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Polícia Civil de Rondônia

PC-RO
Agente e Escrivão

NV-007JL-22
Cód.: 7908428802684
Obra

PC-RO - Polícia Civil de Rondônia


Agente e Escrivão

Autores

LÍNGUA PORTUGUESA • Ana Cátia Collares, Giselli Neves, Isabella Ramiro, Monalisa Costa e Renato
Philippini

RACIOCÍNIO LÓGICO • Kairton Batista (Prof. Kaká)

HISTÓRIA E GEOGRAFIA DE RONDÔNIA (EM VÍDEO) • Carla Kurz

NOÇÕES DE ESTATÍSTICA • Henrique Tiezzi

NOÇÕES DE INFORMÁTICA • Fernando Nishimura

NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO (ON-LINE) • Ana Philippini, Carolina Casella, Nágila Vilela e Ricardo Reis

NOÇÕES DE CONTABILIDADE (ON-LINE) • Danielle Guimarães, Elaine dos Anjos e Vinicius Nascimento

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL • Eduardo Gigante, Renato Philippini e Rodrigo
Gonçalves

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL • Ana Philippini, Camila Cury, Geovana Marques e Samara Kich

NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO • Edirlei Souza, Fernando Paternostro Zantedeschi e Samara Kich

NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL • Renato Philippini e Rodrigo Montes

ISBN: 978-85-93690-60-0

Edição: Julho/2022

Todos os direitos autorais desta obra são reservados e protegidos


pela Lei nº 9.610/1998. É proibida a reprodução parcial ou total,
por qualquer meio, sem autorização prévia expressa por escrito da
editora Nova Concursos.

Esta obra é vendida sem a garantia de atualização futura. No caso Dúvidas


de atualizações voluntárias e erratas, serão disponibilizadas no site
www.novaconcursos.com.br. Para acessar, clique em “Erratas e www.novaconcursos.com.br/contato
Retificações”, no rodapé da página, e siga as orientações. sac@novaconcursos.com.br
APRESENTAÇÃO
Um bom planejamento de seus estudos é determinante para sua
preparação de sucesso na busca pela tão almejada aprovação
em um cargo público. Por isso, pensando no máximo aproveita-
mento de seus estudos, este livro foi organizado de acordo com
o Edital nº 2/2022/PC-DGPC para os cargos de Agente e Escrivão
da Polícia Civil do Estado de Rondônia.

O conteúdo programático foi sistematizado em um sumário,


facilitando a busca pelos temas do edital, no entanto, nem sem-
pre a banca organizadora do concurso dispõe os assuntos em
uma sequência lógica. Por isso, elaboramos este livro abor-
dando os principais itens do edital e reorganizando-os quando
necessário, de uma maneira didática para que você realmente
consiga aprender e otimizar os seus estudos.

Ao longo da teoria, você encontrará boxes – Importante e Dica


– com orientações, macetes e conceitos fundamentais cobrados
nas provas, e seção Hora de Praticar, trazendo exercícios gabari-
tados da banca CESPE-CEBRASPE, organizadora do certame.

A obra que você tem em suas mãos é resultado da competência


de nosso time editorial e da vasta experiência de nossos profes-
sores e autores parceiros – muitos também responsáveis pelas
aulas que você encontra em nossos Cursos Online – o que será
um diferencial na sua preparação. Nosso time faz tudo pensando
no seu sonho de ser aprovado em um concurso público. Agora é
com você!

Otimize ainda mais a sua preparação com o conteúdo disponí-


vel online em nossa plataforma: Conteúdo de Noções de Admi-
nistração e Noções de Contabilidade disponíveis em pdf para
download, além de História e Geografia de Rondônia disponível
em videoaulas, conforme os assuntos cobrados na última prova.
Para acessar, basta seguir as orientações na próxima página.
CONTEÚDO ON-LINE

Para intensificar a sua preparação para concursos, oferecemos em nossa plataforma on-
line materiais especiais e exclusivos, selecionados e planejados de acordo com a proposta
deste livro. São conteúdos que tornam a sua preparação muito mais eficiente.

CONTEÚDO COMPLEMENTAR:

• Noções de Administração - disponível em pdf para download


• Noções de Contabilidade - disponível em pdf para download
• História e Geografia de Rondônia - disponível em videoaulas

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VERSO DA APOSTILA
SUMÁRIO

LÍNGUA PORTUGUESA....................................................................................................13
COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS DE GÊNEROS VARIADOS................................ 13

RECONHECIMENTO DE TIPOS E GÊNEROS TEXTUAIS................................................................... 15

DOMÍNIO DA ORTOGRAFIA OFICIAL................................................................................................. 23

DOMÍNIO DOS MECANISMOS DE COESÃO TEXTUAL..................................................................... 25

EMPREGO DE ELEMENTOS DE REFERENCIAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E REPETIÇÃO, DE CONECTORES


E DE OUTROS ELEMENTOS DE SEQUENCIAÇÃO TEXTUAL...........................................................................25

EMPREGO DE TEMPOS E MODOS VERBAIS....................................................................................................29

DOMÍNIO DA ESTRUTURA MORFOSSINTÁTICA DO PERÍODO....................................................... 29

EMPREGO DAS CLASSES DE PALAVRAS ........................................................................................................30

RELAÇÕES DE COORDENAÇÃO ENTRE ORAÇÕES E ENTRE TERMOS DA ORAÇÃO....................................54

RELAÇÕES DE SUBORDINAÇÃO ENTRE ORAÇÕES E ENTRE TERMOS DA ORAÇÃO...................................55

EMPREGO DOS SINAIS DE PONTUAÇÃO.........................................................................................................57

CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL ...........................................................................................................60

REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL.......................................................................................................................65

EMPREGO DO SINAL INDICATIVO DE CRASE..................................................................................................67

COLOCAÇÃO DOS PRONOMES ÁTONOS.........................................................................................................69

REESCRITA DE FRASES E PARÁGRAFOS DO TEXTO....................................................................... 69

SIGNIFICAÇÃO DAS PALAVRAS ......................................................................................................................70

SUBSTITUIÇÃO DE PALAVRAS OU DE TRECHOS DE TEXTO..........................................................................71

REORGANIZAÇÃO DA ESTRUTURA DE ORAÇÕES E DE PERÍODOS DO TEXTO............................................72

REESCRITA DE TEXTOS DE DIFERENTES GÊNEROS E NÍVEIS DE FORMALIDADE ......................................73

RACIOCÍNIO LÓGICO.........................................................................................................85
ESTRUTURAS LÓGICAS E LÓGICA DE ARGUMENTAÇÃO............................................................... 85

ANALOGIAS, INFERÊNCIAS, DEDUÇÕES E CONCLUSÕES.............................................................................85

LÓGICA SENTENCIAL OU PROPOSICIONAL.................................................................................... 92

PROPOSIÇÕES SIMPLES E COMPOSTAS........................................................................................................92


TABELAS-VERDADE..........................................................................................................................................94

EQUIVALÊNCIAS................................................................................................................................................96

LEIS DE MORGAN............................................................................................................................................100

DIAGRAMAS LÓGICOS....................................................................................................................................102

LÓGICA DE PRIMEIRA ORDEM.........................................................................................................106

PRINCÍPIOS DE CONTAGEM E PROBABILIDADE...........................................................................110

OPERAÇÕES COM CONJUNTOS.....................................................................................................116

RACIOCÍNIO LÓGICO ENVOLVENDO PROBLEMAS ARITMÉTICOS, GEOMÉTRICOS E


MATRICIAIS.......................................................................................................................................121

NOÇÕES DE ESTATÍSTICA.......................................................................................... 153


ESTATÍSTICA DESCRITIVA E ANÁLISE EXPLORATÓRIA DE DADOS...........................................153

GRÁFICOS, DIAGRAMAS, TABELAS, MEDIDAS DESCRITIVAS (POSIÇÃO, DISPERSÃO, ASSIMETRIA


E CURTOSE)......................................................................................................................................................153

PROBABILIDADE...............................................................................................................................169

DEFINIÇÕES BÁSICAS ....................................................................................................................................169

AXIOMAS..........................................................................................................................................................170

INDEPENDÊNCIA.............................................................................................................................................171

PROBABILIDADE CONDICIONAL ...................................................................................................................172

TÉCNICAS DE AMOSTRAGEM: AMOSTRAGEM ALEATÓRIA SIMPLES, ESTRATIFICADA,


SISTEMÁTICA E POR CONGLOMERADOS......................................................................................190

NOÇÕES DE INFORMÁTICA........................................................................................ 195


NOÇÕES DE SISTEMA OPERACIONAL (WINDOWS 10 E AMBIENTES LINUX)............................195

EDIÇÃO DE TEXTOS, PLANILHAS E APRESENTAÇÕES (PACOTES MICROSOFT


OFFICE 365 E LIBREOFFICE)............................................................................................................204

REDES DE COMPUTADORES............................................................................................................237

CONCEITOS BÁSICOS, FERRAMENTAS, APLICATIVOS E PROCEDIMENTOS DE INTERNET


E INTRANET.....................................................................................................................................................247

PROGRAMAS DE NAVEGAÇÃO (MICROSOFT EDGE, MOZILLA FIREFOX E GOOGLE CHROME)................248

PROGRAMAS DE CORREIO ELETRÔNICO (OUTLOOK EXPRESS E MOZILLA THUNDERBIRD)..................254

SÍTIOS DE BUSCA E PESQUISA NA INTERNET..............................................................................................258


GRUPOS DE DISCUSSÃO.................................................................................................................................259

REDES SOCIAIS................................................................................................................................................260

COMPUTAÇÃO NA NUVEM (CLOUD COMPUTING).......................................................................................260

CONCEITOS DE ORGANIZAÇÃO E DE GERENCIAMENTO DE INFORMAÇÕES,


ARQUIVOS, PASTAS E PROGRAMAS..............................................................................................264

SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO......................................................................................................268

PROCEDIMENTOS DE SEGURANÇA...............................................................................................................268

NOÇÕES DE VÍRUS, WORMS E PRAGAS VIRTUAIS.......................................................................................272

APLICATIVOS PARA SEGURANÇA (ANTIVÍRUS, FIREWALL, ANTI-SPYWARE ETC.).................................277

PROCEDIMENTOS DE BACKUP.......................................................................................................................280

ARMAZENAMENTO DE DADOS NA NUVEM (CLOUD STORAGE).................................................................287

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL................................... 289


INFRAÇÃO PENAL ............................................................................................................................289

ESPÉCIES.........................................................................................................................................................289

ELEMENTOS.....................................................................................................................................................290

SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO DA INFRAÇÃO PENAL.......................................................291

TIPICIDADE, ANTIJURIDICIDADE, CULPABILIDADE......................................................................291

EXCLUDENTES DE ILICITUDE E DE CULPABILIDADE.....................................................................294

IMPUTABILIDADE PENAL...............................................................................................................................295

CONCURSO DE PESSOAS.................................................................................................................296

CRIMES CONTRA A PESSOA...........................................................................................................301

CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO...................................................................................................332

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL.......................................................................................358

DOS CRIMES CONTRA A FAMÍLIA...................................................................................................365

CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA.....................................................................................................372

CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA..........................................................................384

NOTITIA CRIMINIS E O INQUÉRITO POLICIAL...............................................................................419

HISTÓRICO.......................................................................................................................................................419

NATUREZA.......................................................................................................................................................419
CONCEITO........................................................................................................................................................419

FINALIDADE.....................................................................................................................................................420

CARACTERÍSTICAS.........................................................................................................................................420

FUNDAMENTO.................................................................................................................................................423

TITULARIDADE................................................................................................................................................423

GRAU DE COGNIÇÃO.......................................................................................................................................423

VALOR PROBATÓRIO.......................................................................................................................................424

FORMAS DE INSTAURAÇÃO...........................................................................................................................424

NOTITIA CRIMINIS E DELATIO CRIMINIS......................................................................................................427

PROCEDIMENTOS INVESTIGATIVOS.............................................................................................................427

INDICIAMENTO................................................................................................................................................427

GARANTIAS DO INVESTIGADO......................................................................................................................428

CONCLUSÃO....................................................................................................................................................428

INQUÉRITO POLICIAL E O CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL PELO


MINISTÉRIO PÚBLICO ....................................................................................................................................432

ARQUIVAMENTO E DESARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL..........................................................434

DA PROVA .........................................................................................................................................434

CONSIDERAÇÕES GERAIS..............................................................................................................................434

PRESERVAÇÃO DE LOCAL DE CRIME.............................................................................................................434

EXAME DE CORPO DE DELITO E PERÍCIAS EM GERAL................................................................................435

REQUISITOS E ÔNUS DA PROVA....................................................................................................................436

NULIDADE DA PROVA......................................................................................................................................436

DOCUMENTOS DE PROVA...............................................................................................................................437

RECONHECIMENTO DE PESSOAS E COISAS.................................................................................................437

ACAREAÇÃO....................................................................................................................................................437

INDÍCIOS...........................................................................................................................................................438

INTERROGATÓRIO E CONFISSÃO..................................................................................................................438

PERGUNTAS AO OFENDIDO............................................................................................................................438

TESTEMUNHAS...............................................................................................................................................438

BUSCA E APREENSÃO.....................................................................................................................................440

DA PRISÃO CAUTELAR.....................................................................................................................442
PRISÃO EM FLAGRANTE.................................................................................................................................442

PRISÃO PREVENTIVA......................................................................................................................................443

PRISÃO TEMPORÁRIA....................................................................................................................................444

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL............................................................. 449


DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS.....................................................................................449

DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS.......................................................................................449

Direito à Vida, à Liberdade, à Igualdade, à Segurança e à Propriedade, Garantias Constitucionais


Individuais, Garantias dos Direitos Coletivos, Sociais e Políticos...............................................................449

DIREITOS SOCIAIS...........................................................................................................................................464

NACIONALIDADE.............................................................................................................................................470

CIDADANIA E DIREITOS POLÍTICOS..............................................................................................................472

PARTIDOS POLÍTICOS.....................................................................................................................................475

PODER EXECUTIVO...........................................................................................................................478

FORMA E SISTEMA DE GOVERNO .................................................................................................................478

CHEFIA DE ESTADO E CHEFIA DE GOVERNO................................................................................................478

DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS.....................................................478

SEGURANÇA PÚBLICA E ORGANIZAÇÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA........................................................478

ORDEM SOCIAL.................................................................................................................................480

BASE E OBJETIVOS DA ORDEM SOCIAL.......................................................................................................480

SEGURIDADE SOCIAL......................................................................................................................................480

MEIO AMBIENTE..............................................................................................................................................483

FAMÍLIA, CRIANÇA, ADOLESCENTE E IDOSO ...............................................................................................483

ÍNDIO................................................................................................................................................................484

DIREITOS HUMANOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL....................................................................484

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS................................................................487

CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS............................................................497

NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO.............................................................. 503


ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E ATIVIDADE ADMINISTRATIVA.....................................................503

ADMINISTRAÇÃO DIRETA E INDIRETA..........................................................................................................503


Autarquias, Fundações, Empresas Públicas, Sociedades de Economia Mista, Órgãos e
Agentes Públicos ........................................................................................................................................... 503

CONCEITO DE ADMINISTRAÇÃO, NATUREZA E FINS DA ADMINISTRAÇÃO..............................................510

PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO................................................................................................511

ATOS E PODERES ADMINISTRATIVOS...........................................................................................513

PODERES..........................................................................................................................................................513

Poder Vinculado e Poder Discricionário........................................................................................................ 513


Poder Hierárquico........................................................................................................................................... 514
Poder Disciplinar............................................................................................................................................. 515
Poder Regulamentar....................................................................................................................................... 515
Poder de Polícia.............................................................................................................................................. 516
Uso e Abuso de Poder ................................................................................................................................... 517

ATOS ADMINISTRATIVOS...............................................................................................................................518

Conceito .......................................................................................................................................................... 518


Elementos ou Requisitos................................................................................................................................ 518
Atributos.......................................................................................................................................................... 519
Classificação................................................................................................................................................... 520
Espécies.......................................................................................................................................................... 521
Extinção e Invalidação do Ato Administrativo e Controle do Ato Administrativo: Anulação
e Revogação.................................................................................................................................................... 522

SERVIDORES PÚBLICOS ..................................................................................................................523

ORGANIZAÇÃO DO SERVIÇO PÚBLICO E NORMAS CONSTITUCIONAIS PERTINENTES..........................523

DIREITOS DOS SERVIDORES...........................................................................................................................526

DEVERES .........................................................................................................................................................531

RESPONSABILIDADE DOS SERVIDORES.......................................................................................................533

LEI COMPLEMENTAR Nº 76, DE 1993 (ESTATUTO DA POLÍCIA CIVIL DO ESTADO


DE RONDÔNIA)..................................................................................................................................536

LEI COMPLEMENTAR Nº 68, DE 1992 (REGIME JURÍDICO DOS SERVIDORES PÚBLICOS


CIVIS DO ESTADO DE RONDÔNIA)..................................................................................................554

NOÇÕES DE MEDICINAL LEGAL............................................................................... 583


PERÍCIA MÉDICO-LEGAL..................................................................................................................583

PERÍCIAS MÉDICO-LEGAIS, PERÍCIA, PERITOS............................................................................................583

DOCUMENTOS LEGAIS.....................................................................................................................585

CONTEÚDO E IMPORTÂNCIA..........................................................................................................................585
TRAUMATOLOGIA FORENSE...........................................................................................................589

ENERGIA DE ORDEM FÍSICA...........................................................................................................................589

ENERGIA DE ORDEM MECÂNICA....................................................................................................................590

LESÕES CORPORAIS: LEVE, GRAVE E GRAVÍSSIMA E SEGUIDA DE MORTE..............................................594

TANATOLOGIA FORENSE.................................................................................................................597

CAUSAS JURÍDICAS DA MORTE....................................................................................................................597

DIAGNÓSTICO DE REALIDADE DA MORTE....................................................................................................598

SEXOLOGIA FORENSE......................................................................................................................599

IMPUTABILIDADE PENAL.................................................................................................................604

ENERGIA DE ORDEM QUÍMICA (VITRIOLAGEM, CÁUSTICOS, VENENO) E ENERGIA


DE ORDEM FÍSICO-QUÍMICA (ASFIXIAS).......................................................................................609

ASPECTOS MÉDICO‐LEGAIS DAS TOXICOMANIAS E DA EMBRIAGUEZ....................................610

ASPECTOS MÉDICO-LEGAIS DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL............................613

ASPECTOS MÉDICO-LEGAIS DO ABORTO, INFANTICÍDIO E ABANDONO DE


RECÉM-NASCIDO..............................................................................................................................617
INFERÊNCIA – ESTRATÉGIAS DE
INTERPRETAÇÃO

A inferência é uma relação de sentido conhecida


desde a Grécia Antiga e que embasa as teorias sobre
LÍNGUA PORTUGUESA interpretação de texto.

Dica
Interpretar é buscar ideias e pistas do autor do
COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE texto nas linhas apresentadas.
TEXTOS DE GÊNEROS VARIADOS
Apesar de, parecer algo subjetivo, existem “regras”
INTERPRETAÇÃO DE TEXTO E SEMÂNTICA para se buscar essas pistas.
— INTRODUÇÃO A primeira e mais importante delas é identificar a
orientação do pensamento do autor do texto, que fica
A interpretação e a compreensão textual são perceptível quando identificamos como o raciocínio
aspectos essenciais a serem dominados por aque- dele foi exposto, se de maneira mais racional, a partir
les candidatos que buscam a aprovação em seleções da análise de dados, informações com fontes confiáveis
e concursos públicos. Trata-se de um assunto que ou se de maneira mais empirista, partindo dos efeitos,
abrange questões específicas e de conteúdo geral nas das consequências, a fim de se identificar as causas.
provas; conhecer e dominar estratégias que facilitem Por isso, é preciso compreender como podemos
a apreensão desse assunto pode ser o grande diferen- interpretar um texto mediante estratégias de leitura.
cial entre o quase e a aprovação. Muitos pesquisadores já se debruçaram sobre o tema,
Além disso, seja a compreensão textual, seja a que é intrigante e de grande profundidade acadêmica;
interpretação textual, ambas guardam uma relação neste material, selecionamos as estratégias mais efica-
de proximidade com um assunto pouco explorado zes que podem contribuir para sua aprovação em sele-
pelos cursos de português: a semântica, que incide ções que avaliam a competência leitora dos candidatos.
suas relações de estudo sobre as relações de sentido A partir disso, apresentamos estratégias de leitura
que a forma linguística pode assumir. que focam nas formas de inferência sobre um texto.
Portanto, neste material você encontrará recursos Dessa forma, é fundamental identificar como ocorre
para solidificar seus conhecimentos em interpretação o processo de inferência, que se dá por dedução ou
e compreensão textual, associando a essas temáticas por indução. Para entender melhor, veja esse exemplo:
as relações semânticas que permeiam o sentido de O marido da minha chefe parou de beber.
todo amontoado de palavras, tendo em vista que qual- Observe que é possível inferir várias informa-
ções a partir dessa frase. A primeira é que a chefe do
quer aglomeração textual é, atualmente, considerada
enunciador é casada (informação comprovada pela
texto e, dessa forma, deve ter um sentido que precisa
expressão “marido”), a segunda é que o enuncia-
ser reconhecido por quem o lê.
dor está trabalhando (informação comprovada pela
Assim, vamos começar nosso estudo fazendo uma
expressão “minha chefe”) e a terceira é que o marido
breve diferença entre os termos compreensão e
da chefe do enunciador bebia (expressão comprovada
interpretação textual.
pela expressão “parou de beber”). Note que há pistas
Para muitos, essas palavras expressam o mesmo
contextuais do próprio texto que induzem o leitor a
sentido, mas, como pretendemos deixar claro neste
interpretar essas informações.
material, ainda que existam relações de sinonímia
Tratando-se de interpretação textual, os processos
entre palavras do nosso vocabulário, a opção do autor
de inferência, sejam por dedução ou por indução, par-
por um termo ao invés de outro reflete um sentido tem de uma certeza prévia para a concepção de uma
que deve ser interpretado no texto, uma vez que a interpretação, construída pelas pistas oferecidas no
interpretação realiza ligações com o texto a partir texto junto da articulação com as informações acessa-
das ideias que o leitor pode concluir com a leitura. das pelo leitor do texto.
Já a compreensão busca a análise de algo exposto A seguir, apresentamos um fluxograma que repre-
no texto, e, geralmente, é marcada por uma palavra ou senta como ocorre a relação desses processos:
uma expressão, e apresenta mais relações semânticas
e sintáticas. A compreensão textual estipula aspectos
DEDUÇÃO → CERTEZA → INTERPRETAR
linguísticos essencialmente relacionados à significa-
ção das palavras e, por isso, envolve uma forte ligação
LÍNGUA PORTUGUESA

INFERÊNCIA
com a semântica.
INDUÇÃO → INTERPRETAR → CERTEZA
Sabendo disso, é importante separarmos os con-
teúdos que tenham mais apelo interpretativo ou
compreensivo. A partir desse esquema, conseguimos visualizar
Esses assuntos completam o estudo basilar de melhor como o processo de interpretação ocorre.
semântica com foco em provas e concursos, sempre Agora, iremos detalhar esse processo, reconhecendo
de olho na sua aprovação. Por isso, convidamos você as estratégias que compõem cada maneira de inferir
a estudar com afinco e dedicação, sem esquecer de informações de um texto. Por isso, vamos apresentar
praticar seus conhecimentos realizando a seleção de nos tópicos seguintes como usar estratégias de cunho
exercícios finais, selecionados especialmente para dedutivo, indutivo e, ainda, como articular a isso o
que este material cumpra o propósito de alcançar sua nosso conhecimento de mundo na interpretação de
aprovação. textos. 13
A INDUÇÃO Ao formular hipóteses o leitor estará predizendo
temas, e ao testá-las ele estará depreendendo o tema;
As estratégias de interpretação que observam ele estará também postulando uma possível estru-
métodos indutivos analisam as “pistas” que o texto tura textual; na predição ele estará ativando seu
conhecimento prévio, e na testagem ele estará enri-
oferece e, posteriormente, reconhecem alguma certe-
quecendo, refinando, checando esse conhecimento.
za na interpretação. Dessa forma, é fundamental bus-
car uma ordem de eventos ou processos ocorridos no Fique atento a essa informação, pois é uma das
texto e que variam conforme o tipo textual. primeiras estratégias de leitura para uma boa inter-
Sendo assim, no tipo textual narrativo, podemos pretação textual: formular hipóteses, a partir da
identificar uma organização cronológica e espacial no macroestrutura textual; ou seja, antes da leitura inicial,
desenvolvimento das ações marcadas, por exemplo, o leitor deve buscar identificar o gênero textual ao qual
pelo uso do pretérito imperfeito; na descrição, pode- o texto pertence, a fonte da leitura, o ano, entre outras
mos organizar as ideias do texto a partir da marcação informações que podem vir como “acessórios” do texto
de adjetivos e demais sintagmas nominais; na argu- e, então, formular hipóteses sobre a leitura que deverá
mentação, esse encadeamento de ideias fica marcado se seguir. Uma outra dica importante é ler as questões
pelo uso de conjunções e elementos que expõem uma da prova antes de ler o texto, pois, assim, suas hipóteses
ideia/ponto de vista. já estarão agindo conforme um objetivo mais definido.
No processo interpretativo indutivo, as ideias são O processo de interpretação por estratégias de dedu-
organizadas a partir de uma especificação para uma ção envolve a articulação de três tipos de conhecimento:
generalização. Vejamos um exemplo:
z Conhecimento Linguístico;
z Conhecimento Textual;
Eu não sou literato, detesto com toda a paixão essa
z Conhecimento de Mundo.
espécie de animal. O que observei neles, no tempo
em que estive na redação do O Globo, foi o bastan-
te para não os amar, nem os imitar. São em geral O conhecimento de mundo, por tratar-se de um
de uma lastimável limitação de ideias, cheios de assunto mais abrangente, será abordado mais adiante.
fórmulas, de receitas, só capazes de colher fatos Os demais, iremos abordar detalhadamente a seguir.
detalhados e impotentes para generalizar, curva-
dos aos fortes e às ideias vencedoras, e  antigas, Conhecimento Linguístico
adstritos a um infantil fetichismo do estilo e guia-
dos por conceitos obsoletos e um pueril e errôneo Esse é o conhecimento basilar para compreensão
critério de beleza. (BARRETO, 2010, p. 21) e decodificação do texto, envolve o reconhecimento
das formas linguísticas estabelecidas socialmente por
O trecho em destaque na citação do escritor Lima uma comunidade linguística, ou seja, envolve o reco-
Barreto, em sua obra “Recordações do escrivão Isaías nhecimento das regras de uma língua.
Caminha” (1917), identifica bem como o pensamento É importante salientar que as regras de reconhe-
indutivo compõe a interpretação e decodificação de cimento sobre o funcionamento da língua não são,
um texto. Para deixar ainda mais evidentes as estraté- necessariamente, as regras gramaticais, mas as regras
gias usadas para identificar essa forma de interpretar, que estabelecem, por exemplo, no caso da língua por-
deixamos a seguir dicas de como buscar a organiza- tuguesa, que o feminino é marcado pela desinência -a,
ção cronológica de um texto. que a ordem de escrita respeita o sistema sujeito-ver-
bo-objeto (SVO) etc.
Ângela Kleiman (2016) afirma que o conhecimento
A propriedade vocabular leva linguístico é aquele que “abrange desde o conhecimento
o cérebro a aproximar as pa- sobre como pronunciar português, passando pelo conhe-
PROCURE SINÔNIMOS
lavras que têm maior asso- cimento de vocabulário e regras da língua, chegando até
ciação com o tema do texto o conhecimento sobre o uso da língua” (2016, p. 15).
Os conectivos (conjunções, Um exemplo em que a interpretação textual é preju-
preposições, pronomes) são dicada pelo conhecimento linguístico é o texto a seguir:
ATENÇÃO AOS
marcadores claros de opi-
CONECTIVOS
niões, espaços físicos e lo-
calizadores textuais

A DEDUÇÃO

A leitura de um texto envolve a análise de diversos


aspectos que o autor pode colocar explicitamente ou
de maneira implícita no enunciado.
Em questões de concurso, as bancas costumam
procurar nos enunciados implícitos do texto aspectos
para abordar em suas provas.
No momento de ler um texto, o leitor articula seus
conhecimentos prévios a partir de uma informação
que julga certa, buscando uma interpretação; assim,
ocorre o processo de interpretação por dedução. Con-
forme Kleiman (2016, p. 47):

14 Fonte: https://bit.ly/3kCyWoI. Acesso em: 22/09/2020.


Como é possível notar, o texto é uma peça publici-
tária escrita em inglês, portanto, somente os leitores RECONHECIMENTO DE TIPOS E
proficientes nessa língua serão capazes de decodificar
e entender o que está escrito; assim, o conhecimento
GÊNEROS TEXTUAIS
linguístico torna-se crucial para a interpretação. Essas
são algumas estratégias de interpretação em que TIPOLOGIA TEXTUAL — CONHECENDO OS TIPOS
podemos usar métodos dedutivos. TEXTUAIS

Conhecimento Textual Tipos ou sequências textuais são unidades que


estruturam o texto. Para Bronckart1, “são unidades
Esse tipo de conhecimento atrela-se ao conheci- estruturais, relativamente autônomas, organizadas em
mento linguístico e se desenvolve pela experiência frases”.
leitora. Quanto maior exposição a diferentes tipos de Os tipos textuais marcam uma forma de organiza-
textos, melhor se dá a sua compreensão. Nesse conhe-
ção da estrutura do texto, que se molda a depender
cimento, o leitor desenvolve sua habilidade porque
prepara sua leitura de acordo com o tipo de texto que do gênero discursivo e da necessidade comunicativa.
está lendo. Não se lê uma bula de remédio como se lê Por exemplo, há gêneros que apresentam a predomi-
uma receita de bolo ou um romance. Não se lê uma nância de narrações (contos, fábulas, romances, his-
reportagem como se lê um poema. tória em quadrinhos etc.). Já em outros, predomina a
Em outras palavras, esse conhecimento relaciona- argumentação (redação do Enem, teses, dissertações,
-se com a habilidade de reconhecer diferentes tipos de artigos de opinião etc.).
discursos, estruturas, tipos e gêneros textuais. No intuito de conceituar melhor os tipos textuais,
inspiramo-nos em Cavalcante (2013) e apresentamos a
Conhecimento de Mundo
seguinte figura, que demonstra como podemos identi-
O uso dos conhecimentos prévios é fundamental ficar os tipos textuais e suas principais características,
para a boa interpretação textual, por isso, é sempre tendo em vista que cada sequência textual apresenta
importante que o candidato a cargos públicos reserve características próprias que pouco ou nada sofrem em
um tempo para ampliar sua biblioteca e buscar fontes alterações, mantendo uma estrutura linguística quase
de informações fidedignas, para, dessa forma, aumen- rígida que nos permite classificar os tipos textuais em
tar seu conhecimento de mundo. cinco categorias (Narrativo, Descritivo, Expositivo,
Conforme Kleiman (2016), durante a leitura, nosso Instrucional e Argumentativo).
conhecimento de mundo que é relevante para a com-
preensão textual é ativado; por isso, é natural ao nosso
cérebro associar informações, a fim de compreender GÊNERO TEXTUAL
o novo texto que está em processo de interpretação.
A esse respeito, a autora propõe o seguinte exer-
cício para atestarmos a importância da ativação do
conhecimento de mundo em um processo de interpre- FRASES TIPO TEXTUAL TEXTO
tação. Leia o texto a seguir e faça o que se pede:

Como gemas para financiá-lo, nosso herói desa- A partir dessa imagem, podemos identificar que a
fiou valentemente todos os risos desdenhosos que orientação gramatical mantida pelas frases apresenta
tentaram dissuadi-lo de seu plano. “Os olhos enga-
marcas linguísticas, assinalando o tipo textual predo-
nam” disse ele, “um ovo e não uma mesa tipificam
corretamente esse planeta inexplorado.” Então as minante que o texto deve manter, organizado pelas
três irmãs fortes e resolutas saíram à procura de marcas do gênero textual ao qual o texto pertence.
provas, abrindo caminho, às vezes através de imen-
sidões tranquilas, mas amiúde através de picos e TIPO TEXTUAL
vales turbulentos (KLEIMAN, 2016, p. 24).
Classifica-se conforme as marcas linguísticas apre-
Agora tente responder as seguintes perguntas sentadas no texto. Também é chamado de sequência
sobre o texto: textual
Quem é o herói de que trata o texto? GÊNERO TEXTUAL
Quem são as três irmãs? Classifica-se conforme a função do texto, atribuída
Qual é o planeta inexplorado? socialmente
Certamente, você não conseguiu responder nenhu-
LÍNGUA PORTUGUESA

ma dessas questões, porém, ao descobrir o título des-


se texto, sua compreensão sobre essas perguntas será Uma última informação muito importante sobre
afetada. O texto se chama “A descoberta da América tipos textuais que devemos considerar é que nenhum
por Colombo”. Agora, volte ao texto, releia-o e busque texto é composto apenas por um tipo textual; o que
responder às questões; certamente você não terá mais ocorre é a existência de predominância de algumas
as mesmas dificuldades.
sequências em detrimento de outras, de acordo com
Ainda que o texto não tenha sido alterado, ao vol-
tar seus olhos por uma segunda vez a ele, já sabendo o texto.
do que se trata, seu cérebro ativou um conhecimen- A seguir, aprenderemos a diferenciar cada classe
to prévio que é essencial para a interpretação de de tipos textuais, reconhecendo suas principais carac-
questões. terísticas e marcas linguísticas.
1 BRONCKART, 1999 apud CAVALCANTE, 2013. 15
CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS TEXTUAIS E SUAS Essas sete marcas que definem o tipo textual nar-
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS rativo podem ser resumidas em marcas de organiza-
ção linguística que são caracterizadas por:
Narrativo
z Presença de marcadores temporais e espaciais;
Os textos compostos predominantemente por z Verbos, predominantemente, utilizados no passado;
sequências narrativas cumprem o objetivo de contar z Presença de narrador e personagens.
uma história, narrar um fato. Por isso, precisam man-
ter a atenção do leitor/ouvinte e, para tal, lançam mão
de algumas estratégias, como a organização dos fatos a Importante!
partir de marcadores temporais e espaciais, a inclusão Os gêneros textuais que são predominantemen-
de um momento de tensão (chamado de clímax) e um te narrativos apresentam outras tipologias tex-
desfecho que poderá ou não apresentar uma moral. tuais em sua composição, tendo em vista que
Conforme Cavalcante (2013), o tipo textual narrati- nenhum texto é composto exclusivamente por
vo pode ser caracterizado por sete aspectos. São eles: uma sequência textual. Por isso, devemos sem-
pre identificar as marcas linguísticas que são pre-
z Situação inicial: envolve a “quebra” de um equilí- dominantes em um texto, a fim de classificá-lo.
brio, o que demanda uma situação conflituosa;
z Complicação: desenvolvimento da tensão apre-
sentada inicialmente; Para sua compreensão, também é necessário saber o
z Ações (para o clímax): acontecimentos que am- que são marcadores temporais e espaciais. São formas
pliam a tensão; linguísticas como advérbios, pronomes, locuções etc.
z Resolução: momento de solução da tensão; Utilizadas para demarcar um espaço físico ou temporal
z Situação final: retorno da situação equilibrada; em textos. Nos tipos textuais narrativos, esses elemen-
z Avaliação: apresentação de uma “opinião” sobre tos são essenciais para marcar o equilíbrio e a tensão da
a resolução; história, além de garantirem a coesão do texto. Exem-
z Moral: apresentação de valores morais que a his- plos de marcadores temporais e espaciais: Atualmente,
tória possa ter apresentado. naquele dia, nesse momento, aqui, ali, então...
Outro indicador do texto narrativo é a presença do
narrador da história. Por isso, é importante apren-
Esses sete passos podem ser encontrados no
dermos a identificar os principais tipos de narrador
seguinte exemplo, a canção “Era um garoto que como de um texto:
eu...” Vamos lê-la e identificar essas características,
bem como aprender a identificar outros pontos do
Narrador: também conhecido como foco narrativo, é o res-
tipo textual narrativo.
ponsável por contar os fatos que compõem o texto
Era um garoto que como eu Amava os Narrador personagem: verbos flexionados em 1ª pessoa.
Beatles e os Rolling Stones O narrador participa dos fatos
Girava o mundo sempre a cantar Narrador observador: verbos flexionados em 3ª pessoa. O
As coisas lindas da América Situação inicial:
narrador tem propriedade dos fatos contados, porém, não
Não era belo, mas mesmo assim predomínio de
Havia mil garotas afim equilíbrio participa das ações
Cantava Help and Ticket to Ride Narrador onisciente: os fatos podem ser contados na 3ª
Oh Lady Jane e Yesterday ou 1ª pessoa verbal. O narrador conhece os fatos e não
Cantava viva à liberdade
participa das ações, porém, o fluxo de consciência do nar-
Mas uma carta sem esperar rador pode ser exposto, levando o texto para a 1ª pessoa
Da sua guitarra, o separou
Complicação: início
Fora chamado na América
da tensão Alguns gêneros conhecidos por suas marcas pre-
Stop! Com Rolling Stones
Stop! Com Beatles songs dominantemente narrativas são notícia, diário, conto,
Mandado foi ao Vietnã
fábula, entre outros. É importante reafirmar que o
Clímax fato de esses gêneros serem essencialmente narrati-
Lutar com vietcongs
vos não significa que não possam apresentar outras
Era um garoto que como eu sequências em sua composição.
Amava os Beatles e os Rolling Stones
Resolução Para diferenciar os tipos textuais e proceder na
Girava o mundo, mas acabou
Fazendo a guerra no Vietnã
classificação correta, é sempre essencial atentar-se às
marcas que predominam no texto.
Cabelos longos não usa mais Após demarcarmos as principais características do
Não toca a sua guitarra e sim tipo textual narrativo, vamos agora conhecer as mar-
Um instrumento que sempre dá
cas mais importantes da sequência textual classifica-
A mesma nota,
ra-tá-tá-tá
Situação final / da como descritiva.
Avaliação
Não tem amigos, não vê garotas
Só gente morta caindo ao chão Descritivo
Ao seu país não voltará
Pois está morto no Vietnã [...] O tipo textual descritivo é marcado pelas formas
nominais que dominam o texto. Os gêneros que uti-
No peito, um coração não há
Moral lizam esse tipo textual geralmente utilizam a sequên-
Mas duas medalhas sim
cia descritiva como suporte para um propósito maior.
São exemplos de textos cujo tipo textual predominan-
Disponível em: https://www.letras.mus.br/engenheiros-do- te é a descrição: relato de viagem, currículo, anúncio,
16 hawaii/12886/. Acesso em: 30 ago. 2021. classificados, lista de compras.
Veja um trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha, Note que há a presença de muitos adjetivos, locu-
que relata, no ano de 1500, suas impressões a respeito ções, substantivos, que buscam levar o leitor a ima-
de alguns aspectos do território que viria a ser chama- ginar o objeto descrito. O gênero mostrado apresenta
do de Brasil. a descrição das refeições (pão, croissant, feijão, carne
etc.) com uso de adjetivos ou locuções adjetivas (de
Ali veríeis galantes, pintados de preto e vermelho, e queijo, doce, salgado, com calabresa, moída etc.). Ele
quartejados, assim pelos corpos como pelas pernas, está organizado de forma esquematizada em seções
que, certo, assim pareciam bem. Também andavam
(salgados, lanches, caldos e panquecas) de maneira a
entre eles quatro ou cinco mulheres, novas, que
assim nuas, não pareciam mal. Entre elas andava facilitar a leitura (o pedido, no caso) do cliente.
uma, com uma coxa, do joelho até o quadril e a
nádega, toda tingida daquela tintura preta; e todo Expositivo
o resto da sua cor natural. Outra trazia ambos os
joelhos com as curvas assim tintas, e também os O texto expositivo visa apresentar fatos e ideias
colos dos pés; e suas vergonhas tão nuas, e com a fim de deixar claro o tema principal do texto. Nes-
tanta inocência assim descobertas, que não havia se tipo textual, é muito comum a presença de dados,
nisso desvergonha nenhuma.2 informações científicas, citações diretas e indiretas,
que servem para embasar o assunto do qual o texto
Note que apesar da presença pontual da sequência
trata. Para lustrar essa explicação, veja o exemplo a
narrativa, há predominância da descrição do cenário
seguir:
e dos personagens, evidenciada pela presença de adje-
tivos (galantes, preto, vermelho, nuas, tingida, desco-
bertas etc.). A carta de Pero Vaz constitui uma espécie
de relato descritivo utilizado para manter a comuni-
cação entre a Corte Portuguesa e os navegadores.
Considerando as emergências comunicativas do
mundo moderno, a carta tornou-se um gênero menos
usual e, aos poucos, substituído por outros gêneros,
como, por exemplo, o e-mail.
A sequência descritiva também pode se apresentar
de forma esquemática em alguns gêneros, como pode-
mos ver no cardápio a seguir:

Fonte: https://www.boavontade.com/pt/ecologia/infografico-
dados-mostram-panorama-mundial-da-situacao-da-agua

O infográfico acima apresenta as informações per-


tinentes sobre o panorama mundial da situação da
água no ano de 2016. O gênero foi construído com o
LÍNGUA PORTUGUESA

objetivo de deixar o leitor informado a respeito do


tema tratado, e para isso, o autor dispõe, além da lin-
guagem clara e objetiva, de recursos visuais para atin-
gir esse objetivo.
Assim como os tipos textuais apresentados ante-
riormente, os textos expositivos também apresentam
uma estrutura que mistura elementos tipológicos de
Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sorocaba-jundiai/
noticia/2020/07/12/filha-de-dono-de-cantina-faz-desenhos-para- outras sequências textuais, tendo em vista que, para
divulgar-cardapio-e-ajudar-o-pai-a-vender-na-web.ghtml. Acesso apresentar fatos e ideias, utilizamos aspectos descriti-
em: 30 ago. 2021. vos, narrativos e, por vezes, injuntivos.
2 Disponível em: https://www.todamateria.com.br/carta-de-pero-vaz-de-caminha/. Acesso em: 30 ago. 2021. 17
É importante destacar que os textos expositivos Como faço para criar uma conta do Instagram?
podem, muitas vezes, serem confundidos com textos Para criar uma conta do Instagram pelo aplicativo:
argumentativos, uma vez que existem textos argu- 1. Baixe o aplicativo do Instagram na App Store (iPhone) ou Goo-
mentativos que são classificados como expositivos, gle Play Store (Android).
pois utilizam exemplos e fatos para fundamentar uma 2. Depois de instalar o aplicativo, toque no ícone para abri-lo.
argumentação. 3. Toque em Cadastrar-se com e-mail ou número de telefone
Outra importante diferença entre a sequência (Android) ou Criar nova conta (iPhone) e insira seu endereço de
expositiva e a argumentativa é que esta apresenta uma e-mail ou número de telefone (que exigirá um código de confir-
opinião pessoal, enquanto aquela não abre margem mação), toque em Avançar. Também é possível tocar em Entrar
para a argumentação, uma vez que o fato exposto com o Facebook para se cadastrar com sua conta do Facebook.
é apresentado como dado, ou seja, o conhecimento 4. Se você se cadastrar com o e-mail ou número de telefone, crie
sobre uma questão não é posto em debate. um nome de usuário e uma senha, preencha as informações do
Apresenta-se um conceito e expõem-se as caracte- perfil e toque em Avançar. Se você se cadastrar com o Facebook,
rísticas desse conceito sem espaço para opiniões. será necessário entrar na conta do Facebook, caso tenha saído
Marcas linguísticas do texto expositivo: dela.

z Apresenta informações sobre algo ou alguém, pre- Fonte: https://www.facebook.com/help/instagram/. Acessado em:
07/09/2020.
sença de verbos de estado;
z Presença de adjetivos, locuções e substantivos que
No exemplo acima, podemos destacar a presença de
organizam a informação; verbos conjugados no modo imperativo, como: baixe,
z Desenvolve-se mediante uso de recursos enumera- toque, crie, além de muitos verbos no infinitivo, como:
tivos; instalar, cadastrar, avançar. Outra característica dos
z Presença de figuras de linguagem como metáfora textos injuntivos é a enumeração de passos a serem
e comparação; cumpridos para a realização correta da tarefa ensina-
z Pode apresentar um pensamento contrastivo ao da e também a fim de tornar a leitura mais didática.
final do texto. É importante lembrar que a principal marca linguís-
tica dessa tipologia é a presença de verbos conjugados
Os textos expositivos são comuns em gêneros cien- no modo imperativo e em sua forma infinitiva. Isso se
tíficos ou que desencadeiam algum aspecto de curiosi- deve ao fato de essa tipologia buscar persuadir o leitor
dade nos leitores, como o exemplo a seguir: e levá-lo a realizar as ações mencionadas pelo gênero.

VEJA 10 MULHERES INVENTORAS QUE REVOLUCIO- Argumentativo


NARAM O MUNDO
08/03/2015 07h43 - Atualizado em 08/03/2015 07h43 O tipo textual argumentativo é sem dúvidas o mais
complexo e, por vezes, pode apresentar maior dificul-
Hedy Lamarr - conexão wireless dade na identificação, bem como em sua análise.
O texto argumentativo tem por objetivo a defesa
de um ponto de vista, portanto, envolve a defesa
Além de atriz de Hollywood, famosa pelo longa “Ecstasy”
de uma tese e a apresentação de argumentos que
(1933), a austríaca naturalizada norte-americana Hedy visam sustentar essa tese. Alguns exemplos de tex-
Lamarr foi a inventora de uma tecnologia que permitia tos argumentativos são artigos, monografias, ensaios
controlar torpedos à distância, durante a Segunda Guer- científicos e filosóficos, dentre outros.
ra Mundial, alterando rapidamente os canais de frequên- Outro aspecto importante dos textos argumentati-
cia de rádio para que não fossem interceptados pelo ini- vos é que eles são compostos por estruturas linguís-
migo. Esse conceito de transmissão acabou, mais tarde, ticas conhecidas como operadores argumentativos,
permitindo o desenvolvimento de tecnologias como o que organizam as orações subordinadas, estruturas
Wi-Fi e o Bluetooth. mais comuns nesse tipo textual.
Fonte: https://glo.bo/2Jgh4Cj Acessado em: 07/09/2020. Adaptado.
A seguir, apresentamos um quadro sintético com
algumas estruturas linguísticas que funcionam como
Instrucional ou Injuntivo operadores argumentativos e que facilitam a escrita e
a leitura de textos argumentativos:
O tipo textual instrucional, ou injuntivo, é carac-
terizado por estabelecer um “propósito autônomo” OPERADORES ARGUMENTATIVOS
(CAVALCANTE, 2013, p. 73) que busca convencer o É incontestável que...
leitor a realizar alguma tarefa. Esse tipo textual é pre- Tal atitude é louvável / repudiável / notável...
dominante em gêneros como: bula de remédio, tuto- É mister / é fundamental / é essencial...
riais na internet, horóscopos e também nos manuais
de instrução. Observe o exemplo a seguir:
A principal marca linguística dessa tipologia é a
presença de verbos conjugados no modo imperati- O governo gasta, todos os anos, bilhões de reais no
vo e também em sua forma infinitiva. Isso se deve tratamento das mais diversas doenças relacionadas
ao fato de essa tipologia buscar persuadir o leitor e ao tabagismo; os ganhos com os impostos nem de
levá-lo a realizar as ações mencionadas pelo gênero. longe compensam o dinheiro gasto com essas doen-
ças. Além disso, as empresas têm grandes prejuízos
Para que possamos identificar corretamente essa por causa de afastamentos de trabalhadores devido
tipologia textual, faz-se necessário observar um gêne- aos males causados pelo fumo. Portanto, é mis-
ro textual que apresente esse tipo de texto, como o ter que sejam proibidas quaisquer propagandas de
exemplo a seguir: cigarros em todos os meios de comunicação.3

3 Disponível em: http://educacao.globo.com/portugues/assunto/texto-argumentativo/argumentacao.html. Acesso em: 30 ago. 2021.


18 Adaptado.
Essas estruturas, quando utilizadas adequadamen-
te no texto argumentativo, expõem a opinião do autor,
ajudando na defesa de seu ponto de vista e construin-
do a estrutura argumentativa desse tipo textual.

GÊNEROS TEXTUAIS — O QUE SÃO OS GÊNEROS


TEXTUAIS?

Quando pensamos em uma definição para gêne-


ros textuais, somos levados a inúmeros autores que
buscaram definir e classificar esses elementos, e, ini-
cialmente, é interessante nos lembrarmos dos gêne-
ros literários que estudamos na escola. Podemos nos Fonte: https://bit.ly/34yptsR. Acessado em: 12/09/2020.
remeter aos conceitos de Tragédia e Comédia, refe-
rentes aos clássicos da literatura grega. Afinal, quem O gênero anúncio apresenta uma clara referên-
nunca ouviu falar das histórias de Ilíada ou A Odis- cia ao gênero contos de fada, porém, a estrutura des-
seia, ambas de Homero? Mas o que esses textos têm se gênero que é, predominantemente, narrativo foi
em comum? Inicialmente, você pode ser levado a pen-
modificada para que o propósito do anúncio fosse
sar que nada, além do fato de terem sido escritos pelo
alcançado, ou seja, persuadir o leitor e levá-lo a adqui-
mesmo autor; porém, a estrutura dessas histórias res-
rir os produtos da marca. No caso do gênero anún-
peita um padrão textual estabelecido e reconhecido
na época em que foram escritas. cio publicitário, usar outros gêneros e modificar sua
De maneira análoga, quando pensamos em gêne- estrutura básica é uma estratégia que é estabelecida a
ros textuais, devemos identificar os elementos que fim de que a principal função do anúncio se cumpra,
caracterizam textos, aparentemente, tão diferentes. qual seja: vender um produto.
Logo, da mesma forma que comparamos as estruturas A partir desses exemplos, já podemos enumerar
de Ilíada e Odisseia, é preciso buscar as semelhanças mais algumas características comuns a todos os tipos
entre uma notícia e um artigo de opinião, por exem- de gêneros textuais: presença de aspectos sociais e o
plo, e também é fundamental identificar as razões que propósito de um gênero, para alguns autores, como
nos levam a classificar cada um desses gêneros com Swales (1990), chamado de propósito comunicativo.
termos diferentes.
Segundo esse autor, os gêneros têm a função de rea-
lizar um objetivo ou objetivos; então, ele sustenta a
Importante! posição de que o propósito comunicativo é o critério
de maior importância, pois é o que motiva uma ação e
Esse ponto de interseção é o que podemos esta- é vinculado ao poder do autor.
belecer como os principais aspectos de classifi- Além disso, um gênero textual, para ser identifica-
cação de um gênero textual. do como tal, é amparado por um protótipo textual, o
qual também pode ser reconhecido como estereótipo
Dessa forma, conforme Maingueneau (2018, p. textual, que resguarda características básicas do gêne-
71), o ponto de interseção que estabelece sobre qual ro. Por exemplo, ao olharmos para o anúncio mencio-
gênero estamos tratando é indicado por “rotinas de nado acima, identificamos traços do gênero contos de
comportamentos estereotipados e anônimos que se fada tanto na porção textual do anúncio que começa
estabilizaram pouco a pouco, mas que continuam com a frase: “era uma vez...” quanto pelas imagens
sujeitos a uma variação contínua”. Logo, o primeiro que remetem ao conto da “Branca de Neve”.
elemento que precisamos identificar para classificar Tais marcas, sobretudo as linguísticas, auxiliam os
um gênero é o papel social, marcado pelos compor-
falantes de uma comunidade a reconhecer o gênero e
tamentos e pelas “rotinas” humanas típicas de quem
também a escrever esse gênero quando necessitam.
vive em sociedade e, portanto, precisa se fazer com-
preender tão bem quanto ser compreendido. Isso é o que torna a característica da prototipicidade
Esse é sem dúvidas o elemento que melhor dife- tão importante no reconhecimento e na classificação
rencia tipos e gêneros textuais, uma vez que os tipos de um gênero. Ademais, os traços estereotipados de
textuais não têm apelo ao ambiente social e são mui- um gênero devem ser reconhecidos por uma comu-
to mais identificáveis por suas marcas linguísticas. O nidade, reafirmando o teor social desses elementos e
LÍNGUA PORTUGUESA

fator social dos gêneros textuais também irá direcio- estabelecendo a importância de um indivíduo adqui-
nar outros aspectos importantes na classificação des- rir o hábito da leitura, pois quanto mais se lê, a mais
ses elementos, justamente devido à dinâmica social gêneros se é exposto.
em que estão inseridos, os gêneros são passíveis de Portanto, a partir de todas essas informações sobre
alterações em sua estrutura.
os gêneros textuais, podemos afirmar que, de maneira
Tais alterações podem ocorrer ao longo do tempo,
resumida, os gêneros textuais são ações linguísti-
tornando o gênero completamente modificado, como
se deu com as cartas pessoais e os e-mails, por exem- cas situadas socialmente que servem a propósitos
plo; ou podem ser alterações pontuais que se prestam específicos e são reconhecidos pelos seus traços
a uma finalidade específica e momentânea, como em comum. A seguir, demonstramos uma tabela com
aconteceu com o anúncio, apresentado a seguir, da as características básicas para a correta identificação
loja “O Boticário”: dos gêneros textuais: 19
Essa configuração própria da notícia é reconheci-
GÊNEROS TEXTUAIS SÃO:
da pelos termos: Manchete, Lead e Corpo da Notícia.
z Ações sociais Vejamos na prática como reconhecer o esquema pro-
z Ações com configuração prototípica totípico desse gênero:
z Reconhecidos pelos membros de uma comunidade
z O propósito de uma ação social
z Divididos em classes Casal suspeito de assaltos é preso após
colidir carro na contramão enquanto fugia Manchete
da polícia, em Fortaleza
Outra importante característica que devemos
reforçar é que os gêneros textuais não são quantifi- Foram apreendidos três aparelhos celu-
cáveis, existem inúmeros. Justamente pelo fato de lares roubados e uma arma de fogo com Lead
os gêneros sofrerem com as relações sociais, que são seis munições
instáveis, não há um número exato de gêneros tex- Um casal suspeito de realizar assaltos foi
tuais que possamos estudar, diferentemente dos tipos preso após capotar um carro ao dirigir na
textuais. contramão enquanto fugia da polícia na
tarde deste domingo (13), no Bairro Henri-
que Jorge, em Fortaleza
GÊNEROS TEXTUAIS TIPOS TEXTUAIS Uma das vítimas, que preferiu não se iden- Corpo
Relação com aspectos Associação a aspectos tificar, disse que os assaltantes dirigiam da notícia
sociais linguísticos em alta velocidade pelas ruas após abor-
dar de forma fria os pertences. “A mulher
Não podem sofrer altera- estava conduzindo o carro e o comparsa
Podem ser alterados ção, sob pena de serem dela abordava as pessoas colocando a
reclassificados arma na cabeça”, afirmou
Estabelecem uma função Organizam os gêneros Fonte: https://glo.bo/35KM591. Acessado em: 14/09/2020.
social textuais
Na formulação de uma notícia, para que ela atinja
seu propósito de informar, é fundamental que o autor
Apesar de não existir um número quantificável do texto seja guiado por essas perguntas a fim de tor-
de gêneros textuais, podemos estudar a estrutura dos nar seu texto imparcial e objetivo:
gêneros mais comuns nas provas de concursos, com o
O quê?
fito de nos prepararmos melhor e ganharmos tempo
na resolução de questões que envolvam esse assun- Onde? MANCHETE
to. Por isso, a seguir, iremos nos deter aos principais
gêneros textuais abordados em importantes bancas
Quando?
de concursos no país. Posteriormente, trazemos ques-
tões de provas de concursos anteriores que irão nos CORPO DA Como?
auxiliar a praticar esse conteúdo. NOTÍCIA
Por quê?
NOTÍCIA

A notícia é um gênero textual de caráter jornalís-


tico e, como tal, deve apresentar os fatos narrados de
É importante ressaltar que, com o advento das
maneira objetiva e imparcial. A notícia pode apresen-
redes sociais, tornou-se cada vez mais comum que o
tar sequências textuais narrativas e descritivas na sua
gênero notícia seja divulgado por meio de plataformas
composição linguística, por isso, é fundamental sem- diferentes, como as redes sociais. Isso democratiza a
pre termos em mente as características basilares de informação, porém também abre margem para a cria-
todos os principais tipos textuais, os quais tratamos ção de notícias falsas que se baseiam nesse esquema
anteriormente. de organização das notícias tentando passar alguma
Como aprendemos no início deste capítulo, os credibilidade ao público. Então, atualmente, podemos
gêneros textuais possuem características que os dis- afirmar que a fonte de publicação é tão importante
tinguem dos tipos textuais, dentre elas o fato de ter para o reconhecimento de uma notícia quanto a estru-
um apelo a questões sociais, um propósito comunica- tura padrão do gênero da qual tratamos acima.
tivo e apresentar uma configuração mais ou menos O próximo gênero que trataremos é a reportagem
padrão que varia em poucos ou nenhum aspecto que guarda sutis diferenças em comparação com a
entre os gêneros. notícia e também é muito abordada em provas de
concursos.
Por ser um gênero, a notícia também apresenta
essas características. Seu propósito comunicativo é
REPORTAGEM
informar uma comunidade sobre assuntos de inte-
resse comum, por isso, a notícia deve ser comunicada A reportagem é um gênero textual que, diferen-
com imparcialidade, ou seja, sem que o meio que a temente da notícia, além de oferecer informações
transmite apresente sua opinião sobre os fatos; outra acerca de um assunto, também apresenta os pontos
importante característica da notícia é a sua configura- de vista sobre um tema, tendo, portanto, um caráter
ção prototípica, seu padrão textual reconhecido por argumentativo; essa é a principal diferença entre os
20 leitores de uma comunidade. gêneros notícia e reportagem.
Como vimos anteriormente, a notícia deve ser, ou A seguir, daremos continuidade aos nossos estu-
buscar ser, imparcial, ou seja, não devemos encontrar dos sobre os principais gêneros textuais objeto de pro-
nesse gênero a opinião do meio que a divulga. Por vas de concurso com um dos gêneros mais comuns em
isso, nesse texto, as sequências textuais mais encon- provas de seleções: o artigo de opinião.
tradas são a narrativa e a descritiva, justamente com
a finalidade de se evitar apresentar um ponto de vista. ARTIGO DE OPINIÃO
Porém, a reportagem apresenta as opiniões sobre
um mesmo fato, pois essa opinião é o principal “ingre- O artigo de opinião faz parte da ordem de textos
diente” dos textos desse gênero que são representados, que buscam argumentar. Esse gênero usa a argumen-
predominantemente, pela sequência argumentativa. tação para analisar, avaliar e responder a uma ques-
É importante relembrarmos que o tipo textual tão controversa. Esse instrumento textual situa-se no
argumentativo é organizado em três macro partes: âmbito do discurso jornalístico, pois é um gênero que
tese, desenvolvimento e conclusão. Por manter esse circula, principalmente, em jornais e revistas impres-
padrão, a reportagem aprofunda-se em temas sociais sos ou virtuais. Com o artigo de opinião, temos a dis-
de ampla repercussão e interesse do público, algo que cussão de um problema de âmbito social. E, por meio
não é o foco da notícia, tendo em vista que a notícia dessa discussão, podemos defender nossa opinião,
busca apenas a divulgação da informação. como também refutar opiniões contrárias às nossas,
Diante disso, o suporte de veiculação das repor- ou ainda, propor soluções para a questão controversa.
tagens é, quase sempre, aquele que faz uso do vídeo, A intenção do escritor ao escolher o artigo de opi-
como a televisão, o computador, o tablet, o celular. nião é a de convencer seu interlocutor; para isso, ele
As reportagens têm um caráter de “matérias espe- terá que usar de informações, fatos, opiniões que
ciais” em jornais de ampla repercussão, mas também serão seus argumentos. Bräkling apud Ohuschi e Bar-
podem ser veiculadas em suportes escritos, como bosa aponta:
revistas e jornais, apesar de, com o avanço do uso das
redes sociais, estas são os principais meios de divulga- O artigo de opinião é um gênero de discurso em que
se busca convencer o outro de uma determinada
ção desse gênero atualmente.
ideia, influenciá-lo, transformar os seus valores por
Conforme a Academia Jornalística (2019), a repor-
meio de um processo de argumentação a favor de
tagem apresenta informações mais detalhadas sobre uma determinada posição assumida pelo produtor
um fato e/ou fenômeno de grande relevância social. e de refutação de possíveis opiniões divergentes. É
Isso significa que o repórter deve demonstrar os lados um processo que prevê uma operação constante de
que compõem a matéria, a fim de que o leitor cons- sustentação das afirmações realizadas, por meio
trua sua própria opinião sobre o tema. da apresentação de dados consistentes que possam
A despeito dessas diferenças na construção dos convencer o interlocutor (2011. p. 305).
gêneros mencionados, a reportagem e a notícia guar-
dam semelhanças, como a busca pelas respostas às Dessa forma, para alcançar o objetivo do gênero,
perguntas O quê? Como? Por quê? Onde? Quando? o escritor deverá usar diversos conhecimentos, como:
Quem? Essas perguntas norteiam a escrita tanto da enciclopédicos, interacionais, textuais e linguísticos.
reportagem quanto da notícia, que se diferencia da É por meio da escolha de determinados recursos lin-
primeira por seu caráter essencialmente informativo. guísticos que percebemos que nada é por acaso, pois,
a cada escolha há uma intenção: “... toda atividade
NOTÍCIA REPORTAGEM de interpretação presente no cotidiano da linguagem
fundamenta-se na suposição de quem fala tem certas
Apresenta um fato de Questiona fatos e efeitos intenções ao comunicar-se” (KOCH, 2011, p. 22).
forma simples e objetiva de um fato determinado Quando queremos dar uma opinião sobre determi-
nado tema, é necessário que tenhamos conhecimento
Apresenta argumentos sobre ele. Por isso, normalmente, os autores de artigos
Objetivo é informar
sobre um mesmo fato
de opinião são especialistas no assunto por eles abor-
Apuração dos fatos dado. Ao escolherem um assunto, os autores devem
Apuração extensa considerar as diversas “vozes” já existentes sobre
objetiva
mesmo assunto. E, dependendo da intenção, apoiar
Conteúdo sem ordem ou negar determinadas vozes.
determinada, pode apre- Por isso, a linguagem utilizada pelo articulista de
Conteúdo de curto prazo
sentar entrevistas, dados, um texto de opinião deve ser simples, direta, convin-
imagens, etc. cente. Utiliza-se a terceira pessoa, apesar de a primei-
ra ser adequada para um artigo de opinião pessoal;
LÍNGUA PORTUGUESA

Conteúdo segue o mode-


porém, ao escolher a terceira pessoa do singular, o
lo da pirâmide invertida -
articulista consegue dar um tom impessoal ao seu tex-
(conf. acima)
to, fazendo com que sua produção textual não fique
centrada só em suas próprias opiniões.
Fonte: https://bit.ly/3kD9tvk. Acessado em: 17/09/2020. Adaptado. Quanto à composição estrutural, Kaufman e Rodri-
guez (1995) apud Pereira (2008) propõem a seguinte
É importante ressaltar que nenhum gênero é com- estruturação:
posto apenas por uma única sequência textual e que,
portanto, a reportagem também apresentará esse z Identificação do tema, acompanhada de seus ante-
paradigma, pois esse gênero é essencialmente argu- cedentes e alcance para situar a questão polêmica;
mentativo, porém pode apresentar outras sequências z Tomada de posição, exposição de argumentos de
textuais a fim de alcançar seu objetivo final. modo a justificar a tese; 21
z Reafirmação da posição adotada no início da produção, ao mesmo tempo em que as ideias são articuladas e o
texto é concluído.

