Você está na página 1de 29

TRAUMAS E EMERGÊNCIAS

TEMA: Emergências Respiratórias:


- CRISE ASMÁTICA
HUGO BENEDITO HUGO 1

Fevereiro 2023
OBJECTIVOS DE APRENDIZAGEM

1. Listar as alterações na mecânica ventilatória em caso de crise asmática e obstrução da via aérea
inferior.
2. Descrever a fisiopatologia da asma brônquica.
3. Explicar os principais sinais e sintomas e os achados característicos do exame físico de um
paciente em crise asmática.
4. Diferenciar uma crise asmática leve, moderada e grave.
5. Explicar como diferenciar asma brônquica de doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC).
6. Explicar o tratamento da crise asmática.
7. Explicar as opções farmacológicas de tratamento para a melhora dos sintomas agudos. 2
CRISE ASMÁTICA NO ADULTO

1. DEFINIÇÃO
• Asma é uma doença inflamatória crónica, episódica, caracterizada por
hiperreactividade das vias respiratórias, e que cursa com obstrução (parcial ou
total) reversível das mesmas.
• Crise Asmática: é o estado em que o paciente se encontra com exacerbação
dos sinais e sintomas de asma.
• Status asmático/estado de mal asmático: asma grave, resistente à
terapêutica padrão com broncodilatadores e corticoesteróides.
3
2. FISIOPATOLOGIA

• A obstrução das vias aéreas inferiores e consequente impedimento ao fluxo


aéreo normal, é o evento desencadeador dos sinais e sintomas da asma.
• Este fenómeno, ocorre devido à hiperreactividade brônquica aos estímulos,
através dos seguintes mecanismos:
• • Broncoconstrição – contracção da musculatura lisa dos brônquios.
• • Edema das vias aéreas (aumento da espessura da mucosa brônquica).
• • Deposição de muco – (ocupação da luz brônquica).
4
3. FACTORES DESENCADEANTES DE UMA CRISE
ASMÁTICA

• • Ar frio. • • Irritantes químicos (perfumes,


• • Exercício físico. insecticidas, químicos ocupacionais).

• • Alergénios (ácaros da poeira, pólen, • • Fumo do tabaco (incluindo


pêlos ou fezes de animais). fumadores passivos).

• • Infecções das vias respiratórias • • Alimentos com potencial alergénio


superiores (inflamação). (amendoim, mariscos).

• • Stress. • • Medicamentos (AINEs, agentes Beta


bloqueadores).
5
3. QUADRO CLÍNICO

• • Os sinais e sintomas típicos da asma são: • A palpação torácica pode revelar


pieira, dispneia e tosse com intensidade vibrações vocais normais ou
variável. Outros sintomas como sensação de diminuídas.
opressão torácica podem estar presentes. De
referir que os sintomas podem piorar à noite. • • A percussão torácica revela
• • Ao exame físico geral encontra-se hiperssonoridade, mas pode estar
taquipneia, taquicardia, tiragem, adejo nasal. normal ou revelar macissez nos casos
Alguns pacientes apresentam tórax em barril
(aumento do diâmetro antero-posterior) e em que se complica com atelectasia.
dedos em baqueta de tambor, indicando • • A auscultação é variável, podendo
cronicidade.
apresentar: murmúrio vesicular normal
6

ou diminuido com aumento do tempo


expiratório; roncos e sibilos dispersos.
Cont….
• Atenção: a ausência de murmúrio • Para além do ‘’pulmão silencioso’’,
vesicular e de sibilos à auscultação outros sinais de gravidade são:
(‘’pulmão silencioso’’), é indicativa cianose, exaustão, confusão mental
de severidade do caso (obstrução ou diminuição do nível de
severa do fluxo aéreo que não consciência, agitação, incapacidade
permite sequer a passagem de de adoptar uma posição,
pequenas quantidades de ar). Nestes incapacidade para falar ou para se
casos, deve-se agir mais alimentar, cianose, bradicardia e
rapidamente. hipotensão.
7
5. COMPLICAÇÕES

• • Desenvolvimento de Status • • Atelectasia.


Asmático. • • Pneumonia (maior predisposição).
• • Insuficiência respiratória. • • Deformidades torácicas (tórax em
tonel/barril) e brônquicas.
• • Pneumotórax.
• • Complicações causadas pelo uso
• • Pneumomediastino. dos corticoesteróides (osteoporose,
imunodepressão, aumento do peso,
miopatia, catarata, diabetes mellitus).

