Você está na página 1de 52

Infecção das Vias Aéreas Superiores

Thiara Gomes
Saúde na Infância e Adolescência II
Universidade Federal do Recôncavo
2024
A tosse na infância
• Uma das queixas mais frequentes em pediatria;

• Maior susceptibilidade das crianças às infecções das


vias respiratórias (8 -10 infecções por ano).

• Disseminação de patógenos presentes nas vias


aéreas;

• Riscos de complicações e uso abusivo de


antibióticos;

• Mecanismo de defesa do trato respiratório.


A tosse na infância
• As infecções das vias aéreas agudas (IRA)
constituem uma das principais causas de
morbimortalidade na infância;

• 30-60% dos atendimentos ambulatoriais pediátricos


e 10-35% das hospitalizações nesta faixa etária.

• As infecções das vias aéreas superiores (IVAS) são


as causas mais comuns de atendimentos por
infecção respiratória aguda.
Um pouco de anatomia
Classificação da tosse

Eficácia da tosse
Eficaz: função de
Tempo de duração ‘toalete’.
Aguda : <3 semanas Ineficaz
Crônica:>3 semanas
Características
Seca : sem secreções
Irritativa, paroxística,
estridulosa, ladrantes
Avaliação da tosse
 Anamnese
História clínica (tipo de tosse, aspecto da secreção, tempo de
evolução, fatores de piora, predileção por determinado período do
dia, associação com outros sintomas)
História neonatal, engasgos, possibilidade de aspiração de corpo
estranho, alergias e eczemas, contactante de tossidor crônico ou
portador de tuberculose, história familiar de asma, fibrose cística ou,
exposição a fatores ambientais.

 Exame Físico
Avaliar crescimento e desenvolvimento, malformações de caixa
torácica, indícios de doença sistêmica (hipóxia, baqueteamento
digital, cianose), avaliar otoscopia, orofaringe, presença de
gotejamento posterior, exame segmentar do aparelho respiratorio e
demais sistemas.
A criança com febre e sintomas
respiratórios
Síndromes Clínicas

Causas comuns de tosse aguda na infância:

Rinofaringite aguda
Faringoamigdalite
Rinossinusite aguda
Otite média aguda
Laringite
Rinofaringites agudas
• Processos inflamatórios da mucosa da rinofaringe e
formações linfoides anexas;

• Doença infecciosa das vias aéreas superiores mais


comum na infância;

• Abrange quadros somo o resfriado comum e a rinite


viral;

• Mais frequentes nos meses de chuva e frio;

• Curso benigno e autolimitado, com duração média de 5 –


10 dias.
Rinofaringites agudas
Transmissão:
Etiologia Gotículas de secreções das vias
Rinovírus (70%) aéreas contendo o vírus.
Mãos contaminadas.
Coronavírus
Vírus Sincicial Respiratório Diagnóstico:
Parainfluenza Clínico. Febre, prostração, mal-
estar geral, inapetência,
Influenza cefaléia, tosse, espirros e
Adenovírus obstrução nasal.
Exame físico: congestão de mucosa
Enterovírus nasal, faringe e m. timpânica;
conjuntivas hiperemiadas;
adenomegalias.
Rinofaringites agudas
O clássico...
Criança com fácies congesta, olhos irritados e lacrimejantes,
nariz edemaciado e de coloração vermelha.

Particularidades...
O rinovírus tem tropismo especial pelas vias aéreas superiores.
Os demais vírus podem se propagar para as vias aéreas
inferiores em determinadas situações.
O vírus da influenza esta associado a síndrome gripal e
complicações mais frequentes como pneumonia por invasão
viral direta ou por infecção bacteriana secundária.
Síndrome gripal; paciente com febre, de início súbito, mesmo que
referida, acompanhada de tosse ou dor de garganta e pelo menos
um dos sintomas: mialgia, cefaleia ou artralgia.

Fonte: Ministério da Saúde


Fonte: Ministério da Saúde
Rinofaringites agudas
Complicações

 Extensão do processo viral para as vias aéreas inferiores e


alvéolos, causando laringotraqueobronquites, bronquiolites e
pneumonias

 Infecções bacterianas secundárias (rinossinusites, otites


médias, pneumonias bacterianas, celulites e meningites)

 Desenvolvimento de hiper- responsividade nasal e brônquica

 Desencadeamento de alergia em crianças geneticamente


predispostas
Rinofaringites agudas
Tratamento

 Manutenção do estado nutricional e da hidratação


 Sintomáticos
 Prevenção de infecções

A obstrução nasal...