ORGANIZAÇÃO TEXTUAL DO ARTIGO DE OPINIÃO


Introdução Identificação da questão polêmica alvo de debate no texto
Tese do autor (posicionamento defendido) – Tese contrária (posicionamentos de terceiros) – Acei-
Desenvolvimento
tação ou refutação – Argumentos a favor da tese do autor do texto
Conclusão Fechamento do texto e reforço do posicionamento adotado

No processo de escrita de qualquer texto, é preciso estar atento aos elementos de coesão que ligam as ideias do
autor aos seus argumentos, porém, nos textos argumentativos, é fundamental prestar ainda mais atenção a esse
processo; por isso, muito cuidado com a coesão na escrita e na leitura de textos opinativos.
A fim de mantermos a linha de pensamento nos estudos de textos argumentativos, seguimos nossa abordagem
apresentando outro gênero sempre presente nas provas de língua portuguesa em concursos públicos: o editorial.

EDITORIAL

Até aqui, estudamos dois gêneros com predominância de sequência argumentativa. O terceiro será o editorial,
gênero muito marcante no âmbito jornalístico e que expressa a opinião de um veículo de comunicação.
Como já debatemos muito sobre a estrutura dos textos argumentativos de uma forma geral, iremos nos atentar
aqui para as principais características do gênero editorial e no que ele se diferencia do artigo de opinião, por exemplo.

EDITORIAL - CARACTERÍSTICAS
z Expressa opinião de um jornal ou revista a respeito de um tema atual
z O objetivo desse gênero é esclarecer ou alertar os leitores sobre alguma temática importante
z Busca persuadir os leitores, mobilizando-os a favor de uma causa de interesse coletivo
z Sua estrutura também é baseada em: Introdução, Desenvolvimento e Conclusão

O início de um editorial é bem semelhante ao de um artigo de opinião: apresenta-se a ideia central ou proble-
ma social a ser debatido no texto, posteriormente segue-se a apresentação do ponto de vista defendido e conclui-
-se com a retomada da opinião apresentada inicialmente. A principal diferença entre editorial e artigo de opinião
é que aquele representa a opinião de uma corporação, empresa ou instituição.

EDITORIAL – MARCAS LINGUÍSTICAS


z Verbos na 3ª pessoa do singular ou plural
z Uso do modo indicativo nas formas verbais predominante
z Linguagem clara, objetiva e impessoal

O editorial, além de ser um gênero muito comum nas provas de interpretação textual em concursos públicos,
também é, recorrentemente, cobrado por muitas bancas em provas de redação. Por isso, a seguir, apresentamos
um breve esquema para facilitar a escrita desse gênero, especialmente em certames que cobrem redação.

EDITORIAL – ESTRUTURA TEXTUAL POR PARÁGRAFOS


Apresentação do tema (situando o leitor) e já com um posicionamento definido. Ser didático ao apresen-
Parágrafo 1
tar o assunto ao leitor
Contextualização do tema, comparando-o com a realidade e trazendo as causas e indicativos concretos
Parágrafo 2
do problema. Mais uma vez, posicionamento sobre o assunto
Análise e as possíveis motivações que tornam o tema polêmico (ou justificativas de especialista da
Parágrafo 3
área). É preciso trazer dados factuais, exemplos concretos que ilustram a argumentação
Parágrafo 4 Conclusivo, com o posicionamento crítico final, retomando o posicionamento inicial sem se repetir

A seguir, apresentamos nosso último gênero textual abordado neste material. Lembramos que o universo de
gêneros textuais é imenso, por isso, é impossível apresentar uma compilação de estudos com todos os gêneros;
apesar disso, trazemos aqui os principais gêneros cobrados em avaliações de língua portuguesa. Seguindo esse
critério, o próximo gênero estudado é a crônica.

CRÔNICA

O gênero crônica é muito conhecido no meio literário no Brasil. Podemos citar ilustres autores que se tornaram
famosos pelo uso do gênero, como Luís Fernando Veríssimo e Marina Colasanti. Também por ser um gênero curto
de cunho social voltado para temas atuais, é muito usado em provas de concurso para ilustrar questões de inter-
22 pretação textual e também para contextualizar questões que avaliam a competência gramatical dos candidatos.
As crônicas apresentam uma abordagem cotidiana sobre um assunto atual e podem ser narrativas ou
argumentativas.

CRÔNICA NARRATIVA CRÔNICA ARGUMENTATIVA


z Defesa de um ponto de vista, relacionado ao assunto em
z Limita-se a contar fatos do cotidiano debate
z Pode apresentar um tom humorístico z Uso de argumentos e fatos
z Foco narrativo em 1ª ou 3ª pessoa z Também pode ser escrita em 1ª ou 3ª pessoa
z Uso de argumentos de modo pessoal e subjetivo

Apesar de as formas de texto verbais serem o formato mais comum na construção de uma crônica, atualmen-
te, podemos encontrar crônicas veiculadas em outros formatos, como vídeo, muito divulgados nas redes sociais.
No tocante ao estilo da crônica argumentativa, trata-se de um texto com estrutura argumentativa padrão
(introdução, desenvolvimento, conclusão), muito veiculado em jornais e revistas, e, por isso, é um gênero que
passeia pelos ambientes literários e jornalísticos; apresenta um teor opinativo forte, com observação dos fatos
sociais mais atuais. Outra característica presente nesse gênero é o uso de figuras de linguagem, como a ironia e a
metáfora, que auxiliam na presença do tom sarcástico que a crônica pode ter.
A seguir, apresentamos um trecho da crônica “O que é um livro?”, da escritora Marina Colasanti em que pode-
mos identificar as principais características desse gênero:

O que é um livro?

O que é um livro? A pergunta se impõe neste momento em que a isenção de impostos sobre o objeto primeiro da
cultura e do conhecimento está em risco. Uma contribuição tributária de 12% afastaria ainda mais a leitura de quem
tanto precisa dela.
Um livro é:
– A casa das palavras. Acabei de gravar um vídeo para jovens estudantes e disse a eles que o ofício de um
escritor é cuidar dessa casa, varrê-la, fazer a cama das palavras, providenciar sua comida, vesti-las com harmonia.
– A nave espacial que nos permite viajar no tempo para a frente e para trás. Habitar o passado ao tempo em que
foi escrito. Ou revisitá-lo de outro ponto de vista, inalcançável quando o passado aconteceu: o do presente, com
todos os conhecimentos adquiridos e as novas maneiras de viver. […]
- Ao mesmo tempo, espelho da realidade e ponte que nos liga aos sonhos. Crítica e fantasia. Palavra e música,
prosa e poesia. Luz e sombra. Metáfora da vida e dos sentimentos. Lugar de preservação do alheio e ponto de
encontro com nosso núcleo mais profundo. Onde muitas portas estão disponíveis, para que cada um possa abrir a
sua.
– A selva na qual, entre rugidos e labaredas, dragões enfrentam centauros. O pântano onde as hidras agitam
suas múltiplas cabeças.
– Todas as palavras do sagrado, todas elas foram postas nos livros que deram origem às religiões e neles
conservadas.
Fonte: https://bit.ly/2HIecxi. Acessado em:17/09/2020. Adaptado.

Como podemos notar, a crônica trata de um assunto bem atual: o aumento da carga tributária que incide sobre
o preço dos livros. A autora apresenta sua opinião e segue argumentando sobre a importância dos livros na socie-
dade com um ponto de vista ladeado pela literatura, o que fortalece sua argumentação.
Para finalizar nossos estudos sobre gêneros textuais, é importante deixarmos uma informação relevante sobre
esse assunto. Para muitos autores, os gêneros não apenas moldam formas de texto, mas formas de dizer marcadas
pelo discurso; por isso, em algumas metodologias (e também em alguns editais de concurso), os gêneros serão
tratados como do discurso.

Dica
Gêneros do discurso marcam o processo de interação verbal; como todo discurso materializa-se por meio
de textos, a nomenclatura gêneros textuais torna-se mais adequada para essa perspectiva de estudos.
Podemos distinguir as duas variantes vocabulares de acordo com as demandas sociais e culturais de estu-
LÍNGUA PORTUGUESA

do dos gêneros.

DOMÍNIO DA ORTOGRAFIA OFICIAL


ORTOGRAFIA

As regras de ortografia são muitas e, na maioria dos casos, contraproducentes, tendo em vista que a lógica da
grafia e da acentuação das palavras, muitas vezes, é derivada de processos históricos de evolução da língua.
Por isso, vale lembrar a dica de ouro do aluno craque em ortografia: leia sempre! Somente a prática de leitura
irá lhe garantir segurança no processo de grafia das palavras. 23
Em relação à acentuação, por outro lado, a maior Para compreender o processo de formação silábi-
parte das regras não são efêmeras, porém, são em ca e, consequentemente, reconhecer os números de
grande número. Neste material, iremos apresen- sílabas em uma palavra, é fundamental saber como
tar uma forma condensada e prática de nunca mais dividir a palavra em sílabas.
esquecer os acentos e os motivos pelos quais as pala- Esse processo é chamado de divisão silábica e
vras são acentuadas. constitui a identificação e delimitação das sílabas de
Ainda sobre aspectos ortográficos da língua portu- cada palavra. As palavras classificam-se em monossí-
guesa, é importante estarmos atentos ao uso de letras
labas (se apresentam apenas uma sílaba) ou polissíla-
cujos sons são semelhantes e geram confusão quanto
bas (mais de uma sílaba).
à escrita correta. Veja:
Veja alguns exemplos:
Separam-se:
z É com X ou CH? Empregamos X após os ditongos.
Ex.: ameixa, frouxo, trouxe.
z Hiatos: sa-í-da; va-zi-o;
z Dígrafos (RR, SS, SC, SÇ, XC): car-ro; ces-são; cons-
USAMOS X: USAMOS CH: -ci-ên-cia; cres-ça; ex-ce-ção;
z Vogais iguais / grupo consonantal CC (Ç): Co-or-de-
� Depois da sílaba em, se � Depois da sílaba em, se
-nar; ca-a-tin-ga/fic-ção; con-fec-cionar;
a palavra não for deri- a palavra for derivada de
z Encontros consonantais disjuntos (pt, dv, gn, bs,
vada de palavras inicia- palavras iniciadas por
tm, ft, ct, ls): Ap-ti-dão; ad-vo-ga-do; dig-no; ab-sol-
das por CH: enxerido, CH: encher, encharcar
enxada � Em palavras derivadas -ver; rit-mo; as-pec-to; con-vul-são.
� Depois de ditongo: cai- de vocábulos que são
xa, faixa grafados com CH: re- Não se separam:
� Depois da sílaba inicial cauchutar, fechadura
me se a palavra não for z Ditongos e Tritongos: Gló-ria/ U-ru-guai;
derivada de vocábulo z Dígrafos (CH, LH, NH, GU, QU): cha-ve; ga-lho;
iniciado por CH: mexer, ni-nho; lin-gui-ça; quei-jo;
mexilhão z Encontros consonantais em sílaba inicial: psi-có-
-lo-go; pneu.
Fonte: instagram/academiadotexto. Acesso em: 10/10/2020.
TONICIDADE SILÁBICA
z É com G ou com J? Usamos G em substantivos
terminados em: -agem; igem; -ugem. Ex.: viagem, Quanto à tonicidade, as sílabas são divididas em
ferrugem; monossílabas (átonas e tônicas), oxítonas, paroxíto-
Palavras terminadas em: ágio, -égio, -ígio, -ógio, nas e proparoxítonas. Para reconhecermos a sílaba
-úgio. Ex.: sacrilégio, pedágio. tônica (forte) de uma palavra basta pronunciarmos o
Verbos terminados em -ger e -gir. Ex.: proteger, vocábulo e notar qual sílaba é pronunciada com mais
fugir; força.
Usamos J em formas verbais terminadas em -jar ou
-jer. Ex.: viajar, lisonjear.
Monossílabas Átonas
Termos derivados do latim escritos com j;
z É com Ç ou S? Após ditongos, usamos, geralmente,
Ç quando houver som de S, e escrevemos S quando Os monossílabos átonos são designados assim, pois
houver som de Z. Ex.: eleição; Neusa; coisa; não apresentam autonomia fonética, sendo, portanto,
z É com S ou com Z? palavras que designam nacio- pronunciados de forma fraca em seus contextos de
nalidade ou títulos de nobreza e terminam em -ês uso.
e -esa devem ser grafadas com S. Ex.: norueguesa; Ex.: Essa chance nos foi dada.
inglês; marquesa; duquesa.
Palavras que designam qualidade, cuja termina- Monossílabas Tônicas
ção seja -ez ou -eza, são grafadas com Z:
Embriaguez; lucidez; acidez. Os monossílabos tônicos apresentam autonomia
fonética e, por isso, são proferidos fortemente nos
Essas regras para correção ortográfica das palavras, contextos de uso em que aparecem. É importante fri-
em geral, apresentam muitas exceções; por isso é impor- sar que nem todo monossílabo tônico será acentuado,
tante ficar atento e manter uma rotina de leitura, pois Ex.: “Essa chance foi dada a nós”.
esse aprendizado é consolidado com a prática. Sua capa-
cidade ortográfica ficará melhor a partir da leitura e da
Oxítonas
escrita de textos, por isso, recomendamos que se man-
tenha atualizado e leia fontes confiáveis de informação,
São chamadas assim as palavras que apresentam
pois além de contribuir para seu conhecimento geral, sua
habilidade em língua portuguesa também aumentará. tonicidade na última sílaba, sendo esta, portanto, a
sílaba mais forte.
NÚMERO DE SÍLABAS Ex.: mo-co-tó, pa-ra-béns, vo-cê.

Antes de compreendermos os processos norteado- Paroxítonas


res da divisão silábica, é importante identificar uma
sílaba. Sílaba é um grupo de palavras que se pronun- São chamadas assim as palavras que apresentam a
cia em apenas uma emissão de voz, como a palavra sílaba tônica na penúltima sílaba.
24 “pá”, por exemplo. Ex.: a-çú-car.
Proparoxítonas HIS-TÓ-RIA/ HIS-TÓ-RI-A
VÁ-CUO/ VÁ-CU-O
São chamadas assim as palavras que apresentam a PÁ-TIO/ PÁ-TI-O
sílaba tônica na antepenúltima sílaba. Antes de concluir, é importante mencionar o uso
Ex.: rá-pi-do. do acento nas formas verbais ter e vir:
Ele tem / Eles têm
Notações Léxicas Ele vem / Eles vêm
Perceba que, no plural, essas formas admitem o
São notações léxicas todos os sinais e símbolos uso de um acento (^); portanto, atente-se à concordân-
acessórios que servem para auxiliar a pronúncia das cia verbal quando usar esses verbos.
palavras. Vejamos alguns exemplos:

z Acento agudo (´): sinal com um traço oblíquo para


direita que indica sílaba tônica em palavras que DOMÍNIO DOS MECANISMOS DE
precisam ser sinalizadas;
z Acento circunflexo (^): sinal que indica vogal COESÃO TEXTUAL
tônica e fechada em palavras que precisam ser
sinalizadas; EMPREGO DE ELEMENTOS DE REFERENCIAÇÃO,
z Acento grave (`): sinal com traço oblíquo para SUBSTITUIÇÃO E REPETIÇÃO, DE CONECTORES
esquerda que representa a junção de duas vogais E DE OUTROS ELEMENTOS DE SEQUENCIAÇÃO
A em funções sintáticas diferentes, fenômeno cha- TEXTUAL
mado de crase;
z Diacrítico til (~): indica nasalização em som vocá- Ao elaborarmos um texto, devemos buscar organi-
lico, não é considerado um sinal. zar as ideias apresentadas de modo a torná-lo coeso e
coerente. Porém, como fazer para que essa organiza-
ACENTUAÇÃO GRÁFICA ção mantenha esse padrão? Para descobrir, primeiro
é preciso esclarecer o que é coesão e o que é coerência
Muitas são as regras de acentuação das palavras e por que buscar esse padrão é importante.
da língua portuguesa; para compreender essas regras, Os textos não são somente um aglomerado de pala-
faz-se necessário entender a tonicidade das sílabas e vras e frases escritas. Suas partes devem ser articula-
respeitar a divisão das sílabas. das e organizadas harmoniosamente de maneira que
o texto faça sentido como um todo. A ligação, a rela-
Regras de Acentuação ção, os nexos entre essas partes estabelecem o que se
chama de coesão textual. Os articuladores responsá-
z Palavras monossílabas: Acentuam-se os monossí- veis por essa “costura” do tecido (tessitura) do texto
labos tônicos terminados em: A, E, O. Ex.: pá, vá, são conhecidos como recursos coesivos que devem ser
chá; pé, fé, mês; nó, pó, só; articulados de forma que garanta uma relação lógica
z Palavras oxítonas: acentuam-se as palavras oxíto- entre as ideias, fazendo com que o texto seja inteli-
nas terminadas em: A, E, O, EM/ENS. Ex.: cajá, gua- gível e faça sentido em determinado contexto. A res-
raná; Pelé, você; cipó, mocotó; também, parabéns; peito disso, temos a coerência textual, que está ligada
z Palavras paroxítonas: acentuam-se as paroxíto- diretamente à significação do texto, aos sentidos que
nas que não terminam em: A, E, O, EM/ENS. Ex.: ele produz para o leitor.
bíceps, fórceps; júri, táxis, lápis; vírus, úteis, lótus;
abdômen, hímen. COESÃO COERÊNCIA

Utiliza-se de elementos su- Subjacente ao texto, enfa-


Importante! perficiais, dando-se ênfase tiza-se o conteúdo e a pro-
na forma e na articulação dução de sentido/relação
Acentuam-se as paroxítonas terminadas em entre as ideias lógica
ditongo.
Ex.: imóveis, bromélia, história, cenário, Brasília,
rádio etc. Podemos usar uma metáfora muito interessante
quando se trata de compreender os processos de coe-
são e coerência.
z Palavras proparoxítonas: A regra mais simples e Essa metáfora nos leva a comparar um texto com
fácil de lembrar: todas as proparoxítonas devem um prédio. Tal qual uma boa construção precisa de
LÍNGUA PORTUGUESA

ser acentuadas! um bom alicerce para manter-se em pé, um texto bem


construído depende da organização das nossas ideias,
Porém, esse grupo de palavras divide uma polê- da forma como elas estão dispostas no texto. Isso sig-
mica com as palavras paroxítonas, pois, em alguns nifica que precisamos utilizar adequadamente os pro-
vocábulos, o Vocabulário Ortográfico da Língua Por- cessos coesivos, a fim de defendermos nossas ideias
tuguesa (VOLP) aceita a classificação em paroxítona adequadamente.
ou proparoxítona. Por isso, neste capítulo, iremos apresentar as prin-
São as chamadas proparoxítonas aparentes. cipais formas de marcação, em um texto, de processos
Essas palavras apresentam um ditongo crescente no que buscam organizar as ideias em um texto, princi-
final de suas sílabas; esse ditongo pode ser aceito ou palmente, os processos de coesão que, como dissemos,
pode ser considerado hiato. É o que ocorre com as apresentam um apelo mais forte às formas linguísti-
palavras: cas que os processos envolvendo a coerência. 25
Antes, porém, faz-se mister indicar mais algumas Já os processos referenciais catafóricos apontam
características da coerência em um texto e como esse para porções textuais que ainda não foram mencio-
processo liga-se não apenas às formas gramaticais, nadas anteriormente no texto, conforme o exemplo a
mas, sobretudo, ao forte teor cognitivo. Tendo em seguir: “Os documentos requeridos para os candidatos
vista que a coerência é construída, tal qual o sentido, são estes: Identidade, CPF, Título de eleitor e reservista”
coletivamente, não por acaso, o grande linguista e
estudioso da língua portuguesa, Luis Antonio Marcus- Dica
chi (2007) afirmou que a coerência é “algo dinâmico
que se encontra mais na mente que no texto”. Em provas de concursos e seleções, ainda se
Dito isso, usamos as palavras de Cavalcante (2013) encontra a terminologia “expressões referen-
para esclarecer ainda mais o conceito de coerência e ciais catafóricas”, remetendo ao uso já indicado
passarmos ao estudo detalhado dos processos de coe- no material. No entanto, é importante salientar
são. A autora afirma que a coerência: que, para linguistas e estudiosos, as anáforas
são os processos referenciais que recuperam e/
[...] Não está no texto em si; não nos é possível ou apontam para porções textuais.
apontá-la, destacá-la ou sublinha-la. Ela se constrói
[...] numa dada situação comunicativa, na qual o Uso de Pronomes ou Pronominalização
leitor, com base em seus conhecimentos sociocogni-
tivos e interacionais e na materialidade linguística, Utilizar pronomes para manter a coesão de um
confere sentido ao que lê (2013, p.31). texto é essencial, evitando-se repetições desnecessá-
rias que tornam o texto cansativo para o leitor. Como
A seguir iremos nos deter aos processos de coesão a classe de pronomes é vasta, vamos enfatizar neste
importantes para uma boa compreensão e elaboração estudo os principais pronomes utilizados em recursos
textual. É importante destacar que esses processos textuais para manter a coesão.
de coesão não podem ser dissociados da construção A pronominalização é a base de recursos anafó-
de sentidos implícita no processo de organização da ricos que recuperam porções textuais ou ainda um
coerência. No entanto, como nossa finalidade é tornar nome específico a que o autor faz referência no texto.
seu aprendizado mais fácil, separamos esses conceitos Vejamos dois exemplos:
com fins estritamente didáticos.
O primeiro debate entre Donald Trump e Joe Biden
COESÃO REFERENCIAL foi quente, com diversas interrupções e acusações
pesadas. […] O primeiro ponto discutido foi a indica-
A coesão é marcada por processos referenciais ção de Trump da juíza conservadora Amy Barrett para
relaciona termos e ideias a partir de mecanismos que a Suprema Corte, depois da morte de Ruth Bader Gins-
inserem ou retomam uma porção textual. Os pro- burg. O presidente defendeu que tem esse direito, pois
cessos marcados pela referenciação caracterizam-se os republicanos têm maioria no Senado [Casa que ratifi-
pela construção de referentes em um texto, os quais ca essa escolha] e criticou os democratas, dizendo “que
se relacionam com as ideias defendidas no texto. Esse eles ainda não aceitaram que perderam a eleição”. […].
processo é marcado por vocábulos gramaticais e pode O segundo ponto discutido foi a covid-19. Os EUA
ser reconhecido pelo uso de algumas classes de pala- são o país mais atingido pela pandemia - são 7 milhões
vras, das quais falaremos a seguir. de casos e mais de 200 mil mortos. O âncora Chris Wal-
Antes, porém, faz-se mister reconhecer os proces- lace perguntou aos dois o que eles fariam até que uma
sos referenciais que envolvem o uso de expressões vacina aparecesse. Biden atacou o republicano dizendo
anafóricas e catafóricas. Conforme Cavalcante (2013), que Trump “não tem um plano para essa tragédia”. Já
“as expressões que retomam referentes já apresentados Trump começou sua resposta atacando a China - “deve-
no texto por outras expressões são chamadas de anáfo- riam ter fechado suas fronteiras no começo” -, colocou
ras”. Vejamos o exemplo a seguir: em dúvida as estatísticas da Rússia e da própria China
e, com pouca modéstia, disse que fez um “excelente tra-
balho” nesse momento dos EUA.
O Rocky Balboa era um humilde lutador de bairro, que
Fonte: https://br.noticias.yahoo.com/eleicoes-eua-
vivia de suas discretas lutas, no início de sua carreira.
debate-025314998.html. Acessado em: 30/09/2020. Adaptado.
Segundo seu treinador Mickey, Rocky era um jovem pro-
missor, mas nunca se interessou realmente em evoluir,
Após a leitura do texto, é possível notar que a recu-
preferiu trabalhar para um agiota italiano chamado Tony
peração da informação apresentada é feita a partir de
Gazzo, com quem manteve uma certa amizade. Gazzo
muitos processos de coesão, porém, o uso dos prono-
gostava de Rocky por ele ser descendente de italiano e
mes destacados recupera o assunto informado e ajuda
o ajudou dando US$ 500,00 para o seu treinamento, na
o leitor a construir seu posicionamento. É importante
primeira luta que fez com Apollo Creed.
buscar sempre o elemento a que o pronome faz refe-
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Rocky_Balboa. Acessado em: rência; por exemplo, o primeiro pronome pessoal
30/09/2020. Adaptado. destacado no texto refere-se ao termo “democratas”,
já o segundo, faz referência aos presidenciáveis que
A partir da leitura, podemos perceber que todos participavam do debate. Nota-se, com isso, que esses
os termos destacados fazem referência a um mesmo pronomes apontam para uma parcela objetiva do tex-
referente: Rocky Balboa. O processo de referenciação to, diferente do pronome “essa”, associado ao subs-
utilizado foi o uso de anáforas que assumem variadas tantivo “tragédia”, que recupera uma parcela textual
formas gramaticais e buscam conectar as ideias do maior, fazendo referência ao momento de pandemia
26 texto. pelo qual o mundo passa.
O uso de pronomes pode ser um aliado na constru-
Antônio Carlos Belchior, mais conhecido como Belchior
ção da coesão, porém, o uso inadequado pode gerar
foi um cantor, compositor, músico, produtor, artista plásti-
ambiguidades, ocasionando o efeito oposto e prejudi- co e professor brasileiro. Um dos membros do chamado
cando a coesão. Ex.: Encontrei Matheus, Pedro e sua Pessoal do Ceará, que inclui Fagner, Ednardo, Amelinha e
mulher. outros. Bel foi um dos primeiros cantores de MPB do nor-
Não é possível saber qual dos homens estava deste brasileiro a fazer sucesso internacional, em meados
acompanhado. da década de 1970.
Por fim, destacamos que as classes de palavras
relacionadas neste capítulo com os processos de coe- Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Belchior. Acessado em:
30/09/2020. Adaptado.
são não podem ser vistas apenas sob a ótica descriti-
va-normativa, amplamente estudada nas gramáticas
Todas as marcações em negrito fazem referência ao
escolares. O interesse das principais bancas de con-
nome inicial Antônio Carlos Belchior; os termos que se
cursos públicos é avaliar a capacidade interpreta-
referem a esse nome inicial são expressões nominaliza-
tiva e racional dos candidatos, dessa feita, a análise
doras que servem para ligar ideias e construir o texto.
de processos coesivos visa analisar a capacidade do
candidato de reconhecer a que e qual elemento está Uso de Adjetivos
construindo as referências textuais.
Os adjetivos também são considerados expressões
Uso de Numerais nominalizadoras que fazem referência a uma porção
textual ou a uma ideia referida no texto. No exemplo
Conforme mencionamos anteriormente, o uso de acima, a oração “Belchior foi um cantor, compositor,
categorias gramaticais concorre para a progressão músico, produtor, artista plástico e professor” apre-
textual; uma das classes gramaticais que auxilia esse senta seis nomes que funcionam como adjetivos de
processo é o uso de numerais. Belchior e, ao mesmo tempo, acrescentam informações
Neste subtópico, iremos focar no valor coesivo que sobre essa personalidade, referida anteriormente.
essa classe promove, auxiliando na ligação de ideias É importante recordar que não podemos identifi-
em um texto. Dessa forma, as expressões quantitati- car uma classe de palavra sem avaliar o contexto em
vas, em algumas circunstâncias, retomam dados ante- que ela está inserida. No exemplo mencionado, as
riores numa relação de coesão. palavras cantor, compositor, músico, produtor, artis-
Ex.: Foram deixados dois avisos sobre a mesa: o ta, professor são substantivos que funcionam como
primeiro era para os professores, o segundo para os adjetivos e colaboram na construção textual.
alunos.
As formas destacadas são numerais ordinais que Uso de Verbos Vicários
recuperam informação no texto, evitando a repetição
O vocábulo vicário é oriundo do latim vicarius e
de termos e auxiliando no desenvolvimento textual.
significa “fazer as vezes”; assim, os verbos vicários
são verbos usados em substituição de outros que já
Uso de Advérbios foram muito utilizados no texto.
Ex.: A disputa aconteceu, mas não foi como nós
Muitos advérbios auxiliam no processo de recupe- esperávamos.
ração e instauração de ideias no texto, auxiliando o O verbo “acontecer” foi substituído na segunda
processo de coesão. As formas adverbias que marcam oração pelo verbo “foi”.
tempo e espaço podem também ser denominadas de
marcadores dêiticos, caso dos seguintes elementos:
ALGUNS VERBOS VICÁRIOS IMPORTANTES
Hoje, aqui, acolá, amanhã, ontem...
Perceba que esses advérbios só podem ser associa- Ser: “Ele trabalha, porém não é tanto assim”
dos a um referente se forem instaurados no discurso, Fazer: “Poderíamos concordar plenamente, mas não o
isto é, se mantiverem associação com as pessoas que fizemos”
produzem as falas. Assim, uma pessoa que lê “hoje Aceitar: “Se ele não acatar a promoção não aceita por
não haverá aula” em um cartaz na porta de uma sala falta de interesse”
compreenderá que a marcação temporal refere-se Foi: “Se desistiu da vaga, foi por motivos pessoais”
ao momento em que a leitura foi realizada. Por isso,
esses elementos são conhecidos como dêiticos. Uso de Elipse
Independentemente de como são chamados, esses
elementos colaboram para a ligação de ideias no tex- A elipse é uma forma de omissão de uma informa-
to, auxiliando também a construção da coesão textual. ção já mencionada no texto. Geralmente, estudamos
LÍNGUA PORTUGUESA

a elipse mais detalhadamente na seção de figuras de


Uso de Nominalização linguagem de uma gramática; neste material, iremos
nos deter a maiores aspectos da elipse também nes-
sa seção. Aqui é importante salientar as propriedades
As expressões que retomam ideias e nomes, já
recategorizadoras e referenciais da elipse, com o pro-
apresentados no texto, mediante outras formas de pósito de manter a coesão textual.
expressão, podem ser analisadas como processos Conforme Antunes (2005, p. 118), a elipse como
nominalizadores, incluindo substantivos, adjetivos e recurso coesivo “corresponde à estratégia de se omitir
outras classes nominais. um termo, uma expressão ou até mesmo uma sequência
Essas expressões recuperam informações median- maior (uma frase inteira, por exemplo) já introduzidos
te novos nomes inseridos no texto, ou ainda, com o anteriormente em outro segmento do texto, mas recu-
uso de pronomes, conforme vimos anteriormente. perável por marcas do próprio contexto verbal”. Veja-
Vejamos um exemplo: mos como ocorre, a partir do segmento abaixo: 27
“O Brasil evoluiu bastante desde o
Exemplos de conjunções subordinativas atuando
início do século XXI. O país propor- na coesão:
cionou a inclusão social de muitas
pessoas. A nação obteve notorieda- Sem Elipse
Como não havia estudado sufi-
de internacional por causa disso. A CAUSAL
pátria, porém, ainda enfrenta certas ciente, resolvi não fazer essa prova
adversidades...” Falaram tão mal do filme que ele
CONSECUTIVA
“O Brasil evoluiu bastante desde o iní- nem entrou em cartaz
cio do século XXI e proporcionou a in- COMPARATIVA Trabalhou como um escravo
clusão social de muitas pessoas, por
Com Elipse
causa disso obteve notoriedade inter- Conforme o Ministro da Eco-
nacional, porém ainda enfrenta certas CONFORMATIVA nomia, os concursos não irão
adversidades...” acabar
Ainda que vivamos um período
COESÃO SEQUENCIAL CONCESSIVA de poucos concursos, não pode-
mos desanimar
A coesão sequencial é responsável por organizar a
progressão temática do texto, isto é, garantir a manu- Se estudarmos, conseguiremos
CONDICIONAL
ser aprovados!
tenção do tema tratado pelo texto de maneira a pro-
mover a evolução do debate assumido pelo autor. À proporção que aumentava seus
Essa coesão pode ser garantida, em um texto, a PROPORCIONAL horários de estudo, mais forte o
partir de locuções que marcam tempo, conjunções, candidato se tornava
desinências e modos verbais. Neste material, iremos Estudava sempre com afinco, a
FINAL
nos deter, sobretudo, aos processos de conjunções que fim de ser aprovado
são utilizadas para garantir a progressão textual. Quando o edital for publicado, já
TEMPORAL
estarei adiantado nos estudos
Conjunções Coordenativas

As conjunções coordenativas são aquelas que Importante!


ligam orações coordenadas, ou seja, orações de valor
semântico independente. Na construção textual, elas Não confundir:
são importantes, pois, com seus valores, adicionam Afim de – Relativo à afinidade, semelhança:
informações relevantes ao texto. “Física e Química são disciplinas afins”.
Exemplos de conjunções coordenativas atuando A fim de – Relativo a ter finalidade, ter como
na coesão: objetivo, com desejo de: “Estou a fim de comer
pastel”.
Não apenas conversava com os de-
ADITIVA mais alunos como também atrapalha- Conjunções Integrantes
va o professor
Eram ideias interessantes, porém nin- As conjunções integrantes fazem parte das orações
ADVERSATIVA
guém concordou com elas subordinadas, na realidade, elas apenas integram,
Superou o estigma que pregava “ou estu- ligam uma oração principal a outra, subordinada.
ALTERNATIVAS Como podemos notar, o papel dessas conjunções é
da, ou trabalha” e conseguiu ser aprovada
essencialmente coesivo, tendo em vista que elas são
Ao final, faça os exercícios, pois é uma “peças” que unem as orações. Existem apenas dois
EXPLICATIVA
forma de praticar o que aprendeu
tipos de conjunções integrantes: que e se.
O candidato não cumpriu sua promes-
CONCLUSIVA sa. Ficamos, portanto, desapontados
com ele Quando é possível substituir
Quero que a prova esteja
o que pelo pronome isso, es-
fácil.
tamos diante de uma conjun-
Perceba que as ideias ligadas pelas conjunções Quero. O quê? Isso
ção integrante
precisam manter uma relação contextual, estabeleci-
da pela coerência e demonstrada pela coesão. Por isso, Sempre haverá conjunção
Perguntei se ele estava
orações como esta: “Não gosto de festas de aniversá- integrante em orações subs-
em casa.
rio, mas não vou à sua” estão equivocadas, pois as tantivas e, consequentemen-
Perguntei. O quê? Isso
ideias ligadas não estabelecem uma relação de adver- te, em períodos compostos
sidade, como demonstra a conjunção “mas”.
COESÃO RECORRENCIAL
Conjunções Subordinativas
Uso de Repetições
Tais quais as conjunções coordenativas, as subor-
dinativas estabelecem uma ligação entre as ideias As recorrências de repetições em textos são comu-
apresentadas num texto, porém, diferentemente mente recusadas pelos mestres da língua portuguesa.
daquelas, estas ligam ideias apresentadas em orações Sobretudo, quando o assunto é redação, muitos pro-
subordinadas, ou seja, orações que precisam de outra fessores recomendam em uníssono: evite repetir pala-
28 para terem o sentido apreendido. vras e expressões!
No entanto, a repetição é um recurso coesivo
ESTRUTURAS QUE SEMPRE DEVEM SER USADAS
essencial para manter a progressão temática do texto, JUNTAS
isto é, para que o tema debatido no texto não seja per-
dido, levando o escritor a fugir da temática. Não só..., mas também; não apenas..., mas ainda; não
Embora também não recomendemos as repetições tanto...quanto; ora...ora; seja...seja etc.
exageradas no texto, sabemos valorizar seu uso ade-
quado em um texto; por isso, apresentamos, a seguir, Além disso, é preciso respeitar a estrutura sintáti-
alguns usos comuns dessa estratégia coesiva. ca a qual a frase está inserida; vejamos um exemplo
em que houve quebra de paralelismo:
“É necessário estudar e que vocês se ajudem”
CONTEXTOS DE USO ADEQUADO DE REPETIÇÕES — Errado.
“É necessário que vocês se ajudem e que estudem”
O candidato foi encontra- — Correto.
do com duzentos milhões Devemos manter a organização das orações, pois
Marcar ênfase
de reais na mala, duzen- não podemos coordenar orações reduzidas com ora-
tos milhões! ções desenvolvidas, é preciso manter o paralelismo
Marcar contraste Existem Políticos e políticos e deixá-las ou somente desenvolvida ou somente
reduzidas.
“Agora que sentei na minha No tocante ao paralelismo semântico, a ideia é
cadeira de madeira, junto a mesma, porém deixamos de analisar os pares no
à minha mesa de madeira, âmbito sintático e passamos ao plano das ideias. Veja-
colocada em cima deste mos o seguinte exemplo:
assoalho de madeira, olho “Por um lado, os manifestantes agiram corre-
Marcar a continuidade
minhas estantes de madei- tamente, por outro podem não ter agido errado”
temática
ra e procuro um livro feito — Incorreto.
de polpa de madeira para “Por um lado, os manifestantes agiram correta-
escrever um artigo contra mente, por outro podem ter causado prejuízo à popu-
o desmatamento florestal” lação” — Correto.
Millôr Fernandes “Encontrei duas pessoas conhecidas na rua: uma
foi sua irmã e a outra estava bem” — Incorreto.
Uso de Paráfrase “Encontrei duas pessoas conhecidas na rua: uma
foi sua irmã e a outra foi minha prima” — Correto.
A paráfrase é um recurso de reiteração que pro-
porciona maior esclarecimento sobre o assunto trata- EMPREGO DE TEMPOS E MODOS VERBAIS
do no texto. A paráfrase é utilizada para voltar a falar
sobre algo utilizando-se de outras palavras. Confor- A fim de ofertar um material de estudos o mais
me Antunes (2005, p. 63), “alguma coisa é dita outra didático e organizado possível, optou-se por não repe-
vez, em outro ponto do texto, embora com palavras tir o conteúdo sobre emprego de tempos e modos
diferentes”. verbais, tendo em vista que ele será amplamente
Vejamos o seguinte exemplo: abordado a seguir, no assunto emprego das classes
de palavras, mais especificamente em verbos.

Ceará goleia Fortaleza no Fortaleza é goleado pelo


Castelão. Ceará no Castelão.

Os textos acima poderiam ser manchetes de jornais DOMÍNIO DA ESTRUTURA


da capital cearense. A forma como o texto se apresen- MORFOSSINTÁTICA DO PERÍODO
ta indica que a ênfase dada ao nome dos times, em
posições diferentes, cumpre um papel importante na CONCEITOS BÁSICOS DA SINTAXE
progressão temática do texto.
Ao selecionar palavras, nós as escolhemos entre
Além dessa função, a paráfrase pode ser marcada
os grandes grupos de palavras existentes na língua,
pelo uso de expressões textuais bem características,
como verbos, substantivos ou adjetivos. Esses são gru-
como: em outras palavras, em outros termos, isto é,
pos morfológicos. Ao combinar as palavras em frases,
quer dizer, em resumo, em suma, em síntese etc. Essas nós construímos um painel morfológico.
expressões indicam que algo foi dito e passará a ser As palavras normalmente recebem uma dupla
LÍNGUA PORTUGUESA

ressignificado, garantindo a informatividade do texto. classificação: a morfológica, que está relacionada à


classe gramatical a que pertence, e a sintática, rela-
Uso de Paralelismo cionada à função específica que assumem em deter-
minada frase.
As ideias similares devem fazer a correspondência
entre si; a essa organização de ideias no texto, dá-se o Frase
nome de paralelismo. Quando as construções de frases
e orações são semelhantes, ocorre o paralelismo sin- Frase é todo enunciado com sentido completo.
tático. Quando há sequência de expressões simétricas Pode ser formada por apenas uma palavra ou por um
no plano das ideias e coerência entre as informações, conjunto de palavras.
ocorre o paralelismo semântico ou paralelismo de Ex.: Fogo!
sentido. 29
Silêncio! z em + a = na;
“A igreja, com este calor, é fornalha...” (Graciliano z a + o = ao;
Ramos) z a + a = à;
z de + a = da.
Oração
Dica
Enunciado que se estrutura em torno de um verbo
(explícito, implícito ou subentendido) ou de uma locu- Toda palavra determinada por um artigo torna-
ção verbal. Quanto ao sentido, a oração pode apresen- -se um substantivo. Ex.: o não, o porquê, o cui-
tá-lo completo ou incompleto. dar etc.
Ex.: Você é um dos que se preocupam com a
poluição. NUMERAIS
“A roda de samba acabou” (Chico Buarque)
São palavras que se relacionam diretamente ao
Período substantivo, inferindo ideia de quantidade ou posi-
ção. Os numerais podem ser:
Período é o enunciado constituído de uma ou mais
orações. z Cardinais: Indicam quantidade em si. Ex.: Dois
Classifica-se em: potes de sorvete; zero coisas a comprar; ambos os
meninos eram bons em português;
� Simples: possui apenas uma oração. z Ordinais: Indicam a ordem de sucessão de uma
Ex.: O sol surgiu radiante. série. Ex.: Foi o segundo colocado do concurso;
Ninguém viu o acidente chegou em último/penúltimo/antepenúltimo
� Composto: possui duas ou mais orações. lugar;
Ex.: “Amou daquela vez como se fosse a última.” z Multiplicativos: Indicam o número de vezes pelo
(Chico Buarque) qual determinada quantidade é multiplicada. Ex.:
Ele ganha o triplo no novo emprego;
Chegou em casa e tomou banho. z Fracionários: Indicam frações, divisões ou dimi-
nuições proporcionais em quantidade. Ex.: Tomou
EMPREGO DAS CLASSES DE PALAVRAS um terço de vinho; o copo estava meio cheio; ele
recebeu metade do pagamento.
A palavra morfologia refere-se ao estudo das for-
mas; por isso, o termo é utilizado por linguistas e tam- Podemos encontrar ainda os numerais coletivos,
bém por médicos, que estudam as formas dos órgãos isto é, designam um conjunto, porém expressam uma
e suas funções. quantidade exata de seres/conceitos. Veja:
Analogamente, para compreender bem as funções Dúzia: conjunto de doze unidades;
de uma forma, seja ela uma palavra, seja um órgão, Novena: período de nove dias;
precisamos conhecer como essa forma se classifica e Década: período de dez anos;
como se organiza. Século: período de cem anos;
Por isso, em língua portuguesa, estudamos as Bimestre: período de dois meses.
formas das palavras na morfologia, que organiza as
classes das palavras em dez categorias. A seguir, estu- Um: Numeral ou Artigo?
daremos detalhadamente cada uma delas e também
veremos um “bônus” para seus estudos: as palavras A forma um pode assumir na língua a função de
denotativas, atualmente, muito cobradas por bancas artigo indefinido ou de numeral cardinal; então, como
exigentes. podemos reconhecer cada função? É preciso observar
o contexto em uso. Observe:
ARTIGOS
z Durante a votação, houve um deputado que se
Os artigos devem concordar em gênero e número posicionou contra o projeto;
com os substantivos. São, por isso, considerados deter- z Durante a votação, apenas um deputado se posi-
minantes dos substantivos. cionou contra o projeto.
Essa classe está dividida em artigos definidos e
artigos indefinidos. Os definidos funcionam como Na primeira frase, podemos substituir o termo um
determinantes objetivos, individualizando a palavra, por uma, realizando as devidas alterações sintáticas, e
já os indefinidos funcionam como determinantes o sentido será mantido, pois o que se pretende defen-
imprecisos. der é que a espécie do indivíduo que se posicionou
O artigo definido — o — e o artigo indefinido — contra o projeto é um deputado e não uma deputada,
um —variam em gênero e número, tornando-se “os, por exemplo.
a, as”, para os definidos, e “uns, uma, umas”, para os Já na segunda oração, a alteração do gênero não
indefinidos. Assim, temos: implicaria em mudanças no sentido, pois o que se
pretende indicar é que o projeto foi rejeitado por UM
z Artigos definidos: o, os; a, as; deputado, marcando a quantidade.
z Artigos indefinidos: um, uns; uma, umas. Outra forma de notarmos a diferença é ficarmos
atentos com a aparição das expressões adverbiais, o
Os artigos podem ser combinados às preposições. que sempre fará com que a palavra “um” seja numeral.
São as chamadas contrações. Algumas contrações Ainda sobre os numerais, atente-se às dicas a
30 comuns na língua são: seguir:
z Sobre o numeral milhão/milhares, é importante z Epicenos: Designam geralmente animais que
destacar que sua forma é masculina. Logo, a con- apresentam distinção entre masculino e feminino,
cordância com palavras femininas é inaceitável mas a diferença é marcada pelo uso do adjetivo
pela gramática. macho ou fêmea. Ex.: cobra macho / cobra fêmea;
Errado: As milhares de vacinas chegaram hoje. onça macho / onça fêmea; gambá macho / gambá
Correto: Os milhares de vacina chegaram hoje. fêmea; girafa macho / girafa fêmea;
z Sobrecomuns: Designam seres de forma geral e
z A forma 14 por extenso apresenta duas formas não são distinguidos por artigo ou adjetivo; o gêne-
aceitas pela norma gramatical: catorze e quatorze. ro pode ser reconhecido apenas pelo contexto. Ex.:
A criança; O monstro; A testemunha; O indivíduo.
SUBSTANTIVOS
Já os substantivos biformes designam os substan-
Os substantivos classificam os seres em geral. Uma tivos que apresentam duas formas para os gêneros
característica básica dessa classe é admitir um deter- masculino ou feminino. Ex.: professor/professora.
minante — artigo, pronome etc. Os substantivos fle- Destacamos que alguns substantivos apresentam
xionam-se em gênero, número e grau.
formas diferentes nas terminações para designar for-
mas diferentes no masculino e no feminino:
Tipos de Substantivos
Ex.: Ator/atriz; Ateu/ ateia; Réu/ré.
Outros substantivos modificam o radical para
A classificação dos substantivos admite nove tipos
designar formas diferentes no masculino e no femini-
diferentes. São eles:
no. Estes são chamados de substantivos heteroformes:
Ex.: Pai/mãe; Boi/vaca; Genro/nora.
z Simples: Formados a partir de um único radical.
Ex.: vento, escola;
Gênero e Significação
z Composto: Formados pelo processo de justaposi-
ção. Ex.: couve-flor, aguardente;
z Primitivo: Possibilitam a formação de um novo Alguns substantivos uniformes podem aparecer
substantivo. Ex.: pedra, dente; com marcação de gênero diferente, ocasionando uma
z Derivado: Formados a partir dos derivados. Ex.: modificação no sentido. Veja, por exemplo:
pedreiro, dentista;
z Concreto: Designam seres com independência z A testemunha: Pessoa que presenciou um crime;
ontológica, ou seja, um ser que existe por si, inde- z O testemunho: Relato de experiência, associado a
pendentemente de sua conotação espiritual ou religiões.
real. Ex.: Maria, gato, Deus, fada, carro;
z Abstrato: Indicam estado, sentimento, ação, qua- Algumas formas substantivas mantêm o radical e
lidade. Os substantivos abstratos existem apenas a pequena alteração no gênero do artigo interfere no
em função de outros seres. A feiura, por exemplo, significado:
depende de uma pessoa, um substantivo concreto
a quem esteja associada. Ex.: chute, amor, cora- z O cabeça: chefe / a cabeça: membro o corpo;
gem, liberalismo, feiura; z O moral: ânimo / a moral: costumes sociais;
z Comum: Designam todos os seres de uma espécie. z O rádio: aparelho / a rádio: estação de transmissão.
Ex.: homem, cidade;
z Próprio: Designam uma determinada espécie. Ex.: Além disso, algumas palavras na língua causam
Pedro, Fortaleza; dificuldade na identificação do gênero, pois são usa-
z Coletivo: Usados no singular, designam um con- das em contextos informais com gêneros diferentes.
junto de uma mesma espécie. Ex: pinacoteca, Alguns exemplos são: a alface; a cal; a derme; a libido;
manada.
a gênese; a omoplata / o guaraná; o formicida; o tele-
fonema; o trema.
É importante destacar que a classificação de um
Algumas formas que não apresentam, necessaria-
substantivo depende do contexto em que ele está inse-
mente, relação com o gênero, são admitidas tanto no
rido. Vejamos:
masculino quanto no feminino: O personagem / a per-
Judas foi um apóstolo. (Judas como nome de uma
sonagem; O laringe / a laringe; O xerox / a xerox.
pessoa = Próprio);
O amigo mostrou-se um judas (judas significando
traidor = comum). Flexão de Número
LÍNGUA PORTUGUESA

Flexão de Gênero Os substantivos flexionam-se em número, de


maneira geral, pelo acréscimo do morfema -s. Ex.:
Os gêneros do substantivo são masculino e Casa / casas.
feminino. Porém, podem apresentar outras terminações:
Porém, alguns deles admitem apenas uma forma males, reais, animais, projéteis etc.
para os dois gêneros. São, por isso, chamados de uni- Geralmente, devemos acrescentar -es ao singular
formes. Os substantivos uniformes podem ser: das formas terminadas em R ou Z, como: flor / flores;
paz / pazes. Porém, há exceções, como a palavra mal,
z Comuns-de-dois-gêneros: Designam seres huma- terminada em L e que tem como plural “males”.
nos e sua diferença é marcada pelo artigo. Ex.: O Já os substantivos terminados em AL, EL, OL, UL
pianista / a pianista; O gerente / a gerente; O clien- fazem plural trocando-se o L final por -is. Ex.: coral /
te / a cliente; O líder / a líder; corais; papel / papéis; anzol / anzóis. 31
Entretanto, também há exceções. Ex.: a forma Dica
mel apresenta duas formas de plural aceitas: meles
O emprego do grau aumentativo ou diminuti-
e méis.
vo dos substantivos pode alterar o sentido das
Geralmente, as palavras terminadas em -ão fazem
palavras, podendo assumir um valor:
plural com o acréscimo do -s ou pelo acréscimo de -es.
Afetivo: filhinha / mãezona;
Ex.: capelães, capitães, escrivães. Pejorativo: mulherzinha / porcalhão.
Contudo, há substantivos que admitem até três
formas de plural, como os seguintes: O Novo Acordo Ortográfico e o Uso de Maiúsculas

z Ermitão: ermitãos, ermitões, ermitães; O novo acordo ortográfico estabelece novas regras
z Ancião: anciãos, anciões, anciães; para o uso de substantivos próprios, exigindo o uso da
z Vilão: vilãos, vilões, vilães. inicial maiúscula.
Dessa forma, devemos usar com letra maiúscula as
Podemos, ainda, associar às palavras paroxítonas inicias das palavras que designam:
que terminam em -ão o acréscimo do -s. Ex.: órgão /
órgãos; órfão / órfãos. z Nomes, sobrenomes e apelidos de pessoas reais
ou imaginárias. Ex.: Gabriela, Silva, Xuxa, Cinderela;
z Nomes de cidades, países, estados, continentes
Plural dos Substantivos Compostos
etc., reais ou imaginários. Ex.: Belo Horizonte,
Ceará, Nárnia, Londres;
Os substantivos compostos são aqueles formados z Nomes de festividades. Ex.: Carnaval, Natal, Dia
por justaposição. O plural dessas formas obedece às das Crianças;
seguintes regras: z Nomes de instituições e entidades. Ex.: Embai-
xada do Brasil, Ministério das Relações Exteriores,
z Variam os dois elementos: Gabinete da Vice-presidência, Organização das
Nações Unidas;
Substantivo + substantivo. Ex.: mestre-sala / mes- z Títulos de obras. Ex.: Memórias póstumas de Brás
Cubas. Caso a obra apresente em seu título um
tres -salas;
nome próprio, como no exemplo dado, este tam-
Substantivo + adjetivo. Ex.: guarda-noturno / guar- bém deverá ser escrito com inicial maiúscula;
das -noturnos; z Nomenclatura legislativa especificada. Ex.: Lei
Adjetivo + substantivo. Ex.: boas-vindas; de Diretrizes e Bases da Educação (LDB);
Numeral + substantivo. Ex.: terça-feira / terças z Períodos e eventos históricos. Ex.: Revolta da
-feiras. Vacina, Guerra Fria, Segunda Guerra Mundial;
z Nome dos pontos cardeais e equivalentes. Ex.:
z Varia apenas um elemento: Norte, Sul, Leste, Oeste, Nordeste, Sudeste, Oriente,
Ocidente. Importante: os pontos cardeais são gra-
fados com maiúsculas apenas quando utilizados
Substantivo + preposição + substantivo. Ex.:
indicando uma região. Ex.: Este ano vou conhecer
canas-de-açúcar; o Sul (O Sul do Brasil); quando utilizados indican-
Substantivo + substantivo com função adjetiva. do uma direção, devem ser escritos com minúscu-
Ex.: navios-escola. las. Ex.: Correu a América de norte a sul;
Palavra invariável + palavra invariável. Ex.: z Siglas, símbolos ou abreviaturas. Ex.: ONU, INSS,
abaixo-assinados. Unesco, Sr., S (Sul), K (Potássio).
Verbo + substantivo. Ex.: guarda-roupas.
Redução + substantivo. Ex.: bel-prazeres. Atente-se: Em palavras com hífen, pode-se optar
Destacamos, ainda, que os substantivos compostos pelo uso de maiúsculas ou minúsculas. Portanto, são
formados por aceitas as formas Vice-Presidente, Vice-presidente e
vice-presidente; porém, é preciso manter a mesma
verbo + advérbio
forma em todo o texto. Já nomes próprios compostos
verbo + substantivo plural por hífen devem ser escritos com as iniciais maiúscu-
ficam invariáveis. Ex.: Os bota-fora; os saca-rolha. las, como em Grã-Bretanha e Timor-Leste.

Variação de Grau ADJETIVOS

A flexão de grau dos substantivos exprime a varia- Os adjetivos associam-se aos substantivos, garan-
ção de tamanho dos seres, indicando um aumento ou tindo a estes um significado mais preciso. Os adjetivos
uma diminuição. podem indicar:

z Grau aumentativo: Quando o acréscimo de sufi- z Qualidade: professor chato;


xos aos substantivos indicar um aumento de z Estado: aluno triste;
z Aspecto, aparência: estrada esburacada.
tamanho.
Ex.: bocarra, homenzarrão, gatarrão, cabeçorra,
Locuções Adjetivas
fogaréu, boqueirão, poetastro;
z Grau diminutivo: Exprime, ao contrário do As locuções adjetivas apresentam o mesmo valor dos
aumentativo, a diminuição do tamanho/proporção adjetivos, indicando as mesmas características deles.
do ser. Elas são formadas por preposição + substantivo,
Ex.: fontinha, lobacho, casebre, vilarejo, saleta, referindo-se a outro substantivo ou expressão subs-
32 pequenina, papelucho. tantivada, atribuindo-lhe o mesmo valor adjetivo.
A seguir, colocamos diferentes locuções adjetivas ao Variação de Grau
lado da forma adjetiva, importantes para seu estudo:
O adjetivo pode variar em dois graus: compara-
z Voo de águia / aquilino; tivo ou superlativo. Cada um deles apresenta suas
z Poder de aluno / discente; respectivas categorias.
z Conselho de professores / docente;
z Cor de chumbo / plúmbea; z Grau comparativo: Exprime a característica de
z Luz da lua / lunar; um ser, comparando-o com outro da mesma classe
z Sangue de baço / esplênico; nos seguintes sentidos:
z Nervo do intestino / celíaco ou entérico;
z Noite de inverno / hibernal ou invernal. „ Igualdade: Compara elementos colocando-os
em um mesmo patamar. Igual a, como, tanto
É importante destacar que, mais do que “decorar” quanto, tão quanto. Ex.: Somos tão complexos
formas adjetivas e suas respectivas locuções, é fun- quanto simplórios;
damental reconhecer as principais características de „ Superioridade: Compara, evidenciando um
uma locução adjetiva: caracterizar o substantivo e elemento como superior ao outro. Mais do que,
apresentar valor de posse. melhor do que. Ex.: O amor é mais suficiente
Ex.: Viu o crime pela abertura da porta; do que o dinheiro;
A abertura de conta pode ser realizada on-line. „ Inferioridade: Compara, evidenciando um ele-
Quando a locução adjetiva é composta pela prepo- mento como inferior ao outro. Menos do que,
sição “de”, pode ser confundida com a locução adver- pior do que. Ex.: Homens são menos engajados
bial. Nesse caso, para diferenciá-las, é importante do que mulheres.
perceber que a locução adjetiva apresenta valor de
posse, pois, nesse caso, o meio usado pelo sujeito para
z Grau superlativo: Em relação ao grau superlati-
ver “o crime”, indicado na frase, foi pela abertura da
vo, é importante considerar que o valor semântico
porta. Além disso, a locução destacada está caracteri-
desse grau apresenta variações, podendo indicar:
zando o substantivo “abertura”.
Já na segunda frase, a locução destacada é adver-
bial, pois quem sofre a “ação” de ser aberta é a “con- „ Característica de um ser elevada ao último
ta”, o que indica o valor de passividade da locução, grau: Superlativo absoluto, que pode ser analí-
demonstrando seu caráter adverbial. tico (associado ao advérbio) ou sintético (asso-
As locuções adjetivas também desempenham fun- ciação de prefixo ou sufixo ao adjetivo).
ção de adjetivo e modificam substantivos, pronomes, Ex.: O candidato é muito humilde (Superlativo
numerais e orações substantivas. absoluto analítico).
Ex.: Amor de mãe; Café com açúcar. O candidato é humílimo (Superlativo absoluto
Subst. — loc. adj. / subst. — loc. adj. sintético);
Já as locuções adverbiais desempenham função de „ Característica de um ser relacionada com
advérbio. Modificam advérbios, verbos, adjetivos e outros indivíduos da mesma classe: Superla-
orações adjetivas com esses valores. tivo relativo, que pode ser de superioridade (o
Ex.: Morreu de fome; Agiu com rapidez. mais) ou de inferioridade (o menos).
Verbo — loc. adv. / verbo — loc. adv. Ex.: O candidato é o mais humilde dos concor-
rentes? (Superlativo relativo de superioridade).
Adjetivo de Relação O candidato é o menos preparado entre os con-
correntes à prefeitura (Superlativo relativo de
No estudo dos adjetivos, é fundamental conhecer inferioridade).
o aspecto morfológico designado como “adjetivo de Importante! Ao compararmos duas qualida-
relação”, muito cobrado por bancas de concursos. des de um mesmo ser, devemos empregar a
Para identificar um adjetivo de relação, observe as forma analítica (mais alta, mais magra, mais
seguintes características: bonito etc.).
Ex.: A modelo é mais alta que magra.
z Seu valor é objetivo, não podendo, portanto, apre- Porém, se uma mesma característica referir-se
sentar meios de subjetividade. Ex.: Em “Menino a seres diferentes, empregamos a forma sinté-
bonito”, o adjetivo não é de relação, já que é sub- tica (melhor, pior, menor etc.).
jetivo, pois a beleza do menino depende dos olhos Ex.: Nossa sala é menor que a sala da diretoria.
de quem o descreve;
z Posição posterior ao substantivo: os adjetivos de Formação dos Adjetivos
relação sempre são posicionados após o substanti-
vo. Ex.: Casa paterna, mapa mundial; Os adjetivos podem ser primitivos, derivados,
LÍNGUA PORTUGUESA

z Derivado do substantivo: derivam-se do substan- simples ou compostos.


tivo por derivação prefixal ou sufixal. Ex.: paternal
— pai; mundial — mundo; z Primitivos: Adjetivos que não derivam de outras
z Não admitem variação de grau: os graus compara- palavras. A partir deles, é possível formar novos
tivo e superlativo não são admitidos. Ex.: Não pode termos. Ex.: útil, forte, bom, triste, mau etc.;
ser mapa “mundialíssimo” ou “pouco mundial”. z Derivados: São palavras que derivam de verbos
ou substantivos. Ex.: bondade, lealdade, mulhe-
Alguns exemplos de adjetivos relativos: Presiden- rengo etc.;
te americano (não é subjetivo; posicionado após o z Simples: Apresentam um único radical. Ex.: por-
substantivo; derivado de substantivo; não existe a tuguês, escuro, honesto etc.;
forma variada em grau “americaníssimo”); platafor- z Compostos: Formados a partir da união de dois ou
ma petrolífera; economia mundial; vinho francês; mais radicais. Ex.: verde-escuro, luso-brasileiro,
roteiro carnavalesco. amarelo-ouro etc. 33
Dica
O plural dos adjetivos simples é realizado da mesma forma que o plural dos substantivos.

Plural dos Adjetivos Compostos

O plural dos adjetivos compostos segue as seguintes regras:

z Invariável:

„ Os adjetivos compostos por azul-marinho, azul-celeste, azul-ferrete;


„ Locuções formadas de cor + de + substantivo, como em cor-de-rosa, cor-de-cáqui;
„ Adjetivo + substantivo, como tapetes azul-turquesa, camisas amarelo-ouro.

z Varia o último elemento:

„ Primeiro elemento é palavra invariável, como em mal-educados, recém-formados;


„ Adjetivo + adjetivo, como em lençóis verde-claros, cabelos castanho-escuros.

Adjetivos Pátrios

Os adjetivos pátrios, também conhecidos como gentílicos, designam a naturalidade ou nacionalidade de seres
e objetos.
O sufixo -ense, geralmente, designa a origem de um ser relacionada a um estado brasileiro. Ex.: amazonense,
fluminense, cearense.

z Curiosidade: O adjetivo pátrio “brasileiro” é formado com o sufixo -eiro, que é costumeiramente usado para
designar profissões. O gentílico que designa nossa nacionalidade teve origem com as pessoas que comercia-
lizavam o pau-brasil; esse ofício dava-lhes a alcunha de “brasileiros”, termo que passou a indicar os nascidos
em nosso país.

Veja a seguir alguns dos adjetivos pátrios de nosso país:

34
ADVÉRBIOS

Advérbios são palavras invariáveis que modificam um verbo, adjetivo ou outro advérbio. Em alguns casos, os
advérbios também podem modificar uma frase inteira, indicando circunstância.
As gramáticas da língua portuguesa apresentam listas extensas com as funções dos advérbios; porém, decorar
as funções dos advérbios, além de desgastante, pode não ter o resultado esperado na resolução de questões de
concurso.
Dessa forma, sugerimos que você fique atento às principais funções designadas aos advérbios para, a partir
delas, conseguir interpretar a função exercida nos enunciados das questões que tratem dessa classe de palavras.
Ainda assim, julgamos pertinente apresentar algumas funções basilares exercidas pelo advérbio:

z Dúvida: Talvez, caso, porventura, quiçá etc.;


z Intensidade: Bastante, bem, mais, pouco etc.;
z Lugar: Ali, aqui, atrás, lá etc.;
z Tempo: Jamais, nunca, agora etc.;
z Modo: Assim, depressa, devagar etc.

Novamente, chamamos sua atenção para a função que o advérbio deve exercer na oração. Como dissemos,
essas palavras modificam um verbo, um adjetivo ou um outro advérbio; por isso, para identificar com mais pro-
priedade a função denotada pelos advérbios, é preciso perguntar: Como? Onde? Por quê?
As respostas sempre irão indicar circunstâncias adverbiais expressas por advérbios, locuções adverbiais ou
orações adverbiais.
Vejamos como podemos identificar a classificação/função adequada dos advérbios:

z O homem morreu... de fome (causa) com sua família (companhia) em casa (lugar) envergonhado (modo);
z A criança comeu... demais (intensidade) ontem (tempo) com garfo e faca (instrumento) às claras (modo).

Locuções Adverbiais

Conjunto de duas ou mais palavras que pode desempenhar a função de advérbio, alterando o sentido de um
verbo, adjetivo ou advérbio.
A maioria das locuções adverbiais é formada por uma preposição e um substantivo. Há também as que são
formadas por preposição + adjetivos ou advérbios. Veja alguns exemplos:

z Preposição + substantivo: de novo. Ex.: Você poderia me explicar de novo? (de novo = novamente);
z Preposição + adjetivo: em breve. Ex.: Em breve, o filme estará em cartaz (em breve = brevemente);
z Preposição + advérbio: por ali. Ex.: Acho que ele foi por ali.

