilda incentiva. Sou muito grata a ela.
Gonçalves. A Dra. Marilda é uma das
principais responsáveis pela minha Agora, mais recentemente, no pós-
chegada até aqui. Uma das mulheres doutorado na Universidade de São Paulo,
dessa rede de apoio que nós tanto tive a oportunidade de conhecer uma
preconizamos nos tempos atuais, mulher incrível, que é a Dra. Ester. Uma
que me acolheu, me ouviu, me deu mulher que está à frente do seu tempo,
conselhos e que deu colo, inclusive, que me deu a oportunidade de estar em
para as minhas lágrimas. Eu sou muito evidência, porque nós sabemos o quanto
grata pela sua existência, pela mulher o racismo e o machismo nos retiram dos
que ela é, e por ter vindo antes de lugares de destaque. Ela me incentivou
mim, porque eu tenho certeza de que com toda a sua sabedoria e também
o caminho aberto, sem dúvidas, teve a com o seu apoio.
sua contribuição.
Eu vou trazer duas palavras: primeiro,
Dra. Marilda passou a integrar, com o sororidade, porque eu acho que essas
professor Luiz, um grupo de pesquisa ações de incentivo fazem parte da rede
em conjunto. Sou muito grata por ter de sororidade. Além disso, o conceito
tido a oportunidade de conviver com a que eu aprendi recentemente com
sua simplicidade, a sua serenidade e, Wilma Reis é o conceito de dororidade,
mais do que isso, com a sua sabedoria. que é a sororidade aplicada a nós,
mulheres pretas. Eu vivencio isso todos
Nesse processo, eu conheci também os dias com a Dra. Ester, uma mulher
a Valéria Borges. Val – como eu a que me deu oportunidade de mostrar o
chamo, carinhosamente – foi a pessoa que eu tinha, de fato, para mostrar, não
que, no meu doutorado, visualizou somente para o grupo de pesquisa, não
em mim o potencial para uma somente para a comunidade científica,
carreira brilhante e para participar mas para o Brasil e para o mundo.
da premiação de teses da Capes.
Eu lembro que, depois da minha
qualificação, ela conversou com o
Luiz e disse que a minha tese tinha
potencial para participar do Prêmio
Capes, que ela queria muito que eu
me inscrevesse.
87
ESPERAMOS QUE
EM CADA CANTO
DO NOSSO PAÍS,
ONDE HÁ PRESENÇA
INSTITUCIONAL DA
FIOCRUZ, JOVENS
POSSAM VIVENCIAR
O PROCESSO DE
PRODUÇÃO DE
CONHECIMENTO
89
PROGRAMA DE VOCAÇÃO
CIENTÍFICA DA FIOCRUZ: UMA
EXPERIÊNCIA BEM-SUCEDIDA
CRISTIANE NOGUEIRA BRAGA
e técnicas básicas de investigação nas diversas Físicas – CBPF); química (Centro de Pesquisas e
áreas de pesquisa nas quais atua a Fiocruz. Ao Desenvolvimento Leopoldo A. Miguez de Mello
final dessa etapa, os(as) estudantes elaboram – Cenpes/Petrobrás); matemática (Instituto de
relatório e apresentam seus trabalhos na Matemática Pura e Aplicada – IMPA); engenharia
modalidade pôster. Os(as) que optarem pela e informática (Pontifícia Universidade Católica do
continuidade no programa poderão concorrer à Rio de Janeiro – PUC/Rio). Seu modelo também
Etapa Avançado, com duração de 22 meses, por serviu de base para outros projetos e programas,
meio da qual aprofundarão algumas questões como Jovens Talentos para a Ciência (Secretaria de
identificadas na Iniciação, participando de todas Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação do Rio de
as fases de execução de um projeto de pesquisa, Janeiro), Iniciação Científica Júnior (ICJ), Programa
desde a sua elaboração até a divulgação de Institucional de Bolsas de Iniciação Científica no
seus resultados em eventos científicos, com Ensino Médio (Pibic-EM), dentre outros.
publicação dos resumos.
Dando continuidade à disseminação de
O incentivo à participação em eventos científicos seu modelo pedagógico, desde 2018 o LIC-
é um dos objetivos do Programa, que anualmente Provoc vem desenvolvendo o projeto da Rede
organiza a Jornada de Iniciação Científica para Integrada de Programas de Vocação Científica
apresentação de trabalhos dos(as) estudantes da Luiz Fernando Rocha Ferreira da Silva – nome
etapa Iniciação e a Semana de Vocação Científica escolhido em homenagem ao cientista idealizador
para os(as) estudantes do Avançado, que do Provoc. O objetivo do projeto é consolidar o
também participam da Reunião Anual de Iniciação programa nas unidades técnico-científicas onde
Científica (Raic) da Fiocruz e da Reunião Anual da já foi implantado (Instituto Aggeu Magalhães,
Federação de Sociedades de Biologia Experimental Instituto René Rachou e Instituto Gonçalo Moniz)
(FeSBE). Consideramos esses eventos também e expandi-lo para escritórios e unidades técnico-
oportunidades de divulgação científica para o científicas da Fiocruz onde não há Provoc (Fiocruz
público escolar, porque neles os estudantes podem Amazônia, Fiocruz Brasília, Fiocruz Ceará, Fiocruz
conhecer, discutir e difundir os resultados, a Mato Grosso do Sul, Fiocruz Paraná, Fiocruz Piauí
relevância e o impacto das pesquisas científicas e e Fiocruz Rondônia).
tecnológicas e suas aplicações.
A perspectiva da proposta é que nas unidades
Podemos afirmar que o Provoc é um modelo de e nos escritórios regionais da Fiocruz que
iniciação científica no ensino médio consolidado, manifestarem interesse e possibilidades de
e difundido para outras instituições e áreas de integrar a Rede, o Provoc seja desenvolvido a
conhecimento. Na década de 1990, enquanto partir do segundo semestre de 2022, de modo
modelo educacional estabeleceu parcerias com interligado, em uma rede que compartilhe
outros centros de produção de conhecimento experiências e análises de iniciação científica em
técnico-científico, promovendo processos de nível de ensino médio.
descentralização para os centros regionais
da Fiocruz (Instituto Aggeu Magalhães – PE, Esperamos que em cada canto do nosso país,
Instituto Gonçalo Moniz – BA e Instituto René onde há presença institucional da Fiocruz,
Rachou – MG e de ampliação do Programa para jovens – a partir do contato pessoal com
as áreas de física (Centro Brasileiro de Pesquisas pesquisadores(as) – possam, assim como os mais
91
de 2.000 estudantes que passaram pelo Provoc/ da Fiocruz, onde a ciência é praticada por
RJ desde 1986, vivenciar o processo de produção muitas de nós, contribuindo para a produção do
de conhecimento, pela aquisição de novos conhecimento científico para o desenvolvimento
conhecimentos em diferentes áreas das ciências; social, cultural, econômico e histórico do país.
ampliar os conceitos sobre a produção científica;
expandir a cultura científica, desenvolver/ Como forma de ilustrar as percepções e impactos
aprimorar habilidades e características pessoais; e do Provoc, destaco as falas das nossas egressas
realizar uma escolha profissional mais consciente. que abrilhantaram as atividades realizadas pela
Fiocruz em comemoração ao dia 11 de fevereiro
Enfatizando o papel das meninas e mulheres na de 2020 – Dia Internacional das Mulheres e
ciência, cabe registrar que embora o Provoc não Meninas na Ciência.
seja um programa específico para moças, dos(as)
2.052 estudantes que participaram até 2020
na Fiocruz/Rio de Janeiro, 1.410 são meninas
(68,7%). Essa predominância feminina acontece QUE ASSIM COMO A ARYELLA CORREA,
também no Provoc/Fiocruz-Recife, sendo OUTRAS JOVENS POSSAM ACREDITAR
inclusive objeto de pesquisa: Gênero e iniciação QUE É POSSÍVEL REALIZAR O SONHO
científica: a predominância feminina no Programa DE SER CIENTISTA E QUE NUNCA
de Vocação Científica na visão de seus alunos ESQUEÇAM, COMO DIZ A AMANDA
(SOUSA et al., 2007, p. 145-165). Nessa pesquisa, REYES, QUE “O ESPAÇO QUE AS
buscou-se compreender como as questões de MENINAS E MULHERES MERECEM É
gênero influenciam o processo de escolha de O ESPAÇO QUE ELAS QUISEREM”.
moças e rapazes para participar do Programa
de Vocação Científica no Rio de Janeiro e em
Recife. Como desdobramento, outros estudos
têm sido realizados abordando as relações
entre gênero e emoções, e entre classe social
e escolha profissional. Nesse movimento em
prol da equidade de gênero nas áreas científicas
e da garantia ao pleno direito à educação de
meninas, enfatizamos a participação das jovens
no Provoc. É comum recebermos relatos, por
meio das pesquisas realizadas, publicações ou do
acompanhamento pedagógico, sobre o impacto
positivo do programa em suas trajetórias, sejam
elas acadêmicas, profissionais e de vida. Além REFERÊNCIAS
do alcance dos objetivos formais propostos SOUSA, I. C. F.; BRAGA, C. N.; FRUTUOSO, T. M.;
pelo programa, as jovens compreendem o FERREIRA, C. A.; VARGAS, D. S. Gênero e iniciação
compromisso do(a) cientista e da ciência científica: a predominância feminina no Programa de
com a vida e com a sociedade, ressaltando Vocação Científica na visão de seus alunos. In: PEREIRA,
especialmente o relevante e impactante papel I. B.; RIBEIRO, C. G. (org.). Estudos de politecnia e saúde.
desempenhado pelas mulheres, especialmente Rio de Janeiro: EPSJV, 2007. v. 2.
92
PARTICIPAR
DO PROVOC
TORNOU POSSÍVEL
SONHAR EM
SER CIENTISTA
93
Ao ingressar na graduação, no curso de Farmácia nível médio no mundo acadêmico para mostrar
na UFRJ, eu dei continuidade no mesmo a essas meninas que a carreira científica é
laboratório onde eu iniciei como aluna do Provoc. uma carreira possível. Mostrar que há ciência
Permaneci no mesmo laboratório e com a mesma no Brasil – mostrar que nós temos cientistas
orientadora por seis anos, e sou extremamente brasileiros. Principalmente para as meninas,
grata, pois se hoje eu sei o que eu quero para a devemos apresentá-las às cientistas brilhantes
minha vida profissional, e se eu tenho sonhos de nosso país.
profissionais, é graças às orientações que
eu recebi por lá no IOC. Eu aprendi muito e Acredito que programas e atividades voltadas
aproveitei ao máximo todas as oportunidades que para inspirar jovens e promover identificação com
tive nessa casa. carreiras científicas darão a elas a possibilidade
de tomarem decisões em suas vidas, tornando-
Chegou um momento em que eu percebi as protagonistas das suas próprias histórias.
que precisava fazer o movimento de sair da Por isso, o meu grande desejo é que programas
minha zona de conforto e precisava ampliar como o Provoc Fiocruz e ações como a Olimpíada
e diversificar os meus conhecimentos e Brasileira de Saúde e Meio Ambiente, o Mais
experiências acadêmicas. Desde então, eu estou Meninas na Ciência e o Meninas Negras
no Laboratório de Farmacologia Aplicada em na Ciência, da Fiocruz, continuem sendo
Farmanguinhos na Fiocruz, no qual eu faço tanto desenvolvidas ao longo de todo o nosso território
ciência na bancada quanto divulgação científica, nacional, incentivando e transformando vidas,
que se faz extremamente necessária no nosso “para que o amanhã não seja apenas um ontem
atual contexto. com um novo nome”, como nas palavras de
Emicida, em Amarelo.
ESTIMULAR
PROCESSOS DE
APROXIMAÇÃO
COM A REALIDADE
DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES
NA AMAZÔNIA
103
NUMIÔ MOMÔRO:
MENINAS CIENTISTAS DA AMAZÔNIA
[FIOCRUZ AMAZÔNIA – INSTITUTO LEÔNIDAS & MARIA DEANE]
a vários tipos de violência, incluindo exploração As atividades tiveram como objetivo “abrir as
sexual e trabalho infantil, o que piora quando se portas” do ILMD às meninas, aproximá-las
adiciona o corte de etnia e raça. Nesse cenário, do universo da ciência e dos jovens cientistas
é preciso fomentar ações de promoção ao que poderiam inspirá-las. Apesar de as falas
conhecimento e do enfrentamento à exclusão consistirem em exposições, foi privilegiado o
dessas crianças e desses adolescentes. E, ainda, modelo de interação “roda de conversa”, em que
são mais necessárias iniciativas que mobilizem as meninas eram estimuladas a interagir com as
positivamente as crianças, em especial as painelistas e a responder a perguntas – como em
meninas, para experimentação do conhecimento. um jogo, em que os prêmios eram trufas.
O dia 11 de fevereiro de 2020 foi promovido
O Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD), em grande estilo, graças ao apoio de duas
por sua posição de unidade regional da Fiocruz organizações sociais: o Instituto Mana,
na Amazônia, tem como parte de seu papel que articulou a participação das meninas
institucional incentivar processos de estímulo venezuelanas indígenas da etnia Warao de
à ciência. O ILMD participou da iniciativa dois abrigos de imigrantes, e o Movimento de
“Mais Meninas e Mulheres na Ciência”, da Mulheres por Moradias Orquídeas (MMMO).
Fiocruz, com o projeto “Numiô Momôro: A representação do escritório de Manaus do
Meninas cientistas da Amazônia”, utilizando Alto Comissariado das Nações Unidas para os
a oportunidade para estimular processos de Refugiados (Acnur) colaborou com uma tradutora
aproximação com a realidade de crianças e simultânea do português para o espanhol, a
adolescentes na Amazônia. Dois contingentes da fim de possibilitar a compreensão das meninas
população local foram eleitos como público-alvo Warao não versadas em língua portuguesa.
do projeto: meninas de 7 a 14 anos indígenas/
imigrantes venezuelanas e meninas oriundas dos No intervalo entre um bloco de atividades e
movimentos de moradia urbana de Manaus. outro, foram feitas as dinâmicas “O que você
quer ser quando crescer?”, em que imagens de
mulheres exercendo variadas funções foram
mostradas para que as meninas dissessem
NUMIÔ MOMÔRO É UMA EXPRESSÃO que tipo de profissionais elas seriam. Além de
QUE VEM DO IDIOMA INDÍGENA profissões tradicionais “de mulheres”, como
YE’PÂ MASA (CONHECIDO NA professora e cozinheira, foram exibidas mulheres
LITERATURA COMO TUKANO, FALADO em atividades pouco comuns, como engenheira
PELO POVO DE MESMO NOME, civil, motorista, física etc. Outra dinâmica
HABITANTE DA REGIÃO DO ALTO RIO realizada foi “É bom para a saúde ou não é?” em
NEGRO, NOROESTE DA AMAZÔNIA) que imagens de objetos, elementos da natureza
E SIGNIFICA “MENINA-BORBOLETA”. e animais eram mostradas para que as meninas
AS PALAVRAS EXPRESSAM A IDEIA DE discorressem sobre suas aplicações na saúde.
TRANSFORMAÇÃO, PROPORCIONANDO
A ESSAS JOVENS O CONTATO COM O
UNIVERSO DA CIÊNCIA.
