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Criança e Adolescente

Acesso à Justiça. Procedimentos no ECA. Recursos.


EXTENSIVO DPE
CURSO RDP
CRIANÇA E ADOLESCENTE

Sumário
CRIANÇA E ADOLESCENTE ...................................................................................................................................................................................... 3
DO ACESSO À JUSTIÇA ...................................................................................................................................................................................... 3
DA CURATELA ESPECIAL ................................................................................................................................................................................... 5
PROIBIÇÃO DA DIVULGAÇÃO DE ATOS JUDICIAIS, POLICIAIS E ADMINISTRATIVOS .......................................................................................... 5
“JUIZ DE MENORES” E JUIZ DA INFÂNCIA: UMA DISTINÇÃO NECESSÁRIA ........................................................................................................ 6
REGRAS DE COMPETÊNCIA............................................................................................................................................................................... 7
COMPETÊNCIA TERRITORIAL............................................................................................................................................................................ 7
JUÍZO IMEDIATO............................................................................................................................................................................................. 10
COMPETÊNCIA FUNCIONAL ........................................................................................................................................................................... 13
PORTARIA E ALVARÁ: APONTAMENTOS E CRÍTICAS ....................................................................................................................................... 15
TOQUES DE RECOLHER................................................................................................................................................................................... 17
“ROLEZINHOS” ............................................................................................................................................................................................... 17
NATUREZA JURÍDICA DAS DECISÕES QUE FIXAM PORTARIAS OU ALVARÁS: APROFUNDAMENTO PARA PROVAS ABERTAS .......................... 19
DOS SERVIÇOS AUXILIARES............................................................................................................................................................................. 20
DOS PROCEDIMENTOS EM ESPÉCIE ............................................................................................................................................................... 20
ASPECTOS GERAIS .......................................................................................................................................................................................... 21
PROCEDIMENTOS VERIFICATÓRIOS E ATUAÇÃO DA DEFENSORIA PÚBLICA ................................................................................................... 22
DA PERDA E DA SUSPENSÃO DO PODER FAMILIAR ......................................................................................................................................... 23
DA DESTITUIÇÃO DA TUTELA .......................................................................................................................................................................... 31
DA COLOCAÇÃO EM FAMÍLIA SUBSTITUTA..................................................................................................................................................... 32
DA APURAÇÃO DE ATO INFRACIONAL ATRIBUÍDO A ADOLESCENTE .............................................................................................................. 33
FASE POLICIAL .......................................................................................................................................................................................... 34
OITIVA INFORMAL OU FASE MINISTERIAL ................................................................................................................................................ 38
FASE JUDICIAL .......................................................................................................................................................................................... 39
JURISPRUDÊNCIA SOBRE O TEMA ............................................................................................................................................................ 44
DA INFILTRAÇÃO DE AGENTES DE POLÍCIA PARA A INVESTIGAÇÃO DE CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL DE CRIANÇA E DE
ADOLESCENTE ................................................................................................................................................................................................ 45
DA APURAÇÃO DE IRREGULARIDADES EM ENTIDADE DE ATENDIMENTO ...................................................................................................... 47
DA APURAÇÃO DE INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA ÀS NORMAS DE PROTEÇÃO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE .............................................. 49
DA HABILITAÇÃO DE PRETENDENTES À ADOÇÃO ........................................................................................................................................... 50
O SISTEMA RECURSAL NO ECA ....................................................................................................................................................................... 51

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CRIANÇA E ADOLESCENTE

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compromisso com cada um de vocês, trazendo sempre materiais atualizados e com excelentes ferramentas
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Agora vamos iniciar nosso estudo de hoje? 😊

DO ACESSO À JUSTIÇA

Bem, inicialmente, segundo o art. 141 do ECA, é garantido o acesso de toda criança ou adolescente à
Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, por qualquer de seus órgãos. A assistência
judiciária gratuita será prestada aos que dela necessitarem, através de defensor público ou advogado nomeado.

Segundo Gustavo Cives Seabra, a menção “advogado nomeado” é feita porque inúmeras comarcas no
Brasil não contam com a atuação da Defensoria Pública. Outro detalhe é que, apesar do ECA falar em assistência
“judiciária” gratuita, o correto é assistência “jurídica” gratuita, por ter este caráter bem mais amplo, já que a
atuação da Defensoria Pública transborda os limites do processo judicial.1

É importante lembrar que todas as ações judiciais da competência da Vara da Infância e Juventude - e
não apenas aquelas em que forem deferidos os benefícios da gratuidade judiciária - são isentas de custas e
emolumentos. É o que estabelece o art. 141, § 2º do ECA:

§ 2º As ações judiciais da competência da Justiça da Infância e da Juventude são


isentas de custas e emolumentos, ressalvada a hipótese de litigância de má-fé.

1 SEABRA, Gustavo Cives. Manual do Direito da Criança e do Adolescente. Boleto Horizonte: CEI, 2020, p.221.

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Portanto, ao que parece, todas as ações judiciais da competência da Vara da Infância e Juventude e não
apenas aquelas em que forem deferidos os benefícios da gratuidade judiciária são isentas de custas e
emolumentos.

Pergunta-se: essa isenção aplica a todos os sujeitos processuais e em todos os casos? A resposta é não,
pessoal. O Superior Tribunal de Justiça entende que a isenção de custas e emolumentos prevista na Lei 8.069/90
(ECA), deferida às crianças e adolescentes, na qualidade de autoras ou rés, nas demandas ajuizadas perante a
Justiça da Infância e Juventude, não é extensível aos demais sujeitos processuais, que, eventualmente figurem
no feito.

Nesse sentido a doutrina de Flávio Américo Frasseto e Fabiana Zapatta:

“Todas as ações judiciais da competência da Vara da Infância e Juventude e não apenas


aquelas em que forem deferidos os benefícios da gratuidade judiciária são isentas de
custas e emolumentos. Todavia, há precedentes do STJ, como no REsp 983.250/RJ,
afirmando que: a isenção de custas e emolumentos, prevista na Lei 8.069/90, deferida
às cri- anças e adolescentes, na qualidade de autoras ou rés, nas demandas ajuiza- das
perante a Justiça da Infância e Juventude, não é extensível aos de- mais sujeitos
processuais, que, eventualmente figurem no feito.Precedentes do STJ: REsp
1.040.944/RJ, Primeira Turma, DJ de 15/05/ 2008; AgRg no Ag. 955.493/RJ, Primeira
Turma, DJ de 05/06/2008; REsp 995.038/RJ, Segunda Turma, DJ de 22/04/2008; e REsp
701.969/ES, Se- gunda Turma, DJ 22/03/2006.“ Temos, então, que o STJ entende que
a garantia é específicas das crianças e adolescentes que figurem nos processos, sendo
a elas aplicável, e não a outras entidades. Em um caso, por exemplo, o STJ não admitiu
a isenção de custas em uma ação interposta por uma empresa que buscava anular
multa administrativa aplicada em virtude de violação do art. 258, do ECA.2

Dando continuidade ao nosso estudo, o ECA traz, em seu artigo 132, a seguinte previsão:

Art. 142. Os menores de dezesseis anos serão representados e os maiores de


dezesseis e menores de vinte e um anos assistidos por seus pais, tutores ou curadores,
na forma da legislação civil ou processual.

Parágrafo único. A autoridade judiciária dará curador especial à criança ou


adolescente, sempre que os interesses destes colidirem com os de seus pais ou
responsável, ou quando carecer de representação ou assistência legal ainda que
eventual.

Contudo, como lembra a doutrina, “o art. 142 traduz a regra do Código Civil quanto à necessidade de
representação por parte dos menores de 16 e de assistência aos maiores de 16 e menores de 21, limite máximo
reduzido para 18 anos a partir da entrada em vigor do Código Civil de 2002.” (Fabiana Zapatta e Flávio Américo
Frasseto, 2016, p. 152).

2 Zapata, Frasseto e Gomes (Coleção Ponto a Ponto, Defensoria Pública, Editora Saraiva, Direitos da Criança e do Adolescente):

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DA CURATELA ESPECIAL

No que se refere ao parágrafo único do art. 142 acima, o ECA determina ao juiz que dê curador especial
à criança ou adolescente em dois casos:

• se seus pais ou responsáveis não os representarem ou assistirem, estando ausentes,


• e se o interesse dos pais ou se o interesse dos responsáveis colidirem com os interesses da criança
e do adolescente.

Dessa forma, é importante anotar que o exercício da curadoria especial nos casos previstos em lei é
atribuição institucional da Defensoria Pública (Lei Complementar nº 80, art. 4º, XVI) e 72, parágrafo único do
NCPC:

Art. 4º, LC 80. São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras:

XVI – exercer a curadoria especial nos casos previstos em lei; (Incluído pela Lei
Complementar nº 132, de 2009).
Art. 72, NCPC. O juiz nomeará curador especial ao:
(...) Parágrafo único. A curatela especial será exercida pela Defensoria Pública, nos
termos da lei.

PROIBIÇÃO DA DIVULGAÇÃO DE ATOS JUDICIAIS, POLICIAIS E ADMINISTRATIVOS

O ECA proíbe a divulgação de atos judiciais, policiais e administrativos que digam respeito a crianças e
adolescentes a que se atribua autoria de ato infracional (art. 143). Qualquer notícia a respeito do fato não
poderá identificar a criança ou adolescente, vedando-se fotografia, referência a nome, apelido, filiação,
parentesco, residência e, inclusive, iniciais do nome e sobrenome.

CUIDADO: O descumprimento do estabelecido no art. 143 (visto acima) importa em infração administrativa
prevista no art. 247 do ECA e está sujeito a penas de multa de três a vinte salários de referência, dobrável no
caso de reincidência, além da apreensão da publicação. Cumpre salientar que a redação original do ECA previa,
ainda, a suspensão da programação da emissora e da publicação do periódico, mas tal sanção foi declarada
inconstitucional pelo STF na ADIn 869-2, como podemos observar da leitura do art. 247 abaixo:

Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem autorização devida, por qualquer meio
de comunicação, nome, ato ou documento de procedimento policial, administrativo
ou judicial relativo a criança ou adolescente a que se atribua ato infracional:

Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de


reincidência.

§ 1º Incorre na mesma pena quem exibe, total ou parcialmente, fotografia de criança


ou adolescente envolvido em ato infracional, ou qualquer ilustração que lhe diga

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respeito ou se refira a atos que lhe sejam atribuídos, de forma a permitir sua
identificação, direta ou indiretamente.

§ 2º Se o fato for praticado por órgão de imprensa ou emissora de rádio ou televisão,


além da pena prevista neste artigo, a autoridade judiciária poderá determinar a
apreensão da publicação ou a suspensão da programação da emissora até por dois
dias, bem como da publicação do periódico até por dois números. (Expressão
declarada inconstitucional pela ADIN 869).

DA JUSTIÇA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE

“JUIZ DE MENORES” E JUIZ DA INFÂNCIA: UMA DISTINÇÃO NECESSÁRIA

Antes de tratar sobre detalhes previstos no ECA no que tange à justiça da infância e da juventude, é
de grande importância pontuar que com a publicação do Estatuto da Criança e da Juventude, em 1990, o papel
desempenhado pelo juiz da infância foi substancialmente alterado.

Isso porque o antigo “juiz de menores” (o todo poderoso) podia decidir com base no prudente arbítrio,
dispensado de fundamentar suas decisões, com alto nível de discricionariedade; tinha poderes normativos,
agia de ofício, por meio de procedimentos sem forma ou figura de juízo, à margem dos princípios processuais
gerais, como a inércia e o devido processo legal.3

Portanto, é bom lembrarmos de algumas distinções extraídas da obra Direitos da Criança e


Adolescente Ponto a Ponto 4, pois a cobrança desses temas em provas orais já perdemos até as contas de
quantas vezes já caíram.

ANTIGO JUIZ DE MENORES JUIZ DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE


Conhecia de casos meramente sociais, e não Decide apenas casos de conflito jurídico, cabendo ao
daqueles em que caracterizado um conflito de Conselho Tutelar atuar nos casos de natureza social.
natureza jurídica, e podia decidir com base no Também está obrigado a fundamentar todas as suas
prudente arbítrio, dispensado de fundamentar suas decisões.
decisões, com alto nível de discricionariedade;
Tinha poderes normativos, agia de ofício, por meio Não pode, em princípio, agir do ofício; deve
de procedimentos sem forma ou figura de juízo, à preservar o exercício do contraditório e da ampla
margem dos princípios processuais gerais, como a defesa em todos os procedimentos e teve
inércia e o devido processo legal. drasticamente reduzido seu poder de baixar
portarias (poder normativo).

A professora Renata Giovanoni estabelece que “a realidade de descompassos, na órbita legal vigente,
fez sentir a necessidade da elaboração de um novo texto normativo sobre a criança e o adolescente que tivesse

3 Zapata, Fabiana Botelho, Flávio Américo Frasseto. Direitos da criança e do adolescente/coordenação Marcos Vinícius Manso Lopes
Gomes. – São Paulo: Saraiva, 2016. – (Coleção defensoria pública: ponto a ponto), p. 155.
4 Zapata, Fabiana Botelho, Flávio Américo Frasseto. Op.cit pag. 155/156.

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por base a doutrina da proteção integral. Nessa seara, de absoluta pertinência, veio a ser a elaboração do
Estatuto da Criança e do Adolescente”.5

O art. 145 (do ECA) aponta que os estados e o Distrito Federal poderão criar varas especializadas e
exclusivas da infância e da juventude, cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua proporcionalidade por
número de habitantes, dotá-las de infraestrutura e dispor sobre o atendimento, inclusive em plantões.

Antes de tudo, é importante lembrar, sobretudo para peças processuais em sua segunda fase, que o
STJ proferiu decisão no sentido de que matérias atinentes a direitos individuais, difusos ou coletivos vinculados
às crianças e adolescentes, independentemente de estarem ou não em situação de risco, são de competência
absoluta da Vara da Infância e juventude6.

Trataremos agora de vários detalhes importantes sobre o tema, começando pelo juiz da infância e
suas regras de competência.

REGRAS DE COMPETÊNCIA

A “autoridade” a que se refere o ECA é o Juiz da Infância e da Juventude, ou o juiz que exerce essa
função, na forma da lei de organização judiciária local (ex.: juiz de vara única em comarca do interior onde não
há vara especializada).

No que se refere à competência, temos diversos detalhes para aprofundarmos! Adianto, contudo, que
essas regras são alvos de várias polêmicas, críticas e embates doutrinários/jurisprudenciais. No entanto,
seremos muito objetivos quanto ao que importa saber, sem digressões desnecessárias ou aprofundamentos
que vocês não precisem saber.

COMPETÊNCIA TERRITORIAL

Vejamos, inicialmente, o que estabelece o art. 147 do ECA, que trata sobre a competência
TERRITORIAL:

Art. 147. A competência será determinada:


I - pelo domicílio dos pais ou responsável;
II - pelo lugar onde se encontre a criança ou adolescente, à falta dos pais ou
responsável.

Em resumo:

5Di Mauro, Renata Giovanoni. Procedimentos civis no Estatuto da Criança e do Adolescente/2. ed. – São Paulo: Saraiva, 2017, p. 27.
6"O Estatuto da Criança e do Adolescente é lex specialis, prevalece sobre a regra geral de competência das Varas de Fazenda Pública,
quando o feito envolver Ação Civil Pública em favor da criança ou do adolescente, na qual se pleiteia acesso às ações ou aos serviços
públicos, independentemente de o infante estar em situação de abandono ou risco, em razão do relevante interesse social e pela
importância do bem jurídico tutelado. Na forma da jurisprudência do STJ, 'a competência da vara da infância e juventude para apreciar
pedidos referentes ao menor de idade é absoluta, consoante art. 148, inciso IV, do Estatuto da Criança e do Adolescente.” (STJ, AgRg
no REsp 1.464.637/ES, Rel.Min. Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe de 28.3.2016)
REsp 1846781, REsp 1853701 e Tese IAC 10.

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COMPETÊNCIA
FORO NATURAL FORO RESIDUAL
Determinada pelo domicílio dos pais ou Determinada pelo lugar onde se encontre a criança ou
responsável. adolescente, à falta dos pais ou responsável.

Contudo, o parágrafo 1º do art. 147 traz uma nova regra.

§ 1º. Nos casos de ato infracional, será competente a autoridade do lugar da ação
ou omissão, observadas as regras de conexão, continência e prevenção.

Em resumo, portanto, teríamos o seguinte:

COMPETÊNCIA
FORO FORO CASOS DE
NATURAL RESIDUAL ATO INFRACIONAL
Determinada pelo lugar onde se É competente a Justiça do local
Determinada pelo domicílio
encontre a criança ou adolescente, à da ação ou omissão típica.
dos pais ou responsável.
falta dos pais ou responsável.

O § 2º do mesmo artigo 147, prevê que a execução das medidas poderá ser delegada à autoridade
competente da residência dos pais ou responsável, ou do local onde sediar-se a entidade que abrigar a criança
ou adolescente.

Portanto, como vimos, a competência territorial, segundo a Lei, será determinada da seguinte forma:

a) em primeiro lugar, pelo domicílio dos pais ou responsável;

b) à falta dos pais ou responsável, a competência é determinada pelo lugar onde se


encontra a criança ou adolescente;

c) para casos de ato infracional, é competente a Justiça do local da ação ou omissão


típica;

d) a execução das medidas (de proteção ou socioeducativa) pode ser delegada à


autoridade competente da residência dos pais ou responsável ou do local em que a
criança ou adolescente estiver internado ou abrigado.

IMPORTANTE: Cuidado com um detalhe! É que, embora seja compreendido como regra de competência
territorial, o art. 147, I e II, do ECA apresenta natureza de competência absoluta. Isso porque a necessidade
de assegurar ao infante a convivência familiar e comunitária, bem como de lhe ofertar a prestação jurisdicional
de forma prioritária, conferem caráter imperativo à determinação da competência, segundo a doutrina.

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Guilherme de Souza Nucci estabelece, como vimos, que o foro natural para as ações envolvendo
crianças e adolescentes, em situação de vulnerabilidade, é o local onde os pais ou responsável fixaram a
residência, com ânimo definitivo, denominado domicílio. Para o autor,

(...) Essa escolha legal é condizente com a meta principal deste Estatuto, nesses
casos, que é fazer o possível para manter o menor em sua família natural. Portanto,
nada mais natural que instaurar o procedimento verificatório no lugar onde eles
moram, para se conduzir as avaliações psicossociais, eventual acompanhamento do
Conselho Tutelar, visitas de integração entre pais e filhos, entre outras medidas7.

Nos casos de ato infracional, como vimos acima, será competente a autoridade do lugar da ação ou
omissão, observadas as regras de conexão, continência e prevenção. Lembrando que o critério de conexão e
continência é o estabelecido pelo Código de Processo Penal – e não pelo Código de Processo Civil.