As locuções adverbiais são bem semelhantes às locuções adjetivas. É importante saber que as locuções adver-
biais apresentam um valor passivo.
Ex.: Ameaça de colapso.
Nesse exemplo, o termo em negrito é uma locução adverbial, pois o valor é de passividade, ou seja, se inver-
temos a ordem e inserirmos um verbo na voz passiva, a frase manterá seu sentido. Veja:
Ex.: Colapso foi ameaçado.
Essa frase faz sentido e apresenta valor passivo, logo, sem o verbo, a locução destacada anteriormente é
adverbial.
Ainda sobre esse assunto, perceba que em locuções como esta: “Característica da nação”, o termo destacado
não terá o mesmo valor passivo, pois não aceitará a inserção de um verbo com essa função:
Nação foi característica*. Essa frase quebra a estrutura gramatical da língua portuguesa, que não admite voz
passiva em termos com função de posse (caso das locuções adjetivas). Isso torna tal estrutura agramatical; por
isso, inserimos um asterisco para indicar essa característica.

Dica
Locuções adverbiais apresentam valor passivo
Locuções adjetivas apresentam valor de posse
LÍNGUA PORTUGUESA

Com essas dicas, esperamos que você seja capaz de diferenciar essas locuções em questões. Buscamos desen-
volver seu aprendizado para que não seja preciso gastar seu tempo decorando listas de locuções adverbiais.
Lembre-se: o sentido está no texto.

Advérbios Interrogativos

Os advérbios interrogativos são, muitas vezes, confundidos com pronomes interrogativos. Para evitar essa
confusão, devemos saber que os advérbios interrogativos introduzem uma pergunta, exprimindo ideia de tempo,
modo ou causa.
Ex.: Como foi a prova?
Quando será a prova? 35
Onde será realizada a prova?
Por que a prova não foi realizada?
De maneira geral, as palavras como, onde, quando e por que são advérbios interrogativos, pois não substi-
tuem nenhum nome de ser (vivo), exprimindo ideia de modo, lugar, tempo e causa.

Grau do Advérbio

Assim como os adjetivos, os advérbios podem ser flexionados nos graus comparativo e superlativo.
Vejamos as principais mudanças sofridas pelos advérbios quando flexionados em grau:

NORMAL SUPERIORIDADE INFERIORIDADE IGUALDADE


Bem Melhor (mais bem*) - Tão bem
GRAU COMPARATIVO Mal Pior (mais mal*) - Tão mal
Muito Mais - -
Pouco Menos - -

Obs.: As formas “mais bem” e “mais mal” são aceitas quando acompanham o particípio verbal.

ABSOLUTO ABSOLUTO
NORMAL RELATIVO
SINTÉTICO ANALÍTICO
Bem Otimamente Muito bem Inferioridade
GRAU -
SUPERLATIVO Mal Pessimamente Muito mal Superioridade
-
Muito Muitíssimo - Superioridade: o mais
Pouco Pouquíssimo - Superioridade: o menos

Advérbios e Adjetivos

O adjetivo é uma classe de palavras variável. Porém, quando se refere a um verbo, ele fica invariável, confun-
dindo-se com o advérbio.
Nesses casos, para ter certeza de qual é a classe da palavra, basta tentar colocá-la no feminino ou no plural;
caso a palavra aceite uma dessas flexões, será adjetivo.
Ex.: O homem respondeu feliz à esposa.
Os homens responderam felizes às esposas.
Como “feliz” aceitou a flexão para o plural, trata-se de um adjetivo.
Agora, acompanhe o seguinte exemplo:
Ex.: A cerveja que desce redondo.
As cervejas que descem redondo.
Nesse caso, como a palavra continua invariável, trata-se de um advérbio.

Palavras Denotativas

São termos que apresentam semelhança com os advérbios; em alguns casos, são até classificados como tal, mas
não exercem função modificadora de verbo, adjetivo ou advérbio.
Sobre as palavras denotativas, é fundamental saber identificar o sentido a elas atribuído, pois, geralmente, é
isso que as bancas de concurso cobram.

z Eis: Sentido de designação;


z Isto é, por exemplo, ou seja: Sentido de explicação;
z Ou melhor, aliás, ou antes: Sentido de ratificação;
z Somente, só, salvo, exceto: Sentido de exclusão;
z Além disso, inclusive: Sentido de inclusão.

Além dessas expressões, há, ainda, as partículas expletivas ou de realce, geralmente formadas pela forma
ser + que (é que). A principal característica dessas palavras é que elas podem ser retiradas sem causar prejuízo
sintático ou semântico à frase.
Ex.: Eu é que faço as regras / Eu faço as regras.
36 Outras palavras denotativas expletivas são: lá, cá, não, é porque etc.
Algumas Observações Interessantes Além disso, é importante saber que “eu” e “tu” não
podem ser regidos por preposição e que os pronomes
z O adjunto adverbial sempre deve vir posicionado “ele(s)”, “ela(s)”, “nós” e “vós” podem ser retos ou oblí-
após o verbo ou complemento verbal. Caso venha quos, dependendo da função que exercem.
deslocado, em geral, separamos por vírgulas. Ex.: Os pronomes oblíquos tônicos são precedidos de
Na reunião de ontem, o pedido foi aprovado (O preposição e costumam ter função de complemento:
pedido foi aprovado na reunião de ontem);
z Em uma sequência de advérbios terminados com z 1ª pessoa: Mim, comigo (singular); nós, conosco
o sufixo -mente, apenas o último elemento recebe (plural);
a terminação destacada. Ex.: A questão precisa ser z 2ª pessoa: Ti, contigo (singular); vós, convosco
pensada política e socialmente. (plural);
z 3ª pessoa: Si, consigo (singular ou plural); ele(s),
PRONOMES ela(s).

Pronomes são palavras que representam ou acom- Não devemos usar pronomes do caso reto como
panham um termo substantivo. Dessa forma, a função objeto ou complemento verbal, como em “mate ele”.
dos pronomes é substituir ou determinar uma pala- Contudo, o gramático Celso Cunha destaca que é pos-
vra. Eles indicam pessoas, relações de posse, indefini- sível usar os pronomes do caso reto como comple-
mento verbal, desde que antecedidos pelos vocábulos
ção, quantidade, localização no tempo, no espaço e no
“todos”, “só”, “apenas” ou “numeral”.
meio textual, entre outras funções.
Ex.: Encontrei todos eles na festa. Encontrei ape-
Os pronomes exercem papel importante na análi-
nas ela na festa.
se sintática e também na interpretação textual, pois
Após a preposição “entre”, em estrutura de recipro-
colaboram para a complementação de sentido de ter-
cidade, devemos usar os pronomes oblíquos tônicos.
mos essenciais da oração, além de estruturar a orga-
Ex.: Entre mim e ele não há segredos.
nização textual, contribuindo para a coesão e também
para a coerência de um texto.
Pronomes de Tratamento
Pronomes Pessoais
Os pronomes de tratamento são formas que expres-
sam uma hierarquia social institucionalizada linguis-
Os pronomes pessoais designam as pessoas do dis- ticamente. As formas de pronomes de tratamento
curso. Acompanhe a tabela a seguir, com mais infor- apresentam algumas peculiaridades importantes:
mações sobre eles:
z Vossa: Designa a pessoa a quem se fala (relativo à
PRONOMES DO PRONOMES DO 2ª pessoa). Apesar disso, os verbos relacionados a
PESSOAS
CASO RETO CASO OBLÍQUO esse pronome devem ser flexionados na 3ª pessoa
1º pessoa do do singular.
Eu Me, mim, comigo Ex.: Vossa Excelência deve conhecer a Constituição;
singular
z Sua: Designa a pessoa de quem se fala (relativo à
2º pessoa do
Tu Te, ti, contigo 3ª pessoa).
singular
Ex.: Sua Excelência, o presidente do Supremo Tri-
3º pessoa do Se, si, consigo bunal, fará um pronunciamento hoje à noite.
Ele/Ela
singular o, a, lhe
1ª pessoa do Os pronomes de tratamento estabelecem uma hie-
Nós Nos, conosco rarquia social na linguagem, ou seja, a partir das for-
plural
mas usadas, podemos reconhecer o nível de discurso
2º pessoa do e o tipo de poder instituídos pelos falantes.
Vós Vos, convosco
plural Por isso, alguns pronomes de tratamento só devem
3º pessoa do Se, si, consigo ser utilizados em contextos cujos interlocutores sejam
Eles/Elas
plural os, as, lhes reconhecidos socialmente por suas funções, como juí-
zes, reis, clérigos, entre outras.
Dessa forma, apresentamos alguns pronomes de
Os pronomes pessoais do caso reto costumam tratamento, seguidos de sua abreviatura e das funções
substituir o sujeito. sociais que designam:
Ex.: Pedro é bonito / Ele é bonito.
Já os pronomes pessoais oblíquos costumam fun- z Vossa Alteza (V. A.): Príncipes, duques, arquidu-
cionar como complemento verbal ou adjunto.
LÍNGUA PORTUGUESA

ques e seus respectivos femininos;


Ex.: Eu a vi com o namorado; Maura saiu comigo. z Vossa Eminência (V. Ema.): Cardeais;
z Vossa Excelência (V. Exa.): Autoridades do gover-
z Os pronomes que estarão relacionados ao obje- no e das Forças Armadas membros do alto escalão;
to direto são: O, a, os, as, me, te, se, nos, vos. Ex.: z Vossa Majestade (V. M.): Reis, imperadores e seus
Informei-o sobre todas as questões; respectivos femininos;
z Já os que se relacionam com o objeto indireto são: z Vossa Reverendíssima (V. Rev. Ma.): Sacerdotes;
Lhe, lhes, (me, te, se, nos, vos – complementados z Vossa Senhoria (V. Sa.): Funcionários públicos gra-
por preposição). Ex.: Já lhe disse tudo (disse tudo duados, oficiais até o posto de coronel, tratamento
a ele). cerimonioso a comerciantes importantes;
z Vossa Santidade (V. S.): Papa;
Lembre-se de que todos os pronomes pessoais são z Vossa Excelência Reverendíssima (V. Exa. Rev-
pronomes substantivos. ma.): Bispos. 37
Os exemplos apresentados fazem referência a pro- Ex.: A comida e a bebida não foram bastantes para
nomes de tratamento e suas respectivas designações a festa.
sociais conforme indica o Manual de Redação oficial z Bastante (pronome indefinido): Concorda com
da Presidência da República. Portanto, essas designa- o substantivo, indicando grande, porém incerta,
ções devem ser seguidas com atenção quando o gêne- quantidade de algo.
ro textual abordado for um gênero oficial. Ex.: Bastantes bancos aumentaram os juros.
Ainda sobre o assunto, veja algumas observações:
Pronomes Demonstrativos
z Sobre o uso das abreviaturas das formas de tra-
tamento é importante destacar que o plural de Os pronomes demonstrativos indicam a posição e
algumas abreviaturas é feito com letras dobradas, apontam elementos a que se referem as pessoas do
como: V. M. / VV. MM.; V. A. / VV. AA. Porém, na discurso (1ª, 2ª e 3ª). Essa posição pode ser designa-
maioria das abreviaturas terminadas com a letra da por eles no tempo, no espaço físico ou no espaço
a, o plural é feito com o acréscimo do s: V. Exa. / V. textual.
Exas.; V. Ema. / V.Emas.;
z O tratamento adequado a Juízes de Direito é Meri- z 1ª pessoa: Este, estes / Esta, estas;
tíssimo Juiz; z 2ª pessoa: Esse, esses / Essa, essas;
z O tratamento dispensado ao Presidente da Repú- z 3ª pessoa: Aquele, aqueles / Aquela, aquelas;
blica nunca deve ser abreviado. z Invariáveis: Isto, isso, aquilo.

Pronomes Indefinidos Usamos este, esta, isto para indicar:

Os pronomes indefinidos indicam quantidade de � Referência ao espaço físico, indicando a proximi-


maneira vaga e sempre devem ser utilizados na 3ª dade de algo ao falante.
pessoa do discurso. Os pronomes indefinidos podem Ex.: Esta caneta aqui é minha. Entreguei-lhe isto
variar e podem ser invariáveis. Observe a seguinte como prova.
tabela: � Referência ao tempo presente.
Ex.: Esta semana começarei a dieta. Neste mês,
PRONOMES INDEFINIDOS4 pagarei a última prestação da casa.
Variáveis Invariáveis � Referência ao espaço textual.
Ex.: Encontrei Joana e Carla no shopping; esta pro-
Algum, alguma, alguns, algumas Alguém
curava um presente para o marido (o pronome
Nenhum, nenhuma, nenhuns, Ninguém refere-se ao último termo mencionado).
nenhumas
Todo, toda, todos, todas Quem Este artigo científico pretende analisar... (o prono-
me “este” refere-se ao próprio texto).
Outro, outra, outros, outras Outrem
Usamos esse, essa, isso para indicar:
Muito, muita, muitos, muitas Algo
Pouco, pouca, poucos, poucas Tudo z Referência ao espaço físico, indicando o afasta-
mento de algo de quem fala.
Certo, certa, certos, certas Nada
Ex.: Essa sua gravata combinou muito com você.
Vários, várias Cada z Indicar distância que se deseja manter.
Quanto, quanta, quantos, quantas Que Ex.: Não me fale mais nisso. A população não con-
fia nesses políticos.
Tanto, tanta, tantos, tantas z Referência ao tempo passado.
Qualquer, quaisquer Ex.: Nessa semana, eu estava doente. Esses dias
Qual, quais estive em São Paulo.
z Referência a algo já mencionado no texto/ na fala.
Um, uma, uns, umas Ex.: Continuo sem entender o porquê de você ter
falado sobre isso. Sinto uma energia negativa nes-
As palavras certo e bastante serão pronomes sa expressão utilizada.
indefinidos quando vierem antes do substantivo, e
serão adjetivos quando vierem depois. Usamos aquele, aquela, aquilo para indicar:
Ex.: Busco certo modelo de carro (pronome
indefinido). � Referência ao espaço físico, indicando afastamen-
Busco o modelo de carro certo (adjetivo). to de quem fala e de quem ouve.
A palavra bastante frequentemente gera dúvida Ex.: Margarete, quem é aquele ali perto da porta?
quanto a ser advérbio, adjetivo ou pronome indefini- � Referência a um tempo muito remoto, um passa-
do. Por isso, atente-se ao seguinte: do muito distante.
Ex.: Naquele tempo, podíamos dormir com as por-
z Bastante (advérbio): Será invariável e equivalen- tas abertas. Bons tempos aqueles!
te ao termo “muito”. � Referência a um afastamento afetivo.
Ex.: Elas são bastante famosas. Ex.: Não conheço mais aquela mulher.
z Bastante (adjetivo): Será variável e equivalente � Referência ao espaço textual, indicando o pri-
ao termo “suficiente”. meiro termo de uma relação expositiva.
4  Disponível em: <https://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/pronomes-indefinidos-e-interrogativos-nenhum-outro-qualquer-
38 quem-quanto-qual.htm>. Acesso em: 14 jul. de 2020.
Ex.: Saí para lanchar com Ana e Beatriz. Esta prefe- Para encontrar o possuidor, faça-se a seguinte per-
riu beber chá; aquela, refrigerante. gunta: “de quem/do que?”
Ex.: Vi o filme cujo diretor ganhou o Óscar (Diretor
Dica do que? Do filme).
Vi o rapaz cujas pernas você se referiu (Pernas de
O pronome “mesmo” não pode ser usado em fun- quem? Do rapaz).
ção demonstrativa referencial. Veja:
Errado: O candidato fez a prova, porém o mesmo � Emprego do pronome relativo onde: Empregado
esqueceu de preencher o gabarito. para indicar locais físicos.
Correto: O candidato fez a prova, porém esque- Ex.: Conheci a cidade onde meu pai nasceu.
ceu de preencher o gabarito. � Em alguns casos, pode ser preposicionado, assu-
mindo as formas aonde e donde.
Pronomes Relativos Ex.: Irei aonde você for.
� O relativo “onde” pode ser empregado sem
Uma das classes de pronomes mais complexas, os antecedente.
pronomes relativos têm função muito importante na Ex.: O carro atolou onde não havia ninguém.
língua, refletida em assuntos de grande relevância � Emprego de o qual: O pronome relativo “o qual”
em concursos, como a análise sintática. Dessa forma, e suas variações (os quais, a qual, as quais) é usa-
é essencial conhecer adequadamente a função desses do em substituição a outros pronomes relativos,
elementos, a fim de saber utilizá-los corretamente. sobretudo o “que”, a fim de evitar fenômenos lin-
Os pronomes relativos referem-se a um substantivo guísticos, como o “queísmo”.
ou a um pronome substantivo mencionado anterior- Ex.: O Brasil tem um passado do qual (que) nin-
mente. A esse nome (substantivo ou pronome mencio- guém se lembra.
nado anteriormente) chamamos de antecedente.
São pronomes relativos: O pronome “o qual” pode auxiliar na compreensão
textual, desfazendo estruturas ambíguas.
z Variáveis: O qual, os quais, cujo, cujos, quanto,
quantos / A qual, as quais, cuja, cujas, quanta, Pronomes Interrogativos
quantas;
z Invariáveis: Que, quem, onde, como; São utilizados para introduzir uma pergunta ao
z Emprego do pronome relativo que: Pode ser asso- texto.
ciado a pessoas, coisas ou objetos. Apresentam-se de formas variáveis (Que? Quais?
Quanto? Quantos?) e invariáveis (Que? Quem?).
Ex.: Encontrei o homem que desapareceu. O
Ex.: O que é aquilo? Quem é ela? Qual sua idade?
cachorro que estava doente morreu. A caneta que
Quantos anos tem seu pai?
emprestei nunca recebi de volta;
O ponto de interrogação só é usado nas interroga-
� Em alguns casos, há a omissão do antecedente do
tivas diretas. Nas indiretas, aparece apenas a intenção
relativo “que”.
interrogativa, indicada por verbos como perguntar,
Ex.: Não teve que dizer (não teve nada que dizer);
indagar etc. Ex.: Indaguei quem era ela.
� Emprego do relativo quem: Seu antecedente deve
Atenção: os pronomes interrogativos que e quem
ser uma pessoa ou objeto personificado.
são pronomes substantivos, pois substituem os subs-
Ex.: Fomos nós quem fizemos o bolo;
tantivos, dando fluidez à leitura.
� O pronome relativo quem pode fazer referência
Ex.: O tempo, que estava instável, não permitiu a
a algo subentendido: Quem cala consente (aquele
realização da atividade (O tempo não permitiu a reali-
que cala).
zação da atividade. O tempo estava instável).5
� Emprego do relativo quanto: Seu antecedente
deve ser um pronome indefinido ou demonstrati-
Pronomes Possessivos
vo; pode sofrer flexões.
Ex.: Esqueci-me de tudo quanto foi me ensinado.
Os pronomes possessivos referem-se às pessoas do
Perdi tudo quanto poupei a vida inteira;
discurso e indicam posse. Observe a tabela a seguir:
� Emprego do relativo cujo: Deve ser empregado
para indicar posse e aparecer relacionando dois
1ª pessoa Meu, minha / meus, minhas
termos que devem ser um possuidor e uma coisa
SINGULAR 2ª pessoa Teu, tua / teus, tuas
possuída.
3ª pessoa Seu, sua / seus, suas
Ex.: A matéria cuja aula faltei foi Língua portugue-
1ª pessoa Nosso, nossa / nossos, nossas
LÍNGUA PORTUGUESA

sa — o relativo cuja está ligando aula (possuidor) à


matéria (coisa possuída). PLURAL 2ª pessoa Vosso, vossa / vossos, vossas
3ª pessoa Seu, sua / seus, suas
O relativo cujo deve concordar em gênero e núme-
ro com a coisa possuída. Os pronomes pessoais oblíquos (me, te, se, lhe, o,
Jamais devemos inserir um artigo após o pronome a, nos, vos) também podem atribuir valor possessivo
cujo: Cujo o, cuja a a uma coisa.
Não podemos substituir cujo por outro pronome Ex.: Apertou-lhe a mão (a sua mão). Ainda que o
relativo. pronome esteja ligado ao verbo pelo hífen, a relação
O pronome relativo cujo pode ser preposicionado. do pronome é com o objeto da posse.
Ex.: Esse é o vilarejo por cujos caminhos percorri. Outras funções dos pronomes possessivos:
5  Exemplo disponível em: https://www.todamateria.com.br/pronomes-substantivos/. Acesso em: 30. jul. 2021. 39
z Delimitam o substantivo a que se referem; „ Pretérito perfeito: Ação realizada plenamente
z Concordam com o substantivo que vem depois no passado.
dele; Ex.: Estudei até ser aprovado;
z Não concordam com o referente; „ Pretérito imperfeito: Ação inacabada, que
z O pronome possessivo que acompanha o substan- pode indicar uma ação frequentativa, vaga ou
tivo exerce função sintática de adjunto adnominal. durativa.
Ex.: Estudava todos os dias;
VERBOS „ Pretérito mais-que-perfeito: Ação anterior à
outra mais antiga.
Certamente, a classe de palavras mais complexa e Ex.: Quando notei (passado), a água já trans-
importante dentre as palavras da língua portuguesa é bordara (ação anterior) da banheira.
o verbo. A partir dos verbos, são estruturados as ações
e os agentes desses atos, além de ser uma importante z Futuro:
classe sempre abordada nos editais de concursos; por
isso, atente-se às nossas dicas. „ Futuro do presente: indica um fato que deve
Os verbos são palavras variáveis que se flexionam ser realizado em um momento vindouro.
em número, pessoa, modo e tempo, além da designa- Ex.: Estudarei bastante ano que vem;
ção da voz que exprime uma ação, um estado ou um „ Futuro do pretérito: expressa um fato poste-
fato. rior em relação a outro fato já passado.
As flexões verbais são marcadas por desinências, Ex.: Estudaria muito, se tivesse me planejado.
que podem ser:
A partir dessas informações, podemos também
z Número-pessoal: Indicando se o verbo está no identificar os verbos conjugados nos tempos simples
singular ou plural, bem como em qual pessoa ver- e nos tempos compostos. Os tempos verbais simples
bal foi flexionado (1ª, 2ª ou 3ª); são formados por uma única palavra, ou verbo, conju-
z Modo-temporal: Indica em qual modo e tempo gado no presente, passado ou futuro.
verbais a ação foi realizada. Já os tempos compostos são formados por dois
verbos, um auxiliar e um principal; nesse caso, o ver-
Iremos apresentar essas desinências a seguir. bo auxiliar é o único a sofrer flexões.
Antes, porém, de abordarmos as desinências modo- Agora, vamos conhecer as desinências modo-tem-
-temporais, precisamos explicar o que são modo e porais dos tempos simples e compostos, respectiva-
tempo verbais. mente:

Modos Flexões Modo-temporais — Tempos Simples

Indica a atitude da ação/do sujeito frente a uma MODO MODO


TEMPO
relação enunciada pelo verbo. INDICATIVO SUBJUNTIVO
-e (1ª conjuga-
z Indicativo: O modo indicativo exprime atitude de Presente * ção) e -a (2ª e 3ª
certeza. conjugações)
Ex.: Estudei muito para ser aprovado;
-ra (3ª pessoa
z Subjuntivo: O modo subjuntivo exprime atitude Pretérito perfeito *
do plural)
de dúvida, desejo ou possibilidade.
Ex.: Se eu estudasse, seria aprovado; -va (1ª conjuga-
Pretérito
z Imperativo: O modo imperativo designa ordem, ção) -ia (2ª e 3ª -sse
imperfeito
convite, conselho, súplica ou pedido. conjugações)
Ex.: Estuda! Assim, serás aprovado. Pretérito mais-
-ra *
-que-perfeito
Tempos Futuro -rá e -re -r

O tempo designa o recorte temporal em que a ação Futuro do


-ria *
verbal foi realizada. Basicamente, podemos indicar pretérito
o tempo dessa ação no passado, presente ou futuro.
Existem, entretanto, ramificações específicas. Observe *Nem todas as formas verbais apresentam desi-
a seguir: nências modo-temporais.

z Presente: Flexões Modo-temporais — Tempos Compostos


(Indicativo)
Pode expressar não apenas um fato atual, como
também uma ação habitual. Ex.: Estudo todos os dias z Pretérito perfeito composto: Verbo auxiliar:
no mesmo horário. Ter (presente do indicativo) + verbo principal
Uma ação passada. Ex.: Vargas assume o cargo e particípio.
instala uma ditadura. Ex.: Tenho estudado;
Uma ação futura. Ex.: Amanhã, estudo mais! � Pretérito mais-que-perfeito composto: Verbo
(equivalente a estudarei). auxiliar: Ter (pretérito imperfeito do indicativo) +
verbo principal no particípio.
40 z Passado: Ex.: Tinha passado;
� Futuro composto: Verbo auxiliar: Ter (futuro do Não confunda locuções verbais com tempos
indicativo) + verbo principal no particípio. compostos. O particípio formador de tempo
Ex.: Terei saído; composto na voz ativa não se flexiona. Ex.: O
� Futuro do pretérito composto: Verbo auxiliar:
homem teria realizado sua missão.
Ter (futuro do pretérito simples) + verbo principal
no particípio.
Classificação dos Verbos
Ex.: Teria estudado.

Flexões Modo-temporais — Tempos Compostos Os verbos são classificados quanto a sua forma
(Subjuntivo) de conjugação e podem ser divididos em: regulares,
irregulares, anômalos, abundantes, defectivos, prono-
� Pretérito perfeito composto: Verbo auxiliar: minais, reflexivos, impessoais e auxiliares, além das
Ter (presente do subjuntivo) + Verbo principal formas nominais. Vamos conhecer as particularida-
particípio. des de cada um a seguir:
Ex.: (que eu) Tenha estudado;
� Pretérito mais-que-perfeito composto: Verbo z Regulares: Os verbos regulares são os mais fáceis
auxiliar: Ter (pretérito imperfeito do subjuntivo) + de compreender, pois apresentam regularidade no
verbo principal no particípio. uso das desinências, ou seja, das terminações ver-
Ex.: (se eu) Tivesse estudado; bais. Da mesma forma, os verbos regulares man-
� Futuro composto: Verbo auxiliar: Ter (futuro sim- têm o paradigma morfológico com o radical, que
ples do subjuntivo) + verbo principal no particípio.
permanece inalterado. Ex.: Verbo cantar:
Ex.: (quando eu) Tiver estudado.
PRESENTE PRETÉRITO PERFEITO
Formas Nominais do Verbo e Locuções Verbais
— INDICATIVO — INDICATIVO
As formas nominais do verbo são as formas no Eu canto Cantei
infinitivo, particípio e gerúndio que eles assumem em Tu cantas Cantaste
determinados contextos. São chamadas nominais pois
funcionam como substantivos, adjetivo ou advérbios. Ele/ você canta Cantou
Nós cantamos Cantamos
z Gerúndio: Marcado pela terminação -ndo. Seu Vós cantais Cantastes
valor indica duração de uma ação e, por vezes,
pode funcionar como um advérbio ou um adjetivo. Eles/ vocês cantam Cantaram
Ex.: Olhando para seu povo, o presidente se
compadeceu; z Irregulares: Os verbos irregulares apresentam
z Particípio: Marcado pelas terminações mais alteração no radical e nas desinências verbais.
comuns -ado, -ido, podendo terminar também em Por isso, recebem esse nome, pois sua conjugação
-do, -to, -go, -so, -gue. Corresponde nominalmente ocorre irregularmente, seguindo um paradigma
ao adjetivo; pode flexionar-se, em alguns casos, em
próprio para cada grupo verbal.
número e gênero.
Ex.: A Índia foi colonizada pelos ingleses.
Quando cheguei, ela já tinha partido. Perceba a seguir como ocorre uma sutil diferença
Ele tinha aberto a janela. na conjugação do verbo estar, que utilizamos como
Ela tinha pago a conta; exemplo. Isso é importante para não confundir os ver-
z Infinitivo: Forma verbal que indica a própria ação bos irregulares com os verbos anômalos. Ex.: Verbo
do verbo, ou o estado, ou, ainda, o fenômeno desig- estar:
nado. Pode ser pessoal ou impessoal:
PRESENTE PRETÉRITO PERFEITO
„ Pessoal: O infinitivo pessoal é passível de con- — INDICATIVO — INDICATIVO
jugação, pois está ligado às pessoas do discurso. Eu estou Estive
É usado na formação de orações reduzidas. Ex.:
Comer eu. Comermos nós. É para aprenderem Tu estás Estiveste
que ele ensina; Ele/ você está Esteve
„ Impessoal: Não é passível de flexão. É o nome
Nós estamos Estivemos
do verbo, servindo para indicar apenas a con-
jugação. Ex.: Estudar - 1ª conjugação; Comer - 2ª Vós estais Estivestes
LÍNGUA PORTUGUESA

conjugação; Partir - 3ª conjugação. Eles/ vocês estão Estiveram

O infinitivo impessoal forma locuções verbais ou


orações reduzidas. z Anômalos: Esses verbos apresentam profundas
Locuções verbais: sequência de dois ou mais ver- alterações no radical e nas desinências verbais,
bos que funcionam como um verbo. consideradas anomalias morfológicas; por isso,
Ex.: Ter de + verbo principal no infinitivo: Ter de recebem essa classificação. Um exemplo bem
trabalhar para pagar as contas. usual de verbo dessa categoria é o verbo “ser”. Na
Haver de + verbo principal no infinitivo: Havemos língua portuguesa, apenas dois verbos são classifi-
de encontrar uma solução. cados dessa forma: os verbos ser e ir.

Dica Vejamos a conjugação o verbo “ser”: 41


PRESENTE PRETÉRITO PERFEITO PARTICÍPIO PARTICÍPIO
INFINITIVO
— INDICATIVO — INDICATIVO REGULAR IRREGULAR
Eu sou Fui Salvar Salvado Salvo
Tu és Foste Secar Secado Seco
Ele / você é Foi Submergir Submergido Submerso
Nós somos Fomos Suspender Suspendido Suspenso
Vós sois Fostes Tingir Tingido Tinto
Eles / vocês são Foram Torcer Torcido Torto

Os verbos ser e ir são irregulares, porém, apresen- INFINITIVO PARTICÍPIO REGULAR


PARTICÍPIO
tam uma forma específica de irregularidade que oca- IRREGULAR
siona uma anomalia em sua conjugação. Por isso, são Eu já tinha aceitado o O convite foi
Aceitar
classificados como anômalos. convite aceito
Aviso quando tiver entre-
Entregar Está entregue!
z Abundantes: São formas verbais abundantes os gado a encomenda
verbos que apresentam mais de uma forma de Quando chegou,
particípio aceitas pela norma culta gramatical. Morrer Havia morrido há dias encontrou o ani-
mal morto
Geralmente, apresentam uma forma de particípio
regular e outra irregular. Vejamos alguns verbos A bala foi expelida por Esta é a bala
Expelir
aquela arma expulsa
abundantes:
Tinha enxugado a lou-
A roupa está
Enxugar ça quando o programa
PARTICÍPIO PARTICÍPIO enxuta
INFINITIVO começou
REGULAR IRREGULAR
Depois de ter findado o
Absolver Absolvido Absolto Findar Trabalho findo!
trabalho, descansou
Abstrair Abstraído Abstrato Se tivesse imprimido tí- Onde está o docu-
Imprimir
Aceitar Aceitado Aceito nhamos como provar mento impresso?

Benzer Benzido Bento Que casa tão


Limpar Eu tinha limpado a casa
limpa!
Cobrir Cobrido Coberto
Dados importantes tinham Informações esta-
Omitir
Completar Completado Completo sido omitidos por ela vam omissas
Confundir Confundido Confuso Após ter submergido Deixe os legumes
Submergir os legumes, reparou no submersos por
Demitir Demitido Demisso amigo alguns minutos
Despertar Despertado Desperto Nunca tinha suspendido Você está
Suspender
Dispersar Dispersado Disperso ninguém suspenso!

Eleger Elegido Eleito


z Defectivos: São verbos que não apresentam algu-
Encher Enchido Cheio
mas pessoas conjugadas em suas formas, gerando
Entregar Entregado Entregue um “defeito” na conjugação (por isso, o nome).
Morrer Morrido Morto Alguns exemplos de defectivos são os verbos colo-
rir, precaver, reaver etc.
Expelir Expelido Expulso
Enxugar Enxugado Enxuto Esses verbos não são conjugados na primeira pes-
Findar Findado Findo soa do singular do presente do indicativo, bem como:
aturdir, exaurir, explodir, esculpir, extorquir, feder,
Fritar Fritado Frito
fulgir, delinquir, demolir, puir, ruir, computar, colo-
Ganhar Ganhado Ganho rir, carpir, banir, brandir, bramir, soer.
Gastar Gastado Gasto Verbos que expressam onomatopeias ou fenôme-
nos temporais também apresentam essa característi-
Imprimir Imprimido Impresso
ca, como latir, bramir, chover.
Inserir Inserido Inserto
Isentar Isentado Isento z Pronominais: Esses verbos apresentam um pro-
Juntar Juntado Junto nome oblíquo átono integrando sua forma verbal.
É importante lembrar que esses pronomes não
Limpar Limpado Limpo apresentam função sintática. Predominantemen-
Matar Matado Morto te, os verbos pronominas apresentam transitivida-
Omitir Omitido Omisso de indireta, ou seja, são VTI. Ex.: Sentar-se.

Pagar Pagado Pago PRESENTE PRETÉRITO PERFEITO


Prender Prendido Preso — INDICATIVO — INDICATIVO

42 Romper Rompido Roto Eu me sento Sentei-me


Ex.: Os policiais haviam expulsado os bandidos /
PRESENTE PRETÉRITO PERFEITO
— INDICATIVO — INDICATIVO Os traficantes foram expulsos pelos policiais.

Tu te sentas Sentaste-te „ Infinitivo: Marca as conjugações verbais.


Ele/ você se senta Sentou-se
Nós nos sentamos Sentamo-nos AR: Verbos que compõem a 1ª conjugação (Amar,
passear);
Vós vos sentais Sentastes-vos
ER: Verbos que compõem a 2ª conjugação (Comer,
Eles/ vocês se sentam Sentaram-se pôr);
IR: Verbos que compõem a 3ª conjugação (Partir,
z Reflexivos: Verbos que apresentam pronome oblí- sair).
quo átono reflexivo, funcionando sintaticamen-
te como objeto direto ou indireto. Nesses verbos, Dica
o sujeito sofre e pratica a ação verbal ao mesmo
tempo. Ex.: Ela se veste mal. Nós nos cumprimen- O verbo “pôr” corresponde à segunda conjuga-
tamos friamente; ção, pois origina-se do verbo “poer”.
z Impessoais: Verbos que designam fenômenos da O mesmo acontece com verbos que deste
natureza, como chover, trovejar, nevar etc. derivam.

O verbo haver, com sentido de existir ou mar- Vozes Verbais


cando tempo decorrido, também será impessoal. Ex.:
Havia muitos candidatos e poucas vagas. Há dois As vozes verbais definem o papel do sujeito na
anos, fui aprovado em concurso público. oração, demonstrando se o sujeito é o agente da ação
Os verbos ser e estar também são verbos impes- verbal ou se ele recebe a ação verbal. Dividem-se em:
soais quando designam fenômeno climático ou tempo.
Ex.: Está muito quente! / Era tarde quando chegamos. � Ativa: O sujeito é o agente, praticando a ação
O verbo ser para indicar hora, distância ou data
verbal.
concorda com esses elementos.
Ex.: O policial deteve os bandidos.
O verbo fazer também poderá ser impessoal,
� Passiva: O sujeito é paciente, ou seja, sofre a ação
quando indicar tempo decorrido ou tempo climáti-
verbal.
co. Ex.: Faz anos que estudo pintura. Aqui faz muito
calor. Ex.: Os bandidos foram detidos pelo policial —
Os verbos impessoais não apresentam sujeito; sin- passiva analítica;
taticamente, classifica-se como sujeito inexistente. � Detiveram-se os criminosos — passiva sintética.
O verbo ser será impessoal quando o espaço sintá- � Reflexiva: O sujeito é agente e paciente ao mes-
tico ocupado pelo sujeito não estiver preenchido: “Já mo tempo, pois pratica e recebe a ação verbal.
é natal”. Segue o mesmo paradigma do verbo fazer, Ex.: Os bandidos se entregaram à polícia. / O
podendo ser impessoal, também, o verbo ir: “Vai uns menino se agrediu.
bons anos que não vejo Mariana”. � Recíproca: O sujeito é agente e paciente ao mes-
mo tempo, porém há uma ação compartilhada
z Auxiliares: Os verbos auxiliares são empregados entre dois indivíduos. A ação pode ser comparti-
nas formas compostas dos verbos e também nas lhada entre dois ou mais indivíduos que praticam
locuções verbais. Os principais verbos auxiliares e sofrem a ação.
dos tempos compostos são ter e haver. Ex.: Os bandidos se olharam antes do julga-
mento. / Apesar do ódio mútuo, os candidatos se
Nas locuções, os verbos auxiliares determinam a cumprimentaram.
concordância verbal; porém, o verbo principal deter-
mina a regência estabelecida na oração. A voz passiva é realizada a partir da troca de fun-
Apresentam forte carga semântica que indica ções entre sujeito e objeto da voz ativa. Só podemos
modo e aspecto da oração. São importantes na forma- transformar uma frase da voz ativa para a voz passiva
ção da voz passiva analítica.
se o verbo for transitivo direto ou transitivo direto e
indireto. Logo, só há voz passiva com a presença do
z Formas Nominais: Na língua portuguesa, usamos
objeto direto.
três formas nominais dos verbos:
Importante! Não confunda os verbos pronomi-
LÍNGUA PORTUGUESA

nais com as vozes verbais. Os verbos pronominais


„ Gerúndio: Terminação -ndo. Apresenta valor
que indicam sentimentos, como arrepender-se, quei-
durativo da ação e equivale a um advérbio ou
adjetivo. Ex.: Minha mãe está rezando; xar-se, dignar-se, entre outros, acompanham um
„ Particípio: Terminações -ado, -ido, -do, -to, -go, pronome que faz parte integrante do seu significado,
-so. Apresenta valor adjetivo e pode ser classi- diferentemente das vozes verbais, que acompanham
ficado em particípio regular e irregular, sendo o pronome “se” com função sintática própria.
as formas regulares finalizadas em -ado e -ido.
Outras Funções do “se”
A norma culta gramatical recomenda o uso do par-
ticípio regular com os verbos “ter” e “haver”. Já com Como vimos, o “se” pode funcionar como item
os verbos “ser” e “estar”, recomenda-se o uso do par- essencial na voz passiva. Além dessa função, esse ele-
ticípio irregular. mento também acumula outras atribuições: 43
z Partícula apassivadora: A voz passiva sintética Conjugação de Verbos Derivados
é feita com verbos transitivos direto (TD) ou tran-
sitivos direto indireto (TDI). Nessa voz, incluímos Verbo derivado é aquele que deriva de um ver-
o “se” junto ao verbo, por isso, o elemento “se” é bo primitivo; para trabalhar a conjugação desses
designado partícula apassivadora, nesse contexto. verbos, é importante ter clara a conjugação de seus
Ex.: Busca-se a felicidade (voz passiva sintética) — “originários”.
“Se” (partícula apassivadora). Atente-se à lista de verbos irregulares e de algu-
mas de suas derivações a seguir, pois são assuntos
O “se” exercerá essa função apenas:
relevantes em provas diversas:
„ Com verbos cuja transitividade seja TD ou TDI;
z Pôr: Repor, propor, supor, depor, compor, expor;
„ Com verbos que concordam com o sujeito;
„ Com a voz passiva sintética. z Ter: Manter, conter, reter, deter, obter, abster-se;
z Ver: Antever, rever, prever;
Atenção: Na voz passiva nunca haverá objeto dire- z Vir: Intervir, provir, convir, advir, sobrevir.
to (OD), pois ele se transforma em sujeito paciente.
Vamos conhecer agora alguns verbos cuja conjuga-
z Índice de indeterminação do sujeito: O “se” fun- ção apresenta paradigma derivado, auxiliando a com-
cionará nessa condição quando não for possível preensão dessas conjugações verbais.
identificar o sujeito explícito ou subentendido. O verbo criar é conjugado da mesma forma que os
Além disso, não podemos confundir essa função verbos “variar”, “copiar”, “expiar” e todos os demais
do “se” com a de apassivador, já que, para ser índi- que terminam em -iar. Os verbos com essa termina-
ce de indeterminação do sujeito, a oração precisa ção são, predominantemente, regulares.
estar na voz ativa.
PRESENTE — INDICATIVO
Outra importante característica do “se” como índi-
ce de indeterminação do sujeito é que isso ocorre em Eu Crio
verbos transitivos indiretos, verbos intransitivos ou Tu Crias
verbos de ligação. Além disso, o verbo sempre deverá
Ele/Você Cria
estar na 3ª pessoa do singular.
Ex.: Acredita-se em Deus. Nós Criamos
Vós Criais
z Pronome reflexivo: Na função de pronome refle-
Eles/Vocês Criam
xivo, a partícula “se” indicará reflexão ou reci-
procidade, auxiliando a construção dessas vozes
verbais, respectivamente. Nessa função, suas prin- Os verbos terminados em -ear, por sua vez, geral-
cipais características são: mente são irregulares e apresentam alguma modifi-
cação no radical ou nas desinências. Acompanhe a
„ Sujeito recebe e pratica a ação; conjugação do verbo “passear”:
„ Funcionará, sintaticamente, como objeto direto
ou indireto; PRESENTE — INDICATIVO
„ O sujeito da frase poderá estar explícito ou
implícito. Eu Passeio
Tu Passeias
Ex.: Ele se via no espelho (explícito). Deu-se um Ele/Você Passeia
presente de aniversário (implícito).
Nós Passeamos
z Parte integrante do verbo: Nesses casos, o “se” Vós Passeais
será parte integrante dos verbos pronominais, Eles/Vocês Passeiam
acompanhando-o em todas as suas flexões. Quan-
do o “se” exerce essa função, jamais terá uma fun-
ção sintática. Além disso, o sujeito da frase poderá Conjugação de Alguns Verbos
estar explícito ou implícito.
Ex.: (Ele/a) Lembrou-se da mãe, quando olhou a Vamos agora conhecer algumas conjugações de
filha; verbos irregulares importantes, que sempre são obje-
z Partícula de realce: Será partícula de realce o to de questões em concursos.
“se” que puder ser retirado do contexto sem pre- Observe o verbo “aderir” no presente do indicativo:
juízo no sentido e na compreensão global do texto.
A partícula de realce não exerce função sintática,
PRESENTE — INDICATIVO
pois é desnecessária.
Ex.: Vão-se os anéis, ficam-se os dedos; Eu Adiro
z Conjunção: O “se” será conjunção condicional Tu Aderes
quando sugerir a ideia de condição. A conjunção
Ele/Você Adere
“se” exerce função de conjunção integrante, ape-
nas ligando as orações, e poderá ser substituído Nós Aderimos
pela conjunção “caso”. Vós Aderis
Ex.: Se ele estudar, será aprovado. (Caso ele estu-
44 dar, será aprovado). Eles/Vocês Aderem
A seguir, acompanhe a conjugação do verbo “por”. “Com”
São conjugados da mesma forma os verbos dispor,
interpor, sobrepor, compor, opor, repor, transpor, z Causa: Ficar pobre com a inflação;
entrepor, supor. z Companhia: Ir ao cinema com os amigos;
z Concessão: Com mais de 80 anos, ainda tem pla-
nos para o futuro;
PRESENTE — INDICATIVO
z Instrumento: Abrir a porta com a chave;
Eu Ponho z Matéria: Vinho se faz com uva;
z Modo: Andar com elegância;
Tu Pões z Referência: Com sua irmã aconteceu diferente;
Ele/Você Põe comigo sempre é assim.
Nós Pomos
“Contra”
Vós Pondes
Eles/Vocês Põem z Oposição: Jogar contra a seleção brasileira;
z Direção: Olhar contra o sol;
z Proximidade ou contiguidade: Apertou o filho
PREPOSIÇÕES
contra o peito.
Conceito
“De”

São palavras invariáveis que ligam orações ou z Causa: Chorar de saudade;


outras palavras. As preposições apresentam funções z Assunto: Falar de religião;
importantes tanto no aspecto semântico quanto no z Matéria: Material feito de plástico;
aspecto sintático, pois complementam o sentido de z Conteúdo: Maço de cigarro;
verbos e/ou palavras cujo sentido pode ser alterado z Origem: Você descende de família humilde;
sem a presença da preposição, modificando a transiti- z Posse: Este é o carro de João;
vidade verbal e colaborando para o preenchimento de z Autoria: Esta música é de Chopin;
sentido de palavras deverbais6. z Tempo: Ela dorme de dia;
As preposições essenciais são: a, ante, até, após, z Lugar: Veio de São Paulo;
com, contra, de, desde, em, entre, para, per, peran- z Definição: Pessoa de coragem;
te, por, sem, sob, trás. z Dimensão: Sala de vinte metros quadrados;
Existem, ainda, as preposições acidentais, assim z Fim ou finalidade: Carro de passeio;
chamadas pois pertencem a outras classes grama- z Instrumento: Comer de garfo e faca;
z Meio: Viver de ilusões;
ticais, mas funcionam, ocasionalmente, como pre-
z Medida ou extensão: Régua de 30 cm;
posições. Eis algumas: afora, conforme (quando
z Modo: Olhar alguém de frente;
equivaler a “de acordo com”), consoante, durante, z Preço: Caderno de 10 reais;
exceto, salvo, segundo, senão, mediante, que, visto z Qualidade: Vender artigo de primeira;
(quando equivaler a “por causa de”). z Semelhança ou comparação: Atitudes de pessoa
Acompanhe a seguir algumas preposições e exem- corajosa.
plos de uso em diferentes situações:
“Desde”
“A”
z Distância: Dormiu desde o acampamento até aqui;
z Causa ou motivo: Acordar aos gritos das crianças; z Tempo: Desde ontem ele não aparece.
z Conformidade: Escrever ao modo clássico;
z Destino (em correlação com a preposição de): De “Em”
Santos à Bahia;
z Meio: Voltarei a andar a cavalo; z Preço: Avaliou a propriedade em milhares de
z Preço: Vendemos o armário a R$ 300,00; dólares;
z Direção: Levantar as mãos aos céus; z Meio: Pagou a dívida em cheque;
z Distância: Cair a poucos metros da namorada; z Limitação: Aquele aluno em Química nunca foi
z Exposição: Ficar ao sol por um longo tempo; bom;
z Forma ou semelhança: As crianças juntaram as
z Lugar: Ir a Santa Catarina;
mãos em concha;
LÍNGUA PORTUGUESA

z Modo: Falar aos gritos;


z Transformação ou alteração: Transformou dóla-
z Sucessão: Dia a dia;
res em reais;
z Tempo: Nasci a três de maio; z Estado ou qualidade: Foto em preto e branco;
z Proximidade: Estar à janela. z Fim: Pedir em casamento;
z Lugar: Ficou muito tempo em Sorocaba;
“Após” z Modo: Escrever em francês;
z Sucessão: De grão em grão;
z Lugar: Permaneça na fila após o décimo lugar; z Tempo: O fogo destruiu o edifício em minutos;
z Tempo: Logo após o almoço descansamos. z Especialidade: João formou-se em Engenharia.
6  Palavras deverbais são substantivos que expressam, de forma nominal e abstrata, o sentido de um verbo com o qual mantêm relação.
Exemplo: a filmagem, o pagamento, a falência etc. Geralmente, os nomes deverbais são acompanhados por preposições e, sintaticamente, o
termo que completa o sentido desses nomes é conhecido como complemento nominal. 45
“Entre” A locução prepositiva na segunda frase substitui
perfeitamente a preposição “sobre”. As locuções pre-
z Lugar: Ele ficou entre os aprovados; positivas sempre terminam em uma preposição (há
z Meio social: Entre as elites, este é o comportamento; apenas uma exceção: a locução prepositiva com senti-
z Reciprocidade: Entre mim e ele sempre houve do concessivo “não obstante”).
discórdia. Veja alguns exemplos:

“Para” z Apesar de. Ex.: Apesar de terem sumido, volta-


ram logo;
z Consequência: Você deve ser muito esperto para z A respeito de. Ex.: Nossa reunião foi a respeito
não cair em armadilhas; de finanças;
z Fim ou finalidade: Chegou cedo para a conferên- z Graças a. Ex.: Graças ao bom Deus, não aconteceu
cia; nada grave;
z De acordo com. Ex.: De acordo com W. Hamboldt,
z Lugar: Em 2011, ele foi para Portugal;
a língua é indispensável para que possamos pen-
z Proporção: As baleias estão para os peixes assim
sar, mesmo que estivéssemos sempre sozinhos;
como nós estamos para as galinhas;
z Por causa de. Ex.: Por causa de poucos pontos,
z Referência: Para mim, ela está mentindo;
não passei no exame;
z Tempo: Para o ano irei à praia; z Para com. Ex.: Minha mãe me ensinou ter respeito
z Destino ou direção: Olhe para frente! para com os mais velhos;
z Por baixo de. Ex.: Por baixo do vestido, ela usa
“Perante” um short.

z Lugar: Ele negou o crime perante o júri. Outros exemplos de locuções prepositivas:
Abaixo de; acerca de; acima de; devido a; a despeito
“Por” de; adiante de; defronte de; embaixo de; em frente de;
junto de; perto de; por entre; por trás de; quanto a; a
z Modo ou conformidade: Vamos escolher por fim de; por meio de; em virtude de.
sorteio;
z Causa: Encontrar alguém por coincidência;
z Conformidade: Copiar por original; Importante!
z Favor: Lutar por seus ideais;
Algumas locuções prepositivas apresentam
z Medida: Vendia banana por quilo;
z Meio: Ir por terra;
semelhanças morfológicas, mas significa-
z Modo: Saber por alto o que ocorreu; dos completamente diferentes. Observe estes
z Preço: Comprar um livro por vinte reais; exemplos7:
z Quantidade: Chocar por três vezes; A opinião dos diretores vai ao encontro do pla-
z Substituição: Comprar gato por lebre; nejamento inicial = Concordância.
z Tempo: Viver por muitos anos. As decisões do público foram de encontro à pro-
posta do programa = Discordância.
“Sem” Em vez de comer lanches gordurosos, coma fru-
tas = Substituição.
z Ausência ou desacompanhamento: Estava sem Ao invés de chegar molhado, chegou cedo =
dinheiro. Oposição.

“Sob”
Combinações e Contrações
z Tempo: Houve muito progresso no Brasil sob D.
As preposições podem se ligar a outras palavras de
Pedro II; outras classes gramaticais por meio de dois processos:
z Lugar: Ficar sob o viaduto; combinação e contração.
z Modo: Saiu da reunião sob pretexto não
convincente. z Combinação: Quando se ligam sem sofrer nenhu-
ma redução.
“Sobre” a + o = ao
a + os = aos
z Assunto: Não gosto de falar sobre política; z Contração: Quando, ao se ligarem, sofrem
z Direção: Ir sobre o adversário; redução.
z Lugar: Cair sobre o inimigo.
Veja a lista a seguir8, que apresenta as preposições
Locuções Prepositivas que se contraem e suas devidas formas:

São grupos de palavras que equivalem a uma z Preposição “a”:


preposição.
Ex.: Falei sobre o tema da prova. (preposição) / „ Com o artigo definido ou pronome demonstra-
Falei acerca do tema da prova. (locução prepositiva) tivo feminino:
7  Disponível em: instagram.com/academiadotexto. Acesso em: 20 nov. 2020.
46 8  Disponível em: <https://www.preparaenem.com/portugues/combinacao-contracao-das-preposicoes.htm>. Acesso em: 20 nov. 2020.
a + a= à z Preposição “para” (pra):
a + as= às
„ Com o pronome demonstrativo: „ Com artigo definido:
a + aquele = àquele para (pra) + o(s) = pro, pros
a + aqueles = àqueles para (pra) + a(s)= pra, pras
a + aquela = àquela
a + aquelas = àquelas Algumas Relações Semânticas Estabelecidas por
a + aquilo = àquilo Preposições

z Preposição “de”: Antes de entrarmos neste assunto, vale relembrar


o que significa Semântica. Semântica é a área do
conhecimento que relaciona o significado da palavra
„ Com artigo definido masculino e feminino:
ao seu contexto.
de + o/os = do/dos
É importante ressaltar que as preposições podem
de + a/as = da/das
apresentar valor relacional ou podem atribuir um
� Com artigo indefinido: valor nocional.
de + um= dum As preposições que apresentam um valor rela-
de + uns = duns cional cumprem uma relação sintática com verbos
de + uma = duma ou substantivos, que, em alguns casos, são chamados
de + umas = dumas deverbais, conforme já mencionamos. Essa mesma
� Com pronome demonstrativo: relação sintática pode ocorrer com adjetivos e advér-
de + este(s)= deste, destes bios, os quais também apresentarão função deverbal.
de + esta(s)= desta, destas Ex.: Concordo com o advogado (preposição exigida
de + isto= disto pela regência do verbo concordar).
de + esse(s) = desse, desses Tenho medo da queda (preposição exigida pelo
de + essa(s)= dessa, dessas complemento nominal).
de + isso = disso Estou desconfiado do funcionário (preposição exi-
de + aquele(s) = daquele, daqueles gida pelo adjetivo).
de + aquela(s) = daquela, daquelas Fui favorável à eleição (preposição exigida pelo
de + aquilo= daquilo advérbio).
� Com o pronome pessoal: Em todos esses casos, a preposição mantém uma
relação sintática com a classe de palavras a qual se
de + ele(s) = dele, deles
liga, sendo, portanto, obrigatória a sua presença na
de + ela(s) = dela, delas
sentença.
� Com o pronome indefinido:
De modo oposto, as preposições cujo valor nocio-
de + outro(s)= doutro, doutros nal é preponderante apresentam uma modificação
de + outra(s) = doutra, doutras no sentido da palavra à qual se liga. Elas não são
� Com advérbio: componentes obrigatórios na construção da senten-
de + aqui= daqui ça, divergindo das preposições de valor relacional.
de + aí= daí As preposições de valor nocional estabelecem uma
de + ali= dali noção de posse, causa, instrumento, matéria, modo
etc. Vejamos algumas na tabela a seguir:
z Preposição “em”:
VALOR NOCIONAL DAS
SENTIDO
„ Com artigo definido: PREPOSIÇÕES
em + a(s)= na, nas Posse Carro de Marcelo
em + o(s)= no, nos
Com pronome demonstrativo: O cachorro está sob a
� Lugar
mesa
em + esse(s)= nesse, nesses
em + essa(s)= nessa, nessas Votar em branco / Chegar
Modo
em + isso = nisso aos gritos
em + este(s) = neste, nestes Causa Preso por agressão
em + esta(s) = nesta, nestas
Assunto Falar sobre política
em + isto = nisto
em + aquele(s) = naquele, naqueles Descende de família
Origem
LÍNGUA PORTUGUESA

em + aquela(s) = naquelas simples


em + aquilo = naquilo Olhe para frente! / Iremos
Destino
� Com pronome pessoal: a Paris
em + ele(s) = nele, neles
em + ela(s) = nela, nelas CONJUNÇÕES

z Preposição “per”: Assim como as preposições, as conjunções também


são invariáveis e também auxiliam na organização
„ Com as formas antigas do artigo definido (lo, das orações, ligando termos e, em alguns casos, ora-
la): ções. Por manterem relação direta com a organização
per + lo(s) = pelo, pelos das orações nas sentenças, as conjunções podem ser
per + la(s) = pela, pelas coordenativas ou subordinativas. 47
Conjunções Coordenativas Conjunções Subordinativas

As conjunções coordenativas são aquelas que Tal qual as conjunções coordenativas, as subor-
ligam orações coordenadas, ou seja, orações que não dinativas estabelecem uma ligação entre as ideias
fazem parte de uma outra; em alguns casos, ainda, apresentadas em um texto. Porém, diferentemente
essas conjunções ligam núcleos de um mesmo termo daquelas, estas ligam ideias apresentadas em orações
da oração. As conjunções coordenadas podem ser: subordinadas, ou seja, orações que precisam de outra
para terem o sentido apreendido.
z Aditivas: Somam informações. E, nem, bem como,
� Causal: Iniciam a oração dando ideia de causa.
não só, mas também, não apenas, como ainda,
Haja vista, que, porque, pois, porquanto, visto que,
senão (após não só).
uma vez que, como (equivale a porque) etc.
Ex.: Não fiz os exercícios nem revisei. Ex.: Como não choveu, a represa secou;
O gato era o preferido, não só da filha, senão de � Consecutiva: Iniciam a oração expressando ideia
toda família; de consequência. Que (depois de tal, tanto, tão), de
z Adversativas: Colocam informações em oposição, modo que, de forma que, de sorte que etc.
contradição. Mas, porém, contudo, todavia, entre- Ex.: Estudei tanto que fiquei com dor de cabeça;
tanto, não obstante, senão (equivalente a mas). � Comparativa: Iniciam orações comparando ações
Ex.: Não tenho um filho, mas dois. e, em geral, o verbo fica subtendido. Como, que
A culpa não foi a população, senão dos vereadores nem, que (depois de mais, menos, melhor, pior,
(equivale a “mas sim”). maior), tanto... quanto etc.
Ex.: Corria como um touro.
Importante: A conjunção “e” pode apresentar Ela dança tanto quanto Carlos;
valor adversativo, principalmente quando é antecedi- � Conformativa: Expressam a conformidade de
da por vírgula: Estava querendo dormir, e o barulho uma ideia com a da oração principal. Conforme,
não deixava. como, segundo, de acordo com, consoante etc.
Ex.: Tudo ocorreu conforme o planejado.
Amanhã chove, segundo informa a previsão do
z Alternativas: Ligam orações com ideias que não
tempo;
acontecem simultaneamente, que se excluem. Ou, � Concessiva: Iniciam uma oração com uma ideia
ou...ou, quer...quer, seja...seja, ora...ora, já...já. contrária à da oração principal. Embora, conquan-
Ex.: Estude ou vá para a festa. to, ainda que, mesmo que, em que pese, posto que
Seja por bem, seja por mal, vou convencê-la. etc.
Ex.: Teve que aceitar a crítica, conquanto não
Importante: A palavra “senão” pode funcionar tivesse gostado.
como conjunção alternativa: Saia agora, senão cha- Trabalhava, por mais que a perna doesse;
marei os guardas! (pode-se trocá-la por “ou”). � Condicional: Iniciam uma oração com ideia de
hipótese, condição. Se, caso, desde que, contanto
z Explicativas: Ligam orações, de forma que em que, a menos que, somente se etc.
uma delas explica-se o que a outra afirma. Que, por- Ex.: Se eu quisesse falar com você, teria respondi-
que, pois, (se vier no início da oração), porquanto. do sua mensagem.
Ex.: Estude, porque a caneta é mais leve que a Posso lhe ajudar, caso necessite;
� Proporcional: Ideia de proporcionalidade. À pro-
enxada!
porção que, à medida que, quanto mais...mais,
Viva bem, pois isso é o mais importante.
quanto menos...menos etc.
Ex.: Quanto mais estudo, mais chances tenho de
Importante: “Pois” com sentido explicativo ini- ser aprovado.
cia uma oração e justifica outra. Ex.: Volte, pois sinto Ia aprendendo, à medida que convivia com ela;
saudades. � Final: Expressam ideia de finalidade. Final, para
“Pois” conclusivo fica após o verbo, deslocado que, a fim de que etc.
entre vírgulas: Nessa instabilidade, o dólar voltará, Ex.: A professora dá exemplos para que você
pois, a subir. aprenda!
Comprou um computador a fim de que pudesse
z Conclusivas: Ligam duas ideias, de forma que a trabalhar tranquilamente;
segunda conclui o que foi dito na primeira. Logo, � Temporal: Iniciam a oração expressando ideia de
portanto, então, por isso, assim, por conseguinte, tempo. Quando, enquanto, assim que, até que, mal,
destarte, pois (deslocado na frase). logo que, desde que etc.
Ex.: Estava despreparado, por isso, não fui Ex.: Quando viajei para Fortaleza, estive na Praia
aprovado. do Futuro.
Mal cheguei à cidade, fui assaltado.
Está na hora da decolagem; deve, então,
apressar-se.
Importante!
Dica
Os valores semânticos das conjunções não se
As conjunções “e”, “nem” não devem ser empre- prendem às formas morfológicas desses ele-
gadas juntas (“e nem”). Tendo em vista que mentos. O valor das conjunções é construído
ambas indicam a mesma relação aditiva, o uso contextualmente, por isso, é fundamental estar
48 concomitante acarreta em redundância. atento aos sentidos estabelecidos no texto.
Ex.: Se Mariana gosta de você, por que você não Antes de concluirmos, é importante ressaltar o
a procura? (Se = causal = já que) papel das locuções interjetivas, conjunto de palavras
Por que ficar preso na cidade, quando existe que funciona como uma interjeição, como: Meu Deus!
tanto ar puro no campo? (Quando = causal = já Ora bolas! Valha-me Deus!
que).
PERÍODO SIMPLES – TERMOS DA ORAÇÃO

Conjunções Integrantes Os termos que formam o período simples são dis-


tribuídos em: essenciais (Sujeito e Predicado), inte-
As conjunções integrantes fazem parte das orações grantes (complemento verbal, complemento nominal
subordinadas; na realidade, elas apenas integram uma e agente da passiva) e acessórios (adjunto adnominal,
oração principal à outra, subordinada. Existem apenas adjunto adverbial e aposto).
dois tipos de conjunções integrantes: “que” e “se”.
Termos Essenciais da Oração
� Quando é possível substituir o “que” pelo pro-
nome “isso”, estamos diante de uma conjunção São aqueles indispensáveis para a estrutura básica
integrante. da oração. Costuma-se associar esses termos a situa-
Ex.: Quero que a prova esteja fácil. (Quero. O quê?
ções analógicas, como um almoço tradicional brasi-
Isso);
leiro constituído basicamente de arroz e feijão, por
� Sempre haverá conjunção integrante em orações
exemplo. São eles: Sujeito e Predicado. Veremos a
substantivas e, consequentemente, em períodos
seguir cada um deles.
compostos.
Ex.: Perguntei se ele estava em casa. (Perguntei. O
quê? Isso); SUJEITO
� Nunca devemos inserir uma vírgula entre um ver-
bo e uma conjunção integrante. É o elemento que faz ou sofre a ação determinada
Ex.: Sabe-se, que o Brasil é um país desigual pelo verbo.
(errado). O sujeito pode ser:
Sabe-se que o Brasil é um país desigual (certo).
� O termo sobre o qual o restante da oração diz algo;
INTERJEIÇÕES � O elemento que pratica ou recebe a ação expressa
pelo verbo;
As interjeições também fazem parte do grupo de � O termo que pode ser substituído por um pronome
palavras invariáveis, tal como as preposições e as do caso reto;
conjunções. Sua função é expressar estado de espíri- � O termo com o qual o verbo concorda.
to e emoções; por isso, apresentam forte conotação Ex.: A população implorou pela compra da vacina
semântica. Uma interjeição sozinha pode equivaler a da COVID-19.
uma frase. Ex.: Tchau!
As interjeições indicam relações de sentido diversas. No exemplo anterior a população é:
A seguir, apresentamos um quadro com os sentimentos
e sensações mais expressos pelo uso de interjeições: z O elemento sobre o qual se declarou algo (implo-
rou pela compra da vacina);
VALOR SEMÂNTICO INTERJEIÇÃO z O elemento que pratica a ação de implorar;
Advertência Cuidado! Devagar! Calma! z O termo com o qual o verbo concorda (o verbo
implorar está flexionado na 3ª pessoa do singular);
Alívio Arre! Ufa! Ah! z O termo que pode ser substituído por um pronome
Alegria/Satisfação Eba! Oba! Viva! do caso reto.
Desejo Oh! Tomara! Oxalá! (Ela implorou pela compra da vacina da COVID-19.)

