Após as duas grandes guerras, em 1948, é estabelecida a Declaração Universal dos
Direitos Humanos, que tinha como cerne o reconhecimento do indivíduo como um
sujeito de direitos, independente de suas peculiaridades sociais e culturais. Em 1994 os 184 países (incluindo o Brasil) signatários da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento reconhecem os direitos reprodutivos como direitos humanos, apesar de não trazer o termo “direitos sexuais” o documento inclui a saúde sexual integrante da saúde reprodutiva. Ademais, em 1995, na Conferência Mundial sobre a Mulher, em Pequim, foi formulado o conceito para direitos sexuais, avançando, assim, na inclusão dos direitos reprodutivos e sexuais como direitos humanos. No Brasil, os marcos nacionais iniciais tratavam muito do planejamento familiar, em 2004 e 2005 é que se estabelecem a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher e a Política Nacional dos Direitos Sexuais e dos Direitos Reprodutivos, que materializam o cuidado da mulher como algo além período reprodutivo e o seu entendimento como sujeito além da reprodução. Nesse sentido, é importante definir o que são os direitos sexuais e o que são os direitos reprodutivos. Os direitos reprodutivos basicamente estão relacionados com a liberdade de decidir ter ou não uma prole, quantos serão e em que momento da vida, falam ainda sobre o direito de exercer a sexualidade e a reprodução livre de discriminação/imposição. Já os direitos sexuais versam sobre a aceitação dos diferentes tipos de expressão sexual, sobre o direito de tomar decisões sobre o uso do próprio corpo e sobre a igualdade de gênero, sendo o sujeito livre para escolher o parceiro sexual, se quer ou não ter relação e poder fazê-la independente da reprodução. É importante entender a sexualidade como o modo como o indivíduo se expressa e se relaciona com o mundo, é a expressão de sua energia vital (entendida por Freud como libido). Assim, o conceito de sexualidade vai muito além do que sexo e genitália, ela está presente em todo desenvolvimento do ser humano, desde a infância. É preciso entender que a criança usa seu corpo para obter prazer, principalmente quando ainda não consegue se comunicar verbalmente com o mundo, seu corpo é sua maneira de se expressar. Assim ela perpassa as fazes, oral, anal, fálica, de latência e genital, que são importantes no processo de se entender como ser físico e social. Ademais, sendo a sexualidade a maneira como o indivíduo se expressa, ela não está padronizada num corpo biológico, o sujeito é subjetivo, ele tem uma experiência interna singular, para além do seu corpo físico, que pode se traduzir em identidades de gênero diferentes e maneiras diferentes de se relacionar com o mundo. É claro que não podemos menosprezar o papel da corporeidade na expressão da sexualidade, afinal, ela é perpassada por todos as singularidades físicas de cada um. Assim, é importante que se discuta a desigualdade de gênero que ainda é presente em nossa sociedade, bem como os preconceitos e estigmas com as pessoas com deficiência. Para esse último tema, é necessário entender que essas pessoas são cidadãos iguais em direitos e diferentes em necessidades e que todos os seres são desejantes, e, portanto, sexuais. Pensar as pessoas com deficiência como infantis e sem vida sexual ativa é colocá-las num lugar de vulnerabilidade ao passo de que estão sendo negados seus direitos reprodutivos e sexuais. É preciso dar autonomia para que elas tenham o direito à constituição de família, à paternidade, à informação adequada e ao planejamento familiar.