Sumario Definir o termo tosse convulsa e a sua importância clínica. Indicar a etiologia microbiológica, factores de risco e modo de transmissão. Descrever quadro clínico, as complicações, o diagnóstico diferencial, tratamento, e as indicações para referência. 4Descrever as medidas de prevenção. Tosse Convulsa - Pertussis TOSSE CONVULSA (definição) Tosse convulsa ou pertussis ou ainda coqueluche é uma doença infeciosa aguda do trato respiratório causada por um coco bacilo gram negativo, a Bordetella pertussis e Para pertussis que se caracteriza por paroxismos de tosse seca. Etiologia e transmissão O agente etiológico é a Bordetella pertússis. É transmitida por via respiratória por inalação de partículas de ar que contêm o agente etiológico. Uma criança com a sintomatologia pode transmitir a doença por um período de duas semanas até três meses após a instalação da doença. O periódo de incubação típicamente é 6-14 dias. Factores de risco As crianças pequenas (menos de 2 anos) são mais vulneráveis, e o quadro clínico é mais grave em em qualquer criança que não foi vacinado, especialmente em lactentes. Também não fornece uma imunidade permanente para a doença. Apesar disso, é fundamental que todas as crianças ficam imunizadas já que os benefícios superam os riscos. Quadro clínico Fase catarral (1-2 semanas): febre e inconstante e baixa, rinorreia serosa, obstrução nasal, tosse seca esporádica e lacrimejo. A contagiosidade é máxima durante esta fase Fase paroxística (6-12 semanas) – aumento da tosse em paroxismos (vários acessos de tosse no mesmo ciclo expiratório) seguidos de ‘’guincho’’ - passagem de ar pela glote, engasgamento, protusão da língua, cianose e pletora facial, vomito pós tússico. Quadro clínico Lactentes podem não manifestar o guincho; em vez disso, a tosse pode ser seguida pela suspensão da respiração (apneia) ou cianose, ou a apneia pode ocorrer sem a tosse. Este esforço em tossir pode provocar hemorragia subconjuntival Fase de convalescença (1-2 semanas) - ocorre um a diminuição progressiva da tosse. Diagnostico Clinico Laboratorial Hemograma com leucocitose, cultura das secreções, Rx do tórax, PCR, imunofluorescência e serologia. Diagnostico diferencial Resfriado comum. Influenza. Tuberculose. Bronquiolite. Corpo estranho. Tratamento Não Medicamentoso: Durante os paroxismos de tosse, é necessário educar a mãe a posicionar a criança com a cabeça para baixo ou em decúbito lateral Se tiver cianose, é necessário limpar as secreções Se ocorrer apneia e fazer estimulação respiratória manual ou ventilação com ambú, administrando oxigénio. Tratamento Não Medicamentoso: Estimular o aleitamento materno e a ingestão de líquidos por via oral. Se a criança não conseguir beber, inserir uma sonda nasogástrica e administrar líquidos de manutenção em quantidades pequenas Assegurar uma nutrição adequada, administrando refeições em menor volume e maior frequência. Se houver sofrimento respiratório, dar líquidos de manutenção intravenosos para evitar o risco de aspiração e reduzir o mecanismo de desencadeamento da tosse. Tratamento Medicamentoso: Nos casos leves, em crianças ≥ 6 meses, o tratamento pode ser domiciliar com: Eritromicina oral (12,5 mg/kg 4 vezes por dia) por 10 dias. Tratamento Medicamentoso: Nos casos graves, se idade <6 meses e se criança com pneumonia, convulsões, desidratação, desnutrição grave, apneia prolongada ou cianose após a tosse é necessário internar a criança e providenciar os seguintes tratamentos: Eritromicina 10 mg/Kg/dose/6-6 h – 14 dias v.o ou Claritromicina 15mg/Kg/dia/12-12 h – 14 dias v.o ou Azitromicina 10 mg/dia / dose única v.o – 5 dias Tratamento Medicamentoso: Corticosteróides por via oral: Prednisolona 1–2 mg/kg/dia, 2 vezes dia durante 4-5 dias. Broncodilatadores (na fase paroxística) – Salbutamol 0,3mg/Kg/dia/ 6- 6h, diluir em 4 mL de soro fisiológico Corticosteróides por via