Repulsa Irra! Fora! Abaixo! Núcleo do Sujeito


Dor/Tristeza Ai! Ui! Que pena!
Espanto Oh! Ah! Opa! Putz! O núcleo é a palavra base do sujeito. É a principal
porque é a respeito dela que o predicado diz algo. O
Saudação Salve! Viva! Adeus! Tchau! núcleo indica a palavra que realmente está exercen-
Medo Credo! Cruzes! Uh! Oh! do determinada função sintática, que atua ou sofre
a ação. O núcleo do sujeito apresentará um substan-
LÍNGUA PORTUGUESA

É salutar lembrar que o sentido exato de cada tivo, ou uma palavra com valor de substantivo, ou
interjeição só poderá ser apreendido diante do con- pronome.
texto. Por isso, em questões que abordem essa classe
de palavras, o candidato deve reler o trecho em que a z O sujeito simples contém apenas um núcleo.
interjeição aparece, a fim de se certificar do sentido Ex.: O povo pediu providências ao governador.
expresso no texto. Sujeito: O povo
Isso acontece pois qualquer expressão exclamati- Núcleo do sujeito: povo
va que expresse sentimento ou emoção pode funcio- z Já no sujeito composto, o núcleo será constituído
nar como uma interjeição. Lembre-se dos palavrões, de dois ou mais termos.
por exemplo, que são interjeições por excelência, mas As luzes e as cores são bem visíveis.
que, dependendo do contexto, podem ter seu sentido Sujeito: As luzes e as cores
alterado. Núcleo do sujeito: luzes/cores 49
Dica Sujeito Inexistente ou Oração sem Sujeito

Para determinar o sujeito da oração, colocam- Esse tipo de situação ocorre quando uma oração
-se as expressões interrogativas quem? ou o não tem sujeito mas tem sentido completo. Os verbos
quê? antes do verbo. são impessoais e normalmente representam fenôme-
Ex.: A população pediu uma providência ao nos da natureza. Pode ocorrer também o verbo fazer
governador. ou haver no sentido de existir.
Quem pediu uma providência ao governador? Geia no Paraná.
Resposta: A população (sujeito). Fazia um mês que tinha sumido.
Ex.: O pêndulo do relógio iria de um lado para o Basta de confusão.
outro. Há dois anos esse restaurante abriu.
O que iria de um lado para o outro?
Resposta: O pêndulo do relógio (sujeito). Classificação do Sujeito Quanto à Voz

Tipos de Sujeito z Voz ativa (sujeito agente)


Ex.: Cláudia corta cabelos de terça a sábado.
Quanto à função na oração, o sujeito classifica-se Nesse caso, o termo “Cláudia” é a pessoa que exer-
em: ce a ação na frase;
z Voz passiva sintética (sujeito paciente)
Ex.: Corta-se cabelo.
Simples
Pode-se ler “Cabelo é cortado”, ou seja, o sujeito
DETERMINADO Composto “cabelo” sofre uma ação, diferente do exemplo do
Elíptico item anterior. O “-se” é a partícula apassivadora da
oração.
Com verbos flexionados na 3ª pes-
soa do plural
INDETERMINADO Importante notar que não há preposição entre
Com verbos acompanhados do se o verbo e o substantivo. Se houvesse, por exemplo,
(índice de indeterminação do sujeito) “de” no meio da frase, o termo “cabelo” não seria mais
Usado para fenômenos da natureza sujeito, seria objeto indireto, um complemento verbal.
INEXISTENTE Precisa-se de cabelo.
ou com verbos impessoais
Assim, “de cabelo” seria um complemento verbal,
e não um sujeito da oração. Nesse caso, o sujeito é
z Determinado: quando se identifica a pessoa, o indeterminado, marcado pelo índice de indetermina-
lugar ou o objeto na oração. Classifica-se em: ção “-se”.

„ Simples: quando há apenas um núcleo. z Voz passiva analítica (sujeito paciente)


Ex.: O [aluguel] da casa é caro. Ex.: A minha saia azul está rasgada.
Núcleo: aluguel O sujeito está sofrendo uma ação, e não há presen-
Sujeito simples: O aluguel da casa; ça da partícula -se.
„ Composto: quando há dois núcleos ou mais.
Ex.: Os [sons] e as [cores] ficaram perfeitos. PREDICADO
Núcleos: sons, cores.
Sujeito composto: Os sons e as cores; É o termo que contém o verbo e informa algo sobre
„ Elíptico, oculto ou desinencial: quando não o sujeito. Apesar de o sujeito e o predicado serem ter-
aparece na oração, mas é possível de ser identi- mos essenciais na oração, há casos em que a oração
ficado devido à flexão do verbo ao qual se refe- não possui sujeito. Mas, se a oração é estruturada em
re.Ex.: Vi o noticiário hoje de manhã. Sujeito: torno de um verbo e ele está contido no predicado, é
(Eu) impossível existir uma oração sem sujeito.
O predicado pode ser:
z Indeterminado: quando não é possível identificar
o sujeito na oração, mas ainda sim está presente. z Aquilo que se declara a respeito do sujeito.
Encontra-se na 3ª pessoa do plural ou representa- Ex.: “A esposa e o amigo seguem sua marcha.”
do por um índice de indeterminação do sujeito, a (José de Alencar);
partícula “se”. Predicado: seguem sua marcha;
z Uma declaração que não se refere a nenhum sujei-
„ Colocando-se o verbo na 3ª pessoa do plural, to (oração sem sujeito):
não se referindo a nenhuma palavra determi- Ex.: Chove pouco nesta época do ano;
nada no contexto. Predicado: Chove pouco nesta época do ano.
Ex.: Passaram cedo por aqui, hoje.
Entende-se que alguém passou cedo; Para determinar o predicado, basta separar o
„ Colocando-se verbos sem complemento direto sujeito. Ocorrendo uma oração sem sujeito, o predica-
(intransitivos, transitivos diretos ou de ligação) do abrangerá toda a declaração. A presença do verbo
na 3ª pessoa do singular acompanhados do pro- é obrigatória, seja de forma explícita ou implícita:
nome se, que atua como índice de indetermina- Ex.: “Nossos bosques têm mais vidas.” (Gonçalves
ção do sujeito. Dias)
Ex.: Não se vê com a neblina. Sujeito: Nossos bosques. Predicado: têm mais vida.
Entende-se que ninguém consegue ver nessa Ex.: “Nossa vida mais amores”. (Gonçalves Dias)
50 condição. Sujeito: Nossa vida. Predicado: mais amores.
Classificação do Predicado z Verbo transitivo direto e indireto (VTDI): é o
verbo de sentido incompleto que exige dois com-
A classificação do predicado depende do significa- plementos: objeto direto (sem preposição) e objeto
do e do tipo de verbo que apresenta. indireto (com preposição).
Ex.: “Ela contava-lhe anedotas, e pedia-lhe ou-
z Predicado nominal: ocorre quando o núcleo sig- tras.” (Machado de Assis)
nificativo se concentra em um nome (corresponde Verbo transitivo direto e indireto 1: contava
a um predicativo do sujeito). Objeto direto 1: anedotas
O verbo deste tipo de oração é sempre de ligação. Objeto indireto 1: lhe
O predicado nominal tem por núcleo um nome Verbo transitivo direto e indireto 2: pedia
(substantivo, adjetivo ou pronome). Objeto direto 2: outras
Ex.: “Nossas flores são mais bonitas.” (Murilo Objeto indireto 2: lhe;
Mendes) z Verbo intransitivo (VI): É aquele capaz de cons-
Predicado: são mais bonitas. truir sozinho o predicado, que não precisa de com-
Ex.: “As estrelas estão cheias de calafrios.” (Olavo plementos verbais, sem prejudicar o sentido da
Bilac) oração.
Predicado: estão cheias de calafrios. Ex.: Escrevia tanto que os dedos adormeciam.
Verbo intransitivo: adormeciam.
É importante não confundir:
Predicado Verbo-Nominal
z Verbo de ligação: quando não exprime uma ação,
mas um estado momentâneo ou permanente que Ocorre quando há dois núcleos significativos:
relaciona o sujeito ao restante do predicado, que é um verbo nocional (intransitivo ou transitivo) e um
o predicativo do sujeito; nome (predicativo do sujeito ou, em caso de verbo
z Predicativo do sujeito: função exercida por subs- transitivo, predicativo do objeto).
tantivo, adjetivo, pronomes e locuções que atri- Ex.: “O homem parou atento.” (Murilo Mendes)
buem uma condição ou qualidade ao sujeito. Verbo intransitivo: parou
Ex.: O garoto está bastante feliz. Predicativo do sujeito: atento
Verbo de ligação: está. Repare que no primeiro exemplo o termo “atento”
Predicativo do sujeito: bastante feliz. está caracterizando o sujeito “O homem” e, por isso, é
Ex.: Seu batom é muito forte. considerado predicativo do sujeito.
Verbo de ligação: é. Ex.: “Fabiano marchou desorientado.” (Olavo
Predicativo do sujeito: muito forte. Bilac)
Verbo intransitivo: marchou
Predicado Verbal Predicativo do sujeito: desorientado
No segundo exemplo, o termo “desorientado” indi-
ca um estado do termo “Fabiano”, que também é sujei-
Ocorre quando há dois núcleos significativos: um
to. Temos mais um caso de predicativo do sujeito.
verbo (transitivo ou intransitivo) e um nome (predi-
Ex.: “Ptolomeu achou o raciocínio exato.” (Macha-
cativo do sujeito ou, em caso transitivo, predicativo do
do de Assis)
objeto). Da natureza desse verbo é que decorrem os
Verbo transitivo direto: achou
demais termos do predicado.
Objeto direto: o raciocínio
O verbo do predicado pode ser classificado em
Predicativo do objeto: exato
transitivo direto, transitivo indireto, verbo transi-
No terceiro exemplo, o termo “exato” caracteriza
tivo direto e indireto ou verbo intransitivo.
um julgamento relacionado ao termo “o raciocínio”,
que é o objeto direto dessa oração. Com isso, podemos
z Verbo transitivo direto (VTD): é o verbo que exi-
concluir que temos um caso de predicativo do obje-
ge um complemento não preposicionado, o objeto
to, visto que “exato” não se liga a “Ptolomeu”, que é
direto.
o sujeito.
Ex.: “Fazer sambas lá na vila é um brinquedo.”
O que é o predicativo do objeto?
Noel Rosa
É o termo que confere uma característica, uma
Verbo Transitivo Direto: Fazer.
qualidade, ao que se refere.
Ex.: Ele trouxe os livros ontem. A formação do predicativo do objeto se dá por um
Verbo Transitivo Direto: trouxe; adjetivo ou por um substantivo.
z Verbo transitivo indireto (VTI): o verbo transiti- Ex.: Consideramos o filme proveitoso.
LÍNGUA PORTUGUESA

vo indireto tem como necessidade o complemen- Predicativo do objeto: proveitoso


to acompanhado de uma preposição para fazer Ex.: Chamavam-lhe vitoriosa, pelas conquistas.
sentido. Predicativo do objeto: vitoriosa
Ex.: Nós acreditamos em você. Para facilitar a identificação do predicativo do
Verbo transitivo indireto: acreditamos objeto, o recomendável é desdobrar a oração, acres-
Preposição: em centando-lhe um verbo de ligação, cuja função especí-
Ex.: Frida obedeceu aos seus pais. fica é relacionar o predicativo ao nome.
Verbo transitivo indireto: obedeceu O filme foi proveitoso.
Preposição: a (a + os) Ela era vitoriosa.
Ex.: Os professores concordaram com isso. Nessas duas últimas formas, os termos seriam pre-
Verbo transitivo indireto: concordaram dicativos do sujeito, pois são precedidos de verbos de
Preposição: com; ligação (foi e era, respectivamente). 51
TERMOS INTEGRANTES DA ORAÇÃO Eu detesto mais a estes filmes do que àqueles.
No caso “Você bebeu dessa água?”, a forma “des-
São vocábulos que se agregam a determinadas sa” (preposição de + pronome essa) precisa estar pre-
estruturas para torná-las completas. De acordo com sente para indicar parte de um todo, quando assim
a gramática da língua portuguesa, esses termos são for o contexto de uso. Logo, a pergunta é se a pessoa
divididos em: bebeu uma porção da água, e não ela toda.

Complementos Verbais z Objeto direto pleonástico: É a dupla ocorrência


dessa função sintática na mesma oração, a fim de
São termos que completam o sentido de verbos enfatizar um único significado.
transitivos diretos e transitivos indiretos. Ex.: “Eu não te engano a ti”. (Carlos Drummond de
Andrade);
z Objeto direto: revela o alvo da ação. Não é acom- z Objeto direto interno: Representado por palavra
panhado de preposição. que tem o mesmo radical do verbo ou apresenta
Ex.: Examinei o relógio de pulso. mesmo significado.
Gostaria de vê-lo no topo do mundo. Ex.: Riu um riso aterrador.
O técnico convocou somente os do Brasil. (os = Dormiu o sono dos justos.
aqueles).
Como diferenciar objeto direto de sujeito?
Pronomes e sua Relação com o Objeto Direto Já começaram os jogos da seleção. (sujeito)
Ignoraram os jogos da seleção. (objeto direto)
Além dos pronomes oblíquos o(s), a(s) e suas O objeto direto pode ser passado para a voz passi-
variações lo(s), la(s), no(s), na(s), que quase sempre va analítica e se transforma em sujeito.
exercem função de objeto direto, os pronomes oblí- Os jogos da seleção foram ignorados.
quos me, te, se, nos, vos também podem exercer essa
função sintática. z Objeto indireto: É complemento verbal regido de
Ex.: Levou-me à sabedoria esta aula. (= “Levaram preposição obrigatória, que se liga diretamente a
quem? A minha pessoa”) verbos transitivos indiretos e diretos. Representa
Nunca vos tomeis como grandes personalidades. o ser beneficiado ou o alvo de uma ação.
(= “Nunca tomeis quem? Vós”) Ex.: Por favor, entregue a carta ao proprietário da
Convidaram-na para o almoço de despedida. (= casa 260.
“Convidaram quem? Ela”)
Gosto de ti, meu nobre.
Depois de terem nos recebido, abriram a caixa. (=
Não troque o certo pelo duvidoso.
“Receberam quem? Nós”)
Vamos insistir em promover o novo romance de
Os pronomes demonstrativos o, a, os, as podem
ficção;
ser objetos diretos. Normalmente, aparecem antes do
pronome relativo que.
z Objeto indireto e o uso de pronomes pessoais
Ex.: Escuta o que eu tenho a dizer. (Escuta algo:
esse algo é o objeto direto)
Observe bem a que ele mostrar. (a = pronome Pode ser representado pelos seguintes pronomes
feminino definido) oblíquos átonos: me, te, se, no, vos, lhe, lhes. Os pro-
nomes o, a, os, as não exercerão essa função.
z Objeto direto preposicionado Ex.: Mostre-lhe onde fica o banheiro, por favor.
Todos os pronomes oblíquos tônicos (me, mim,
Mesmo que o verbo transitivo direto não exija comigo, te, ti, contigo) podem funcionar como objeto
preposição no seu complemento, algumas palavras indireto, já que sempre ocorrem com preposição.
requerem o uso da preposição para não perder o sen- Ex.: Você escreveu esta carta para mim?
tido de “alvo” do sujeito.
Além disso, há alguns casos obrigatórios e outros z Objeto indireto pleonástico: Ocorrência repetida
facultativos. dessa função sintática com o objetivo de enfatizar
uma mensagem.
Exemplos com Ocorrência Obrigatória de Preposição Ex.: A ele, sem reservas, supliquei-lhe ajuda.

Não entendo nem a ele nem a ti. COMPLEMENTO NOMINAL


Respeitava-se aos mais antigos.
Ali estava o artista a quem nosso amigo idolatrava. Completa o sentido de substantivos, adjetivos e
Amavam-se um ao outro. advérbios. É uma função sintática regida de preposi-
“Olho Gabriela como a uma criança, e não mulher ção e com objetivo de completar o sentido de nomes. A
feita.” (Ciro dos Anjos). presença de um complemento nominal nos contextos
de uso é fundamental para o esclarecimento do senti-
Exemplos com Ocorrência Facultativa de Preposição do do nome.
Ex.: Tenho certeza de que tu serás aprovado.
Eles amam a Deus, assim diziam as pessoas daque- Estou longe de casa e tão perto do paraíso.
le templo. Para melhor identificar um complemento nomi-
A escultura atrai a todos os visitantes. nal, siga a instrução:
Não admito que coloquem a Sua Excelência num Nome + preposição + quem ou quê
pedestal. Como diferenciar complemento nominal de com-
52 Ao povo ninguém engana. plemento verbal?
Ex.: Naquela época, só obedecia ao meu coração. Adjunto Adverbial
(complemento verbal, pois “ao meu coração” liga-se
diretamente ao verbo “obedecia”) Termo representado por advérbios, locuções
Naquela época, a obediência ao meu coração pre- adverbiais ou adjetivos com valor adverbial. Relacio-
valecia. (complemento nominal, pois “ao meu cora- na-se ao verbo ou a toda oração para indicar variadas
ção” liga-se diretamente ao nome “obediência”). circunstâncias.

Agente da Passiva z Tempo: Quero que ele venha logo;


z Lugar: A dança alegre se espalhou na avenida;
É o complemento de um verbo na voz passiva ana- z Modo: O dia começou alegremente;
lítica. Sempre é precedido da preposição por, e, mais z Intensidade: Almoçou pouco;
raramente, da preposição de. z Causa: Ela tremia de frio;
Forma-se essencialmente pelos verbos auxiliares z Companhia: Venha jantar comigo;
ser, estar, viver, andar, ficar.
z Instrumento: Com a máquina, conseguiu lavar as
roupas;
Termos Acessórios da Oração z Dúvida: Talvez ele chegue mais cedo;
z Finalidade: Vivia para o trabalho;
Há termos que, apesar de dispensáveis na estrutu- z Meio: Viajou de avião devido à rapidez;
ra básica da oração, são importantes para compreen-
z Assunto: Falávamos sobre o aluguel;
são do enunciado porque trazem informações novas.
z Negação: Não permitirei que permaneça aqui;
Esses termos são chamados acessórios da oração.
z Afirmação: Sairia sim naquela manhã;
z Origem: Descendia de nobres.
Adjunto Adnominal
Não confunda!
São termos que acompanham o substantivo,
núcleo de outra função, para qualificar, quantificar, Para conseguir distinguir adjunto adverbial de
especificar o elemento representado pelo substantivo. adjunto adnominal, basta saber se o termo relacio-
Categorias morfológicas que podem funcionar nado ao adjunto é um verbo ou um nome, mesmo que
como adjunto adnominal: o sentido seja parecido.
Ex.: Descendência de nobres. (O “de nobres” aqui
z Artigos; é um adjunto adnominal)
z Adjetivos; Descendia de nobres. (O “de nobres” aqui é um
z Numerais; adjunto adverbial)
z Pronomes;
z Locuções adjetivas. Aposto

Ex.: Aqueles dois antigos soldadinhos de chumbo Estruturas relacionadas a substantivos, pronomes
ficaram esquecidos no quarto. ou orações. O aposto tem como propósito explicar,
Iam cheios de si. identificar, esclarecer, especificar, comentar ou apon-
Estava conquistando o respeito dos seus. tar algo, alguém ou um fato.
O novo regulamento originou a revolta dos fun- Ex.: Renata, filha de D. Raimunda, comprou uma
cionários. bicicleta.
O doutor possuía mil lembranças de suas viagens. Aposto: filha de D. Raimunda
Ex.: O escritor Machado de Assis escreveu gran-
z Pronomes oblíquos átonos e a função de ajunto des obras.
adnominal: os pronomes me, te, lhe, nos, vos, lhes Aposto: Machado de Assis.
exercem essa função sintática quando assumem Classifica-se nas seguintes categorias:
valor de pronomes possessivos
Ex.: Puxaram-me o cabelo (Puxam meu cabelo); z Explicativo: usado para explicar o termo anterior.
z Como diferenciar adjunto adnominal de com- Separa-se do substantivo a que se refere por uma
plemento nominal?
pausa, marcada na escrita por vírgulas, travessões
ou dois-pontos.
Quando o adjunto adnominal for representado
Ex.: As filhas gêmeas de Ana, que aniversariaram
por uma locução adjetiva, ele pode ser confundido
ontem, acabaram de voltar de férias.
com complemento nominal. Para diferenciá-los, siga
Jéssica, uma ótima pessoa, conseguiu apoio de
a dica:
todos;
LÍNGUA PORTUGUESA

� Enumerativo: usado para desenvolver ideias que


„ Será adjunto adnominal: se o substantivo ao
foram resumidas ou abreviadas em um termo
qual se liga for concreto.
Ex.: A casa da idosa desapareceu. anterior. Mostra os elementos contidos em um só
Se indicar posse ou o agente daquilo que termo.
expressa o substantivo abstrato. Ex.: Víamos somente isto: vales, montanhas e
Ex.: A preferência do grupo não foi respeitada; riachos.
„ Será complemento nominal: se indicar o alvo Apenas três coisas me tiravam do sério, a saber,
daquilo que expressa o substantivo. preconceito, antipatia e arrogância;
Ex.: A preferência pelos novos alojamentos não z Recapitulativo ou resumidor: É o termo usado
foi respeitada. para resumir termos anteriores. É expresso, nor-
Notava-se o amor pelo seu trabalho. malmente, por um pronome indefinido.
Se vier ligado a um adjetivo ou a um advérbio: Ex.: Os professores, coordenadores, alunos, todos
Ex.: Manteve-se firme em seus objetivos. estavam empolgados com a feira. 53
Irei a Moçambique, Cabo Verde, Angola e Guiné- Vocativo
-Bissau, países africanos onde se fala português;
� Comparativo: Estabelece uma comparação O vocativo é um termo que não mantém relação
implícita. sintática com outro termo dentro da oração. Não per-
Ex.: Meu coração, uma nau ao vento, está sem tence nem ao sujeito, nem ao predicado. É usado para
rumo; chamar ou interpelar a pessoa que o enunciador dese-
� Circunstancial: Exprime uma característica ja se comunicar. É um termo independente, pois
circunstancial. não faz parte da estrutura da oração.
Ex.: No inverno, busquemos sair com roupas Ex.: Recepcionista, por favor, agende minha
consulta.
apropriadas;
Ela te diz isso desde ontem, Fábio.
� Especificativo: É o aposto que aparece junto a um
substantivo de sentido genérico, sem pausa, para
z Para distinguir vocativo de aposto: o vocati-
especificá-lo ou individualizá-lo. É constituído por
vo não se relaciona sintaticamente com nenhum
substantivos próprios. outro termo da oração.
Exs.: O mês de abril. Ex.: Lufe, faz um almoço gostoso para as crianças.
O rio Amazonas. O aposto se relaciona sintaticamente com outro
Meu primo José; termo da oração.
z Aposto da oração: É um comentário sobre o A cozinha de Lufe, cozinheiro da família, é impe-
fato expresso pela oração, ou uma palavra que cável.
condensa. Sujeito: a cozinha de lufe.
Ex.: Após a notícia, ficou calado, sinal de sua preo- Aposto: cozinheiro da família (relaciona-se ao
cupação. sujeito).
O noticiário disse que amanhã fará muito calor –
ideia que não me agrada; RELAÇÕES DE COORDENAÇÃO ENTRE ORAÇÕES E
� Distributivo: Dispõe os elementos equitativamente. ENTRE TERMOS DA ORAÇÃO
Ex.: Separe duas folhas: uma para o texto e outra
para as perguntas. Período Composto
Sua presença era inesperada, o que causou
surpresa. Observe os exemplos a seguir:
A apostila de Português está completa.
Um verbo: Uma oração = período simples
Dica Português e Matemática são disciplinas essen-
� O aposto pode aparecer antes do termo a que ciais para ser aprovado em concursos.
se refere, normalmente antes do sujeito. Dois verbos: duas orações = período composto
O período composto é formado por duas ou mais
Ex.: Maior piloto de todos os tempos, Ayrton
orações. Num parágrafo, podem aparecer misturado
Senna marcou uma geração. períodos simples e período compostos.
� Segundo o gramático Cegalla, quando o apos-
to se refere a um termo preposicionado, pode ele
vir igualmente preposicionado. PERÍODO SIMPLES PERÍODO COMPOSTO
Ex.: De cobras, (de) morcegos, (de) bichos, de O povo levantou-se cedo
tudo ele tinha medo. Era dia de eleição
para evitar aglomeração
� O aposto pode ter núcleo adjetivo ou adverbial.
Ex.: Tuas pestanas eram assim: frias e curvas. Para não esquecer:
(adjetivos, apostos do predicativo do sujeito) Período simples é aquele formado por uma só
Falou comigo deste modo: calma e maliciosa- oração.
mente. (advérbios, aposto do adjunto adverbial Período composto é aquele formado por duas ou
de modo). mais orações.
Classifica-se nas seguintes categorias:
z Diferença de aposto especificativo e adjunto
adnominal: Normalmente, é possível retirar a z Por coordenação: orações coordenadas assindé-
preposição que precede o aposto. Caso seja um ticas;
adjunto, se for retirada a preposição, a estrutura
fica prejudicada. „ Orações coordenadas sindéticas: aditi-
vas, adversativas, alternativas, conclusivas,
Ex.: A cidade Fortaleza é quente.
explicativas.
(aposto especificativo / Fortaleza é uma cidade)
O clima de Fortaleza é quente.
z Por subordinação:
(adjunto adnominal / Fortaleza é um clima?);
z Diferença de aposto e predicativo do sujeito: O
„ Orações subordinadas substantivas: subjeti-
aposto não pode ser um adjetivo nem ter núcleo vas, objetivas diretas, objetivas indiretas, com-
adjetivo. pletivas nominais, predicativas, apositivas;
Ex.: Muito desesperado, João perdeu o controle. „ Orações subordinadas adjetivas: restritivas,
(predicativo do sujeito; núcleo: desesperado – ad- explicativas;
jetivo) „ Orações subordinadas adverbiais: causais,
Homem desesperado, João sempre perde o con- comparativas, concessivas, condicionais, con-
trole. formativas, consecutivas, finais, proporcionais,
54 (aposto; núcleo: homem – substantivo). temporais.
z Por coordenação e subordinação: orações for- RELAÇÕES DE SUBORDINAÇÃO ENTRE ORAÇÕES E
madas por períodos mistos; ENTRE TERMOS DA ORAÇÃO
z Orações reduzidas: de gerúndio e de infinitivo.
Período Composto por Subordinação
Período Composto por Coordenação
Formado por orações sintaticamente dependentes,
As orações são sintaticamente independentes. Isso considerando a função sintática em relação a um ver-
significa que uma não possui relação sintática com ver- bo, nome ou pronome de outra oração.
bos, nomes ou pronomes das demais orações no período. Tipos de orações subordinadas:
Ex.: “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.”
(Fernando Pessoa) z Substantivas;
Oração coordenada 1: Deus quer z Adjetivas;
Oração coordenada 2: o homem sonha z Adverbiais.
Oração coordenada 3: a obra nasce.
Ex.: “Subi devagarinho, colei o ouvido à porta da Orações Subordinadas Substantivas
sala de Damasceno, mas nada ouvi.” (M. de Assis)
Oração coordenada assindética: Subi devagarinho
São classificadas nas seguintes categorias:
Oração coordenada assindética: colei o ouvido à
porta da sala de Damasceno
z Orações subordinadas substantivas conectivas:
Oração coordenada sindética: mas nada ouvi
são introduzidas pelas conjunções subordinativas
Conjunção adversativa: mas nada
integrantes que e se.
Ex.: Dizem que haverá novos aumentos de
Orações Coordenadas Sindéticas
impostos.
Não sei se poderei sair hoje à noite;
As orações coordenadas podem aparecer ligadas
z Orações subordinadas substantivas justapos-
às outras através de um conectivo (elo), ou seja, atra-
tas: introduzidas por advérbios ou pronomes
vés de um síndeto, de uma conjunção, por isso o nome
sindética. Veremos agora cada uma delas: interrogativos (onde, como, quando, quanto,
quem etc.);
z Aditivas: exprimem ideia de sucessibilidade ou z Ex.: Ignora-se onde eles esconderam as joias
simultaneidade. roubadas.
Conjunções constitutivas: e, nem, mas, mas tam- Não sei quem lhe disse tamanha mentira;
bém, mas ainda, bem como, como também, se- z Orações subordinadas substantivas reduzidas:
não também, que (= e). não são introduzidas por conectivo, e o verbo fica
Ex.: Pedro casou-se e teve quatro filhos. no infinitivo.
Os convidados não compareceram nem explica- Ex.: Ele afirmou desconhecer estas regras;
ram o motivo; z Orações subordinadas substantivas subjetivas:
exercem a função de sujeito. O verbo da oração
z Adversativas: exprimem ideia de oposição, con- principal deve vir na voz ativa, passiva analítica
traste ou ressalva em relação ao fato anterior. ou sintética. Em 3ª pessoa do singular, sem se refe-
Conjunções constitutivas: mas, porém, todavia, rir a nenhum termo na oração.
contudo, entretanto, no entanto, senão, não obs- Ex.: Foi importante o seu regresso. (sujeito)
tante, ao passo que, apesar disso, em todo caso. Foi importante que você regressasse. (sujeito ora-
Ex.: Ele é rico, mas não paga as dívidas. cional) (or. sub. subst. subje.);
“A morte é dura, porém longe da pátria é dupla a
z Orações subordinadas substantivas objetivas
morte.” (Laurindo Rabelo);
diretas: exercem a função de objeto direto de um
z Alternativas: exprimem fatos que se alternam ou
verbo transitivo direto ou transitivo direto e indi-
se excluem.
reto da oração principal.
Conjunções constitutivas: (ou), (ou ... ou), (ora ...
Ex.: Desejo o seu regresso. (OD)
ora), (que ... quer), (seja ... seja), (já ... já), (talvez
Desejo que você regresse. (OD oracional) (or. sub.
... talvez).
subst. obj. dir.);
Ex.: Ora responde, ora fica calado.
Você quer suco de laranja ou refrigerante? z Orações subordinadas substantivas completi-
z Conclusivas: exprimem uma conclusão lógica vas nominais: exercem a função de complemento
sobre um raciocínio. nominal de um substantivo, adjetivo ou advérbio
Conjunções constitutivas: logo, portanto, por con- da oração principal.
Ex.: Tenho necessidade de seu apoio. (comple-
LÍNGUA PORTUGUESA

seguinte, pois isso, pois (o “pois” sem ser no início


de frase). mento nominal)
Ex.: Estou recuperada, portanto viajarei próxima Tenho necessidade de que você me apoie. (com-
semana. plemento nominal oracional) (or. sub. subst. com-
“Era domingo; eu nada tinha, pois, a fazer.” (Paulo pl. nom.);
Mendes Campos); z Orações subordinadas substantivas predicati-
z Explicativas: justificam uma opinião ou ordem vas: funcionam como predicativos do sujeito da
expressa. Conjunções constitutivas: que, porque, oração principal. Sempre figuram após o verbo de
porquanto, pois. ligação ser.
Ex.: Vamos dormir, que é tarde. (o “que” equivale Ex.: Meu desejo é a sua felicidade. (predicativo do
a “pois”) sujeito)
Vamos almoçar de novo porque ainda estamos Meu desejo é que você seja feliz. (predicativo do
com fome. sujeito oracional) (or. sub. subst. predic.); 55
z Orações subordinadas substantivas apositivas: „ Orações subordinadas adverbiais conforma-
funcionam como aposto. Geralmente vêm depois tivas: são introduzidas por: como, conforme,
de dois-pontos ou entre vírgulas. segundo, consoante. Ex.: Ele deverá agir con-
Ex.: Só quero uma coisa: a sua volta imediata. forme combinamos;
(aposto) „ Orações subordinadas adverbiais consecu-
Só quero uma coisa: que você volte imediata-
tivas: são introduzidas por: que (precedido na
mente. (aposto oracional) (or. sub. aposi.);
oração anterior de termos intensivos como tão,
z Orações subordinadas adjetivas: desempenham
função de adjetivo (adjunto adnominal ou, mais tanto, tamanho etc.) de sorte que, de modo que,
raramente, aposto explicativo). São introduzidas de forma que, sem que. Ex.: A garota riu tanto,
por pronomes relativos (que, o qual, a qual, os que se engasgou;
quais, as quais, cujo, cuja, cujos, cujas etc.) As „ “Achei as rosas mais belas do que nunca, e tão
orações subordinadas adjetivas classificam-se em: perfumadas que me estontearam.” (Cecília
explicativas e restritivas; Meireles);
z Orações subordinadas adjetivas explicativas: „ Orações subordinadas adverbiais finais:
não limitam o termo antecedente, e sim acrescen- indicam um objetivo a ser alcançado. São intro-
tam uma explicação sobre o termo antecedente. duzidas por: para que, a fim de que, porque e
São consideradas termo acessório no período, que (= para que) Ex.: O pai sempre trabalhou
podendo ser suprimidas. Sempre aparecem isola-
para que os filhos tivessem bom estudo;
das por vírgulas.
„ Orações subordinadas adverbiais propor-
Ex.: Minha mãe, que é apaixonada por bichos,
cria trinta gatos; cionais: são introduzidas por: à medida que,
z Orações subordinadas adjetivas restritivas: à proporção que, quanto mais, quanto menos
especificam ou limitam a significação do termo etc. Ex.: Quanto mais ouço essa música, mas
antecedente, acrescentando-lhe um elemento a aprecio;
indispensável ao sentido. Não são isoladas por „ Orações subordinadas adverbiais tempo-
vírgulas. rais: são introduzidas por: quando, enquanto,
Ex.: A doença que surgiu recentemente ainda é logo que, depois que, assim que, sempre que,
incurável; cada vez que, agora que etc. Ex.: Assim que
você sair, feche a porta, por favor.
Dica
Como diferenciar as orações subordinadas adje- Para separar as orações de um período composto, é
tivas restritivas das orações subordinadas adje- necessário atentar-se para dois elementos fundamen-
tivas explicativas? tais: os verbos (ou locuções verbais) e os conectivos
Ele visitará o irmão que mora em Recife. (conjunções ou pronomes relativos). Após assinalar
(restritiva, pois ele tem mais de um irmão e vai esses elementos, deve-se contar quantas orações ele
visitar apenas o que mora em Recife) representa, a partir da quantidade de verbos ou locu-
Ele visitará o irmão, que mora em Recife. ções verbais. Exs.:
(explicativa, pois ele tem apenas um irmão que [“A recordação de uns simples olhos basta] – 1ª
mora em Recife) oração
[para fixar outros] – 2ª oração
� Orações subordinadas adverbiais: exprimem [que os rodeiam] – 3ª oração
uma circunstância relativa a um fato expresso em [e se deleitem com a imaginação deles]. – 4ª ora-
outra oração. Têm função de adjunto adverbial. ção (M. de Assis)
São introduzidas por conjunções subordinativas Nesse período, a 2ª oração subordina-se ao verbo
(exceto as integrantes) e se enquadram nos seguin- basta, pertencente à 1ª (oração principal).
tes grupos: A 3ª e a 4ª são orações coordenadas entre si, porém
ambas dependentes do pronome outros, da 2ª oração.
„ Orações subordinadas adverbiais causais:
são introduzidas por: como, já que, uma vez
Orações Reduzidas
que, porque, visto que etc. Ex.: Caminhamos o
restante do caminho a pé porque ficamos sem
gasolina; z Apresentam o mesmo verbo em uma das formas
„ Orações subordinadas adverbiais compa- nominais (gerúndio, particípio e infinitivo);
rativas: são introduzidas por: como, assim z As que são substantivas e adverbiais: nunca são
como, tal qual, como, mais etc. Ex.: A cerve- iniciadas por conjunções;
ja nacional é menos concentrada (do) que a z As que são adjetivas: nunca podem ser iniciadas
importada; por pronomes relativos;
„ Orações subordinadas adverbiais concessi- z Podem ser reescritas (desenvolvidas) com esses
vas: indica certo obstáculo em relação ao fato conectivos;
expresso na outra oração, sem, contudo, impe- z Podem ser iniciadas por preposição ou locução
di-lo. São introduzidas por: embora, ainda que,
prepositiva.
mesmo que, por mais que, se bem que etc. Ex.:
Ex.: Terminada a prova, fomos ao restaurante;
Mesmo que chova, iremos à praia amanhã;
„ Orações subordinadas adverbiais condicio- z O. S. Adv. reduzida de particípio: não começa com
nais: são introduzidas por: se, caso, desde que, conjunção.
salvo se, contanto que, a menos que etc. Ex.: Ex.: Quando terminou a prova, fomos ao restau-
Você terá sucesso desde que se esforce para rante. (desenvolvida).
56 tal; z O. S. Adv. Desenvolvida: começa com conjunção.
Orações Reduzidas de Infinitivo
1ª oração 2ª oração 3ª oração
Podem ser substantivas, adjetivas ou adverbiais. O homem entrou na que todos
Se o infinitivo for pessoal, irá flexionar normalmente. e pediu
sala calassem

z Substantivas: Ex.: É preciso trabalhar muito. (O. verbo verbo verbo


S. substantiva subjetiva reduzida de infinitivo)
Deixe o aluno pensar. (O. S. substantiva objetiva 1ª oração: oração coordenada assindética.
direta reduzida de infinitivo) 2ª oração: oração coordenada sindética aditiva em
A melhor política é ser honesto. (O. S. substantiva relação à 1ª oração e principal em relação à 3ª oração.
predicativa reduzida de infinitivo) 3ª oração: coordenada substantiva objetiva direta
Este é um difícil livro de se ler. (O. S. substantiva em relação à 2ª oração.
completiva nominal reduzida de infinitivo)
Resumindo: período composto por coordenação e
Temos uma missão: subir aquela escada. (O. S.
subordinação.
substantiva apositiva reduzida de infinitivo);
As orações subordinadas são coordenadas entre si,
z Adjetivas: Ex.: João não é homem de meter os pés
pelas mãos. ligadas ou não por conjunção.
O meu manual para fazer bolos certamente vai
agradar a todos; z Orações subordinadas substantivas coordena-
z Adverbiais: Ex.: Apesar de estar machucado, das entre si
continua jogando bola. Ex.: Espero que você não me culpe, que não culpe
Sem estudar, não passarão. meus pais, nem que culpe meus parentes.
Ele passou mal, de tanto comer doces. Oração principal: Espero.
Oração coordenada 1: que você não me culpe.
Orações Reduzidas de Gerúndio Oração coordenada 2: que não culpe meus pais.
Oração coordenada 3: nem que culpe meus
Podem ser coordenadas aditivas, substantivas apo- parentes.
sitivas, adjetivas, adverbiais.

z Coordenada aditiva: Ex.: Pagou a conta, ficando Importante!


livre dos juros;
z Substantiva apositiva: Ex.: Não mais se vê amigo O segredo para classificar as orações é per-
ajudando um ao outro. (subjetiva); ceber os conectivos (conjunções e pronomes
z Agora ouvimos artistas cantando no shopping. relativos).
(objetiva direta);
z Adjetiva: Ex.: Criança pedindo esmola dói o
coração; � Orações subordinadas adjetivas coordenadas
z Adverbial: Ex.: Temendo a reação do pai, não entre si
contou a verdade. Ex.: A mulher que é compreensiva, mas que é
cautelosa, não faz tudo sozinha.
Orações Reduzidas de Particípio Oração subordinada adjetiva 1: que é compreensiva
Oração subordinada adjetiva 2: mas que é
Podem ser adjetivas ou adverbiais. cautelosa;

� Adjetiva: Ex.: A notícia divulgada pela mídia era � Orações subordinadas adverbiais coordenadas
falsa. entre si
Nosso planeta, ameaçado constantemente por Ex.: Não só quando estou presente, mas também
nós mesmos, ainda resiste; quando não estou, sou discriminado.
� Adverbiais: Ex.: Aceitas as condições, não have- Oração subordinada adverbial 1: quando estou
ria problemas. (condicional) presente
Dada a notícia da herança, as brigas começaram. Oração subordinada adverbial 2: quando não
(causal/temporal) estou;
Comprada a casa, a família se mudou logo. � Orações coordenadas ou subordinadas no mes-
(temporal). mo período
LÍNGUA PORTUGUESA

Ex.: Presume-se que as penitenciárias cumpram


O particípio concorda em gênero e número com os
seu papel, no entanto a realidade não é assim.
termos referentes.
Oração principal: Presume-se
Essas orações reduzidas adverbiais são bem fre-
quentes em provas de concurso. Oração subordinada subjetiva da principal: as
penitenciárias cumpram seu papel
Períodos Mistos Oração coordenada sindética adversativa da ante-
rior: no entanto a realidade não é assim.
São períodos que apresentam estruturas oracio-
nais de coordenação e subordinação. EMPREGO DOS SINAIS DE PONTUAÇÃO
Assim, às vezes aparecem orações coordenadas
dentro de um conjunto de orações que são subordina- Um tópico que gera dúvidas é a pontuação. Vere-
das a uma oração principal. mos a seguir as regras sobre seus usos. 57
USO DE VÍRGULA USO DE PONTO E VÍRGULA

A vírgula é um sinal de pontuação que exerce três É empregado nos seguintes casos o sinal de ponto
funções básicas: marcar as pausas e as inflexões da e vírgula (;):
voz na leitura; enfatizar e/ou separar expressões e
orações; e esclarecer o significado da frase, afastando � Nos contrastes, nas oposições, nas ressalvas
qualquer ambiguidade. Ex.: Ela, quando viu, ficou feliz; ele, quando a viu,
Quando se trata de separar termos de uma mesma ficou triste;
oração, deve-se usar a vírgula nos seguintes casos: � No lugar das conjunções coordenativas deslocadas
Ex.: O maratonista correu bastante; ficou, portan-
� Para separar os termos de mesma função to, exausto;
Ex.: Comprei livro, caderno, lápis, caneta; � No lugar do e seguido de elipse do verbo (= zeugma)
z Usa-se a vírgula para separar os elementos de Ex.: Na linguagem escrita é o leitor; na fala, o
enumeração ouvinte.
Ex.: Pontes, edifícios, caminhões, árvores... tudo foi Prefiro brigadeiros; minha mãe, pudim; meu pai,
arrastado pelo tsunami; sorvete;
� Para indicar a elipse (omissão de uma palavra que � Em enumerações, portarias, sequências
já apareceu na frase) do verbo Ex.: São órgãos do Ministério Público Federal:
o Procurador-Geral da República;
Ex.: Comprei melancia na feira; ele, abacate.
o Colégio de Procuradores da República;
Ela prefere filmes de ficção científica; o namorado,
o Conselho Superior do Ministério Público Federal.
filmes de terror;
� Para separar palavras ou locuções explicativas,
DOIS-PONTOS
retificativas
Ex.: Ela completou quinze primaveras, ou seja, 15
Marcam uma supressão de voz em frase que ainda
anos;
não foi concluída. Servem para:
� Para separar datas e nomes de lugar
Ex.: Belo Horizonte, 15 de abril de 1985;
� Introduzir uma citação (discurso direto)
� Para separar as conjunções coordenativas, exceto Ex.: Assim disse Voltaire: “Devemos julgar um
e, nem, ou homem mais pelas suas perguntas que pelas suas
Ex.: Treinou muito, portanto se saiu bem. respostas”;
� Introduzir um aposto explicativo, enumerativo,
A vírgula também é facultativa quando o termo distributivo ou uma oração subordinada substan-
que exprime ideia de tempo, modo e lugar não for tiva apositiva
uma locução adverbial, mas um advérbio. Exemplos: Ex.: Em nosso meio, há bons profissionais: profes-
Antes vamos conversar. / Antes, vamos conversar. sores, jornalistas, médicos;
Geralmente almoço em casa. / Geralmente, almoço � Introduzir uma explicação ou enumeração após
em casa. expressões como por exemplo, isto é, ou seja, a
Ontem choveu o esperado para o mês todo. / saber, como
Ontem, choveu o esperado para o mês todo. Ex.: Adquirimos vários saberes, como: Linguagens,
Filosofia, Ciências...;
z Marcar uma pausa entre orações coordenadas
Não se Usa Vírgula nas Seguintes Situações
(relação semântica de oposição, explicação/causa
ou consequência)
� Entre o sujeito e o verbo
Ex.: Já leu muitos livros: pode-se dizer que é um
Ex.: Todos os alunos daquele professor, entende-
homem culto.
ram a explicação. (errado)
Precisamos ousar na vida: devemos fazê-lo com
Muitas coisas que quebraram meu coração, con-
cautela;
sertaram minha visão. (errado); � Marcar invocação em correspondências
� Entre o verbo e seu complemento, ou mesmo pre- Ex.: Prezados senhores:
dicativo do sujeito Comunico, por meio deste, que...
Ex.: Os alunos ficaram, satisfeitos com a explica-
ção. (errado) TRAVESSÃO
Os alunos precisam de, que os professores os aju-
dem. (errado) � Usado em discursos diretos, indica a mudança de
Os alunos entenderam, toda aquela explicação. discurso de interlocutor: Ex.:
(errado); — Bom dia, Maria!
� Entre um substantivo e seu complemento nominal — Bom dia, Pedro!
ou adjunto adnominal � Serve também para colocar em relevo certas
Ex.: A manutenção, daquele professor foi exigida expressões, orações ou termos. Pode ser subs-
pelos alunos. (errado); tituído por vírgula, dois-pontos, parênteses ou
� Entre locução verbal de voz passiva e agente da colchetes:
passiva Ex.: Os professores ― amigos meus do curso cario-
Ex.: Todos os alunos foram convidados, por aquele ca ― vão fazer videoaulas. (aposto explicativo)
professor para a feira. (errado); Meninos ― pediu ela ―, vão lavar as mãos, que
� Entre o objeto e o predicativo do objeto vamos jantar. (oração intercalada)
Ex.: Considero suas aulas, interessantes. (errado) Como disse o poeta: “Só não se inventou a máqui-
58 Considero interessantes, as suas aulas. (errado). na de fazer versos ― já havia o poeta parnasiano”.
PARÊNTESES Ex.: ― Estou ciente de que...
― Pode dizer...
Têm função semelhante à dos travessões e das � Indicar partes suprimidas de um texto:
vírgulas no sentido que colocam em relevo certos ter- Ex.: Na hora em que entrou no quarto ... e depois
mos, expressões ou orações. desceu as escadas apressadamente. (Também pode
Ex.: Os professores (amigos meus do curso carioca) ser usado: Na hora em que entrou no quarto [...] e
vão fazer videoaulas. (aposto explicativo) depois desceu as escadas apressadamente.)
Meninos (pediu ela), vão lavar as mãos, que vamos � Para sugerir prolongamento da fala:
jantar. (oração intercalada) Ex.: ― O que vocês vão fazer nas férias?
― Ah, muitas coisas: dormir, nadar, pedalar...
PONTO-FINAL � Para indicar hesitação:
Ex.: ― Eu não a beijava porque... porque... tinha
É o sinal que denota maior pausa. Usa-se: vergonha.
� Para realçar uma palavra ou expressão, normal-
� Para indicar o fim de oração absoluta ou de mente com outras intenções:
período. Ex.: ― Ela é linda...! Você nem sabe como...!
Ex.: “Itabira é apenas uma fotografia na parede.”
Carlos Drummond de Andrade; USO DAS ASPAS
� Nas abreviaturas
Ex.: apart. ou apto. = apartamento. São usadas em citações ou em algum termo que
sec. = secretário. precisa ser destacado no texto. Podem ser substituí-
a.C. = antes de Cristo. das por itálico ou negrito, que têm a mesma função
de destaque.
Dica Usam-se nos seguintes casos:

Símbolos do sistema métrico decimal e elemen- � Antes e depois de citações:


tos químicos não vêm com ponto final: Ex.: “A vírgula é um calo no pé de todo mundo”,
Exemplos: km, m, cm, He, K, C afirma Dad Squarisi, 64;
� Para marcar estrangeirismos, neologismos, arcaís-
PONTO DE INTERROGAÇÃO mos, gírias e expressões populares ou vulgares,
conotativas:
Marca uma entonação ascendente (elevação da Ex.: O homem, “ledo” de paixão, não teve a fortuna
voz) em tom questionador. Usa-se: que desejava.
Não gosto de “pavonismos”.
� Em frase interrogativa direta: Dê um “up” no seu visual;
Ex.: O que você faria se só lhe restasse um dia? � Para realçar uma palavra ou expressão imprópria,
� Entre parênteses para indicar incerteza: às vezes com ironia ou malícia
Ex.: Eu disse a palavra peremptório (?), mas acho Ex.: Veja como ele é “educado”: cuspiu no chão.
que havia palavra melhor no contexto; Ele reagiu impulsivamente e lhe deu um “não”
� Junto com o ponto de exclamação, para denotar sonoro;
surpresa: � Para citar nomes de mídias, livros etc.
Ex.: Não conseguiu chegar ao local de prova?! (ou Ex.: Ouvi a notícia do “Jornal Nacional”.
!?);
� E interrogações retóricas: COLCHETES
Ex.: Jogaremos comida fora à toa? (Ou seja: “Claro
que não jogaremos comida fora à toa”). Representam uma variante dos parênteses, porém
têm uso mais restrito.
PONTO DE EXCLAMAÇÃO Usam-se nos seguintes casos:

� É empregado para marcar o fim de uma frase com � Para incluir num texto uma observação de nature-
entonação exclamativa: za elucidativa:
Ex.: Que linda mulher! Ex.: É de Stanislaw Ponte Preta [pseudônimo de
Coitada dessa criança! Sérgio Porto] a obra “Rosamundo e os outros”;
� Aparece após uma interjeição: � Para isolar o termo latino sic (que significa “assim”),
Ex.: Nossa! Isso é fantástico; a fim de indicar que, por mais estranho ou errado
� Usado para substituir vírgulas em vocativos
LÍNGUA PORTUGUESA

que pareça, o texto original é assim mesmo:


enfáticos: Ex.: “Era peior [sic] do que fazer-me esbirro aluga-
Ex.: “Fernando José! onde estava até esta hora?” do.” (Machado de Assis);
� É repetido duas ou mais vezes quando se quer � Para indicar os sons da fala, quando se estuda
marcar uma ênfase: Fonologia:
Ex.: Inacreditável!!! Atravessou a piscina de 50 Ex.: mel: [mɛw]; bem: [bẽy];
metros em 20 segundos!!! � Para suprimir parte de um texto (assim como
parênteses)
RETICÊNCIAS Ex.: Na hora em que entrou no quarto [...] e depois
desceu as escadas apressadamente. ou
São usadas para: Na hora em que entrou no quarto (...) e depois des-
ceu as escadas apressadamente. (caso não preferí-
� Assinalar interrupção do pensamento: vel segundo as normas da ABNT). 59
ASTERISCO Embora não existam regras muito definidas sobre
a existência de espaços antes e depois da barra oblí-
� É colocado à direita e no canto superior de uma qua, privilegia-se o seu uso sem espaços: plural/singu-
palavra do trecho para se fazer uma citação ou lar, masculino/feminino, sinônimo/antônimo.
comentário qualquer sobre o termo em uma nota
de rodapé: CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL
Ex.: A palavra tristeza é formada pelo adjetivo
triste acrescido do sufixo -eza*. Na elaboração da frase, as palavras relacionam-se
*-eza é um sufixo nominal justaposto a um adjeti- umas com as outras. Ao se relacionarem, elas obede-
vo, o que origina um novo substantivo; cem a alguns princípios: um deles é a concordância.
� Quando repetido três vezes, indica uma omissão Observe o exemplo:
ou lacuna em um texto, principalmente em substi- A pequena garota andava sozinha pela cidade.
tuição a um substantivo próprio: A: Artigo, feminino, singular;
Ex.: O menor *** foi apreendido e depois encami- Pequena: Adjetivo, feminino, singular;
nhado aos responsáveis; Garota: Substantivo, feminino, singular.
� Quando colocado antes e no alto da palavra, repre- Tanto o artigo quanto o adjetivo (ambos adjuntos
senta o vocábulo como uma forma hipotética, isto adnominais) concordam com o gênero (feminino) e o
é, cuja existência é provável, mas não comprovada: número (singular) do substantivo.
Ex.: Parecer, do latim *parescere; Na língua portuguesa, há dois tipos de concordân-
� Antes de uma frase para indicar que ela é agrama- cia: verbal e nominal.
tical, ou seja, uma frase que não respeita as regras
da gramática. Concordância Verbal
* Edifício elaborou projeto o engenheiro.
É a adaptação em número – singular ou plural –
USO DA BARRA e pessoa que ocorre entre o verbo e seu respectivo
sujeito.
A barra oblíqua [ / ] é um sinal gráfico usado: “De todos os povos mais plurais culturalmente, o
Brasil, mesmo diante de opiniões contrárias, as quais
� Para indicar disjunção e exclusão, podendo ser
insistem em desmentir que nosso país é cheio de ‘bra-
substituída pela conjunção “ou”:
sis’ – digamos assim –, ganha disparando dos outros,
Ex.: Poderemos optar por: carne/peixe/dieta.
pois houve influências de todos os povos aqui: euro-
Poderemos optar por: carne, peixe ou dieta;
peus, asiáticos e africanos.”
� Para indicar inclusão, quando utilizada na separa-
Esse período, apesar de extenso, constitui-se de
ção das conjunções e/ou.
um sujeito simples “o Brasil”, portanto o verbo cor-
Ex.: Os alunos poderão apresentar trabalhos orais
respondente a esse sujeito, “ganha”, necessita ficar no
e/ou escritos;
singular.
� Para indicar itens que possuem algum tipo de rela-
Destrinchando o período, temos que os termos
ção entre si.
essenciais da oração (sujeito e predicado) são apenas
Ex.: A palavra será classificada quanto ao número
“[...] o Brasil [...]” – sujeito – e “[...] ganha [...]” – predi-
(plural/singular).
cado verbal.
O carro atingiu os 220 km/h;
� Para separar os versos de poesias, quando escritos Veja um caso de uso de verbo bitransitivo:
seguidamente na mesma linha. São utilizadas duas Ex.: Prefiro natação a futebol.
barras para indicar a separação das estrofes. Verbo bitransitivo: Prefiro
Ex.: “[…] De tanto olhar para longe,/não vejo o que Objeto direto: natação
passa perto,/meu peito é puro deserto./Subo mon- Objeto indireto: a futebol
te, desço monte.//Eu ando sozinha/ao longo da noi-
te./Mas a estrela é minha.” Cecília Meireles; Concordância Verbal com o Sujeito Simples
� Na escrita abreviada, para indicar que a palavra
não foi escrita na sua totalidade: Em regra geral, o verbo concorda com o núcleo do
Ex.: a/c = aos cuidados de; sujeito.
s/ = sem; Ex.: Os jogadores de futebol ganham um salário
� Para separar o numerador do denominador nos exorbitante.
números fracionários, substituindo a barra da Diferentes situações:
fração:
Ex.: 1/3 = um terço; z Quando o núcleo do sujeito for uma palavra de
� Nas datas: sentido coletivo, o verbo fica no singular. Ex.: A
Ex.: 31/03/1983; multidão gritou entusiasmada;
� Nos números de telefone: z Quando o sujeito é o pronome relativo que, o
Ex.: 225 03 50/51/52; verbo posterior ao pronome relativo concorda
� Nos endereços: com o antecedente do relativo. Ex.: Quais os limi-
Ex.: Rua do Limoeiro, 165/232; tes do Brasil que se situam mais próximos do
� Na indicação de dois anos consecutivos: Meridiano?;
Ex.: O evento de 2012/2013 foi um sucesso; z Quando o sujeito é o pronome indefinido quem, o
� Para indicar fonemas, ou seja, os sons da língua: verbo fica na 3ª pessoa do singular. Ex.: Fomos nós
60 Ex.: /s/. quem resolveu a questão;
Por questão de ênfase, o verbo pode também con- Soou dez badaladas o relógio da escola (O relógio
cordar com o pronome reto antecedente. Ex.: Fomos da escola soou dez badaladas);
nós quem resolvemos a questão. z Quando o sujeito está em voz passiva sintética, o
verbo concorda com o sujeito paciente. Ex.: Ven-
z Quando o sujeito é um pronome interrogativo, dem-se casas de veraneio aqui.
demonstrativo ou indefinido no plural + de nós / Nunca se viu, em parte alguma, pessoa tão
de vós, o verbo pode concordar com o pronome no interessada;
plural ou com nós / vós. Ex.: Alguns de nós resol- z Quando o sujeito é um pronome de tratamento, o
viam essa questão. / Alguns de nós resolvíamos verbo fica sempre na 3ª pessoa. Ex.: Por que Vossa
essa questão; Majestade está preocupada?
z Quando o sujeito é formado por palavras plurali- Suas Excelências precisam de algo?
zadas, normalmente topônimos (Amazonas, férias, z Sujeito do verbo viver em orações optativas ou
Minas Gerais, Estados Unidos, óculos etc.), se hou- exclamativas. Ex.: Vivam os campeões!
ver artigo definido antes de uma palavra plura-
lizada, o verbo fica no plural. Caso não haja esse Concordância Verbal com o Sujeito Composto
artigo, o verbo fica no singular. Ex.: Os Estados
Unidos continuam uma potência; � Núcleos do sujeito constituídos de pessoas grama-
z Estados Unidos continua uma potência; ticais diferentes
z Santos fica em São Paulo. (Corresponde a: “A cida- Ex.: Eu e ele nos tornamos bons amigos;
de de Santos fica em São Paulo.”) � Núcleos do sujeito ligados pela preposição com
Ex.: O ministro, com seus assessores, chegou/che-
garam ontem;
Importante! � Núcleos do sujeito acompanhados da palavra cada
ou nenhum
Quando se aplica a nomes de obras artísticas, o
Ex.: Cada jogador, cada time, cada um deve man-
verbo fica no singular ou no plural. ter o espírito esportivo;
Os Lusíadas imortalizou / imortalizaram � Núcleos do sujeito sendo sinônimos e estando no
Camões. singular
Ex.: A angústia e a ansiedade não o ajudava/aju-
davam (preferencialmente no singular);
z Quando o sujeito é formado pelas expressões mais
� Gradação entre os núcleos do sujeito
de um, cerca de, perto de, menos de, coisa de,
Ex.: Seu cheiro, seu toque bastou/bastaram para
obra de etc., o verbo concorda com o numeral. Ex.:
me acalmar (preferencialmente no singular);
Mais de um aluno compareceu à aula.
� Núcleos do sujeito no infinitivo
Mais de cinco alunos compareceram à aula.
Ex.: Andar e nadar faz bem à saúde;
� Núcleos do sujeito resumidos por um aposto resu-
A expressão mais de um tem particularidades:
mitivo (nada, tudo, ninguém)
se a frase indica reciprocidade (pronome reflexivo
Ex.: Os pedidos, as súplicas, nada disso o comoveu;
recíproco se), se houver coletivo especificado ou se
� Sujeito constituído pelas expressões um e outro,
a expressão vier repetida, o verbo fica no plural. Ex.:
nem um nem outro
Mais de um irmão se abraçaram.
Ex.: Um e outro já veio/vieram aqui;
Mais de um grupo de crianças veio/vieram à fes-
� Núcleos do sujeito ligados por nem... nem
ta.
Ex.: Nem a televisão nem a internet desviarão meu
Mais de um aluno, mais de um professor esta-
foco nos estudos;
vam presentes.
� Entre os núcleos do sujeito, aparecem as palavras
como, menos, inclusive, exceto ou as expressões
z Quando o sujeito é formado por um número per-
bem como, assim como, tanto quanto
centual ou fracionário, o verbo concorda com o
Ex.: O Vasco ou o Corinthians ganhará o jogo na
numerado ou com o número inteiro, mas pode
final;
concordar com o especificador dele. Se o numeral
z Núcleos do sujeito ligados pelas séries correlativas
vier precedido de um determinante, o verbo con-
aditivas enfáticas (tanto... quanto / como / assim
cordará apenas com o numeral. Ex.: Apenas 1/3
como; não só... mas também etc.)
das pessoas do mundo sabe o que é viver bem.
Ex.: Tanto ela quanto ele mantém/mantêm sua
popularidade em alta;
Apenas 1/3 das pessoas do mundo sabem o que é
viver bem. z Quando dois ou mais adjuntos modificam um úni-
LÍNGUA PORTUGUESA

Apenas 30% do povo sabe o que é viver bem. co núcleo, o verbo fica no singular concordando
Apenas 30% do povo sabem o que é viver bem. com o núcleo único. Mas, se houver determinante
Os 30% da população não sabem o que é viver mal. após a conjunção, o verbo fica no plural, pois aí o
sujeito passa a ser composto.
Ex.: O preço dos alimentos e dos combustíveis
� Os verbos bater, dar e soar concordam com o aumentou. Ou: O preço dos alimentos e o dos
número de horas ou vezes, exceto se o sujeito for a combustíveis aumentaram.
palavra relógio. Ex.: Deram duas horas, e ela não
chegou (Duas horas deram...). Concordância Verbal do Verbo Ser
Bateu o sino duas vezes (O sino bateu).
Soaram dez badaladas no relógio da sala (Dez � Concorda com o sujeito
badaladas soaram). Ex.: Nós somos unha e carne; 61
� Concorda com o sujeito (pessoa) Navegar é preciso, viver não é preciso. (infinitivo
Ex.: Os meninos foram ao supermercado; com valor genérico)
� Em predicados nominais, quando o sujeito for São casos difíceis de solucionar. (infinitivo prece-
representado por um dos pronomes tudo, nada, dido de preposição de ou para)
isto, isso, aquilo ou “coisas”, o verbo ser concor- Soldados, recuar! (infinitivo com valor de
dará com o predicativo (preferencialmente) ou imperativo)
com o sujeito
Ex.: No início, tudo é/são flores; � Concordância do verbo parecer
� Concorda com o predicativo quando o sujeito for Flexiona-se ou não o infinitivo.
que ou quem Pareceu-me estarem os candidatos confiantes. (o
Ex.: Quem foram os classificados? equivalente a “Pareceu-me que os candidatos esta-
� Em indicações de horas, datas, tempo, distância vam confiantes”, portanto o infinitivo é flexionado
(predicativo), o verbo concorda com o predicativo de acordo com o sujeito, no plural)
Ex.: São nove horas. Eles parecem estudar bastante. (locução verbal,
É frio aqui. logo o infinitivo será impessoal);
Seria meio-dia e meia ou seriam doze horas?
� Concordância dos verbos impessoais
� O verbo fica no singular quando precede termos
São os casos de oração sem sujeito. O verbo fica
como muito, pouco, nada, tudo, bastante, mais,
sempre na 3ª pessoa do singular.
menos etc. junto a especificações de preço, peso,
Ex.: Havia sérios problemas na cidade.
quantidade, distância, e também quando seguido
Fazia quinze anos que ele havia se formado.
do pronome o
Deve haver sérios problemas na cidade. (verbo
Ex.: Cem metros é muito para uma criança.
auxiliar fica no singular)
Divertimentos é o que não lhe falta.
Trata-se de problemas psicológicos.
Dez reais é nada diante do que foi gasto;
� Na expressão expletiva “é que”, se o sujeito da ora- Geou muitas horas no sul;
ção não aparecer entre o verbo ser e o que, o ser � Concordância com sujeito oracional
ficará invariável. Se o ser vier separado do que, o Quando o sujeito é uma oração subordinada, o
verbo concordará com o termo não preposiciona- verbo da oração principal fica na 3ª pessoa do
do entre eles. singular.
Ex.: Eles é que sempre chegam cedo. Ex.: Ainda vale a pena investir nos estudos.
São eles que sempre chegam cedo. Sabe-se que dois alunos nossos foram aprovados.
É nessas horas que a gente precisa de ajuda. (cons- Ficou combinado que sairíamos à tarde.
trução adequada) Urge que você estude.
São nessas horas que a gente precisa de ajuda. Era preciso encontrar a verdade
(construção inadequada)
Casos mais Frequentes em Provas
CASOS ESPECIAIS DE CONCORDÂNCIA VERBAL
Veja agora uma lista com os casos mais abordados
Concordância do Infinitivo em concursos:

z Exemplos com verbos no infinitivo pessoal: � Sujeito posposto distanciado


Nós lutaremos até vós serdes bem tratados. (sujei- Ex.: Viviam no meio de uma grande floresta tropi-
to esclarecido) cal brasileira seres estranhos;
Está na hora de começarmos o trabalho. (sujeito � Verbos impessoais (haver e fazer)
implícito “nós”) Ex.: Faz dois meses que não pratico esporte.
Falei sobre o desejo de aprontarmos logo o site. Havia problemas no setor.
(dois pronomes implícitos: eu, nós) Obs.: Existiam problemas no setor. (verbo existir
Até me encontrarem, vocês terão de procurar vai ter sujeito “problemas”, e vai ser variável);
muito. (preposição no início da oração) � Verbo na voz passiva sintética
Para nós nos precavermos, precisaremos de luz. Ex.: Criaram-se muitas expectativas para a luta;
(verbos pronominais) � Verbo concordando com o antecedente correto
Visto serem dez horas, deixei o local. (verbo ser do pronome relativo ao qual se liga
indicando tempo) Ex.: Contratei duas pessoas para a empresa, que
Estudo para me considerarem capaz de aprova- tinham experiência;
ção. (pretensão de indeterminar o sujeito) � Sujeito coletivo com especificador plural
Para vocês terem adquirido esse conhecimento, Ex.: A multidão de torcedores vibrou/vibraram;
foi muito tempo de estudo. (infinitivo pessoal com-
posto: locução verbal de verbo auxiliar + verbo no � Sujeito oracional
particípio); Ex.: Convém a eles alterar a voz. (verbo no
z Exemplos com verbos no infinitivo impessoal: singular);
Devo continuar trabalhando nesse projeto. (locu- � Núcleo do sujeito no singular seguido de adjun-
ção verbal) to ou complemento no plural
Deixei-os brincar aqui. (pronome oblíquo átono Ex.: Conversa breve nos corredores pode gerar
sendo sujeito do infinitivo). atrito. (verbo no singular).

