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CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTÁCIO DA AMAZÔNIA

BACHARELADO EM DIREITO

LIBERDADE DE GÊNERO

AMANDA MENEZES SARAIVA


HANANDA ALMEIDA PEREIRA
JOÃO ALEXANDRE BARBOSA LIMA
VINICIUS RODRIGUES DE MORAIS

BOA VISTA – RR,


2021.

AMANDA MENEZES SARAIVA


HANANDA ALMEIDA PEREIRA
JOÃO ALEXANDRE BARBOSA LIMA
VINICIUS RODRIGUES DE MORAIS
LIBERDADE DE GÊNERO

Trabalho apresentado para obtenção de nota na


disciplina de Direitos Humanos, da turma 3001,
do curso de Direito do Centro Universitário
Estácio da Amazônia.   Professora Orientadora:
Cláudia Silvestre.

BOA VISTA – RR,


2021.

Conceito de liberdade de gênero

A palavra liberdade, eleutheria, conforme a etimologia grega, significava


liberdade de movimento, uma possibilidade do corpo, não considerada como um dado
da consciência ou do espírito. Liberdade também
tevecomo significado ausência de limitações e coações.
Já “gênero” tem origem no grego genos e significa “raça”. Usualmente é
usado para indicar o “masculino” e o “feminino”, tais gêneros são construções
histórico-culturais impostas pela sociedade, sendo um conceito relativizado e
distorcido, haja vista que ignora a natureza e os fatos biológicos, alegando que o ser
humano nasce sexualmente neutro.
Os “ideólogos do gênero” afirmam que a sexualidade, ou seja, o desejo sexual
do indivíduo e o gênero não estão relacionados com o sexo (órgãos genitais). Desse
modo, a identidade de gênero e a orientação sexual passam a ser moldadas ao longo
da vida. 
A Igualdade entre mulheres e homens é uma questão de direitos humanos e
uma condição de justiça social basilar, sendo igualmente um requisito inerente e
indispensável à dignidade da pessoa humana, a igualdade, o desenvolvimento e a paz
social, portanto, um direito fundamental.

Contexto histórico

A desigualdade de gênero é um problema antigo. Desde os primórdios da


humanidade, a maioria dos povos caminhou para o desenvolvimento de sociedades
patriarcais, em que o homem detinha o poder de mando e decisão sobre a família.
Esse modelo foi transposto do âmbito familiar privado para o âmbito público, fazendo
com que sistemas políticos desenvolvessem-se pelo comando masculino.
Durante muito tempo, a mulher foi excluída da participação efetiva nos
espaços públicos, do trabalho fora do âmbito doméstico e da possibilidade de
desenvolvimento científico e intelectual por meio da educação formal, além de
estarem submetidas (isso ainda ocorre) ao poder de homens de sua família, em geral
seus pais e maridos. Isso acarretou num problema que urge por solução: a
desigualdade fundamentada pelo gênero.
Qualquer forma de desigualdade afeta a sociedade. Desigualdades sociais,
raciais e de gênero afetam profundamente as relações sociais e impedem um traço
imperativo das revoluções sociais modernas que prezam pela liberdade, pela
igualdade, pela democracia e pela garantia de direitos. 
A nossa sociedade continua assim, baseada na crença da
heteronormatividade, que valida a heterossexualidade enquanto norma universal, e
classifica a homossexualidade, enquanto conceito oposto à heterossexualidade, como
o desvio a essa norma. Mantendo-se o preconceito sexual, com atitudes negativas
especificamente formuladas com base na orientação sexual. A noção de diferença e a
restrição de oportunidades baseada no preconceito são legitimadas e perpetuadas
pelo poder e pelo status das instituições sociopolíticas e dos sistemas ideológicos, sob
a forma do denominado heterossexismo (sistema em que a heterossexualidade é
institucionalizada como norma social, política, económica e jurídica, de modo implícito
ou explícito, tendo como base a crença de que todas as pessoas são heterossexuais).
Durante grande parte do século XX existiu em Portugal uma forte condenação
da diversidade sexual, influenciada por algumas correntes científicas prevalecentes e
pelo regime ditatorial do Estado Novo e pela forte influência judaico cristã, que
ajudaram a manter as condições ideológicas de condenação da homossexualidade.
Como marco histórico, podemos citar a retirada, em 1973, da
homossexualidade enquanto patologia da segunda edição do Diagnostic and Statistical
Manual of Mental Disorders (DSM-II), porém, somente em 1991, a Organização
Mundial da Saúde (OMS) retira a homossexualidade da sua lista de patologias, onde
constava como uma disfunção da heterossexualidade.
Assim sendo, na prática, não podemos ainda declarar a extinção integral de
atitudes e comportamentos discriminatórios, embora nos confrontemos com um
maior cuidado das pessoas, no controlo e na expressão dos mesmos, devido à
existência de normas e valores sociais que explicitamente pressionam nesse sentido.
Como tal, a investigação mais recente tem vindo a focar-se nas formas sutis de
preconceito e estereotipia, menos evidentes, e por isso pouco compreendidas como
maliciosas e estigmatizantes.

