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Cw2- políticas de Inclusão e Ações Afirmativas

PATRIARCALISMO E INFERIORIZAÇÃO DAS MULHERES

HISTÓRIA DO PATRIARCADO E DA DOMINAÇÃO MASCULINA

Bourdieu (2002) ao analisar as questões de gênero ao longo da história, o autor, com


uma abordagem histórica e sociológica, adverte que a relação de dominação entre os
gêneros é produto de um processo de eternização, promovido por instituições
interligadas como: família, Igreja, Estado, escola, desporto e jornalismo. E que também
não se trata de uma questão biológica, mas sobre tudo, uma construção social.

Assim, a fragilidade feminina e a força masculina são atributos apreendidos,


socializados, ensinados e passados de geração a geração, como sendo a ordem natural
das coisas. É dessa forma que a dominação patriarcal avança como expressão de poder
político, aproveitando dessa diferença socialmente construída e a converte em
diferença política.

Muito embora possam ser observados diversos avanços femininos na atualidade, essa
diferença social pode ser ainda vista em diversas situações, em que a remuneração das
mulheres é inferior a dos homens, mesmo que elas ocupem exatamente o mesmo
posto de trabalho. Além dessa discriminação salarial, no mercado de trabalho também
é possível observar segregação ocupacional, ou seja, atividades em que as mulheres
não são bem aceitas.

EXCLUSÃO DA VIDA PÚBLICA E RECATO NA VIDA PRIVADA

E o que é ser homem? Socialmente ser homem torna-se sinônimo de força,


insensibilidade e racionalidade. Assim, na formação do homem valoriza-se práticas
perigosas em que a força, a rapidez e a coragem são avaliadas.

As mulheres, ao contrário, são ensinadas a serem frágeis, caladas, dóceis e emocionais,


voltadas para práticas domésticas em que a delicadeza, a calma, as atenções aos
pequenos detalhes são valorizadas.

Portanto, a partir da primeira infância são apresentados os seus devidos lugares no


mundo aos sujeitos, de acordo com o gênero ao qual pertencem. Além do lugar que
devem ocupar na sociedade, são definidos, desde cedo também, como a sociedade
espera que eles se comportem, sob pena de sofrerem inúmeras repressões, as quais
costumam começar dentro da própria casa na qual a criança inicia seus primeiros
passos. É por esse motivo que é muito comum a iniciação dos meninos em esportes
como futebol e esportes de luta, em que o uso da força física é colocado em evidência
para que o menino desde cedo aprenda a ser homem.
AS RELAÇÕES DE PODER NA VIDA COTIDIANA

A Carta da ONU faz referência expressa a “direitos iguais para homens e mulheres”,
Destaca-se que essa Carta foi publicada numa época em que apenas 30 dos 51
Estados-membros signatários reconheciam a igualdade entre o voto de mulheres e
homens, ou permitiam que mulheres assumissem funções públicas. Contudo, esse foi
o primeiro documento legal de caráter internacional a tratar da igualdade entre todos
os seres humanos, apontando o sexo como base para discriminação.

as Constituições brasileiras, desde 1934, e na vasta legislação infraconstitucional sobre


direitos trabalhistas, direitos à saúde, direitos à moradia, direitos políticos, buscam
reconhecer o direito às mulheres a iguais condições econômicas, sociais e políticas dos
homens. No entanto, apesar de toda legislação produzida para permitir a igualdade de
gênero, ao longo de mais de 60 anos, ainda não apresentaram a eficácia desejada, pois
não foram suficientes para eliminar a discriminação e garantir a igualdade de gênero.

AS LUTAS FEMINISTAS E A EXPANSÃO DOS DIREITOS DAS


MULHERES

A EXCLUSÃO E INCLUSÃO FEMININA NO TRABALHO


As mulheres trabalhadoras sofrem mais nesse processo, pois na divisão do trabalho
quanto ao gênero, observa-se que elas encontram maior dificuldade de inclusão. Sua
força de trabalho é social e culturalmente desvalorizada e recebem menores salários.