105
MULHERES
E MENINAS
INSPIRARAM OU
FORAM INSPIRADAS
PELAS LINDAS
HISTÓRIAS E
EXPERIÊNCIAS
COMPARTILHADAS
107
Na sequência, foi realizada a mesa-redonda com Para realização da segunda etapa, foi elaborado
a participação de representantes das secretarias o edital com a chamada pública para seleção
do Estado da Bahia, tais como Fabya Reis, da de meninas matriculadas em escolas de ensino
Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, e médio da rede pública de Salvador e região
Shirley Costa, coordenadora do projeto “Ciência metropolitana. Tivemos a inscrição de 114
na Escola”, da Secretaria de Educação. meninas de todo o estado da Bahia, interessadas
em atender ao encontro virtual do dia 25 de
No campo da tecnologia e inovação, estavam março de 2021. Foram selecionadas alunas de
presentes Adélia Pinheiro, da Secretaria de Iniciação Científica (Programa Institucional
Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado da Bahia de Bolsas de Iniciação Cientifica – Pibic –,
(Secti); Mara Souza, assessora da Secti; Sahada Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em
Luedy, diretora de Políticas e Programas, da Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – Pibiti
Superintendência de Desenvolvimento Científico – e Fundação de Amparo à Pesquisa da Bahia –
da Secti, responsável pela Popularização da Fapesb) e das pós-graduações PGBSMI (IGM/
Ciência; e Ilnah Oliveira, coordenadora de Fiocruz-BA) e PGPAT (UFBA/Fiocruz-BA) para
Políticas e Programas da Superintendência da monitoria. As monitoras participaram ativamente
Secti. Nessa mesa-redonda, foram discutidas da seleção e do acolhimento das alunas do ensino
importantes ações e estratégias de apoio do médio, bem como das práticas no dia do evento.
Estado a esse evento que seria realizado em
abril, bem como possíveis ações de extensão das
atividades ao longo do ano.
FOTO: ACERVO DO PROJETO
1. As diversas
As atividades1 permitiram que as pelas cientistas Dras. Jaqueline Goes
conferências podem
meninas participantes tivessem a (Universidade de São Paulo), Luciane ser assistidas no
oportunidade de conhecer mulheres Amorim (Escola Bahiana de Medicina endereço:
cientistas e os campos de atuação e Saúde Pública), Isa Beatriz da Cruz
delas, em uma tentativa de minimizar a Neves (Universidade Federal da
desigualdade de gênero nas profissões Bahia), Joice Pedreira (Universidade
relacionadas à ciência e tecnologia. Federal da Bahia) e Soraia Machado
As jovens surpreenderam-se com a (Universidade Federal da Bahia).
trajetória das pesquisadoras, o que serviu O dia de evento foi encerrado com a
de motivação para as que ainda tinham certeza de que o objetivo foi cumprido.
dúvidas sobre a carreira científica. Na Mulheres e meninas inspiraram ou
palestra “A participação das mulheres no foram inspiradas pelas lindas histórias
desenvolvimento tecnológico no Brasil: a e experiências compartilhadas.
vivência da Fiocruz/BA” foram abordadas
questões nacionais e internacionais sobre
desigualdade de gênero nas ciências. As
meninas propuseram apontamentos que
O COMPROMISSO
DA FIOCRUZ PARA
A DIMINUIÇÃO DAS
INIQUIDADES E PARA
O RECONHECIMENTO
DE QUE A CIÊNCIA É
UM CAMPO POSSÍVEL
DE ATUAÇÃO E QUE
PODE FAZER PARTE
DA TRAJETÓRIA DE
TODAS AS MENINAS
111
#MAIS MENINAS
[FIOCRUZ BRASÍLIA]
1. Quem escolhe o que você consome? (Núcleo de Das 160 participantes, 32 estudantes tiveram
Estudos Sobre Bioética e Diplomacia em Saúde). a oportunidade de elaborar um roteiro e
2. O que as perguntas têm a ver com as gravar trechos para o podcast Mais Mulheres
pesquisas? (Programa de Evidências em Políticas e e Meninas na Ciência, lançado pela Fiocruz
Tecnologias). Brasília em março de 2020. Dando continuidade
3. Conversando sobre a saúde das meninas e das às ações relacionadas ao tema, o podcast
mulheres (Núcleo de Epidemiologia e Vigilância apresenta a trajetória da vida e da carreira
em Saúde). profissional de cientistas mulheres, contada por
4. Escola é lugar de fazer ciência? (Programa de elas, mostrando os seus desafios na ciência,
Alimentação, Nutrição e Cultura; Programa de bem como oportunidades para jovens que
Educação, Cultura e Saúde; e Escola de Governo querem seguir essa carreira científica.
Fiocruz – Brasília).
5. “Oi, meninas, tudo bom? Blogueiras e youtubers
na pesquisa em Comunicação em Saúde”
(Assessoria de Comunicação).
113
2. O vídeo de lançamento do
“O encontro foi ótimo, prazer conhecer todas
Concurso de Ilustrações está
essas mulheres lindas e valorizadas.” “Amei disponível em:
conhecer a Fiocruz, acho que vocês fazem um
trabalho incrível, me inspiram demais.” Essas
foram duas das várias mensagens deixadas pelas
participantes em pesquisa de opinião realizada
logo após o evento, que reforçou o lugar da
Fiocruz enquanto instituição de saúde, pesquisa,
ensino, ciência, tecnologia e inovação no ano
em que se celebram 120 anos, e da atuação da
Fiocruz Brasília nos territórios considerando suas
especificidades, em busca da criação de espaços
saudáveis e sustentáveis.
AS MULHERES,
EM DIVERSAS
PARTES DO PLANETA,
TÊM CONSEGUIDO
ALCANÇAR
ESPAÇO POLÍTICO
E CIENTÍFICO
115
1. O vídeo está
Foram realizadas quatro lives para Como atividade de encerramento do
disponível em:
tratar alguns dos assuntos que projeto, foi realizada uma live em 11 de
seriam abordados com as meninas fevereiro de 2021 para lançar o vídeo
das escolas. Criou-se um perfil no e dialogar com a professora Zuleide
Instagram específico do projeto Queiroz sobre a trajetória de mulheres
“Meninas na Ciência” Fiocruz negras na ciência e na educação, e
Ceará [@meninasnacienciafioce enviados kits escolares com máscara de
– https://www.instagram.com/ proteção para as meninas das escolas. A
meninasnacienciafioce/] para esses iniciativa foi valorizada pelos professores,
eventos, com mais de 150 inscritos, desejando que nossa parceria possa ser
a fim de continuar divulgando ações retomada em momento mais propício
relacionadas a meninas e mulheres na para manter essa discussão em aberto e
ciência e assuntos de interesse geral. estimular a participação mais efetiva das
meninas em projetos que as despertem
para a ciência.
Laeticia Jalil, Andrea Sousa e Sônia Guimarães estiveram em roda de conversa sobre o pensamento e a ação científica da mulher na
sociedade, na sede da Fiocruz em Eusébio.
118
ESTUDAR A
PRESENÇA DE
MULHERES NA
CIÊNCIA, NO
PASSADO E NO
PRESENTE, TENDO EM
VISTA O INCENTIVO
E A ATRAÇÃO DE
MENINAS, CIENTISTAS
DO FUTURO
119
MULHERES NA CIÊNCIA:
PASSADO, PRESENTE E FUTURO
[FIOCRUZ MATO GROSSO DO SUL]
FORTALECER
TERRITÓRIOS POR
MEIO DA ATRAÇÃO
DE MAIS MENINAS
E MULHERES
À CIÊNCIA
125
Tal projeto foi apresentado para a chefe da equipe O encontro representou uma oportunidade para
de Agentes Comunitários de Saúde (ACS). O as participantes conhecerem o Instituto René
objetivo da reunião foi identificar junto aos ACS Rachou e a trajetória acadêmica e profissional de
moradoras que pudessem participar do projeto. algumas pesquisadoras. Houve, ainda, o início
Além disso, foi feito um contato com duas de uma aproximação da Fiocruz Minas com a
costureiras muito conhecidas no bairro e, a partir comunidade local, interação que as moradoras
disso, recebemos indicações de outras mulheres. ressaltaram ser importante no âmbito de
Reunimos quatro dessas mulheres em uma atuação do Instituto. A roda de conversa foi um
conversa informal na casa de uma delas para que momento marcante de contato inicial e de troca
pudessem falar sobre histórias, acontecimentos de experiências entre as participantes dos três
127
VALORIZANDO A
DIVERSIDADE PARA
UM MUNDO MAIS
INCLUSIVO E UMA
CIÊNCIA MELHOR,
PORQUE MAIS
ABRANGENTE E
POTENCIALIZADA
129
NO RASTRO DE MERIT
[FIOCRUZ PARANÁ – INSTITUTO CARLOS CHAGAS]
AMPLIAR O NÚMERO DE
MULHERES QUE ATUAM
NA CIÊNCIA, TRAZENDO
PARA A INSTITUIÇÃO
MENINAS QUE VIVEM
EM TERRITÓRIOS
VULNERÁVEIS
133
CONSTÂNCIA AYRES
vídeo para registrar o projeto. Além disso, uma Difusora debate sobre “Mulheres
reportagem relatando a história de vida das na Ciência” e convida para roda de
conversa, Constância Ayres da Fiocruz, e
meninas participantes da Chamada foi publicada
Ingrid Farias do Observatório Feminista
pela Revista Radis na matéria intitulada Meninas do Nordeste, Rádio Frei Caneca.
que fazem o Verão3 .
NÃO EXISTE A
MULHER UNIVERSAL
BRASILEIRA. AS
MULHERES SÃO
PLURAIS, COM
NECESSIDADES
DIVERSAS
137
A iniciativa da Fiocruz Piauí “Inseridas na ciência acessível, explorando as áreas do meio ambiente
nós mudamos o mundo: mulheres e meninas e da saúde humana e animal.
na ciência já!” desenvolveu ações de ciência,
tecnologia e inovação com mulheres e meninas de No evento, a popularização da ciência foi
escola de comunidades rurais. O projeto contribuiu realizada com a apresentação de seis atividades
para aproximar e motivar a população de mulheres dispostas nas salas da “Feira de Ciência”:
e meninas a discutir as implicações da ciência no 1) insetos vetores com a possibilidade de
dia a dia, além de se comprometer a ampliar o visualização pela lupa; 2) parasitos invisíveis
conhecimento sobre temas científicos. Com isso, com um modelo intestinal confeccionado
também foi possível incitar meninas que recém artesanalmente, em que era possível um passeio
chegaram à escola, ou seja, as bem pequenas, a se interno por ele; 3) interação saúde humana
interessarem pelas áreas da ciência, tecnologia e e saúde ambiental, com a maquete de uma
inovação, e incentivar as que já estavam há mais caverna e morcegos empalhados mostrando a
tempo nesses campos, a permanecerem neles. interação desses animais com humanos; 4) um
jogo em forma de tabuleiro gigante em que o
O contato inicial e a apresentação do projeto foram jogador-cientista, ao fazer uma viagem de trem
realizados no curso técnico de Desenvolvimento para chegar à Fiocruz, teria que ajudar a melhorar
de Sistemas do Instituto Federal do Piauí (IFPI) a saúde da comunidade em cada parada; 5)
campus Teresina. Durante a reunião, a proposta biossegurança, enfatizando a indispensabilidade
foi apresentada. A equipe do IFPI aceitou a do uso correto de luvas, jalecos e máscaras,
colaboração e a finalidade dessa parceria foi crucial à pesquisa científica; e 6) corpo humano,
permitir que alunas do ensino fundamental e com a discussão de, por exemplo, o sistema
médio de localidades rurais tivessem acesso ao respiratório e doenças de impacto na saúde
conhecimento científico produzido nesses cursos. pública mundial como a Síndrome Respiratória do
Além disso, foi firmada uma parceria com o Oriente Médio (provocada por coronavírus).
curso de biologia. No segundo momento, houve
o contato inicial e a apresentação do projeto “Eu Para despertar nas crianças a vontade de
Menina sendo Cientista” à Escola Municipal Joca sonhar, na última mesa foi incentivado que
Vieira, localizada na BR-343, km 14, localidade escrevessem em um “post it” o sonho delas para
rural Estaca Zero, em Teresina. o futuro. Esse “post it” foi colado em uma árvore
intitulada “Árvore do sonho”. Nela foi possível
Para comemoração do Dia Internacional de ver os desejos das crianças, que iam de ser
Mulheres e Meninas na Ciência de 2020, a professor a ser cientista1.
Fiocruz Piauí promoveu dois dias de atividades.
No primeiro (10 de fevereiro), foi realizado um No segundo dia, 11 de fevereiro ou Dia M,
dia de cientista mirim para 286 meninas (6 a 14 houve palestras e rodas de conversa sobre “O
anos) do 4º ao 7º ano do ensino fundamental da alcance da igualdade de gênero de mulheres e
mesma escola. As atividades compreenderam meninas na ciência” na Fiocruz Piauí. Um painel
uma exposição denominada “Bem-vindas ao intitulado “Encontro de Gerações Femininas
mundo da ciência”, com o objetivo de promover para a Ciência” apresentou as histórias de vida e
o despertar científico entre mulheres e meninas superação de cada participante, enaltecendo que
de comunidades rurais, de forma lúdica e as mulheres e meninas podem ocupar o espaço
139
1. A reportagem com
que elas desejarem. Parte do painel cientista de cada mulher e menina.
algumas fotos das mesas
teve a interação da plateia, por meio A revista apresentou a estrutura podem ser acessadas
do relato de histórias vivenciadas por de um artigo científico (introdução, no link:
mulheres e meninas em seu mais material e métodos, resultados,
amplo espectro e de perguntas às que discussão, conclusão, agradecimentos
faziam parte do encontro. O público e referências bibliográficas) e
do evento foi de 55 pessoas. constituiu-se de observações sobre o
que uma cientista faz, se as estudantes
Também foi idealizado e produzido conhecem uma cientista mulher, o que
um documentário intitulado “Os é ciência e, ainda, o que elas fariam
meus passos me levam aonde eu caso tivessem a possibilidade de
quiser: mulheres e meninas na ciência realizar uma descoberta para ajudar a
já” sobre as atividades realizadas sua comunidade.
com mulheres e meninas na Escola
Municipal Joca Vieira, no dia 10 É fundamental refletir sobre a
de fevereiro de 2020, e a roda de dimensão continental que o Brasil
conversa, no dia 11 de fevereiro de tem como país, e lembrar que este
2020, na Fiocruz Piauí em menção foi estruturado em cima de uma
ao Dia Internacional de Mulheres organização escravocrata em que
e Meninas na Ciência. O vídeo traz as mulheres negras têm menos
também a experiência desse dia oportunidades em nossa sociedade
por parte de uma estudante e o e, no interior desse segmento,
depoimento de outra aluna sobre alguns grupos terão menos
o que é ser uma cientista. Também oportunidades ainda. As mulheres
há relatos das mulheres e meninas negras quilombolas e indígenas
matriculadas nos cursos tecnológicos acessam os direitos sociais, que
de frequência majoritária masculina. são constitucionais, de forma muito
diferenciada. Para elas, o estímulo
A retomada da proposta em janeiro de ao mundo da ciência é um grande
2021 foi destinada a 286 mulheres e desafio. Esse obstáculo precisa
meninas com idade entre 6 e 15 anos, ser transposto na formulação de
da mesma escola rural de Teresina, e políticas públicas com diretrizes
suas dinâmicas foram reorganizadas interseccionais. Não existe a mulher
conforme as limitações de trabalho e o universal brasileira. As mulheres são
“Plano em defesa da vida – convivência plurais, com necessidades diversas.
com a covid-19”. A divulgação As meninas precisam ser vistas nas
científica baseou-se na confecção suas singularidades e incentivadas a
de uma revista científica mirim e permanecer na educação e a explorar
juvenil intitulada “Revista científica o máximo das suas potencialidades.
mirim/juvenil ciência se faz todo O Estado-Fiocruz precisa se fazer
dia: mulheres e meninas na ciência presente quanto mais distante os
já!”. A ideia foi desenvolver o lado grupos estiverem do centro dos
serviços e das oportunidades.
