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CADERNO PEDAGÓGICO
DO CAMPO - CE
Caderno Pedagógico Módulo II
ORGANIZAÇÃO
Ana Paula Dias de Sá
André Luiz Dutra Fenner
Ceará, 2023
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MÓDULO II
Ficha Técnica
Alguns direitos reservados. É permitida a reprodução, disseminação e utilização dessa obra. Deve ser citada a fonte e é vedada sua
utilização comercial.
Formação de Agentes Populares de Saúde do Campo no Ceará. Coordenação-Geral de Ana Paula Dias de Sá e André Luiz Dutra
Fenner. Brasília: [Curso na modalidade à distância]. Fiocruz-2023.
ISBN: 978-65-88309-32-2
Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz Coordenação Político Pedagógica (CPP) Revisão Técnico-científico
Mario Moreira Ana Paula Dias de Sá André Luiz Dutra Fenner
Presidente Ana Paula Andrade Silva Milhomem Ana Paula Dias de Sá
André Luiz Dutra Fenner Gislei Siqueira Knierim
Fiocruz Brasília (GEREB) Fernando Paixão da Costa Jorge Mesquita Huet Machado
Maria Fabiana Damásio Passos Francisca Aldeize Martins Rosely Fabrícia de Melo Arantes
Diretora Gislei Siqueira Knierim
Joceline Souza dos Santos Revisor de Texto
Escola de Governo Fiocruz Brasília – EGF Jorge Mesquita Huet Machado Rosely Fabrícia de Melo Arantes
Luciana Sepúlveda Köptcke Vera Lúcia Alves Mariano
Diretora Executiva Virgínia da Silva Corrêa Produtor de Mídia
Ivandro Claudino de Sá
Programa de Promoção à Saúde, Ambiente Organização Henrique Guedes Formiga
e Trabalho (PSAT) André Luiz Dutra Fenner Kyanne Cristhines Dias Braga
Jorge Mesquita Huet Machado Ana Paula Dias de Sá Rangel Jungles dos Santos
Coordenador Gislei Siqueira Knierim
Jorge Mesquita Huet Machado Projeto Gráfico e Diagramação
Coordenação do Projeto Rosely Fabrícia de Melo Arantes Antônia Eva Souza dos Santos
André Luiz Dutra Fenner (Coordenador Leandro Sousa Alves
Geral) Colaboração
Ana Paula Dias de Sá (Coordenadora Alexandre Pessoa Dias Ilustração e Capa
Executiva) Ana Maria Dubeux Gervais Antônia Eva Souza dos Santos
Ana Paula Dias de Sá Jerly dos Santos Correia Junior
Colaboradores Fernando Paixão da Costa Leandro Sousa Alves
Movimento dos Trabalhadores e Fernando Ferreira Carneiro Samyrah do Monte Honorato
Trabalhadoras Rurais Sem Terra – MST/ CE Francisco Cláudio Oliveira Silva Filho
Rede Nacional de Médicas e Médicos Francisca Malvinier Macedo
Populares – CE Gislei Siqueira Knierim
Maria Neila Ferreira dos Santos
Execução do Projeto:
Mestrandos do Programa de Pós-
Graduação de Políticas Públicas em Saúde
Ana Paula Dias de Sá
Fernando Paixão da Costa
Inclui bibliografia
ISBN: 978-65-88309-32-2
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MÓDULO II
SUMÁRIO
Apresentação ............................................................................................. 6
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APRESENTAÇÃO
“Não basta que todos sejam iguais perante a lei.
É preciso que a lei seja igual perante todos.”
Salvador Allende
A palavra direito vem dos antigos romanos Diante de todos esses aspectos, o direito
e é a soma da palavra DIS (muito) + surge com o objetivo de obter justiça e de
RECTUM (reto, justo, certo). Já do latim, realizar o bem comum. Isto é, dar a cada
directum, significa o que está conforme a caso a melhor solução merecida e adequada
regra. As origens do direito localizam-se na conforme o sentimento humanitário,
formação das sociedades, e isto remonta ponderado e calcado em interpretação
às épocas muito anteriores à nossa escrita. conforme os princípios gerais que o regem.
Esses povos sem escrita não têm um tempo Precisamente por este carácter, ele é
determinado, podem ser dos homens das também dinâmico no que diz respeito ao
cavernas de 3.000 a.C. ou da população tempo e ao espaço.
indígena brasileira.
No Brasil, o pilar fundamental se chama
Por conceito, o direito é, na verdade, um Constituição Federal, nela está escrita a
conjunto de regras obrigatórias que garante Carta Magna da convivência coletiva entre
a convivência social, que regula a conduta os cidadãos. No entanto, esse conjunto
das pessoas nas sociedades, que coloca um de regras brasileiras vem sofrendo
mínimo de norma a ser seguida e se constitui inúmeros ataques desde o golpe de
num pacto social.
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o lucro dos ricos, e deixa menor volume de Agroecologia, e findando com a Soberania
terras agricultáveis aos alimentos que de Alimentar e Segurança Nutricional da
fato vão para o prato dos brasileiros. Isso população brasileira.
eleva os preços e aumenta a insegurança
alimentar e nutricional da população. São reflexões que não traduzem, mas trazem
uma dimensão do que foram os encontros
Aproveitamos para agradecer às pessoas do Módulo II. O material pedagógico,
que se somaram conosco, contribuindo como textos e vídeos utilizados nesse
com os temas e discussões que ampliaram módulo, estão disponibilizados no nosso
nossos horizontes, nossos conhecimentos site www.agentescampo.com.br. Nele
e nos animaram para seguirmos na luta por você terá acesso ao nosso documentário
um Campo com dignidade, justiça e direitos. Vigilância Popular do Campo/CE, lançado
Parte dos conhecimentos trocados estão em abril de 2022.
expressos nesse Caderno Pedagógico.
