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Polícia Militar do Ceará

PM-CE
Soldado

NV-004OT-22
Cód.: 7908428803360
Obra

PM-CE – Polícia Militar do Ceará


Soldado

Autores

LÍNGUA PORTUGUESA / INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS • Ana Cátia Collares, Giselli Neves, Monalisa Costa
e Nelson Sartori

RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO • Kairton Batista (Prof. Kaká) e Sérgio Mendes

ATUALIDADES / HISTÓRIA DO CEARÁ (EM VÍDEO) • Carla Kurz

NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO • Fernando Zantedeschi, Nágila


Vilela, Ricardo Reis, Samantha Rodrigues e Xico Kraemer

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL • Ana Philippini, Giovana Marques e Samara Kich

DIREITOS HUMANOS (ON-LINE) • Ana Philippini, Camila Cury e Renato Philippini

NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR / PROCESSO PENAL MILITAR • Rodrigo Gonçalves

NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL • Eduardo Gigante e Renato Philippini

NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA • Caio Laforga e Renato Philippini

SEGURANÇA PÚBLICA (ON-LINE) • Renato Philippini e Rodrigo Varella

ISBN: 978-85-93690-68-6

Edição: Outubro/2022

Todos os direitos autorais desta obra são reservados e protegidos


pela Lei nº 9.610, de 1998. É proibida a reprodução parcial ou total,
por qualquer meio, sem autorização prévia expressa por escrito da
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PIRATARIA
É CRIME!
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Pirataria é crime e está previsto no art. 184 do Código Penal,


com pena de até quatro anos de prisão, além do pagamento
de multa. Já para aquele que compra o produto pirateado
sabendo desta qualidade, pratica o delito de receptação, punido
com pena de até um ano de prisão, além de multa (art. 180 do CP).

Não seja prejudicado com essa prática.


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APRESENTAÇÃO
Um bom planejamento é determinante para a sua preparação
de sucesso na busca pela tão almejada aprovação. Por isso, pen-
sando no máximo aproveitamento de seus estudos, este livro foi
organizado de acordo com o Edital n°001/2022 – SSPDS/AESP –
Soldado PMCE, de 04 de outubro de 2022, para o cargo de Soldado
da Polícia Militar do Ceará – PM-CE.

O conteúdo programático foi sistematizado em um sumário, faci-


litando a busca pelos temas do edital, no entanto, nem sempre
a banca organizadora do concurso dispõe os assuntos em uma
sequência lógica. Por isso, elaboramos este livro abordando os
principais itens do edital e reorganizando-os quando necessá-
rio, de uma maneira didática para que você realmente consiga
aprender e otimizar os seus estudos.

Ao longo da teoria, você encontrará boxes – Importante e Dica


– com orientações, macetes e conceitos fundamentais cobrados
nas provas, e seção Hora de Praticar, trazendo exercícios gabari-
tados da banca IDECAN organizadora contratada para o certame.

A obra que você tem em suas mãos é resultado da competência


de nosso time editorial e da vasta experiência de nossos profes-
sores e autores parceiros – muitos também responsáveis pelas
aulas que você encontra em nossos Cursos Online – o que será
um diferencial na sua preparação. Nosso time faz tudo pensando
no seu sonho de ser aprovado em um concurso público. Agora é
com você!

Intensifique ainda mais a sua preparação acessando os conteú-


dos complementares disponíveis on-line para este livro em nossa
plataforma: Conteúdo de Direitos Humanos e Segurança Pública
disponíveis em pdf para download, além de Atualidades e História
do Ceará disponíveis em videoaulas.
CONTEÚDO ON-LINE

Para intensificar a sua preparação para concursos, oferecemos em nossa plataforma on-line
materiais especiais e exclusivos, selecionados e planejados de acordo com a proposta deste
livro. São conteúdos que tornam a sua preparação muito mais eficiente.

CONTEÚDO COMPLEMENTAR:

• Direitos Humanos - disponível em pdf para download


• Segurança Pública - disponível em pdf para download
• Atualidades e História do Ceará - disponíveis em videoaulas
SUMÁRIO

LÍNGUA PORTUGUESA / INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS..................................11


LEITURA, COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS.......................................................... 11

ESTRUTURAÇÃO DO TEXTO E DOS PARÁGRAFOS......................................................................... 13

ARTICULAÇÃO DO TEXTO: PRONOMES E EXPRESSÕES REFERENCIAIS, NEXOS,


OPERADORES SEQUENCIAIS............................................................................................................. 22

EQUIVALÊNCIA E TRANSFORMAÇÃO DE ESTRUTURAS................................................................................22

SIGNIFICAÇÃO CONTEXTUAL DE PALAVRAS E EXPRESSÕES...................................................... 26

SINTAXE: PROCESSOS DE COORDENAÇÃO E SUBORDINAÇÃO................................................... 29

EMPREGO DE TEMPOS E MODOS VERBAIS..................................................................................... 32

PONTUAÇÃO....................................................................................................................................... 34

ESTRUTURA E FORMAÇÃO DE PALAVRAS...................................................................................... 36

FUNÇÕES DAS CLASSES DE PALAVRAS.......................................................................................... 40

FLEXÃO NOMINAL E VERBAL............................................................................................................ 41

PRONOMES: EMPREGO, FORMAS DE TRATAMENTO E COLOCAÇÃO........................................... 47

CONCORDÂNCIA NOMINAL E VERBAL............................................................................................ 50

REGÊNCIA NOMINAL E VERBAL........................................................................................................ 56

ORTOGRAFIA OFICIAL........................................................................................................................ 58

ACENTUAÇÃO GRÁFICA.................................................................................................................... 58

RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO..........................................................................69


ESTRUTURA LÓGICA DE RELAÇÕES ARBITRÁRIAS ENTRE PESSOAS, LUGARES,
OBJETOS OU EVENTOS FICTÍCIOS................................................................................................... 69

DEDUÇÃO DE NOVAS INFORMAÇÕES DAS RELAÇÕES FORNECIDAS E AVALIAÇÃO DAS


CONDIÇÕES USADAS PARA ESTABELECER A ESTRUTURA DAQUELAS RELAÇÕES.................. 79

COMPREENSÃO E ANÁLISE DA LÓGICA DE UMA SITUAÇÃO, UTILIZANDO AS FUNÇÕES


INTELECTUAIS.................................................................................................................................... 85

RACIOCÍNIO VERBAL, RACIOCÍNIO MATEMÁTICO, RACIOCÍNIO SEQUENCIAL, ORIENTAÇÃO


ESPACIAL E TEMPORAL, FORMAÇÃO DE CONCEITOS, DISCRIMINAÇÃO DE ELEMENTOS........................85

OPERAÇÕES COM CONJUNTOS....................................................................................................... 91


RACIOCÍNIO LÓGICO ENVOLVENDO PROBLEMAS ARITMÉTICOS, GEOMÉTRICOS E
MATRICIAIS......................................................................................................................................... 96

NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO


PÚBLICO.............................................................................................................................. 129
CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DAS ORGANIZAÇÕES FORMAIS MODERNAS............................129

TIPOS DE ESTRUTURA ORGANIZACIONAL...................................................................................................129

NATUREZA, FINALIDADES E CRITÉRIOS DE DEPARTAMENTALIZAÇÃO....................................................132

PROCESSO ORGANIZACIONAL.......................................................................................................134

PLANEJAMENTO.............................................................................................................................................134

DIREÇÃO ..........................................................................................................................................................134

COMUNICAÇÃO...............................................................................................................................................134

CONTROLE E AVALIAÇÃO...............................................................................................................................137

ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA.................................................................................................138

CENTRALIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO...................................................................................................138

CONCENTRAÇÃO E DESCONCENTRAÇÃO....................................................................................................139

ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DA UNIÃO...............................................................................140

ADMINISTRAÇÃO DIRETA E INDIRETA..........................................................................................................140

AGÊNCIAS REGULADORAS.............................................................................................................................141

AGÊNCIAS EXECUTIVAS, CONSÓRCIOS E CONVÊNIOS PÚBLICOS............................................................143

GESTÃO DE PROCESSOS.................................................................................................................145

GESTÃO DE CONTRATOS.................................................................................................................153

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO....................................................................................................159

PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.................................................................................162

INOVAÇÕES INTRODUZIDAS PELA CONSTITUIÇÃO DE 1988.....................................................165

SERVIÇOS ESSENCIALMENTE PÚBLICOS E SERVIÇOS DE UTILIDADE PÚBLICA......................................165

DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS A TERCEIROS..................................................................................166

RELAÇÕES HUMANAS NO TRABALHO...........................................................................................168

ÉTICA E CIDADANIA.........................................................................................................................170

LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA – LEI 8.429, DE 1992...................................................173


NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL............................................................. 195
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS ....................................................................................195

DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS.......................................................................................195

DIREITOS SOCIAIS...........................................................................................................................................210

DIREITOS POLÍTICOS......................................................................................................................................212

ORGANIZAÇÃO DO ESTADO............................................................................................................212

ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA..............................................................................................213

União................................................................................................................................................................ 213
Estados............................................................................................................................................................ 214
Distrito Federal................................................................................................................................................ 216
Municípios....................................................................................................................................................... 216
Territórios........................................................................................................................................................ 216

PODER LEGISLATIVO........................................................................................................................217

CONGRESSO NACIONAL.................................................................................................................................217

Câmara dos Deputados.................................................................................................................................. 217


Senado Federal............................................................................................................................................... 217

PARLAMENTARES FEDERAIS, ESTADUAIS E MUNICIPAIS..........................................................................218

PODER EXECUTIVO...........................................................................................................................222

ATRIBUIÇÕES DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA E DOS MINISTROS DE ESTADO......................................223

PODER JUDICIÁRIO..........................................................................................................................225

DISPOSIÇÕES GERAIS ....................................................................................................................................225

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ)...................................................................................................225

FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA.................................................................................................226

MINISTÉRIO PÚBLICO.....................................................................................................................................226

ADVOCACIA ....................................................................................................................................................227

DEFENSORIAS PÚBLICAS...............................................................................................................................227

DAS FORÇAS ARMADAS..................................................................................................................228

DA SEGURANÇA PÚBLICA...............................................................................................................229

NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR/PROCESSO PENAL MILITAR...... 235


APLICAÇÃO E ESPECIFICIDADES DA LEI PENAL MILITAR...........................................................235
CRIME.................................................................................................................................................237

IMPUTABILIDADE PENAL.................................................................................................................243

CONCURSO DE AGENTES.................................................................................................................244

PENAS................................................................................................................................................245

APLICAÇÃO DA PENA.....................................................................................................................................245

SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA..........................................................................................................248

LIVRAMENTO CONDICIONAL ........................................................................................................................249

PENAS ACESSÓRIAS.......................................................................................................................................250

EFEITOS DA CONDENAÇÃO............................................................................................................................251

MEDIDAS DE SEGURANÇA...............................................................................................................251

AÇÃO PENAL.....................................................................................................................................253

EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE..........................................................................................................254

CRIMES MILITARES EM TEMPO DE PAZ........................................................................................256

CRIMES PROPRIAMENTE MILITARES E CRIMES IMPROPRIAMENTE MILITARES...................261

CRIMES CONTRA A PESSOA...........................................................................................................261

CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO...................................................................................................269

CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO MILITAR...........................................................................278

CRIMES EM TEMPO DE GUERRA.....................................................................................................286

NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL....................................................... 289


APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL NO TEMPO, NO ESPAÇO E EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS.....289

DISPOSIÇÕES PRELIMINARES DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL............................................................289

INQUÉRITO POLICIAL.......................................................................................................................291

AÇÃO PENAL.....................................................................................................................................302

DA PRISÃO, DAS MEDIDAS CAUTELARES E DA LIBERDADE PROVISÓRIA................................311

DOS PROCESSOS ESPECIAIS..........................................................................................................320

PROCESSO E JULGAMENTO DOS CRIMES DE RESPONSABILIDADE DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS...320

DOS RECURSOS EM GERAL.............................................................................................................320

O HABEAS CORPUS E SEU PROCESSO..........................................................................................................321


DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS AO DIREITO PROCESSUAL PENAL...............321

LEI Nº 7.960, DE 1989 (PRISÃO TEMPORÁRIA).............................................................................323

NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA...................................................................................... 329


O CRIME COMO FATO SOCIAL.........................................................................................................329

INSTITUIÇÕES SOCIAIS RELACIONADAS COM O CRIME: AS POLÍCIAS, O PODER


JUDICIÁRIO, O MINISTÉRIO PÚBLICO, OS SISTEMAS PENITENCIÁRIOS..................................329

A EXTENSÃO DA CRIMINALIDADE NO MUNDO E NO BRASIL......................................................333

O CRIME COMO FENÔMENO DE MASSA: NARCOTRÁFICO, TERRORISMO E CRIME


ORGANIZADO....................................................................................................................................334

O CRIME COMO FENÔMENO ISOLADO: ESTUDO DO HOMICÍDIO................................................336

CLASSIFICAÇÃO DE TIPOS CRIMINOSOS......................................................................................338

CRIMINOSO NATO...........................................................................................................................................338

CRIMINOSO OCASIONAL................................................................................................................................339

CRIMINOSO HABITUAL OU PROFISSIONAL..................................................................................................339

CRIMINOSO PASSIONAL.................................................................................................................................339

CRIMINOSO ALIENADO...................................................................................................................................339

CRIMINOSO MENOR (DELINQUÊNCIA JUVENIL)..........................................................................................339

A MULHER CRIMINOSA...................................................................................................................................340
INFERÊNCIA – ESTRATÉGIAS DE
INTERPRETAÇÃO

A inferência é uma relação de sentido conhecida


LÍNGUA PORTUGUESA/ desde a Grécia Antiga e que embasa as teorias sobre
interpretação de texto.
INTERPRETAÇÃO DE Dica
TEXTOS Interpretar é buscar ideias e pistas do autor do
texto nas linhas apresentadas.

Apesar de parecer algo subjetivo, existem “regras”


LEITURA, COMPREENSÃO E para se buscar essas pistas.
INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS A primeira e mais importante delas é identificar a
orientação do pensamento do autor do texto, que fica
INTRODUÇÃO perceptível quando identificamos como o raciocínio
dele foi exposto, se de maneira mais racional, a partir
A interpretação e a compreensão textual são
da análise de dados, informações com fontes confiáveis
aspectos essenciais a serem dominados por aque-
les candidatos que buscam a aprovação em seleções ou se de maneira mais empirista, partindo dos efeitos,
e concursos públicos. Trata-se de um assunto que das consequências, a fim de se identificar as causas.
abrange questões específicas e de conteúdo geral nas Por isso, é preciso compreender como podemos
provas; conhecer e dominar estratégias que facilitem interpretar um texto mediante estratégias de leitura.
a apreensão desse assunto pode ser o grande diferen- Muitos pesquisadores já se debruçaram sobre o tema,
cial entre o quase e a aprovação. que é intrigante e de grande profundidade acadêmica;
Além disso, seja a compreensão textual, seja a neste material, selecionamos as estratégias mais efica-
interpretação textual, ambas guardam uma relação zes que podem contribuir para sua aprovação em sele-
de proximidade com um assunto pouco explorado ções que avaliam a competência leitora dos candidatos.
pelos cursos de português: a semântica, que incide A partir disso, apresentamos estratégias de leitura
suas relações de estudo sobre as relações de sentido que focam nas formas de inferência sobre um texto.
que a forma linguística pode assumir. Dessa forma, é fundamental identificar como ocorre
Portanto, neste material você encontrará recursos o processo de inferência, que se dá por dedução ou
para solidificar seus conhecimentos em interpretação por indução. Para entender melhor, veja esse exemplo:
e compreensão textual, associando a essas temáticas O marido da minha chefe parou de beber.
as relações semânticas que permeiam o sentido de Observe que é possível inferir várias informa-
todo amontoado de palavras, tendo em vista que qual- ções a partir dessa frase. A primeira é que a chefe do
quer aglomeração textual é, atualmente, considerada enunciador é casada (informação comprovada pela
texto e, dessa forma, deve ter um sentido que precisa expressão “marido”), a segunda é que o enuncia-
ser reconhecido por quem o lê. dor está trabalhando (informação comprovada pela
Assim, vamos começar nosso estudo fazendo uma expressão “minha chefe”) e a terceira é que o marido
breve diferença entre os termos compreensão e da chefe do enunciador bebia (expressão comprovada
interpretação textual. pela expressão “parou de beber”). Note que há pistas
Para muitos, essas palavras expressam o mesmo contextuais do próprio texto que induzem o leitor a
interpretar essas informações.

LÍNGUA PORTUGUESA/INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS


sentido, mas, como pretendemos deixar claro neste
material, ainda que existam relações de sinonímia Tratando-se de interpretação textual, os processos
entre palavras do nosso vocabulário, a opção do autor de inferência, sejam por dedução ou por indução, par-
por um termo ao invés de outro reflete um sentido tem de uma certeza prévia para a concepção de uma
que deve ser interpretado no texto, uma vez que a interpretação, construída pelas pistas oferecidas no
interpretação realiza ligações com o texto a partir texto junto da articulação com as informações acessa-
das ideias que o leitor pode concluir com a leitura. das pelo leitor do texto.
Já a compreensão busca a análise de algo exposto A seguir, apresentamos um fluxograma que repre-
no texto, e, geralmente, é marcada por uma palavra ou senta como ocorre a relação desses processos:
uma expressão, e apresenta mais relações semânticas
e sintáticas. A compreensão textual estipula aspectos DEDUÇÃO → CERTEZA → INTERPRETAR
linguísticos essencialmente relacionados à significa-
ção das palavras e, por isso, envolve uma forte ligação INFERÊNCIA
com a semântica. INDUÇÃO → INTERPRETAR → CERTEZA
Sabendo disso, é importante separarmos os con-
teúdos que tenham mais apelo interpretativo ou
compreensivo. A partir desse esquema, conseguimos visualizar
Esses assuntos completam o estudo basilar de melhor como o processo de interpretação ocorre.
semântica com foco em provas e concursos, sempre Agora, iremos detalhar esse processo, reconhecendo
de olho na sua aprovação. Por isso, convidamos você as estratégias que compõem cada maneira de inferir
a estudar com afinco e dedicação, sem esquecer de informações de um texto. Por isso, vamos apresentar
praticar seus conhecimentos realizando a seleção de nos tópicos seguintes como usar estratégias de cunho
exercícios finais, selecionados especialmente para dedutivo, indutivo e, ainda, como articular a isso o
que este material cumpra o propósito de alcançar sua nosso conhecimento de mundo na interpretação de
aprovação. textos. 11
A INDUÇÃO Fique atento a essa informação, pois é uma das
primeiras estratégias de leitura para uma boa inter-
As estratégias de interpretação que observam pretação textual: formular hipóteses, a partir da
métodos indutivos analisam as “pistas” que o texto macroestrutura textual; ou seja, antes da leitura ini-
oferece e, posteriormente, reconhecem alguma certe- cial, o leitor deve buscar identificar o gênero textual
za na interpretação. Dessa forma, é fundamental bus- ao qual o texto pertence, a fonte da leitura, o ano,
car uma ordem de eventos ou processos ocorridos no entre outras informações que podem vir como “aces-
texto e que variam conforme o tipo textual. sórios” do texto e, então, formular hipóteses sobre a
Sendo assim, no tipo textual narrativo, podemos iden- leitura que deverá se seguir. Uma outra dica impor-
tificar uma organização cronológica e espacial no desen- tante é ler as questões da prova antes de ler o texto,
volvimento das ações marcadas, por exemplo, pelo uso pois, assim, suas hipóteses já estarão agindo conforme
do pretérito imperfeito; na descrição, podemos organi- um objetivo mais definido.
zar as ideias do texto a partir da marcação de adjetivos O processo de interpretação por estratégias de dedu-
e demais sintagmas nominais; na argumentação, esse ção envolve a articulação de três tipos de conhecimento:
encadeamento de ideias fica marcado pelo uso de conjun-
ções e elementos que expõem uma ideia/ponto de vista.
z Conhecimento Linguístico;
No processo interpretativo indutivo, as ideias são
z Conhecimento Textual;
organizadas a partir de uma especificação para uma
z Conhecimento de Mundo.
generalização. Vejamos um exemplo:

Eu não sou literato, detesto com toda a paixão essa O conhecimento de mundo, por tratar-se de um
espécie de animal. O que observei neles, no tempo assunto mais abrangente, será abordado mais adiante.
em que estive na redação do O Globo, foi o bastan- Os demais, iremos abordar detalhadamente a seguir.
te para não os amar, nem os imitar. São em geral
de uma lastimável limitação de ideias, cheios de Conhecimento Linguístico
fórmulas, de receitas, só capazes de colher fatos
detalhados e impotentes para generalizar, cur- Esse é o conhecimento basilar para compreensão
vados aos fortes e às ideias vencedoras, e antigas, e decodificação do texto, envolve o reconhecimento
adstritos a um infantil fetichismo do estilo e guia-
das formas linguísticas estabelecidas socialmente por
dos por conceitos obsoletos e um pueril e errôneo
critério de beleza. (BARRETO, 2010, p. 21)
uma comunidade linguística, ou seja, envolve o reco-
nhecimento das regras de uma língua.
É importante salientar que as regras de reconhe-
O trecho em destaque na citação do escritor Lima
Barreto, em sua obra “Recordações do escrivão Isaías cimento sobre o funcionamento da língua não são,
Caminha” (1917), identifica bem como o pensamento necessariamente, as regras gramaticais, mas as regras
indutivo compõe a interpretação e decodificação de que estabelecem, por exemplo, no caso da língua por-
um texto. Para deixar ainda mais evidentes as estraté- tuguesa, que o feminino é marcado pela desinência -a,
gias usadas para identificar essa forma de interpretar, que a ordem de escrita respeita o sistema sujeito-ver-
deixamos a seguir dicas de como buscar a organiza- bo-objeto (SVO) etc.
ção cronológica de um texto. Ângela Kleiman (2016) afirma que o conhecimento
linguístico é aquele que “abrange desde o conhecimento
sobre como pronunciar português, passando pelo conhe-
A propriedade vocabular leva o cé- cimento de vocabulário e regras da língua, chegando até
PROCURE rebro a aproximar as palavras que o conhecimento sobre o uso da língua” (2016, p. 15).
SINÔNIMOS têm maior associação com o tema Um exemplo em que a interpretação textual é preju-
do texto dicada pelo conhecimento linguístico é o texto a seguir:
Os conectivos (conjunções, pre-
ATENÇÃO AOS posições, pronomes) são marca-
CONECTIVOS dores claros de opiniões, espaços
físicos e localizadores textuais

A DEDUÇÃO

A leitura de um texto envolve a análise de diversos


aspectos que o autor pode colocar explicitamente ou
de maneira implícita no enunciado.
Em questões de concurso, as bancas costumam
procurar nos enunciados implícitos do texto aspectos
para abordar em suas provas.
No momento de ler um texto, o leitor articula seus
conhecimentos prévios a partir de uma informação
que julga certa, buscando uma interpretação; assim,
ocorre o processo de interpretação por dedução. Con-
forme Kleiman (2016, p. 47):

Ao formular hipóteses o leitor estará predizendo


temas, e ao testá-las ele estará depreendendo o tema;
ele estará também postulando uma possível estru-
tura textual; na predição ele estará ativando seu
conhecimento prévio, e na testagem ele estará enri-
12 quecendo, refinando, checando esse conhecimento. Fonte: https://bit.ly/3kCyWoI. Acesso em: 22/09/2020.
Como é possível notar, o texto é uma peça publici-
tária escrita em inglês, portanto, somente os leitores ESTRUTURAÇÃO DO TEXTO E DOS
proficientes nessa língua serão capazes de decodificar
PARÁGRAFOS
e entender o que está escrito; assim, o conhecimento
linguístico torna-se crucial para a interpretação. Essas
TEORIA DAS MÁSCARAS
são algumas estratégias de interpretação em que
podemos usar métodos dedutivos.
Depois de observar as dificuldades que as pessoas
têm de se expressarem por meio da escrita, colocamos
Conhecimento Textual
aqui soluções definitivas para esses problemas, sem a
Esse tipo de conhecimento atrela-se ao conheci- pretensão de criar fórmulas mágicas, mas sim de criar
mento linguístico e se desenvolve pela experiência um referencial mais concreto e imediato.
leitora. Quanto maior exposição a diferentes tipos de Leia inicialmente o texto piloto de nosso projeto:
textos, melhor se dá a sua compreensão. Nesse conhe-
cimento, o leitor desenvolve sua habilidade porque z Projeto de dissertação: Exemplos arroz com
prepara sua leitura de acordo com o tipo de texto que feijão;
está lendo. Não se lê uma bula de remédio como se lê z Tema: A alimentação do brasileiro;
uma receita de bolo ou um romance. Não se lê uma z Tese: A comida dos brasileiros é muito saudável e
reportagem como se lê um poema. tem tudo de que ele necessita para seu longo dia
Em outras palavras, esse conhecimento relaciona- de trabalho;
-se com a habilidade de reconhecer diferentes tipos de z Argumentos: carboidratos no arroz com feijão;
discursos, estruturas, tipos e gêneros textuais. proteínas no bife com salada; glicose e cafeína do
cafezinho preto com açúcar.
Conhecimento de Mundo
1° Parágrafo
O uso dos conhecimentos prévios é fundamental
para a boa interpretação textual, por isso, é sempre Todos sabem o quanto, em nosso país, a comida
importante que o candidato a cargos públicos reserve é saudável e tem tudo de que os brasileiros necessi-
um tempo para ampliar sua biblioteca e buscar fontes tam para seu longo dia de trabalho. Verifica-se que
de informações fidedignas, para, dessa forma, aumen- os carboidratos no arroz com feijão, as proteínas no
tar seu conhecimento de mundo. bife com salada, além da glicose no cafezinho preto
Conforme Kleiman (2016), durante a leitura, nosso com açúcar, fornecem um completo abastecimento de
conhecimento de mundo que é relevante para a com- energia somada ao prazer.
preensão textual é ativado; por isso, é natural ao nosso
cérebro associar informações, a fim de compreender
2° Parágrafo
o novo texto que está em processo de interpretação.
A esse respeito, a autora propõe o seguinte exer-
É de fundamental importância o consumo de
cício para atestarmos a importância da ativação do
alimentos ricos no fornecimento de energia para a
conhecimento de mundo em um processo de interpre-
movimentação do nosso corpo. Podemos mencionar,
tação. Leia o texto a seguir e faça o que se pede:
por exemplo, o arroz com feijão que diariamente
Como gemas para financiá-lo, nosso herói desa- abastece a nossa mesa, por causa de sua riqueza em
fiou valentemente todos os risos desdenhosos que carboidratos. Esse complexo alimentar nos recompõe
da energia própria consumida durante o dia.

LÍNGUA PORTUGUESA/INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS


tentaram dissuadi-lo de seu plano. “Os olhos enga-
nam” disse ele, “um ovo e não uma mesa tipificam
corretamente esse planeta inexplorado.” Então as 3° Parágrafo
três irmãs fortes e resolutas saíram à procura de
provas, abrindo caminho, às vezes através de imen- Além disso, as proteínas da carne no bife que
sidões tranquilas, mas amiúde através de picos e comemos servem para repor a massa muscular per-
vales turbulentos (KLEIMAN, 2016, p. 24).
dida durante o trabalho. E, somando-se a isso, há as
fibras das verduras e folhas, que ajudam no proces-
Agora tente responder as seguintes perguntas
samento dos alimentos pelos órgãos digestivos. Daí a
sobre o texto:
possibilidade de reafirmarmos o valor nutricional do
Quem é o herói de que trata o texto?
conjunto de alimentos de nosso prato mais tradicional
Quem são as três irmãs?
e de justificarmos os hábitos desenvolvidos em nossa
Qual é o planeta inexplorado?
Certamente, você não conseguiu responder nenhu- cultura culinária.
ma dessas questões, porém, ao descobrir o título des-
se texto, sua compreensão sobre essas perguntas será 4° Parágrafo
afetada. O texto se chama “A descoberta da América
por Colombo”. Agora, volte ao texto, releia-o e busque Ainda convém lembrarmos outro hábito que
responder às questões; certamente você não terá mais contribui para o sucesso do nosso bem elaborado
as mesmas dificuldades. cardápio (que é): o de tomarmos um cafezinho após
Ainda que o texto não tenha sido alterado, ao vol- as refeições. Esse conjunto da cafeína mais o açúcar
tar seus olhos por uma segunda vez a ele, já sabendo reabastece nosso cérebro de energia desviada para
do que se trata, seu cérebro ativou um conhecimen- os órgãos processadores da digestão no momento em
to prévio que é essencial para a interpretação de que comemos. Essas substâncias reprimem a sonolên-
questões. cia típica da hora do almoço, mantendo-nos despertos. 13
5° Parágrafo A partir daí, fizemos o mesmo para os parágrafos seguin-
tes, impondo a eles estruturas programadas com relação
Levando-se em consideração esses aspectos lógica de coerência e coesão. Você perceberá que a conti-
práticos do prato do brasileiro, somos levados a nuidade e a progressão textual foram sendo procuradas e
acreditar que não é apenas por prazer que somos construídas para dar evolução ao texto e aos argumentos.
seduzidos pela nossa culinária, mas também por No segundo parágrafo, iniciamos com uma frase de
tudo o que ela nos oferece para a manutenção de apresentação que valoriza o primeiro argumento, depois
nossa saúde. Sendo assim, a falta de qualquer um fomos completando os espaços em branco que ligavam
desses ingredientes nos causará debilidade, além de os argumentos entre si com relações preestabelecidas de:
insatisfação. finalidade ― com a conjunção “para” ―; explicação ―
Observe o texto apresentado e sua estrutura. com o “que” ― causa ― com a locução “por causa de”.
Imaginemos que o tema proposto a nós fosse “A ali- Veja que, para manter a continuidade textual recupe-
rando sempre a ideia central do parágrafo, preocupamo-
mentação do brasileiro” e que, a partir desse tema,
-nos em acrescentar o pronome demonstrativo “Esse”,
tivéssemos que produzir uma dissertação sobre ele.
fechando com uma conclusão sobre esse argumento.
A primeira coisa a fazer seria a delimitação do
tema, ou seja, deveríamos buscar com objetividade
uma tese, dentro desse tema, sobre a qual fôssemos É de fundamental importância o __________________
capazes de argumentar, como esta: _______________ para _______________. Podemos men-
“A comida dos brasileiros é muito saudável e cionar, por exemplo, ___________ que _______________,
tem tudo de que ele necessita para seu longo dia de por causa de ____________. Esse _____________________
trabalho”. ____________________________________.
O próximo passo seria o de levantar alguns argu-
mentos que sustentassem a tese proposta com valor Observe como ficou a sequência completa do
de verdade. Veja como fizemos: segundo parágrafo:
Já que estávamos falando da alimentação dos É de fundamental importância o consumo de
brasileiros, nada melhor do que falarmos sobre seus alimentos ricos no fornecimento de energia para a
pontos positivos, pontos estes reconhecidos até por movimentação do nosso corpo. Podemos mencionar,
especialistas em alimentação mundial: o valor nutri- por exemplo, o arroz com feijão que diariamente
cional que compõe o nosso prato mais popular — isso abastece a nossa mesa, por causa de sua riqueza em
mesmo, o “PF”, “prato feito”, que encontramos em carboidratos. Esse complexo alimentar nos recompõe
bares, pequenos restaurantes e, principalmente, na da energia própria consumida durante o dia.
maioria das mesas do povo brasileiro: o arroz com fei- Veja agora uma coletânea de frases que podem
auxiliá-lo na introdução de seus parágrafos iniciais:
jão, bife e salada, finalizado com um cafezinho preto.
Decompomos esse prato e identificamos seus prin-
z É de conhecimento geral que...
cipais ingredientes, aqueles merecedores de destaque
z Todos sabem que, em nosso país, há tempos,
como boa argumentação a favor de nossa tese. Mar-
observa-se...
camos o “carboidrato”, presente no arroz e no feijão,
z Cogita-se, com muita frequência, que...
como nosso primeiro ponto positivo. Depois foi a vez
z Muito se tem discutido, recentemente, acerca de...
das “proteínas” presentes no bife com salada e che- z É de fundamental importância o (a)....
gamos, finalmente, à “cafeína” e ao “açúcar” presen- z Ao fazer uma análise da sociedade, busca-se desco-
tes no cafezinho. Pronto, já temos a primeira parte de brir as causas de....
nosso projeto organizado. z Talvez seja difícil dizer o motivo pelo qual...
O próximo passo é juntar tudo no primeiro pará-
grafo, de maneira organizada, de forma que as ideias Assim como no segundo parágrafo, o terceiro e o quar-
sejam apresentadas em uma sequência que deixe cla- to também seguiram o mesmo princípio quanto às rela-
ro ao leitor sobre o que será falado e também qual ções de coesão. As conjunções foram posicionadas para
será a sequência de argumentos que será apresentada dar coerência a quase qualquer tipo de argumentação.
para dar credibilidade a nossa tese. Veja as estruturas vazias e seus respectivos pará-
Veja o modelo do primeiro parágrafo: grafos completos:

3º Parágrafo
Todos sabem o quanto, em nosso país, __
_______________________________________. Verifica-se que
________________________, __________________________, Além disso, ________________________________
além de ______________________, fornecem (ou: resultam, ______________. E, somando-se a isso, ________________
culminam, têm como consequência...) ________. que ________________________________________________.
Daí _______________________ e de ____________________
Compare agora com o parágrafo preenchido com __________________.
a tese e com os argumentos e veja a amarração que
conseguimos: Além disso, as proteínas da carne no bife que come-
Todos sabem o quanto, em nosso país, a comida mos servem para repor a massa muscular perdida
é saudável e tem tudo de que os brasileiros necessi- durante o trabalho. E, somando-se a isso, há as fibras
tam para o seu longo dia de trabalho. Verifica-se que das verduras e folhas que ajudam no processamento dos
os carboidratos no arroz com feijão, as proteínas no alimentos pelos órgãos digestivos. Daí a possibilidade de
bife com salada, além da glicose no cafezinho preto reafirmarmos o valor nutricional do conjunto de alimen-
com açúcar, fornecem um completo abastecimento tos de nosso prato mais tradicional e de justificarmos os
14 de energia somada ao prazer. hábitos desenvolvidos em nossa cultura culinária.
4º Parágrafo Você também pode contar com uma pequena lista
de frases que podem auxiliá-lo nessa tarefa:
Ainda convém lembrarmos __________
z Em virtude dos fatos mencionados...
_____________________, (que é): _______________.
z Por isso tudo...
Esse ____________________________________ para
z Levando-se em consideração esses aspectos...
____________________________. Essa(s) _______________
z Dessa forma...
___________________________. z Em vista dos argumentos apresentados...
z Dado o exposto...
Ainda convém lembrarmos outro hábito que z Por todos esses aspectos...
contribui para o sucesso do nosso bem elaborado z Pela observação dos aspectos analisados...
cardápio, que é o de tomarmos um cafezinho após z Portanto... / logo... / então...
as refeições. Esse conjunto da cafeína mais o açúcar
reabastece nosso cérebro de energia desviada para Após a frase inicial, pode-se continuar a conclusão
os órgãos processadores da digestão no momento em com as seguintes frases:
que comemos. Essas substâncias reprimem a sonolên-
cia típica da hora do almoço, mantendo-nos despertos. z ...somos levados a acreditar que...
Para os parágrafos de desenvolvimento, também z ...é-se levado a acreditar que...
podemos relacionar frases que você poderá escolher z ...entendemos que...
para dar originalidade ao seu texto: z ...entende-se que...
z ...concluímos que...
z Ao se examinarem alguns..., verifica-se que... z ...conclui-se que...
z Pode-se mencionar, por exemplo, ... z ...é necessário que...
z Em consequência disso, vê-se, a todo instante, ... z ...faz-se necessário que...
z Alguns argumentam que...
z Além disso... Observe como fica, então, a soma dos parágrafos e
z Outro fator existente... como se deu a criação da primeira máscara:
z Outra preocupação constante...
z Ainda convém lembrar...
z Por outro lado... MÁSCARA 1
z Porém, mas, contudo, todavia, no entanto,
entretanto... 1º Parágrafo

Lembramos que esses exemplos são apenas suges- Todos sabem o quanto, em nos-
tões e que você poderá desenvolver construções que
so país, __________________________________
atendam sua necessidade a partir de quando for
adquirindo experiência com a produção de textos. ____. Verifica-se que _____________________,
Tanto quanto podemos criar padrões para a intro- _______________________________ além de
dução e para o desenvolvimento de nossas redações, ______________________________ fornecem (ou: re-
também podemos criá-los para a conclusão de nossa sultam, culminam, têm como consequência...)
dissertação. _______________________.
Acompanhe a organização de nosso último
parágrafo: 2º Parágrafo

LÍNGUA PORTUGUESA/INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS


Levando-se em consideração esses as- É de fundamental importância o ___________
pectos _________________, somos levados a acredi- _________________________ para ____________________.
tar que __________________________, mas também Podemos mencionar, por exemplo, ________________
_____________________. Sendo assim, ________________ que ___________________, por causa de ___________.
_________________. Esse ____________________.

Teremos, após preencher o modelo:


3º Parágrafo
Levando-se em consideração esses aspectos prá-
ticos do prato do brasileiro, somos levados a acreditar Além disso, _______________________________
que não é apenas por prazer que somos seduzidos __________. E, somando-se a isso, __________________
pela nossa culinária, mas também por tudo o que ela que ________________________________________. Daí
nos oferece para a manutenção de nossa saúde. Sendo ________________________ e de ______________________.
assim, a falta de qualquer um desses ingredientes nos
causará debilidade além de insatisfação.
Os aspectos conclusivos presentes nesse último
parágrafo garantem ao leitor a clareza de que se che-
gou ao final do desenvolvimento da tese inicial.
As frases em destaque dão força conclusiva ao
parágrafo, conduzindo a sequência textual a uma pos-
sível solução para os problemas propostos, ou, ain-
da, podem gerar simples constatações das verdades
idealizadas.
15
Por fim, preparamos uma máscara de organização
4º Parágrafo sequencial para seu projeto de redação. Use-a para se
organizar.
Ainda convém lembrarmos ________________
(que é): __________________________. Esse
____________________ para ______________________. Es- PROJETO DE TEXTO (monte sua dissertação)
sa(s) ____________________________.
1º TEMA: ________________________________________________
________________.
5o Parágrafo
2º TESE: __________________________________________________
Levando-se em consideração esses aspec- ________________.
tos ________________, somos levados a acreditar que
_____________, mas também _______________. Sendo as- 3º ARGUMENTOS a) ______________________________.
sim, ___________________.
b) ______________________________.
Agora que vimos o processo de criação das más-
c) ________________________________.
caras, você poderá começar também seu trabalho
de produção. Antes, porém, vamos apresentar mais
(1º parágrafo) Tese + argumentos
dois outros modelos de máscaras de redação que você
poderá usar como base para suas próprias criações.
___________________________________________________________
Observe como as máscaras garantem o encadea-
___________________________________________________________
mento das ideias, a coesão entre as orações e a coe- __________________________________________________________
rência com as várias possibilidades argumentativas. A __________________________________________________________.
seguir, temos mais um exemplo de máscara:

MÁSCARA 2
(2º parágrafo) Justificativas (por que isso ocorre?): argu-
mento “a” + provas e exemplos (mostre casos conhecidos
1º Parágrafo ou dê exemplos semelhantes ao seu argumento)

Entre os aspectos referentes a _____________________, Construa o parágrafo unindo as informações anterio-


três pontos merecem destaque especial. O primeiro é res ao argumento “a” .
_____________________; o segundo ________________ e, por fim,
______________.
___________________________________________________________
___________________________________________________________
2º Parágrafo __________________________________________________________
__________________________________________________________.
Alguns argumentam que _______________________
para __________________________. Isso porque
________________________. Dessa forma, _______________. Faça o mesmo esquema no 3º e 4º parágrafos
para os argumentos “b” e “c”
3º Parágrafo
____________________________________________________
____________________________________________________
Outra preocupação constante é ____________________________________________________
_________________________, pois _______________________. ____________________________________________________
Como se isso não bastasse, ___________________ que
____________________________________________________
____________________. Daí ______________ que _____________ e
que ________________________.
_________.

4º Parágrafo ____________________________________________________
____________________________________________________
Também merece destaque _____________ o ____________________________________________________
(a) qual ____________________________. Diante disso, ____________________________________________________
_____________________ para que __________________________. ____________________________________________________
_________.

5º Parágrafo Elabore sua conclusão: (confirme sua tese dizendo


que, se algum dos argumentos não for considerado,
Tendo em vista os aspectos observa- a ideia inicial não poderá ser sustentada, ou que os
dos ________________, só nos resta esperar que resultados propostos não serão atingidos)
______________________, ou quem saiba _________________.
Consequentemente, _____________. ____________________________________________________
____________________________________________________
Sugerimos a você que faça suas primeiras reda- ____________________________________________________
ções com base em uma das máscaras prontas. Confor- ____________________________________________________
me for avançando nos estudos, você poderá construir _______________________________________________.
suas próprias máscaras personalizadas.
16
APROFUNDAMENTO DA ELABORAÇÃO DO Vale lembrar que, como se trata de uma definição,
PARÁGRAFO DISSERTATIVO a base dessa informação deve sustentar-se em uma
verdade consagrada, diferentemente do que vimos
Vamos agora aprofundar o nosso trabalho com a no exemplo anterior, já que a declaração inicial pode
estrutura dos textos dissertativos. Para isso, traba- basear-se em uma posição pessoal a ser defendida.
lharemos as várias modalidades de parágrafos que Modelo nº 2:
podem ser utilizados para a elaboração de uma boa
dissertação. Mostraremos aqui a continuidade de nos-
so projeto de máscaras e os vários arranjos que são ______________ é a denominação dada a
possíveis ao construí-las. _____________. Essa ________________________, mas a hi-
pótese mais aceita é a de que _______________________.
Parágrafo de Introdução Outra versão afirma que esse ___________________,
que tem origem ________________. O que se sabe é que
O parágrafo de introdução tem como uma de suas _________________.
funções mais importantes a de apresentar a tese que
será defendida no decorrer da redação. Preenchendo o modelo, teremos:
É também possível e bastante didático que você faça Arroz com feijão é a denominação dada a um pra-
uma prévia dos argumentos que serão trabalhados na to típico da América Latina. Essa receita não tem uma
sustentação dessa tese. Assim, o leitor poderá ser orien- origem certa, mas a hipótese mais aceita é a de que
tado, logo de saída, a acompanhar o ritmo do seu pen- seria fruto de uma combinação do arroz (de origem
samento e a sequência das suas argumentações. oriental) trazido pelos portugueses ao Brasil com o
feijão, que já seria consumido no Brasil pelos índios.
z Tipos Diferentes de Parágrafos de Introdução
Outra versão afirma que esse prato foi a união do
„ Declaração Inicial arroz com a feijoada, que tem origem africana ou
portuguesa. O que se sabe é que, ao longo dos sécu-
Na declaração, afirma-se ou nega-se algo de iní- los, esse prato foi se popularizando por todo o país,
cio para, em seguida, justificar-se e comprovar-se a passando a ser uma parte quase que indispensável da
assertiva com exemplos, comparações, testemunhos refeição dos brasileiros.
de autores etc.
Vejamos um exemplo desse tipo de parágrafo apli- „ Divisão
cado à nossa proposta básica, que é o projeto arroz
com feijão. Mais uma vez, colocamos a disposição O parágrafo de divisão, processo também qua-
vazia do parágrafo, que poderá ser utilizada por você se que exclusivamente didático, por causa das suas
sempre que desejar, seguida de um exemplo. características de objetividade e clareza, consiste em
Modelo nº 1: apresentar o tópico frasal (frase que introduz o pará-
grafo) sob a forma de divisão ou discriminação das
É fato notório que ________________________ ideias a serem desenvolvidas (normalmente, a divisão
________. Sabe-se que ________________________, além vem precedida por uma definição, ambas no mesmo
da _________________________________________________ parágrafo ou em parágrafos distintos).
_______. Usamos aqui como representação desse modelo o
conceito de silogismo. Silogismo é um termo filosófi-
Preenchendo o modelo, teremos: co com o qual Aristóteles designou a argumentação
É fato notório que a alimentação do brasileiro é lógica perfeita, constituída de três proposições decla-
boa e tem tudo de que necessitamos para suprir os rativas que se conectam de tal modo que, a partir das

LÍNGUA PORTUGUESA/INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS


desgastes de um dia de trabalho. Sabe-se que os car- primeiras duas, chamadas premissas, é possível dedu-
boidratos do arroz e do feijão, as proteínas do bife e da zir uma conclusão. A teoria do silogismo foi exposta
salada, além da glicose do cafezinho preto com açú- por Aristóteles em sua obra Analíticos anteriores.
car fornecem um completo abastecimento de energia Modelo nº 3:
somada ao prazer.
_____________ pode ser representado de duas
„ Definição
maneiras diferentes: _________, que é ___________,
e _____________, que é _______________. Enquanto a
O parágrafo por definição é entendido como um primeira ______ se apresenta ____________________,
método preferencialmente didático, pois busca, por inter- esta, por sua vez, realiza-se por intermédio de
médio de uma explicação clara e breve, a exposição do
significado de uma ideia, palavra ou de uma expressão. _____________________.
É a forma de exposição dos diversos lados pelos
quais se pode encarar um assunto. Pode apresentar Preenchendo o modelo, teremos:
tanto o significado que o termo carrega no uso geral O silogismo pode ser representado de duas
quanto aquele que o falante pretende determinar maneiras diferentes: silogismo simples, que é for-
para o propósito do seu discurso. mado por um único núcleo argumentativo, e silogis-
Uma definição é um enunciado que descreve um mo composto, que é formado por diversos núcleos
conceito, permitindo diferenciá-lo de outros conceitos argumentativos de elaboração complexa. Enquanto a
associados. primeira teoria se apresenta pela estrutura filosófi-
Veja como, em nosso parágrafo de exemplo, explo- ca básica consagrada pela antiguidade, esta, por sua
ramos o conceito global e generalizado sobre o assun- vez, realiza-se por intermédio de vários silogismos
to. Você perceberá como o modelo vazio traz a indução desenvolvidos para atender às novas perspectivas de
do assunto a ser definido. sedução e convencimento.
17
„ Alusão Histórica Parágrafos de Desenvolvimento

A elaboração de um parágrafo por alusão histórica Após o primeiro parágrafo, que, como já vimos,
é um recurso que desperta sempre a curiosidade do pode apresentar a tese e também os argumentos prin-
leitor por meio de fatos históricos, lendas, tradições, cipais que serão desenvolvidos, chega a hora de abor-
crendices, anedotas ou acontecimentos de que o autor dar os elementos que sustentarão essas afirmações
tenha sido participante ou testemunha (desenvolve-se iniciais. Os parágrafos seguintes deverão conter os
geralmente por meio da comparação com o presente recursos argumentativos que articularão o convenci-
ou retorno a ele). mento do leitor quanto à tese apresentada.
A vantagem desse método é o de podermos mos-
trar o desenvolvimento cronológico de um assunto, z Tipos Diferentes de Parágrafos de Desenvolvi-
expondo sua evolução no tempo. mento
Ao utilizar um fato histórico para sustentar uma
tese, lembre-se de que a história é a ciência que estuda As possibilidades de ordenação do parágrafo são
o homem e sua ação no tempo e no espaço, concomi- várias: exploração de aspectos espaciais e temporais,
tantemente à análise de processos e eventos ocorridos enumeração de pormenores, apresentação de analo-
no passado, e, como ela é uma ciência, tem, por conse- gia ou contraste, citação de exemplos e apresentação
guinte, um grande valor argumentativo. de causas e consequências. Acompanhe a seguir.
Observe como é simples: „ Desenvolvimento por Exploração Espacial
Modelo nº 4:
Ao argumentar, você pode se servir da exposição
de informações relativas ao lugar em que os fatos
Desde a época da __________, sabe-se
ocorreram.
que ___________________ para _________________.
Modelo nº 1:
Principalmente hoje em dia, reconhece-se que
___________________________.
A cidade (ou região) em desta-
Preenchendo o modelo, temos: que é ____________, que fica localizada em
Desde a época da escravidão no Brasil, sabia-se ____________________, região __________ de ____________.
que a alimentação dada a esses novos brasileiros era É aí onde se localiza ________________________ dessa
boa e tinha tudo de que eles necessitavam para suprir região. Cercada por ________________________, foi bem
no centro desse ____________________________________
os desgastes de um longo dia de trabalho. Hoje em
dia, principalmente, já se reconhece que os carboi- ___________.
dratos do arroz e do feijão, as proteínas da carne e das
verduras fornecem um completo abastecimento de Preenchendo o modelo, teremos:
energia somada ao prazer, justificando os hábitos do A cidade em destaque é Pindaíba da Serra, que
passado como responsáveis pela tradição alimentar fica localizada em Monte Mole, região nobre de
que preservamos. Pindorama. É aí onde se localiza uma das mais belas
reservas naturais de paioca-rija, um cipó medicinal
„ Interrogação e afrodisíaco muito cobiçado pelos moradores dessa
região. Cercada por uma densa floresta de mambutis
A ideia núcleo do parágrafo por interrogação é gigantes, foi bem no centro desse santuário tropical
colocada por intermédio de uma pergunta a qual ser- que a próspera cidadezinha se tornou uma espécie
ve mais como recurso retórico, uma vez que a questão de centro cultural da região por preservar até hoje
levantada deve ser respondida pelo próprio autor. um dos mais tradicionais rituais de nossa história: a
Seu desenvolvimento é feito por intermédio da sagração da taioba-plus, entidade sagrada e reveren-
ciada pelos devotos naobilicos.
confecção de uma resposta à pergunta.
Modelo nº 5: „ Desenvolvimento por Exploração Temporal

Nesse modelo, o leitor é informado do momento


Será possível determinar qual é
em que os fatos ocorreram com a indicação de datas
_________________ para ___________________? (Respos-
e outros aspectos temporais. Pode-se recorrer nesse
ta) _________________________________________________
momento aos artifícios empregados no próprio pará-
________________________________.
grafo de alusão histórica, já que este também se serve
Preenchendo o modelo, teremos: de referências cronológicas.
Será possível determinar qual é a melhor com- Modelo nº 2:
binação de alimentos para atender às necessidades
diárias de nossa população? Qualquer nutricionista No passado, quando pensávamos em
dirá que sim, pois alimentos ricos em carboidratos e __________, notávamos que ______________ era
proteínas devem compor essa alimentação e não há ______________ comparada à que vemos recentemen-
quase nada mais apropriado do que nosso tradicional te. Hoje, por outro lado, _____________________________
prato de todos os dias. O arroz com feijão tem as pro- tornaram-se _______________. O resultado dis-
porções perfeitas para satisfazer essa necessidade que so é que _____________, na atualidade, tornou-se
18 todos têm de recomposição de força e de energia. _______________.
Preenchendo o modelo, teremos: „ Desenvolvimento por Exploração de Ideias
No passado, quando pensávamos em alimenta- Analógicas e Comparação
ção, notávamos que sua relação com a sobrevivência
era muito maior comparada à que vemos nos nos- Para organização das ideias, nossos redatores uti-
sos atuais. Hoje, por outro lado, a qualidade desses lizam expressões que indicam confronto, valendo-se
alimentos e a qualidade da saúde que eles proporcio- do artifício de contrapor ideias, seres, coisas, fatos ou
nam tornaram-se o foco desse pensamento. O resul- fenômenos.
tado disso é que comer, na atualidade, tornou-se Tal confronto tanto pode ser tanto de contrastes
um ritual de bem viver. como de semelhanças. Analogia e comparação são
também espécies de confronto:
„ Desenvolvimento por Exploração de Porme-
nores ou de Enumerações A analogia é uma semelhança parcial que sugere
uma semelhança oculta, mais completa. Na com-
Nesse modelo de parágrafo, tem-se por objetivo paração, as semelhanças são reais, sensíveis numa
forma verbal própria, em que entram normalmente
enumerar características, relacionar aspectos impor-
os chamados conectivos de comparação (quanto,
tantes sobre algum assunto. A apresentação das ideias
como, do que, tal qual) [...]1.
pode ser ou não ordenada segundo uma ordem de
importância. A ordem depende do que se pretende
Por exemplo:
enfatizar.
Modelo nº 3: Modelo nº 5:

Entre os aspectos referentes a No caso das _______________, porque cada


____________________________, três pontos merecem qual tem seus próprios valores ________________. En-
destaque especial. O primeiro é _____________________ quanto a _________________, as ________, por sua vez,
__________; o segundo diz respeito __________________ _____________________.
e, por fim, _________________________________.
Ao preenchermos o modelo, teremos:
No caso das proteínas do bife e da salada que
Ao preenchermos o modelo, teremos:
comemos, seria melhor não generalizar, porque cada
Entre os aspectos referentes à alimentação dos
qual tem seus próprios valores para a alimentação.
brasileiros, três pontos merecem destaque especial.
Enquanto a carne é rica em proteínas que repõem
O primeiro é quanto aos carboidratos presentes no
as perdas musculares pelo desgaste do dia a dia, as
arroz com feijão; o segundo diz respeito às proteí-
verduras, por sua vez, oferecem as fibras que nos
nas presentes no bife com salada e, por fim, a glico-
auxiliam no processamento dos alimentos pelo nosso
se somada à cafeína no cafezinho preto com açúcar, organismo ajudando na absorção dos nutrientes.
que fornecem um completo abastecimento de energia
somada ao prazer. „ Desenvolvimento por Exploração de Causa e
Consequência
„ Desenvolvimento por exploração de con-
traste de ideias Dentro de uma perspectiva lógica e simples, deve-

LÍNGUA PORTUGUESA/INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS


mos compreender causa como um fator gerador de
Na ordenação do parágrafo por exposição de con- problemas e consequência como os problemas gera-
trastes entre si, você pode se servir de comparações, dos pela causa. Trabalhar com causas e consequências
ideias paralelas, ideias diferentes e ideias opostas. é apresentar os aspectos que levaram ao problema
Modelo nº 4: discutido e às suas decorrências.
Modelo nº 6:
Muitos acreditam que
___________________________, por causa da
É de fundamental importância o
_____________________. Por outro lado, sabe-se tam-
bém que ______________________________________, __________________ para ___________________. Pode-
mos mencionar, por exemplo, ________________ que
quando muitas vezes ______________________________.
________________, por causa _____________.
Ao preenchermos o modelo, teremos:
Muitos acreditam que o cafezinho preto com açú- Ao preenchermos o modelo, teremos:
car pode causar excitação e ansiedade quando consu- É de fundamental importância o consumo de
mido em excesso, por causa da cafeína e da glicose alimentos ricos no fornecimento de energia para a
presentes nele. Por outro lado, sabe-se também que movimentação do nosso corpo. Podemos mencionar,
essas substâncias fornecem uma carga suplementar por exemplo, o arroz com feijão que diariamente
de energia nos deixando despertos logo após o almo- abastece a nossa mesa, por causa de sua riqueza em
ço, quando muitas vezes somos acometidos por uma carboidratos. Esse complexo alimentar nos recompõe
sonolência indesejada. da energia própria consumida durante o dia.
1 Ibidem, p. 232. 19
Parágrafo de Conclusão Preenchendo o modelo, teremos:
O que mais há para ser tomado como positivo e
A conclusão de uma dissertação é o momento de prático no prato dos brasileiros? O que sabemos nos
se mostrar que o objetivo proposto na introdução foi leva a acreditar que não é apenas por prazer que
atingido. É de fundamental importância que não ocor- somos seduzidos pela nossa culinária, mas também
ra contradição com a tese proposta no início de sua
por tudo o que ela nos oferece para a manutenção
redação, o que descaracterizaria toda a argumentação.
de nossa saúde. E a falta desses ingredientes mudará
Nesse momento, deve-se fazer uma síntese geral ou
retomar a ideia inicial, reforçando os pontos de par- a saúde de nossa população? Certamente que sim,
tida do raciocínio. Pode-se também demonstrar que pois a carência de tais ingredientes nos causará debi-
uma solução a um problema foi encontrada ou que lidade, além de insatisfação.
uma proposta de solução pode ser alcançada, ou, ain-
da, que uma resposta a uma pergunta foi encontrada. „ Conclusão por Resposta, Solução ou Proposta
Esse momento pode também gerar um questio-
namento final, desde que não concorra com suas Levanta-se uma (ou mais) hipóteses ou sugestões
exposições anteriores. A satisfação do leitor deve ser do que se deve fazer para transformar a história mos-
contemplada na conclusão para que ele não se sinta trada durante o desenrolar do texto.
frustrado pela expectativa criada quanto ao tema. Modelo nº 3:
A volta ao início do texto que a conclusão faz é algo
que chamamos de circularidade. Esse caráter finaliza-
dor da conclusão também colabora para a progressão Tendo em vista os aspectos observados so-
e continuidade textual. bre ___________, só nos resta esperar que ___________.
Ou quem saiba ainda que _______________ para
z Tipos Diferentes de Parágrafos de Conclusão que ______________________. Consequentemente,
___________________________.
Podemos enumerar alguns exemplos de conclu-
sões satisfatórias que todos poderão usar em seus tex-
Preenchendo o modelo, teremos:
tos dissertativos.
Tendo em vista os aspectos observados sobre
„ Conclusão por Síntese ou Resumo nossa alimentação, só nos resta esperar que se
garanta a todo brasileiro o acesso a esse rico cardápio.
O primeiro recurso com que trabalharemos será Ou quem saiba ainda que se divulgue o sucesso de
o do resumo ou da síntese geral. Nesse caso, retoma- nossa combinação alimentar para que o mundo saiba
-se, resumidamente, aquilo que se explorou durante que no Brasil se come bem. Consequentemente, será
o texto: possível a qualquer um balancear com eficiência e bai-
Modelo nº 1: xo custo do que se põe na mesa de sua casa.
Agora, comece a criar seus próprios arranjos e uti-
Levando-se em consideração esses as- lizar essas técnicas para compor redações eficientes
pectos __________ somos levados a acreditar que que garantam seu sucesso em qualquer tipo de con-
não é apenas por _______________, mas também curso que peça a você um posicionamento específico
________________. Sendo assim, ______________. sobre qualquer tema.

Ao preenchermos o modelo, teremos: CONSTRUINDO AS MÁSCARAS DE REDAÇÃO


Levando-se em consideração esses aspectos prá-
ticos do prato do brasileiro, somos levados a acredi- Vamos agora montar nosso quebra-cabeças? Veja
tar que não é apenas por prazer que somos seduzidos como arranjamos os modelos de maneiras diferentes.
pela nossa culinária, mas também por tudo o que ela
nos oferece para a manutenção de nossa saúde. Sen- Modelo nº 1 — Introdução (Declaração Inicial)
do assim, a falta de qualquer um desses ingredientes
nos causará debilidade, além de insatisfação.
É fato notório que __________________________.
„ Conclusão por Questionamento Sabe-se que ______________________, além da _________
_____________________________.
Nesse modelo, parte-se de um questionamento
para encerrar seu raciocínio. Mas não se esqueça de
Modelo nº 2 — Desenvolvimento (Pormenores
que você não deve colocar em dúvida os argumentos
ou de Enumerações)
desenvolvidos em sua redação.
Modelo nº 2:
Entre os aspectos referentes a
O que mais há para ser tomado como ______________________, três pontos merecem des-
____________ (?) ___________ acreditar que ____________, taque especial. O primeiro é _____________________;
mas também ___________ (?). Certamente que sim, o segundo _____________________ e por fim
20 pois _________________. _________________________.
Modelo nº 3 — Desenvolvimento (Temporal) Em seguida, arranjamos os parágrafos de desen-
volvimento mesclando os vários modelos apresenta-
dos anteriormente.
No passado, quando pensávamos em Ao mesmo tempo em que eles nos ofereciam diver-
____________, notávamos que ________________ era sas alternativas para a estruturação de nosso projeto,
_________________ comparada à que vemos recentemente. também nos orientavam dando caminhos a seguir na
Hoje, por outro lado, _____________________________ torna- argumentação. É como se montássemos realmente
ram-se ____________. O resultado disso é que __________, na um quebra-cabeça.
atualidade, tornou-se _____________________. Escolhemos três modelos diferentes de parágrafos
de desenvolvimento para esse projeto: por enumera-
Modelo nº 4 — Desenvolvimento (Contraste de ções, o temporal e o por contraste. Forçamos um pouco
Ideias) a barra, primeiro criando a máscara para, só depois,
completar nossa redação. Afinal de contas, essa é a
vantagem do projeto de máscaras. Veja como ficou:
Muitos acreditam que _____________________,
por causa da _________________. Por outro lado, sa-
be-se também que ________________, quando muitas É fato notório que a comida dos brasileiros
vezes _______________. é muito boa e tem tudo de que eles necessitam para o
seu longo dia de trabalho. Sabe-se que o arroz com
Modelo nº 5 — Conclusão (Síntese ou Resumo) feijão nos fornece um completo abastecimento de
energia somado ao prazer.

Levando-se em consideração esses aspec- Entre os aspectos referentes a esse par


tos _______________, somos levados a acreditar que considerado completo que é o arroz com feijão, três
não é apenas por _____________________, mas também pontos merecem destaque especial. O primeiro
__________. Sendo assim, _________________. está na riqueza de carboidratos presentes nele e que
nos reabastece repondo a energia consumida duran-
te o dia; o segundo nos reporta ao sabor exótico e
Nova máscara marcante que o alimento oferece, tornando-o sempre
uma escolha positiva quanto ao prazer e, por fim,
É fato notório que ___________________________. deve-se levar em conta a vantagem do baixo custo
Sabe-se que ____________________________, além da dessa combinação se comparado a outros alimen-
__________________. tos também computados como importantes para a
composição de uma alimentação rica.
Entre os aspectos referentes a
_____________________________, três pontos merecem No passado, quando pensávamos em ali-
destaque especial. O primeiro é ___________________ mentação, notávamos que sua relação com sobre-
____________; o segundo __________________________ e, vivência era muito maior comparada à que vemos
por fim, _____________________________________. recentemente. Hoje, por outro lado, a qualidade
desses alimentos e a qualidade da saúde que eles pro-
No passado, quando pensávamos em porcionam tornaram-se o foco desse pensamento.
_____________, notávamos que ___________________ era O resultado disso é que comer, na atualidade,
________________ comparada à que vemos recentemen- tornou-se um ritual de bem viver.
te. Hoje, por outro lado, __________________________

LÍNGUA PORTUGUESA/INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS


tornaram-se _________________. O resultado dis- Muitos acreditam que a comida presente
so é que _________, na atualidade, tornou-se em nossas mesas é uma das mais saudáveis do mundo,
_________________. por causa da sua variedade e equilíbrio. Por outro
lado, sabe-se também que poderá engordar, quan-
Muitos acreditam que do muitas vezes for consumida sem medida, com ins-
__________________________, por causa da piração apenas no sabor e no prazer que oferece.
______________________. Por outro lado, sabe-se tam-
bém que ___________________, quando muitas vezes Levando-se em consideração esses as-
______________. pectos práticos do prato do brasileiro, somos leva-
dos a acreditar que não é apenas por prazer que
Levando-se em consideração esses aspec- somos seduzidos pela nossa culinária, mas também
tos _____________________, somos levados a acredi- por tudo o que ela nos oferece para a manutenção de
tar que não é apenas por ________________________, nossa saúde. Sendo assim, concluímos que a falta
mas também ______________________. Sendo assim, desse ingrediente em nossa mesa nos causará debili-
________________________. dade, além de insatisfação.

Observe que fizemos a opção por abrir nossa reda- Com esses modelos apresentados, desejamos mos-
ção com uma declaração inicial. Como abordamos um trar como é possível programar e treinar nossos tra-
tema geral, sem uma relevância científica notória e balhos de redação se exercitarmos essas habilidades.
que representa na verdade um conhecimento cultural Porém, é de fundamental importância que você busque
somado às observações de médicos e nutricionistas, ou crie um modelo de máscara com o qual você mais se
a declaração foi a melhor alternativa, já que não se identifique. Isso para que, no momento de produção de
compromete com a obrigatoriedade de recorrência a sua redação, principalmente se ocorrer durante uma
uma fonte de conhecimento referencial. prova de concurso, você já esteja organizado. 21
Com isso, espera-se que você tenha a vantagem de Dito isso, usamos as palavras de Cavalcante (2013)
partir direto para a elaboração de seu texto sem ter para esclarecer ainda mais o conceito de coerência e
de ficar parado buscando inspiração em um momento passarmos ao estudo detalhado dos processos de coe-
em que todo segundo é importante. são. A autora afirma que a coerência:

[...] Não está no texto em si; não nos é possível


apontá-la, destacá-la ou sublinha-la. Ela se constrói
ARTICULAÇÃO DO TEXTO: PRONOMES [...] numa dada situação comunicativa, na qual o
E EXPRESSÕES REFERENCIAIS, NEXOS, leitor, com base em seus conhecimentos sociocogni-
tivos e interacionais e na materialidade linguística,
OPERADORES SEQUENCIAIS
confere sentido ao que lê (2013, p.31).
EQUIVALÊNCIA E TRANSFORMAÇÃO DE
ESTRUTURAS A seguir iremos nos deter aos processos de coesão
importantes para uma boa compreensão e elaboração
Ao elaborarmos um texto, devemos buscar organi- textual. É importante destacar que esses processos
zar as ideias apresentadas de modo a torná-lo coeso e de coesão não podem ser dissociados da construção
coerente. Porém, como fazer para que essa organiza- de sentidos implícita no processo de organização da
ção mantenha esse padrão? Para descobrir, primeiro coerência. No entanto, como nossa finalidade é tornar
é preciso esclarecer o que é coesão e o que é coerência
seu aprendizado mais fácil, separamos esses conceitos
e por que buscar esse padrão é importante.
com fins estritamente didáticos.
Os textos não são somente um aglomerado de pala-
vras e frases escritas. Suas partes devem ser articula-
das e organizadas harmoniosamente de maneira que COESÃO REFERENCIAL
o texto faça sentido como um todo. A ligação, a rela-
ção, os nexos entre essas partes estabelecem o que se A coesão é marcada por processos referenciais
chama de coesão textual. Os articuladores responsá- relaciona termos e ideias a partir de mecanismos que
veis por essa “costura” do tecido (tessitura) do texto inserem ou retomam uma porção textual. Os pro-
são conhecidos como recursos coesivos que devem ser cessos marcados pela referenciação caracterizam-se
articulados de forma que garanta uma relação lógica
pela construção de referentes em um texto, os quais
entre as ideias, fazendo com que o texto seja inteli-
gível e faça sentido em determinado contexto. A res- se relacionam com as ideias defendidas no texto. Esse
peito disso, temos a coerência textual, que está ligada processo é marcado por vocábulos gramaticais e pode
diretamente à significação do texto, aos sentidos que ser reconhecido pelo uso de algumas classes de pala-
ele produz para o leitor. vras, das quais falaremos a seguir.
Antes, porém, faz-se mister reconhecer os proces-
COESÃO COERÊNCIA sos referenciais que envolvem o uso de expressões
anafóricas e catafóricas. Conforme Cavalcante (2013),
Utiliza-se de elementos su- Subjacente ao texto, enfa-
“as expressões que retomam referentes já apresentados
perficiais, dando-se ênfase tiza-se o conteúdo e a pro-
no texto por outras expressões são chamadas de anáfo-
na forma e na articulação dução de sentido/relação
entre as ideias lógica ras”. Vejamos o exemplo a seguir:

Podemos usar uma metáfora muito interessante O Rocky Balboa era um humilde lutador de bairro, que
quando se trata de compreender os processos de coe- vivia de suas discretas lutas, no início de sua carreira.
são e coerência. Segundo seu treinador Mickey, Rocky era um jovem pro-
Essa metáfora nos leva a comparar um texto com missor, mas nunca se interessou realmente em evoluir,
um prédio. Tal qual uma boa construção precisa de preferiu trabalhar para um agiota italiano chamado Tony
um bom alicerce para manter-se em pé, um texto bem Gazzo, com quem manteve uma certa amizade. Gazzo
construído depende da organização das nossas ideias, gostava de Rocky por ele ser descendente de italiano e
da forma como elas estão dispostas no texto. Isso sig- o ajudou dando US$ 500,00 para o seu treinamento, na
nifica que precisamos utilizar adequadamente os pro- primeira luta que fez com Apollo Creed.
cessos coesivos, a fim de defendermos nossas ideias
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Rocky_Balboa. Acessado em:
adequadamente. 30/09/2020. Adaptado.
Por isso, neste capítulo, iremos apresentar as prin-
cipais formas de marcação, em um texto, de processos
que buscam organizar as ideias em um texto, princi- A partir da leitura, podemos perceber que todos
palmente, os processos de coesão que, como dissemos, os termos destacados fazem referência a um mesmo
apresentam um apelo mais forte às formas linguísti- referente: Rocky Balboa. O processo de referenciação
cas que os processos envolvendo a coerência. utilizado foi o uso de anáforas que assumem variadas
Antes, porém, faz-se mister indicar mais algumas formas gramaticais e buscam conectar as ideias do
características da coerência em um texto e como esse texto.
processo liga-se não apenas às formas gramaticais, Já os processos referenciais catafóricos apontam
mas, sobretudo, ao forte teor cognitivo. Tendo em
para porções textuais que ainda não foram mencio-
vista que a coerência é construída, tal qual o sentido,
coletivamente, não por acaso, o grande linguista e nadas anteriormente no texto, conforme o exemplo
estudioso da língua portuguesa, Luis Antonio Marcus- a seguir: “Os documentos requeridos para os candi-
chi (2007) afirmou que a coerência é “algo dinâmico datos são estes: Identidade, CPF, Título de eleitor e
22 que se encontra mais na mente que no texto”. reservista”
Dica Não é possível saber qual dos homens estava
acompanhado.
Em provas de concursos e seleções, ainda se
Por fim, destacamos que as classes de palavras
encontra a terminologia “expressões referen-
relacionadas neste capítulo com os processos de coe-
ciais catafóricas”, remetendo ao uso já indicado
são não podem ser vistas apenas sob a ótica descriti-
no material. No entanto, é importante salientar
va-normativa, amplamente estudada nas gramáticas
que, para linguistas e estudiosos, as anáforas
escolares. O interesse das principais bancas de con-
são os processos referenciais que recuperam e/
cursos públicos é avaliar a capacidade interpreta-
ou apontam para porções textuais.
tiva e racional dos candidatos, dessa feita, a análise
Uso de Pronomes ou Pronominalização de processos coesivos visa analisar a capacidade do
candidato de reconhecer a que e qual elemento está
Utilizar pronomes para manter a coesão de um construindo as referências textuais.
texto é essencial, evitando-se repetições desnecessá-
rias que tornam o texto cansativo para o leitor. Como Uso de Numerais
a classe de pronomes é vasta, vamos enfatizar neste
estudo os principais pronomes utilizados em recursos Conforme mencionamos anteriormente, o uso de
textuais para manter a coesão. categorias gramaticais concorre para a progressão
A pronominalização é a base de recursos anafó- textual; uma das classes gramaticais que auxilia esse
ricos que recuperam porções textuais ou ainda um processo é o uso de numerais.
nome específico a que o autor faz referência no texto. Neste subtópico, iremos focar no valor coesivo que
Vejamos dois exemplos: essa classe promove, auxiliando na ligação de ideias
em um texto. Dessa forma, as expressões quantitati-
O primeiro debate entre Donald Trump e Joe Biden vas, em algumas circunstâncias, retomam dados ante-
foi quente, com diversas interrupções e acusações riores numa relação de coesão.
pesadas. […] O primeiro ponto discutido foi a indica- Ex.: Foram deixados dois avisos sobre a mesa: o
ção de Trump da juíza conservadora Amy Barrett para primeiro era para os professores, o segundo para os
a Suprema Corte, depois da morte de Ruth Bader Gins-
alunos.
burg. O presidente defendeu que tem esse direito, pois
os republicanos têm maioria no Senado [Casa que ratifi- As formas destacadas são numerais ordinais que
ca essa escolha] e criticou os democratas, dizendo “que recuperam informação no texto, evitando a repetição
eles ainda não aceitaram que perderam a eleição”. […]. de termos e auxiliando no desenvolvimento textual.
O segundo ponto discutido foi a covid-19. Os EUA
são o país mais atingido pela pandemia - são 7 milhões Uso de Advérbios
de casos e mais de 200 mil mortos. O âncora Chris Wal-
lace perguntou aos dois o que eles fariam até que uma Muitos advérbios auxiliam no processo de recupe-
vacina aparecesse. Biden atacou o republicano dizendo ração e instauração de ideias no texto, auxiliando o
que Trump “não tem um plano para essa tragédia”. Já processo de coesão. As formas adverbias que marcam
Trump começou sua resposta atacando a China - “deve-
tempo e espaço podem também ser denominadas de
riam ter fechado suas fronteiras no começo” -, colocou
em dúvida as estatísticas da Rússia e da própria China marcadores dêiticos, caso dos seguintes elementos:
e, com pouca modéstia, disse que fez um “excelente tra- Hoje, aqui, acolá, amanhã, ontem...
balho” nesse momento dos EUA. Perceba que esses advérbios só podem ser associa-

LÍNGUA PORTUGUESA/INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS


dos a um referente se forem instaurados no discurso,
Fonte: https://br.noticias.yahoo.com/eleicoes-eua-
debate-025314998.html. Acessado em: 30/09/2020. Adaptado. isto é, se mantiverem associação com as pessoas que
produzem as falas. Assim, uma pessoa que lê “hoje
Após a leitura do texto, é possível notar que a recu- não haverá aula” em um cartaz na porta de uma sala
peração da informação apresentada é feita a partir de compreenderá que a marcação temporal refere-se
muitos processos de coesão, porém, o uso dos prono- ao momento em que a leitura foi realizada. Por isso,
mes destacados recupera o assunto informado e ajuda esses elementos são conhecidos como dêiticos.
o leitor a construir seu posicionamento. É importante Independentemente de como são chamados, esses
buscar sempre o elemento a que o pronome faz refe- elementos colaboram para a ligação de ideias no tex-
rência; por exemplo, o primeiro pronome pessoal to, auxiliando também a construção da coesão textual.
destacado no texto refere-se ao termo “democratas”,
já o segundo, faz referência aos presidenciáveis que Uso de Nominalização
participavam do debate. Nota-se, com isso, que esses
pronomes apontam para uma parcela objetiva do tex-
As expressões que retomam ideias e nomes, já
to, diferente do pronome “essa”, associado ao subs-
apresentados no texto, mediante outras formas de
tantivo “tragédia”, que recupera uma parcela textual
expressão, podem ser analisadas como processos
maior, fazendo referência ao momento de pandemia
pelo qual o mundo passa. nominalizadores, incluindo substantivos, adjetivos e
O uso de pronomes pode ser um aliado na constru- outras classes nominais.
ção da coesão, porém, o uso inadequado pode gerar Essas expressões recuperam informações median-
ambiguidades, ocasionando o efeito oposto e prejudi- te novos nomes inseridos no texto, ou ainda, com o
cando a coesão. Ex.: Encontrei Matheus, Pedro e sua uso de pronomes, conforme vimos anteriormente.
mulher. Vejamos um exemplo: 23
Conforme Antunes (2005, p. 118), a elipse como
Antonio Carlos Belchior, mais conhecido como Belchior
recurso coesivo “corresponde à estratégia de se omitir
foi um cantor, compositor, músico, produtor, artista plásti-
um termo, uma expressão ou até mesmo uma sequên-
co e professor brasileiro. Um dos membros do chamado cia maior (uma frase inteira, por exemplo) já introdu-
Pessoal do Ceará, que inclui Fagner, Ednardo, Amelinha e zidos anteriormente em outro segmento do texto, mas
outros. Bel foi um dos primeiros cantores de MPB do nor- recuperável por marcas do próprio contexto verbal”.
deste brasileiro a fazer sucesso internacional, em meados Vejamos como ocorre, a partir do segmento abaixo:
da década de 1970.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Belchior. Acessado em: “O Brasil evoluiu bastante
30/09/2020. Adaptado. desde o início do século XXI.
O país proporcionou a inclu-
Todas as marcações em negrito fazem referência são social de muitas pessoas.
Sem Elipse
ao nome inicial Antônio Carlos Belchior; os termos A nação obteve notoriedade
que se referem a esse nome inicial são expressões internacional por causa disso.
nominalizadoras que servem para ligar ideias e cons- A pátria, porém, ainda enfren-
truir o texto. ta certas adversidades...”
“O Brasil evoluiu bastante des-
Uso de Adjetivos de o início do século XXI e pro-
porcionou a inclusão social de
Os adjetivos também são considerados expres- muitas pessoas, por causa disso Com Elipse
sões nominalizadoras que fazem referência a uma obteve notoriedade internacio-
porção textual ou a uma ideia referida no texto. No nal, porém ainda enfrenta certas
adversidades...”
exemplo acima, a oração “Belchior foi um cantor,
compositor, músico, produtor, artista plástico
COESÃO SEQUENCIAL
e professor” apresenta seis nomes que funcionam
como adjetivos de Belchior e, ao mesmo tempo, acres- A coesão sequencial é responsável por organizar a
centam informações sobre essa personalidade, referi- progressão temática do texto, isto é, garantir a manu-
da anteriormente. tenção do tema tratado pelo texto de maneira a pro-
É importante recordar que não podemos identifi- mover a evolução do debate assumido pelo autor.
car uma classe de palavra sem avaliar o contexto em Essa coesão pode ser garantida, em um texto, a
que ela está inserida. No exemplo mencionado, as partir de locuções que marcam tempo, conjunções,
desinências e modos verbais. Neste material, iremos
palavras cantor, compositor, músico, produtor, artis-
nos deter, sobretudo, aos processos de conjunções que
ta, professor são substantivos que funcionam como são utilizadas para garantir a progressão textual.
adjetivos e colaboram na construção textual.
Conjunções Coordenativas
Uso de Verbos Vicários
As conjunções coordenativas são aquelas que
O vocábulo vicário é oriundo do latim vicarius e ligam orações coordenadas, ou seja, orações de valor
significa “fazer as vezes”; assim, os verbos vicários semântico independente. Na construção textual, elas
são verbos usados em substituição de outros que já são importantes, pois, com seus valores, adicionam
informações relevantes ao texto.
foram muito utilizados no texto.
Exemplos de conjunções coordenativas atuando
Ex.: A disputa aconteceu, mas não foi como nós na coesão:
esperávamos.
O verbo “acontecer” foi substituído na segunda
oração pelo verbo “foi”. Não apenas conversava com os de-
ADITIVA mais alunos como também atrapa-
lhava o professor
ALGUNS VERBOS VICÁRIOS IMPORTANTES
Eram ideias interessantes, porém
ADVERSATIVA
Ser: “Ele trabalha, porém não é tanto assim” ninguém concordou com elas
Fazer: “Poderíamos concordar plenamente, mas não o
Superou o estigma que pregava “ou
fizemos”
ALTERNATIVAS estuda, ou trabalha” e conseguiu ser
Aceitar: “Se ele não acatar a promoção não aceita por
aprovada
falta de interesse”
Foi: “Se desistiu da vaga, foi por motivos pessoais” Ao final, faça os exercícios, pois é uma
EXPLICATIVA
forma de praticar o que aprendeu
Uso de Elipse O candidato não cumpriu sua pro-
CONCLUSIVA messa. Ficamos, portanto, desapon-
A elipse é uma forma de omissão de uma informa- tados com ele
ção já mencionada no texto. Geralmente, estudamos
a elipse mais detalhadamente na seção de figuras de Perceba que as ideias ligadas pelas conjunções
precisam manter uma relação contextual, estabeleci-
linguagem de uma gramática. Neste material, iremos
da pela coerência e demonstrada pela coesão. Por isso,
nos deter a maiores aspectos da elipse também nes- orações como esta: “Não gosto de festas de aniversá-
sa seção. Aqui é importante salientar as propriedades rio, mas não vou à sua” estão equivocadas, pois as
recategorizadoras e referenciais da elipse, com o pro- ideias ligadas não estabelecem uma relação de adver-
24 pósito de manter a coesão textual. sidade, como demonstra a conjunção “mas”.
Conjunções Subordinativas COESÃO RECORRENCIAL

Tais quais as conjunções coordenativas, as subor- Uso de Repetições


dinativas estabelecem uma ligação entre as ideias
apresentadas num texto, porém, diferentemente As recorrências de repetições em textos são comu-
daquelas, estas ligam ideias apresentadas em orações mente recusadas pelos mestres da língua portuguesa.
subordinadas, ou seja, orações que precisam de outra Sobretudo, quando o assunto é redação, muitos pro-
para terem o sentido apreendido. fessores recomendam em uníssono: evite repetir pala-
Exemplos de conjunções subordinativas atuando vras e expressões!
na coesão: No entanto, a repetição é um recurso coesivo
essencial para manter a progressão temática do texto,
isto é, para que o tema debatido no texto não seja per-
Como não havia estudado sufi- dido, levando o escritor a fugir da temática.
CAUSAL
ciente, resolvi não fazer essa prova
Embora também não recomendemos as repetições
Falaram tão mal do filme que ele exageradas no texto, sabemos valorizar seu uso ade-
CONSECUTIVA
nem entrou em cartaz quado em um texto; por isso, apresentamos, a seguir,
COMPARATIVA Trabalhou como um escravo alguns usos comuns dessa estratégia coesiva.
Conforme o Ministro da Eco-
CONFORMATIVA nomia, os concursos não irão
CONTEXTOS DE USO ADEQUADO DE REPETIÇÕES
acabar
Ainda que vivamos um período O candidato foi encontra-
CONCESSIVA de poucos concursos, não pode- do com duzentos milhões
Marcar ênfase
mos desanimar de reais na mala, duzen-
tos milhões!
Se estudarmos, conseguiremos
CONDICIONAL
ser aprovados! Marcar contraste Existem Políticos e políticos
À proporção que aumentava seus “Agora que sentei na minha
PROPORCIONAL horários de estudo, mais forte o cadeira de madeira, junto
candidato se tornava à minha mesa de madeira,
Estudava sempre com afinco, a colocada em cima deste
FINAL
fim de ser aprovado assoalho de madeira, olho
Marcar a continuidade
Quando o edital for publicado, já minhas estantes de madei-
TEMPORAL temática
estarei adiantado nos estudos ra e procuro um livro feito
de polpa de madeira para
escrever um artigo contra
o desmatamento florestal”
Importante! Millôr Fernandes
Não confundir:
Afim de – Relativo à afinidade, semelhança: Uso de Paráfrase
“Física e Química são disciplinas afins”.
A paráfrase é um recurso de reiteração que pro-
A fim de – Relativo a ter finalidade, ter como obje-

LÍNGUA PORTUGUESA/INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS


porciona maior esclarecimento sobre o assunto trata-
tivo, com desejo de: “Estou a fim de comer pastel”.
do no texto. A paráfrase é utilizada para voltar a falar
sobre algo utilizando-se de outras palavras. Confor-
Conjunções Integrantes me Antunes (2005, p. 63), “alguma coisa é dita outra
vez, em outro ponto do texto, embora com palavras
As conjunções integrantes fazem parte das orações diferentes”.
subordinadas, na realidade, elas apenas integram, Vejamos o seguinte exemplo:
ligam uma oração principal a outra, subordinada.
Como podemos notar, o papel dessas conjunções é Ceará goleia Fortaleza no Fortaleza é goleado pelo
essencialmente coesivo, tendo em vista que elas são Castelão. Ceará no Castelão.
“peças” que unem as orações. Existem apenas dois
tipos de conjunções integrantes: que e se. Os textos acima poderiam ser manchetes de jornais
da capital cearense. A forma como o texto se apresen-
ta indica que a ênfase dada ao nome dos times, em
Quando é possível substituir
Quero que a prova esteja posições diferentes, cumpre um papel importante na
o que pelo pronome isso, es-
fácil. progressão temática do texto.
tamos diante de uma conjun-
Quero. O quê? Isso Além dessa função, a paráfrase pode ser marcada
ção integrante
pelo uso de expressões textuais bem características,
Sempre haverá conjunção como: em outras palavras, em outros termos, isto é,
Perguntei se ele estava
integrante em orações subs- quer dizer, em resumo, em suma, em síntese etc. Essas
em casa.
tantivas e, consequentemen-
Perguntei. O quê? Isso expressões indicam que algo foi dito e passará a ser
te, em períodos compostos
ressignificado, garantindo a informatividade do texto. 25
Uso de Paralelismo CONOTAÇÃO

As ideias similares devem fazer a correspondência O sentido conotativo compreende o significado


entre si; a essa organização de ideias no texto, dá-se o figurado e depende do contexto em que está inserido.
nome de paralelismo. Quando as construções de frases A conotação põe em evidência os recursos estilísticos
e orações são semelhantes, ocorre o paralelismo sin- dos quais a língua dispõe para expressar diferen-
tático. Quando há sequência de expressões simétricas tes sentidos ao texto de maneira subjetiva, afetiva e
no plano das ideias e coerência entre as informações, poética. A conotação tem como finalidade dar ênfase
ocorre o paralelismo semântico ou paralelismo de à expressividade da mensagem de maneira que ela
sentido.
possa provocar sentimentos ou diferentes sensações
no leitor. Por esse motivo, é muito utilizada em poe-
ESTRUTURAS QUE SEMPRE DEVEM SER USADAS sias, conversas cotidianas, letras de músicas, anúncios
JUNTAS publicitários e outros.
Não só..., mas também; não apenas..., mas ainda; não Ex.: “Amor é fogo que arde sem se ver”.
tanto...quanto; ora...ora; seja...seja etc. Você mora no meu coração.

Além disso, é preciso respeitar a estrutura sintáti- O SIGNIFICADO DAS PALAVRAS


ca a qual a frase está inserida; vejamos um exemplo
em que houve quebra de paralelismo: Quando escolhemos determinadas palavras ou
“É necessário estudar e que vocês se ajudem” expressões dentro de um conjunto de possibilidades
— Errado. de uso, estamos levando em conta o contexto que
“É necessário que vocês se ajudem e que estudem” influencia e permite o estabelecimento de diferentes
— Correto.
relações de sentido. Essas relações podem se dar por
Devemos manter a organização das orações, pois
meio de: sinonímia, antonímia, homonímia, paroní-
não podemos coordenar orações reduzidas com ora-
mia, polissemia, hiponímia e hiperonímia.
ções desenvolvidas, é preciso manter o paralelismo
e deixá-las ou somente desenvolvida ou somente
reduzidas.
No tocante ao paralelismo semântico, a ideia é
Importante!
a mesma, porém deixamos de analisar os pares no Léxico: Conjunto de todas as palavras e expres-
âmbito sintático e passamos ao plano das ideias. Veja- sões de um idioma.
mos o seguinte exemplo: Vocabulário: Conjunto de palavras e expressões
“Por um lado, os manifestantes agiram corre-
que cada falante seleciona do léxico para se
tamente, por outro podem não ter agido errado”
— Incorreto.
comunicar.
“Por um lado, os manifestantes agiram correta-
mente, por outro podem ter causado prejuízo à popu- Sinonímia
lação” — Correto.
“Encontrei duas pessoas conhecidas na rua: uma São palavras ou expressões que, empregadas em
foi sua irmã e a outra estava bem” — Incorreto.
um determinado contexto, têm significados seme-
“Encontrei duas pessoas conhecidas na rua: uma
lhantes. É importante entender que a identidade dos
foi sua irmã e a outra foi minha prima” — Correto.
sinônimos é ocasional, ou seja, em alguns contextos
uma palavra pode ser empregada no lugar de outra,
o que pode não acontecer em outras situações. O
uso das palavras “chamar”, “clamar” e “bradar”, por
SIGNIFICAÇÃO CONTEXTUAL DE exemplo, pode ocorrer de maneira equivocada se uti-
PALAVRAS E EXPRESSÕES lizadas como sinônimos, uma vez que a intensidade
de suas significações é diferente.
DENOTAÇÃO O emprego dos sinônimos é um importante recur-
so para a coesão textual, uma vez que essa estratégia
O sentido denotativo da linguagem compreende
revela, além do domínio do vocabulário do falante, a
o significado literal da palavra independente do seu
capacidade que ele tem de realizar retomadas coesi-
contexto de uso. Preocupa-se com o significado mais
vas, o que contribuiu para melhor fluidez na leitura
objetivo e literal associado ao significado que aparece
nos dicionários. A denotação tem como finalidade dar do texto.
ênfase à informação que se quer passar para o recep-
tor de forma mais objetiva, imparcial e prática. Por Antonímia
isso, é muito utilizada em textos informativos, como
notícias, reportagens, jornais, artigos, manuais didá- São palavras ou expressões que, empregadas em
ticos, entre outros. um determinado contexto, têm significados opostos.
Ex.: O fogo se alastrou por todo o prédio. (fogo: As relações de antonímia podem ser estabelecidas em
chamas) gradações (grande/pequeno; velho/jovem); reciproci-
O coração é um músculo que bombeia sangue para dade (comprar/vender) ou complementaridade (ele é
26 o corpo. (coração: parte do corpo). casado/ele é solteiro). Vejamos o exemplo a seguir:
estremar (demarcar) extremar (exaltar, sublimar)
incerto (não certo, impreciso) inserto (inserido, introduzido)
incipiente (principiante) insipiente (ignorante)
laço (nó) lasso (frouxo)
ruço (pardacento, grisalho) russo (natural da Rússia)
tacha (prego pequeno) taxa (imposto, tributo)
tachar (atribuir defeito a) taxar (fixar taxa)

Fonte: https://www.soportugues.com.br/secoes/seman/seman6.
php. Acessado em: 17/10/2020.

Parônimos

Parônimos são palavras que apresentam sentido


diferente e forma semelhante, conforme demonstra-
Fonte: https://bit.ly/3kETkpl. Acesso em: 16/10/2020.
mos nos exemplos a seguir:

A relação de sentido estabelecida na tirinha é z Absorver/absolver


construída a partir dos sentidos opostos das palavras
“prende” e “solta”, marcando o uso de antônimos, nes- „ Tentaremos absorver toda esta água com
se contexto. esponjas. (sorver)
„ Após confissão, o padre absolveu todos os fiéis
Homonímia de seus pecados (inocentar).

Homônimos são palavras que têm a mesma pro- z Aferir/auferir


núncia ou grafia, porém apresentam significados dife-
rentes. É importante estar atento a essas palavras e a „ Realizaremos uma prova para aferir seus
seus dois significados. A seguir, listamos alguns homô- conhecimentos (avaliar, cotejar).
nimos importantes: „ O empresário consegue sempre auferir lucros
em seus investimentos (obter).
acender (colocar fogo) ascender (subir)
acento (sinal gráfico) assento (local onde se senta) z Cavaleiro/cavalheiro
acerto (ato de acertar) asserto (afirmação)
apreçar (ajustar o preço) apressar (tornar rápido) „ Todos os cavaleiros que integravam a cavala-
bucheiro (tripeiro) buxeiro (pequeno arbusto) ria do rei participaram na batalha (homem que
bucho (estômago) buxo (arbusto) anda de cavalo).
caçar (perseguir animais) cassar (tornar sem efeito) „ Meu marido é um verdadeiro cavalheiro, abre
cegar (deixar cego) segar (cortar, ceifar) sempre as portas para eu passar (homem edu-
sela (forma do verbo selar; cado e cortês).
cela (pequeno quarto)
arreio)
censo (recenseamento) senso (entendimento, juízo) z Cumprimento/comprimento

LÍNGUA PORTUGUESA/INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS


céptico (descrente) séptico (que causa infecção)
cerração (nevoeiro) serração (ato de serrar)
„ O comprimento do tecido que eu comprei é de
3,50 metros (tamanho, grandeza).
cerrar (fechar) serrar (cortar)
„ Dê meus cumprimentos a seu avô (saudação).
cervo (veado) servo (criado)
chá (bebida) xá (antigo soberano do Irã)
z Delatar/dilatar
cheque (ordem de xeque (lance no jogo de
pagamento) xadrez)
„ Um dos alunos da turma delatou o colega que
círio (vela) sírio (natural da Síria)
chutou a porta e partiu o vidro (denunciar).
cito (forma do verbo citar) sito (situado)
„ Comendo tanto assim, você vai acabar dilatan-
concertar (ajustar, combinar) consertar (reparar, corrigir) do seu estômago (alargar, estender).
concerto (sessão musical) conserto (reparo)
coser (costurar) cozer (cozinhar) z Dirigente/diligente
exotérico (que se expõe em
esotérico (secreto)
público)
„ O dirigente da empresa não quis prestar decla-
espectador (aquele que expectador (aquele que tem rações sobre o funcionamento da mesma (pes-
assiste) esperança, que espera)
soa que dirige, gere).
esperto (perspicaz) experto (experiente, perito)
„ Minha funcionária é diligente na realização de
espiar (observar) expiar (pagar pena) suas funções (expedito, aplicado).
espirar (soprar, exalar) expirar (terminar)
estático (imóvel) extático (admirado) z Discriminar/descriminar
esterno (osso do peito) externo (exterior)
extrato (o que se extrai de „ Ela se sentiu discriminada por não poder
estrato (camada)
algo) entrar naquele clube (diferenciar, segregar). 27
„ Em muitos países se discute sobre descrimi-
nar o uso de algumas drogas (descriminalizar, Gráfico de Exemplo
900
inocentar). 800
700
Fonte: https://www.normaculta.com.br/palavras-paronimas/. 600
Acessado em 17/10/2020. 500
400
Polissemia (Plurissignificação) 300
200
100
Multiplicidade de sentidos encontradas em algu- 0
mas palavras, dependendo do contexto. As palavras Maçãs Laranjas Bananas
polissêmicas guardam uma relação de sentido entre 2013 2014 2015
si, diferenciando-as das palavras homônimas. A polis-
semia é encontrada no exemplo a seguir:
Fonte: https://support.microsoft.com/pt-br/office/adicionar-uma-
legenda-a-um-gráfico-eccd4b70-30ec-429d-8600-6305e08862c7.

Infográficos

Os infográficos são uma forma moderna de apre-


sentar o sentido. Essa palavra une os termos info
(informação) e gráfico (desenho, imagem, representa-
Fonte: https://bit.ly/3jynvgs. Acessado em: 17/10/2020. ção visual), ou seja, um desenho ou imagem que, com
o apoio de um texto, informa sobre um assunto que
Hipônimo e Hiperônimo não seria muito bem compreendido somente com um
texto.
Para interpretar os dados informativos em um
Relação estabelecida entre termos que guardam
infográfico, é preciso boa leitura e esta requer atenção
relação de sentido entre si e mantém uma ordem gra-
aos detalhes. As representações neste formato aliam
dativa. Exemplo: Hiperônimo – veículo; Hipônimos – ao texto uma série de atrativos visuais, cabendo ao
carro, automóvel, moto, bicicleta, ônibus... leitor ser extremamente observador. Ter atenção ao
título, ao tema e a fonte das informações é vital para
EFEITOS DE SENTIDO DECORRENTES DO uma boa análise e interpretação.
USO DE RECURSOS VERBAIS E NÃO VERBAIS
EM GÊNEROS DIFERENTES: GRÁFICOS E
INFOGRÁFICOS

A representação de sentido por meio de tabelas


e gráficos está sempre presente em nosso cotidiano,
principalmente nos meios de comunicação, ainda
mais com as redes sociais. Isso está ligado à facilidade
com que podemos analisar e interpretar as informa-
ções que estão organizadas de forma clara e objetiva
e, além disso, ao fato de não exigir o uso de cálculos
complexos para a sua análise. A análise de gráficos
auxilia na resolução de questões não apenas de portu-
guês, assim, requer atenção.

Gráfico

Componentes de um gráfico:

z Título: na maioria dos casos possuem um título


que indica a que informação ele se refere;
z Fonte: a maioria dos gráficos contém uma fonte,
ou seja, de onde as informações foram retiradas,
com o ano de publicação;
z Números: é deles que precisamos para compa-
rar as informações dadas pelos gráficos. Usados
para representar quantidade ou tempo (mês, ano,
período);
z Legendas: ajudam na leitura das informações
apresentadas. Na maioria dos casos, o uso de cores Fonte: https://mundoeducacao.uol.com.br/doencas/covid-19.htm.
28 destaca diferentes informações. Acessado em: 01/03/2021.
REFERÊNCIAS z Orações reduzidas: de gerúndio e de infinitivo.

ANTUNES, I. Lutar com palavras: coesão e coe- Período Composto por Coordenação
rência. São Paulo: Parábola, 2005.
CAVALCANTE, M. M. Os sentidos do texto. São As orações são sintaticamente independentes. Isso
Paulo: Contexto, 2013. significa que uma não possui relação sintática com
KLEIMAN, A. Texto e leitor: aspectos cognitivos verbos, nomes ou pronomes das demais orações no
da leitura. 16. ed. Campinas: Pontes, 2016. período.
KOCH, I. G. V.; ELIAS, Vanda Maria. Ler e com- Ex.: “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.”
preender: os sentidos do texto. 3. ed . São Paulo: (Fernando Pessoa)
Contexto, 2015. Oração coordenada 1: Deus quer
SACCONI, L. A. Nossa Gramática Completa Sac- Oração coordenada 2: o homem sonha
coni – Teoria e Prática. 30ª. ed. São Paulo: Nova Oração coordenada 3: a obra nasce.
Geração, 2010. Ex.: “Subi devagarinho, colei o ouvido à porta da
SCHLITTLER, J. M. M. Recursos de Estilo em sala de Damasceno, mas nada ouvi.” (M. de Assis)
Redação Profissional. Campinas: Servanda, 2008. Oração coordenada assindética: Subi devagarinho
Oração coordenada assindética: colei o ouvido à
porta da sala de Damasceno
Oração coordenada sindética: mas nada ouvi
SINTAXE: PROCESSOS DE Conjunção adversativa: mas nada

COORDENAÇÃO E SUBORDINAÇÃO Orações Coordenadas Sindéticas

PERÍODO COMPOSTO As orações coordenadas podem aparecer ligadas


às outras através de um conectivo (elo), ou seja, atra-
Observe os exemplos a seguir: vés de um síndeto, de uma conjunção, por isso o nome
A apostila de Português está completa. sindética. Veremos agora cada uma delas:
Um verbo: Uma oração = período simples
Português e Matemática são disciplinas essen- z Aditivas: exprimem ideia de sucessibilidade ou
ciais para ser aprovado em concursos. simultaneidade.
Dois verbos: duas orações = período composto Conjunções constitutivas: e, nem, mas, mas tam-
O período composto é formado por duas ou mais bém, mas ainda, bem como, como também, se-
orações. Num parágrafo, podem aparecer misturado não também, que (= e).
períodos simples e período compostos. Ex.: Pedro casou-se e teve quatro filhos.
Os convidados não compareceram nem explica-
ram o motivo;
PERÍODO SIMPLES PERÍODO COMPOSTO
z Adversativas: exprimem ideia de oposição, con-
O povo levantou-se cedo traste ou ressalva em relação ao fato anterior.
Era dia de eleição Conjunções constitutivas: mas, porém, todavia,
para evitar aglomeração
contudo, entretanto, no entanto, senão, não obs-
Para não esquecer: tante, ao passo que, apesar disso, em todo caso.
Período simples é aquele formado por uma só Ex.: Ele é rico, mas não paga as dívidas.
oração. “A morte é dura, porém longe da pátria é dupla a

LÍNGUA PORTUGUESA/INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS


Período composto é aquele formado por duas ou morte.” (Laurindo Rabelo);
mais orações. z Alternativas: exprimem fatos que se alternam ou
Classifica-se nas seguintes categorias: se excluem.
Conjunções constitutivas: (ou), (ou ... ou), (ora ...
z Por coordenação: orações coordenadas ora), (que ... quer), (seja ... seja), (já ... já), (talvez
assindéticas; ... talvez).
Ex.: Ora responde, ora fica calado.
„ Orações coordenadas sindéticas: aditivas, adver- Você quer suco de laranja ou refrigerante?
sativas, alternativas, conclusivas, explicativas. z Conclusivas: exprimem uma conclusão lógica
sobre um raciocínio.
z Por subordinação: Conjunções constitutivas: logo, portanto, por con-
seguinte, pois isso, pois (o “pois” sem ser no início
„ Orações subordinadas substantivas: subjeti- de frase).
vas, objetivas diretas, objetivas indiretas, com- Ex.: Estou recuperada, portanto viajarei próxima
pletivas nominais, predicativas, apositivas; semana.
„ Orações subordinadas adjetivas: restritivas, “Era domingo; eu nada tinha, pois, a fazer.” (Paulo
explicativas; Mendes Campos);
„ Orações subordinadas adverbiais: causais, z Explicativas: justificam uma opinião ou ordem
comparativas, concessivas, condicionais, con- expressa. Conjunções constitutivas: que, porque,
formativas, consecutivas, finais, proporcionais, porquanto, pois.
temporais. Ex.: Vamos dormir, que é tarde. (o “que” equivale
a “pois”)
z Por coordenação e subordinação: orações for- Vamos almoçar de novo porque ainda estamos
madas por períodos mistos; com fome. 29
PERÍODO COMPOSTO POR SUBORDINAÇÃO Ex.: Só quero uma coisa: a sua volta imediata.
(aposto)
Formado por orações sintaticamente dependentes, Só quero uma coisa: que você volte imediata-
considerando a função sintática em relação a um ver- mente. (aposto oracional) (or. sub. aposi.);
bo, nome ou pronome de outra oração.
Tipos de orações subordinadas: Orações Subordinadas Adjetivas

z Substantivas; Desempenham função de adjetivo (adjunto adno-


z Adjetivas; minal ou, mais raramente, aposto explicativo). São
z Adverbiais. introduzidas por pronomes relativos (que, o qual, a
qual, os quais, as quais, cujo, cuja, cujos, cujas etc.)
Orações Subordinadas Substantivas As orações subordinadas adjetivas classificam-se em:
explicativas e restritivas.
São classificadas nas seguintes categorias:
z Orações subordinadas adjetivas explicativas:
z Orações subordinadas substantivas conectivas: não limitam o termo antecedente, e sim acrescen-
são introduzidas pelas conjunções subordinativas tam uma explicação sobre o termo antecedente.
integrantes que e se. São consideradas termo acessório no período,
Ex.: Dizem que haverá novos aumentos de podendo ser suprimidas. Sempre aparecem isola-
impostos. das por vírgulas.
Não sei se poderei sair hoje à noite; Ex.: Minha mãe, que é apaixonada por bichos,
z Orações subordinadas substantivas justapos- cria trinta gatos;
tas: introduzidas por advérbios ou pronomes z Orações subordinadas adjetivas restritivas:
interrogativos (onde, como, quando, quanto, especificam ou limitam a significação do termo
quem etc.); antecedente, acrescentando-lhe um elemento
z Ex.: Ignora-se onde eles esconderam as joias indispensável ao sentido. Não são isoladas por
roubadas. vírgulas.
Não sei quem lhe disse tamanha mentira;
Ex.: A doença que surgiu recentemente ainda é
z Orações subordinadas substantivas reduzidas:
incurável;
não são introduzidas por conectivo, e o verbo fica
no infinitivo.
Ex.: Ele afirmou desconhecer estas regras; Dica
z Orações subordinadas substantivas subjetivas: Como diferenciar as orações subordinadas adje-
exercem a função de sujeito. O verbo da oração
tivas restritivas das orações subordinadas adje-
principal deve vir na voz ativa, passiva analítica
tivas explicativas?
ou sintética. Em 3ª pessoa do singular, sem se refe-
Ele visitará o irmão que mora em Recife.
rir a nenhum termo na oração.
Ex.: Foi importante o seu regresso. (sujeito) (restritiva, pois ele tem mais de um irmão e vai
Foi importante que você regressasse. (sujeito ora- visitar apenas o que mora em Recife)
cional) (or. sub. subst. subje.); Ele visitará o irmão, que mora em Recife.
z Orações subordinadas substantivas objetivas (explicativa, pois ele tem apenas um irmão que
diretas: exercem a função de objeto direto de um mora em Recife)
verbo transitivo direto ou transitivo direto e indi-
reto da oração principal. Orações Subordinadas Adverbiais
Ex.: Desejo o seu regresso. (OD)
Desejo que você regresse. (OD oracional) (or. sub. Exprimem uma circunstância relativa a um fato
subst. obj. dir.); expresso em outra oração. Têm função de adjunto
z Orações subordinadas substantivas completi- adverbial. São introduzidas por conjunções subor-
vas nominais: exercem a função de complemento dinativas (exceto as integrantes) e se enquadram nos
nominal de um substantivo, adjetivo ou advérbio seguintes grupos:
da oração principal.
Ex.: Tenho necessidade de seu apoio. (comple- � Orações subordinadas adverbiais causais: são
mento nominal) introduzidas por: como, já que, uma vez que, por-
Tenho necessidade de que você me apoie. (com- que, visto que etc.
plemento nominal oracional) (or. sub. subst. com- Ex.: Caminhamos o restante do caminho a pé por-
pl. nom.); que ficamos sem gasolina;
z Orações subordinadas substantivas predicati- � Orações subordinadas adverbiais comparati-
vas: funcionam como predicativos do sujeito da vas: são introduzidas por: como, assim como, tal
oração principal. Sempre figuram após o verbo de qual, como, mais etc.
ligação ser. Ex.: A cerveja nacional é menos concentrada (do)
Ex.: Meu desejo é a sua felicidade. (predicativo do que a importada;
sujeito) � Orações subordinadas adverbiais concessivas:
Meu desejo é que você seja feliz. (predicativo do indica certo obstáculo em relação ao fato expres-
sujeito oracional) (or. sub. subst. predic.); so na outra oração, sem, contudo, impedi-lo. São
z Orações subordinadas substantivas apositivas: introduzidas por: embora, ainda que, mesmo que,
funcionam como aposto. Geralmente vêm depois por mais que, se bem que etc.
30 de dois-pontos ou entre vírgulas. Ex.: Mesmo que chova, iremos à praia amanhã;
� Orações subordinadas adverbiais condicionais: Ex.: Quando terminou a prova, fomos ao restau-
são introduzidas por: se, caso, desde que, salvo se, rante. (desenvolvida).
contanto que, a menos que etc. O. S. Adv. Desenvolvida: começa com conjunção.
Ex.: Você terá sucesso desde que se esforce para
tal; Orações Reduzidas de Infinitivo
� Orações subordinadas adverbiais conformati-
vas: são introduzidas por: como, conforme, segun- Podem ser substantivas, adjetivas ou adverbiais.
do, consoante. Se o infinitivo for pessoal, irá flexionar normalmente.
Ex.: Ele deverá agir conforme combinamos;
� Orações subordinadas adverbiais consecutivas: z Substantivas: Ex.: É preciso trabalhar muito. (O.
são introduzidas por: que (precedido na oração S. substantiva subjetiva reduzida de infinitivo)
anterior de termos intensivos como tão, tanto, Deixe o aluno pensar. (O. S. substantiva objetiva
tamanho etc.) de sorte que, de modo que, de forma direta reduzida de infinitivo)
que, sem que. A melhor política é ser honesto. (O. S. substantiva
Ex.: A garota riu tanto, que se engasgou; predicativa reduzida de infinitivo)
“Achei as rosas mais belas do que nunca, e tão per- Este é um difícil livro de se ler. (O. S. substantiva
fumadas que me estontearam.” (Cecília Meireles); completiva nominal reduzida de infinitivo)
� Orações subordinadas adverbiais finais: indi- Temos uma missão: subir aquela escada. (O. S.
cam um objetivo a ser alcançado. São introduzidas substantiva apositiva reduzida de infinitivo);
por: para que, a fim de que, porque e que (= para z Adjetivas: Ex.: João não é homem de meter os pés
que) pelas mãos.
Ex.: O pai sempre trabalhou para que os filhos O meu manual para fazer bolos certamente vai
tivessem bom estudo; agradar a todos;
� Orações subordinadas adverbiais proporcio- z Adverbiais: Ex.: Apesar de estar machucado,
nais: são introduzidas por: à medida que, à pro- continua jogando bola.
Sem estudar, não passarão.
porção que, quanto mais, quanto menos etc.
Ele passou mal, de tanto comer doces.
Ex.: Quanto mais ouço essa música, mas a
aprecio;
Orações Reduzidas de Gerúndio
� Orações subordinadas adverbiais temporais:
são introduzidas por: quando, enquanto, logo que,
Podem ser coordenadas aditivas, substantivas apo-
depois que, assim que, sempre que, cada vez que,
sitivas, adjetivas, adverbiais.
agora que etc.
Ex.: Assim que você sair, feche a porta, por favor.
z Coordenada aditiva: Ex.: Pagou a conta, ficando
livre dos juros;
Para separar as orações de um período composto, é
z Substantiva apositiva: Ex.: Não mais se vê amigo
necessário atentar-se para dois elementos fundamen-
ajudando um ao outro. (subjetiva)
tais: os verbos (ou locuções verbais) e os conectivos
z Agora ouvimos artistas cantando no shopping.
(conjunções ou pronomes relativos). Após assinalar
(objetiva direta);
esses elementos, deve-se contar quantas orações ele z Adjetiva: Ex.: Criança pedindo esmola dói o
representa, a partir da quantidade de verbos ou locu- coração;
ções verbais. Exs.: z Adverbial: Ex.: Temendo a reação do pai, não
[“A recordação de uns simples olhos basta] – 1ª contou a verdade.
oração

LÍNGUA PORTUGUESA/INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS


[para fixar outros] – 2ª oração Orações Reduzidas de Particípio
[que os rodeiam] – 3ª oração
[e se deleitem com a imaginação deles]. – 4ª ora- Podem ser adjetivas ou adverbiais.
ção (M. de Assis)
Nesse período, a 2ª oração subordina-se ao verbo � Adjetiva: Ex.: A notícia divulgada pela mídia era
basta, pertencente à 1ª (oração principal). falsa.
A 3ª e a 4ª são orações coordenadas entre si, porém Nosso planeta, ameaçado constantemente por
ambas dependentes do pronome outros, da 2ª oração. nós mesmos, ainda resiste;
� Adverbiais: Ex.: Aceitas as condições, não have-
Orações Reduzidas ria problemas. (condicional)
Dada a notícia da herança, as brigas começaram.
z Apresentam o mesmo verbo em uma das formas (causal/temporal)
nominais (gerúndio, particípio e infinitivo); Comprada a casa, a família se mudou logo.
z As que são substantivas e adverbiais: nunca são (temporal).
iniciadas por conjunções;
z As que são adjetivas: nunca podem ser iniciadas O particípio concorda em gênero e número com os
por pronomes relativos; termos referentes.
z Podem ser reescritas (desenvolvidas) com esses Essas orações reduzidas adverbiais são bem fre-
conectivos; quentes em provas de concurso.
z Podem ser iniciadas por preposição ou locução
prepositiva. Períodos Mistos
Ex.: Terminada a prova, fomos ao restaurante.
O. S. Adv. reduzida de particípio: não começa com São períodos que apresentam estruturas oracio-
conjunção. nais de coordenação e subordinação. 31
Assim, às vezes aparecem orações coordenadas Modos
dentro de um conjunto de orações que são subordina-
das a uma oração principal. Indica a atitude da ação/do sujeito frente a uma
relação enunciada pelo verbo.
1ª oração 2ª oração 3ª oração
z Indicativo: O modo indicativo exprime atitude de
O homem entrou na que todos certeza.
e pediu
sala calassem. Ex.: Estudei muito para ser aprovado.
verbo verbo verbo z Subjuntivo: O modo subjuntivo exprime atitude
de dúvida, desejo ou possibilidade.
1ª oração: oração coordenada assindética. Ex.: Se eu estudasse, seria aprovado.
2ª oração: oração coordenada sindética aditiva em z Imperativo: O modo imperativo designa ordem,
relação à 1ª oração e principal em relação à 3ª oração. convite, conselho, súplica ou pedido.
3ª oração: coordenada substantiva objetiva direta Ex.: Estuda! Assim, serás aprovado.
em relação à 2ª oração.
Resumindo: período composto por coordenação e Tempos
subordinação.
As orações subordinadas são coordenadas entre si, O tempo designa o recorte temporal em que a ação
ligadas ou não por conjunção. verbal foi realizada. Basicamente, podemos indicar
o tempo dessa ação no passado, presente ou futuro.
z Orações subordinadas substantivas coordena- Existem, entretanto, ramificações específicas. Observe
das entre si a seguir:
Ex.: Espero que você não me culpe, que não culpe
meus pais, nem que culpe meus parentes. z Presente:
Oração principal: Espero.
Oração coordenada 1: que você não me culpe. Pode expressar não apenas um fato atual, como
Oração coordenada 2: que não culpe meus pais. também uma ação habitual. Ex.: Estudo todos os dias
Oração coordenada 3: nem que culpe meus no mesmo horário.
parentes.
Uma ação passada. Ex.: Vargas assume o cargo e
instala uma ditadura.
Uma ação futura. Ex.: Amanhã, estudo mais!
Importante! (equivalente a estudarei).
O segredo para classificar as orações é per-
ceber os conectivos (conjunções e pronomes z Passado:
relativos).
„ Pretérito perfeito: Ação realizada plenamente
no passado.
� Orações subordinadas adjetivas coordenadas Ex.: Estudei até ser aprovado.
entre si „ Pretérito imperfeito: Ação inacabada, que
Ex.: A mulher que é compreensiva, mas que é pode indicar uma ação frequentativa, vaga ou
cautelosa, não faz tudo sozinha. durativa.
Oração subordinada adjetiva 1: que é compreensiva Ex.: Estudava todos os dias.
Oração subordinada adjetiva 2: mas que é „ Pretérito mais-que-perfeito: Ação anterior à
cautelosa; outra mais antiga.
� Orações subordinadas adverbiais coordenadas Ex.: Quando notei (passado), a água já trans-
entre si bordara (ação anterior) da banheira.
Ex.: Não só quando estou presente, mas também
quando não estou, sou discriminado. z Futuro:
Oração subordinada adverbial 1: quando estou
presente
„ Futuro do presente: indica um fato que deve
Oração subordinada adverbial 2: quando não
ser realizado em um momento vindouro.
estou;
Ex.: Estudarei bastante ano que vem.
� Orações coordenadas ou subordinadas no mes-
„ Futuro do pretérito: Expressa um fato poste-
mo período
rior em relação a outro fato já passado.
Ex.: Presume-se que as penitenciárias cumpram
Ex.: Estudaria muito, se tivesse me planejado.
seu papel, no entanto a realidade não é assim.
Oração principal: Presume-se
Oração subordinada subjetiva da principal: as A partir dessas informações, podemos também
penitenciárias cumpram seu papel identificar os verbos conjugados nos tempos simples
Oração coordenada sindética adversativa da e nos tempos compostos. Os tempos verbais simples
são formados por uma única palavra, ou verbo, conju-
gado no presente, passado ou futuro.
Já os tempos compostos são formados por dois
verbos, um auxiliar e um principal; nesse caso, o ver-
EMPREGO DE TEMPOS E MODOS bo auxiliar é o único a sofrer flexões.
VERBAIS Agora, vamos conhecer as desinências modo-tem-
porais dos tempos simples e compostos, respectiva-
32 Agora, veja o que são modos e tempo verbais. mente:
Flexões Modo-Temporais — Tempos Simples

TEMPO MODO INDICATIVO MODO SUBJUNTIVO


Presente * -e (1ª conjugação) e -a (2ª e 3ª conjugações)
Pretérito perfeito -ra (3ª pessoa do plural) *
Pretérito imperfeito -va (1ª conjugação) -ia (2ª e 3ª conjugações) -sse
Pretérito mais-que-perfeito -ra *
Futuro -rá e -re -r
Futuro do pretérito -ria *

*Nem todas as formas verbais apresentam desinências modo-temporais.

Flexões Modo-Temporais — Tempos Compostos (Indicativo)

z Pretérito perfeito composto: Verbo auxiliar: Ter (presente do indicativo) + verbo principal particípio.
Ex.: Tenho estudado.
� Pretérito mais-que-perfeito composto: Verbo auxiliar: Ter (pretérito imperfeito do indicativo) + verbo prin-
cipal no particípio.
Ex.: Tinha passado.
� Futuro composto: Verbo auxiliar: Ter (futuro do indicativo) + verbo principal no particípio.
Ex.: Terei saído.
� Futuro do pretérito composto: Verbo auxiliar: Ter (futuro do pretérito simples) + verbo principal no
particípio.
Ex.: Teria estudado.

Flexões Modo-Temporais — Tempos Compostos (Subjuntivo)

� Pretérito perfeito composto: Verbo auxiliar: Ter (presente do subjuntivo) + Verbo principal particípio.
Ex.: (que eu) Tenha estudado.
� Pretérito mais-que-perfeito composto: Verbo auxiliar: Ter (pretérito imperfeito do subjuntivo) + verbo prin-
cipal no particípio.
Ex.: (se eu) Tivesse estudado
� Futuro composto: Verbo auxiliar: Ter (futuro simples do subjuntivo) + verbo principal no particípio.
Ex.: (quando eu) Tiver estudado.

Formas Nominais do Verbo e Locuções Verbais

As formas nominais do verbo são as formas no infinitivo, particípio e gerúndio que eles assumem em determi-

LÍNGUA PORTUGUESA/INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS


nados contextos. São chamadas nominais pois funcionam como substantivos, adjetivo ou advérbios.

z Gerúndio: Marcado pela terminação -ndo. Seu valor indica duração de uma ação e, por vezes, pode funcionar
como um advérbio ou um adjetivo.
Ex.: Olhando para seu povo, o presidente se compadeceu.
z Particípio: Marcado pelas terminações mais comuns -ado, -ido, podendo terminar também em -do, -to, -go,
-so, -gue. Corresponde nominalmente ao adjetivo; pode flexionar-se, em alguns casos, em número e gênero.
Ex.: A Índia foi colonizada pelos ingleses.
Quando cheguei, ela já tinha partido.
Ele tinha aberto a janela.
Ela tinha pago a conta.
z Infinitivo: Forma verbal que indica a própria ação do verbo, ou o estado, ou, ainda, o fenômeno designado.
Pode ser pessoal ou impessoal:

„ Pessoal: O infinitivo pessoal é passível de conjugação, pois está ligado às pessoas do discurso. É usado na
formação de orações reduzidas. Ex.: Comer eu. Comermos nós. É para aprenderem que ele ensina;
„ Impessoal: Não é passível de flexão. É o nome do verbo, servindo para indicar apenas a conjugação. Ex.:
Estudar - 1ª conjugação; Comer - 2ª conjugação; Partir - 3ª conjugação.

O infinitivo impessoal forma locuções verbais ou orações reduzidas.


Locuções verbais: sequência de dois ou mais verbos que funcionam como um verbo.
Ex.: Ter de + verbo principal no infinitivo: Ter de trabalhar para pagar as contas.
Haver de + verbo principal no infinitivo: Havemos de encontrar uma solução. 33
Dica Os alunos entenderam, toda aquela explicação.
(errado);
Não confunda locuções verbais com tempos � Entre um substantivo e seu complemento nominal
compostos. O particípio formador de tempo ou adjunto adnominal.
composto na voz ativa não se flexiona. Ex.: O Ex.: A manutenção, daquele professor foi exigida
homem teria realizado sua missão. pelos alunos. (errado);
� Entre locução verbal de voz passiva e agente da
passiva:
Ex.: Todos os alunos foram convidados, por aquele
PONTUAÇÃO professor para a feira. (errado);
� Entre o objeto e o predicativo do objeto:
Um tópico que gera dúvidas é a pontuação. Vere- Ex.: Considero suas aulas, interessantes. (errado)
mos a seguir as regras sobre seus usos. Considero interessantes, as suas aulas. (errado).

USO DE VÍRGULA USO DE PONTO E VÍRGULA

A vírgula é um sinal de pontuação que exerce três É empregado nos seguintes casos o sinal de ponto
funções básicas: marcar as pausas e as inflexões da e vírgula (;):
voz na leitura; enfatizar e/ou separar expressões e
orações; e esclarecer o significado da frase, afastando
� Nos contrastes, nas oposições, nas ressalvas
qualquer ambiguidade.
Ex.: Ela, quando viu, ficou feliz; ele, quando a viu,
Quando se trata de separar termos de uma mesma
ficou triste;
oração, deve-se usar a vírgula nos seguintes casos:
� No lugar das conjunções coordenativas deslocadas
� Para separar os termos de mesma função Ex.: O maratonista correu bastante; ficou, portan-
Ex.: Comprei livro, caderno, lápis, caneta; to, exausto;
z Usa-se a vírgula para separar os elementos de � No lugar do e seguido de elipse do verbo (= zeugma)
enumeração. Ex.: Na linguagem escrita é o leitor; na fala, o
Ex.: Pontes, edifícios, caminhões, árvores... tudo foi ouvinte.
arrastado pelo tsunami; Prefiro brigadeiros; minha mãe, pudim; meu pai,
� Para indicar a elipse (omissão de uma palavra que sorvete;
já apareceu na frase) do verbo � Em enumerações, portarias, sequências
Ex.: Comprei melancia na feira; ele, abacate. Ex.: São órgãos do Ministério Público Federal:
Ela prefere filmes de ficção científica; o namorado, o Procurador-Geral da República;
filmes de terror; o Colégio de Procuradores da República;
� Para separar palavras ou locuções explicativas, o Conselho Superior do Ministério Público Federal.
retificativas
Ex.: Ela completou quinze primaveras, ou seja, 15 DOIS-PONTOS
anos;
� Para separar datas e nomes de lugar Marcam uma supressão de voz em frase que ainda
Ex.: Belo Horizonte, 15 de abril de 1985; não foi concluída. Servem para:
� Para separar as conjunções coordenativas, exceto
e, nem, ou. � Introduzir uma citação (discurso direto):
Ex.: Treinou muito, portanto se saiu bem. Ex.: Assim disse Voltaire: “Devemos julgar um
homem mais pelas suas perguntas que pelas suas
A vírgula também é facultativa quando o termo respostas”;
que exprime ideia de tempo, modo e lugar não for � Introduzir um aposto explicativo, enumerativo,
uma locução adverbial, mas um advérbio. Exemplos: distributivo ou uma oração subordinada substan-
Antes vamos conversar. / Antes, vamos conversar. tiva apositiva
Geralmente almoço em casa. / Geralmente, almoço Ex.: Em nosso meio, há bons profissionais: profes-
em casa. sores, jornalistas, médicos;
Ontem choveu o esperado para o mês todo. / � Introduzir uma explicação ou enumeração após
Ontem, choveu o esperado para o mês todo.
expressões como por exemplo, isto é, ou seja, a
saber, como.
Não se Usa Vírgula nas Seguintes Situações
Ex.: Adquirimos vários saberes, como: Linguagens,
Filosofia, Ciências...;
� Entre o sujeito e o verbo
z Marcar uma pausa entre orações coordenadas
Ex.: Todos os alunos daquele professor, entende-
ram a explicação. (errado) (relação semântica de oposição, explicação/causa
Muitas coisas que quebraram meu coração, con- ou consequência)
sertaram minha visão. (errado); Ex.: Já leu muitos livros: pode-se dizer que é um
� Entre o verbo e seu complemento, ou mesmo pre- homem culto.
dicativo do sujeito: Precisamos ousar na vida: devemos fazê-lo com
Ex.: Os alunos ficaram, satisfeitos com a explica- cautela;
ção. (errado) � Marcar invocação em correspondências
Os alunos precisam de, que os professores os aju- Ex.: Prezados senhores:
34 dem. (errado) Comunico, por meio deste, que...
TRAVESSÃO Ex.: Que linda mulher!
Coitada dessa criança!
� Usado em discursos diretos, indica a mudança de � Aparece após uma interjeição:
discurso de interlocutor: Ex.: Ex.: Nossa! Isso é fantástico;
— Bom dia, Maria! � Usado para substituir vírgulas em vocativos
— Bom dia, Pedro! enfáticos:
� Serve também para colocar em relevo certas Ex.: “Fernando José! onde estava até esta hora?”
expressões, orações ou termos. Pode ser subs- � É repetido duas ou mais vezes quando se quer
tituído por vírgula, dois-pontos, parênteses ou marcar uma ênfase:
colchetes: Ex.: Inacreditável!!! Atravessou a piscina de 50
Ex.: Os professores ― amigos meus do curso cario- metros em 20 segundos!!!
ca ― vão fazer videoaulas. (aposto explicativo)
Meninos ― pediu ela ―, vão lavar as mãos, que RETICÊNCIAS
vamos jantar. (oração intercalada)
Como disse o poeta: “Só não se inventou a máqui- São usadas para:
na de fazer versos ― já havia o poeta parnasiano”.
� Assinalar interrupção do pensamento:
PARÊNTESES Ex.: ― Estou ciente de que...
― Pode dizer...
Têm função semelhante à dos travessões e das � Indicar partes suprimidas de um texto:
vírgulas no sentido que colocam em relevo certos ter- Ex.: Na hora em que entrou no quarto ... e depois
mos, expressões ou orações. desceu as escadas apressadamente. (Também pode
Ex.: Os professores (amigos meus do curso carioca) ser usado: Na hora em que entrou no quarto [...] e
vão fazer videoaulas. (aposto explicativo) depois desceu as escadas apressadamente.)
Meninos (pediu ela), vão lavar as mãos, que vamos � Para sugerir prolongamento da fala:
jantar. (oração intercalada) Ex.: ― O que vocês vão fazer nas férias?
― Ah, muitas coisas: dormir, nadar, pedalar...
PONTO-FINAL � Para indicar hesitação:
Ex.: ― Eu não a beijava porque... porque... tinha
É o sinal que denota maior pausa. Usa-se: vergonha.
� Para realçar uma palavra ou expressão, normal-
� Para indicar o fim de oração absoluta ou de mente com outras intenções:
período. Ex.: ― Ela é linda...! Você nem sabe como...!
Ex.: “Itabira é apenas uma fotografia na parede.”
Carlos Drummond de Andrade; USO DAS ASPAS
� Nas abreviaturas
Ex.: apart. ou apto. = apartamento. São usadas em citações ou em algum termo que
sec. = secretário. precisa ser destacado no texto. Podem ser substituí-
a.C. = antes de Cristo. das por itálico ou negrito, que têm a mesma função
de destaque.
Dica Usam-se nos seguintes casos:

Símbolos do sistema métrico decimal e elemen- � Antes e depois de citações:


tos químicos não vêm com ponto final: Ex.: “A vírgula é um calo no pé de todo mundo”,

LÍNGUA PORTUGUESA/INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS


Exemplos: km, m, cm, He, K, C afirma Dad Squarisi, 64;
� Para marcar estrangeirismos, neologismos, arcaís-
PONTO DE INTERROGAÇÃO mos, gírias e expressões populares ou vulgares,
conotativas:
Marca uma entonação ascendente (elevação da Ex.: O homem, “ledo” de paixão, não teve a fortuna
voz) em tom questionador. Usa-se: que desejava.
Não gosto de “pavonismos”.
� Em frase interrogativa direta: Dê um “up” no seu visual;
Ex.: O que você faria se só lhe restasse um dia? � Para realçar uma palavra ou expressão imprópria,
� Entre parênteses para indicar incerteza: às vezes com ironia ou malícia
Ex.: Eu disse a palavra peremptório (?), mas acho Ex.: Veja como ele é “educado”: cuspiu no chão.
que havia palavra melhor no contexto; Ele reagiu impulsivamente e lhe deu um “não”
� Junto com o ponto de exclamação, para denotar sonoro;
surpresa: � Para citar nomes de mídias, livros etc.
Ex.: Não conseguiu chegar ao local de prova?! (ou Ex.: Ouvi a notícia do “Jornal Nacional”.
!?);
� E interrogações retóricas: COLCHETES
Ex.: Jogaremos comida fora à toa? (Ou seja: “Claro
que não jogaremos comida fora à toa”). Representam uma variante dos parênteses, porém
têm uso mais restrito.
PONTO DE EXCLAMAÇÃO Usam-se nos seguintes casos:

� É empregado para marcar o fim de uma frase com � Para incluir num texto uma observação de nature-
entonação exclamativa: za elucidativa: 35
Ex.: É de Stanislaw Ponte Preta [pseudônimo de Ex.: a/c = aos cuidados de;
Sérgio Porto] a obra “Rosamundo e os outros”; s/ = sem;
� Para isolar o termo latino sic (que significa “assim”), � Para separar o numerador do denominador nos
a fim de indicar que, por mais estranho ou errado números fracionários, substituindo a barra da
que pareça, o texto original é assim mesmo: fração:
Ex.: “Era peior [sic] do que fazer-me esbirro aluga- Ex.: 1/3 = um terço;
do.” (Machado de Assis); � Nas datas:
� Para indicar os sons da fala, quando se estuda Ex.: 31/03/1983
Fonologia: � Nos números de telefone:
Ex.: mel: [mɛw]; bem: [bẽy]; Ex.: 225 03 50/51/52;
� Para suprimir parte de um texto (assim como � Nos endereços:
parênteses) Ex.: Rua do Limoeiro, 165/232;
Ex.: Na hora em que entrou no quarto [...] e depois � Na indicação de dois anos consecutivos:
desceu as escadas apressadamente. ou Ex.: O evento de 2012/2013 foi um sucesso;
� Para indicar fonemas, ou seja, os sons da língua:
Na hora em que entrou no quarto (...) e depois des-
Ex.: /s/.
ceu as escadas apressadamente. (caso não preferí-
vel segundo as normas da ABNT).
Embora não existam regras muito definidas sobre
a existência de espaços antes e depois da barra oblí-
ASTERISCO
qua, privilegia-se o seu uso sem espaços: plural/singu-
lar, masculino/feminino, sinônimo/antônimo.
� É colocado à direita e no canto superior de uma
palavra do trecho para se fazer uma citação ou
comentário qualquer sobre o termo em uma nota
de rodapé:
Ex.: A palavra tristeza é formada pelo adjetivo ESTRUTURA E FORMAÇÃO DE
triste acrescido do sufixo -eza*. PALAVRAS
*-eza é um sufixo nominal justaposto a um adjeti-
vo, o que origina um novo substantivo; INTRODUÇÃO
� Quando repetido três vezes, indica uma omissão
ou lacuna em um texto, principalmente em substi- No dia a dia, usamos unidades comunicativas
tuição a um substantivo próprio: para estabelecer diálogos e contatos, formando enun-
Ex.: O menor *** foi apreendido e depois encami- ciados. Essas unidades comunicativas chamamos de
nhado aos responsáveis; palavras. Elas surgem da necessidade de comunica-
� Quando colocado antes e no alto da palavra, repre- ção e os processos de formação para sua construção
senta o vocábulo como uma forma hipotética, isto são conhecidos da nossa competência linguística, pois
é, cuja existência é provável, mas não comprovada: como falantes da língua, ainda que não saibamos o
Ex.: Parecer, do latim *parescere; significado de antever, podemos inferir que esse ter-
� Antes de uma frase para indicar que ela é agrama- mo tem relação com o ato de ver antecipadamente,
tical, ou seja, uma frase que não respeita as regras dado o uso do prefixo diante do verbo ver.
da gramática. Reconhecer os processos que auxiliam na forma-
* Edifício elaborou projeto o engenheiro. ção de novas palavras é essencial para o estudante da
língua. Esse assunto, como dissemos, já é reconhecido
USO DA BARRA pelo nosso cérebro, que identifica os prefixos, sufixos e
palavras novas que podem ser criadas a partir da estru-
tura da língua; não é à toa que, muitas vezes, somos
A barra oblíqua [ / ] é um sinal gráfico usado:
surpreendidos com o uso inédito de algum termo.
Porém, precisamos ter consciência de que nem todo
� Para indicar disjunção e exclusão, podendo ser
contexto é apropriado para o uso de novas estruturas
substituída pela conjunção “ou”: vocabulares; por isso, neste capítulo, iremos estudar os
Ex.: Poderemos optar por: carne/peixe/dieta. processos de formação de palavras e as consequências
Poderemos optar por: carne, peixe ou dieta; dessas novas constituições, focando nesse conteúdo;
� Para indicar inclusão, quando utilizada na separa- sempre cobrado pelas bancas mais exigentes.
ção das conjunções e/ou.
Ex.: Os alunos poderão apresentar trabalhos orais ESTRUTURA DAS PALAVRAS
e/ou escritos;
� Para indicar itens que possuem algum tipo de rela- Radical e Morfema Lexical
ção entre si.
Ex.: A palavra será classificada quanto ao número As palavras são formadas por estruturas que, uni-
(plural/singular). das, podem se modificar e criar novos sentidos em
O carro atingiu os 220 km/h; contextos diversos. Os morfemas são as menores uni-
� Para separar os versos de poesias, quando escritos dades gramaticais com sentido da língua. Para iden-
seguidamente na mesma linha. São utilizadas duas tificá-los é preciso notar que uma palavra é formada
barras para indicar a separação das estrofes. por pequenas estruturas. Para isso, podemos imaginar
Ex.: “[…] De tanto olhar para longe,/não vejo o que que uma palavra é uma peça de um quebra-cabeça
passa perto,/meu peito é puro deserto./Subo mon- no qual podemos juntar outra peça para formar uma
te, desço monte.//Eu ando sozinha/ao longo da noi- estrutura maior; porém, se você já montou um que-
te./Mas a estrela é minha.” Cecília Meireles; bra-cabeça, deve se lembrar que não podemos unir as
� Na escrita abreviada, para indicar que a palavra peças arbitrariamente, é preciso buscar aquelas que
36 não foi escrita na sua totalidade: se encaixam.
Assim, como falantes da língua, reconhecemos z Sufixos: afixos que são anexados na parte poste-
essas estruturas morfológicas e os seus sentidos, pois, rior do radical.
a todo momento estamos aptos a criar novas pala- Exs.:
vras a partir das regras que o sistema linguístico nos mente: Felizmente.
oferece. dade: Lealdade.
Tornou-se comum, sobretudo nas redes sociais, o eiro: Blogueiro.
surgimento de novos vocábulos a partir de “peças” ista: Dentista.
existentes na língua, algumas misturando termos de gudo: Narigudo.
outras línguas com morfemas da língua portuguesa
para a formação de novas palavras, como: bloguei- É importante destacar que essa pequena amostra,
ro (blogger), deletar (delete); já algumas palavras listando alguns sufixos e prefixos da língua portugue-
ganham novos morfemas e, consequentemente, novas sa, é meramente ilustrativa e serve apenas para que
acepções nas redes sociais como, por exemplo, biscoi- você tenha consciência do quão rico é o processo de
teiro, termo usado para se referir a pessoas que bus- formação de palavras por afixos.
cam receber elogios nesse ambiente. Além disso, não é interessante que você decore
As peças do quebra-cabeças que formam as pala- esses morfemas derivacionais, mas que você com-
vras da língua portuguesa possuem os seguintes preenda o valor semântico que cada um deles esta-
nomes: belece na língua, como os sufixos -eiro e -ista que são
usados, comumente, para criar uma relação com o
Radical, Desinência, Vogal Temática, Afixos, ambiente profissional de alguma área, como: padeiro,
Consoantes e Vogais de Ligação costureiro, blogueiro, dentista, escafandrista, equili-
brista etc.
O radical, também chamado de semantema, é o Os sufixos costumam mudar mais a classes das
núcleo da palavra, pois é o detentor do sentido ao qual palavras. Já os prefixos modificam mais o sentido dos
se anexam os demais morfemas, criando as palavras vocábulos.
derivadas. Devido a essa importante característica, o
radical é também conhecido como morfema lexical, Desinências ou Morfemas Flexionais
pois se trata da significação própria dos vocábulos,
designando a sua natureza lexical, ou seja, o seu senti- Os morfemas flexionais, mais conhecidos como
do propriamente dito. desinências, são os mais estudados na língua portu-
Alguns exemplos de radicais: guesa, pois são esses os morfemas que organizam as
Ex.: pastel – pastelaria – pasteleiro; estruturas no singular e no plural, os verbos em tem-
pedra – pedreiro - pedregulho; pos e conjugações e as relações de gênero em femini-
Terra – aterrado – enterrado - terreiro. no e masculino.
Para facilitar a compreensão, podemos dividir os
morfemas flexionais em:
Importante!
Palavras da mesma família etimológica, ou seja, z Aditivos: Adiciona-se ao morfema lexical. Ex.: pro-
que apresentam o mesmo radical e guardam o fessor/professora; livro/livros;
mesmo valor semântico no radical, são conheci- z Subtrativos: Elimina-se um elemento do morfema
lexical. Ex.: Irmão/irmã; Órfão/órfã;
das como cognatas.
z Nulos: Quando a ausência de uma letra indica
uma flexão. Ex.: o singular dos substantivos é mar-

LÍNGUA PORTUGUESA/INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS


Afixos ou Morfemas Derivacionais cado por essa ausência, como em: mesa (0)2 /mesas.

A partir dos morfemas lexicais, a língua ganha Não confunda:


outras formas e sentidos pelos morfemas derivacio- Morfema derivacional: afixos (prefixos e sufixos);
nais, que são assim chamados pois auxiliam no pro- Morfema flexional: aditivos, subtrativos, nulos;
cesso de criação de palavras a partir da derivação, ou Morfema lexical: radical.
seja, a inclusão de prefixos e sufixos no radical dos Morfema gramatical: significado interno à estrutu-
vocábulos. ra gramatical, como artigos, preposições, conjunções
Vale notar que algumas bancas denominam os afi- etc.
xos de infixos.
São morfemas derivacionais os afixos, estruturas Vogais Temáticas
morfológicas que se anexam ao radical das palavras e
auxiliam o processo de formação de novos vocábulos. A vogal temática liga o radical a uma desinência,
Os afixos da língua portuguesa são de duas categorias: que estabelece o modo e o tempo da conjugação ver-
bal, no caso de verbos, e, nos substantivos, junta-se ao
z Prefixos: afixos que são anexados na parte ante- radical para a união de outras desinências.
rior do radical. Ex.: Amar e Amor.
Exs.: Nos verbos, a vogal temática marca ainda a conju-
In: infeliz. gação verbal, indicando se o verbo pertence à 1º, 2º ou
Anti: antipatia. 3º conjugação:
Pós: posterior. Exs.:
Bi: bisavô. Amar – 1º conjugação;
Contra: contradizer. Comer – 2º conjugação;
2  O morfema flexional nulo é mais conhecido como morfema zero nas gramáticas; sua marcação é feita com a presença do numeral 0 (zero). 37
Partir – 3º conjugação. Como é possível notar, os dois processos de formação
É importante não se confundir: a vogal temática de palavras são a derivação e a composição. As pala-
não existe em palavras que apresentam flexão de vras formadas por processos derivativos apresentam
gênero. Logo, as palavras gato/gata possuem uma mais classes a serem estudas. Vamos conhecê-las agora!
desinência e não uma vogal temática!
Caso a dúvida persista, faça esse exercício: Igreja PROCESSOS DE DERIVAÇÃO
(essa palavra existe); “Igrejo” (essa palavra não exis-
te), então o -a de igreja é uma vogal temática que irá As palavras formadas por processos de derivação
ligar o vocábulo a desinências, como -inha, -s. são classificadas a partir de seis categorias:
Note que as palavras terminadas em vogais tônicas
z Prefixal ou prefixação;
não apresentam vogais temática: Ex.: cajá, Pelé, bobó.
z Sufixal ou sufixação;
z Prefixal e sufixal;
Tema z Parassintética ou parassíntese;
z Regressiva;
O tema é a união do radical com a vogal temática. z Imprópria ou conversão.
A partir do exposto no tópico sobre vogal temática,
esperamos ter deixado claro que nem toda palavra irá A seguir, iremos estudar a diferença entre cada
apresentar vogal temática; dessa forma, as palavras uma dessas classes e identificar as peculiaridades de
que não apresentem vogal temática também não irão cada uma.
possuir tema.
Exs.: Derivação Prefixal
Vendesse – tema: vende;
Mares – tema: mare. Como o próprio nome indica, as palavras forma-
das por derivação prefixal são formadas pelo acrésci-
Vogais e Consoantes de Ligação mo de um prefixo à estrutura primitiva, como:
Pré-vestibular; disposição; deslealdade; super-ho-
As consoantes e vogais de ligação têm uma função mem; infeliz; refazer.
eufônica, ou seja, servem para facilitar a pronúncia de Pré-vestibular: prefixo pré-;
Disposição: prefixo dis-;
palavras. Essa é a principal diferença entre as vogais
Deslealdade: prefixo des-;
de ligação e as vogais temáticas, estas unem desinên-
Super-homem: prefixo super;
cias, aquelas facilitam a pronúncia. Infeliz: prefixo in-;
Exs.: Refazer: prefixo re-.
Gas - ô - metro;
Alv - i - negro; Derivação Sufixal
Tecn - o - cracia;
Pe - z - inho; De maneira comparativa, podemos afirmar que
Cafe - t- eira; a formação de palavras por derivação sufixal refere-
Pau - l - ada; -se ao acréscimo de um sufixo à estrutura primitiva,
Cha - l - eira; como em:
Inset - i - cida; Lealdade; francesa; belíssimo; inquietude; sofri-
Pobre - t- ão; mento; harmonizar; gentileza; lotação; assessoria.
Paris - i - ense; Lealdade: sufixo -dade;
Gira - s - sol; Francesa: sufixo -esa;
Legal - i - dade. Belíssimo: sufixo -íssimo;
Inquietude: sufixo -tude;
Sofrimento: sufixo -mento;
PROCESSO DE FORMAÇÃO DAS PALAVRAS
Harmonizar: sufixo -izar;
Gentileza: sufixo -eza;
A partir do conhecimento dos morfemas que auxi- Lotação: sufixo -ção;
liam o processo de ampliação das palavras da língua, Assessoria: sufixo -ria.
podemos iniciar o estudo sobre os processos de for-
mação de palavras. Derivação Prefixal e Sufixal
As palavras na língua portuguesa são criadas a
partir de dois processos básicos que apresentam clas- Nesse caso, juntam-se à palavra primitiva tanto
ses específicas. O quadro a seguir organiza bem os um sufixo quanto um prefixo; vejamos alguns casos:
processos de formação de palavras: Inquietude (prefiro in- com sufixo -tude); infeliz-
mente (prefixo in- com sufixo -mente); ultrapassagem
(prefixo ultra- com sufixo -agem); reconsideração
FORMAÇÃO DE PALAVRAS (prefixo -re com sufixo -ção).
DERIVAÇÃO COMPOSIÇÃO
Derivação Parassintética
� Prefixal � Justaposição
� Sufixal � Aglutinação
Na derivação parassintética, um acréscimo simul-
� Prefixal e sufixal
tâneo de afixos, prefixos e sufixos é realizado a uma
� Parassintética
estrutura primitiva. É importante não confundir, con-
� Regressiva
tudo, com o processo de derivação por sufixação e
38 � Imprópria ou conversão prefixação. Veja:
Se, ao retirar os afixos, a palavra perder o senti-
RADICAIS E PREFIXOS GREGOS
do, como em “emagrecer” (sem um dos afixos: “ema-
gro-” não existe), basta fazer o seguinte exercício para RADICAL/
SENTIDO EXEMPLO
PREFIXO
estabelecer por qual processo a palavra foi formada:
retirar o prefixo ou o sufixo da palavra em que paira Acro Alto Acrofobia/acrobata
dúvida. Caso a palavra que restou exista, estaremos Agro Campo Agropecuária
diante de um processo por derivação sufixal e prefi- Algia Dor Nevralgia
xal; caso contrário, a palavra terá sido formada por
Bio Vida Biologia
derivação parassintética.
Ex.: Entristecer, desalmado, espairecer, desgelar, Biblio Livro Biblioteca
entediar etc. Crono Tempo Cronologia
Caco Mau cacofonia
Derivação Regressiva
Cali Belo Caligrafia
Já na derivação regressiva, a nova palavra será Dromo Local Autódromo
formada pela subtração de um elemento da estrutura
primitiva da palavra. Vejamos alguns exemplos: Além dos radicais e prefixos gregos, as palavras da
Almoço (almoçar); língua portuguesa também se aglutinam a radicais e
prefixos latinos.
Ataque (atacar);
Amasso (amassar).
A derivação regressiva, geralmente, forma subs- RADICAIS E PREFIXO LATINOS
tantivos abstratos derivados de verbos. É possível RADICAL/PREFIXO SENTIDO EXEMPLO
que alguns autores reconheçam esse processo como Arbori Árvore Arborizar
redução.
Beli Guerra Belicoso
Derivação Imprópria Cida Que mata Homicida
Des- dis Separação Discordar
A derivação imprópria, a partir de seu processo de
Equi Igual Equivalente
formação de palavras, provoca a conversão de uma
classe gramatical, que pode passar de verbo a subs- Ex- Para fora Exonerar
tantivo, por exemplo. Fide Fé Fidelidade
A seguir, apresentamos alguns processos de con- Mater Mãe Materno
versão das palavras por derivação imprópria:
Processos de Composição
z Particípio do verbo - substantivo: Teria passado
- O passado; As palavras formadas por processos de composi-
z Verbos - substantivos: Almoçar - O almoço; ção podem ser classificadas em duas categorias: justa-
z Substantivos - adjetivos: o gato - mulher gato; posição e aglutinação.
z Substantivos comuns - substantivos próprios: As palavras formadas por qualquer um desses pro-
leão - Nara Leão; cessos estabelecem um sentido novo na língua, uma
vez que nesse processo há a junção de duas palavras

LÍNGUA PORTUGUESA/INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS


z Substantivos próprios - comuns: Gillete - gilete;
que já existem para a formação de um novo termo,
Judas - ele é o judas do programa.
com um novo sentido.

Sufixos e formação de palavras: Alguns sufixos z Composição por justaposição: nesse processo,
são mais comuns no processo de formação de deter- as palavras envolvidas conservam sua autonomia
minadas classes gramaticais, vejamos: morfológica, permanecendo a tonicidade original
de cada palavra. Ex.: pé de moleque, dia a dia, faz
z Sufixos nominais: originam substantivos, adjeti- de conta, navio-escola, malmequer;
vos. Ex.: -dor, -ada, -eiro, -oso, -ão, -aço; z Composição por aglutinação: na formação de
z Sufixos verbais: originam verbos. Ex.: -ear, -ecer, palavras por aglutinação, há mudanças na toni-
-izar, -ar; cidade dos termos envolvidos, que passam a ser
z Sufixos adverbiais: originam advérbios. Ex.: subordinados a uma única tonicidade. Ex.: petró-
-mente. leo (petra + óleo); aguardente (água + ardente);
vinagre (vinho + agre); você (vossa + mercê).
LISTA DE RADICAIS E PREFIXOS
Palavras Compostas e Derivadas
Apresentamos alguns radicais e prefixos na lis-
Agora que já conhecemos os processos de forma-
ta a seguir que podem auxiliar na compreensão do ção de palavras, precisamos identificar as palavras
processo de formação de palavras. Novamente, aler- que são compostas e as palavras que são derivadas.
tamos que essa lista não deve ser encarada como
uma “tabuada” a ser decorada, mas como um método z São compostas: planalto, couve-flor, aguardente
para apreender o sentido de alguns desses radicais e etc.;
prefixos. z São derivadas: pedreiro, floricultura, pedal etc. 39
Palavras derivadas são aquelas formadas a partir Importante!
de palavras primitivas, ou seja, a partir de palavras
A reforma ortográfica de 2009 eliminou o hífen
que detêm a raiz com sentido lexical independente.
das palavras compostas por justaposição com
São palavras primitivas: porta, livro, pedra etc.
um termo de ligação. Assim, palavras como Pé
A partir das palavras primitivas, o falante pode
de moleque, que antes contavam com o hífen,
anexar afixos (sufixos e prefixos), formando as pala-
agora já não utilizam mais. Porém, não foram
vras derivadas, assim chamadas pois derivam de um
todas as palavras justapostas que foram atin-
dos seis processos derivacionais.
gidas pela reforma; palavras justapostas que
Já as palavras compostas guardam a independên-
designam plantas ou bichos ainda são escritas
cia semântica e ortográfica, unindo-se a outras pala-
com hífen. Ex.: Cana-de-açúcar; pimenta-do-rei-
vras para a formação de um novo sentido.
no; castanha-do-Pará; João-de-barro; bem-te-vi;
USO DO HÍFEN CONFORME O NOVO ACORDO
porco-da-Índia.
ORTOGRÁFICO

O hífen é um sinal diacrítico cujo uso foi reformu-


lado com a reforma ortográfica da língua que entrou
FUNÇÕES DAS CLASSES DE PALAVRAS
em vigor em 2009 no Brasil.
A reforma uniformizou o uso do hífen em muitos A palavra morfologia refere-se ao estudo das for-
contextos, o que podemos ver como uma facilitação mas. Por isso, o termo é utilizado por linguistas e tam-
do aprendizado de quando usá-lo ou não. bém por médicos, que estudam as formas dos órgãos
A regra básica para o aprendizado do uso do hífen, e suas funções.
conforme o novo acordo ortográfico, é esta: Analogamente, para compreender bem as funções
de uma forma, seja ela uma palavra, seja um órgão,
z Palavras com final em vogais iguais: Usa-se hífen. precisamos conhecer como essa forma se classifica e
Ex.: micro-ondas, anti-inflamatório. como se organiza.
Por isso, em língua portuguesa, estudamos as for-
Porém, é preciso ficar atento às exceções a essa mas das palavras na morfologia, que organiza as clas-
regra geral. Por isso, iremos apresentar alguns exem- ses das palavras em dez categorias. Acompanhe os
plos para organizar o uso desse diacrítico e facilitar pontos a seguir.
seu aprendizado.
ARTIGOS
z Exceções: os prefixos Pre, Pro, Co, Re não serão
unidos por hífen quando o segundo termo apre- Os artigos devem concordar em gênero e número
sentar vogal, seja igual seja diferente. Ex.: coo- com os substantivos. São, por isso, considerados deter-
minantes dos substantivos.
rientador, coautor, preenchimento, reeleição,
Essa classe está dividida em artigos definidos e
reeducação, preestabelecer;
artigos indefinidos. Os definidos funcionam como
z Nos prefixos Sub, Hiper, Inter, Super, o hífen
determinantes objetivos, individualizando a palavra,
deve permanecer caso a palavra seguinte seja ini-
já os indefinidos funcionam como determinantes
ciada pelas consoantes H ou R. Ex.: sub-hepático, imprecisos.
hiper-requintado, inter-racial, super-racional; O artigo definido — o — e o artigo indefinido —
z Hífen com os dígrafos RR e SS: o hífen não é mais um —variam em gênero e número, tornando-se “os,
utilizado em palavras formadas de prefixo termi- a, as”, para os definidos, e “uns, uma, umas”, para os
nado em vogal seguido de palavra iniciada por R indefinidos. Assim, temos:
ou S. Ex.: antessala, autorretrato, contrarregra,
antirrugas etc.; z Artigos definidos: o, os; a, as;
z É importante esclarecer que em prefixos termina- z Artigos indefinidos: um, uns; uma, umas.
dos em vogais, aplicados a palavras cuja primei-
ra letra seja H, o hífen permanece. Ex.: anti-herói; Os artigos podem ser combinados às preposições.
anti-higiênico; extra-humano; semi-herbáceo; São as chamadas contrações. Algumas contrações
z Já os prefixos Pré, Pró, Pós (quando acentuados), comuns na língua são:
Ex, Vice, Soto, Além, Aquem, Recém, Sem devem
ser empregados sempre com hífen. Ex.: pré-natal; z em + a = na;
pró-democrata; pós-graduação; ex-prefeito; vice- z a + o = ao;
z a + a = à;
-governador; soto-mestre; além-mar; aquém-ocea-
z de + a = da.
no; recém-nascido; sem-teto;
z Palavras formadas por Circum e Pan, adicionadas
a palavras iniciadas por vogal, H, M ou N, usam Dica
hífen. Ex.: circum-navegação; pan-americano; Toda palavra determinada por um artigo torna-
z Também devemos empregar hífen em palavras -se um substantivo. Ex.: o não, o porquê, o cuidar
formadas pelos sufixos de origem tupi-guara- etc.
ni, como Açu, Guaçu, Mirim. Ex.: amoré-guaçu;
40 capim-açu.
NUMERAIS
FLEXÃO NOMINAL E VERBAL
São palavras que se relacionam diretamente ao
substantivo, inferindo ideia de quantidade ou posi- SUBSTANTIVOS
ção. Os numerais podem ser:
Os substantivos classificam os seres em geral. Uma
z Cardinais: Indicam quantidade em si. Ex.: Dois característica básica dessa classe é admitir um deter-
potes de sorvete; zero coisas a comprar; ambos os minante — artigo, pronome etc. Os substantivos fle-
meninos eram bons em português; xionam-se em gênero, número e grau.
z Ordinais: Indicam a ordem de sucessão de uma
série. Ex.: Foi o segundo colocado do concurso; Tipos de Substantivos
chegou em último/penúltimo/antepenúltimo
lugar; A classificação dos substantivos admite nove tipos
z Multiplicativos: Indicam o número de vezes pelo diferentes. São eles:
qual determinada quantidade é multiplicada. Ex.:
Ele ganha o triplo no novo emprego; z Simples: Formados a partir de um único radical.
z Fracionários: Indicam frações, divisões ou dimi- Ex.: vento, escola;
nuições proporcionais em quantidade. Ex.: Tomou z Composto: Formados pelo processo de justaposi-
um terço de vinho; o copo estava meio cheio; ele ção. Ex.: couve-flor, aguardente;
recebeu metade do pagamento. z Primitivo: Possibilitam a formação de um novo
substantivo. Ex.: pedra, dente;
Podemos encontrar ainda os numerais coletivos, z Derivado: Formados a partir dos derivados. Ex.:
isto é, designam um conjunto, porém expressam uma pedreiro, dentista;
quantidade exata de seres/conceitos. Veja: z Concreto: Designam seres com independência
Dúzia: conjunto de doze unidades; ontológica, ou seja, um ser que existe por si, inde-
Novena: período de nove dias; pendentemente de sua conotação espiritual ou
Década: período de dez anos; real. Ex.: Maria, gato, Deus, fada, carro;
Século: período de cem anos; z Abstrato: Indicam estado, sentimento, ação, qua-
Bimestre: período de dois meses. lidade. Os substantivos abstratos existem apenas
em função de outros seres. A feiura, por exemplo,
Um: numeral ou artigo? depende de uma pessoa, um substantivo concreto
a quem esteja associada. Ex.: chute, amor, cora-
A forma um pode assumir na língua a função de gem, liberalismo, feiura;
artigo indefinido ou de numeral cardinal; então, como z Comum: Designam todos os seres de uma espécie.
podemos reconhecer cada função? É preciso observar Ex.: homem, cidade;
o contexto em uso. Observe: z Próprio: Designam uma determinada espécie. Ex.:
Pedro, Fortaleza;
z Durante a votação, houve um deputado que se z Coletivo: Usados no singular, designam um con-
posicionou contra o projeto; junto de uma mesma espécie. Ex: pinacoteca,
z Durante a votação, apenas um deputado se posi- manada.
cionou contra o projeto.
É importante destacar que a classificação de um
Na primeira frase, podemos substituir o termo um substantivo depende do contexto em que ele está inse-

LÍNGUA PORTUGUESA/INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS


por uma, realizando as devidas alterações sintáticas, e rido. Vejamos:
o sentido será mantido, pois o que se pretende defen- Judas foi um apóstolo. (Judas como nome de uma
der é que a espécie do indivíduo que se posicionou pessoa = Próprio);
contra o projeto é um deputado e não uma deputada, O amigo mostrou-se um judas (judas significando
por exemplo. traidor = comum).
Já na segunda oração, a alteração do gênero não
implicaria em mudanças no sentido, pois o que se Flexão de Gênero
pretende indicar é que o projeto foi rejeitado por UM
deputado, marcando a quantidade. Os gêneros do substantivo são masculino e
Outra forma de notarmos a diferença é ficarmos feminino.
atentos com a aparição das expressões adverbiais, o Porém, alguns deles admitem apenas uma forma
que sempre fará com que a palavra “um” seja numeral. para os dois gêneros. São, por isso, chamados de uni-
Ainda sobre os numerais, atente-se às dicas a formes. Os substantivos uniformes podem ser:
seguir:
z Comuns-de-dois-gêneros: Designam seres huma-
z Sobre o numeral milhão/milhares, é importante nos e sua diferença é marcada pelo artigo. Ex.: O
destacar que sua forma é masculina. Logo, a con- pianista / a pianista; O gerente / a gerente; O clien-
cordância com palavras femininas é inaceitável te / a cliente; O líder / a líder;
pela gramática. z Epicenos: Designam geralmente animais que
Errado: As milhares de vacinas chegaram hoje. apresentam distinção entre masculino e feminino,
Correto: Os milhares de vacina chegaram hoje. mas a diferença é marcada pelo uso do adjetivo
macho ou fêmea. Ex.: cobra macho / cobra fêmea;
z A forma 14 por extenso apresenta duas formas onça macho / onça fêmea; gambá macho / gambá
aceitas pela norma gramatical: catorze e quatorze. fêmea; girafa macho / girafa fêmea; 41
z Sobrecomuns: Designam seres de forma geral e z Ermitão: ermitãos, ermitões, ermitães;
não são distinguidos por artigo ou adjetivo; o gêne- z Ancião: anciãos, anciões, anciães;
ro pode ser reconhecido apenas pelo contexto. Ex.: z Vilão: vilãos, vilões, vilães.
A criança; O monstro; A testemunha; O indivíduo.
Podemos, ainda, associar às palavras paroxítonas
Já os substantivos biformes designam os substan- que terminam em -ão o acréscimo do -s. Ex.: órgão /
tivos que apresentam duas formas para os gêneros órgãos; órfão / órfãos.
masculino ou feminino. Ex.: professor/professora.
Destacamos que alguns substantivos apresentam
Plural dos Substantivos Compostos
formas diferentes nas terminações para designar for-
mas diferentes no masculino e no feminino:
Ex.: Ator/atriz; Ateu/ ateia; Réu/ré. Os substantivos compostos são aqueles formados
Outros substantivos modificam o radical para por justaposição. O plural dessas formas obedece às
designar formas diferentes no masculino e no femini- seguintes regras:
no. Estes são chamados de substantivos heteroformes:
Ex.: Pai/mãe; Boi/vaca; Genro/nora. z Variam os dois elementos:

Gênero e Significação Substantivo + substantivo. Ex.: mestre-sala / mes-


tres -salas;
Alguns substantivos uniformes podem aparecer Substantivo + adjetivo. Ex.: guarda-noturno / guar-
com marcação de gênero diferente, ocasionando uma das -noturnos;
modificação no sentido. Veja, por exemplo: Adjetivo + substantivo. Ex.: boas-vindas;
Numeral + substantivo. Ex.: terça-feira / terças
z A testemunha: Pessoa que presenciou um crime; -feiras.
z O testemunho: Relato de experiência, associado a
religiões.
z Varia apenas um elemento:
Algumas formas substantivas mantêm o radical e
Substantivo + preposição + substantivo. Ex.:
a pequena alteração no gênero do artigo interfere no
significado: canas-de-açúcar;
Substantivo + substantivo com função adjetiva.
z O cabeça: chefe / a cabeça: membro o corpo; Ex.: navios-escola.
z O moral: ânimo / a moral: costumes sociais; Palavra invariável + palavra invariável. Ex.:
z O rádio: aparelho / a rádio: estação de transmissão. abaixo-assinados.
Verbo + substantivo. Ex.: guarda-roupas.
Além disso, algumas palavras na língua causam Redução + substantivo. Ex.: bel-prazeres.
dificuldade na identificação do gênero, pois são usa- Destacamos, ainda, que os substantivos compostos
das em contextos informais com gêneros diferentes. formados por
Alguns exemplos são: a alface; a cal; a derme; a libido; verbo + advérbio
a gênese; a omoplata / o guaraná; o formicida; o tele- verbo + substantivo plural
fonema; o trema. ficam invariáveis. Ex.: Os bota-fora; os saca-rolha.
Algumas formas que não apresentam, necessaria-
mente, relação com o gênero, são admitidas tanto no
Variação de Grau
masculino quanto no feminino: O personagem / a per-
sonagem; O laringe / a laringe; O xerox / a xerox.
A flexão de grau dos substantivos exprime a varia-
Flexão de Número ção de tamanho dos seres, indicando um aumento ou
uma diminuição.
Os substantivos flexionam-se em número, de
maneira geral, pelo acréscimo do morfema -s. Ex.: z Grau aumentativo: Quando o acréscimo de sufi-
Casa / casas. xos aos substantivos indicar um aumento de
Porém, podem apresentar outras terminações: tamanho.
males, reais, animais, projéteis etc. Ex.: bocarra, homenzarrão, gatarrão, cabeçorra,
Geralmente, devemos acrescentar -es ao singular fogaréu, boqueirão, poetastro;
das formas terminadas em R ou Z, como: flor / flores; z Grau diminutivo: Exprime, ao contrário do
paz / pazes. Porém, há exceções, como a palavra mal, aumentativo, a diminuição do tamanho/proporção
terminada em L e que tem como plural “males”. do ser.
Já os substantivos terminados em AL, EL, OL, UL Ex.: fontinha, lobacho, casebre, vilarejo, saleta,
fazem plural trocando-se o L final por -is. Ex.: coral /
pequenina, papelucho.
corais; papel / papéis; anzol / anzóis.
Entretanto, também há exceções. Ex.: a forma
mel apresenta duas formas de plural aceitas: meles Dica
e méis.
O emprego do grau aumentativo ou diminutivo
Geralmente, as palavras terminadas em -ão fazem
plural com o acréscimo do -s ou pelo acréscimo de -es. dos substantivos pode alterar o sentido das pala-
Ex.: capelães, capitães, escrivães. vras, podendo assumir um valor:
Contudo, há substantivos que admitem até três Afetivo: filhinha / mãezona;
42 formas de plural, como os seguintes: Pejorativo: mulherzinha / porcalhão.
O Novo Acordo Ortográfico e o Uso de Maiúsculas Iremos apresentar essas desinências a seguir.
Antes, porém, de abordarmos as desinências modo-
O novo acordo ortográfico estabelece novas regras -temporais, revisite o conteúdo tratado anteriormente
para o uso de substantivos próprios, exigindo o uso da sobre Emprego de Tempos e Modos Verbais.
inicial maiúscula.
Dessa forma, devemos usar com letra maiúscula as Classificação dos Verbos
inicias das palavras que designam:
Os verbos são classificados quanto a sua forma
z Nomes, sobrenomes e apelidos de pessoas de conjugação e podem ser divididos em: regulares,
reais ou imaginárias. Ex.: Gabriela, Silva, Xuxa, irregulares, anômalos, abundantes, defectivos, prono-
Cinderela;
minais, reflexivos, impessoais e auxiliares, além das
z Nomes de cidades, países, estados, continentes
formas nominais. Vamos conhecer as particularida-
etc., reais ou imaginários. Ex.: Belo Horizonte,
des de cada um a seguir:
Ceará, Nárnia, Londres;
z Nomes de festividades. Ex.: Carnaval, Natal, Dia
das Crianças; z Regulares: Os verbos regulares são os mais fáceis
z Nomes de instituições e entidades. Ex.: Embai- de compreender, pois apresentam regularidade no
xada do Brasil, Ministério das Relações Exteriores, uso das desinências, ou seja, das terminações ver-
Gabinete da Vice-presidência, Organização das bais. Da mesma forma, os verbos regulares man-
Nações Unidas; têm o paradigma morfológico com o radical, que
z Títulos de obras. Ex.: Memórias póstumas de Brás permanece inalterado. Ex.: Verbo cantar:
Cubas. Caso a obra apresente em seu título um
nome próprio, como no exemplo dado, este tam- PRESENTE PRETÉRITO PERFEITO
bém deverá ser escrito com inicial maiúscula; — INDICATIVO — INDICATIVO
z Nomenclatura legislativa especificada. Ex.: Lei Eu canto Cantei
de Diretrizes e Bases da Educação (LDB);
z Períodos e eventos históricos. Ex.: Revolta da Tu cantas Cantaste
Vacina, Guerra Fria, Segunda Guerra Mundial; Ele/ você canta Cantou
z Nome dos pontos cardeais e equivalentes. Ex.: Nós cantamos Cantamos
Norte, Sul, Leste, Oeste, Nordeste, Sudeste, Oriente,
Ocidente. Importante: os pontos cardeais são gra- Vós cantais Cantastes
fados com maiúsculas apenas quando utilizados Eles/ vocês cantam Cantaram
indicando uma região. Ex.: Este ano vou conhecer
o Sul (O Sul do Brasil); quando utilizados indican-
z Irregulares: Os verbos irregulares apresentam
do uma direção, devem ser escritos com minúscu-
las. Ex.: Correu a América de norte a sul; alteração no radical e nas desinências verbais.
z Siglas, símbolos ou abreviaturas. Ex.: ONU, INSS, Por isso, recebem esse nome, pois sua conjugação
Unesco, Sr., S (Sul), K (Potássio). ocorre irregularmente, seguindo um paradigma
próprio para cada grupo verbal.
Atente-se: Em palavras com hífen, pode-se optar
pelo uso de maiúsculas ou minúsculas. Portanto, são Perceba a seguir como ocorre uma sutil diferença
aceitas as formas Vice-Presidente, Vice-presidente e na conjugação do verbo estar, que utilizamos como
vice-presidente; porém, é preciso manter a mesma exemplo. Isso é importante para não confundir os ver-

LÍNGUA PORTUGUESA/INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS


forma em todo o texto. Já nomes próprios compostos bos irregulares com os verbos anômalos. Ex.: Verbo
por hífen devem ser escritos com as iniciais maiúscu- estar:
las, como em Grã-Bretanha e Timor-Leste.
PRESENTE PRETÉRITO PERFEITO
VERBOS — INDICATIVO — INDICATIVO
Eu estou Estive
Certamente, a classe de palavras mais complexa e
importante dentre as palavras da língua portuguesa é Tu estás Estiveste
o verbo. A partir dos verbos, são estruturados as ações Ele/ você está Esteve
e os agentes desses atos, além de ser uma importante
Nós estamos Estivemos
classe sempre abordada nos editais de concursos; por
isso, atente-se às nossas dicas. Vós estais Estivestes
Os verbos são palavras variáveis que se flexionam Eles/ vocês estão Estiveram
em número, pessoa, modo e tempo, além da designa-
ção da voz que exprime uma ação, um estado ou um
fato. z Anômalos: Esses verbos apresentam profundas
As flexões verbais são marcadas por desinências, alterações no radical e nas desinências verbais,
que podem ser: consideradas anomalias morfológicas; por isso,
recebem essa classificação. Um exemplo bem
z Número-pessoal: Indicando se o verbo está no usual de verbo dessa categoria é o verbo “ser”. Na
singular ou plural, bem como em qual pessoa ver- língua portuguesa, apenas dois verbos são classifi-
bal foi flexionado (1ª, 2ª ou 3ª); cados dessa forma: os verbos ser e ir.
z Modo-temporal: Indica em qual modo e tempo
verbais a ação foi realizada. Vejamos a conjugação o verbo “ser”: 43
PRESENTE PRETÉRITO PERFEITO PARTICÍPIO PARTICÍPIO
INFINITIVO
— INDICATIVO — INDICATIVO REGULAR IRREGULAR
Eu sou Fui Salvar Salvado Salvo
Tu és Foste Secar Secado Seco
Ele / você é Foi Submergir Submergido Submerso
Nós somos Fomos Suspender Suspendido Suspenso
Vós sois Fostes Tingir Tingido Tinto
Eles / vocês são Foram Torcer Torcido Torto

Os verbos ser e ir são irregulares, porém, apresen- PARTICÍPIO PARTICÍPIO


INFINITIVO
tam uma forma específica de irregularidade que oca- REGULAR IRREGULAR
siona uma anomalia em sua conjugação. Por isso, são Eu já tinha aceitado
Aceitar O convite foi aceito
classificados como anômalos. o convite
Aviso quando ti-
z Abundantes: São formas verbais abundantes os Entregar ver entregado a Está entregue!
encomenda
verbos que apresentam mais de uma forma de
particípio aceitas pela norma culta gramatical. Quando chegou,
Havia morrido há
Morrer encontrou o animal
Geralmente, apresentam uma forma de particípio dias
morto
regular e outra irregular. Vejamos alguns verbos
A bala foi expelida Esta é a bala
abundantes: Expelir
por aquela arma expulsa
Tinha enxugado a
PARTICÍPIO PARTICÍPIO
INFINITIVO Enxugar louça quando o pro- A roupa está enxuta
REGULAR IRREGULAR grama começou
Absolver Absolvido Absolto Depois de ter fin-
Abstrair Abstraído Abstrato Findar dado o trabalho, Trabalho findo!
descansou
Aceitar Aceitado Aceito
Se tivesse imprimi-
Benzer Benzido Bento Onde está o docu-
Imprimir do tínhamos como
mento impresso?
Cobrir Cobrido Coberto provar

Completar Completado Completo Eu tinha limpado a


Limpar Que casa tão limpa!
casa
Confundir Confundido Confuso
Dados importantes
Informações esta-
Demitir Demitido Demisso Omitir tinham sido omiti-
vam omissas
dos por ela
Despertar Despertado Desperto
Após ter submer- Deixe os legumes
Dispersar Dispersado Disperso Submergir gido os legumes, submersos por
Eleger Elegido Eleito reparou no amigo alguns minutos

Encher Enchido Cheio Nunca tinha sus-


Suspender Você está suspenso!
pendido ninguém
Entregar Entregado Entregue
Morrer Morrido Morto
z Defectivos: São verbos que não apresentam algu-
Expelir Expelido Expulso mas pessoas conjugadas em suas formas, gerando
Enxugar Enxugado Enxuto um “defeito” na conjugação (por isso, o nome).
Findar Findado Findo Alguns exemplos de defectivos são os verbos colo-
rir, precaver, reaver etc.
Fritar Fritado Frito
Ganhar Ganhado Ganho Esses verbos não são conjugados na primeira pes-
Gastar Gastado Gasto soa do singular do presente do indicativo, bem como:
Imprimir Imprimido Impresso aturdir, exaurir, explodir, esculpir, extorquir, feder,
fulgir, delinquir, demolir, puir, ruir, computar, colo-
Inserir Inserido Inserto
rir, carpir, banir, brandir, bramir, soer.
Isentar Isentado Isento Verbos que expressam onomatopeias ou fenôme-
Juntar Juntado Junto nos temporais também apresentam essa característi-
Limpar Limpado Limpo ca, como latir, bramir, chover.

Matar Matado Morto z Pronominais: Esses verbos apresentam um pro-


Omitir Omitido Omisso nome oblíquo átono integrando sua forma verbal.
Pagar Pagado Pago É importante lembrar que esses pronomes não
Prender Prendido Preso apresentam função sintática. Predominantemen-
te, os verbos pronominas apresentam transitivida-
44 Romper Rompido Roto de indireta, ou seja, são VTI. Ex.: Sentar-se.
A norma culta gramatical recomenda o uso do par-
PRESENTE PRETÉRITO PERFEITO
— INDICATIVO — INDICATIVO ticípio regular com os verbos “ter” e “haver”. Já com
os verbos “ser” e “estar”, recomenda-se o uso do par-
Eu me sento Sentei-me
ticípio irregular.
Tu te sentas Sentaste-te Ex.: Os policiais haviam expulsado os bandidos /
Ele/ você se senta Sentou-se Os traficantes foram expulsos pelos policiais.
Nós nos sentamos Sentamo-nos
„ Infinitivo: Marca as conjugações verbais.
Vós vos sentais Sentastes-vos
Eles/ vocês se sentam Sentaram-se AR: Verbos que compõem a 1ª conjugação (Amar,
passear);
z Reflexivos: Verbos que apresentam pronome oblí- ER: Verbos que compõem a 2ª conjugação (Comer,
quo átono reflexivo, funcionando sintaticamen- pôr);
te como objeto direto ou indireto. Nesses verbos, IR: Verbos que compõem a 3ª conjugação (Partir,
o sujeito sofre e pratica a ação verbal ao mesmo sair).
tempo. Ex.: Ela se veste mal. Nós nos cumprimen-
tamos friamente;
z Impessoais: Verbos que designam fenômenos da
Dica
natureza, como chover, trovejar, nevar etc. O verbo “pôr” corresponde à segunda conjuga-
ção, pois origina-se do verbo “poer”.
„ O verbo haver, com sentido de existir ou mar-
O mesmo acontece com verbos que deste
cando tempo decorrido, também será impes-
soal. Ex.: Havia muitos candidatos e poucas
derivam.
vagas. Há dois anos, fui aprovado em concurso
público. Vozes Verbais
„ Os verbos ser e estar também são verbos
impessoais quando designam fenômeno climá- As vozes verbais definem o papel do sujeito na
tico ou tempo. Ex.: Está muito quente! / Era tar- oração, demonstrando se o sujeito é o agente da ação
de quando chegamos. verbal ou se ele recebe a ação verbal. Dividem-se em:
„ O verbo ser para indicar hora, distância ou
data concorda com esses elementos. � Ativa: O sujeito é o agente, praticando a ação
„ O verbo fazer também poderá ser impessoal, verbal.
quando indicar tempo decorrido ou tempo cli- Ex.: O policial deteve os bandidos.
mático. Ex.: Faz anos que estudo pintura. Aqui
� Passiva: O sujeito é paciente, ou seja, sofre a ação
faz muito calor.
verbal.
„ Os verbos impessoais não apresentam sujei-
to; sintaticamente, classifica-se como sujeito Ex.: Os bandidos foram detidos pelo policial —
inexistente. passiva analítica;
„ O verbo ser será impessoal quando o espa- � Detiveram-se os criminosos — passiva sintética.
ço sintático ocupado pelo sujeito não estiver � Reflexiva: O sujeito é agente e paciente ao mes-
preenchido: “Já é natal”. Segue o mesmo para- mo tempo, pois pratica e recebe a ação verbal.
digma do verbo fazer, podendo ser impessoal, Ex.: Os bandidos se entregaram à polícia. / O
também, o verbo ir: “Vai uns bons anos que

LÍNGUA PORTUGUESA/INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS


menino se agrediu.
não vejo Mariana”. � Recíproca: O sujeito é agente e paciente ao mes-
mo tempo, porém há uma ação compartilhada
z Auxiliares: Os verbos auxiliares são empregados
entre dois indivíduos. A ação pode ser comparti-
nas formas compostas dos verbos e também nas
lhada entre dois ou mais indivíduos que praticam
locuções verbais. Os principais verbos auxiliares
dos tempos compostos são ter e haver. e sofrem a ação.
Ex.: Os bandidos se olharam antes do julga-
Nas locuções, os verbos auxiliares determinam a mento. / Apesar do ódio mútuo, os candidatos se
concordância verbal; porém, o verbo principal deter- cumprimentaram.
mina a regência estabelecida na oração.
Apresentam forte carga semântica que indica A voz passiva é realizada a partir da troca de fun-
modo e aspecto da oração. São importantes na forma- ções entre sujeito e objeto da voz ativa. Só podemos
ção da voz passiva analítica. transformar uma frase da voz ativa para a voz passiva
se o verbo for transitivo direto ou transitivo direto e
z Formas Nominais: Na língua portuguesa, usamos indireto. Logo, só há voz passiva com a presença do
três formas nominais dos verbos: objeto direto.
Importante! Não confunda os verbos pronomi-
„ Gerúndio: Terminação -ndo. Apresenta valor
nais com as vozes verbais. Os verbos pronominais
durativo da ação e equivale a um advérbio ou
adjetivo. Ex.: Minha mãe está rezando; que indicam sentimentos, como arrepender-se, quei-
„ Particípio: Terminações -ado, -ido, -do, -to, -go, xar-se, dignar-se, entre outros, acompanham um
-so. Apresenta valor adjetivo e pode ser classi- pronome que faz parte integrante do seu significado,
ficado em particípio regular e irregular, sendo diferentemente das vozes verbais, que acompanham
as formas regulares finalizadas em -ado e -ido. o pronome “se” com função sintática própria. 45
Outras Funções do “se” z Conjunção: O “se” será conjunção condicional
quando sugerir a ideia de condição. A conjunção
Como vimos, o “se” pode funcionar como item “se” exerce função de conjunção integrante, ape-
essencial na voz passiva. Além dessa função, esse ele- nas ligando as orações, e poderá ser substituído
mento também acumula outras atribuições:
pela conjunção “caso”.
Ex.: Se ele estudar, será aprovado. (Caso ele estu-
z Partícula apassivadora: A voz passiva sintética
é feita com verbos transitivos direto (TD) ou tran- dar, será aprovado).
sitivos direto indireto (TDI). Nessa voz, incluímos
o “se” junto ao verbo, por isso, o elemento “se” é Conjugação de Verbos Derivados
designado partícula apassivadora, nesse contexto.
Ex.: Busca-se a felicidade (voz passiva sintética) — Verbo derivado é aquele que deriva de um ver-
“Se” (partícula apassivadora). bo primitivo; para trabalhar a conjugação desses
verbos, é importante ter clara a conjugação de seus
O “se” exercerá essa função apenas: “originários”.
Atente-se à lista de verbos irregulares e de algu-
„ Com verbos cuja transitividade seja TD ou TDI;
mas de suas derivações a seguir, pois são assuntos
„ Com verbos que concordam com o sujeito;
relevantes em provas diversas:
„ Com a voz passiva sintética.

Atenção: Na voz passiva nunca haverá objeto dire- z Pôr: Repor, propor, supor, depor, compor, expor;
to (OD), pois ele se transforma em sujeito paciente. z Ter: Manter, conter, reter, deter, obter, abster-se;
z Ver: Antever, rever, prever;
z Índice de indeterminação do sujeito: O “se” fun- z Vir: Intervir, provir, convir, advir, sobrevir.
cionará nessa condição quando não for possível
identificar o sujeito explícito ou subentendido. Vamos conhecer agora alguns verbos cuja conjuga-
Além disso, não podemos confundir essa função ção apresenta paradigma derivado, auxiliando a com-
do “se” com a de apassivador, já que, para ser índi- preensão dessas conjugações verbais.
ce de indeterminação do sujeito, a oração precisa
O verbo criar é conjugado da mesma forma que os
estar na voz ativa.
verbos “variar”, “copiar”, “expiar” e todos os demais
Outra importante característica do “se” como índi- que terminam em -iar. Os verbos com essa termina-
ce de indeterminação do sujeito é que isso ocorre em ção são, predominantemente, regulares.
verbos transitivos indiretos, verbos intransitivos ou
verbos de ligação. Além disso, o verbo sempre deverá PRESENTE — INDICATIVO
estar na 3ª pessoa do singular. Eu Crio
Ex.: Acredita-se em Deus.
Tu Crias
z Pronome reflexivo: Na função de pronome refle- Ele/Você Cria
xivo, a partícula “se” indicará reflexão ou reci- Nós Criamos
procidade, auxiliando a construção dessas vozes
verbais, respectivamente. Nessa função, suas prin- Vós Criais
cipais características são: Eles/Vocês Criam

„ Sujeito recebe e pratica a ação;


Os verbos terminados em -ear, por sua vez, geral-
„ Funcionará, sintaticamente, como objeto direto
mente são irregulares e apresentam alguma modifi-
ou indireto;
„ O sujeito da frase poderá estar explícito ou cação no radical ou nas desinências. Acompanhe a
implícito. conjugação do verbo “passear”:

Ex.: Ele se via no espelho (explícito). Deu-se um PRESENTE — INDICATIVO


presente de aniversário (implícito). Eu Passeio

z Parte integrante do verbo: Nesses casos, o “se” Tu Passeias


será parte integrante dos verbos pronominais, Ele/Você Passeia
acompanhando-o em todas as suas flexões. Quan- Nós Passeamos
do o “se” exerce essa função, jamais terá uma fun-
ção sintática. Além disso, o sujeito da frase poderá Vós Passeais
estar explícito ou implícito. Eles/Vocês Passeiam
Ex.: (Ele/a) Lembrou-se da mãe, quando olhou a
filha.
Conjugação de Alguns Verbos
z Partícula de realce: Será partícula de realce o
“se” que puder ser retirado do contexto sem pre-
juízo no sentido e na compreensão global do texto. Vamos agora conhecer algumas conjugações de
A partícula de realce não exerce função sintática, verbos irregulares importantes, que sempre são obje-
pois é desnecessária. to de questões em concursos.
46 Ex.: Vão-se os anéis, ficam-se os dedos. Observe o verbo “aderir” no presente do indicativo:
PRESENTE — INDICATIVO PRONOMES DO PRONOMES DO
PESSOAS
Eu Adiro CASO RETO CASO OBLÍQUO

Tu Aderes 2ª pessoa do
Vós Vos, convosco
plural
Ele/Você Adere
3ª pessoa do Se, si, consigo
Nós Aderimos Eles/Elas
plural os, as, lhes
Vós Aderis
Eles/Vocês Aderem Os pronomes pessoais do caso reto costumam
substituir o sujeito.
Ex.: Pedro é bonito / Ele é bonito.
A seguir, acompanhe a conjugação do verbo “por”.
Já os pronomes pessoais oblíquos costumam fun-
São conjugados da mesma forma os verbos dispor, cionar como complemento verbal ou adjunto.
interpor, sobrepor, compor, opor, repor, transpor, Ex.: Eu a vi com o namorado; Maura saiu comigo.
entrepor, supor.
z Os pronomes que estarão relacionados ao obje-
PRESENTE — INDICATIVO to direto são: O, a, os, as, me, te, se, nos, vos. Ex.:
Informei-o sobre todas as questões;
Eu Ponho z Já os que se relacionam com o objeto indireto são:
Tu Pões Lhe, lhes, (me, te, se, nos, vos – complementados
por preposição). Ex.: Já lhe disse tudo (disse tudo
Ele/Você Põe
a ele).
Nós Pomos
Vós Pondes Lembre-se de que todos os pronomes pessoais são
pronomes substantivos.
Eles/Vocês Põem
Além disso, é importante saber que “eu” e “tu” não
podem ser regidos por preposição e que os pronomes
“ele(s)”, “ela(s)”, “nós” e “vós” podem ser retos ou oblí-
quos, dependendo da função que exercem.
PRONOMES: EMPREGO, FORMAS DE Os pronomes oblíquos tônicos são precedidos de
preposição e costumam ter função de complemento:
TRATAMENTO E COLOCAÇÃO
z 1ª pessoa: Mim, comigo (singular); nós, conosco
PRONOMES (plural);
z 2ª pessoa: Ti, contigo (singular); vós, convosco
Pronomes são palavras que representam ou acom- (plural);
panham um termo substantivo. Dessa forma, a função z 3ª pessoa: Si, consigo (singular ou plural); ele(s),
dos pronomes é substituir ou determinar uma pala- ela(s).
vra. Eles indicam pessoas, relações de posse, indefini-
ção, quantidade, localização no tempo, no espaço e no Não devemos usar pronomes do caso reto como
meio textual, entre outras funções. objeto ou complemento verbal, como em “mate ele”.
Contudo, o gramático Celso Cunha destaca que é pos-
Os pronomes exercem papel importante na análi-
sível usar os pronomes do caso reto como comple-

LÍNGUA PORTUGUESA/INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS


se sintática e também na interpretação textual, pois
mento verbal, desde que antecedidos pelos vocábulos
colaboram para a complementação de sentido de ter-
“todos”, “só”, “apenas” ou “numeral”.
mos essenciais da oração, além de estruturar a orga- Ex.: Encontrei todos eles na festa. Encontrei ape-
nização textual, contribuindo para a coesão e também nas ela na festa.
para a coerência de um texto. Após a preposição “entre”, em estrutura de recipro-
cidade, devemos usar os pronomes oblíquos tônicos.
Pronomes Pessoais Ex.: Entre mim e ele não há segredos.

Os pronomes pessoais designam as pessoas do dis- Pronomes de Tratamento


curso. Acompanhe a tabela a seguir, com mais infor-
mações sobre eles: Os pronomes de tratamento são formas que expres-
sam uma hierarquia social institucionalizada linguis-
PRONOMES DO PRONOMES DO ticamente. As formas de pronomes de tratamento
PESSOAS apresentam algumas peculiaridades importantes:
CASO RETO CASO OBLÍQUO
1ª pessoa do z Vossa: Designa a pessoa a quem se fala (relativo à
Eu Me, mim, comigo
singular
2ª pessoa). Apesar disso, os verbos relacionados a
2ª pessoa do esse pronome devem ser flexionados na 3ª pessoa
Tu Te, ti, contigo
singular do singular.
3ª pessoa do Se, si, consigo Ex.: Vossa Excelência deve conhecer a Constituição;
Ele/Ela z Sua: Designa a pessoa de quem se fala (relativo à
singular o, a, lhe
3ª pessoa).
1ª pessoa do Ex.: Sua Excelência, o presidente do Supremo Tri-
Nós Nos, conosco
plural bunal, fará um pronunciamento hoje à noite. 47
Os pronomes de tratamento estabelecem uma hie-
PRONOMES INDEFINIDOS3
rarquia social na linguagem, ou seja, a partir das for-
mas usadas, podemos reconhecer o nível de discurso Pouco, pouca, poucos, poucas Tudo
e o tipo de poder instituídos pelos falantes. Certo, certa, certos, certas Nada
Por isso, alguns pronomes de tratamento só devem
Vários, várias Cada
ser utilizados em contextos cujos interlocutores sejam
reconhecidos socialmente por suas funções, como juí- Quanto, quanta, quantos, quantas Que
zes, reis, clérigos, entre outras. Tanto, tanta, tantos, tantas
Dessa forma, apresentamos alguns pronomes de
tratamento, seguidos de sua abreviatura e das funções Qualquer, quaisquer
sociais que designam: Qual, quais
Um, uma, uns, umas
z Vossa Alteza (V. A.): Príncipes, duques, arquidu-
ques e seus respectivos femininos;
z Vossa Eminência (V. Ema.): Cardeais; As palavras certo e bastante serão pronomes
z Vossa Excelência (V. Exa.): Autoridades do gover- indefinidos quando vierem antes do substantivo, e
no e das Forças Armadas membros do alto escalão; serão adjetivos quando vierem depois.
z Vossa Majestade (V. M.): Reis, imperadores e seus Ex.: Busco certo modelo de carro (pronome
respectivos femininos; indefinido).
z Vossa Reverendíssima (V. Rev. Ma.): Sacerdotes; Busco o modelo de carro certo (adjetivo).
z Vossa Senhoria (V. Sa.): Funcionários públicos gra- A palavra bastante frequentemente gera dúvida
duados, oficiais até o posto de coronel, tratamento quanto a ser advérbio, adjetivo ou pronome indefini-
cerimonioso a comerciantes importantes; do. Por isso, atente-se ao seguinte:
z Vossa Santidade (V. S.): Papa;
z Vossa Excelência Reverendíssima (V. Exa. Rev- z Bastante (advérbio): Será invariável e equivalen-
ma.): Bispos. te ao termo “muito”.
Ex.: Elas são bastante famosas.
Os exemplos apresentados fazem referência a pro- z Bastante (adjetivo): Será variável e equivalente
nomes de tratamento e suas respectivas designações ao termo “suficiente”.
sociais conforme indica o Manual de Redação oficial Ex.: A comida e a bebida não foram bastantes para
da Presidência da República. Portanto, essas designa- a festa.
ções devem ser seguidas com atenção quando o gêne- z Bastante (pronome indefinido): Concorda com
ro textual abordado for um gênero oficial. o substantivo, indicando grande, porém incerta,
Ainda sobre o assunto, veja algumas observações: quantidade de algo.
Ex.: Bastantes bancos aumentaram os juros.
z Sobre o uso das abreviaturas das formas de tra-
tamento é importante destacar que o plural de Pronomes Demonstrativos
algumas abreviaturas é feito com letras dobradas,
como: V. M. / VV. MM.; V. A. / VV. AA. Porém, na Os pronomes demonstrativos indicam a posição e
maioria das abreviaturas terminadas com a letra apontam elementos a que se referem as pessoas do
a, o plural é feito com o acréscimo do s: V. Exa. / V. discurso (1ª, 2ª e 3ª). Essa posição pode ser designa-
Exas.; V. Ema. / V.Emas.; da por eles no tempo, no espaço físico ou no espaço
z O tratamento adequado a Juízes de Direito é Meri- textual.
tíssimo Juiz;
z O tratamento dispensado ao Presidente da Repú- z 1ª pessoa: Este, estes / Esta, estas;
blica nunca deve ser abreviado. z 2ª pessoa: Esse, esses / Essa, essas;
z 3ª pessoa: Aquele, aqueles / Aquela, aquelas;
Pronomes Indefinidos z Invariáveis: Isto, isso, aquilo.

Os pronomes indefinidos indicam quantidade de Usamos este, esta, isto para indicar:
maneira vaga e sempre devem ser utilizados na 3ª
pessoa do discurso. Os pronomes indefinidos podem � Referência ao espaço físico, indicando a proximi-
variar e podem ser invariáveis. Observe a seguinte dade de algo ao falante.
tabela: Ex.: Esta caneta aqui é minha. Entreguei-lhe isto
como prova.
� Referência ao tempo presente.
PRONOMES INDEFINIDOS3
Ex.: Esta semana começarei a dieta. Neste mês,
Variáveis Invariáveis pagarei a última prestação da casa.
Algum, alguma, alguns, algumas Alguém � Referência ao espaço textual.
Ex.: Encontrei Joana e Carla no shopping; esta pro-
Nenhum, nenhuma, nenhuns, Ninguém
curava um presente para o marido (o pronome
nenhumas
refere-se ao último termo mencionado).
Todo, toda, todos, todas Quem
Outro, outra, outros, outras Outrem Este artigo científico pretende analisar... (o prono-
me “este” refere-se ao próprio texto).
Muito, muita, muitos, muitas Algo Usamos esse, essa, isso para indicar:
3  Disponível em: <https://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/pronomes-indefinidos-e-interrogativos-nenhum-outro-qualquer-quem-
48 quanto-qual.htm>. Acesso em: 14 jul. de 2020.
z Referência ao espaço físico, indicando o afasta- � O pronome relativo quem pode fazer referência
mento de algo de quem fala. a algo subentendido: Quem cala consente (aquele
Ex.: Essa sua gravata combinou muito com você. que cala).
z Indicar distância que se deseja manter. � Emprego do relativo quanto: Seu antecedente
Ex.: Não me fale mais nisso. A população não con- deve ser um pronome indefinido ou demonstrati-
fia nesses políticos. vo; pode sofrer flexões.
z Referência ao tempo passado. Ex.: Esqueci-me de tudo quanto foi me ensinado.
Ex.: Nessa semana, eu estava doente. Esses dias Perdi tudo quanto poupei a vida inteira.
estive em São Paulo. � Emprego do relativo cujo: Deve ser empregado
z Referência a algo já mencionado no texto/ na fala. para indicar posse e aparecer relacionando dois
Ex.: Continuo sem entender o porquê de você ter termos que devem ser um possuidor e uma coisa
falado sobre isso. Sinto uma energia negativa nes- possuída.
sa expressão utilizada. Ex.: A matéria cuja aula faltei foi Língua portugue-
sa — o relativo cuja está ligando aula (possuidor) à
Usamos aquele, aquela, aquilo para indicar: matéria (coisa possuída).
� Referência ao espaço físico, indicando afastamen-
O relativo cujo deve concordar em gênero e núme-
to de quem fala e de quem ouve.
ro com a coisa possuída.
Ex.: Margarete, quem é aquele ali perto da porta?
Jamais devemos inserir um artigo após o pronome
� Referência a um tempo muito remoto, um passa-
cujo: Cujo o, cuja a
do muito distante.
Não podemos substituir cujo por outro pronome
Ex.: Naquele tempo, podíamos dormir com as por-
tas abertas. Bons tempos aqueles! relativo.
� Referência a um afastamento afetivo. O pronome relativo cujo pode ser preposicionado.
Ex.: Não conheço mais aquela mulher. Ex.: Esse é o vilarejo por cujos caminhos percorri.
� Referência ao espaço textual, indicando o pri- Para encontrar o possuidor, faça-se a seguinte per-
meiro termo de uma relação expositiva. gunta: “de quem/do que?”
Ex.: Saí para lanchar com Ana e Beatriz. Esta prefe- Ex.: Vi o filme cujo diretor ganhou o Óscar (Diretor
riu beber chá; aquela, refrigerante. do que? Do filme).
Vi o rapaz cujas pernas você se referiu (Pernas de
Dica quem? Do rapaz).

