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A CRIMINALIZAÇÃO DA DISCRIMINAÇÃO POR ORIENTAÇÃO SEXUAL E POR

IDENTIDADE DE GÊNERO EM FACE DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA


PESSOA HUMANA

Mariane Oliveira Galvão1


Túlio Anderson Rodrigues da Costa2

RESUMO
O presente artigo pretende abordar a importância da criminalização da discriminação
por orientação sexual e por identidade de gênero em face do princípio da dignidade
da pessoa humana. O artigo se baseia em uma pesquisa doutrinária, e expõe o
caminho tortuoso enfrentado pelos homossexuais e sua situação atual perante a
sociedade e diante o Ordenamento Jurídico Brasileiro. Demonstra também, a
necessidade de uma lei que criminalize a homofobia.

Palavras–chaves: Homofobia. Criminalização. Dignidade da Pessoa Humana.


Legislação.

ABSTRACT
This article aims to address the importance of criminalizing discrimination based on
sexual orientation and gender identity in face of the principle of the dignity of the
human person. The article is based on a doctrinal research, and exposes the
tortuous path faced by homosexuals and their current situation before the society and
in face of the Brazilian Legal Order. It demonstrates the need for a law that
criminalizes homophobia.

Key-words: Homophobia. Criminalization. Dignity of human person. Legislation.

1
Acadêmica do curso de Direito da Faculdade Católica de Rondônia. E-mail:
marianeoliveira218@gmail.com
2
Docente da disciplina de Direito Penal do Curso de Direito da Faculdade Católica de Rondônia. E-
mail: tulioanderson1@gmail.com
Anais do I Congresso 23 de
Porto
Acadêmico de Direito junho de P. 47 a 61
Velho/RO
Constitucional 2017
I Congresso Acadêmico de Direito Constitucional

INTRODUÇÃO

A homofobia é um fenômeno complexo e variado, as questões relativas a


sexualidade transcendem a história e as relações sociais e a diversos ordenamentos
jurídicos. Em algumas sociedades os relacionamentos homoafetivos foram
considerados normais e aceitos por todos os cidadãos, mas ao longo de vários
séculos, os homossexuais foram considerados pecadores, indignos, doentes,
perseguidos, submetidos a tratamentos desumanos, torturados e foram obrigados a
se submeter a tratamentos psicológicos para que fosse curado da sua
homossexualidade.
Vários séculos se passaram, vários direitos foram conquistados, mas a classe
LGBT continua sendo vítima de preconceito.
O surgimento de novas leis regula as relações sociais. É necessário garantir a
todos o bem-estar e a segurança a que todos têm direito. Porém, os LGBTS não têm
seus direitos preservados por omissão do poder legislativo que não cria nenhuma lei
voltada para criminalizar homofobia.
A constituição Federal de 1988 traz para o Ordenamento Jurídico Brasileiro,
os direitos fundamentais do indivíduo e da coletividade, a constituição assegura a
todos o bem-estar, igualdade, justiça social e o princípio da dignidade da pessoa
humana que é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil.
A omissão do poder legislativo fere as garantias individuais previstas na
Constituição Federal e ao Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, que é o
princípio basilar do Ordenamento jurídico. O Direito Penal tem o condão de proteger
o bem jurídico e promovera criminalização da homofobia trazendo segurança para a
Classe LGBT. Classe essa que é negligenciada pelo Estado e alvo de opressão pelo
seu gênero ou sexualidade.

1 BREVE HISTORICO

A homossexualidade ao longo da história foi profusamente discutida e


regulada de acordo com o momento cultural ou histórico que tal sociedade vivia. Em
determinados momentos foi valorizada e em outros foram totalmente recriminadas.

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Mariane Oliveira Galvão e Túlio Anderson Rodrigues da Costa

Na teologia já foi considerada um pecado, na medicina foi classificada como uma


doença ou desvio psicológico. E no mundo jurídico tida como crime.