Tudo organizado com o empenho, esforço
Esse Caderno Pedagógico, compõe o terceiro e o carinho da nossa equipe, desde os(as)
da coleção relacionado ao Curso Livre de educadores(as) que contribuíram com
Formação–Ação em Agentes Populares a escrita, até a equipe de organização e
de Saúde do Campo–CE, compreendendo revisão do material, nosso diagramador
os conteúdos do Módulo II. A primeira e diagramadoras, ilustradoras e da nossa
etapa foi registrada no Caderno Nº 01, que coordenação sempre parceira.
corresponde a um Guia de Roteiros para
a realização dos encontros de formação-
ação, tendo em vista o desafio da educação
remota que atendeu aos critérios sanitários Artigo I
de distanciamento social para a redução e
controle da transmissão do coronavírus. O Fica decretado que agora vale a verdade.
Caderno de Nº 02 foi o Caderno Pedagógico
que assim como esse, trouxe os conteúdos Agora vale a vida,
abordados durante a realização do Módulo
I da formação. E de mãos dadas,
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Fonte: Ilustração de Samyrah do Monte Honorato inspirada em imagens do acervo dos APSC-CE
PANDEMIA EM 2022:
ALGUNS ASPECTOS
FERNANDO PAIXÃO
ANA PAULA DIAS DE SÁ
“
Covid-19 no Brasil (UNASUS, 2022). Inédita para a
maioria dos brasileiros, ela passou a ser considerada
a pior crise sanitária de nossa geração, comparada
com as grandes epidemias que devastaram milhões O governo
de pessoas em séculos anteriores, como a gripe
espanhola no início do século XX. federal foi omisso
e optou por agir de
No início de dezembro de 2022 o Brasil registrou forma não técnica
690 mil óbitos e ultrapassou a marca de 30 milhões
de casos confirmados desde o início da pandemia e desidiosa no
(CONASS, 2022). Mundialmente são 600 milhões enfrentamento da
de casos e 6 milhões de óbitos (JHU, 2022). Esses pandemia do novo
números refletem uma pandemia devastadora que
ficará marcada em nossas vidas com muita dor,
coronavírus, expondo
angústia e indignação. deliberadamente a
população a risco
A indignação vem principalmente pela forma concreto de infecção
como se deu o combate à pandemia pelo Estado
brasileiro, marcado pelo descaso à vida humana, em massa ” (BRASIL, 2021).
por ações contrárias às orientações científicas
e por uma rede de desinformação que tornou o
enfrentamento muito mais difícil.
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“
Dessa forma, fica claro que enfrentamos
ao mesmo tempo uma crise sanitária
potencializada por uma catástrofe política.
A veiculação de notícias falsas, A adoção de medidas adequadas e com
as conhecidas fake news, contribuíram respaldo científico teria poupado a vida e a
para que o objetivo negacionista fosse dor de milhares de brasileiros e brasileiras,
alcançado. Nesse ponto, a CPI apurou que sem mencionar as sequelas que ficam ou
não apenas houve omissão dos órgãos estão por vir, como problemas crônicos
oficiais de comunicação, no combate aos causados pela doença.
boatos e à desinformação, como também
existiu forte atuação da cúpula do governo, A pandemia aprofundou a crise econômica
em especial do Presidente da República, pré-existente, elevando o desemprego
no fomento à disseminação de fake news” e a fome que atinge mais de 30 milhões
(BRASIL, 2021). de brasileiros. Ela também despertou a
necessidade de reforçar a organização
A Comissão Parlamentar de Inquérito popular, para dar respostas às necessidades
do Senado Federal (CPI da Pandemia), sociais que se potencializaram devido à
dedicada a avaliar a atuação do governo ausência de políticas públicas eficazes.
frente à pandemia da Covid-19, trouxe Diversos movimentos sociais buscaram,
provas e explicitou que o Governo Federal através da solidariedade, ações que
adotou uma tese de imunidade de rebanho, amenizaram a fome de milhares de
onde acreditavam que a exposição de brasileiros e brasileiras, como as Cozinhas
grande parte da população ao vírus traria Solidárias do Movimento dos Trabalhadores
uma imunidade coletiva e dessa forma se Sem Teto (MTST) e Marmitas Solidárias,
controlaria a pandemia. Mesmo que essa que são parte da Campanha Mãos
tese fosse negada por toda a comunidade Solidárias, por iniciativa do Movimento
científica, o governo insistiu nessa teoria. dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
“
(MTST, 2022; BRASIL DE FATO, 2022).
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“
necessário reforçar as ações de organização
popular para enfrentar a política de morte
solidariedade não é dar aquilo adotada pelo Governo Federal da época.
que nos sobra, mas sim compartilhar Construir melhoria nas condições de vida
aquilo que temos”. e de saúde de nossa população também
passa por reestruturar o país após a gestão
do presidente Jair Bolsonaro, com todo o
Outra iniciativa dos movimentos sociais e retrocesso imposto ao povo brasileiro e
que trouxe grande impacto positivo foi a assim sonharmos com a construção de dias
dos Agentes Populares de Saúde, surgida melhores.
das periferias de capitais como Recife e
que se espalhou pelo país. Essa iniciativa
buscou preparar pessoas voluntárias nas
comunidades para que desempenhassem
ações de promoção e prevenção à saúde,
possibilitando assim diminuir os efeitos da
pandemia da Covid-19 nas comunidades.