O pronome “mesmo” não pode ser usado em fun- � Emprego do pronome relativo onde: Empregado
ção demonstrativa referencial. Veja: para indicar locais físicos.
Errado: O candidato fez a prova, porém o mesmo Ex.: Conheci a cidade onde meu pai nasceu.
esqueceu de preencher o gabarito. � Em alguns casos, pode ser preposicionado, assu-
Correto: O candidato fez a prova, porém esque- mindo as formas aonde e donde.
ceu de preencher o gabarito. Ex.: Irei aonde você for.
� O relativo “onde” pode ser empregado sem
Pronomes Relativos antecedente.
Ex.: O carro atolou onde não havia ninguém.
Uma das classes de pronomes mais complexas, os � Emprego de o qual: O pronome relativo “o qual”
pronomes relativos têm função muito importante na e suas variações (os quais, a qual, as quais) é usa-
língua, refletida em assuntos de grande relevância

LÍNGUA PORTUGUESA/INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS


do em substituição a outros pronomes relativos,
em concursos, como a análise sintática. Dessa forma, sobretudo o “que”, a fim de evitar fenômenos lin-
é essencial conhecer adequadamente a função desses guísticos, como o “queísmo”.
elementos, a fim de saber utilizá-los corretamente. Ex.: O Brasil tem um passado do qual (que) nin-
Os pronomes relativos referem-se a um substantivo guém se lembra.
ou a um pronome substantivo mencionado anterior-
mente. A esse nome (substantivo ou pronome mencio- O pronome “o qual” pode auxiliar na compreensão
nado anteriormente) chamamos de antecedente.
textual, desfazendo estruturas ambíguas.
São pronomes relativos:
Pronomes Interrogativos
z Variáveis: O qual, os quais, cujo, cujos, quanto,
quantos / A qual, as quais, cuja, cujas, quanta,
São utilizados para introduzir uma pergunta ao
quantas;
z Invariáveis: Que, quem, onde, como; texto.
z Emprego do pronome relativo que: Pode ser asso- Apresentam-se de formas variáveis (Que? Quais?
ciado a pessoas, coisas ou objetos. Quanto? Quantos?) e invariáveis (Que? Quem?).
Ex.: Encontrei o homem que desapareceu. O Ex.: O que é aquilo? Quem é ela? Qual sua idade?
cachorro que estava doente morreu. A caneta que Quantos anos tem seu pai?
emprestei nunca recebi de volta. O ponto de interrogação só é usado nas interroga-
� Em alguns casos, há a omissão do antecedente do tivas diretas. Nas indiretas, aparece apenas a intenção
relativo “que”. interrogativa, indicada por verbos como perguntar,
Ex.: Não teve que dizer (não teve nada que dizer). indagar etc. Ex.: Indaguei quem era ela.
� Emprego do relativo quem: Seu antecedente deve Atenção: Os pronomes interrogativos que e quem
ser uma pessoa ou objeto personificado. são pronomes substantivos, pois substituem os subs-
Ex.: Fomos nós quem fizemos o bolo. tantivos, dando fluidez à leitura. 49
Ex.: O tempo, que estava instável, não permitiu a „ Início de frase ou período. Ex.: Sinto-me mui-
realização da atividade (O tempo não permitiu a reali- to honrada com esse título.
zação da atividade. O tempo estava instável)4. „ Imperativo afirmativo. Ex.: Sente-se, por
favor.
Pronomes Possessivos „ Advérbio virgulado. Ex.: Talvez, diga-me o
quanto sou importante.
Os pronomes possessivos referem-se às pessoas do
discurso e indicam posse. Observe a tabela a seguir: Casos proibidos:

1ª pessoa Meu, minha / meus, minhas „ Início de frase: Me dá esse caderno! (errado) /
SINGULAR 2ª pessoa Teu, tua / teus, tuas Dá-me esse caderno! (certo).
3ª pessoa Seu, sua / seus, suas „ Depois de ponto e vírgula: Falou pouco; se lem-
brou de nada (errado) / Falou pouco; lembrou-
1ª pessoa Nosso, nossa / nossos, nossas -se de nada (correto).
PLURAL 2ª pessoa Vosso, vossa / vossos, vossas „ Depois de particípio: Tinha lembrado-se do fato
3ª pessoa Seu, sua / seus, suas (errado) / Tinha se lembrado do fato (correto).

Os pronomes pessoais oblíquos (me, te, se, lhe, o,


a, nos, vos) também podem atribuir valor possessivo
a uma coisa. CONCORDÂNCIA NOMINAL E VERBAL
Ex.: Apertou-lhe a mão (a sua mão). Ainda que o
pronome esteja ligado ao verbo pelo hífen, a relação CONCORDÂNCIA
do pronome é com o objeto da posse.
Outras funções dos pronomes possessivos: Na elaboração da frase, as palavras relacionam-se
umas com as outras. Ao se relacionarem, elas obede-
z Delimitam o substantivo a que se referem; cem a alguns princípios: um deles é a concordância.
z Concordam com o substantivo que vem depois Observe o exemplo:
dele;
z Não concordam com o referente; A pequena garota andava sozinha pela cidade.
z O pronome possessivo que acompanha o substan- A: Artigo, feminino, singular;
tivo exerce função sintática de adjunto adnominal. Pequena: Adjetivo, feminino, singular;
Garota: Substantivo, feminino, singular.
Colocação Pronominal Tanto o artigo quanto o adjetivo (ambos adjuntos
adnominais) concordam com o gênero (feminino) e o
Estudo da posição dos pronomes na oração. número (singular) do substantivo.
Na língua portuguesa, há dois tipos de concordân-
cia: verbal e nominal.
z Próclise: Pronome posicionado antes do verbo.
Casos que atraem o pronome para próclise:
Concordância Verbal
„ Palavras negativas: Nunca, jamais, não. Ex.:
É a adaptação em número – singular ou plural –
Não me submeto a essas condições.
e pessoa que ocorre entre o verbo e seu respectivo
„ Pronomes indefinidos, demonstrativos, rela-
sujeito.
tivos. Ex: Foi ela que me colocou nesse papel.
Ex.: De todos os povos mais plurais culturalmen-
„ Conjunções subordinativas. Ex.: Embora se
te, o Brasil, mesmo diante de opiniões contrárias, as
apresente como um rico investidor, ele nada
quais insistem em desmentir que nosso país é cheio
tem. de ‘brasis’ – digamos assim –, ganha disparando dos
„ Gerúndio, precedido da preposição em. Ex: outros, pois houve influências de todos os povos aqui:
Em se tratando de futebol, Maradona foi um europeus, asiáticos e africanos.
ídolo. Esse período, apesar de extenso, constitui-se de
„ Infinitivo pessoal preposicionado. Ex.: Na um sujeito simples “o Brasil”, portanto o verbo cor-
esperança de sermos ouvidos, muito lhe respondente a esse sujeito, “ganha”, necessita ficar no
agradecemos. singular.
„ Orações interrogativas, exclamativas, opta- Destrinchando o período, temos que os termos
tivas (exprimem desejo). Ex.: Como te iludes! essenciais da oração (sujeito e predicado) são apenas
“[...] o Brasil [...]” – sujeito – e “[...] ganha [...]” – predi-
z Mesóclise: Pronome posicionado no meio do ver- cado verbal.
bo. Casos que atraem o pronome para mesóclise: Veja um caso de uso de verbo bitransitivo:
Ex.: Prefiro natação a futebol.
„ Os pronomes devem ficar no meio dos verbos Verbo bitransitivo: Prefiro
que estejam conjugados no futuro, caso não Objeto direto: natação
haja nenhum motivo para uso da próclise. Ex.: Objeto indireto: a futebol
Dar-te-ei meus beijos agora... / Orgulhar-me-ei
dos nossos estudantes. Concordância Verbal com o Sujeito Simples

z Ênclise: Pronome posicionado após o verbo. Casos Em regra geral, o verbo concorda com o núcleo do
que atraem o pronome para ênclise: sujeito.
50 4  Exemplo disponível em: https://www.todamateria.com.br/pronomes-substantivos/. Acesso em: 30. jul. 2021.
Ex.: Os jogadores de futebol ganham um salário Apenas 1/3 das pessoas do mundo sabem o que é
exorbitante. viver bem.
Diferentes situações: Apenas 30% do povo sabe o que é viver bem.
Apenas 30% do povo sabem o que é viver bem.
z Quando o núcleo do sujeito for uma palavra de Os 30% da população não sabem o que é viver mal.
sentido coletivo, o verbo fica no singular. Ex.: A
multidão gritou entusiasmada; � Os verbos bater, dar e soar concordam com o
z Quando o sujeito é o pronome relativo que, o número de horas ou vezes, exceto se o sujeito for a
verbo posterior ao pronome relativo concorda palavra relógio. Ex.: Deram duas horas, e ela não
com o antecedente do relativo. Ex.: Quais os limi- chegou (Duas horas deram...).
tes do Brasil que se situam mais próximos do Bateu o sino duas vezes (O sino bateu).
Meridiano?; Soaram dez badaladas no relógio da sala (Dez
z Quando o sujeito é o pronome indefinido quem, o badaladas soaram).
verbo fica na 3ª pessoa do singular. Ex.: Fomos nós
Soou dez badaladas o relógio da escola (O relógio
quem resolveu a questão;
da escola soou dez badaladas).
z Quando o sujeito está em voz passiva sintética, o
Por questão de ênfase, o verbo pode também con-
verbo concorda com o sujeito paciente. Ex.: Ven-
cordar com o pronome reto antecedente. Ex.: Fomos
dem-se casas de veraneio aqui.
nós quem resolvemos a questão.
Nunca se viu, em parte alguma, pessoa tão
interessada;
z Quando o sujeito é um pronome interrogativo,
z Quando o sujeito é um pronome de tratamento, o
demonstrativo ou indefinido no plural + de nós /
de vós, o verbo pode concordar com o pronome no verbo fica sempre na 3ª pessoa. Ex.: Por que Vossa
plural ou com nós / vós. Ex.: Alguns de nós resol- Majestade está preocupada?
viam essa questão. / Alguns de nós resolvíamos Suas Excelências precisam de algo?
essa questão; z Sujeito do verbo viver em orações optativas ou
z Quando o sujeito é formado por palavras plurali- exclamativas. Ex.: Vivam os campeões!
zadas, normalmente topônimos (Amazonas, férias,
Minas Gerais, Estados Unidos, óculos etc.), se hou- Concordância Verbal com o Sujeito Composto
ver artigo definido antes de uma palavra plura-
lizada, o verbo fica no plural. Caso não haja esse � Núcleos do sujeito constituídos de pessoas grama-
artigo, o verbo fica no singular. Ex.: Os Estados ticais diferentes
Unidos continuam uma potência. Ex.: Eu e ele nos tornamos bons amigos;
z Estados Unidos continua uma potência. � Núcleos do sujeito ligados pela preposição com
z Santos fica em São Paulo. (Corresponde a: “A cida- Ex.: O ministro, com seus assessores, chegou/che-
de de Santos fica em São Paulo.”) garam ontem;
� Núcleos do sujeito acompanhados da palavra cada
ou nenhum
Importante! Ex.: Cada jogador, cada time, cada um deve man-
Quando se aplica a nomes de obras artísticas, o ter o espírito esportivo;
verbo fica no singular ou no plural. � Núcleos do sujeito sendo sinônimos e estando no
Os Lusíadas imortalizou / imortalizaram singular
Camões. Ex.: A angústia e a ansiedade não o ajudava/aju-
davam (preferencialmente no singular);

LÍNGUA PORTUGUESA/INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS


� Gradação entre os núcleos do sujeito
z Quando o sujeito é formado pelas expressões mais Ex.: Seu cheiro, seu toque bastou/bastaram para
de um, cerca de, perto de, menos de, coisa de, me acalmar (preferencialmente no singular);
obra de etc., o verbo concorda com o numeral. Ex.: � Núcleos do sujeito no infinitivo
Mais de um aluno compareceu à aula. Ex.: Andar e nadar faz bem à saúde;
Mais de cinco alunos compareceram à aula. � Núcleos do sujeito resumidos por um aposto resu-
mitivo (nada, tudo, ninguém)
A expressão mais de um tem particularidades: Ex.: Os pedidos, as súplicas, nada disso o comoveu;
se a frase indica reciprocidade (pronome reflexivo � Sujeito constituído pelas expressões um e outro,
recíproco se), se houver coletivo especificado ou se nem um nem outro
a expressão vier repetida, o verbo fica no plural. Ex.: Ex.: Um e outro já veio/vieram aqui;
Mais de um irmão se abraçaram. � Núcleos do sujeito ligados por nem... nem
Mais de um grupo de crianças veio/vieram à fes- Ex.: Nem a televisão nem a internet desviarão meu
ta. foco nos estudos;
Mais de um aluno, mais de um professor esta- � Entre os núcleos do sujeito, aparecem as palavras
vam presentes. como, menos, inclusive, exceto ou as expressões
bem como, assim como, tanto quanto
z Quando o sujeito é formado por um número per- Ex.: O Vasco ou o Corinthians ganhará o jogo na
centual ou fracionário, o verbo concorda com o final;
numerado ou com o número inteiro, mas pode z Núcleos do sujeito ligados pelas séries correlativas
concordar com o especificador dele. Se o numeral aditivas enfáticas (tanto... quanto / como / assim
vier precedido de um determinante, o verbo con- como; não só... mas também etc.)
cordará apenas com o numeral. Ex.: Apenas 1/3 Ex.: Tanto ela quanto ele mantém/mantêm sua
das pessoas do mundo sabe o que é viver bem. popularidade em alta; 51
z Quando dois ou mais adjuntos modificam um úni- Para vocês terem adquirido esse conhecimento,
co núcleo, o verbo fica no singular concordando foi muito tempo de estudo. (infinitivo pessoal com-
com o núcleo único. Mas, se houver determinante posto: locução verbal de verbo auxiliar + verbo no
após a conjunção, o verbo fica no plural, pois aí o particípio);
sujeito passa a ser composto. z Exemplos com verbos no infinitivo impessoal:
Ex.: O preço dos alimentos e dos combustíveis Devo continuar trabalhando nesse projeto. (locu-
aumentou. Ou: O preço dos alimentos e o dos ção verbal)
combustíveis aumentaram. Deixei-os brincar aqui. (pronome oblíquo átono
sendo sujeito do infinitivo).
Concordância Verbal do Verbo Ser
Quando o sujeito do infinitivo for um substantivo
� Concorda com o sujeito no plural, usa-se tanto o infinitivo pessoal quanto o
Ex.: Nós somos unha e carne; impessoal. “Mandei os garotos sair/saírem”.
� Concorda com o sujeito (pessoa) Navegar é preciso, viver não é preciso. (infinitivo
Ex.: Os meninos foram ao supermercado; com valor genérico)
� Em predicados nominais, quando o sujeito for São casos difíceis de solucionar. (infinitivo prece-
representado por um dos pronomes tudo, nada, dido de preposição de ou para)
isto, isso, aquilo ou “coisas”, o verbo ser concor- Soldados, recuar! (infinitivo com valor de
dará com o predicativo (preferencialmente) ou imperativo)
com o sujeito
Ex.: No início, tudo é/são flores; � Concordância do verbo parecer
� Concorda com o predicativo quando o sujeito for Flexiona-se ou não o infinitivo.
que ou quem Pareceu-me estarem os candidatos confiantes. (o
Ex.: Quem foram os classificados? equivalente a “Pareceu-me que os candidatos esta-
� Em indicações de horas, datas, tempo, distância vam confiantes”, portanto, o infinitivo é flexiona-
(predicativo), o verbo concorda com o predicativo do de acordo com o sujeito, no plural)
Ex.: São nove horas. Eles parecem estudar bastante. (locução verbal,
É frio aqui. logo o infinitivo será impessoal);
Seria meio-dia e meia ou seriam doze horas? � Concordância dos verbos impessoais
� O verbo fica no singular quando precede termos São os casos de oração sem sujeito. O verbo fica
como muito, pouco, nada, tudo, bastante, mais, sempre na 3ª pessoa do singular.
menos etc. junto a especificações de preço, peso, Ex.: Havia sérios problemas na cidade.
quantidade, distância, e também quando seguido Fazia quinze anos que ele havia se formado.
do pronome o Deve haver sérios problemas na cidade. (verbo
Ex.: Cem metros é muito para uma criança. auxiliar fica no singular)
Divertimentos é o que não lhe falta. Trata-se de problemas psicológicos.
Dez reais é nada diante do que foi gasto; Geou muitas horas no sul;
� Na expressão expletiva “é que”, se o sujeito da ora- � Concordância com sujeito oracional
ção não aparecer entre o verbo ser e o que, o ser Quando o sujeito é uma oração subordinada, o
ficará invariável. Se o ser vier separado do que, o verbo da oração principal fica na 3ª pessoa do
verbo concordará com o termo não preposiciona- singular.
do entre eles. Ex.: Ainda vale a pena investir nos estudos.
Ex.: Eles é que sempre chegam cedo. Sabe-se que dois alunos nossos foram aprovados.
São eles que sempre chegam cedo. Ficou combinado que sairíamos à tarde.
É nessas horas que a gente precisa de ajuda. (cons- Urge que você estude.
trução adequada) Era preciso encontrar a verdade
São nessas horas que a gente precisa de ajuda.
(construção inadequada) Casos mais Frequentes em Provas

CASOS ESPECIAIS DE CONCORDÂNCIA VERBAL Veja agora uma lista com os casos mais abordados
em concursos:
Concordância do Infinitivo
� Sujeito posposto distanciado
z Exemplos com verbos no infinitivo pessoal: Ex.: Viviam no meio de uma grande floresta tropi-
Nós lutaremos até vós serdes bem tratados. (sujei- cal brasileira seres estranhos;
to esclarecido) � Verbos impessoais (haver e fazer)
Está na hora de começarmos o trabalho. (sujeito Ex.: Faz dois meses que não pratico esporte.
implícito “nós”) Havia problemas no setor.
Falei sobre o desejo de aprontarmos logo o site. Obs.: Existiam problemas no setor. (verbo existir
(dois pronomes implícitos: eu, nós) vai ter sujeito “problemas”, e vai ser variável);
Até me encontrarem, vocês terão de procurar � Verbo na voz passiva sintética
muito. (preposição no início da oração) Ex.: Criaram-se muitas expectativas para a luta;
Para nós nos precavermos, precisaremos de luz. � Verbo concordando com o antecedente correto
(verbos pronominais) do pronome relativo ao qual se liga
Visto serem dez horas, deixei o local. (verbo ser Ex.: Contratei duas pessoas para a empresa, que
indicando tempo) tinham experiência;
Estudo para me considerarem capaz de aprova- � Sujeito coletivo com especificador plural
52 ção. (pretensão de indeterminar o sujeito) Ex.: A multidão de torcedores vibrou/vibraram;
� Sujeito oracional Há casos em que o adjetivo concordará apenas
Ex.: Convém a eles alterar a voz. (verbo no com o nome mais próximo, quando a qualidade per-
singular); tencer somente a este.
� Núcleo do sujeito no singular seguido de adjun- Ex.: Saudaram todo o povo e a gente brasileira.
to ou complemento no plural Foi um olhar, uma piscadela, um gesto estranho
Ex.: Conversa breve nos corredores pode gerar Quando o adjetivo funcionar como adjunto adno-
atrito. (verbo no singular). minal e estiver antes dos substantivos, poderá con-
cordar apenas com o elemento mais próximo. Ex.:
Casos Facultativos Existem complicadas regras e conceitos.
Quando houver apenas um substantivo qualifica-
z A multidão de pessoas invadiu/invadiram o do por dois ou mais adjetivos pode-se:
estádio; Colocar o substantivo no plural e enumerar o ad-
z Aquele comediante foi um dos que mais me fez/ jetivo no singular. Ex.: Ele estuda as línguas inglesa,
fizeram rir; francesa e alemã.
z Fui eu quem faltou/faltei à aula; Colocar o substantivo no singular e, ao enumerar
z Quais de vós me ajudarão/ajudareis? os adjetivos (também no singular), antepor um artigo
z “Os Sertões” marcou/marcaram a literatura a cada um, menos no primeiro deles. Ex.: Ele estuda a
brasileira; língua inglesa, a francesa e a alemã.
z Somente 1,5% das pessoas domina/dominam a
ciência. (1,5% corresponde ao singular); z Com função de predicativo do sujeito
z Chegaram/Chegou João e Maria;
z Um e outro / Nem um nem outro já veio/vieram Com o verbo após o sujeito, o adjetivo concordará
aqui; com a soma dos elementos.
z Eu, assim como você, odeio/odiamos a política Ex.: A casa e o quintal estavam abandonados.
brasileira; Com o verbo antes do sujeito o predicativo do su-
z O problema do sistema é/são os impostos; jeito acompanhará a concordância do verbo, que por
z Hoje é/são 22 de agosto; sua vez concordará tanto com a soma dos elementos
z Devemos estudar muito para atingir/atingirmos quanto com o nome mais próximo.
a aprovação; Ex.: Estava abandonada a casa e o quintal. / Esta-
z Deixei os rapazes falar/falarem tudo. vam abandonados a casa e o quintal.
Como saber quando o adjetivo tem valor de adjun-
to adnominal ou predicativo do sujeito? Substitua os
Silepse de Número e de Pessoa
substantivos por um pronome:
Ex.: Existem conceitos e regras complicados.
Conhecida também como “concordância irregular,
(substitui-se por “eles”)
ideológica ou figurada”. Vejamos os casos: Fazendo a troca, fica “Eles existem”, e não “Eles
existem complicados”.
z Silepse de número: usa-se um termo discordando Como o adjetivo desapareceu com a substituição,
do número da palavra referente, para concordar então é um adjunto adnominal.
com o sentido semântico que ela tem. Ex.: Flor tem
vida muito curta, logo murcham. (ideia de plurali- z Com função de predicativo do objeto
dade: todas as flores);
z Silepse de pessoa: o autor da frase participa do Recomenda-se concordar com a soma dos substan-

LÍNGUA PORTUGUESA/INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS


processo verbal. O verbo fica na 1ª pessoa do plu- tivos, embora alguns estudiosos admitam a concor-
ral. Ex.: Os brasileiros, enquanto advindos de dância com o termo mais próximo.
diversas etnias, somos multiculturais. Ex.: Considero os conceitos e as regras complicados.
Tenho como irresponsáveis o chefe do setor e
Concordância Nominal seus subordinados.

Define-se como a adaptação em gênero e número Algumas Convenções


que ocorre entre o substantivo (ou equivalente, como
o adjetivo) e seus modificadores (artigos, pronomes, � Obrigado / próprio / mesmo
adjetivos, numerais). Ex.: A mulher disse: “Muito obrigada”.
O adjetivo e as palavras adjetivas concordam em A própria enfermeira virá para o debate.
Elas mesmas conversaram conosco.
gênero e número com o nome a que se referem.
Ex.: Parede alta. / Paredes altas.
Muro alto. / Muros altos. Dica
O termo mesmo no sentido de “realmente” será
Casos com Adjetivos invariável.
Ex.: Os alunos resolveram mesmo a situação.
z Com função de adjunto adnominal: quando o
adjetivo funcionar como adjunto adnominal e esti- z Só / sós
ver após os substantivos, poderá concordar com Variáveis quando significarem “sozinho” /
as somas desses ou com o elemento mais próximo. “sozinhos”.
Ex.: Encontrei colégios e faculdades ótimas. / Invariáveis quando significarem “apenas,
Encontrei colégios e faculdades ótimos. somente”. 53
Ex.: As garotas só queriam ficar sós. (As garotas Ex.: Conheci crianças o mais belas possíveis. /
apenas queriam ficar sozinhas.) Conheci crianças as mais belas possíveis.
A locução “a sós” é invariável.
Ex.: Ela gostava de ficar a sós. / Eles gostavam de PLURAL DE COMPOSTOS
ficar a sós;
� Quite / anexo / incluso Substantivos
Concordam com os elementos a que se referem.
Ex.: Estamos quites com o banco. O adjetivo concorda com o substantivo referen-
Seguem anexas as certidões negativas. te em gênero e número. Se o termo que funciona
Inclusos, enviamos os documentos solicitados;
como adjetivo for originalmente um substantivo fica
� Meio
invariável.
Quando significar “metade”: concordará com o
Ex.: Rosas vermelhas e jasmins pérola. (pérola
elemento referente.
Ex.: Ela estava meio (um pouco) nervosa. também é um substantivo; mantém-se no singular)
Quando significar “um pouco”: será invariável. Ternos cinza e camisas amarelas. (cinza também é
Ex.: Já era meio-dia e meia (metade da hora); um substantivo; mantém-se no singular)
� Grama
Quando significar “vegetação”, é feminino; quan- Adjetivos
do significar unidade de medida, é masculino.
Ex.: Comprei duzentos gramas de farinha.
Quando houver adjetivo composto, apenas o últi-
“A grama do vizinho sempre é mais verde.”;
mo elemento concordará com o substantivo referente.
� É proibido entrada / É proibida a entrada
Os demais ficarão na forma masculina singular.
Se o sujeito vier determinado, a concordância do
verbo e do predicativo do sujeito será regular, ou Se um dos elementos for originalmente um subs-
seja, tanto o verbo quanto o predicativo concorda- tantivo, todo o adjetivo composto ficará invariável.
rão com o determinante. Ex.: Violetas azul-claras com folhas verde-musgo.
Ex.: Caminhada é bom para a saúde. / Esta cami- No termo “azul-claras”, apenas “claras” segue o
nhada está boa. plural, pois ambos são adjetivos.
É proibido entrada de crianças. / É proibida a No termo “verde-musgo”, “musgo” permanece no
entrada de crianças. singular, assim como “verde”, por ser substantivo.
Pimenta é bom? / A pimenta é boa?; Nesse caso, o termo composto não concorda com o
� Menos / pseudo plural do substantivo referente, “folhas”.
São invariáveis. Ex.: Calças rosa-claro e camisas verde-mar.
Ex.: Havia menos violência antigamente. O termo “claro” fica invariável porque “rosa” tam-
Aquelas garotas são pseudoatletas. / Seu argumen- bém pode ser um substantivo.
to é pseudo-objetivo; O termo “mar” fica invariável por seguir a mesma
� Muito / bastante
lógica de “musgo” do exemplo anterior.
Quando modificam o substantivo: concordam com
ele.
Quando modificam o verbo: invariáveis. Dica
Ex.: Muitos deles vieram. / Eles ficaram muito Azul-marinho, azul-celeste, ultravioleta e qual-
irritados.
quer adjetivo composto iniciado por “cor-de” são
Bastantes alunos vieram. / Os alunos ficaram bas-
tante irritados.
sempre invariáveis.
Se ambos os termos puderem ser substituídos por O adjetivo composto pele-vermelha tem
“vários”, ficarão no plural. Se puderem ser substi- os dois elementos flexionados no plural
tuídos por “bem”, ficarão invariáveis; (peles-vermelhas).
� Tal qual
Tal concorda com o substantivo anterior; qual, Lista de Flexão dos Dois Elementos
com o substantivo posterior.
Ex.: O filho é tal qual o pai. / O filho é tal quais os � Nos substantivos compostos formados por pala-
pais. vras variáveis, especialmente substantivos e
Os filhos são tais qual o pai. / Os filhos são tais adjetivos:
quais os pais. segunda-feira – segundas-feiras;
z Silepse (também chamada concordância matéria-prima – matérias-primas;
figurada) couve-flor – couves-flores;
É a que se opera não com o termo expresso, mas o
guarda-noturno – guardas-noturnos;
que está subentendido.
primeira-dama – primeiras-damas;
Ex.: São Paulo é linda! (A cidade de São Paulo é
� Nos substantivos compostos formados por
linda!)
Estaremos aberto no final de semana. (Estaremos temas verbais repetidos:
com o estabelecimento aberto no final de semana.) corre-corre – corres-corres;
Os brasileiros estamos esperançosos. (Nós, brasi- pisca-pisca – piscas-piscas;
leiros, estamos esperançosos.); pula-pula – pulas-pulas.
� Possível Nestes substantivos também é possível a flexão
Concordará com o artigo, em gênero e número, em apenas do segundo elemento: corre-corres, pisca-
54 frases enfáticas com o “mais”, o “menos”, o “pior”. -piscas, pula-pulas;
Flexão Apenas do Primeiro Elemento Funções Sintáticas

z Nos substantivos compostos formados por subs- � Pronome reflexivo com a função sintática de obje-
tantivo + substantivo em que o segundo termo to direto
limita o sentido do primeiro termo: Ex.: Elas não se encontram na redação;
decreto-lei – decretos-lei; � Pronome reflexivo com a função sintática do obje-
cidade-satélite – cidades-satélite; to indireto
público-alvo – públicos-alvo; Ex.: Ele atribuía-se o direito de julgar;
elemento-chave – elementos-chave. � Pronome reflexivo recíproco com a função sintáti-
ca do objeto direto
Nestes substantivos também é possível a flexão
Ex.: Admiravam-se de longe;
dos dois elementos: decretos-leis, cidades-satélites,
� Pronome reflexivo recíproco com a função sintáti-
públicos-alvos, elementos-chaves;
ca do objeto indireto
z Nos substantivos compostos preposicionados:
Ex.: Eles retribuíram-se as respectivas malvadezas;
cana-de-açúcar – canas-de-açúcar; � Pronome reflexivo com a função de sujeito de um
pôr do sol – pores do sol; infinitivo
fim de semana – fins de semana; Ex.: Ela deixou-se ir;
pé de moleque – pés de moleque. � Pronome apassivador
Ex.: Compram-se jornais;
Flexão Apenas do Segundo Elemento � Pronome de realce
Ex.: O mestre da outra escola sorriu-se da tradução;
� Nos substantivos compostos formados por tema � Índice de indeterminação do sujeito
verbal ou palavra invariável + substantivo ou Ex.: Assistiu-se a um belo espetáculo;
adjetivo: � Parte integrante dos verbos essencialmente
bate-papo – bate-papos; pronominais
quebra-cabeça – quebra-cabeças; Ex.: Queixou-se muito da vida;
arranha-céu – arranha-céus; � Conjunção subordinativa integrante
ex-namorado – ex-namorados; Ex.: Ela queria ver se conseguiria;
vice-presidente – vice-presidentes; � Conjunção subordinativa condicional
� Nos substantivos compostos em que há repeti- Ex.: Se eles vierem, serão bem-vindos.
ção do primeiro elemento:
FUNÇÕES DO QUE
zum-zum – zum-zuns;
tico-tico – tico-ticos;
Funções Morfológicas
lufa-lufa – lufa-lufas;
reco-reco – reco-recos;
z Pronome;
� Nos substantivos compostos grafados ligada-
z Substantivo;
mente, sem hífen: z Preposição;
girassol – girassóis; z Advérbio;
pontapé – pontapés; z Interjeição;
mandachuva – mandachuvas; z Conjunção.
fidalgo – fidalgos;
� Nos substantivos compostos formados com Funções Sintáticas
grão, grã e bel:

LÍNGUA PORTUGUESA/INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS


grão-duque – grão-duques; � Pronome relativo (igual a “o qual”, “a qual”)
grã-fino – grã-finos; Ex.: A curiosidade é um vício que desconhece
bel-prazer – bel-prazeres. termos;
Não flexão dos elementos; � Pronome substantivo indefinido (igual a “que coi-
� Em alguns casos, não ocorre a flexão dos elementos sa”) ligado ao verbo
formadores, que se mantêm invariáveis. Isso ocor- Ex.: Elas não sabiam o que fazer;
re em frases substantivadas e em substantivos � Pronome adjetivo indefinido (igual a “quanto”,
compostos por um tema verbal e uma palavra “quanta”) ligado ao substantivo
invariável ou outro tema verbal oposto: Ex.: Que alegria!
o disse me disse – os disse me disse; � Pronome interrogativo (no final de frase é
o leva e traz – os leva e traz; acentuado)
Ex.: Por que não vai conosco?
o cola-tudo – os cola-tudo.
Não vai conosco por quê?
� Substantivo (quando é antecedido de artigo) (é
FUNÇÕES DO SE
acentuado)
Ex.: Havia em seus olhos um quê de curiosidade;
Embora já tenhamos abordado esse tema anterior- � Preposição (a depender do contexto, pode ser subs-
mente, deixamos aqui uma síntese das funções mais tituído por “de”)
cobradas desse vocábulo. Ex.: A gente tem que explicar com franqueza cer-
tas coisas;
Funções Morfológicas � Advérbio de intensidade (igual a “muito”, ligado ao
adjetivo)
z Pronome; Ex.: Que bela tarde!
z Conjunção. � Interjeição (sempre acentuado) 55
Ex.: Quê! Você tem coragem? O nome exige um complemento nominal sempre
� Partícula expletiva iniciado por preposição, exceto se o complemento
Ex.: Que experto que é teu irmão! vier em forma de pronome oblíquo átono.
� Faz parte da locução expletiva Ex.: Os discípulos daquele mestre sempre lhe
Ex.: Ele é que sabe das coisas! foram leais.
� Conjunção causal (igual a “porque”) Observação: Complemento de “lhe”: predicativo
Ex.: Disse que não iria, que não tinha roupas do sujeito (desprovido de preposição)
adequadas; Pronome oblíquo átono: lhe
� Conjunção integrante Foram leais: complemento de “lhe”, predicativo do
Ex.: Suponhamos que elas viessem; sujeito (desprovido de preposição).
� Conjunção comparativa
Ex.: Uma era mais esperta que a outra; Regência Verbal
� Conjunção concessiva (igual a “embora”)
Ex.: Que não seja rico, sempre me casarei com ele; Relação de dependência entre um verbo e seu
� Conjunção condicional (igual a “se”) complemento. As relações podem ser diretas ou indi-
Ex.: Que você pague a promissória, hão de entre- retas, isto é, com ou sem preposição.
gar a mercadoria; Há verbos que admitem mais de uma regência sem
� Conjunção conformativa (igual a “conforme”) que o sentido seja alterado.
Ex.: Aos que dizem, os exames serão dificílimos; Ex.: Aquela moça não esquecia os favores
� Conjunção temporal recebidos.
Ex.: Chegados que foram à cabana, reviraram V. T. D: esquecia
tudo; Objeto direto: os favores recebidos.
� Conjunção final Aquela moça não se esquecia dos favores
Ex.: Fiz-lhe sinal que se calasse; recebidos.
� Conjunção consecutiva V. T. I.: se esquecia
Ex.: Falou tanto que ficou rouco; Objeto indireto: dos favores recebidos.
� Conjunção aditiva No entanto, na Língua Portuguesa, há verbos que,
Ex.: Anda que anda e nada encontra; mudando-se a regência, mudam de sentido, alterando
� Conjunção explicativa seu significado.
Ex.: Fique quieto, que eu quero dormir. Ex.: Neste país aspiramos ar poluídos.
(aspiramos = sorvemos)
FUNÇÕES DO SEM QUE V. T. D.: aspiramos
Objeto direto: ar poluídos.
Locução conjuntiva com valor de condição, con- Os funcionários aspiram a um mês de férias.
cessão, consequência, negação de consequência, (aspiram = almejam)
negação de causa, modo. Essa locução pode ser subs- V. T. I.: aspiram
tituída para formar orações subordinadas reduzidas Objeto indireto: a um mês de férias
de infinitivo. A seguir, uma lista dos principais verbos que
Ex.: “Empurrava a cadeira sem que a mãe corresse geram dúvidas quanto à regência:
atrás.”
Poderia ser reescrita como “Empurrava a cadeira � Abraçar: transitivo direto
sem a mãe correr atrás”, e então teríamos uma ora- Ex.: Abraçou a namorada com ternura.
ção reduzida de infinitivo. O colar abraçava-lhe elegantemente o pescoço;
Ex.: “A democracia não será efetiva sem liberda- � Agradar: transitivo direto; transitivo indireto
de de informação e não será exercida sem que esta Ex.: A menina agradava o gatinho. (transitivo dire-
esteja assegurada a todos os veículos de comunicação to com sentido de “acariciar”)
A notícia agradou aos alunos. (transitivo indireto
visual.”
no sentido de “ser agradável a”);
Poderia ser reescrita como “A democracia não será
� Agradecer: transitivo direto; transitivo indireto;
efetiva sem liberdade de informação e não será exer-
transitivo direto e indireto
cida sem esta estar assegurada a todos os veículos
Ex.: Agradeceu a joia. (transitivo direto: objeto não
de comunicação visual”, formando agora uma oração
personificado)
reduzida de infinitivo.
Agradeceu ao noivo. (transitivo indireto: objeto
personificado)
Agradeceu a joia ao noivo. (transitivo direto e indi-
reto: refere-se a coisas e pessoas);
REGÊNCIA NOMINAL E VERBAL � Ajudar: transitivo direto; transitivo indireto
Ex.: Seguido de infinitivo intransitivo precedido da
REGÊNCIA preposição a, rege indiferentemente objeto direto
e objeto indireto.
Regência é a maneira como o nome ou o verbo se Ajudou o filho a fazer as atividades. (transitivo
relacionam com seus complementos, com ou sem pre- direto)
posição. Quando um nome (substantivo, adjetivo ou Ajudou ao filho a fazer as atividades. (transitivo
advérbio) exige complemento preposicionado, esse indireto)
nome é um termo regente, e seu complemento é um Se o infinitivo preposicionado for intransitivo,
termo regido, pois há uma relação de dependência rege apenas objeto direto:
56 entre o nome e seu complemento. Ajudaram o ladrão a fugir.
Não seguido de infinitivo, geralmente rege objeto Referente à pessoa: objeto direto; referente à coi-
direto: sa: objeto indireto, com a preposição a
Ajudei-o muito à noite; Informaram a condenação ao réu;
� Ansiar: transitivo direto; transitivo indireto � Interessar-se: verbo pronominal transitivo indi-
Ex.: A falta de espaço ansiava o prisioneiro. (tran- reto, com as preposições em e por
sitivo direto com sentido de “angustiar”) Ex.: Ela interessou-se por minha companhia;
Ansiamos por sua volta. (transitivo indireto com � Namorar: intransitivo; transitivo indireto; transi-
sentido de “desejar muito” – não admite “lhe” tivo direto e indireto
como complemento); Ex.: Eles começaram a namorar faz tempo. (intran-
� Aspirar: transitivo direto; transitivo indireto sitivo com sentido de “cortejar”)
Ex.: Aspiramos o ar puro das montanhas. (transiti- Ele vivia namorando a vitrine de doces. (transitivo
vo direto com sentido de “respirar”) indireto com sentido de “desejar muito”)
Sempre aspiraremos a dias melhores. (transitivo “Namorou-se dela extremamente.” (A. Gar-
indireto no sentido de “desejar”); ret) (transitivo direto e indireto com sentido de
� Assistir: transitivo direto; transitivo indireto “encantar-se”);
Ex.: - Transitivo direto ou indireto no sentido de � Obedecer/desobedecer: transitivos indiretos
“prestar assistência” Ex.: Obedeçam à sinalização de trânsito.
O médico assistia os acidentados. Não desobedeçam à sinalização de trânsito;
O médico assistia aos acidentados. � Pagar: transitivo direto; transitivo indireto; transi-
- Transitivo direto no sentido de “ver, presenciar” tivo direto e indireto
Não assisti ao final da série; Ex.: Você já pagou a conta de luz? (transitivo direto)
Você pagou ao dono do armazém? (transitivo
indireto).
O verbo assistir não pode ser empregado no
Vou pagar o aluguel ao dono da pensão. (transitivo
particípio.
direto e indireto);
É incorreta a forma “O jogo foi assistido por milha-
� Perdoar: transitivo direto; transitivo indireto;
res de pessoas.”
transitivo direto e indireto
Ex.: Perdoarei as suas ofensas. (transitivo direto)
� Casar: intransitivo; transitivo indireto; transitivo
A mãe perdoou à filha. (transitivo indireto)
direto e indireto
Ela perdoou os erros ao filho. (transitivo direto e
Ex.: Eles casaram na Itália há anos. (intransitivo)
indireto);
A jovem não queria casar com ninguém. (transiti- � Suceder: intransitivo; transitivo direto
vo indireto) Ex.: O caso sucedeu rapidamente. (intransitivo no
O pai casou a filha com o vizinho. (transitivo dire- sentido de “ocorrer”).
to e indireto); A noite sucede ao dia. (transitivo direto no sentido
� Chamar: transitivo direto; transitivo seguido de de “vir depois”).
predicativo do objeto
Ex.: Chamou o filho para o almoço. (transitivo dire- Regência Nominal
to com sentido de “convocar”);
Chamei-lhe inteligente. (transitivo seguido de pre- Alguns nomes (substantivos, adjetivos e advér-
dicativo do objeto com sentido de “denominar, bios) exigem complementos preposicionados, exceto
qualificar”); quando vêm em forma de pronome oblíquo átono.
� Custar: transitivo indireto; transitivo direto e indi-
reto; intransitivo Advérbios Terminados em “mente”

LÍNGUA PORTUGUESA/INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS


Ex.: Custa-lhe crer na sua honestidade. (transitivo
indireto com sentido de “ser difícil”) Os advérbios derivados de adjetivos seguem a
A imprudência custou lágrimas ao rapaz. (transiti- regência dos adjetivos:
vo direto e indireto: sentido de “acarretar”) análoga / analogicamente a
Este vinho custou trinta reais. (intransitivo); contrária / contrariamente a
� Esquecer: admite três possibilidades compatível / compativelmente com
Ex.: Esqueci os acontecimentos. diferente / diferentemente de
Esqueci-me dos acontecimentos. favorável / favoravelmente a
Esqueceram-me os acontecimentos; paralela / paralelamente a
� Implicar: transitivo direto; transitivo indireto; próxima / proximamente a/de
transitivo direto e indireto relativa / relativamente a
Ex.: A resolução do exercício implica nova teoria.
(transitivo direto com sentido de “acarretar”) Proposições Semelhantes a Primeira Sílaba dos
Mamãe sempre implicou com meus hábitos. Nomes a que se Referem
(transitivo indireto com sentido de “mostrar má
disposição”) Alguns nomes regem preposições semelhantes a
Ele implicou-se em negócios ilícitos. (transitivo sua primeira sílaba. Vejamos:
direto e indireto com sentido de envolver-se”); dependente, dependência de
� Informar: transitivo direto e indireto inclusão, inserção em
Ex.: Referente à pessoa: objeto direto; referente à inerente em/a
coisa: objeto indireto, com as preposições de ou descrente de/em
sobre desiludido de/com
Informaram o réu de sua condenação. desesperançado de
Informaram o réu sobre sua condenação. desapego de/a 57
convívio com z É com Ç ou S? Após ditongos, usamos, geralmente,
convivência com Ç quando houver som de S, e escrevemos S quando
demissão, demitido de houver som de Z. Ex.: eleição; Neusa; coisa;
encerrado em z É com S ou com Z? palavras que designam nacio-
enfiado em nalidade ou títulos de nobreza e terminam em -ês
imersão, imergido, imerso em e -esa devem ser grafadas com S. Ex.: norueguesa;
instalação, instalado em inglês; marquesa; duquesa.
interessado, interesse em Palavras que designam qualidade, cuja termina-
intercalação, intercalado entre ção seja -ez ou -eza, são grafadas com Z:
Embriaguez; lucidez; acidez.
supremacia sobre
Essas regras para correção ortográfica das pala-
vras, em geral, apresentam muitas exceções; por isso é
ORTOGRAFIA OFICIAL importante ficar atento e manter uma rotina de leitu-
ra, pois esse aprendizado é consolidado com a prática.
ORTOGRAFIA Sua capacidade ortográfica ficará melhor a partir da
leitura e da escrita de textos, por isso, recomendamos
As regras de ortografia são muitas e, na maioria que se mantenha atualizado e leia fontes confiáveis de
dos casos, contraproducentes, tendo em vista que a informação, pois além de contribuir para seu conhe-
lógica da grafia e da acentuação das palavras, muitas cimento geral, sua habilidade em língua portuguesa
vezes, é derivada de processos históricos de evolução também aumentará.
da língua.
Por isso, vale lembrar a dica de ouro do aluno cra-
que em ortografia: leia sempre! Somente a prática de
leitura irá lhe garantir segurança no processo de gra- ACENTUAÇÃO GRÁFICA
fia das palavras.
Em relação à acentuação, por outro lado, a maior ACENTUAÇÃO
parte das regras não são efêmeras, porém, são em
grande número. Neste material, iremos apresen- Muitas são as regras de acentuação das palavras
tar uma forma condensada e prática de nunca mais da língua portuguesa; para compreender essas regras,
esquecer os acentos e os motivos pelos quais as pala- faz-se necessário entender a tonicidade das sílabas e
vras são acentuadas. respeitar a divisão das sílabas.
Ainda sobre aspectos ortográficos da língua portu-
guesa, é importante estarmos atentos ao uso de letras Regras de Acentuação
cujos sons são semelhantes e geram confusão quanto
à escrita correta. Veja: z Palavras monossílabas: Acentuam-se os monossí-
labos tônicos terminados em: A, E, O. Ex.: pá, vá,
z É com X ou CH? Empregamos X após os ditongos. chá; pé, fé, mês; nó, pó, só;
z Palavras oxítonas: acentuam-se as palavras oxíto-
Ex.: ameixa, frouxo, trouxe.
nas terminadas em: A, E, O, EM/ENS. Ex.: cajá, gua-
raná; Pelé, você; cipó, mocotó; também, parabéns;
USAMOS X: USAMOS CH: z Palavras paroxítonas: acentuam-se as paroxíto-
nas que não terminam em: A, E, O, EM/ENS. Ex.:
� Depois da sílaba em, se � Depois da sílaba em, se bíceps, fórceps; júri, táxis, lápis; vírus, úteis, lótus;
a palavra não for deri- a palavra for derivada de abdômen, hímen.
vada de palavras inicia- palavras iniciadas por
das por CH: enxerido, CH: encher, encharcar
enxada � Em palavras derivadas Importante!
� Depois de ditongo: cai- de vocábulos que são
xa, faixa grafados com CH: re- Acentuam-se as paroxítonas terminadas em
� Depois da sílaba inicial cauchutar, fechadura ditongo.
me se a palavra não for Ex.: imóveis, bromélia, história, cenário, Brasília,
derivada de vocábulo rádio etc.
iniciado por CH: mexer,
mexilhão
z Palavras proparoxítonas: A regra mais simples e
fácil de lembrar: todas as proparoxítonas devem
Fonte: instagram/academiadotexto. Acesso em: 10/10/2020.
ser acentuadas!
z É com G ou com J? Usamos G em substantivos
Porém, esse grupo de palavras divide uma polê-
terminados em: -agem; igem; -ugem. Ex.: viagem, mica com as palavras paroxítonas, pois, em alguns
ferrugem; vocábulos, o Vocabulário Ortográfico da Língua Por-
Palavras terminadas em: ágio, -égio, -ígio, -ógio, tuguesa (VOLP) aceita a classificação em paroxítona
-úgio. Ex.: sacrilégio, pedágio. ou proparoxítona.
Verbos terminados em -ger e -gir. Ex.: proteger, São as chamadas proparoxítonas aparentes.
fugir; Essas palavras apresentam um ditongo crescente no
Usamos J em formas verbais terminadas em -jar ou final de suas sílabas; esse ditongo pode ser aceito ou
-jer. Ex.: viajar, lisonjear. pode ser considerado hiato. É o que ocorre com as
58 Termos derivados do latim escritos com j; palavras:
HIS-TÓ-RIA/ HIS-TÓ-RI-A Faz todo sentido, não é? A ameaça da falta de dinhei-
VÁ-CUO/ VÁ-CU-O ro distorce nossa perspectiva de vida, colocando-nos
PÁ-TIO/ PÁ-TI-O numa espiral de incertezas. “Será que vou ter dinheiro
Antes de concluir, é importante mencionar o uso para pagar as contas? Será que vou conseguir traba-
do acento nas formas verbais ter e vir: lho? ” Isso tem um custo alto para a saúde mental.
Ele tem / Eles têm A pesquisadora canadense Evelyn Forget conseguiu
Ele vem / Eles vêm medir o impacto que as finanças têm na saúde men-
Perceba que, no plural, essas formas admitem o tal. Professora da Universidade de Toronto, em 2011
uso de um acento (^); portanto, atente-se à concordân- ela publicou um artigo chamado “A cidade sem pobre-
cia verbal quando usar esses verbos. za: os efeitos de saúde de um experimento canadense
de renda anual garantida” (tradução minha). De 1974 a
1979, uma cidade da província de Manitoba, no Canadá,
foi palco de uma experiência. O governo deu a todos
HORA DE PRATICAR! os habitantes da cidade de Dauphin uma renda mínima
anual. Para cada dólar canadense que cada cidadão
1. (IDECAN — 2020) Texto 2 ganhava, o governo dava um adicional de 50 centavos.
Concluído há mais de 40 anos, o experimento só teve
Pobreza tem impacto direto na saúde mental seus resultados revelados em 2011, por Evelyn Forget.
Os dados ficaram esquecidos e nunca foram anali-
Transtornos mentais não são frutos apenas de dese- sados. A pesquisadora se surpreendeu com o que
quilíbrios químicos e fatores biológicos. O contexto encontrou. De uma maneira geral, a saúde dos habi-
social e econômico em que vivemos tem uma grande tantes de Dauphin melhorou. Está incluída aí, é claro,
influência em nossa saúde mental. a saúde mental. Sem a pressão de ter que lutar pela
mínima sobrevivência, as pessoas passaram a viver
DIOGO RODRIGUEZ melhor, mostrou Forget.

Desde 2011 trabalho de maneira autônoma. Já contei Disponível em: https://vidasimples.co/colunistas/pobreza-


tem-impacto-direto-na-saude-mental/. Acesso em: 30/11/2019
aqui que sou jornalista freelancer; há alguns meses, (Adaptado)
estou me dedicando ao meu próprio negócio depois
de fazer um curso de empreendedorismo nos Estados
Assinale a única alternativa que contenha sinônimos
Unidos. Faz muito tempo que não tenho emprego fixo.
dos termos abaixo, retirados do Texto 2, grafados de
Tenho uma forte suspeita de que foi durante esse
acordo com as normas da ortografia oficial da Língua
período que comecei a “desenvolver” ansiedade gene-
Portuguesa.
ralizada e depressão. Antes, eu recebia um salário fixo
e sabia o quanto podia gastar no final do mês. Quando
autônoma (l.1), ansiedade (l.11), medir (l.23) e distor-
me tornei autônomo, tive de passar a conviver com a
ce (l.20)
incerteza financeira.
É impossível saber o quanto você vai ganhar a cada
a) autossuficiente, apreenssão, aferir e deturpa
mês. Isso teve várias consequências para mim. Com
b) auto-suficiente, aprensão, auferir e desturpa
medo de não ganhar o suficiente, comecei a procu-
c) autossuficiente, apreenção, auferir e deturpa
rar por trabalhos desesperadamente. Aceitava o que
d) autos-suficiente, apreensão, aferir e derturpa
aparecesse, não importava a dificuldade da tarefa.
e) autossuficiente, apreensão, aferir e deturpa
Assim, fui me enchendo de coisas a fazer e prazos
a cumprir. Para conseguir dar conta de tudo, passei

LÍNGUA PORTUGUESA/INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS


a trabalhar dez, às vezes 12 horas por dia. Nem os 2. (IDECAN — 2022) Assinale a alternativa em que a
finais de semana escapavam mais porque sempre acentuação está empregada corretamente.
havia algo a ser feito.
Obviamente que o nível de ansiedade foi ao extremo a) O documento apresentado contém equivocos.
e atrapalhou o resto de minha vida. Dormia menos, b) Não eram pessoas mas, más não sabiam o certo.
comia mal, pouco me divertia, estava sempre pensan- c) Os participantes receberam bonus para pagar os táxis
do em trabalho e na necessidade de ganhar dinheiro. d) As desculpas do filho ajudaram a reduzir as mágoas
Aos poucos, fui me desgastando e perdendo a capaci- dos pais.
dade de prestar atenção aos detalhes. e) Eles comeram vatapa de galinha com arroz e beberam
Tanta pressão interna e externa fez a qualidade do café serrano.
meu trabalho cair. Perdi prazos, entreguei trabalhos de
qualidade ruim. O resultado foi que pessoas que antes 3. (IDECAN — 2021)
confiavam em mim pararam de me chamar para tra-
balhar. A ansiedade por ter trabalho e ganhar dinheiro Em outros sistemas solares, estrelas semelhantes ao sol
teve o efeito oposto. Não muito tempo depois de per- “engolem” planetas que as orbitam
ceber isso, resolvi procurar tratamento.
Por que estou falando disso? Bom, porque, como eu De acordo com uma pesquisa publicada na revista
disse na coluna da semana passada, transtornos men- científica Nature Astronomy, nesta segunda-feira, 30,
tais não são frutos apenas de desequilíbrios químicos pelo menos um quarto das estrelas semelhantes ao
e fatores biológicos. O contexto social e econômico Sol canibalizam os planetas que as orbitam, segundo
em que vivemos tem uma grande influência. Hoje, o portal de notícias G1.
diversas pesquisas conseguem mensurar o efeito que A nossa Galáxia tem muitos sistemas planetários e
a insegurança econômica causa em nós. os cientistas já haviam descoberto que muitos deles
são diferentes do nosso Sistema Solar. Mas, com essa
59
recente pesquisa, é possível entender a razão: não há (IBGE). O índicea estadual contrasta com a média nacio-
tantos sistemas planetários vizinhos semelhantes ao nal, que aponta para um saldo positivo (3,9%)
nosso, em que os planetas orbitam o Sol em uma orde- No mesmo períodob, a receita nominal do setor da
nação bem estruturada. Na verdade, em pelo menos Paraíba, embora tenha tido alta de 9,7%, registrou tam-
25% dos casos, a estrela central pode ter “consumido” bém a 3ª menor variação do Brasil, inferior à média
alguns planetas que a orbitavam. do país (15,1%). Em ambos os casos, os indicadores
O estudo observou a composição química de estrelas paraibanos foram os menores do Nordeste.
de tipo solar em mais de 100 sistemas binários, que Já frente aos resultados de agosto deste ano, o volu-
são compostos por duas estrelas gêmeas com a mes- me de vendas paraibano teve retração de 1,4% em
ma composição química. setembro, próxima à observada na média do Brasil
A pesquisa foi elaborada pela Universidade de São (–1,3%). Por outro lado, foi verificado um crescimen-
Paulo (USP) e centros da Itália, Austrália e Estados to de 0,6% na receita do estado, enquanto no cenário
Unidos. Foi usado o telescópio do Observatório La nacional houve redução de 0,2%.
Silla, administrado pelo Observatório Europeu do Sul Estec ano, até o mês pesquisado, o volume brasileiro de
(ESO) e localizado no Deserto do Atacama, Chile. vendas do comércio varejista apresentou expansão de
Algumas estrelas irmãs não tinham a mesma com- 3,8%, no comparativo com o mesmo período de 2020,
posição química, pois uma delas possuía uma quan- ao passo que o paraibano teve queda de 1,1%. Contu-
tidade maior de lítio e ferro, abundantes nos planetas do, nos dois recortes territoriais, o saldo da receita foi
rochosos. positivo, de 16,3% e 10,4%, respectivamente, embora o
Para Jorge Meléndez, professor do Departamento de indicador da Paraíba tenha sido o 3º menor do Brasil.
Astronomia da USP e um dos autores da pesquisa, as No comércio varejista ampliado paraibano – que inclui
estrelas que apresentavam abundância destes ele- as atividades de veículos, motos, partes e peças e de
mentos haviam dissolvido, em sua parte mais exter- material de construção –, foram observadas varia-
na, os planetas do seu próprio sistema solar. Sendo ções positivas no acumulado de 12 meses, tanto no
assim, foram apelidadas de “estrelas canibais”. volume de vendas (6,1%), como na receita (16,9%).
A publicação enfatizou que as estrelas binárias qui- Em ambosd os casos, porém, os resultados do esta-
micamente não homogêneas são exemplos contra- do foram inferiores às médias nacionais, de 7% e 19%,
ditórios na astrofísica estelar e que ainda estudam a respectivamente.
causa das diferentes composições. Na comparação dos resultados de setembro com os
“Ainda não está claro se as variações de abundância de agosto, houve redução de 0,2% no volume estadual
química são o resultado de não homogeneidades nas e de 1,1% no nacional. Entretanto, as receitas dos seto-
nuvens de gases protoestelares [da formação estre- res aumentaram 0,8% e 0,3%, respectivamente.
lar] ou são devidas a eventos de engolfamento de
planetas (...) O primeiro cenário abala a crença geral (Jornal da Paraíba, 11/11/2021. Disponível em: https://
de que a composição química das estrelas fornece as jornaldaparaiba.com.br/economia/2021/11/11/paraiba-registra-
queda-no-volume-de-vendas-do-comercio-varejista-diz-ibge)
informações fósseis do ambiente em que se forma-
ram, enquanto o segundo cenário lança luz sobre os
possíveis caminhos evolutivos dos sistemas planetá- 4. (IDECAN — 2021) Na comparação dos resultados de
rios”, afirma o estudo. setembro com os de agosto, houve redução de 0,2%
no volume estadual e de 1,1% no nacional.
(Luíza Feniar Migliosi. Aventuras na História. https:// No período acima, há quantos artigos?
aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/historia-hoje/em-outros-
sistemas-solares-estrelas-semelhantes-ao-sol-engolem-planetas-
que-as- orbitam.phtml. 31/8/2021) a) Três.
b) Quatro.
Em protoestelares, a palavra apresenta o elemento c) Cinco.
“proto”, que significa “primeiro, primário, primitivo”. Daí d) Seis.
a explicação entre colchetes, dando a ideia de “forma-
ção” da estrela. Com base nessa informação, assinale 5. (IDECAN — 2021) Assinale a alternativa em que o pala-
a alternativa em que a palavra NÃO apresente o mes- vra indicada desempenhe, no texto, papel dêitico.
mo sentido para o elemento “proto”.
a) índice
a) protótipo b) período
b) protozoário c) Este
c) protestar d) ambos
d) protista
6. (IDECAN — 2021) Por outro lado, foi verificado um
Leia o texto a seguir para responder às questões 4, 5 e 6. crescimento de 0,6% na receita do estado, enquanto
no cenário nacional houve redução de 0,2%.
Paraíba registra queda no volume de vendas do comér-
cio varejista, diz IBGE O elemento em destaque no período acima apresenta
sentido de
O volume de vendas do comércio varejista paraibano apre-
sentou a 3ª menor variação do país no acumulado em 12 a) tempo.
meses (–0,7%), segundo a Pesquisa Mensal do Comércio b) finalidade.
(PMC) referente a setembro, divulgada nesta quinta-fei- c) concessão.
ra (11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística d) oposição.

60
7. (IDECAN — 2021) por exemplo, determinação para que os aspirantes
tenham acesso a um módulo de 14 horas de aulas
Policiais assassinados no Brasil são negros na sobre diversidade étnico-racial.
maioria Procurado, o Ministério da Justiça não respondeu.

No ano passado, 194 policiais foram assassinados no (Anelise Gonçalves, Marcelo Azevedo, Matheus Rocha, Paulo
país, e 63% deles eram negros. Eduardo Dias, Paulo Ricardo Martins e Vitor Soares.
Folha de S.Paulo, 1º ago.2021.)
Para Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Bra-
sileiro de Segurança Pública, a ideia de que policiais
“A formação profissional está eivada de crenças,
são heróis os deixa mais vulneráveis e contribui para o
valores e preconceitos de um sistema de representa-
aumento no número de mortes.
ção sobre o que é polícia, o que é criminoso, o que é
“Eles tendem a reagir a qualquer situação por causa mulher, o que é o menor e o que é o negro”, aponta.
da ideia fantasiosa de que se é policial 24 horas por Pela sequência em destaque no período acima, os
dia.” termos polícia, criminoso, mulher, menor e negro são,
Mesmo em um ano com menor circulação de pessoas respectivamente,
nas ruas, devido à pandemia, a quantidade de mortes
de agentes de segurança pública cresceu 13% no país a) adjetivo, adjetivo, adjetivo, substantivo, substantivo.
em relação a 2019. b) adjetivo, adjetivo, adjetivo, adjetivo, adjetivo.
Segundo o último anuário do Fórum Brasileiro de c) substantivo, substantivo, substantivo, adjetivo, adjetivo.
Segurança Pública, 7 a cada 10 mortes ocorreram fora d) substantivo, substantivo, substantivo, substantivo,
do horário de trabalho dos policiais. Eles foram mortos substantivo.
em passeios, no trajeto de ida e volta da corporação e) substantivo, adjetivo, substantivo, adjetivo, substantivo.
ou quando faziam serviços paralelos, os ‘‘bicos’’, ile-
gais, mas realizados para complementar a renda. 8. (IDECAN — 2021)
A reportagem ouviu um policial militar que atua no Rio
de Janeiro há 20 anos. Estudo sugere que metano em lua de Saturno pode ser
indicativo de vida
“Entrei por querer estabilidade, depois me apaixo-
nei pela profissão”, diz ele, que pediu para não ser A pequena Encélado encontrou uma “fosfina” para
identificado. chamar de sua. Um grupo de pesquisadores sugere
O PM criticou o treinamento dado pela corporação: ‘‘O que a presença de metano nas quantidades observa-
policial acaba aprendendo na rua’’, diz. E reclamou da das nas plumas de água que são ejetadas da lua de
falta de apoio jurídico, do Estado, da sociedade e dos Saturno não pode ser explicada por qualquer mecanis-
superiores ao trabalho do policial. mo conhecido, salvo vida.
Sobre o fato de negros serem as maiores vítimas da O resultado lembra muito as conclusões dos pesqui-
violência, ele descarta preconceito. Na sua visão, sadores liderados por Jane Greaves, da Universidade
ocorre porque a maioria da população é de pessoas de Cardiff, no Reino Unido, que detectaram fosfina nas
negras. “Policial não escolhe criminoso.” nuvens de Vênus(a). Eles também não cravaram que era
Para a socióloga Paula Poncioni, pesquisadora da um sinal de vida, mas indicaram não conhecer mecanis-
UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), falhas mo alternativo capaz de explicar as quantidades.
de formação são um dos fatores que explicam o O novo estudo, liderado por Régis Ferrière, da Univer-
desempenho policial. “Muitas vezes, há um currículo sidade do Arizona, nos EUA, e Stéphane Mazevet, da
ajustado à matriz nacional, mas não há professores

LÍNGUA PORTUGUESA/INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS


Universidade Paris Ciências & Letras, na França, foi
qualificados, as aulas são recheadas de preconceitos”, publicado(b) na revista Nature Astronomy e segue a
diz a autora de “Tornar-se Policial’’ (Editora Appris). trilha dos achados(c) da sonda Cassini, que em 2017
A letalidade policial, para Poncioni, decorre de uma causou furor ao cruzar as plumas e detectar nelas a
sociedade “muito violenta e muito hierárquica”. Ela presença de hidrogênio molecular e metano(d).
afirma que a polícia mata mais no Brasil por represen- Sabe-se que, sob a crosta congelada de Encélado, há
tar o pensamento geral da sociedade, refletido na com- um oceano de água líquida, em contato direto com um
posição dos governos que administram as polícias. leito rochoso. É de lá que partem as plumas, ejetadas
“A formação profissional está eivada de crenças, a partir de fissuras no gelo. Na Terra, fumarolas no
valores e preconceitos de um sistema de representa- fundo do oceano são o lar de muitas(e) formas de vida
ção sobre o que é polícia, o que é criminoso, o que é metanogênicas: elas consomem hidrogênio e despe-
mulher, o que é o menor e o que é o negro”, aponta. jam metano. Na lua saturnina, encontramos ambos,
O ouvidor da Polícia do Estado de São Paulo, Elizeu o que fez muitos evocarem o oceano subsuperficial
Soares Lopes, diz considerar a formação da polícia como habitável. Mas daí a habitado são outros 500.
muito boa, mas ressalva que é preciso reforço. “Insis- Até porque há outros processos de geração de meta-
timos na necessidade de ações formativas em direitos no que não envolvem formas de vida, como a interação
humanos. A qualificação e a requalificação permanen- de água com certos minerais, no processo conhecido
te dos quadros da polícia são fundamentais, seja ela como serpentinização.
civil, militar ou técnico-científica.” O trabalho de Ferrière e Mazevet consistiu em tentar
Hoje, a matriz curricular que define as regras para a determinar a origem do metano sem precisar ir até lá
formação de policiais no Brasil está em sua segunda para checar.
versão, editada em 2014, no governo Dilma Rousseff Em vez disso, o grupo modelou matematicamente a
(PT). Nela, o Ministério da Justiça orienta as ações probabilidade de que diferentes processos, dentre
formativas dos profissionais. Na grade dos cursos há, eles metanogênese biológica, ou seja, a produção de 61
metano por formas de vida, pudessem explicar o resul- Pedagogos e especialistas são unânimes em afirmar
tado colhido pela Cassini. que a primeira infância, delimitada pelo período entre
A pergunta central era: a quantidade seria compatível o nascimento e os seis anos de idade, é uma etapa
com processos puramente geológicos? E a resposta fundamental para o aprendizado, formação do caráter
dos pesquisadores é “não” – mas só até onde sabe- e do universo cognitivo das crianças. Este é definido
mos. Eles apontam que das duas uma: ou está rolando como o conjunto de referências com as quais o indiví-
metanogênese por micróbios no interior de Encélado, duo percebe, reconhece e interpreta o mundo.
ou há algum fenômeno desconhecido, sem igual na Numerosos estudos científicos, de múltiplas áreas,
Terra, capaz de gerar a substância. dentre elas a neurociência e a psicologia, classificam
Na soma dos resultados, podemos olhar o copo meio esse primeiro ciclo como o que apresenta as maiores
cheio ou meio vazio. Por um lado, é empolgante que possibilidades para a constituição das competências
tenhamos já detectado compostos que podem sina- humanas. A primeira delas é o desenvolvimento da
lizar a presença de vida em tantos astros (fosfina em interatividade social, fator de imensa importância para
Vênus, metano em Encélado e em Marte). Por outro as pessoas ao longo de toda a vida. Nesse aspecto, a
lado, as conclusões são mais especulativas do que educação na primeira infância é crucial, pois a criança
gostaríamos até o momento. Para todos os casos, ain- passa a se relacionar com outras e com os professores,
da é inteiramente possível, quiçá provável, que a expli- fora do ambiente de suas casas, percebendo que fazem
cação dispense atividade biológica. Em todos, o que parte de um universo mais amplo, com regras, direitos,
falta são mais observações. Será preciso enviar novas deveres e necessidade de respeitar e ser respeitado.
sondas até lá, se quisermos desfazer esses mistérios. Outra habilidade de alta relevância é a linguagem, em
suas distintas expressões, como a oral, escrita, corpo-
(Salvador Nogueira. Folha de S.Paulo, 18.jul.2021)
ral, musical e em cada disciplina ou situação especí-
fica. O seu desenvolvimento é uma função primordial
Assinale a alternativa em que o termo indicado desem- do ensino na infância. Todos esses indicadores evi-
penhe, no texto, papel adjetivo. denciam como é prioritário o atendimento das crian-
ças em creches e no ensino maternal.
a) Vênus
Estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS) mos-
b) publicado
tra que investir no desenvolvimento da primeira infância,
c) achados
provendo saúde, nutrição, segurança e aprendizagem,
d) metano
contribui para a redução da pobreza, a um custo baixís-
e) muitas
simo para os governos. O Unicef (Fundo das Nações
Unidas para a Infância) também aponta que o estímulo
9. (IDECAN — 2020) Na frase abaixo, a ordem cronológi-
e acompanhamento nessa etapa da vida podem que-
ca em que as ações acontecem é inferida pelo leitor
brar ciclos de pobreza e vulnerabilidade.
como a mesma em que os verbos estão distribuídos
na frase. Sabendo disso, assinale a única alternativa Investir na formação dos brasileiros desde o nasci-
em que a ordem cronológica das ações referidas na mento é uma prioridade que deve mobilizar o governo,
frase abaixo permanece a mesma. o terceiro setor, as famílias e toda a sociedade. Cuidar
das crianças e de seu futuro é uma ação decisiva para
“O professor Felipe percebeu que sua turma seria mitigarmos as desigualdades, promovermos a inclu-
difícil, conversou com colegas e analisou cada aluno são socioeconômica e construirmos um país melhor.
individualmente.”
10. (IDECAN — 2022) A trecho destacado em “Este é defi-
a) Depois de analisar cada aluno individualmente, o pro- nido como o conjunto de referências com as quais o
fessor Felipe percebeu que sua turma seria difícil e por indivíduo percebe, reconhece e interpreta o mundo.” É
isso conversou com seus colegas. morfologicamente classificada como
b) O professor Felipe conversou com colegas e em segui-
da analisou cada aluno individualmente, pois percebe- a) Artigo.
ra que sua turma seria difícil. b) Preposição.
c) Após perceber que sua turma seria difícil, o profes- c) Pronome.
sor Felipe analisou cada aluno individualmente e em d) Advérbio.
seguida conversou com colegas. e) Substantivo.
d) O professor Felipe analisou cada aluno individualmen-
te depois de, ao conversar com colegas, perceber que 11. (IDECAN — 2022) A temática principal trabalhada no
sua turma seria difícil. texto acima é:
e) O professor Felipe percebeu que sua turma seria difí-
cil, pois conversara com colegas e tinha analisado a) O desenvolvimento da interatividade social na primeira
cada aluno individualmente. infância.
b) A necessidade de se investir na educação dos brasileiros.
Leia o texto a seguir para responder às questões 10 e 11. c) O caráter essencial da educação na primeira infância.
d) O universo cognitivo das crianças.
Por que a educação na primeira infância é uma etapa e) A mobilização para que o Governo dê mais assistência
fundamental as famílias de estrema pobreza e vulnerabilidade.

Investir na formação dos brasileiros desde o nasci-


mento é uma prioridade que deve mobilizar o governo,
o terceiro setor, as famílias e toda a sociedade
62
12. (IDECAN — 2021) Texto comportamento da sociedade, já estivessem sendo
preparadas, e acabaram sendo antecipadas como res-
Epidemias e comportamentos: quem muda o quê? posta à crise.
Nosso estilo de vida nos levou a grandes avanços tec-
Importantes vetores de nosso comportamento, os nológicos, bem como a uma forte expansão territorial
grandes desafios – como a pandemia da covid-19 – da nossa presença, todavia nos revelou o quanto pre-
nos incitam a discutir o que provocou os cenários de cisamos amadurecer enquanto sociedade, entendendo
conflagração e inspiram mudanças profundas, tanto nossa responsabilidade para com o planeta e todas as
em escala individual quanto social. Hoje, o que apli- espécies que nele habitam. Mostrou-nos que talvez pre-
camos na tentativa de contornar os impasses reflete cisemos revisitar os conceitos de “viver em sociedade”
um conjunto de conhecimentos e experiências de um e refletir como a evolução dessa sociedade está intrin-
tempo muitas [A] vezes não tão remoto. secamente relacionada às maneiras como o grupo tra-
Resgatar medidas e enfrentamentos do passado pode balha de forma cooperativa [D], na saúde ou na doença.
favorecer estratégias mais eficazes no presente, daí a
importância de relembrar crises sanitárias já enfrenta- (Mellanie Fontes-Dutra. https://cienciafundamental.blogfolha.uol.
com.br/2021/10/30/epidemias-e-comportamentos-quem-muda-o-
das – não só no Brasil, mas também no mundo.
que/. 30.out.2021)
Em 1910, um surto de uma doença misteriosa – que
ficaria conhecida como praga da Manchúria – asso- Assinale a alternativa que apresente uma palavra que
lou o nordeste [B] da China, somando 60 mil óbitos desempenhe, no texto, papel adverbial.
num período de quatro meses. Foi graças ao médico
malaio Wu Lien-teh que uma ideia inovadora foi lança- a) muitas
da, baseada em conclusões de que essa peste, cau- b) nordeste
sada pela bactéria Yersinia pestis (sim, você já ouviu c) individual
falar dela na peste bubônica) poderia se transmitir de d) cooperativa
pessoa a pessoa, possivelmente por gotículas respira-
tórias. A partir de então, o médico aconselhou que se 13. (IDECAN — 2022) Observe o diálogo abaixo:
usassem máscaras para tratar pacientes infectados,
protocolo que se estendeu a todos os profissionais de
saúde, estivessem ou não às voltas com essa praga.
E também recomendou a criação de centros de qua-
rentena, bem como insistiu que as autoridades decre-
tassem medidas de restrição da movimentação das
pessoas. Lembra alguma coisa?
Logo depois, em 1918, o mundo conheceu a gripe espa-
nhola, provocada pelo vírus influenza, responsável por
cerca de 35 mil óbitos só no Brasil. Diante de todas
as dificuldades e desafios para esse enfrentamento,
a sociedade brasileira passou por uma transformação
profunda e necessária envolvendo a saúde pública no
país, uma vez que, em muitos lugares (no Brasil e no
mundo), indivíduos de classe média ou alta detinham Disponível em https://domacedo.blogspot.com/2017/07/certas-
palavras.html
o privilégio de consultas médicas. Nossa história com
os vírus influenza teve outros capítulos, um dos quais

LÍNGUA PORTUGUESA/INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS


em 2009, com a tal “gripe suína” que deve estar na Transcrição:
memória de muita gente. Foi então que se disseminou
o uso do álcool gel, não mais um alien oferecido na - Essas refeições alentadas me deixam esfalfado!
entrada de um restaurante ou local público. Ao longo - Toda vez que a gente vem comer aqui, você fala como
da epidemia dessa gripe, fechamos escolas e redu- otário!
zimos a circulação das pessoas para enfrentar esse
agente infeccioso. De novo, lembra alguma coisa? Assinale a alternativa correta que traga os respectivos
significados das palavras grifadas.
Grandes pandemias apresentam um fator em comum:
a transmissão alta e generalizada de um agente infec-
cioso que passa a infectar nossa espécie, e para o a) Demoradas – estufado.
qual ainda não temos alternativa terapêutica. Mas b) Saborosas – esgotado.
experiências anteriores nos revelam que medidas não c) Estimulantes – animado.
farmacológicas, às quais podemos aderir tanto indivi- d) Deliciosas – agraciado.
dual [C] quanto socialmente, são críticas para conter e) Estimulantes – esgotado.
a propagação. Por outro lado, modificações significa-
tivas na sociedade precisam ser um legado do pós-
-pandemia. Não devemos temê-las ou enxergá-las
como uma tentativa de sequestro do que costumá-
vamos entender como “normal” antes desse evento.
São, antes, uma oportunidade de trilhar novos cami-
nhos capazes de driblar situações futuras passíveis
de se transformarem em grandes desafios, evitando
assim incorrer em erros do passado. É possível ain-
da que muitas das mudanças daqui para frente, no
63
Leia o texto a seguir para responder às questões 14 e d) A 13ª Olimpíada Internacional de Astronomia foi a edi-
15. ção com maior número de estudantes inscritos.
e) Na 12ª edição da Olimpíada Internacional de Astrono-
Texto 3 mia houve menos de 47 delegações.

Brasil conquista 3 bronzes na Olimpíada Internacional 16. (IDECAN — 2022) Assinale a alternativa em que a pon-
de Astrofísica tuação está corretamente empregada.

O Brasil terminou a 13ª Olimpíada Internacional de a) O homem que esteve aqui ontem, falou que voltaria hoje.
Astronomia com três medalhas conquistadas e duas b) Amanhã de manhã, todos iremos ver a apresentação.
menções honrosas. O bom desempenho na disputa c) Os alunos só vislumbravam uma possibilidade; estudar!
intelectual foi um feito de Raul Basilides Gomes (17), d) Gostávamos muito de, georgrafia, matemática e inglês.
de Fortaleza, Giovanna Girotto (16) e Luã de Souza e) Assim dizia Júlio César; “vim, vi e venci”.
Santos (17), de São Paulo, que garantiram três meda-
lhas de bronze, e dos estudantes de São Paulo, Lucas 17. (IDECAN — 2021) Texto para a questão.
Shoji (16) e Bruna Junqueira de Almeida (16), com
duas menções honrosas. Cultura alimentar nas políticas culturais do Brasil
O evento aconteceu em Kszthely, na Hungria. Dos dias
2 a 10 deste mês, 254 estudantes de 47 países foram A ideia de que “comida é cultura” talvez seja facilmen-
submetidos a provas práticas, teóricas e de análise de te compreendida, pois o ato de se alimentar constrói
dados. A competição reuniu um número recorde de sentidos, significados, memórias, silenciamentos, vio-
delegações. lência, opressões apagamentos em cada individuo e
Para formar a equipe que competiu, foi necessário na coletividade. A cultura, assim como a comida, por
aplicar provas em todo o território nacional. Os cinco estar presente em diferentes dimensões da vida e das
integrantes do time brasileiro tiveram que percorrer um prática sociais, corre o risco de, muitas vezes, ser des-
longo caminho na Olimpíada Brasileira de Astronomia locada e realocada na produção de conhecimento e
e Astronáutica (OBA) realizada em 2018. A seleção foi na ação política. Com Isso, desconsidera-se a centra-
dividida em etapas: a primeira com mais de 100 mil lidade da cultura no desenvolvimento da humanidade,
inscritos, dos quais 5,3 mil foram escolhidos para rea- que vai desde o surgimento da técnica e da linguagem
lizar uma prova online, então 150 participantes foram à sua Inclusão nas poIíticas públicas.
convocados para realizar uma prova presencial. O antropólogo Jesus Contreras e antropóloga Mabel
Mas os testes não pararam por aí. Na prova presen- Gracia compreendem a cultura alimentar como um
cial, 30 jovens foram selecionados para fazer treina- conjunto de representações, crenças, conhecimentos
mentos intensivos classificatórios durante 1 semana e práticas. Pode ser herdada ou aprendida esta asso-
com astrônomos. Essa etapa aconteceu no primeiro ciada à alimentação compartilhada por indivíduos de
semestre de 2019, e só então foi escolhida a equipe uma cultura. De Igual forma, a compartilharmos uma
dos cinco. cultura, Contreras e Gracia afirmam que tendemos a
atuar de forma similar como fazemos com a comida,
Disponível em: https://www.tecmundo.com.br/ciencia/144968- ou seja, somos guiados por orientações, preferências
brasil-conquista-tres-bronzes-olimpiada-internacional-astrofisica.
e sanções autorizadas por determinada cultura.
htm/. Acesso em: 28/11/201
Em diálogo com essa perspectiva, a antropóloga Maria
Emília Pacheco, assessora da ONG Fase a integrante
14. (IDECAN — 2020) No período “Para formar a equipe
do Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimen-
que competiu, foi necessário aplicar provas em todo
tar e Nutricional (FBSSAN), enfatiza o papel substan-
o território nacional.” (l. 7), o trecho em destaque é
tivo e político da cultura nos sistemas alimentares, e
classificado, sintaticamente, como
não como um adjetivo. Considera que a alimentação
se expressa em representações, envolve escolhas,
a) oração subordinada substantiva objetiva direta.
símbolos e classificações que mostram as visões
b) oração subordinada substantiva subjetiva.
sobre a história e as tradições alimentares.
c) oração subordinada adjetiva.
É também no contexto histórico de lutas por direitos
d) oração subordinada adverbial.
sociais que o sentido político da cultura vem sendo
e) sujeito simples.
construido. Em 2016, a carta política do II Seminário
Nacional de Educação em Agroecologia, organizado
15. (IDECAN — 2020) Assinale a única alternativa que nos pela Associação Brasileira de Agroecologia (ABA),
apresenta uma informação que está implícita no Texto destacou a cultura como “elemento político de diálogo
3. com os territórios, uma vez que é a representação da
diversidade e dos saberes populares” e a definiu como
a) Todos os inscritos na Olimpíada Brasileira de Astrono- memória por denotar a necessidade de reconhecer os
mia e Astronáutica tinham intenção de concorrer às 5 saberes ancestrais, aprender com eles e renová-los.
vagas brasileiras para a 13ª Olimpíada Internacional Essas ideias sobre a cultura dialogam com as do pensa-
de Astronomia. dor francês Edgar Morin; ao entendê- la como “memória
b) Não são realizadas provas presenciais na Olimpíada generativa depositária das regras de organização social,
Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA). ela É fonte produtora de saberes, competências e progra-
c) 30 jovens que fizeram treinamentos intensivos clas- mas de comportamento”. Morin a considera como um
sificatórios com astrônomos durante uma semana patrimônio informacional, pois organiza a experiência
não participaram da 13ª Olimpíada Internacional de humana. De acordo com esse autor, a cultura abrange
Astronomia. os conhecimentos acumulados por gerações sobre o
64 ambiente, o clima, as plantas, os animais, as técnicas do
corpo, as técnicas de fabricação e de manejo dos artefa- Após o registro do evento, catalogado como MOA-
tos, as crenças, a visão de mundo etc., em que se retem- -2010-BLG-477Lb, o grupo liderado por Joshua
pera e se regenera a comunidade. Blackman, da Universidade da Tasmânia, na Austrália,
Morin afirma que a cultura fornece ao pensamento suas fez observações subsequentes no Observatório Keck,
condições de formação e concepção. Para esse pensa- em 2015, 2016 e 2018. O objetivo: encontrar a estrela
dor, à cultura e a sociedade, via cultura, estão no interior responsável pela microlente. O planeta, muito menos
do conhecimento humano e produz conhecimento. A brilhante, não seria visível. [C] Mas a estrela sim – se
comida é uma prática cultural que contribui para enxer- fosse um astro ativo, como o Sol.
gar a complexidade da vida é a condição humana no As imagens colhidas no infravermelho próximo de
seu conjunto - ecossistema é biosfera. Alimenta todo início indicaram uma possível candidata, mas com o
o complexo vivo do nosso organismo, das células às passar do tempo ela mostrou ter movimento incon-
moléculas. Nutre a mente, as redes neuronais, psíquicas, sistente com o visto na microlente. Em suma, não era
sociais e espirituais. É uma via concreta - é comestível - ela. Nem havia qualquer outra possível candidata. [D]
para compreender o mundo é nos auxiliar na criação da Aí o grupo aplicou o clássico raciocínio sherlockiano,
estratégias para intervir em realidades. segundo o qual quando se elimina tudo que é impossí-
Ao longo dos últimos 20 anos, diferentes povos e orga- vel, o que quer que reste, por improvável que seja, tem
nizações da sociedade civil têm forjado coletivamente de ser a verdade.
a compreensão do que entendem por cultura alimentar, Já que não era possível que fosse uma estrela viva e
bem como têm criado estratégias para sua inserção nas ativa (inconsistente com as imagens), nem um cadáver
políticas públicas. À essas concepções de cultura, gera- de estrela de alta massa, como uma estrela de nêutrons
das nas lutas sociais e com pensadores da complexida- ou um buraco negro (inconsistente com as imagens e
de e das ciências sociais, trazemos a reflexão sobre o a microlente), restou apenas uma alternativa: era uma
lugar da comida nas políticas culturais no Brasil. anã branca, com um planeta joviano ao seu redor.
(...) É o destino final do Sol: quando seu combustível
nuclear se esgotar, ele inchará como uma gigante
(Juliana Dias e André Luza. Le Monde Diplomafique, 30 de novembro vermelha, depois perderá suas camadas superiores e
de 2020, com alterações) tudo que restará é um núcleo em processo de resfria-
mento. Quando o Sistema Solar passar por essa fase,
Considera que a alimentação se expressa em repre- será um barata-voa danado nas regiões mais inter-
sentações, envolve escolhas, símbolos e classifica- nas. Mercúrio, Vênus e possivelmente a Terra serão
ções que mostram às visões sobre a história e as engolidos pela fase gigante vermelha do Sol. Porém,
tradições alimentares. simulações sugerem que Júpiter, em sua órbita mais
afastada, tem boa chance de resistir ao cataclismo.
Assinalo a alternativa em que, alterando-se o verbo do Só que um sistema análogo com sobreviventes nunca
segmento sublinhado no período acima, NÃO se tenha havia sido observado. Até agora.
mantido adequação à norma culta. Não leve em conta Esse parece ter aberto a porteira, trazendo um retrato
as alterações de sentido. triste e sombrio do futuro longínquo de nosso peque-
no quintal na vastidão do cosmos. A anã branca deve
a) aspiram às visões sobre a história e as tradições alimentares ter cerca de 53% da massa do Sol, e o planeta aproxi-
b) visam às visões sobre a história e as tradições alimentares madamente 40% mais massa que Júpiter. A descober-
c) assistem às visões sobre a história e as tradições ta foi divulgada em artigo publicado na revista Nature.
alimentares
d) almejam às visões sobre a história e as tradições (Salvador Nogueira. Folha de S.Paulo, 24.out.2021)
alimentares

LÍNGUA PORTUGUESA/INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS


e) remetem às visões sobre a história e as tradições Assinale a alternativa em que um segmento do texto
alimentares tenha sido transposto erroneamente para o plural.

18. (IDECAN — 2021) Texto a) Trata-se de um efeito que surge – Tratam-se de efeitos
que surgem
Grupo encontra sistema que reflete futuro do Sistema b) um objeto com massa, ainda que discreto, transita à
Solar após a morte do Sol frente de outro mais distante e luminoso – objetos
com massa, ainda que discretos, transitam à frente de
Usando um telescópio no Havaí, um grupo internacional outros mais distantes e luminosos
de astrônomos encontrou um planeta similar a Júpiter c) O planeta, muito menos brilhante, não seria visível. – Os
que é um sobrevivente da morte de sua estrela mãe, planetas, muito menos brilhantes, não seriam visíveis.
compondo um retrato similar ao que tende a ser o desti- d) Nem havia qualquer outra possível candidata. – Nem
no do Sistema Solar em mais uns 6 bilhões de anos. havia quaisquer outras possíveis candidatas.
Tudo começou com o registro de um evento de micro-
lente gravitacional, em 2 de agosto de 2010. Trata-se de 19. (IDECAN — 2022) Texto IV
um efeito que surge [A] quando um objeto com massa,
ainda que discreto, transita à frente de outro mais dis- Pedocracia: A ditadura das crianças que mandam nos
tante e luminoso [B]. A gravidade então distorce os raios pais
de luz que vêm do fundo, como uma lente. Ao analisarem
o padrão, os pesquisadores podem estimar o objeto que As birras, as pirraças, os gritos, os gestos agressi-
causou o efeito. No caso em questão, dois objetos: uma vos, as palavras ofensivas são o que normalmente
estrela com massa um pouco menor que a do Sol acom- se caracterizam como as crianças ‘donas da casa’. A
panhada por um planeta do porte de Júpiter. infantolatria foi o nome dado à ‘ditadura’ de crianças
que não aceitam ouvir ‘não’, querem tudo do jeito e na
65
hora delas. Mas em que momento isso passou a ser normal? A psicanalista Marcia Neder, autora de “Déspotas Mirins,
o poder nas novas famílias”, da Zagodoni Editora, em entrevista ao “Saia Justa”, chama o fenômeno de pedocracia e
nos dá algumas orientações.
“A pedocracia é alimentada pela idealização da maternidade. Qual é o ideal que temos da maternidade? O de uma mãe que
abre a mão da sua vida para se dedicar ao filho. Por que as mães embarcam na idealização, por que se sentem santas mães
proibidas de ter raiva, de perder a paciência? Aí vem uma culpa fenomenal. Acima da dor dela, tem o que ela aprendeu, que
é a suprema felicidade e bem-estar do seu filho”, explica a especialista.
Segundo ela, na atual cultura de idolatração dos filhos, eles precisam se sentir amados pelos pais. “E eles dizem que
‘se não dermos alguma coisa a eles, eles ficam chateados e dizem que não amam a gente’. É uma inversão total de
valores”, reforça Neder.
“É mais fácil deixar a criança ser rei. É mais fácil do que aguentar o chilique. Dá trabalho educar. Para evitar isso, que-
rem tudo do jeito e na hora delas. Se você não estabelece desde o início, tentar estabelecer depois fica complicado”,
sugere.
“O processo de mudança nos conceitos de família, iniciado no século XVIII por Jean-Jacques Rousseau, chegou ao
século XX com a ‘religião da maternidade’, em que o bebê é um deus e a mãe, uma santa. Instituiu-se o que é uma boa
mãe sob a crença de que ela é responsável e culpada por tudo que acontece na vida do filho, tudo que ele faz e fará.
Muitos afirmam que a mulher venceu, pois emancipou-se e foi para o mercado de trabalho, mas não: é a criança que
entra no século XXI como a vitoriosa. Esta é a semente da infantolatria”, elucida a especialista.
A definição de infantolatria por Marcia Neder consiste em “a instituição da mãe como súdita do filho e o adulto se
colocando absolutamente disponível para a criança”. E ____¹ a criança de qualquer responsabilidade sobre o seu com-
portamento: “Um bebê não tem poder para determinar como será a dinâmica familiar. Se isso acontece, é porque os
pais promovem”.
Ainda reforça: na fase adulta, esse filho cobrará dos pais. “Ele olhará ao redor e verá outras pessoas se realizando
independentemente dele. A criança que acha que o mundo tem que parar para ela passar não consegue imaginar isso
acontecendo e não está preparada para lidar com a menor das frustrações. Em algum ponto, acusará os pais de terem
sido omissos”.

Disponível em: https://www.revistapazes.com –Texto adaptado.

A temática principal abordada no TEXTO IV é:

a) A mudança nos conceitos de família.


b) A dificuldade de educar crianças pequenas.
c) A idealização da maternidade.
d) A dificuldade de dizer não aos filhos.
e) O poder das crianças que mandam nos pais.

20. (IDECAN — 2021) Texto para a questão.

(Rodrigo Zoom. https://www.flickr.com/photos/13893374@N04/)

66
A respeito da leitura Interpretativa do quadrinho acima,
sem efetuar extrapolações, analise as afirmativas a seguir:

I. A esposa está aproveitando para confessar que havia


um cara pelado no armário.
II. A resposta da esposa denota, por ironia, a inconsistên-
cia da declaração do marido.
III. A resposta da esposa deixa a entender que ela não
havia acreditado na fala do marido.

Assinale

a) se apenas as afirmativas I e Il estiveram corretas.


b) se apenas as afirmativas I e III estiveram corretas.
c) se apenas as afirmativas II e III estiverem corretas.
d) se todas as afirmativas estiverem corretas.
e) se nenhuma afirmativa estiver cometa.

9 GABARITO

1 E

2 D

3 C

4 B

5 C

6 D

7 D

8 E

9 B

10 C

11 C

12 C

13 E

14 B

LÍNGUA PORTUGUESA/INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS


15 E

16 B

17 D

18 A

19 E

20 C

ANOTAÇÕES

67
ANOTAÇÕES

68
z Na linguagem natural:

„ Ou o elefante corre rápido ou a raposa é lenta.

RACIOCÍNIO LÓGICO
z Na linguagem simbólica:

„ p ⊻ q.
MATEMÁTICO Condicional (Conectivo Se e Então)

Representação simbólica: →
Exemplo:
ESTRUTURA LÓGICA DE RELAÇÕES
ARBITRÁRIAS ENTRE PESSOAS, z Na linguagem natural:
LUGARES, OBJETOS OU EVENTOS
„ Se estudar, então vai passar.
FICTÍCIOS
z Na linguagem simbólica:
ESTRUTURA LÓGICA
„ p → q.
A Negação com o Conectivo “Não”
Bicondicional (Conectivo “Se e Somente se”)
Representação simbólica: (~p) ou (¬p).
Sabemos que o valor lógico de p e ~p são opostos, Representação simbólica:
isto é, se p é uma proposição verdadeira, ~p será falsa, Exemplo:
e vice-versa. Exemplo:
p: Matemática é difícil. z Na linguagem natural:
(~p) ou (¬p): Matemática não é difícil.
„ Bino vai ao cinema se e somente se ele receber
Outras maneiras que podemos usar para negar dinheiro.
uma proposição e que vem aparecendo muito nas pro-
vas de concursos são: z Na linguagem simbólica:

z Não é verdade que matemática é difícil; „ p ⟷ q.


z É falso que matemática é difícil.
Agora vamos treinar o que aprendemos na teo-
Conjunção (Conectivo E) ria com exercícios comentados de diversas bancas.
Vamos lá!
Representação simbólica: ^
Exemplos: 1. (CEBRASPE-CESPE — 2018) As proposições P, Q e R a
seguir referem-se a um ilícito penal envolvendo João,
z Na linguagem natural: Carlos, Paulo e Maria:
P: “João e Carlos não são culpados”. Q: “Paulo não é
„ O macaco bebe leite e o gato come banana. mentiroso”. R: “Maria é inocente”.
Considerando que ~X representa a negação da propo-
z Na linguagem simbólica: sição X, julgue o item a seguir.
A proposição “Se Paulo é mentiroso então Maria é
culpada.” pode ser representada simbolicamente por
„ p ^ q.
(~Q)↔(~R).
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
Disjunção Inclusiva (Conectivo Ou)
( ) CERTO  ( ) ERRADO
Representação simbólica: v
Veja que temos uma proposição condicional (se
Exemplos:
então) e a representação simbólica apresentada é
de uma bicondicional. Representação da condicio-
z Na linguagem natural: nal (). Resposta: Errado.

„ Maria é bailarina ou Juliano é atleta. 2. (CEBRASPE-CESPE —2018) Julgue o seguinte item, rela-
tivo à lógica proposicional e à lógica de argumentação.
z Na linguagem simbólica: A proposição “A construção de portos deveria ser
uma prioridade de governo, dado que o transporte
„ p v q. de cargas por vias marítimas é uma forma bastante
econômica de escoamento de mercadorias.” pode ser
Disjunção Exclusiva (Conectivo Ou...ou) representada simbolicamente por P∧Q, em que P e Q
são proposições simples adequadamente escolhidas.
Representação simbólica: ⊻
Exemplos: ( ) CERTO  ( ) ERRADO 69
A representação simbólica apresentada para julgar- DIAGRAMAS LÓGICOS
mos é de uma conjunção e na questão foi apresen-
tada uma proposição composta pela condicional na Esse tema é diretamente ligado ao estudo dos
forma “camuflada” dentro de uma relação de causa Quantificadores Lógicos ou Proposições Categóricas,
e consequência “ Dado que...”. Resposta: Errado. que são elementos que especificam a extensão da vali-
dade de um predicado sobre um conjunto de constan-
3. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Considere as seguintes tes individuais. Ou seja, são palavras ou expressões
proposições: P: O paciente receberá alta; Q: O paciente que indicam que houve quantificação. São exemplos
receberá medicação; R: O paciente receberá visitas. de quantificadores as expressões: existe, algum, todo,
Tendo como referência essas proposições, julgue o pelo menos um, nenhum.
item a seguir, considerando que a notação ~S significa Esses quantificadores podem ser classificados em
a negação da proposição S. dois tipos:
A proposição ~P→[Q∨R] pode assim ser traduzida: Se
o paciente receber alta, então ele não receberá medi- z Quantificador Universal;
cação ou não receberá visitas. z Quantificador Existencial (particulares).

( ) CERTO  ( ) ERRADO Nos quantificadores universais temos todo e


nenhum, já nos particulares temos pelo menos um,
P: O paciente receberá alta; existe um e o algum.
~P: O paciente não receberá alta; Agora, vamos estudar a representação de cada um
Q: O paciente receberá medicação; dos quantificadores por meio dos diagramas lógicos.
R: O paciente receberá visitas.
A proposição ~P→[Q∨R] pode assim ser traduzida: Quantificador Universal “Todo” (Afirmativo)
Se o paciente não receber alta, então ele receberá
medicação ou receberá visitas. Resposta: Errado. Exemplos:

4. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Julgue o item a seguir, a z Todo A é B;


respeito de lógica proposicional. z Todo homem joga bola.
A proposição “A vigilância dos cidadãos exercida pelo
Estado é consequência da radicalização da socieda- Perceba que temos dois conjuntos envolvidos no
de civil em suas posições políticas.” pode ser corre- exemplo, o do homem e o de jogar bola. Vale lembrar que
tamente representada pela expressão lógica P→Q, Todo A é B significa que todo elemento de A também é ele-
em que P e Q são proposições simples escolhidas mento de B. Logo, podemos representar com o diagrama:
adequadamente.
B
( ) CERTO  ( ) ERRADO

A vigilância dos cidadãos exercida pelo Estado é (ver- A


bo de ligação) consequência da radicalização da socie-
dade civil em suas posições políticas. Temos apenas
um verbo e por esse motivo é uma proposição simples.
Cuidado com o uso da palavra consequência em
proposições como esta. Em determinadas situações,
de fato, teremos uma proposição condicional, senão
vejamos: O conjunto A dentro do conjunto B
Passar (verbo no infinitivo) é consequência de estu-
dar (verbo no infinitivo)
Quando Todo A é B é verdadeira, os valores lógi-
Nesse caso, temos uma proposição composta pela
cos das outras proposições categóricas, interpretando
condicional. Resposta: Errado.
os diagramas, serão os seguintes:
5. (CEBRASPE-CESPE — 2016) Considerando os símbo-
z Nenhum A é B: é falsa;
los normalmente usados para representar os conecti-
vos lógicos, julgue o item seguinte, relativos a lógica z Algum A é B: é verdadeira;
proposicional e à lógica de argumentação. Nesse sen- z Algum A não é B: é falsa.
tido, considere, ainda, que as proposições lógicas sim-
ples sejam representadas por letras maiúsculas. Quantificador Universal “Nenhum” (Negativo)
A sentença A fiscalização federal é imprescindível
para manter a qualidade tanto dos alimentos quanto Exemplos:
dos medicamentos que a população consome pode
ser representada simbolicamente por P∧Q. z Nenhum A é B;
z Nenhum homem joga bola.
( ) CERTO  ( ) ERRADO
Perceba que temos dois conjuntos envolvidos no
Para ser proposição composta, haveria mais de um exemplo, o do homem e o de jogar bola. Vale lembrar
verbo na frase, por isso, a frase em questão é con- que Nenhum A é B significa que A e B não tem ele-
siderada uma proposição simples. Procure o verbo mentos em comum, logo, temos apenas uma represen-
na oração. tação com diagrama:
A fiscalização federal é imprescindível para manter
a qualidade tanto dos alimentos quanto dos medica-
70 mentos que a população consome. Resposta: Certo.
A B

Não há intersecção entre o conjunto A e o conjunto B

Quando Nenhum A é B é verdadeira, os valores Os dois conjuntos possuem uma parte em comum, mas não há
lógicos das outras proposições categóricas, interpre- contato de alguns elementos de A com B
tando o diagrama, serão os seguintes:
Veja que em todas as representações o conjunto
z Todo A é B: é falsa; A tem pelo menos um elemento que não pertence ao
z Algum A é B: é falsa; conjunto B. Então, quando Algum A não é B é verda-
z Algum A não é B: é verdadeira. deira, os valores lógicos das outras proposições cate-
góricas, interpretando o diagrama, serão os seguintes:
Quantificador Particular (Afirmativo): Algum / Pelo
Menos um / Existe z Todo A é B: é falsa;
z Nenhum A é B: é indeterminada;
Exemplos: z Algum A não é B: é indeterminado.

z Algum A é B; SILOGISMOS
z Algum homem joga bola.
O silogismo vem da Teoria Aristotélica dentro
Perceba que temos dois conjuntos envolvidos no do raciocínio dedutivo e geralmente é formado por
exemplo, o do homem e o de jogar bola. Vale lembrar três proposições, em que de duas delas, que funcio-
que Algum A é B significa que o conjunto A tem pelo nam como premissas ou antecedente, extrai-se outra
menos um elemento em comum com o conjunto B, ou proposição que é a sua conclusão ou consequente.
seja, há intersecção entre os círculos A e B. Logo, pode- Além disso, podemos dizer que é um tipo especial de
mos fazer representações com diagramas: argumento.

A B Estrutura do Silogismo Categórico

z Premissa maior: geralmente é a primeira. Con-


têm o termo maior (T), que é sempre o predicado
da conclusão e diz-nos qual é a premissa maior, da
qual faz parte;
z Premissa menor: geralmente é a segunda. Con-
têm o termo menor (t), que é sempre o sujeito da
conclusão e indica-nos qual é a premissa menor.
z Conclusão: identificamos por não conter o termo
Os dois conjuntos possuem uma parte em comum médio (M);
z Termo médio: estabelece a ligação entre o termo
Veja que as representações de A e B possuem inter- maior e termo menor. Aparece nas duas premis-
secção. Então, quando Algum A é B é verdadeira, os sas, mas nunca aparece na conclusão.
valores lógicos das outras proposições categóricas,
interpretando o diagrama, serão os seguintes: Veja os exemplos a seguir:
Exemplo 1:
z Todo A é B: é indeterminado;
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
z Nenhum A é B: é falsa; z Todos os mamíferos são animais;
z Algum A não é B: é indeterminado. z Os cães são mamíferos;
z Logo, os cães são animais.
Quantificador Particular (negativo): Algum / Pelo
Menos um / Existe + a partícula Não „ Termo maior: animais;
„ Termo menor: cães;
Exemplos: „ Termo médio: mamíferos.

z Algum A não é B; Exemplo 2:


z Algum homem não joga bola.
z Todos os homens são mortais;
Perceba que temos dois conjuntos envolvidos no z Sócrates é homem;
exemplo, o do homem e o de jogar bola. Vale lembrar z Logo, Sócrates é mortal.
que Algum A não é B significa que o conjunto A tem
pelo menos um elemento que não pertence ao con- „ Termo maior: mortais;
junto B. Logo, podemos fazer três representações com „ Termo menor: Sócrates;
diagramas: „ Termo médio: homem. 71
REGRAS DO SILOGISMO CATEGÓRICO „ Todos os espertos são felizes. (A conclusão nunca
pode ser geral;
Regras Relativas aos Termos
z 8ª Regra: de duas premissas particulares, nada se
z 1ª Regra: o silogismo tem três termos: o maior, o pode concluir. Exemplos:
menor e o médio. Exemplos:
„ Alguns italianos não são vencedores;
„ As margaridas são flores; „ Alguns italianos são pobres;
„ Algumas mulheres são Margaridas; „ Logo, (nada se pode concluir).
„ Logo, algumas mulheres são flores.
Pelo menos, uma premissa tem de ser universal,
Veja que margaridas e Margaridas são termos para que possa existir ligação entre o termo médio e
equívocos. Não respeitamos esta regra, porque esse os outros termos e ser possível extrair uma conclusão.
silogismo tem 4 termos. O termo margaridas está Esquematizando!
empregado em 2 sentidos, valendo por 2 termos;
REGRAS
z 2ª Regra: se um termo está distribuído na conclusão,
tem de estar distribuído nas premissas. Exemplos: PREMISSAS TERMOS
z Todo silogismo con-
„ Os espanhóis são inteligentes. (Predicado não z De duas premissas
tém somente três
distribuído); negativas, nada se
termos: maior, médio
„ Os portugueses não são espanhóis; conclui
e menor
„ Logo, os portugueses não são inteligentes. z De duas premissas
z Os termos da conclu-
afirmativas não pode
são não podem ter
Menor extensão na conclusão do que nas premissas; haver conclusão
extensão maior que os
negativa
termos das premissas
z 3ª Regra: o termo médio nunca pode estar na con- z A conclusão segue
z O termo médio
clusão. Exemplos: sempre a premissa
não pode entrar na
mais fraca
conclusão
„ Toda planta é ser vivo; z De duas premissas
z O termo médio deve
„ Todo animal é ser vivo; particulares, nada se
ser universal ao
„ Todo ser vivo é animal ou planta. conclui
menos uma vez
z 4ª Regra: o termo médio tem de estar distribuído
Agora vamos treinar o que aprendemos na teoria com
pelo menos uma vez. Exemplos:
exercícios comentados de diversas bancas. Vamos lá!
„ Alguns (não distribuído) homens são ricos;
1. (FGV — 2019) Considerando que a afirmação “Nenhum
„ Alguns (não distribuído) homens são artistas;
pescador sabe nadar” não é verdadeira, é correto con-
„ Alguns artistas são ricos.
cluir que:
Regras Relativas às Proposições:
a) “Há, pelo menos, um pescador que sabe nadar”.
b) “Quem não é pescador não sabe nadar”
z 5ª Regra: de duas premissas negativas nada se c) “Todos os pescadores sabem nadar”.
pode concluir. Exemplos: d) “Todas as pessoas que sabem nadar são pescadores”.
e) “Ninguém que sabe nadar é pescador”.
„ Nenhum palhaço é chinês;
„ Nenhum chinês é holandês; Veja que a questão pede a negação do quantificador
„ Logo, (não se pode concluir). “nenhum”, e como já aprendemos, nunca devemos
negar o “nenhum” usando o quantificado “todo” e
Não se pode concluir se existe ou não alguma rela- vice-versa. Sabendo disso, podemos eliminar estra-
ção entre os termos “holandês” e “palhaço”, uma vez tegicamente as alternativas C, D e E. Como temos
que não existe nenhuma relação entre estes e o termo um quantificador universal negativo e sabemos que
médio (que é o único que nos permite relacioná-los); para negar precisamos de um particular afirmativo,
só nos resta a letra A como resposta, pois a letra B
z 6ª Regra: de duas premissas afirmativas não se não está de acordo com a regra. Você também pode-
pode tirar uma conclusão negativa. Exemplos: ria usar o lembrete “nenhum nega com PEA”.
Resposta: Letra A.
„ Todos os mortais são desconfiados;
„ Alguns seres são mortais; 2. (FUNDATEC — 2019) A negação da sentença “algum
„ Alguns seres não são desconfiados; assistente social acompanhou o julgamento” está na
alternativa:
z 7ª Regra: a conclusão segue sempre a parte mais
fraca (particular e/ou negativa). Se uma premissa a) Algum assistente social não acompanhou o julgamento.
for negativa, a conclusão tem de ser negativa, se b) Todos os assistentes sociais acompanharam o julgamento.
uma premissa for particular, a conclusão tem de c) Nem todos os assistentes sociais acompanharam o
ser particular. Exemplos: julgamento.
d) Nenhum assistente social acompanhou o julgamento.
„ Todos os homens são felizes; e) Pelo menos um assistente social não acompanhou o
72 „ Alguns homens são espertos; julgamento.
A questão pede a negação do “algum” – quantificador 5. (VUNESP — 2019) Considere como verdadeira a pro-
particular afirmativo. Já aprendemos que, para fazer posição: “Nenhum matemático é não dialético”. Laura
essa negação, usamos um quantificador universal. enuncia que tal proposição implica, necessariamente,
Qual? O quantificador “nenhum”, pois o mesmo é uni- que:
versal negativo. Assim, a nossa sentença ficará:
p: “Algum assistente social acompanhou o julgamento” I. Se Carlos é matemático, então ele é dialético.
~p: “Nenhum assistente social acompanhou o julga- II. Se Pedro é dialético, então é matemático.
mento”. Resposta: Letra D. III. Se Luiz não é dialético, então não é matemático.
IV. Se Renato não é matemático, então não é dialético.
3. (FUNDATEC — 2019) Assinale a alternativa que corres-
ponde à negação de “Todos os analistas de tecnologia Das implicações enunciadas por Laura, estão corretas
da informação são bons desenvolvedores”. apenas:
a) Pelo menos um analista de tecnologia da informação
a) I e III.
não é bom desenvolvedor.
b) I e II.
b) Nenhum analista de tecnologia da informação é bom
c) III e IV.
desenvolvedor.
d) II e III.
c) Todos os analistas de tecnologia da informação não
e) II e IV.
são bons desenvolvedores.
d) Alguns analistas de tecnologia da informação são
bons desenvolvedores. Você precisa lembrar das equivalências para res-
e) Todos os desenvolvedores não são analistas de tecno- ponder essa questão.
logia da informação. � “Nenhum matemático é não dialético” equivale a
“Todo Matemático é Dialético”;
A negação do “todo” pode ser feita usando o lem- � “Todo Matemático é Dialético” equivale a “Se é
brete que aprendemos: “todo nega com PEA + não”, matemático, então é Dialético”.
onde o PEA são as iniciais dos quantificadores Agora, vamos analisar as afirmações feitas por Laura:
lógicos particulares – “Pelo menos um” / “Existe” / I. Se Carlos é matemático, então ele é dialético (Cor-
“Algum” – seguidos pelo modificador lógico “não”, reta, pois está de acordo com a equivalência acima).
deixando-os, assim, particulares negativos. Logo, II. Se Pedro é dialético, então é matemático. (Incor-
p: “Todos os analistas de tecnologia da informação reta, pois há dialéticos que não são matemáticos).
são bons desenvolvedores”
~p: “Pelo menos um / Existe / Algum analista de tec- Dialético
nologia da informação não é bom desenvolvedor.
Resposta: Letra A.
Mat.
4. (VUNESP — 2019) A alternativa que corresponde à nega-
ção lógica da proposição composta: “todos os cantores
são músicos e existe advogado que é cantor”, é:
III. Se Luiz não é dialético, então não é matemáti-
a) Nenhum cantor é músico e não existe advogado que co (Correta, pois todo matemático é dialético. Veja
seja cantor. também que temos um dos casos de equivalência
b) Pelo menos um cantor não é músico ou não existe lógica do conectivo “se...então” – a contrapositiva).
advogado que seja cantor. IV. Se Renato não é matemático, então não é dialéti-
c) Há cantores que são músicos e existe advogado que co (Incorreta, pois nem todo dialético é matemático
não é cantor. como vimos nos diagrama da alternativa II).
d) Nenhum cantor é músico ou não existe advogado que Resposta: Letra A.
seja cantor.
e) Pelo menos um cantor não é músico ou existe advoga- VERDADES E MENTIRAS
do que é cantor. RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
Estamos diante de um assunto bem interessante,
Só podemos negar um Quantificador Universal pois em Verdades e Mentiras você será apresentado a
(“Todo” / “Nenhum”) com um Quantificador Existen- um caso onde várias pessoas afirmam certas situações
cial (“Existe” / “Algum” / “Pelo menos um”), assim, e entre elas existe aquela que diz algo verdadeiro, mas
eliminamos as letras A, C e D, ficando, assim, apenas também há aquela que só mente. Então, o seu dever
as letras B e E para análise. Segundo a Lei de Mor- é entender o que o enunciado está querendo e achar
gan – devemos trocar o “e” por “ou” e negar tudo. quem são os mentirosos e verdadeiros.
Então, negando a proposição P ^ Q, fica ~ P v ~Q: Em algumas questões, você terá que fazer um teste
P: todos os cantores são músicose (^) lógico e depois avaliar cada afirmação que está dis-
Q: existe advogado que é cantor. posta no enunciado. Caso não aconteça divergência
Negando: entre as informações, sua suposição estará correta e
~P: alguns cantores não são músicos (pelo menos você conseguirá achar quem está falando a verdade
um não é = algum não é) ou (v) ou mentindo. Agora, se houver divergência, você terá
~Q: não existe advogado que é cantor. (Não existe = que fazer uma nova suposição. Esse tema não tem
nenhum) “Pelo menos um cantor não é músico ou teoria como já vimos em alguns pontos do Raciocínio
não existe advogado que seja cantor”. Resposta: Lógico, então, vamos aprender como resolver esse
Letra B. tipo de questão praticando bastante. 73
1. (FCC — 2012) Huguinho, Zezinho e Luizinho, três � Carol: Eu não sou a mais jovem;
irmãos gêmeos, estavam brincando na casa de seu � Denise: Eu sou a mais jovem.
tio quando um deles quebrou seu vaso de estimação. Não tem como Carol e Denise estarem mentido, pois
Ao saber do ocorrido, o tio perguntou a cada um deles
se Carol estiver mentindo, então ela é a mais jovem
quem havia quebrado o vaso. Leia as respostas de
e automaticamente a Denise estará mentindo tam-
cada um.
bém. E se a Denise estiver mentindo e não for a mais
Huguinho → “Eu não quebrei o vaso!” jovem, teremos um cenário em que todas as meni-
Zezinho → “Foi o Luizinho quem quebrou o vaso!” nas afirmam, de uma forma ou de outra, que não
Luizinho → “O Zezinho está mentindo!” são as mais jovens, e pelo menos uma delas tem que
ser a mais jovem.
Sabendo que somente um dos três falou a verdade, Como o enunciado diz que apenas uma delas está
conclui-se que o sobrinho que quebrou o vaso e o que mentindo, podemos pensar que se Bruna estivesse
disse a verdade são, respectivamente, mentindo, ela seria a mais velha e a mais jovem ao
mesmo tempo, o que é logicamente impossível em
a) Huguinho e Luizinho. um grupo de 4 meninas.
b) Huguinho e Zezinho. Sendo assim, a única que poderia estar mentindo é a
c) Zezinho e Huguinho. Ângela. Logo, Carol é a mais velha, Denise é a mais
d) Luizinho e Zezinho. jovem.
e) Luizinho e Huguinho. Resposta: Letra D.

Para esse tipo de questão devemos buscar as infor-


3. (VUNESP — 2018) Paulo, Lucas, Sandro, Rogério e
mações contraditórias, pois numa contradição
Vitor são suspeitos de terem furtado a bicicleta de
haverá uma “verdade e mentira”.
uma pessoa. Na delegacia:
Sendo assim, o enunciado diz que somente um dos
três falou a verdade. Então, vamos analisar as infor-
mações contraditórias: z Vitor afirmou que não tinha sido nem ele nem Rogério;
Veja que as afirmações de Zezinho e Luizinho se z Sandro jurou que o ladrão era Rogério ou Lucas;
contradizem. z Rogério disse que tinha sido Paulo;
Zezinho → “Foi o Luizinho quem quebrou o vaso!” z Lucas disse ter sido Paulo ou Vitor;
Luizinho → “O Zezinho está mentindo!” z Paulo termina dizendo que Sandro é um mentiroso.
Não podemos afirmar quem disse a verdade ou
quem mentiu ainda, mas já sabemos que quem que- Sabe-se que um e apenas um deles mentiu. Sendo
brou o vaso foi Huguinho (sobrou apenas mentira assim, a pessoa que furtou a bicicleta foi:
para quem não está na contradição).
Huguinho → “Eu não quebrei o vaso!” – mentiu, logo a) Lucas.
ele quebrou o vaso. b) Sandro.
Eliminamos as letras C, D e E. c) Rogério.
Agora, perceba que não tem como o Zezinho está
d) Vitor.
falando a verdade, pois já sabemos que foi Huguinho
e) Paulo.
quem quebrou o caso. Logo, Zezinho está mentindo e
Luizinho falando a verdade.
Resposta: Letra A. As frases de Paulo e Sandro são contraditórias. Veja:
Sandro jurou que o ladrão era Rogério ou Lucas;
2. (IF-PA — 2019) Ângela, Bruna, Carol e Denise são Paulo termina dizendo que Sandro é um mentiroso.
quatro amigas com diferentes idades. Quando se per- Se um estiver falando a verdade, outro está mentindo.
guntou qual delas era a mais jovem, elas deram as Como, ao todo, temos apenas uma mentira, então as
seguintes respostas: demais frases são verdadeiras. Assim, analisando
as afirmações, percebemos que a frase de Rogério
z Ângela: Eu sou a mais velha; (que é 100% verdade) deixa claro que o culpado foi
z Bruna: Eu sou nem a mais velha nem a mais jovem; Paulo.
z Carol: Eu não sou a mais jovem; Resposta: Letra E.
� Denise: Eu sou a mais jovem.
4. (COLÉGIO PEDRO II — 2017) Na mesa de um bar estão
Sabendo que uma das meninas não estava dizendo a cinco amigos: Arnaldo, Belarmino, Cleocimar, Dionésio
verdade, a mais jovem e a mais velha, respectivamen- e Ercílio. Na hora de pagar a conta, eles decidem divi-
te, são:
di-la em partes iguais. Cada um deles deve pagar uma
quota. O garçom confere o valor entregue por eles e
a) Bruna é a mais jovem e Ângela é a mais velha.
nota que um deles não entregou sua parte, consegue
b) Ângela é a mais jovem e Denise é a mais velha.
c) Carol é a mais jovem e Bruna é a mais velha. detê-los antes que deixem o bar e os interroga, ouvin-
d) Denise é a mais jovem e Carol é a mais velha. do as seguintes alegações:
e) Carol é a mais jovem e Denise é a mais velha.
I. Não fui eu nem o Cleocimar, disse Arnaldo;
Vamos analisar: II. Foi o Cleocimar ou o Belarmino, disse Dionésio;
� Ângela: Eu sou a mais velha; III. Foi o Ercílio, disse Cleocimar;
� Bruna: Eu sou nem a mais velha nem a mais IV. O Dionésio está mentindo, disse Ercílio;
74 jovem; V. Foi o Ercílio ou o Arnaldo, disse Belarmino.
Considerando-se que apenas um dos cinco amigos men- Exercite seus conhecimentos realizando os exercí-
tiu, pode-se concluir que quem não pagou a conta foi? cios que seguem.
a) Arnaldo.
1. (FUNDATEC — 2020) Em shopping da cidade, foram
b) Belarmino.
c) Cleocimar. entrevistadas 320 pessoas para apurar quem gosta de
d) Dionésio. séries ou quem gosta de filmes. Dos dados levanta-
e) Ercílio. dos, tem-se que 256 gostam de séries e 194 gostam
de filmes. Sabendo que todos preferem pelo menos
São cinco amigos, e apenas um mente (4 verdadei- uma das duas opções e que ninguém disse que não
ros e 1 mentiroso). Analisando as “falas” dos 5 ami- gosta de nada, quantas pessoas gostam de séries e
gos, já foi possível identificar a contradição. Repare filmes ao mesmo tempo?
o que diz Dionésio e Ercílio:
II. Foi o Cleocimar ou o Belarmino, disse Dionésio; a) 110.
IV. O Dionésio está mentindo, disse Ercílio; b) 130.
Logo, podemos afirmar que todas os outros dizem c) 150.
a verdade: d) 170.
I. Não fui eu nem o Cleocimar, disse Arnaldo; e) 190.
III. Foi o Ercílio, disse Cleocimar;
V. Foi o Ercílio ou o Arnaldo, disse Belarmino. Temos uma questão que relaciona os conceitos de
Aqui já achamos a nossa reposta, pois Cleocimar fala conjuntos de Venn, pedindo a interseção. Vamos
a verdade e disse que foi o Ercílio. somar todos os valores e descontar do total. Fica:
Resposta: Letra E. Total = 320.
Séries = 256.
5. (FCC — 2017) Cássio, Ernesto, Geraldo, Álvaro e Jair
Filmes = 194.
são suspeitos de um crime. A polícia sabe que apenas
Resolução = 256 + 194 = 450 - 320 = 130 gostam de
um deles cometeu o crime. No interrogatório, os sus-
filmes e séries ao mesmo tempo. Resposta: Letra B.
peitos deram as seguintes declarações:

Cássio: Jair é o culpado do crime. 2. (FCC — 2019) Antônio, Bruno e Carlos correram uma
Ernesto: Geraldo é o culpado do crime. maratona. Logo após a largada, Antônio estava em
Geraldo: Foi Cássio quem cometeu o crime. primeiro lugar, Bruno em segundo lugar e Carlos em
Álvaro: Ernesto não cometeu o crime. terceiro lugar. Durante a corrida Bruno e Antônio tro-
caram de posição 5 vezes, Bruno e Carlos trocaram de
Jair: Eu não cometi o crime. posição 4 vezes e Antônio e Carlos trocaram de posi-
ção 7 vezes. A ordem de chegada foi:
Sabe-se que o culpado do crime disse a verdade na
sua declaração. Dentre os outros quatro suspeitos,
a) Antônio (1º), Carlos (2º) e Bruno (3º).
exatamente três mentiram na declaração. Sendo
b) Bruno (1º), Carlos (2º) e Antônio (3º).
assim, o único inocente que declarou a verdade foi:
c) Bruno (1º), Antônio (2º) e Carlos (3º).
a) Cássio. d) Carlos (1º), Bruno (2º) e Antônio (3º).
b) Ernesto. e) Carlos (1º), Antônio (2º) e Bruno (3º).
c) Geraldo.
d) Álvaro. Para resolver essa questão basta saber que: se o
e) Jair. número de trocas for PAR (não importa a quantida-
de) as posições vão ser mantidas, se for ímpar (não
Veja que as frases ditas por Cássio e Jair são contraditó- importa a quantidade), serão trocadas.
rias, ou seja, aqui temos uma VERDADE e uma MENTIRA. Logo,
Cássio: Jair é o culpado do crime. 1º Antônio
Jair: Eu não cometi o crime. 2º Bruno
Se Cássio estiver falando a verdade, então Jair é culpado 3º Carlos
e disse a verdade como o enunciado afirmou. Mas, note Bruno e Antônio trocaram 5 vezes  número ímpar,
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
que não podemos ter duas verdades como a situação então, Antônio trocará de lugar com Bruno: 1º Bru-
apresentada nos mostrou, pois é uma contradição. Logo, no 2º Antônio 3º Carlos
Jair foi quem disse a verdade e não foi quem cometeu o Bruno e Carlos trocaram 4 vezes  número par, cada
crime, ou seja, é um inocente e falou a verdade. um ficará no seu lugar: 1º Bruno 2º Antônio 3º Carlos
Resposta: Letra E. Antônio e Carlos trocaram 7 vezes  número ímpar,
LÓGICA E RACIOCÍNIO LÓGICO: PROBLEMAS então, Antônio trocará de lugar com Carlos:
ENVOLVENDO LÓGICA E RACIOCÍNIO LÓGICO 1º Bruno 2º Carlos 3º Antônio. Resposta: Letra B.

Dentro de toda a teoria que já foi estudada sobre 3. (VUNESP — 2019) Três moças, Ana, Bete e Carol, tra-
os diversos conceitos de Raciocínio Lógico, vamos balham no mesmo ambulatório. Na segunda-feira, Ana
agora resolver algumas questões que envolvem pro- chegou depois de Bete, e Carol chegou antes de Ana.
blemas com lógica e raciocínio. Aqui não tem teoria, Nesse dia, Carol não foi a primeira a chegar no serviço.
pois como disse: esse tópico reúne diversos conceitos A primeira, a segunda e a terceira moça a chegar no
já estudados, tais como Diagrama de Venn, Associação serviço nesse dia foram:
Lógica, Equivalências, Negações, etc. Logo, devemos
resolver questões para entendermos como são cobra- a) Bete, Ana e Carol.
das em provas. b) Bete, Carol e Ana. 75
c) Ana, Carol e Bete. Obedecendo todas as regras, o quarto pode ser Alber-
d) Ana, Bete e Caro. to ou Bruno, então, necessariamente deixa o item
e) Carol, Bete e Ana. errado, pois tem outra forma.
Resposta: Errado.
Ana chegou depois de Bete  Então, Ana não foi a
primeira a chegar, elimine as alternativas C e D. ARGUMENTOS: VALIDADE DE UM ARGUMENTO/
Carol chegou antes de Ana  Se Carol chegou antes CRITÉRIO DE VALIDADE DE UM ARGUMENTO
de Ana, e Ana não foi a primeira a chegar, então Ana
foi a última a chegar, elimine a alternativa A. Em nosso estudo sobre argumentos lógicos, esta-
Carol não foi a primeira a chegar no serviço.  Já remos interessados em verificar se eles são válidos ou
que Carol não foi a primeira a chegar, elimine a inválidos. Então, passemos a seguir a entender o que sig-
alternativa E. nifica um argumento válido e um argumento inválido.
Conclusões: 1º Bete, 2º Carol e 3º Ana.
Resposta: Letra B. Argumentos Válidos

4. (IBADE — 2020) Numa avenida em linha reta, a agên- Também podem ser chamados de argumentos
cia dos correios fica entre a escola e o restaurante, e bem-construído ou legítimo.
a escola fica entre o restaurante e a ótica. Então, con- Para que o argumento seja válido, não basta que a
clui-se que: conclusão seja verdadeira, é preciso que as premissas e
a conclusão estejam relacionadas corretamente, ou seja,
a) a ótica fica entre o restaurante e a agência dos correios. quando a conclusão é uma consequência necessária
b) o restaurante fica a escola e agência dos correios. das premissas, dizemos que o argumento é válido.
c) a escola fica entre a agência dos correios e o restaurante. Vamos analisar o exemplo:
d) a agência dos correios fica entre a ótica e a escola.
e) a escola fica entre a ótica e a agência dos correios. z p1: Todo padre é homem;
z p2: José é padre;
Primeiro: Escola__Correios__Restaurante z c: José é homem.
Segundo: A escola fica entre o restaurante e a ótica.
Ótica__Escola__Correios__Restaurante Quando temos argumentos utilizando os quantifica-
(A escola está entre a ótica e o restaurante, nessa dores lógicos, representamos por meio dos diagramas
representação). lógicos para saber a validade de um argumento. Veja
Resposta: Letra E. que temos uma proposição do tipo Todo A é B, logo:

5. (CEBRASPE-CESPE — 2020) Seis amigos — Alberto, Homem


Bruno, Carla, Dani, Evandro e Flávio — estão enfileira-
dos, da esquerda para a direita, e dispostos da seguin-
te forma: Padre

I. Bruno está em uma posição anterior à de Carla;


II. Carla está imediatamente após Dani;
III. Evandro não está antes de todos os outros, mas está José
mais próximo da primeira posição do que da última;
IV. Flávio está em uma posição anterior à de Bruno;
V. Bruno não ocupa a quarta posição da fila.
Perceba que a premissa 2 afirma que José é padre,
Com base nessas informações, julgue o item a seguir, ou seja, José tem que estar dentro do conjunto dos
considerando a ordenação da esquerda para a direita. padres. Sendo assim, como não há possibilidade de
Bruno e Dani estão, necessariamente, em posições um padre não ser homem, podemos afirmar que José
consecutivas. também é homem, como afirma nossa conclusão.
Logo, o argumento é válido.
( ) CERTO  ( ) ERRADO Vamos analisar agora um argumento usando
conectivos lógicos. Quando temos essa estrutura,
A primeira informação nos diz que Bruno está antes devemos usa o seguinte lembrete:
de Carla.
Da esquerda para a direita; z Vamos afirmar que a conclusão é falsa e que as
____Bruno___Carla___ premissas são verdadeiras;
No espaço pode conter outros amigos ou não; z Vamos valorar de acordo com a tabela verdade do
O item II deixa claro que Carla está logo após Dani, conectivo envolvido no argumento;
sem ninguém entre elas. z Se der erro (não ficar de acordo com o padrão de
___Dani-Carla___ valoração que afirmamos) dizemos que o argu-
Juntando à anterior, fica: mento é válido.
___Bruno___Dani-Carla___
Item IV fala que Flávio está antes de Bruno: Veja na prática:
__Flávio___ Bruno___ Dani-Carla___
Falta Alberto e Evandro, lembrando que: Se fizer sol, então vou à praia. (V)
Só a Dani pode ser a quarta pessoa ou não: Fez sol. (V)
76 Flávio – Evandro – Bruno – Alberto – Dani – Carla Logo, vou à praia. (F)
Já fizemos o 1° passo, colocamos na frente de cada Quando a premissa 2 afirma que Patrícia não é
proposição os valores lógicos de acordo com o nosso criança, temos duas interpretações:
lembrete. Agora, vamos valorar! Veja que ir à praia é
falso e fez sol é verdadeiro. Colocamos os mesmos z Patrícia pode não ser criança e gostar de chocolate;
valores lógicos para proposição composta pelo conec- z Ela pode não ser criança e não gostar de chocolate.
tivo “se..., então” na primeira premissa. Assim, Sendo assim, não há possibilidade de afirmar com
100% de certeza que Patrícia não gosta de chocola-
(V) (F) te, como consta na conclusão. Logo, o argumento
Se fizer sol, então vou à praia. (V) é inválido.
Fez sol. (V)
Logo, vou à praia. (F) Para um argumento usando conectivos lógicos,
devemos usar o mesmo que já vimos para argumentos
Como podemos notar, quando temos a combina-
válidos, só muda um detalhe. Veja:
ção lógica verdade no antecedente e falso no conse-
quente (V  F) para o conectivo “se...,então”, o nosso
z Vamos afirmar que a conclusão é falsa e que as
resultado só poderá ser falso.
premissas são verdadeiras;
z Vamos valorar de acordo com a tabela verdade do
(V) (F)
Se fizer sol, então vou à praia. (V) (F) conectivo envolvido no argumento;
Fez sol. (V) z Se não der erro (ficar de acordo com o padrão de
Logo, vou à praia. (F) valoração que afirmamos) dizemos que o argu-
mento é inválido.
Percebe-se, então, que não está de acordo com a
nossa valoração inicial, ou seja, deu erro. Logo, nosso Veja na prática:
argumento é válido. Se o tempo ficar nublado, então não vou ao cine-
ma. (V)
ARGUMENTOS INVÁLIDOS O tempo ficou nublado. (V)
Logo, vou ao cinema. (F)
Também podem ser chamados de argumentos mal
construídos, ilegítimos, sofismas ou falaciosos. Já fizemos o 1° passo, colocamos na frente de cada
Dizemos que um argumento é inválido quando a proposição os valores lógicos de acordo com o nosso
verdade das premissas não é suficiente para garantir lembrete. Agora, vamos valorar! Veja que ir ao cine-
a verdade da conclusão. Vejamos um exemplo: ma é falso e o tempo ficar nublado é verdadeiro.
p1: Todas as crianças gostam de chocolate; Distribuímos os valores lógicos para proposição com-
p2: Patrícia não é criança; posta pelo conectivo “se...então” na primeira pre-
c: Portanto, Patrícia não gosta de chocolate. missa, de acordo com cada proposição. Perceba que
Como já estudamos sobre esse tipo de estrutura a proposição não vou ao cinema está negando o que
de argumentos utilizando os quantificadores lógicos, está sendo dito na conclusão, ou seja, mudamos o
vamos representar por meio dos diagramas lógicos valor lógico dela. Assim,
para saber a validade de um argumento. Veja que
temos uma proposição do tipo “Todo A é B”, logo:
(V) (V)
Gostam de chocolate Se o tempo ficar nublado, então vou ao cinema. (V)
O tempo ficou nublado. (V)
Logo, vou ao cinema. (F)

Crianças Tudo que não estiver no padrão de combinação


lógica - verdade no antecedente e falso no conse-
quente (V  F) para o conectivo “se...,então” – será
verdadeiro.
Patrícia
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

(V) (V)
Se o tempo ficar nublado, então vou ao cinema. (V)
O tempo ficou nublado. (V)
Logo, vou ao cinema. (F)
Gostam de chocolate
Percebe-se, então, que o argumento está de acordo
com a nossa valoração inicial, ou seja, não deu erro.
Logo, nosso argumento é inválido.
Crianças Sabendo disso, guarde o esquema abaixo.

Deu Erro Argumento Válido


Patrícia

Não gostam de chocolate Não Deu Argumento


Erro Inválido
77
Para podermos praticar um pouco mais sobre esse Temos a condicional:
assunto, analisaremos algumas questões comentadas (está acompanhado ou está feliz)  (canta e dança)
de concursos. (P v Q)  (R ^ T)
Como a questão afirma que “dança” é Falso, pode-
1. (FCC — 2018) Considere os dois argumentos a seguir: mos dizer que o consequente “canta e dança” é fal-
so, pois temos o conetivo “e” e basta um valor falso
I. Se Ana Maria nunca escreve petições, então ela não para que tudo seja falso. Assim, o antecedente pre-
sabe escrever petições. cisa ser falso também. Perceba, então, que temos o
Ana Maria nunca escreve petições. conetivo “ou” e que tudo precisa ser falso para que
Portanto, Ana Maria não sabe escrever petições. tenhamos o resultado do antecedente falso.
II. Se Ana Maria não sabe escrever petições, então ela Assim, “não está acompanhado e não está feliz”.
nunca escreve petições. Resposta: Letra C.
Ana Maria nunca escreve petições.
Portanto, Ana Maria não sabe escrever petições. 3. (FGV — 2019) Considere as afirmativas a seguir.

Comparando a validade formal dos dois argumentos e z “Alguns homens jogam xadrez”.
a plausibilidade das primeiras premissas de cada um, z “Quem joga xadrez tem bom raciocínio”.
é correto concluir que:
A partir dessas afirmações, é correto concluir que:
a) o argumento I é inválido e o argumento II é válido, mes-
mo que a primeira premissa de I seja mais plausível a) “Todos os homens têm bom raciocínio”.
que a de II. b) “Mulheres não jogam xadrez”.
b) ambos os argumentos são válidos, a despeito das pri- c) “Quem tem bom raciocínio joga xadrez”
meiras premissas de ambos serem ou não plausíveis. d) “Homem que não tem bom raciocínio não joga xadrez”.
c) ambos os argumentos são inválidos, a despeito das pri- e) “Quem não joga xadrez não tem bom raciocínio”.
meiras premissas de ambos serem ou não plausíveis.
d) o argumento I é inválido e o argumento II é válido, pois
Vamos desenhar os diagramas para facilitar a nos-
a primeira premissa de II é mais plausível que a de I.
sa chegada à conclusão:
e) o argumento I é válido e o argumento II é inválido, mesmo
que a primeira premissa de II seja mais plausível que a de I. Bom raciocínio

Começarei pelo Argumento II, para que você possa


entender o “macete”.
Joga xadrez
Argumento II.
Se Ana Maria não sabe escrever petições (F), então
ela nunca escreve petições (V). = verdadeiro
Ana Maria nunca escreve petições. = verdadeiro
Conclusão: Portanto, Ana Maria não sabe escrever
petições. = falso Homens
Não deu erro. Portanto,argumento inválido.
Argumento I.
Se Ana Maria nunca escreve petições (verdadeiro), Agora, vamos analisar cada alternativa e interpre-
então ela não sabe escrever petições. (falso) = ver- tar os diagramas para achar nosso gabarito.
dadeiro. (falso) a) “Todos os homens têm bom raciocínio”. Errado,
Ana Maria nunca escreve petições. = verdadeiro pois alguns homens têm bom raciocínio.
Conclusão: Portanto, Ana Maria não sabe escrever b) “Mulheres não jogam xadrez”. Errado, pois a afir-
petições. = falso. mação acima só fala de homens.
Ocorreu um erro! Pois no V  F = falso. Portanto, a c) “Quem tem bom raciocínio joga xadrez” Errado,
premissa não teve como resultado verdadeiro. pois eu posso ter bom raciocínio e jogar dama, car-
Se deu erro, então argumento válido. Logo, tas, etc. alguns que tem bom raciocínio jogam xadrez.
Argumento I - válido d) “Homem que não tem bom raciocínio não joga
Argumento II - Inválido xadrez”. Certo, pois se o homem não tem bom racio-
Sabendo disso, já daria para excluir as alternativas cínio nem adianta jogar xadrez. Quem joga xadrez
A, B, C e D. Resposta: Letra E. tem bom raciocínio.
e) “Quem não joga xadrez não tem bom raciocínio”.
2. (FCC — 2019) Em uma festa, se Carlos está acompanha- Errado, pois eu posso jogar dama, cartas e ter bom
do ou está feliz, canta e dança. Se, na última festa em raciocínio. Resposta: Letra D.
que esteve, não dançou, então Carlos, necessariamente,
4. (IDECAN — 2019) Se Davi é surfista, então Ana não é
a) não estava acompanhado, mas estava feliz. bailarina. Bruno não é jogador de futebol ou Cinthia
b) estava acompanhado, mas não estava feliz. não é ginasta. Sabendo-se que Cinthia é ginasta e que
c) não estava acompanhado, nem feliz. Ana é bailarina, pode-se concluir corretamente que:
d) não cantou.
e) cantou. a) Bruno é jogador de futebol e Davi é surfista.
b) Bruno é jogador de futebol e Davi não é surfista.
Veja que precisamos achar uma conclusão para o c) Bruno não é jogador de futebol e Davi é surfista.
argumento e podemos escrever a sentença da seguinte d) Se Bruno não é jogador de futebol, então Davi é surfista.
78 maneira: e) Bruno não é jogador de futebol e Davi não é surfista.
Lembre-se do que estudamos quando o enunciado não PROPOSIÇÕES LÓGICAS SIMPLES
dá a valoração das premissas: tudo é verdade!
Sabendo-se que Cinthia é ginasta (V) e que Ana é bailari- Vamos começar nosso estudo falando sobre o que
na (V) podemos fazer a valoração das outras premissas: é uma proposição lógica. Observe a frase a seguir:
� Se Davi é surfista (F), então Ana não é bailarina Ex.: Paula vai à praia.
(F). F  F = V Para saber se temos ou não uma proposição, preci-
� Bruno não é jogador de futebol (V) ou Cinthia não samos de três requisitos fundamentais:
é ginasta (F). V
� Cinthia é ginasta (V) e que Ana é bailarina (V). V
z Ser uma oração: ou seja, são frases com verbos;
Devemos agora analisar as alternativas fazermos
uso da tabela verdade, ou seja, se resultar verdade z Oração declarativa: a frase precisa estar apresen-
essa é a questão certa. tando uma situação, um fato;
a) Bruno é jogador de futebol (F) e Davi é surfista z Pode ser classificada como Verdadeira ou Falsa:
(F). Falso ou seja, podemos atribuir o valor lógico verdadeiro
b) Bruno é jogador de futebol (F) e Davi não é sur- ou o valor lógico falso para a declaração.
fista (V). Falso
c) Bruno não é jogador de futebol (V) e Davi é sur- Tendo isso em vista, podemos afirmar claramen-
fista (F). Falso te que a frase “Paula vai à praia” é uma proposição
d) se Bruno não é jogador de futebol (V), então Davi lógica, pois temos a presença de um verbo (ir), uma
é surfista (F). Falso informação completa (temos o sujeito claro na oração)
e) Bruno não é jogador de futebol (V) e Davi não é
e podemos afirmar se é verdade ou falsa.
surfista (V). Verdade Resposta: Letra E.

5. (IDECAN — 2019) Considere as premissas a seguir.


Importante!
1) Se o instrumento está afinado, eu toco bem. Proposição Lógica é uma oração declarativa que
2) Se o público aplaude, eu fico feliz. admite apenas um valor lógico: V ou F.
3) Se eu toco bem, consigo dinheiro.
4) Se eu consigo dinheiro, me caso ou compro uma bicicleta.
Ou então podemos também esquematizar o que é
Sabendo-se que eu não me casei e não fiquei feliz, uma proposição lógica assim:
assinale a alternativa correta. Chama-se proposição toda sentença declarativa
que pode ser valorada ou só como verdadeira ou só
a) O público não aplaudiu. como falsa. A presença do verbo é obrigatória junta-
b) O instrumento não estava afinado. mente com o sentido completo (caráter informativo).
c) Eu não consegui dinheiro.
d) Eu não toquei bem.
Verdadeira
e) Eu não comprei uma bicicleta.
Sentença
Partimos da presunção de que todas as premissas Ou Sentido
Declarativa
são verdadeiras e sabe-se que eu não me casei e não completo
fiquei feliz, as duas são verdadeiras, ou seja, é a úni-
ca certeza que a questão nos mostra. Então, a partir Falsa
dela, vamos valorando as demais:
1) Se o instrumento está afinado (?), eu toco bem (?). = V Obrigatório
2) Se o público aplaude (F), eu fico feliz (F). = V
3) Se eu toco bem (?), consigo dinheiro (?). = V Verbo
4) Se eu consigo dinheiro (?), me caso (F) ou compro
uma bicicleta (V). = V
Toda proposição pode ser representada simbolica-
“não me casei (V) e não fiquei feliz (V)” = V
mente pelas letras do alfabeto, veja no exemplo:
A) O público não aplaudiu - de acordo com o valor RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
lógico da segunda proposição. Resposta: Letra A.
z p: Sabino é um pintor esperto;
z r: Kate é uma mulher alta.

Na situação temos duas proposições sendo repre-


DEDUÇÃO DE NOVAS INFORMAÇÕES sentadas pelas letras p e r.
DAS RELAÇÕES FORNECIDAS E Bom! Agora que já sabemos o que são proposições
lógicas, fica tranquilo distinguir o que não são pro-
AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES USADAS
posições. Isto é fundamental, pois várias questões de
PARA ESTABELECER A ESTRUTURA prova perguntam exatamente isso – são apresentadas
DAQUELAS RELAÇÕES algumas frases e você precisa identificar qual delas
não é uma proposição. Vejamos os casos em que mais
VALORES LÓGICOS aparecem:

Na lógica temos apenas dois valores lógicos – ver- � Perguntas: são as orações interrogativas.
dadeiro ou falso. Quando temos uma declaração ver- Exemplo: Que horas vamos ao cinema?
dadeira, o seu valor lógico é Verdade (V) e quando é Essa pergunta não pode ser classificada como ver-
falsa, dizemos que seu valor lógico é Falso (F). dadeira ou falsa; 79
� Exclamações: são frases exclamativas. Sentenças Interrogativas(?)
Exemplo: Que lindo cabelo!
Essa exclamação não pode ser valorada, pois apre- Sentenças sem Verbo
sentam percepções subjetivas; NÃO SÃO
PROPOSIÇÕES
� Ordens: são orações com verbo no imperativo.
Sentenças com Verbo no Imperativo
Exemplo: Pegue o livro e vá estudar.
Sentenças Abertas
Uma ordem não pode ser classificada como verda-
deira ou falsa. Muito cuidado com esse tipo de oração, Paradoxo
pois pode ser facilmente confundida com uma propo-
sição lógica.
PRINCÍPIOS DA LÓGICA PROPOSICIONAL
Não são proposições – perguntas, exclamações e
ordens.
É fundamental que você conheça três princípios para
Temos um outro caso menos cobrado em provas,
deixarmos tudo alinhado com as proposições lógicas. Veja:
mas que também não é proposição lógica, sendo o
paradoxo. Para ficar mais claro, veja o exemplo a
z Princípio do terceiro excluído: uma proposição
seguir:
deve ser Verdadeira ou Falsa, não havendo outra
Ex.: Esta frase é uma mentira.
possibilidade. Não é possível que uma proposição
Quando atribuímos um valor de verdade para a
seja “quase verdadeira” ou “quase falsa”;
frase, então na verdade, ele mentiu, uma vez que a
z Princípio da não contradição: dizemos que uma
própria frase já diz isso, e se atribuirmos o valor falso,
mesma proposição não pode ser, ao mesmo tempo,
então a frase é verdade, pois ela diz ser uma mentira
verdadeira e falsa;
e já sabemos que isso é falso.
z Princípio da Identidade: cada ser é único, ou seja,
Perceba que sempre que valoramos a frase ela nos
uma proposição não assume o significado de outra
resulta um valor contrário, ou seja, estamos diante de
proposição lógica.
uma frase que é contraditória em si mesma. Isso é a
definição de um paradoxo.
PROPOSIÇÕES COMPOSTAS
SENTENÇA ABERTA
Temos proposições compostas quando há duas ou
mais proposições simples ligadas por meio dos conec-
Dizemos que uma sentença é aberta quando não
tivos lógicos. Veja os exemplos:
conseguimos ter a informação completa que a oração
nos mostra. Veja o exemplo a seguir:
z Sabino corre e Marcos compra leite;
z O gato é azul ou o pato é preto;
Ex.: Ele é o melhor cantor de rock.
z Se Carlinhos pegar a bola, então o jogo vai acabar.
Perceba que há presença do verbo e que consegui-
mos parcialmente entender o que a frase quer dizer.
Todavia, logo surge a pergunta: Ele quem? Aqui nossa Cada conectivo tem sua representação simbólica e
informação não consegue ser completa e por isso temos sua nomenclatura. Veja a relação de conectivos:
mais um caso que não é proposição lógica. Observe ou-
tros exemplos: CONECTIVOS NOMENCLATURA SIMBOLOGIA
e Conjunção ^
X + 5 = 10
Aquele carro é amarelo. ou Disjunção v
5+5 Disjunção v
ou...ou
X – Y = 20 Exclusiva
se...então Condicional →
Todos os exemplos acima são sentenças abertas,
se e somente se Bicondicional ⟷
então podemos resumir da seguinte forma:
As variáveis: ele, aquele ou variáveis matemáti-
cas (X ou Y) tornam a sentença aberta. Exemplos:
Sempre será uma proposição lógica na escrita
matemática e podemos notar que há verbos nos casos z Na linguagem natural:
a seguir:
„ O macaco bebe leite e o gato come banana;
z = (é igual); „ Maria é bailarina ou Juliano é atleta;
z ≠ (é diferente); „ Ou o elefante corre rápido ou a raposa é lenta;
z > (é maior); „ Se estudar, então vai passar;
z < (é menor); „ Bino vai ao cinema se e somente se ele receber
z ≥ (é maior ou igual); dinheiro.
z ≤ (é menor ou igual);
z Na linguagem simbólica:
Esquematizando o que não são proposições lógicas:
„ p ^ q;
„ p v q;
„ p v q;
„ p → q;
80 „ p ⟷ q.
Agora que conhecemos os conectivos lógicos, P Q PVQ
vamos ver algumas camuflagens dos operadores lógi-
V
cos que podem aparecer na prova. Veja:
V
� Conectivos “e” usando “mas”: F
Exemplo: Jurema é atriz, mas Pedro é cantor; F
� Conectivo “ou...ou” usando “...ou..., mas não
ambos”:
Exemplo: Baiano é corredor ou ele é nadador, mas z 4º passo: preencher as demais colunas com agru-
não ambos; pamento de valores lógicos (V ou F) sempre pela
� Conectivo “Se então” usando “Desde que, Caso, metade do agrupamento anterior.
Basta, Quem, Todos, Qualquer, Toda vez que”:
Exemplos: Desde que faça sol, Pedrinho vai à praia; Exemplo: primeira coluna de 2 em 2 (a próxima
Caso você estude, irá passar no concurso; será de 1 em 1).
Basta Ana comer massas, e engordará;
Quem joga bola é rápido; P Q PVQ
Todos os médicos sabem operar;
V V
Qualquer criança anda de bicicleta;
Toda vez que chove, não vou à praia. V F
F V
É importante saber que na condicional a primeira F F
proposição é o termo antecedente e a segunda é o
termo consequente.
Pronto! A nossa tabela já está montada, agora precisa-
P→Q mos aprender qual o resultado que teremos quando com-
binamos os valores lógicos usando os conectivos lógicos.
P = antecedente
Número de linhas da tabela verdade:
Q = consequente 2n = 2proposições (onde n é o número de proposições).
Bom! Vamos caminhar mais um pouco e apren-
TABELA VERDADE der todas as combinações lógicas possíveis para cada
conectivo lógico.
Trata-se de uma tabela na qual conseguimos apresen-
tar todos os valores lógicos possíveis de uma proposição. Negação (~P)

Números de Linhas de Tabela Verdade Uma proposição, quando negada, recebe valores
lógicos opostos ao da proposição original. O símbolo
Neste momento, vamos aprender a construir tabe- que iremos utilizar é ¬ p ou ~p.
las verdade para proposições compostas.
P ~P
z 1º passo: contar a quantidade de proposições
V F
envolvidas no enunciado.
F V
Exemplo: P v Q (temos duas proposições).
Dupla Negação ~(~P)
z 2º passo: calcular a quantidade de linhas da tabela
usando a fórmula 2n = 2proposições (onde n é o número A dupla negação nada mais é do que a própria pro-
de proposições). posição. Isto é, ~(~P) = P
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
Exemplo: P v Q = 22 = 4 linhas. P ~P ~(~P)
V F V
P Q PVQ F V F

Conectivo Conjunção “E” (^)

Só teremos uma resposta verdadeira quando todos


os valores lógicos envolvidos forem verdadeiros.

P Q P^Q
z 3º passo: dispor os valores “V” e “F” na primeira
coluna fazendo o agrupamento pela metade do V V V
número de linhas da tabela. V F F
F V F
Exemplo: P v Q = 22 = 4 linhas = (agrupamento da
F F F
primeira coluna de 2 em 2 – V V / F F). 81
Conectivo Disjunção “Ou” (v) P ~P P V ~P
Teremos resposta verdadeira quando, pelo menos, V F V
um dos valores lógicos envolvidos for verdadeiro. F V V

P Q PVQ Exemplo 2: A proposição (P Λ Q) → (PQ) é uma


V V V tautologia, pois a última coluna da tabela verdade só
possui V.
V F V
F V V
P Q (P^Q) (PQ) (P^Q)→(PQ)
F F F
V V V V V
Conectivo Disjunção Exclusiva “Ou...ou” ( v ) V F F F V
F V F F V
Teremos resposta verdadeira quando os valores
lógicos envolvidos forem diferentes. F F F V V

CONTRADIÇÃO
P Q PVQ
V V F É uma proposição cujo valor lógico é sempre falso.
V F V Exemplo: A proposição P ^ (~P) é uma contradição, pois
o seu valor lógico é sempre F, conforme a tabela verdade.
F V V
F F F
P ~P P ^ (~P)
Conectivo Bicondicional “Se e Somente Se” () V F F
F V F
Teremos resposta verdadeira quando os valores
lógicos envolvidos forem iguais. CONTINGÊNCIA

P Q PQ Sempre que uma proposição composta recebe valo-


res lógicos falsos e verdadeiros, independentemente dos
V V V valores lógicos das proposições simples componentes,
V F F dizemos que a proposição em questão é uma contingên-
cia. Ou seja, é quando a tabela verdade apresenta, ao mes-
F V F
mo tempo, alguns valores verdadeiros e alguns falsos.
F F V Exemplo: A proposição [P ^ (~Q)] v (P→~Q)] é uma
contingência, conforme a tabela verdade.
Conectivo Condicional “Se..., Então” (→)
P Q [P^(~Q)] (P→~Q) [P^(~Q)]V(P→~Q)
Especialmente nesse caso, vamos aprender quan-
do teremos o resultado falso, pois o conectivo con- V V F F F
dicional só tem uma possibilidade de tal ocorrência V F V V V
Somente teremos resposta falsa quando o valor lógico F V F V V
do antecedente for verdadeiro e o consequente falso.
F F F V V

P Q P→Q z Tautologia: uma proposição que é sempre verdadeira;


V V V z Contradição: uma proposição que é sempre falsa;
V F F z Contingência: uma proposição que pode assumir
valores lógicos V e F, conforme o caso.
F V V
F F V Exercite seus conhecimentos realizando os exercí-
cios que seguem.
Condicional falsa: Vai Ficar Falsa
1. (CEBRASPE-CESPE — 2019) Acerca da lógica senten-
VF=F cial, julgue o item que segue.
Se uma proposição na estrutura condicional — isto é, na
TAUTOLOGIA forma P→Q, em que P e Q são proposições simples — for
falsa, então o precedente será, necessariamente, falso.
É uma proposição cujo valor lógico é sempre
verdadeiro. ( ) CERTO  ( ) ERRADO
Exemplo 1: A proposição P ∨ (~P) é uma tautologia,
pois o seu valor lógico é sempre V, conforme a tabela Veja que P→Q foi considerado falso pelo enunciado
verdade. da questão. Assim na condicional para ser falso a
regra é que o Precedente (antecedente) seja verda-
deiro o seguinte (consequente) falso. Lembre-se da
82 dica: Vai Ficar Falso = V  F. Resposta: Errado.
2. (AOCP — 2019) Considere a proposição: “O contingen- Os valores 1, 2, 3 e 4 da coluna “Ou M ou J” devem ser
te de policiais aumenta ou o índice de criminalidade preenchidos, correta e respectivamente, por:
irá aumentar”. Nesse caso, a quantidade de linhas da
tabela verdade é igual a: a) V, F, V e F.
b) F, V, V e F.
a) 2. c) F, F, V e V.
b) 4. d) V, F, F e V.
c) 8. e) V, V, V e F.
d) 16.
e) 32. Veja que precisamos saber quando o resultado das
combinações lógicas do conectivo “ou...ou” dá ver-
O número de linhas da tabela verdade depende do dade. Lembrando da nossa parte teórica, sempre
número de proposições e é calculado pela fórmula: que tivermos valores lógicos diferentes, o resultado
2ⁿ. Assim, será verdadeiro. Sabendo disso,
O contingente de policiais aumenta (1ª proposição)
O índice de criminalidade irá aumentar (2ª M J Ou M ou J
proposição)
V V F
22 = 4 linhas. Resposta: Letra B.
V F V
3. (FUNDATEC — 2019) Trata-se de um exemplo de tau- F V V
tologia a proposição: F F F

a) Se dois é par então é verão em Gramado. Resposta: Letra B.


b) É verão em Gramado ou não é verão em Gramado.
c) Maria é alta ou Pedro é alto. CONECTIVOS LÓGICOS
d) É verão em Gramado se e somente se Maria é alta.
e) Maria não é alta e Pedro não é alto. Conceito

Você precisa guardar esta dica: A proposição que Os conectivos lógicos ou operadores lógicos, como
contiver uma afirmação com o conectivo ou mais a também podem ser chamados, servem para ligar duas
negação dessa mesma afirmação (ou vice-versa) será ou mais proposições simples e formar, assim, propo-
sempre uma tautologia. Então, sições compostas.
É verão em Gramado ou não é verão em Gramado. Temos 05 (cinco) operadores lógicos no total e cada
A proposição p ∨ (~p) é uma tautologia, pois o seu um tem sua nomenclatura e representação simbólica.
valor lógico é sempre “verdadeiro”. Resposta: Letra B. Veja a tabela abaixo:

4. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Julgue o seguinte item, Tabela de Conectivos


relativo à lógica proposicional e à lógica de argumen-
tação. CONECTIVO NOMENCLATURA SÍMBOLO LEITURA
Se P e Q são proposições simples, então a proposição
e Conjunção ^ peq
[P→Q]∧P é uma tautologia, isto é, independentemente
dos valores lógicos V ou F atribuídos a P e Q, o valor ou Disjunção v p ou q
lógico de [P→Q]∧P será sempre V. Disjunção
ou...ou v Ou p ou q
exclusiva
( ) CERTO  ( ) ERRADO Condicional
se...,então → Se p, então q
(implicação)
Basta perceber que o conectivo em questão é o “E”
(Conjunção), que só é verdadeiro quando as duas p se e
se e Bicondicional
são verdadeiras, sendo assim se P for falso, já irá somente
somente se (bi-implicação)
invalidar o argumento. Resposta: Errado. se q RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

5. (VUNESP — 2018) Seja M a afirmação: “Marília gosta z Conjunção (conectivo “e”): sua representação
de dançar”. Seja J a afirmação “Jean gosta de estu- simbólica é ^.
dar”. Considere a composição dessas duas afirma-
ções: “Ou Marília gosta de dançar ou Jean gosta de Exemplo:
estudar”. A tabela verdade que representa corretamen-
te os valores lógicos envolvidos nessa situação é: „ Na linguagem natural: O macaco bebe leite e o
gato come banana;
TABELA - VERDADE „ Na linguagem simbólica: p ^ q.
M J Ou M ou J
z Disjunção Inclusiva (conectivo “ou”): sua repre-
V V 1 sentação simbólica é v.
V F 2
F V 3 Exemplo:
F F 4
„ Na linguagem natural: Maria é bailarina ou
Juliano é atleta; 83
„ Na linguagem simbólica: p v q. Desde que faça sol, Pedrinho vai à praia;
Caso você estude, irá passar no concurso;
z Disjunção Exclusiva (conectivo “ou...ou”): sua Basta Ana comer massas, e engordará;
representação simbólica é: v. Quem joga bola é rápido;
Todos os médicos sabem operar;
Exemplo: Qualquer criança anda de bicicleta;
Toda vez que chove, não vou à praia.
„ Na linguagem natural: Ou o elefante corre rápi-
do ou a raposa é lenta; Dica
„ Na linguagem simbólica: p v q.
Na condicional a 1° proposição é o termo ante-
cedente e a 2° é o termo consequente.
z Condicional (conectivos “se, então”): sua repre-
PQ
sentação simbólica é →.
P = antecedente
Q = consequente
Exemplo:
Revise seus conhecimentos com as questões
„ Na linguagem natural: Se estudar, então vai
comentadas a seguir.
passar;
„ Na linguagem simbólica: p → q.
1. (CEBRASPE-CESPE — 2018) As proposições P, Q e R a
seguir referem-se a um ilícito penal envolvendo João,
z Bicondicional (conectivo “se e somente se”): sua Carlos, Paulo e Maria:
representação simbólica é ⟷. P: “João e Carlos não são culpados”. Q: “Paulo não é
mentiroso”. R: “Maria é inocente”.
Exemplo: Considerando que ~X representa a negação da propo-
sição X, julgue o item a seguir.
„ Na linguagem natural: Bino vai ao cinema se e A proposição “Se Paulo é mentiroso então Maria é
somente se ele receber dinheiro; culpada.” pode ser representada simbolicamente por
„ Na linguagem simbólica: p⟷q. (~Q)↔(~R).

z Negação: uma proposição quando negada, recebe ( ) CERTO  ( ) ERRADO


valores lógicos opostos dos valores lógicos da proposi-
ção original. O símbolo que iremos utilizar é ¬p ou ~p. Veja que temos uma proposição condicional (se
então) e a representação simbólica apresentada é
Exemplos: de uma bicondicional. Representação da condicional
(). Resposta: Errado.
„ p: O gato é amarelo;
„ ~p: O gato não é amarelo; 2. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Julgue o seguinte item, rela-
„ q: Raciocínio Lógico é difícil; tivo à lógica proposicional e à lógica de argumentação.
„ ~q: É falso que raciocínio lógico é difícil; A proposição “A construção de portos deveria ser
„ r: Maria chegou tarde em casa ontem; uma prioridade de governo, dado que o transporte
„ ~r: Não é verdade que Maria chegou tarde em de cargas por vias marítimas é uma forma bastante
casa ontem. econômica de escoamento de mercadorias.” Pode ser
representada simbolicamente por P∧Q, em que P e Q
são proposições simples adequadamente escolhidas.
Dica
A negação além da forma convencional, pode ( ) CERTO  ( ) ERRADO
ser escrita com as expressões a seguir:
É falso que ... A representação simbólica apresentada para julgar-
Não é verdade que... mos é de uma conjunção. E na questão foi apresen-
tada uma proposição composta pela condicional na
forma “camuflada” dentro de uma relação de causa
Agora que já fomos apresentados aos conectivos
e consequência “ Dado que...”. Resposta: Errado.
lógicos, vamos ver algumas “camuflagens” dos opera-
dores lógicos que podem aparecer na prova. Veja:
3. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Considere as seguintes
proposições: P: O paciente receberá alta; Q: O paciente
z Conectivo “e” usando “mas”
receberá medicação; R: O paciente receberá visitas.
Tendo como referência essas proposições, julgue o
„ Exemplo: Jurema é atriz, mas Pedro é cantor; item a seguir, considerando que a notação ~S significa
a negação da proposição S.
z Conectivo “ou...ou” usando “...ou..., mas não ambos” A proposição ~P→[Q∨R] pode assim ser traduzida: Se
o paciente receber alta, então ele não receberá medi-
„ Exemplo: Baiano é corredor ou ele é nadador, cação ou não receberá visitas.
mas não ambos;
( ) CERTO  ( ) ERRADO
z Conectivo “Se então” usando “Desde que, Caso,
Basta, Quem, Todos, Qualquer, Toda vez que” P: O paciente receberá alta;
~P: O paciente não receberá alta;
84 „ Exemplos: Q: O paciente receberá medicação;
R: O paciente receberá visitas. quando elas têm o mesmo significado; quando uma
A proposição ~P→[Q∨R] pode assim ser traduzida: pode ser substituída pela outra. Para indicar que são
Se o paciente não receber alta, então ele receberá equivalentes, usaremos a seguinte notação:
medicação ou receberá visitas. Resposta: Errado.
P⟺Q
4. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Julgue o item a seguir, a
respeito de lógica proposicional. Distribuição (Equivalência pela Distributiva)
A proposição “A vigilância dos cidadãos exercida pelo
Estado é consequência da radicalização da sociedade z p ∧ (q ∨ r) ⇔ (p ∧ q) ∨ (p ∧ r)
civil em suas posições políticas.” pode ser corretamente
representada pela expressão lógica P→Q, em que P e Q
P (P ∧ Q)
são proposições simples escolhidas adequadamente.
P Q R Q∨R ∧ P∧Q P∧R ∨
(Q ∨ R) (P ∧ R)
( ) CERTO  ( ) ERRADO
V V V V V V V V
A vigilância dos cidadãos exercida pelo Estado é (verbo V V F V V V F V
de ligação) consequência da radicalização da sociedade V F V V V F V V
civil em suas posições políticas. Temos apenas um ver-
bo e por esse motivo é uma proposição simples. V F F F F F F F
Cuidado com o uso da palavra consequência em propo- F V V V F F F F
sições como esta. Em determinadas situações, de fato,
F V F V F F F F
teremos uma proposição condicional, senão vejamos:
Passar (verbo no infinitivo) é consequência de estu- F F V V F F F F
dar (verbo no infinitivo) F F F F F F F F
Nesse caso temos uma proposição composta pela
condicional. Resposta: Errado. z p ∨ (q ∧ r) ⇔ (p ∨ q) ∧ (p ∨ r)

5. (CEBRASPE-CESPE — 2016) Considerando os símbo-


los normalmente usados para representar os conecti- P (P ∨ Q)
P Q R Q∧R ∨ P∨Q P∨R ∧
vos lógicos, julgue o item seguinte, relativos a lógica
(Q ∧ R) (P ∨ R)
proposicional e à lógica de argumentação. Nesse sen-
tido, considere, ainda, que as proposições lógicas sim- V V V V V V V V
ples sejam representadas por letras maiúsculas. V V F F V V V V
A sentença A fiscalização federal é imprescindível
para manter a qualidade tanto dos alimentos quanto V F V F V V V V
dos medicamentos que a população consome pode V F F F V V V V
ser representada simbolicamente por P∧Q. F V V V V V V V

( ) CERTO  ( ) ERRADO F V F F F V F F


F F V F F F V F
Para ser proposição composta, haveria mais de um F F F F F F F F
verbo na frase, por isso, a frase em questão é con-
siderada uma proposição simples. Procure o verbo Associação (Equivalência pela Associativa)
na oração.
A fiscalização federal é imprescindível para manter z p ∧ (q ∧ r) ⇔ (p ∧ q) ∧ (p ∧ r)
a qualidade tanto dos alimentos quanto dos medica-
mentos que a população consome. Resposta: Certo.
P (P ∧ Q)
P Q R Q∧R ∧ P∧Q P∧R ∧
(Q ∧ R) (P ∧ R) RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

COMPREENSÃO E ANÁLISE DA LÓGICA V V V V V V V V


DE UMA SITUAÇÃO, UTILIZANDO AS V V F F F V F F
FUNÇÕES INTELECTUAIS V F V F F F V F
V F F F F F F F
RACIOCÍNIO VERBAL, RACIOCÍNIO MATEMÁTICO,
RACIOCÍNIO SEQUENCIAL, ORIENTAÇÃO ESPACIAL F V V V F F F F
E TEMPORAL, FORMAÇÃO DE CONCEITOS, F V F F F F F F
DISCRIMINAÇÃO DE ELEMENTOS
F F V F F F F F
Equivalência Lógica Notável F F F F F F F F

Afirma-se que uma proposição P é logicamente z p ∨ (q ∨ r) ⇔ (p ∨ q) ∨ (p ∨ r)


equivalente ou equivalente a uma proposição Q se as
tabelas verdade dessas duas proposições são iguais. E
o que isso significa? Ora, duas proposições são equiva-
lentes quando elas dizem exatamente a mesma coisa; 85
P (P ∨ Q) ~P → ~Q →
P Q ~P ~Q P→Q Q→P
P Q R Q∨R ∨ P∨Q P∨R ∨ ~Q ~P
(Q ∨ R) (P ∨ R) V F V F V F F V
V V V V V V V V V F V V V V V V
V V F V V V V V
z Proposição contrapositiva: p → q: ~q → ~p.
V F V V V V V V
Vale ressaltar que olhando para a tabela, a condi-
V F F F V V V V cional p → q e a sua recíproca q → p ou a sua contrária
F V V V V V V V ~p → ~q não são equivalentes.

F V F V V V F V Implicação Material
F F V V V F V V
Na lógica proposicional, temos uma regra de subs-
F F F F F F F F tituição que diz que é válido que uma sentença con-
dicional seja substituída por uma disjunção em que
Idempotência o antecedente é negado e essa é a Implicação Mate-
rial. A regra determina que P implica Q é logicamente
equivalente a não ~P ou Q e pode substituir o outro
z p ⇔ (p ∧ p)
em provas lógicas: P → Q ⟺ ~P v Q.
Onde “⟺” é um símbolo que representa “pode ser
P P P∧P substituído em uma prova com.”
Ou seja, sempre que uma instância de “P → Q” é
V V V exibida em uma linha de uma prova, ela pode ser
F F F substituída por «~P v Q”.
Exemplo:
z p ⇔ (p ∨ p) Se ele é um tigre P, então ele pode correr Q.
Assim, ele não é um tigre ~P ou ele pode correr Q.
Se for descoberto que o tigre não podia correr, escri-
P P P∨P to simbolicamente como P v ~Q, ambas as sentenças são
V V V falsas, mas caso contrário, elas são ambas verdadeiras.
F F F
Transposição

Pela Exportação-Importação A transposição é uma regra de substituição válida


para “P → Q” onde é permitido trocar o antecedente
z [(p ∧ q) → r] ⇔ [p → (q → r)] P pelo consequente Q de um enunciado condicional
em uma prova lógica se eles estão ambos negados. É
a inferência verdadeira de “A implica B”, a verdade
(P ∧ Q) P→
P Q R P∧Q Q→R do “Não-B implica não-A”, e vice-versa. É a regra que:
→R (Q → R)
V V V V V V V P→Q⟺~Q→~P
V V F V F F F
Onde “⟺” é um símbolo que representa “pode ser
V F V F V V V substituído em uma prova com.”
V F F F V V V Ou seja, sempre que uma instância de “P → Q” é
exibida em uma linha de uma prova, ela pode ser
F V V F V V V
substituída por ~ Q → ~ P “.
F V F F V F V Exemplo:
F F V F V V V Se ele é um tigre P, então ele pode correr Q.
Assim, Se ele não pode correr ~Q, então ele não é
F F F F V V V um tigre ~P.

Proposições Associadas a uma Condicional (Se, EQUIVALÊNCIA CONDICIONAL


Então)
Agora vamos tratar duas equivalências impor-
Podemos dizer que as três proposições condicionais tantes desse conectivo que tem a maior incidência
que contêm p e q são associadas a p → q. Veja a seguir: nas provas de concursos. A primeira delas ensina
como transformar uma proposição composta pelo
z Proposições recíprocas: p → q: q → p; “se…então” em outra proposição composta pelo “se…
z Proposição contrária: p → q: ~p → ~q; então”. A outra ensina como transformar uma propo-
sição composta pelo “se…então” em uma composta
pelo conectivo “ou” (e vice-versa). Vamos lá!
~P → ~Q →
P Q ~P ~Q P→Q Q→P
~Q ~P Contrapositiva
V V F F V V V V
Para fazermos essa equivalência devemos inverter
V V F V F V V F
86 as proposições e depois negar todas as proposições.
Inverte e nega tudo mantendo o se então verdadeiros, ou seja, quando os valores lógicos são
Exemplo: A → B ⇔ ~B → ~A iguais. Sabendo disso, podemos dizer, então, que o
Se Marcos estuda, então ele passa. ⇔ Se Marcos conectivo “se e somente se” terá resultado verda-
não passa, então ele não estuda. deiro quando as proposições forem todas verda-
Estas duas proposições são equivalentes. Percebeu
deiras ou quando forem todas falsas (vale lembrar
o processo de construção da segunda a partir da pri-
meira? Você deve inverter a ordem das proposições e que a negação de “V” será “F”). Logo, veja o exemplo
negar ambas. de como ficará essa equivalência:
Exemplo: A ⟷ B ⇔ (A ^ B) v (~A ^ ~B)
z “se...então” vira “ou” O céu ficará azul se e somente se hoje não chover.
⇔ O céu ficará azul e hoje não vai chover ou o céu não
Essa equivalência é feita negando a primeira pro- ficará azul e hoje vai chover.
posição, trocando o conectivo “se...então” pelo conec- Agora observe a tabela verdade envolvendo todas
tivo “ou”, repetindo a segunda proposição. as equivalências da Bicondicional:
Nega ou Repete.
Exemplo: (A→B) (A ^ B)
A B ~A ~B A ⟷ B B⟷A ∧ V
A → B ⇔ ~A v B. (B→A) (~A ^ ~B)

Se o urso é ovíparo, então o macaco voa. ⇔ O urso V V F F V V V V


não é ovíparo ou o macaco voa. V F F V F F F F
Observe a tabela a seguir e veja que os resultados F V V F F F F F
são iguais, ou seja, equivalentes:
F F V V V V V V
A B ~A ~B A→B ~B → ~A ~A V B
V V F F V V V COMUTAÇÃO

V F F V F F F
Leis Comutativas
F V V F V V V
F F V V V V V z Conjunção “e”:

„ Exemplo: A ^ B ⇔ B ^ A
EQUIVALÊNCIA BICONDICIONAL
„ Joana é magra e Maria é baixa. ⇔ Maria é baixa
e Joana é magra.
Geralmente aprendemos somente a equivalência
básica desse conectivo (a comutação), mas precisa-
mos ficar atentos para os casos especiais. O conectivo A B A^B B^A
“se e somente se” tem mais duas equivalências lógicas
V V V V
quando interpretamos de maneira mais minuciosa o
seu significado e sua tabela verdade. A seguir veremos V F F F
esses detalhes que estão aparecendo cada vez mais F V F F
nas provas. Então vamos lá!
F F F F
Comutação
z Disjunção Inclusiva “ou”:
Exemplo: A ⟷ B ⇔ B ⟷ A
O céu ficará azul se e somente se hoje não chover. „ Exemplo: A v B ⇔ B v A
⇔ Hoje não choverá se e somente se o céu ficar azul.
„ João anda de barco ou Sabrina vai à praia. ⇔
Sabrina vai à praia ou João anda de barco.
z Com o conectivo “e” e “se...então”
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
Para fazer essa equivalência vamos interpretar o z Disjunção Exclusiva “ou...ou”:
conectivo “se e somente se”. Na sua nomenclatura
temos uma bicondicional e o quê isso significa exa- „ Exemplo: A v B ⇔ B v A
tamente? Significa que temos duas condicionais (se... „ Ou Romeu compra uma moto ou ele vende o
então). E, pensando nisso, podemos dizer então que carro. ⇔ Ou Romeu vende o carro ou ele com-
temos uma condicional indo e uma condicional vol- pra uma moto.
tando; repare que a simbologia (⟷) são duas setas.
Agora vamos traduzir isso tudo com um exemplo.
Exemplo: A ⟷ B ⇔ (A → B) ^ (B → A) A B A⊻B B⊻A
O céu ficará azul se e somente se hoje não chover. V V F F
⇔ Se o céu ficará azul, então hoje não vai chover e se V F V V
hoje não vai chover, então o céu ficará azul.
F V V V
z Com o conectivo “ou” e “tabela verdade” F F F F
Já para entendermos essa equivalência, precisa-
mos lembrar dos casos na tabela verdade do cone- „ Bicondicional “se e somente se”
tivo “se e somente se” quando temos resultados „ Exemplo: A ⟷ B ⇔ B A 87
„ O céu ficará azul se e somente se hoje não cho- Considerando esse argumento, julgue o item seguinte.
ver. ⇔ Hoje não choverá se e somente se o céu A proposição P3 é equivalente à proposição “Se os
ficar azul. servidores públicos que atuam nesse setor não pade-
cem, então o trabalho dos servidores públicos que
atuam no setor Alfa não fica prejudicado.”.
A B A⟷B B⟷A
V V V V ( ) CERTO  ( ) ERRADO
V F F F Proposição: P3: “Se o trabalho dos servidores públicos
F V F F que atuam no setor Alfa fica prejudicado, então os ser-
F F V V vidores públicos que atuam nesse setor padecem.”.
Equivalência:
(Inverte e nega tudo mantendo “se então”)
z Condicional “Se então”: é o único conectivo lógi- “Se os servidores públicos que atuam nesse setor
co que não aceita a propriedade de comutação, não padecem, então o trabalho dos servidores públi-
pois o seu antecedente não pode ser o consequente cos que atuam no setor Alfa não fica prejudicado.”
e vice-versa. Resposta: Certo.

A→B≠B→A 3. (CEBRASPE-CESPE — 2020) Considerando a proposi-


ção P: “Se o servidor gosta do que faz, então o cida-
Agora vamos treinar o que aprendemos na teoria com dão-cliente fica satisfeito”, julgue o item a seguir.
exercícios comentados de diversas bancas. Vamos lá A proposição P é logicamente equivalente à seguinte
proposição: “Se o cidadão-cliente não fica satisfeito,
1. (VUNESP — 2020) Considere a seguinte afirmação: Se então o servidor não gosta do que faz”.
Marcos está prestando esse concurso, então ele é for-
( ) CERTO  ( ) ERRADO
mado no Curso de Serviço Social.
Assinale a alternativa que contém uma afirmação Proposição: P  Q
equivalente para a afirmação apresentada. Equivalência: ~Q  ~P
Logo, “Se o servidor gosta do que faz, então o cida-
a) Marcos está prestando esse concurso se, e somente dão-cliente fica satisfeito”
se, ele é formado no Curso de Serviço Social. “Se o cidadão-cliente não fica satisfeito, então o ser-
b) Se Marcos é formado no Curso de Serviço Social, vidor não gosta do que faz”.
então ele está prestando esse concurso. Resposta: Certo.
c) Marcos está prestando esse concurso e ele é formado
no Curso de Serviço Social. 4. (CEBRASPE-CESPE — 2019) Assinale a opção que
d) Se Marcos não é formado no Curso de Serviço Social, apresenta a proposição lógica que é equivalente à
então ele não está prestando esse concurso. seguinte proposição:
e) Marcos não é formado no Curso de Serviço Social e “Se Carlos foi aprovado no concurso, então Carlos
ele está prestando esse concurso. possui o ensino médio completo.”

a) “Carlos não foi aprovado no concurso ou Carlos pos-


Veja que não temos a presença do “OU” nas alterna-
sui o ensino médio completo.”
tivas e isso facilita, pois usamos a ‘’contrapositiva’’.
b) “Se Carlos não foi aprovado no concurso, então Carlos
Basta inverter e negar, mantendo o mesmo conectivo: não possui o ensino médio completo.”
Se Marcos não é formado no Curso de Serviço c) “Carlos possuir o ensino médio completo é condição
Social, então ele não está prestando esse concurso. suficiente para que ele seja aprovado no concurso”
Resposta: Letra D. d) “Carlos ser aprovado no concurso é condição neces-
sária para que ele tenha o ensino médio completo.”
2. (CEBRASPE-CESPE — 2020) No argumento seguinte, e) “Carlos possui o ensino médio completo e não foi
as proposições P1, P2, P3 e P4 são as premissas, e C aprovado no concurso.”
é a conclusão.
Precisamos fazer a equivalência do conectivo “se então”
P1: “Se há carência de recursos tecnológicos no setor Portanto para resolver basta trocar o conectivo “se
Alfa, então o trabalho dos servidores públicos que então” por “ou” e depois negar a primeira proposi-
atuam nesse setor pode ficar prejudicado.”. ção e manter a segunda proposição. Veja:
P2: “Se há carência de recursos tecnológicos no setor “Se Carlos foi aprovado no concurso, então Carlos
Alfa, então os beneficiários dos serviços prestados possui o ensino médio completo.”
por esse setor podem ser mal atendidos.”. “Carlos não foi aprovado no concurso ou Carlos
P3: “Se o trabalho dos servidores públicos que atuam no possui o ensino médio completo.”
setor Alfa fica prejudicado, então os servidores públi- Resposta: Letra A.
cos que atuam nesse setor padecem.”.
P4: “Se os beneficiários dos serviços prestados pelo setor 5. (CEBRASPE-CESPE — 2019) Acerca da lógica senten-
Alfa são mal atendidos, então os beneficiários dos ser- cial, julgue o item que segue.
viços prestados por esse setor padecem.”. Se P, Q, R e S forem proposições simples, então as pro-
C: “Se há carência de recursos tecnológicos no setor posições PvR → QʌS e (~Q)V(~S) → (~P) ʌ (~R) serão
Alfa, então os servidores públicos que atuam nesse equivalentes.
setor padecem e os beneficiários dos serviços presta-
88 dos por esse setor padecem.”. ( ) CERTO  ( ) ERRADO
Trata-se da equivalência contrapositiva da condicional. Negação de uma Disjunção Exclusiva
PvR → QʌS
Para negarmos a disjunção exclusiva, devemos
1º: Inverte as proposições, mantendo a condicional
apenas trocar o conectivo “ou...ou” pelo “se e somente
QʌS →PvR
se”. Isso mesmo! Trocamos um conectivo pelo outro e
2º: nega tudo.
- Negação do QʌS = ~Q v ~S (Negação do ʌ troca pelo o restante é só deixar igual. Veja um exemplo: ~ (A ⊻ B)
v e nega tudo) ⇔ A ⟷ B Ou faz sol ou chove muito.
- Negação do PvR = ~P ʌ ~R (Negação do v troca pelo Negação: Faz sol se e somente se chove muito.
ʌ e nega tudo) Logo, (~Q) v (~S) → (~P) ʌ (~R).
Resposta: Certo. A B A⊻B ~ (A ⊻ B) A⟷B
V V F V V
LEIS DE MORGAN
V F V F F
Quando fazemos a negação de uma proposição F V V F F
composta primitiva, geramos outra posição que tam- F F F V V
bém é composta e equivalente à sua primitiva. É
recorrente em provas a cobrança para que você res- Negação de uma Bicondicional
ponda qual a equivalência da negação de determina-
da proposição. A bicondicional pode ser negada das seguintes
maneiras, veja:
Negação de uma Conjunção (Lei de Morgan)
z Trocando pelo conectivo “ou...ou”
Para negarmos a conjunção, devemos trocar pela Exemplo: ~ (A ⟷ B) ⇔ A v B
disjunção ou e negar todas as proposições envolvidas. Marta viaja se e somente se Paulo não vai ao cinema.
Veja: ~ (A ^ B) ⇔ ~A v ~B Negação: Ou Marta viaja ou Paulo não vai ao
Exemplo: Vou comprar um carro e vou ganhar di- cinema;
nheiro.
Proposição 1: vou comprar um carro. z (Mantém e Nega) ou (Mantém e Nega)
Proposição 2: vou ganhar dinheiro.
1º : trocar o “e” pelo “ou”. Essa negação é feita vindo da equivalência lógica
que usa o conectivo “se...,então”.
2º : negar todas as proposições.
Exemplo:
Negação:
~ (A ⟷ B) ⇔ (A → B) ^ (B → A);
~P1: Não vou comprar um carro. ~[(A → B) ^ (B → A)] ⇔ (A ^ ~B) v (B ^ ~A).
~P2: Não vou ganhar dinheiro. A: Marta viaja se e somente se Paulo não vai ao cinema.
Assim temos, Não vou comprar um carro ou não Negação: Marta viaja e Paulo vai ao cinema ou
vou ganhar dinheiro. Paulo não vai ao cinema e Marta não viaja;

A B ~A ~B A^B ~(A ^ B) ~A V ~B z Mantendo o conectivo “se e somente se”

V V F F V F F Para fazermos essa negação vamos manter o


V F F V F V V conectivo “se e somente se” e negar apenas uma das
proposições.
F V V F F V V Exemplo:
F F V V F V V 1: ~ (A ⟷ B) ⇔ ~A ⟷ B.
2: ~ (A ⟷ B) ⇔ A ⟷ ~B.
A: Passo se e somente se estudo muito.
Negação de uma Disjunção (Lei de Morgan) Negação:
1: Não passo se e somente se estudo muito.
Para negarmos a disjunção, devemos trocar pela 2: Passo se e somente se não estudo muito.
conjunção e e negar todas as proposições envolvidas.
Veja: ~ (A v B) ⇔ ~A ^ ~B A A (A ^ ~B) ~A A RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
Exemplo: Vou pegar a bola ou Pedro vai chutar a lata. A B ~A ~B ⟷ ~(A ⟷ B) ⊻ V ⟷ ⟷
Proposição 1: vou pegar a bola. B B (B ^ ~A) B ~B
Proposição 2: Pedro vai chutar a lata. V V F F V F F F F F
1º - trocar o “ou” pelo “e”.
2º - negar todas as proposições. V F F V F V V V V V
Negação: F V V F F F V V V V
~P1: Não vou pegar a bola.
~P2: Pedro não vai chutar a lata. F F V V V V F F F F
Assim temos:
Não vou pegar a bola e Pedro não vai chutar a lata. Negação de uma Condicional

A B ~A ~B AvB ~(A v B) ~A ^ ~B A negação de uma proposição composta por uma


condicional é uma das mais cobradas em provas e,
V V F F V F F
por esse motivo, devemos aprendê-la e resolver mui-
V F F V V F F tas questões sobre o assunto. Então, a sua negação é
F V V F V F F feita repetindo a primeira proposição E negando a
segunda proposição.
F F V V F V V Exemplo: ~ (A → B) ⇔ A ^ ~B 89
Se o gato late, então o cachorro mia. 2. (CEBRASPE-CESPE — 2017) Assinale a opção que cor-
Negação: O gato late e o cachorro não mia. responde a uma negativa da seguinte proposição: “Se
nas cidades medievais não havia lugares próprios para
o teatro e as apresentações eram realizadas em igrejas
A B ~B A→B ~ (A → B) A ^ ~B
e castelos, então a maior parte da população não era
V V F V F F excluída dos espetáculos teatrais”.
V F V F V V
a) Nas cidades medievais havia lugares próprios para o
F V F V F F teatro ou as apresentações eram realizadas em igre-
F F V V F F jas e castelos e a maior parte da população era excluí-
da dos espetáculos teatrais.
b) Se a maior parte da população das cidades medievais
DUPLA NEGAÇÃO (TEORIA INVOLUTIVA) era excluída dos espetáculos teatrais, então havia
lugares próprios para o teatro e as apresentações
z De uma proposição simples: ~ (~A) ⇔ A eram realizadas em igrejas e castelos.
c) Se nas cidades medievais havia lugares próprios para
A ~A ~ (~A) o teatro e as apresentações não eram realizadas em
igrejas e castelos, então a maior parte da população
V F V era excluída dos espetáculos teatrais.
F V F d) Se nas cidades medievais havia lugares próprios para
o teatro ou as apresentações eram realizadas em igre-
z De uma condicional: jas e castelos, então a maior parte da população era
excluída dos espetáculos teatrais.
Vamos fazer duas negações lógicas para o conec- e) Nas cidades medievais não havia lugares próprios
tivo se, de forma que sua resposta seja equivalente à para o teatro, as apresentações eram realizadas em
sua proposição primitiva. Veja: igrejas e castelos e a maior parte da população era
Proposição Primitiva: A → B: excluída dos espetáculos teatrais.
1ª negação: ~ (A → B) ⇔ A ^ ~B;
2ª negação: ~ (A ^ ~B) ⇔ ~A v B; Para negar a condicional você deve Repetir E Negar.
Logo, A → B ⇔ ~A v B. Veja: ~(A → B) = A ∧ ~B
A = nas cidades medievais não havia lugares pró-
prios para o teatro e as apresentações eram realiza-
1ª 2ª
negação negação das em igrejas e castelos
B = a maior parte da população não era excluída
A B ~B A→B ~ (A → B) A ^ ~B ~A v B dos espetáculos teatrais. Fica:
V V F V V F V Nas cidades medievais não havia lugares próprios
V F V F F V F para o teatro, as apresentações eram realizadas em
igrejas e castelos e a maior parte da população era
F V F V V F V excluída dos espetáculos teatrais.
F F V V V F V Resposta: Letra E.

3. (CEBRASPE-CESPE — 2020) Considerando esse argu-


Agora vamos treinar o que aprendemos na teoria com mento, julgue o item seguinte.
exercícios comentados de diversas bancas. Vamos lá! A negação da proposição “Os servidores públicos que
atuam nesse setor padecem e os beneficiários dos
1. (VUNESP — 2016) Considere falsa a seguinte afirmação: serviços prestados por esse setor padecem.” é cor-
retamente expressa por “Os servidores públicos que
“Fulano está realizando essa prova e pretende ser um atuam nesse setor não padecem e os beneficiários
técnico em informática.” dos serviços prestados por esse setor não padecem.”.
Com base nas informações apresentadas, é necessa-
( ) CERTO  ( ) ERRADO
riamente verdadeiro que:
Para responder a essa questão, bastava lembra de
a) Fulano não está realizando essa prova ou não preten- que para negar a conjunção “E” você deve trocar
de ser um técnico em informática. pela disjunção “OU” e negar tudo. Veja que isso não
b) Fulano não está realizando essa prova. aconteceu. Logo, questão errada.
c) Fulano não está realizando essa prova e não pretende Resposta: Errado.
ser um técnico em informática.
d) Fulano não pretende ser um técnico em informática. 4. (CEBRASPE-CESPE — 2019) Argumento CB1A5-II
e) Fulano não está realizando essa prova, mas pretende
ser um técnico em informática. No argumento seguinte, as proposições P1, P2 e P3
são as premissas, e C é a conclusão.
Para negar a conjunção devemos trocar pela disjunção
e negar todas as proposições envolvidas. Sendo assim, P1: Se os recursos foram aplicados em finalidade diver-
“Fulano está realizando essa prova e pretende ser sa da prevista ou se a obra foi superfaturada, então
um técnico em informática”. a prestação de contas da prefeitura não foi aprovada.
Negação: P2: Se a prestação de contas da prefeitura não foi apro-
“Fulano não está realizando essa prova ou não pre- vada, então a prefeitura ficou impedida de celebrar
tende ser um técnico em informática”. novos convênios ou a prefeitura devolveu o dinheiro
90 Resposta: Letra A. ao governo estadual.
P3: A obra não foi superfaturada, e a prefeitura não devol- Representamos um conjunto da seguinte forma:
veu o dinheiro ao governo estadual.
C: A prefeitura ficou impedida de celebrar novos convênios. Conjunto X
Com relação ao argumento CB1A5-II, assinale a opção
correspondente à proposição equivalente à negação
da proposição P1. y

a) “Os recursos foram aplicados em finalidade diversa da x


prevista ou a obra foi superfaturada, mas a prestação
de contas da prefeitura foi aprovada”.
b) “Os recursos foram aplicados em finalidade diversa da
prevista e a obra foi superfaturada, mas a prestação
Podemos afirmar que no interior do círculo há
de contas da prefeitura foi aprovada”.
todos os elementos que pertencem (compõem) ao con-
c) “Os recursos não foram aplicados em finalidade diver-
junto X, já na parte externa do círculo estão todos os
sa da prevista e a obra não foi superfaturada, mas a
elementos que não fazem parte de X, ou seja, “y” não
prestação de contas da prefeitura foi aprovada”.
pertence ao conjunto X.
d) “Se os recursos não foram aplicados em finalida-
de diversa da prevista e a obra não foi superfatu- No gráfico acima podemos dizer que o elemen-
rada, então a prestação de contas da prefeitura foi to “x” pertence ao conjunto X e o elemento “y” não
aprovada”. pertence.
e) “Se a prestação de contas da prefeitura foi aprovada, Matematicamente, usamos o símbolo Є para indi-
então os recursos não foram aplicados em finalidade car essa relação de pertinência. Isto é: x Є X, já o ele-
diversa da prevista e a obra não foi superfaturada”. mento “y” não pertence ao conjunto X, onde usamos
o símbolo ∉ para essa relação de não pertinência.
Negação do “se então”: Matematicamente:
Repete E Nega
P1: “Se os recursos foram aplicados em finalidade y ∉ X.
diversa da prevista OU se a obra foi superfaturada,
então a prestação de contas da prefeitura NÃO foi Complemento de um Conjunto
aprovada.”
Negação: O complemento de X é o conjunto formado por
Os recursos foram aplicados em finalidade diversa todos os elementos do Universo e o elemento “y” faz
da prevista ou a obra foi superfaturada (Repete a parte dele, claro que com exceção daqueles que estão
primeira) MAS a prestação de contas da prefeitura presentes em X. Representamos o complemento ou
foi aprovada (nega a segunda). complementar pelo símbolo XC. Podemos afirmar que
Resposta: Letra A.
“y” não pertence à X, mas pertence ao conjunto com-
5. (CEBRASPE-CESPE — 2018) A respeito de lógica pro- plementar de X: matematicamente: y Є XC.
posicional, julgue o item que se segue.
A negação da proposição “Se o fogo for desencadea- Interpretando Regiões e Conhecendo a Interseção e
do por curto-circuito no sistema elétrico, será reco- União de Conjuntos
mendável iniciar o combate às chamas com extintor à
base de espuma.” é equivalente à proposição “O fogo Uma outra situação é quando temos dois conjuntos
foi desencadeado por curto-circuito no sistema elétri- (X e Y), podemos representar da seguinte forma, no
co e não será recomendável iniciar o combate às cha- geral:
mas com extintor à base de espuma.”