Em tempos primórdios a prática homossexual possuía o objetivo de transmitir


conhecimento, as primeiras relações homoafetivas que se tem levantamento na
história, são relacionadas as tribos primitivas pertencentes as ilhas de Salomão, Fiji
e Nova Guiné. Na Grécia Antiga os adolescentes do sexo masculino eram
estimulados praticar sexo com seus mentores e filósofos. Tal prática era conhecida
como pederastia, sob a afirmação que tal ato transmitia conhecimentos em vários
âmbitos e masculinidade, sendo considerada comum essa prática pela sociedade
grega.
Há relatos de práticas homossexuais na Roma Antiga entre os grandes
imperadores. Na idade média, com o advento do cristianismo, relações homoafetivas
tornaram-se crime passível de execução. Cristãos e Judeus afirmavam que as
relações sexuais deveriam ter como finalidade apenas a reprodução humana. A
igreja católica foi uma das principais precursoras da de ideia que a relação entre
pessoas do mesmo sexo, deveria ser repudiada de forma extrema, pois, tal relação
é totalmente contrária a vontade de Deus. A força da igreja católica nessa época era
tão grande perante a sociedade, que criminalizava a prática.
No Brasil, os indivíduos que tinham relações sexuais com pessoas do mesmo
sexo eram conhecidos como sodomitas, que significa “aquele que tem práticas
sexuais anormais”. Tal palavra advém da religião e seus preceitos cristãos. As
pessoas consideradas sodomitas praticavam pecado nefando, pois tais relações não
tinha a finalidade de procriação.
As ordenações portuguesas no Brasil Colônia, criminalizaram a
homossexualidade, pois tal prática era tida como uma ofensa ao Estado, alcançando
o mesmo patamar de lesa-majestade que era o crime de traição contra a majestade
ou desrespeito ao Estado ou à dignidade do soberano reinante. A punição para tais
práticas era a morte. A homossexualidade estava inserida culturalmente em algumas
tribos no país, assim com a colonização tais tribos foram perseguidas pela coroa e
submetidos a penas cruéis e desumanas, além da morte.
Durante a segunda guerra mundial, na Alemanha nazista os homossexuais
foram perseguidos, sendo mutilados, violentados e mortos. Muitos foram enviados a

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I Congresso Acadêmico de Direito Constitucional

campos de concentração onde foram submetidos a tratamentos cruéis sendo vítimas


não apenas dos guardas alemães, mas também dos próprios prisioneiros. Eram
forçados aos trabalhos mais perigoso e pesados, as tarefas fatais eram atribuídas a
eles. Nessa época, o índice de mortes de homossexuais era alto. Foram mortos de
maneira brutal.
Tal perseguição ocorreu, pois, os nazistas afirmavam ser defensores da
moralidade, para eles a homossexualidade impedia a reprodução humana, sendo
assim, não perpetuaria a raça superior.
Com o fim da segunda guerra mundial, diversos movimentos pelos os direitos
humanos, surgiram e organizaram-se, tendo como intuito a descriminalização das
relações homossexuais.
Atualmente, os homossexuais são diariamente vítimas de ataques verbais,
morais, físicos e vítimas de assassinato no mundo todo por motivo de ódio. Em 73
países do mundo relações entre pessoas do mesmo sexo são consideradas crime.
As punições variam entre multa, prisão e a pena de morte. Treze países preveem a
pena de morte para população homossexual.

1.1 CONCEITO DE HOMOFOBIA

O dicionário Aurélio conceitua homofobia, como repulsa ou preconceito contra


a homossexualidade ou os homossexuais. Já Maria Berenice Dias se aprofunda
mais na definição de homofobia, conforme:

Ainda que muito não saibam, homofobia significa aversão a


homossexuais. Sem precisar ir ao dicionário, a expressão
compreende qualquer ato ou manifestação de ódio ou rejeição a
homossexuais, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais. Apesar
de a palavra homofobia albergar todos esses segmentos, novas
expressões, como lésbofobia, bifobia e transfobia, surgem para dar
ainda mais visibilidade à intolerância em todos os seus matizes.