“O/a Agente Popular de Saúde é um
voluntário/a que se importa com a vida dos
vizinhos e com sua comunidade, estando
disposto a costurar uma rede popular de
solidariedade” (MÉLLO; ALBUQUERQUE,
2020).
Brasília (FIOCRUZ), foi desenvolvido CONASS. Painel Nacional: Covid-19. 2022. Disponível em: https://www.conass.org.br/
painelconasscovid19/. Acesso em: 05 abr. 2022.
o primeiro Curso de Formação em JHU. COVID-19 Dashboard. 2022. Disponível em: https://coronavirus.jhu.edu/map.html.
Agentes Populares de Saúde do Campo Acesso em: 05 abr. 2022.
(APSC) que possibilitou a preparação de Méllo, L. M., & Albuquerque, P. C. (2020). Agentes Populares de Saúde: ajudando
minha comunidade no enfrentamento da pandemia de Covid 19. Recife: Fiocruz
agentes voltados para as características - PE. disponivel em: https://www.campanhamaossolidarias.org/_files/ugd/96f383_
a9904d59517f43a1b790c64328f763c8.pdf
e necessidades específicas do campo. Os MST. MST ultrapassa 6 mil toneladas de alimentos doados durante a pandemia. 2022.
APSCs fizeram frente ao processo de cuidado Disponível em: https://mst.org.br/2022/01/14/mst-ultrapassa-6-mil-toneladas-de-
alimentos-doados-durante-a-pandemia/. Acesso em: 05 abr. 2022.
em saúde nas áreas de acampamentos e MTST. Cozinha Solidária: O Projeto. Disponível em: https://www.cozinhasolidaria.
assentamentos do MST – CE. com/#projeto. Acesso em: 05 abr. 2022.
proporcionar melhores condições de saúde UOL. Nota técnica do MS coloca cloroquina como eficaz e vacina como não
efetiva. 2022. Disponível em: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/agencia-
para a população do campo persiste, sendo estado/2022/01/22/nota-tecnica-do-ms-coloca-cloroquina-como-eficaz-e-vacina-
como-nao-efetiva.htm. Acesso em: 05 abr. 2022.
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Fonte: Ilustração de Samyrah do Monte Honorato inspirada em imagens do acervo dos APSC-CE
DIREITO À ÁGUA
FRANCISCO CLÁUDIO OLIVEIRA SILVA FILHO
ANA PAULA DIAS DE SÁ
A água é um bem natural e indispensável à vida de tudo que existe. Sendo essencial, não
poderia estar de fora das disputas que envolve o mundo do capital, que têm o objetivo
de transformar tudo em mercadorias para geração de lucro (AITH & ROTHBARTH, 2015).
Desde sempre esse sistema busca o controle de recursos essenciais e mostra sua face mais
cruel diante da ameaça de escassez. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), em
seu relatório sobre o desenvolvimento das águas publicado em 2015, o planeta enfrentará
até 2030 um déficit de 40% de água, a menos que sejam tomadas providências urgentes
sobre a gestão desse recurso.
Em nosso país temos mais de 13% de todas as reservas mundiais de água potável que
estão concentradas em grandes rios e aquíferos, sendo os maiores do mundo. Temos mais
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que atuam nesse cenário. Em 2018, o Fórum Alternativo Mundial das Águas (FAMA) foi um
importante evento para reunir esses coletivos e denunciar as transnacionais Nestlé, Coca-
Cola, Ambev, Suez, Veolia, Brookfield (BRK Ambiental), Dow AgroSciences, Monsanto,
Bayer, Yara, os organismos financeiros multilaterais, como o Banco Mundial e o Fundo
Monetário Internacional, e ONGs ambientalistas de mercado, como The Nature Conservancy
e Conservation International, entre outras (FAMA 2018, 2018).
Esses coletivos expressam o caráter do “Fórum das Corporações” que, além de levarem
a exploração da água aos territórios onde se instalam, levam também o aumento das
desigualdades sociais e as diversas formas de violência para as pessoas e o meio ambiente.
Como lideranças comunitárias, como Agentes Populares de Saúde do Campo (APSC) somos
também guardiões e guardiãs das águas, pois a água é vida, saúde, alimento, território,
direito humano, um bem comum sagrado.
Fonte: Ilustração de Samyrah do Monte Honorato inspirada em imagens do acervo dos APSC-CE
Referências:
Aith, Fernando Mussa Abujamra e Rothbarth, Renata. O estatuto jurídico das águas no Brasil. Estudos Avançados [online]. 2015, v. 29, n. 84 [Acessado 19 Julho 2022] , pp. 163-177.
Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0103-40142015000200011>. Epub May-Aug 2015. ISSN 1806-9592. https://doi.org/10.1590/S0103-40142015000200011.