Sobre o tema, a doutrina traz as seguintes diferenciações:8

“Conexão é a interligação entre atos infracionais, que permite a junção dos


procedimentos para a apuração conjunta, numa única Vara, tornando mais fácil a
colheita da prova e evitando decisões contraditórias. A conexão é chamada material
ou substantiva, quando efetivamente tiver substrato penal, ou seja, quando, no caso
concreto, puder provocar alguma consequência de ordem penal. No mais, ela será
sempre instrumental – útil à colheita unificada da prova. Não há razão para a reunião
dos processos, quando um deles já conta com julgamento, uma vez que o objetivo
maior, que era justamente evitar o julgamento conflituoso, não é mais possível de
ser atingido. Segue-se a Súmula 235 do Superior Tribunal de Justiça: “A conexão não
determina a reunião dos processos, se um deles já foi julgado”.

“Continência é a interligação de infrações cometidas por duas ou mais pessoas em


concurso. Unem-se os processos para uma apuração conjunta, favorecendo a
colheita da prova e evitando decisões díspares para coautores ou partícipes. Dispõe
o art. 77 do CPP: “a competência será determinada pela continência quando: I – duas
ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração; II – no caso de infração
cometida nas condições previstas nos arts. 51, § 1º, 53, segunda parte, e 54 [atuais
arts. 70, 73, segunda parte, e 74, segunda parte] do Código Penal”.

Prevenção: é a regra residual para a fixação de competência, significando que,


quando mais de um juiz é igualmente competente para conhecer e processar
determinado ato infracional, o primeiro a tomar alguma decisão torna-se
competente.”

7 Nucci, Guilherme de Souza. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado: em busca da Constituição Federal das Crianças e dos
Adolescentes/Guilherme de Souza Nucci. – Rio de Janeiro: Forense, out./2014, p. 455.
8 Nucci, Guilherme de Souza. Op.cit, p.456.

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Um detalhe importante a ser mencionado é que a competência do ECA não coincide com a do Código
de Processo Penal, isso porque, segundo o art.70 do CPP, a regra é que a competência se fixe no lugar do
resultado – teoria do resultado, ao contrário do ECA, que fixa a competência no lugar da ação ou omissão
(teoria da atividade), exatamente da mesma maneira que a Lei dos Juizados Especiais (art. 63, Lei nº
9.099/95).9

Em resumo:

COMPETÊNCIA TERRITORIAL
Ato infracional – Estatuto da Criança e do
Adota-se a teoria da atividade
Adolescente
Adota-se-, em regra, a teoria do resultado (art. 70,
Crime – CPP
CPP)
Juizados Especiais Criminais Adota-se a teoria da atividade (art. 63, JECRIM)

JUÍZO IMEDIATO

Caso você não recorde, lembre-se que o princípio do juízo imediato estabelece que a competência
para apreciar e julgar medidas, ações e procedimentos que tutelam interesses, direitos e garantias positivados
no ECA é determinada pelo lugar onde a criança ou o adolescente exerce, com regularidade, seu direito à
convivência familiar e comunitária.

“Essa regra de que competência será determinada primeiramente pelo domicílio dos
pais ou responsável e apenas subsidiariamente, na ausência deles, pelo local onde se
encontra a criança ou adolescente tem sido relativizada pela doutrina e
jurisprudência, a partir da ideia de que é mais convergente com o superior interesse
da criança e do adolescente a utilização da regra do Juízo Imediato, ou seja, de que
o juiz mais habilitado a decidir é aquele mais próximo da criança e do adolescente”.10

Veja o que estabeleceu o STJ sobre o tema:

PROCESSO CIVIL. REGRAS PROCESSUAIS. GERAIS E ESPECIAIS. DIREITO DA CRIANÇA


E DO ADOLESCENTE. COMPETÊNCIA. ADOÇÃO E GUARDA. PRINCÍPIOS DO MELHOR
INTERESSE DA CRIANÇA E DO JUÍZO IMEDIATO. 1. A determinação da competência,
em casos de disputa judicial sobre a guarda - ou mesmo a adoção - de infante deve
garantir primazia ao melhor interesse da criança, mesmo que isso implique em
flexibilização de outras normas. 2. O princípio do juízo imediato estabelece que a
competência para apreciar e julgar medidas, ações e procedimentos que tutelam
interesses, direitos e garantias positivados no ECA é determinada pelo lugar onde a
criança ou o adolescente exerce, com regularidade, seu direito à convivência familiar
e comunitária. 3. Embora seja compreendido como regra de competência territorial,

9SEABRA, Gustavo Cives. Manual do Direito da Criança e do Adolescente. Boleto Horizonte: CEI, 2020, p. 226/227.
10Zapata, Fabiana Botelho, Flávio Américo Frasseto. Direitos da criança e do adolescente/coordenação Marcos Vinícius Manso Lopes
Gomes. – São Paulo: Saraiva, 2016. – (Coleção defensoria pública: ponto a ponto), p. 157.

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o art. 147, I e II, do ECA apresenta natureza de competência absoluta. Isso porque a
necessidade de assegurar ao infante a convivência familiar e comunitária, bem como
de lhe ofertar a prestação jurisdicional de forma prioritária, conferem caráter
imperativo à determinação da competência. 4. O princípio do juízo imediato,
previsto no art. 147, I e II, do ECA, desde que firmemente atrelado ao princípio do
melhor interesse da criança e do adolescente, sobrepõe-se às regras gerais de
competência do CPC. 5. A regra da perpetuatio jurisdictionis, estabelecida no art. 87
do CPC, cede lugar à solução que oferece tutela jurisdicional mais ágil, eficaz e segura
ao infante, permitindo, desse modo, a modificação da competência no curso do
processo, sempre consideradas as peculiaridades da lide. 6. A aplicação do art. 87
do CPC, em contraposição ao art. 147, I e II, do ECA, somente é possível se -
consideradas as especificidades de cada lide e sempre tendo como baliza o princípio
do melhor interesse da criança - ocorrer mudança de domicílio da criança e de seus
responsáveis depois de iniciada a ação e consequentemente configurada a relação
processual. 7. Conflito negativo de competência conhecido para estabelecer como
competente o Juízo suscitado. (CC 111.130/SC, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 08/09/2010, DJe 01/02/2011)

Ainda, a Súmula 383 do STJ dispõe que “A competência para processar e julgar as ações conexas de
interesse de menor é, em princípio, do foro do domicílio do detentor de sua guarda” é entendida pela doutrina
como um dos corolários (desdobramentos) do princípio do juiz imediato.

Atenção ainda, meus amigos e minhas amigas, ao estabelecido no art. 147, § 3º do ECA:

§ 3º Em caso de infração cometida através de transmissão simultânea de rádio ou


televisão, que atinja mais de uma comarca, será competente, para aplicação da
penalidade, a autoridade judiciária do local da sede estadual da emissora ou rede,
tendo a sentença eficácia para todas as transmissoras ou retransmissoras do
respectivo estado.

Esse parágrafo foi introduzido pelo ECA no art. 147, mas faz referência à infração puramente
administrativa prevista no art. 247:

Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem autorização devida, por qualquer meio
de comunicação, nome, ato ou documento de procedimento policial, administrativo
ou judicial relativo a criança ou adolescente a que se atribua ato infracional:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de
reincidência.

§ 1º Incorre na mesma pena quem exibe, total ou parcialmente, fotografia de criança


ou adolescente envolvido em ato infracional, ou qualquer ilustração que lhe diga
respeito ou se refira a atos que lhe sejam atribuídos, de forma a permitir sua
identificação, direta ou indiretamente.

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§ 2º Se o fato for praticado por órgão de imprensa ou emissora de rádio ou televisão,


além da pena prevista neste artigo, a autoridade judiciária poderá determinar a
apreensão da publicação ou a suspensão da programação da emissora até por dois
dias, bem como da publicação do periódico até por dois números. (Expressão
declarada inconstitucional pela ADIN 869).

Neste caso, o que o § 3º afirma é que no caso da infração do art. 247 ser cometida através de
transmissão simultânea de rádio ou televisão, que atinja mais de uma comarca, caberá ao juiz do lugar onde
a emissora (ou rede) tem sua sede estadual, ainda que a transmissão atinja vários lugares. Contudo, segundo
a doutrina, tratando-se de transmissão nacional, possuindo a emissora várias sedes, deve-se resolver pela
prevenção.11

Em síntese:

ATINGINDO + DE UMA COMARCA ATINGINDO O ÂMBITO NACIONAL


Ex.: transmissão via jornal estadual Ex.: transmissão no jornal nacional
Caberá ao juiz do lugar onde a emissora (ou rede) Neste caso, tratando-se de transmissão nacional,
tem sua sede estadual, ainda que a transmissão possuindo a emissora várias sedes, deve-se resolver
atinja vários lugares. pela prevenção.

Apenas para lembrá-los, saibam que o STF entendeu que é inconstitucional a expressão “em horário
diverso do autorizado” contida no art. 254 do ECA. Assim, o Estado não pode determinar que os programas
somente possam ser exibidos em determinados horários. Isso seria uma imposição, o que é vedado pelo texto
constitucional por configurar censura. O Poder Público pode apenas recomendar os horários adequados. A
classificação dos programas é indicativa (e não obrigatória) (STF. Plenário. ADI 2404/DF, Rel. Min. Dias Toffoli,
julgado em 31/8/2016). Vale ressaltar, no entanto, que a liberdade de expressão, como todo direito ou
garantia constitucional, exige responsabilidade no seu exercício, de modo que as emissoras deverão
resguardar, em sua programação, as cautelas necessárias às peculiaridades do público infanto-juvenil. Logo, a
despeito de ser a classificação da programação apenas indicativa e não proibir a sua veiculação em horários
diversos daquele recomendado, cabe ao Poder Judiciário controlar eventuais abusos e violações ao direito à
programação sadia, previsto no art. 221 da CF/88. Diante disso, é possível, ao menos em tese, que uma
emissora de televisão seja condenada ao pagamento de indenização por danos morais coletivos em razão da
exibição de filme fora do horário recomendado pelo órgão competente, desde que fique constatado que essa
conduta afrontou gravemente os valores e interesses coletivos fundamentais. STJ. 3ª Turma. REsp 1840463-
SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 19/11/2019 (Info 663). 12

Veremos, agora, as regras de competência funcional estabelecidas no art. 148 do ECA.

11 Nucci, Guilherme de Souza. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado: em busca da Constituição Federal das Crianças e dos
Adolescentes/Guilherme de Souza Nucci. – Rio de Janeiro: Forense, out./2014, p.457.
12 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Emissora de TV pode ser condenada ao pagamento de indenização por danos morais coletivos

em razão da exibição de filme fora do horário recomendado pelo Ministério da Justiça. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível
em: https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/cc06a6150b92e17dd3076a0f0f9d2af4. Acesso em:
18/06/2021.

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COMPETÊNCIA FUNCIONAL

Primeiro vejam as regras estabelecidas no at. 148 do ECA:

Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é competente para:


I - conhecer de representações promovidas pelo Ministério Público, para apuração
de ato infracional atribuído a adolescente, aplicando as medidas cabíveis;

II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou extinção do processo;

III - conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes;

IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses individuais, difusos ou coletivos


afetos à criança e ao adolescente, observado o disposto no art. 209;

V - conhecer de ações decorrentes de irregularidades em entidades de atendimento,


aplicando as medidas cabíveis;

VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de infrações contra norma de


proteção à criança ou adolescente;
VII - conhecer de casos encaminhados pelo Conselho Tutelar, aplicando as medidas
cabíveis.

Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou adolescente nas hipóteses do art.


98, é também competente a Justiça da Infância e da Juventude para o fim de:

a) conhecer de pedidos de guarda e tutela;

b) conhecer de ações de destituição do pátrio poder poder familiar , perda ou


modificação da tutela ou guarda; (Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência

c) suprir a capacidade ou o consentimento para o casamento;

d) conhecer de pedidos baseados em discordância paterna ou materna, em relação


ao exercício do pátrio poder poder familiar ; (Expressão substituída pela Lei nº
12.010, de 2009) Vigência

e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil, quando faltarem os pais;

f) designar curador especial em casos de apresentação de queixa ou representação,


ou de outros procedimentos judiciais ou extrajudiciais em que haja interesses de
criança ou adolescente;

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g) conhecer de ações de alimentos;

h) determinar o cancelamento, a retificação e o suprimento dos registros de


nascimento e óbito.

Saibam que essas regras estabelecidas no art. 148 podem ser divididas, segundo a doutrina 13, em dois
conjuntos.

1. O primeiro diz respeito à competência exclusiva da Vara da Infância ou do juiz com jurisdição para
tanto. Nele está incluído:

a) toda matéria atinente ao processo judicial de apuração de ato infracional,


concessão de remissão, aplicação e execução de medida socioeducativa;

b) adoção de criança e adolescente e seus incidentes;

c) apuração de irregularidade em entidades de atendimento (arts. 191 e


seguintes) e apuração de infração administrativa contra norma de proteção à
criança ou adolescente e aplicação das respectivas sanções (arts. 194 e
seguintes);

d) ações civis fundadas em interesses individuais, difusos ou coletivos afetos


à criança e ao adolescente, respeitada, todavia, a competência da Justiça
Federal e competência originária dos Tribunais Superiores (art. 209).

2. O outro conjunto de situações disciplinadas pelo art. 148 diz respeito à competência concorrente,
ou seja, trata-se de situações que tramitam no juízo comum e apenas nas hipóteses de a criança
ou adolescente estarem com seus direitos ameaçados ou violados por ação ou omissão da família,
estado, ou sua própria conduta (art. 98) correm na Justiça especializada da Infância. Ora, desde a
entrada em vigor do Estatuto da Criança e do Adolescente, não se conseguiu firmar um
entendimento claro e objetivo de quando estão presentes ou não as hipóteses do art. 98 do ECA,
que são muito amplas. Assim, conflitos de competência abarrotam os Tribunais de Justiça,
ensejando decisões que, via de regra, avaliam, caso a caso, sem estabelecer padrões gerais, se há
ou não situação de ameaça ou violação de direito hábil a transferir a competência para a Vara da
Infância. Não é preciso dizer que as percepções pessoais do que é evidente situação de risco variam
muito de profissional para profissional. Assim, exceto no caso de criança acolhida, é difícil garantir
um posicionamento absolutamente unânime quanto à competência, especializada ou não de
qualquer situação que envolva as hipóteses do parágrafo único do art. 148 do ECA: guarda, tutela,
perda ou suspensão do poder familiar, suprimento de idade ou de consentimento para casamento,
discordância entre os pais no exercício do poder familiar, emancipação, alimentos, designação de
curador especial, cancelamento, retificação e suprimento de registros civis.

13Zapata, Fabiana Botelho, Flávio Américo Frasseto. Direitos da criança e do adolescente/coordenação Marcos Vinícius Manso Lopes
Gomes. – São Paulo: Saraiva, 2016. – (Coleção defensoria pública: ponto a ponto).

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CAIU NA DPE-SP-2019-FCC: A ação de destituição do poder familiar, segundo previsão expressa da legislação
vigente, corresponde a uma das hipóteses de competência funcional exclusiva da Justiça da Infância e
Juventude.14

Portanto, assim teríamos:

COMPETÊNCIA EXCLUSIVA COMPETÊNCIA CONCORRENTE


Ato infracional, concessão de remissão, aplicação e Situações que tramitam no juízo comum e apenas nas
execução de medida socioeducativa. hipóteses de a criança ou adolescente estarem com
seus direitos ameaçados ou violados por ação ou
Adoção de criança e adolescente e seus omissão da família, estado, ou sua própria conduta
incidentes; (art. 98) correm na Justiça especializada da Infância.

Apuração de irregularidade em entidades de Ex.: ação de guarda em que a criança ou adolescente


atendimento (arts. 191 e seguintes) e apuração de está em situação de risco. Neste caso, em tese, a
infração administrativa contra norma de proteção competência deixa de ser da Vara de Família e passa a
à criança ou adolescente e aplicação das ser do Juízo da Infância e Juventude.
respectivas sanções (arts. 194 e seguintes);
A Súmula 69 do Tribunal de Justiça de São Paulo
Não é demais reforçar que não é toda adoção que dispõe que: “Compete ao Juízo da Família e Sucessões
tramitará na Vara da Infância. É só imaginar um julgar ações de guarda, salvo se a criança ou
caso de adoção de maiores de 18 anos, por adolescente, pelas provas constantes dos autos,
exemplo. estiver em evidente situação de risco”.

IMPORTANTE LEMBRAR: a doutrina aponta que a regra é a de que os crimes previstos no ECA não sejam de
competência da Vara da Infância, no entanto, algumas Varas de Infância, por opção das regras locais de
organização judiciária, também assumem tal competência.

Por fim, o STJ entendeu que a Justiça da Infância e da Juventude tem competência absoluta para
processar e julgar causas envolvendo matrícula de menores em creches ou escolas, nos termos dos arts. 148,
IV, e 209 da Lei nº 8.069/1990 REsp 1.846.781/MS, Rel. Min. Assusete Magalhães, Primeira Seção, por
unanimidade, julgado em 10/02/2021 (Tema 1058).

PORTARIA E ALVARÁ: APONTAMENTOS E CRÍTICAS

Esse tema é um dos mais importantes para nossas provas de Defensoria. Inicialmente, saibam que o
art. 149 do ECA traz outras competências do juiz da infância que costumam aparecer em provas, vejam:

Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar, através de portaria, ou


autorizar, mediante alvará:

I - a entrada e permanência de criança ou adolescente, desacompanhado dos pais


ou responsável, em:

14 GAB: E.

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a) estádio, ginásio e campo desportivo;

b) bailes ou promoções dançantes;


c) boate ou congêneres;

d) casa que explore comercialmente diversões eletrônicas;

e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e televisão.

II - a participação de criança e adolescente em:

a) espetáculos públicos e seus ensaios;

b) certames de beleza.

Primeiro, uma diferença básica:

PARA DISCIPLINAR DETERMINADO TEMA PARA AUTORIZAR PESSOAS, EVENTOS, ETC.


O juiz da infância utiliza-se de portaria O juiz da infância utiliza-se de alvará
Ex.: portaria que trata sobre o ingresso de Ex.: alvará para que crianças ou adolescentes realizem
crianças em locais públicos após determinado certas atividades, como participar de um programa na TV.
horário.

Todavia, esses dois institutos não são vistos com bons olhos por parte da doutrina, que apontam
críticas15:

“PORTARIA: Não vemos como pode o magistrado baixar portaria para disciplinar as
liberdades de terceiros, alheios à Administração Pública, como quer fazer crer este
artigo. Há muito tempo esse poder de polícia foi entregue ao juiz da infância e
juventude, o que nos parece incabível. Deveria a lei disciplinar os limites gerais de
entrada e permanência de menores desacompanhados em lugares públicos. Mas
não pertine à atividade típica do Judiciário regulamentar idas e vindas de crianças e
adolescentes, o que, em várias situações, tem dado margem a nítidos abusos, como
portarias proibindo o beijo de menores de 18 anos em lugar público.

