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CENTRO UNIVERSITÁRIO DA FUNDAÇÃO DE ENSINO OCTÁVIO BASTOS

Curso: Psicologia

Aluno – Carlos Alberto de Andreia – RA 21000666


Aluna- Nanci Marcondes Celestino – RA 21001807

A PSICOLOGIA JURÍDICA E O FEMINICÍDIO

São João da Boa Vista/SP


2023
Entendia-se, como natural, a distinção entre homens e mulheres, com funções
distintas, onde, o poder exercido pelo homem com sua masculinidade provedora, coloca a
mulher, como o sexo frágil, docemente esperando a provisão, cuidando da casa e filhos. A
literatura nos traz que essa construção histórica e recorrente, afeta diretamente em como os
indivíduos de uma sociedade se socializam, se comportam, pensam e sentem, desta forma,
segregando-se entre si e na sociedade em geral (Faury, 2003).
Esse movimento, tem colocado a superioridade masculina em alta desde longos anos,
o que pode ser chamado hoje de patriarcado (Ferreira; Santos; Silva, 2015).
Nota-se que atualmente esse movimento se encontra mais velado e sutil, as mulheres
estão ocupando aos poucos seu lugar de direito em uma sociedade solidamente estruturada no
patriarcalismo. Esse fato pode ser evidenciado analisando o cenário jurídico histórico
brasileiro. No Código Civil de 1916, conservador e patriarcal, as mulheres não eram
consideradas sujeitos de direito, inclusive, eram consideradas relativamente incapazes quando
casadas. Com o advento da Constituição de 1946, a condição feminina, obviamente ainda
traduzida de uma forma machista, apresentou um progresso no que se referia a sua condição
de sujeito, onde adquiriu direito e deveres. Foi, na CF de 1946, enfatizado, em seu artigo 157,
algumas proteções à gestante, relacionado ao trabalho por ela exercido. Outra novidade, foi o
salário, ter sido instituído “obrigatoriamente” – o que é crucial pontuar, não acontece até os
dias atuais -, o mesmo valor, levando em conta a idade, sexo, nacionalidade ou estado civil.
Outra novidade, foi o voto feminino amplo, antes, restrito a uma diminuta porcentagem de
mulheres. Aparentemente as mudanças foram irrisórias, mas, diante de toda a história
pregressa, pode-se dizer que houve um significativo avanço a democracia.
Esses direitos, não foram de forma alguma uma conquista fácil e esperada, houve para
tantos movimentos e lutas, para uma igualdade política, que se diga de passagem, não era
apenas às mulheres reservadas. No tocante as mulheres, podemos citar grandes pioneiras
como: Alzira Soriano, Bertha Lutz, Celina Guimarães Viana, Júlia Alves Batbosa, Myrtes de
Campos, Leolina Daltro e tantas outras, munidas pelo “Zeitgeist” da época, se apoderaram de
suas cidadanias, e exerceram seu papel político e social, como traz Judith Butler, “um
processo de apropriação e reinterpretação advindas de possibilidades culturais”.
Desta forma, abriu-se espaço para um movimento multifacetado, orientado por
diversos saberes e opiniões, o feminismo, ainda que, sendo seu maior constructo, uma maior
igualdade entre homens e mulheres, e, decorrentes transformações associadas.
Foi desse “Zeitgeist”, que pode-se inferir o surgimento de uma das mais proeminentes
representantes do pensamento feminino contemporâneo. Foi dela, a uma das mais importantes
e notáveis frases da época.

(...) Simone não dispunha do termo gênero, mas ela conceituou gênero, ela mostrou
que ninguém nasce mulher, mas se torna mulher e, por conseguinte, ninguém nasce
homem, mas se torna homem, ou seja: ela mostrou que ser homem ou ser mulher
consiste numa aprendizagem. As pessoas aprendem a se conduzir como homem ou
como mulher, de acordo com a socialização que receberam, não necessariamente de
acordo com o seu sexo (Motta, 2010,).