( ) CERTO  ( ) ERRADO X Y

P  Q negando dica P ^ ~Q
Se o fogo for desencadeado por curto-circuito no siste-
ma elétrico (P), então será recomendável iniciar o com- RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
bate às chamas com extintor à base de espuma. (Q)
Negando:
O fogo foi desencadeado por curto-circuito no sistema a b c
elétrico (P) e não será recomendável iniciar o combate
às chamas com extintor à base de espuma. (~Q).
Resposta: Certo. d

Interpretando os conjuntos anterior temos:


OPERAÇÕES COM CONJUNTOS z O elemento “a” pertence apenas ao conjunto X,
pois ele está numa região que não tem contato com
INTRODUÇÃO À TEORIA DE CONJUNTOS
o conjunto Y;
z O elemento “c” faz parte somente ao conjunto Y;
Conjunto é uma reunião de elementos ou pessoas
que possuem a mesma característica, por exemplo, z O elemento “b” pertence aos dois conjuntos, ou seja,
numa festa pode haver o conjunto de pessoas que só faz parte da interseção entre os conjuntos X e Y.
bebem cerveja ou o conjunto daquelas que só gostam A representação simbólica é feita por X ∩ Y. Como o
de músicas eletrônicas. elemento “b” faz parte dessa região, temos: 91
„ b Є (X ∩ Y) – o elemento “b” pertence à interse- Relação de “Contém”/“Não Contém” e “Está
ção dos conjuntos X e Y; Contido”/“Não Está Contido” entre Conjuntos

z O elemento “d” não faz parte de nenhum dos dois Em algumas situações, a intersecção entre os con-
conjuntos. Logo, podemos dizer que “d” não per- juntos X e Y pode ser todo o conjunto Y, por exemplo.
tence à União entre os conjuntos X e Y. A união é Isso acontece quando todos os elementos de B são
a junção das regiões dos dois conjuntos e é repre- também elementos de A. Veja isso no gráfico a seguir:
sentada simbolicamente por X ∪ Y. Assim, d ∉ (X
∪ Y) – o elemento “d” não pertence à união entre X
os conjuntos X e Y.

Vamos analisar uma outra situação:


Y
X Y

Perceba que realmente X ∩ Y = Y. Quando temos


X–Y X∩Y Y–X a situação acima, podemos dizer que o conjunto Y
está contido no conjunto X, representado matemati-
camente por Y ⊂ X. Ou podemos dizer, ainda, que o
conjunto X contém o conjunto Y, representado mate-
maticamente por X ⊃ Y.

Nesta representação, podemos interpretar a região


X – Y (diferença de conjuntos) como sendo a região Importante!
formada pelos elementos de X que não fazem parte do
conjunto Y. Veja o exemplo: Entenda a diferença:
● Falamos que um elemento pertence ou não
X = {2, 3, 4, 5, 6, 7, 8} pertence a um conjunto;
Y = {5, 6, 7, 9, 10} ● Falamos que um conjunto está contido ou não
está contido em outro conjunto.
X – Y = basta tirar de X os elementos que estão nele
e também em Y, ou seja, X – Y = {2, 3, 4, 8}
Já no caso da região Y – X, temos: Representação de Conjunto usando Chaves

X = {2, 3, 4, 5, 6, 7, 8} Geralmente usamos letras maiúsculas para repre-


Y = {5, 6, 7, 9, 10} sentar os nomes de conjuntos e minúsculas para repre-
Y – X = {9, 10} sentar elementos. Ex.: A = {4, 6, 7, 9}; B = {a, b, c, d}
etc. Ainda podemos utilizar notações matemáticas para
Podemos falar, também, da região de interseção representar os conjuntos. Veja o exemplo a seguir:
dos conjuntos X ∩ Y.
A = {∀ x Є Z | x ≥ 0}
X = {2, 3, 4, 5, 6, 7, 8}
Y = {5, 6, 7, 9, 10} Podemos entender e fazer a leitura do conjunto
X ∩ Y = {5, 6, 7} anterior da seguinte maneira: o conjunto A é compos-
to por todo x pertencente ao conjunto dos números
E por fim, vamos identificar a união entre os inteiros, tal que x é maior ou igual a zero.
conjuntos X e Y. Observe que vamos juntar todos os Agora, veja um outro exemplo:
elementos dos dois conjuntos, mas sem repetir os ele-
mentos presentes na interseção. Veja: B = {∃ x Є Z | x > 5}

X = {2, 3, 4, 5, 6, 7, 8} Uma interpretação para o conjunto é: no conjunto


Y = {5, 6, 7, 9, 10} B existe x pertencente ao conjunto dos números intei-
X ∪ Y = {2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10} ros, tal que x é maior do que 5.
Agora vamos esquematizar todas as simbologias
para que você possa gravar mais facilmente e aplicar na
hora de resolver as questões. Observe a tabela a seguir:

SÍMBOLO NOME EXPLICAÇÃO


chaves Ex: X = {a,b,c} representa
{,} o conjunto X composto
por a, b e c
conjunto Significa que o conjunto
{ } ou  ∅ vazio não tem elementos, é um
92 conjunto vazio
Matemática Português
SÍMBOLO NOME EXPLICAÇÃO
para todo Significa “Para todo” ou

“Para qualquer que seja”
pertence Indica relação de pertinên-
Є cia de elementos
não pertence Indica relação de não per-

tinência de elementos
∃ existe Indica relação de existência.
não existe Indica que não há relação

de existência
z Preencha as informações de dentro para fora (da
está contido Indica que um conjunto interseção para as demais informações):
⊂ está contido em outro
conjunto Matemática Português
não está Indica que um conjunto
⊄ contido não está contido em ou-
tro conjunto
contém Indica que determinado
⊃ conjunto contém outro
conjunto
não contém Indica que determinado 10
⊅ conjunto não contém ou-
tro conjunto
tal que Serve para fazer a ligação
entre a composição de z Preencha as demais informações no diagrama:
|
um conjunto na “repre-
sentação em chaves” Matemática (20) Português (30)
união de Lê-se como “X união Y”
A ∪ B
conjuntos
interseção de Lê-se como “X intersec-
A ∩ B
conjuntos ção Y”
diferença de Lê-se como “diferença de
A-B
conjuntos A com B” 20 – 10 = 10 10 30 – 10 = 20

complementar Refere-se ao complemen-


XC
to do conjunto X

Diagrama de VENN 5

Vamos entender como se resolve questões que Total = X


envolvem Operações com Conjuntos se relacionan- 20 gostam de Matemática;
do. Acompanhe os exemplos a seguir e a maneira 30 gostam de Português;
como desenvolvemos suas resoluções: 10 gostam dos dois;
10 gostam apenas de Matemática;
z Em uma sala de aula, 20 alunos gostam de Mate- 20 gostam apenas de Português;
mática, 30 gostam de Português, e 10 gostam das 5 não gostam de nenhuma.
duas matérias. Sabendo que 5 alunos não gostam
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
de nenhuma dessas duas matérias, quantos alunos z Some todas as regiões e iguale ao total de elemen-
há nessa sala de aula? tos envolvidos:

Siga os passos abaixo: Matemática (20) Português (30)

z Identifique os conjuntos;
z Represente em forma de diagramas;
z Preencha as informações de dentro para fora (da
interseção para as demais informações);
z Preencha as demais informações no diagrama;
z Some todas as regiões e iguale ao total de elemen- 20 – 10 = 10 10 30 – 10 = 20
tos envolvidos.

Vamos à resolução:
5
z Identifique os conjuntos;
z Represente em forma de diagramas: 10+10+20+5 = X 93
X = 45 alunos é o total dessa sala. z Preencha as informações de dentro para fora (da
interseção para as demais informações):
Também seria possível resolver esse tipo de ques-
tão usando a seguinte fórmula: André Bernardo

n(X ∪ Y) = n(X) + n(Y) – n(X ∩ Y)

Esta fórmula nos diz que o número de elementos


da União entre os conjuntos X e Y (X ∪ Y) é dado pelo
número de elementos de X, somado ao número de ele-
mentos de Y, subtraído do número de elementos da 10
interseção (X ∩ Y). Aplicando no exemplo, temos:
Matemática (M)
Português (p)
Carol
n(M ∪ P) = n(M) + n(P) – n(M ∩ P)
n(M ∪ P) = 20 + 30 – 10
n(M ∪ P) = 40

Temos 40 alunos que gostam de Matemática ou z Preencha as demais informações no diagrama:


Português (aqui já está incluso quem gosta das duas
matérias). Para finalizar a resolução, devemos apenas André Bernardo
somar os 5 alunos que não gostam das duas matérias.
Assim, 40 + 5 = 45 alunos no total dessa sala.
Assim como nos problemas com 2 conjuntos, quan-
do nós tivermos 3 conjuntos será possível resolver
o problema por meio de Diagramas de Venn ou por
meio de fórmula. Acompanhe a resolução do exemplo: 0 12 0
André, Bernardo e Carol ouviram certa quantidade
de músicas. Nenhum deles gostaram de seis músicas 10
e os três gostaram de dez músicas. Além disso, hou-
ve doze músicas que só André e Bernardo gostaram, 9 4
nove músicas que só André e Carol gostaram e quatro
músicas que só Bernardo e Carol gostaram. Não houve 0 Carol
música alguma que somente um deles tenha gostado.
O número de músicas que eles ouviram foi? 6
Siga os passos a seguir:

z Identifique os conjuntos; Colocamos o número 10 bem no centro, pois sabe-


z Represente em forma de diagramas; mos que os três gostaram de dez músicas, depois
z Preencha as informações de dentro para fora (da preenchemos com as demais informações:
interseção para as demais informações);
z Preencha as demais informações no diagrama; z 12 músicas que somente André e Bernardo gosta-
z Some todas as regiões e iguale ao total de elemen- ram (na interseção entre os 2 apenas);
tos envolvidos.
z 9 que somente André e Carol gostaram;
z 4 que somente Bernardo e Carol gostaram;
Vamos à resolução:
z 6 músicas que ninguém gostou (de fora dos três
z Identifique os conjuntos; conjuntos).
z Represente em forma de diagramas: z Os “zeros” representam o fato de que não houve
música que somente um deles tenha gostado.
André Bernardo
Logo, vem a última etapa:

z Some todas as regiões e iguale ao total de elemen-


tos envolvidos;

Total = X
6+0+12+10+9+0+4+0=X
X = 41 músicas

Questões com três conjuntos podem ser resolvidas


usando a seguinte fórmula:
Carol
n(X ∪ Y ∪ Z) = n(X) + n(Y) + n(Z) – n(X ∩ Y) – n(X
94 ∩ Z) – n(Y ∩ Z) + n(X ∩ Y ∩ Z)
Traduzindo a fórmula: 0 contêineres com os 3 produtos;
Total de elementos da união = soma dos conjuntos 300 contêineres carne bovina;
– interseções dois a dois + interseção dos três 450 contêineres carne suína;
Bom! Já vimos a teoria e precisamos praticar o que 100 contêineres com frango e carne bovina;
aprendemos, não é mesmo? Vamos praticar! 150 contêineres com carne suína e carne bovina;
100 contêineres com frango e carne suína.
1. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Determinado porto rece-
Bovina Frango
beu um grande carregamento de frango congelado,
carne suína congelada e carne bovina congelada, para 50 100 X
exportação. Esses produtos foram distribuídos em
800 contêineres, da seguinte forma: nenhum contêiner
foi carregado com os três produtos; 300 contêineres
foram carregados com carne bovina; 450, com carne 0
suína; 100, com frango e carne bovina; 150, com carne
suína e carne bovina; 100, com frango e carne suína. 150 100
Nessa situação hipotética,
200 Suína
250 contêineres foram carregados somente com car-
ne suína.

( ) CERTO  ( ) ERRADO Veja que exatamente 50 contêineres foram carrega-


dos somente com carne bovina. Resposta: Certo.
Vamos extrair as informações e colocar dentro dos
diagramas: 3. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Determinado porto rece-
800 contêineres distribuição; beu um grande carregamento de frango congelado,
0 contêineres com os 3 produtos; carne suína congelada e carne bovina congelada, para
300 contêineres carne bovina; exportação. Esses produtos foram distribuídos em
450 contêineres carne suína; 800 contêineres, da seguinte forma: nenhum contêiner
foi carregado com os três produtos; 300 contêineres
100 contêineres com frango e carne bovina;
foram carregados com carne bovina; 450, com carne
150 contêineres com carne suína e carne bovina; suína; 100, com frango e carne bovina; 150, com carne
100 contêineres com frango e carne suína. suína e carne bovina; 100, com frango e carne suína.
Nessa situação hipotética,
Bovina Frango 400 contêineres continham frango congelado.

50 100 X ( ) CERTO  ( ) ERRADO

Com as informações colocadas nos diagramas na


questão anterior, podemos somar todas as informa-
ções que não possuem contato com o conjunto de
0 frango e subtrair do total. Veja:
50 (só bovinos);
150 100 150 (bovinos e suínos);
200 (só suínos).
200 Suína Somando tudo isso, teremos 400 contêineres com
outras carnes, o que sobrou do total será a resposta
para a questão.
800-400= 400 contêineres contêm franco. (Lembre-se, a
banca não perguntou somente frango). Logo, 400 con-
Veja que apenas 200 contêineres foram carregados têineres continham frango congelado. Resposta: Certo.
somente com carne suína. Resposta: Errado.
4. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Em um aeroporto, 30
2. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Determinado porto rece-
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
passageiros que desembarcaram de determinado
beu um grande carregamento de frango congelado, voo e que estiveram nos países A, B ou C, nos quais
carne suína congelada e carne bovina congelada, para ocorre uma epidemia infecciosa, foram selecionados
exportação. Esses produtos foram distribuídos em para ser examinados. Constatou-se que exatamente
800 contêineres, da seguinte forma: nenhum contêiner 25 dos passageiros selecionados estiveram em A ou
foi carregado com os três produtos; 300 contêineres em B, nenhum desses 25 passageiros esteve em C e 6
foram carregados com carne bovina; 450, com carne desses 25 passageiros estiveram em A e em B.
Com referência a essa situação hipotética, julgue os
suína; 100, com frango e carne bovina; 150, com carne
itens que se seguem
suína e carne bovina; 100, com frango e carne suína. Se 11 passageiros estiveram em B, então mais de 15
Nessa situação hipotética, estiveram em A.
50 contêineres foram carregados somente com carne
bovina. ( ) CERTO  ( ) ERRADO

( ) CERTO  ( ) ERRADO Dos 30 passageiros, são 25 que estiveram apenas


em A ou B, de modo que os outros 5 passageiros esti-
Vamos extrair as informações e colocar dentro dos veram apenas em C. Veja ainda que 6 passageiros
diagramas: estiveram A e B, de modo que os outros 19 estiveram
800 contêineres distribuição; somente em um desses dois países. Logo, 95
A B RAZÃO E PROPORÇÃO COM APLICAÇÕES

A razão entre duas grandezas é igual à divisão


entre elas, veja:
X 6 25 – 6 – x =
2
19 – x 5

Ou podemos representar por 2 ÷ 5 (Lê-se “2 está


para 5”).
Já a proporção é a igualdade entre razões, veja:

2 4
C 5 3
=
6

Ou podemos representar por 2 ÷ 3 = 4 ÷ 6


(Lê-se “2 está para 3 assim como 4 está para 6”).
Os problemas mais comuns que envolvem razão
e proporção é quando se aplica uma “variável” qual-
Sabemos que o número de pessoas que estiveram em quer dentro da proporcionalidade e se deseja saber o
B é dado pela soma 6 + (19 – X). Ou seja, valor dela. Veja o exemplo:
11 = 6 + (19 – X)
2 x ou 2 ÷ 3 = x ÷ 6
11 = 25 – X =
3 6
X = 25 – 11
X = 14
Logo, as pessoas que estiveram em A são X + 6 = 14 Para resolvermos esse tipo de problema devemos
+ 6 = 20. Resposta: Certo. usar a Propriedade Fundamental da razão e propor-
ção: “produto dos meios pelos extremos”.
5. (CEBRASPE-CESPE — 2016) Situação hipotética: A Meio: 3 e x
ANVISA realizará inspeções em estabelecimentos Extremos: 2 e 6
Logo, devemos fazer a multiplicação entre eles
comerciais que são classificados como Bar ou Res-
numa igualdade. Observe:
taurante e naqueles que são considerados ao mesmo
tempo Bar e Restaurante. Sabe-se que, ao todo, são 96
estabelecimentos a serem visitados, dos quais 49 são 3·X=2·6
classificados como Bar e 60 são classificados como 3X = 12
Restaurante. Assertiva: Nessa situação, há mais de 15
estabelecimentos que são classificados como Bar e X = 12/3
como Restaurante ao mesmo tempo. X=4

( ) CERTO  ( ) ERRADO Lembre-se de que a maioria dos problemas en-


volvendo esse tema são resolvidos utilizando essa
Extraindo os dados: propriedade fundamental. Porém, algumas questões
total: 96; acabam sendo um pouco mais complexas e pode ser
bar: 49; útil conhecer algumas propriedades para facilitar. Va-
restaurante: 60. mos a elas.
Somando tudo, temos 49 + 60 = 109. Passou o total de
96, porque estamos contando 2x vezes os estabeleci- Propriedade das Proporções
mentos que estão na interseção. Logo, descontamos
o que passou do total. 109 - 96 = 13 estabelecimentos � Somas Externas:
que são classificados como Bar e como Restaurante
ao mesmo tempo. Resposta: Errado. a c a+c
= =
b d b+d

Vamos entender um pouco melhor resolvendo


RACIOCÍNIO LÓGICO ENVOLVENDO uma questão-exemplo:
Suponha que uma fábrica vai distribuir um prê-
PROBLEMAS ARITMÉTICOS, mio de R$10.000 para seus dois empregados (Carlos
GEOMÉTRICOS E MATRICIAIS e Diego). Esse prêmio vai ser dividido de forma pro-
porcional ao tempo de serviço deles na fábrica. Carlos
PROBLEMAS ARITMÉTICOS está há 3 anos na fábrica e Diego está há 2 anos. Quan-
to cada um vai receber?
Vamos relembrar alguns conceitos e fórmulas sobre Primeiro, devemos montar a proporção. Sejam C
aritmética para que possamos resolvermos questões a quantia que Carlos vai receber e D a quantia que
sobre esse tópico. Como o próprio nome já diz “Pro- Diego vai receber, então temos:
blemas de Raciocínio Lógico envolvendo Aritmética”.
Então, vamos fazer várias questões ao longo da teoria C
=
D
96 para entender e praticar mais ainda sobre esse assunto. 3 2
Utilizando a propriedade das somas externas: z Soma com Produto por Escalar:

C+D a c a + 2b c + 2d
C
=
D
= = = =
3 2 3+2 b d b d

Perceba que C + D = 10.000 (as partes somadas), Vejamos um exemplo para melhor entendimento:
Uma empresa vai dividir o prêmio de R$13.000
então podemos substituir na proporção:
proporcionalmente ao número de anos trabalhados.
São dois funcionários que trabalham há 2 anos na
C D C+D
= = = 10.000 = 2.000 empresa e três funcionários que trabalham há 3 anos.
3 2 3+2 5 Seja A o prêmio dos funcionários com 2 anos e B
o prêmio dos funcionários com 3 anos de empresa,
Aqui cabe uma observação importante: esse valor temos:
2.000, que chamamos de “Constante de Proporcionali- A
=
B
dade”, é que nos mostra o valor real das partes dentro 2 3
da proporção. Veja:
Porém, como são 2 funcionários na categoria A e 3
C funcionários na categoria B, podemos escrever que a
= 2.000 soma total dos prêmios é igual a R$13.000.
3

C = 2000 x 3 2A + 3B = 13.000
C = 6.000 (esse é o valor de Carlos)
Agora, multiplicando em cima e embaixo de um
D lado por 2 e do outro lado por 3, temos:
= 2.000
2
2A 3B
=
D = 2.000 x 2 4 9
D = 4.000 (esse é o valor de Diego)
Aplicando a propriedade das somas externas,
podemos escrever o seguinte:
Assim, Carlos vai receber R$6.000 e Diego vai rece-
ber R$4.000; 2A 3B 2A + 3B
= =
4 9 4+9
z Somas Internas:
Substituindo o valor da equação 2A + 3B na pro-
a c a+b c+d porção, temos:
= = =
b d b d
2A 3B 2A + 3B 13.000
= = = = 1.000
É possível, ainda, trocar o numerador pelo deno- 4 9 4+9 13
minador ao efetuar essa soma interna, desde que
o mesmo procedimento seja feito do outro lado da Logo,
proporção.
2A
= 1.000
a c a+b = c+d 4
= =
b d a c
2A = 4 x 1.000
Vejamos um exemplo:
2A = 4.000
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
x 2
= A = 2.000
14 - x 5
Fazendo a mesma resolução em B:
x + 14 - x 2+5
= 3B
x 2 = 1.000
9
14 7
x
=
2 3B = 9 x 1.000
3B = 9.000
7 · x = 2 · 14
B = 3.000
14 · 2
x= =4
7
Sendo assim, os funcionários com 2 anos de casa
receberão R$2.000 de bônus. Já os funcionários com 3
Portanto, encontramos que x = 4. anos de casa receberão R$3.000 de bônus.
O total pago pela empresa será:
Observação: vale lembrar que essa propriedade
também serve para subtrações internas; Total = 2.2000 + 3.3000 = 4000 + 9000 = 13000 97
Agora vamos estudar um tipo de problema que 1–5–1|5
aparece frequentemente em provas de concursos
1 – 1 – 1 | 2 x 2 x 3 x 5 = 60
envolvendo razão e proporção.

REGRA DA SOCIEDADE Assim, dividindo o M. M. C. pelo denominador e


multiplicando o resultado pelo numerador temos:
Diretamente Proporcional
15x 12x 10x
+ + = 740.000
60 60 60
Um dos tópicos mais comuns em questões de pro-
va é dividir uma determinada quantia em partes 37x
= 740.000
proporcionais a determinados números. Vejamos um 60
exemplo para entendermos melhor como esse assun-
to é cobrado. X = 1.200.000
Exemplo: Agora basta substituir o valor de X nas razões para
A quantia de 900 mil reais deve ser dividida em achar cada parte da divisão inversa.
partes proporcionais aos números 4, 5 e 6. A menor
dessas partes corresponde a: x 1.200.000
Primeiro vamos chamar de X, Y e Z as partes pro- = = 300.000
4 4
porcionais, respectivamente a 4, 5 e 6. Sendo assim, X
é proporcional a 4, Y é proporcional a 5 e Z é propor- x
=
1.200.000
= 240.000
cional a 6, ou seja, podemos representar na forma de 5 5
razão. Veja:
x 1.200.000
= = 200.000
6 6
X Y Z
= = = constante de proporcionalidade
4 5 6
Logo, as partes dividas inversamente propor-
Usando uma das propriedades da proporção, cionais aos números 4, 5 e 6 são, respectivamente
somas externas, temos: 300.000, 240.000 e 200.000.
A seguir, realize os exercícios comentados que
X+Y+Z 900.000 seguem.
= 60.000
4+5+6 15
1. (FAEPESUL — 2016) Em uma turma de graduação
A menor dessas partes é aquela que é proporcional em Matemática Licenciatura, de forma fictícia, temos
a 4, logo: que a razão entre o número de mulheres e o número
total de alunos é de 5/8. Determine a quantidade de
X homens desta sala, sabendo que esta turma tem 120
= 60.000
4 alunos.

X = 60.000 x 4 a) 43 homens.
X = 240.000 b) 45 homens.
c) 44 homens.
Inversamente Proporcional d) 46 homens.
e) 47 homens.
É um tipo de questão menos recorrente, mas, não
menos importante. Consiste em distribuir uma quan- A razão entre o número de mulheres e o número
tia X a três pessoas, de modo que cada uma receba um total de alunos é de 5/8:
quinhão inversamente proporcional a três números.
M 5
Vejamos um exemplo: =
T 8
Suponha que queiramos dividir 740 mil em partes
inversamente proporcionais a 4, 5 e 6. A turma tem 120 alunos, então: T = 120
Vamos chamar de X as quantias que devem ser dis-
tribuídas inversamente proporcionais a 4, 5 e 6, res- Fazendo os cálculos:
pectivamente. Devemos somar as razões e igualar ao M 5
total que dever ser distribuído para facilitar o nosso =
T 8
cálculo, veja:
M 5
=
X X X 120 8
+ + = 740.000
4 5 6
8 x M = 5 x 120

Agora vamos precisar tirar o M.M.C (mínimo múl- 8M = 600


tiplo comum) entre os denominadores para resolver- 600
mos a fração. M=
8

4–5–6|2 M = 75
2–5–3|2 A quantidade de homens da sala:
98 1–5–3|3 120 - 75 = 45 homens. Resposta: Letra B.
2. (VUNESP — 2020) Em um grupo com somente pessoas A = D + 36
com idades de 20 e 21 anos, a razão entre o número A= 231+36= 267
de pessoas com 20 anos e o número de pessoas com W = A - 44
21 anos, atualmente, é 4/5. No próximo mês, duas pes- W= 267-44
soas com 20 anos farão aniversário, assim como uma W= 223
pessoa com 21 anos, e a razão em questão passará a Logo, os valores em ordem crescente que Wander-
ser de 5/8. O número total de pessoas nesse grupo é: son, Darlan, Arley recebem são, respectivamente,
R$ 223,00, R$ 231,00 e R$ 267,00. Resposta: Letra D.
a) 30.
b) 29. 4. (CEBRASPE-CESPE — 2018) A respeito de razões, pro-
c) 28. porções e inequações, julgue o item seguinte.
d) 27. Situação hipotética: Vanda, Sandra e Maura receberam
e) 26. R$ 7.900 do gerente do departamento onde trabalham,
para ser divido entre elas, de forma inversamente propor-
A razão entre o número de pessoas com 20 anos e o cional a 1/6, 2/9 e 3/8, respectivamente. Assertiva: Nes-
número de pessoas com 21 anos, atualmente, é 4/5. sa situação, Sandra deverá receber menos de R$ 2.500.
120 4x
=
121 5x Total de 9x ( ) CERTO  ( ) ERRADO

No próximo mês, duas pessoas com 20 anos farão 6x 9x 8x


aniversário, assim como uma pessoa com 21 anos, e + + = 7.900
1 2 3
a razão em questão passará a ser de 5/8.
Tirando o MMC entre 1, 2 e 3 vamos achar 6. Temos:
120 4x - 2
= = 5 36x 27x 16x
121 5x + 2 - 1 8
6
+
6
+ 6
= 7.900
4x - 2 5
= 79x
5x + 1 8 = 7.900
6
8 (4x - 2) = 5 (5x + 1)
x = 600
32x – 16 = 25x + 5
Sendo assim, Sandra está inversamente proporcio-
7x = 21 nal a:
x=3 9x
2
Para sabermos o total de pessoas, basta substituir o
valor de X na primeira equação: Basta substituirmos o valor de X na proporção.
9x = 9 x 3 = 27 é o número total de pessoas nesse 9x 9 x 600
grupo. Resposta: Letra D.
= = 2.700
2 2

3. (IBADE — 2018) Três agentes penitenciários de um (Valor que Sandra irá receber é MAIOR que 2.500).
país qualquer, Darlan, Arley e Wanderson, recebem Resposta: Errado.
juntos, por dia, R$ 721,00. Arley recebe R$ 36,00 mais
que o Darlan, Wanderson recebe R$ 44,00 menos que 5. (IESES — 2019) Uma escola possui 396 alunos matri-
o Arley. Assinale a alternativa que representa a diária culados. Se a razão entre meninos e meninas foi de
de cada um, em ordem crescente de valores. 5/7, determine o número de meninos matriculados.

a) R$ 249,00, R$ 213,00 e R$ 169,00. a) 183


b) R$ 169,00, R$ 213,00 e R$ 249,00. b) 225
c) R$ 145,00, R$ 228,00 e R$ 348,00. c) 165
d) R$ 223,00, R$ 231,00 e R$ 267,00.
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
d) 154
e) R$ 267,00, R$ 231,00 e R$ 223,00.
Total de alunos = 396
D + A + W = 721
A = D + 36 Meninos = H
W = A - 44 Meninas = M
Substituímos Arley em Wanderson:
W= A - 44 Razão:
H
+
5x
W= 36+D-44 M 7x
W= D-8 Agora vamos somar 5x com 7x = 12x
Substituímos na fórmula principal:
D + A + W = 721 12x é igual ao total que é 396
D + 36 + D + D – 8 = 721
12x = 396
3D + 28 = 721
3D = 721 - 28 x = 33
D = 693/3
Portanto o número de meninos será:
D = 231
Substituímos o valor de D nas outras: Meninos = 5X = 5 x 33 = 165. Resposta: Letra C. 99
REGRA DE TRÊS SIMPLES E COMPOSTA 12 m -------- 2.160 (tijolos)

Regra de Três Simples 30 m -------- X (tijolos)

A Regra de Três Simples envolve apenas duas 12 · X = 30 . 2160


grandezas. São elas: 12X = 64800

z Grandeza Dependente: é aquela cujo valor se X = 5400 tijolos


deseja calcular a partir da grandeza explicativa;
Assim, comprovamos que realmente são necessá-
z Grandeza Explicativa ou Independente: é aque-
rios mais tijolos.
la utilizada para calcular a variação da grandeza
Exemplo 2: Uma equipe de 5 professores gastou 12
dependente.
dias para corrigir as provas de um vestibular. Consi-
derando a mesma proporção, quantos dias levarão 30
Existem dois tipos principais de proporcionalida-
professores para corrigir as provas?
des que aparecem frequentemente em provas de con-
Do mesmo jeito que no exemplo anterior, vamos
cursos públicos. Veja a seguir:
montar a relação e analisar:

z Grandezas Diretamente Proporcionais: o aumen- 5 (prof.) --------- 12 (dias)


to de uma grandeza implica o aumento da outra; 30 (prof.) -------- X (dias)
z Grandezas Inversamente Proporcionais: o aumen-
to de uma grandeza implica a redução da outra. Veja que de 5 (prof.) para 30 (prof.) tivemos um
aumento (+), mas como agora estamos com uma equi-
Vamos esquematizar para sabermos quando será pe maior o trabalho será realizado mais rapidamente.
direta ou inversamente proporcionais: Logo, a quantidade de dias deverá diminuir (-). Des-
sa forma, as grandezas são inversamente proporcio-
DIRETAMENTE nais e vamos resolver multiplicando na horizontal.
PROPORCIONAL + / + OU - / -
Observe:

Aqui as grandezas aumentam ou diminuem juntas 5 (prof.) 12 (dias)


(sinais iguais) 30 (prof.) X (dias)
30 · X = 5 · 12
PROPORCIONAL + / - OU - / +
30X = 60
X=2
Aqui uma grandeza aumenta e a outra diminui
(sinais diferentes) A equipe de 30 professores levará apenas 2 dias
Agora vamos esquematizar a maneira que iremos para corrigir as provas.
resolver os diversos problemas: Abaixo, seguem alguns exercícios de bancas
comentadas.
DIRETAMENTE
PROPORCIONAL
Multiplica cruzado 1. (CEBRASPE-CESPE — 2019) No item seguinte apre-
senta uma situação hipotética, seguida de uma asser-
INVERSAMENTE tiva a ser julgada, a respeito de proporcionalidade,
Multiplica na horizontal
PROPORCIONAL porcentagens e descontos.
No primeiro dia de abril, o casal Marcos e Paula com-
prou alimentos em quantidades suficientes para que
Vejamos alguns exemplos para fixarmos um pouco
eles e seus dois filhos consumissem durante os 30
mais como isso tudo funciona.
dias do mês. No dia 7 desse mês, um casal de amigos
Exemplo 1: Um muro de 12 metros foi construído uti-
chegou de surpresa para passar o restante do mês
lizando 2 160 tijolos. Caso queira construir um muro de com a família. Nessa situação, se cada uma dessas
30 metros nas mesmas condições do anterior, quantos seis pessoas consumir diariamente a mesma quan-
tijolos serão necessários? tidade de alimentos, os alimentos comprados pelo
Primeiro vamos montar a relação entre as gran- casal acabarão antes do dia 20 do mesmo mês.
dezas e depois identificar se é direta ou inversamente
proporcional. ( ) CERTO  ( ) ERRADO

12 m -------- 2 160 (tijolos) 4 Pessoas ------- 24 Dias


30 m -------- X (tijolos) 6 Pessoas ------- x Dias
Temos grandezas inversas, então é só multiplicar
Veja que de 12m para 30m tivemos um aumen- na horizontal:
to (+) e que para fazermos um muro maior vamos 6x = 4 . 24
precisar de mais tijolos, ou seja, também deverá ser 6x = 96
aumentado (+). Logo, as grandezas são diretamente x = 96/6
proporcionais e vamos resolver multiplicando cruza- x = 16
100 do. Observe: Como já haviam comido por 6 dias é só somar:
6 dias (consumidos por 4) + 16 dias (consumidos por d) 50 minutos.
6) = 22 dias (a comida acabará no dia 22 de abril). e) 55 minutos.
Resposta: Errado.
Mecânicos ------ Minutos
2. (CEBRASPE-CESPE — 2018) O motorista de uma 5 ---------------- 27
empresa transportadora de produtos hospitalares 3 ---------------- x
deve viajar de São Paulo a Brasília para uma entrega Quanto menos mecânicos, mais minutos eles gas-
de mercadorias. Sabendo que irá percorrer aproxima- tarão para finalizar o trabalho, logo a grande-
damente 1.100 km, ele estimou, para controlar as des- za é inversamente proporcional. Multiplica na
pesas com a viagem, o consumo de gasolina do seu horizontal:
veículo em 10 km/L. Para efeito de cálculos, conside- 3x = 27.5
rou que esse consumo é constante. 3x = 135
Considerando essas informações, julgue o item que x = 135/3
segue. x = 45 minutos.
Nessa viagem, o veículo consumirá 110.000 dm3 de Resposta: Letra C.
gasolina.
5. (IESES — 2019) Cinco pedreiros construíram uma casa
( ) CERTO  ( ) ERRADO em 28 dias. Se o número de pedreiros fosse aumenta-
do para sete, em quantos dias essa mesma casa fica-
Com 1 litro ele faz 10 km. ria pronta?
Sabendo que 1 L é igual a 1dm³, então podemos
dizer que com 1dm³ ele faz 10km a) 18 dias.
Portanto, b) 16 dias.
10 km -------- 1dc³ c) 20 dias.
1.100 km --------- x d) 22 dias.
10x = 1.100
x = 110dm³ (a gasolina que será consumida). 5 (pedreiros) ---------- 28 (dias)
Resposta: Errado. 7 (pedreiros) ------------- X (dias)
Perceba que as grandezas são inversamente propor-
3. (VUNESP — 2020) Uma pessoa comprou determinada cionais, então basta multiplicar na horizontal.
quantidade de guardanapos de papel. Se ela utilizar 2 5 . 28=7 . X
guardanapos por dia, a quantidade comprada irá durar 7X = 140
15 dias a mais do que duraria se ela utilizasse 3 guarda- X = 140/7
napos por dia. O número de guardanapos comprados foi: X = 20 dias.
Resposta: Letra C.
a) 60.
b) 70. Regra de Três Composta
c) 80.
d) 90. A Regra de Três Composta envolve mais de duas
e) 100. variáveis. As análises sobre se as grandezas são direta-
mente e inversamente proporcionais devem ser feitas
x = dias cautelosamente, levando em conta alguns princípios:
3 guardanapos por dia -------- x
2 guardanapos por dia -------- x+15 z As análises devem sempre partir da variável
São valores inversamente proporcionais, quanto dependente em relação às outras variáveis;
mais guardanapos por dia, menos dias durarão. z As análises devem ser feitas individualmente. Ou
Assim, multiplicamos na horizontal: seja, deve-se comparar as grandezas duas a duas,
3x = 2 . (x+15) mantendo as demais constantes;
3x = 30+2x z A variável dependente fica isolada em um dos
3x-2x = 30 lados da proporção.
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
x = 30
Podemos substituir em qualquer uma das duas Vamos analisar alguns exemplos e ver na prática
situações: como isso tudo funciona.
3 guardanapos x 30 dias= 90 Exemplo 1: Se 6 impressoras iguais produzem
2 guardanapos x 45(30+15) dias = 90. 1000 panfletos em 40 minutos, em quanto tempo 3 des-
Resposta: Letra D. sas impressoras produziriam 2000 desses panfletos?
Da mesma forma que na regra de três simples,
4. (FUNDATEC — 2017) Cinco mecânicos levaram 27 vamos montar a relação entre as grandezas e analisar
minutos para consertar um caminhão. Supondo que cada uma delas isoladamente duas a duas.
fossem três mecânicos, com a mesma capacidade e
ritmo de trabalho para realizar o mesmo serviço, quan- 6 (imp.) -------- 1000 (panf.) -------- 40 (min)
tos minutos levariam para concluir o conserto desse 3 (imp.) -------- 2000 (panf.) -------- X (min)
mesmo caminhão?
Vamos escrever a proporcionalidade isolando a
a) 20 minutos. parte dependente de um lado e igualando às razões da
b) 35 minutos. seguinte forma – se for direta vamos manter a razão,
c) 45 minutos. agora se for inversa vamos inverter a razão. Observe: 101
40 ?
= #
? Perceba que de 45 linhas para 30 linhas o valor
X ? ? diminui ( - ) e que o número de páginas irá aumentar
( + ). Logo, as grandezas são inversas e devemos inver-
Analisando isoladamente duas a duas: ter a razão.

6 (imp.) -------- 40 (min) 6


=
30
#
?
3 (imp.) ---- ---- X (min) X 45 ?

Perceba que de 6 impressoras para 3 impressoras Analisando isoladamente duas a duas:


o valor diminui ( - ) e que o tempo irá aumentar ( + ),
pois agora teremos menos impressoras para realizar 6 (pág.) -------- 80 (letras)
a tarefa. Logo, as grandezas são inversas e devemos X (pág.) ------- 40 (letras)
inverter a razão.
Veja que de 80 letras para 40 letras o valor diminui
40 3 ? ( - ) e que o número de páginas irá aumentar ( + ). Logo,
= # as grandezas são inversas e devemos inverter a razão.
X 6 ?
6 30 40
Analisando isoladamente duas a duas: = #
X 45 80
1000 (panf.) -------- 40 (min) 6
=
2
#
1
2000 (panf.) ------ -- X (min) X 3 2
6 2
=
Perceba que de 1000 panfletos para 2000 panfle- X 6
tos o valor aumenta ( + ) e que o tempo também irá
aumentar ( + ). Logo, as grandezas são diretas e deve- 2X = 36
mos manter a razão. X = 18

40 3 1000 O número de páginas a serem ocupadas pelo texto


= #
X 6 2000 respeitando as novas condições é igual a 18.
Exercite seus conhecimentos analisando os exercí-
Agora basta resolver a proporção para acharmos cios comentados que seguem.
o valor de X.
1. (CEBRASPE-CESPE — 2020) Determinado equipamen-
40 3000 to é capaz de digitalizar 1.800 páginas em 4 dias, fun-
=
X 12000 cionando 5 horas diárias para esse fim. Nessa situação,
a quantidade de páginas que esse mesmo equipamen-
3X = 40 x 12
to é capaz de digitalizar em 3 dias, operando 4 horas e
3X = 480 30 minutos diários para esse fim, é igual a:

X = 160 a) 2.666.
b) 2.160.
As três impressoras produziriam 2000 panfletos c) 1.215.
em 160 minutos, que correspondem a 2 horas e 40 d) 1.500.
minutos. e) 1.161.
Para fixarmos mais ainda nosso conhecimento,
vamos analisar mais um exemplo. Primeiro vamos passar para minutos:
Exemplo 2: Um texto ocupa 6 páginas de 45 linhas 5h = 300min.
cada uma, com 80 letras (ou espaços) em cada linha.
4h30min= 270min.
Para torná-lo mais legível, diminui-se para 30 o
número de linhas por página e para 40 o número de min.-----Dias-----Pag.
letras (ou espaços) por linha. Considerando as novas 300 -------4-------1800
condições, determine o número de páginas ocupadas.
Já aprendemos o passo a passo no exemplo ante- 270 -------3-------X
rior. Aqui vamos resolver de maneira mais rápida. Resolvendo temos:

6 (pág.) -------- 45 (linhas) -------- 80 (letras) 300 (Simplifica por 30)


1800 4
X (pág.) -------- 30 (linhas) -------- 40 (letras) = # 270 (Simplifica por 30)
X 3
6 ? ? 1800 4 10
= # = #
X ? ? X 3 9

Analisando isoladamente duas a duas: 4 · X · 10 = 1800 · 3 · 9


X = 1215 páginas que esse mesmo equipamento é
6 (pág.) -------- 45 (linhas) capaz de digitalizar.
102 X (pág.) -- ----- 30 (linhas) Resposta: Letra C.
2. (VUNESP — 2016) Em uma fábrica, 5 máquinas, todas Das 9h às 15h = 6 horas = 360 min
operando com a mesma capacidade de produção,
fabricam um lote de peças em 8 dias, trabalhando 6 360 min ------ 5 máquinas ----- 600 unidades (corta os zeros iguais)
horas por dia. O número de dias necessários para que x ------------- 3 máquinas ---- 400 unidades (corta os zeros iguais)
4 dessas máquinas, trabalhando 8 horas por dia, fabri-
360 3 6
quem dois lotes dessas peças é: = #
X 5 4
a) 11.
x·3·6 = 360·5·4
b) 12.
c) 13. x·18 = 7.200
d) 14.
x = 7200/18
e) 15.
x = 400
5 máquinas -------1 lote --------- 8 dias ------------ 6 horas
Logo, transformando minutos para horas novamen-
4 máquinas -------2 lotes --------x dias -------------8 horas
te temos:
Quanto mais dias para entrega do lote, menos
horas trabalhadas por dia (inversa), menos máqui- X = 400min
nas para fazer o serviço (inversa) e mais lotes para
X = 6h40min
serem entregues (direta).
Resolvendo: Resposta: Letra D.
8/x = 1/2 * 8/6 * 4/5 (simplifique 8/6 por 2)
8/x = 1/2 * 4/3 * 4/5 5. (VUNESP — 2020) Em uma fábrica de refrigerantes, 3
8/x = 16/30 (simplifique 16/30 por 2) máquinas iguais, trabalhando com capacidade máxima,
8/x = 8/15 ligadas ao mesmo tempo, engarrafam 5 mil unidades de
8x = 120 refrigerante, em 4 horas. Se apenas 2 dessas máquinas
x = 120/8 trabalharem, nas mesmas condições, no engarrafamen-
x = 15 dias. to de 6 mil unidades do refrigerante, o tempo esperado
Resposta: Letra E. para a realização desse trabalho será de:

3. (CEBRASPE-CESPE — 2018) No item a seguir é apre- a) 6 horas e 40 minutos.


sentada uma situação hipotética, seguida de uma b) 6 horas e 58 minutos.
assertiva a ser julgada, a respeito de proporcionalida- c) 7 horas e 12 minutos.
de, divisão proporcional, média e porcentagem. d) 7 horas e 20 minutos.
Todos os caixas de uma agência bancária trabalham e) 7 horas e 35 minutos.
com a mesma eficiência: 3 desses caixas atendem 12
clientes em 10 minutos. Nessa situação, 5 desses cai- 3 máquinas ------------ 5 mil garrafas ------------ 4 horas
xas atenderão 20 clientes em menos de 10 minutos. 2 máquinas ------------ 6 mil garrafas ------------ x
Veja que se aumentar o tempo de trabalho quer dizer
( ) CERTO  ( ) ERRADO
que serão engarrafados mais refrigerantes (direta) e
se aumentar o tempo de trabalho quer dizer que são
3 caixas - 12 clientes - 10 minutos
menos máquinas trabalhando (inversa).
5 caixas - 20 clientes - x minutos
4 5000 2
= #
10 5 12 X 6000 3
= #
X 3 20
2·X·5 = 4·6·3
5 · 12 · X = 10 · 3 · 20
10X = 72
60x = 600
x = 7, 2 horas (7 horas + 0,2 horas = 7 horas + 0,2 ×
X = 10. 60 min = 7 horas e 12 minutos) RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
Os 5 caixas atenderão em exatamente 10 minutos. Obs: Para transformar horas em minutos, basta mul-
Não em menos de 10 como a questão afirma. tiplicarmos o número por 60 min. Logo, 0,2 horas =
Resposta: Errado. 0,2 x 60 = 120/10 = 12 min.
Resposta: Letra C.
4. (VUNESP — 2020) Das 9 horas às 15 horas, de trabalho
ininterrupto, 5 máquinas, todas idênticas e trabalhan-
PORCENTAGEM
do com a mesma produtividade, fabricam 600 unida-
des de determinado produto. Para a fabricação de 400
A porcentagem é uma medida de razão com base
unidades do mesmo produto por 3 dessas máquinas,
100. Ou seja, corresponde a uma fração cujo denomi-
trabalhando nas mesmas condições, o tempo estima-
nador é 100. Vamos observar alguns exemplos e notar
do para a realização do serviço é de:
como podemos representar um número porcentual.
a) 5 horas e 54 minutos.
b) 6 horas e 06 minutos. 30% = 30 (forma de fração)
100
c) 6 horas e 20 minutos.
d) 6 horas e 40 minutos. 30
30% = = 0,3 (forma decimal)
e) 7 horas e 06 minutos. 100 103
30 3 Dica
30% = = (forma de fração simplificada)
100 10 A avaliação do crescimento ou da redução per-
centual deve ser feita sempre em relação ao
Sendo assim, a razão 30% pode ser escrita de valor inicial da grandeza.
várias maneiras: Final - Inicial
Variação percentual =
Inicial
30 3
30% = = 0,3 =
100 10
Veja mais um exemplo para podermos fixar
Também é possível fazer a conversão inversa, isto melhor.
é, transformar um número qualquer em porcentual. Exemplo 2: Juliano percebeu que ainda não assis-
Para isso, basta multiplicar por 100. Veja: tiu a 200 aulas do seu curso. Ele deseja reduzir o
número de aulas não assistidas a 180. É correto afir-
25 x 100 = 2500% mar que, se Juliano chegar às 180 aulas almejadas, o
0,35 x 100 = 35% número terá caído 20%?
0,586 x 100 = 58,6% A variação percentual de uma grandeza corres-
ponde ao índice:
Número Relativo Variação percentual =

A porcentagem traz uma relação entre uma parte e Final - Inicial 180 - 200 20
= =– = - 0,10
um todo. Quando dizemos 10% de 1000, o 1000 corres- Inicial 200 200
ponde ao todo. Já o 10% corresponde à fração do todo
que estamos especificando. Para descobrir a quanto Como o resultado foi negativo, podemos afirmar
isso corresponde, basta multiplicar 10% por 1000. que houve uma redução percentual de 10% nas aulas
ainda não assistidas por Juliano. O enunciado está
10 errado ao afirmar que essa redução foi de 20%.
10% de 1000 = 100 x 1000 = 100
A seguir, analise os exercícios abaixo.
Dessa maneira, 1000 é o todo, enquanto 100 é a
parte que corresponde a 10% de 1000. 1. (CEBRASPE-CESPE — 2020) Em determinada loja, uma
Quando o todo varia, a porcentagem também bicicleta é vendida por R$ 1.720 à vista ou em duas
varia, veja um exemplo: vezes, com uma entrada de R$ 920 e uma parcela de R$
Roberto assistiu 2 aulas de Matemática Financeira. 920 com vencimento para o mês seguinte. Caso queira
Sabendo que o curso que ele comprou possui um total antecipar o crédito correspondente ao valor da parcela,
de 8 aulas, qual é o percentual de aulas já assistidas a lojista paga para a financeira uma taxa de antecipa-
por Roberto? ção correspondente a 5% do valor da parcela.
O todo de aulas é 8. Para descobrir o percentual, Com base nessas informações, julgue o item a seguir.
devemos dividir a parte pelo todo e obter uma fração. Na compra a prazo, o custo efetivo da operação de finan-
ciamento pago pelo cliente será inferior a 14% ao mês.
2 1
=
8 4 ( ) CERTO  ( ) ERRADO

Precisamos transformar em porcentagem, ou seja, Valor da bicicleta =1720,00


vamos multiplicar a fração por 100: Parcelado = 920,00 (entrada) + 920,00 (parcela)
Na compra a prazo, o agente vai pagar 920,00
1 x 100 = 25% (entrada), logo vai sobrar (1720-920 = 800,00)
4 No próximo mês é preciso pagar 920,00 ou seja
800,00 + 120,00 de juros. Agora é pegar 120,00
Soma e Subtração de Porcentagem (juros) e dividir por 800,00 resultado:
120,00/800,00 = 0,15% ao mês.
As operações de soma e subtração de porcentagem A questão diz que seria inferior a 0,14%, ou seja,
são as mais comuns. É o que acontece quando se diz está errada.
que um número excede, reduziu, é inferior ou é supe- Resposta: Errado.
rior ao outro em tantos por cento. A grandeza inicial
corresponderá sempre a 100%. Então, basta somar ou 2. (CEBRASPE-CESPE — 2019) Na assembleia legislati-
subtrair o percentual fornecido dos 100% e multipli- va de um estado da Federação, há 50 parlamentares,
car pelo valor da grandeza. entre homens e mulheres. Em determinada sessão
Exemplo 1: Paulinho comprou um curso de 200 plenária estavam presentes somente 20% das deputa-
horas-aula. Porém, com a publicação do edital, a esco- das e 10% dos deputados, perfazendo-se um total de 7
la precisou aumentar a carga horária em 15%. Qual o parlamentares presentes à sessão.
total de horas-aula do curso ao final? Infere-se da situação apresentada que, nessa assem-
Inicialmente, o curso de Paulinho tinha um total bleia legislativa, havia:
de 200 horas-aula que correspondiam a 100%. Com o
aumento porcentual, o novo curso passou a ter 100% a) 10 deputadas.
+ 15% das aulas inicialmente previstas, portanto,, o b) 14 deputadas.
total de horas-aula do curso será: c) 15 deputadas.
d) 20 deputadas.
104 (1 + 0,15) x 200 = 1,15 x 200 = 230 horas-aula. e) 25 deputadas.
50 parlamentares 5. (FUNCAB — 2015) Adriana e Leonardo investiram R$
Deputadas = X 20.000,00, sendo o 3/5 desse valor em uma aplicação
Deputados = 50-X que gerou lucro mensal de 4% ao mês durante dez
Compareceram 20% x e 10% (50-x), totalizando 7 meses. O restante foi investido em uma aplicação,
parlamentares. Não sabemos a quantidade exata de que gerou um prejuízo mensal de 5% ao mês, durante
cada sexo. Vamos montar uma equação e achar o o mesmo período. Ambas as aplicações foram feitas
valor de X. no sistema de juros simples.
20% x + 10% (50-x) = 7 Pode-se concluir que, no final desses dez meses, eles
20/100 . x + 10/100 . (50-x) = 7 tiveram:
2/10 . x + 1/10 . (50-x) = 7
2x/10 + 50 - x/10 = 7 (faz o MMC) a) prejuízo de R$2.800,00.
2x + 50 - x = 70 b) lucro de R$3.200,00.
2x - x = 70 - 50 c) lucro de R$2.800,00.
x = 20 deputadas fazem parte da Assembleia d) prejuízo de R$6.000,00.
Legislativa. e) lucro de R$5.000,00.
Resposta: Letra D.
3/5 de 20.000,00 = 12.000,00
3. (VUNESP — 2016) Um concurso recebeu 1500 ins- 12.000,00 · 4% = 480,00
crições, porém 12% dos inscritos faltaram no dia da 480 · 10 (meses) = 4.800 (juros)
prova. Dos candidatos que fizeram a prova, 45% eram O que sobrou 20.000,00 - 12.000,00 = 8.000,00. Apli-
mulheres. Em relação ao número total de inscritos, o cação que foi investida e gerou prejuízo de 5% ao
número de homens que fizeram a prova corresponde a mês, durante 10 meses:
uma porcentagem de: 8.000,00 · 5% = 400,00
a) 45,2%. 400 · 10 meses= 4.000
b) 46,5%. Portanto 20.000,00 + 4.800(juros) = 24,800,00 -
c) 47,8%. 4.000= 20.800,00 /10 meses= 2.080,00 lucros.
d) 48,4%. Resposta: Letra C.
e) 49,3%.
JUROS SIMPLES E COMPOSTO
Veja que se 12% faltaram, então 88% fizeram a prova.
Pessoas presentes (88%) e dessas 45% eram mulhe- Juros Simples
res e 55% eram homens. Portanto, basta multiplicar
o percentual dos homens pelo total: A premissa, base da matemática financeira é a
55% de 88% das pessoas que fizeram a prova; ou seguinte: as pessoas e as instituições do mercado
0,55 x 0,88 = 0,484. preferem adiantar os seus recebimentos e retardar
Transformando em porcentagem os seus pagamentos. Do ponto de vista estritamente
0,484 x 100 = 48,4%. racional, é melhor pagar o mais tarde possível caso
Resposta: Letra D. não haja incidência de juros (ou caso esses juros
sejam inferiores ao que você pode ganhar aplicando
4. (FCC — 2018) Em uma pesquisa 60% dos entrevis- o dinheiro).
tados preferem suco de graviola e 50% suco de açaí.
“Juros” é o termo utilizado para designar o “preço
Se 15% dos entrevistados gostam dos dois sabores,
do dinheiro no tempo”. Quando você pega certa quan-
então, a porcentagem de entrevistados que não gos-
tia emprestada no banco, o banco te cobrará uma
tam de nenhum dos dois é de:
remuneração em cima do valor que ele te emprestou,
a) 80%. pelo fato de deixar você ficar na posse desse dinhei-
b) 61%. ro por um certo tempo. Essa remuneração é expressa
c) 20%. pela taxa de juros.
d) 10%. Nos juros simples, a incidência recorre sempre
sobre o valor original. Veja um exemplo para melhor
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
e) 5%.
entender.
Vamos dispor as informações em forma de conjun- Exemplo 1:
tos para facilitar nossa resolução: Digamos que você emprestou 1000,00 reais, em um
Graviola Açaí regime de juros simples de 5% ao mês para um ami-
go,, o qual ficou de quitar o empréstimo após 5 meses.
Dessa forma, teremos o seguinte:

60% - 15% = 15% 50% - 15% =


CAPITAL
EMPRESTADO VALOR REAJUSTADO
45% 35%
(1000,00)
Nenhum = x 1° mês = 1000,00 1000,00 + (5% de 1000,00) = 1050,00

Vamos somar todos os valores e igualar ao total que 2° mês = 1050,00 1050,00 + (5% de 1000,00) = 1100,00
é 100%: 45% + 15% + 35% + X = 100% 3° mês = 1100,00 1100,00 + (5% de 1000,00) = 1150,00
95% + X = 100% 4° mês = 1150,00 1150,00 + (5% de 1000,00) = 1200,00
X = 5%.
5° mês = 1200,00 1200,00 + (5% de 1000,00) = 1250,00
Resposta: Letra E. 105
Ao final do 5° mês você terá recebido 250,00 reais a) Menor que 2%.
de juros. b) Maior que 2% e menor que 2,5%.
Fórmulas utilizadas em juros simples: c) Maior que 2,5% e menor que 2,75%.
d) Maior que 2,75% e menor que 3%.
e) Maior que 3%.
J=C·i·t
1.908 - 1.410 = 498 (juros durante 12 meses)
M=C+J J=C·I·t
498 = 1410 · 12 · i / 100
M = C · (1 + i ·J) 49800 = 16920i
Onde, i = 49800/16920
i = 2,94%. Resposta: Letra D.
z J = juros;
z C = capital; 2. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Uma pessoa atrasou em 15
z i = taxa em percentual (%); dias o pagamento de uma dívida de R$ 20.000, cuja taxa
z t = tempo; de juros de mora é de 21% ao mês no regime de juros
z M = montante. simples.
Acerca dessa situação hipotética, e considerando o
Taxas Proporcionais e Equivalentes mês comercial de 30 dias, julgue o item subsequente.
No regime de juros simples, a taxa de 21% ao mês é
Para aplicar corretamente uma taxa de juros, é im- equivalente à taxa de 252% ao ano.
portante saber a unidade de tempo sobre a qual a taxa
de juros é definida. Isto é, não adianta saber apenas ( ) CERTO  ( ) ERRADO
que a taxa de juros é de “5%”, é preciso saber se essa
taxa é mensal, bimestral, anual etc. Dizemos que duas
No regime simples, sabemos que taxas propor-
taxas de juros são proporcionais quando guardam a
mesma proporção em relação ao prazo. Por exemplo, cionais são também equivalentes. Como temos 12
12% ao ano é proporcional a 6% ao semestre, e tam- meses no ano, a taxa anual proporcional a 21%am
bém é proporcional a 1% ao mês. é, simplesmente:
Basta efetuar uma regra de três simples. Para 21% x 12 = 252% ao ano
obtermos a taxa de juros bimestral, por exemplo, que Esta taxa de 252% ao ano é proporcional e também
é proporcional à taxa de 12% ao ano: é equivalente a 21% ao mês. Portanto, o item está
certo.
12% ao ano ----------------------- 1 ano Resposta: Certo.
Taxa bimestral ------------------ 2 meses
3. (FUNDATEC — 2020) Qual foi a taxa mensal de uma
Podemos substituir 1 ano por 12 meses, para dei- aplicação, sob regime de juros simples, de um capital
xar os valores da coluna da direita na mesma unidade de R$ 3.000,00, durante 4 bimestres, para gerar juros
temporal, temos: de R$ 240,00?

12% ao ano ---------------------- 12 meses a) 8%.


Taxa bimestral ------------------ 2 meses b) 5%.
c) 3%.
Efetuando a multiplicação cruzada, temos: d) 2%.
e) 1%.
12% x 2 = Taxa bimestral x 12
Taxa bimestral = 2% ao bimestre. J = 240
C = 3.000
Duas taxas de juros são equivalentes quando são i=?
capazes de levar o mesmo capital inicial C ao montan- t = 4 bimestres, ou seja, 4 · 2 = 8 meses.
te final M após o mesmo intervalo de tempo. Substituindo:
Uma outra informação importante e que você deve J=C·i·t
memorizar é que o cálculo de taxas equivalentes 240 = 3000 · i · 8
quando estamos no regime de juros simples pode ser 240 = 24000 · i
entendido assim: 1% ao mês equivale a 6% ao semestre i = 240 / 24000
ou 12% ao ano e levarão o mesmo capital inicial C ao i = 0,01 ou 1%
mesmo montante M após o mesmo período de tempo. Resposta: Letra E.
É relevante também você saber que no regime de
juros simples, taxas de juros proporcionais são, tam- 4. (VUNESP — 2020) Um capital de R$ 1.200,00, aplicado
bém, taxas de juros equivalentes. no regime de juros simples, rendeu R$ 65,00 de juros.
A seguir, analise os exercícios comentados de ban- Sabendo-se que a taxa de juros contratada foi de 2,5% ao
cas variadas dispostos abaixo. ano, é correto afirmar que o período da aplicação foi de:

1. (FEPESE — 2018) Uma TV é anunciada pelo preço a) 20 meses.


de R$ 1.908,00 para pagamento em 12 parcelas de b) 22 meses.
159,00. A mesma TV custa R$ 1.410,00 para paga- c) 24 meses.
mento à vista. Portanto o juro simples mensal incluído d) 26 meses.
106 na opção parcelada é: e) 30 meses.
J = c. i. t/100 M = 10000 x (1 + 0,10)4
65 = 1.200 x 2,5 x t/100
M = 10000 x (1,10)4
65 = 30t
t = 65/30 x 12 M = 10000 x 1,4641
t = 26 meses
Resposta: Letra D. M = 14.641,00 reais

5. (IBADE — 2019) Juliana investiu R$ 5.000,00, a juros Podemos fazer a comparação entre juros simples e
simples, em uma aplicação que rende 3% ao mês, compostos. Observe a tabela abaixo:
durante 8 meses. Passados 8 meses, Juliana retirou
todo o dinheiro e investiu somente metade em uma JUROS SIMPLES JUROS COMPOSTOS
outra aplicação, a juros simples, a uma taxa de 5% ao
Mais onerosos se t < 1 Mais onerosos se t > 1
mês por mais 4 meses. O total de juros arrecadado por
Juliana após os 12 meses foi: Mesmo valor se t = 1 Mesmo valor se t = 1
Juros capitalizados no final Juros capitalizados periodi-
a) R$ 1.200,00. do prazo camente (“juros sobre juros”)
b) R$ 1440,00.
Crescimento linear (reta) Crescimento exponencial
c) R$ 620,00.
d) R$ 1820,00. Valores similares para pra- Valores similares para pra-
e) R$ 240,00. zos e taxas curtos zos e taxas curtos

J=C·i·t Juros Compostos – Cálculo do Prazo


J= 5000 · 0,03 · 8
J= 150 · 8 Nas questões em que é preciso calcular o prazo,
J = 1200 de lucro você deverá utilizar logaritmos, visto que o tempo “t”
Montante do aplicado com lucro M= C + J está no expoente da fórmula de juros compostos. A
M=5000 + 1200 propriedade mais importante a ser lembrada é que,
M = 6200 montante inicial e lucro sendo dois números A e B, então:
Nova aplicação de metade que lucrou 6200 / 2 =3100
J=C·i·t log AB = B × log A
J = 3100 · 0,05 · 4
J = 155 · 4 Significa que o logaritmo de A elevado ao expoente
J = 620 lucro da nova aplicação B é igual a multiplicação de B pelo logaritmo de A.
Somatório dos lucros: Uma outra propriedade bastante útil dos logarit-
M = 1200 + 620 = 1820 dos lucros mos é a seguinte:
Resposta: Letra D.

Juros Compostos log bAl = 𝑙𝑜𝑔𝐴 − 𝑙𝑜𝑔B


B

Imagine que você pegou um empréstimo de Isto é, o logaritmo de uma divisão entre A e B é
R$10.000,00 no banco, cujo pagamento deve ser rea- igual à subtração dos logaritmos de cada número.
lizado após 4 meses, à taxa de juros de 10% ao mês. Também, é importante ter em mente que “logA”
Ficou combinado que o cálculo de juros de cada mês significa “logaritmo do número A na base 10”.
será feito sobre o total da dívida no mês anterior, e Observe um exemplo:
não somente sobre o valor inicialmente emprestado. No regime de juros compostos com capitalização
Neste caso, estamos diante da cobrança de juros com- mensal à taxa de juros de 1% ao mês, a quantidade de
postos. Podemos montar a seguinte tabela: meses que o capital de R$100.000 deverá ficar investi-
do para produzir o montante de R$120.000 é expressa
por:
MÊS DO EMPRÉSTIMO 10.000,00
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
1º MÊS 11.000,00 log2, 1
2º MÊS 12.100,00 log1, 01
3º MÊS 13.310,00
4º MÊS 14.641,00 Temos a taxa j=1%am, capital C=100.000 e montan-
te M=120.000. Na fórmula de juros compostos:
Logo, ao final de 4 meses você deverá devolver
M = C x (1+j)t
ao banco R$14.641,00 que é a soma da dívida inicial
(R$10.000,00) e de juros de R$4.641,00. 120000 = 100000 x (1+1%)t
Fórmula utilizada em juros compostos:
12 = 10 x (1,01)t

M = C · (1 + i)t 1,2 = (1,01)t

Podemos aplicar o logaritmo dos dois lados:


Poderíamos ter utilizado a fórmula no nosso exem-
plo. Veja:
log1,2 = log (1,01)t
M = 10000 x (1 + 10%)4 log1,2 = t · log 1,01 107
log1, 1 Aqui foram dados C = 6000 reais, i = 10% a m e t = 3
t=
log1, 01 meses. Aplicando a fórmula, temos:
M = C x (1 + j)t
M = 6000 x (1,1)³
Logo, questão errada.
M = 6000 x 1,331
Após o estudo, coloque seus conhecimentos em M = 7986 reais
prática analisando os exercícios que seguem. Resposta: Letra D.

1. (FCC — 2017) A Cia. Escocesa, não tendo recursos para 4. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Um indivíduo investiu a
pagar um empréstimo de R$ 150.000,00 na data do ven- quantia de R$ 1.000 em determinada aplicação, com
cimento, fez um acordo com a instituição financeira cre- taxa nominal anual de juros de 40%, pelo período de 6
dora para pagá-la 90 dias após a data do vencimento. meses, com capitalização trimestral. Nesse caso, ao
Sabendo que a taxa de juros compostos cobrada pela final do período de capitalização, o montante será de:
instituição financeira foi 3% ao mês, o valor pago pela
empresa, desprezando-se os centavos, foi, em reais, a) R$ 1.200.
b) R$ 1.210.
a) 163.909,00. c) R$ 1.331.
b) 163.500,00. d) R$ 1.400.
c) 154.500,00. e) R$ 1.100.
d) 159.135,00.
e) 159.000,00. Temos a taxa de 40% a. a. com capitalização trimes-
tral, o que resulta em uma taxa efetiva de 40%/4 =
Temos uma dívida de C = 150.000 reais a ser paga após 10% ao trimestre. Em t = 6 meses, ou melhor, t = 2
t = 3 meses no regime de juros compostos, com a taxa trimestres, o montante será:
de j = 3% ao mês. O montante a ser pago é dado por: M = C x (1+j)t
M = C x (1+j)t M = 1.000 x (1+0,10)2
M = 150.000 x (1+0,03)3 M = 1.000 x 1,21
M = 150.000 x (1,03)3 M = 1.210 reais
M = 150.000 x 1,092727 Resposta: Letra B.
M = 15 x 10927,27
M = 163.909,05 reais 5. (CEBRASPE-CESPE — 2017) Julgue o item seguinte,
Resposta: Letra A. relativo à matemática financeira.
Considere que dois capitais, cada um de R$ 10.000,
2. (FCC — 2017) O montante de um empréstimo de 4 tenham sido aplicados, à taxa de juros de 44% ao mês —
anos da quantia de R$ 20.000,00, do qual se cobram 30 dias —, por um período de 15 dias, sendo um a juros
juros compostos de 10% ao ano, será igual a: simples e outro a juros compostos. Nessa situação, o
montante auferido com a capitalização no regime de
a) R$ 26.000,00. juros compostos será superior ao montante auferido
com a capitalização no regime de juros simples.
b) R$ 28.645,00.
c) R$ 29.282,00.
( ) CERTO  ( ) ERRADO
d) R$ 30.168,00.
e) R$ 28.086,00.
Veja que a taxa de juros é mensal, e o prazo da apli-
cação foi de t = 0,5 mês (quinze dias).
Temos um prazo de t = 4 anos, capital inicial C =
Quando o prazo é fracionário (inferior a 1 unida-
20000 reais, juros compostos de j = 10% ao ano. O
de temporal), juros simples rendem MAIS que juros
montante final é:
compostos. Logo, o montante auferido com a capi-
M = C x (1+j)t talização no regime de juros compostos será INFE-
M = 20000 x (1+0,10)4 RIOR ao montante auferido no regime simples.
M = 20000 x 1,14 Resposta: Errado.
M = 20000 x 1,4641
M = 2 x 14641 PROBLEMAS ARITMÉTICOS
M = 29282 reais
Resposta: Letra C. Vimos no início dessa apostila toda a parte teóri-
ca que nos dá suporte para que cheguemos até aqui
3. (FGV — 2018) Certa empresa financeira do mundo e consigamos resolver mais algumas questões sobre
real cobra juros compostos de 10% ao mês para os esse tópico. Todavia antes disso, lembre-se que, geral-
empréstimos pessoais. Gustavo obteve nessa empre- mente, os tópicos como fração, razão e proporção e
sa um empréstimo de 6.000 reais para pagamento, porcentagem são os mais cobrados e por isso este é o
incluindo os juros, três meses depois. nosso foco principal. Mãos à obra.
O valor que Gustavo deverá pagar na data do vencimento é:
1. (FGV — 2015) Francisco vendeu seu carro e, do valor rece-
a) 6.600 reais. bido, usou a quarte parte para pagar dívidas, ficando então
b) 7.200 reais. com R$ 21.600,00. Francisco vendeu seu carro por:
c) 7.800 reais.
d) 7.986 reais. a) R$ 27.600,00.
108 e) 8.016 reais. b) R$ 28.400,00.
c) R$ 28.800,00. que a idade de Fernando (39) é igual à soma das ida-
d) R$ 29.200,00. des dos filhos, ou seja,
e) R$ 29.400,00. 39 = X + X+1 + X+2
39 = 3X + 3
Aqui temos uma questão clássica sobre problemas 3X = 39 – 3
com frações. Para resolver, você precisa ficar atento
3X = 36
ao enunciado da questão para extrair os dados da
X = 12
melhor maneira possível. Veja:
O filho mais velho tem X+2 = 12+2= 14 anos.
Se Francisco usou 1/4 do valor recebido para pagar
Resposta: Letra C.
dívidas, a fração restante é igual a 3/4, pois essa é
a fração complementar para completar um inteiro
¼ + ¾ = 1. 4. (VUNESP — 2018) Três quartos do total de uma ver-
Assim, 3/4 do valor do carro equivalem a R$ ba foi utilizada para o pagamento de um serviço A, e
21.600,0. Qual o valor do carro todo? um quinto do que não foi utilizado para o pagamento
3/4x = 21600 desse serviço foi utilizado para o pagamento de um
4x * 21600 = 3 serviço B. Se, da verba total, após somente esses
x = 28800. pagamentos, sobraram apenas R$ 200,00, então, é
Resposta: Letra C. verdade que o valor utilizado para o serviço A, quando
comparado ao valor utilizado para o serviço B, corres-
2. (FCC — 2016) Em um curso de informática, 2/3 dos alu- ponde a um número de vezes igual a:
nos matriculados são mulheres. Em certo dia de aula,
2/5 das mulheres matriculadas no curso estavam pre- a) 13.
sentes e todos os homens matriculados estavam pre- b) 14.
sentes, o que totalizou 27 alunos (homens e mulheres) c) 15.
presentes na aula. Nas condições dadas, o total de alu- d) 16.
nos homens matriculados nesse curso é igual a: e) 17.

a) 18. Seja “X” o valor da verba. O serviço A foi pago com


b) 10 ¾ dessa verba: ¾ de x = 3x/4. Não foi utilizado, por-
c) 15. tanto, ¼ de x = x/4.
d) 12. O serviço B foi pago com um quinto do que não foi
e) 21.
utilizado do serviço A.
Logo: 1/5 de x/4 = x/20.
Seja x a quantidade de alunos matriculados no cur-
Após esses dois pagamentos, restaram 200 reais.
so, sabemos que 2/3 são mulheres. Assim, temos
Portanto:
2x/3 mulheres e x/3 homens. Sabemos que 2/5 das
mulheres e todos os homens estavam presentes, x - 3x - x = 200
totalizando 27 pessoas. Temos: 4 20
2 2x x 20x - 15x - x
# + = 27 = 200
5 3 3 20
4x x 4x
+ = 27 = 200
15 3 20
5x + 4x 4x = 200 × 20
= 27
15
4x =4000
9x = 27 × 15
x =1000
9x = 405
Os valores usados para pagar os serviços A e B foram:
x=45 RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
Serviço A = 3000/4 = 750 reais
O total de homens é igual a x/3 = 45/3 = 15. Resposta:
Letra C. Serviço B = 1000/20 = 50 reais
Logo, o valor de A em relação a B é: 750/50 = 15
3. (FGV — 2017) Fernando teve três filhos em três anos vezes maior.
seguidos. Quando ele fez 39 anos reparou que essa
sua idade era igual à soma das idades dos seus três Resposta: Letra C.
filhos. Nesse dia, o seu filho mais velho tinha:
5. (CEBRASPE-CESPE — 2017) Em um tanque A, há uma
a) 12 anos. mistura homogênea de 240 L de gasolina e 60 L de
b) 13 anos. álcool; em outro tanque B, 150 L de gasolina estão
c) 14 anos. misturados homogeneamente com 50 L de álcool.
d) 15 anos. A respeito dessas misturas, julgue os itens subsequentes.
e) 16 anos. Para que a proporção álcool/gasolina no tanque A fique
igual à do tanque B é suficiente acrescentar no tanque
Perceba que os filhos nasceram em anos seguidos, A uma quantidade de álcool que é inferior a 25 L.
então, podemos dizer que o mais novo tem X anos,
os demais têm X+1 e X+2 anos de idade. Sabemos ( ) CERTO  ( ) ERRADO 109
A proporção álcool/gasolina do tanque B é de 50/150 z Representação Simbólica:
= 1/3.
Suponha que precisamos acrescentar uma quanti- „ Os pontos são representados por letras maiús-
dade X de álcool no tanque A para ele chegar nesta culas do nosso alfabeto, ou seja, A, B, C etc.;
mesma proporção. A quantidade de álcool passará „ As retas são representadas pelas letras minús-
a ser de 60 + X e a de gasolina será 240, de modo que culas do nosso alfabeto, ou seja, a, b, c etc.;
ficaremos com a razão: „ Os planos são representados pelas letras gregas
1/3 = (60+X) / 240 minúsculas, ou seja, β, ∞, α etc.
Como o 240 está dividindo o lado direito, vamos
passá-lo para o lado esquerdo multiplicando: z Representação Gráfica:
240 × 1/3 = 60 + X
r
80 = 60 + X
60 + X = 80 P
α
X = 80 - 60
X = 20 litros. ponto
Resposta: Certo
reta plano
6. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Os indivíduos S1, S2, S3
e S4, suspeitos da prática de um ilícito penal, foram
interrogados, isoladamente, nessa mesma ordem. No Vamos, agora, há alguns pontos interessantes:
depoimento, com relação à responsabilização pela
prática do ilícito, S1 disse que S2 mentiria; S2 disse „ Passando por um ponto “P” qualquer podemos
que S3 mentiria; S3 disse que S4 mentiria. traçar infinitas retas e dois pontos determinam
A partir dessa situação, julgue os itens a seguir. uma única reta. Veja:
Caso S3 complete 40 anos de idade em 2020, S1 seja 8 Os pontos A e B definem a
Pelo ponto P podemos
anos mais novo que S3 e S2 seja 2 anos mais velho que traçar infinitas retas posição de uma reta
S4, se em 2020 a soma de suas idades for igual a 140 anos,
então é correto afirmar que S2 nasceu antes de 1984.
A
( ) CERTO  ( ) ERRADO P

S3 tem 40 anos em 2020. S1 é 8 anos mais novo que S3, B


ou seja, em 2020 sabemos que S1 terá 32 anos de idade.
Como S2 é 2 anos mais velho que S4, podemos dizer que:
Idade de S2 = Idade de S4 + 2
Usando X1, X2, X3 e X4 para designar as respectivas
idades no ano de 2020, podemos escrever que: „ Pontos colineares são aqueles que pertencem à
X2 = X4 + 2 mesma reta.
Sabemos que a soma das idades, em 2020, é igual a
140 anos: C
X1 + X2 + X3 + X4 = 140 B
32 + (X4+2) + 40 + X4 = 140 A B
74 + 2X4 = 140
A c
2. X4 = 66
r
X4 = 33 COLINEARES
Logo, X2 = X4 + 2 = 33 + 2 = 35 anos em 2020. r
NÃO COLINEARES
E S2 deve ter nascido em 2020 – 35 = 1985. Não
podemos afirmar que S2 nasceu antes de 1984.
Resposta: Errado. „ Um plano pode ser determinado de algumas
maneiras. Veja:
PROBLEMAS GEOMÉTRICOS E MATRICIAIS
Três pontos não colineares:
Antes de começar a resolver exercícios sobre esse
assunto, é necessário ter o entendimento adequado C α
sobre geometria e matrizes. Para isso, vamos expla-
nar a parte teórica sobre geometria e matriz e logo em
seguida iremos resolver algumas questões envolven-
do problemas geométricos e matriciais. B
A
GEOMETRIA

Ponto, Reta e Plano

Quando falamos sobre ponto, reta e plano, deve-


mos ficar atentos que a parte mais importante é em
110 relação à sua representação geométrica e espacial.
Por uma reta e um ponto fora dela: s t

a
P α
b

c
r A B
d

Por duas retas concorrentes:


z Teorema de Tales:
α
Quando temos um feixe de retas paralelas sobre
duas transversais quaisquer, determinamos segmen-
S C tos proporcionais. Veja a figura a seguir para entender
um pouco mais:
r A B
s t

A D a
Por duas retas distintas
B E
b
α C F
c

D G
S d

r
Vamos destacar algumas proporções:

z Razão entre Segmentos de Reta: z AB ⁄ BC = DE ⁄ E F;


z BC ⁄ AB = EF ⁄ DE;
Quando dois pontos delimitam um conjunto de pontos z AB ⁄ D E = BC ⁄ E F;
numa mesma reta, chamamos de segmento de reta e pode- z D E ⁄ AB = EF ⁄ BC.
mos representar por duas letras como, por exemplo AB. O
início do segmento é em A e termina em B. Veja a seguir: Ângulos

Reta s Ângulo é a medida de uma abertura delimitada


s
por duas semi-retas. Veja na figura a seguir o ângulo
A, que é a abertura delimitada pelas duas semi-retas
Segmento de Reta AB desenhadas:
A B t

Semirreta AB
A B u

z Feixe de Retas Paralelas: A


RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Um conjunto de três ou mais retas paralelas num


plano é chamado feixe de retas paralelas. Temos,
ainda, uma reta que corta a reta de feixe que é chama- O ponto desenhado acima no encontro entre as duas
da de reta transversal. Veja: semi-retas é denominado “Vértice do ângulo”. Um ângu-
lo é medido de acordo com a sua abertura. Dizemos que
uma abertura completa mede 360 graus (360º). Veja:

111
Como 360o representam uma volta completa, 180º Os ângulos A e B são suplementares, pois a soma
representam meia-volta, como você pode ver a seguir entre eles é de 180o, assim como a soma dos ângulos B
e C, C e D, e D e A.
180° Ângulos opostos pelo vértice têm a mesma medida.
Uma outra unidade de medida de ângulos é cha-
mada de “radianos”. Dizemos que 180o correspondem
a π (“pi”) radianos. Vamos usar uma regra de três sim-
ples para convertermos qualquer ângulo em radia-
nos. Veja, vamos converter 60o para radianos:
Por sua vez, 90o representa metade de meia-volta,
isto é, ¼ de volta. Esse ângulo é conhecido como ângu- 180° ---------------------------------- π radianos
lo reto e tem uma representação bem característica:
60° ------------------------------------ x radianos
180x = 60 π
60r r
x= = radianos
180 3

Polígonos
90°
Polígono é qualquer figura geométrica fechada for-
mada por uma série de segmentos de reta. Observe:
Os ângulos podem ser classificados quanto ao
valor do ângulo em relação à 90°:

z Ângulos agudos: são aqueles ângulos inferiores à


90°. Ex.: 30o, 42o, 63o;
z Ângulos obtusos: são aqueles ângulos superiores
à 90o. Ex.: 100o, 125o e 155o.

Observação: os ângulos de 0 e 180º são denomina- Os elementos de qualquer polígono são:


dos de ângulos rasos.
Outra classificação de ângulos é em relação à medida: z Lados: são os segmentos de reta que formam o
polígono (a figura a seguir, um pentágono, possui 5
z Ângulos congruentes: são congruentes (iguais) segmentos de reta, isto é, 5 lados);
quando possuem a mesma medida; z Vértices: são os pontos de junção de dois segmen-
z Ângulos complementares: são complementares tos de reta consecutivos. Estão marcados com
quando a soma entre os ângulos é 90o. Ex.: 60° + letras maiúsculas na figura seguir;
30° = 90°. Os ângulos 30° e 60° são complementares z Diagonais: são os segmentos de reta que unem
um do outro; dois vértices não consecutivos. São as retas verme-
z Ângulos suplementares: são suplementares quando lha traçadas no polígono a seguir:
a soma entre os ângulos é 180o. Ex.: 110° + 70° = 180°.
Os ângulos 70° e 110° são suplementares entre si. A

A semi-reta que divide um ângulo em duas partes


iguais é denominada Bissetriz. Veja: B E

A/2
C D
A/2
Para calcular o número de diagonais de um polígo-
no, vamos precisar levar em consideração os vértices
(lados). Dessa forma, chegaremos na seguinte fórmula:
Agora observe esse cruzamento de retas. Vamos
tirar algumas conclusões interessantes. n # (n - 3)
D=
2
B
Veja que o pentágono (n = 5) possui 5 diagonais.
A
C
z A soma do ângulo interno e do ângulo externo de
D um mesmo vértice é igual a 180º;
z A soma dos ângulos internos de um polígono de n
Os ângulos formados pelo cruzamento das retas lados é:
são denominados ângulos opostos pelo vértice e tem
112 o mesmo valor, ou seja, A = C e B = D. S = (n – 2) × 180°
Dica x + 55 = 180
A soma dos ângulos internos de um triângulo (n = x = 125º
Logo, x + a = 190º.
3) é 180º e nos quadriláteros (polígonos de 4 lados)
Resposta: Letra D.
esta soma é 360º.

Os polígonos que possuem todos os lados iguais e todos 2. (CONSULPLAN — 2018) A soma dos ângulos internos
os ângulos internos iguais (congruentes) são chamados de de um polígono regular que tem 20 diagonais é:
polígonos regulares. Conheça algumas nomenclaturas dos
principais polígonos regulares e os seus números de lados. a) 495.
b) 720.
c) 990.
Nº DE Nº DE
LADOS
NOME
LADOS
NOME d) 1080.

3 Triângulo 9 Eneágono
Vamos aplicar a fórmula das diagonais de um polí-
4 Quadrilátero 10 Decágono gono para descobrir o número de lados:
5 Pentágono 11 Undecágono
n # (n - 3)
6 Hexágono 12 Dodecágono D=
2
7 Heptágono ... ... 2
n - 3n
8 Octógono 20 Icoságono 20 =
2
Exercite seus conhecimentos realizando os exercí- 40 = n2 - 3n
cios que seguem.
n2 – 3n - 40 = 0
1. (IDECAN — 2013) No triângulo a seguir, o lado KL é Vamos achar as raízes da equação do 2° grau:
paralelo ao segmento DE.

J - (-3) ± √(-3)2 -4 · 1 · (- 40)


n=
2·1

x
D E 3 ± √9 + 160
n=
115°
2

a 55°
3 ± 13
K L n=
2
A soma dos valores dos ângulos “x” e “a” é:
Como “n” é o número de diagonais, precisamos ape-
a) 170°. nas pegar o resultado positivo. Logo,
b) 180°.
c) 185°. 3 + 13
n= = 8 lados
d) 190°.
2
e) 195°.

J Aplicando a fórmula da soma dos ângulos internos


de um polígono, temos:
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
S = (n – 2) × 180°
55° x S = (8 – 2) × 180°
a
D E
S = 1080°.
115°
Resposta: Letra D.

a 55° 3. (FEPESE — 2019) Na figura abaixo, as retas r e s são


paralelas.
K L
r
Veja que podemos colocar o ângulo “a” como suple- α
mentar de 115°, pois os segmentos KL e DE são
paralelos. Assim como o ângulo 55° é suplementar
do ângulo “x”. Assim,
a + 115 = 180 β
a = 65º θ
------------------ s 113
Se o ângulo α mede 44°30’ e o ângulo θ mede 55°30’, Exemplo: Converter 5,3 metros para centímetros:
então a medida do ângulo β é:
Para sair do metro e chegar no centímetro deve-
a) 100°. mos multiplicar por 100 (10x10), pois “andamos” duas
b) 55°30’. casas até chegar em centímetro. Logo,
c) 60°.
d) 44°30”. 5,3m = 5,3 x 100 = 530 cm.
e) 80°.
r Medidas de Área (Superfície)
α
A unidade principal tomada como referência é o
metro quadrado. Além dele, temos outras seis uni-
α dades diferentes que servem para medir dimensões
β maiores ou menores. A conversão de unidades de
superfície segue potências de 100. Veja o esquema a
θ θ seguir:
s

β=α+θ
Km2 hm2 dam2 m2 dm2 cm2 mm2
β = 44°30’ + 55°30’ = 99°60’ = 100° (quilômetro (hectômetro (decâmetro (metro (decímetro (centímetro (milímetro
quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado)
Resposta: Letra A.
4. (ESAF — 2003) Os ângulos de um triângulo encon- ×100 ×100 ×100 ×100 ×100 ×100
tram-se na razão 2 : 3 : 4. O ângulo maior do triângulo,
portanto, é igual a:
Km2 hm2 dam2 m2 dm2 cm2 mm2
a) 40°.
b) 70°. :100 :100 :100 :100 :100 :100
c) 75°.
d) 80°.
e) 90°. Exemplo: Converter 5,3 m2 para cm2:

Se os ângulos do triângulo se encontram na razão Para sair do metro quadrado e chegar no cen-
2:3:4, podemos chamá-los de 2x, 3x e 4x e a soma dos tímetro quadrado devemos multiplicar por 10000
ângulos de um triângulo qualquer é sempre 180º. (100x100), pois “andamos” duas casas até chegar em
Assim, 2x + 3x + 4x = 180° centímetro quadrado. Logo, 5,3m2 = 5,3 x 10000 =
9x = 180° 53000 cm2.
x = 20°
O maior ângulo é 4x = 4 ∙ 20° = 80° Medidas de Volume (Capacidade)
Resposta: Letra D.
A unidade principal tomada como referência é o
MÉTRICA, ÁREAS E VOLUMES, ESTIMATIVAS, metro cúbico. Além dele, temos outras seis unidades
APLICAÇÕES diferentes que servem para medir dimensões maiores
ou menores. A conversão de unidades de superfície
Sistema de Unidades de Medidas segue potências de 1000. Veja o esquema a seguir

Quando estudamos o sistema de medidas nos Km3 hm3 dam3 m3 dm3 cm3 mm3
(quilômetro (hectômetro (decâmetro (metro (decímetro (centímetro (milímetro
atentamos ao fato de que ele serve para quantificar cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico)
dimensões que podem ter uma variação gigantesca.
Todavia existem as conversões entre as unidades para ×1.000 ×1.000 ×1.000 ×1.000 ×1.000 ×1.000
uma melhor interpretação e leitura.

Medidas de Comprimento Km3 hm3 dam3 m3 dm3 cm3 mm3

A unidade principal tomada como referência é o :1.000 :1.000 :1.000 :1.000 :1.000 :1.000
metro. Além dele, temos outras seis unidades dife-
rentes que servem para medir dimensões maiores ou
menores. A conversão de unidades de comprimento Exemplo: Converter 5,3 m3 para cm3:
segue potências de 10. Veja o esquema abaixo: Para sair do metro cúbico e chegar no centímetro
cúbico devemos multiplicar por 1000000 (1000x1000),
Km hm dam m dm cm mm pois “andamos” duas casas até chegar em centímetro
(quilômetro) (hectômetro) (decâmetro) (metro) (decímetro) (centímetro) (milímetro)
cúbico. Logo,

×10 ×10 ×10 ×10 ×10 ×10 5,3m3 = 5,3 x 1000000 = 5300000 cm3.

Km hm dam m dm cm mm

:10 :10 :10 :10 :10 :10


114
Veja, agora, algumas relações interessantes e que você Área do Retângulo
precisa ter em mente para resolver a diversas questões.
Para calcularmos a área, vamos fazer a multiplicação
de sua base (b) pela sua altura (h), conforme a fórmula:
UNIDADE RELAÇÃO DE UNIDADE
1 quilograma (kg) 1000 gramas (g) A=b×h
1 tonelada (t) 1000 quilogramas (kg)
1 litro (l) 1 decímetro cúbico (dm3) Exemplo: um retângulo com 10 centímetros de
lado e 5 centímetros de altura, a área será:
1 mililitro (ml) 1centímetro cúbico (cm )3

1 hectare (ha) 1 hectômetro quadrado (hm2) A = 10cm × 5cm = 50cm2


1 hectare (ha) 10000 metros quadrados (m2)
Quando trabalhamos o conceito e cálculo de áreas
Medidas de Tempo das figuras geométricas, usamos a unidade ao quadra-
do que no nosso exemplo tínhamos centímetros e pas-
Medindo intervalos de tempos temos (hora – minu- samos para centímetros quadrados, que neste caso é a
to – segundo) que são os mais conhecidos. Veja como unidade de área.
se faz a relação nessa unidade.
Para transformar de uma unidade maior para a Quadrado
unidade menor, multiplica-se por 60. Veja:
Nada além de um retângulo no qual a base e a altu-
1 hora = 60 minutos ra têm o mesmo comprimento, ou seja, todos os lados
h = 4 x 60 = 240 minutos do quadrado têm o mesmo comprimento, que chama-
remos de L. Veja:
Para transformar de uma unidade menor para a
unidade maior, divide-se por 60. Veja: L

20 minutos = 20 / 60 = 2/6 = 1/3 da hora ou 1/3h.

Para medir ângulos a unidade básica é o grau. L L


Temos as seguintes relações:

1 grau equivale a 60 minutos (1º = 60’)


1 minuto equivale a 60 segundos (1’ = 60”) L

Aqui vale fazer uma observação que os minutos e


A área também será dada pela multiplicação da
os segundos dos ângulos não são os mesmos do sistema
(hora – minuto – segundo). Os nomes são semelhantes, base pela altura (b x h). Como ambas medem L, tere-
mas os símbolos que os indicam são diferentes, veja: mos L x L, ou seja:

1h32min24s é um intervalo de tempo ou um instante A = L2


do dia.
Trapézio
1º 32’ 24” é a medida de um ângulo.
Temos um polígono com 4 lados, sendo 2 deles
GEOMETRIA PLANA
paralelos entre si, e chamados de base maior (B) e
base menor (b). Temos, também, a sua altura (h) que
Retângulo
é a distância entre a base menor e a base maior. Veja RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
Chamamos de retângulo um paralelogramo (polí- na figura a seguir
gono que tem 4 lados opostos paralelos) com todos os
b
ângulos internos iguais à 90°.

h h
B

Conhecendo b, B e h, podemos calcular a área do


b trapézio por meio da fórmula abaixo:

Chamamos o lado “b” maior de base, e o lado (B + b) # h


A=
menor “h” de altura. 2 115
Losango Para calcular a área do triângulo, é preciso conhe-
cer a sua altura (h):
É um polígono com 4 lados de mesmo comprimen-
to. Veja a seguir:

L L

a c

L L h

Para calcular a área de um losango, vamos preci-


sar das suas duas diagonais: maior (D) e menor (d) de b
acordo com a figura a seguir:
O lado “b”, em relação ao qual a altura foi dada, é
L L chamado de base. Assim, calcula-se a área do triângu-
d lo utilizando a seguinte fórmula:

D b#h
A=
L L 2

Vamos conhecer os tipos de triângulos existentes:


Assim, a área do losango é dada pela fórmula a
seguir: z Triângulo isósceles: é o triângulo que tem dois
lados iguais. Consequentemente, os 2 ângulos
D#d internos da base são iguais (simbolizados na figu-
A=
2 ra pela letra A):

Paralelogramo

É um quadrilátero (4 lados) com os lados opostos


paralelos entre si. Esses lados opostos possuem o mes-
mo tamanho. a a
b
c
h

A A
b

A área do paralelogramo também é dada pela mul- C


tiplicação da base pela altura:
z Triângulo escaleno: é o triângulo que possui os
A=b×h três lados com medidas diferentes, tendo também
os três ângulos internos distintos entre si:
Triângulo

Trata-se de uma figura geométrica com 3 lados.


Veja-a a seguir:
a B c

C A
a c
b

z Triângulo equilátero: é o triângulo que tem todos


os lados iguais. Consequentemente, ele terá todos
116 b os ângulos internos iguais:
c2 = n×a
b×c = a×h
A
a a
Essas fórmulas são chamadas de relações métricas
h
do triângulo retângulo.

A A Círculo

a Todos os pontos estão a uma mesma distância em


relação ao centro do círculo ou circunferência. Cha-
Podemos calcular a altura usando a seguinte fórmula: mamos de raio e geralmente é representada por “r”.
Veja na figura a seguir:

a 3
h=
2

Para calcular a área do triângulo equilátero usan-


do apenas o valor da medida dos lados (a), usamos a r
fórmula a seguir:

2
a 3
A=
4

z Triângulo retângulo: possui um ângulo de 90°. A área de um círculo é dada pela fórmula: A = π ×
r2. Na fórmula, a letra π (“pi”) representa um número
irracional que é, aproximadamente, igual a 3,14.
Vejamos um exemplo para calcular a área de um
B círculo com 10 centímetros de raio:
c
a A = π × r2
A = π × (10)2
A
A = π × 100
b
Substituindo π por 3,14, temos:

Temos as seguintes nomenclaturas para cada lado A = 3,14×100 = 314cm2


do triângulo. Veja:
O ângulo marcado com um ponto é o ângulo reto O perímetro de uma circunferência que é a mesma
(90º). Oposto a ele temos o lado “c” do triângulo, que coisa que o comprimento da circunferência é dado por:
chamaremos de hipotenusa. Já os lados “a” e “b”, que
são adjacentes ao ângulo reto, são chamados de catetos. C=2×π×r
O Teorema de Pitágoras nos dá uma relação entre a
hipotenusa e os catetos, dizendo que a soma dos quadrados Para exemplificar, vamos calcular o perímetro
dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa: a2 = b2 + c2. daquela circunferência com 10cm de raio:
Agora vamos falar sobre algumas métricas interes-
santes que estão presentes no triângulo retângulo. C = 2 × 3,14 × 10
C = 6,28 × 10 = 62,8 cm
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

O diâmetro (D) de uma circunferência é um seg-


b h c mento de reta que liga um lado ao outro da circun-
ferência, passando pelo centro. Veja que o diâmetro
mede o dobro do raio, ou seja, 2r.
n m
C H B

Devemos nos atentar em relação a algumas fórmulas D = 2r


que são extraídas do triângulo acima que poderão nos aju-
dar com a resolução de algumas questões. Veja quais são:

h2 = m×n
b2 = m×a 117
Repare na figura a seguir: O cubo é um caso particular do paralelepípedo re-
to-retângulo, ou seja, basta que igualemos os valores
A de a = b = c.
Para calcular o volume de um paralelepípedo reto-
-retângulo, devemos multiplicar suas três dimensões.
α Veja:
B V=a×b×c
C

No caso do cubo, o volume fica:

V = a × a × = a3

As faces do paralelepípedo são retangulares,


Note que formamos uma região delimitada dentro enquanto as faces do cubo são todas quadradas.
do círculo. Essa região é chamada de setor circular. A área total do cubo é a soma das 6 faces quadra-
Temos ainda um ângulo central desse setor circular das. Ou seja,
simbolizado por α. Com base neste ângulo, consegui-
mos determinar a área do setor circular e o compri- AT = 6a2
mento do segmento de círculo compreendido entre os
pontos A e B. Sabemos que o ângulo central de uma Agora, no paralelepípedo reto-retângulo, temos 2
volta completa no círculo é 360º. E também sabemos retângulos de lados (a, b), dois retângulos de lados (b,
a área desta volta completa, que é a própria área do c) e dois retângulos de lados (b, c). Portanto, a área
círculo ( π × r2). Vejamos como calcular a área do setor total de um paralelepípedo é:
circular, em função do ângulo central “α”:
AT = 2ab + 2ac + 2bc
360° ---------------------- π × r2
Prismas
α ------------------------- Área do setor circular
Vamos estudar os prismas retos, ou seja, aqueles
Logo, área do setor circular =
que têm as arestas laterais perpendiculares às bases.
2 Os prismas são figuras espaciais bem parecidas com
a # rr os cilindros. O que os difere é que a base de um pris-
360c ma não é uma circunferência.
O prisma será classificado de acordo com a sua
Usando a mesma ideia, podemos calcular o com- base. Por exemplo, se a base for um pentágono, o pris-
primento do segmento circular entre os pontos A e B, ma será pentagonal.
cujo ângulo central é “α” e que o comprimento da cir-
cunferência inteira é 2 πr. Confira abaixo:

360° --------------------- 2 πr
α -------------------------- Comprimento do setor circular

Prisma triangular Prisma Prisma Prisma


Logo, comprimento do setor circular = Pentagonal Quadrangular
Hexagonal

a # 2rr O volume para qualquer tipo de prisma será sem-


360c pre o produto da área da base pela altura. Veja:

GEOMETRIA ESPACIAL V = Ab × h

Poliedros A área total de um prisma será a soma da área late-


ral com duas bases.
São figuras espaciais formadas por diversas faces,
cada uma delas sendo um polígono regular. Vamos AT = Al + 2Ab
conhecer os principais poliedros, destacando alguns
pontos importantes como área e volumes. Cilindro

Paralelepípedo Reto-Retângulo e Cubo Vamos estudar o cilindro reto cujas geratrizes são
perpendiculares às bases. Observe a figura a seguir:

c a

b
a a

118
Cone

Observe a figura a seguir:

base (círculo) Altura

Geratriz
Geratriz

A distância entre as duas bases é chamada de altu-


ra (h). Quando a altura do cilindro é igual ao diâmetro
da base, o cilindro é chamado de equilátero.

Cilindro equilátero: ℎ = 2r

A base do cilindro é um círculo. Portanto, a área da Base


base do cilindro é igual a πr2.
Perceba que se “desenrolarmos” a área lateral e
““abrirmos” todo o cilindro, temos o seguinte: Vamos extrair algumas informações:
A base de um cone é um círculo, então a área da
base é πr2.
Quando “abrimos” um cone, temos seguinte figura:

H H
G

R C

A área da superfície lateral do cilindro é igual a


2πℎ e o volume do cilindro é o produto da área da
base pela altura: V = πr2 × ℎ.
R
Esfera

Quando estamos estudando a esfera, precisamos Temos, também, a área lateral que é dada pela fór-
lembrar que tudo depende e gira em torno do seu raio, mula πrg , onde “g” é o comprimento da geratriz do
ou seja, é o sólido geométrico mais fácil de trabalhar. cone.
Para calcularmos o volume de um cone, basta
sabermos que equivale a 1/3 do produto entre a área
da base pela altura. Veja:

2
rr h
V=
3
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
Em um cone equilátero a sua geratriz será igual ao
diâmetro, ou seja, 2r.

Pirâmides

A base de uma pirâmide poderá ser qualquer polí-


gono regular, no caso estamos falando apenas de pirâ-
O raio é simplesmente a distância do centro da es- mides regulares.
fera até qualquer ponto da sua superfície.
O volume da esfera é calculado usando a seguinte
fórmula:
4 3
V = 3 # rr

E a área da superfície pela fórmula a seguir:


Pirâmide Pirâmide Pirâmide
A = 4 × πr2 Triangular Quadrangular Pentagonal 119
Sabendo que 70% da área dessa praça estão recober-
tos de grama, então, a área não recoberta com grama
tem:

a) 450 m2.
b) 500 m2.
c) 400 m2.
d) 350 m2.
e) 550 m2.
Pirâmide Pirâmide
Hexagonal Heptagonal Foi dado o perímetro dessa praça, que corresponde
à soma de todos os lados. Logo:
O segmento de reta que liga o centro da base a um 2x + 2(x + 20) = 160
ponto médio da aresta da base é denominado “apótema 2x + 2x + 40 = 160
da base”. Por sua vez, indicaremos por “m” o apótema 4x = 120
da base. E o segmento que liga o vértice da pirâmide ao x = 30 m
ponto médio de uma aresta da base é denominado “apó- A área, portanto, será:
tema da pirâmide”. Indicaremos por m′ o apótema da Área = 30 x (30 + 20)
pirâmide. Veja: Área = 30 x 50 = 1500 m²
Como 70% está recoberta por grama, 100 – 70 = 30%
não é recoberta. Logo:
Área não recoberta = 0,3 x 1500 = 450 m². Resposta:
Letra A.

2. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Os lados de um terreno


quadrado medem 100 m. Houve erro na escrituração, e
m
'
ele foi registrado como se o comprimento do lado medis-
se 10% a menos que a medida correta. Nessa situação,
deixou-se de registrar uma área do terreno igual a:

a) 20 m².
m b) 100 m².
c) 1.000 m².
d) 1.900 m².
A área lateral da pirâmide é dada por: e) 2.000 m².

A área de um quadrado é L². Inicialmente os lados


Aℓ = pm′
do quadrado deveriam medir L = 100 m, portanto a
área seria A = 100² = 10000 m². Porém, L foi regis-
A área total da pirâmide é dada por:
trado com 10% a menos, ou seja, 100 – 10% x 100 =
90 m. Logo, a área passou a ser 90² = 8100 m².
AT = Ab + Aℓ Então, a área que deixou de ser registrada foi de:
10000 – 8100 = 1900 m². Resposta: Letra D.
O volume da pirâmide é calculado da mesma for-
ma que o volume do cone: 1/3 do produto da área da 3. (IDECAN — 2018) A figura a seguir é composta por
base pela altura. Veja: losangos cujas diagonais medem 6 cm e 4 cm. A área
da figura mede:
Ab # h
V=
3

Abaixo, realize os exercícios que seguem para pra-


ticar seus conhecimentos.

1. (VUNESP — 2018) Uma praça retangular, cujas medi-


das em metros, estão indicadas na figura, tem 160m
de perímetro.

a) 48 cm2.
b) 50 cm2.
c) 52 cm2.
× d) 60 cm2.
e) 64 cm2.

Sendo D e d as diagonais de um losango, sua área é


dada por:
× + 20 Área = D x d / 2 = 6 x 4 / 2 = 12cm2
Como ao todo temos 5 losangos, a área total é:
120 Figura fora de escala 5 x 12 = 60cm2. Resposta: Letra D.
4. (IBFC — 2017) A alternativa que apresenta o número O volume total do reservatório é de 4 + 3,5 = 7,5m3.
total de faces, vértices e arestas de um tetraedro é: Usando a fórmula para calcular o volume, ou seja,
Volume = comprimento x largura x altura
a) 4 faces triangulares, 5 vértices e 6 arestas. 7,5 = 2,5 x 2 x h
b) 5 faces triangulares, 4 vértices e 6 arestas. 3=2xh
c) 4 faces triangulares, 4 vértices e 7 arestas. h = 1,5m
d) 4 faces triangulares, 4 vértices e 6 arestas. Resposta: Letra B.
e) 4 faces triangulares, 4 vértices e 5 arestas.
MATRIZES E DETERMINANTES
Um tetraedro é uma figura formada por 4 faces ape-
nas, veja: Matrizes

V Uma matriz Mmxn é uma tabela com “m linhas e n colu-


nas”. Os elementos desta tabela são representados na for-
ma aij, onde “i representa a linha e j representa a coluna”
a deste termo. Veja um exemplo de uma matriz A2x2:
a

; E
5 -3
C A=
1 7
A
a
a Veja que temos 2 linhas e 2 colunas, ou seja, Aij = A2x2.
O termo a12, por exemplo, é igual a -3.
B
É importante saber que dizemos que a ordem des-
ta matriz é 2x2. A partir dela, podemos criar a matriz
Temos 4 vértices A, B, C e V. Também sabemos que transposta AT, que é construída trocando a linha de
temos 4 faces. O número de arestas pode ser conta- cada termo pela sua coluna, e a coluna pela linha.
do ou, então, obtido pela relação: Repare que a ordem de AT é 2x2:
V+F=A+2
< 3 7F
5 1
4+4=A+2
AT =
A = 6 arestas . -
Resposta: Letra D.

5. (VUNESP — 2018) Em um reservatório com a forma Uma matriz é quadrada quando possui o mesmo
de paralelepípedo reto retângulo, com 2,5 m de com- número de linhas e colunas. Foi o que aconteceu no
primento e 2 m de largura, inicialmente vazio, foram nosso exemplo.
despejados 4 m³ de água, e o nível da água nesse Uma matriz possui uma diagonal principal, que no
reservatório atingiu uma altura de x metros, conforme nosso exemplo da matriz A2x2 é formada pelos núme-
mostra a figura. ros 5 e 7. A outra diagonal é dita secundária, formada
pelos números -3 e 1.

; E
5 -3
A=
1 7

Secundária Principal
×
Falamos que há uma matriz de identidade de ordem
“n” quando a matriz quadrada possui todos os termos
h da diagonal principal iguais a 1 e todos os demais termos RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
iguais a zero. Veja a matriz identidade de ordem 3:
2
RS1 0 0V
W
SS W
2,5 SS0 1 0W
W
SS0 WW
0 1W
I3 = T X
Sabe-se que para enchê-lo completamente, sem trans-
bordar, é necessário adicionar mais 3,5 m³ de água.
Nessas condições, é correto afirmar que a medida da Dada uma matriz A, chamamos de inversa de A, ou
altura desse reservatório, indicada por h na figura, é, A-1, a matriz tal que:
em metros, igual a:
A x A-1 = I (matriz identidade)
a) 1,25.
b) 1,5. Determinantes
c) 1,75.
d) 2,0. O determinante de uma matriz é um número a ela
e) 2,5. associado. Vejamos como calcular. 121
z Matriz de ordem 1 „ Multiplicar cada termo da linha ou coluna
escolhida pelo seu respectivo cofator e, então,
Em uma matriz quadrada de ordem 1, o determi- somar tudo.
nante é o próprio termo que forma a matriz. Exemplo:
„ Cofator
Se A = [4], então det(A) = 4.
O cofator de uma matriz de ordem n ≥ 2 é definido
z Matriz de ordem 2 como:
Aij = (-1) i + j. Dij
Em uma matriz quadrada de ordem 2, o determi-
nante é dado pela subtração entre o produto da dia- Veja um exemplo:
gonal principal e o produto da diagonal secundária.
Veja: JK1 2 1 0N
O
KK O
KK2 3 1 0O
O
; E
5 -3 Se A =
KK2 O
Se A = -3 2 1O
OO
1 7 KK
2 1 1 4O
L P
Então det(A) = 5×7 – (-3) × 1 = 38.
Então, devemos seguir os passos apresentados
z Matriz de ordem 3 acima:

Em uma matriz quadrada de ordem 3, o determi- „ Escolher uma linha ou coluna da matriz (dê
nante é calculado da seguinte forma: preferência para a que tiver mais zeros);
RS 1 1 2V
W
SS W JK1 2 1 0N
Se A = SS- 2 3 5W
W KK O O
SS 0 WW 3 1 0O
7 - 1W KK2 O O
T X KK2 3 2 1O
OO
KK
2 1 1 4O
Então, veja o passo a passo como calcular o det(A). L P
„ Repetir as duas primeiras colunas: „ Calcular o cofator relativo a cada termo da
linha ou coluna escolhida;
1 1 2 1 1
Os termos da quarta coluna são o a14, a24, a34 e a44, e
-2 3 5 -2 3 chamaremos os respectivos cofatores de A14, A24, A34 e
0 7 -1 0 7 A44. Como os termos a14 e a24 são iguais a zero, eu não pre-
ciso calcular os cofatores A14 e A24, pois eles serão multi-
„ Multiplicar os termos no sentido da diagonal plicados por zero e o resultado final será igual a zero.
principal (retas pontilhadas) e subtrair a mul- O cofator A34 será:
tiplicação dos termos no sentido da diagonal
secundária (retas lisas): „ Escolher uma linha ou coluna da matriz (dê
preferência para a que tiver mais zeros);
1 1 2 1 1
-2 3 5 -2 3
JK1 2 1 0N
O
KK O
0 7 -1 0 7 KK2 3 1 0O
O
KK2 O
3 2 1O
OO
KK
[(1 × 3 × (-1) +1 × 5 × 0 + 2 × (-2) × 7)] - [(2 × 3 × 0 + 1 × 2 1 1 4O
5 × 7 + 1 × (-2) × (-1))]
L P
(-3 + 0 – 28) – (0 + 35 + 2) = Olhando somente para os termos que sobraram,
veja que temos uma matriz com 3 linhas e 3 colunas
-31 – 37 = -68.
apenas, cujo determinante sabemos calcular:
Determinante = 1.3.1 + 2.1.2 + 2.1.1 – 1.3.2 – 2.2.1
Logo, o det(A) = -68.
– 1.1.1
Determinante = -2
z Matriz de ordem 4 ou superior
O cofator A34 será:
Siga os seguintes passos:
A34 = (-1)3+4 × determinante
„ Escolher uma linha ou coluna da matriz (dê A34 = (-1)7 × (-2)
preferência para a que tiver mais zeros);
A34 = (-1) × (-2)
„ Calcular o cofator relativo a cada termo da
122 linha ou coluna escolhida; A34 = 2
Agora, vamos calcular o cofator A44. Para isso, d) 1.900 m².
devemos excluir a quarta linha e a quarta coluna da e) 2.000 m².
matriz original, ficando com:
A área de um quadrado é L². Inicialmente, os lados
do quadrado deveriam medir L = 100 m, portanto a
JK1 2 1 0N
O área seria A = 100² = 10000 m². Porém, L foi regis-
KK O
KK2 3 1 0O
O trado com 10% a menos, ou seja, 100 – 10% x 100 =
KK2 O 90 m. Logo, a área passou a ser 90² = 8100 m².
-3 2 1O
OO
KK Então, a área que deixou de ser registrada foi de:
2 1 1 4O 10000 – 8100 = 1900 m². Resposta: Letra D.
L P
2. (FCC — 2017) Um terreno tem a forma de um trapézio.
Calculando o determinante 3x3 que restou, temos: Os lados não paralelos têm a mesma medida.
Determinante = 1.3.2 + 2.1.2 + 2.(-3).1 – 1.3.2 – 1.(- A base maior desse trapézio mede 12 m, a base menor
3).1 – 2.2.2 mede 6 m e a altura mede 4 m. A área e o perímetro
Determinante = -7 desse terreno são, respectivamente, iguais a:
Assim, o cofator A44 é:
a) 32 m² e 28 m.
A44 = (-1)4+4× determinante b) 36 m² e 28 m.
A44 = (-1)8 × (-7) c) 36 m² e 24 m.
d) 32 m² e 24 m.
A44 = 1 × (-7) e) 36 m² e 26 m.
A44 = -7.
Extraindo os dados temos B = 12 m, b = 6 m e H =
Agora, podemos calcular o determinante da matriz 4m. Vamos chamar os lados não paralelos de “L”.
original: Veja como fica esse trapézio:
Determinante = a14× A14 + a24× A24 + a34 × A34 + a44× A44 6m
Determinante = 0A14 + 0A24 + 1.2 + 4 (-7)
Determinante = 0 + 0 + 2 - 28 L L
Determinante = -26 4m

As principais propriedades do determinante são: 3m 3m

12 m
z O determinante de A é igual ao de sua transposta AT
z Se uma fila (linha ou coluna) de A for toda igual a
Para descobrir o valor de L, basta aplicar o Teore-
zero, det(A) = 0;
ma de Pitágoras no triângulo formado pelo lado L
z Se multiplicarmos todos os termos de uma linha
com a altura de 4m e o trecho de 3m. Veja:
ou coluna de A por um valor “k”, o determinante
da matriz será também multiplicado por k; L² = 4² + 3²
z Se multiplicarmos todos os termos de uma matriz
L² = 16 + 9
por um valor “k”, o determinante será multiplica-
do por kn, onde n é a ordem da matriz; L² = 25
z Se trocarmos de posição duas linhas ou colunas de A,
L=5m
o determinante da nova matriz será igual a –det(A);
z Se A tem duas linhas ou colunas iguais, então det(A) = 0; O perímetro do trapézio é dado pela soma de seus
z Sendo A e B matrizes quadradas de mesma ordem, quatro lados. Logo:
det(AxB) = det(A)det(B);
L + L + 6 + 12 = 5 + 5 + 18 = 28 m
z Uma matriz quadrada A é inversível se, e somente
se, det(A) ≠ 0; A área é dada por:
z Se A é uma matriz inversível, det(A-1) = 1/det(A).
(B + b) # h
A=
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
PROBLEMAS GEOMÉTRICOS E MATRICIAIS 2
(12 + 6) # 4
Agora que já relembramos a parte teórica sobre A=
2
geometria e matrizes, chegou o momento de resolver-
mos mais questões sobre esses tipos de problemas. A=
18 # 4
Assim, saberemos exatamente como as questões são 2
cobradas em provas.
72
A= = 36m2
2
1. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Os lados de um terreno
quadrado medem 100 m. Houve erro na escrituração, e Resposta: Letra A.
ele foi registrado como se o comprimento do lado medis-
se 10% a menos que a medida correta. Nessa situação, 3. (CEBRASPE-CESPE — 2018) O preço do litro de deter-
deixou-se de registrar uma área do terreno igual a: minado produto de limpeza é igual a R$ 0,32. Se um
recipiente tem a forma de um paralelepípedo retângu-
a) 20 m². lo reto, medindo internamente 1,2 dam × 125 cm × 0,08
b) 100 m². hm, então o preço que se pagará para encher esse reci-
c) 1.000 m². piente com o referido produto de limpeza será igual a: 123
a) R$ 3,84. Sabendo que o volume dessa peça é 720 cm3, a área
b) R$ 38,40. da base é:
c) R$ 384,00.
d) R$ 3.840,00. a) 40 cm2.
e) R$ 38.400,00. b) 48 cm2.
c) 44 cm2.
Devemos colocar todas as medidas na mesma uni- d) 36 cm2.
dade. Veja que: e) 52 cm2.
1,2 dam = 12m = 120dm = 1200 cm
0,08hm = 0,8dam = 8m = 80dm = 800cm O volume é dado pela multiplicação das dimensões,
Assim, o volume total é de: ou seja,
V = 1200 x 125 x 800 720 = 15 . 6 . x
V = 120.000.000 cm3 120 = 15 . x
V = 120.000 dm3 40 = 5 . x
V = 120.000 litros 8=x
Se cada litro custa 0,32 reais, o preço total será de: A área da base é:
Preço = 0,32 x 120.000 Área = 6.x = 6.8 = 48 cm2.
Preço = 38.400 reais. Resposta: Letra E. Resposta: Letra B.

4. (IBFC — 2016) Considerando as matrizes:

HORA DE PRATICAR!
; E e B = < 1 2F
3 -2 1 4
A=
1 2 - 1. (IDECAN — 2019) Dados os conjuntos A = {0, 1, 2, 3, 5, 7}
e B = {1, 3, 5, 6, 7, 9}, quantos números naturais ímpares
podem ser formados utilizando 4 algarismos distintos
Então, o resultado da expressão: com os elementos do conjunto resultante de A ∩ B?

detA a) 18.
detB b) 24.
c) 120.
É igual a: d) 1470.
e) 1680.
a) 4/3.
b) -2. 2. (IDECAN — 2022) Em uma escola os estudantes devem
c) 3/4. praticar um esporte, que pode ser futebol ou basquete.
d) 2. Se quiserem poderão praticar as duas modalidades.
e) ½. Sabendo que:

Para encontra a resposta da questão, você precisa � 200 alunos praticam basquete.
achar o determinante de cada matriz. Sendo assim: � 130 alunos praticam futebol.
3 2 � O Total de alunos na escola é de 270.
det A = = 3 × 2 – (-2 × 1) = 6 + 2 = 8
1 2 Determine a quantidade de alunos que pratica somen-
te futebol.
1 4
det B = = 1 × 2 – 4 × (-1) = 6
1 2 a) 70 alunos
b) 140 alunos
Logo, c) 60 alunos
d) 100 alunos
detA
=
8
=
4 e) 130 alunos
detB 6 3
Resposta: Letra A. 3. (IDECAN — 2019) Em um determinado colégio com
470 estudantes, verificou-se que 250 alunos gostam
de matemática, 180 alunos gostam de português e
5. (VUNESP — 2017) Uma peça de madeira tem o for-
200 alunos não gostam nem de matemática nem de
mato de um prisma reto com 15 cm de altura e uma
português. Observou-se ainda que alguns alunos gos-
base retangular com 6 cm de comprimento, conforme
tam de matemática e português. Pode-se concluir cor-
mostra a figura.
retamente que nesse colégio

a) mais de 150 estudantes gostam de matemática e


português.
15 cm b) mais de 100 estudantes gostam apenas de matemática.
c) mais de 50 alunos gostam apenas de português.
d) mais de 270 estudantes gostam de matemática ou
x português.
6 cm e) mais de 360 estudantes não gostam nem de matemá-
124
(Figura fora de escala) tica nem de português.
4. (IDECAN — 2022) Assunto: Adição, subtração, multipli- a) 50.
cação e divisão de números naturais b) 60.
c) 20.
X4 d) 40.
+ 5Y e) 30.
85
9. (IDECAN — 2019) Sabendo que proposição é o ter-
Qual o valor de X e Y na soma: mo usado em lógica para descrever o conteúdo de
orações declarativas que podem ser valoradas como
a) 8e5 verdadeiro ou falso, assinale a alternativa que indique
b) 4e1 uma proposição lógica.
c) 3e5
d) 4e5 a) O céu é azul.
e) 3e1 b) Que dia será realizada a prova?
c) O nome dos jogadores.
5. (IDECAN — 2021) Eu compro um certo número de pro- d) O quadrado de um número.
dutos por R$ 25 900,00. Eu vendo 20 produtos por R$ e) Ser ou não ser? Eis a questão!
6 300,00, perdendo R$ 55,00 em cada produto. A que
preço devo vender o restante dos produtos para pas- 10. (IDECAN — 2022) Na proposição “Se estudo Mate-
sar a ter um lucro de R$ 2 900,00? mática, então aprendo sobre a vida”, qual alternativa
representa sua correta simbologia?
a) R$ 315,00.
b) R$ 370,00. a) p → q
c) R$ 450,00. b) p v q
d) R$ 505,00. c) p ∧ q
d) p ↔ q
6. (IDECAN — 2019) Considere N o conjunto dos núme- e) p v q ↔ r
ros naturais e Z o conjunto dos números inteiros.
Sabendo-se que o conjunto Z possui uma quantidade 11. (IDECAN — 2022) Considere as seguintes sentenças:
infinita de elementos, pode-se afirmar que a intersec-
ção de Z e N (Z ∩ N) � p: Cachorros podem voar.
� q: Thiago é inteligente.
a) não possui elementos.
b) possui uma quantidade finita de elementos. É correto afirmar que a sentença ~p ∨ ~q é:
c) é o conjunto N.
d) é o conjunto N* (naturais não-nulos). a) Cachorros não podem voar.
e) possui 1 elemento. b) Thiago não é inteligente.
c) Cachorros podem voar e Thiago é inteligente.
7. (IDECAN — 2019) Um grupo de amigos, cada um deles d) Cachorros não podem voar ou Thiago não é inteligente.
falou qual a altura. Abaixo temos a tabela com altura e) Cachorros podem voar ou Thiago é inteligente.
de cada um.
12 (IDECAN — 2019) Assinale a alternativa que contém a
proposição que define corretamente a seguinte tabela
NOME ALTURA verdade:
Daniel 1,58

Matheus 1,72 P Q ?

Rubens 1,63 V V V

Pedro 1,80 V F V RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Jorge 1,67 F V V

F F F
Coloque em ordem crescente e assinale o item correto.
a) p ∨ ∼ (p ∧ q)
a) 1,58 > 1,63 > 1,67 > 1,72 > 1,80 b) p ∨ (p ∧ ∼ q)
b) 1,67 > 1,72 > 1,80 > 1,58 > 1,63 c) (p ↔ q) → ∼ (p ∨ ∼ q)
c) 1,58 < 1,63 < 1,67 < 1,72 < 1,80 d) p ∨ (q ↔ ∼ p)
d) 1,58 < 1,63 < 1,67 > 1,72 > 1,80 e) p ↔ q
e) 1,72 > 1,80 > 1,58 > 1,63 > 1,67
13. (IDECAN — 2019) A alternativa que apresenta corre-
8. (IDECAN — 2020) Em uma sessão de teatro, 1/5 do tamente a negação da frase “Se passar no concurso
público era formado por adolescentes, 3/10 do públi- público é ótimo, então eu preciso estudar” é
co por idosos e o público restante era de adultos.
Sabendo que a diferença entre o número de adultos na a) “Se passar no concurso público não é ótimo, então eu
sessão e o número de adolescentes é igual 30, qual o preciso estudar”.
número de idosos presentes na sessão de teatro?
125
b) “Passar no concurso público não é ótimo ou eu não d) Gabriel é estudante ou Bianca é criança.
preciso estudar”. e) Gabriel é estudante e criança.
c) “Passar no concurso público não é ótimo e eu não pre-
ciso estudar”. 18. (IDECAN — 2022) Sabendo-se que toda pessoa que
d) “Passar no concurso público é ótimo mas eu não pre- estuda matemática aprende sobre a vida e consegue
ciso estudar”. tirar notas boas em concursos, é possível afirmar que:
e) “Ou estudo ou passo no concurso público”.
a) Existe alguém que estuda matemática e não aprende
14. (IDECAN — 2019) No conto de fadas da Cinderela, Cin- sobra a vida.
derela vivia como pobre e escrava por conta de sua b) Existe alguém que estuda matemática e não consegue
madrasta malvada, e o jovem príncipe, filho do rei, era tirar boas notas em concursos.
muito bonito. A negação lógica para a afirmação “Cin- c) Todas as pessoas que aprendem sobre a vida e conse-
derela não é pobre ou o príncipe é bonito” é: gue tirar boas notas em concursos estudam matemática.
d) Podem existir pessoas que aprendem sobre a vida,
a) Se Cinderela é pobre, então o príncipe não é bonito. mas não conseguem tirar notas boas em concursos.
b) Cinderela é pobre e o príncipe não é bonito. e) Todas as pessoas que tiram notas boas em concursos
c) Cinderela é rica e o príncipe é feio. sempre aprendem sobre a vida.
d) Cinderela é rica ou o príncipe é feio.
e) Cinderela é pobre ou o príncipe não é bonito. 19. (IDECAN — 2022) Considerando “Todo esporte é saudável”
como uma proposição verdadeira, correto afirmar que:
15. (IDECAN — 2019) João lançou dois dados sobre uma
mesa e cobriu rapidamente com uma caixa escu- a) Nenhum esporte é saudável – é uma proposição
ra. Entretanto, Maria viu o resultado dos dois dados necessariamente verdadeira.
(números que estão na face superior dos dados) e b) Algum esporte é saudável – é uma proposição neces-
afirmou que somente uma das proposições abaixo é sariamente verdadeira.
verdadeira: c) Algum esporte não é saudável – é uma proposição
verdadeira ou falsa.
I. O número 3 ou o número 4, ou ambos, são resultados d) Algum esporte é saudável – é uma proposição verda-
do lançamento. deira ou falsa.
II. O número 3 ou o número 5, ou ambos, são resultados e) Algum esporte não é saudável – é uma proposição
do lançamento. necessariamente verdadeira.

Com base nessas proposições e na afirmação de 20. (IDECAN — 2019) O treinador de futebol da seleção
Maria, é correto afirmar que brasileira masculina disse em uma entrevista que o
jogador da Argentina Lionel Messi é um E.T. Com base
a) o número 3 não foi o resultado de nenhum dos dois nesta frase, considere que as proposições a seguir
dados. estão corretas:
b) o número 3 é o que possui maior probabilidade de ser
o resultado do lançamento. I. Lionel Messi é um jogador de futebol excepcional.
c) os números 3, 4 e 5 possuem a mesma probabilidade II. Todo jogador de futebol excepcional é um E.T.
de ser o resultado do lançamento.
d) com certeza o resultado do lançamento foi o número 4. Com base nas proposições anteriores, pode-se con-
e) a soma dos números que foram resultado do lança- cluir com certeza que
mento dos dados é inferior a 4.
a) Messi é um jogador de futebol excepcional e não E.T.
16. (IDECAN — 2019) Se Davi é surfista, então Ana não é b) existe algum E.T. que não é um jogador de futebol
bailarina. Bruno não é jogador de futebol ou Cinthia excepcional.
não é ginasta. Sabendo-se que Cinthia é ginasta e que c) se Maradona é um E.T., então ele é um jogador de fute-
Ana é bailarina, pode-se concluir corretamente que bol excepcional.
d) se Pelé é um jogador de futebol excepcional, então
a) Bruno é jogador de futebol e Davi é surfista. Pelé não é um E.T.
b) Bruno é jogador de futebol e Davi não é surfista. e) Lionel Messi não é um jogador de futebol excepcional
c) Bruno não é jogador de futebol e Davi é surfista. e não é um E.T.
d) se Bruno não é jogador de futebol, então Davi é surfista.
e) Bruno não é jogador de futebol e Davi não é surfista. 9 GABARITO
17. (IDECAN — 2019) Considere as proposições a seguir
verdadeiras: 1 B

2 A
I. Gabriel é estudante.
II. Bianca não é criança. 3 A

Com base nas informações anteriores, é possível afirmar 4 E


com certeza que
5 C
a) Gabriel é estudante e Bianca é criança. 6 C
b) se Gabriel é estudante, então Bianca é criança.
126 c) Gabriel é criança e Bianca não é estudante.
7 C

8 E

9 A

10 A

11 D

12 D

13 D

14 B

15 A

16 E

17 D

18 D

19 B

20 B

ANOTAÇÕES

RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

127
ANOTAÇÕES

128
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO
SERVIÇO PÚBLICO

CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DAS ORGANIZAÇÕES FORMAIS MODERNAS


TIPOS DE ESTRUTURA ORGANIZACIONAL

As organizações estão em constante crescimento e desenvolvimento. O aumento do número de produtos e ser-


viços oferecidos ou a abrangência de atuação no mercado pode revelar a necessidade de reestruturação. Sobral
aborda três tipos tradicionais de estruturas: a funcional, a divisional e a matricial. Além dessas, também merece
destaque a estrutura em rede.

Estrutura Funcional

A estrutura funcional é mais lógica e intuitiva, sendo as tarefas divididas de acordo com a função, tais como
recursos humanos, logística, marketing, produção, entre outros. O administrador ou diretor geral é responsável
por toda a organização e os membros são divididos em funções específicas. Logo, a gestão é realizada de forma
vertical por meio de supervisão, regras e procedimentos.
Essa estrutura é apropriada para:

z organizações que oferecem produtos ou serviços limitados;


z organizações que estão iniciando suas atividades;
z grandes organizações com pouca diversificação tecnológica ou de produtos;
z grandes organizações que vendem/entregam produtos por um ou poucos canais de distribuição;
z grandes organizações que vendem/entregam produtos em uma única área geográfica;
z organizações que desenvolvem suas atividades em um ambiente de estabilidade.

NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO


Esse tipo de estrutura é ilustrado na figura a seguir.

PRESIDENTE
EXECUTIVO

Recursos
Operações Marketing Finanças
humanos

Produção Vendas Pessoal Controladoria

Pesquisa de Recrutamento
Qualidade Contabilidade
mercado e seleção

Comunicação
Manutenção Treinamento Tesouraria
e publicidade

Relações Segurança e Câmbios


Estoques
públicas higiene

Fonte: adaptado de Sobral (2013, p. 273).

Em todos os tipos de estrutura, a departamentalização funcional também está presente. A diferença é que a
função deixa de ser o principal critério para ordenar as tarefas. Apesar das vantagens associadas à estrutura fun-
cional, algumas desvantagens também podem ser mencionadas.

VANTAGENS DESVANTAGENS
Permite economias e utiliza de forma mais eficiente os recur- Visão limitada dos objetivos organizacionais e foco nos obje-
sos organizacionais tivos de cada área funcional
Dificulta a coordenação e comunicação entre as áreas
Cria condições para centralização das decisões
funcionais 129
VANTAGENS DESVANTAGENS
Facilita a direção e o controle da organização pelos Em razão da centralização, pode ser demorado responder às
administradores/diretores mudanças externas
Possibilita treinar e aperfeiçoar os trabalhadores em suas Dificulta a avaliação da contribuição de cada área funcio-
funções nal para o desempenho da organização como um todo
Facilita a comunicação e a coordenação dentro das áreas Dificulta identificar os responsáveis por um problema ou
funcionais decisão

Fonte: adaptado de Sobral (2013, p. 274).

Estrutura Divisional

A estrutura divisional agrupa as tarefas em unidades parcialmente autônomas de acordo os objetivos e resul-
tados desejados. Em cada divisão estão presentes todos os recursos necessários para a produção de bens ou
serviços.
Essa estrutura é apropriada para:

z organizações de grande porte que vendem/entregam produtos e serviços diversos;


z organizações que atuam em mercados diferentes e, portanto, exigem diferentes estratégias de comercializa-
ção e marketing, por exemplo;
z organizações que produzem bens e serviços que demandam tecnologias diferenciadas;
z organizações que atuam em áreas geográficas distantes.

Esse tipo de estrutura é ilustrado na figura a seguir:

PRESIDENTE
EXECUTIVO

Recursos
Finanças
humanos

Divisão de Divisão de Divisão de higiene


cosméticos medicamentos pessoal

Produção Produção Produção

Vendas Vendas Vendas

Logística Logística Logística

Fonte: adaptado de Sobral (2013, p. 274).

Veja abaixo as vantagens e as desvantagens da estrutura divisional.

VANTAGENS DESVANTAGENS
Possibilita melhor distribuição dos riscos, uma vez que cada ad-
Os interesses das divisões podem se sobrepor aos interesses gerais
ministrador de divisão é responsável por um produto, mercado ou
da organização
cliente
Necessita de um maior número de recursos, já que as funções apa-
Proporciona maior agilidade de resposta em razão da descentraliza-
recem de forma redundante na organização. Como resultado, há
ção da tomada de decisão em cada divisão
perda de eficiência
Permite manter um alto nível de desempenho, com foco em resultados Tendência à burocratização em cada divisão
Pode estimular a concorrência e rivalidade entre as divisões, espe-
Facilita a avaliação e o controle do desempenho por divisões
cialmente para a obtenção de recursos
Possibilita maior proximidade com o cliente e, consequentemente, Menor competência técnica já que a especialização funcional ocor-
maior conhecimento de suas necessidades re na divisão, onde os departamentos funcionais são menores

130 Fonte: adaptado de Sobral (2013, p. 275).


Estrutura Matricial

A estrutura matricial é considerada um modelo híbrido que integra as vantagens das estruturas funcional e divisio-
nal. Esse tipo de estrutura reúne os especialistas em cada área funcional, o que contribui para a obtenção dos melhores
resultados da divisão do trabalho. Além disso, é possível coordenar as atividades em direção aos objetivos gerais da
organização e adaptar mais rapidamente às condições de mudança do ambiente externo.
Nas organizações com projetos que necessitam de equipes multidisciplinares e temporárias, a estrutura matricial pode
ser a mais adequada. É possível ainda que os trabalhadores estejam envolvidos em mais de um projeto ao mesmo tempo.
Os funcionários possuem dois gerentes na estrutura matricial: gerente da função (produção, marketing, recursos huma-
nos etc.) e gerente do produto (produto A, produto B, produto C etc.). A estrutura matricial combina uma cadeia de comando
vertical e hierárquica com uma cadeia de comando horizontal ou transversal e é frequentemente encontrada em agências
de publicidade, consultorias, entre outras. Um exemplo dessa estrutura pode ser visualizado na figura a seguir.

Produção Marketing Rh Finanças

Produto A

Produto B

Produto C

Fonte: adaptado de Sobral (2013, p. 276).

As vantagens e desvantagens da estrutura matricial são apresentadas no quadro a seguir:

VANTAGENS DESVANTAGENS
Potencializa as vantagens das estruturas funcional e Dificulta a coordenação e controle em razão da duplicidade
divisional de autoridade
Pode melhorar a eficiência, já que reduz a multiplicação e
É uma forma estrutural complexa
dispersão de recursos
Permite maior flexibilidade e adaptabilidade da organiza- Perda de tempo em reuniões para resolução de problemas
ção em ambiente dinâmicos e instáveis e conflitos
Facilita a cooperação entre os departamentos Dificulta identificar os responsáveis por um problema

NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO


Promove o conflito construtivo entre os membros da Exige que os gestores tenham competências de relaciona-
organização mento interpessoal e maturidade

Fonte: adaptado de Sobral (2013, p. 277).

Estrutura em Rede

A estrutura em rede é um termo genérico para definir alternativas às estruturas organizacionais tradicionais e buro-
cráticas apresentadas anteriormente. Envolve as organizações em rede, de clusters e virtuais, estruturas por equipes de
trabalho, entre outras. Nesse tipo de estrutura, a divisão de trabalho ocorre de acordo com os conhecimentos, o que significa
que os indivíduos fazem parte da organização porque possuem especialização ou experiência prática em uma área/função
específica. De forma simplificada, a figura abaixo ilustra a estrutura em rede. O princípio é o de que os trabalhadores
podem estar em diversas localidades e contribuindo com mais de um departamento, desde que tenham expertise para tal.

131
Por fim, vamos analisar as vantagens e desvantagens da estrutura em rede:

VANTAGENS DESVANTAGENS
Permite maior flexibilidade e adaptabilidade da organiza-
Dificulta identificar os responsáveis por um problema
ção em ambiente dinâmicos e instáveis
Estimula o desenvolvimento de competitividade em escala Inexistência de um controle ativo em razão da dispersão
global das unidades
Possibilidade de perda de uma parte importante da estru-
Promove um ambiente de trabalho desafiador e motivador tura (um parceiro, por exemplo), o que gera impactos im-
previsíveis na organização
Dificulta desenvolver uma cultura organizacional forte e,
Reduz os gastos gerais em função da baixa necessidade
consequentemente, diminui a lealdade dos membros à
de supervisão
organização

Fonte: adaptado de Sobral (2013, p. 280).

NATUREZA, FINALIDADES E CRITÉRIOS DE DEPARTAMENTALIZAÇÃO

A estrutura organizacional é o resultado do processo de organização e indica como as atividades são ordena-
das visando o alcance dos objetivos. A partir da especificação das tarefas, dos recursos necessários e dos papéis
que cada um deve desempenhar, o resultado das atividades dos trabalhadores tende a ter um desempenho supe-
rior. Sobral destaca as funções básicas da estrutura organizacional:

z Possibilita que os trabalhadores executem variadas atividades, sempre levando em consideração a especiali-
zação necessária (habilidades, competências e conhecimentos, por exemplo), a padronização (os trabalhado-
res devem seguir os padrões preestabelecidos de desempenho das tarefas) e departamentalização de tarefas
e funções (cada departamento ou unidade funcional é responsável por certos conjuntos de tarefas e cabe a ele
realizá-los);
z Permite que os trabalhadores tenham suas atividades organizadas e coordenadas pelos superiores responsá-
veis, além de definir as regras e os procedimentos para realização do trabalho e proporcionar treinamento e
socialização;
z Define até onde vai as responsabilidades da organização e sua relação com o ambiente externo, tais como
fornecedores, parceiros e clientes.

DEPARTAMENTALIZAÇÃO

A departamentalização é o nome dado à especialização horizontal nas empresas por meio da criação de depar-
tamentos com o intuito de cuidar das atividades organizacionais.
Atualmente, parte da literatura especializada prefere a nomenclatura “Estruturação” pois estas criam unidades, fra-
ções organizacionais, podendo ser divisões, gerências, superintendências, conselhos e departamentos.
Nesse sentido, podemos conceituar estruturação (departamentalização) como uma forma sistematizada de
agrupar atividades em frações organizacionais definidas conforme algum critério predeterminado, objetivando à
melhor adequação da estrutura organizacional a sua dinâmica de ação.
Nessa esteira, o mestre Chiavenato - um dos maiores especialistas na ciência da Administração e “queridinho”
das bancas examinadoras, nos ensina: “o desenho departamental refere-se à especialização horizontal da organi-
zação e o seu desdobramento em unidades, departamentos ou divisões”.
E quais são os objetivos da departamentalização?

z Aproveitar a especialização: saber tirar proveito da qualificação das pessoas da organização, alocando cada
colaborador em uma função que permita o aumento da eficiência de cada um;
z Maximizar os recursos disponíveis: com o agrupamento ou reajustamento das atividades é possível maximi-
zar os recursos através da estruturação das unidades;
z Controlar: a departamentalização proporciona a clara delimitação de responsabilidades, assim consequente-
mente facilitando o controle;
z Coordenar: com os departamentos bem definidos, a coordenação torna-se tarefa mais integrada e ainda per-
mite maior agilidade, evitando assim ajustes posteriores;
z Reduzir conflitos: os conflitos existem, devem ser minimizados, pois raramente são eliminados. Nesse senti-
do, com a transparente alocação das responsabilidades, os conflitos tendem a diminuir.

O trabalho de decidir entre as melhores técnicas de departamentalização vai depender do estudo de diversas
variáveis, mas sempre é importante preparar a organização para o crescimento e competição, desenvolvendo
alternativas estruturais para a organização.
132 Na figura abaixo, encontramos as principais técnicas de departamentalização:
Departamentalização Funcional
ao gestor alocar recursos e pessoas específicos para a
demanda de cada tipo de cliente.
Nesse tipo de estruturação, o foco principal é o
Departamentalização por produtos ou serviços cliente, e não as necessidades internas da empresa.
Para facilitar o aprendizado, temos como exemplo
Departamentalização por clientes clássico: o atendimento personalizado das instituições
financeiras para com seus diferentes tipos de clientes
Departamentalização por processo
(gerência Pessoa Física – cliente Classe “A”, gerência Pessoa
Jurídica “grande porte”, gerência para microempresas).
Departamentalização por projetos
PRESIDENTE

Departamentalização Mista ou Combinada


Gerência de Gerência de Gerência
Clientes Pessoa Clientes Pessoa de Clientes
Departamentalização Funcional Física Jurídica Governamentais

A departamentalização funcional, ou ainda por


funções, é a mais simples e mais utilizada técnica de Departamentalização por Processo
estruturação entre as organizações.
Consiste no agrupamento das atividades conforme a
semelhança das tarefas, conhecimento e uso de recursos, Frequentemente utilizada em indústrias, a depar-
para execução de cada função específica (especialização). tamentalização por processos consiste no agrupa-
Como vantagem principal, haverá um grande mento das atividades e recursos nos processos-chave
aproveitamento do potencial de cada um colaborador específicos da organização.
na sua especialidade. Este tipo de estruturação nada mais é do que a
Por outro lado, com a especialização, ocorre um “quebra” do produto em partes sequenciais, no qual
distanciamento entre as funções, prejudicando, dessa se vão ocupar as pessoas na sua execução.
maneira, a integração entre todos os colaboradores e Como exemplo podemos citar a indústria automobi-
a gestão dos processos interdepartamentais. lística, na qual encontramos setores específicos para cada
Na figura abaixo, temos um exemplo da departa-
processo, tais como: montagem, pintura, testes finais.
mentalização por funções:
INDÚSTRIA
PRESIDENTE AUTOMOBILÍSTICA

Departamento
Departamento Departamento de
de Gestão de Setor de Setor de Setor de
Financeiro Marketing

NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO


Pessoas Montagem Pintura Testes Finais

Departamentalização por Produtos ou Serviços Departamentalização por Projetos

Como o próprio nome nos indica, consiste no agru- Este tipo de departamentalização normalmente
pamento das funções conforme o tipo de produto e/ou utiliza a estrutura matricial, a qual implica a utilização
serviço a ser ofertado.
de pessoal de alta qualificação técnica trabalhando
Podemos citar como vantagens: as facilidades
de mensurar os resultados, possibilitar um melhor concomitantemente nas suas funções administrativas
conhecimento do produto e melhor coordenação das e em projetos específicos.
atividades fins da fabricação do produto. Dessa maneira, uma das vantagens deste tipo de
Entretanto, neste tipo de departamentalização, estruturação é o alto grau de flexibilidade e adaptabi-
encontramos várias seções com a mesma especialida- lidade a novas ideias, além de permitir a maximização
de, dificultando a padronização e o treinamento. da mão de obra (pois, muitas vezes, os colaboradores
No exemplo abaixo, percebemos a divisão dos depar- participam de diversos projetos ao mesmo tempo,
tamentos conforme as classes de produtos ofertados: minimizando assim, o tempo ocioso de cada um).

PRESIDENTE
Produção Financeiro Marketing

Divisão Divisão Divisão


Projeto X Grupo Grupo
Computadores Celulares Televisores

Projeto Y Grupo Grupo


Departamentalização por Clientes
Projeto Z Grupo Grupo
Este tipo de departamentalização consiste no agru-
pamento das atividades conforme as necessidades dos
clientes. Departamentalização Mista ou Combinada
A departamentalização por clientes é essencial
quando a organização possui clientes com necessida- É a utilização de 2 ou mais tipos de departamen-
des diferentes, assim justificando o atendimento per- talização, adequando a estrutura organizacional que
sonalizado a cada tipo de clientela, além de possibilitar mais se adapte à realidade. 133
Atualmente, as empresas modernas estão optando Se os objetivos da organização devem ser alcançados
por “desenhar” a sua estrutura organizacional con- por meio das pessoas que a compõem, então é fundamental
forme as vantagens e desvantagens das diferentes que as relações interpessoais entre líderes e subordinados
técnicas de departamentalização, criando assim uma sejam harmoniosas. Para que isso ocorra, as habilidades
estrutura “personalizada” para cada situação. de comunicação e liderança dos gestores devem ser ade-
Finalizamos a teoria deste primeiro tópico! É o quadas. Além disso, os gestores devem contribuir para que
momento de internalizar o conhecimento com a reso- o ambiente de trabalho seja agradável e de cooperação
lução de questões de concursos anteriores! entre os colegas. Assim, os trabalhadores podem sentir-se
motivados para o desempenho de suas atividades.

PROCESSO ORGANIZACIONAL Importante!


A direção é a função administrativa associa-
PLANEJAMENTO
da ao direcionamento dos trabalhadores para
uma finalidade comum: o alcance dos objetivos
A primeira função administrativa é o planejamen-
to. De acordo com Sobral, provavelmente essa função é
organizacionais.
a mais significativa para a administração. Isso porque se
não há planejamento e definição de objetivo, as funções
Na função de direção também está presente o con-
de organizar recursos, dirigir pessoas e controlar os resul-
ceito de motivação. Apesar de muitos líderes busca-
tados tornam-se mais difíceis. O planejamento é essencial
rem formas de motivar os trabalhadores por meio de
para que seja possível lidar com o futuro. As organizações
palestras e treinamentos, por exemplo, a motivação
devem se planejar a curto, médio e longo prazo e por meio
dessa função podem gerenciar suas relações com o futuro. é intrínseca, ou seja, está no interior dos indivíduos.
Sobral destaca que o planejamento tem dupla É impossível, portanto, que um gestor ou líder seja
atribuição: capaz de motivar os colaboradores.
A abrangência da direção inclui os níveis estraté-
z A primeira consiste em definir o que deve ser fei- gico, tático e operacional. Chiavenato indica que os
to, ou seja, estabelecer objetivos; diretores dirigem os gerentes (estratégico), os geren-
z A segunda diz respeito a indicar como deve ser fei- tes dirigem os supervisores (tático) e os supervisores
to, isto é, criar planos. A tabela abaixo demonstra dirigem os funcionários (operacional). O quadro a
tais atribuições: seguir demonstra esses três níveis.

NÍVEIS
PLANEJAMENTO DE
NÍVEIS DE CARGOS
ABRANGÊNCIA
DIREÇÃO ENVOLVIDOS
ORGANIZAÇÃO
Definição dos objetivos: Concepção dos planos:
A empresa
resultados, propósitos, in- guias que integram e coor- Estratégico Direção
Diretores e altos
ou áreas da
tenções ou estados futu- denam as atividades da executivos
empresa
ros que as organizações organização de forma a Cada
pretendem alcançar. alcançar esses objetivos. Gerentes e
departamento
Tático Gerência pessoal do meio
ou unidade da
Fonte: adaptado de Sobral (2013). do campo
empresa
Alguns conceitos importantes devem ser fixados: Cada grupo
Supervisores e
Operacional Supervisão de pessoas ou
encarregados
z Planejamento: é necessário para que sejam defi- tarefas
nidos os objetivos que a organização pretende
alcançar. Durante o planejamento, são concebidos Fonte: adaptado de Chiavenato (2004).
os planos que guiarão o atingimento das metas
levando em consideração os recursos disponíveis; COMUNICAÇÃO
z Objetivos: indicam onde a organização pretende
chegar, isto é, os resultados esperados a partir da A palavra comunicação é derivada do latim
ação dos membros e da alocação dos recursos; communicare e significa partilhar, tonar algo comum.
z Plano: é a consequência do planejamento. Indica o Trata-se, portanto, do processo de transmitir/parti-
que deve ser feito, quando fazer, como e por quem. lhar uma mensagem com outra(s) pessoa(s) e ser com-
preendido por quem recebe a informação.
DIREÇÃO
Funções da Comunicação
A direção é a função administrativa que ocorre após
realizados o planejamento e a organização. Essa função A comunicação inclui a transferência e a comuni-
remete à interação entre os trabalhadores e os líderes, cação dos significados daquilo que se quer expressar.
ou seja, está diretamente associada com as pessoas. A comunicação possui quatro funções principais1 em
Sobral aponta que dirigir é unir esforços para que um grupo ou organização:
os objetivos da organização sejam atingidos. Não se
trata de uma tarefa simples, pois não raro os objetivos z Controle: a comunicação serve para controlar,
e interesses e individuais não são compatíveis com os seja formal ou informalmente, o comportamento
objetivos e interesses da organização. das pessoas no ambiente de trabalho. O controle
134 1  Robbins (2005)
formal ocorre, por exemplo, quando os trabalha- z Canal: meio pelo qual a mensagem é conduzida.
dores comunicam ao líder algum problema no tra- Pode ser formal ou informal. Os canais formais são
balho e quando os gerentes comunicam aos seus definidos pela organização e disseminam mensagens
subordinados que eles devem seguir as políticas associadas com as atividades de trabalho; geralmen-
organizacionais. Por outro lado, o controle infor- te seguem a estrutura hierárquica, o que significa
mal ocorre, por exemplo, quando um grupo de que a comunicação é transmitida de cima para bai-
trabalho reclama com um membro que não está xo. Os canais informais são mais espontâneos e ser-
contribuindo para a realização das atividades; vem para conduzir as comunicações pessoais;
z Motivação: a comunicação pode facilitar a moti- z Receptor: pessoa que recebe a mensagem do
vação já que por meio dela os trabalhadores são emissor;
capazes de identificar as atividades que devem z Decodificador: mecanismo utilizado para decifrar
fazer, como devem desempenhá-las, recebem fee- a mensagem;
dback sobre o quão bom é o seu trabalho e como z Ruído: inclui as barreiras para a comunicação que
podem aperfeiçoá-lo. Alguns exemplos de situações alteram o sentido da mensagem. Os ruídos podem
em que a comunicação desperta a motivação são: ser provenientes do emissor ou do receptor e são
definição de metas claras e específicas (de acordo apresentados mais adiante;
com a teoria da determinação de metas de Locke, z Feedback: é o elo final do processo de comunica-
os trabalhadores têm necessidade de visualizar ção. Por meio do feedback é possível constatar se
objetivos), feedback sobre os resultados obtidos de a transmissão da mensagem teve sucesso ou não.
acordo com os objetivos previamente estabeleci- A mensagem é transmitida com sucesso quando o
dos e reforço do comportamento esperado; receptor entende exatamente aquilo que o recep-
z Expressão emocional: para muitos trabalhado- tor pretendia comunicar.
res, a fonte primária de interação ocorre na orga-
nização, em seu grupo de trabalho. Sendo assim, O processo de comunicação é apresentado na figu-
por meio da comunicação que ocorre nos grupos, ra a seguir.
os membros podem expressar seus sentimentos,
sejam eles de desapontamento ou satisfação; Fonte Receptor
z Informação: por meio da comunicação, as pes-
Mensagem a Mensagem Mensagem
soas transmitem informações que podem facilitar ser enviada
Codificação
da mensagem recebida decodificada
a tomada de decisões. Isso porque a comunicação
de dados e informações podem contribuir para
Canal
que os tomadores de decisões visualizem cenários
e escolham as melhores alternativas.
Ruído
Dados ≠ Informações

NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO


z Dados: são conteúdos quantificáveis, tais como núme- Feedback
ros, valores e medições. Sozinhos, os dados não são
fonte de conhecimento. Isso significa que um dado,
isoladamente, não contribui para a tomada de decisão Fonte: adaptado de Robbins (2005, p. 233).
gerencial;
z Informações: são dados tratados. Quando os dados são Meios de Comunicação
classificados, armazenados, ordenados e relacionados,
se tornam informações. As informações possuem Os três métodos básicos pelos quais as pessoas tro-
significado, são capazes de transmitir uma mensagem. cam mensagens entre si incluem a comunicação oral,
comunicação escrita e comunicação não verbal2.
Fonte: UNILAB. Entenda a diferença entre dados e informação. 2019. A comunicação oral é a principal forma de comu-
Disponível em: https://bit.ly/3pvJvMj. Acesso em: 10 nov. 2020. nicação. Alguns exemplos incluem: diálogos, palestras
e debates. As principais vantagens associadas à comu-
Componentes do Processo de Comunicação nicação oral são a rapidez de resposta e o feedback.
O prazo de emissão e recebimento de uma mensa-
O processo de comunicação envolve oito compo- gem nesse tipo de comunicação pode ser muito curto.
nentes (ROBBINS): Além disso, se o receptor tiver alguma dúvida sobre a
mensagem, o feedback também poderá ser dado rapi-
z Fonte da comunicação: também chamado de damente, possibilitando que o emissor reformule a
emissor, é a pessoa que deseja comunicar uma mensagem.
mensagem. A fonte inicia a mensagem por meio Apesar das vantagens, quando a mensagem tiver
da codificação do pensamento; que ser enviada a um grande número de pessoas, a
z Codificador: mecanismo utilizado para exteriori- desvantagem da comunicação oral é a possibilidade
zar a mensagem; de distorções da informação. Isso pode ocorrer por-
z Mensagem: expressão daquilo que o emissor que cada indivíduo recebe e interpreta a mensagem
pretende comunicar. É o produto codificado pelo de uma forma, geralmente conforme seus interesses
emissor. Na comunicação oral, a mensagem é a individuais. Similarmente, a distorção pode ocorrer
própria fala. Na comunicação escrita, a mensagem quando a comunicação ocorre de cima para baixo
é o texto. Na comunicação não verbal, a mensagem (seguindo a estrutura hierárquica) incluindo vários
inclui os movimentos e expressões; níveis hierárquicos. Ao chegar na base da hierarquia
2  Robbins (2005) 135
a informação pode ter sofrido diversas alterações, tal transmitir. Quando a compreensão do receptor é dife-
como ocorre na brincadeira do “telefone sem fio”. rente daquilo que o emissor deseja transmitir, então
Na comunicação escrita é utilizada a linguagem provavelmente houve algum tipo de ruído na comuni-
escrita ou simbólica para enviar informações. Alguns cação. O ruído é qualquer tipo de prejuízo à comunica-
exemplos abrangem: e-mails, memorandos, mensa- ção. Os ruídos podem advir do emissor ou do receptor.
gens escritas no aplicativo WhatsApp, jornais, boletins, Vamos começar tratando dos ruídos decorrentes
relatórios, redações, entre outros. As vantagens da do emissor, ou seja, as dificuldades associadas àquele
comunicação escrita são: tangibilidade da informação; que fala3:
possibilidade de verificar a mensagem; manutenção do
registro da mensagem tanto pelo emissor quanto pelo
z Falta de clareza nas ideias: o emissor pode pensar
receptor; possibilidade de armazenamento da mensa-
rapidamente naquilo que deseja expressar e, caso não
gem por um longo período de tempo, entre outras.
tenha facilidade de comunicação, pode não conseguir
Essa comunicação é especialmente útil quando se
deseja enviar mensagens extremamente longas ou transmitir a ideia de maneira adequada. Isso ocorre
complexas. Além disso, as pessoas tendem a ser mais porque não houve um aperfeiçoamento da mensagem;
cuidadosas na escolha das palavras e na forma de z Comunicação múltipla: não falamos apenas com
expressá-las quando escrevem. Por essa razão, a comu- a voz, mas também com o nosso corpo. É impor-
nicação escrita geralmente é mais clara e bem elabo- tante que a comunicação oral seja condizente com
rada do que a comunicação oral. Associada a essas a comunicação corporal. Quando isso não aconte-
vantagens, a desvantagem da comunicação escrita ce, a comunicação pode ser falha;
é o tempo que demora para ser enviada ao receptor. z Problemas de codificação: a forma de exteriorizar
Outra desvantagem é a ausência de feedback instantâ- a mensagem é tão importante quanto saber aqui-
neo. Enquanto na comunicação oral basta solicitar ao lo que pretende comunicar. Na comunicação oral é
receptor que faça um resumo do que foi falado para fundamental que a fala possibilite a compreensão da
identificar se a mensagem foi corretamente compreen- mensagem. Portanto, o emissor deve estar atento à
dida, no envio de um e-mail, por exemplo, não é possí- velocidade da fala, à altura da fala, às pausas etc.;
vel garantir que o receptor recebeu ou compreendeu a z Bloqueio emocional: algumas emoções como a
informação da forma pretendida pelo emissor. vergonha ou até mesmo o receio de falar errado
A comunicação não verbal envolve os movimen- pode ser um ruído da comunicação. Além disso,
tos do corpo, as expressões faciais, a entonação, ênfase
quando o assunto a ser comunicado desperta emo-
nas palavras, as pausas, o distanciamento físico entre o
ções intensas no emissor, a expressão daquilo que
emissor e o receptor, entre outros. Por meio da lingua-
se pretende dizer pode ser prejudicada;
gem corporal comunicamos aquilo que queremos dizer,
ainda que não seja dito em palavras. Destaca-se ainda z Hábitos de locução: o uso excessivo de gírias, de
que geralmente a comunicação não verbal não é cons- palavras desconhecidas ou de algumas expressões
ciente, o que significa que o estado de espírito das pes- como “está entendendo?” pode distrair o receptor
soas é transmitido pela linguagem corporal não verbal. ou causar irritação;
A linguagem corporal, quando somada à comuni- z Suposições acerca do receptor: se o emissor supõe
cação oral ou escrita pode completar essa última. Um que o emissor já tem conhecimento de determinado
exemplo disso é a leitura de uma ata. Quando você lê assunto ou tem uma opinião formada sobre aquilo,
uma ata de reunião não consegue compreender exa- a comunicação pode não se completar. Pode ser que
tamente como as pessoas se expressaram, o que seria o emissor omita algumas informações de sua fala,
diferente se você estivesse presente ou assistisse o pois considera que o receptor já sabe sobre aquilo,
vídeo da reunião. A razão é que na linguagem escri- mas a suposição pode não ser verdadeira.
ta muitas vezes é difícil identificar a ênfase dada às
palavras e a entonação pode transformar completa- Apesar de muitas vezes a comunicação não ser
mente o sentido de uma mensagem. Na frase “Por que eficiente devido ao emissor, o receptor, ou seja, quem
eu não levo você para jantar hoje?” se a ênfase estiver recebe a mensagem, também pode ser o responsável
em “jantar”, o foco está em sair para jantar hoje e não pelos ruídos. Os motivos podem ser os seguintes4:
para almoçar amanhã, por exemplo. Por outro lado, se
a ênfase estiver em “não” o emissor pode estar procu-
z Audição seletiva: o receptor pode focar sua atenção
rando um motivo para não sair para jantar.
Por meio das expressões faciais também é possível apenas nos pontos que considera importante, prejudi-
transmitir uma mensagem. Acrescida da entonação cando o entendimento da mensagem como um todo;
da voz, as expressões faciais podem indicar timidez, z Desinteresse: apesar de presente fisicamente, o
medo, agressividade, cinismo etc. Por último, o dis- receptor pode estar desinteressado o suficiente
tanciamento físico entre as pessoas também apresen- para não conseguir reter nenhuma informação
ta uma mensagem, mas esse distanciamento depende transmitida pelo emissor;
muito das normas culturais de cada empresa ou até z Avaliação prematura: ocorre quando o receptor
mesmo país. Uma grande distância pode representar acredita que o fato de ter ouvido com atenção o
desinteresse, enquanto que uma pequena distância início da mensagem é suficiente para compreen-
pode indicar hostilização ou interesse sexual. der todo o contexto. No entanto, no decorrer da
mensagem, o sentido pode ser alterado, o que faria
Ruídos na Comunicação com que a compreensão do receptor não seja com-
patível com o significado pretendido pelo emissor;
A comunicação é eficaz quando a compreensão da z Preocupação com a resposta: às vezes o receptor se
mensagem por parte do receptor é compatível com preocupa tanto com a resposta que deverá apresentar
o significado da mensagem que o emissor desejava para o receptor, que não se atenta à toda a mensagem;
3  Gil (2012)
136 4  Gil (2012)
z Crenças e atitudes: cada um de nós possuímos grupos do mesmo nível, entre executivos do mesmo
crenças. Se a mensagem que o emissor está pas- nível ou entre quaisquer pessoas que estão em um
sando for contrária às crenças do receptor, ou nível horizontal equivalente dentro da organização
ainda se o emissor está criticando as crenças do [...]” (ROBBINS). Esse tipo de comunicação pode ser
receptor, esse último pode se sentir ofendido; formal ou informal e positiva ou negativa. A comu-
z Reação ao emissor: a reação ao emissor em razão nicação lateral é formal e positiva quando é utili-
do sotaque, vestimenta ou gestos, por exemplo, zada para agilizar o desempenho requerido pela
pode contribuir para que a mensagem não seja alta hierarquia. Isso pode ocorrer quando a rigidez
recebida da forma como foi idealizada; da estrutura organizacional não propicia a rápida
z Preconceitos e estereótipos: os preconceitos e eficaz transferência de informações. Nesse caso,
podem impedir a pessoa de falar, pois o receptor a comunicação ocorre com a ciência e aprovação
antecipa aquilo que o emissor pretende dizer; dos supervisores. Por outro lado, a comunicação
z Experiências anteriores: as experiências passa-
pode ser informal e negativa quando a comunica-
das podem contribuir para que o receptor filtre ou
ção formal é descumprida e os membros agem e
distorça as mensagens recebidas;
tomam decisões sem o conhecimento dos superio-
z Atribuição de intenções: o receptor pode estar
res. Nesses tipos de situações são gerados conflitos
preocupado em atribuir intenções ao emissor – ou
entre os liderados e os líderes, pois a comunicação
seja, tentar deduzir a mensagem que ele quer falar –
ao ponto de não conseguir entender (ou até se privar ocorre com o intuito de “ultrapassar” as ordens
de entender) o verdadeiro significado da mensagem. dos superiores.
z Comportamento defensivo: quando o receptor
entende a mensagem do emissor como uma acu- CONTROLE E AVALIAÇÃO
sação ou crítica, as respostas podem assumir um
formato de autodefesa. Por fim, o controle é a última função da administra-
ção e depende do planejamento, organização e direção
Direção da comunicação para que seja formado o processo administrativo. Nessa
etapa, os resultados alcançados são comparados com os
De acordo com Robbins, a direção da comunicação resultados planejados e, caso seja necessário, ajustes são
pode ser vertical ou horizontal. A comunicação ver- realizados ou até mesmo pode ser constatada a necessi-
tical pode ser descendente ou ascendente, enquanto dade de realizar um novo planejamento.
que a comunicação horizontal é chamada de lateral. Por meio do controle, busca-se obter informações
As características dessas três direções são: sobre os resultados alcançados com o objetivo de veri-
ficar se o planejamento foi bem-sucedido. Por meio do
z Comunicação descendente: é o tipo de comuni- controle, busca-se assegurar que a missão e os objeti-
cação enviada pelos níveis hierárquicos mais altos vos organizacionais estão sendo alcançados de forma
para os níveis mais baixos. Ou seja, é o envio de men- eficaz e eficiente. São duas as atribuições5 essenciais

NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO


sagens dos gerentes e líderes aos seus subordina- do processo de controle:
dos. Alguns exemplos de comunicação descendente
incluem: atribuição de tarefas aos trabalhadores, z Monitorar as atividades: consiste em comparar
indicações sobre a forma de realização do trabalho, o desempenho atingido em relação com o que era
informações sobre normas e políticas organizacio- esperado;
nais, envio de feedback a respeito do desempenho. z Corrigir os desvios: diz respeito à adoção de
Não necessariamente a comunicação precisa ser medidas corretivas quando erros ou desvios nas
oral ou presencial. Quando o líder encaminha um atividades podem prejudicar ou dificultar o alcan-
e-mail para os trabalhadores com as novas políticas
ce dos objetivos previamente definidos.
de agendamento de férias, por exemplo, está usan-
do a comunicação descendente;
As funções de planejamento e controle estão inti-
z Comunicação ascendente: é a comunicação
mamente relacionadas, conforme apresentado na figu-
enviada de baixo para cima, ou seja, os níveis hie-
rárquicos inferiores transmitem uma mensagem ra a seguir.
aos níveis mais altos. A comunicação ascendente
pode ser utilizada para enviar feedbacks aos geren-
tes, informar sobre o atingimento de metas, escla-
recer sobre os problemas que estão ocorrendo nos
níveis mais baixos, comunicar sobre como os tra- PLANEJAMENTO CONTROLE
balhadores se sentem em relação ao seu trabalho,
aos colegas, aos líderes e à organização como um
todo, entre outros. Alguns exemplos incluem: rela- Definição de objetivos Avaliação dos
tórios de desempenho dos superiores, espaços de que posteriormente resultados alcançados
serão comparados e comparação com os
sugestões, pesquisas de satisfação dos trabalhado- com o desempenho resultados pretendidos.
res em relação aos seus gerentes, sessões de discus- alcançado. Fornece informações
são de problemas em que os funcionários podem que servem de
se queixar ou tratar de questões específicas com base para novos
planejamentos.
o superior direto ou os diretores da organização;
z Comunicação lateral: ocorre quando a comunica-
ção é entre “[...] membros de um mesmo grupo ou de Fonte: Adaptado de Sobral (2013).

5  Sobral (2013) 137


O controle é um processo cíclico e composto por Dessa maneira, quando dissemos que as compe-
quatro fases6: tências estão centralizadas no governo Federal, isso
indica que a personalidade jurídica da União é res-
z Estabelecimento de padrões ou critérios: só será ponsável pelas atribuições impostas pelo ordenamen-
possível analisar se os objetivos foram alcançados to Jurídico.
se houver padrões ou critérios sobre o desempenho
Como estudado no item anterior, a Administração
desejado. Podem ser definidos critérios quanto ao
Pública Direta pode ser dividida em diversos órgãos,
tempo, ao custo, à qualidade, à quantidade etc.;
z Observação do desempenho: para controlar mas ainda continua com a mesma personalidade jurí-
um resultado, é preciso conhecê-lo, observá-lo. A dica, ou seja, da União.
observação ou verificação do desempenho é fun- Por outro lado, na descentralização, as competên-
damental para que sejam obtidas informações cias são distribuídas a diferente pessoa jurídica, cria-
sobre o que está sendo controlado; das pelo próprio Estado para tal finalidade.
z Comparação do desempenho com o padrão esta- Nela pressupõe-se a existência de pelo menos duas
belecido: estabelecidos os critérios de desempenho pessoas jurídicas, entre as quais as atribuições são
e observado o desempenho do resultado, é hora de divididas.
comparar o resultado real com o resultado preten- Outra característica importante para a sua prova
dido. É possível que haja algum de tipo de desvio ou
é que essas entidades (descentralizadas) respondem
variação no resultado, no entanto, nem toda varia-
ção requer correção. Por isso, é importante também judicialmente pelos prejuízos causados por seus agen-
delimitar os limites dentro dos quais o resultado tes públicos.
será considerado aceitável ou suficiente. A compa- Exemplificando: Se um cidadão se sentiu lesado por
ração pode ser realizada por meio de gráficos, rela- alguma decisão do IBAMA (autarquia), na ação judicial
tórios, medidas estatísticas, entre outros; o polo passivo vai ser o próprio IBAMA (e não a União).
z Ação corretiva: os erros e variações que estejam
fora dos limites estabelecidos devem ser corrigi-
dos. A ação corretiva é fundamental para que o Importante!
objetivo previamente definido seja alcançado.
A descentralização pressupõe a criação de pes-
A abrangência do controle, assim como das outras soas jurídicas autônomas!
funções administrativas, ocorre nos níveis estratégico,
tático e operacional. Para finalizar, o controle é funda-
mental para garantir que o ciclo administração (pla- E qual são essas pessoas jurídicas autônomas?
nejar – organizar – dirigir – controlar) seja concluído. Nesse ponto devemos nos lembrar do estudo do
Se não são analisados os resultados associados com a item anterior, pois o conjunto de pessoas jurídicas
execução das etapas anteriores, elas deixam de fazer autônomas criadas pelo próprio estado é a Adminis-
sentido. Sobral destaca que por meio do controle os tração Indireta.
administradores podem acompanhar as mudanças dos Por essa razão, a Administração Indireta é também
ambientes interno e externo e que afetam a consecu- chamada de Administração Descentralizada.
ção dos objetivos organizacionais. Ademais, quando São exemplos de entidades autônomas criadas
há um controle eficaz, é possível garantir que as ati-
pelo Estado para aplicar o instituto da descentraliza-
vidades estão sendo realizadas conforme o planejado.
ção: Autarquias, Fundações Públicas, Empresas Públi-
Em síntese, o papel principal do controle é preservar a
organização em conformidade com o padrão de com- cas e Sociedade de Economia Mista.
portamento e desempenho definido antecipadamente. Vamos entender como a descentralização funciona
na prática:
A União criou a autarquia Instituto Nacional do
Seguro Social (INSS) com o objetivo de operacionali-
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA zar o reconhecimento dos direitos dos segurados do
regime geral de previdência social.
CENTRALIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO A União criou a empresa pública Caixa Econômica
Federal (CEF) com o propósito de incentivar a poupan-
Primeiramente, chamo a sua atenção para não ça e conceder empréstimos sob penhor.
confundir (misturar) a centralização administrativa A União criou a Sociedade de Economia Mista
da Administração Pública (a qual estudaremos nes- Petrobras com o principal objetivo sendo a explora-
se momento) com a centralização estudada no tópico ção petrolífera no Brasil em prol da União.
anterior (a distribuição do poder de decidir na esfera Em todos os exemplos acima ocorreu a descen-
privada).
tralização, ou melhor, ocorreu a transferência das
Feito essa importante observação, vamos a definição:
competências para outra pessoa jurídica.
A centralização é o cumprimento das competên-
cias administrativas por uma única pessoa jurídica do Na figura abaixo, resta claro o instituto da descen-
Estado Brasileiro. tralização. Podemos observar a União (Governo Fede-
Na prática, é o que ocorre com as atribuições exer- ral) transferindo competências para outras pessoas
cidas diretamente pela União, Estados, Distrito Fede- jurídicas autônomas, no qual foram criadas especifi-
ral e Municípios. camente para atividades.
138 6  Chiavenato (2004)
Administração Direta
(Centralizada)

UNIÃO

Ministério Ministério Ministério Ministério


Economia Defesa Educação

Descentralização
Cidadania

INSS CEF Petrobras

Pessoas Jurídicas autônomas

CONCENTRAÇÃO E DESCONCENTRAÇÃO

A concentração é quando o cumprimento das competências administrativas acontece por meio de órgãos
públicos despersonalizados e sem nenhuma divisão interna.
Esta técnica existe na teoria, mas na prática é muito difícil de acontecer. Pois, em regra, os órgãos públicos são
repartidos (secretarias, departamentos) para facilitar a gestão e a divisão de tarefas.
Na concentração, pressupõe-se a ausência completa de divisão de tarefas internamente: é como se fosse um
órgão público sem nenhum departamento e sem nenhuma hierarquia.
Já na desconcentração, as atribuições são alocadas entre os órgãos públicos pertencente a mesma pessoa jurí-
dica, mantendo a vinculação hierárquica.
A informação que você deve levar para a sua prova é que na desconcentração não há a criação de outras pes-
soas jurídicas, mas simplesmente as competências são distribuídas dentro de uma única pessoa jurídica.
São exemplos clássicos de desconcentração a transferência de competência e atribuições do Governo Federal
para os seus ministérios (exemplos: Justiça, Economia, Cidadania).
Percebemos, nos exemplos acima, que se trata de uma divisão das atividades internamente, permanecendo na
mesma pessoa jurídica.

NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO


Administração Direta

Desconcentração UNIÃO

Ministério Ministério Ministério Ministério


Economia Defesa Educação Justiça

Polícia
Receita Federal
Federal

Mesma pessoa jurídica (no caso, União)

Os órgãos públicos pertencem às pessoas jurídicas, mas não são pessoas jurídicas!
Outro ponto bastante cobrado nas provas é a impossibilidade, em regra, de órgão públicos figurarem no passi-
vo de ações judiciais, ou melhor, não são acionados diretamente perante o poder judiciário.
Dessa maneira, exemplificando, caso o cidadão tenha alguma pendência judicial contra a Receita Federal do Bra-
sil, a ação judicial será proposta contra a União. As bancas examinadoras “adoram” explorar as diferenças entre a
descentralização e desconcentração, desse modo, o quadro abaixo é de suma importância para sua aprovação:

DESCONCENTRAÇÃO DESCENTRALIZAÇÃO

Competências atribuídas a órgão públicos sem perso- Competências atribuídas a entidades com personalidade
nalidade própria jurídica autônoma
139
DESCONCENTRAÇÃO DESCENTRALIZAÇÃO

Administração Direta (ou centralizada) Administração Pública Indireta (ou descentralizada)

Em regra, os órgãos não podem ser acionados direta-


Podem responder judicialmente pelos seus atos
mente perante o Poder Judiciário

Exemplos: Ministérios da União, Secretarias esta- Exemplos: Autarquias, Fundações Públicas, Empresas Públi-
duais e municipais, Polícia Federal, Receita Federal cas e Sociedade de Economia Mista

Antes de iniciarmos as questões comentadas, e para finalizar a teoria deste tópico, vamos sintetizar em uma
mesma figura os institutos da descentralização e da desconcentração!

Administração Direta
Desconcentração (Centralizada)

Órgãos
UNIÃO

Ministério Ministério Ministério Ministério


Meio Ambiente Justiça
Economia Defesa
P.R.F

Receita
Federal

ão

liz
tra
en
sc
De ECT Banco do
IBAMA
(Correios) Brasil

z Administração Indireta (Descentralizada):

„ Autarquias
„ Fundação Públicas
„ Empresas Públicas
„ Sociedade de Economia Mista

ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DA UNIÃO


ADMINISTRAÇÃO DIRETA E INDIRETA

A administração (organização administrativa) é o instrumento disponibilizado ao Estado que permite a divi-


são das competências para pôr em prática as opções do governo, isto é, buscar a satisfação dos interesses essen-
ciais da coletividade.
Nesse sentido, a Administração Pública tem o poder de criar órgãos e entidades públicas para execução de suas
políticas governamentais.
Inferimos, então, que a Administração é o instrumento de que o Estado se vale para pôr em prática as opções
políticas do Governo.
Tal atuação se dará por intermédio de entidades (pessoas jurídicas), órgãos (centro de competência) e de agen-
tes públicos (pessoas investidas em cargos, empregos e funções).
E qual a diferença entre órgãos e entidades públicas?
Órgão é uma unidade de atuação constituída na estrutura interna de determinada entidade política ou adminis-
trativa, e, por isso, não possui personalidade jurídica própria. Em regra, faz parte da Administração Direta do Estado.
O órgão é um elemento despersonalizado por não possuir personalidade jurídica própria.
De acordo com a doutrinadora Maria Sylvia Zanella Di Pietro, os órgãos públicos podem ser entendidos como
uma “unidade que congrega atribuições exercidas pelos agentes públicos que o integram, com o objetivo de
expressar a vontade do Estado”.
Por outro lado, a Entidade é uma unidade de atuação dotada de personalidade jurídica, ou seja, uma pessoa
jurídica, pública ou privada, abrangendo tanto as entidades políticas (autonomia política) como as entidades
140 administrativas (capacidade de gerir seus próprios negócios).
Desse modo, percebemos, que a principal diferen- Em relação à natureza jurídica das entidades da
ça entre o órgão e a entidade é em relação a sua per- Administração Indireta, as autarquias e as fundações
sonalidade jurídica: públicas possuem o regime jurídico público, já as esta-
tais, isto é, empresas públicas e sociedades de econo-
Órgão Entidade mia mista, são regidas pelo direito privado.

ADMINISTRAÇÃO INDIRETA

Elemento Direito público Direito privado


Despersonalizado Personalidade
Autarquias Empresas Públicas
(sem personalidade Jurídica Própria
jurídica própria) Sociedades de Economia
Fundações Públicas
Mista
Prosseguindo no tema, é de suma importância conhe-
cer como são inseridos (divididos) os órgãos públicos e as Na tabela abaixo, recapitulamos as principais dife-
entidades administrativas na organização da Administra- renças entre a Administração Direta e a Administração
ção Federal! Indireta:
Encontramos a resposta no Decreto-Lei nº 200, de
1976, mais especificamente no artigo 4º, transcrito abaixo: ADMINISTRAÇÃO ADMINISTRAÇÃO
DIRETA INDIRETA
Art. 4º A Administração Federal compreende:
I - A Administração Direta, que se constitui dos ser- Administração Administração
viços integrados na estrutura administrativa da Centralizada Descentralizada
Presidência da República e dos Ministérios.
II - A Administração Indireta, que compreende as Conjunto de órgãos liga-
seguintes categorias de entidades, dotadas de per- dos diretamente às pes- Entidades Administrativas
sonalidade jurídica própria: soas políticas
a) Autarquias;
b) Empresas Públicas; Personalidade Jurídica
Despersonalizados
c) Sociedades de Economia Mista. Própria
d) fundações públicas.
Exemplos: Ministérios Exemplos: Autarquias,
do governo Federal, Fundações Públicas, Em-
Conforme o artigo acima, concluirmos, que a Admi- Secretarias estaduais e presas Públicas e Socie-
nistração Direta é composta pelos órgãos públicos municipais dades de Economia Mista
integrantes da sua estrutura interna, desprovidos de
personalidade jurídica própria, enquanto a Adminis-

NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO


tração Indireta compreende as autarquias, Fundações Para facilitar a memorização das entidades admi-
Públicas, Empresas Públicas e Sociedade de Economia nistrativas da Administração Indireta podemos utilizar
Mista, todos dotados de personalidade jurídica própria. o mnemônico F.A.S.E (Fundação Pública, Autarquia,
Refinando o conceito de Administração Direta: é o Sociedade de Economia Mista e Empresa Pública).
conjunto de órgãos que integram as pessoas políticas do
Estado (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), AGÊNCIAS REGULADORAS
de forma centralizada, e que foram atribuídas as compe-
tências para o exercício de atividades administrativas. Uma vez compreendida toda a evolução histórica
Já a Administração Indireta é composta por enti- da noção de serviço público, podemos, finalmente,
dades administrativas, dotadas de personalidade adentrar no tema das agências reguladoras, a come-
jurídica própria, cuja competência é o exercício de çar pelo seu conceito. Na doutrina, temos um conceito
atividades administrativas, de forma descentralizada. bem detalhado sobre as agências reguladoras, o qual
foi proferido pelo renomado jurista Alexandre Santos
de Aragão. Segundo ele, agências reguladoras
EXECUTIVO
FEDERAL
[...] são autarquias de regime especial, dotadas de
considerável autonomia frente à Administração
centralizada, incumbidas do exercício, em última
instância administrativa, de funções regulatórias e
dirigidas por colegiado cujos membros são nomea-
Administração Indireta: dos por prazo determinado pelo Chefe do Poder
Administração Direta: Executivo, após prévia aprovação pelo Poder Legis-
z Autarquias lativo, veda a exoneração ad nutum (Direito dos
z Presidência da z Fundações Públicas
Serviços Públicos. 4ª Edição, 2017).
República z Empresas Públicas
z Ministérios da União z Sociedades de
Economia Mista Agências reguladoras, portanto, constituem uma
forma de autarquia sob regime especial. Trata-se
de entes que integram a Administração Pública, cujas
A criação de entidades da Administração Indireta principais tarefas são regular, fiscalizar e controlar
é em respeito ao princípio da especialidade, ou seja, a atuação da iniciativa privada durante a execução de
são criadas para servir uma finalidade específica. alguns serviços públicos. 141
O surgimento das agências reguladoras possui for- A primeira diferença consiste no fato de seus
tes relações com a época das privatizações na segun- dirigentes gozarem de estabilidade no cargo. Os
da metade dos anos 1990. O instituto foi introduzido dirigentes das agências reguladoras não podem ser
no ordenamento jurídico do Brasil pela Constituição exonerados por qualquer motivo, ao contrário das
Federal de 1988, mas não no seu texto base. autarquias comuns, em que seus dirigentes atuam
A Emenda Constitucional nº 8, de 1995, altera o tex-
em cargos de comissão e não gozam de estabilidade.
to constitucional, mais especificamente os incisos XI e XII,
do art. 21, que passa a prever a possibilidade de o Estado Assim, os dirigentes das agências têm maior proteção
explorar, diretamente ou mediante outorga, os serviços contra o desligamento forçado, promovendo maior
de telecomunicações, de radiofusão sonora e de sons e segurança no exercício de seu cargo.
imagens. É com base nesse novo Texto Constitucional que Todavia, esses mesmos dirigentes possuem um man-
temos a criação da Agência Nacional de Telecomunica- dato fixo, pois seus cargos não são vitalícios. A existên-
ções, a ANATEL. Observe o texto constitucional: cia de mandato fixo garante, também, maior segurança
jurídica, visto que a sua ocupação naquela posição pri-
Art. 21 (CF, de 1988) Compete à União vilegiada tem prazo determinado para se encerrar. A
[...] duração dos mandatos pode variar a depender de cada
XI - explorar, diretamente ou mediante autoriza- agência, podendo ser de 3, 4 ou até 5 anos.
ção, concessão ou permissão, os serviços de tele-
comunicações, nos termos da lei, que disporá sobre CLASSIFICAÇÃO DAS AGÊNCIAS REGULADORAS
a organização dos serviços, a criação de um órgão
regulador e outros aspectos institucionais;
Existem diversos tipos de agências reguladoras ope-
XII - explorar, diretamente ou mediante autoriza-
ção, concessão ou permissão: rando no Brasil. Por isso, é imprescindível que você sai-
a) os serviços de radiodifusão sonora e de sons e ba, ao menos, as principais agências, estando divididas
imagens; [...] em uma classificação com base nos seguintes critérios:

Há, também, a Emenda Constitucional nº 9, de z Quanto à sua origem


1995, que prevê a possibilidade de a União celebrar
contratos com pessoas jurídicas de direito privado de „ Agências federais são aquelas que atuam em
seu controle (empresas públicas e sociedades de eco- todo o território nacional, controladas pelo
nomia mista), bem como as empresas pertencentes Poder Executivo Federal. São agências regula-
à iniciativa privada, para a realização de atividades doras federais: a ANEEL (energia elétrica), a
referentes à pesquisa, refinação e transporte de petró-
ANATEL (telecomunicações), a ANP (petróleo,
leo. Observe o “novo” texto dos §§ 1º e 2º, do art. 177:
gás natural e biocombustível), a ANVISA (Saú-
de), a ANS (saúde privada), a ANCINE (cinema e
Art. 177 (CF/88) Constituem monopólio da União:
teatro), a ANAC (aviação civil), a ANA (águas), a
I - a pesquisa e a lavra das jazidas de petróleo e gás
ANTAQ (transporte aquaviário) etc.;
natural e outros hidrocarbonetos fluidos;
„ Agências estaduais, sendo controladas pelo
II - a refinação do petróleo nacional ou estrangeiro;
III - a importação e exportação dos produtos e deri- Poder Executivo dos Estados;
vados básicos resultantes das atividades previstas „ Agências municipais, sendo controlada pelos
nos incisos anteriores; governos dos Municípios;
IV - o transporte marítimo do petróleo bruto de ori- „ Agências distritais, que atuam apenas dentro
gem nacional ou de derivados básicos de petróleo do Distrito Federal.
produzidos no País, bem assim o transporte, por
meio de conduto, de petróleo bruto, seus derivados z Quanto à especialização setorial
e gás natural de qualquer origem;
V - a pesquisa, a lavra, o enriquecimento, o repro- „ Agências unissetoriais: são agências meno-
cessamento, a industrialização e o comércio de res, que apresentam apenas um setor capaz de
minérios e minerais nucleares e seus derivados, exercer todo o controle e fiscalização do bem
com exceção dos radioisótopos cuja produção, jurídico;
comercialização e utilização poderão ser autoriza- „ Agências multissetoriais: são mais comuns
das sob regime de permissão, conforme as alíneas nos Estados; geralmente são agências regula-
b e c do inciso XXIII do caput do art. 21 desta Cons- doras de todos os serviços públicos concedidos
tituição Federal.
para empresas e demais pessoas jurídicas da
§ 1º A União poderá contratar com empresas esta-
esfera privada.
tais ou privadas a realização das atividades pre-
vistas nos incisos I a IV deste artigo observadas as
condições estabelecidas em lei. z Quanto à autonomia organizacional
§ 2º A lei a que se refere o § 1º disporá sobre:
I - a garantia do fornecimento dos derivados de „ Agências autônomas: são agências que apre-
petróleo em todo o território nacional; sentam maior autonomia entre as demais ante o
II - as condições de contratação; fato de elas poderem editar o próprio Regimento
III - a estrutura e atribuições do órgão regulador do Interno. É o caso, por exemplo, da ANATEL;
monopólio da União; „ Agências dependentes: como o próprio nome
aduz, são agências com menor grau de autono-
Ao dispor que as agências reguladoras são autar- mia; não possuem competência para editar as
quias sob regime especial, significa que são pessoas regras de seu Regimento Interno, pois tal con-
jurídicas de direito público, tal qual as demais autar- junto de regras é emitido não pela própria agên-
quias, mas com alguns aspectos especiais que as dis- cia, mas pela Administração Central da qual a
142 tinguem das demais entidades autárquicas. agência sofre controle. É o caso da ANEEL.
Podemos mencionar, como exemplos de agências
Importante! executivas, a Agência Nacional do Desenvolvimento do
Uma maior autonomia não significa total inde- Amazonas (ADA), o Instituto Nacional de Metrologia, Nor-
pendência. A agência reguladora autônoma, matização e Qualidade Industrial (Inmetro) e a Agência
Nacional do Desenvolvimento do Nordeste (ADENE).
ainda assim, subordina-se à entidade da Admi-
Vale destacar que a atribuição de qualificação
nistração Pública direta que a criou (União, Esta- de agência executiva geralmente é concedida por
dos, Municípios, Distrito Federal). Em outras ato proferido pelo Presidente da República, com
palavras, a agência autônoma ainda sofre con- anuência do Ministério da Administração Federal
trole finalístico da Administração Centralizada. e Reforma do Estado. É isso o que dispõe o art. 51,
da Lei nº 9.649, de 1998, apontando também o preen-
chimento de alguns requisitos que a autarquia ou
z Quanto à atividade preponderante fundação deve possuir para ter concedida a referida
qualificação. Observe o texto legal:
„ Agências de serviço: são as agências regulado-
ras que exercem as funções típicas de serviço Art. 51 O Poder Executivo poderá qualificar como
público (universalização do serviço para aten- Agência Executiva a autarquia ou fundação que
der múltiplas pessoas, cobrança de tarifas, fis- tenha cumprido os seguintes requisitos:
calização do contrato de concessão etc.); I - ter um plano estratégico de reestruturação e de
„ Agências reguladoras da exploração de desenvolvimento institucional em andamento;
II - ter celebrado Contrato de Gestão com o respec-
monopólios públicos: o petróleo é um bem de
tivo Ministério supervisor.
monopólio da União, porém, ante o fato de o § 1o A qualificação como Agência Executiva será fei-
governo poder delegar algumas atividades liga- ta em ato do Presidente da República.
das à exploração desse recurso, é necessária a § 2o O Poder Executivo editará medidas de organi-
fiscalização dessas atividades pela ANAP; zação administrativa específicas para as Agências
„ Agências reguladoras da exploração de bens Executivas, visando assegurar a sua autonomia de
públicos. É o caso da ANA, que regula as ativi- gestão, bem como a disponibilidade de recursos orça-
dades ligadas à distribuição nacional de água mentários e financeiros para o cumprimento dos
objetivos e metas definidos nos Contratos de Gestão.
– considerada um bem público.

AGÊNCIAS EXECUTIVAS, CONSÓRCIOS E Consórcios e Convênios


CONVÊNIOS PÚBLICOS
Apesar de serem qualificações distintas, podemos
Para o cumprimento das funções administrati- analisar ambos de forma conjunta. Os consórcios e
vas, vimos que a Administração Pública conta com a convênios possuem previsão constitucional, mais
delegação de serviços públicos para a esfera privada, especificamente no art. 241, da CF, de 1988. Observe:

NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO


como também a criação de agências reguladoras para
Art. 241 A União, os Estados, o Distrito Federal e os
fiscalizar essa outorga. Porém, como uma forma de
Municípios disciplinarão por meio de lei os consór-
facilitar a consecução de tarefas correlatas, é impres- cios públicos e os convênios de cooperação entre os
cindível que o Poder Público possa realizar acordos entes federados, autorizando a gestão associada de
e parcerias, principalmente entre os próprios órgãos serviços públicos, bem como a transferência total
e entidades. Aqui, vamos trabalhar bastante com a ou parcial de encargos, serviços, pessoal e bens
noção de gestão parceira. essenciais à continuidade dos serviços transferidos.
Significa dizer que algumas entidades da Admi-
nistração Pública, a depender de com quem ela entra Assim, podemos definir os consórcios e os convê-
em acordo, mediante a elaboração de um contrato, ela nios públicos como uma forma de gestão associada
passa a apresentar um título, uma qualificação extra entre os diversos entes do Estado, com o objetivo de
que altera a sua nomenclatura e, consequentemente, alcançar uma finalidade em comum. Essa finalidade
o seu regime jurídico. É o caso das agências executi- comum pode ser qualquer tipo de empreitada, como,
vas, dos consórcios públicos e dos convênios públicos, por exemplo, a execução de um serviço público que
abrange mais de um Município ou mais de um Estado.
os quais serão vistos em maiores detalhes adiante.
Suponha que o Estado de São Paulo esteja com dificul-
dades para fornecer água para um Município de pequeno
Das Agências Executivas
porte, localizado entre a divisa territorial com o Estado
do Rio de Janeiro. Assim, os Estados envolvidos (SP e RJ)
Apesar de semelhanças no nome, as agências exe- podem criar um ente próprio, com personalidade jurídi-
cutivas não são uma espécie de agência reguladora, ca de direito público ou de direito privado, encarregada
mas uma qualificação extra delas. São, isso sim, autar- de garantir uma melhor gestão dos recursos necessários
quias e fundações que celebram contratos de gestão para a distribuição de água para o referido Município. Essa
com o órgão ao qual se encontram vinculadas. Esse “nova pessoa jurídica” é o consórcio público.
órgão é, geralmente, o seu Ministério supervisor. A principal diferença entre consórcio e o con-
Essas agências executivas têm sua origem no direi- vênio público diz respeito aos seus participantes.
to americano, sendo denominadas, nesse território, Nos consórcios, os entes participantes da empreitada
como independent regulatory agencies. O objetivo final em comum devem ser sempre da mesma espécie. Isso
das agências executivas não é, portanto, a fiscalização significa, por exemplo, que a União só pode fazer con-
da delegação do serviço público e, sim, garantir maior sórcio com os demais entes da Administração Pública
eficiência e redução de custos com o órgão governa- Direta, com os Estados, Municípios e Distrito Federal.
mental o qual cumpre o contrato de gestão. As autarquias só podem realizar consórcios com outras 143
autarquias, ou fundações. Já no caso dos convênios, z Promover desapropriações e instituir servidões,
essa limitação é inexistente: a União pode celebrar con- sem a necessidade de requerer do ente parceiro
vênios com as autarquias e fundações e vice-versa. (inciso II, § 1º, do Art. 2º);
z Poder contratar diretamente com os demais entes
da Federação, declarada a dispensa de licitação
Importante! (inciso III, § 1º, do Art. 2º);
z Quando for necessário o procedimento licitatório,
� Consórcio Público: somente entes federais da os valores limites do consórcio/convênio serão
mesma espécie; maiores do que os valores limites para os demais
� Convênio Público: pode mesclar os entes fede- competidores (§ 8º, Art. 23, Lei nº 8.666, de 1993).
rais da Administração Direta com a Indireta.
Por mais que haja uma Nova Lei de Licitações
(Lei nº 14.133, de 2021), a Lei nº 8.666, de 1993, ainda
Vale destacar que os consórcios se encontram dis- continua em vigor, pois ficou decidido que a lei mais
postos em legislação infraconstitucional, sobretudo antiga, mesmo após a publicação da Nova Lei de Lici-
na Lei nº 11.107/2005, conhecida também como a Lei tações, deve continuar vigorando por mais dois anos.
Geral de Contratação de Consórcios Públicos. Todavia, a vantagem prevista no § 8º, art. 23, da Lei
De conteúdo relevante, temos o texto do art. 6º, da nº 8.666/1993 não se encontra prevista na legislação
referida Lei nº 11.107, de 2005, que dispõe sobre as dife- mais atual.
rentes espécies de consórcios. Observe o texto legal: Por fim, vejamos quais são os principais tipos de
contratos que são utilizados pelos consórcios e convê-
Art. 6º O consórcio público adquirirá personalida- nios públicos. São apenas dois: o contrato de rateio e
de jurídica: os programas de convênios de cooperação.
I – de direito público, no caso de constituir associa- O contrato de rateio é o acordo firmado entre
ção pública, mediante a vigência das leis de ratifica- as entidades federativas consorciadas para entregar
ção do protocolo de intenções; recursos ao consórcio previstos na lei orçamentária
II – de direito privado, mediante o atendimento dos de cada consorciado. O ente consorciado que não
requisitos da legislação civil. cumprir com as regras do contrato de rateio está sujei-
§ 1º O consórcio público com personalidade jurídi- to a ser excluído da referida parceria. O contrato de
ca de direito público integra a administração indi- rateio está previsto no art. 8º da Lei nº 11.107, de 2005:
reta de todos os entes da Federação consorciados.
§ 2º O consórcio público, com personalidade jurídica Art. 8º Os entes consorciados somente entregarão
de direito público ou privado, observará as normas recursos ao consórcio público mediante contrato
de direito público no que concerne à realização de de rateio.
licitação, à celebração de contratos, à prestação de § 1º O contrato de rateio será formalizado em cada
contas e à admissão de pessoal, que será regido pela exercício financeiro, e seu prazo de vigência não
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada será superior ao das dotações que o suportam, com
pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. exceção dos contratos que tenham por objeto exclu-
sivamente projetos consistentes em programas e
Pela leitura do referido dispositivo, percebe-se que ações contemplados em plano plurianual.
o consórcio público pode assumir duas formas. Como § 2º É vedada a aplicação dos recursos entregues
pessoa jurídica de direito público, o consórcio assume por meio de contrato de rateio para o atendimento
a forma de associação pública, integrando a Admi- de despesas genéricas, inclusive transferências ou
nistração Pública indireta de não apenas um, mas de operações de crédito.
§ 3º Os entes consorciados, isolados ou em con-
todos os entes federativos participantes do consórcio.
junto, bem como o consórcio público, são par-
Já o consórcio que possui personalidade jurídica de
tes legítimas para exigir o cumprimento das
direito privado assume a forma de associação civil. obrigações previstas no contrato de rateio.
Nesse caso, mesmo não integrando a Administração § 4º Com o objetivo de permitir o atendimento dos
Pública, essas associações, ainda assim, devem obede- dispositivos da Lei Complementar nº 101, de 4 de
cer a algumas regras típicas de direito público, como maio de 2000, o consórcio público deve fornecer as
a exigência de realização de licitação e a obrigação de informações necessárias para que sejam consoli-
prestar contas com os entes federativos do consórcio. dadas, nas contas dos entes consorciados, todas as
A admissão de pessoal é feita mediante regime celetis- despesas realizadas com os recursos entregues em
ta, o que significa que esses consórcios somente podem virtude de contrato de rateio, de forma que possam
criar empregos públicos. Não se pode, portanto, abrir ser contabilizadas nas contas de cada ente da Fede-
concurso público para a ocupação de cargos públicos. ração na conformidade dos elementos econômicos
e das atividades ou projetos atendidos.
Existem alguns privilégios conferidos aos consór-
§ 5º Poderá ser excluído do consórcio público,
cios e aos convênios, que facilitam a consecução de após prévia suspensão, o ente consorciado que não
seus objetivos. Esses privilégios estão dispostos de consignar, em sua lei orçamentária ou em créditos
forma esparsa tanto na referida Lei de Consórcios adicionais, as dotações suficientes para suportar as
Públicos, como na Lei de Licitações e Contratos Admi- despesas assumidas por meio de contrato de rateio.
nistrativos. Vejamos as principais vantagens:
Outro instrumento de grande importância para esses
z Firmar acordos de qualquer natureza, bem como entes é o programa de cooperação. É o pacto realiza-
receber auxílios, contribuições e subvenções sociais do entre uma entidade consorciada com outra, ou entre
ou econômicas de outras entidades e órgãos do ela e o próprio consórcio, em que serão dispostas diver-
144 governo (inciso I, § 1º, do Art. 2º); sas obrigações a serem cumpridas no âmbito da gestão
associada. Essas obrigações podem envolver, por exem- Conforme se depreende da leitura do referido
plo, a prestação de um serviço público, ou a transferência dispositivo, a utilização dos contratos de programa
de encargos, serviços, pessoal ou de bens como uma for- não possui grandes limitações, podendo ser utilizado
ma de garantir a continuidade dos serviços transferidos. pelas pessoas jurídicas tanto de direito público como
Apesar da nomenclatura, o programa de cooperação
de direito privado. A ideia é que a cooperação deve ser
pode ser considerado um instrumento contratual, sendo
utilizada apenas para dividir encargos e obrigações
também denominado de contrato de programa. É o art.
13 que dispõe, mais detalhadamente, acerca do progra- capazes de ensejar algum prejuízo financeiro para os
ma de cooperação. Vejamos (Lei nº 11.107, de 2005): entes consorciados.