BRASIL. Constituição (2020). Lei nº 14.026, de 15 de julho de 2020. Atualiza o marco legal do saneamento básico e altera a Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000, para atribuir à Agência
Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) competência para editar normas de referência sobre o serviço de saneamento, a Lei nº 10.768, de 19 de novembro de 2003, para alterar
o nome e as atribuições do cargo de Especialista em Recursos Hídricos, a Lei nº 11.107, de 6 de abril de 2005, para vedar a prestação por contrato de programa dos serviços públicos
de que trata o art. 175 da Constituição Federal, a Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007, para aprimorar as condições estruturais do saneamento básico no País, a Lei nº 12.305, de 2 de
agosto de 2010, para tratar dos prazos para a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, a Lei nº 13.089, de 12 de janeiro de 2015 (Estatuto da Metrópole), para estender seu
âmbito de aplicação às microrregiões, e a Lei nº 13.529, de 4 de dezembro de 2017, para autorizar a União a participar de fundo com a finalidade exclusiva de financiar serviços técnicos
especializados.. . Brasília, Disponível em: https://www.in.gov.br/web/dou/-/lei-n-14.026-de-15-de-julho-de-2020-267035421. Acesso em: 19 maio 2022.
BRASIL. Constituição (2017). Projeto de Lei nº 495, de 2017. Altera a Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, para introduzir os mercados de água como instrumento destinado a promover
alocação mais eficiente dos recursos hídricos.. . Brasília, Disponível em: https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/131906. Acesso em: 19 fev. 2022.
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2016]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/ Constituicao/Constituiçao.htm. Acesso em: 19 maio 2022.
FAMA 2018. Declaração Final do Fórum Alternativo Mundial da Água. 2018. Disponível em: http://fama2018.org/declaracao-final/. Acesso em: 19 maio 2022.
MST. A privatização da água faz mal ao Brasil. 2020. Disponível em: https://mst.org.br/2020/09/01/a-privatizacao-da-agua-faz-mal-ao-brasil/. Acesso em: 10 maio 2022.
UNESCO. Relatório Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos Recursos Hídricos. 2015. Disponível em: <http://www.unesco.org/new/fileadmin/MULTIMEDIA/ HQ/SC/
images/WWDR2015ExecutiveSummary_POR_web.pdf>. Acesso em: 15 jun. 2015.
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A insegurança hídrica e sanitária no Brasil são expressões de uma profunda crise ecológica
(IPCC, 2022; MARQUES FILHO, 2018) que somente é possível compreender por meio de
uma análise multiescalar. Temos na escala mundial o aquecimento global que tem reflexo
nos continentes de forma diferenciada. Na escala de país, o Brasil tem o agravamento da
insegurança hídrica com maior frequência e intensidade do prolongamento das estiagens
e das inundações (BARCELLOS; CORVALÁN; SILVA, 2022).
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“
outros). A partir da centralidade da
água, de sua multidimensionalidade e de
seu papel pedagógico vários temas se
interrelacionam e podem contribuir para O saneamento
reconhecer e preservar as relações sociais e
ecológicas na perspectiva da promoção da ecológico deve ser
saúde ambiental e humana.
compreendido a
A água educa! partir da ampliação
O acesso à água potável e ao esgotamento dos conceitos
sanitário são considerados direitos humanos,
reconhecidos pela Organização das Nações de saneamento
Unidas (ONU), desde 2010, por meio da
Resolução 64/A/RES/64/292, cujo Brasil foi básico e ambiental,
signatário (HELLER, 2022; HELLER, 2018).
As ações de saneamento têm como objetivo, apresentando-se
além da garantia dos direitos humanos, a
promoção da saúde, a justiça ambiental como uma
e a proteção dos bens comuns (HELLER,
2018). O saneamento básico precisa estar estratégia de luta e
integrado com o manejo das coleções
hídricas e com as ações de saúde pública de emancipação dos
nos territórios. Nesse sentido, é necessário
que os componentes do saneamento básico povos do campo,
possam ser permeáveis a participação e
controle social e sejam estruturantes para a das florestas e das
organização comunitária.
águas” (DIAS; CARNEIRO, 2021).
Os seus componentes são (Brasil, 2007):
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solidário e sustentável. Brasil. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Programa Nacional de
Saneamento Rural (PNSR). Brasília: Funasa, 2019. 260 p. Disponível em: <http://www.
funasa.gov.br/documents//20182/38564/MNL_PNSR_2019.pdf/08d94216-fb09-/468e-
ac98-afb4ed0483eb>. Acesso em: 18/10/2021.
De acordo com programa, no item Brasil. Portaria GM nº 2.866, de 2 de dezembro de 2011: institui, no âmbito do Sistema
Único de Saúde (SUS), a Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo
# 2.4.1 - Saneamento, Agricultura e e da Floresta (PNSIPCF). Brasília: Ministério da Saúde, 2011. Disponível em: <http://
bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt2866_02_12_2011.html>. Acesso em: 20
Segurança Alimentar e Nutricional para dez. 2011.
o Desenvolvimento Rural Sustentável Brasil. Ministério da Saúde. Resolução nº.588, de 12 de julho de 2018 do Conselho
Nacional de Saúde. Política Nacional de Vigilância em Saúde. Disponível em: < http://
(BRASIL, 2019), temos: conselho.saude.gov.br/resolucoes/2018/Reso588.pdf> Acesso em: 18/10/2021.
geral, dois modelos de produção com características Dias, A.P. (et al.). Dicionário de agroecologia e educação. 1ed. São Paulo: Expressão
antagônicas. De um lado, o agronegócio opera baseado em Popular; Rio de Janeiro: EPSJV, 2021. 816p. Disponível em: <https://www.arca.fiocruz.br/
handle/icict/52824>. Acesso em: 18/12/2021.
dois elementos fundantes: o latifúndio e a monocultura. De
outro, a agricultura familiar, que ocupa cerca de 25% das Dias, A.P.; Machado, J.; Knierim, G.S.; Melo, F.V. Caminhos das Águas. In. Dicionário
terras agricultáveis, e tem, como um dos principais pilares, do Saneamento Básico: pilares para uma gestão participativa nos municípios. Belo
Horizonte: Sanbas, 2022. Disponível em: <https://infosanbas.org.br/download/
a produção de alimentos diversificados em pequenos lotes. dicionario-de-saneamento-basico/>. Acesso em: 05/08/22. p.82-87.