ALVARÁ: No âmbito do juízo da infância e juventude, de modo mais aceitável que a


portaria, concede-se alvará para que crianças ou adolescentes realizem certas
atividades, como participar de um programa na TV. Ou se concede um alvará ao
clube da cidade para realizar um baile infantojuvenil em determinada data.
Entretanto, segundo nos parece, não é atividade típica do juiz; deveria ocupar-se
disso algum órgão do Executivo Municipal, disciplinando a questão conforme as

15Nucci, Guilherme de Souza. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado: em busca da Constituição Federal das Crianças e dos
Adolescentes/Guilherme de Souza Nucci. – Rio de Janeiro: Forense, out./2014, p.465.

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peculiaridades locais. Se o alvará fosse expedido de maneira imprópria, poderia


haver a intervenção jurisdicional do magistrado, zelando pela legalidade.”

TOQUES DE RECOLHER

Sobre o tema, é bom recordamos dos chamados “toques de recolher”, em que alguns juízes da infância
editam portarias determinando o recolhimento, nas ruas, de crianças e adolescentes desacompanhados dos
pais ou responsáveis, por exemplo: a) após as 23 horas, b) em locais próximos a prostíbulos e pontos de vendas
de drogas e c) na companhia de adultos que estejam consumindo bebidas alcoólicas, etc. Essas portarias são,
sem dúvidas, ilegais, como já afirmou o Superior Tribunal de Justiça.

“ROLEZINHOS”

No mesmo sentido podem ser citados os movimentos conhecidos como “rolezinhos”, prática comum
no estado de São Paulo onde adolescentes organizam passeios em determinado shopping. Não se pode editar
portaria de caráter genérico proibindo tais encontros, sob pena de abuso ou desvio de poder.

Sobre os temas, importante trazer o seguinte julgado:

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. HABEAS CORPUS. TOQUE DE


RECOLHER. SUPERVENIÊNCIA DO JULGAMENTO DO MÉRITO. SUPERAÇÃO DA
SÚMULA 691/STF. NORMA DE CARÁTER GENÉRICO E ABSTRATO. ILEGALIDADE.
ORDEM CONCEDIDA. 1. Trata-se de Habeas Corpus Coletivo “em favor das crianças
e adolescentes domiciliados ou que se encontrem em caráter transitório dentro dos
limites da Comarca de Cajuru-SP” contra decisão liminar em idêntico remédio
proferida pela Câmara Especial do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. 2.
Narra-se que a Juíza da Vara de Infância e Juventude de Cajuru editou a Portaria
01/2011, que criaria um "toque de recolher", correspondente à determinação de
recolhimento, nas ruas, de crianças e adolescentes desacompanhados dos pais ou
responsáveis: a) após as 23 horas, b) em locais próximos a prostíbulos e pontos de
vendas de drogas e c) na companhia de adultos que estejam consumindo bebidas
alcoólicas. A mencionada portaria também determina o recolhimento dos menores
que, mesmo acompanhados de seus pais ou responsáveis, sejam flagrados
consumindo álcool ou estejam na presença de adultos que estejam usando
entorpecentes. 3. O primeiro HC, impetrado no Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo, teve sua liminar indeferida e, posteriormente, foi rejeitado pelo mérito. 4.
Preliminarmente, "o óbice da Súmula 691 do STF resta superado se comprovada a
superveniência de julgamento do mérito do habeas corpus originário e o acórdão
proferido contiver fundamentação que, em contraposição ao exposto na
impetração, faz suficientemente as vezes de ato coator (...)" (HC 144.104/SP, Rel.
Min. Jorge Mussi, DJe 2.8.2010; cfr. Ainda HC 68.706/MS, Sexta Turma, Rel. Ministra
Maria Thereza de Assis Moura, DJe 17.8.2009 e HC 103.742/SP, Quinta Turma, Rel.
Min. Jorge Mussi, DJe 7.12.2009). 5. No mérito, o exame dos considerandos da
Portaria 01/2011 revela preocupação genérica, expressa a partir do "número de

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denúncias formais e informais sobre situações de risco de crianças e adolescentes


pela cidade, especificamente daqueles que permanecem nas ruas durante a noite e
madrugada, expostos, entre outros, ao oferecimento de drogas ilícitas, prostituição,
vandalismos e à própria influência deletéria de pessoas voltadas à prática de
crimes". 6. A despeito das legítimas preocupações da autoridade coatora com as
contribuições necessárias do Poder Judiciário para a garantia de dignidade, de
proteção integral e de direitos fundamentais da criança e do adolescente, é preciso
delimitar o poder normativo da autoridade judiciária estabelecido pelo Estatuto da
Criança e do Adolescente, em cotejo com a competência do Poder Legislativo sobre
a matéria. 7. A portaria em questão ultrapassou os limites dos poderes normativos
previstos no art. 149 do ECA. "Ela contém normas de caráter geral e abstrato, a
vigorar por prazo indeterminado, a respeito de condutas a serem observadas por
pais, pelos menores, acompanhados ou não, e por terceiros, sob cominação de
penalidades nela estabelecidas" (REsp 1046350/RJ, Primeira Turma, Rel. Ministro
Teori Albino Zavascki, DJe 24.9.2009). 8. Habeas Corpus concedido para declarar a
ilegalidade da Portaria 01/2011 da Vara da Infância e Juventude da Comarca de
Cajuru. (HC 207.720/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA,
julgado em 01/12/2011, DJe 23/02/2012).

Importante notícia sobre os chamados “rolezinhos” também foi noticiada no site da ANADEP16, em um
caso em que a DPE-SP conseguiu a reforma de uma decisão que impedia a entrada de crianças e adolescentes
no Franca Shopping, às sextas-feiras, desacompanhadas ou sem autorização dos pais ou responsáveis:

“(...) Atendendo a um recurso da Defensoria Pública de SP, o Tribunal de Justiça (TJ-


SP) revogou na última terça-feira (12/5) a decisão liminar que impedia a entrada de
crianças e adolescentes no Franca Shopping, às sextas-feiras, desacompanhadas ou
sem autorização dos pais ou responsáveis. O Judiciário acolheu os argumentos da
Defensoria Pública de que a medida viola direitos fundamentais de crianças e
adolescentes, como o direito à liberdade de locomoção e de reunião e o direito ao
lazer e à convivência comunitária, previstos na Constituição Federal, no Estatuto da
Criança e do Adolescente e na Convenção Internacional sobre Direitos da Criança.”

Ademais, é importante reforçar que o STF entendeu que são constitucionais os dispositivos do ECA
que proíbem o recolhimento compulsório de crianças e adolescentes, mesmo que estejam perambulando nas
ruas.

(...) São constitucionais o art. 16, I, o art. 105, o art. 122, II e III, o art. 136, I, o art.
138 e o art. 230 do ECA. Tais dispositivos estão de acordo com o art. 5º, caput e
incisos XXXV, LIV, LXI e com o art. 227 da CF/88. Além disso, são compatíveis com a
Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), a Convenção sobre os Direitos
da Criança, as Regras de Pequim para a Administração da Justiça de Menores e a
Convenção Americana de Direitos Humanos. STF. Plenário. ADI 3446/DF, Rel. Min.
Gilmar Mendes, julgado em 7 e 8/8/2019 (Info 946). (DIZER O DIREITO)

16 Disponível em: https://www.anadep.org.br/wtk/pagina/materia?id=22691. Acesso em: 18/06/2021.

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NATUREZA JURÍDICA DAS DECISÕES QUE FIXAM PORTARIAS OU ALVARÁS: APROFUNDAMENTO PARA PROVAS
ABERTAS

No que se refere à natureza jurídica das decisões proferidas pelo juízo da infância em caso de portarias
e alvarás, há dois posicionamentos, lembra o professor Cives (2019, p. 232). De um lado, Ângela Maria dos
Santos entende ter natureza administrativa, pois ao agir editando portarias ou alvarás, não está agindo o
magistrado como julgador, mas como administrador.17

Por outro lado, Rossato, Lépore e Cunha entendem que a decisão tem natureza jurisdicional, sendo
inclusive, cabível o recurso de apelação previsto no art. 199, que assim estabelece:

Art. 199. Contra as decisões proferidas com base no art. 149 caberá recurso de
apelação.

NATUREZA JURÍDICA DA DECISÃO COM BASE NO ART. 149


ADMINISTRATIVA JURISDICIONAL
Ângela Maria dos Santos Rossato, Lépore e Cunha

Por fim, ainda sobre esse artigo 149, eu quero que você conheça algumas nuances que a doutrina
costuma apontar18:

1) alvarás e portarias são necessários e devem ser expedidos apenas nas hipóteses
taxativas da lei, não podendo o juiz fazer uso ampliativo desses expedientes;

2) toda portaria e todo alvará devem ser baixados ou concedidos em autos próprios
nos quais se avalia uma situação concreta, caso a caso;

3) não pode haver portaria de caráter geral que discipline de uma só vez o acesso de
crianças e adolescentes a todos os estádios, bailes, teatros, sob circunscrição do
Juízo;

4) aqueles que se sentirem prejudicados pela portaria podem apelar da sentença


que as baixa (art. 199);

5) se estiverem acompanhados de seus pais ou responsável, as crianças e


adolescentes não estão sujeitos às restrições das portarias judiciais que disciplinam
a entrada e permanência nos locais mencionados na lei.

Por fim, o STJ já estabeleceu que conforme autoriza o art. 149 do ECA, o juiz pode disciplinar, por
portaria, a entrada e permanência de criança ou adolescente desacompanhado dos pais ou responsáveis em

17 SANTOS, Ângela Maria Silveira dos. Procedimentos de Portaria e de expedição de alvará. Curso de Direito da Criança e do
Adolescente: aspectos teóricos e práticos – coordenação Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade Maciel. – 11 Ed. São Paulo: Saraiva
Educacão, 2018, p. 1.010.
18 Zapata, Fabiana Botelho, Flávio Américo Frasseto. Direitos da criança e do adolescente/coordenação Marcos Vinícius Manso Lopes

Gomes. – São Paulo: Saraiva, 2016. – (Coleção defensoria pública: ponto a ponto), p. 161.

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estádios, bailes, boates, teatros, etc. No entanto, essa portaria deverá ser fundamentada, caso a caso, sendo
vedada que ela tenha determinações de caráter geral (§ 2º do art. 149). STJ. 1ª Turma. REsp 1292143-SP, Rel.
Min. Teori Zavascki, julgado em 21/6/2012. (DIZER O DIREITO).

DOS SERVIÇOS AUXILIARES

O ECA estabelece que cabe ao Poder Judiciário, na elaboração de sua proposta orçamentária, prever
recursos para manutenção de equipe interprofissional, destinada a assessorar a Justiça da Infância e da
Juventude.

Em prova oral para o cargo de Defensor Público do Estado já foi perguntado ao candidato o que seria
essa equipe interprofissional, que poderia ser conceituada da seguinte forma:

“A equipe interprofissional é serviço auxiliar destinado a assessorar a Justiça da


Infância e da Juventude. Nessa missão de assessoria, elabora laudos, presta
informações verbais, oferece aconselhamento, orientação, encaminhamentos e
atividades de prevenção. Seus profissionais estão subordinados ao juiz da infância e
juventude do ponto de vista administrativo, vez que a lei lhes assegura
independência do ponto de vista técnico, o que quer dizer que o juiz não pode
interferir no conteúdo de suas manifestações e opiniões técnicas.”19

Segundo o art. 151 do ECA, compete à equipe interprofissional dentre outras atribuições que lhe
forem reservadas pela legislação local, fornecer subsídios por escrito, mediante laudos, ou verbalmente, na
audiência, e bem assim desenvolver trabalhos de aconselhamento, orientação, encaminhamento, prevenção
e outros, tudo sob a imediata subordinação à autoridade judiciária, assegurada a livre manifestação do ponto
de vista técnico. O parágrafo único, cuja redação fora dada pela Lei nº 13.509/2017, estabelece que “na
ausência ou insuficiência de servidores públicos integrantes do Poder Judiciário responsáveis pela realização
dos estudos psicossociais ou de quaisquer outras espécies de avaliações técnicas exigidas por esta Lei ou por
determinação judicial, a autoridade judiciária poderá proceder à nomeação de perito, nos termos do art. 156
da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil)”.

DOS PROCEDIMENTOS EM ESPÉCIE

O ECA traz, a partir do art. 152, uma série de procedimentos a serem observados em processos sobre
alguns temas, sendo eles:

1. Da perda e da suspensão do poder familiar;


2. Da destituição da tutela;
3. Da colocação em família substituta;
4. Da apuração de ato infracional atribuído a adolescente;
5. Da infiltração de agentes de polícia para a investigação de crimes contra a
dignidade sexual de criança e de adolescente;

19Zapata, Fabiana Botelho, Flávio Américo Frasseto. Direitos da criança e do adolescente/coordenação Marcos Vinícius Manso Lopes
Gomes. – São Paulo: Saraiva, 2016. – (Coleção defensoria pública: ponto a ponto), p. 163.

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6. Da apuração de irregularidades em entidade de atendimento;


7. Da apuração de infração administrativa às normas de proteção à criança e ao
adolescente;
8. Da habilitação de pretendentes à adoção.

ASPECTOS GERAIS

A esses procedimentos regulados no ECA aplicam-se subsidiariamente as normas gerais previstas na


legislação processual pertinente. Vocês verão, portanto, que há procedimentos em que se aplicam as regras
do Código de Processo Penal subsidiariamente, e em outros as regras do Código de Processo Civil. Ex.:
procedimento de ato infracional as regras subsidiárias são as do CPP, com exceção da parte recursal. Por outro
lado, em um procedimento de colocação em família substituta, aplicam-se, subsidiariamente, as regras
pertinentes ao CPC.

(...) A tônica do procedimento para apuração de ato infracional é a celeridade,


sendo que embora possua regras próprias e não tenha por escopo a aplicação
de sanção de natureza penal, por força do disposto no art. 152 do ECA, são a
ele aplicadas, em caráter subsidiário (ou seja, na ausência de disposição
expressa do ECA e desde que compatíveis com a sistemática por ele
estabelecida e com os princípios que norteiam o Direito da Criança e do
Adolescente), as normas gerais previstas no Código de Processo Penal, com
exceção do sistema recursal, ex vi do disposto no art. 198 do ECA (que prevê
a adoção, com algumas "adaptações", do sistema recursal do Código de
Processo Civil, o que é válido, inclusive, para o procedimento para apuração
de ato infracional).20

Nessa esteira, é importante lembrar que é assegurada, sob pena de responsabilidade, prioridade
absoluta na tramitação dos processos e procedimentos previstos no ECA, assim como na execução dos atos e
diligências judiciais a eles referentes.

SEGUNDA FASE: em caso de peças processuais envolvendo procedimentos previstos no ECA, você deve abrir
um tópico (pequeno) preliminarmente para tratar sobre “a prioridade processual”, assim como prevê o ECA e
no NCPC. Isso com certeza estará no espelho e poucos candidatos lembram.

A Lei nº 13.509/2017 incluiu o § 2º ao art. 152, para estabelecer que os prazos previstos no ECA - e
aplicáveis aos seus procedimentos - são contados em dias corridos, excluído o dia do começo e incluído o dia
do vencimento, vedado o prazo em dobro para a Fazenda Pública e o Ministério Público. Veja que nada é dito
quanto ao prazo em dobro para Defensoria Pública, razão pela qual entende-se que a DP goza de prazo em
dobro.21

20Disponível em: https://crianca.mppr.mp.br/pagina-1661.html. Acesso em 24 de dezembro de 2021.


21Sobre o tema “Defensoria e prazo em dobro no ECA”, recomendamos a leitura do presente artigo escrito pelo professor Diogo
Esteves: https://www.conjur.com.br/2018-abr-17/tribuna-defensoria-defensoria-prazo-dobro-procedimentos-eca Acesso em:
18/06/2021.

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Além disso, veremos mais adiante que nos procedimentos afetos à Justiça da Infância e da Juventude,
inclusive os relativos à execução das medidas socioeducativas, adotar-se-á o sistema recursal previsto no
Código de Processo Civil, nos termos do art. 198 do ECA:

Art. 198. Nos procedimentos afetos à Justiça da Infância e da Juventude, inclusive os


relativos à execução das medidas socioeducativas, adotar-se-á o sistema recursal da
Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil), com as seguintes
adaptações:

(...) II - em todos os recursos, salvo nos embargos de declaração, o prazo para o


Ministério Público e para a defesa será sempre de 10 (dez) dias;

Inclusive, o STJ entendeu, em 2019, que por força do critério da especialidade, os prazos dos
procedimentos regulados pelo ECA são contados em dias corridos, não havendo que se falar em aplicação
subsidiária do art. 219 do CPC/2015, que prevê o cálculo em dias úteis. STJ. 6ª Turma. HC 475.610/DF, Rel.
Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/03/2019 (Info 647).

CUIDADO: No caso de ações que não se enquadrem nos procedimentos especiais expressamente enumerados
pelo ECA, os prazos são regidos pelo CPC/2015. Assim, não se enquadrando a demanda entre os
procedimentos especiais previstos no ECA, o prazo recursal a ser observado no agravo de instrumento é
quinzenal, computado em dias úteis, consoante estipulado pelo CPC/2015, e não o prazo de 10 dias do art.
198, II, do ECA. STJ. 4ª Turma. REsp 1697508/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 10/04/2018.

PROCEDIMENTOS VERIFICATÓRIOS E ATUAÇÃO DA DEFENSORIA PÚBLICA

O art. 153 do ECA registra que se a medida judicial a ser adotada não corresponder a procedimento
previsto no ECA ou em outra lei, a autoridade judiciária poderá investigar os fatos e ordenar de ofício as
providências necessárias, ouvido o Ministério Público. Trata-se do chamado “poder geral de cautela” conferido
ao magistrado.

Na prática vocês vão ouvir falar desse procedimento como “pedido de providências” ou mais
comumente como “procedimento verificatório”.

ATENÇÃO: O STJ já entendeu que A Defensoria Pública pode ter acesso aos autos de procedimento
verificatório instaurado para inspeção judicial e atividade correicional de unidade de execução de medidas
socioeducativas. STJ. 6ª Turma. RMS 52.271-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 19/06/2018 (Info 629).

Contudo, esse instituto (poder geral de cautela visto acima) não se aplica para o fim de afastamento
da criança ou do adolescente de sua família de origem e em outros procedimentos necessariamente
contenciosos (art. 153, PU), precisando neste caso de requerimento formal, evitando que o judiciário atue de
ofício em temas mais delicados como estes.

Por fim, encerrando as disposições gerais, o art. 154 estabelece o seguinte:

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Art. 154. Aplica-se às multas o disposto no art. 214.

Esse artigo quer dizer que, em um desses procedimentos que estamos estudando, caso haja
condenação à pena de multa, estas deverão ser revertidas ao fundo gerido pelo Conselho dos Direitos da
Criança e do Adolescente do respectivo município.