140
PERPETUAR
O DEBATE DA
PARTICIPAÇÃO
FEMININA NA
CIÊNCIA E A HISTÓRIA
DAS MULHERES
CIENTISTAS
141
Nas salas de aula, em regime rotativo, houve Esse resgate foi executado pelas alunas de pós-
exibição de filmes e documentários e Rodas graduação do Laboratório de Entomologia-1 da
de Conversa sobre a vida das pesquisadoras Fiocruz RO e pelas meninas do Clube “A Teia”, da
de neurofarmacologia, microbiologia, virologia, Escola Daniel Neri, e gerou uma cartilha digital.
entomologia, epidemiologia genética, imunologia,
engenharia de anticorpos, bioprospecção etc., Houve também a produção de um podcast,
além de explorar o debate sobre a cientista mãe com arquivos de áudio (MP3, MP4 e OGG)
com dupla jornada, cientista na Amazônia e Primeiramente, as alunas da Escola Daniel
cientista emigrante. Estima-se que cerca de 1.600 Neri redigiram questões, revisadas pelo
estudantes dos três turnos, incluindo a Educação professor supervisor, Gonçalo Soares Monteiro,
de Jovens e Adultos (EJA), tenham participado do e direcionadas às pesquisadoras da Fiocruz.
evento comemorativo. Em seguida, gravaram arquivos de áudio com
as questões, que foram respondidas pelas
No dia seguinte, houve sorteio (duas meninas cientistas, compiladas e editoradas, formando
por turma) para visitação à sede da Fiocruz o podcast. Ainda em 2021, a equipe da Fiocruz
Rondônia, participando 83 estudantes ao todo Rondônia organizou uma mesa-redonda sobre
– tanto da visitação aos laboratórios da Fiocruz a situação das mulheres na ciência e em
Rondônia quanto das palestras ministradas cenários cotidianos, sob diferentes óticas. A
por alunas de pós-graduação (mestrado e abertura foi feita pela Dra. Deusilene Souza
doutorado). As atividades desenvolvidas tiveram Vieira, vice-coordenadora de Ensino, Informação
ampla cobertura da mídia digital, da televisão e Comunicação da Fiocruz Rondônia, e
(entrevistas) e do rádio (debate). pesquisadora integrante do projeto Movimento
de Mulheres Camponesas (MMC-RO). Os
Em 2021, devido às restrições sanitárias da avanços, as conquistas e as lutas vivenciados
pandemia de Covid-19, os eventos da Fiocruz pelas mulheres foram debatidos pelas
ocorreram de forma remota, em plataformas professoras Christiane Silvestrini, do Instituto
digitais. No primeiro dia de ações por mais Federal de Rondônia (IFRO), Lilian Moser, da
mulheres e meninas na ciência, houve Universidade Federal de Rondônia (Unir) e
apresentação das unidades regionais. A Fiocruz Ana Karina Salman, da Empresa Brasileira de
RO sumarizou as atividades desenvolvidas Pesquisa Agropecuária (Embrapa RO), com
em um vídeo com cerca de 10 minutos, no a mediação de Geisa Evaristo (Fiocruz RO).
qual constavam fotos e registros do evento Durante a mesa-redonda, além do papel da
realizado em 2020, depoimentos de estudantes, mulher na ciência, no tema de Saúde Pública
acadêmicas de pós-graduação e pesquisadoras, e na atualidade da pandemia de Covid-19,
e ao final, homenagem às mulheres de Rondônia debateu-se a importância da participação
que se encontram na linha de frente ao combate feminina nas inovações tecnológicas do
do novo coronavírus. De modo remoto, formou- campo, seu protagonismo em iniciativas
se um grupo de estudo para o resgate histórico empreendedoras, além de uma contextualização
das principais personalidades femininas, tanto histórica das mulheres rondonienses. Destacou-
as pioneiras do Brasil em suas áreas temáticas se o papel de nossas alunas e das meninas
quanto aquelas cientistas da atualidade que têm das escolas públicas – que constituem nossos
visibilidade graças às suas conquistas. futuros alicerces e irão perpetuar o debate da
143
1. Outras imagens de
participação feminina na ciência e a história das mulheres
nosso projeto podem ser
cientistas e suas experiências, de forma a reduzir as obtidas na Assessoria de
desigualdades sociais, promovendo avanços na saúde, Comunicação da Fiocruz
educação e ciência, em especial, no estado de Rondônia1. Rondônia.
ESSA GERAÇÃO
VISLUMBROU
HORIZONTES
QUE ESTÃO
SOB AMEAÇA
145
AGENDA LARANJA1
E O PROTAGONISMO JUVENIL NO
CONTEXTO DA PANDEMIA DE COVID-19
CORINA HELENA FIGUEIRA MENDES
2. Link para o
Cartas ao Futuro:
3. Canal Agenda
Laranja/Motirõ:
FORTALECER AS
POSSIBILIDADES
DE INSERÇÃO DE
MENINAS NEGRAS NO
CAMPO CIENTÍFICO
149
Em 2017, o projeto Meninas Negras na Ciência foi idealizado por nós – Hilda
Gomes e Aline Pessoa –, no âmbito do Museu da Vida/Fiocruz, a partir do
trabalho desenvolvido como educadoras na relação com diferentes públicos.
Para reforçar o compromisso social e político, reconhecemos a importância da
Agenda 2030, adotada em 2015 pela Assembleia Geral das Nações Unidas,
cujo mote é “não deixar ninguém para trás”, fazendo referência à promoção
do desenvolvimento de mulheres e meninas, durante os próximos 15 anos.
Dados da ONU Brasil de 2017 evidenciam que, apesar dos importantes
avanços das políticas de ações afirmativas, apenas 12% das mulheres negras
têm acesso ao ensino superior, contra 23% dos(as) brancos(as). Assim, esse
projeto dialoga com nove metas atreladas ao ODS 5, que vislumbra, de forma
global, o alcance da igualdade de gênero e o empoderamento de todas as
mulheres e meninas.
PROMOVER A
IGUALDADE DE
GÊNERO É UM
COMPROMISSO
INSTITUCIONAL
DA FIOCRUZ
153
CANTE, ESTUDE,
SE DIVIRTA, FAÇA
ARTE E LEVE O
CONHECIMENTO
AO MUNDO, POIS
O CONHECIMENTO
MOVE MONTANHAS!
157
sobre o que é fazer ciência, projetos de A proposta ficou suspensa devido à pandemia
vida, representatividade e inclusão, com de Covid 19. No entanto, o entusiasmo das
ênfase nas questões de gênero e raciais. meninas e a construção de vínculo entre elas,
conosco e com as ideias que tinham sobre a
Como pesquisadora da instituição,
1
Agenda Laranja foram se incrementando através
participei dessas atividades e, de encontros virtuais. Nesse processo foram
passados alguns dias, uma das sendo delineadas pautas a partir dos interesses
meninas fez contato comigo, delas, que sinalizavam não só para as temáticas
buscando conhecer a Agenda Laranja , discutidas até então pela Agenda Laranja, mas
2
Escrever cartas foi pensado com Após a leitura de cada carta e do acervo como
elas como uma antiga forma de uma unidade, comecei a decompor seus
comunicação entre pessoas que textos, considerando a sequência temporal que
desejam compartilhar sentimentos, utilizaram, que começava quando elas souberam
conhecimentos, ideias sobre si e o da chamada para o projeto “Mais Meninas
mundo. O uso de cartas na escrita foi na Ciência”, continuando até as repercussões
exemplificado pelos livros Para educar posteriores e as reflexões sobre seus projetos de
crianças feministas5, da nigeriana vidas. A seguir, com atenção à representatividade
Chimamanda Ngozi Adiche6 e Se de todas, agreguei trechos, frases e parágrafos
não fosse por você, eu não estaria na forma de uma nova carta. A proposta era que
aqui. Cartas para quando eu era o texto se configurasse como uma unidade com
adolescente7, e-book da Flipop 20208. muitas vozes, em registro polifônico, reconhecido
por elas como uma obra coletiva.
Nem todas as meninas do grupo
de WhatsApp escreveram cartas.
No entanto, quatro meninas que
participaram do evento de fevereiro,
ao saberem dessa proposta, enviaram
suas cartas. O exercício possibilitou
a construção de espaços de escrita,
nos quais o jogo sutil em que elas
escreviam a si e liam seus escritos
e os das outras, foi encadeando,
através da sensibilidade, a produção
de uma memória que ainda não
haviam alcançado.
163
Vamos voltar no tempo? Gostaria de voltar aos Uma ansiedade enorme preencheu o
dias 10 e 11 de fevereiro de 2020, um mês e meu peito quando voltei da escola e
poucos dias antes do início da quarentena. Ou minha mãe falou que haviam ligado da
talvez até um pouquinho antes. Fiocruz e que eu, nós, você do futuro,
tínhamos sido escolhidas. Depois
Tudo começou em 13 de janeiro, quando minha de ter pensado muito, prorrogado a
professora mandou um e-mail falando sobre a inscrição e conseguido dizer em até
seleção de alunas da rede pública para conhecer 100 palavras qual a importância da
a Fiocruz de perto. As estudantes escolhidas mulher na ciência!
acompanhariam a rotina de mulheres cientistas.
Aquele e-mail veio no melhor momento! Lembro como se fosse ontem quando
meu pai disse que a Fiocruz tinha me
Para fazer a inscrição era preciso responder a chamado. Gritei muito, pois naquele
duas perguntas. Qual a mensagem que uma momento, percebi que o meu sonho de
mulher cientista traz para a sociedade? Qual o conhecer aquele lugar maravilhoso iria
impacto que isso causa na vida de meninas que se realizar, e quando entrei por aqueles
sonham em ser cientistas, porém ainda têm certo portões em fevereiro, meu coração pulou.
receio? Quando li a primeira comecei a pensar
sobre a questão da representatividade feminina Tantas meninas igualmente incríveis se
e a sua importância. Pensar que, ao fazer a inscreveram, mais de cem, e alguém
inscrição no projeto, você não fazia ideia do quão leu minha inscrição e pensou que eu
permanentemente transformada sairia. seria necessária ali, que tinha um lugar
para mim. Foi a primeira coisa que eu
As visitas diárias ao site Fiocruz resultaram pensei quando recebi o e-mail dizendo
na descoberta do projeto “Mais Meninas na que tinha sido aprovada. Acho que
Ciência”. Sua inscrição foi um momento de ao mesmo tempo em que eu estava
muita alegria. O mês de janeiro passou voando eufórica, ainda tinha medo de algo dar
164
errado. Além das inseguranças sobre carreira, Confesso que no primeiro dia de evento cada
tinha o não saber se merecia de fato aquela vaga, detalhe foi uma grande descoberta. Ao chegar
ser mulher e querer ser acadêmica, mas não na Fiocruz você caminhou sozinha durante uns
achar que pode. Medo de não conseguir mostrar minutos até encontrar as meninas. O primeiro
quem eu sou de verdade. contato com elas foi um pouco acanhado, mas
logo todas se soltaram, depois das apresentações,
Você aguardou ansiosamente pelo dia da visita e selfies e “abrações”.
descobriu que não estava sozinha nessa, um grupo
com todas as meninas que participariam do evento CONHECI VÁRIAS MENINAS INCRÍVEIS,
foi criado e você pôde compartilhar com elas suas PARECÍAMOS SER TÃO IGUAIS, TODAS
expectativas. Aquele grupo onde a gente já foi se COM OS OLHOS BRILHANDO POR
conhecendo, se tornando uma irmandade. ESTAREM LÁ, MAS AO MESMO TEMPO
TÃO DIFERENTES. CADA UMA TINHA
Eu mal tinha acordado e já estava a mil e com SEU OBJETIVO E QUERIA VISITAR UMA
várias perguntas na minha cabeça: como eram as PARTE DISTINTA DA FUNDAÇÃO.
pesquisadoras? Qual o laboratório eu ia visitar?
Será que vou fazer amizades? Por muitas vezes vivemos momentos e não
percebemos o quanto eles irão ser importantes
Um dia, não como qualquer outro, um dia em que, para nossa trajetória, não percebemos o quanto
a cada passo dado, o coração batia mais forte, aquilo nos fez mudar de alguma forma. Mas
o sangue fervia, mas de uma maneira gostosa. naquele dia, a cada vez que nosso coração batia,
As borboletas no estômago eram diferentes, o tínhamos certeza que nossa vida mudaria.
nervosismo era bom.
No horário combinado fizemos a abertura
No primeiro dia, já estávamos lá, às seis da do evento, as meninas foram divididas em
manhã, conversando com outras meninas na grupos, de acordo com a área de interesse que
recepção da Fiocruz, quando estava marcado para escolhemos na inscrição.
as oito horas!
Ao chegar lá, eu me deparei com uma
Acordei cinco horas da manhã para sair de instituição maravilhosa, cuja essência vai muito
Niterói, eu e minha mãe não sabíamos como além de cientistas com jalecos, laboratórios
chegar à Fiocruz, chegamos lá duas horas e amostras. Tive a honra de conhecer o Icict.
antes, mas sem problemas. Foi incrível, acabei A biblioteca é aberta ao público, são mais de
conhecendo melhor algumas meninas. 19 bibliotecas além da principal, que era no
Castelo, mas agora lá só ficou a seção de obras
Eu fui de trem de Queimados à estação raras. Aprendemos sobre o acesso aberto,
Manguinhos. Quando cheguei, queria correr para que é onde podemos ver pesquisas, que são
chegar logo, mas decidi andar normalmente, liberadas e que não são patenteadas.
para não chegar suada. Chegando lá, logo recebi
um kit com alguns itens bastante úteis, além da
blusa memorável.
165
Estou aqui para relembrar um momento a conversa, você se sentiu acolhida e uma
muito importante e decisivo na sua vida. O esperança nasceu em seu peito, pois depois de
dia que você conheceu o Instituto Fernandes escutar muitas histórias de vida, você se sentiu
Figueira7. De início você se sentiu confusa, como motivada e percebeu que a área da pesquisa
tinham associado psicologia a um instituto também é possível para a mulher brasileira.
que cuida da saúde da mulher, da criança e do Eu pude conhecer como os animais de
adolescente? Chegando lá, conheceu algo além laboratórios são cuidados no ICTB, como os
das suas expectativas e finalmente se encontrou profissionais, a maioria mulheres, têm dedicação
profissionalmente. Espero que tenha alcançado e carinho no cuidado com os animais da unidade.
o sonho de ser uma psicóloga e pesquisadora As profissionais nos mostraram que elas estão
da Fiocruz. Estar no meio de mulheres sempre tentando reduzir o número de animais
extremamente qualificadas e acolhedoras te usados em experimentos e o sofrimento deles.
motivou a estudar e conquistar seu espaço na
sociedade. Eu lembro o nome de cada uma até Alguns anos atrás, quando você visitou a Fiocruz
hoje, porque enquanto falavam eu fui gravando pela primeira vez, nunca imaginou que teria a
por pura emoção. honra de estar na ENSP. Todo o conhecimento e
emoção que sentimos foram extraordinários, leve
Você pode conhecer a área de isso até o seu último respirar.
