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Universidade Federal de Pernambuco

Centro de Filosofia e Ciências Humanas


Departamento de Psicologia
Curso de Graduação em Psicologia

A NECESSIDADE DE CRIMINALIZAR A HOMOFOBIA

Trabalho apresentado por Rodolfo Henrique


Felix da Silva à Profa. Rosane Maria Alencar
da Silva como parte da 1a avaliação da
disciplina de Fundamentos da Sociologia.

Recife, 2016
INTRODUÇÃO

A homofobia é caracterizada por uma série de atitudes e sentimentos negativos ligada


ao fato se alguém ser homossexual ou à homossexualidade em si. As definições para o termo
se referem à antipatia, aversão, preconceito, desprezo ou medo irracional. Este medo passa
pelo problema da identificação grupal, ou seja, os homofóbicos se opõem radicalmente aos
que não se alinham com o papel que eles desempenham na sociedade, ainda que o
comportamento destes sejam apenas na aparência.

Conforme citado pelo sociólogo Junqueira (2009), o termo vem sendo paulatinamente
alterado mas ainda reserva “traços do discurso clínico e medicalizante” que lhe deu origem.
Isso pode ser notado, por exemplo, na associação entre homofobia e certas atitudes e
emoções, e dessas com determinadas psicopatologias. O mesmo autor mais adiante elucida
que determinados estudiosos afirmam serem estas emoções:

Em alguns casos, a tradução do receio (inconsciente e “doentio”) de a própria pessoa


homofóbica ser homossexual (ou de que os outros pensem que ela seja). Assim,
seriam indícios (ou “sintomas”) de homofobia o ato de se evitarem homossexuais e
situações associáveis ao universo homossexual, bem como a repulsa às relações
afetivas e sexuais entre pessoas do mesmo sexo. Essa repulsa, por sua vez, poderia
se traduzir em um ódio generalizado (e, de novo, “patológico”) às pessoas
homossexuais ou vistas como homossexuais.

Nessa concepção acredita-se que a homofobia é uma dença ou algo “patológico”.


Porém, é válido observar que a homofoba também opera por meio da atribuição de um
“gênero defeituoso”, “falho” às pessoas homossexuais. Assim a homofobia pode se expressar
também ao terror da “perda de gênero” ou ao terror de não ser considerado homem ou mulher
“reais”. Esse medo está ligado a uma falsa concepção de normalidade na qual apenas a
heterossexualidade é considerada como parâmetro correto.
Portanto, a homofobia pode surgir dessa necessidade que os indivíduos têm de
reafirmar seus papéis de gênero, considerando o homossexual alguém que falhou nesse
processo (Pinto, 2011).
DESENVOLVIMENTO

O Movimento LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transsexuais)


Brasileiro, nos últimos trinta anos, vem concentrando esforços para promover a cidadania,
combater a discriminação e estimular a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, e
para isto busca de forma incansável, a aprovação do Projeto de Lei da Câmara (PLC)
122/2006 de autoria da Deputada Federal Iara Bernardi, onde propõe sanções às práticas
discriminatórias em virtude de orientação sexual.
Uma das propostas da ex-Senadora Fátima Cleide (2009) é de alterar a Lei nº 7.716, de

5 de janeiro de 1989; o artigo 1° que trata da punição de crimes resultantes de discriminação


ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, teria sua abrangência
ampliada alcançando os crimes resultantes de discriminação de gênero, sexo, orientação
sexual e identidade de gênero.

Ao artigo 8º seria incluído o parágrafo único com a seguinte redação:

“Parágrafo único: Incide nas mesmas penas aquele que impedir ou restringir a
expressão e a manifestação de afetividade em locais públicos ou privados abertos ao
público de pessoas com as características previstas no art. 1º desta Lei, sendo estas
expressões e manifestações permitida às demais pessoas.”

A finalidade dessas alterações é garantir que os homossexuais possam ter liberdade de


manifestação assim como os heterossexuais, garantindo-lhes um tratamento igualitário.
O projeto torna-se necessário porque a sociedade brasileira aparenta considerar que a
homofobia não é crime e que tem o “direito” de discriminar LGBTs. Os violentos ataques
contra LGBTs em São Paulo e no Rio de Janeiro, no final de 2010, deixam isso evidente.
Assim, o PLC n.º 122/06 terá, inicialmente, um importante efeito simbólico: declarar à
sociedade que o Estado Brasileiro não tolera a discriminação por orientação sexual e por
identidade de gênero, concretizando legislativamente a promessa constitucional de uma
sociedade livre, justa e solidária que condena discriminações preconceituosas de qualquer
espécie.