Quando o sujeito do infinitivo for um substantivo Casos Facultativos


no plural, usa-se tanto o infinitivo pessoal quanto o
62 impessoal. “Mandei os garotos sair/saírem”. z A multidão de pessoas invadiu/invadiram o estádio;
z Aquele comediante foi um dos que mais me fez/ Colocar o substantivo no singular e, ao enumerar
fizeram rir; os adjetivos (também no singular), antepor um artigo
z Fui eu quem faltou/faltei à aula; a cada um, menos no primeiro deles. Ex.: Ele estuda a
z Quais de vós me ajudarão/ajudareis? língua inglesa, a francesa e a alemã.
z “Os Sertões” marcou/marcaram a literatura bra-
sileira; z Com função de predicativo do sujeito
z Somente 1,5% das pessoas domina/dominam a
ciência. (1,5% corresponde ao singular); Com o verbo após o sujeito, o adjetivo concordará
z Chegaram/Chegou João e Maria; com a soma dos elementos.
z Um e outro / Nem um nem outro já veio/vieram Ex.: A casa e o quintal estavam abandonados.
aqui; Com o verbo antes do sujeito o predicativo do su-
z Eu, assim como você, odeio/odiamos a política jeito acompanhará a concordância do verbo, que por
brasileira; sua vez concordará tanto com a soma dos elementos
z O problema do sistema é/são os impostos; quanto com o nome mais próximo.
z Hoje é/são 22 de agosto; Ex.: Estava abandonada a casa e o quintal. / Esta-
z Devemos estudar muito para atingir/atingirmos vam abandonados a casa e o quintal.
a aprovação; Como saber quando o adjetivo tem valor de adjun-
z Deixei os rapazes falar/falarem tudo. to adnominal ou predicativo do sujeito? Substitua os
substantivos por um pronome:
Silepse de Número e de Pessoa Ex.: Existem conceitos e regras complicados.
(substitui-se por “eles”)
Conhecida também como “concordância irregular, Fazendo a troca, fica “Eles existem”, e não “Eles
ideológica ou figurada”. Vejamos os casos: existem complicados”.
Como o adjetivo desapareceu com a substituição,
z Silepse de número: usa-se um termo discordando então é um adjunto adnominal.
do número da palavra referente, para concordar
com o sentido semântico que ela tem. Ex.: Flor tem z Com função de predicativo do objeto
vida muito curta, logo murcham. (ideia de plurali-
dade: todas as flores); Recomenda-se concordar com a soma dos substan-
z Silepse de pessoa: o autor da frase participa do tivos, embora alguns estudiosos admitam a concor-
processo verbal. O verbo fica na 1ª pessoa do plu- dância com o termo mais próximo.
ral. Ex.: Os brasileiros, enquanto advindos de Ex.: Considero os conceitos e as regras complicados.
diversas etnias, somos multiculturais. Tenho como irresponsáveis o chefe do setor e
seus subordinados.
Concordância Nominal
Algumas Convenções
Define-se como a adaptação em gênero e número
que ocorre entre o substantivo (ou equivalente, como � Obrigado / próprio / mesmo
o adjetivo) e seus modificadores (artigos, pronomes, Ex.: A mulher disse: “Muito obrigada”.
adjetivos, numerais). A própria enfermeira virá para o debate.
O adjetivo e as palavras adjetivas concordam em Elas mesmas conversaram conosco.
gênero e número com o nome a que se referem.
Ex.: Parede alta. / Paredes altas. Dica
Muro alto. / Muros altos.
O termo mesmo no sentido de “realmente” será
Casos com Adjetivos invariável.
Ex.: Os alunos resolveram mesmo a situação.
z Com função de adjunto adnominal: quando o
adjetivo funcionar como adjunto adnominal e esti- z Só / sós
ver após os substantivos, poderá concordar com Variáveis quando significarem “sozinho” / “sozi-
as somas desses ou com o elemento mais próximo. nhos”.
Ex.: Encontrei colégios e faculdades ótimas. / Invariáveis quando significarem “apenas, somente”.
Encontrei colégios e faculdades ótimos. Ex.: As garotas só queriam ficar sós. (As garotas
apenas queriam ficar sozinhas.)
Há casos em que o adjetivo concordará apenas A locução “a sós” é invariável.
LÍNGUA PORTUGUESA

com o nome mais próximo, quando a qualidade per- Ex.: Ela gostava de ficar a sós. / Eles gostavam de
tencer somente a este. ficar a sós;
Ex.: Saudaram todo o povo e a gente brasileira. � Quite / anexo / incluso
Foi um olhar, uma piscadela, um gesto estranho Concordam com os elementos a que se referem.
Quando o adjetivo funcionar como adjunto adno- Ex.: Estamos quites com o banco.
minal e estiver antes dos substantivos, poderá con- Seguem anexas as certidões negativas.
cordar apenas com o elemento mais próximo. Ex.: Inclusos, enviamos os documentos solicitados;
Existem complicadas regras e conceitos. � Meio
Quando houver apenas um substantivo qualifica- Quando significar “metade”: concordará com o
do por dois ou mais adjetivos pode-se: elemento referente.
Colocar o substantivo no plural e enumerar o ad- Ex.: Ela estava meio (um pouco) nervosa.
jetivo no singular. Ex.: Ele estuda as línguas inglesa, Quando significar “um pouco”: será invariável.
francesa e alemã. Ex.: Já era meio-dia e meia (metade da hora); 63
� Grama Adjetivos
Quando significar “vegetação”, é feminino; quan-
do significar unidade de medida, é masculino. Quando houver adjetivo composto, apenas o últi-
Ex.: Comprei duzentos gramas de farinha. mo elemento concordará com o substantivo referente.
“A grama do vizinho sempre é mais verde.”; Os demais ficarão na forma masculina singular.
� É proibido entrada / É proibida a entrada Se um dos elementos for originalmente um subs-
Se o sujeito vier determinado, a concordância do tantivo, todo o adjetivo composto ficará invariável.
verbo e do predicativo do sujeito será regular, ou Ex.: Violetas azul-claras com folhas verde-musgo.
seja, tanto o verbo quanto o predicativo concorda- No termo “azul-claras”, apenas “claras” segue o
rão com o determinante. plural, pois ambos são adjetivos.
Ex.: Caminhada é bom para a saúde. / Esta cami- No termo “verde-musgo”, “musgo” permanece no
nhada está boa. singular, assim como “verde”, por ser substantivo.
É proibido entrada de crianças. / É proibida a Nesse caso, o termo composto não concorda com o
entrada de crianças. plural do substantivo referente, “folhas”.
Pimenta é bom? / A pimenta é boa?; Ex.: Calças rosa-claro e camisas verde-mar.
� Menos / pseudo O termo “claro” fica invariável porque “rosa” tam-
São invariáveis. bém pode ser um substantivo.
Ex.: Havia menos violência antigamente. O termo “mar” fica invariável por seguir a mesma
Aquelas garotas são pseudoatletas. / Seu argumen- lógica de “musgo” do exemplo anterior.
to é pseudo-objetivo;
� Muito / bastante
Quando modificam o substantivo: concordam com
Dica
ele. Azul-marinho, azul-celeste, ultravioleta e qual-
Quando modificam o verbo: invariáveis. quer adjetivo composto iniciado por “cor-de”
Ex.: Muitos deles vieram. / Eles ficaram muito são sempre invariáveis.
irritados. O adjetivo composto pele-vermelha tem os dois
Bastantes alunos vieram. / Os alunos ficaram bas-
elementos flexionados no plural (peles-verme-
tante irritados.
lhas).
Se ambos os termos puderem ser substituídos por
“vários”, ficarão no plural. Se puderem ser substi-
Lista de Flexão dos Dois Elementos
tuídos por “bem”, ficarão invariáveis;
� Tal qual
� Nos substantivos compostos formados por pala-
Tal concorda com o substantivo anterior; qual,
vras variáveis, especialmente substantivos e
com o substantivo posterior.
adjetivos:
Ex.: O filho é tal qual o pai. / O filho é tal quais os
segunda-feira – segundas-feiras;
pais.
matéria-prima – matérias-primas;
Os filhos são tais qual o pai. / Os filhos são tais
quais os pais. couve-flor – couves-flores;
z Silepse (também chamada concordância guarda-noturno – guardas-noturnos;
figurada) primeira-dama – primeiras-damas;
É a que se opera não com o termo expresso, mas o � Nos substantivos compostos formados por
que está subentendido. temas verbais repetidos:
Ex.: São Paulo é linda! (A cidade de São Paulo é corre-corre – corres-corres;
linda!) pisca-pisca – piscas-piscas;
Estaremos aberto no final de semana. (Estaremos pula-pula – pulas-pulas.
com o estabelecimento aberto no final de semana.) Nestes substantivos também é possível a flexão
Os brasileiros estamos esperançosos. (Nós, brasi- apenas do segundo elemento: corre-corres, pisca-
leiros, estamos esperançosos.); -piscas, pula-pulas;
� Possível
Concordará com o artigo, em gênero e número, em Flexão Apenas do Primeiro Elemento
frases enfáticas com o “mais”, o “menos”, o “pior”.
Ex.: Conheci crianças o mais belas possíveis. / z Nos substantivos compostos formados por subs-
Conheci crianças as mais belas possíveis. tantivo + substantivo em que o segundo termo
limita o sentido do primeiro termo:
PLURAL DE COMPOSTOS decreto-lei – decretos-lei;
cidade-satélite – cidades-satélite;
Substantivos público-alvo – públicos-alvo;
elemento-chave – elementos-chave.
O adjetivo concorda com o substantivo referen- Nestes substantivos também é possível a flexão
te em gênero e número. Se o termo que funciona dos dois elementos: decretos-leis, cidades-satélites,
como adjetivo for originalmente um substantivo fica públicos-alvos, elementos-chaves;
invariável. z Nos substantivos compostos preposicionados:
Ex.: Rosas vermelhas e jasmins pérola. (pérola cana-de-açúcar – canas-de-açúcar;
também é um substantivo; mantém-se no singular) pôr do sol – pores do sol;
Ternos cinza e camisas amarelas. (cinza também é fim de semana – fins de semana;
64 um substantivo; mantém-se no singular) pé de moleque – pés de moleque.
Flexão Apenas do Segundo Elemento V. T. I.: se esquecia
Objeto indireto: dos favores recebidos.
� Nos substantivos compostos formados por tema No entanto, na Língua Portuguesa, há verbos que,
verbal ou palavra invariável + substantivo ou mudando-se a regência, mudam de sentido, alterando
adjetivo: seu significado.
bate-papo – bate-papos; Ex.: Neste país aspiramos ar poluídos.
quebra-cabeça – quebra-cabeças; (aspiramos = sorvemos)
arranha-céu – arranha-céus; V. T. D.: aspiramos
ex-namorado – ex-namorados; Objeto direto: ar poluídos.
vice-presidente – vice-presidentes; Os funcionários aspiram a um mês de férias.
� Nos substantivos compostos em que há repeti- (aspiram = almejam)
ção do primeiro elemento: V. T. I.: aspiram
zum-zum – zum-zuns; Objeto indireto: a um mês de férias
tico-tico – tico-ticos; A seguir, uma lista dos principais verbos que
lufa-lufa – lufa-lufas; geram dúvidas quanto à regência:
reco-reco – reco-recos;
� Nos substantivos compostos grafados ligada- � Abraçar: transitivo direto
mente, sem hífen: Ex.: Abraçou a namorada com ternura.
girassol – girassóis; O colar abraçava-lhe elegantemente o pescoço;
pontapé – pontapés; � Agradar: transitivo direto; transitivo indireto
mandachuva – mandachuvas; Ex.: A menina agradava o gatinho. (transitivo dire-
fidalgo – fidalgos; to com sentido de “acariciar”)
� Nos substantivos compostos formados com A notícia agradou aos alunos. (transitivo indireto
grão, grã e bel: no sentido de “ser agradável a”);
grão-duque – grão-duques; � Agradecer: transitivo direto; transitivo indireto;
grã-fino – grã-finos;
transitivo direto e indireto
bel-prazer – bel-prazeres.
Ex.: Agradeceu a joia. (transitivo direto: objeto não
Não flexão dos elementos;
personificado)
� Em alguns casos, não ocorre a flexão dos elementos
Agradeceu ao noivo. (transitivo indireto: objeto
formadores, que se mantêm invariáveis. Isso ocor-
personificado)
re em frases substantivadas e em substantivos
Agradeceu a joia ao noivo. (transitivo direto e indi-
compostos por um tema verbal e uma palavra
reto: refere-se a coisas e pessoas);
invariável ou outro tema verbal oposto:
� Ajudar: transitivo direto; transitivo indireto
o disse me disse – os disse me disse;
Ex.: Seguido de infinitivo intransitivo precedido da
o leva e traz – os leva e traz;
preposição a, rege indiferentemente objeto direto
o cola-tudo – os cola-tudo.
e objeto indireto.
Ajudou o filho a fazer as atividades. (transitivo
REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL
direto)
Ajudou ao filho a fazer as atividades. (transitivo
Regência é a maneira como o nome ou o verbo se
indireto)
relacionam com seus complementos, com ou sem pre-
posição. Quando um nome (substantivo, adjetivo ou Se o infinitivo preposicionado for intransitivo,
advérbio) exige complemento preposicionado, esse rege apenas objeto direto:
nome é um termo regente, e seu complemento é um Ajudaram o ladrão a fugir.
termo regido, pois há uma relação de dependência Não seguido de infinitivo, geralmente rege objeto
entre o nome e seu complemento. direto:
O nome exige um complemento nominal sempre Ajudei-o muito à noite;
iniciado por preposição, exceto se o complemento � Ansiar: transitivo direto; transitivo indireto
vier em forma de pronome oblíquo átono. Ex.: A falta de espaço ansiava o prisioneiro. (tran-
Ex.: Os discípulos daquele mestre sempre lhe sitivo direto com sentido de “angustiar”)
foram leais. Ansiamos por sua volta. (transitivo indireto com
Observação: Complemento de “lhe”: predicativo sentido de “desejar muito” – não admite “lhe”
do sujeito (desprovido de preposição) como complemento);
Pronome oblíquo átono: lhe � Aspirar: transitivo direto; transitivo indireto
Foram leais: complemento de “lhe”, predicativo do Ex.: Aspiramos o ar puro das montanhas. (transiti-
sujeito (desprovido de preposição). vo direto com sentido de “respirar”)
LÍNGUA PORTUGUESA

Sempre aspiraremos a dias melhores. (transitivo


Regência Verbal indireto no sentido de “desejar”);
� Assistir: transitivo direto; transitivo indireto
Relação de dependência entre um verbo e seu Ex.: - Transitivo direto ou indireto no sentido de
complemento. As relações podem ser diretas ou indi- “prestar assistência”
retas, isto é, com ou sem preposição. O médico assistia os acidentados.
Há verbos que admitem mais de uma regência sem O médico assistia aos acidentados.
que o sentido seja alterado. - Transitivo direto no sentido de “ver, presenciar”
Ex.: Aquela moça não esquecia os favores recebidos. Não assisti ao final da série;
V. T. D: esquecia
Objeto direto: os favores recebidos. O verbo assistir não pode ser empregado no
Aquela moça não se esquecia dos favores recebidos. particípio. 65
É incorreta a forma “O jogo foi assistido por milha- � Perdoar: transitivo direto; transitivo indireto;
res de pessoas.” transitivo direto e indireto
Ex.: Perdoarei as suas ofensas. (transitivo direto)
� Casar: intransitivo; transitivo indireto; transitivo A mãe perdoou à filha. (transitivo indireto)
direto e indireto Ela perdoou os erros ao filho. (transitivo direto e
Ex.: Eles casaram na Itália há anos. (intransitivo) indireto);
A jovem não queria casar com ninguém. (transiti- � Suceder: intransitivo; transitivo direto
vo indireto)
Ex.: O caso sucedeu rapidamente. (intransitivo no
O pai casou a filha com o vizinho. (transitivo dire-
sentido de “ocorrer”).
to e indireto);
A noite sucede ao dia. (transitivo direto no sentido
� Chamar: transitivo direto; transitivo seguido de
predicativo do objeto de “vir depois”).
Ex.: Chamou o filho para o almoço. (transitivo dire-
to com sentido de “convocar”); Regência Nominal
Chamei-lhe inteligente. (transitivo seguido de pre-
dicativo do objeto com sentido de “denominar, Alguns nomes (substantivos, adjetivos e advér-
qualificar”); bios) exigem complementos preposicionados, exceto
� Custar: transitivo indireto; transitivo direto e indi- quando vêm em forma de pronome oblíquo átono.
reto; intransitivo
Ex.: Custa-lhe crer na sua honestidade. (transitivo Advérbios Terminados em “mente”
indireto com sentido de “ser difícil”)
A imprudência custou lágrimas ao rapaz. (transiti- Os advérbios derivados de adjetivos seguem a
vo direto e indireto: sentido de “acarretar”) regência dos adjetivos:
Este vinho custou trinta reais. (intransitivo);
análoga / analogicamente a
� Esquecer: admite três possibilidades
contrária / contrariamente a
Ex.: Esqueci os acontecimentos.
Esqueci-me dos acontecimentos. compatível / compativelmente com
Esqueceram-me os acontecimentos; diferente / diferentemente de
� Implicar: transitivo direto; transitivo indireto; favorável / favoravelmente a
transitivo direto e indireto paralela / paralelamente a
Ex.: A resolução do exercício implica nova teoria. próxima / proximamente a/de
(transitivo direto com sentido de “acarretar”) relativa / relativamente a
Mamãe sempre implicou com meus hábitos.
(transitivo indireto com sentido de “mostrar má Proposições Semelhantes a Primeira Sílaba dos
disposição”) Nomes a que se Referem
Ele implicou-se em negócios ilícitos. (transitivo
direto e indireto com sentido de envolver-se”); Alguns nomes regem preposições semelhantes a
� Informar: transitivo direto e indireto
sua primeira sílaba. Vejamos:
Ex.: Referente à pessoa: objeto direto; referente à
dependente, dependência de
coisa: objeto indireto, com as preposições de ou
sobre inclusão, inserção em
Informaram o réu de sua condenação. inerente em/a
Informaram o réu sobre sua condenação. descrente de/em
Referente à pessoa: objeto direto; referente à coi- desiludido de/com
sa: objeto indireto, com a preposição a desesperançado de
Informaram a condenação ao réu; desapego de/a
� Interessar-se: verbo pronominal transitivo indi- convívio com
reto, com as preposições em e por convivência com
Ex.: Ela interessou-se por minha companhia; demissão, demitido de
� Namorar: intransitivo; transitivo indireto; transi- encerrado em
tivo direto e indireto enfiado em
Ex.: Eles começaram a namorar faz tempo. (intran- imersão, imergido, imerso em
sitivo com sentido de “cortejar”) instalação, instalado em
Ele vivia namorando a vitrine de doces. (transitivo interessado, interesse em
indireto com sentido de “desejar muito”) intercalação, intercalado entre
“Namorou-se dela extremamente.” (A. Gar- supremacia sobre
ret) (transitivo direto e indireto com sentido de
“encantar-se”); FUNÇÕES DO SE
� Obedecer/desobedecer: transitivos indiretos
Ex.: Obedeçam à sinalização de trânsito.
Embora já tenhamos abordado esse tema anterior-
Não desobedeçam à sinalização de trânsito;
� Pagar: transitivo direto; transitivo indireto; transi- mente, deixamos aqui uma síntese das funções mais
tivo direto e indireto cobradas desse vocábulo.
Ex.: Você já pagou a conta de luz? (transitivo direto)
Você pagou ao dono do armazém? (transitivo Funções Morfológicas
indireto).
Vou pagar o aluguel ao dono da pensão. (transitivo z Pronome;
66 direto e indireto); z Conjunção.
Funções Sintáticas � Interjeição (sempre acentuado)
Ex.: Quê! Você tem coragem?
� Pronome reflexivo com a função sintática de obje- � Partícula expletiva
to direto Ex.: Que experto que é teu irmão!
Ex.: Elas não se encontram na redação; � Faz parte da locução expletiva
� Pronome reflexivo com a função sintática do obje- Ex.: Ele é que sabe das coisas!
to indireto � Conjunção causal (igual a “porque”)
Ex.: Ele atribuía-se o direito de julgar; Ex.: Disse que não iria, que não tinha roupas
� Pronome reflexivo recíproco com a função sintáti- adequadas;
ca do objeto direto � Conjunção integrante
Ex.: Admiravam-se de longe; Ex.: Suponhamos que elas viessem;
� Pronome reflexivo recíproco com a função sintáti- � Conjunção comparativa
ca do objeto indireto Ex.: Uma era mais esperta que a outra;
Ex.: Eles retribuíram-se as respectivas malvadezas; � Conjunção concessiva (igual a “embora”)
� Pronome reflexivo com a função de sujeito de um Ex.: Que não seja rico, sempre me casarei com ele;
infinitivo � Conjunção condicional (igual a “se”)
Ex.: Ela deixou-se ir; Ex.: Que você pague a promissória, hão de entre-
� Pronome apassivador gar a mercadoria;
Ex.: Compram-se jornais; � Conjunção conformativa (igual a “conforme”)
� Pronome de realce Ex.: Aos que dizem, os exames serão dificílimos;
Ex.: O mestre da outra escola sorriu-se da tradução;
� Conjunção temporal
� Índice de indeterminação do sujeito
Ex.: Chegados que foram à cabana, reviraram
Ex.: Assistiu-se a um belo espetáculo;
tudo;
� Parte integrante dos verbos essencialmente
� Conjunção final
pronominais
Ex.: Fiz-lhe sinal que se calasse;
Ex.: Queixou-se muito da vida;
� Conjunção consecutiva
� Conjunção subordinativa integrante
Ex.: Ela queria ver se conseguiria; Ex.: Falou tanto que ficou rouco;
� Conjunção subordinativa condicional � Conjunção aditiva
Ex.: Se eles vierem, serão bem-vindos. Ex.: Anda que anda e nada encontra;
� Conjunção explicativa
FUNÇÕES DO QUE Ex.: Fique quieto, que eu quero dormir.

Funções Morfológicas FUNÇÕES DO SEM QUE

z Pronome; Locução conjuntiva com valor de condição, con-


z Substantivo; cessão, consequência, negação de consequência,
z Preposição; negação de causa, modo. Essa locução pode ser subs-
z Advérbio; tituída para formar orações subordinadas reduzidas
z Interjeição; de infinitivo.
z Conjunção. Ex.: “Empurrava a cadeira sem que a mãe corresse
atrás.”
Funções Sintáticas Poderia ser reescrita como “Empurrava a cadeira
sem a mãe correr atrás”, e então teríamos uma ora-
� Pronome relativo (igual a “o qual”, “a qual”) ção reduzida de infinitivo.
Ex.: A curiosidade é um vício que desconhece Ex.: “A democracia não será efetiva sem liberda-
termos; de de informação e não será exercida sem que esta
esteja assegurada a todos os veículos de comunicação
� Pronome substantivo indefinido (igual a “que coi-
visual.”
sa”) ligado ao verbo
Poderia ser reescrita como “A democracia não será
Ex.: Elas não sabiam o que fazer;
efetiva sem liberdade de informação e não será exer-
� Pronome adjetivo indefinido (igual a “quanto”,
cida sem esta estar assegurada a todos os veículos
“quanta”) ligado ao substantivo
Ex.: Que alegria! de comunicação visual”, formando agora uma oração
� Pronome interrogativo (no final de frase é reduzida de infinitivo.
acentuado)
LÍNGUA PORTUGUESA

Ex.: Por que não vai conosco? EMPREGO DO SINAL INDICATIVO DE CRASE
Não vai conosco por quê?
� Substantivo (quando é antecedido de artigo) (é Uso da Crase
acentuado)
Ex.: Havia em seus olhos um quê de curiosidade; Outro assunto que causa grande dúvida é o uso da
� Preposição (a depender do contexto, pode ser subs- crase, fenômeno gramatical que corresponde à junção
tituído por “de”) da preposição a + artigo feminino definido a, ou da
Ex.: A gente tem que explicar com franqueza cer- junção da preposição a + os pronomes relativos aque-
tas coisas; le, aquela ou aquilo. Representa-se graficamente pela
� Advérbio de intensidade (igual a “muito”, ligado ao marcação (`) + (a) = (à).
adjetivo) Ex.: Entregue o relatório à diretoria.
Ex.: Que bela tarde! Refiro-me àquele vestido que está na vitrine. 67
Regra geral: haverá crase sempre que o termo � Antes de forma verbal infinitiva
antecedente exija a preposição a e o termo conse- Ex.: Os produtos começaram a chegar.
quente aceite o artigo a. “Os homens, dizendo em certos casos que vão falar
Ex.: Fui à cidade (a + a = preposição + artigo) com franqueza, parecem dar a entender que o
Conheço a cidade (verbo transitivo direto: não exi- fazem por exceção de regra.” (MM);
ge preposição). � Antes de expressão de tratamento
Vou a Brasília (verbo que exige preposição a + Ex.: O requerimento foi direcionado a Vossa
palavra que não aceita artigo). Excelência;
Essas dicas são facilitadoras quanto à orientação � No a (singular) antes de palavra no plural, quando
no uso da crase, mas existem especificidades que aju- a regência do verbo exigir preposição
dam no momento de identificação: Ex.: Durante o filme assistimos a cenas chocantes;
� Antes dos pronomes relativos quem e cuja
Casos Convencionados Ex.: Por favor, chame a pessoa a quem entregamos
o pacote.
z Locuções adverbiais formadas por palavras Falo de alguém a cuja filha foi entregue o prêmio;
femininas: � Antes de pronomes indefinidos alguma, nenhu-
Ex.: Ela foi às pressas para o camarim. ma, tanta, certa, qualquer, toda, tamanha
Entregou o dinheiro às ocultas para o ministro. Ex.: Direcione o assunto a alguma cláusula do
Espero vocês à noite na estação de metrô. contrato.
Estou à beira-mar desde cedo; Não disponibilizaremos verbas a nenhuma ação
z Locuções prepositivas formadas por palavras suspeita de fraude.
femininas: Eles estavam conservando a certa altura.
Ex.: Ficaram à frente do projeto; Faremos a obra a qualquer custo.
z Locuções conjuntivas formadas por palavras A campanha será disponibilizada a toda a
femininas: comunidade;
Ex.: À medida que o prédio é erguido, os gastos vão � Antes de demonstrativos
aumentando; Ex.: Não te dirijas a essa pessoa;
� Quando indicar marcação de horário, no plural � Antes de nomes próprios, mesmo femininos, de
Ex.: Pegaremos o ônibus às oito horas. personalidades históricas
Fique atento ao seguinte: entre números teremos Ex.: O documentário referia-se a Janis Joplin;
que de = a / da = à, portanto: � Antes dos pronomes pessoais retos e oblíquos
Ex.: De 7 as 16 h. De quinta a sexta. (sem crase) Ex.: Por favor, entregue as frutas a ela.
Das 7 às 16 h. Da quinta à sexta. (com crase); O pacote foi entregue a ti ontem;
� Com os pronomes relativos aquele, aquela ou � Nas expressões tautológicas (face a face, lado a
aquilo: lado)
Ex.: A lembrança de boas-vindas foi reservada Ex.: Pai e filho ficaram frente a frente no tribunal
àquele outono. de justiça;
Por favor, entregue as flores àquela moça que está � Antes das palavras casa, Terra ou terra, distância
sentada. sem determinante
Dedique-se àquilo que lhe faz bem; Ex.: Precisa chegar a casa antes das 22h.
Astronauta volta a Terra em dois meses.
� Com o pronome demonstrativo a antes de que ou de: Os pesquisadores chegaram a terra depois da
Ex.: Referimo-nos à que está de preto. expedição marinha.
Referimo-nos à de preto; Vocês o observaram a distância.
� Com o pronome relativo a qual, as quais:
Ex.: A secretária à qual entreguei o ofício acabou Crase Facultativa
de sair.
As alunas às quais atribuí tais atividades estão de Nestes casos, podemos escrever as palavras das
férias. duas formas: utilizando ou não a crase. Para entender
detalhadamente, observe as seguintes dicas:
Casos Proibitivos
� Antes de nomes de mulheres comuns ou com quem
Em resumo, seguem-se as dicas abaixo para melhor se tem proximidade
orientação de quando não usar a crase. Ex.: Ele fez homenagem a/à Bárbara;
� Antes de pronomes possessivos no singular
� Antes de nomes masculinos Ex.: Iremos a/à sua residência;
Ex.: “O mundo intelectual deleita a poucos, o mate- � Após preposição até, com ideia de limite
rial agrada a todos.” (MM) Ex.: Dirija-se até a/à portaria.
O carro é movido a álcool. “Ouvindo isto, o desembargador comoveu-se até
Venda a prazo; às (ou “as”) lágrimas, e disse com mui estranho
� Antes de palavras femininas que não aceitam afeto.” (CBr. 1, 67)
artigos
Ex.: Iremos a Portugal. Casos Especiais

Macete de crase: Veremos a seguir alguns casos que fogem à regra.


Se vou a; Volto da = Crase há! Quando se relacionar a instrumentos cujos nomes
Se vou a; Volto de = Crase pra quê? forem femininos, normalmente a crase não será utili-
Ex.: Vou à escola / Volto da escola. zada. Porém, em alguns casos, utiliza-se a crase para
68 Vou a Fortaleza / Volto de Fortaleza; evitar ambiguidades.
Ex.: Matar a fome. (Quando “fome” for objeto direto). „ Orações interrogativas, exclamativas, opta-
Matar à fome. (Quando “fome” for advérbio de ins- tivas (exprimem desejo). Ex.: Como te iludes!
trumento).
Fechar a chave. (Quando “chave” for objeto direto). z Mesóclise: Pronome posicionado no meio do ver-
Fechar à chave. (Quando “chave” for advérbio de bo. Casos que atraem o pronome para mesóclise:
instrumento).
„ Os pronomes devem ficar no meio dos verbos
Quando Usar ou Não a Crase em Sentenças com que estejam conjugados no futuro, caso não
Nomes de Lugares haja nenhum motivo para uso da próclise. Ex.:
Dar-te-ei meus beijos agora... / Orgulhar-me-ei
z Regidos por preposições de, em, por: não se usa dos nossos estudantes.
crase
Ex.: Fui a Copacabana. (Venho de Copacabana, z Ênclise: Pronome posicionado após o verbo. Casos
moro em Copacabana, passo por Copacabana); que atraem o pronome para ênclise:
� Regidos por preposições da, na, pela: usa-se crase
Ex.: Fui à Bahia. (Venho da Bahia, moro na Bahia, „ Início de frase ou período. Ex.: Sinto-me mui-
passo pela Bahia). to honrada com esse título;
„ Imperativo afirmativo. Ex.: Sente-se, por
Macetes favor;
„ Advérbio virgulado. Ex.: Talvez, diga-me o
z Haverá crase quando o “à” puder ser substituído quanto sou importante.
por ao, da na, pela, para a, sob a, sobre a, contra
a, com a, à moda de, durante a; Casos proibidos:
z Quando o de ocorre paralelo ao a, não há crase.
Quando o da ocorre paralelo ao à, há crase; „ Início de frase: Me dá esse caderno! (errado) /
z Na indicação de horas, quando o “à uma” puder Dá-me esse caderno! (certo);
ser substituído por às duas, há crase. Quando o a „ Depois de ponto e vírgula: Falou pouco; se lem-
uma equivaler a “a duas”, não ocorre crase; brou de nada (errado) / Falou pouco; lembrou-
z Usa-se a crase no “a” de àquele(s), àquela(s) e àqui- -se de nada (correto);
lo quando tais pronomes puderem ser substituídos „ Depois de particípio: Tinha lembrado-se do fato
por a este, a esta e a isto; (errado) / Tinha se lembrado do fato (correto).
z Usa-se crase antes de casa, distância, terra e
nomes de cidades quando esses termos estiverem
acompanhados de determinantes. Ex.: Estou à dis-
tância de 200 metros do pico da montanha.
REESCRITA DE FRASES E PARÁGRAFOS
A compreensão da crase vai muito além da estética DO TEXTO
gramatical, pois serve também para evitar ambigui-
dades comuns, como o caso seguinte: Lavando a mão. A reescrita de textos é essencial em vários aspectos,
Nessa ocasião, usa-se a forma “Lavando a mão”, como para corrigir erros e escrever mais claramente.
pois “a mão” é o objeto direto, e, portanto, não exi- No contexto dos concursos públicos, para responder
ge preposição. Usa-se a forma “à mão” em situações às questões apresentadas, é necessário identificar
como “Pintura feita à mão”, já que “à mão” seria o qual é a opção cuja reescrita mantém o sentido do tex-
advérbio de instrumento da ação de pintar. to original, sem que haja mudança de compreensão,
baseada na intenção do emissor da mensagem.
COLOCAÇÃO DOS PRONOMES ÁTONOS A coesão é um dos principais pontos a se obser-
var na produção de um texto e, consequentemente,
Colocação Pronominal na reescritura, para manter a coesão e a harmonia
do texto. Conjunções, advérbios, preposições e pro-
Estudo da posição dos pronomes na oração. nomes, principalmente, apresentam aspectos que
podem transformar completamente o sentido de um
z Próclise: Pronome posicionado antes do verbo. enunciado. Portanto, eles merecem especial atenção.
Casos que atraem o pronome para próclise: Além disso, até mesmo uma vírgula pode mudar o
sentido de um enunciado, assim, elas também devem
„ Palavras negativas: Nunca, jamais, não. Ex.: ser observadas.
LÍNGUA PORTUGUESA

Não me submeto a essas condições; As frases reescritas precisam manter a essência do


„ Pronomes indefinidos, demonstrativos, rela- texto base, ou seja, a informação principal. É impor-
tivos. Ex: Foi ela que me colocou nesse papel; tante observar os tempos verbais empregados e a
„ Conjunções subordinativas. Ex.: Embora se ordem das palavras também.
apresente como um rico investidor, ele nada Após a reescrita, as frases precisam:
tem;
„ Gerúndio, precedido da preposição em. Ex: z Manter o significado original;
Em se tratando de futebol, Maradona foi um z Manter a coesão;
ídolo; z Não expressar opinião que não esteja na frase
„ Infinitivo pessoal preposicionado. Ex.: Na original;
esperança de sermos ouvidos, muito lhe z Respeitar a sequência das ideias apresentadas no
agradecemos; texto original. 69
SIGNIFICAÇÃO DAS PALAVRAS Homonímia

Quando escolhemos determinadas palavras ou Homônimos são palavras que têm a mesma pro-
expressões dentro de um conjunto de possibilidades núncia ou grafia, porém apresentam significados dife-
de uso, estamos levando em conta o contexto que rentes. É importante estar atento a essas palavras e a
influencia e permite o estabelecimento de diferentes seus dois significados. A seguir, listamos alguns homô-
relações de sentido. Essas relações podem se dar por nimos importantes:
meio de: sinonímia, antonímia, homonímia, paroní-
mia, polissemia, hiponímia e hiperonímia. acender (colocar fogo) ascender (subir)
acento (sinal gráfico) assento (local onde se senta)
acerto (ato de acertar) asserto (afirmação)
Importante! apreçar (ajustar o preço) apressar (tornar rápido)
Léxico: Conjunto de todas as palavras e expres- bucheiro (tripeiro) buxeiro (pequeno arbusto)
sões de um idioma. bucho (estômago) buxo (arbusto)
Vocabulário: Conjunto de palavras e expressões caçar (perseguir animais) cassar (tornar sem efeito)
que cada falante seleciona do léxico para se cegar (deixar cego) segar (cortar, ceifar)
comunicar. sela (forma do verbo selar;
cela (pequeno quarto)
arreio)
censo (recenseamento) senso (entendimento, juízo)
Sinonímia
céptico (descrente) séptico (que causa infecção)
São palavras ou expressões que, empregadas em cerração (nevoeiro) serração (ato de serrar)
um determinado contexto, têm significados seme- cerrar (fechar) serrar (cortar)
lhantes. É importante entender que a identidade dos cervo (veado) servo (criado)
sinônimos é ocasional, ou seja, em alguns contextos chá (bebida) xá (antigo soberano do Irã)
uma palavra pode ser empregada no lugar de outra, cheque (ordem de xeque (lance no jogo de
o que pode não acontecer em outras situações. O pagamento) xadrez)
uso das palavras “chamar”, “clamar” e “bradar”, por círio (vela) sírio (natural da Síria)
exemplo, pode ocorrer de maneira equivocada se uti- cito (forma do verbo citar) sito (situado)
lizadas como sinônimos, uma vez que a intensidade
concertar (ajustar, combinar) consertar (reparar, corrigir)
de suas significações é diferente.
concerto (sessão musical) conserto (reparo)
O emprego dos sinônimos é um importante recurso
para a coesão textual, uma vez que essa estratégia reve- coser (costurar) cozer (cozinhar)
la, além do domínio do vocabulário do falante, a capa- exotérico (que se expõe em
esotérico (secreto)
cidade que ele tem de realizar retomadas coesivas, o público)
que contribuiu para melhor fluidez na leitura do texto. espectador (aquele que expectador (aquele que tem
assiste) esperança, que espera)
Antonímia esperto (perspicaz) experto (experiente, perito)
espiar (observar) expiar (pagar pena)
São palavras ou expressões que, empregadas em espirar (soprar, exalar) expirar (terminar)
um determinado contexto, têm significados opostos. estático (imóvel) extático (admirado)
As relações de antonímia podem ser estabelecidas em esterno (osso do peito) externo (exterior)
gradações (grande/pequeno; velho/jovem); reciproci- extrato (o que se extrai de
dade (comprar/vender) ou complementaridade (ele é estrato (camada)
algo)
casado/ele é solteiro). Vejamos o exemplo a seguir: estremar (demarcar) extremar (exaltar, sublimar)
incerto (não certo, impreciso) inserto (inserido, introduzido)
incipiente (principiante) insipiente (ignorante)
laço (nó) lasso (frouxo)
ruço (pardacento, grisalho) russo (natural da Rússia)
tacha (prego pequeno) taxa (imposto, tributo)
tachar (atribuir defeito a) taxar (fixar taxa)

Fonte: https://www.soportugues.com.br/secoes/seman/seman6.
php. Acessado em: 17/10/2020.

Parônimos

Parônimos são palavras que apresentam sentido


diferente e forma semelhante, conforme demonstra-
mos nos exemplos a seguir:

Fonte: https://bit.ly/3kETkpl. Acesso em: 16/10/2020. z Absorver/absolver

A relação de sentido estabelecida na tirinha é „ Tentaremos absorver toda esta água com
construída a partir dos sentidos opostos das palavras esponjas (sorver).
“prende” e “solta”, marcando o uso de antônimos, nes- „ Após confissão, o padre absolveu todos os fiéis
70 se contexto. de seus pecados (inocentar).
z Aferir/auferir Hipônimo e Hiperônimo

Relação estabelecida entre termos que guardam


„ Realizaremos uma prova para aferir seus
relação de sentido entre si e mantém uma ordem gra-
conhecimentos (avaliar, cotejar).
dativa. Exemplo: Hiperônimo – veículo; Hipônimos –
„ O empresário consegue sempre auferir lucros
carro, automóvel, moto, bicicleta, ônibus...
em seus investimentos (obter).
SUBSTITUIÇÃO DE PALAVRAS OU DE TRECHOS DE
z Cavaleiro/cavalheiro TEXTO

„ Todos os cavaleiros que integravam a cavala- Há algumas maneiras de rescrever um texto. Des-
ria do rei participaram na batalha (homem que tacaremos aqui o deslocamento dos enunciados e a
anda de cavalo). substituição de palavras ou trechos.
„ Meu marido é um verdadeiro cavalheiro, abre A substituição pode ser realizada por meio de
sempre as portas para eu passar (homem edu- recursos como sinônimos, antônimos, locução ver-
cado e cortês). bal, verbos por substantivos e vice-versa, voz verbal,
conectivos, dentre outros.
z Cumprimento/comprimento
Sinônimos
„ O comprimento do tecido que eu comprei é de
Palavras ou expressões que possuem significados
3,50 metros (tamanho, grandeza).
iguais ou semelhantes.
„ Dê meus cumprimentos a seu avô (saudação).
Ex.:

z Delatar/dilatar z O carro está com algum problema / O automóvel


apresentou defeitos.
„ Um dos alunos da turma delatou o colega que
chutou a porta e partiu o vidro (denunciar). Antônimos
„ Comendo tanto assim, você vai acabar dilatan-
do seu estômago (alargar, estender). Palavras que possuem significados diferentes, ou
seja, significados opostos que podem ser usados para
z Dirigente/diligente substituir a palavra anterior.
Ex.:
„ O dirigente da empresa não quis prestar decla-
rações sobre o funcionamento da mesma (pes- z O homem estava nervoso e inquieto / O senhor
não estava calmo.
soa que dirige, gere).
„ Minha funcionária é diligente na realização de
Locução Verbal
suas funções (expedito, aplicado).
Ao invés de usar a forma única do verbo, é pos-
z Discriminar/descriminar sível substituir o verbo por uma locução verbal e
vice-versa.
„ Ela se sentiu discriminada por não poder Exs.:
entrar naquele clube (diferenciar, segregar).
„ Em muitos países se discute sobre descrimi- z Vou solicitar os documentos amanhã / Solicitarei
nar o uso de algumas drogas (descriminalizar, os documentos amanhã.
inocentar).
Verbo por Substantivo e Vice-versa
Fonte: https://www.normaculta.com.br/palavras-paronimas/.
Acessado em 17/10/2020. Pode-se usar um substantivo correspondente no
lugar de um verbo ou vice-versa, desde que isso faça
Polissemia (Plurissignificação) sentido dentro do contexto.
Exs.:
Multiplicidade de sentidos encontradas em algu-
z Caminhar: caminho;
LÍNGUA PORTUGUESA

mas palavras, dependendo do contexto. As palavras


polissêmicas guardam uma relação de sentido entre z Resolver: resolução;
z Trabalhar: trabalho;
si, diferenciando-as das palavras homônimas. A polis-
z Necessitar: necessidade;
semia é encontrada no exemplo a seguir:
z Estudar: estudos;
z Beijar: beijo;
z O trabalho enobrece o homem / Trabalhar eno-
brece o homem.

Voz Verbal

É possível mudar a voz verbal sem mudar a men-


Fonte: https://bit.ly/3jynvgs. Acessado em: 17/10/2020. sagem do enunciado. 71
Exs.: REORGANIZAÇÃO DA ESTRUTURA DE ORAÇÕES E
DE PERÍODOS DO TEXTO
z Eu fiz todo o trabalho / Todo o trabalho foi feito
por mim. Deslocamento

Palavra por Locução Correspondente Deslocamento é o recurso utilizado para reescre-


ver determinado trecho, que se baseia em modificar
Pode-se, na reescrita, trocar uma palavra por locu- de lugar determinados termos. Ou seja: um termo
ção que corresponda a ela, ou vice-versa. que estava no início pode ir para o final do texto e
Ex.:
vice-versa.
Podemos citar como exemplo os períodos a seguir:
z O amor materno é singular / O amor de mãe é
singular.
z Faleceu, em São Paulo, o jornalista Ricardo Boe-
Conectivos com Mesmo Valor Semântico chat;
z O jornalista Ricardo Boechat faleceu em São
Os conectivos são palavras ou expressões que têm Paulo.
a função de ligar os períodos e parágrafos do texto.
Os conectores ou conectivos podem ser conjunções ou Para reescrever frases utilizando o deslocamento,
advérbios/locuções adverbiais e sempre promovem é necessário observar se há mudança de sentido e se
uma relação entre os termos conectados. a correção gramatical foi mantida. Do mesmo modo,
Por meio da substituição de conectivos, é possí- para analisar uma questão de reescritura, é neces-
vel modificar e reescrever um trecho sem que haja sário observar qual elemento foi deslocado e se esse
mudança de sentido. deslocamento provocou mudança de sentido ou ina-
dequação gramatical.
É possível deslocar os seguintes termos em uma
Importante! oração:
Identifique a relação que cada conector indica,
pois, ao substituir um conector por outro que Adjunto Adverbial
não possui relação semântica, pode ocorrer
mudança no sentido do texto. Ex.: Na semana passada, participei de todas as
Ao usar um conectivo para substituir outro, é aulas da faculdade. Participei de todas as aulas da
necessário que ambos estabeleçam o mesmo faculdade na semana passada.
tipo de relação. Observando os pontos anteriormente menciona-
dos, é possível perceber que neste caso não há mudan-
ça de sentido, e que a correção gramatical foi mantida,
A seguir, relembraremos algumas das principais já que o adjunto adverbial de tempo no final da ora-
relações que os conectores expressam: ção não precisa de vírgula.
z Adição: E, também, além disso, mas também;
Adjetivo
z Oposição: Mas, porém, contudo, entretanto, no
entanto;
z Causa: Por isso, portanto, certamente; Ex.: Meu novo namorado trabalha com vendas;
z Tempo: Atualmente, nos dias de hoje, na socieda- Meu namorado novo trabalha com vendas.
de atual, depois, antes disso, em seguida, logo, até Na frase original, o adjetivo “novo” está antes do
que; substantivo, e na segunda frase, aparece depois. No
z Consequência: Logo, consequentemente, por con- entanto, é possível perceber não há mudança de sen-
sequência; tido e que a correção gramatical foi mantida, já que
z Confirmação / Reafirmação: Ou seja, nesse sen- essa mudança não implica necessidade de vírgula
tido, nessa perspectiva, em suma, em outras pala- nem provoca erro gramatical.
vras, dessa forma;
z Hipótese / Probabilidade: A menos que, mesmo Pronome Indefinido
que, supondo que;
z Semelhança: Do mesmo modo, assim como, bem
Ex.: Não quero que alguma situação tire nossa paz;
como;
z Finalidade: Afim de, para, para que, com a finali- Não quero que situação alguma tire nossa paz.
dade de, com o objetivo de; Neste caso, não há mudança de sentido e a corre-
z Exemplificação: Por exemplo, a exemplo de, isto ção gramatical foi mantida, pois essa mudança não
é; implica necessidade de vírgula nem provoca erro
z Ênfase: Na verdade, efetivamente, certamente, gramatical.
com efeito; Observe o quadro a seguir para sanar suas dúvidas
z Dúvida: Talvez, por ventura, provavelmente, sobre as diferenças entre os recursos:
possivelmente;
z Conclusão: Portanto, logo, enfim, em suma. DIFERENÇAS ENTRE OS RECURSOS
Deslocamento Substituição
Dentro de cada um dos grupos de conjunções aci-
ma citados é possível haver substituição entre as con- Substitui determinado termo
Muda um termo de lugar den-
junções sem que haja prejuízo no entendimento final do trecho, mantendo o mes-
tro do próprio enunciado
mo sentido
72 do trecho reescrito.
DIFERENÇAS ENTRE OS RECURSOS
A linguagem oral e a linguagem escrita são, pois,
duas manifestações da linguagem verbal, cada uma
Antes Antes
com suas características próprias (a linguagem oral
Ex.: Dessa forma, todos po- Ex.: Dessa forma, todos po-
deremos ir juntos ao local do deremos ir juntos ao local do permite um contato direto com o destinatário, é mais
evento evento espontânea, mais livre, não requer escolarização,
renova-se permanentemente; já na linguagem escrita
Depois
Depois há maior distância entre emissor e receptor, sendo o
Ex.: Todos poderemos, dessa
Ex.: Assim, todos poderemos contato indireto e requer escolarização e aprendiza-
forma, ir juntos ao local do
ir juntos ao local do evento
evento gem formal da escrita).

Este tema da reescrita de textos pode ser aplicado A LINGUAGEM FORMAL


tanto a questões de concursos quanto à produção de
redações e textos diversos. Dependendo da situação, a linguagem verbal
Nas questões, é necessário analisar as opções (escrita e oral) pode ser mais ou menos formal.
dadas para encontrar aquela na qual a escrita esteja Quando você conversa ao telefone com um velho ami-
gramaticalmente correta e o sentido original do texto go ou envia uma mensagem de texto para um paren-
esteja presente, sem mudanças na compreensão. te, se comunica de uma forma mais livre; já numa
Já nas redações, a reescrita é essencial para corri- entrevista de emprego ou ao escrever um e-mail soli-
gir erros e escrever de forma mais clara. Ela auxilia, citando algo a uma autoridade, você escolhe melhor
também, para poder utilizar o texto-base como sub- as palavras.
sídio para a escrita, fazendo modificações de alguns Ou seja, o nível de formalidade nas comunica-
trechos e adaptando-os para a sua escrita. ções varia conforme a circunstância.
A linguagem informal (oral ou escrita) geralmen-
REESCRITA DE TEXTOS DE DIFERENTES GÊNEROS te é usada quando temos certo nível de intimidade
E NÍVEIS DE FORMALIDADE entre os interlocutores, como nas correspondências
entre familiares ou amigos. Já a linguagem formal
Ao estudar redação, é necessário saber alguns con- (na sua forma oral ou escrita), caracterizada pela poli-
ceitos fundamentais. dez e escolha cuidadosa das palavras, é normalmen-
A linguagem, em termos bem simples, é a capaci- te empregada quando nos dirigimos a alguém com
dade que nós, seres humanos, possuímos de expressar quem não temos proximidade, como no exemplo da
nossos pensamentos, ideias, sentimentos e opiniões. seleção de emprego e em outras situações que exigem
Ou seja, é um código utilizado para estabelecer tal protocolo, como na escrita de um texto científico,
comunicação. um livro didático, na correspondência entre empre-
Existem dois tipos principais de linguagem: a lin- sas e, como veremos mais adiante, na comunicação
oficial.
guagem não verbal e a linguagem verbal. A lingua-
O termo “registro” é usado para se fazer referência
gem não verbal não utiliza palavras para constituir
aos níveis de formalidade na língua falada e na língua
a comunicação: ela faz uso de formas de comunica-
escrita. Os níveis de formalidade são chamados, ain-
ção como gestos, sinais, símbolos, cores luzes etc. (por
da, de níveis de fala ou níveis de linguagem.
exemplo, quando se observa um semáforo de trânsito,
Em qualquer ato de linguagem, para a escolha do
com suas luzes vermelha, amarela e verde e se enten-
registro (do nível de formalidade), o indivíduo leva
de que se deve ou não avançar; ou ainda, quando se
em conta, mesmo que de forma inconscientemente,
ouve o apito de um agente de trânsito).
a situação em que se encontra ao produzir seu tex-
Já a linguagem verbal usa palavras para estabe-
to (oral ou escrito). Em outras palavras, ao praticar
lecer a comunicação: esse uso pode se dar na forma
a comunicação, o autor escolhe um nível maior ou
oral ou na forma escrita (como, por exemplo, em uma
menor de formalidade e, para isso, leva em considera-
entrevista na TV ou em um e-mail). Observe a tabela
ção, entre outras coisas:
abaixo que traz exemplos que ajudam a diferenciar a
linguagem não verbal da linguagem verbal (em suas
duas formas). z O seu interlocutor;
z Ambiente em que se encontra;
z O assunto a ser tratado; e
LINGUAGEM z A intenção, objetivo a ser atingido (informar, soli-
LINGUAGEM VERBAL - ORAL
NÃO VERBAL citar, persuadir etc.).
LÍNGUA PORTUGUESA

Telefonemas
Conversas É observando esses elementos que o autor adequa:
Sinais de trânsito
Cores Discursos
Aulas z Os vocábulos;
Desenhos
Entrevistas etc z A pronúncia (no caso da fala);
Gestos
z A ortografia (no caso da escrita);
Postura
LINGUAGEM VERBAL - ESCRITA z A estruturação das sentenças.
Placas
Pinturas Livros
Bandeiras Quanto mais formal for um ato de linguagem, mais
E-mails
Buzinas cuidado deve ser dedicado aos itens acima.
Jornais
Músicas etc Observe a tabela baixo, retirada do manual de Tex-
Cartas
tos Dissertativo-Argumentativo do Inep, que ilustra os
Leis etc.
dois tipos de registro, o formal e o informal. 73
REGISTRO FORMAL REGISTRO INFORMAL
Jovem para o chefe: Jovem para a mãe:

Boa tarde, chefe. Infelizmente, acabei de sofrer um aciden- Que droga, mãe! Bateram no meu carro!
te de trânsito e devo me atrasar, pois estou aguardando a Tô bem, não se preocupe. Me mande o número da segura-
polícia, para os trâmites formais, e a seguradora, para o dora. Depois te ligo
recolhimento do veículo

Note que o fato é o mesmo: o acidente de trânsito no caminho para o trabalho. No entanto, função das duas
diferentes situações (avisar duas pessoas com as quais tem diferentes níveis de intimidade), o registro se faz
necessário em suas duas espécies: no registro formal e no registro informal.
Assim, ao elaborar o texto da redação oficial, deve-se atentar para o uso do registro formal, uma vez que
se espera o uso da modalidade escrita formal da língua portuguesa.
Resumindo, a diferença entre linguagem formal e linguagem informal está no contexto em que elas são uti-
lizadas e na escolha das palavras e expressões utilizadas para comunicar.
A tabela abaixo apresenta uma comparação entre as duas formas de linguagem.

LINGUAGEM FORMAL LINGUAGEM INFORMAL


A linguagem formal é aquela utilizada em situações
A linguagem informal é utilizada em situações mais
que exigem maior protocolo (situações profissio-
O que é descontraídas, quando existe maior liberdade entre
nais, acadêmicas ou quando não existe intimidade
os interlocutores.
entre os interlocutores)
Não requer o uso da norma culta, sendo normal o
uso de gírias, expressões populares, neologismos
Caracte- Uso da norma culta (respeito rigoroso às normas
(palavras inventadas) e palavras abreviadas, como
rísticas gramaticais) e utilização de vocabulário extenso
vc, cê e tá
Sofre influência de variações culturais e regionais
Situações mais formais, como entrevistas de empre-
gos, palestras, concursos públicos e documentos Utilizada em conversas cotidianas, em mensagens
Quando se oficiais de texto enviadas por celular, chats
usa Geralmente, é utilizada quando se dirige a superio- Normalmente é usada em conversas entre amigos e
res, autoridades ou ao público em geral. É mais utili- familiares. O uso mais comum se dá quando se fala
zada quando se escreve
Estou muito atrasado Caramba, tô muito atrasado

Quando se fala em linguagem oficial é importante dar atenção aos vícios de linguagem, a fim de que sejam evi-
tados. Os vícios de linguagem são defeitos, erros cotidianos que cometemos no emprego da língua, normalmente
por falta de atenção e pouco conhecimento dos significados das palavras. Confira alguns vícios de linguagem (lem-
bre-se quando estudarmos a redação oficial que estes são defeitos que não podem constar nas comunicações
emitidas pelo poder público):

z Barbarismo: grafia ou pronúncia de uma palavra em desacordo com a norma culta (como por exemplo escre-
ver “previlégio” ao invés de “privilégio” ou pronunciar “RUbrica” quando o correto é “ruBRIca”); outra forma
de barbarismo é o estrangeirismo: vício que se caracteriza pelo uso indevido de expressões ou frases estran-
geiras em nossa língua, como o uso de “performance” ao invés de “desempenho, exibição”; ou “show”, no lugar
de “espetáculo”;
z Solecismo: desvio da norma em relação à sintaxe. Ex.: “Fazem dois anos que não nos vemos”, no lugar de “Faz
dois anos”; ou “Vamos no restaurante”, no lugar de “Vamos ao restaurante”;
z Cacofonia: mal uso de sons, causado pela junção de palavras, como em ela tinha muito dinheiro (parece o
som de: “é latinha”); beijou na boca dela (“cadela”);
z Neologismo: ocorrem quando da criação de uma palavra nova, ou ainda quando uma palavra existente assu-
me outro significado. Ex.: “deletar”, que surge principalmente por conta do contexto da informática; e
z Eco: repetição de um som numa sequência de palavras (como por exemplo, O acusado foi interrogado pelo
magistrado).

Além disso, evite ainda:

z O emprego de gírias ou expressões populares (isso não significa usar palavras difíceis e rebuscadas);
z O uso de jargões (terminologia técnica comum a uma atividade ou grupo específico, comumente usada em
grupos profissionais ou socioculturais, como por exemplo, “peticionar”, de uso comum pelos advogados). Mas
isso não quer dizer que não se pode utilizar uma terminologia específica quando necessário (somente se você
tiver certeza do que determinada palavra significa);
z As palavras reduzidas, como “tá” em lugar de “estar”, “cê” em vez de “você”, ou “pra” em vez de “para”;
74 z Os verbos de sentido muito geral, como “dar”, “ter”, “fazer”, “achar”, no lugar de verbos de sentido mais exato;
z As expressões típicas da oralidade, como “bem”, - A que distância da praia o senhor acha que
“veja bem”, “entendeu?”. a barquinha sofreu a lufada que levou nosso
companheiro?
Outro fenômeno linguístico que deve ser evitado - A quatrocentos metros, aproximadamente.
na comunicação formal é o uso de regionalismos. O - O que me espanta – continuou o repórter – é que,
admitindo a hipótese de ter nosso companheiro
regionalismo é o modo de falar particular de deter-
morrido, ainda não tenha sido lançado à praia o
minada região geográfica, como, por exemplo, a pala-
seu cadáver ou do seu cachorro.
vra “piá” (o regionalismo usado no sul do Brasil que se
refere a menino) e o termo “semáforo” pode ser desig-
Nesse trecho é possível observar alguns dos ele-
nado por “farol” em São Paulo, e “sinal” ou “sinaleiro”
mentos de uma narrativa: um narrador (no caso em
no Rio de Janeiro. terceira pessoa) apontando o local onde se passa ação
e introduzindo a fala dos personagens que realizam
TIPOS TEXTUAIS E GÊNEROS TEXTUAIS suas ações em um tempo (passado).
Quando se pensa em narração dentro de um con-
É preciso, antes, saber por meio de quais gêneros curso, o mais importante é conhecer os conceitos de
textuais essa comunicação se dá. Mas o que são gêne- discurso direito e discurso indireto.
ros textuais? Vamos relembrá-los aqui. O discurso direto é aquele em que o narrador,
Por ser comum a confusão entre gêneros textuais que pode ser onisciente (isto é, saber tudo sobre o
e tipos textuais, vamos primeiramente discorrer a enredo e os personagens, revelando os sentimentos e
respeito dos tipos textuais. pensamentos mais íntimos, de um modo que vai além
Tipo textual é a estrutura do texto, ou seja, é a da própria imaginação) ou personagem (aquele que
forma como o texto se apresenta. Existem diferentes conta e participa dos fatos ao mesmo tempo) repete
classificações de tipos textuais, algumas delas com até as falas de outro personagem, separando-as das
seis tipos diferentes (narrativo; descritivo; expositivo; suas. Para isso, o narrador usa marcas de pontua-
argumentativo; instrucional ou injuntivo; e dialogal). ção que ajudam a identificar quem está falando. Essas
Em concursos públicos, as tipologias (estruturas) marcas podem ser: dois pontos, aspas ou travessão de
mais comuns são: narração, descrição e dissertação diálogo. Veja, abaixo, um exemplo retirado do livro
(ou exposição). Robur, O Conquistador, de Júlio Verne:

Narração Nesse momento, Robur apareceu na ponte da aero-


nave e os dois colegas aproximaram-se dele.
A narração consiste em uma história contada - Engenheiro Robur – disse tio Prudente -, eis-nos
por um narrador (em primeira pessoa, participando aqui nos confins da América! Parece-nos que esta
brincadeira vai acabar...
das ações, ou em terceira pessoa, como observador),
- Eu nunca brinco – respondeu Robur.
a qual é construída em torno de um ou mais perso-
nagens (reais ou fictícios), em certo local (físico, como
Ou seja, no discurso direto é o próprio personagem
uma cidade ou um prédio, ou psicológico, passando
que fala dentro da história.
na mente do narrador ou do personagem) e em um
Por sua vez, o discurso indireto se dá quando
determinado tempo (normalmente no passado, mas
o narrador da história diz ou escreve o que outro
pode ser no presente, como a narração de um evento
personagem disse. Melhor dizendo, no discurso indi-
esportivo, ou no futuro). Caracteriza-se pela sequência
reto, o narrador utiliza suas próprias palavras para
lógica que é apresentada ao leitor: a história tem uma
transmitir ou as falas de um ou de mais personagens.
introdução (na qual se apresentam os personagens, Observe o exemplo no seguinte trecho da obra Doutor
o local onde a história se passa e em que momento); Jivago, de Boris Pasternak: Na estação, o tio pediu ao
logo após, o texto mostra uma situação de conflito, de guarda que o deixasse passar pela grade para se despe-
suspense, que prende a atenção do leitor até atingir o dir da mulher.
ápice (clímax) da narrativa, que é encerrado pelo des- Uma caraterística desse tipo de discurso é que
fecho da história. será sempre feito na 3ª pessoa. Além disso, nesse tipo
Os elementos que compõem um texto narrativo de discurso são utilizados verbos de elocução (ver-
são: bos que anunciam o discurso, tais como falou, disse,
lembrou, comentou, perguntou, respondeu, observou,
z Narrador; exclamou, sentenciou, gritou, entre outros) e conjun-
z Enredo; ções (uma vez que, para que, a fim de que, para que,
z Tempo; conforme etc.) que separam a fala do narrador das
LÍNGUA PORTUGUESA

z Espaço; falas dos personagens.


z Personagens; A narração não é um tipo textual comum nas reda-
z Discurso. ções. O mais corriqueiro é que a banca examinadora
exija que o candidato identifique diferentes discursos
Para a melhor compreensão, observe o trecho a em uma questão de múltipla-escolha ou ainda que
seguir, retirado da obra A Ilha Misteriosa, de Júlio transforme um discurso direto em indireto em algu-
Verne: ma questão aberta, conforme os exemplos abaixo.