Art. 13 Deverão ser constituídas e reguladas por


contrato de programa, como condição de sua vali-
dade, as obrigações que um ente da Federação cons-
tituir para com outro ente da Federação ou para
GESTÃO DE PROCESSOS
com consórcio público no âmbito de gestão associa-
da em que haja a prestação de serviços públicos ou CONCEITOS INICIAIS
a transferência total ou parcial de encargos, servi-
ços, pessoal ou de bens necessários à continuidade Para quem não é da área de Administração ou ini-
dos serviços transferidos. ciou os estudos há pouco tempo, ao se deparar com
§ 1º O contrato de programa deverá: o tópico de gestão de processos, logo vem à cabeça a
I – atender à legislação de concessões e permissões gestão de processos judiciais. Vamos desmitificar essa
de serviços públicos e, especialmente no que se refe- primeira impressão e demonstrar que a gestão de pro-
re ao cálculo de tarifas e de outros preços públicos,
cessos nada se assemelha com os processos judiciais.
à de regulação dos serviços a serem prestados; e
II – prever procedimentos que garantam a trans- Atualmente, todas as organizações, privadas ou
parência da gestão econômica e financeira de cada públicas, podem ser vistas como um conjunto de pro-
serviço em relação a cada um de seus titulares. cessos. A gestão de processos tornou-se uma filoso-
§ 2º No caso de a gestão associada originar a trans- fia de gestão organizacional neste novo século. Esse
ferência total ou parcial de encargos, serviços, modelo de gestão tem como objetivo descobrir o que é
pessoal e bens essenciais à continuidade dos ser- feito pela organização, de modo a desenvolver formas
viços transferidos, o contrato de programa, sob pena
de otimização das atividades. Os modelos de gestão
de nulidade, deverá conter cláusulas que estabeleçam:
I – os encargos transferidos e a responsabilidade são aplicados diretamente na operação.
subsidiária da entidade que os transferiu; A fim de compreender melhor o que é gestão de proces-
II – as penalidades no caso de inadimplência em sos, primeiramente, vamos entender o que é um processo.
relação aos encargos transferidos; De acordo com Hammer e Champy (1993), “proces-
III – o momento de transferência dos serviços e os so é um grupo de atividades realizadas numa sequência

NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO


deveres relativos a sua continuidade; lógica com o objetivo de produzir um bem ou um servi-
IV – a indicação de quem arcará com o ônus e os
ço que tem valor para um grupo específico de clientes”.
passivos do pessoal transferido;
Nesse sentido, para os mesmos autores, os clientes não
V – a identificação dos bens que terão apenas a sua
gestão e administração transferidas e o preço dos estão preocupados e/ou interessados em saber como a
que sejam efetivamente alienados ao contratado; organização está estruturada, mas sim nos resultados
VI – o procedimento para o levantamento, cadastro dos produtos ou serviços oriundos dos processos.
e avaliação dos bens reversíveis que vierem a ser Na figura abaixo, temos os elementos dos proces-
amortizados mediante receitas de tarifas ou outras sos organizacionais e sua sequência:
emergentes da prestação dos serviços.
§ 3º É nula a cláusula de contrato de progra- Processamento
ma que atribuir ao contratado o exercício dos (Throughput)
poderes de planejamento, regulação e fiscali-
zação dos serviços por ele próprio prestados. Atividades e tarefas
§ 4º O contrato de programa continuará vigente
mesmo quando extinto o consórcio público ou o
convênio de cooperação que autorizou a gestão Entrada Saída
associada de serviços públicos. (Input) (Output)
§ 5º Mediante previsão do contrato de consórcio ✓ Transformação
público, ou de convênio de cooperação, o contrato ✓ Insumos ✓ Produtos
✓ Informação ✓ Agregação de ✓ Serviços
de programa poderá ser celebrado por entida- valor
✓ Energia
des de direito público ou privado que integrem
a administração indireta de qualquer dos entes
Retroação (Feedback)
da Federação consorciados ou conveniados.
§ 6º (REVOGADO).
§ 7º Excluem-se do previsto no caput deste artigo Entrada
as obrigações cujo descumprimento não acarrete
qualquer ônus, inclusive financeiro, a ente da Fede- É todo e qualquer recurso que alimenta o sistema
ração ou a consórcio público.
e que provém do meio ambiente. São basicamente os
§ 8º Os contratos de prestação de serviços públicos
de saneamento básico deverão observar o art. 175 insumos que o sistema obtém do meio ambiente para
da Constituição Federal, vedada a formalização de poder funcionar.
novos contratos de programa para esse fim. Ex.: Matérias-primas, informação e energia. 145
Processador Insumo Processamento Produto final Satisfação
cliente
É o próprio funcionamento interno do sistema. No
processamento é onde ocorre a transformação sobre
as entradas para proporcionar as saídas. É no proces-
sador que encontramos os diversos subsistemas tra- Uva Vinho
balhando com relações de interdependência. Meios de Resultado
Ex.: Recursos tecnológicos, equipamentos, méto- produção pretendido
dos de gestão e organização do trabalho.
Na figura acima, inicia-se com a entrada (uva -
Saídas
insumo), perpassa pela transformação (agrega valor),
saída (vinho – produto final) e alcança o objetivo prin-
Representa os produtos e/ou serviços que saem do cipal (satisfação do cliente).
sistema para o ambiente, ou seja, tudo que é produzido Assim, podemos sintetizar o conceito de gestão de
pela organização como resultado de seu processamento. processos como sendo a metodologia na qual possibilita
Ex.: Produto acabado, serviço prestado, lucro das a estruturação da sequência de trabalhos com o intuito
operações, tributos pagos ao governo. de simplificar as atividades, facilitar a análise e sobretu-
do melhorar os processos, como forma de promover a
Retroação permanente busca da melhoria de desempenho.

Também chamado de realimentação, é um meca- TIPOS DE PROCESSOS


nismo de equilíbrio do sistema, com o objetivo de
regular e ajustar o bom funcionamento. Na prática, As empresas, com intuito de refinar sua gestão, clas-
é o pós-venda do produto e/ou serviço, captando as sificam os processos de acordo com seu resultado. Dessa
informações (positivas e/ou negativas) e realimentan- maneira, é possível alocar os recursos necessários e prio-
do as entradas do sistema para correição. rizar os processos que agregam valor ao produto final.
Dessa maneira as organizações funcionam como Portanto, em termos de capacidade de geração de
sistemas abertos, recebendo do ambiente os recursos valor, os processos podem ser assim classificados:
necessários, processando-os em seus subsistemas e
devolvendo-os ao ambiente em forma de produtos e Processos Primários
serviços para o consumidor final.
São aqueles que entregam algum bem ou serviço ao
cliente final, representam as atividades essenciais que
a organização executa no cumprimento de sua missão.
Importante!
Normalmente, são processos interfuncionais ou
As atividades e tarefas estão concentradas no interorganizacionais, fornecendo uma visão completa
“Processamento” (Throughput). de ponta a ponta e que no final transformam os recur-
sos em serviços ou produtos para o consumidor final.
Nesse aspecto, seu modelo de serviço é orientado ao
Traduzindo o conceito para o nosso cotidiano: é cliente com uma visão outside in (necessidades do
quando você resolve fazer um almoço de domingo cliente para organização, ou seja, de fora para dentro).
para a sua família! As entradas são os insumos (maté- Como exemplo, podemos citar a entrega de um veícu-
ria-prima) do seu prato, nesse exemplo: o macarrão, o lo (produto final) da montadora para o consumidor final.
molho de tomate, a carne moída, queijo ralado. Com Para fixar lembre-se que os processos primários
os ingredientes em mãos, é hora da transformação também são chamados de processos finalísticos, ou
(agregar valor): é a preparação, conforme a receita da ainda, processos chaves, processos essenciais, pro-
cessos principais e processos básicos.
“Nona”: cozinhar o macarrão, ralar o queijo, refogar
a cebola, temperar, etc. Como resultado (saída do pro-
Processos de Suporte
cesso), temos uma bela macarronada para servir!!!
Mas não para por aí! Após todos se deliciarem com a
São os processos internos indispensáveis para
macarronada, chegou a hora da verdade: o momento
que os processos primários possam ser executados,
de receber as críticas e elogios (feedback)! No próxi-
ou seja, auxiliam à execução dos processos primários
mo domingo, com essas informações, será possível contribuindo para o sucesso da organização.
melhorar seu banquete! Em regra, não geram valor direto para os clientes,
Percebemos que todas essas atividades (de prepa- e sim entregam valor para outros processos. Normal-
ro) não significam nada para quem vai se deliciar com mente, são associados às áreas funcionais da organi-
a macarronada. O que os seus familiares realmente zação, fornecendo e gerenciando recursos.
querem é a macarronada saborosa, quentinha e na Como exemplo, podemos citar os processos de
hora certa! Ou seja, o foco é nos desejos e necessida- recursos humanos em uma montadora.
des dos clientes (nesse caso, sua família). Os processos de suporte também são conhecidos
Diante do exposto, podemos afirmar que toda vez por processos secundários, ou ainda, processos meios,
que tivermos um conjunto de atividades sendo execu- processos auxiliares e processos de apoio.
tadas de forma integrada e organizada com o objetivo
de fornecer um serviço e/ou produto que satisfaça as Processos Gerenciais
necessidades do cliente, teremos um processo.
Para internalizar o conhecimento, vamos para São aqueles responsáveis por medir, monitorar e
mais um exemplo prático! Dessa vez, analisaremos o controlar as atividades. São ligados às estratégias e
146 processo simplificado de produção de vinho: utilizados na tomada de decisão, seu papel principal é
o de coordenar as atividades de apoio e as finalísticas. processo maior. Pode ser considerado um processo
Normalmente, são executados pela alta administra- dentro de outro processo maior;
ção da organização. z Atividade: é o conjunto de tarefas que descreve o
Como exemplo, podemos citar o planejamento passo a passo para a execução. A cada atividade
estratégico de uma montadora de veículos. executada, o processo deve agregar valor. A res-
Vale ressaltar que os processos gerenciais são ponsabilidade de execução da atividade pode ser
responsáveis pelas decisões no presente e elas irão atribuída a uma pessoa ou departamento;
impactar o futuro da organização. z Tarefa: é a menor divisão de trabalho no processo.
Sintetizamos os principais pontos dos tipos de pro- Pode ser uma parte específica da atividade ou uma
cessos: subdivisão de algum trabalho.

� Primários: atividades agregam valor para cliente. Dica


Ex.: Produção de bens e serviços.
A tarefa é sempre atribuída e executada por uma
� De suporte: fornecem condições necessárias aos
pessoa.
processos primários.
Ex.: Gestão de pessoas, compras.
Para facilitar o entendimento desta classificação,
� Gerenciais: ligados às diretrizes estratégicas. vamos ver como funciona na prática:
Ex.: Planejamento estratégico, Gestão da
Na figura abaixo, escalonamos o macroprocesso
informação.
de Recursos Humanos e qualidade de vida no traba-
lho em processos menores para facilitar e refinar a
Os processos acima mencionados também podem gestão, e ainda analisar possíveis gargalos.
ser analisados conforme os seus níveis de detalha-
mento, em forma de hierarquias.
✓ Política geral de Recursos Humanos e Qualidade de
É o nosso próximo assunto! Macroprocesso vida no trabalho

NÍVEIS DE DETALHAMENTO DOS PROCESSOS ✓ Recrutamento e Seleção de novos


Processo colaboradores
O nível de detalhamento de um processo é ineren-
te a análise de complexidade do processo. ✓ Divulgação das vagas
Subprocesso
Nesse sentido, quanto maior a complexidade de para o mercado
um processo, maior será a necessidade de dividi-lo em
partes menores (subprocessos, atividades, tarefas) e, Atividade
✓ Análise dos candidatos a
seleção
consequentemente, facilitar a gestão.
Normalmente, nas organizações baseadas em pro-
cessos, vão existir todos os tipos de processos: do mais ✓ Entrar em contato
Tarefa para marcar a entrevista

NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO


complexo até o mais simples. Dessa maneira, essa
classificação abaixo, em forma de hierarquia, é dema-
siadamente útil no tratamento das prioridades. Analisando a figura acima, percebemos que ao “des-
A divisão dos processos segue a seguinte lógica: cer” a escada da classificação dos processos, encontra-
mos processos mais claros e com melhor definição.
✓ Gera um Impacto considerável na organização Assim, no topo da escada encontra-se o macroprocesso
Macroprocesso e normalmente envolve + de uma área
(mais genérico) e no último degrau encontra-se a tarefa
(mais específica, realizada por uma pessoa).
✓ Atividades relacionadas e sequenciais: Como já estudamos, o objetivo principal de um
Processo entradas + transformação + saída processo é agregar valor ao cliente final. Com isso,
torna-se importante conhecer como podemos analisar
Subprocesso
✓ Processo inserido em um e melhorar cada processo, e essa análise é realizada
processo maior pelo estudo da cadeia de valor.

✓ Trabalhos executados nos


Atividade CADEIA DE VALOR
processos

✓ Menor elemento de um Desenvolvida por Michael Porter, a cadeia de valor


Tarefa processo: Subdivisão de é o conjunto de atividades primárias e secundárias
uma atividade.
que uma organização utiliza para entregar produtos
e serviços para seu consumidor final.
z Macroprocesso: normalmente, abrange mais de A cadeia de valor permite identificar os principais flu-
uma área da organização e compreende a visão xos de processos, sendo possível um exame das ativida-
geral dos processos. Em regra, é composto por des executadas e de como ocorrem a interação entre elas.
De acordo com Porter (1990):
diversos processos principais e de suporte;
z Processo: tem seu foco no atendimento das neces-
A cadeia de valores desagrega uma empresa nas suas
sidades do cliente final (interno e externo), é o con-
atividades de relevância estratégica para que se pos-
junto de atividade relacionadas e sequenciais em sa compreender o comportamento dos custos e as
que recebem entradas (insumos), agregam valor e fontes existentes e potenciais de diferenciação. Uma
transformam em produtos e/ou serviços finais; empresa ganha vantagem competitiva, executando
z Subprocesso: refere-se a uma parte específica de estas atividades estrategicamente importante de uma
um processo, auxiliando o alcance do objeto do forma mais barata ou melhor do que a concorrência. 147
Nesse sentido, a atuação na maximização da Para a compreensão do processo como um todo
cadeia de valores é essencial na diferenciação entre e a elaboração do fluxograma, o gestor pode utilizar
as organizações e seus processos, estabelecendo assim diversas técnicas, tais como:
a tão aguardada vantagem competitiva.
Desse modo, cada uma dessas atividades deve, ao z entrevistas e reuniões;
final, entregar (agregar) valor aos processos da orga- z observação das atividades in loco;
nização. Quanto maior o valor agregado entregue, z análise da documentação;
maior será a competitividade da empresa. z coleta de dados e evidências.
Na figura abaixo, adaptada de Porter, percebemos
a interdependência entre as atividades de apoio com O mapeamento por meio do fluxograma deve con-
as atividades primárias, tendo como resultado “as ter a essência do processo, demonstrando como os
margens” (valor agregado ofertado ao cliente, ou seja, elementos se relacionam, as entradas e saídas, quem
o lucro esperado). executa as atividades, os pontos de decisão e os atores
envolvidos (fornecedores, clientes).
Com o mapeamento em mãos, o próximo passo é
Atividades de Apoio

Infraestrutura
análise do processo!
Gestão de Recursos Humanos A análise do processo visa entender o estado atual do
Desenvolvimento Tecnológico processo e suas atividades (análise AS-IS, ou em portu-

Margens
guês, “como está”) e mensurar quais pontos estão benefi-
Aquisição e Compras ciando e/ou atrasando o alcance dos objetivos do negócio.
Essa análise do processo atual permite iniciar a
Marketing e
definição do desenho do novo processo, adotando o
Logística Operações Serviços
vendas que está funcionando e eliminando as rupturas que
interferem no desempenho do processo.
Atividades Primárias De acordo com o BPM CBOK V3.0 – Business Pro-
cess Management / Common Body of Knowledge Ver-
são 3.0, ou em português, Guia para Gerenciamento
A utilização da metodologia da cadeia de valor de Processos de Negócio (considerado a “bíblia” para
possibilita à organização a melhora da análise sobre a gestão de processos), a informação gerada a partir
seus processos, alcançando as seguintes vantagens: da análise de processos inclui:

z possibilidade de verificar os valores agregados em z Uma compreensão da estratégia, metas e objetivos


cada um dos seus processos; da organização;
z a importância das atividades de apoio na execução z O ambiente de negócio e o contexto do processo
das atividades primárias; (porque o processo existe);
z a integração dos objetivos da estratégia organiza- z Uma visão do processo na perspectiva interfuncional;
cional nos processos de execução operacional. z As entradas e saídas do processo, incluindo forne-
cedores e clientes;
Chegou o momento de entender o passo a passo de z Os papéis e handoffs de cada área funcional no
como colocar em prática a gestão de processos! processo;
z Uma avaliação da escalabilidade, utilização e qua-
MAPEAMENTO, ANÁLISE E MELHORIA DE
lificação de recursos;
PROCESSOS
z Uma compreensão das regras de negócio que con-
trolam o processo;
Adentramos agora no trabalho propriamente dito:
z Métricas de desempenho que podem ser usadas
implantar uma gestão de processos na organização.
para monitorar o processo;
Para que seja possível a melhoria do processo, o
z Resumo das oportunidades identificadas para
primeiro passo é conhecê-lo!
aumentar a eficiência e a eficácia.
Dessa maneira, precisamos entender como é o fluxo
de trabalho de cada processo e sua interrelação entre os
setores e pessoas envolvidas, para que possamos decidir Tenha atenção ao conteúdo que se segue. Um con-
em que pontos e quais decisões necessitam ser tomadas. ceito crucial na análise do processo, e também bas-
Esse é o trabalho do mapeamento dos processos, tante explorado pelos examinadores, é o do Handoff.
outra coisa não é, do que visualizar e entender os cami- O Handfoff é qualquer ponto em um processo em que
nhos do processo de trabalho e seus pontos críticos. o trabalho ou informação passa de uma função para
Assim, o mapeamento é responsável pela descri- outra. Essa transferência pode resultar em descone-
ção bem detalhada das atividades e tarefas, contendo xões, atrasos, gargalos, ineficiência, rupturas e, em
seus inter-relacionamentos de forma a retratar todo o razão disso, deve ser analisada com cuidado.
ambiente organizacional. Em regra, quanto menor for o número de Hand-
O mapeamento de processo é uma representação soff, menor será a vulnerabilidade do processo.
gráfica que provê uma perspectiva ponta a ponta dos Simplificando o conceito: handoff pode ser enten-
processos finalísticos, de suporte ou de gerenciamento. dido como a passagem de uma atividade para a próxi-
Para realizar o trabalho de mapeamento do pro- ma atividade, nesse ponto, é onde ocorrem os atrasos
cesso, normalmente, é utilizada a ferramenta chama- e as desconexões, devido à falta de comunicação entre
da de fluxograma (desenho gráfico do processo que as equipes envolvidas.
148 demonstra o fluxo das atividades e tarefas).
Na figura abaixo, temos uma representação gráfi- GESTÃO DE PROCESSOS E OS CUSTOS
ca do handoff:
Evento de A importância do custo como fator de competitivi-
iniciação dade coloca a gestão de processos na lista das priori-
Atividade dades da administração da organização.
1 Essa competitividade, utilizando a gestão de proces-
Ponto de sos, pode ser obtida com a eliminação de desperdícios,
handoff
passagem entre
racionalização do trabalho e reengenharia de processos.
as atividades
Atividade
2
handoff
✓ Eliminação de desperdícios
Gestão de
Atividade 3 ✓ Racionalização do trabalho
Processos
✓ Reengenharia de processos
Saída do
processo
Com os processos mapeados (detalhados) e anali-
sados (estudados), é o momento de desenhar o novo
Eliminação de Desperdícios
processo, propondo melhorias na sua execução.
É importante lembrar que a análise de processos é Eliminar desperdícios significa otimizar os processos,
a base para o desenho de processos.
com isso, reduzindo ao mínimo a atividade que não agre-
O intuito do desenho de processos é a transforma-
ção da situação atual em um novo processo contendo ga valor ao produto ou serviço. Nesse sentido, a agregação
todos os pontos que podem ser melhorados, eliminan- de valor é a contrapartida da eliminação de desperdícios.
do as atividades e tarefas que não agregam valor.
Nesse sentido, é o redesenho do processo original Agregação de Valor Desperdício
com as possíveis melhorias propostas a partir da aná-
Atividade que
lise do processo. Atividade que consome
Para o sucesso no desenho do novo processo, é fun- transforma recursos
para atender a recursos, mas não
damental por parte do gestor a atenção nas seguintes agrega valor ao produto
atividades: necessidade de
clientes
z desenhar o novo processo nos diversos níveis de
detalhe;
z identificar o fluxo de trabalho futuro com as defi- O desperdício ocorre quando são utilizados mais
nições das novas atividades; recursos do que os necessários para realizar um objetivo,

NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO


z minimizar os efeitos do handoff; consumem-se recursos em atividades que não agregam
z definir indicadores e métricas; valor e quando objetivos desnecessários são realizados.
z realizar simulações e testes; Com a eliminação total dos desperdícios, o que res-
z elaborar um plano de implementação.
ta são as atividades que agregam valor ao produto ou
serviço, consequentemente diminuindo os custos de
Esse novo processo a ser implementado é chamado
de TO-BE ou seja, a visão do processo futuro. É nesse produção, sem que a qualidade seja comprometida.
momento que o estado desejado é desenvolvido, seja Como resultado, a eliminação de desperdícios
para um redesenho de processo ou para o desenvolvi- diminui os custos de produção, sem que o valor do
mento de um novo processo. produto para o cliente fique comprometido.
Portanto, a análise AS-IS é a visão do processo no
momento atual. Já a análise TO-BE, é a visão do proces- Racionalização do Trabalho
so futuro com as melhorias a serem implementadas.
A racionalização do trabalho é uma técnica essen-
AS - IS TO - BE cial na busca da melhoria contínua dos processos,
consiste na maximização da eficiência por meio da
simplificação dos movimentos e minimização do tem-
po necessário para realizar a tarefa.
As atividades de racionalização do trabalho são rea-
"Como está" melhorias "Como vai ser"
lizadas por meio de um procedimento com 3 passos:

Para facilitar o entendimento, na figura abaixo, sin- z Uma tarefa é observada e estudada crítica e sis-
tetizamos o caminho a ser percorrido para a implan- tematicamente, para permitir a identificação de
tação da melhoria dos processos de uma organização: aprimoramentos necessários;
z Com base na análise crítica, entendimento de sua
Mapeamento Análise Desenho lógica e eventual comparação com outras formas
mais eficientes de fazê-la, desenvolve-se uma
alternativa mais racional e eficiente;
Detalhar Propor
z A alternativa mais eficiente é implantada, por meio
Identificar os
atividades e melhorias da alteração dos movimentos e eventualmente da
pontos críticos
tarefas atuais
substituição de máquinas e equipamentos. 149
REENGENHARIA DE PROCESSOS O BPM (em português: gestão de processos de negó-
cio) é considerado a maior inovação gerencial deste
Enquanto a racionalização do trabalho e a elimi- século, possibilitando otimizar a tecnologia em benefício
nação de desperdícios procuram melhorar continua- de um modelo gerencial amplo e apto para preparar as
mente um processo existente, a fim de aumentar sua organizações no enfrentamento das inúmeras mudan-
eficiência, a reengenharia de processos procura criar ças no ambiente atual, de forma inteligente e eficaz.
um processo totalmente novo e mais eficiente, com o De acordo com Tadeu Cruz (2008), o BPM “é o con-
uso inteligente da tecnologia da informação. junto formado por metodologias e tecnologias cujo obje-
A ideia é a reinvenção da empresa. tivo é possibilitar que processos de negócios integrem.
A reengenharia de processos é um redesenho radi- Lógica e cronologicamente, clientes, fornecedores, par-
ceiros, influenciadores, funcionários e todo e qualquer
cal com o intuito de implantar mudanças drásticas no
elemento com que possam, queiram ou tenham que
modo de se fazerem as coisas dentro dos processos interagir, dando à organização visão completa e essen-
organizacionais. cialmente integrada do ambiente interno e externo das
Essa visão de reestruturação radical dos proces- suas operações e das atuações de cada participante em
sos foi proposta pelos autores Hammer e Champy na todos os processos de negócios”.
década de 1990, como uma forma de responder às Sintetizando o conceito, de uma maneira mais
intensas mudanças ocorridas nos cenários econômi- simples e direta: O BPM é capaz de interligar todos os
cos, tecnológicos e culturais. processos principais e secundários, com todos os partici-
Partindo do pressuposto de que a maioria das pantes da cadeia, em prol dos objetivos organizacionais.
organizações criaram seus processos em décadas pas- Para a sua prova de concurso, é essencial (e sufi-
sadas, e assim seus fluxos de trabalho e normas foram ciente) conhecer as principais aplicações e facilidades
baseados em demandas e desafios que já não existem. que o BPM oferece na melhoria da gestão de proces-
Dessa maneira, a melhor ação para a busca da melho- sos, são elas:
ria dos processos é “começar do zero”, ou melhor, não
aproveitar nada do que está sendo feito, e sim dese- z Possibilidade de representar graficamente todos
nhar a partir do zero. os tipos de processos, fluxos e desvios;
Segundo os autores Hammer & Champy (1993), a z Facilidade na gestão de pessoas: definição clara
reengenharia é “o repensar fundamental e a reestru- dos responsáveis de cada atividade e tarefa;
turação radical dos processos empresariais que visam z Maximiza a eficiência e produtividade com a
alcançar drásticas melhorias em indicadores críticos padronização dos processos;
e contemporâneos de desempenho, tais como, custos z Integração entre a tecnologia da informação e
qualidade, atendimento e velocidade”. pessoas;
z Filosofia de gestão horizontal e flexível;
z Possibilita alcançar os objetivos organizacionais
Dica estratégicos com maior transparência.
A reengenharia é inerente ao princípio da folha
em branco, ou seja, inicia-se do zero como se Então, o BPM é um sistema de tecnologia da infor-
fosse a primeira escrita! mação (software)? A resposta é um sonoro não!
O BPM é uma filosofia de gestão de processos com
O ponto crucial não é a busca de melhorar o que já foco no negócio da empresa!
existe, e sim em indagar o que é feito, por que é feito, Para auxiliar a implantação dessa filosofia, surgi-
se é necessário, por quem é feito, para quem é feito. ram os BPMS (Business Process Management Systems)!
Nesse sentido, a reengenharia não busca consertar O BPMS é o sistema informatizado que dá suporte
nada! Busca melhorias radicais nos processos! para o gerenciamento de processos na organização.
Esse software dá suporte às atividades como mapea-
mento, modelagem, análise e aprimoramento dos
Mudanças Melhorias processos, integrando a gestão de informação aos pro-
Radicais Drásticas cessos de negócios.

BPM
Reengenharia ✓ Filosofia de Gestão
(Business Process ✓ Foco nos negócios
Management)
Fazer MAIS Começar do ZERO
com menos (Folha em branco)
BPM
✓ Software
A reengenharia é uma forma de intervenção estra- (Business Process ✓ Foco em Tecnologia da
tégica para adaptar as organizações às mudanças no Management Informação (T.I)
ambiente em que atuam, provocando fortes altera- Systems)
ções na sua estrutura.

SISTEMAS DE GESTÃO Na disciplina de gestão de processos, é possível


acertar um grande número de questões conhecen-
O principal modelo para implantar uma gestão de do as palavras-chave associada a cada conceito/defi-
processos em uma organização é a filosofia BPM (Busi- nição. Chamamos essa técnica de “palavras-chave
150 ness Process Management). associada”.
Segue abaixo, como essa técnica deve ser utilizada! Estudaremos, então, diversos conceitos de ferra-
Para facilitar sua memorização, na 1º coluna inserimos mentas estatística que podem auxiliar o administra-
“o conceito”, seguido da “palavra (s)-chave” na 2º coluna: dor a tomar a melhor decisão cotidianamente.
Para possibilitar uma melhor análise dos processos,
CONCEITO PALAVRA(S)-CHAVE é importante conhecermos os seguintes conceitos de
estatística:
Grupos de atividades/
Gestão de Processos
sequência lógica População e Amostra
Elementos de Gestão Entradas/Processamento/
de processos Saída/feedback População é o conjunto de todos os elementos
que possuem determinada característica. Por sua vez,
Processos Primários Entregam valor ao cliente amostra é qualquer subconjunto não vazio da popu-
lação (parte não nula da população).
Internos/auxiliam/áreas
Processos de suporte Vejamos como esse assunto é utilizado na prática!
funcionais
Em uma pesquisa de satisfação de um produto, o
Processos Gerenciais Estratégia Organizacional ideal seria que todos os compradores e usuários des-
te produto fossem consultados, mas isso é impossível,
Visão geral
Macroprocesso seja por não conhecer todos os usuários, seja pelo
(visto como um todo)
tempo que seria necessário para isso.
Atendem os desejos do Diante disto, as pesquisam baseiam-se em amos-
Processo
cliente tras, ou seja, uma parcela que seria representativa da
Processo dentro de um população total.
Subprocesso
processo

Atividade Execução População

Tarefa Parte específica da atividade

Mapeamento Detalhar as atividades

Análise Identificar os pontos críticos Amostra


Desenho Propor melhorias

Ponto de passagem entre


Handoff
as atividades

NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO


“como está” – momento
Análise AS-IS Neste exemplo, a população seria composta por
atual
todos os usuários, enquanto a amostra seriam os indi-
“como vai ser” – momento víduos entrevistados pela pesquisa quanto à sua satis-
Análise TO-BE
futuro fação do produto.
Mudança radical – folha em
Reegenharia Organização de Dados
branco

Na organização de dados temos:


NOÇÕES DE ESTATÍSTICA APLICADA AO
CONTROLE E À MELHORIA DE PROCESSOS
z F
requência e Representação Gráfica: para auxi-
Cada vez mais, a utilização das técnicas estatís- liar na análise de um processo organizacional, uma
ticas, destinadas à análise de situações complexas informação bastante útil é o de quantas vezes uma
ou não, tem aumentado e faz parte do cotidiano do variável aparece. Esse é o conceito de frequência,
administrador. ou seja, é o número de vezes em que uma variável
Neste sentido, a estatística é ferramenta essencial assume um determinado valor.
na análise e na melhoria dos processos organizacio-
nais, permitindo ao administrador obter informações Para facilitar o entendimento, vamos analisar um
por meio de uma análise baseada em dados e indica- exemplo hipotético de uma pesquisa sobre o número
dores de desempenho. de defeitos na produção de um automóvel:
Segundo os autores Magalhães e Lima, podemos
conceituar estatística como: “um conjunto de técnicas
que permite, de forma sistemática, organizar, descre- FREQUÊNCIA
DEFEITOS
ver, analisar e interpretar dados oriundos de estudos (N° DE DEFEITOS)
ou experimentos, realizados em qualquer área do
Defeitos nas Rodas 50
conhecimento”.
Assim, a palavra-chave da conceituação acima é “de Defeitos no Estofado 30
forma sistemática”, ou seja, faz com que o administra-
dor consiga tomar a melhor decisão baseado em fatos Defeitos no Chassi 20
estudados, afastando assim o famoso “achômetro” e opi-
Total 100
niões subjetivas. 151
A tabela apresentada é uma forma de representação
dos dados chamada de agrupamento simples, e está mos- Importante!
trando quantas vezes a variável “defeito” assume deter- Lembre-se do uso comum da palavra: o que está
minados valores, ou melhor, a frequência absoluta de na moda é o que se usa mais entre as pessoas.
cada um dos “defeitos” na montagem do automóvel; Simplificando: é o resultado mais frequente, o
que mais aparece.
z Frequência Absoluta X Frequência Relativa:
a frequência absoluta, como vimos, apresenta a
quantidade que uma variável aparece em um pro- Vamos a um exemplo prático: Imagine que estamos
cesso. Já a frequência relativa (ou proporção) leva analisando o tempo de produção, em horas, de um auto-
em conta o quanto cada valor assumido pelas móvel. Os resultados percebidos são: 3, 4, 4, 4, 5, 5, 6, 8
variáveis representa do total. Observe que o resultado que apareceu com maior
frequência é o de 4 horas, assim, essa seria a moda
desse rol de dados;
FREQUÊNCIA FREQUÊNCIA
DEFEITOS
(N° DE DEFEITOS) RELATIVA
„ Mediana: a mediana é uma medida de posição, na
Defeitos qual divide a sequência em 2 partes com a mes-
50 50/100= 50% ma quantidade de dados. Assim, simplificando, é o
nas Rodas
termo do meio de uma sequência de dados.
Defeitos no
30 30/100= 30%
Estofado Dessa maneira, se o rol analisado apontar 9 dados,
Defeitos no a mediana é o quinto elemento (posição central).
20 20/100= 20% Exemplo: em uma grande empresa, com 9 filiais,
Chassi
temos respectivamente no rol a seguir a representa-
Total 100 100/100= 100% ção dos números de funcionários: (40, 45, 50, 55, 70,
80, 80, 90, 110). Portanto, a mediana que representa o
Dessa maneira, a frequência relativa permite reali- rol acima é de 70 funcionários.
zar comparações entre tabelas com diferentes quanti- Caso ocorra de o número de variáveis de um rol ser
dades de dados analisados para uma mesma variável. par (não tem um termo que seja do meio), tomemos os
A comparação das frequências absolutas entre 2 termos centrais (meio) e fazemos a média entre eles.
duas tabelas não faz sentido, pois estaríamos compa-
rando 2 números absolutos sem conhecer o quanti- Medidas de Variabilidade
tativo total. Por outro lado, na frequência relativa,
estaríamos comparando 2 percentuais. As medidas de variabilidade são utilizadas para
apontar quanto que os dados estão dispersos em rela-
Medidas Estatísticas na Análise de Processos ção à média. Neste sentido, quanto mais espalhados,
maior será a sua variabilidade.
Para uma melhor análise com o intuito de aperfei- Essas medidas visam tornar a avaliação do conjunto
çoar os processos, o administrador utiliza-se de 2 tipos de dados mais próximas da realidade, facilitando assim
de medidas estatísticas que são essenciais: Medidas de a observação e entendimento na tomada de decisão.
tendência e medidas de Variabilidade. Vamos enten- As medidas de variabilidade mais utilizadas na análise
der a sua aplicação! de processos são: a amplitude, variância e o desvio padrão.

z Medidas de Tendência Central Melhoria dos Processos Utilizando a Estatística

„ Média: a média aritmética dos dados é a soma O administrador, utilizando as ferramentas da


dos valores observados, dividida pelo total de estatística, tem como objetivo melhorar a média,
observações. Essa medida é a mais comum e aumentar ou diminuir de acordo com o caso concreto
também uma das mais utilizadas na análise de e sempre reduzir sua variabilidade.
processos. Vamos entender melhor como essas medidas esta-
Exemplo: Qual é a média de salários dos direto- tísticas podem auxiliar na melhoria de processos ana-
res da empresa X, de acordo com o rol a seguir? lisando um caso prático:
Ao analisar um processo de fabricação de um auto-
móvel, o administrador coletou os seguintes dados, em
DIRETORES DA horas, para o término da produção: 4 + 3 + 10 + 8 + 6 + 8.
SALÁRIOS
EMPRESA X Calculando o tempo médio, temos:
Recursos Humanos R$ 30.000,00
39 Total
Financeiros R$ 20.000,00 Média:
6 N° de Variáveis
Produção R$ 40.000,00

= Soma dos salários/n° de Média: 6,5


Média Aritmética diretores
90.000,00 ÷ 3= 30.000,00 Assim, é função do administrador adotar medidas
para que o valor da média diminua e, consequentemen-
„ M
oda: a moda é o termo que mais se repete em te, o tempo médio de fabricação seja reduzido, maximi-
152 uma sequência de dados. zando a eficiência.
Um exemplo prático para alcançar esse resultado é con- ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
tratar mais trabalhadores para a execução dos processos. (MANIFESTAÇÃO DA
Outro fator a ser analisado é a redução da varia- VONTADE)
bilidade, pois não adianta ter uma boa média se os
resultados variam à cada unidade. Neste sentido, a
variabilidade do tempo de produção proporcionará
uma maior previsibilidade, auxiliando assim, no pro- Unilateral Bilateral Plurilateral
cesso de planejamento.
Percebemos que a gestão de processos funciona
como uma cadeia, com a melhora de um elemento, os
seguintes vão se beneficiando e no final ocorre uma Ato Contratos Consórcios e
melhoria geral e contínua. Administrativo Administrativo convênios
Sintetizando o exemplo:
O objeto de estudo deste tópico é a relação bilateral
entre a Administração Pública e terceiros, ou seja, o
famoso Contrato Administrativo.
Produção A relação unilateral (ato administrativo) e a rela-
Melhoria no � Aumenta a qualidade ção plurilateral (consórcios e convênios) são estu-
� Média planejamento � Diminui o tempo dadas em profundidade pela disciplina de Direito
� Variabilidade de entrega para o
Administrativo.
consumidor
Maior previsibilidade Os contratos administrativos são manifestações de
vontades bilaterais, entre um terceiro e a Administra-
ção Pública. E, como regra, os contratos que envolvam
Diante do exposto, inferimos que a moderna ges- obras, serviços, compras e alienações são resultantes
tão de processos tem como foco a busca pela quali- de um processo licitatório, que assegura igualdade de
dade e satisfação do cliente, tendo a aplicação dos condições a todos os concorrentes (art. 37, inciso XXI
ensinamentos da estatística como parte essencial nes- da Constituição Federal). O que permite a observância
ta busca. do Princípio da Isonomia e a garantia da ampla con-
corrência, prevalecendo o interesse público.
A principal norma que trata dos contratos adminis-
trativos é a Lei 8.666/1993, que regulamenta o art. 37,
inciso XXI, da Constituição Federal e institui normas
GESTÃO DE CONTRATOS para licitações e contratos da Administração Pública.
Veja que alguns requisitos serão obrigatórios para
A gestão dos contratos administrativos é um dos que o contrato seja considerado um “contrato admi-
assuntos essenciais à gestão pública, esse tema vai nistrativo”, são eles:
estar presente no seu dia a dia como servidor.

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Para o desenvolvimento de suas atividades e o z Participação da Administração Pública em pelo
pleno funcionamento da máquina pública, a Adminis- menos uma das partes;
tração Pública precisa contratar bens e/ou serviços de z Existência de cláusulas que coloquem a Adminis-
terceiros e o instituto que formaliza essa contratação tração em posição de superioridade (cláusulas
é o famoso contrato administrativo. exorbitantes);
z Reciprocidade nas obrigações, que devem ser per-
Ao completar o estudo deste tópico, você será
tinentes a obras, serviços, compras;
capaz de compreender os seguintes assuntos: concei- z Reequilíbrio Econômico-Financeiro.
to e a natureza jurídica, características, as famosas
cláusulas exorbitantes, gestão dos contratos admi- Regido precipuamente por normas de Direito
nistrativos (gerenciamento, fiscalização e acompa- Público, nele estão previstas prerrogativas especiais
nhamento), recebimento do objeto e a extinção do para a Administração Pública, o que a doutrina deno-
contrato administrativo. mina “cláusulas exorbitantes”.
Sem mais delongas, vamos ao estudo! Dos requisitos acima elencados, as cláusulas exor-
bitantes compõem os assuntos mais debatidos pela
DEFINIÇÃO E NATUREZA JURÍDICA DO CONTRATO doutrina e, por essa razão, tornam-se bastante explo-
ADMINISTRATIVO radas pelos examinadores nas questões.
E o que se entende por Cláusulas Exorbitantes?
Para desenvolver suas atividades cotidianas, a São verdadeiras cláusulas de privilégio conferidas
Administração Pública necessariamente realiza negó- a Administração Pública, que as colocam em um pata-
mar de relativa superioridade na relação contratual
cios com terceiros.
com terceiros.
Quando precisa contratar um serviço de vigilância Essas cláusulas se justificam, pois, a Administração
ou limpeza, construir um novo prédio, adquirir bens Pública age em nome de toda a coletividade, de forma
para seu funcionamento, em todos esses casos, a Admi- que tais poderes são indispensáveis em busca do inte-
nistração Pública precisará formalizar uma relação resse público na contratação.
negocial com terceiros, através de um contrato admi- São exemplos de cláusulas exorbitantes, à luz do
nistrativo, influenciado por normas de Direito Público. artigo 58 da Lei nº 8.666, de 1993, aquelas que possibi-
Nesse sentido, a manifestação da vontade da Admi- litam a Administração:
nistração Pública para desempenhar as atividades
administrativas e atender o interesse público pode ser z Modificação unilateral dos contratos, para melhor
classificada como: unilateral (atos administrativos), adequação às finalidades de interesse público, res-
bilateral (Contratos administrativos) ou plurilateral peitados os direitos do contratado;
(consórcios e convênios). z Rescisão unilateral dos contratos; 153
z Fiscalizar a execução do contrato; z Participação da Administração Pública em uma
z Aplicações de sanções motivadas pela inexecução das partes;
total ou parcial; z Objeto sempre atrelado a uma finalidade pública,
destinado a atender a coletividade.
z Ocupação provisória, no caso de serviços essên-
cias, de bens móveis, imóveis, pessoal e serviços
Devido ao seu caráter público e respeitando o
vinculados ao objeto do contrato.
dever de transparência, todo contrato administrativo
deve conter cláusulas que expressem com clareza e
Administração objetividade as condições da contratação, definindo
Terceiros
Pública os direitos, os deveres e as responsabilidades das par-
tes, seguindo os mandamentos da lei.
A maioria das características dos contratos admi-
nistrativos encontramos dispersas nos artigos da Lei
Cláusulas
nº 8.666, de 1993, que nos ensina que todo contrato
Exorbitantes
(Privilégios) administrativo deve ser:

Cláusulas z Formal: Todos os contratos administrativos devem


Cláusulas
contratuais ser formais, produzidos por escrito no idioma por-
contratuais
tuguês. É nulo e de nenhum efeito o contrato ver-
bal com a Administração Pública.

Vale ressaltar que de acordo com o artigo 60, parágra-


fo único, da Lei nº 8.666, de 1993, existe apenas uma única
Percebemos, na figura acima, que as cláusulas exor- exceção: para pequenas compras de pronto pagamento.
bitantes são as prerrogativas que alteram a relação da
Administração Pública com os terceiros, conferindo z Oneroso: a Administração Pública deve remune-
verdadeiros privilégios em prol do interesse da coleti- rar o contratado (particular) pela contraprestação
vidade, pois o contrato administrativo vai atender as do objeto do contrato;
necessidades de todos, e assim, deve estar em um pata- z Comutativo: as partes do contrato são compensa-
mar mais elevado do que os contratos privados. das reciprocamente. Cabe a Administração Pública
o cumprimento do contrato, já ao particular, rece-
ber pela execução;
Importante! z Mutabilidade: os contratos administrativos podem
ser frequentemente alterados em prol do interesse
As cláusulas exorbitantes são estabelecidas público;
pela Lei, em favor da Administração Pública, e z Cumulatividade: prerrogativa da possibilidade de
não cabe ao gestor sua ampliação arbitrária. contratar com diferentes partes para a execução
das mesmas atividades. Não existe a obrigatorie-
dade de exclusividade;
Já o reequilíbrio Econômico-Financeiro funciona como z Intuitu Personae: os contratos administrativos
uma restrição a atuação da Administração Pública, pois são contratos pessoais, com isso, exige que a execu-
garante ao particular que, caso haja alguma alteração uni- ção do contrato seja efetuada pela mesma pessoa
lateral que implique maiores ônus ao contrato, a Adminis- (pessoa física ou jurídica) que aceitou a obrigação
tração Pública deverá ajustar economicamente o acordo. perante a Administração Pública. Em regra, não se
É importante lembrar que é possível a alteração uni- pode subcontratar;
lateral das cláusulas regulamentares ou de serviço, por Exemplificando: Caso uma empresa seja vencedo-
outro lado, as cláusulas inerentes aos aspectos econômico ra de uma licitação para fornecimento de mate-
financeiros não podem ser alteradas unilateralmente. riais de escritório, não poderá subcontratar outra
Exemplificando: Caso a Administração Pública assi- empresa para o fornecimento.
ne um contrato prevendo o pagamento de R$10.000,00 z Finalidade pública: o objeto do contrato admi-
ao mês para uma empresa de vigilância, não é permi- nistrativo será sempre um bem, direito ou serviço
tido a Administração no mês seguinte “querer” (alte- destinado a atender uma necessidade pública;
z Contratos de adesão: embora o contrato admi-
rar) pagar R$6.000,00 pelo mesmo serviço.
nistrativo seja consensual na opção de aceitar ou
Nesse sentido, apesar de o contrato administrativo
não a sua assinatura, não há espaço para discutir
ter como objetivo o interesse público, há também de
as cláusulas impostas previamente (na licitação).
ser interessante financeiramente ao particular, sob o
A Administração Pública impõe a outra parte o
risco de não encontrar nenhuma empresa que queira contrato final, cabendo somente a opção de aderir
contratar com o poder público. (assinar) ou rejeitar o contrato;
Vamos agora estudar as principais características z Precedidos de licitação: em regra, todos os con-
do contrato administrativo! tratos administrativos são precedidos de um proce-
dimento licitatório em que devem ser respeitados
CARACTERÍSTICAS DO CONTRATO ADMINISTRATIVO os princípios da Administração Pública.

Primeiramente, vamos relembrar as duas prerro- Vale ressaltar que as contratações diretas (dispensa
gativas que estarão presentes em todos os contratos e inexigibilidade) são exceção a esta característica. Nes-
154 administrativos: se caso, a contratação não é precedida de uma licitação.
ACOMPANHAMENTO E FISCALIZAÇÃO DA
CONTRATOS ADMINISTRATIVOS EXECUÇÃO DOS CONTRATOS

Após a contratação, inicia-se a execução do contra-


Formais Onerosos Comutativos to. Nessa fase, é dever da Administração Pública o seu
acompanhamento e fiscalização.
Intuitu Entende-se por acompanhamento o monitoramen-
Cumulatividade Mutabilidade
Personae to em tempo real da execução, ou seja, estar presente
na sua execução.
Já a fiscalização significa verificar se os requisitos
GESTÃO DE CONTRATOS
contratados estão sendo obedecidos em sua execução.
A fiscalização da execução dos contratos é uma obri-
Analisando os artigos referente ao contrato admi- gação da Administração Pública, não cabe ao gestor a
nistrativo (artigo 54 até artigo 80) da Lei Geral de Lici- escolha se deve ou não fiscalizar. É um dever imposto
tações e Contratos, de forma implícita, o legislador pela Lei e pelos princípios da Administração Pública.
impôs a Administração Pública o dever de organizar e É importante registrar que para aquelas pequenas
implantar um eficiente sistema de gestão de contratos, compras ou simples contratações de serviços, com
que compreende o gerenciamento, o acompanhamen- entrega única, em que não demandam maiores cuida-
to e a fiscalização de sua execução, e o recebimento do dos, o acompanhamento e fiscalização terá um papel
objeto contratado. mais simples, possibilitando o ateste do objeto com
uma simples conferência.
Gerenciamento Por outro lado, nas contratações que demandam
um maior cuidado, seja por envolverem um grande
volume de recursos ou devido a sua complexidade,
a execução do contrato deverá ser acompanhada e
Recebimento GESTÃO DE fiscalizada por um representante da Administração
CONTRATOS Acompanhamento
do Objeto
especialmente designado. Esse é o teor do artigo 67 da
Lei nº 8.666, de 1993, transcrito abaixo:

Fiscalização
Art. 67 A execução do contrato deverá ser acom-
panhada e fiscalizada por um representante da
Administração especialmente designado, permitida
a contratação de terceiros para assisti-lo e subsi-
O sistema de gestão de contratos constitui em um diá-lo de informações pertinentes a essa atribuição.
planejamento. Ele deve conter de forma clara os obje-
tivos, processos, responsabilidades, competências e O artigo acima citado é de grande incidência nas
atores responsáveis destinados em acompanhar e provas de concurso, em que o examinador explora se

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fiscalizar o contrato, garantindo assim o alcance dos é possível a contratação de terceiros para a fiscaliza-
resultados pretendidos. ção contratual.
Desse modo, entende-se como gerenciamento o A resposta é clara: Não é permitido a contratação
dever da Administração Pública de estruturar uma de terceiros para exercer o papel de fiscal do contrato,
supervisão responsável pelas atribuições gerais ine- e sim somente para auxiliar a fiscalização.
rentes aos contratos, tais como: controlar prazos, Internalizando o conhecimento e para você nunca
atualizar os documentos, prorrogações, estabelecer o mais errar na sua prova, temos o esquema abaixo:
reequilíbrio econômico-financeiro, auditar pagamen-
tos, entre outros. z Representante da Administração Pública
Essa atribuição de responsabilidades pode recair FISCAL DO
(servidor público)
sobre um setor específico, ou até mesmo um único CONTRATO
z Fiscalização do objeto
servidor designado, a depender do tamanho e com-
plexidade da gestão.
AUXILIAR DE z Permitida a contratação de terceiros
Outras providências de suma importância para o FISCALIZAÇÃO z Assistência e subsídios de informações
bom gerenciamento dos contratos devem ser adota-
das pela Administração Pública são:
Após a sua posse e entrada em exercício, caso você
z Capacitação dos servidores responsáveis pela ges- seja alocado no setor administrativo, é bem provável
tão, com vistas a assegurar o entendimento das sua designação para ser gestor (fiscal) de contratos.
normas legais; Assim, esse assunto, além de despencar nas provas,
z Elaboração, em forma de manual, das orientações vai ser de extrema utilidade nas suas atribuições
gerais para gerenciamento dos contratos; como servidor público (somente por curiosidade, foi
z Designação dos fiscais responsáveis pelo gerencia- o que aconteceu comigo quando tomei posse no meu
mento dos contratos, respeitando a sua expertise; primeiro cargo público: após 1 mês de entrar em exer-
z Designar comissões de recebimento dos objetos cício, fui designado como fiscal de contrato).
contratados. Portanto, vamos entender as atribuições e compe-
tências da figura do fiscal de contrato!
A estruturação de um bom sistema de gerenciamento Como já vimos, é obrigação da Administração
de contratos é condição essencial na busca pela otimiza- manter, desde o início até o final do contrato, servidor
ção do dinheiro público, sendo capaz de evitar possíveis público especialmente designado com conhecimentos
danos e garantindo a continuidade dos serviços. e experiência suficientes para o acompanhamento e 155
fiscalização do objeto contratado. Assim, é de respon- É o que diz o art. 68, da Lei nº 8.666, de 1993:
sabilidade da autoridade competente verificar se o
servidor escolhido para este mister tem um perfil ade- Art. 68 O contratado deverá manter preposto, acei-
quado, competência e responsabilidade para exercer to pela Administração, no local da obra ou serviço,
essa importante função. para representá-lo na execução do contrato.

O preposto indicado pela empresa poderá ser acei-


Dica
to ou não pela Administração Pública!
A designação do fiscal do contrato normalmente Já em relação de contratação de serviços sob o regi-
é realizada através de portaria publicada no bole- me de execução indireta, devido a sua alta complexi-
tim de serviços local do próprio órgão. dade, a Administração Pública Federal refinou a sua
fiscalização inovando em alguns pontos específicos.
Muito se debatia se essa designação para exercer Entende-se como execução indireta aqueles serviços
a função de fiscal de contrato era passível de recusa que em vez de executar diretamente por seus servido-
por parte do servidor, para dirimir essa dúvida o Tri- res (admitidos por meio de concursos público), contrata
bunal de Contas da União se debruçou sobre o tema e empresa para que esta os realize, com o seu pessoal e
decidiu: sob a sua responsabilidade. Os exemplos mais frequen-
A designação como fiscal de contrato, conforme tes são: serviço de limpeza e serviço vigilância patrimo-
jurisprudência do TCU, não pode ser recusada por não nial. No âmbito federal, temos a Instrução Normativa
tratar de ordem manifestamente ilegal. do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Ges-
É o teor do Acórdão nº 2.917, de 2010 – Plenário tão n.º 05 de 26 de maio de 2017, a qual dispõe sobre as
TCU (Tribunal de Contas da União): regras e diretrizes do procedimento de contratação de
serviços sob o regime de execução indireta.
5.7.7 O servidor designado para exercer o encargo Tal normativa deve ser observada para fins da
de fiscal não pode oferecer recusa, porquanto não adequada gestão e fiscalização contratual, fixando
se trata de ordem ilegal. Entretanto, tem a opção regras de suma importância para aqueles que têm a
de expor ao superior hierárquico as deficiências e responsabilidade sobre contratos  de serviços para a
limitações que possam impedi-lo de cumprir dili- realização de tarefas executivas sob o regime de exe-
gentemente suas obrigações. A opção que não se cução indireta. Isto com o objetivo de verificar o cum-
aceita é uma atuação a esmo (com imprudência, primento dos resultados previstos pela Administração
negligência, omissão, ausência de cautela e de zelo para os serviços contratados, a regularidade das obri-
profissional), sob pena de configurar grave infra- gações previdenciárias, fiscais e trabalhistas, eventual
ção à norma legal (itens 31/3 do voto do Acórdão nº aplicação de sanções, extinção dos contratos, visando
468/2007-P).” (Trecho do Relatório do acórdão do assegurar o cumprimento das cláusulas avençadas e a
Min. Valmir Campelo) solução de problemas relativos ao objeto.
Para permitir uma gestão e fiscalização efetiva são
Entretanto, ainda que não possa ser recusada, o fis- nomeados fiscais e gestores para que acompanhem de
cal pode solicitar a capacitação para as atividades, além perto cada momento da execução contratual. De for-
de solicitar que exista uma avaliação da compatibilidade ma didática, a Instrução Normativa nº 05/2017 (Minis-
da sua qualificação com aquela exigida para a atividade: tério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão)
traz quais são as atribuições de cada um deles:
5.7.6 Acerca das incumbências do fiscal do con-
trato, o TCU entende que devem ser designados Art. 40 O conjunto de atividades de que trata o artigo
servidores públicos qualificados para a gestão dos anterior compete ao gestor da execução dos contratos,
contratos, de modo que sejam responsáveis pela auxiliado pela fiscalização técnica, administrativa,
execução de atividades e/ou pela vigilância e garan- setorial e pelo público usuário, conforme o caso, de
tia da regularidade e adequação dos serviços (item acordo com as seguintes disposições:
9.2.3 do Acórdão nº 2.632/2007-P). I - Gestão da Execução do Contrato: é a coordenação
das atividades relacionadas à fiscalização técnica,
Esquematizando: administrativa, setorial e pelo público usuário, bem
como dos atos preparatórios à instrução processual e
Autoridade ao encaminhamento da documentação pertinente ao
Portaria Não!
máxima setor de contratos para formalização dos procedimen-
tos quanto aos aspectos que envolvam a prorrogação,
designação cabe recusa? alteração, reequilíbrio, pagamento, eventual aplicação
× de sanções, extinção dos contratos, dentre outros;
II - Fiscalização Técnica: é o acompanhamento com
o objetivo de avaliar a execução do objeto nos mol-
Fiscal do contrato des contratados e, se for o caso, aferir se a quan-
Verificar perfil: tidade, qualidade, tempo e modo da prestação dos
z Competência serviços estão compatíveis com os indicadores de
z Responsabilidade níveis mínimos de desempenho estipulados no ato
convocatório, para efeito de pagamento conforme
o resultado, podendo ser auxiliado pela fiscalização
de que trata o inciso V deste artigo;
Outra figura de destaque na gestão de contratos é III - Fiscalização Administrativa: é o acompanha-
o representante da empresa contratada denominado mento dos aspectos administrativos da execução
de preposto. Essa pessoa junto à contratante será o dos serviços nos contratos com regime de dedica-
elo entre o fiscal do contrato e a empresa contratada. ção exclusiva de mão de obra quanto às obrigações
156 previdenciárias, fiscais e trabalhistas, bem como
quanto às providências tempestivas nos casos de O recebimento do objeto, conforme especificado
inadimplemento; no art. 73, da Lei nº 8.666, de 1993, pode ser provisório
IV - Fiscalização Setorial: é o acompanhamento ou definitivo.
da execução do contrato nos aspectos técnicos ou O recebimento provisório, como o próprio nome
administrativos quando a prestação dos serviços diz, atesta apenas que o objeto foi entregue e que o
ocorrer concomitantemente em setores distintos ou mesmo será submetido à verificação dos requisitos
em unidades desconcentradas de um mesmo órgão
expostos no edital de licitação, termo de referência e
ou entidade;
no próprio contrato.
V - Fiscalização pelo Público Usuário: é o acom-
Caso o objeto esteja em desacordo com o contrata-
panhamento da execução contratual por pesquisa
de satisfação junto ao usuário, com o objetivo de do, a Administração Pública poderá rejeitá-lo, no todo
aferir os resultados da prestação dos serviços, os ou em parte. Por outro lado, caso o objeto esteja em
recursos materiais e os procedimentos utilizados acordo com o especificado, a Administração deverá
pela contratada, quando for o caso, ou outro fator lavrar o termo do recebimento definitivo.
determinante para a avaliação dos aspectos quali- O fiscal do contrato (ou comissão designada) é respon-
tativos do objeto. sável pelo ateste do recebimento definitivo, que se tratan-
do de um bem, poderá ser incorporado ao patrimônio.
No quadro abaixo, sintetizamos os principais pontos: Resta claro na Lei Geral de Licitação e Contratos
(Lei nº 8.666, de 1993) a diferenciação do recebimento
em casos de obras e serviços com o recebimento de
FISCAL TÉCNICO
compras ou locação de equipamentos.
Avalia a execução do objeto: Em se tratando de obras e serviços:
z Devem ser recebidos provisoriamente, mediante ter-
z Quantidade, qualidade, tempo e modo mo circunstanciado, pelo responsável por seu acompa-
z Indicadores de desempenho
nhamento e fiscalização, assinado pelas partes em até
z Subsidia pagamento com base no resultado
15 dias da comunicação escrita do contratado;
z Devem ser recebidos definitivamente, por servidor
FISCAL ADMINISTRATIVO ou comissão designada pela autoridade competen-
z Avalia aspectos administrativos te, mediante termo circunstanciado, assinado pelas
z Obrigações previdenciárias, fiscais e trabalhistas partes, após o decurso de observação, ou vistoria
que comprove a adequação do objeto ao contrato.
FISCAL SETORIAL
Em se tratando de compras ou de locação de equi-
z Avalia aspectos técnicos e administrativos pamentos:

Prestação ocorre simultaneamente: z Devem ser recebidos provisoriamente, para verifi-

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cação da conformidade do material com a especi-
z Setor distintos ficação, ou seja, na linguagem popular, atestar se
z Unidades desconcentradas não “comprou gato por lebre”;
z Devem ser recebidos definitivamente, após verifi-
car se qualidade e quantidade do material coadu-
PÚBLICO USUÁRIO
nam com o especificado no contrato.
z Avalia aspectos qualitativos do objeto por meio de
pesquisa de satisfação junto ao usuário Tanto no recebimento provisório, quanto no rece-
bimento definitivo, não exclui a responsabilidade
Para auxiliar, aos fiscais e gestores são previstos civil do contratado pela solidez e segurança da obra
instrumentos de controle que auxiliam na análise da ou serviço, nem a responsabilidade ético-profissional
execução dos contratos e compreendem a mensuração pela perfeita execução do contrato.
do alcance dos resultados, dos recursos humanos dispo- Outro ponto interessante exposto na Lei nº 8.66, de
nibilizados, dos recursos materiais utilizados, da ade- 1993 é a possibilidade de dispensar o recebimento pro-
quação dos serviços prestados, da satisfação do público visório nos casos de compras de gêneros perecíveis, ser-
usuário e outras obrigações decorrentes do ajuste. viços profissionais e obras e serviços de pequeno vulto.
Diante do exposto, percebemos que para o sucesso Nestes casos, prevaleceu o bom senso do legislador,
da gestão contratual é necessário o conhecimento da pois tornaria impossível o recebimento provisório de
legislação e o comprometimento de todos os atores da um bem ou serviço que já fosse consumido no mesmo
fiscalização mencionados, além do suporte necessário momento. Exemplificando: o recebimento da merenda
que deve prover a Administração Pública. escolar para pronto consumo, ao receber e servir o ali-
mento para os estudantes, tornaria impossível a verifi-
RECEBIMENTO DO OBJETO CONTRATADO cação da qualidade e quantidade posteriormente.

A etapa final da execução do contrato administra- Importante!


tivo se concretiza com o recebimento do objeto con-
tratado. Esse recebimento é de responsabilidade do O recebimento provisório é dispensado, mas o
servidor ou comissão e deve atender requisitos de recebimento definitivo é obrigatório, mesmo em
conhecimento, responsabilidade, competência e fami- se tratando de gêneros perecíveis, serviços pro-
liaridade com o bem ou serviço entregue. fissionais e em compras de pequeno vulto. 157
Para facilitar a memorização, acompanhe um Já a rescisão unilateral é uma prerrogativa da Admi-
esquema com os principais pontos do recebimento do nistração Pública, sem a necessidade de autorização
objeto contratado: judicial, decorre do descumprimento de obrigações con-
tratuais pelo contratado, por motivo de interesse públi-
co, ou quando se tratar de caso fortuito ou força maior.
RECEBIMENTO DO OBJETO CONTRATADO Havendo culpa do contratado, não é devida a inde-
OBRAS E SERVIÇOS nização e ainda deve-se aplicar as sanções cabíveis.
Por outro lado, se não houver culpa do contratado, por
Provisório: razões de interesse público, é devida a justa indenização.
Exemplificando: é quando a Administração Públi-
z Responsável pela fiscalização
ca contrata uma empresa para iniciar as obras em
z Prazo: até 15 dias
setembro, contra as enchentes de final de ano. Em
novembro, constatou que as obras ainda não foram
Definitivo:
iniciadas, nesse caso concreto, a Administração Públi-
z Servidor ou comissão ca deverá rescindir o contrato unilateralmente (pelo
z Prazo máximo: 90 dias descumprimento de cláusulas contratuais) sem a
necessidade de indenizar, e ainda passível de aplica-
ção de sanções pelo descumprimento.
RECEBIMENTO DO OBJETO CONTRATADO No caso de rescisão unilateral pelo descumprimen-
to de cláusulas contratuais, a doutrina denomina de
COMPRAS E LOCAÇÃO DE EQUIPAMENTOS rescisão com culpa.
Provisório: Outro exemplo de rescisão unilateral é quando
após contratar uma empresa para execução de uma
z Para verificação da conformidade do material obra, constatou que não havia mais a necessidade,
pois, o problema já tinha sido resolvido. Assim, por
Definitivo: interesse público, cabe à Administração rescindir uni-
z Após verificar: qualidade + quantidade lateralmente, mas, nesse caso em tela, é devida a justa
indenização. Essa decisão obrigatoriamente deve ser
motivada e assegurada a prévia defesa do contratado.
Outra forma de rescisão contratual é a bilateral,
RECEBIMENTO DO OBJETO CONTRATADO
também chamada de rescisão amigável ou ainda
DISPENSA O RECEBIMENTO PROVISÓRIO consensual, ocorre mediante acordo entre as partes,
quando for conveniente a Administração fazê-lo. Em
z Gêneros perecíveis regra, não gera indenização.
z Serviços profissionais Exemplificando: é quando na execução do contra-
z Obras e serviços de pequeno vulto to administrativo de prestação de serviços de segu-
rança, as partes em comum acordo, por motivo de
EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS conveniência da Administração (ex: o posto de servi-
ços vai ser desativado) e com concordância da parte
O contrato administrativo, em regra, tem uma contratada, resolvem que a partir da data X não mais
sequência lógica: início – meio - fim. Mas, como quase haverá qualquer obrigação entre elas.
tudo na vida, existe a possibilidade de ocorrer imprevis- Já a rescisão judicial, como o próprio nome nos
tos e seu término ser antecipado ou até mesmo anulado. indica, é determinada pelo poder judiciário em razão
Vamos agora estudar as formas possíveis de extin- do inadimplemento do contratante (Administração
ção do contrato administrativo! Pública) ou contratado.
O contrato administrativo pode ser extinto em Normalmente, essa rescisão se dá mediante ação
decorrência da conclusão de seu objeto, rescisão uni- ajuizada pelo contratado (particular) em face a Admi-
lateral, rescisão bilateral, rescisão judicial ou median- nistração Pública por descumprimento de cláusulas
te anulação motivada por defeito. contratuais.
Exemplificando: é quando a Administração Públi-
ca atrasa os pagamentos devidos ao serviço prestado
EXTINÇÃO CONTRATUAL por mais de 90 dias, nesse caso, cabe ao particular
Conclusão Rescisão Rescisão Rescisão
ajuizar ação de rescisão contratual.
Anulação Por último, como forma de extinção do contrato
do objeto Unilateral Bilateral Judicial
administrativo, temos a anulação.
A anulação implica desconstituição do contrato e
A forma mais natural da extinção dos contratos
suspensão dos seus efeitos. Nesse caso de extinção, os
administrativos é pela conclusão do objeto ou o fim
efeitos operam retroativamente, impedindo os efeitos
do período de contratação. Esse tipo de extinção ocor-
jurídico que ainda iriam produzir (para frente), além
re automaticamente, dispensado qualquer ato formal, de desconstituir os já produzidos (para trás).
pois uma vez cumprido o contrato e entregue, o objeto Esse é o teor do artigo 59 da Lei nº 8.666, de 1993,
do contrato se encerra. transcrito abaixo:
Exemplificando: é quando a Administração Públi-
ca contrata uma empresa para a construção de uma Art. 59 A declaração de nulidade do contrato admi-
escola; após finalizada a obra, ocorre o recebimento nistrativo opera retroativamente impedindo os
definitivo por parte da Administração e o pagamento, efeitos jurídicos que ele, ordinariamente, deveria
158 com isso, o contrato se encerra automaticamente. produzir, além de desconstituir os já produzidos.
Parágrafo único - A nulidade não exonera a Adminis-
tração do dever de indenizar o contratado pelo que este RECURSOS São recursos físicos, tais como má-
houver executado até a data em que ela for declarada MATERIAIS quinas, instalações e equipamentos
e por outros prejuízos regularmente comprovados,
RECURSOS São recursos monetários, isto é, tra-
contanto que não lhe seja imputável, promovendo-se a
FINANCEIROS ta-se do dinheiro/capital da empresa
responsabilidade de quem lhe deu causa.
RECURSOS São as pessoas que trabalham na
Entretanto, percebemos no parágrafo único acima HUMANOS empresa
citado, que a Administração Pública tem o dever de
indenizar o contratado pelo que já foi executado até
Apesar da importância dos diferentes tipos de
a data em que foi declarada a nulidade, exceto se o
contratado deu causa ao vício. recursos, as pessoas constituem a parte mais impor-
Exemplificando: Após o início do contrato admi- tante da empresa, pois é por meio delas que os demais
nistrativo cujo o objeto é a construção da nova sede, recursos são utilizados a favor dos objetivos e da
foi constatado que a licitação que resultou o contra- estratégia organizacional7. Sendo assim, a importân-
to foi fraudada. Assim, como a licitação foi declarada cia dos recursos humanos não está associada apenas a
nula, por consequência, o contrato também será nulo. uma ou outra questão específica da empresa, mas sim
Sintetizando o entendimento geral do contrato a toda a estratégia e desenvolvimento organizacional.
administrativo, percebemos, que em prol do interesse As funções do departamento de RH envolvem
público, todo o ajuste celebrado entre o Poder Público e todas aquelas relacionadas às pessoas, incluindo8:
o particular deve ser pautado nos Princípios da Admi-
nistração Pública, fazendo com que os objetivos sejam z Agregar pessoas: os processos de agregar pessoas
alcançados da melhor forma e com o menor custo. incluem as funções de recrutamento, seleção e inte-
Tudo isso permite que sempre o interesse público gração. Ou seja, esse processo tem foco na forma como
seja o carro chefe de toda conduta da Administrati- a GP integra novos trabalhadores na organização;
va Pública, não incidindo em qualquer ilegalidade ou z Aplicar pessoas: os processos de aplicar pessoas
inconstitucionalidade. envolvem as atividades de definição das tarefas atri-
buídas a cada cargo, orientação dos trabalhadores
sobre as tarefas do cargo e avaliação do desempenho;
z Recompensar pessoas: os processos de recompen-
sar pessoas abrangem todas as formas utilizadas
PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO para remunerar o tempo e a dedicação do traba-
lhador às atividades organizacionais. A remunera-
O planejamento é necessário para que sejam defini- ção inclui não apenas o salário (que normalmente
dos os objetivos que a organização pretende alcançar. é fixo e mensal), mas também os benefícios, servi-
Quando se trata do planejamento de RH, os objetivos ços sociais e os incentivos;
são associados a esse departamento em específico (ou z Desenvolver pessoas: os processos de desenvol-
seja, o departamento de Recursos Humanos), mas con- ver pessoas dizem respeito às atividades de treina-
mento (foco no curto e médio prazo e nas tarefas

NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO


siderando a estratégia da organização como um todo.
do cargo atual) e desenvolvimento (foco no longo
Durante o planejamento, são concebidos os planos que
prazo e no desenvolvimento de habilidades e com-
guiarão os colaboradores ao atingimento das metas, petências para o bom desempenho de atividades
levando em consideração os recursos disponíveis. de cargos futuros), gestão do conhecimento, ges-
O planejamento é especialmente relevante para as tão de competências, aprendizagem corporativa,
condições ambientais que vivemos hoje. Antes, com as comunicação, entre outras;
condições de estabilidade e as vagarosas mudanças, z Manter pessoas: os processos de manter pessoas
as organizações eram capazes de administrar o pre- buscam criar ambientes organizacionais saudá-
sente e o futuro. Atualmente, as rápidas mudanças no veis para os trabalhadores a fim de mantê-los na
ambiente em que as organizações estão inseridas são organização e reduzir a rotatividade. A fim de criar
razões suficientes para a busca por melhor compreen- ambientes fisicamente e psicologicamente satisfa-
são do futuro e da dinamicidade presente na econo- tórios, a GP se preocupa com questões como cul-
tura organizacional, clima organizacional, higiene,
mia, tecnologia, padrões de vida, cultura, entre outros.
saúde, segurança e qualidade de vida no trabalho;
Especialmente em razão das rápidas mudanças, antes z Monitorar pessoas: os processos de monitorar
de traçar metas e objetivos para o futuro do RH e da pessoas tem o objetivo de conduzir e gerenciar
organização, é fundamental realizar um diagnóstico os trabalhadores em suas atividades, bem como
organizacional da situação atual. Só assim será pos- visualizar os resultados de tais atividades. Os ban-
sível compreender a situação atual da organização e cos de dados e os sistemas de informações geren-
avaliar quais aspectos precisam ser aprimorados. ciais são fundamentais para esses processos.
Almeida comenta sobre a função do planejamen-
to de RH na organização. De acordo com o autor, as Todas as decisões associadas às funções do RH
empresas oferecem bens ou serviços no mercado e dizem respeito às estratégias do departamento e são
dependem disso para sua sobrevivência. Em alguns fundamentadas em análises internas e externas do
casos, o objetivo consiste na obtenção do lucro, em ambiente. A análise desses dois tipos de ambiente é
outros, na filantropia. Independentemente do objetivo, constantemente realizada por meio da Análise SWOT.
as organizações precisam de diferentes recursos para A sigla SWOT significa:
se manterem ativas. Quanto mais recursos possuírem,
mais facilmente poderão alcançar seus objetivos. Os z S (strenghts): pontos fortes, que são atributos úni-
recursos normalmente são divididos em três tipos: cos do negócio e levam em direção aos objetivos;
7  Almeida (2015)
8  Chiavenato (2014) 159
z W (weaknesses): pontos fracos, que dizem respei- estão sob controle da organização e, portanto, ela
to ao que a empresa não faz bem e poderia melho- pode unir esforços para melhorar nesses aspectos que
rar e dificultam alcançar os objetivos; estão defasados. Alguns exemplos abrangem: pouca
z O (opportunities): oportunidades disponíveis no presença nas redes sociais, falta de qualificação dos
mercado e que não estão sendo exploradas nem trabalhadores, pequeno número de funcionários,
pela empresa nem pelos concorrentes. Está alinha- altos índices de desperdício e retrabalho.
da à visão estratégica; As oportunidades são fatores externos que influen-
z T (threats): ameaças que têm potencial para pre- ciam a empresa de forma positiva. Ou seja, apesar de a
judicar a performance do negócio e podem ter organização não ter controle sobre tais oportunidades,
caráter político, social, econômico ou tecnológico. ela pode (e deve) utilizá-las a seu favor. São exemplos
de oportunidades: economia local crescente, baixo
A imagem a seguir demonstra o significado dos número de concorrentes e incentivo governamental.
pontos fortes e fracos, bem como das oportunidades e Por fim, as ameaças são fatores externos que
ameaças à organização. influenciam a empresa de forma negativa. As amea-
ças estão fora do controle da empresa, ou seja, ela
Ambiente Ambiente não consegue simplesmente “eliminar” tais danos. O
interno externo alto número de concorrentes e seus preços podem ser
considerados ameaças, assim como a dificuldade em
OPORTUNIDADES adquirir recursos fundamentais para a produção e o
FORÇAS aumento dos impostos.
Disponível no mercado Quando se fala em estratégia para definir algo, seja
Atributos únicos do Não explorado nem pela nas organizações ou não, significa que aquilo é crítico
negócio empresa nem pelos para a sobrevivência. Sendo assim, se a estratégia falhar,
Leva em de direção aos concorrentes poderá ser fatal. Vamos pensar, por exemplo, nas estra-
objetivos Alinhado à visão tégias de guerra. Sun Tzu, general e filósofo chinês que
estratégica ficou conhecido por seu livro “A Arte da Guerra”, que
tratava sobre as estratégias associadas ao ponto fraco do
AMEAÇAS inimigo, ao terreno, à organização do exército etc. Nas
FRAQUEZAS
organizações não é diferente. Realizar um planejamento
Potencial em prejudicar a
O que a empresa não faz estratégico de RH significa conciliar, da melhor forma
performance do negócio
bem e poderia ser melhor possível, todas as partes da organização.
Político, social, econômico
Afasta dos objetivos O planejamento estratégico de RH é importante
ou tecnológico
nas organizações, pois além de focar apenas nas ativi-
dades burocráticas do departamento, também há uma
Fonte: https://movimentoimpactoglobal.com.br/matriz-swot/matriz- preocupação com a estratégia da organização como
analise-swot-como-fazer-uma-figura-01-2/. (Adaptado)
um todo. Podemos enumerar algumas das caracterís-
ticas da estratégia de RH, tais como9:
A Análise SWOT foi desenvolvida na década de
1960 e representa um passo significativo no plane-
z Consiste em metas para organizar o trabalho da
jamento estratégico. Com a análise dos ambientes
organização, bem como gerenciar pessoas;
interno e externo, é possível que a organização trace
z Afeta as chances de sobrevivência da empresa e a
estratégias para atingir os seus objetivos.
qualidade de seu desempenho;
É importante destacar que nem sempre as orga-
z É realizada por toda a equipe de gerenciamento, e
nizações se preocuparam em observar aquilo que
não apenas pelos gestores de RH;
ocorria fora delas. Antigamente, a empresa era con-
siderada um sistema fechado, ou seja, não tinha z Provavelmente é parcialmente planejada e par-
nenhum tipo de relação com o ambiente externo. cialmente “emergente” no comportamento da
Era como se ela não tivesse a necessidade de se rela- equipe de gerenciamento. Isso porque a estratégia
cionar com clientes, fornecedores e parceiros. A ideia está mais associada aos comportamentos do que
era de que bastavam a posse de recursos materiais, com documentos formais de planejamento;
financeiros e humanos, para que organização existis- z É definida no nível da unidade de negócios, isto é,
se e sobrevivesse. Hoje, sem as trocas com o ambiente no departamento de RH;
externo, a organização pode estar fadada ao fracasso. É z É mais complexa em empresas com estruturas
importante considerar questões econômicas, culturais, divisionais em que as diferentes divisões enfren-
as preferências dos consumidores, entre outros fatores. tam diferentes mercados;
As forças da empresa envolvem aqueles aspectos � É mais complexa em empresas que operam em
positivos que dependem apenas dela e que a tornam diferentes países, em razão dos impactos dos dife-
reconhecida no mercado. Isso significa que a empresa rentes contextos sociais.
possui controle sobre suas forças. A oferta de um produto
ou serviço de alta qualidade e boa localização são exem- A estrutura divisional agrupa as tarefas em unida-
plos de forças, já que tais características geram reconheci- des parcialmente autônomas de acordo os objetivos
mento, vontade do cliente em voltar e intenção de outras e os resultados desejados. Em cada divisão estão pre-
empresas em adotar como modelo tais atributos. sentes todos os recursos necessários para a produção
As fraquezas são os aspectos negativos que inter- de bens ou serviços.
ferem ou prejudicam a organização. As fraquezas
160 9  Boxall e Purcell (2011)
Sobral indica que essa estrutura é apropriada para: Os benefícios de aplicar o planejamento estratégi-
co de RH são diversos, tais como11:
z Organizações de grande porte que vendem/entre-
gam produtos e serviços diversos; z Atração e retenção de talentos: quando o RH
z Organizações que atuam em mercados diferen- se preocupa em promover um bom ambiente
tes e, portanto, exigem diferentes estratégias de de trabalho, bem como quando “cuida” dos seus
comercialização e marketing, por exemplo; profissionais, a reputação da organização tende
z Organizações que produzem bens e serviços que a melhorar. Os trabalhadores têm preferido tra-
demandam tecnologias diferenciadas; balhar em empresas que oferecem um salário
z Organizações que atuam em áreas geográficas menor, mas com boas condições de trabalho do
distantes. que receber altos salários, mas não ter qualidade
de vida. Portanto, o planejamento estratégico de
As vantagens do planejamento são10: RH é capaz de atrair novos colaboradores para a
empresa, bem como reter os atuais;
z Proporciona senso de direção: ao definir obje- z Redução do índice de rotatividade: o índice de rota-
tivos, o planejamento indica para onde a organi- tividade indica quantas pessoas saíram e entraram na
zação deve se dirigir, o que consequentemente organização em determinado período de tempo. Altas
auxilia no encaminhamento dos esforços dos tra- taxas de rotatividade, além de indicar que a organi-
balhadores em um único sentido; zação não possui um bom clima de trabalho e capaci-
z Focaliza esforços: na ausência de um planeja- dade de reter os colaboradores, também aumenta os
mento, os trabalhadores se comportam de forma custos da organização. Isso porque frequentemente
individualizada. A partir da definição de metas, os a organização possui gastos com rescisões e novos
esforços são integrados e o comportamento passa processos seletivos. O alto índice de rotatividade
a ser coletivo, isto é, os colaboradores se dedicam pode estar associado a uma gestão ineficiente, des-
a questões comuns a todos; motivação dos trabalhadores e falta de foco no desen-
volvimento profissional dos indivíduos. Quando a
z Maximiza a eficiência: quando os esforços e os
organização consegue reduzir esse índice por meio de
recursos são focalizados em um objetivo, a eficiên-
um planejamento estratégico, ela não terá custos com
cia é maximizada, pois evitam-se desperdícios,
encargos trabalhistas, novas admissões e treinamen-
retrabalhos e redundâncias;
tos, além de não ter a produtividade reduzida devido
z Reduz o impacto do ambiente: por meio do pla-
à falta de trabalhadores;
nejamento os administradores são capazes de
z Aumento da produtividade: frequentemente os
identificar as mudanças que ocorrem dentro e
trabalhadores não utilizam toda a sua capacidade
fora da organização. A partir da análise de tais
produtiva durante um dia completo de trabalho.
mudanças, é possível determinar as medidas efi-
Em alguns momentos as conversas e a procrasti-
cazes para enfrentá-las, reduzindo seus impactos
nação tomam conta. O planejamento estratégico
negativos na organização;

NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO


de RH pode ser útil no aumento da produtividade
z Define parâmetros de controle: no momento de quando apresenta um conjunto de metas desafia-
planejamento, são definidos os critérios de avaliação doras e atingíveis aos trabalhadores. As pessoas
do desempenho organizacional. Esses critérios são que estão satisfeitas e felizes em seus trabalhos
essenciais para que seja possível comparar o desem- não veem as metas como obrigação, mas elas de
penho atual e o desejado na etapa de Controle; fato desejam contribuir para o sucesso da empresa;
z Atua como fonte de motivação e comprometi- z Diminuição dos custos operacionais: como já trata-
mento: a concepção de objetivos e planos são impor- do anteriormente a respeito dos custos com encargos
tantes para que cada trabalhador saiba exatamente trabalhistas e novas admissões, as organizações que
seu papel na organização. Quando os trabalhadores se planejam estrategicamente não deixam lugar para
sabem como devem se comportar e quais atividades os desperdícios e os prejuízos. Por meio das métricas
estão sob sua responsabilidade, a identificação dos de RH, é possível identificar em quais ações o departa-
mesmos com a organização é facilitada, contribuin- mento deve focar no curto, médio e longo prazo;
do para que haja motivação e comprometimento; z Promoção da comunicação corporativa: por meio
z Potencializa o autoconhecimento organizacional: do planejamento estratégico de RH as organizações
durante o processo de planejamento, os ambientes podem melhorar a comunicação empresarial inter-
interno e externo à organização devem ser analisados. na. A comunicação é fundamental para que sejam
A partir de então, é possível identificar não apenas transmitidos os objetivos da organização e expecta-
as oportunidades e ameaças presentes no ambien- tivas em relação ao comportamento e desempenho
te externo, mas também as forças e fraquezas da dos trabalhadores. Visto que a comunicação é uma
organização (ambiente interno), possibilitando o via de mão dupla, não basta que os objetivos sejam
autoconhecimento; repassados aos funcionários, mas é necessário que
z Fornece consistência à ação gerencial: o planeja- eles compreendam e sintam-se motivados em fazer
mento propicia fundamentos lógicos para a tomada de parte do atingimento das metas.
decisão, indicando que as decisões não serão arbitrá-
rias. Assim, garante-se que as deliberações organizacio- Por fim, vale destacar que o uso dos sistemas de
nais são consistentes com os resultados esperados. informações gerenciais (SIG) pode ter papel fundamen-
tal no planejamento estratégico de RH. Chiavenato abor-
da que antigamente as informações sobre os recursos
10  Sobral (2013).
11  Fonte: https://www.xerpa.com.br/blog/planejamento-estrategico-de-rh/. 161
humanos da organização eram disponíveis apenas ao específicos. Os princípios, por sua vez, delimitam os
setor de RH. Posteriormente, tais informações passa- valores fundamentais de um ramo do direito, pos-
ram a ser divulgadas também para os gestores de cada suem conteúdo muito mais abrangente. São conside-
área ou equipe, para que eles pudessem contribuir na rados mais importantes, dado o seu caráter geral e
tomada de decisão sobre o time que coordena. Hoje, os abstrato. Os princípios são descobertos pela doutrina,
sistemas de informações gerenciais têm sido compar- através da análise das regras, retirando os aspectos
tilhados também com os próprios colaboradores, no concretos desta. O legislador, dessa forma, tem um
intuito de que possam visualizar informações sobre papel indireto na criação dos princípios.
seu desempenho e até mesmo se autoavaliar. Apesar das diferenças mencionadas, é indiscutível
Para que seja possível armazenar as informações, que os princípios e as regras são normas que apresen-
é necessário um banco de dados. Nos bancos de dados, tam força cogente máxima. Porém, como os princípios
os dados são codificados e organizados de forma a faci- possuem valores fundamentais de um ramo jurídico,
litar o acesso futuro e a obtenção de informações para são considerados hierarquicamente superiores. Vio-
o planejamento e a tomada de decisão. O sistema de lar uma regra é um erro grave, mas violar um prin-
informação de GP, portanto, “é baseado em um banco de cípio é erro gravíssimo: é cometer ofensa a todo um
dados (incluindo um banco de talentos ou banco de com- ordenamento de comandos.
petências) para disponibilizar, em tempo real, informa-
ções sobre pessoas, capital humano e capital intelectual DOS PRINCÍPIOS DE DIREITO ADMINISTRATIVO
da empresa” (CHIAVENATO, 2014, p. 438). As infor-
mações inseridas no banco de dados podem incluir: Os princípios de Direito Administrativo são,
cadastro dos trabalhadores (como nome, RG, CPF e assim, os princípios que atuam como diretrizes sistê-
endereço), cadastro de remuneração (progressão dos micas do próprio regime jurídico-administrativo. Os
salários, além dos benefícios e incentivos recebidos), princípios que regem a atividade da Administração
cadastro de treinamento (treinamentos realizados pelo Pública são vastos, podendo estar explícitos em nor-
trabalhador, independentemente de ter sido oferecido ma positivada, ou até mesmo implícitos, porém deno-
pela própria organização), entre outras. tados segundo a interpretação das normas jurídicas.
A figura a seguir apresenta um exemplo de sistema Temos, assim: princípios gerais de Direito Adminis-
de informação gerencial de GP que pode ser acessado trativo, os princípios constitucionais, e os princípios
infraconstitucionais.
pelo gerente.
Princípios Gerais de Direito Administrativo
SISTEMA DE INFORMAÇÃO GERENCIAL

Os princípios gerais de Direito Administrativo,


Qual a remuneração do funcionário? são os princípios basilares desse ramo jurídico, sen-
Quando foi admitido na organização? do aplicáveis ante ao fato de a Administração Públi-
Quando deve ter férias? ca ser considerada pessoa jurídica de direito público.
Saída de Informações

São princípios implícitos, uma vez que eles não preci-


Acesso do Gerente

Qual cargo o funcionário ocupa? sam estar expressos na legislação para que a doutri-
⟶ Qual é sua experiência profissional? ⟶ na aceite sua existência, afinal, sem esses princípios
Quais suas habilidades e conhecimentos? a Administração não poderia funcionar direito. São
dois: o princípio da supremacia do interesse público, e
o princípio da indisponibilidade do interesse público.
Quais os objetivos que o funcionário deve O princípio da supremacia do interesse públi-
alcançar? co é o princípio que dá os poderes e prerrogativas à
O que já foi realizado?
Administração Pública. A supremacia do interesse
O que falta para alcançar 100% da meta?
público sobre o privado é um aspecto fundamental
para o exercício da função administrativa. Podemos
Quais são as tarefas já executadas pelo citar como exemplo a desapropriação de um imóvel
funcionário?
pertencente a um particular: o particular pode ter
Quais tarefas pode desenvolver no futuro?
Qual o potencial de desenvolvimento?
interesse em não ter seu bem desapropriado, ou achar
o valor da indenização injusto, mas ele não pode ter
interesse em extinguir o instituto da expropriação
administrativa. Trata-se de um instituto que deve
Fonte: Adaptado de Chiavenato (2014, p. 440). existir, independentemente da sua vontade.
Mas se o Estado apenas tivesse prerrogativas, com
certeza ele agiria com abuso de autoridade. É por isso
que ao Estado também lhe incumbe uma série de
deveres, fundadas pelo princípio da indisponibilida-
PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO
de do interesse público. Tal princípio pressupõe que
PÚBLICA o Poder Público não é dono do interesse público, ele
deve manuseá-lo segundo o que a norma lhe impõe.
Noção geral de princípio É por isso que ele não pode se desfazer de patrimô-
nio público, contratar quem ele quiser, realizar gas-
Por motivos didáticos, costuma-se dividir as nor- tos sem prestar contas a seu superior, etc. Tais atos
mas cogentes em regras e princípios. Regras são nor- configuram em desvio de finalidade, uma vez que o
mas cogentes que traduzem um comando direto, são objetivo principal deles não é de interesse público,
criadas pelo legislador (portanto, são positivadas), mas apenas do próprio agente, ou de algum terceiro
162 e são utilizadas para a solução de casos concretos e beneficiário.
Princípios Constitucionais da Administração Pública

São os princípios expressos, previstos no Texto Constitucional, mais especificamente no caput do art. 37. Segun-
do o referido dispositivo:

Art. 37 A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

Assim, esquematicamente, temos os princípios constitucionais da:

z Legalidade: fruto da própria noção de Estado de Direito, as atividades do gestor público estão submissas a
forma da lei. A legalidade promove maior segurança jurídica para os administrados, na medida em que proí-
be que a Administração Pública pratique atos abusivos. Ao contrário dos particulares, que podem fazer tudo
aquilo que a lei não proíbe, a Administração só pode realizar o que lhe é expressamente autorizado por lei;
z Impessoalidade: a atividade da Administração Pública deve ser imparcial, de modo que é vedado haver qual-
quer forma de tratamento diferenciado entre os administrados. Esse princípio apresenta algumas vertentes
que são importantes conhecer. A primeira diz respeito à finalidade: há uma forte relação entre a impessoalida-
de e a finalidade pública, pois quem age por interesse próprio não condiz com a finalidade do interesse públi-
co. A outra vertente diz respeito a pessoa do administrador, pois a atividade administrativa é considerada de
seus órgãos e pessoas jurídicas, e nunca de seus agentes; pessoas físicas. Esse é o fundamento da chamada
“Teoria do Órgão”. Por causa disso, é vedada a possibilidade do agente público de utilizar os recursos da Admi-
nistração Pública para fins de promoção pessoal, conforme aponta o § 1º do art. 37 da CF, de 1988;
z Moralidade: a Administração impõe a seus agentes o dever de zelar por uma “boa-administração”, buscando
atuar com base nos valores da moral comum, isso é, pela ética, decoro, boa-fé, e lealdade. A moralidade não é
somente um princípio, mas também requisito de validade dos atos administrativos;
z Publicidade: a publicação dos atos da Administração promove maior transparência e garante eficácia erga
omnes. Além disso, também diz respeito ao direito fundamental que toda pessoa tem de obter acesso a infor-
mações de seu interesse pelos órgãos estatais, salvo as hipóteses em que esse direito ponha em risco a vida dos
particulares ou o próprio Estado, ou ainda que ponha em risco a vida íntima dos envolvidos;
z Eficiência: implementado pela reforma administrativa promovida pela Emenda Constitucional nº 19 de 1998,
a eficiência se traduz na tarefa da Administração de alcançar os seus resultados de uma forma célere, pro-
movendo melhor produtividade e rendimento, evitando gastos desnecessários no exercício de suas funções.
A eficiência fez com que a Administração brasileira adquirisse caráter gerencial, tendo maior preocupação
na execução de serviços com perfeição ao invés de se preocupar com procedimentos e outras burocracias. A
adoção da eficiência, todavia, não permite à Administração agir fora da lei, não se sobrepõe ao princípio da
legalidade;

NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO


Importante!
Um método que facilita a memorização desses princípios é a palavra “limpe”, pois temos os princípios da:
Legalidade
Impessoalidade
Moralidade
Publicidade
Eficiência

Princípios Reconhecidos em Legislação Infraconstitucional

Os princípios administrativos não se esgotam no âmbito constitucional. Existem outros princípios cuja previ-
são não está disposta na Carta Magna, e sim na legislação infraconstitucional, sendo reconhecidos tanto pela
doutrina como pela jurisprudência. É o caso do disposto no caput do art. 2º da Lei nº 9.784, de 1999:

Art. 2° A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação,
razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e
eficiência.

Princípio da Autotutela

A autotutela é um princípio que diz respeito ao controle interno que a Administração Pública exerce sobre
os seus próprios atos. Isso significa que, havendo algum ato administrativo ilícito ou que seja inconveniente e
contrário ao interesse público, não é necessária a intervenção judicial para que a própria Administração anule
ou revogue esses atos.
Não havendo necessidade de recorrer ao Poder Judiciário, quis o legislador que a Administração possa, dessa
forma, promover maior celeridade na recomposição da ordem jurídica afetada pelo ato ilícito, e garantir maior
proteção ao interesse público contra os atos inconvenientes.
163
Segundo o disposto no art. 53 da Lei nº 9.784, de Quanto ao momento correto para sua apresenta-
1999: ção, entende-se que a motivação pode ocorrer simul-
taneamente, ou em um instante posterior a prática do
Art. 53 A Administração deve anular seus próprios ato (em respeito ao princípio da eficiência). A motiva-
atos, quando eivados de vício de legalidade, e pode ção intempestiva, isso é, aquela dada em um momen-
revogá-los por motivo de conveniência ou oportuni- to demasiadamente posterior, é causa de nulidade do
dade, respeitados os direitos adquiridos. ato administrativo.

A distinção feita pelo legislador é bastante opor- Princípio da Finalidade


tuna: ele enfatiza a natureza vinculada do ato anu-
latório, e a discricionariedade do ato revogatório. A Sua previsão encontra-se no art. 2º, par. único, II,
Administração pode revogar os atos inconvenientes, da Lei nº 9.784, de 1999.
mas tem o dever de anular os atos ilegais.
A autotutela também tem previsão em duas súmu- Art. 2° [...]
las do Supremo Tribunal Federal. Súmula nº 346: Parágrafo único - Nos processos administrativos
serão observados, entre outros, os critérios de:
Súmula nº 346 A Administração Pública pode II - atendimento a fins de interesse geral, vedada a
declarar a nulidade de seus próprios atos. renúncia total ou parcial de poderes ou competências,
salvo autorização em lei.
E a Súmula nº 473:
O princípio da finalidade muito se assemelha ao da
Súmula nº 346 A administração pode anular seus primazia do interesse público. O primeiro impõe que
próprios atos, quando eivados de vícios que os tor- o Administrador sempre aja em prol de uma finalida-
nam ilegais, porque deles não se originam direitos; de específica, prevista em lei. Já o princípio da supre-
ou revogá-los, por motivo de conveniência ou opor- macia do interesse público diz respeito à sobreposição
tunidade, respeitados os direitos adquiridos, e res- do interesse da coletividade em relação ao interesse
salvada, em todos os casos, a apreciação judicial. privado. A finalidade disposta em lei pode, por exem-
plo, ser justamente a proteção ao interesse público.
Princípio da Motivação Com isso, fica bastante clara a ideia de que todo
ato, além de ser devidamente motivado, possui um
Um princípio implícito, também pode constar em fim específico, com a devida previsão legal. O desvio
algumas questões como “princípio da obrigatória de finalidade, ou desvio de poder, são defeitos que tor-
motivação”. Trata-se de uma técnica de controle dos nam nulo o ato praticado pelo Poder Público.
atos administrativos, o qual impõe à Administração o
dever de indicar os pressupostos de fato e de direito Princípio da Razoabilidade
que justificam a prática daquele ato. A fundamenta-
ção da prática dos atos administrativos será sempre Agir com razoabilidade é decorrência da própria
por escrito. Possui previsão no art. 50 da Lei nº 9.784, noção de competência. Todo poder tem suas corres-
de 1999: pondentes limitações. O Estado deve realizar suas
funções com coerência, equilíbrio e bom senso. Não
Art. 50 Os atos administrativos deverão ser moti- basta apenas atender à finalidade prevista na lei, mas
vados, com indicação dos fatos e dos fundamentos é de igual importância o como ela será atingida. É uma
jurídicos, quando (...)”; decorrência lógica do princípio da legalidade.
Dessa forma, os atos imoderados, abusivos, irracio-
E também no art. 2º, par. único, VII, da mesma Lei: nais e incoerentes, são incompatíveis com o interesse
público, podendo ser anulados pelo Poder Judiciário
Art. 2° [...] ou pela própria entidade administrativa que prati-
Parágrafo único - Nos processos administrativos cou tal medida. Em termos práticos, a razoabilidade
serão observados, entre outros, os critérios de: [...] (ou falta dela) é mais aparente quando tenta coibir o
VII - indicação dos pressupostos de fato e de direito excesso pelo exercício do poder disciplinar ou poder
que determinarem a decisão. de polícia. Poder disciplinar traduz-se na prática de
atos de controle exercidos contra seus próprios agen-
A motivação é uma decorrência natural do princí- tes, isso é, de destinação interna. Poder de polícia é o
pio da legalidade, pois a prática de um ato administra- conjunto de atos praticados pelo Estado que tem por
tivo fundamentado, mas que não esteja previsto em escopo limitar e condicionar o exercício de direitos
lei, seria algo ilógico. individuais e o direito à propriedade privada.
Convém estabelecer a diferença entre motivo e
motivação. Motivo é o ato que autoriza a prática da Princípio da Proporcionalidade
medida administrativa, portanto, antecede o ato
administrativo. A motivação, por sua vez, é o funda- O princípio da proporcionalidade tem similitudes
mento escrito, de fato ou de direito, que justifica a com o princípio da razoabilidade, sendo implícito
prática da referida medida. Exemplo: na hipótese de também. Há muitos autores, inclusive, que preferem
alguém sofrer uma multa por ultrapassar limite de unir os dois princípios em uma nomenclatura só. De
velocidade, a infração é o motivo (ultrapassagem do fato, a Administração Pública deve atentar-se a exage-
limite máximo de velocidade); já o documento de noti- ros no exercício de suas funções. A proporcionalida-
ficação da multa é a motivação. A multa seria, então, o de é um aspecto da razoabilidade voltado a controlar
164 ato administrativo em questão. a justa medida na prática de atos administrativos.
Busca evitar extremos, exageros, pois podem ferir o z Quanto à adequação
interesse público.
Segundo o art. 2º, par. único, VI, da Lei nº 9.784, de „ Serviços próprios do Estado: são os serviços
1999, deve o Administrador agir com: característicos do Estado brasileiro. Constituem
aqueles serviços que se relacionam intimamen-
Art. 2° [...] te com as atribuições do Poder Público, isto é,
Parágrafo único [...] que possuem alguma relação com o poder de
IV - adequação entre meios e fins, vedada a imposi-
império, que é único do Estado. O Estado exer-
ção de obrigações, restrições e sanções em medida
ce tais serviços em relação de supremacia,
superior àquelas estritamente necessárias ao aten-
sobrepondo a sua vontade a dos particulares.
dimento do interesse público.
É o caso dos serviços de segurança, saúde, do
Na prática, a proporcionalidade também encontra poder de polícia etc.;
sua aplicação no exercício do poder disciplinar e do „ Serviços impróprios do Estado: são, como o
poder de polícia. nome sugere, aqueles serviços que o Estado, ao
Esses não são os únicos princípios que regem as exercê-lo, não necessita do seu poder de impé-
relações da Administração Pública. Porém, escolhe- rio para se sobrepor. São os que não afetam
mos trazer com mais detalhes os princípios que jul- substancialmente as necessidades da comuni-
gamos ser mais característicos da Administração. Isso dade, mas satisfazem interesses comuns de seus
não quer dizer que outros princípios não possam ser membros e, por isso, a Administração os presta
estudados ou aplicados a esse ramo jurídico. A Admi- remuneradamente por seus órgãos ou entidades
nistração também deve atender aos princípios da res- descentralizadas ou, até mesmo, por particula-
ponsabilidade, ao princípio da segurança jurídica, ao res, mediante regime de concessão e permissão.
princípio do contraditório e ampla defesa, ao princí- Os serviços de distribuição de água e energia
pio da isonomia, entre outros. elétrica estão inseridos nessa vertente.

z Quanto à finalidade
INOVAÇÕES INTRODUZIDAS PELA „ Serviços administrativos: são os serviços
CONSTITUIÇÃO DE 1988 que a Administração executa para atender às
suas necessidades internas ou preparar outros
SERVIÇOS ESSENCIALMENTE PÚBLICOS E serviços que serão prestados ao público. São,
SERVIÇOS DE UTILIDADE PÚBLICA assim, os serviços característicos da Adminis-
tração Pública. Um exemplo diferente e que
Os serviços públicos podem ser dos mais variados não mencionamos até agora é o caso do servi-
tipos. O professor Hely Lopes Meirelles12 apresenta uma ço da imprensa oficial, que tem como função
boa classificação para os serviços públicos, que podem divulgar todos os atos prestados pelo Poder
ser agrupados com base nos seguintes critérios: Público, promovendo maior transparência e

NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO


fiscalização de seus atos;
z Quanto à essencialidade „ Serviços industriais: são os serviços que pro-
duzem renda para quem os presta, mediante a
„ Serviços essencialmente públicos: podem
remuneração da utilidade usada ou consumida.
aparecer como serviços públicos propriamente
Essa remuneração se denomina tarifa ou preço
ditos. São os serviços considerados imprescin-
público e será fixada pelo Poder Público quer
díveis para o convívio em sociedade, uma vez
quando o serviço é prestado por seus órgãos ou
que a sua prestação exige algum aspecto ou
entidades, quer quando por concessionários,
uma característica que somente o Estado pos-
permissionários ou autorizatários. Os serviços
sui. Por isso, tais serviços não admitem dele-
de energia elétrica, água e telefonia são serviços
gação ou outorga.
dessa modalidade.
É o caso, por exemplo, do poder de polícia, da saú-
de, da defesa nacional etc. Seria ilógico outorgar para z Quanto aos destinatários
uma empresa privada as atividades decorrentes do
próprio Poder de Império do Estado, como as ativida- „ Serviços gerais ou uti universi: são os ser-
des de polícia e de segurança nacional. O uso do poder viços públicos que não possuem usuários ou
de império é relevante para o critério da adequação, destinatários específicos e são remunerados
mas não são somente as funções ligadas a ele que por tributos. Os serviços de iluminação públi-
caracterizam um serviço público propriamente dito; ca e calçamento são remunerados por essa
maneira;
„ Serviços de utilidade pública: são serviços „ Serviços individuais ou uti singuli: são os que
importantes e úteis, mas não são considera- possuem de antemão usuários conhecidos e pre-
dos essenciais para o convívio em sociedade. determinados. O Estado já sabe, antes, quais são
Por isso, eles podem ser prestados pelo Estado, os beneficiados pela prestação do referido servi-
ou por terceiros, mediante remuneração paga ço. Por isso, esses serviços são remunerados por
pelos usuários e sob constante fiscalização. É tarifa. É o caso do serviço de água e esgoto, de ilu-
o caso dos serviços de transporte coletivo, de minação domiciliar, de telefonia etc.
telecomunicação, do serviço de distribuição de
água, energia elétrica e gás etc.
12 MEIRELLES. H. L. Direito Administrativo Brasileiro. 44ª Edição. Editora Malheiros, 2020. 165
Como forma de facilitar a memorização dessa classificação, segue uma ilustração do que foi exposto:

CLASSIFICAÇÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS


ESSENCIALIDADE ADEQUAÇÃO
serviços de utilidade
serviços essencialmente públicos serviços próprios serviços impróprios
pública
FINALIDADE DESTINATÁRIOS
serviços
serviços universais
serviços administrativos serviços industriais singulares
uti universi
uti singuli

DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS A TERCEIROS

Como vimos, os serviços públicos podem ser executados diretamente pelo Poder Público, ou indiretamente
por terceiros, que podem ser pessoas jurídicas de direito público ou de direito privado. Aqui há uma delegação da
competência administrativa. Resta saber quais são as principais formas de delegação dos serviços públicos, são
três: concessão, permissão e autorização
O termo “concessão” é empregado para designar a atividade da Administração Pública de delegar ao particu-
lar a prestação de um serviço, ou a execução de obra pública, ou ainda o uso de bem público.
Concessão de serviço público é o contrato pelo qual a Administração promove a prestação indireta de um ser-
viço, delegando-o a particulares. Exemplos: a construção de linha ferroviária ou metrô para transporte de passagei-
ros, transmissão áudio sonora (rádio) ou por imagens e sons (televisão), etc. Possui previsão legal na Lei nº 8.987, de
1995 (Lei de Concessões dos Serviços Públicos), bem como previsão constitucional no art. 175 da CF, de 1988:

Constituição Federal de 1988


Art. 175 Incumbe ao poder público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre
através de licitação, a prestação de serviços públicos.
Parágrafo único. A lei disporá sobre:
I - o regime das empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos, o caráter especial de seu contrato
e de sua prorrogação, bem como as condições de caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou permissão;

Lei nº 8.987, de 1995


Art. 2º Para os fins do disposto nesta Lei, considera-se:
[...]
II - concessão de serviço público: a delegação de sua prestação, feita pelo poder concedente, mediante licitação, na
modalidade de concorrência, à pessoa jurídica ou consórcio de empresas que demonstre capacidade para seu desem-
penho, por sua conta e risco e por prazo determinado;

Dessa forma, podemos concluir que a prestação do serviço público pode ocorrer diretamente pela Adminis-
tração Pública, ou indiretamente, mediante delegação do serviço a concessionários e permissionários que, por
expressa determinação legal, necessita de prévio procedimento de licitação.
A concessão de serviço público é contrato administrativo bilateral, o que significa que depende, para a sua
formação, além dos requisitos essenciais a todo negócio jurídico dispostos no art. 104 do Código Civil (agente
capaz, objeto lícito, forma prescrita ou não defesa em lei), a convergência de vontades distintas. Temos de um lado
o poder concedente, que tem por objetivo a execução do serviço público em prol da coletividade; e do outro, a
entidade concessionária que deve executar o serviço, com o objetivo de lucrar mediante a arrecadação de tarifas
dos usuários beneficiados com aquele serviço. O contrato deve ser obrigatoriamente por escrito e rege-se pelas
regras de Direito Administrativo.
Ao mencionar a transferência para pessoa jurídica privada, quis o legislador que a delegação do serviço
não pudesse, em regra, ser feita a pessoas físicas, mas somente à empresa ou a um consórcio de empresas. É o
caso, por exemplo, da Sabesp, que é sociedade de economia mista, na prestação do serviço de abastecimento de
água no Estado de São Paulo.
Essa modalidade de contrato tem por objeto a prestação de serviço público. A delegação ocorre apenas sobre
a execução do serviço, nunca sobre sua titularidade, que continua sendo do poder concedente.
Apesar de a execução do serviço público não ser feita pelo poder concedente, a legislação (art. 29, da Lei nº
8.987, de 1995) prevê outras obrigações para o Estado. São deveres do poder concedente:

Art. 29 [...]
I - Regulamentar e fiscalizar a execução do serviço concedido. A fiscalização é uma forma de exercício de controle
da execução do serviço público, pois por mais que o Estado não esteja realizando a execução do serviço per si, nada
impede que ele possa fiscalizar se a execução está ocorrendo de forma correta. Ele pode mandar um agente vincula-
do à Administração, ou um terceiro contratado justamente para esse fim.
II - Intervir na execução do serviço, nos casos previstos em lei. A intervenção advém do próprio ato de fiscalização:
se a execução do serviço não se mostrar adequada ou estiver conforme o que foi explícito no contrato, o poder con-
cedente pode requisitar a paralisação da execução, por exemplo.
III - Aplicar as penalidades previstas na lei e/ou no contrato. As penalidades pela inexecução do serviço público estão
166 previstas no artigo 87 da Lei nº 8.666, de 1993, podendo variar de uma simples advertência, multa, ou até mesmo
uma declaração de inidoneidade para licitar ou indenização do particular, que teve sua proprieda-
contratar com a Administração Pública enquanto de privada obstruída.
perdurarem os motivos determinantes da punição V - Captar, aplicar e gerir os recursos financeiros
ou até que seja promovida a reabilitação. necessários à prestação do serviço. Todos os encar-
IV - Possibilitar reajustes e a revisão das tarifas gos do serviço público ficam a cargo do concessio-
cobradas. A revisão é uma ferramenta que pode ser nário. Logo, faz parte dessa lógica que ele deve ter
utilizada tanto na fase de estipulação do contrato, poder de decisão sobre os recursos econômicos e
como na fase de execução do serviço público. Se res- financeiros relacionados com a prestação do servi-
tar comprovado que a tarifa de um serviço público ço público.
se tornou demasiadamente alta, é possível realizar
alguns ajustes. Contudo, esses ajustes geralmente Por fim, o art. 35 da Lei nº 8.987, de 1995 dispõe
são muito pequenos, e geralmente costumam ser sobre as modalidades de extinção da concessão do
para elevar o preço da tarifa, e não para diminuí-la. serviço público. São seis ao todo:
V - Atender as reclamações e outras queixas advin-
das dos usuários, zelando pela boa qualidade
z Advento do termo contratual: trata-se da extin-
do serviço. Não faria muito sentido os usuários
ção do contrato pelo encerramento de seu prazo
mandarem suas reclamações pela má qualidade
do serviço prestado para justamente a concessio- de vigência. É a extinção natural do contrato, haja
nária que está executando o referido serviço. Tais vista que nosso direito não admite contrato de con-
reclamações são recebidas pelo superior na linha cessão por prazo indeterminado;
hierárquica, para que ele possa tomar as medidas z Encampação ou resgate: nos termos do art. 37 da
cabíveis. Lei nº 8.987, de 1995, é “a retomada do serviço pelo
VI - Declarar os bens necessários à execução do poder concedente durante o prazo da concessão, por
serviço de necessidade ou utilidade pública. Pode motivo de interesse público, mediante lei autorizativa
ocorrer que a concessionária, para equilibrar o seu específica e após prévio pagamento da indenização
patrimônio, pretenda promover a alienação de um [...]”. Aqui, não ocorreu nenhum tipo de infração de
ou mais bens. Porém, o poder concedente pode atri- algum termo do contrato, o concessionário simples-
buir alguns limites, declarando esses bens como de mente abandonou a execução do contrato (é muito
necessidade, ou de utilidade pública. Dessa forma, comum algumas dessas empresas “desaparecerem”
esses bens tornam-se inalienáveis, e também impe- no meio da prestação do serviço). Por isso, não é
nhoráveis, o que significa que a concessionária não
possível aplicar sanções ao contratado;
pode se dispor deles livremente.
z Caducidade: é a modalidade em que a execução
do serviço não é realizada, no todo ou em parte,
Por outro lado, incumbe à concessionária do servi-
ou pelo descumprimento de encargos atribuídos à
ço público as seguintes tarefas: (art. 31 da Lei nº 8.987,
concessionária. A caducidade deve ser declarada,
de 1995):
havendo a ocorrência de um dos eventos descri-
tos no § 1º do art. 38 da Lei nº 8.987, de 1995, tais
Art. 29 [...]

NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO


como: a concessionária paralisar o serviço, des-
I - Prestar o serviço de maneira adequada, utilizan-
do-se de técnicas específicas de seu conhecimento, cumprir cláusula contratual, não cumprir com as
nos casos previstos na lei ou no contrato. Essa é penalidades impostas etc.;
a tarefa primordial, óbvio, pois a concessionária z Rescisão por culpa do poder concedente: caso o
é a responsável pela execução do serviço público. poder concedente descumpra com alguma regra esta-
II - Prestar contas da gestão do serviço ao poder belecida no instrumento contratual, a concessionária
concedente e aos usuários. É formada uma rela- tem direito a ingressar em juízo, objetivando à indeni-
ção de hierarquia entre o poder concedente e o zação dos danos decorrentes da extinção contratual.
concessionário. Por isso, este deve prestar contas A indenização, neste caso, abrange somente os danos
de seus atos ao seu superior, devendo informar se emergentes (o que efetivamente perdeu), e não os
a gestão do serviço público está ocorrendo corre- lucros cessantes (o que ele poderia ter ganhado).
tamente, se não há nenhuma falha ou defeito, etc. z Anulação: é a modalidade de extinção em que consta
III - Cumprir e fazer cumprir as normas do serviço vício de legalidade no contrato. O contrato perde sua
e as cláusulas contratuais, havendo possibilidade eficácia desde a sua concepção (ex tunc), o que signi-
de pedir indenização pela inexecução do contrato. fica que a concessionária não faz jus à indenização,
É tarefa do concessionário exigir que tudo aquilo exceto quanto a parte já executada do contrato;
avençado no contrato se torne realidade. Assim, se z Decretação de falência: como a concessão é con-
o poder concedente se recusar a lhe outorgar algo trato personalíssimo, ou seja, as partes contra-
estabelecido em contrato, ou se o valor da remu- tantes têm grande relevância para a execução do
neração não for igual a aquele avençado, poderá o serviço, havendo o desaparecimento da empresa
concessionário pedir a rescisão do contrato, com concessionária mediante falência, ou o falecimen-
pagamento de indenização pelo Poder Público. to de empresário individual, o vínculo contratual
IV - Promover desapropriações e construir servi- também desaparece.
dões administrativas, mediante autorização do
poder concedente. Essas são formas de intervenção A permissão é outra forma da Administração
do Estado na propriedade privada. Pode ocorrer Pública de delegar a execução de serviço público para
que o concessionário, para a melhor execução de os particulares, também possui previsão no art. 175
um serviço, precise ocupar um espaço de proprie- da CF, de 1988 e na Lei nº 8.987, de 1995. A permis-
dade de um particular, seja para fins de desapro- são é unilateral, discricionária, precária e intuitu
priação, ou uma outra forma de intervenção mais personae (personalíssima), promove a delegação
branda, como construir uma servidão. Todas essas do serviço público mediante prévia licitação para um
hipóteses são possíveis, desde que mediante pré- particular denominado permissionário.
via autorização, e também desde que haja uma 167
Questão controvertida é a natureza jurídica da per- Importante destacar as diferenças entre permis-
missão. Após a Constituição de 1988, o direito brasileiro são e a concessão de serviço público, que podem ser
passou a tratar a permissão como se fosse um contrato determinadas com base nos seguintes requisitos:
de adesão, como se depreende da leitura do inciso I do
parágrafo único do art. 175 da Carta Magna: “
z Quanto à natureza jurídica: a permissão é uni-
Art. 175 [...] lateral, enquanto a concessão é contrato bilateral.
I - o regime das empresas concessionárias e permis- z Quanto aos beneficiários: qualquer pessoa pode
sionárias de serviços públicos, o caráter especial de ser permissionária, mas somente as pessoas jurídi-
seu contrato e de sua prorrogação, bem como as con- cas (empresas) podem ser concessionárias;
dições de caducidade, fiscalização e rescisão da con- z Quanto ao aporte de capital: a concessão exige
cessão ou permissão”.
maior aporte de capital, a permissão admite inves-
timentos de pequeno ou médio porte;
Todavia, contrato de adesão é remetente aos contra-
tos de Direito Privado, principalmente nas relações de z Quanto à licitação: a concessão deve ser prece-
consumo. Tal modalidade de contrato é elaborado unila- dida de licitação na modalidade de concorrência.
teralmente pelo fornecedor, obrigando a parte aderente Não há essa exigência para a permissão;
apenas a manifestar o seu aceite. Trata-se de uma carac- z Quanto à forma da outorga: a concessão se dá
terística presente também nos contratos administrati- mediante promulgação de lei específica. A permis-
vos: as regras enclausuradas no contrato administrativo são necessita apenas de autorização legislativa.
são unilateralmente elaboradas pelo poder concedente,
antes mesmo do processo de licitação. A autorização, por sua vez, é um ato administrativo
A confusão se estende ainda mais no âmbito legis- por meio do qual a administração pública possibilita ao
lativo, como ocorre no art. 40 da Lei nº 8.987, de 1995,
particular a realização de alguma atividade de predomi-
ao dispor que a permissão
nante interesse deste, ou a utilização de um bem público;
Art. 40 será formalizada mediante contrato de ade- Assim como a permissão, a autorização é um ato
são, que observará os termos desta Lei, das demais unilateral, discricionário, precário e independente
normas pertinentes e do edital de licitação, inclusi- de licitação. Todavia, se difere da permissão ante o
ve quanto à precariedade e à revogabilidade unila- fato de que o interesse da autorização é predominan-
teral do contrato pelo poder concedente”. temente privado. Um exemplo disso é a autorização
para o porte de arma: apenas o particular tem interes-
Esse dispositivo não faz o menor sentido, uma vez
se de ter em sua posse arma de fogo
que dispõe que a permissão é uma espécie de “contra-
Parte da doutrina entende que é incabível a uti-
to precário”.
Não parece correto admitir que a permissão seja lização de autorização para a prestação de serviços
uma espécie de contrato regulado por normas de públicos, por força do art. 175 da CF, de 1988:
Direito Privado, com princípios completamente distin-
tos dos princípios administrativos. Todavia, há diver- Art. 175 Incumbe ao Poder Público, na forma da
sos autores que admitem tal possibilidade, inclusive o lei, diretamente ou sob regime de concessão ou per-
próprio Supremo Tribunal Federal, no julgamento da missão, sempre através de licitação, a prestação de
ADI nº 1.491, de 1998 0. A ação de inconstitucionalida- serviços públicos.
de foi ajuizada pelo Partido Democrático Trabalhista
(PDT) e pelo Partido dos Trabalhadores (PT) contra
dispositivos da Lei n° 9.295, de 1996, que dispõe sobre
os serviços de telecomunicações e sua organização.
O relator à época, ministro Carlos Velloso, votou pelo
RELAÇÕES HUMANAS NO TRABALHO
deferimento da liminar para suspender os efeitos do §
Atualmente, a ênfase nas relações humanas no
2° do art. 8°. Esse dispositivo determina que
ambiente de trabalho tornou-se assunto central no
Art. 8° [...] cotidiano das organizações, muito devido à real neces-
§ 2° As entidades que, na data de vigência desta sidade de construir uma organização a qual comporte
Lei, estejam explorando o Serviço de Transporte de uma diversidade cultural e, assim, possibilite a maxi-
Sinais de Telecomunicações por Satélite, median- mização dos resultados organizacionais.
te o uso de satélites que ocupem posições orbitais Para alcançar o alto desempenho da equipe, é fun-
notificadas pelo Brasil, têm assegurado o direito à damental a escolha certa de seus integrantes, levando
concessão desta exploração.
em conta a personalidade e a capacidade de se rela-
cionar de cada um.
O fundamento da ADI é que, no entendimento dos
Atualmente, as organizações valorizam a habilida-
referidos Partidos Políticos, tal dispositivo viola a exi-
de do colaborador em criar relacionamentos duradou-
gência constitucional de licitação prévia à realização
da concessão ou permissão de serviços públicos e ao ros pautados na confiança com outros funcionários
princípio da livre concorrência e defesa do consumi- da empresa, criando uma cultura organizacional de
dor. É um tanto surpreendente afirmar que a permis- colaboração.
são de serviço público deve seguir normas e regras de Neste sentido, com o objetivo de descrever e expli-
Direito do Consumidor (ramo de Direito Privado). car o comportamento dos membros de grupos de tra-
Por isso, para todos os efeitos, vamos nos alinhar balho, o psicólogo Bruce W. Tuckman desenvolveu um
com a posição da maioria das bancas costuma e defi- modelo de formação de equipes.
168 nir a permissão como um contrato de adesão.
No modelo de Tuckman, as equipes perpassam por 5 fases de desenvolvimento, são elas:

z Formação: fase inicial, caracterizada pela incerteza. Inicia-se a definição de propósito, da estrutura e da lide-
rança. Os membros começam a se reconhecer como participantes;
z Conflito (agitação, tormenta, ebulição): é a fase de ajustes e de resistência ao controle e aos limites impostos pelo
grupo. O líder passa a coordenar os trabalhos, negociando e ajustando as disputas e as responsabilidades de cada um;
z Normalização (acordo, estabilização, confiança): nesta fase desenvolvem-se os relacionamentos, a coesão
e os papeis são definidos;
z Desempenho (execução): é a fase da produtividade, a energia se move para a tarefa e para o trabalho. Cria-se
uma grande sinergia entre os membros;
z Desintegração (dispersão): com a conclusão das atividades e a entrega do trabalho, a equipe é desfeita. Ini-
cia-se um novo processo.

� Fase inicial de conhecimento dos


Formação
membros
� Fase de ajustes dos
Conflito
relacionamentos
� Desenvolvimento dos relacionamentos
Normatização
(coesão)
Desempenho � Fase de alta produtividade
� Término da equipe (após a
Desintegração
finalização dos trabalhos)

EFICÁCIA NO COMPORTAMENTO INTERPESSOAL

O comportamento interpessoal eficaz é quando as pessoas compreendem a importância de suas habilidades


em prol da reciprocidade dos outros colaboradores, criando assim uma cultura colaborativa.
Neste sentido, o comportamento interpessoal funciona como um dos pilares dos relacionamentos diante a
própria organização, aos colegas de trabalho, clientes, parceiros e a sociedade.
Nessa época de grande complexidade da sociedade, cada vez mais é exigido das pessoas um comportamento interpes-
soal de excelência, não sendo mais aceitas atitudes e ações individualistas, que podem desintegrar o clima organizacional.
Sabemos que para o sucesso das organizações é indispensável encontrar, contratar e gerir pessoas que tenham
facilidade no relacionamento interpessoal! E como encontrar essas habilidades nos colaboradores?
Hoje em dia, a busca pelo talento ideal dotado de uma alta competência individual e interpessoal envolve 3

NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO


aspectos essenciais:

z Conhecimento: é o saber. É a busca contínua do aprendizado, capacidade de aprender. É adquirido por meio
da formação educacional;
z Habilidade: é o saber fazer. É a transformação do conhecimento em resultado por meio da utilização e aplica-
ção do conhecimento para resolver problemas e/ou inovar. É conquistada por meio da experiência profissional;
z Atitude: é saber fazer acontecer. É a busca pela autorrealização do seu potencial com determinação, responsabili-
dade, comprometimento, motivação, confiança e iniciativa. São os atributos pessoais, intrínsecos a cada indivíduo.

Conhecimentos
(Saber)

COMPETÊNCIA

Habilidades Atitudes
(Saber Fazer) (Querer Fazer)

Dica
Para nunca mais esquecer, utiliza-se o mnemônico C. H. A. da Competência, ou seja, Conhecimento, Habili-
dade e Atitude.

169
FATORES POSITIVOS DO RELACIONAMENTO Já a compreensão mútua consiste na busca do
consenso entre diversas opiniões e é uma importante
Em regra, o trabalho em equipe costuma tomar característica de equipe de alto desempenho. Atual-
mais tempo e consumir mais recursos do que o traba- mente, as organizações procuram formar as equipes
lho individual. Desse modo, para serem considerados com a máxima diversidade, permitindo assim dife-
mais viáveis, os benefícios das equipes devem superar rentes opiniões e um enriquecimento das decisões.
os seus custos. Em regra, o atrito e as hostilidades interpessoais,
Neste sentido, o sucesso do desempenho de uma inerentes aos conflitos de relacionamento, reduzem a
equipe está estreitamente ligado aos fatores positivos compreensão mútua, o que impede a realização das
do relacionamento de seus membros. Esse relacio- tarefas organizacionais.
namento de cooperação, além de trazer benefícios e Desse modo, é crucial ao gestor conhecer as melho-
resultados vantajosos para os membros da equipe, res práticas de gerenciamento de conflitos e liderar a
proporciona a organização um fortalecimento da cul- equipe para a total sinergia, e consequentemente ao
tura organizacional. alto desempenho.
Equipes eficazes são aquelas em que o somatório
de fatores positivos se sobressai dos fatores negativos.
São fatores positivos detectados em equipes eficazes:

z Comprometimento dos membros com propósitos ÉTICA E CIDADANIA


comuns e significativos;
z Metas específicas para a equipe, na qual condu- Neste tópico, iniciamos um ponto muito inte-
zam os membros para um melhor desempenho; ressante, que é a aplicação dos conceitos de ética e
z Cultura da colaboração (discutindo ideias, sem democracia de forma conjunta. O nome do conteúdo
radicalismos); informa-nos que a união da ética com a democracia
z Questões comportamentais são discutidas abertamente; será o exercício da cidadania. Assim, teremos que,
z Alto nível de confiança entre os membros; novamente, organizar os conceitos de ética e de demo-
z Maior flexibilidade; cracia e compreender como chegaremos ao exercício
z Conflitos são sempre resolvidos; da cidadania.
z Incentivo ao autodesenvolvimento.

COMPORTAMENTO RECEPTIVO E DEFENSIVO, Ética Democracia Cidadania


EMPATIA E COMPREENSÃO MÚTUA

As mudanças e/ou novidades são eventos que modi-


ficam o relacionamento interpessoal no cotidiano da ÉTICA
organização. Esses eventos encadeiam 2 tipos de com-
portamentos nos colaboradores da empresa, são eles: Ética é uma área da filosofia. É um estudo amplo,
universal e atemporal. Seu objeto de estudo são prin-
z Comportamento defensivo: o comportamento cípios fundamentais das ações e do comportamento
defensivo é frequente em situações de mudanças, humano. Finalmente, podemos inferir que a ética é
no qual a pessoa se sente ameaçada com a nova uma ciência.
situação. Consiste em um mecanismo de defesa
que, inconscientemente, a pessoa aplica para se
proteger do que é desconhecido. Atualmente, exis- Importante!
tem técnicas para que esse comportamento não
atrapalhe a formação de equipes e com isso acele- A filosofia deve ser entendida como a ciência por
re a integração; definição, justamente por se ocupar dos temas
z Comportamento receptivo: diferentemente do mais relevantes.
comportamento defensivo, uma pessoa recepti-
va, além de ser aberta a novas situações, percebe
oportunidades de melhoria com a mudança. Uma Como área da filosofia, a ética apresenta-se, como
característica inerente ao comportamento recepti- vimos, como um estudo amplo, universal e atemporal.
vo é a curiosidade, abrindo espaços para a implan- Dentre suas muitas áreas de atuação, a ética debruça-
tação mais eficaz da nova situação. -se sobre a moral, ou seja, a moral é um dos campos
de estudo da ética.
Outro fator importante para o sucesso dos rela- Entenda: ética e moral são coisas distintas, mas a
cionamentos interpessoais nas equipes de trabalho ética estuda a moral e a moral é uma aplicação práti-
é o nível de empatia e compreensão mútua entre os ca, pessoal, temporal e limitada.
participantes.
A empatia é a capacidade da pessoa em ouvir cui-
dadosamente as opiniões de seus colegas e de perce- Aplicação Temporal e
ber o que as outras pessoas sentem. É considerada MORAL Pessoal
Prática Limitada
uma importante dimensão da inteligência emocional,
permitindo assim identificar e administrar referên-
cias e informações emocionais.
Um ponto a se atentar é que as equipes virtuais De posse desse conceito mais complexo, podemos
frequentemente possuem menor empatia e interação iniciar um entendimento sobre a aplicação do termo
170 direta entre seus membros. democracia neste ponto de estudo.
“Democracia” é uma palavra de origem grega for- Se pudéssemos esquematizar esses conceitos, teríamos
mada por dois vocábulos: demos + kratos (traduzidos que montar um fluxo de eventos que se daria da seguinte
por povo + poder). Dessa forma, o nosso ponto de estu- forma:
do é o conjunto da ética, do povo e de seu poder como
forma de exercer a cidadania. Democracia (povo + poder):
Lembre-se do que preconiza o parágrafo único, do Ética: área da filosofia
regime de governo
art. 1º, da Constituição Federal de 1988: Todo o poder
emana do povo, que o exerce por meio de representantes
eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Des-
Cidadania: qualidade que
sa forma, o poder é único e emana sempre do povo. Exercício: prática reiterada o homem ostenta em sua
Para fixarmos o entendimento, reveja os conceitos comunidade
a seguir:

z Ética: a ética é a parte da filosofia que estuda a Cidadão: pessoa que faz Moral: conceito temporal,
moral, ou seja, temos uma ciência — a filosofia — parte de uma comunidade, limitado e correspondente
possuindo direitos e a uma realidade — define
e, dentro dela, uma grande área — a ética. A moral deveres concomitantes valores
é um campo de estudo dentro da ética. Esse cam-
po reflete e questiona sobre as regras morais. Uma
ação ética pode ser um tipo de comportamento Regras jurídicas: são as Valores: oriundos da moral,
regrado por princípios e valores morais; leis, positivadas por meio são usados para construir
do sistema legislativo ou regras jurídicas, morais ou
dos decretos executivos de costume

Filosofia
Regras morais: definições de
certo ou errado que não são
leis no seu sentido formal
Ética

Importante
Moral
Immanuel Kant diferencia o direito da moral de
forma bastante objetiva:
� A moral relaciona-se com as condutas que res-
peitam o dever, o amor e o bem;
� O direito preocupa-se com a conduta e com
seus aspectos exteriores.

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z Democracia: palavra de origem grega formada por
dois vocábulos (demos + kratos ou povo + poder). Pode- CIDADANIA
mos inferir, então, que nesse regime governamental o Cidadania é a condição dos indivíduos de uma
poder de governar emana do e é exercido pelo povo; sociedade (comunidade) por ela reconhecida, exer-
z Cidadania: quando um indivíduo exerce seus deveres cendo seus direitos e deveres em um espaço geográfi-
e goza de seus direitos dentro do Estado, tal exercício co definido (organização sociopolítica do espaço).
compreende o que chamamos de cidadania. Dessa for- Desse modo, a cidadania é a relação entre as expe-
ma, é importante que fique claro que a cidadania se dá riências individuais e sociais do indivíduo em uma
pela junção dos deveres e dos direitos. sociedade, criando assim a consciência de pertencer a
algo maior, ou seja, a um coletivo (sociedade).
Neste sentido, vejamos um exemplo de como o
O exercício da cidadania plena acontece quando o tema já foi cobrado em uma questão de prova. A ban-
cidadão tem direitos civis, políticos e sociais. Ou seja, ca examinadora Quadrix, no ano de 2019, trouxe a
é a capacidade do cidadão de poder exercer o conjun- seguinte conceituação:
to de direitos e liberdades políticas e socioeconômicas
de seu país. O exercício da cidadania é um complexo A cidadania é definida como a extensão de direitos e
que abrange direitos e deveres de forma constante. deveres a todas as camadas da população, todavia
tal conceito se modifica com a dinâmica da própria
O cidadão recebe benesses13 por fazer parte de uma
sociedade, com referência específica a transforma-
comunidade, mas se sujeita a mandamentos impostos ções de ordem política, econômica, social e cultural.
por essa comunidade.
Na lição de Nelson Dacio Tomazi (2010): Para facilitar o entendimento, segue abaixo um
mapa mental com as palavras-chave deste assunto:
O conceito de cidadania foi gerado nas lutas que estru-
turaram os direitos universais do cidadão. Desde o sécu- CIDADÃO Direitos
lo XVIII, muitas ações e movimentos foram necessários CIDADANIA (aquele que habita Garantias
para que se ampliassem o conceito e a prática de cidada- a cidade) Deveres
nia. Nesse sentido, pode-se afirmar que defender a cida-
dania é lutar pelos direitos e, portanto, pelo exercício da
democracia, que é a constante criação de novos direitos. Conjunturas sociais e políticas ao longo dos tempos

13 Vantagem recebida sem trabalho nem empenho; benefício. 171


Dessa maneira, a cidadania é constituída por alguns elementos:

z Vínculo de pertencimento: é o sentimento de pertencimento coletivo e de inclusão em determinada sociedade,


consolidando, assim, a cultura, costumes, tradições e, consequentemente, criando a identidade nacional. Exempli-
ficando: é aquela sensação de união de todos os indivíduos de uma nação em busca de um objetivo comum que
encontramos em eventos esportivos (Copa do Mundo, Olimpíada);
z Participação política: a cidadania não é somente um critério passivo de pertencimento a uma sociedade, é
também uma atividade na participação política coletiva. Essa prática social deve ser titularizada pelos indiví-
duos por meio do seu direito ao voto e participação na definição dos rumos da nação. Exemplificando: capa-
cidade (direito) de votar e ser votado nos processos eleitorais;
z Portador de direitos e deveres: são os direitos e deveres de cada indivíduo conquistados progressivamente
na busca de igualdade e mitigação das desigualdades. Exemplificando: todos nascem livres e iguais, portado-
res de direitos e deveres com a sociedade.

Vínculo
Participação
de
política
pertencimento

ELEMENTOS
DA
CIDADANIA

Direitos
e
deveres

Neste sentido, conforme o mestre Marshal, a cidadania moderna pode ser entendida como um status conce-
dido àqueles que pertencem a uma sociedade, possuindo igualdade nos seus direitos e obrigações pertinentes ao
Estado.
Esse conjunto de direitos e obrigações é identificado em 3 dimensões (gerações) de direitos. São elas:

z 1ª Dimensão: Liberdade — direitos civis e políticos;


z 2ª Dimensão: Igualdade — direitos sociais, econômicos e culturais;
z 3ª Dimensão: Solidariedade (fraternidade) — direitos coletivos.

Dica
As dimensões estão na ordem do lema da Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

1ª → Liberdade Direitos Políticos P = Primeira geração


Direitos Civis
DIMENSÕES
Direitos Sociais SEC = Segunda geração
DOS DIREITOS 2ª → Igualdade Direitos Econômicos
FUNDAMENTAIS Direitos Culturais
3ª → Fraternidade Direitos Coletivos

Inferimos, assim, que a cidadania é a grande possibilidade de o indivíduo participar ativamente da vida social
e política do seu país. Nesta senda, é importante conhecer o brilhante ensinamento sobre esse tema do mestre
Dalmo Dallari, o qual já foi cobrado em diversas provas de concursos:

A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do
governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de deci-
sões, ficando em uma posição de inferioridade dentro do grupo social.14

Por fim, percebemos que a cidadania está em permanente construção, sendo uma verdadeira conquista da
sociedade, através daqueles que lutam por um mundo mais justo, com mais direitos, maior liberdade e melhores
garantias individuais e coletivas.

172 14 DALLARI, D. Direitos Humanos e Cidadania. São Paulo: Moderna, 1998. p. 14.
Em provas, é comum que o examinador traga
LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA probidade e moralidade como sinônimos e essa vem
- LEI 8.429, DE 1992 sendo a regra nas provas, mas é importante que
você saiba essa sutil diferença caso a banca queira
No dia 26 de outubro de 2021 foi publicada a Lei aprofundar.
nº 14.230, de 2021, que traz alterações significativas à
Lei de Improbidade Administrativa — Lei nº 8.429, de Art. 1º O sistema de responsabilização por atos de
1992. Faremos a análise da Lei de Improbidade apon- improbidade administrativa tutelará a probidade
tando tais alterações. A improbidade administrativa na organização do Estado e no exercício de suas
tem fundamento no princípio da moralidade e no § 4º, funções, como forma de assegurar a integrida-
art. 37, da Constituição Federal: de do patrimônio público e social, nos termos
desta Lei.
Art. 37 [...]
§ 4º Os atos de improbidade administrativa impor- A primeira mudança importante da lei é que os
tarão a suspensão dos direitos políticos, a perda atos de improbidade passam a depender de uma con-
da função pública, a indisponibilidade dos bens e o duta dolosa, ou seja, não é mais admitida a modalida-
ressarcimento ao erário, na forma e gradação pre- de culposa nos atos de improbidade.
vistas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível. O § 2º traz o conceito de dolo. Além disso, é impor-
Dica tante que você saiba que o dolo aqui descrito é o dolo
específico, ou seja, a intenção de alcançar o resultado.
Para memorizar as sanções do mencionado arti- Exemplo: um servidor frauda a licitação para benefi-
go, utilize o mnemônico PARIS: ciar um amigo.
Perda da função pública
Ação penal § 1º Consideram-se atos de improbidade adminis-
Ressarcimento trativa as condutas dolosas tipificadas nos arts. 9º,
Indisponibilidade dos bens 10 e 11 desta Lei, ressalvados tipos previstos em
Suspensão dos direitos políticos leis especiais.
§ 2º Considera-se dolo a vontade livre e consciente de
Nesse sentido, percebe-se que a Administração alcançar o resultado ilícito tipificado nos arts. 9º, 10 e
Pública, além da legalidade formal, precisa observar, 11 desta Lei, não bastando a voluntariedade do agente. 
também, os princípios éticos de lealdade, da boa-fé e § 3º O mero exercício da função ou desempenho de
competências públicas, sem comprovação de ato
de regras que assegurem a boa administração.
doloso com fim ilícito, afasta a responsabilidade
O art. 1º dispõe que o sistema de responsabiliza-
por ato de improbidade administrativa.
ção por atos de improbidade administrativa tutelará
§ 4º Aplicam-se ao sistema da improbidade disci-
a probidade na organização do Estado. E qual seria a
plinado nesta Lei os princípios constitucionais do
diferença entre probidade e moralidade? Existe dife-
direito administrativo sancionador.

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rença ou são sinônimos?
Ambas têm fundamento na ideia de honestidade,
Quando o legislador diz no § 4º que se aplicam ao
mas a moralidade é um conceito jurídico indetermi-
sistema de improbidade os princípios constitucionais
nado trazido como princípio constitucional no caput
do art. 37, da CF. Segundo Di Pietro (2020), “a morali- do direito administrativo sancionador, quer dizer que
dade exige basicamente honestidade, observância das serão aplicadas as normas constitucionais relativas ao
regras de boa administração, atendimento ao interesse direito penal que protejam e beneficiem o réu, como,
público, boa-fé, lealdade.” por exemplo, a retroatividade da lei mais benéfica.
Já a probidade é prevista em lei. A improbidade Nesse sentido, observe este julgado do Superior
é gênero que alcança atos de ilegalidade, imoralida- Tribunal de Justiça sobre o tema direito administra-
de e qualquer violação a princípios da Administração tivo sancionador:
Pública. Ainda nos ensinamentos de Di Pietro,
[...] o tema insere-se no âmbito do Direito Adminis-
Comparando moralidade e probidade, pode-se afir- trativo sancionador e, segundo doutrina e jurispru-
mar que como princípios, significam praticamente dência, em razão de sua proximidade com o Direito
a mesma coisa, embora algumas leis façam referên- Penal, a ele se estende a norma do artigo 5º, XVIII,
cia às duas separadamente, do mesmo modo que da Constituição da República, qual seja, a retroati-
há referência aos princípios da razoabilidade e da vidade da lei mais benéfica” (REsp 1.353.267; e, em
proporcionalidade como princípios diversos, quan- idêntico sentido, o RMS 37.031).
do este último é apenas um aspecto do primeiro.
No entanto, quando se fala em improbidade como SUJEITOS PASSIVOS DO ATO DE IMPROBIDADE
ato ilícito, como infração sancionada pelo orde-
namento jurídico, deixa de haver sinonímia entre Os parágrafos 5º, 6º e 7º descrevem os sujeitos
as expressões improbidade e imoralidade, porque
passivos do ato de improbidade, que são aqueles que
aquela tem um sentido muito mais amplo e muito
sofrem o ato. São eles:
mais preciso que abrange não só atos desonestos
ou imorais, mas também e principalmente atos ile-
gais. Na lei de improbidade administrativa (lei nº z Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário,
8.429, de 1992), a lesão à moralidade administrati- bem como a administração direta e indireta, no
va é apenas uma das inúmeras hipóteses de atos de âmbito da União, dos Estados, dos Municípios e
improbidade previstas na lei.15 do Distrito Federal;
15 DI PIETRO, M. S. Z. Direito Administrativo. 33ª Ed. São Paulo: Atlas, 2020. p. 1041-1042. 173
z Entidade privada que receba subvenção, bene- Além deles, temos como sujeito ativo também
fício ou incentivo, fiscal ou creditício, de entes aqueles que, mesmo não sendo agentes públicos,
públicos ou governamentais citados acima; induzam ou concorram dolosamente para a prática
z Entidade privada para cuja criação ou custeio do ato de improbidade.
o erário haja concorrido ou concorra no seu
patrimônio ou receita atual, limitado o ressarci- Art. 2º Para os efeitos desta Lei, consideram-se
mento de prejuízos, nesse caso, à repercussão do agente público o agente político, o servidor público
ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos. e todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente
ou sem remuneração, por eleição, nomeação, desig-
§ 5º Os atos de improbidade violam a probidade na nação, contratação ou qualquer outra forma de
organização do Estado e no exercício de suas fun- investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou
ções e a integridade do patrimônio público e social função nas entidades referidas no art. 1º desta Lei.
dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
bem como da administração direta e indireta, Parágrafo único. No que se refere a recursos de ori-
no âmbito da União, dos Estados, dos Municí- gem pública, sujeita-se às sanções previstas nesta
pios e do Distrito Federal. Lei o particular, pessoa física ou jurídica, que cele-
§ 6º Estão sujeitos às sanções desta Lei os atos bra com a administração pública convênio, contrato
de improbidade praticados contra o patrimônio de repasse, contrato de gestão, termo de parceria,
de entidade privada que receba subvenção, benefício termo de cooperação ou ajuste administrativo equi-
ou incentivo, fiscal ou creditício, de entes públicos ou valente. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
governamentais, previstos no § 5º deste artigo.
§ 7º Independentemente de integrar a administra- O art. 2º descreve o conceito de agente público;
ção indireta, estão sujeitos às sanções desta Lei podemos dizer que o conceito trazido na lei trata de
os atos de improbidade praticados contra o
agentes públicos em sentido amplo e seriam os:
patrimônio de entidade privada para cuja criação
ou custeio o erário haja concorrido ou concorra no
seu patrimônio ou receita atual, limitado o ressar- z Agentes políticos;
cimento de prejuízos, nesse caso, à repercussão do z Servidores públicos;
ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos. z Todo aquele que exerce, ainda que transitoria-
mente ou sem remuneração, por eleição, nomea-
Com relação às entidades privadas que, mesmo ção, designação, contratação ou qualquer outra
não integrando a administração indireta, recebem forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo,
dinheiro público, “criação ou custeio o erário haja con- emprego ou função;
corrido ou concorra no seu patrimônio ou receita”, o z O particular, pessoa física ou jurídica, que cele-
ressarcimento dos prejuízos será limitado à repercus- bra com a Administração Pública convênio,
são do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos. contrato de repasse, contrato de gestão, termo
Exemplo: uma entidade privada recebe R$ 55.000,00 de parceria, termo de cooperação ou ajuste
de dinheiro público, então ela poderá pleitear em Ação administrativo equivalente (particular equipa-
de Improbidade Administrativa o ressarcimento dos rado a agente público).
prejuízos até o limite de R$ 55.000,00.
Art. 3º As disposições desta Lei são aplicáveis, no
§ 8º Não configura improbidade a ação ou omis- que couber, àquele que, mesmo não sendo agente
são decorrente de divergência interpretativa da lei, público, induza ou concorra dolosamente para a
baseada em jurisprudência, ainda que não pacifi- prática do ato de improbidade.
cada, mesmo que não venha a ser posteriormente § 1º Os sócios, os cotistas, os diretores e os colabo-
prevalecente nas decisões dos órgãos de controle radores de pessoa jurídica de direito privado não
ou dos tribunais do Poder Judiciário. respondem pelo ato de improbidade que venha a
ser imputado à pessoa jurídica, salvo se, compro-
No § 8º a lei deixa claro que as divergências inter- vadamente, houver participação e benefícios dire-
pretativas das leis, baseadas em jurisprudências, não tos, caso em que responderão nos limites da sua
configuram ato de improbidade. Se um agente públi- participação.
co, por exemplo, efetua a dispensa de licitação em uma § 2º As sanções desta Lei não se aplicarão à pes-
hipótese na qual há divergência jurisprudencial a res- soa jurídica, caso o ato de improbidade adminis-
peito da possibilidade ou impossibilidade de dispensa, trativa seja também sancionado como ato lesivo à
administração pública de que trata a Lei nº 12.846,
em tal situação não há que se falar em improbidade
de 1º de agosto de 2013.
mesmo que posteriormente a interpretação prevalente
seja contrária ao ato praticado pelo agente. Esse dispo-
sitivo garante mais segurança jurídica. O art. 3º traz algumas novidades importantes, pois
dispõe que:
SUJEITOS ATIVOS DO ATO DE IMPROBIDADE
Salvo se,
Os sócios, os Não respondem comprovadamente,
O sujeito ativo é aquele que pratica o ato descrito na cotistas, os pelo ato de houver participação
Lei de Improbidade. Segundo dispõe a norma, conside- diretores e os improbidade e benefícios
ra-se sujeito ativo os agentes políticos, servidores públi- colaboradores de que venha a ser diretos, caso em
cos, aqueles que exercem, ainda que transitoriamente pessoa jurídica de imputado à pessoa que responderão
ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designa- direito privado jurídica nos limites da sua
participação
ção, contratação ou qualquer outra forma de investidu-
ra ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função. Aqui
174 entra a figura do mesário, do jurado, do estagiário etc.
Além disso, as sanções trazidas nessa lei não se patrimônio transferido, não lhe sendo apli-
aplicarão à pessoa jurídica, caso o ato praticado cáveis as demais sanções previstas nesta Lei
seja também sancionado como ato lesivo à Admi- decorrentes de atos e de fatos ocorridos antes
nistração Pública de que trata a Lei Anticorrupção. da data da fusão ou da incorporação, exceto
Ainda com relação aos agentes políticos, pode-se no caso de simulação ou de evidente intuito de
citar como exemplos os Chefes do Executivo e seus fraude, devidamente comprovados.
auxiliares diretos; membros do Legislativo, mem-
bros do Judiciário; membros do Ministério Público; A responsabilidade sucessória teve alguns acrés-
membros dos Tribunais de Contas e representantes cimos. Nas hipóteses de dano ao erário e enriqueci-
diplomáticos. mento ilícito, se houver o falecimento do causador
A Lei nº 14.230, de 2021, incluiu expressamente do dano, o sucessor ou o herdeiro ficam obrigados à
“agente político” como agente público, consolidando reparação até o limite do valor da herança ou do patri-
o que a jurisprudência já decidia a respeito da aplica- mônio transferido.
ção da Lei de Improbidade aos agentes políticos. Com Essa regra já estava prevista no texto anterior da
relação aos Chefes do Executivo, é importante ficar Lei de Improbidade. A novidade agora é que a res-
atento para a exceção quanto ao Presidente da Repú- ponsabilidade sucessória de que trata o art. 8º apli-
blica. Veja: ca-se também nas hipóteses de:

Ementa: Direito Constitucional. Agravo Regimental z alteração contratual;


em Petição. Sujeição dos Agentes Políticos a Duplo z transformação;
Regime Sancionatório em Matéria de Improbidade. z incorporação;
Impossibilidade de Extensão do Foro por Prerro-
z fusão;
gativa de Função à Ação de Improbidade Adminis-
z cisão societária.
trativa. 1. Os agentes políticos, com exceção do
Presidente da República, encontram-se sujei-
tos a um duplo regime sancionatório, de modo Observe que o parágrafo único, do art. 8º-A, traz
que se submetem tanto à responsabilização uma redação cheia de detalhes importantes e pode
civil pelos atos de improbidade administra- ser muito explorado em provas. A banca examinadora
tiva, quanto à responsabilização político-ad- pode usar tal dispositivo para elaborar questões que
ministrativa por crimes de responsabilidade podem induzi-lo ao erro. Por isso, é muito importante
[...]16. memorizar o conteúdo, já que a maioria das provas
cobra o texto da lei. Sendo assim, atente-se para as
Ou seja, para os Prefeitos e Governadores temos informações na tabela a seguir.
a possibilidade de aplicação da Lei de Improbidade,
inclusive com a possibilidade de duplo regime sancio-
natório (pela Lei de Improbidade e mediante impea- FUSÃO E INCORPORAÇÃO
chment) e não há foro por prerrogativa de função, ou Responsabilidade da sucessora será restrita à obrigação de

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seja, o julgamento será em primeira instância. reparação integral do dano causado
Já com relação ao Presidente da República não há
a possibilidade de aplicação da Lei de Improbidade, Até o limite do patrimônio transferido
uma vez que o Presidente da República já tem um Não aplicando as demais sanções decorrentes de atos e de
fatos ocorridos antes da data da fusão ou da incorporação
sistema próprio de punição dentro da Constituição
Exceto no caso de simulação ou de evidente intuito de frau-
Federal com uma previsão específica para crimes de de, devidamente comprovados
responsabilidade.
Lembre-se sempre de responder de acordo com
o comando da questão. Se a questão citar “de acordo DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
com entendimento do Supremo Tribunal Federal”,
você já terá conhecimento suficiente para respondê- As hipóteses de improbidade administrativa estão
-la. Se ela trouxer apenas o texto da lei, considere o divididas em três espécies:
texto legal.
z Art. 9º: atos que importam enriquecimento ilícito;
Art. 7º Se houver indícios de ato de improbida- z Art. 10: atos que causam prejuízo ao erário;
de, a autoridade que conhecer dos fatos repre- z Art. 11: atos que atentam contra os princípios da
sentará ao Ministério Público competente, Administração Pública.
para as providências necessárias.
Art. 8º O sucessor ou o herdeiro daquele que causar O art. 10-A, incluído em 2016, que tratava dos atos
dano ao erário ou que se enriquecer ilicitamente estão de improbidade administrativa decorrentes de con-
sujeitos apenas à obrigação de repará-lo até o limite do cessão ou aplicação indevida de benefício financeiro
valor da herança ou do patrimônio transferido. ou tributário, deixou de existir como espécie de ato
Art. 8º-A A responsabilidade sucessória de que
e foi incorporado em uma das hipóteses de atos que
trata o art. 8º desta Lei aplica-se também na hipó-
tese de alteração contratual, de transformação,
causam lesão ao erário.
de incorporação, de fusão ou de cisão societária. Além disso, o rol de hipótese que antes era exem-
Parágrafo único. Nas hipóteses de fusão e de plificativo agora se tornou rol taxativo. O rol exem-
incorporação, a responsabilidade da suces- plificativo é aquele que pode ser acrescido por outras
sora será restrita à obrigação de reparação hipóteses, já o rol taxativo traz uma relação de situa-
integral do dano causado, até o limite do ções restritas às quais não haverá acréscimo.
16 Pet 3240 AgR, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Relator(a) p/ Acórdão: Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 10/05/2018,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-171 DIVULG 21-08-2018 PUBLIC 22-08-2018. 175
Dos Atos de Improbidade Administrativa que X - receber vantagem econômica de qualquer
Importam Enriquecimento Ilícito natureza, direta ou indiretamente, para omitir ato
de ofício, providência ou declaração a que esteja
Com a leitura dos artigos você vai perceber que obrigado;
nessa espécie existe um enriquecimento, um aumento XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patri-
patrimonial do agente com a prática dos atos descritos. mônio bens, rendas, verbas ou valores integrantes
Observe os verbos: receber, perceber, adquirir, do acervo patrimonial das entidades mencionadas
usar, incorporar, utilizar para conseguir qualquer no art. 1° desta lei;
XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, ver-
tipo de vantagem patrimonial indevida.
bas ou valores integrantes do acervo patrimonial
das entidades mencionadas no art. 1° desta lei.
Art. 9º Constitui ato de improbidade administrati-
va importando em enriquecimento ilícito auferir,
Dos Atos de Improbidade Administrativa que Causam
mediante a prática de ato doloso, qualquer tipo de
vantagem patrimonial indevida em razão do exer-
Prejuízo ao Erário
cício de cargo, de mandato, de função, de emprego
ou de atividade nas entidades referidas no art. 1º Já nos atos que causam prejuízo ao erário, não há
desta Lei, e notadamente: um proveito econômico pelo agente, ocorre um pre-
I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem juízo aos cofres públicos. Aqui, o agente vai contri-
móvel ou imóvel, ou qualquer outra vantagem eco- buir para que outro enriqueça às custas do dinheiro
nômica, direta ou indireta, a título de comissão, público, deixar de observar alguma exigência previs-
percentagem, gratificação ou presente de quem ta em lei, e essa inobservância causa algum prejuízo,
tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser por exemplo: frustrar a licitude de licitação ou proces-
atingido ou amparado por ação ou omissão decor- so seletivo, acarretando perda patrimonial etc. Perce-
rente das atribuições do agente público; ba que com esse raciocínio não dá para confundir as
II - perceber vantagem econômica, direta ou duas espécies.
indireta, para facilitar a aquisição, permuta ou
locação de bem móvel ou imóvel, ou a contratação Art. 10 Constitui ato de improbidade administra-
de serviços pelas entidades referidas no art. 1° por tiva que causa lesão ao erário qualquer ação ou
preço superior ao valor de mercado; omissão dolosa, que enseje, efetiva e comprova-
III - perceber vantagem econômica, direta ou damente, perda patrimonial, desvio, apropriação,
indireta, para facilitar a alienação, permuta ou malbaratamento ou dilapidação dos bens ou have-
locação de bem público ou o fornecimento de ser- res das entidades referidas no art. 1º desta Lei, e
viço por ente estatal por preço inferior ao valor de notadamente:
mercado; I - facilitar ou concorrer, por qualquer forma,
IV - utilizar, em obra ou serviço particular, qual- para a indevida incorporação ao patrimônio par-
quer bem móvel, de propriedade ou à disposição ticular, de pessoa física ou jurídica, de bens, de ren-
de qualquer das entidades referidas no art. 1º das, de verbas ou de valores integrantes do acervo
desta Lei, bem como o trabalho de servidores, de patrimonial das entidades referidas no art. 1º desta
empregados ou de terceiros contratados por essas Lei;
entidades; II - permitir ou concorrer para que pessoa físi-
V - receber vantagem econômica de qualquer ca ou jurídica privada utilize bens, rendas, verbas
natureza, direta ou indireta, para tolerar a explo- ou valores integrantes do acervo patrimonial das
ração ou a prática de jogos de azar, de lenocínio, de entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem a
narcotráfico, de contrabando, de usura ou de qual- observância das formalidades legais ou regu-
quer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de lamentares aplicáveis à espécie;
III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao
tal vantagem;
ente despersonalizado, ainda que de fins educativos
VI - receber vantagem econômica de qualquer
ou assistências, bens, rendas, verbas ou valores do
natureza, direta ou indireta, para fazer declara-
patrimônio de qualquer das entidades menciona-
ção falsa sobre qualquer dado técnico que envolva
das no art. 1º desta lei, sem observância das for-
obras públicas ou qualquer outro serviço ou sobre
malidades legais e regulamentares aplicáveis à
quantidade, peso, medida, qualidade ou caracterís-
espécie;
tica de mercadorias ou bens fornecidos a qualquer
IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou
das entidades referidas no art. 1º desta Lei; locação de bem integrante do patrimônio de qual-
VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercí- quer das entidades referidas no art. 1º desta lei, ou
cio de mandato, de cargo, de emprego ou de função ainda a prestação de serviço por parte delas, por
pública, e em razão deles, bens de qualquer nature- preço inferior ao de mercado;
za, decorrentes dos atos descritos no caput deste V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou
artigo, cujo valor seja desproporcional à evolução locação de bem ou serviço por preço superior ao de
do patrimônio ou à renda do agente público, asse- mercado;
gurada a demonstração pelo agente da licitude da VI - realizar operação financeira sem obser-
origem dessa evolução; vância das normas legais e regulamentares ou
VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer aceitar garantia insuficiente ou inidônea;
atividade de consultoria ou assessoramento VII - conceder benefício administrativo ou fis-
para pessoa física ou jurídica que tenha interesse cal sem a observância das formalidades legais
suscetível de ser atingido ou amparado por ação ou regulamentares aplicáveis à espécie;
ou omissão decorrente das atribuições do agente VIII - frustrar a licitude de processo licitató-
público, durante a atividade; rio ou de processo seletivo para celebração de
IX - perceber vantagem econômica para inter- parcerias com entidades sem fins lucrativos, ou
mediar a liberação ou aplicação de verba pública dispensá-los indevidamente, acarretando perda
176 de qualquer natureza; patrimonial efetiva;
IX - ordenar ou permitir a realização de despe- O parágrafo segundo, do referido artigo, reforça a
sas não autorizadas em lei ou regulamento; ideia de que os atos descritos na Lei de Improbidade
X - agir ilicitamente na arrecadação de tributo ou precisam de dolo, ou seja, a vontade livre e consciente
de renda, bem como no que diz respeito à conserva- de alcançar o resultado ilícito.
ção do patrimônio público;
XI - liberar verba pública sem a estrita obser- Dos Atos de Improbidade Administrativa que
vância das normas pertinentes ou influir de Atentam Contra os Princípios da Administração
qualquer forma para a sua aplicação irregular; Pública
XII - permitir, facilitar ou concorrer para que
terceiro se enriqueça ilicitamente; Com relação aos atos de improbidade que aten-
XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço
tam contra os princípios, a conduta do agente de
particular, veículos, máquinas, equipamentos ou
alguma forma vai violar os princípios que norteiam
material de qualquer natureza, de propriedade ou à
a atividade da Administração Pública. Como é um rol
disposição de qualquer das entidades mencionadas
menor, se você memorizar as hipóteses do art. 11 e
no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servi-
tiver em mente o raciocínio explicado acima nos arts.
dor público, empregados ou terceiros contratados
9º e 10, fica fácil identificar na questão o que é o enri-
por essas entidades.
XIV - celebrar contrato ou outro instrumento
quecimento ilícito e o prejuízo ao erário.
que tenha por objeto a prestação de serviços públi-
cos por meio da gestão associada sem observar Art. 11 Constitui ato de improbidade administra-
as formalidades previstas na lei; tiva que atenta contra os princípios da admi-
nistração pública a ação ou omissão dolosa que
XV - celebrar contrato de rateio de consórcio
viole os deveres de honestidade, de imparcialidade
público sem suficiente e prévia dotação orça-
e de legalidade, caracterizada por uma das seguin-
mentária, ou sem observar as formalidades
tes condutas:
previstas na lei.
I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de
XVI - facilitar ou concorrer, por qualquer forma,
2021)
para a incorporação, ao patrimônio particular de
II - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230,
pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou de 2021)
valores públicos transferidos pela administração III - revelar fato ou circunstância de que tem
pública a entidades privadas mediante celebração ciência em razão das atribuições e que deva
de parcerias, sem a observância das formali- permanecer em segredo, propiciando beneficia-
dades legais ou regulamentares aplicáveis à mento por informação privilegiada ou colocando
espécie; em risco a segurança da sociedade e do Estado;
XVII - permitir ou concorrer para que pessoa físi- IV - negar publicidade aos atos oficiais, exceto em
ca ou jurídica privada utilize bens, rendas, verbas razão de sua imprescindibilidade para a seguran-
ou valores públicos transferidos pela administração ça da sociedade e do Estado ou de outras hipóteses
pública a entidade privada mediante celebração de instituídas em lei;
parcerias, sem a observância das formalidades V - frustrar, em ofensa à imparcialidade, o cará-

NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO


legais ou regulamentares aplicáveis à espécie; ter concorrencial de concurso público, de cha-
XVIII - celebrar parcerias da administração mamento ou de procedimento licitatório, com
pública com entidades privadas sem a obser- vistas à obtenção de benefício próprio, direto ou
vância das formalidades legais ou regulamen- indireto, ou de terceiros;
tares aplicáveis à espécie; VI - deixar de prestar contas quando esteja obri-
XIX - agir para a configuração de ilícito na gado a fazê-lo, desde que disponha das condições
celebração, na fiscalização e na análise das para isso, com vistas a ocultar irregularidades;
prestações de contas de parcerias firmadas pela VII - revelar ou permitir que chegue ao conhe-
administração pública com entidades privadas; cimento de terceiro, antes da respectiva
XX - liberar recursos de parcerias firmadas pela divulgação oficial, teor de medida política ou
administração pública com entidades privadas sem econômica capaz de afetar o preço de mercadoria,
a estrita observância das normas pertinentes bem ou serviço.
ou influir de qualquer forma para a sua apli- VIII - descumprir as normas relativas à celebra-
cação irregular. ção, fiscalização e aprovação de contas de parce-
XXI - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, rias firmadas pela administração pública com
de 2021) entidades privadas.
XXII - conceder, aplicar ou manter benefício IX - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230,
de 2021)
financeiro ou tributário contrário ao que dispõem o
X - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230,
caput e o § 1º do art. 8º-A da Lei Complementar nº
de 2021)
116, de 31 de julho de 2003.
XI - nomear cônjuge, companheiro ou parente
§ 1º Nos casos em que a inobservância de forma-
em linha reta, colateral ou por afinidade, até o
lidades legais ou regulamentares não implicar
terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante
perda patrimonial efetiva, não ocorrerá impo- ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido
sição de ressarcimento, vedado o enriqueci- em cargo de direção, chefia ou assessoramento,
mento sem causa das entidades referidas no art. para o exercício de cargo em comissão ou de con-
1º desta Lei. fiança ou, ainda, de função gratificada na adminis-
§ 2º A mera perda patrimonial decorrente da tração pública direta e indireta em qualquer dos
atividade econômica não acarretará improbi- Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal
dade administrativa, salvo se comprovado ato e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante
doloso praticado com essa finalidade. designações recíprocas;
XII - praticar, no âmbito da administração públi-
ca e com recursos do erário, ato de publicidade 177
que contrarie o disposto no § 1º do art. 37 da § 4º Os atos de improbidade de que trata este
Constituição Federal, de forma a promover artigo exigem lesividade relevante ao bem
inequívoco enaltecimento do agente público e jurídico tutelado para serem passíveis de sancio-
personalização de atos, de programas, de obras, de namento e independem do reconhecimento da
serviços ou de campanhas dos órgãos públicos. produção de danos ao erário e de enriqueci-
mento ilícito dos agentes públicos
O nepotismo passou a ser considerado de forma § 5º Não se configurará improbidade a mera
expressa como ato de improbidade que atenta contra nomeação ou indicação política por parte dos
detentores de mandatos eletivos, sendo neces-
princípios. Já existe previsão sobre o nepotismo na
sária a aferição de dolo com finalidade ilícita
Súmula Vinculante nº 13, do Supremo Tribunal Fede-
por parte do agente.
ral, mas o legislador resolveu incluir, também, no tex-
to da Lei de Improbidade, reforçando a vedação ao
O legislador deixa claro no § 4º, do art. 11, que os
nepotismo.
atos de improbidade referidos no artigo exigem lesi-
Tal inclusão se mostra muito importante, pois, vidade relevante ao bem jurídico tutelado, ou seja,
apesar de já existir uma decisão sumulada a respeito para que os atos aqui descritos sejam passíveis de
da proibição do nepotismo por violar a Constituição sanção, será necessário que o aplicador da norma (o
Federal, a falta de norma expressa sobre o assunto no juiz) no caso concreto observe se a conduta praticada
âmbito da improbidade administrativa poderia levar foi capaz de causar uma lesividade relevante ao bem
a questionamentos com relação à aplicação de san- jurídico protegido.
ções. Agora, o nepotismo caracteriza ato de improbi- Além disso, a aplicação da sanção por violação aos
dade que viola princípios e está sujeito às cominações princípios não vai depender da ocorrência de danos
legais previstas no art. 12, da Lei de Improbidade. ao erário ou de enriquecimento ilícito dos agentes.
Se, por exemplo, um agente público deixar de prestar
§ 1º Nos termos da Convenção das Nações Unidas contas quando estiver obrigado a fazê-lo, com vistas
contra a Corrupção, promulgada pelo Decreto nº a ocultar irregularidades por ele praticadas, e ficar
5.687, de 31 de janeiro de 2006, somente have- provado o dolo da conduta mesmo não havendo um
rá improbidade administrativa, na aplica- prejuízo ao erário ou enriquecimento, o agente será
ção deste artigo, quando for comprovado na responsabilizado.
conduta funcional do agente público o fim de
obter proveito ou benefício indevido para si ou
para outra pessoa ou entidade.
Importante!
Outro ponto importante diz respeito à previsão Com relação ao ato de frustrar procedimen-
do parágrafo primeiro, o qual dispõe que somente to licitatório, tome cuidado, pois o examinador
haverá improbidade administrativa quando for pode te induzir ao erro, já que tal ato é encontra-
comprovado o fim de obter proveito ou benefício do tanto no art. 10 quanto no art. 11, sendo que
indevido. a diferença é:
Novamente o legislador faz ênfase à proibição de Se houver perda patrimonial efetiva → Prejuízo
haver condutas culposas nos atos de improbidade ao erário;
administrativa e caberá ao Ministério Público, titu- Se não houver perda patrimonial efetiva → Aten-
lar da ação, provar que nas hipóteses descritas nesse ta contra princípios.
artigo o agente tinha a finalidade de obter proveito ou
benefício indevido para si ou para outra pessoa.
DAS PENAS
§ 2º Aplica-se o disposto no § 1º deste artigo a
quaisquer atos de improbidade administrativa tipi- Em decorrência da independência das instâncias,
ficados nesta Lei e em leis especiais e a quaisquer as sanções previstas no art. 12 não excluem a possi-
outros tipos especiais de improbidade administrati- bilidade de responsabilização do agente em âmbito
va instituídos por lei. criminal, civil e administrativo.
§ 3º O enquadramento de conduta funcional na Além disso, é importante não confundir o ressar-
categoria de que trata este artigo pressupõe cimento integral do dano com a multa, são coisas
a demonstração objetiva da prática de ilega- diferentes. O ressarcimento integral do dano ocor-
lidade no exercício da função pública, com a rerá sempre que houver dano; trata-se de uma conse-
indicação das normas constitucionais, legais quência lógica decorrente da conduta ilícita. Se, por
ou infralegais violadas. exemplo, um agente público incorporar, por qualquer
forma, ao seu patrimônio bens, rendas, verbas ou
A exigência do parágrafo 3º diz respeito à neces- valores integrantes do acervo patrimonial das entida-
sidade de motivação, fundamentação de todas as ale- des referidas na lei, esse agente tem o dever de ressar-
gações feitas, assim como deve ser feito nas decisões cir o dano que foi causado a essa entidade, seja dano
proferidas pelo Judiciário, indicando as normas que financeiro ou patrimonial. Já a multa é uma sanção
foram violadas pelo agente público. aplicada pela prática do ato ilícito.
Ou seja, se o Ministério Público ingressou com uma A Lei nº 14.230, de 2021, trouxe algumas alterações
ação contra um agente público pelo suposto come- com relação às sanções. A suspensão dos direitos polí-
timento de ato de improbidade administrativa que ticos terá prazo máximo de 14 anos e o valor das mul-
atenta contra princípios, não basta citar que cometeu tas diminuiu. Veja:
tal ato, é preciso demonstrar de forma objetiva e indi-
car as normas constitucionais, legais ou infralegais Art. 12 Independentemente do ressarcimen-
178 que foram violadas. to integral do dano patrimonial, se efetivo, e das
sanções penais comuns e de responsabilidade, civis § 3º Na responsabilização da pessoa jurídica,
e administrativas previstas na legislação específica, deverão ser considerados os efeitos econômicos e
está o responsável pelo ato de improbidade sujeito sociais das sanções, de modo a viabilizar a manu-
às seguintes cominações, que podem ser aplicadas tenção de suas atividades.
isolada ou cumulativamente, de acordo com a
gravidade do fato: O § 3º respeita os princípios da razoabilidade e da
I - na hipótese do art. 9º desta Lei, perda dos bens proporcionalidade, que consistem basicamente na
ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, adequação entre meios e fins e são divididos em três
perda da função pública, suspensão dos direitos subprincípios:
políticos até 14 (catorze) anos, pagamento de mul-
ta civil equivalente ao valor do acréscimo patrimo-
nial e proibição de contratar com o poder público z Adequação: verificar se a decisão ou conduta
ou de receber benefícios ou incentivos fiscais ou alcançará o ato/resultados almejados;
creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por z Necessidade: verificar se há um meio menos gra-
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio voso e igualmente eficaz para ser adotado;
majoritário, pelo prazo não superior a 14 (catorze) z Proporcionalidade em sentido estrito: significa
anos; verificar se as restrições decorrentes são compen-
II - na hipótese do art. 10 desta Lei, perda dos bens sadas pelos benefícios que serão gerados.
ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio,
se concorrer esta circunstância, perda da função No âmbito da Lei de Improbidade, o objetivo desse
pública, suspensão dos direitos políticos até 12 parágrafo é que, na aplicação das sanções às pessoas
(doze) anos, pagamento de multa civil equivalente jurídicas, deve-se levar em consideração os efeitos
ao valor do dano e proibição de contratar com o econômicos e sociais para não tornar inviável a conti-
poder público ou de receber benefícios ou incenti-
nuidade das atividades prestadas pela pessoa jurídica.
vos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente,
ainda que por intermédio de pessoa jurídica da
§ 4º Em caráter excepcional e por motivos rele-
qual seja sócio majoritário, pelo prazo não supe-
rior a 12 (doze) anos; vantes devidamente justificados, a sanção de
III - na hipótese do art. 11 desta Lei, pagamento de proibição de contratação com o poder público
multa civil de até 24 (vinte e quatro) vezes o valor pode extrapolar o ente público lesado pelo ato
da remuneração percebida pelo agente e proibição de improbidade, observados os impactos econô-
de contratar com o poder público ou de receber micos e sociais das sanções, de forma a preservar a
benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, dire- função social da pessoa jurídica, conforme disposto
ta ou indiretamente, ainda que por intermédio de no § 3º deste artigo.
pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo
prazo não superior a 4 (quatro) anos; Com relação à sanção de proibição de contratar,
IV - (revogado). em regra, será aplicada só no âmbito do ente lesado,
§ 1º A sanção de perda da função pública, nas por exemplo, um servidor municipal cometeu um ato
hipóteses dos incisos I e II do caput deste artigo, de improbidade que gerou lesão ao erário no respec-

NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO


atinge apenas o vínculo de mesma qualida- tivo Município. Sendo assim, a proibição de contratar
de e natureza que o agente público ou políti- com o poder público será aplicada somente ao Muni-
co detinha com o poder público na época do cípio onde ocorreu a lesão.
cometimento da infração, podendo o magistra- No entanto, excepcionalmente e por motivos rele-
do, na hipótese do inciso I do caput deste artigo, e vantes devidamente justificados, a sanção de proi-
em caráter excepcional, estendê-la aos demais
bição de contratar poderá extrapolar o ente público
vínculos, consideradas as circunstâncias do caso e
lesado.
a gravidade da infração.
Além disso, outro ponto importante acrescido pela
Lei nº 14.230, de 2021, é a necessidade de a sanção de
O § 1º dispõe que a perda da função pública só
proibição de contratação com o poder público constar
vai alcançar o vínculo que o agente público deti-
do Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Sus-
nha ao tempo do cometimento da infração.
pensas (CEIS), observadas as limitações territoriais
Para facilitar seu estudo, vejamos um exemplo: um
contidas na decisão judicial.
servidor público efetivo que ocupa o cargo de Analis-
ta no Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região na
§ 5º No caso de atos de menor ofensa aos bens
Comarca de Belo Horizonte foi licenciado para exercer
jurídicos tutelados por esta Lei, a sanção limi-
o mandato eletivo de Prefeito no Município. No curso
tar-se-á à aplicação de multa, sem prejuízo do
do mandato eletivo ele comete ato de improbidade; ressarcimento do dano e da perda dos valores
nessa circunstância, caso ele seja condenado, a perda obtidos, quando for o caso, nos termos do caput
da função pública será aplicada apenas ao mandato deste artigo.
eletivo, não atingindo seu cargo efetivo de Analista. § 6º Se ocorrer lesão ao patrimônio público, a
Nas hipóteses previstas no inciso I do caput desse reparação do dano a que se refere esta Lei deve-
artigo (os casos que importam enriquecimento ilícito), rá deduzir o ressarcimento ocorrido nas ins-
o Magistrado poderá, em caráter excepcional, estender tâncias criminal, civil e administrativa que
a perda da função aos demais vínculos, consideradas tiver por objeto os mesmos fatos.
as circunstâncias do caso e a gravidade da infração. § 7º As sanções aplicadas a pessoas jurídicas com
base nesta Lei e na Lei nº 12.846, de 1º de agosto de
§ 2º A multa pode ser aumentada até o dobro, 2013, deverão observar o princípio constitucional
se o juiz considerar que, em virtude da situação do non bis in idem.
econômica do réu, o valor calculado na forma dos § 8º A sanção de proibição de contratação com
incisos I, II e III do caput deste artigo é ineficaz para o poder público deverá constar do Cadastro
reprovação e prevenção do ato de improbidade. Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas 179
(CEIS) de que trata a Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013, observadas as limitações territoriais contidas em
decisão judicial, conforme disposto no § 4º deste artigo.
§ 9º As sanções previstas neste artigo somente poderão ser executadas após o trânsito em julgado da sen-
tença condenatória.
§ 10 Para efeitos de contagem do prazo da sanção de suspensão dos direitos políticos, computar-se-á retroa-
tivamente o intervalo de tempo entre a decisão colegiada e o trânsito em julgado da sentença condenatória.

Conforme dispõe o § 6º, se um agente estiver sendo processado pelo mesmo fato nas três esferas (criminal, civil
e administrativa) e ocorrer lesão ao patrimônio público, a reparação do dano em sede de improbidade adminis-
trativa deverá deduzir o ressarcimento ocorrido nas instâncias referidas.
O § 10 fala sobre a decisão colegiada e o trânsito em julgado da sentença condenatória. A sentença condenató-
ria transitada em julgado é aquela da qual não caiba mais recurso, tornando-se definitiva. Já a decisão colegiada
é a decisão proferida em 2ª instância. Sendo assim, a contagem do prazo da sanção de suspensão dos direitos
políticos será a partir da condenação em 2ª instância.
Importante lembrar, também, que as sanções trazidas no art. 12 só podem ser executadas após o trânsito
em julgado da sentença condenatória que será proferida após o regular processo judicial que garanta contra-
ditório e ampla defesa ao acusado.
Percebe-se que a parte das disposições gerais da lei, o capítulo referente aos atos de improbidade e o capítulo
das penas são os mais cobrados em provas de concursos. É claro que tudo que está previsto na lei pode ser abor-
dado em provas, mas já que esse é um dos tópicos de maior incidência, segue um quadro para facilitar a memori-
zação das sanções previstas na lei.

Quadro Comparativo das Penas

PREJUÍZO AO ATENTAM CONTRA PRINCÍPIOS


SANÇÃO ENRIQUECIMENTO ILÍCITO (ART. 9º)
ERÁRIO (ART. 10) (ART. 11)

Perda da função pública Sim Sim ---

Suspensão dos direitos


Até 14 anos Até 12 anos ---
políticos

Perda dos bens acresci-


Sim Sim, se houver ---
dos ilicitamente

Multa civil Valor do acréscimo patrimonial Valor do dano Até 24X o valor da remuneração

Proibição de contratar
ou receber benefícios Até 14 anos Até 12 anos Até 4 anos
fiscais

Importante: Ressarcimento integral do dano → aplicável sempre que houver dano efetivo.

DA DECLARAÇÃO DE BENS

Na redação anterior, ou o agente entregava a declaração de bens elaborada por ele mesmo ou poderia de
forma facultativa entregar a cópia da declaração anual de bens apresentada à Delegacia da Receita Federal na
conformidade da legislação do Imposto sobre a Renda e proventos de qualquer natureza.
Na atual redação, o agente deve entregar a declaração anual de bens apresentada à Delegacia da Receita Fede-
ral (Declaração de Imposto de Renda). Tal declaração deve ser atualizada anualmente e na data em que o agente
público deixar o cargo. Se o agente deixar de prestar a declaração ou prestá-la falsa, sofrerá a pena de demissão.

Art. 13 A posse e o exercício de agente público ficam condicionados à apresentação de declaração de impos-
to de renda e proventos de qualquer natureza, que tenha sido apresentada à Secretaria Especial da Receita Federal
do Brasil, a fim de ser arquivada no serviço de pessoal competente.
§ 1º (Revogado).
§ 2º A declaração de bens a que se refere o caput deste artigo será atualizada anualmente e na data em que o
agente público deixar o exercício do mandato, do cargo, do emprego ou da função.
§ 3º Será apenado com a pena de demissão, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, o agente público que se recu-
sar a prestar a declaração dos bens a que se refere o caput deste artigo dentro do prazo determinado ou que
prestar declaração falsa.
§ 4º (Revogado).

DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO E DO PROCESSO JUDICIAL

O procedimento administrativo é realizado internamente com o intuito de investigar o suposto ato praticado por
um agente público. O início do processo administrativo pode dar-se de ofício, ou seja, pela própria administração
ou mediante representação de qualquer pessoa. Após a representação, a autoridade determinará a apuração dos
fatos, observada a legislação que regula o processo administrativo disciplinar aplicável ao agente; se for um agente
federal, por exemplo, o procedimento observará a Lei nº 8.112, de 1990.
180
Já o processo judicial é instaurado no Judiciário a indisponibilidade. Além disso, não existe mais o
mediante petição apresentada pelo Ministério Públi- sequestro de bens na lei.
co, que é o titular da referida ação, para aplicação das
penalidades referidas no art. 12 aos agentes públicos e Art. 16 Na ação por improbidade administrativa
aos particulares que, mesmo não sendo agentes públi- poderá ser formulado, em caráter antecedente
cos, induzam ou concorram dolosamente para a práti- ou incidente, pedido de indisponibilidade de
ca do ato de improbidade. bens dos réus, a fim de garantir a integral recom-
São procedimentos independentes; no processo posição do erário ou do acréscimo patrimonial
administrativo serão aplicadas as sanções de natureza resultante de enriquecimento ilícito.
administrativa, podendo inclusive ser aplicada a pena § 1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230,
de 2021)
de demissão. O processo administrativo é mais rápi-
§ 1º-A O pedido de indisponibilidade de bens a que
do e a decisão de demissão em âmbito administrativo
se refere o caput deste artigo poderá ser formu-
produz efeitos imediatos em decorrência dos princí-
lado independentemente da representação de
pios da autoexecutoriedade e da presunção de legiti- que trata o art. 7º desta Lei.
midade dos atos. Sendo assim, a entidade que sofreu § 2º Quando for o caso, o pedido de indisponibili-
a lesão poderá instaurar um processo administrativo, dade de bens a que se refere o caput deste artigo
demitir o agente público e na ação judicial haverá a incluirá a investigação, o exame e o bloqueio
aplicação das demais penalidades referidas na lei. de bens, contas bancárias e aplicações finan-
ceiras mantidas pelo indiciado no exterior, nos
Art. 14 Qualquer pessoa poderá representar à termos da lei e dos tratados internacionais.
autoridade administrativa competente para que § 3º O pedido de indisponibilidade de bens a que
seja instaurada investigação destinada a apurar a se refere o caput deste artigo apenas será defe-
prática de ato de improbidade. rido mediante a demonstração no caso concreto
§ 1º A representação, que será escrita ou redu- de perigo de dano irreparável ou de risco ao
zida a termo e assinada, conterá a qualifica- resultado útil do processo, desde que o juiz se
ção do representante, as informações sobre o convença da probabilidade da ocorrência dos atos
fato e sua autoria e a indicação das provas de descritos na petição inicial com fundamento nos
que tenha conhecimento. respectivos elementos de instrução, após a oitiva
§ 2º A autoridade administrativa rejeitará a repre- do réu em 5 (cinco) dias.
sentação, em despacho fundamentado, se esta
não contiver as formalidades estabelecidas no Importante ressaltar que agora a lei exige a
§ 1º deste artigo. A rejeição não impede a repre- demonstração de perigo irreparável, antes o Supe-
sentação ao Ministério Público, nos termos do rior Tribunal de Justiça entendia que o periculum in
art. 22 desta lei. mora — perigo da demora — era implícito, presumido
§ 3º Atendidos os requisitos da representação, a
no referido dispositivo. Com as alterações, é preciso
autoridade determinará a imediata apuração dos
demonstrar perigo de dano irreparável ou de risco ao
fatos, observada a legislação que regula o processo
administrativo disciplinar aplicável ao agente.
resultado útil do processo.

NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO


Art. 15 A comissão processante dará conhecimento Para entender melhor, imagine o seguinte. Um
ao Ministério Público e ao Tribunal ou Conselho de agente público está sendo investigado por, supos-
Contas da existência de procedimento administra- tamente, ter incorporado ao seu patrimônio bens,
tivo para apurar a prática de ato de improbidade. rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patri-
Parágrafo único. O Ministério Público ou Tribunal monial das entidades mencionadas na lei.
ou Conselho de Contas poderá, a requerimento, Há fortes indícios da prática do referido ato e no
designar representante para acompanhar o proce- curso da investigação o Ministério Público percebe
dimento administrativo. que o agente está começando a dilapidar todo o seu
patrimônio, gerando o perigo de dano irreparável
INDISPONIBILIDADE DE BENS ou de risco ao resultado útil do processo, uma vez
que essa conduta poderia inviabilizar o ressarci-
A indisponibilidade de bens é uma medida caute- mento dos valores indevidamente incorporados.
lar que pode ser requerida antes ou no curso da ação No caso hipotético narrado, se o Ministério Público
principal e visa garantir a futura devolução de dinhei- conseguir convencer o juiz de que a conduta do inves-
ro público em caso de condenação. Imagine que um tigado gera perigo de dano irreparável (desfazer-se
agente público esteja sendo investigado pela possível do patrimônio) ou risco ao resultado útil do proces-
prática de ato que gerou enriquecimento ilícito; é so (impossibilitando a futura reparação do dano), a
possível que o indiciado acabe com todo o seu patri- indisponibilidade de bens será deferida.
mônio, transfira para outras pessoas e ao final do pro-
cesso judicial não seja possível o ressarcimento aos § 4º A indisponibilidade de bens poderá ser decre-
cofres públicos. Para evitar que isso ocorra, o Ministé- tada sem a oitiva prévia do réu, sempre que o
rio Público irá requerer ao juiz essa medida cautelar contraditório prévio puder comprovadamen-
para garantir o ressarcimento do prejuízo quando for te frustrar a efetividade da medida ou hou-
proferida a decisão transitada em julgado. ver outras circunstâncias que recomendem a
Quando essa medida for deferida pelo juiz, o inves- proteção liminar, não podendo a urgência ser
tigado ou indiciado não poderá se desfazer de seus presumida.
§ 5º Se houver mais de um réu na ação, a soma-
bens. Tal medida de certa forma “trava” o patrimônio,
tória dos valores declarados indisponíveis não
bloqueia os bens e ele não poderá, por exemplo, ven-
poderá superar o montante indicado na petição ini-
der imóveis, movimentar aplicações financeiras, valo- cial como dano ao erário ou como enriquecimento
res em conta bancária etc. Foram acrescidos alguns ilícito.
artigos que regulamentam de forma mais detalhada
181
§ 6º O valor da indisponibilidade considerará a estimativa de dano indicada na petição inicial, permitida
a sua substituição por caução idônea, por fiança bancária ou por seguro-garantia judicial, a requerimento
do réu, bem como a sua readequação durante a instrução do processo.
§ 7º A indisponibilidade de bens de terceiro dependerá da demonstração da sua efetiva concorrência para
os atos ilícitos apurados ou, quando se tratar de pessoa jurídica, da instauração de incidente de descon-
sideração da personalidade jurídica, a ser processado na forma da lei processual.
§ 8º Aplica-se à indisponibilidade de bens regida por esta Lei, no que for cabível, o regime da tutela provisória de
urgência da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).
§ 9º Da decisão que deferir ou indeferir a medida relativa à indisponibilidade de bens caberá agravo de instru-
mento, nos termos da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).
§ 10 A indisponibilidade recairá sobre bens que assegurem exclusivamente o integral ressarcimento do
dano ao erário, sem incidir sobre os valores a serem eventualmente aplicados a título de multa civil ou
sobre acréscimo patrimonial decorrente de atividade lícita.
§ 11 A ordem de indisponibilidade de bens deverá priorizar veículos de via terrestre, bens imóveis, bens móveis
em geral, semoventes, navios e aeronaves, ações e quotas de sociedades simples e empresárias, pedras e metais
preciosos e, apenas na inexistência desses, o bloqueio de contas bancárias, de forma a garantir a subsistência do
acusado e a manutenção da atividade empresária ao longo do processo.
§ 12 O juiz, ao apreciar o pedido de indisponibilidade de bens do réu a que se refere o caput deste artigo, observará os
efeitos práticos da decisão, vedada a adoção de medida capaz de acarretar prejuízo à prestação de serviços públicos.
§ 13 É vedada a decretação de indisponibilidade da quantia de até 40 (quarenta) salários mínimos depositados
em caderneta de poupança, em outras aplicações financeiras ou em conta corrente.
§ 14 É vedada a decretação de indisponibilidade do bem de família do réu, salvo se comprovado que o imóvel
seja fruto de vantagem patrimonial indevida, conforme descrito no art. 9º desta Lei.

A nova lei trouxe alguns dispositivos que possivelmente vão gerar uma certa discussão entre doutrinadores e
estudiosos do direito administrativo e talvez você já tenha até lido algum artigo a respeito ou ouviu algum profes-
sor falando sobre isso, mas para provas de concursos, fique com o que está previsto na letra da lei. Para facilitar
o entendimento deste tópico, veja o fluxograma que segue:

Em caráter antecedente ou incidente


— antes ou no curso da ação principal
Pedido formulado pelo
Ministério Público Garantir a integral recomposição do
erário ou do acréscimo patrimonial
resultante de enriquecimento ilícito

INDISPONIBILIDADE O pedido deve Desde que o juiz se convença da


DE BENS demonstrar: probabilidade dos atos descritos,
após a oitiva do réu em 5 dias
� Perigo de dano
irreparável Não incide sobre:
� Ou risco do � Multa civil
resultado útil do
� Acréscimo patrimonial decorrente
processo
de atividade lícita

A indisponibilidade de bens poderá ser decretada sem a oitiva prévia do réu, sempre que o contraditório
prévio puder comprovadamente frustrar a efetividade da medida ou houver outras circunstâncias que recomen-
dem a proteção liminar, não podendo a urgência ser presumida.
A lei, em seu § 11, art. 16, traz uma ordem para que o juiz determine a indisponibilidade dos bens, qual seja:

z Veículos de via terrestre;


z Bens imóveis;
z Bens móveis em geral;
z Semoventes;
z Navios e aeronaves;
z Ações e quotas de sociedades simples e empresárias;
z Pedras e metais preciosos;
z Apenas na inexistência desses, o bloqueio de contas bancárias, de forma a garantir a subsistência do acusado
e a manutenção da atividade empresária ao longo do processo.

Além disso, existem hipóteses em que a indisponibilidade de bens será vedada, §§ 13 e 14, do art. 16:

z Quantia de até 40 (quarenta) salários mínimos depositados em caderneta de poupança, em outras aplicações
financeiras ou em conta corrente;
z Bem de família do réu, salvo se comprovado que o imóvel seja fruto de vantagem patrimonial indevida.

PROCESSO JUDICIAL

No texto anterior da Lei nº 8.429, de 1992, tanto o Ministério Público quanto a pessoa jurídica lesada tinham
legitimidade para dar início à ação judicial de improbidade. Com as alterações trazidas pela Lei nº 14.230, de 2021,
182
o Ministério Público passa a ser o único legitimado § 10-C Após a réplica do Ministério Público, o juiz
para propor a ação. proferirá decisão na qual indicará com precisão
a tipificação do ato de improbidade administrati-
Art. 17 A ação para a aplicação das sanções va imputável ao réu, sendo-lhe vedado modificar
de que trata esta Lei será proposta pelo Minis- o fato principal e a capitulação legal apresentada
tério Público e seguirá o procedimento comum pelo autor.
previsto na Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 § 10-D Para cada ato de improbidade administra-
(Código de Processo Civil), salvo o disposto nesta tiva, deverá necessariamente ser indicado apenas
Lei. um tipo dentre aqueles previstos nos arts. 9º, 10 e
§ 1º (Revogado). 11 desta Lei.
§ 2º (Revogado). § 10-E Proferida a decisão referida no § 10-C deste
§ 3º (Revogado). artigo, as partes serão intimadas a especificar as
§ 4º (Revogado). provas que pretendem produzir.
§ 4º-A A ação a que se refere o caput deste artigo § 10-F Será nula a decisão de mérito total ou
deverá ser proposta perante o foro do local parcial da ação de improbidade administrati-
onde ocorrer o dano ou da pessoa jurídica va que:
prejudicada. I - condenar o requerido por tipo diverso daquele
§ 5º A propositura da ação a que se refere o caput definido na petição inicial;
deste artigo prevenirá a competência do juízo para II - condenar o requerido sem a produção das pro-
todas as ações posteriormente intentadas que pos- vas por ele tempestivamente especificadas.
suam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto. § 11 Em qualquer momento do processo, verificada
§ 6º A petição inicial observará o seguinte: a inexistência do ato de improbidade, o juiz julgará
I - deverá individualizar a conduta do réu e apon- a demanda improcedente.
tar os elementos probatórios mínimos que demons- § 12 (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230,
trem a ocorrência das hipóteses dos arts. 9º, 10 e de 2021)
11 desta Lei e de sua autoria, salvo impossibilidade § 13 (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230,
devidamente fundamentada; de 2021)
II - será instruída com documentos ou justificação § 14 Sem prejuízo da citação dos réus, a pessoa jurí-
que contenham indícios suficientes da veracidade dica interessada será intimada para, caso queira,
dos fatos e do dolo imputado ou com razões fun- intervir no processo.
damentadas da impossibilidade de apresentação § 15 Se a imputação envolver a desconsideração de
de qualquer dessas provas, observada a legislação pessoa jurídica, serão observadas as regras previstas
vigente, inclusive as disposições constantes dos nos arts. 133, 134, 135, 136 e 137 da Lei nº 13.105, de
arts. 77 e 80 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).
2015 (Código de Processo Civil). § 16 A qualquer momento, se o magistrado
§ 6º-A O Ministério Público poderá requerer as identificar a existência de ilegalidades ou
tutelas provisórias adequadas e necessárias, de irregularidades administrativas a serem
nos termos dos arts. 294 a 310 da Lei nº 13.105, de sanadas sem que estejam presentes todos os
16 de março de 2015 (Código de Processo Civil). requisitos para a imposição das sanções aos

NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO


§ 6º-B A petição inicial será rejeitada nos casos agentes incluídos no polo passivo da deman-
do art. 330 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 da, poderá, em decisão motivada, converter a
(Código de Processo Civil), bem como quando ação de improbidade administrativa em ação
não preenchidos os requisitos a que se referem os civil pública, regulada pela Lei nº 7.347, de 24 de
incisos I e II do § 6º deste artigo, ou ainda quando julho de 1985.
manifestamente inexistente o ato de improbidade
imputado. A possibilidade de conversão de ação de improbi-
§ 7º Se a petição inicial estiver em devida for- dade administrativa em ação civil pública é uma for-
ma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a ma de viabilizar a economia processual. Da decisão de
citação dos requeridos para que a contestem conversão caberá recurso de agravo de instrumento.
no prazo comum de 30 (trinta) dias, iniciado o
prazo na forma do art. 231 da Lei nº 13.105, de 16 § 17 Da decisão que converter a ação de impro-
de março de 2015 (Código de Processo Civil). bidade em ação civil pública caberá agravo de
§ 8º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, instrumento.
de 2021) § 18 Ao réu será assegurado o direito de ser
§ 9º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, interrogado sobre os fatos de que trata a ação, e
de 2021) a sua recusa ou o seu silêncio não implicarão
§ 9º-A Da decisão que rejeitar questões preli- confissão.
minares suscitadas pelo réu em sua contestação § 19 Não se aplicam na ação de improbidade
caberá agravo de instrumento. administrativa:
§ 10 (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, I - a presunção de veracidade dos fatos alega-
de 2021) dos pelo autor em caso de revelia;
§ 10-A Havendo a possibilidade de solução con- II - a imposição de ônus da prova ao réu, na for-
sensual, poderão as partes requerer ao juiz a ma dos §§ 1º e 2º do art. 373 da Lei nº 13.105, de 16
interrupção do prazo para a contestação, por de março de 2015 (Código de Processo Civil);
prazo não superior a 90 (noventa) dias. III - o ajuizamento de mais de uma ação de
§ 10-B Oferecida a contestação e, se for o caso, ouvi- improbidade administrativa pelo mesmo fato,
do o autor, o juiz: competindo ao Conselho Nacional do Ministério
I - procederá ao julgamento conforme o estado do Público dirimir conflitos de atribuições entre mem-
processo, observada a eventual inexistência mani- bros de Ministérios Públicos distintos;
festa do ato de improbidade;
II - poderá desmembrar o litisconsórcio, com vistas
a otimizar a instrução processual. 183
IV - o reexame obrigatório da sentença de improcedência ou de extinção sem resolução de mérito.
§ 20 A assessoria jurídica que emitiu o parecer atestando a legalidade prévia dos atos administrativos
praticados pelo administrador público ficará obrigada a defendê-lo judicialmente, caso este venha a respon-
der ação por improbidade administrativa, até que a decisão transite em julgado.
§ 21 Das decisões interlocutórias caberá agravo de instrumento, inclusive da decisão que rejeitar questões
preliminares suscitadas pelo réu em sua contestação.

ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO CIVIL

A Lei nº 14.230, de 2021, trouxe de forma mais detalhada os requisitos para que se possa realizar um acordo de
não persecução civil no âmbito da improbidade administrativa. Trata-se de um acordo celebrado entre o Minis-
tério Público e pessoas físicas ou jurídicas investigadas pela prática de improbidade administrativa com o intuito
de não prosseguir com a ação caso o acordo seja aceito e homologado pelo Judiciário; entretanto, para a aplicação
desse acordo, devem ser observados alguns requisitos, veja:

Art. 17-B O Ministério Público poderá, conforme as circunstâncias do caso concreto, celebrar acordo de não
persecução civil, desde que dele advenham, ao menos, os seguintes resultados:
I - o integral ressarcimento do dano;
II - a reversão à pessoa jurídica lesada da vantagem indevida obtida, ainda que oriunda de agentes privados.
§ 1º A celebração do acordo a que se refere o caput deste artigo dependerá, cumulativamente:
I - da oitiva do ente federativo lesado, em momento anterior ou posterior à propositura da ação;
II - de aprovação, no prazo de até 60 (sessenta) dias, pelo órgão do Ministério Público competente para
apreciar as promoções de arquivamento de inquéritos civis, se anterior ao ajuizamento da ação;
III - de homologação judicial, independentemente de o acordo ocorrer antes ou depois do ajuizamento da
ação de improbidade administrativa.
§ 2º Em qualquer caso, a celebração do acordo a que se refere o caput deste artigo considerará a personalidade
do agente, a natureza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do ato de improbidade, bem
como as vantagens, para o interesse público, da rápida solução do caso.
§ 3º Para fins de apuração do valor do dano a ser ressarcido, deverá ser realizada a oitiva do Tribunal de Contas
competente, que se manifestará, com indicação dos parâmetros utilizados, no prazo de 90 (noventa) dias.
§ 4º O acordo a que se refere o caput deste artigo poderá ser celebrado no curso da investigação de apuração
do ilícito, no curso da ação de improbidade ou no momento da execução da sentença condenatória.
§ 5º As negociações para a celebração do acordo a que se refere o caput deste artigo ocorrerão entre o Ministério
Público, de um lado, e, de outro, o investigado ou demandado e o seu defensor.
§ 6º O acordo a que se refere o caput deste artigo poderá contemplar a adoção de mecanismos e procedi-
mentos internos de integridade, de auditoria e de incentivo à denúncia de irregularidades e a aplicação
efetiva de códigos de ética e de conduta no âmbito da pessoa jurídica, se for o caso, bem como de outras
medidas em favor do interesse público e de boas práticas administrativas.
§ 7º Em caso de descumprimento do acordo a que se refere o caput deste artigo, o investigado ou o demandado ficará
impedido de celebrar novo acordo pelo prazo de 5 (cinco) anos, contado do conhecimento pelo Ministério Público do
efetivo descumprimento.

Legitimidade para propor Ministério Público

I - integral ressarcimento do dano


II - reversão à pessoa jurídica lesada
Resultados da vantagem indevida obtida ainda
que oriunda de agentes privados

ACORDO DE NÃO I - oitiva do ente federativo lesado,


PERSECUÇÃO CIVIL em momento anterior ou posterior à
propositura de ação

II - aprovação no prazo de até


60 dias, pelo órgão do Ministério
Público competente para apreciar
Procedimento adotado (hipóteses as promoções de arquivamento
cumulativas) § 1º, art. 17-B de inquéritos civis, se anterior ao
ajuizamento da ação

III - homologação judicial,


independentemente de acordo
ocorrer antes ou depois do
ajuizamento da ação de improbidade
administrativa

184
O acordo de não persecução civil poderá ser reali- pessoal previstas nesta Lei, e não constitui
zado em 3 momentos: ação civil, vedado seu ajuizamento para o con-
trole de legalidade de políticas públicas e para a
z No curso da investigação de apuração do ilícito; proteção do patrimônio público e social, do meio
z No curso da ação de improbidade; ambiente e de outros interesses difusos, coletivos e
z No momento da execução da sentença individuais homogêneos.
Parágrafo único. Ressalvado o disposto nesta Lei, o
condenatória.
controle de legalidade de políticas públicas e a res-
ponsabilidade de agentes públicos, inclusive polí-
O art. 17-C estabelece que a sentença deverá obser- ticos, entes públicos e governamentais, por danos
var, além dos requisitos previstos no Código de Pro- ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direi-
cesso Civil, também os trazidos na lei. Destaca-se que tos de valor artístico, estético, histórico, turístico
o § 2º fala sobre a hipótese de litisconsórcio passivo, e paisagístico, a qualquer outro interesse difuso ou
que ocorre quando se tem mais de um réu no proces- coletivo, à ordem econômica, à ordem urbanística,
so. Nessas circunstâncias, a lei prevê que a condena- à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou
ção ocorrerá no limite da participação e dos benefícios religiosos e ao patrimônio público e social subme-
diretos de cada um, vedada qualquer solidariedade; tem-se aos termos da Lei nº 7.347, de 24 de julho
ou seja, cada réu responderá pela sua participação ou de 1985.
de acordo com os seus benefícios em decorrência da Art. 18 A sentença que julgar procedente a
prática do ato ilícito. ação fundada nos arts. 9º e 10 desta Lei con-
denará ao ressarcimento dos danos e à perda
Art. 17-C A sentença proferida nos processos a que ou à reversão dos bens e valores ilicitamente
se refere esta Lei deverá, além de observar o dispos- adquiridos, conforme o caso, em favor da pes-
to no art. 489 da Lei nº 13.105, de 16 de março de soa jurídica prejudicada pelo ilícito.
2015 (Código de Processo Civil): § 1º Se houver necessidade de liquidação do
I - indicar de modo preciso os fundamentos que dano, a pessoa jurídica prejudicada procederá
demonstram os elementos a que se referem os arts. a essa determinação e ao ulterior procedimen-
9º, 10 e 11 desta Lei, que não podem ser presumidos; to para cumprimento da sentença referente ao
II - considerar as consequências práticas da deci- ressarcimento do patrimônio público ou à perda ou
são, sempre que decidir com base em valores jurí- à reversão dos bens.
dicos abstratos; § 2º Caso a pessoa jurídica prejudicada não adote
III - considerar os obstáculos e as dificuldades reais as providências a que se refere o § 1º deste arti-
do gestor e as exigências das políticas públicas a go no prazo de 6 (seis) meses, contado do trân-
seu cargo, sem prejuízo dos direitos dos adminis- sito em julgado da sentença de procedência da
trados e das circunstâncias práticas que houve- ação, caberá ao Ministério Público proceder
rem imposto, limitado ou condicionado a ação do à respectiva liquidação do dano e ao cumpri-
agente; mento da sentença referente ao ressarcimento
IV - considerar, para a aplicação das sanções, de do patrimônio público ou à perda ou à rever-
são dos bens, sem prejuízo de eventual responsa-

NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO


forma isolada ou cumulativa:
a) os princípios da proporcionalidade e da bilização pela omissão verificada.
razoabilidade; § 3º Para fins de apuração do valor do ressarcimen-
b) a natureza, a gravidade e o impacto da infração to, deverão ser descontados os serviços efetivamen-
cometida; te prestados.
c) a extensão do dano causado;
d) o proveito patrimonial obtido pelo agente; O § 4º estabelece a possibilidade de parcelamento
e) as circunstâncias agravantes ou atenuantes; em até 48 parcelas do débito decorrente da condena-
f) a atuação do agente em minorar os prejuízos e as ção, mas para isso o réu tem que demonstrar que não
consequências advindas de sua conduta omissiva pode efetuar todo o pagamento de uma só vez.
ou comissiva;
g) os antecedentes do agente; § 4º O juiz poderá autorizar o parcelamento, em
V - considerar na aplicação das sanções a dosime- até 48 (quarenta e oito) parcelas mensais corrigi-
tria das sanções relativas ao mesmo fato já aplica- das monetariamente, do débito resultante de conde-
das ao agente; nação pela prática de improbidade administrativa
VI - considerar, na fixação das penas relativamente se o réu demonstrar incapacidade financeira
ao terceiro, quando for o caso, a sua atuação espe- de saldá-lo de imediato. (Incluído pela Lei nº
cífica, não admitida a sua responsabilização por 14.230, de 2021)
ações ou omissões para as quais não tiver concor- Art. 18-A A requerimento do réu, na fase de
rido ou das quais não tiver obtido vantagens patri- cumprimento da sentença, o juiz unificará
moniais indevidas; eventuais sanções aplicadas com outras já
VII - indicar, na apuração da ofensa a princípios, impostas em outros processos, tendo em vista
critérios objetivos que justifiquem a imposição da a eventual continuidade de ilícito ou a prática de
sanção. diversas ilicitudes, observado o seguinte: (Incluído
§ 1º A ilegalidade sem a presença de dolo que a qua- pela Lei nº 14.230, de 2021)
lifique não configura ato de improbidade. I - no caso de continuidade de ilícito, o juiz pro-
§ 2º Na hipótese de litisconsórcio passivo, a con- moverá a maior sanção aplicada, aumentada
denação ocorrerá no limite da participação e dos de 1/3 (um terço), ou a soma das penas, o que
benefícios diretos, vedada qualquer solidariedade. for mais benéfico ao réu; (Incluído pela Lei nº
§ 3º Não haverá remessa necessária nas sentenças 14.230, de 2021)
de que trata esta Lei. II - no caso de prática de novos atos ilícitos
Art. 17-D A ação por improbidade administra- pelo mesmo sujeito, o juiz somará as sanções.
tiva é repressiva, de caráter sancionatório, (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
destinada à aplicação de sanções de caráter 185
Parágrafo único. As sanções de suspensão de direitos políticos e de proibição de contratar ou de receber
incentivos fiscais ou creditícios do poder público observarão o limite máximo de 20 (vinte) anos. (Incluído
pela Lei nº 14.230, de 2021)

O art. 18-A traz a possibilidade de unificação das penas. Após o juiz proferir a sentença judicial transitada em
julgado, da qual não caiba mais recurso, a próxima fase é cumprir o que foi determinado na sentença. Nessa fase
de cumprimento, o juiz unificará, ou seja, vai reunir eventuais sanções aplicadas com outras já impostas em
outros processos da seguinte forma:

z Se houver continuidade de ilícito, o juiz aplica a maior sanção aumentada de 1/3 (um terço), ou soma as
penas optando por aquilo que for mais benéfico ao réu;
z No caso de prática de novos atos ilícitos pelo mesmo sujeito, o juiz somará as sanções.

Importante!
Nas hipóteses do art. 18-A, a suspensão de direitos políticos e a proibição de contratar ou de receber incentivos
fiscais observarão o limite máximo de 20 (vinte) anos (parágrafo único, do art. 18-A).

Esquematizando alguns pontos importantes:

Proposta pelo MP,


único legitimado
(art. 17)

Natureza repressiva,
caráter sancionatório
(art. 17-D)

Se não se identificam O juiz pode converter


AÇÃO todos os requisitos a ação de improbidade
JUDICIAL para a caracterização em ação civil pública
do ato de improbidade (§ 16, art. 17)

A assessoria jurídica que emitiu o parecer


atestando a legalidade prévia dos atos
administrativos praticados pelo administrador
público ficará obrigada a defendê-lo
judicialmente, caso este venha a responder
a ação por improbidade administrativa até o
trânsito em julgado (§ 20, art. 17)

Importante: não existe mais a defesa preliminar; o requerido já será citado para apresentar a contestação.

DAS DISPOSIÇÕES PENAIS

As sanções trazidas na Lei de Improbidade Administrativa têm natureza repressiva, de caráter sancionatório.
O único momento em que a lei trata de alguma sanção penal é no art. 19, mas nesse caso a sanção será aplicada
ao denunciante e não ao agente que cometeu ato de improbidade.

Art. 19 Constitui crime a representação por ato de improbidade contra agente público ou terceiro beneficiário,
quando o autor da denúncia o sabe inocente.
Pena: detenção de seis a dez meses e multa.
Parágrafo único. Além da sanção penal, o denunciante está sujeito a indenizar o denunciado pelos danos materiais,
morais ou à imagem que houver provocado.
Art. 20 A perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos só se efetivam com o trânsito em julgado da
sentença condenatória.
§ 1º A autoridade judicial competente poderá determinar o afastamento do agente público do exercício do
cargo, do emprego ou da função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida for necessária à instru-
ção processual ou para evitar a iminente prática de novos ilícitos.
§ 2º O afastamento previsto no § 1º deste artigo será de até 90 (noventa) dias, prorrogáveis uma única vez por
igual prazo, mediante decisão motivada.

Muitas pessoas acham estranho quando se fala que o afastamento do agente público do exercício do cargo,
emprego ou função ocorrerá sem prejuízo da sua remuneração, mas isso ocorre em decorrência da presunção de
inocência. Todos se presumem inocentes até que se prove o contrário por meio do devido processo legal.
Portanto, enquanto não houver uma decisão condenatória, não é possível que o servidor seja, desde já, conde-
nado a perder sua remuneração. Esse afastamento ocorrerá quando for necessário para a instrução processual ou
para evitar o cometimento de novos ilícitos. Por não ser uma sanção, deverá ter prazo determinado de até 90 dias,
podendo ser prorrogado mais uma vez por igual prazo. O afastamento não é por 90 dias e sim por até 90 dias,
186 sendo assim, se o for determinado que o agente se afaste por 60 dias, a prorrogação só poderá ser por mais 60 dias.
Art. 21 A aplicação das sanções previstas nesta lei independe:
I - da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público, salvo quanto à pena de ressarcimento e às condutas
previstas no art. 10 desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
II - da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão de controle interno ou pelo Tribunal ou Conselho de
Contas.
§ 1º Os atos do órgão de controle interno ou externo serão considerados pelo juiz quando tiverem servido de funda-
mento para a conduta do agente público. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 2º As provas produzidas perante os órgãos de controle e as correspondentes decisões deverão ser consideradas na
formação da convicção do juiz, sem prejuízo da análise acerca do dolo na conduta do agente. (Incluído pela Lei nº
14.230, de 2021)
§ 3º As sentenças civis e penais produzirão efeitos em relação à ação de improbidade quando concluírem
pela inexistência da conduta ou pela negativa da autoria. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 4º A absolvição criminal em ação que discuta os mesmos fatos, confirmada por decisão colegiada, impede
o trâmite da ação da qual trata esta Lei, havendo comunicação com todos os fundamentos de absolvição pre-
vistos no art. 386 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal). (Incluído pela Lei nº
14.230, de 2021)
§ 5º Sanções eventualmente aplicadas em outras esferas deverão ser compensadas com as sanções apli-
cadas nos termos desta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
Art. 22 Para apurar qualquer ilícito previsto nesta Lei, o Ministério Público, de ofício, a requerimento de
autoridade administrativa ou mediante representação formulada de acordo com o disposto no art. 14
desta Lei, poderá instaurar inquérito civil ou procedimento investigativo assemelhado e requisitar a ins-
tauração de inquérito policial. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
Parágrafo único. Na apuração dos ilícitos previstos nesta Lei, será garantido ao investigado a oportunidade
de manifestação por escrito e de juntada de documentos que comprovem suas alegações e auxiliem na
elucidação dos fatos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)

SENTENÇAS CIVIS E PENAIS PRODUZIRÃO EFEITOS EM RELAÇÃO À AÇÃO DE IMPROBIDADE QUANDO


CONCLUÍREM:

Pela inexistência da conduta Pela negativa da autoria

A ABSOLVIÇÃO CRIMINAL EM AÇÃO QUE DISCUTA OS MESMOS FATOS, CONFIRMADA POR DECISÃO
COLEGIADA:

Impede o trâmite da ação de improbidade, havendo comunicação com todos os fundamentos de absolvição previs-
tos no CPP

DA PRESCRIÇÃO

NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO


A prescrição ocorre quando o decurso do tempo impede que o titular da ação de improbidade possa aplicar a
sanção ao suposto autor do ato de improbidade. Esse instituto existe no direito brasileiro para resguardar a segu-
rança jurídica. Sendo assim, o Estado tem um tempo determinado para poder sancionar os atos de improbidade.
A demora do Estado extingue a possibilidade de punir o suposto autor do ato ímprobo praticado por agentes
públicos e particulares.
Se, por exemplo, um agente público comete ato de improbidade que causa prejuízo ao erário, o Ministério
Público tem um prazo para ingressar com a ação e efetivar as sanções previstas na lei; passado o prazo, o Estado
não poderá mais responsabilizar o acusado.
Importante! Atente-se para este julgado, que trata da imprescritibilidade da ação de ressarcimento ao erário:

Tese de repercussão geral STF nº 897 São imprescritíveis as ações de ressarcimento ao erário fundadas na prática
de ato doloso tipificado na Lei de Improbidade Administrativa.17

Com as alterações da Lei nº 14.230, de 2021, o prazo prescricional passou a ser de 8 (oito) anos em todas as
hipóteses e a contagem se dá a partir da ocorrência do fato.

Art. 23 A ação para a aplicação das sanções previstas nesta Lei prescreve em 8 (oito) anos, contados a partir da
ocorrência do fato ou, no caso de infrações permanentes, do dia em que cessou a permanência. (Redação
dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
I - (revogado);
II - (revogado);
III - (revogado);
§ 1º A instauração de inquérito civil ou de processo administrativo para apuração dos ilícitos referidos
nesta Lei suspende o curso do prazo prescricional por, no máximo, 180 (cento e oitenta) dias corridos, reco-
meçando a correr após a sua conclusão ou, caso não concluído o processo, esgotado o prazo de suspensão.
§ 2º O inquérito civil para apuração do ato de improbidade será concluído no prazo de 365 (trezentos e ses-
senta e cinco) dias corridos, prorrogável uma única vez por igual período, mediante ato fundamentado
submetido à revisão da instância competente do órgão ministerial, conforme dispuser a respectiva lei orgânica.

17 [Lei 8.429, de 1992, arts. 9 a 11 (1)]. RE 852475/SP, rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgamento em 8.8.2018.
(RE-852475) 187
§ 3º Encerrado o prazo previsto no § 2º deste artigo, a ação deverá ser proposta no prazo de 30 (trinta) dias,
se não for caso de arquivamento do inquérito civil.
§ 4º O prazo da prescrição referido no caput deste artigo interrompe-se:
I - pelo ajuizamento da ação de improbidade administrativa;
II - pela publicação da sentença condenatória;
III - pela publicação de decisão ou acórdão de Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal que confirma
sentença condenatória ou que reforma sentença de improcedência;
IV - pela publicação de decisão ou acórdão do Superior Tribunal de Justiça que confirma acórdão condenatório
ou que reforma acórdão de improcedência;
V - pela publicação de decisão ou acórdão do Supremo Tribunal Federal que confirma acórdão condenatório ou
que reforma acórdão de improcedência.
§ 5º Interrompida a prescrição, o prazo recomeça a correr do dia da interrupção, pela metade do prazo
previsto no caput deste artigo.
§ 6º A suspensão e a interrupção da prescrição produzem efeitos relativamente a todos os que concorreram para a
prática do ato de improbidade.
§ 7º Nos atos de improbidade conexos que sejam objeto do mesmo processo, a suspensão e a interrupção relativas a
qualquer deles estendem-se aos demais.
§ 8º O juiz ou o tribunal, depois de ouvido o Ministério Público, deverá, de ofício ou a requerimento da parte inte-
ressada, reconhecer a prescrição intercorrente da pretensão sancionadora e decretá-la de imediato, caso, entre os
marcos interruptivos referidos no § 4º, transcorra o prazo previsto no § 5º deste artigo.

A lei traz hipóteses de suspensão e de interrupção do prazo prescricional. Vejamos:

z Suspensão: após a instauração de inquérito civil ou de processo administrativo, o prazo prescricional suspen-
de por até 180 dias corridos, recomeçando a correr após a sua conclusão ou, caso não concluído o processo,
esgotado o prazo de suspensão;
z Interrupção: após a ocorrência das hipóteses previstas, volta a contar o prazo do zero.

Os conceitos de interrupção e suspensão são trazidos pela doutrina e é importante saber a diferença entre os
institutos para entender o conteúdo.
O § 5º traz uma inovação, que é a prescrição intercorrente. Essa modalidade de prescrição só ocorre depois
da apresentação da ação de improbidade, ou seja, ocorre dentro do processo e será contada pela metade.
Exemplo: um agente praticou um ato de improbidade há 6 anos, o Ministério Público apresenta a ação e no dia
da apresentação o prazo será interrompido. Na interrupção o prazo volta a contar do zero, ou seja, com a apre-
sentação da Ação de Improbidade Administrativa pelo Ministério Público voltaríamos a contar os 8 anos, mas na
prescrição intercorrente do § 5º o prazo volta a ser contado pela metade, ou seja, 4 anos. Podemos dizer então que
o prazo da prescrição intercorrente será de 4 anos.
Outro ponto importante é sobre a possibilidade de o Ministério Público, de ofício, a requerimento de auto-
ridade administrativa ou mediante representação, instaurar inquérito civil ou procedimento investigativo
assemelhado e requisitar a instauração de inquérito policial para apurar os ilícitos.
Percebe-se aqui algumas possibilidades trazidas pela lei para que o Ministério Público possa obter os ele-
mentos necessários para a instauração da ação de improbidade administrativa. E conforme os §§ 2º e 3º, art. 23,
o inquérito civil deve respeitar o prazo de 365 dias, podendo ser prorrogado uma única vez por igual período.

Importante!
O prazo do inquérito civil é de 365 dias corridos, prorrogável uma vez por igual período mediante fundamen-
tação, ou seja, 365 + 365. Cuidado com as provas: são 365 dias e não 1 ano.

Prorrogável uma única vez por igual


período, mediante ato fundamentado
Será concluído no prazo de 365 dias
corridos Encerrado o prazo, a ação deverá ser
proposta no prazo de 30 dias, se não for
INQUÉRITO CIVIL caso de arquivamento de inquérito civil

Em 8 anos, contados a partir da ocorrência


A ação para a aplicação das sanções do fato ou, no caso de infrações
previstas na lei em estudo prescreve permanentes, do dia em que cessou a
permanência

Art. 23-A É dever do poder público oferecer contínua capacitação aos agentes públicos e políticos que atuem com
prevenção ou repressão de atos de improbidade administrativa.
Art. 23-B Nas ações e nos acordos regidos por esta Lei, não haverá adiantamento de custas, de preparo, de emolu-
mentos, de honorários periciais e de quaisquer outras despesas.
§ 1º No caso de procedência da ação, as custas e as demais despesas processuais serão pagas ao final.
§ 2º Haverá condenação em honorários sucumbenciais em caso de improcedência da ação de improbidade se com-
provada má-fé.
188
Art. 23-C Atos que ensejem enriquecimento ilícito, a) funcional
perda patrimonial, desvio, apropriação, malbara- b) linha-staff
tamento ou dilapidação de recursos públicos dos c) matricial
partidos políticos, ou de suas fundações, serão res- d) projetizada
ponsabilizados nos termos da Lei nº 9.096, de 19 de e) linear
setembro de 1995.
Das Disposições Finais 3. (IDECAN — 2019) Toda empresa é uma organização,
Art. 24 Esta lei entra em vigor na data de sua porém nem toda organização é uma empresa. São
publicação. características de uma organização:
Art. 25 Ficam revogadas as Leis n°s 3.164, de 1° de
junho de 1957, e 3.502, de 21 de dezembro de 1958 e
a) a geração de lucratividade e de riquezas e a forma
demais disposições em contrário.
como os lucros são distribuídos.
b) qualquer grupo social formado por pessoas, com uma
REFERÊNCIAS
série de tarefas e uma administração.
c) são empreendimentos saudáveis e seus conflitos não
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da são duradouros.
República Federativa do Brasil de 1988. Brasí- d) são flexíveis e possuem enorme capacidade de
lia, DF: Presidência da República. Disponível em: ajustamento.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ e) possuem identidade própria, cultura específica que,
constituicao.htm. Acesso em: 26 set. 2022. normalmente, é repassada de pai para filho.
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Portal da Câmara
dos Deputados, 2022. Disponível em: https://www.
4. (IDECAN — 2019) Uma organização é um organismo
camara.leg.br/. Acesso em: 26 set. 2022.
vivo que busca a sobrevivência e, como os seres vivos,
CARVALHO FILHO, J. dos S. Manual de Direito
busca também a vida, a longevidade e a melhoria con-
Administrativo. 33ª Ed. São Paulo: Atlas, 2019.
tínua. Neste contexto, Barnard se concentra em três
CARVALHO, M. Manual de Direito Administrati-
elementos considerados essenciais para que as orga-
vo. 9ª Ed. São Paulo: Juspodivm, 2021.
nizações possam prosperar:
CASA CIVIL DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA.
Guia da política de governança pública. Brasília:
a) formalização, racionalidade e hierarquia.
Casa Civil da Presidência da República, 2018.
b) integração pessoal, atividades pessoais e forças
CASTRO JÚNIOR, R. de. Manual de Direito Admi-
coordenadas.
nistrativo. 1ª Ed. São Paulo: Juspodivm, 2021.
c) estrutura elaborada, autoridade e responsabilidades.
DI PIETRO, M. S. Z. Direito administrativo. 33ª Ed.
d) divisão do trabalho, objetivo e desempenho.
São Paulo: Atlas, 2020.
e) comunicação, motivação e o propósito comum.
MEIRELLES, H. L. Direito Administrativo Brasi-
leiro. 44ª Ed. Salvador: Juspodivm, 2020.
5. (IDECAN — 2019) As organizações somente sobrevi-
MELLO, C. A. B. Curso de Direito Administrativo.
vem, crescem ou se tornam bem-sucedidas através de

NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO


34ª Ed. São Paulo: Juspodivm, 2019.
fatores que envolvem decisões, ações, aglutinações
PLANALTO. Portal da Legislação, 2022. Disponí-
de recursos, competências, estratégias e uma busca
vel em: http://www4.planalto.gov.br/legislacao/.
permanente de objetivos para alcançar resultados. O
Acesso em: 26 set. 2022.
que leva uma organização ao patamar da excelência
SENADO FEDERAL. Senado Federal, 2022. Dispo-
não são apenas produtos, competências e recursos,
nível em: https://www12.senado.leg.br/hpsenado.
mas o modo como ela é administrada, pois
Acesso em: 26 set. 2022.
a) a administração deve ser uniforme, pois as organiza-
ções são homogêneas, muito semelhantes, e envol-
HORA DE PRATICAR! vem as governamentais, as não-governamentais e
empresas em geral.
b) nas organizações, mesmo que elas se apresentem em
1. (IDECAN — 2021) Para atingir seus objetivos e estra-
diversas dimensões e tamanhos – grandes, médias,
tégias, reunindo recursos humanos e materiais, as
pequenas, microempresariais – o processo administrati-
empresas fazem uso da função da administração
vo é homogêneo e não se diferencia de um tipo ao outro.
denominada
c) o ato de administrar visa gerenciar os pequenos negó-
cios, caminho certo para o sucesso dos mesmos e
a) Planejamento.
para a própria liberdade do administrador.
b) Organização.
d) o processo administrativo visa à organização e siste-
c) Coordenação.
matização do negócio empreendido e, se ele é peque-
d) Controle.
no, o administrador deve investir mais tempo, energia
e dinheiro para obter êxito.
2. (IDECAN — 2020) Cada organização tem uma estru- e) a administração é o veículo pelo qual as organizações
tura organizacional em função de seus objetivos, são alinhadas e conduzidas para alcançar a excelên-
tamanho, conjuntura que atravessa e natureza, dos cia em ações e operações na busca pelos resultados.
produtos que fabrica ou dos serviços que fornece.
Assinale a alternativa que apresente corretamente o
6. (IDECAN — 2022) Marque V para verdadeiro e F para
tipo de estrutura organizacional que tem como prin-
falso sobre as funções administrativas segundo Fayol
cipal característica a existência da autoridade única e
e em seguida, a alternativa correta:
absoluta do gerente sobre os subordinados, decorren-
te esta do princípio da unidade de comando.
189
( ) Previsão: Avalia o futuro e o aprovisionamento dos organizacionais que objetivam definir uma visão de
recursos em função dele; futuro de médio e longo prazo, bem como as principais
( ) Organização: Proporciona tudo o que é útil ao funcio- instituições e processos que asseguram coerência e
namento da empresa e pode ser dividida em organiza- efetividade entre meios e fins para o seu alcance”.
ção material e organização social; Sobre esse tema, qual(ais) (o)s principal(is) método(s)
( ) Comando: Leva a organização a funcionar. Seu objeti- de planejamento estratégico governamental? Analise
vo é alcançar o máximo retorno de todos os emprega- os itens a seguir:
dos no interesse dos aspectos globais do negócio;
( ) Coordenação: Harmoniza todas as atividades do I. Planejamento Estratégico Plurianual (PPA).
negócio, facilitando seu trabalho e sucesso. Sincro- II. Planejamento Estratégico Governamental (PEG).
niza coisas e ações em proporções certas e adapta III. Planejamento Estratégico Participativo (PEP).
meios aos fins visados; IV. Planejamento Estratégico Situacional (PES).
( ) Controle: É a verificação que certifica se tudo ocorre
em conformidade com o plano adotado, as instruções Assinale
transmitidas e os princípios estabelecidos. O objetivo
é localizar as fraquezas e os erros no intuito de retifi- a) se somente os itens III e IV estiverem corretos.
cá-los e prevenir a recorrência. b) se somente os itens II e III estiverem corretos.
c) se somente os itens I e II, estiverem corretos.
a) V, V, V, V, V d) se somente os itens I, II e IV estiverem corretos.
b) F, V, V, F, V e) se todos os itens estiverem corretos.
c) F, V, V, V, F
d) V, V, V F, V 11. (IDECAN — 2022) O processo de planejamento estra-
e) V, V, F, F, F tégico de uma organização é elaborado por meio de
diferentes e complementares técnicas administrativas
7. (IDECAN — 2021) Quando se trata de processos admi- com o total envolvimento das pessoas da organização.
nistrativos no âmbito do fluxo de procedimentos a
serem realizados para o alcance da eficácia e da efi- Assinale a alternativa que não corresponde a uma carac-
ciência, é correto afirmar que, na ordem, devem seguir terística do processo de planejamento estratégico.
as etapas de
a) dinâmico
a) inventário, registro, distribuição, entrega. b) coletivo
b) planejamento, direção, organização e avaliação. c) informal
c) planejamento, organização, direção e controle. d) participativo
d) inventário, distribuição, entrega e avaliação.
12. (IDECAN — 2019) É um elemento estranho ao planeja-
8. (IDECAN — 2020) Henri Fayol identifica cinco elemen- mento estratégico a definição
tos ou funções da administração, sem indicar, em
nenhum momento, algum tipo de ordem ou sequência a) da missão empresarial.
para tais funções, tratando todas como partes de um b) dos objetivos e metas empresariais.
mesmo conjunto. Nesse contexto, assinale a alternati- c) dos valores da instituição.
va que traz esses cinco elementos. d) da política salarial.
e) da visão empresarial.
a) previsão, planejamento, comando, direção e controle
b) gestão, controle, direção, intervenção e comando 13. (IDECAN — 2019) Para o alinhamento do planejamen-
c) previsão, organização, comando, coordenação e controle to de uma organização, é necessário que ocorra a
d) coordenação, planejamento, controle, supervisão e estruturação da missão e da visão organizacional. A
comando partir daí, o planejamento da empresa terá as diretri-
e) organização, previsão, comando, auditagem e controle zes essenciais para desenvolver suas ações e atender
os objetivos organizacionais. Sendo assim, o planeja-
9. (IDECAN — 2019) As organizações são, por definição, mento estratégico é uma ferramenta necessária para
sistemas abertos, pois não podem ser adequadamen- mobilizar e nortear toda a organização, independen-
te compreendidas de forma isolada, mas sim pelo temente de nível hierárquico e área organizacional.
interrelacionamento entre diversas variáveis internas Sobre o tema, analise as afirmativas a seguir:
e externas que afetam seu comportamento. São ele-
mentos do processo administrativo enquanto um sis- I. O planejamento estratégico envolve a cúpula da ges-
tema aberto: tão para discutir diretrizes viáveis para alcançar os
objetivos da organização.
a) ambiente, pessoas, estratégias e tecnologia. II. O planejamento estratégico utiliza-se de diversas
b) recursos, competências, estratégias e organização. ferramentas para nortear os tomadores de decisões,
c) planejamento, tecnologia, controle e direção. assim, essas informações são inseridas exclusiva-
d) planejamento, controle, direção e organização. mente em softwares específicos para o gestor monito-
e) organização, estratégias, controle e direção. rar os fluxos de caixa com os estoques dos insumos.
III. O planejamento estratégico é a diretriz de como a ges-
10. (IDECAN — 2022) Sobre o Planejamento Estratégico tão vai atuar para atender os objetivos gerais e funcio-
no setor público, de acordo com Toni (2021), “o plane- nais da organização.
jamento estratégico realizado no âmbito governamen- IV. O planejamento estratégico norteia os demais planeja-
tal é um conjunto de referenciais teóricos, processos mentos dos demais níveis da organização, os planeja-
190 administrativos, aplicações de ferramentas e técnicas mentos táticos e circunstanciais.
Assinale b) As empresas públicas federais não podem ter partici-
pação em empresas privadas.
a) se somente as afirmativas I e II estiverem corretas. c) As sociedades de economia mista devem oferecer
b) se somente as afirmativas II e IV estiverem corretas. um regime estatutário para os seus empregados, que
c) se somente as afirmativas I e III estiverem corretas. serão admitidos após regular concurso público de pro-
d) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas. vas e títulos.
e) se somente as afirmativas I e IV estiverem corretas. d) A criação de subsidiária de sociedade de economia
mista depende de autorização legislativa.
14. (IDECAN — 2021) No Direito Administrativo, não há um e) Somente por lei complementar poderá ser criada uma
entendimento unânime se o que veio cronologicamente sociedade de economia mista.
primeiro foi o Estado ou foi a sociedade. Atualmente,
porém, é correto afirmar que a Administração Pública 18. (IDECAN — 2019) As autarquias, as fundações públi-
cas, as empresas públicas e as sociedades de econo-
a) integra o Estado, que é um ente personalizado. mia mista são entidades integrantes da Administração
b) pertence à sociedade, mas não ao Estado. Indireta. Sobre o tema, assinale a alternativa correta.
c) tem vínculo moral com o Estado, mas não com a sociedade.
d) é composta juridicamente pela sociedade, que é repre- a) Os princípios da Administração Pública não se aplicam
sentada pelo Ministério Público. às entidades integrantes da Administração Indireta.
e) não pertence nem à sociedade nem ao Estado. b) As empresas públicas com atuação no mercado finan-
ceiro podem ser instituídas por meio de Decreto do
15. (IDECAN — 2021) Na organização do Estado brasileiro, Poder Executivo.
é possível afirmar que a Presidência da República c) As fundações públicas devem ter a sua criação autori-
zada por lei específica e cabe à lei ordinária definir as
a) é considerada uma pessoa jurídica de direito público suas áreas de atuação.
externo. d) As sociedades de economia mista são pessoas jurídi-
b) é uma função extra corporis. cas de direito privado, devem ter a sua criação auto-
c) é considerada uma pessoa jurídica de direito público rizada por lei específica e o seu quadro de pessoal é
interno. submetido ao regime estatutário.
d) é uma função supra-administrativa. e) As empresas públicas devem ter a sua criação auto-
e) é um órgão pertencente à Administração Pública Direta. rizada por lei específica e o seu quadro de pessoal é
submetido ao regime trabalhista comum.
16. (IDECAN — 2019) A Administração Pública correspon-
de às atividades que o Estado deve exercer para aten- 19. (IDECAN — 2019) No que se refere à organização admi-
der as necessidades coletivas. No desempenho de nistrativa do Estado, assinale a afirmativa incorreta.
suas atribuições, a atuação administrativa ocorre de
forma direta ou indireta. A respeito do tema, assinale a a) Compreende-se como Administração Pública Direta
alternativa correta. ou Centralizada aquela constituída a partir de um con-

NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO


junto de órgãos públicos despersonalizados, através
a) A Administração Indireta constitui o conjunto dos órgãos dos quais o Estado desempenha diretamente a ativi-
integrados na estrutura principal de cada poder das pes- dade administrativa.
soas jurídicas de direito público com capacidade política b) Somente por lei específica poderá ser criada autar-
(União, Estados, Distrito Federal e Municípios). quia e autorizada a instituição de empresa pública, de
b) Os órgãos da Administração Direta são pessoas jurí- sociedade de economia mista e de fundação, cabendo
dicas, podendo contrair direitos e assumir obrigações, à lei complementar, neste último caso, definir as áreas
pois fazem parte da União, Estados, Distrito Federal e de sua atuação.
Municípios. c) Compreende-se como Administração Pública Indire-
c) Os órgãos da Administração Direta têm capacidade ta ou Descentralizada aquela constituída a partir de
processual, ou seja, podem ser autor ou réu de uma um conjunto de entidades dotadas de personalidade
ação devido a sua personalização. Somente em casos jurídica própria, algumas de direito público, outras de
excepcionais, já previstos em lei, é que são incapazes. direito privado, responsáveis pelo exercício, em cará-
d) Os órgãos da Administração Indireta são dotados de ter especializado e descentralizado, de certa e deter-
personalidade jurídica própria, mas não podem adqui- minada atividade administrativa.
rir direitos e contrair obrigações, pois dependem da d) As empresas públicas e as sociedades de economia
União, Estados, Distrito Federal e Municípios. mista fazem parte da Administração Pública Direta.
e) Os entes da Administração Indireta, para que possam e) As autarquias são pessoas jurídicas de direito público,
exercer suas atividades, são dotados de personalida- criadas por lei, com personalidade jurídica, patrimônio
de jurídica própria e podem adquirir direitos e assumir e receita próprios, para executar atividades típicas da
obrigações por conta própria. Administração Pública.

17. (IDECAN — 2019) A organização administrativa da 20. (IDECAN — 2022) O fenômeno através do qual a Admi-
União está cercada de entidades da chamada Admi- nistração Pública cria autarquias e fundações públi-
nistração Indireta, entre elas as empresas públicas e cas é chamado de
as sociedades de economia mista.
a) descentralização.
Nesse cenário, assinale a alternativa correta. b) deslegalização.
c) desregulação.
a) Somente por lei complementar poderá ser criada uma d) desconcentração.
empresa pública. 191
21. (IDECAN — 2021) As prerrogativas especiais da Admi- 25. (IDECAN — 2021) De acordo com a Lei Federal nº
nistração Pública de desapropriar, requisitar bens, 8.429/92, que dispõe sobre as sanções aplicáveis em
rescindir unilateralmente contratos administrativos, virtude da prática de atos de improbidade administra-
convocar particulares para prestar serviços públicos tiva, quando o agente público concorre para que tercei-
decorrem do princípio ro se enriqueça ilicitamente, está configurado(a)

a) da finalidade pública. a) ato de improbidade administrativa que importa enri-


b) da eficiência. quecimento ilícito.
c) da reserva do possível. b) delito penal e não ato de improbidade administrativa.
d) da legalidade. c) infração disciplinar e não ato de improbidade administrativa
d) ato de improbidade administrativa que causa prejuízo
22. (IDECAN — 2021) Uma vez que ao cidadão deve ser ao erário.
garantida a isonomia com os demais cidadãos, além
de estabelecer a efetividade da democracia, toda rela- 26. (IDECAN — 2021) Julgue os itens abaixo sobre os atos
ção legal de um processo administrativo segue princí- de improbidade administrativa:
pios. Nesse contexto, alguns princípios do processo
administrativo estão listados nas alternativas a seguir, I. Há prática de improbidade administrativa quando o
À EXCEÇÃO DE UMA. Assinale-a. gestor público concorre para que terceiro se enriqueça
ilicitamente.
a) contraditório e ampla defesa II. A concessão de benefício fiscal sem a observância
b) motivação das formalidades legais é considerada ato de impro-
c) legalidade bidade administrativa que causa prejuízo ao erário.
d) onerosidade III. Considera-se ato de improbidade administrativa
decorrente de aplicação indevida de benefício finan-
23. (IDECAN — 2019) A preocupação com as ações éticas ceiro a realização de operação financeira sem obser-
na administração pública tem crescido cada vez mais, vância das normas legais.
e a publicidade dos atos públicos gera um controle Está(ão) correto(s) apenas o(s) item(ns):
maior, também, por parte da sociedade. Considera-se
que a corrupção pública é, provavelmente, o melhor a) I.
exemplo de falta de ética dentro da administração b) I e II.
pública. São tipos de corrupção pública: c) II e III.
d) I, II e III.
a) O suborno, a extorsão, o peculato, o nepotismo, a com-
pra de votos e o patrimonialismo. 27. (IDECAN — 2021) Com base na Lei de Improbidade
b) Os parâmetros éticos não claros, refletidos num mar- Administrativa (Lei 8.429/1992), preencha correta-
co ilegal. mente as lacunas a seguir:
c) Prometer vantagem devida quando uma área trabalha
uma tratativa com fornecedores. Qualquer poderá representar
d) O exercício ilícito, a busca por culpados e a negação para que seja instaurado(a) destinado(a)
de atos cometidos. a apurar a prática de ato de improbidade.
e) A falta de ética pessoal e cívica.
Assinale a alternativa que apresente a sequência cor-
24. (IDECAN — 2021) De acordo com a Lei de Improbidade reta dos termos empregados.
Administrativa (Lei 8.429/1992), são atos de improbida-
de administrativa que causam prejuízo ao erário: a) cidadão – ao Tribunal de Contas – investigação
b) pessoa – ao Tribunal de Contas – inquérito
I. revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão c) cidadão – à Polícia Civil – inquérito
das atribuições e que deva permanecer em segredo; d) cidadão – ao Ministério Público – inquérito
II. celebrar contrato de rateio de consórcio público sem e) pessoa – à autoridade administrativa competente
suficiente e prévia dotação orçamentária; – investigação
III. transferir recurso a entidade privada, em razão da
prestação de serviços na área de saúde, sem a prévia
9 GABARITO
celebração de contrato;
IV. celebrar parcerias da administração pública com enti-
dades privadas sem a observância das formalidades 1 B
legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;
V. perceber vantagem econômica para intermediar a libera- 2 E
ção ou aplicação de verba pública de qualquer natureza. 3 B
Analise os itens acima e assinale 4 E

a) se apenas o item I estiver correto. 5 E


b) se apenas os itens II e IV estiverem corretos. 6 A
c) se apenas os itens II, III e V estiverem corretos.
d) se apenas os itens I, II e V estiverem corretos. 7 C
e) se todos os itens estiverem corretos.
8 C
192
9 D

10 E

11 C

12 D

13 C

14 A

15 E

16 E

17 D

18 E

19 D

20 A

21 A

22 D

23 A

24 B

25 D

26 B

27 E

ANOTAÇÕES

NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

193
ANOTAÇÕES

194
de ir e vir (liberdade de locomoção). Garantias são os
instrumentos através dos quais se assegura o exercí-
cio do referido direito, tanto preventivamente, como,
por exemplo, o habeas corpus, quanto repressivamen-

NOÇÕES DE DIREITO
te, quando, por exemplo, busca assegurar a sua repa-
ração no caso de violação.
Antes de adentrar no estudo dos direitos e garan-
CONSTITUCIONAL tias fundamentais propriamente ditos, é importante
conhecermos suas características. A primeira delas é
a universalidade, ou seja, os direitos e garantias fun-
damentais aplicam-se a todos os indivíduos.
A historicidade é outra característica a ser men-
DIREITOS E GARANTIAS cionada, uma vez que os direitos e garantias são frutos
FUNDAMENTAIS de um desenvolvimento histórico, ou seja, são traça-
dos e estruturados de acordo com o desenvolvimento
Antes de adentrarmos especificamente no tema, da própria sociedade. Considerar o contexto histórico
é válido fazermos uma breve introdução quanto às é extremamente importante para se entender o por-
gerações dos direitos fundamentais. quê da proteção dada pelos direitos fundamentais.
Os direitos fundamentais são segregados em gera- Como exemplo, pode-se citar as políticas afirmativas,
ções devido ao fato de não terem surgido todos ao como a política de quotas em concursos públicos.
mesmo tempo; portanto, são classificados conforme a Além dessas, os direitos e garantias fundamen-
doutrina majoritária em: tais têm, como característica, a inalienabilidade. Por
terem a liberdade, a justiça e a paz como fundamento,
z Direitos de Primeira Geração: os quais se tradu- não podem ser transferidos ou negociados. Assim, são
zem na liberdade quanto à atuação do Estado nas conferidos a todos os indivíduos, que deles não podem
ações de indivíduo. Aqui estão compreendidos os se desfazer, porque são indisponíveis, tendo em vista
direitos civis e políticos; a proteção da pessoa humana.
z Direitos de Segunda Geração: aqui compreen- A imprescritibilidade também é uma de suas
didos os direitos decorrente das obrigações do características, visto que não deixam de ser exigíveis
Estado em prol dos indivíduos (direito à saúde, em razão da falta de uso, ou seja, não prescrevem. Por
educação e o direito ao trabalho), tendo como pri- exemplo, o fato de determinada pessoa passar grande
mazia o valor “igualdade”; parte de sua vida sem ter uma religião específica não
z Direitos de Terceira Geração: são os direitos rela- a impede de optar por uma ou outra ou, até mesmo,
por nenhuma, pois seu direito à liberdade de crença
cionado ao valor “fraternidade”. São direitos que
e exercício de culto não se perde em razão do tempo.
vão além do individual; busca-se o bem coletivo
Verifica-se, ainda, a irrenunciabilidade como uma
(ex.: direito a um meio ambiente ecologicamen-
característica importante, na medida que nenhum ser
te equilibrado, direito do consumidor e direito ao
humano pode abrir mão de possuir direitos fundamen-
desenvolvimento).
tais. O indivíduo pode não usufruir deles adequadamen-
te, mas não pode renunciar à possibilidade de exercê-los.
Dica Outra característica dos direitos fundamentais é
Leve em conta os valores compreendidos em a indivisibilidade. Não existe hierarquia entre tais
direitos, pois todos possuem o mesmo valor. Conse-
cada geração (lema da Revolução Francesa),
quentemente, eles são indivisíveis na medida em que,
pois isso também já foi cobrado em muitas
para a garantia de um, pressupõe-se a observância
questões de prova. dos demais. Sendo assim, quando um deles é violado,
� 1ª geração — liberdade os outros também o são.
� 2ª geração — igualdade Por fim, outra característica importante é a limi-
� 3ª geração — fraternidade/solidariedade tabilidade, isto é, os direitos fundamentais não são
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
absolutos, de modo que podem ser limitados sempre
Os direitos e garantias fundamentais estão discipli- que houver uma hipótese de colisão de direitos fun-
nados no Título II, da CF, de 1988. Em síntese, a norma damentais. É da limitabilidade que advém a regra de
constitucional divide tais elementos em cinco grupos, que nenhum direito é absoluto. Por exemplo, mes-
a saber: mo possuindo o direito de locomoção, não é possível
ingressar em uma propriedade alheia fora das hipó-
z Direitos individuais e coletivos; teses previstas na CF, de 1988 (quais sejam: convite,
z Direitos sociais; desastre, flagrante delito, prestar socorro ou ordem
z Direitos de nacionalidade; judicial durante o dia), podendo, inclusive, caracteri-
z Direitos políticos; zar o crime de invasão de domicílio.
z Partidos políticos.
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS
Neste sentido, conclui-se que os direitos funda-
mentais constituem o gênero, do qual os direitos Os direitos individuais e coletivos estão disciplina-
individuais, coletivos, sociais, nacionais e políticos dos no art. 5º, da CF, de 1988. Muito cobrado em provas
são espécies. de concursos públicos, esse dispositivo é o mais exten-
Importante: Direitos e garantias não podem ser so dessa norma, sendo composto pelo caput (capítulo),
confundidos. Direitos são bens e vantagens prescritos por 78 (setenta e oito) incisos e 4 (quatro) parágrafos.
na norma constitucional, como, por exemplo, o direito Vejamos cada uma de suas partes: 195
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distin- Atenção! Existem dois tipos de igualdade: a for-
ção de qualquer natureza, garantindo-se aos bra- mal e a material. A igualdade formal consiste em tra-
sileiros e aos estrangeiros residentes no País tar a todos de maneira igual, independentemente de
a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, qualquer condição. Já a igualdade material busca a
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos igualdade de fato, para que todos tenham os mesmos
termos seguintes: direitos e obrigações. Trata-se, portanto, da igualdade
efetiva, real, concreta ou situada. Assim, a igualdade
O caput do art. 5º traz os cinco pilares dos direitos nada mais é que tratar igualmente os iguais, com os
individuais e coletivos, quais sejam: vida, liberdade, mesmos direitos e obrigações, e desigualmente os
igualdade, segurança e propriedade. Deles decor- desiguais, na medida de sua desigualdade.
rem todos os demais direitos estruturados nos seus
incisos, como, por exemplo, do direito à vida, decor- Art. 5º [...]
rem o direito à integridade física e moral, a proibição II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de
da pena de morte e a proibição de venda de órgãos. fazer alguma coisa senão em virtude de lei;
Quando a Constituição fala “brasileiros e estrangei-
ros residentes no país”, não significa que o estrangei- O inciso II decorre do direito à segurança. Trata-se,
ro não residente não possua direitos, pois os direitos portanto, da segurança em matéria pessoal estampa-
fundamentais são destinados a qualquer pessoa que da pelo princípio da legalidade. Em síntese, todas as
se encontre em território nacional. pessoas estão submetidas ao império da lei, de modo
A CF, de 1988, adota o critério quantitativo para que somente a lei pode obrigar alguém a fazer ou
definir os titulares dos direitos fundamentais, ou seja, deixar de fazer algo. Assim sendo, somente a lei pode
a população brasileira — todos aqueles que residem limitar a vontade do indivíduo e obrigá-lo a fazer ou
em território brasileiro. não fazer algo, como, por exemplo, o uso obrigatório
Além disso, o caput traz o princípio da isonomia de máscaras faciais de proteção.
ou da igualdade (“todos são iguais perante a lei, sem Ressalta-se que o princípio da legalidade possui
distinção de qualquer natureza”). Tal princípio tem, duas facetas, sendo uma delas destinada aos parti-
como fundamento, o fato de que todos nascem e vivem culares e a outra destinada à Administração. A lega-
com os mesmos direitos e obrigações perante o Estado lidade aplicada ao particular difere-se da legalidade
brasileiro. São destinatários do princípio da igualdade aplicada à Administração, tendo em vista que ao par-
tanto o legislador como os aplicadores da lei. ticular tudo pode se não proibido por lei. Já em rela-
ção à Administração, seus atos são engessados, sendo
z Igualdade na lei: direcionado ao legislador, de modo assim, somente pode praticar atos dispostos em lei.
a vedar a elaboração de dispositivos que estabele-
çam desigualdades ou privilégio entre as pessoas; Art. 5º [...]
z Igualdade perante a lei: direcionado aos aplica- III - ninguém será submetido a tortura nem a tra-
dores da lei, uma vez que não é possível utilizar tamento desumano ou degradante;
critérios discriminatórios na aplicação da norma,
salvo nos casos em que a própria norma consti- O inciso III decorre do direito à vida, por decorrer
tucional estabelece a aplicação desigual. Como da violação à integridade humana, tanto física como
exemplo, podem-se citar o caso da exclusão de psicológica. Torturar1 é causar ao indivíduo sofrimento
mulheres e eclesiásticos do serviço militar obriga- físico ou mental como forma de intimidação ou castigo. É,
tório em tempo de paz, ou os casos de existência também, utilizar-se de métodos como forma de anular a
de um pressuposto lógico e racional que justifique personalidade ou diminuir a capacidade física ou metal,
a desequiparação efetuada, como a existência de mesmo que sem dor. Assim, a CF, de 1988, veda tanto a
assentos reservados para gestantes, idosos e pes- tortura como qualquer tipo de tratamento desumano ou
soas com deficiência nos transportes coletivos. degradante. Temos como exemplo prático de tal inciso
a Súmula Vinculante nº 11, a qual dispõe sobre o uso de
Art. 5º [...] algemas, que, se for de forma arbitrária, pode acarretar
I - homens e mulheres são iguais em direitos e em tratamento desumano ou degradante.
obrigações, nos termos desta Constituição;
Súmula Vinculante nº 11 Só é lícito o uso de alge-
O inciso I decorre do direito à igualdade. Trata-se mas em casos de resistência e de fundado receio de
fuga ou de perigo à integridade física própria ou
da igualdade entre homens e mulheres. Inicialmen-
alheia, por parte do preso ou de terceiros, justifi-
te, há de se esclarecer que os direitos das mulheres são
cada a excepcionalidade por escrito, sob pena de
relativamente recentes, de modo que grande parte da responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente
legislação anterior à CF, de 1988, estabelecia situações ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato
diferenciadas entre homens e mulheres, como, por processual a que se refere, sem prejuízo da respon-
exemplo, a necessidade de autorização marital para sabilidade civil do Estado.
que a esposa ocupasse cargo público ou exercesse a
profissão fora do lar e o fato de o marido ser tido como Art. 5º [...]
o chefe da sociedade conjugal, competindo a ele, entre IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo
outros deveres, a administração dos bens do casal. vedado o anonimato;
Assim sendo, esse inciso foi direcionado tanto
ao legislador, para que corrigisse tais desigualdades Todas as pessoas possuem direito atinentes à liber-
legais, como aos operadores do direito, para que não dade de foro íntimo, ou seja, de ter convicções reli-
fossem mais estabelecidos critérios discriminatórios. giosas, filosóficas, políticas, entre outras, possuindo,
196 1 Conceito em conformidade com o art. 2º, da Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura.
portanto, o direito de pensar. Além disso, possuem Art. 5º [...]
direito de expressar livremente esses pensamentos. VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação
Assim, o direito à expressão do pensamento, que de assistência religiosa nas entidades civis e
decorre do direito à liberdade de expressão (sendo militares de internação coletiva;
este fundamento do Estado Democrático de Direito),
está disciplinado no inciso IV. O inciso VII é decorrência do direito à liberdade de
O pensamento em si é absolutamente livre, por ser crença e culto, de modo a garantir aos internados em
uma questão de foro íntimo. O indivíduo pode pen- estabelecimentos prisionais e de saúde o acesso à assis-
sar em que quiser, sem que o Estado possa interferir. tência espiritual e religiosa; contudo, lembre-se de que
No entanto, quando este pensamento é exteriorizado, essa admissão não influi no fato de o Estado ser laico.
passa a ser possível a tutela e proteção do Estado.
Cumpre mencionar que é da liberdade de expres- Art. 5º [...]
são que decorrem a proibição de censura e a vedação VIII - ninguém será privado de direitos por moti-
do anonimato, por exemplo. Portanto, ao mesmo tem- vo de crença religiosa ou de convicção filosófi-
po que a Constituição assegura a liberdade de mani- ca ou política, salvo se as invocar para eximir-se
de obrigação legal a todos imposta e recusar-se
festação de pensamento, ela obriga que as pessoas
a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
assumam a responsabilidade pelo que exteriorizam.
Além disso, a vedação ao anonimato é aplicada,
O inciso VIII traz a chamada escusa de consciên-
também, às denúncias. Segundo o STF, é vedado o
cia ou objeção de consciência. Trata-se do direito de
recebimento de denúncias anônimas, contudo, isso
não cumprir um serviço obrigatório por razões rela-
não impede que o Estado apure de forma sumária a
cionadas a sua consciência ou crença, de modo a asse-
verossimilhança das alegações.
gurar que não ocorrerá a perda dos direitos civis ou
políticos em decorrência de tal recusa. Por exemplo:
Art. 5º [...]
V - é assegurado o direito de resposta, proporcio-
a pessoa que, por questão religiosa, seja contrária ao
nal ao agravo, além da indenização por dano mate- serviço militar poderá alegar tal imperativo de cons-
rial, moral ou à imagem; ciência em seu alistamento militar. No entanto, a CF,
de 1988, estabelece que, mesmo que dispensada da
A expressão do pensamento é livre, porém, não prática dessa atividade, ela terá que cumprir serviço
é absoluta. Assim, a pessoa é livre para expor sua alternativo.
opinião, porém, atingindo-se a honra de alguém,
por exemplo, ela poderá ser responsabilizada civil e Art. 5º [...]
IX - é livre a expressão da atividade intelectual,
penalmente. Além disso, a CF, de 1988, estabelece o
artística, científica e de comunicação, indepen-
direito de resposta, ou seja, o exercício do direito de
dentemente de censura ou licença;
defesa da pessoa que foi ofendida em razão da mani-
festação do pensamento de outra, como, por exemplo,
O inciso IX trata da liberdade de expressão das
no caso de notícia inverídica ou errônea. Salienta-se
atividades intelectual, artística, científica e de comu-
por fim que o direito de resposta é aplicado tanto à
nicação. Assim, a CF, de 1988, veda, expressamente,
pessoa física quanto à jurídica.
qualquer atividade de censura ou licença, inclusive a
proveniente de atuação jurisdicional.
Cumpre esclarecer os conceitos de censura e
Importante! licença:
O inciso V prevê a indenização por dano material,
moral ou à imagem. De acordo com a Súmula nº z Censura é a verificação da compatibilidade ou não
37, do Superior Tribunal de Justiça2, esses danos entre um pensamento que se pretende expressar
são acumuláveis. com as normas legais vigentes;
z Licença é a exigência de autorização para que o
pensamento possa ser exteriorizado.

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL


Art. 5º [...]
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de Art. 5º [...]
crença, sendo assegurado o livre exercício dos X - são invioláveis a intimidade, a vida privada,
cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
proteção aos locais de culto e a suas liturgias; direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;
A liberdade de consciência abrange a liberdade
de consciência em sentido estrito, ou seja, a liber- O inciso X decorre do direito à vida e traz a pro-
dade de pensamento de foro íntimo em questões não teção dos direitos de personalidade, ou seja, o direi-
religiosas, tais como convicções de ordem ideológica to à privacidade. Trata-se dos atributos morais que
ou filosófica. Abrange, ainda, a liberdade de crença, devem ser preservados e respeitados por todos, uma
isto é, a liberdade de pensamento de foro íntimo em vez que a vida não deve ser protegida apenas em seus
questões de natureza religiosa. Com relação à religião, aspectos materiais.
o inciso VI assegura tanto a liberdade de crença (foro Aqui, torna-se necessário explicar alguns termos:
íntimo), ou seja, de ter uma religião, como a liberdade intimidade é o direito de estar só, ou seja, de não ser
de expressão, isto é, de culto. Além disso, estabelece perturbado em sua vida particular; vida privada refe-
a liberdade religiosa, ou seja, de mudar de crença ou re-se ao relacionamento de um indivíduo com seus
religião e de manifestação. familiares e amigos, quer em seu lar quer em locais
2 Súmula nº 37 (STJ) São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato. 197
fechados; honra é o atributo pessoal que compreende A inviolabilidade das comunicações pessoais
tanto a autoestima (honra subjetiva) quanto a reputa- está disciplinada no inciso XII e também decorre do
ção de que goza a pessoa no meio social (honra objeti- direito à segurança. O dispositivo considera comuni-
va); imagem é a expressão exterior da pessoa, ou seja, cações pessoais:
seus aspectos físicos (imagem-retrato), bem como a
exteriorização de sua personalidade no meio social z As correspondências: comunicações recebidas
(imagem-atributo). em casa, como, por exemplo, as cartas, as contas,
os comunicados e avisos comerciais;
Art. 5º [...] z A comunicação telegráfica: comunicados mais
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém rápidos, que podem ser enviados tanto na forma
nela podendo penetrar sem consentimento do escrita como pela internet, tais como o telegrama;
morador, salvo em caso de flagrante delito ou z A comunicação de dados: comunicação feita por
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante meio de rede de computadores, como, por exem-
o dia, por determinação judicial; plo, a compra de produtos online ou homebank;
z As comunicações telefônicas: ligações feitas e
A inviolabilidade do domicílio está prevista no recebidas por meio de telefone fixo ou móvel.
inciso XI, do art. 5º, e decorre do direito à segurança.
O dispositivo traz a regra de que a casa é inviolável Embora não conste do inciso, o sigilo foi estendi-
e o ingresso nela deve ser feito com o consentimento do aos dados telemáticos por meio da Lei nº 9.296,
do morador. Considera-se casa o lugar, não aberto ao de 1996. Assim, estão protegidas as mensagens troca-
público, em que uma pessoa vive ou trabalha. Trata- das por meio de Skype, e-mail, WhatsApp, Messenger,
-se, portanto, de um conceito amplo, o qual se refere entre outros.
ao lugar reservado à intimidade e à vida privada do É importante mencionar que as violações de cor-
indivíduo. respondência e de comunicação telegráfica são cri-
O conceito jurídico de casa está previsto nos §§ 4º e mes previstos no art. 151, do Código Penal, e na Lei nº
5º, do art. 150, do Código Penal. Vejamos: 6.538, de 1978, a qual dispõe sobre os serviços postais.
Cabe consignar, ainda, que a quebra das comuni-
Art. 150 (Código Penal) [...] cações telefônicas é admitida mediante autorização
§ 4º A expressão «casa» compreende: judicial (“salvo no último caso”) para fins de investiga-
I - qualquer compartimento habitado; ção criminal ou instrução processual penal. Portanto,
II - aposento ocupado de habitação coletiva; somente para fins penais.
III - compartimento não aberto ao público, onde
Atenção! Como não existe direito absoluto, é pos-
alguém exerce profissão ou atividade.
sível a quebra do sigilo das demais comunicações
§ 5º Não se compreendem na expressão «casa»:
I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habita-
mediante autorização judicial.
ção coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do
n.º II do parágrafo anterior; Art. 5º [...]
II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero. XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofí-
cio ou profissão, atendidas as qualificações profis-
sionais que a lei estabelecer;
O dispositivo traz três exceções à regra. A primei-
ra exceção é a possibilidade de ingresso no caso de fla-
grante delito ou desastre, ou seja, é possível ingressar O direito de exercício de qualquer atividade
no local se um crime estiver ocorrendo ou tiver aca- profissional decorre do direito à liberdade. Trata-se
bado de ocorrer, por exemplo. A segunda exceção per- da faculdade de escolher o trabalho que se pretende
mite a entrada no local para prestar socorro, como, exercer. No entanto, é necessário atender às qualifica-
por exemplo, no caso de o imóvel estar pegando fogo e ções profissionais exigidas pela lei, como, por exem-
ter alguém em seu interior. Por fim, é possível ingres- plo, para ser médico, um dos requisitos é ter feito
sar na casa mediante autorização judicial, como, por faculdade de Medicina em território nacional ou ter
exemplo, quando o juiz expede um mandado judicial sido aprovado em exame de revalidação no caso de
para busca de algum(a) objeto/pessoa no local. faculdade estrangeira.
É importante consignar que, mesmo com autoriza- Essa é uma norma constitucional de eficácia con-
ção judicial, o ingresso deve ocorrer apenas durante tida, ou seja, uma norma que produz todos os efeitos.
o dia, ou seja, durante o período noturno, dependerá No entanto, cabe destacar que uma norma infracons-
do consentimento do morador. Assim sendo, durante titucional (lei) pode conter o seu alcance ao fixar
o dia, exibindo-se o mandado judicial, a busca pode condições ou requisitos para o pleno exercício da pro-
ser realizada mesmo sem a concordância do morador, fissão, como, por exemplo, a regra de que, para advo-
sendo possível, inclusive, o arrombamento de porta se gar, é necessária a aprovação no exame da Ordem dos
houver necessidade. Advogados do Brasil.
Atenção! O inciso III, do art. 22, da Lei nº 13.869,
de 2019, estabelece como dia o período compreendido Art. 5º [...]
entre as 5h e 21h. XIV - é assegurado a todos o acesso à informação
e resguardado o sigilo da fonte, quando necessá-
rio ao exercício profissional;
Art. 5º [...]
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e
das comunicações telegráficas, de dados e das O inciso XIV disciplina o direito de informação,
comunicações telefônicas, salvo, no último caso, que é um dos desdobramentos do direito à liberdade.
por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que O direito à informação possui tríplice alcance, por
a lei estabelecer para fins de investigação criminal englobar o direito de informar, de se informar e de
198 ou instrução processual penal; ser informado.
A liberdade de informação jornalística está previs- No Brasil, é proibida a associação para fins ilícitos,
ta no § 1º, do art. 220, da CF, de 1988, e é mais abran- como, por exemplo, a associação para fins contrários
gente que a liberdade de imprensa, que assegura o à lei penal. Também é vedada a associação de caráter
direito de veiculação de impressos sem qualquer tipo paramilitar, ou seja, a associação civil e desvinculada
de restrição por parte do Estado. do Estado, que se encontra armada e com estrutura
Ressalta-se, ainda, que o dispositivo resguarda o similar às instituições militares, de modo a se utilizar
sigilo da fonte quando necessário ao exercício profis- de táticas e técnicas policiais ou militares para alcan-
sional. Deste modo, por exemplo, nenhum jornalista çar os seus objetivos.
poderá ser obrigado a revelar o nome de seu infor-
mante ou a fonte de suas informações. Além disso, seu Art. 5º [...]
silêncio não poderá sofrer qualquer sanção. XVIII - a criação de associações e, na forma da lei,
a de cooperativas independem de autorização,
Art. 5º [...] sendo vedada a interferência estatal em seu
XV - é livre a locomoção no território nacional funcionamento;
em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos
termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair O inciso XVIII disciplina o direito de associação.
com seus bens; Trata-se da possibilidade de criação de sindicatos sem
a interferência do Estado.
A liberdade de ir e vir encontra-se disciplinada no
inciso XV, do art. 5º, da CF, de 1988. Trata-se, portan- Art. 5º [...]
to, do direito de locomoção, que é um dos desdobra- XIX - as associações só poderão ser compulso-
mentos do direito à liberdade. Observa-se, no entanto, riamente dissolvidas ou ter suas atividades
que a liberdade de locomoção é restrita a tempo de suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no
paz, ou seja, no caso de decretação de guerra, passa a primeiro caso, o trânsito em julgado;
viger a lei marcial, de modo que o ir e vir dos indiví-
duos pode sofrer limitações. O inciso XIX, que também disciplina o direito de
A garantia constitucional que objetiva assegurar o associação, estabelece que as associações somente
direito de locomoção é o habeas corpus, que será tra- poderão ter suas atividades suspensas ou encerra-
tado adiante. das compulsoriamente (a força) por decisão do Poder
Judiciário. Salienta-se, por necessário, que, no caso de
Art. 5º [...] dissolução da associação, esta somente poderá ocor-
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem rer após o trânsito em julgado, ou seja, quando não
armas, em locais abertos ao público, indepen- couber mais recursos.
dentemente de autorização, desde que não
frustrem outra reunião anteriormente convoca-
da para o mesmo local, sendo apenas exigido pré- Importante!
vio aviso à autoridade competente;
� Dissolução das associações: decisão judicial
+ trânsito em julgado;
O inciso XVI traz outro desdobramento do direito
� Suspensão das associações: decisão judicial.
à liberdade: o direito de reunião. Por reunião, enten-
de-se o agrupamento organizado de pessoas de cará-
ter transitório e voltado para determinada finalidade. Art. 5º [...]
Portanto, é preciso que o evento seja organizado e XX - ninguém poderá ser compelido a associar-
preencha os seguintes requisitos: reunião pacífica e -se ou a permanecer associado;
sem armas; fins lícitos; aviso prévio à autoridade com-
petente e local aberto ao público. O inciso XX, que também disciplina o direito de
O STF, quanto à “Marcha da Maconha”, entendeu associação, estabelece que não é possível obrigar
que a passeata é constitucional, assim, compatível qualquer pessoa a se associar, ou seja, o indivíduo tem
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
com o direito de reunião. Contudo, é inadmissível a liberdade de escolha, podendo optar por fazer parte
incitação ao uso de entorpecentes. do grupo ou não. Além disso, uma vez associado, ele
Atenção! Aviso prévio não se confunde com auto- será livre para decidir se permanece ou não associa-
rização. Para se reunir, é preciso, apenas, comunicar do. Portanto, compreende o direito de associar-se a
à autoridade local, a fim de evitar, por exemplo, que, outras pessoas para formação de uma entidade, como
no mesmo local, dia e hora, coincidam agrupamentos também de deixar de participar quando for de seu
de pessoas com posicionamentos distintos (exemplo: interesse.
manifestações pró-aborto e contrária ao aborto).
Art. 5º [...]
Art. 5º [...] XXI - as entidades associativas, quando expressa-
XVII - é plena a liberdade de associação para fins mente autorizadas, têm legitimidade para repre-
lícitos, vedada a de caráter paramilitar; sentar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;

A liberdade de associação encontra-se disciplina- O inciso XXI é o último dispositivo que trata do
da no inciso XVII. Diferentemente da reunião, a asso- direito de associação. Ele se refere à representação
ciação não possui caráter transitório. Portanto, se o do filiado pela associação, quer em âmbito judicial
caráter do agrupamento for permanente, tem-se uma quer em âmbito extrajudicial, isto é, ele se refere à
associação. É importante mencionar que tanto a reu- legitimação da associação para atuar em nome dos
nião como a associação devem possuir fins pacíficos. associados. 199
Cabe esclarecer que representante é aquele que social da propriedade. Nela, a indenização não é prévia,
age em nome alheio, defendendo direito alheio. No sendo o prazo de resgate (Títulos da Dívida Pública) de 10
caso das associações, para que estas atuem na condi- (dez) anos para bens urbanos e de 20 (vinte) anos para
ção de representantes, é preciso autorização expressa bens rurais. Ainda, não confunda desapropriação com
dos filiados, não bastando que exista autorização em expropriação, que consiste na perda da propriedade no
estatuto. Assim sendo, só poderão atuar se devida- caso de cultivo de substâncias entorpecentes ou de tra-
mente autorizadas pelos associados. balho escravo. Nela, não há pagamento de indenização.
Além disso, ao contrário da representação, a subs-
tituição judicial ou extrajudicial da associação inde- Art. 5º [...]
pende de autorização, uma vez que, na substituição, a XXV - no caso de iminente perigo público, a auto-
associação atua em nome próprio, defendendo direito ridade competente poderá usar de propriedade
alheio (dos associados). particular, assegurada ao proprietário indeniza-
ção ulterior, se houver dano;
Art. 5º [...]
XXII - é garantido o direito de propriedade; A requisição temporária da propriedade está
disciplinada no inciso XXV. Trata-se da possibilidade
O direito de propriedade encontra-se disciplina- de o Poder Público, em momentos de calamidade (já
do no inciso XXII, do art. 5º. Tratam-se dos direitos ocorrida ou prestes a ocorrer), ingressar na posse de
pessoais de natureza econômica. bem particular, para assegurar a preservação de direi-
De acordo com o art. 1.228, do Código Civil, o direito tos mais importantes que a propriedade, tais como a
de propriedade consiste na faculdade de usar, gozar e dis- vida e a integridade das pessoas. Por exemplo, no caso
por da coisa, assim como o direito de reavê-la do poder de de uma enchente em um determinado local, o Poder
quem quer que, injustamente, a possua ou a detenha. Público fazer de um imóvel privado, próximo ao local,
Observa-se, no entanto, que, em termos constitucionais, um hospital de atendimento às vítimas.
o direito de propriedade é mais amplo que no direito civil, A requisição temporária é uma exceção ao princí-
por abranger qualquer direito de conteúdo patrimonial ou pio da indenização prévia, uma vez que o pagamento
econômico, ou seja, tudo aquilo que possa ser convertido está condicionado à existência de danos.
em dinheiro, alcançando créditos e direitos pessoais.
Art. 5º [...]
Art. 5º [...] XXVI - a pequena propriedade rural, assim defini-
XXIII - a propriedade atenderá a sua função da em lei, desde que trabalhada pela família, não
social; será objeto de penhora para pagamento de débitos
decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei
O inciso XXIII traz um limite ao direito de pro- sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento;
priedade. Assim, a utilização de um bem deve ser fei-
ta de acordo com a conveniência social da utilização O inciso XXVI disciplina a impenhorabilidade
da coisa, ou seja, atendendo a sua função social. Por- da pequena propriedade rural, por ser esta consi-
tanto, o direito do dono deve ajustar-se aos interesses derada bem de família e, portanto, insuscetível de
da sociedade. penhora, de modo a ficar a salvo de execuções por
dívidas decorrentes da atividade produtiva. Além
Art. 5º [...] disso, a CF, de 1988, estabelece que esta deverá rece-
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para ber os recursos previstos em lei que financiem o seu
desapropriação por necessidade ou utilidade desenvolvimento.
pública, ou por interesse social, mediante justa Embora o dispositivo não conceitue pequena pro-
e prévia indenização em dinheiro, ressalvados priedade rural, o entendimento mais amplo é de que
os casos previstos nesta Constituição; esta possui área entre 1 (um) e 4 (quatro) módulos fis-
cais, na qual a família trabalha, consistindo, pois, na
O inciso XXIV trata da hipótese mais drástica do sua única fonte de sobrevivência.
poder de intervenção do Estado na economia: a desa-
propriação. A desapropriação é o ato pelo qual o Art. 5º [...]
Estado toma para si ou para outrem (terceira pessoa) XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo
bens de particulares, por meio do pagamento de jus- de utilização, publicação ou reprodução de suas
ta e prévia indenização. Portanto, trata-se de uma das obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo
hipóteses de aquisição originária da propriedade. É que a lei fixar;
cabível a desapropriação nas seguintes hipóteses:
O inciso XXVII disciplina o direito de proprieda-
z Por necessidade pública: hipótese na qual o bem de intelectual, ou seja, a proteção legal e o reconheci-
a ser desapropriado é imprescindível para a reali- mento de autoria em produções. Existem três tipos de
zação de uma atividade essencial do Estado; propriedade intelectual, quais sejam:
z Por utilidade pública: hipótese na qual o bem não
é imprescindível, mas é conveniente para a reali- z Propriedade industrial: criações que movimen-
zação de uma atividade estatal; tam o mercado e são empregadas para manter a
z Por interesse social: hipótese na qual a desapro- competitividade. Seu foco é voltado para a área
priação é conveniente para o desenvolvimento da empresarial. São exemplos: as patentes, marcas,
sociedade. desenhos, indicações geográficas, entre outros;
z Direitos autorais: criações artísticas, culturais e
Atenção! Não confundir com desapropriação san- científicas, como, por exemplo, as obras intelec-
200 cionatória, hipótese em que o bem não respeita a função tuais, literárias e artísticas;
z Proteção sui generis: são as criações híbridas, isto é, benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sem-
aquelas que se encontram em um estado intermediá- pre que não lhes seja mais favorável a lei pes-
rio entre a propriedade industrial e os direitos auto- soal do de cujus;
rais. Exemplos: a topografia dos circuitos integrados
(mask works), a proteção de Cultivares (obtenções Ainda com relação ao direito de herança, o inci-
vegetais ou variedades vegetais) e conhecimentos so XXXI estabelece a lei que deverá ser aplicada caso
tradicionais associados aos recursos genéticos. a sucessão envolva bens de estrangeiros situados no
Brasil. Assim, a regra é que se aplica a lei brasileira
Neste sentido, a CF, de 1988, garante aos autores o sempre que esta beneficiar cônjuge ou filho brasilei-
direito exclusivo de utilização, publicação ou repro- ro. No entanto, caso a lei estrangeira (lei do país do
dução de suas obras, sendo esse direito transmitido de cujus) seja mais benéfica a estas pessoas, ela é que
aos herdeiros do autor (direitos sucessórios) pelo tem- será aplicada.
po que a lei fixar.
Art. 5º [...]
Art. 5º [...] XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a
XXVIII - são assegurados, nos termos da lei: defesa do consumidor;
a) a proteção às participações individuais em
obras coletivas e à reprodução da imagem e voz O inciso XXXII traz a proteção ao consumidor
humanas, inclusive nas atividades desportivas; como um dos direitos e deveres individuais e coleti-
b) o direito de fiscalização do aproveitamento vos. Como consequência, a defesa do consumidor será
econômico das obras que criarem ou de que parti- promovida por meio do Estado. Vale lembrar que é
ciparem aos criadores, aos intérpretes e às respecti- a Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, conheci-
vas representações sindicais e associativas; da como Código de Defesa do Consumidor (CDC), que
estabelece as regras de proteção ao consumidor.
O inciso XXVIII também protege a propriedade
intelectual. Deste modo, o dispositivo assegura a Art. 5º [...]
proteção de tais direitos ao indivíduo que participou XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos
de obra coletiva, além de proteger a reprodução da públicos informações de seu interesse particu-
imagem e voz humanas. Ainda, assegura o direito de lar, ou de interesse coletivo ou geral, que serão
fiscalização do aproveitamento econômico tanto nas prestadas no prazo da lei, sob pena de responsa-
obras individuais como nas coletivas. bilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do
Estado;
Art. 5º [...]
XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos
industriais privilégio temporário para sua utili- O inciso XXXIII decorre do direito de informação.
zação, bem como proteção às criações industriais, Trata-se de assegurar aos indivíduos o conhecimento
à propriedade das marcas, aos nomes de empresas de informações relativas à sua pessoa, quando cons-
e a outros signos distintivos, tendo em vista o inte- tantes de banco de dados de entidades governamen-
resse social e o desenvolvimento tecnológico e eco- tais ou abertas ao público, bem como de informação
nômico do País; de interesse da coletividade. Aqui, vale mencionar
que não óbice à divulgação da remuneração de ser-
O último dispositivo que trata da propriedade inte- vidor público.
lectual é o inciso XXIX, garantindo aos autores de inven-
tos industriais os privilégios para sua utilização, ainda Art. 5º [...]
que de forma temporária. Além disso, assegura a pro- XXXIV - são a todos assegurados, independente-
teção às criações industriais, à propriedade das marcas, mente do pagamento de taxas:
aos nomes de empresas e a outros signos distintivos. a) o direito de petição aos Poderes Públicos em
defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso
de poder;
Art. 5º [...]
b) a obtenção de certidões em repartições públi-
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
XXX - é garantido o direito de herança;
cas, para defesa de direitos e esclarecimento de
situações de interesse pessoal;
O direito de herança, que decorre do direito à pro-
priedade, está disciplinado no inciso XXX. Trata-se da O inciso XXXIV disciplina o direito de petição e o
modificação da titularidade do bem em decorrência do direito de certidão. O dispositivo assegura aos indi-
falecimento (sucessão hereditária). Assim, o patrimônio víduos o direito de formular pedidos para a Adminis-
do de cujus transmite-se aos seus herdeiros, os quais se tração Pública em defesa de seus direitos e, quando
sub-rogam nas relações jurídicas do falecido, tanto no cabível, de terceiros, bem como de formular reclama-
ativo como no passivo, até os limites da herança. ções contra atos ilegais e abusivos cometidos pelos
agentes do Estado. Assegura, ainda, o direito de plei-
tear, do Estado, documento expedido por este, que,
Importante! por possuir fé pública, é utilizado para comprovar a
O direito de sucessão está regulado no Código existência de um fato. Deste modo, assegura ao indi-
Civil. víduo a obtenção de certidão para a defesa de direitos
ou esclarecimento de situações de interesse pessoal.
O exercício de tais direitos é gratuito, ou seja, inde-
Art. 5º [...] pendem de qualquer pagamento. Importante men-
XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situa- cionar que, embora o dispositivo empregue o termo
dos no País será regulada pela lei brasileira em “taxas”, esta foi utilizada em sentido amplo, visto que 201
proíbe a cobrança de qualquer importância (taxa, z Ato jurídico Perfeito: trata-se do ato realizado
tarifa ou preço público). A função da gratuidade é não validamente sob a vigência de uma lei, mesmo que
obstar ou dificultar o exercício do direito, uma vez esta tenha sido posteriormente revogada ou modi-
que pessoas sem recursos financeiros teriam dificul- ficada. Exemplo: adolescente que se casou antes
dades de exercer seu direito se este fosse condiciona- de ter completado a idade núbil nas hipóteses per-
do ao pagamento. mitidas pelo Código Civil terá seu casamento como
válido mesmo após a alteração da lei civil, pela Lei
nº 13.811, de 2019, que proibiu, expressamente, o
Importante! casamento de menor de 16 (dezesseis) anos, pois
seus efeitos são protegidos pela lei anterior;
Fique atento ao remédio constitucional aplicado z Coisa Julgada: é a autoridade dada às decisões
para sanar ilegalidade quanto ao direito de certidão do Poder Judiciário quando destas não caiba mais
— Mandado de Segurança —, pois as bancas cos- recurso, de modo a impedir a modificação ou dis-
tumam tentar confundir o candidato, dizendo que cussão da decisão de mérito. Exemplo: uma ação de
paternidade foi julgada procedente após o supos-
o remédio constitucional cabível é o habeas data.
to pai ter se recusado a realizar o exame de DNA.
Assim, não é possível que, tempos depois, o suposto
Art. 5º [...] pai resolva fazer o exame para se eximir da paterni-
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder dade, pois a decisão não pode ser mais modificada.
Judiciário lesão ou ameaça a direito;
A coisa julgada divide-se em coisa julgada mate-
O princípio da inafastabilidade de jurisdição rial — quando impede a discussão em qualquer pro-
ou do controle do Poder Judiciário está disciplina- cesso — e coisa julgada formal — quando impede a
discussão no mesmo processo.
do no inciso XXXV. Tal princípio é um desdobramento
do direito à segurança (garantias jurisdicionais). Esse
Art. 5º [...]
princípio garante que todas as pessoas tenham acesso XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;
ao Poder Judiciário.
A proibição dos tribunais de exceção, que decor-
Art. 5º [...] re do direito à segurança, encontra-se prevista no inci-
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, so XXXVII. Busca-se proibir que os tribunais ou juízos
o ato jurídico perfeito e a coisa julgada; sejam criados especialmente para julgar determina-
dos crimes ou pessoas (nos casos concretos).
O inciso XXXVI é, também, um desdobramento do Atenção! Tribunal de exceção não se confunde
direito à segurança. Trata-se da garantia constitucio- com Justiças especializadas e foro privilegiado.
nal de que as novas leis não retirem das pessoas os
direitos que elas adquiriram por meio de lei antiga, de Art. 5º [...]
modo que as situações disciplinadas por uma norma XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a
devem continuar protegidas por esta mesmo depois de organização que lhe der a lei, assegurados:
sua revogação ou substituição por outra em três casos3: a) a plenitude de defesa;
b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos;
z Direito Adquirido: é o direito assegurado à pessoa d) a competência para o julgamento dos crimes
quando esta cumpriu todos os requisitos para a sua dolosos contra a vida;
concessão pela norma anterior antes de ocorrer a alte-
ração legal. Exemplo: uma pessoa completou o tempo Outro desdobramento do direito à segurança é a
de contribuição previsto pela lei para aposentar, mas garantia do julgamento pelo Tribunal do Júri em
optou por permanecer trabalhando. Se nova lei alterar crimes dolosos contra a vida, ou seja, homicídio (art.
os requisitos para aposentadoria, de modo a aumentar 121, CP), induzimento, instigação ou auxílio a suicídio
o tempo de contribuição, essa pessoa não será prejudi- ou à automutilação (art. 122, CP), infanticídio (art. 123,
cada, pois adquiriu o direito pela lei anterior; CP) e aborto (arts. 124 a 128, CP); contudo, salienta-se
que lei ordinária poderá ampliar a competência do
Atenção! Direito adquirido não se confunde com Tribunal do Júri, não havendo qualquer ofensa quan-
expectativa de direito. Se a pessoa não completou to ao disposto na CF.
todos os requisitos para a concessão do direito, ela Trata-se de direito do indivíduo de ser julgado por
não tem direito adquirido e, sim, expectativa de direi- seus pares e, não, por um juízo de critério eminente-
mente técnico.
to. Exemplo: falta, para o indivíduo, um mês para que
se complete o tempo de contribuição previsto pela lei
Súmula Vinculante nº 45 A competência consti-
para se aposentar. Antes de preencher tal requisito, tucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro
a lei é alterada e o tempo majorado. Esta pessoa não por prerrogativa de função estabelecido exclusiva-
poderá se aposentar, pois tinha apenas expectativa mente pela Constituição Estadual.
de direito, uma vez que todos os requisitos não foram
preenchidos para a sua concessão;
3 Em conformidade com o art. 6º, do Decreto Lei nº 4.657, de 1942 (Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro). Veja: “A Lei em vigor terá
efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. § 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consu-
mado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. § 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ale,
possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. § 3º
202 Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso”.
Art. 5º [...] Dica: para lembrar dos crimes, memorize: T T T
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defi- H ou 3TH:
na, nem pena sem prévia cominação legal;
Tortura;
Os princípios da anterioridade e da reserva Tráfico;
da lei penal (nullum crimen, nulla poena, sine lege) Terrorismo;
encontram-se disciplinados no inciso XXXIX. Em sín- Hediondos.
tese, pelo princípio da reserva legal, não há crime sem
lei que o defina, nem pena sem cominação legal. Já A graça e o indulto são modalidades de perdão
pelo princípio da anterioridade, a lei que estabelece o concedidas pelo Presidente da República, de modo
crime e a pena deve ser anterior a sua prática. a extinguir a punibilidade do agente. Enquanto, na
graça, o perdão é concedido de forma individual por
Art. 5º [...] meio de decreto e mediante provocação do interes-
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para bene- sado, no indulto, o perdão é coletivo e concedido por
ficiar o réu; decreto, o qual não possui destinatário certo e inde-
pende de provocação. O indulto pode ser total ou par-
O princípio da irretroatividade da lei penal mais
cial (comutação).
gravosa está disciplinado no inciso XL. Em termos de
Já a anistia é o perdão concedido pelo Congresso
direito penal, a regra é a lei do tempo do crime, ou seja,
Nacional, por meio de lei, aos crimes e atos adminis-
será aplicada a lei do tempo da ação ou omissão. É pos-
trativos. Na anistia, exclui-se o crime, rescinde-se a
sível, no entanto, aplicar lei posterior caso esta seja
condenação e extingue-se totalmente a punibilidade.
mais benéfica ao réu. Exemplo: nova lei deixa de consi-
Cabe destacar que a anistia pode ser concedida pelas
derar o fato como crime ou diminui a sua pena.
Assembleias Legislativas, porém se restringe aos atos
A retroatividade da lei penal mais benéfica é abso-
administrativos, como, por exemplo, às transgres-
luta, isto é, ela desconstituirá, inclusive, condenações
sões disciplinares de servidores estaduais.
já transitadas em julgado. Exemplo: sujeito que cum-
É importante mencionar que esses crimes são
pre pena por um crime que lei posterior deixou de
prescritíveis, além de ser cabível a liberdade provi-
considerar respectivo ato como crime (caso de abolitio
sória. Ainda, a Lei nº 9.455, de 1997, trata dos crimes
criminis) será colocado em liberdade.
de tortura; a Lei nº 11.343, de 2006, dos crimes de dro-
gas; a Lei nº 13.260, de 2016, do terrorismo; a Lei nº
Art. 5º [...]
8.072, de 1990, cuida dos crimes hediondos.
XLI - a lei punirá qualquer discriminação atenta-
tória dos direitos e liberdades fundamentais; Art. 5º [...]
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescri-
O inciso XLI decorre do direito à igualdade. tível a ação de grupos armados, civis ou milita-
Trata-se da necessidade de reconhecer que todos os res, contra a ordem constitucional e o Estado
indivíduos possuem os mesmos direitos e as mesmas Democrático;
proteções. Além disso, a lei não só não poderá ser apli-
cada de modo discriminatório, como também deverá O inciso XLIV também traz hipóteses de não con-
punir tais discriminações com base em qualquer con- cessão de fiança, cuja ação ou omissão pode ser julga-
dição pessoal, como sexo, cor, origem, entre outras. da a qualquer tempo, independentemente da data em
que foi cometido. Tratam-se dos crimes desenvolvidos
Art. 5º [...] pelas organizações criminosas contra a ordem consti-
XLII - a prática do racismo constitui crime tucional e democrática, como, por exemplo, no golpe
inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de de Estado. Cabe lembrar que a Lei nº 12.850, de 2013,
reclusão, nos termos da lei; é que trata das organizações criminosas.

O inciso XLII trata da prática de racismo. Embora Dica


a Constituição não tipifique o crime, ela manda crimi-
Para auxiliá-lo na memorização do conteúdo
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
nalizar a conduta de racismo. Além disso, estabelece
a não concessão de fiança ao racismo (inafiançável) dos últimos 3 incisos, leve em consideração o
e, ainda, que o ato pode ser julgado a qualquer tempo, seguinte mnemônico: RAAÇÃO 3TH.
independentemente da data em que foi cometido, pois RA — racismo
não se sujeita ao decurso do tempo (imprescritível). AÇÃO — ação de grupos armados
Vale lembrar, aqui, que a Lei nº 7.716, de 1989, é a Lei 3TH — tortura, tráfico, terrorismo, hediondos
do Racismo, e a Lei nº 12.288, de 2010, estabelece o
Estatuto da Igualdade Racial. Esquematizando todo o conteúdo relacionado
ao mnemônico, temos:
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e Inafiançáveis  RAAÇÃO 3TH
insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tor- Imprescritíveis  RAAÇÃO
tura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas Insuscetíveis de graça ou anistia  3TH
afins, o terrorismo e os definidos como crimes
hediondos, por eles respondendo os mandantes, os Art. 5º [...]
executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; XLV - nenhuma pena passará da pessoa do
condenado, podendo a obrigação de reparar
O inciso XLIII estabelece os crimes em que não o dano e a decretação do perdimento de bens
cabe fiança nem perdão, ou seja, graça, indulto e ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores
anistia. Embora o dispositivo não mencione o indulto, e contra eles executadas, até o limite do valor do
ele também não é cabível nos crimes elencados. patrimônio transferido; 203
O princípio da intranscendência ou personaliza- Art. 5º [...]
ção da pena está disciplinado no inciso XLV. Trata-se XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimen-
da impossibilidade da pena ser aplicada a outra pessoa tos distintos, de acordo com a natureza do deli-
que não o delinquente, uma vez que somente o autor to, a idade e o sexo do apenado;
da infração penal pode ser responsabilizado. Com a
morte do condenado, declara-se extinta a punibilidade O inciso XLVIII traz um dos princípios relativos
do crime. Assim, a pena não poderá ser cumprida, por à execução da pena privativa de liberdade. Trata-
exemplo, pelos familiares ou herdeiros do autor do cri- -se da exigência de que o cumprimento da pena seja
me se este houver falecido. No entanto, refere-se ape- feito de acordo com a natureza do crime, a idade e
nas à esfera penal, ou seja, a obrigação civil de reparar o sexo do apenado. É por essa razão que os adoles-
os danos pode ser estendida aos seus sucessores até o centes ficam em estabelecimentos distintos dos adul-
limite do valor do patrimônio transferido (herança). tos, assim como as mulheres permanecem em local
Atenção! Multa é uma espécie de pena (art. 32, CP) diverso dos homens. Esse dispositivo decorre tanto do
e, portanto, não pode ser imposta aos herdeiros. direito à segurança como do direito à vida.

Art. 5º [...] Art. 5º [...]


XLVI - a lei regulará a individualização da pena XLIX - é assegurado aos presos o respeito à inte-
e adotará, entre outras, as seguintes: gridade física e moral;
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens; O inciso XLIX estabelece outro princípio relativo
c) multa; à execução da pena privativa de liberdade: a pro-
d) prestação social alternativa; teção à integridade física e moral do preso. Busca-se,
e) suspensão ou interdição de direitos; portanto, proteger os indivíduos da força do Estado.
Trata-se, também, de um dos desdobramentos do
Dica: A fim de auxiliá-lo na memorização, guarde direito à segurança, por envolver garantias proces-
o mnemônico 3PMS (RI): suais; e do direito à vida, por envolver a integridade
do indivíduo.
3P — Privação ou restrição da liberdade (não esque-
ça que no primeiro “p” há, implícito, um “r” da Art. 5º [...]
pena de restrição); perda de bens; prestação social L - às presidiárias serão asseguradas condições
alternativa; para que possam permanecer com seus filhos
M — Multa; durante o período de amamentação;
S — Suspensão ou interdição de direitos (lembre-se de
que aqui também há, implícito, um “i” de interdição). O inciso L traz um princípio relativo à execução
da pena privativa de liberdade. Trata-se do direito
O inciso XLVI disciplina o princípio da individua- dos filhos de permanecerem com suas mães e serem
lização da pena, uma vez que as penas devem ser amamentados por elas durante a execução da pena.
previstas, impostas e executadas, em conformidade Vale destacar que o art. 89, da Lei nº 7.210, de 1984
com as condições pessoais de cada réu. Para tanto, a (Lei de Execução Penal), estabelece que a penitenciá-
individualização deve operar-se em três fases distin- ria de mulheres terá uma seção para gestantes e par-
tas: legislativa, no momento em que elabora a norma; turientes e uma creche para abrigar crianças entre 6
judicial, no momento da dosimetria da pena; executi- (seis) meses e 7 (sete) anos.
va, na execução penal.
Art. 5º [...]
Art. 5º [...] LI - nenhum brasileiro será extraditado, sal-
XLVII - não haverá penas: vo o naturalizado, em caso de crime comum,
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, praticado antes da naturalização, ou de com-
nos termos do art. 84, XIX; provado envolvimento em tráfico ilícito de
b) de caráter perpétuo; entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento; A proibição de extradição de brasileiro encon-
e) cruéis; tra-se disciplinada no inciso LI. Extradição é uma
medida de cooperação internacional em que um Esta-
O inciso XLVII, que decorre tanto do direito à vida do entrega a outro Estado, a pedido deste, indivíduo
como do direito à segurança, estabelece a proibição que deva responder a processo penal ou cumprir
de determinadas penas. Assim, é vedada a pena de pena. De acordo com a Norma Constitucional, o Brasil
morte em tempos de paz. Isso porque, quando decla- não entrega brasileiro para responder processo penal
rada a guerra pelo Presidente da República após a ou cumprir pena em outro país.
autorização do Congresso Nacional, vigora a parte ati- É possível, no entanto, a entrega de brasileiro
nente aos tempos de guerra4 do Código Penal Militar naturalizado, ou seja, que tenha adquirido a nacio-
(CPM) e do Código de Processo Penal Militar (CPPM), nalidade brasileira por outro motivo que não vincu-
que estabelece, em determinados casos, a pena de lado ao nascimento (filiação ou local do nascimento),
morte. Exemplo: traição (art. 355, CPM)5. desde que seja por crime comum e que este tenha
4 Art. 15 (CPM) O tempo de guerra, para os efeitos da aplicação da lei penal militar, começa com a declaração ou o reconhecimento do estado
de guerra, ou com o decreto de mobilização se nele estiver compreendido aquele reconhecimento; e termina quando ordenada a cessação das
hostilidades.
5 Art. 355 Tomar o nacional armas contra o Brasil ou Estado aliado, ou prestar serviço nas forças armadas de nação em guerra contra o Brasil:
204 Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau mínimo.
sido praticado antes de sua naturalização e, portanto, Como consequência, as partes têm acesso a tudo
quando o agente tinha outra nacionalidade. Também que consta dos autos, como, por exemplo, todas as
é possível a extradição de brasileiro naturalizado por provas produzidas pela outra parte, podendo mani-
comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entor- festar-se ou não. Além disso, a defesa pode ser exerci-
pecentes e drogas afins, praticado antes ou depois da da de forma ampla, como, por exemplo, é possível ao
naturalização. indivíduo optar pela autodefesa (quando permitido)
ou pela defesa técnica. Assim, a ampla defesa garan-
Art. 5º [...] te ao agente a possibilidade de se defender sem qual-
LII - não será concedida extradição de estrangei- quer impedimento aos seus direitos constitucionais.
ro por crime político ou de opinião; Ademais, destaca-se o conteúdo da Súmula Vincu-
lante nº 14, a qual dispõe sobre o acesso a procedi-
No que se refere à extradição de estrangeiro, o mento investigatório por defensor do investigado.
inciso LII veda a entrega por crime político ou de
opinião. Considera-se um crime como político se ele Súmula Vinculante nº 14 É direito do defensor,
envolver ações ou omissões que prejudicam os inte- no interesse do representado, ter acesso amplo aos
resses do país, do governo ou do sistema político. elementos de prova que, já documentados em pro-
O crime político pode ser de dois tipos: próprio e cedimento investigatório realizado por órgão com
impróprio. Crime político próprio é aquele capaz de competência de polícia judiciária, digam respeito
ameaçar a ordem institucional ou o sistema vigente. ao exercício do direito de defesa.
Já o crime político impróprio é aquele crime comum
quando conexo ao crime político, de modo a ter nature- Observe que os documentos referentes às diligên-
za comum, mas conotação político-ideológica, como, por cias em curso não são de apresentação obrigatória,
exemplo, a extorsão mediante sequestro para obter fun- tendo em vista a possibilidade de frustrá-las.
dos para determinado grupo político. Ainda há o crime Imagine, por exemplo, que em determinada inves-
de opinião, que é aquele que se configura com o abuso tigação tenha sido deferida, pelo Poder Judiciário, a
da liberdade de expressão ou de pensamento, como, por interceptação telefônica de determinado investigado.
exemplo, nos casos dos crimes contra a honra. Ora, é óbvio que o acesso, pelo advogado do investi-
gado, comprometeria a diligência, já que este poderia
Art. 5º [...]
avisar seu cliente da medida.
LIII - ninguém será processado nem sentencia-
do senão pela autoridade competente; Art. 5º [...]
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas
obtidas por meios ilícitos;
O princípio do juiz natural ou do juiz competen-
te encontra-se disciplinado no inciso LIII. Trata-se da
A proibição de prova ilícita encontra-se estabele-
garantia de que nenhuma pessoa será processada ou
cida no inciso LVI. As provas obtidas de forma ilícita
julgada por uma autoridade especialmente designada
são absolutamente nulas, não podendo gerar qual-
para o caso. Deste modo, as regras de competência
quer efeito no convencimento do juiz.
devem estar restabelecidas no ordenamento jurídico,
de forma a assegurar que o julgamento seja realizado
z Prova ilícita é aquela que viola direito material.
por um juiz independente e imparcial.
Exemplos: confissão mediante tortura e intercep-
tação telefônica sem autorização judicial;
Art. 5º [...]
z Prova ilegítima é aquela que viola direito proces-
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de
seus bens sem o devido processo legal; sual. Exemplo: confissão do acusado em juízo sem
a presença do advogado.
O princípio do devido processo legal está disci- O Supremo Tribunal Federal, adequadamente,
plinado no inciso LIV. Trata-se do desdobramento do adotou, por maioria de votos, a denominada teoria
direito à segurança, de modo a garantir que os indi- fruits of poisonous tree (frutos da árvore envenenada).
víduos não sejam presos nem percam seus bens por
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
São nulas tanto as provas produzidas de forma ilícita
atuação arbitrária do poder do Estado. Assim sendo, como também as derivadas (surgidas em decorrência
deverá existir um processo com todas as etapas pre- da prova ilícita), ainda que obtidas de forma regular.
vistas em lei e com todas as garantias constitucionais. Há contaminação do vício original, com exclusão
Se tais regras não forem observadas, o processo é pas- da prova ilícita, bem como de suas derivações.
sível de nulidade.
Art. 5º [...]
Art. 5º [...] LVII - ninguém será considerado culpado até o trân-
LV - aos litigantes, em processo judicial ou admi- sito em julgado de sentença penal condenatória;
nistrativo, e aos acusados em geral são assegu-
rados o contraditório e ampla defesa, com os O inciso LVII traz o princípio da presunção de ino-
meios e recursos a ela inerentes; cência ou da presunção de culpabilidade. Assim, antes
da condenação definitiva em um processo criminal,
O inciso LV traz o princípio do contraditório e da as pessoas ainda não são consideradas culpadas. Isso
ampla defesa. Tal princípio objetiva garantir a igual- ocorre porque quem possui o ônus de provar a culpa é
dade das partes de uma relação processual, bem como o Ministério Público, como órgão titular da ação penal
a segurança processual. Assim sendo, a parte contrá- pública e da vítima, no caso de ação penal privada. Des-
ria necessita ser ouvida (audiatur et altera pars), pois te modo, não compete ao acusado provar sua inocência,
não podem ser atribuídas a uma parte vantagens de mas ao Ministério Público ou à vítima comprovar a res-
que a outra não disponha. ponsabilidade do réu até a última instância. 205
Art. 5º [...] Importante!
LVIII - o civilmente identificado não será subme-
tido a identificação criminal, salvo nas hipóteses
A restrição da publicidade é popularmente
previstas em lei; conhecida como segredo de Justiça.

A proibição da identificação criminal da pes- Art. 5º [...]


soa já civilmente identificada encontra-se no inciso LXI - ninguém será preso senão em flagrante
LVIII. Entende-se, por identificação, o processo utili- delito ou por ordem escrita e fundamentada de
zado para se estabelecer a identidade de pessoas ou autoridade judiciária competente, salvo nos casos
coisas. Assim, se o indivíduo apresenta documento de de transgressão militar ou crime propriamen-
identidade civil válido e sem qualquer suspeita funda- te militar, definidos em lei;
da de falsidade, ele não poderá ser identificado crimi-
nalmente, ou seja, por meio do processo datiloscópico. Pelo inciso LXI, depreende-se que a liberdade é a
O objetivo do dispositivo é evitar o constrangimento regra e a prisão é a exceção. Por essa razão, o dispo-
pessoal de pessoas já identificadas civilmente. sitivo fixa as hipóteses em que o indivíduo será preso.
Cumpre esclarecer que a Lei nº 12.037, de 2009, dis- Assim, a CF, de 1988, protege os indivíduos da força do
ciplina o inciso e estabelece quais documentos servem Estado, uma vez que veda a prisão arbitrária ou abu-
para a identificação civil. Ainda, a regra da não identi- siva e estabelece que a restrição da liberdade só será
ficação criminal não é absoluta e abarca exceções. No legítima quando respeitados os parâmetros legais.
entanto, tais exceções devem estar disciplinadas em lei.6 Trata-se de um dos desdobramentos do direito à segu-
rança, por envolver garantias processuais.
Art. 5º [...] Em termos de processo penal, existem dois tipos
LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação de prisão. A prisão pena que é aquela decorrente de
pública, se esta não for intentada no prazo legal; sentença penal condenatória transitada em julgado,
ou seja, o processo foi finalizado, a pessoa condena-
O inciso LIX traz a possibilidade de ação penal pri- da e não cabe mais recurso, ingressando na fase de
vada subsidiária à ação penal pública. Assim, nos execução penal. Além disso, há a prisão processual,
casos em que o representante do Ministério Público não que tem função acautelatória e é aquela que ocorre
ofereceu a denúncia, não requereu diligências ou não durante a fase de investigação, instrução e antes do
ordenou o arquivamento do Inquérito Policial, no prazo julgamento definitivo, como a prisão em flagrante, a
legal, admite-se o oferecimento da queixa crime. prisão temporária e a prisão preventiva.
A CF, de 1988, não estabeleceu hipótese de restri- Portanto, durante o curso do processo, o indiví-
ção quanto à aplicação da ação penal privada subsi- duo somente será preso se estiver em flagrante delito
diária da pública nos processos relativos aos delitos (estiver cometendo o delito, acabou de cometê-lo, foi
previstos na legislação especial, como, por exemplo, perseguido logo após ou foi encontrado logo depois,
nas ações em que se apuram crimes eleitorais. com algo que faça presumir ser o autor da infração)7
ou se for determinado pelo juiz nos demais casos das
Art. 5º [...] prisões acautelatórias.
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos Observa-se, ainda, que o inciso traz exceções, quais
atos processuais quando a defesa da intimida- sejam: transgressão militar ou crime propriamen-
de ou o interesse social o exigirem; te militar, definido em lei. Quanto às transgressões,
estas estão previstas nos regulamentos disciplinares,
Como regra, todo processo é público, ou seja, é tanto das Forças Armadas como das Forças Auxiliares.
permitido o acesso aos atos. No entanto, em alguns A elas é aplicado procedimento de apuração especí-
casos, tais como ações de divórcio, guarda, entre fico, também garantindo o contraditório e a ampla
outros, essa publicidade é restrita às partes e seus pro- defesa. Já os crimes militares encontram-se previstos
curadores, com o objetivo de resguardar a intimidade no Código Penal Militar, porém esse diploma não defi-
dos envolvidos. ne quais são os crimes propriamente militares.
Também é possível restringir a publicidade quan-
do o interesse da sociedade exigir, como, por exem- Art. 5º [...]
LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se
plo, em determinados crimes ou atos, envolvendo
encontre serão comunicados imediatamente ao
crianças e adolescentes. É importante mencionar, no
juiz competente e à família do preso ou à pessoa
entanto, que a restrição da publicidade dos atos pro- por ele indicada;
cessuais não poderá prejudicar o interesse público à
informação. Como a prisão em flagrante é a única modalidade
de prisão acautelatória que não conta com ordem judi-
cial prévia, visto que é imposta no momento em que a
6 Art. 3º (Lei nº 12.037, de 2009) Embora apresentado documento de identificação, poderá ocorrer identificação criminal quando: I - o docu-
mento apresentar rasura ou tiver indício de falsificação; II - o documento apresentado for insuficiente para identificar cabalmente o indiciado;
III - o indiciado portar documentos de identidade distintos, com informações conflitantes entre si; IV - a identificação criminal for essencial às
investigações policiais, segundo despacho da autoridade judiciária competente, que decidirá de ofício ou mediante representação da autorida-
de policial, do Ministério Público ou da defesa; V - constar de registros policiais o uso de outros nomes ou diferentes qualificações; VI - o esta-
do de conservação ou a distância temporal ou da localidade da expedição do documento apresentado impossibilite a completa identificação dos
caracteres essenciais. Parágrafo único. As cópias dos documentos apresentados deverão ser juntadas aos autos do inquérito, ou outra forma
de investigação, ainda que consideradas insuficientes para identificar o indiciado.
7 Art. 302 (CPP) Considera-se em flagrante delito quem: I -está cometendo a infração penal; II - acaba de cometê-la; III - é perseguido, logo após,
pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração; IV - é encontrado, logo depois, com
206 instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração.
infração penal é praticada ou em momentos após, faz-se O inciso LXVI reforça que a regra é a liberdade e
necessária sua comunicação imediata ao juiz, para que sua supressão é apenas medida excepcional e somen-
este possa efetuar o controle de legalidade da prisão. te deve ser decretada nos casos em que a norma
A CF, de 1988, não fixa o prazo da comunicação, autorizar.
porém o art. 306, do Código de Processo Penal, estabe-
lece que a comunicação será imediata e os autos reme- Art. 5º [...]
tidos em até 24 (vinte e quatro) horas após a prisão. LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo
Além da comunicação ao juiz, a CF, de 1988, prevê a a do responsável pelo inadimplemento voluntário
comunicação à família do preso ou pessoa por ele indi- e inescusável de obrigação alimentícia e a do
depositário infiel;
cada, com o escopo não só de dar notícia de seu para-
deiro, como também de prestar-lhe a assistência devida.
O inciso LXVII trata da prisão civil por dívida.
Art. 5º [...]
Considera-se prisão civil a medida privativa da liber-
LXIII - o preso será informado de seus direitos, dade que não possui caráter de pena e que tem como
entre os quais o de permanecer calado, sendo- finalidade compelir o devedor a satisfazer uma obri-
-lhe assegurada a assistência da família e de gação. Atualmente, a única hipótese de prisão por
advogado; dívidas é a de caráter alimentar, ou seja, o indivíduo
deixou de pagar a pensão alimentícia devida.
Considerando que a liberdade é a regra e a sua res- Por se tratar de uma norma constitucional de efi-
trição só é legítima quando efetuada nos estritos limites cácia contida, a prisão do depositário infiel, prevista
legais, o inciso LXIII estabelece que o preso em flagran- na CF, de 1988, embora constitucional, tornou-se ilíci-
te deve ser comunicado dos seus direitos. Entre esses ta em razão das seguintes Súmulas:
direitos, encontra-se o de permanecer em silêncio.
Súmula Vinculante nº 25 (STF) É ilícita a prisão
O silêncio do preso é apenas silêncio e não poderá
civil de depositário infiel, qualquer que seja a moda-
ser utilizado de forma contrária. O acusado não é obri-
lidade do depósito.
gado a produzir provas contra si mesmo. Ao se calar,
esse silêncio não pode ser considerado como prova. Súmula nº 419 (STJ) Descabe a prisão civil do depo-
Além disso, o dispositivo também estabelece a sitário judicial infiel.
assistência da família e do advogado, garantindo tan-
to o apoio pessoal como a assistência técnica que lhe Art. 5º [...]
é devida.
LXVIII - conceder-se-á habeas-corpus sempre que
Art. 5º [...] alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer
LXIV - o preso tem direito à identificação dos violência ou coação em sua liberdade de loco-
responsáveis por sua prisão ou por seu interro- moção, por ilegalidade ou abuso de poder;
gatório policial;
O inciso LXVIII traz um dos remédios constitucio-
O inciso LXIV também decorre do direito à segu- nais: o habeas corpus (HC). Remédios constitucio-
rança, uma vez que busca prevenir a prisão arbitrária. nais são as ações constitucionais previstas na própria
Assim, é assegurada ao indivíduo a identificação dos Constituição com a finalidade de reclamar o restabele-
responsáveis por sua prisão e interrogatório, uma cimento de direitos fundamentais violados.
vez que lhe é garantido questionar a competência ou O HC é uma dessas ações constitucionais, sendo
atribuição dessas autoridades em conformidade com utilizado para a tutela da liberdade de locomoção
a norma vigente e os princípios constitucionais e de sempre que alguém estiver sofrendo ou na iminência
direitos humanos. de sofrer constrangimento ilegal do seu direito de ir
e vir. Tal ação pode ser utilizada tanto em questões
Art. 5º [...] penais como em questões civis, desde que haja cons-
LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxa- trangimento ilegal efetivo ou potencial ao direito de ir
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
da pela autoridade judiciária; e vir. Exemplo: prisão por débitos alimentares.
Existem três modalidades de HC, quais sejam:
O inciso LXV traz mais um dos desdobramentos
do direito à segurança ao prever o relaxamento da z Habeas Corpus liberatório ou repressivo, em
prisão ilegal. Assim, se o magistrado constatar que a que a ordem é concedida para fazer cessar o cons-
prisão foi ilegal, ele deverá colocar o preso em liber- trangimento à liberdade de locomoção quando já
dade de forma imediata e sem condições. Exemplo: o existente;
indivíduo foi preso em flagrante, porém não se enqua- z Habeas Corpus preventivo, em que a ordem é
drava nas hipóteses de flagrância do art. 302, do CPP. concedida quando houver ameaça ao direito de ir
Relaxa-se prisão ilegal e revoga-se as demais pri- e vir, de modo a impedir que uma pessoa venha a
sões cautelares, uma vez que estas necessitam de ter restringido seu direito;
requisitos para serem decretadas e não estão estes z Habeas Corpus de ofício, em que a ordem é
presentes. O magistrado deve revogar a prisão ou concedida pela autoridade judicial sem pedido,
substituí-la por medidas cautelares diversas. quando esta verificar, no curso de um proces-
so, que alguém está sofrendo ou na iminência de
Art. 5º [...] sofrer constrangimento ilegal em sua liberdade de
LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela locomoção.
mantido, quando a lei admitir a liberdade provi-
sória, com ou sem fiança; 207
Não cabe HC nos seguintes casos: a) partido político com representação no Con-
gresso Nacional;
z Perda de patente; b) organização sindical, entidade de classe ou
z Perda de cargo; associação legalmente constituída e em funciona-
z Pena de multa; mento há pelo menos um ano, em defesa dos inte-
z Bens apreendidos (Obs.: no caso do passaporte, o resses de seus membros ou associados;
STJ diz que caberá o HC. Já o STF diz que não cabe);
z Pena extinta. Do mesmo modo que o MS individual, é possível
ingressar com mandado de segurança coletivo nos
De acordo com o § 2º, do art. 142, não caberá habeas casos de direitos coletivos, assim entendidos como os
corpus em relação a punições disciplinares militares. transindividuais, cuja natureza for indivisível, ou seja,
Além dos militares das Forças Armadas, essa dispo- de que sejam titulares grupos ou categorias de pessoas
sição é estendida aos membros das Polícias Militares ligadas entre si ou com a parte contrária por uma rela-
e dos Corpos de Bombeiros Militares (art. 42, CF, de ção jurídica básica, e direitos individuais homogêneos,
1988). assim entendidos como aqueles decorrentes de origem
No entanto, é cabível o HC se a sanção militar tiver comum e de atividade ou situação específica da totalida-
sido aplicada de forma ilegal por autoridade incompe- de ou de parte dos associados ou membros do impetrante.
tente ou em desacordo com as formalidades legais ou Trata-se de inovação da CF, de 1988, para a tutela de
além dos limites fixados em lei. direitos coletivos líquidos e certos, também não ampara-
dos por HC ou habeas data, quando o responsável pela
Art. 5º [...] ilegalidade for autoridade pública ou agente de pessoa
LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para jurídica no exercício de atribuições do Poder Público.
proteger direito líquido e certo, não amparado O MS coletivo segue as mesmas regras do individual.
por habeas-corpus ou habeas-data, quando o Para partidos políticos, exige-se representação no
responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for
Congresso Nacional (pelo menos, um deputado ou
autoridade pública ou agente de pessoa jurídi-
ca no exercício de atribuições do Poder Público;
senador do partido). Para associação, exige-se que ela
tenha sido constituída há, pelo menos, um ano.
O inciso LXIX traz outro remédio constitucional: o
Art. 5º [...]
mandado de segurança (MS). Se o HC tutela a liber-
LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sem-
dade de locomoção e o habeas data, o acesso e a retifi-
pre que a falta de norma regulamentadora tor-
cação de dados, o MS é cabível para os demais direitos,
ne inviável o exercício dos direitos e liberdades
sendo que seu objetivo e alcance é feito por exclusão.
constitucionais e das prerrogativas inerentes à
Cabe destacar que a lei que disciplina o MS é a Lei nº
nacionalidade, à soberania e à cidadania;
12.016, de 2009.
O MS é cabível quando houver direito líquido e
O inciso LXXI traz o mandado de injunção (MI),
certo, ou seja, direito que pode ser comprovado de
ação constitucional para a tutela dos direitos previs-
plano e que se apresenta de forma manifesta. Deste
tos na CF, de 1988, inerentes à nacionalidade, à sobe-
modo, a prova deve ser toda pré-constituída, sendo
que os documentos comprobatórios do direito devem rania e à cidadania, os quais não podem ser exercidos
acompanhar a própria petição inicial, salvo se estes em razão da falta de norma regulamentadora. Portan-
estiverem em repartição ou em poder de autoridade to, são pressupostos para o MI:
que se recuse a fornecê-los por certidão. Consequen-
temente, no MS, não há fase instrutória z Existência de um direito constitucionalmente pre-
O MS pode ser de duas espécies: visto com relação à nacionalidade, soberania e
cidadania;
z Mandado de segurança repressivo, cuja ordem z A não autoaplicabilidade desse direito;
de segurança objetiva cessar constrangimento ile- z Falta de norma infraconstitucional regulamenta-
gal já existente; dora que inviabilize o exercício do direito previsto
z Mandado de segurança preventivo, cuja ordem na CF, de 1988.
de segurança busca pôr fim à iminência de cons-
trangimento ilegal a direito líquido e certo. Cabe lembrar que a lei que disciplina o MI é a Lei
nº 13.300, de 2016.
Não cabe MS contra: A omissão normativa decorrente da não elabora-
ção de ato legislativo ou administrativo permite ao
z Ato do qual caiba recurso com efeito suspensivo, indivíduo, ao Ministério Público e à Defensoria públi-
independentemente de caução; ca ingressarem com o MI.
z Decisão judicial da qual caiba recurso com efeito Atualmente, adota-se a Teoria Concretista, ou
suspensivo; seja, o magistrado resolve o caso concreto (sentença
z Decisão judicial transitada em julgado. normativa) e não mais comunica o Poder Legislativo
para suprir a omissão.
Por fim, seu prazo (decadencial) de impetração
é de 120 (cento e vinte) dias, contados da ciência do Art. 5º [...]
interessado do ato impugnado. LXXII - conceder-se-á habeas-data:
a) para assegurar o conhecimento de informa-
Art. 5º [...] ções relativas à pessoa do impetrante, constan-
LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser tes de registros ou bancos de dados de entidades
208 impetrado por: governamentais ou de caráter público;
b) para a retificação de dados, quando não se Art. 5º [...]
prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica
administrativo; integral e gratuita aos que comprovarem insufi-
ciência de recursos;
O habeas data (HD) é o remédio constitucional
para a tutela do direito de informação e de intimida- O inciso LXXIV garante o acesso à Justiça a todas
de do indivíduo, de modo a garantir ao impetrante as pessoas. Assim sendo, o Estado brasileiro deve-
o conhecimento de informações pessoais constantes rá prestar a assistência jurídica de forma integral e
de banco de dados de entidades governamentais ou gratuita àqueles que comprovarem insuficiência de
abertas ao público, bem como o direito de retificação recursos financeiros. Esse direito instrumentaliza-se
dessas informações quando errôneas. por meio da Defensoria Pública ou por meio do convê-
Cumpre salientar que a lei que disciplina o HD é nio com a Defensoria Pública/Ordem dos Advogados
a Lei nº 9.507, de 1997. Por essa lei, o HD também é do Brasil através da nomeação de advogado dativo.
cabível no que há registrado no inciso III, art. 7º. Veja:
Art. 5º [...]
Art. 7° (Lei nº 9.507, de 1997) [...] LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro
III - para a anotação nos assentamentos do interes- judiciário, assim como o que ficar preso além do
sado, de contestação ou explicação sobre dado ver- tempo fixado na sentença;
dadeiro mas justificável e que esteja sob pendência
judicial ou amigável. O inciso LXXV visa evitar abusos por parte do
Poder Público ao prever a responsabilidade civil do
Ademais, a informação, a retificação ou a anotação Estado nos casos de erro do Poder Judiciário e prisão
foram negadas pela Administração Pública (entidades por tempo além do fixado em sentença.
governamentais da Administração direta ou indireta) A responsabilidade civil do Estado será estudada
ou particular (pessoas jurídicas de direito privado) posteriormente.
que mantenham banco de dados aberto ao público.
O HD pode ser impetrado por qualquer pessoa, Art. 5º [...]
física ou jurídica, brasileira ou estrangeira, desde que LXXVI - são gratuitos para os reconhecidamente
as informações solicitadas digam respeito ao próprio pobres, na forma da lei:
indivíduo. Além disso, o HD não é instrumento jurídi- a) o registro civil de nascimento;
co adequado para se ter acesso aos autos do processo b) a certidão de óbito;
administrativo disciplinar (PAD).
Ao garantir a gratuidade das certidões de nasci-
Art. 5º [...] mento e óbito, a CF, de 1988, assegura que as pessoas
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para possam ser registradas e possam usufruir dos direitos
propor ação popular que vise a anular ato lesivo personalíssimos decorrentes, como, por exemplo, os
ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado direitos de possuir um nome, de poder ser matricula-
participe, à moralidade administrativa, ao meio do em uma escola, entre outros. Assim, a CF, de 1988,
ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, garante que a falta de recursos financeiros não seja
ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento considerada um obstáculo para o exercício de tais
de custas judiciais e do ônus da sucumbência; direitos.

O inciso LXXIII traz outro remédio constitucional: Art. 5º [...]


a ação popular. Trata-se da ação constitucional colo- LXXVII - são gratuitas as ações de habeas-cor-
cada à disposição de qualquer cidadão para fiscalizar pus e habeas-data, e, na forma da lei, os atos
o Poder Público. Cabe esclarecer que cidadão é aque- necessários ao exercício da cidadania.
le que possui capacidade eleitoral ativa, ou seja, que
pode votar. Portanto, a ação popular é cabível para os O inciso LXXVII trata da gratuidade dos remédios
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
maiores de 16 (dezesseis) anos se eleitores. constitucionais de habeas corpus e habeas data. A
Atenção! Não há necessidade de os menores de 18 finalidade do dispositivo é garantir o acesso de todas
(dezoito) anos serem assistidos, pois consiste em um as pessoas a esses remédios constitucionais.
direito político. Ademais, quanto aos estrangeiros, é
possível o ajuizamento da ação popular pelo portu- Art. 5º [...]
guês em situação de equiparação com brasileiro. LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrati-
Em regra, a ação popular é gratuita. O motivo da vo, são assegurados a razoável duração do pro-
gratuidade é permitir o acesso ao Poder Judiciário de cesso e os meios que garantam a celeridade de sua
todos os cidadãos para a defesa dos atos lesivos do tramitação.
Poder Público. No entanto, o inciso LXXIII estabele-
ce uma exceção: haverá custas e sucumbência caso Este inciso trata o princípio da celeridade pro-
o autor ingresse com a ação com má-fé e esta seja cessual. Desta forma, a CF, de 1988, assegura a todos,
comprovada. quer no âmbito judicial, quer no âmbito administra-
tivo, a duração razoável do processo, bem como dos
meios que garantam a celeridade de sua tramitação.
Importante!
Art. 5º [...]
A má-fé deve ser sempre provada, enquanto a § 1º As normas definidoras dos direitos e garantias
boa-fé é sempre presumida. fundamentais têm aplicação imediata. 209
LXXIX - é assegurado, nos termos da lei, o direito Art. 5º [...]
à proteção dos dados pessoais, inclusive nos meios § 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal
digitais. Penal Internacional a cuja criação tenha mani-
festado adesão.
Por fim, em recentíssima alteração constitucional,
a Emenda Constitucional nº 115, de 10 de Fevereiro de Esse parágrafo também foi incluído pela Emenda
2022, adicionou o inciso LXXIX ao art. 5º da CF, o qual Constitucional nº 45, de 2004. O Tribunal Penal Inter-
busca incluir a proteção de dados pessoais entre os nacional (TPI) encontra-se disciplinado no Estatuto
direitos e garantias fundamentais. Ademais, embora de Roma e tem como finalidade julgar os crimes de
não seja objeto de estudo deste tópico, cabe ressaltar genocídio, crimes de guerra, crimes contra a humani-
que a competência para legislar sobre a proteção e dade e crimes de agressão.
tratamento de dados pessoais é de privativa da União. Atenção! Não confundir o TPI com a Corte Inter-
De acordo com o § 1º, os direitos e garantias indi- nacional de Justiça, também conhecida como Tribu-
viduais e coletivos previstos no art. 5º estão prontos nal de Haia, que é o órgão jurídico da Organização das
para serem aplicados e exigidos, uma vez que não Nações Unidas.
dependem da existência de qualquer outra norma
para produzir efeitos. DIREITOS SOCIAIS
Atenção! Não confundir aplicação imediata com a
aplicabilidade da norma constitucional (norma cons- Os direitos sociais têm previsão no art. 6º ao 11º da
titucional de eficácia plena, contida e limitada). Constituição, e também podem ser encontrados no título
VIII da Constituição Federal, que trata da ordem social.
Art. 5º [...] São direitos que pertencem à segunda geração dos
§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Consti- direitos fundamentais, ou seja, da dimensão que tra-
tuição não excluem outros decorrentes do regime ta dos direitos da democracia e informação, e alguns
e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
doutrinadores também os chamam de liberdades
internacionais em que a República Federativa do
positivas, quando o Estado precisa deixar de ser omis-
Brasil seja parte.
so com o objetivo de assegurar uma compensação
resultante da desigualdade entre as pessoas.
O § 2º estabelece que o rol de direitos e deveres
Os direitos sociais exigem uma atuação do Estado
disposto no art. 5º é exemplificativo e não taxativo.
em face da desigualdade social e tem aplicabilidade
Portanto, podem existir outros direitos em outros dis-
imediata. Nesse sentido, com o objetivo de garantir a
positivos da CF, de 1988, em outros diplomas legais,
igualdade formal (ou também chamada de igualdade
em tratados internacionais, entre outros.
jurídica, conforme prevê na CF, de 1988, significa que
Art. 5º [...]
todos devem ser tratados da mesma forma).
§ 3º Os tratados e convenções internacionais Ainda, a Constituição dividiu os direitos sociais em
sobre direitos humanos que forem aprovados, em três espécies:
cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos,
por três quintos dos votos dos respectivos membros, z D ireitos sociais destinados a toda sociedade; (Art.
serão equivalentes às emendas constitucionais. 6º da CF);
z Direitos sociais para os trabalhadores; (Art.7° da
O § 3º estabelece as regras para a incorporação do CF);
tratado internacional que verse sobre direitos huma- z Direitos sociais coletivos dos trabalhadores. (Art.
nos. Via de regra, o tratado internacional, após a sua 8º ao 11º da CF).
celebração e assinatura pelo Presidente da República,
passa por referendo parlamentar para sua incorpora- Direitos Sociais Destinados a Toda Sociedade
ção. Assim, o Poder Legislativo o aprova, por meio de um
Decreto Legislativo, e o remete ao Presidente da Repúbli- Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a
ca para sua ratificação, por meio de Decreto. O Decreto alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte,
do Executivo é, por sua vez, promulgado e publicado em o lazer, a segurança, a previdência social, a prote-
Diário Oficial da União e passa a ter força de lei. ção à maternidade e à infância, a assistência aos
No caso de tratado sobre direitos humanos, a CF, de desamparados, na forma desta Constituição.
1988, disciplinou a possibilidade de sua incorporação,
seguindo os mesmos procedimentos cabíveis para as Direitos garantidos para toda sociedade brasileira,
Emendas Constitucionais, ou seja, dois turnos em cada com exceção, por exemplo, da previdência social, pois
Casa do Congresso Nacional e aprovação por 3/5 dos votos. neste caso só terá benefício quem for contribuinte e
Deste modo, o tratado passa a ser incorporado, no orde- preencher todos os requisitos legais exigidos.
namento jurídico, com força de norma constitucional.
O § 3º, do art. 5º, da CF, de 1988, foi incluído pela Direito à Propriedade x Direito à Moradia
Emenda Constitucional nº 45, de 2004. Portanto, apenas
os tratados incorporados após essa Emenda e seguindo os Direito de propriedade é um direito individual,
parâmetros do dispositivo possuem força de norma cons- conforme já estudado neste material, já o direito à
titucional. Para os incorporados anteriormente, caso se moradia é um direito social, localizado no caput do
refiram aos direitos humanos, são considerados suprale- art. 6º da CF, de 1988.
gais. Para todos os demais tratados, força legal.

210
Direito à segurança, localizado no art. 5º (direi- XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes
to individual) e art. 6º (direito social), entenda a desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em
diferença: creches e pré-escolas;
Segurança mencionada no art. 5º da CF se refere à XXVI - reconhecimento das convenções e acordos
segurança jurídica, já a segurança mencionada no art. coletivos de trabalho;
XXVII - proteção em face da automação, na forma
6º da CF refere-se ao direito à segurança pública.
da lei;
XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo
Direitos Sociais Para os Trabalhadores do empregador, sem excluir a indenização a que este
está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das rela-
rurais, além de outros que visem à melhoria de sua ções de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos
condição social: para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de
I - relação de emprego protegida contra despedida dois anos após a extinção do contrato de trabalho;
arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei com- XXX - proibição de diferença de salários, de exercí-
plementar, que preverá indenização compensatória, cio de funções e de critério de admissão por motivo
dentre outros direitos; de sexo, idade, cor ou estado civil;
II - seguro-desemprego, em caso de desemprego XXXI - proibição de qualquer discriminação no
involuntário; tocante a salário e critérios de admissão do traba-
III - fundo de garantia do tempo de serviço; lhador portador de deficiência;
IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente XXXII - proibição de distinção entre trabalho manual,
unificado, capaz de atender a suas necessidades técnico e intelectual ou entre os profissionais respectivos;
vitais básicas e às de sua família com moradia, ali- XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou
mentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higie- insalubre a menores de dezoito e de qualquer traba-
ne, transporte e previdência social, com reajustes lho a menores de dezesseis anos, salvo na condição
periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, de aprendiz, a partir de quatorze anos;
sendo vedada sua vinculação para qualquer fim; XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador
V - piso salarial proporcional à extensão e à com- com vínculo empregatício permanente e o trabalha-
plexidade do trabalho; dor avulso
VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em Parágrafo único. São assegurados à categoria dos
convenção ou acordo coletivo; trabalhadores domésticos os direitos previstos nos
VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII,
para os que percebem remuneração variável; XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e,
VIII - décimo terceiro salário com base na remune- atendidas as condições estabelecidas em lei e obser-
ração integral ou no valor da aposentadoria; vada a simplificação do cumprimento das obriga-
ções tributárias, principais e acessórias, decorrentes
IX - remuneração do trabalho noturno superior à
da relação de trabalho e suas peculiaridades, os pre-
do diurno;
vistos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem
X - proteção do salário na forma da lei, constituin-
como a sua integração à previdência social.
do crime sua retenção dolosa;
XI - participação nos lucros, ou resultados, desvincu-
lada da remuneração, e, excepcionalmente, participa- O mencionado dispositivo aborda os direitos dos
ção na gestão da empresa, conforme definido em lei; trabalhadores de uma forma genérica, pois todos são
XII - salário-família pago em razão do dependente tratados de forma específica em legislação especial.
do trabalhador de baixa renda nos termos da lei; Cabe ressaltar neste tópico que os examinadores
XIII - duração do trabalho normal não superior a das bancas costumam perguntar datas e questões
oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, numéricas. Por exemplo, um tema sempre muito
facultada a compensação de horários e a redução cobrado em provas é sobre a prescrição trabalhista,
da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva ou seja, o prazo máximo para entrar com a reclama-
de trabalho; ção trabalhista após o término do contrato de trabalho
XIV - jornada de seis horas para o trabalho realiza- para discutir os últimos cinco anos; ou seja, os crédi-

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL


do em turnos ininterruptos de revezamento, salvo tos trabalhistas prescrevem nos últimos cinco anos.
negociação coletiva;
XV - repouso semanal remunerado, preferencial- z Prazo para entrar com reclamação trabalhista: 2
mente aos domingos; anos. Prescrição dos créditos: últimos 5 anos;
XVI - remuneração do serviço extraordinário supe- z Direitos sociais coletivos dos trabalhadores.
rior, no mínimo, em cinquenta por cento à do normal;
XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo DIREITOS SOCIAIS COLETIVOS DOS
menos, um terço a mais do que o salário normal; TRABALHADORES
XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego
e do salário, com a duração de cento e vinte dias; Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical,
XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei; observado o seguinte:
XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, I - a lei não poderá exigir autorização do Estado
mediante incentivos específicos, nos termos da lei; para a fundação de sindicato, ressalvado o regis-
XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, tro no órgão competente, vedadas ao Poder Públi-
sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei; co a interferência e a intervenção na organização
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por sindical;
meio de normas de saúde, higiene e segurança; II - é vedada a criação de mais de uma organização
XXIII - adicional de remuneração para as atividades sindical, em qualquer grau, representativa de cate-
penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei; goria profissional ou econômica, na mesma base
XXIV - aposentadoria; territorial, que será definida pelos trabalhadores 211
ou empregadores interessados, não podendo ser z Capacidade eleitoral ativa: direito de votar;
inferior à área de um Município; z Capacidade eleitoral passiva: direito de ser votado.
III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interes-
ses coletivos ou individuais da categoria, inclusive Condições de Elegibilidade
em questões judiciais ou administrativas;
IV - a assembleia geral fixará a contribuição que, Conforme art. 14, § 3º da CF, são condições de elegi-
em se tratando de categoria profissional, será des- bilidade, na forma da lei:
contada em folha, para custeio do sistema con-
federativo da representação sindical respectiva,
independentemente da contribuição prevista em lei; Nacionalidade brasileira
V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se Não ter direitos políticos cassados
filiado a sindicato; Alistamento eleitoral
ELEGIBILIDADE
VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas Domicílio eleitoral na circunscrição
correspondente
negociações coletivas de trabalho;
Filiação partidária
VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser
votado nas organizações sindicais;
VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicali- A constituição também define a idade mínima que
zado a partir do registro da candidatura a cargo de cada candidato, correspondente a seu cargo, deve ter:
direção ou representação sindical e, se eleito, ainda
que suplente, até um ano após o final do mandato, z Presidente + Vice Senador: 35 anos;
salvo se cometer falta grave nos termos da lei. z Governador + Vice dos Estados e DF: 30 anos;
Parágrafo único. As disposições deste artigo apli- z Deputado Federal, Estadual e Distrital, Prefeito +
cam-se à organização de sindicatos rurais e de Vice e Juiz de Paz e 21 anos;
colônias de pescadores, atendidas as condições que z Vereador: 18 anos.
a lei estabelecer.
Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo Perda ou Suspensão dos Direitos Políticos
aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de
exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio A perda ou suspensão dos direitos políticos estão
dele defender. apresentadas no art. 15 da Constituição.
§ 1º A lei definirá os serviços ou atividades essen- Como o nome já diz, a suspensão é o cancelamento
ciais e disporá sobre o atendimento das necessida- por um tempo determinado, já a perda, o cancelamen-
des inadiáveis da comunidade. to por prazo indeterminado. Vejamos em quais situa-
§ 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis ções podem ocorrer perda ou suspensão, analisando o
às penas da lei. art. 15 da CF, de 1988.
Art. 10 É assegurada a participação dos trabalha-
dores e empregadores nos colegiados dos órgãos Art. 15 É vedada a cassação de direitos políticos,
públicos em que seus interesses profissionais cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:
ou previdenciários sejam objeto de discussão e I - cancelamento da naturalização por sentença
deliberação. transitada em julgado; Perda.
Art. 11 Nas empresas de mais de duzentos empre- II - incapacidade civil absoluta; Suspensão
gados, é assegurada a eleição de um representante III - condenação criminal transitada em julgado,
enquanto durarem seus efeitos; Suspensão
destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta
o entendimento direto com os empregadores.
ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º,
VIII; Perda.
As garantias deste último grupo de direitos sociais V - improbidade administrativa, nos termos do art.
estão divididas em: direito de associação sindical, 37, § 4º. Suspensão
direito de greve e direito de representação.
Direito de associação sindical tem relação com o
Dica
princípio da liberdade de associação. Direito de gre-
ve, citado no art. 9º, não é o mesmo direito de greve Não existe a cassação dos direitos políticos.
assegurado ao servidor público no art. 37 da CF, ou
seja, a greve mencionada no art. 9º é autoaplicável
(norma de eficácia contida), não sendo necessária lei ORGANIZAÇÃO DO ESTADO
para regulamentar o direito de greve. Já o direito de
representação, está presente no art. 11 da CF. A origem de um Estado pode se dar de forma
natural, religiosa (Estado criado por Deus), pela for-
DIREITOS POLÍTICOS ça e domínio dos mais fortes sobre os mais fracos,
pelo agrupamento de famílias, de forma contratual,
Tem regras fixadas pela constituição no Capítulo de forma derivada: por união, quando dois estados
IV referente à participação popular no processo polí- soberanos se unem formando um só novo estado ou
tico, art.14 e seguintes da Constituição. fracionamento, quando um estado se divide em dois
Os direitos políticos conferidos à população brasi- novos estados independentes, ou de forma atípica, a
leira são o sufrágio universal, o voto direto e secreto exemplo do Vaticano e de Israel.
e a participação em plebiscitos, referendos ou inicia- São elementos constitutivos do Estado: a sobera-
tivas populares. nia, a finalidade, o povo e o território. Assim, Dalmo
Sufrágio universal é o direito de homens e mulhe- de Abreu Dallari (apud Lenza, 2019, p. 719) define
res naturalizados ou nascidos em um país de partici- Estado como “a ordem jurídica soberana, que tem por
par das eleições, ou seja: fim o bem comum de um povo situado em determina-
212 do território”.
Soberania é o poder político supremo e independente que o Estado detém consistente na capacidade para
editar e reger suas próprias normas e seu ordenamento jurídico.
A finalidade consiste no objetivo maior do Estado que é o bem comum, conjunto de condições para o desenvol-
vimento integral da pessoa humana.
Povo é o conjunto de indivíduos, em regra, com um objetivo comum, ligados a um determinado território pelo
vínculo da nacionalidade.
Território é o espaço físico dentro do qual o Estado exerce seu poder e sua soberania. Onde o povo se estabele-
ce e se organiza com ânimo de permanência.
A Constituição de 1988 adotou a forma republicana de governo, o sistema presidencialista de governo e a
forma federativa de Estado.

ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA

União

A União é a entidade federativa autônoma e exerce as atribuições de soberania do Estado brasileiro. Conforme
preleciona Pedro Lenza (2020), a União possui “dupla personalidade”, assumindo um papel internamente, como
pessoa de direito público interno, componente da Federação e detentor de autonomia financeira, administrativa
e política, e um papel internacionalmente, representando a República Federativa do Brasil8.
A União representa o Estado brasileiro nas relações internacionais, perante os Estados estrangeiros a ela. Rege-
-se pelo princípio da independência nacional, prevalência dos direitos humanos, autodeterminação dos povos,
não intervenção, igualdade entre os Estados, defesa da paz, solução pacífica dos conflitos, repúdio ao terrorismo
e ao racismo, cooperação entre os povos para o progresso da humanidade e concessão de asilo político (art. 4º, CF,
de 1988).
As competências da União estão elencadas no texto constitucional, organizadas pelo legislador originário com
base no chamado princípio da predominância do interesse público pelo particular. Neste sentido, as atribuições
de interesse nacional são de competência da União, por exemplo: declarar guerra e celebrar paz.
As competências da União são classificadas como competência administrativa e legislativa; a primeira se
relaciona com as funções de organização do Estado, e a segunda é a competência de legislar. Vejamos os exemplos:

z Competência administrativa: é competência de a União elaborar e executar planos nacionais e regionais de


ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social;
z Competência legislativa: é competência de a União legislar sobre nacionalidade, cidadania e naturalização.

O estudo das competências será abordado de forma mais aprofundada em tópico específico na sequência deste
material.
Cuidado para não confundir União com República Federativa do Brasil:

z A República Federativa do Brasil é um Estado Federado, ou seja, é constituído por um conjunto de Estados-
-Membros. Vale ressaltar que os Estados-Membros são autônomos, pois são dotados de autonomia e autogover-
no. Por outro lado, não são soberanos, uma vez que a soberana é somente a Federação como um todo. No nosso
pacto federativo, o poder é descentralizado, pois a Constituição prevê núcleos de poder e concede autonomia
para os seus entes (União, Estados, Municípios e Distrito Federal);
z A União é uma entidade federativa, pessoa jurídica de direito público interno que integra a República Federa-
tiva do Brasil. É através da União que o país é representado nas relações internacionais.

Os bens da União estão enumerados no art. 20, da Constituição Federal, que compreende:

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL


z Terrenos de marinha: são os terrenos situados nas margens dos rios e lagoas, até onde haja influência das
marés (vão de 1.831 até 33 metros para a parte da terra). Além destes, são também os que contornam as ilhas
situadas em zona onde se faça sentir a influência das marés;
z Terreno acrescido de marinha: são terrenos acrescidos de marinha os que se tiverem formado, natural ou
artificialmente, para o lado do mar ou dos rios e lagoas, em seguimento nos terrenos de marinha (art. 2º, da
Lei nº 3.438, de 1941);
z Mar territorial: é a faixa de doze milhas náuticas de largura, medidas a partir da linha de baixa-mar do litoral
continental e insular. No Brasil, a costa é banhada pelo oceano Atlântico;
z Zona contígua: é a faixa do mar que se estende das doze às vinte e quatro milhas marítimas, contadas a partir
das linhas de base que servem para medir a largura do mar territorial;
z Zona econômica exclusiva: compreende uma faixa que se estende das doze às duzentas milhas marítimas,
contadas a partir das linhas de base que servem para medir a largura do mar territorial; é a faixa territorial do
Atlântico. O Brasil tem soberania para fins de exploração e aproveitamento, conservação e gestão dos recursos
naturais, vivos ou não vivos, das águas sobrejacentes ao leito do mar, do leito do mar e seu subsolo;
z Plataforma continental: é a faixa de terra do fundo do mar, que vai até 200 m de profundidade, ou seja, com-
preende o leito e o subsolo das áreas submarinas que se estendem além do seu mar territorial. É uma importante
área de exploração e pesquisa de petróleo (art. 11, da Lei nº 8.617, de 1993).

8 LENZA, P. Direito Constitucional Esquematizado. 24ª ed. São Paulo, 2020, p. 497. 213
Entenda melhor na ilustração a seguir: Exemplo: recursos minerais, como petróleo, extraí-
do da plataforma continental.

VI - o mar territorial;

Exemplo: os navios estrangeiros no mar territorial


brasileiro estão sujeitos aos regulamentos estabeleci-
dos pelo Brasil.
VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos;

Exemplo: os imóveis situados à beira-mar (até 33


metros para a parte da terra).

VIII - os potenciais de energia hidráulica;

Para efeito de exploração, os potenciais hidráuli-


cos dos rios pertencem à União, por exemplo, a Usina
Hidrelétrica de Santo Antônio, localizada na cidade de
Porto Velho, Estado de Rondônia.

IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo;

Exemplo: ferro, ouro, cobre etc.

X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios


Vejamos o art. 20, do texto constitucional, que enu-
arqueológicos e pré-históricos;
mera os bens da União:
Exemplo: Sítio Arqueológico, Parque Nacional do
I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vie-
Catimbau, localizado no Estado de Pernambuco.
rem a ser atribuídos;
XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.
Exemplo: ilhas, rios, mar territorial, entre outros, com
exceção das terras de aldeamentos extintos, ainda que Exemplo: a terra tradicionalmente ocupada pelos
ocupadas por indígenas em passado remoto, conforme indígenas no oeste de Santa Catarina, localizado entre
dispõe a Súmula nº 650, do STF. os rios Chapecó e Chapecósinho, a 70 km de Chapecó,
denominada como terra indígena Xapecó.
II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das Ainda, a redação do § 1º, do mencionado dispositi-
fronteiras, das fortificações e construções milita- vo, foi modificada pela Emenda Constitucional nº 102,
res, das vias federais de comunicação e à preserva- de 2019. Conforme a atual redação, a Constituição pre-
ção ambiental, definidas em lei; vê possibilidade da participação da União, dos Esta-
dos, do Distrito Federal e dos Municípios no resultado
As terras devolutas são terras que não têm destina- da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos
ção pública e também não integram o patrimônio de hídricos para fins de geração de energia elétrica e de
um particular. Exemplo: as terras devolutas situadas outros recursos minerais.
na Amazônia. Por conseguinte, a Constituição consagra a terra
designada como faixa de fronteira, sendo esta a fai-
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em xa de até cento e cinquenta quilômetros de largura,
terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um ao longo das fronteiras terrestres, considerada fun-
Estado, sirvam de limites com outros países, ou se damental para defesa do território nacional. Ainda,
estendam a território estrangeiro ou dele provenham, determina que a sua ocupação e utilização devem ser
bem como os terrenos marginais e as praias fluviais;
reguladas em lei. (§ 2º, art. 20).

Estados
Exemplo: o Rio Uruguai, que banha o Estado de
Santa Catarina e o Estado do Rio Grande do Sul.
Os Estados possuem autonomia para se organiza-
rem (auto-organização), caracterizada por um auto-
IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes
governo, autoadministração e autolegislação, em que
com outros países; as praias marítimas; as ilhas o povo escolhe diretamente os seus representantes
oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que no Poder Legislativo e Executivo local, sem que haja
contenham a sede de Municípios, exceto aque- subordinação por parte da União (arts. 27, 28 e 125,
las áreas afetadas ao serviço público e a unidade da CF). Acompanhe esses conceitos a seguir:
ambiental federal, e as referidas no art. 26, II;
z Autogoverno: autonomia política para eleger seus
Exemplo: a ilha do Bananal, situada no Estado de representantes, por exemplo, eleição de Governa-
Tocantins, considerada a maior ilha fluvial do Brasil, dor (arts. 27 e 28, da CF, de 1988);
com 25.000 km2. z Autoadministração: decorre das competências
administrativas conferidas aos Estados, por exem-
V - os recursos naturais da plataforma continental plo, os Estados poderão, mediante lei complemen-
214 e da zona econômica exclusiva; tar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações
urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de Municípios limítrofes, para integrar a organiza-
ção, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum (§ 3º, art. 25);
z Autolegislação: tem competência de elaborar sua própria Constituição, ou seja, cada Estado tem autonomia
de criar a sua própria constituição estadual, entretanto, esta deve sempre obedecer à lei maior (CF, de 1988).

Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem. Ainda, o art. 25, da CF, consagra
aos Estados federados autonomia política e administrativa, com capacidade de elaborar suas próprias Constitui-
ções estaduais, obedecendo às diretrizes da Constituição Federal de 1988.

AUTOGOVERNO

Legislativo Executivo Judiciário


Assembleia Governador do Tribunais e
Legislativa Estado Juízes

Formação de Novos Estados

Na forma prevista do inciso VI, do art. 48, da CF, de 1988, a estrutura territorial do Brasil poderá ser modificada
por meio de alteração dos limites territoriais dos diferentes entes federados existentes. Por exemplo, em 1988 o
norte do Estado de Goiás foi desmembrado, formando o Estado de Tocantins.

Art. 18 A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o


Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição. [...]
§ 3º Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou forma-
rem novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada, através de
plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar.

Desse modo, tem-se a seguinte tabela para associação:

INCORPORAÇÃO SUBDIVISÃO DESMEMBRAMENTO

Fusão Cisão Separar uma ou mais partes de um Estado

Além do mais,

Art. 48 Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, não exigida esta para o especificado
nos arts. 49, 51 e 52, dispor sobre todas as matérias de competência da União, especialmente sobre: [...]
VI - incorporação, subdivisão ou desmembramento de áreas de Territórios ou Estados, ouvidas as respectivas
Assembleias Legislativas;

Ainda, conforme o art. 235, da Constituição, nos dez primeiros anos de sua criação, a Assembleia Legislativa
será composta de dezessete Deputados se a população do Estado for inferior a seiscentos mil habitantes, e de vinte e
quatro, se igual ou superior a esse número, até um milhão e quinhentos mil. O Governo terá no máximo dez Secreta-

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL


rias. O Tribunal de Contas terá três membros, nomeados, pelo Governador eleito, dentre brasileiros de comprovada
idoneidade e notório saber. O Tribunal de Justiça terá sete Desembargadores; os primeiros Desembargadores serão
nomeados pelo Governador eleito, escolhidos conforme dispõe o inciso V, do mencionado dispositivo:

a) cinco dentre os magistrados com mais de trinta e cinco anos de idade, em exercício na área do novo Estado ou do
Estado originário;
b) dois dentre promotores, nas mesmas condições, e advogados de comprovada idoneidade e saber jurídico, com dez
anos, no mínimo, de exercício profissional, obedecido o procedimento fixado na Constituição;

Caso o novo Estado seja proveniente de Território Federal, os cinco primeiros Desembargadores poderão ser
escolhidos dentre juízes de direito de qualquer parte do País. Em cada Comarca, o primeiro Juiz de Direito, Promo-
tor de Justiça e Defensor Público serão nomeados pelo Governador eleito após concurso público de provas e títulos.
É possível a incorporação, a subdivisão e o desmembramento de Estado, vejamos:

z Incorporação: quando dois ou mais Estados se unem com outro nome, perdendo sua personalidade por inte-
grarem um novo Estado. Por exemplo, se houvesse a incorporação do Estado de Santa Catarina e Rio Grande
do Sul, passando a ser um só Estado;

215
z Subdivisão: quando um Estado se divide em Municípios
novos vários Estados, todos estes com persona-
lidades diferentes. Por exemplo, o Estado do Rio No Brasil, não só os Estados-Membros, mas tam-
Grande do Sul deixa de existir, ou seja, o Estado bém os Municípios têm autonomia política, ou seja, o
foi dividido em dois ou mais Estados, cada um com nosso pacto federativo é formado pela União, Estados,
personalidades distintas; Distrito Federal e Municípios. Tal autonomia está pre-
z Desmembramento: hipótese de separar uma ou vista no caput do art. 18, da CF, de 1988, vejamos.
mais partes de um Estado sem que este perca sua
identidade. Por exemplo, como ocorreu com o Art. 18 A organização político-administrativa da
Estado de Goiás, formando o Estado de Tocantins. República Federativa do Brasil compreende a União,
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos
autônomos, nos termos desta Constituição.
Vejamos os requisitos e procedimento para a incor-
poração, a subdivisão e o desmembramento do Estado
(§ 3º, art. 18, da CF): Como exemplo da autonomia municipal, podemos
citar a capacidade de normatização, que consiste na
capacidade do Município de elaborar a sua própria lei
1º: PLEBISCITO orgânica e demais legislações municipais.
Conforme art. 30, do texto constitucional, os Muni-
Consulta prévias às populações diretamente interes- cípios têm competência legislativa local, ou seja, podem
sadas (expressão da vontade e da opinião do povo, legislar sobre assuntos de interesse local e suplementando
demonstrada através de votação) a legislação federal e estadual no que couber. Por exem-
Atenção! O plebiscito é condição prévia, caso não plo, é de competência do Município a fixação do horário
houver aprovação, não passará para a próxima fase de funcionamento do comércio local (Súmula 645, do STF).
2º: PROPOSITURA DE PROJETO DE LEI Ainda, os Municípios também têm autonomia polí-
COMPLEMENTAR tica, por exemplo, têm a capacidade de eleger Prefeito,
Vice-Prefeito e Vereadores sem a intervenção do Estado
Caso a população seja favorável no plebiscito, será ou da União. Além de autonomia administrativa, ou seja,
proposto projeto de lei complementar perante qual- têm capacidade de atuar sobre assuntos de interesse
quer uma das casas do Congresso Nacional local, por exemplo, cabe ao Município promover a pro-
teção do patrimônio histórico-cultural local.
3º: OITIVA DA ASSEMBLEIA

Oitiva das assembleias legislativas dos Estados Formação de Novos Municípios


interessados
Atenção! Mesmo que a assembleia seja desfavorá- Os Municípios também têm autorização constitu-
vel, pode continuar o processo de formação do novo cional para criação, incorporação, fusão e desmem-
Estado, não é vinculativo bramento de Municípios. Vejamos os requisitos e
procedimento para a incorporação, a subdivisão e o
4º: LEI COMPLEMENTAR desmembramento de Município (§ 4º, art. 18, da CF):
Aprovação de lei complementar pelo Congresso
Nacional 1° 2°
Congresso Nacional não é obrigado a aprovar, mas Lei Complementar Plebiscito + Estudo de
caso assim decida, deverá ser conforme determina viabilidade
o art. 69, da CF, de 1988, pelo quórum de maioria Aprovação de lei
complementar, fixando Consulta prévia, mediante
absoluta
o período dentro do qual plebiscito, às populações
poderá ocorrer a criação, dos municípios envolvidos,
Distrito Federal incorporação, fusão e o após divulgação dos
desmembramento estudos de viabilidade
municipal, apresentados e
A Constituição Federal de 1988 conferiu ao Dis- publicados na forma da lei
trito Federal natureza de ente federativo autônomo,
com capacidade de auto-organização, autogoverno
e autoadministração, sendo proibida a possibilidade
de subdivisão em Municípios (caput, art. 32). Como 3°
exemplo de autonomia do Distrito Federal, podemos
citar sua capacidade para criar a sua lei orgânica, bem Lei Estadual
como a capacidade de eleger seu Governador e Vice- Aprovação de lei ordinária
-Governador, sem interferência da União nas eleições. estadual formalizando a
A sede do governo do Distrito Federal é Brasília, criação, incorporação, fusão
conforme consagra a Lei Orgânica do DF, no seu art. 6º. ou desmembramento do
município
Conforme § 1º, art. 32, da CF, ao Distrito Federal são
atribuídas as competências legislativas reservadas
aos Estados e Municípios, cumulativamente. Entre- Territórios
tanto, conforme o § 4º, do dispositivo em comento, a
lei federal disporá sobre a utilização, pelo Governo Os Territórios Federais são divisões administrati-
do DF, da Polícia Civil, da Polícia Penal, da Polícia Mili- vas da União, sem pertencer a qualquer Estado; podem
tar e do Corpo de Bombeiros Militar, ou seja, estes são surgir da divisão de um Estado-Membro ou desmem-
mantidos diretamente pela União. bramento, existindo autonomia administrativa, mas
não política, ou seja, os Estados podem subdividir-se
216
ou desmembrar-se para formarem Territórios Fede- Senado Federal
rais, mediante aprovação da população diretamente
interessada, por meio de plebiscito, e do Congresso É composto por representantes dos Estados e Dis-
Nacional, por intermédio de lei complementar. trito Federal, eleitos pelo sistema majoritário simples.
Entretanto, no caso de criação de um Território, o Cada Estado e o Distrito Federal elegem o número fixo
texto constitucional não exige a realização de plebisci- de três Senadores, com mandatos de oito anos. Ainda,
to, porém nada impede que possa ocorrer. cada Senador será eleito com dois suplementes (art.
Sendo que os Territórios, a partir da CF, de 1988, 46, da CF).
não são considerados entes federativos, servem para
que a União administre áreas que não possuem um z Funcionamento do Congresso Nacional
governo estadual, ou seja, trata-se apenas de uma
mera autarquia em regime especial que é designada Conforme o art. 57, da CF, o Congresso Nacional
para administrar parcela de território do país. reunir-se-á na Capital Federal de 2 de fevereiro a 17
Atualmente não existem mais Territórios Federais de julho e de 1º de agosto a 22 de dezembro, perío-
no Brasil, inclusive a própria Constituição Federal de do denominado como sessão legislativa, ou seja, é
1988, no Ato das Disposições Gerais Transitórias, art. o período em que o congresso se reúne anualmente
14, transformou os Territórios Federais de Roraima e para a realização de suas atividades.
do Amapá em Estados Federados. Podemos ter, portanto:
Como vimos, atualmente no Brasil não existem mais
Territórios Federais. Entretanto, conforme o § 2º, art. 18, da z Sessão Legislativa Ordinária: período de atividade
CF há uma autorização constitucional para sua criação, a normal do Congresso (mencionado acima);
qual deve ser regulada em lei complementar, vejamos: z Sessão Legislativa Extraordinária: trabalho rea-
lizado durante o recesso parlamentar, mediante
Art. 18 A organização político-administrativa da convocação.
República Federativa do Brasil compreende a União,
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos
autônomos, nos termos desta Constituição. Importante!
§ 1º Brasília é a Capital Federal.
§ 2º Os Territórios Federais integram a União, e sua Não confundir sessão legislativa com legislatu-
criação, transformação em Estado ou reintegração ao ra: legislatura é o período de quatro anos de exe-
Estado de origem serão reguladas em lei complementar. cução das atividades do Congresso Nacional.
Vide parágrafo único, art. 44, da CF:

Art. 44 O Poder Legislativo é exercido pelo Con-


PODER LEGISLATIVO gresso Nacional, que se compõe da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal.
CONGRESSO NACIONAL Parágrafo único. Cada legislatura terá a duração
de quatro anos.
No âmbito nacional, temos o Congresso Nacional,
que é denominado bicameral, pois é composto pelas
duas casas, a Câmara dos Deputados e o Senado Fede- Cuidado com o § 3º, do art. 57, da CF, que dispõe
ral, também chamado de bicameralismo federativo, sobre as reuniões, referentes à sessão Conjunta, que
ocorrerão em quatro casos, veja:
pois é composto por representantes dos estados e do
Distrito Federal.
Art. 57 O Congresso Nacional reunir-se-á, anual-
mente, na Capital Federal, de 2 de fevereiro a 17 de
Câmara dos Deputados julho e de 1º de agosto a 22 de dezembro.
§ 1º As reuniões marcadas para essas datas serão
É composto por representantes do povo, eleitos
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
transferidas para o primeiro dia útil subseqüen-
pelo sistema proporcional para mandatos de quatro te, quando recaírem em sábados, domingos ou
anos, permitindo sucessivas reeleições. feriados.
No sistema proporcional, o eleitor escolhe ser § 2º A sessão legislativa não será interrompida
representado por determinado partido e, preferen- sem a aprovação do projeto de lei de diretrizes
cialmente, pelo candidato escolhido. Entretanto, caso orçamentárias.
o candidato escolhido não seja eleito, o voto será § 3º Além de outros casos previstos nesta Constitui-
somado aos demais votos da legenda, compondo a ção, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal reu-
nir-se-ão em sessão conjunta para:
votação do partido ou coligação.
I - inaugurar a sessão legislativa;
Cada estado será representado de acordo com a sua
II - elaborar o regimento comum e regular a cria-
população, ou seja, quanto mais populoso, maior será ção de serviços comuns às duas Casas;
o número de representantes do ente federado nesta III - receber o compromisso do Presidente e do Vice-
casa. Ainda, conforme o §1º, art. 45, da CF, nenhuma -Presidente da República;
unidade da federação terá menos de oito ou mais de IV - conhecer do veto e sobre ele deliberar.
setenta deputados, com exceção dos territórios (que,
atualmente, não existem mais, mas caso voltem a exis- Em relação ao inciso III, § 3º, art. 57, guarde que:
tir), que poderão eleger quatro Deputados Federais. a sessão acontece no primeiro ano do mandato do
Presidente.
217
z Mesas do Congresso Nacional membros, ou de partido político representado no Con-
gresso Nacional, assegurada ampla defesa.
As mesas são os órgãos diretivos da Câmara dos [...]
Deputados, do Senado Federal e do Congresso Nacio- Art. 103 Podem propor a ação direta de incons-
nal. As mesas têm responsabilidade de administrar titucionalidade e a ação declaratória de
suas casas e seus membros são eleitos pelos próprios constitucionalidade:
parlamentares. I - o Presidente da República;
II - a Mesa do Senado Federal;
A composição da mesa do Congresso Nacional
III - a Mesa da Câmara dos Deputados.
pode ser alterada por regimentos, com mandato de
dois anos, devendo ser presidida pelo Presidente do
O Presidente da mesa é o Presidente da sua res-
Senado e os demais cargos, exercidos, alternadamen-
pectiva casa, portanto, cabe a ele declarar a perda de
te, pelos ocupantes de cargos equivalentes na Câma-
ra dos Deputados e no Senado Federal, conforme mandato (art. 55, da CF).
determina o § 5º, art. 57, da CF. Ainda, a presidência é
exercida pelo presidente do Senado. Vejamos as atri- PARLAMENTARES FEDERAIS, ESTADUAIS E
buições para as mesas nos seguintes artigos da CF: MUNICIPAIS
parágrafos 1º e 2º, art. 50; parágrafos 2º e 3º, art. 55; e
incisos II e II, art. 103. O âmbito Estadual e Distrital é composto pela
Assembleia Legislativa, através dos Deputados esta-
Art. 50 A Câmara dos Deputados e o Senado Fede- duais, eleitos pelo sistema proporcional (26 Deputados
ral, ou qualquer de suas Comissões, poderão con- por Estado), com mandatos de quatro anos, aplican-
vocar Ministro de Estado ou quaisquer titulares do as regras da Constituição sobre sistema eleitoral,
de órgãos diretamente subordinados à Presidência inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda
da República para prestarem, pessoalmente, infor- de mandato, licença, impedimentos e incorporação
mações sobre assunto previamente determinado, às Forças Armadas. Ainda, o subsídio dos Deputados
importando crime de responsabilidade a ausência Estaduais será fixado por lei de iniciativa da Assem-
sem justificação adequada.       bleia Legislativa (art. 27 da CF).
§ 1º Os Ministros de Estado poderão comparecer
ao Senado Federal, à Câmara dos Deputados, Municipal
ou a qualquer de suas Comissões, por sua ini-
ciativa e mediante entendimentos com a Mesa
Na esfera municipal temos os Vereadores eleitos
respectiva, para expor assunto de relevância de
seu Ministério. pelo sistema proporcional, com mandato de quatro
§ 2º As Mesas da Câmara dos Deputados e do anos — Unicameral. O número de vereadores que ocu-
Senado Federal poderão encaminhar pedidos pam a Câmara Municipal é definido de acordo com o
escritos de informações a Ministros de Estado número de habitantes da respectiva cidade, conforme
ou a qualquer das pessoas referidas no caput inciso IV, art. 29, da CF.
deste artigo, importando em crime de responsabi-
lidade a recusa, ou o não - atendimento, no prazo de Dica
trinta dias, bem como a prestação de informações
falsas.   Os vereadores apenas gozam da imunidade material.
[...]
Art. 55 Perderá o mandato o Deputado ou Estatuto do Congressista
Senador:
I - que infringir qualquer das proibições esta- Denomina-se Estatuto do Congressista o conjunto de
belecidas no artigo anterior; regras que disciplinam as imunidades, as prerrogativas
II - cujo procedimento for declarado incompa-
de foro, de serviço militar, de vencimentos, de isenção do
tível com o decoro parlamentar;
dever de testemunhar e as incompatibilidades. Trata-se
III - que deixar de comparecer, em cada sessão
legislativa, à terça parte das sessões ordiná-
das normas disciplinadas nos arts. 53 a 56, da CF, de 1988.
rias da Casa a que pertencer, salvo licença ou
missão por esta autorizada; Imunidade Parlamentar
IV - que perder ou tiver suspensos os direitos
políticos; Inicialmente, há de se ter em mente que as imuni-
V - quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos dades são prerrogativas inerentes à função desempe-
casos previstos nesta Constituição; nhada com o objetivo de garantir a independência e
VI - que sofrer condenação criminal em sentença o exercício da função atribuídos constitucionalmente.
transitada em julgado. Portanto, não se trata de privilégios, mas de garantias
§ 1º É incompatível com o decoro parlamentar, além destinadas ao livre desempenho da função e da não
dos casos definidos no regimento interno, o abuso das ingerência dos demais órgãos (independência dos
prerrogativas asseguradas a membro do Congresso poderes). É por este motivo que as imunidades não
Nacional ou a percepção de vantagens indevidas.
podem ser renunciadas, pois não pertencem às pes-
§ 2º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do
soas, mas ao cargo desempenhado.
mandato será decidida pela Câmara dos Deputa-
dos ou pelo Senado Federal, por maioria absoluta, A imunidade parlamentar, também conhecida
mediante provocação da respectiva Mesa ou de como imunidade legislativa, são as prerrogativas
partido político representado no Congresso Nacio- outorgadas pela CF, de 1988, aos membros do Con-
nal, assegurada ampla defesa.       gresso Nacional para que eles possam exercer suas
§ 3º Nos casos previstos nos incisos III a V, a per- funções com independência e liberdade. A imunida-
da será declarada pela Mesa da Casa respectiva, de parlamentar se divide em material e formal, veja
218 de ofício ou mediante provocação de qualquer de seus a seguir.
z Imunidade Material Dica

A imunidade material, também denominada de Imunidade Material


real ou substantiva, diz respeito a opiniões, palavras � Dentro da Casa Legislativa: absoluta, salvo no
e votos. Trata-se da absoluta inviolabilidade, uma vez caso de quebra de decorro parlamentar;
que os parlamentares são imunes civil e penalmen- � Fora da Casa Legislativa: relativa (limitada aos
te para suas opiniões, palavras e votos, desde que no atos relacionados ao exercício do mandato).
exercício da atividade parlamentar. Todos os parla-
mentares possuem esse direito. Além disso, o Parlamentar não pode renunciar à
A imunidade material está consagrada no art. 53, imunidade ou ao foro privilegiado.
do texto constitucional, que prevê que Deputados e Conforme o inciso VIII, art. 29, da CF, de 1988, os
Senadores são invioláveis civis e penalmente, veja: vereadores têm essa proteção, mas somente na cir-
cunscrição do Município.
Art. 53 Os Deputados e Senadores são invioláveis,
civil e penalmente, por quaisquer de suas opi- Art. 29 O Município reger-se-á por lei orgânica,
niões, palavras e votos.     votada em dois turnos, com o interstício mínimo de
§ 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedi- dez dias, e aprovada por dois terços dos membros
ção do diploma, serão submetidos a julgamento da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos
os princípios estabelecidos nesta Constituição, na
perante o Supremo Tribunal Federal.    
Constituição do respectivo Estado e os seguintes
§ 2º Desde a expedição do diploma, os membros
preceitos:
do Congresso Nacional não poderão ser pre-
[...]
sos, salvo em flagrante de crime inafiançável.
VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opi-
Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vin- niões, palavras e votos no exercício do mandato e
te e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo na circunscrição do Município;
voto da maioria de seus membros, resolva sobre a
prisão. 
z Imunidade Formal

A imunidade é uma espécie de proteção aos par- Também denominada de processual, formal ou
lamentares no exercício de suas funções, para que adjetiva, é uma imunidade relativa. Na imunidade
eles tenham ampla liberdade de expressão e debate formal, há a possibilidade de suspensão da prisão e
de ideias nas questões de interesse de seus represen- do processo para a maioria absoluta dos membros da
tados. Ainda, a imunidade material é absoluta, o que respectiva casa. Consiste no julgamento pelo STF, des-
significa que as palavras e opiniões do parlamentar de a expedição do Diploma. Note que os vereadores
ficam excluídas de ação condenatória. não podem ser presos, salvo em flagrante de crime
Por exemplo, determinado Senador, ao discutir inafiançável.
temas políticos com outro parlamentar, profere pala-
vras de injúria e acusa o parlamentar de praticar
fatos definidos como crime. Nesse caso, o parlamentar Importante!
ofendido não pode mover processo contra o Senador,
A diplomação ocorre antes da posse, pois é um
pois as ofensas proferidas estão relacionadas ao exer-
ato que comprova que o candidato foi eleito e
cício da atividade parlamentar.
está apto para tomar a posse da carreira. É neste
Portanto, protege o congressista da incriminação
ato que ocorre a entrega do documento (diplo-
civil ou penal pelos chamados crimes de opinião ou
ma) pela justiça eleitoral.
palavra. Como consequência, a imunidade material
exclui a própria natureza delituosa do fato, visto
que não haverá responsabilização penal e civil do
parlamentar por suas opiniões, palavras e votos, Art. 53 Os Deputados e Senadores são invioláveis,
civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões,
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
afastando, inclusive, o pedido de interpelação judicial
(pedido de explicações). Salienta-se, por necessário, palavras e votos.
que a imunidade material é absoluta (todas as pala- [...] 
§ 3º Recebida à denúncia contra o Senador ou Deputado,
vras e opiniões são excluídas de ação repressiva ou
por crime ocorrido após a diplomação, o Supremo
condenatória), permanente (aplica-se mesmo após Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva,
extinto o mandato para os fatos que ocorreram na que, por iniciativa de partido político nela representado
vigência desse) e de ordem pública (guarda rela- e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a
ção com a função exercida e não com a pessoa do decisão final, sustar o andamento da ação.
parlamentar). § 4º O pedido de sustação será apreciado pela Casa
Cumpre esclarecer, no entanto, que só protege respectiva no prazo improrrogável de quarenta e
o parlamentar quando as manifestações se derem cinco dias do seu recebimento pela Mesa Diretora.
no exercício do mandato, uma vez que a imunida- § 5º A sustação do processo suspende a prescrição,
de material está ligada à ideia de desempenho do enquanto durar o mandato.
§ 6º Os Deputados e Senadores não serão obriga-
mandato (prática in officio) e em razão do manda-
dos a testemunhar sobre informações recebidas ou
to (prática propter officium). Consequentemente, as prestadas em razão do exercício do mandato, nem
palavras, votos e opiniões sem nenhuma relação com sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles rece-
o desempenho da função não são alcançados pela beram informações.
inviolabilidade. § 7º A incorporação às Forças Armadas de Deputa-
dos e Senadores, embora militares e ainda que em 219
tempo de guerra, dependerá de prévia licença da Art. 53 […]
Casa respectiva. § 7º A incorporação às Forças Armadas de Deputa-
§ 8º As imunidades de Deputados ou Senadores dos e Senadores, embora militares e ainda que em
subsistirão durante o estado de sítio, só podendo tempo de guerra, dependerá de prévia licença da
ser suspensas mediante o voto de dois terços dos Casa respectiva.
membros da Casa respectiva, nos casos de atos pra-
ticados fora do recinto do Congresso Nacional, que Estado de Sítio
sejam incompatíveis com a execução da medida.
Outra garantia prevista no Estatuto do Congressis-
Caso seja determinada a prisão de algum Depu- ta é que a imunidade material e formal dos parlamen-
tado ou Senador após a diplomação, os autos serão tares subsiste no período de exceção constitucional.
enviados para a respectiva casa, para que, pelo voto
Ressalta-se que, ao contrário de toda a população
da maioria de seus membros, seja resolvido sobre a
que terá direitos suspensos e limitados na vigência
prisão; assim, poderá ser determinada a sustação do
do estado de sítio, os deputados e senadores somente
andamento da ação até o final do mandato.
Cumpre mencionar, ainda, que a imunidade for- terão suas garantias suspensas no caso de voto de dois
mal impede a condução coercitiva do parlamentar terços membros da Casa. No entanto, a imunidade que
que se nega a comparecer em interrogatório. poderá ser suspensa é apenas aquela decorrente dos
atos praticados fora da Casa Legislativa e desde que
Prerrogativa de Foro sejam incompatíveis com a execução da garantia.

Outra garantia prevista no Estatuto do Congressis- Art. 53 […]


ta é a prerrogativa de foro. Ela encontra-se estabeleci- § 8º As imunidades de Deputados ou Senadores
da no § 1º, art. 53, que assim estabelece: subsistirão durante o estado de sítio, só podendo
ser suspensas mediante o voto de dois terços dos
membros da Casa respectiva, nos casos de atos pra-
Art. 53 […]
ticados fora do recinto do Congresso Nacional, que
§ 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedição
sejam incompatíveis com a execução da medida.
do diploma, serão submetidos a julgamento peran-
te o Supremo Tribunal Federal. 
Deveres Parlamentares
Por prerrogativa de foro depreende-se a compe-
tência do STF em julgar os parlamentares por todas O Estatuto do Congressista estabelece, no art. 54, os
as infrações penais a eles imputadas, incluindo os ilí- deveres dos deputados e senadores, que são:
citos tipificados como contravenção penal, bem como
aqueles sujeitos à competência de ramos especializa- Art. 54 Os Deputados e Senadores não poderão:
dos da Justiça, como, por exemplo, os crimes eleitorais I - desde a expedição do diploma:
e os crimes dolosos contra a vida. a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídi-
ca de direito público, autarquia, empresa pública,
Importante destacar que o suplente apenas goza
sociedade de economia mista ou empresa conces-
de imunidade e de prerrogativa de foro se estiver
sionária de serviço público, salvo quando o contra-
substituindo o parlamentar titular.
to obedecer a cláusulas uniformes;
b) aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remu-
Dever de Testemunhar nerado, inclusive os de que sejam demissíveis “ad
nutum”, nas entidades constantes da alínea anterior;
O Estatuto do Congressista estabelece, ainda, que II - desde a posse:
os parlamentares não se encontram obrigados a pres- a) ser proprietários, controladores ou diretores de
tar depoimento na condição de testemunha caso a empresa que goze de favor decorrente de contrato
informação recebida ou prestada seja obtida em razão com pessoa jurídica de direito público, ou nela exer-
do mandato. É o que estabelece o § 6º, art. 53. cer função remunerada;
b) ocupar cargo ou função de que sejam demissíveis
Art. 53 […] “ad nutum”, nas entidades referidas no inciso I, “a”;
§ 6º Os Deputados e Senadores não serão obriga- c) patrocinar causa em que seja interessada qual-
dos a testemunhar sobre informações recebidas ou quer das entidades a que se refere o inciso I, “a”;
prestadas em razão do exercício do mandato, nem d) ser titulares de mais de um cargo ou mandato
sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles rece- público eletivo.
beram informações.
Verifica-se no dispositivo que existem direitos
Incorporação às Forças Armadas que o parlamentar adquire desde a sua diplomação,
enquanto outros somente fará jus após a posse.
No caso de guerra declarada, existem regras ati-
nentes à incorporação de brasileiros civis ao Exército, Perda do Mandato
Marinha ou Aeronáutica previstas na Lei nº 6.880, de
1980, também denominada de Estatuto dos Militares. O art. 55 cuida das hipóteses que geram a perda do
No entanto, considerando a importância da função mandato parlamentar. Veja o dispositivo:
parlamentar, o § 7º, art. 53, da CF, de 1988, estabelece
que, no caso dos deputados e senadores, a incorpo- Art. 55 Perderá o mandato o Deputado ou Senador:
ração depende de licença prévia da respectiva Casa I - que infringir qualquer das proibições estabeleci-
Legislativa, ou seja, da autorização desta. das no artigo anterior;
II - cujo procedimento for declarado incompatível
220 com o decoro parlamentar;
III - que deixar de comparecer, em cada sessão legisla- I - discutir e votar projeto de lei que dispensar, na for-
tiva, à terça parte das sessões ordinárias da Casa a que ma do regimento, a competência do Plenário, salvo se
pertencer, salvo licença ou missão por esta autorizada; houver recurso de um décimo dos membros da Casa;
IV - que perder ou tiver suspensos os direitos políticos; II - realizar audiências públicas com entidades
V - quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos da sociedade civil;
previstos nesta Constituição; III - convocar Ministros de Estado para prestar infor-
VI - que sofrer condenação criminal em sentença mações sobre assuntos inerentes a suas atribuições;
transitada em julgado. IV - receber petições, reclamações, representa-
§ 1º - É incompatível com o decoro parlamentar, ções ou queixas de qualquer pessoa contra atos ou
além dos casos definidos no regimento interno, o omissões das autoridades ou entidades públicas;
abuso das prerrogativas asseguradas a membro do V - solicitar depoimento de qualquer autoridade
Congresso Nacional ou a percepção de vantagens ou cidadão;
indevidas. VI - apreciar programas de obras, planos nacio-
§ 2º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do man- nais, regionais e setoriais de desenvolvimento e
dato será decidida pela Câmara dos Deputados ou sobre eles emitir parecer.
pelo Senado Federal, por maioria absoluta, median-
te provocação da respectiva Mesa ou de partido Comissão Parlamentar de Inquérito — CPI
político representado no Congresso Nacional, asse-
gurada ampla defesa. É uma investigação conduzida pelo poder legislativo,
§ 3º Nos casos previstos nos incisos III a V, a per-
que serve para ouvir depoimentos e esclarecimentos sobre
da será declarada pela Mesa da Casa respectiva, de
fatos relevantes da vida pública. Também pode ocorrer
ofício ou mediante provocação de qualquer de seus
durante o recesso parlamentar, ou seja, apura fato certo
membros, ou de partido político representado no
Congresso Nacional, assegurada ampla defesa. por prazo determinado. A CPI tem prazo de duração de
§ 4º A renúncia de parlamentar submetido a pro- 120 dias e, se for o caso, pode ser prorrogado por até 60
cesso que vise ou possa levar à perda do mandato, dias, mediante deliberação do Plenário.
nos termos deste artigo, terá seus efeitos suspensos Para a criação da CPI, é necessário um terço de votos
até as deliberações finais de que tratam os §§ 2º e favoráveis dos Deputados ou Senadores, em conjunto ou
3º. separadamente, ou seja, de pelo menos 171 Deputados
Federais ou de 27 Senadores. Depois de encerrado, se for o
Em contrapartida, o art. 56 elenca as hipóteses que caso, o Ministério Público intervém e promove a responsa-
não ensejam a perda do mandato. bilização civil e criminal dos infratores.
Conforme § 3º, art. 58, da CF, as comissões terão poderes
Art. 56 Não perderá o mandato o Deputado ou de investigação próprios das autoridades judiciais, veja:
Senador:
I - investido no cargo de Ministro de Estado, Gover- § 3º As comissões parlamentares de inquérito, que
nador de Território, Secretário de Estado, do Distri- terão poderes de investigação próprios das
to Federal, de Território, de Prefeitura de Capital ou autoridades judiciais, além de outros previstos
chefe de missão diplomática temporária; nos regimentos das respectivas Casas, serão cria-
II - licenciado pela respectiva Casa por motivo de das pela Câmara dos Deputados e pelo Senado
doença, ou para tratar, sem remuneração, de inte- Federal, em conjunto ou separadamente, mediante
resse particular, desde que, neste caso, o afasta- requerimento de um terço de seus membros, para
mento não ultrapasse cento e vinte dias por sessão a apuração de fato determinado e por prazo certo,
legislativa. sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas
§ 1º O suplente será convocado nos casos de vaga, ao Ministério Público, para que promova a respon-
de investidura em funções previstas neste artigo ou sabilidade civil ou criminal dos infratores.
de licença superior a cento e vinte dias.
§ 2º Ocorrendo vaga e não havendo suplente, far- A seguir, veja uma lista referente ao que pode e o
-se-á eleição para preenchê-la se faltarem mais de que não pode ser realizado pela CPI:
quinze meses para o término do mandato.
§ 3º Na hipótese do inciso I, o Deputado ou Senador
z A CPI pode:
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
poderá optar pela remuneração do mandato.
„ Convocar ministro de Estado;
Comissões
„ Tomar depoimento de autoridade federal, esta-
dual ou municipal;
Comissões são os grupos de parlamentares reuni-
„ Ouvir suspeitos (que têm direito ao silêncio
dos para discutir sobre diversos assuntos, por exem-
para não se incriminar) e testemunhas (que
plo, cabe às comissões convocar Ministros de Estado
têm o compromisso de dizer a verdade e são
para prestar informações sobre assuntos inerentes a
obrigadas a comparecer);
suas atribuições. Veja o art. 58, da CF.
„ Ir a qualquer ponto do território nacional para
investigações e audiências públicas;
Art. 58 O Congresso Nacional e suas Casas terão
„ Prender em flagrante delito;
comissões permanentes e temporárias, constituí-
das na forma e com as atribuições previstas no respec-
„ Requisitar informações e documentos de repar-
tivo regimento ou no ato de que resultar sua criação. tições públicas e autárquicas;
§ 1º Na constituição das Mesas e de cada Comissão, „ Requisitar funcionários de qualquer poder para
é assegurada, tanto quanto possível, a representação ajudar nas investigações, inclusive policiais;
proporcional dos partidos ou dos blocos parlamenta- „ Pedir perícias, exames e vistorias, inclusive
res que participam da respectiva Casa. busca e apreensão (vetada em domicílio);
§ 2º Às comissões, em razão da matéria de sua com- „ Determinar ao Tribunal de Contas da União
petência, cabe: (TCU) a realização de inspeções e auditorias; 221
„ Quebrar sigilo bancário, fiscal e de dados número total de votantes. Quando o candidato mais
(inclusive telefônico, ou seja, extrato de conta e votado não alcança a maioria absoluta, realiza-se
não escuta ou grampo). segundo turno entre os dois mais votados.

z A CPI não pode: Dica


„ Condenar; A maioria absoluta é diferente da maioria sim-
„ Determinar medida cautelar, como prisões, ples. Esta consiste no maior resultado da vota-
indisponibilidade de bens, arresto, sequestro; ção, independentemente de exigência de quórum
„ Determinar interceptação telefônica e quebra percentual relacionado à quantidade total de
de sigilo de correspondência; votantes. Por sua vez, a maioria absoluta consis-
„ Impedir que o cidadão deixe o território nacio- te no primeiro número inteiro superior à metade
nal e determinar apreensão de passaporte; do quórum mínimo exigido (50%+1).
„ Expedir mandado de busca e apreensão domiciliar;
„ Impedir a presença de advogado do depoente Requisitos de Elegibilidade do Presidente e
na reunião (advogado pode: ter acesso a docu- Vice-Presidente
mentos da CPI; falar para esclarecer equívoco
ou dúvida; opor a ato arbitrário ou abusivo;
z Ser brasileiro nato;
ter manifestações analisadas pela CPI até para
z Estar no gozo dos direitos políticos;
impugnar prova ilícita).
z Ter mais de trinta e cinco anos;
z Não ser inelegível;
Sobre a admissibilidade da instauração de CPI, em
z Possuir filiação partidária.
2020, determinado deputado federal insurgiu contra
ato, por meio do qual o Presidente da Câmara dos
Art. 77 A eleição do Presidente e do Vice-Presiden-
Deputados indeferiu pedido de instauração de CPI,
te da República realizar-se-á, simultaneamente, no
destinada a investigar a metodologia de elaboração e primeiro domingo de outubro, em primeiro tur-
divulgação de pesquisas e os reflexos no resultado das no, e no último domingo de outubro, em segundo
eleições. Assim, ao analisar o Mandado de Segurança, turno, se houver, do ano anterior ao do término do
o STF considerou que: mandato presidencial vigente. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 16, de 1997).
É atribuição do Presidente da Câmara aferir o § 1º A eleição do Presidente da República importará
preenchimento dos requisitos atinentes à ins- a do Vice-Presidente com ele registrado.
tauração de comissão parlamentar de inquérito. § 2º Será considerado eleito Presidente o candida-
(MS 33.521, rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
to que, registrado por partido político, obtiver a
15.05.2020, Dje em 24.06.2020) maioria absoluta de votos, não computados os
em branco e os nulos.
§ 3º Se nenhum candidato alcançar maioria abso-
PODER EXECUTIVO luta na primeira votação, far-se-á nova eleição em
até vinte dias após a proclamação do resultado,
concorrendo os dois candidatos mais votados e
O Poder Executivo é o órgão constitucional cuja
considerando-se eleito aquele que obtiver a maioria
função principal, ou típica, é a prática dos atos de
dos votos válidos.
chefia de Estado, de Governo e de Administração,
§ 4º Se, antes de realizado o segundo turno, ocorrer
mas de forma atípica, também legisla por meio da
morte, desistência ou impedimento legal de candi-
edição de Medidas Provisórias e julga contenciosos
dato, convocar-se-á, dentre os remanescentes, o de
administrativos.
maior votação.
§ 5º Se, na hipótese dos parágrafos anteriores, rema-
Art. 76 O Poder Executivo é exercido pelo Presi-
dente da República, auxiliado pelos Ministros de nescer, em segundo lugar, mais de um candidato
Estado. com a mesma votação, qualificar-se-á o mais idoso.
Art. 78 O Presidente e o Vice-Presidente da Repúbli-
Chefe de Estado e Chefe de Governo ca tomarão posse em sessão do Congresso Nacio-
nal, prestando o compromisso de manter, defender
e cumprir a Constituição, observar as leis, pro-
O Brasil adota o presidencialismo, que tem unifi-
mover o bem geral do povo brasileiro, sustentar a
cadas na figura do Presidente da República as funções
união, a integridade e a independência do Brasil.
do Chefe de Estado e Chefe de Governo. Portanto, o
Parágrafo único. Se, decorridos dez dias da data
Poder Executivo brasileiro é monocrático.
fixada para a posse, o Presidente ou o Vice-Presi-
Como chefe de Estado, o presidente representa o
dente, salvo motivo de força maior, não tiver assu-
país nas suas relações internacionais e como chefe de
mido o cargo, este será declarado vago.
governo exerce a liderança nacional, gerindo o país
política e administrativamente.
Ordem de Sucessão Presidencial no Caso de
Eleição do Presidente e Vice-Presidente da Impedimento ou Vacância
República
Em caso de impedimento ou vacância do cargo
O presidente será eleito por maioria absoluta de Presidente, este será substituído pelo: 1) Vice-pre-
de votos, não computados os em branco e os nulos. sidente; 2) Presidente da Câmara dos Deputados; 3)
Entende-se por maioria absoluta: mais que a metade, Presidente do Senado Federal; e 4) Presidente do
222 o número subsequente à metade, ou a metade +1 do Supremo Tribunal Federal, nesta ordem.
Art. 79 Substituirá o Presidente, no caso de impedi- e nomeá-los para os cargos que lhes são privativos;
mento, e suceder-lhe-á, no de vaga, o Vice-Presidente. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23,
Parágrafo único. O Vice-Presidente da República, de 02/09/99)
além de outras atribuições que lhe forem conferidas z Nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os
por lei complementar, auxiliará o Presidente, sem- Ministros do Supremo Tribunal Federal e dos Tri-
pre que por ele convocado para missões especiais. bunais Superiores, os Governadores de Territórios,
Art. 80 Em caso de impedimento do Presidente e do
o Procurador-Geral da República, o presidente e
Vice-Presidente, ou vacância dos respectivos cargos,
os diretores do banco central e outros servidores,
serão sucessivamente chamados ao exercício da Pre-
quando determinado em lei;
sidência o Presidente da Câmara dos Deputados, o
do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal. z Nomear, observado o disposto no art. 73, os Minis-
Art. 81 Vagando os cargos de Presidente e Vice-Pre- tros do Tribunal de Contas da União;
sidente da República, far-se-á eleição noventa dias z Nomear os magistrados, nos casos previstos nesta
depois de aberta a última vaga. Constituição, e o Advogado-Geral da União;
§ 1º Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos z Nomear membros do Conselho da República, nos
do período presidencial, a eleição para ambos os termos do art. 89, VII;
cargos será feita trinta dias depois da última vaga, z Convocar e presidir o Conselho da República e o
pelo Congresso Nacional, na forma da lei. Conselho de Defesa Nacional;
§ 2º Em qualquer dos casos, os eleitos deverão com- z Declarar guerra, no caso de agressão estrangeira,
pletar o período de seus antecessores. autorizado pelo Congresso Nacional ou referenda-
Art. 82 O mandato do Presidente da República é de do por ele, quando ocorrida no intervalo das ses-
quatro anos e terá início em primeiro de janeiro do sões legislativas, e, nas mesmas condições, decretar,
ano seguinte ao da sua eleição (Redação dada pela total ou parcialmente, a mobilização nacional;
Emenda Constitucional nº 16, de 1997).
z Celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do
Art. 83 O Presidente e o Vice-Presidente da Repúbli-
Congresso Nacional;
ca não poderão, sem licença do Congresso Nacio-
nal, ausentar-se do País por período superior a
z Conferir condecorações e distinções honoríficas;
quinze dias, sob pena de perda do cargo. z Permitir, nos casos previstos em lei complementar,
que forças estrangeiras transitem pelo território
ATRIBUIÇÕES DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA E nacional ou nele permaneçam temporariamente;
DOS MINISTROS DE ESTADO z Enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o
projeto de lei de diretrizes orçamentárias e as pro-
Como chefe de Governo e Estado, compete ao Pre- postas de orçamento previstos nesta Constituição;
sidente da República as atribuições e responsabilida- z Prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, den-
des trazidas no artigo 84, CF: tro de sessenta dias após a abertura da sessão legis-
lativa, as contas referentes ao exercício anterior;
z Nomear e exonerar os Ministros de Estado; z Prover e extinguir os cargos públicos federais, na
z Exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a forma da lei;
direção superior da administração federal; z Editar medidas provisórias com força de lei, nos
z Iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos termos do art. 62;
previstos nesta Constituição; z Exercer outras atribuições previstas na CF/88.
z Sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem
como expedir decretos e regulamentos para sua O Presidente da República poderá ainda delegar
fiel execução; as atribuições previstas nos incisos VI, XII e XXV, pri-
z Vetar projetos de lei, total ou parcialmente; meira parte, do art. 84, CF aos Ministros de Estado, ao
z Dispor, mediante decreto, sobre: Procurador-Geral da República ou ao Advogado-Geral
da União, que observarão os limites traçados nas res-
„ Organização e funcionamento da administração pectivas delegações.
federal, quando não implicar aumento de despe-
sa nem criação ou extinção de órgãos públicos; Responsabilidade do Presidente da República

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL


„ Extinção de funções ou cargos públicos, quando
vagos; (Incluída pela Emenda Constitucional nº Os arts. 85 e 86 da Constituição Federal tratam
32, de 2001). sobre os atos do Presidente da República que consis-
tem em crimes de responsabilidade.
z Manter relações com Estados estrangeiros e acre-
ditar seus representantes diplomáticos; Art. 85 São crimes de responsabilidade os atos
z Celebrar tratados, convenções e atos internacio- do Presidente da República que atentem contra a
Constituição Federal e, especialmente, contra:
nais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional;
I - a existência da União;
z Decretar o estado de defesa e o estado de sítio;
II - o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder
z Decretar e executar a intervenção federal;
Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes
z Remeter mensagem e plano de governo ao Con- constitucionais das unidades da Federação;
gresso Nacional por ocasião da abertura da sessão III - o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais;
legislativa, expondo a situação do País e solicitan- IV - a segurança interna do País;
do as providências que julgar necessárias; V - a probidade na administração;
z Conceder indulto e comutar penas, com audiência, VI - a lei orçamentária;
se necessário, dos órgãos instituídos em lei; VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais.
z Exercer o comando supremo das Forças Armadas, Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em
nomear os Comandantes da Marinha, do Exército lei especial, que estabelecerá as normas de proces-
e da Aeronáutica, promover seus oficiais-generais so e julgamento. 223
Art. 86 Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara dos Deputados, será ele
submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o Senado
Federal, nos crimes de responsabilidade.
§ 1º O Presidente ficará suspenso de suas funções:
I - nas infrações penais comuns, se recebida a denúncia ou queixa-crime pelo Supremo Tribunal Federal;
II - nos crimes de responsabilidade, após a instauração do processo pelo Senado Federal.
§ 2º Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o julgamento não estiver concluído, cessará o afastamento do
Presidente, sem prejuízo do regular prosseguimento do processo.
§ 3º Enquanto não sobrevier sentença condenatória, nas infrações comuns, o Presidente da República não estará
sujeito a prisão.
§ 4º O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao
exercício de suas funções.