As mulheres alcançaram diversas demandas ao longo do tempo, entre elas podemos


apontar a Fundação das Mulheres do Brasil, Lei do Divórcio, acesso a métodos
contraceptivos, direito a saúde preventiva, equiparação salarial, entre outros, porém,
continuava a violência contra as mesmas.
Essa violência é a forma encontrada para que a desigualdade social entre homens e
mulheres, construída ao longo dos anos, e que vem sendo ameaçada, continue a dominar.
Desta forma, a violência é utilizada para garantir que nada se modifique, que o processo não
ocorra, e que, de forma igual, os preceitos socioculturais cooperem para que esse lugar de
servidão continue ocupado pelas mulheres.
E, destaca-se, a forma como esse processo de hierarquização é perpetuado:

Cada sociedade, com suas características culturais específicas, apresenta uma gama de
expectativas de comportamento para ambos os sexos, transmitidas à criança num
processo de socialização, através dos pais e da cultura em geral. A identidade
sexual inclui concepções aprendidas –de como comportar-se, pensar, sentir, enquanto
homem ou mulher -; ideais da masculinidade e feminilidade; e a relação entre
ambos os sexos (Faury, 2003, p. 114).

Assim, com o intuito de diminuir a violência, foi promulgada a Lei nº 11.340/06,


conhecida como Lei Maria da Penha, que veio a se tornar um marco na luta das mulheres
contra as violências de gênero.
Maria da Penha foi uma farmacêutica, nascida no nordeste brasileiro, no estado do
Ceará. Conheceu seu futuro marido na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade
de São Paulo em 1974, época em que Marco Antonio Heredia Viveros, colombiano, cursava
pós graduação em economia na mesma universidade. À época, ele fazia os seus estudos de
pós-graduação em Economia na mesma instituição. Casada com desde 1976, este se mostrava
muito simpático e educado com todos com os quais mantinha relacionamento. Tiveram sua
primogênita, e com o termino do mestrado de Maria da Penha, se mudaram para Fortaleza,
onde Maria deu à luz a mais duas meninas do casal. Tal relato, começa neste átomo, a tomar
direções diversas.
De acordo com Maria da Penha, ela já vinha sofrendo constantes agressões, explosões
comportamentais junto com suas filhas, por parte de seu esposo desde que o mesmo adquiriu
cidadania brasileira, e tal, só veio a aumentar desde o fato. Passou a se irritar com facilidade e
a se comportamentar explosivamente, incluindo suas filhas em seus ataques de raiva. Em
meandros de maio de 1983 ela foi vítima de uma tentativa de homicídio - não havia até então
tipificação de feminicídio - por parte de Viveros. Foi baleado enquanto dormia, resultando em
lesões que a tornara, paraplégica. Depois das hospitalizações e tratamentos, quando retornou a
sua casa, houve uma tentativa de eletrocutá-la, fato também a ele atribuído. Desta forma,
Maria da Penha optou por denunciá-lo.
Assim, Maria da Penha inspirou a inovadora Lei 11.340/2006, que devido a todos seus
esforços, levou o seu nome.
A Lei Maria da Penha avança ao configurar como violência doméstica contra a
mulher, não somente agressões físicas, mas também psicológica, sexual, patrimonial e moral,
uma vez que o sofrimento é experienciado em todos os âmbitos citados, e, assim, a violência
contra a mulher deixou de ser um crime de menor potencialidade ofensiva (Meneghel;
Mueller; Collaziol; Quadros, 2013), estabelecendo uma maior punição para os crimes de
gênero.
Ainda, aponta Monteiro (2012), citando o artigo 5º da referida lei que a violência
contra a mulher se caracteriza como: “Qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe
cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial. “
A violência de gênero sofrida pela mulher pode, desta forma, estar alicerçada no
patriarcalismo, valendo destacar que a mesma começa sutilmente, e vai alcançando níveis
mais complexos, podendo chegar ao feminicídio (Schmitt, 2016).
Vale destacar o que Rabay (2008) aponta em suas pesquisas:

Foi na efervescência do debate acadêmico, rejeitando o determinismo biológico


subentendido no uso de termos como sexo ou diferença sexual e priorizando fatores
relacionais e culturais na construção social do feminino/masculino, que o conceito do
sistema sexo/gênero foi elaborado pela americana Gayle Rubim, na década de
70. Gênero começa a ser usado pelas feministas para se referir à organização
social da relação entre os sexos (RABAY, 2008, p.70).