Embora haja uma crítica comum a esse projeto de lei de que assassinar, agredir e
ofender alguém já se configura em crime, não há criminalização específica da discriminação
não-violenta por orientação sexual ou por identidade de gênero (Vecchiatti, 2006).
Outra crítica comum ao projeto é a de que o mesmo proibiria as pessoas de “criticarem
a homossexualidade” e que implicaria numa “ditadura” àqueles que “não concordam” com o
“estilo de vida homossexual”. Contudo, essas colocações se pautam ou em um simplismo
acrítico ou em má-fé de seus defensores. Com efeito, sobre tais temas, o projeto se limita a
punir a discriminação motivada por orientação sexual ou identidade de gênero. Logo, quem
diz que o projeto geraria uma “ditadura” tem uma deturpada concepção da vida em sociedade,
pois aparenta entender que haveria um pseudo “direito” a discriminar LGBTs por conta
unicamente de sua orientação sexual ou de sua identidade de gênero, o que afronta todas as
regras de convivência em sociedade, a saber, o dever de tolerância, entendido como o dever
de não discriminar, ofender e agredir outrem pelo simples fato de ser diferente do agressor

CONCLUSÃO

A orientação sexual é algo inerente à pessoa, intrínseco assim como a cor da pele, a
dos olhos, a raça, está condicionado ao acontecimento natural do nascimento e é uma das
garantias que constituem a dignidade da pessoa.
A falta de punição expressa para os indivíduos intolerantes deixa um grande número
de cidadãos fora do âmbito de proteção jurídica. Para tanto a proposta da Lei 122/2006 é
demasiadamente simples, incluir no rol das discriminações e punir crimes resultantes de
atitudes descriminatórias em razão da orientação sexual ou identidade de gênero, nada fora do
normal, mas ao mesmo tempo de suma importância.

A criminalização da homofobia se faz necessária no momento em que os indivíduos


homossexuais se veem desrespeitados em seus direitosn fundamentais, onde cabe ao
ordenamento jurídico infringir punição às injustiças cometidas a estes, por aqueles que
simplesmente não toleram as diferenças, já que é dever do Estado regular as situações que
causam exclusão ou mesmo violência ao indivíduo. Para uma efetiva garantia da dignidade
todos sem exceção devem sentir-se protegidos quando necessário pelo ordenamento jurídico,
buscando nele tutela para solucionar tais atitudes lesivas (Pinto, 2011).

Criminalizar a homofobia não faz com que acabe o preconceito, mas irá,
esperançosamente, garantir que qualquer discriminação baseada na orientação sexual do
indivíduo configura claro desrespeito à dignidade humana, a infringir o princípio maior
imposto pela Constituição Federal, podendo tais infrações serem punidas penalmente, com
agravante de que foram cometidas em virtude de preconceito.
REFERÊNCIAS

CLEIDE, Fátima. Emenda – CDH ( SUBSTITUTIVO) Projeto de Lei de Câmara 122, de


2006. Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa, 2009. Disponível em:
<http://www.plc122.com.br/wp-content/uploads/2011/06/PLC122-Versão-atual-Apresentada-
por-Fátima-Cleide-tem-prioridade-nas-votações.pdf> Acesso em: 02 jul. 2016.

JUNQUEIRA; Rogério Diniz. Homofobia nas Escolas: um problema de todos.


Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a homofobia nas escolas /
Rogério Diniz Junqueira (organizador). – Brasília : Ministério da Educação, Secretaria de
Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, UNESCO, 2009. Disponível em: <
http://www.abglt.org.br/ docs/diversidade_sexual_na_educacao.pdf >. Acesso em: 02 de jul.
2016.

PINTO, Ana Carla Costa e. A criminalização da homofobia à luz do princípio da


dignidade da pessoa humana. 2011. 36 f. Tese (Doutorado) - Curso de Curso de Graduação
em Direito, Universidade Presidente Antônio Carlos, Barbacena, 2011. Disponível em:
<http://www.unipac.br/site/bb/tcc/dir15.pdf>. Acesso em: 02 jul. 2016.

VECCHIATTI, Paulo Roberto Iotti. Entenda o PLC122/06. Disponível em:


<http://www.plc122.com.br/entenda-plc122/#axzz4C9WojJ13>. Acesso em: 02 jul. 2016.

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