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TRAUMAS E EMERGÊNCIAS

TEMA:EMERGÊNCIAS NEUROLÓGICAS
- CONVULSÕES

HUGO BENEDITO HUGO 1


Fevereiro 2023
OBJECTIVOS DE APRENDIZAGEM

1. Definir convulsões, epilepsia, estado de mal epiléptico, convulsões febris.


2. Explicar as diferentes formas de crises convulsivas e listar as causas comuns
em adulto e criança.
3. Explicar como fazer a anamnese e o exame físico no paciente adulto e
pediátrico com ou que teve convulsões.
4. Explicar os diferentes passos no atendimento do paciente adulto e pediátrico
apresentando convulsões, incluindo o posicionamento e o tratamento
farmacológico.
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DEFINIÇÕES

• Define-se convulsão a um conjunto de manifestações clínicas ou


subclínicas que incluem fenómenos motores, sensoriais e psíquicos
devidos a ocorrência súbita de descargas anormais, excessivas e
sincronizadas de um grupo de neurónios do cérebro.

• Define-se epilepsia a uma síndrome caracterizada por convulsões


recorrentes, causadas por patologia ou lesão crónica do córtex cerebral.
Assim, nem todas as convulsões são necessariamente de causa epiléptica.
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Cont…..
• Define-se estado epiléptico a condição na qual as convulsões continuam para mais de 5
minutos sem que o paciente retome a consciência ou que ocorrem (repetindo-se) antes do
paciente recuperar o nível de consciência após um episódio de convulsão epiléptica.
• O estado epiléptico é uma emergência médica pois pode causar séria disfunção
cardiorrespiratória (paragem), febre e perturbações metabólicas que levem ao dano cerebral e
de outros órgãos. Geralmente os pacientes que se mantém em estado de mal epiléptico por
cerca de 2 horas e sobreviverem, estes podem ter lesões cerebrais devastadoras e irreversíveis.

• Define-se convulsões febris as convulsões tónico-clónicas generalizadas que aparecem por


causa de febre, geralmente acima de 38°C, em crianças de 6 meses até 5 anos de idade. 4
CLASSIFICAÇÃO DAS CONVULSÕES

Existe uma outra classificação baseada no quadro


clínico:
As convulsões podem ser
classificadas segundo as causas em: • • Convulsões generalizadas: é devido a
descarga generalizada dos neurónios cerebrais,
• • Convulsões primárias ou nas quais há sempre perda de consciência:
idiopática, quando não se • • Convulsões focais ou parciais: devidas a
evidencia uma causa, a causa é descarga localizada numa região do córtex
desconhecida neste caso. cerebral que pode estender-se a outras regiões ou
ficar localizada:
• • Convulsões secundárias • o Parcial simples que não tem alteração do
quando a causa é conhecida. estado de consciência.
• o Parcial complexa que tem alteração do5estado
de consciência.
CONVULSÕES EM ADULTO

1. CAUSAS DAS CONVULSÕES EM ADULTO


As causas conhecidas (30%) e mais frequentes da convulsão em adulto incluem:
• • Trauma cerebral.
• • Lesões de vasos cerebrais (AVC).
• • Infecções: meningite bacteriana, encefalite viral, abcesso, malária cerebral,
schistosomíase, neurosifilis, tuberculoma e neurocistecercose.
• • Em pacientes infectados pelo HIV: encefalopatia por HIV, meningite por
Criptococco, Toxoplasmose cerebral e CMV.
• • Neoplasias cerebrais primárias e secundárias.
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Cont…..
• • Hipoglicémia
• • Insuficiência hepática.
• • Substâncias tóxicas e medicamentos: cocaína, antidepressivos e
abstinência do álcool.
• • Eclampsia nas grávidas.
• • Encefalopatia hipertensiva.
• • Hipoxia cerebral por causas cardiológica (enfarte), respiratórias.
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MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

• As manifestações clínicas das convulsões em adultos, variam dependendo da área do


cérebro afectada. Em adultos as convulsões apresentam-se mais frequentemente com
os quadros clínicos descritos a seguir.
Convulsões generalizadas tónico-clónicas ou grande mal
• O grande mal é caracterizado por perda súbita de consciência sem nenhum sinal
prodrómico, em seguida o paciente cai no chão.
• O paciente apresenta numa primeira fase, na qual há perda de consciência, rigidez e
extensão das extremidades superiores e inferiores; apresenta apneia, pode apresentar
cianose; perda de urina e fezes (por incontinência dos esfíncteres), vómito.
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Cont….
• A segunda fase, é caracterizada por movimentos clínicos do tronco e dos
membros superiores e inferiores.
• Quando esta fase termina o tono muscular do paciente torna-se flácido, o
paciente fica inconsciente apresentando uma respiração profunda e rápida.
• A duração de um ataque é geralmente de cerca de 60-90 segundos, no
final do qual o paciente retorna ao estado consciente mas apresentando um
estado de confusão e fraqueza generalizada que permanece algumas horas.
Geralmente o paciente não lembra do que aconteceu.
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Cont….
Convulsões focais ou parciais simples
• As manifestações clínicas são localizadas numa parte do corpo
correspondente a área do córtex onde acontece a descarga.
• Por exemplo, o paciente pode apresentar movimentos tónicos ou clónicos
de um membro superior, o da face.
• Geralmente quando se trata de convulsões focais ou parciais simples a
consciência e o estado mental não são ou ficam afectados