Situação Atual

Mesmo com todos os avanços incríveis que a sociedade teve no último século em
várias questões sociais ocorre que a liberdade de gênero é constantemente ameaçada,
tanto no Brasil e em outros países, a liberdade de ter uma opinião, de ter uma
sexualidade, de ter um gênero é ameaçada. E esta falta de liberdade fere os direitos
humanos e os direitos Constitucionais estabelecidos que possuem a responsabilidade
de garantir a liberdade do povo brasileiro. Entretanto esta responsabilidade é
“empurrada” de ente em ente, de setor em setor, em um processo de marginalização
que degrada e fere a lei máxima do país, e é um dos principais fatores para a
disseminação e o fortalecimento do preconceito e das disparidades entre os gêneros.
Deste modo, por não admitir a liberdade entre os gêneros acarreta em
desdobramentos que implicam em problemas sociais mais graves, como a violência, e
também massacra a dignidade da pessoa humana. Deste modo, fica claro que é
imprescindível compreender, assimilar e defender o que é gênero, não só porque isto
é moralmente correto, mas também porque o gênero é o reflexo do que cada ser
humano é e faz em uma sociedade.

A liberdade deve ser respeitada como o direito de ordem fundamental que está é, e
que está prevista na Declaração Universal dos Direitos Humanos em seu primeiro
artigo. E também a liberdade se encontra abordada na Constituição Federal de 1988,
que promulgou artigos que discorrem sobre a cidadania e a dignidade da pessoa
humana.

Sendo assim, é possível perceber que tanto a liberdade de escolha e autodeterminação


do gênero, quanto sua liberdade de vivenciar este gênero são direitos de fundamentais
e que em regra merecem ser respeitados, apesar do flagrante desrespeito a estas
normas quando se trata de gênero e sexualidade. A possibilidade de ter um gênero,
mesmo que este não seja o que a maioria da sociedade deseja deve ser respeitada, se
não por um ideal moral, mas que seja pelas leis fundamentais que regem este país. Do
mesmo modo, que estas e outras normas Constitucionais e Infraconstitucionais, devem
ser aplicadas de forma rigorosa e ampliadas para que se respeite o mínimo existencial,
e assim seja reconhecido o respeito da dignidade da pessoa humana.

As normas positivadas no nosso ordenamento jurídico brasileiro além de garantir a


liberdade de gênero também fortalece a disseminação e o fortalecimento da igualdade
de gêneros, que significa que homens e mulheres devem ter os mesmos direitos e
deveres. A luta pela igualdade de gênero se intensificou em meados do século XX,
impulsionada, principalmente, pelo movimento feminista. Muitos direitos já foram
conquistados em nome da igualdade de gêneros (como o direito ao voto das mulheres,
por exemplo), mas existe um longo e árduo percurso para desconstruir a visão
preconceituosa e estereotipada que está enraizada na sociedade.

Os exemplos de desigualdades de gênero estão sempre presentes no nosso cotidiano,


como por exemplo em muitas famílias as meninas são as responsáveis em arrumar a
cozinha, lavar a roupa e a louça após o jantar, enquanto que os homens vão assistir
televisão, ler o jornal ou simplesmente descansar.

O Brasil é um dos países com maior desigualdade entre os gêneros. De acordo com
informações da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (Pnad), em 2014, as
trabalhadoras brasileiras recebem aproximadamente 27% menos do que os homens,
mesmo desempenhando funções similares ou até idênticas. O âmbito profissional é
apenas um dos vários exemplos de desigualdade de gênero que acontecem no nosso
país e que contribuem para esse abismo de desigualdade.