oral: Prednisolona 1 mg/Kg/dia –7 dias) Oxigénio 1 a 2 L/min (0,5 L/min em lactentes pequenos) - crises de apneia ou cianose, ou paroxismos grave de tosse. Tratamento Medicamentoso: Se a criança tiver febre (≥ 39ºC) administrar Paracetamol por via oral, 10-15 mg/kg num máximo de 4 doses diárias). Não administrar medicamentos para supressão da tosse, sedativos, agentes mucolíticos ou anti-histamínicos. Complicações Convulsões, Bradicardia, Encefalopatia Cianose, Hemorragia subaracnoídea e Pneumonia primária ou intraventricular, secundária, Hemorragias conjuntivais, Hérnias, Petéquias Desidratação, Prolapso rectal, Desnutrição, etc. Apneia, Critérios de referência-transferência É preciso referir/transferir os pacientes que apresentam uma ou mais das seguintes condições: Tosse convulsiva que têm náuseas e vômitos intratáveis. Desnutrição. Convulsões. Encefalopatia. Hipoxemia consistente que não estão melhorando com oxigênio suplementar. Prevenção A prevenção desta doença é feita com a administração da vacina No caso de tosse convulsa numa família com mais crianças, é necessário reforçar a vacinação com uma dose adicional de vacina DPT. Administrar Eritromicina profilática (10-12.5 mg/kg 4 vezes por dia) por 10 dias aos contactos próximos do doente. RINITE RINITE É uma a infecção da mucosa das cavidades nasais de origem bacteriana, viral ou fúngica. É uma das infeções das vias aéreas superiores mais frequentes nas crianças. A rinite pode ser aguda se a duração for menos de 5-7 dias e crónica se a duração for maior que 2 semanas. Etiologia Os agentes etiológicos são: vírus como Rhinovírus, Coxackievírus, Adenovírus, Vírus Respiratório Sincitial ou vírus Influenzal. Bactérias (Estreptococo, Pneumococo, Estafilococo, Hemofilus influenzae), afectam também a faringe determinando as faringites. Alergénios podem determinar rinite, mas neste caso trata-se de uma rinite alérgica, crónica ou recorrente. Quadro clínico As manifestações clínicas típicas da renite são: Prurido nasal inicial; Ardor e secura das fossas nasais e da faringe; Secreção nasal: Pode ser de qualquer tipo, serosa, mucóide ou purulenta; Respiração oral por ter as cavidades nasais obstruidas pelas secreções; Dor de cabeça pode estar presente ou não, devida ao enchimento dos seios paranasais de secreções, sobretudo no caso de infecção bacteriana; Quadro clínico Espirros frequentes, Dificuldade em se alimentar pode ocorrer em lactentes porque durante a sucção não conseguem respirar pelas narinas Epistaxe no caso de rinorreia crónica; Hiposmia ou anosmia: reduzida capacidade ou incapacidade de diferenciar os cheiros, que pode ser referida pelas crianças mais velhas Diagnóstico É feito com base na história e no exame físico das vias aéreas superiores (cavidade oral, cavidades nasais) e inferiores, avaliando os sinais e sintomas Diagnóstico diferencial Deve ser feito com base em algumas infecções das vias aéreas superiores como: Faringite: a mucosa da faringe é afectada, há febre, disfagia, odinofagia Sinusite: há dor de cabeça intensa, secreções nasais densas e a vezes amareladas, usualmente sem febre. Tratamento não medicamentoso Não há tratamento específico em case de etilogia viral, pois esta condição passa espontaneamente em cerca de uma semana. Se o lactente tiver as narinas bloqueadas pelas secreções é necessários limpá-las com soro fisiológico. A hidratação é importante para ajudar a limpar a infecção na criança. Ar humidificado pode ajudar a acabar com as secreções facilitando a congestão nasal. Vaselina reduz a irritação da mucosa e fissuras da nariz. Tratamento medicamentoso Antibiótico: Amoxicilina (> 3 meses e até 20Kg: 50m/kg/dia 3 vezes/dia por 5 dias). Crianças com >de 20 Kg: 250-500 mg de 8/8h (máximo 3 g por dia) Se febre: Paracetamol 10-15 mg/dose Complicaçôes Sinusite bacteriana. A otite média aguda. Pneumonia bacteriana. Prevenção O cuidador com