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Cont….
Convulsões focais ou parciais complexas
• A consciência e/ou o estado mental estão afectados. Os sintomas podem
incluir:
• • Automatismos como movimentos repetitivos dos lábios, movimentos
repetitivos dos dedos da mão, repetição de pequenas frases,
• • Alucinações visuais, auditivas, do cheiro,
• • Distúrbios da memória, da percepção do tempo
• • Distúrbios afectivos como medo e a depressão. 11
DIAGNÓSTICO

• É preciso determinar se as
• o Início do ataque: súbito ou gradual;
manifestações clínicas apresentadas
pelo paciente foram verdadeiramente • o Perda/alteração de consciência, ou
devidas a uma convulsão. Portanto, consciência mantida;
deve-se proceder através de: • o Características dos movimentos dos
• Anamnese: é importante recolher as membros e do tronco;
seguintes informações do paciente, se • o Perda de urina e fezes;
for possível por familiares ou por
• o Vómito.
alguém que estava com o paciente no
momento do ataque: • o Sintomas generalizados ou
localizados, simétricas ou assimétricas;
• • Característica do ataque: 12
CONDUTA
• A conduta a ter varia dependendo se o paciente ainda está tendo o ataque ou se as convulsões já
passaram.
• Em paciente apresentando convulsões, devem ser seguidos os seguintes passos:
• É importante lembrar-se de não pôr nada na boca do paciente enquanto há o risco de ser mordido
ou de danificar os dentes, se precisar por uma cânula de Guedel
• • ABC: em particular, no paciente com convulsões é importante:
• o Colocar o paciente em posição de segurança para manter as vias aéreas permeáveis e prevenir
aspiração de secreções.
• o Afrouxar toda a roupa e cinto.
• o Proteger o paciente de possíveis traumas na cabeça, coluna ou membros, devido às convulsões,
mas não segurar o doente durante a convulsão para evitar fracturas e luxações.
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• o Administrar oxigénio 100%, 2l/min se estiver disponível.
Cont…..
• • Observar as características do ataque para poder definir o tipo de
convulsão e duração das convulsões.
• • Administrar diazepam só se a convulsão generalizada dura mais do
que 5 minutos . A maioria das convulsões autolimita-se.
• • Após a convulsão, colocar o doente em decúbito lateral em ambiente
escuro e silencioso.

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Cont….
Em caso de estado epiléptico, além dos passos acima descritos:
• • Estabelecer acesso venoso.
• • Administrar:
• o Glicose 30%, 50 ml se não foi possível excluir hipoglicemia
• o Diazepam 10mg , EV lento (5mg/min) ou alternativamente por via rectal em caso de
indisponibilidade de um acesso venoso. Em qualquer caso diluir uma ampola de 10mg/2ml
em 8 ml de glicose 5% ou soro fisiológico.
• Repetir a dose de diazepam após de 5 minutos se necessário (observar o principal efeito
secundário: a depressão respiratória).
• • Em caso de não resposta, é preciso a intervenção do médico e/ou do técnico de anestesia.
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Cont…..
• Para a administração de medicamentos de nível 3 de prescrição:
• o Fenitoína (nível 3 de prescrição) 10-15 mg/kg E.V. lento (50mg/min) =
dose de ataque depois uma dose de manutenção de 100 mg, E.V. ou oral, =
dose de manutenção iniciar 30 minutos após primeira dose se necessário.
• Ou
• o Fenobarbital (nível 3 de prescrição) 3- 5 mg/kg E.V. lento (50mg/min) =
dose de ataque depois 3,5 mg/kg dose = de manutenção (principal efeito
secundária: hipotensão com infusão).
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• Em paciente estabilizado ou em paciente não apresentando convulsões
• • Medição dos sinais vitais.
• • Controlar as vias aéreas e sua abertura e aspirar eventuais secreções se necessário.
• • Hemograma.
• • Ureia e Electrólitos.
• • Medição da glicemia.
• • Teste da malária ( TRD e gota espessa)
• •
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Cont….
• Punção lombar (após a exclusão da pressão intracraniana) em caso de suspeita meningite ou
imunodepressão.
• • Em caso de paciente conhecido em tratamento com medicamentos anticonvulsivos, avaliar
se o paciente esqueceu de tomar o medicamento ou se a dose está insuficiente.
• • Exame físico com enfoque em:
• o Avaliar se houve trauma da coluna, da cabeça, lacerações da língua e boca e fracturas dentais
• o Exame neurológico completo.
• • Referir/transferir o paciente para o médico ou especialista para poder avançar com os testes
diagnósticos mais específicos e o tratamento a longo prazo mais adequado

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CONVULSÕES EM CRIANÇAS

• Em crianças a maior parte dos ataques de convulsões são “benignos” ou


seja não tem nenhuma causa orgânica subjacente (um terço delas são
relacionada com a epilepsia).
• Existem causas típicas de umas faixas etárias e outras comuns a todas as
idades.