Apesar do enorme preconceito ainda existente na nossa sociedade, os avanços


também são enormes tanto nas leis quanto em outros segmentos, como a divulgação
dessa nobre luta em vários meios de comunicação como livros, filmes, seriados,
novelas e entre outros. Por exemplo a série Liberdade de Gênero que conta a história
de pessoas com gêneros diversos e suas lutas para vencer os preconceitos e levar uma
vida normal. Temos também a série inglesa Sex Education que aborda os desafios de
Eric, um personagem homossexual que convive e combate diariamente o preconceito
da sociedade.

Preconceitos X Direitos

Direitos humanos e diversidade sexual e de gênero no Brasil: avanços e desafios 


Regina Facchini é antropóloga, pesquisadora e atual coordenadora do Núcleo de
Estudos de Gênero Pagu, professora dos programas de pós-graduação em
Antropologia Social e em Ciências Sociais na Unicamp e membro da diretoria da
Associação Brasileira de Antropologia. Integra o Comitê Gestor do Pacto Universitário
pela Promoção do Respeito à Diversidade, pela Cultura de Paz e pelos Direitos
Humanos da Unicamp. 
"Art. II. Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e liberdades estabelecidos
nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua,
opinião, ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento ou
qualquer outra condição. Art. III – Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à
segurança pessoal. (...) Art. V - Ninguém será submetido a tortura, nem a tratamento
ou castigo cruel, desumano ou degradante. (...) Art. VII - Todos são iguais perante a lei
e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual
proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra
qualquer incitamento a tal discriminação.
 

(Declaração Universal dos Direitos Humanos)

Os meses de maio e de junho incluem datas importantes para os direitos humanos


relativos à diversidade sexual e de gênero. Remetem a uma história de lutas contra a
criminalização e a patologização de condutas, e pelo efetivo combate à discriminação e
a violações de direitos fundamentais, que se estende desde pelo menos o final do
século XIX.

A própria criação da categoria “homossexual” e sua identificação como uma


“condição” respondia a necessidades dos movimentos que, na Europa do final do
século XIX, procuravam enfrentar leis que consideravam crime as relações sexuais
entre pessoas do mesmo sexo. Ao longo da segunda metade do século XX, contudo,
dois processos se desenvolvem paralelamente. O primeiro diz respeito à separação
entre a orientação do desejo sexual e identidade de gênero. O segundo tem relação
com o processo de retirada da homossexualidade e, recentemente, da transexualidade
dos manuais e classificações internacionais de diagnósticos e de doenças.

O 17 de maio, Dia Internacional contra a Homofobia relembra a data em que, no ano


de 1990, a Assembleia Geral da Organização Mundial de Saúde (OMS) aprovou e
oficializou a retirada do código 302.0 – “homossexualismo” – da CID (Classificação
Internacional de Doenças), e declarou oficialmente que “a homossexualidade não
constitui doença, nem distúrbio”. A Associação Americana de Psiquiatria já havia
retirado a palavra da lista de transtornos mentais ou emocionais em 1973.

O dia 28 de junho relembra a revolta de Stonewall de 1969, um marco na organização


política de lésbicas, gays e pessoas trans em âmbito internacional, quando a
comunidade que frequentava o bar Stonewall Inn em Nova Iorque reagiu com um
levante que durou dias contra uma batida policial que pretendia deter frequentadores
e provocar o fechamento do estabelecimento. A partir de então, assumir-se com vistas
a obter reconhecimento e garantia de direitos se tornou uma prática dos movimentos
em favor da diversidade sexual e de gênero.

O dia 18 de junho de 2018 também entrará para essa história: após mais de dez anos
de elaboração, a OMS divulgou a nova versão da CID – a CID-11 – que será
apresentada à Assembleia Mundial de Saúde em maio de 2019 e entrará em vigor no
início de 2022. Nessa versão, a transexualidade deixa de ser considerada um
“transtorno” para ser classificada como uma "condição", a "incongruência de gênero" -
"uma incongruência marcada e persistente entre o gênero que um indivíduo
experimenta e o sexo ao qual ele foi designado". Além disso, deixa de estar incluída na
lista de "distúrbios mentais" e passa a integrar uma nova categoria - "condições
relacionadas à saúde sexual". 

A CID-11 trará também a retirada de resíduos patologizantes da homossexualidade,


como a categoria “orientação sexual egodistônica” – F66-1 da CID-10 -, que vinha
sendo utilizada em vários países como justificativa para a oferta de “terapias de
reversão sexual”.  No Brasil, tal classificação foi recentemente utilizada no âmbito do
judiciário para apoiar pesquisas, eventos e oferta de “atendimentos psicoterapêuticos
que se fizerem necessários à plena investigação científica de transtornos
comportamentais” associados à orientação sexual. 