rinite deve lavar as mãos após cada espirro/tosse e antes de cuidar da criança. O paciente com rinite deve espirrar protegendo as vias aéreas para não espalhar o aerossol com o agente causal. Evitar o contacto da criança com a pessoa que tem a rinite. GRIPE GRIPE Define-se gripe ao conjunto de sintomas e sinais devidos a infecções virais comuns e autolimitadas, que afectam as vias aeras superiores e que necessitam apenas de cuidados de suporte. Etiologia Mais frequente - Vírus sincicial respiratório (VRS). Outros agentes incluem: Vírus parainfluenza (tipo 1 a 4), Influenza A e B, Rhinovírus, Coxackievrius, Adenovírus, Coronavírus. Transmissão Inter-humana através da tosse (aerossóis) e pelo contacto directo com mãos e objectos que contenham secreções infectadas. O contágio ocorre frequentemente em comunidades fechadas como domicilio, creches. Período de incubação: 2 a 5 dias, Período de contágio: desde algumas horas antes, até 2 dias após o início dos sintomas. Quadro Clínico lactentes – período prodrómico: anorexia, irritabilidade, vómitos, alteração do sono, dificuldade respiratória, congestão nasal que dificulta a alimentação e sono. Crianças mais velhas - irritação nasal; dor de garganta; secreção nasal fina e abundante; Irritação ocular; cefaleia; mialgia; febre; 2º a 3º dia a secreção nasal torna-se purulenta devido a descamação do epitélio e a intensa infiltração por leucócitos. As manifestações regridem entre o 5º e 7º dia. Diagnóstico O diagnóstico é baseado na história clínica, e no exame físico descrito acima (sinais e sintomas). O hemograma pode ajudar a excluír a presença de supra- infecção bacteriana. Em caso de febre sempre tem que ser pedidos testes para Malaria, par excluír uma concomitante infecçao por Plasmodio. Diagnóstico diferencial Pneumonia. Influenza. A otite média aguda. Tratamento Não devem ser administrados antibióticos nem outros medicamentos para a tosse. Geralmente passa espontaneamente em 7-15 dias. Se a criança tiver dificuldade em respirar ou alimentar-se por causa das secreções nasais é necessário limpar as narinas com o soro fisiológico. Se a febre estiver presente, administrar Paracetamol: 10-15mg/Kg/dose a cada 4-6h. Prevenção O cuidador com gripe deve lavar as mãos após cada espirro/tosse e antes de cuidar da criança. Deve-se evitar o contacto da criança com a pessoa que tem a gripe. O paciente com gripe deve espirrar ou tossir protegendo as vias aéreas para não espalhar o aerossol com o agente causal. SINUSITE SINUSITE A Sinusite é uma inflamação dos seios paranasais geralmente associada a um processo infeccioso por vírus, bactéria ou fungo mas que também pode estar associada a um processo alérgico. Os seios paranasais são formados por um grupo de cavidades que contêm ar e que se abrem dentro do nariz e se desenvolvem nos ossos da face. Epidemiologia As crianças têm 6-8 infecções virais das vias respiratórias superiores anualmente, estima-se que entre 5% e 13% destas infecções pode ser complicada por uma infecção bacteriana dos seios paranasais. A idade média de uma criança com sinusite é geralmente 5-6 anos de idade. O seio paranasal mais afectado na criança (1-5 anos) é o seio etmoidal Classificação A sinusite pode ser classificada em: Aguda: se a duração é limitada de 2-3 semanas; Subaguda: se continua durante 4-12 semanas; Crónica: se continua por mais de 12 semanas. Etiologia As bactérias (Estreptococo, Estafilococo, Pneumococo, Haemofilus inflenzae, e Pseudomonas aeruginosa em pacientes imunodeprimidos;) Os vírus (Rhinovírus, Influenza A e B virus, Vírus parainfluenzae, Coronavírus, Adenovírus e Enterovírus; Fungos, em pacientes immunodeprimidos: Cândida, Aspergillo. Alergénios: poluentes, acaras Fatores predisponentes Infecções das vias respiratórias altas ou superiores; Alergia; Imunodepressão; Malformações anatómicas ou patologias genéticas que impedem a drenagem fisiológica