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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Monkeypox [livro eletrônico] : uma abordagem geral


para profissionais de saúde / [organização
Marilia Santini de Oliveira, Débora Dupas
Gonçalves do Nascimento ; coordenação Sílvia
Helena Mendonça de Moraes, Marilia Santini de
Oliveira, Ana Paula da Costa Marques. --
1. ed. -- Campo Grande, MS : Fiocruz Pantanal,
2023.
PDF

Vários autores.
Bibliografia.
ISBN 978-85-66909-46-3

1. Infecções 2. Infecções - Prevenção


3. Infecções respiratórias 4. Profissionais da
saúde 5. Saúde pública 6. Serviços de saúde
7. Vírus I. Oliveira, Marilia Santini de.
II. Nascimento, Débora Dupas Gonçalves do.
III. Moraes, Sílvia Helena Mendonça de.
IV. Oliveira, Marilia Santini de. V. Marques,
Ana Paula da Costa.
CDD-616.24
23-158283 NLM-WF-140
Índices para catálogo sistemático:

1. Vírus respiratórios : Infecções respiratórias :


Medicina 616.24

Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129

2
MONKEYPOX | FICHA CATALOGRÁFICA
© 2023. Ministério da Saúde. Sistema Universidade Revisoras técnico-científicas
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MONKEYPOX | FICHA TÉCNICA
UNIDADE 1: INTRODUÇÃO AO TEMA: Mpox, MONKEYPOX/VARÍOLA
DOS MACACOS/VARÍOLA SÍMIA_______________________________ 7
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM DA UNIDADE _____________________ 8
1.1 HISTÓRICO DA DOENÇA NO MUNDO E NO BRASIL _______________ 9
1.1.1 Definição da doença e formas de transmissão ________________ 9
1.1.2 Dados epidemiológicos no mundo e no Brasil ________________ 11
1.2 AGENTE ETIOLÓGICO___________________________________ 15
1.2.1 Características gerais do vírus__________________________ 15
1.2.2 Subtipos e clados existentes no mundo e linhagens
encontradas no Brasil___________________________________ 17
1.2.3 Interface humanos-animais-meio ambiente________________ 19
1.2.4 Grupos vulneráveis e população-chave____________________ 21

SUMÁRIO REFERÊNCIAS___________________________________________ 23

UNIDADE 2: ASPECTOS CLÍNICOS DA DOENÇA_____________________ 25


OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM DA UNIDADE______________________ 26
2.1 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA MPOX________________________ 28
2.2 DIAGNÓSTICO CLÍNICO DIFERENCIAL DAS LESÕES_______________ 34
2.3 FATORES DE RISCO ASSOCIADOS À INFECÇÃO PELO MPXV__________ 36
2.4 TRATAMENTO E ABORDAGEM TERAPÊUTICA___________________ 37
2.4.1 Manejo sintomático_________________________________ 37
2.4.2 Terapias antivirais_________________________________ 37
2.5 CONTROLE DE TRANSMISSÃO DO MPXV______________________ 40
2.6 VACINAS E ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO NÃO FARMACOLÓGICAS_____ 41
REFERÊNCIAS___________________________________________ 43
4
MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA________________________________________________ 45
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM DA UNIDADE ____________________________________________________ 46
3.1 IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO ESPECÍFICO PARA ASSISTÊNCIA E VIGILÂNCIA EM SAÚDE___________________ 47
3.2 AMOSTRAS PARA DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE MPOX________________________________________ 48
3.2.1 Coleta de amostras________________________________________________________________ 48
3.2.2 Armazenamento de amostras_________________________________________________________ 49
3.2.3 Embalagem, acondicionamento e transporte de amostras _____________________________________ 49
3.3 MÉTODOS PARA DIAGNÓSTICO LABORATORIAL________________________________________________ 50
3.3.1 Métodos utilizados para diagnóstico específico_____________________________________________ 50
3.3.2 Fluxo para diagnóstico laboratorial e laboratórios de referência no Brasil ___________________________ 50
3.3.3 Kits e insumos laboratoriais__________________________________________________________ 52
REFERÊNCIAS__________________________________________________________________________ 53

UNIDADE 4: VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DOS CASOS______________________________________________ 54


OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM DA UNIDADE ____________________________________________________ 55
4.1 NOTIFICAÇÃO DOS CASOS DE MPOX________________________________________________________ 57
4.1.1 Definições de caso _________________________________________________________________ 57
4.1.2 Algoritmo de classificação e orientações para preenchimento da ficha de notificação___________________ 59
4.1.2.1 Algoritmo de classificação___________________________________________________________ 59
4.1.2.2 Ficha de notificação______________________________________________________________ 60
4.1.2.3 Classificação dos casos e orientação da vigilância__________________________________________ 61
4.2 RASTREAMENTO DE CONTATOS___________________________________________________________ 62
4.3 MONITORAMENTO DE CASOS E CONTATOS___________________________________________________ 64

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MONKEYPOX | SUMÁRIO
4.4 BLOQUEIO NA CADEIA DE TRANSMISSÃO_____________________________________________________ 65
4.5 VACINAÇÃO E PRIORIDADES: EVIDÊNCIAS NO MUNDO____________________________________________ 66
REFERÊNCIAS__________________________________________________________________________ 70

UNIDADE 5: ORIENTAÇÕES PARA A POPULAÇÃO E GRUPOS ESPECÍFICOS__________________________________ 72


OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM DA UNIDADE ____________________________________________________ 73
5.1 MEDIDAS DE PREVENÇÃO E CUIDADO CONTRA A MPOX PARA A POPULAÇÃO GERAL_______________________ 74
5.2 ORIENTAÇÕES PARA PESSOAS COM SUSPEITA DA DOENÇA – DIRECIONAMENTO PARA PROCURA
DOS SERVIÇOS DE SAÚDE_______________________________________________________________ 76
5.3 CONTENÇÃO DA_DOENÇA EM SERVIÇOS DE SAÚDE E ORIENTAÇÕES E CUIDADO PARA A SAÚDE DO
TRABALHADOR DA SAÚDE_______________________________________________________________ 78
5.3.1 Situações e fatores de risco à saúde dos trabalhadores da saúde_________________________________ 78
5.3.2 Medidas de Controle, Prevenção e Proteção à Saúde dos Trabalhadores da Saúde_____________________ 79
5.3.2.1 Equipamentos de Proteção Individual (EPIs)_______________________________________________ 79
5.3.2.2.Medidas de Controle de Engenharia___________________________________________________ 80
5.3.2.3 Medidas de Controle Administrativo___________________________________________________ 81
5.3.2.4 Afastamento de trabalhadores de serviços de saúde e retorno às atividades ________________________ 82
5.4 ORIENTAÇÕES PARA PROFISSIONAIS DO SEXO_________________________________________________ 83
5.5 ORIENTAÇÕES PARA EVENTOS DE MASSA (EM)_________________________________________________ 84
5.5.1 Planejamento e responsabilidades na Organização de EM______________________________________ 85
5.6 ORIENTAÇÕES PARA TRANSPORTE PÚBLICO___________________________________________________ 87
REFERÊNCIAS__________________________________________________________________________ 89

6
MONKEYPOX | SUMÁRIO
MONKEYPOX
UNIDADE 1: INTRODUÇÃO
AO TEMA: Mpox, MONKEYPOX/
VARÍOLA DOS MACACOS/VARÍOLA
SÍMIA

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MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
OBJETIVO GERAL:
Esta Unidade tem como objetivo apresentar um breve histórico e panorama da
doença no mundo e no Brasil, descrevendo o agente etiológico, as características
do vírus e as formas de transmissão. Ressalta a importância da utilização de dados
epidemiológicos para as ações de assistência e vigilância em saúde e o reconhe-
cimento da interface humanos-animais-meio ambiente. Discute ainda os grupos
vulneráveis e população-chave.

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM:
Compreender o histórico da doença e seu surgimento no mundo e no Brasil;
Descrever as características do vírus e as formas de transmissão;

OBJETIVOS DE Utilizar dados epidemiológicos no mundo e no Brasil;


Compreender o agente etiológico e suas características gerais;
APRENDIZAGEM Reconhecer a interface humanos-animais-meio ambiente;
DA UNIDADE Identificar os grupos vulneráveis e população-chave.

CARGA HORÁRIA DE ESTUDO:


10 horas

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MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
1.1.1 DEFINIÇÃO DA DO- O vírus pode ser transmitido:

ENÇA E FORMAS DE • Entre seres humanos, por:


. Contato próximo com lesões cutâ-
TRANSMISSÃO neas, secreções respiratórias ou obje-
A mpox é uma zoonose viral causada tos recentemente contaminados;
pelo Monkeypox virus (MPXV), da fa-
. Contato prolongado, face a face,
mília Poxviridae, capaz de infectar di-
com secreções respiratórias;
ferentes espécies de mamíferos. É uma
doença transmissível, autolimitada e . Via vertical (transplacentária ou con-
caracterizada pelo surgimento de pús- tato próximo entre a mãe e o bebê
tulas na pele dos indivíduos infectados durante e após o parto);
(LUNA et al., 2022).
1.1 Você já deve ter ouvido comentários
• De animais infectados para outras
espécies, incluindo humanos (contato
HISTÓRICO DA associando a mpox à varíola humana. direto com sangue, outros fluidos cor-
Isso se deve ao fato de o agente etio- porais e/ou lesões do animal infecta-
DOENÇA NO lógico das duas doenças, Monkeypox do), e de humanos para animais.
virus e Variola vírus (VARV – do inglês Outras formas de transmissão entre
MUNDO E NO smallpox), pertencerem à mesma fa- seres humanos, incluindo por contato
mília, Poxviridae, causando doenças
BRASIL que se manifestam de forma seme-
sexual, estão sendo estudadas.

lhante clinicamente, embora a mpox O MPXV foi identificado na década de


seja menos grave. 50, entretanto o primeiro caso em se-
res humanos foi observado em 1970.
Nas regiões endêmicas, a taxa de le- Vale ressaltar que, embora a descober-
talidade (TL) varia de 3,6% a 10,6% e, ta do vírus tenha ocorrido em macacos
em geral, tanto as manifestações da em um laboratório dinamarquês em
doença quanto a TL são piores nos pa- 1958, a Organização Mundial da Saú-
cientes imunossuprimidos, como os pa- de (OMS) considera inadequada a no-
cientes que vivem com o vírus da imu- meação dada à doença, esclarecendo
nodeficiência humana (HIV) (BUNGE et que a maioria dos animais suscetíveis a
al., 2022). esse tipo de varíola são roedores, como
ratos e cães-da-pradaria.
9
MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
Acompanhe a seguir a linha do tempo:
1958 1970 1970 - 1979 2003
O vírus foi identificado O primeiro caso humano foi identificado Entre 1970 e 1979, Em 2003, ocorreu um surto nos
em 1958, em duas em 1970 na República Democrática foram descritos EUA. Foram registrados cerca
colônias de macacos do Congo, na África. Desde então, casos humanos nas de 47 casos humanos devido
provenientes da África, apresenta-se como doença endêmica regiões Central e à importação de roedores
e mantido para no continente africano, com poucos Ocidental da África. infectados capturados nas
pesquisa na Dinamarca. casos e baixa letalidade. florestas de Gana.

2018 - 2021 13 e 15/mai - 2022


Entre 2018 e 2021, casos relacionados a viagens para Entre 13 e 15 de maio de 2022, o Reino Unido notificou 7 casos
países endêmicos foram relatados em Israel (2018), Reino confirmados de monkeypox, sem vínculo com viagens a áreas
Unido (2018, 2019 e 2021), Singapura (2019) e EUA (2021). endêmicas ou com contato com animais silvestres importados.
Praticamente todos os casos fora da África nesses anos foram Desde então, outros casos começaram a ser notificados em
relacionados a viagens para países africanos endêmicos ou diversos países. A forma de entrada do vírus nesses países e os
à importação de animais silvestres capturados nas florestas meios de disseminação ainda não estão identificados.
africanas para venda como pets exóticos em outros países.

23/jun - 2022
Em 23 de junho de 2022, o Comitê de Emergência do Regulamento Sanitário Internacional (2005) (RSI) da OMS se reuniu em Genebra
para tratar sobre o surto multipaís de varíola. O Comitê recomendou ao Diretor-Geral da OMS que não declarasse esse surto como uma
Emergência de Saúde Pública de Interesse Internacional (ESPII), embora reconhecesse, por unanimidade, a natureza emergencial do evento
e que controlar a propagação do surto iria requerer intensos esforços de resposta. Reforçou ainda que “o evento deve ser monitorado de
perto e revisado após algumas semanas, assim que mais informações sobre as incógnitas atuais estiverem disponíveis, para determinar se
ocorreram mudanças significativas que podem justificar uma reconsideração de seu conselho”. Apesar da opinião do Comitê, o diretor da
OMS decidiu, em 23 de julho de 2022, declarar a monkeypox uma Emergência de Saúde Pública de Preocupação Internacional (ESPII).

28/nov - 2022 11/mai - 2023


Em 28 de novembro de 2022, a OMS recomendou a mudança do nome da doença para mpox, Em 11 de maio de 2023,
devido aos fortes estigmas e preconceitos observados durante a sua expansão no mundo. a Mpox deixou de ser
A substituição do nome acontecerá de forma gradual. No primeiro ano, ambos os nomes foram considerada, pela OMS, uma
aceitos para que houvesse tempo para finalizar o processo de atualização da Classificação Emergência em Saúde Pública
Internacional de Doenças (CID). O termo monkeypox deixará de ser utilizado, mas continuará Internacional. Contudo, é
sendo pesquisável no CID para fins históricos. Até 30 de novembro de 2022, o Comitê importante ressaltar que a
Internacional de Taxonomia de Vírus ainda não havia decidido pela mudança na nomenclatura doença ainda representa um
do Monkeypox vírus. Nesse curso adotamos o novo nome (mpox), mantendo o nome monkeypox desafio significativo a saúde
e suas traduções para o português apenas no título para facilitar a busca e nos documentos pública que necessita de
incluídos na íntegra que foram produzidos antes da mudança de nomenclatura. respostas enérgicas e robustas. 10
Entre 1981 e maio de 2022, 1.1.2 DADOS EPIDEMIO- O primeiro caso identificado de mpox
a maior parte dos casos no foi em 6 de maio de 2022 no Reino
LÓGICOS NO MUNDO E Unido e até 28 de dezembro de 2022
mundo ocorreu na África
Central, com mortalidade NO BRASIL foram confirmados no mundo – em 110
países – 83.539 casos de mpox, com
de 10% em indivíduos não O surto de mpox atingiu muitos paí-
74 mortes distribuídas em 18 países
vacinados contra varíola. ses em todo o mundo. A partir de maio
(CDC, 2022a). Acompanhe na Figura 1
de 2022, houve uma transmissão mais
os locais com maior número de casos
abrangente do vírus, com uma distri-
de mpox no mundo, que estão mar-
SAIBA MAIS! buição geográfica mais ampla e casos
cados no mapa com círculos de maior
Leia o editorial do periódi- com sinais e sintomas diferentes dos
diâmetro.
co The Lancet sobre a de- casos endêmicos da África.
claração da OMS (em inglês).
Figura 1 – Mapa global com a localização dos casos de mpox até 28 de dezembro
de 2022. Círculos alaranjados indicam os países sem histórico de mpox, e os azuis
os países com histórico de mpox
SAIBA MAIS!
Veja mais detalhes sobre
os casos de mpox rela-
tados antes de maio de
2022, apresentados por
Estevão Portela Nunes, médico in-
fectologista e vice-diretor de servi-
ços clínicos do Instituto Nacional de
Infectologia Evandro Chagas (INI),
da Fiocruz, assistindo ao vídeo.

Fonte: Centers for Disease


Control and Prevention
(2022a).

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MONKEYPOX | UNIDADE 1: INTRODUÇÃO AO TEMA: MONKEYPOX/VARÍOLA DOS MACACOS/VARÍOLA SÍMIA
SAIBA MAIS! Figura 2 – Casos confirmados de mpox no mundo, segundo média móvel, conside-
Você pode acessar os rando os últimos sete dias - Maio a Dezembro de 2022
dados e mapas atualiza-
dos na página do Centro
de Controle e Prevenção de Doen-
ças (do inglês: Centers for Disease
Control and Prevention - CDC).

O número de casos no mundo aumen-


tou progressivamente até agosto de
2022, com predomínio de casos na
Europa até início de junho, mas de-
pois desse período esse cenário mudou
para as Américas. A partir de agosto
de 2022, observa-se uma queda na
“média móvel dos últimos 7 dias” no
mundo, como demonstra a Figura 2.

Fonte: Our World Data (2022).

A distribuição de casos no Brasil segue


SAIBA MAIS! a mesma curva observada no mundo e
Para saber mais sobre em outros países com grande número
os números atualiza- de casos, como os Estados Unidos da
dos da Mpox no mun- América. Podemos observar a similari-
do, consulte também: dade nas curvas de distribuição da do-
ença no país e no mundo na Figura 3.