Gedeon Spillet estava na praia, imóvel, com os bra- DISCURSO DIRETO DISCURSO INDIRETO
ços cruzados, olhando para o mar. Eu não como carne Ele disse que não come carne
- Parece que teremos uma noite bastante má, senhor
Spillet – disse o marinheiro. Ele disse que iria ao restau-
Vou ao restaurante esta noite
rante naquela noite
O Jornalista voltou-se e perguntou: 75
As peças de Nelson Rodrigues tratam de denunciar
DISCURSO DIRETO DISCURSO INDIRETO
toda a hipocrisia que paira sobre uma sociedade
Ele falou que havia perdido vítima da repressão sexual. É o seu teatro que abre
Eu perdi a hora
a hora as portas para a modernidade na dramaturgia
Ele mencionou que não con- brasileira.
Eu não conseguiria dormir
seguiria dormir
Note que no trecho acima, o autor apenas mos-
Descrição tra certas características da obra do escritor Nelson
Rodrigues. Não há, em nenhuma parte do texto, recur-
sos argumentativos que buscam convencer o leitor.
A descrição, ao contrário da narração, não admi-
te ação. Nesse tipo textual, é apresentada uma série
Dissertativo-Argumentativo
de características de determinado ser, objeto ou
espaço, de modo a compor na mente do leitor/ouvin-
te a imagem do que está sendo retratado. A descrição Neste tipo dissertativo, as ideias são organiza-
pode ser objetiva ou subjetiva. Na primeira, a coisa/ser/ das no sentido de convencer o leitor. Os argumentos
espaço descrito é mostrado de forma concreta, impar- (enunciados) atribuem ao objeto ou fenômeno de que
cial, sem expor as impressões do observado (o foco é se fala, qualidades, informações, depoimentos, cita-
dado nas características como forma, tamanho, volu- ções, fatos, evidências e dados estatístico, entre outros
me, coloração etc.). Já na descrição subjetiva, se valo- recursos, procurando defender o ponto de vista do
riza a percepção do observador em relação ao que é autor. Veja um exemplo de um trecho de texto disser-
descrito, deixando claras as emoções e impressões do tativo-argumentativo, retirado da obra Textos Disser-
autor sobre aquilo que ele descreve. Veja nos exemplos tativo-Argumentativos, do Inep:
as duas formas de se descrever o mesmo espaço:
Impossível desconhecer que Nelson Rodrigues é o
maior dramaturgo brasileiro de todos os tempos.
DESCRIÇÃO OBJETIVA DESCRIÇÃO SUBJETIVA Foi revolucionário, renovador e ousado em rela-
Manhattan é o centro da A deslumbrante Nova Ior- ção ao teatro tradicional. Suas dezessete peças são
Região Metropolitana de que, com suas lindas lojas sucessivamente reeditadas. Sua obra é frequente-
Nova Iorque, uma das áreas e suntuosos prédios é, ver- mente encenada na atualidade. Seus textos são os
metropolitanas mais popu- dadeiramente, a capital do mais estudados nos cursos de Letras.
losas do mundo, sendo a mundo
grande cidade mais densa- Observe que agora, diferentemente do exemplo
mente povoada dos Esta- anterior, o autor busca formar a opinião do leitor,
dos Unidos buscando convencê-lo.

Note que, ao contrário da primeira, a segunda des-


Importante!
crição envolve subjetividades, ou seja, as impressões
pessoais do autor. Existem dois tipos de textos dissertativos: o
Apesar de menos frequente, é possível que deter- expositivo e o argumentativo. No texto disser-
minada banca organizadora peça um texto descritivo tativo-expositivo, o autor apresenta as informa-
(daí a importância em ressaltar mais uma vez a neces- ções sem a necessidade de convencer o leitor
sidade de se conhecer a banca e de se analisar com de algo (ou seja, faz uma exposição e não um
profundidade o edital). debate). Já no tipo dissertativo-argumentativo,
o escritor faz uma reflexão sobre determinado
DISSERTATIVO-EXPOSITIVO E tema para defender o seu ponto de vista e, por-
DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO tanto, busca convencer o leitor
A dissertação é a tipologia textual que visa à expo-
sição, à análise e à defesa de uma tese ou ponto de Os tipos textuais acima expostos são utilizados de
vista a respeito de um assunto específico. É a forma forma combinada de modo a compor o que conhece-
mais frequentemente exigida nos concursos, tendo mos por gêneros textuais (textos que exercem uma
em vista a possibilidade de permitir ao candidato a função social específica, isto é, aparecem em situações
exposição de ideias a respeito de um tema de interes- cotidianas de comunicação e apresentam uma finali-
se social. A dissertação é dividida em duas categorias: dade comunicativa bem definida). A lista de gêneros
é aberta e pode ser infinita. Por exemplo, o tipo tex-
Dissertativo-Expositiva tual dissertativo-argumentativo é o dominante nos
seguintes gêneros textuais:
Neste tipo textual o autor apresenta ideias, fatos
e fenômenos. O objetivo é informar o leitor (caráter z Texto de opinião;
expositivo), sem a intenção de persuadi-lo, de con- z Diálogo argumentativo;
vencê-lo em relação ao pensamento. É impessoal z Carta de leitor;
(redigida em terceira pessoa). Portanto, neste caso, z Carta de reclamação;
a dissertação tende à simples exposição de ideias, z Carta de solicitação;
de informações, de definições e de conceitos, como z Deliberação informal;
se nota no exemplo abaixo, retirado da obra Textos z Debate regrado;
Dissertativo-Argumentativos, publicada pelo Instituto z Editorial;
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio z Discurso de defesa,
76 Teixeira (Inep): z Requerimento;
z Ensaio; quanto 14 elefantes africanos e teria tido sete tone-
z Resenha; ladas a mais do que o recordista anterior, o argenti-
z Crítica. nossauro, também localizado na Patagônia. Um mês
após o anúncio dos argentinos, paleontólogos brasilei-
Por sua vez, o tipo textual dissertativo-expositi- ros apresentaram um fóssil resgatado em Presidente
vo prevalece nos seguintes gêneros: Prudente (SP), que afirmaram ser do maior dinossauro
do país. O Austroposeidon magnificus, como o chama-
z Aula; ram, tinha 25 metros de comprimento e viveu há 70
z Texto expositivo; milhões de anos, segundo os estudiosos. E o Planalto
z Artigo enciclopédico; Central abrigou gigantes como esses? Embora escava-
z Texto explicativo; ções nunca tenham sido feitas no Distrito Federal e no
z Tomada de notas; Entorno até então, especialistas detectaram indícios
z Resumos; de esqueletos de animais extintos e de instrumentos
z Resenhas; usados por homens das cavernas na região.
z Relatório científico. O ser humano não conviveu com os dinossauros em
nenhuma parte do mundo. Os dinossauros foram
Em concursos públicos, os gêneros textuais mais extintos há milhões de anos, antes do surgimento
frequentes são: os editoriais, os artigos de opinião, da humanidade. Mas o primeiro registro da presen-
as notícias, as reportagens, as crônicas e os contos. ça humana no Planalto Central coincide com a fase
No editorial, discute-se um assunto, apresentando de extinção dos primeiros animais que habitaram a
ponto de vista do jornal, da empresa jornalística ou região, bichos grandes e ferozes, como o tigre-den-
do redator-chefe. Já no artigo de opinião, o autor tes-de-sabre. Os homens da caverna também tinham
busca convencer o leitor em relação a uma determi- a companhia de outros animais enormes, como o
nada ideia e, ao contrário do editorial, o artigo de megatério, uma espécie de preguiça, e o gliptodonte,
opinião não representa o ponto de vista do veículo um tatu gigante de até um metro de altura. Por uma
que publica o texto. O editorial e o artigo de opinião faixa de terra onde hoje é a América Central, animais
são gêneros textuais que pertencem ao tipo textual do norte chegaram ao sul. Entre eles, o mastodonte, os
dissertativo-argumentativo. cães-urso e os ancestrais dos cavalos, todos antigos
moradores do cerrado.
Apesar da longa coexistência, não há nenhuma evi-
Dica
dência confiável de que o homem tenha caçado os
Lembre-se que parte do método para fazer uma animais gigantes de forma sistemática no território
boa redação no concurso é ter um bom repertó- nacional ou mesmo na América do Sul, ao contrário
rio de ideias. A leitura de editoriais e de artigos do que ocorreu na América do Norte, onde mamutes
de opinião constitui uma das melhores formas e mastodontes eram presas constantes das popula-
de ampliar seu “capital cultural”, uma vez que ções humanas. O desaparecimento da megafauna
tratam de assuntos recentes e de relevância no território nacional provavelmente não teve relação
social. Além disso, servem para ajudar a domi- direta com a chegada do serhumano, como algumas
nar a estrutura da redação, uma vez que, por hipóteses para essa extinção sugerem. Os pesqui-
sadores Mark Hubbe e Alex Hubbe acreditam que a
pertencerem ao tipo textual dissertativo-argu-
extinção dos animais tenha sido desencadeada por
mentativo, possuem a mesma estrutura do texto
uma mudança climática. Na teoria deles, as espécies
que será cobrado nas provas. da megafauna teriam se extinguido gradualmente a
partir da última grande glaciação, no fim do período
Outro gênero recorrente é a notícia, na qual chamado Pleistoceno (há aproximadamente 12 mil
são relatados de forma objetiva e concisa, fatos da anos). Os maiores não teriam vivido além de dez mil
realidade. anos atrás, e os menores teriam avançado um pouco
A reportagem por sua vez, caracteriza-se por ser o além da nova era, até quatro mil anos atrás.
gênero que apresenta um texto jornalístico que abor-
da fatos de interesse geral; na reportagem, ao contrá- Internet: <www.correiobraziliense.com.br> (com adaptações).
rio da notícia, os fatos são tratados de uma forma mais
aprofundada e didática. Com relação aos aspectos linguísticos do texto CB1A-
Já a crônica e o conto, constituem gêneros tipica- 1-I, julgue o item que se segue.
mente narrativos; o primeiro sobre fatos do cotidiano,
enquanto o último versa sobre um único conflito, uma Os dois primeiros períodos do segundo parágrafo
só ação. estabelecem uma relação de causa e consequên-
LÍNGUA PORTUGUESA

cia, em que o primeiro período consiste na causa e o


segundo, na consequência.

HORA DE PRATICAR! ( ) CERTO  ( ) ERRADO

1. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Texto CB1A1-I 2. (CEBRASPE-CESPE — 2022) A palavra manipulação,


apesar de largamente aceita e disseminada, é comple-
Em 2015, pesquisadores argentinos anunciaram a xa, uma vez que se associa a diferentes conceitos. Se,
descoberta dos fósseis da maior criatura da Terra. na área da farmacologia, manipular substâncias para
Eles estimaram que o dinossauro tivesse 40 metros de produzir medicamentos é um gesto intrínseco e neces-
comprimento e 20 metros de altura (quando esticava sário, no campo da comunicação, afirmar que alguém
o pescoço). Com 77 toneladas, teria sido tão pesado manipulou dados e informações quase sempre tem
77
caráter pejorativo. Isso porque manipulação seria, ao aceno para que se aproxime. “O que é que você ainda
mesmo tempo, operar em algo, interferir na sua inte- quer saber?”, pergunta o porteiro. “Você é insaciável.”
gridade e afetar o seu fluxo natural. “Todos aspiram à lei”, diz o homem. “Como se expli-
A ideia de manipulação da informação transita com ca que, em tantos anos, ninguém além de mim pediu
muita facilidade na sociedade e no senso comum. É para entrar?” O porteiro percebe que o homem já está
natural criticar profissionais e organizações informa- no fim e, para ainda alcançar sua audição em declínio,
tivas porque manipularam notícias. A assertiva pode ele berra: “Aqui ninguém mais podia ser admitido, pois
conter elementos que caracterizem interferência inde- esta entrada estava destinada só a você. Agora eu vou
vida, justificando a crítica, mas existem casos também embora e fecho-a”.
em que a manipulação é resultado mais da não corres-
pondência (de expectativas de conteúdo ou de forma) Franz Kafka. O processo. Tradução de Modesto Carone. Companhia
do que propriamente de distorção, desvio ou constru- das Letras, 1997 (com adaptações).
ção artificial de um relato.
Manipular o noticiário significa controlar, coagir, suge- Com referência às ideias, aos sentidos e aos aspectos
rir, induzir por meio da razão ou dos afetos. Atende à linguísticos do texto precedente, julgue o item a seguir.
vontade de dominar indivíduos ou populações, orien- Seria mantida a correção gramatical do texto caso, no
tando suas condutas. Assim, a manipulação é um trecho “que se havia equipado para a viagem”, o pro-
complexo de controle social que contribui para a mas- nome “se” fosse deslocado para depois do particípio,
sificação das sociedades e para a emergência de indi- escrevendo-se equipado-se.
víduos que se movem por vontades alheias às suas.
( ) CERTO  ( ) ERRADO
Rogério Christofoletti. Padrões de manipulação no jornalismo
brasileiro: fake news e a crítica de Perseu Abramo 30 anos depois. 4. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Em O processo, a antevi-
In: Rumores, v. 12, n.º 23, jan.-jun./2018, p. 59-60 (com são do inferno em que se transformaria a burocracia
adaptações)
moderna, das culpas imputadas, da tortura anônima
e da morte que caracterizam os regimes totalitários
Julgue o item seguinte, com base no texto anterior.
do século vinte já é um lugar-comum. O trucidamen-
to (literal) de que K. tornou-se um ícone do homicídio
Com relação ao segundo parágrafo, considerando- político. “A colônia penal” de Kafka transformou-se em
-se os processos de conexão oracional no período “A realidade pouco depois de sua morte, quando também
assertiva pode conter elementos que caracterizem os temas da aniquilação e dos “vermes”, de sua Meta-
interferência indevida, justificando a crítica, mas exis- morfose, adquiriram macabra realidade. A realização
tem casos também em que a manipulação é resultado concreta de suas premonições, com pormenores de
mais da não correspondência (de expectativas de con- clarividência, está indissociavelmente relacionada às
teúdo ou de forma) do que propriamente de distorção, suas fantasias aparentemente desvairadas. Haveria
desvio ou construção artificial de um relato”, é correto algum sentido em pensar que, de alguma forma, as
afirmar que, na construção desse período, empregam- previsões claramente formuladas na ficção de Kaf-
-se a coordenação oracional e a subordinação oracio- ka, em O processo principalmente, teriam contribuído
nal na mesma proporção. para que de fato ocorressem? Seria possível que uma
profecia articulada de maneira tão impiedosa tivesse
( ) CERTO  ( ) ERRADO outro destino que não a sua realização? As três irmãs
de K. e sua Milena morreram em campos de concen-
3. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Diante da lei está um por- tração. O judeu da Europa Central que Kafka ironizou
teiro. Um homem do campo dirige-se a este porteiro e e celebrou foi extinto de maneira abominável. Em ter-
pede para entrar na lei. Mas o porteiro diz que agora mos espirituais, existe a possibilidade de Franz Kafka
não pode permitir-lhe a entrada. O homem do campo ter sentido seus dons proféticos como uma visitação
reflete e depois pergunta se então não pode entrar mais de culpa, de que a capacidade de antever o tivesse
tarde. “É possível”, diz o porteiro, “mas agora não”. Uma exposto demais às suas emoções. K. torna-se o cúm-
vez que a porta da lei continua como sempre aberta, plice, perplexo, porém quase impaciente, do crime per-
e o porteiro se põe de lado, o homem se inclina para o petrado contra ele. Coexistem, em todos os suicídios,
interior através da porta. Quando nota isso, o porteiro a apologia e a aquiescência. Como diz o sacerdote,
ri e diz: “Se o atrai tanto, tente entrar apesar da minha em triste zombaria (seria mesmo zombaria?): “A justi-
proibição. Mas veja bem: eu sou poderoso. E sou ape- ça nada quer de ti. Acolhe-te quando vens e te deixa ir
nas o último dos porteiros. De sala para sala, porém, quando partes”. Essa formulação está muito próxima
existem mais porteiros, cada um mais poderoso que de ser uma definição da vida humana, da liberdade de
o outro. O camponês não esperava tais dificuldades: ser culpado, que é a liberdade concedida ao homem
a lei deve ser acessível a todos e a qualquer hora, pen- expulso do Paraíso. Quem, senão Kafka, teria sido
sa ele. Ele faz muitas tentativas para ser admitido, e capaz de dizer isso em tão poucas palavras? Ou se
cansa o porteiro com os seus pedidos. O homem, que saber condenado por ter sido capaz de fazê-lo?
se havia equipado para a viagem com muitas coisas,
lança mão de tudo, por mais valioso que seja, para George Steiner. Um comentário sobre O processo d e Kafka. In:
subornar o porteiro. Este aceita tudo. Durante todos Nenhuma paixão desperdiçada. Tradução de Maria Alice Máximo.
esses anos, o homem observa o porteiro quase sem Rio de Janeiro: Record, 2001 (com adaptações).
interrupção. Esquece outros porteiros e este primei-
ro parece-lhe o único obstáculo para a entrada na lei. Acerca dos sentidos, das ideias e dos aspectos lin-
Nos primeiros anos, amaldiçoa em voz alta o acaso guísticos do texto apresentado, julgue o item a seguir.
infeliz. Antes de morrer, todas as experiências daquele
tempo convergem na sua cabeça para uma pergunta
78 que até então não havia feito ao porteiro. Faz-lhe um
Conforme as regras oficiais de grafia, “Coexistem” pode- “naturalmente” preparados para as ciências exatas
ria ser grafado alternativamente como Co-existem. são exemplos de preconceitos.
A discriminação racial, por sua vez, é a atribuição de
( ) CERTO  ( ) ERRADO tratamento diferenciado a membros de grupos racial-
mente identificados. Portanto, a discriminação tem
5. (CEBRASPE-CESPE — 2022) A tecnologia finalmen- como requisito fundamental o poder — ou seja, a pos-
te está derrubando os muros do tradicionalismo que sibilidade efetiva do uso da força —, sem o qual não é
envolve o mundo do direito. Cercado de costumes e possível atribuir vantagens ou desvantagens por con-
hábitos por todos os lados, o direito e seus operado- ta da raça. Assim, a discriminação pode ser direta ou
res têm a fama de serem apegados a formalismos, indireta. A discriminação direta é o repúdio ostensivo
praxes e arcaísmos resistentes a mudanças mais radi- a indivíduos ou grupos, motivado pela condição racial,
cais. São práticas persistentes, passadas adiante por exemplo do que ocorre em países que proíbem a entra-
gerações e cultivadas como se necessárias para man- da de negros, judeus, muçulmanos, pessoas de origem
ter a integridade e a operacionalidade costumeira do árabe ou persa, ou ainda lojas que se recusam a aten-
sistema. der clientes de determinada raça. Já a discriminação
Nem mesmo o hermético universo do direito resistiu indireta é um processo em que a situação específica
às mudanças tecnológicas trazidas pela rede mundial de grupos minoritários é ignorada — discriminação de
de computadores e pela possibilidade do uso de soft- fato — ou sobre a qual são impostas regras de “neutra-
wares de inteligência artificial para análise de grandes lidade racial” sem que se leve em conta a existência de
volumes de dados. diferenças sociais significativas — discriminação pelo
Novidades cuja aplicação foi impulsionada pelo inces- direito ou discriminação por impacto adverso. A discri-
sante crescimento de demandas judiciais e pela necessi- minação indireta é marcada pela ausência de intencio-
dade de implementar e efetivar o sistema de precedentes nalidade explícita de discriminar pessoas. Isso pode
qualificados. acontecer porque a norma ou prática não leva em con-
Todas essas inovações, sem dúvida nenhuma, trans- sideração ou não pode prever de forma concreta as
formaram o sistema de justiça como o conhecíamos e consequências da norma.
o cotidiano dos operadores do direito.
O direito, o processo decisório e os julgamentos são Silvio Almeida. Racismo Estrutural (Feminismos Plurais). Editora
Jandaíra. Edição do Kindle (com adaptações).
eminentemente de natureza humana e dependem
do ser humano para serem bem realizados. Assim,
mesmo que os avanços tecnológicos sejam inevitá- Com base nas ideias e nos aspectos linguísticos do
veis, todas as inovações eletrônicas e virtuais devem texto anterior, julgue o item que se seguem.
sempre ser implementadas com parcimônia e vistas
com muito cuidado, não apenas para sempre permi- A supressão da preposição “a”, em “lojas que se recu-
tirem o exercício de direitos e garantias, mas também sam a atender clientes de determinada raça”, prejudi-
para não restringirem — e, sim, ampliarem — o acesso caria a correção gramatical do texto.
à justiça e, sobretudo, para manterem a insubstituível
humanidade da justiça. ( ) CERTO  ( ) ERRADO

Rafael Muneratti. Justiça virtual e acesso à justiça. In: Revista da 7. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Aprimorar a saúde
Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Sul, ano 12, v. 1, n.º mental e física, prevenir doenças, ajudar a suportar
28, 2021 (com adaptações). o estresse, lidar com sentimentos de impotência e
racionalizar fracassos de modo mais positivo e pro-
Com relação às ideias e aos aspectos linguísticos do dutivo: são essas as promessas de um amplo leque
texto anterior, julgue o item a seguir. de técnicas que, baseadas na ciência, podem adequar-
-se a necessidades ou circunstâncias de qualquer um.
No texto, a preposição “para”, em suas três ocorrên- Algumas visam alterar estilos cognitivos e emocionais
cias, veicula uma ideia de finalidade. — ou seja, como racionalizar as causas de sucessos
e fracassos —, outras se concentram em repetir cha-
( ) CERTO  ( ) ERRADO vões de autoafirmação. Há ainda técnicas voltadas
para treinar a esperança — pensamento orientado por
6. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Para falar de racismo, objetivos em que as pessoas percebem que podem
é preciso antes diferenciar o racismo de outras cate- produzir itinerários para metas desejadas e a motiva-
gorias que também aparecem associadas à ideia de ção necessária para segui-los —, praticar a gratidão e
raça: preconceito e discriminação. o perdão ou cultivar o otimismo — uma diferença indi-
Podemos dizer que o racismo é uma forma sistemáti- vidual variável que reflete em que medida as pessoas
LÍNGUA PORTUGUESA

ca de discriminação que tem a raça como fundamento mantêm expectativas favoráveis sobre o futuro. Em
e que se manifesta por meio de práticas conscientes síntese, todos esses métodos compartilham alguns
ou inconscientes que culminam em desvantagens ou atributos. De um lado, são feitos sob medida para um
privilégios para indivíduos, a depender do grupo racial consumo rápido; de outro lado, dizem proporcionar
ao qual pertençam. retornos rápidos e mensuráveis em troca de pouco
Embora haja relação entre os conceitos, o racismo investimento e esforço.
difere do preconceito racial e da discriminação racial.
O preconceito racial é o juízo baseado em estereóti- Edgar Cabanas. Happycracia: fabricando cidadãos felizes.
pos acerca de indivíduos que pertençam a determi- Trad. Humberto do Amaral. São Paulo: Ubu Editora, 2022 (com
adaptações).
nado grupo racializado, o que pode ou não resultar
em práticas discriminatórias. Considerar negros vio-
lentos e inconfiáveis, judeus avarentos ou orientais
79
Considerando as ideias e as propriedades linguísticas 8. (CEBRASPE-CESPE — 2022) .Em relação a aspectos
do texto precedente, julgue o item que se segue. linguísticos do texto CB2A1-I, julgue o seguinte item.
No segundo período do segundo parágrafo, a flexão
O texto é exclusivamente descritivo. das formas verbais “É” e “seja” na terceira pessoa do
singular justifica-se pela concordância com “toda a
( ) CERTO  ( ) ERRADO comunicação da companhia com seus colaboradores”,
termo que funciona como sujeito de ambas as orações.
Leia o texto a seguir para responder às questões 8, 9
e 10: ( ) CERTO  ( ) ERRADO

Texto CB2A1-I 9. (CEBRASPE-CESPE — 2022) .Em relação a aspectos


linguísticos do texto CB2A1-I, julgue o seguinte item.
Ser mais humano em meio a um mundo cada vez No quarto parágrafo, o emprego das aspas em ‘roboti-
mais digital — esse é o grande desafio das organiza- zada’ indica que essa palavra foi inventada pelo autor
ções para o ano de 2022 no Brasil e em todo o mun- do texto, com base na palavra robô.
do. O equilíbrio entre home office e escritório, em um
modelo híbrido de trabalho, deve ser a tendência para ( ) CERTO  ( ) ERRADO
os próximos anos. E, no contexto da vida pós-pande-
mia, há desafios que os departamentos de recursos 10. (CEBRASPE-CESPE — 2022) ).Em relação a aspectos
humanos (RH) vão enfrentar para manter uma relação linguísticos do texto CB2A1-I, julgue o seguinte item.
saudável e positiva entre empresas e colaboradores e Dadas as relações coesivas do segundo período do
garantir, ainda, a produtividade do negócio. E no meio último parágrafo, é correto afirmar que as formas pro-
de tudo isso, a tecnologia mais uma vez surge como a nominais “lhes” e “suas” referem-se ao mesmo termo
viabilizadora de bons resultados. antecedente.
O primeiro desafio do RH é demonstrar segurança em
um mundo de incertezas. É fundamental que toda a ( ) CERTO  ( ) ERRADO
comunicação da companhia com seus colaboradores
seja feita de maneira clara, precisa e sem hesitação, 11. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Seja como for, está claro
para evitar dúvidas e ansiedades, transmitindo-se que a distinção entre o que seria natural e o que seria
segurança às equipes de trabalho. Nesse sentido, uma cultural não faz o menor sentido para os aborígenes
plataforma digital workplace, a famosa intranet, é uma australianos. Afinal de contas, no mundo deles, tudo é
ferramenta indispensável para sustentar uma comuni- natural e cultural ao mesmo tempo. Para que se possa
cação de fato eficiente. falar de natureza, é preciso que o homem tome distân-
Não há mais espaço para um modelo de trabalho cia do meio ambiente no qual está mergulhado, é pre-
independente e não colaborativo nas organizações, ciso que se sinta exterior e superior ao mundo que o
depois de quase dois anos de mudanças profundas cerca. Ao se extrair do mundo por meio de um movimen-
nas relações de trabalho. Se o RH não dá as respos- to de recuo, ele poderá perceber este mundo como um
tas certas no tempo certo, os gestores tendem a agir todo. Pensando bem, entender o mundo como um todo,
sozinhos em busca de soluções para seus desafios de como um conjunto coerente, diferente de nós mesmos
atração e retenção de talentos. O resultado é uma des- e de nossos semelhantes, é uma ideia muito esquisita.
valorização da área de recursos humanos, que é um Como diz o grande poeta português Fernando Pessoa,
dos pilares para a produtividade e sustentabilidade de vemos claramente que há montanhas, vales, planícies,
qualquer empresa. florestas, árvores, flores e mato, vemos claramente que
O suporte da tecnologia ganha um papel cada vez há riachos e pedras, mas não vemos que há um todo ao
mais estratégico para apoiar a tomada de decisão, qual isso tudo pertence, afinal só conhecemos o mundo
que precisa ser cada vez mais humanizada. Não se por suas partes, jamais como um todo. Mas, a partir do
trata de usar a tecnologia para automatizar e otimi- momento em que nos habituamos a representar a natu-
zar processos em uma estrutura “robotizada”, mas de reza como um todo, ela se torna, por assim dizer, um
ampliar o uso de ferramentas que humanizem as rela- grande relógio, do qual podemos desmontar o mecanis-
ções a partir de dados mais ricos e informações mais mo e cujas peças e engrenagem podemos aperfeiçoar.
completas e valiosas, para buscar o melhor tanto para Na realidade, essa imagem começou a ganhar corpo
os colaboradores quanto para a própria empresa. relativamente tarde, a partir do século XVII, na Europa.
Em 2022, o foco deve ser encontrar soluções que pos- Esse movimento, além de tardio na história da huma-
sam resolver os desafios da gestão de capital humano nidade, só se produziu uma única vez. Para retomar
das organizações. Mesmo com toda a tecnologia exis- uma fórmula muito conhecida de Descartes, o homem
tente, a ideia não é substituir pessoas, mas conferir- se fez então “mestre e senhor da natureza”. Resultou
-lhes poder para que suas tomadas de decisões sejam daí um extraordinário desenvolvimento das ciências e
ainda melhores. É a tecnologia viabilizando relações das técnicas, mas também a exploração desenfreada
mais humanas, precisas, por meio de dados reais, con- de uma natureza composta, a partir de então, de obje-
fiáveis. Esse é o caminho para o futuro. tos sem ligação com os humanos: plantas, animais,
terras, águas e rochas convertidos em meros recursos
Robson Campos. Internet: <www.abeinfobrasil.com.br> (com que podemos usar e dos quais podemos tirar provei-
adaptações) to. Naquela altura, a natureza havia perdido sua alma e
nada mais nos impedia de vê-la unicamente como fonte
de riqueza.

Philippe Descola. Outras naturezas, outras culturas. São Paulo:


Editora 34, 2016, p.22-23 (com adaptações).
80
No que se refere aos sentidos e aos aspectos linguísti- do Bem, que se percebe com dificuldade, mas que não
cos do texto anterior, bem como às ideias nele expres- se pode ver sem se concluir que ela é a causa de tudo
sas, julgue o item a seguir. o que há de reto e de belo. Acrescento que é preciso
Seriam mantidas a correção gramatical e a coerência vê-la se se quer comportar-se com sabedoria, seja na
do texto caso o trecho “Mas, a partir do momento em vida privada, seja na vida pública.”.
que nos habituamos a representar a natureza como De acordo com este texto, a possibilidade de um indi-
um todo, ela se torna, por assim dizer, um grande víduo tornar-se justo e virtuoso depende de um pro-
relógio” (sétimo período) fosse reescrito da seguinte cesso de transformação pelo qual deve passar. Assim,
forma: Porém, desde que passamos a compreender a afasta-se das aparências, rompe com as cadeias de
natureza como uma totalidade em si, ela se transfor- preconceitos e condicionamentos e adquire o ver-
mou em uma espécie de grande maquinário. dadeiro conhecimento. Tal processo culmina com a
visão da forma do Bem, representada pela matéria do
( ) CERTO  ( ) ERRADO Sol. O sábio é aquele que atinge essa percepção. Para
Platão, conhecer o Bem significa tornar-se virtuoso.
12. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Texto CB2A1-I Aquele que conhece a justiça não pode deixar de agir
de modo justo.
Assim como cidadania e cultura formam um par
Danilo Marcondes. Textos básicos de ética: de Platão a Foucault. 1ª
integrado de significações, cultura e territorialidade ed. Rio de Janeiro: Jahar, 2007, p. 31 (com adaptações).
são, de certo modo, sinônimos. A cultura, forma de
comunicação do indivíduo e do grupo com o universo, Em relação às ideias, aos sentidos e aspectos linguís-
é herança, mas também um reaprendizado das rela- ticos do texto precedente, julgue o item subsecutivo.
ções profundas entre o ser humano e o seu meio, um
resultado obtido por intermédio do próprio processo O termo “Alegoria”, empregado no texto precedente,
de viver. Incluindo o processo produtivo e as práticas alude à ideia de representação.
sociais, a cultura é o que nos dá a consciência de per-
tencer a um grupo, do qual é o cimento. É por isso que
( ) CERTO  ( ) ERRADO
as migrações agridem o indivíduo, roubando-lhe parte
do ser, obrigando-o a uma nova e dura adaptação em
14. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Alguns linguistas acredi-
seu novo lugar. Desterritorialização é frequentemente
tam que o Homo erectus, há mais ou menos 1 milhão
outra palavra para significar alienação, estranhamen-
e meio de anos, já tinha uma linguagem. Os argumen-
to, que são, também, desculturização.
tos que eles dão são que o Homo erectus tinha um
Esse processo é, também, o que comanda as migra-
cérebro relativamente grande e usava ferramentas de
ções, que são, por si sós, processos de desterritoriali-
pedra primitivas, porém bastante padronizadas. Essa
zação e, paralelamente, processos de desculturização.
hipótese pode ser verdadeira, mas pode também estar
O novo ambiente opera como uma espécie de deno-
bem longe do correto. O uso de ferramentas certamen-
tador. Sua relação com o novo morador se manifesta
te não requer linguagem.
dialeticamente como territorialidade nova e cultura
Chimpanzés usam galhos como ferramentas para
nova, que interferem reciprocamente, mudando para-
caçar cupins, ou pedras para quebrar nozes. Obvia-
lelamente territorialidade e cultura, e mudando o ser
mente, mesmo as ferramentas mais primitivas do
humano.
Homo erectus (pedras lascadas) são muito mais sofis-
Milton Santos. O espaço do Cidadão. 7.ª ed. São Paulo: Editora da
ticadas que qualquer coisa usada por chimpanzés,
Universidade de São Paulo, 2020, p. 81-83 (com adaptações). mas ainda assim não há uma razão convincente para
crer que essas pedras não pudessem ter sido produzi-
Com relação aos aspectos linguísticos do texto CB2A- das sem linguagem.
1-I, julgue o item que se segue. O tamanho do cérebro é igualmente problemático
Em “roubando-lhe parte do ser” (quarto período do pri- como indicador da presença de linguagem, porque
meiro parágrafo), a forma pronominal “lhe” transmite ninguém tem uma boa ideia de quanto cérebro exa-
ideia de posse, indicando que as migrações roubam tamente é necessário para a linguagem. Além disso,
parte do ser dos indivíduos. a capacidade para a linguagem pode ter permanecido
latente no cérebro por milhões de anos, sem ter sido
( ) CERTO  ( ) ERRADO de fato colocada em uso.

Guy Deutscher. O desenrolar da linguagem.


13. (CEBRASPE-CESPE — 2022) O texto mais célebre de Renato Basso e Guilherme Henrique May (Trad.). Campinas:
A República é sem dúvida a Alegoria da Caverna, em Mercado de Letras, 2014, p. 28-29 (com adaptações).
que Platão, utilizando-se de linguagem alegórica, dis-
LÍNGUA PORTUGUESA

cute o processo pelo qual o ser humano pode passar A respeito das ideias, dos sentidos e aspectos linguís-
da visão habitual que tem das coisas, “a visão das ticos do texto precedente, julgue o item que se segue.
sombras”, unidirecional, condicionada pelos hábitos e
preconceitos que adquire ao longo de sua vida, até a O uso do advérbio “Obviamente” (segundo parágrafo)
visão do Sol, que representa a possibilidade de alcan- desempenha importante papel na argumentação apre-
çar o conhecimento da realidade em seu sentido mais sentada no texto, realçando uma informação que já é
elevado e compreendê-la em sua totalidade. A visão tomada como conhecimento geral.
do Sol representa não só o alcance da Verdade e, por-
tanto, do conhecimento em sua acepção mais comple- ( ) CERTO  ( ) ERRADO
ta, já que o Sol é “a causa de tudo”, mas também, como
diz Sócrates na conclusão dessa passagem: “Nos últi-
mos limites do mundo inteligível, aparece-me a ideia 81
15. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Texto CG1A1-I de acordo com a Central Nacional de Denúncias de
Crimes Cibernéticos, uma parceria da ONG Safernet e
Em 721, um concílio romano presidido pelo papa Gre- com o Ministério Público Federal.
gório II proibiu o casamento com uma commater, isto Os crimes cibernéticos de natureza financeira — como
é, a madrinha de um filho, ou a mãe de um filho de invasão de computadores, roubo de senhas e dados
quem se fosse padrinho. Isso levou o papado a se ali- bancários, além de golpes gerais de extorsão — tam-
nhar com a legislação promulgada, algumas décadas bém aumentaram, e grande parte das ações tiram
antes, em Bizâncio. A adoção marcadamente rápida proveito da pandemia. Em 2020, houve registros do
desses princípios sugere que o clero franco já susten- aumento em 41.000% de sites com termos relaciona-
tava concepções similares. Isso é ilustrado por um dos a “coronavírus” e a “covid” em seu domínio.
caso curioso contado por um clérigo franco anônimo, Golpes recentes praticados no Brasil utilizam fundos
em 727. Ele censurava a maneira traiçoeira pela qual de garantia e informações sobre calendário de vacina-
a infame concubina Fredegunda havia conseguido se ção para chamar a atenção das vítimas: em junho de
tornar a esposa legal do rei Quilpérico. Durante uma 2021, criminosos usaram o FGTS para roubar dinheiro
longa ausência do rei, ela persuadira sua rival, a rainha pela Internet; em maio de 2021, hackers usaram a pro-
Audovera, a tornar-se madrinha da própria filha recém- cura pela vacina contra o coronavírus para interceptar
-nascida. Assim, a ingênua Audovera foi subitamente dados bancários.
transformada na commater de seu próprio marido, Crimes cibernéticos podem assumir várias formas,
impossibilitando qualquer relação conjugal posterior e mas há dois tipos mais praticados: crimes que visam
deixando o caminho livre para Fredegunda. o ataque a computadores — seja para obter dados,
Essa artimanha mostra que, poucos anos após o con- seja para extorquir as vítimas, seja para causar prejuí-
cílio romano de 721, o autor anônimo e seu público zos a terceiros — e crimes que usam computadores
estavam bem familiarizados com os impedimentos para realizar outras atividades ilegais — nesses casos,
derivados do parentesco espiritual. Não fosse o caso, dispositivos e redes servem como ferramentas para o
seria impossível acusar Fredegunda de seu ardiloso criminoso.
truque. As cartas do missionário Bonifácio conferem
testemunho adicional a esse fato. Em 735, ele per- Internet: <www.techtudo.com.br> (com adaptações).
guntou ao bispo escocês Pethlem se era permitido
que alguém se casasse com uma viúva que era mãe Acerca das estruturas linguísticas do texto CG2A1-I,
de seu afilhado. “Todos os padres da Gália e na terra julgue o item.
dos francos afirmavam que isso era um pecado gra- No segundo período do segundo parágrafo, o emprego
ve”, escreveu ele. Soava-lhe estranho, já que ele nunca do sinal indicativo de crase no “a” que antecede “racis-
ouvira falar nisso antes. A questão devia preocupá-lo mo” prejudicaria a correção do texto.
porque, no mesmo ano, escreveu a respeito para dois
outros clérigos anglo-saxões. Evidentemente, o mis- ( ) CERTO  ( ) ERRADO
sionário até então não estava familiarizado com esse
impedimento ao casamento, embora o clero continen- 17. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Texto CB1A2-I
tal, a quem ele se dirigia, considerasse a questão mui-
to grave. O uso da palavra está, necessariamente, ligado à
questão da eficácia. Visando a uma multidão indistin-
Mayke De Jong, Nos limites do parentesco: legislação anti-incesto ta, a um grupo definido ou a um auditório privilegia-
na Alta Idade Média ocidental (500-900). In: Jan Bremmer (Org.). De do, o discurso procura sempre produzir um impacto
Safo a Sade. Momentos na história da sexualidade.
ampinas: Papirus, 1995, p. 56-7 (com adaptações).
sobre seu público. Esforça-se, frequentemente, para
fazê-lo aderir a uma tese: ele tem, então, uma visada
Considerando os sentidos e as ideias do texto CG1A- argumentativa. Mas o discurso também pode, mais
1-I, julgue o item a seguir. modestamente, procurar modificar a orientação dos
modos de ver e de sentir: nesse caso, ele tem uma
dimensão argumentativa. Como o uso da palavra se
A autora propõe que a determinação do concílio em
dota do poder de influenciar seu auditório? Por quais
721 formaliza ideias já vigentes entre os membros do
meios verbais, por quais estratégias programadas ou
clero.
espontâneas ele assegura a sua força?
Essas questões, das quais se percebe facilmente a
( ) CERTO  ( ) ERRADO
importância na prática social, estão no centro de uma
disciplina cujas raízes remontam à Antiguidade: a retó-
16. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Texto CG2A1-I
rica. Para os antigos, a retórica era uma teoria da fala
eficaz e também uma aprendizagem ao longo da qual
Apesar da existência de uma legislação própria para o os homens da cidade se iniciavam na arte de persua-
tema, o volume de crimes cibernéticos no Brasil vem dir. Com o passar do tempo, entretanto, ela tornou-se,
crescendo, sobretudo em tempos de pandemia, com progressivamente, uma arte do bem dizer, reduzindo-
o consequente desenvolvimento de uma maior depen- -se a um arsenal de figuras. Voltada para os ornamen-
dência dos sistemas conectados. Em 2020, foram tos do discurso, a retórica chegou a se esquecer de
registradas 156.692 denúncias, um número bastan- sua vocação primeira: imprimir ao verbo a capacidade
te superior ao apresentado no ano de 2019, quando de provocar a convicção. É a esse objetivo que retor-
75.428 casos foram contabilizados. nam, atualmente, as reflexões que se desenvolvem na
Delitos relacionados à pornografia infantil caracte- era da democracia e da comunicação.
rizam 98.244 denúncias, sendo este o crime mais
cometido. Infrações relacionadas a racismo e discrimi- Ruth Amosy. A argumentação no discurso. São Paulo: Editora
nação estão no segundo lugar dos casos registrados, Contexto, 2018, p. 7 (com adaptações).
82
Julgue o item subsequente, relativo aos aspectos lin- “Um... como é mesmo o nome?”
guísticos do texto CB1A2-I. “Sim?”
“Pomba! Um... um... Que cabeça a minha! A pala-
O emprego do presente do indicativo no primeiro pará- vra me escapou por completo. É uma coisa simples,
grafo tem a finalidade de aproximar o leitor do exato conhecidíssima.”
momento em que a autora escrevia o texto. “Sim, senhor.”
“O senhor vai dar risada quando souber.”
( ) CERTO  ( ) ERRADO “Sim, senhor.”
“Olha, é pontuda, certo?”
18. (CEBRASPE-CESPE — 2022) A atividade política, para “O quê, cavalheiro?”
os antigos, estava associada à prática das virtudes e “Isso que eu quero. Tem uma ponta assim, entende?
à busca por uma ordem moral duradoura. A corrup- Depois vem assim, assim, faz uma volta, aí vem reto
ção, por sua vez, era identificada com vícios como a de novo, e na outra ponta tem uma espécie de encai-
ambição, a ganância pelo poder, a covardia etc., ou xe, entende? Na ponta tem outra volta, só que esta é
seja, tudo aquilo que causa caos social, desordem e mais fechada. E tem um, um... Uma espécie de, como
violência. é que se diz? De sulco. Um sulco onde encaixa a outra
Essa noção de corrupção associada ao desvirtuamen- ponta; a pontuda, de sorte que o, a, o negócio, enten-
to e à falta de cuidado com o bem comum atravessaria de, fica fechado. É isso. Uma coisa pontuda que fecha.
a Idade Média e chegaria até o início da modernidade Entende?”
com os teóricos políticos do Renascimento. Contudo, “Infelizmente, cavalheiro...”
com a ampliação das relações comerciais decorren- “Ora, você sabe do que eu estou falando.”
tes das grandes navegações, o crescimento urbano, o “Estou me esforçando, mas...”
advento da indústria, a ascensão da burguesia como “Escuta. Acho que não podia ser mais claro. Pontudo
classe política — por meio de revoluções como a ingle- numa ponta, certo?”
sa (1640-1668) e a francesa (1789-1799) —, o sistema “Se o senhor diz, cavalheiro.”
político começou a ser pensado de forma diferente.
A concepção antiga das virtudes como guias da polí- Luís Fernando Veríssimo. Comunicação
tica não funcionava mais na modernidade. Era neces-
sária uma concepção de política que levasse em conta Acerca das ideias, dos sentidos e dos aspectos lin-
os interesses individuais e as ambições, que faziam guísticos do texto precedente, julgue o item a seguir.
parte do mundo moderno. Mas como fazer isso sem
deixar que tais interesses e ambições degenerassem Em ‘A palavra me escapou por completo’ (sétimo pará-
o sistema político? Montesquieu foi quem ofereceu o grafo), o pronome ‘me’ exprime a reflexividade da ação
melhor modelo, que, em grande parte, ainda se faz pre- praticada pelo sujeito oracional sobre si mesmo.
sente até hoje nos regimes democráticos.
Segundo Montesquieu, para que os interesses pes- ( ) CERTO  ( ) ERRADO
soais dos governantes não triunfassem sobre o bem
público e para que o corpo político não se corrom- 20. (CEBRASPE-CESPE — 2022) A comunicação tem-se
pesse, seriam necessárias as leis positivas, isto é, um transformado em um setor estratégico da economia,
conjunto de medidas jurídicas que se ajustassem à da política e da cultura. Da guerra, ela sempre o foi. A
realidade dos interesses de determinada sociedade e inclusão da informação e da comunicação nas estra-
impusesse controle sobre ela, sendo capaz de inter- tégias bélicas tem aumentado no correr de milênios.
mediar os homens e suas necessidades. No século VII a.C., o chinês Sun Tzu, em A arte da
Esse modelo foi seguido pelas democracias liberais guerra, dizia que “toda guerra é embasada em dissi-
do século XIX. No entanto, desde a transição do sécu- mulação”, referindo-se à distribuição de informações
lo XIX para o século XXI, o mundo ficou cada vez mais falsas. Contudo, quem mais desenvolveu esse concei-
integrado, tanto econômica quanto politicamente, to foi o general prussiano Carl von Clausewitz, em seu
sobretudo após as guerras mundiais. Essa integração, amplo tratado Da guerra (Vom Kriege), publicado em
apesar de ter trazido inúmeros benefícios, também 1832. No capítulo VI, Clausewitz afirma: “Grande parte
trouxe grandes dificuldades. das notícias recebidas na guerra é contraditória, uma
parte ainda maior é falsa e a maior parte de todas é
Internet: <https://brasilescola.uol.com.br> (com adaptações). incerta. Em suma, a maioria das notícias é falsa, e o
medo do ser humano reforça a mentira e a inverda-
Julgue o item que se segue, relativo às ideias e a de. As pessoas conscientes que seguem as insinua-
aspectos linguísticos do texto anterior. ções alheias tendem a permanecer indecisas no lugar;
acreditam ter encontrado as circunstâncias distintas
LÍNGUA PORTUGUESA

Infere-se do texto que, na Antiguidade, a corrupção era do que imaginavam. Na guerra, tudo é incerto, e os
entendida como oposta à política. cálculos devem ser feitos com meras grandezas variá-
veis. Eles direcionam a observação apenas para mag-
( ) CERTO  ( ) ERRADO nitudes materiais, enquanto todo o ato de guerra está
imbuído de forças e efeitos espirituais”.
19. (CEBRASPE-CESPE — 2022) É importante saber o Trata-se de desinformar, e não de informar. A desin-
nome das coisas. Ou, pelo menos, saber comunicar formação é a informação falsa, incompleta, deso-
o que você quer. Imagine-se entrando numa loja para rientadora. É propagada para enganar um público
comprar um... um... como é mesmo o nome? determinado. Seu fim último é o isolamento do inimigo
“Posso ajudá-lo, cavalheiro?” em um conflito concreto, é o de mantê-lo em um cerco
“Pode. Eu quero um daqueles, daqueles...” informativo. Os nazistas levaram essa estratégia do
“Pois não?” engano quase à perfeição.
83
Atualmente, pratica-se tanto o cerco econômico, mili-
18 CERTO
tar e diplomático quanto o informativo. Já não se tra-
ta apenas de isolar o inimigo. As novas tecnologias 19 ERRADO
permitem aos militares intervir nos conflitos bélicos a
distância, direcionando até mesmo os foguetes com a 20 ERRADO
ajuda de GPS, a partir de um satélite. A telecomunica-
ção militar apoiada em satélites e a eletrônica deter-
minarão as guerras do futuro imediato. Fala-se já de
bombas eletrônicas (E) que podem paralisar estabe-
lecimentos neurais da sociedade moderna, como hos-
ANOTAÇÕES
pitais, centrais elétricas, oleodutos etc., destruindo os
seus circuitos eletrônicos. Parece que hoje já se pode
fazer a guerra sem bombas atômicas. As bombas E
do tipo FCG (flux compression generator — gerador de
compressão de fluxo), cujo emprego não está limitado
às grandes potências bélicas, têm o mesmo efeito e
fazem parte dos arsenais de alguns exércitos, e con-
sistem em comprimir, mediante uma explosão, um
campo eletromagnético, como um raio, sem os cus-
tos, os efeitos colaterais ou o enorme alcance de um
dispositivo de pulso eletromagnético nuclear.

Vicente Romano. Presente e futuro imediato das telecomunicações.


São Paulo em Perspectiva. Internet: <www.scielo.br> (com
adaptações).

Com relação aos sentidos e aos aspectos linguísticos


do texto CB4A1-I, julgue o próximo item.

No segundo parágrafo, na citação do general prussia-


no Carl von Clausewitz, o adjetivo ‘contraditória’, em
‘Grande parte das notícias recebidas na guerra é con-
traditória’, expressa, em tom pejorativo, um atributo do
termo ‘guerra’.

( ) CERTO  ( ) ERRADO

9 GABARITO

1 ERRADO

2 ERRADO

3 ERRADO

4 ERRADO

5 CERTO

6 CERTO

7 ERRADO

8 ERRADO

9 ERRADO

10 CERTO

11 CERTO

12 CERTO

13 CERTO

14 CERTO

15 CERTO

16 CERTO

17 ERRADO
84
z Na linguagem simbólica:
„ p ⊻ q.

Condicional (Conectivo Se e Então)


RACIOCÍNIO LÓGICO Representação simbólica: →
Exemplo:

z Na linguagem natural:
ESTRUTURAS LÓGICAS E LÓGICA DE „ Se estudar, então vai passar.
ARGUMENTAÇÃO
z Na linguagem simbólica:
ANALOGIAS, INFERÊNCIAS, DEDUÇÕES E
CONCLUSÕES „ p → q.

A Negação com o Conectivo “Não” Bicondicional (Conectivo “Se e Somente Se”)

Representação simbólica: (~p) ou (¬p). Representação simbólica:


Sabemos que o valor lógico de p e ~p são opostos, Exemplo:
isto é, se p é uma proposição verdadeira, ~p será falsa,
e vice-versa. Exemplo: z Na linguagem natural:
p: Matemática é difícil. „ Bino vai ao cinema se e somente se ele receber
(~p) ou (¬p): Matemática não é difícil. dinheiro.

Outras maneiras que podemos usar para negar z Na linguagem simbólica:


uma proposição e que vem aparecendo muito nas pro-
vas de concursos são: „ p ⟷ q.

z Não é verdade que matemática é difícil; Agora vamos treinar o que aprendemos na teo-
ria com exercícios comentados de diversas bancas.
z É falso que matemática é difícil.
Vamos lá!
Conjunção (Conectivo E)
1. (CEBRASPE-CESPE — 2018) As proposições P, Q e R a
seguir referem-se a um ilícito penal envolvendo João,
Representação simbólica: ^
Carlos, Paulo e Maria:
Exemplos:
P: “João e Carlos não são culpados”. Q: “Paulo não é
mentiroso”. R: “Maria é inocente”.
z Na linguagem natural: Considerando que ~X representa a negação da propo-
sição X, julgue o item a seguir.
„ O macaco bebe leite e o gato come banana. A proposição “Se Paulo é mentiroso então Maria é
culpada.” pode ser representada simbolicamente por
z Na linguagem simbólica: (~Q)↔(~R).

„ p ^ q. ( ) CERTO  ( ) ERRADO

Disjunção Inclusiva (Conectivo Ou) Veja que temos uma proposição condicional (se
então) e a representação simbólica apresentada é
Representação simbólica: v de uma bicondicional. Representação da condicio-
Exemplos: nal (). Resposta: Errado.

z Na linguagem natural: 2. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Julgue o seguinte item, rela-


tivo à lógica proposicional e à lógica de argumentação.
„ Maria é bailarina ou Juliano é atleta. A proposição “A construção de portos deveria ser
uma prioridade de governo, dado que o transporte
z Na linguagem simbólica: de cargas por vias marítimas é uma forma bastante
econômica de escoamento de mercadorias.” pode ser
RACIOCÍNIO LÓGICO

„ p v q. representada simbolicamente por P∧Q, em que P e Q


são proposições simples adequadamente escolhidas.
Disjunção Exclusiva (Conectivo Ou... ou)
( ) CERTO  ( ) ERRADO
Representação simbólica: ⊻
Exemplos: A representação simbólica apresentada para julgar-
mos é de uma conjunção e na questão foi apresen-
z Na linguagem natural: tada uma proposição composta pela condicional na
forma “camuflada” dentro de uma relação de causa
e consequência “ Dado que...”. Resposta: Errado.
„ Ou o elefante corre rápido ou a raposa é lenta.
85
3. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Considere as seguintes um caso onde várias pessoas afirmam certas situações
proposições: P: O paciente receberá alta; Q: O paciente e entre elas existe aquela que diz algo verdadeiro, mas
receberá medicação; R: O paciente receberá visitas. também há aquela que só mente. Então, o seu dever
Tendo como referência essas proposições, julgue o é entender o que o enunciado está querendo e achar
item a seguir, considerando que a notação ~S significa quem são os mentirosos e verdadeiros.
a negação da proposição S. Em algumas questões, você terá que fazer um teste
A proposição ~P→[Q∨R] pode assim ser traduzida: Se lógico e depois avaliar cada afirmação que está dis-
o paciente receber alta, então ele não receberá medi- posta no enunciado. Caso não aconteça divergência
cação ou não receberá visitas. entre as informações, sua suposição estará correta e
você conseguirá achar quem está falando a verdade
( ) CERTO  ( ) ERRADO ou mentindo. Agora, se houver divergência, você terá
que fazer uma nova suposição. Esse tema não tem
P: O paciente receberá alta; teoria como já vimos em alguns pontos do Raciocínio
~P: O paciente não receberá alta; Lógico, então, vamos aprender como resolver esse
Q: O paciente receberá medicação; tipo de questão praticando bastante.
R: O paciente receberá visitas.
A proposição ~P→[Q∨R] pode assim ser traduzida:
1. (FCC — 2012) Huguinho, Zezinho e Luizinho, três
Se o paciente não receber alta, então ele receberá
irmãos gêmeos, estavam brincando na casa de seu
medicação ou receberá visitas. Resposta: Errado.
tio quando um deles quebrou seu vaso de estimação.
Ao saber do ocorrido, o tio perguntou a cada um deles
4. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Julgue o item a seguir, a
quem havia quebrado o vaso. Leia as respostas de
respeito de lógica proposicional.
cada um.
A proposição “A vigilância dos cidadãos exercida pelo
Estado é consequência da radicalização da socieda-
de civil em suas posições políticas.” pode ser corre- Huguinho → “Eu não quebrei o vaso!”
tamente representada pela expressão lógica P→Q, Zezinho → “Foi o Luizinho quem quebrou o vaso!”
em que P e Q são proposições simples escolhidas Luizinho → “O Zezinho está mentindo!”
adequadamente.
Sabendo que somente um dos três falou a verdade,
( ) CERTO  ( ) ERRADO conclui-se que o sobrinho que quebrou o vaso e o que
disse a verdade são, respectivamente,
A vigilância dos cidadãos exercida pelo Estado é
(verbo de ligação) consequência da radicalização a) Huguinho e Luizinho.
da sociedade civil em suas posições políticas. Temos b) Huguinho e Zezinho.
apenas um verbo e por esse motivo é uma proposi- c) Zezinho e Huguinho.
ção simples. d) Luizinho e Zezinho.
Cuidado com o uso da palavra consequência em e) Luizinho e Huguinho.
proposições como esta. Em determinadas situações,
de fato, teremos uma proposição condicional, senão Para esse tipo de questão devemos buscar as infor-
vejamos: mações contraditórias, pois numa contradição
Passar (verbo no infinitivo) é consequência de estu- haverá uma “verdade e mentira”.
dar (verbo no infinitivo) Sendo assim, o enunciado diz que somente um dos
Nesse caso, temos uma proposição composta pela três falou a verdade. Então, vamos analisar as infor-
condicional. Resposta: Errado. mações contraditórias:
Veja que as afirmações de Zezinho e Luizinho se
5. (CEBRASPE-CESPE — 2016) Considerando os símbo- contradizem.
los normalmente usados para representar os conecti-
Zezinho → “Foi o Luizinho quem quebrou o vaso!”
vos lógicos, julgue o item seguinte, relativos a lógica
Luizinho → “O Zezinho está mentindo!”
proposicional e à lógica de argumentação. Nesse sen-
Não podemos afirmar quem disse a verdade ou
tido, considere, ainda, que as proposições lógicas sim-
ples sejam representadas por letras maiúsculas. quem mentiu ainda, mas já sabemos que quem que-
A sentença A fiscalização federal é imprescindível brou o vaso foi Huguinho (sobrou apenas mentira
para manter a qualidade tanto dos alimentos quanto para quem não está na contradição).
dos medicamentos que a população consome pode Huguinho → “Eu não quebrei o vaso!” – mentiu, logo
ser representada simbolicamente por P∧Q. ele quebrou o vaso.
Eliminamos as letras C, D e E.
( ) CERTO  ( ) ERRADO Agora, perceba que não tem como o Zezinho está
falando a verdade, pois já sabemos que foi Huguinho
Para ser proposição composta, haveria mais de um quem quebrou o caso. Logo, Zezinho está mentindo e
verbo na frase, por isso, a frase em questão é con- Luizinho falando a verdade.
siderada uma proposição simples. Procure o verbo Resposta: Letra A.
na oração.
A fiscalização federal é imprescindível para manter 2. (IF-PA — 2019) Ângela, Bruna, Carol e Denise são
a qualidade tanto dos alimentos quanto dos medica- quatro amigas com diferentes idades. Quando se per-
mentos que a população consome. Resposta: Certo. guntou qual delas era a mais jovem, elas deram as
seguintes respostas:
VERDADES E MENTIRAS
z Ângela: Eu sou a mais velha;
Estamos diante de um assunto bem interessante, z Bruna: Eu sou nem a mais velha nem a mais jovem;
86 pois em Verdades e Mentiras você será apresentado a z Carol: Eu não sou a mais jovem;
� Denise: Eu sou a mais jovem. 4. (COLÉGIO PEDRO II — 2017) Na mesa de um bar estão
cinco amigos: Arnaldo, Belarmino, Cleocimar, Dionésio
Sabendo que uma das meninas não estava dizendo a e Ercílio. Na hora de pagar a conta, eles decidem divi-
verdade, a mais jovem e a mais velha, respectivamen- di-la em partes iguais. Cada um deles deve pagar uma
te, são: quota. O garçom confere o valor entregue por eles e
nota que um deles não entregou sua parte, consegue
a) Bruna é a mais jovem e Ângela é a mais velha. detê-los antes que deixem o bar e os interroga, ouvin-
b) Ângela é a mais jovem e Denise é a mais velha. do as seguintes alegações:
c) Carol é a mais jovem e Bruna é a mais velha.
d) Denise é a mais jovem e Carol é a mais velha. I. Não fui eu nem o Cleocimar, disse Arnaldo;
e) Carol é a mais jovem e Denise é a mais velha. II. Foi o Cleocimar ou o Belarmino, disse Dionésio;
III. Foi o Ercílio, disse Cleocimar;
Vamos analisar: IV. O Dionésio está mentindo, disse Ercílio;
� Ângela: Eu sou a mais velha; V. Foi o Ercílio ou o Arnaldo, disse Belarmino.
� Bruna: Eu sou nem a mais velha nem a mais
jovem; Considerando-se que apenas um dos cinco amigos men-
� Carol: Eu não sou a mais jovem; tiu, pode-se concluir que quem não pagou a conta foi?
� Denise: Eu sou a mais jovem.
Não tem como Carol e Denise estarem mentido, pois a) Arnaldo.
se Carol estiver mentindo, então ela é a mais jovem b) Belarmino.
e automaticamente a Denise estará mentindo tam- c) Cleocimar.
bém. E se a Denise estiver mentindo e não for a mais d) Dionésio.
jovem, teremos um cenário em que todas as meni- e) Ercílio.
nas afirmam, de uma forma ou de outra, que não
são as mais jovens, e pelo menos uma delas tem que São cinco amigos, e apenas um mente (4 verdadei-
ser a mais jovem. ros e 1 mentiroso). Analisando as “falas” dos 5 ami-
Como o enunciado diz que apenas uma delas está gos, já foi possível identificar a contradição. Repare
mentindo, podemos pensar que se Bruna estivesse o que diz Dionésio e Ercílio:
mentindo, ela seria a mais velha e a mais jovem ao II. Foi o Cleocimar ou o Belarmino, disse Dionésio;
mesmo tempo, o que é logicamente impossível em IV. O Dionésio está mentindo, disse Ercílio;
Logo, podemos afirmar que todas os outros dizem
um grupo de 4 meninas.
a verdade:
Sendo assim, a única que poderia estar mentindo é a
I. Não fui eu nem o Cleocimar, disse Arnaldo;
Ângela. Logo, Carol é a mais velha, Denise é a mais
III. Foi o Ercílio, disse Cleocimar;
jovem.
V. Foi o Ercílio ou o Arnaldo, disse Belarmino.
Resposta: Letra D.
Aqui já achamos a nossa reposta, pois Cleocimar fala
a verdade e disse que foi o Ercílio.
3. (VUNESP — 2018) Paulo, Lucas, Sandro, Rogério e
Resposta: Letra E.
Vitor são suspeitos de terem furtado a bicicleta de
uma pessoa. Na delegacia:
5. (FCC — 2017) Cássio, Ernesto, Geraldo, Álvaro e Jair
são suspeitos de um crime. A polícia sabe que apenas
z Vitor afirmou que não tinha sido nem ele nem Rogério; um deles cometeu o crime. No interrogatório, os sus-
z Sandro jurou que o ladrão era Rogério ou Lucas; peitos deram as seguintes declarações:
z Rogério disse que tinha sido Paulo;
z Lucas disse ter sido Paulo ou Vitor; Cássio: Jair é o culpado do crime.
z Paulo termina dizendo que Sandro é um mentiroso. Ernesto: Geraldo é o culpado do crime.
Geraldo: Foi Cássio quem cometeu o crime.
Sabe-se que um e apenas um deles mentiu. Sendo Álvaro: Ernesto não cometeu o crime.
assim, a pessoa que furtou a bicicleta foi Jair: Eu não cometi o crime.

a) Lucas. Sabe-se que o culpado do crime disse a verdade na


b) Sandro. sua declaração. Dentre os outros quatro suspeitos,
c) Rogério. exatamente três mentiram na declaração. Sendo
d) Vitor. assim, o único inocente que declarou a verdade foi
e) Paulo.
a) Cássio.
RACIOCÍNIO LÓGICO

As frases de Paulo e Sandro são contraditórias. Veja: b) Ernesto.