“paleoparasitologia” e um laboratório composto
por mulheres. Pode ver o acervo, ver alguns Houve algo que você ouviu que nos marcou e,
animais em conserva e participar de uma reunião desde então, carrego a Fiocruz no meu coração
com a equipe. Enquanto andávamos, por onde com um amor incondicional: A Fiocruz faz
a pesquisadora passava era nítido os olhos das muita inclusão e a maioria do nosso corpo técnico
pessoas brilhando, principalmente os seus. é mulher. Tínhamos acabado de dar carona
para uma pessoa surda. Ouvir isso sobre uma
Ver pela primeira vez um laboratório foi algo instituição tão importante e que, ainda sim,
que marcou nossa vida, pois foi a primeira busca dar oportunidades a pessoas que são
oportunidade que tivemos de imaginar aquele rejeitadas pelos mercados de trabalho, me traz
lugar como o nosso futuro local de trabalho. Estar um arrepio e um choro orgulhoso.
num ambiente tão acolhedor nos fez acreditar
que diversas pessoas acreditam na nossa Aprendemos que lá tem muitas mulheres, sem
capacidade, de um dia, talvez, ser uma futura jaleco e com jaleco, negras e brancas, e que
colega de trabalho daquelas pesquisadoras. saúde é tudo, e o SUS é mais que tudo, e que
te acompanha a vida toda, do seu nascimento
Posso afirmar que foi um dia atípico, tanto para a sua morte. Desmistificamos a imagem de
você quanto para os funcionários do laboratório, cientista como homem, branco de jaleco e que
afinal eles estavam recebendo uma visitante saúde é só hospital, laboratório, onde tem tubos
tagarela e curiosa. Uma roda de conversa com de ensaios e experimentos.
todas as mulheres da equipe e cada uma pôde
compartilhar sua carreira profissional. Durante
166
Confesso que chorei muito com os depoimentos, acadêmicas. Através das histórias contadas você
dava vontade de abraçar cada pessoa lá presente. conseguiu expandir os seus horizontes, e a partir
daí teve mais um motivo para tentar romper
ESPERO QUE DAQUI A ALGUNS o mundo limitado que o sistema oferece para
ANOS EU ESTEJA NO PROJETO, pessoas como você.
MAS COMO PESQUISADORA!
Passar por essa experiência lhe gerou uma
Há dois anos você apresentou seu primeiro projeto mudança, você conseguiu ter esperança no seu
naquela Feira e você escutou que aquilo não era futuro profissional. Espero do fundo do meu
ciência, no máximo algo filosófico, que mulheres coração que você tenha conseguido concretizar
não conseguiriam estar em todas as áreas. seus sonhos, sejam eles quais forem, mas o
meu desejo mais profundo é que você siga a
Às vezes nós achamos que não somos tão sua vida com felicidade e harmonia.
dignas assim, ou capazes ou até mesmo
inteligentes o suficiente para participar de coisas
168
No dia em que escrevo, eu ainda não sei a carreira Só nós sabemos o quanto foi difícil
que quero seguir, provavelmente será Biologia, conseguir chegar até a Fiocruz,
atuando como pesquisadora, mas no meio principalmente tendo um pai
disso tudo, eu ainda posso virar uma cineasta. A analfabeto e uma mãe com pouco
escolha sobre o que seguir é difícil, contudo, uma estudo, que não deram tanta
certeza eu tenho: eu quero ser uma mulher que importância para essa conquista.
influencie outras mulheres assim como todas Lembre-se que é possível e que você
aquelas me influenciaram. não está sozinha.
Espero que a visita a Fiocruz tenha sido tão Desistir nunca foi e nunca será uma
importante para você como agora está sendo para opção. Então, viva! Cante, estude, se
mim. Ela me ajudou a tomar a decisão do meu divirta, faça arte e leve o conhecimento
futuro. Espero que você esteja feliz, trabalhando com ao mundo, pois o conhecimento move
o que gosta, num laboratório importante (talvez na montanhas!
Fiocruz) e com as meninas que conheci no evento.
Seria incrível poder acompanhar a jornada delas, Agora, você tem um compromisso
cada uma na sua área de interesse e continuarmos com o futuro, para dar continuidade
juntas, para que possamos fortalecer a atuação das ao que foi iniciado, para inspirar mais
mulheres na área científica do nosso país. meninas e mostrar que não importa
se o machismo estrutural tentar nos
oprimir, o conhecimento científico
também é feminino e há, e sempre há
de haver, espaço para nós.
169
Escrevo-te para quando pensar com Sua carta é pequena, mas você vai ressignificar cada
carinho e lágrimas nos olhos sobre palavra para o que você vive no seu agora!
aqueles dois dias, recordar-se das
mulheres incríveis que abriram não só Desde já, agradeço pela pessoa que você se tornou.
as portas de suas salas e laboratórios,
mas o coração para compartilhar a PS1. Logo após o evento você recebeu a notícia que
história que as atravessava. já passou para a faculdade. Eu espero que você
vá muito além do que ousou sonhar. E que não
ESPERO QUE DAQUI A ALGUNS se esqueça do que esses dois dias do evento te
ANOS, QUANDO ESTIVER ensinaram: o lugar da mulher é onde ela quiser.
LENDO ESTA CARTA, VOCÊ O seu lugar é na bancada do laboratório, é na
ESTEJA NO LUGAR ONDE VOCÊ biblioteca, é na sala de aula, é escrevendo, é na
QUEIRA ESTAR. Antártica, é acreditando que pode mudar o mundo,
assim como elas mudaram o seu. Espero que você
Vai ser bom olhar para tudo isso no seja um pouco do que elas te inspiraram.
futuro e pensar no quanto fui feliz
naqueles dois dias, no quanto isso tudo PS2. A Fiocruz vai ter que abrir muito edital daqui
foi enriquecedor pra mim. a alguns anos para essas 51 meninas trabalharem
lá, cada uma na sua área (TI, Educação Física,
Eu espero que você tenha tanto Veterinária, Designer, Fotografia, Medicina,
orgulho de você quanto eu tenho. Computação, Física, Jornalismo, Psicologia,
Sempre que pensar em desistir ou se Química, Biomedicina ...). Aprendi isso também, a
sentir insegura, pense em como você Fiocruz é muito plural.
se sentiu naquele dia e em como as
oportunidades podem tocar o nosso TÃO LONGE, TÃO PERTO: JOGOS COM O
coração de uma forma que nunca mais TEMPO E DIÁLOGOS FANTÁSTICOS
iremos esquecer. Como evitar a corrosão e sedimentação do tempo
a não ser por suas dobras, onde estão alojadas
Espero poder escrever para vocês nossas memórias? E ao dobrá-lo, entender que as
novamente daqui a alguns anos e relatar memórias não são ilusões, passam a ser criação.
que nós conseguimos, e ainda estamos
juntas mudando esse “mundão”. Que maravilhoso seria podermos reter aquele
momento em que nossas vidas tomaram um novo
Que esta enorme carta te ajude rumo. A cada segundo, a cada decisão, pensada ou
a reconhecer um pouco dessa não, um novo caminho se bifurca. Como seria se,
experiência, como ela me ajudou a por um capricho da vida, alguns grãos do tempo
relembrar aqueles dias que foram um permanecessem em nossas mãos e se juntando
divisor de águas na minha vida, e na aos que também ficaram nas mãos das outras,
nossa futura carreira. pudessem ser vistos e nomeados, não mais como
grãos, mas como terra. Terra como lugar de origem
onde estão os brotos de nossos caminhos.
170
REFERÊNCIAS
GALVÃO, Walnice Nogueira; GOTLIB, Nádia Battella
(org.). Prezado senhor, Prezada senhora: estudo sobre
cartas. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. 5. E-book publicado pela editora Companhia das Letras;
1ª edição (26 set. 2014). Disponível gratuitamente pela
Amazon.com.br.
SERRES, Michel. Polegarzinha. 3. ed. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2018. 6. As meninas receberam em casa, de surpresa, um
dos três livros da autora – Sejamos todos feministas,
Para educar crianças feministas: Um manifesto e O
perigo de uma história única. Os livros contribuíram
para reflexões sobre relações de gênero, cultura,
feminismo, representatividade e literatura.
PARTE 3
MULHERES
NO ENFRENTAMENTO
À COVID-19
NA FIOCRUZ
174
Fui de lá para São Paulo, gravei uma em Brasília, tinha mais de 200 mil
live para um site de pneumologia, que visualizações. No dia seguinte, eu
me pediu para fazer um resumo da recebi a mesma mensagem, que
reunião de Brasília da qual havíamos aquilo tinha 600 mil visualizações.
participado com vários médicos Era alucinante. E, então, a Rede Globo
da Fiocruz, do Instituto Fernandes me telefonou dizendo que a minha
Figueira, do INI. Eu gravei essa live e live estava chegando a 1 milhão de
foi muito curioso. Só no dia seguinte visualizações e me perguntando
entendi o impacto causado, porque se eu poderia falar com eles. Eu
eu era um pouco inocente em relação fiquei um pouco surpresa, disse
a essa força das redes sociais, para que estava no aeroporto em São
o bem e para o mal. Hoje, eu tenho Paulo voltando para o Rio. Disse
uma visão muito crítica, e declarei que iria. Foi a primeira vez, no dia
isso recentemente: como as redes 13 de março exatamente, que eu fiz
sociais têm feito mal na divulgação uma entrevista com a Rede Globo,
de informações equivocadas, dando um pouco o estado da arte
maliciosas etc. E, naquele momento, do que nós imaginávamos, naquele
sete ou oito horas depois, o colega momento, que teríamos.
com quem eu tinha gravado me
enviou uma mensagem dizendo que
a live que tínhamos feito, com o
resumo do que tinha sido a reunião
176
Uma doença epidêmica, uma epidemia de uma Hoje, se entrarmos no PubMed e colocarmos
pneumonia diferente. Nós já tínhamos visto isso. Covid-19, vamos encontrar mais de 100 mil
Integrei o grupo de médicos que trabalhou junto publicações. Eu nunca pensei na vida que fosse
ao Ministério da Saúde quando houve a Sars. ver isso. Aqui ao meu lado tem pilhas de papers,
Revimos os tratamentos, as condutas, então, porque temos que ler muita coisa, estudar o
eu já tinha uma vivência nesse sentido. E nós, tratamento, a vacina, o diagnóstico, os métodos
rapidamente, entramos nisso que eu chamo diagnósticos. Uma profusão. Grupos de pesquisa
hoje de profunda, intensa e permanente curva conhecidos, grupos de pesquisa novos, uma
de aprendizado. Nós logo entendemos que não necessidade nossa de interagir. Eu participei
estávamos diante de uma pneumonia diferente. de inúmeras, realmente inúmeras lives, com o
Não era isso. Era uma doença sistêmica, com doutor Estevão Portela, do INI, por exemplo,
alta capacidade de matar. Nós começamos a com colegas da Espanha, da Itália, enfim, nós
perder nossos primeiros pacientes, todos de estávamos tentando entender. Eles tinham
classe média alta internados na rede privada. vivido o mesmo drama que nós começávamos
Depois, fomos acompanhando paralelamente a ver, naquele momento, no Brasil. E ficava claro
essas iniciativas, a começar pela iniciativa para nós, já em abril, quando Manaus estava
do nosso hospital da Fiocruz, que tanto nos encontrando seu primeiro pico epidêmico –
orgulha, junto aos colegas do INI, que eu pude porque o primeiro pico epidêmico da primeira
acompanhar bastante. Enfim, com muitas onda em Manaus foi no fim de abril –, aqui a
chances afortunadas de poder discutir e epidemia ainda estava crescendo.
aprofundar assuntos.
A FIOCRUZ TRABALHANDO
Rapidamente entendemos que se tratava de SEM PARAR PARA
uma doença sistêmica de alta capacidade FAZER DIAGNÓSTICO.
de morbimortalidade, marcada por um
comportamento, clinicamente falando, bifásico, A rede privada com uma pressão enorme.
uma fase virêmica e, posteriormente, uma Importante lembrar que as doenças crônicas
fase inflamatória mais grave ainda, e que os não pararam, na epidemia de Covid-19. Não
pacientes morriam por fenômenos de natureza foram interrompidas as doenças crônicas,
trombogênica. Era uma doença com uma enorme pelo contrário, a Covid-19 teve um enorme
capacidade inflamatória, com uma liberação impacto na tuberculose. Nós hoje estamos
brutal de citocinas muito tóxicas. Precisávamos pagando um preço muito dramático, com 40%
começar a estudar os primeiros trabalhos a menos de diagnósticos feitos, 22% a menos
publicados, mostrando aqueles medicamentos de casos notificados, ou seja, um prejuízo social
que rapidamente se revelaram ineficazes ao longo e humano muito grande. Essa tem sido uma
dos meses subsequentes. Remédios que tinham experiência que me ensinou muita coisa, sem
passado por processos de reposicionamento de dúvida nenhuma. Acho que eu pude contribuir
fármacos, como a hidroxicloroquina, cloroquina, em nome da instituição.
enfim, e começou isso que eu chamaria hoje de a
maior tsunami científica, que eu nunca pensei em
ver na minha vida.
177
ATUAR NA
PANDEMIA TEM SIDO
DESAFIADOR E EXIGE
DE NÓS SERENIDADE,
DISCERNIMENTO
E ATENÇÃO
PERMANENTE
ÀS MUDANÇAS
DE CONTEXTO E,
PRINCIPALMENTE,
AO AGRAVAMENTO
DAS DESIGUALDADES
SOCIAIS E HISTÓRICAS
179
A EXPERIÊNCIA DA EDUCAÇÃO
ON-LINE COMO PROMOÇÃO DE
CUIDADO DA POPULAÇÃO DURANTE
O ENFRENTAMENTO DA PANDEMIA
DE COVID-19
FABIANA DAMÁSIO
E nós tínhamos essa interlocução direta com uma experiência solidária e colaborativa, que
o Observatório Covid-19, que está lá no nosso reforçou o cuidado com os trabalhadores e
portal da UNA-SUS. Ainda no reforço às ações de trabalhadoras da saúde e da população.
EaD, buscamos, por meio do Núcleo de Educação
a Distância da Escola de Governo Fiocruz Brasília, As cartilhas também ganharam a capilaridade
em parceria com o Campus Virtual Fiocruz – entre cerca de 35 sites de universidades,
que também é liderado por outra mulher, a Ana prefeituras, conselhos e órgãos de controle.