das secreções das vias respiratória; Trauma; Infecções dos dentes; Exposição ao fumo Quadro Clínico Sinais-sintomas específicos: Sinusite etmoidal: dor entre os olhos, atrás dos olhos e cefaleia frontal; Sinusite frontal: cefaleia frontal, Sinusite maxilar: dor na área maxilar espontânea ou a palpação, dor dos dentes, cefaleia frontal Quadro Clínico Sinais-sintomas gerais: Dor aumenta ao baixar a cabeça Secreção nasal amarelada, verde e muito densa Voz anasalada; Hiposmia: Pode haver tosse seca ou produtiva (purulenta) A febre geralmente está ausente; • Pode haver otalgia ou sensação de ter os ouvidos “cheios”, “entupidos” caso esteja afectado o ouvido médio; Quadro Clínico Na sinusite crónica podem estar presentes os seguintes sinais-sintomas: Tosse crónica seca; Febre de origem desconhecida; Dor dos dentes; Halitose Diagnóstico O diagnóstico é baseado na história clínica e no exame físico dos seios paranasais que inclui as seguintes manobras: Inspecção das cavidades nasais: pesquisar sinais de infecção ou alergia; Inspecção da cavidade oral e orofaringe: pesquisar sinais de infecção da mucosa orofaríngea como uma secreção purulenta na parede da orofaringe. Inspeccionar os dentes da arcada superior para uma eventual infecção, abcesso, cárie ou fractura; Diagnóstico Palpação dos seios paranasais: pesquisando a dor (diretamente apalpar e fazer uma percussão da pele sobre os seios frontal e maxilar. Dor sugere inflamação) Hemograma e HTZ Raios x do crânio Tomografia axial computarizada (TAC) o exame de eleição é a cultura do aspirado Diagnóstico Diferencial A sinusite deve ser também diferenciada das seguintes condições: Influenza ou gripe: tem sintomas sistémicos como a febre e sua duração é menor; Otite média: há otalgia importante e febre, há alteração da membrana timpânica; Rinite alérgica: é caracterizada por secreção serosa, espirros Tratamento não medicamentoso O tratamento da sinusite tem por objectivo a melhorar a drenagem do conteúdo dos seios paranasais, controlar a infecção e evitar as complicações A inalação de vapor aquoso para determinar uma vasoconstrição e diluição das secreções, melhorando a drenagem.A sinusite viral cura espontaneamente. Tratamento medicamentoso A sinusite bacteriana é tratada com antibióticos: Amoxicillina e Ácido Clavulânico por via oral: crianças > de 3 meses e até 20 Kg 50mg/kg/dia, 3 vezes ao dia durante 2 semanas. Crianças com >20 Kg: 250-500 mg 8/8h (máxima 3 g por dia) Eritromicina por via oral, no caso de alergia à Amoxicilina, na dose de 50mg/Kg/dia a cada 6h durante 2 semanas; Metronidazol por via oral, associar no caso de infecção dental ou com secreçôes particularmente mal cherosas (etiologia anaeróbia) 15-20 mg/kg/dia divididos em 3 tomas durante 2 semanas Tratamento medicamentoso Na sinusite crónicaa duração do tratamento antibiótico deve ser de 4-6 semanas e devem ser associados também com aos seguintes medicamentos: Descongestionantes da mucosa nasal por uso local nas crianças com mais de 6 anos de idade. Corticosteróides por via oral, Prednisolona 1 – 2 mg/kg/dia, 2 vezes dia durante 4-5 dias para crianças com rinite alérgica concomitante. Prevenção Aumentar lavagem das mãos e diminuição de numeros das crianças em creches têm demonstrado para ajudar na prevenção da transmissão. Para quebrar o ciclo da infecção crônica, retirando a criança da creche por um tempo pode ser necessária. Complicações Mucocelos (lesões inflamatórias crónicas dos seios frontais), Osteomielite do osso frontal/maxilar, Celulite Abcesso orbitário, Meningite Abcesso cerebral/epidural, Empiema subdural Trombose do seio cavernoso. Bibliografia Manual de Formação Para Técnicos de Medicina Geral, Neurologia, 2013, pag 12 – 22. Moore D. Anatomia orientada para a clínica. 5ª edição. Brasil: Guanabara Koogan; 2007. Guyton AC. Tratado de Fisiologia Médica. 8ª edição. Brasil: Guanabara Koogan; 1992.