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MONKEYPOX | UNIDADE 1: INTRODUÇÃO AO TEMA: MONKEYPOX/VARÍOLA DOS MACACOS/VARÍOLA SÍMIA
Figura 3 – Casos confirmados de Mpox no Brasil e no Mundo segundo média mó- Figura 4 – Distribuição dos casos con-
vel, considerando os últimos sete dias – Maio a Dezembro de 2022 firmados de mpox por unidade federa-
da – SE 52

MPOX INFORME
Nº139
30 de Dezembro de 2022 | SE 52

SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA
NO BRASIL
^K^
Z'/O^ hE/^&Z^
KE&/ZDK^ ^h^W/dK^
DŝŶĂƐ'ĞƌĂŝƐΎ ϲϬϯ ϱϵ
ƐƉşƌŝƚŽ^ĂŶƚŽ ϭϱϱ Ϯϳ
^ƵĚĞƐƚĞ
ZŝŽĚĞ:ĂŶĞŝƌŽΎ ϭ͘ϯϮϯ ϯϮϯ
^ĆŽWĂƵůŽΎ ϰ͘Ϯϱϰ ϳϱϲ
^ĂŶƚĂĂƚĂƌŝŶĂΎ ϰϭϮ ϭϯ
^Ƶů WĂƌĂŶĄ Ϯϴϯ ϭϯϲ
ZŝŽ'ƌĂŶĚĞĚŽ^Ƶů ϯϮϰ ϰϮ
'ŽŝĄƐ ϱϱϳ ϯϱϭ
ŝƐƚƌŝƚŽ&ĞĚĞƌĂů ϯϰϳ ϭϯϰ
ĞŶƚƌŽͲŽĞƐƚĞ
DĂƚŽ'ƌŽƐƐŽĚŽ^Ƶů ϭϲϬ Ϭ
DĂƚŽ'ƌŽƐƐŽΎ ϭϭϲ Ϭ
ŵĂnjŽŶĂƐ ϯϰϰ ϭϱ
ĐƌĞ ϭ ϭ

ŵĂƉĄ ϯ Ϭ
EŽƌƚĞ WĂƌĄ ϭϭϬ ϱ

Fonte: Our World Data (2022). ZŽŶĚƀŶŝĂ ϵ ϯ


ZŽƌĂŝŵĂ ϴ ϭ
dŽĐĂŶƚŝŶƐ ϭϮ ϳϰ
ĂŚŝĂ ϭϰϰ ϰϮϯ
ůĂŐŽĂƐ ϮϮ ϴ
ĞĂƌĄ ϱϳϱ ϭϮ
DĂƌĂŶŚĆŽΎ ϭϭϰ ϭϭ
Até o dia 30 de dezembro de 2022 - EŽƌĚĞƐƚĞ WĂƌĂşďĂ ϭϬϲ ϭϱ

Semana Epidemiológica 52 (SE 52), WĞƌŶĂŵďƵĐŽ ϯϬϵ ϱϵϱ


WŝĂƵş ϯϰ ϮϬ
10.511 casos de mpox foram confirma- ZŝŽ'ƌĂŶĚĞĚŽEŽƌƚĞ ϭϯϯ ϰϰ

dos no Brasil, a grande maioria dos ^ĞƌŐŝƉĞ ϱϯ ϭϬ


Z^/> ϭϬ͘ϱϭϭ ϯ͘Ϭϳϴ
casos se concentram nos estados da MďŝƚŽƐ͗ϬϭĞŵ^ĂŶƚĂĂƚĂƌŝŶĂ͕ϬϭŶŽDĂƌĂŶŚĆŽ͕ϬϭĞŵDĂƚŽ'ƌŽƐƐŽ͕ϬϯĞŵ^ĆŽWĂƵůŽ͕ϬϯĞŵDŝŶĂƐ'ĞƌĂŝƐĞϬϱŶŽZŝŽĚĞ:ĂŶĞŝƌŽ͘
&ŽŶƚĞ͗ZĞĚĞ/s^͘ĞŶƚƌŽĚĞKƉĞƌĂĕƁĞƐĞŵŵĞƌŐġŶĐŝĂƐ– KͬDŽŶŬĞLJƉŽdž͘ĂĚŽƐĂƚƵĂůŝnjĂĚŽƐĞŵϯϬͬϭϮͬϮϬϮϮăƐϭϲŚ͘

região sudeste, como pode ser obser-


ĂĚŽƐƐƵũĞŝƚŽƐĂĂůƚĞƌĂĕƁĞƐ͘

vado na Figura 4. Fonte: Brasil (2022).

13
MONKEYPOX | UNIDADE 1: INTRODUÇÃO AO TEMA: MONKEYPOX/VARÍOLA DOS MACACOS/VARÍOLA SÍMIA
SAIBA MAIS!
Se você quiser saber
a atualização dos ca-
sos no seu estado e no
Brasil, acesse o link.

14
MONKEYPOX | UNIDADE 1: INTRODUÇÃO AO TEMA: MONKEYPOX/VARÍOLA DOS MACACOS/VARÍOLA SÍMIA
Sabemos que os vírus são estrutu- presença de apenas uma membrana
ras microscópicas, mas você já parou externa, enquanto os VEs têm a mem-
para pensar em como é essa estrutu- brana externa e mais uma membrana
ra capaz de causar tanto impacto na também chamada de envelope, que é
saúde pública? derivada da célula hospedeira (Figura
5). As proteínas da membrana externa
dos VMs desempenham importantes
1.2.1 CARACTERÍSTICAS funções relacionadas à entrada na cé-
GERAIS DO VÍRUS lula hospedeira e subsequente pato-
gênese. De forma simplificada, o VM é
O Monkeypox virus, assim como os ou- aquele vírus sem o envelope externo e
tros membros da família Poxviridae, o VE é um VM que tem o envelope viral
tem genoma composto por DNA de fita (CHADHA et al., 2022).
dupla, que é replicado no citoplasma
Diferentemente dos vírus com genoma
1.2 da célula hospedeira. O material ge-
nético tem aproximadamente 197 ki- de RNA, os vírus de DNA geralmente
apresentam poucas mutações. No en-
AGENTE lobases (kb) com 190 genes. Eles têm
morfologia ovoide ou semelhante a tanto, as amostras de MPXV isoladas
ETIOLÓGICO tijolos e são envolvidos por envelope do surto de 2022 parecem ter muitas
mutações. Foram identificadas cerca
lipoproteico. Apesar de serem obser-
vados apenas por microscopia eletrô- de 40 mutações que os diferem da li-
nica, são considerados de grande por- nhagem mais próxima, que é de 2017,
te, uma vez que seu tamanho pode sugerindo um processo evolutivo que
variar de 200 a 250 nanômetros (nm) pode estar associado à disseminação
(ALAKUNLE et al., 2022). com maior eficiência, o que explica a
maior transmissibilidade (KUMAR et
Uma característica interessante do al., 2022).
MPXV é que ele apresenta duas formas
infecciosas: vírion maduro (VM) e vírion Acredita-se que a habilidade dos pox-
envelopado (VE). A diferença é base- vírus de se tornarem restritos aos hos-
ada na quantidade de camadas de pedeiros seja devido tanto à transfe-
membranas que o envolvem. As par- rência e acúmulo de genes de escape
tículas VMs são caracterizadas pela do sistema imunológico do hospedeiro

15
MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
Figura 5 – Estrutura do MPXV. As duas formas infecciosas: vírion maduro (VM) e nol e outros reagentes químicos, além
vírion envelopado (VE) de perder sua infecciosidade após 20
minutos de aquecimento em torno de
55oC. Por outro lado, pode permane-
cer estável por um longo tempo quan-
do armazenado de 4oC a -70oC (LUO,
HAN, 2022).

SAIBA MAIS!
Leia a reportagem so-
bre o isolamento do vírus
da mpox pela FIOCRUZ
e conheça sua estrutura
por imagens de microscopia ele-
trônica no endereço eletrônico.

SAIBA MAIS!
Veja mais detalhes so-
bre as características
do MPXV e da mpox no
vídeo da pesquisado-
Fonte: Chadha et al., 2022. ra da UFRJ Clarissa Damaso.

como à coevolução dos vírus e de seus ros saudáveis (ALAKUNLE et al., 2022).
hospedeiros ao longo dos anos. Além Com relação às propriedades físicas e
disso, o tropismo tecidual afeta a distri- químicas, o MPXV é resistente à seca-
buição e a propagação do vírus em hos- gem e pode ser facilmente inativado
pedeiros infectados e entre os hospedei- por formol, clorofórmio, metanol, fe-
16
MONKEYPOX | UNIDADE 1: INTRODUÇÃO AO TEMA: MONKEYPOX/VARÍOLA DOS MACACOS/VARÍOLA SÍMIA
1.2.2 SUBTIPOS E CLA- denominados clado um (I) e clado dois países e demonstrado uma rota de
(II), respectivamente. O clado II ainda transmissão diferente da dos casos an-
DOS EXISTENTES NO tem dois subclados, clado IIa e clado teriores da doença (HAPPI et al., 2022).
MUNDO E LINHAGENS IIb. Esses clados representam a diver- Apesar do número ainda limitado de
sidade genética acumulada ao longo estudos disponíveis, é possível obser-
ENCONTRADAS NO de muitos anos de evolução no reser- var uma enorme diversidade dentro
BRASIL vatório animal e incluem a maioria dos desse subclado (Figura 6). A linhagem
isolados ligados a surtos na República B.1, responsável pelo surto de 2022, é
De acordo com sua estrutura genô-
Democrática do Congo. Esses clados, descendente da linhagem A.1.1 (Figura
mica, historicamente o MPXV foi clas-
que são responsáveis pela maioria dos 7). Alguns pesquisadores sugerem no-
sificado em dois clados, ou seja, dois
ciclos naturais de transmissão e das mear o subclado IIb de clado III, porém
vírus diferentes com um ancestral em
manifestações endêmicas na África, a nomenclatura ainda não está total-
comum, denominados clados “África
têm transmissão diferente e padrões mente definida.
Ocidental” e “África Central”, também
patobiológicos e manifestações clíni-
conhecido por “Bacia do Congo”, que
cas distintas, evidenciando as diferen-
convivem na região entre Camarões
ças entre eles (LUNA et al., 2022).
e República Democrática do Congo
(FORNI et al., 2022). Os clados I e II têm diferenças de 0,5%
na sequência genômica e estão as-
Devido à necessidade de alterar tan-
sociados a apresentações clínicas di-
to o nome da doença quanto do vírus,
ferentes da doença. O clado I é clini-
que já foi citada anteriormente, o gru-
camente mais grave, portanto está
po de especialistas convocados pela
associado a maiores taxas de mortali-
OMS concordou em alterar o nome das
dade e maior transmissibilidade, quan-
variantes do ortopoxvirus que causam
do comparado ao clado II (KUMAR et
a mpox tanto para minimizar ofensas a
al., 2022).
grupos sociais, culturais, nacionais, re-
gionais, profissionais ou étnicos como Foi proposto também nomear um sub-
para mitigar as repercussões negativas clado IIb (hMPXV1) referente aos iso-
desses nomes no comércio, viagens, tu- lados presentes nos surtos de 2017 a
rismo e bem-estar animal. 2019 e nos surtos de 2022, uma vez
que esses isolados têm sido transmi-
Sendo assim, os clados Bacia do Con-
tidos pessoa-pessoa em dezenas de
go e África Ocidental passariam a ser

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MONKEYPOX | UNIDADE 1: INTRODUÇÃO AO TEMA: MONKEYPOX/VARÍOLA DOS MACACOS/VARÍOLA SÍMIA
Figura 6 – Análise filogenética de Figura 7 – Epidemiologia Genômica do MPXV: círculos azuis referentes ao clado I;
infecções humanas e não humanas círculo verde referente ao subclado IIa; e círculos alaranjados referentes ao sub-
por MPXV nos anos de 1970 a 2022. A: clado IIb e suas linhagens
Distribuição dos isolados dos vírus em
dois diferentes clados (I e II) e subcla-
dos (IIa e IIb); B: Distribuição dos iso-
lados dos vírus pertencentes ao sub-
clado IIb (hMPXV1) e suas diferentes
linhagens (A, A.1, A.2, A.1.1 e B.1)

Fonte: Nextsrtain (2022)

No Brasil, o padrão genético do vírus que o vírus pertencia ao subclado IIb,


também é semelhante ao observado linhagem B.1 (Figura 7). Além disso, as
em outras partes do mundo? amostras identificadas estavam inti-
Fonte: Happi et al. (2022). Sim. O sequenciamento genético dos mamente relacionadas com as amos-
primeiros casos confirmados de mpox tras sequenciadas em Portugal, Ale-
no Brasil, assim como vem acontecen- manha, Espanha e EUA (CLARO et al.,
do nos outros países que tiveram surto 2022).
da doença no ano de 2022, identificou As principais diferenças entre os clados
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MONKEYPOX | UNIDADE 1: INTRODUÇÃO AO TEMA: MONKEYPOX/VARÍOLA DOS MACACOS/VARÍOLA SÍMIA
parecem estar associadas a determi- pode ocorrer por arranhões, morde-
nantes antigênicos imunomoduladores dura, preparo da caça como alimento
Figura 8 – Ciclo de transmissão do
e de reconhecimento do hospedeiro. A ou contato direto/indireto com fluidos
MPXV (1) de roedores a macacos; (2)
divergência acentuada e os sinais de corporais ou material da lesão. Já a de macacos a humanos; (3) de roedo-
subagrupamento podem estar asso- transmissão entre humanos ocorre, de res a humanos; (4) de pessoa infecta-
ciados a diferentes panoramas epide- acordo com a descrição clássica, por da a pessoas saudáveis por meio de
miológicos entre os surtos, que podem meio de gotículas respiratórias que gotículas respiratórias; (5) de pessoa
estar impulsionando microeventos são principalmente eliminadas duran- infectada a pessoas saudáveis pelo
evolutivos, redesenhando a arquitetu- te espirros, tosse e fala, e, para tal, é contato direto com a lesão
ra genômica do MPXV. necessário um tempo
de contato prolongado
(KUMAR et al., 2022).
1.2.3 INTERFACE HUMA- O MPXV pode
NOS-ANIMAIS-MEIO atravessar a placenta,
AMBIENTE ou seja, a transmissão
da mãe infectada para
Embora o reservatório definitivo o feto também deve
do MPXV ainda não tenha sido com- ser considerada. Ou-
pletamente identificado, infecções es- tras formas de contágio
pontâneas foram descritas em diversas são pelo contato direto
espécies de mamíferos, e vírions viáveis com a lesão e com flui-
foram encontrados em diferentes teci- dos corporais ou pelo
dos de animais que morreram em de- contato indireto com
corrência da infecção. Suspeita-se ain- objetos contaminados,
da que roedores que vivem na África como roupas e lençóis.
desempenham um papel fundamental Ainda não está confir-
na transmissão da infecção (Figura 8). mada a transmissão
A transmissão do vírus entre os animais sexual. Embora o vírus
pode ocorrer pelo contato com lesões já tenha sido encontra-
cutâneas de animais infectados, fluídos do no sêmen, são ne-
corporais ou gotículas respiratórias. A cessários mais estudos
transmissão do animal para o homem confirmatórios. Fonte: Kumar et al. (2022).

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MONKEYPOX | UNIDADE 1: INTRODUÇÃO AO TEMA: MONKEYPOX/VARÍOLA DOS MACACOS/VARÍOLA SÍMIA
Por ser um vírus zoonótico (termo uti- as rurais e associadas aos reservató- Com o surto de 2017 na Nigéria, os
lizado para classificar as doenças que rios animais (FORNI et al., 2022). Dessa casos alcançaram áreas de savana e
são transmitidas de maneira natural forma, a epidemiologia da doença su- áreas urbanas. Nessa mesma época,
entre os animais e os seres humanos), gere que o reservatório do vírus esteja além do aumento de casos em huma-
a maior parte das infecções humanas associado à floresta tropical africana, nos na África Ocidental, foi observado
em áreas endêmicas acontece em áre- região endêmica da doença (Figura 9). um aumento no número de infecções
em chimpanzés, embora não tenham
Figura 9 – Típica floresta tropical na região do Zaire, atual República Democráti- sido observadas alterações compor-
ca do Congo (África Ocidental), onde casos de mpox ocorreram entre 1970-1984. tamentais ou de hábitos no grupo de
animais que explicasse o aumento de
casos. Os pesquisadores sugeriram que
o aumento nos casos de mpox tanto
em humanos quanto nos animais esta-
va associado à mudança na demogra-
fia e na distribuição do reservatório do
vírus (PATRONO et al., 2022).
É importante lembrar que o MPXV já
foi identificado em uma grande va-
riedade de animais diferentes. Muitos
desses animais infectados são caçados
para alimentação, tornando-os fonte
de infecção para os humanos. Alguns
animais têm distribuição restrita a al-
gumas regiões, enquanto outros são
amplamente distribuídos. Dessa for-
ma, é possível que, nas regiões onde
existam os dois clados do vírus (I, IIa e
IIb), as barreiras geográficas podem ser
oportunidades ecológicas de infecção
e de adaptação a diferentes hospedei-
ros para o vírus (FORNI et al., 2022).
Fonte: Fenner et al. (1988).

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MONKEYPOX | UNIDADE 1: INTRODUÇÃO AO TEMA: MONKEYPOX/VARÍOLA DOS MACACOS/VARÍOLA SÍMIA
É possível também que alterações cli- 1.2.4 GRUPOS VULNE- 837 tinham entre 20 e 29 anos e 92,5%
máticas e ecológicas tenham causado tiveram o sexo masculino atribuído ao
epizootias (ocorrência de um determi- RÁVEIS E POPULAÇÃO- nascimento (CIEVS, 2022).
nado evento em um número de ani- -CHAVE Observou-se ainda que a maior par-
mais ao mesmo tempo e na mesma te desses pacientes eram homens que
Você já deve ter ouvido falar na mídia
região, podendo levar ou não à mor- faziam sexo com homens (HSH): 82,5%
sobre o perfil das pessoas que mais se
te) em roedores na África Ocidental e no estado do Rio de Janeiro, 95% na
infectam pelo MPXV, mas será que é
Central nos últimos anos, com conse- análise de casos de 16 países e 75% na
isso mesmo? Quais os motivos? Será
quente aumento da transmissão do série de casos dos EUA. A mpox, nessa
que sempre foi assim?
MPXV a humanos e primatas não hu- população, é mais frequente nos HSHs
manos. A invasão de habitats selva- Os casos de mpox descritos em paí-
com maior número de parceiros e com
gens pode favorecer a interação entre ses africanos antes de 2022 afetavam
parceiros desconhecidos. Acredita-se
animal e homem, criando oportunida- igualmente homens e mulheres, sen-
que a transmissão do vírus nesse con-
des de transbordamento da cadeia de do mais frequentes em menores de 40
texto seja decorrente do contato ínti-
transmissão, e a variabilidade genéti- a 50 anos e não vacinados contra a
mo e prolongado durante as relações
ca encontrada nos isolados do surto de varíola.
sexuais e não por meio de secreções
2022 demonstra que também ocorreu Desde o início do atual surto, observa- genitais, que caracterizariam trans-
uma grande mudança biológica do ví- -se que a população mais afetada são missão sexual.
rus (FORNI, et al., 2022). os homens, que respondem por 97,5%
Considerando que a disseminação glo-
Muito ainda precisa ser estudado sobre dos casos relatados nos EUA entre
bal da mpox no surto atual pode es-
as estratégias evolutivas e adaptati- maio e setembro de 2022, com idade
tar associada a atividade sexual, ou-
vas do vírus, além do desenvolvimento média de 34 anos (CDC, 2022b). Um
tra população vulnerável nesse cenário
e implementação de estratégias para levantamento dos casos em 16 países
são os profissionais do sexo, que, assim
um diagnóstico precoce, prevenção e realizado de abril a junho de 2022
como os demais grupos vulneráveis,
tratamento da doença. Estudos de vi- identificou 528 casos confirmados, dos
devem ser priorizados quanto ao aces-
gilância genômica também devem ser quais 527 eram homens, com idade
so à informação e educação para pre-
implementados para esclarecer a dis- média de 28 anos (THORNHILL, et al.,
venção e demais cuidados.
tribuição e natureza dos reservatórios 2022). O mesmo perfil demográfico é
e hospedeiros do vírus tanto na África observado em outros países, inclusive
quanto nos outros países pelos quais o no Brasil. No estado do Rio de Janeiro,
vírus está se espalhando. por exemplo, dos 1.153 casos confirma-
dos até 24 de outubro do mesmo ano,

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MONKEYPOX | UNIDADE 1: INTRODUÇÃO AO TEMA: MONKEYPOX/VARÍOLA DOS MACACOS/VARÍOLA SÍMIA
Por que é importante co-
nhecer as características SAIBA MAIS!
da população afetada? Veja entrevista da histo-
riadora Dilene Raimundo
O conhecimento das características da
do Nascimento, profes-
população afetada é importante para
sora do Programa de
auxiliar os profissionais de saúde na
Pós-Graduação em História das
suspeita do diagnóstico e para o de-
Ciências e da Saúde da Casa de
senvolvimento das ações de comuni- Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), so-
cação em saúde, que permitem que as bre os riscos da estigmatização.
pessoas sob maior risco adotem ações
preventivas. É muito importante evi-
tar a estigmatização dos HSHs, como
vimos acontecer com a pandemia de SAIBA MAIS!
HIV/Aids na década de 80 do século Assita a vídeo-aula do
XX. A estigmatização, além de suas Dr. Rivaldo Venâncio da
consequências sociais e humanas de- Cunha, coordenador de
letérias, pode implicar diagnóstico tar- Vigilância em Saúde e
dio ou mesmo ausência de diagnósti- Laboratórios de Referência da
co, seja por receio de procurar serviços FIOCRUZ sobre a MPOX e o
de saúde, seja por falta de suspeição impacto da doença no Brasil.
diagnóstica em pessoas não HSH, per-
dendo-se a oportunidade de prevenir
a transmissão por meio de isolamento.
Cabe ressaltar que a transmissão do
MPXV se dá por contato íntimo e pro-
longado com um paciente com lesões
e pode acontecer em diversas circuns-
tâncias não ligadas ao ato sexual.
Também precisamos considerar que há
casos notificados em mulheres e crian-
ças, embora em menor proporção.