Art. 214. Os valores das multas reverterão ao fundo gerido pelo Conselho dos
Direitos da Criança e do Adolescente do respectivo município.

Iniciaremos, agora, a análise de cada procedimento (são, ao total, oito, mas o assunto é muito legal e
você nem verá a hora passar, prometo).

DA PERDA E DA SUSPENSÃO DO PODER FAMILIAR

O primeiro procedimento previsto no ECA está no art. 155. Trata-se do procedimento para a perda ou
a suspensão do poder familiar (antes chamado pátrio poder), que terá início por provocação do Ministério
Público ou de quem tenha legítimo interesse.

Art. 155. O procedimento para a perda ou a suspensão do pátrio poder poder


familiar terá início por provocação do Ministério Público ou de quem tenha legítimo
interesse. (Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Note, portanto, que o art. 155 deixa claro que o MP pode propor a ação visando a perda ou a
suspensão do poder familiar. A pergunta é: a Defensoria pode propor a referida ação em nome próprio?

Para responder a essa pergunta devemos lembrar que entre as funções institucionais da Defensoria
Pública está a defesa dos interesses individuais e coletivos da criança e do adolescente, nos termos do art. 4º,
XI da LC 80/1994.

Art.4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras:

XI – exercer a defesa dos interesses individuais e coletivos da criança e do


adolescente, do idoso, da pessoa portadora de necessidades especiais, da mulher
vítima de violência doméstica e familiar e de outros grupos sociais vulneráveis que
mereçam proteção especial do Estado; (Redação dada pela Lei Complementar nº
132, de 2009).

Com isso, estabelece a doutrina:

(...) Diante dessa necessidade de buscar agir sempre com amparo na vontade da
criança/adolescente, entendemos que a Defensoria não pode, por si só, ingressar
com ação de destituição do poder familiar, cabendo tal múnus somente ao MP.
Deixa-se claro que, na prática, não haverá qualquer embaraço para a Defensoria
Pública ingressar com a ação porque ou estará representando os adotantes ou

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estará exercendo a curadoria especial de crianças/adolescentes em colidência de


interesses com os pais.” (SEABRA, 2019, p. 236).

Sobre esse procedimento, importantes os ensinamentos da doutrina de Diogo Esteves e Franklyn


Roger:

“A deflagração de procedimento judicial contencioso, no qual deverá ser garantido


aos pais ou ao representante legal o exercício do contraditório e da ampla defesa
(art. 101, § 2º, in fine do ECA). Nesses casos, a demanda poderá ser proposta pelo
Ministério Público ou por quem detenha legítimo interesse, na forma do art. 101, §
2º do ECA. Importante ressaltar que, mesmo não sendo instaurada pelo Ministério
Público, a demanda deverá obrigatoriamente contar com sua participação, na
qualidade de fiscal da lei interveniente, conforme determina o art. 178, II do
CPC/2015 c/ c art. 202 do ECA. No lado oposto, o polo passivo da relação processual
deverá ser ocupado pelos pais ou representantes legais da criança ou do
adolescente, que serão citados para apresentarem resposta e para indicarem as
provas a serem produzidas no curso do processo.”

No entanto, surge a seguinte pergunta: quando o procedimento de destituição de poder familiar for
iniciado pelo Ministério Público, haverá necessidade de nomeação de curador especial (no caso a Defensoria
Pública) em favor da criança ou adolescente?

Aqui, portanto surgem duas principais teorias: de um lado, a teoria que dispensa a nomeação de
curador especial em favor da criança ou adolescente (também chamada de teoria demóbora ou da
substituição ministerial exclusiva), e outra teoria que exige a nomeação de curador especial em favor da
criança ou adolescente (teoria democrática ou da legitimidade concorrente).

Infelizmente, o art. 162, § 4º do ECA, editado em 2017, adotou a teoria demóbora ou da substituição
ministerial exclusiva, ao estabelecer o seguinte:

§ 4º Quando o procedimento de destituição de poder familiar for iniciado pelo


Ministério Público, não haverá necessidade de nomeação de curador especial em
favor da criança ou adolescente. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)

De acordo com a corrente demóbora,

(...) nas demandas que objetivam averiguar a existência de situação de risco e


realizar aplicação de medidas protetivas, os interesses da criança ou do adolescente
seriam defendidos pelo próprio Ministério Público, restando afastada a possibilidade
de intervenção da curadoria especial. Segundo os partidários dessa corrente, a
criança e o adolescente não seriam parte do processo, mas simples destinatários da
proteção judicial.22

22Esteves, Diogo. Princípios Institucionais da Defensoria Pública I Diogo Esteves, Franklyn Roger Alves Silva. - 3. ed. - Rio de Janeiro:
Forense, 2018, p. 576.

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Antes mesmo da edição do art. 162, § 4º do ECA, o TJ-RJ contava com inúmeros julgados pela
inadmissão da nomeação da Defensoria Pública para atuar como curadora especial nesses casos:

RECURSO ESPECIAL. DIREITO DE FAMÍLIA. ADOÇÃO À BRASILEIRA. AÇÃO DE


ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL DE CRIANÇA E ADOLESCENTE. MINISTÉRIO PÚBLICO.
SUBSTITUTO PROCESSUAL. ART. 201, INCISOS III E VIII, DO ECA. NOMEAÇÃO DA
DEFENSORIA COMO CURADORA ESPECIAL. IMPOSSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE
PREVISÃO LEGAL. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO. FALTA DOS REQUISITOS DO ART. 142,
PARÁGRAFO ÚNICO, DO ECA. 1. Compete ao Ministério Público, a teor do art. 201,
III e VIII, da Lei no 8.069/1990 (ECA), promover e acompanhar o processo de
acolhimento, zelando pelo efetivo respeito aos direitos e às garantias legais
assegurados a crianças e adolescentes. 2. Resguardados os interesses da criança e
do adolescente, não se justifica a obrigatória e automática nomeação da Defensoria
Pública como curadora especial em ação movida pelo Ministério Público, que já atua
como substituto processual. 3. A Defensoria Pública, no exercício da curadoria
especial, desempenha apenas e tão somente uma função processual de
representação em juízo do menor que não tiver representante legal ou se os seus
interesses estiverem em conflito (art. 1 42, parágrafo único, do ECA). 4. Incabível a
nomeação de curador especial em processo de acolhimento institucional no qual a
criança nem é parte, mas mera destinatária da decisão judicial 5. Recurso especial
provido. (STJ - Terceira Turma - REsp no 1 .41 7.782/RJ - Relator Min. Ricardo Villas
Bôas Cueva, decisão: 02-10-20 14) (GRIFOS NOSSOS).

Ação de destituição de poder familiar ajuizada pelo Ministério Público em face dos
genitores da menor. Nomeação de Curador Especial. Desnecessidade. Dispensável,
ao caso em exame, a nomeação de Curador Especial para atuar em prol dos
interesses dos menores, cuidando-se de ação ajuizada pelo Ministério Público,
instituição que, além de figurar em um dos polos da demanda, atua também como
fiscal da lei, não se despindo do compromisso de fiscalizar a regularidade
procedimental e de zelar pelo interesse dos menores, os quais, ademais, não
integram a lide. (TJ/ RJ - Terceira Câmara Cível - Agravo de Instrumento no 0017758-
70.2012.8.19.0000 - Relator Des. Mario Assis Goncalves, decisão: 1 8-07-2012).
(GRIFOS NOSSOS).

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE DESTITUIÇÃO DE PODER FAMILIAR.


CURADORA ESPECIAL. DEFENSORIA PÚBLICA. DESNECESSIDADE. De acordo com o
parágrafo único do art. 142 do Estatuto da Criança e do Adolescente, será nomeado
curador especial ao incapaz quando ele for parte da ação. Na ação de destituição de
poder familiar, em que o Ministério Público é o autor e os genitores dos menores
são os réus, os incapazes não são partes. Diante disso, não há qualquer razão para
que seja nomeado curador especial. 2. A atuação do Ministério Público no exercício
da função de autor e fiscal da lei não apresenta qualquer incompatibilidade, ou até
mesmo nulidade, já que não deixa de zelar pela ordem jurídica, além da atuação do

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parquet ter cunho protetivo, conforme se infere dos artigos 155 e 201, inciso III, do
Estatuto da Criança e do Adolescente. 3. Tendo em vista o princípio da celeridade
processual, a nomeação de curador à lide acarretaria tumulto processual,
prejudicando os interesses dos próprios incapazes e, consequentemente, violaria o
princípio do melhor interesse da criança. (TJ/ RJ - Décima Quarta Câmara Cível -
Agravo de Instrumento no 0044004-40.2011.8.19.0000 - Relator Des. Jose Carlos
Paes, decisão: 26-08-2011). (GRIFOS NOSSOS).

Esse entendimento é inclusive sumulado no TJ-RS:

Súmula no 22 do TJ/RS: Nas ações de destituição/suspensão de pátrio poder,


promovidas pelo Ministério Público, não é necessária a nomeação de curador
especial ao menor.

Porém, como vimos, há a outra teoria, que deve ser adotada em fases mais avançadas (subjetivas ou
orais).

Segundo a corrente (ou teoria) democrática,

(...) sempre que a demanda restar fundada em situação de risco ocasionada por ação
ou omissão dos pais ou responsáveis, a atuação da curadoria especial será co gente,
nos termos do art. 72, I, do CPC/20 15 e do art. 142, parágrafo único, do ECA, sendo
o art. 162, § 4º, do ECA inconstitucional e inconvencional.23

Um dos argumentos que a doutrina aponta é que quando o Ministério Público deflagra medida
judicial objetivando afastar a criança ou o adolescente do convívio familiar, este atua como legitimado
extraordinário autônomo. Porém, essa legitimação extraordinária autônoma não goza natureza exclusiva. O
fato é que a atuação do Ministério Público e da curadoria especial não possui qualquer identidade de função
ou de finalidade.

Contudo, como vimos, com as modificações trazidas pela Lei nº 13.509/2017, o art. 162, § 4º do ECA
passou a afastar expressamente a atuação da curadoria especial nos procedimentos de destituição de poder
familiar propostos pelo Ministério Público, adotando, assim, a chamada teoria demóbora ou da substituição
ministerial exclusiva.

Quanto ao procedimento, ele tem início com a petição apresentada pelo MP (ou pelo legítimo
interessado), que deve observar as regras estabelecidas no art. 156. É importante lembrar que na hipótese de
haver motivo grave, poderá a autoridade judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar a suspensão do
poder familiar, liminar ou incidentalmente, até o julgamento definitivo da causa, ficando a criança ou
adolescente confiado a pessoa idônea, mediante termo de responsabilidade.

23Esteves, Diogo. Princípios Institucionais da Defensoria Pública I Diogo Esteves, Franklyn Roger Alves Silva. - 3. ed. - Rio de Janeiro:
Forense, 2018, p. 580.

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Segundo a jurisprudência do STJ, a mãe biológica detém legitimidade para recorrer da sentença que
julga procedente o pedido de guarda formulado por casal que exercia a guarda provisória da criança, mesmo
se já destituída do poder familiar em outra ação proposta pelo Ministério Público e já transitada em julgado.

Vejam:

(...) A mãe biológica detém legitimidade para recorrer da sentença que julgou
procedente o pedido de guarda formulado por casal que exercia a guarda provisória
da criança, mesmo se já destituída do poder familiar em outra ação proposta pelo
Ministério Público e já transitada em julgado. O fato de a mãe biológica ter sido
destituída, em outra ação, do poder familiar em relação a seu filho, não significa,
necessariamente, que ela tenha perdido a legitimidade recursal na ação de guarda.
Para a mãe biológica, devido aos laços naturais, persiste o interesse fático e jurídico
sobre a criação e destinação da criança, mesmo após destituída do poder familiar.
Assim, enquanto não cessado o vínculo de parentesco com o filho, através da
adoção, que extingue definitivamente o poder familiar dos pais biológicos, é possível
a ação de restituição do poder familiar, a ser proposta pelo legítimo interessado, no
caso, os pais destituídos do poder familiar. STJ. 4ª Turma. REsp 1845146-ES, Rel. Min.
Raul Araújo, julgado em 19/11/2019 (Info 661). (DIZER O DIREITO).

Continuando o procedimento, recebida a petição inicial, a autoridade judiciária determinará,


concomitantemente ao despacho de citação e independentemente de requerimento do interessado, a
realização de estudo social ou perícia por equipe interprofissional ou multidisciplinar para comprovar a
presença de uma das causas de suspensão ou destituição do poder familiar, ressalvado o disposto no § 10 do
art. 101 do ECA e observada a Lei nº 13.431/2017 (Veja o que estabelece o art. 101, § 10 do ECA a que faz
referência o texto acima):

§ 10. Recebido o relatório, o Ministério Público terá o prazo de 15 (quinze) dias para
o ingresso com a ação de destituição do poder familiar, salvo se entender necessária
a realização de estudos complementares ou de outras providências indispensáveis
ao ajuizamento da demanda. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)

Além disso, é importante lembrar que em sendo os pais oriundos de comunidades indígenas, é ainda
obrigatória a intervenção, junto à equipe interprofissional ou multidisciplinar, da FUNAI, órgão federal
responsável pela política indigenista.

§ 2 o Em sendo os pais oriundos de comunidades indígenas, é ainda obrigatória a


intervenção, junto à equipe interprofissional ou multidisciplinar referida no § 1 o
deste artigo, de representantes do órgão federal responsável pela política
indigenista, observado o disposto no § 6 o do art. 28 desta Lei. (Incluído pela Lei nº
13.509, de 2017).

Nesse sentido o STJ:

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A intervenção da FUNAI nos litígios relacionados à destituição do poder familiar e à


adoção de menores indígenas ou menores cujos pais são indígenas é obrigatória e
apresenta caráter de ordem pública. O objetivo dessa intervenção é fazer com que
sejam consideradas e respeitadas a identidade social e cultural do povo indígena, os
seus costumes e tradições, suas instituições, bem como que a colocação familiar
ocorra prioritariamente no seio de sua comunidade ou junto a membros da mesma
etnia. As regras do art. 28, §6º, I e II, do ECA, visam conferir às crianças de origem
indígena um tratamento verdadeiramente diferenciado, pois, além de crianças,
pertencem elas a uma etnia minoritária, historicamente discriminada e marginalizada
no Brasil, bem como pretendem, reconhecendo a existência de uma série de
vulnerabilidades dessa etnia, adequadamente tutelar a comunidade e a cultura
indígena, de modo a minimizar a sua assimilação ou absorção pela cultura dominante.
Nesse contexto, a obrigatoriedade e a relevância da intervenção obrigatória da FUNAI
decorre do fato de se tratar do órgão especializado, interdisciplinar e com
conhecimentos aprofundados sobre as diferentes culturas indígenas, o que possibilita
uma melhor verificação das condições e idiossincrasias da família biológica, com vistas
a propiciar o adequado acolhimento do menor e, consequentemente, a proteção de
seus melhores interesses, não se tratando, pois, de formalismo processual exacerbado
apenar de nulidade a sua ausência. STJ. 3ª Turma. REsp 1698635-MS, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 01/09/2020 (Info 679).24

Va lembrar que havendo intervenção da FUNAI, o feito deverá ser apreciado pela Justiça Federal, nos
termos do art. 109, I, da CF/88:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: I - as causas em que a União,
entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de
autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de
trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;

Nesse sentido: STJ. Decisão monocrática. CC 133798/SC, Rel. Min. Antonio Carlos
Ferreira, julgado em 12/02/2015.

Galera, agora uma novidade que eu preciso que vocês anotem, porque é quase 100% de chance de
cair em prova, fica por conta da Lei nº 14.340/2022, que alterou a Lei nº 12.318, de 26 de agosto de 2010,
para modificar procedimentos relativos à alienação parental, e também o Estatuto da Criança e do
Adolescente), acrescentando esses dois parágrafos ao art. 157:

§ 3º A concessão da liminar será, preferencialmente, precedida de entrevista da


criança ou do adolescente perante equipe multidisciplinar e de oitiva da outra parte,

24 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É obrigatória a intervenção da FUNAI em ação de destituição de poder familiar que envolva
criança cujos pais possuem origem indígena. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/34f98c7c5d7063181da890ea8d25265a>. Acesso em:
17/06/2022

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nos termos da Lei nº 13.431, de 4 de abril de 2017. (Incluído pela Lei nº 14.340, de
2022)

§ 4º Se houver indícios de ato de violação de direitos de criança ou de adolescente, o


juiz comunicará o fato ao Ministério Público e encaminhará os documentos
pertinentes. (Incluído pela Lei nº 14.340, de 2022)

Dando continuidade, no que se refere à citação do requerido nesse procedimento, o art. 158 do ECA
aponta que este será citado para, no prazo de dez dias, oferecer resposta escrita, indicando as provas a serem
produzidas e oferecendo desde logo o rol de testemunhas e documentos. A regra é que a citação seja pessoal,
salvo se esgotados todos os meios para sua realização. No caso do requerido encontrar-se privado de
liberdade, deverá ser citado pessoalmente.

Agora, MUITO CUIDADO com o que vou trazer.

Pessoal, é que a Lei nº 13.509/2017 trouxe o § 3º ao art. 158 a fim de estabelecer a citação por hora
certa nas ações de perda ou suspensão do poder familiar, portanto fiquem atentos a essa “novidade”.

§ 3º Quando, por 2 (duas) vezes, o oficial de justiça houver procurado o citando em


seu domicílio ou residência sem o encontrar, deverá, havendo suspeita de ocultação,
informar qualquer pessoa da família ou, em sua falta, qualquer vizinho do dia útil em
que voltará a fim de efetuar a citação, na hora que designar, nos termos do art. 252
e seguintes da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).
(Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)

A Lei nº 13.509/2017 também trouxe o § 3º ao art. 158, positivando no ECA a citação por edital.

§ 4º Na hipótese de os genitores encontrarem-se em local incerto ou não sabido,


serão citados por edital no prazo de 10 (dez) dias, em publicação única, dispensado
o envio de ofícios para a localização. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)

CAIU NA DPE-AM-2018-FCC: Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, no Procedimento de Perda ou


Suspensão do Poder Familiar, na hipótese de os genitores encontrarem-se em local incerto ou não sabido,
serão citados por edital no prazo de 10 dias, em publicação única, dispensado o envio de ofícios para a
localização.25

Neste ponto reside uma crítica feita pela doutrina, pelo fato de que até mesmo em ações patrimoniais
a citação por edital precede o esgotamento da localização dos réus através de requisições de informações,
pelo juízo, do endereço dos requeridos em cadastros públicos ou de concessionárias de serviços públicos (art.
256, § 3º, NCPC). Portanto, em uma ação que visa suspender ou destituir o poder familiar, essa previsão
deveria constar expressamente no referido procedimento, o que não foi feito pelo ECA, que dispensou a
requisição das informações.