No primeiro modelo de produção, em parte dos casos, o
Heller, L. (Coord.). Saneamento e saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2018. 74 p., il. (Série
uso intensivo de insumos pelo agronegócio – agrotóxicos, Fiocruz Documentos Institucionais. Coleção saúde, ambiente e sustentabilidade,
fertilizantes químicos e sementes híbridas – gera um passivo v.6). Disponível em: <https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/46304>. Acesso em:
ambiental significativo. Ao atingirem o solo e as águas 14/10/2022.
superficiais e profundas, os resíduos de agrotóxicos e Heller, L. Os Direitos Humanos à Água e ao Saneamento. Rio de Janeiro: Editora
fertilizantes se constituem em uma ameaça ao saneamento Fiocruz, 2022. 620p.
adequado. A agricultura familiar, além do extrativismo, Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC). Climate Change 2022: Impacts,
decorre das práticas e técnicas das experiências de vida Adaptation and Vulnerability. Summary for Policemakers. IPCC: Contribution of Working
das comunidades tradicionais, dos quilombolas e dos povos Group II to the Sixth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate
Change, 2022. 37 p. Disponível em: <https://www.ipcc.ch/report/sixth-assessment-
indígenas. Por outro lado, carrega em si a possibilidade da report-working-group-ii/>. Acesso em: 15/03/2022.
transição agroecológica. Neste modelo de produção, a visão
Machado et al. Ciclo de Encontros ASA-Fiocruz Territórios Saudáveis e Sustentáveis
integrada do agroecossistema conduz a uma produção livre no Semiárido Brasileiro: Vigilância Popular em Saúde em Tempos de Pandemia. 2020.
de agrotóxicos e fertilizantes, adaptada às condições locais, Disponível em: https://www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br/wp-content/uploads/2021/04/
com insumos geralmente produzidos a partir de Caderno-de-Sistematizac%CC%A7a%CC%83o-Ciclo-de-Encontros-ASA-Fiocruz.pdf.
Acesso em: 15/03/2022.
matérias-primas geradas na propriedade. Além disso, a
agroecologia se utiliza de tecnologias sociais, que contribuem Marques Filho, L.C. Capitalismo e colapso ambiental. 3ed.rev. Campinas, SP: Editora da
Unicamp, 2018. 735p.
para a preservação e recuperação dos solos e das águas. ”
Pereira, I. de S. Em: Gnadlinger, J. A Busca da Água no Sertão, IRPAA, Juazeiro, BA, 2011,
Ed. 5. p. 65 https://irpaa.org/publicacoes/25/cartilhas/a-busca-da-agua-no-sertao
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CADERNO PEDAGÓGICO
A HISTÓRIA DA LUTA
PELA TERRA
ANA PAULA DIAS DE SÁ
Esse texto foi construído a partir dos de fronteiras e de controle dos povos. No
conteúdos apresentados no “Tempo Aula” Brasil, essa história se dá com a chegada dos
durante o Curso Livre de Formação em colonizadores, vindo de outros continentes,
Agentes Populares de Saúde do Campo e entre os povos que aqui já habitavam.
do Ceará, ocorrido de forma virtual no dia São lutas que se dão em maior ou menor
05/04/2021 e que teve como facilitadora proporção de acordo com as condições
a educadora e militante do Setor de oferecidas em cada território e que tem no
Produção do Movimento dos Trabalhadores modelo econômico um instrumento que
“
e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), piora ainda mais essas disputas.
Antônia Ivoneide Melo Silva, mais conhecida
como “Neném”, a quem agradecemos Podemos dizer que a luta pela terra no
imensamente a contribuição. Brasil nasceu naquele mesmo instante em que
os portugueses perceberam que estavam em
A história da luta pela terra, é na verdade, uma terra sem cerca, onde encontrava tudo
a história da nossa existência, sendo muito disponível. Os habitantes do local, então,
impossível contá-la em poucas páginas. diante de armas e intenções nunca imaginadas,
Aqui deixaremos um resumo dessa viagem teriam muito que lutar contra esse verdadeiro
no tempo. caso de invasão” (MORISSAWA, 2001).
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MÓDULO II
BREVE HISTÓRIA DA
Em 1850, sob o comando de D. Pedro II, foi aprovada a Lei de Aos povos originários coube a perseguição, escravidão, violência
Terras que legalizou o latifúndio no Brasil. As terras rentáveis, e morte. Recordamos Sepé Tiaraju, um líder indígena guarani
incluindo as sesmarias, passariam a ser propriedades, compradas que em 1753 liderou uma Comunidade indígena na defesa do
a valores elevados para assegurar o nível de quem fosse território, em área de fronteira Brasil e Paraguay em pleno
proprietário. Um fato curioso, é que essa lei veio exatamente período de disputa entre Portugal e Espanha. A resistência durou
em um contexto sociopolítico de efervescência pela abolição cerca de três anos quando foram massacrados e tiveram mais de
da escravatura no Brasil. Os políticos, percebendo que cedo 1500 mortes (MORISSAWA, 2001).
ou tarde a abolição seria declarada, criaram e aprovaram a lei
dando propriedade da terra a quem pudesse pagar. Assim, os
negros recém libertos não poderiam ocupar terras e nem teriam
o dinheiro para comprá-las, restando apenas a opção de se
converterem em mão de obra barata, quase nada diferente das
condições de escravo (WESTIN, 2020).