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CAUSAS

Que podem afectar todas as idades:


• • Trauma cerebral e hemorragia intracraniana pós traumática.
• • Infecções do sistema neurológico central: meningite, encefalite.
• • Hipoglicemia
• • Arritmias cardíacas.
• • Ingestão de medicamentos ou tóxicos.
• • Massa cerebral.
• • Malformação dos vasos cerebrais.
• • Alterações do equilíbrio hidro-electrolítico por desidratação. 20
CONT….
Causas mais frequentes nas idades de 0 a 6 meses:
• • Convulsões neonatais por hipoxia, hipoglicemia e infecções.
• • Doenças metabólicas
• De 6 meses a 5 anos:
• • Convulsões febris.

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CONT……
• o Duração do ataque;
• o Sintomas após o ataque: confusão, sonolência e fraqueza.
• • Investigar as possíveis causas
• • Perguntar se é o primeiro ataque ou se é recorrência;
• • Investigar a toma de medicamentos para epilepsia ou outras doenças.

Exame físico: é importante avaliar o exame neurológico primeiro e em seguida todos os


outros aparelhos.
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MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DAS CONVULSÕES EM
CRIANÇAS

• As manifestações clínicas das convulsões generalizadas tónico-clónicas ou


grande mal, e das convulsões parciais simples e complexas são similares a do
adulto.
• Contudo existem algumas condições clinicas características da idade
pediátrica tais como:
• • Ausência ou pequeno mal, que não constitui uma emergência por si, mas
é necessário fazer o diagnóstico para proporcionar o tratamento
• • Convulsões febris.
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CONT…..
Convulsões febris
• As convulsões febris apresentam-se em curso • Convulsões febris simples: são
de febre ≥ 38°C e tem as características das convulsões generalizadas tónico-
convulsões generalizadas tónico-clónicas. clónicas, tem duração inferior a 15
minutos e há somente um episódio nas 24
Em caso de convulsões em curso de febre é
horas após o ataque.
importante definir se a convulsão é devida a
uma infecção do sistema neurológico ou não. • Convulsões febris complicadas: tem a
duração> de 15 minutos, ou são
• As convulsões febris podem ser diferenciadas recorrentes nas 24 horas após o primeiro
em: ataque, ou são focais ou aparecem em
• • Convulsões febris simples crianças com <6 meses ou> 5 anos.
• • Convulsões febris complicadas 24
DIAGNÓSTICO DAS CONVULSÕES

O diagnóstico em crianças segue os mesmos passos do que o adulto com os seguintes pontos:
• • A anamnese é recolhida através dos familiares ou das pessoas que convivem com o paciente.
• • Prestar atenção com relação a idade, porque algumas causas são típicas a determinadas faixas
etárias.
• • Problemas na alimentação.
• • Alterações do comportamento: podem sugerir como consequência de uma massa cerebral, ou
de um abuso ou violência, sobretudo nas idades de 0 a 2 anos.
• • Presença de febre.
• • Presença de sinais de infecção. 25
CONDUTA
• A conduta a ter em caso de criança que • Se as convulsões continuarem por mais
apresenta convulsões é a mesma do 10 minutos, efectuar uma 3ª dose de
adulto.
Diazepam, cuidadosamente devido ao
• Em caso de estado epiléptico e risco de paragem respiratória.
convulsões febris
• • Diazepam por via rectal 0,5mg/kg ou • Outra alternativa seria administrar
por via E.V. 0,1-0,3mg/kg Fenobarbital E.V. ou I.M.: de 15mg/kg,
• Se não se obtiver o efeito desejado e contudo este medicamento é de nível 3
a convulsão persistir após 10 minutos, de prescrição.
administrar uma 2ª dose de Diazepam
rectal (ou E.V. na dose de 0.25mg/kg se
• A fórmula E.V. deve ser diluída em 15 -
tiver veia canalizada com soro em curso). 20 ml de Soro Fisiológico e dada muito
lentamente. 26
CONT……
• Em caso de febre, administrar antipiréticos como o Paracetamol nas doses
habituais (15 mg/kg num máximo de 4 doses diárias).
• Nos menores de 3 meses a dose é de 10 mg/kg, reduzindo a 5 mg/kg se
icterícia estiver presente. Por dia a dose máxima oral nas crianças é de
80mg/kg/dia

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• Obrigado pela atenção

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