25 GAB: C.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 29
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Abaixo, a previsão da citação por edital no NCPC:

Art. 256. A citação por edital será feita:

§ 3º O réu será considerado em local ignorado ou incerto se infrutíferas as tentativas


de sua localização, inclusive mediante requisição pelo juízo de informações sobre
seu endereço nos cadastros de órgãos públicos ou de concessionárias de serviços
públicos.

Continuando, não sendo contestado o pedido e tiver sido concluído o estudo social ou a perícia
realizada por equipe interprofissional ou multidisciplinar, a autoridade judiciária dará vista dos autos ao
Ministério Público, por 5 (cinco) dias, salvo quando este for o requerente, e decidirá em igual prazo.

Lembrem-se que, segundo o ECA, é obrigatória a oitiva dos pais sempre que eles forem identificados
e estiverem em local conhecido, ressalvados os casos de não comparecimento perante a Justiça quando
devidamente citados. Além disso, se o pai ou a mãe estiverem privados de liberdade, a autoridade judicial
requisitará sua apresentação para a oitiva.

CAIU NA DPE-SP-2019-FCC: A ação de destituição do poder familiar, segundo previsão expressa da legislação
vigente, prevê, em seu rito processual, a obrigatoriedade da oitiva dos pais, ainda que, devidamente citados,
não se apresentem perante a Justiça.26

CAIU NA DPE-AM-2018-FCC: Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, no Procedimento de Perda ou


Suspensão do Poder Familiar, é dispensada a oitiva dos pais sempre que eles forem identificados e estiverem
em local conhecido, ressalvados os casos de comparecimento espontâneo perante a Justiça.27

O art. 162, § 4º do ECA, com redação dada pela Lei nº 13.509/2017, estabelece que quando o
procedimento de destituição de poder familiar for iniciado pelo Ministério Público, não haverá necessidade
de nomeação de curador especial em favor da criança ou adolescente.

CAIU NA DPE-AM-2018-FCC: Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, no Procedimento de Perda ou


Suspensão do Poder Familiar, quando o procedimento de destituição de poder familiar for iniciado pelo
Ministério Público, haverá necessidade de nomeação de curador especial em favor da criança ou
adolescente.28

Contudo, a doutrina institucional tem considerado tal previsão inconstitucional e inconvencional por
alguns pontos:

1. Primeiro, inconstitucional porque viola a garantia do contraditório (art. 5º, LV, da


CF/88).

26 GAB: E.
27 GAB: E.
28 GAB: E. Art.162, § 4º Quando o procedimento de destituição de poder familiar for iniciado pelo Ministério Público, não haverá

necessidade de nomeação de curador especial em favor da criança ou adolescente. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017).

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 30
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2. Segundo, inconvencional por violar o direito inerente à criança de participar


efetivamente dos processos judiciais e administrativos que versem sobre a
matéria de seu interesse (art. 9º e 12 da Convenção sobre Direitos da Criança de
1989).
3. Terceiro, porque há violação ao art. 227 da CF/88 que estabelece a proteção
integral.

Nesse sentido Franklyn Roger e Diogo Esteves (2018, p. 588):

“Em síntese conclusiva, portanto, o art. 162, § 4º, do ECA deve ser considerado
inconstitucional, por violar a garantia do contraditório efetivo (art. 5º, LV, da CRFB),
e inconvencional, por violar o direito inerente à criança de participar efetivamente
dos processos judiciais e administrativos que versem sobre matéria de seu interesse
(arts. 9º e 12 da Convenção sobre os Direitos da Criança de 1989 ou Convenção de
Nova Iorque). Com isso, a atuação funcional da curadoria especial deve ser
considerada cogente sempre que a criança ou o adolescente estiver em situação de
risco ocasionada por ação ou omissão dos pais ou responsáveis (art. 98, II, do ECA).
Nesses casos, em virtude da manifesta colidência de interesses entre o incapaz e seu
representante legal, a representação processual do menor será exercida pela
curadoria especial, nos termos do art. 72, I, do CPC/20 15 e art. 1 42, parágrafo
único, do ECA.”

O prazo máximo para conclusão do procedimento será de 120 (cento e vinte) dias, e caberá ao juiz,
no caso de notória inviabilidade de manutenção do poder familiar, dirigir esforços para preparar a criança ou
o adolescente com vistas à colocação em família substituta. Por fim, a sentença que decretar a perda ou a
suspensão do poder familiar será averbada à margem do registro de nascimento da criança ou do adolescente.

CAIU NA DPE-SP-2019-FCC: A ação de destituição do poder familiar, segundo previsão expressa da legislação
vigente, tem como efeito a averbação da sentença de procedência à margem do registro da criança ou do
adolescente, desligando-os de qualquer vínculo com pais e parentes, salvo os impedimentos matrimoniais. 29

DA DESTITUIÇÃO DA TUTELA

Nos termos do art. 64 do ECA, na destituição da tutela será observado o procedimento para a remoção
de tutor previsto na lei processual civil e, no que couber, o disposto na seção anterior (perda ou suspensão do
poder familiar).

Vocês lembram as hipóteses legais que autorizam a tutela? Pois bem. O Código Civil prevê a tutela
para os casos dos filhos menores de 18 anos que não estejam sob o poder familiar dos genitores, seja porque
eles morreram, foram declarados ausentes, são desconhecidos ou porque foram destituídos do poder familiar.
Assim, nomeia-se um tutor para prestar apoio aos tutelados.

29GAB: E. Segundo o art. 41 do ECA, a adoção atribui a condição de filho ao adotado, com os mesmos direitos e deveres, inclusive
sucessórios, desligando-o de qualquer vínculo com pais e parentes, salvo os impedimentos matrimoniais. Na sentença de destituição
do poder familiar não há o desligamento de qualquer vínculo com os pais e parentes, como aponta o examinador.

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Lembrem-se que a tutela é uma forma de colocação em família substituta (ao lado da guarda e da
adoção), e segue as disposições do ECA, do Código Civil (art. 1.728 e seguintes) e do CPC.

Esse procedimento de destituição da tutela está previsto do art. 761 ao art. 763 do NCPC:

Art. 761. Incumbe ao Ministério Público ou a quem tenha legítimo interesse


requerer, nos casos previstos em lei, a remoção do tutor ou do curador.
Parágrafo único. O tutor ou o curador será citado para contestar a arguição no prazo
de 5 (cinco) dias, findo o qual observar-se-á o procedimento comum.

Art. 762. Em caso de extrema gravidade, o juiz poderá suspender o tutor ou o


curador do exercício de suas funções, nomeando substituto interino.

Art. 763. Cessando as funções do tutor ou do curador pelo decurso do prazo em que
era obrigado a servir, ser-lhe-á lícito requerer a exoneração do encargo.

§ 1º Caso o tutor ou o curador não requeira a exoneração do encargo dentro dos 10


(dez) dias seguintes à expiração do termo, entender-se-á reconduzido, salvo se o juiz
o dispensar.

§ 2º Cessada a tutela ou a curatela, é indispensável a prestação de contas pelo tutor


ou pelo curador, na forma da lei civil.

DA COLOCAÇÃO EM FAMÍLIA SUBSTITUTA

Antes de comentar esse procedimento, lembrem-se que as formas de colocação em família substituta
são a guarda, a tutela e a adoção.

Inicialmente, prevê o art. 166 do ECA que se os pais forem falecidos, tiverem sido destituídos ou
suspensos do poder familiar, ou houver aderido expressamente ao pedido de colocação em família substituta,
este poderá ser formulado diretamente em cartório, em petição assinada pelos próprios requerentes,
dispensada a assistência de advogado.

Contudo, o § 1º, cuja redação fora dada pela Lei nº 13.509/2017 estabelece o seguinte:

§ 1º Na hipótese de concordância dos pais, o juiz: (Redação dada pela Lei nº 13.509,
de 2017)
I - na presença do Ministério Público, ouvirá as partes, devidamente assistidas por
advogado ou por defensor público, para verificar sua concordância com a adoção,
no prazo máximo de 10 (dez) dias, contado da data do protocolo da petição ou da
entrega da criança em juízo, tomando por termo as declarações; e (Incluído pela Lei
nº 13.509, de 2017)
II - declarará a extinção do poder familiar. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)

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O consentimento dos titulares do poder familiar será precedido de orientações e esclarecimentos


prestados pela equipe interprofissional da Justiça da Infância e da Juventude, em especial, no caso de adoção,
sobre a irrevogabilidade da medida. Além disso, são garantidos a livre manifestação de vontade dos detentores
do poder familiar e o direito ao sigilo das informações.

Agora, atenção a três informações importantes:

• O consentimento prestado por escrito não terá validade se não for ratificado na
audiência a que se refere o § 1º do art. 166 do ECA.
• O consentimento é retratável até a data da realização da audiência especificada
no § 1º deste artigo, e os pais podem exercer o arrependimento no prazo de 10
(dez) dias, contado da data de prolação da sentença de extinção do poder
familiar.
• O consentimento somente terá valor se for dado após o nascimento da criança.

Nas hipóteses em que a destituição da tutela, a perda ou a suspensão do poder familiar constituir
pressuposto lógico da medida principal de colocação em família substituta, será observado o procedimento
contraditório previsto nas Seções II e III (os últimos dois procedimentos que vimos, respectivamente).

Por fim, a colocação de criança ou adolescente sob a guarda de pessoa inscrita em programa de
acolhimento familiar será comunicada pela autoridade judiciária à entidade por este responsável no prazo
máximo de 5 (cinco) dias.

DA APURAÇÃO DE ATO INFRACIONAL ATRIBUÍDO A ADOLESCENTE

Sobre o procedimento de apuração de ato infracional, trata-se do mais importante para nossas provas
de Defensoria Pública, estando regulado a partir do art. 171 do ECA.

Primeiro, saiba que o adolescente poderá ser apreendido (e não preso) por ordem judicial ou em
flagrante de ato infracional.

Art. 171. O adolescente apreendido por força de ordem judicial será, desde logo,
encaminhado à autoridade judiciária.

O estudo da apuração do ato infracional pode ser subdividido em algumas fases:

1. Fase policial;
2. Fase da oitiva informal (ou ministerial);
3. Fase judicial.

Seguiremos a ordem acima.

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FASE POLICIAL

O adolescente apreendido em flagrante de ato infracional será, desde logo, encaminhado à autoridade
policial competente. Havendo repartição policial especializada para atendimento de adolescente e em se
tratando de ato infracional praticado em coautoria com maior, prevalecerá a atribuição da repartição
especializada, que, após as providências necessárias e conforme o caso, encaminhará o adulto à repartição
policial própria.

Em resumo:

1. O adolescente apreendido em flagrante será encaminhado para a autoridade policial competente.


2. Havendo repartição policial especializada para atendimento de adolescente e em se tratando de ato
infracional praticado em coautoria (concurso de pessoas) com adulto (ex.: furto de um celular que
um adolescente pratica com um jovem de 18 anos) prevalecerá a atribuição da repartição
especializada, que lá encaminhará o adulto à repartição própria.

CAIU NA DPE-AL-2017-CESPE: Considerando que determinado adolescente de dezessete anos de idade tenha
sido apreendido em flagrante de ato infracional análogo ao crime de furto, assinale a opção correta.
A) Em caso de não liberação, e sendo impossível a sua apresentação imediata ao Ministério Público, o
adolescente será encaminhado pela autoridade policial a entidade de atendimento, que o apresentará ao
Ministério Público no prazo de vinte e quatro horas, ou, não havendo na localidade entidade de atendimento
e na falta de repartição policial especializada, o adolescente aguardará a apresentação em dependência
prisional, ainda que junto a maiores.
B) Apresentado o adolescente, o Ministério Público, no mesmo dia e à vista do auto de apreensão, boletim de
ocorrência ou relatório policial, devidamente autuados pelo cartório judicial e com informação sobre os
antecedentes do adolescente, dará início a imediata e informal audiência de custódia com a participação dos
pais do adolescente ou de seu responsável, da vítima e de testemunhas.
C) O Ministério Público poderá oferecer representação à autoridade judiciária propondo a instauração de
procedimento para a aplicação da medida socioeducativa que se afigurar a mais adequada, devendo a
representação ser oferecida por petição, que conterá obrigatoriamente breve resumo dos fatos, a classificação
do ato infracional, prova pré-constituída da autoria e materialidade e, quando necessário, o rol de
testemunhas.
D) Oferecida a representação, a autoridade judiciária designará audiência de apresentação do adolescente e
o adolescente e seus pais ou responsável serão cientificados do teor da representação, e notificados a
comparecer à audiência, acompanhados de advogado, devendo a autoridade judiciária determinar a condução
coercitiva dos pais ou do responsável se eles não forem localizados.
E) Com o comparecimento de qualquer dos pais ou do responsável, o adolescente será prontamente liberado
pela autoridade policial, sob termo de compromisso e responsabilidade de sua apresentação ao Ministério
Público, no mesmo dia ou, sendo impossível, no primeiro dia útil imediato, exceto quando, pela gravidade do
ato infracional e sua repercussão social, deva o adolescente permanecer sob internação para a garantia de sua
segurança pessoal ou da manutenção da ordem pública.30

30 GAB: E.

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Contudo, a situação será um pouco diferente em caso de flagrante de ato infracional cometido
mediante violência ou grave ameaça.

A lavratura do auto de apreensão (e não de prisão) em flagrante de ato infracional (e não de crime) é
exigida em caso de apuração de ato cometido com violência ou grave ameaça à pessoa31. Nas demais
hipóteses, permite-se que o auto seja substituído pelo registro de boletim de ocorrência circunstanciado. É o
que estabelece o art. 173 do ECA, vejam:

Art. 173. Em caso de flagrante de ato infracional cometido mediante violência ou


grave ameaça a pessoa, a autoridade policial, sem prejuízo do disposto nos arts. 106,
parágrafo único, e 107, deverá:

I - lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e o adolescente;

II - apreender o produto e os instrumentos da infração;

III - requisitar os exames ou perícias necessários à comprovação da materialidade e


autoria da infração.

Parágrafo único. Nas demais hipóteses de flagrante, a lavratura do auto poderá ser
substituída por boletim de ocorrência circunstanciada.

É importante lembrar que a Súmula Vinculante nº 11 também tem incidência no seguinte


procedimento:

Súmula Vinculante nº 11: Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de


fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte
do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de
responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade
da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade
civil do Estado.

Ademais, comparecendo qualquer dos pais ou responsável, o adolescente será prontamente liberado
pela autoridade policial, sob termo de compromisso e responsabilidade de sua apresentação ao representante
do Ministério Público, no mesmo dia ou, sendo impossível, no primeiro dia útil imediato, exceto quando, pela
gravidade do ato infracional e sua repercussão social, deva o adolescente permanecer sob internação para
garantia de sua segurança pessoal ou manutenção da ordem pública.

Portanto, vamos fazer um resumo de tudo que vimos até agora:

• O adolescente apreendido em flagrante será encaminhado para a autoridade policial


competente.

31 A lei é clara ao
estabelecer a violência ou grave ameaça à pessoa. Portanto, a grave ameaça ou a violência exercida sobre a coisa não
exige, a princípio, a existência de lavratura de auto de apreensão.

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• Havendo repartição policial especializada para atendimento de adolescente e em se tratando


de ato infracional praticado em coautoria (concurso de pessoas) com adulto (ex.: furto de um
celular que um adolescente pratica com um jovem de 18 anos) prevalecerá a atribuição da
repartição especializada, que lá encaminhará o adulto à repartição própria.
• Não tendo sido o ato infracional praticado com violência ou grave ameaça à pessoa, o delegado
de polícia pode lavrar apenas o boletim de ocorrência em vez de um auto de apreensão em
flagrante.
• Contudo, caso o adolescente tenha praticado ato infracional com violência grave ameaça à
pessoa, deverá ser lavrado o auto de apreensão.
• Após, os pais ou responsáveis são chamados a comparecerem à delegacia, oportunidade em
que o adolescente será prontamente liberado pela autoridade policial, sob termo de
compromisso e responsabilidade de sua apresentação ao representante do Ministério Público,
no mesmo dia ou, sendo impossível, no primeiro dia útil imediato, exceto quando, pela
gravidade do ato infracional e sua repercussão social, deva o adolescente permanecer sob
internação para garantia de sua segurança pessoal ou manutenção da ordem pública.

ATENÇÃO, DEFENSOR(A): A Quinta Turma do STJ, em 15.09.2020, afastou o precedente do STF sobre a
condução coercitiva (ADPF nº 395) sob o argumento de que as normas do ECA possuem natureza
essencialmente educativa e protetiva (AgRg no Recurso Especial nº 1.886.148 – MG). Segundo a decisão da 5ª
Turma, é obrigatória a presença do menor na audiência de apresentação (art. 187 do ECA) – pois permite o
contato direto entre o infante e o juiz. Nas demais audiências, ele passa a exercer o seu direito de defesa, não
podendo ser conduzido coercitivamente.

O art. 175 do ECA prevê que em caso de não liberação do adolescente, a autoridade policial deverá
encaminhar, desde logo (portanto, naquele mesmo dia), o adolescente ao representante do Ministério
Público, juntamente com cópia do auto de apreensão ou boletim de ocorrência. Sendo impossível a
apresentação imediata, a autoridade policial encaminhará o adolescente à entidade de atendimento 32, que
fará a apresentação ao representante do Ministério Público no prazo de vinte e quatro horas.

Contudo, nas localidades onde não houver entidade de atendimento, porque não é em todas as
comarcas do Brasil que há, a apresentação será feita pela autoridade policial. À falta de repartição policial
especializada, o adolescente aguardará a apresentação em dependência separada da destinada a maiores, não
podendo, em qualquer hipótese, exceder o prazo de 24 horas.

Neste caso, sendo o adolescente liberado, a autoridade policial encaminhará imediatamente ao


representante do Ministério Público cópia do auto de apreensão ou boletim de ocorrência.

32Segundo o art. 90 do ECA, As entidades de atendimento são responsáveis pela manutenção das próprias unidades, assim como pelo
planejamento e execução de programas de proteção e socioeducativos destinados a crianças e adolescentes, em regime de orientação
e apoio sociofamiliar; II - apoio socioeducativo em meio aberto; III - colocação familiar; IV - acolhimento institucional; etc...

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Por outro lado, se, afastada a hipótese de flagrante, houver indícios de participação de adolescente
na prática de ato infracional, a autoridade policial encaminhará ao representante do Ministério Público
relatório das investigações e demais documentos.

Apesar de infelizmente ocorrer na prática, o art. 178 do ECA estabelece que o adolescente a quem se
atribua autoria de ato infracional não poderá ser conduzido ou transportado em compartimento fechado de
veículo policial, em condições atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco à sua integridade física ou
mental, sob pena de responsabilidade.