3 - Brasil República
A proclamação se deu em 1889, no período anterior às lutas
Assim como houve resistência indígena diante do processo de
republicanas. No contexto das lutas populares pela terra,
escravidão, também houve resistência do povo negro trazido
destacam-se as chamadas “lutas messiânicas”, que carregam
da África, o que nos permite afirmar que, nesse contexto, a luta
esse nome devido à presença de um líder de cunho espiritual e
abolicionista também pode se caracterizar como luta pela terra.
religioso, o “messias”. Eram lutas pela vida livre em comunidade e
A existência dos Quilombos data de 1629, sendo Palmares o mais
longe da exploração. Destacam-se Canudos e Contestado, ambas
conhecido por ser, na verdade, uma junção de vários Quilombos
dizimadas violentamente pela repressão do Estado.
chegando a reunir mais de 20 mil pessoas numa proposta de nova
ordem social sem a exploração do homem pelo homem.
Na década de 1930 com a chamada República Nova, o debate
sobre a luta pela terra passou a ter dimensões mais políticas
e se aglutinou em torno da reforma agrária. Em 1950 já se
tem registros da existência de coletivos organizados, como as
Ligas Camponesas, com predomínio na região Nordeste, e dos
4 - O Brasil na ditadura militar Sindicatos de Trabalhadores Rurais, na região Sul. Enquanto os
países ditos de primeiro mundo, em pleno processo de entrada
O golpe militar na história do Brasil, teve na revolução industrial, organizavam-se pela desconcentração da
início em abril de 1964 e só terminou em terra para ampliar as forças produtivas e a circulação de renda, a
março de 1985. Foram mais de 20 anos de governos totalitários. fim de aumentar a demanda por consumo, a burguesia brasileira
Em relação à questão agrária foi aprovado o Estatuto da Terra, manteve seu processo de concentração de terras e de renda.
documento que define e classifica o latifúndio no país. Ele afirma
o “uso social” da terra, termo que ao final deu a “brecha” legal
para que os mesmos latifundiários de sempre, aliados às novas
forças de Estado, pudessem investir fortemente na mecanização
dos campos e sendo financiados com recursos públicos, alegando
utilização em terras produtivas.
5 - Brasil após a ditadura
Já nos últimos anos da década de 1970 e início dos anos 1980
Do ponto de vista da luta social o que se deu na prática foi que
a ditadura começou a perder força. Nesse período o modelo
o processo de organização (Ligas Camponesas e sindicatos) em
de ocupações do MST já se alastrava país afora e o Movimento
prol da reforma agrária foi fortemente reprimido pela ditadura
organizou distintos eventos locais o que resultou na realização
militar. Desse processo, o legado das Ligas, em clandestinidade,
do 1º Encontro Nacional, no município de Cascavel, no Paraná,
converteu-se em esperança na ação pastoral da Igreja Católica,
em 1984. Este evento é considerado o marco para o nascimento
a exemplo da Comissão Pastoral da Terra (CPT) no final da
e fundação de um dos movimentos de camponeses sem terra de
década de 1970. Nesse período começaram também as primeiras
alcance nacional cujas pautas fundamentais eram a luta pela terra
ocupações de terra que vão dar origem ao Movimento dos
e a reforma agrária (MORISSAWA, 2001).
Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST).
Atualmente o MST está presente em 24 das 27 unidades
federativas do país e é considerado um dos mais admirados
movimentos sociais, sendo inclusive o maior produtor de arroz
orgânico da América Latina (MST, 2022).
23
CADERNO PEDAGÓGICO
24
MÓDULO II
O sonho de Rose
(https://www.youtube.com/watch?v=xP2Jm23RJ9Y)
Referências:
MST. Há 10 anos o MST lidera a maior produção de arroz orgânico da América Latina.
2022. Disponível em: https://mst.org.br/2022/03/15/ha-10-anos-o-mst-lidera-a-maior-
producao-de-arroz-organico-da-america-latina/. Acesso em: 08 set. 2022.
MORISSAWA, Mitssue. A história da luta pela terra e o MST. São Paulo: Expressão
Popular, 2001. 256 p. Disponível em: https://mst.org.br/2006/07/13/a-historia-da-luta-
pela-terra-e-o-mst/. Acesso em: 10 abr. 2021.
WESTIN, Ricardo. Há 170 anos, Lei de Terras oficializou opção do Brasil pelos
latifúndios. 2020. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/
arquivo-s/ha-170-anos-lei-de-terras-desprezou-camponeses-e-oficializou-apoio-do-
brasil-aos-latifundios#:~:text=No%20Segundo%20Reinado%2C%20o%20Brasil,e%20n-
%C3%A3o%20em%20pequenas%20propriedades. Acesso em: 21 abr. 2021.