Apesar dessa história e da Declaração Universal dos Direitos Humanos ser explícita
quanto à universalidade desses direitos, relatores das Nações Unidas e especialistas
internacionais em direitos humanos pronunciaram-se recentemente lembrando que
em 72 países ainda existem leis que criminalizam relações homossexuais e expressões
de gênero e que apenas um terço das nações contam com legislação para proteger
indivíduos da discriminação por orientação sexual e cerca de 10% têm mecanismos
legislativos para proteger da discriminação por identidade de gênero.
Segundo os especialistas, “a discriminação contra as pessoas LGBT alimenta a espiral
de violência a que elas estão sujeitas diariamente e cria um ambiente favorável à sua
exclusão de oportunidades em todas as facetas da vida, incluindo educação e
participação política e cívica, contribuindo para a instabilidade econômica, a falta de
moradia e saúde debilitada”.  Este momento, no qual se celebra os 70 anos da
Declaração Universal dos Direitos Humanos e 40 anos do movimento brasileiro em
favor dos direitos de LGBT, convida a um balanço.

Muitas violações e conhecimento precário

No Brasil, as primeiras ações da nascente movimento homossexual, no final dos anos


1970, incluíram certificar-se do direito à associação com fins de defesa dos direitos
desses sujeitos e a mobilização de ampla campanha que levou ao posicionamento de
diversas associações científicas e conselhos profissionais, inclusive do Conselho Federal
de Medicina, em favor da não classificação da homossexualidade como condição
patológica. Demandas por legislação antidiscriminatória, por reconhecimento de
uniões homoafetivas e por políticas de segurança pública e de educação integram a
agenda do movimento brasileiro desde seu surgimento.

Uma primeira dificuldade ao se fazer um balanço dos direitos de LGBT decorre do


modo como se produz conhecimento sobre esses sujeitos. Diferentemente de outros
recortes populacionais, há poucas estatísticas de maior abrangência disponíveis e
avaliação de indicadores divulgados. Isso se deve à dispersão dessa população, ao
caráter sensível da informação sobre a orientação sexual ou identidade de gênero dos
sujeitos, mas também ao precário reconhecimento dos mesmos como sujeitos de
direitos e ao desprestígio que até pouco tempo poderia atingir pesquisadores
envolvidos com a temática.

Os dados divulgados mais regularmente dizem respeito à quantidade de países que


pune ou protege direitos de LGBT. Outros dados comparativos entre países são
geralmente produzidos por organizações ativistas transnacionais e referem-se
majoritariamente a “crimes de ódio” e a casos tratados no âmbito das organizações de
direitos humanos em nível internacional. Embora as violações a diretos humanos
sejam bem conhecidas e divulgadas pela mídia, a escassez de dados quantitativos
dificulta a produção e a avaliação do impacto de políticas públicas.

A maior parte da produção científica brasileira sobre LGBT focaliza o HIV e aids, único
tema sobre o qual há produção sistemática e regular de dados epidemiológicos. O
segundo maior tema é o da discriminação e violência, que aparece articulado à
vulnerabilidade individual e social para a infecção pelo HIV, mas também para outros
agravos à saúde, incluindo depressão, ideação e tentativas de suicídio, abuso de
substâncias e, ainda, dificuldades de acesso a cuidados e serviços de saúde. 
Esforços de pesquisa acompanharam e possibilitaram a construção de políticas
públicas de combate à violência contra LGBT na década passada e indicam
consistentemente percentuais de vitimização e de reconhecimento de preconceitos ou
condutas discriminatórias contudo, não há produção e divulgação sistemática ao longo
do tempo de dados oficiais sobre discriminação e agressões contra LGBT no Brasil.

Avanços e desafios para os direitos de LGBT no Brasil

Avanços no reconhecimento e promoção dos direitos de LGBT são observados a partir


dos anos 1990, com a incorporação de ações de prevenção ao HIV e aids entre
“homens que fazem sexo com homens” e a inclusão da categoria “homossexual” no I
Plano Nacional de Direitos Humanos (1996). Os anos 2000 representam o ápice desse
processo de cidadanização, tendo como marco a criação do programa Brasil sem
Homofobia, destinado a promover a cidadania de LGBT a partir da equiparação de
direitos e do combate à violência e à discriminação, em 2004, e a realização da I
Conferência de Políticas para LGBT, em 2008. Ao longo da década estabeleceram-se
regulações como a que assegura o uso civil do “nome social” por pessoas trans, bem
como políticas públicas voltadas a combater a discriminação em diferentes níveis de
governo (municipal, estadual e federal).