Furniel – ampliar as ofertas educacionais on-line Todo o material foi organizado em, basicamente,
para outros temas, dentre os quais se destaca cinco áreas: gestão e organização dos serviços
a saúde mental. Esse tema foi elencado por nós e cuidados de saúde; questões relacionadas ao
como prioridade. Assim, constituiu-se uma rede isolamento e distanciamento; especificidades
de doutorandas e pós-doutorandas, e falo assim no cuidado dos ciclos de vida, considerando os
porque a turma é basicamente de mulheres que idosos e as crianças; cuidados das populações
se organizaram para sistematizar todo o conteúdo socialmente vulneráveis; e proteção social
em torno desse campo de conhecimento. Nós da pandemia. Debatemos temas como luto,
sabíamos, até pelo histórico de pandemias, atendimento on-line, violência doméstica,
pelas atuações anteriores, que havia uma atuação nos hospitais, migrantes, refugiados,
necessidade de olharmos cuidadosamente para povos indígenas e população privada de
as consequências psicológicas que as pandemias liberdade. Assim, houve uma diversidade grande
tendem a causar nas pessoas, inclusive de de assuntos em função da demanda e dos
forma permanente, com uma necessidade de impactos psicossociais que têm acometido a
atentarmos também para o pós-pandemia. sociedade. O meu relato reuniu aqui três das
experiências desenvolvidas, mas existe outro
Foi com esse espírito que começamos a conjunto de esforços que se somam à agenda de
trabalhar na organização, a princípio, de enfrentamento da Fiocruz.
uma tradução de material publicado pela
Organização Mundial de Saúde, que já vinha Atuar na pandemia tem sido desafiador e exige
sendo adotado em outros países, e que se de nós serenidade, discernimento e atenção
transformou na elaboração de cartilhas de permanente às mudanças de contexto e,
recomendações, em parceria com o Centro principalmente, ao agravamento das desigualdades
de Estudos e Pesquisas em Emergências e sociais e históricas. Mesmo diante de todos os
Desastres em Saúde da Fiocruz (Cepedes). desafios, é gratificante ver a nossa presidente,
Essas cartilhas foram feitas de acordo com as Nísia, como referência e exemplo de atuação com
necessidades presentes em cada comunidade integridade, sensibilidade e compromisso com as
e expressas pela sociedade local. Ao todo, políticas públicas sociais e de saúde.
foram 20 cartilhas, um ambiente interativo na
plataforma Moodle, dez lives que estruturamos CONTAR COM A PARCERIA E A
e mais de 145 pesquisadores e técnicos SOLIDARIEDADE DE MULHERES NA
envolvidos na concretização da estratégia de NOSSA INSTITUIÇÃO NOS ESTIMULA A
formação. Nós tivemos mais de 69 mil pessoas SEGUIR EM FRENTE, REAFIRMANDO O
inscritas, a partir de uma parceria que fizemos NOSSO COMPROMISSO COM O SUS E
com o Conselho Federal de Psicologia. Foi COM A SOCIEDADE.
181
182
ESTAMOS
PRODUZINDO UMA
DOCUMENTAÇÃO
IMPORTANTE SOBRE
ESSE MOMENTO
TÃO ÚNICO NA
NOSSA VIDA
183
Assim, há alguns desafios, que vamos vencendo EU SEI QUE SOU MUITO APAIXONADA
de alguma forma, buscando produzir o melhor de PELO QUE EU FAÇO E, ÀS VEZES, COMO
informação que podemos, com grande esforço. TUDO NA VIDA, NÓS TEMOS DÚVIDAS,
TEMOS CRISES. ESTAMOS EM UM
Também há no Observatório uma área dedicada MOMENTO MUITO DIFÍCIL NO PAÍS.
à questão da segurança do paciente e do
trabalhador. De certa forma, ficou uma junção. Por exemplo, em 2019, eu, particularmente,
Nós falamos muito da qualidade do cuidado estava me sentindo triste com todo o
e da segurança do paciente, mas, por toda a desmantelamento, com a dificuldade de
característica da Covid-19 e pelo tanto que a financiamento para projetos. Ao mesmo
Covid, de fato, afetou os trabalhadores da área tempo, como pesquisadores, estamos sempre
da saúde, em especial, temos feito documentos encontrando uma brecha e uma paixão para
e trabalhos em relação a essa temática. E há continuar, porque trabalhamos realmente com
também a área das Ciências Sociais com um muita paixão.
grupo ativo, muito importante na abordagem
da questão indígena, da questão das favelas. Na De modo geral, não somos tão movidos pela
realidade, é um conjunto de ações e de estudos, questão do dinheiro (não que a gente não queira
dentro do Observatório. Nós temos o senso de viver uma vida confortável), mas somos muito
responsabilidade de que estamos produzindo movidos realmente pelas nossas questões, pelo
uma documentação importante sobre esse prazer e pela liberdade de pensar e de produzir
momento tão único na nossa vida, na nossa o que a gente realmente acha interessante e que
geração, e que, certamente, daqui a 100 anos, também interessa a outras pessoas.
será acessada por historiadores.
185
186
É UMA LUTA DE
TODOS NÓS, DA
SOCIEDADE E DE
CADA UM FAZENDO
A SUA PARTE PARA
QUE CONSIGAMOS
VENCER O MAIS
RAPIDAMENTE
POSSÍVEL ESSE
GRANDE DESAFIO
187
Então, a OMS comunicou publicamente que o A partir de uma demanda da Opas, o Laboratório
patógeno seria um coronavírus e percebemos que de Vírus Respiratórios e do Sarampo do IOC/
nosso laboratório poderia rapidamente identificá- Fiocruz promoveu o treinamento de nove países
lo. Ainda preliminarmente, havendo casos latino-americanos para identificação desse
suspeitos, poderíamos detectar que se tratava de coronavírus. Em uma iniciativa bem-sucedida e
um coronavírus. Em janeiro de 2020, ainda não com uma resposta ágil, na semana seguinte à
tínhamos acesso aos insumos para a identificação solicitação, nove profissionais, de nove países
daquele coronavírus específico, entretanto, logo latino-americanos, iniciaram o treinamento com
nos primeiros dias, iniciamos uma preparação a metodologia do nosso laboratório, com os
para identificar esse coronavírus circulante. insumos adquiridos pela Opas e pelo nosso grupo
de pesquisa.
Em primeira instância, discutimos com a
Organização Pan-americana de Saúde (Opas) como Enquanto o treinamento ocorria, o Ministério
as Américas – principalmente, América Latina – da Saúde nos informou do primeiro contingente
poderiam ser organizadas, inclusive no treinamento populacional brasileiro chegando diretamente
de pessoas. Alguns dias depois, a OMS publicizou de Wuhan, local com alta transmissibilidade
em conjunto com a China um sequenciamento da doença. Esse grupo ficou hospedado numa
genômico desse novo coronavírus. Rapidamente, base aérea no estado de Goiás. O Ministério nos
um laboratório em Berlim (na Alemanha) convidou a ir para Goiânia, onde daríamos suporte
padronizou o teste, com o método de PCR em ao Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen),
tempo real, para a detecção desse vírus. de Goiás, para a detecção do SARS-CoV1. Cabe
189
destacar que Lacens são laboratórios estaduais união foi imprescindível devido à enorme lacuna de
de saúde pública, parte integrante do Sistema conhecimento em relação ao coronavírus naquele
Nacional de Laboratórios de Saúde Pública momento. Cerca de um ano depois do início da
(Sislab), do Ministério da Saúde. Há um Lacen em pandemia, contávamos com mais de 180 mil
cada capital estadual e no Distrito Federal. publicações científicas sobre o SARS-CoV1 – um
número de publicações sem precedentes, e que
Entramos em contato com o Instituto continua em crescimento, para um patógeno em um
de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio- período de um ano. No entanto, muitos elementos
Manguinhos), uma das unidades técnico- ainda precisam ser conhecidos.
científicas da Fundação Oswaldo Cruz
responsável pela produção e desenvolvimento de Participamos da criação de uma rede genômica no
vacinas e de kits diagnósticos para laboratórios. âmbito da Fiocruz, com o apoio da Vice-Presidência
O instituto confirmou que possuía capacidade de Pesquisa e Coleções Biológicas (VPPCB) da
técnica para desenvolver um kit diagnóstico de instituição. Essa rede engloba pesquisadores das
detecção do SARS-CoV1 para o Brasil. diferentes unidades da Fundação em diversos
estados brasileiros, trabalhando intensamente na
Iniciamos uma colaboração intensiva, com troca caracterização genômica dos vírus circulantes nos
de informações diárias. Naquele período, a vida estados. Apesar do foco em Covid, é um incrível
estava um pouco mais fácil: com máscaras, investimento com resultados para todas as áreas
podíamos transitar à vontade. Frequentávamos do conhecimento, em termos de melhoria das
Bio-Manguinhos ou a equipe deslocava-se para condições de saúde e redução do impacto social,
o nosso laboratório. Em menos de um mês, no econômico e psicológico, em níveis individual e
dia 17 de março de 2020, já produzíamos um kit populacional.
nacional de testagem e detecção do SARS-CoV1
padronizado com Bio-Manguinhos. Promovemos Nos primeiros meses de atuação no contexto da
a capacitação das equipes de todos os Lacens, em pandemia de SARS-CoV1, de janeiro até maio de
Belém, no estado do Pará, no Instituto Evandro 2020, trabalhamos no laboratório de segunda a
Chagas, em duas turmas. Com o esforço conjunto, segunda, até as 21h. No começo de uma pandemia,
treinamos novos países latino-americanos e as 27 não é possível ir para casa às 17h, não há fim do
unidades da Federação, rapidamente. expediente. Hoje, continuamos trabalhando muito,
com poucos momentos de relaxamento.
Ainda no mês de março de 2020, a OMS
organizou uma rede de Laboratórios de Referência Ainda que tivéssemos uma dimensão do desafio
e nos selecionou para integrá-la junto aos que estávamos enfrentando, não poderíamos
laboratórios do Centro de Controle de Doenças antecipar a gravidade dos acontecimentos, a
dos Estados Unidos (CDC). mortalidade altíssima e a imensa tristeza em nível
mundial. É uma luta de todos nós, da sociedade
A ciência se uniu em termos de projetos em comum, e de cada um fazendo a sua parte para que
com resultados importantes. Isso não se deu apenas consigamos vencer o mais rapidamente possível
internamente na Fundação Oswaldo Cruz, mas a esse grande desafio que se instalou na nossa vida.
partir de colaborações com outras universidades
e centros de pesquisa no Brasil e no mundo. Essa
190
É IMPORTANTE
FRISAR QUE MUITAS
DAS NOSSAS
GESTORAS E DAS
PESSOAS QUE ESTÃO
À FRENTE DESTE
TRABALHO SÃO
MULHERES MUITO
DEDICADAS
191
PRODUZINDO A VACINA,
SALVANDO VIDAS
ROSANE CUBER GUIMARÃES
toda a documentação necessária para a Anvisa, as áreas fabril e de produção. Nesta semana
que em dez dias emitiu a autorização. chegaram os primeiros tanques de 2 mil litros de
produção da vacina. Vamos solicitar à Anvisa que
ESTAMOS MUITO FELIZES COM ESSAS faça as inspeções nessas áreas, provavelmente
CONQUISTAS, MAS AINDA NOS entre abril e maio, para obter as condições técnicas
DEDICANDO 24 HORAS. e operacionais. A partir daí, começamos a fazer os
lotes de engenharia e validação, para termos, até
Implementamos efetivamente o turno noturno em o final do ano, a vacina nacional disponível para a
Bio-Manguinhos, com diversas áreas trabalhando população brasileira. É uma honra e um orgulho
diuturnamente para conseguirmos entregar os imenso. É importante frisar que muitas das nossas
100 milhões de doses que estão incluídas no gestoras e das pessoas que estão à frente deste
contrato da Encomenda Tecnológica (Etec) e trabalho são mulheres muito dedicadas. Todas
também internalizar a produção. Temos o objetivo com bastante motivação e garra para alcançarmos
de, até dezembro, produzir o IFA nacional em nossos objetivos.
Bio-Manguinhos. Para isso, estamos adequando
FOTO: RAQUEL PORTUGAL | ACERVO FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ
194
AO MESMO
TEMPO, INICIAMOS
PESQUISAS CLÍNICAS
FUNDAMENTAIS
PARA GERAR DADOS
SOBRE A EPIDEMIA
NO NOSSO PAÍS
195
UM CENTRO HOSPITALAR
DEDICADO À COVID
VALDILÉA VELOSO
de pesquisa clínica no Brasil: ensaios clínicos exigem muitos Recebemos os primeiros pacientes
pacientes e não se consegue fazer apenas com um centro só. de Manaus em fevereiro de 2021.
Depois, acolhemos novos grupos de
ESTAMOS ATUANDO EM VÁRIAS ÁREAS pacientes e continuamos apoiando o
PARA GERAR IMPORTANTES RESULTADOS. Ministério da Saúde no atendimento
DESENVOLVEMOS EXPERIÊNCIAS E ENSAIOS dessa necessidade. É uma ajuda ao
CLÍNICOS SOBRE MODELOS DE VENTILAÇÃO DE povo do Amazonas e à população no
PACIENTES COM COVID-19. Rio de Janeiro, porque o nosso centro
hospitalar tem condições ideais de
Também produzimos estudos na área de fisioterapia, isolamento para o risco da infecção por
enfermos em posição prona e equipamentos para garantir variantes. Temos quartos individuais
mais conforto e melhor adaptação, evitando ferimentos de com pressão negativa, temos EPIs
pressão em pacientes que precisam ficar um longo tempo de boa qualidade, profissionais
de bruços, na posição prona. treinados. Isso faz com que o risco de
disseminação dessas variantes seja
Temos atuado igualmente na capacitação de profissionais muito reduzido.
para outros serviços, uma solicitação que nos foi feita
pelo Ministério da Saúde. Apoiamos ainda o Ministério no Todas essas iniciativas são realizadas
enfrentamento da situação que ocorreu em Manaus, inclusive no apoio ao Estado, ao município e ao
com a falta de leitos e de oxigênio para os pacientes. Essa Ministério da Saúde, no que está ao
questão do colapso do sistema de saúde é grave.. nosso alcance, seja na assistência, na
pesquisa ou no ensino.
198
ESTUDOS E
POLÍTICAS PÚBLICAS
COM PERSPECTIVA
INTERSECCIONAL
E DE GÊNERO SÃO
FUNDAMENTAIS
PARA PRODUZIR
REFLEXÕES E
PROPOSIÇÕES SOBRE
AS RELAÇÕES ENTRE
SAÚDE E CUIDADO
199
3. A pesquisa é
sentido, realizou-se uma pesquisa com Agentes Comunitários de Saúde
coordenada pelas
on-line sobre práticas reprodutivas (ACS), Agentes de Combate a Endemias doutoras Claudia Bonan
das mulheres com o objetivo de (ACE), Agentes de Promoção Ambiental Jannotti, do Instituto
identificar como essas questões (APA) e Agentes de Vigilância Sanitária Nacional de Saúde da
Mulher, da Criança e do
estão ocorrendo no Brasil 3. (AVS) nos territórios de São Paulo,
Adolescente Fernandes
Belo Horizonte e Rio de Janeiro para Figueira (IFF/Fiocruz),
O grupo também aprofundou o compreender o controle de vetores e Ana Paula dos Reis,
conhecimento sobre o impacto da arboviroses no contexto da pandemia de do Instituto de Saúde
Coletiva da Universidade
pandemia nos profissionais de saúde4. Covid-19, todas também com foco em
Federal da Bahia (ISC/
Por meio de diversos artigos, relatórios questões relacionadas ao gênero. UFBA) e Denise Nacif
e notas técnicas, demonstrou que falar Pimenta, do Instituto René
de profissionais de saúde é também falar O grupo vem trabalhando ainda em Rachou (IRR/Fiocruz).