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MONKEYPOX | UNIDADE 1: INTRODUÇÃO AO TEMA: MONKEYPOX/VARÍOLA DOS MACACOS/VARÍOLA SÍMIA
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MONKEYPOX | UNIDADE 1: INTRODUÇÃO AO TEMA: MONKEYPOX/VARÍOLA DOS MACACOS/VARÍOLA SÍMIA
MONKEYPOX
UNIDADE 2: ASPECTOS
CLÍNICOS DA DOENÇA

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MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
OBJETIVO GERAL:
Esta Unidade tem como objetivo apresentar os aspectos clínicos da doença, sinais e
sintomas, além dos fatores de risco, assegurando a diferenciação clínica da mpox/
varíola dos macacos de outros quadros que causam lesões cutâneas. Busca ainda
discutir a abordagem terapêutica e os tratamentos adotados, bem como medidas
de prevenção e controle, vacinas e estratégias de prevenção não farmacológicas.

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM:
- Descrever sinais e sintomas da mpox/varíola dos macacos;
- Diferenciar clinicamente mpox/varíola dos macacos de outros quadros que cau-
sam lesões cutâneas;

OBJETIVOS DE - Compreender os fatores de risco;


- Discutir a abordagem terapêutica e os tratamentos adotados;
APRENDIZAGEM - Realizar medidas de prevenção e controle;
DA UNIDADE - Discutir vacinas e estratégias de prevenção não farmacológicas.

CARGA HORÁRIA DE ESTUDO:


10 horas

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MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
Em geral, a mpox é classicamente des-
crita como uma doença benigna que
causa sinais e sintomas que duram de
2 a 4 semanas. Vimos na unidade 1 que
ela é parecida com a varíola, embora
seja clinicamente mais branda. Mas
como se apresenta a mpox? Será que
o paciente manifesta apenas as lesões
típicas da doença? Você já pensou
nisso?

27
MONKEYPOX | UNIDADE 2: ASPECTOS CLÍNICOS DA DOENÇA
Até o surto atual de mpox, as manifes- era de 0% a 11% nos diferentes surtos,
tações clínicas da doença eram des- sendo maior nos que ocorreram na
critas com base nos casos humanos África Central.
observados na África e relatados em No atual surto, que acometeu pessoas
artigos científicos e capítulos de livros, em regiões mais ricas e mais desenvol-
que eram escassos. A principal forma vidas cientificamente no planeta, inú-
de transmissão identificada até então meras séries de casos foram analisadas
era o contato de uma pessoa com go- e publicadas, relatando-se patogenia
tículas respiratórias de alguém infec- e manifestações clínicas diferentes das
tado com o vírus da mpox (MPXV), que descritas anteriormente. A transmissão
era seguido por um período de incu- por contato direto com secreção das
bação de 5 a 21 dias e depois por um lesões cutâneas parece ser a mais fre-
período prodrômico, isto é, um período quente. Depois do contato, aparecem
2.1 de 0 a 3 dias de duração da doença, as lesões no local de inoculação. Na
caracterizado pelo aparecimento sú- maior parte dos casos, elas surgem em
MANIFESTAÇÕES bito de febre, mal-estar geral, mialgia, região genital e anal após contato se-
cefaleia e fadiga decorrente da repli-
CLÍNICAS DA cação e disseminação e circulação do
xual, sem a ocorrência de período pro-
drômico com sintomas sistêmicos. Além
vírus pelo organismo. Logo após os sin-
MPOX tomas prodrômicos, apareciam as le-
disso, observam-se casos com poucas
lesões localizadas, sem a distribuição
sões cutâneas, todas na mesma fase centrífuga e com lesões simultâneas
evolutiva, de distribuição centrífuga, em diferentes fases evolutivas. A taxa
atingindo principalmente face e mem- de mortalidade descrita no surto atual
bros, acompanhadas de aumento de varia de 3% a 6%.
linfonodos especialmente nas cadeias
cervicais e submandibulares. Essa fase Um estudo com 528 casos de mpox
correspondia à instalação e multipli- ocorridos entre 27 de abril e 24 de ju-
cação do vírus nas células da pele e nho de 2022, distribuídos em 16 países,
das mucosas. A patogenia e os sinais e observou que 527 pacientes eram ho-
sintomas descritos da doença são bas- mens, com idade média de 28 anos.
tante semelhantes aos da varíola hu- Em 95% dos casos, a suspeita é de que
mana. A taxa de mortalidade descrita a transmissão tenha ocorrido duran-

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MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
te atividade sexual. Desses pacientes, disseminadas e 23,9% localizadas, aparecem inicialmente como máculas
95% tinham lesões cutâneas, 64% me- 77,3% tinham lesões genitais, 33,1% e pápulas, mas depois progridem para
nos de 10 lesões, 73% com lesões ano- anais e 4,8% apresentavam superin- vesiculação, pustulação, umbilicação,
genitais e 41% com lesões mucosas. Por fecção bacteriana. Os sinais e sinto- formação de crostas e descamação
outro lado, 54 pacientes apresentaram mas sistêmicos mais relatados foram durante um período de 14 a 21 dias
uma lesão única genital. Os sintomas febre (63%), adenomegalia (47,4%), (Figura 1). As lesões, geralmente, são
sistêmicos mais frequentes foram febre cefaleia (31,7%), astenia (26,1%), dor profundas, podendo ser pruriginosas
(62%), letargia (41%), mialgia (31%) e de garganta (25,4%), mialgia (21,4%) e bastante dolorosas. Lesões em mu-
cefaleia (27%). Linfoadenopatia foi ob- e diarreia (10,8%). A avaliação de ISTs cosas oral (Figura 2) e genital (Figura
servada em 56% dos pacientes. Nessa concomitantes mostrou que 53,2% 3), frequentemente descritas no surto
coorte, o período de incubação foi, em eram portadores de HIV, 21,2% tiveram atual de mpox, estão presentes em até
média, de 7 dias, e 70 pacientes (13%) diagnóstico de sífilis, 10,6% de clamí- 70% dos casos. A despigmentação e
foram hospitalizados para analgesia, dia e 9,9% de gonorreia. Um total de as cicatrizes são vistas como sequelas
tratamento de infecção bacteriana 33% tinha alguma IST ativa no mo- (Figura 4) (Ali et al. 2022, Torres et al.
secundária, observação de lesão ocu- mento do diagnóstico de mpox (SILVA 2022).
lar, insuficiência renal aguda e/ou por et al. 2022).
dificuldade de isolamento domiciliar. No Brasil, de 7 de junho a 1º de outu-
Observou-se ainda que 29% dos pa- bro de 2022, 7.992 casos de mpox fo-
cientes tinham uma infecção sexual- ram confirmados. Desse total, 91,8%
mente transmissível (IST) concomitan- eram homens, com mediana de idade
te (THORNHILL et al, 2022 ). de 32 anos. Os sinais e sintomas mais
No Instituto Nacional de Infectologia relatados foram febre (58,0%), ade-
Evandro Chagas (INI/Fiocruz), entre nomegalia (42,4%) e cefaleia (39,9%).
12 de junho e 19 agosto de 2022, 208 Além disso, 27,5% declararam ser imu-
pacientes com mpox foram atendidos, nossuprimidos, 34,6% viviam com HIV
dos quais 200 eram do sexo masculino e 10,5% tinham IST. Nesse período, três
(96,2%). Desse total de 200 homens, óbitos foram registrados (PASCOM et
89,7% declararam que faziam sexo al. 2022) .
com homens. A mediana de idade dos Como já dissemos, o surgimento de
208 pacientes era de 33 anos. Com re- lesões cutâneas é o principal sinal de
lação às lesões da mpox nos 208 pa- suspeição diagnóstica. Essas lesões
cientes atendidos, 76,1% tinham lesões
29
MONKEYPOX | UNIDADE 2: ASPECTOS CLÍNICOS DA DOENÇA
Figura 1 – Lesão cutânea de mpox em seus vários estágios: (a) vesícula precoce Figura 2 – Ulcerações no palato e amígda-
(diâmetro de 3 mm), (b) pequena pústula (2 mm), (c) pústula umbilicada (3-4 las por MPXV
mm), (d) lesão ulcerada (5 mm), (e) crosta de uma lesão e (f) crosta parcialmen-
te removida

Fonte: Torres et al. (2022).

Fonte: Ali et al. (2022).

30
MONKEYPOX | UNIDADE 2: ASPECTOS CLÍNICOS DA DOENÇA
Figura 3 – Lesões em mucosas de Figura 4 – Lesões cutâneas cicatriza- O aumento dos linfonodos submandi-
mpox. A: Lesão umbilicada no pênis. das de mpox (A, B e C) bulares, cervicais e inguinais pode ser
B: Aglomerado de pápulas na região observado de um a dois dias após o iní-
perianal, muitas com umbilicação cio da erupção cutânea.
As complicações são decorrentes de
infecção bacteriana secundária e da
localização das lesões. A infecção bac-
teriana secundária da pele é bastan-
te comum (Figura 5), observada em
até um quinto dos pacientes, poden-
do evoluir para quadros mais graves,
como pneumonia e sepse, se não for
identificada e tratada adequadamen-
te (TORRES et al. 2022). Complicações
decorrentes da localização das lesões
incluem, por exemplo, o envolvimento
ocular causando conjuntivite e cera-
tite, que podem evoluir para úlceras
de córnea e sinéquias oculares entre
a íris e a cápsula anterior do cristalino.
O envolvimento de áreas anatômicas
que possa resultar em sequelas gra-
ves de cicatrizes ou estenoses no sítio
afetado, como esófago e uretra, requer
acompanhamento médico mais pro-
longado (SILVA et al. 2022).

Fonte: Torres et al. (2022). Fonte: Torres et al. (2022).

31
MONKEYPOX | UNIDADE 2: ASPECTOS CLÍNICOS DA DOENÇA
FIQUE ATENTO! am pulmões (21%), olhos (21%), sistema
Confusão mental e nervoso central e medula espinhal (7%)
convulsões são raras, (MILLER et al. 2022).
mas também podem O Center for Disease Control and Pre-
acontecer como con- vention (CDC) dos EUA lançou, em ja-
sequência da encefalite viral. neiro de 2023, um alerta sobre mpox
em grávidas, relatando 23 casos, 3
dos quais próximos ao parto. Os bebês
Figura 5 – Complicações da mpox. A: nasceram também com a doença, mas
Infecção secundária de lesões faciais. não houve casos graves (OAKLEY et
B: Aparência da infecção mostrada na al. 2023). Informações sobre mpox em
Figura A 5 dias depois grávidas ainda são muito limitadas,
Fonte: Torres et al. (2022). mas deve-se pesquisar lesões geni-
Apesar de pouco frequentes, formas tais desde o pré-natal até o momento
graves e óbito podem ocorrer, princi- do parto, realizar exames específicos
palmente em pacientes com imunode- para os casos suspeitos e avaliar indi-
pressão severa, como descrito no surto vidualmente o uso de antivirais e a via
atual. de parto (RAMNARAYAN et al. 2022.
Em uma análise de 57 casos graves
hospitalizados nos EUA, observou-se
que 89,5% dos pacientes tinham al-
gum tipo de imunocomprometimen-
to (82,5% vivendo com HIV, dos quais
apenas 8% estavam em tratamento
antirretroviral e 72,1% tinham conta-
gem de células CD4+ em sangue pe-
riférico menor que 50 cels/mm3) e 5%
eram gestantes. Todos os pacientes ti-
nham lesões cutâneas severas (Figura
6) e 68% tinham também lesões muco-
sas. Outros órgãos acometidos incluí-

32
MONKEYPOX | UNIDADE 2: ASPECTOS CLÍNICOS DA DOENÇA
Figura 6 – Lesões disseminadas e extensas nas costas e nas mãos de paciente
com caso grave de mpox

Fonte: Miller et al. (2022).

Você sabia que as lesões causadas pelo


MPXV são muito parecidas com lesões
causadas por outros microrganismos?
Por isso, é de extrema importância
que os profissionais da saúde estejam
atentos e realizem, quando necessário,
o diagnóstico diferencial das lesões.

33
MONKEYPOX | UNIDADE 2: ASPECTOS CLÍNICOS DA DOENÇA
A mpox deve ser diferenciada de ou- cluindo histórico de viagens, conta-
tras infecções virais que também po- tos sexuais, informações sobre conta-
dem causar vesículas e pústulas, como to próximo com qualquer pessoa que
varicela, herpes-zoster e infecção pelo estivesse com sintomas semelhantes,
vírus do herpes simples. Outras infec- além da análise do momento dos sin-
ções por poxvírus, como molusco con- tomas prodrômicos e da formação das
tagioso, estomatite bovina e orf, tam- lesões cutâneas, pode ajudar a distin-
bém podem causar lesões cutâneas guir as infecções.
semelhantes à mpox, bem como algu- Embora a varíola tenha sido erradica-
mas infecções bacterianas e virais de da, ela deve ser considerada como um
pele, como impetigo, antraz cutâneo, diagnóstico diferencial devido à possi-
sarampo, doença mão-pé-boca e ou- bilidade de bioterrorismo.
tras (Figura 7) (DROGA et al., 2023).
2.2 Vesicopústulas ou pseudopústulas
DIAGNÓSTICO umbilicadas podem ser confundidas FIQUE ATENTO!
com pápulas umbilicadas translúci- A Covid-19 apenas ra-
CLÍNICO DIFEREN- das de molusco contagioso (Figura 8), ramente provoca uma
erupção pustulovesi-
particularmente em pacientes que
CIAL DAS LESÕES têm lesões confinadas à genitália. A cular, mas merece consideração
em virtude da atual pandemia.
apresentação da mpox como uma úl-
cera genital solitária tem sido bem
documentada na literatura e preci-
sa ser diferenciada de outras ISTs que
causam úlceras genitais, como sífilis,
cancroide, condiloma acuminado e
gonorreia disseminada. Foi observada
a coinfecção de mpox com várias ISTs,
e a evidência de uma ou mais ISTs não
deve excluir o diagnóstico de infecção
por mpox (DROGA et al., 2023).
A história detalhada do paciente, in-

34
MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
Figura 7 – Imagens ilustrativas para diagnóstico diferencial Figura 8 – Imagens ilustrativas para diagnóstico diferencial
das lesões de mpox: varicela, herpes-zoster, herpes simples e das lesões de mpox: sífilis e molusco contagioso
impetigo

Fonte: Curitiba (2022).

Fonte: Curitiba (2022).