Gostaria de trazer à colação que após Habeas Corpus da DPE-PR, o STF decidiu que o direito de ser
interrogado por último no processo penal também se aplica a adolescentes em conflito com a lei.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski acolheu os


argumentos da Defensoria Pública do Estado do Paraná (DPE-PR), em decisão
proferida na última semana, que deve ter ampla repercussão nos processos que
envolvem atos infracionais cometidos por adolescentes no Brasil inteiro. Ao
impetrar um Habeas Corpus (HC) contra uma decisão do Superior Tribunal de Justiça
(STJ), o Defensor Público Vinicius Santos de Santana, que atua em Foz do Iguaçu,
pediu que dois adolescentes apreendidos por ato infracional equiparado ao crime
de tráfico de drogas fossem ouvidos também ao fim da audiência de instrução, e não
apenas durante a audiência de apresentação dos jovens. Lewandowski concedeu o
HC e anulou a sentença condenatória dos adolescentes. Além disso, determinou que
os dois sejam ouvidos novamente, no último ato da audiência de instrução. “É um
marco no Direito da Criança e do Adolescente porque garante que eles sejam
sujeitos de direitos na participação do processo infracional, de uma forma que
possam efetivamente impugnar provas que são produzidas contra eles”, explicou
Santana. O Defensor entendeu que o princípio constitucional da ampla defesa e do
contraditório não estava sendo contemplado na interpretação dada, pela Justiça
Estadual e também pelo STJ, aos artigos 184 e 186 do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), que é uma lei especial que se sobrepõe à lei geral quando houver
conflito entre ambas. O ministro, durante a análise do HC, observou, portanto, que
a defesa não pediu que fossem aplicadas, ao caso, as regras do Código de Processo
Penal (lei geral) – o que feriria o entendimento de que a lei especial prevalece sobre
a geral –, mas argumentava que o ECA fosse interpretado com base nos preceitos
constitucionais. ““(...) ressalta-se que a Defesa não está pedindo que seja aplicado
o procedimento do Código de Processo Penal, mas sim que seja dada interpretação
conforme a Constituição Federal ao artigo 184, caput, do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA).

Penso, todavia, que a norma especial prevalece sobre a geral apenas nas hipóteses
em que estiver presente alguma incompatibilidade manifesta e insuperável entre
elas. Nos demais casos, considerando a sempre necessária aplicação sistemática do
Direito, cumpre cuidar para que essas normas aparentemente antagônicas convivam
harmonicamente”, escreveu o ministro.

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Entre os argumentos do Defensor está o fato de que, no caso específico, depois da


audiência de apresentação dos adolescentes, testemunhas e peritos são ouvidos em
audiência de instrução. Ou seja, tais pessoas são ouvidas posteriormente aos
adolescentes, que tomam conhecimento dos elementos de prova produzidos contra
eles, mas, por não serem ouvidos novamente, não têm o direito de contrapor o que
foi alegado. A defesa, neste caso, fica prejudicada, o que viola princípios
constitucionais. “Muitas vezes, as testemunhas trazem elementos novos na
audiência de instrução e os adolescentes não têm a chance de se defender disso [do
que foi alegado pelas testemunhas]. A decisão do STF permite que o adolescente
exerça a ampla defesa de forma eficaz, para que possa se contrapor a tudo aquilo
que foi produzido contra ele no processo. É um marco no Direito da Criança e do
Adolescente”33

OITIVA INFORMAL OU FASE MINISTERIAL

O art. 179 trata da famigerada “oitiva informal”, também conhecida como “fase ministerial”. Segundo
estabelece o próprio art.179 do ECA, apresentado o adolescente ao MP, o representante do parquet, no
mesmo dia e à vista do auto de apreensão, boletim de ocorrência ou relatório policial, devidamente autuados
pelo cartório judicial e com informação sobre os antecedentes do adolescente, procederá imediata e
informalmente à sua oitiva e, em sendo possível, de seus pais ou responsável, vítima e testemunhas, todavia,
em caso de não apresentação, o representante do Ministério Público notificará os pais ou responsável para
apresentação do adolescente, podendo requisitar o concurso das polícias civil e militar.

TESE DEFENSIVA E APROFUNDAMENTO P/PROVAS ABERTAS: Pessoal, cuidado com essa previsão da oitiva
informal, sobretudo em provas discursivas e orais. Segundo parte da doutrina institucional, há alegação
defensiva de que a oitiva informal possui viés inconstitucional e que a presença de defensor seria obrigatória.
Importante salientar que, neste ato, as informações colhidas do adolescente, pelo representante do Ministério
Público, são levadas ao processo, instruindo a representação ofertada, o que, a depender do conteúdo, causa
evidente prejuízo ao adolescente. Esse prejuízo é patente, sobretudo, quando este confessa a prática do ato
frente ao Promotor de Justiça, devendo, pois, ter se reunido antecipadamente com seu defensor, para
formulação de melhor defesa, especialmente por se tratar de pessoa em condição peculiar de
desenvolvimento. Afora tais fundamentos, ainda é preciso ressaltar que ao adolescente não se pode oferecer
tratamento mais gravoso que ao adulto, sendo certo que na área criminal já está consolidada a garantia da
defesa técnica em todas as fases do processo penal.34

Ademais, no II Congresso Nacional de Defensores Públicos da Infância, foi editada a seguinte súmula:

“A oitiva informal prevista no art. 179 do ECA é inconstitucional por ofender o


princípio da inafastabilidade da jurisdição, devido processo legal, contraditório e
ampla defesa. Art. 227, § 3º da CF/88”.

33 https://www.defensoriapublica.pr.def.br/Noticia/Apos-Habeas-Corpus-da-DPE-PR-STF-decide-que-o-direito-de-ser-
interrogado-por-ultimo-tambem. Acesso em 23/08/2022.
34 Zapata, Fabiana Botelho, Flávio Américo Frasseto. Direitos da criança e do adolescente/coordenação Marcos Vinícius Manso Lopes

Gomes. – São Paulo: Saraiva, 2016. – (Coleção defensoria pública: ponto a ponto), p. 172.

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O art. 180 estabelece que adotadas as providências a que alude o art. 179, o representante do
Ministério Público poderá tomar três medidas:

• promover o arquivamento dos autos;


• conceder a remissão;
• representar à autoridade judiciária para aplicação de medida socioeducativa.

Neste caso, promovido o arquivamento dos autos ou concedida a remissão pelo representante do
Ministério Público, mediante termo fundamentado, que conterá o resumo dos fatos, os autos serão conclusos
à autoridade judiciária para homologação. Assim, homologado o arquivamento ou a remissão, a autoridade
judiciária determinará, conforme o caso, o cumprimento da medida.

FASE JUDICIAL

Caso o magistrado discorde, fará remessa dos autos ao Procurador-Geral de Justiça, mediante
despacho fundamentado, e este oferecerá representação, designará outro membro do Ministério Público para
apresentá-la, ou ratificará o arquivamento ou a remissão, que só então estará a autoridade judiciária obrigada
a homologar.

CAIU NA DPE-PE-2018-CESPE: No caso de remissão de ato infracional praticado por adolescente, a autoridade
judiciária estará obrigada a homologar e a determinar o cumprimento da medida, não podendo discordar do
Ministério Público.35

Contudo, se, por qualquer razão, o representante do Ministério Público não promover o arquivamento
ou conceder a remissão, oferecerá representação à autoridade judiciária, propondo a instauração de
procedimento para aplicação da medida socioeducativa que se afigurar a mais adequada (ex.: liberdade
assistida, internação, etc.).

É importante lembrar que compete ao MP conceder remissão como forma de exclusão do processo,
nos termos do art. 201 do ECA:

Art. 201. Compete ao Ministério Público36:

I - conceder a remissão como forma de exclusão do processo;

A representação será oferecida por petição, que conterá o breve resumo dos fatos e a classificação do
ato infracional e, quando necessário, o rol de testemunhas, podendo ser deduzida oralmente, em sessão diária
instalada pela autoridade judiciária.

35 GAB: E.

36 Vale lembrar que após a Lei nº 14.344/2022, o art. 201 ganhou o seguinte inciso: XIII - intervir, quando não for parte, nas causas
cíveis e criminais decorrentes de violência doméstica e familiar contra a criança e o adolescente.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 39
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IMPORTANTE: A representação independe de prova pré-constituída da autoria e materialidade.

Continuemos...

Nos termos do art. 184 do ECA, oferecida a representação pelo MP, a autoridade judiciária designará
audiência de apresentação do adolescente, decidindo, desde logo, sobre a decretação ou manutenção da
internação.

CAIU NA DPE-PE-2018-CESPE: Oferecida a representação, a autoridade judiciária designará audiência de


apresentação, sendo a decretação ou manutenção da internação do adolescente decidida apenas após a
audiência.37

Uma das informações mais importantes que eu quero te passar hoje, é que o prazo máximo e
improrrogável para a conclusão desse procedimento, estando o adolescente internado provisoriamente, será
de 45 dias. Portanto, caso o magistrado tenha determinado a internação provisória do adolescente e tal prazo
seja ultrapassado sem que tenha sido aplicada a medida socioeducativa cabível, deverá este ser posto em
liberdade, podendo inclusive ser impetrado habeas corpus pela defesa para sanar tal ilegalidade.

O adolescente e seus pais ou responsável serão cientificados do teor da representação, e notificados


a comparecer à audiência, acompanhados de advogado. Se os pais ou responsável não forem localizados, a
autoridade judiciária dará curador especial ao adolescente, que no caso, será a Defensoria Pública. Por outro
lado, não sendo localizado o adolescente, a autoridade judiciária expedirá mandado de busca e apreensão,
determinando o sobrestamento do feito, até a efetiva apresentação.

Portanto, façamos uma distinção importante:

RESPONSÁVEIS NÃO LOCALIZADOS ADOLESCENTE NÃO LOCALIZADO


Juiz expede mandado de busca e apreensão e
Juiz nomeia curador especial.
suspende o feito.

Nesse ensejo, é importante lembrar que o art. 47 da Lei nº 12.594/2012 (Sistema Nacional de
Atendimento Socioeducativo - Sinase) prevê que os mandados de busca e apreensão de adolescente têm
vigência máxima de 06 meses:

Art. 47. O mandado de busca e apreensão do adolescente terá vigência máxima de


6 (seis) meses, a contar da data da expedição, podendo, se necessário, ser renovado,
fundamentadamente.

CAIU NA DPE-SP-2019-FCC: Não sendo localizado o adolescente para dar início ao cumprimento da medida
socioeducativa em meio aberto, o juiz determinará o sobrestamento do processo de execução, até o decurso
do prazo prescricional, renovando-se periodicamente as buscas pelo executado.38

37GAB: E. Como vimos, será decidido desde logo.


38GAB: E. ECA. Art. 179. Parágrafo único. Em caso de não apresentação, o representante do Ministério Público notificará os pais ou
responsável para apresentação do adolescente, podendo requisitar o concurso das polícias civil e militar.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 40
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A título de aprofundamento, é importante lembrar que o STJ decidiu que não cabe habeas corpus para
impugnar decisão judicial liminar que determinou a busca e apreensão de criança para acolhimento em família
devidamente cadastrada junto a programa municipal de adoção. STJ. 4ª Turma. HC 329147-SC, Rel. Min. Maria
Isabel Gallotti, julgado em 20/10/2015 (Info 574).

Continuando, é interessante notar que no procedimento de apuração de ato infracional a revelia não
produz efeito material (presunção de que os fatos são verdadeiros) nem processual (porque o processo
continua suspenso).

Todavia, o Código de Processo Penal estabelece em seu art. 366 que se o acusado, citado por edital,
não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional,
podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar
prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312 do CPP.

Percebam, meus amigos e minhas amigas, que no art. 184, § 3º do ECA, diferente do CPP, não se
suspende o prazo prescricional, mas tão somente o processo.

Art. 184.

§ 3º Não sendo localizado o adolescente, a autoridade judiciária expedirá mandado


de busca e apreensão, determinando o sobrestamento do feito, até a efetiva
apresentação.

Em síntese:

CPP ECA
Suspende o processo sem suspender o prazo
Suspende o processo e o prazo prescricional
prescricional

Continuando, estando o adolescente internado, será requisitada a sua apresentação, sem prejuízo da
notificação dos pais ou responsável.

IMPORTANTE: A internação, decretada ou mantida pela autoridade judiciária, não poderá ser cumprida em
estabelecimento prisional. Inexistindo na comarca entidade com as características definidas no art. 123 39, o
adolescente deverá ser imediatamente transferido para a localidade mais próxima. Sendo impossível a pronta
transferência, o adolescente aguardará sua remoção em repartição policial, desde que em seção isolada dos
adultos e com instalações apropriadas, não podendo ultrapassar o prazo máximo de cinco dias, sob pena de
responsabilidade.

Para que você não faça confusão entre esse prazo máximo de cinco dias e outro prazo acima que
vimos (de 24h), vou fazer uma tabela para distingui-los.

39 Art.
123. A internação deverá ser cumprida em entidade exclusiva para adolescentes, em local distinto daquele destinado ao abrigo,
obedecida rigorosa separação por critérios de idade, compleição física e gravidade da infração.

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FASE POLICIAL FASE JUDICIAL


(ART. 175, § 1º E § 2º DO ECA) (ART. 185, § 2º DO ECA)
Prazo: até 24h Prazo: até 5 dias
Sendo impossível a apresentação imediata do Neste caso, já fora decretada a internação provisória
adolescente ao MP, nas hipóteses em que este não do adolescente. Inexistindo na comarca entidade com
seja liberado, o adolescente deverá ser as características definidas no art. 123 do ECA, o
apresentado pela entidade de atendimento ao MP adolescente deverá ser imediatamente transferido
no prazo de até 24h. Nas localidades onde não para a localidade mais próxima. Sendo impossível a
houver entidade de atendimento, a apresentação pronta transferência, o adolescente aguardará sua
será feita pela autoridade policial. À falta de remoção em repartição policial, desde que em seção
repartição policial especializada, o adolescente isolada dos adultos e com instalações apropriadas,
aguardará a apresentação em dependência não podendo ultrapassar o prazo máximo de cinco
separada da destinada a maiores, não podendo, dias, sob pena de responsabilidade.
em qualquer hipótese, exceder o prazo de 24
horas.

Nessa fase judicial, comparecendo o adolescente, seus pais ou responsável, a autoridade judiciária
procederá à oitiva dos mesmos, podendo solicitar opinião de profissional qualificado. Contudo, se a autoridade
judiciária entender adequada a remissão, ouvirá o representante do Ministério Público, proferindo decisão
(remissão judicial). Lembremos que a remissão, segundo o art. 188 do ECA, como forma de extinção ou
suspensão do processo, poderá ser aplicada em qualquer fase do procedimento, antes da sentença.

Art. 188. A remissão, como forma de extinção ou suspensão do processo, poderá ser
aplicada em qualquer fase do procedimento, antes da sentença.

Sendo o fato grave, passível de aplicação de medida de internação ou colocação em regime de


semiliberdade, a autoridade judiciária, verificando que o adolescente não possui advogado constituído,
nomeará defensor, designando, desde logo, audiência em continuação, podendo determinar a realização de
diligências e estudo do caso.

Assim, o advogado constituído ou o defensor nomeado, no prazo de três dias contado da audiência
de apresentação, oferecerá defesa prévia e rol de testemunhas.

CAIU NA DPE-PE-2018-CESPE: No prazo impreterível de cinco dias contados da ciência do adolescente, de seus
pais ou do responsável, o advogado constituído ou o defensor nomeado apresentará defesa prévia e rol de
testemunhas acerca do oferecimento da representação.40

Na audiência em continuação, ouvidas as testemunhas arroladas na representação e na defesa prévia,


cumpridas as diligências e juntado o relatório da equipe interprofissional, será dada a palavra ao representante
do Ministério Público e ao defensor, sucessivamente, pelo tempo de vinte minutos para cada um, prorrogável
por mais dez, a critério da autoridade judiciária, que em seguida proferirá decisão.

40 GAB: E.

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Caso o adolescente, devidamente notificado, não compareça injustificadamente à audiência de


apresentação, a autoridade judiciária designará nova data, determinando sua condução coercitiva.

CAIU NA DPE-SP-2019-FCC: No procedimento de apuração de ato infracional, se o adolescente, pessoalmente


citado, não apresentar resposta nem constituir defensor, o juiz nomeará defensor para oferecê-la no prazo de
10 dias.41

O art. 189 do ECA estabelece que a autoridade judiciária não aplicará qualquer medida, desde que
reconheça na sentença:

• estar provada a inexistência do fato;


• não haver prova da existência do fato;
• não constituir o fato ato infracional;
• não existir prova de ter o adolescente concorrido para o ato infracional.

Nessas hipóteses, estando o adolescente internado, será imediatamente colocado em liberdade.

Por fim, no que se refere à intimação da sentença, o art. 190 prevê que a intimação da sentença que
aplicar medida de internação ou regime de semiliberdade será feita da seguinte forma:

REGRA EXCEÇÃO
Quando não for encontrado o adolescente, a seus pais
Ao adolescente e ao seu defensor.
ou responsável, sem prejuízo do defensor.

Contudo, sendo outra a medida aplicada (ex.: liberdade assistida), a intimação será feita unicamente
na pessoa do defensor. No mais, recaindo a intimação na pessoa do adolescente, deverá este manifestar se
deseja ou não recorrer da sentença.

SE LIGA: O STF tem entendimento sumulado de que a renúncia do réu ao direito de apelação, manifestada
sem a assistência do defensor, não impede o conhecimento da apelação por este imposta (Súmula 705, STF).
Entendimento que também se aplica aos processos de ato infracional.

CAIU NA DPE-PE-2018-CESPE: Na hipótese de divergência entre a manifestação do adolescente representado


e da defesa técnica no que se refere ao recurso, a vontade do adolescente deverá prevalecer se este não tiver
interesse de recorrer.42

CAIU NA DPE-SP-2019-FCC: Quando não for encontrado o adolescente, a intimação da sentença que aplicar
medida de internação ou regime de semiliberdade será feita a seus pais ou responsável, sem prejuízo do
defensor. 43

41 GAB: E. ECA. Art. 187. Se o adolescente, devidamente notificado, não comparecer, injustificadamente à audiência de apresentação,
a autoridade judiciária designará nova data, determinando sua condução coercitiva.
42 GAB: E. A fundamentação está na súmula 705 do STF.
43 GAB: C.

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JURISPRUDÊNCIA SOBRE O TEMA

Alguns julgados relevantes sobre o tema:

Atos infracionais cometidos antes do início do cumprimento e medida de internação


O adolescente que cumpria medida de internação e foi transferido para medida
menos rigorosa não pode ser novamente internado por ato infracional praticado
antes do início da execução, ainda que cometido em momento posterior aos atos
pelos quais ele já cumpre medida socioeducativa. STJ. 5ª Turma. HC 274565-RJ, Rel.
Min. Jorge Mussi, julgado em 12/5/2015 (Info 562).