Para mais detalhes:
sobre a atuação das mulheres nesse questões de masculinidades, buscando
campo (já que aproximadamente 70% refletir sobre o processo de saúde-
da força de trabalho no Brasil é feminina). doença-cuidado em uma perspectiva
A aplicação de questionários on-line, relacional de gênero e os impactos
de âmbito nacional, para profissionais sociais da pandemia na vida cotidiana
de saúde, já se encontra em sua quinta de homens e mulheres. Já a violência
rodada. Esta última contou com 935 contra a mulher no contexto da 4. A pesquisa é
profissionais de saúde de todo o país, em pandemia também foi aprofundada por coordenada por Gabriela
Lotta, da Fundação
julho de 2021, e descobriu que mais de pesquisadores da Universidade Federal
Getulio Vargas (FGV),
83% sentem medo da Covid-19. Quase de Minas Gerais (UFMG). em colaboração com
a totalidade dos respondentes (97,5%) pesquisadores da
afirmou conhecer algum companheiro de O MESMO GRUPO DE Fiocruz e Rede Covid
Humanidades. Todas
trabalho com suspeita ou diagnosticado PESQUISADORES ESTAR
as publicações estão
com Covid-19 e boa parte dos ANALISANDO AS PROPOSIÇÕES reunidas no website, com
profissionais (58,3%) diz ainda não ter LEGISLATIVAS REFERENTES acesso aberto.
recebido treinamento para lidar com a ÀS QUESTÕES DE GÊNERO
pandemia. Também foram analisados os DURANTE A PANDEMIA5.
dados sob uma perspectiva de gênero
e raça. Além disso, realizou-se pesquisa
qualitativa por meio de entrevistas em
5. As pesquisas estão em
profundidade em três frentes diferentes:
desenvolvimento e são
(i) com os profissionais de saúde pública coordenadas pela Dra
de todo o Brasil que se disponibilizaram Marlise Matos (UFMG),
nas etapas dos surveys online; (ii) com em colaboração da
Fiocruz e Rede Rede Covid
profissionais da equipe expandida
Humanidades.
da Covid-19 que atuaram na Região
Metropolitana de Belo Horizonte e (iii)
202
6. A pesquisa é
Além disso, trabalhamos com grupos foi realizada por mulheres. Mulheres
coordenada pela Dra.
de jovens negras ativistas por meio pesquisadoras, cientistas, estudantes Corina Mendes e Marcos
de um survey nacional respondido de pós-graduação, de movimentos Nascimento, do Instituto
por 152 ativistas de 17 estados e de sociais e organizações da sociedade Nacional de Saúde da
Mulher, da Criança e do
entrevistas em profundidade que serão civil, professoras, profissionais de saúde,
Adolescente Fernandes
realizados com 30 jovens6. Realizamos quilombolas, dentre outras. Todas Figueira (IFF/Fiocruz)
pesquisas qualitativas com mulheres de impactadas de uma forma ou de outra
comunidades urbanas (Cabana do Pai por quase dois anos de pandemia, sem 7. A pesquisa é
coordenada pela Dra.
Tomás – Belo Horizonte e Sapopemba – queda substancial do número de casos e
Claudia Bonan Jannotti,
São Paulo) e comunidades quilombolas mortes. Mulheres com carga de trabalho do Instituto Nacional
(Córrego do Rocha - Chapada do Norte, (dentro e fora de casa) inimaginável e de Saúde da Mulher, da
MG e Córrego do Narciso - Araçuaí, MG). saúde mental prejudicada. Mas que, Criança e do Adolescente
Fernandes Figueira, do
Também se encontra em andamento mesmo no caos político, econômico
Instituto Fernandes
parceria com o projeto Nascer Brasil e social em que se encontra o Brasil Figueira (IFF/Fiocruz/ RJ),
2, onde um dos objetivos é analisar os pandêmico, produzem conhecimento e pela Dra. Ana Paula dos
impactos da pandemia nas práticas pesquisa engajada. Mulheres na ciência Reis, do Instituto de Saúde
Coletiva da Universidade
reprodutivas de mulheres no Brasil7. que, acima de tudo, resistem!
Federal da Bahia (ISC/
UFBA), no contexto do
Por fim, organizou-se um livro sobre projeto “Gender and
história oral, mulheres e Covid, em REFERÊNCIAS COVID-19 Project”,
financiado pela Fundação
colaboração com historiadores da MATTA et al. (org). Os impactos sociais
Bill & Melinda Gates.
Universidade Federal Fluminense da Covid-19 no Brasil: populações
(UFF), em vias de publicação pela vulnerabilizadas e respostas à pandemia. Rio 8. O eixo Impactos
editora Letra & Voz. de Janeiro: Editora Fiocruz, 2021. Sociais, com apoio
da Embaixada
Britânica no Brasil,
Dessa forma, não resta dúvida de MINISTÉRIO DA SAÚDE – MS. Secretaria desenvolveu um guia
que a pandemia de Covid-19 no Brasil Extraordinária de Enfrentamento à para gestores públicos
impacta de forma heterogênea pessoas Covid-19 – Secovid. Plano Nacional de com recomendações
inclusivas e sustentáveis
de diferentes gêneros. Operacionalização da Vacinação contra a
para populações
Covid-19. Brasília/DF, 2021. vulnerabilizadas.
Nesse sentido, estudos e políticas Desenvolvemos o eixo
públicas com perspectiva interseccional PIMENTA, Denise Nacif et al. Leituras de de gênero com acesso
interativo on-line.
e de gênero são fundamentais para Gênero sobre a Covid-19 no Brasil. In: MATTA,
produzir reflexões e proposições sobre Gustavo Correa; REGO, Sergio; SOUTO, Ester
as relações entre saúde e cuidado, Paiva; SEGATA, Jean (org.). Os impactos
bem como entre as normas culturais sociais da Covid-19 no Brasil: populações
que fazem parte da estrutura social, vulnerabilizadas e respostas à pandemia, Rio
engendrando subjetividades em de Janeiro: Editora Fiocruz, 2021.
homens, mulheres e pessoas que não se
identificam de maneira binária8. WENHAM, Clare et al. Women are most
affected by pandemics: lessons from past
E, como pontuação final, a grande maioria outbreaks, Nature, v. 583, n. 7815, p. 194-
das pesquisas supracitadas deste subeixo 198, 2020.
203
204
205
DESIGUALDADES
E GÊNERO –
INTERSECÇÕES
PARTE 4
206
TEMOS QUE
AMPLIAR NOSSOS
REFERENCIAIS
TEÓRICOS E NOSSAS
LÓGICAS DE LER
E COMPREENDER
O MUNDO
207
Por ser um curto espaço de fala, pontuarei aqui breves denúncias e pílulas de
anúncios históricos que ajudam a nos curar para que possamos construir uma
história diferente. Falar sobre desigualdade entre homens e mulheres é abordar
os desafios atrelados ao gênero na realidade de grande parcela da população
brasileira, nos âmbitos pessoal e profissional. Tratando de cientistas negras,
as iniquidades são ainda maiores. Para reduzi-las, precisamos compartilhar
informação de qualidade, promover o conhecimento de ponta e, para nos
inspirar, ouvir as trajetórias das pesquisadoras já atuantes.
cotidianas, a mulher as administra, ou seja, tem No que se refere ao âmbito das pós-graduações,
a responsabilidade de fazer o cotidiano privado é relevante refletir sobre as funções de gestão.
funcionar. O fato é que é tarefa árdua viver e Passamos a defender e a realizar a participação
sobreviver com o acúmulo de tarefas no espaço das mulheres em cargos de gestão. Mas esse
público e privado. tipo de trabalho possui um elemento braçal,
quase um cuidar da administração e das
Historicamente, o trabalho de cuidar evidencia burocracias que são cada vez maiores no âmbito
relações fortemente hierárquicas, envolvendo estatal. Como um tempo enorme é perdido
vulnerabilidade e desigualdade social, cumprindo burocracias, ninguém quer mais
econômica, etária e de gênero. Mulheres de estar nesses cargos, que acabam ocupados
menor renda têm maior carga de cuidado por mulheres. Assim, não basta encarregar-
domiciliar e menor suporte social. se da gestão se não mudarmos a lógica de
funcionamento, ou de (re)produção de trabalho,
Temos experiências soviéticas em que as capitalista e machista.
mulheres tinham o agenciamento coletivo da
dimensão do cuidado. Com o capitalismo, isso Sobre a questão do reconhecimento e
se volta para o espaço doméstico: o dentro da valorização da história e cultura afro-brasileira
casa torna-se responsabilidade feminina. Assim, e africana, apesar de termos a Lei n. 10.639,
nosso sofrimento, social e estrutural, é mantido desde 2003, efetivamente, é muito difícil que
pelo sistema econômico que cria o patriarcado, as escolas se debrucem sobre esses temas e os
submetendo a mulher e assujeitando o homem a vivenciem no cotidiano escolar. Toda a formação
um modelo imposto. E o opressor não é apenas dos docentes é pautada na cultura europeia e
externo, mas igualmente trazido internamente: branca, encobertando-se e mesmo apagando
repetimos ou aceitamos essa relação de de nossa cultura e memória toda e qualquer
oprimido e opressor, ou como diria Paulo referência aos povos negros, de valorização de
Freire, carregamos o opressor dentro de nós e suas trajetórias e sua ciência. Não basta fazer
naturalizamos o status quo. com que essa temática apareça em nossas
escolas nos meses de maio e de novembro.
Temos que ampliar nossos referenciais teóricos
SE ESSE CAPITALISMO SE COLOCA UMA e nossas lógicas de ler e compreender o mundo.
ÚNICA POSSIBILIDADE, O QUANTO
PODEMOS NOS PERMITIR SONHAR No entanto, é crucial que isso esteja nas nossas
DIFERENTE? EU, POR EXEMPLO, POSSO escolas. Muitas vezes, meninas negras não se
AFIRMAR QUE NÃO QUERO ACEITAR veem legitimadas e representadas. Mesmo com
MAIS ESSA CONFIGURAÇÃO DE FAMÍLIA educadoras do seu grupo étnico-racial no ensino
BURGUESA E QUERO OUSAR, SONHAR fundamental, conforme essas meninas avançam
UMA OUTRA SOCIEDADE POSSÍVEL. no grau de escolarização, é cada vez menor o
E O QUE NOS PERMITIMOS SONHAR, número dessas professoras de pele preta no
NOS PERMITIMOS PESQUISAR. lugar do conhecimento.
209
A SOCIEDADE
FABRICA A
IMPOTÊNCIA
DA VELHICE, DO
MESMO MODO
QUE FABRICOU
A IMPOTÊNCIA
DA MULHER
211
ENVELHECIMENTO, MORTE,
SOBREVIVÊNCIA E VIDA
DALIA ROMERO
1. O plano da OMS,
na insegurança de renda em idade 70 anos, já somos quase o dobro da
original em inglês, está
avançada e no acesso aos benefícios população masculina. disponível aqui:
previdenciários. Nos países que
fazem parte da Organização para Em 2020, a expectativa de vida
a Cooperação e Desenvolvimento feminina é de 80 anos ao nascer. A
Econômico (OCDE), a pensão anual do homem é de 72 anos, expectativa
paga a mulheres é, em média, 27% da mulher há 20 anos. Essa diferença
menor do que a dos homens. Em deve ser analisada por um olhar de
outros lugares, leis sobre propriedade gênero no Brasil para uma sociedade
e herança de terras tornam mais saudável.
mulheres idosas mais vulneráveis à
pobreza. Trabalhadoras idosas são Hoje, em plena pandemia, é preciso
desproporcionalmente afetadas pela defender o Sistema Único de Saúde
automação de funções, mudança e explicar que a atenção primária
tecnológica e inteligência artificial, faz bem para todos. Nesse contexto,
além de corresponderem à maior parte fiz vários trabalhos com ênfase na
dos cuidadores não remunerados, desigualdade racial e de gênero no
incluídos no setor informal. contexto de envelhecimento, morte,
sobrevivência e vida. E agora tenho
É fundamental vencer o idadismo um manifesto público pela defesa
(estereótipo negativo do envelhecer) das mulheres cuidadoras de pessoas
e o patriarcado, que por muito tempo idosas para que, além de outras
tornam invisíveis as pessoas na reivindicações, seja respeitado o
última fase da vida, principalmente plano nacional de operacionalização
as mulheres. A busca pela equidade da vacinação.
de gênero ao longo de todo o curso
de vida levará a melhores resultados
em estágios posteriores da vida.
Portanto, os sistemas devem promover REFERÊNCIAS
a equidade da participação na força de
trabalho e das pensões previdenciárias, BEAUVOIR, Simone de. A velhice: A
de modo a elevar o status econômico realidade incômoda. São Paulo: Difusão
das mulheres idosas e melhorar o seu Europeia do Livro. 1970.
acesso a serviços.
AVALIAÇÃO DA
PRODUTIVIDADE
FEMININA PRECISA
SER DIFERENCIADA,
AINDA MAIS
EM TEMPOS DE
ANORMALIDADES
215
2. O manifesto está
FOTO: BERNARDO PORTELLA | ACERVO FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ
disponível nesse
endereço:
Nossos desafios passam, em primeiro lugar, por A avaliação da produtividade feminina precisa
organizar todos esses incômodos. Depois, a partir ser diferenciada, ainda mais em tempos de
de reflexões e análises, conseguiremos formular anormalidades. É preciso também ampliar o
e propor mudanças e influenciar novas políticas período de avaliação de currículos, olhando o
públicas, mais gerais no Brasil e específicas nos todo e não apenas os últimos cinco anos. Falo na
lugares de trabalho. Temos que discutir essas esperança de conseguirmos avançar e melhorar
questões na nossa Fiocruz para conseguirmos as nossas condições de esperançar a vida.
repensar a ciência que hoje fazemos, com vistas
a termos uma ciência que realmente responda a REFERÊNCIAS
todas as necessidades do país. ARRUZZA, Cinzia; BHATTACHARYA, Tithi; FRASER,
Nancy. Feminismo para os 99%: um manifesto. Tradução
Precisamos caber na instituição, pensando de Heci Regina Candiani. São Paulo: Boitempo, 2019.
também no seu espaço físico. Por exemplo,
não basta ter uma salinha para amamentação OLIVEIRA, Roberta Gondim de; CUNHA, Ana Paula da;
no trabalho, não basta a pessoa levar o filho GADELHA, Ana Giselle dos Santos; CARPIO, Christiane
quando está doente e ele ser bem tratado pelos Goulart; OLIVEIRA, Rachel Barros de; CORRÊA, Roseane
colegas. É necessário rediscutir a carga horária e Maria. Desigualdades raciais e a morte como horizonte:
formular propostas de redistribuir esse trabalho. considerações sobre a Covid19 e o racismo estrutural.
Além disso, na forma de distanciamento social, Cadernos de Saúde Pública, v. 36, n. 9, 2020.
o trabalho virtual é mais laborioso e aumentou o
tempo gasto para realizar cada atividade. O que
antes fazíamos em um dia, hoje levamos uma
semana quando preparamos aulas, corrigimos
trabalhos na tela etc.
