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FACULDADE NACIONAL DE DIREITO.

DISCIPLINA: HISTÓRIA DO DIREITO E DO PENSAMENTO JURÍDICO


PROFESSORA: JULIANA NEUENSCHWANDER
ALUNA: VIPSÂMIA ALVES DE OLIVEIRA - TURMA A

SEMINÁRIO
"A HISTÓRIA GLOBAL DA VIOLÊNCIA DE GÊNERO E O LEGADO COLONIAL:
UM INTERCÂMBIO BRASIL - REINO UNIDO"
22 - 09 - 2022

RELATÓRIO DA PRIMEIRA MESA REDONDA -


“LEGADOS COLONIAIS DA VIOLÊNCIA SEXUAL INTERSECCIONAL”

Dos Palestrantes:
Cristiane Brandão (UFRJ), Thuani Queiroz (UFF), Rhian Keyse (Birkbeck), George Severs
(Birkbeck), Luciana Boiteux (UFRJ)

O evento, acontecido na ilustre Faculdade Nacional de Direito, buscou trazer para


nós, futuros juristas, o olhar aguçado de diferentes pesquisadores acadêmicos no que tange
à violência de gênero como práticas perpetuadas desde colonizações escravagistas. Cada
palestrante partilhou um pouco do que têm se ocupado na investigação que conduzem e, à
semelhança da dinâmica da mesa redonda, esse relatório trará, em breves linhas, um
pouco do que foi mencionado em cada uma das falas.

Das Perspectivas de enfrentamento à violência sexual de gênero e homo/lésbofóbica


no Brasil, por Cristiane Brandão (UFRJ)

À luz de algumas perpectivas conceituais do que se reconhece enquanto violência


sexual, segundo proeminentes instituições, tais como: a Organização Mundial de Saúde
(OMS), a recente Lei Mexicana de Acesso das Mulheres a uma Vida Livre de Violência,
além de diplomas locais, tais como a Convenção de Belém do Pará, a palestrante destacou
o caráter histórico da violência sexual.
No Brasil, a violência sexual contra a mulher, ou melhor, contra todos os corpos que
não se adequarem ao padrão CIS-heteronormativo, se exaure nas avultosas (ainda que
subnotificadas) estatísticas que subjugam suas existências. De acordo com Cristiane
Brandão, é nas raízes histórico-culturais que podemos vislumbrar diagnósticos mais exatos
da dinâmica social que nos permeia e a partir daí, reconhecer no aparato social / político /
jurídico que a violência é sustentada de forma sistemática e sistêmica.

Da Violência sexual entre homens e masculinidades negras no Brasil, por Thuani


Queiroz (UFF)

Thuany abordou as perspectivas masculinas sobre sexo e violência sexual. A


investigação privilegiou a subjetividade dos entrevistados e suas experiências do que
consideravam violência sexual. De acordo com a pesquisadora, etnia, raça, religião (dentre
outros conceitos), parecem impregnar a percepção desses indivíduos em relação ao que
julgam ser violência sexual e, primordialmente, quando (e se) se percebem enquanto
sujeitos a esse tipo de violência.
As ponderações advindas do trabalho etnográfico produzido levou em consideração
uma série de variáveis, tais como: contexto, tipo de masculinidade, quem praticou a ação,
se ATIVO ou PASSIVO na relação, de como se sentiram na situação e os achados parecem
indicar para o que segue:
- a noção de CONTROLE, VALIDAÇÃO e PERMISSÃO parecem variar de acordo com o
tipo de masculinidade dos entrevistados;
- homens pretos se sentem, mais frequentemente, abusados sexualmente;
- homens gays sentem, mais frequentemente, seus corpos objetificados quando das
experiências que vivem.

Das Respostas medico-legais à violência sexual na Africa colonial britânica, por


Rhian Keyse (Birkbeck)

Sob sua perspectiva de historiadora, Rhian Keyse apontou para a interseção entre
História e práticas sociais e as implicações que daí advêm no que concerne a violência
contra a mulher.
Em linhas gerais, a pesquisadora levantou questões acerca do passado colonial do
Quênia e dos impactos desse passado sobre a sociedade africana em suas práticas sociais.
Ademais, no curso de sua investigação, a pesquisadora dedicou especial atenção às
respostas médico-legais dispensadas às mulheres vítimas de abuso.
A partir do escrutínio de relatórios médicos, Rhian destaca: quando não eram
demasiadamente breves, focavam nos ferimentos propriamente ou se concentravam nos
hábitos sexuais da vítima. Isto é, a narrativa das vítimas são, via de regra, minimizadas,
relativizadas.

Da Violência sexual e ativismo LGBTQIA+ no Reino Unido, por George Severs


(Birkbeck)

George Severs, por sua vez, abordou a parcialidade (bias) do sistema inglês no que
diz respeito a assédio sexual e sexualidade. De acordo com o pesquisador, existe uma
crescente onda de descontentamento e oposição de uma significativa parcela da sociedade
frente ao aparato jurídico-legal que tende a relativizar episódios de abusos sofridos por
homossexuais se comparado àqueles sofridos por heterossexuais.
À luz dos achados ao longo da pesquisa, de acordo com o sistema legal inglês,
homens heterossexuais não estariam sujeitos a crimes de estupro. Isto é, tal como um
crime próprio, um homem heterossexual não preencheria a condição para figurar enquanto
vítima daquele tipo penal. Ademais, ainda que se envolvessem em qualquer episódio dessa
natureza, um homem heterossexual não figuraria como um estuprador; essa posição se
restringeria aos gays. Por mais absurdo que possa ser esse relato, o pesquisador ilustra
sua fala com exemplos atuais - dos festejos do ex- primeiro ministro Boris Johnson e seus
escândalos, desdobramentos dessas ocasiões e apelo popular.

Por fim, a debatedora Luciana Boiteux (UFRJ) concluiu mencionando a importância


daqueles estudos enquanto práxis social. Assim, a inquietude desses pesquisadores se
traduz em anseios sociais por um futuro menos justo e igualitário. ∎

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