Sandro jurou que o ladrão era Rogério ou Lucas; c) Geraldo.
Paulo termina dizendo que Sandro é um mentiroso. d) Álvaro.
Se um estiver falando a verdade, outro está e) Jair.
mentindo.
Como, ao todo, temos apenas uma mentira, então as Veja que as frases ditas por Cássio e Jair são contraditó-
demais frases são verdadeiras. Assim, analisando rias, ou seja, aqui temos uma VERDADE e uma MENTIRA.
as afirmações, percebemos que a frase de Rogério Cássio: Jair é o culpado do crime.
(que é 100% verdade) deixa claro que o culpado foi Jair: Eu não cometi o crime.
Paulo. Resposta: Letra E. Se Cássio estiver falando a verdade, então Jair é cul-
pado e disse a verdade como o enunciado afirmou.
Mas, note que não podemos ter duas verdades como 87
a situação apresentada nos mostrou, pois é uma Bruno e Antônio trocaram 5 vezes  número ímpar,
contradição. Logo, Jair foi quem disse a verdade e então, Antônio trocará de lugar com Bruno: 1º Bru-
não foi quem cometeu o crime, ou seja, é um inocen- no 2º Antônio 3º Carlos
te e falou a verdade. Bruno e Carlos trocaram 4 vezes  número par,
Resposta: Letra E. cada um ficará no seu lugar: 1º Bruno 2º Antônio
3º Carlos
LÓGICA E RACIOCÍNIO LÓGICO: PROBLEMAS Antônio e Carlos trocaram 7 vezes  número ímpar,
ENVOLVENDO LÓGICA E RACIOCÍNIO LÓGICO então, Antônio trocará de lugar com Carlos:
1º Bruno 2º Carlos 3º Antônio. Resposta: Letra B.
Dentro de toda a teoria que já foi estudada sobre
os diversos conceitos de Raciocínio Lógico, vamos 3. (VUNESP — 2019) Três moças, Ana, Bete e Carol, tra-
agora resolver algumas questões que envolvem pro- balham no mesmo ambulatório. Na segunda-feira, Ana
blemas com lógica e raciocínio. Aqui não tem teoria, chegou depois de Bete, e Carol chegou antes de Ana.
pois como disse: esse tópico reúne diversos conceitos Nesse dia, Carol não foi a primeira a chegar no serviço.
já estudados, tais como Diagrama de Venn, Associação A primeira, a segunda e a terceira moça a chegar no
Lógica, Equivalências, Negações, etc. Logo, devemos serviço nesse dia foram:
resolver questões para entendermos como são cobra-
das em provas. a) Bete, Ana e Carol.
Agora, exercite seus conhecimentos realizando os b) Bete, Carol e Ana.
seguintes exercícios comentados abaixo. c) Ana, Carol e Bete.
d) Ana, Bete e Caro.
1. (FUNDATEC — 2020) Em shopping da cidade, foram e) Carol, Bete e Ana.
entrevistadas 320 pessoas para apurar quem gosta de
séries ou quem gosta de filmes. Dos dados levanta- Ana chegou depois de Bete  Então, Ana não foi a
dos, tem-se que 256 gostam de séries e 194 gostam primeira a chegar, elimine as alternativas C e D.
de filmes. Sabendo que todos preferem pelo menos Carol chegou antes de Ana  Se Carol chegou antes
de Ana, e Ana não foi a primeira a chegar, então Ana
uma das duas opções e que ninguém disse que não
foi a última a chegar, elimine a alternativa A.
gosta de nada, quantas pessoas gostam de séries e
Carol não foi a primeira a chegar no serviço.  Já
filmes ao mesmo tempo?
que Carol não foi a primeira a chegar, elimine a
alternativa E. Conclusões: 1º Bete, 2º Carol e 3º Ana.
a) 110.
Resposta: Letra B.
b) 130.
c) 150.
4. (IBADE — 2020) Numa avenida em linha reta, a agên-
d) 170.
cia dos correios fica entre a escola e o restaurante, e
e) 190.
a escola fica entre o restaurante e a ótica. Então, con-
clui-se que:
Temos uma questão que relaciona os conceitos de
conjuntos de Venn, pedindo a interseção. Vamos a) a ótica fica entre o restaurante e a agência dos correios.
somar todos os valores e descontar do total. Fica: b) o restaurante fica a escola e agência dos correios.
Total = 320. c) a escola fica entre a agência dos correios e o restaurante.
Séries = 256. d) a agência dos correios fica entre a ótica e a escola.
Filmes = 194. e) a escola fica entre a ótica e a agência dos correios.
Resolução = 256 + 194 = 450 - 320 = 130 gostam de
filmes e séries ao mesmo tempo. Resposta: Letra B. Primeiro: Escola__Correios__Restaurante
Segundo: A escola fica entre o restaurante e a ótica.
2. (FCC — 2019) Antônio, Bruno e Carlos correram uma Ótica__Escola__Correios__Restaurante
maratona. Logo após a largada, Antônio estava em (A escola está entre a ótica e o restaurante, nessa
primeiro lugar, Bruno em segundo lugar e Carlos em representação). Resposta: Letra E.
terceiro lugar. Durante a corrida Bruno e Antônio tro-
caram de posição 5 vezes, Bruno e Carlos trocaram de 5. (CEBRASPE-CESPE — 2020) Seis amigos — Alberto,
posição 4 vezes e Antônio e Carlos trocaram de posi- Bruno, Carla, Dani, Evandro e Flávio — estão enfileira-
ção 7 vezes. A ordem de chegada foi: dos, da esquerda para a direita, e dispostos da seguin-
te forma:
a) Antônio (1º), Carlos (2º) e Bruno (3º).
b) Bruno (1º), Carlos (2º) e Antônio (3º). I. Bruno está em uma posição anterior à de Carla;
c) Bruno (1º), Antônio (2º) e Carlos (3º). II. Carla está imediatamente após Dani;
d) Carlos (1º), Bruno (2º) e Antônio (3º). III. Evandro não está antes de todos os outros, mas está
e) Carlos (1º), Antônio (2º) e Bruno (3º). mais próximo da primeira posição do que da última;
IV. Flávio está em uma posição anterior à de Bruno;
Para resolver essa questão basta saber que: se o V. Bruno não ocupa a quarta posição da fila.
número de trocas for PAR (não importa a quantida-
de) as posições vão ser mantidas, se for ímpar (não Com base nessas informações, julgue o item a seguir,
importa a quantidade), serão trocadas. considerando a ordenação da esquerda para a direita.
Logo, Bruno e Dani estão, necessariamente, em posições
1º Antônio consecutivas.
2º Bruno
88 3º Carlos ( ) CERTO  ( ) ERRADO
A primeira informação nos diz que Bruno está antes Vamos analisar agora um argumento usando
de Carla. conectivos lógicos. Quando temos essa estrutura,
Da esquerda para a direita; devemos usa o seguinte lembrete:
____Bruno___Carla___
No espaço pode conter outros amigos ou não; z Vamos afirmar que a conclusão é falsa e que as
O item II deixa claro que Carla está logo após Dani, premissas são verdadeiras;
sem ninguém entre elas. z Vamos valorar de acordo com a tabela verdade do
___Dani-Carla___ conectivo envolvido no argumento;
Juntando à anterior, fica: z Se der erro (não ficar de acordo com o padrão de
___Bruno___Dani-Carla___ valoração que afirmamos) dizemos que o argu-
Item IV fala que Flávio está antes de Bruno: mento é válido.
__Flávio___ Bruno___ Dani-Carla___
Falta Alberto e Evandro, lembrando que: Veja na prática:
Só a Dani pode ser a quarta pessoa ou não:
Flávio – Evandro – Bruno – Alberto – Dani – Carla Se fizer sol, então vou à praia. (V)
Obedecendo todas as regras, o quarto pode ser Alber- Fez sol. (V)
to ou Bruno, então, necessariamente deixa o item Logo, vou à praia. (F)
errado, pois tem outra forma. Resposta: Errado.
Já fizemos o 1° passo, colocamos na frente de cada
ARGUMENTOS: VALIDADE DE UM ARGUMENTO/ proposição os valores lógicos de acordo com o nosso
CRITÉRIO DE VALIDADE DE UM ARGUMENTO lembrete. Agora, vamos valorar! Veja que ir à praia é
falso e fez sol é verdadeiro. Colocamos os mesmos
Em nosso estudo sobre argumentos lógicos, esta- valores lógicos para proposição composta pelo conec-
remos interessados em verificar se eles são válidos ou tivo “se..., então” na primeira premissa. Assim,
inválidos. Então, passemos a seguir a entender o que sig-
nifica um argumento válido e um argumento inválido. (V) (F)
Se fizer sol, então vou à praia. (V)
Argumentos Válidos Fez sol. (V)
Logo, vou à praia. (F)
Também podem ser chamados de argumentos
bem-construído ou legítimo. Como podemos notar, quando temos a combina-
Para que o argumento seja válido, não basta que ção lógica verdade no antecedente e falso no conse-
a conclusão seja verdadeira, é preciso que as premis- quente (V  F) para o conectivo “se...,então”, o nosso
sas e a conclusão estejam relacionadas corretamente, resultado só poderá ser falso.
ou seja, quando a conclusão é uma consequência
necessária das premissas, dizemos que o argumento (V) (F)
é válido. Se fizer sol, então vou à praia. (V) (F)
Vamos analisar o exemplo: Fez sol. (V)
Logo, vou à praia. (F)
z p1: Todo padre é homem;
z p2: José é padre; Percebe-se, então, que não está de acordo com a
z c: José é homem. nossa valoração inicial, ou seja, deu erro. Logo, nosso
argumento é válido.
Quando temos argumentos utilizando os quantifi-
cadores lógicos, representamos por meio dos diagra- ARGUMENTOS INVÁLIDOS
mas lógicos para saber a validade de um argumento.
Veja que temos uma proposição do tipo Todo A é B, Também podem ser chamados de argumentos mal
logo: construídos, ilegítimos, sofismas ou falaciosos.
Dizemos que um argumento é inválido quando a
Homem verdade das premissas não é suficiente para garantir
a verdade da conclusão. Vejamos um exemplo:

Padre p1: Todas as crianças gostam de chocolate;


p2: Patrícia não é criança;
c: Portanto, Patrícia não gosta de chocolate.
RACIOCÍNIO LÓGICO

José Como já estudamos sobre esse tipo de estrutura


de argumentos utilizando os quantificadores lógicos,
vamos representar por meio dos diagramas lógicos
para saber a validade de um argumento. Veja que
temos uma proposição do tipo “Todo A é B”, logo:
Perceba que a premissa 2 afirma que José é padre,
ou seja, José tem que estar dentro do conjunto dos
padres. Sendo assim, como não há possibilidade de
um padre não ser homem, podemos afirmar que José
também é homem, como afirma nossa conclusão.
Logo, o argumento é válido.
89
Gostam de chocolate (V) (V)
Se o tempo ficar nublado, então vou ao cinema. (V)
O tempo ficou nublado. (V)
Logo, vou ao cinema. (F)
Crianças
Tudo que não estiver no padrão de combinação
lógica - verdade no antecedente e falso no conse-
Patrícia quente (V  F) para o conectivo “se...,então” – será
verdadeiro.

(V) (V)
Se o tempo ficar nublado, então vou ao cinema. (V)
Gostam de chocolate O tempo ficou nublado. (V)
Logo, vou ao cinema. (F)

Percebe-se, então, que o argumento está de acordo


Crianças com a nossa valoração inicial, ou seja, não deu erro.
Logo, nosso argumento é inválido.
Sabendo disso, guarde o esquema abaixo.
Patrícia
Deu Erro Argumento Válido
Não gostam de chocolate
Não Deu Argumento
Erro Inválido
Quando a premissa 2 afirma que Patrícia não é
criança, temos duas interpretações:
Para podermos praticar um pouco mais sobre esse
assunto, analisaremos algumas questões comentadas
z Patrícia pode não ser criança e gostar de chocolate;
de concursos.
z Ela pode não ser criança e não gostar de chocolate.
Sendo assim, não há possibilidade de afirmar com
1. (FCC — 2018) Considere os dois argumentos a seguir:
100% de certeza que Patrícia não gosta de chocola-
te, como consta na conclusão. Logo, o argumento
é inválido. I. Se Ana Maria nunca escreve petições, então ela não
sabe escrever petições.
Para um argumento usando conectivos lógicos, Ana Maria nunca escreve petições.
devemos usar o mesmo que já vimos para argumentos Portanto, Ana Maria não sabe escrever petições.
válidos, só muda um detalhe. Veja: II. Se Ana Maria não sabe escrever petições, então ela
nunca escreve petições.
z Vamos afirmar que a conclusão é falsa e que as Ana Maria nunca escreve petições.
premissas são verdadeiras; Portanto, Ana Maria não sabe escrever petições.
z Vamos valorar de acordo com a tabela verdade do
conectivo envolvido no argumento; Comparando a validade formal dos dois argumentos e
z Se não der erro (ficar de acordo com o padrão de a plausibilidade das primeiras premissas de cada um,
valoração que afirmamos) dizemos que o argu- é correto concluir que:
mento é inválido.
a) o argumento I é inválido e o argumento II é válido, mes-
Veja na prática: mo que a primeira premissa de I seja mais plausível
Se o tempo ficar nublado, então não vou ao cine- que a de II.
ma. (V) b) ambos os argumentos são válidos, a despeito das pri-
O tempo ficou nublado. (V) meiras premissas de ambos serem ou não plausíveis.
Logo, vou ao cinema. (F) c) ambos os argumentos são inválidos, a despeito das pri-
meiras premissas de ambos serem ou não plausíveis.
Já fizemos o 1° passo, colocamos na frente de cada d) o argumento I é inválido e o argumento II é válido, pois
proposição os valores lógicos de acordo com o nosso a primeira premissa de II é mais plausível que a de I.
lembrete. Agora, vamos valorar! Veja que ir ao cine- e) o argumento I é válido e o argumento II é inválido, mes-
ma é falso e o tempo ficar nublado é verdadeiro. mo que a primeira premissa de II seja mais plausível
Distribuímos os valores lógicos para proposição com- que a de I.
posta pelo conectivo “se... então” na primeira pre-
missa, de acordo com cada proposição. Perceba que Começarei pelo Argumento II, para que você possa
a proposição não vou ao cinema está negando o que entender o “macete”.
está sendo dito na conclusão, ou seja, mudamos o Argumento II.
valor lógico dela. Assim, Se Ana Maria não sabe escrever petições (F), então
ela nunca escreve petições (V). = verdadeiro
90
Ana Maria nunca escreve petições. = verdadeiro Bom raciocínio
Conclusão: Portanto, Ana Maria não sabe escrever
petições. = falso
Não deu erro Portanto,argumento inválido. Joga xadrez
Argumento I.
Se Ana Maria nunca escreve petições (verdadeiro),
então ela não sabe escrever petições. (falso) = ver-
dadeiro. (falso)
Ana Maria nunca escreve petições. = verdadeiro Homens
Conclusão: Portanto, Ana Maria não sabe escrever
petições. = falso.
ocorreu um erro!!! Pois no V  F = falso. Portanto, a Agora, vamos analisar cada alternativa e interpre-
premissa não teve como resultado verdadeiro. tar os diagramas para achar nosso gabarito.
Se deu erro, então argumento válido Logo, a) “Todos os homens têm bom raciocínio”. Errado,
Argumento I - válido pois alguns homens têm bom raciocínio.
b) “Mulheres não jogam xadrez”. Errado, pois a afir-
Argumento II - Inválido
mação acima só fala de homens.
Sabendo disso, já daria para excluir as alternativas
c) “Quem tem bom raciocínio joga xadrez” Erra-
A, B, C e D. Resposta: Letra E. do, pois eu posso ter bom raciocínio e jogar dama,
cartas, etc. alguns que tem bom raciocínio jogam
2. (FCC — 2019) Em uma festa, se Carlos está acom- xadrez.
panhado ou está feliz, canta e dança. Se, na últi- d) “Homem que não tem bom raciocínio não joga
ma festa em que esteve, não dançou, então Carlos, xadrez”. Certo, pois se o homem não tem bom racio-
necessariamente: cínio nem adianta jogar xadrez. Quem joga xadrez
tem bom raciocínio.
a) não estava acompanhado, mas estava feliz. e) “Quem não joga xadrez não tem bom raciocínio”.
b) estava acompanhado, mas não estava feliz. Errado, pois eu posso jogar dama, cartas e ter bom
c) não estava acompanhado, nem feliz. raciocínio. Resposta: Letra D.
d) não cantou.
4. (IDECAN — 2019) Se Davi é surfista, então Ana não é
e) cantou.
bailarina. Bruno não é jogador de futebol ou Cinthia
não é ginasta. Sabendo-se que Cinthia é ginasta e que
Veja que precisamos achar uma conclusão para
Ana é bailarina, pode-se concluir corretamente que:
o argumento e podemos escrever a sentença da
seguinte maneira: a) Bruno é jogador de futebol e Davi é surfista.
Temos a condicional: b) Bruno é jogador de futebol e Davi não é surfista.
(está acompanhado ou está feliz)  (canta e dança) c) Bruno não é jogador de futebol e Davi é surfista.
(P v Q)  (R ^ T) d) Se Bruno não é jogador de futebol, então Davi é surfista.
Como a questão afirma que “dança” é Falso, pode- e) Bruno não é jogador de futebol e Davi não é surfista.
mos dizer que o consequente “canta e dança” é fal-
so, pois temos o conetivo “e” e basta um valor falso Lembre-se do que estudamos quando o enunciado
não dá a valoração das premissas: tudo é verdade!
para que tudo seja falso. Assim, o antecedente pre-
Sabendo-se que Cinthia é ginasta (V) e que Ana é
cisa ser falso também. Perceba, então, que temos o
bailarina (V) podemos fazer a valoração das outras
conetivo “ou” e que tudo precisa ser falso para que premissas:
tenhamos o resultado do antecedente falso. � Se Davi é surfista (F), então Ana não é bailarina
Assim, “não está acompanhado e não está feliz”. (F). F  F = V
Resposta: Letra C. � Bruno não é jogador de futebol (V) ou Cinthia não
é ginasta (F). V
3. (FGV — 2019) Considere as afirmativas a seguir. � Cinthia é ginasta (V) e que Ana é bailarina (V). V
Devemos agora analisar as alternativas fazermos
z “Alguns homens jogam xadrez”; uso da tabela verdade, ou seja, se resultar verdade
z “Quem joga xadrez tem bom raciocínio”. essa é a questão certa.
RACIOCÍNIO LÓGICO

a) Bruno é jogador de futebol (F) e Davi é surfista


A partir dessas afirmações, é correto concluir que (F). Falso
b) Bruno é jogador de futebol (F) e Davi não é sur-
fista (V). Falso
a) “Todos os homens têm bom raciocínio”.
c) Bruno não é jogador de futebol (V) e Davi é sur-
b) “Mulheres não jogam xadrez”.
fista (F). Falso
c) “Quem tem bom raciocínio joga xadrez”. d) se Bruno não é jogador de futebol (V), então Davi
d) “Homem que não tem bom raciocínio não joga xadrez”. é surfista (F). Falso
e) “Quem não joga xadrez não tem bom raciocínio”. e) Bruno não é jogador de futebol (V) e Davi não é
surfista (V). Verdade Resposta: Letra E.
Vamos desenhar os diagramas para facilitar a nos-
sa chegada à conclusão: 91
5. (IDECAN — 2019) Considere as premissas a seguir. Importante!
1) Se o instrumento está afinado, eu toco bem. Proposição Lógica é uma oração declarativa que
2) Se o público aplaude, eu fico feliz. admite apenas um valor lógico: V ou F.
3) Se eu toco bem, consigo dinheiro.
4) Se eu consigo dinheiro, me caso ou compro uma bicicleta. Ou então podemos também esquematizar o que é
uma proposição lógica assim:
Sabendo-se que eu não me casei e não fiquei feliz, Chama-se proposição toda sentença declarativa
assinale a alternativa correta. que pode ser valorada ou só como verdadeira ou só
como falsa. A presença do verbo é obrigatória junta-
a) O público não aplaudiu. mente com o sentido completo (caráter informativo).
b) O instrumento não estava afinado.
c) Eu não consegui dinheiro. Verdadeira
d) Eu não toquei bem.
e) Eu não comprei uma bicicleta. Sentença
Ou Sentido
Declarativa
completo
Partimos da presunção de que todas as premissas
são verdadeiras e sabe-se que eu não me casei e não
fiquei feliz, as duas são verdadeiras, ou seja, é a úni- Falsa
ca certeza que a questão nos mostra. Então, a partir
Obrigatório
dela, vamos valorando as demais:
1) Se o instrumento está afinado (?), eu toco bem (?). = V Verbo
2) Se o público aplaude (F), eu fico feliz (F). = V
3) Se eu toco bem (?), consigo dinheiro (?). = V
4) Se eu consigo dinheiro (?), me caso (F) ou compro Toda proposição pode ser representada simbolica-
mente pelas letras do alfabeto, veja no exemplo:
uma bicicleta (V). = V
“não me casei (V) e não fiquei feliz (V)” = V
z p: Sabino é um pintor esperto;
A) O público não aplaudiu - de acordo com o valor
z r: Kate é uma mulher alta.
lógico da segunda proposição. Resposta: Letra A.
Na situação temos duas proposições sendo repre-
sentadas pelas letras p e r.
Bom! Agora que já sabemos o que são proposições
LÓGICA SENTENCIAL OU lógicas, fica tranquilo distinguir o que não são pro-
posições. Isto é fundamental, pois várias questões de
PROPOSICIONAL
prova perguntam exatamente isso – são apresentadas
algumas frases e você precisa identificar qual delas
PROPOSIÇÕES SIMPLES E COMPOSTAS
não é uma proposição. Vejamos os casos em que mais
aparecem:
Valores Lógicos
� Perguntas: são as orações interrogativas.
Na lógica temos apenas dois valores lógicos – ver- Exemplo: Que horas vamos ao cinema?
dadeiro ou falso. Quando temos uma declaração ver- Essa pergunta não pode ser classificada como ver-
dadeira, o seu valor lógico é Verdade (V) e quando é dadeira ou falsa;
falsa, dizemos que seu valor lógico é Falso (F). � Exclamações: são frases exclamativas.
Exemplo: Que lindo cabelo!
Proposições Lógicas Simples Essa exclamação não pode ser valorada, pois apre-
sentam percepções subjetivas;
Vamos começar nosso estudo falando sobre o que � Ordens: são orações com verbo no imperativo.
é uma proposição lógica. Observe a frase a seguir: Exemplo: Pegue o livro e vá estudar.
Ex.: Paula vai à praia.
Para saber se temos ou não uma proposição, preci- Uma ordem não pode ser classificada como verda-
samos de três requisitos fundamentais: deira ou falsa. Muito cuidado com esse tipo de oração,
pois pode ser facilmente confundida com uma propo-
z Ser uma oração: ou seja, são frases com verbos; sição lógica.
Não são proposições – perguntas, exclamações e
z Oração declarativa: a frase precisa estar apresen-
ordens.
tando uma situação, um fato;
Temos um outro caso menos cobrado em provas,
z Pode ser classificada como Verdadeira ou Falsa:
mas que também não é proposição lógica, sendo o
ou seja, podemos atribuir o valor lógico verdadeiro paradoxo. Para ficar mais claro, veja o exemplo a
ou o valor lógico falso para a declaração. seguir:
Ex.: Esta frase é uma mentira.
Tendo isso em vista, podemos afirmar claramen- Quando atribuímos um valor de verdade para a
te que a frase “Paula vai à praia” é uma proposição frase, então na verdade, ele mentiu, uma vez que a
lógica, pois temos a presença de um verbo (ir), uma própria frase já diz isso, e se atribuirmos o valor falso,
informação completa (temos o sujeito claro na oração) então a frase é verdade, pois ela diz ser uma mentira
92 e podemos afirmar se é verdade ou falsa. e já sabemos que isso é falso.
Perceba que sempre que valoramos a frase ela nos PROPOSIÇÕES COMPOSTAS
resulta um valor contrário, ou seja, estamos diante de
uma frase que é contraditória em si mesma. Isso é a Temos proposições compostas quando há duas ou
definição de um paradoxo. mais proposições simples ligadas por meio dos conec-
tivos lógicos. Veja os exemplos:
SENTENÇA ABERTA
z Sabino corre e Marcos compra leite;
Dizemos que uma sentença é aberta quando não z O gato é azul ou o pato é preto;
conseguimos ter a informação completa que a oração z Se Carlinhos pegar a bola, então o jogo vai acabar.
nos mostra. Veja o exemplo a seguir:
Cada conectivo tem sua representação simbólica e
Ex.: Ele é o melhor cantor de rock. sua nomenclatura. Veja a relação de conectivos:
Perceba que há presença do verbo e que consegui-
mos parcialmente entender o que a frase quer dizer. CONECTIVOS NOMENCLATURA SIMBOLOGIA
Todavia, logo surge a pergunta: Ele quem? Aqui nossa
e Conjunção ^
informação não consegue ser completa e por isso temos
mais um caso que não é proposição lógica. Observe ou- ou Disjunção v
tros exemplos: Disjunção v
ou...ou
Exclusiva
X + 5 = 10 se...então Condicional →
Aquele carro é amarelo.
5+5 se e somente se Bicondicional ⟷
X – Y = 20
Exemplos:
Todos os exemplos acima são sentenças abertas,
então podemos resumir da seguinte forma: z Na linguagem natural:
As variáveis: Ele, aquele ou variáveis matemáti-
cas (X ou Y) tornam a sentença aberta. „ O macaco bebe leite e o gato come banana;
Sempre será uma proposição lógica na escrita „ Maria é bailarina ou Juliano é atleta;
matemática e podemos notar que há verbos nos casos „ Ou o elefante corre rápido ou a raposa é lenta;
a seguir: „ Se estudar, então vai passar;
„ Bino vai ao cinema se e somente se ele receber
z = (é igual); dinheiro.
z ≠ (é diferente);
z > (é maior); z Na linguagem simbólica:
z < (é menor);
z ≥ (é maior ou igual); „ p ^ q;
z ≤ (é menor ou igual); „ p v q;
„ p v q;
Esquematizando o que não são proposições lógicas: „ p → q;
„ p ⟷ q.
Sentenças Interrogativas(?)
Agora que conhecemos os conectivos lógicos,
vamos ver algumas camuflagens dos operadores lógi-
Sentenças sem Verbo
NÃO SÃO cos que podem aparecer na prova. Veja:
PROPOSIÇÕES

Sentenças com Verbo no Imperativo � Conectivos “e” usando “mas”:


Exemplo: Jurema é atriz, mas Pedro é cantor;
Sentenças Abertas
� Conectivo “ou...ou” usando “...ou..., mas não
Paradoxo ambos”:
Exemplo: Baiano é corredor ou ele é nadador, mas
não ambos;
PRINCÍPIOS DA LÓGICA PROPOSICIONAL � Conectivo “Se então” usando “Desde que, Caso,
Basta, Quem, Todos, Qualquer, Toda vez que”:
É fundamental que você conheça três princípios Exemplos:
para deixarmos tudo alinhado com as proposições Desde que faça sol, Pedrinho vai à praia;
RACIOCÍNIO LÓGICO

lógicas. Veja: Caso você estude, irá passar no concurso;


Basta Ana comer massas, e engordará;
z Princípio do terceiro excluído: uma proposição Quem joga bola é rápido;
deve ser Verdadeira ou Falsa, não havendo outra Todos os médicos sabem operar;
possibilidade. Não é possível que uma proposição Qualquer criança anda de bicicleta;
seja “quase verdadeira” ou “quase falsa”; Toda vez que chove, não vou à praia.
z Princípio da não-contradição: dizemos que uma
mesma proposição não pode ser, ao mesmo tempo, É importante saber que na condicional a primeira
verdadeira e falsa; proposição é o termo antecedente e a segunda é o
z Princípio da Identidade: cada ser é único, ou seja, termo consequente.
uma proposição não assume o significado de outra
proposição lógica. 93
P→Q Pronto! A nossa tabela já está montada, agora precisa-
P = antecedente mos aprender qual o resultado que teremos quando com-
Q = consequente binamos os valores lógicos usando os conectivos lógicos.
Número de linhas da tabela verdade:
TABELAS-VERDADE 2n = 2proposições (onde n é o número de proposições).
Bom! Vamos caminhar mais um pouco e apren-
der todas as combinações lógicas possíveis para cada
Trata-se de uma tabela na qual conseguimos
conectivo lógico.
apresentar todos os valores lógicos possíveis de uma
proposição. Negação (~P)

Números de Linhas de Tabela Verdade Uma proposição, quando negada, recebe valores
lógicos opostos ao da proposição original. O símbolo
Neste momento, vamos aprender a construir tabe- que iremos utilizar é ¬ p ou ~p.
las verdade para proposições compostas.
P ~P
z 1º passo: contar a quantidade de proposições
V F
envolvidas no enunciado.
F V
Exemplo: P v Q (temos duas proposições).
Dupla Negação ~(~P)
z 2º passo: calcular a quantidade de linhas da tabela
A dupla negação nada mais é do que a própria pro-
usando a fórmula 2n = 2proposições (onde n é o número
posição. Isto é, ~(~P) = P
de proposições).

Exemplo: P v Q = 22 = 4 linhas. P ~P ~(~P)


V F V
P Q PVQ F V F

Conectivo Conjunção “E” (^)

Só teremos uma resposta verdadeira quando todos


os valores lógicos envolvidos forem verdadeiros.

P Q P^Q
z 3º passo: dispor os valores “V” e “F” na primeira V V V
coluna fazendo o agrupamento pela metade do
V F F
número de linhas da tabela.
F V F
Exemplo: P v Q = 22 = 4 linhas = (agrupamento da F F F
primeira coluna de 2 em 2 – V V / F F).
Conectivo Disjunção “Ou” (v)
P Q PVQ
Teremos resposta verdadeira quando, pelo menos,
V um dos valores lógicos envolvidos for verdadeiro.
V
F P Q PVQ
F V V V
V F V
F V V
z 4º passo: preencher as demais colunas com agru-
F F F
pamento de valores lógicos (V ou F) sempre pela
metade do agrupamento anterior. Conectivo Disjunção Exclusiva “Ou... ou” (v)

Exemplo: primeira coluna de 2 em 2 (a próxima Teremos resposta verdadeira quando os valores


será de 1 em 1). lógicos envolvidos forem diferentes.

P Q PVQ P Q PVQ
V V V V F
V F V F V
F V F V V
F F F F F
94
Conectivo Bicondicional “Se e Somente Se” () P ~P P ^ (~P)

Teremos resposta verdadeira quando os valores V F F


lógicos envolvidos forem iguais. F V F

CONTINGÊNCIA
P Q PQ
V V V Sempre que uma proposição composta recebe
V F F valores lógicos falsos e verdadeiros, independente-
F V F mente dos valores lógicos das proposições simples
componentes, dizemos que a proposição em questão é
F F V uma contingência. Ou seja, é quando a tabela verda-
de apresenta, ao mesmo tempo, alguns valores verda-
Conectivo Condicional “Se..., Então” (→) deiros e alguns falsos.
Exemplo: A proposição [P ^ (~Q)] v (P→~Q)] é uma
Especialmente nesse caso, vamos aprender quan- contingência, conforme a tabela verdade.
do teremos o resultado falso, pois o conectivo con-
dicional só tem uma possibilidade de tal ocorrência
P Q [P^(~Q)] (P→~Q) [P^(~Q)]V(P→~Q)
Somente teremos resposta falsa quando o valor lógico
do antecedente for verdadeiro e o consequente falso. V V F F F
V F V V V
P Q P→Q F V F V V
V V V F F F V V
V F F
z Tautologia: uma proposição que é sempre verdadeira;
F V V
z Contradição: uma proposição que é sempre falsa;
F F V z Contingência: uma proposição que pode assumir
valores lógicos V e F, conforme o caso.
Condicional falsa: Vai Ficar Falsa
A seguir, coloque seus conhecimentos em prática
VF=F realizando alguns exercícios de bancas variadas.

TAUTOLOGIA 1. (CEBRASPE-CESPE — 2019) Acerca da lógica senten-


cial, julgue o item que segue.
É uma proposição cujo valor lógico é sempre Se uma proposição na estrutura condicional — isto é, na
verdadeiro. forma P→Q, em que P e Q são proposições simples — for
Exemplo 1: A proposição P ∨ (~P) é uma tautologia, falsa, então o precedente será, necessariamente, falso.
pois o seu valor lógico é sempre V, conforme a tabela
verdade. ( ) CERTO  ( ) ERRADO

Veja que P→Q foi considerado falso pelo enunciado


P ~P P V ~P
da questão. Assim na condicional para ser falso a
V F V regra é que o Precedente (antecedente) seja verda-
F V V deiro o seguinte (consequente) falso. Lembre-se da
dica: Vai Ficar Falso = V  F. Resposta: Errado.
Exemplo 2: A proposição (P Λ Q) → (PQ) é uma
tautologia, pois a última coluna da tabela verdade só 2. (AOCP — 2019) Considere a proposição: “O contingen-
possui V. te de policiais aumenta ou o índice de criminalidade
irá aumentar”. Nesse caso, a quantidade de linhas da
tabela verdade é igual a:
P Q (P^Q) (PQ) (P^Q)→(PQ)
V V V V V a) 2.
b) 4.
RACIOCÍNIO LÓGICO

V F F F V
c) 8.
F V F F V
d) 16.
F F F V V e) 32.

CONTRADIÇÃO O número de linhas da tabela verdade depende do


número de proposições e é calculado pela fórmula:
É uma proposição cujo valor lógico é sempre falso. 2ⁿ. Assim,
Exemplo: A proposição P ^ (~P) é uma contradição, O contingente de policiais aumenta (1º proposição)
pois o seu valor lógico é sempre F, conforme a tabela O índice de criminalidade irá aumentar (2°
verdade. proposição)
22 = 4 linhas. Resposta: Letra B. 95
3. (FUNDATEC — 2019) Trata-se de um exemplo de tau- EQUIVALÊNCIAS
tologia a proposição:
Afirma-se que uma proposição P é logicamente
a) Se dois é par então é verão em Gramado. equivalente ou equivalente a uma proposição Q se as
b) É verão em Gramado ou não é verão em Gramado. tabelas verdade dessas duas proposições são iguais. E
c) Maria é alta ou Pedro é alto. o que isso significa? Ora, duas proposições são equiva-
d) É verão em Gramado se e somente se Maria é alta. lentes quando elas dizem exatamente a mesma coisa;
e) Maria não é alta e Pedro não é alto. quando elas têm o mesmo significado; quando uma
pode ser substituída pela outra. Para indicar que são
Você precisa guardar essa dica: A proposição que equivalentes, usaremos a seguinte notação:
contiver uma afirmação com o conectivo ou mais a
negação dessa mesma afirmação (ou vice-versa) será P⟺Q
sempre uma tautologia. Então, Distribuição (Equivalência pela Distributiva)
É verão em Gramado ou não é verão em Gramado.
A proposição p ∨ (~p) é uma tautologia, pois o seu z p ∧ (q ∨ r) ⇔ (p ∧ q) ∨ (p ∧ r)
valor lógico é sempre “verdadeiro”. Resposta: Letra B.
P (P ∧ Q)
4. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Julgue o seguinte item, rela- P Q R Q∨R ∧ P∧Q P∧R ∨
tivo à lógica proposicional e à lógica de argumentação. (Q ∨ R) (P ∧ R)
Se P e Q são proposições simples, então a proposição
V V V V V V V V
[P→Q]∧P é uma tautologia, isto é, independentemente
dos valores lógicos V ou F atribuídos a P e Q, o valor V V F V V V F V
lógico de [P→Q]∧P será sempre V. V F V V V F V V

( ) CERTO  ( ) ERRADO V F F F F F F F


F V V V F F F F
Basta perceber que o conectivo em questão é o “E” F V F V F F F F
(Conjunção), que só é verdadeiro quando as duas
são verdadeiras, sendo assim se P for falso, já irá F F V V F F F F
invalidar o argumento. Resposta: Errado. F F F F F F F F

5. (VUNESP — 2018) Seja M a afirmação: “Marília gosta z p ∨ (q ∧ r) ⇔ (p ∨ q) ∧ (p ∨ r)


de dançar”. Seja J a afirmação “Jean gosta de estu-
dar”. Considere a composição dessas duas afirma-
P (P ∨ Q)
ções: “Ou Marília gosta de dançar ou Jean gosta de
P Q R Q∧R ∨ P∨Q P∨R ∧
estudar”. A tabela verdade que representa corretamen-
(Q ∧ R) (P ∨ R)
te os valores lógicos envolvidos nessa situação é:
V V V V V V V V
TABELA - VERDADE V V F F V V V V
M J Ou M ou J V F V F V V V V
V V 1
V F F F V V V V
V F 2
F V 3 F V V V V V V V
F F 4 F V F F F V F F
F F V F F F V F
Os valores 1, 2, 3 e 4 da coluna “Ou M ou J” devem ser
preenchidos, correta e respectivamente, por: F F F F F F F F

a) V, F, V e F. Associação (Equivalência pela Associativa)


b) F, V, V e F.
c) F, F, V e V. z p ∧ (q ∧ r) ⇔ (p ∧ q) ∧ (p ∧ r)
d) V, F, F e V.
e) V, V, V e F. P (P ∧ Q)
P Q R Q∧R ∧ P∧Q P∧R ∧
Veja que precisamos saber quando o resultado das (Q ∧ R) (P ∧ R)
combinações lógicas do conectivo “ou... ou” dá ver-
V V V V V V V V
dade. Lembrando da nossa parte teórica, sempre
que tivermos valores lógicos diferentes, o resultado V V F F F V F F
será verdadeiro. Sabendo disso,
V F V F F F V F
M J Ou M ou J V F F F F F F F
V V F F V V V F F F F
V F V
F V V
F V F F F F F F
F F F F F V F F F F F
F F F F F F F F
96 Resposta: Letra B.
z p ∨ (q ∨ r) ⇔ (p ∨ q) ∨ (p ∨ r) Proposições Associadas a uma Condicional (Se,
Então)

Podemos dizer que as três proposições condicio-


P (P ∨ Q) nais que contêm p e q são associadas a p → q. Veja a
P Q R Q∨R ∨ P∨Q P∨R ∨ seguir:
(Q ∨ R) (P ∨ R)
z Proposições recíprocas: p → q: q → p;
V V V V V V V V z Proposição contrária: p → q: ~p → ~q;
V V F V V V V V
~P → ~Q →
V F V V V V V V P Q ~P ~Q P→Q Q→P
~Q ~P
V F F F V V V V V V F F V V V V
F V V V V V V V V V F V F V V F
F V F V V V F V V F V F V F F V

F F V V V F V V V F V V V V V V

F F F F F F F F z Proposição contrapositiva: p → q: ~q → ~p.

Vale ressaltar que olhando para a tabela, a condi-


cional p → q e a sua recíproca q → p ou a sua contrária
Idempotência
~p → ~q não são equivalentes.

Implicação Material
z p ⇔ (p ∧ p)
Na lógica proposicional, temos uma regra de subs-
tituição que diz que é válido que uma sentença con-
dicional seja substituída por uma disjunção em que
P P P∧P o antecedente é negado e essa é a Implicação Mate-
V V V rial. A regra determina que P implica Q é logicamente
equivalente a não ~P ou Q e pode substituir o outro
F F F em provas lógicas: P → Q ⟺ ~P v Q.
Onde “⟺” é um símbolo que representa “pode ser
substituído em uma prova com.”
z p ⇔ (p ∨ p) Ou seja, sempre que uma instância de “P → Q” é
exibida em uma linha de uma prova, ela pode ser
substituída por «~P v Q”.
Exemplo:
P P P∨P Se ele é um tigre P, então ele pode correr Q.
Assim, ele não é um tigre ~P ou ele pode correr Q.
V V V
Se for descoberto que o tigre não podia correr,
F F F escrito simbolicamente como P v ~Q, ambas as sen-
tenças são falsas, mas caso contrário, elas são ambas
verdadeiras.
Pela Exportação-Importação
Transposição

A transposição é uma regra de substituição válida


z [(p ∧ q) → r] ⇔ [p → (q → r)] para “P → Q” onde é permitido trocar o antecedente
P pelo consequente Q de um enunciado condicional
em uma prova lógica se eles estão ambos negados. É
a inferência verdadeira de “A implica B”, a verdade
(P ∧ Q) P→ do “Não-B implica não-A”, e vice-versa. É a regra que:
P Q R P∧Q Q→R
RACIOCÍNIO LÓGICO

→R (Q → R)
V V V V V V V P→Q⟺~Q→~P
V V F V F F F
Onde “⟺” é um símbolo que representa “pode ser
V F V F V V V substituído em uma prova com.”
V F F F V V V Ou seja, sempre que uma instância de “P → Q” é
exibida em uma linha de uma prova, ela pode ser
F V V F V V V
substituída por ~ Q → ~ P “.
F V F F V F V Exemplo:
F F V F V V V Se ele é um tigre P, então ele pode correr Q.
Assim, Se ele não pode correr ~Q, então ele não é
F F F F V V V um tigre ~P. 97
EQUIVALÊNCIA CONDICIONAL z Com o conectivo “e” e “se... então”

Agora vamos tratar duas equivalências impor- Para fazer essa equivalência vamos interpretar o
tantes desse conectivo que tem a maior incidência conectivo “se e somente se”. Na sua nomenclatura
nas provas de concursos. A primeira delas ensina temos uma bicondicional e o quê isso significa exa-
como transformar uma proposição composta pelo tamente? Significa que temos duas condicionais (se...
“se… então” em outra proposição composta pelo “se… então). E, pensando nisso, podemos dizer então que
então”. A outra ensina como transformar uma propo- temos uma condicional indo e uma condicional vol-
tando; repare que a simbologia (⟷) são duas setas.
sição composta pelo “se… então” em uma composta
Agora vamos traduzir isso tudo com um exemplo.
pelo conectivo “ou” (e vice-versa). Vamos lá! Exemplo: A ⟷ B ⇔ (A → B) ^ (B → A)
O céu ficará azul se e somente se hoje não chover.
Contrapositiva ⇔ Se o céu ficará azul, então hoje não vai chover e se
hoje não vai chover, então o céu ficará azul.
Para fazermos essa equivalência devemos inverter
as proposições e depois negar todas as proposições. z Com o conectivo “ou” e “tabela verdade”
Inverte e nega tudo mantendo o se então
Exemplo: A → B ⇔ ~B → ~A Já para entendermos essa equivalência, precisa-
Se Marcos estuda, então ele passa. ⇔ Se Marcos mos lembrar dos casos na tabela verdade do conetivo
não passa, então ele não estuda. “se e somente se” quando temos resultados verda-
deiros, ou seja, quando os valores lógicos são iguais.
Estas duas proposições são equivalentes. Percebeu
Sabendo disso, podemos dizer, então, que o conectivo
o processo de construção da segunda a partir da pri-
“se e somente se” terá resultado verdadeiro quan-
meira? Você deve inverter a ordem das proposições e do as proposições forem todas verdadeiras ou
negar ambas. quando forem todas falsas (vale lembrar que a nega-
ção de “V” será “F”). Logo, veja o exemplo de como
z “se... então” vira “ou” ficará essa equivalência:
Exemplo: A ⟷ B ⇔ (A ^ B) v (~A ^ ~B)
Essa equivalência é feita negando a primeira pro- O céu ficará azul se e somente se hoje não chover.
posição, trocando o conectivo “se... então” pelo conec- ⇔ O céu ficará azul e hoje não vai chover ou o céu não
tivo “ou”, repetindo a segunda proposição. ficará azul e hoje vai chover.
Nega ou Repete. Agora observe a tabela verdade envolvendo todas
as equivalências da Bicondicional:
Exemplo:

A → B ⇔ ~A v B. (A→B) (A ^ B)
A B ~A ~B A ⟷ B B⟷A ∧ V
(B→A) (~A ^ ~B)
Se o urso é ovíparo, então o macaco voa. ⇔ O urso
não é ovíparo ou o macaco voa. V V F F V V V V
Observe a tabela a seguir e veja que os resultados V F F V F F F F
são iguais, ou seja, equivalentes: F V V F F F F F
F F V V V V V V
A B ~A ~B A→B ~B → ~A ~A V B
V V F F V V V
COMUTAÇÃO
V F F V F F F
F V V F V V V Leis Comutativas
F F V V V V V
z Conjunção “e”:

EQUIVALÊNCIA BICONDICIONAL „ Exemplo: A ^ B ⇔ B ^ A


„ Joana é magra e Maria é baixa. ⇔ Maria é baixa
Geralmente aprendemos somente a equivalência e Joana é magra.
básica desse conectivo (a comutação), mas precisa-
mos ficar atentos para os casos especiais. O conectivo A B A^B B^A
“se e somente se” tem mais duas equivalências lógicas V V V V
quando interpretamos de maneira mais minuciosa o
V F F F
seu significado e sua tabela verdade. A seguir veremos
esses detalhes que estão aparecendo cada vez mais F V F F
nas provas. Então vamos lá! F F F F

Comutação z Disjunção Inclusiva “ou”:

Exemplo: A ⟷ B ⇔ B ⟷ A „ Exemplo: A v B ⇔ B v A
O céu ficará azul se e somente se hoje não chover. „ João anda de barco ou Sabrina vai à praia. ⇔
98 ⇔ Hoje não choverá se e somente se o céu ficar azul. Sabrina vai à praia ou João anda de barco.
z Disjunção Exclusiva “ou... ou”: 2. (CEBRASPE-CESPE — 2020) No argumento seguinte,
as proposições P1, P2, P3 e P4 são as premissas, e C
„ Exemplo: A v B ⇔ B v A é a conclusão.
„ Ou Romeu compra uma moto ou ele vende o
P1: “Se há carência de recursos tecnológicos no setor
carro. ⇔ Ou Romeu vende o carro ou ele com-
Alfa, então o trabalho dos servidores públicos que
pra uma moto.
atuam nesse setor pode ficar prejudicado.”.
P2: “Se há carência de recursos tecnológicos no setor
A B A⊻B B⊻A Alfa, então os beneficiários dos serviços prestados
V V F F por esse setor podem ser mal atendidos.”.
P3: “Se o trabalho dos servidores públicos que atuam no
V F V V
setor Alfa fica prejudicado, então os servidores públi-
F V V V cos que atuam nesse setor padecem.”.
F F F F P4: “Se os beneficiários dos serviços prestados pelo setor
Alfa são mal atendidos, então os beneficiários dos ser-
viços prestados por esse setor padecem.”.
„ Bicondicional “se e somente se” C: “Se há carência de recursos tecnológicos no setor
„ Exemplo: A ⟷ B ⇔ B A Alfa, então os servidores públicos que atuam nesse
„ O céu ficará azul se e somente se hoje não cho- setor padecem e os beneficiários dos serviços presta-
ver. ⇔ Hoje não choverá se e somente se o céu dos por esse setor padecem.”.
ficar azul.
Considerando esse argumento, julgue o item seguinte.
A B A⟷B B⟷A A proposição P3 é equivalente à proposição “Se os
servidores públicos que atuam nesse setor não pade-
V V V V cem, então o trabalho dos servidores públicos que
V F F F atuam no setor Alfa não fica prejudicado.”.
F V F F
( ) CERTO  ( ) ERRADO
F F V V
Proposição: P3: “Se o trabalho dos servidores
z Condicional “Se então”: é o único conectivo lógi- públicos que atuam no setor Alfa fica prejudicado,
co que não aceita a propriedade de comutação, então os servidores públicos que atuam nesse setor
pois o seu antecedente não pode ser o consequente padecem.”.
e vice-versa. Equivalência:
(Inverte e nega tudo mantendo “se então”)
“Se os servidores públicos que atuam nesse setor
A→B≠B→A
não padecem, então o trabalho dos servidores públi-
cos que atuam no setor Alfa não fica prejudicado.”
Agora vamos treinar o que aprendemos na teo-
Resposta: Certo.
ria com exercícios comentados de diversas bancas.
Vamos lá! 3. (CEBRASPE-CESPE — 2020) Considerando a proposi-
ção P: “Se o servidor gosta do que faz, então o cida-
1. (VUNESP — 2020) Considere a seguinte afirmação: Se dão-cliente fica satisfeito”, julgue o item a seguir.
Marcos está prestando esse concurso, então ele é for- A proposição P é logicamente equivalente à seguinte
mado no Curso de Serviço Social. proposição: “Se o cidadão-cliente não fica satisfeito,
Assinale a alternativa que contém uma afirmação então o servidor não gosta do que faz”.
equivalente para a afirmação apresentada.
( ) CERTO  ( ) ERRADO
a) Marcos está prestando esse concurso se, e somente
se, ele é formado no Curso de Serviço Social. Proposição: P  Q
b) Se Marcos é formado no Curso de Serviço Social, Equivalência: ~Q  ~P
então ele está prestando esse concurso. Logo, “Se o servidor gosta do que faz, então o cida-
c) Marcos está prestando esse concurso e ele é formado dão-cliente fica satisfeito”
no Curso de Serviço Social. “Se o cidadão-cliente não fica satisfeito, então o ser-
d) Se Marcos não é formado no Curso de Serviço Social, vidor não gosta do que faz”.
RACIOCÍNIO LÓGICO

Resposta: Certo.
então ele não está prestando esse concurso.
e) Marcos não é formado no Curso de Serviço Social e
4. (CEBRASPE-CESPE — 2019) Assinale a opção que
ele está prestando esse concurso.
apresenta a proposição lógica que é equivalente à
seguinte proposição:
Veja que não temos a presença do “OU” nas alter- “Se Carlos foi aprovado no concurso, então Carlos
nativas e isso facilita, pois usamos a ‘’contraposi- possui o ensino médio completo.”
tiva’’. Basta inverter e negar, mantendo o mesmo
conectivo: a) “Carlos não foi aprovado no concurso ou Carlos pos-
Se Marcos não é formado no Curso de Serviço sui o ensino médio completo.”
Social, então ele não está prestando esse concurso. b) “Se Carlos não foi aprovado no concurso, então Carlos
Resposta: Letra D. não possui o ensino médio completo.” 99
c) “Carlos possuir o ensino médio completo é condição A B ~A ~B A^B ~(A ^ B) ~A V ~B
suficiente para que ele seja aprovado no concurso”
V V F F V F F
d) “Carlos ser aprovado no concurso é condição neces-
sária para que ele tenha o ensino médio completo.” V F F V F V V
e) “Carlos possui o ensino médio completo e não foi F V V F F V V
aprovado no concurso.” F F V V F V V

Precisamos fazer a equivalência do conectivo “se


então” Negação de uma Disjunção (Lei de Morgan)
Portanto para resolver basta trocar o conectivo “se
então” por “ou” e depois negar a primeira proposi- Para negarmos a disjunção, devemos trocar pela
conjunção e e negar todas as proposições envolvidas.
ção e manter a segunda proposição. Veja:
Veja: ~ (A v B) ⇔ ~A ^ ~B
“Se Carlos foi aprovado no concurso, então Carlos
Exemplo: Vou pegar a bola ou Pedro vai chutar a lata.
possui o ensino médio completo.”
Proposição 1: vou pegar a bola.
“Carlos não foi aprovado no concurso ou Carlos
Proposição 2: Pedro vai chutar a lata.
possui o ensino médio completo.”
1º - trocar o “ou” pelo “e”.
Resposta: Letra A. 2º - negar todas as proposições.
Negação:
5. (CEBRASPE-CESPE — 2019) Acerca da lógica senten- ~P1: Não vou pegar a bola.
cial, julgue o item que segue. ~P2: Pedro não vai chutar a lata.
Se P, Q, R e S forem proposições simples, então as pro- Assim temos:
posições PvR → QʌS e (~Q)V(~S) → (~P) ʌ (~R) serão Não vou pegar a bola e Pedro não vai chutar a lata.
equivalentes.
A B ~A ~B AvB ~(A v B) ~A ^ ~B
( ) CERTO  ( ) ERRADO
V V F F V F F
Trata-se da equivalência contrapositiva da condicional. V F F V V F F
PvR → QʌS F V V F V F F
1º: Inverte as proposições, mantendo a condicional F F V V F V V
QʌS →PvR
2º: nega tudo.
- Negação do QʌS = ~Q v ~S (Negação do ʌ troca pelo Negação de uma Disjunção Exclusiva
v e nega tudo)
Para negarmos a disjunção exclusiva, devemos
- Negação do PvR = ~P ʌ ~R (Negação do v troca pelo
apenas trocar o conectivo “ou... ou” pelo “se e somen-
ʌ e nega tudo) Logo, (~Q) v (~S) → (~P) ʌ (~R).
te se”. Isso mesmo! Trocamos um conectivo pelo outro
Resposta: Certo.
e o restante é só deixar igual. Veja um exemplo: ~ (A ⊻
B) ⇔ A ⟷ B Ou faz sol ou chove muito.
LEIS DE MORGAN
Negação: Faz sol se e somente se chove muito.

Quando fazemos a negação de uma proposição


composta primitiva, geramos outra posição que tam- A B A⊻B ~ (A ⊻ B) A⟷B
bém é composta e equivalente à sua primitiva. É V V F V V
recorrente em provas a cobrança para que você res- V F V F F
ponda qual a equivalência da negação de determina-
F V V F F
da proposição.
F F F V V
Negação de uma Conjunção (Lei de De Morgan)
Negação de uma Bicondicional
Para negarmos a conjunção, devemos trocar pela
A bicondicional pode ser negada das seguintes
disjunção ou e negar todas as proposições envolvidas.
maneiras, veja:
Veja: ~ (A ^ B) ⇔ ~A v ~B
Exemplo: Vou comprar um carro e vou ganhar di-
z Trocando pelo conectivo “ou...ou”
nheiro.
Proposição 1: vou comprar um carro. Exemplo: ~ (A ⟷ B) ⇔ A v B
Proposição 2: vou ganhar dinheiro. Marta viaja se e somente se Paulo não vai ao cinema.
1º : trocar o “e” pelo “ou”. Negação: Ou Marta viaja ou Paulo não vai ao
2º : negar todas as proposições. cinema;
Negação:
~P1: Não vou comprar um carro. z (Mantém e Nega) ou (Mantém e Nega)
~P2: Não vou ganhar dinheiro.
Assim temos, Não vou comprar um carro ou não Essa negação é feita vindo da equivalência lógica
100 vou ganhar dinheiro. que usa o conectivo “se...,então”.
Exemplo: 1ª negação: ~ (A → B) ⇔ A ^ ~B;
~ (A ⟷ B) ⇔ (A → B) ^ (B → A); 2ª negação: ~ (A ^ ~B) ⇔ ~A v B;
~[(A → B) ^ (B → A)] ⇔ (A ^ ~B) v (B ^ ~A). Logo, A → B ⇔ ~A v B.
A: Marta viaja se e somente se Paulo não vai ao
cinema. 1ª 2ª
Negação: Marta viaja e Paulo vai ao cinema ou negação negação
Paulo não vai ao cinema e Marta não viaja; A B ~B A→B ~ (A → B) A ^ ~B ~A v B
V V F V V F V
z Mantendo o conectivo “se e somente se”
V F V F F V F
Para fazermos essa negação vamos manter o F V F V V F V
conectivo “se e somente se” e negar apenas uma das
F F V V V F V
proposições.
Exemplo:
1: ~ (A ⟷ B) ⇔ ~A ⟷ B.
Agora vamos treinar o que aprendemos na teoria
2: ~ (A ⟷ B) ⇔ A ⟷ ~B.
com exercícios comentados de diversas bancas.
A: Passo se e somente se estudo muito.
Negação:
1. (VUNESP — 2016) Considere falsa a seguinte afirmação:
1: Não passo se e somente se estudo muito.
2: Passo se e somente se não estudo muito.
“Fulano está realizando essa prova e pretende ser um
técnico em informática.”
A A (A ^ ~B) ~A A Com base nas informações apresentadas, é necessa-
A B ~A ~B ⟷ ~(A ⟷ B) ⊻ V ⟷ ⟷ riamente verdadeiro que:
B B (B ^ ~A) B ~B
V V F F V F F F F F a) Fulano não está realizando essa prova ou não preten-
V F F V F V V V V V de ser um técnico em informática.
b) Fulano não está realizando essa prova.
F V V F F F V V V V c) Fulano não está realizando essa prova e não pretende
F F V V V V F F F F ser um técnico em informática.
d) Fulano não pretende ser um técnico em informática.
e) Fulano não está realizando essa prova, mas pretende
Negação de uma Condicional
ser um técnico em informática.
A negação de uma proposição composta por uma
Para negar a conjunção devemos trocar pela disjun-
condicional é uma das mais cobradas em provas e, ção e negar todas as proposições envolvidas. Sendo
por esse motivo, devemos aprendê-la e resolver mui- assim,
tas questões sobre o assunto. Então, a sua negação é “Fulano está realizando essa prova e pretende ser
feita repetindo a primeira proposição E negando a um técnico em informática”.
segunda proposição. Negação:
Exemplo: ~ (A → B) ⇔ A ^ ~B “Fulano não está realizando essa prova ou não pre-
Se o gato late, então o cachorro mia. tende ser um técnico em informática”.
Negação: O gato late e o cachorro não mia. Resposta: Letra A.

A B ~B A→B ~ (A → B) A ^ ~B 2. (CEBRASPE-CESPE — 2017) Assinale a opção que cor-


V V F V F F responde a uma negativa da seguinte proposição: “Se
nas cidades medievais não havia lugares próprios para
V F V F V V
o teatro e as apresentações eram realizadas em igrejas
F V F V F F e castelos, então a maior parte da população não era
F F V V F F excluída dos espetáculos teatrais”.

a) Nas cidades medievais havia lugares próprios para o


DUPLA NEGAÇÃO (TEORIA INVOLUTIVA) teatro ou as apresentações eram realizadas em igre-
jas e castelos e a maior parte da população era excluí-
z De uma proposição simples: ~ (~A) ⇔ A da dos espetáculos teatrais.
RACIOCÍNIO LÓGICO

b) Se a maior parte da população das cidades medievais


A ~A ~ (~A) era excluída dos espetáculos teatrais, então havia
lugares próprios para o teatro e as apresentações
V F V
eram realizadas em igrejas e castelos.
F V F c) Se nas cidades medievais havia lugares próprios para
o teatro e as apresentações não eram realizadas em
z De uma condicional: igrejas e castelos, então a maior parte da população
era excluída dos espetáculos teatrais.
Vamos fazer duas negações lógicas para o conec- d) Se nas cidades medievais havia lugares próprios para
tivo se, de forma que sua resposta seja equivalente à o teatro ou as apresentações eram realizadas em igre-
sua proposição primitiva. Veja: jas e castelos, então a maior parte da população era
Proposição Primitiva: A → B: excluída dos espetáculos teatrais. 101
e) Nas cidades medievais não havia lugares próprios e) “Se a prestação de contas da prefeitura foi aprovada,
para o teatro, as apresentações eram realizadas em então os recursos não foram aplicados em finalidade
igrejas e castelos e a maior parte da população era diversa da prevista e a obra não foi superfaturada”.
excluída dos espetáculos teatrais.
Negação do “se então”:
Para negar a condicional você deve Repetir E Negar. Repete E Nega
Veja: ~(A → B) = A ∧ ~B P1: “Se os recursos foram aplicados em finalidade
A = nas cidades medievais não havia lugares pró- diversa da prevista OU se a obra foi superfaturada,
prios para o teatro e as apresentações eram realiza- então a prestação de contas da prefeitura NÃO foi
das em igrejas e castelos aprovada.”
B = a maior parte da população não era excluída Negação:
dos espetáculos teatrais. Fica: Os recursos foram aplicados em finalidade diversa
Nas cidades medievais não havia lugares próprios da prevista ou a obra foi superfaturada (Repete a
para o teatro, as apresentações eram realizadas em primeira) MAS a prestação de contas da prefeitura
igrejas e castelos e a maior parte da população era foi aprovada (nega a segunda).
excluída dos espetáculos teatrais. Resposta: Letra A.
Resposta: Letra E.
5. (CEBRASPE-CESPE — 2018) A respeito de lógica pro-
3. (CEBRASPE-CESPE — 2020) Considerando esse argu- posicional, julgue o item que se segue.
mento, julgue o item seguinte. A negação da proposição “Se o fogo for desencadea-
A negação da proposição “Os servidores públicos que do por curto-circuito no sistema elétrico, será reco-
atuam nesse setor padecem e os beneficiários dos mendável iniciar o combate às chamas com extintor à
serviços prestados por esse setor padecem.” é cor- base de espuma.” é equivalente à proposição “O fogo
retamente expressa por “Os servidores públicos que foi desencadeado por curto-circuito no sistema elétri-
atuam nesse setor não padecem e os beneficiários co e não será recomendável iniciar o combate às cha-
dos serviços prestados por esse setor não padecem.”. mas com extintor à base de espuma.”

( ) CERTO  ( ) ERRADO ( ) CERTO  ( ) ERRADO

Para responder a essa questão, bastava lembra de P  Q negando dica P ^ ~Q


que para negar a conjunção “E” você deve trocar Se o fogo for desencadeado por curto-circuito no siste-
pela disjunção “OU” e negar tudo. Veja que isso não ma elétrico (P), então será recomendável iniciar o com-
aconteceu. Logo, questão errada. bate às chamas com extintor à base de espuma. (Q)
Resposta: Errado. Negando:
O fogo foi desencadeado por curto-circuito no sistema
4. (CEBRASPE-CESPE — 2019) Argumento CB1A5-II elétrico (P) e não será recomendável iniciar o combate
No argumento seguinte, as proposições P1, P2 e P3 às chamas com extintor à base de espuma. (~Q).
são as premissas, e C é a conclusão. Resposta: Certo.