Esclarece Victoria Barreda (2012) a respeito de gênero:

“o gênero pode ser definido como uma construção social e histórica de caráter
relacional, configurada a partir das significações e da simbolização cultural de
diferenças anatômicas entre homens e mulheres. [...] Implica o estabelecimento de
relações, papeis e identidades ativamente construídas por sujeitos ao longo de suas
vidas, em nossas sociedades, historicamente produzindo e reproduzindo relações de
desigualdade social e de dominação/subordinação (Barreda, 2012).”

Seguindo este raciocínio, Teles e Melo (2002) traz como violência de gênero:

“(...) uma relação de poder de dominação do homem e de submissão da mulher.


Demonstra que os papéis impostos às mulheres e aos homens, consolidados ao longo
da história e reforçados pelo patriarcado e sua ideologia, induzem relações violentas
entre os sexos e indica que a prática desse tipo de violência não é fruto da natureza,
mas sim do processo de socialização das pessoas (...) A violência de gênero pode ser
entendida como ‘violência contra a mulher’ (...)” (Teles, Melo, 2002, p. 18).

Como pode-se notar, a violência, seja ela citada como de gênero ou contra a mulher,
ainda é vista como um acontecimento historicamente patriarcal, engessado em constructos
culturais, religiosos, sociais através de gerações, que segundo Souza (2008) encontra-se
perpetrado no próprio seio familiar, e, Saffioti (2001, p. 117), acrescenta ainda que a violência
é preconizada como sendo apenas de homens contra mulheres, deixando de citar que a mesma
pode ser consumada por outra mulher. Esse fato, faz com que as próprias mulheres, com a
implícita dominância relacional, acabem por consolidar o próprio discurso de seus agressores,
havendo, desta forma, a necessidade de ser desconstruída na sociedade toda uma dinâmica de
violência de gênero.
Por conseguinte, também devem ser consideradas, segundo Debert e Gregory (2007),
quando se discute gênero, outras perspectivas, como as relações de etnia, poder, raça, idade,
uma vez que as mesmas também acabam sendo elementos de diferenciação e discriminação.
Assim, trazem as autoras, a respeito das conquistas legais e contrassensos existentes:

Sabemos que a cidadania no Brasil sofre intricado paradoxo: nossa Carta


Constitucional é uma das mais avançadas do mundo –integrando temas,
segmentos sociais e direitos segundo concepção inegavelmente progressista –, um
conjunto de instituições governamentais, organismos da sociedade civil e
movimentos sociais atuantes e, no entanto, vivemos em meio a uma persistente
desigualdade social no acesso à justiça. Segundo definições correntes, o Estado não é
puramente o aparelho de estado (setor e burocracias públicas), mas também e,
sobretudo, um conjunto de relações sociais que apresenta uma ordem sobre um
determinado território (Gregory; Debert, 2007, p. 166)

Sobretudo, foi a partir desse marco jurídico – Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/06) -
que em 2015 houve uma alteração no Código Penal Brasileiro no seu art. 121, § 2, VI,
qualificando, quando presente os requisitos para tal tipificação, o homicídio de mulher, ainda,
sua inclusão na Lei nº 8.072/90 – Lei dos Crimes Hediondos – pela Lei nº 13.104, de 2015 –
Lei do Feminicídio.
Encontramos, desta forma, no Código Penal Brasileiro:

Art. 121. Matar alguém

(...)

Homicídio qualificado
A pena prevista para o homicídio qualificado é de 12 a 30 anos de reclusão.
§2° Se o homicídio é cometido:
(...)
Feminicídio
VI – Contra a mulher por razões da condição do sexo feminino:
(...)
§2°A- Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:
I – Violência doméstica e familiar;
II – Menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
(...)
§7° A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for
praticado:
I – Durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;
II – Contra pessoa menor de 14 (quatorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com
deficiência;
III – na presença de descendente ou ascendente a vítima.
Ainda, a Lei nº 13.104/15 – Lei do Feminicídio - modificou o art. 1° da Lei n.
8.072/1990 - Lei dos Crimes Hediondos - em seu inciso I, incluindo nela portanto o
feminicídio.
Art. 1°
(...)
I – Homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda
que cometido por um só a gente, e homicídio qualificado (art. 121, §2°, I, II, III, IV, V e VI)