Além disso, freqüentemente são obrigadas a pautar suas possibilidades de inserção


laboral nas suas responsabilidades domésticas e familiares, acumulando trabalhos
dentro e fora de casa. Enfim, esse conjunto de fatores faz com que as trabalhadoras
sejam mais vulneráveis aos mecanismos de exclusão.
AS LUTAS FEMINISTAS PELA INCLUSÃO POLÍTICA

Ao considerar a participação de mulheres na política, a situação não é diferente,


apesar de a maioria da população brasileira ser composta de mulheres e de terem
garantido o direito ao voto desde 1932, em 2010, as mulheres ocupavam apenas 8,8%
das vagas do Congresso Nacional (Senado Federal e Câmara de Deputados). Em 2010,
51,82% dos eleitores eram mulheres, mas ainda assim as eleições brasileiras de 2010
não trouxeram grandes modificações quanto à participação feminina na política
nacional. No Senado, das 81 cadeiras, apenas 12 estão ocupadas por mulheres. Na
Câmara dos Deputados, a bancada feminina continua inalterada, com menos de 9% de
representação dentre as 513 cadeiras de deputados federais. Segundo reportagem
veiculada pela Agência Senado, nos Estados e Municípios a situação é similar, onde em
média apenas 10% dos parlamentares que compõem as Assembleias Legislativas e
Câmaras Municipais são mulheres.

DIREITOS SEXUAIS, REPRODUTIVOS E OS ENTRAVES RELIGIOSOS

Os Direitos Sexuais e Reprodutivos foram consolidados desde a Proclamação dos


Direitos Humanos em 1948, em que pese os entraves religiosos históricos que cercam
o tema. Assim, começou a luta pelo direito de se viver a sexualidade e garantir a saúde
reprodutiva de forma segura e com liberdade de escolha e decisão nas questões
reprodutivas. Dessa forma, os direitos reprodutivos passaram a se ancorar no
reconhecimento básico do direito de todos os indivíduos a tomar decisões
concernentes à reprodução, livres de discriminação, coerção e violência.

No Brasil, os movimentos feministas tiveram atuação fundamental ao longo dos anos


de 1980, lutando por justiça social e democracia, incorporando como prioritário na sua
agenda, o tema da saúde da mulher e dos direitos reprodutivos. Em 1992, a Rede
Nacional Feminista de Saúde Reprodutiva (Rede Saúde) foi fundada e defendia
políticas públicas que aumentassem o acesso das mulheres aos cuidados básicos de
saúde, incluindo assistência à saúde sexual e reprodutiva. Em 2004, o governo federal
aprimorou a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher – PAISM,
destinada às mulheres em todos os ciclos de vida, resguardadas as especificidades das
diferentes faixas etárias e dos distintos grupos populacionais. Em 1996, foi promulgada
a Lei de Planejamento Familiar, desenvolvida para saúde sexual e reprodutiva com
enfoque na anticoncepção e concepção. Em 2003, foi editada a Norma Técnica de
Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres
e Adolescentes, pelo Ministério da Saúde, destinada a atender as vítimas de violência,
ela prevê uma abordagem intersetorial e interdisciplinar, com interface com segurança
e justiça, assegurando a atenção ao abortamento. Em 2004, o Pacto Nacional pela
Redução da Mortalidade Materna e Neonatal estabeleceu uma estratégia conjunta
entre União, Estados e Municípios com vistas à redução da mortalidade materna e
neonatal, articulando entidades médicas e de enfermagem.
Portanto, pode ser observado que a saúde reprodutiva implica no direito da pessoa ter
uma vida sexual segura e satisfatória, com capacidade de reproduzir e liberdade de
decidir sobre quando, e quantas vezes o deve fazer. Para tanto, é necessário o acesso a
métodos eficientes, seguros e aceitáveis de planejamento familiar e o direito de acesso
a serviços apropriados de saúde que deem à mulher condições de passar, com
segurança, pela gestação e pelo parto e proporcionem, por conseguinte, saúde à prole.