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MONKEYPOX | UNIDADE 2: ASPECTOS CLÍNICOS DA DOENÇA
Dadas as características de transmis- têm auxiliado a identificar alguns fa-
são zoonótica e inter-humana, a epi- tores associados, sendo a imunode-
demiologia da mpox e os fatores de pressão o mais relatado.
risco têm sido variados ao longo do
tempo. Por exemplo, entre 1981 e 1986,
quase 100% dos casos registrados no FIQUE ATENTO!
Congo eram crianças, e os fatores de Devido a ainda curta
risco associados foram: morar em áre- duração do surto atual,
as florestais, ser do sexo masculino, ter as informações aqui apre-
idade inferior a 15 anos e não ter va- sentadas são baseadas em relatos
cinação prévia contra varíola (KUMAR epidemiológicos descritivos, não
em estudos analíticos para deter-
et al., 2022, RIMOIN et al., 2010, DI-
minação de fatores de risco, sen-
2.3 MITRAKOFF, 2022, THORNHILL et al.,
2022)
do, portanto, necessários estudos
mais robustos sobre esses fatores.
FATORES DE RISCO Em 2003, nos EUA, ocorreu o primeiro
relato de mpox fora do continente afri-
ASSOCIADOS À cano. Identificou-se que a origem des-
INFECÇÃO sa contaminação foi uma remessa de
animais de estimação exóticos e sel-
SAIBA MAIS!
Veja mais detalhes sobre
PELO MPXV vagens de Gana. O surto resultou em
47 casos humanos, mas nenhum caso
as manifestações clínicas
e o perfil epidemiológi-
de transmissão inter-humana foi do- co dos pacientes com
cumentado. Nessa ocasião, os fatores mpox observados no surto de 2022
de risco associados foram: exposição a com o pesquisador Estevão Porte-
um animal doente, exposição a gaiolas la Nunes, médico infectologista e
limpas e camas de um animal doente, vice-diretor de serviços clínicos do
ou o contato por toque com um animal Instituto Nacional de Infectologia
doente (REYNOLDS et al., 2007). Evandro Chagas (INI), da Fiocruz.
No surto atual, a determinação estatís-
tica dos fatores de risco ainda é escas-
sa, portanto os dados epidemiológicos

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MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
2.4.1 MANEJO SINTO- 2.4.2 TERAPIAS ANTIVIRAIS
MÁTICO
Em casos suspeitos ou confirmados de
ATENÇÃO!
Vários antivirais podem ser
mpox, a base do tratamento é o ma-
prescritos para o tratamen-
nejo sintomático. A terapia é focada
to de mpox. Alguns desses
no manejo da dor oral, genital e anor- medicamentos foram aprovados para
retal; na redução do prurido; no mo- o tratamento da varíola com base em
nitoramento da febre; no tratamento modelos animais e estudos de dose
da proctite, se presente; e na limpeza e segurança em humanos saudáveis,
das lesões de pele. As opções de trata- portanto espera-se que tenham a
mento incluem enxágues anestésicos, mesma atividade contra a mpox. Nes-
anestésicos tópicos, banhos de assen- se momento, o tecovirimat é o trata-
2.4 to ou de aveia, laxantes, analgésicos, mento de escolha (FRENOIS-VEYRAT
anti-histamínicos orais ou tópicos ou et al., 2022; CENTERS FOR DISEASE
TRATAMENTO E outros géis ou loções não irritantes, CONTROL AND PREVENTION, 2022)
como calamina ou mentol. De modo
ABORDAGEM geral, a maioria dos pacientes se recu- a) Tecovirimat ou TPOXX: é um inibidor
pera apenas com o controle dos sinto-
TERAPÊUTICA mas. Nos pacientes que desenvolvem
potente da proteína do vírus necessá-
ria para a formação de uma partícula
dor intensa, são necessários regimes viral infecciosa, sendo recomendado
de tratamento multimodal, que po- para casos em que há risco elevado de
dem incluir opioides. (BRASIL, 2022). doença grave. Deve-se avaliar cada
paciente quanto à elegibilidade para
receber o antiviral. O TPOXX é reco-
ATENÇÃO! mendado para tratamento compas-
Em caso de infecções
bacterianas secundá- sivo para pacientes com resultado la-
rias, deve-se introduzir boratorial positivo/detectável para
antibioticoterapia apropriada. MPXV com lesão ocular e/ou internado
com a forma grave da doença, apre-
sentando uma ou mais das seguintes
manifestações clínicas (BRASIL, 2022):
37
MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
Encefalite: presença de alteração
clínico-radiológica e/ou liquórica Pneumonite: presença de
compatível com o acometimento manifestação respiratória
de Sistema Nervoso Central (SNC). associada a alteração
radiológica sem outra
etiologia provável.
Lesões cutâneas com
mais de 250 erupções
espalhadas pelo corpo.
Lesão extensa em
mucosa oral, limitando
a alimentação e
Lesão extensa em mucosa
hidratação via oral.
anal/retal, evoluindo com
quadro hemorrágico e/ou
infeccioso secundário à
ulceração.

Apesar de esse medicamento não ter <120 kg, a dose indicada é de 600 mg ser transferida para terapia oral, caso
registro no Brasil, a Agência Nacional (três cápsulas) a cada 12 horas. A for- o paciente possa tomar medicamentos
de Vigilância Sanitária (Anvisa), após mulação intravenosa (IV) não deve ser orais.
solicitação do Ministério da Saúde usada em pacientes com insuficiência A duração do tratamento é de 14 dias.
(MS), autorizou, em caráter excepcio- renal grave (depuração de creatini- No entanto, pacientes imunocom-
nal e temporário, a dispensa do regis- na <30mL/min) e deve ser usada com prometidos podem necessitar de um
tro do medicamento importado pelo cautela em pacientes com doença re- tratamento mais longo. Em pessoas
Ministério, considerando a emergência nal moderada ou leve, bem como em que vivem com o HIV, pode haver in-
em saúde pública. crianças menores de dois anos de ida- terações medicamentosas que afe-
A dose recomendada de TPOXX de- de devido ao acúmulo do ingrediente tam a dosagem de agentes de terapia
pende do peso do paciente. Por exem- hidroxipropil-beta-ciclodextrina na antirretroviral.
plo, para pacientes com peso ≥40 kg e formulação IV. A formulação IV pode

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MONKEYPOX | UNIDADE 2: ASPECTOS CLÍNICOS DA DOENÇA
Se o TPOXX não estiver disponível, a
decisão de tratar a doença com um
agente alternativo, como o cidofovir
(ou brincidofovir, se disponível), deve
ser individualizada, pois o risco de com-
plicações é maior quando esses agen-
tes são utilizados (por exemplo, o risco
de insuficiência renal e anormalidades
eletrolíticas é maior) (CDC, 2022). Con-
tudo, esses medicamentos não pos-
suem licença para uso no Brasil.
b) Colírios ou pomadas de trifluridina e
vidarabina: são utilizados se as lesões
de mpox envolverem o olho ou estru-
turas acessórias do olho. A trifluridina
tópica e a vidarabina têm sido utiliza-
das para infecções causadas pelo vírus
Vaccinia, visando ao tratamento da
ceratite e à prevenção do envolvimen-
to da córnea e da conjuntiva em pa-
cientes com lesões palpebrais. As apli-
cações devem ser realizadas a cada 4
horas por 7 a 10 dias (Cash-Goldwasser
et al. 2022)

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MONKEYPOX | UNIDADE 2: ASPECTOS CLÍNICOS DA DOENÇA
A Organização Mundial da Saúde de controle de infecção. Se possível,
(OMS) (2022) tem destacado diversas pessoas previamente vacinadas contra
estratégias para controle e prevenção varíola devem ser selecionadas para
da mpox. Primeiramente, destaca-se a cuidar do paciente.
necessidade de aumentar a conscien- Com relação ao risco de transmissão
tização sobre os fatores de risco e de zoonótica, a OMS recomenda que se
educar as pessoas sobre as medidas deve evitar o contato desprotegido
que podem ser tomadas para reduzir a com animais silvestres, principalmente
exposição ao vírus. Certamente, a va- doentes ou mortos, incluindo a carne,
cinação é uma estratégia crucial, por o sangue e outras partes deles. Além
isso alguns países já estão desenvol- disso, todos os alimentos que conte-
vendo políticas para oferecer a vacina nham carne ou partes de animais de-
a pessoas que possam estar em risco, vem ser bem cozidos antes de serem
2.5 como pessoal de laboratório, equipes consumidos.
de resposta rápida, profissionais de
CONTROLE DE saúde e as populações vulneráveis de A restrição ao comércio de animais sel-
vagens e exóticos deve ser ainda mais
que tratamos na unidade 1.
TRANSMISSÃO Com relação ao risco de transmissão
efetiva. Do mesmo modo, animais em
cativeiro potencialmente infectados
DO MPXV de pessoa para pessoa, a OMS desta-
ca que a vigilância e a rápida identi-
com MPXV devem ser isolados de ou-
tros animais e colocados em quaren-
ficação de novos casos são essenciais tena. Qualquer animal que possa ter
para a contenção do surto. Durante os tido contato com um animal infecta-
surtos de mpox, o contato com pessoas do deve ser colocado em quarentena,
infectadas é o fator de risco mais sig- manuseado obedecendo-se as pre-
nificativo para a infecção pelo MPXV. cauções-padrão e observado quanto
Os profissionais de saúde e os mem- aos sintomas da mpox por 30 dias.
bros da família deles correm maior
risco de infecção. Os profissionais de
saúde que cuidam de pacientes com
suspeita ou confirmação de infecção
ou manipulam amostras devem
implementar as precauções-padrão
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MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
A primeira vacina contra a varíola foi de Janeiro (FERNADES et al. 2022).
descoberta por Edward Jenner, em Em 1966, foi instituída a Campanha de
1796, que sistematizou os conhecimen- Erradicação da Varíola, como parte do
tos empíricos para prevenir a varíola. Programa Mundial de Erradicação da
Ele observou pessoas que ordenhavam Varíola da OMS. A campanha obteve
vacas doentes – que tinham pústulas êxito e, em 1980, foi declarada a erra-
formadas pelo vírus Vaccinia nas te- dicação mundial da varíola, após longo
tas – e, mesmo com esse contato, não processo de certificação da interrup-
adoeciam. A vacina contra a varíola ção da transmissão da varíola de pes-
chegou ao Brasil em 1804 por iniciativa soa para pessoa (HERNDERSON, 1980).
do Barão de Barbacena.
2.6 Anos mais tarde, percebeu-se que
Com a erradicação da varíola no Bra-
sil e no mundo, foi estabelecido no país
a imunidade gerada pela vacina de
VACINAS E Jenner era perdida. Com isso, surgiram
que a vacinação contra a varíola não
seria mais obrigatória. Desde então, o
novas discussões e experimentos, que
ESTRATÉGIAS DE levaram à mudança de técnica de pro-
Brasil não tem reserva estratégica dos
imunobiológicos mais antigos contra a
PREVENÇÃO NÃO dução da vacina, iniciando-se a era da
vacina animal. Mesmo com a compro-
varíola.
Assim, no atual surto de mpox no Bra-
FARMACOLÓ- vação da eficácia da nova técnica, a
vacina animal demorou mais de duas sil e no mundo, iniciado em maio de
GICAS décadas para sair da Europa e chegar
ao Brasil, o que aconteceu em 1887.
2022, o suprimento de vacinas mais
recentes é limitado e as estratégias de
acesso estão em discussão. Portanto, a
Nesse mesmo ano, houve uma epide- OMS recomenda que a utilização das
mia de varíola no Rio de Janeiro. O vacinas leve em consideração o atual
médico Pedro Affonso Franco, diretor cenário e as evidências.
da Santa Casa de Misericórdia, rece-
beu do Instituto Chambon de Paris Os orthopoxvirus têm alta similaridade
amostra da vacina animal, que foi usa- entre si, portanto as vacinas produzi-
da para produção de vacinas no Brasil. das com vírus Vaccinia geram imunida-
Na Santa Casa, foi montado o serviço de contra a varíola humana e a mpox.
de vacinação e oferta da vacina no Rio Os conhecimentos sobre a eficácia
desses imunizantes contra a mpox ain-
41
MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
da são bastante restritos, por isso a de idade com elevado risco de infec-
OMS solicita que os países coletem e ção. Ela é administrada em duas do- FIQUE ATENTO!
compartilhem dados sobre a eficácia ses, com quatro semanas de intervalo, Cabe destacar que os
das vacinas. por via subcutânea ou intradérmica e programas de vacinação
pode ser aplicada em indivíduos imu- devem ser acompanha-
Atualmente, somente três vacinas
nocomprometidos e gestantes. Fabri- dos por uma forte campanha de
(MVA-BN, ACAM2000 e LC16) estão
cada pela empresa dinamarquesa Ba- informação, farmacovigilância
disponíveis para uso no mundo, por
varian Nordic, recebe nomes diferentes robusta e realização de estudos
demonstrarem eficácia para proteção
de acordo com o local em que é dis- de efetividade da vacina. Hoje, o
cruzada contra o MPXV (FERDOUS et fornecimento da vacina é limitado
al. 2023). Destaca-se que a vacinação tribuída, sendo chamada de Jynneos
nos EUA, Imvamune no Canadá e Im- e, nesse contexto, as doses devem
em massa contra a mpox não é reco- ser priorizadas para pessoas com
mendada pela OMS. A orientação da vanex na União Europeia (PITTMAN et
al. 2019). elevado risco de doença grave
OMS é de que sejam adotadas estra- causada pela infecção por MPXV.
tégias robustas de vigilância e moni- ACAM2000: é uma vacina de segunda Mais detalhes sobre as priorida-
toramento dos casos e investigação e geração indicada para a prevenção da des e estratégias de vacinação
rastreamento de pessoas que tenham varíola. Foi autorizada para uso contra serão abordadas na unidade 4.
tido contato com a doença como prin- a varíola no surto atual por protocolo
cipais medidas de prevenção da disse- de Novo Medicamento Investigacio-
minação da doença. nal de Acesso Expandido (EA-IND), que Outras estratégias não farmacológicas
requer consentimento do usuário. Fa- de prevenção e não transmissão do ví-
bricada pela Emergent BioSolutions, rus incluem o uso de equipamentos de
Agora vamos conhecer um pouco mais a vacina ACAM2000 contém um vírus proteção individual (EPIs) e medidas
as 3 vacinas existentes (WHO, 2022): Vaccinia vivo replicante. comportamentais, como isolamento
MVA-BN: é uma vacina baseada em domiciliar, evitar contato íntimo com
A LC16 “KMB”: é uma vacina liofiliza-
um Orthopoxvirus não replicante de indivíduos com lesões suspeitas ou
da, de terceira geração, preparada em
terceira geração atenuado e vivo, o confirmadas de mpox, reduzir a prá-
cultura de células LC16 “KMB”, apro-
Vaccinia Ankara Modificado (MVA). A tica de sexo com múltiplos parceiros
vada para prevenção de varíola, e seu
Food and Drug Administration (FDA), e aplicar os devidos cuidados ao fre-
titular de autorização para comerciali-
dos Estados Unidos da América (EUA), quentar eventos de massa. Mais deta-
zação é a KM Biologics Co., Ltd.
autorizou o uso emergencial dessa va- lhes sobre estratégias de prevenção e
cina nos EUA para prevenção da mpox cuidado serão abordados nas unida-
em indivíduos com 18 anos ou mais des 4 e 5.

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44
MONKEYPOX | UNIDADE 2: ASPECTOS CLÍNICOS DA DOENÇA
MONKEYPOX
UNIDADE 3: ASPECTOS
DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA

45
MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
OBJETIVO GERAL:
Esta Unidade tem como objetivo apresentar os aspectos diagnósticos da doença
e sua importância para assistência e vigilância em saúde. Descreve as coletas de
amostras e testes laboratoriais e os métodos adotados para o diagnóstico labo-
ratorial, ressaltando os laboratórios de referência no Brasil e os fluxos adotados.
Especifica ainda os kits e insumos laboratoriais.

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM:
• Reconhecer a importância do diagnóstico específico para assistência e vigilância
em saúde;
• Descrever amostras e testes laboratoriais;

OBJETIVOS DE • Realizar coleta de amostras;


• Identificar os Métodos para Diagnóstico laboratorial;
APRENDIZAGEM • Conhecer os laboratórios de referência no Brasil;
DA UNIDADE • Compreender o fluxo para o diagnóstico laboratorial;
• Especificar os kits e insumos laboratoriais.

CARGA HORÁRIA DE ESTUDO:


10 horas

46
MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
Como vimos na unidade anterior, diag- boratorial específico.
nosticar e diferenciar a mpox de outras Dessa forma, o diagnóstico rápido e
doenças que causam erupções cutâ- preciso desempenha um papel funda-
neas, como varicela, herpes, sífilis e mental dentro das ações de vigilância
outras, é uma tarefa desafiadora, mas em saúde e no controle de surtos.
imprescindível.
Do ponto de vista assistencial, pacien-
tes com diagnóstico confirmado ou sob FIQUE ATENTO!
suspeita devem ser isolados e receber Vários fatores podem in-
orientações sobre medidas de preven- terferir no resultado de um
3.1 ção para evitar a transmissão do vírus. exame. Para que o exame
tenha resultado confiável, além do
No ambiente domiciliar, as medidas
IMPORTÂNCIA recomendadas são: utilizar máscaras teste laboratorial ser o mais ade-
quado, a amostra deve ser coleta-
e higienizar frequentemente as mãos;
DO DIAGNÓSTICO não compartilhar objetos de uso pes-
da da maneira correta, armazena-
da e transportada até o laboratório
soal e utensílios de alimentação; usar
ESPECÍFICO PARA banheiro separado, se houver pelo me-
que a irá processar, de acordo
com as normas técnicas vigentes.
ASSISTÊNCIA E nos dois na residência; e desinfetar as
superfícies. Já todos os membros da
VIGILÂNCIA equipe envolvida na assistência devem
usar equipamentos de proteção indivi-
EM SAÚDE dual e, se possível, ser vacinados.
Muitas outras ações de vigilância em
saúde são demandadas quando há
um caso suspeito. Veremos essas ações
mais detalhadamente na próxima uni-
dade. De qualquer modo, todas elas
se iniciam com a suspeita de um caso
de mpox, que deve ser notificado. Esse
caso suspeito será confirmado ou não
por meio de um exame diagnóstico la-

47
MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
Você sabe quais são as
amostras e como elas devem FIQUE ATENTO!
ser coletadas para um diag- De acordo com a Or-
nóstico preciso e confiável? ganização Mundial da
Saúde (OMS) não é re-
As amostras mais adequadas para
comendado romper as lesões
diagnóstico da mpox são secreções
com instrumentos perfurocortan-
vesiculares seguidas das crostas das tes devido ao risco de acidentes
lesões de pele ou mucosas (Figura 1). com as secreções infectantes.
Como critério de seleção, devemos
fazer a coleta das lesões que forem
maiores e estiverem com maior quan- Figura 1 – Imagens ilustrativas de lesões
3.2 tidade de secreção. de mpox em estágios diferentes

AMOSTRAS PARA 3.2.1 COLETA DE AMOS-


DIAGNÓSTICO TRAS
LABORATORIAL A coleta das secreções das vesículas
deve ser realizada por meio de swabs
DE MPOX estéreis de nylon, poliéster, Dacron ou
Rayon. Deve-se realizar esfregaço for-
te e intenso sobre a lesão. É recomen-
dado fazer a coleta de pelo menos
duas lesões por paciente utilizando
swabs diferentes para cada amostra e
armazenar todos os swabs do pacien- Fonte: Ali et al. (2022)
te num mesmo tubo seco. Os poxvirus
Quando a amostra for proveniente de
mantêm-se estáveis na ausência de
crostas das lesões, recomenda-se co-
qualquer meio preservante, por isso
letar no mínimo quatro amostras por
utilize tubos secos.
paciente (quando possível) e armaze-
nar todas em um mesmo tubo seco.