Entre essas políticas, destacam-se a instituição, em 2008, do Processo


Transexualizador no Sistema Único de Saúde; e, em 2010, da Política Nacional de
Saúde Integral a Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, ambas iniciativas
do Ministério da Saúde. No âmbito da educação, destacam-se as ações articuladas
entre o Ministério da Educação e outros ministérios na segunda metade dos anos 2000
visando a formação continuada de professores em relação a gênero, sexualidade e
questões étnico-raciais e medidas do MEC permitindo o uso do nome social em
exames como o Enem, desde 2014, e mais recentemente em exames como o Encceja e
o Revalida no âmbito da educação básica.  Os dados sobre uso de nome social no
Enem indicam a quadruplicação da utilização entre 2014 e 2016.

No início dos anos 2010, pesquisadores e ativistas LGBT chamavam atenção para as
dificuldades de converter políticas públicas em legislação  e para o escopo
efetivamente alcançado pelas políticas direcionadas a LGBT, vistas como
“fragmentárias, pontuais e periféricas”  As tentativas pela via do Legislativo em âmbito
federal têm sido malsucedidas, vide a proposta de inserir a não discriminação por
“orientação sexual” na Constituição Federal de 1988 e outros pleitos que atravessaram
as décadas de 1990 e 2000 e acabaram arquivados, como a definição de crimes
resultantes de discriminação ou preconceito relativos a orientação sexual e identidade
de gênero ou o reconhecimento legal das uniões entre pessoas de mesmo sexo.

Avanços importantes se deram pela via do Judiciário. Em 2011, houve o


reconhecimento pelo Supremo Tribunal Federal (STF) da união homoafetiva estável
como entidade familiar, garantindo a casais de mesmo sexo direitos até então restritos
a casais heterossexuais, como herança, benefícios da previdência e inclusão como
dependente em plano de saúde. Mais recentemente, em março deste ano, o STF
entendeu ser possível a alteração de prenome e gênero no registro civil mediante
averbação no registro original, independentemente de procedimento cirúrgico de
redesignação de sexo e sem necessidade de autorização judicial.

Conselhos profissionais tiveram papel relevante no apoio ao reconhecimento e


proteção de direitos. Além do parecer de 1985, reconhecendo que a
homossexualidade não se configura como condição patológica, o Conselho Federal de
Medicina emitiu, em 1997, sua primeira resolução autorizando a realização de cirurgias
de transgenitalização e procedimentos complementares para transexuais.  O Conselho
Federal de Psicologia emitiu, em 1999, resolução orientando a prática profissional no
sentido da não participação em eventos e serviços que proponham tratamento ou cura
das homossexualidades e, em 2018, resolução similar envolvendo práticas que
impliquem discriminação e oferta de serviços visando reorientação da identidade de
gênero de travestis e transexuais. 

Ainda que tais avanços tenham transformado positivamente a vida de LGBT no país, a
primeira metade da década de 2010 foi marcada pela morosidade da agenda de
direitos dessa população no âmbito federal e pela intensificação dos investimentos na
reversão de direitos. Têm se multiplicado projetos de lei que propõem excluir uniões
homoafetivas do rol das entidades familiares reconhecidas pelo Estado brasileiro,
restringir a possibilidade de uso de nome social por pessoas transexuais ou travestis,
ou mesmo que favorecem possibilidades de oferta de terapias de reversão sexual.