Aula 3

LIBERDADE DE GÊNERO E SEXUALIDADE


Diversidade de gênero e liberdade sexual

Dessa maneira, a Constituição Federal de 1988 representa um instrumento


fundamental de garantias para as diversidades sexuais e de gênero, pois a sua
promulgação representou um momento especial na situação política brasileira, ao
abandonar o sistema autoritário anterior e implementando um novo marco
democrático.

Esse reforço do princípio da igualdade pode ser visto como um a intenção clara e forte
de demonstrar que nenhuma desigualdade será tolerada pelo sistema constitucional.
Nesse viés surgem os direitos da diversidade, reforçado pelo comando do art. 3o,
inciso IV, que determina que é objetivo do Estado brasileiro “promover o bem de
todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quais quer outras formas
de discriminação”. O inciso I fala em “construir uma sociedade livre, justa e solidária”,
revelando uma abertura clara ao acolhimento.

DISCRIMINAÇÃO SOCIAL E A REPRESSÃO DOS AFETOS

O problema surge quando essa distinção ocorre de forma injustificada, ao ser dado um
tratamento diferenciado a uma pessoa, cuja diferença dos demais em nada justifica
esse comportamento. Nesse sentido, haverá discriminação social quando
observarmos, num grupo ou numa sociedade, que um grupo específico recebe
tratamento diferente e desigual em relação aos outros, lesando os direitos das pessoas
desse grupo, seja pela privação de vantagens a que teria direito, seja sobrecarregando-
as de obrigações indevidas.

Discriminação direta: normas, políticas públicas ou práticas buscam favorecer


determinados segmentos sociais por razões de gênero, raça, etnia, religião, classe,
opinião política, orientação sexual ou nacionalidade. Os casos de discriminação direta
são os mais graves e os mais visíveis e, portanto, mais fáceis de serem questionados e
transformados.
Discriminação indireta: Já a discriminação social indireta é mais sútil e de difícil
detectação e eliminação; ela se baseia em algumas diferenças sociologicamente
irrelevantes, como a configuração fisiológica, os gostos artísticos, a orientação sexual,
entre outros atributos humanos.

Falando sobre a repressão de afeto, podemos entender o que significa da seguinte


forma:

“A repressão de sentimentos e emoções que são impostas pelo ideal de masculinidade


se torna fator desencadeador de comportamentos violentos nos homens, pois, a
repressão dos afetos, por si só, já é a expressão de uma violência sobre ele mesmo,
entendendo que as emoções são inerentes a qualquer ser humano.” (FERREIRA;
OLIVEIRA, 2019, p. 585)

EXCLUSÕES, INVISIBILIZACÕES E VIOLÊNCIAS CONTRA MULHERES E LGBTQI+ NO BRASIL

Para resolver esse paradoxo, o princípio da igualdade precisa ser redimensionado para
considerar os tratamentos desiguais, como formas de incluir setores sociais
desfavorecidos.

Por vezes, é utilizada a expressão discriminação positiva, como sinônimo de ação


afirmativa para exprimir medidas estatais que têm por objetivo eliminar desigualdades
historicamente acumuladas, garantindo a igualdade de oportunidades e tratamento,
bem como de compensar perdas provocadas pela discriminação e pelamarginalização,
decorrentes de motivos raciais, étnicos, religiosos, de gêneros, entre outros. Dessa
forma, elas visam combater os efeitos acumulados em virtude de discriminações
negativas ocorridas no passado.

Isso nos remete à percepção de que é necessário acomodar as diferenças, sejam elas
culturais ou sociais, sem que isso implique uma igualização forçada.

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