A homofobia consiste em caracterizar o outro de forma adversa, anormal,


inferior, humilhando e constrangendo, resultando assim, em agressão verbal,
psicológica, física, sexual.
Uma parte significativa da população condena os homossexuais por sua
orientação sexual e pela identidade de gênero, pois desviam dos padrões

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Mariane Oliveira Galvão e Túlio Anderson Rodrigues da Costa

estabelecidos na sociedade. Milhões de pessoas são vítimas diariamente de


violência homofóbica, e nem todos denunciam quando são alvos dessa covardia,
conforme demonstram os dados do ano de 2012:

Os dados mais recentes disponibilizados pela Secretaria de


Direitos Humanos (SDH) da Presidência da República sobre a
violência homofóbica são de 2012. As análises foram feitas
essencialmente a partir dos dados provenientes do Disque Direitos
Humanos (Disque 100) da SDH: as estatísticas analisadas referem‐
se às violações reportadas, não correspondendo à totalidade das
violências ocorridas cotidianamente contra LGBTs. Segundo o
estudo, em 2012, foram registradas pelo poder público 3.084
denúncias de 9.982 violações relacionadas à população LGBT,
envolvendo 4.851 vítimas e 4.784 suspeitos. Em relação a 2011
houve um aumento de 166,09% de denúncias e 46,6% de violações,
quando foram notificadas 1.159 denúncias de 6.809 violações de
direitos humanos contra LGBTs, envolvendo 1.713 vítimas e 2.275
suspeitos.

Dados mais recentes disponibilizados pelo Grupo Gay da Bahia, mostram a


violência contra os homossexuais no Brasil no ano de 2016, conforme demonstrado
abaixo:

[...] 343 LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais)


foram assassinados no Brasil em 2016. Nunca antes na história
desse país registraram-se tantas mortes, nos 37 anos que o Grupo
Gay da Bahia (GGB) coleta e divulga tais homicídios. A cada 25
horas um LGBT é barbaramente assassinado vítima da “LGBTfobia”,
o que faz do Brasil o campeão mundial de crimes contra as minorias
sexuais. Matam-se mais homossexuais aqui do que nos 13 países do
Oriente e África onde há pena de morte contra os LGBT.

Não se pode ignorar a discriminação sob a alegação de que esta é uma


característica intrínseca ao homem. Mesmo que a população LGBT seja minoria na
sociedade, a sua dignidade deve ser preservada e a sua vida.

2 A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL É O PRINCÍPIO


DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.

A Constituição da República de 1988, traz em seu bojo, direitos fundamentais


da coletividade e do indivíduo em diversas áreas

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A Constituição Federal consagra a igualdade, a liberdade e a dignidade da


pessoa humana. Deve ser defeso qualquer tipo de discriminação. A falta de lei não
significa a não existência de um direito e os LGBTs não podem ser deixados à
margem da sociedade.
Assim, o legislador deve assegurar a todos independentemente da orientação
sexual ou da identidade de gênero, o exercício de seus direitos de forma plena, pois
a democracia é para todos. O descuido do Estado tem levado essa parcela da
sociedade a invisibilidade, e expostos a diversas situações homofobicas totalmente
inaceitáveis.
Maria Berenice Dias assevera que a carta magna assegura a todos a
liberdade o exercício de seus direitos da mesma forma que promove o bem de todos
sem preconceitos de raça, sexo, cor, idade e outras formas de discriminação,
ressalta-se a falta de legislação sobre discriminação em razão do sexo, conforme
salienta:

Parece que sequer se atenta à Constituição Federal, que já


em seu preâmbulo assegura o exercício dos direitos sociais e
individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o
desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de
uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos. Também é
consagrado como objetivo fundamental da República Federativa do
Brasil (art. 3ª, inc. IV): promover o bem de todos, sem preconceitos
de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação.