218
PENSAR A PARTIR
DA CONDIÇÃO
FEMININA E DAS
DESIGUALDADES
QUE AINDA
PRECISAMOS
SUPERAR
219
exigem essas qualificações. Além da docência, as Pensando sobre essas características, refletimos
mulheres também são minoria em determinadas acerca da proximidade desse trabalho com o
áreas e postos na pesquisa científica e em cargos trabalho doméstico, sua invisibilidade, sobrecarga
de gestão nas instituições de ensino e pesquisa, e o fato de ser feito de forma solitária. Na Fiocruz,
sendo este último aspecto ainda pouco explorado dados sobre a coordenação dos programas de
nos debates. pós-graduação apontam que, na modalidade
acadêmica, as mulheres vêm progressivamente
Recentemente, assumi a coordenação do curso assumindo os cargos de coordenação (em 2006,
de Pós-Graduação em Saúde Coletiva do Instituto elas coordenavam 29% dos programas; em
René Rachou – Fiocruz Minas. Apesar de ser um 2020, o percentual chegou a 68%). Na pós-
cargo de gestão, o que possivelmente agregaria graduação profissional, as mulheres sempre
“valor” ao seu exercício, a administração estiveram à frente da coordenação dos cursos
relacionada ao ensino é menos valorizada e (em 2006, coordenavam 100% dos programas,
almejada do que a função da pesquisa. Sendo índice que, em 2020, passou para 69%). Os
assim, um lugar de menos disputas. dados ilustram doisaspectos interessantes.
O primeiro diz respeito às diferenças entre os
Posso dizer que a posição de coordenação cursos stricto e lato sensu, com as mulheres
de curso de pós-graduação é extremamente acessando a docência, e consequentemente a
sobrecarregada. Requer um trabalho intenso que gestão, em cursos profissionalizantes antes dos
inclui o preenchimento hercúleo de relatórios, cursos acadêmicos. E o segundo, que se refere à
condução de avaliações, gerenciamento de progressiva presença de mulheres na gestão dos
pessoas (docentes e discentes), além da cursos acadêmicos, “desobrigando” os homens
necessidade de uma constante reflexão sobre das tarefas administrativas e os liberando para
o programa. No que diz respeito ao processo atividades mais “nobres”, como a pesquisa.
de avaliação dos programas de pós-graduação
no Brasil, as relações são excessivamente
hierarquizadas, principalmente em relação às
instituições de controle e avaliação – como a
Capes, que estabelece, muitas vezes com pouca
negociação, novas exigências e procedimentos
que implicam mudanças importantes na
rotina da gestão e da condução das atividades
acadêmicas. Em alguns programas de pós-
graduação, as inúmeras tarefas relacionadas ao
processo de avaliação quadrienal são realizadas
solitariamente e sem apoio. A gestão acadêmica
da pós-graduação, ao contrário de outros cargos
de direção e assessoramento em que a função
é gratificada – caracterizando uma valorização,
ainda que financeira –, não é remunerada.
221
ALÉM DO GÊNERO,
ESTAMOS DIANTE DE
PESSOAS MARCADAS
PELA COR, PELA
LOCALIZAÇÃO
NO TERRITÓRIO,
PELA CLASSE E POR
TODAS AS DEMAIS
DESIGUALDADES
GERADAS NAS
RELAÇÕES DE PODER
223
experiência, se não fosse pelo trabalho de existe. Nela reside a lógica que classifica
cuidado. Sim, um ponto comum para pensá-la quem pode e quem não pode, que discrimina
talvez seja me localizar na atuação no cuidado o corpo com deficiência como falta e falha.
em instituições públicas de saúde, apoio Quem ocupa e quem não precisa ocupar.
social e segurança pública, e reconhecer-me Qual corpo pertence e qual corpo merece
nas línguas da experiência de adoecimento ser excluído. A corponormatividade também
das crianças e adolescentes frequentadores intersecciona com as gramáticas racistas,
dos universos públicos de saúde, que têm masculinistas, heteronormativas, etaristas. E
mulheres em sua companhia na maior parte aqui vale reconhecer a necessidade de acionar
das vezes. Na interdependência do cuidado a interseccionalidade, nas encruzilhadas de
dessas crianças e adolescentes e suas mães, Akotirene (2019).
desenham-se trajetórias de trabalho remunerado
e escolaridade. Mulheres com marcas profundas, Esse jogo entre normas, marcas, discriminações,
principalmente quando relacionadas às questões exigências, nada invisível para quem o vive na
crônicas de saúde e deficiência. Mulheres que pele, aciona o que é necessário enfrentar nesse
após terem seus filhos, e caso não tenham se universo de desigualdades. Acoplado às questões
esmaecido suas redes, conseguiram construir de gênero, esse jogo de “fazer de conta que
carreiras na saúde, no “cuidado como profissão”, não existe”, reservando um espaço separado,
mas mantendo circuitos de obrigação e ajuda demarcando uma suposta invisibilidade, alimenta
(GUIMARÃES, 2020). segredos e retira as pessoas do espaço público.
Atualmente, problematizo o ativismo das mães
Há um aprendizado político quando nos das crianças atípicas, como elas se denominam.
permitimos olhar para o mundo vivido, recuperar Crianças geralmente mal recebidas nos serviços
o mundo imaginado, e que foi reconstruído, de saúde, nas escolas, nas pracinhas, nas festas.
e pensar o quanto de ambiguidade existe, Essas mulheres organizadas em ativismos, falas
por exemplo, no cuidado. Um aprendizado públicas ou associações, encontram o espaço
advém de discutir esse cuidado não enquanto público como um lugar para falar entre pares,
essencialmente humano, mas como uma pontuando seu direito de existir.
construção social, um lugar, uma economia, que
gera trabalho, sustenta a reprodução social, e
também envolve símbolos e desigualdade. Um E ONDE ESCONDEMOS AQUELAS
território também de interesse econômico que PESSOAS QUE NÃO CONSEGUIMOS
pode ter mais ou menos investimento – e essa TER CONTATO? POR QUE OS OUTROS
discussão requer uma crítica ao capitalismo. NOS ASSUSTAM? AO ESCONDER,
Cuidado que não é apenas a dimensão poética, IMPOSSIBILITAMOS O DIÁLOGO COM
mas também valor, economia, circulação de A DIFERENÇA E COM O QUE PODE SER
trocas e de bens. Sustenta as pessoas e está INCOMUM. ISSO ATRAVESSA TAMBÉM
sujeito a ser menosprezado, desconsiderado. ESSES CORPOS DE MULHERES, ESSES
CORPOS NEGROS. PENSAR SOBRE
Mello é referência na discussão sobre GÊNERO É DISCUTIR TAMBÉM ESSA
capacitismo no Brasil, e nos lembra que a LÓGICA DA SOCIEDADE TÃO POUCO
discriminação dirigida à pessoa com deficiência AFEITA À DIFERENÇA.
225
ACREDITAMOS NA
POSSIBILIDADE DESSA
TRANSFORMAÇÃO,
MAS NÃO SEM
ENFRENTAMENTOS
227
café, enfim, apoiando e perguntando sobre o que Esse lugar que eu ocupo hoje é,
pesquisadores precisam que seja providenciado. fundamentalmente, fruto do esforço das
mulheres negras, minhas ancestrais, que lutaram
As mulheres negras estão também presentes para que algo nesse sentido pudesse se operar.
cedendo seus corpos para a manipulação Mas repito, sem políticas públicas reparadoras,
“científica” de material biológico, como as eu e as demais companheiras dos 3% acima
células de Henrietta Lacks – uma mulher mencionados, seguiremos sendo exceção.
negra, estadunidense, cuja importância para o
desenvolvimento científico e tecnológico em Os espaços de produção de conhecimento e
saúde se deu a partir da seção não autorizada tomada de decisão são majoritariamente ocupados
do seu corpo –, estão nos corpos usados como por corpos não negros e de não mulheres.
cobaias pelo pai da ginecologia moderna, James Portanto, nosso papel como mulheres negras nesse
Marion Sims, dentre muitos outros casos. Refiro- espaço de produção de conhecimento é, para além
me aqui com esses exemplos às várias camadas da resistência, o de transformação. A alteração
de opressão e subalternização que operam sobre desse lugar pode se dar com o desvelamento
mulheres negras em um recorte de raça, de classe dos elementos que compõem as teias tecidas
e de gênero. que naturalizam essa dada ocupação de lugar,
subalternizantemente estruturada e reproduzida.
De uma maneira absolutamente minoritária é Nós, mulheres negras, temos que colocar em
que ocorre a ocupação dos espaços formais nossa agenda de resistência a transformação
de conhecimento por parte da mulher negra. desse lugar tão normalizado que ocupamos, tão
Joselina da Silva (2010), em seu artigo Doutoras subalterno ou do “não lugar”, ocupados pelos “não
professoras negras: o que nos dizem os seres”, como diz Franz Fanon (2008).
indicadores oficiais1, mostra que nos espaços
reconhecidos como produtores de conhecimento, Mas há muitos enfrentamentos necessários no
a presença das mulheres negras diminui caminho, não é fácil nem banal, mas acredito ser
gradativamente com o aumento dos anos de possível produzirmos agendas que caminhem
escolaridade. Apenas em torno de 10,4% das por uma via contra hegemônica. É um pouco
mulheres negras, com idade entre 25 e 44 anos, dessa agenda que trago no meu fazer cotidiano,
concluem o ensino superior. O percentual de dentro de uma instituição de ciência e tecnologia
mulheres pretas e pardas professoras doutoras de e saúde como a Fiocruz, que como todas as
programas de pós-graduação no Brasil é inferior outras instituições de ensino no Brasil é forjada
a 3%. E só 7% das bolsas de produtividade são colonialmente e reproduz bases dessa estruturação
destinadas às mulheres negras. racial de mundo. Uma agenda da qual faça parte
a inclusão de políticas afirmativas para ingresso e
EU SOU UMA EXCEÇÃO, E NÃO POSSO manutenção de mulheres negras e periféricas no
LER ESSA EXCEÇÃO COMO MÉRITO corpo docente e discente; que a questão étnico-
MEU E DE MEU ESFORÇO INDIVIDUAL. racial, em especial o racismo histórico-estrutural
SENDO A TRAJETÓRIA ALGO QUE e suas expressões institucionais e sociais, seja
PRESSUPÕE UM COLETIVO, SER incluída nas bases curriculares do ensino; que
EXCEÇÃO NÃO FAZ PARTE DO MÉRITO passem a compor a prioridade das agendas de
DA MINHA TRAJETÓRIA INDIVIDUAL. pesquisa; e que sejam sistemática e amplamente
229
conferido aqui:
2. Disponível em:
Finalizo com a fala2 da Angela Davis, FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. São Paulo:
que diz que quando a mulher negra se EDUFBA, 2008.
movimenta, ela move as estruturas.
Isso também não é apenas uma GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano.
metáfora, mas se dá materialmente Rio de Janeiro: Zahar, 2020.
na medida em que ocupemos espaços
de protagonismo, de formulação de SILVA, Joselina da. Doutoras professoras negras: o que nos dizem
agendas, de tomada de decisões. É os indicadores oficiais. Perspectiva, v. 28, n. 1, p. 19-36, 2010.
230
QUE SE NORMALIZE
A PRESENÇA
DOS MEUS PARES
NOS ESPAÇOS
ACADÊMICOS
231
AS DESIGUALDADES DE ACESSO
À CIÊNCIA ENCONTRADAS PELOS
PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM
ROSEANE CORRÊA
2. Observatório
da Enfermagem.
Disponível em:
3. Disponível em:
A PRESENÇA INDÍGENA
NA ACADEMIA É
UMA QUESTÃO
DE REPARAÇÃO
HISTÓRICA E JUSTIÇA
SOCIAL, MAS TAMBÉM
DE VALORIZAÇÃO
DA DIVERSIDADE
DE SUJEITOS E
EPISTEMOLOGIAS
NA PRODUÇÃO DO
CONHECIMENTO
235
MULHERES INDÍGENAS,
CIÊNCIA E SAÚDE NA FIOCRUZ
ANA LUCIA DE M. PONTES
A Fiocruz tem uma longa trajetória em defesa dos direitos dos povos
indígenas, na discussão das desigualdades sociais e em saúde que lhes
afetam e de fortalecimento das ações e políticas de saúde direcionadas a
essa população. Em 1986, Sergio Arouca1 esteve na mesa de abertura da 1ª.
Conferência Nacional de Proteção à Saúde do Índio, parte da 8ª. Conferência
Nacional de Saúde, que gerou os subsídios para formulação do Subsistema
de Atenção à Saúde Indígena (SASI-SUS) criado pela Lei n. 9.836/1999. Essa
trajetória envolve a realização de pesquisas, formação de pesquisadores
e profissionais de saúde, cooperação técnica, apoio às comunidades e
organizações indígenas, entre outras iniciativas.
A organização e visibilização
5. 14. 20.
6.
15. 21.
7. Destacamos alguns
suplementos temáticos: 16. 22.
8. Coimbra Júnior e Garnelo (2004) 17. 23. Ver texto desta coletânea
intitulado “Ciência e
Saúde desde as Indígenas
Mulheres”, de Elisa Urbano
Ramos, Hipamaallhe –
Braulina Aurora, Inara do
9. Nascimento Tavares e Joziléia
18. Daniza Jagso Kaingang.
24.
10.
19. Iniciativa coordenada
pr Ana Lucia de M. Pontes,
Ricardo Ventura Santos
e Felipe Rangel de Souza
Machado, da ENSP, e Inara
11. do Nascimento Tavares
(Instituto Insikiran/UFRR)
e apoiado pelo projeto
“Promoção e vigilância em
saúde para o fortalecimento
de práticas relacionadas ao
12. Subsistema de Atenção à
Saúde Indígena e integração
do SUS”, coordenado pela
Vice-Presidência de Ambiente,
Atenção e Promoção da Saúde
(VPAAPS).
13.
238
NOSSA PRESENÇA NA
ACADEMIA É REPARAÇÃO
E LUTA CONTRA
QUALQUER TIPO
DE INJUSTIÇA,
PARTICULARMENTE
CONTRA O GENOCÍDIO
DE NOSSOS POVOS,
O RACISMO E A
DISCRIMINAÇÃO
DE GÊNERO
239
MINIBIOGRAFIAS
243
244
ANDRÉ LUIZ DA SILVA LIMA – PRESIDÊNCIA /FIOCRUZ (UFRJ)/ Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)/
André Luiz da Silva Lima é graduado, com Bacharelado Universidade Federal Fluminense (UFF) e do doutorado
e Licenciatura, em História pela Universidade Federal do acadêmico em Saúde Coletiva/Instituto Leônidas & Maria
Rio de Janeiro (UFRJ), tendo desenvolvido seus estudos Deane (ILMD/Fiocruz)/Universidade Federal do Amazonas
de mestrado e doutorado em História das Ciências e (UFAM)/Universidade do Estado do Amazonas (UEA).
da Saúde pelo PPGHCS/COC/Fiocruz. Tem experiência É coordenadora do GT de Saúde Indígena da Associação
em atividades de pesquisa e coordenação de campo em Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), participa do
projetos de intervenção socioeconômica em territórios Conselho Estadual de Direitos Indígenas/RJ e atua como
em situação de vulnerabilidades (favelas), e na pesquisa apoiadora de lideranças e organizações indígenas.
histórica da saúde coletiva.