Legislação

O movimento nasceu de maneira organizada em 1978 por meio do Somos – Grupo de


Afirmação Homossexual e contribuiu para o surgimento de grupos sociais pela defesa
dos direitos humanos da população LGBTQIAP+. Um exemplo é o Grupo Gay da Bahia
(GGB), formado em 1980, o primeiro a se formalizar como ONG. Uma das primeiras
vitórias do GGB foi a campanha nacional para a retirada da homossexualidade como
doença no catálogo do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social
(Inamps), que foi concretizada pelo Conselho Federal de Medicina em 1985. A GGB
também buscou ampliar o escopo de direitos relativos à população LGBTQIAP+, com o
objetivo de garantir o respeito à livre orientação sexual e identidade de gênero e
propor a incorporação da não-discriminação por orientação sexual na Constituição
Federal de 1988. Mesmo havendo uma luta constante durante o passar dos anos a
Constituição ainda não cita de maneira específica a comunidade LGBTQIAP+ em seu
texto. Baseada nos princípios e valores dos direitos humanos, a Constituição destaca o
valor da dignidade humana como um dos seus princípios fundamentais. Nesse sentido,
apesar de não fazer menção explícita aos direitos do grupo LGBTQIAP+, há o
reconhecimento dos seus direitos fundamentais de forma implícita, como exposto a
seguir. É garantido por meio do artigo 1º, inciso III, que trata sobre a dignidade da
pessoa humana, em que todos, sem exceção, devem ter as condições necessárias para
ter uma vida digna. E por meio do artigo 5º, caput e inciso XLI, que tratam sobre a
igualdade entre os indivíduos e do dever do Estado de punir qualquer discriminação
que ofenda a liberdade e os direitos fundamentais do ser humano. A Portaria nº 2.836
do Ministério da Saúde, em 2011, que estabeleceu a Política Nacional de Saúde
Integral LGBT, com o objetivo de promover a saúde dessa população, instituindo
mecanismos de gestão para atingir maior equidade no SUS. Resolução nº 175, de 2013,
do Conselho Nacional de Justiça, que determinou proibição às autoridades
competentes de recusarem habilitar ou celebrar o casamento civil entre pessoas do
mesmo gênero. Além disso, no ano de 2018, por meio da Ação Direta de
Inconstitucionalidade nº 4275, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu o direito
à alteração de nome e gênero no registro civil sem a necessidade de procedimento
cirúrgico para redesignação de sexo e de ação judicial. Já no ano de 2019, por meio da
Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão nº 26, o STF decretou a
possibilidade de atos homofóbicos e transfóbicos serem punidos como racismo, com
base na Lei nº 7.716/1989, até que uma lei específica que trate sobre a homofobia e
transfobia seja elaborada. Já no ano de 2019, por meio da Ação Direta de
Inconstitucionalidade por Omissão nº 26, o STF decretou a possibilidade de atos
homofóbicos e transfóbicos serem punidos como racismo, com base na Lei nº
7.716/1989, até que uma lei específica que trate sobre a homofobia e transfobia seja
elaborada. São exemplos os seguintes estados: Amapá; Amazonas; Distrito Federal;
Espírito Santo; Maranhão; Mato Grosso do Sul; Minas Gerais; Pará; Paraíba; Piauí; Rio
de Janeiro; Rio Grande do Norte; Rio Grande do Sul; Rondônia; Santa Catarina; São
Paulo. Além de cidades, como Fortaleza, Recife e Vitória. Um exemplo é a Lei nº 3079
de 2006 do Estado do Amazonas, que dispõe sobre o combate à discriminação em
razão da orientação sexual. Além disso, em 2006, o governo do Estado de São Paulo
inaugurou a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi). E,
atualmente, em vista das decisões do STF de equiparação da discriminação à
comunidade LGBTQQIAP+ ao crime de racismo, torna-se mais evidente a possibilidade
de utilização do Decradi para reportar violações aos direitos da população LGBTQIAP+
em São Paulo.
Referências bibliográficas

http://jornalnoroeste.com/pagina/colunas/ideologia-de-genero-uma-
violacao-a-liberdade-de-escolha, acesso no dia 10/11/2021.

https://juridicocerto.com/p/almeida-e-osorio-ad/artigos/a-busca-pela-
igualdade-de-generos-o-contexto-historico-de-busca-das-mulheres-pela-isonomia-
com-fulcro-na-garantia-do-art-5o-caput-e-inciso-i-da-constituicao-federal-de-1988-e-a-
proibicao-do-retrocesso-dos-direitos-ja-garantidos-2486, acesso no dia 10/11/2021.

https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/desigualdade-de-genero.htm,
acesso no dia 10/11/2021.

https://juntas.geledes.org.br/o-que-e-igualdade-de-generos/, acesso no dia


11/11/2021.

https://www.jornaljurid.com.br/doutrina/constitucional/o-direito-a-
liberdade-de-genero-reflexoes-em-uma-sociedade-heteronormatizada, acesso no dia
11/11/2021.

https://www.unicamp.br, acesso no dia 09/11/2021.

https://www.politize.com.br/equidade/blogpost/os-direitos-lgbt-no-brasil/,
acesso no dia 11/11/2021.

RAMOS, Marcelo Maciel.; NICOLI, Pedro Augusto Gravatá.; ALKMIN, Gabriela


Campos. Gênero, sexualidade e Direitos Humanos: perspectivas multidisciplinares. E-
book: Editora Initia Via, 2019.

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