O preâmbulo da Constituição Federal delibera que os integrantes da


Assembleia Nacional Constituinte, que é formada por representantes do povo
brasileiro são os responsáveis para instituir o Estado Democrático Brasileiro e
devem propiciar a prática dos direitos sociais e individuais, segurança, liberdade,
bem-estar, igualdade, justiça e desenvolvimento que são valores considerados
supremos para uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos.
O Preâmbulo constitucional, não possui valor jurídico, porém tem sua
importância na esfera jurídica, na aplicação e interpretação de vários artigos e
mostra o protecionismo da Constituição aos direitos.
O princípio da dignidade da pessoa humana é a base de todos os princípios
do Estado Democrático de Direito. É imperioso destacar a sua importância para os
direitos sociais e individuais. Tal princípio garante a todo ser humano o direito de ser
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Mariane Oliveira Galvão e Túlio Anderson Rodrigues da Costa

respeitado como pessoa, independentemente de sua orientação sexual ou por sua


identidade de gênero.
Em nenhuma época o ser humano ficou longe da sua dignidade. Até mesmo
antes de nascer sua dignidade é respeitada.
A Constituição Federal tem como um dos fundamentos da República
Federativa do Brasil, o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. Na esfera do
Direito Constitucional, a presença desse Princípio na Carta Magna demonstra um
avanço para o os direitos fundamentais. Assim, a prática de uma ação por um ente
estatal deve ser analisada, pois, pode ser considerada inconstitucional por ferir a
dignidade da pessoa humana.
Conforme o disposto no artigo 1º, III da Constituição Federal:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união


indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-
se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
III - a dignidade da pessoa humana; [...]. (BRASIL, 1988).

Logo tal princípio é referência para aplicação e interpretação dos preceitos


jurídicos. O Valor do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana é supremo, sendo
resguardado na Carta Magna. Tal princípio revela a sua força e a sua importância
para todos os homens, pois protege os seus direitos e deveres.

2.1 RESGUARDO DOS BENS JURÍDICOS CONSTITUCIONAIS

A esfera jurídica brasileira caminha para incluir, em seu ordenamento jurídico,


essa minoria da população tão desprezada por nossos legisladores. Para grande
parte da sociedade, não há nenhum sentido a discriminação sofrida por essa parcela
da sociedade, como justificativa a sua orientação sexual. Mas alguns cidadãos
repudiam essa classe e incitam e praticam crimes de ódio, perpetuam o preconceito.
O Estado tem a o dever de tutela sobre eles, protegendo e criando direitos
para sua proteção.
O reconhecimento legal dos direitos dos LGBTs na esfera cível, vem
aumentando exponencialmente. A permissão para o casamento é um exemplo
disso. No ano de 2011, um julgamento do Supremo Tribunal Federal garantiu
diversos direitos a essa classe como o reconhecimento da união estável entre
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pessoas do mesmo sexo, promovendo a elas os mesmos direitos de um casal


heterossexual e se tornando-se uma unidade familiar como qualquer outra. Diante
de tal benefício, passam a ter direitos como pensão alimentícia, plano de saúde,
pensão do INSS, adoção de filhos e herança, são alguns dos direitos já
conquistados pelos homossexuais.
A Constituição Federal possui dispositivos que tem a finalidade de evitar o
preconceito e a discriminação em razão das garantias individuais, e dos direitos
fundamentais.
O artigo 5º da Constituição Federal em seu caput dispõe:

Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de


qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes.
(BRASIL, 1988)