ANAKEILA DE BARROS STAUFFER – EPSJV/FIOCRUZ
AMANDA DA ROCHA PAULA REYES – IOC/ FIOCRUZ Anakeila de Barros Stauffer é graduada em Pedagogia
E PROVOC/FIOCRUZ pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ),
Amanda da Rocha Paula Reyes é estudante do Ensino mestre em Educação pela mesma instituição e doutora
Médio do Colégio Pedro II do Campus São Cristóvão III. também em Educação pela Pontifícia Universidade
Participa do Programa de Vocação Científica (Provoc) do Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). É pesquisadora
Instituto Oswaldo Cruz (IOC)/Fundação Oswaldo Cruz e ex-diretora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim
(Fiocruz), coordenado pela Escola Politécnica de Saúde Venâncio (EPSJV)/Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Joaquim Venâncio (EPSJV), no Laboratório de Helmintos Tem experiência na área de Educação, com ênfase nos
Parasitos de Peixes, sob orientação da pesquisadora temas: educação profissional em saúde, educação de
Melissa Querido Cárdenas Rossas e coorientação da jovens e adultos (EJA), educação inclusiva e educação de
pesquisadora Márcia Cristina Nascimento Justo. pessoas com deficiência, tendo como foco a deficiência
intelectual. Colabora com o Programa de Pós-Graduação
ANA LÚCIA DE MOURA PONTES – ENSP/FIOCRUZ em Educação Profissional em Saúde da EPSJV e é
Ana Lúcia de Moura Pontes tem graduação em Medicina professora do ensino fundamental na Secretaria Municipal
pela Universidade de São Paulo (USP), especialização em de Educação de Duque de Caxias (RJ), onde atuou na
Educação e Saúde pela Escola Nacional de Saúde Pública Educação Especial e Inclusiva e na Educação Infantil.
Sergio Arouca (ENSP)/Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz),
residência médica em Medicina Preventiva e Social pela ANDRÉ DE FARIA PEREIRA NETO – FIOCRUZ MATO
Universidade Federal Fluminense (UFF) e mestrado e GROSSO DO SUL
doutorado em Saúde Pública pela ENSP. É pesquisadora do André de Faria Pereira Neto tem graduação em História
grupo de pesquisas Saúde, Epidemiologia e Antropologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
dos Povos Indígenas da ENSP/Fiocruz. Tem atuado em (PUC-Rio), Mestrado em História pela Université de Paris
pesquisas qualitativas, formação profissional e projetos III (Sorbonne-Nouvelle), Doutorado em Saúde Coletiva
técnicos no âmbito da Saúde Indígena, principalmente pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e
na sua interface com as políticas públicas de saúde, Pós-Doutorado em Sociologia da Saúde pela Universidade
perspectivas antropológicas dos modelos de atenção da Califórnia, San Francisco. É pesquisador titular da Escola
à saúde e formação profissional de Agentes Indígenas Nacional de Saúde Pública, onde coordena o Laboratório
de Saúde. É docente permanente do Programa de Internet, Saúde e Sociedade (LAISS), vinculado ao Centro de
Pós-Graduação Stricto Sensu em Condições de Vida e Saúde Escola Germano Sinval de Faria (CSEGSF). É professor
Situações de Saúde na Amazônia/Fiocruz e do Programa credenciado do Programa de Pós-Graduação em Informação
de Pós-Graduação em Bioética, Ética Aplicada e Saúde e Comunicação em Saúde oferecido pelo Instituto de
Coletiva/ Fiocruz/Universidade Federal do Rio de Janeiro Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em
247
Saúde (Icict), da Fundação Oswaldo Cruz. É pesquisador BEATRIZ GILDA JEGERHORN GRINSZTEJN –
sênior-visitante do escritório da Fundação Oswaldo Cruz em INI/FIOCRUZ
Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Desenvolve pesquisa Beatriz Gilda Jegerhorn Grinsztejn é graduada em
sobre o impacto da internet na relação médico-paciente Medicina pela Universidade Federal Fluminense (UFF),
e sobre avaliação de qualidade de informação em sites de mestre e doutora em Doenças Infecciosas e Parasitárias
saúde. Criou o aplicativo para atenção primária Meu-Info- pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Saúde, disponível no Google Play. Atualmente é docente e chefe de laboratório no Instituto
Nacional de Infectologia Evandro Chagas/Fiocruz, líder
ANDREA DA LUZ CARVALHO – e investigadora principal do Grupo de Pesquisa Clínica
COGEP/FIOCRUZ E COMITÊ PRÓ-EQUIDADE DE e Epidemiológica em HIV/Aids/Fiocruz, que participa
GÊNERO E RAÇA DA FIOCRUZ das redes de pesquisa Aids Clinical Trials Group e HIV
Andrea da Luz Carvalho tem graduação em Psicologia Prevention Trials Network NIAID/NIH, EUA. Integra
pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), redes de pesquisa nacionais e internacionais, como
especialização em Auditoria do Sistema Único de Saúde o HIV/Aids Adult Guidelines Development Group da
pela Universidade Estácio de Sá e em Psiquiatria Social Organização Mundial da Saúde e o Scientific Expert Panel
pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), residência da UNAIDS. Desenvolve ampla colaboração em projetos
em medicina pela ENSP e mestrado em Saúde Coletiva financiados por agências de fomento e instituições
pelo Instituto de Medicina Social (IMS). Atualmente é nacionais e internacionais, tais como o NIAID/NIH, a
coordenadora-geral de Gestão de Pessoas da Fundação Agência Francesa de Pesquisa em Aids e Hepatites Virais
Oswaldo Cruz (Fiocruz) e participa do Colegiado Gestor (ANRS), a Canadian HIV Trials Network e o Kirby Institute
do Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça da Fiocruz. (Austrália). É bolsista de produtividade do CNPq, cientista
do Nosso Estado e pesquisadora Visitante Sênior da
ARYELLA MARYAH COUTO CORREA – Fundação de Amparo à Pesquisa da Amazônia (Fapeam).
PIBIC/FARMANGUINHOS/ FIOCRUZ É consultora do Ministério da Saúde e integra o Comitê
Aryella Maryah Couto Correa foi aluna de Iniciação Assessor para a Terapia Antirretroviral em Adultos e o
Científica (IC)-Ensino Médio pelo Programa de Vocação Comitê de Pesquisa em HIV/Aids. Faz parte do HIV/Aids
Científica (Provoc) e no Instituto de Engenharia Adult Guidelines Development Group da Organização
Nuclear (IEN)/Comissão Nacional de Energia Nuclear Mundial da Saúde e o Scientific Expert Panel da UNAIDS.
(CNEN). Atualmente cursa graduação em Farmácia É investigadora da rede colaborativa Caribbean, Central
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e and South America (CCASSAnet), que integra a
é aluna de IC no Laboratório Farmacologia Aplicada International Epidemiologic Databases to Evaluate Aids
em Farmanguinhos, da Fiocruz. Tem experiência na (IeDEA) NIAID/NIH, E.U.A. É ainda membro do Comitê
área de Farmacologia, principalmente em inflamação e Internacional da Canadian Trials Network, do Comitê
terapêutica em estudos pré-clínicos. Científico da rede Aids Clinical Trials Group. Integra o
International Advisory Board dos periódicos The Lancet
HIV e Journal of the International Aids Society, sendo
editora acadêmica do periódico PLoS One.
248
DEUSILENE SOUZA VIEIRA DALL’ACQUA – Grosso do Sul. Tem atuado em temas relacionados
FIOCRUZ RONDÔNIA à Parasitologia, Biologia Molecular, Meio Ambiente,
Deusilene Souza Vieira Dall’Acqua é graduada em Saúde Pública por meio da abordagem em Saúde
Ciências Biológicas com mestrado e doutorado Única, Gamificação e Divulgação Científica. Membro
em Biologia Experimental na área de Virologia pela do Conselho Superior da Fundação de Apoio ao
Universidade Federal de Rondônia (Unir). Tem pós- Desenvolvimento do Ensino Ciência e Tecnologia de
doutorado na área de Virologia Molecular pela Mato Grosso do Sul (Fundect); do Comitê de Ética em
Universidade Federal da Bahia/Departamento de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos, da Uniderp; do
Medicina – Serviço de Gastro-hepatologia. Atualmente, corpo editorial (editor científico) da revista Uniciências.
é pesquisadora em Saúde Pública da Fundação Oswaldo Parecerista ad-hoc da Agência de Fomento Kroton e
Cruz-Rondônia (Fiocruz/RO) e pesquisadora-chefe do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
do Laboratório de Virologia Molecular da Fiocruz-RO. e Tecnológico (CNPq). Atualmente é coordenador
Docente e membro do Colegiado e Corpo Docente do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação
Permanente do Curso de Pós-Graduação em Biologia Científica (PIBIC) e do Programa Institucional de
Experimental (PGBIOEXP) da Unir, é orientadora em Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico
nível de mestrado e doutorado pelo PGBIOEXP/Unir. e Inovação (PIBITI) na Fiocruz Mato Grosso do Sul.
Pesquisadora colaboradora do Instituto Nacional de Atua como revisor de artigos científicos de periódicos,
Ciência e Tecnologia em Epidemiologia na Amazônia como: “Revista do Instituto de Medicina Tropical de
Ocidental (INCT-EpiAmO), lidera diretório de grupo de São Paulo”; “Pathogens and Global Health”; “African
pesquisa Endemias Virais da Amazônia. É membro do Journal of Microbiology Research”; “Cadernos de Saúde
Conselho Curador da Fundação de Amparo à Pesquisa Pública”; “Parasites & Vectors”; “Journal of Microbiology
do Estado de Rondônia (Fapero) e vice- coordenadora & Experimentation”; “Zoonoses and Public Health”;
de Ensino, Comunicação e Informação da Fiocruz- “Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical”;
RO. O grupo de virologia da Fiocruz-RO atua em “Interdisciplinary Perspectives on Infectious Diseases”.
estudos relacionados com detecção, identificação e
caracterização molecular dos vírus das hepatites virais, ELAINE FERREIRA DO NASCIMENTO – FIOCRUZ PIAUÍ
arboviroses e vírus respiratórios. Elaine Ferreira do Nascimento é graduada em Serviço
Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF)
EDUARDO DE CASTRO FERREIRA – e tem mestrado e doutorado em Ciências pelo
FIOCRUZ MATO GROSSO DO SUL Instituto Fernandes Figueira/Fiocruz. Atualmente é
Eduardo de Castro Ferreira é biólogo graduado pela pesquisadora e coordenadora-adjunta do Escritório
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC- Técnico Regional da Fundação Oswaldo Cruz no Piauí.
Minas), mestre em Imunobiologia de Protozoários pela Tem experiência na área de Saúde Pública, atuando
Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e doutor principalmente nos temas de gênero, violência contra a
em Doenças Infecciosas e Parasitárias pela Fiocruz mulher e feminicídio, sexualidades masculinas, serviço
Minas, com período sanduíche no Instituto de Salud social, juventude, políticas públicas, questão racial,
Carlos III, Madri, Espanha. É pesquisador em Saúde mortalidade materno-infantil, avaliação de serviços de
Pública da Fiocruz Mato Grosso do Sul, desde 2012. saúde, doenças negligenciadas, saúde e violência da
Atua como docente permanente e orientador nos população LGBTQI+, determinantes sociais de saúde e
Programas de Pós-Graduação em Meio Ambiente e infecções sexualmente transmissíveis.
Desenvolvimento Regional (PPGMDR) da Universidade
Anhanguera-Uniderp e no de Doenças Infecciosas e
Parasitárias (PPGDIP) da Universidade Federal de Mato
252
ELISA URBANO RAMOS – UFPE, ABIA E APOINME FABIANE VINENTE DOS SANTOS – ILMD/FIOCRUZ
Elisa Urbano Ramos é graduada em Licenciatura em Fabiane Vinente dos Santos tem graduação em Ciências
Letras pela Autarquia de Ensino Superior de Arcoverde Sociais pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM),
e tem mestrado em Antropologia pela Universidade mestrado em Sociedade e Cultura na Amazônia pela
Federal de Pernambuco (UFPE). Também tem cursos mesma universidade e doutorado em Antropologia Social
de aperfeiçoamento em Educação do Campo na UFPE pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). É
e em Formação para o Programa Escola Ativa pela técnica em Saúde Pública e pesquisadora no Instituto
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). É Leônidas e Maria Deane/Fiocruz. Desenvolve trabalhos
indígena do Povo Pankararu e membro da Articulação nas áreas de Sistemas de Conhecimento Ameríndios,
Brasileira de Indígenas Antropóloges (Abia). Também Saúde e Migração, Políticas Públicas de Saúde, Gênero,
coordena o Departamento de Mulheres Indígenas da Saúde Indígena, Etnologia Indígena e Militarização
Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do de Terras Indígenas. É membro do corpo docente do
Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme). Mestrado Profissional em Saúde da Família – Profsaúde
e coordenadora do Projeto Numiô-Momoro: Meninas e
ELIZABETH LEITE BARBOSA – Mulheres na Ciência.
ENSP/FIOCRUZ E APG/FIOCRUZ
Elizabeth Leite Barbosa tem graduação em Fisioterapia GEISA PAULINO CAPRINI EVARISTO –
pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). É FIOCRUZ RONDÔNIA
especialista em Saúde Coletiva na modalidade de Geisa Paulino Caprini Evaristo é bacharel em Ciências
Residência Integrada Multiprofissional em Saúde Coletiva Biológicas e mestre em Biociências e Biotecnologia
pela Universidade Tiradentes. Mestre e doutoranda em pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
Epidemiologia em Saúde Coletiva pela Escola Nacional Ribeiro (UENF), doutora em Bioquímica e Biotecnologia
de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP) da Fundação pela Universidade Tecnológica de Delft, na Holanda, e
Oswaldo Cruz, é coordenadora-geral da Associação de pós-doutora em Genética pela Universidade Federal do
Pós-Graduandos (APG) da Fiocruz. Paraná (UFPR) e em análise de substâncias dopantes
em atletas de alta performance. Atua na área de
FABIANA DAMÁSIO PASSOS – análise de metabólitos, peptídeos e proteínas bioativas
GEREB/FIOCRUZ utilizando técnicas analíticas de cromatografia líquida e
Maria Fabiana Damásio Passos tem graduação em espectrometria de massas. Atualmente é pesquisadora
Psicologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), da Fiocruz Rondônia desenvolvendo pesquisas na área
especialização em Metodologia de Pesquisa em Saúde de bioprospecção de moléculas ativas da flora e fauna
Mental pela Fundação para o Desenvolvimento de Ciências amazônica contra doenças tropicais, além de atuar como
(FDC), mestrado em Psicologia pela mesma universidade membro do Comitê de Ética de Utilização de Animais
e doutorado em Psicologia pela Universidade de Brasília de Laboratório da Fiocruz-RO, do Núcleo de Inovação
(UnB). É diretora da Fiocruz Brasília e pesquisadora e Tecnológica da Fiocruz-RO e coordenar a iniciativa de
coordenadora de grupo de pesquisa População em Situação divulgação científica “Café com Ciência da Fiocruz-RO”.
de Rua: Políticas, Dispositivos e Ações da Escola Fiocruz de
Governo Brasília. Sua formação é voltada principalmente
para Psicologia Social. Atua como docente do Mestrado em
Políticas Públicas em Saúde e do Mestrado Profissional em
Saúde da Família, coordenado pela Fiocruz e Associação
Brasileira de Saúde Coletiva. É secretária Executiva do
Sistema Universidade Aberta do SUS (UnaSUS).
253
Vaccine Roadmap da Univ. Minesota/ Fund Gates e seção de comunicação do Centro de Tecnologia da
do Measles Rubella Elimination Regional Monitoring Informação e Comunicação em Saúde (Ctic/Icict/
and RE-verification Commission/Pan American Health Fiocruz) e integrante da coordenação colegiada do
Organization (PAHO). Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça da Fiocruz.