Acusação contra o Presidente da República (2/3 da Câmara)

z Crime comum (STF):

I - Recebimento da denúncia ou queixa:

„ Suspensão de suas funções, por até 180 dias, com ou sem julgamento.

z Crime de Responsabilidade (SENADO):

I - Instauração do processo:

„ Suspensão de suas funções, por até 180 dias, com ou sem julgamento.

z Crime Comum:

I - Julgamento (STF).

„ Condenação (por maioria): Pena;


„ Absolvição.

z Crime de Responsabilidade:

I - Julgamento no Senado pelo presidente STF (art. 52, p. único, CF):

„ Condenação (por 2/3): Pena de perda do cargo, com inabilitação, até cinco anos, para o exercício de qual-
quer função pública;
„ Absolvição.

Os Ministros de Estado

Os Ministros de Estado são membros auxiliares do Executivo livremente nomeados pelo Presidente, desde que
maiores de 21 anos e em pleno exercício de seus direitos políticos.
Competem aos Ministros a direção do Ministério ou seção administrativa que lhe houver sido confiada. Podem
também referendar atos presidenciais, expedir instruções para a boa execução das leis, decretos e regulamentos
e inclusive, receber delegação do Presidente da República para a realização de atos próprios da chefia do Poder
Executivo.

Art. 87 Os Ministros de Estado serão escolhidos dentre brasileiros maiores de vinte e um anos e no exercício dos
direitos políticos.
Parágrafo único. Compete ao Ministro de Estado, além de outras atribuições estabelecidas nesta Constituição e na
lei:
I - exercer a orientação, coordenação e supervisão dos órgãos e entidades da administração federal na área de sua
competência e referendar os atos e decretos assinados pelo Presidente da República;
II - expedir instruções para a execução das leis, decretos e regulamentos;
III - apresentar ao Presidente da República relatório anual de sua gestão no Ministério;
IV - praticar os atos pertinentes às atribuições que lhe forem outorgadas ou delegadas pelo Presidente da República.
Art. 88 A lei disporá sobre a criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 32, de 2001).

224
respectivamente. Em regra, as decisões proferidas
PODER JUDICIÁRIO pelas Turmas Recursais dos Juizados são definitivas.
Não cabe Recurso Especial contra decisão de Turma
Mais do que o Poder incumbido da função e pres- Recursal (Súmula n. 203, STJ), mas em caso de viola-
tação jurisdicional, é o Poder Judiciário o guardião ção à preceito constitucional é devida a interposição
da Constituição e garantidor dos direitos fundamen- de Recurso Extraordinário ao STF.
tais. A função jurisdicional só pode ser desempenhada Importante também mencionar que a Constituição
pelo Poder Judiciário, único poder capaz de produzir Federal, em tese, reconhece implicitamente apenas 2
decisões que venham se revestir da força de coisa graus de jurisdição, pelo princípio do duplo grau de
julgada. jurisdição. Isso porque, a competência do STJ e STF
não consiste em uma terceira e/ou quarta análise
meritória ou do caso concreto, por meio dos Recur-
DISPOSIÇÕES GERAIS
sos Especiais ou Extraordinários, mas sim, de lesão
ou ameaça a preceitos legais e constitucionais, pelo
O Judiciário não é subordinado ao governo e suas
que não caracterizam necessariamente, instâncias do
principais características são a independência, auto-
judiciário.
nomia e a imparcialidade, fundamentais para que a Entretanto, o caráter recursal das medidas Espe-
lei possa ser aplicada ao caso concreto até mesmo em ciais ou Extraordinárias a que as decisões são subme-
desfavor do governo e da administração. tidas nos Tribunais Superiores, e o entendimento do
A função típica do Poder Judiciário é a prestação próprio STF que o cumprimento da pena deve come-
jurisdicional, mas este também exerce funções atípi- çar após esgotamento de recursos em todas as ins-
cas, legislativas, como a edição de normas regimentais tâncias e, não após decisão de 2ª instância transitada
de seus órgãos, e administrativas, como a concessão em julgado, reforçam a hierarquia das instâncias do
de férias aos seus membros e serventuários e o pro- judiciário e o entendimento de que na prática, o STF
vimento dos cargos de juiz de carreira na respectiva funciona como quarta instância. “O Brasil é o único
jurisdição. país do mundo que tem, na verdade, quatro instân-
Para garantir a independência do exercício da cias recursais. O STF funciona como quarta instância”
jurisdição, os membros do Poder judiciário gozam de (Min. César Peluso, 2010). É o que disse o ex-presiden-
algumas garantias, tais como: vitaliciedade, inamo- te do STF, Min. César Peluso, em entrevista concedida
vibilidade e irredutibilidade de vencimentos. ao Jornal Estadão e publicada pela Associação Nacio-
nal dos Defensores Públicos Federais.
Estrutura do Poder Judiciário Conforme preceitua o art. 92 CF, são, portanto,
órgãos do Poder Judiciário:
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL – STF
11 ministros
Art. 92 [...]
I - o Supremo Tribunal Federal - STF;
STJ I - A o Conselho Nacional de Justiça - CNJ;
33 ministros II - o Superior Tribunal de Justiça - STJ;
II - A - o Tribunal Superior do Trabalho - TST;
III - os Tribunais Regionais Federais e Juízes Fede-
rais - TRFs;
IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho;
Tribunais Turma
Turma Tribunais de
TJM Regionais Recursal V - os Tribunais e Juízes Eleitorais;
Recursal Justiça
Federais Federal VI - os Tribunais e Juízes Militares;
VII - os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito
Federal e Territórios.
Juizados Juizados
Juízes de Juízes e Juízes
Especiais Especiais
Direito Conselhos de Federais
Justiça Militar
Federais O Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional
Estadual de Justiça e os Tribunais Superiores têm sede na Capital
Federal, Brasília e jurisdição em todo o território nacional.
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
TST TSE STM Dica
27 ministros 7 ministros 15 ministros
O CNJ é um órgão do Poder Judiciário, entretan-
to, goza de autonomia e independência e não
está hierarquicamente subordinado a nenhum
TRT TRE
outro órgão de nenhuma das instâncias. Tam-
bém não está acima do STF ou abaixo dele,
pois exerce a fiscalização dos atos de todos os
Juízes do Juízes
Juízes e Conselhos outros órgãos e o controle disciplinar de todos
de Justiça Militar
Trabalho Eleitorais
da União os membros do Judiciário.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ)


Justiça Comum CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA – CNJ
Justiça Especial 15 conselheiros
Segundo conceitua o próprio site do CNJ (2020), o
Conselho Nacional de Justiça (CNJ) é uma instituição
As Turmas Recursais e as Turmas Recursais Fede- pública que visa aperfeiçoar o trabalho do sistema judi-
rais são órgãos revisores exclusivos das decisões ciário brasileiro, principalmente no que diz respeito ao
dos Juizados Especiais e Juizados Especiais Federais, controle e à transparência administrativa e processual, 225
desenvolvendo políticas judiciárias que promovam a Estruturalmente, dada sua natureza jurídica.
efetividade e a unidade do Poder Judiciário, orientadas Existem divergências quanto ao pertencimento ou
para os valores de justiça e paz social, impulsionando enquadramento do Ministério Público nos Poderes da
cada vez mais a efetividade da Justiça brasileira. República. Muito embora alguns estudiosos acreditem
Criado com a Emenda Constitucional nº 45, o Con- que o MP faça parte do Executivo – e não do Judiciário,
selho Nacional de Justiça é composto por 15 (quinze) é corrente majoritária que o Parquet esteja fora da
membros com mandato de 2 (dois) anos, admitida 1 estrutura dos demais poderes da República, dada sua
(uma) recondução, nos termos do art. 103-B, CF, sendo: função de custos legis, ou fiscal da lei, consagrando-se
o Presidente do Supremo Tribunal Federal; um Minis- sua total autonomia e independência para o cumpri-
tro do Superior Tribunal de Justiça, indicado pelo res- mento de suas funções sempre em defesa dos direitos,
pectivo tribunal; um Ministro do Tribunal Superior garantias e prerrogativas da sociedade. Isso, até mes-
do Trabalho, indicado pelo respectivo tribunal; um mo porque é a própria Constituição Federal que prevê
desembargador de Tribunal de Justiça, indicado pelo expressamente a sua autonomia e independência fun-
Supremo Tribunal Federal; um juiz estadual, indicado cional, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 127, CF.
pelo Supremo Tribunal Federal; um juiz de Tribunal
Regional Federal, indicado pelo Superior Tribunal de Como defensor da ordem jurídica, o Ministério Públi-
Justiça; um juiz federal, indicado pelo Superior Tribu- co é o fiscal da lei, ou seja, trabalha para que ela seja
nal de Justiça; um juiz de Tribunal Regional do Tra- fielmente cumprida. Para tanto, possui autonomia
balho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho; funcional, administrativa e financeira, não fazendo
um juiz do trabalho, indicado pelo Tribunal Superior parte nem estando subordinado aos Poderes Execu-
do Trabalho; um membro do Ministério Público da tivo, legislativo ou Judiciário (MPMG, 2020).
União, indicado pelo Procurador-Geral da República;
um membro do Ministério Público estadual, escolhido Assim, constitucionalmente, o Ministério Públi-
pelo Procurador-Geral da República dentre os nomes co abrange duas grandes Instituições, sem que haja
indicados pelo órgão competente de cada instituição qualquer relação de hierarquia e subordinação entre
estadual; dois advogados, indicados pelo Conselho elas: o Ministério Público da União, que compreen-
Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; dois cida- de o Ministério Público Federal, o Ministério Público
dãos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, do Trabalho; o Ministério Público Militar, o Ministério
indicados um pela Câmara dos Deputados e outro pelo Público do Distrito Federal e Territórios; e o Ministé-
Senado Federal. É sempre presidido pelo Presidente rio Público dos Estados (MORAES, 2018).
do STF e seus conselheiros devem: Os membros do Ministério Público Federal são os
procuradores da República e os do Ministério Público
dos Estados e do Distrito Federal são os Promotores e
z Elaborar projetos, propostas ou estudos sobre maté-
Procuradores de Justiça.
rias de competência do CNJ e apresentá-los nas ses-
São princípios institucionais do Ministério Público:
sões plenárias ou reuniões de Comissões, observada
a pauta fixada pelos respectivos Presidentes;
z A unidade;
z Requisitar de quaisquer órgãos do Poder Judiciá-
z A indivisibilidade;
rio, do CNJ e de outras autoridades competentes as
z A independência funcional;
informações e os meios que considerem úteis para
z O princípio do promotor natural.
o exercício de suas funções;
z Propor à Presidência a constituição de grupos de
trabalho ou Comissões necessários à elaboração de Ao Ministério Público compete a função de custos
legis (fiscal da lei), a defesa do patrimônio público e os
estudos, propostas e projetos a serem apresenta-
direitos constitucionais do cidadão, além de ter poder
dos ao Plenário do CNJ;
investigativo, dentre tantas outras funções de grande
z Propor a convocação de técnicos, especialistas, repre-
relevância elencadas no art. 129, CF e na Lei Orgânica
sentantes de entidades ou autoridades para prestar
Nacional do Ministério Público (Lei nº 8.625/93).
os esclarecimentos que o CNJ entenda convenientes;
z Pedir vista dos autos de processos em julgamento;
Art. 129. São funções institucionais do Ministério
z Participar das sessões plenárias para as quais
Público:
forem regularmente convocados;
I - promover, privativamente, a ação penal pública,
z Despachar, nos prazos legais, os requerimentos ou na forma da lei;
expedientes que lhes forem dirigidos; II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos
z Desempenhar as funções de Relator nos processos e dos serviços de relevância pública aos direitos
que lhes forem distribuídos (CNJ, 2020). assegurados nesta Constituição, promovendo as
medidas necessárias a sua garantia;
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública,
para a proteção do patrimônio público e social, do meio
ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;
FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou
representação para fins de intervenção da União e
MINISTÉRIO PÚBLICO dos Estados, nos casos previstos nesta Constituição;
V - defender judicialmente os direitos e interesses
“O Ministério Público é instituição permanente, das populações indígenas;
essencial à função jurisdicional do Estado, incum- VI - expedir notificações nos procedimentos admi-
bindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime nistrativos de sua competência, requisitando infor-
democrático e dos interesses sociais e individuais mações e documentos para instruí-los, na forma da
226 indisponíveis” (MORAES, 2018, p. 791). lei complementar respectiva;
VII - exercer o controle externo da atividade poli- as atividades de consultoria e assessoramento jurí-
cial, na forma da lei complementar mencionada no dico do Poder Executivo.
artigo anterior; § 1º A Advocacia-Geral da União tem por chefe o
VIII - requisitar diligências investigatórias e a ins- Advogado-Geral da União, de livre nomeação pelo
tauração de inquérito policial, indicados os funda- Presidente da República dentre cidadãos maiores
mentos jurídicos de suas manifestações processuais; de trinta e cinco anos, de notável saber jurídico e
IX - exercer outras funções que lhe forem conferi- reputação ilibada.
das, desde que compatíveis com sua finalidade, § 2º O ingresso nas classes iniciais das carreiras da
sendo-lhe vedada a representação judicial e a con- instituição de que trata este artigo far-se-á median-
sultoria jurídica de entidades públicas. te concurso público de provas e títulos.
§ 1º - A legitimação do Ministério Público para as § 3º Na execução da dívida ativa de natureza tri-
ações civis previstas neste artigo não impede a de butária, a representação da União cabe à Procu-
terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo o dispos-
radoria-Geral da Fazenda Nacional, observado o
to nesta Constituição e na lei.
disposto em lei.
§ 2º As funções do Ministério Público só podem ser
exercidas por integrantes da carreira, que deverão
residir na comarca da respectiva lotação, salvo Também os Estados-Membros e o Distrito Federal
autorização do chefe da instituição (Redação dada têm seus advogados, chamados de Procuradores do
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). Estado.
§ 3º O ingresso na carreira do Ministério Público
far-se-á mediante concurso público de provas e Art. 132 Os Procuradores dos Estados e do Dis-
títulos, assegurada a participação da Ordem dos trito Federal, organizados em carreira, na qual o
Advogados do Brasil em sua realização, exigindo- ingresso dependerá de concurso público de provas
-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de e títulos, com a participação da Ordem dos Advo-
atividade jurídica e observando-se, nas nomeações, gados do Brasil em todas as suas fases, exercerão a
a ordem de classificação.    representação judicial e a consultoria jurídica das
respectivas unidades federadas (Redação dada pela
ADVOCACIA Emenda Constitucional nº 19, de 1998).
Parágrafo único. Aos procuradores referidos nes-
Art. 133. O advogado é indispensável à administra- te artigo é assegurada estabilidade após três anos
ção da Justiça, sendo inviolável por seus atos e mani- de efetivo exercício, mediante avaliação de desem-
festações no exercício da profissão, nos limites da lei. penho perante os órgãos próprios, após relatório
circunstanciado das corregedorias (Redação dada
Logo, sem advogado não há justiça. A finalidade pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998).
primordial da advocacia é a orientação jurídica e a
defesa do cidadão em todos os graus. Para atuar, o
bacharel em Direito deve estar regularmente inscri-
to e ativo nos quadros da Ordem dos Advogados do
Importante!
Brasil, entidade sui generis, que presta serviço público Não confunda Advocacia Pública com Advoca-
independente e relevante ao Direito brasileiro. cia gratuita ou Assistência Judiciária. A asses-
A presença do advogado pode ser dispensada, soria jurídica prestada gratuitamente ao cidadão
embora desaconselhável, como se observa, nos juiza-
se dá pela Defensoria Pública ou por órgãos de
dos especiais, para a impetração do habeas corpus, na
assistência judiciária, normalmente municipais,
Justiça do Trabalho, para a propositura de ações revi-
sionais, nas hipóteses da Súmula Vinculante nº 5 etc. que contratam profissionais para tal fim, ou ain-
O advogado se submete ao Estatuto da Advocacia, da, por nomeação de advogados dativos feita
ao Código de Ética e ao Regimento da OAB e goza de pelos Tribunais. Também não se pode confundir
imunidade no exercício de sua profissão, entretanto, Procuradores do Estado com Procuradores de
tal inviolabilidade, por seus atos e manifestações no Justiça ou Procuradores da República, que não
exercício da profissão, não é absoluta, devendo se são advogados, mas sim membros do Ministério

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL


sujeitar aos limites legais e morais. Público Estadual e Federal.

Advocacia Pública
DEFENSORIAS PÚBLICAS
A Advocacia Pública é a instituição que representa
a União, judicial e extrajudicialmente, que, assim como Função essencial individualizada da advocacia pela
todo ente jurídico, têm seus problemas e interesses, Emenda Constitucional nº 80, de 2014, a Defensoria
que precisam ser defendidos perante o Poder Público. Pública é instituição permanente do Estado, que também
Assim, é a Advocacia-Geral da União, chefiada por um tem como finalidade primordial a orientação jurídica e
Advogado-Geral da União, de livre nomeação pelo Pre- a defesa do cidadão em todos os graus, caracterizando-
sidente da República, entre cidadãos maiores de trinta e -se por garantir o acesso à justiça aos mais necessitados.
cinco anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada Possui autonomia funcional e administrativa, com-
e integrada por muitos advogados que atuam vincula-
petindo-lhe a promoção dos direitos humanos, a defesa,
dos e subordinados à defesa dos interesses da nação.
em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos
individuais e coletivos e a orientação jurídica dos cida-
Art. 131 A Advocacia-Geral da União é a instituição
que, diretamente ou através de órgão vinculado, dãos que não possuem recursos financeiros suficientes
representa a União, judicial e extrajudicialmente, para a contratação de um advogado particular.
cabendo-lhe, nos termos da lei complementar que
dispuser sobre sua organização e funcionamento, 227
A independência funcional no desempenho de suas Dica
atribuições, a inamovibilidade, a irredutibilidade de As forças armadas estão inseridas na estrutura
vencimentos e a estabilidade são também garantias do Poder Executivo.
dos defensores públicos. São princípios institucionais
da Defensoria Pública: Os membros das forças armadas são denomina-
dos como militares e tem função subsidiária, ou seja,
z A unidade; desempenham funções que originalmente são de
z A indivisibilidade; competência das forças da segurança pública (polícia
z A independência funcional. federal, civil e militar dos estados e DF).
Ainda, conforme dispõe o art. 142 do texto constitu-
O ingresso na carreira de defensor também deve cional, as forças armadas estão sob a autoridade supre-
se dar por concurso público. ma do Presidente da República, e destinam-se à defesa
Diante da omissão constitucional sobre a neces- da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por
sidade de o defensor público continuar inscrito nos iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
quadros da OAB, dada a similitude das atividades da
Defensoria Pública com a advocacia, discute-se nos FORÇAS ARMADAS
Tribunais superiores a obrigatoriedade da inscrição PRESIDENTE DA REPÚBLICA É AUTORIDADE
na OAB para os defensores públicos. SUPREMA
MARINHA EXÉRCITO AERONÁUTICA
Art. 134 A Defensoria Pública é instituição perma-
nente, essencial à função jurisdicional do Estado,
incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do Internamente são subordinadas aos seus respecti-
regime democrático, fundamentalmente, a orienta- vos comandantes, integrados no Ministério da Defesa
ção jurídica, a promoção dos direitos humanos e a com obediência ao Presidente da República. Assim, as
defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos patentes são conferidas pelo Presidente da República,
direitos individuais e coletivos, de forma integral e entretanto a perda desta só ocorrerá se for julgado
gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV indigno do oficialato ou com ele incompatível, por
do art. 5º desta Constituição Federal (Redação dada decisão de tribunal militar de caráter permanente,
pela Emenda Constitucional nº 80, de 2014). em tempo de paz, ou de tribunal especial, em tempo
§ 1º Lei complementar organizará a Defensoria de guerra, conforme incisos I e VI do art. 142 da CF,
Pública da União e do Distrito Federal e dos Territó- de 1988.
rios e prescreverá normas gerais para sua organiza- Aos militares é proibida a sindicalização e greve.
ção nos Estados, em cargos de carreira, providos, na Ainda, no serviço ativo não pode estar filiado a parti-
classe inicial, mediante concurso público de provas do político.
e títulos, assegurada a seus integrantes a garantia STF já se posicionou sobre o tema:
da inamovibilidade e vedado o exercício da advoca-
cia fora das atribuições institucionais (Renumerado z O exercício do direito de greve, sob qualquer for-
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). ma ou modalidade, é vedado aos policiais civis e
§ 2º Às Defensorias Públicas Estaduais são assegura- a todos os servidores públicos que atuem direta-
das autonomia funcional e administrativa e a inicia- mente na área de segurança pública;
tiva de sua proposta orçamentária dentro dos limites z É obrigatória a participação do poder público em
estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias e mediação instaurada pelos órgãos classistas das
subordinação ao disposto no art. 99, § 2º (Incluído carreiras de segurança pública, nos termos do art.
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). 165 do CPC, para vocalização dos interesses da cate-
§ 3º Aplica-se o disposto no § 2º às Defensorias goria. (STF. ARE 654.432, rel. Min. Alexandre de
Públicas da União e do Distrito Federal (Incluído Moraes, j. 5-4-2017, P, DJE de 11.60.2018, Tema 541)
pela Emenda Constitucional nº 74, de 2013).
§ 4º São princípios institucionais da Defensoria Conforme dispõe o § 2º do art. 142 da CF, não cabe
Pública a unidade, a indivisibilidade e a indepen- habeas corpus em caso de punição militar, sendo que
dência funcional, aplicando-se também, no que cou- este segue as próprias regras de hierarquia e disciplina.
ber, o disposto no art. 93 e no inciso II do art. 96 Mas cuidado! A doutrina e jurisprudência enten-
desta Constituição Federal (Incluído pela Emenda de que se aplica o mencionado dispositivo quanto ao
Constitucional nº 80, de 2014). mérito das punições militares, ou seja, quando for
o caso de ilegalidade dos pressupostos, como com-
petência e cumprimento de regras estabelecidas no
regulamento militar é cabível a impetração de habeas
corpus para análise do poder judiciário.
DAS FORÇAS ARMADAS
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. MATÉRIA CRIMI-
As forças armadas estão consagradas no título V da
NAL. PUNIÇÃO DISCIPLINAR MILITAR. Não há
Constituição Federal, conforme art. 142, as forças arma- que se falar em violação ao art. 142, § 2º, da CF, se
das são constituídas pela Marinha, Exército e Aeronáu- a concessão de habeas corpus, impetrado con-
tica, a qual são instituições nacionais permanentes e tra punição disciplinar militar, volta-se tão-so-
regulares, organizadas com base na hierarquia e dis- mente para os pressupostos de sua legalidade,
ciplina, sob autoridade do Presidente da República. As excluindo a apreciação de questões referentes
funções das forças armadas, além da defesa da pátria, ao mérito. Concessão de ordem que se pautou pela
também englobam a defesa do estado e das instituições apreciação dos aspectos fáticos da medida punitiva
democráticas (garantidoras da lei e da ordem). militar, invadindo seu mérito. A punição disciplinar
228 militar atendeu aos pressupostos de legalidade,
quais sejam, a hierarquia, o poder disciplinar, o ato penais federal, estadual e distrital, esta última acres-
ligado à função e a pena susceptível de ser aplica- centada pela Emenda Constitucional nº 104, de 2019.
da disciplinarmente, tornando, portanto, incabível Conforme o § 8º do art. 144 da CF os municípios
a apreciação do habeas corpus. Recurso conhecido podem constituir guardas municipais destinados à pro-
e provido. (STF. RE 338.840, rel. min. Ellen Gracie, teção de seus bens, serviços e instalações (deve atuar
Segunda Turma, DJ de 12.09.2003) somente na municipalidade). Cuidado! Esse órgão não
integra a estrutura de segurança pública para exercer
A Constituição também prevê o serviço militar a função de polícia ostensiva.
obrigatório, conforme art. 143, entretanto o inciso Para o STF os órgãos que compõe a segurança
VIII do art. 5º desobriga o alistado do serviço militar pública estão relacionados nos incisos I ao VI do art.
por motivo de crença religiosa, convicção filosófica ou 144 da CF, sendo esse rol taxativo, ou seja, não podem
política, desde que cumpra prestação alternativa, que os municípios ou estados criarem outros órgãos para
é de competência das forças armadas atribuir. integrarem à segurança pública.

Art. 143 O serviço militar é obrigatório nos termos Art. 144 A segurança pública, dever do Estado,
da lei. direito e responsabilidade de todos, é exercida para
§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, a preservação da ordem pública e da incolumidade
atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes
paz, após alistados, alegarem imperativo de cons- órgãos:
ciência, entendendo-se como tal o decorrente de I - polícia federal;
crença religiosa e de convicção filosófica ou políti- II - polícia rodoviária federal;
ca, para se eximirem de atividades de caráter essen- III - polícia ferroviária federal;
cialmente militar. IV - polícias civis;
§ 2º - As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do V - polícias militares e corpos de bombeiros
serviço militar obrigatório em tempo de paz, sujei- militares.
tos, porém, a outros encargos que a lei lhes atribuir. VI - polícias penais federal, estaduais e distrital.

Exemplo prático de uso das Forças Armadas: Sobre o Departamento de Trânsito o STF já manifestou:
Em 20/10/2020 foi publicado no DOU decreto pre-
sidencial que autoriza o uso das Forças Armadas nas Os Estados-membros, assim como o Distrito Fede-
eleições municipais de 2020. ral, devem seguir o modelo federal. O art. 144 da
O objeto é garantir a ordem pública durante a Constituição aponta os órgãos incumbidos do exer-
votação e segurança do processo eleitoral. cício da segurança pública. Entre eles não está o
Departamento de Trânsito. Resta, pois, vedada aos
DECRETO Nº 10.522, DE 19 DE OUTUBRO DE 2020 Estados-membros a possibilidade de estender o rol,
Autoriza o emprego das Forças Armadas para a que esta Corte já firmou ser numerus clausus, para
garantia da ordem pública durante a votação e a alcançar o Departamento de Trânsito.
apuração das eleições de 2020. [ADI 1.182, voto do rel. min. Eros Grau, j. 24-11-
2005, P, DJ de 10-3-2006.]
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , no uso das atribui- Vide ADI 2.827, rel. min. Gilmar Mendes, j. 16-9-
ções que lhe confere o art. 84, caput , incisos IV e XIII, 2010, P, DJE de 6-4-2011
da Constituição, e tendo em vista o disposto no art. 15
da Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999, e no Serviços da segurança pública são custeados
art. 23, caput , inciso XIV, da Lei nº 4.737, de 15 de julho mediante impostos, sendo que não é permitida a cria-
de 1965 - Código Eleitoral, DECRETA: ção de taxa para esta finalidade, ainda, a remunera-
ção dos servidores será exclusivamente por subsídio
Art. 1º Fica autorizado o emprego das Forças Arma- fixado em parcela única, na forma do § 4º do art. 39
das para a garantia da ordem pública durante a vota- da CF, de 1988.
ção e a apuração das eleições de 2020.

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL


Art. 2º As localidades e o período de emprego das Art. 39 A União, os Estados, o Distrito Federal e
Forças Armadas serão definidos conforme os ter- os Municípios instituirão conselho de política de
mos de requisição do Tribunal Superior Eleitoral. administração e remuneração de pessoal, integra-
Art. 3º Este Decreto entra em vigor na data de sua do por servidores designados pelos respectivos
publicação. Poderes. [...]
§ 4º O membro de Poder, o detentor de mandato
eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários
Estaduais e Municipais serão remunerados exclu-
sivamente por subsídio fixado em parcela úni-
DA SEGURANÇA PÚBLICA ca, vedado o acréscimo de qualquer gratificação,
adicional, abono, prêmio, verba de representação
A segurança pública é dever do Estado, direito e ou outra espécie remuneratória, obedecido, em
responsabilidade de todos, a qual objetiva a preserva- qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI.
ção da ordem pública e da incolumidade de pessoas e
do patrimônio, conforme consagra o art. 144 do texto z Polícia Federal (art. 144, § 1º da CF) é órgão per-
constitucional. manente, organizado e mantido pela União. Exer-
É exercido por meio de órgãos federais e esta- ce a função de polícia judiciária da União, que está
duais como a polícia federal, polícia rodoviária fede- disposto nos incisos I ao IV, vejamos:
ral, polícia ferroviária federal, polícias civis, polícias
militares, o corpo de bombeiros militares e as polícias 229
Art. 144 [...] z Polícias militares e Corpo de Bombeiros Militar
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão (art. 144, § 5º da CF): as polícias militares cabem
permanente, organizado e mantido pela União e à polícia ostensiva sendo atribuído a preservação
estruturado em carreira, destina-se a: da ordem pública e ao corpo de bombeiros milita-
I - apurar infrações penais contra a ordem polí- res objetivam a execução das atividades de defesa
tica e social ou em detrimento de bens, serviços e civil, prevenção e combate a incêndios, buscas e
interesses da União ou de suas entidades autárqui- salvamentos públicos.
cas e empresas públicas, assim como outras infra-
ções cuja prática tenha repercussão interestadual
ou internacional e exija repressão uniforme, segun-
Ainda, conforme consagra § 6º do art. 144 da CF
do se dispuser em lei; ambos “subordinam-se, juntamente com as polícias
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entor- civis e as polícias penais estaduais e distrital, aos
pecentes e drogas afins, o contrabando e o des- Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos
caminho, sem prejuízo da ação fazendária e de Territórios”.
outros órgãos públicos nas respectivas áreas de
competência; z Polícias Penais Federal, estaduais e distrital
(art. 144 § 5º-A) foi incluído pela Emenda Consti-
Conforme considerações do STF, na busca e apreen- tucional nº 104 de 2019, às polícias penais cabe à
são de tráfico de drogas o cumprimento da ordem segurança dos estabelecimentos penais, vincula-
judicial pela polícia militar não contamina o flagrante das ao órgão administrador do sistema penal da
e a busca e apreensão realizadas. unidade federativa a que pertencem.

Art. 144 [...]


III - exercer as funções de polícia marítima, aero-
portuária e de fronteiras; HORA DE PRATICAR!
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polí-
cia judiciária da União. 1. (IDECAN — 2021) É correto apontar como objetivo
fundamental que constitui a República Federativa do
z Polícia Rodoviária Federal (art. 144, § 2º da CF) Brasil
é órgão permanente, organizado e mantido pela
União, tem como função o patrulhamento ostensi- a) a prevalência dos direitos humanos.
vo das rodovias federais; b) a não intervenção.
z Polícia Ferroviária Federal (art. 144, § 3º da CF) c) a defesa da paz.
é órgão permanente, organizado e mantido pela d) a erradicação da pobreza e da marginalização.
União, tem como função o patrulhamento ostensi- e) a autodeterminação dos povos.
vo das ferrovias federais.
2. (IDECAN — 2021) Conforme ensina o artigo 1º. da
A Polícia Ferroviária Federal surgiu no Brasil em Constituição, vários são os fundamentos que a regem.
1852 por Decreto Imperial, nessa época era denomi- Nas alternativas a seguir estão listados esses funda-
nada como “Polícia dos Caminhos de Ferro” e tinha o mentos, À EXCEÇÃO DE UMA. Assinale-a.
objetivo de cuidar das riquezas que eram transporta-
das pelos trilhos de ferro. a) soberania
Entretanto, apesar de ter autorização na atual b) cidadania
constituição, hoje essa polícia não existe de fato. c) autodeterminação dos povos
d) dignidade da pessoa humana
z Polícias Civis (art. 144, § 4º da CF) são dirigidas
por delegados de carreiras e subordinadas aos 3. (IDECAN — 2021) A Constituição Federal estabelece
Governadores dos estados ou DF têm função de princípios importantes para serem obedecidos não
polícia judiciária (exercício da segurança pública) somente dentro da República Federativa do Brasil,
e apuração de infrações penais, salvo as militares. mas, também, em suas relações internacionais. É o
caso, por exemplo, do princípio da
Art. 144 [...]
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de
a) intervenção estatal.
polícia de carreira, incumbem, ressalvada a compe-
b) prevalência dos direitos humanos.
tência da União, as funções de polícia judiciária e a
apuração de infrações penais, exceto as militares.
c) promoção do desenvolvimento nacional.
d) proibição do asilo político.
Fique atento que o art. 144 § 4º não menciona a ati-
vidade penitenciária como atividade da polícia civil. 4. (IDECAN — 2022) A Constituição Brasileira estabele-
A Constituição do Brasil – art. 144, § 4º – define ce que “compete à União desapropriar por interesse
incumbirem às polícias civis “as funções de polícia social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que
judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as não esteja cumprindo sua função social, mediante
militares”. Não menciona a atividade penitenciária, prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária,
que diz com a guarda dos estabelecimentos prisionais; com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis
não atribui essa atividade específica à polícia civil. no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de
(STF. ADI 3.916, rel. min. Eros Grau, DJE de 14-5-2010). sua emissão, e cuja utilização será definida em lei.”

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm

230
Especificamente, no tocante à desapropriação por c) direitos humanos.
interesse social, qual regra não está especificamente d) garantias coletivas.
prevista na Constituição Brasileira de 1988?
9. (IDECAN — 2021) A licença à gestante é um direito de
a) As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas toda trabalhadora urbana ou rural, sendo concedida
em títulos precatórios. sem prejuízo do emprego e do salário. A duração des-
b) São isentas de impostos federais, estaduais e munici- sa licença, conforme prevê a Constituição Federal, não
pais as operações de transferência de imóveis desa- pode ser inferior a
propriados para fins de reforma agrária.
c) O orçamento fixará anualmente o volume total de títulos a) cento e vinte dias.
da dívida agrária, assim como o montante de recursos b) trinta dias.
para atender ao programa de reforma agrária no exercício. c) sessenta dias.
d) Cabe à lei complementar estabelecer procedimento d) noventa dias.
contraditório especial, de rito sumário, para o proces-
so judicial de desapropriação. 10. (IDECAN — 2020) Assinale a única alternativa que não
e) O decreto que declarar o imóvel como de interesse contemple um direito social previsto na Constituição
social, para fins de reforma agrária, autoriza a União a Federal.
propor a ação de desapropriação.
a) direito ao lazer
5. (IDECAN — 2022) Neste interim, qual especificidade, b) direito à previdência social
vinculada ao associativismo, não está prevista no arti- c) direito à alimentação
go quinto da Constituição Brasileira? d) direito à ampla defesa
e) direito à educação
a) As entidades associativas, quando expressamente
autorizadas, têm legitimidade para representar seus 11. (IDECAN — 2021) Se o Município X e o Município Y
filiados judicial ou extrajudicialmente. resolverem acertar uma fusão para formarem o Muni-
b) É plena a liberdade de associação para fins ilícitos, cípio Z, a Constituição Federal exige que haja
vedada a de caráter paramilitar.
c) Ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a per- a) referendo popular.
manecer associado. b) plebiscito.
d) As associações só poderão ser compulsoriamente c) aprovação por lei complementar estadual.
dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por deci- d) a divulgação de estudos de viabilidade municipal, apre-
são judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito sentados e publicados na forma de lei complementar
em julgado. federal.
e) A criação de associações e, na forma da lei, a de coo-
perativas independem de autorização, sendo vedada a 12. (IDECAN — 2021) A respeito da repartição de compe-
interferência estatal em seu funcionamento. tências entre a União, Estados, Distrito Federal e Muni-
cípios é correto afirmar que
6. (IDECAN — 2021) A respeito das associações é corre-
to afirmar que a) a competência para legislar sobre direito tributário é
exclusiva da União.
a) a liberdade de associação é plena e irrestrita. b) a competência para legislar sobre direito financeiro é
b) decisão judicial passível de reforma pode dissolver concorrente entre União, Estados e Distrito Federal.
uma associação. c) a competência para legislar sobre proteção à infância
c) podem ter suas atividades suspensas após decisão e à juventude é concorrente entre União, Estados, Dis-
judicial. trito Federal e Municípios.
d) ao se filiar, o associado confere poderes implícitos d) a competência para legislar sobre procedimentos em
para ser representado judicialmente pela associação. matéria processual é exclusiva dos Estados e Distrito
e) a criação de uma associação depende de autorização. Federal.
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
e) a competência para legislar sobre juntas comerciais é
7. (IDECAN — 2021) Conforme prediz a Constituição, é exclusiva da União.
um direito social
13. (IDECAN — 2021) Em 2019, a Constituição Federal
a) o meio ambiente equilibrado. contemplou, no âmbito da segurança pública, a cria-
b) a proteção à juventude. ção das polícias penais, em prol da preservação da
c) a liberdade religiosa. ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
d) a alimentação. patrimônio. Nesse caso, é correto afirmar que a polícia
e) a autodeterminação. penal pode ser

8. (IDECAN — 2021) A educação, a saúde, a alimentação, a) apenas distrital.


o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a seguran- b) municipal ou federal.
ça e a previdência social são considerados direitos c) apenas estadual.
que geram deveres para o Poder Público. Pela sua d) federal, estadual ou distrital.
importância, eles são reconhecidos constitucional-
mente como 14. (IDECAN — 2021) A fiscalização do Município feita
pelo Poder Legislativo Municipal, através da Câmara
a) garantias sociais. Municipal com o auxílio da Corte de Contas, represen-
b) direitos sociais. ta modalidade de controle 231
a) interna corporis. c) Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado,
b) externo. por crime ocorrido após a diplomação, o Supremo Tri-
c) interno. bunal Federal dará ciência à Casa respectiva, que, por
d) misto. iniciativa de partido político nela representado e pelo
voto da maioria de seus membros, poderá, até a deci-
15. (IDECAN — 2021) Acerca do papel do Município na são final, sustar o andamento da ação.
saúde, na assistência social e na educação, analise as d) Os Magistrados e Membros do Ministério Público
afirmativas abaixo: somente poderão ser presos em flagrante de crime
inafiançável, e suas prisões deverão ser, imediatamen-
I. Como a saúde é direito de todos e dever do Estado, o te, comunicadas ao Presidente do Tribunal a que esti-
Município pode destinar recursos públicos para auxí- ver vinculado o Juiz e ao Procurador-Geral, no caso de
lios ou subvenções às instituições públicas ou priva- membros do Ministério Público.
das, com ou sem fins lucrativos. e) O pedido de sustação do andamento da ação por cri-
II. As ações governamentais na área da assistência me ocorrido após a diplomação de Senador ou Depu-
social serão organizadas com base na descentraliza- tado Federal será apreciado pela Casa respectiva no
ção político-administrativa, cabendo a coordenação e prazo improrrogável de trinta dias do seu recebimento
as normas gerais à esfera federal e a coordenação e a pela Mesa Diretora.
execução dos respectivos programas às esferas esta-
dual e municipal, bem como a entidades beneficentes 18. (IDECAN — 2021) Sobre as atribuições do Presidente
e de assistência social. da República, assinale a afirmativa incorreta.
III. Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fun-
damental e na educação infantil. a) Compete privativamente ao Presidente da República
decretar o estado de defesa e o estado de sítio.
Assinale b) Cabe ao Presidente da República conceder indulto e
comutar penas.
a) se somente a afirmativa I estiver correta. c) O Presidente da República não pode executar a inter-
b) se somente as afirmativas I e II estiverem corretas. venção federal.
c) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas. d) O Advogado-Geral da União é necessariamente
d) se todas as afirmativas estiverem corretas. nomeado pelo Presidente da República.

16. (IDECAN — 2021) Sabe-se que o Senado Federal é 19. (IDECAN — 2021) Nos termos do art. 129 da Consti-
composto de representantes dos Estados e do Dis- tuição da República Federativa do Brasil, é função do
trito Federal, eleitos segundo o princípio majoritário. Ministério Público
No caso de determinado candidato ser eleito Senador,
pode-se afirmar que ele terá a) promover, privativamente, a Ação Civil Pública.
b) zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos
a) a partir de três suplentes. serviços de relevância pública aos direitos assegura-
b) somente dois suplentes. dos na Constituição.
c) no máximo três suplentes. c) opinar sobre a decretação da intervenção federal.
d) a partir de dois suplentes. d) apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de
admissão de pessoal na administração direta e indireta.
17. (IDECAN — 2021) Quando se estudam temas proces- e) realizar a consultoria jurídica do Poder Legislativo.
suais penais como prisão, ação penal e processo,
algumas regras constitucionais devem ser observa- 20. (IDECAN — 2021) Aos integrantes da Defensoria Pública
das, especialmente relativas à pessoa que ocupe car- é garantido:
go com prerrogativa de função. Nessas hipóteses,
a Constituição Federal e algumas Leis Orgânicas I. provimento dos cargos de carreira, na classe inicial,
nacionais estabelecem normas claras que devem ser mediante concurso público de provas e títulos;
cumpridas para dar regular andamento processual de II. exercício de função essencial à Justiça com o objetivo
acordo com o devido processo legal. de defender os direitos individuais dos autossuficien-
tes, de forma integral e gratuita;
As alternativas a seguir mencionam hipóteses relaciona- III. inamovibilidade, permitido o exercício da advocacia
das aos Congressistas (Deputados Federais e Senadores), fora das atribuições institucionais;
ao Chefe do Executivo Federal (Presidente da República) e IV. vitaliciedade, vedado o exercício da advocacia fora
aos Magistrados e Membros do Ministério Público. das atribuições institucionais;
V. vitaliciedade, permitido o exercício da advocacia fora
Nesse contexto, assinale a afirmativa INCORRETA. das atribuições institucionais.

a) Desde a expedição do diploma, os membros do Con- Analise os itens acima e assinale


gresso Nacional não poderão ser presos, salvo em
flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos a) se apenas os itens I e II estiverem corretos.
serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa b) se apenas o item V estiver correto.
respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus c) se apenas os itens III e V estiverem corretos.
membros, resolva sobre a prisão. d) se apenas os itens I e IV estiverem corretos.
b) O Presidente da República não poderá ser preso e) se apenas o item I estiver correto.
enquanto não houver sentença condenatória definitiva
com trânsito em julgado, nas infrações comuns.
232
21. (IDECAN — 2017) Julgue o trecho a seguir: “O oficial
só perderá o posto e a patente se for julgado indigno 10 D
do oficialato ou com ele incompatível, por decisão de 11 B
tribunal militar de caráter permanente, em tempo de
guerra.” Nos termos das normas constitucionais apli- 12 B
cáveis aos militares dos Estados, o trecho apresentado
13 D
a) corresponde a uma norma revogada pela atual Consti- 14 B
tuição Federal.
b) é falso, já que o oficial não perde a patente se for julga- 15 C
do indigno do oficialato.
c) corresponde a uma norma verdadeira, conforme pre- 16 B
visto na Constituição Federal. 17 E
d) é falso, pois o julgamento por tribunal militar de cará-
ter permanente se aplica em tempo de paz. 18 C

19 B
22. (IDECAN — 201) A segurança pública, dever do Estado,
direito e responsabilidade de todos, é exercida para a 20 E
preservação da ordem pública e da incolumidade das
pessoas e do patrimônio, por meio do seguinte órgão: 21 D

22 C
a) Polícia Comunitária.
b) Guarda Municipal. 23 D
c) Polícia Ferroviária Federal.
d) Polícia Judiciária. 24 D
e) Polícia Marítima.

23. (IDECAN — 2017) Nos termos do Art. 144 da Constitui-


ção Federal, é INCORRETO afirmar que: ANOTAÇÕES
a) A polícia civil será dirigida por delegado de polícia de
carreira.
b) Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a pre-
servação da ordem pública.
c) As funções de polícia marítima, aeroportuária e de
fronteiras cabem à Polícia Federal.
d) A recente alteração do texto constitucional permitiu
aos Municípios instituir a polícia militar local.

24. (IDECAN — 2017) Conforme Art. 144 da Constituição


Federal, a segurança viária, exercida para a preserva-
ção da ordem pública e da incolumidade das pessoas
e do seu patrimônio nas vias públicas é competência:

a) Apenas dos Estados.


b) Apenas dos Municípios.
c) Apenas dos Estados e do Distrito Federal.
d) Dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

9 GABARITO NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

1 D

2 C

3 B

4 A

5 B

6 C

7 D

8 B

9 A

233
ANOTAÇÕES

234
órgão do Governo Federal que exerce a direção supe-
rior das Forças Armadas, a qual é constituída pelos
Comandos da Marinha, do Exército e da Aeronáutica;
z O “assemelhado” era um servidor civil submetido

NOÇÕES DE DIREITO a preceitos de disciplina militar em virtude de lei


ou regulamento (Art. 21, CPM) que não existe mais

PENAL MILITAR/ no universo jurídico desde a edição do Decreto nº


23.203, de 1947.

PROCESSO PENAL O art. 1º, do CPM, possui a mesma redação do art.


1º, do CP, e do inciso XXXIX, art. 5º, da CF.
MILITAR ART. 1º, DO CPM
Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem pré-
via cominação legal
APLICAÇÃO E ESPECIFICIDADES DA ART. 1º, DO CP
LEI PENAL MILITAR Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem
prévia cominação legal
O Direito Penal Militar possui legislação específica, ART. 5º, XXXIX, DA CF
o CPM (Código Penal Militar – Decreto-Lei nº 1.001, de Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem pré-
21 de outubro de 1969). O referido dispositivo é divi- via cominação legal
dido em Parte Geral (Livro Único) e Parte Especial, a
qual se subdivide em Livro I (Dos Crimes Militares
Assim, pode-se concluir que está contido o prin-
em Tempo de Paz) e Livro II (Dos Crimes Militares em
cípio da Legalidade. Por esse princípio, somente a
Tempo de Guerra).
União, por meio do Poder Legislativo (ou seja, por
meio de lei), pode definir fato típico e cominar a pena.

Aplicação da Lei Penal Militar no Tempo


Parte Especial
� Crimes Militares em O princípio da Anterioridade também está presen-
Parte Geral Tempo de Paz te na legislação em estudo. Além de definir o delito e
� Crimes Militares em cominar a pena, a lei deve estar em vigor antes de o
Tempo de Guerra agente praticar a conduta delitiva. Então, assim como
no Código Penal, o CPM afirma que ninguém pode ser
punido por fato que lei posterior deixa de considerar
crime (abolitio criminis – lei supressiva de incrimina-

NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR/PROCESSO PENAL MILITAR


ção), cessando, em virtude dela, a própria vigência de
Muitas teorias e conceitos presentes nessa legis- sentença condenatória irrecorrível, salvo quanto aos
lação são semelhantes àqueles presentes no direito
efeitos de natureza civil.
penal (aqui, iremos chamar de direito penal comum,
Ademais, a lei penal militar, em regra, não retroa-
a fim de diferenciar do direito penal militar). Em con-
ge. No entanto, cabe uma exceção: quando nova lei
trapartida, deve-se ter atenção aos tipos penais que
estão previstos somente no CPM e, também, deve-se penal retroagir, para beneficiar o réu.
identificar as circunstâncias imprescindíveis, para
que um crime, possuindo idênticas definições na
legislação penal comum e na lei penal militar, seja de Importante!
competência da Justiça Militar. Quando se trata de novatio legis in pejus, a lei
Ademais, é importante conhecer as semelhanças e
as diferenças entre a Justiça Militar da União e a Jus-
não retroage. Porém, no caso de novatio legis in
tiça Militar Estadual, as quais competem, respectiva- mellius, a lei retroage por beneficiar o réu.
mente, o julgamento dos seguintes acusados:
Aprecia-se a nova lei penal militar, nos casos con-
JUSTIÇA MILITAR DA JUSTIÇA MILITAR
cretos, para verificar se a lei posterior é realmente
UNIÃO ESTADUAL
benéfica ao réu. Por exemplo, se a nova lei reduzir o
Marinha mínimo e o máximo da pena em abstrato e majorar
Exército Polícia Militar o aumento de pena para as qualificadoras do crime,
Aeronáutica Bombeiro Militar
apreciam-se as circunstâncias para concluir sobre a
Civis
retroatividade da lei. Faz-se uma análise, para saber o
que será mais benéfico ao réu.
Vale frisar que todos os tipos penais contidos no
CPM são de competência de julgamento da Justiça Cas- z Pena: reclusão de 3 a 8 anos;
trense (militar). Além disso, o referido dispositivo faz
referência a dois conceitos que merecem destaque: Reduz

z O Ministério ao qual o militar pertence deve ser z Pena: reclusão de 2 a 6 anos;


entendido como um “Comando”, visto que, a partir
de 1999, foi criado o Ministério de Estado da Defesa, z A pena é aumentada de 1/6 até 1/3; 235
Majora Há, ainda, norma penal em branco ao inverso (avesso
ou revés) quando o complemento é necessário para inte-
z A pena é aumentada de 1/3 até 1/2. grar o preceito secundário, ou seja, a pena em abstrato.
A doutrina do direito penal comum exemplifica,
No caso de leis excepcionais ou temporárias, a lei por meio do art. 1º, da Lei nº 2.889, de 1956 (crime
penal militar é ultra ativa. Isso significa que a lei pode de Genocídio) que traz, no preceito secundário, que
manter seus efeitos de regular acontecimento ocor- a pena para o agente que matar membro de grupo
rido durante sua vigência, mesmo que os fatos estão nacional, étnico, racial ou religioso (prevista no art.
sendo apurados após a sua revogação. 121, § 2º, do CP) é de reclusão de 12 a 30 anos.
As leis temporárias são as que entram em vigor Do Direito Penal Militar, um exemplo de norma penal
após a publicação e são revogadas em data preestabe- em branco ao inverso que pode ser citado é, novamente,
lecida. Vejamos um exemplo: o art. 290, do CPM. O preceito secundário desse artigo é a
pena abstrata de reclusão de até 5 anos. Já o complemen-
Lei Geral da Copa – Lei nº 12.663, de 5 de junho de to encontra-se no art. 58, do próprio CPM, o qual estabele-
2012 ce que o mínimo da pena de reclusão é de 1 ano.

Os tipos penais previstos neste Capítulo terão A Entrada em Vigor da Lei Penal Militar e seu
vigência até o dia 31 de dezembro de 2014. Período de Vigência

Conforme vimos, a lei não retroage, exceto em


Utilização Indevida de Símbolos Oficiais
benefício ao réu. No entanto, cabe, aqui, um questio-
namento: quando se considera o tempo do crime?
Art. 30 Reproduzir, imitar, falsificar ou modificar
Pois bem, considera-se o tempo do crime o momen-
indevidamente quaisquer Símbolos Oficiais de titu-
to da conduta correspondente à ação (teoria da ativi-
laridade da FIFA:
dade) ou à omissão. Nos crimes de ação (comissivos),
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano ou multa.
como no Homicídio, o tempo do crime é o momento
em que o agente efetua os disparos contra a vítima. Já
Já as leis excepcionais possuem apenas data de no Estelionato, por exemplo, é quando o agente ilude
início da entrada em vigor, sendo a data da revoga- a vítima para obter vantagem ilícita. Nos crimes omis-
ção correspondente ao fim da situação excepcional. sivos, o fato é considerado praticado no lugar em que
Um exemplo seria o Livro II, da Parte Especial do CPM deveria realizar-se a ação omitida, por exemplo, na
(Crimes Militares em Tempo de Guerra). Trata-se de Omissão de Socorro. O lugar do crime é aquele em que
uma lei que entra em vigor com a declaração da guer- se iniciou a execução da conduta criminosa.
ra e é revogada com o fim das atividades beligerantes. Há, ainda, os crimes omissivos impróprios. O CPM
Ainda sobre a aplicação da lei penal militar no adotou, nesses casos, a teoria normativa, hipótese em que
tempo, há a norma penal militar em branco. Essa o agente está obrigado a agir, para impedir o resultado,
norma necessita de complementação para efetivar o assumindo, assim, a condição de garantidor (garante). Não
preceito primário do tipo penal. Ela pode ser em sen- é qualquer pessoa que está obrigada a agir para evitar o
tido lato ou homogênea, quando o complemento pro- resultado, mas, sim, aquelas que estão nas situações pre-
vém da mesma fonte material que a norma penal, ou vistas na norma. São exemplos: o médico militar, que tem
pode ser em sentido estrito ou heterogênea, quando se por obrigação de cuidado garantir que não haja o resulta-
do morte, e o salva-vidas, como garantidor de banhistas.
busca o complemento em fonte material de natureza
diversa da norma penal. Aplicação da Lei Penal Militar no Espaço
É exemplo de norma penal em branco em sentido
lato ou homogênea o crime de Desobediência: Considera-se praticado o crime no momento da
ação ou da omissão, no todo ou em parte, ainda que
Art. 301 (CPM) Desobedecer a ordem legal de auto- sob forma de participação, bem como o lugar onde se
ridade militar. produziu ou deveria se produzir o resultado.
Art. 22 (CPM) É considerada militar, para efeito da Neste sentido, é possível identificar que o CPM ado-
aplicação deste Código, qualquer pessoa que, em tou a teoria mista ou da ubiquidade para os crimes
tempo de paz ou de guerra, seja incorporada às for- comissivos, ou seja, o lugar em que se desenvolveu o fato
ças armadas, para nelas servir em posto, gradua- pode ser tanto o lugar do início da execução como aquele
ção, ou sujeição à disciplina militar. em que ocorreu o resultado ou deveria ter ocorrido.
Ainda, a norma adotou a teoria da atividade para
Um exemplo de norma penal em branco em senti- os crimes omissivos, pois considera praticado o crime
do estrito ou heterogênea é o art. 290, do CPM. no lugar em que deveria realizar-se a conduta omitida.

Art. 290 Receber, preparar, produzir, vender, forne-


Tempo do Crime
cer, ainda que gratuitamente, ter em depósito, trans-
Art. 5º Considera-se praticado o crime no momento da
portar, trazer consigo, ainda que para uso próprio,
ação ou omissão, ainda que outro seja o do resultado.
guardar, ministrar ou entregar de qualquer forma a
consumo substância entorpecente, ou que determine Lugar do Crime
dependência física ou psíquica, em lugar sujeito à
administração militar, sem autorização ou em desa- Art. 6º Considera-se praticado o fato, no lugar em que se
cordo com determinação legal ou regulamentar. desenvolveu a atividade criminosa, no todo ou em parte,
e ainda que sob forma de participação, bem como onde
z Complemento: Portaria nº 344, de 12 de maio de se produziu ou deveria produzir-se o resultado. Nos cri-
1998, que aprova o regulamento técnico sobre subs- mes omissivos, o fato considera-se praticado no lugar
236 tâncias e medicamentos sujeitos a controle especial. em que deveria realizar-se a ação omitida.
LEI PENAL MILITAR NO ESPAÇO Consideram-se, como extensão do território nacio-
nal, as aeronaves e os navios do país, onde quer que se
Teoria Mista ou da Ubiquidade Teoria da Atividade
encontrem, sob comando militar ou militarmente uti-
Crimes Comissivos Crimes Omissivos lizados ou, ainda, ocupados por ordem legal de autori-
dade competente, ainda que de propriedade privada.
Considerando o fato de o agente poder ser processado
Dica ou ter sido julgado pela justiça estrangeira, não podemos
L ugar esquecer que a homologação da decisão estrangeira deve
U biquidade ser feita pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), conforme
T empo art. 101, I, i, da CF. A pena cumprida no estrangeiro ate-
A tividade nua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime quando
diversas, ou nela é computada quando idênticas.
Outro ponto a ser tratado como aplicação da lei
penal militar no espaço versa sobre a territorialida-
de e a extraterritorialidade. O CP adota, como regra,
o princípio da territorialidade e o CPM, o princípio CRIME
da extraterritorialidade, uma vez que se aplica a lei
penal militar, sem prejuízo de convenções, tratados e Os crimes militares estão definidos no CPM, sendo
regras de direito internacional, ao crime cometido, no que, em tempo de paz, as circunstâncias estão descri-
todo ou em parte, no território nacional ou fora dele, tas no art. 9º e, em tempo de guerra, no art. 10 do CPM.
ainda que, nesse caso, o agente esteja sendo processa- Aqui, cabe-nos uma pergunta: o que é crime?
do ou tenha sido julgado pela justiça estrangeira. Guilherme de Souza Nucci, em sua obra “Código
A doutrina justifica a adoção do princípio da extra- Penal Militar Comentado”, de 2014, conceitua crime
territorialidade ao direito penal militar pelo fato de os como conduta lesiva a bem juridicamente tutelado,
militares atuarem em missões de manutenção da paz merecedora de pena devidamente prevista em lei.
ou outras atividades fora do território nacional. O conceito formal desdobra-se no analítico, para o
qual o crime é um fato típico, antijurídico (ou ilícito)
CÓDIGO PENAL e culpável. A punibilidade não é elemento do delito,
Princípio da Territorialidade mas somente um dado fundamental para assegurar a
aplicação efetiva da sanção penal.
Art. 5º Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções,
tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido
O citado autor afirma, ainda, que a corrente tripar-
no território nacional. tida (fato típico, antijurídico e culpável) é amplamente
§ 1º Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do majoritária na doutrina brasileira, abrangendo causa-
território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de listas, finalistas e funcionalistas. Vale dizer que a ótica
natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer bipartida (fato típico e antijurídico, sendo a culpabili-
que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarca- dade um pressuposto de aplicação da pena), de fundo
ções brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se finalista, teve o seu apogeu nos anos 80, experimen-
achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou

NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR/PROCESSO PENAL MILITAR


em alto-mar.
tando um declínio acentuado de lá para a atualidade.
§ 2º É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados Comparemos as duas correntes:
a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de proprie-
dade privada, achando-se aquelas em pouso no território na- TRIPARTIDA BIPARTIDA
cional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em
porto ou mar territorial do Brasil
Fato típico
Fato típico
Antijurídico
CÓDIGO PENAL MILITAR Antijurídico
Culpável
Princípio da Extraterritorialidade
Art. 7º Aplica-se a lei penal militar, sem prejuízo de conven- O crime possui a figura do sujeito ativo e do sujeito
ções, tratados e regras de direito internacional, ao crime co- passivo.
metido, no todo ou em parte no território nacional, ou fora dele,
O sujeito ativo é a pessoa que pratica a conduta
ainda que, neste caso, o agente esteja sendo processado ou
tenha sido julgado pela justiça estrangeira. descrita pelo tipo penal. Não é contemplada, na seara
Território Nacional por Extensão penal militar, a discussão sobre a possibilidade de a
§ 1° Para os efeitos da lei penal militar consideram-se como pessoa jurídica ser sujeito ativo em crime ambiental
extensão do território nacional as aeronaves e os navios bra- (NUCCI, 2014).
sileiros, onde quer que se encontrem, sob comando militar ou O sujeito passivo é o titular do bem jurídico pro-
militarmente utilizados ou ocupados por ordem legal de autori- tegido pelo tipo penal incriminador, que foi violado.
dade competente, ainda que de propriedade privada.
Divide-se em sujeito passivo formal (ou constante),
Ampliação a Aeronaves ou Navios Estrangeiros
§ 2º É também aplicável a lei penal militar ao crime praticado que é o titular do interesse jurídico de punir que sur-
a bordo de aeronaves ou navios estrangeiros, desde que em ge com a prática da infração penal. É sempre o Esta-
lugar sujeito à administração militar, e o crime atente contra as do. O sujeito passivo material (ou eventual) é o titular
instituições militares. do bem jurídico diretamente lesado pela conduta do
Conceito de navio agente (NUCCI, 2014).
§ 3º Para efeito da aplicação deste Código, considera-se navio
toda embarcação sob comando militar
z Sujeito Ativo;
z Sujeito Passivo;
Entendem-se, por território, o solo, o subsolo, as
águas interiores, o mar territorial e o espaço aéreo „ Formal ou Constante: titular do interesse jurí-
onde o Estado exerce a sua soberania. dico de punir; 237
„ Material ou Eventual: titular do bem jurídico § 2º A omissão é relevante como causa quando o
diretamente lesado. omitente devia e podia agir para evitar o resultado.
O dever de agir incumbe a quem tenha por lei obri-
gação de cuidado, proteção ou vigilância; a quem,
Para que a conduta seja tipificada como crime
de outra forma, assumiu a responsabilidade de
militar, é necessária a realização de análise em razão: impedir o resultado; e a quem, com seu comporta-
mento anterior, criou o risco de sua superveniência.
z Da matéria (ratione materiae): o bem jurídico que
é protegido pela lei penal e que é lesado ou posto Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o
em perigo pela ação delituosa; resultado não teria ocorrido. Para tratar da relação de
z Do local (ratione loci): não importa a condição do causalidade, estudaremos duas teorias: a teoria cau-
agente e do sujeito passivo, o fato é considerado sal ou naturalista e a teoria finalista da ação.
militar se for praticado em local sujeito à adminis- Sobre a teoria causal ou naturalista, Mirabete afir-
tração militar; ma que:
z Da pessoa (ratione personae): pressupõe militar o
delito praticado por militar, sem outras condições; “[…] basta a certeza de que o agente atuou volun-
z Do tempo (ratione temporis): se for praticado em tariamente, sendo irrelevante o que queria, para se
tempo de guerra; afirmar que praticou a ação típica”.
z Da função (propter officium): o fato criminoso é con-
siderado ilícito militar se o agente, ainda que fora do Percebe-se, então, que há um vínculo entre a con-
horário de serviço, praticá-lo em razão da função. duta do agente e o resultado ilícito.
Para essa teoria, o dolo e a culpa não integram o
crime (os conceitos de dolo e culpa serão melhor abor-
Diante das razões, é oportuno distinguir, por meio
dados no tópico sobre crime), prevalecendo a vontade
de simples definição, o que se entente por civil e o que de fazer ou não do indivíduo, sendo irrelevante o que
se entende por militar: o agente queria.
Já com relação à teoria finalista da ação, Heleno
z Civil é o cidadão. Ele representa todas as pessoas Fragoso entende que é:
que não fazem parte das forças armadas do seu
país, ou seja, que não são militares (Direito Inter- “[…] comportamento humano voluntário conscien-
nacional Humanitário); temente dirigido a um fim. Crime nada mais é que
z Militar é relativo à guerra, às Forças Armadas, à atividade humana”.
sua organização e às suas atividades.
Deve-se observar, aqui, a intenção e a finalida-
Os membros das Forças Armadas, em razão de de objetiva do autor para que possa lhe imputar a
sua destinação constitucional, formam uma categoria conduta.
especial de servidores da Pátria e são denominados Para essa teoria, a ação ou a omissão combinada
militares, como descreve o art. 3º, da Lei nº 6.880, de com o dolo e com a culpa são os elementos para a com-
1980 – Estatuto dos Militares. posição da conduta.
Diante do exposto, cabem-nos outras perguntas:
qual a teoria adotada no Código Penal?
MILITAR DA ATIVA MILITAR INATIVO Antes da reforma do CP (Parte Geral, Lei nº 7.209, de
De Serviço Reserva 1984), o dolo encontrava-se na culpabilidade propriamen-
te dita. Após a efetuação da mesma, o dolo passou a ser um
De Folga Reformado
elemento constitutivo do tipo penal (Art. 18, I, do CP).
Qual a teoria adotada no CPM?
Deve-se ler com atenção o disposto no art. 12, CPM: O CPM não foi alterado com a reforma de 1984. Nele,
o dolo e a culpa não integram o fato típico, mas, sim, a
Equiparação a Militar da Ativa culpabilidade, consoante o seu art. 33. Portanto, o CPM
adota a teoria causalista neoclássica da culpabilidade.
Art. 12 O militar da reserva ou reformado, empre- Pode-se trabalhar com a doutrina finalista da ação,
gado na administração militar, equipara-se ao sendo o CPM causalista?
militar em situação de atividade, para o efeito da Conforme Enio Luiz Rossetto, a sistematização de
aplicação da lei penal militar. conceitos extraídos de um programa de política crimi-
nal permite aplicar a teoria finalista da ação no CPM,
que está formalizada em lei e a construção dogmática
Nexo de Causalidade
é transcendente à letra da lei. A adoção da teoria psi-
cológico-normativa da culpabilidade, com o dolo e a
O art. 29, do CPM, diz que o resultado de que culpa no conceito de culpabilidade, não obsta à apli-
depende a existência do crime somente é imputável a cação de dogmas finalistas ao conceito causal da ação.
quem lhe deu causa. O CPM permite a aplicação de qual teoria sobre o
autor?
Relação de Causalidade Enio Luiz Rossetto ensina que o CPM não adota
a teoria finalista, sem que isso signifique, definitiva-
Art. 29 O resultado de que depende a existência do mente, a adoção da teoria do domínio do fato. O Códi-
crime sòmente é imputável a quem lhe deu causa. go Castrense permite a punição de cada concorrente
Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o segundo sua culpabilidade, agrava a pena daquele
resultado não teria ocorrido. que promove ou organiza a cooperação do crime ou
§ 1º A superveniência de causa relativamente inde- dirige a atividade dos demais agentes, do cabeça e
pendente exclui a imputação quando, por si só, pro- daquele que instiga ou determina a cometer o crime
duziu o resultado. Os fatos anteriores, imputam-se, alguém sujeito à sua autoridade, ou não punível em
238 entretanto, a quem os praticou. virtude de condição ou qualidade pessoal.
Neste sentido, o CPM adota a teoria subjetiva Sobre a tentativa, é importante lembrar que há a
causal ou extensiva. Para essa teoria (vide texto do tentativa perfeita e a tentativa imperfeita.
art. 53, do CPM), a pena para o autor (ou coautor) e
partícipe pode ser a mesma. z Tentativa perfeita (crime falho): é quando a consu-
Como a doutrina aponta, há certos casos em que a mação não ocorre, apesar de ter o agente praticado
participação é tão tênue que a aplicação da pena igual os atos necessários à produção do evento (ex.: vítima
para autor e partícipe mostra-se extremamente injus- de envenenamento é salva por intervenção médica);
ta. Sendo assim, o CPM, na mesma linha que o Código z Tentativa imperfeita: ocorre quando o agente
Penal, possibilita a aplicação de pena diferente. não consegue praticar todos os atos necessários
Observa-se que o art. 53, § 3º, do CPM, não define à consumação por interferência externa (ex.: o
participação de menos importância, ficando ao arbí- agente é segurado quando está desferindo golpes
trio do juiz (conselho de justiça). Também não define de faca contra a vítima).
o quantum para a redução da pena, devendo-se utili-
Quando se estuda a tentativa, deve-se ter mui-
zar o art. 73, do CPM, que fixa entre um terço (redução
to cuidado para não a confundir com a desistência
máxima) e um quinto (redução mínima) – redução
voluntária ou com o arrependimento eficaz. Vejamos:
máxima e mínima genérica.
Art. 31 O agente que, voluntariamente, desiste de
z Podem ter a mesma pena:
prosseguir na execução ou impede que o resultado
se produza, só responde pelos atos já praticados.
„ autor;
„ coautor; z Desistência voluntária: o agente, voluntariamen-
„ partícipe. te, desiste de prosseguir na execução;
z Arrependimento eficaz: ocorre quando o agente,
A respeito do crime militar, vejamos o que dispõe tendo praticado todos os atos necessários e sufi-
o art. 30. cientes para que advenha o resultado, pratica,
também, atos que o impedem.
Art. 30 Diz-se o crime:
I - Consumado, quando nele se reúnem todos os ele- Vale frisar que o agente só responderá pelos atos já
mentos de sua definição legal; praticados. Por exemplo, se o agente deseja matar a víti-
II - Tentado, quando, iniciada a execução, não se con- ma, mas, após executar a conduta, impede que o resul-
suma por circunstâncias alheias à vontade do agente. tado morte aconteça, responderá por lesão corporal.
Parágrafo único. Pune-se a tentativa com a pena No Código Penal Militar, há previsão de crime
correspondente ao crime, diminuída de um a dois impossível?
terços, podendo o juiz, no caso de excepcional gra- Sim. O crime impossível está previsto no art. 32,
vidade, aplicar a pena do crime consumado.
do CPM.

NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR/PROCESSO PENAL MILITAR


É importante saber o momento da consumação Art. 32 Quando, por ineficácia absoluta do meio
dos crimes: materiais, de mera conduta e formais. empregado ou por absoluta impropriedade do obje-
Nos crimes materiais, de ação e resultado, o to, é impossível consumar se o crime, nenhuma
momento consumativo é o da produção deste (ex.: pena é aplicável.
homicídio com a morte da vítima; o aborto com a mor-
te do feto). Nos crimes de mera conduta, em que o Observe que, para ser crime impossível, é necessário:
tipo não faz menção ao resultado, a consumação se dá
com a simples ação (ex.: violação de domicílio, simples z Ineficácia absoluta do meio: impossibilidade de
entrada). Já nos crimes formais, existe o resultado, o instrumento utilizado consumar o delito de qual-
mas a lei não o exige para a consumação (ex.: extorsão quer forma (ex.: usar um alfinete para matar uma
mediante sequestro – não é necessário o aferimento pessoa adulta; um sujeito que deseja matar a víti-
da vantagem para que o crime esteja consumado; o ma por meio de ato de magia ou bruxaria);
arrebatamento da vítima caracteriza o crime). z Absoluta impropriedade do objeto: a conduta do
agente não é capaz provocar qualquer resultado
z CRIMES MATERIAIS, DE AÇÃO E RESULTADO lesivo à vítima (ex.: matar um cadáver).

„ Produção do resultado; Ineficácia Absoluta do meio: impossibi-


„ Homicídio com a morte da vítima. lidade de o instrumento utilizado consu-
mar o delito de qualquer forma
CRIME
z CRIMES DE MERA CONDUTA IMPOSSÍVEL Absoluta Impropriedade do Objeto:
a conduta do agente não é capaz de
„ Simples ação; provocar qualquer resultado lesivo à
„ Violação de domicílio. vítima

z CRIMES FORMAIS Sobre o crime impossível, o CPM adota a Teoria


Objetiva Temperada: se houver ineficácia relativa
„ Não exige a consumação; do meio e relativa impropriedade do objeto, haverá
„ Extorsão mediante sequestro. tentativa. 239
Com relação à culpabilidade, vejamos o que dispõe a diligência ordinária ou especial a que estava obri-
o art. 33, do CPM: gado, segundo as aptidões, poder pessoal e circuns-
tâncias, não prevê o resultado que podia prever e dá
Art. 33 Diz-se o crime: causa ao resultado (homem médio).
I – Doloso, quando o agente quis o resultado ou
assumiu o risco de produzi-lo;
II – Culposo, quando o agente, deixando de empre- Dolo eventual: o agente tem
gar a cautela, atenção, ou diligência ordinária ou a previsão do resultado e
especial, a que estava obrigado em face das circuns- consente na sua produção,
tâncias, não prevê o resultado que podia prever ou, não desiste, prefere se ar-
DOLO EVENTUAL riscar a interromper a sua
prevendo o supõe levianamente que não se realiza-
ria ou que poderia evitá-lo. × ação
CULPA CONSCIENTE
Culpa consciente: o agen-
Dolo te tem a previsão do resul-
tado e supõe que não se
O dolo é quando o agente quis o resultado ou assu- realizará
miu o risco de produzi-lo.

z Elementos do dolo: Agora, para sabermos se o crime é militar, além de


tudo que vimos até agora, devemos analisar se a condu-
„ Consciência da conduta e do resultado; ta está inserida em uma das hipóteses dispostas no art.
„ Consciência da relação causal objetiva entre a 9º do CPM. Assim, é possível identificar se determinado
conduta e o resultado; crime é de natureza militar ou comum. Vejamos:
„ Vontade de realizar a conduta e de produzir o
resultado. Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo
de paz:
O dolo pode ser direto, indireto alternativo ou indi- I – os crimes de que trata este Código, quando defi-
reto eventual. nidos de modo diverso na lei penal comum, ou nela
não previstos, qualquer que seja o agente, salvo dis-
z Dolo direto: o agente quer o resultado; posição especial;
z Dolo indireto alternativo: quer um ou outro
resultado previsto;
Ato Obsceno
z Dolo indireto eventual: não quer diretamente o
resultado, mas assume o risco.
Art. 238 (CPM) Praticar ato obsceno em lugar sujei-
to à administração militar.
Culpa
[...]
Art. 233 (CP) Praticar ato obsceno em lugar públi-
A culpa é quando o agente, deixando de empregar
a cautela, atenção, ou diligência ordinária ou especial, co, ou lugar aberto, ou exposto ao público.
a que estava obrigado em face das circunstâncias, não
prevê o resultado que podia prever (Inconsciente) ou, Desobediência
prevendo-o supõe, levianamente, que não se realiza-
ria ou que poderia evitá-lo (Consciente). Art. 301(CPM) Desobedecer a ordem legal de auto-
ridade militar.
z Culpa inconsciente: não prevê o resultado que [...]
podia prever; Art. 330 (CP) Desobedecer a ordem legal de funcio-
z Culpa consciente: prevendo-o supõe, levianamen- nário público.
te, que não se realizaria ou que poderia evitá-lo.
Autoridade Militar
Quando se estuda a culpa, não se pode deixar de lado
os conceitos de imprudência, negligência e imperícia. Art. 22 (CPM) É considerada militar, para efeito da
aplicação deste Código, qualquer pessoa que, em
z Imprudência: o agente que, deixando de empre- tempo de paz ou de guerra, seja incorporada às for-
gar a atenção a que estava obrigado pelas circuns- ças armadas, para nelas servir em posto, gradua-
tâncias, não prevê o resultado que podia prever e ção, ou sujeição à disciplina militar.
dá causa ao resultado, desatenção (ex.: militar que
dirige veículo automotor em alta velocidade);
Funcionário Público
z Negligência: o agente que, deixando de empregar a
atenção a que estava obrigado pelas circunstâncias,
não prevê o resultado que podia prever e dá causa ao Art. 327 (CP) Considera-se funcionário público, pa-
resultado, desatenção (ex.: militar que limpa a arma ra os efeitos penais, quem, embora transitoriamen-
carregada na proximidade de outros militares); te ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou
z Imperícia: falta de conhecimento técnico no exer- função pública.”
cício da profissão – o CPM não cuida da imperícia.
Embriaguez em Serviço
O Código Penal Militar adota a previsibilidade
subjetiva, ou seja, o homo medius. A previsibilidade Art. 202 Embriagar-se o militar, quando em servi-
240 subjetiva diz que o agente que, deixando de empregar ço, ou apresentar-se embriagado para prestá-lo.
Dormir em Serviço Art. 9° [...]
c) por militar em serviço ou atuando em razão da fun-
Art. 203 Dormir o militar, quando em serviço, como ção, em comissão de natureza militar, ou em formatura,
oficial de quarto ou de ronda, ou em situação equiva- ainda que fora do lugar sujeito à administração militar
lente, ou, não sendo oficial, em serviço de sentinela, contra militar da reserva, ou reformado, ou civil;
vigia, plantão às máquinas, ao leme, de ronda ou em
qualquer serviço de natureza semelhante. z Sujeito ativo: militar da ativa;
z Circunstância: serviço, razão da função, comis-
Insubmissão são, formatura;
z Sujeito passivo: civil, militar da reserva, militar
Art. 183 Deixar de apresentar-se o convocado à reformado.
incorporação, dentro do prazo que lhe foi marcado,
ou, apresentando-se, ausentar-se antes do ato ofi- Art. 9° [...]
cial de incorporação: d) por militar durante o período de manobras ou
Pena – impedimento, de três meses a um ano.” exercício, contra militar da reserva, ou reformado,
ou assemelhado, ou civil;
E se o crime estiver tipificado no CPM e no CP ou
em outra lei penal? z Sujeito ativo: militar da ativa;
Observe os exemplos a seguir: z Circunstância: período de manobras;
z Sujeito passivo: civil, militar da reserva, militar
Furto Simples (CPM) reformado.

Art. 240 Subtrair, para si ou para outrem, coisa Art. 9° [...]


alheia móvel: e) por militar em situação de atividade, ou asseme-
Pena – reclusão, até seis anos. lhado, contra o patrimônio sob a administração
militar, ou a ordem administrativa militar.
Furto (CP):
z Sujeito ativo: militar da ativa;
Art. 155 Subtrair, para si ou para outrem, coisa z Sujeito passivo: patrimônio sob à administração
alheia móvel: militar, ordem administrativa militar.
Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Há casos em que os crimes poderão ser cometidos
Homicídio Simples (CPM) pelos militares da reserva, ou reformados, ou ainda
por civil. Sobre esses, deve-se estar atento ao previsto
Art. 205 Matar alguém: no art. 9º, III, do CPM.
Pena – reclusão, de seis a vinte anos.
Art. 9° [...]
Homicídio Simples (CP) III – Os crimes praticados por militar da reserva,
ou reformado, ou por civil, contra as institui-

NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR/PROCESSO PENAL MILITAR


Art. 121 Matar alguém: ções militares, considerando se como tais não só os
Pena – reclusão, de seis a vinte anos. compreendidos no inciso I, como os do inciso II nos
seguintes casos:
Essa pergunta é fácil de responder. Independente- a) contra o patrimônio sob a administração militar,
mente do crime, deve-se recorrer ao art. 9, II, do CPM: ou contra a ordem administrativa militar;

Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo z Sujeito ativo: civil, militar da reserva, militar re-
de paz: formado;
II - os crimes previstos neste Código e os previstos z Sujeito passivo: patrimônio sob à administração
na legislação penal, quando praticados: militar, ordem administrativa militar.
a) por militar em situação de atividade ou asse-
melhado contra militar da mesma situação ou Art. 9° [...]
assemelhado; b) em lugar sujeito à administração militar contra
militar em situação de atividade ou assemelhado, ou
z Sujeito ativo: militar da ativa; contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça
z Sujeito passivo: militar da ativa. Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo;

Obs.: o termo assemelhado (Art. 21, do CPM) não z Sujeito ativo: civil, militar da reserva, militar
existe mais no universo jurídico desde a edição do reformado;
Decreto nº 23.203, de 1947. z Circunstâncias: lugar sujeito à administração militar;
z Sujeito passivo: militar da ativa, funcionário de
Art. 9° [...] ministério militar ou justiça militar no exercício
b) por militar em situação de atividade ou asseme- de função.
lhado, em lugar sujeito à administração militar,
contra militar da reserva, ou reformado, ou asse- Art. 9° [...]
melhado, ou civil; c) contra militar em formatura, ou durante o período
e prontidão, vigilância, observação, exploração, exer-
z Sujeito ativo: militar da ativa; cício, acampamento, acantonamento ou manobras;
z Circunstância: lugar sujeito à administração militar;
z Sujeito passivo: civil, militar da reserva, militar z Sujeito ativo: civil, militar da reserva, militar
reformado. reformado; 241
z Circunstâncias: formatura, prontidão, vigilância, Art. 183 Deixar de apresentar-se o convocado à
observação, exploração, acampamento, acantona- incorporação, dentro do prazo que lhe foi marcado,
mento, manobras; ou, apresentando-se, ausentar-se antes do ato ofi-
z Sujeito passivo: militar. cial de incorporação.

Art. 9° [...] Crime impropriamente militar é aquele que, ape-


d) ainda que fora do lugar sujeito à administração sar de estar tipificado no Código Penal Militar, pode ser
militar, contra militar em função de natureza militar, agente militar ou civil. Como exemplos, pode-se citar
ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia os crimes de lesão corporal, estelionato, dentre outros.
e preservação de ordem pública, administrativa ou
jurídica, quando legalmente requisitado para aquele Excludente de Ilicitude
fim, ou em obediência à determinação legal superior.
Ilicitude ou antijuridicidade é a contrariedade de
uma conduta com o direito, causando lesão a um bem
z Sujeito ativo: civil, militar da reserva, militar re-
jurídico protegido.
formado;
O art. 42, do CPM, afirma que não há crime quando
z Sujeito passivo: militar em função de nature-
o agente pratica o fato em:
za militar, desempenhando serviço de vigilância
quando legalmente requisitado ou em obediência � estado de necessidade;
à determinação legal superior. z legítima defesa;
z estrito cumprimento do dever legal;
Os parágrafos do art. 9, do CPM, foram alterados z exercício regular de direito.
pela Lei nº 13.491, de 2017. Vejamos:
Ainda, é afirmado, no parágrafo único desse mesmo
Art. 9º [...] artigo, que não há crime quando o comandante de navio,
§ 1º Os crimes de que trata este artigo (artigo 9), aeronave ou praça de guerra, na iminência de perigo ou
quando dolosos contra a vida e cometidos por mili- grave calamidade, compele os subalternos, por meios
tares contra civil, serão da competência do Tribu- violentos, a executar serviços e manobras urgentes, para
nal do Júri. salvar a unidade ou vidas, ou evitar o desânimo, o terror,
§ 2º Os crimes de que trata este artigo, quando dolo- a desordem, a rendição, a revolta ou o saque.
sos contra a vida e cometidos por militares das For-
ças Armadas contra civil, serão da competência da Art. 42 Não há crime quando o agente pratica o fato:
Justiça Militar da União, se praticados no contexto: I – em estado de necessidade;
I – do cumprimento de atribuições que lhes forem II – em legítima defesa;
estabelecidas pelo Presidente da República ou pelo III – em estrito cumprimento do dever legal;
Ministro de Estado da Defesa; IV – em exercício regular de direito.
II – de ação que envolva a segurança de instituição Parágrafo único – Não há igualmente crime quan-
militar ou de missão militar, mesmo que não beli- do o comandante de navio, aeronave ou praça de
gerante; ou guerra, na iminência de perigo ou grave calamida-
III – de atividade de natureza militar, de operação de, compele os subalternos, por meios violentos, a
de paz, de garantia da lei e da ordem ou de atribui- executar serviços e manobras urgentes, para salvar
ção subsidiária, realizadas em conformidade com a unidade ou vidas, ou evitar o desânimo, o terror, a
o disposto no art. 142 da Constituição Federal e na desordem, a rendição, a revolta ou o saque
forma dos seguintes diplomas legais:
a) Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código O próprio Código Penal Militar define estado de
Brasileiro de Aeronáutica; necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do
b) Lei Complementar no 97, de 9 de junho de 1999 dever legal e exercício regular do direito. Vejamos:
c) Decreto-Lei no 1.002, de 21 de outubro de 1969 -
Código de Processo Penal Militar; e ESTADO DE NECESSIDADE
d) Lei no 4.737, de 15 de julho de 1965 - Código
Eleitoral. Art. 43 Considera-se em estado de necessidade quem
pratica o fato para preservar direito seu ou alheio, de pe-
z Compete à justiça militar processar e julgar os crimes rigo certo e atual, que não provocou, nem podia de outro
propriamente militares e os impropriamente militares; modo evitar, desde que o mal causado, por sua natureza
z São julgados, pela Justiça Militar da União, os mili- e importância é consideravelmente inferior ao mal evita-
tares das Forças Armadas (Marinha, Exército e do, e o agente não era legalmente obrigado a arrostar o
Aeronáutica) e civis; perigo
z A Justiça Militar dos Estados julga os integrantes
LEGÍTIMA DEFESA
da Polícia Militar e Corpo de Bombeiro Militar,
exceto os crimes dolosos contra a vide de civil. Art. 44 Entende-se em legítima defesa quem, usando
moderadamente dos meios necessários, repele injusta
Apesar de a Lei não definir nem listar quais são os agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem
crimes propriamente militares e os impropriamente
militares, é importante saber diferenciá-los. ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL
De acordo com a doutrina majoritária, o crime pro-
Não há crime quando o agente pratica o fato em estrito
priamente militar é aquele definido somente no Código
cumprimento de dever legal, como no caso do oficial de
Penal Militar e que apenas pode ser praticado por militar
justiça que apreende bens a penhora, ou militar que efe-
(ex.: dormir em serviço; deserção). Todavia, é bom lem-
tua uma prisão em flagrante, ou, ainda, quando ocorre o
brar que a insubmissão é um crime definido apenas no
fuzilamento do condenado pelo executor no caso de pena
Código Penal Militar e que somente civil pode ser agente,
de morte
242 conforme tipificado no art. 183, do CPM. Vejamos:
EXERCÍCIO REGULAR DO DIREITO Se a doença ou deficiência mental não suprime, mas
diminui, consideravelmente, a capacidade de entendi-
Não há crime quando o agente pratica o fato no exercício
mento da ilicitude do fato ou a de autodeterminação,
regular de direito, como na recusa em depor em juízo por
não fica excluída a imputabilidade. No entanto, se o
parte de quem tem o dever legal de sigilo, na intervenção
condenado necessitar de especial tratamento curativo,
cirúrgica ou na violência esportiva, desde que respeita-
a pena privativa de liberdade pode ser substituída pela
das, respectivamente, as regras da atividade ou profissão
internação em estabelecimento psiquiátrico.
Muita cautela ao realizar a leitura dos arts. 50, 51
e 52, do CPM, pois esses não foram recepcionados
pela CF e, possivelmente, não serão objeto de cobran-
IMPUTABILIDADE PENAL ça. Possuem as seguintes redações:

A imputabilidade penal é o conjunto de condições Menores


pessoais de sanidade e maturidade que dão ao agente
capacidade para lhe ser imputada, juridicamente, a Art. 50 O menor de dezoito anos é inimputável, sal-
prática de um fato punível. vo se, já tendo completado dezesseis anos, revela
Já a inimputabilidade penal é uma das condições suficiente desenvolvimento psíquico para entender
que exclui a culpabilidade, isto é, o crime persiste, mas o caráter ilícito do fato e determinar-se de acordo
não se aplica a pena por ausência de responsabilidade. com este entendimento. Neste caso, a pena aplicá-
vel é diminuída de um terço até a metade.
Inimputáveis
Equiparação a Maiores
Art. 48 Não é imputável quem, no momento da
ação ou da omissão, não possui a capacidade de Art. 51 Equiparam-se aos maiores de dezoito anos,
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar- ainda que não tenham atingido essa idade:
-se de acordo com esse entendimento, em virtude de a) os militares;
doença mental, de desenvolvimento mental incom- b) os convocados, os que se apresentam à incorpo-
pleto ou retardado. ração e os que, dispensados temporariamente des-
ta, deixam de se apresentar, decorrido o prazo de
Redução Facultativa da Pena licenciamento;
c) os alunos de colégios ou outros estabelecimentos
de ensino, sob direção disciplina militares, que já
Parágrafo único. Se a doença ou a deficiência men-
tal não suprime, mas diminui consideravelmente a tenham completado dezessete anos.
capacidade de entendimento da ilicitude do fato ou Art. 52 Os menores de dezesseis anos, bem como os
a de autodeterminação, não fica excluída a imputa- menores de dezoito e maiores de dezesseis inimputá-
bilidade, mas a pena pode ser atenuada, sem prejuí- veis, ficam sujeitos às medidas educativas, curativas
zo do disposto no art. 113. ou disciplinares determinadas em legislação especial.

Embriaguez

NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR/PROCESSO PENAL MILITAR


Importante!
Embriaguez é a intoxicação aguda e transitória
Conforme o art. 113, do CPM, quando o conde- do abuso do álcool ou de substância análoga, como a
nado se enquadra no parágrafo único do art. 48 e morfina, maconha, cocaína, éter etc.
necessita de especial tratamento curativo, a pena
privativa de liberdade pode ser substituída pela Embriaguez
internação em estabelecimento psiquiátrico ane-
xo ao manicômio judiciário ou ao estabelecimen- Art. 49 Não é igualmente imputável o agente que,
to penal, ou em seção especial de um ou de outro. por embriaguez completa proveniente de caso for-
tuito ou fôrça maior, era, ao tempo da ação ou da
omissão, inteiramente incapaz de entender o cará-
z Causas de exclusão da imputabilidade: ter criminoso do fato ou de determinar-se de acor-
do com esse entendimento.
„ Doença mental; Parágrafo único. A pena pode ser reduzida de um a
„ Desenvolvimento mental incompleto (menos dois terços, se o agente por embriaguez provenien-
de 18 anos); te de caso fortuito ou fôrça maior, não possuía, ao
„ Desenvolvimento mental retardado (deficiente tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade
mental). de entender o caráter criminoso do fato ou de deter-
minar-se de acôrdo com êsse entendimento.
Nos ensinamentos de Enio Luiz Rossetto (2015),
a doença mental é a enfermidade, permanente ou z Modalidades da Embriaguez:
transitória, que tira do agente a capacidade de enten-
der e de querer. Desenvolvimento mental incomple- „ Embriaguez não acidental, voluntária ou culposa
to é o menor de idade, ou seja, menor de dezoito anos,
que, por presunção legal, não possui capacidade de A pessoa quer sentir o efeito inebriante da bebida
entender e de querer. Já o desenvolvimento metal na embriaguez voluntária. Já na culposa, ela não quer
retardado é aquele que não pode chegar à maturida- se embriagar e é levada pelo descuido, embriagando-
de psíquica. Trata-se da situação em que a graduação -se sem querer – não há isenção de responsabilidade;
da inteligência é incompatível com o estágio da vida
em que se encontra a pessoa. „ Embriaguez patológica; 243
Desde que configure doença mental, pode implicar Aquele que presta uma colaboração pouco ou nada
em isenção de pena; significativa, pode ser até atípica, é abrangido pela
concepção extensiva. (José Henrique Pierangeli)
„ Embriaguez habitual; A teoria é subjetiva porque, do ponto de vista objeti-
vo, as atividades do autor e do cúmplice devem ser
consideradas unicamente como condições do resul-
A embriaguez habitual possui duas conotações. tado. (Álvaro Mayrink da Costa)
Pelo direito penal comum, aquele que se apresente,
diariamente, bêbado incorre em contravenção penal.
Entretanto, no direito penal militar, os condenados
reconhecidos como ébrios habituais ou toxicômanos
ficam sujeitos à internação, para fim curativo;
Autor Partícipe

„ Embriaguez acidental completa;

Leva à inimputabilidade desde que seja decorren-


Coautor
te de caso fortuito ou força maior;

„ Embriaguez habitual;
Note-se que qualquer agente que tenha praticado
Ocasião em que o agente se embriaga para melhor
a conduta direta ou indireta responde na mesma pro-
praticar o crime. É circunstância agravante nos ter-
porção pelo crime.
mos do art. 70, II, c, e Parágrafo Único.
Enio Luiz Rossetto, para ilustrar, conta o caso de
Caio que entrega uma arma de fogo para Tício matar
z Requisitos da inimputabilidade na embriaguez outra pessoa. Nesse contexto, a atividade de Caio e a
acidental: de Tício são condições do resultado e, portanto, não há
diferenças objetivas.
„ Casual: embriaguez acidental decorrente de
caso fortuito ou força maior; Para essa teoria todos os agentes que dão causa
„ Quantitativo: embriaguez completa; ao evento são considerados autores, independente
„ Cronológico: embriaguez existe ao tempo da de terem ou não praticado a ação descrita no tipo
conduta; penal (Cícero Coimbra).
„ Consequencial: afeta a capacidade de querer e
entender. „ Teoria formal objetiva ou restritiva.

Esta teoria define autor como quem realiza, no


todo ou em parte, a conduta típica, ou seja, como
aquele que executa o crime.
CONCURSO DE AGENTES A respeito do partícipe, Enio Luiz Rossetto afirma
que é aquele que induz, instiga ou auxilia outrem é o
É importante saber a diferença entre autor, coa- partícipe. Em princípio, a conduta do partícipe não se
tor e partícipe. O Autor é aquele que realiza a con- amolda à figura penal.
duta principal descrita no tipo penal. Já a coautoria Para Cícero Coimbra, são autores os que praticam
é quando duas ou mais pessoas praticam a conduta os atos de execução previstos no tipo penal, enquanto
descrita no tipo incriminador. Por fim, o Partícipe é os partícipes concorrem para o resultado do crime sem
aquele que, sem realizar a conduta descrita no tipo, praticar, no todo ou em parte, a ação tipificada.
concorre para sua realização.

z Considerações a respeito do autor


Autor Partícipe
Há três teorias que tentam conceituar o autor e as
questões de concurso utilizam, às vezes, nomenclatu-
ras menos usuais, tornando-se imprescindível conhe- Coautor
cê-las. Vejamos:

„ Teoria subjetiva causal ou extensiva (também


conhecida como teoria unitária ou monista). Essa teoria é criticada por considerar partícipe,
por exemplo, o chefe de uma quadrilha, visto que esse
Observemos as definições de alguns autores: não pratica conduta típica apesar de ter o controle de
seus componentes. De modo semelhante, responde
Esta teoria tem orientação causalista e não distingue por estupro quem aponta a arma para a vítima, por-
autor e partícipe, pois são autores todos os que cola- que é crime constranger. Em contrapartida, não res-
boram na realização do crime. (Nélson Hungria) ponde por esse crime aquele que pratica a conjunção
Todo colaborador é autor. (Aníbal Bruno) carnal, por ser fato atípico.
O código diz quem de qualquer modo concorrer
para o crime incide nas penas a ele cominadas. z Teoria do domínio do fato ou objetivo-subjetiva ou
244 (Enio Luiz Rossetto) final-objetiva.
A teoria em estudo concilia os critérios objetivos e Os crimes unissubjetivos são aqueles que podem
subjetivos, os quais se mostram insuficientes na dis- ser praticados por apenas um agente, porém nada
tinção entre autoria e participação. impede a coautoria, quando todos praticam o núcleo
Segundo Wilzel , autor é quem, consciente do fim, do tipo penal. Pode haver, também, apenas participa-
tem o domínio sobre o fato [...] é quem tem o poder ção, quando o agente, sem praticar o núcleo do tipo
sobre a realização do fato. penal, auxilia na prática do ilícito (nesse caso, pode-se
Para Álvaro Mayrink da Costa, autor é quem obra chamar de concurso eventual).
com vontade e possui o domínio subjetivo do fato e obre Os crimes plurissubjetivos exigem dois ou mais
como tal. agentes para a prática da conduta. No crime de Motim,
Já Cícero Coimbra considera autor o agente que há condutas paralelas; no delito de pederastia, condu-
detém o controle da ação, embora possa não praticar tas convergentes e, na rixa, condutas divergentes.
atos executórios previstos no tipo penal. Conforme alerta Cícero Coimbra, há crimes que não
admitem a coautoria, mas apenas a participação, deno-
minados crimes de mão própria, como, por exemplo, o
Fato crime de Falso Testemunho (Art. 346, do CPM).
Vejamos outro exemplo:

z Crime de Motim e de Revolta tipificados no art. 149


e 149, parágrafo único, do CPM.
Autor
No crime de motim, os militares se reúnem, ocu-
Fato Fato pando quartel em desobediência à ordem de superior.
Um caso assim ocorreu quando controladores de trá-
fego aéreo (militares da Aeronáutica) se reuniram no
Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfe-
Participação por omissão, segundo a doutrina (Nel-
go Aéreo e decidiram paralisar os trabalhos em deso-
son Hungria citado por Enio Luiz Rossetto), basta que bediência às ordens de superiores, fato conhecido, na
se não tenha impedido o crime faltando a um dever época, por “apagão aéreo”.
jurídico. O dever jurídico de impedir o resultado é Se, na ocasião, os militares estivessem armados, o
indispensável, pois, se inexiste o dever jurídico de crime deixaria de ser Motim e seria classificado como
atuar, não há cumplicidade, mas simples conveniên- Crime de Revolta.
cia, impunível (Heleno Fragoso citado por Rossetto). Observe o texto da lei:
Afirma, ainda, que, além do dever jurídico de impedir
o resultado, o omitente deve aderir à prática do crime. Motim
Note-se que a omissão é relevante como causa
quando o omitente devia e podia agir para evitar o Art. 149 Reunirem-se militares ou assemelhados:
resultado, conferindo esse dever de cuidado, prote- I - agindo contra a ordem recebida de superior, ou
ção ou vigilância a quem assume a responsabilidade negando-se a cumpri-la;
de impedir o resultado. Trata-se, no ensinamento de II - recusando obediência a superior, quando este-
jam agindo sem ordem ou praticando violência;

NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR/PROCESSO PENAL MILITAR


Cícero Coimbra, da figura do garante ou garantidor.
III - assentindo em recusa conjunta de obediência, ou em
O autor exemplifica ao descrever a hipótese de um
resistência ou violência, em comum, contra superior;
militar que vê um estupro em andamento e, por qual- IV - ocupando quartel, fortaleza, arsenal, fábrica ou
quer razão, ainda que possa agir para impedir o cri- estabelecimento militar, ou dependência de qual-
me, decide quedar-se inerte, tendo por lei obrigação quer deles, hangar, aeródromo ou aeronave, navio
de agir, o militar passará a figurar no polo ativo do ou viatura militar, ou utilizando-se de qualquer
mesmo crime como partícipe, e não por prevaricação daqueles locais ou meios de transporte, para ação
como poderia supor. militar, ou prática de violência, em desobediência a
Diante de tais informações, cabe-nos um questio- ordem superior ou em detrimento da ordem ou da
namento: o CPM permite a aplicação de qual teoria disciplina militar:
sobre o autor? Pena - reclusão, de quatro a oito anos, com aumen-
O CPM admite a Teoria subjetiva causal ou extensi- to de um terço para os cabeças.
va (unitária ou monista).
Revolta
Cabeça
Parágrafo único. Se os agentes estavam armados:
Pena - reclusão, de oito a vinte anos, com aumento
Conforme redação do art. 54, do CPM, o ajuste, a
de um terço para os cabeças.
determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposi-
ção em contrário, não são puníveis se o crime não che-
ga, pelo menos, a ser tentado.
No direito penal militar, há a figura do “Cabeça”.
Na prática de crime de autoria necessária, reputam- PENAS
-se cabeças os que dirigem, provocam, instigam ou
excitam a ação. É importante destacar que quando o APLICAÇÃO DA PENA
crime é cometido por inferiores e um ou mais oficiais,
são estes considerados cabeças, assim como os infe- Penas Principais
riores que exercem função de oficial.
Assim como no direito penal comum, no direito O Código Penal Militar, diferente do Código Penal,
penal militar, os crimes podem ser unissubjetivos ou dispõe, num rol taxativo, as penas principais, aquelas
plurissubjetivos. que integram o preceito secundário do tipo penal e, 245
em outro rol, as penas acessórias que podem ser apli- Com a condenação do réu à pena de morte, far-se-á
cadas cumulativamente com as penas principais em o seguinte:
circunstâncias legais (ex.: Capitão do Exército Brasilei-
ro condenado por roubo à pena de reclusão de quatro Art. 707 (CPPM) O militar que tiver de ser fuzilado
sairá da prisão com uniforme comum e sem insíg-
anos (pena principal) e indignidade com o oficialato
nias, e terá os olhos vendados, salvo se o recusar,
(pena acessória). no momento em que tiver de receber as descargas.
As vozes de fogo serão substituídas por sinais.
Art. 242, do CPM
Crime de roubo Art. 100, do CPM
Capitão
simples Indignidade para z Observações importantes sobre a pena de morte:
(Oficial)
Pena: reclusão o oficialato
de quatro anos „ O civil será executado nas mesmas condições
que o militar;
De acordo com o disposto no art. 55, do CPM, as „ Será permitido ao condenado receber socorro
penas principais são: espiritual;
„ A pena será executada sete dias após a comuni-
cação ao Presidente da República.
Art. 55 As penas principais são:
a) morte;
As penas de reclusão, detenção e prisão são
b) reclusão;
penas privativas de liberdade.
c) detenção;
d) prisão;
z As penas de reclusão e de detenção estão contidas
e) impedimento;
no preceito secundário do tipo penal;
f) suspensão do exercício do posto, graduação, car-
z A pena de prisão está disposta no CPM na condição
go ou função;
de conversão da pena de detenção em prisão.
g) reforma.
Veremos, a seguir, uma a uma.
Pena de Morte
Reclusão
Art. 56 A pena de morte é executada por fuzilamento
Art. 58 O mínimo da pena de reclusão é de um ano,
Exemplo: Sargento da Marinha, no teatro de opera- e o máximo de trinta anos.
ções, local de conflito armado (guerra), pratica homi-
cídio qualificado, ao matar, por asfixia, outro militar Detenção
da Marinha do Brasil.
Art. 58 […] o mínimo da pena de detenção é de trin-
Art. 400 Praticar homicídio, em presença do ta dias, e o máximo de dez anos.
inimigo.
[…] Aqui, cabe-nos algumas perguntas: por que o CPM
III – no caso do § 2º do artigo 205. ensina que há mínimo e máximo genérico para as
Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, penas de reclusão e de detenção?
grau mínimo. Leia com atenção os seguintes crimes:

Art. 298 Desacatar superior, ofendendo-lhe a dig-


Homicídio Simples
nidade ou o decoro, ou procurando deprimir-lhe a
autoridade:
Art. 205 Matar alguém: Pena – reclusão até quatro anos, se o fato não
Pena - reclusão, de seis a vinte anos. constitui crime mais grave.
Art. 228 Divulgar, sem justa causa, conteúdo de
Homicídio Qualificado documento particular sigiloso ou de correspondên-
cia confidencial, de que é detentor ou destinatário,
Art. 205 [...] desde que da divulgação possa resultar dano a
§ 2º Se o homicídio é cometido: outrem:
I - por motivo fútil; Pena – detenção, até seis meses.
II - mediante paga ou promessa de recompensa, por
cupidez, para excitar ou saciar desejos sexuais, ou
Há crimes, no código penal militar, que necessitam
de complementação no preceito secundário, o que a dou-
por outro motivo torpe;
trina denomina de norma penal em branco ao inverso.
III - com emprego de veneno, asfixia, tortura, fogo,
Por isso, é importante saber o mínimo e o máximo gené-
explosivo, ou qualquer outro meio dissimulado ou rico das penas principais de reclusão e detenção.
cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, com surpresa ou Prisão
mediante outro recurso insidioso, que dificultou ou
tornou impossível a defesa da vítima; A pena privativa de liberdade de prisão é aplica-
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impu- da na forma do art. 59, do CPM, a pena de reclusão ou
nidade ou vantagem de outro crime; detenção até dois anos, aplicada a militar, é convertida
VI - prevalecendo-se o agente da situação de serviço: em pena de prisão e cumprida, quando não cabível a
246 Pena - reclusão, de doze a trinta anos. suspensão condicional.
z Oficial cumpre a pena de prisão em estabelecimen- Reforma
to militar;
z Praça cumpre a pena de prisão em estabelecimen- A pena de reforma está no art. 65, do CPM, o qual
to penal militar, separado de presos disciplinares e afirma que a pena de reforma sujeita o condenado à
presos com pena superior a dois anos. situação de inatividade. Vejamos:

Art. 65 A pena de reforma sujeita o condenado à


Como proceder se a pena aplicada de reclusão ou
situação de inatividade, não podendo perceber mais
detenção for superior a dois anos? de um vinte e cinco avos do soldo, por ano de ser-
viço, nem receber importância superior à do soldo.
Art. 61 A pena privativa da liberdade por mais de 2
(dois) anos, aplicada a militar, é cumprida em peni- Exemplo:
tenciária militar e, na falta dessa, em estabelecimento
prisional civil, ficando o recluso ou detento sujeito ao Art. 201 Deixar o comandante de socorrer, sem jus-
regime conforme a legislação penal comum, de cujos ta causa, navio de guerra ou mercante, nacional ou
benefícios e concessões, também, poderá gozar. estrangeiro, ou aeronave, em perigo, ou náufragos
que hajam pedido socorro:
E se a pena privativa de liberdade for aplicada a civil? Pena – suspensão do exercício do posto, de um a
três anos ou reforma.
Art. 62 O civil cumpre a pena aplicada pela Justiça
Militar, em estabelecimento prisional civil, ficando ele Além de saber quais são as penas principais, é
sujeito ao regime conforme a legislação penal comum, importante conhecer as circunstâncias que as agravam
de cujos benefícios e concessões, também, poderá gozar. quando não integrantes ou qualificativas do crime:

Dentre as penas principais, há a pena não capital e as Circunstâncias Agravantes


penas não privativas de liberdade – impedimento, sus-
pensão do posto, graduação, cargo ou função e reforma. Art. 70 São circunstâncias que sempre agravam a
pena, quando não integrantes ou qualificativas do
Impedimento crime:
I - a reincidência;
II - ter o agente cometido o crime:
A pena de impedimento está prevista no art. 63,
a) por motivo fútil ou torpe;
do CPM, o qual diz que a pena de impedimento sujeita b) para facilitar ou assegurar a execução, a ocul-
o condenado a permanecer no recinto da unidade, sem tação, a impunidade ou vantagem de outro crime;
prejuízo da instrução militar. c) depois de embriagar-se, salvo se a embriaguez
Exemplo: decorre de caso fortuito, engano ou fôrça maior;
d) à traição, de emboscada, com surpresa, ou
Crime de Insubmissão mediante outro recurso insidioso que dificultou ou
tornou impossível a defesa da vítima;

NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR/PROCESSO PENAL MILITAR


Art. 183 Deixar de apresentar-se o convocado à e) com o emprego de veneno, asfixia, tortura, fogo,
incorporação, dentro do prazo que lhe foi marcado, explosivo, ou qualquer outro meio dissimulado ou
ou, apresentando-se, ausentar-se antes do ato ofi- cruel, ou de que podia resultar perigo comum;
cial de incorporação: f) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge;
Pena – impedimento, de três meses a um ano. g) com abuso de poder ou violação de dever ineren-
te a cargo, ofício, ministério ou profissão;
h) contra criança, velho ou enfermo;
Suspensão do Exercício do Posto, Graduação, Cargo i) quando o ofendido estava sob a imediata prote-
ou Função ção da autoridade;
j) em ocasião de incêndio, naufrágio, encalhe, ala-
De acordo com o art. 64, do CPM, a pena de suspen- gamento, inundação, ou qualquer calamidade
são do exercício do posto, graduação, cargo ou função pública, ou de desgraça particular do ofendido;
consiste no afastamento, no licenciamento ou na dis- l) estando de serviço;
ponibilidade do condenado, pelo tempo fixado na sen- m) com emprego de arma, material ou instrumento
tença, sem prejuízo do seu comparecimento regular à de serviço, para êsse fim procurado;
n) em auditório da Justiça Militar ou local onde
sede do serviço. Não será contado como tempo de ser-
tenha sede a sua administração;
viço, para qualquer efeito, o do cumprimento da pena. o) em país estrangeiro.
Exemplo: Parágrafo único. As circunstâncias das letras c ,
salvo no caso de embriaguez preordenada, l , m e o,
Art. 324 Deixar, no exercício da função, de observar só agravam o crime quando praticado por militar.
lei, regulamento ou instrução, dando causa direta à
prática de ato prejudicial à administração militar: Há, ainda, as atenuantes – circunstâncias que ate-
Pena: [...] se por negligência, suspensão do exercí- nuam a pena.
cio do posto, graduação, cargo ou função, de 3
(três) meses a 1 (um) ano. Circunstância Atenuantes

Art. 72 [...]
É importante destacar que se o condenado, quando
I - ser o agente menor de vinte e um ou maior de
proferida a sentença, já estiver na reserva, ou reformado setenta anos;
ou aposentado, a pena prevista no art. 324, do CPM, será II - ser meritório seu comportamento anterior;
convertida em pena de detenção de três meses a um ano. III - ter o agente: 247
a) cometido o crime por motivo de relevante valor Diante do exposto, fica claro que a suspensão
social ou moral; condicional da pena é aplicada ao condenado à pena
b) procurado, por sua espontânea vontade e com privativa de liberdade, não se estendendo, portanto,
eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar- às condenações às penas de reforma, suspensão do
-lhe as consequências, ou ter, antes do julgamento, exercício do posto, graduação ou função ou à pena
reparado o dano;
acessória, nem excluindo a aplicação de medida de
c) cometido o crime sob a influência de violenta
segurança não detentiva.
emoção, provocada por ato injusto da vítima;
d) confessado espontânea mente, perante a autori- Na sentença, o juiz ou o Conselho de Justiça deve espe-
dade, a autoria do crime, ignorada ou imputada a cificar as condições a que fica subordinada a suspensão.
outrem; Por exemplo, o condenado deverá:
e) sofrido tratamento com rigor não permitido em
lei. Não atendimento de atenuantes z Tomar ocupação, dentro de prazo razoável, se for
Parágrafo único. Nos crimes em que a pena máxima apto para o trabalho;
cominada é de morte, ao juiz é facultado atender, z Não se ausentar do território da jurisdição do juí-
ou não, às circunstâncias atenuantes enumeradas zo, sem prévia autorização;
no artigo. z Não portar armas ofensivas ou instrumentos capa-
zes de ofender;
SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA z Não frequentar casas de bebidas alcoólicas ou de
casa noturna;
A suspensão condicional, ou sursis, do mesmo modo z Não mudar de habitação, sem aviso prévio à auto-
que no direito penal comum, está relacionado à pena, ridade competente.
sendo um instituto que busca evitar o recolhimento do
condenado ao cárcere. Trata-se de um benefício que só Vejamos, agora, o que rege o art. 85 do CPM.
pode ser concedido ao acusado que for condenado, sem
possibilidade de antecipar a aplicação. Art. 85 A sentença deve especificar as condições a
Neste sentido, o momento de conceder a sursis é que fica subordinada a suspensão.
na execução da pena privativa de liberdade (reclusão,
detenção ou prisão). É importante saber que a pena A suspensão condicional da pena pode ser revoga-
privativa de liberdade sobre a qual versa o benefício da pelo juízo da execução.
não pode ser superior a 2 (dois) anos e que a suspen-
são condicional do cumprimento da pena será de 2 Art. 86 A suspensão é revogada se, no curso do pra-
(dois) anos a 4 (quatro) anos. zo, o beneficiário:
Para que o juiz ou o Conselho de Justiça conceda I - é condenado, por sentença irrecorrível, na
a sursis, o sentenciado não pode ter sofrido, no país Justiça Militar ou na comum, em razão de crime,
ou no estrangeiro, condenação irrecorrível por outro ou de contravenção reveladora de má índole ou a
crime com pena privativa de liberdade, salvo se: que tenha sido imposta pena privativa de liberdade;
II - não efetua, sem motivo justificado, a repara-
ção do dano;
z A condenação anterior tenha ocorrido entre a data III - sendo militar, é punido por infração discipli-
do cumprimento ou extinção da pena e o crime nar considerada grave.
posterior decorrido em período superior a cinco Revogação facultativa
anos; § 1º A suspensão pode ser também revogada, se o
z Da análise dos antecedentes, da personalidade, dos condenado deixa de cumprir qualquer das obriga-
motivos, das circunstâncias do crime, bem como ções constantes da sentença.
da conduta do agente seja possível presumir que Prorrogação de prazo
ele não tornará a praticar novo crime. § 2º Quando facultativa a revogação, o juiz pode, ao
invés de decretá-la, prorrogar o período de prova
Vejamos como dispõe o art. 84 do Código Penal até o máximo, se este não foi o fixado.
Militar: § 3º Se o beneficiário está respondendo a processo
que, no caso de condenação, pode acarretar a revo-
gação, considera-se prorrogado o prazo da suspen-
Art. 84 A execução da pena privativa da liberdade,
são até o julgamento definitivo.
não superior a 2 (dois) anos, pode ser suspensa, por
2 (dois) anos a 6 (seis) anos, desde que:
I - o sentenciado não haja sofrido no País ou no A classificação da infração disciplinar, que prevê
estrangeiro, condenação irrecorrível por outro cri- o inciso III, do art. 86, depende da legislação de cada
me a pena privativa da liberdade, salvo o disposto força. Por exemplo, o Regulamento Disciplinar da
no 1º do art. 71; Aeronáutica classifica grave a transgressão em que o
II - os seus antecedentes e personalidade, os moti- militar põe em risco a saúde de outrem.
vos e as circunstâncias do crime, bem como sua A suspensão pode ser facultativamente revogada
conduta posterior, autorizem a presunção de que se o condenado deixa de cumprir qualquer das obriga-
não tornará a delinqüir. ções constantes da sentença. Nesse caso, por se tratar de
revogação facultativa, o juiz pode, ao invés de revogá-la,
Restrições prorrogar o período de prova até o máximo, isto é, 4 (seis)
anos, desde que já não esteja fixado esse período.
Art. 84 [...] O condenado que tiver o benefício da suspensão con-
Parágrafo único. A suspensão não se estende às dicional da pena, não cumprirá a pena privativa de liber-
penas de reforma, suspensão do exercício do posto, dade. Porém, se durante a sursis houver alguma causa de
graduação ou função ou à pena acessória, nem exclui revogação da suspensão, o condenado deverá cumprir a
248 a aplicação de medida de segurança não detentiva. pena privativa de liberdade. Vide art. 87:
Art. 87 Se o prazo expira sem que tenha sido revo- z Não frequentar casas de bebidas alcoólicas ou de
gada a suspensão, fica extinta a pena privativa de casa noturna;
liberdade. z Não mudar de habitação, sem aviso prévio à auto-
ridade competente.
Após transcorrido o prazo da suspensão condicio-
nal da pena, o juízo da execução julga extinta a pena Preliminares da Concessão
privativa de liberdade.
Art. 91 O livramento sòmente se concede mediante pare-
cer do Conselho Penitenciário, ouvidos o diretor do esta-
Art. 88 A suspensão condicional da pena não se belecimento em que está ou tenha estado o liberando e
aplica: o representante do Ministério Público da Justiça Militar;
I - ao condenado por crime cometido em tempo de e, se imposta medida de segurança detentiva, após perí-
guerra; cia conclusiva da não periculosidade do liberando.
II - em tempo de paz:
a) por crime contra a segurança nacional, de alicia- Observação Cautelar e Proteção do Liberado
ção e incitamento, de violência contra superior, ofi-
cial de dia, de serviço ou de quarto, sentinela, vigia Art. 92 O liberado fica sob observação cautelar e
ou plantão, de desrespeito a superior, de insubordi- proteção realizadas por patronato oficial ou par-
nação, ou de deserção; ticular, dirigido aquêle e inspecionado êste pelo
b) pelos crimes previstos nos arts. 160, 161, 162, Conselho Penitenciário. Na falta de patronato, o
235, 291 e seu parágrafo único, incisos I a IV. liberado fica sob observação cautelar realizada por
serviço social penitenciário ou órgão similar.
Em tempo de paz, a suspensão condicional da pena Revogação Obrigatória
não será aplicada ao condenado, nos termos da alínea
“b”, do inciso II, pelos crimes de desrespeito a supe- Art. 93 Revoga-se o livramento, se o liberado vem
rior, desrespeito a símbolo nacional, despojamento a ser condenado, em sentença irrecorrível, a penal
desprezível, pederastia ou outro ato de libidinagem e privativa de liberdade:
receita ilegal e casos assimilados. I - por infração penal cometida durante a vigência
do benefício;
II - por infração penal anterior, salvo se, tendo de
LIVRAMENTO CONDICIONAL ser unificadas as penas, não fica prejudicado o
requisito do art. 89, nº I, letra a.
Art. 89 O condenado a pena de reclusão ou de
detenção por tempo igual ou superior a dois anos Nos termos do inciso II, do art. 93, revoga-se o livra-
pode ser liberado condicionalmente, desde que: mento por infração penal anterior, salvo se, tendo de
I - tenha cumprido: ser unificadas as penas, não fica prejudicado o requi-
a) metade da pena, se primário; sito de ter cumprido metade da pena, se primário.
b) dois terços, se reincidente;
II - tenha reparado, salvo impossibilidade de fazê- Revogação Facultativa
-lo, o dano causado pelo crime;
III - sua boa conduta durante a execução da pena, Art. 93 [...]

NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR/PROCESSO PENAL MILITAR


sua adaptação ao trabalho e às circunstâncias ati- § 1º O juiz pode, também, revogar o livramento se o
nentes a sua personalidade, ao meio social e à sua liberado deixa de cumprir qualquer das obrigações
vida pregressa permitem supor que não voltará a constantes da sentença ou é irrecorrìvelmente con-
delinqüir. denado, por motivo de contravenção, a pena que não
Penas em Concurso de Infrações seja privativa de liberdade; ou, se militar, sofre penali-
§ 1º No caso de condenação por infrações penais dade por transgressão disciplinar considerada grave.
em concurso, deve ter-se em conta a pena unificada.
Condenação de Menor de 21 ou Maior de 70 Anos Infração Sujeita à Jurisdição Penal Comum
§ 2º Se o condenado é primário e menor de vinte e
Art. 93 [...]
um ou maior de setenta anos, o tempo de cumpri-
§ 2º Para os efeitos da revogação obrigatória, são toma-
mento da pena pode ser reduzido a um têrço.
das, também, em consideração, nos têrmos dos ns. I e
II dêste artigo, as infrações sujeitas à jurisdição penal
Quando o réu for condenado por infrações penais comum; e, igualmente, a contravenção compreendida no
em concurso, a exigência de cumprimento de pena § 1º, se assim, com prudente arbítrio, o entender o juiz.
privativa de liberdade para a concessão do benefí-
cio da liberdade condicional levará em conta a pena Efeitos da Revogação
unificada.
Outro benefício disposto no CPM trata da hipótese Art. 94 Revogado o livramento, não pode ser nova-
de o condenado ser primário e menor de vinte e um mente concedido e, salvo quando a revogação
resulta de condenação por infração penal anterior
ou maior de setenta anos, em que o tempo de cumpri-
ao benefício, não se desconta na pena o tempo em
mento da pena pode ser reduzido a um terço. que estêve sôlto o condenado.
A sentença deve especificar as condições a que fica
subordinado o livramento, por exemplo: O juiz declarará a extinção da punibilidade após
passado o período da liberdade condicional. Enquan-
z Tomar ocupação, dentro de prazo razoável, se for to não passa em julgado a sentença em processo a que
apto para o trabalho; responde o liberado por infração penal cometida na
z Não se ausentar do território da jurisdição do juí- vigência do livramento, deve o juiz abster-se de decla-
zo, sem prévia autorização; rar a extinção da pena, ou seja, prorroga-se o prazo
z Não portar armas ofensivas ou instrumentos capa- de liberdade condicional até o processo pendente ser
zes de ofender; julgado e a decisão transitar em julgado. 249
Incompatibilidade Com o Oficialato
Importante!
Art. 101 Fica sujeito à declaração de incompatibili-
Uma regra específica do CPM é que o livramento dade com o oficialato o militar condenado nos cri-
condicional não se aplica ao condenado por cri- mes dos arts. 141 e 142.
me cometido em tempo de guerra, vide art. 96.
A pena acessória de exclusão das Forças Armadas
Art. 97 Em tempo de paz, o livramento condicional é aplicada somente para as praças.
por crime contra a segurança externa do país, ou de
revolta, motim, aliciação e incitamento, violência Art. 102 A condenação da praça a pena privati-
contra superior ou militar de serviço, só será con- va de liberdade, por tempo superior a dois anos,
cedido após o cumprimento de dois terços da pena. importa sua exclusão das Forças Armadas.

Vale frisar que o condenado à pena de reclusão PENA ACESSÓRIA


ou de detenção, por tempo igual ou superior a dois Para praças condenados à
anos, pode ser liberado, condicionalmente, desde que Para Oficiais pena privativa de liberdade
tenha reparado, salvo impossibilidade de fazê-lo, o superior a 2 anos
dano causado pelo crime. A sua boa conduta durante
a execução da pena, sua adaptação ao trabalho e às Perda do posto e patente
circunstâncias atinentes a sua personalidade, ao meio Indignidade para oficialato Exclusão das Forças
social e à sua vida pregressa permitem supor que não Incompatibilidade como o Armadas
voltará a praticar crime. oficialato

PENAS ACESSÓRIAS A pena acessória de perda da função pública é aplicada


ao civil ou ao militar da reserva, ou reformado, se estiver
O Código Penal Militar define as penas principais no exercício de função pública nas seguintes hipóteses:
– morte, reclusão, detenção, prisão, impedimento,
reforma e suspensão do exercício do posto, gradua- z Perda da função pública:
ção, cargo ou função. Vejamos:
„ Condenado à pena privativa de liberdade por
Penas Acessórias crime cometido com abuso de poder ou viola-
ção de dever inerente à função pública;
Art. 98 São penas acessórias: „ Condenado por outro crime à pena privativa de
I - a perda de posto e patente; liberdade por mais de dois anos.
II - a indignidade para o oficialato;
III - a incompatibilidade com o oficialato;
A perda da função pública, ainda que eletiva, é
IV - a exclusão das fôrças armadas;
aplicada a qualquer agente, civil ou militar.
V - a perda da função pública, ainda que eletiva;
VI - a inabilitação para o exercício de função
pública; Inabilitação para o Exercício de Função Pública
VII - a suspensão do pátrio poder, tutela ou curatela;
VIII - a suspensão dos direitos políticos. Art. 104 Incorre na inabilitação para o exercício de
função pública, pelo prazo de dois até vinte anos, o
É bom lembrar de que as Forças Armadas são com- condenado a reclusão por mais de quatro anos, em
postas por militares, os quais são divididos em círcu- virtude de crime praticado com abuso de poder ou vio-
los hierárquicos: Círculos de Oficiais Generais, Oficiais lação do dever militar ou inerente à função pública.
Superiores, Oficiais Intermediários, Oficiais Subalter-
nos e Praças. Os oficiais possuem posto e patente e as A pena acessória de suspensão do pátrio poder,
praças possuem graduação. tutela ou curatela é aplicada a qualquer agente que
Dentre as penas acessórias, a perda do posto e tenha sido condenado à pena privativa de liberdade
patente, a indignidade para oficialato, a incompatibi- por mais de 2 anos.
lidade com o oficialato são sanções (penas) aplicadas A título de atualização, deve-se substituir o termo
para os oficiais. “pátrio poder” por “poder familiar”, conforme defini-
ção contida no Código Civil. Observe a redação do art.
Perda de Posto e Patente 105, do CPM:

Art. 99 A perda de pôsto e patente resulta da con- Art. 105 O condenado a pena privativa de liberdade
denação a pena privativa de liberdade por tem- por mais de dois anos, seja qual for o crime pra-
po superior a dois anos, e importa a perda das ticado, fica suspenso do exercício do pátrio poder,
condecorações. tutela ou curatela, enquanto dura a execução da
pena, ou da medida de segurança imposta em subs-
Indignidade Para o Oficialato tituição (art. 113).
Parágrafo único. Durante o processo pode o juiz
Art. 100 Fica sujeito à declaração de indignidade decretar a suspensão provisória do exercício do
para o oficialato o militar condenado, qualquer que pátrio poder, tutela ou curatela.
seja a pena, nos crimes de traição, espionagem ou
cobardia, ou em qualquer dos definidos nos arts. A pena acessória de suspensão dos direitos políti-
161, 235, 240, 242, 243, 244, 245, 251, 252, 303, 304, cos é a consequência da execução da pena privativa
250 311 e 312. de liberdade ou da medida de segurança imposta em
substituição, ou enquanto perdura a inabilitação para z As medidas de segurança patrimoniais são a
a função pública. Isso significa que o condenado, seja interdição de estabelecimento ou sede de socieda-
civil ou militar, não pode votar, nem ser votado. Veja de ou associação, e o confisco.
a redação do art. 106, do CPM:
São pessoas sujeitas às medidas de segurança:
Art. 106 Durante a execução da pena privativa de
liberdade ou da medida de segurança imposta em
Pessoas Sujeitas às Medidas de Segurança
substituição, ou enquanto perdura a inabilitação
para função pública, o condenado não pode votar,
nem ser votado. Art. 111 As medidas de segurança somente podem
ser impostas:
EFEITOS DA CONDENAÇÃO I - aos civis;
II - aos militares ou assemelhados, condenados a
Os efeitos da condenação está previsto no artigo pena privativa de liberdade por tempo superior a
109 do Código Penal Militar.1 dois anos, ou aos que de outro modo hajam perdi-
do função, pôsto e patente, ou hajam sido excluídos
Art. 109. São efeitos da condenação: das fôrças armadas;
I - tornar certa a obrigação de reparar o dano resul- III - aos militares ou assemelhados, no caso do art. 48;
tante do crime; IV - aos militares ou assemelhados, no caso do art.
Perda em favor da Fazenda Nacional 115, com aplicação dos seus § § 1º, 2º e 3º.
I - a perda, em favor da Fazenda Nacional, ressalva-
do o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé: De acordo com o inciso III do art. 111, as medidas
a) dos instrumentos do crime, desde que consistam
de segurança podem ser impostas aos militares que
em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou
no momento da ação ou da omissão, não possui a capa-
detenção constitua fato ilícito;
b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor cidade de entender o caráter ilícito do fato ou de deter-
que constitua proveito auferido pelo agente com a minar-se de acordo com esse entendimento, em virtude
sua prática. de doença mental, de desenvolvimento mental incom-
pleto ou retardado. Essa definição está prevista no art.
48, ao tratar sobre os inimputáveis.
Já nos termos do inciso IV do art. 111, essas medidas
MEDIDAS DE SEGURANÇA também poderão ser impostas aos militares que tiverem
a cassação de licença para dirigir veículos motorizados.
Acompanhe a seguir quais são as espécies de medi- O art. 112 fala sobre o manicômio judiciário. Acom-
das de segurança: panhe a leitura:

Espécies de Medidas de Segurança Manicômio Judiciário

Art. 110 As medidas de segurança são pessoais ou Art. 112 Quando o agente é inimputável (art. 48), mas
patrimoniais. As da primeira espécie subdividem-se suas condições pessoais e o fato praticado revelam que

NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR/PROCESSO PENAL MILITAR


em detentivas e não detentivas. As detentivas são a êle oferece perigo à incolumidade alheia, o juiz deter-
internação em manicômio judiciário e a internação mina sua internação em manicômio judiciário.
em estabelecimento psiquiátrico anexo ao manicô-
mio judiciário ou ao estabelecimento penal, ou em Prazo de Internação
seção especial de um ou de outro. As não detentivas
são a cassação de licença para direção de veículos Art. 112 [...]
motorizados, o exílio local e a proibição de freqüen- § 1º A internação, cujo mínimo deve ser fixado de entre
tar determinados lugares. As patrimoniais são a um a três anos, é por tempo indeterminado, perdurando
interdição de estabelecimento ou sede de sociedade enquanto não fôr averiguada, mediante perícia médica,
ou associação, e o confisco. a cessação da periculosidade do internado.

Para um melhor entendimento do leitor, vamos Perícia Médica


esquematizar o art. 110 exposto acima:
Art. 112 [...]
z As medidas de segurança previstas são pessoais § 2º Salvo determinação da instância superior, a
ou patrimoniais; perícia médica é realizada ao término do prazo
z As medidas de segurança pessoais subdividem-se mínimo fixado à internação e, não sendo esta revo-
em detentivas e não detentivas; gada, deve aquela ser repetida de ano em ano.

„ As medidas de segurança pessoais detentivas Desinternação Condicional


são a internação em manicômio judiciário e a
internação em estabelecimento psiquiátrico ane- Art. 112 [...]
xo ao manicômio judiciário ou ao estabelecimen- § 3º A desinternação é sempre condicional, devendo
to penal, ou em seção especial de um ou de outro; ser restabelecida a situação anterior, se o indivíduo,
„ As medidas de segurança pessoais não deten- antes do decurso de um ano, vem a praticar fato
tivas são a cassação de licença para direção de indicativo de persistência de sua periculosidade.
veículos motorizados, o exílio local e a proibi- § 4º Durante o período de prova, aplica-se o dispos-
ção de frequentar determinados lugares. to no art. 92.

1Decreto-lei nº 1.001, de 21 de outubro de 1969. Disponivel em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del1001.htm. 251


Se a doença ou a deficiência mental não supri- Cassação de Licença para Dirigir Veículos
me, mas diminui consideravelmente a capacidade Motorizados
de entendimento da ilicitude do fato ou a de autode-
Art. 115 Ao condenado por crime cometido na
terminação, não fica excluída a imputabilidade, mas
direção ou relacionadamente à direção de veículos
pode ser o autor da conduta internado em hospital
motorizados, deve ser cassada a licença para tal
apropriado. É o que rege o art. 113 do CPM: fim, pelo prazo mínimo de um ano, se as circuns-
tâncias do caso e os antecedentes do condenado
Substituição da Pena Por Internação revelam a sua inaptidão para essa atividade e con-
seqüente perigo para a incolumidade alheia.
Art. 113 Quando o condenado se enquadra no § 1º O prazo da interdição se conta do dia em que
parágrafo único do art. 48 e necessita de especial termina a execução da pena privativa de liberdade
tratamento curativo, a pena privativa de liberdade ou da medida de segurança detentiva, ou da data da
pode ser substituída pela internação em estabeleci- suspensão condicional da pena ou da concessão do
mento psiquiátrico anexo ao manicômio judiciário livramento ou desinternação condicionais.
ou ao estabelecimento penal, ou em seção especial § 2º Se, antes de expirado o prazo estabelecido, é ave-
de um ou de outro. riguada a cessação do perigo condicionante da interdi-
ção, esta é revogada; mas, se o perigo persiste ao têrmo
do prazo, prorroga-se êste enquanto não cessa aquêle.
Superveniência de Cura
§ 3º A cassação da licença deve ser determinada
ainda no caso de absolvição do réu em razão de
Art. 113 [...]
inimputabilidade.
§ 1º Sobrevindo a cura, pode o internado ser trans-
ferido para o estabelecimento penal, não ficando
O legislador, por uma questão lógica, afirma que
excluído o seu direito a livramento condicional.
o prazo da cassação da licença para dirigir se conta
do dia em que termina a execução da pena privativa
Persistência do Estado Mórbido
de liberdade ou da medida de segurança detentiva,
ou da data da suspensão condicional da pena ou da
Art. 113 [...]
concessão do livramento ou desinternação condicio-
§ 2º Se, ao término do prazo, persistir o mórbido
nais (§ 1º).Por quê? Porque se o condenado estiver
estado psíquico do internado, condicionante de
cumprindo pena privativa de liberdade de 2 anos e,
periculosidade atual, a internação passa a ser por
tempo indeterminado, aplicando-se o disposto nos
ao mesmo tempo, tiver a Carteira Nacional de Habili-
§ § 1º a 4º do artigo anterior. tação cassada por 1 ano, isso não terá efeito. Para ter
efeito, cumpre-se 2 anos de detenção e depois 1 ano de
Ébrios Habituais ou Toxicômanos habilitação cassada.
Um detalhe: conforme o § 2º, se, antes de expirado o
prazo da cassação da habilitação (mínimo de um ano),
Art. 113 [...]
§ 3º À idêntica internação para fim curativo, sob as
for averiguada a cessação do perigo condicionante da
mesmas normas, ficam sujeitos os condenados reco- interdição, revoga-se a interdição. Porém, se o perigo
nhecidos como ébrios habituais ou toxicômanos. persistir ao fim do prazo, prorroga-se a interdição; por
isso, a lei diz que o prazo mínimo é de um ano.
Em outras palavras, de acordo com o § 2º do art.
113, se, ao término do prazo, persistir estado psíqui- Dica
co do internado, a internação passa a ser por tempo A lei dispõe no § 3º do art. 115 que a cassação
indeterminado, devendo ser o paciente submetido à da licença deve ser determinada ainda no caso de
perícia anual.
absolvição do réu em razão de inimputabilidade.
Um exemplo é o infrator praticar a conduta sob
Regime de Internação
efeito de inebriante, ou seja, após ingerir medi-
camento do qual desconhecia o efeito adverso.
Art. 114 A internação, em qualquer dos casos pre-
vistos nos artigos precedentes, deve visar não ape-
nas ao tratamento curativo do internado, senão A medida de segurança de exílio local somente é
também ao seu aperfeiçoamento, a um regime edu- aplicável quando o juiz entende ser necessária para o
cativo ou de trabalho, lucrativo ou não, segundo o bem da ordem pública ou do próprio condenado:
permitirem suas condições pessoais.
Exílio Local
A internação, portanto, deve visar não apenas ao
tratamento curativo do internado, mas também se Art. 116 O exílio local, aplicável quando o juiz o
considera necessário como medida preventiva, a
atentar ao caráter educativo ou de trabalho, de acordo
bem da ordem pública ou do próprio condenado,
com as condições de cada paciente. O objetivo maior é
consiste na proibição de que êste resida ou perma-
a reintegração do infrator na sociedade. neça, durante um ano, pelo menos, na localidade,
A medida de segurança pode ser aplicada cumula- município ou comarca em que o crime foi praticado.
tivamente com a pena. Imagine que o militar foi con- Parágrafo único. O exílio deve ser cumprido logo
denado por crime relacionado à condução de veículo que cessa ou é suspensa condicionalmente a execu-
motorizado – por exemplo, o infrator estava sob efeito ção da pena privativa de liberdade.
de álcool e atropelou um pedestre. Nessa hipótese, ao
condenado deve ser aplicada a medida de segurança Outra medida de segurança aplicada na justiça mili-
252 de cassar a habilitação. Vejamos: tar é a proibição de frequentar determinados lugares:
Proibição de Frequentar Determinados Lugares Art. 120 A medida de segurança é imposta em sen-
tença, que lhe estabelecerá as condições, nos têr-
Art. 117 A proibição de freqüentar determinados mos da lei penal militar.
lugares consiste em privar o condenado, durante Parágrafo único. A imposição da medida de segu-
um ano, pelo menos, da faculdade de acesso a luga-
res que favoreçam, por qualquer motivo, seu retôr- rança não impede a expulsão do estrangeiro.
no à atividade criminosa.
Parágrafo único. Para o cumprimento da proibição,
aplica-se o disposto no parágrafo único do artigo
anterior. AÇÃO PENAL
Por exemplo, o juiz determina na sentença que
Estudar o assunto ação penal militar é quase que
o condenado não poderá frequentar bares e casas
impossível se não importar conceitos, doutrinas e tex-
noturna, tendo em visa que o crime praticado foi
to de lei do direito processual penal militar.
motivado por estar embriagado em um bar.
Por lógica, e não poderia ser diferente, a medida A propositura da ação penal está no art. 121, do CPM.
de segurança de privar o condenado de frequentar
determinados lugares deve ser cumprida logo que Art. 121 A ação penal somente pode ser promovi-
cessa ou é suspensa condicionalmente a execução da da por denúncia do Ministério Público da Justiça
pena privativa de liberdade. Militar.
Já sobre a interdição de estabelecimento, socie-
dade ou associação, outra modalidade de medida de A dependência de requisição para a ação penal
segurança, é importante que vejamos como dispõe a está contida no art. 122, do CPM.
legislação:
Art. 122 Nos crimes previstos nos arts. 136 a 141, a
Interdição de Estabelecimento, Sociedade ou ação penal, quando o agente for militar ou asseme-
Associação lhado, depende da requisição do Ministério Militar
a que aquele estiver subordinado; no caso do art.
Art. 118 A interdição de estabelecimento comercial 141, quando o agente for civil e não houver coautor
ou industrial, ou de sociedade ou associação, pode militar, a requisição será do Ministério da Justiça.
ser decretada por tempo não inferior a quinze dias,
nem superior a seis meses, se o estabelecimento, São apenas esses dois artigos do Código Penal
sociedade ou associação serve de meio ou pretexto
Militar que tratam da ação penal. Realize uma leitura
para a prática de infração penal.
atenta desses dispositivos, buscando compreendê-los.
§ 1º A interdição consiste na proibição de exercer
no local o mesmo comércio ou indústria, ou a ati- A seguir, veremos o conteúdo disposto no Código de
vidade social. Processo Penal Militar pertinente ao tema.
§ 2º A sociedade ou associação, cuja sede é inter- A fim de prosseguirmos com o nosso estudo, cabe-
ditada, não pode exercer em outro local as suas -nos alguns questionamentos: a ação penal militar é

NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR/PROCESSO PENAL MILITAR


atividades. de iniciativa pública ou de iniciativa privada?
De acordo com o art. 29, do CPPM, a ação penal é
Sobre o confisco, outra modalidade de medida de pública e somente pode ser promovida por denúncia
segurança, o juiz, embora não apurada a autoria, ou do Ministério Público Militar.
ainda quando o agente é inimputável, ou não punível, A ação penal é pública incondicionada ou pública
deve ordenar o confisco dos instrumentos e produtos condicionada?
do crime. Vejamos os termos da lei: A regra é que, no silêncio da lei, a ação penal é
pública incondicionada. O art. 31, do CPPM, diz que,
Confisco
nos crimes dos arts. 136 a 141, do COM, serão de ação
penal pública condicionada.
Art. 119 O juiz, embora não apurada a autoria, ou
ainda quando o agente é inimputável, ou não puní- Quais são esses crimes?
vel, deve ordenar o confisco dos instrumentos e pro- São os crimes contra a segurança externa do país,
dutos do crime, desde que consistam em coisas: quais sejam:
I - cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção
constitui fato ilícito; z hostilidade contra país estrangeiro;
II - que, pertencendo às fôrças armadas ou sendo z provocação a país estrangeiro;
de uso exclusivo de militares, estejam em poder ou z ato de jurisdição indevida;
em uso do agente, ou de pessoa não devidamente z violação de território estrangeiro;
autorizada;
z entendimento para empenhar o Brasil à neutrali-
III - abandonadas, ocultas ou desaparecidas.
Parágrafo único. É ressalvado o direito do lesado
dade ou à guerra.
ou de terceiro de boa-fé, nos casos dos ns. I e III
Na justiça militar, há ação penal condicionada à
É uma medida de segurança aplicada por requisi- requisição do Ministério Militar. O Ministro da Defe-
ção do encarregado durante o inquérito policial mili- sa e o Comandante de cada força singular (Marinha,
tar, ou pelo Ministério Público durante a ação penal. Exército e Aeronáutica) a que pertence o agente (mili-
Por isso, o juiz aplica-a mesmo sem autoria. Por ser tar) estão condicionados à requisição do Ministério
uma medida aplicada ainda sem sentença, ressalva-se da Justiça somente se o acusado for civil e não tiver
o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé. militar coautor. 253
AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA
Resultado Mais Grave

Requisição do Ministro da Defesa Requisição do Ministro § 1º Se resulta ruptura de relações diplomáticas:


ou Comandantes da Justiça
Pena - reclusão, de seis a dezoito anos.
(autor civil sem coautor
militar)
§ 2º Se resulta guerra:
Pena - reclusão, de dez a vinte e quatro anos.
Hostilidade contra país estrangeiro Entendimento para em-
Provocação a país estrangeiro penhar a Brasil à neutra-
O art. 5º, LIX, da CF, permite, nessa única hipótese,
Ato de jurisdição indevida lidade ou à guerra
Violação de território estrangeiro ação penal de iniciativa privada subsidiária da públi-
Entendimento para empenhar a ca. Porém, não há registros dessa ação no âmbito da
Brasil à neutralidade ou à guerra justiça militar.
O dono da ação penal, o Ministério Público, poderá
requerer ao juiz o arquivamento do IPM nas seguintes
Vejamos, a seguir, cada um desses crimes:
hipóteses:
Hostilidade Contra País Estrangeiro
z Se não houver indícios de autoria: é uma decisão
Art. 136 Praticar o militar ato de hostilidade con- jurisprudencial interlocutória mista de nature-
tra país estrangeiro, expondo o Brasil a perigo de za terminativa; não faz coisa julgada, portanto
guerra: podem surgir provas novas e ser dada continuida-
Pena - reclusão, de oito a quinze anos. de à persecução penal. Há exceção: caso julgado e
casos de extinção de punibilidade;
Resultado Mais Grave z Se o fato for atípico: fórmula descritiva; a conduta
deve-se ajustar a um modelo legal;
Art. 136 [...] z Prova de fato que, em tese, não constitua crime:
§ 1º Se resulta ruptura de relações diplomáticas, impossibilidade de oferecer denúncia ante à
represália ou retorsão: ausência da prova do crime fornecida, por exem-
Pena - reclusão, de dez a vinte e quatro anos. plo, por meio de laudo técnico.
§ 2º Se resulta guerra:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. MPM REQUER ARQUIVAMENTO DO IPM

Provocação a País Estrangeiro Se não houver indícios de autoria


Se o fato for atípico
Art. 137 Provocar o militar, diretamente, país Prova de fato que, em tese, não constitua crime
estrangeiro a declarar guerra ou mover hostilidade
contra o Brasil ou a intervir em questão que respei-
te à soberania nacional:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE
Ato de Jurisdição Indevida
A extinção da punibilidade, conforme os ensina-
Art. 138 Praticar o militar, indevidamente, no ter- mentos de Cícero Coimbra (2009), ocorre nos seguin-
ritório nacional, ato de jurisdição de país estran- tes casos:
geiro, ou favorecer a prática de ato dessa natureza:
Pena - reclusão, de cinco a quinze anos. z Pela morte do agente: alinha-se ao princípio de
que a morte apaga tudo, do modo como está enun-
Violação de Território Estrangeiro ciado na Constituição Federal ao dispor, no art. 5,
XLV, que nenhuma pena passará da pessoa do con-
Art. 139 Violar o militar território estrangeiro, denado, podendo a obrigação de reparar o dano e
com o fim de praticar ato de jurisdição em nome a decretação do perdimento de bens ser, nos ter-
do Brasil: mos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles
Pena - reclusão, de dois a seis anos. executadas, até o limite do valor do patrimônio
transferido;
Entendimento para Empenhar o Brasil à Neutralidade z Pela anistia (exclui-se o crime, abrangendo fatos e,
ou à Guerra não, pessoas) ou indulto (exclui-se a punibilidade
e, não, o crime) que competem ao Presidente da
Art. 140 Entrar ou tentar entrar o militar em enten- República): anistia consiste no esquecimento do
dimento com país estrangeiro, para empenhar o
crime ou dos crimes, por alguma razão de interesse
Brasil à neutralidade ou à guerra:
do Estado, como, por exemplo, a não conveniência
Pena - reclusão, de seis a doze anos.
em se reprimir mais um crime político em razão
da mudança de orientação política de um país.
Entendimento para Gerar Conflito ou Divergência
com o Brasil
A anistia é alcançada por vontade do Congresso
Art. 141 Entrar em entendimento com país estran- Nacional, nos termos do VIII, art. 48, da CF, e, se antes
geiro, ou organização nele existente, para gerar da sentença, atingirá, também, os efeitos extrapenais.
conflito ou divergência de caráter internacional O indulto pode ser coletivo ou individual, sendo,
entre o Brasil e qualquer outro país, ou para lhes neste caso, sinônimo de graça. É uma forma de cle-
perturbar as relações diplomáticas: mência soberana destinada à pessoa determinada e,
254 Pena - reclusão, de quatro a oito anos. não, ao fato.
Dica A reabilitação só pode ser requerida decorridos 5
anos (requisito temporal) do dia em que for extinta
Anistia: competência do Congresso Nacional;
a pena principal. No caso de livramento condicional
atinge o fato – crime);
e de “sursis”, a contagem do prazo começa a correr
Indulto: competência do Presidente da Repúbli-
do dia em que terminar o período de prova e, não, da
ca; tem, por objeto, o autor do fato.
declaração de extinção da pena.
Quanto ao requisito subjetivo, o bom comporta-
z Pela retroatividade de lei que não mais considera
o fato como criminoso, chamada de “abolitio cri- mento público e privado se refere à vida pública e
minis”: estende-se a todos os codelinquentes; pode privada do agente, respectivamente, no trabalho e na
ser aplicada pelo juiz do processo, em qualquer vida familiar. A demonstração pode ser feita por todos
fase, ou pelo juiz da execução penal, se já houver os meios de provas.
sentença condenatória definitiva e atingirá apenas Já o requisito objetivo, consiste em ressarcir o
os efeitos penais da condenação; dano causado pelo crime ou demonstrar a absoluta
z Pela prescrição: consiste na perda de “jus punien- impossibilidade de o fazer até o dia do pedido, ou exi-
di” do Estado em razão de inércia em satisfazê-la bir documento que comprove a renúncia da vítima ou
durante os prazos estipulados pela lei. O prazo novação de dívida:
prescricional é definido, em primeiro momento, de
acordo com a pena abstratamente cominada para o
z Pelo ressarcimento do dano no Peculato Culposo
tipo e está definido nos incisos do art. 125 do CPM.
(Art. 303, § 4º): nesse tipo penal, a completa repa-
A prescrição da ação penal ocorre em: ração do dano, que pode se dar pela restituição da
coisa íntegra ou pela indenização correspondente
Art. 125 [...] ao valor do dano, promovida pelo agente ou por
I – 30 anos, se a pena é de morte; terceiro, pode ter dois efeitos: se preceder a sen-
II – 20 anos, se o máximo da pena é superior a 12 tença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe
anos; for posterior, reduz a pena pela metade. Os efei-
III – 16 anos, se o máximo da pena é superior a 8
tos penais da reparação do dano não prejudicam
anos e não excede a 12 anos;
o reconhecimento de eventual responsabilidade
IV – 12 anos, se o máximo da pena é superior a 4
anos e não excede a 8 anos; administrativa (ROSSETTO, 2015).
V – 8 anos, se o máximo da pena é de 2 anos e não
excede a 4 anos; Art. 125 [...]
VI – 4 anos, se o máximo da pena é igual a 1 ano ou,
sendo superior, não excede a 2 anos; e Superveniência de Sentença Condenatória de Que
VII – 2 anos, se o máximo da pena é inferior a 1 ano. Somente o Réu Recorre

Além da prescrição descrita no art. 125, do CPM, deve- Art. 125 [...]
-se ter muita atenção à prescrição específica para o crime § 1º Sobrevindo sentença condenatória, de que
de Deserção e de Insubmissão, bem como para o crime somente o réu tenha recorrido, a prescrição passa a
em que a pena cominada é de reforma. Para o crime de regular-se pela pena imposta, e deve ser logo declara-

NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR/PROCESSO PENAL MILITAR


Deserção, cuja pena máxima cominada é de 4 anos, o art. da, sem prejuízo do andamento do recurso se, entre a
132 dispõe que, mesmo decorrido o prazo prescricional, a última causa interruptiva do curso da prescrição (§
punição só será extinta quando o desertor, praça, atingir 5º) e a sentença, já decorreu tempo suficiente.
a idade de 45 anos ou, se oficial, 60 anos.
A prescrição começa a correr, no crime de insubmis- Termo Inicial da Prescrição da Ação Penal
são, do dia em que o insubmisso atinge a idade de trinta
anos. Para os crimes em que a pena máxima seja a refor- Art. 125 [...]
ma ou a suspensão de exercício do posto, graduação, car- § 2º A prescrição da ação penal começa a correr:
go ou função, a prescrição será de 4 anos. a) do dia em que o crime se consumou;
b) no caso de tentativa, do dia em que cessou a ati-
vidade criminosa;
c) nos crimes permanentes, do dia em que cessou a
permanência;
Deserção: Insubmissão: d) nos crimes de falsidade, da data em que o fato se
prescrição para prescrição tornou conhecido.
oficiais 30 anos de idade
60 anos de idade Caso de Concurso de Crimes ou de Crime Continuado

Art. 125 [...]


Deserção: § 3º No caso de concurso de crimes ou de crime con-
prescrição para praças
tinuado, a prescrição é referida, não à pena unifica-
45 anos de idade
da, mas à de cada crime considerado isoladamente.

Suspensão da Prescrição

z Pela reabilitação – cumprida ou extinta a pena, não Art. 125 [...]


constarão da folha corrida, atestados ou certidões § 4º A prescrição da ação penal não corre:
fornecidas por autoridade policial ou por auxiliares I - enquanto não resolvida, em outro processo,
da Justiça, qualquer notícia ou referência à condena- questão de que dependa o reconhecimento da exis-
ção, salvo para instruir processo pela prática de nova tência do crime;
infração penal ou nos casos expressos em lei. II - enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro. 255
Interrupção da Prescrição Prazo para Renovação do Pedido

Art. 125 [...] Art. 134 [...]


§ 5º O curso da prescrição da ação penal interrompe-se: § 3º Negada a reabilitação, não pode ser novamente
I - pela instauração do processo; requerida senão após o decurso de dois anos.
II - pela sentença condenatória recorrível. § 4º Os prazos para o pedido de reabilitação serão
§ 6º A interrupção da prescrição produz efeito rela- contados em dobro no caso de criminoso habitual
tivamente a todos os autores do crime; e nos cri- ou por tendência.
mes conexos, que sejam objeto do mesmo processo,
a interrupção relativa a qualquer deles estende-se
aos demais. Revogação

Prescrição da Execução da Pena ou da Medida de Art. 134 [...]


Segurança que a Substitui § 5º A reabilitação será revogada de ofício, ou a
requerimento do Ministério Público, se a pessoa
Art. 126 A prescrição da execução da pena privativa reabilitada for condenada, por decisão definitiva,
de liberdade ou da medida de segurança que a subs- ao cumprimento de pena privativa da liberdade.
titui (art. 113) regula-se pelo tempo fixado na sen-
tença e verifica-se nos mesmos prazos estabelecidos Cancelamento do Registro de Condenações Penais
no art. 125, os quais se aumentam de um terço, se
o condenado é criminoso habitual ou por tendência. Art. 135 Declarada a reabilitação, serão cancelados,
§ 1º Começa a correr a prescrição: mediante averbação, os antecedentes criminais.
a) do dia em que passa em julgado a sentença con-
denatória ou a que revoga a suspensão condicional Sigilo sobre Antecedentes Criminais
da pena ou o livramento condicional;
b) do dia em que se interrompe a execução, salvo
quando o tempo da interrupção deva computar-se Art. 134 [...]
na pena. Parágrafo único. Concedida a reabilitação, o regis-
§ 2º No caso de evadir-se o condenado ou de revo- tro oficial de condenações penais não pode ser
gar-se o livramento ou desinternação condicio- comunicado senão à autoridade policial ou judi-
nais, a prescrição se regula pelo restante tempo da ciária, ou ao representante do Ministério Público,
execução. para instrução de processo penal que venha a ser
§ 3º O curso da prescrição da execução da pena instaurado contra o reabilitado.
suspende-se enquanto o condenado está preso
por outro motivo, e interrompe-se pelo início ou
continuação do cumprimento da pena, ou pela
reincidência.
CRIMES MILITARES EM TEMPO DE PAZ
São reduzidos pela metade os prazos da prescrição
quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor de O Código Penal Militar é dividido em Parte Geral e
vinte e um anos ou maior de setenta. Parte Especial. A Parte Especial está dividida em Cri-
É imprescritível a execução das penas acessórias. mes Militares em Tempo de Paz e Crimes Militares em
A prescrição, embora não alegada, deve ser decla- Tempo de Guerra (aplicado somente na hipótese de
rada de ofício. guerra declarada).
Os delitos militares tutelam bens jurídicos espe-
Reabilitação ciais, diversos do cenário da legislação penal comum,
tais como disciplina e hierarquia. Por isso, não aten-
Art. 134 A reabilitação alcança quaisquer penas
dem ao objetivo da Lei nº 9.099, de 1995, cuja finali-
impostas por sentença definitiva.
dade foi dar aplicabilidade ao inciso I do art. 98 da
§ 1º A reabilitação poderá ser requerida decorridos
cinco anos do dia em que for extinta, de qualquer Constituição Federal, visando à rápida solução dos
modo, a pena principal ou terminar a execução des- casos envolvendo infrações de menor potencial
ta ou da medida de segurança aplicada em substi- ofensivo.
tuição (art. 113), ou do dia em que terminar o prazo Assim, iniciamos a seguir o estudo dos Crimes Mili-
da suspensão condicional da pena ou do livramento tares em Tempo de Paz.
condicional, desde que o condenado:
a) tenha tido domicílio no País, no prazo acima CRIMES CONTRA A SEGURANÇA EXTERNA DO PAÍS
referido;
b) tenha dado, durante esse tempo, demonstração
Hostilidade Contra País Estrangeiro
efetiva e constante de bom comportamento público
e privado;
c) tenha ressarcido o dano causado pelo crime ou Art. 136 Praticar o militar ato de hostilidade con-
demonstre absoluta impossibilidade de o fazer até tra país estrangeiro, expondo o Brasil a perigo de
o dia do pedido, ou exiba documento que comprove guerra:
a renúncia da vítima ou novação da dívida. Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
§ 2º A reabilitação não pode ser concedida: Resultado mais grave
a) em favor dos que foram reconhecidos perigosos, § 1º Se resulta ruptura de relações diplomáticas,
salvo prova cabal em contrário; represália ou retorsão:
b) em relação aos atingidos pelas penas acessó- Pena - reclusão, de 10 (dez) a 24 (vinte e quatro)
rias do art. 98, inciso VII, se o crime fôr de natu- anos.
reza sexual em detrimento de filho, tutelado ou § 2º Se resulta guerra:
256 curatelado. Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
A tutela penal é a segurança externa do país. O Ato de Jurisdição Indevida
sujeito ativo é o militar, exigindo-se que seja o militar
da ativa das Forças Armadas. Militar Estadual (Polícia Art. 138 Praticar o militar, indevidamente, no ter-
Militar ou Bombeiro Militar) e civil concorrem para o ritório nacional, ato de jurisdição de país estran-
crime na condição de coautores ou partícipe. O sujei- geiro, ou favorecer a prática de ato dessa natureza:
to passivo é o Estado, secundariamente a instituição Pena - reclusão, de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos.
militar das Forças Armadas.
Praticar (executar algo) ato de hostilidade (agres- A tutela penal é a segurança externa do país. O
sivo, provocador) é a conduta do militar que se volta
sujeito ativo é o militar, exigindo-se que seja o militar
contra pessoas ou instituições estrangeiras, causando
da ativa das Forças Armadas. Militar Estadual (Polícia
distúrbio suficiente para provocar guerra, conflito
bélico, entre o país que provoca e o país provocado. Militar ou Bombeiro Militar) e civil concorrem para o
O delito é de perigo concreto, devendo ser provada crime na condição de coautores ou partícipe. O sujei-
a conduta hostil do agente e a clara reação negativa to passivo é o Estado, secundariamente a instituição
do país estrangeiro. Por isso, o tipo penal refere-se a militar das Forças Armadas.
expor o Brasil a perigo de guerra. O crime de ato de jurisdição indevida busca punir
O crime é doloso, não há modalidade culposa e não há o militar que dê cumprimento a decisões judiciais
a forma tentada. É um crime qualificado pelo resultado: estrangeiras indevidamente, ou seja, não autorizadas.
Por exemplo, a Justiça Militar determina a liberdade
z O ato agressivo praticado pelo agente pode acarre- de um militar preso em outro país e o militar, aqui no
tar resultado mais grave do que a mera exposição Brasil, sem autorização, ingressa no estrangeiro com
a perigo, como a ruptura de relações diplomáti-
a finalidade de cumprir a decisão.
cas, represália (desforra, retaliação) ou retorsão
(contraposição). Esse resultado advém somente da Quando a decisão estrangeira puder ser cumprida
culpa do agente, pois o dolo de perigo na conduta em solo nacional, como ocorre, por exemplo, no caso
antecedente é incompatível com a vontade de pro- de homologação por juiz brasileiro, o fato é atípico.
vocar um dano; O crime é doloso. Não há elemento subjetivo espe-
z Havendo o resultado naturalístico danoso consis- cífico e não há a modalidade culposa.
tente em conflito armado (guerra, propriamente Admite-se a tentativa, por exemplo, se acontecer
dita), pune-se mais severamente o autor. de o militar, ao prender o suspeito de crime par entre-
gá-lo a autoridade estrangeira, mas, antes de apresen-
A ação penal depende de requisição do Ministro tá-lo à autoridade, o suspeito fugir por circunstâncias
da Defesa. alheias à vontade de quem efetuou a prisão.
A ação penal é pública condicionada à representa-
Provocação a País Estrangeiro
ção do Ministro da Defesa.
Art. 137 Provocar o militar, diretamente, país
estrangeiro a declarar guerra ou mover hostilidade Violação de Território Estrangeiro
contra o Brasil ou a intervir em questão que respei-
te à soberania nacional: Art. 139 Violar o militar território estrangeiro,
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. com o fim de praticar ato de jurisdição em nome

NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR/PROCESSO PENAL MILITAR


do Brasil:
A tutela penal é a segurança externa do país. O Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
sujeito ativo é o militar, exigindo-se que seja o militar
da ativa das Forças Armadas. Militar Estadual (Polícia A tutela penal é a segurança externa do país, que
Militar ou Bombeiro Militar) e civil concorrem para o se vê ameaçada com a atitude usurpadora do militar
crime na condição de coautores ou partícipe. O sujei- em violar o território estrangeiro.
to passivo é o Estado, secundariamente a instituição O sujeito ativo é o militar, exigindo-se que seja o
militar das Forças Armadas. militar da ativa das Forças Armadas. Militar Estadual
Observe que, neste artigo, prevê-se a prática de (Polícia Militar ou Bombeiro Militar) e civil concorrem
ato de hostilidade do militar contra país estrangeiro, para o crime na condição de coautores ou partícipe. O
podendo determinar uma guerra ou qualquer espé- sujeito passivo é o Estado, secundariamente a ordem
cie de retorsão ou represália. Por exemplo: o militar militar atingida pela ação abusiva do militar.
provoca o país estrangeiro para que seja declarada a O verbo nuclear violar significa transgredir e
guerra e o país provocado vem a declarar guerra con- designa ingressar ilicitamente no território estran-
tra o Brasil. geiro, em desrespeito aos tratados, às convenções e
Pode-se argumentar, como faz Enio Luiz Rosseto, às normas de direito internacional, que disciplinam a
que a diferença se encontra no elemento subjetivo, visto entrada e a saída em território estrangeiro, que com-
que, no art. 137 do CPM, há finalidade especial de agir. preende o território estrangeiro o solo, o mar territo-
Aqui, no art. 137 do CPM, há dolo direto do autor rial ou o espaço aéreo.
na conduta antecedente, com elemento subjetivo A finalidade específica do agente é o cumprimento
específico (causar retorsão ao Brasil), constituindo de ato jurisdicional, ou seja, o cumprimento da deci-
delito de dano. No art. 136, a declaração da guerra é são emanada do Poder Judiciário.
forma qualificada pelo resultado. O crime é doloso. Há elemento subjetivo específico,
O crime é doloso. Há o elemento específico, consis- consistente em praticar ato jurisdicional em nome do
tente em causar guerra ou outra represália estrangeira Brasil. Não há a modalidade culposa.
ao Brasil. Não há modalidade culposa. Admite-se a tenta- Praticar ato de jurisdição no território estrangeiro
tiva se o resultado pretendido pelo agente (guerra) não é exaurimento do crime e é levada a efeito na dosime-
se produzir por circunstâncias alheias a sua vontade. tria da pena. A forma tentada é de difícil configuração.
A ação penal depende de requisição do Ministro A ação penal é pública condicionada à requisição
da Defesa. do Ministério da Defesa. 257
Entendimento para Empenhar o Brasil à Neutralidade Crime qualificado pelo resultado:
ou à Guerra
z Se a prática do entendimento gerar o efetivo resultado
Art. 140 Entrar ou tentar entrar o militar em enten- pretendido pelo agente, consistente em rompimento
dimento com país estrangeiro, para empenhar o de relação diplomática, a pena se torna mais severa;
Brasil à neutralidade ou à guerra: z O resultado conflito armado consistiria na pior
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos. hipótese de divergência entre o Brasil e país estran-
geiro, motivo pelo qual implica pena mais grave.
Tutela-se a segurança externa do Brasil, embora
esse crime seja praticamente inviável na atualidade. Tentativa Contra a Soberania do Brasil
Militares não negociam paz nem tampouco guerra,
em particular, fazendo-o individualmente. Art. 142 Tentar:
O sujeito ativo é o militar, exigindo-se que seja o I - submeter o território nacional, ou parte dele, à
soberania de país estrangeiro;
militar da ativa das Forças Armadas. Militar Estadual
II - desmembrar, por meio de movimento armado
(Polícia Militar ou Bombeiro Militar) e civil concor-
ou tumultos planejados, o território nacional, des-
rem para o crime na condição de coautores ou partí-
de que o fato atente contra a segurança externa do
cipe. O sujeito passivo é o Estado, secundariamente a Brasil ou a sua soberania;
instituição militar das Forças Armadas. III - internacionalizar, por qualquer meio, região ou
O crime é o dolo. A finalidade específica do agen- parte do território nacional:
te é comprometer o Brasil à neutralidade ou guerra. Pena - reclusão, de 15 (quinze) a 30 (trinta) anos,
Não há previsão da modalidade culposa. A tentativa para os cabeças; de 10 (dez) a 20 (vinte) anos, para
é inadmissível. os demais agentes.
A ação penal é pública condicionada à representa-
ção do Ministro da Defesa. Vamos analisar o crime por partes:

Entendimento para Gerar Conflito ou Divergência z tentar submeter;


com o Brasil z tentar desmembrar;
z tentar internacionalizar.
Art. 141 Entrar em entendimento com país estran-
Sobre a conduta de o agente tentar submeter o
geiro, ou organização nele existente, para gerar
território nacional, ou parte dele, à soberania de país
conflito ou divergência de caráter internacional
estrangeiro, devemos saber que:
entre o Brasil e qualquer outro país, ou para lhes
perturbar as relações diplomáticas:
z tutela-se a soberania nacional;
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos.
z o sujeito ativo pode ser civil ou militar;
z o sujeito passivo é o Estado, que sofre perigo de
Tutela-se a segurança externa do Brasil e a sobera-
dano à soberania.
nia. O sujeito ativo é o militar, exigindo-se que seja o
militar da ativa das Forças Armadas. Militar Estadual Trata-se de crime de atentado, que não comporta
(Polícia Militar ou Bombeiro Militar) e civil concor- tentativa, pois esta já é punida como delito consumado.
rem para o crime na condição de coautores ou partí- O crime se configura por meio de uma forma de
cipe. O sujeito passivo é o Estado, secundariamente a traição à pátria, pois o agente busca submeter o ter-
instituição militar das Forças Armadas. ritório brasileiro, integral ou parcialmente, à sobera-
Pune-se quem contata organização internacional, nia suprema de país estrangeiro.
ainda que não se trate de meio oficial. A finalidade Quando o sujeito ativo for civil, aplica-se a figura típi-
do agente é promover desentendimento em nível de ca do art. 9º da Lei de Segurança Nacional, Lei nº 7.170,
países, o que pode envolver o Brasil e outra nação. de 1983, ou seja, tentar submeter o território nacional, ou
O delito é formal, bastando o contato indevido para parte dele, ao domínio ou à soberania de outro país.
concretizá-lo. O crime é doloso. Não há elemento subjetivo espe-
Quando o sujeito ativo for civil, será tratado como cífico e não há previsão da modalidade culposa.
crime político, previsto no art. 8.º da Lei nº 7.170, Sobre a conduta de o agente tentar desmembrar,
de 1983, entrar em entendimento ou negociação com por meio de movimento armado ou tumultos planeja-
governo ou grupo estrangeiro, ou seus agentes, para dos, o território nacional, desde que o fato atente con-
provocar guerra ou atos de hostilidade contra o Brasil. tra a segurança externa do Brasil ou a sua soberania,
O crime é doloso. O elemento subjetivo específico devemos saber que:
é a geração de conflito internacional entre o Brasil e
outro país. Não há a modalidade culposa e a tentativa z o sujeito ativo por ser militar ou civil;
é inadmissível. z o sujeito passivo é o Estado, que sofre perigo de
A ação penal é pública condicionada à representa- dano à soberania.
ção do Ministro da Defesa.
Trata-se de crime de atentado, que não admite ten-
z Resultado mais Grave tativa, pois esta já é punida como consumado.
Ao analisar o tipo penal, compreendemos que a
Art. 141 [...] tentativa de desmembramento é por meio de movi-
§ 1º Se resulta ruptura de relações diplomáticas: mento armado, qualquer ação organizada, valendo-se
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 18 (dezoito) anos. seus integrantes de armas próprias ou impróprias,
§ 2º Se resulta guerra: tumultos ou desordens planejados, de qualquer
258 Pena - reclusão, de 10 (dez) a 24 (vinte e quatro) anos. espécie.
Exige-se, ainda, a produção de perigo concreto à A conduta típica é a obtenção de qualquer informe,
segurança externa do Brasil ou à sua soberania. É cri- escrito ou verbal (notícia, informação ou documento)
me doloso. Não há elemento subjetivo específico e não secreto (não sujeito à publicidade e ao conhecimento
há a modalidade culposa. de várias pessoas, mas somente de algumas autorida-
Sobre a conduta de o agente tentar internaciona- des), de interesse da segurança externa brasileira.
lizar, por qualquer meio, região ou parte do território Exemplo: o agente ingressa em local onde há documen-
nacional, devemos saber que: tos com classificação de sigilo e consegue obter as informa-
ções secretas que colocam em risco a segurança do país.
Cabe destacar que, nas Organizações Militares, há
z tutela-se a soberania nacional e a segurança documentos com classificações de sigilo e que podem
externa; comprometer a segurança do país. Há legislação específi-
z o sujeito ativo pode ser militar ou civil; ca que trata das classificações, motivo pelo qual podemos
z o sujeito passivo é o Estado, que sofre perigo de afirmar que o crime de consecução de notícia, informa-
dano à soberania. ção ou documento para fim de espionagem é norma
penal em branco, uma vez que necessita de complemento
A conduta de internacionalizar significa que o (dizer se o documento é classificado como sigiloso).
agente tem o objetivo de ter o domínio de várias O crime possui finalidade específica, demonstrando
nações. Veja-se que, na realidade, cuida-se de outra ser típica ação de espionagem no campo militar, ou seja,
maneira de desmembrar o território, tendo em vista atuação de agente secreto designado especificamente para
desfazer a soberania nacional da área. o fim de alcançar informes sigilosos de país estrangeiro.
O meio para tanto não necessita ser violento ou O crime é doloso e possui elemento subjetivo específi-
tumultuado, podendo consistir em atividade pacífica, co, consistente em fim de espionagem militar. Este crime
pela via política, inclusive. Por exemplo: em tempo de admite a modalidade culposa, quando o § 2º do art. 143
paz, o agente tentar ceder parte do território de um diz contribuir culposamente para a execução do crime.
Estado Membro à administração de outro país. São formas qualificadas pelo resultado, de acordo
É crime doloso. Não há elemento subjetivo especí- com o autor Guilherme Nucci:
fico e não há a modalidade culposa.
Atente-se ao fato de que, como regra, os cabeças z Comprometer: o agente compromete o prepa-
dos delitos devem receber pena mais elevada, mas ro (fabricação) ou eficiência bélica (utilização de
sem expressa previsão no preceito sancionador do armas) do Brasil, constituindo perigo concreto.
tipo penal. Assim, cabe ao julgador, conforme a medi- Pode, ainda, levar ao conhecimento de autoridade
da da culpabilidade, dosar a pena entre o mínimo e o ou pessoa estrangeira o material obtido, forman-
máximo, aplicando até mesmo agravante. do, igualmente, hipótese de perigo concreto para a
O crime de tentativa contra a soberania do Brasil segurança externa;
será de ação penal pública condicionada à requisição z Promover: o agente, após a obtenção da informa-
do Ministro da Defesa. ção, documento ou notícia sigilosa, constitui ou
sustenta atividade ou serviço de espionagem em
Consecução de Notícia, Informação ou Documento território nacional;
para Fim de Espionagem z Utilizar: o agente se vale, pessoalmente ou por
interposta pessoa, de meio de comunicação, seja

NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR/PROCESSO PENAL MILITAR


Art. 143 Conseguir, para o fim de espionagem mili- rádio, telefone, telégrafo, internet, para dar qual-
tar, notícia, informação ou documento, cujo sigilo quer revelação perigosa ao Brasil.
seja de interesse da segurança externa do Brasil:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. Revelação de Notícia, Informação ou Documento
§ 1º A pena é de reclusão de 10 (dez) a 20 (vinte)
anos: Art. 144 Revelar notícia, informação ou documen-
I - se o fato compromete a preparação ou eficiência to, cujo sigilo seja de interesse da segurança exter-
bélica do Brasil, ou o agente transmite ou fornece, na do Brasil:
por qualquer meio, mesmo sem remuneração, a Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos.
notícia, informação ou documento, a autoridade ou
pessoa estrangeira; Fim de Espionagem Militar
II - se o agente, em detrimento da segurança externa
do Brasil, promove ou mantém no território nacio-
Art. 144 [...]
nal atividade ou serviço destinado à espionagem; § 1º Se o fato é cometido com o fim de espionagem
III - se o agente se utiliza, ou contribui para que militar:
outrem se utilize, de meio de comunicação, para Pena - reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos.
dar indicação que ponha ou possa pôr em perigo a
segurança externa do Brasil.
Resultado Mais Grave
Modalidade Culposa Art. 144 [...]
§ 2º Se o fato compromete a preparação ou a efi-
Art. 143 [...] ciência bélica do país:
§ 2º Contribuir culposamente para a execução do crime: Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, no caso
do artigo; ou até 4 (quatro) anos, no caso do § 1.º, I. Modalidade Culposa

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa: civil ou Art. 144 [...]
militar. Destacamos aqui a figura do espião, indiví- § 3º Se a revelação é culposa:
duo que, clandestinamente, com disfarce ou sob o fal- Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos,
so pretexto, procura informações com a finalidade de no caso do artigo; ou até 4 (quatro) anos, nos casos
as comunicar ao inimigo. O sujeito passivo é o Estado. dos § § 1º e 2º. 259
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa: civil ou Penetração com o Fim de Espionagem
militar. O sujeito passivo é o Estado. A conduta típi-
ca refere-se a revelar (descortinar, descobrir) algo, Art. 146 Penetrar, sem licença, ou introduzir-se
demonstrando haver sigilo em jogo. clandestinamente ou sob falso pretexto, em lugar
O foco, nas palavras de Nucci, é notícia, informa- sujeito à administração militar, ou centro indus-
ção ou documento, formado em segredo, que possa trial a serviço de construção ou fabricação sob
comprometer a segurança externa do Brasil, bem jurí- fiscalização militar, para colher informação desti-
dico tutelado.
nada a país estrangeiro ou agente seu:
O crime é doloso e não há elemento específico na
figura do caput. Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos.
Admite-se a modalidade culposa, pois, imagine que Parágrafo único. Entrar, em local referido no arti-
alguém encarregado da guarda do segredo, ou poden- go, sem licença de autoridade competente, munido
do evitar a sua revelação, deixa de o fazer por descuido. de máquina fotográfica ou qualquer outro meio
A figura qualificada pelo resultado é que a reve- hábil para a prática de espionagem:
lação do segredo de Estado pode gerar algum tipo de Pena - reclusão, até 3 (três) anos.
prejuízo ao arsenal militar brasileiro, motivo pelo
qual cria-se um perigo concreto à segurança externa. Tutela-se a segurança externa, mas também as ins-
A pena é agravada com maior rigor se o fato com-
talações militares. O sujeito ativo pode ser qualquer
prometer a preparação bélica do país.
pessoa: civil ou militar. O sujeito passivo é o Estado.
Turbação de Objeto ou Documento Busca-se punir quem ingressa, de algum modo,
sem autorização, em local administrado pelos mili-
Art. 145 Suprimir, subtrair, deturpar, alterar, des- tares ou em centro industrial (fábrica em geral) que
viar, ainda que temporariamente, objeto ou docu- produza produtos concernentes ao interesse militar.
mento concernente à segurança externa do Brasil:
O ingresso é fundado pelo objetivo de alcançar
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos.
informação voltada a país ou espião estrangeiro.
Resultado Mais Grave É crime doloso e se revela na penetração clandesti-
na ou sob falso pretexto, ou sem licença de autoridade
Art. 145 [...] competente. Observe que há elemento subjetivo especí-
§ 1º Se o fato compromete a segurança ou a eficiên- fico, consistente em colher informação destinada a país
cia bélica do país: estrangeiro ou agente seu. Não há a modalidade culposa.
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.
A ação penal é pública condicionada à requisição
Modalidade Culposa do Ministro da Defesa.

Art. 145 [...] Desenho ou Levantamento de Plano ou Planta de


§ 2º Contribuir culposamente para o fato: Local Militar ou de Engenho de Guerra
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
Art. 147 Fazer desenho ou levantar plano ou planta
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa: civil ou de fortificação, quartel, fábrica, arsenal, hangar ou
militar; aplica-se o critério do local do crime. O sujeito aeródromo, ou de navio, aeronave ou engenho de
passivo é o Estado.
guerra motomecanizado, utilizados ou em constru-
Há variadas formas alternativas para a turbação
ção sob administração ou fiscalização militar, ou
de objeto ou documento (título deveras estranho para
o tema): fotografá-los ou filmá-los:
Pena - reclusão, até 4 (quatro) anos, se o fato não
z suprimir (fazer desaparecer); constitui crime mais grave.
z subtrair (apoderar-se de algo);
z deturpar (desfigurar a forma original); Tutela-se a segurança externa do país. O sujeito ati-
z alterar (modificar); vo pode ser qualquer pessoa: civil ou militar. O sujeito
z desviar (encaminhar para local inadequado). passivo é o Estado.
Temos quatro condutas incriminadoras alternati-
Dica vas. Nas palavras de Nucci:
O agente pode praticar uma ou mais dessas for-
mas e cometer apenas um crime, desde que seja z Faz desenho, constitui ilustração acerca de algo;
contra o mesmo objeto, nas mesmas circunstân- z Consegue plano ou planta, desenho específico
cias de tempo e local. para construção de algo;
z Fotografa, registra ilustração por meio de máqui-
O crime é doloso. Não há elemento subjetivo especí- na apropriada;
fico. No § 1º, temos a forma qualificada, quando o fato z Filma, registra ação em movimento por meio de
compromete a segurança ou a eficiência bélica do país. máquina apropriada.
A modalidade culposa encontra-se no § 2º. Somen-
te caracteriza-se tal figura se e quando alguém realiza
O objeto das condutas é fortificação, quartel, fábri-
a conduta típica prevista no caput (dolosamente) e o
agente deste tipo culposo lhe dá contribuição por pura ca, arsenal, hangar, aeródromo, navio, aeronave ou
negligência de sua parte. engenho de guerra motorizado.
A ação penal é pública condicionada à requisição É crime doloso. Não há elemento subjetivo especí-
260 do Ministro da Defesa. fico e não há a modalidade culposa.
b) por militar em situação de atividade ou
CRIMES PROPRIAMENTE MILITARES E assemelhado, em lugar sujeito à administra-
ção militar, contra militar da reserva, ou refor-
CRIMES IMPROPRIAMENTE MILITARES mado, ou assemelhado, ou civil;
c) por militar em serviço ou atuando em razão
Os crimes militares são divididos em crimes pro- da função, em comissão de natureza militar, ou
priamente militares e impropriamente militares. em formatura, ainda que fora do lugar sujei-
to à administração militar contra militar da
Crimes Propriamente Militares reserva, ou reformado, ou civil;
d) por militar durante o período de mano-
São aqueles que somente o militar pode vir a bras ou exercício, contra militar da reserva, ou
cometê-los. A qualidade de militar é essencial e deve reformado, ou assemelhado, ou civil;
ser atestada ao tempo do crime, pois caracteriza como e) por militar em situação de atividade, ou asseme-
lhado, contra o patrimônio sob a administração
elementar ao tipo penal.
militar, ou a ordem administrativa militar;
É, também, importante ressaltar que, embora f) revogada.
alguns julgados admitam, o posicionamento mais con- III - os crimes praticados por militar da
creto é estabelecido pela doutrina clássica de Direito reserva, ou reformado, ou por civil, contra
Penal Militar, a qual entende que não é possível a apli- as instituições militares, considerando-se como
cação do concurso de pessoas (§ 1º, art. 53, do CPM), tais não só os compreendidos no inciso I, como
nos crimes propriamente militares, não admitindo, os do inciso II, nos seguintes casos:
assim, a participação de civis. a) contra o patrimônio sob a administração
militar, ou contra a ordem administrativa militar;
b) em lugar sujeito à administração militar
Importante! contra militar em situação de atividade ou
assemelhado, ou contra funcionário de Minis-
O Crime de Insubmissão (caput do art. 183), é tério militar ou da Justiça Militar, no exercício
uma exceção à regra dos crimes propriamente de função inerente ao seu cargo;
militares, posto que é um crime propriamente c) contra militar em formatura, ou durante
militar (está previsto apenas no CPM), mas é o período de prontidão, vigilância, observação,
exploração, exercício, acampamento, acantona-
praticado por civil. mento ou manobras;
Art. 183 Deixar de apresentar-se o convocado à d) ainda que fora do lugar sujeito à admi-
incorporação, dentro do prazo que lhe foi marca- nistração militar, contra militar em função de
do, ou, apresentando-se, ausentar-se antes do ato natureza militar, ou no desempenho de serviço
oficial de incorporação: [...] de vigilância, garantia e preservação da ordem
O crime se caracteriza quando o convocado à pública, administrativa ou judiciária, quando
incorporação deixa de comparecer no prazo mar- legalmente requisitado para aquêle fim, ou em
obediência a determinação legal superior. [...]
cado, ou que se apresenta, mas se ausenta antes
do ato oficial de incorporação. Este convocado A tabela a seguir apresenta, de modo sintetizado,
não possui a condição de militar, porém respon-

NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR/PROCESSO PENAL MILITAR


as informações apresentadas anteriormente. Obser-
derá pela prática de crime militar. Para o STM, o ve-a para distinguir o crime propriamente militar do
delito de insubmissão, embora seja exceção, é um crime impropriamente militar:
crime propriamente militar praticado por civil.
CRIME PROPRIAMENTE MILITAR
São os crimes que possuem bens jurídicos de interes-

Crimes Impropriamente Militares se exclusivo para a instituição ou vida militar
Previsto apenas no Código Penal Militar

Os crimes impropriamente militares são aqueles em Em regra, só pode ser praticado por militares

que tanto o militar quanto o civil podem vir a cometer.
São os crimes que possuem bens jurídicos comuns

Neste, os interesses militares se relacionam com outros
tanto para a justiça militar quanto comum (Ex.: Vida)
bens jurídicos comuns (autoridade, hierarquia, função
Está previsto tanto no CPM quanto em outras leis (CP)

e dever militar). São crimes previstos tanto no Código
Pode ser praticado por civis e militares

Penal Militar quanto nas leis penais comuns (ex.: Código
Penal), com igual ou semelhante definição (Homicídio,
art. 121, CP; Homicídio, art. 205, CPM).
Para entender quando um crime será caracteriza-
do como crime militar ou como crime comum deve- CRIMES CONTRA A PESSOA
mos observar o conteúdo do art. 9º do CPM:
HOMICÍDIO
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em
tempo de paz: Homicídio Simples
I - os crimes de que trata este Código, quan-
do definidos de modo diverso na lei penal Art. 205 Matar alguém:
comum, ou nela não previstos, qualquer que Pena - reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos.
seja o agente, salvo disposição especial; Minoração facultativa da pena
II – os crimes previstos neste Código e os pre- § 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo
vistos na legislação penal, quando praticados: de relevante valor social ou moral, ou sob o domí-
a) por militar em situação de atividade ou nio de violenta emoção, logo em seguida a injusta
assemelhado, contra militar na mesma situa- provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena,
ção ou assemelhado; de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço). 261
O crime de homicídio no Código Penal Militar é Homicídio Qualificado
muito semelhante ao homicídio tipificado no Código
Penal. Em geral, podemos dizer que o sujeito ativo Art. 205 [...]
pode ser qualquer pessoa, assim como o passivo. Mas, § 2º Se o homicídio é cometido:
para que seja crime militar, o homicídio deve preen- I - por motivo fútil;
cher os requisitos do art. 9º do Código Penal Militar. II - mediante paga ou promessa de recompensa, por
Por exemplo: um Tenente, após discutir com um cupidez, para excitar ou saciar desejos sexuais, ou
Sargento na saída de um estádio de futebol, desfere por outro motivo torpe;
tiros contra a vítima, que morre. O Tenente conhece a III - com emprego de veneno, asfixia, tortura, fogo,
condição de militar da vítima. explosivo, ou qualquer outro meio dissimulado ou
Outro exemplo: um Cabo, no interior do quartel, cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
não aceitando a ordem de superior para lavar a viatu- IV - à traição, de emboscada, com surpresa ou
ra, desfere tiros contra o superior, que morre. mediante outro recurso insidioso, que dificultou ou
Todavia, se o Sargento, em uma briga de trânsito, tornou impossível a defesa da vítima;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impu-
disparar tiros e matar civil, o homicídio praticado é o
nidade ou vantagem de outro crime;
tipificado no Código Penal.
VI - prevalecendo-se o agente da situação de serviço:
Tanto no Código Penal quanto no Código Penal
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
Militar o objeto jurídico é a vida.
Guilherme Nucci ensina que, para caracterizar o
O homicídio qualificado se reveste de circunstân-
momento da morte, a fim de se detectar a consuma-
ção do delito de homicídio, que é crime material, sem- cias taxativamente previstas que o torna mais grave,
pre se considerou a cessação das funções vitais do ser sendo por isso para ele cominada pena especial mais
humano (coração, pulmão e cérebro), de modo que severa, ou seja, passa de reclusão de 6 a 20 anos, pre-
não possa mais sobreviver, por suas próprias ener- vista para o homicídio simples, para de 12 a 30, para a
gias, terminados os recursos validados pela medicina figura qualificada.
contemporânea, experimentados por um tempo sufi-
ciente, o qual somente os médicos poderão estipular Atente-se aos pontos a seguir, elucidados por Gui-
para cada caso isoladamente. lherme Nucci:
O crime é doloso e não há elemento subjetivo específico.
A forma culposa constitui tipo autônomo (art. 206 do CPM). z Motivo fútil: flagrantemente desproporcional ao
Quanto ao homicídio privilegiado, entende-se resultado produzido, que merece ser verificado
que o crime se revela a favor do agente pelos moti- sempre no caso concreto. Por exemplo, o autor
vos especiais que o determinaram: relevante valor suprime a vida da vítima porque esta, dona de um
social, relevante valor moral e o domínio de violenta bar, não lhe vendeu fiado;
emoção, logo em seguida à injusta provocação da víti- z Mediante paga ou promessa de recompensa:
ma. Utiliza-se a pena do homicídio simples, com uma homicídio mercenário cometido porque o agente foi
redução de 1/6 a 1/3. Trata-se de direito subjetivo do recompensado previamente pela morte da vítima
acusado e não faculdade do julgador. (paga) ou porque lhe foi prometido um prêmio após
Quando se tratar de relevante valor social, deve- ter eliminado o ofendido (promessa de recompensa);
mos levar em consideração o interesse não exclusi- z Cobiça: avidez por bens materiais, algo equiva-
vamente individual, mas de ordem geral (interesse lente à paga ou promessa de recompensa. Trata-se
coletivo). Exemplos: quem aprisiona um bandido na de circunstância específica do Código Penal Militar,
zona rural por alguns dias até que a polícia seja avi- não possuindo equivalente no Código Penal comum;
sada; quem invade domicílio de traidor da pátria para z Excitação ou preenchimento de desejo sexual:
destruir objetos empregados na traição. cuida-se do estímulo ou da fartura da vontade
No caso de relevante valor moral, o valor em ques- de possuir alguém, em nível carnal. É interessan-
tão leva em conta interesse de ordem pessoal (interes- te observar que esta circunstância qualificadora
se particular). Exemplos: agressão (ou morte) contra é exclusiva do CPM, não encontrando similar na
amante do cônjuge e apressar a morte de quem está legislação penal comum;
desenganado, de acordo com o autor Guilherme Nucci. z Torpe: motivo repugnante, abjeto, vil, que causa
Também configura a hipótese do homicídio privi- repulsa excessiva à sociedade. Observa-se que a lei
legiado quando o sujeito está dominado pela excita- penal se vale da interpretação analógica, admitida
ção dos seus sentimentos, que pode ser, por exemplo, em Direito Penal, pois estabelece exemplos iniciais
ódio, desejo de vingança, amor exacerbado ou ciúme de torpeza e, em seguida, generaliza, afirmando
intenso, e foi injustamente provocado pela vítima “ou outro motivo torpe”, para deixar ao encargo
momentos antes de ter a vida tirada. do intérprete a inclusão de circunstâncias não
expressamente previstas, mas consideradas igual-
mente desprezíveis;
Importante! z Veneno: substância que, introduzida no organismo,
Pontos que diferenciam o privilégio da atenuante altera momentaneamente ou suprime definitivamen-
(alínea “c” do inciso III do art. 72 do CPM): te as manifestações vitais de toda matéria organizada;
z Fogo: pode constituir-se em meio cruel ou que
Para o privilégio, a lei exige que o agente esteja
gera perigo comum. A queimadura, em regra, é um
dominado por violenta emoção e não meramente
sofrimento atroz, concretizando, pois, o desiderato
influenciado (tocado, inspirado), como no caso da cruento do agente. Por outro lado, pode atingir ter-
atenuante. Determina também a causa de dimi- ceiros, conforme sua volatilidade;
nuição de pena que a reação à injusta provocação z Explosivo: provocar a morte da vítima por meio da
da vítima se dê logo em seguida, enquanto a ate- explosão de determinada substância, em regra, gera
nuante nada menciona nesse sentido. perigo comum, mas também pode constituir-se em
262 meio cruel, caso a detonação, previamente calculada
pelo autor, provoque no ofendido a perda de mem- Multiplicidade de Vítimas
bros e, consequentemente, morte agônica e lenta;
z Asfixia: supressão da respiração, que se origina Art. 206 [...]
de um processo mecânico ou tóxico. São exemplos: § 2º Se, em consequência de uma só ação ou omissão
culposa, ocorre morte de mais de uma pessoa ou
estrangulamento (compressão do pescoço por um
também lesões corporais em outras pessoas, a pena
laço conduzido por força que pode ser a do agente é aumentada de 1/6 (um sexto) até 1/2 (metade).
agressor ou de outra fonte, exceto o peso do corpo
do ofendido); enforcamento (compressão do pescoço O Código Penal Militar, na Parte Geral, descreve
por um laço, causada pelo peso do próprio corpo da o que vem a ser culpa: deixar de empregar cautela,
vítima); esganadura (aperto do pescoço provocado atenção ou diligência ordinária ou especial a que esta-
pelo agente agressor diretamente, valendo-se das va obrigado pelo dever de cuidado objetivo (inciso II
mãos, pernas ou antebraço); afogamento (inspiração do art. 33 do COM).
de líquido, estando ou não imerso) e uso de gases ou Lembre-se: todo crime culposo não admite tentativa.
drogas asfixiantes, entre outros; Conforme decisão do STM (1994), no CPM, a cul-
z Tortura: qualquer ato pelo qual dores ou sofri- pa tem conceito mais abrangente do que a ação por
mentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos imprudência, imperícia ou negligência; na lei penal
intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, militar, a raiz da culpa está na previsibilidade.
dela ou de uma terceira pessoa, informações ou Sobre o § 1º do art. 206 do CPM, a inobservância de
confissões; de castigá-la por ato que ela ou uma ordem regulamentar não se confunde com a imperícia,
terceira pessoa tenha cometido ou seja suspeita de que indica inabilidade de ordem profissional ou insuficiên-
ter cometido; de intimidar ou coagir essa pessoa cia de capacidade técnica. Aqui, o sujeito conhece a regra
ou outras pessoas; ou por qualquer motivo basea- técnica, mas não a observa. Exemplo: instrutor de tiro que
do em discriminação de qualquer natureza, quan- não observa as regras de segurança para verificar se o
do tais dores ou sofrimentos são infligidos por estande de tiro está livre e autoriza a instrução enquanto o
funcionário público ou outra pessoa no exercício auxiliar está concluindo a preparação dos alvos.
de funções públicas, ou por sua instigação, ou com O § 2º do art. 206 Conversa sobre a omissão de socorro,
que consiste na omissão do agente em procurar diminuir
seu consentimento ou aquiescência;
as consequências do seu ato. Essa majorante da pena só
z Traição: enganar, ser infiel, mas, no contexto do
é possível em caso de se ter a opção de socorrer a vítima,
homicídio, é a ação do agente que colhe a vítima
pois, se a vítima tiver morte instantânea, isso impedirá a
por trás, desprevenida, sem ter esta qualquer circunstância especial de aumento de penal.
visualização do ataque. O ataque de súbito, pela
frente, pode constituir surpresa, mas não traição; PROVOCAÇÃO DIRETA OU AUXÍLIO A SUICÍDIO
z Emboscada: significa ocultar-se para poder ata-
car, o que, na prática, é a tocaia. O agente fica à Art. 207 Instigar ou induzir alguém a suicidar-se,
espreita do ofendido para agredi-lo; ou prestar-lhe auxílio para que o faça, vindo o sui-
z Surpresa: acontecimento imprevisto, constituindo cídio a consumar-se:
situação similar às anteriores (traição, emboscada Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
etc.);
z Finalidade especial do agente: caracteriza-se Agravação de Pena

NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR/PROCESSO PENAL MILITAR


pela evidência do ânimo especial de agir. Quer o
agente, ao matar a vítima, assegurar a execução Art. 207 [...]
de outro crime. Por exemplo: mata-se o coman- § 1º Se o crime é praticado por motivo egoístico, ou
dante da guarda de um quartel para que se possa a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer
invadi-lo com maior chance de êxito; assegurar a motivo, a resistência moral, a pena é agravada.
ocultação de um delito – por exemplo, o sujeito que
viola uma sepultura e, percebendo que foi visto, Provocação Indireta ao Suicídio
elimina a testemunha a fim de que seu crime não
seja descoberto; assegurar a impunidade do delito: Art. 207 [...]
por exemplo, o ladrão, notando ter sido reconheci- § 2º Com a detenção de 1 (um) a 3 (três) anos, será puni-
do por alguém durante a prática do furto, elimina do quem, desumana e reiteradamente, inflige maus-
-tratos a alguém, sob sua autoridade ou dependência,
essa pessoa para não ser identificado; assegurar a
levando-o, em razão disso, à prática de suicídio.
vantagem de outro crime: por exemplo, mata-se o
parceiro para ficar integralmente com o dinheiro
Redução de Pena
conseguido à custa de algum delito;
z Situação de serviço: no cenário militar, diver-
samente do que ocorre no Código Penal comum, Art. 207 [...]
insere-se como circunstância qualificadora o § 3º Se o suicídio é apenas tentado, e da tentativa
cometimento do homicídio tirando proveito da resulta lesão grave, a pena é reduzida de 1 (um) a
sua posição laborativa. Note-se que o militar, em 2/3 (dois terços).
muitas situações, trabalha armado, favorecendo a
execução do crime contra a vida. O suicídio é a morte voluntária, resultado direito ou
indireto de um ato positivo ou negativo, realizado pela
HOMICÍDIO CULPOSO própria vítima, a qual sabia produzir este resultado.
Tendo em vista que o autor e a vítima são as mesmas
Art. 206 Se o homicídio é culposo: pessoas, não se pune o autor da tentativa de suicídio.
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
Como é a livre manifestação da pessoa, por óbvio,
§ 1º A pena pode ser agravada se o crime resulta
de inobservância de regra técnica de profissão, arte o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. Porém, o
ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato agente que, valendo-se da insanidade da vítima, con-
socorro à vítima. vence-a a se matar, incide no art. 207 do CPM. 263
Há três modos de cometimento do delito: Genocídio é crime contra a humanidade e, na legis-
lação comum, hediondo (§ único do art. 1º da Lei nº
z Instigando, ou seja, incentivando ideia já existen- 8.072, de 1990) nas formas consumada e tentada.
te por parte da vítima; O delito comporta algumas condutas possíveis:
z Induzindo, neste caso, fornecendo a ideia;
z Auxiliando, no sentido de proporcionar material z matar pessoas;
para o suicídio. z impedir o nascimento de alguém;
z eliminar, ainda que parcialmente, um grupo na-
O crime é condicionado, possuindo, no tipo, condi- cional, étnico, racial ou religioso.
ção objetiva de punibilidade, consistente na consuma-
ção do suicídio. O crime de genocídio não exige condição especial
Exemplo: Um colega do quartel diz que está com mui- para o sujeito ativo, podendo ser qualquer pessoa. Já
tas dívidas e com dificuldades no relacionamento fami- o sujeito passivo exige-se que seja pessoa vinculada
liar. O agente, então, dá a ideia para o colega suicidar-se. a determinado grupo nacional, étnico, racial ou reli-
Noutro caso, o colega do quartel diz que está com gioso, que sofre a conduta delituosa. Inclui-se como
dívidas e que está pensando em se matar. O agente sujeito passivo a humanidade, conforme definição
incentiva o colega a se suicidar, dizendo que o seguro genérica do crime de genocídio.
de vida trará conforto à família.
No último exemplo, o colega de quartel diz que LEI Nº 2.889/1956 CÓDIGO PENAL MILITAR
Disciplina sobre o crime de genocídio, O art. 208 do CPM estabelece
está com dívidas e que pretende se suicidar, mas que, formula um tipo remissivo, as penas penas próprias. No caso de morte,
para isso, precisa de uma arma. O agente, solícito, for- são extraídas das figuras previstas no reclusão de 15 a 30 anos; nas demais
Código Penal situações, reclusão, de 4 a 15 anos
nece a arma para que o colega pratique o suicídio.
O crime de instigar, induzir e auxiliar o suicídio é
doloso, não se admitindo a forma culposa. O crime é doloso e há o elemento subjetivo espe-
A pena para o crime de instigação, induzimento e cífico do tipo: destruir, total ou parcialmente, grupo
auxílio ao suicídio será agravada nas seguintes hipóteses: nacional, étnico, racial ou religioso.
Atualmente, os casos relacionados ao crime de
z Motivo egoístico: excessivo apego a si mesmo, eviden- genocídio estão sob julgamento do Tribunal Penal
ciando o desprezo pela vida alheia, desde que algum Internacional, sendo os conhecidos os processos que
benefício concreto advenha ao agente. Por exemplo: julgam, respectivamente, os ex-presidentes da extinta
induzir alguém a se matar para ficar com a herança ou Iugoslávia e da Ruanda.
para receber valor de seguro (NUCCI, 2016);
z Vítima menor ou com resistência diminuída: a LESÃO CORPORAL
resistência diminuída configura-se por fases críti-
cas de doenças graves (físicas ou mentais), abalos Lesão Leve
psicológicos, senilidade, infantilidade ou ainda pela
ingestão de álcool ou substância de efeitos análogos. Art. 209 Ofender a integridade corporal ou a saúde
Essa pessoa tem menor condição de resistir à ideia de outrem:
do suicídio que lhe foi passada, diante da particular Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
condição que experimenta ou da situação que está
Lesão Grave
vivenciando. No tocante ao menor, deve-se entender
como pessoa entre 14 e 18 anos (NUCCI, 2016). Art. 208 [...]
§ 1º Se se produz, dolosamente, perigo de vida, debi-
O suicida com resistência diminuída e de idade lidade permanente de membro, sentido ou função,
inferior a 14 anos é vítima de homicídio, e não de ou incapacidade para as ocupações habituais, por
induzimento, instigação ou auxílio a suicídio. mais de 30 (trinta) dias:
Pena - reclusão, até 5 (cinco) anos.
GENOCÍDIO § 2º Se se produz, dolosamente, enfermidade incu-
rável, perda ou inutilização de membro, sentido ou
Art. 208 Matar membros de um grupo nacional, função, incapacidade permanente para o trabalho,
étnico, religioso ou pertencente a determinada raça, ou deformidade duradoura:
com o fim de destruição total ou parcial desse grupo: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos.
Pena - reclusão, de 15 (quinze) a 30 (trinta) anos.
Lesões Qualificadas pelo Resultado
Casos Assimilados Art. 208 [...]
§ 3º Se os resultados previstos nos § § 1.º e 2.º forem
Art. 208 [...] causados culposamente, a pena será de detenção,
Parágrafo único. Será punido com reclusão, de 4 de 1 (um) a 4 (quatro) anos; se da lesão resultar
(quatro) a 15 (quinze) anos, quem, com o mesmo fim: morte e as circunstâncias evidenciarem que o agen-
I - inflige lesões graves a membros do grupo; te não quis o resultado, nem assumiu o risco de pro-
II - submete o grupo a condições de existência, físi- duzi-lo, a pena será de reclusão, até 8 (oito) anos.
cas ou morais, capazes de ocasionar a eliminação
de todos os seus membros ou parte deles; Minoração Facultativa da Pena
III - força o grupo à sua dispersão;
IV - impõe medidas destinadas a impedir os nasci- Art. 208 [...]
mentos no seio do grupo; § 4º Se o agente comete o crime impelido por motivo
V - efetua coativamente a transferência de crianças de relevante valor moral ou social ou sob o domí-
264 do grupo para outro grupo. nio de violenta emoção, logo em seguida a injusta
provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena, quando esta for qualificada, vale dizer, produzida
de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço). pelo depoimento de especialistas, como o médico
§ 5º No caso de lesões leves, se estas são recípro- que cuidou da vítima durante a sua convalescença;
cas, não se sabendo qual dos contendores atacou z Debilidade permanente: frouxidão duradoura no
primeiro, ou quando ocorre qualquer das hipóteses
corpo ou na saúde, que se instala na vítima após a
do parágrafo anterior, o juiz pode diminuir a pena
de 1 (um) a 2/3 (dois terços). lesão corporal provocada pelo agente. Não se exi-
ge que seja uma debilidade perpétua, bastando ter
Lesão Levíssima longa duração;
z Membro: os membros do corpo humano são os
Art. 208 [...] braços, as mãos, as pernas e os pés. Os dedos são
§ 6º No caso de lesões levíssimas, o juiz pode consi- apenas partes dos membros, de modo que a perda
derar a infração como disciplinar. de um dos dedos se constitui em debilidade perma-
nente da mão ou do pé;
O crime de lesão corporal previsto no Código Penal z Sentido: o ser humano possui cinco sentidos, ou
Militar é de muita semelhança com o Código Penal seja, visão, olfato, audição, paladar e tato. Assim,
comum. Assim, lesão corporal é uma ofensa física ou exemplificando, perder a visão em um dos olhos é
psíquica voltada à integridade ou à saúde do corpo debilidade permanente;
humano. Tutela-se a integridade corporal e a saúde z Função: ação própria de um órgão do corpo
do ser humano.
humano, por exemplo, função respiratória, função
É preciso que a vítima sofra algum dano ao seu cor-
excretória, função circulatória;
po, alterando-se interna ou externamente e podendo,
z Ocupação habitual: deve-se compreender qual-
ainda, abranger qualquer modificação prejudicial à
sua saúde, transfigurando-se qualquer função orgânica quer atividade regularmente desempenhada pela
ou causando-lhe abalos psíquicos comprometedores. vítima, e não apenas a sua ocupação laborativa.
Exemplos: hematoma, corte na pele, fratura na costela. Assim, uma pessoa que não trabalhe, vivendo
Os sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer de renda ou sustentada por outra, deixando de
pessoa e, para configurar o crime de lesão corporal exercitar suas habituais ocupações, sejam elas
como delito militar, é necessário que ele esteja nas quais forem, até mesmo de simples lazer, pode ser
hipóteses do art. 9º do CPM. enquadrada nesse inciso, desde que fique incapa-
Exemplos: soldado que desfere golpes no rosto de citada por mais de trinta dias;
outro soldado no interior do alojamento do quartel; z Enfermidade incurável: doença irremediável, de
soldado que, durante o desfile cívico militar, mesmo acordo com os recursos da medicina na época do
que fora da organização militar, defere golpes em resultado, causada na vítima. Não configura a qua-
civil que tentava se aproximar da tropa. lificadora a simples debilidade enfrentada pelo
organismo da pessoa ofendida, necessitando exis-
Dica tir uma séria alteração na saúde;
z Perda: implica destruição ou privação de algum
A autolesão não é punida no direito brasileiro,

NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR/PROCESSO PENAL MILITAR


membro (por exemplo, corte de um braço), senti-
embora seja considerada ilícita, salvo se estiver
do (exemplo: aniquilamento dos olhos), ou função
vinculada à violação de outro bem ou interesse
(por exemplo, ablação da bolsa escrotal, impedin-
juridicamente protegido, como ocorre quando o
do a função reprodutora);
agente, pretendendo evitar o serviço militar, cria
z Inutilização: falta de utilidade, ainda que fisica-
incapacidade física, ferindo-se (Guilherme Nucci).
mente esteja presente o membro ou o órgão huma-
O crime é doloso, não se exigindo elemento sub- no. Assim, inutilizar um membro seria a perda de
jetivo específico. A forma culposa é prevista em tipo movimento da mão ou a impotência para o coito,
penal autônomo (art. 210 do CPM). embora sem remoção do órgão sexual;
z Incapacidade permanente para o trabalho: tra-
Lesão Corporal Grave ta-se da inaptidão duradoura para exercer qual-
quer atividade laborativa lícita. Nesse contexto,
No § 1º, encontram-se os casos de lesão corporal gra- diferentemente da incapacidade para as ocupa-
ve; no § 2º, estão os casos de lesão corporal gravíssima. ções habituais, exige-se atividade remunerada,
A diferença entre ambas as denominações está que implique sustento, portanto, acarrete prejuízo
pena cominada: reclusão de 1 a 5 anos para a hipótese
financeiro para o ofendido;
grave, e reclusão de 2 a 8 anos para a gravíssima.
Assim, a lesão corporal grave (ou mesmo a gravís- z Deformidade duradoura: deformar significa alte-
sima) é uma ofensa à integridade física ou à saúde rar a forma original. Ocorre quando há modificação
da pessoa humana, considerada muito mais séria e duradoura de uma parte do corpo humano da vítima.
importante do que a lesão simples ou leve. Observe o
que pontua Guilherme Nucci: Atente-se ao fato de que o Código Penal Militar
estabelece que, no caso de lesão corporal grave e gra-
z Perigo de vida: concreta possibilidade de a vítima víssima, se o resultado qualificador for causado por
morrer em face das lesões sofridas. Não bastam
culpa, a pena é atenuada.
conjecturas ou hipóteses vagas e imprecisas, mas
um fator real de risco inerente ao ferimento cau- Se houver dolo na lesão e dolo no resultado mais
sado. Trata-se de um diagnóstico. É praticamente grave, aplica-se as penas da lesão corporal grave ou
indispensável o laudo pericial, sendo muito rara gravíssima. Assim, há dolo na lesão e culpa no resul-
a sua substituição por prova testemunhal, salvo tado mais grave. 265
Lesão Corporal Seguida de Morte Lesão Culposa

Estamos diante de um clássico exemplo de preter- Art. 210 Se a lesão é culposa:


Pena - detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano.
doloso. Exige-se dolo no antecedente, na lesão corpo-
§ 1º A pena pode ser agravada se o crime resulta
ral, e somente a forma culposa no evento subsequente, de inobservância de regra técnica de profissão, arte
ou seja, a morte da vítima. ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato
Vejamos: um sargento empurra um soldado que socorro à vítima.
estava em pé dentro do caminhão de transporte de
tropa, com o objetivo de que este sente – independen- Aumento de Pena
te de sofrer ou não lesão corporal como resultado –
Art. 210 [...]
mas ele cai para fora do veículo e morre.
§ 2º Se, em consequência de uma só ação ou omissão
Ao mencionar que a morte não pode ter sido dese- culposa, ocorrem lesões em várias pessoas, a pena
jada pelo agente, nem tampouco pode ele ter assumi- é aumentada de 1/6 (um sexto) até 1/2 (metade).
do o risco de produzi-la, está-se fixando a culpa como
único elemento subjetivo possível para o resultado A culpa, conforme o inciso II do art. 33 do Código
qualificador (NUCCI, 2016). Penal Militar, é constituída de conduta desatenciosa.
Portanto, lesionar alguém por infração ao dever de cui-
Lesão Corporal Privilegiada dado objetivo concretiza este tipo penal incriminador.
Exemplo: Policial Militar que, totalmente imprudente,
Esta hipótese é aplicável somente nos casos de aponta a arma contra o colega, supondo inexistir muni-
lesões grave, gravíssima ou seguida de morte. ção, dispara a arma de fogo e causa-lhe lesão corporal.
Se o agente comete o crime impelido por motivo de
PARTICIPAÇÃO EM RIXA
relevante valor moral (interesse particular) ou social
(interesse coletivo) ou sob o domínio de violenta emoção, Art. 211 Participar de rixa, salvo para separar os
logo em seguida à injusta provocação da vítima, o juiz contendores:
pode reduzir a pena de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço). Pena - detenção, até 2 (dois) meses.
Parágrafo único. Se ocorre morte ou lesão grave,
Lesões Leves e Causa de Diminuição da Pena aplica-se, pelo fato de participação na rixa, a pena
de detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
Representa causa de diminuição de pena, de maior Os sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer
amplitude, porque envolve tão somente as lesões leves, pessoa, embora, no caso peculiar da rixa, sejam todos
em situação de reciprocidade ou nas condições de o agentes e vítimas ao mesmo tempo. Isso porque a par-
agente cometer o crime impelido por motivo de relevan- ticipação em rixa é crime plurissubjetivo, ou seja, con-
te valor moral (interesse particular) ou social (interes- curso necessário, só existindo se houver pluralidade
se coletivo) ou sob o domínio de violenta emoção, logo de participantes (no mínimo, três pessoas).
em seguida à injusta provocação da vítima. O juiz pode Admite-se que haja, entre os contendores, para a
reduzir a pena de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço). tipificação deste delito, inimputáveis, sendo que se
exige, no mínimo, três imputáveis.
Lesão Levíssima O fato de o participante ser ou não culpável não
afasta a possibilidade real de estar havendo uma
A lesão corporal levíssima não tem correspon- desordem generalizada com troca de agressões; por
dência no Código Penal comum. Trata-se de uma isso, ficará a cargo da interpretação do juiz.
possibilidade de a conduta ser atípica para o crime, Jorge César de Assis ensina que participar signi-
mas uma transgressão disciplinar a ser apurada em fica associar-se ou tomar parte, enquanto rixa é uma
âmbito administrativo que pode ensejar à punição briga, uma desordem caracterizada pela existência
disciplinar, pelos seguintes motivos, nas palavras de de, pelo menos, três pessoas valendo-se de agressões
Guilherme Nucci: mútuas de ordem material.
Acrescente-se a isso que não pode existir vítima certa,
z Se a lesão é detectada por laudo pericial, há mate- ou seja, três pessoas contra uma, pois não se está dian-
rialidade; te de confusão generalizada, vale dizer, de rixa. Portan-
z Se a lei penal não considera relevante, sob o pon- to, havendo individualização nítida de condutas, não há
to de vista do bem jurídico tutelado, a lesão deno- mais a figura do crime do art. 211 (NUCCI, 2014).
minada levíssima, deveria simplesmente eliminar Admite-se tentativa se a rixa for preordenada, isto é: os
qualquer punição; participantes têm um grupo de pessoas para atingir, por
z Argumentar que a lesão levíssima é fato atípico, exemplo, torcedores de time de futebol que pretendem agre-
mesmo materialmente, levaria à conclusão que o dir mutuamente grupo de torcedores de time adversário.
agente nenhum ilícito cometeu, motivo pelo qual É crime doloso e não se pune a forma culposa.
não teria cabimento puni-lo;
z Pode-se falar em desclassificação, o que, em ver- PERICLITAÇÃO DA VIDA OU DA SAÚDE
dade, seria tecnicamente irregular, pois não há
Abandono de Pessoa
alteração de tipo penal, passando-se de crime para
infração disciplinar. Art. 212 Abandonar o militar pessoa que está sob
seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade e,
Por exemplo: sargento desfere um tapa no rosto no por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos
soldado após uma discussão sobre o local onde guar- riscos resultantes do abandono:
266 dar o material de acampamento. Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos.
Formas Qualificadas pelo Resultado Exceção da Verdade

Art. 212 [...] Art. 213 [...]


