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IPIMO

Técnico de Medicina Geral

Neurologia

Convulsões e Epilepsia

Budjarne Abdul Ismael


(Médico Clínica Geral)

Quelimane, Abril de 2023


Sumário
 Definir convulsão

 Descrever os tipos de convulsões e diferenciar convulsões febris e

convulsões de outras etiologias.

 Listar os modos de prevenção e tratamento das convulsões febris.

 Reconhecer as convulsões como o sintoma decisivo de eclâmpsia.

 Diagnosticar e tratar as convulsões provocadas por abstinência

alcoólica.

 Desenvolver um diagnóstico diferencial para convulsões

 Desenvolver uma conduta terapêutica para convulsões


Convulsões

Convulsão: palavra derivada do latim convulsione, que

significa grande agitação ou transformação;

Uma convulsão: é episódio transitório e reversível de mau

funcionamento do SNC, resultado de uma descarga


eléctrica excessiva e anormal, causada por um grupo de
neurónios do córtex cerebral hiperexcitáveis.
Convulsões

 Epilepsia é uma condição crónica caracterizada pela recorrência

no tempo e de forma aparentemente espontânea de crises


epilépticas;

 Estado de mal epilético ( é a condição na qual, uma crise se

prolonga por 30 minutos ou se repetem várias crises por um


período prolongado, tão frequentes que não consentem a
recuperação da consciência entre um episódio e o outro O EME
pode ser parcial ou generalizado.
Etiologia

Nos adultos, as causas mais frequentes de convulsões são:


 Epilepsia (será abordada no próximo bloco)

 Infeções do SNC (meningites, encefalites);

 Infeções sistêmicas com febre (convulsões febris e Malária);

 Traumatismos cranianos;

 Tumores cerebrais;

 Fármacos e tóxicos (isoniazida, ciprofloxacina, ácido


nalidíxico, amitriptilina).
Etiologia
Nos adultos, as causas mais frequentes de convulsões são:
 Abstinência ao álcool e outras drogas como o diazepam,
clordiazepóxido, fenobarbital, cocaína;

 Distúrbios metabólicos (hipoxia, hipoglicémia, urémia, insuficiência

hepática, hiponatrémia, hipocalcémia, hipomagnesemia, deficiência de


piridoxina);

 Eclâmpsia (hipertensão arterial induzida ou agravada pela gravidez);

 Doença vascular cerebral (AVC).


Classificação das Convulsões
A classificação das convulsões é essencial para a abordagem
diagnóstica e consequente conduta:

1. Convulsões parciais ou focais


Derivam de regiões bem delimitadas e isoladas do cérebro
distinguindo-se em:

a) Convulsão parcial simples, quando não ocorre perda de


consciência durante a crise;

b) Convulsão parcial complexa, quando ocorre perda de


consciência;
Classificação das Convulsões
3. Convulsão parcial com generalização secundária

Quando a convulsão começa como parcial e depois generaliza-se como


descarga de todo o cérebro.

Convulsões parciais ou focais (Quadro Clínico)

As manifestações deste tipo de convulsões podem ser psíquicas, motoras,


sensitivas ou do sistema nervoso autonómico (como sudação, vasodilatação,
hipersecreção de glândulas salivares) dependendo do grupo de neurónios do
SNC que estão envolvidos nas descargas.
Classificação das Convulsões
2. Convulsões generalizadas:

Derivam de descargas neuronais simultâneas de ambos os


hemisférios cerebrais e podem ser:

a) Convulsão generalizada pequeno mal – há perda de


consciência (crise de “ausência”) e do tónus muscular (perda
do controlo postural). Podem ocorrer em simultâneo
movimentos automáticos como mastigação, rápido piscar de
olhos ou movimentos de ambas as mãos com pequena
amplitude;
Classificação das Convulsões
2. Convulsões generalizadas:

b) Convulsão generalizada grande mal – manifesta-se


primariamente como convulsão tónico-clônica generalizada
com perda de consciência, muitas vezes com relaxamento de
esfíncteres (defecação e micção) e após a crise, o paciente fica
inconsciente, com respiração ofegante e com tónus muscular
diminuído (flacidez muscular).