 Limpeza com solução salina isotônica


 Umidificação do ambiente
 Aspiração cuidadosa

A tosse... Não usar


ANTIBIÓTICOS
 Hidratação
 Fisioterapia respiratória
Por que dizer não o ‘xarope’?

 O uso de expectorantes não tem eficácia comprovada,


aumentam o custo do tratamento e não alteram o curso
clínico da doença.
 Risco potencial de efeitos colaterais.

 Estudos que citam possíveis benefícios


conduzidos pelos próprios laboratórios.

 O FDA (Food and Drug


Administration) adverte para os
risco de efeitos colaterais, falta
de segurança e eficácia dessas
medicações para menores de 2
anos.
Limpeza nasal
Rinofaringites agudas
Início da doença

Cura

5 a 14 dias
 Aparecimento, persistência
ou recorrência da febre;

Taquipneia,  Persistência da secreção Sinusites


tiragem, purulenta; OMA
prostração Pneumonias/
 Otalgia; Bronquiolites

Pneumonias
Bronquiolites  Persistencia da tosse;
Rinofaringites agudas
Considerações
 Antibióticos não estão indicados e não previnem infecções
bacterianas secundárias.
 A coriza pode se tornar espessa e amarelada, sem que
signifique infecção bacteriana.
 Crianças atópicas podem necessitar de anti-histamínicos e
broncodilatadores .
 Suspeitar de complicações quando a febre persistir por mais
de 72h, prostração mais acentuada, dificuldade respiratória e
gemência.
 As complicações mais comuns são as otites médias e sinusite.
 Importante orientar os pais quanto a evolução benigna do
quadro e sobre as possíveis complicações.
Faringoamigdalites agudas
• Processos inflamatórios da mucosa da faringe que
envolvem as amígdalas e estruturas adjacentes;
• Categorias clínicas: nasofaringites, amigdalites e
faringoamigdalites.
• As nasofaringites se apresentam com hiperemia e eritema
na faringe e os agentes etiológicos são quase sempre virais;
• As amigdalites manifestam-se com ‘dor de garganta’ e
inflamação (eritema, exsudato e ulceração);
• As faringoamigdalites se apresentam com eritema e
edema nos pilares amigdalianos, com ou sem exsudato,
petéquias, vesículas ou úlceras em cavidade oral.
Faringoamigdalites agudas
Etiologia

Vírus Bactérias
Adenovírus Streptococcus pyogenes
Influenza e Parainfluenza Haemophilus influenzae
Coxsackie tipo A Staphilococcus aureus
Vírus Sincicial Respiratório

Atenção!
Considerar a possibilidade de infecção pelo Epstein-Barr e
pelo Corynebacterium diphteriae.
Faringoamigdalites agudas
Estreptocócica Viral

Período de Incubação 12 h a 2 dias 1 a 3 dias


Idade Geralmente > 3 anos Geralmente < 3 anos
Início Abrupto Insidioso
Dados Clínicos Febre alta, odinofagia, Febre de intensidade
mal-estar, calafrios, variável, odinofagia
halitose, adenomegalia leve, mialgia, bom
cervical, cefaléia, vômitos, estado geral, coriza,
dor abdominal, anorexia, tosse, obstrução nasal e
erupção escalartiforme. adenomegalia.
Exame de Orofaringe Hiperemia, exsudato Hiperemia, pontilhado
amigdaliano amarelo e branco, úlceras e
petequias no palato vesículas
Faringoamigdalites agudas
Diagnóstico Diferencial
 Quanto maior o número de locais das vias aéreas
comprometidas, maior a possibilidade de etiologia viral.
 A faringite por adenovírus caracteriza-se por febre,
odinofagia e conjuntivite (faringoconjuntivite aguda
viral).
 A herpangina por Coxsackie A manifesta-se com
pequenas vesículas nos pilares e amigdalas.
 Mononucleose infeciosa: esplenomegalia, adenomegalia
generalizada e linfocitose atípica no leucograma podem
auxiliar o diagnóstico diferencial.
Amigdalite
estreptocócica