§ 1º Se do abandono resulta lesão grave: § 2º A prova da verdade do fato imputado exclui o
Pena - reclusão, até 5 (cinco) anos. crime, mas não é admitida:
§ 2º Se resulta morte: I - se, constituindo o fato imputado crime de ação
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. privada, o ofendido não foi condenado por sentença
irrecorrível;
O autor deve ser um militar que tem a função de II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas
guarda, de protetor ou de autoridade designada por indicadas no n. I do art. 218;
lei para garantir a segurança da vítima, que pode ser
III - se do crime imputado, embora de ação pública,
pessoa de qualquer idade, desde que incapaz, coloca-
da sob sua vigilância. o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível.
Tutela-se a vida e a saúde do ser humano. Aqui, o verbo
abandonar quer dizer deixar só, sem a devida assistência. Pelo próprio nome, o crime de calúnia tutela a
O abandono, neste caso, é físico. Não é o caso de honra objetiva. Vamos acompanhar os ensinamentos
se enquadrar, nesta figura, o pai que deixa de dar de Guilherme Nucci:
alimentos ao filho menor, e sim aquele que deixa a
criança sozinha, sem condições de se proteger. z Honra objetiva: julgamento que a sociedade faz do
A incapacidade de se defender dos riscos do aban-
indivíduo, vale dizer, é a imagem que a pessoa pos-
dono deve ser apreciada caso a caso, visto que o even-
to consiste em periclitação para a vida ou saúde, e sui no seio social. Tendo em vista que honra é sem-
esse perigo não se presume. pre uma apreciação positiva, a honra objetiva é a
As formas qualificadas que ocorrem o abandono boa imagem que o sujeito possui diante de terceiros;
resultam lesão corporal de natureza grave ou morte. z Honra subjetiva: julgamento que o indivíduo faz
de si mesmo, ou seja, é um sentimento de autoes-
Maus Tratos tima, de autoimagem. É inequívoco que cada ser
humano tem uma opinião afirmativa e construtiva
Art. 213 Expor a perigo a vida ou saúde, em lugar de si mesmo, considerando-se honesto, trabalha-
sujeito à administração militar ou no exercício de dor, responsável, inteligente, bonito, leal, entre
função militar, de pessoa sob sua autoridade, guar-
outros atributos. Trata-se de um senso ligado à dig-
da ou vigilância, para o fim de educação, instrução,
tratamento ou custódia, quer privando-a de ali- nidade (respeitabilidade ou amor-próprio) ou ao
mentação ou cuidados indispensáveis, quer sujei- decoro (correção moral).
tando-a a trabalhos excessivos ou inadequados,
quer abusando de meios de correção ou disciplina: Os sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer
Pena - detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano. pessoa.
Caluniar é fazer uma acusação falsa, tirando a
Formas Qualificadas pelo Resultado credibilidade de uma pessoa no seio social, atribuir a
alguém, falsamente, fato definido como crime (NUCCI,

NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR/PROCESSO PENAL MILITAR


Art. 213 [...] 2016). No crime de calúnia, o agente tem por objetivo
§ 1º Se do fato resulta lesão grave:
atingir a honra objetiva da pessoa, atribuindo-lhe o
Pena - reclusão, até 4 (quatro) anos.
§ 2º Se resulta morte:
agente um fato falso definido como crime.
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 10 (dez) anos.
Dica
Observe que o crime de maus tratos exige que a
exposição a perigo ocorra em lugar sujeito à administra- Para a existência de calúnia, é necessário que
ção militar (quartel, batalhão) ou no exercício da função. a imputação do fato definido como crime seja
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, civil ou falsa.
militar, ressalvando-se que o civil tem a sua punibili-
dade condicionada ao fato de o delito atentar contra O crime é doloso e não há a modalidade culposa.
as instituições militares.
Entretanto, exige-se o elemento subjetivo do tipo espe-
Quanto ao sujeito passivo, a lei prevê uma situação
a mais, isto é, a de estar submetida à autoridade do cífico, que é a especial intenção de ofender, magoar,
agente, para o fim de instrução, caso específico, por macular a honra alheia. Esse elemento subjetivo
exemplo, de alunos de cursos de formação. intencional está implícito na definição do crime.
É importante lembrar que o agente necessita ser Atente-se ao fato de que há uma segunda figura,
pessoa responsável por outra, que é mantida sob sua ainda considerada calúnia, que é propalar, ou seja,
autoridade, guarda ou vigilância (por exemplo: recru- espalhar, dar publicidade, ou divulgar, isto é, tornar
tamento). O crime é doloso. conhecido de mais alguém.
O crime de calúnia admite a exceção da verdade.
CRIMES CONTRA A HONRA É importante saber que a exceção da verdade é um
incidente processual, uma questão secundária refleti-
Calúnia
da sobre o processo principal.
É uma forma de defesa indireta, por meio da qual
Art. 214 Caluniar alguém, imputando-lhe falsa-
mente fato definido como crime: o acusado de ter praticado calúnia busca elementos
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. de provar a veracidade do que alegou, por exemplo,
§ 1º Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a apresentar indício de que a pessoa que o acusa de
imputação, a propala ou divulga. calúnia realmente é o autor do furto. 267
Difamação Podemos exemplificar como casos de injúria real a
chicotada, a bofetada, o arremesso de excrementos, o
Art. 215 Difamar alguém, imputando-lhe fato ofen- cuspir na face etc.
sivo à sua reputação: Guilherme Nucci ensina que um tapa pode pro-
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. duzir um corte no lábio da vítima, configurando
Parágrafo único. A exceção da verdade somente se violência, mas pode também não deixar ferimento,
admite se a ofensa é relativa ao exercício da função representando a via de fato.
pública, militar ou civil, do ofendido. É possível que o agente prefira produzir um insul-
to dessa forma, o que, aliás, é igualmente infamante.
No crime de difamação, o sujeito ativo pode ser Nesse caso, se tiver havido violência, há concurso da
qualquer pessoa, civil ou militar. Entretanto, o sujeito injúria com o delito de lesões corporais. Assim como
passivo pode ser pessoa física ou jurídica que goze de a injúria, a injúria real é crime é doloso e não há a
reputação no seio social. modalidade culposa.
Neste delito, também podem ser sujeitos passivos Embora a conduta seja única, essa injúria é pra-
os doentes mentais e menores, visto que podem ser ticada por meio de violência; além da pena prevista
atingidos no conceito social que possuem. para a figura básica da injúria real, acrescenta-se tam-
Difamar uma pessoa implica em divulgar fatos que bém a punição pela violência.
atentem contra a honra objetiva, sejam eles verdadei-
ros ou falsos. Disposições Comuns
É preciso que o agente faça referência a um acon-
tecimento e que possua dados descritivos como oca- Art. 218 As penas cominadas nos antecedentes
sião, pessoas envolvidas, lugar, horário, entre outros, artigos deste capítulo aumentam-se de 1/3 (um ter-
e não um simples insulto. ço), se qualquer dos crimes é cometido:
Vejamos o exemplo: dizer que uma pessoa é calo- I - contra o Presidente da República ou chefe de
teira configura uma injúria, ao passo que espalhar o governo estrangeiro;
fato de que ela não pagou aos credores “A”, “B” e “C”, II - contra superior;
III - contra militar, ou funcionário público civil, em
quando as dívidas X, Y e Z venceram no dia tal, do mês
razão das suas funções;
tal, configura a difamação. IV - na presença de duas ou mais pessoas, ou de
O crime é doloso por excelência, sendo o dolo a inferior do ofendido, ou por meio que facilite a
vontade de imputar, atribuir fato desonroso a alguém. divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria.
Quanto à exceção da verdade, somente se admite se a Parágrafo único. Se o crime é cometido mediante
ofensa é relativa ao exercício da função pública, mili- paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena
tar ou civil, do ofendido. em dobro, se o fato não constitui crime mais grave.

Injúria São causas de aumento da pena:

Art. 216 Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignida- z Honra do Presidente da República ou de chefe
de ou o decoro: de governo estrangeiro: o legislador entendeu ser
Pena - detenção, até 6 (seis) meses. especialmente grave o ataque à honra, objetiva ou
subjetiva, do representante maior de uma nação,
No crime de injúria, o sujeito ativo pode ser qual- seja ele brasileiro ou estrangeiro. No caso do Bra-
quer pessoa, civil ou militar, pois o agente é aquele sil, o Presidente da República é o Chefe Supremo
das Forças Armadas, o que faz com que a lei penal
que ofende a outrem na dignidade ou decoro. O sujei-
militar trate o fato de modo especial;
to passivo somente pode ser a pessoa física.
z Honra de superior: em função dos princípios da
Injuriar significa humilhar, achincalhar, ofender, hierarquia e da disciplina, quando o superior é víti-
ridicularizar, atentar contra a honra. É preciso que a ma do subordinado, é viável a agravação da pena;
ofensa atinja a dignidade, ou seja, a respeitabilidade, z Honra de militar ou funcionário público civil: o
ou o decoro, isto é, a compostura de alguém. aumento da pena tem por finalidade preservar o
O crime de injúria é doloso e não há a modalidade interesse da administração pública militar;
culposa. É inadmissível a exceção da verdade, pois não z Presença de duas ou mais pessoas com a facili-
se pode pretender provar um insulto ou uma afronta. tação da divulgação da agressão à honra: Tem por
objetivo punir com maior rigor o agente que se
Injúria Real valha de meio de fácil propagação da calúnia, da
difamação ou da injúria.
Art. 217 Se a injúria consiste em violência, ou outro
ato que atinja a pessoa, e, por sua natureza ou pelo O parágrafo único prevê a majorante subsidiária,
meio empregado, se considera aviltante: isto é, somente será aplicada se o fato não constituir
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, crime mais grave. Tem por majorante subsidiária a
além da pena correspondente violência. paga ou promessa de recompensa, que consiste no
recebimento ou expectativa de qualquer soma em
dinheiro ou outra vantagem, bem como o motivo tor-
No crime de injúria real, a lei menciona expressa-
pe, ou seja, aquele que é repugnante.
mente o elemento material: violência ou outro ato que
atinja a pessoa, considerado aviltante.
OFENSA ÀS FORÇAS ARMADAS
A violência é a ofensa à integridade corporal de
outrem, enquanto outro ato que atinja a pessoa repre- Art. 219 Propalar fatos, que sabe inverídicos, capazes
senta a via de fato, ou seja, uma forma de violência de ofender a dignidade ou abalar o crédito das forças
que não chega a lesionar a integridade física ou a saú- armadas ou a confiança que estas merecem do público:
268 de de uma pessoa. Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano.
Parágrafo único. A pena será aumentada de 1/3 Outra imunidade, a literária, artística e científica,
(um terço), se o crime é cometido pela imprensa, diz respeito à liberdade de expressão, permitindo que
rádio ou televisão. haja crítica acerca de livros, obras de arte ou produ-
ções científicas de toda ordem, ainda que sejam pare-
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, civil ceres ou conceitos negativos.
ou militar. O sujeito passivo são as Forças Armadas: A imunidade funcional pertence ao funcionário
Marinha, Exército e Aeronáutica, excluindo as Polícia público (civil ou militar) no cumprimento do dever
Militares e Bombeiros Militares, por constituírem as
inerente ao seu ofício, permitindo construir parecer
Forças Auxiliares.
desfavorável, expondo opinião negativa a respeito de
Segundo Nucci (2016), qualquer crime contra a
alguém, passível de macular a reputação da vítima ou
honra exige a determinação do sujeito passivo, seja
como pessoa física, seja como jurídica. É fundamental ferir a sua dignidade ou o seu decoro. Exemplo: no
a precisão de quem se trata, pois se lida com a imagem âmbito militar, quando o superior emite conceito de
de alguém, não sendo admissível “ofender” um ente aferição do merecimento de promoção.
sem personalidade jurídica, como o Estado, o Brasil,
a Polícia etc.
No caso do tipo do art. 219, embora as Forças Arma-
das não possuam personalidade jurídica, abre-se CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
exceção legal para estabelecer crime contra a honra.
O verbo nuclear é propalar, cujo significado é FURTO
divulgar ou espalhar algo. O tipo especifica que sejam
fatos inverídicos aptos a prejudicar a imagem das Furto Simples
Forças Armadas ou a confiança que elas merecem da
sociedade, não bastando simples críticas envolvendo Art. 240 Subtrair, para si ou para outrem, coisa
as instituições militares. alheia móvel:
O crime exige o dolo direto, advindo da expressão Pena - reclusão, até 6 (seis) anos.
que sabe inverídica; basta que a ofensa seja apta a
produzir o resultado pretendido. Furto Atenuado
É causa de aumento de pena o meio facilitado de
divulgação da ofensa, relativo à imprensa escrita, Art. 240 [...]
radio ou televisão. Podemos acrescentar como meio § 1º Se o agente é primário e é de pequeno valor a coisa
furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela
de divulgação a internet, principalmente por meio das
de detenção, diminuí-la de 1 (um) a 2/3 (dois terços),
mídias sociais. ou considerar a infração como disciplinar. Entende-se
pequeno o valor que não exceda a 1/10 (um décimo) da
EXCLUSÃO DE PENA quantia mensal do mais alto salário mínimo do país.
§ 2º A atenuação do parágrafo anterior é igual-
Art. 220 Não constitui ofensa punível, salvo quan- mente aplicável no caso em que o criminoso, sendo
do inequívoca a intenção de injuriar, difamar ou primário, restitui a coisa ao seu dono ou repara o

NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR/PROCESSO PENAL MILITAR


caluniar: dano causado, antes de instaurada a ação penal.
I - a irrogada em juízo, na discussão da causa, por
uma das partes ou seu procurador contra a outra Energia de Valor Econômico
parte ou seu procurador;
II - a opinião desfavorável da crítica literária, artís- Art. 240 [...]
tica ou científica; § 3º Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou
III - a apreciação crítica às instituições militares, qualquer outra que tenha valor econômico.
salvo quando inequívoca a intenção de ofender;
IV - o conceito desfavorável em apreciação ou infor- Furto Qualificado
mação prestada no cumprimento do dever de ofício.
Parágrafo único. Nos casos dos ns. I e IV, responde Art. 240 [...]
pela ofensa quem lhe dá publicidade. § 4º Se o furto é praticado durante a noite:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos.
As circunstâncias elencadas no art. 220 do CPM § 5º Se a coisa furtada pertence à Fazenda Nacional:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
são imunidades – condutas lícitas por parte de quem
§ 6º Se o furto é praticado:
a pratica – espécie de imunidade para quem pratica I - com destruição ou rompimento de obstáculo à
injúria, difamação ou calúnia. subtração da coisa;
Cícero Coimbra lembra que se trata de exercício II - com abuso de confiança ou mediante fraude,
regular da liberdade de manifestação do pensamento. escalada ou destreza;
A primeira excludente de ilicitude diz respeito à imu- III - com emprego de chave falsa;
nidade auferida por quem litiga em juízo, terminando IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas:
por se descontrolar, proferindo ofensas contra a parte Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos.
§ 7º Aos casos previstos nos § § 4º e 5º são aplicá-
contrária. Aqui, vale destacar que dificilmente um militar
veis as atenuações a que se referem os § § 1º e 2º
se enquadrará nesta hipótese, visto que no litígio castren- Aos previstos no § 6º é aplicável a atenuação refe-
se as partes que apresentam tese de acusação e de defesa rida no § 2º.
são os membros do Ministério Público e o Advogado.
Veja que a ofensa ao magistrado não se beneficia O crime furto no Código Penal Militar é semelhan-
da excludente, uma vez que o juiz não pode ser con- te ao furto definido no Código Penal comum. Em sín-
siderado parte no processo e não tem interesse algum tese, os sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer
na discussão da causa. pessoa, civil ou militar. 269
O verbo subtrair tem o mesmo significado no CPM z Obstáculo: é o embaraço, a barreira ou a armadi-
que no CP, ou seja, tirar, fazer desaparecer ou retirar lha montada para dificultar ou impedir o acesso a
e, somente em última análise, furtar, apoderar-se. alguma coisa;
Para configurar o crime, exige-se o dolo, que nada z Abuso de confiança: confiança é um sentimento
mais é que a vontade do agente de se apossar do que interior de segurança em algo ou alguém; portan-
não lhe pertence. Não existe a modalidade culposa. to, implica credibilidade. O abuso é sempre um
Apesar da semelhança do tipo penal, no cenário excesso, um exagero em regra condenável;
militar o delito é mais rigoroso, pois está em jogo a hie-
z Fraude: é uma manobra enganosa destinada a
rarquia e a disciplina da instituição. Isso leva a enten-
iludir alguém, configurando, também, uma forma
der que não se aplica o princípio da insignificância, ou
da bagatela, em que o juiz pode considerar que o bem de ludibriar a confiança que se estabelece natural-
furtado é de pequeno valor e não aplica pena ao agente. mente nas relações humanas;
O furto privilegiado permite a prática do delito com z Escalada: é a subida de alguém a algum lugar,
atenuação da pena. Para ser furto privilegiado, é neces- valendo-se de escada, no sentido estrito. Escalar
sário que o agente seja primário, não seja, por lógica, implica subir ou galgar, como regra. Portanto,
reincidente. Lembre-se de que a reincidência ocorre como regra, torna-se fundamental que o sujeito
quando o réu comete novo crime após já ter sido con- suba a algum ponto mais alto do que o seu caminho
denado definitivamente, no Brasil ou no exterior. natural, ou seja, é o ingresso anormal de alguém
Além da primariedade, o objeto deve ser de peque- em algum lugar, implicando em acesso por aclive;
no valor. z Destreza: é a agilidade ímpar dos movimentos de
Sobre o furto atenuado pela restituição da coisa ou alguém, configurando uma especial habilidade. O
reparação do dano, vamos verificar o ensinamento de batedor de carteira é o melhor exemplo;
Guilherme Nucci: z Chave falsa: é o instrumento destinado a abrir
fechaduras ou fazer funcionar aparelhos. A chave
z No Código Penal comum, a restituição da coisa ou original, subtraída sub-repticiamente, não provo-
a reparação do dano gera a causa de diminuição ca a configuração da qualificadora;
da pena de um a dois terços, denominada arre- z Concurso de duas ou mais pessoas: quando
pendimento posterior (art. 16 do CP); agentes se reúnem para a prática do crime de
z Já no Código Penal Militar, se o agente é primário e agir furto é natural que se torne mais acessível a con-
do mesmo modo, antes do recebimento da denúncia, cretização do delito. Por isso, configura-se a qua-
terá direito aos benefícios do furto privilegiado. lificadora. Por exemplo, o agente que furta uma
casa, enquanto o comparsa, na rua, vigia o local,
Como outra circunstância, é fundamental que a está praticando um furto qualificado.
restituição seja completa e a reparação, integral, con-
forme o autor citado acima. Regra especial para aplicação dos privilégios:
Além do objeto visível e palpável, equipara-se a
energia elétrica ou qualquer outra que possua valor z Código Penal comum: inexiste norma similar à
econômico à coisa móvel, de modo que constitui furto regra especial para aplicação dos privilégios;
a conduta de desvio de energia de sua fonte natural. Há z Código Penal Militar: expressa previsão para que
doutrinas do direito penal comum que incluem a ener- a aplicação das figuras privilegiadas possa ocorrer
gia genética no rol de qualquer outra que possua valor no tocante às qualificadoras.
econômico. Energia, de modo geral, é a qualidade de
um sistema que realiza trabalhos de variadas ordens: Furto de Uso
elétrica, química, radiativa, mecânica, entre outras.
Exemplo: o militar que faz uma ligação clandesti- Art. 241 Se a coisa é subtraída para o fim de uso
na, evitando o medidor de energia elétrica em uma momentâneo e, a seguir, vem a ser imediatamente
vila militar, está praticando furto. restituída ou reposta no lugar onde se achava:
Temos no Código Penal Militar a figura do furto Pena – detenção, até 6 (seis) meses.
qualificado, por exemplo, o furto noturno, que é o pra- Parágrafo único. A pena é aumentada de 1/2 (meta-
de), se a coisa usada é veículo motorizado; e de 1/3
ticado durante o repouso noturno, momento em que a
(um terço), se é animal de sela ou de tiro.
vítima está em menor vigilância do que durante o dia.
O furto de uso não encontra similar na legislação
Dica penal comum. Esse tipo de furto, no CPM, possui os
Sem similar na legislação penal comum, o fur- seguintes requisitos necessários:
to contra a Fazenda Nacional é qualificado com
vista ao sujeito passivo – o Estado, na figura da z finalidade de uso momentâneo;
União. z imediata restituição da coisa à vítima e, segun-
do nos parece, antes que ela perceba e necessite
Vamos, com os ensinamentos de Guilherme Nucci, utilizá-la;
estudar as circunstâncias: z devolvê-la no lugar onde se achava, em perfeito
estado.
z Destruição: é a conduta que provoca o aniquila-
mento ou faz desaparecer alguma coisa; Devido à segurança das instituições militares,
z Rompimento: é a conduta que estraga ou faz em pune-se mais severamente o furto de objetos relacio-
pedaços alguma coisa. O rompimento parcial da nados a atividade fim, por exemplo, aeronave, embar-
270 coisa é suficiente para configurar a qualificadora; cação e carros blindados.
ROUBO O crime é doloso, com o elemento subjetivo especí-
fico de subtrair a coisa para si ou para outrem.
Roubo Simples No § 1º há, alternativamente, a seguinte finalidade
específica:
Art. 242 Subtrair coisa alheia móvel, para si ou
para outrem, mediante emprego ou ameaça de z assegurar a impunidade do crime;
emprego de violência contra pessoa, ou depois de z assegurar a detenção da coisa para si ou para
havê-la, por qualquer modo, reduzido à impossibili- terceiro.
dade de resistência:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 15 (quinze) anos. Assegurar a impunidade é garantir que o agente
§ 1º Na mesma pena incorre quem, em seguida à não será preso, por exemplo: dar o ladrão um soco na
subtração da coisa, emprega ou ameaça empre- vítima, que tenta prendê-lo após descobrir a subtração.
gar violência contra pessoa, a fim de assegurar Assegurar a detenção da coisa para si ou para ter-
a impunidade do crime ou detenção da coisa ceiro ocorre, por exemplo, na hipótese de proferir o
para si ou para outrem. ladrão uma ameaça de morte, apontando a arma para
que a vítima não se aproxime, tentando recuperar o
Roubo Qualificado bem que percebe estar sendo levado embora.
Não há a modalidade culposa.
Art. 242 [...] Acompanhe a tabela a seguir, extraída dos ensina-
§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até 1/2 mentos de Guilherme Nucci (2014):
(metade):
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego ROUBO PRÓPRIO
de arma;
II - se há concurso de duas ou mais pessoas; Autêntica forma de realização do roubo. O agente usa
III - se a vítima está em serviço de transporte de a violência ou a grave ameaça para retirar os bens da
valores, e o agente conhece tal circunstância; vítima (caput do art. 242 do CPM)
IV - se a vítima está em serviço de natureza militar; ROUBO IMPRÓPRIO
V - se é dolosamente causada lesão grave;
VI - se resulta morte e as circunstâncias evidenciam Realiza-se quando o autor da subtração conseguiu a
que o agente não quis esse resultado, nem assumiu coisa sem valer-se dos típicos instrumentos para dobrar
o risco de produzi-lo. a resistência da vítima, mas é levado a empregar vio-
lência ou grave ameaça após ter o bem em suas mãos,
Latrocínio tendo por finalidade assegurar a impunidade do crime
ou a detenção da coisa definitivamente (§ 1º do art. 242
Art. 242 [...] do CPM)
§ 3º Se, para praticar o roubo, ou assegurar a
impunidade do crime, ou a detenção da coisa, Elencaremos a seguir os conceitos importantes no
o agente ocasiona dolosamente a morte de crime de roubo, segundo Guilherme Nucci:
alguém, a pena será de reclusão, de 15 (quinze) a

NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR/PROCESSO PENAL MILITAR


30 (trinta) anos, sendo irrelevante se a lesão patri- z Arma: é o instrumento utilizado para defesa ou
monial deixa de consumar-se. Se há mais de uma ataque. Denomina-se arma própria, a que é des-
vítima dessa violência à pessoa, aplica-se o dispos- tinada, primordialmente, para ataque ou defesa
to no art. 79. (ex.: armas de fogo, punhal, espada, lança etc.).
Logicamente, muitas outras coisas podem ser
O crime de roubo, no Código Penal Militar, é simi- usadas como meios de defesa ou de ataque. Nes-
lar ao da legislação penal comum. Por conta da simila- se caso, são as chamadas armas impróprias (ex.:
ridade, os sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer uma cadeira atirada contra o agressor; um martelo
pessoa. utilizado para matar; uma ferramenta pontiaguda
O verbo subtrair tem o mesmo significado que no servindo para intimidar);
crime de furto: retirar algo de um lugar com destino z Concurso de duas ou mais pessoas: sempre mais
perigosa a conduta daquele que age sob a proteção
a outro.
ou com o auxílio de outra pessoa. Assim, o autor de
Seguindo, por enquanto, o mesmo raciocínio do roubo, atuando com um ou mais comparsas, deve
delito de furto, no roubo, o objeto é a coisa de valor responder mais gravemente pelo que fez;
econômico pertencente a outrem. z Vítima a serviço de transporte de valores: o
Rogério Sanches Cunha (2016) ensina que no rou- roubo é mais grave quando o agente subtrai bens
bo, diferente do que ocorre no furto, o agente pratica de quem está transportando valores pertencentes
a conduta com violência ou grave ameaça: a terceiro. Essa atividade envolve, fundamental-
mente, as empresas que se dedicam justamente a
z Violência ou constrangimento físico da vítima esse transporte, constituindo alvo identificável e
(emprego de força sobre seu corpo), retirando dela atrativo aos assaltantes;
os meios de defesa, para subtrair o bem; z Vítima em serviço militar: a qualidade do ofendi-
do, ou seja, a vítima que se encontra em serviço de
z Grave ameaça – intimidação, isto é, coação psico-
natureza militar, cuida em particular, de interesse
lógica, na promessa, direta ou indireta, implícita
da instituição militar;
ou explícita, de castigo ou de malefício. z Ter o resultado de lesão grave: trata-se de resul-
tado qualificador, quando, em razão da violência
Diferente do furto, não existe roubo de uso. No rou- empregada, o agente provoca lesão grave na víti-
bo, o agente é levado a usar violência ou grave ameaça ma. Não há determinação específica para o ele-
contra a pessoa, de modo que a vítima tem imediata mento subjetivo nessa hipótese, podendo-se supor
ciência da conduta e de que seu bem foi subtraído. tratar-se de dolo ou culpa; 271
z Ter o resultado morte: cuida-se de resultado é cometido por mais de duas pessoas, a pena é de
qualificador, provocado pelo agente do roubo, em reclusão de 8 (oito) a 20 (vinte) anos.
virtude da violência ou grave ameaça; estipula a § 2º Se à pessoa sequestrada, em razão de maus-
norma que o elemento subjetivo do autor, quanto -tratos ou da natureza do sequestro, resulta grave
a esse resultado, deve ser apenas culpa; sofrimento físico ou moral, a pena de reclusão é
z Latrocínio: o crime qualificado pelo resultado, aumentada de 1/3 (um terço).
§ 3º Se o agente vem a empregar violência contra
consistente na prática de roubo doloso, seguido de
a pessoa sequestrada, aplicam-se correspondente-
morte igualmente dolosa, acarreta uma qualifica-
mente, as disposições do art. 242, § 2º, ns. V e VI,
ção bem superior à média, atingindo o patamar de e § 3º.
reclusão, de 15 a 30 anos.

No Código Penal Militar, quando o resultado mor- Segundo Nucci (2016), o crime de extorsão median-
te for causado culposamente, o roubo possui causa de te sequestro no Código Penal Militar possui redação
aumento de pena (um terço até metade). Quando o diferenciada do art. 159 do Código Penal comum,
resultado morte for provocado dolosamente, o roubo crime hediondo. No Código Penal comum, o crime
se baseia no sequestro de pessoa com o fim de obter
é qualificado (pena de reclusão, de 15 a 30 anos).
vantagem como condição ou preço do resgate. No art.
EXTORSÃO 244 do CPM, omite-se o verbo sequestrar, optando-se
pelo núcleo extorquir, obter algo mediante emprego
Extorsão Simples de violência ou ameaça.
A extorsão mediante sequestro é crime complexo
Art. 243 Obter para si ou para outrem indevida em que tutela aos mesmos tempos, os bens jurídicos
vantagem econômica, constrangendo alguém, do patrimônio e a liberdade individual de locomoção.
mediante violência ou grave ameaça:
Não se admite tentativa, pois essa forma é equipa-
a) a praticar ou tolerar que se pratique ato lesivo
rada à consumada. O crime delito é doloso e não há a
do seu patrimônio, ou de terceiro;
modalidade culposa.
b) a omitir ato de interesse do seu patrimônio, ou
As formas qualificadas do crime de extorsão
de terceiro:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 15 (quinze) anos. mediante sequestro estão dispostas nos parágrafos do
Formas qualificadas art. 244 do CPM:
§ 1º Aplica-se à extorsão o disposto no § 2º do art.
242. z Lapso temporal ou idade da vítima (menos de 16
§ 2º Aplica-se à extorsão, praticada mediante vio- anos ou mais de 60 anos) ou pelo concurso de mais
lência, o disposto no § 3º do art. 242. de dois agentes;
z Quando resulta grave sofrimento físico ou moral,
O crime de extorsão também tem similaridade em razão de maus tratos recebidos ou da natureza
entre a definição contida no Código Penal Militar e na do sequestro, que podemos relacionar à prática de
legislação penal comum. Tutela-se o patrimônio. tortura;
Os sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer pes- z Emprego de violência contra o sequestrado, oca-
soa, civil ou militar. Neste crime, o objetivo do agente sião em que se aplicam as disposições do roubo
é conseguir algo indevido com vantagem econômica. qualificado e do latrocínio.
Não se esqueça de que a extorsão é uma forma de
constrangimento por meio de violência ou grave ameaça, Chantagem
com a finalidade de obtenção de vantagem econômica.
As formas qualificadas de extorsão são as mesmas Art. 245 Obter ou tentar obter de alguém, para si
do roubo: ou para outrem, indevida vantagem econômica,
mediante ameaça de revelar fato, cuja divulgação
z Se a violência ou ameaça é exercida com emprego pode lesar a sua reputação ou de pessoa que lhe
de arma; seja particularmente cara:
z Se há concurso de duas ou mais pessoas; Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos.
z Se a vítima está em serviço de transporte de Parágrafo único. Se a ameaça é de divulgação
valores; pela imprensa, radiodifusão ou televisão, a pena é
z Se a vítima está em serviço de natureza militar; agravada.
z Se ocorre a morte preterintencional;
z Se o agente ocasiona dolosamente a morte de O crime de chantagem, apesar de estar tipificado
alguém. na legislação penal militar, pode ter qualquer pessoa
na condição de sujeito ativo e sujeito passivo.
Extorsão Mediante Sequestro Às vezes, o militar pratica a conduta contra um
civil, por exemplo, um fornecedor de gêneros alimen-
Art. 244 Extorquir ou tentar extorquir para si ou tícios para o quartel. Ou o civil, que presta serviços
para outrem, mediante sequestro de pessoa, indevi- de manutenção em rede elétrica do quartel, pratica o
da vantagem econômica: crime contra um militar.
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 15 (quinze) anos. O crime é doloso, com o elemento subjetivo especí-
Formas Qualificadas fico que consistente na finalidade de obter algo para si
ou para outrem. Não há a modalidade culposa.
Art. 244 [...] O parágrafo único estabelece a agravação da pena
§ 1º Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) quando a ameaça é de divulgação pela imprensa,
horas, ou se o sequestrado é menor de 16 (dezes- radiodifusão, televisão, e também pela internet, por
272 seis) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime meio das mídias digitais e redes sociais.
Extorsão Indireta Apropriação de Coisa Havida Acidentalmente

Art. 246 Obter de alguém, como garantia de dívida, Art. 249 Apropriar-se alguém de coisa alheia vin-
abusando de sua premente necessidade, documento da ao seu poder por erro, caso fortuito ou força da
que pode dar causa a procedimento penal contra o natureza:
devedor ou contra terceiro: Pena - detenção, até 1 (um) ano.
Pena - reclusão, até 3 (três) anos.
Apropriação de Coisa Achada
O sujeito ativo é o credor de uma dívida. O sujei-
to passivo é o devedor, que entrega o documento ao Art. 249 [...]
agente, ou terceira pessoa potencialmente prejudica- Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem
da pela apresentação do documento às autoridades. acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total
O crime consiste em exigir ou receber o instru- ou parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou
mento dessa ameaça, seja legítimo ou não o crédito. legítimo possuidor, ou de entregá-la à autoridade
Dois verbos são necessários para estudá-lo: competente, dentro do prazo de 15 (quinze) dias.

z Obter, que significa conseguir algo, tendo por No caput do art. 249 do CPM, encontramos o delito
objeto o documento apto a desencadear investiga- de apropriação de coisa havida acidentalmente, e no
ção ou processo criminal; parágrafo único do mesmo artigo, o crime de apro-
z Abusar, que significa exagerar, usando de modo priação de coisa achada.
inconveniente alguma coisa. Em ambas as infrações, o sujeito ativo pode ser
qualquer pessoa, civil ou militar. O sujeito passivo
O crime é doloso e não existe a modalidade culposa. também pode ser civil ou militar, mas deve ser o pro-
prietário da coisa desviada ou perdida por erro ou aci-
APROPRIAÇÃO INDÉBITA dente, ou o legítimo possuidor da coisa perdida.
Tutela-se o patrimônio. Neste crime, a coisa alheia vem
Apropriação Indébita Simples ao poder do agente não por confiança de seu proprietário
ou possuidor, mas por evento estranho à sua vontade, ou
Art. 248 Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que seja, por haver acidentalmente ou por achar a coisa.
tem a posse ou detenção: O caso fortuito ou força maior (na lei está identi-
Pena - reclusão, até 6 (seis) anos. ficado por força da natureza) é evento acidental, que
faz com que um objeto termine em mãos erradas.
Agravação de Pena O crime é doloso e não há a modalidade culposa.

Art. 248 [...] z Coisa perdida: sumiu por causa estranha à vontade
Parágrafo único. A pena é agravada, se o valor da do proprietário ou possuidor, que não mais a encontra;
coisa excede vinte vezes o maior salário mínimo, ou z Coisa esquecida: saiu de sua esfera de vigilância

NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR/PROCESSO PENAL MILITAR


se o agente recebeu a coisa: e disponibilidade por simples lapso de memória,
I - em depósito necessário; embora o dono saiba onde encontrá-la.
II - em razão de ofício, emprego ou profissão.
No CPM, o agente tem período de quinze dias para
O crime de apropriação indébita também tem cor- encontrar a vítima, devolvendo-lhe a coisa achada.
respondência na legislação penal comum. O sujeito O crime é doloso e não há a modalidade culposa.
ativo e o sujeito passivo podem ser qualquer pessoa.
O que se exige é que o sujeito ativo seja a pessoa que ESTELIONATO
tem a posse ou a detenção de coisa alheia, e o sujeito
passivo é o dono da coisa dada ao sujeito ativo. Art. 251 Obter, para si ou para outrem, vantagem
O núcleo do tipo, apropriar-se, tem o significado ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo
de apossar-se ou tomar como sua coisa que pertence alguém em erro, mediante artifício, ardil ou qual-
a outra pessoa. quer outro meio fraudulento:
O crime é doloso e não há a forma culposa. Pena - reclusão, de 2 (dois) a 7 (sete) anos.
No parágrafo único do art. 248 do CPM, estão as § 1º Nas mesmas penas incorre quem:
previstos os casos de aumento de pena:
Disposição de Coisa Alheia como Própria
z Valor da coisa exceder vinte vezes o valor do salário
mínimo, sem figura similar na legislação penal comum; Art. 251 [...]
z Agente receber a coisa em depósito necessário I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação
ou em garantia, coisa alheia como própria;
ou em razão de ofício, emprego ou profissão (por
exemplo: militar trabalha no depósito de material
Alienação ou Oneração Fraudulenta de Coisa Própria
de bens móveis, recebe a coisa e se apropria dela).
Art. 251 [...]
Na prática, compete à Justiça Militar julgar poli- II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garan-
cial militar que, na condição de presidente do núcleo tia coisa própria inalienável, gravada de ônus ou
de cabos e solfados, agremiação integrada exclusiva- litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro,
mente por policiais militares, apropria-se de parte do mediante pagamento em prestações, silenciando
dinheiro que lhe fora confiado a administrar. sobre qualquer dessas circunstâncias; 273
Defraudação de Penhor z Vender: alienar mediante determinado preço;
z Permutar: trocar;
Art. 251 [...] z Dar em pagamento, locação ou garantia: hipote-
III - defrauda, mediante alienação não consentida
ca, penhor, anticrese, a coisa que não lhe pertence.
pelo credor ou por outro modo, a garantia pigno-
ratícia, quando tem a posse do objeto empenhado;
Não há somente essas condutas, mas também quem
Fraude na Entrega de Coisa defrauda, ou seja, lesa, priva ou toma um bem de outrem.
Lembre-se de que a lei penal militar tutela o patri-
Art. 251 [...] mônio particular e público. Buscando a maior tutela
IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade em relação ao patrimônio público, a pena é elevada
de coisa que entrega a adquirente; quando a vítima é a administração militar, isto é, o
Fraude no pagamento de cheque patrimônio é militar.
V - defrauda de qualquer modo o pagamento de che- De modo diferente do previsto no Código Penal
que que emitiu a favor de alguém. comum, o estelionato previdenciário ocorre quando o
§ 2º Os crimes previstos nos incisos I a V do pará-
agente, de modo fraudulento, obtém benefícios da previ-
grafo anterior são considerados militares somente
nos casos do art. 9º, II, letras a e e. dência, mesmo quanto a valores sujeitos à Administração
Militar, conforme decisões reiteradas da Justiça Militar.
Agravação de Pena
Abuso de Pessoa
Art. 251 [...]
§ 3º A pena é agravada, se o crime é cometido em Art. 252 Abusar, em proveito próprio ou alheio,
detrimento da administração militar. no exercício de função, em unidade, repartição ou
estabelecimento militar, da necessidade, paixão ou
inexperiência, ou da doença ou deficiência mental
Os sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer
de outrem, induzindo-o à prática de ato que produ-
pessoa, civil ou militar.
za efeito jurídico, em prejuízo próprio ou de tercei-
No crime de estelionato, o agente visa a obter vanta- ro, ou em detrimento da administração militar:
gem indevida induzindo ou mantendo a vítima em erro. Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
Isso significa que o agente pretende conseguir um bene-
fício ou um lucro ilícito em razão do engano provocado Apesar de o crime de abuso de pessoa estar tipi-
na vítima. Tutela-se o patrimônio particular e público. ficado na legislação penal miliar, Guilherme Nucci
Vejamos de maneira aprofundada cada um dos (2014) esclarece que:
termos, na explicação de Guilherme Nucci: O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, militar
ou civil, desde que no exercício de função em unida-
z Induzir quer dizer incutir ou persuadir; de, repartição, quartel ou estabelecimento militar.
z Manter significa fazer permanecer ou conservar; O sujeito passivo é a pessoa necessitada, movi-
z Artifício significa astúcia, esperteza, manobra da pela paixão ou inexperiente, ou ainda enferma
que implica engenhosidade, por exemplo, o sujei- mental, ou deficiente, bem como terceira pessoa ou a
to, dizendo-se representante de uma instituição de administração militar.
caridade conhecida, fazendo referência ao nome
de pessoas conhecidas que, de fato, dirigem a men-
cionada instituição, consegue coletar contribuição Importante!
da vítima, embolsando-a;
z Ardil é artifício, esperteza, embora na forma de No Código Penal comum, o crime tutela o menor
armadilha, cilada ou estratagema. Aproveitando o de 18 anos ou alienado mental.
exemplo acima, o agente prepara um local com a O Código Penal Militar tutela qualquer pessoa
aparência de ser uma agência de venda de veícu- que se encontra em situação de necessidade,
los, recebe o cliente (vítima), oferece-lhe o carro, paixão ou inexperiência.
recebe o dinheiro e, depois, desaparece;
z Qualquer outro meio fraudulento representa inter-
pretação analógica, ou seja, após ter mencionado duas
modalidades de meios enganosos, o tipo penal faz Há duas condutas, que devem estar unidas:
referência a qualquer outro semelhante ao artifício
e ao ardil, que possa, igualmente, ludibriar a vítima. z Abusar: o mesmo que exorbitar, exagerar ou utili-
zar de modo inconveniente;
O crime é doloso e há elemento subjetivo especí- z Induzir: aquele que dá a ideia, que inspira, com o
fico, consistente no ânimo de fraude, obtendo lucro fim de levar a vítima à prática de ato prejudicial a
para si ou para outrem. Não há a modalidade culposa. si ou a terceiro.
O que é estelionato judiciário? No estelionato
judiciário, o agente age de modo semelhante ao este- Vamos diferenciar a situação de necessidade, pai-
lionato propriamente dito, pois, a manobra, o ardil, é xão e inexperiência (NUCCI, 2014):
utilizado no curso do processo, de forma a ludibriar
o juízo ou a parte contrária, podendo alcançar provi- z Necessidade é aquilo que não se pode dispensar,
mento favorável à sua pretensão. que é essencial para a pessoa;
É necessário que o sujeito ativo seja militar. Já o z Estado de paixão é quando a pessoa está no estado de
sujeito passivo deve ser militar ou a instituição militar. uma emoção exacerbada, que afasta a própria razão;
A lei penal militar inclui nas mesmas penas do este- z Inexperiência é a falta de prática de vida ou de
274 lionato as condutas em que o agente incorre. Vejamos: habilidade em determinada função ou ofício.
Da mesma forma que diferenciamos necessidade, Parágrafo único. Se o agente é primário e o valor da
paixão e inexperiência, é importante colocar de um coisa não é superior a 1/10 (um décimo) do salário
lado a doença ou deficiência mental e, de outro, o ato mínimo, o juiz pode deixar de aplicar a pena.
suscetível de produzir efeitos jurídicos (NUCCI, 2014):
Nesse caso, exige-se elemento subjetivo do tipo
específico, para si ou para outrem, coisa alheia origi-
z A doença ou deficiência mental de outrem depen-
nária da prática de um delito.
de de avaliação médico psiquiátrica; O Código Penal Militar dispõe, no art. 256, que a
z Ato suscetível de produzir efeito jurídico signi- receptação é punível ainda que desconhecido ou isento
fica a prática de qualquer conduta suficiente para de pena o autor do crime de que proveio a coisa.
gerar efeitos danosos ao patrimônio da vítima. Exemplo: um computador foi furtado de determi-
nado quartel e o objeto foi encontrado com o militar,
O crime é doloso e não existe a modalidade culposa. que alega tê-lo recebido de um superior. Mesmo que
o superior seja isento de pena por falta de provas de
que seja o autor do furto, aquele será responsabiliza-
RECEPTAÇÃO
do pela receptação.
Receptação
USURPAÇÃO
Art. 254 Adquirir, receber ou ocultar em proveito
Alteração de Limites
próprio ou alheio, coisa proveniente de crime, ou
influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, rece-
Art. 257 Suprimir ou deslocar tapume, marco ou
ba ou oculte:
qualquer outro sinal indicativo de linha divisória,
Pena - reclusão, até 5 (cinco) anos. para apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa
Parágrafo único. São aplicáveis os § § 1º e 2º do imóvel sob administração militar:
art. 240. Pena - detenção, até 6 (seis) meses.
§ 1.º Na mesma pena incorre quem:
Os sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer
pessoa, civil ou militar. Usurpação de Águas
O crime de receptação simples é constituído de
dois blocos, com duas condutas autonomamente puní- Art. 257 [...]
veis. Vejamos (NUCCI, 2016): I - desvia ou represa, em proveito próprio ou de
outrem, águas sob administração militar;
z Receptação própria: formada pela aplicação
alternativa dos verbos adquirir (obter, comprar), Invasão de Propriedade
receber (aceitar em pagamento ou simplesmen-
Art. 257 [...]
te aceitar) e ocultar (encobrir ou disfarçar), ten- II - invade, com violência à pessoa ou à coisa, ou
do por objeto material coisa produto de crime. com grave ameaça, ou mediante concurso de duas
Observe que tanto faz o autor praticar uma ou ou mais pessoas, terreno ou edifício sob adminis-

NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR/PROCESSO PENAL MILITAR


mais condutas, pois responde por crime único, por tração militar.
exemplo, o sujeito que adquire e oculta coisa pro-
duto de delito comete uma receptação; Pena Correspondente à Violência
z Receptação imprópria: formada pela associa-
ção da conduta de influir (inspirar ou insuflar) Art. 257 [...]
alguém de boa-fé a adquirir (obter ou comprar), § 2º Quando há emprego de violência, fica ressalva-
receber (aceitar em pagamento ou aceitar) ou da a pena a esta correspondente.
ocultar (encobrir ou disfarçar) coisa produto de
crime. Observe que, se o sujeito influir para que a O crime de alteração de limites exige sujeito ativo
vítima adquira e oculte a coisa produto de delito, específico, isto é, ele deve ser o dono do imóvel que
cometerá uma única receptação. tem a linha divisória com a organização militar. Por
lógica, o sujeito passivo é a administração militar.
z Receptação própria: adquirir, receber ou ocultar
Esse crime tutela o patrimônio militar.
coisa originária de crime são condutas alternativas;
Não é difícil encontrar situações relacionadas a
z Receptação imprópria: influenciar terceiro para
esse crime. Há quartéis que, pela extensão ou localiza-
que adquira, receba ou oculte produto de crime – ção, possuem limites com propriedades rurais e uma
condutas alternativas. cerca simples demarca a área. Sempre com intensão,
o sujeito ativo troca a posição das cercas para aumen-
Entretanto, se o agente praticar condutas dos dois tar a área particular.
blocos fundamentais do tipo cometerá dois delitos. Para estudarmos o crime de usurpação, dividiremos
Por exemplo: o sujeito adquire coisa produto de crime o tipo penal. Primeiro, vamos às condutas (NUCCI, 2016):
e depois ainda influencia para que terceiro de boa-fé
também o faça. z Suprimir significa eliminar ou fazer desaparecer;
O crime é doloso. A forma culposa possui previsão z Deslocar quer dizer mudar do local onde se encon-
específica no art. 255 do CPM. Acompanhe: trava originalmente.

Art. 255 Adquirir ou receber coisa que, por sua Conhecendo as condutas, observe, agora, que o
natureza ou pela manifesta desproporção entre o delito de usurpação tem por objetivo punir aquele
valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, que se apropria de bem imóvel alheio, eliminando
deve presumir-se obtida por meio criminoso: ou mudando o local de marcas divisórias. Vejamos
Pena - detenção, até 1 (um) ano. alguns termos, segundo Nucci (2016): 275
z Tapume é uma cerca ou uma vedação feita com Para que a crime ocorra, é necessário que a con-
tábuas ou outro material, utilizada, sobretudo, duta do agente seja indevida, ilícita. Entretanto, se
para separar propriedades imóveis; houver modificação da marca de um rebanho porque
z Marco é qualquer tipo de sinal demarcatório, existe autorização judicial ou alteração de proprieda-
natural ou artificial; de, a conduta é lícita.
z Sinal indicativo de linha divisória é qualquer O crime é doloso e não se pune a modalidade
símbolo ou expediente destinado a servir de adver- culposa.
tência ou reconhecimento objetivando demons-
trar a fronteira existente entre bens imóveis. DANO

Não podemos esquecer de que o delito de usurpa- Dano Simples


ção também se configura quando o agente desvia ou
represa algum leito ou curso de água sob administra- Art. 259 Destruir, inutilizar, deteriorar ou fazer
ção militar. Vejamos a distinção entre desviar e repre- desaparecer coisa alheia:
sar (NUCCI, 2016): Pena - detenção, até 6 (seis) meses.

z Desviar significa mudar a direção ou o destino de O delito de danos tem similaridade entre a legisla-
algo; ção penal militar e a comum.
z Represar quer dizer deter o curso das águas; Os sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer pes-
z Invadir significa entrar à força, visando à dominação. soa, civil ou militar. Tutela-se o patrimônio do Estado.
Quais são as condutas que caracterizam o crime de
Por fim, a lei penal militar inclui o esbulho, que dano? As condutas são, conforme ensina Guilherme
configura a infração de usurpação, que é quando o Nucci (2014):
agente invade um imóvel utilizando de violência físi-
ca desferida contra uma pessoa ou quando há grave z Destruir quer dizer arruinar, extinguir ou eliminar;
ameaça e violência contra a coisa. Saiba que:
z Inutilizar significa tornar inútil ou imprestável
alguma coisa aos fins para os quais se destina;
z O Código Penal Militar exige o concurso de duas ou
z Deteriorar é a conduta de quem estraga ou cor-
mais pessoas;
rompe alguma coisa parcialmente.
z O Código Penal comum exige concurso de mais de
duas, pelo menos três.
O crime é doloso e não há a modalidade culposa.
O crime de dano, na legislação penal militar, prote-
A usurpação é crime doloso e não existe a modali-
dade culposa. ge o patrimônio do Estado, mas o delito é qualificado
quando a coisa pertence à administração militar, pela
Aposição, Supressão ou Alteração de Marca simples razão de ter maior proteção.

Art. 258 Apor, suprimir ou alterar, indevidamente, Dano Atenuado


em gado ou rebanho alheio, sob guarda ou admi-
nistração militar, marca ou sinal indicativo de Art. 260 Nos casos do artigo anterior, se o crimi-
propriedade: noso é primário e a coisa é de valor não excedente
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos. a 1/10 (um décimo) do salário mínimo, o juiz pode
atenuar a pena, ou considerar a infração como
Neste crime, não se trata de bem móvel ou imóvel, disciplinar.
mas de semovente. O sujeito ativo pode ser qualquer Parágrafo único. O benefício previsto no artigo é
pessoa, civil ou militar. O sujeito o passivo é o pro- igualmente aplicável, se, dentro das condições nele
prietário dos semoventes, sob guarda ou administra- estabelecidas, o criminoso repara o dano causado
ção militar, como pode ocorrer, por exemplo, com os antes de instaurada a ação penal.
animais de uma companhia de cavalaria, sendo, nesse
caso, a administração militar sujeito passivo. São dois requisitos:
Vejamos:
z Primariedade do agente;
z Apor quer dizer sobrepor, colocar em cima; z Pequeno valor da coisa danificada.
z Suprimir significa fazer desaparecer ou eliminar;
z Alterar quer dizer transformar ou modificar. Presentes os requisitos, a pena pode ser reduzida
ou desclassificar o crime para infração disciplinar,
Enio Rosetto destaca que a conduta implica a indis- que será apurado por meio de processo administra-
pensável existência de sinal ou marca previamente tivo. Não há previsão similar na legislação penal
colocados nos animais. Se o rebanho não está marca- comum.
do, aquele que o fizer não responde por esta figura
típica. Por isso, é importante saber, nas afirmações de Dano Qualificado
Guilherme Nucci:
Art. 261 Se o dano é cometido:
z Marca é um desenho, um emblema ou um escrito I - com violência à pessoa ou grave ameaça;
qualquer que serve para identificar alguma coisa II - com emprego de substância inflamável ou explo-
ou algum trabalho; siva, se o fato não constitui crime mais grave;
z Sinal é o expediente usado, através de meios visí- III - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável:
veis ou auditivos, para dar alerta sobre alguma Pena - reclusão, até 4 (quatro) anos, além da pena
276 coisa. correspondente à violência.
O crime de dano será qualificado em circunstân- z colisão, batida ou choque;
cias taxativas (NUCCI, 2014): z alagamento, ato de encher com água.

z Violência física ou da ameaça séria voltada contra Guilherme Nucci complementa que há também a
a pessoa, e não contra a coisa, pois a destruição, conduta residual, que é causar avaria, ou seja, provo-
inutilização ou deterioração; car qualquer estrago em embarcação.
z Emprego de substância inflamável ou explosiva pode Adapta-se o conteúdo deste tipo penal à Polícia
qualificar o dano, se não se constituir em crime mais Militar e ao Corpo de Bombeiros, no que for aplicá-
grave; vel. Por exemplo, as corporações não possuem navio
z Motivo egoísmo, que quem o agente danifica patri- de guerra, mas pode ser viável uma lancha de patru-
mônio alheio somente para satisfazer um capricho ou lhamento ou salvamento, principalmente no caso de
incentivar um desejo de vingança ou ódio pela vítima Bombeiros Militares (NUCCI, 2014).
deve responder mais gravemente pelo que faz. O crime é doloso e há a modalidade culposa.
Adverte Guilherme Nucci que se prevê a possi-
Dano em Material ou Aparelhamento de Guerra bilidade de apenar o agente não somente pelo dano
qualificado pelo resultado lesão grave ou morte, mas
Art. 262 Praticar dano em material ou aparelhamen- igualmente pela violência. O sujeito pode ser punido
to de guerra ou de utilidade militar, ainda que em por dano e lesão corporal ou por dano e homicídio.
construção ou fabricação, ou em efeitos recolhidos
Acompanhe a seguir o dano em aparelhos e insta-
a depósito, pertencentes ou não às forças armadas:
lações de aviação e navais e em estabelecimentos
Pena - reclusão, até 6 (seis) anos.
militares:
De maneira lógica, somente na lei penal militar há
Art. 264 Praticar dano:
o delito de dano em material ou aparelhamento de
I - em aeronave, hangar, depósito, pista ou insta-
guerra. Mesmo com tipificação apenas na legislação
lações de campo de aviação, engenho de guerra
penal militar, o sujeito ativo pode ser qualquer pes-
motomecanizado, viatura em comboio militar,
soa, civil ou militar. O sujeito passivo é a instituição
arsenal, dique, doca, armazém, quartel, alojamento
militar, podendo ser também a pessoa proprietária
ou em qualquer outra instalação militar;
do depósito (caso o material bélico esteja estocado na
II - em estabelecimento militar sob regime indus-
fábrica, por exemplo).
trial, ou centro industrial a serviço de construção
Tutela-se o patrimônio do Estado. ou fabricação militar:
Guilherme Nucci ensina que o objeto do dano é o Pena - reclusão, de 2 (dois) a 10 (dez) anos.
material ou aparelhamento de guerra, material bélico, Parágrafo único. Aplica-se o disposto nos parágra-
incluindo-se armas, binóculos, fardamento, capace- fos do artigo anterior.
tes, coletes, barracas, viaturas, ainda que em processo
de construção ou fabricação, ou os efeitos, coisas em
Na mesma sistemática que os crimes anteriores, o
geral que servem às atividades das Forças Armadas.
delito de dano em aparelhos e instalações de aviação e
O crime é doloso e admite-se a modalidade culposa.
navais e em estabelecimentos militares tem por sujei-

NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR/PROCESSO PENAL MILITAR


to ativo qualquer pessoa, civil ou militar. O sujeito o
Dano em Navio de Guerra ou Mercante em Serviço
passivo é a instituição militar, podendo ser também
Militar
o proprietário de local administrado pela instituição
Art. 263 Causar a perda, destruição, inutilização, militar.
encalhe, colisão ou alagamento de navio de guerra Os objetos podem ser, conforme a exposição legal
ou de navio mercante em serviço militar, ou nele e comentário de Guilherme Nucci (2016):
causar avaria:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos. z Aeronave: qualquer aparelho de navegação no ar;
§ 1º Se resulta lesão grave, a pena correspondente z Hangar: abrigo destinado a aeronaves;
é aumentada da metade; se resulta a morte, é apli- z Depósito: local próprio para armazenamento de
cada em dobro. material;
§ 2º Se, para a prática do dano previsto no artigo, z Pista: faixa de aeroporto preparada para pouso ou
usou o agente de violência contra a pessoa, ser-lhe-
decolagem de aeronaves;
-á aplicada igualmente a pena a ela correspondente.
z Instalações de campo de aviação: conjunto de
aparelhos componentes de lugar destinado a pou-
O delito de crime de dano em navio de guerra ou mer-
sos, decolagens e guarda de aeronaves;
cante em serviço militar segue o mesmo raciocínio do
delito de danos em material ou aparelhamento de guerra. z Engenho de guerra motomecanizado: aparelhos
O objeto da tutela penal é o navio de guerra ou mer- de uso bélico;
cante (comercial) quando em serviço militar. O sujeito z Viatura em comboio militar: veículo das Forças
ativo pode ser qualquer coisa, civil ou militar. O passivo Armadas, Polícia Militar ou Bombeiros em segui-
é a instituição militar, ou o proprietário do navio, seja mento a vários outros que seguem ao mesmo
o fabricante ou o mercante usado em serviço militar. destino;
A conduta central é: z Arsenal: local de guarda de armas;
z Dique: construção apta a represar águas;
z causar, dar origem a alguma coisa, associando-se à z Doca: lugar do porto onde atracam barcos;
perda, inutilização ou extravio; z Armazém: lugar de guarda e depósito de material;
z destruição ou aniquilamento; z Quartel: edifício onde se situam tropas militares;
z inutilizar ou tornar imprestável; z Alojamento: local de habitação de tropas; ou
z encalhar ou colocar embarcação a seco; z Em qualquer outra instalação militar; 277
z Estabelecimento militar sob regime industrial, ou Art. 298 Desacatar superior, ofendendo-lhe a dig-
centro industrial a serviço de construção ou fabri- nidade ou procurando deprimir-lhe a autoridade:
cação militar. Pena - reclusão, até quatro anos, se o fato não cons-
titui crime mais grave.
O crime é doloso e há a modalidade culposa.
É crime militar próprio que exige do agente a
Desaparecimento, Consunção ou Extravio condição especial de ser militar e, além disso, de ser
subordinado da vítima.
Art. 265 Fazer desaparecer, consumir ou extraviar Conforme decisão do TJM/MG, a utilização de pala-
combustível, armamento, munição, peças de equi- vras de baixo calão, de desrespeito a superior hierár-
pamento de navio ou de aeronave ou de engenho de quico, ofendendo-lhe a dignidade diante de terceiros,
guerra motomecanizado: deprimindo-lhe a autoridade, caracteriza o crime de
Pena - reclusão, até 3 (três) anos, se o fato não cons- desacato a superior.
titui crime mais grave. O Tribunal decidiu que comete o crime de desa-
cato a superior, atentando contra a ordem adminis-
O crime de desaparecimento, consumação ou
trativa militar, o militar que, inconformado com as
extravio de combustível, armamento, munição, peças
determinações recebidas, encara o superior, irrogan-
de equipamento de navio ou de aeronave, bem como
do-lhe palavras altamente ofensivas, em franco desa-
de engenho de guerra motomecanizado, é de menor
monta que os delitos anteriores. fio à autoridade de que se acha investido.
Não há similaridade com a legislação penal comum. A pena é agravada se o superior é oficial general
Mesmo assim, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, ou comandante da unidade a que pertence o agente.
civil ou militar, e o sujeito passivo é a instituição militar.
As condutas são: DESACATO A MILITAR

z Fazer desaparecer, ou seja, provocar o sumiço; Observe o art. 299 do CPM:


z Consumir, o mesmo que gastar ou queimar;
z Extraviar, isto é, desviar do destino. Art. 299 Desacatar militar no exercício de função
de natureza militar ou em razão dela:
Os objetos são taxativos e merecem interpretação: Pena - detenção de seis meses a dois anos, se o fato
não constitui outro crime.
z Combustível é qualquer substância que gera com-
bustão, como gasolina, álcool, querosene, querose- O agente ativo do delito pode ser qualquer pessoa, sen-
ne de aviação; do necessário que a vítima se encontre no exercício de fun-
z Armamento é o conjunto de armas, especialmente ção militar ou que a ofensa se relacione com essa função.
as armas de fogo que podem ser portáveis ou utili- O Código Penal Miliar dispõe no art. 300 o desaca-
zadas em viaturas terrestres, navios ou aeronaves; to a servidor civil. Nas Forças Armadas, há servidores
z Munição é o material específico para armas, como civis que desempenham funções administrativas na
projétil, pólvora, granada etc.; área da saúde e no magistério.
z Peças de equipamento de navio ou de aeronave ou
É importante destacar que o termo assemelhado não
de engenho de guerra motomecanizado devem ser
tem aplicação no âmbito militar, uma vez que não há pre-
aquelas utilizadas como acessórios para armas ou
munições, visto que navios, viaturas e aeronaves visão legal de servidor civil sujeito à disciplina militar
possuem tipos penal específico.
DESOBEDIÊNCIA

Importante! O crime de desobediência está relacionado à


ordem legal de autoridade militar.
O crime somente é punido se outra figura típica,
mais grave, não for passível de aplicação. Art. 301 Desobedecer a ordem legal de autoridade
militar.
Pena - detenção, até 6 meses.
REFERÊNCIA
O agente ativo do delito pode ser qualquer pessoa,
NUCCI, G. de S. Código Penal Militar Comentado.
sendo necessário que a vítima se encontre no exercício de
Rio de Janeiro: Forense, 2014.
função militar ou que a ofensa se relacione a essa função.
Podemos exemplificar com a hipótese de civil que
desobedece a ordem de sentinela de reduzir a veloci-
dade do veículo, ou desobedece a ordem do coman-
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO dante de tropa para parar o veículo, porque a tropa
MILITAR tem preferência no trânsito em relação aos veículos.

DESACATO A SUPERIOR INGRESSO CLANDESTINO

Desacato a superior é crime doloso devido à vontade O crime de ingresso clandestino significa entrar, em
livre e consciente de proferir palavra ou praticar ato inju- síntese, em quartel por lugar onde não exista passagem
rioso e o especial fim de agir na finalidade de despresti- regular, por exemplo, pulando muro, ou iludindo a sen-
278 giar a autoridade do superior hierárquico. Vejamos: tinela para poder entrar no estabelecimento militar.
Figura na condição de sujeito ativo qualquer pessoa O peculato somente pode ser praticado por fun-
entre na organização militar por local que não seja o cionário público, militar ou civil. Se o peculato for
portal principal do quartel, por exemplo, a pessoa que culposo e o funcionário ressarcir o patrimônio antes
pula o muro para entrar no estabelecimento militar. da sentença transitar em julgado, será extinta a
Vejamos o art. 302, do CPM: punibilidade.
O crime de peculato é dividido da seguinte forma:
Art. 302 Penetrar em fortaleza, quartel, estabeleci-
mento militar, navio, aeronave, hangar ou em outro z Peculato-apropriação;
lugar sujeito a administração militar, por onde seja z Peculato-furto;
defeso ou não haja passagem regular, ou iludindo a z Peculato culposo.
vigilância de sentinela ou de vigia.
Pena – detenção, de 6 meses a 2 anos, se o fato não Parte da doutrina apresenta, ainda, a seguinte
constitui crime mais grave. divisão para o crime de peculato:

PECULATO z Próprio: Peculato-apropriação e peculato-desvio;


z Impróprio: Peculato-furto.
O crime de peculato tem duas proteções. Primei-
O peculato-apropriação se configurará quando o
ro, protege-se a administração militar. Em segundo, e
funcionário público ou militar se apropriar de dinhei-
eventualmente, protege-se também o patrimônio do
ro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou
particular, quando o objeto material lhe pertence. particular, de que tem a posse em razão do cargo.
É muito importante atentar-se ao seguinte em rela-
Art. 303 Apropriar-se de dinheiro, valor ou qualquer ção ao peculato apropriação:
outro bem móvel, público ou particular, de que tem
posse ou detenção, em razão do cargo ou comissão, z Para que se configure, é necessário que o agente
ou desviá-lo em proveito próprio ou alheio: tenha a posse do bem em razão do seu cargo;
Pena - reclusão de três a quinze anos. z O bem pode ser público ou particular (imagine um
§ 1º A pena aumenta um terço, se o objeto da objeto particular apreendido em uma delegacia de
apropriação ou desvio é de valor superior a vinte polícia);
vezes o salário mínimo. z O sujeito passivo é a administração pública, con-
tudo, no caso de bem particular, o dono do bem
Peculato-Furto também será sujeito passivo do delito.

Art. 303 [...] O peculato-desvio se configurará quando o fun-


§ 2º Aplica-se a mesma pena a quem, embora não tendo cionário público ou militar desviar, em proveito pró-
a posse ou detenção do dinheiro, valor ou bem, o sub- prio ou alheio, dinheiro, valor ou qualquer outro bem
trai, ou contribui para que seja subtraído, em proveito móvel, público ou particular.
próprio ou alheio, valendo-se da facilidade que lhe pro- Segundo posicionamento majoritário (apesar de
porciona a qualidade de militar ou de funcionário. algumas posições jurisprudenciais em sentido con-

NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR/PROCESSO PENAL MILITAR


trário), para que se configure o peculato-desvio, é
Peculato Culposo necessário que o bem seja desviado para integrar o
patrimônio do próprio funcionário público ou de ter-
Art. 303 [...] ceiros, não se configurando o tipo penal caso ocorra
§ 3º Se o funcionário ou o militar contribui cul- mero desvio de finalidade.
posamente para que outrem subtraia ou desvie o É importante saber que parte minoritária da
dinheiro, valor ou bem, ou dele se aproprie: doutrina defende que, para que se configure o pecu-
Pena - detenção, de três meses a um ano. lato-desvio, não é necessária a intenção de assenho-
reamento (apoderar-se) por parte do funcionário
Extinção ou Minoração da Pena público, podendo se configurar com o mero uso irre-
gular da coisa pública em proveito próprio ou alheio.
Com base no que foi exposto acima, é importante
Art. 303 [...]
mencionar que o peculato de uso, em regra, é considera-
§ 4º No caso do parágrafo anterior, a reparação
do figura atípica. Segundo Cleber Masson, o uso momen-
do dano, se precede a sentença irrecorrível, extin-
tâneo de coisa infungível, sem a intenção de incorporá-lo
gue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de
ao patrimônio pessoal ou de terceiro, seguido da sua
metade a pena imposta.
integral restituição a quem de direito, é atípico.
É necessário, para que não seja típica a conduta
EXTINÇÃO/MINORAÇÃO DA PENA NO PECULATO
do peculato de uso, que o bem seja infungível e não
CULPOSO
consumível, a exemplo de um carro oficial ou de um
Antes da sentença irrecorrível: Depois da sentença irrecorrível: computador. Caso o bem seja fungível e consumível, a
Extingue a punibilidade Reduz metade a pena imposta exemplo do dinheiro, a conduta será típica.

Peculato mediante Aproveitamento do Êrro de Peculato-Furto


Outrem
O Peculato-furto se configurará quando o funcioná-
Art. 304 Apropriar-se de dinheiro ou qualquer uti- rio público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor
lidade que, no exercício do cargo ou comissão, rece- ou bem, subtrai-o, ou concorre para que ele seja subtraí-
beu por êrro de outrem: do, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facili-
Pena - reclusão, de dois a sete anos. dade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. 279
O peculato-furto pode ser praticado de duas O excesso de exação é uma forma de concussão.
formas: Configura-se quando o militar exige tributo ou contri-
buição social, que sabe ou deveria saber indevido, ou,
z Subtraindo o dinheiro, valor ou o objeto; quando devido, emprega na cobrança meio vexatório
z Concorrendo para que seja subtraído o dinheiro, ou gravoso, que a lei não autoriza.
valor ou objeto. Sobre o excesso de exação, é importante mencionar:

É importante mencionar que: z Não admite a modalidade culposa;


z Admite a tentativa quando for possível fracionar o
z Para que se configure este crime, é necessário que iter criminis, a exemplo do excesso de exação prati-
o funcionário público não tenha a posse da coisa; cado mediante carta endereçada à vítima;
z Para que se configure o peculato-furto na modali- z Se o funcionário desviar, em proveito próprio ou
dade “concorrer para que seja subtraído”, é neces- de outrem, o que recebeu indevidamente para
sário que o ato seja doloso; recolher aos cofres públicos, responderá por
z A qualidade de funcionário público deve acarretar excesso de exação na modalidade qualificada.
alguma facilidade para a subtração da coisa. Caso
não haja facilidade, o agente responderá por furto DESVIO
normalmente.
Art. 307 Desviar, em proveito próprio ou de outrem,
Exemplo: Soldado “A”, aos finais de semana, é responsá- o que recebeu indevidamente, em razão do cargo ou
vel por trancar a seção, sendo o último a sair. Certo dia, na função, para recolher aos cofres públicos:
hora de sair, valendo-se do fato de estar sozinho na seção, Pena - reclusão, de dois a doze anos.
“A” subtrai um notebook do órgão público. Está certamente
configurado o crime de peculato-furto, já que, na condição z O crime de desvio tem por objeto jurídico a Admi-
de militar, teve facilidade para que subtraísse o bem. nistração Militar;
Admite-se a modalidade tentada, já que se trata de cri- z O sujeito ativo é o funcionário público ou o mili-
me plurissubsistente. O bem subtraído pode ser público tar. O particular, que não possua função pública,
ou particular. O sujeito passivo é a administração pública. obviamente poderá, no concurso de pessoas, figu-
Caso o bem seja particular, também será sujeito passivo da rar no polo ativo;
infração penal o dono do bem. É crime material. z O sujeito passivo, titular do bem jurídico agredido,
é o Estado representado pela administração militar;
CONCUSSÃO
Observe que como o recebimento foi indevido,
Art. 305 Exigir, para si ou para outrem, direta ou aquele que pagou o valor desviado também é afetado
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de pela conduta.
assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: No Código Penal Militar há conduta. O núcleo da
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
conduta é o verbo desviar, ou seja, dar destino diver-
so do legal ou regulamentar, em proveito próprio
A concussão é praticada quando o agente público ou alheio, a valor percebido indevidamente para ser
exigir vantagem indevida, para si ou para outrem,
recolhido aos cofres públicos.
direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou
Cícero Coimbra (2013) exemplifica o delito por meio
antes de assumi-la, mas em razão dela.
da conduta de militar que recebeu cheque de pensionis-
No crime de concussão, o militar, valendo-se de
ta, destinado a pagamento de contribuições faltantes, e
sua autoridade, exige (conduta mais forte do que ape-
o depositou em sua própria conta em vez de depositá-lo
nas pedir) o pagamento de vantagem não devida pela
na conta da União, com o objetivo de fazer saldo médio
pessoa. O particular, por temer qualquer represália
e obter talão de cheques (STM, Ap. 2003.01.049479-0/
por parte do funcionário público, pode ou não pagar a
MS, rel. Min. Marcos Augusto Leal de Azevedo, j. em
vantagem indevida.
10-3-2005), assim como quem desvia em proveito pró-
Podemos exemplificar com o caso de policial mili-
prio dinheiro em espécie referente a valor que cobra
tar exigir de particular a quantia de R$ 2.000,00 para
que libere o seu veículo, sob pena de levá-lo indevida- indevidamente, na função de Secretário de Junta de
mente ao pátio do Detran. Serviço Militar, por serviço que a legislação do serviço
A vantagem indevida, segundo posicionamento militar considera gratuito (STM, Ap. 1986.02.042917-4/
majoritário, não necessita ser patrimonial, podendo MS, rel. Min. Alzir Benjamin Chaloub, j. em 24-2-1987).
ser qualquer outra vantagem.
É importante mencionar que a concussão se dará z O crime apenas ocorre a título de dolo;
em razão da função do militar, não se exigindo que o z Consuma-se o crime de desvio com a destinação
fato seja praticado no efetivo desempenho das atribui- diversa do cofre público;
ções do cargo. Sendo assim, este crime pode ser come- z Admite-se tentativa.
tido por militar de férias.
CORRUPÇÃO ATIVA
EXCESSO DE EXAÇÃO
Vejamos a tipificação:
Art. 306 Exigir imposto, taxa ou emolumento que
sabe indevido, ou, quando devido, empregar na Art. 309 Dar, oferecer ou prometer dinheiro
cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não ou vantagem indevida para a prática, omissão ou
autoriza: retardamento de ato funcional:
280 Pena - detenção, de seis meses a dois anos. Pena - Reclusão, até oito anos.
Aumento de Pena A corrupção passiva é delito formal e consuma-se
com a simples solicitação, a não ser se esta for impos-
Parágrafo único. A pena é aumentada de um terço,
se, em razão da vantagem, dádiva ou promessa, é sível de ser cumprida, ou seja, não esteja ao alcance
retardado ou omitido o ato, ou praticado com infra- da pessoa que é solicitada, segundo Jorge César de
ção de dever funcional. Assis (2003). Não admite tentativa.
O TJM/MG decidiu que militar, instrutor de autoes-
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa que dá, cola em Unidade Militar, responsável pelo treinamen-
oferece ou promete dinheiro ou vantagem indevida. to e exames de candidatos à habilitação para condução
O servidor público, civil ou militar, também pode ser de automóveis, que se vale dessa função para receber
sujeito ativo, desde que esteja agindo como particular vantagens indevidas, facilitando ou dispensando exa-
e despido de sua qualidade funcional. mes, comete o crime de corrupção passiva, e são coau-
O sujeito passivo, ao contrário do que se possa pen- tores aqueles que intermedeiam.
sar, não é o servidor público, mas, sim, a administra- Podemos trazer o exemplo do policial militar que
ção militar, em favor da qual está aquele que opera na exige certa quantia em dinheiro para não aplicar mul-
qualidade de seu agente. ta em condutor de veículo que estava acima da veloci-
Oferecer vantagem indevida a policial militar dade permitida na via.
para que se omita quanto ao flagrante que presenciou
caracteriza o delito de corrupção ativa, ainda que o FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO
policial esteja fora de seu horário de trabalho e à pai-
sana, pois, ao surpreender a prática de crime, age no Art. 311 Falsificar, no todo ou em parte, docu-
cumprimento do dever legal e nos limites de sua com- mento público ou particular, ou alterar docu-
petência, conforme decisão do TJSP. mento verdadeiro, desde que o fato atente contra a
administração ou o serviço militar:
Corrupção Ativa
Corrupção Passiva Pena - sendo documento público, reclusão, de dois a
Concussão
Verbos: solicitar, seis anos; sendo o documento particular, reclusão,
Verbos: oferecer e
receber e aceitar Verbo: exigir até cinco anos.
× ×
prometer
promessa Crime praticado
Crime praticado por
Crime praticado por funcionário
particular contra a
administração da
por funcionário público contra a A pena é agravada se o agente é oficial ou exerce
público contra a administração pública
justiça
administração pública função em repartição militar. Equipara-se a documento,
para os efeitos penais, o disco fonográfico ou a fita ou fio
de aparelho eletromagnético a que se incorpore declara-
CORRUPÇÃO PASSIVA ção destinada à prova de fato juridicamente relevante.
O sujeito ativo pode ser tanto o militar quanto o
Vejamos o art. 308 do CPM: civil, desde que o fato atente contra as instituições
militares. O sujeito passivo é a administração militar.
Art. 308 Receber, para si ou para outrem, direta ou Para que configure o delito, é imprescindível que
indiretamente, ainda que fora da função, ou antes
a falsificação seja idônea de iludir terceiro. Se a falsi-
de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevi-
ficação for grosseira, perceptível à primeira vista, ine-
da, ou aceitar promessa de tal vantagem:

NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR/PROCESSO PENAL MILITAR


Pena - Reclusão, de dois a oito anos.
xiste o delito, em face da ausência de potencialidade
lesiva do comportamento.
O STM decidiu que pratica o crime de falsidade
Aumento de Pena
de documento o militar que falsifica atestado médico
com o objetivo de conseguir prorrogação de licença
Art. 308 [...]
§ 1º a pena é aumentada de um terço, se, em conse- para tratamento de saúde.
quência da vantagem ou promessa, o agente retar-
da ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o FALSIDADE IDEOLÓGICA
pratica infringindo o dever funcional.
A falsidade documental pode ser de duas espécies:
Diminuição de Pena material e ideológica.

Art. 308 [...] Art. 312 Omitir, em documento público ou par-


§ 2º se o agente pratica, deixa de praticar ou retar- ticular, declaração que dela devia constar, ou
da o ato de ofício com infração de dever funcional, nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou
cedendo a pedido ou influência de outrem. diversa da que devia ser escrita, com o fim de pre-
Pena - Detenção, de três meses a um ano. judicar direito, criar obrigação ou alterar a verda-
de sobre fato juridicamente relevante, desde que o
O sujeito ativo é o servidor, militar ou civil, que fato atente contra a administração militar ou ser-
recebe ou aceita a vantagem. viço militar:
Pena - reclusão, até cinco anos, se o documento é públi-
co; reclusão, até três anos, se o documento é particular.
Importante!
A falsidade documental material se revela no pró-
Para a consumação do crime de corrupção pas- prio documento, recaindo sobre elemento físico do
siva, não é imprescindível estar o agente no exer- papel escrito e verdadeiro. Já a falsidade documental
cício da função, já que a lei ressalva a hipótese
ideológica não se revela em sinais exteriores da escrita,
de a vantagem indevida ser recebida ainda que
mas concerne ao conteúdo do documento. Na falsida-
fora da função, ou antes de assumi-la, mas sem-
de ideológica, inexiste rasurar, emendas, omissões ou
pre em razão dela.
acréscimos, sendo falsa a ideia que o documento contém. 281
O TJM/RS determinou que os policiais militares, ao z A recusa é a manifestação do militar, motivo pelo
encontrarem um veículo furtado, façam constar no bole- qual o crime é doloso e não cabe culpa.
tim de ocorrência que o veículo estava depenado, isto é,
destruído. Isso evita, por conseguinte, que o proprietário Desacato
do automóvel tente fraudar o contrato de seguro.
Art. 341 Desacatar autoridade judiciária militar no
USO DE DOCUMENTO FALSO exercício da função ou em razão dela:
Pena – reclusão, até 4 (quatro) anos.
Art. 315 Fazer uso de qualquer dos documentos
falsificados ou alterados por outrem, a que se refe- No CPM há o crime de desacato a superior (art.
rem os artigos anteriores: 298) e desacato a militar (art. 299) que tem por tutela
Pena - a cominada à falsificação ou à alteração. a administração militar.
O crime de desacato tutela o Poder Judiciário
O crime de uso de documento falso pode ser prati- representado pelo magistrado. Então, o delito de desa-
cado por qualquer pessoa. Por isso, o sujeito ativo pode cato pode ser praticado por qualquer pessoa, isto é, o
ser civil ou militar. Considerando que o delito de uso de sujeito ativo pode ser civil ou militar.
documento falso é praticado em face do Estado, e sempre
tem alguém prejudicado, esses são os sujeitos passivos. z O sujeito passivo é o Estado, que no momento do crime
Por exemplo: o candidato de concurso público para está representado pela autoridade judiciária militar.
a Polícia Militar apresenta no ato da matrícula do curso
de formação o certificado de nível superior falso. Nesse Exige-se que a palavra ofensiva ou o ato injurioso
caso, temos o civil utilizando documento falso em face seja dirigido ao magistrado que esteja exercendo suas
do Estado e trazendo prejuízo a outro candidato, que atividades ou, ainda que ausente delas, tenha o autor
tinha documento verdadeiro e que não foi matriculado. levado em consideração a função pública.
Fazer uso, nesse delito, significa empregar, utilizar Podemos exemplificar a hipótese de em uma ses-
ou aplicar. Os objetos são os papéis (documentos) fal- são a testemunha que está sendo inquirida desacato
sificados ou alterados. É indispensável a realização de o presidente do Conselho de Justiça, o Juiz Federal da
exame de corpo de delito para comprovar a falsidade, Justiça Militar ou o Juiz de Direito do Juízo Militar.
pois é delito que deixa vestígio material. É importante saber que desacatar significa, por si
só, humilhar ou menosprezar, implicando algo inju-
PREVARICAÇÃO E CONDESCENDÊNCIA CRIMINOSA rioso, que tem por fim desacreditar a função pública
(Nucci, 2016).
Observamos o art. 319, do CPM: Exige-se que o desacato seja verbal, que atinja
a pessoa do magistrado. Se a ofensa for por escrito,
Art. 319 Retardar ou deixar de praticar, indevida- caracteriza-se injúria, mas não desacato.
mente, ato de ofício, ou praticá-lo contra expressa O agente que estiver sob efeito de embriaguez
disposição de lei, para satisfazer interesse ou senti- voluntária, culposa ou preordenada não terá o crime
mento pessoal: de desacato afastado.
Pena – detenção, de 6 meses a 2 anos. O crime é doloso e não há a modalidade culposa.

E observamos também o art. 322, do CPM: Coação

Art. 322 Deixar de responsabilizar subordinado Art. 342 Usar de violência ou grave ameaça, com
que comete infração no exercício do cargo, ou, o fim de favorecer interesse próprio ou alheio, con-
quando lhe falte competência, não levar o fato ao tra autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa
conhecimento da autoridade competente: que funciona, ou é chamada a intervir em inqué-
Pena – se o fato foi praticado por indulgência, detenção, rito policial, processo administrativo ou judicial
até 6 meses; se por negligência, detenção até 3 meses. militar:
Pena – reclusão, até 4 (quatro) anos, além da pena
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA correspondente à violência.
MILITAR
z O sujeito ativo no crime de coação pode ser qual-
Recusa de Função na Justiça Militar quer pessoa, civil ou militar. Já o sujeito passivo é
o Estado podendo ser também a pessoa que sofreu
Art. 340 Recusar o militar ou assemelhado exercer, a violência ou a grave ameaça.
sem motivo legal, função que lhe seja atribuída na
administração da Justiça Militar: Podemos sintetizar a conduta do agente, aquele
Pena – suspensão do exercício do posto ou cargo, de
que usa, emprega ou se serve, de violência, coação
2 (dois) a 6 (seis) meses.
física, ou grave ameaça, séria intimidação, para coa-
gir pessoa envolvida em inquérito policial militar ou
O crime de recusa de função na Justiça Militar requer
que o sujeito ativo seja militar. Simples, o militar pode processo administrativo.
ser convocado para ser Juiz Militar ou até mesmo para De acordo com os ensinamentos de Guilherme
outras atividades na Auditoria da Justiça Militar. Nucci, quanto ao caráter da ameaça, não se exige cau-
sar à vítima algo injusto, mas há de ser intimidação
z O sujeito passivo é o Estado, particularmente a Jus- envolvendo uma conduta ilícita do agente, ou seja,
tiça Militar; configura-se o delito quando alguém usa, contra pes-
z A conduta recusar, ou de não aceitar, está ligada ao soa que funcione em um processo judicial, por exem-
282 exercício de função na administração da Justiça Militar; plo, de grave ameaça justa, para obter vantagem.
O objeto da conduta é a autoridade, parte ou qual- Para o crime de comunicação falsa de crime, o
quer outra pessoa que funcione no feito, tratando-se sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, civil ou militar.
de interpretação analógica. Estas pessoas podem ser Contudo, o sujeito passivo é o Estado ou a adminis-
o Encarregado do Inquérito Policial Militar, o Encar- tração da Justiça Militar.
regado de Sindicância, o Presidente do Auto de Prisão Vejamos, provocar no contexto do delito de comu-
em Flagrante, a Autoridade que apura ou aplica san- nicação falsa de crime, tem o significado de dar causa,
ção em Processo Administrativo Disciplinar. gerar ou proporcionar, que deve ser interpretado em
Segundo Nucci, o crime é doloso, havendo elemen- conjunto com comunicar, fazer saber ou transmitir,
to subjetivo do tipo específico, consistente na finali- resultando na conduta mista de dar origem à ação da
dade de favorecer interesse próprio ou alheio em autoridade por conta da transmissão de uma informa-
processo ou em juízo arbitral. ção inverídica (Nucci, 2016).
Na prática, o agente faz denúncia de irregularida-
des no processo licitatório da organização militar. Pelo
Importante! relato do fato, instaura-se Inquérito Policial Militar,
que no curso das investigações não encontra elemen-
Havendo o emprego de violência, no lugar da gra- tos de materialidade, sendo, posteriormente, o juízo
ve ameaça, fica o agente responsável também decide por arquivar o procedimento investigatório.
pelo que causar à integridade física da pessoa, A comunicação pode ser por escrita ou oral. A ocor-
devendo responder em concurso material (Nuc- rência de crime diverso do comunicado à autoridade não
ci, 2014). configura o delito de comunicação falsa de crime, pois a
ação da autoridade identificou, por meio do procedimen-
to investigatório, outro delito, inexistindo, portanto, qual-
Denunciação Caluniosa quer prejuízo à administração da justiça (Nucci, 2016).
O crime é doloso, e não se pune a modalidade
Art. 343 Dar causa à instauração de inquérito poli- culposa.
cial ou processo judicial militar contra alguém,
imputando-lhe crime sujeito à jurisdição militar, de Autoacusação Falsa
que o sabe inocente:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos. Art. 345 Acusar-se, perante a autoridade, de crime
Agravação de pena sujeito à jurisdição militar, inexistente ou praticado
Parágrafo único. A pena é agravada, se o agente se por outrem:
serve do anonimato ou de nome suposto. Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

z O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, civil ou


O crime de denunciação caluniosa pode ser pra-
militar.
ticado por qualquer pessoa, civil ou militar. Aqui o
z O sujeito passivo é o Estado, no cenário da admi-
sujeito passivo é o Estado ou, até mesmo, a pessoa
nistração militar.
prejudicada pela falsa denunciação.
No caso deste tipo penal, o objeto é inquérito poli- Pode o sujeito pretender assumir a prática de um
cial ou processo judicial militar que é instaurado para

NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR/PROCESSO PENAL MILITAR


delito mais leve para evitar a imputação de um crime
apurar fato inexistente com base nas informações da mais grave.
pessoa ativa. Pode ter sido subornado pelo verdadeiro autor da
O crime é doloso. infração penal para chamar a si a responsabilidade
É imprescindível, para que se julgue corretamen- Acusar significa imputar falta, incriminar ou culpar.
te o crime de denunciação caluniosa, o aguardo da Acusar-se é a conduta do sujeito que se autoincri-
finalização da investigação instaurada para apurar mina, chamando a si um crime que não praticou, seja
a infração penal imputada, bem como a ação penal, porque inexistente, seja porque o autor foi outra pessoa
cuja finalidade é a mesma, sob pena de injustiças fla- (Nucci, 2016).
grantes (Nucci, 2016). Aproveitando o ensinamento de Guilherme Nucci, a
O elemento do tipo “alguém” indica tratar-se de autoridade (judiciária, policial, ou membro do Ministé-
pessoa certa, não se podendo cometer o delito ao indi- rio Público) mencionada no tipo, em se tratando de cri-
car para a autoridade policial apenas a materialidade me contra a administração da justiça, é preciso entender
do crime e as várias possibilidades de suspeitos. Des- como o agente do poder público que tenha atribuição
taca-se, o “alguém” deve ser identificado. para apurar a existência de crimes e sua autoria ou
Sobre a causa de aumento de pena, determina o determinar que tal procedimento tenha início.
tipo penal do CPM o aumento obrigatório da pena O crime é doloso e não há a modalidade culposa.
quando o agente se servir de anonimato ou de nome
suposto, o que dificulta, sobremaneira, a identificação Falso Testemunho ou Falsa Perícia
do autor da denúncia falsa (Nucci, 2016).
Art. 346 Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar
É importante esclarecer que se o crime de denun-
a verdade, como testemunha, perito, tradutor ou
ciação caluniosa se refere a crime prescrito ou indul- intérprete, em inquérito policial, processo adminis-
tado, estamos diante de crime impossível. trativo ou judicial militar:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
Comunicação Falsa de Crime Aumento de pena
§ 1º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço), se o crime
Art. 344 Provocar a ação da autoridade, comuni- é praticado mediante suborno.
cando-lhe a ocorrência de crime sujeito à jurisdição Retratação
militar, que sabe não se ter verificado: § 2º O fato deixa de ser punível, se, antes da senten-
Pena – detenção, até 6 (seis) meses. ça, o agente se retrata ou declara a verdade. 283
O sujeito ativo pode ser: z A pessoa induz, instiga ou auxilia outrem a mentir,
sem lhe prometer vantagem – tipifica-se a figura do
z testemunha; art. 346, combinado com o art. 53, ambos do CPM;
z perito; z A pessoa mente, porque foi subornada, responde
z tradutor; pelo art. 346, § 1º, do CPM, ou seja, com a pena
z intérprete. aumentada de um terço;
z A pessoa induz, instiga ou auxilia outrem a mentir,
Trata-se de crime de mão própria, só podendo ser dando, oferecendo ou prometendo dinheiro ou qual-
cometido por pessoas determinadas: testemunhas, quer vantagem, em vez de responder pelo delito do
perito, tradutor ou intérprete. art. 346, § 1º, do CPM, preferiu o legislador criar
O sujeito passivo é o Estado e pode ser também a uma figura autônoma, prevista no art. 347, do CPM.
pessoa prejudicada pelo ato falso.
As condutas possíveis são as seguintes: Corrupção Ativa de Testemunha, Perito ou Intérprete
z Fazer afirmação falsa: mentir ou narrar fato não Art. 347 Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou
correspondente à verdade; qualquer outra vantagem a testemunha, perito,
z Negar a verdade: não reconhecer a existên- tradutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa,
cia de algo verdadeiro ou recusar-se a admitir a negar ou calar a verdade em depoimento, perícia,
realidade; tradução ou interpretação, em inquérito policial,
z Calar a verdade: silenciar ou não contar a reali- processo administrativo ou judicial, militar, ainda
dade dos fatos. que a oferta não seja aceita:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos.
O crime é doloso e não há a modalidade culposa.
Nesse caso, pode a testemunha se recusar em depor? z O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, civil ou
Pode-se considerar a reticência fato diverso do silêncio. militar.
O silêncio equivale, sim, a “calar a verdade”. Calar
z A tipificação dispõe que o agente efetua a promes-
significa ficar em silêncio ou não querer falar. Não é o
sa de dinheiro ou qualquer outra vantagem a tes-
juiz que “manda” a testemunha falar, podendo-se, em
temunha arrolada pelas partes ou convocada pelo
tese, falar em desobediência, mas sim o próprio orde-
Juiz a depor.
namento jurídico, através de vários preceitos, sendo
o principal deles o art. 346 do Código Penal Militar z O sujeito passivo é o Estado e pode ser a pessoa
(Nucci, 2016). prejudicada pelo depoimento ou pela falsa perícia.
Se a testemunha, no momento de ser qualificada, A conduta é (Nucci, 2014):
fornecimento de seus dados pessoais, tais como nome, z Dar: presentear ou conceder;
filiação, endereço, profissão etc., a testemunha faltar z Oferecer: propor para que seja aceito, apresentar;
com a verdade, introduzindo dados inverídicos, tra- z Prometer: comprometer-se a fazer alguma coisa.
tar-se do delito de falsa identidade, art. 318, CP, pois
o momento é de identificar a pessoa e isso não está As condutas se referem a dinheiro ou qualquer
relacionado com o crime que está sendo apurado. vantagem destinada à testemunha, perito, tradutor ou
Não configura o crime de falso a opinião, pois a intérprete para o cometimento de falso testemunho
testemunha deve depor sobre fatos, e não sobre seu ou falsa perícia.
modo particular de pensar.
z O crime é doloso.
z Não existe a modalidade culposa.
Importante!
Sobre o compromisso da testemunha de dizer Publicidade Opressiva
a verdade há duas posições, como bem lembra-
Art. 348 Fazer pela imprensa, rádio ou televisão,
ram Nucci (2016) e Coimbra (2013):
antes da intercorrência de decisão definitiva em
1. Não é necessário o compromisso para a con-
processo penal militar, comentário tendente a exer-
figuração do crime de falso, tendo em vista que cer pressão sobre declaração de testemunha ou lau-
toda pessoa tem o dever de dizer a verdade em do de perito:
juízo, não podendo prejudicar a administração Pena – detenção, até 6 (seis) meses.
da justiça.
2. Há necessidade do compromisso, pois sem z O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, civil ou
ele a testemunha é mero informante, permitindo militar.
ao juiz livre valoração de seu depoimento. z O sujeito passivo é o Estado, administração mili-
tar e, em algumas circunstâncias, a testemunha
ou perito pressionado para concluir para dizer
É admissível o concurso de pessoas no crime de falso. algo que não tem conhecimento ou concluir uma
Existem quatro hipóteses para o falso testemunho, perícia.
aplicando-se o mesmo raciocínio para os demais sujei-
tos ativos deste crime (Nucci, 2016): A conduta de fazer comentário, para o crime de
publicidade opressiva, tem o significado de que o
z A pessoa mente sem ser subornada, tenha sido con- agente emite consideração ou opine sobre algo, volta-
vencida por outro sujeito ou não, tipifica-se o art. do a pressionar, constranger moralmente, a testemu-
284 346, do CPM; nha ou o perito.
Trata-se de uma forma de coação no curso do pro- se deve acrescer ao tipo a possibilidade concreta do
cesso, embora realizada pela imprensa, por isso o cri- sujeito favorecido pela conduta de quem lhe deu auxí-
me tem o título de publicidade. lio ser, efetivamente, condenado a uma pena de reclu-
Adverte-se que à época da edição do Código Penal são (ou morte).
Militar, mencionou-se apenas rádio e televisão, poden- O crime é doloso e não há a modalidade culposa.
do-se incluir, atualmente, outros meios, como as redes Se houver absolvição, por qualquer causa, não se
sociais da internet. está diante do favorecimento, uma vez que a pessoa
O comentário deve ser ameaçador, tendente a não pode ser considerada autora de crime.
constranger a testemunha ou perito, colocando certo Torna-se necessário aguardar o fim do processo
temor a esta pessoa. anterior para o reconhecimento da prática do delito
O contrário, a vítima não se sentir ameaçada, a de favorecimento pessoal.
conduta é inofensiva ao bem jurídico tutelado. Se houver absolvição, o delito de favorecimento
real deixa de existir.
Desobediência à Decisão Judicial
Favorecimento Real
Art. 349 Deixar, sem justa causa, de cumprir deci-
são da Justiça Militar, ou retardar ou fraudar o seu Art. 351 Prestar a criminoso, fora dos casos de
cumprimento: coautoria ou de receptação, auxílio destinado a
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. tornar seguro o proveito do crime:
§ 1º No caso de transgressão dos arts. 116, 117 e Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
118, a pena será cumprida sem prejuízo da execu-
ção da medida de segurança. No crime de favorecimento real o sujeito ativo
§ 2º Nos casos do art. 118 e seus § § 1º e 2º, a pena pode ser qualquer pessoa, civil ou miliar, e o sujeito
pela desobediência é aplicada ao representante, ou passivo é apenas o Estado.
representantes legais, do estabelecimento, socieda- A conduta é prestar auxílio, isto é, ajudar ou dar
de ou associação. assistência.
O destinatário do apoio é o criminoso, entendido
No crime de desobediência a decisão judicial temo este como a pessoa que comete o crime.
por sujeito ativo apenas a pessoa sujeita a decisão da O termo “proveito do crime” é o resultado “favorá-
Justiça Militar. vel” do agente, ou seja, o ganho, o lucro ou a vantagem
O passivo é o Estado ou a própria administração da auferida pela prática do delito.
Justiça Militar.
Pode ser bem móvel ou imóvel, material ou moral.
Este tipo penal é figura equivalente à desobediên-
O crime é doloso e não se pune a modalidade
cia a decisão judicial sobre perda ou suspensão de
culposa.
direito (art. 359, CP).
Em síntese, a conduta do delito é deixar de cumprir Inutilização, Sonegação ou Descaminho de Material
a decisão judicial militar, em qualquer circunstância, Probante
particularmente as que impõem medidas restritivas.
O crime é doloso e não há a modalidade culposa. Art. 352 Inutilizar, total ou parcialmente, sonegar

NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR/PROCESSO PENAL MILITAR


ou dar descaminho a autos, documento ou objeto
Favorecimento Pessoal de valor probante, que tem sob guarda ou recebe
para exame:
Art. 350 Auxiliar a subtrair-se à ação da autorida- Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, se
de autor de crime militar, a que é cominada pena de o fato não constitui crime mais grave.
morte ou reclusão: Modalidade culposa
Pena – detenção, até 6 (seis) meses. Parágrafo único. Se a inutilização ou o descaminho
Diminuição de pena resulta de ação ou omissão culposa:
§ 1º Se ao crime é cominada pena de detenção ou Pena – detenção, até 6 (seis) meses.
impedimento, suspensão o reforma:
Pena – detenção, até 3 (três) meses. z O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, civil ou
Isenção de pena militar, desde que tenha a responsabilidade de
§ 2º Se quem presta o auxílio é ascendente, descen- manter os autos, documento ou outro objeto;
dente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento z O sujeito passivo é o Estado, em alguns casos
da pena. podendo ser a administração da justiça ou quem
for prejudicado pelo desvio.
No crime de favorecimento pessoal o sujeito ativo
pode ser qualquer pessoa, civil ou militar. E o sujeito As condutas são:
passivo é apenas o Estado.
A conduta do tipo penal é auxiliar a subtrair-se, o z Inutilizar: invalidar ou destruir;
que significa fornecer ajuda a alguém para fugir, escon- z Sonegar: quer dizer ocultar;
der-se ou evitar a ação da autoridade que o busca. z Dar descaminho: desviar, fazendo desaparecer.
A autoridade pode ser o juiz, o promotor, a auto-
ridade de polícia judiciária ou qualquer outra que Dica
tenha legitimidade para buscar o autor de crime.
Observe, nos ensinamentos de Guilherme Nucci, No Código Penal comum o delito somente pode
que autor de crime, na situação do art. 350, do CPM, ser cometido por advogado ou procurador.
há um adendo muito relevante: a que é cominada No Código Penal Militar estende-se a qualquer
pena de morte ou reclusão, afastando-se, com isso, a um, mesmo que a regra se volte a incriminação
possibilidade de levar em conta apenas o injusto, pois a funcionário da justiça ou operador do Direito. 285
O crime é doloso e não há a modalidade culposa.

Exploração de Prestígio

Art. 353 Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer outra utilidade, a pretexto de influir em juiz, órgão do Ministério
Público, funcionário de justiça, perito, tradutor, intérprete ou testemunha, na Justiça Militar:
Pena – reclusão, até 5 (cinco) anos.
Aumento de pena
Parágrafo único. A pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o agente alega ou insinua que o dinheiro ou utilidade
também se destina a qualquer das pessoas referidas no artigo.

No crime de exploração de prestígio, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, civil ou militar, e o sujeito pas-
sivo será apenas o Estado.
São duas condutas que podem configurar o delito:

z Solicitar: pedir ou buscar;


z Receber: aceitar em pagamento, nesta modalidade, exige o concurso de outra pessoa, que faz o pagamento.

As condutas têm por finalidade inspirar juiz, membro do Ministério Público, serventuários da justiça, perito,
tradutor, intérprete ou testemunha.
Vale-se o agente de dinheiro ou outra utilidade, entendida como algo significativo como o é o dinheiro.
O crime é doloso e não se pune a modalidade culposa.
Se o agente, que não estão envolvidos com o fato, alegar ou insinuar que o dinheiro ou a utilidade destina-se,
também, ao juiz, membro do Ministério Público, funcionário da justiça, perito, tradutor, intérprete ou testemu-
nha, sua pena deve ser aumentada em um terço.

Desobediência à Decisão sobre Perda ou Suspensão de Atividade ou Direito

Art. 354 Exercer função, atividade, direito, autoridade ou múnus, de que foi suspenso ou privado por decisão da
Justiça Militar:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos.

O sujeito ativo somente pode ser a pessoa suspensa ou privada de direito por decisão judicial. Já sujeito passivo
é o Estado, a administração militar.
O verbo exercer, no contexto deste delito, significa desempenhar com habitualidade.
Objetiva-se punir a pessoa que teve função, atividade, direito, autoridade ou múnus suspenso por decisão
judicial.
Vejamos os esclarecimentos (Nucci, 2016):

z Função é a prática de um serviço relativo a um cargo ou emprego;


z Atividade significa qualquer ocupação ou diligência;
z Direito é a faculdade de praticar um ato, autorizada por lei;
z Autoridade significa o poder de dar ordens e fazer respeitar decisões, no âmbito público;
z Múnus é um encargo público.

E vejamos:

z A suspensão significa fazer cessar por um determinado período;


z Privação é o impedimento definitivo.

O crime é doloso e não há a modalidade culposa.

CRIMES EM TEMPO DE GUERRA


De acordo com o art. 15 do Código Penal Militar, o tempo de guerra se inicia com a declaração ou o reconhe-
cimento do estado de guerra, ou com o decreto de mobilização e só termina quando é ordenada a cessação das
hostilidades.
A declaração de guerra é atribuição privativa do Presidente da República, mediante autorização pelo Congres-
so Nacional ou referendado por ele, nos termos da Constituição Federal (Art. 82).
Os crimes militares em tempo de guerra são disciplinados no art. 10, do CPM. Vejamos:

Art. 10 Consideram-se crimes militares, em tempo de guerra:


I - os especialmente previstos neste Código para o tempo de guerra;
286 II - os crimes militares previstos para o tempo de paz;
III - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum ou especial,
quando praticados, qualquer que seja o agente:
a) em território nacional, ou estrangeiro, militarmente ocupado;
b) em qualquer lugar, se comprometem ou podem comprometer a preparação, a eficiência ou as operações
militares ou, de qualquer outra forma, atentam contra a segurança externa do País ou podem expô-la a perigo;
IV - os crimes definidos na lei penal comum ou especial, embora não previstos neste Código, quando praticados
em zona de efetivas operações militares ou em território estrangeiro, militarmente ocupado.

Os crimes especialmente
previstos para o tempo de
guerra

Os crimes militares em tempo Em território nacional ou


de paz estrangeiro, militarmente
CRIMES MILITARES EM ocupado
TEMPO DE GUERRA Os crimes previstos no CPM,
Em qualquer lugar, se
quando praticados:
comprometem ou podem
comprometer a preparação,
Crimes de lei penal comum ou especial, eficiência ou as operações
praticados em zona de efetivas militares, atentam contra a
operações militares ou em território segurança externa do País
estrangeiro, militarmente ocupado

Um ponto importante a respeito dos crimes praticados em tempo de guerra é a possibilidade de aumento de
pena em 1/3, daquelas cominadas para o tempo de paz. Vejamos:

Art. 20 Aos crimes praticados em tempo de guerra, salvo disposição especial, aplicam-se as penas cominadas
para o tempo de paz, com o aumento de um terço.

ANOTAÇÕES

NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR/PROCESSO PENAL MILITAR

287
ANOTAÇÕES

288
Art. 2º A lei processual penal aplicar-se-á desde
logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados
sob a vigência da lei anterior.

Imaginemos, portanto, que, ao final do curso de


NOÇÕES DE DIREITO uma ação penal, o prazo estabelecido para responder
à acusação passe de 10 dias para 15 dias. A mudan-
PROCESSUAL PENAL ça na legislação que diz respeito ao procedimento é
insignificante para aquela ação, tendo em vista que a
previsão diz respeito a um ato que deve ser praticado
no começo do procedimento; já em sentido contrário,
será aplicada desde logo às ações que estejam por pas-
APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL NO sar por aquela fase, mesmo que seja referente a fato
TEMPO, NO ESPAÇO E EM RELAÇÃO ÀS anterior a sua vigência.
PESSOAS Veja que a lei processual penal pode ser aplicada
para regular procedimentos relativos a fatos que acon-
teceram antes da sua vigência. Já a lei penal, em regra,
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES DO CÓDIGO DE
aplicar-se-á a fatos que ocorrem após a sua vigência.
PROCESSO PENAL
Atente-se ao art. 3º, que geralmente é cobrado em
sua literalidade. As questões que o envolvem costu-
O Código de Processo Penal inicia-se dispondo
mam confundir muitos candidatos por trocarem o ter-
quanto à aplicação da norma processual penal (tanto
mo “aplicação analógica” por “analogia”. O primeiro
em relação ao tempo, quanto ao espaço e às pessoas).
termo diferencia-se do primeiro, já que diz respeito a
Os dispositivos iniciais foram embasados em alguns
uma forma de interpretação, e o segundo diz respeito
princípios. Vejamos:
ao preenchimento de lacunas (ausência de normas).
Art. 1º O processo penal reger-se-á, em todo o terri- Art. 3º A lei processual penal admitirá interpreta-
tório brasileiro, por este Código, ressalvados: ção extensiva e aplicação analógica, bem como o
I - os tratados, as convenções e regras de direito suplemento dos princípios gerais de direito.
internacional;
II - as prerrogativas constitucionais do Presidente DO JUIZ DAS GARANTIAS
da República, dos ministros de Estado, nos crimes
conexos com os do Presidente da República, e dos O Código de Processo Penal foi o diploma mais
ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes afetado pelo Pacote Anticrime (Lei nº 13.964, de 24 de
de responsabilidade; dezembro de 2019), principalmente porque foi criada
III - os processos da competência da Justiça Militar; a polêmica figura do juiz de garantia, que visa reforçar
IV - os processos da competência do tribunal o sistema acusatório. Ademais, contra diversos artigos
especial introduzidos no CPP, foram ajuizadas Ações Diretas de
V - os processos por crimes de imprensa. Inconstitucionalidade (6.298; 6.299; 6.300; 6.305).
Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Códi- Em que pese as disposições do Pacote anticrime
go aos processos referidos nos nºs. IV e V, quando estarem atualizadas no Código de Processo Penal,
as leis especiais que os regulam não dispuserem de
cabe ressaltar que o relator Ministro Luiz Fux suspen-
modo diverso.
deu a eficácia da implementação do juiz das garantias,
bem como da alteração do procedimento do arquiva-
Logo no primeiro dispositivo do código, observa-
mento do inquérito e da liberação em caso de falta de
mos o princípio da territorialidade, visto que o caput
audiência de custódia no prazo de 24 horas. O tema
do diploma legal prevê sua aplicação em todo terri-
encontra-se pendente de julgamento no STF.
tório brasileiro. Contudo, tal princípio é aplicado de
A nova legislação, após dispor que o processo penal

NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL


forma relativa ou – em termo mais usual pela doutri-
terá estrutura acusatória, veda a iniciativa do juiz na
na – de forma mitigada.
fase de investigação e a substituição da atuação pro-
A mitigação do princípio da territorialidade estam-
batória do órgão de acusação. Ainda, passa a prever a
pado no caput do art. 1º se dá justamente em face da
figura do juiz das garantias, o qual ficou responsável
previsão da ressalva e a enumeração de suas hipóte-
pelo controle da investigação criminal e pela proteção
ses em seus incisos.
dos direitos fundamentais.
Vale lembrar que, no sistema acusatório, as figuras
Dica de acusação e julgamento são completamente distin-
A Lei de Imprensa que trataria sobre hipóteses tas e separadas. Deste modo, vejamos os novos dispo-
sitivos do Código de Processo Penal:
elencada no inciso V não foi recepcionada pelo
STF. Art. 3º-A O processo penal terá estrutura acusató-
ria, vedadas a iniciativa do juiz na fase de inves-
Já o art. 2º nos traz o princípio da imediativida- tigação e a substituição da atuação probatória do
de, ou tempus regit actum, que diz respeito à aplica- órgão de acusação.
ção imediata desde a entrada em vigência da norma
processual. Cabe destacar que é indispensável o iso- Anteriormente, não existia um dispositivo expresso
lamento dos atos processuais para que seja possível que tratasse do sistema acusatório. Deste modo, a dou-
tal disposição, sendo que, assim, distingue-se cada ato trina e a jurisprudência construíram tal conceito a par-
que já foi efetivamente praticado. tir da interpretação do ordenamento processual penal. 289
Pela nova lei, o juiz das garantias foi colocado § 1º O preso em flagrante ou por força de mandado
como o responsável pelo controle da legalidade da de prisão provisória será encaminhado à presença
investigação criminal e pela salvaguarda dos direitos do juiz de garantias no prazo de 24 (vinte e qua-
individuais. Vejamos as competências atribuídas a ele: tro) horas, momento em que se realizará audiência
com a presença do Ministério Público e da Defenso-
Art. 3º-B O juiz das garantias é responsável pelo ria Pública ou de advogado constituído, vedado o
controle da legalidade da investigação criminal emprego de videoconferência.
e pela salvaguarda dos direitos individuais cuja § 2º Se o investigado estiver preso, o juiz das garan-
franquia tenha sido reservada à autorização prévia tias poderá, mediante representação da autoridade
do Poder Judiciário, competindo-lhe especialmente: policial e ouvido o Ministério Público, prorrogar, uma
I - receber a comunicação imediata da prisão, nos única vez, a duração do inquérito por até 15 (quinze)
termos do inciso LXII do caput do art. 5º da Consti- dias, após o que, se ainda assim a investigação não
tuição Federal; for concluída, a prisão será imediatamente relaxada.
II - receber o auto da prisão em flagrante para o
controle da legalidade da prisão, observado o dis-
posto no art. 310 deste Código; Importante!
III - zelar pela observância dos direitos do preso,
O § 2º, do art. 3º-A, dispõe sobre a possibilidade
podendo determinar que este seja conduzido à sua
presença, a qualquer tempo; de prorrogação, por uma única vez, da duração
IV - ser informado sobre a instauração de qualquer do inquérito. A prorrogação, que será de até 15
investigação criminal; dias, poderá ser realizada mediante representa-
V - decidir sobre o requerimento de prisão provisó- ção da autoridade policial e ouvido o MP. Caso
ria ou outra medida cautelar, observado o disposto o prazo se esgote e a investigação não seja con-
no § 1º deste artigo; cluída em tempo hábil, a prisão será imediata-
VI - prorrogar a prisão provisória ou outra medida mente relaxada.
cautelar, bem como substituí-las ou revogá-las, asse-
gurado, no primeiro caso, o exercício do contraditó-
rio em audiência pública e oral, na forma do disposto Art. 3º-C A competência do juiz das garantias abran-
neste Código ou em legislação especial pertinente; ge todas as infrações penais, exceto as de menor
VII - decidir sobre o requerimento de produção potencial ofensivo, e cessa com o recebimento da
antecipada de provas consideradas urgentes e não denúncia ou queixa na forma do art. 399 deste Código.
repetíveis, assegurados o contraditório e a ampla § 1º Recebida a denúncia ou queixa, as questões penden-
defesa em audiência pública e oral; tes serão decididas pelo juiz da instrução e julgamento.
VIII - prorrogar o prazo de duração do inquérito, § 2º As decisões proferidas pelo juiz das garantias
estando o investigado preso, em vista das razões não vinculam o juiz da instrução e julgamento, que,
apresentadas pela autoridade policial e observado após o recebimento da denúncia ou queixa, deverá
o disposto no § 2º deste artigo; reexaminar a necessidade das medidas cautelares
IX - determinar o trancamento do inquérito policial em curso, no prazo máximo de 10 (dez) dias.
quando não houver fundamento razoável para sua § 3º Os autos que compõem as matérias de com-
instauração ou prosseguimento; petência do juiz das garantias ficarão acautelados
X - requisitar documentos, laudos e informações na secretaria desse juízo, à disposição do Ministé-
ao delegado de polícia sobre o andamento da rio Público e da defesa, e não serão apensados aos
investigação; autos do processo enviados ao juiz da instrução e
XI - decidir sobre os requerimentos de: julgamento, ressalvados os documentos relativos
a) interceptação telefônica, do fluxo de comunica- às provas irrepetíveis, medidas de obtenção de pro-
ções em sistemas de informática e telemática ou de vas ou de antecipação de provas, que deverão ser
outras formas de comunicação; remetidos para apensamento em apartado.
b) afastamento dos sigilos fiscal, bancário, de dados § 4º Fica assegurado às partes o amplo acesso aos
e telefônico; autos acautelados na secretaria do juízo das garantias.
c) busca e apreensão domiciliar;
d) acesso a informações sigilosas; Cabe ressaltar que, de acordo com o art. 3º-C, a
e) outros meios de obtenção da prova que restrin- competência do juiz das garantias abrange todas
jam direitos fundamentais do investigado;
as infrações penais, exceto as de menor potencial
XII - julgar o habeas corpus impetrado antes do ofe-
ofensivo, e cessa com o recebimento da denúncia
recimento da denúncia;
ou queixa. Temos nesse artigo um termo final da
XIII - determinar a instauração de incidente de
insanidade mental;
atuação do juiz das garantias.
XIV - decidir sobre o recebimento da denúncia ou Importante destacar o que estabelece o § 2º, do art.
queixa, nos termos do art. 399 deste Código; 3º-C: as decisões proferidas pelo juiz das garantias não
XV - assegurar prontamente, quando se fizer neces- vinculam o juiz da instrução e julgamento, o qual,
sário, o direito outorgado ao investigado e ao seu após o recebimento da denúncia ou queixa, deverá ree-
defensor de acesso a todos os elementos informati- xaminar a necessidade das medidas cautelares em cur-
vos e provas produzidos no âmbito da investigação so, no prazo máximo de 10 (dez) dias.
criminal, salvo no que concerne, estritamente, às
diligências em andamento; Art. 3º-D O juiz que, na fase de investigação, pra-
XVI - deferir pedido de admissão de assistente técni- ticar qualquer ato incluído nas competências dos
co para acompanhar a produção da perícia; arts. 4º e 5º deste Código ficará impedido de funcio-
XVII - decidir sobre a homologação de acordo de nar no processo.
não persecução penal ou os de colaboração premia- Parágrafo único. Nas comarcas em que funcionar
da, quando formalizados durante a investigação; apenas um juiz, os tribunais criarão um sistema de
XVIII - outras matérias inerentes às atribuições rodízio de magistrados, a fim de atender às disposi-
290 definidas no caput deste artigo. ções deste Capítulo.
Vale mencionar que o juiz que, na fase de inves- A nova lei também se preocupa com a imagem do
tigação, praticar qualquer ato relacionado ao inqué- réu perante a sociedade. O juiz das garantias deverá
rito, ficará impedido de funcionar no processo. Isso assegurar o cumprimento de regras para tratamento
significa que, nas comarcas em que funcionar apenas adequado dos presos, de modo que impeça o acordo
um juiz, os tribunais criarão um sistema de rodízio de ou ajuste de autoridades públicas com a imprensa
magistrados, a fim de atender esse dispositivo. para exploração da imagem do preso.
Sabe-se que o juiz das garantias é responsável
pelo controle da legalidade da investigação e pela
salvaguarda dos direitos individuais, que consiste
na outorga a um determinado órgão jurisdicional da
competência para exercício da função de garantidor
INQUÉRITO POLICIAL
na fase investigatória. Após a atuação dessa figura, ele
O Título II, do Código de Processo Penal, cuida,
fica impedido de funcionar no processo.
entre os seus arts. 4º e 23, do inquérito policial (IP).
De forma simples, o inquérito policial consiste em
COMPETÊNCIA APÓS uma investigação formal e devidamente documenta-
COMPETÊNCIA EN- da que tem a finalidade de colher elementos para a
O RECEBIMENTO DA
TRE A INSTAURAÇÃO futura proposição de uma ação penal, seja por meio
DENÚNCIA OU QUEI-
DA INVESTIGAÇÃO E de denúncia oferecida pelo Ministério Público ou por
XA ATÉ O TRÂNSITO
O RECEBIMENTO DA meio de queixa-crime nos casos de ação penal privada.
EM JULGADO DA
ACUSAÇÃO
SENTENÇA
NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
Competência do Juiz das Competência do juiz da
Garantias instrução e julgamento Origem e Significado do Termo

O Pacote Anticrime reconheceu que não há impar- Não se sabe exatamente quando surgiu um proce-
cialidade se o mesmo julgador intervém na fase dimento que, de alguma forma, visava apurar as infra-
investigatória e, ao mesmo tempo, aprecia o mérito, ções penais; no entanto, os primeiros relatos que se
condenando ou absolvendo o acusado. Isso é perceptí- tem dando conta de uma forma organizada de investi-
vel, uma vez que, na investigação, o juiz se contamina gação remontam à época da Roma Antiga. É de lá que
com elementos de informação. Logo, a nova legislação se origina o termo inquérito, que vem da expressão em
separa a figura do juiz das garantias da do juiz da ins- latim in + quaerere e quer dizer buscar alguma coisa
trução e julgamento. em uma determinada direção, procurar, perguntar.
No entanto, perceba que o juiz das garantias pos- Muito embora tenham existido outras normas ante-
sui a função de garantidor dos direitos fundamentais riores que estabeleceram procedimentos destinados a
na fase investigatória, mas não é dotado de iniciati- apurar a autoria e a materialidade de um crime, no Bra-
va acusatória, como erroneamente pode ser pensado. sil, o primeiro diploma legal a trazer expressamente o
Alerte-se para o fato de que o Pacote Anticrime veda termo e a definição de inquérito policial, com esse nome,
expressamente a iniciativa do juiz na fase de inves- foi o Decreto nº 4.824, de 22 de novembro de 1871, que
tigação. A intervenção do juiz das garantias na fase regulamentou a Lei nº 2.033, de 20 de setembro de 1871:
investigatória deve ser contingente e excepcional.
Art. 42 (Decreto nº 4.824, de 1871) O inquérito
Art. 3º-E O juiz das garantias será designado con- policial consiste em todas as diligencias necessá-
forme as normas de organização judiciária da rias para o descobrimento dos factos criminosos,
União, dos Estados e do Distrito Federal, obser- de suas circunstancias e dos seus autores e cômpli-
vando critérios objetivos a serem periodicamente ces; e deve ser reduzido a instrumento escrito [...].
divulgados pelo respectivo tribunal.
Com a publicação do atual Código de Processo Penal,
Estabelece o art. 3º-E que a atuação dos juízes em 3 de outubro de 1941, o inquérito policial consoli-

NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL


das garantias será realizada conforme as normas de dou-se como o procedimento administrativo adequado
organização judiciária da União, dos estados e do DF, para realizar a apuração da autoria e materialidade
devendo ser observados critérios objetivos de atua- das infrações penais, sendo realizado pela Polícia Judi-
ção, os quais serão periodicamente divulgados pelo ciária, sob a presidência do Delegado de Polícia (de
tribunal, acordo com o § 4º, art. 144, da Constituição Federal).

Art. 3º-F O juiz das garantias deverá assegurar o Conceito de Inquérito Policial
cumprimento das regras para o tratamento dos
presos, impedindo o acordo ou ajuste de qualquer Inquérito policial pode ser definido como um
autoridade com órgãos da imprensa para explorar a
procedimento administrativo, conduzido pelo
imagem da pessoa submetida à prisão, sob pena de
Delegado de Polícia, que objetiva a apuração da
responsabilidade civil, administrativa e penal.
materialidade e autoria de uma infração penal,
Parágrafo único. Por meio de regulamento, as auto-
ridades deverão disciplinar, em 180 (cento e oiten- visando a que o titular da ação penal (Ministério
ta) dias, o modo pelo qual as informações sobre a Público ou ofendido) possa ingressar em juízo.
realização da prisão e a identidade do preso serão, Além de identificar a autoria e materialidade, o
de modo padronizado e respeitada a programação inquérito policial presta-se, também, a identificar as
normativa aludida no caput deste artigo, transmi- circunstâncias que envolveram a prática da infração
tidas à imprensa, assegurados a efetividade da per- (modo de agir, motivos), uma vez que estas podem ser-
secução penal, o direito à informação e a dignidade vir como qualificadora, privilégio, causa de aumento
da pessoa submetida à prisão. ou diminuição de pena. 291
Dica: O inquérito policial é instaurado para apurar CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL
infrações penais cuja pena seja superior a 2 anos. As
infrações penais de menor potencial ofensivo (crimes O inquérito policial possui algumas características
cuja pena máxima não seja superior a 2 anos e con- próprias. Algumas estão previstas na própria lei; outras
travenções penais) são apuradas por meio de termo têm origem na doutrina e nas jurisprudências. O IP é:
circunstanciado, conforme determina o art. 69, da Lei
dos Juizados Especiais (Lei nº 9.099, de 1995). Excep- Escrito
cionalmente, em duas hipóteses as infrações de menor
potencial ofensivo são apuradas por meio de IP: quando Todos os atos que forem produzidos durante o inquéri-
revestirem-se de alguma complexidade e quando envol- to policial devem ser escritos ou, quando forem realizados
verem violência doméstica ou familiar contra a mulher. de forma oral, reduzidos a termo. Tal previsão encontra-se
no art. 9º, do CPP, que será estudado mais adiante.
Natureza Jurídica
Inquisitivo
Quando se pergunta a natureza jurídica de um instituí-
do jurídico, busca-se conhecer sua essência. Nesse sentido, O IP é um procedimento administrativo destinado
o inquérito policial tem natureza jurídica de procedimen- a reunir as mínimas informações necessárias para a
to administrativo preparatório para a ação penal. propositura da ação penal; nele, não se aplica o prin-
O inquérito policial é um procedimento e não cípio do contraditório.
um processo administrativo. O que caracteriza um
processo é a presença de partes e a possibilidade de Indisponível
gerar sanção; no inquérito policial, não existem par-
tes, mas sim a figura do Delegado de Polícia (auto- De acordo com o art. 17, do CPP, uma vez instaura-
ridade policial), que é o responsável por apurar os do o inquérito policial, a autoridade policial não pode-
fatos que constituam infrações penais, bem como sua rá mais arquivá-lo.
autoria (o indicado não é parte, mas objeto da inves-
tigação); além disso, no inquérito não há aplicação de Dispensável
qualquer tipo de sanção.
O inquérito policial não é obrigatório. Como já men-
Finalidade e Destinatário cionado, o IP possui um caráter meramente informativo
e busca reunir informações a respeito do crime. Deste
modo, quando o titular da ação já possui os elemento
A finalidade do inquérito policial é colher elemen-
necessários para o oferecimento da ação penal, o inqué-
tos de informação a respeito da autoria, materialida-
rito será dispensável. Quanto a este tema, dispõe o § 5º,
de e das circunstâncias do crime a fim de formar a
do art. 39, do Código de Processo Penal:
convicção do titular da ação penal.
A convicção do titular da ação penal de que hou-
Art. 39 […]
ve um crime e sobre quem é seu autor é chamada de
§ 5º O órgão do Ministério Público dispensará o inqué-
opinio delicti. rito, se com a representação forem oferecidos elemen-
O destinatário do inquérito policial é o Ministério tos que o habilitem a promover a ação penal, e, neste
Público, que é titular da ação penal pública, ou o ofen- caso, oferecerá a denúncia no prazo de quinze dias.
dido, que é o titular da ação penal de iniciativa privada.
Existe uma pequena parcela da doutrina que defen-
Valor Probatório de ser o inquérito policial indispensável; no entanto,
para fins de prova, adote a posição da dispensabilidade.
Como regra, não são produzidas provas durante
o inquérito policial, mas sim são colhidos elementos Discricionário
de informação. Para que se configure em prova, o ele-
mento deve ser colhido observando-se o contraditó- A autoridade policial pode conduzir e determinar
rio e a ampla defesa, o que não ocorre no inquérito. o rumo das diligências da maneira que entender ser
Assim sendo, o valor probatório do inquérito é rela- mais adequada. Trata-se da inexistência de um padrão
tivo, isto é, deve ser confirmado por outros elementos (formalidade) a seguir.
colhidos no curso da ação penal. É importante destacar que a discricionariedade não
está relacionada à instauração ou não do inquérito poli-
Dica cial, mas sim está ligada à condução das investigações.
Deste modo, caso haja elementos suficientes para a ins-
Eventuais nulidades ocorridas durante a investi- tauração do IP, este deve ser instaurado. A discriciona-
gação não contaminam a ação penal.1 riedade reflete a liberdade da autoridade em realizar as
diligências necessárias de acordo com cada caso concreto.
Excepcionalmente, ocorre a produção de provas A discricionariedade do Inquérito Policial não se
durante o inquérito policial, como no caso da produção confunde com arbitrariedade. A discricionariedade
de provas urgentes (provas, por exemplo, que podem vir diz respeito à liberdade de atuação da autoridade
a se perder se não forem produzidas); no entanto, duran- policial nos limites estabelecidos em lei. Quando a
te o processo, as partes podem se manifestar sobre essas autoridade policial ultrapassa tais limites, ela passa a
provas (é o que se denomina contraditório diferido). atuar de forma arbitrária (contrária à lei).
292 1  (STJ - AgRg no HC 235840/SP).
Oficial Art. 2º (Lei nº 12.830, de 2013) [...]
§ 1º Ao delegado de polícia, na qualidade de auto-
Incumbe ao delegado de polícia (civil ou federal) a ridade policial, cabe a condução da investigação
presidência do inquérito policial. criminal por meio de inquérito policial ou outro
procedimento previsto em lei, que tem como objeti-
Oficioso vo a apuração das circunstâncias, da materiali-
dade e da autoria das infrações penais.
Ao tomar conhecimento de notícia de crime de
ação penal pública incondicionada, a autoridade poli- Do art. 4º, do CPP, é possível identificar a caracte-
cial é sempre obrigada a agir de ofício. rística do inquérito de ser oficial (oficialidade), uma
vez que se encontra sob o encargo de autoridades
Sigiloso públicas (delegado de polícia).
O cargo de delegado (Civil ou Federal) é de carreira
Segundo o art. 20, do CPP, o inquérito policial, em (concursado) e é auxiliado em suas funções por investiga-
regra, será sigiloso às pessoas em geral. No que con- dores de polícia, escrivães e agentes policiais, entre outros.
cerne aos envolvidos (ofendido, indiciado, advogados O fundamento constitucional do exercício das fun-
etc.), esta regra não será aplicável. ções de polícia judiciária pela Polícia Federal encon-
Nesse sentido, vale observar o que diz a Súmula tra-se no § 1º, art. 144, da CF; por sua vez, a previsão
Vinculante nº 14: do exercício pelas Polícias Civis dos estados e do Dis-
trito Federal encontra-se no § 4º, art. 144, da CF. De
Súmula Vinculante nº 14 É direito do defensor, acordo com tais dispositivos, cabe aos órgãos da Polí-
no interesse do representado, ter acesso amplo cia Federal e da Polícia Civil realizar as investigações
aos elementos de prova que, já documenta- necessárias, colhendo provas e formando o inquérito
dos em procedimento investigatório realizado por policial, que servirá de base para futura ação penal.
órgão com competência de polícia judiciária, digam O parágrafo único, do art. 4º, do CPP, deixa claro
respeito ao exercício do direito de defesa. que, além do inquérito policial, admitem-se outros
meios de produzir provas com a finalidade de funda-
Assim, não poderá ser negado ao defensor do inves- mentar a ação penal, como, por exemplo, o inquérito
tigado o acesso aos elementos de prova que já constem policial militar, as sindicâncias e os processos admi-
nos autos do inquérito policial. Esse acesso aos autos não nistrativos e as Comissões Parlamentares de Inquérito.
abrange aquelas diligências investigatórias que ainda
estão em andamento, tendo em vista que o acesso por
FORMAS DE INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO
parte do defensor pode gerar prejuízos à investigação.
POLICIAL
Por exemplo, caso o advogado tivesse acesso à intercep-
tação telefônica de seu cliente que ainda está em curso,
As formas de instauração (início) do inquérito poli-
poderia instruí-lo a não falar a respeito do crime investi-
cial dependem da natureza da ação penal correspon-
gado, o que geraria grandes prejuízos à investigação.
dente ao crime que se apura.
Vale lembrar que, de acordo com o art. 100, do Códi-
Dica go Penal, ação pública é aquela cuja iniciativa cabe ao
Utilize o mnemônico É ID²OSO para se lembrar MP. A ação pública subdivide-se em incondicionada
das características do inquérito policial: (que não exige manifestação da vítima solicitando, de
Escrito forma expressa, a atuação do Estado) e condicionada
Inquisitorial (inquisitivo) (que exige a manifestação do ofendido no sentido de
Indisponível querer ver o fato apurado). Como regra, quando a lei
Dispensável nada fala em contrário, a ação é pública.
Discricionário
Art. 5º Nos crimes de ação pública o inquérito

NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL


Oficioso
policial será iniciado:
Sigiloso I - de ofício;
Oficial II - mediante requisição da autoridade judiciá-
ria ou do Ministério Público, ou a requerimen-
POLÍCIA JUDICIÁRIA E TITULARIDADE DO to do ofendido ou de quem tiver qualidade para
INQUÉRITO POLICIAL representá-lo.
§ 1º O requerimento a que se refere o no II conterá
Art. 4º (CPP) A polícia judiciária será exercida sempre que possível:
pelas autoridades policiais no território de suas a) a narração do fato, com todas as circunstâncias;
respectivas circunscrições e terá por fim a apura- b) a individualização do indiciado ou seus sinais
ção das infrações penais e da sua autoria. característicos e as razões de convicção ou de pre-
Parágrafo único. A competência definida neste arti- sunção de ser ele o autor da infração, ou os motivos
go não excluirá a de autoridades administrativas, a de impossibilidade de o fazer;
quem por lei seja cometida a mesma função. c) a nomeação das testemunhas, com indicação de
sua profissão e residência.
O inquérito policial é realizado pela polícia judiciá- § 2º Do despacho que indeferir o requerimento de
ria (Polícia Civil ou Polícia Federal). A instauração e a abertura de inquérito caberá recurso para o chefe
presidência do IP ficam a cargo da autoridade poli- de Polícia.
cial (delegado da Polícia Civil ou da Polícia Federal). § 3º Qualquer pessoa do povo que tiver conhe-
Nesse sentido, assim dispõe o § 1º, art. 2º, da Lei nº cimento da existência de infração penal em que
12.830, de 2013: caiba ação pública poderá, verbalmente ou por 293
escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedência das informações, mandará instaurar
inquérito.
§ 4º O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação, não poderá sem ela ser iniciado.
§ 5º Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá proceder a inquérito a requerimento de
quem tenha qualidade para intentá-la.

Como visto, o art. 5º, do CPP, estabelece cinco formas pelas quais pode se instaurar um IP. O fluxograma a
seguir sistematiza as informações trazidas pelo artigo:

Ofício Autoridade judiciária

Requisição Ministério Público


INSTAURAÇÃO DO
INQUÉRITO POLICIAL
Requerimento Ministério Público

APF — Auto de Prisão


em Flagrante

Instauração de Ofício

A instauração de ofício (I, art. 5º, do CPP) ocorre por ato voluntário da autoridade policial, sem que alguém
tenha feito um pedido expresso. Sempre que a autoridade policial tomar conhecimento da ocorrência de um cri-
me de ação pública, dentro de sua área de atuação, deve obrigatoriamente instaurar inquérito policial, mediante
a produção de um documento denominado portaria (é usual que se utilize a expressão “baixar portaria”).
A informação (chamada de notitia criminis) pode chegar ao conhecimento do delegado de polícia, por exem-
plo, mediante a lavratura de um boletim de ocorrência na delegacia, por uma matéria publicada na imprensa ou,
ainda, por meio de fatos trazidos por outros policiais ou pessoas do povo. Veja que, conforme dispõe o § 3º, art. 5º,
do CPP, qualquer pessoa — não necessariamente a vítima — pode levar ao conhecimento do delegado a ocorrên-
cia de um fato que consiste em infração penal (é o que se chama de delatio criminis).
Notitia criminis é o nome que se dá ao conhecimento pela autoridade policial de um fato criminoso. A notitia
crimininis de cognição imediata, direta ou espontânea é aquela em que a autoridade toma conhecimento do fato
por meio de suas atividades rotineiras (como, por exemplo, por informações trazidas por outros policiais ou pela
imprensa). Já a notitia criminis de cognição mediata, indireta ou provocada é que se dá de forma indireta (como
quando há requerimento do ofendido). Por sua vez, a notitia criminis de cognição obrigatória ou compulsória
ocorre quando o delegado toma conhecimento sobre o crime no caso da prisão em flagrante delito. Por fim, a
delatio criminis é uma espécie de notitia criminis que ocorre quando a comunicação do crime se dá por terceiro
(e não pela vítima). A denúncia anônima, que pode dar origem às investigações, mas que não autoriza por si só a
instauração do IP, é chamada de notitia criminis inqualificável ou apócrifa.
Para facilitar a compreensão das espécies de notitia criminis, veja o esquema a seguir:

Imediata ou
direta Autoridade toma conhecimento do fato por meio de suas atividades rotineiras

Mediata ou É provocada
NOTITIA CRIMINIS
indireta Autoridade toma conhecimento de forma indireta (requerimento)

Coercitiva ou
Casos em que autoridade toma conhecimento por meio do APF
obrigatória

Vale mencionar que o STF, ao analisar o Inquérito 1.957/PR, decidiu que a autoridade policial não pode instaurar
um IP de imediato quando a notícia da prática de um crime vier de fonte anônima e desacompanhada de qualquer
elemento de prova. Nessa hipótese, a autoridade policial deve determinar a realização de diligências preliminares
e, somente caso se confirme a possibilidade da ocorrência do delito, é que pode dar início ao inquérito.

Espécie de Notitia Criminis

Simples: comunicação por


qualquer do povo
DELATIO CRIMINIS
Postulatória: comunicação feita pelo
ofendido

Inqualificável ou Apócrifa Denúncia anônima (não autoriza por si só a


294 instauração do IP)
Requisição do Juiz ou do Ministério Público (1ª Parte, Inciso II, Art. 5º, do CPP)

A requisição, tanto do juiz quanto do MP, é sinônimo de ordem. Ou seja, a autoridade policial está obrigada a
dar início ao IP, baixando portaria, quando recebe requisição de um juiz ou promotor de justiça.

Dica
Nem o juiz nem o representante do Ministério Público são superiores hierárquicos do delegado; por tal moti-
vo, não podem dar ordens à autoridade policial. Nesse sentido, ao requisitar a instauração do IP, o MP ou o
juiz estão apenas fazendo com que o delegado cumpra a lei.

Requerimento do Ofendido (2ª Parte, Inciso II, Art. 5º, do CPP)

Muito embora, como prevê o § 3º, art. 5º, qualquer pessoa possa levar ao conhecimento do delegado a ocor-
rência de um crime (normalmente por meio da lavratura de um boletim de ocorrência), o legislador optou por
possibilitar que a vítima possa solicitar formalmente à autoridade policial o início do inquérito.
De acordo com o § 1º, art. 5º, do CPP, o requerimento do ofendido deve conter a indicação detalhada da ocor-
rência e do objeto da investigação (não cabe uma petição genérica, simplesmente requerendo a instauração de
inquérito). Muito embora o § 1º faça referência somente ao requerimento do ofendido, que não pode ser genérico,
o entendimento é que se aplica tal regra também à requisição feita pelo juiz ou promotor.
A autoridade policial pode indeferir o requerimento, conforme determina o § 3º, art. 5º, do CPP. Neste caso,
o ofendido pode recorrer ao chefe de polícia (parte da doutrina entende ser o Delegado-Geral; outro entendem
ser o Secretário de Segurança Pública). Caso o recurso seja deferido, o IP é instaurado sem a necessidade de a
autoridade baixar portaria.

Importante!
O requerimento para instauração de IP pode ser feito tanto em crimes de ação pública quando em crimes de
ação privada (§ 5º, art. 5º, do CP).

Auto de Prisão em Flagrante

O auto de prisão em flagrante consiste no documento que contém as informações relativas à prisão em flagrante.
Uma vez lavrado o auto de prisão em flagrante, o inquérito já está instaurado (não requer que se baixe portaria).

Representação do Ofendido nos Crimes de Ação Penal Pública Condicionada

Conforme dispõe o § 5º, art. 5º, do CPP, nos crime de ação privada, o IP só pode ser instaurando mediante a
apresentação de requerimento do titular da ação (ofendido ou seu representante legal, ou, no caso de morte, o
cônjuge, ascendente, descendente ou irmão). Veja que não se exige que seja feito por intermédio de advogado.
Por fim, para facilitar a memorização, o fluxograma a seguir reúne as formas de instauração do inquérito policial:

Ofício

NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL


Requisição do Ministério
Público
Crimes de ação penal pública
incondicionada
Requerimento da vítima

APF
FORMAS DE INSTAURAÇÃO
Crimes de ação penal Necessária a representação
DO INQUÉRITO POLICIAL
pública condicionada à da vítima
representação

Necessário o requerimento
Crimes de ação privada
da vítima

DILIGÊNCIAS

Assim que a notitia criminis chegar ao conhecimento da autoridade policial, o delegado deve observar o que
determinam os arts. 6º e 7º, do CPP. A seguir, analisaremos esses dispositivos. 295
Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da O inciso V cuida do interrogatório do indiciado, que
infração penal, a autoridade policial deverá: é a pessoa a quem se aponta, na fase do inquérito, como
I - dirigir-se ao local, providenciando para que autor da infração penal (indiciar é verificar que existe
não se alterem o estado e conservação das coisas, a probabilidade do até então suspeito ser o agente).
até a chegada dos peritos criminais; O § 6º, art. 2º, da Lei nº 12.830, de 2013, exige que
a autoridade policial, ao indiciar o suspeito, aponte
O inciso I, art. 6º, cuida da preservação do local nos autos do IP os motivos que levaram a proceder
de crime, que visa impedir que se altere o local dos
ao indiciamento, bem como justifique a classificação
fatos que possam prejudicar a realização da perícia.
feita em determinado tipo penal.
Ao interrogatório do indiciado aplicam-se as
Dica regras do interrogatório judicial, previstas nos arts.
A modificação dolosa de local de crime, com a 185 a 196, do CPP, com as devidas adaptações (uma
finalidade de induzir a erro o juiz ou perito, con- vez que o indiciado ainda não é réu. Nesse sentido,
figura o delito de fraude processual, previsto no não é necessária a presença do defensor no inter-
art. 347, do CP. Por sua vez, o art. 312, do Código rogatório feito na delegacia, assim como o advogado
de Trânsito Brasileiro, define como crime a con- não tem direito de interferir no interrogatório a
duta de inovar artificiosamente, em caso de aci- fim de fazer perguntas. No entanto, o delegado não
pode proibir o advogado de acompanhar o interroga-
dente automobilístico com vítima, na pendência
tório. Vale lembrar que o inciso LXIII, art. 5º, da CF,
do respectivo procedimento policial ou processo
assegura ao indiciado o direito de permanecer calado
penal, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa,
durante o interrogatório.
a fim de induzir a erro o agente policial, o perito
Voltando ao art. 6º, do CP, o inciso V cuida, ainda,
ou juiz.
da chamadas testemunhas instrumentárias. A auto-
ridade policial deve assegurar que o termo de inter-
Art. 6° [...]
II - apreender os objetos que tiverem relação com rogatório seja assinado por duas testemunhas que
o fato, após liberados pelos peritos criminais; presenciaram a leitura da peça para o indiciado.

Os objetos relacionados ao fato podem ser os mais Art. 6° [...]


variados, de armas de fogo até objetos de uso comum, VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coi-
mas que podem contribuir para a busca da verda- sas e a acareações;
de sobre os fatos. Veja que tais objetos destinam-se,
em primeiro lugar, à análise por parte dos peritos e, O reconhecimento de pessoa busca indicar o
somente após liberados por estes, passam para a guar- autor do crime e é realizado pela vítima e pelas tes-
da da autoridade policial. Posteriormente, os objetos temunhas que tenham presenciado a prática do cri-
que puderem ser restituídos são devolvidos aos legí- me. O procedimento adotado pela autoridade policial
timos proprietários, exceto se consistirem em coisas é o que consta nos arts. 226 a 228, do CPP. O indiciado
cujo uso, fabrico, alienação, porte ou detenção são não pode se recusar a participar do reconhecimento.
proibidos, conforme estabelece a alínea “a”, inciso II, O direito de não ser obrigado a produzir prova contra
do art. 91, do CP. si mesmo não se aplica a atos passivos, como é o caso
do reconhecimento, mas somente a procedimentos
Art. 6° [...] ativos ou invasivos (como o fornecimento de material
III - colher todas as provas que servirem para o grafotécnico e de amostra de sangue).
esclarecimento do fato e suas circunstâncias; O reconhecimento de objetos, por sua vez, recai
sobre os instrumentos utilizados do crime (uma arma
O inciso III traz uma permissão genérica para que de fogo, por exemplo) e sobre os objetos materiais do
a autoridade policial colha (produza) qualquer tipo crime (como os objetos furtados).
de prova que entenda necessária para a investigação, Já a acareação consiste no ato de colocar frente
ainda que tal não esteja expressamente prevista nos a frente duas pessoas que prestaram depoimentos
demais incisos do art. 6º, como, por exemplo, a oitiva divergentes sobre pontos relevantes para a investiga-
de testemunhas e a representação ao juiz para decre- ção. A acareação segue as regras previstas nos arts.
tação de quebra de sigilo telefônico. 229 e 230, do CPP.
Art. 6° [...]
Art. 6° [...]
IV - ouvir o ofendido;
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame
de corpo de delito e a quaisquer outras perícias;
Ouvir a vítima do delito é uma das mais impor-
tantes providências a serem tomadas pela autoridade
O exame de corpo de delito está previsto no art.
policial, uma vez que o ofendido pode fornecer dados
158 e seguintes do CPP, e é indispensável nos crimes
essenciais para a descoberta da autoria e para a con-
que deixam vestígios (sua não realização gera nulida-
vicção sobre a materialidade.
de da ação, conforme determina a alínea “b”, inciso
III, do art. 564, do CPP).
Art. 6° [...]
V - ouvir o indiciado, com observância, no que for São algumas perícias que devem ser realizadas,
aplicável, do disposto no Capítulo III do Título Vll, dentre outras: exame químico-toxicológico nos crimes
deste Livro, devendo o respectivo termo ser assina- de tráfico ou porte de droga; exame da arma de fogo nos
do por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido crimes previstos no Estatuto do Desarmamento; exame
296 a leitura; no documento para apurar a falsidade documental.
Art. 6° [...] Não é permitida a reconstituição que contrariar a
VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo moral e a ordem pública, como, por exemplo, a reprodu-
processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar ção de crimes sexuais utilizando a vítima e o indiciado.
aos autos sua folha de antecedentes; Além das atividades que constam nos arts. 6º e
7º, do CPP, a autoridade policial tem outras funções
Apesar de o inciso VIII, art. 6º, mencionar apenas durante o IP, que se encontram elencadas no art. 13,
o processo datiloscópico, a identificação criminal con- do CPP, que será estudado mais adiante.
siste na coleta de dados físicos (fotografia, impressão
datiloscópica e material genético) com a finalidade de INVESTIGAÇÃO POLICIAL INICIADA POR PRISÃO
individualizar o indiciado. EM FLAGRANTE
Atualmente, a Lei nº 12.037, de 2009, dispõe sobre
o assunto e regulamenta a regra constitucional previs- Art. 8º Havendo prisão em flagrante, será observa-
ta no inciso LVIII, art. 5º, de que a pessoa civilmente do o disposto no Capítulo II do Título IX deste Livro.
identificada não será submetida à identificação crimi-
nal, salvo nas hipóteses previstas em lei. No caso da lavratura de auto de prisão em flagran-
te, devem ser seguidas as disposições constantes nos
Dica arts. 301 e seguintes, do CPP.

Folha de Antecedentes (FA) é o documento no FORMALISMO DO INQUÉRITO POLICIAL


qual consta a vida pregressa criminal de todas
as pessoas que já possuem identificação civil. Art. 9º Todas as peças do inquérito policial serão,
Nessa ficha, constam, por exemplo, os indicia- num só processado, reduzidas a escrito ou datilo-
mentos e as ações penais às quais o indivíduo grafadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade.
respondeu.
O IP é um procedimento formal, que exige peças
Art. 6° [...] escritas e datilografadas, rubricadas pelo delegado
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob de polícia. O art. 9º expressa a característica de ser o
o ponto de vista individual, familiar e social, sua inquérito escrito.
condição econômica, sua atitude e estado de ânimo
antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer PRAZO DO INQUÉRITO
outros elementos que contribuírem para a aprecia-
ção do seu temperamento e caráter. Art. 10 O inquérito deverá terminar no prazo de 10
dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante,
Conforme visto acima, a FA traz informações sobre ou estiver preso preventivamente, contado o prazo,
a vida pregressa criminal do indivíduo (indiciamento nesta hipótese, a partir do dia em que se executar
e processos criminais aos quais respondeu). O inciso a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando
IX cuida da vida pregressa e diz respeito aos dados estiver solto, mediante fiança ou sem ela.
relevantes sobre o passado da pessoa em seu contexto
individual, familiar, social e econômico. Além disso, O art. 10, do CPP, estabelece prazo para a conclusão
cuida de colher seu estado de espírito antes, duran- do inquérito. A regra geral é que o prazo de conclu-
te e depois da prática criminosa e também de outros são é de 10 dias, caso o indivíduo esteja preso, e de
elementos que possibilitem traçar a personalidade do 30 dias, se estiver solto (para fins de memorização,
indiciado. utilize o famoso 10:30).
A Lei nº 13.964, de 2019, denominada Lei Anticri-
Art. 6° [...] me, trouxe a possibilidade de o juiz das garantias
X - colher informações sobre a existência de filhos, prorrogar o prazo de conclusão no caso do inquérito
respectivas idades e se possuem alguma deficiência com investigado preso por 15 dias, uma única vez.

NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL


e o nome e o contato de eventual responsável pelos Para tanto, o delegado deve representar ao juiz e o MP
cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa. deve ser ouvido:

O inciso X foi incluído no art. 6º pela Lei nº 13.257, Art. 3-B […]
de 2016, denominada Lei da Primeira Infância. O dis- § 2º Se o investigado estiver preso, o juiz das garan-
positivo visa à proteção das crianças de até 6 anos de tias poderá, mediante representação da autoridade
idade que podem sofrer consequências decorrentes policial e ouvido o Ministério Público, prorrogar, uma
da prática de crimes por seus pais. Com base em tal única vez, a duração do inquérito por até 15 (quinze)
conhecimento, a autoridade policial pode, por exem- dias, após o que, se ainda assim a investigação não
plo, solicitar apoio de órgãos de assistência social ou for concluída, a prisão será imediatamente relaxada.
de proteção da criança.
Em que pese haver a previsão de prorrogação do
Art. 7º Para verificar a possibilidade de haver a prazo do inquérito, esse artigo está suspenso por pra-
infração sido praticada de determinado modo, a zo indeterminado; embora não aplicável, ainda está
autoridade policial poderá proceder à reprodução previsto no texto do CPP.
simulada dos fatos, desde que esta não contrarie a Deste modo, a regra prevista no CPP é que o pra-
moralidade ou a ordem pública. zo do inquérito policial é de 10 dias (preso) e 30 dias
(solto), com possibilidade de prorrogação de 15 dias
O art. 7º trata da reconstituição do crime, que (preso) por uma única vez (lembre-se: esta possibili-
consiste em uma simulação dos fatos, muito comum dade está suspensa). Porém, existem outros prazos,
principalmente em homicídios. conforme se vê na tabela a seguir: 297
PRESO SOLTO

10 dias (prorrogável por mais


JUSTIÇA ESTADUAL 30 dias
15 dias)

15 dias (prorrogável por mais


JUSTIÇA FEDERAL 30 dias
15 dias)

90 dias (pode ser


CRIMES DA LEI DE DROGAS 30 dias (pode ser duplicada)
duplicada)

CRIMES CONTRA A ECONOMIA POPULAR 10 dias 10 dias

40 dias (prorrogável por


CRIMES MILITARES 20 dias
mais 20 dias)

PRISÃO TEMPORÁRIA DECRETADA EM INQUÉRI-


30 dias (prorrogável por mais
TO POLICIAL RELATIVO A CRIMES HEDIONDO E
30 dias) -
EQUIPARADOS

É de suma importância destacar que, estando o indiciado solto, a violação do limite estabelecido no art. 10, do
CPP, não possui repercussão, pois não gera prejuízos ao insidiado. O STJ entende que tal prazo é considerado como
prazo impróprio (seu desatendimento não gera consequências).

RELATÓRIO FINAL

Art. 10 [...]
§ 1º A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos ao juiz competente.
§ 2º No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que não tiverem sido inquiridas, mencionando o lugar
onde possam ser encontradas.
§ 3º Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade poderá requerer ao juiz
a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz.

O inquérito deve encerrado por minucioso relatório dando conta de tudo o que foi apurado (materialidade e
autoria da infração ou sua ausência), relatando as diligências efetuadas, como regra, em ordem cronológica.
Uma vez relatado, o IP é remetido ao juiz competente, que é identificado segundo os critérios de competência
jurisdicional estabelecidos nos arts. 69 e seguintes, do CPP.
O § 2º, art. 10, do CPP, menciona a hipótese de indicação de testemunhas não inquiridas, o que deve ser excep-
cional, cabível somente no caso de investigado preso cujo prazo para terminar o inquérito é de 10 dias. No caso de
investigado solto, o delegado pode pedir a dilação do prazo do IP, prevista no § 3º.

INSTRUMENTOS DO CRIME E OBJETOS DE PROVA

Art. 11 Os instrumentos do crime, bem como os objetos que interessarem à prova, acompanharão os autos
do inquérito.

Os instrumentos do crime, assim como os objetos de interesse da prova, devem ser encaminhados ao fórum,
juntamente com o IP, para apreciação pelo juiz ou pelos jurados ou, ainda, para que neles possa ser feita contra-
prova caso haja contestação pela defesa.
Instrumentos do crime são os objetos usados pelo agente para cometer crime, tais como armas e documentos
falsos. Objetos de interesse da prova, por sua vez, são coisas que servem para demonstrar a verdade do ocorrido,
tais como telefone celular, computador, objeto da vítima com marcas de violência, entre outros.

INQUÉRITO COMO BASE DA DENÚNCIA OU QUEIXA

Art. 12 O inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir de base a uma ou outra.

O inquérito não é imprescindível para o oferecimento da denúncia (peça acusatória inicial apresentada pelo
Ministério Público nos casos de ação penal pública) nem da queixa (peça acusatória inicial apresentada por meio
do advogado do ofendido quando a ação for de iniciativa privada). No entanto, de acordo com o art. 12, do CPP,
quando o IP servir de base para a denúncia ou queixa, deve obrigatoriamente acompanhar uma ou outra.

OUTRAS INCUMBÊNCIAS DA AUTORIDADE POLICIAL

Art. 13 Incumbirá ainda à autoridade policial:


I - fornecer às autoridades judiciárias as informações necessárias à instrução e julgamento dos processos;
II - realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério Público;
III - cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autoridades judiciárias;
298 IV - representar acerca da prisão preventiva.
O art. 13, do CPP, elenca uma série de atribuições A Lei nº 13.444, de 2016, Lei de Prevenção e Repres-
do delegado de polícia. Vale lembrar que o delegado são ao Tráfico de Pessoas, acrescentou ao Código de
exerce atividade de polícia judiciária, que é auxiliar Processo Penal os arts. 13-A e 13-B.
do Poder Judiciário em sua atividade investigatória. O art. 13-A, do CPP, passou a permitir ao repre-
No inciso IV, “representar” significa dar razões sentante do MP ou à autoridade policial, em certos
para que alguém seja preso cautelarmente pela auto- crimes, tais como sequestro e cárcere privado e trá-
ridade judiciária. fico de pessoas, requisitarem diretamente a órgãos
Além das funções previstas no art. 13, o delegado públicos ou empresas privadas informações e dados
de polícia possui outras funções previstas no CPP e cadastrais de vítimas e de suspeitos. Veja que se tra-
em outras leis e que são ligadas, de forma direta ou ta da inovação (antes, tanto o MP quanto o delegado
indireta, à instrução do processo, como, por exemplo, de polícia tinham que pedir ao juiz) da solicitação de
o arbitramento de fiança nos crimes cuja pena comi- dados cadastrais para fins de investigação. Os dados e
nada não seja superior a 4 anos, de acordo com o art. informações devem ser meramente cadastrais, como
322, do CPP, e a representação para instauração de nome e endereço de um correntista de banco ou clien-
incidente de insanidade mental, conforme prevê o § te de uma operadora de telefonia: nunca poderá ser
1º, art. 149, entre outras atividades. solicitada diretamente por eles a quebra de sigilo ban-
cário ou telefônico (estas, sim, somente o juiz pode
PODER DE REQUISIÇÃO DE DADOS E determinar). O prazo para cumprimento da requisi-
INFORMAÇÕES CADASTRAIS PELO MINISTÉRIO ção é curto: 24 horas (parágrafo único, art. 11, da Lei
PÚBLICO E AUTORIDADE POLICIAL nº 13.444, de 2016).
Por sua vez, o art. 13-B passou a tratar do que se
Art. 13-A Nos crimes previstos nos arts. 148, 149 e
chama genericamente de informação ERB — Estações
149-A, no § 3º do art. 158 e no art. 159 do Decreto-Lei
no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), de Rádio Base. De acordo com o que dispõe o art. 13-B,
e no art. 239 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 o membro do MP ou o delegado de polícia podem
(Estatuto da Criança e do Adolescente), o membro do requisitar, mediante autorização judicial, às empre-
Ministério Público ou o delegado de polícia pode- sas de telefonia/telemática que disponibilizem ime-
rá requisitar, de quaisquer órgãos do poder público diatamente os meios técnicos que possam permitir
ou de empresas da iniciativa privada, dados e infor- a localização da vítima ou dos suspeitos de crime de
mações cadastrais da vítima ou de suspeitos tráfico de pessoas. Dentre esses meios, um de grande
Parágrafo único. A requisição, que será atendida no eficácia é o que utiliza as informações das Estações de
prazo de 24 (vinte e quatro) horas, conterá: Rádio Base (ERB), que são os equipamentos (antenas)
I - o nome da autoridade requisitante que fazem a conexão entre os telefones celulares e a
II - o número do inquérito policial; e companhia telefônica; por meio desses equipamentos,
III - a identificação da unidade de polícia judiciária é feita a localização das coordenadas de GPS dos apa-
responsável pela investigação relhos de celular da vítima ou dos autores do crime.
Art. 13-B Se necessário à prevenção e à repressão Veja que não se trata de realizar a interceptação
dos crimes relacionados ao tráfico de pessoas,
das comunicações (que é tratada por lei específica)
o membro do Ministério Público ou o delegado de
mas sim de acesso a dados de coordenadas. Observe,
polícia poderão requisitar, mediante autorização
judicial, às empresas prestadoras de serviço de tele-
também, a diferença entre o disposto no art. 13-A, do
comunicações e/ou telemática que disponibilizem CPP, situação que não requer autorização judicial,
imediatamente os meios técnicos adequados – como para o que prevê o art. 13-B, opção que só pode ser
sinais, informações e outros – que permitam a locali- feita com ordem do juiz.
zação da vítima ou dos suspeitos do delito em curso.
§ 1º Para os efeitos deste artigo, sinal significa posi- REQUERIMENTO DE DILIGÊNCIAS DURANTE O
cionamento da estação de cobertura, setorização e INQUÉRITO POLICIAL
intensidade de radiofrequência.
§ 2º Na hipótese de que trata o caput, o sinal: Art. 14 O ofendido, ou seu representante legal, e o

NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL


I - não permitirá acesso ao conteúdo da comunica- indiciado poderão requerer qualquer diligência,
ção de qualquer natureza, que dependerá de autori- que será realizada, ou não, a juízo da autoridade.
zação judicial, conforme disposto em lei;
II - deverá ser fornecido pela prestadora de tele- A vítima, pessoalmente ou por meio de seu repre-
fonia móvel celular por período não superior a sentante legal, assim como o indiciado, podem reque-
30 (trinta) dias, renovável por uma única vez, por rer ao delegado a realização de alguma diligência
igual período;
(como a oitiva de uma testemunha, por exemplo) que
III - para períodos superiores àquele de que trata o
considerem útil para a elucidação dos fatos.
inciso II, será necessária a apresentação de ordem
A autoridade policial pode deferir ou indeferir tal
judicial.
§ 3º Na hipótese prevista neste artigo, o inquérito pedido, sem necessidade de fundamentação.
policial deverá ser instaurado no prazo máximo de
72 (setenta e duas) horas, contado do registro da PRESENÇA DO DEFENSOR TÉCNICO DO
respectiva ocorrência policial INVESTIGADO NOS CASOS DE LETALIDADE
§ 4º Não havendo manifestação judicial no pra- POLICIAL
zo de 12 (doze) horas, a autoridade competente
requisitará às empresas prestadoras de serviço de Art. 14-A Nos casos em que servidores vinculados
telecomunicações e/ou telemática que disponibili- às instituições dispostas no art. 144 da Consti-
zem imediatamente os meios técnicos adequados – tuição Federal figurarem como investigados em
como sinais, informações e outros – que permitam inquéritos policiais, inquéritos policiais militares e
a localização da vítima ou dos suspeitos do delito demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto
em curso, com imediata comunicação ao juiz. for a investigação de fatos relacionados ao uso 299
da força letal praticados no exercício profis- ou em eventos de grandes proporções (como a Copa do
sional, de forma consumada ou tentada, incluindo Mundo). As operações de GLO são previstas no art. 142,
as situações dispostas no art. 23 do Decreto-Lei nº da Constituição Federal, e regulamentadas pela Lei Com-
2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), o plementar nº 97, de 1999, e pelo Decreto nº 3.897, de 2001.
indiciado poderá constituir defensor.
§ 1º Para os casos previstos no caput deste artigo, o CURADOR
investigado deverá ser citado da instauração do
procedimento investigatório, podendo constituir Art. 15 Se o indiciado for menor, ser-lhe-á nomeado
defensor no prazo de até 48 (quarenta e oito) horas curador pela autoridade policial.
a contar do recebimento da citação.
§ 2º Esgotado o prazo disposto no § 1º deste artigo O curador é a pessoa que, tanto no interrogatório
com ausência de nomeação de defensor pelo inves- prestado na fase policial, quanto no interrogatório em
tigado, a autoridade responsável pela investigação juízo, tem a função de proteger ou orientar o menor de
deverá intimar a instituição a que estava vincula- 21 anos, suprindo-lhe a imaturidade. No entanto, após a
do o investigado à época da ocorrência dos fatos, redução da maioridade civil de 21 para 18 anos, trazida
para que essa, no prazo de 48 (quarenta e oito) pelo Código Civil de 2002, não se deve mais considerar
horas, indique defensor para a representação do
que a pessoa menor de 21 necessite de curador, uma vez
investigado.
que alguém que atingiu a maioridade aos 18 anos é ple-
§ 3º Havendo necessidade de indicação de defen-
namente capaz de exercer qualquer atividade pública.
sor nos termos do § 2º deste artigo, a defesa cabe-
rá preferencialmente à Defensoria Pública, e, nos
Vale sempre lembrar que os menores de 18 não
locais em que ela não estiver instalada, a União ou a podem ser indiciados em inquérito, tendo em vista
Unidade da Federação correspondente à respectiva sua inimputabilidade penal.
competência territorial do procedimento instaurado Muito embora não tenha mais aplicação, é interes-
deverá disponibilizar profissional para acompanha- sante mencionar que não é qualquer pessoa que pode-
mento e realização de todos os atos relacionados à ria ser nomeada como curador: a pessoa deveria ser
defesa administrativa do investigado. maior de 21 anos, em pleno gozo da capacidade civil,
§ 4º A indicação do profissional a que se refere o § alfabetizada e não poderia ser subordinada adminis-
3º deste artigo deverá ser precedida de manifestação trativamente ao juiz, promotor ou delegado.
de que não existe defensor público lotado na área
territorial onde tramita o inquérito e com atribuição DEVOLUÇÃO DO INQUÉRITO PARA AUTORIDADE
para nele atuar, hipótese em que poderá ser indicado POLICIAL
profissional que não integre os quadros próprios da
Administração. Art. 16 O Ministério Público não poderá requerer a
§ 5º Na hipótese de não atuação da Defensoria devolução do inquérito à autoridade policial, senão
Pública, os custos com o patrocínio dos interesses para novas diligências, imprescindíveis ao ofereci-
dos investigados nos procedimentos de que trata mento da denúncia.
este artigo correrão por conta do orçamento pró-
prio da instituição a que este esteja vinculado à O art. 16 cuida de situação em que o promotor, ao
época da ocorrência dos fatos investigados. receber o IP devidamente concluído e relatado, por
§ 6º As disposições constantes deste artigo se apli- entender que falta alguma diligência fundamental
cam aos servidores militares vinculados às institui- para a formação de sua convicção, requer ao juiz que
ções dispostas no art. 142 da Constituição Federal, os autos retornem à autoridade policial para que esta
desde que os fatos investigados digam respeito a dê continuidade às investigações. Fora de tal hipótese,
missões para a Garantia da Lei e da Ordem. o MP não pode requerer a devolução do IP ao delegado.

A Lei nº 13.964, de 2019 (Lei Anticrime), acrescen- ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL


tou ao CPP o art. 14-A, que prevê procedimento a ser
adotado sempre que o objeto do inquérito policial for Art. 17 A autoridade policial não poderá man-
a apuração de fatos relacionados ao uso de força legal dar arquivar autos de inquérito.
praticados no exercício profissional por integrantes
das forças de segurança pública. O arquivamento do inquérito policial é tratado
A partir de tal alteração, o integrante das forças no art. 28, do CPP, e será estudado com detalhes mais
de segurança pública que figurar como investigado adiante. Desde já vale alertar, no entanto, que a Lei
em caso de letalidade policial (morte de civil causa- Anticrime promoveu importante alteração nas regras
da por ação das forças de segurança) deve ser cien- de arquivamento do IP.
tificado (a lei usa a expressão “citado”, que, apesar O art. 17, por sua vez, indica que o inquérito é
de impropriamente utilizada, deve ser observada indisponível, isto é, uma vez instaurado, não pode ser
para fins de prova) da existência de procedimento arquivado pelo delegado de polícia.
investigatório (entre os quais, o IP) e poderá nomear
Desarquivamento do Inquérito
defensor técnico. Vale mencionar que o mesmo pro-
cedimento foi incluído no Código de Processo Penal Art. 18 Depois de ordenado o arquivamento do
Militar, no art. 16-A. inquérito pela autoridade judiciária, por falta de
A citação prevista no art. 14-A deve ser observada base para a denúncia, a autoridade policial poderá
tanto nos casos consumados quanto nos tentados e, proceder a novas pesquisas, se de outras provas
também, nas hipóteses em que se configura excluden- tiver notícia.
te de ilicitude.
A Garantia da Lei e da Ordem (GLO) a que se refere O art. 18 dispõe que, uma vez arquivado o IP, é pos-
o § 6º consiste em autorização para que as Forças Arma- sível seu desarquivamento caso surjam novas pro-
300 das atuem em situações de grave perturbação da ordem vas (novas pesquisas).
Nesse sentido, vale trazer o teor da Súmula n° 524, [...]
do STF: Arquivado o inquérito policial, por despacho XIV - examinar em qualquer repartição policial, mes-
do juiz, a requerimento do promotor de justiça, não mo sem procuração,autos de flagrante e de inquérito,
pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas. findos ou em andamento, ainda que conclusos à auto-
ridade, podendo copiar peças e tomar apontamento

Importante! Nesse sentido, já decidiu o STF, no julgamento do


HC 82.354, que o advogado do indiciado tem pleno
De acordo com o art. 18, do CPP, e com o teor acessos aos autos do inquérito policial.
da Súmula n° 524, do STF, somente é possível
o desarquivamento do IP pelo surgimento de INCOMUNICABILIDADE DO INDICIADO
provas novas quando o fundamento do arquiva-
mento foi a insuficiência de provas (indícios de Art. 21 A incomunicabilidade do indiciado depen-
autoria e prova do crime). Assim sendo, inquéri- derá sempre de despacho nos autos e somente será
tos arquivados por atipicidade (não constituir o permitida quando o interesse da sociedade ou a
conveniência da investigação o exigir.
fato um crime), excludente de ilicitude, excluden-
Parágrafo único. A incomunicabilidade, que não
te de culpabilidade ou extinção da punibilidade excederá de três dias, será decretada por despacho
não podem ser desarquivados. fundamentado do Juiz, a requerimento da autorida-
de policial, ou do órgão do Ministério Público, res-
peitado, em qualquer hipótese, o disposto no artigo
Por fim, vale mencionar que, em relação ao arqui- 89, inciso III, do Estatuto da Ordem dos Advogados
vamento fundamentado em excludente da ilicitude, do Brasil (Lei n. 4.215, de 27 de abril de 1963) (Reda-
existe certa polêmica tendo em vista alguns julgados ção dada pela Lei nº 5.010, de 30.5.1966)
do próprio STF (por exemplo, o HC 87395). Para o STJ,
o desarquivamento somente é possível no caso de O art. 21, do CPP, não foi recepcionado pela Cons-
insuficiência de provas. Para fins de concurso, vale o tituição de 1988, não tendo, pois, aplicação. A inco-
entendimento da Súmula n° 524, do STF. municabilidade consiste na hipótese de se prender
alguém sem que se permita a comunicação externa e
INQUÉRITO POLICIAL NOS CRIMES DE AÇÃO o direito de contato com o advogado e com a família.
PRIVADA De acordo com o inciso LXII, art. 5º, da CF, a prisão
de qualquer pessoa e o local onde ela se encontra devem
Art. 19 Nos crimes em que não couber ação ser imediatamente comunicados ao juiz competente e
pública, os autos do inquérito serão remetidos ao à família do preso ou à pessoa por ele indicada. Por sua
juízo competente, onde aguardarão a iniciativa do vez, o inciso IV, § 3º, do art. 136, da CF, veda a incomuni-
ofendido ou de seu representante legal, ou serão cabilidade do preso até mesmo na vigência do estado
entregues ao requerente, se o pedir, mediante
de defesa, que é uma situação excepcional de crise.
traslado.
CIRCUNSCRIÇÃO POLICIAL
O art. 19, do CPP, indica que, uma vez concluído o
inquérito que apurou crime que se procede mediante
Art. 22 No Distrito Federal e nas comarcas em
ação penal privada, este deve ser remetido ao juízo que houver mais de uma circunscrição policial,
competente, aguardando em cartório o ajuizamento a autoridade com exercício em uma delas poderá,
da queixa-crime por parte do ofendido, ou, caso este nos inquéritos a que esteja procedendo, ordenar
deseje melhor analisar os autos, poderá levar consi- diligências em circunscrição de outra, independen-
go (o que se denomina “fazer carga”) o IP, devendo temente de precatórias ou requisições, e bem assim
ficar cópia integral no cartório (a cópia é chamada providenciará, até que compareça a autoridade
traslado). competente, sobre qualquer fato que ocorra em sua

NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL


presença, noutra circunscrição.
SIGILO DO INQUÉRITO
Circunscrição policial é a divisão territorial que
Art. 20 A autoridade assegurará no inquérito o existe em determinadas cidades e no DF na qual o
sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido delegado de polícia exerce suas funções (equivale à
pelo interesse da sociedade. competência do juiz).
Parágrafo único. Nos atestados de antecedentes O art. 22 autoriza que um delegado que preside
que lhe forem solicitados, a autoridade policial não um IP ou seus policiais subordinados ingressem na
poderá mencionar quaisquer anotações referentes circunscrição de outra autoridade policial para efe-
a instauração de inquérito contra os requerentes. tuar diligências, sem que haja necessidade de expedir
ofícios ou requisições para a realização do ato.
O inquérito é sigiloso, conforme indica o art. 20,
do CPP. Isso significa que o acesso aos autos do IP COMUNICAÇÃO AO INSTITUTO DE IDENTIFICAÇÃO
não é livre a qualquer pessoa do povo, nem mesmo E ESTATÍSTICA
ao indiciado, pessoalmente. No entanto, tal restrição
não se aplica ao advogado, tendo em vista o que o Art. 23 Ao fazer a remessa dos autos do inquérito
inciso XIV, art. 7º, da Lei nº 8.906, de 1994 (Estatuto da ao juiz competente, a autoridade policial oficiará
Advocacia), estabelece que: ao Instituto de Identificação e Estatística, ou
repartição congênere, mencionando o juízo a que
Art. 7º (Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994) São tiverem sido distribuídos, e os dados relativos à
direitos do advogado: infração penal e à pessoa do indiciado. 301
Atualmente, por conta da informatização, tais dados A ação penal privada pode ser exclusiva, quando a
são lançados em sistemas e acessados diretamente pelos iniciativa é da vítima ou de seu representante, caso seja
institutos de identificação e estatística. Em cada Estado, o incapaz ou menor. No caso de falecimento da vítima,
instituto tem uma nomenclatura diferente; em São Pau- a ação pode ser proposta por seus sucessores, ou seja
lo, por exemplo, é o Instituto de Identificação Ricardo , pelo cônjuge/companheiro, ascendente, descendente
Gumbleton Daunt o responsável por concentrar todas ou irmão (caso a ação já esteja em curso, essas pessoas
as informações criminais sobre qualquer indivíduo. prosseguem na ação no lugar da pessoa falecida).
A ação penal privada pode ser, ainda, personalís-
sima, quando somente pode ser proposta pela vítima
(se ela for menor, espera-se a maioridade; se for inca-
AÇÃO PENAL paz, aguarda-se o eventual restabelecimento, e, em
caso de morte, não há possibilidade de sucessão).
O Título III, do Código de Processo Penal, dispõe Por fim, a ação privada pode ser subsidiária da
sobre a ação penal, entre os seus arts. 24 a 62. pública, quando, na ação pública, ocorre a inércia do
Vale lembrar que a ação penal também é tratada
MP, hipótese em que a iniciativa passa a ser da vítima.
nos arts. 100 ao 106, do Código Penal, motivo pelo qual
é essencial, para o completo entendimento da presen-
te matéria, o estudo dos mencionados artigos do CP. Condições Gerais da Ação
Resumidamente, entende-se por ação penal o pro-
cedimento judicial iniciado pelo titular da ação, isto é, Independentemente da modalidade de ação, exis-
pelo órgão público (Ministério Público) ou pela vítima, tem condições que devem estar presentes em todas as
quando há indícios de autoria e de materialidade, soli- ações penais. São elas:
citando a prestação jurisdicional que declare proceden-
te a pretensão punitiva e condene o autor da infração.
z Legitimidade de parte;
z Interesse de agir;
NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
z Possibilidade jurídica do pedido.
Conceito de Ação Penal
A legitimidade de parte pode ser entendida como
Conforme aponta a maioria da doutrina processual, a possibilidade de ingressar em juízo para postular ou
o direito de ação penal consiste no direito público sub- defender algum direito. Nesse sentido, se a ação for
jetivo de solicitar ao Estado, que é o detentor do direito pública, a parte legítima para propô-la (legitimidade
e do poder de punir (jus puniendi), que, diante da práti- ativa) é o Ministério Público; se for privada, é o ofen-
ca de uma infração penal, aplique o direito penal em dido ou o seu representante legal.
um caso concreto. Em outras palavras, é o direito que
Por outro lado, podem figurar como acusados
ou o Ministério Público (MP) ou o ofendido (querelante)
possui de provocar o Estado para que aplique as normas (legitimidade passiva) as pessoas físicas maiores de 18
de direito penal em uma situação concreta. anos. Como regra, pessoa jurídica não pode figurar no
polo passivo, uma vez que não comete crime, exceto
Espécies de Ação Penal no caso de crimes ambientais.
Importante: inimputáveis por razão de doença
Para cada infração prevista em lei existe a defini- mental ou causada por dependência química podem
ção de quem é o responsável por desencadear a ação figurar como acusados na ação penal; caso a acusa-
penal. O critério diferenciador da ação pública ou pri- ção seja julgada procedente, tais inimputáveis serão
vada encontra-se no art. 100, do Código Penal.
absolvidos, mas a eles será imposta medida de segu-
A regra é que a ação penal é pública (caput do art.
100, do CP), sendo o MP seu titular. Nos tipos penais, quan- rança ou tratamento médico para dependência.
do a lei silencia (nada fala), quer dizer que ação é pública. O interesse de agir, por sua vez, consiste na existência
O instrumento apresentado pelo Ministério Público ao de indícios suficientes de autoria e de materialidade que
juiz para instaurar a ação penal é a denúncia. Excepcio- possam fundamentar a propositura da ação penal. Além
nalmente, quando a lei expressamente indicar, a ação disso, não deve ter ocorrido a extinção da punibilidade.
é de iniciativa privada (caput do art. 100, do CP), sendo Por fim, a possibilidade jurídica do pedido con-
o ofendido ou seu representante o titular. O instrumento siste na possibilidade de que o pedido de prestação
utilizado para dar início à ação penal de iniciativa priva-
jurisdicional seja admitido no ordenamento jurídico,
da é a queixa-crime (§ 2º, art. 100, do CP).
Nesse sentido, a ação penal é pública quando a como, por exemplo, o pedido de condenação a uma
iniciativa (direito ou poder de obter a manifestação pena prevista em lei ou a aplicação de uma medida
jurisdicional) é exercida exclusivamente por meio do de segurança (não é possível, por exemplo, requerer o
Ministério Público. Dessa forma, havendo indícios banimento do acusado, por ser uma medida não acei-
de autoria e materialidade obtidos durante as inves- ta pelo ordenamento pátrio).
tigações, o MP está obrigado a oferecer a denúncia, Além das condições gerais aplicáveis a todas as ações
que é a peça inicial da ação penal.
penais, existem condições de procedibilidade específi-
A ação penal pública pode ser incondicionada,
quando a propositura da ação não depende de qualquer cas em certas situações, como é o caso da autorização
condição especial (o MP age de ofício) ou condicionada, da Câmara dos Deputados para instauração de processo
quando seu exercício depende da existência prévia da contra o Presidente da República, por exemplo (confor-
representação da vítima ou da requisição do Ministro me determina o inciso I, art. 51, da CF, de 1988).
da Justiça (as chamadas condições de procedibilidade). Apresentado este panorama inicial das modalida-
Por outro lado, a ação é privada quando o autor é des de ação, vamos à análise das regras referentes à
302 a vítima ou seu representante legal. ação penal constantes nos arts. 24 e seguintes, do CPP.
INÍCIO DA AÇÃO PENAL representação do ofendido é uma condição de proce-
dibilidade, isto é, uma condição para que o MP possa
Art. 24 Nos crimes de ação pública, esta será pro- oferecer a denúncia.
movida por denúncia do Ministério Público, mas Importante: a representação é também conhecida
dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do
como delatio criminis postulatória.
Ministro da Justiça, ou de representação do ofendi-
Assim como no caso da requisição, a represen-
do ou de quem tiver qualidade para representá-lo.
§ 1º No caso de morte do ofendido ou quando tação não obriga o Ministério Público a oferecer a
declarado ausente por decisão judicial, o direito denúncia; somente caso entenda que existam provas
de representação passará ao cônjuge, ascenden- é que o promotor oferece a denúncia.
te, descendente ou irmão. A representação não exige formalidade especial,
§ 2º Seja qual for o crime, quando praticado em devendo somente deixar claro, de maneira inequívoca, a
detrimento do patrimônio ou interesse da União, vontade da vítima de ver o ofensor processado (basta que
Estado e Município, a ação penal será pública. conste nos autos que a vítima quer oferecer a represen-
tação). O art. 39, do CPP, que será estudado mais adiante,
Conforme já mencionado anteriormente, no silên- apresenta algumas regras sobre a representação.
cio da lei, a ação penal é pública incondicionada, isto é,
será promovida pelo Ministério Público sem que haja Retratação da Representação
necessidade de manifestação de vontade de terceira
pessoa para seu ajuizamento, mediante a denúncia. Art. 25 A representação será irretratável,
Excepcionalmente, a lei pode exigir prévia manifes- depois de oferecida a denúncia.
tação ou da vítima (como no caso do crime de ameaça,
previsto no art. 147, do CP) ou do Ministro da Justiça (por Pode ocorrer de a vítima ou seu representante,
exemplo, nos crimes contra a honra que tenham como depois de oferecida a representação, não mais que-
vítima o Presidente da República ou chefe de governo rer ver o agente processado (por exemplo, por ser um
estrangeiro, conforme prevê o art. 145, do CP). parente e a pessoa não quer causar mais discórdia na
família). Nos termos do art. 25, do CPP, é permitida a
Dica retratação (manifestação no sentido de não querer
ver a pessoa processada), desde que ocorra antes de o
Quanto ao direito de representação do § 1º, do Ministério Público oferecer a denúncia. Apresentada
art. 24, lembre-se o mnemônico C-A-D-I: a retratação, o MP não pode mais ofertar a denúncia,
Cônjuge desencadeando a ação penal.
Ascendente Uma hipótese que costuma ser cogitada pela dou-
Descendente trina e, vez em quando, aparece em concursos públi-
Irmão cos, é a possibilidade da retratação da retratação
(também chamada de revogação da retratação). Tra-
Além do silêncio da lei, existe outro critério, pre- ta-se da hipótese em que o ofendido, ou seu repre-
visto no § 2º, art. 24, do CPP, que determina que a ação sentante, após retratar-se da representação, muda de
será pública se o delito for cometido em detrimento ideia e resolve oferecer nova representação (nova-
do patrimônio de um dos entes da Federação (União, mente quer ver o ofensor processado). Tal situação,
estados/DF ou municípios). ainda que não prevista na lei, é aceita pela doutrina,
desde que seja feita antes que ocorra a extinção da
Requisição do Ministro da Justiça punibilidade do agente.
A lei nada menciona sobre a possibilidade da
Conforme se nota do teor do art. 2º, do CPP, a requisi- retratação da requisição do Ministro da Justiça; nesse
ção do Ministro da Justiça é uma exigência legal (chama- sentido, há divergência na doutrina, mas parece pre-
da de condição de procedibilidade) para que o Ministério valecer a ideia de que uma vez oferecida, a requisição
Público possa exercer seu direito de ação. A mais conhe- não pode ser revogada.

NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL


cida hipótese de necessidade de requisição, conforme
mencionado, é quando ocorre crime contra a honra do DELATIO CRIMINIS DIRETA AO MINISTÉRIO
Presidente da República ou chefe de governo estrangeiro. PÚBLICO
A requisição do Ministro da Justiça não significa
uma ordem ao Ministério Público. Recebida a requisi- Art. 27 Qualquer pessoa do povo poderá provo-
ção, o MP somente vai oferecer a denúncia se houver car a iniciativa do Ministério Público, nos casos
justa causa (provas suficientes) para o início da ação. em que caiba a ação pública, fornecendo-lhe, por
A lei não estabelece um prazo para que o Minis- escrito, informações sobre o fato e a autoria e indi-
tro da Justiça apresente a requisição. Assim sendo, cando o tempo, o lugar e os elementos de convicção.
enquanto não ocorrer a extinção da punibilidade do
agente, o Ministro da Justiça pode realizar a requisição. Assim como qualquer pessoa do povo pode procu-
rar a autoridade policial e dar ciência da ocorrência
Representação do Ofendido de um delito, qualquer pessoa pode também encami-
nhar ao MP uma petição na qual requer providências
A representação do ofendido consiste na manifes- e apresenta elementos para formar o convencimento
tação de vontade da vítima ou de seu representante do promotor para que este requisite a instauração de
legal informando da ocorrência de um crime e, tam- inquérito policial, ofereça diretamente a denúncia ou,
bém, de pedido de providências para que o Minis- caso entenda que não existe uma infração ou que não
tério Público ingresse com a ação penal. Da mesma hajam indícios de autoria, requeira o arquivamento,
forma que na requisição do Ministro da Justiça, a nos termos do art. 28, do CPP. 303
ARQUIVAMENTO

Tratando-se de crime de ação penal pública, uma vez recebidos os autos do inquérito policial, o Ministério
Público pode agir de várias formas. Dentre elas, o MP pode oferecer a denúncia, caso entenda que se encontram
presentes os elementos para dar origem à ação penal. Pode, por outro lado, requerer a devolução do inquérito
policial (IP) à autoridade policial para a realização de novas diligências necessárias ao oferecimento da denúncia.
Também pode, conforme será estudado mais adiante, formalizar acordo de não persecução penal. E, caso entenda
que o juízo perante o qual atua não é o competente para o julgamento do feito, o MP pode declinar de sua compe-
tência, requerendo ao juiz que remeta os autos ao juiz competente.
Além das medidas citadas, o MP pode determinar o arquivamento do IP quando se encontrar diante de uma
das seguintes hipóteses:

z Ausência de pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal (por exemplo, quando a
vítima retira a representação que havia feito);
z Falta de justa causa para o exercício da ação penal (por exemplo, quando não há informações sobre a autoria
do fato);
z Atipicidade do fato (quando o fato, de forma evidente, não constitui crime);
z Certeza da existência de excludente de ilicitude (como um caso claro de legítima defesa);
z Existência clara de excludente de culpabilidade, exceto se tratar-se de hipótese de inimputabilidade (o inim-
putável previsto no art. 26, do CP, deve ser denunciado a fim de que, ao final do processo, por meio de sentença
absolutória imprópria, seja imposta a ele medida de segurança);
z Causa extintiva da punibilidade (como a morte do agente);
z Cumprimento do acordo de não persecução penal (conforme art. 28-A, do CPP).

Deste modo, podemos resumir as hipóteses de arquivamento do IP da seguinte forma:

Ausência de justa causa

Ausência de pressuposto processual ou condição para o


exercício da ação penal

Atipicidade do fato
ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO
POLICIAL
Excludente de ilicitude

Excludente de culpabilidade Exceto inimputáveis

Extinção da punibilidade

Presente qualquer das hipóteses mencionadas, o procedimento a ser seguido é o que consta no art. 28, do CPP,
e que foi recentemente alterado de forma substancial pela Lei nº 13.964, de 2019, conhecida por Lei Anticrime.
Vale conferir as diferenças entre a antiga e a nova redação do art. 28, do CPP, conforme consta no quadro a
seguir.

REDAÇÃO APÓS AS ALTERAÇÕES TRAZIDAS PELA LEI


REDAÇÃO ANTERIOR À MODIFICAÇÃO
ANTICRIME

Art. 28 Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar Art. 28 Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de
a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer elementos informativos da mesma natureza, o órgão
quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar im- do Ministério Público comunicará à vítima, ao investigado e à
procedentes as razões invocadas, fará remessa do inquérito ou autoridade policial e encaminhará os autos para a instância de
peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a de- revisão ministerial para fins de homologação, na forma da lei.
núncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferece- § 1º Se a vítima, ou seu representante legal, não concordar com
-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o arquivamento do inquérito policial, poderá, no prazo de 30 (trin-
o juiz obrigado a atender ta) dias do recebimento da comunicação, submeter a matéria à
revisão da instância competente do órgão ministerial, conforme
dispuser a respectiva lei orgânica.
§ 2º Nas ações penais relativas a crimes praticados em detrimen-
to da União, Estados e Municípios, a revisão do arquivamento do
inquérito policial poderá ser provocada pela chefia do órgão a
quem couber a sua representação judicial

A grande mudança trazida pela Lei nº 13.964, de 2019, nas regras relativas ao arquivamento do inquérito
policial, é que deixa de haver qualquer tipo de controle judicial sobre o arquivamento apresentado pelo MP.
304 O controle total sobre o arquivamento passa a ser do Ministério Público.
§ 4º Para a homologação do acordo de não perse-
Importante! cução penal, será realizada audiência na qual o juiz
deverá verificar a sua voluntariedade, por meio da
Tendo em vista concessão de liminar STF na ADI
oitiva do investigado na presença do seu defensor, e
6305/DF, a alteração feita no art. 28 referente ao sua legalidade.
arquivamento do inquérito policial encontra-se § 5º Se o juiz considerar inadequadas, insuficientes ou
suspensa. Dessa forma, a redação revogada do abusivas as condições dispostas no acordo de não per-
art. 28 permanece em vigor enquanto vigorar a secução penal, devolverá os autos ao Ministério Públi-
decisão do Ministro Luiz Fux. co para que seja reformulada a proposta de acordo,
com concordância do investigado e seu defensor.
§ 6º Homologado judicialmente o acordo de não per-
ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL secução penal, o juiz devolverá os autos ao Ministério
Público para que inicie sua execução perante o juízo
Uma grande novidade introduzida no CPP pela Lei de execução penal.
nº 13.964, de 2019 (Lei Anticrime), foi a previsão do § 7º O juiz poderá recusar homologação à proposta
acordo de não persecução penal, introduzido no art. que não atender aos requisitos legais ou quando não
28-A, do CPP: for realizada a adequação a que se refere o § 5º deste
artigo.
Art. 28-A Não sendo caso de arquivamento e tendo § 8º Recusada a homologação, o juiz devolverá os
o investigado confessado formal e circunstancial- autos ao Ministério Público para a análise da necessi-
mente a prática de infração penal sem violência dade de complementação das investigações ou o ofere-
ou grave ameaça e com pena mínima inferior a cimento da denúncia.
4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá propor § 9º A vítima será intimada da homologação do acor-
acordo de não persecução penal, desde que necessá- do de não persecução penal e de seu descumprimento.
rio e suficiente para reprovação e prevenção do § 10 Descumpridas quaisquer das condições estipula-
crime, mediante as seguintes condições ajustadas das no acordo de não persecução penal, o Ministério
cumulativa e alternativamente: Público deverá comunicar ao juízo, para fins de sua
I - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto rescisão e posterior oferecimento de denúncia.
na impossibilidade de fazê-lo; § 11 O descumprimento do acordo de não persecução
II - renunciar voluntariamente a bens e direitos indica- penal pelo investigado também poderá ser utiliza-
dos pelo Ministério Público como instrumentos, pro- do pelo Ministério Público como justificativa para o
duto ou proveito do crime; eventual não oferecimento de suspensão condicional
III - prestar serviço à comunidade ou a entidades do processo.
públicas por período correspondente à pena mínima § 12 A celebração e o cumprimento do acordo de
cominada ao delito diminuída de um a dois terços, em não persecução penal não constarão de certidão
local a ser indicado pelo juízo da execução, na forma de antecedentes criminais, exceto para os fins pre-
do art. 46 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de vistos no inciso III do § 2º deste artigo.
1940 (Código Penal); § 13 Cumprido integralmente o acordo de não per-
IV - pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos secução penal, o juízo competente decretará a extin-
termos do art. 45 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de ção de punibilidade.
dezembro de 1940 (Código Penal), a entidade públi- § 14 No caso de recusa, por parte do Ministério Públi-
ca ou de interesse social, a ser indicada pelo juízo da co, em propor o acordo de não persecução penal, o
execução, que tenha, preferencialmente, como função investigado poderá requerer a remessa dos autos a
proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos órgão superior, na forma do art. 28 deste Código.
aparentemente lesados pelo delito; ou
V - cumprir, por prazo determinado, outra condição O acordo de não persecução penal consiste em um
indicada pelo Ministério Público, desde que proporcio- negócio jurídico (acordo) realizado extrajudicialmen-
nal e compatível com a infração penal imputada. te entre o Ministério Público e o infrator (acompanha-
§ 1º Para aferição da pena mínima cominada ao delito do por seu defensor) que confessa de modo formal e

NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL


a que se refere o caput deste artigo, serão considera- apresentando as circunstâncias da prática do delito
das as causas de aumento e diminuição aplicáveis ao e, para não ser processado, sujeita-se a uma série de
caso concreto. condições previstas nos incisos do art. 28-A (o indiví-
§ 2º O disposto no caput deste artigo não se aplica duo compromete-se a cumprir as condições que não
nas seguintes hipóteses: implicam no cerceamento da liberdade e, em troca, o
I - se for cabível transação penal de competência dos MP não oferece a denúncia).
Juizados Especiais Criminais, nos termos da lei; Embora realizado extrajudicialmente, deve ser
II - se o investigado for reincidente ou se houver ele- homologado pelo juiz (§ 4º, art. 28-A). Caso o sujeito
mentos probatórios que indiquem conduta criminal cumpra integralmente as condições impostas, sua puni-
habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignifi- bilidade está extinta; caso negativo, o MP comunica o
cantes as infrações penais pretéritas; juízo para que seja rescindido o acordo e, em seguida,
III - ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos oferece a denúncia. Trata-se, portanto, de uma exceção
anteriores ao cometimento da infração, em acordo de ao princípio da obrigatoriedade da ação penal públi-
não persecução penal, transação penal ou suspensão ca (segundo o qual o MP, estando diante de indícios de
condicional do processo; e autoria e materialidade, deve oferecer a denúncia).
IV - nos crimes praticados no âmbito de violência Um aspecto interessante acerca do acordo de não
doméstica ou familiar, ou praticados contra a mulher persecução penal é que, uma vez aceito e cumprido,
por razões da condição de sexo feminino, em favor do não gera reflexos na culpabilidade do sujeito, não
agressor podendo sequer constar na certidão de antecedentes
§ 3º O acordo de não persecução penal será formaliza- criminais da pessoa, exceto para impedir que novo
do por escrito e será firmado pelo membro do Ministé- acordo seja realizado dentro do prazo de 5 anos (con-
rio Público, pelo investigado e por seu defensor. forme determina o § 12, art. 28-A, do CPP). 305
O esquema a seguir reúne os requisitos para que do promotor de justiça. É a chamada ação privada sub-
seja possível celebrar o acordo de não persecução penal: sidiária da pública, que tem previsão constitucional no
inciso LIX, art. 5º, da CF, e no § 3º, art. 100, do CP.
Trata-se de uma garantia de que, na falta de ação
REQUISITOS
do MP, o ofendido ou o seu representante possa bus-
car seus interesses e ver punidos os infratores.
Cometida sem Mesmo que ajuizada a ação penal subsidiária, o
Não ser o caso
violência ou Ministério Público pode intervir em vários atos do
de arquivamento
grave ameaça
processo e, nas situações previstas em lei, retornar
sua titularidade.
Infração com pena Confissão formal e De acordo com o inciso LIX, art. 5º, da Constituição
mínima inferior a 4 circunstancialmente e a
anos prática da infração Federal, em caso de inércia do MP, o ofendido pode
oferecer ação penal privada subsidiária da pública,
no prazo de 6 meses, contados do termo final do pra-
Vale mencionar as condições a que fica obrigado o
zo para oferecimento da denúncia. Após o prazo de
sujeito, que podem ser aplicadas de forma cumulati-
6 meses, cessa a possibilidade de queixa subsidiária,
va ou alternativa:
mas o MP ainda poderá oferecer a denúncia enquanto
não extinta a punibilidade.
z Reparar o dano ou restituir a coisa à vitima (sal-
vo impossibilidade de fazê-lo tendo em vista não
ter, por exemplo, condições financeiras); AÇÃO PENAL PRIVADA
z Renunciar bens e direitos, como instrumentos,
produto ou proveito do crime; Art. 30 Ao ofendido ou a quem tenha qualidade para
z Prestar serviços comunitários ou a entidades representá-lo caberá intentar a ação privada.
públicas;
z Pagar prestação pecuniária a entidade pública ou A legitimidade para a propositura da ação penal
de interesse social; privada pertence ao ofendido ou a quem legalmente
z Cumprir, por prazo determinado, outras con- o represente (por exemplo, no caso de o ofendido ser
dições impostas pelo MP, tais como compro- menor de 18 anos ou mentalmente enfermo).
var mensalmente o exercício de atividade lícita Ao contrário do que ocorre com a ação penal pública,
e o dever de não mudar de endereço sem prévia na qual vige o princípio da obrigatoriedade (isto é, o MP
comunicação. tem o dever de ajuizar a ação contra aquele que infrin-
ge a lei), na ação penal privada, aplica-se o princípio da
Por sua vez, o § 2º, art. 28-A, do CPP, elenca 4 hipóte- oportunidade, ou seja, o particular tem a faculdade de
ses em que não é permitida a realização do acordo: ingressar com a ação penal contra o agressor (é a vítima
quem decide se apresenta a queixa-crime ou não).
z Se for cabível a transação penal prevista na Lei Os princípios da ação penal privada são:
nº 9.099, de 1995, de competência dos Juizados
Especiais Criminais; z Oportunidade: o ofendido tem discricionariedade
z Se o investigado for reincidente ou se houver ele- para iniciar ou não a ação penal;
mentos probatórios que indiquem conduta crimi- z Disponibilidade: o ofendido pode desistir da ação
nal habitual, reiterada ou profissional, exceto
penal, bem como de eventual recurso;
se insignificantes as infrações anteriores;
z Indivisibilidade: a queixa-crime contra qualquer
z Se o sujeito foi beneficiado nos 5 anos anteriores
dos autores do crime obrigará ao processo de
ao cometimento do crime com outro acordo de
não persecução ou por transação penal ou sus- todos, e o MP zelará pela indivisibilidade;
pensão condicional do processo; z Intranscendência: a ação penal somente pode
z Nos crimes praticados no âmbito de violência ser ajuizada contra os responsáveis pela infração
doméstica ou familiar, ou praticados contra a penal, não abrangendo sucessores, nem responsá-
mulher por razões da condição de sexo femini- veis civis.
no, em favor do agressor.
Art. 31 No caso de morte do ofendido ou quando
AÇÃO PENAL SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA declarado ausente por decisão judicial, o direito de
oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao
Art. 29 Será admitida ação privada nos crimes cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.
de ação pública, se esta não for intentada no
prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar Em caso de falecimento do ofendido, lembre-se do
a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substituti- mnemônico CADI (Cônjuge, Ascendente, Descendente,
va, intervir em todos os termos do processo, forne- Irmão). Caso compareça mais de uma pessoa com o direi-
cer elementos de prova, interpor recurso e, a todo to de queixa, o cônjuge terá direito de preferência, e, após
tempo, no caso de negligência do querelante, reto-
este, sequencialmente os demais do art. 31, do CPP.
mar a ação como parte principal.
Cabe ressaltar que o entendimento majoritário é
Pode ocorrer de que, na ação penal pública, o MP de que se estende a legitimidade ativa do cônjuge ao
deixe de oferecer a denúncia no prazo legal. Nessa companheiro ou companheira, desde que comprova-
situação, em que há inércia do Parquet (como é conhe- da a existência de união estável. Vale mencionar que o
cido o Ministério Público), passa a ser permitido que a cônjuge pode até mesmo estar separado judicialmen-
306 vítima ou seu representante ajuízem a ação no lugar te (ainda não divorciado).
Assistência Jurídica Gratuita às Pessoas com O art. 36, do CPP, traz regra sobre a ordem de legi-
Insuficiência de Recursos timidade para apresentar queixa; a norma dispõe no
mesmo sentido da ordem para representar que consta
Art. 32 Nos crimes de ação privada, o juiz, a reque- no § 1º, art. 24, do CPP.
rimento da parte que comprovar a sua pobreza,
nomeará advogado para promover a ação penal. EXERCÍCIO DA AÇÃO PENAL
§ 1º Considerar-se-á pobre a pessoa que não puder
prover às despesas do processo, sem privar-se dos
Art. 37 As fundações, associações ou sociedades
recursos indispensáveis ao próprio sustento ou da
legalmente constituídas poderão exercer a ação
família.
penal, devendo ser representadas por quem os
§ 2º Será prova suficiente de pobreza o atestado da
respectivos contratos ou estatutos designarem
autoridade policial em cuja circunscrição residir o ou, no silêncio destes, pelos seus diretores ou
ofendido. sócios-gerentes.

O art. 32, do CPP, fundamenta-se no que prevê o As fundações, associações ou sociedades legal-
inciso LXXIV, art. 5º, da CF, que garante a prestação de mente constituídas podem propor ação penal priva-
assistência jurídica integral e gratuita às pessoas que da; quem oferece a queixa-crime são os indivíduos
comprovarem insuficiência de recursos. designados em seus atos constitutivos (por exemplo,
o chefe do setor jurídico). Caso não exista previsão
Vítima Incapaz nos contratos ou estatutos, a função de representação
recai sobre os diretores ou sócios-gerentes.
Art. 33 Se o ofendido for menor de 18 anos, ou men-
talmente enfermo, ou retardado mental, e não tiver DECADÊNCIA
representante legal, ou colidirem os interesses des-
te com os daquele, o direito de queixa poderá ser
A decadência consiste na perda do direito de ação
exercido por curador especial, nomeado, de ofício
ou do direito de representação quando não são exer-
ou a requerimento do Ministério Público, pelo juiz
cidos dentro do prazo legal. A decadência é prevista
competente para o processo penal.
no inciso IV, art. 107, do Código Penal, como uma das
causas que extinguem a punibilidade. O CPP, por sua
Nem sempre a vítima menor de 18 anos ou mental-
vez, dispõe:
mente enferma ou retardada tem quem a represente
ou, caso tenha, pode ser que seus interesses colidam
Art. 38 Salvo disposição em contrário, o ofendi-
com os seus representantes (por exemplo, quando
do, ou seu representante legal, decairá no direito
o agressor é um familiar e o representante legal da de queixa ou de representação, se não o exercer
vítima se recusa a defender os interesses do incapaz). dentro do prazo de seis meses, contado do dia
Nesses casos, o juiz, de ofício ou a pedido do MP, pode em que vier a saber quem é o autor do crime,
nomear um curador especial (muitas vezes, um outro ou, no caso do art. 29, do dia em que se esgotar o
parente ou um advogado de confiança do juízo) para prazo para o oferecimento da denúncia.
que represente a vítima incapaz (pode ser qualquer Parágrafo único. Verificar-se-á a decadência do direi-
pessoa, desde que maior de 18 anos). to de queixa ou representação, dentro do mesmo pra-
zo, nos casos dos arts. 24, parágrafo único, e 31.
Titularidade do Direito de Queixa — Direito
Concorrente do Menor de 21 Anos A regra geral do prazo decadencial que consta no
art. 38, do CPP, é a mesma prevista no art. 103, do CP,
Art. 34 Se o ofendido for menor de 21 e maior de 18 ou seja, 6 meses para que o ofendido ou seu repre-
anos, o direito de queixa poderá ser exercido por ele sentante exerça o direito de queixa (na ação privada)
ou por seu representante legal. ou de representação (na ação pública condicionada à
representação). O prazo começa a contar:

NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL


Antes da edição do Código Civil de 2002, quando
a maioridade civil somente era obtida aos 21 anos, z A partir do dia em que se venha a conhecer quem
a pessoa entre 18 e 21 poderia exercer o direito de foi o autor do crime, no caso da ação privada e no
queixa ou representação sozinha ou por meio de seu caso da ação pública condicionada;
representante legal. Atualmente, como a pessoa maior z No dia em que se esgota o prazo para o MP ofere-
de 18 é plenamente capaz para todos os atos da vida cer a denúncia e este fica inerte, no caso da ação
civil, o art. 34, do CPP, deixou de ter aplicação. pública subsidiária da pública.
Para prosseguirmos, é importante também men-
cionar que o art. 35, do CPP, foi revogado pela Lei nº Existem algumas exceções com prazos diferente da
9.520, de 1997. regra fixada no art. 38, do CPP. Por exemplo, no crime
de induzimento a erro essencial e ocultação de impe-
Direito de Queixa ou de Representação — dimento, que consiste em enganar o cônjuge, ocultan-
Legitimidade Sucessiva do fatos ou omitindo impedimentos ao casamento, o
prazo decadencial de 6 meses começa a contar da data
Art. 36 Se comparecer mais de uma pessoa com do trânsito em julgado da sentença que, motivada pelo
direito de queixa, terá preferência o cônjuge, e, em erro ou impedimento, anulou o casamento (parágrafo
seguida, o parente mais próximo na ordem de enu- único, art. 236, do CP).
meração constante do art. 31, podendo, entretanto, O prazo decadencial é contado conforme a regra
qualquer delas prosseguir na ação, caso o quere- prevista no art. 10, do CP, ou seja, inclui o dia do iní-
lante desista da instância ou a abandone. cio e exclui o dia do final. 307
Para entender melhor como funciona a contagem DEVER DE COMUNICAÇÃO
do prazo decadencial, veja o seguinte exemplo: imagi-
ne que a vítima sofreu uma injúria no dia 10/01/2022, Art. 40 Quando, em autos ou papéis de que conhe-
cerem, os juízes ou tribunais verificarem a exis-
mas somente tomou conhecimento de quem foi o
tência de crime de ação pública, remeterão ao
autor do crime em 12/01/2022; neste caso, o prazo de
Ministério Público as cópias e os documentos
6 meses começa a contar no dia 12/01/22 e encerra-se necessários ao oferecimento da denúncia.
dia 11/07/2022.
É importante ressaltar que o prazo decadencial de O art. 40, do CPP, cuida do dever que os juízes têm de
6 meses independe do número de dias de cada mês, comunicar o MP caso tomem ciência de infrações que
sendo contado pelo número de meses. se procedem mediante ação penal pública. Neste caso,
se existirem documentos relacionados que sirvam de
REPRESENTAÇÃO prova, devem ser enviados ao Ministério Público.

Art. 39 O direito de representação poderá ser DENÚNCIA OU QUEIXA


exercido, pessoalmente ou por procurador com
poderes especiais, mediante declaração, escrita Art. 41 A denúncia ou queixa conterá a expo-
ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério Públi- sição do fato criminoso, com todas as suas
co, ou à autoridade policial. circunstâncias, a qualificação do acusado ou
§ 1º A representação feita oralmente ou por escri- esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo,
to, sem assinatura devidamente autenticada do a classificação do crime e, quando necessário, o
ofendido, de seu representante legal ou procurador, rol das testemunhas.
será reduzida a termo, perante o juiz ou autorida-
de policial, presente o órgão do Ministério Público, A denúncia é a petição inicial, formulada pelo
quando a este houver sido dirigida. Ministério Público, que contém a acusação contra o
§ 2º A representação conterá todas as informações agente que praticou fato criminoso, no caso dos cri-
que possam servir à apuração do fato e da autoria. mes que se procedem mediante ação penal pública.
§ 3º Oferecida ou reduzida a termo a representa- A queixa, por sua vez, é a petição inicial, formu-
ção, a autoridade policial procederá a inquérito, lada pelo advogado do ofendido ou de seu represen-
ou, não sendo competente, remetê-lo-á à autorida- tante, contra o agente que praticou o fato delituoso,
de que o for. no caso dos crimes que se procedem mediante ação
§ 4º A representação, quando feita ao juiz ou peran- penal privada.
te este reduzida a termo, será remetida à autorida- Tanto a denúncia quanto a queixa (ambas também
de policial para que esta proceda a inquérito. são chamadas, dentre outros nomes, de peça acusa-
§ 5º O órgão do Ministério Público dispensará o tória ou de exordial acusatória) são, portanto, os atos
inquérito, se com a representação forem ofereci- que formalizam a acusação.
dos elementos que o habilitem a promover a ação
De acordo com o art. 41, a peça acusatória deve
penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo
conter exposição do fato criminoso, com todas as
de quinze dias.
suas circunstâncias; não pode, portanto, ser genérica,
vaga ou imprecisa. Nesse sentido, veja dois julgados
Conforme já visto anteriormente, a representação que ilustram a necessidade de expor todas as circuns-
consiste na manifestação da vítima ou de seu repre- tâncias do fato criminoso:
sentante consentindo que o MP proceda com o ajui-
zamento da ação penal. Lembre-se: a representação Desacato. É inepta a peça acusatória que apenas
somente é necessária quando a lei exige, como no caso afirma que o acusado proferiu vários impropérios
do já citado crime de ameaça (art. 147, do CP), no furto contra policial rodoviário federal, sem, contudo,
de coisa comum (art. 156, do CP) e no dano qualifica- especificá-los. Há necessidade da descrição das
do por motivo egoístico ou com prejuízo considerável ofensas irrogadas à vítima de forma expressa e cla-
para a vítima (conforme previsão que consta no art. ra (TJRO: RT 786/737).
167, do CP), entre outros.
A representação poderá ser exercida pessoalmen- Estelionato. É inepta a denúncia em que se aventa
te ou por procurador com poderes especiais. hipótese de estelionato mas a vantagem patrimo-
nial não é indicada. Há ausência de requisito do
Nos termos do art. 39, do CPP, não há forma defi-
tipo (JTJ 170/336).
nida para a representação , podendo ser feita por
escrito ou oralmente, sendo reduzida a termo, caso
A denúncia ou a queixa devem, também, identifi-
necessário (§ 1º, art. 39, do CPP).
car a pessoa a quem se imputa o fato criminoso.
Reduzir a termo significa transformar tudo que A peça acusatória, ao final, declara os artigos nos
foi expresso de forma oral em um documento escrito quais se inserem os fatos narrados; é o que se denomi-
e assinado. na classificação ou capitulação. No entanto, o réu, ao
A falta das informações às quais se refere o § 2º, se defender, faz isso com base nos fatos alegados e não
art. 39, (todas as informações que possam servir à apu- com base na tipificação feita.
ração do fato e de sua autoria) não invalidada a repre- Por fim, a lista de testemunhas é facultativa e não
sentação (a representação pode, portanto, ser feita é motivo para a rejeição da denúncia ou da queixa.
sem tais dados).
O titular da representação, ou seja, a vítima ou seu Princípio da Indisponibilidade
representante legal, podem dirigi-la diretamente ao
delegado de polícia, ao Ministério Público ou ao juiz Art. 42 O Ministério Público não poderá desis-
308 (caput do art. 39, do CPP). tir da ação penal.
Uma vez ajuizada a ação penal pública, não cabe A redação do art. 46, do CPP, peca ao mencionar
mais a desistência por parte do Ministério Público. a expressão “réu” onde, na verdade, deveria constar
“indiciado”, uma vez que a figura do réu ou acusado só
Art. 43 (Revogado pela Lei nº 11.719, de 2008).
aparece depois que a peça inicial é recebida pelo juiz.
Vale memorizar os prazos que constam no art. 46:
O conteúdo do art. 43, do CPP, foi transferido para
o art. 395.
PRAZO PARA
OFERECIMENTO DA
Procurador com Poderes Especiais DENÚNCIA

Art. 44 A queixa poderá ser dada por procura-


dor com poderes especiais, devendo constar do
Preso: 5 dias a contar do Solto ou afiançado:
instrumento do mandato o nome do querelante e a recebimento do IP 15 dias
menção do fato criminoso, salvo quando tais escla-
recimentos dependerem de diligências que devem
ser previamente requeridas no juízo criminal. Segundo o § 2º, art. 46, a queixa pode ser aditada
no prazo de 3 dias, a contar da data de recebimento
A queixa pode ser oferecida por procurador com
dos autos.
poderes especiais; a maior parte da doutrina enten-
de que o termo procurador se refere ao advogado do
querelante, já outra parte da doutrina entende que DILIGÊNCIAS COMPLEMENTARES DO MINISTÉRIO
o procurador pode ser qualquer pessoa, desde que PÚBLICO
maior e capaz.
Querelante é a pessoa que move a ação penal pri- Art. 47 Se o Ministério Público julgar necessários
vada contra a pessoa que praticou o delito (este, por maiores esclarecimentos e documentos complemen-
sua vez, é chamado de querelado). tares ou novos elementos de convicção, deverá requi-
Já um procurador com poderes especiais é uma sitá-los, diretamente, de quaisquer autoridades ou
pessoa maior, capaz, a quem foi dada uma procura- funcionários que devam ou possam fornecê-los.
ção que menciona especificamente determinadas
ações que podem ser tomadas em nome do outorgante O MP pode, diretamente, sem a intermediação
(quem passa os poderes). do juiz, requisitar esclarecimentos, documentos ou
outros elementos de prova, desde que, claro, dentro
ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA AÇÃO
do que permite a lei e fundamentado na necessidade.
PENAL PRIVADA

Art. 45 A queixa, ainda quando a ação penal for


PRINCÍPIO DA INDIVISIBILIDADE DO PROCESSO
privativa do ofendido, poderá ser aditada pelo PENAL
Ministério Público, a quem caberá intervir em
todos os termos subsequentes do processo. Art. 48 A queixa contra qualquer dos autores
do crime obrigará ao processo de todos, e o
Muito embora o Ministério Público não seja parte Ministério Público velará pela sua indivisibilidade.
na ação penal privada, ele age como fiscal da lei, zelan-
do pela legalidade processual. Deste modo, possíveis Uma vez iniciado o processo contra um dos auto-
deficiências apresentadas na queixa-crime podem ser res do crime, os demais autores devem integrar o polo
supridas por meio do aditamento feito pelo MP. passivo da ação penal.

NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL


PRAZOS PARA OFERECIMENTO DA DENÚNCIA
RENÚNCIA AO DIREITO DE QUEIXA
Art. 46 O prazo para oferecimento da denún-
cia, estando o réu preso, será de 5 dias, contado Art. 49 A renúncia ao exercício do direito de
da data em que o órgão do Ministério Público rece- queixa, em relação a um dos autores do crime, a
ber os autos do inquérito policial, e de 15 dias, se todos se estenderá.
o réu estiver solto ou afiançado. No último caso,
se houver devolução do inquérito à autoridade poli- A renúncia consiste na manifestação de vontade,
cial (art. 16), contar-se-á o prazo da data em que o por parte do ofendido, em desistir de exercer seu direito
órgão do Ministério Público receber novamente os
de ação e não querer ver o autor do delito processado.
autos.
§ 1º Quando o Ministério Público dispensar o inqué- De acordo com o art. 104, do CP, uma vez que o titular
rito policial, o prazo para o oferecimento da denún- exerce a renúncia, o direito de queixa não pode mais ser
cia contar-se-á da data em que tiver recebido as exercido (extingue a punibilidade do autor da infração,
peças de informações ou a representação conforme determina o inciso V, art. 107, do CP).
§ 2º O prazo para o aditamento da queixa será A renúncia é ato unilateral, não precisa ser acei-
de 3 dias, contado da data em que o órgão do
to pelo autor da infração, e o momento de sua realiza-
Ministério Público receber os autos, e, se este não
se pronunciar dentro do tríduo, entender-se-á que ção deve ocorrer antes do início da ação penal.
não tem o que aditar, prosseguindo-se nos demais No caso de concurso de agentes, a renúncia em
termos do processo. relação a um estende os efeitos aos demais autores. 309
Renúncia Expressa mental que tenha representante legal, mas que divirja
do pensamento dele (um quer aceitar e outro, não). A
Art. 50 A renúncia expressa constará de declara- nomeação desse curador será realizada pelo Juiz.
ção assinada pelo ofendido, por seu representante
legal ou procurador com poderes especiais.
Perdão ao Querelado Menor de 21 Anos
Parágrafo único. A renúncia do representante legal
do menor que houver completado 18 (dezoito) anos
Art. 54 Se o querelado for menor de 21 anos, obser-
não privará este do direito de queixa, nem a renún-
var-se-á, quanto à aceitação do perdão, o disposto
cia do último excluirá o direito do primeiro.
no art. 52.
A renúncia pode ser tácita ou expressa. Para que
O art. 54, do CPP, prevê que se o querelado for
seja válida, a renúncia expressa deve constar em
menor de 21, também a ele será nomeado curador,
declaração assinada pelo ofendido, por seu represen-
nos mesmos moldes que se aplica ao mentalmente
tante legal ou procurador com poderes especiais.
enfermo e ao retardado mental (art. 52, do CPP).
No entanto, a maior parte da doutrina entende
PERDÃO DO OFENDIDO
que, com o advento no Código Civil de 2002, que reco-
nhece a capacidade plena ao maior de 18 anos, o art.
Art. 51 O perdão concedido a um dos querelados
54, do CPP, deixou de ter aplicação.
aproveitará a todos, sem que produza, todavia,
efeito em relação ao que o recusar.
Aceite do Perdão por Procurador
O perdão do ofendido consiste na desistência em
Art. 55 O perdão poderá ser aceito por procurador
prosseguir com ação privada já ajuizada.
com poderes especiais.
Diferentemente da renúncia, o perdão é ato bila-
teral, isto é, somente vai surtir efeitos se o querelado
O perdão pode ser aceito pelo ofendido, por seu
assim concordar (a pessoa acusada tem o direito de ser
representante legal e, também, por procurador com
processada com a finalidade de provar sua inocência).
poderes especiais.

Importante! Perdão Extraprocessual no Curso da Ação Penal

O perdão do ofendido somente é cabível nas Art. 56 Aplicar-se-á ao perdão extraprocessual


ações privadas exclusivas, que dizem respeito expresso o disposto no art. 50.
aos crimes que se procedem mediante queixa-
-crime. Não cabe no caso da ação privada subsi- Além do perdão processual, que foi mencionado
diária da pública. anteriormente, existe a possibilidade de se realizar o
perdão fora do âmbito da ação penal. Para que ele sur-
ta efeitos na ação, deve seguir as mesmas regras pre-
Nos termos do art. 51, do CPP, o perdão do ofendido vistas para a renúncia expressa (art. 50, do CPP), ou
é indivisível (por força do princípio da indivisibilida- seja, constará de declaração assinada pelo ofendido,
de da ação penal) de modo que o perdão concedido a por seu representante legal ou por procurador com
um dos querelados a todos se aproveita, exceto, con- poderes especiais.
forme já mencionado, em relação àquele que recusar.
Renúncia e Perdão Tácitos
Perdão por Maiores de 18 e Menores de 21 Anos
Art. 57 A renúncia tácita e o perdão tácito admiti-
Art. 52 Se o querelante for menor de 21 e maior rão todos os meios de prova.
de 18 anos, o direito de perdão poderá ser exercido
por ele ou por seu representante legal, mas o per- Conforme já mencionado, tanto a renúncia quanto
dão concedido por um, havendo oposição do outro, o perdão podem ser tácitos, ou seja, não formalmente
não produzirá efeito. expressos (na renúncia tácita, o titular da ação com-
porta-se de forma incompatível com a vontade de
O art. 52, do CPP, deixou de ter aplicação tendo em ajuizar a demanda; da mesma forma, no perdão táci-
vista que a maioridade civil passou a acontecer com to, o titular pratica ato que não é compatível com a
18 anos, por força do Código Civil de 2002. vontade de prosseguir na ação). Como não são feitos
de modo formal, o art. 57 prevê que a renúncia e o
Curador para Fins de Perdão perdão tácitos podem ser provados por todos os meios
de prova permitidas em lei, como, por exemplo, por
Art. 53 Se o querelado for mentalmente enfermo ou meio de testemunhas
retardado mental e não tiver representante legal,
ou colidirem os interesses deste com os do querela- Perdão Expresso
do, a aceitação do perdão caberá ao curador que o
juiz lhe nomear. Art. 58 Concedido o perdão, mediante declaração
expressa nos autos, o querelado será intimado
Sendo o perdão ato bilateral (deve ser aceito pelo a dizer, dentro de três dias, se o aceita, deven-
querelado), o mentalmente enfermo ou retarda- do, ao mesmo tempo, ser cientificado de que o seu
do mental que não possui representante legal deve silêncio importará aceitação.
ser acompanhado por curador. Da mesma forma, Parágrafo único. Aceito o perdão, o juiz julgará
310 nomeia-se curador ao enfermo mental ou retardado extinta a punibilidade.
Aceite do Perdão Extraprocessual Extinção da Punibilidade por Morte do Acusado

Art. 59 A aceitação do perdão fora do processo Art. 62 No caso de morte do acusado, o juiz somen-
constará de declaração assinada pelo querelado, te à vista da certidão de óbito, e depois de ouvido o
por seu representante legal ou procurador com Ministério Público, declarará extinta a punibilidade.
poderes especiais.
Nos casos de extinção da punibilidade por morte do
PEREMPÇÃO DA AÇÃO PENAL PRIVADA agente, esta é comprovada por meio de certidão de óbito.

Art. 60 Nos casos em que somente se procede


mediante queixa, considerar-se-á perempta a
ação penal: DA PRISÃO, DAS MEDIDAS
I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de pro-
mover o andamento do processo durante 30 dias CAUTELARES E DA LIBERDADE
seguidos; PROVISÓRIA
II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo
sua incapacidade, não comparecer em juízo, para O Título IX, do CPP, cuida, em seis capítulos (arts.
prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (ses- 282 até 350) das regras relativas a prisão, medidas
senta) dias, qualquer das pessoas a quem couber cautelares e liberdade provisória. A matéria está
fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36; assim dividida:
III - quando o querelante deixar de comparecer,
sem motivo justificado, a qualquer ato do processo z Capítulo I — Disposições gerais;
a que deva estar presente, ou deixar de formular o z Capítulo II — Da prisão em flagrante;
pedido de condenação nas alegações finais; z Capítulo III — Da prisão preventiva;
IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, z Capítulo IV — Da prisão domiciliar;
esta se extinguir sem deixar sucessor. z Capítulo V — Das outras medidas cautelares;
z Capítulo VI — Da liberdade provisória, com ou sem
Dica fiança.

Perimir quer dizer “matar”. Quando se fala que ação DISPOSIÇÕES GERAIS
está perempta, quer dizer que ela está “morta”.
Medidas Cautelares
O art. 60, do CPP, cuida da perempção na ação
penal privada, isto é, da extinção da ação por falta de Art. 282 As medidas cautelares previstas neste
impulso de quem deve praticar determinados atos. Título deverão ser aplicadas observando-se a:
I - necessidade para aplicação da lei penal, para
As razões que levam à perempção são o abandono da
a investigação ou a instrução criminal e, nos
ação penal por seu autor, que deixa de movimentá- casos expressamente previstos, para evitar a prá-
-la, ou o desaparecimento do autor, sem deixar suces- tica de infrações penais;
sores. Mais especificamente, levam à perempção da II - adequação da medida à gravidade do crime,
ação penal privada: circunstâncias do fato e condições pessoais do indi-
ciado ou acusado.
z a inércia do querelante por 30 dias;
z a ausência de sucessor ou representante no prazo Medidas cautelares são as providências que bus-
de 60 dias após o falecimento do querelante; cam garantir a efetividade e a utilidade do processo,
z a ausência não justificada do querelante em atos preservando situações ou coisas que sejam de valor
presenciais; para a causa, impedindo que sejam modificadas, fal-
z a não formulação do pedido de condenação nas sificadas ou que venham a perder o significado ou

NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL


utilidade. Por exemplo, de nada adianta uma senten-
alegações finais;
ça condenatória se não é possível aplicar a lei penal
z a extinção da pessoa jurídica querelante sem que
ao condenado tendo em vista que este fugiu; assim,
existam sucessores. existindo provas nos autos de que pode haver fuga do
réu, o juiz pode decretar a prisão preventiva ou impor
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE medida cautelar alternativa. Da mesma forma, se o
réu estiver efetivamente ameaçando testemunhas ou
Art. 61 Em qualquer fase do processo, o juiz, se destruindo provas, ele poderá ser preso preventiva-
reconhecer extinta a punibilidade, deverá mente; caso possa trazer problemas para a instrução
declará-lo de ofício. criminal, pode ter decretada em seu desfavor uma
Parágrafo único. No caso de requerimento do medida cautelar alternativa.
Ministério Público, do querelante ou do réu, o juiz São dois os requisitos para a decretação de uma
mandará autuá-lo em apartado, ouvirá a parte con- medida cautelar (art. 282, do CPP):
trária e, se o julgar conveniente, concederá o prazo
de cinco dias para a prova, proferindo a decisão z Necessidade (inciso I), ou seja, a medida deve ser
dentro de cinco dias ou reservando-se para apre- indispensável:
ciar a matéria na sentença final.
„ para a aplicação da lei penal;
É dever do juiz, de ofício, reconhecer causa extintiva „ para a investigação ou instrução criminal;
de punibilidade. No entanto, nada impede que as par- „ para evitar a prática de infrações penais, desde
tes provoquem o juiz para que faça tal reconhecimento. que expressamente previsto em lei. 311
z Adequabilidade (inciso II), isto é, a medida deve ser conveniente:

„ de acordo com a gravidade do crime (se for muito grave o crime e, presentes outros elementos, decreta-se
a prisão; se foi de média gravidade, impõe-se medida cautelar alternativa;
„ às circunstâncias do fato;
„ às condições pessoas do indiciado ou acusado.

Aplicação Isolada ou Cumulativa

Art. 282 [...]


§ 1º As medidas cautelares poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente.

Nem sempre basta que o juiz decrete uma medida de forma isolada. Assim, dependendo do caso concreto, o
juiz poderá aplicar mais de uma medida cautelar.

Decretação das Medidas Cautelares

Art. 282 [...]


§ 2º As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz a requerimento das partes ou, quando no curso da investi-
gação criminal, por representação da autoridade policial ou mediante requerimento do Ministério Público.

São medidas decretadas exclusivamente pelo juiz a requerimento das partes (durante a fase processual) ou
por representação do delegado de polícia, ou por requerimento do Ministério Público.

Art. 282 [...]


§ 3º Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da medida, o juiz, ao receber o pedido de medida cautelar,
determinará a intimação da parte contrária, para se manifestar no prazo de 5 (cinco) dias, acompanhada de cópia do
requerimento e das peças necessárias, permanecendo os autos em juízo, e os casos de urgência ou de perigo deverão ser jus-
tificados e fundamentados em decisão que contenha elementos do caso concreto que justifiquem essa medida excepcional.
§ 4º No caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas, o juiz, mediante requerimento do Ministé-
rio Público, de seu assistente ou do querelante, poderá substituir a medida, impor outra em cumulação, ou, em
último caso, decretar a prisão preventiva, nos termos do parágrafo único do art. 312 deste Código.

A medida cautelar alternativa impõe algumas obrigações ao indiciado ou réu; em caso de descumprimento, o
juiz pode impor uma das seguintes medidas:

Substituição da medida

DESCUMPRIMENTO DA CAUTELAR
Aplicação de outra cumulativamente
ALTERNATIVA

Decretar prisão preventiva


(em último caso)

Art. 282 [...]


§ 5º O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a medida cautelar ou substituí-la quando verificar
a falta de motivo para que subsista, bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.

Tratam-se medidas de caráter provisório, devendo ser revogadas sempre que não forem mais necessárias ou
adequadas ao fim ao qual foram impostas.

Art. 282 [...]


§ 6º A prisão preventiva somente será determinada quando não for cabível a sua substituição por outra
medida cautelar, observado o art. 319 deste Código, e o não cabimento da substituição por outra medida cautelar
deverá ser justificado de forma fundamentada nos elementos presentes do caso concreto, de forma individualizada.

Por se tratar de medida mais drástica, a prisão preventiva somente é decretada em último caso.

Hipóteses Legais de Prisão

Art. 283 Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da
autoridade judiciária competente, em decorrência de prisão cautelar ou em virtude de condenação criminal
transitada em julgado.

Prisão nada mais é do que a privação da liberdade de alguém, por motivo lícito ou por ordem legal.
312 A prisão somente pode ocorrer nas seguintes situações:
Flagrante
Preventiva
(arts. 311 a 318, CPP)

PRISÃO
Prisão cautelar Temporária
Ordem ou provisória (Lei n° 7.960/1989)
fundamentada
do juiz Condenação
Domiciliar
transitada em
(arts. 318 e 318, CPP)
julgado

Limitação à Aplicação de Cautelares

Art. 283 [...]


§ 1º As medidas cautelares previstas neste Título não se aplicam à infração a que não for isolada, cumulativa
ou alternativamente cominada pena privativa de liberdade.

Se para a infração não houver previsão de pena privativa de liberdade, não caberá a aplicação de medida
cautelar prisional.

Inviolabilidade do Domicílio

Art. 283 [...]


§ 2º A prisão poderá ser efetuada em qualquer dia e a qualquer hora, respeitadas as restrições relativas à
inviolabilidade do domicílio.

Seja qual for a espécie de prisão, esta poderá ser efetuada 24 horas por dia, 7 dias por semana. No entanto, para
que esta seja realizada no interior de uma casa, devem ser respeitadas as regras previstas no inciso XI, do art. 5º, da CF:

Art. 5º (CF, de 1988) [...]


XI - a casa é o asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo
em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;

Dica
O melhor entendimento sobre o conceito de “dia” é o período compreendido entre o alvorecer e o anoitecer,
sem fixação de horário.

Assim, temos que a prisão no interior da casa somente pode ocorrer:

z em flagrante delito ou desastre, a qualquer hora do dia ou da noite;


z com ordem judicial, durante o dia;
z a qualquer hora, caso haja consentimento do morador.

A Lei nº 4.737, de 1965 (Código Eleitoral), determina, em seu art. 236, que nenhuma autoridade poderá prender

NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL


ou deter eleitor, desde 5 dias antes e até 48 horas depois do encerramento da eleição, salvo em caso de flagrante
delito ou por força de sentença penal condenatória, ou, ainda, por desrespeito a salvo-conduto (ordem emitida em
habeas corpus preventivo). Os mesários e os fiscais de partido, durante o exercício de suas funções, também não
poderão ser presos, exceto se em flagrante de delito. De forma semelhante, os candidatos não poderão ser presos
desde 15 dias antes da eleição, exceto se em flagrante.

Resistência e Uso da Força

Art. 284 Não será permitido o emprego de força, salvo a indispensável no caso de resistência ou de tentativa
de fuga do preso.

O uso de força no cumprimento da medida somente se justifica se for indispensável ao impedimento de resis-
tência ou tentativa de fuga.
Sobre o uso de algemas, é de suma importância o conhecimento da Súmula Vinculante nº 11:

Súmula Vinculante nº 11 Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de
perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por
escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou
do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado. 313
Mandado de Prisão Prisão Fora da Jurisdição (Precatória)

Art. 285 A autoridade que ordenar a prisão fará Art. 289 Quando o acusado estiver no território
expedir o respectivo mandado. nacional, fora da jurisdição do juiz processan-
Parágrafo único. O mandado de prisão: te, será deprecada a sua prisão, devendo constar da
a) será lavrado pelo escrivão e assinado pela precatória o inteiro teor do mandado.
autoridade; § 1º Havendo urgência, o juiz poderá requisitar
b) designará a pessoa, que tiver de ser presa, por a prisão por qualquer meio de comunicação, do
seu nome, alcunha ou sinais característicos; qual deverá constar o motivo da prisão, bem como
c) mencionará a infração penal que motivar a o valor da fiança se arbitrada.
prisão; § 2º A autoridade a quem se fizer a requisição
d) declarará o valor da fiança arbitrada, quan- tomará as precauções necessárias para averiguar
do afiançável a infração; a autenticidade da comunicação.
e) será dirigido a quem tiver qualidade para § 3º O juiz processante deverá providenciar a remo-
dar-lhe execução. ção do preso no prazo máximo de 30 (trinta) dias,
contados da efetivação da medida.
O mandado é a ordem exclusivamente determina-
da pelo juiz (e por ele assinada) e deve conter os requi- O art. 289, do CPP, cuida da hipótese de prisão rea-
sitos do parágrafo único, do art. 285, do CPP. A prisão lizada por meio de carta precatória, que é utilizada
sem mandado, nos casos que sua posse é obrigatória quando a pessoa a ser presa se encontra em jurisdi-
(art. 287, do CPP), implica na prática de crime de abu- ção diversa da do juiz que determinou o recolhimen-
so de autoridade, previsto na Lei nº. 13.869, de 2019. to. Deprecar significa pedir, solicitar. O pedido de um
juiz a outro se faz por meio de carta precatória, da
Duplicidade do Original do Mandado qual deverá constar o inteiro teor do mandado.
Veja que, em caso de urgência, a precatória pode
Art. 286 O mandado será passado em duplicata, ser transmitida por qualquer meio de comunicação,
e o executor entregará ao preso, logo depois da tal como e-mail, telefone etc.
prisão, um dos exemplares com declaração do
dia, hora e lugar da diligência. Da entrega deverá Controle do Mandado de Prisão
o preso passar recibo no outro exemplar; se
recusar, não souber ou não puder escrever, o Art. 289-A O juiz competente providenciará o ime-
fato será mencionado em declaração, assinada diato registro do mandado de prisão em banco
por duas testemunhas. de dados mantido pelo Conselho Nacional de Justi-
ça para essa finalidade.
O mandado de prisão é expedido em duas vias ori- § 1º Qualquer agente policial poderá efetuar a pri-
são determinada no mandado de prisão registrado
ginais; uma é entregue ao preso mediante recibo. Caso
no Conselho Nacional de Justiça, ainda que fora da
preso não queira ou não possa assinar, duas testemu- competência territorial do juiz que o expediu.
nhas, chamadas de instrumentárias, assinam certifi- § 2º Qualquer agente policial poderá efetuar a pri-
cando o ato (podem ser chamadas em juízo, caso haja são decretada, ainda que sem registro no Conselho
dúvida sobre execução da ordem de prisão). Nacional de Justiça, adotando as precauções neces-
sárias para averiguar a autenticidade do mandado
Mandado de Prisão e Infração Inafiançável e comunicando ao juiz que a decretou, devendo este
providenciar, em seguida, o registro do mandado
Art. 287 Se a infração for inafiançável, a falta na forma do caput deste artigo
de exibição do mandado não obstará a prisão, § 3º A prisão será imediatamente comunicada ao juiz
e o preso, em tal caso, será imediatamente apresen- do local de cumprimento da medida o qual providencia-
tado ao juiz que tiver expedido o mandado, para a rá a certidão extraída do registro do Conselho Nacio-
realização de audiência de custódia. nal de Justiça e informará ao juízo que a decretou.
§ 4º O preso será informado de seus direitos, nos ter-
mos do inciso LXIII do art. 5ºda Constituição Federal
Veja que não se trata de falta de ordem de prisão (o e, caso o autuado não informe o nome de seu advoga-
que seria ilegal), mas sim da falta de sua exibição no do, será comunicado à Defensoria Pública.
caso de infrações mais graves (inafiançáveis). § 5º Havendo dúvidas das autoridades locais sobre
a legitimidade da pessoa do executor ou sobre a
Recolhimento à Prisão identidade do preso, aplica-se o disposto no § 2º do
art. 290 deste Código.
Art. 288 Ninguém será recolhido à prisão, sem § 6º O Conselho Nacional de Justiça regulamen-
que seja exibido o mandado ao respectivo diretor tará o registro do mandado de prisão a que se
ou carcereiro, a quem será entregue cópia assina- refere o caput deste artigo.
da pelo executor ou apresentada a guia expedida
pela autoridade competente, devendo ser passado O banco de dados a que se refere o art. 289-A, do
recibo da entrega do preso, com declaração de dia CPP, é o atual Banco Nacional de Medidas Penais e Pri-
e hora. sões (BNMP 3.0), sistema digital mantido pelo Conse-
Parágrafo único. O recibo poderá ser passado no lho Nacional de Justiça (CNJ).
próprio exemplar do mandado, se este for o docu-
mento exibido. Prisão em Perseguição

É proibido o recolhimento à prisão sem a apresen- Art. 290 Se o réu, sendo perseguido, passar ao
tação do mandado ao carcereiro ou diretor do estabe- território de outro município ou comarca, o execu-
314 lecimento prisional. tor poderá efetuar-lhe a prisão no lugar onde
o alcançar, apresentando-o imediatamente à entregá-lo, à vista da ordem de prisão. Se não for
autoridade local, que, depois de lavrado, se for obedecido imediatamente, o executor convocará
o caso, o auto de flagrante, providenciará para a duas testemunhas e, sendo dia, entrará à força na
remoção do preso. casa, arrombando as portas, se preciso; sendo noi-
§ 1º Entender-se-á que o executor vai em persegui- te, o executor, depois da intimação ao morador, se
ção do réu, quando: não for atendido, fará guardar todas as saídas, tor-
a) tendo-o avistado, for perseguindo-o sem inter- nando a casa incomunicável, e, logo que amanheça,
rupção, embora depois o tenha perdido de vista; arrombará as portas e efetuará a prisão.
b) sabendo, por indícios ou informações fidedignas, Parágrafo único. O morador que se recusar a entre-
que o réu tenha passado, há pouco tempo, em tal gar o réu oculto em sua casa será levado à presença
ou qual direção, pelo lugar em que o procure, for da autoridade, para que se proceda contra ele como
no seu encalço. for de direito.
§ 2º Quando as autoridades locais tiverem funda-
das razões para duvidar da legitimidade da pessoa O art. 293, do CPP, trata da intimação ao morador
do executor ou da legalidade do mandado que apre- que acolhe o procurado. Tendo em vista a inviola-
sentar, poderão pôr em custódia o réu, até que fique bilidade do domicílio, devem ser seguidas as regras
esclarecida a dúvida. previstas no artigo a fim de que se evite acusação de
abuso contra o executor da ordem.
A perseguição do réu, indiciado ou suspeito (a
interpretação feita é extensiva) não deve ser inter- Art. 294 No caso de prisão em flagrante, observar-se-
rompida por aspectos formais. Nas situações do § 1º, -á o disposto no artigo anterior, no que for aplicável.
do art. 290, a polícia pode ingressar em área de outra
Comarca ou Estado para prender o indivíduo, que, Prisão Processual Especial
caso apreendido, deverá ser apresentado ao juiz do
local onde se executou a prisão. Art. 295 Serão recolhidos a quartéis ou a prisão
especial, à disposição da autoridade competente,
Formalidades da Prisão por Mandado quando sujeitos a prisão antes de condenação
definitiva:
Art. 291 A prisão em virtude de mandado I - os ministros de Estado;
entender-se-á feita desde que o executor, fazendo- II - os governadores ou interventores de Estados
-se conhecer do réu, lhe apresente o mandado e o ou Territórios, o prefeito do Distrito Federal, seus
intime a acompanhá-lo. respectivos secretários, os prefeitos municipais, os
vereadores e os chefes de Polícia;
A prisão efetiva-se no momento em que o execu- III - os membros do Parlamento Nacional, do Con-
tor apresenta o mandado ao indiciado ou réu e inti- selho de Economia Nacional e das Assembleias
ma-o a acompanhá-lo. Legislativas dos Estados;
IV - os cidadãos inscritos no “Livro de Mérito”;
Terceiros que Resistem V - os oficiais das Forças Armadas e os militares
dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios;
Art. 292 Se houver, ainda que por parte de terceiros, VI - os magistrados;
resistência à prisão em flagrante ou à determinada VII - os diplomados por qualquer das faculdades
por autoridade competente, o executor e as pessoas superiores da República;
que o auxiliarem poderão usar dos meios necessá- VIII - os ministros de confissão religiosa;
rios para defender-se ou para vencer a resistência, IX - os ministros do Tribunal de Contas;
do que tudo se lavrará auto subscrito também por X - os cidadãos que já tiverem exercido efetivamen-
duas testemunhas. te a função de jurado, salvo quando excluídos da
lista por motivo de incapacidade para o exercício
daquela função;
Terceiros que buscam impedir a execução da
XI - os delegados de polícia e os guardas-civis dos

NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL


ordem, investindo contra os executores, dependendo Estados e Territórios, ativos e inativos.
da situação, podem ser presos em flagrante. § 1º A prisão especial, prevista neste Código ou
em outras leis, consiste exclusivamente no reco-
Uso de Algemas em Grávidas lhimento em local distinto da prisão comum.
§ 2º Não havendo estabelecimento específico
Art. 292 [...] para o preso especial, este será recolhido em cela
Parágrafo único. É vedado o uso de algemas em distinta do mesmo estabelecimento.
mulheres grávidas durante os atos médico-hospi- § 3º A cela especial poderá consistir em alojamento cole-
talares preparatórios para a realização do parto e tivo, atendidos os requisitos de salubridade do ambien-
durante o trabalho de parto, bem como em mulhe- te, pela concorrência dos fatores de aeração, insolação
res durante o período de puerpério imediato. e condicionamento térmico adequados à existência
humana. (Incluído pela Lei nº 10.258, de 11.7.2001)
Vale sempre lembrar, mais uma vez, a já mencio- § 4º O preso especial não será transportado
nada Súmula Vinculante nº 11. É importante também juntamente com o preso comum.
elucidar que puerpério imediato é o pós-parto. § 5º Os demais direitos e deveres do preso espe-
cial serão os mesmos do preso comum.
Prisão no Domicílio
A prisão processual especial nada mais é do que
Art. 293 Se o executor do mandado verificar, com o recolhimento das pessoas elencadas no art. 295, em
segurança, que o réu entrou ou se encontra local diferente da prisão comum. Ao preso, ela não con-
em alguma casa, o morador será intimado a fere quaisquer outros direitos diferentes dos demais. 315
Dica recibo de entrega do preso. Em seguida, procederá
à oitiva das testemunhas que o acompanharem e ao
Algumas pessoas mencionadas no art. 295, do interrogatório do acusado sobre a imputação que
CPP, têm prerrogativa de serem recolhidas em lhe é feita, colhendo, após cada oitiva suas respec-
sala de Estado-Maior das Forças Armadas: tivas assinaturas, lavrando, a autoridade, afinal, o
� Advogados, conforme o inciso V, do art. 7º, da auto.
Lei nº 8.096, de 1994; § 1º Resultando das respostas fundada a suspeita
� Juízes, conforme o inciso III, do art. 33, da Lei contra o conduzido, a autoridade mandará recolhê-
Complementar nº 35, de 1979); -lo à prisão, exceto no caso de livrar-se solto ou de
prestar fiança, e prosseguirá nos atos do inquérito
� Membros do Ministério Público, conforme o
ou processo, se para isso for competente; se não o
inciso V, do art. 40, da Lei nº 8.625, de 1993). for, enviará os autos à autoridade que o seja.
§ 2º A falta de testemunhas da infração não impe-
Art. 296 Os inferiores e praças de pré, onde for pos- dirá o auto de prisão em flagrante; mas, nesse caso,
sível, serão recolhidos à prisão, em estabelecimentos com o condutor, deverão assiná-lo pelo menos duas
militares, de acordo com os respectivos regulamentos. pessoas que hajam testemunhado a apresentação
do preso à autoridade.
Militares que não se encontram elencados no art. § 3º Quando o acusado se recusar a assinar, não
295 (que menciona os oficiais) são recolhidos em souber ou não puder fazê-lo, o auto de prisão em
estabelecimentos militares, não ficando nos mesmos flagrante será assinado por duas testemunhas, que
locais que os presos comuns. tenham ouvido sua leitura na presença deste
§ 4º Da lavratura do auto de prisão em flagrante
Cópias do Mandado de Prisão deverá constar a informação sobre a existência de
filhos, respectivas idades e se possuem alguma defi-
Art. 297 Para o cumprimento de mandado expedi- ciência e o nome e o contato de eventual responsá-
do pela autoridade judiciária, a autoridade policial vel pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa
poderá expedir tantos outros quantos necessários presa.
às diligências, devendo neles ser fielmente reprodu-
zido o teor do mandado original. Escrivão Ad Hoc

É permitido que a autoridade policial faça tantas Art. 305 Na falta ou no impedimento do escri-
cópias do mandado de prisão quanto forem necessá- vão, qualquer pessoa designada pela autoridade
rias ao seu cumprimento. lavrará o auto, depois de prestado o compromis-
so legal.
Art. 306 A prisão de qualquer pessoa e o local
Art. 298 (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011).
onde se encontre serão comunicados imedia-
Art. 299 A captura poderá ser requisitada, à vista
tamente ao juiz competente, ao Ministério
de mandado judicial, por qualquer meio de comu-
Público e à família do preso ou à pessoa por ele
nicação, tomadas pela autoridade, a quem se fizer
indicada.
a requisição, as precauções necessárias para averi-
§ 1º Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realiza-
guar a autenticidade desta
ção da prisão, será encaminhado ao juiz competen-
Art. 300 As pessoas presas provisoriamente
te o auto de prisão em flagrante e, caso o autuado
ficarão separadas das que já estiverem defini-
não informe o nome de seu advogado, cópia inte-
tivamente condenadas, nos termos da lei de exe-
gral para a Defensoria Pública.
cução penal.
§ 2º No mesmo prazo, será entregue ao preso,
Parágrafo único. O militar preso em flagrante
mediante recibo, a nota de culpa, assinada pela
delito, após a lavratura dos procedimentos autoridade, com o motivo da prisão, o nome
legais, será recolhido a quartel da instituição a do condutor e os das testemunhas.
que pertencer, onde ficará preso à disposição das Art. 307 Quando o fato for praticado em presença
autoridades competentes. da autoridade, ou contra esta, no exercício de suas
funções, constarão do auto a narração deste fato, a
DA PRISÃO EM FLAGRANTE voz de prisão, as declarações que fizer o preso e os
depoimentos das testemunhas, sendo tudo assina-
Art. 301 Qualquer do povo poderá e as auto- do pela autoridade, pelo preso e pelas testemunhas
ridades policiais e seus agentes deverão pren- e remetido imediatamente ao juiz a quem couber
der quem quer que seja encontrado em flagrante tomar conhecimento do fato delituoso, se não o for
delito. a autoridade que houver presidido o auto.
Art. 302 Considera-se em flagrante delito quem: Art. 308 Não havendo autoridade no lugar em que
I - está cometendo a infração penal; se tiver efetuado a prisão, o preso será logo apre-
sentado à do lugar mais próximo.
II - acaba de cometê-la;
Art. 309 Se o réu se livrar solto, deverá ser posto
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo
em liberdade, depois de lavrado o auto de prisão
ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que
em flagrante.
faça presumir ser autor da infração; Art. 310 Após receber o auto de prisão em flagran-
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, te, no prazo máximo de até 24 (vinte e quatro) horas
armas, objetos ou papéis que façam presumir após a realização da prisão, o juiz deverá promover
ser ele autor da infração. audiência de custódia com a presença do acusado,
Art. 303 Nas infrações permanentes, entende-se seu advogado constituído ou membro da Defensoria
o agente em flagrante delito enquanto não ces- Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa
sar a permanência. audiência, o juiz deverá, fundamentadamente:
Art. 304 Apresentado o preso à autoridade compe- I - relaxar a prisão ilegal; ou
tente, ouvirá esta o condutor e colherá, desde logo, II - converter a prisão em flagrante em preventiva,
316 sua assinatura, entregando a este cópia do termo e quando presentes os requisitos constantes do art.
312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser
insuficientes as medidas cautelares diversas da pri- colocado imediatamente em liberdade após a iden-
são; ou tificação, salvo se outra hipótese recomendar a
III - conceder liberdade provisória, com ou sem manutenção da medida.
fiança § 2º Não será admitida a decretação da prisão pre-
§ 1º Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em fla- ventiva com a finalidade de antecipação de cumpri-
grante, que o agente praticou o fato em qualquer mento de pena ou como decorrência imediata de
das condições constantes dos incisos I, II ou III investigação criminal ou da apresentação ou rece-
do caput do art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 bimento de denúncia.
de dezembro de 1940 (Código Penal), poderá, fun- Art. 314 A prisão preventiva em nenhum caso será
damentadamente, conceder ao acusado liberdade
decretada se o juiz verificar pelas provas constan-
provisória, mediante termo de comparecimento
tes dos autos ter o agente praticado o fato nas con-
obrigatório a todos os atos processuais, sob pena
dições previstas nos incisos I, II e III do caput do
de revogação.
§ 2º Se o juiz verificar que o agente é reincidente art. 23 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro
ou que integra organização criminosa armada ou de 1940 - Código Penal.
milícia, ou que porta arma de fogo de uso restrito, Art. 315 A decisão que decretar, substituir ou
deverá denegar a liberdade provisória, com ou sem denegar a prisão preventiva será sempre moti-
medidas cautelares. vada e fundamentada.
§ 3º A autoridade que deu causa, sem motivação § 1º Na motivação da decretação da prisão preven-
idônea, à não realização da audiência de custódia tiva ou de qualquer outra cautelar, o juiz deverá
no prazo estabelecido no caput deste artigo respon- indicar concretamente a existência de fatos novos
derá administrativa, civil e penalmente pela omis- ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da
são. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) medida adotada.
§ 4º Transcorridas 24 (vinte e quatro) horas após o § 2º Não se considera fundamentada qualquer deci-
decurso do prazo estabelecido no caput deste arti- são judicial, seja ela interlocutória, sentença ou
go, a não realização de audiência de custódia sem acórdão, que:
motivação idônea ensejará também a ilegalidade I - limitar-se à indicação, à reprodução ou à pará-
da prisão, a ser relaxada pela autoridade compe- frase de ato normativo, sem explicar sua relação
tente, sem prejuízo da possibilidade de imediata com a causa ou a questão decidida;
decretação de prisão preventiva. II - empregar conceitos jurídicos indeterminados,
sem explicar o motivo concreto de sua incidência
DA PRISÃO PREVENTIVA no caso;
III - invocar motivos que se prestariam a justificar
Art. 311 Em qualquer fase da investigação poli- qualquer outra decisão;
cial ou do processo penal, caberá a prisão pre- IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos
ventiva decretada pelo juiz, a requerimento do no processo capazes de, em tese, infirmar a conclu-
Ministério Público, do querelante ou do assistente, são adotada pelo julgador;
ou por representação da autoridade policial. V - limitar-se a invocar precedente ou enunciado de
Art. 312 A prisão preventiva poderá ser decreta- súmula, sem identificar seus fundamentos determi-
da como garantia da ordem pública, da ordem nantes nem demonstrar que o caso sob julgamento
econômica, por conveniência da instrução
se ajusta àqueles fundamentos;
criminal ou para assegurar a aplicação da lei
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, juris-
penal, quando houver prova da existência do
prudência ou precedente invocado pela parte, sem
crime e indício suficiente de autoria e de perigo
gerado pelo estado de liberdade do imputado. demonstrar a existência de distinção no caso em
§ 1º A prisão preventiva também poderá ser decre- julgamento ou a superação do entendimento.
Art. 316 O juiz poderá, de ofício ou a pedido das
tada em caso de descumprimento de qualquer das
partes, revogar a prisão preventiva se, no cor-
obrigações impostas por força de outras medidas
rer da investigação ou do processo, verificar a fal-
cautelares (art. 282, § 4º).
ta de motivo para que ela subsista, bem como
§ 2º A decisão que decretar a prisão preventiva
novamente decretá-la, se sobrevierem razões que

NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL


deve ser motivada e fundamentada em receio de a justifiquem.
perigo e existência concreta de fatos novos ou con- Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva,
temporâneos que justifiquem a aplicação da medi- deverá o órgão emissor da decisão revisar a neces-
da adotada. sidade de sua manutenção a cada 90 (noventa)
Art. 313 Nos termos do art. 312 deste Código, será dias, mediante decisão fundamentada, de ofício,
admitida a decretação da prisão preventiva: sob pena de tornar a prisão ilegal.
I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa
de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos; DA PRISÃO DOMICILIAR
II - se tiver sido condenado por outro crime doloso,
em sentença transitada em julgado, ressalvado o
Art. 317 A prisão domiciliar consiste no reco-
disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decre- lhimento do indiciado ou acusado em sua
to-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código residência, só podendo dela ausentar-se com
Penal; autorização judicial.
III - se o crime envolver violência doméstica e fami- Art. 318 Poderá o juiz substituir a prisão pre-
liar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, ventiva pela domiciliar quando o agente for:
enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a I - maior de 80 (oitenta) anos;
execução das medidas protetivas de urgência; II - extremamente debilitado por motivo de
IV - (revogado). (Revogado pela Lei nº 12.403, doença grave;
de 2011). III - imprescindível aos cuidados especiais de
§ 1º Também será admitida a prisão preventiva pessoa menor de 6 (seis) anos de idade ou com
quando houver dúvida sobre a identidade civil da deficiência;
pessoa ou quando esta não fornecer elementos IV - gestante; 317
V - mulher com filho de até 12 (doze) anos de DA LIBERDADE PROVISÓRIA, COM OU SEM FIANÇA
idade incompletos;
VI - homem, caso seja o único responsável Art. 321 Ausentes os requisitos que autorizam
pelos cuidados do filho de até 12 (doze) anos a decretação da prisão preventiva, o juiz deve-
de idade incompletos. rá conceder liberdade provisória, impondo,
Parágrafo único. Para a substituição, o juiz exigi- se for o caso, as medidas cautelares previstas
rá prova idônea dos requisitos estabelecidos neste no art. 319 deste Código e observados os critérios
artigo. constantes do art. 282 deste Código.
Art. 318-A A prisão preventiva imposta à I - (revogado) (Revogado pela Lei nº 12.403, de
mulher gestante ou que for mãe ou responsável 2011).
por crianças ou pessoas com deficiência será II - (revogado). (Revogado pela Lei nº 12.403, de
substituída por prisão domiciliar, desde que: 2011).
I - não tenha cometido crime com violência ou Art. 322 A autoridade policial somente pode-
grave ameaça a pessoa; rá conceder fiança nos casos de infração cuja
II - não tenha cometido o crime contra seu filho ou pena privativa de liberdade máxima não seja
dependente. superior a 4 (quatro) anos.
Art. 318-B A substituição de que tratam os arts. Parágrafo único. Nos demais casos, a fiança será
318 e 318-A poderá ser efetuada sem prejuízo da
requerida ao juiz, que decidirá em 48 (quarenta e
aplicação concomitante das medidas alternativas
oito) horas.
previstas no art. 319 deste Código.
Art. 323 Não será concedida fiança:
I - nos crimes de racismo;
DAS OUTRAS MEDIDAS CAUTELARES II - nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entor-
pecentes e drogas afins, terrorismo e nos defini-
Art. 319 São medidas cautelares diversas da dos como crimes hediondos;
prisão: III - nos crimes cometidos por grupos armados,
I - comparecimento periódico em juízo, no pra- civis ou militares, contra a ordem constitucio-
zo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar
nal e o Estado Democrático;
e justificar atividades;
IV - (revogado); (Revogado pela Lei nº 12.403, de
II - proibição de acesso ou frequência a deter-
2011).
minados lugares quando, por circunstâncias
V - (revogado). (Revogado pela Lei nº 12.403, de
relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado
permanecer distante desses locais para evitar o ris- 2011).
co de novas infrações; Art. 324 Não será, igualmente, concedida
III - proibição de manter contato com pessoa fiança:
determinada quando, por circunstâncias relacio- I - aos que, no mesmo processo, tiverem quebra-
nadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela do fiança anteriormente concedida ou infringi-
permanecer distante; do, sem motivo justo, qualquer das obrigações a
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quan- que se referem os arts. 327 e 328 deste Código;
do a permanência seja conveniente ou necessária II - em caso de prisão civil ou militar;
para a investigação ou instrução; III - (revogado); (Revogado pela Lei nº 12.403, de
V - recolhimento domiciliar no período notur- 2011).
no e nos dias de folga quando o investigado ou IV - quando presentes os motivos que autorizam
acusado tenha residência e trabalho fixos; a decretação da prisão preventiva (art. 312).
VI - suspensão do exercício de função pública Art. 325 O valor da fiança será fixado pela autori-
ou de atividade de natureza econômica ou dade que a conceder nos seguintes limites:
financeira quando houver justo receio de sua utili- a) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 12.403, de
zação para a prática de infrações penais; 2011).
VII - internação provisória do acusado nas b) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 12.403, de
hipóteses de crimes praticados com violência 2011).
ou grave ameaça, quando os peritos concluírem c) (revogada). (Redação dada pela Lei nº 12.403, de
ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do 2011).
Código Penal) e houver risco de reiteração; I - de 1 (um) a 100 (cem) salários mínimos, quando
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para se tratar de infração cuja pena privativa de liberda-
assegurar o comparecimento a atos do processo, de, no grau máximo, não for superior a 4 (quatro)
evitar a obstrução do seu andamento ou em caso anos;
de resistência injustificada à ordem judicial; II - de 10 (dez) a 200 (duzentos) salários mínimos,
IX - monitoração eletrônica. quando o máximo da pena privativa de liberdade
§ 1º (Revogado). (Revogado pela Lei nº 12.403, de cominada for superior a 4 (quatro) anos.
2011). § 1º Se assim recomendar a situação econômica
§ 2º (Revogado). (Revogado pela Lei nº 12.403, de do preso, a fiança poderá ser:
2011). I - dispensada, na forma do art. 350 deste Código;
§ 3º (Revogado). (Revogado pela Lei nº 12.403, de II - reduzida até o máximo de 2/3 (dois terços);
2011). III - aumentada em até 1.000 (mil) vezes. (Incluído
§ 4º A fiança será aplicada de acordo com as dis- pela Lei nº 12.403, de 2011).
posições do Capítulo VI deste Título, podendo ser § 2º (Revogado): (Revogado pela Lei nº 12.403, de
cumulada com outras medidas cautelares. (Incluí- 2011).
do pela Lei nº 12.403, de 2011). I - (revogado); (Revogado pela Lei nº 12.403, de
Art. 320 A proibição de ausentar-se do País será 2011).
comunicada pelo juiz às autoridades encarregadas II - (revogado); (Revogado pela Lei nº 12.403, de
de fiscalizar as saídas do território nacional, inti- 2011).
mando-se o indiciado ou acusado para entregar o III - (revogado). (Revogado pela Lei nº 12.403, de
318 passaporte, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas. 2011).
Art. 326 Para determinar o valor da fiança, a do dano, da prestação pecuniária e da multa, se o
autoridade terá em consideração a natureza da réu for condenado.
infração, as condições pessoais de fortuna e vida Parágrafo único. Este dispositivo terá aplicação
pregressa do acusado, as circunstâncias indica- ainda no caso da prescrição depois da sentença
tivas de sua periculosidade, bem como a impor- condenatória (art. 110 do Código Penal).
tância provável das custas do processo, até final Art. 337 Se a fiança for declarada sem efeito ou
julgamento. passar em julgado sentença que houver absolvido o
Art. 327 A fiança tomada por termo obrigará o acusado ou declarada extinta a ação penal, o valor
afiançado a comparecer perante a autoridade, que a constituir, atualizado, será restituído sem
todas as vezes que for intimado para atos do inqué- desconto, salvo o disposto no parágrafo único do
rito e da instrução criminal e para o julgamento. art. 336 deste Código.
Quando o réu não comparecer, a fiança será havida Art. 338 A fiança que se reconheça não ser cabí-
como quebrada.
vel na espécie será cassada em qualquer fase do
Art. 328 O réu afiançado não poderá, sob pena de
processo.
quebramento da fiança, mudar de residência, sem
Art. 339 Será também cassada a fiança quando
prévia permissão da autoridade processante, ou
reconhecida a existência de delito inafiançável, no
ausentar-se por mais de 8 (oito) dias de sua resi-
caso de inovação na classificação do delito.
dência, sem comunicar àquela autoridade o lugar
onde será encontrado.
Art. 329 Nos juízos criminais e delegacias de polí- Reforço da Fiança
cia, haverá um livro especial, com termos de aber-
tura e de encerramento, numerado e rubricado em Art. 340 Será exigido o reforço da fiança:
todas as suas folhas pela autoridade, destinado I - quando a autoridade tomar, por engano, fiança
especialmente aos termos de fiança. O termo será insuficiente;
lavrado pelo escrivão e assinado pela autoridade e II - quando houver depreciação material ou pere-
por quem prestar a fiança, e dele extrair-se-á certi- cimento dos bens hipotecados ou caucionados, ou
dão para juntar-se aos autos. depreciação dos metais ou pedras preciosas;
Parágrafo único. O réu e quem prestar a fiança III - quando for inovada a classificação do delito.
serão pelo escrivão notificados das obrigações e da Parágrafo único. A fiança ficará sem efeito e o réu
sanção previstas nos arts. 327 e 328, o que constará será recolhido à prisão, quando, na conformidade
dos autos. deste artigo, não for reforçada.
Art. 330 A fiança, que será sempre definitiva, con-
sistirá em depósito de dinheiro, pedras, objetos ou
Reforço da fiança é o aumento do seu valor.
metais preciosos, títulos da dívida pública, federal,
estadual ou municipal, ou em hipoteca inscrita em
primeiro lugar. Quebra da Fiança
§ 1º A avaliação de imóvel, ou de pedras, objetos
ou metais preciosos será feita imediatamente por Art. 341 Julgar-se-á quebrada a fiança quando o
perito nomeado pela autoridade. acusado:
§ 2º Quando a fiança consistir em caução de títulos I - regularmente intimado para ato do processo,
da dívida pública, o valor será determinado pela deixar de comparecer, sem motivo justo;
sua cotação em Bolsa, e, sendo nominativos, exigir- II - deliberadamente praticar ato de obstrução ao
-se-á prova de que se acham livres de ônus. andamento do processo;
Art. 331 O valor em que consistir a fiança será III - descumprir medida cautelar imposta cumulati-
recolhido à repartição arrecadadora federal ou vamente com a fiança;
estadual, ou entregue ao depositário público, jun- IV - resistir injustificadamente a ordem judicial
tando-se aos autos os respectivos conhecimentos. V - praticar nova infração penal dolosa.
Parágrafo único. Nos lugares em que o depósito Art. 342 Se vier a ser reformado o julgamento em
não se puder fazer de pronto, o valor será entregue que se declarou quebrada a fiança, esta subsistirá
ao escrivão ou pessoa abonada, a critério da auto- em todos os seus efeitos

NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL


ridade, e dentro de três dias dar-se-á ao valor o des- Art. 343 O quebramento injustificado da fiança
tino que Ihe assina este artigo, o que tudo constará importará na perda de metade do seu valor, caben-
do termo de fiança. do ao juiz decidir sobre a imposição de outras medi-
Art. 332 Em caso de prisão em flagrante, será das cautelares ou, se for o caso, a decretação da
competente para conceder a fiança a autorida-
prisão preventiva.
de que presidir ao respectivo auto, e, em caso de
Art. 344 Entender-se-á perdido, na totalidade, o
prisão por mandado, o juiz que o houver expe-
valor da fiança, se, condenado, o acusado não se
dido, ou a autoridade judiciária ou policial a
apresentar para o início do cumprimento da pena
quem tiver sido requisitada a prisão.
definitivamente imposta.
Art. 333 Depois de prestada a fiança, que será con-
cedida independentemente de audiência do Minis- Art. 345 No caso de perda da fiança, o seu valor,
tério Público, este terá vista do processo a fim de deduzidas as custas e mais encargos a que o acusa-
requerer o que julgar conveniente. do estiver obrigado, será recolhido ao fundo peni-
Art. 334 A fiança poderá ser prestada enquanto tenciário, na forma da lei.
não transitar em julgado a sentença condenatória. Art. 346 No caso de quebramento de fiança, feitas
Art. 335 Recusando ou retardando a autoridade as deduções previstas no art. 345 deste Código, o
policial a concessão da fiança, o preso, ou alguém valor restante será recolhido ao fundo penitenciá-
por ele, poderá prestá-la, mediante simples petição, rio, na forma da lei
perante o juiz competente, que decidirá em 48 (qua- Art. 347 Não ocorrendo a hipótese do art. 345, o
renta e oito) horas. saldo será entregue a quem houver prestado a fian-
Art. 336 O dinheiro ou objetos dados como fiança ça, depois de deduzidos os encargos a que o réu esti-
servirão ao pagamento das custas, da indenização ver obrigado. 319
Quebra da fiança é o perdimento parcial ou total
do valor prestado, tendo em vista a prática dos atos Importante!
elencados no art. 341, do CPP.
Súmula n° 523 do STF: No processo penal, a falta
da defesa constitui nulidade absoluta, mas, a sua
Art. 348 Nos casos em que a fiança tiver sido pres-
tada por meio de hipoteca, a execução será promo- deficiência somente o anulará se houver prova de
vida no juízo cível pelo órgão do Ministério Público. prejuízo para o réu.
Art. 349 Se a fiança consistir em pedras, objetos ou
metais preciosos, o juiz determinará a venda por
leiloeiro ou corretor.
Art. 350 Nos casos em que couber fiança, o juiz,
verificando a situação econômica do preso, pode- DOS RECURSOS EM GERAL
rá conceder-lhe liberdade provisória, sujeitando-o
às obrigações constantes dos arts. 327 e 328 deste CAPÍTULO I – DISPOSIÇÕES GERAIS
Código e a outras medidas cautelares, se for o caso.
Parágrafo único. Se o beneficiado descumprir, sem
Prezando pelo devido processo legal, pelo contra-
motivo justo, qualquer das obrigações ou medidas
ditório e ampla defesa, existe o duplo grau de jurisdi-
impostas, aplicar-se-á o disposto no § 4º do art. 282
deste Código.
ção. Em outras palavras, a parte que se vê insatisfeita
com a decisão judicial tem o direito de recorrer, para
reformar, invalidar, integrar ou esclarecer o pronun-
ciamento judicial.
Na Teoria Geral dos Recursos, é importante saber
DOS PROCESSOS ESPECIAIS sobre a produção dos efeitos:

PROCESSO E JULGAMENTO DOS CRIMES DE


z Efeito Obstativo: a interposição do recurso tem o
RESPONSABILIDADE DOS FUNCIONÁRIOS
condão de impedir a geração da preclusão tempo-
PÚBLICOS
ral, com o consequente trânsito em julgado;
z Efeito Devolutivo: transferência do conhecimen-
Entre os arts. 312 e 326 do Código Penal encontram-
to da matéria impugnada ao órgão jurisdicional,
-se os crimes praticados por funcionários públicos
objetivando a reforma, a invalidação, a integração
contra a Administração Pública, como por exemplo:
ou o esclarecimento da decisão impugnada;
peculato, corrupção passiva, entre outros.
z Efeito Suspensivo: impossibilidade de a deci-
O processo e julgamento de tais crimes segue rito
são impugnada produzir seus efeitos regulares
específico, isto é, trata-se de um procedimento espe-
enquanto não houver a apreciação do recurso
cial regulado pelo Código de Processo Penal, entre os
arts. 513 e 518. interposto;
O procedimento começa com uma denúncia nos cri- z Efeito Regressivo/Iterativo/Diferido: devolução
mes de Ação Penal Pública, ou, queixa-crime, nos crimes da matéria impugnada, para fins de reexame, ao
de Ação Penal Privada. As peças acusatórias precisam mesmo órgão jurisdicional que prolatou a decisão
estar instruídas com documentos que façam presumir a recorrida, isto é, ao próprio juízo a quo;
existência do delito cometido pelo funcionário público. z Efeito Extensivo: possibilidade de se estender o
Caso haja impossibilidade de apresentação de provas resultado favorável do recurso interposto por um
deve ser feita uma declaração neste sentido. dos acusados aos outros que não tenham recorrido;
Nos crimes afiançáveis, o acusado recebe uma z Efeito Substitutivo: o julgamento do recurso subs-
notificação para responder por escrito dentro de 15 titui a decisão recorrida, salvo se o recurso não for
(quinze) dias após as acusações. Após oferecida a recebido;
resposta preliminar, o juiz pode rejeitar a denúncia z Efeito Translativo: devolve à instância superior o
ou queixa, se ficar convencido sobre a inexistência conhecimento integral da causa, ou seja, todo o
do crime ou pela improcedência da ação. Por outro processo sobe para a segunda instância.
lado, o juiz pode receber a denúncia ou a queixa, se
convencido da prática criminal. Neste último caso, o De acordo com o princípio da vedação da reforma-
acusado passa a ser oficialmente citado para oferecer tio in pejus, havendo recurso exclusivo da defesa, o
a sua contestação. Tribunal não pode piorar a situação do acusado.
Vale lembrar que o juiz nomeia um defensor ao Em prestígio à boa-fé, o CPP dispõe que:
acusado para apresentar a resposta preliminar sem-
pre que o paradeiro dele for desconhecido. Isso ocorre Art. 575 Não serão prejudicados os recursos que,
porque ninguém pode ser processado e julgado crimi- por erro, falta ou omissão dos funcionários, não
nalmente sem um defensor. tiverem seguimento ou não forem apresentados
Outro ponto importante é recordar a definição dentro do prazo.
de funcionário público: quem, embora transitoria-
mente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego Em decorrência da obrigatoriedade inerente à
ou função pública; equipara-se a funcionário público propositura da ação penal pelo Ministério Público,
quem exerce cargo, emprego ou função em entidade este não poderá desistir do recurso interposto (art.
paraestatal, e quem trabalha para empresa prestado- 576). Todavia, o MP pode pedir a absolvição ao juiz,
ra de serviço contratada ou conveniada para a execu- em alegações finais, uma vez que é o fiscal da lei.
320 ção de atividade típica da Administração Pública. Sobre a legitimidade recursal:
Art. 577 O recurso poderá ser interposto pelo Nos últimos tempos tem se discutido a possibilida-
Ministério Público, ou pelo querelante, ou pelo réu, de de habeas corpus coletivo, isto é, o paciente é uma
seu procurador ou seu defensor. coletividade determinada. Algumas decisões realça-
Parágrafo único. Não se admitirá, entretanto, ram que esse instrumento é capaz de garantir acesso
recurso da parte que não tiver interesse na reforma à justiça aos grupos mais vulneráveis da sociedade.
ou modificação da decisão. O legitimado passivo é a autoridade coatora, que
não precisa ser necessariamente uma autoridade
Para prestigiar a boa-fé, o CPP assegura a fungibili-
pública, visto que há casos de particulares que cer-
dade dos recursos, desde que seja respeitado o menor
ceiam a liberdade de ir e vir de outrem. Ex.: HC para
prazo e haja dúvida objetiva:
sair de um hospital que prende o paciente por falta de
Art. 579 Salvo a hipótese de má-fé, a parte não será pagamento.
prejudicada pela interposição de um recurso por No HC preventivo, a ordem é de salvo-conduto
outro. (evitar a coação ilegal), no HC repressivo, a ordem é
Parágrafo único. Se o juiz, desde logo, reconhecer alvará de soltura (superar a coação ilegal).
a impropriedade do recurso interposto pela par-
te, mandará processá-lo de acordo com o rito do Art. 649 O juiz ou o tribunal, dentro dos limites
recurso cabível. da sua jurisdição, fará passar imediatamente a
ordem impetrada, nos casos em que tenha cabi-
O HABEAS CORPUS E SEU PROCESSO mento, seja qual for a autoridade coatora.

Habeas Corpus (HC) significa “exiba o corpo”,


A concessão do HC não obsta eventual processo que
“apresente a pessoa”, e se refere a quem está sofrendo esteja em trâmite, desde que não haja conflito de fun-
a ilegalidade na sua liberdade de locomoção. Nos ter- damentos entre eles. Se o habeas corpus for concedido
mos do art. 5º da CF: em virtude de nulidade do processo, este será renova-
Art. 5° [...] do. Se a ilegalidade decorrer do fato de não ter sido o
LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que paciente admitido a prestar fiança, o juiz arbitrará o
alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer vio- valor desta, que poderá ser prestada perante ele. E, se o
lência ou coação em sua liberdade de locomoção, juiz ou o tribunal verificar que já cessou a violência ou
por ilegalidade ou abuso de poder. coação ilegal, julgará prejudicado o pedido.
Ordenada a soltura do paciente em virtude de
O HC consiste em ação autônoma de impugnação, habeas corpus, será condenada nas custas a autorida-
de natureza constitucional. Para que seja utilizado, de que, por má-fé ou evidente abuso de poder, tiver
exige-se que alguém sofra ou se ache ameaçado de determinado a coação. Neste caso, será remetida ao
sofrer violência ou coação em sua liberdade de loco- Ministério Público cópia das peças necessárias para
moção, em virtude de constrangimento ilegal. Ex.: Não
ser promovida a responsabilidade da autoridade.
cabe HC no caso do art. 28 da lei de drogas (consumo
pessoal), pois não prevê prisão como sanção. O habeas corpus poderá ser impetrado por qualquer
O HC destina-se à tutela da liberdade de ir, vir e pessoa, em seu favor ou de outrem, bem como pelo
ficar, logo, não cabe HC em caso de persecução penal Ministério Público. Os juízes e os tribunais têm compe-
referente à infração penal, a qual seja cominada tão tência para expedir de ofício ordem de habeas corpus,
somente a pena de multa, quando já tiver sido cum- quando no curso de processo verificarem que alguém
prida a pena privativa de liberdade, perda de função sofre ou está na iminência de sofrer coação ilegal.
pública, apreensão de veículo, direito de visitar um
detento, perda de direitos político e impeachment. Art. 657 Se o paciente estiver preso, nenhum moti-
vo escusará a sua apresentação, salvo:
I - grave enfermidade do paciente;
CASOS DE COAÇÃO
CABIMENTO II - não estar ele sob a guarda da pessoa a
ILEGAL
quem se atribui a detenção;
� Se não há justa causa III - se o comparecimento não tiver sido deter-

NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL


� Se ficar mais tempo pre- minado pelo juiz ou pelo tribunal.
so do que a lei determina Parágrafo único. O juiz poderá ir ao local em que
� Se quem ordena a coação o paciente se encontrar, se este não puder ser apre-
Sempre que alguém sofrer sentado por motivo de doença.
não tiver competência
ou estiver na iminência de
� Se já tiverem cessados os
sofrer violência ou coação O juiz decide em 24 horas, após as diligências
motivos
ilegal na sua liberdade de
� Se não o deixarem pres- necessárias. Se a decisão for favorável ao paciente,
ir e vir
tar a fiança a sua libertação é imediata, salvo haja outro motivo
� Se o processo for nulo para permanecer preso.
� Se já foi extinta a
punibilidade

Não caberá habeas corpus em relação a punições DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS


disciplinares militares (mérito). Exceção: pode ser
analisado aspectos legais da medida. APLICÁVEIS AO DIREITO PROCESSUAL
O impetrante é quem pede a concessão da ordem, PENAL
ao passo que o paciente é quem sofre ou está amea-
çado a sofrer violência ou coação em sua liberdade As normas se dividem em regras e princípios. As
de locomoção por ilegalidade ou abuso de poder. Pode regras podem ou não serem cumpridas, conforme a
ser a mesma pessoa ou não. técnica do tudo ou nada, já os princípios podem ser 321
ponderados, sem que haja a exclusão de um princípio DEFESA TÉCNICA AUTODEFESA
para prevalecer o outro, ocorrendo uma mera flexi- Exercida pelo advoga- Exercida pela própria parte no
bilização, para que ocorra o encaixe perfeito no caso do. É obrigatória na fase interrogatório.
concreto. Por exemplo, nas decisões dos tribunais, processual. Compreende o direito de au-
muitas vezes temos a disputa liberdade de expres- Súmula n° 523 (STF) “No diência (se apresentar ao juiz
são x privacidade, e os julgadores tentam conciliar processo penal, a falta da para defender-se pessoal-
defesa constitui nulidade mente); direito de presença
entre ambos os princípios.
absoluta, mas a sua de- (acompanhar os atos de ins-
Os princípios são mais abstratos do que as regras, ficiência só o anulará se trução ao lado do seu defen-
e, muitas vezes, as embasam. Por exemplo, o princí- houver prova de prejuízo sor); capacidade postulatória
pio da dignidade da pessoa humana inspirou várias para o réu” autônoma (impetrar habeas
regras protetivas de direitos do preso (direito a saúde, corpus, ajuizar revisão crimi-
nal, formular pedidos relativos
trabalho, estudo).
à execução da pena)
A Constituição Federal de 1988 se preocupou com
as garantias processuais penais em diversos dispo-
z Publicidade: acesso de todos os cidadãos ao pro-
sitivos, instituindo um amplo rol de princípios cons- cesso, com vistas à transparência da atividade
titucionais protetivos do processo penal, como, por jurisdicional, oportunizando a fiscalização de toda
exemplo, a presunção de inocência, que é um princípio a sociedade.
basilar extraído diretamente do texto constitucional.
O Código de Processo Penal, inspirado nas garantias Art. 5º[...]
constitucionais, forma um complexo de regras e prin- IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciá-
cípios que conduzem a marcha processual. rio serão públicos, e fundamentadas todas as decisões,
Entenda os princípios processuais mais importantes: sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presen-
ça, em determinados atos, às próprias partes e a seus
z Presunção de Inocência: consiste no direito de advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a
preservação do direito à intimidade do interessado no
não ser declarado culpado, senão após o devido
sigilo não prejudique o interesse público à informação;
processo legal. A consequência deste princípio é
que a parte acusadora fica com o ônus de demons-
z Princípio da busca da verdade: com o passar
trar a culpabilidade do acusado. Ex.: Para a impo- dos anos, verificou-se que, no âmbito do processo
sição de uma sentença condenatória, é necessário penal, é impossível atingir a verdade absoluta. O
provar, eliminando qualquer dúvida razoável (in que se busca, então, é a maior exatidão possível
dubio pro reo). na reconstituição do fato controverso, mas sem a
pretensão de chegar na verdade real. Assim, são
Art. 5º [...] inadmissíveis provas obtidas por meios ilícitos,
LVII - ninguém será considerado culpado até o trân- para que seja evitado provar a qualquer custo, por
sito em julgado de sentença penal condenatória; meio de ilegalidades e violações de direitos.

Em 2019, o STF fixou entendimento no sentido de Art. 5º [...]


que o início do cumprimento da pena precisa do trân- LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obti-
sito em julgado da condenação. Assim, apenas pode das por meios ilícitos;
ocorrer prisão cautelar (provisória, temporária) antes
do esgotamento da via recursal. z Princípio do juiz natural: significa que é vedado o
Tribunal de Exceção, ou seja, escolher quem vai jul-
z Contraditório: consiste no direito à informação, gar o acusado após o fato, sem que existam regras
somado ao direito de participação. Quanto ao pré-fixadas de competência. O sentido desta violação
direito de informação, destacam-se as citações e é manter a imparcialidade do juízo que trabalha em
nome do Estado, e não pelo desejo de vingança;
intimações. Quanto ao direito de participação, o
z Ninguém é obrigado a produzir prova contra si
acusado precisa ter a oportunidade de reagir. Ex.:
mesmo: esse princípio exemplifica-se pelo direito
Contestar, recorrer.
ao silêncio, não ser constrangido a confessar, inexi-
gibilidade de dizer a verdade, não praticar qualquer
Dica comportamento ativo que possa incriminá-lo, não
Súmula n° 707 (STF) “Constitui nulidade a falta produzir nenhuma prova incriminadora invasiva.
Ou seja, o acusado tem o direito de autopreservar-se,
de intimação do denunciado para oferecer con-
o que faz parte da natureza humana, e, com isso, não
trarrazões ao recurso interposto da rejeição da
produzir provas que vão levar à sua condenação.
denúncia, não a suprindo a nomeação de defen-
sor dativo”. O STF já decidiu que a consideração de que o acu-
sado não demonstrou interesse em colaborar com a
z Ampla defesa: o direito de defesa complementa o con- justiça não constitui fundamento idôneo para decre-
traditório, pois, após se contrapor (exercer o contradi- tar a prisão preventiva.
tório), o acusado precisa se defender. A ampla defesa Agora que já entendemos o conceito de cada prin-
proporciona ao acusado a possibilidade de influenciar cípio, para finalizar esse tópico com chave de ouro,
322 na decisão judicial. Ex.: Produzindo provas. vale a memorização da literalidade dos artigos:
PRINCÍPIO DA LVII - ninguém será considerado z Genocídio (arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº 2.889, de 1º
PRESUNÇÃO DE culpado até o trânsito em julgado de outubro de 1956), em qualquer de suas formas
INOCÊNCIA de sentença penal condenatória típicas;
z Tráfico de drogas (art. 12 da Lei nº 6.368, de 21 de
LV - aos litigantes, em processo outubro de 1976);
PRINCÍPIO DO judicial ou administrativo, e aos z Crimes contra o sistema financeiro (Lei nº 7.492,
CONTRADITÓRIO E acusados em geral são assegura- de 16 de junho de 1986);
DA AMPLA dos o contraditório e ampla defe- z Crimes previstos na Lei de Terrorismo (Lei nº
DEFESA sa, com os meios e recursos a ela 13.260, de 16 de março de 2016).
inerentes

IX - todos os julgamentos dos A prisão temporária será decretada pelo Juiz, em


órgãos do Poder Judiciário serão face da representação da autoridade policial ou de
públicos, e fundamentadas todas requerimento do Ministério Público, e terá o prazo de
as decisões, sob pena de nulidade, 5 (cinco) dias, prorrogável por igual período em caso
podendo a lei limitar a presença, de extrema e comprovada necessidade.
PRINCÍPIO DA em determinados atos, às pró- Decorrido o prazo contido no mandado de prisão,
PUBLICIDADE prias partes e a seus advogados, a autoridade responsável pela custódia deverá, inde-
ou somente a estes, em casos nos pendentemente de nova ordem da autoridade judi-
quais a preservação do direito cial, pôr imediatamente o preso em liberdade, salvo
à intimidade do interessado no
se já tiver sido comunicada da prorrogação da prisão
sigilo não prejudique o interesse
temporária ou da decretação da prisão preventiva.
público à informação
Lembre-se que os presos temporários devem ficar
PRINCÍPIO DA LVI - são inadmissíveis, no proces- separados dos demais detentos.
VEDAÇÃO ÀS so, as provas obtidas por meios
PROVAS ILÍCITAS ilícitos
PRINCÍPIO DO
JUIZ NATURAL
XXXVII - não haverá juízo ou tri-
bunal de exceção
HORA DE PRATICAR!
LXIII - o preso será informado 1. (IDECAN — 2021) Nos termos da lei, ninguém pode ser
PRINCÍPIO DO de seus direitos, entre os quais o punido por fato que lei posterior deixa de considerar
NEMO TENETUR SE de permanecer calado, sendo-lhe crime. A esse fenômeno, denomina-se abolitio crimi-
DETEGERE assegurada a assistência da famí- nis. Acerca do tema, assinale a alternativa correta.
lia e de advogado
a) A abolitio criminis descriminaliza conduta antes tipifi-
cada pela lei penal. Não se trata, contudo, de hipótese
de extinção de punibilidade, mas de novatio legis in
LEI Nº 7.960, DE 1989 (PRISÃO mellius, que deve retroagir a todos.
b) A abolitio criminis descriminaliza conduta antes tipi-
TEMPORÁRIA) ficada pela lei penal. Tem como efeito a extinção de
punibilidade e retroage a todos, fazendo cessar os
A prisão temporária só cabe no caso de determi- efeitos penais de eventual sentença condenatória. Os
nados crimes taxados pela lei, quando imprescindível efeitos civis, contudo, permanecem.
para as investigações do inquérito policial; ou quando c) A abolitio criminis descriminaliza conduta antes tipifi-
o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer cada pela lei penal. Como se trata de novatio legis in
elementos necessários ao esclarecimento de sua iden- mellius, faz cessar todos os efeitos, penais e civis, de
tidade. São necessárias fundadas razões de autoria ou eventual sentença condenatória.
participação do indiciado nos seguintes crimes: d) Em hipótese de abolitio criminis, o indivíduo que por-
ventura esteja cumprindo pena privativa de liberdade

NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL


z Homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2º); pelo delito objeto da descriminalização da conduta,
z Sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e deverá ser imediatamente posto em liberdade. Toda-
seus §§ 1º e 2º); via, perderá sua primariedade.
z Roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1º, 2º e 3º); e) Em hipótese de abolitio criminis, aquele que já cum-
z Extorsão (art. 158, caput, e seus §§ 1º e 2º); priu pena pelo delito objeto da descriminalização nada
z Extorsão mediante sequestro (art. 159, caput, e poderá aproveitar, pois sua extinção de punibilidade já
seus §§ 1º, 2º e 3º); se deu pelo efetivo cumprimento de sua pena.
z Estupro (art. 213, caput, e sua combinação com o
art. 223, caput, e parágrafo único); 2. (IDECAN — 2021) Ricardo praticou delito previsto em
z Atentado violento ao pudor (art. 214, caput, e sua lei penal temporária no dia 6/8/2014 e por tal crime foi
combinação com o art. 223, caput, e parágrafo denunciado no dia 29/8/2014. A denúncia foi recebida
único); em 3/9/2014. Em audiência una de instrução e julga-
z Rapto violento (art. 219, e sua combinação com o mento, ocorrida em 7/4/2015, a defesa de Ricardo sus-
art. 223 caput, e parágrafo único); tentou tese de abolitio criminis e consequente hipótese
z Epidemia com resultado de morte (art. 267, § 1º); de extinção de punibilidade de Ricardo, ao argumento
z Envenenamento de água potável ou substância ali- de que a lei que criminalizava a conduta teve vigência
mentícia ou medicinal qualificado pela morte (art. apenas de 5/6/2012 até 31/12/2014; assim, na data da
270, caput, combinado com art. 285); audiência, a conduta imputada ao réu já seria atípica.
z Quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código Nesse sentido, assinale a alternativa correta.
Penal; 323
a) A defesa de Ricardo tem razão; de fato, ocorreu aboli- d) Crime cometido no estrangeiro contra a vida ou liber-
tio criminis, motivo pelo qual a absolvição se impõe. dade do Presidente da República brasileiro está sujei-
b) Não é hipótese de abolitio criminis, mas de verdadeira to a lei penal brasileira desde que o agente não tenha
descriminalização, o que impõe absolvição pela extin- sido absolvido no estrangeiro.
ção de punibilidade. e) Não se consideram extensão do território nacional
c) Não se trata de lei penal temporária, mas sim de lei aeronaves privadas a serviço do governo brasileiro em
penal excepcional, que perdurou enquanto duraram as espaço aéreo correspondente a outro país.
circunstâncias excepcionais que determinaram sua
edição. Ela continuará a ser aplicada. 5. (IDECAN — 2021) Janaína está grávida de dez sema-
d) A defesa de Ricardo não está com razão. Embora seja nas e deseja praticar um aborto. Ela descobre que está
hipótese de lei penal temporária e tendo decorrido o próximo à costa brasileira, mas em espaço classifica-
período de sua duração, ela continuará a ser aplicada do como “alto-mar”, o navio de uma ONG holandesa
aos fatos ocorridos sob sua vigência. que viaja pelo mundo fornecendo informações, contra-
e) Quer se trate de lei penal temporária, quer se trate de ceptivos e realizando abortos seguros em gestações
lei penal excepcional, a absolvição de Ricardo é medi- de até doze semanas, nos termos da legislação holan-
da que se impõe, pois a lei penal não retroage, salvo desa. Para tanto, Janaína aluga uma embarcação pri-
em benefício do réu, tal como deve correr na hipótese. vada e sai do porto de Santos-SP com destino ao navio
da mencionada organização não governamental, que
3. (IDECAN — 2021) Considere que em determinada está ancorado a vinte milhas náuticas da costa brasi-
situação o prazo decadencial de seis meses para leira. Ali, de forma livre e consciente, Janaína realiza o
oferecimento de queixa-crime comece a correr em aborto. Na volta, ao descer da embarcação alugada, já
8/1/2021, uma sexta-feira. Considere também que, em solo brasileiro, Janaína é presa pela Polícia Federal
em outra situação, o prazo da prescrição da pretensão pela prática de delito de aborto, sendo certo que ela
executória de determinado delito seja de três anos e confessa toda a sua conduta.
comece a correr em 19/7/2018 (quinta-feira), estando
o condenado foragido. Nessa hipótese, assinale a alternativa correta.

Nessa hipótese, assinale a alternativa correta. a) Janaína pode ser responsabilizada pelo delito de
aborto segundo a lei penal brasileira, pois a execução
a) Na primeira situação, a queixa-crime deverá ser ofe- começou a se dar no território nacional, já que ela alu-
recida até o dia 7/7/2021 (quarta-feira), sob pena de gou um barco com essa finalidade.
decadência, e, na segunda situação, o condenado b) Janaína não praticou crime algum. O aborto foi come-
poderá ser capturado até o dia 19/7/2021 (segunda- tido fora do território nacional, mais precisamente em
-feira) para começar a cumprir a pena. território holandês, pois a embarcação holandesa esta-
b) Na primeira situação, a queixa-crime poderá ser oferecida va em alto-mar. Dessa forma, Janaína não pode ser
até o dia 8/7/2021 (quinta-feira), e, na segunda situação, responsabilizada pela lei penal brasileira na hipótese.
o condenado poderá ser capturado até o dia 19/7/2021 c) Como Janaína alugou uma embarcação privada para
(segunda-feira) para começar a cumprir a pena. dirigir-se até o navio da ONG, considera-se que o início
c) Na primeira situação, a queixa-crime deverá ser ofe- da execução do delito se deu em território nacional;
recida até o dia 12/7/2021 (segunda-feira), sob pena portanto, a lei penal brasileira é aplicável, e Janaína
de decadência, e, na segunda situação, o condenado poderá responder pelo delito de aborto.
poderá ser capturado até o dia 20/7/2021 (terça-feira) d) Houve crime de aborto e Janaína poderá ser res-
para começar a cumprir a pena. ponsabilizada por ele, mesmo tendo sido praticada,
d) Na primeira situação, a queixa-crime poderá ser ofe- a conduta, a bordo de um navio privado de bandeira
recida até o dia 7/7/2021 (quarta-feira), e, na segunda holandesa, pois, como a embarcação é privada, aplica-
situação, o condenado poderá ser capturado até o dia -se a lei penal brasileira.
18/7/2021 (domingo) para começar a cumprir a pena. e) Como a embarcação é privada e estava em alto-mar,
e) Na primeira situação, a queixa-crime deverá ser ofe- vale a lei penal brasileira, razão pela qual Janaína
recida até o dia 12/7/2021 (segunda-feira), sob pena poderá ser responsabilizada pelo delito de aborto des-
de decadência, e, na segunda situação, o condenado de que a Holanda não resolva processá-la criminal-
poderá ser capturado até o dia 19/7/2021 (segunda- mente pelo fato.
-feira) para começar a cumprir a pena.
6. (IDECAN — 2021) O Ministério Público denunciou Joa-
4. (IDECAN — 2021) Em relação ao lugar do crime, terri- na, servidora ocupante de função de direção de deter-
torialidade e extraterritorialidade da lei penal, assinale minada autarquia, por delito de peculato, mas com a
a alternativa correta. incidência da causa de aumento de pena prevista no
parágrafo segundo do art. 327 do Código Penal, in
a) Se a execução de um delito ocorrer em território nacional, verbis: “A pena será aumentada da terça parte quando
mas o resultado ocorrer em território estrangeiro, não é cor- os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem
reto afirmar que tal delito ocorreu em território nacional. ocupantes de cargos em comissão ou de função de
b) Ficam sujeitos à lei penal brasileira, embora cometi- direção ou assessoramento de órgão da administra-
dos no estrangeiro, independentemente de condições, ção direta, sociedade de economia mista, empresa
os crimes praticados por brasileiro contra brasileiro ou pública ou fundação instituída pelo poder público.”
estrangeiro residente no Brasil. Acerca do caso, assinale a alternativa correta.
c) Se a execução de um delito ocorrer em território estrangei-
ro, mas o resultado ocorrer em território nacional, é correto a) A incidência da causa de aumento está correta, pois
afirmar que tal delito ocorreu em território nacional. as autarquias podem ser equiparadas a órgãos da
324 administração pública direta.
b) A causa de aumento de pena descrita somente poderá b) Como o inquérito policial é presidido pela autoridade poli-
incidir se Joana tiver se aproveitado de sua condição cial, cabe a ela, também, decidir pelo seu arquivamento.
de diretora da autarquia para praticar o delito. c) Tratando-se de prisão em flagrante, no delito de este-
c) Não incide a causa de aumento de pena, pois as autar- lionato, o delegado de polícia está obrigado a instau-
quias não foram mencionadas em referida causa de rar inquérito policial mesmo que a vítima do delito não
aumento e, com base no princípio da legalidade, veda- compareça nem faça tal solicitação.
se analogia in malam partem. d) O inquérito policial é capaz de produzir provas que
d) O delito praticado por Joana não foi peculato, pois poderão fundamentar de modo exclusivo o entendi-
diretor de autarquia não se equipara a funcionário mento do juiz em eventual sentença condenatória.
público para fins de aplicação da lei penal. e) Eventuais nulidades ou irregularidades ocorridas no
e) Não incide a causa de aumento de pena, pois estamos inquérito policial contaminarão o processo penal e
diante de uma lei penal excepcional, que apenas será poderão culminar no trancamento da ação penal.
aplicada subsidiariamente, ou seja, quando não hou-
ver nenhuma lei específica. 10. (IDECAN — 2021) Jorge, engenheiro, e José, policial
militar, efetuaram a prisão em flagrante de Paulo,
7. (IDECAN — 2021) Diante da virtualização de proces- conhecido por furtar objetos no centro da cidade. Na
sos judiciais e da falta de necessidade de fazer car- sua última investida, ao tentar furtar o celular de Jorge,
ga de processos físicos nas Comarcas, o funcionário este saiu em perseguição a Paulo, juntamente com o
público João de Deus resolveu, dolosamente, se apro- policial militar José, que, presenciando o fato, também
priar do único veículo da Procuradoria-Geral, do qual saiu em disparada no intuito de capturar o criminoso, o
detinha posse em razão do seu cargo de motorista. que foi feito.
Nesse caso, é possível afirmar que
Levado para a Delegacia Policial e apresentado à auto-
a) nenhum crime foi cometido por João de Deus, já que a ridade, esta determinou a oitiva do condutor/teste-
viatura estava sem uso. munha José, da vítima Jorge e do conduzido Paulo,
b) se a viatura tiver algum valor econômico, João de determinando seu recolhimento à prisão. Acerca das
Deus responderá por crime de prevaricação. disposições sobre prisão em flagrante no Código de
c) há dois crimes contra a Administração Pública para serem Processo Penal, assinale a alternativa correta.
imputados a João de Deus: concussão e corrupção ativa.
d) João de Deus deve responder pela prática do crime de a) A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto
peculato. de prisão em flagrante; mas, nesse caso, com o condutor,
deverão assiná-lo pelo menos três pessoas que hajam
8. (IDECAN — 2021) O conceito clássico do inquérito testemunhado a apresentação do preso à autoridade.
policial dado pela doutrina é que se trata de um pro- b) Não havendo autoridade no lugar em que se tiver efe-
cedimento administrativo que visa apurar autoria e tuado a prisão, os prazos serão contados em dobro.
materialidade. A investigação realizada pela Autorida- c) Em até 48 (quarenta e oito) horas após a realização da
de Policial faz parte da persecução penal. prisão, será encaminhado ao juiz competente o auto de
prisão em flagrante e, caso o autuado não informe o nome
Acerca da persecução penal, assinale a afirmativa de seu advogado, cópia integral para a Defensoria Pública.
INCORRETA. d) Da lavratura do auto de prisão em flagrante deverá
constar a informação sobre a existência de filhos, res-
a) Do despacho que indeferir o requerimento de abertura pectivas idades e se possuem alguma deficiência e o
de inquérito não caberá recurso. nome e o contato de eventual responsável pelos cui-
b) A notitia criminis pode ser de cognição imediata, cog- dados dos filhos, indicado pela pessoa presa.
nição mediata e cognição coercitiva. e) Transcorridas 48 (quarenta e oito) horas após a pri-
c) A delatio criminis ocorre quando qualquer do povo são em flagrante sem a realização de audiência de
comunica à autoridade policial a existência de um cri- custódia sem motivação idônea ensejará também a
me de ação penal pública (art. 5º, §3º do CPP). ilegalidade da prisão, a ser relaxada pela autoridade

NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL


d) O Ministério Público não poderá requerer a devolução competente, sem prejuízo da possibilidade de imedia-
do inquérito à autoridade policial, senão para novas dili- ta decretação de prisão preventiva.
gências, imprescindíveis ao oferecimento da denúncia.
e) Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela 11. (IDECAN — 2021) O Magistrado da Comarca X decre-
autoridade judiciária, por falta de base para a denún- tou a prisão preventiva e Raimundo com fundamento
cia, a autoridade policial não poderá continuar a inves- na conveniência da instrução criminal, já que o Parquet
tigar o fato, a não ser que ocorra o desarquivamento. juntou, na sua manifestação pela prisão do acusado ,
provas robustas de que o réu estava ameaçando uma
9. (IDECAN — 2021) O inquérito policial é procedimen- das testemunhas de acusação. Passados 90 dias da
to administrativo, preparatório e inquisitivo, presidido prisão, e com a instrução criminal em andamento,
pela autoridade policial, que tem por objetivo investi- após as oitivas das testemunhas de acusação e da
gar a prática de delito para reunir provas acerca de sua oitiva da primeira testemunha de defesa, o Magistrado
materialidade e indícios suficientes da autoria, a fim encerrou a audiência é designou nova data para a con-
de viabilizar uma ação penal. Nesse sentido, assinale tinuação dos trabalhos, Já que se comprovou que as
a alternativa correta. demais testemunhas de defesa não haviam sido Inti-
madas. Durante todo o andamento processual, O réu
a) O advogado devidamente constituído poderá ter acesso Raimundo permaneceu preso preventivamente diante
aos autos do inquérito policial, sendo certo que tal acesso da decisão mencionada acima. Com base exclusiva-
apenas se refere aos elementos já documentados. mente no que foi narrado no enunciado, é correto afir-
mar a prisão preventiva é
325
a) legal já está de acordo com os preceitos processuais poderá utilizar unicamente esse fundamento, devendo
vigentes, sobretudo a conceito de conveniência da ins- comprovar a necessidade e adequação da prisão cau-
trução criminal descrito no artigo 312 do Código de telar e, caso decrete a medida de ofício, o Ministério
Processo Penal. Público deverá opinar na condição de fiscal da lei.
b) legal, já que a sua fundamentação se baseou em fatos
concretos, novos e contemporâneos, que justificavam 13. (IDECAN — 2021) O Código de Processo Penal previu
a aplicação da medida extrema, a fim de resguardar o medidas cautelares reais e pessoais. As medidas cau-
regular andamento processual. telares reais são as que recaem sobre a coisa, como,
c) legal, pois o fato de o réu ter ameaçado uma das teste- por exemplo, a busca e apreensão e o arresto. Já as
munhas não é motivo para prisão preventiva, mas sim medidas cautelares pessoais são aquelas que recaem
aplicável o Instituto da prisão temporária, conforma sobre a pessoa e se subdividem em prisões cautela-
expressa previsão da Lei 7.960/89. res e medidas alternativas à prisão, com a finalidade
d) Ilegal, pois há uma norma na legislação processual de assegurar a eficácia da investigação criminal ou da
penal que determina que, foda vez que a instrução instrução penal por meio de restrições à liberdade ou
criminal for fragmentada, o preso será imediatamente a direitos do investigado.
colocado em liberdade.
e) ilegal, já que, passados mais de 90 dias da decretação A seguir estão relacionadas algumas medidas cautela-
da medida constritiva de liberdade, o Magistrado que res previstas no Código de Processo Penal, À EXCEÇÃO
a decretou não realizou a revisão, de ofício, da neces- DE UMA.
sidade de sua manutenção.
Assinale-a.
12. (IDECAN — 2021) Em relação ao tema prisões cautela-
res, assinale a alternativa que se coaduna com os prin- a) monitoração eletrônica
cípios constitucionais aplicáveis ao processo penal, b) comparecimento periódico em juízo
bem como ao entendimento dos tribunais superiores c) suspensão do exercício de função pública
acerca do tema. d) prisão temporária
e) prisão preventiva
a) A prisão preventiva não é compatível com o princí-
pio da presunção de inocência, pois se reveste de 14. (IDECAN — 2021) Bruno foi preso em flagrante delito
um mecanismo de antecipação de pena. Para que se pelo crime de sequestro e cárcere privado. O flagrante
decrete uma prisão cautelar, a decisão do juiz deve ocorreu de forma regular e, no prazo correto, realizou-
estar lastreada em fatos contemporâneos que ates- -se a audiência de custódia. Em referida audiência, o
tem o perigo da liberdade do réu ou investigado. Toda- advogado de Bruno destacou que seu cliente é primá-
via, uma vez verificado o perigo da liberdade, o juiz rio, possui bons antecedentes, tem emprego e residên-
poderá decretar a prisão preventiva de ofício. cia fixos e compromete-se a comparecer sempre que
b) A prisão preventiva é compatível com a presunção de solicitado. Nessa hipótese, o pedido a ser feito para
não culpabilidade do acusado desde que não assu- restituir a liberdade de Bruno é
ma natureza de antecipação da pena e não decorra,
automaticamente, do caráter abstrato do crime. Além a) relaxamento de prisão.
disso, a decisão judicial deve apoiar-se em motivos b) habeas corpus.
e fundamentos concretos, relativos a fatos novos ou c) liberdade provisória.
contemporâneos, dos quais se possa extrair o perigo d) revogação de prisão preventiva.
que a liberdade plena do investigado ou réu representa e) revisão criminal.
para os meios ou os fins do processo penal.
c) A prisão preventiva é compatível com a presunção de 15. (IDECAN — 2021) O Juiz Federal da Seção Judiciária X
não culpabilidade e, desde que observados os requisi- decretou, de ofício, a prisão temporária por 10 dias de
tos legais, poderá ser decretada pelo magistrado, seja Jonas, que estava sendo acusado pela prática do deli-
de ofício ou a requerimento da autoridade policial ou to de evasão de divisas, tipificado no parágrafo único
do promotor de justiça. A contemporaneidade da pri- do artigo 22 da Lei 7 492/86. O mandado de prisão
são é recomendada, mas não essencial, desde que a já especificava a data de soltura de Jonas, caso não
decisão seja fundamentada, sendo certo que o caráter fosse, posteriormente, decretada a prisão preventiva
abstrato do crime, por si só, não é fundamento hábil. ou prorrogada a prisão temporária. Acerca da que foi
d) O caráter abstrato do crime pode, desde que não iso- escrito acima e com base na legislação a respeito do
ladamente, fundamentar decisão que decreta prisão tema prisão temporária, assinale a alternativa correta.
cautelar. Isso porque os magistrados devem atentar
para seu compromisso com a segurança pública e com a) A prisão temporária decretada é ilegal, já que não
o Estado Democrático de Direito, de modo que devem constam no rol de crimes previstos no artigo 1º da Lei
punir exemplarmente os autores de delitos graves, tais 7.960/89 os delitos contra o sistema financeiro nacional,
como aqueles que são praticados por violência ou gra- b) A decretação a prisão temporária correta, já que a
ve ameaça às pessoas. Apenas assim se conseguirá legislação sobre o tema previu decretação de ofício e
implementar uma efetiva proteção da sociedade e, con- pelo prazo de dez dias, prorrogáveis por igual período
sequentemente, a prevenção dos delitos. em caso de extrema e comprovada necessidade.
e) O princípio da presunção de inocência não é absolu- c) A legalidade da decisão de prisão temporária é ques-
to e pode ceder lugar em caso de necessidade para tionável, já que o enunciado deixou claro que a decisão
prevalecer o interesse público. Como a segurança da exarada pelo magistrado, embora de acordo com as dis-
sociedade é de interesse público, a gravidade em abs- posições processuais previstas da Lei 7.960/89, inovou
trato do delito configura fundamento hábil à decreta- ao determinar a liberdade de Jonas, dispensando o alva-
ção da medida restritiva. Todavia, o magistrado não rá de soltura determinado pelo magistrado processante.
326
d) A legalidade da decisão de prisão temporária é inques- e) O juiz agiu corretamente e, além disso, a hediondez do
tionável, Já que o enunciado deixou claro que a deci- delito praticado por Alexandre também poderá influen-
são exarada pelo magistrado esta da acordo com as ciar na execução da pena, para fins de progressão de
disposições processuais previstas da Lei 7.960/89, regime, por exemplo.
sobretudo ao determinar a liberdade de Jonas, dispen-
sando o alvará de soltura. 18. (IDECAN — 2021) De acordo com a legislação, consi-
e) À decretação da prisão temporária está incorreta, já deram-se hediondos os delitos listados nas alternati-
que o magistrado não pode decretar essa prisão de ofí- vas a seguir, À EXCEÇÃO DE UMA.
cio, bem como o correto prazo da medida constritiva é
de cinco dias, podendo ser prorrogado por igual perío- Assinale-a.
do em caso de extrema e comprovada necessidade.
a) roubo praticado mediante emprego de explosivo
16. (IDECAN — 2021) Carlos está sendo investigado pela b) furto praticado mediante emprego de explosivo
prática do delito de epidemia com resultado morte, c) roubo circunstanciado pela restrição da liberdade da
tipificado no artigo 267, §1º, que possui a seguinte vítima
redação: “Causar epidemia, mediante a propagação d) estupro
de germes patogênicos. Se do fato resulta morte, e) favorecimento da prostituição de adolescente
a pena é aplicada em dobro,” No curso da investiga-
ção realizada no inquérito policial, ficou demonstrada 19. (IDECAN — 2021) O dependente químico severo, com-
a necessidade da aplicação da medida constritiva provado por laudo pericial, que, para poder comprar
de liberdade, em razão do cumprimento de variados substância entorpecente a fim de satisfazer seu vício,
requisitos de admissibilidade dessa medida cautelar. pratica conduta descrita em tipo penal de furto, poderá
Com base exclusivamente no que foi narrado acima, arguir em sua defesa excludente de
assinale a alternativa correta.
a) ilicitude pela inexigibilidade de conduta diversa.
a) Enquanto a prisão temporária é cabível apenas na fase b) tipicidade pela ausência de dolo.
processual, o instituto da prisão preventiva só é cabí- c) culpabilidade pela coação moral irresistível.
vel na fase investigativa. d) culpabilidade pela inimputabilidade.
b) Não é cabível a prisão temporária no caso apresenta- e) ilicitude pelo estado de necessidade.
do, pois o crime de epidemia com resultado morte não
está mencionado no rol taxativo da Lei 7.960/89. 20. (IDECAN — 2021) A Lei 11.343, de 23 de agosto de
c) Não é cabível a prisão preventiva no caso apresenta- 2006, é considerada a lei “antidrogas” no Brasil. A res-
do, pois o crime de epidemia com resultado morte não peito dos crimes cometidos sob a influência de drogas
atende aos requisitos descritos no CPP para aplicabili- de abuso psicoativas, assinale a alternativa correta.
dade dessa medida.
d) Enquanto a prisão temporária é cabível apenas na fase a) Na sentença condenatória, quando atestada a necessi-
investigativa, o instituto da prisão preventiva só é cabí- dade de encaminhamento do usuário para tratamento,
vel na fase processual. realizado por profissional de saúde com competência
e) É possível a decretação tanto da prisão preventiva específica na forma da lei, essa medida ficará a cargo
quanto da prisão temporária, desde que presentes os do agente e seus familiares.
requisitos de admissibilidade de cada medida. b) É isento de pena o indivíduo que, em razão da dependên-
cia, ou sob o efeito, proveniente de caso fortuito ou força
17. (IDECAN — 2021) Alexandre praticou, em 30/10/2019, maior, de droga, era, ao tempo da ação ou da omissão,
delito de furto com emprego de explosivo. E por tal qualquer que tenha sido a infração penal praticada, intei-
crime foi denunciado no dia 10/11/2019, com rece- ramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
bimento da inicial acusatória ocorrida no mesmo dia. determinar-se de acordo com esse entendimento.
Após a instrução criminal, foi condenado. Na sentença, c) O juiz, na fixação das penas, não considerará a persona-
datada do dia 14/12/2020, o juiz apontou a hediondez lidade e a conduta social do agente e levará em conta

NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL


do delito e levou em consideração essa informação na apenas a natureza e a quantidade da substância ou do
fixação da pena. produto.
d) O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente
Nessa hipótese, assinale a alternativa correta. com a investigação policial e o processo criminal na
identificação dos demais coautores ou partícipes do
a) O juiz agiu corretamente ao ter considerado a hedion- crime e na recuperação total ou parcial do produto do
dez do delito, pois, embora o caráter hediondo do deli- crime estará isento de pena.
to tenha vindo após a conduta de Alexandre, não altera e) Quando absolver o agente, reconhecendo, por força
a tipificação do crime. pericial, que este se apresentava incapaz de entender
b) O juiz não poderia ter considerado a hediondez do o caráter ilícito do fato, o juiz encaminhará o agente
delito, visto que a inserção do furto com emprego de para um programa de reinserção social.
explosivo na lei de crimes hediondos ocorreu após a
conduta de Alexandre.
c) O furto com emprego de explosivo não é crime hedion-
9 GABARITO
do, apenas o roubo com emprego de explosivo.
d) O juiz não agiu corretamente, mas o caráter hediondo 1 B
do delito praticado por Alexandre poderá influenciar na
execução da pena, para fins de progressão de regime, 2 D
por exemplo.
3 D
327
4 C

5 B

6 C

7 D

8 A

9 A

10 D

11 E

12 B

13 D

14 C

15 E

16 E

17 B

18 A

19 D

20 B

ANOTAÇÕES

328
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA

O CRIME COMO FATO SOCIAL


Antigamente pensava-se que o criminoso já nascia com a marca da criminalidade, sendo a delinquência seu
único destino. Chegou-se a definir os criminosos congênitos, que teria características que os levaria a ser um cri-
minoso em potencial. Todavia, com inúmeros estudos, verificou-se que fatores sociais contribuem na trajetória da
vida de um indivíduo, colaborando para a inserção ou não no mundo da criminalidade.
Quando emergem as crises econômicas, mais se instiga a criminalidade. Pobreza; miséria; mal vivência; fome
e desnutrição; civilização cultura, educação, escola e analfabetismo; casa; rua; desemprego e subemprego; profis-
são; guerra; urbanização e densidade demográfica; industrialização; migração e imigração e política são estimu-
ladores que influenciam o poder de decisão do indivíduo que tende para a delinquência.
Apontar os motivos e consequências se faz necessários, até mesmo porque trazem em todos os cidadãos rea-
ções quanto aos princípios morais e éticos, construídos ao longo da vida. Não se pode esperar que um indivíduo
faminto, abandonado e desesperado, revoltado contra tudo e contra todos tenha condições de discernir princípios
morais. Guiado pelo instinto de sobrevivência, disposto a enfrentar todos os riscos cai na criminalidade1.

INSTITUIÇÕES SOCIAIS RELACIONADAS COM O CRIME: AS POLÍCIAS, O PODER


JUDICIÁRIO, O MINISTÉRIO PÚBLICO, OS SISTEMAS PENITENCIÁRIOS
As forças policiais, o Poder Judiciário e o Ministério Público participam, direta e indiretamente, do maior obje-
tivo do Estado Democrático de Direito, que é a busca da harmonia e da paz social através da prevenção delitiva.
Com a finalidade de alcançar esse objetivo, o Estado Democrático de Direito divide as suas ações em diretas e
indiretas. As primeiras atingem diretamente o delito, ainda que este se encontre em formação, iter criminis ou
in itinere . Já as segundas dizem respeito às ações que visam prevenir a ocorrência de delitos e que estão voltadas
não apenas ao estudo do indivíduo criminoso, mas também do meio onde ele vive. As ações indiretas também
devem considerar a geração de novos empregos, a urbanização de favelas, os investimentos na educação das
crianças e a saúde pública, que deve ser acessível a todos e constitui meio de prevenção delitiva indireta.
É a atuação da polícia ostensiva que leva à manutenção da ordem e da vigilância nas ruas patrulhadas, sendo
esta um claro exemplo de ação direta de prevenção da criminalidade. Da mesma maneira, o investimento em
treinamento e aparelhamento das polícias judiciárias para atuação na prevenção criminal e a efetiva e célere
punição de crimes graves, como os de colarinho branco, constituem exemplos de atuação do Estado Democrático
de Direito na prevenção delitiva direta.

PREVENÇÃO DELITIVA

Direta Indireta

Sobre o crime — antes ou depois de iniciado Meio em que o indivíduo vive Políticas públicas sociais
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA

O Ministério Público atua na condição de fiscal da lei, primando, por exemplo, pela probidade administrativa
dos gastos públicos, fiscalizando os gastos com a saúde dos indivíduos, com a educação — atua na prevenção
indireta do delito.
Tal como dita o art. 144, da Constituição Federal, a prevenção criminal é dever de todos os setores do Poder
Público, que deverão agir visando a obtenção de níveis aceitáveis da criminalidade, vez que acabar com ela seria
uma utopia.
Veja-se que o esforço de todo o Estado Democrático de Direito mune-se para evitar a ocorrência do delito, o
que podemos denominar de prevenção delitiva. Podemos classificar a prevenção delitiva pela criminologia em
primária, secundária e terciária.

1 GARRIDO, O. CRISTINA, A. Fatores Sociais de Criminalidade. Disponível em: chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/http://


www.atenas.edu.br/uniatenas/assets/files/magazines/FATORES_SOCIAIS_DE_CRIMINALIDADE_.pdf. Acesso em: 05 out. 2022.
329
Vejamos:

PRIMÁRIA SECUNDÁRIA TERCIÁRIA


Tem foco na raiz socioeconômica do Recai sobre a parcela da sociedade Voltada para o recluso (preso) e a sua
delito e busca implantar os direitos so- na qual habitam as pessoas que pos- recuperação. Possui, dentre outros,
ciais, através da garantia do acesso à suem predisposição para a prática o objetivo de evitar a reincidência de
saúde, educação, trabalho, segurança, de delitos, buscando produzir neles o práticas delitivas pelo condenado. Na
prevenindo o crime a médio e longo respeito pela norma jurídica prevenção terciária, localizam-se os
prazo policiais penais e o sistema judiciário,
Prevenção: pelos setores, entre
que atua na execução das penas
Atenção! Conteúdo já cobrado em possíveis agentes ou focos de
concurso criminalidade Prevenção: aqui, a prevenção ocorre
por meio da ressocialização do preso
A prevenção primária corresponde a Atenção! Na prevenção secundária, o
estratégias de política cultural, econô- foco são setores sociais com maior Atenção! Conteúdo já cobrado em
mica e social, atuando, por exemplo, na incidência criminal, com ações volta- concurso
garantia de educação, saúde, trabalho das para aquele grupo social. Exem-
e bem-estar social plo prático: controle por câmeras
nos grandes centros, os chamados
“olhos-vivos” das polícias militares

Assim, vê-se que os níveis de aplicação de medidas preventivas são prevenção primária, secundária e terciária.
Cada uma das polícias tem a sua atuação, dentro da prevenção da criminalidade, definidas em nossa Consti-
tuição Federal. Acompanhe:

Art. 144 A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da
ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, estruturado em carreira, destina-se a:
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União
ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão
interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo
da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;
III - exercer as funções de polícia marítima, aérea e de fronteiras;
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.
§ 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulha-
mento ostensivo das rodovias federais.
§ 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao
patrulhamento ostensivo das ferrovias federais.
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União,
as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.
§ 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares,
além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.
§ 6º As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército, subor-
dinam-se, juntamente com as polícias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
§ 7º A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pública, de maneira
a garantir a eficiência de suas atividades.
§ 8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações,
conforme dispuser a lei.

Trazendo as disposições legais para a criminologia, temos que o policial, especialmente aquele da força mili-
tar que se dedica ao policiamento ostensivo, deverá conhecer a comunidade em que atua, seu espaço geográfico,
as pessoas pertencentes à comunidade, seu nível socioeconômico e os principais locais onde ocorrem furtos e
roubos. Isso possibilitará que ele atue com maior amplitude, pois conhecerá e compreenderá também as causas
da criminalidade, a forma como os criminosos daquela área atuam, o que lhe permitirá traçar estratégias que
possam contribuir para a diminuição da reincidência dos criminosos.
A polícia ostensiva auxilia a prevenção da reincidência também por meio das estatísticas criminais que elabo-
ra, sobretudo porque através delas torna-se possível realocar o policiamento para os locais com maior índice de
incidência criminosa. Por outro lado, é de essencial importância também a participação da sociedade no controle
do crime, vez que este é entendido como um fenômeno comunitário.
Dito isso, passaremos ao estudo das instâncias de controle da criminalidade, que são o conjunto de mecanis-
330 mos sociais que visam submeter o homem ao convívio social-comunitário normal e harmônico.
INSTÂNCIAS DE CONTROLE SOCIAL DA Desta forma, falhando todos os controles sociais
CRIMINALIDADE informais que citamos, ao Estado impõe-se, através
do poder de polícia, o dever de aplicar a punição de
Conforme Rousseau, em sua obra “Do Contrato forma coercitiva.
Social”, a sociedade politicamente organizada utiliza- O primeiro representante da força estatal na
rá o monopólio da força para manter a paz social, a repreensão dos crimes é a polícia. O controle social
ordem e a harmonia entre os cidadãos. formal do Estado é dividido em três seleções. A pri-
A polícia é responsável pelo controle da criminali- meira é representada pela polícia judiciária ou polí-
dade de maneira formal, mas tem-se também outros cia civil. A segunda seleção diz respeito à atuação do
responsáveis por esse controle, mesmo que de manei- Ministério Público como titular da ação penal. Por sua
ra informal: família, escola, empregos e profissões, vez, a terceira seleção surge após o processo judicial e
igrejas, entre outros. seu trânsito em julgado.
Participam ainda do controle social formal da cri- Na terceira seleção de controle social formal, o
minalidade o Ministério Público, ao atuar como titular Estado impõe sua força máxima através da restrição
da ação penal pública, o Poder Judiciário, ao processar de liberdade do indivíduo. Para muitos autores da cri-
e condenar os criminosos, e a Administração Peniten- minologia moderna, a pena corpórea cumprida nos
ciária, ao controlar os meios de execução das penas estabelecimentos penais brasileiros apenas degrada o
alternativas e privativas de liberdade. homem e não o recupera para o convívio harmônico
em sociedade.
Para sintetizar, acompanhe os pontos a seguir
INSTÂNCIAS DE CONTROLE
referentes ao controle social formal:
Formal — Estado Informal — Sociedade
z 1ª seleção: Polícia Judiciária;
Família z 2ª seleção: Ministério Público, titular da ação
Polícia
Escola penal;
Ministério Público
Igrejas z 3ª seleção: Poder judiciário — prisão.
Judiciário
Emprego
Primeira Seleção — Atuação da Polícia Judiciária
A família é o primeiro seio social do indivíduo,
núcleo da sociedade que participa da vida dos cida- Com o fato criminoso, surge para o Estado o dever
dãos durante toda sua existência, moldando o caráter de punir os responsáveis, chamado de “ius puniendi”.
e comportamento através da necessária autoridade O direito de punir constitui monopólio do Estado, não
que exerce. cabendo ao cidadão exercer a justiça (ou o que pensa
A escola possui a tarefa de contribuir com a edu- ser justo) com suas próprias mãos ou com os seus pró-
cação das crianças; assim, desempenha um papel fun- prios meios.
damental na formação dos indivíduos. Contudo, com Tal conduta, inclusive, é tipificada como crime
a falta de investimento público, esse papel nos dias de pelo Código Penal Brasileiro:
hoje está cada vez mais escasso.
Art. 345 Fazer justiça pelas próprias mãos, para
Dica satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quan-
do a lei o permite:
A educação constitui forma de controle social Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa,
informal na prevenção delitiva. Atente-se a este além da pena correspondente à violência.
ponto, pois já foi cobrado em concursos.
É importante frisar que o dever de punir do Estado
A igreja, por sua vez, sempre acompanhou a também não poderá ser exercido de forma arbitrá-
sociedade, participando da contenção de comporta- ria. É necessário que se obedeça, por estrito comando
mentos antissociais. Ela é uma motivação de estabili- constitucional, o devido processo legal.
dade social e de obediência às boas normas sociais e A etapa preliminar desse processo é representada
comunitárias. pelo Inquérito Policial, que tem por objetivo elucidar
Por fim, o trabalho e a oferta de emprego desem- a autoria do fato criminoso e a sua materialidade, isto
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA

penham importante papel no controle informal da é, colher os requisitos da ação penal. Essa etapa pre-
criminalidade, posto que possuir um trabalho ou pre- liminar poderá nascer com a lavratura de um bole-
tender ter um pressupõe a disciplina do empregado tim de ocorrência, com a instauração de Inquérito
no seu dia a dia e nos horários de labor. A ocupação em desfavor de alguém, com a prisão em flagrante
de seu tempo com o trabalho gera uma contribuição delito ou, ainda, em se tratando de crimes de menor
sinalagmática (de mão dupla), pois o empregado faz potencial ofensivo, através da lavratura do termo
uma contribuição para a sociedade e recebe em con- circunstanciado.
trapartida um amparo econômico (salário). Outra providência que é privativa do delegado,
Veja como é necessária a participação de todos no autoridade da polícia judiciária, que não pode ser
controle formal e informal da criminalidade, especial- esquecida é o indiciamento do acusado, mácula admi-
mente o policial, que, dentro da comunidade, trabalha nistrativa criminal que o perseguirá para sempre, vez
desfazendo paradigmas distorcidos e não permitindo que tal registro sempre constará e ficará disponível
que criminosos — por conta da ausência do Estado — para consulta dentro dos sistemas da polícia civil e do
passem a captar jovens e crianças para atuação ilícita. Poder Judiciário. 331
Segunda Seleção — Atuação do Ministério Público Tal sistema, que já foi cobrado em concursos públi-
cos, sofreu críticas, pois o isolamento poderia levar ao
Embora muito se fale sobre a atuação do Ministé-
agravamento de psicoses, doenças mentais e outros
rio Público como titular da ação penal, a atuação des-
se órgão não se limita a isso; incumbe também a ele o sofrimentos psíquicos, além de não ajudar na resso-
dever de propor Inquérito Civil, Ação Civil Pública e cialização do indivíduo. Não havia trabalho nem visi-
também termos de ajustamento de conduta. tas; utilizava-se o isolamento absoluto, com passeio
Dentro da criminologia e da prevenção delitiva, a isolado do sentenciado em um pátio circular.
atuação do Ministério Público como titular da Ação
penal, denunciando o indivíduo pela prática delituo- Sistema Auburniano
sa, é o que traz maior estigma social.
Este sistema foi assim batizado pois nasceu na
Terceira Seleção — Atuação do Poder Judiciário
cidade de Auburn, Estados Unidos. Ainda que adotas-
A terceira seleção ocorre com a atuação do Poder se a regra do silêncio absoluto (ou silent system), ele
Judiciário, decorrente da sentença judicial e do pro- permitia que os detentos trocassem poucas palavras e
cesso condenatório ou, ainda, sob a forma de prisão em baixo tom com os guardas, apenas mediante auto-
cautelar, aquela que ocorre antes do trânsito em jul- rização prévia.
gado da decisão judicial.
O silent system não impediu a comunicação dos
A pena privativa de liberdade é a mais gravosa e
representa o total poder do Estado, ao excluir o con- detentos, que passaram a comunicar-se com batidas
denado do contexto social à que pertencia. Impõe-se, na parede, sinais com as mãos e pelo sinal da descarga
aqui, citar Nelson Sampaio Penteado Filho: dos sanitários.
É considerado menos rigoroso que o anterior, pois
[...] As penitenciárias brasileiras são depósitos de permitia o trabalho dentro das celas ou até mesmo
lixo humano, ofendem a consciência jurídica e éti-
ca do País e transformam o homem naquilo de pior
por pequenos grupos de detentos. Importante frisar
que lhe poderiam rotular: ex homem, porque a pró- que os detentos, no caso de transgressão de alguma
pria arquitetura do cárcere muitas vezes é respon- norma, seriam punidos de forma coletiva.
sável por sua despersonalização, convertendo-o em Contudo, o trabalho dentro das cadeias ou o apren-
autômato, desmontando sua dignidade.2 dizado de ofício passaram a ser criticados pelos então
sindicalistas, que viam no labor dos condenados uma
Dica
forma de concorrência aos seus ofícios e ainda critica-
Conteúdo já cobrado em concursos: um exemplo vam o fato de terem que trabalhar ao lado de detentos.
de política de prevenção criminal prioritariamen- Não houve consenso de escolha entre os dois sistemas,
te terciária é a previsão do direito do condenado ficando a Europa com o primeiro e os Estados Unidos,
de abreviar o tempo imposto em sua sentença com o segundo.
penal mediante trabalho, estudo ou leitura.

SISTEMAS PENITENCIÁRIOS Dica


Para iniciarmos nossos estudos neste tópico, faz-se Pregar o trabalho dos presos nas celas e, poste-
necessário definir e diferenciar sistemas penitenciá- riormente, a realização de tarefas em pequenos
rios e regimes penitenciários. Acompanhe a tabela a grupos, durante o dia e em silêncio, é caracterís-
seguir: tica do sistema auburniano. Esse conteúdo já foi
cobrado em concursos.
SISTEMAS REGIMES
PENITENCIÁRIOS PENITENCIÁRIOS
Sistemas Progressivos
São uma classificação São aqueles conhecidos
realizada através do tem- como a forma de cumpri- Com o desuso dos sistemas anteriores, surgiram
po e da história das pri- mento de pena determina- os sistemas progressivos, que tinham por caracterís-
sões, de seus sistemas, da na sentença recebida.
tica premiar o condenado e retribui-lo pelo seu bom
da forma pela qual são im- Exemplos: aberto, semia-
plantados e de quais são berto e fechado comportamento através de progressivo aumento de
os seus resultados privilégios e com a possibilidade de retornar a con-
viver em sociedade antes do fim de sua condenação.
Dito isso, passamos a trazer os principais siste- Acompanhe a seguir em detalhes.
mas penitenciários e as suas consequências para o
condenado. z Sistema Progressivo Inglês

Sistema Pensilvânico ou Celular Foi o primeiro sistema a colocar nas mãos do con-
denado o seu tempo de cumprimento de pena, através
Também chamado de filadélfico ou belga, consistia
no isolamento total do apenado, que era incentivado de um sistema de marcas (ou mark system), em que o
à leitura da Bíblia e não podia manter contato com tempo variava pela gravidade do delito, pelo trabalho
qualquer outra pessoa dentro ou fora do estabeleci- desenvolvido ou pelo seu comportamento dentro do
mento prisional. sistema prisional.
332 2 FILHO, N. S. P. Manual Esquemático da Criminologia. 5ª edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2015, p. 136.
O cumprimento da pena passaria por três estágios:

1º ESTÁGIO 2º ESTÁGIO 3º ESTÁGIO

Após o cumprimento do primeiro es- Depois de atingir determinado núme-


Isolamento inicial celular, tal como
tágio, passava-se ao estágio 2º, que ro de marcas, passava-se para a fase
nos sistemas anteriores. Tinha como
compreendia o trabalho durante o dia, seguinte até atingir a liberdade ante-
objetivo levar o condenado ao arre-
mas ainda sob a lei do silêncio, tal cipada, mas de forma condicional res-
pendimento de seus atos criminosos
como em Auburn tringida por períodos de tempo

z Sistema Progressivo Irlandês

Considerando o sucesso do sistema progressivo inglês, foi criado o sistema progressivo irlandês, que apenas
se diferencia do primeiro por existir antes da liberdade condicional um sistema intermediário no qual condena-
do ficaria em uma condição de semiliberdade em um local que não poderia ser envolto por grades. É relevante
salientar que nesse sistema intermediário era possível que o preso executasse trabalho externo.

z Sistema de Elmira

O Reformatório de Elmira era destinado à recuperação de condenados entre 16 e 30 anos que tivessem cometido o
primeiro delito. Ele era baseado em um sistema de marcas que compreendiam o trabalho, a obediência e a orientação
religiosa. Além disso, contemplava o direito ao livramento condicional da pena; contudo, a disciplina era rigorosa, o
exercício de uma profissão era obrigatório e até mesmo a prática de esportes foi utilizada para conseguir recuperar
os condenados.
Ao fim da pena, os detentos recebiam uma pequena soma em dinheiro para que pudessem custear seus pri-
meiros dias de liberdade. Contudo, em 1915 o reformatório de Elmira atingiu uma superlotação que levou a sua
decadência.

z Sistema de Montesinos

Criado pelo Coronel Manuel Montesino e Molina, esse sistema chegou a erradicar os níveis de reincidência em
Valência, na Espanha, e em outros períodos reduziu drasticamente os números.
O sistema eliminou o castigo corporal, através da criação de um sistema de trabalho que incluía remuneração
aos detentos, além de ainda abolir o isolamento dos condenados. O Coronel tinha como lema recuperar o homem,
deixando o delito fora dos muros de seu presídio.
Apesar dos números e dos avanços, seu sistema passou a incomodar os produtores e artesãos locais e, ceden-
do à grande pressão, o governo deixou de apoiar os seus ideais. Em razão disso, o sistema carcerário regrediu e
Montesinos deixou a direção do presídio de Valência.

z Sistema Borstal

O sistema Borstal surgiu na cidade de Nottinghamshire, Inglaterra, quando um grupo de condenados cons-
truiu uma moradia destinada a jovens entre 16 a 21 anos.
Tal sistema defendia a vigilância reduzida e primava pelo contato com os amigos e a família. Esse sistema é
considerado como representante do nascimento do regime penitenciário aberto.

A EXTENSÃO DA CRIMINALIDADE NO MUNDO E NO BRASIL


A criminologia não estuda apenas o fato criminoso em si, mas preocupa-se em estudar sua história em relação
ao mundo social, para compreender como resultou a ação delituosa.
Para a criminologia, o crime é o resultado de um processo social como resposta a estímulos que podem ter
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA

começado ainda na primeira infância do indivíduo criminoso.


Em todas as civilizações, a criminalidade está presente. Portanto, ela integra o mundo atual, tanto nas cidades
mais desenvolvidas quanto nas civilizações localizadas nos lugares mais isolados da Terra. Dessa maneira, a cri-
minologia passou a identificar os fatores sociais que podem ser a causa do nascedouro de fatos criminosos.

Sistema Econômico e a Expansão da Criminalidade

A situação econômica que um país ou a situação que ele atravessa possui grande influência nos números da
criminalidade.
A dificuldade em encontrar um emprego, por conta do fechamento de indústrias, do aumento velado da infla-
ção (que diminui o poder aquisitivo das famílias), costuma estar associada à multiplicação voraz da criminalida-
de, especialmente dos crimes contra o patrimônio.
Dentre todos os fatores citados por diversos autores sobre o aumento da criminalidade, o mais importante e
predominante é o econômico. 333
A POBREZA E A MISÉRIA COMO FATORES DE A partir da Lei Seca, diversas substâncias passa-
EXPANSÃO DA CRIMINALIDADE ram por regularização para o comércio, tendo seus
valores inflacionados, e outras passaram a ser proi-
A pobreza e a miséria, há muito tempo, são enten- bidas para consumo e comercialização. Deste modo,
didas como fatores que contribuem para o aumento nasceu, clandestinamente, um potente e próspero
da criminalidade e sua expansão. Além disso, no perfil negócio chamado Narcotráfico.
da maioria dos criminosos, é possível encontrar uma Outro ponto histórico de grande relevância foi o
má formação moral e familiar e uma situação econô- pós-Segunda Guerra Mundial, durante o qual a procu-
mica com traços de pobreza ou miséria, fatores que ra por psicoativos, que deveria diminuir por conta da
contribuem para que o indivíduo nutra um verdadei- legislação antidrogas em vigor, acabou sofrendo um
ro sentimento de ódio por aqueles que possuem status preocupante aumento.
privilegiado, isto é, que possuem grandes fortunas ou Ao mesmo tempo em que se modernizavam os
bens materiais vultuosos. meios de transporte no pós-guerra, crescia o fluxo de
drogas entre os países, devido ao incentivo dos lucros
O maior grau de pobreza atingido por um ser
gerados pela ilegalidade. Esse mercado internacional
humano é chamado de miséria, classificada como a
emergiu de forma substancial a partir dos anos 1950.
condição dos indivíduos que tem pouco ou nada para
O proibicionismo andava a passos largos entre
sua sobrevivência. Aqueles que padecem ou nascem
as nações, culminando na Convenção Única sobre
dentro de uma condição de miserabilidade são alvos
Drogas, da ONU, no ano de 1961. A importância des-
fáceis daqueles que aliciam para a prática de cri-
se documento é tamanha, pois estabeleceu a lista de
mes. Ocorre que o indivíduo em situação de extrema psicoativos de “uso médico” e os que não estavam
pobreza, que, muitas vezes, é desamparado pelo Esta- contemplados nessa lista deveriam ser proibidos para
do, encontra no crime um caminho fácil para restabe- consumo, fabricação e comércio, reforçando a neces-
lecer sua condição financeira. sidade de criminalizar o tráfico e o uso dos tais ilícitos.
Ao estudar os níveis de criminalidade de algumas Nessa toada, seguiram um verdadeiro consenso de
sociedades, vimos que, assim como as crises econômi- diplomacia entre as nações que deveriam travar uma
cas, a má distribuição de riquezas leva ao aumento de verdadeira guerra contra as drogas. Nos anos de pre-
crimes de natureza patrimonial, inclusive com desfecho sidência de Nixon, nos EUA, tal guerra se fortaleceu,
trágico, pela consequente morte das vítimas de forma basicamente, dividindo as nações entre consumidoras
impetuosa. Esses fatores agravam e contribuem para a e produtoras dos psicoativos.
expansão da criminalidade no Brasil e no mundo. Sob a tutela de Nixon, foi criada a DEA – Drug
Deste modo, pode-se afirmar que a pobreza e a Enforcement Administration – em 1974, investindo em
miséria estão intimamente ligadas aos fatores desen- formação de grupos militares e atacando os “países
cadeantes da criminalidade em se tratando de crimes produtores”, como o México, Bolívia, Peru e Colômbia.
contra o patrimônio Após Nixon, Ronald Reagan identifica a associação
entre o tráfico e as guerrilhas de esquerda representa-
das massivamente pelas FARC – Forças Armadas Revo-
lucionárias da Colômbia – e pelo Sendero Luminoso
do Peru como uma nova ameaça à segurança conti-
O CRIME COMO FENÔMENO nental que foi conhecida como Narcoterrorismo.
DE MASSA: NARCOTRÁFICO, Reagan insiste na tese das narcoguerrilhas, deter-
TERRORISMO E CRIME ORGANIZADO minando que o narcotráfico era uma ameaça à segu-
rança nacional dos EUA e de qualquer país em que
O Narcotráfico e a Guerra às Drogas existissem narcotraficantes. Determinou, ainda, que
as forças armadas estadunidense se envolvessem
A guerra contra as drogas teve início na década diretamente no combate e repressão aos chamados
de 70, quando os EUA passaram a considerar o nar- “narcos”. Tal decisão foi recebida com críticas até
cotráfico uma ameaça à soberania nacional. O regime mesmo entre os militares americanos.
George Bush implementa e incrementa as mesmas
internacional de controle de drogas teve seu primeiro
políticas de uso de militares no combate aos narcotra-
centenário em 2012 se considerarmos a Conferência
ficantes, focando suas atenções no Peru, na Bolívia e,
de Haia, em 1912, como o marco desse processo, pois,
com muito mais ênfase e força militar, na Colômbia,
nela, foi produzido o primeiro tratado internacional
apontando tais países como os principais produtores
sobre a questão.
das drogas consumidas em território americano.
Desta forma, podemos dizer que, há cerca de cem Com o Governo Clinton, nada houve de novo, des-
anos ou um pouco mais, não havia o combate ao con- tacando-se que, após a Conferência de Viena sobre
sumo indiscriminado de drogas, sendo que a maio- Drogas, registrou-se que o narcotráfico deveria ser
ria das drogas psicoativas não era regulamentada e considerado uma ameaça à ordem internacional e um
sequer proibida. problema de segurança global.
Ainda nos EUA, a primeira grande legislação sobre Após os ataques terroristas de 2001, as FARC, bem
as drogas fora a Lei Seca, que vigorou de 1919 até como o Exército de Libertação Nacional (ELN) e os
1933. As drogas e seu consumo passaram a ser atri- paramilitares foram todos classificados como grupos
buídos de forma xenofóbica e racista a certos grupos terroristas. Deste modo, passaram a ser alvo de ata-
étnicos e raciais, como, por exemplo, a associação do ques massivos, sofrendo sérias derrotas que incluí-
uso de heroína a prostitutas e cafetões, vigorando um ram a libertação de seus notórios reféns. Pode-se dizer
consenso de proibição quanto ao consumo e comer- que as FARC e as demais organizações paramilitares
334 cialização de psicoativos. congêneres retrocederam a níveis precários.
Conclui-se, forçosamente que os demais países, ao III - (VETADO);
aderirem à agenda americana de combate às drogas e IV - sabotar o funcionamento ou apoderar-se, com
terrorismo, progrediram para o fortalecimento de seu violência, grave ameaça a pessoa ou servindo-se
Estado, culminando no enfraquecimento das forças de mecanismos cibernéticos, do controle total ou
paramilitares terroristas. parcial, ainda que de modo temporário, de meio de
comunicação ou de transporte, de portos, aeropor-
tos, estações ferroviárias ou rodoviárias, hospitais,
O Terrorismo
casas de saúde, escolas, estádios esportivos, ins-
talações públicas ou locais onde funcionem servi-
O grande marco de uma ação terrorista ocorreu ços públicos essenciais, instalações de geração ou
nos EUA, em 11 de setembro de 2001, quando dois transmissão de energia, instalações militares, ins-
aviões se chocaram contra as Torres Gêmeas, do talações de exploração, refino e processamento de
World Trade Center, em Nova York, vitimando milha- petróleo e gás e instituições bancárias e sua rede de
res de pessoas. A edificação tombada era um símbolo atendimento;
do capitalismo norte-americano e isso diz muito sobre V - atentar contra a vida ou a integridade física de
a ação do grupo terrorista que assumiu a autoria dos pessoa:
ataques. Pena - reclusão, de doze a trinta anos, além das
Através dos anos, as organizações terroristas e sanções correspondentes à ameaça ou à violência.
seus meios de atuação demonstram a relevância de se § 2º O disposto neste artigo não se aplica à conduta
promover o diálogo entre as ciências do Direito Penal individual ou coletiva de pessoas em manifestações
e a abordagem através da criminologia crítica. políticas, movimentos sociais, sindicais, religiosos,
Após o fatídico 11 de setembro de 2001, em Nova de classe ou de categoria profissional, direcionados
York, compreendeu-se que a violência e o terror têm por propósitos sociais ou reivindicatórios, visan-
em comum a propagação do ódio xenofóbico, étnico- do a contestar, criticar, protestar ou apoiar, com o
objetivo de defender direitos, garantias e liberdades
-racial, de gênero e orientação sexual.
constitucionais, sem prejuízo da tipificação penal
Esse acontecimento levou toda a sociedade inter-
contida em lei.
nacional a despertar para a necessidade de endure- Art. 3º Promover, constituir, integrar ou prestar
cimento da legislação penal nacional e internacional auxílio, pessoalmente ou por interposta pessoa, a
e, consequentemente, do tratamento diferenciado a organização terrorista:
tipos específicos de delinquentes – terroristas, facções Pena - reclusão, de cinco a oito anos, e multa.
criminosas, pedófilos, rede de traficantes de drogas e § 1º (VETADO).
de pessoas. § 2º (VETADO).
O uso de medidas de segurança de contenção favo- Art. 4º (VETADO).
receu o aumento do poder punitivo do Estado, o qual Art. 5º Realizar atos preparatórios de terrorismo
poderia tratar de forma desigual seus inimigos. Nesta com o propósito inequívoco de consumar tal delito:
concepção, o Estado Democrático de Direito é orga- Pena - a correspondente ao delito consumado, dimi-
nizado de modo a garantir a harmonia e bem-estar nuída de um quarto até a metade.
social. § 1º Incorre nas mesmas penas o agente que, com o
O terrorismo seria considerado pela criminologia propósito de praticar atos de terrorismo:
como o ato criminoso ausente de respeito à condição I - recrutar, organizar, transportar ou municiar
humana das pessoas vitimadas. indivíduos que viajem para país distinto daquele de
sua residência ou nacionalidade; ou
No Brasil, em 2016, fora sancionada a Lei n° 13.260,
II - fornecer ou receber treinamento em país distin-
de 2016 – “Lei Antiterrorismo” –, pela qual o elemen-
to daquele de sua residência ou nacionalidade.
to subjetivo, ou seja, o dolo do indivíduo está calçado,
§ 2º Nas hipóteses do § 1º, quando a conduta não
justamente, na intolerância, no ódio, ainda que não envolver treinamento ou viagem para país distinto
haja qualquer motivação política ou governamental. daquele de sua residência ou nacionalidade, a pena
Essa lei, a qual foi citada, a seguir, na integralidade, será a correspondente ao delito consumado, dimi-
tem apenas vinte artigos e foi duramente criticada por nuída de metade a dois terços.
conter generalidades e ser aprovada às vésperas dos Art. 6º Receber, prover, oferecer, obter, guardar,
Jogos Olímpicos realizados em nosso país. manter em depósito, solicitar, investir, de qual-
quer modo, direta ou indiretamente, recursos, ati-
Art. 1º Esta Lei regulamenta o disposto no inciso vos, bens, direitos, valores ou serviços de qualquer
XLIII do art. 5º da Constituição Federal, discipli- natureza, para o planejamento, a preparação ou a
nando o terrorismo, tratando de disposições inves- execução dos crimes previstos nesta Lei:
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA

tigatórias e processuais e reformulando o conceito Pena - reclusão, de quinze a trinta anos.


de organização terrorista. Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem
Art. 2º O terrorismo consiste na prática por um ou oferecer ou receber, obtiver, guardar, mantiver em
mais indivíduos dos atos previstos neste artigo, por depósito, solicitar, investir ou de qualquer modo
razões de xenofobia, discriminação ou preconceito contribuir para a obtenção de ativo, bem ou recur-
de raça, cor, etnia e religião, quando cometidos com so financeiro, com a finalidade de financiar, total
a finalidade de provocar terror social ou generali- ou parcialmente, pessoa, grupo de pessoas, asso-
zado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz ciação, entidade, organização criminosa que tenha
pública ou a incolumidade pública. como atividade principal ou secundária, mesmo
§ 1º São atos de terrorismo: em caráter eventual, a prática dos crimes previstos
I - usar ou ameaçar usar, transportar, guardar, nesta Lei.
portar ou trazer consigo explosivos, gases tóxicos, Art. 7º Salvo quando for elementar da prática de
venenos, conteúdos biológicos, químicos, nucleares qualquer crime previsto nesta Lei, se de algum
ou outros meios capazes de causar danos ou pro- deles resultar lesão corporal grave, aumenta-se a
mover destruição em massa; pena de um terço, se resultar morte, aumenta-se a
II – (VETADO); pena da metade. 335
Art. 8º (VETADO). quando houver reciprocidade do governo do país
Art. 9º (VETADO). da autoridade solicitante.
Art. 10 Mesmo antes de iniciada a execução do cri- § 2º Na falta de tratado ou convenção, os bens, direi-
me de terrorismo, na hipótese do art. 5º desta Lei, tos ou valores sujeitos a medidas assecuratórias
aplicam-se as disposições do art. 15 do Decreto-Lei por solicitação de autoridade estrangeira compe-
nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal . tente ou os recursos provenientes da sua alienação
Art. 11 Para todos os efeitos legais, considera-se serão repartidos entre o Estado requerente e o Bra-
que os crimes previstos nesta Lei são praticados sil, na proporção de metade, ressalvado o direito do
contra o interesse da União, cabendo à Polícia Fede- lesado ou de terceiro de boa-fé.
ral a investigação criminal, em sede de inquérito Art. 16 Aplicam-se as disposições da Lei nº 12.850,
policial, e à Justiça Federal o seu processamento e de 2 agosto de 2013 , para a investigação, processo
julgamento, nos termos do inciso IV do art. 109 da e julgamento dos crimes previstos nesta Lei.
Constituição Federal. Art. 17 Aplicam-se as disposições da Lei nº 8.072,
Parágrafo único. (VETADO). de 25 de julho de 1990 , aos crimes previstos nesta
Art. 12 O juiz, de ofício, a requerimento do Ministé- Lei.
rio Público ou mediante representação do delegado Art. 18 O inciso III do art. 1º da Lei nº 7.960, de 21
de polícia, ouvido o Ministério Público em vinte e de dezembro de 1989 , passa a vigorar acrescido da
quatro horas, havendo indícios suficientes de cri- seguinte alínea p :
me previsto nesta Lei, poderá decretar, no curso da p) crimes previstos na Lei de Terrorismo.” (NR)
investigação ou da ação penal, medidas assecura- Art. 19 O art. 1º da Lei nº 12.850, de 2 de agosto
tórias de bens, direitos ou valores do investigado de 2013 , passa a vigorar com a seguinte alteração:
ou acusado, ou existentes em nome de interpostas II - às organizações terroristas, entendidas como
pessoas, que sejam instrumento, produto ou provei- aquelas voltadas para a prática dos atos de terro-
to dos crimes previstos nesta Lei. rismo legalmente definidos.” (NR)
§ 1º Proceder-se-á à alienação antecipada para pre- Art. 20 Esta Lei entra em vigor na data de sua
servação do valor dos bens sempre que estiverem publicação.”
sujeitos a qualquer grau de deterioração ou depre-
ciação, ou quando houver dificuldade para sua
manutenção.
§ 2º O juiz determinará a liberação, total ou parcial,
dos bens, direitos e valores quando comprovada a O CRIME COMO FENÔMENO ISOLADO:
licitude de sua origem e destinação, mantendo-se a ESTUDO DO HOMICÍDIO
constrição dos bens, direitos e valores necessários
e suficientes à reparação dos danos e ao pagamento
O primeiro bem jurídico a ser tutelado em todas as
de prestações pecuniárias, multas e custas decor-
rentes da infração penal.
civilizações sempre foi a vida. Neste sentido, cabe des-
§ 3º Nenhum pedido de liberação será conheci- tacar os apontamos do autor Nelson Hungria, penalista
do sem o comparecimento pessoal do acusado ou brasileiro, que, com maestria, define homicídio como:
de interposta pessoa a que se refere o caput des-
te artigo, podendo o juiz determinar a prática de [...] o tipo central dos crimes contra a vida e é o
atos necessários à conservação de bens, direitos ou ponto culminante na orografia (fronteira, altura)
valores, sem prejuízo do disposto no § 1º. dos crimes. É o crime por excelência. É o padrão da
§ 4º Poderão ser decretadas medidas assecurató- delinquência violenta ou sanguinária, que represen-
rias sobre bens, direitos ou valores para reparação ta como que uma reversão atávica às eras primevas,
do dano decorrente da infração penal anteceden- em que a luta pela vida, presumivelmente, se operava
te ou da prevista nesta Lei ou para pagamento de com o uso normal dos meios brutais e animalescos.
prestação pecuniária, multa e custas. É a mais chocante violação do senso moral médio
Art. 13 Quando as circunstâncias o aconselharem, da humanidade civilizada. Como dizia Impallome,
o juiz, ouvido o Ministério Público, nomeará pessoa todos os direitos partem do direito de viver, sendo
física ou jurídica qualificada para a administração todos orientados ao fim de assegurar as condições
dos bens, direitos ou valores sujeitos a medidas de existência e bem estar entre os homens em socie-
assecuratórias, mediante termo de compromisso. dade, pelo que, numa ordem lógica, o primeiro dos
Art. 14 A pessoa responsável pela administração bens é o bem da vida. E, se não o primeiro da cata-
dos bens: logação jurídica, o homicídio tem primazia entre os
I - fará jus a uma remuneração, fixada pelo juiz, que crimes mais graves, pois é o atentado contra a fonte
será satisfeita preferencialmente com o produto da mesma ordem e segurança geral, sabendo-se que
dos bens objeto da administração; todos os bens públicos e privados, todas as institui-
II - prestará, por determinação judicial, informa- ções se fundam sobre o respeito à existência dos indi-
ções periódicas da situação dos bens sob sua admi- víduos que compõe o agregado social. O homicídio e
nistração, bem como explicações e detalhamentos o homicida são um tema central da ciência penal. O
sobre investimentos e reinvestimentos realizados. mais vasto capítulo da criminologia é dedicado ao
Parágrafo único. Os atos relativos à administração estudo dos delinquentes violentos, de que o homicí-
dos bens serão levados ao conhecimento do Minis- dio é o expoente máximo. Para o homicídio o sufi-
tério Público, que requererá o que entender cabível. ciente é a vida. Não importa o grau da capacidade
Art. 15 O juiz determinará, na hipótese de existên- de viver. Igualmente não importam, para a existên-
cia de tratado ou convenção internacional e por cia do homicídio, o sexo, a raça, a nacionalidade, a
solicitação de autoridade estrangeira competen- casta, a condição ou o valor social da vítima. Temos
te, medidas assecuratórias sobre bens, direitos ou de estudar o delito máximo apenas sob o ponto de
valores oriundos de crimes descritos nesta Lei pra- vista jurídico, isto é, como o fato humano que, sob o
ticados no estrangeiro. nomen juris de homicídio, corresponde a um “molde”
§ 1º Aplica-se o disposto neste artigo, independen- específico da lei penal. Devemos tratar, em primeiro
336 temente de tratado ou convenção internacional, lugar, do homicídio doloso ou intencional. Segundo
a clássica definição de Carmignani, homicídio (de incapaz de provocar a reação de homicídio, tratando-
hominis excidium) é a violenta hominis caedas ad -se de uma gigantesca desproporção entre a provoca-
homini injuste patrata (morte violenta de um homem ção e o resultado.
injustamente praticada por outro homem). Acoima-se
de pleonástica esta definição, pois todo crime é uma III – com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfi-
ação humana, e tem como pressuposto a injustiça. xia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de
Varão ou mulher, ariano ou judeu, parisiense ou zulu, que possa resultar perigo comum;
brâmane ou pária, santo ou bandido, homem de gênio
ou idiota, todos representam a vida humana .
Meio cruel é aquele que causa à vítima um sofri-
mento físico ou mental desnecessário para que seja
O crime de homicídio é a destruição da vida extrau- atingido o objetivo de homicídio. Veja que o meio pelo
terina humana, sendo tipificado na legislação brasilei- qual se executa o homicídio é uma grandiosa preo-
ra, no art. 121, do Código Penal, e assim definido: cupação do direito penal e da criminologia, pois ele
revela muito do caráter e da condição da vida em
Homicídio simples sociedade do agente criminoso.
Art. 121 Matar alguém:
O fogo e o explosivo podem resultar em perigo
Pena – reclusão, de seis a vinte anos.
para um número indiscriminado de pessoas, portan-
to, se decidiu o agente praticar um homicídio dessa
O Código Penal ainda elenca causas de diminuição
maneira, possivelmente não se preocupou se lesiona-
de pena, que citamos:
ria ou não pessoas que nada teriam com a motivação
do crime original contra a vítima pretendida.
Caso de diminuição de pena
A prática de tortura é tão odiosa dentro do ordena-
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo
mento jurídico mundial, que as principais declarações
de relevante valor social ou moral, ou sob o domí-
nio de violenta emoção, logo em seguida a injusta de direitos humanos, desde a Declaração Francesa dos
provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena Direitos do Homem e Cidadão, em 1973, têm se preo-
de um sexto a um terço. cupado em declarar que ninguém será submetido à
tortura ou meio desumano ou degradante.
Os casos de diminuição de pena são tratados pela Nesta esteira, o Código Penal brasileiro tratou de
doutrina como homicídio privilegiado, visto que, para qualificar e tratar com mais rigor o homicídio que
a classificação do crime contra a vida, a motivação é tenha sido cometido com meio tortuoso ou cruel.
a maneira de avaliar o crime e a conduta do agente
criminoso, entendendo, desta maneira, que não há IV – à traição, de emboscada, ou mediante dissimu-
“crime gratuito” ou sem motivação. A motivação do lação ou outro recurso que dificulte ou torne impos-
crime está, pois, intimamente ligada à moralidade ou sível a defesa do ofendido;
à imoralidade do agente criminoso, rastreando a con-
dição de conviver em sociedade ou a falta dela. A qualificadora que busca punir aquele agente que,
O direito penal pode ser classificado como o ramo primeiro, conquista a confiança da vítima e, depois,
das ciências jurídicas que mais possui preocupações
de forma sorrateira, quando a vítima se encontra
éticas com raízes nos motivos determinantes do crime.
desprevenida, sem imaginar que receberia um golpe
Importante mencionar que as motivações do cri-
me devem ser apreciadas com critérios objetivos fatal, tem sua vida ceifada por aquele que, antes, pare-
baseados no senso ético geral e, não, pessoal do julga- cia ser seu amigo, alguém que lhe inspirava amizade,
dor, portanto será considerado privilegiado o homicí- confiança e conforto. Essa é a traição, a emboscada,
dio segundo a lei e o critério moral geral da sociedade. a forma sorrateira que, como dito, revela muito do
Da mesma forma será valorado negativamente o agente criminoso, de sua forma de atuação e de seu
homicídio qualificado por suas motivações, que vere- caráter criminoso e pretérito ao crime cometido.
mos a seguir.
V – para assegurar a execução, a ocultação, a impu-
Homicídio qualificado nidade ou vantagem de outro crime:
§ 2º Se o homicídio é cometido:
I – mediante paga ou promessa de recompensa, ou Trata-se de mais uma qualificadora de caráter sub-
por outro motivo torpe; jetivo, ou seja, que tem relação direta com o próprio
agente criminoso, devendo haver um liame, uma liga-
A motivação torpe corresponde àquela contrária ção com algum crime anterior. Por exemplo, matar
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA

à moral e aos bons costumes, que revela o caráter vil, um diretor de empresa que descobriu desvios de
infame e indecoroso do agente criminoso. dinheiro, para impedir que este vá à polícia e denun-
A paga ou promessa de recompensa corresponde a cie o crime patrimonial.
qualquer vantagem patrimonial ou econômica, sendo
a paga o recebimento anterior ao crime e a promessa Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
de recompensa posterior a sua consumação. VI - contra a mulher por razões da condição de sexo
Vale dizer que, existindo a qualificadora da paga ou feminino:
promessa de recompensa, haverá sempre a figura do man-
dante do homicídio, que configura o concurso de pessoas. O feminicídio diferencia-se do femicídio, por ser o
homicídio cometido por motivação de misoginia, de
II – por motivo futil; desprezo pela condição feminina, que ocorre geral-
mente na intimidade de um relacionamento. Tal cri-
A motivação fútil não é a ausência de motivação, me, ao que se observa, é cometido com crueldade e
pois, como já dito, não existe o crime sem motivo, sen- barbárie extrema, revelando que o homem detém,
do a motivação fútil aquela tão insignificante que seja ainda, sobre a mulher, a impressão de que seu corpo 337
o pertence. Assim, motivado pela perda da propriedade VIII - com emprego de arma de fogo de uso restrito
sobre ele, o agente passaria a apresentar comportamen- ou proibido: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
to de ódio pelo então objeto amado, querendo destruí-lo. (Vigência)
Destaca-se que reconhecer a proteção da mulher
ante a sua inferioridade física em face do homem não A arma de fogo de uso restrito ou proibido tem por
viola o princípio da igualdade. Sendo assim, a neces- escopo penalizar, com maior gravidade, a entrada de
sária alteração legislativa tem por objetivo punir as armas de maior letalidade em nosso território, desti-
condutas criminais crescentes que vitimam as mulhe- nado, ainda, a integrantes de organizações criminosas
res cuja maioria esmagadora acontece dentro dos internacionais que possuem maior facilidade de aces-
seus lares. A repetição do ciclo da violência impede a so a tais armamentos
resistência física e psicológica das vítimas.
O feminicídio representa a última etapa de um ciclo
crescente de violência doméstica do agressor que ten-
ta submeter a mulher à dominação masculina que foi
aprendida ao longo de gerações. Portanto, calçados nes- CLASSIFICAÇÃO DE TIPOS
sas premissas, podemos tipificar o crime de feminicídio CRIMINOSOS
com os pressupostos de premeditação, intencionalida-
de, com vistas à destruição do corpo feminino, com Não há como iniciar o tema “classificação dos
crueldade desmedida, que pode levar à desfiguração. criminosos” sem citar o nome de Cesare Lombroso.
Esse crime pode ser cometido na intimidade do lar, Sua obra, “Tratado Antropológico Experimental do
dentro do relacionamento amoroso ou, ainda, por um Homem Delinquente”, é considerada a primeira den-
desconhecido, mas sempre com a motivação de des- tro do estudo sistematizado da criminologia. De fato,
truir o feminino. Cabe mencionar que pode ser víti- alguns de seus postulados ainda são estudados dentro
ma o transexual submetido à mudança de sexo, pois, do âmbito do Direito.
juridicamente, esse é considerado mulher. O sujeito Lombroso, que era médico e antropólogo, acredi-
ativo pode ser homem ou mulher, como coautora ou tava fortemente que os delinquentes era um ponto
partícipe. É irrelevante que a vítima seja lésbica para perdido entre o homem atual e os homens da antigui-
a configuração do crime de feminicídio.
dade, que de alguma forma não encontraram a evolu-
ção, pertencendo a uma raça inferior à daqueles que
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts.
não se dedicavam ao crime.
142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do
sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Junto com Enrico Ferri e Raffaele Garofalo, Cesare
Pública, no exercício da função ou em decorrência Lombroso foi um dos grandes representantes da cri-
dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou paren- minologia positivista.
te consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa Os três autores citados desenvolveram a classifi-
condição: (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015); cação dos criminosos: natos, loucos, de ocasião e por
paixão. Garofalo classificava-os também em assassi-
Para entender quais são essas autoridades previs- nos, enérgicos ou violentos, e, ainda, em ladrões ou
tas no inciso VII, é necessário termos conhecimento neurastênicos.
dos arts. 142 e 144, da Constituição Federal. Vejamos: Importante dizer que as conclusões de Lombro-
so vieram do seu trabalho como médico no sistema
Art. 142 (CF/88) As Forças Armadas, constituídas penitenciário italiano, onde necropsiou cadáveres de
pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, presos e concluiu acerca dos sinais da crimogênese.
são instituições nacionais permanentes e regula- Cesare Lombroso necropsiou, catalogou e estudou
res, organizadas com base na hierarquia e na dis- mais de 380 cadáveres antes de escrever a sua famosa
ciplina, sob a autoridade suprema do Presidente
obra que o levou a ser chamado, até os dias de hoje, de
da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à
garantia dos poderes constitucionais e, por iniciati-
“pai da criminologia”.
va de qualquer destes, da lei e da ordem.
Art. 144 (CF/88) A segurança pública, dever do CRIMINOSO NATO
Estado, direito e responsabilidade de todos, é exer-
cida para a preservação da ordem pública e da Para o autor, o criminoso nato teria como carac-
incolumidade das pessoas e do patrimônio, através terísticas físicas cabeça pequena, deformada, fronte
dos seguintes órgãos: fugidia, sobrancelhas salientes, orelhas malformadas,
I - polícia federal; braços compridos e tatuagens. Já como características
II - polícia rodoviária federal; psicológicas: seria impulsivo, mentiroso e teria um
III - polícia ferroviária federal; dialeto repleto por gírias.
IV - polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros
militares.

A qualificadora pune o agente que atenta contra a


vida dos agentes de segurança pública ou seus paren-
tes até terceiro grau, nos termos do inciso VII.
A agressão contra um agente de segurança públi-
ca ou das forças armadas representa para o Estado
Democrático de Direito uma agressão contra as pró-
prias instituições, o que justifica, criminalmente, a
338 motivação da qualificadora.
Pelos estudos de Lombroso, o criminoso nato nas- sanguínea, utilizando-se da violência para resolver
ceria com tendências à delinquência; escravo de sua problemas passionais.
hereditariedade, seria um ser atávico, selvagem. Para Enrico Ferri, o criminoso passional age pelo
Os estigmas de sua condição de criminoso pode- ímpeto. Os crimes seriam cometidos na sua mocida-
riam ainda ser vistos pelas maçãs do rosto salientes, de, respondendo a uma tempestade psíquica; esses
por um possível prognatismo inferior (queixo para criminosos teriam uma sensibilidade exagerada e
dentro), nariz assimétrico, mãos grandes, às vezes tenderiam a confessar amplamente seu delito após
com dedos supranumerários, e pelas orelhas, que
cometê-lo.
deveriam apresentar-se em forma de abano.
O pai da criminologia, Cesare Lombroso, ainda
Lombroso ainda citava lábios grossos, estrabis-
mo, dentes desalinhados e baixa sensibilidade à dor. acrescenta que esse criminoso sente grande remorso
Teriam ainda uma natureza bruta; contudo, seriam após o crime, e, por vezes, tenta tirar sua própria vida.
vaidosos e de alguma forma destituídos de senso
moral e ético. CRIMINOSO ALIENADO
Assim, os criminosos natos trariam em si a marca
da condição de criminosos. Lombroso cita em sua obra que o criminoso louco
ou alienado seria aquele que aparentemente possui
CRIMINOSO OCASIONAL inteligência para a convivência normal em sociedade,
contudo, carrega em si a incapacidade de desenvolver
O criminoso ocasional, segundo Lombroso, teria o senso moral.
certa predisposição hereditária para o crime; contu- Sustentava também que o criminoso louco sofre-
do, o ponto-chave que desencadearia a delinquência ria de terrível egoísmo, sendo capaz de cometer as
seriam as próprias circunstâncias. mais terríveis atrocidades pelo mais insignificante
Para Enrico Ferri, o delito, de alguma forma, dos motivos. Definiu-o como sendo o “cretino do sen-
encontra tais criminosos pelo seu estilo de vida. so moral”, condição que seria congênita, mas poderia
Tal classificação ainda pode ser encontrada nas ou não se desenvolver de acordo com o meio em que
obras de Odon Ramos Maranhão, mestre pela Univer- o indivíduo cresceu. Tal classificação se equipara, no
sidade de São Paulo. Para esse autor, o criminoso oca- cenário atual, aos chamados psicopatas.
Segundo Cesare Lombroso, o criminoso louco
sional possui personalidade normal, contudo, o ato
deveria permanecer separado da sociedade, em inter-
criminoso seria uma soma de tendências criminais
nação, dado a sua periculosidade, que poderia aflorar
com a sua situação global. O autor conclui que o cri-
de uma hora para outra, trazendo graves e sanguentas
minoso ocasional estaria sujeito a um poderoso fator
consequências.
desencadeante e, transitoriamente, haveria o rompi-
Para Enrico Ferri, nesta classificação ficariam ain-
mento dos meios contendores dos impulsos, levando
da os semiloucos e os fronteiriços.
ao cometimento de um ilícito.
CRIMINOSO MENOR (DELINQUÊNCIA JUVENIL)
CRIMINOSO HABITUAL OU PROFISSIONAL
É sabido que grande parte da personalidade
O criminoso habitual ou profissional, como o pró-
humana é construída ainda na primeira infância.
prio nome diz, e conforme classificação de Enrico Fer-
Nesse período, vários processos cognitivos são cria-
ri, seria o criminoso que faz dessa atividade o seu meio
dos e também são absorvidos muitos comportamen-
de vida, o seu meio de sobrevivência. É o indivíduo
tos sociais e hábitos que perdurarão até a vida adulta.
que tem a predisposição para viver da criminalidade. A nossa Constituição Federal preceitua, em seu
Na atualidade, considera-se como criminoso habi- art. 227, qual o dever do Estado na formação da crian-
tual aquele reincidente na prática de crime doloso, da ça, do adolescente e do jovem, bem como a proteção
mesma natureza, punível com pena privativa de liber- deles:
dade. Para configurar a habitualidade, a reincidência Art. 227 É dever da família, da sociedade e do Esta-
deve se dar dentro de um período inferior a 5 (cinco) do assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem,
anos. com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
Ferri afirmava que tal habitualidade surgia dentro alimentação, à educação, ao lazer, à profissionaliza-
de um contexto de abandono social, pelas condições ção, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e
dos cárceres e pelo preconceito sofrido pelos egressos à convivência familiar e comunitária, além de coloca-
do sistema penitenciário. Essa somatória de fatores -los a salvo de toda forma de negligência, discrimina-
levaria o agente a optar por fazer do crime uma ver-
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA

ção, exploração, violência, crueldade e opressão.


dadeira profissão. Resta claro, então, que a Constituição Federal
Ademais, pode-se considerar habitual o criminoso atribui não apenas ao Estado, mas também à toda a
que, sem condenação anterior, comete em tempo não sociedade o dever de zelar por crianças, adolescentes
superior a cinco anos quatro ou mais crimes dolosos e jovens. Além disso, cabe ao Estado oferecer políti-
de mesma natureza, demonstrando acentuada incli- cas públicas que levem a assistência integral a esses
nação para a prática criminosa. públicos.
De forma prática, cabe ao Estado e à sociedade
CRIMINOSO PASSIONAL zelar pelo direito à vida, saúde e alimentação, sendo
isso indispensável à sobrevivência e à uma vida digna.
Dizia Lombroso que o criminoso passional, tam- Um ambiente familiar desestruturado influencia
bém chamado de criminoso por paixão, teria idade diretamente na formação dos jovens. Muitos deles
entre 20 e 30 anos, não apresentando características sequer possuem contato com ambos os genitores. A
físicas que o marcassem. Como marca atitudinal, ausência de quaisquer deles, tanto o pai como a mãe,
seria um criminoso que age por impulso, de forma influencia no desenvolvimento da personalidade e 339
no desenvolvimento individual. O local no qual o
jovem se desenvolveu também poderá ser um fator
influenciador.
Contudo, não apenas o comportamento infrator ou
negativo tende a ser reproduzido. A falta de atenção
e carinho, de amor e cuidados, ou ainda, a violência
gratuita, por meio de espancamentos e agressões, ten-
dem a ser replicados, posteriormente, em todo o seio
familiar.
É inegável dizer que a família tem um papel cru-
cial no desenvolvimento dos menores, ficando res-
ponsável por socializar a criança e introduzi-la na
sociedade. A família tem fundamental importância
em instruir com valores morais e éticos seus jovens,
ensinando ainda o respeito, a educação e a compaixão
com o ser humano.
Dentre as estatísticas, são poucos os jovens que, Obra de Cesare Lombroso comercializada até os dias de hoje
tendo recebido uma boa educação e sendo criados
dentro de uma família estruturada, escolhem seguir o Para o médico e antropologista, o fato de uma
caminho criminoso. mulher ser ou não mãe é critério fundamental para
São quase totalidade os jovens infratores que nas- entender a mulher normal, a criminosa e a prostituta.
ceram e cresceram em lares com pouca ou nenhuma Os estudos de Lombroso concluem que a negação da
estrutura. Isso acaba culminando, fatalmente, na cria- maternidade pode ser vista como um desvio de con-
ção dia após dia de novos infratores e, no futuro, de duta, pois a maternidade constitui uma característica
novos criminosos. Pela falta ou inexistência de um feminina da qual deriva toda sua variabilidade física
reforço positivo, o jovem passa a simplesmente igno- e orgânica.
rar ou a não seguir as regras sociais. Neste sentido, dividiram-se as mulheres delin-
Cumpre-nos dizer que o Estatuto da Criança e do quentes em duas grandes categorias: as prostitutas e
Adolescente (Lei nº 8.069, de 1990) define, em seu as criminosas. A delinquente prostituta compreende
art. 2º, que criança é pessoa com até 12 anos de idade a forma feminina do crime, já que apresenta carac-
incompletos e adolescente é a pessoa com idade entre terísticas parecidas com o homem criminoso. Em sua
12 e 18 anos. maioria, são alcoólatras e possuem grande desejo
As infrações penais cometidas por crianças e ado- sexual.
lescentes são regidas pelo Estatuto da Criança e do Lombroso afirma que, normalmente, tais mulhe-
Adolescente, e não pelo Código Penal, o que significa res não cometem grandes delitos, mas apenas roubos
que apenas após os 18 anos completos é que o indi- e furtos pequenos, usando de chantagens e poucas
víduo poderá ser penalmente punido. Logo, o menor agressões físicas. Além disso, são socialmente úteis
que comete crime está praticando um ato infracio- como uma válvula de escape para a sexualidade mas-
nal. Ao final do processo, é imposta uma medida culina e prevenção do crime masculino.
socioeducativa. Diante disso, a primeira categoria seria, então,
Por fim, aquele que pratica ato infracional poderá uma classe comum para o autor. Já a segunda catego-
cumprir tal medida socioeducativa até completar 21 ria de mulheres delinquentes é uma classe rara, sendo
anos, como ocorre nos casos de o menor ser proces- classificadas como anormais ou degeneradas.
sado em datas próximas de completar 18 anos. Sendo O estudioso relata que essas mulheres costumam
condenado à medida socioeducativa de 3 anos, por ser mais perversas que os homens criminosos, apon-
exemplo, permanece no estabelecimento socioeduca- tando, como características físicas dessas criminosas,
tivo, não havendo que falar-se em transferência para traços notadamente masculinos. Ademais, costumam
prisão comum. cometer assassinatos brutais, envenenamentos, tortu-
ras e podem unir-se a gangues.
A MULHER CRIMINOSA Alguns autores as veem como verdadeiras inimi-
gas da sociedade, já que apenas matar sua vítima não
O sexo feminino sempre foi acompanhado por um as satisfazem. Trata-se de mulheres cruéis que sentem
estigma de inferioridade; muitos autores considera- a necessidade de observar o sofrimento intenso da
vam a “mulher normal” incapaz de planejar e exe- vítima antes de sua morte.
cutar um delito, tendo em vista seu “baixo intelecto”, Por fim, cabe mencionar que o estudo de Lombro-
segundo eles. so recebeu críticas ao longo do tempo. Muitos acredi-
Com a Revolução Industrial e o aumento das fábri- tavam que ele apenas reproduzia os padrões impostos
cas e das ofertas de trabalho, os homens passaram pela sociedade e, sendo assim, as mulheres que não se
a laborar fora de casa cada vez mais, enquanto as enquadravam neles receberiam a insígnia da infâmia.
mulheres continuavam em seus lares, com sua função Apesar disso, sua obra é comercializada e estuda-
social totalmente atrelada à maternidade. Reforça-se, da até os dias de hoje.
então, o discurso de que cada sexo teria seus lugares
predeterminados, baseados na biologia.
Cesare Lombroso, o pai da criminologia, não fugiu
dessa análise, sendo a função biológica o fio condutor
de sua tese. Em 1893, o autor publicou sua obra cha-
mada “A Mulher Delinquente, a Prostituta e a Mulher
Normal”.
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