25
CADERNO PEDAGÓGICO
Fonte: Ilustração de Samyrah do Monte Honorato inspirada em imagens do acervo dos APSC-CE
Para sustentar este modo de produção, o Brasil tem sido historicamente alvo da aplicação
do pacote tecnológico pautado no uso intensivo de agrotóxicos, fertilizantes químicos e
sementes geneticamente modificadas. Inclui-se nesse pacote, há alguns anos, as novas
biotecnologias de edição gênica. A relação entre o uso de sementes transgênicas, a
diminuição no consumo de agrotóxicos e a elevação da produtividade das lavouras
defendida pelo agronegócio não se concretizou (ALMEIDA et al., 2017). Entretanto, a busca
por novas tecnologias que caminham no mesmo sentido continua. “Criou-se assim um
26
MÓDULO II
27
CADERNO PEDAGÓGICO
A disputa por políticas nos territórios se aproxima da realidade e necessidade de vida dos
cidadãos e cidadãs e, portanto, tem papel muito importante. Os debates de propostas
legislativas nos estados e municípios (bases eleitorais dos parlamentares federais)
fortalecem o cenário para ampliação da consciência política da população e da pressão
no âmbito federal com vistas à aprovação da PNARA. Portanto, além de manter uma
vigilância popular em relação aos PLs que tramitam em cenário nacional, é fundamental
a articulação nos territórios para o desenvolvimento de experiências que avancem em
políticas municipais e estaduais, a exemplo do que já vem ocorrendo em diferentes locais.
A resistência já existe e precisa ser semeada criando um movimento ascendente e orgânico
onde a pressão da sociedade mude realidades nos estados e municípios e a correlação de
forças no Legislativo Federal.
Referências
ALMEIDA, Vicente Eduardo Soares de et al. Uso de sementes geneticamente modificadas e agrotóxicos no Brasil: cultivando perigos. Ciência & Saúde Coletiva, v. 22, n. 10, p. 3333-3339,
2017. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/csc/v22n10/pt_1413-8123-csc-22-10-3333.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2020.
ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada - RDC nº 294, de 29 de julho de 2019. Disponível em: <http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/
resolucao-da-diretoria-colegiada-rdc-n-294-de-29-de-julho-de-2019-207941987>. Acesso em: 18 set. 2020.
______. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada - RDC nº 295, de 29 de julho de 2019. Disponível em: <http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/
resolucao-da-diretoria-colegiada-rdc-n-295-de-29-de-julho-de-2019-207944205>. Acesso em: 18 set. 2020.
______. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada - RDC nº 296, de 29 de julho de 2019. Disponível em: <https://www.in.gov.br/web/dou/-/resolucao-
da-diretoria-colegiada-rdc-n-296-de-29-de-julho-de-2019-208028718>. Acesso em: 18 set. 2020.
BRASIL. Lei nº 7.802, de 11 de julho de 1989. Dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização,
a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de
agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 12 jul. 1989.
CARNEIRO, Fernando Ferreira et al. (Orgs.). Dossiê ABRASCO: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde. Rio de Janeiro: EPSJV; São Paulo: Expressão Popular, 2015.
CEARÁ. Lei nº. 16.820, de 08 de janeiro de 2019. Inclui dispositivo na Lei Estadual nº. 12.228, de 09 de dezembro de 1993, que dispõe sobre o uso, a produção, o consumo, o comércio
e o armazenamento dos agrotóxicos, seus componentes e afins bem como sobre a fiscalização do uso de consumo do comércio, do armazenamento e do transporte interno desses
produtos. Diário Oficial do Estado, Fortaleza, CE, 09 jan. 2019.
CHEGA de engolir tanto agrotóxico. Assine pela aprovação da Política Nacional de Redução de Agrotóxicos! Disponível em: <https://www.chegadeagrotoxicos.org.br/index.
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MÓDULO II
A AGROECOLOGIA NA PROMOÇÃO DA
SAÚDE E DO BEM VIVER
GISLEI SIQUEIRA KNIERIM
ANA MARIA DUBEUX GERVAIS
29
CADERNO PEDAGÓGICO
“
com uma articulação política comum, a luta
pela terra e pela reforma agrária.
30
MÓDULO II
E a partir desta interação, deste envolver- da vida social de acordo com os códigos
se, vai se construindo o conhecimento e regras estabelecidos pelas próprias
agroecológico, ancorado em metodologias comunidades. Uma economia inserida
que permitem o diálogo de saberes, trocas em vínculos e relacionamentos sociais
de experiências, práticas e vivências de corpo a corpo, onde as trocas ocorrem
diversos sujeitos em diferentes territórios. em relações próximas em curtos-circuitos,
com baixo consumo de energia e que
Constituindo a Agroecologia em suas os bens não sejam despersonalizados,
diferentes dimensões: mantendo o significado e um sentido
próprio, para além do seu valor de troca.
a Agroecologia enquanto
Movimento de luta; Fortalecer a organização, autogestão e
os processos coletivos. A organização
a Agroecologia enquanto ciência é o terreno fértil para que se cultive a
agroecologia, pois é a estrutura que
na busca da sustentabilidade; e permite a circulação das aprendizagens, os
diálogos de saberes e viveres, significados
a Agroecologia Política da e horizontes políticos de lutas, portanto
transformação das relações o único meio possível de disputar com o
sociais de produção e consumo. capital os meios de produção.
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CADERNO PEDAGÓGICO
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MÓDULO II
O trabalho é o meio pelo qual garantimos a reprodução da vida, onde buscamos atender
as necessidades básicas, mas também é onde se gera acumulação do Capital. Ao colocar
nossos corpos à disposição do trabalho, homens e mulheres sofrem um processo de
exploração diferenciados. Os corpos das mulheres acumulam dupla jornada de trabalho,
gerando com isso uma sobrecarga, causando processos de adoecimento tanto físico, como
mental.