Herpangina
Faringoamigdalites agudas
Diagnóstico Diferencial

Corynebacterium diphtheriae
• Crianças ate 10 anos
• Início insidioso e caráter
progressivo
• Anorexia, mal estar, febre
baixa e faringite
• Aspecto: membrana branca e
tênue, que se torna mais
espessa, escura e com bordas
definidas, aderente e de difícil
remoção
Faringoamigdalites agudas
Síndrome PFAPA

o Quadro clínico: surtos febris em intervalos 3 – 6 semanas,


faringite exsudativa e eritematosa (90%), linfadenomegalia
cervical (75%) e aftas orais (50%);
o Crianças de 2 – 5 anos;
o Etiologia desconhecida – disfunção imunológica?
Faringoamigdalites agudas
Síndrome PFAPA

Tratamento:
o Administração de antibióticos não tem efeito benéfico;
o A maioria dos pacientes recebem 1 ou 2 doses de corticosteroide e
apresenta resolução significativa da febre;
o A maioria das crises é interrompida na fase inicial com dose
única de prednisolona oral (2mg/kg/dia);
o Não esta associada a sequelas a longo prazo;
o Sintomas persistentes: terapia imunossupressora;
o Amigdalectomia.
Extraído de Síndrome PFAPA, Sociedade
Brasileira de Pediatria (2017).
Faringoamigdalites agudas
Diagnóstico:
Complicações: Clínico
Exames não específicos :
hemograma e PCR
Supurativas : Testes de detecção rápida de
Abscesso periamigdaliano antígenos estreptocócicos (E
e retrofaríngeo, adenite 90% / S 60-70%)
cervical, otite média, Cultura de orofaringe
mastoidite.
Tratamento:
Tardias: Faringoamigdalites virais:
autolimitadas, 4 – 10 dias
Febre reumática e
glomerulonefrite aguda. Infecções pelo Streptococcus
beta-hemolítico do grupo A:
penicilinas (P. benzatina
1.200.000UI ou 50.000U/kg).
Abscesso
amigdaliano
Rinossinusites Agudas
• Processos inflamatórios da mucosa que reveste as
cavidades ósseas que circundam o nariz, denominadas
seios da face ou paranasais;

• Complicação de infecções das vias aéreas superiores;

• Frequente em crianças;

• Desafio clínico para distinção etiológica (alérgica, viral


ou bacteriana) e o emprego adequado de
antimicrobianos;
Rinossinusites Agudas
Os seios paranasais...
 Os seios maxilares e etmoidais se desenvolvem entre o 3◦ e 5◦
meses de gestação e se ‘pneumatizam’ pouco depois do
nascimento.
 Apresentam tamanho reduzido dificultando a interpretação
radiológica antes dos 2 anos
 São mais frequentemente envolvidos nos processos
inflamatórios.
 Os seios frontais estão presentes desde o 4◦ ano, mas
dificilmente se infectam antes do 6◦ ano.
 O seio esfenoidal não tem importância clínica como local de
infecção ate o 5◦ ano de vida.
Rinossinusites Agudas

Etiologia

Bacterias Vírus
Streptococcus pneumoniae Adenovírus
Haemophilus influenzae Parainfluenza
Moraxella catarrhalis Virus Sincicial Respiratório
Streptococcus beta-
hemolítico grupo A
Rinossinusites Agudas
Mecanismo Clínica:
infecção das vias
aéreas Tosse, rinorréia clara ou
purulenta e com odor
edema da mucosa fétido, obstrução nasal,
febre, halitose, cefaléia,
obstrução da dor facial.
ventilação

Comprometimento Classificação:
da drenagem

alteração do
Aguda < 4 semanas
sistema de defesa Subaguda > 4 semanas e < 3
meses
infecção secundária Crônica > 3 meses
Rinossinusites Agudas
Quando pensar...

 Quadro gripal persistente (> 14 dias)

 Tosse, febre e gotejamento posterior nasal

 Odor nasal fétido

 Conjuntivite purulenta

 Irritabilidade, anorexia, cefaléia


Rinossinusites Agudas
Exames complementares
 Radiografia dos seios paranasais é dispensável na maioria dos
casos

 Achados que auxiliam o diagnóstico incluem o velamento (uni-


ou bilateral, parcial ou total), espessamento de mucosa
(>5mm) e nível hidroaéreo.

 Tomografia computadorizada: avaliação de complicações


intracranianas, ósseas e orbitárias; falha terapêutica,
sinusites crônicas e avaliação pré-operatória.