Existem outras variantes destes tipos de convulsão, mas a


aplicação na prática clínica da subclassificação é limitada.
Complicações

 Aspiração de secreções;

 Quedas de grandes alturas;

 Afogamento;

 Queimaduras;

 Lesões cerebrais, entre outras.


Diagnóstico e Exames auxiliares

O diagnóstico de convulsão é clínico.

Exames:
Hemograma;

Hematozoário;

Bioquímica (alteração hepática, renal);

Electroencefalograma (EEG).
Diagnóstico Diferencial

Síncope;

Distúrbios psicológico;

Enxaqueca;

Ataque Isquémico Transitório (AIT);

Distúrbios de sono (narcolépsia/cataplexia);

Distúrbios do movimento (tiques, Coreia, entre outros).


Conduta geral
Colocar o paciente na posição de semipronação com a
cabeça virada para o lado para evitar aspiração – garantir o
ABC.

Oxigénio 6l/min por máscara facial;

Cateter venoso e algaliar;

Diazepam 10 - 20 mg EV lento (1 ml/min) a repetir se


necessário passados 30-60 min. Se não tem acesso EV, use
a via rectal, na mesma dose.
Conduta específica
Convulsões Febris

 ABC + diazepam + Baixar a febre (acetil salicilato de lisina

e/ou arrefecimento corporal - tirar roupas sobretudo as quentes


como camisolas e casacos e dar banho e expor o corpo;

 Tratamento específico da infecção – malária, infecções


respiratórias, entre outras).
Conduta específica

Convulsões por Infecção Aguda do SNC


ABC + diazepam + Tratamento específico da infecção

(meningite, etc);
Conduta especifica
Convulsões no contexto de Eclâmpsia
ABC + Anticonvulsivantes (Sulfato de Magnésio: 4g –
bolus em Dextrose a 5% EV, depois 8 g em perfusão EV
em Dextrose a 5% 1000ml de 8/8h ou alternativamente
Diazepam 40 mg em perfusão Dextrose a 5% 1000ml de
8/8h);

Na administração de sulfato de magnésio deve-se


monitorar a diurese (>30 ml/h), os reflexos tendinosos e a
frequência respiratória >14 ciclos/min;

 Se intoxicação:10 ml gluconato de cálcio a 10% EV lenta.


Referir ao Médico.
Conduta específica

Convulsões no contexto de Abstinência ao Álcool


 ABC + diazepam + Tiamina 100 mg IM ou EV + Dextrose 5%

1000 ml + Dextrose a 30% 40 a 60 ml EV.


 Referência posterior a consulta de psiquiatria para tratamento

da abstinência ao álcool.

Convulsões no contexto de hipoglicémia


 ABC + diazepam + Dextrose 5% 1000 ml + Dextrose a 30%

40 a 60 ml EV.
EPILEPSIA
Epilepsia
A epilepsia é definida pela (OMS) como uma "afecção crónica de
etiologia diversa, caracterizada por crises repetidas, devidas a uma
carga excessiva dos neurónios cerebrais, associada eventualmente a
diversas manifestações clínicas e paraclínicas" como convulsões.

A crise epiléptica é uma perturbação de funcionamento do cérebro,


temporária e reversível, que produz manifestações motoras,
sensitivas, sensoriais, psíquicas ou neurovegetativas, mas sem
febre.
Epidemiologia
A epilepsia é uma doença relativamente comum na população
geral, apresentando incidência bastante variável (50 - 120 casos
por 100.000 pessoas por ano) nos diferentes países;

A epilepsia afecta cerca de 4% da população da zona rural em


Moçambique e é responsável por grande parte de incapacidades
mentais (Ministério da Saúde – Estratégia e Plano de Acção
para Saúde Mental – 2006 à 2015).
Etiologia
1. Idiopática;