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MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
Se o paciente relatar sintomas de in- ringe/nasofaringe, perianal e genital ausência de freezers, por até 7 dias em
cômodo na região anal como dor local seguindo-se as mesmas orientações geladeiras.
contínua ou para evacuar (tenesmo), para coleta de material vesicular.
e/ou uretral, como dor ou ardor para
urinar, deve-se coletar swab anal e/ou 3.2.3 EMBALAGEM,
uretral. Para essas coletas, um swab es- FIQUE ATENTO! ACONDICIONAMENTO E
téril de nylon, poliéster ou Dacron deve Durante a coleta de
ser delicadamente introduzido no ânus amostras para exames, TRANSPORTE DE AMOS-
é imprescindível que os
ou na uretra e girado 360 graus para
profissionais de saúde usem os
TRAS
um lado e depois para o outro. Após a
Equipamentos de Proteção In- A embalagem, o acondicionamento e
coleta, os mesmos procedimentos des-
dividual (EPI). Recomenda-se o o transporte das amostras devem se-
critos anteriormente, para colocação
uso de calçado fechado, avental guir a Resolução de Diretoria Colegia-
em tubo seco, devem ser seguidos.
descartável, máscara cirúrgica ou da nº 504, de 27 de maio de 2021, que
superior, óculos ou protetor fa- dispõe sobre as boas práticas para o
Orientação: Se o paciente cial e luvas de procedimento. transporte de material biológico hu-
apresentar os dois tipos de mano (BRASIL, 2021).
lesão, vesícula com secre- O material biológico para diagnóstico
ção e vesícula com crosta, de mpox deverá ser classificado como
Assista ao vídeo sobre
devem-se coletar amostras “Categoria B UN 3373”, salvo casos es-
boas práticas para a
de ambas em tubos secos coleta de amostras para pecificados na RDC nº 504.
separados devidamente o diagnóstico de mpox
identificados seguindo-se do Ministério da Saú-
as orientações anteriores. de clicando no link. SAIBA MAIS
Acesse o Protocolo Labo-
ratorial de Orientações
Na situação de suspeita decorrente 3.2.2 ARMAZENAMENTO de coleta, armazena-
mento, conservação e
de contato com caso confirmado, se a
pessoa apresentar quadro febril e ade-
DE AMOSTRAS transporte para o diagnóstico
As amostras podem ser armazenadas de mpox no sítio eletrônico.
nomegalia, ainda que não manifeste
erupções cutâneas ou lesões nas mu- congeladas a 200C negativos (ou tem-
cosas, deve-se coletar swab de orofa- peraturas inferiores) por um mês ou, na

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MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
3.3.1 MÉTODOS UTILI- 3.3.2 FLUXO PARA
ZADOS PARA DIAGNÓS- DIAGNÓSTICO LABORA-
TICO ESPECÍFICO TORIAL E LABORATÓ-
O método utilizado para diagnósti- RIOS DE REFERÊNCIA
co específico é o exame da reação
em cadeia da polimerase em tempo-
NO BRASIL
-real (qPCR), precedida pela etapa As amostras clínicas coletadas nos ser-
de extração do DNA viral exclusiva- viços de saúde devem ser encaminha-
mente de amostras de lesões de pele das para os Laboratórios Centrais de
e de mucosas, conforme previamente Saúde Pública (Lacen) de cada estado,
apresentado. O resultado de qPCR em onde será realizada a detecção mole-
amostras de sangue geralmente é in- cular do vírus por qPCR ou enviarão es-
3.3 conclusivo devido à curta duração da sas amostras para que o teste seja fei-
to por Laboratórios de Referência (LR).
MÉTODOS PARA viremia, por isso não deve ser realizado
rotineiramente. Atualmente, existem oito LR realizan-
DIAGNÓSTICO Os métodos de detecção de antígenos do os exames que oferecem suporte de
e anticorpos não fornecem confirma- cobertura para todo o Brasil (Figura 2).
LABORATORIAL ção específica para MPXV, já que os
ortopoxvírus são sorologicamente re-
ativos. Portanto, os métodos sorológi-
cos e a detecção de antígenos não de-
vem ser utilizados isoladamente para
o diagnóstico dos casos, apenas para
fins de investigação epidemiológica.

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MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
Figura 2 – Distribuição e cobertura dos laboratórios para análise do MPXV no Brasil

A Rede Nacional de Laborató- resposta laboratorial para o processo


rios de Saúde Pública (RNLSP), de investigação dos casos suspeitos de
coordenada pela Coordena- mpox, incluindo o diagnóstico labora-
Fonte: Brasil (2022b). ção Geral de Laboratórios de torial de MPXV nos 27 Lacen utilizan-
Saúde Pública (CGLAB), da do o protocolo validado pelo Centro de
SVS/MS, vem implementando Controle de Doenças dos Estados Uni-
ações específicas para fortale- dos da América (CDC) e pela OMS.
cer e ampliar a capacidade de

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MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
3.3.3 KITS E INSUMOS
SAIBA MAIS LABORATORIAIS
Você pode conhecer um
pouco mais sobre o pro- Em maio de 2022, quando os casos de
tocolo acessando o link. mpox do surto atual começaram a ser
descritos em diversos países do mun-
do, não haviam kits comerciais para o
diagnóstico molecular do vírus. Logo
em seguida, algumas indústrias no
FIQUE ATENTO! mundo desenvolveram e disponibili-
A Portaria GM/MS nº
zaram esses kits, inclusive BioMangui-
3.328/2022 (https://
nhos, unidade da Fiocruz localizada no
www.in.gov.br/en/web/
Rio de Janeiro.
dou/-/portaria-gm/ms-
-n-3.328-de-22-de-agos-
to-de-2022-425012964)
Veja a seguir, na video-
estabelece a obrigatorie-
aula da Dra Patrícia
dade de notificação ao
Alvarez Baptista, che-
MS de todos os resulta-
fe do Laboratório de
dos de testes de diagnóstico para
Tecnologia Diagnósti-
detecção do MPXV realizados por
ca de Bio-Manguinhos/Fiocruz,
laboratórios da rede pública, rede
privada, universitários e quais- como esse processo aconteceu.
quer outros, em todo o território
nacional. Dessa forma, todos os
laboratórios devem comunicar,
em até 24 horas, os resultados dos
testes de diagnóstico de MPXV,
independentemente do resultado
– detectado/positivo ou não detec-
tado/negativo, além de informar
a técnica diagnóstica utilizada.

52
MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
ALI, S. N. et al. Monkeypox Skin Le- sa/2020/rdc0508_27_05_2021.pdf.
sion Detection Using Deep Learning Acesso em: 14 nov. 2022.
Models: A Feasibility Study. arXiv, BRASIL, P. et.al. O que precisamos sa-
2207.03342v1, 6 jul. 2022. Disponível ber sobre a infecção humana pelo vírus
em: https://arxiv.org/pdf/2207.03342. monkeypox? Cad. Saúde Pública. v. 9.
pdf. Acesso em: 30 dez. 2022. 2022. DOI: 10.1590/0102-311XPT129222
BRASIL. Ministério da Saúde. Proto- CURITIBA. Secretaria Municipal da
colo Laboratorial de Orientações Saúde. Atlas com imagens de diag-
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vação e transporte para o diagnós- pox. v. 1. 2022. Disponível em: https://
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rotocolo-laboratorial-de-orientaco-
es-de-coleta-armazenamento-con-
REFERÊNCIAS servacao-e-transporte-de-amostras-
-para-o-diagnostico-de-monkeypox.
Acesso em: 14 nov. 2022.
BRASIL. Ministério da Saúde. Plano de
Contingência Nacional para Monkey-
pox. Centro de Operações de Emer-
gência em Saúde Pública: COE Mon-
keypox. Versão 2, 2022. Brasília, 2022b.
BRASIL. Ministério da Saúde. Resolu-
ção RDC n. 504, de 27 de maio de 2021.
Dispõe sobre as Boas Práticas para o
transporte de material biológico hu-
mano. Diário Oficial da União, Brasília,
DF, 2021. Disponível em: https://bvsms.
saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvi-

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MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
MONKEYPOX
UNIDADE 4: VIGILÂNCIA
EPIDEMIOLÓGICA DOS CASOS

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MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
OBJETIVO GERAL:
Esta Unidade tem como objetivo apresentar a importância da notificação para a
vigilância epidemiológica dos casos, o preenchimento correto da ficha de notifi-
cação e o rastreamento e monitoramento de contatos. Discute ainda o bloqueio
na cadeia de transmissão, a definição de prioridades e o uso de evidências nas
imunizações com vacinas.

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM:
Notificar os casos suspeitos e confirmados;
Preencher corretamente a ficha de notificação;
Realizar o rastreamento e monitoramento de contatos;
OBJETIVOS DE Estabelecer bloqueio na cadeia de transmissão;

APRENDIZAGEM Discutir a vacinação e o uso de evidências, bem como a definição de prioridades


nas imunizações com vacinas.
DA UNIDADE
CARGA HORÁRIA DE ESTUDO:
10 horas

55
MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
As ações de vigilância são fundamen-
tais tanto para o enfrentamento quan-
to para a contenção da disseminação
da mpox. Se pensarmos nos objetivos
e nas ações da vigilância, lembrare-
mos dos seguintes fatores: identifica-
ção rápida de casos para o isolamento
e tratamento adequado do paciente;
rastreamento de contatos com a fina-
lidade de quebrar a cadeia de trans-
missão; proteção dos profissionais de
saúde expostos; identificação de pos-
síveis grupos de riscos; e implementa-
ção de medidas de controle eficientes
e seguras.
Vamos abordar agora, com mais de-
talhes, a vigilância epidemiológica nos
casos da mpox.

56
MONKEYPOX | UNIDADE 4: VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DOS CASOS
Para falar sobre a notificação dos ca- o cenário atual de casos e subsidiar to-
sos de mpox, vamos relembrar um con- madas de decisão da gestão.
ceito primordial, o de vigilância em Dessa forma, o Ministério da Saúde
saúde, definido na Política Nacional de (MS) estabeleceu, em 2014, a Lista Na-
Vigilância em Saúde (PNVS) como: cional de Notificação Compulsória de
[...] o processo contínuo e sistemático de Doenças, Agravos e Eventos de Saú-
coleta, consolidação, análise de dados de Pública, publicada por meio de ato
e disseminação de informações sobre
normativo que passa por atualização
eventos relacionados à saúde, visando
o planejamento e a implementação de
sempre que necessário. A Portaria GM/
medidas de saúde pública, incluindo a MS nº 3.418/2022, inclui a mpox na
regulação, intervenção e atuação em lista.
condicionantes e determinantes da saú-
Inicialmente, a notificação dos casos
de, para a proteção e promoção da saú-
4.1 de da população, prevenção e controle
de riscos, agravos e doenças (BRASIL,
suspeitos, confirmados e prováveis de
mpox ocorriam via ficha específica dis-
NOTIFICAÇÃO 2018, p. 1). ponibilizada na plataforma REDCap.
Atualmente, a notificação dos casos
É importante que você conheça essa
DOS CASOS definição para que tenha sempre em
é realizada pelo sistema e-SUS Si-
nan (http://plataforma.saude.gov.br/
mente o que norteia o processo de
DE MPOX notificação dos casos de mpox (assim
esussinan/), de acesso exclusivo a pro-
fissionais da vigilância devidamente
como de outras doenças) nos serviços
cadastrados.
de saúde. Quando pensamos na coleta
de dados relacionados a alguma
doença de notificação compulsória,
precisamos lembrar que a finalidade
4.1.1 DEFINIÇÕES DE
das notificações é coletar sistemática e CASO
continuamente dados sobre as pesso- O MS preconiza que devem ser notifi-
as que estão adoecendo para produzir cados e investigados os indivíduos que
informações sobre os casos suspeitos atendam à definição de caso suspei-
e/ou confirmados. Essas informações to, caso confirmado ou caso provável:
podem ser úteis para conhecer o perfil
da doença no território, compreender

57
MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
Mas você sabe como os casos rios listados abaixo, com investigação riores ao início dos sinais e sintomas.
de mpox são definidos para laboratorial de mpox não realizada
** óculos de proteção ou protetor facial,
poder realizar a notificação ou inconclusiva e cujo diagnóstico da
avental, máscara cirúrgica, luvas de pro-
doença não pode ser descartado ape- cedimentos.
e investigação adequada?
nas pela confirmação clínico-laborato-
rial de outro diagnóstico. Para fins de vigilância e encerramen-
Definições de caso (BRASIL, 2022a):
a) Exposição próxima e prolongada, to dos casos, a partir da investigação,
CASO SUSPEITO: indivíduo de qual- sem proteção respiratória, OU con- a classificação do caso pode atender a
quer idade que apresente início súbi- tato físico direto, incluindo contato outras definições preconizadas pelo MS:
to de lesão em mucosas E/OU erupção sexual, com parcerias múltiplas e/ou
cutânea aguda sugestiva* de mpox, desconhecidas nos 21 dias anteriores CASO DESCARTADO
única ou múltipla, em qualquer parte ao início dos sinais e sintomas; E/OU
do corpo (incluindo região genital/pe- Caso suspeito com resultado laborato-
b) Exposição próxima e prolongada, sem rial “Negativo/Não Detectável” para
rianal, oral) E/OU proctite (por exem-
proteção respiratória, OU história de MPXV por diagnóstico molecular (PCR
plo, dor ou sangramento anorretal) E/
contato íntimo, incluindo sexual, com em Tempo Real e/ou Sequenciamen-
OU edema peniano, podendo estar as-
caso provável ou confirmado de mpox to) OU sem resultado laboratorial para
sociada a outros sinais e sintomas.
nos 21 dias anteriores ao início dos si- MPXV E realizado diagnóstico com-
* lesões profundas e bem circunscritas, nais e sintomas; E/OU plementar que descarta MPXV como a
muitas vezes com umbilicação central; e
progressão da lesão através de estágios c) Contato com materiais contamina- principal hipótese de diagnóstico.
sequenciais específicos - máculas, pápu- dos, como roupas de cama e banho
las, vesículas, pústulas e crostas. ou utensílios de uso comum, perten- EXCLUSÃO
centes a um caso provável ou confir-
CASO CONFIRMADO: caso suspeito mado de mpox nos 21 dias anteriores Notificação que não atende às defini-
com resultado laboratorial “Positivo/ ao início dos sinais e sintomas; E/OU ções de caso suspeito.
Detectável” para MPXV por diagnós- d) Trabalhadores de saúde sem uso
tico molecular (PCR em Tempo Real e/ adequado de equipamentos de pro- PERDA DE SEGUIMENTO
ou Sequenciamento). teção individual (EPI)** com história Caso que atenda à definição de caso
de contato ou acidente profissional suspeito e que atenda aos critérios lis-
CASO PROVÁVEL: caso que atende à com material biológico para investi- tados abaixo:
definição de caso suspeito, que apre- gação de um caso provável ou con-
a) Não tenha registro de vínculo epide-
senta um OU mais dos seguintes crité- firmado de mpox nos 21 dias ante-
58
MONKEYPOX | UNIDADE 4: VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DOS CASOS
miológico*; E 4.1.2.1 ALGORITMO DE CLASSIFI- apresenta sinais e/ou sintomas com-
b) Não realizou coleta de exame labora- CAÇÃO patíveis com mpox? Se a resposta for
torial OU realizou coleta de exame la- negativa, o caso não deve ser notifi-
Para orientar a notificação dos casos
boratorial, mas a amostra foi inviável cado, sendo importante compreender
da doença, o MS publicou, no Plano
OU teve resultado inconclusivo; E qual ou quais são as demais hipóteses
de Contingência Nacional para mpox,
diagnósticas para a melhor conduta.
c) Não tem oportunidade de nova co- o Algoritmo de Classificação (Figura
Em caso de resposta positiva, o caso
leta de amostra laboratorial (30 dias 1). Assim, quando há suspeita de um
atende à definição de caso suspeito
após o início da apresentação de si- caso, devem ser considerados os prin-
e deve ser notificado. Concomitante-
nais e sintomas). cipais sinais e sintomas apresentados
mente, é preciso seguir as instruções
no quadro com a letra A, buscando
do quadro com a letra B.
* Exposição próxima e prolongada, sem responder à primeira pergunta: o caso
proteção respiratória, a caso provável ou
confirmado de mpox ou parcerias múlti- Figura 1 – Algoritmo de classificação e registro de caso de mpox
plas, nos 21 dias anteriores ao início dos
sinais e sintomas OU contato com mate-
riais contaminados por caso provável ou
confirmado de mpox.

Cabe ressaltar que as definições de


Exclusão e de Perda de seguimento
têm o objetivo de aprimorar o processo
de análise dos dados e o encerramento
dos casos já notificados, não sendo
recomendado notificar um caso que
atenda a uma dessas definições.

4.1.2 ALGORITMO DE
CLASSIFICAÇÃO E
ORIENTAÇÕES PARA
PREENCHIMENTO DA FI- Fonte: adaptado do Plano de Contingência Nacional para Monkeypox (BRASIL, 2022).
CHA DE NOTIFICAÇÃO
59
MONKEYPOX | UNIDADE 4: VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DOS CASOS
4.1.2.2 FICHA DE NOTIFICAÇÃO sociodemográficos do paciente, como contaminados, como roupas de cama
nome completo, data de nascimento, e banho ou utensílios de uso comum,
Desde 19 de setembro de 2022, as
idade, sexo de nascimento, identidade pertencentes a caso provável ou con-
notificações dos Agravos de Notifica-
de gênero, orientação sexual e outras firmado de mpox nos 21 dias anteriores
ção Compulsória são realizadas pela
informações específicas. A maior parte ao início dos sinais e sintomas; se o pa-
Plataforma Integrada de Vigilância
dessas informações é de preenchimento ciente é trabalhador de saúde que não
em Saúde do MS. Essa plataforma
obrigatório, pois a ausência delas pode fez uso adequado de EPI com história
apresenta uma nova versão do Siste-
inviabilizar a comunicação sobre o caso. de contato com caso provável ou con-
ma de Informação de Agravos de No-
Portanto, é importante coletá-las antes firmado de mpox nos 21 dias anteriores
tificação, denominada e-SUS Sinan,
de iniciar o processo de notificação. ao início dos sinais e sintomas.
que contempla a notificação e inves-
tigação de casos de doenças e agra- O próximo bloco da ficha coleta dados Além disso, a ficha também possibili-
vos que constam na Lista Nacional de clínicos, laboratoriais e de exposição. ta que o notificador informe a forma
Notificação Compulsória de Doenças, Para preenchimento desses campos, provável de transmissão. A ficha dis-
agravos e eventos de saúde pública. É tenha em mãos informações sobre: a ponibiliza uma lista de possibilidades,
uma importante ferramenta que auxi- presença de sinais e sintomas da do- mas apenas uma pode ser seleciona-
lia o planejamento da saúde e define ença, o histórico de vacinação contra da: do animal para o homem; associa-
prioridades de intervenção, além de varíola, a coleta de amostra laborato- do ao cuidado de saúde; transmissão
permitir que seja avaliado o impacto rial, hospitalização e evolução do caso. em laboratório; contato com material
das ações realizadas pelos gestores É essencial ter em mãos também da- contaminado; pessoa a pessoa; trans-
(BRASIL, 2022b). dos de possíveis exposições do caso: missão via uso de drogas intraveno-
se houve exposição próxima e prolon- sas e transfusão; transmissão vertical;
Ao iniciar o preenchimento da ficha, os
gada, sem proteção respiratória, com transmissão sexual; outra transmissão;
primeiros dados solicitados são as in-
caso provável ou confirmado de mpox; ou, ainda, transmissão desconhecida.
formações gerais sobre a notificação,
se houve contato físico direto, incluin- Por fim, de forma não obrigatória, é
como Unidade da Federação de noti-
do sexual, com desconhecido/a(s) e ou possível informar se o caso tem víncu-
ficação, data e nome da Unidade de
parcerias múltiplas, nos 21 dias ante- lo epidemiológico com um caso confir-
Saúde notificadora. Esses campos são
riores ao início dos sinais e sintomas; mado ou provável de mpox.
obrigatórios, pois permitem a comuni-
se houve história de contato íntimo, in-
cação com os notificantes e ajudam a Todos esses dados auxiliam na elabo-
cluindo sexual, com algum caso prová-
atualizar as informações relacionadas ração de hipóteses e na busca de ca-
vel ou confirmado de mpox nos 21 dias
ao caso, sempre que necessário. deias de transmissão no processo de
anteriores ao início dos sinais e sinto-
Em seguida, são solicitados os dados mas; se houve contato com materiais rastreamento de contatos.