Conforme se vê o disposto no artigo 5º caput, mesmo garantido a todos o


direito à vida, a liberdade, à igualdade e a segurança, tais garantias são ignoradas
diariamente pelo poder público e legislativo, que não legislam e nem protegem essa
minoria.
Sendo assim, o poder judiciário que exara decisões que estabelecem alguns
direitos aos homossexuais, como o reconhecimento de relação entre pessoas do
mesmo sexo, demandas que são voltadas sobre identidade de gênero, mas não
supre todas as necessidades dessa classe tão esquecida.
O Artigo 3º da Carta Magna tem como objetivo fundamental para a República
Federativa do Brasil a promoção do bem a todos, sem preconceitos de nenhuma
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Salienta-se que sexualidade é um bem jurídico que está sob tutela do
ordenamento, logo, deve ser protegido, garantindo a essa minoria um a vida sem
preconceitos e discriminações, pois tais práticas violam diretamente a Constituição
Federal e devem ser criminalizadas.

3 DO DIREITO PENAL

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O Direito Penal tem como missão a proteção do bem jurídico, os bens


jurídicos são possuidores de proteção legal. O legislador é o responsável pela
valoração de determinados interesses da sociedade que estejam sob ameaça de
dano e transformar esses interesses em bens jurídicos.
O legislador não poder criar bens jurídicos utilizando critérios de oportunidade
e conveniência é necessário que tal bem tenha representatividade social. Os bens
protegidos devem ser originários da Constituição da República Federativa do Brasil
dos seus preceitos. E nesse sentido o discurso de Rogério Greco:

De acordo com a visão minimalista, O Direito Penal tem a


finalidade de proteger os bens mais importantes e necessários ao
convívio em sociedade, e essa proteção se dá, justamente, por
intermédio dos tipos penais existentes não somente na Parte
Especial do Código Penal, como também na chamada legislação
penal extravagante ou extraordinária. Uma vez eleita e afirmada a
finalidade do Direito Penal, outras questões devem ser colocadas.
Assim, se a finalidade do Direito Penal, segundo posição majoritária
da doutrina, é a de proteger esses bens considerados vitais para a
manutenção da própria sociedade, qual o critério a ser adotado para
se chegara essa noção de importância? Sabemos que esse conceito
de importância é relativo e varia de sociedade para sociedade.

Para a proteção dos bens jurídicos o direito penal desempenha um papel


subsidiário para os outros campos jurídicos, o direito penal intervém de forma
mínima na criminalização de várias condutas, é utilizado como última opção para a
soluções dos problemas sociais.
Deve se observar que nem todos os bens jurídicos que são previstos na
Constituição da República Federativa do Brasil devem ser transformados é um bem
jurídico da esfera penal, os bens que são considerados devem ser protegidos.
A Constituição da República Federativa do Brasil dispõe em sua redação
normas que possuem o objetivo de impedir o preconceito e a discriminação, sendo
estes direitos fundamentais.
O artigo 5º, inciso XLI traz em seu texto que a lei deverá punir qualquer forma
de discriminação que atente contra os direitos e liberdades fundamentais. Ou seja,
qualquer tipo de discriminação é proibido pela a lei.

XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e


liberdades fundamentais;

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O Estado democrático de Direito utiliza o Direito Penal como instrumento para


garantir e proteger direitos.

Normas são criadas para a proteção de determinadas pessoas que são


excluídas da sociedade por algum motivo. Um exemplo é a Lei 7.716/06, conhecida
como a Lei do Preconceito, que tem o objetivo de impedir o preconceito a
determinados grupos considerados minoritários.

4. ASPECTOS JURÍDICOS DA CRIMINALIZAÇÃO DA HOMOFOBIA

O sistema jurídico atual pode incluir ou excluir uma determinada demanda de


sua proteção. O Direito Penal como integrante desse sistema determina qual
conduta é criminosa ou não. Perante a prática desenfreada da homofobia na
sociedade, se torna necessáriaa tipificação legal da discriminação ocasionada pela
orientação sexual e pela identidade de gênero.
A violência contra a população LGBT evidencia a vulnerabilidade social a que
eles estão expostos diariamente, em razão de sua orientação sexual ou da sua
identidade de gênero e em razão de uma sociedade heteronormativa.