2. Secundária a:

a) Anomalias dos canais iónicos;

b) Lesões específicas do cérebro (infecções, traumatismos,

tumores, distúrbios metabólicos e hidroelectrolíticos,


doenças degenerativas, doenças vasculares, entre outras).
Classificação
Quadro Clínico

Os sinais e sintomas de uma crise epiléptica nomeadamente,


distúrbios da consciência, dos movimentos ou da sensibilidade,
reflectem a activação da parte do cérebro afectada por esta
actividade excessiva;

Pode ser afectada apenas uma parte do cérebro (crise parcial ou


focal) ou toda extensão dos dois hemisférios cerebrais (crise
generalizada).
Quadro Clínico
Crise Generalizada Tónico-Clónica (Grande Mal)

 É caracterizada por queda súbita (com ou sem grito),

enrijecimento muscular seguido de convulsões, paragem da


respiração, possível perda de urina e/ou mordedura da língua,
todo este episódio durante menos de 5 minutos após o qual
reaparece a respiração e ocorre uma possível confusão e/ou
fadiga antes do retorno à normalidade.
Quadro Clínico
 Crise de Ausência (Pequeno Mal)

É caracterizada por episódios breves (3 - 30 segundos) de paralisia e


desatenção que podem até passar despercebidos pelas outras pessoas.
A recuperação é rápida mas os episódios são acompanhados por perda
da consciência.

 Crise Mioclónica

É caracterizada por contracções musculares súbitas e maciças


atingindo todo o corpo ou partes do mesmo. O doente pode atirar o
que tiver nas mãos ou cair de uma cadeira.
Quadro Clínico
Crise Atónica

 É caracterizada por queda súbita, sem perda de consciência. Dura

cerca de 10 a 60 segundos; depois o doente pode pôr-se de pé e andar.

Crise Parcial Simples


 É caracterizada por convulsões limitadas a uma área do corpo, mas
que podem estender-se a outras áreas, sem haver perda de
consciência. Podem generalizar-se e provocar uma crise de grande
mal. Sensação de formigueiros ou picada percorrendo uma ou mais
áreas corporais. Visualização ou audição de coisas ou sons que não
estão presentes. Sensação inexplicável de medo ou prazer. Cheiros ou
gostos desagradáveis, sem que haja nada que os provoque. Sensação
"esquisita" no estômago.
Quadro Clínico
Crise Parcial Complexa

 É caracterizada por súbito enrijecimento muscular seguido de

movimentos mastigatórios e automatismos, constando de gestos


desajeitados de mexer na roupa, agarrar ou manusear objectos,
despir-se.

 O Doente pode deambular ou pode resistir quando agarrado. O

episódio dura alguns minutos e após a crise pode-se estabelecer


confusão no doente que pode ser longa e acompanhada por perda
de consciência.
Quadro Clínico
Estado de Mal Epilético

 É uma situação em que as convulsões se seguem umas às outras

sem haver, entre elas, recuperação da consciência. Necessita de


hospitalização e tratamento médico imediato, pois pode ser
mortal ou provocar lesões cerebrais graves.

 Uma crise ou ataque que persiste por 20 - 30 minutos, se estima

que é a duração necessária para causar dano aos neurónios do


SNC.
Complicações
 As complicações da epilepsia decorrem fundamentalmente da

crise e são similares às das convulsões;

 Estes pacientes podem desenvolver transtornos mentais,


incluindo depressão e psicose.
Diagnóstico e exames auxiliares
São similares aos usados para estabelecer a etiologia das
convulsões.

 Suspeitar se de epilepsia se as convulsões são recorrentes, sem

febre, sem sinais de doença sistémica.

 Existem alguns exames auxiliares que permitem aprofundar o

diagnóstico de Epilepsia. Eles são: Electroencefalograma;


Tomografia Computadorizada e Ressonância Magnética.
Conduta
A conduta perante um paciente com uma crise epiléptica é similar a
conduta das convulsões.