Por volta da década de 80, segundo Fragoso (2002), pesquisas a respeito de


assassinatos sexuais em série, evidenciou, em grande maioria como sujeitos ativos de tal
crime os homens, estando no polo passivo as mulheres, o que expos o gênero como uma pauta
para investigação.
Infere-se que o termo feminicídio (femicide) foi usado pela primeira vez pela ativista
feminista Diana Russell durante as sessões do Primeiro Tribunal Internacional de Crimes
contra as Mulheres, em Bruxelas, Bélgica, em 1976.
Russell e Radford (1992) explicam o termo como:

(...) ponto mais extreme do contínuo de terror anti-feminino que inclui uma vasta
gama de abusos verbais e físicos, tais como estupro, tortura, escravização sexual
(particularmente a prostituição), abuso sexual infantil incestuoso e extra-familiar,
espancamento físico e emocional, assédio sexual (ao telefone, na rua, no escritório e
na sala de aula), mutilação genital (cliterodectomia, excisão, infibulações), operações
ginecológicas desnecessárias, heterossexualidade forçada, esterilização forçada,
maternidade forçada (ao criminalizar a contracepção e o aborto), psicocirurgia,
privação de comida para mulheres em algumas culturas, cirurgias cosméticas e outras
mutilações em nome do embelezamento. Onde quer que estas formas de terrorismo
resultem em mortes, elas se tornam femicídios (Russell; Radford, 1992, p. 2).

No Brasil essa nova categoria jurídica encontra-se na Lei 13.104, de 9 de março de


2015, a Lei do Feminicídio, que a incluiu pela diferença de sexo, conforme informa o inciso
VI do artigo 121 do Código Penal, de acordo com a nova redação para homicídio, a fim de
incluir a nova tipificação. A lei fala de crimes “contra a mulher em razões de sexo feminino”,
e define essas razões quando o crime envolve violência doméstica e familiar e menosprezo ou
discriminação à condição de mulher (BRASIL, 2015).
Encontra-se na literatura alguns autores que distinguem femicídio de feminicídio,
porém não é o correto, os dois termos podem ser utilizados sem diferenciação.
A literatura traz diferentes tipologias para o feminicídio, sendo elas o feminicídio
íntimo - quando sujeito ativo do crime mantinha um contato íntimo, familiar, conveniência ou
afinidade com a vítima, feminicídio não íntimo – quando a vítima não tinha contato íntimo,
familiar, conveniência ou afinidade com o sujeito ativo, e o feminicídio por conexão – que se
configura quando a mulher é assassinada por estar entre o sujeito ativo e mulher que seria o
alvo do crime (Sagot; Carcedo, 2006, p. 414).
Em suas pesquisas, Moura (2021), traz que nos últimos cinco anos, cerca de 6 mil
mulheres e meninas foram registradas em boletins de ocorrência no Brasil como vítimas de
feminicídio.
Waiselfisz (2015) aponta em suas pesquisas, que a violência conjugal é a causa de
aproximadamente 50% dos feminicídios ocorridos. Silva et al. (2014) adicionam que mais da
metade de mulheres com mais de 15 anos em um relacionamento já foram agredidas e que
11% espancadas.
Vários autores apontam programas de educação sexual e de gênero, como uma forma
de influenciar os indivíduos social e culturalmente, atribuindo-lhes empatia e cuidado para si
e pata o outro (Ribeiro, 2017; Maia, Ribeiro, 2011).
A psicologia se associa ao direito na busca de compreender os comportamentos do
criminoso, para ajudar o judiciário em suas demandas, porém de maneira independente, e
desta forma, ela acaba por descobrir como prevenir e/ou diminuir algumas infrações, assim
como detectar se os indivíduos têm algum transtorno psicológico (Silva; Schermann, 2021).
A atuação do psicólogo jurídico no que tange ao direito civil, mais especificamente
aos aspectos relacionais entre casais, se estende a guarda dos filhos, alienação parental,
violência contra os filhos e mulheres e o feminicídio. A psicologia jurídica também atuará no
âmbito criminal quando ocorrer violência contra a mulher ou feminicídio, dentre inúmeros
outros casos.
Sua participação em parceria ao poder judiciário em entrevista criminal se mostrou,
conforme Monteiro (2012) diz em seus estudos, de vital importância para a comprovação de
violência psicológica perpetrada contra mulheres.