A discriminação sofrida por essa classe a falta de direitos a violação direta de


bens jurídicos protegidos na esfera constitucional e criminal, tornam-se problemas
diretos para a esfera jurídica.
Borrillo faz menção à violência sofrida:

A violência homofóbica ocorre frequentemente diante de uma


população indiferente e insensível ao problema. Diariamente nos
chega a informação de inúmeras lésbicas, gays, bissexuais, travestis
e transexuais vivendo com medo de sofrer agressões decorrentes de
sua orientação sexual. Cada insulto proferido lembra a todos da
existência de uma ordem sexual vigente e sua hierarquia.
(BORRILLO, 2009).

A homofobia pode se caracterizar a através da injúria, lesão corporal ou


homicídio. A falta de legislação específica sobre homofobia traz dificuldades para
polícia identificar os agressores, tornando-os os impunes.

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Mariane Oliveira Galvão e Túlio Anderson Rodrigues da Costa

Se se o crime for homofóbico, deve constar nos instrumentos da polícia,


conforme Rigaud.

A homofobia em si não é crime, o que pode ser crime é a


forma que ela se manifesta: injúria, lesão corporal, homicídio...
Desde 2013, com a Portaria Conjunta SEDSDH/SDS/SAG Nº 4818, a
motivação homofóbica deve constar nos instrumentais da polícia e
isso já é um avanço em termos de estatística, até para que esse
possível perfil possa ser traçado. Os crimes com motivações
homofóbicas, lesbofóbicas ou transfóbicas entravam nas estatísticas
comuns, tornando a identificação do perfil do autor menos precisa.
(RIGAUD, 2014).

A agressão verbal pode desencadear ou provocar transtornos psicológicos


àqueles que sofrem injúria, pois tal ação tem prejuízo tão grande na vida do ser
humano que não se pode diminuir ou omitir a sua importância. Borrillo explica o real
significado da agressão verbal.

Presente nos insultos, nas piadas, nas representações


caricaturais e na linguagem cotidiana, a homofobia aponta gays e
lésbicas como criaturas grotescas e desprezíveis. A injúria constitui a
injunção da homofobia afetiva e cognitiva na medida em que as
expressões pejorativas, uma vez pronunciadas, não são
simplesmente palavras lançadas ao vento. São agressões verbais
que marcam a consciência. São traumas gravados na memória e no
corpo (pois a timidez, a insegurança, a vergonha são atitudes
corporais resultantes da hostilidade do mundo exterior). Uma das
consequências da injúria é o remodelamento da relação com os
outros e com o mundo – é, portanto, a reconstrução da
personalidade, da subjetividade e do próprio ser. A violência em
estado puro que representa a homofobia psicológica não é nada
mais que a internalização paradigmática de uma atitude anti
homossexual, a qual atravessa a história das sociedades.
(BORRILLO, 2009).

A Declaração Universal dos Direitos Humano- DUDH em seu artigo 7º


estabelece que todos tem direito a proteção contra qualquer tipo de discriminação.

Artigo 7° Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm


direito a igual proteção da lei. Todos têm direito a proteção igual
contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e
contra qualquer incitamento a tal discriminação.

A criminalização da homofobia afirmaria o respeito a ordem jurídica e aos


preceitos constitucionais. A criminalização reconheceria que a discriminação em

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razão da orientação sexual ou identidade de gênero não deve ser tolerada, pois a
liberdade sexual é um bem jurídico fundamental.

Maria Berenice discorre que já existe no ordenamento jurídico leis voltadas ao


preconceito contra idosos e crianças, lei de discriminação em razão da cor mas não
há nenhuma lei que criminalize a homofobia.