60
MONKEYPOX | UNIDADE 4: VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DOS CASOS
Ao final da ficha, deve-se atribuir uma alizar notificação do caso (se ele tiver
classificação final ao caso, consideran- sido notificado com classificação di-
do as informações ali inseridas, bem
SAIBA MAIS! ferente); monitoramento dos sinais e
Nesse endereço eletrônico
como a evolução do caso (óbito; cura; você encontrará também o sintomas; rastreamento de contatos; e
óbito por outra causa; ignorado). dicionário de dados da no- reavaliação clínica.
É importante que você saiba que, se tificação de mpox, o ma- Se o caso for descartado, deve-se con-
na notificação inicial forem fornecidas nual com as instruções do sistema, tinuar a investigação do quadro clíni-
apenas informações prévias sobre o caso as legislações vigentes e o link de co para esclarecimento a respeito de
e, após investigação epidemiológica, acesso para realizar a notificação. diagnósticos complementares e, per-
forem obtidas novas informações (como sistindo a suspeita de mpox, o caso é
exposição, hospitalização ou óbito), de- 4.1.2.3 CLASSIFICAÇÃO DOS CA- considerado provável. Em caso de não
ve-se atualizar a ficha de notificação SOS E ORIENTAÇÃO DA VIGILÂN- existência de coleta de amostras, é im-
para atualização dos dados. CIA portante considerar se o caso tem al-
guma das exposições previstas na de-
Agora que você acessou a ficha de no- finição de caso provável. Se a resposta
FIQUE ATENTO! tificação de mpox e conhece os dados for sim para uma ou mais, esse caso é
A atualização das fichas que precisam ser fornecidos, precisa- provável e permanecem as orientações
de notificação só po- mos voltar ao algoritmo criado e ofe- do quadro C citadas acima.
derá ocorrer enquanto recido pelo MS para classificação dos
elas estiverem no status “Inves- casos e orientação da vigilância. Lembre-se de que todos os casos de
tigação em andamento”. Uma mpox, confirmados ou não, devem ter
Se o caso a ser notificado já tem co- investigação clínica e epidemiológica
vez concluída a investigação,
leta de amostra laboratorial (quadro adequada para que as informações a
o status passa a “Encerrado”.
azul com o número 2 no algoritmo), a serem produzidas com base nos dados
classificação dependerá do resultado: disponibilizados na notificação sejam
SAIBA MAIS! se pendente, segue como caso suspei- fidedignas e subsidiem a gestão da
Para conhecer as fi- to; se detectável, é considerado caso melhor maneira possível. Dessa forma,
chas de notificações de confirmado; se não detectável, o caso recomenda-se que todas as notifica-
mpox, bem como man- é descartado. Casos confirmados de- ções incompletas sejam atualizadas a
ter-se atualizado sobre vem seguir as orientações do quadro partir da disponibilização de novas in-
o sistema e-SUS Sinan, identificado com a letra C (Figura 1): formações dos casos.
acesse o endereço eletrônico. reforçar isolamento por 21 dias ou até
o desaparecimento das crostas; atu-
61
MONKEYPOX | UNIDADE 4: VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DOS CASOS
O rastreamento de contatos consiste sem proteção respiratória, OU históri-
na identificação imediata dos conta- co de contato íntimo, incluindo sexual,
tos próximos de casos definidos como com caso provável ou confirmado de
suspeitos, prováveis e confirmados mpox; E/OU
para mpox. • Contato com materiais contamina-
dos, como roupas de cama e banho ou
E você sabe por que é importante utensílios de uso comum, pertencentes
realizá-lo? a um caso provável ou confirmado de
mpox; E/OU
O rastreamento de contatos é impor-
tante para fins de contenção da disse- • Trabalhadores de saúde sem uso ade-
minação da doença, uma vez que pes- quado de EPI com histórico de contato
soas que tiveram contato próximo com com caso provável ou confirmado de
pessoas que se enquadram em casos mpox.
4.2 suspeitos, confirmados e prováveis
correm o risco de desenvolver a doen-
RASTREAMENTO ça. Por isso o rastreamento de contatos
São exemplos de contatos próximos
para mpox (BRASIL, 2022a):
deve ser sempre realizado.
DE CONTATOS • PARCEIROS SEXUAIS: pessoas que
tenham qualquer tipo de contato se-
Mas quem pode ser considerado xual com o caso de mpox desde o
contato? início dos sintomas, inclusive da fase
A OMS considera contato de caso a prodrômica;
pessoa que teve uma ou mais das in- • PESSOAS COM CONTATO DOMICI-
terações, nos últimos 21 dias, descritas LIAR COM CASO CONFIRMADO DE
abaixo (WHO, 2022a): MPOX: pessoa(s) morando no mesmo
• Contato físico direto, incluindo con- domicílio ou ambiente semelhante (dor-
tato sexual, com parcerias múltiplas e/ mitório, alojamento etc.); pessoa(s) com-
ou desconhecidas com caso provável partilhando roupas, roupas de cama,
ou confirmado de mpox; E/OU utensílios etc. com o caso mpox; cuida-
dores do caso mpox, desde o início de
• Exposição próxima e prolongada, sua erupção (sinais e/ou sintomas).

62
MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
• PROFISSIONAIS DE SAÚDE: os pro- Após definirmos o caso e
fissionais de saúde que entraram em rastrearmos os contatos,
contato com o caso mpox (lesões ou qual o próximo passo?
contato cara a cara prolongado (> 3
horas e < 2 m distância) sem EPI ade-
quado; Profissionais de saúde que so-
freram ferimentos com objetos perfu-
rocortantes ou foram expostos a fluidos
corporais ou procedimento gerador de
aerossol sem EPI; pessoal de labora-
tório que sofreu acidente de trabalho
com amostra contendo vírus (respingo,
ferimento por material perfurocortan-
te, exposição a aerossóis etc.).
• PESSOAS COM CONTATOS FÍSI-
COS PROLONGADOS OU CONTATO
DE ALTO RISCO: a ser avaliado caso
a caso, mas pode incluir, entre outros,
ter sentado ao lado de um caso con-
firmado durante viagens prolongadas
(contato físico direto), compartilhando
utensílios ou outro equipamento ou fe-
rimentos por objetos cortantes ligados
ao caso mpox.
• OUTRAS CATEGORIAS DE CONTA-
TOS DE UM CASO MPOX: pessoas que
estiveram presentes em encontros so-
ciais com um caso, trabalhar na mes-
ma empresa ou compartilhar o mesmo
espaço que casos confirmados, suspei-
tos ou prováveis.

63
MONKEYPOX | UNIDADE 4: VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DOS CASOS
Após a identificação de um caso (sus-
peito, provável ou confirmado) e ras-
treamento dos contatos devemos mo-
nitorá-los. Você sabe o por quê?
O monitoramento de casos e contatos
tem como objetivo verificar a evolução
clínica e epidemiológica apoiando no
direcionamento de manejo, tratamen-
to e outras medidas, como definição
de caso e suspensão de isolamento.
O monitoramento de casos suspeitos e
de contatos deverá ser iniciado a partir
da identificação desses casos. O mo-
4.3 nitoramento deve ser realizado até o
MONITORAMENTO resultado laboratorial do caso suspeito
estar disponível. No caso de resulta-
DE CASOS E do não detectável o monitoramento
deve ser suspenso. Quando o caso sus-
CONTATOS peito apresenta resultado laboratorial
detectável, o(s) contatante(s) de caso
deve(m) seguir em monitoramento de
21 dias, avaliando o aparecimento de
quaisquer sinais ou sintomas sugesti-
vos de mpox.
Os contatos de casos suspeitos que
estejam assintomáticos podem con-
tinuar com suas atividades rotineiras
e devem ser orientados a realizar o
automonitoramento pelo período de
21 dias, avaliando o aparecimento de
quaisquer sinais ou sintomas sugesti-
vos de mpox (BRASIL, 2022a).
64
MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
A maneira mais segura de se preve- manas após a recuperação, uma vez
nir contra a mpox é evitar o contato que o vírus já foi encontrado no sêmen
direto com pessoas contaminadas. e em fluidos vaginais e não se sabe
Diante da suspeita da doença, medi- ainda a sua implicação na transmissão
das imediatas de investigação epi- do vírus (CDC, 2022b).
demiológica, incluindo rastreamento Atenção! As decisões relativas à des-
e investigação de contactantes, são continuação das precauções de iso-
necessárias para que a doença seja lamento tanto na unidade de saúde
controlada. A identificação precoce e quanto na comunidade devem ser to-
o isolamento de pacientes com lesões madas em consulta com o departa-
ativas são a principal conduta disponí- mento de saúde local ou estadual.
vel para interromper a transmissão da
doença de pessoa para pessoa, com
4.4 foco prioritário em grupos com alto ris- A vacinação, quando dis-
co de exposição. ponível, pode dar su-
BLOQUEIO porte às estratégias de
quebra da cadeia de
NA CADEIA DE Você sabe quando descontinuar o
transmissão do MPXV.
isolamento?
TRANSMISSÃO Indivíduos com mpox são considerados
infecciosos (transmissores da doença) Na próxima unidade, iremos abordar
enquanto apresentarem crostas nas algumas medidas de prevenção e pas-
lesões. Quando as crostas das lesões sar orientações de cuidado, para você,
caem e a reepitelização (etapa de ci- profissional da saúde, e para os profis-
catrização de um ferimento que se ca- sionais do sexo, como também para a
racteriza pelo crescimento do epitélio população geral, usuários de transpor-
ao redor da ferida – reparo no tecido te público e frequentadores de festas e
da pele) acontece, o que normalmente eventos de massa.
dura em média 21 dias, indica-se a li-
beração do isolamento. Contudo, o uso
de preservativo em qualquer atividade
sexual é sugerido pela OMS por 12 se-

65
MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
Na unidade 2, você conheceu as vaci-
nas para uso na prevenção da mpox.
Aqui iremos discutir as prioridades de
sua aplicação, principalmente pelo nú-
mero limitado de doses disponível no
mundo.
Cabe lembrar que, devido à escassez
de estudos específicos sobre as vacinas
disponíveis, todos os esforços possíveis
devem ser empregados para adminis-
trar as vacinas dentro de um esquema
de pesquisa colaborativa e de proto-
4.5 colos de ensaios clínicos randomiza-
VACINAÇÃO E dos, com ferramentas padronizadas
de coleta de dados para dados clínicos
PRIORIDADES: e desfechos.
De acordo com os Centros de Controle
EVIDÊNCIAS de Prevenção de Doenças (CDC), à me-
dida que aumentar a disponibilidade
NO MUNDO de vacinas, as orientações provisórias
sobre a introdução de estratégias de
profilaxia pré-exposição (PrEP) podem
ser atualizadas. Segue, no Quadro 1, a
estratégia de vacinação contra a mpox
adotada pelos EUA.

66
MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
Quadro 1 – Estratégias de vacinação usadas no surto de mpox nos EUA em 2022

ESTRATÉGIA DEFINIÇÃO CRITÉRIO TEMPO DE PROFILAXIA


Profilaxia Pós-Ex- Vacinação após • Pessoas que são contatos conhecidos de alguém com mpox • Iniciar a vacinação
posição (PEP) exposição conhe- identificados pelas autoridades de saúde pública, por exem- dentro de 4 dias após a
cida à mpox plo, por meio de investigação de casos, rastreamento de data de exposição
contatos ou avaliação de exposição ao risco • Entre 4 e 14 dias após
a data de exposição, a
vacinação pode ser me-
nos eficaz

Profilaxia Pós-Ex- Vacinação após Qualquer um dos seguintes: • Iniciar a vacinação


posição Expandi- exposição conhe- • Pessoas que são contatos conhecidos de alguém com mpox dentro de 4 dias após a
da (PEP++) cida ou presumida que são identificados pelas autoridades de saúde pública, data de exposição
à mpox por exemplo, por meio de investigação de casos, rastreamen- • Entre 4 e 14 dias após
to de contatos ou avaliação de exposição ao risco a data de exposição, a
• Pessoas que estão cientes de que um parceiro sexual recen- vacinação pode ser me-
te nos últimos 14 dias foi diagnosticado com mpox nos eficaz

• Homens que fazem sexo com homens, ou pessoas trans-


gênero e de gênero diverso que fazem sexo com homens,
que tiveram exposição a algumas das seguintes situações
nos últimos 14 dias: sexo com múltiplos parceiros (ou sexo
em grupo); sexo em um local de sexo comercial; ou sexo em
associação com um evento, local ou área geográfica definida
onde a transmissão da mpox está ocorrendo
Profilaxia Pré-Ex- Vacinação antes • Pessoas em determinados grupos de risco ocupacional*
posição (PrEP) da exposição à
mpox

* As pessoas em risco de exposição ocupacional a ortopoxvirus incluem trabalhadores de laboratórios de pesquisa que realizam testes de diagnóstico
para o MPXV e membros de equipes de resposta de profissionais de saúde designados pelas autoridades apropriadas de saúde pública e antiterror
(consulte as recomendações do ACIP no link: https://www.cdc.gov/vaccines/hcp/acip-recs/vacc-specific/smallpox.html#print).

Fonte: adaptado de Centers for Disease Control and Prevention (2022a).

67
MONKEYPOX | UNIDADE 4: VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DOS CASOS
No Brasil, a Agência Nacional de Vigi- forma, a identificação dos grupos de
lância Sanitária (ANVISA) aprovou, em VAMOS RE- maior risco de infecção poderá ser fei-
25 de agosto de 2022, a dispensa de LEMBRAR!!! ta, e é fundamental para tornar esses
registro para que o MS importasse e Uma emergência em saú- grupos prioritários para a vacinação.
utilizasse a vacina Jynneos (MVA-BN) de pública caracteriza-se Assim, não será iniciada a vacinação
para imunização contra a mpox, em como uma situação epidemiológica em larga escala no Brasil e as estra-
virtude da doença ter sido declarada (surtos e epidemias), de desastre ou
tégias de vacinação têm como objeti-
uma emergência de saúde pública de de desassistência à população que
vo principal a proteção dos indivíduos
importância internacional (ANVISA, demande o emprego urgente de
com maior risco de evolução para as
2022). Para fins de dispensa do regis- medidas de prevenção, de controle
formas graves da doença, dentro do
tro sanitário, em caráter excepcional e e de contenção de riscos, de da-
nos e de agravos à saúde pública. atual cenário da transmissão do vírus
temporário, a Anvisa considera a apro- observadas no país (BRASIL, 2023).
vação de uso do medicamento ou vaci-
na por, pelo menos, uma das seguintes De acordo com o Informe Técnico Ope-
autoridades:
SAIBA MAIS! racional de Vacinação Contra a Mpox
Você pode acessar as (BRASIL, 2023), poderão receber vaci-
• Organização Mundial da Saúde (OMS); especificações da va- nação pré-exposição: pessoas vivendo
• Agência Europeia de Medicamentos cina Jynneos no link. com HIV/Aids, com idade igual ou su-
(EMA); perior a 18 anos e com contagem de
linfócitos TCD4 inferior a 200 células
• Administração de Alimentos e Medi- SAIBA MAIS! nos últimos seis meses; e profissionais
camentos dos Estados Unidos (FDA/ Sobre a aprovação e
EUA); de laboratório que trabalham direta-
liberação da vacina Jyn-
neos pela Anvisa no link. mente com Orthopoxvirus em labora-
• Agência Reguladora de Medicamen- tórios de segurança nível 3 com idade
tos e Produtos de Saúde do Reino Uni- entre 18 e 49 anos. Poderão receber
do (MHRA/UK); O Brasil adquiriu cerca de 50.000 do- vacinação pós exposição pessoas que
• Agência de Produtos Farmacêuticos e ses dos imunobiológicos em 2022. En- tiveram exposição de alto ou médio
Equipamentos Médicos/Ministério da tretanto, seguindo a orientação da risco com secreções e/ou fluidos corpo-
Saúde, Trabalho e Bem-estar do Ja- OMS, uma vez que a vacinação em rais de indivíduos suspeitos, prováveis
pão (PMDA/MHLW/JP); ou massa não é recomendada, a melhor ou confirmados para mpox.
• Agência Reguladora do Canadá (He- opção é adotar estratégias robus-
alth Canada). tas de vigilância (WHO, 2022b) dessa

68
MONKEYPOX | UNIDADE 4: VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DOS CASOS
Fiquem atentos aos critérios de inclu-
são e exclusão para a vacinação nas SAIBA MAIS!
diferentes situações de exposição, bem Saiba mais sobre as
como as descrições de risco acessando Recomendações Tem-
o Informe Técnico Operacional de Va- porárias emitidas pela
cinação Contra a Mpox e suas atuali- OMS, em relação ao
zações no endereço eletrônico: https:// surto de mpox, que visa inter-
www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/ romper o surto e a transmissão
variola-dos-macacos/publicacoes/ de humano para humano, pro-
teger os vulneráveis e minimizar
informativos/informe-tecnico-opera-
a transmissão zoonótica do vírus
cional-de-vacinacao-contra-a-mpox/
acessando o endereço eletrônico.
view.
Assim, considerando o cenário atual
da mpox no Brasil e o constante pro-
cesso de atualização diante das ações
de prevenção e vigilância dos casos, é
muito importante que os profissionais
da saúde se mantenham atualizados
sobre as ações a serem desenvolvidas
durante o surto da doença no país.
Nesse sentido, o MS disponibiliza, em
suas plataformas de comunicação, di-
versos documentos que subsidiam o
aprimoramento do conhecimento ne-
cessário para a tomada de decisão do
profissional.