8
6. DIAGNÓSTICO
História clínica
• • O diagnóstico é fundamentalmente clínico:
• o Pesquisar se é o primeiro episódio, e
• o História de atopia, antecedentes de asma, caso não seja, caracterizar as crises
associado aos principais sinais e sintomas – anteriores: frequência das crises, data da
tosse, pieira e dispneia marcada; última crise, intensidade dos sintomas,
• o Pesquisar sobre evolução dos sintomas na tratamento em ambulatório, na urgência ou
crise actual (horas, dias); em internamento;
• o Pesquisar sobre os factores desencadeantes • o Pesquisar se está a tomar alguma
(infecções virais, alergias, factores medicação de manutenção.
emocionais, consumo de drogas, etc);
• o Pesquisar sobre outras patologias
crónicas. 9
Cont….
• Os principais factores que determinam • Internamento ou visita à urgência por
maior risco de morte por asma são os asma no mês anterior.
seguintes: • • Uso de drogas ilícitas (ex: cocaína,
• • Antecedentes de crise asmática severa. heroína)
• • Duas (02) ou mais hospitalizações por • • Doença psiquiátrica crónica.
asma no ano anterior.
• • Baixo nível socioeconómico
• • Três (03) ou mais visitas à urgência
• • Outros problemas médicos
médica por asma no ano anterior.
significativos, como um ataque cardíaco e
• • outras doenças pulmonares
10
Exames auxiliares de diagnóstico

• A radiografia torácica nas crises é


• No hemograma pode-se útil para diagnóstico diferencial
encontrar eosinofilia, leucocitose (ex: pneumonia e corpo estranho),
com neutrofilia se o factor ou para excluir complicações (ex:
desencadeante for infecção pneumotórax, pneumomediastino
bacteriana, ou linfocitose se for e atelectasia).
infecção viral. • Espirometria – se disponível

11
12
7. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

• • Agudização de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC):


• • Obstrução das vias respiratórias
• • Edema pulmonar:
• • Pneumonia:
• • Insuficiência cardíaca congestiva (asma cardíaca)

13
8. Conduta

• Os objectivos principais de tratamento da crise asmática são: reverter


rapidamente a obstrução brônquica, o processo inflamatório e garantir
uma boa oxigenação pulmonar.

• Para tal, é necessário classificar a intensidade da crise, e posteriormente


manejar rapidamente o caso.

14
Tratamento da crise asmática nos cuidados intensivos

• O diagrama acima, mostra os critérios de admissão de pacientes aos cuidados


intensivos. Nestes casos, deve ser feita a estabilização do paciente e
transferência imediata para o médico, ou para uma Unidade Sanitária de
referência.
O Tratamento a fazer é:
• • Oxigénio 4 – 6 l/min via nasal, usando cânulas, cateteres ou máscaras e
observar se estão bem adaptados.
15
Cont……
• • Salbutamol (β2 agonista) por nebulizador ou inalado 5mg/ml : diluir
0.5 a 1 ml em soro fisiológico até perfazer 2-4 ml de solução e inalar até
terminar o aerossol.
• • Hidrocortisona 200mg EV ou prednisolona 1 a 2 mg/kg (40 a 60 mg)
EV
• • Aminofilina 240mg/10 ml: 6 mg/kg administrada lentamente, durante
20-30 minutos, ou de preferência em perfusão com soro fisiológico ou
dextrose a 5%, durante 30 min.
16
Cont…….
• O TMG deve avaliar o risco do paciente, de acordo com a apresentação clínica,
antecedentes e com os factores que determinam maior risco de morte por asma.
• Casos graves devem ser referidos após o início da medicação intensiva, para
seguimento em Unidade Sanitária com capacidade de entubação e clínicos mais
qualificados.

• Para os restantes casos, após a melhoria da crise, o paciente deve ter alta com
tratamento de manutenção e seguimento na consulta médica.
17
CRISE ASMÁTICA - CRIANÇA
• A asma desenvolve-se antes dos 5 anos de idade, com pico entre os 6-11
anos, mas para se fazer o diagnóstico de asma a criança deve ter pelo
menos 5 anos, porque nesta idade pode-se excluir o broncoespasmo
reactivo.

