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4.1 LARINGITES
As laringites podem ser classificadas em agudas, com duração de
até 15 dias, ou crônicas, com duração de mais de quatro semanas.
Os adultos geralmente têm, como queixa, a disfonia; nas crianças,
a sintomatologia normalmente é estridor, tosse e dispneia, pois as
dimensões do órgão são menores.
4.1.1 Infecciosas
As infecções agudas ocorrem com febre e comprometimento das
vias aéreas, sendo mais prevalentes na infância. As crônicas
geralmente têm a dor e a rouquidão como sintomas
predominantes e são mais frequentes em adultos.
4.1.1.1 Agudas
#importante
Na epiglotite, quando há suspeita
diagnóstica, deve-se iniciar inalação com
adrenalina e intubação precoce pelo
médico mais experiente nos casos de
insuficiência respiratória.
b) Supraglotite adulta
O quadro em adultos é menos intenso, não levando ao
comprometimento das vias aéreas. O diagnóstico é feito por
radiografia cervical e visualização por meio da
nasofibrolaringoscopia.
A faixa etária atingida está entre os 18 e os 40 anos, sem
prevalência sazonal. O agente causador nos adultos não é bem
definido. Somente cerca de 20% a 30% apresentam hemocultura
positiva, a maioria para Haemophilus influenzae B, podendo
também ser viral, fúngico, C. albicans ou por trauma.
O tratamento recomendado consiste em observação,
hemocultura, antibioticoterapia com cobertura para H. influenzae
— amoxicilina e clavulanato —, corticoterapia e manutenção da via
aérea nos casos mais intensos.
c) Laringotraqueíte aguda
▶ Definição: a laringotraqueíte aguda, ou crupe, pode ser definida
como uma infecção aguda das vias aéreas altas. O fator crucial da
doença é o edema da área subglótica. Em crianças menores de 3
anos, esse é o ponto de maior estreitamento das vias aéreas
altas;
▶ Quadro clínico: ocorre mais em crianças de 1 a 3 anos e a
maioria dos casos se resolve em até 48 horas. A manifestação
clínica inicial costuma ser a infecção das vias aéreas superiores,
que evolui subitamente para disfonia e tosse não produtiva do
tipo “latido de cachorro”, com piora à noite, febre e estridor;
▶ Etiologia: vírus parainfluenza 1 e 2 e influenza tipo A,
Mycoplasma pneumoniae como bactéria secundária;
▶ Diagnóstico: habitualmente é clínico, porém a radiografia
cervical pode mostrar o sinal clássico “da torre de igreja”, causado
pelo estreitamento subglótico;
▶ Diagnósticos diferenciais: epiglotite, laringite bacteriana,
aspiração de corpo estranho;
▶ Tratamento: consiste em umidificação das vias aéreas,
hidratação para facilitar a expectoração de secreção e repouso
vocal. Se a dispneia for severa, pode-se utilizar adrenalina
inalatória. O corticosteroide (dexametasona) parenteral deve ser
administrado para a regressão do edema e, principalmente, para
evitar recidivas. Também devem-se utilizar corticoides inalatórios,
como a budesonida. Antibióticos são indicados apenas no caso de
infecções bacterianas secundárias.
Figura 4.2 - Estreitamento subglótico da laringe com sinal “da torre de igreja”
Fonte: Frank Gaillard, 2010.
d) Traqueíte bacteriana
▶ Definição: trata-se de uma infecção pediátrica que, em seus
estágios iniciais, pode ser difícil diferenciar do crupe, e cujo
principal sintoma inicial é o estridor. Tem taxas de mortalidade de
20%;
▶ Quadro clínico: febre alta, tosse, estridor e disfonia, com
antecedente de crupe; sinais de obstrução das vias aéreas,
síndrome do desconforto respiratório agudo e choque séptico.
Aproximadamente 80% dos pacientes com traqueíte bacteriana
requerem intubação. Os achados clínicos são ulceração e
formação de pseudomembrana na traqueia, exsudato
mucopurulento e descamação da mucosa, que obstruem a
traqueia;
▶ Etiologia: os principais agentes são Staphylococcus aureus e
Streptococcus alfa-hemolítico, Haemophilus influenzae,
Streptococcus pyogenes e Moraxella catarrhalis;
▶ Diagnóstico: baseia-se na presença de secreção espessa,
principalmente em crianças que não apresentam melhora após
tratamento medicamentoso para crupe, com febre alta e
leucocitose. Nesses casos, sugere-se broncoscopia para observar
a presença de secreção, com coleta de material para cultura;
▶ Diagnósticos diferenciais: crupe, laringotraqueobronquite viral,
epiglotite, bronquiolite, angioedema e difteria em pacientes não
vacinados. A suspeita de traqueíte bacteriana deve aumentar
quando um paciente com desconforto não responde à epinefrina
inalatória e/ou aos corticosteroides sistêmicos, que tipicamente
melhoram a laringotraqueobronquite viral;
▶ Tratamento: baseia-se na aspiração das secreções,
antibioticoterapia e eventual intubação ou traqueostomia.