O campo mais direcionado à psicologia forense tem sido a área criminal,


abrangendo o estudo do comportamento do adulto infrator, do adolescente infrator,
como este comportamento infrator é adquirido, como pode ser modificado. Abrange,
também, o estudo de crimes como violência contra mulheres, abuso sexual, crimes
contra crianças, nos quais o psicólogo forense atua em atividades que vão desde a
aplicação de testes para avaliação psicológica em presídios, em centros educacionais
intervenções em comunidades terapêuticas, em programas de liberdade assistida,
clínicas particulares, justiça restaurativa envolvendo agressores, vítimas e famílias,
programas de prevenção e outras categorias. Além disso, este profissional é
capacitado para atuar diretamente nos processos jurídicos, por meio de elaboração de
laudos, pareceres e relatórios que poderão auxiliar e orientar os operadores de
diferentes áreas do Direito (GOMIDE, 2011, apud MEISTER, 2013).

Segundo Brito (1993) a Psicologia Jurídica aliada ao direito, resguarda os direitos dos
indivíduos em uma sociedade, elaborando perfis de criminosos, avaliação de testemunho e
credibilidade, entrevistas, avaliações psicológicas, acompanhamento dos períodos de
detenção, pós-detenção, dentre muitas outras atribuições. Importante ressaltar a importância
das avaliações psicológicas, uma vez que elas permitem ao psicólogo jurídico ter uma visão
mais clara a respeito da reinserção do criminoso na sociedade. No caso de violência contra a
mulher e feminicídio, pode ainda, com análise, investigação e diagnóstico, perceber os
motivos conscientes e inconscientes de suas condutas, seu histórico psicossocial e familiar
assim como presença de algum transtorno comportamental ou psíquico.
O psicólogo jurídico com sua subjetividade perpassando a lei, traz para o juiz
conhecimentos de diversos aspectos a serem levados em consideração pelo judiciário em suas
decisões que de outra forma o mesmo não teria acesso. (BRITO, 2005).
Porém, os autores Costa et al. (2015), enfatizam, que apesar dessa subjetividade do
psicólogo jurídico, o mesmo precisará manter uma neutralidade e imparcialidade em seu
trabalho, pautando-se apenas nas solicitações realizadas pelo juiz.
A literatura entende, que programas de educação sexual e de gênero junto ao sujeito
ativo do crime de violência contra a mulher e de feminicídio, seria fundamental para que o
mesmo possa desconstruir uma cultura de masculinidade, onde eles possam ter espaço para
receber dinâmica psicológica em grupo, tenham voz e uma escuta ativa, percebendo assim,
suas condutas e comportamentos, possibilitando desta forma uma reflexão e mudança de
atitude (Ribeiro, 2017). O profissional de psicologia jurídica atuaria como facilitador no
processo de autoconhecimento, reflexão e na conversão de comportamentos desses
indivíduos, em um trabalho multiprofissional em parceria com o poder judiciário.
Esses profissionais, em casos de feminicídio, atuarão também no auxílio ao judiciário,
com aplicações de instrumentos de avaliação, visando progressão de regime, liberdade
condicional e individualização da pena, porém estes, devem se limitar a não fechar em
diagnóstico, apenas agir dentro do limite estabelecido de sua função.
Lamare (2018) traz algumas dificuldades encontradas nessa área, sendo a principal a
falta de qualificação, ou seja, não há preparo suficiente para esses profissionais, onde, para
que possam ocupar uma vaga de psicólogo jurídico é exigido apenas a formação em
psicologia, o que as vezes, devido ao despreparo, acabam por fornecer informações
insuficientes ou controversas que podem culminar em um processo em reproduzir documentos
que possam contribuir e fornecer subsídios na decisão da autoridade solicitante, pode acarretar
danos ao processo.
Diante do exposto, a sociedade ainda tem muito caminho para percorrer quanto ao
fenômeno social do feminicídio, e a psicologia jurídica pode contribuir muito e em muitos
aspectos - junto a uma equipe disciplinar, desde a vítima, quando da violência contra a mulher
ou feminicídio tentado, passando pelos familiares até mesmo com o autor do crime.
Porém, é urgente uma reforma no tocante a formação desses profissionais, para que se
capacitem e assim possam agir com assertividade e obter uma redução na taxa desses crimes
citados.
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