18
1. FACTORES DESENCADEANTES

• Os factores desencadeantes são os mesmos que os dos adultos.


• Destes, as infecções virais das vias respiratórias são os mais frequentes até
os 5 anos, e os alergénios são os mais frequentes após os 5 anos.

19
2. QUADRO CLÍNICO E COMPLICAÇÕES

• Os principais sinais e sintomas são os mesmos que no adulto: tosse,


dispneia e pieira.
• A criança maior irá se queixar de opressão torácica e podem estar
presentes vómitos.
• As complicações também são as mesmas que no adulto, sendo que o
quadro clinico evolui com descompensação mais rapidamente.

20
21
3. Diagnóstico

• É igualmente clínico. Devendo-se também prestar atenção aos


antecedentes

22
Características específicas das diferentes formas de gravidade
da asma
PARÂMETRO ASMA LEVE ASMA MODERADA ASMA GRAVE

FR c/min 40-55 56-65 >65

FC b/min <100 100-120 Taquicardia (>140b/min) ou bradicardia

Ausente ou leve tiragem


Dispneia Tiragem subcostal e supra esternal Triagem subcostal Adejo nasal
intercostal

Estado de alerta/vigília Normal Normal Alterado e agitado

Fala Normal Frase breve Não fala

Cor da pele/mucosas Normal Palidez Cianose

Sibilância Expiratório Inspiratório e expiratório Inspiratório e expiratório ou ausente

Broncoespasmo inspiratório e
Auscultação tórax Broncoespasmo respiratório Silêncio respiratório
expiratório

Sat O2 >95% 90-95% <90% 23


DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

• É necessário excluir outras causas de sibilância e dificuldade respiratória


na criança. As principais são as seguintes:
• • Pneumonia
• • Aspiração de corpo estranho
• • Laringotraqueobronquite
• • Epiglotite
• • Bronquiolite
24
CONDUTA

• É necessário determinar imediatamente a gravidade do episódio de asma e


posteriormente direccionar a conduta.

25
Cont…..

26
Cont…….

27
Cont….
• Tratamento da crise asmática (na criança) nos cuidados intensivos
• • Oxigénio: 1-2l/min.
• • Salbutamol em solução nebulizável de 5mg/ml: 0,03ml/kg, diluir com 4 ml de soro
fisiológico. Nebulizar com oxigénio (6l/min). Se necessário, repetir a cada 20 min na
primeira hora (até 3 doses).
• • Esteróides: Prednisolona 1 a 2 mg/kg EV ou IM
• • Aminofilina 240mg/10 ml: 5 a 6 mg/kg (máximo 300 mg) administrada lentamente,
durante 20-30 minutos, ou de preferência em perfusão com soro fisiológico ou dextrose a 5%,
durante 30 min. Em seguida, administre dose de manutenção de 5 mg/kg de 6/6 horas.
• Não administre a dose de ataque, se nas últimas 24 horas a criança recebeu este medicamento
sob qualquer forma (oral ou injectável).
• Suspenda imediatamente a medicação se a criança começar com vómitos, taquicardia
(>180b/min), cefaleia ou convulsões. 28
PONTOS-CHAVE
• Crise Asmática é o estado em que o paciente se encontra com sinais e sintomas de asma.
• Status asmático/estado de mal asmático, é o estado caracterizado por asma grave, resistente à terapêutica padrão
com broncodilatadores e corticoesteróides.
• Os sinais e sintomas típicos da crise asmática são: pieira, dispneia e tosse, acompanhados de roncos e sibilos à
auscultação.
• A ausência de murmúrio vesicular e de sibilos à auscultação (‘’pulmão silencioso’’), é indicativa de severidade
da crise asmática (obstrução severa do fluxo aéreo que não permite sequer a passagem de pequenas quantidades
de ar). Nestes casos, deve-se agir mais rapidamente e agressivamente.
• Os objectivos principais de tratamento da crise asmática são: reverter rapidamente a obstrução brônquica, o
processo inflamatório e garantir uma boa oxigenação pulmonar.
• Antes de iniciar a conduta no paciente com crise asmática, é necessário fazer uma avaliação rápida, para
determinar o nível de gravidade.
• Após o tratamento da crise asmática, o paciente deve ser referido para seguimento na consulta médica. O
seguimento adequado, evita as recorrências e reduz as complicações da asma. 29

Você também pode gostar