69
MONKEYPOX | UNIDADE 4: VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DOS CASOS
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂN- Saúde. 2022b. Disponível em: http://
CIA SANITÁRIA. Extrato de Liberação plataforma.saude.gov.br/esussinan/.
da DICOL. Dispensa, em caráter ex- Acesso em: 31 dez. 2022.
cepcional e temporário, do registro BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução
da vacina Jynneos / Imvanex, fabri- nº 588, de 12 de julho de 2018. Diário
cada pela empresa Bavarian Nordic Oficial da União, Brasília, DF, 13 ago.
A/S. 25/08/2022. 2022c. Disponível 2018. Disponível em: https://www.in.
em:https://www.gov.br/anvisa/pt-br/ gov.br/materia/-/asset_publisher/Ku-
composicao/diretoria-colegiada/reu- jrw0TZC2Mb/content/id/36469447/
nioes-da-diretoria/extratos-dos-cir- do1-2018-08-13-resolucao-n-588-de-
cuitos-deliberativos-1/2022/extrato- 12-de-julho-de-2018-36469431. Aces-
-cd-863-2022-dispensa-de-registro- so em: 13 nov. 2022.
-nos-termos-da-rdc-747_2022200b-
-sei_25351_9228002022_48.pdf/. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria
Acesso em 25 dez. 2022. nº 1.271, de 6 de junho de 2014. Define
a Lista Nacional de Notificação Com-
BRASIL. Ministério da Saúde. Infor-
REFERÊNCIAS me Técnico Operacional de Vacina-
pulsória de doenças, agravos e even-
tos de saúde pública nos serviços de
ção Contra a Mpox. 2023. Disponível saúde públicos e privados em todo o
em: https://www.gov.br/saude/pt-br/ território nacional, nos termos do ane-
assuntos/variola-dos-macacos/publi- xo, e dá outras providências. Diário
cacoes/informativos/informe-tecnico- Oficial da União, Brasília, DF, 2014.
-operacional-de-vacinacao-contra-a- Disponível em: https://bvsms.sau-
-mpox/view Acesso em: 20 mar. 2023. de.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2014/
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SINAN – Plataforma Integrada de Vi- monkeypox/vaccines/vaccine-basics.
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70
MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND
PREVENTION. Isolation and preven-
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22 dez. 2022. 2022a Disponível em:
https://www.who.int/publications/i/
item/WHO-MPX-Surveillance-2022.4.
Acesso em: 25 dez. 2022.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Vac-
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ypox. 16 vov. 2022. Disponível em:
https://www.who.int/publications/i/
item/WHO-MPX-Immunization. Aces-
so em 30 dez. 2022.



71
MONKEYPOX | UNIDADE 4: VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DOS CASOS
MONKEYPOX
UNIDADE 5: ORIENTAÇÕES
PARA A POPULAÇÃO E GRUPOS
ESPECÍFICOS

72
MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
OBJETIVO GERAL:
Esta Unidade tem como objetivo apresentar a importância de se realizar orienta-
ções para a população e grupos específicos, ressaltando o planejamento e execu-
ção de estratégias de prevenção e cuidado.

OBJETIVO DA APRENDIZAGEM:
Planejar estratégias de prevenção e cuidado para a população em geral;
Executar ações de prevenção e cuidado para a população em geral;
Realizar orientações e cuidado para diversos públicos e locais: profissionais do sexo,
trabalhador da saúde, eventos de massa e transporte público.

OBJETIVOS DE CARGA HORÁRIA DE ESTUDO:


APRENDIZAGEM 5 horas

DA UNIDADE

73
MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
Bom, agora que você já entendeu mais MPXV foi transmitida por contato
sobre a doença, como orientar as pes- sexual;
soas a se protegerem da mpox? Essa b) Os preservativos protegem de in-
unidade contém informações que po- fecções sexualmente transmissíveis
dem ser usadas para orientar diferen- como HIV e sífilis, porém, quando
tes grupos populacionais, escritas de utilizados de forma isolada, não
forma a poderem ser usadas direta- impedem o contágio da mpox;
mente na orientação de prevenção.
c) As lesões anais ou genitais são
muito mais contagiosas que as
Existem algumas medidas essen- secreções respiratórias.
5.1 ciais que podem ser adotadas para 3. Evite contato com objetos e su-
MEDIDAS DE prevenir a infecção pelo MPXV (CDC,
2022):
perfícies que pessoas com mpox
utilizaram:
PREVENÇÃO E 1. Evite contato próximo, ou seja, con- a) Não compartilhe talheres, pratos
tato pele com pele com pessoas que
CUIDADO CONTRA tenham lesão de pele suspeita ou
ou copos;

confirmada de mpox: b) Evite contato com roupa de cama,


A MPOX PARA a) Não encoste em erupção cutânea
toalha ou vestimentas.

A POPULAÇÃO ou crostas; 4. Lave frequentemente as mãos:

b) Não beije, abrace ou tenha con- a) É fundamental higienizar as mãos


GERAL tato sexual com pessoas que te- com água e sabão ou álcool em
nham lesão de pele suspeita ou gel 70%, principalmente antes de
confirmada de mpox:. se alimentar e/ou tocar a face e
depois de utilizar o sanitário.
2. Reduza o número de parceiros se-
xuais enquanto o surto atual esti- 5. Tenha cuidado! Ser vacinado contra
ver ativo e a imunização não estiver varíola no passado não necessaria-
amplamente disponível, sabendo mente garante imunidade contra a
que: mpox. Não confie na eventual imu-
nização passada – mantenha os cui-
a) A maior parte das infecções por dados hoje!

74
MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
Pessoas que estão planejando ir a ge atenção maior! Apesar de encos-
eventos sociais devem se preocupar tar ou esbarrar em alguém ter baixo
com a mpox? risco de transmissão, fique atento e
Caso esteja planejando ir a algum evite tocar em alguém que apresen-
evento social, como festas/eventos te lesão suspeita de mpox;
(raves, casas noturnas ou festivais, por • Espaços fechados como saunas, clu-
exemplo), é importante considerar o bes e festas privadas em que ocor-
risco a que estará exposto durante o rem relações sexuais com múltiplos
evento. A avaliação do risco deve le- parceiros oferecem mais risco de
var em consideração desde o número transmissão do MPXV. Vale lembrar
de pessoas até a distância e contato que preservativos protegem con-
entre elas. tra o vírus do HIV e outras infecções
Atente-se às orientações abaixo: sexualmente transmissíveis, porém
sua utilização de forma isolada NÃO
• Festivais e concertos oferecem me- PROTEGE da mpox, uma vez que há
nos risco, pois os frequentadores es- o risco de transmissão pelo conta-
tão com roupas que cobrem o corpo to direto com secreções e lesões em
e no ambiente há espaço suficiente outras partes do corpo, não protegi-
para que o contato pele com pele das pelo preservativo.
seja improvável. Lembre-se de que
superfícies contaminadas também Mais adiante conheceremos os cuida-
são potenciais fontes de transmis- dos necessários para a organização e
são do vírus da mpox. Lavar as mãos participação de eventos de massa e
frequentemente e ter álcool em gel uso de transportes coletivos.
70% ao alcance são formas de dimi-
nuir o risco;
• Raves, casas noturnas e outras fes-
tas em que os frequentadores geral-
mente usam menos roupas e o es-
paço permite um contato pele com
pele direto e recorrente oferecem
mais risco. Esse tipo de evento exi-
75
MONKEYPOX | UNIDADE 5: ORIENTAÇÕES PARA A POPULAÇÃO E GRUPOS ESPECÍFICOS
Você sabe o que fazer caso perceba tomas podem variar. Alguns deles po-
algum sinal ou apresente algum sin- dem estar ou não presentes e aparecer
toma suspeito de MPOX? antes ou depois das lesões na pele
Caso perceba sinais e sintomas suspei- (WHO, 2022a). Fique atento: o aspecto
tos de mpox, como lesão de início sú- das lesões também pode variar, con-
bito em mucosas ou erupção cutânea forme a cor da pele (Figura 2).
aguda sugestiva da doença (Figura 1)
5.2 em qualquer parte do corpo, incluindo Figura 1 – Lesão cutânea de mpox em
região genital, perianal e oral, e/ou si- seus vários estágios: (a) vesícula pre-
ORIENTAÇÕES nais de proctite (dor anorretal, sangra-
coce (diâmetro de 3 mm); (b) pequena
pústula (2 mm); (c) pústula umbilicada
PARA PESSOAS mento pelo ânus etc.) e/ou edema no
pênis (TARíN-VICENTE et al., 2022):
(3-4mm); (d) lesão ulcerada (5 mm); (e)
crosta de uma lesão; (f) crosta parcial-
COM SUSPEITA mente removida
PROCURE A UNIDADE DE
DA DOENÇA – SAÚDE MAIS PRÓXIMA DA
SUA CASA PARA AVALIA-
DIRECIONAMENTO ÇÃO COM PROFISSIONAL DE
PARA PROCURA SAÚDE! AO SE DESLOCAR,
PROCURE SE PROTEGER
DOS SERVIÇOS E PROTEGER O PRÓXIMO:
CUBRA AS LESÕES APAREN-
DE SAÚDE TES E UTILIZE MÁSCARA
SOBRE A BOCA E O NARIZ.

Vale destacar que a mpox também Fonte: Ali et al. (2022).


pode provocar sintomas como febre,
calafrios, linfonodos inchados (ínguas),
cansaço, dor muscular, dor nas costas,
dor de cabeça, dor de garganta, con-
gestão nasal e tosse. Esses sinais e sin-
76
MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
Figura 2 – Lesões de mpox em diferentes cores de pele tato sexual tem se mostrado um
grande risco para a transmissão da
doença;
• Não barbeie ou depile áreas com
ferimentos. Independentemente da
confirmação ou não da mpox, quan-
to menos mexer nas lesões, melhor.
Um eventual ferimento no local da
lesão pode dificultar o processo de
cicatrização;
• Evite usar lentes de contato. Tem-se
observado um número importante
Fonte: Adler et al. (2022). de lesões oculares por mpox, por-
tanto não as utilize nesse momento!
AS LESÕES PODEM COÇAR E/OU SER DOLOROSAS. As lentes podem agravar uma even-
FIQUE ATENTO ÀS SUAS VARIAÇÕES. tual lesão ocular pelo MPXV;
• Não utilize adornos como pulseiras,
relógios, anéis, alianças etc. Quan-
IMPORTANTE: • Evite sair de casa. Agora é hora de se to menos objetos com potencial de
Enquanto os sinais e cuidar e evitar situações que possam transmitir o vírus utilizarmos, melhor;
sintomas que a pessoa aumentar o risco de transmissão; • Não compartilhe roupas, talheres,
está manifestando não • Evite receber visitas. Elas, em breve, roupas de cama, toalhas e demais
forem descartados para mpox , vão poder te ver normalmente. Vale utensílios de uso individual.
lembre-se de que é importante esse esforço para proteger nossos
manter o isolamento domiciliar! entes queridos;
• Evite contato com animais domésti-
Vale ressaltar que, além do isolamen- cos. Nossos pets são vulneráveis ao
to, algumas medidas simples podem contágio da doença. Todo cuidado é
evitar transmissão para outras pessoas de grande valor para a saúde deles;
e/ou complicações: • Não tenha relações sexuais. O con-

77
MONKEYPOX | UNIDADE 4: VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DOS CASOS
Os serviços de saúde, incluindo os de As condições em que o atendimento
assistência direta à população e os la- é realizado podem constituir fatores
boratórios, são locais de especial inte- determinantes para a ocorrência de
resse para a contenção da dissemina- mpox nos trabalhadores que estão em
ção da mpox, por reunirem pacientes contato direto com casos suspeitos ou
potencialmente com a doença e/ou confirmados, considerando que a do-
amostras clínicas infectantes e popu- ença é transmitida por contato com
lação suscetível, sejam trabalhadores pacientes infectados, que podem estar
5.3 da saúde, sejam outros pacientes e
acompanhantes presentes simultane-
presentes nos serviços de saúde.
A Constituição Federal do Brasil, em
CONTENÇÃO DA amente no mesmo local. As medidas
de contenção adotadas pelos serviços
seu capítulo II, artigo 70, determina que
todos os serviços de saúde devem as-
DOENÇA EM SER- de saúde objetivam tanto proteger a
saúde dos trabalhadores quanto evitar
segurar, aos trabalhadores que atuam
nos serviços, tanto empregados, como
VIÇOS DE SAÚDE a contaminação de outras pessoas e a terceirizados e pertencentes a outra
disseminação da doença por novos in- modalidade de vínculo, a adoção de
E ORIENTAÇÕES E fectados (TITANJI, et al., 2022). medidas e mecanismos de proteção e
CUIDADO PARA A São considerados trabalhadores da
saúde todos aqueles que atuam em
promoção à saúde (BRASIL, 1988).