 Endoscopia: visualização da nasofaringe e vias aéreas


posteriores.
Opacificação do seio
maxilar D

Endoscopia nasal
Rinossinusites Agudas
Tratamento

 Antibioticoterapia
 Amoxicilina 14 dias
 Amoxicilina + Clavulanato ou Cefuroxima (recidiva ou
regiões prevalentes de germes produtores de B-lactamase).

 Adjuvantes:
 Lavagem nasal
 Descongestionante : sem evidencias de benefícios!
 Antiinflamatórios hormonais (corticóide) : pansinusites,
sinusite crônica agudizada ou quadros intensos de cefaléia
e dor facial.
Otite Média Aguda (OMA)
• Inflamação aguda da mucosa que reveste o ouvido
médio, com duração de até 3 semanas;

• Complicação das rinofaringites agudas, devido


propagação de patógenos da nasofaringe para o ouvido
médio;

• Cerca de 75% de todas as crianças apresentarão, pelo


menos um episódio de OMA, antes dos 5 anos de idade;

• Frequentes nos meses de inverno, durante os ciclos das


infecções respiratórias virais das vias aéreas superiores;
Tuba Auditiva
• Particularidade na criança:
Mais curta
Mais horizontal
Otite Média Aguda (OMA)
Etiologia

Bacterias Vírus
Streptococcus pneumoniae Influenza A e B
Haemophilus influenzae Virus Sincicial Respiratório
Moraxella catarrhalis Adenovírus
Streptococcus pyogenes Parainfluenza 1 e 3
Staphilococcus aureus

Atenção!
A diferença entre as etiologias virais ou bacterianas não
pode ser feita baseando-se apenas nos critérios clínicos.
Otite Média Aguda
Diagnóstico:
Clínico
Exame físico (otoscopia)

Tratamento:
Medidas gerais:
Analgésicos / antitérmicos
Antimicrobianos

Criança com abaulamento abaixo dos 6 meses;


Crianças com abaulamento e dor importante com temperatura corporal superior a 39oC;
Crianças com abaulamento bilateral abaixo dos 2 anos;
Crianças com otorreia uni ou bilateral mucopurulenta de início agudo.
Tratamento
Otite Média Aguda

Otoscopia:
MT congesta,
hiperemiada,
sem brilho e
abaulada.
Processo Lateral
Ramo longo da
bigorna
Manubrio do Martelo
Umbigo
Exame físico
Laringites Agudas
• Crupe : tosse ladrante, rouquidão, estridor
predominantemente inspiratório e graus variados de
desconforto respiratório.

• Inflamação difusa, eritema e edema das paredes da


traqueia e alteração de mobilidade das cordas vocais.

• Estridor: edema da região subglótica da criança


restringe o fluxo de ar significantemente.
Laringites agudas

Etiologia:

Vírus Bacterias
Parainfluenza (1,2 e 3) S. aureus
Influenza A e B Streptococcus grupo A
Vírus Sincial Respiratorio Moraxella catarrhalis
Haemophillus sp
Laringites agudas

Extraído de Crupe viral e bacteriano, Sociedade Brasileira de Pediatria (2017).


Laringites agudas

Extraído de Crupe viral e bacteriano, Sociedade Brasileira de Pediatria (2017).


Referencias bibliográficas
• Manual de Diagnóstico Diferencial em Pediatria. Instituto Materno-Infantil Professor Fernando
Figueira (IMIP). Editora Guanabara, 2ª edição.
• Pronto-Atendimento em Pediatria. Luciana Rodrigues, Dilton Mendonça e Dulce Moreira.
Editora Guanabara, 2ª edição.
• Bricks LF et al. Medicamentos controversos em otorrinolaringologia. J Pediatr (Rio J)
1999;75(1):11-22.
• Tratado de Pediatria. Nelson. Elservier, 2017.
• Tratado de Pediatria. Sociedade Brasileira de Pediatria. 4ª edição. Manole, 2017.
• Síndrome PFAPA. Departamento Científico de Reumatologia. Sociedade Brasileira de Pediatria,
2017.
• Crupe Viral e Bacteriano. Sociedade Brasileira de Pediatria, 2017.
• Otite Média aguda. Sociedade Brasileira de Pediatria.
• Sociedade de Pediatria de São Paulo.
• Ministério da Saúde. www.gov.br/saude
• Laringite em crianças e adolescentes. Sociedade Beneficente Israelita Brasileira. 2022.

Você também pode gostar