É possível expedição de mandado de busca e apreensão para adolescente que


descumpriu liberdade assistida
A expedição de mandado de busca e apreensão para localizar adolescente que
descumpriu medida socioeducativa de liberdade assistida não configura
constrangimento ilegal, nem mesmo contraria o enunciado da Súmula n. 265 do STJ.
A expedição de mandado de busca e apreensão é feita para que se localize o
adolescente que descumpriu a medida aplicada em meio aberto a fim de
encaminhá-lo ao Juízo e apresentá-lo em audiência, oportunizando-lhe a
apresentação de justificação. STJ. 6ª Turma. HC 381127/SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro,
julgado em 14/03/2017.

Cumprimento imediato da internação fixada na sentença ainda que tenha havido


recurso
É possível que o adolescente infrator inicie o imediato cumprimento da medida
socioeducativa de internação que lhe foi imposta na sentença, mesmo que ele tenha
interposto recurso de apelação e esteja aguardando seu julgamento. Esse imediato
cumprimento da medida é cabível ainda que durante todo o processo não tenha sido
imposta internação provisória ao adolescente, ou seja, mesmo que ele tenha
permanecido em liberdade durante a tramitação da ação socioeducativa. Em uma
linguagem mais simples, o adolescente infrator, em regra, não tem direito de
aguardar em liberdade o julgamento da apelação interposta contra a sentença que
lhe impôs a medida de internação. STJ. 3ª Seção. HC 346380-SP, Rel. Min. Maria
Thereza de Assis Moura, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
13/4/2016 (Info 583).

Relativização da regra prevista no art. 49, II, do SINASE


A Lei nº 12.594/2012 (Lei do SINASE) prevê que é direito do adolescente submetido
ao cumprimento de medida socioeducativa "ser incluído em programa de meio
aberto quando inexistir vaga para o cumprimento de medida de privação da
liberdade, exceto nos casos de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou
violência à pessoa, quando o adolescente deverá ser internado em Unidade mais
próxima de seu local de residência". O simples fato de não haver vaga para o
cumprimento de medida de privação da liberdade em unidade próxima da

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residência do adolescente infrator não impõe a sua inclusão em programa de meio


aberto, devendo-se considerar o que foi verificado durante o processo de apuração
da prática do ato infracional, bem como os relatórios técnicos profissionais. A regra
prevista no art. 49, II, do SINASE deve ser aplicada de acordo com o caso concreto,
observando-se as situações específicas do adolescente, do ato infracional praticado,
bem como do relatório técnico e/ou plano individual de atendimento. STJ. 6ª Turma.
HC 338517-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 17/12/2015 (Info 576).

Progressão da medida socioeducativa e caráter não-vinculante do parecer


psicossocial
O parecer psicossocial não possui caráter vinculante e representa apenas um
elemento informativo para auxiliar o magistrado na avaliação da medida
socioeducativa mais adequada a ser aplicada. A partir dos fatos contidos nos autos,
o juiz pode decidir contrariamente ao laudo com base no princípio do livre
convencimento motivado. STF. 1ª Turma. RHC 126205/PE, rel. Min. Rosa Weber,
julgado em 24/3/2015 (Info 779).

Transferência de adolescente infrator para outra unidade de internação


O ECA assegura o direito do adolescente privado de liberdade de permanecer
internado na mesma localidade ou naquela mais próxima ao domicílio de seus pais
ou responsável (art. 124, VI). No entanto, esse direito não é absoluto. Assim, não é
ilegal a transferência de um adolescente para uma unidade de internação localizada
no interior do Estado em virtude de o centro de internação da capital, onde ele
estava, encontrar-se superlotado. Vale ressaltar, ainda, que a família do adolescente
também nem residia na capital. STJ. 6ª Turma. HC 287618-MG, Rel. Min. Sebastião
Reis Júnior, julgado em 13/05/2014 (Info 542).

Antes de passar para outro procedimento, é importante que vocês leiam a chamada Lei Henry Borel,
como foi chamada a recente Lei nº 14.344/2022, que cria mecanismos para a prevenção e o enfrentamento
da violência doméstica e familiar contra a criança e o adolescente, alterando o ECA e diversas leis, como o
Código Penal, Lei de Execução Penal e Lei de Crimes Hediondos.

Finalizamos, assim, o procedimento de apuração de ato infracional atribuído a adolescente.

DA INFILTRAÇÃO DE AGENTES DE POLÍCIA PARA A INVESTIGAÇÃO DE CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL


DE CRIANÇA E DE ADOLESCENTE

Esse procedimento foi inserido no ECA em 2017, por intermédio da Lei nº 13.441/2017.

A infiltração de agentes não é novidade em nosso ordenamento jurídico, tendo em vista sua existência
na Lei de Drogas (art. 53, I) e na Lei de Organização Criminosa (art. 10).

Contudo, o ECA positiva a infiltração de agentes de polícia em ambiente virtual (abrange a internet e
a deep web, sendo esse segundo um espaço virtual mais utilizado para a prática de ilícito.

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Vejamos a redação dada pela Lei nº 13.441/2017 ao art. 190-A do ECA:

Art. 190-A. A infiltração de agentes de polícia na internet com o fim de investigar os


crimes previstos nos arts. 240, 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts.
154-A, 217-A, 218, 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
1940 (Código Penal), obedecerá às seguintes regras: (Incluído pela Lei nº 13.441, de
2017)

I – será precedida de autorização judicial devidamente circunstanciada e


fundamentada, que estabelecerá os limites da infiltração para obtenção de prova,
ouvido o Ministério Público; (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)

II – dar-se-á mediante requerimento do Ministério Público ou representação de


delegado de polícia e conterá a demonstração de sua necessidade, o alcance das
tarefas dos policiais, os nomes ou apelidos das pessoas investigadas e, quando
possível, os dados de conexão ou cadastrais que permitam a identificação dessas
pessoas; (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)

III – não poderá exceder o prazo de 90 (noventa) dias, sem prejuízo de eventuais
renovações, desde que o total não exceda a 720 (setecentos e vinte) dias e seja
demonstrada sua efetiva necessidade, a critério da autoridade judicial.(Incluído pela
Lei nº 13.441, de 2017)

Esses prazos previstos no inciso III do art. 190-A são importantes. Vamos condensar as informações
acima:

• A infiltração é cabível nos crimes indicados pelo art. 190-A do ECA.


• A medida de infiltração poderá ser representada pelo delegado de polícia ou requerida pelo
Ministério Público;
• O MP será ouvido;
• Em todo caso, depende de autorização jurisdicional;
• Prazo máximo para que o agente de polícia permaneça infiltrado no ambiente virtual: 90 dias;
• É possível que esse prazo de 90 dias seja prorrogado? Sim. Por quantas vezes? Várias, até o
máximo de 720 dias, sendo demonstrada sua efetiva necessidade, a critério da autoridade
judicial.

No mais, as informações da operação de infiltração serão encaminhadas diretamente ao juiz


responsável pela autorização da medida, que zelará por seu sigilo. Contudo, antes da conclusão da operação,
o acesso aos autos será reservado ao juiz, ao Ministério Público e ao delegado de polícia responsável pela
operação, com o objetivo de garantir o sigilo das investigações.

O art. 190-C estabelece que não comete crime o policial que oculta a sua identidade para, por meio
da internet, colher indícios de autoria e materialidade dos crimes previstos nos arts. 240, 241, 241-A, 241-B,

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241-C e 241-D desta Lei e nos arts. 154-A, 217-A, 218, 218-A e 218-B do Código Penal. Ex.: policial que
armazena fotografia contendo cena de sexo explícito de um adolescente para utilização de como meio de
prova na futura demanda judicial não responde pelo crime previsto no art. 241-B do ECA. Contudo, o agente
policial infiltrado que deixar de observar a estrita finalidade da investigação responderá pelos excessos
praticados.

Abordaremos, agora, o procedimento de apuração de irregularidades em entidade de atendimento.

DA APURAÇÃO DE IRREGULARIDADES EM ENTIDADE DE ATENDIMENTO

Sobre esse procedimento, inicialmente vocês precisam entender que as entidades de atendimento,
sejam governamentais ou não, têm inúmeros deveres (estabelecidos no ECA do art. 90 em diante).

Basta lembrar que o art. 97 do ECA traz inúmeras medidas aplicáveis às entidades que descumpram
as obrigações previstas no art. 94.

Art. 97. São medidas aplicáveis às entidades de atendimento que descumprirem


obrigação constante do art. 94, sem prejuízo da responsabilidade civil e criminal de
seus dirigentes ou prepostos:

I - às entidades governamentais:
a) advertência;
b) afastamento provisório de seus dirigentes;
c) afastamento definitivo de seus dirigentes;
d) fechamento de unidade ou interdição de programa.

II - às entidades não-governamentais:
a) advertência;
b) suspensão total ou parcial do repasse de verbas públicas;
c) interdição de unidades ou suspensão de programa;
d) cassação do registro.

CAIU NA DPE-AL-2017-CESPE: Durante inspeção da entidade de execução de medida socioeducativa de


internação em estabelecimento educacional, foi apurado que a instituição inspecionada não propicia
escolarização e profissionalização. Nessa situação hipotética, a instituição poderá ser penalizada com:
A) afastamento provisório de seus dirigentes, apenas no caso de entidade não governamental.
B) suspensão total ou parcial do repasse de verbas públicas, no caso de entidade governamental.
C) afastamento definitivo de seus dirigentes, no caso de entidade não governamental.
D) fechamento da unidade ou interdição do programa, no caso de entidade governamental.
E) advertência, apenas no caso de entidade não governamental.44

O procedimento de apuração de irregularidades em entidade governamental e não-governamental


terá início mediante portaria da autoridade judiciária ou representação do Ministério Público ou do Conselho

44 GAB: D.

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Tutelar, onde conste, necessariamente, resumo dos fatos. Contudo, havendo motivo grave, poderá a
autoridade judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar liminarmente o afastamento provisório do
dirigente da entidade, mediante decisão fundamentada.

Em relação a este procedimento, a doutrina institucional traz os seguintes apontamentos 45:

a) pode ser iniciado por representação do Conselho Tutelar ou do Ministério Público


e também por portaria da própria autoridade judiciária que julgará o feito, algo que
viola o princípio da inércia da jurisdição, mas está na lei, como decorrência de uma
atribuição também atípica conferida ao juiz que é a de fiscalizar as entidades;

b) a irregularidade pode ser da própria entidade não governamental ou dos


programas por ela desenvolvidos;

c) o Estatuto não arrola a Defensoria Pública como instância de fiscalização das


entidades de atendimento, razão pela qual não lhe é conferida expressamente
legitimidade ativa para dar início ao procedimento. Todavia, a Lei Complementar nº
80, art. 4º, XVII, estabelece como função institucional da Defensoria Pública atuar
nos estabelecimentos policiais, penitenciários e de internação de adolescentes,
visando a assegurar às pessoas, sob quaisquer circunstâncias, o exercício pleno de
seus direitos e garantias fundamentais. Assim, a Defensoria dispõe de poder de
fiscalização de programas socioeducativos em regime de internação, pelo que se
mostra sustentável a tese de que ela é também é legitimada a, por representação,
instaurar o procedimento do art. 191 do ECA. A questão ainda é controvertida e caso
se queira contornar tal dificuldade, sugere-se veicular o pedido por meio de ação
civil pública;

d) é possível, liminarmente, o afastamento provisório do dirigente da entidade, seja


ela governamental (art. 97, I, b) ou não governamental (art. 92, § 6º); e) as sanções
previstas em lei para os casos de irregularidade (art. 97), que podem chegar ao
completo fechamento do serviço, não se refletem diretamente em benefícios para
crianças e adolescente. Por isso, o escopo primordial deste procedimento está na
regra do art. 192, § 3º: o juiz pode fixar prazo para remoção das irregularidades, com
extinção do processo caso satisfeitas as exigências.

Quanto à defesa, anote-se que o dirigente da entidade será citado para, no prazo de dez dias, oferecer
resposta escrita, podendo juntar documentos e indicar as provas a produzir.

Aqui, cabe uma distinção importante sobre o prazo para defesa.

45 Zapata, Fabiana Botelho, Flávio Américo Frasseto. Op.cit pag. 176.

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PRAZO PARA DEFESA NO ECA


NO PROCEDIMENTO DE APURAÇÃO DE NO PROCEDIMENTO DE APURAÇÃO DE ATO
IRREGULARIDADE DE ENTIDADES INFRACIONAL ATRIBUÍDO A ADOLESCENTE
10 dias 3 dias

Neste caso, apresentada ou não a resposta, e sendo necessário, a autoridade judiciária designará
audiência de instrução e julgamento, intimando as partes. Salvo manifestação em audiência, as partes e o
Ministério Público terão cinco dias para oferecer alegações finais, decidindo a autoridade judiciária em igual
prazo.

IMPORTANTE: Antes de aplicar qualquer das medidas, a autoridade judiciária poderá fixar prazo para a
remoção das irregularidades verificadas. Satisfeitas as exigências, o processo será extinto, sem julgamento de
mérito. Contudo, em sendo aplicada a multa ou advertência, estas serão impostas ao dirigente da entidade ou
programa de atendimento.

Vamos agora ao penúltimo procedimento previsto no ECA:

DA APURAÇÃO DE INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA ÀS NORMAS DE PROTEÇÃO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE

Lembrem-se que do art. 245 a 258-A o ECA traz as chamadas infrações administrativas.

A aplicação destas penalidades é de competência exclusiva do Justiça da Infância e Juventude, cujo


procedimento é previsto no ECA a partir do artigo 194.

Segundo o art. 194, o procedimento para imposição de penalidade administrativa por infração às
normas de proteção à criança e ao adolescente terá início por:

• Representação do Ministério Público, ou


• Representação do Conselho Tutelar, ou
• Auto de infração elaborado por servidor efetivo ou voluntário credenciado, e assinado por duas
testemunhas, se possível (esse é o único local em que o ECA deixa espaço para atuação dos
antigos comissários de menores, hoje chamados de voluntários ou agentes de proteção. Isso já
caiu em prova oral FCC e eu quero que você anote).

O fluxo do procedimento é o seguinte:

• Petição inicial;
• Citação (aqui chamada intimação);
• Defesa (10 dias também);
• Instrução;
• Alegações finais e
• Sentença.

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Por fim, cabe diferenciar a legitimidade ativa entre o procedimento de apuração de irregularidade
administrativa em entidade de atendimento do procedimento de apuração de infração administrativa às
normas de proteção à criança e ao adolescente.

Procedimento de apuração de irregularidade Procedimento de apuração de infração administrativa


administrativa em entidade de atendimento às normas de proteção à criança e ao adolescente (art.
(art. 191) 245 a 258-A)
Autoridade Judiciária (por portaria) Ministério Público (por representação)
Ministério Público (por representação) Conselho Tutelar (por representação)
Servidor efetivo ou voluntário credenciado (por auto
Conselho Tutelar (por representação)
de infração)

Veremos agora o último procedimento:

DA HABILITAÇÃO DE PRETENDENTES À ADOÇÃO

Chegamos ao nosso último procedimento específico do ECA. Trata-se de procedimento para a


habilitação da forma de colocação em família substituta denominada adoção.

Em regra, como sabemos, para que uma pessoa possa adotar outra, deverá passar por um
procedimento prévio de habilitação e inscrição em cadastro por parte dos adotantes, salvo as exceções legais
(art. 50, § 13).

Contudo, para que o adotante entre para o cadastro, é necessária prévia habilitação decretada por
sentença judicial proferida neste procedimento que veremos agora, a partir do art. 197-A do Estatuto da
Criança e do Adolescente.

Segundo a doutrina institucional (2016, Frasseto e Zapata, p. 177), esse procedimento possui as
seguintes peculiaridades:

a) não há parte contrária, podendo ser iniciado por pedido dos interessados sem
assistência de advogado;

b) é obrigatória a intervenção do Ministério Público e de equipe interprofissional,


que deverá realizar estudo psicossocial sobre a capacidade de exercício da
maternidade/paternidade responsável;

c) é obrigatório aos postulantes participar de programas de orientação e preparação


psicológica oferecidos pela Justiça da Infância;

d) é recomendável que esses programas incluam possibilidade de contato dos


postulantes com crianças e adolescentes acolhidos em condição de serem adotados,
com o objetivo de estimulá-los a ampliar o perfil de criança pretendida;

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e) é possível solicitar a vinda de outras provas e também a oitiva judicial dos


interessados;

f) deferido o pedido, o postulante será inscrito nos cadastros de pretendentes à


adoção e sua chamada obedecerá ao critério de ordem cronológica;

g) Após 3 (três) recusas injustificadas, pelo habilitado, à adoção de crianças ou


adolescentes indicados dentro do perfil escolhido, haverá reavaliação da habilitação
concedida;

h) A desistência do pretendente em relação à guarda para fins de adoção ou a


devolução da criança ou do adolescente depois do trânsito em julgado da sentença
de adoção importará na sua exclusão dos cadastros de adoção e na vedação de
renovação da habilitação, salvo decisão judicial fundamentada, sem prejuízo das
demais sanções previstas na legislação vigente.

Segundo a redação dada pela Lei nº 13.509/2017, sempre que possível e recomendável, a etapa
obrigatória da preparação incluirá o contato com crianças e adolescentes em regime de acolhimento familiar
ou institucional, a ser realizado sob orientação, supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça da Infância
e da Juventude e dos grupos de apoio à adoção, com apoio dos técnicos responsáveis pelo programa de
acolhimento familiar e institucional e pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência
familiar.

Neste caso, é recomendável que as crianças e os adolescentes acolhidos institucionalmente ou por


família acolhedora sejam preparados por equipe interprofissional antes da inclusão em família adotiva.

Por fim, o prazo máximo para conclusão da habilitação à adoção será de 120 (cento e vinte) dias,
prorrogável por igual período, mediante decisão fundamentada da autoridade judiciária (portanto, 120 + 120).

O SISTEMA RECURSAL NO ECA

Galera, entraremos agora no tema “recursos” em procedimentos previstos no ECA. Saibam, antes de
tudo, que nos procedimentos afetos à Justiça da Infância e da Juventude, inclusive os relativos à execução das
medidas socioeducativas e atos infracionais, o sistema recursal adotado é o previsto no Código de Processo
Civil, com algumas adaptações, como falamos em linhas passadas.

No que se refere a atos infracionais e medidas socioeducativas, vimos que em primeiro grau aplicam-
se subsidiariamente as regras previstas no CPP (Código de Processo Penal). Contudo, quanto ao sistema
recursal, adotaremos o previsto no NCPC (Novo Código de Processo Civil), com algumas adaptações.

Em síntese:

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PROCEDIMENTO DE ATO INFRACIONAL E


SISTEMA RECURSAL
APLICAÇÃO DE MSE
Aplica-se subsidiariamente o CPP Aplica-se subsidiariamente o NCPC

O art.198 do ECA traz algumas adaptações quanto ao recursal:

• I - os recursos serão interpostos independentemente de preparo;


• II - em todos os recursos, salvo nos embargos de declaração, o prazo para o
Ministério Público e para a defesa será sempre de 10 (dez) dias;
• III - os recursos terão preferência de julgamento e dispensarão revisor;
• VII - antes de determinar a remessa dos autos à superior instância, no caso de
apelação, ou do instrumento, no caso de agravo, a autoridade judiciária
proferirá despacho fundamentado, mantendo ou reformando a decisão, no
prazo de cinco dias (efeito regressivo ou juízo de retratação);
• VIII - mantida a decisão apelada ou agravada, o escrivão remeterá os autos ou
o instrumento à superior instância dentro de vinte e quatro horas,
independentemente de novo pedido do recorrente; se a reformar, a remessa
dos autos dependerá de pedido expresso da parte interessada ou do Ministério
Público, no prazo de cinco dias, contados da intimação.