Para regulamentar o comando constitucional, a Lei 7.716/89


criminaliza o preconceito de raça ou de cor. O Estatuto da Criança e
do Adolescente e o Estatuto do Idoso atentam contra o preconceito
em razão da idade. O Estatuto da Igualdade Racial visa a evitar a
discriminação em face da cor. No entanto, a vedação constitucional
de preconceito em razão de sexo – que alcança a discriminação por
orientação sexual ou identidade sexual – prossegue sem uma
legislação que criminalize atos de homofobia.

O Estado deve atuar de forma ativa para impedir a discriminação a essa


classe, pois o princípio da igualdade assegura a todos os seres humanos a sua
dignidade, porém a dignidade e a liberdade da população LGBT e cerceada pela
falta de dispositivos legais que protejam a sua liberdade sexual.
A falta de leis cria transtornos de segurança pública, pois tais cidadãos
sofrem ataques físicos e psicológicos todos os dias, pois os bens jurídicos
assegurados pela Constituição da República Federativa do Brasil não são para
todos, uma vez que o poder legislativo ignora o martírio da população LGBT.
A criminalização da homofobia na câmara divide opiniões, gerando assim,
uma fragilidade nesse tema, que necessita urgentemente de mudanças legais.
Grande parte dos legisladores omitem-se ou impedem a aprovação de projetos que
criminalizam a homofobia ou que garanta direitos aos homossexuais, por medo de
serem taxados como LGBTs. O projeto de lei da câmara Nº 122 de 2006 tinha o
objetivo de alterar a lei nº 7.716/89 lei do racismo, §3º do artigo 140 do código penal,
e ao artigo 5º da consolidação de leis trabalhistas, foi arquivado em definitivo.
Mas ainda estão em tramitação no Congresso Nacional os seguintes projetos
de lei que criminalizam a homofobia a PSL 236/12 que reforma o Código Penal e
inclui na nova redação do código penal a criminalização da discriminação por
homossexuais. A PSL 457/2011 que altera a redação do Código Penal em
determinados artigos, inclui no §3º do artigo 140 que dispõe os fundamentos da
injúria qualificada, a orientação sexual e a identidade de gênero.
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Mariane Oliveira Galvão e Túlio Anderson Rodrigues da Costa

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do que foi desenvolvido no presente artigo, foi possível perceber a


exposição da atual situação da população LGBT e o seu passado. A
homossexualidade é um fato social existente até mesmo no reino animal, logo, a
homossexualidade não é um problema e sim é a homofobia que merece
atenção, pois ela gera inúmeros crimes hediondos, diversas situações
preconceituosas e homofóbicas o alto número de violência contra os LGBTS
comprova essa realidade.
A homossexualidade é uma opção sexual ou uma identidade de gênero
escolhida, logo, esses indivíduos não devem ser tratados de forma discriminatória ou
preconceituosa.
Os homossexuais alcançaram visibilidade na sociedade atual em razão dos
movimentos relacionados ao homossexualismo sendo que por muito tempo foram
deixados de lado por toda sociedade,
Somente uma lei que discorra sobre a criminalização não é suficiente para
alterar a realidade dos LGBT. É necessária a conscientização de toda a sociedade e
uma lei penal impulsionaria a mudança da imagem social que a classe LGBT, tem.
Apesar de ser apresentada a importância da criminalização da homofobia, o
Congresso Nacional continua inerte e os projetos de leis que demandam sobre
esses assuntos estão parados, porém, a homofobia e sua criminalização sempre vai
ser uma pauta atual no Congresso, que precisa ser debatida e que precisa de uma
solução para a classe LGBT.
Ordenamento Jurídico não pode ser omisso em relação a esse problema
social, não pode negligenciar essa população que necessita urgentemente de
proteção jurídica. É necessário que o Estado Democrático de Direito evolua
conforme as necessidades da sociedade e cumpra o seu papel perante todos os
indivíduos e a suas necessidades, pois a falta de lei fere direitos e as garantias
fundamentais previstas na Constituição da República Federativa do Brasil.

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I Congresso Acadêmico de Direito Constitucional

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