Perante um paciente epiléptico, o TMG deve:

 Providenciar informações sobre epilepsia e crises epilépticas;

 Iniciar a medicação com anti-epilépticos. Para o nível do TMG,

apenas o fenobarbital oral deve ser usado;


Conduta
Providenciar apoio psico-social incluindo terapia familiar;

Providenciar consultas regulares para controlo;

Informações a serem transmitidas ao paciente e aos seus familiares:


 Epilepsia pode afectar a qualquer pessoa;

 As crises Epilépticas podem ser controladas;

 Existe tratamento para o controlo das crises epilépticas;

 É importante continuar com as actividades normais que sejam

interessantes e que proporcionem prazer;


 É importante praticar exercício físico regular, é importante cumprir

com a medicação;
Drogas antiepilépticas clásicas—Em Pediatría

 Fenobarbital (FB). 3 a 5 mg/kg/día.

 Fenitoina (FNT). 4 a 7 mg/kg/día.

 Carbamazepina (CBZ).15 a 30 mg/kg/día.

 Valproato de Sodio o Magnesio (VPA). 30 a 60 mg/kg/día.

 Clonazepam (CLZ). 0,03 a 0,25 mg/kg/día.

 Clobazan (CLB). 20 a 60 mg/día.


Drogas antiepilépticas de segunda geração-(Em Pediatría)

 Vigabatrina. 40 a 150 mg/kg/día.

 Oxcarbamazepina. 30 a 50/mg/kg/día.

 Lamotrigina. 1 a 7,5 mg/kg.

 Gabapeptina. 900 a 2400 mg/día.

 Tiagabina. 2,5 a 35 mg/día.

 Topiramato. 0,5 a 6 mg/kg/día hasta 25mg/kg/día.


Objetivos terapêuticos EME
 Controlar as convulsões;

 Tratar a lesão causal se for possível e as complicações;

 Evitar a hipoxemia e a hipercapnia;

 Manter uma hemodinâmica estável;

 Manter um adequado equilíbrio hidroeletrolítico e acido básico.


Protocolo de Tratamento

Menos de 5 minutos:

 Garantir permeabilidade da via aérea, se oxigena o paciente, se

avalia a respiração e a tensao arterial;

 Intubar de ser necessário;

 Se canaliza veia periférica;

 Tirar amostras de sangre para realizar hemograma completo,

ionograma, glicemia, creatinina, gasometria, cálcio e fósforo;

 Se hipotenso se inicia infusão de solução salina al 0.9 %;

 Se injeta 100 mg ev de tiamina seguidos de 50ml de dextrose a 50 %.


Protocolo de Tratamento do EME

Mais de 6 minutos:

 Diazepan:0.25mg/kg EV. a razão de 2 mg/min. Repetir a dose se

depois de 5 minutos a crise não ceder.

Mais de 15 minutos:

 Fenitoína: 15-20 mg/kg EV, não administrar mais de 50 mg/min.

 Dose de manutenção 7 mg/Kg para 24 horas.


Protocolo de Tratamento do EME

Menos de 60 minutos:

 Se as convulsões continuam intubar o paciente.

Fenobarbital sódico: 50-100 mg/min até que as convulsões


cedam ou se segue a dose de 20 mg/kg.
Protocolo de Tratamento do EME
Mais 60 minutos:

Se as convulsões persistem:
 Anestesia general.

 Bloqueio neuromuscular.

 Monitoramento do EEG.

 Cateterização venosa central.

 Manter estrito controle da diureses.

 Tiopental: dar um bolo inicial de 100- 250 mg EV, e continuar

com uma infusão EV continua a um ritmo de 3-5mg/kg/hora.


Bibliografia
 Manual de Formação Para Técnicos de Medicina Geral,

Neurologia, 2013, pag 12 – 22.

 Fauci AS, Loscalzo J, et al. Manual de Medicina de Harrison.

17ª edição. The Mc Graw-Hill Medical; 2009.

 Navarro RI e González GP. Propedêutica Médica e Semiologia

Médica (Propedeutica Clínica y Semiologia Médica) Editorial


Ciências Médicas, Tomo I, 2003.

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