e) Coqueluche
▶ Definição: infecção causada pela Bordetella pertussis, é mais
frequente em crianças com menos de 6 meses, pois não ocorre
passagem intraútero de anticorpos maternos, e a criança se torna
imune somente após vacinação. Em adultos, a imunidade vem por
meio da vacinação dura cerca de 10 a 15 anos;
▶ Quadro clínico: geralmente se divide em três estágios:
▷▷ Primeiro estágio — catarral: duração de sete a dez dias e
sintomas inespecíficos de infecção das vias aéreas, com coriza,
febre baixa e prostração;
▷▷ Segundo estágio — paroxismo: duração de uma a seis
semanas, caracterizado por quadros paroxísticos de tosse
prolongada seguida por uma inspiração forçada e prolongada
com as pregas vocais aduzidas, gerando um ruído característico, o
“guincho”;
▷▷ Terceiro estágio — convalescência: duração de sete a dez dias,
caracterizado por convalescência gradual.
▶ Diagnóstico: basicamente clínico, podendo ser avaliado
laboratorialmente por meio de cultura de secreção de via aérea,
PCR ou sorologias, que geralmente são positivas somente após a
terceira semana do quadro;
▶ Tratamento: antibioticoterapia com eritromicina, claritromicina
ou azitromicina é recomendada nas primeiras semanas do quadro.
Quadro 4.1 - Laringites infecciosas agudas
4.1.1.2 Crônicas
a) Tuberculose
▶ Definição: trata-se de uma das principais causas de doença
granulomatosa laríngea. Pode ocorrer por via hematogênica ou
linfática, originando-se de sítios primários distantes;
▶ Quadro clínico: o principal sintoma é a rouquidão persistente,
seguida por tosse e dor de garganta. Com a progressão, afeta
caracteristicamente bandas ventriculares e supraglote, causando
disfagia e odinofagia;
▶ Diagnóstico topográfico: seu sinal mais sugestivo é a cordite
unilateral (Figura 4.3);
Figura 4.3 - Cordite unilateral em prega vocal esquerda causada por tuberculose
laríngea, indicada por seta
Fonte: DoctorMichael.
a) Estenose subglótica
▶ Definição: em neonatos, uma luz traqueal de diâmetro menor do
que 4 mm na região da cartilagem cricoide. As estenoses
subglóticas podem se apresentar como webs laríngeos,
estenoses ou mesmo atresias;
▶ Quadro clínico: pode se apresentar como infecções das vias
aéreas superiores de repetição, diagnosticadas como crupe, em
que um leve edema mucoso resulta em diminuição da luz laríngea
e obstrução abaixo das pregas vocais. Casos mais graves podem
necessitar de traqueostomia ou intubação.
Embora a classificação das estenoses subglóticas varie, o
diagnóstico é basicamente endoscópico.
A obstrução laríngea é classificada em:
▶ Grau I: menor que 50%;
▶ Grau II: 51 a 70%;
▶ Grau III: 71 a 99%;
▶ Grau IV: obstrução completa.
Figura 4.6 - Graus de estenose laríngea
Fonte: adaptado do site do Children’s Hospital of Philadelphia.
b) Atresia
A atresia supraglótica é a malformação laríngea mais grave,
geralmente associada a outras malformações, como atresia
esofágica e fístula traqueoesofágica.
c) Webs — Membranas laríngeas
Webs laríngeos (formações diafragmáticas) são malformações
causadas pela falha na recanalização completa da laringe.
Geralmente, localizam-se na porção anterior da luz, permitindo a
passagem de ar posteriormente. Os sintomas mais comuns
incluem dispneia e disfonia.
Webs mais espessos requerem traqueostomia em cerca de 40%
dos casos e reconstrução da comissura anterior por via aberta.