A agroecologia está baseada no valor de uso dos bens, provocando com isso uma discussão
sobre o trabalho no campo e a construção de novas relações sociais entre homens e
mulheres na divisão equânime do trabalho e que envolve o cuidado com a família, a casa, a
agricultura e com os animais. Propõe também outras formas organizativas como: o trabalho
coletivo, a cooperação, a autogestão e estimula e fortalece a participação das mulheres e
da juventude na tomada de decisões que envolvem a vida da família e da comunidade.
Referências:
LVC. Agroecologia Camponesa para la soberania alimentaria y la Madre Tierra. Experiencias de lá Vía Campesina. Cuadernos de la Vía Campesina, Harare, n. 7, abr. 2015. ______. De
Maputo a Yakarta: 5 años de agroecología en La Vía Campesina. Yacarta: LVC, 2013.
PLOEG, J. D. Camponeses e impérios alimentares: lutas por autonomia e sustentabilidade na era da globalização. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2008.
CAPORAL, F.R; COSTABEBER, J.A. Agroecologiar: alguns conceitos e princípios. Brasília: MDA -SAF-Dater – IICA, 2004.
GUBUR, D.M.P; TONÁ, N. Agroecologia. Dicionário da Educação do Campo. 2 ed, Rio de Janeiro, 2012.
GIRALDO, O.F.; ROSSET, P.M., Princípios sociales de las agroecologías emancipadoras, DMS, Seção especial – Territorialización de la agroecología Vol. 58, p. 708-732, jul./dez. 2021.
UFRPE.
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CADERNO PEDAGÓGICO
SOBERANIA ALIMENTAR
MALVINIER MACEDO
MARIA NEILA FERREIRA DOS SANTOS
Sempre é necessário lembrar os fundamentos citados acima quando nos referimos aos
direitos básicos necessários para que se materialize vida digna para a população brasileira
em seus diferentes segmentos, respeitando sua diversidade de modos de vida. O Direito
Humano à Alimentação Adequada é condição básica para que as pessoas tenham vida
plena, saudável e autônoma.
Situações de pobreza, fome e miséria que as pessoas menos favorecidas no nosso país
convivem historicamente, mas que viveram uma pequena trégua em um período recente,
por conta de programas sociais e ações a eles atreladas que retirou o Brasil do mapa da
fome, em 2014. Mas que, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), voltaram
com força, em decorrência de desmontes de políticas sociais e outros fatores, retratando a
violação do direito humano à alimentação adequada.
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MÓDULO II
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CADERNO PEDAGÓGICO
fatores que tem causando esses impactos. Eles também são responsáveis pela
desterritorialização pelo qual os alimentos e serviços passam, chegando a alcançar o nível
global, causando sérias modificações no jeito de produzir das comunidades camponesas,
além de provocar a extinção de vários alimentos da biodiversidade. Quanto ao jeito de
consumir da população, é cada vez mais rápido, individualizado e inacessível às populações
mais vulnerabilizadas que não dispõem de políticas públicas econômicas, sociais, agrícolas,
agrárias e de recursos financeiros para obtenção dos alimentos gerando subnutrição e a
fome (DIEZ GARCIA, 2003).
Com isso, as práticas, os hábitos alimentares, a cultura e os modos de vida das populações
em diversas partes do mundo são modificados e a alimentação que ganha força é a
industrializada, com alimentos envenenados e artificializados (DIAS; CHIFFOLEAU, 2016).
Os alimentos ultraprocessados, com grandes teores de açúcar, sal, conservantes e que
deixam muitos resíduos (latas, sacos, papelão) se tornam presentes em muitos lares.
Situação que requer atenção e preocupação das ciências da saúde, visto que os estudos
apontam relação direta entre a dieta e algumas doenças crônicas associadas à alimentação,
sendo necessário que intervenções de cunho social e político sejam realizadas para que as
mudanças nos padrões alimentares ocorram e essa situação se reverta, garantindo mais
saúde para a população (DIEZ GARCIA, 2003).
Fonte: Ilustração de Samyrah do Monte Honorato inspirada em imagens do acervo dos APSC-CE
Referências:
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm Acesso em: 20 de março de 2022.
BRASIL. Constituição (2006). Lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006. Cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – SISAN com vistas em assegurar o direito
humano à alimentação adequada e dá outras providências. Brasília, Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11346.htm. Acesso em: 20 mar. 2022.
BURITY, V. et al. A Segurança Alimentar e Nutricional e o Direito Humano à Alimentação no Brasil. In: Abrandh. [s.l: s.n.]. v. Módulo 1 –p. 69.
DE ABREU, E. S. et al. World food - a reflection on history [Alimentação mundial - uma reflexão sobre a história]. Saúde e Sociedade, v. 10, n. 2, p. 3–14, 2001.
DIAS, J.; CHIFFOLEAU, M. Mutações político-estéticas na comunicação da Soberania Alimentar e Segurança Alimentar e Nutricional. Razón y palabra, v. 3, n. 94, p. 657–664, 2016.
DIEZ GARCIA, R. W. Reflexos da globalização na cultura alimentar: considerações sobre as mudanças na alimentação urbana. Revista de Nutrição, v. 16, n. 4, p. 483–492, 2003.
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