O art. 199-A do ECA estabelece que a sentença que deferir a adoção produz efeito desde logo, embora
sujeita a apelação, que será recebida exclusivamente no efeito devolutivo, salvo se se tratar de adoção
internacional ou se houver perigo de dano irreparável ou de difícil reparação ao adotando.

De igual maneira, a sentença que destituir ambos ou qualquer dos genitores do poder familiar fica
sujeita a apelação, que deverá ser recebida apenas no efeito devolutivo.

Considerando a relevância dos temas, o ECA prevê que os recursos nos procedimentos de adoção e
de destituição de poder familiar, serão processados com prioridade absoluta, devendo ser imediatamente
distribuídos, ficando vedado que aguardem, em qualquer situação, oportuna distribuição, e serão colocados
em mesa para julgamento sem revisão e com parecer urgente do Ministério Público.

O relator deverá colocar o processo em mesa para julgamento no prazo máximo de 60 (sessenta) dias,
contado da sua conclusão, vejam:

Art. 199-D. O relator deverá colocar o processo em mesa para julgamento no prazo
máximo de 60 (sessenta) dias, contado da sua conclusão.
Parágrafo único. O Ministério Público será intimado da data do julgamento e poderá
na sessão, se entender necessário, apresentar oralmente seu parecer. (Incluído pela
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Vejamos, por fim, alguns aspectos importantes envolvendo a Defensoria e o sistema recursal.

Primeiro ponto: a Defensoria tem prazo em dobro para recorrer?

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Perceba que o art. 198, II do ECA prevê que em todos os recursos, salvo nos embargos de declaração,
o prazo para o Ministério Público e para a defesa será sempre de 10 (dez) dias.

Inclusive, o art. 152, § 2º, anota que “os prazos estabelecidos nesta Lei e aplicáveis aos seus
procedimentos são contados em dias corridos, excluído o dia do começo e incluído o dia do vencimento, vedado
o prazo em dobro para a Fazenda Pública e o Ministério Público”.

§ 2º Os prazos estabelecidos nesta Lei e aplicáveis aos seus procedimentos são


contados em dias corridos, excluído o dia do começo e incluído o dia do vencimento,
vedado o prazo em dobro para a Fazenda Pública e o Ministério Público. (Incluído
pela Lei nº 13.509, de 2017)

Observe-se, como já falamos aqui, que não há vedação de prazo em dobro para Defensoria Pública,
apenas para o MP e para a Fazenda Pública. Neste caso, a doutrina institucional estabelece que o prazo em
dobro para Defensoria tem amparo no art. 166, caput do NCPC e no art. 128, I da LC nº 80 de 1994. Doutrina
especializada aponta que se trata de silêncio eloquente, isso porque se fosse intenção do legislador vedar o
prazo em dobro para Defensoria, assim o teria feito.

Segundo ponto: o prazo do art. 198, II do ECA, que vimos acima, se aplica a todos os recursos de
competência da Vara da Infância e da Juventude?

A resposta é não. O entendimento do STJ é de que o prazo específico de 10 dias exposto no art. 198
se aplica aos procedimentos específicos no ECA (art. 152 a 197) e não a todos os procedimentos que tramitam
na Vara da Infância.

Imaginem, por exemplo, uma Ação Civil Pública proposta que tenha como objeto tutelar direitos de
criança e adolescente (ex.: educação, saúde, etc.). Neste caso, o prazo para eventual apelação será de 15 dias
(30 (trinta) para DP), pois não se trata de procedimentos específicos do ECA. Neste caso, além de não seguir
o prazo de 10 dias previsto no art. 198, II do ECA, o prazo recursal será contado em dias úteis, porque o
regramento processual, para essa situação, é estabelecido em outra lei (Lei da ACP, NCPC, etc.).

Nesse sentido o Superior Tribunal de Justiça:

PROCESSUAL CIVIL. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. PROCEDIMENTO


NÃO COMPREENDIDO ENTRE OS ARTS 152 e 197 DO ECA. PRAZO RECURSAL.
APLICAÇÃO DO ART. 508 DO CPC. NÃO INCIDÊNCIA DO ART. 198, II. 1. O prazo
recursal do art. 198, II, da Lei 8.069/90, cognominado Estatuto da Criança e do
adolescente, aplica-se somente aos procedimentos especiais previstos entre os arts.
152 e 197. Precedentes do STJ: REsp 842203/RS, DJ 25.08.2006; REsp 784285/RS, DJ
04.12.2006; AgRg no REsp 841.274/RS, DJ 11.09.200; REsp 610.438/SP, DJ
30.03.2006; REsp 752.657/RS, DJ 19.12.2005 e REsp 440453/SP, DJ 07.04.2003. 2. A
exegese dos arts. 198, II e 212, § 1º, da Lei 8.0699/90 denota a coexistência
harmônica do procedimento traçado na mencionada legislação, aplicável aos

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procedimentos específicos nela delineados, com as regras previstas no Código de


Processo Civil, coadjuvada pela expressa autorização de aplicação do prazo previsto
no art. 508 CPC ao feitos relativos à proteção judicial dos interesses individuais,
difusos e coletivos do menor, deferida pelo mencionado art. 212, § 1º. 3. In casu,
trata-se de auto de infração lavrado por comissariado, em exercício junto à 2ª Vara
da Infância e da Juventude da Capital-RJ, em face de diretor de instituição de
internamento de adolescentes infratores, com fulcro no art. 249, da Lei 8.0699/90,
em razão de agressão perpetrada contra adolescente nas dependências da
mencionada instituição, durante o cumprimento de medida sócio-educativa, medida
não elencada nos arts. 152 e 197 da lei sub examine. 4. Recurso especial provido.
(REsp 857.272/RJ, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em
12/02/2008, DJe 02/04/2008)

Terceiro ponto: a técnica de julgamento do art. 942 do NCPC é aplicada no caso de apelação não
unânime em processo no qual se apura a prática de ato infracional por adolescente?

Primeiro, lembremos o que estabelece o art. 942 do NCPC:

Art. 942. Quando o resultado da apelação for não unânime, o julgamento terá
prosseguimento em sessão a ser designada com a presença de outros julgadores,
que serão convocados nos termos previamente definidos no regimento interno, em
número suficiente para garantir a possibilidade de inversão do resultado inicial,
assegurado às partes e a eventuais terceiros o direito de sustentar oralmente suas
razões perante os novos julgadores.

A doutrina aponta que esse mecanismo, conquanto não tenha natureza recursal, faz lembrar os
embargos infringentes (que existiam no CPC de 1973, lembram?). Contudo, por não ser recurso, não depende
de interposição, constituindo apenas uma fase do julgamento da apelação, do agravo de instrumento contra
decisão de mérito e da ação rescisória, não unânime.”46

Assim, sobre a pergunta feita acima, a resposta é depende. Vamos entender47:

• 5ª Turma do STJ: SIM


Admite-se a incidência do art. 942 do CPC/2015 para complementar o
julgamento da apelação julgada por maioria nos procedimentos relativos ao
estatuto do menor. STJ. 5ª turma. AgRg no REsp 1673215-RJ, Rel. Min. Reynaldo
Soares da Fonseca, julgado em 17/05/2018 (Info 627).

• 6ª Turma do STJ: DEPENDE


Se a decisão não unânime foi favorável ao adolescente infrator: não se deve
aplicar o art. 942 do CPC/2015.

46GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 885.
47CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Inaplicabilidade do art. 942 do CPC/2015. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/63a8f9e307f0bf4473c24dd4db17cebd. Acesso em: 18/06/2021.

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Se a decisão não unânime foi contrária ao adolescente infrator: deve-se aplicar


o art. 942. É inaplicável a técnica de julgamento prevista no artigo 942 do
CPC/2015 nos procedimentos afetos à Justiça da Infância e da Juventude
quando a decisão não unânime for favorável ao adolescente. A aplicação da
técnica de julgamento prevista no art. 942 do CPC, quando a decisão não
unânime for favorável ao adolescente, implicaria em conferir ao menor
tratamento mais gravoso que o atribuído ao réu penalmente imputável, já que
os embargos infringentes e de nulidade previstos no art. 609 do CPP somente
são cabíveis se o julgamento tomado por maioria for contrário ao réu. Ora, se
não cabem embargos infringentes do art. 609 do CPP quando o acórdão não
unânime foi favorável ao réu, com maior razão também não se pode admitir a
técnica do art. 942 do CPC se o acórdão não unânime foi favorável ao
adolescente infrator. STJ. 6ª Turma. 6ª Turma. REsp 1694248-RJ, Rel. Min.
Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 03/05/2018 (Info 626).

É isso, galera. Ufa. Esse material é bastante rico em informações. Agora vamos testar nossos
conhecimentos sobre os pontos estudados.

Um abraço.

Até mais!

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QUESTÕES PARA FIXAR


Questão 01
Os menores de dezesseis anos serão assistidos e os maiores de dezesseis e menores de vinte e um anos
representados por seus pais, tutores ou curadores, na forma da legislação civil ou processual.

CERTO ERRADO

Questão 02
Os estados e o Distrito Federal poderão criar varas especializadas e exclusivas da infância e da juventude,
cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua proporcionalidade por número de habitantes, dotá-las de
infraestrutura e dispor sobre o atendimento, inclusive em plantões.

CERTO ERRADO

Questão 03
Conforme o ECA, a competência territorial será determinada pelo domicílio dos pais ou responsável ou pelo
lugar onde se encontre a criança ou adolescente, à falta dos pais ou responsável.

CERTO ERRADO

Questão 04
Nos casos de ato infracional, será competente a autoridade do lugar da ação ou omissão, observadas as regras
de conexão, continência e prevenção.

CERTO ERRADO

Questão 05
Não compete à Justiça da Infância e da Juventude aplicar penalidades administrativas nos casos de infrações
contra norma de proteção à criança ou adolescente.

CERTO ERRADO

Questão 06
Compete à autoridade judiciária disciplinar, através de portaria, ou autorizar, mediante alvará a entrada e
permanência de criança ou adolescente, desacompanhado dos pais ou responsável em bailes ou promoções
dançantes.

CERTO ERRADO

Questão 07
Por força do critério da especialidade, os prazos dos procedimentos regulados pelo ECA são contados em dias
corridos, não havendo que se falar em aplicação subsidiária do art. 219 do CPC/2015, que prevê o cálculo em
dias úteis.

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CERTO ERRADO

Questão 08
O ECA registra que se a medida judicial a ser adotada não corresponder a procedimento previsto no ECA ou
em outra lei, a autoridade judiciária poderá investigar os fatos e ordenar de ofício as providências necessárias,
ouvido o Ministério Público.

CERTO ERRADO

Questão 09
Conforme entendimento do STJ, a Defensoria Pública não pode ter acesso aos autos de procedimento
verificatório instaurado para inspeção judicial e atividade correicional de unidade de execução de medidas
socioeducativas.

CERTO ERRADO

Questão 10
Na hipótese de os genitores encontrarem-se em local incerto ou não sabido, serão citados por edital no prazo
de 10 (dez) dias, em publicação única, dispensado o envio de ofícios para a localização.

CERTO ERRADO

Questão 11
O adolescente apreendido por força de ordem judicial será, desde logo, encaminhado à autoridade judiciária.

CERTO ERRADO

Questão 12
O mandado de busca e apreensão do adolescente terá vigência máxima de 03 (três) meses, a contar da data
da expedição, podendo, se necessário, ser renovado, fundamentadamente.

CERTO ERRADO

Questão 13
O ECA estabelece que a sentença que deferir a adoção produz efeito desde logo, embora sujeita a apelação,
que será recebida exclusivamente no efeito devolutivo, salvo se se tratar de adoção internacional ou se houver
perigo de dano irreparável ou de difícil reparação ao adotando.

CERTO ERRADO

Questão 14
A remissão, como forma de extinção ou suspensão do processo, poderá ser aplicada em qualquer fase do
procedimento, antes da sentença.

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CERTO ERRADO

Questão 15

No procedimento de suspensão e perda do poder familiar, a concessão da liminar será, sempre,


precedida de entrevista da criança ou do adolescente perante equipe multidisciplinar e de oitiva da
outra parte, nos termos da Lei nº 13.431, de 4 de abril de 2017.

CERTO ERRADO

Questão 16

No procedimento de suspensão e perda do poder familiar, se houver indícios de ato de violação de


direitos de criança ou de adolescente, o juiz comunicará o fato ao Ministério Público e encaminhará os
documentos pertinentes.

CERTO ERRADO

GABARITO
1.E 2.C 3.C 4.C 5. E 6.C 7.C

8.C 9.E 10.C 11.C 12.E 13.C 14.C 15.E 16.C

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QUESTÕES PARA FIXAR - COMENTÁRIOS


Questão 01
Os menores de dezesseis anos serão assistidos e os maiores de dezesseis e menores de vinte e um anos
representados por seus pais, tutores ou curadores, na forma da legislação civil ou processual.

GAB: E. O art. 142 do ECA prevê que os menores de 16 anos serão representados e os maiores de 16 e menores
de 21 anos assistidos por seus pais, tutores ou curadores.

Questão 02
Os estados e o Distrito Federal poderão criar varas especializadas e exclusivas da infância e da juventude,
cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua proporcionalidade por número de habitantes, dotá-las de
infraestrutura e dispor sobre o atendimento, inclusive em plantões.

GAB: C. Previsão do art. 145 do ECA.

Questão 03
Conforme o ECA, a competência territorial será determinada pelo domicílio dos pais ou responsável ou pelo
lugar onde se encontre a criança ou adolescente, à falta dos pais ou responsável.

GAB: C. A questão está de acordo com o art. 147 do ECA.

Questão 04
Nos casos de ato infracional, será competente a autoridade do lugar da ação ou omissão, observadas as regras
de conexão, continência e prevenção.

GAB: C. Art. 147, §1º do ECA.

Questão 05
Não compete à Justiça da Infância e da Juventude aplicar penalidades administrativas nos casos de infrações
contra norma de proteção à criança ou adolescente.

GAB: E. Com base no art. 148, VI do ECA, a Justiça da Infância e da Juventude é competente para aplicar
penalidades administrativas nos casos de infrações contra norma de proteção à criança ou adolescente.

Questão 06
Compete à autoridade judiciária disciplinar, através de portaria, ou autorizar, mediante alvará a entrada e
permanência de criança ou adolescente, desacompanhado dos pais ou responsável em bailes ou promoções
dançantes.

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GAB: C. A questão trata de previsão do art. 149, I, alínea “c” do ECA.

Questão 07
Por força do critério da especialidade, os prazos dos procedimentos regulados pelo ECA são contados em dias
corridos, não havendo que se falar em aplicação subsidiária do art. 219 do CPC/2015, que prevê o cálculo em
dias úteis.

GAB: C. A questão está de acordo com o art. 152, § 2º do ECA e o entendimento do STJ, HC 475.610/DF, Rel.
Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/03/2019 (Info 647).

Questão 08
O ECA registra que se a medida judicial a ser adotada não corresponder a procedimento previsto no ECA ou
em outra lei, a autoridade judiciária poderá investigar os fatos e ordenar de ofício as providências necessárias,
ouvido o Ministério Público.
GAB: C. Previsão do art. 153 do ECA.

Questão 09
Conforme entendimento do STJ, a Defensoria Pública não pode ter acesso aos autos de procedimento
verificatório instaurado para inspeção judicial e atividade correicional de unidade de execução de medidas
socioeducativas.

GAB: E. O entendimento do STJ é que a Defensoria Pública pode ter acesso aos autos de procedimento
verificatório instaurado para inspeção judicial e atividade correicional de unidade de execução de medidas
socioeducativas. STJ. 6ª Turma. RMS 52.271-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 19/06/2018 (Info 629).

Questão 10
Na hipótese de os genitores encontrarem-se em local incerto ou não sabido, serão citados por edital no prazo
de 10 (dez) dias, em publicação única, dispensado o envio de ofícios para a localização.

GAB: C. Trata-se de previsão do art. 158, §3 do ECA.

Questão 11
O adolescente apreendido por força de ordem judicial será, desde logo, encaminhado à autoridade judiciária.
GAB. C. Previsão do art. 171 do ECA.

Questão 12
O mandado de busca e apreensão do adolescente terá vigência máxima de 03 (três) meses, a contar da data
da expedição, podendo, se necessário, ser renovado, fundamentadamente.

GAB: E. O art. 47 da Lei nº 12.594/2012 (Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo - Sinase) prevê que
os mandados de busca e apreensão de adolescente têm vigência máxima de 06 meses.

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CRIANÇA E ADOLESCENTE

Questão 13
O ECA estabelece que a sentença que deferir a adoção produz efeito desde logo, embora sujeita a apelação,
que será recebida exclusivamente no efeito devolutivo, salvo se se tratar de adoção internacional ou se houver
perigo de dano irreparável ou de difícil reparação ao adotando.

GAB: C. Previsão do art. 199-A do ECA.

Questão 14
A remissão, como forma de extinção ou suspensão do processo, poderá ser aplicada em qualquer fase do
procedimento, antes da sentença.

GAB: C. A questão está conforme o art. 188 do ECA.

Questão 15

No procedimento de suspensão e perda do poder familiar, a concessão da liminar será, sempre, precedida
de entrevista da criança ou do adolescente perante equipe multidisciplinar e de oitiva da outra parte, nos
termos da Lei nº 13.431, de 4 de abril de 2017.

GAB: E. É preferencialmente (e não sempre), consoante previsão do § 3º do art. art. 157 cuja redação fora
dada pela nova Lei nº 14.340/2022: § 3º A concessão da liminar será, preferencialmente, precedida de
entrevista da criança ou do adolescente perante equipe multidisciplinar e de oitiva da outra parte, nos termos
da Lei nº 13.431, de 4 de abril de 2017. (Incluído pela Lei nº 14.340, de 2022)

Questão 16

No procedimento de suspensão e perda do poder familiar, se houver indícios de ato de violação de direitos de
criança ou de adolescente, o juiz comunicará o fato ao Ministério Público e encaminhará os documentos
pertinentes.

GAB: C. Conforme previsão do § 4º do art. art. 157 cuja redação fora dada pela nova Lei nº 14.340/2022: § 4º
Se houver indícios de ato de violação de direitos de criança ou de adolescente, o juiz comunicará o fato ao
Ministério Público e encaminhará os documentos pertinentes. (Incluído pela Lei nº 14.340, de 2022)

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