Figura 4.7 - Web laríngeo
Fonte: Combined endoscopic and open approach in treating congenital laryngeal
web, 2015.
a) Pós-intubação
A intubação por tempo prolongado pode gerar resposta
inflamatória e consequente retração cicatricial e estenose.
b) Pós-operatória
Frequente após procedimentos cirúrgicos laríngeos. Os fatores
associados são infecções bacterianas, desenvolvimento de tecido
de granulação e presença de DRGE.
Pacientes em UTI sob intubação prolongada, maior do que cinco
dias, devem ser submetidos a traqueostomia, visando evitar
estenose subglótica ou granulomas laríngeos.
4.2.3 Laringocele
▶ Definição: os ventrículos da laringe estão limitados
superiormente pelas bandas vestibulares e, inferiormente, pelas
cordas vocais. Possuem um apêndice, também chamado sáculo
da laringe. Podemos definir a laringocele como a dilatação
anormal ou herniação do sáculo laríngeo preenchido por ar. As
laringoceles são classificadas em:
▷▷ Interna: está limitada, lateralmente, pela cartilagem tireóidea e,
medialmente, pela parede mucosa da laringe;
▷▷ Externa: o saco herniário se estende através da membrana
tireóidea, formando uma protrusão no pescoço;
▷▷ Mista ou combinada: ambos os componentes estão presentes.
▶ Etiopatogenia: considerada multifatorial e está relacionada com
o aumento da pressão transglótica, como em sopradores de vidro
ou em músicos que tocam instrumentos de sopro;
▶ Epidemiologia: são encontradas mais comumente em homens
na quinta ou na sexta década de vida;
▶ Quadro clínico: nas internas, podem interferir na fonação e levar
a rouquidão, sensação de corpo estranho, dor de garganta e
tosse. Nas laringoceles externas, há uma massa cervical com ou
sem sintomas laríngeos associados;
▶ Diagnóstico: baseia-se em exames de imagem, principalmente a
Tomografia Computadorizada (TC), que pode distinguir entre
cistos preenchidos com ar ou líquidos. Também podem ser
visualizadas por endoscópios
(laringoscópio/nasofibroscópio/broncoscópio);
▶ Tratamento: depende do tamanho e da repercussão da doença.
Laringoceles pequenas assintomáticas são acompanhadas e só
removidas em caso de se tornarem sintomáticas ou provocarem
alteração estética. No caso de laringoceles sintomáticas, o
tratamento é cirúrgico, com exérese da lesão.
Figura 4.8 - Visão esquemática posteroanterior da laringe
Legenda: Epiglote (E); osso Hioide (H); banda ventricular (T); prega vocal (S);
cartilagem cricoide (K); laringocele interna (IL); laringocele externa (AL).
Fonte: Claudio Van Erven Ripinskas.
Quadro 4.3 - Patologias não inflamatórias
#importante
Os cistos diferenciam-se dos nódulos por
serem unilaterais e submucosos e
acometerem ambos os sexos.
Legenda: (A) acesso por cervicotomia anterior; (B) dissecção do cisto; (C) exérese
da porção medial do hioide; (D) ligadura do ducto tireoglosso residual.
Fonte: Claudio Van Erven Ripinskas.
4.7.7 Hemangiomas
Os hemangiomas são as neoplasias de cabeça e pescoço mais
comuns na infância. Embora sejam predominantemente
localizados em superfícies cutâneas, podem ser vistos também
em mucosas e vísceras.
Cerca de um terço dos hemangiomas já está presente ao
nascimento, mas tipicamente é notado durante o primeiro mês de
vida e aumenta progressivamente durante o primeiro ano.
Os métodos diagnósticos de escolha são a RNM e a
ultrassonografia (USG). No caso do hemangioma subglótico, a
nasofibroscopia pode auxiliar no diagnóstico. Esta localização
gera na criança o sintoma e estridor laríngeo.
Em relação ao tratamento, a terapia conservadora é regra para
sua maioria, mas a observação está indicada para o possível
desenvolvimento de complicações. Cerca de 10 a 20% dos
hemangiomas podem demandar outras opções de tratamento.
Figura 4.26 - Hemangioma de face lateral do pescoço
#importante
Toda disfonia com duração maior que 15
dias deve ser investigada com avaliação
endoscópica de laringe.
#importante
A faringotonsilite da mononucleose pode
se apresentar com exsudato (placas) e
mimetizar uma faringotonsilite
bacteriana. O diagnóstico deve ser
suspeitado pela faixa etária (jovens),
intensa adenomegalia e nos casos de
falha de antibioticoterapia.
#importante
A angina de Plaut-Vincent tem maior
ocorrência em imunossuprimidos e
pacientes com dentes em mau estado.