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16.1 INTRODUÇÃO
A coqueluche é uma infecção bacteriana do epitélio ciliar do trato
respiratório causada pela Bordetella pertussis, cocobacilo aeróbio
encapsulado isolado somente em humanos. É uma doença
altamente contagiosa, que se transmite durante os acessos de
tosse e eliminação de gotículas. Cursa com tosse prolongada,
tradicionalmente acompanhada por um “guincho” inspiratório e
diferentes graus de desconforto respiratório.
16.2 EPIDEMIOLOGIA
A coqueluche é uma doença de distribuição mundial e a incidência
é estimada em 16 milhões de casos por ano, com cerca de 200 mil
óbitos. Entre as doenças imunopreveníveis que causam morte em
menores de 5 anos, a coqueluche ocupa o quinto lugar.
Nos últimos 10 anos, tanto no Brasil quanto no mundo houve um
aumento na incidência dos casos possivelmente relacionada à
não vacinação de lactentes; estes são, em grande parte,
acometidos por meio de infecção materna ou de outros contatos
intradomiciliares.
#importante
A coqueluche é uma doença de
notificação compulsória.
16.3 TRANSMISSÃO
A transmissão é feita por eliminação de gotículas durante a tosse,
fala ou espirro. O período de transmissão se inicia cinco dias após
o contato e dura até três semanas após o início da tosse
paroxística e pode chegar em até quatro a seis semanas nos
pacientes com menos de 6 meses. O período de incubação é de
cinco a 10 dias, podendo ainda variar entre quatro a 21 dias ou,
mais raramente, até 42 dias.
16.4 PATOGENIA
A B. pertussis, ao entrar em contato com a mucosa respiratória do
hospedeiro, adere ao epitélio ciliado através de uma
hemaglutinina filamentosa. A seguir, a bactéria elimina toxinas (a
mais importante é a pertussis) e enzimas que deflagrarão a
resposta imunológica do hospedeiro e provocarão os sintomas.
Essas toxinas e enzimas paralisam e destroem os cílios do epitélio
respiratório, causando diminuição na eliminação das secreções.
Ocorre lesão do epitélio respiratório com destruição celular,
hemorragias focais, edema e infiltrado peribrônquico.
16.5 QUADRO CLÍNICO
Os sintomas podem variar com a idade do indivíduo, imunidade, o
uso de antibióticos e comorbidades. Adolescentes e adultos têm
apresentado com quadro clínico atípico com mais frequência.
Na sua forma clássica, a doença é dividida em três fases:
▶ Fase catarral: com o período de incubação, inicia-se um quadro
de resfriado comum, com coriza e secreção nasal, tosse seca,
mal-estar e febre baixa a moderada. A duração vai de uma a duas
semanas;
▶ Fase paroxística: depois de sete a dez dias do quadro catarral,
inicia-se o quadro clássico com tosse paroxística característica da
coqueluche. Ocorrem acessos súbitos de tosses curtas, rápidas,
sem intervalo para inspiração entre elas, seguidos por uma
inspiração profunda com o “guincho” característico. Pode ser
acompanhada, também, de vômito após o acesso de tosse. Nas
crianças menores de 1 ano e principalmente nas menores de 6
meses, durante os episódios de tosse é possível observar pletora
facial, cianose, apneia, petéquias na face e no pescoço pelo
esforço e convulsão. A fase de tosse paroxística dura em média
de uma a quatro semanas. Nesta fase pode ocorrer linfocitose,
que pode estar ausente nos pacientes imunizados ou com
coinfecção bacteriana;
▶ Fase de convalescença: as crises de tosse, o guincho, os
vômitos e os engasgos diminuem progressivamente.
A tosse é a última a desaparecer por completo e pode levar
alguns meses para isso. Nessa fase, pode ocorrer exacerbação do
quadro com novos paroxismos caso o paciente adquira alguma
infecção respiratória concomitante. A fase dura de duas a seis
semanas, podendo se estender por até três meses.
Crianças vacinadas e adultos, em geral, apresentam quadro
menos exuberante e o diagnóstico, às vezes, é esquecido. Nesse
grupo, a presença de B. pertussis pode ser identificada em 5 a
25% dos pacientes com tosse há mais de 14 dias sem outra causa
aparente.
16.6 DIAGNÓSTICO
O Ministério da Saúde define critérios para a suspeita e/ou
confirmação de casos de coqueluche. Existem critérios clínicos,
clínico-epidemiológicos e laboratoriais para confirmar o
diagnóstico.
16.6.1 Casos suspeitos
▶ Menores que 6 meses: independentemente do estado vacinal,
qualquer criança que apresente tosse há mais de 10 dias
associada a pelo menos um dos demais: tosse paroxística — de
cinco a 10 tosses curtas em uma mesma expiração —, “guincho”
inspiratório, engasgos, cianose, apneia e vômitos pós-tosse;
▶ Seis meses ou mais: independentemente do estado vacinal,
qualquer indivíduo com tosse de qualquer tipo há mais de 14 dias
associada a pelo menos um dos demais: tosse paroxística — de
cinco a 10 tosses curtas em uma mesma expiração —, “guincho”
inspiratório e vômitos pós-tosse;
▶ Todo indivíduo: que apresente tosse por qualquer período com
história de contato face a face com um caso confirmado pelo
critério laboratorial.
16.6.2 Casos confirmados
▶ Critérios clínicos:
▷▷ Abaixo de 6 meses: independentemente do estado vacinal,
qualquer criança que apresente tosse há mais de dez dias
associada a dois ou mais dos demais: tosse paroxística, “guincho”
inspiratório, engasgos, cianose, apneia e vômitos pós-tosse;
▷▷ Acima de ou com 6 meses: independentemente do estado
vacinal, qualquer indivíduo com tosse de qualquer tipo há mais de
14 dias associada a dois ou mais dos demais: tosse paroxística,
“guincho” inspiratório e vômitos pós-tosse.
▶ Critérios clínico-epidemiológicos:
▷▷ Paciente definido como caso suspeito e que é contato de um
caso confirmado por cultura ou PCR no período de
transmissibilidade.
▶ Critérios laboratoriais:
▷▷ Isolamento da B. pertussis por cultura da secreção da
nasofaringe ou identificação por PCR em tempo real.
#importante
A detecção do B. pertussis pela cultura
da secreção nasofaríngea tem maior
sensibilidade quando é colhida durante a
fase catarral e até duas semanas da fase
paroxística.
Quando suspeitar de
coqueluche na faixa etária
pediátrica?
▶ Menores de 6 meses: independentemente do estado
vacinal, qualquer criança que apresente tosse há mais
de 10 dias associada a pelo menos um dos demais:
tosse paroxística (de cinco a 10 tosses curtas numa
mesma expiração), “guincho” inspiratório, engasgos,
cianose, apneia e vômitos pós-tosse;
▶ Seis meses ou mais: independentemente do estado
vacinal, qualquer indivíduo com tosse de qualquer tipo
há mais de 14 dias associada a pelo menos um dos
demais: tosse paroxística (de cinco a 10 tosses curtas
em uma mesma expiração), “guincho” inspiratório e
vômitos pós-tosse.
Todo indivíduo que apresente tosse por qualquer
período com história de contato face a face com um
caso confirmado pelo critério laboratorial.