SAÚDE DO TRA- espaços e estabelecimentos de saú-


de, incluindo tanto os profissionais da 5.3.1 SITUAÇÕES E FATO-
BALHADOR saúde (por exemplo, enfermeiros, mé- RES DE RISCO À SAÚDE
dicos, maqueiros, biólogos, técnicos de
DA SAÚDE enfermagem e de laboratório, nutri- DOS TRABALHADORES
cionistas, farmacêuticos, bioquímicos DA SAÚDE
e fisioterapeutas) quanto aqueles que
Você já parou para pensar que o tra-
trabalham em estabelecimentos de
balhador da saúde pode passar por
saúde e que não prestam serviços dire-
diferentes situações de risco que fa-
tos de assistência à saúde das pessoas
vorecem o contágio da mpox?
(por exemplo, os que atuam na admi-
nistração, recepção, segurança e servi-
ços gerais) (BRASIL, 2020).
78
MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
Diversos fatores e situações podem PROTEÇÃO À SAÚDE
determinar as chances de os traba- VOCÊ SABIA?
lhadores que atuam na área da saú- DOS TRABALHADORES O acesso dos traba-
de adquirirem mpox, entre eles: riscos DA SAÚDE lhadores aos EPIs em
relacionados aos procedimentos/ativi- quantidade e qualidade
As medidas de controle, prevenção e adequadas é responsabilidade do
dades que executam; duração da jor-
proteção aos trabalhadores que atu- empregador, seja público, seja pri-
nada de trabalho; quantidade de pa-
am na área da Saúde incluem a dispo- vado, em regime da CLT ou esta-
cientes que atendem; uso inadequado
nibilidade e o uso adequado dos EPIs tutário, assim como o treinamento
de Equipamentos de Proteção Indivi-
e a adoção de medidas de engenharia adequado dos trabalhadores, a
dual (EPI), o que abrange o processo de
e administrativas nos ambientes e pro- supervisão do uso adequado e a
paramentação e desparamentação, a
cessos de trabalho. manutenção e reposição necessá-
higienização inadequada das mãos, o
rias desses equipamentos segun-
descarte incorreto de resíduos sólidos Essas medidas devem orientar a iden-
do o fabricante (BRASIL, 2022a).
e a desinfecção ou esterilização de tificação e a intervenção nos fatores
equipamentos. e situações de risco aos quais os tra-
balhadores podem estar expostos du- Os tipos de equipamento necessários
É necessário investir na capacitação e
rante a execução de suas atividades, para a prevenção de mpox nos serviços
na educação continuada desses tra-
visando eliminá-las ou controlá-las. Na de saúde estão relacionados às tarefas
balhadores sobre aspectos de segu-
maioria das situações, será necessária executadas, mas, de maneira geral,
rança e saúde relativos ao ambiente
uma combinação dessas medidas para todos os EPIs devem ser: selecionados
de trabalho, possibilitando que reali-
proteger os trabalhadores da exposi- com base no risco biológico a que os
zem suas atividades de modo a cuidar
ção ao mpox. trabalhadores estão expostos; regu-
da sua saúde e da saúde dos outros.
larizados pelos órgãos certificadores e
É preciso também garantir jornadas
pela Anvisa; usados adequadamente;
de trabalho e número de profissionais 5.3.2.1 EQUIPAMENTOS DE PRO-
higienizados e/ou descartados perio-
compatíveis com a demanda psíquica TEÇÃO INDIVIDUAL (EPIs)
dicamente, conforme recomendações
e física da função, além de adequado Os EPIs adequados e usados correta- técnicas; e inspecionados, reparados
monitoramento e avaliação dos pro- mente são importantes para assegurar ou substituídos de acordo com instru-
cessos de trabalho. a saúde dos trabalhadores que atuam ções do fabricante (BRASIL, 2022b).
na área da saúde e para minimizar os
5.3.2 MEDIDAS DE CON- riscos de adoecimento por mpox.
TROLE, PREVENÇÃO E
79
MONKEYPOX | UNIDADE 5: ORIENTAÇÕES PARA A POPULAÇÃO E GRUPOS ESPECÍFICOS
No geral, os EPIs a serem utilizados são: em outros pontos dentro do serviço,
minimizando o possível contato com
outros pacientes e evitando a sua
circulação pelos serviços de saúde;
• Instalação de dispensadores de ál-
Gorro Óculos de proteção
Máscara cirúrgica ou N95 cool para a higiene das mãos (sob
(dependendo do procedimento
descartável ou protetor facial
a ser realizado) as formas gel ou solução a 70%) nas
salas de espera e em outras áreas
com circulação de pacientes suspei-
tos ou confirmados;
• Fornecimento de máscara cirúrgi-
Avental impermeável/descartável Luvas de procedimento
de mangas compridas Calçado fechado ca, e aventais/luvas que cubram as
áreas com lesões aos pacientes com
suspeita de mpox logo na chegada
5.3.2.2.MEDIDAS DE CONTROLE mpox em área separada dos demais ao serviço de saúde;
DE ENGENHARIA pacientes, antes ou imediatamente
após a chegada ao estabelecimento • Adoção de coberturas protetoras,
A aplicação das medidas de contro- que devem ser utilizadas em macas,
de saúde até haver o atendimento
le de engenharia deve ser prioriza- cadeiras e outros objetos, incluindo
ou o encaminhamento ao serviço de
da, pois essas medidas são essenciais as de filme plástico ou papel ab-
referência (se necessário), limitando
para prevenir a propagação e reduzir sorvente, que devem ser removidas
a movimentação desses pacientes à
a concentração de agentes infecciosos e trocadas entre cada atendimen-
área de isolamento;
no ambiente de trabalho, minimizar o to, em conformidade com o esta-
número de áreas contaminadas pelo • Manutenção de ambiente adequa- belecido pela Comissão de Contro-
MPXV e diminuir o número de traba- do para a higienização das mãos. le de Infecção Hospitalar (CCIH) ou
lhadores expostos. Destacamos a se- Esse ambiente precisa ter: lavatório/ equivalente;
guir algumas dessas medidas (BRASIL, pia com dispensador de sabonete lí-
2020): quido; suporte para papel toalha e • Adoção de classificação de risco das
papel toalha; lixeira com tampa e áreas e ambientes laboratoriais em
• Definição e instalação de espaços que são manipulados agentes bioló-
abertura sem contato manual para
de acolhimento, triagem e isola- gicos, segundo a publicação Diretri-
uso dos pacientes e seus acompa-
mento que possibilitem a identifi- zes Gerais para o Trabalho em Con-
nhantes, tanto na recepção quanto
cação de pacientes com suspeita de tenção com Material Biológico do
80
MONKEYPOX | UNIDADE 4: VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DOS CASOS
Ministério da Saúde (BRASIL, 2010); • Orientação aos trabalhadores da de saúde, para minimizar, sempre
• Descarte adequado de resíduos. saúde sobre a utilização adequada que possível, a aglomeração de pes-
dos EPIs no atendimento dos pa- soas e o contato entre funcionários e
cientes com suspeita de mpox ou pacientes;
5.3.2.3 MEDIDAS DE CONTROLE com diagnóstico confirmado; • Disponibilização de informações so-
ADMINISTRATIVO
• Orientação aos trabalhadores da bre higiene adequada das mãos em
As medidas de controle administrativo saúde e acompanhantes dos pa- banheiros, recepções, enfermarias,
referem-se às alterações nas rotinas cientes para evitar tocar superfícies quartos, salas de atendimento etc.;
de trabalho com o objetivo de redu- próximas ao paciente (por exem- • Revisão dos Procedimentos Opera-
zir ou eliminar a exposição, duração, plo, mobiliário e equipamentos para cionais Padrão (POPs) de limpeza e
frequência ou intensidade de algum a saúde), exceto se EPIs estiverem desinfecção de ambientes e superfí-
risco. Essas medidas devem ser desen- sendo utilizados; cies para garantir a frequência e as
volvidas tanto pelo empregador/con-
• Caso ocorra qualquer erro na utili- melhores práticas para redução da
tratante quanto pelos trabalhadores.
zação dos EPIs e perceber-se o con- carga viral nos serviços de saúde;
Destacamos a seguir algumas dessas
tato com fluidos das lesões, informar • Monitoramento da ocorrência de
medidas (BRASIL, 2020):
a chefia imediata para o devido transmissão interna de mpox em
• Orientação aos pacientes e acom- monitoramento; pacientes e trabalhadores e adoção
panhantes sobre a necessidade de
• Implementação de políticas não pu- de medidas apropriadas para con-
adoção de medidas de higiene;
nitivas, para permitir que o profissio- trole e mitigação da transmissão;
• Desenvolvimento de planos de co- nal de saúde que apresente sinais e • Monitoramento da efetividade das
municação de emergência, incluin- sintomas de mpox seja afastado do medidas de proteção e avaliação da
do espaços e canais de comunicação trabalho; adesão dos trabalhadores, caben-
para responder às preocupações dos
• Afastamento de trabalhadores com do, a qualquer momento, mudança
trabalhadores;
diagnóstico confirmado da doença nas estratégias de implementação
• Promoção de educação e saúde, e e sensibilização para que adotem as das medidas para torná-las mais
treinamento sobre os fatores de ris- medidas de isolamento domiciliar. efetivas;
co, cuidados e medidas de preven- Essa medida não deve implicar pre- • Manutenção de registro de todas as
ção e controle da mpox que devem juízos trabalhistas aos profissionais; pessoas que prestaram assistência
ser adotados pelos serviços de saú-
• Estabelecimento de horários de fun- direta ou entraram nos quartos ou
de, incluindo o manejo adequado do
cionamento estendidos dos serviços em outras áreas de assistência aos
paciente;

81
MONKEYPOX | UNIDADE 5: ORIENTAÇÕES PARA A POPULAÇÃO E GRUPOS ESPECÍFICOS
pacientes suspeitos ou com diag- (CAT) ou documentos similares a fim de
nóstico confirmado; que sejam garantidos os direitos tra-
• Elaboração e disponibilização de balhistas e previdenciários (ESPÍRITO
forma escrita das normas e rotinas SANTO, 2022) .
de procedimentos envolvidos na
assistência aos casos suspeitos ou
confirmados de mpox, como: fluxo
dos pacientes dentro do serviço de
saúde, procedimentos de colocação
e retirada de EPI, procedimentos de
remoção e processamento de rou-
pas/artigos e produtos utilizados
na assistência, rotinas de limpeza e
desinfecção de superfícies, rotinas
para classificação e remoção dos re-
síduos, entre outras.

5.3.2.4 AFASTAMENTO DE TRABA-


LHADORES DE SERVIÇOS DE SAÚ-
DE E RETORNO ÀS ATIVIDADES
A notificação e a definição de casos,
a conduta clínica e as medidas epide-
miológicas são as mesmas para tra-
balhadores de saúde e para qualquer
outro paciente (BRASIL, 2022a). En-
tretanto, deve-se investigar a relação
causal entre a mpox e a exposição
ocupacional do trabalhador. Se confir-
mada, deve-se realizar a notificação
de acidente de trabalho por meio da
Comunicação de Acidente de Trabalho

82
MONKEYPOX | UNIDADE 5: ORIENTAÇÕES PARA A POPULAÇÃO E GRUPOS ESPECÍFICOS
Como vimos anteriormente, o risco de A maior proteção dos profissionais do
infectar-se com o MPXV não se restrin- sexo contra o MPXV está associada a
ge apenas a uma população específi- melhoria no acesso à informação e aos
ca, mas abrange todas as pessoas que serviços de saúde, para que os médi-
tiverem contato próximo com indivíduo cos possam fornecer cuidados de pre-
infectado e/ou doente. Aprendemos venção e tratamento direcionados às
também que esse surto atual de mpox suas necessidades.
traz consequências sobretudo para os A educação para profissionais do sexo
doentes, mas também para suas famí- é essencial e deve contemplar orien-
lias e pessoas que os rodeiam, assim tações sobre técnicas de prevenção,
como para outras pessoas que, como incluindo o reconhecimento dos sinto-
os profissionais do sexo, desenvolvem mas da mpox, opções de tratamento
atividades que envolvem contato ínti- e como acessar os cuidados. Reco-
5.4 mo com outras pessoas. menda-se que a educação sobre pre-
Em particular, esses profissionais, caso venção específica para profissionais
ORIENTAÇÕES adoeçam ou estejam sob suspeita de do sexo ocorra tanto na comunidade
PARA PROFISSIO- estarem infectados, precisarão iso-
lar-se para evitar a transmissão do
(pessoalmente) quanto por meio de
plataformas on-line. Dessa forma eles
NAIS DO SEXO vírus, e isso poderá acarretar dificul-
dades financeiras. Esse problema po-
podem se proteger adequadamente e
quebrar a cadeia de transmissão do ví-
derá se agravar caso as autoridades rus (CANTOR, et al., 2022).
não lhes ofereçam proteção social e
ajuda financeira. Da mesma maneira
que algumas organizações criaram SAIBA MAIS!
programas de assistência durante a Conheça o documento
pandemia de Covid-19, é recomendado criado pela Organização
que os profissionais do sexo se Pan-Americana da Saú-
organizem e que essas organizações de (OPAS) e Organiza-
também comecem a criar estratégias ção Mundial de Saúde (OMS) com
orientações de saúde pública aos
e fundos de respostas para a assistên-
profissionais do sexo para se prote-
cia a esses profissionais (WHO, 2022b).
gerem da mpox acessando o link.

83
MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
O que você precisa lembrar é que a de pessoas, de origem nacional ou in-
principal forma de transmissão do ternacional, e que, segundo a avaliação
das ameaças, das vulnerabilidades e dos
MPXV é o contato físico com pessoas
riscos à saúde pública exijam a atuação
infectadas. Com isso, eventos que pro- coordenada de órgãos de saúde pública
voquem aglomerações são mais propí- da gestão municipal, estadual e federal
cios à transmissão da doença, pois as e requeiram o fornecimento de serviços
chances de contato e de exposição são especiais de saúde, públicos ou privados
maiores. (Sinonímia: grandes eventos, eventos es-
peciais, eventos de grande porte).
O envolvimento das autoridades de
saúde pública nos eventos de mas-
5.5.1 PLANEJAMENTO E RESPON-
sa requer articulação entre os entes
SABILIDADES NA ORGANIZAÇÃO
públicos e privados envolvidos direta
DE EM
ou indiretamente no evento, visando
5.5 ao planejamento e à integração das O planejamento das ações de saúde
ações. antes da realização de um EM deve
ORIENTAÇÕES Embora o foco principal seja a redução
contemplar a articulação entre as áre-
as de assistência e de vigilância em
PARA EVENTOS da transmissão do vírus, a maior parte
saúde. Na etapa de planejamento, o
das medidas visa garantir boas práti-
DE MASSA cas de saúde pública em geral, preve-
organizador do evento deve procurar
o setor de saúde responsável (como a
nir e controlar a transmissão de várias
vigilância sanitária local) e outros se-
doenças.
tores relacionados (como segurança
E você sabe o que é um EVENTO DE pública e órgãos de trânsito) para co-
MASSA? municá-los sobre a realização do even-
O artigo 4º do capítulo II do anexo CII to. Devem ser verificados os requisitos
da Portaria de Consolidação n° 5, de necessários para realização do EM,
28 de setembro de 2017, define Evento bem como a documentação geral e es-
de Massa (EM) como qualquer: pecífica pertinentes. É necessário que
todos os setores/órgãos envolvidos, es-
[...] atividade coletiva de natureza cultu-
ral, esportiva, comercial, religiosa, social
tabeleçam um fluxo de comunicação
ou política, por tempo pré-determinado, de EM, de forma que todas as instân-
com concentração ou fluxo excepcional cias envolvidas possam fazer parte do

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MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
planejamento e ser notificadas sobre a Saúde do Trabalhador; . Orientar as pessoas com sinais e
ocorrência do evento em tempo hábil VI. Coordenar as ações de saúde por sintomas compatíveis com mpox
(BRASIL, 2014). meio de comunicação adequada. a não participar de eventos de
As responsabilidades das esferas de massa;
gestão são definidas, no âmbito do . Orientar os trabalhadores de saú-
Sistema Único de Saúde (SUS), no Ane- SAIBA MAIS! de quanto às medidas de preven-
xo CII da Portaria de Consolidação n° Para maiores informações ção e à utilização de EPIs;
5, de 28 de setembro de 2017, que tra- sobre as responsabilidades
no planejamento, execução . Orientar a população em geral
ta Do Planejamento, Execução e Ava- quanto às medidas de prevenção.
liação das Ações de Vigilância e Assis- e avaliação das ações de vigi-
tência à Saúde em Eventos de Massa. lância e assistência à saúde em • Durante a preparação do evento, a
eventos de massa, acesse o link. implementação da comunicação de
As principais responsabilidades na riscos e de medidas de prevenção
elaboração do plano de ação em um pode ser estendida a eventos para-
evento de massa que devem ser con- Os organizadores dos EMs são as fon-
tes de informação mais diretas sobre lelos e reuniões espontâneas rela-
sideradas pelo organizador do evento, cionadas ao evento principal.
assim como pelo setor público respon- os eventos e, por isso, desempenham
sável pela anuência, compreendem: uma função relevante para os serviços • É importante informar aos partici-
de saúde . Elaborar orientações sobre pantes que a transmissão de mpox
I. Identificar os pontos de atenção medidas de prevenção deve ser com- se dá por contato com lesões em
e fluxos da rede assistencial para promisso da gestão e tarefa de todos qualquer parte do corpo, portanto
atendimento a casos suspeitos de os envolvidos nesses eventos. Um ca- o uso de preservativos não oferece
mpox; nal de comunicação oportuno, orga- proteção contra essa transmissão.
II. Manter vigilância de doenças e nizado de forma clara e direcionada,
prevenção de surtos; é um ponto-chave para o controle dos Recomenda-se aos organi-
riscos (ECDC, 2022).
III. Manter vigilância relacionada à zadores de eventos e pro-
segurança ambiental e alimentar Recomenda-se que os seguintes tópi- prietários de empresas,
(BRASIL, 2022c); cos sejam considerados: considerar o fornecimento
IV. Realizar estratégias de informação • Utilização de mídias sociais e in- de informações e orienta-
e promoção em saúde; ternet para fornecer informações ções atualizadas com lin-
e orientações sobre as medidas de guagem simples e direta,
V. Manter a vigilância relacionada à
prevenção contra a mpox:

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MONKEYPOX | UNIDADE 5: ORIENTAÇÕES PARA A POPULAÇÃO E GRUPOS ESPECÍFICOS
descrevendo os sinais e
sintomas e medidas de pre-
venção de mpox em seus
sítios eletrônicos, contas de
mídia social e aplicativos.
O Centro Europeu de Pre-
venção e Controle de Do-
enças em conjunto com a
Organização Mundial de
Saúde organizaram um cen-
tro de mídia com conselhos
sobre comunicação de ris-
co e produziram um kit de
ferramentas para autori-
dades em saúde pública e
organizadores de eventos.

FICOU INTE-
RESSADO?
Acesso no ca-
nal eletrônico no link.

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MONKEYPOX | UNIDADE 5: ORIENTAÇÕES PARA A POPULAÇÃO E GRUPOS ESPECÍFICOS
Assim como você deve ter cuidado com vel utilizar álcool 70% ou água e sabo-
os riscos de uma possível infecção pelo nete de forma correta para higieniza-
MPXV participando de EM ou de festas, ção das mãos.
os transportes coletivos são, em teoria, Caso haja suspeição da doença devido
um ambiente propício para a transmis- a sinais e sintomas e a pessoa neces-
são do vírus, levando-se em considera- site utilizar transporte público para ir
ção a maior probabilidade de contato a uma unidade básica de saúde, re-
com um grande número de pessoas. comenda-se cobrir as possíveis lesões
Vale reforçar que, atualmente, as evi- com calças e blusas de manga com-
dências relacionadas a fontes de infec- prida, utilizar máscara e higienizar as
ção e padrões de transmissão indicam mãos com álcool 70% , sempre que pos-
que a principal forma de transmissão sível. Contudo, de acordo com as reco-
é o contato direto e prolongado com mendações do Plano de Contingência
5.6 indivíduos que apresentem lesões em Nacional para mpox (BRASIL, 2022d) ,
pele e mucosa. O contato pode ser pe- caso haja a suspeição ou confirmação
ORIENTAÇÕES le-pele, mucosa-mucosa ou mucosa- de infecção pelo MPXV, a pessoa deve
PARA TRANS- -pele, uma vez que o vírus pode entrar
em lesões de pele e mucosas (oral, fa-
permanecer em isolamento.

PORTE PÚBLICO ringe, ocular e genital) (WHO, 2022a).


SAIBA MAIS!
É recomendado aos usuários proteger
Acesse o link.
com vestuário regiões do corpo que
estejam mais suscetíveis ao contato
prolongado com outras pessoas (por
exemplo, tronco, abdome e membros). Em embarcações e aeronaves, o aten-
Sugere-se também que o usuário de dimento de bordo a viajantes consi-
transporte público evite o contato fí- derados casos suspeitos deve ser rea-
sico com os demais usuários e que hi- lizado com uso de óculos de proteção
gienize as mãos antes e depois de to- ou protetor facial, avental, máscara
car superfícies compartilhadas, como cirúrgica e luvas de procedimento. Es-
corrimões, bancos, janelas, portas de ses EPIs devem ser retirados, descarta-
transporte público, etc. É imprescindí- dos adequadamente e trocados, caso

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MONKEYPOX | UNIDADE 3: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS DA DOENÇA
necessário, antes de um novo atendi- Agora que você tem uma visão com-
mento. Em embarcações, o caso sus- pleta sobre a apresentação clínica da
peito deve ficar isolado em cabine in- mpox, mecanismos de transmissão e
dividual. Os resíduos sólidos dos meios estratégias de controle e vigilância,
de transporte com casos suspeitos você está preparado para atuar no en-
devem ser tratados como resíduos do frentamento do surto de mpox a fim de
Grupo A, ou seja, resíduos potencial- mitigar o impacto da doença no Brasil.
mente infectantes (ANVISA, 2022). Não se esqueça de se manter sempre
Considerando que, no momento, não atualizado acessando os canais de
há restrições de viagens devido a essa informações do Ministério da Saúde,
doença, orienta-se que os viajantes Fundação Oswaldo Cruz e Organiza-
atentem para sinais e sintomas da do- ção Mundial da Saúde.
ença, evitem realizar viagens não es-
senciais caso apresente-os e procure
orientação de profissional de saúde o
quanto antes e o mais perto possível.

SAIBA MAIS!
Para maiores informa-
ções acesse as orien-
tações gerais frente à
Emergência de Saúde
Pública Internacional causada
pelo MPXV para atuação em por-
tos, aeroportos e fronteiras que
estão publicadas na Nota Técnica
n° 81/2022/SEI/COVIG/GGPAF/
DIRE5/ANVISA, disponível no link.

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MONKEYPOX | UNIDADE 5: ORIENTAÇÕES PARA A POPULAÇÃO E GRUPOS ESPECÍFICOS
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MONKEYPOX | UNIDADE 5: ORIENTAÇÕES PARA A POPULAÇÃO E GRUPOS ESPECÍFICOS
Realização:
FIOCRUZ MATO GROSSO DO SUL

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