P1: Se os recursos foram aplicados em finalidade diver- DIAGRAMAS LÓGICOS


sa da prevista ou se a obra foi superfaturada, então
a prestação de contas da prefeitura não foi aprovada. Esse tema é diretamente ligado ao estudo dos
P2: Se a prestação de contas da prefeitura não foi apro- Quantificadores Lógicos ou Proposições Categóricas,
vada, então a prefeitura ficou impedida de celebrar que são elementos que especificam a extensão da vali-
novos convênios ou a prefeitura devolveu o dinheiro dade de um predicado sobre um conjunto de constan-
ao governo estadual. tes individuais. Ou seja, são palavras ou expressões
que indicam que houve quantificação. São exemplos
P3: A obra não foi superfaturada, e a prefeitura não devol-
de quantificadores as expressões: existe, algum, todo,
veu o dinheiro ao governo estadual.
pelo menos um, nenhum.
C: A prefeitura ficou impedida de celebrar novos convênios.
Esses quantificadores podem ser classificados em
Com relação ao argumento CB1A5-II, assinale a opção
dois tipos:
correspondente à proposição equivalente à negação
da proposição P1. z Quantificador Universal;
z Quantificador Existencial (particulares).
a) “Os recursos foram aplicados em finalidade diversa da
prevista ou a obra foi superfaturada, mas a prestação Nos quantificadores universais temos todo e
de contas da prefeitura foi aprovada”. nenhum, já nos particulares temos pelo menos um,
b) “Os recursos foram aplicados em finalidade diversa da existe um e o algum.
prevista e a obra foi superfaturada, mas a prestação Agora, vamos estudar a representação de cada um
de contas da prefeitura foi aprovada”. dos quantificadores por meio dos diagramas lógicos.
c) “Os recursos não foram aplicados em finalidade diver-
sa da prevista e a obra não foi superfaturada, mas a Quantificador Universal “Todo” (Afirmativo)
prestação de contas da prefeitura foi aprovada”.
d) “Se os recursos não foram aplicados em finalida- Exemplos:
de diversa da prevista e a obra não foi superfatu-
rada, então a prestação de contas da prefeitura foi z Todo A é B;
102 aprovada”. z Todo homem joga bola.
Perceba que temos dois conjuntos envolvidos no A B
exemplo, o do homem e o de jogar bola. Vale lembrar que
Todo A é B significa que todo elemento de A também é ele-
mento de B. Logo, podemos representar com o diagrama:

A
Os dois conjuntos possuem uma parte em comum

Veja que as representações de A e B possuem inter-


secção. Então, quando Algum A é B é verdadeira, os
valores lógicos das outras proposições categóricas,
O conjunto A dentro do conjunto B interpretando o diagrama, serão os seguintes:

Quando Todo A é B é verdadeira, os valores lógi- z Todo A é B: é indeterminado;


cos das outras proposições categóricas, interpretando z Nenhum A é B: é falsa;
os diagramas, serão os seguintes: z Algum A não é B: é indeterminado.

z Nenhum A é B: é falsa; Quantificador Particular (Negativo): Algum / Pelo


z Algum A é B: é verdadeira; Menos um / Existe + a Partícula Não
z Algum A não é B: é falsa.
Exemplos:
Quantificador Universal “Nenhum” (Negativo)
z Algum A não é B;
Exemplos:
z Algum homem não joga bola.
z Nenhum A é B;
Perceba que temos dois conjuntos envolvidos no
z Nenhum homem joga bola.
exemplo, o do homem e o de jogar bola. Vale lembrar
que Algum A não é B significa que o conjunto A tem
Perceba que temos dois conjuntos envolvidos no
exemplo, o do homem e o de jogar bola. Vale lembrar pelo menos um elemento que não pertence ao con-
que Nenhum A é B significa que A e B não tem ele- junto B. Logo, podemos fazer três representações com
mentos em comum, logo, temos apenas uma represen- diagramas:
tação com diagrama:

A B

Os dois conjuntos possuem uma parte em comum, mas não há


Não há intersecção entre o conjunto A e o conjunto B
contato de alguns elementos de A com B

Quando Nenhum A é B é verdadeira, os valores


Veja que em todas as representações o conjunto
lógicos das outras proposições categóricas, interpre-
A tem pelo menos um elemento que não pertence ao
tando o diagrama, serão os seguintes:
conjunto B. Então, quando Algum A não é B é verda-
deira, os valores lógicos das outras proposições cate-
z Todo A é B: é falsa;
z Algum A é B: é falsa; góricas, interpretando o diagrama, serão os seguintes:
z Algum A não é B: é verdadeira.
z Todo A é B: é falsa;
Quantificador Particular (Afirmativo): Algum / Pelo z Nenhum A é B: é indeterminada;
Menos um / Existe z Algum A não é B: é indeterminado.
RACIOCÍNIO LÓGICO

Exemplos: SILOGISMOS

z Algum A é B; O silogismo vem da Teoria Aristotélica dentro


z Algum homem joga bola. do raciocínio dedutivo e geralmente é formado por
três proposições, em que de duas delas, que funcio-
Perceba que temos dois conjuntos envolvidos no nam como premissas ou antecedente, extrai-se outra
exemplo, o do homem e o de jogar bola. Vale lembrar proposição que é a sua conclusão ou consequente.
que Algum A é B significa que o conjunto A tem pelo Além disso, podemos dizer que é um tipo especial de
menos um elemento em comum com o conjunto B, ou argumento.
seja, há intersecção entre os círculos A e B. Logo, pode-
mos fazer representações com diagramas: Estrutura do Silogismo Categórico 103
z Premissa maior: geralmente é a primeira. Contêm o termo maior (T), que é sempre o predicado da conclu-
são e diz-nos qual é a premissa maior, da qual faz parte;
z Premissa menor: geralmente é a segunda. Contêm o termo menor (t), que é sempre o sujeito da conclusão e
indica-nos qual é a premissa menor.
z Conclusão: identificamos por não conter o termo médio (M);
z Termo médio: estabelece a ligação entre o termo maior e termo menor. Aparece nas duas premissas, mas
nunca aparece na conclusão.

Veja os exemplos a seguir:


Exemplo 1:

z Todos os mamíferos são animais;


z Os cães são mamíferos;
z Logo, os cães são animais.

„ Termo maior: animais;


„ Termo menor: cães;
„ Termo médio: mamíferos.

Exemplo 2:

z Todos os homens são mortais;


z Sócrates é homem;
z Logo, Sócrates é mortal.

„ Termo maior: mortais;


„ Termo menor: Sócrates;
„ Termo médio: homem.

REGRAS DO SILOGISMO CATEGÓRICO

Regras Relativas aos Termos

z 1ª Regra: o silogismo tem três termos: o maior, o menor e o médio. Exemplos:

„ As margaridas são flores;


„ Algumas mulheres são Margaridas;
„ Logo, algumas mulheres são flores.

Veja que margaridas e Margaridas são termos equívocos. Não respeitamos esta regra, porque esse silogismo
tem 4 termos. O termo margaridas está empregado em 2 sentidos, valendo por 2 termos;

z 2ª Regra: se um termo está distribuído na conclusão, tem de estar distribuído nas premissas. Exemplos:

„ Os espanhóis são inteligentes. (Predicado não distribuído);


„ Os portugueses não são espanhóis;
„ Logo, os portugueses não são inteligentes.

Menor extensão na conclusão do que nas premissas;

z 3ª Regra : o termo médio nunca pode estar na conclusão. Exemplos:

„ Toda planta é ser vivo;


„ Todo animal é ser vivo;
„ Todo ser vivo é animal ou planta.

z 4ª Regra: o termo médio tem de estar distribuído pelo menos uma vez. Exemplos:

„ Alguns (não distribuído) homens são ricos;


„ Alguns (não distribuído) homens são artistas;
„ Alguns artistas são ricos.

Regras Relativas às Proposições

z 5ª Regra: De duas premissas negativas nada se pode concluir. Exemplos:

„ Nenhum palhaço é chinês;


104 „ Nenhum chinês é holandês;
„ Logo, (não se pode concluir).

Não se pode concluir se existe ou não alguma relação entre os termos “holandês” e “palhaço”, uma vez que não
existe nenhuma relação entre estes e o termo médio (que é o único que nos permite relacioná-los);

z 6ª Regra: de duas premissas afirmativas não se pode tirar uma conclusão negativa. Exemplos:

„ Todos os mortais são desconfiados;


„ Alguns seres são mortais;
„ Alguns seres não são desconfiados.

z 7ª Regra: a conclusão segue sempre a parte mais fraca (particular e/ou negativa). Se uma premissa for negativa,
a conclusão tem de ser negativa, se uma premissa for particular, a conclusão tem de ser particular. Exemplos:

„ Todos os homens são felizes;


„ Alguns homens são espertos;
„ Todos os espertos são felizes (A conclusão nunca pode ser geral.

z 8ª Regra: de duas premissas particulares, nada se pode concluir. Exemplos:

„ Alguns italianos não são vencedores;


„ Alguns italianos são pobres;
„ Logo, (nada se pode concluir).

Pelo menos, uma premissa tem de ser universal, para que possa existir ligação entre o termo médio e os outros
termos e ser possível extrair uma conclusão.
Esquematizando!

REGRAS
PREMISSAS TERMOS
z Todo silogismo contém somente três termos: maior,
z De duas premissas negativas, nada se conclui
médio e menor
z De duas premissas afirmativas não pode haver conclu-
z Os termos da conclusão não podem ter extensão maior
são negativa
que os termos das premissas
z A conclusão segue sempre a premissa mais fraca
z O termo médio não pode entrar na conclusão
z De duas premissas particulares, nada se conclui
z O termo médio deve ser universal ao menos uma vez

Agora vamos treinar o que aprendemos na teoria com exercícios comentados de diversas bancas. Vamos lá!

1. (FGV — 2019) Considerando que a afirmação “Nenhum pescador sabe nadar” não é verdadeira, é correto concluir que:

a) “Há, pelo menos, um pescador que sabe nadar”.


b) “Quem não é pescador não sabe nadar”
c) “Todos os pescadores sabem nadar”.
d) “Todas as pessoas que sabem nadar são pescadores”.
e) “Ninguém que sabe nadar é pescador”.

Veja que a questão pede a negação do quantificador “nenhum”, e como já aprendemos, nunca devemos negar o
“nenhum” usando o quantificado “todo” e vice-versa. Sabendo disso, podemos eliminar estrategicamente as alter-
nativas C, D e E. Como temos um quantificador universal negativo e sabemos que para negar precisamos de um
particular afirmativo, só nos resta a letra A como resposta, pois a letra B não está de acordo com a regra. Você
também poderia usar o lembrete “nenhum nega com PEA”.
Resposta: Letra A.

2. (FUNDATEC — 2019) A negação da sentença “algum assistente social acompanhou o julgamento” está na alternativa:
RACIOCÍNIO LÓGICO

a) Algum assistente social não acompanhou o julgamento.


b) Todos os assistentes sociais acompanharam o julgamento.
c) Nem todos os assistentes sociais acompanharam o julgamento.
d) Nenhum assistente social acompanhou o julgamento.
e) Pelo menos um assistente social não acompanhou o julgamento.

A questão pede a negação do “algum” – quantificador particular afirmativo. Já aprendemos que, para fazer essa
negação, usamos um quantificador universal. Qual, professor? O quantificador “nenhum”, pois o mesmo é uni-
versal negativo. Assim, a nossa sentença ficará:
p: “Algum assistente social acompanhou o julgamento”
~p: “Nenhum assistente social acompanhou o julgamento” Resposta: Letra D. 105
3. (FUNDATEC — 2019) Assinale a alternativa que corres- Das implicações enunciadas por Laura, estão corretas
ponde à negação de “Todos os analistas de tecnologia apenas:
da informação são bons desenvolvedores”.
a) I e III.
a) Pelo menos um analista de tecnologia da informação b) I e II.
não é bom desenvolvedor. c) III e IV.
b) Nenhum analista de tecnologia da informação é bom d) II e III.
desenvolvedor.
e) II e IV.
c) Todos os analistas de tecnologia da informação não
são bons desenvolvedores.
d) Alguns analistas de tecnologia da informação são Você precisa lembrar das equivalências para res-
bons desenvolvedores. ponder essa questão.
e) Todos os desenvolvedores não são analistas de tecno- � “Nenhum matemático é não dialético” equivale a
logia da informação. “Todo Matemático é Dialético”;
� “Todo Matemático é Dialético” equivale a “Se é
A negação do “todo” pode ser feita usando o lem- matemático, então é Dialético”.
brete que aprendemos: “todo nega com PEA + não”, Agora, vamos analisar as afirmações feitas por Laura:
onde o PEA são as iniciais dos quantificadores I. Se Carlos é matemático, então ele é dialético (Cor-
lógicos particulares – “Pelo menos um” / “Existe” / reta, pois está de acordo com a equivalência acima).
“Algum” – seguidos pelo modificador lógico “não”, II. Se Pedro é dialético, então é matemático. (Incor-
deixando-os, assim, particulares negativos. Logo,
reta, pois há dialéticos que não são matemáticos).
p: “Todos os analistas de tecnologia da informação
são bons desenvolvedores” Dialético
~p: “Pelo menos um / Existe / Algum analista de tec-
nologia da informação não é bom desenvolvedor.
Resposta: Letra A.
Mat.
4. (VUNESP — 2019) A alternativa que corresponde à
negação lógica da proposição composta: “todos os
cantores são músicos e existe advogado que é can-
tor”, é: III. Se Luiz não é dialético, então não é matemáti-
co (Correta, pois todo matemático é dialético. Veja
a) Nenhum cantor é músico e não existe advogado que também que temos um dos casos de equivalência
seja cantor. lógica do conectivo “se...então” – a contrapositiva).
b) Pelo menos um cantor não é músico ou não existe IV. Se Renato não é matemático, então não é dialéti-
advogado que seja cantor. co (Incorreta, pois nem todo dialético é matemático
c) Há cantores que são músicos e existe advogado que como vimos nos diagrama da alternativa II).
não é cantor. Resposta: Letra A.
d) Nenhum cantor é músico ou não existe advogado que
seja cantor.
e) Pelo menos um cantor não é músico ou existe advoga-
do que é cantor. LÓGICA DE PRIMEIRA ORDEM
Só podemos negar um Quantificador Universal Lógica de 1° ordem é igual a Quantificadores Lógi-
(“Todo” / “Nenhum”) com um Quantificador Existen- cos, então, toda vez que você vir esse tema no edi-
cial (“Existe” / “Algum” / “Pelo menos um”), assim,
tal, terá que saber três coisas fundamentais sobre os
eliminamos as letras A, C e D, ficando, assim, apenas
quantificadores:
as letras B e E para análise. Segundo a Lei de Mor-
gan – devemos trocar o “e” por “ou” e negar tudo.
z Negação;
Então, negando a proposição P ^ Q, fica ~ P v ~Q:
z Equivalência;
P: todos os cantores são músicose (^)
z Representação por diagramas.
Q: existe advogado que é cantor.
Negando:
~P: alguns cantores não são músicos (pelo menos Quantificadores Lógicos ou Proposições Categó-
um não é = algum não é) ou (v) ricas são elementos que especificam a extensão da
~Q: não existe advogado que é cantor. (Não existe = validade de um predicado sobre um conjunto de cons-
nenhum) “Pelo menos um cantor não é músico ou tantes individuais, ou seja, são palavras ou expressões
não existe advogado que seja cantor”. Resposta: que indicam que houve quantificação. São exemplos
Letra B. de quantificadores as expressões: “existe”, “algum”,
“todo”, “pelo menos um” e “nenhum”.
5. (VUNESP — 2019) Considere como verdadeira a pro-
posição: “Nenhum matemático é não dialético”. Laura CLASSIFICAÇÃO DAS PROPOSIÇÕES CATEGÓRICAS
enuncia que tal proposição implica, necessariamente,
que: Estes quantificadores podem ser classificados em
dois tipos:
I. Se Carlos é matemático, então ele é dialético.
II. Se Pedro é dialético, então é matemático. z Quantificador Universal: “todo” e “nenhum”;
III. Se Luiz não é dialético, então não é matemático. z Quantificador Existencial (particulares): “pelo
106 IV. Se Renato não é matemático, então não é dialético. menos um”, “existe um” e o “algum”.
QUANTIFICADOR UNIVERSAL “TODO” (AFIRMATIVO) Vale lembrar que “Algum A é B” significa que o
conjunto A tem pelo menos um elemento em comum
Exemplos: com o conjunto B, ou seja, há intersecção entre os cír-
Todo A é B; culos A e B. Logo, podemos fazer representação com
Todo homem joga bola. diagrama:
Perceba que temos dois conjuntos envolvidos no
exemplo, o do homem e o de jogar bola. Vale lembrar A B
que “Todo A é B” significa que todo elemento de A
também é elemento de B. Logo, podemos representar
com o diagrama:

A
Os dois conjuntos possuem uma parte em comum

Veja que a representação de A e B possui intersecção.


Então, quando “Algum A é B” é verdadeira, os valores
lógicos das outras proposições categóricas, interpretan-
do o diagrama, serão os seguintes:
O conjunto A dentro do conjunto B
z Todo A é B: é indeterminado;
Quando “Todo A é B” é verdadeira, os valores lógi- z Nenhum A é B: é falsa;
cos das outras proposições categóricas, interpretando z Algum A não é B: é indeterminado.
os diagramas, serão os seguintes:
QUANTIFICADOR PARTICULAR (NEGATIVO):
z Nenhum A é B: é falsa; “ALGUM” / “PELO MENOS UM” / “EXISTE” + A
z Algum A é B: é verdadeira; PARTÍCULA “NÃO”
z Algum A não é B: é falsa.
Exemplo:
QUANTIFICADOR UNIVERSAL “NENHUM” (NEGATIVO) Algum A não é B;
Algum homem não joga bola.
Perceba que temos dois conjuntos envolvidos no
Exemplos:
exemplo, o do homem e o de jogar bola. Vale lem-
Nenhum A é B; brar que “Algum A não é B” significa que o conjunto
Nenhum homem joga bola. A tem pelo menos um elemento que não pertence ao
Perceba que temos dois conjuntos envolvidos no conjunto B. Logo, podemos fazer representação com
exemplo, o do homem e o de jogar bola. Vale lembrar diagramas:
que “Nenhum A é B” significa que A e B não tem ele-
mentos em comum, logo, temos apenas uma represen-
tação com diagrama:

A B

Os dois conjuntos possuem uma parte em comum, mas não há


contato de alguns elementos de A com B
Não há intersecção entre o conjunto A e o conjunto B
Veja que na representação o conjunto A tem pelo
Quando “Nenhum A é B” é verdadeira, os valores menos um elemento que não pertence ao conjunto
lógicos das outras proposições categóricas, interpre- B. Então, quando “Algum A não é B” é verdadeira, os
tando o diagrama, serão os seguintes: valores lógicos das outras proposições categóricas,
interpretando o diagrama, serão os seguintes:
z Todo A é B: é falsa;
RACIOCÍNIO LÓGICO

z Algum A é B: é falsa; z Todo A é B: é falsa;


z Algum A não é B: é verdadeira. z Nenhum A é B: é indeterminada;
z Algum A não é B: é indeterminado.
QUANTIFICADOR PARTICULAR (AFIRMATIVO):
NEGAÇÃO DOS QUANTIFICADORES LÓGICOS OU
“ALGUM” / “PELO MENOS UM” / “EXISTE”
PROPOSIÇÕES CATEGÓRICAS

Exemplo: Você vai aprender de uma vez por todas como


Algum A é B; negar proposições quantificadas, ou seja, proposi-
Algum homem joga bola. ções que utilizam expressões como “todo”, “algum” e
Perceba que temos dois conjuntos envolvidos no “nenhum”. Podemos, então, dizer que negar uma pro-
exemplo, o do homem e o de jogar bola. posição significa trocar o seu valor lógico. Em outras 107
palavras, a negação de uma proposição verdadeira é uma proposição falsa; a negação de uma proposição falsa é
uma proposição verdadeira.
Tudo que você precisa para negar uma proposição quantificada é saber como classificá-la, então, veja alguns
exemplos:

QUANTIFICADOR CLASSIFICAÇÃO EXEMPLO

Todo Universal Afirmativo Todo homem joga bola

Nenhum Universal Negativo Nenhum homem joga bola

Algum Particular Afirmativo Algum homem joga bola

Algum + Não Particular Negativo Algum homem não joga bola

Sabendo disso, é muito simples negar proposições quantificadas.

Universal Negação Particular

Particular Negação Universal

Verbo Negação Verbo Negativo


Afirmativo

Verbo Verbo
Negação Afirmativo
Negativo

z Se o quantificador utilizado for universal, a negação utilizará um quantificador particular;


z Se o quantificador utilizado for particular, a negação utilizará um quantificador universal;
z Se o verbo for afirmativo, a negação utilizará um verbo negativo;
z Se o verbo for negativo, a negação utilizará um verbo afirmativo.

Esquematizando tudo:

QUANTIFICADOR NEGAÇÃO EXEMPLO

p: Todo homem joga bola


Universal afirmativa “todo” Particular negativa “algum + não”
~p: Algum homem não joga bola

p: Nenhum homem joga bola


Universal negativa “nenhum” Particular afirmativa “algum”
~p: Algum homem joga bola

p: Algum homem joga bola


Particular afirmativa “algum” Universal negativa “nenhum”
~p: Nenhum homem joga bola

p: Algum homem não joga bola


Particular negativa “algum + não” Universal afirmativa “todo”
~p: Todo homem joga bola

Olhando para as iniciais de cada quantificador lógico particular (Pelo menos / Existe / Algum), podemos escre-
ver o lembrete abaixo para negação:

Todo Negação PEA + Não

Nenhum Negação PEA

EQUIVALÊNCIA LÓGICA DE QUANTIFICADORES

z Todo

„ “Todo A é B” é equivalente a dizer “nenhum A não é B”.

Vemos aqui que troca-se “todo” por “nenhum”, ou seja, a primeira sentença é mantida e nega-se a segunda.
108 Exemplo: “Todo gato pula alto” = “Nenhum gato não pula alto”.
„ “Todo A é B” equivale a “Se é A, então é B”. A questão pede a negação do “algum” – quantifica-
dor particular afirmativo. Já aprendemos que, para
Exemplo: “Todo pato é amarelo”. = “Se é pato, fazer essa negação, usamos um quantificador uni-
então é amarelo”. versal. Qual, professor? O quantificador “nenhum”,
pois o mesmo é universal negativo. Assim, a nossa
z Nenhum sentença ficará:
p: “Algum assistente social acompanhou o
„ “Nenhum A é B” é equivalente a dizer “Todo A julgamento”
não é B”. ~p: “Nenhum assistente social acompanhou o julga-
mento”. Resposta: Letra D.
Vemos aqui que troca-se “nenhum” por “todo”, a
primeira sentença é mantida e nega-se a segunda. 3. (FUNDATEC — 2019) Assinale a alternativa que corres-
Exemplo: “Nenhum macaco é branco” = “Todo ponde à negação de “Todos os analistas de tecnologia
macaco não é branco”. da informação são bons desenvolvedores”.

a) Pelo menos um analista de tecnologia da informação


Equivalência não é bom desenvolvedor.
b) Nenhum analista de tecnologia da informação é bom
Negação desenvolvedor.
AéB A Não é B A Não é B
c) Todos os analistas de tecnologia da informação não
Todo Algum Nenhum são bons desenvolvedores.
A Não é B AéB AéB
d) Alguns analistas de tecnologia da informação são
Negação bons desenvolvedores.
e) Todos os desenvolvedores não são analistas de tecno-
Equivalência logia da informação.

A negação do “todo” pode ser feita usando o lem-


Agora vamos treinar o que aprendemos na teo- brete que aprendemos: “todo nega com PEA + não”,
ria com exercícios comentados de diversas bancas. onde o PEA são as iniciais dos quantificadores
Vamos lá! lógicos particulares – “Pelo menos um” / “Existe” /
“Algum” – seguidos pelo modificador lógico “não”,
1. (FGV — 2019) Considerando que a afirmação “Nenhum deixando-os, assim, particulares negativos. Logo,
pescador sabe nadar” não é verdadeira, é correto con- p: “Todos os analistas de tecnologia da informação
cluir que: são bons desenvolvedores”
~p: “Pelo menos um / Existe / Algum analista de tec-
a) “Há, pelo menos, um pescador que sabe nadar”. nologia da informação não é bom desenvolvedor.
b) “Quem não é pescador não sabe nadar” Resposta: Letra A.
c) “Todos os pescadores sabem nadar”.
d) “Todas as pessoas que sabem nadar são pescadores”. 4. (VUNESP — 2019) A alternativa que corresponde à
e) “Ninguém que sabe nadar é pescador”. negação lógica da proposição composta: “todos os
cantores são músicos e existe advogado que é can-
Veja que a questão pede a negação do quantificador tor”, é:
“nenhum”, e como já aprendemos, nunca devemos
negar o “nenhum” usando o quantificado “todo” e a) Nenhum cantor é músico e não existe advogado que
vice-versa. Sabendo disso, podemos eliminar estra- seja cantor.
tegicamente as alternativas C, D e E. Como temos b) Pelo menos um cantor não é músico ou não existe
um quantificador universal negativo e sabemos que advogado que seja cantor.
para negar precisamos de um particular afirmativo, c) Há cantores que são músicos e existe advogado que
só nos resta a letra A como resposta, pois a letra B não é cantor.
não está de acordo com a regra. Você também pode- d) Nenhum cantor é músico ou não existe advogado que
ria usar o lembrete “nenhum nega com PEA”. seja cantor.
Resposta: Letra A. e) Pelo menos um cantor não é músico ou existe advoga-
do que é cantor.
2. (FUNDATEC — 2019) A negação da sentença “algum
RACIOCÍNIO LÓGICO

assistente social acompanhou o julgamento” está na Só podemos negar um Quantificador Universal


alternativa: (“Todo” / “Nenhum”) com um Quantificador Existen-
cial (“Existe” / “Algum” / “Pelo menos um”), assim,
a) Algum assistente social não acompanhou o eliminamos as letras A, C e D, ficando, assim, apenas
julgamento. as letras B e E para análise. Segundo a Lei de Mor-
b) Todos os assistentes sociais acompanharam o gan – devemos trocar o “e” por “ou” e negar tudo.
julgamento. Então, negando a proposição P ^ Q, fica ~ P v ~Q:
c) Nem todos os assistentes sociais acompanharam o P: todos os cantores são músicose (^)
julgamento. Q: existe advogado que é cantor.
d) Nenhum assistente social acompanhou o julgamento. Negando:
e) Pelo menos um assistente social não acompanhou o ~P: alguns cantores não são músicos (pelo menos
julgamento. um não é = algum não é) ou (v) 109
~Q: não existe advogado que é cantor. (Não existe = Fatorial de um Número Natural
nenhum) “Pelo menos um cantor não é músico ou
não existe advogado que seja cantor”. Serve para facilitar e acelerar resolução de ques-
Resposta: Letra B. tões. Veja sua representação simbólica:

5. (VUNESP — 2019) Considere como verdadeira a pro- Fatorial de N = n!


posição: “Nenhum matemático é não dialético”. Laura
enuncia que tal proposição implica, necessariamente, Sendo “n” um número natural, observe como
que: desenvolver o fatorial de n:

I. Se Carlos é matemático, então ele é dialético. n! = n · (n-1) · (n-2) · ... · 2 · 1, para n ≥ 2


II. Se Pedro é dialético, então é matemático.
III. Se Luiz não é dialético, então não é matemático. 1! = 1
IV. Se Renato não é matemático, então não é dialético. 0! = 1

Das implicações enunciadas por Laura, estão corretas Exemplos:


apenas:
3! = 3 · 2 · 1= 6
a) I e III.
b) I e II. 4! = 4 · 3 · 2 · 1 = 24
c) III e IV. 5! = 5 · 4 · 3 · 2 · 1 = 120
d) II e III.
e) II e IV.
Agora, veja esse outro exemplo:
Você precisa lembrar das equivalências para res-
ponder essa questão. Calcular 6!
4!
“Nenhum matemático é não dialético” equivale a
“Todo Matemático é Dialético”; Resolução:
“Todo Matemático é Dialético” equivale a “Se é
matemático, então é Dialético”. 6!
=
6·5·4·3·2·1 = 6 · 5 = 30
Agora, vamos analisar as afirmações feitas por 4! 4·3·2·1
Laura:
I. Se Carlos é matemático, então ele é dialético (Cor- Poderíamos, também, resolver abrindo o 6! até 4! e
reta, pois está de acordo com a equivalência acima). depois simplificar. Veja:
II. Se Pedro é dialético, então é matemático. (Incor-
reta, pois há dialéticos que não são matemáticos). 6! 6·5·4!
4! = 6 · 5 = 30
=
4!
Dialético
Princípio Fundamental da Contagem

Podemos, também, encontrar como princípio mul-


Mat. tiplicativo. Vamos esquematizar uma maneira que vai
ser bem simples para resolvermos problemas sobre o
tema, observe o lembrete:
III. Se Luiz não é dialético, então não é matemáti-
co (Correta, pois todo matemático é dialético. Veja z Identificar as etapas do enunciado;
também que temos um dos casos de equivalência z Calcular todas as possibilidades em cada etapa;
lógica do conectivo “se... então” – a contrapositiva). z Multiplicar.
IV. Se Renato não é matemático, então não é dialéti-
co (Incorreta, pois nem todo dialético é matemático Exemplo: Para fazer uma viagem São Paulo-For-
como vimos nos diagrama da alternativa II). taleza-São Paulo, você pode escolher como meio de
Resposta: Letra A. transporte ônibus, carro, moto ou avião. De quantas
maneiras posso escolher os transportes?
Resolução: Usando o lembrete acima:

PRINCÍPIOS DE CONTAGEM E z Identificar as etapas do enunciado;


PROBABILIDADE z Escolher o meio de transporte para ida e para a
volta;
NOÇÕES BÁSICAS DE CONTAGEM E PROBABILIDADE z Calcular todas as possibilidades em cada etapa;
z Na ida temos 4 possibilidades de escolha (ôni-
Para estudarmos probabilidade é necessário uma bus, carro, moto ou avião) e para a volta temos 4
boa base em noções básicas de contagem, ou seja, você possibilidades de escolha (ônibus, carro, moto ou
precisa saber muito bem o Princípio Fundamental da avião);
Contagem e é isso que vamos estudar agora. z Multiplicar:
Primeiro, vamos aprender uma ferramenta impor-
110 tante para o nosso estudo: Fatorial. 4 · 4 = 16 maneiras.
E se o problema dissesse que você não pode voltar 5!
=
5·4·3! = 5·4
= 10
no mesmo transporte que viajou na ida. Qual seria a 3!·2! 3!·2·1 2
resolução? O desenvolvimento é o mesmo, apenas vai
mudar na quantidade de possibilidades de escolhas Temos, então, 10 anagramas na palavra ARARA.
para voltar. Veja:
Resolução: Usando o lembrete: Dica
Na permutação com repetição devemos descon-
z Identificar as etapas do enunciado;
z Escolher o meio de transporte para ida e para a tar os anagramas iguais, por isso dividimos pelo
volta; fatorial do número de letras repetidas.
z Calcular todas as possibilidades em cada etapa;
z Na ida temos 4 possibilidades de escolha (ônibus, Permutação com Repetição
carro, moto ou avião) e para a volta temos 3 possi-
bilidades de escolha (não posso voltar no mesmo Vamos imaginar que temos uma mesa circular com
meio de transporte); 5 lugares e queremos ordenar 5 pessoas de maneiras
z Multiplicar: distintas. Observe as duas disposições das pessoas A,
B, C, D, e E ao redor da mesa:
4 · 3 = 12 maneiras.
A E
Permutação Simples

B A
Imagine que temos 5 livros diferentes para serem E D
ordenados em uma estante. De quantas maneiras é MESA MESA
possível ordenar? Para questões envolvendo permu-
tação simples, devemos encarar de um modo geral
que temos n modos de escolhermos um objeto (livro) D C C B
que ocupará o primeiro lugar, n-1 modos de escolher
um objeto (um outro livro) que ocupará o segundo
lugar, ..., 1 modo de escolher o objeto (um outro livro) Diante do conceito de permutação, essas duas
que ocupará o último lugar. Então, temos: disposições são iguais, ou seja, a pessoa A tem à sua
Modos de ordenar: direita E, e à sua esquerda B, e assim sucessivamente).
Não podemos contar duas vezes a mesma disposição.
n · (n-1) · ... 1 = n! Repare ainda que, antes da primeira pessoa se sentar
à mesa, todas as 5 posições disponíveis são equivalen-
Então, resolvendo, teremos 5! = 5·4·3·2·1 = 120 tes. Isto porque não existe uma referência espacial
maneiras de ordenar os livros na estante. (ponto fixo determinado). Nestes casos, devemos uti-
Agora, observe um outro exemplo: lizar a fórmula da permutação circular de n pessoas,
Quantos são os anagramas da palavra CAJU? que é:
Resolução:
Cada anagrama de CAJU é uma ordenação das Pc (n) = (n-1)!
letras que a compõem, ou seja, C, A, J, U.
Em nosso exemplo, o número de possibilidades de
posicionar 5 pessoas ao redor de uma mesa será:
CAJU CUJA ACJU AUJC

CAUJ CJUA ACUJ ... Pc(5) = (5-1)! = 4! = 4 · 3 · 2 · 1 = 24

CUAJ CJAU AUCJ ... Arranjo Simples

Desta maneira, o número de anagramas é 4! = Imagine agora que quiséssemos posicionar 5 pes-
4·3·2·1 = 24 anagramas. soas nas cadeiras de uma praça, mas tínhamos apenas
3 cadeiras à disposição. De quantas formas podería-
Dica mos fazer isso?
Para a primeira cadeira temos 5 pessoas disponí-
Anagrama é a ordenação de maneira distinta das veis, isto é, 5 possibilidades. Já para a segunda cadei-
RACIOCÍNIO LÓGICO

letras que compõem uma determinada palavra. ra, restam-nos 4 possibilidades, dado que uma já foi
utilizada na primeira cadeira. Por último, na terceira
Permutação com Repetição cadeira, poderemos colocar qualquer das 3 pessoas
restantes. Observe que sempre sobrarão duas pessoas
Quantos anagramas tem na palavra ARARA? O em pé, pois temos apenas 3 cadeiras. A quantidade de
problema é causado por conta da repetição de letras formas de posicionar essas pessoas sentadas é dada
na palavra ARARA. pela multiplicação a seguir:
Veja que temos 3 letras A e 2 letras R. De maneira Formas de organizar 5 pessoas em 3 cadeiras =
tradicional, faríamos 5! (número de letras na palavra),
mas é preciso que descontemos as letras repetidas. 5 · 4 · 3 = 60
Assim, devemos dividir pelo número de letras fatorial,
ou seja, 3! e 2!. 111
O exemplo acima é um caso típico de arranjo sim- Dica
ples. Sua fórmula é dada a seguir:
No arranjo a ordem importa.
Na combinação a ordem não importa.
n!
A(n, p) =
(n - p) !
Agora vamos treinar o que aprendemos na teoria com
exercícios comentados de diversas bancas. Vamos lá!
Lembre-se de que pretendemos posicionar “n” ele-
mentos em “p” posições (p sendo menor que n), e onde 1. (VUNESP — 2016) Um Grupamento de Operações
a ordem dos elementos diferencia uma possibilidade Especiais trabalha na elucidação de um crime. Para
da outra. investigações de campo, 6 pistas diferentes devem
Observe a resolução do nosso exemplo usando a ser distribuídas entre 2 equipes, de modo que cada
fórmula: equipe receba 3 pistas. O número de formas diferen-
tes de se fazer essa distribuição é:
5! 5!
A(5, 3) = = = 5·4·3·2·1 = 60
(5 - 3) ! 2! 2·1
a) 6.
b) 10.
Uma outra informação muito importante é que c) 12.
nos problemas envolvendo arranjo simples a ordem d) 18.
dos elementos importa, ou seja, a ordem é diferente e) 20.
de uma possibilidade para outra. Vamos supor que as
5 pessoas sejam: Ana, Bianca, Clara, Daniele e Esme-
Vamos descobrir o número de formas de escolher 3
ralda. Agora observe uma maneira de posicionar as
pistas em 6, visto que ao escolher 3 pistas, restarão
pessoas na praça:
outras 3 pistas que vão compor o outro grupo de
pistas. Dessa maneira, de quantas formas podemos
CADEIRA 1ª 2ª 3ª escolher 3 pistas em um grupo de 6? Aqui a ordem
OCUPANTE Ana Bianca Clara não é relevante, então, vamos usar a combinação:

C(6, 3) = 6!
= 6 · 5 · 4 · 3! =
6·5·4
=
6·5·4
=
Perceba que Daniele e Esmeralda ficaram em pé (6 - 3) !3! 3!3! 3! 3·2·1
nessa disposição.
5 · 4 = 20. Resposta: Letra E.

CADEIRA 1ª 2ª 3ª 2. (IDECAN — 2016) Felipe é uma criança muito bagun-


OCUPANTE Clara Bianca Ana ceira e sempre espalha seus brinquedos pela casa.
Quando vai brincar na casa da sua avó, ele só pode
A Daniele e a Esmeralda continuam de fora e a levar 3 brinquedos. Felipe sempre escolhe 1 carrinho,
Bianca permaneceu no mesmo lugar. O que mudou 1 boneco e 1 avião. Sabendo que Felipe tem 7 carri-
foi a posição da Ana em relação a Clara. Assim, uma nhos, 5 bonecos e 4 aviões diferentes, quantas vezes
simples mudança na posição da ordem gera uma nova Felipe pode visitar a sua avó sem levar o mesmo con-
possibilidade de posicionamento. junto de brinquedos já levados antes?

Combinação a) 100 vezes.


b) 115 vezes.
Para entendermos esse tema, vamos imaginar c) 130 vezes.
que queremos fazer uma salada de frutas e precisa- d) 140 vezes.
mos usar 3 frutas das 4 que temos disponíveis: maçã,
banana, mamão e morango. Cortando as frutas maçã, Perceba que Felipe tem 7 carrinhos para escolher 1,
banana e morango e depois colocando em um prato. 5 bonecos para escolher 1 e 4 aviões para escolher
Agora cortando as frutas banana, morango e maçã 1, queremos formar grupos de 3 brinquedos, sendo
para colocar em um outro prato. um de cada tipo. O total de possibilidades será dado
Você percebeu que a ordem aqui não importou? por: 7 x 5 x 4 = 140 possibilidades (conjuntos de
É exatamente isso, a ordem não importa e estamos brinquedos diferentes). Resposta: Letra D.
diante de um problema de Combinação. Será preciso
calcular quantas combinações de 4 frutas, 3 a 3, é pos- 3. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Em um aeroporto, 30
sível formar. passageiros que desembarcaram de determinado
Para resolvermos é necessário usar a fórmula: voo e que estiveram nos países A, B ou C, nos quais
ocorre uma epidemia infecciosa, foram selecionados
n!
C(n, p) = (n - p) !p! para ser examinados. Constatou-se que exatamente
25 dos passageiros selecionados estiveram em A ou
em B, nenhum desses 25 passageiros esteve em C e 6
Substituindo na fórmula, os valores do exemplo, desses 25 passageiros estiveram em A e em B.
temos: Com referência a essa situação hipotética, julgue o
4! item que segue.
C(4, 3) =
(4 - 3) !3! A quantidade de maneiras distintas de se escolher 2
4·3·2·1 dos 30 passageiros selecionados de modo que pelo
C(4, 3) = menos um deles tenha estado em C é superior a 100.
1·3·2·1
112 C(4, 3) = 4 ( ) CERTO  ( ) ERRADO
Se 25 passageiros tiveram em A ou B e nenhum deles Espaço Amostral e Evento
em C, então, C teve 5 passageiros (é o que falta para
o total de 30). Vamos escolher 2 passageiros, de Chamamos de espaço amostral o conjunto de todos
modo que pelo menos um seja de C, teremos: os resultados possíveis do experimento.
Podemos achar o total para escolha dos 2 passagei- Imagine que você possui um dado e vai lançá-lo
ros que seria: uma vez. Os resultados possíveis são: 1, 2, 3, 4, 5 ou 6,
C30,2 = 30.29/2 = 15.29 = 435 isso é o que chamamos de espaço amostral, ou seja, o
conjunto dos resultados possíveis de um determinado
Agora, tiramos a opção de nenhum deles ser de C,
experimento aleatório (não se pode prever o resul-
que seria:
tado que será obtido, apenas podemos tentar achar
C25,2 = 25.24/2 = 25.12 = 300
algum padrão).
Então, pelo menos um deles é de C, teremos:
Agora, pense que você só tem interesse nos núme-
435 - 300 = 135.
ros ímpares, isto é, 1, 3 e 5. Esse subconjunto do espa-
Resposta: Certo.
ço amostral é o que chamamos de Evento – composto
apenas pelos resultados que são favoráveis. Conhe-
4. (IBFC — 2015) Paulo quer assistir um filme e tem dis- cendo esses dois conceitos, podemos chegar na fórmu-
ponível 5 filmes de terror, 6 filmes de aventura e 3 fil- la para calcular a probabilidade de um evento de um
mes de romance. O total de possibilidades de Paulo determinado experimento aleatório, é o que podemos
assistir a um desses filmes é de: chamar de probabilidade de um evento qualquer.

a) 90.
Dica
b) 33.
c) 45. Espaço amostral é igual a todas as possibilida-
d) 14. des possíveis e o evento é um subconjunto do
espaço amostral.
Paulo tem disponível 14 filmes no total, 5 de terror, 6
de aventura e 3 de romance; e dentre esses 14 filmes PROBABILIDADE DE UM EVENTO QUALQUER
disponíveis tem que escolher um, portanto o total
de possibilidades será dado pela combinação de 14
n (evento)
elementos, tomados um a um. Probabilidade do Evento =
C(14,1) = 14 possibilidades. n (espaço amostral)
Resposta: Letra D.

5. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Em um processo de cole- Na fórmula acima, n(Evento) é o número de ele-


ta de fragmentos papilares para posterior identifica- mentos do subconjunto Evento, isto é, o número
ção de criminosos, uma equipe de 15 papiloscopistas de resultados favoráveis; e n(Espaço Amostral) é o
deverá se revezar nos horários de 8 h às 9 h e de 9 h às número total de resultados possíveis no experimento
aleatório.
10 h.
Por isso, costumamos dizer também que:
Com relação a essa situação hipotética, julgue o item
a seguir.
Se dois papiloscopistas forem escolhidos, um para número de resultados favoráveis
Probabilidade do Evento =
atender no primeiro horário e outro no segundo horá- números total de resultados
rio, então a quantidade, distinta, de duplas que podem
ser formadas para fazer esses atendimentos é supe-
Agora, voltando ao exemplo que apenas os núme-
rior a 300.
ros impares que nos interessam, temos:

( ) CERTO  ( ) ERRADO z n(Evento) = 3 possibilidades;


z n(Espaço Amostral) = 6 possibilidades.
Quantos servidores há para escolher que ficará no
1° horário? 15. Logo,
Agora, já para escolher o que ficará no 2° horário,
temos apenas 14, pois um já foi escolhido para ficar
Probabilidade do Evento = 3 = 1 = 0,50 = 50%
no 1° horário. Multiplicando as possibilidades = 6 2
15x14 = 210.
RACIOCÍNIO LÓGICO

Resposta: Errado. Se A é um evento qualquer, então 0 ≤ P(A) ≤ 1.


Se A é um evento qualquer, então 0% ≤ P(A) ≤ 100%.
PROBABILIDADE
Eventos Independentes
Conceito
Qual seria a probabilidade de, em dois lançamen-
A teoria da probabilidade é o ramo da Matemáti- tos consecutivos do dado, obtermos um resultado
ca que cria modelos que são utilizados para estudar ímpar em cada um deles? Veja que temos dois expe-
experimentos aleatórios, ou seja, estimar uma previ- rimentos independentes ocorrendo: o primeiro lança-
são do resultado de determinado experimento. mento e o segundo lançamento do dado. O resultado
do primeiro lançamento em nada influencia o resulta-
do do segundo. 113
Quando temos experimentos independentes, a de A e B ocorrerem simultaneamente e a probabilida-
probabilidade de ter um resultado favorável em um e de de B ocorrer. Para que A e B ocorram simultanea-
um resultado favorável no outro é feita pela multipli- mente (resultado ímpar e inferior a 4), temos como
cação das probabilidades de cada experimento: possibilidades o resultado igual a 1 e 3. Isto é, apenas
2 dos 6 resultados nos atende.
P(2 lançamentos) = P(lançamento 1) · P(lançamento 2) Logo,

Em nosso exemplo, teríamos: 2 1


P (A∩B) = 6 = 3
P(2 lançamentos) =0,50 0,50 = 0,25 = 25%
Para que B ocorra (resultado inferior a 4), já vimos
Assim, a chance de obter dois resultados ímpares que 3 resultados atendem.
em dois lançamentos de dado consecutivos é de 25%. Portanto,
Generalizando, podemos dizer que a probabilidade de
dois eventos independentes A e B acontecerem é dada 3 1
pela multiplicação da probabilidade de cada um deles: P (A∩B) = =
6 2

P (A e B) = P(A) x P(B)
Usando a fórmula acima, temos:
Sendo mais formal, também é possível escrever 1
P(A ∩ B) = P(A) · P(B), onde ∩ simboliza a intersecção P (A + B) 3 = 1 2 = 2 = 66,6%
entre os eventos A e B. P (A\B) = = ·
P (B) 1 3 1 3
2
PROBABILIDADE CONDICIONAL
PROBABILIDADE DA UNIÃO DE DOIS EVENTOS
Neste tópico, vamos falar sobre um tema bem
recorrente em questões de concursos. Imagine que
Dados dois eventos A e B, chamamos de A ∪ B
vamos lançar um dado, e estamos analisando 2 even-
quando queremos a probabilidade de ocorrer o even-
tos distintos:
A – sair um resultado ímpar to A ou o evento B. Podemos usar a fórmula:
B – sair um número inferior a 4
Para o evento A ser atendido, os resultados favo- P (A ∪ B) = P (A) + P (B) - P (A∩B)
ráveis são 1, 3 e 5. Para o evento B ser atendido, os
resultados favoráveis são 1, 2 e 3. Vamos calcular rapi- A fórmula pode ser traduzida como a probabilida-
damente a probabilidade de cada um desses eventos: de da união de dois eventos é igual a soma das pro-
babilidades de ocorrência de cada um dos eventos,
3 1 subtraída da probabilidade da ocorrência dos dois
P(A) = = 0,5 = 50%
6 2 eventos simultaneamente.
Neste caso, quando temos A ∩ B = ϴ, ou seja, even-
3 1
P(B) = = 0,5 = 50% tos mutuamente exclusivos, tem-se que P (A ∪ B) = P
6 2
(A) + P (B).
Imagine que você tem uma urna contendo 20 bolas
E se caso tivéssemos o seguinte questionamento:
numeradas de 1 a 20. Quando uma bola é retirada ao
no lançamento de um dado, qual é a probabilidade
acaso, qual é a probabilidade de o número ser múlti-
de obter um resultado ímpar, dado que foi obtido um
resultado inferior a 4? Em outras palavras, essa per- plo de 3 ou de 5?
gunta é: qual a probabilidade do evento A, dado que o Ora, veja que temos a palavra “ou” na pergunta e
evento B ocorreu? Matematicamente, podemos escre- isso nos remete à ideia de “união” dos eventos. Sen-
ver P(A/B) – leia “probabilidade de A, dado B”. do assim, podemos extrair os dados para aplicar na
Aqui, já sabemos de antemão que B ocorreu. Por- fórmula:
tanto, o resultado do lançamento do dado foi 1, 2 ou 3
(três resultados possíveis). Destes resultados, apenas z P(A) = probabilidade de o número ser múltiplo de 3
dois deles (o resultado 1 e 3) atendem o evento A. Por-
tanto, a probabilidade de A ocorrer, dado que B ocor- Múltiplos de 3 (3, 6, 9, 12, 15, 18) = 6 possibilidades
reu, é simplesmente:
6
P(A) =
2 20
P (A\B) = = 66,6%
3
z P(B) = probabilidade de o número ser múltiplo de 5
Uma outra forma de calculá-la é por meio da
seguinte divisão: Múltiplos de 3 (5, 10, 15, 20) = 4 possibilidades

P (A k B) 4
P (A\B) = P(B) =
P (B) 20

A fórmula nos diz que a probabilidade de A ocorrer, z P(A ∩ B) = probabilidade do número ser múltiplo
114 dado que B ocorreu, é a divisão entre a probabilidade de 3 e 5
Somente o número 15 é múltiplo de 3 e 5 ao mesmo Basta calcular a probabilidade de vir 3 crianças (o
tempo. que a gente não quer). Depois subtrair de 1, para
obter os casos favoráveis.
1 Probabilidade de sortear 3 crianças: 6/10 · 5/9 · 4/8 = 1/6
P(A ∩ B) =
20 1 – 1/6 = 5/6. Resposta: Letra E.

Aplicando na fórmula, temos: 2. (VUNESP — 2017) Um centro de meteorologia infor-


mou ao CIPM que é de 60% a probabilidade de chuva
P (A ∪ B) = P (A) + P (B) - P (A ∩ B) no dia programado para ocorrer a operação. Mediante
6 4 1 6+4-1 9 essa informação, o oficial no comando afirmou que as
P (A ∪ B) = 20 + 20 - 20 = 20
=
20 probabilidades de que a operação seja realizada nesse
dia são de 20%, caso a chuva ocorra, e de 85%, se não
houver chuva. Nessas condições, a probabilidade de
PROBABILIDADE DA INTERSEÇÃO DE DOIS
que a operação ocorra no dia programado é de:
EVENTOS
a) 59%.
Sejam A e B dois eventos de um espaço amostral. A
b) 46%.
probabilidade de A ∩ B é dada por:
c) 41%.
d) 34%.
P (A ∩ B) = P (B\A) · P (A) = P (B) · P (A\B)
e) 28%.
Vale lembrar que P (B\A) é a probabilidade de
Se a probabilidade de chover é de 60%, então, a
ocorrer o evento B, sabendo que já ocorreu o evento A
probabilidade de não chover é de 40%. Para que a
(probabilidade condicional).
operação ocorra no dia programado, temos duas
Se a ocorrência do evento A não interferir na pro-
situações:
babilidade de ocorrer o evento B, ou seja, forem inde-
pendentes, a fórmula para o cálculo da probabilidade chove (60%) e ocorre a operação (20%) = 60% x 20%
da intersecção será dada por: = 12%
não chove (40%) e ocorre a operação (85%) = 40%
x 85% = 34%
P (A ∩ B) = P (A) · P (B)
Somando as probabilidades desses dois cenários,
temos: 12% + 34% = 46%.
Imagine que você vai lançar dois dados sucessi-
Resposta: Letra B.
vamente. Qual a probabilidade de sair um número
ímpar e o número 5?
O “e” que aparece na pergunta é que determina a 3. (CEBRASPE-CESPE — 2019) A sorte de ganhar ou per-
utilização da fórmula da interseção, pois queremos “a der, num jogo de azar, não depende da habilidade do
probabilidade de sair um número ímpar e o número jogador, mas exclusivamente das probabilidades dos
5”. Perceba que a ocorrência de um dos eventos não resultados. Um dos jogos mais populares no Brasil é
interfere na ocorrência do outro. Temos, então, dois a Mega Sena, que funciona da seguinte forma: de 60
eventos independentes. bolas, numeradas de 1 a 60, dentro de um globo, são
Evento A: sair um número ímpar = {1, 3, 5}; sorteadas seis bolas. À medida que uma bola é retira-
Evento B: sair o número 5 = {5}; da, ela não volta para dentro do globo. O jogador pode
Espaço Amostral: S = {1, 2, 3, 4, 5, 6}. apostar de 6 a 15 números distintos por volante e rece-
Logo, berá o prêmio se acertar os seis números sorteados.
Também são premiados os acertadores de 5 números
3 1 ou de 4 números.
P(A) = =
A partir dessas informações, julgue o item que se segue.
6 2
A probabilidade de a primeira bola sorteada ser um
1 número múltiplo de 8 é de 10%.
P(B) =
6
1 1 1 ( ) CERTO  ( ) ERRADO
P (A ∩ B) = P (A) · P (B) = · =
2 6 12
Múltiplos de 8: {0, 8, 16, 24, 32, 40, 48, 56, 64, 72...}
Agora vamos treinar o que aprendemos na teo- Números da Mega Sena: 1 a 60.
ria com exercícios comentados de diversas bancas. Os múltiplos de 8 na Mega Sena são: 8, 16, 24, 32, 40,
Vamos lá! 48, 56, ou seja, 7 números.
RACIOCÍNIO LÓGICO

Logo 7/60 = 11%. Resposta: Errado.


1. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Em um grupo de 10
pessoas, 4 são adultos e 6 são crianças. Ao se sele- 4. (CEBRASPE-CESPE — 2017) Em um jogo de azar, dois
cionarem, aleatoriamente, 3 pessoas desse grupo, a jogadores lançam uma moeda honesta, alternada-
probabilidade de que no máximo duas dessas pes- mente, até que um deles obtenha o resultado cara. O
soas sejam crianças é igual a: jogador que detiver esse resultado será o vencedor.
A probabilidade de o segundo jogador vencer o jogo
a) 1/6. logo em seu primeiro arremesso é igual a:
b) 2/6.
c) 3/6. a) 2/3.
d) 4/6. b) 1/2.
e) 5/6. c) 1/4. 115
d) 1/8. Complemento de um Conjunto
e) 3/4.
O complemento de X é o conjunto formado por
Precisamos calcular a probabilidade do primeiro joga- todos os elementos do Universo e o elemento “y” faz
dor tirar coroa e o segundo jogador obter cara. Pro- parte dele, claro que com exceção daqueles que estão
babilidade de o primeiro tirar coroa: 1/2 e o segundo presentes em X. Representamos o complemento ou
tirar cara: 1/2. Logo, 1/2 · 1/2 = 1/4. Resposta: Letra C. complementar pelo símbolo XC. Podemos afirmar que
“y” não pertence à X, mas pertence ao conjunto com-
5. (CEBRASPE-CESPE — 2017) Cinco mulheres e quatro plementar de X: matematicamente: y Є XC.
homens trabalham em um escritório. De forma aleató-
ria, uma dessas pessoas será escolhida para trabalhar Interpretando Regiões e Conhecendo a Interseção e
no plantão de atendimento ao público no sábado. Em União de Conjuntos
seguida, outra pessoa será escolhida, também aleato-
riamente, para o plantão no domingo. Uma outra situação é quando temos dois conjuntos
Considerando que as duas pessoas para os plantões (X e Y), podemos representar da seguinte forma, no
serão selecionadas sucessivamente, de forma aleató- geral:
ria e sem reposição, julgue o próximo item.
A probabilidade de os dois plantonistas serem homens X Y
é igual ou superior a 4/9.

( ) CERTO  ( ) ERRADO

Sábado: Há 4 homens possíveis, em 9 pessoas no


total = 4/9
Domingo: Há 3 homens possíveis, de 8 pessoas no
total (uma já foi escolhida no sábado) = 3/8
a b c
Como queremos que seja escolhido um homem no
sábado e um homem no domingo, multiplicamos as
probabilidades: 4/9 x 3/8 = 12/72 = 4/24. d
A questão é errada, pois 4/24 não é igual ou maior
que 4/9. Resposta: Errado. Interpretando os conjuntos anterior temos:

z O elemento “a” pertence apenas ao conjunto X,


pois ele está numa região que não tem contato com
OPERAÇÕES COM CONJUNTOS o conjunto Y;
z O elemento “c” faz parte somente ao conjunto Y;
INTRODUÇÃO À TEORIA DE CONJUNTOS z O elemento “b” pertence aos dois conjuntos, ou seja,
faz parte da interseção entre os conjuntos X e Y.
Conjunto é uma reunião de elementos ou pessoas
A representação simbólica é feita por X ∩ Y. Como o
que possuem a mesma característica, por exemplo,
numa festa pode haver o conjunto de pessoas que só elemento “b” faz parte dessa região, temos:
bebem cerveja ou o conjunto daquelas que só gostam
de músicas eletrônicas. „ b Є (X ∩ Y) – o elemento “b” pertence à interse-
Representamos um conjunto da seguinte forma: ção dos conjuntos X e Y;
„ O elemento “d” não faz parte de nenhum dos
Conjunto X dois conjuntos. Logo, podemos dizer que “d”
não pertence à União entre os conjuntos X e Y.
y A união é a junção das regiões dos dois conjun-
tos e é representada simbolicamente por X ∪
Y. Assim, d ∉ (X ∪ Y) – o elemento “d” não per-
x
tence à união entre os conjuntos X e Y.

Vamos analisar uma outra situação:

Podemos afirmar que no interior do círculo há X Y


todos os elementos que pertencem (compõem) ao con-
junto X, já na parte externa do círculo estão todos os
elementos que não fazem parte de X, ou seja, “y” não
pertence ao conjunto X.
No gráfico acima podemos dizer que o elemen- X–Y X∩Y Y–X
to “x” pertence ao conjunto X e o elemento “y” não
pertence.
Matematicamente, usamos o símbolo Є para indi-
car essa relação de pertinência. Isto é: x Є X, já o ele-
mento “y” não pertence ao conjunto X, onde usamos
o símbolo ∉ para essa relação de não pertinência. Nesta representação, podemos interpretar a região
Matematicamente: X – Y (diferença de conjuntos) como sendo a região
formada pelos elementos de X que não fazem parte do
116 y ∉ X. conjunto Y. Veja o exemplo:
X = {2, 3, 4, 5, 6, 7, 8} etc. Ainda podemos utilizar notações matemáticas para
Y = {5, 6, 7, 9, 10} representar os conjuntos. Veja o exemplo a seguir:

X – Y = basta tirar de X os elementos que estão nele A = {∀ x Є Z | x ≥ 0}


e também em Y, ou seja, X – Y = {2, 3, 4, 8}
Já no caso da região Y – X, temos: Podemos entender e fazer a leitura do conjunto
anterior da seguinte maneira: o conjunto A é compos-
X = {2, 3, 4, 5, 6, 7, 8} to por todo x pertencente ao conjunto dos números
Y = {5, 6, 7, 9, 10} inteiros, tal que x é maior ou igual a zero.
Y – X = {9, 10} Agora, veja um outro exemplo:

Podemos falar, também, da região de interseção B = {∃ x Є Z | x > 5}


dos conjuntos X ∩ Y.
Uma interpretação para o conjunto é: no conjunto
X = {2, 3, 4, 5, 6, 7, 8} B existe x pertencente ao conjunto dos números intei-
Y = {5, 6, 7, 9, 10} ros, tal que x é maior do que 5.
X ∩ Y = {5, 6, 7} Agora vamos esquematizar todas as simbologias
para que você possa gravar mais facilmente e aplicar
E por fim, vamos identificar a união entre os na hora de resolver as questões. Observe a tabela a
conjuntos X e Y. Observe que vamos juntar todos os seguir:
elementos dos dois conjuntos, mas sem repetir os ele-
mentos presentes na interseção. Veja:
SÍMBOLO NOME EXPLICAÇÃO
X = {2, 3, 4, 5, 6, 7, 8} chaves Ex: X = {a,b,c} representa
Y = {5, 6, 7, 9, 10} {,} o conjunto X composto
X ∪ Y = {2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10} por a, b e c
conjunto Significa que o conjunto
Relação de “Contém”/“Não Contém” e “Está { } ou  ∅ vazio não tem elementos, é um
Contido”/“Não Está Contido” entre Conjuntos conjunto vazio
para todo Significa “Para todo” ou
Em algumas situações, a intersecção entre os con- ∀
“Para qualquer que seja”
juntos X e Y pode ser todo o conjunto Y, por exemplo.
Isso acontece quando todos os elementos de B são pertence Indica relação de pertinên-
Є cia de elementos
também elementos de A. Veja isso no gráfico a seguir:
não pertence Indica relação de não per-
X ∉
tinência de elementos
∃ existe Indica relação de existência
não existe Indica que não há relação

de existência
Y
está contido Indica que um conjunto
⊂ está contido em outro
conjunto
não está Indica que um conjunto
⊄ contido não está contido em ou-
Perceba que realmente X ∩ Y = Y. Quando temos tro conjunto
a situação acima, podemos dizer que o conjunto Y
está contido no conjunto X, representado matemati- contém Indica que determinado
camente por Y ⊂ X. Ou podemos dizer, ainda, que o ⊃ conjunto contém outro
conjunto X contém o conjunto Y, representado mate- conjunto
maticamente por X ⊃ Y. não contém Indica que determinado
⊅ conjunto não contém ou-
tro conjunto
Importante! tal que Serve para fazer a ligação
Entenda a diferença: entre a composição de
RACIOCÍNIO LÓGICO

|
um conjunto na “repre-
● Falamos que um elemento pertence ou não sentação em chaves”
pertence a um conjunto;
união de Lê-se como “X união Y”
● Falamos que um conjunto está contido ou não A ∪ B
conjuntos
está contido em outro conjunto.
interseção de Lê-se como “X intersec-
A ∩ B
conjuntos ção Y”
Representação de Conjunto Usando Chaves diferença de Lê-se como “diferença de
A-B
conjuntos A com B”
Geralmente usamos letras maiúsculas para repre-
sentar os nomes de conjuntos e minúsculas para repre- complementar Refere-se ao complemen-
XC
sentar elementos. Ex.: A = {4, 6, 7, 9}; B = {a, b, c, d} to do conjunto X 117
Diagrama de VENN Total = X
20 gostam de Matemática;
Vamos entender como se resolve questões que 30 gostam de Português;
envolvem Operações com Conjuntos se relacionan- 10 gostam dos dois;
do. Acompanhe os exemplos a seguir e a maneira 10 gostam apenas de Matemática;
como desenvolvemos suas resoluções: 20 gostam apenas de Português;
5 não gostam de nenhuma.
z Em uma sala de aula, 20 alunos gostam de Mate-
mática, 30 gostam de Português, e 10 gostam das z Some todas as regiões e iguale ao total de elemen-
duas matérias. Sabendo que 5 alunos não gostam tos envolvidos:
de nenhuma dessas duas matérias, quantos alunos
há nessa sala de aula? Matemática (20) Português (30)

Siga os passos abaixo:

z Identifique os conjuntos;
z Represente em forma de diagramas;
z Preencha as informações de dentro para fora (da
interseção para as demais informações); 20 – 10 = 10 10 30 – 10 = 20
z Preencha as demais informações no diagrama;
z Some todas as regiões e iguale ao total de elemen-
tos envolvidos.
5
Vamos à resolução:
10+10+20+5 = X
z Identifique os conjuntos; X = 45 alunos é o total dessa sala.
z Represente em forma de diagramas:

Matemática Português
Também seria possível resolver esse tipo de ques-
tão usando a seguinte fórmula:

n(X ∪ Y) = n(X) + n(Y) – n(X ∩ Y)

Esta fórmula nos diz que o número de elementos


da União entre os conjuntos X e Y (X ∪ Y) é dado pelo
número de elementos de X, somado ao número de ele-
mentos de Y, subtraído do número de elementos da
interseção (X ∩ Y). Aplicando no exemplo, temos:
Matemática (M)
z Preencha as informações de dentro para fora (da Português (p)
interseção para as demais informações):
n(M ∪ P) = n(M) + n(P) – n(M ∩ P)
Matemática Português n(M ∪ P) = 20 + 30 – 10
n(M ∪ P) = 40

Temos 40 alunos que gostam de Matemática ou


Português (aqui já está incluso quem gosta das duas
matérias). Para finalizar a resolução, devemos apenas
somar os 5 alunos que não gostam das duas matérias.
10 Assim, 40 + 5 = 45 alunos no total dessa sala.
Assim como nos problemas com 2 conjuntos, quan-
do nós tivermos 3 conjuntos será possível resolver
o problema por meio de Diagramas de Venn ou por
z Preencha as demais informações no diagrama: meio de fórmula. Acompanhe a resolução do exemplo:
André, Bernardo e Carol ouviram certa quantidade
Matemática (20) Português (30)
de músicas. Nenhum deles gostaram de seis músicas
e os três gostaram de dez músicas. Além disso, hou-
ve doze músicas que só André e Bernardo gostaram,
nove músicas que só André e Carol gostaram e quatro
músicas que só Bernardo e Carol gostaram. Não houve
música alguma que somente um deles tenha gostado.
10
20 – 10 = 10 30 – 10 = 20 O número de músicas que eles ouviram foi?
Siga os passos a seguir:

z Identifique os conjuntos;
5
z Represente em forma de diagramas;
z Preencha as informações de dentro para fora (da
118 interseção para as demais informações);
z Preencha as demais informações no diagrama; z 12 músicas que somente André e Bernardo gosta-
z Some todas as regiões e iguale ao total de elemen- ram (na interseção entre os 2 apenas);
tos envolvidos. z 9 que somente André e Carol gostaram;
z 4 que somente Bernardo e Carol gostaram;
Vamos à resolução: z 6 músicas que ninguém gostou (de fora dos três
conjuntos);
z Identifique os conjuntos; z Os “zeros” representam o fato de que não houve
z Represente em forma de diagramas: música que somente um deles tenha gostado.

André Bernardo Logo, vem a última etapa:

z Some todas as regiões e iguale ao total de elemen-


tos envolvidos;

Total = X
6+0+12+10+9+0+4+0=X
X = 41 músicas

Questões com três conjuntos podem ser resolvidas


usando a seguinte fórmula:

n(X ∪ Y ∪ Z) = n(X) + n(Y) + n(Z) – n(X ∩ Y) – n(X


Carol ∩ Z) – n(Y ∩ Z) + n(X ∩ Y ∩ Z)

Traduzindo a fórmula:
Total de elementos da união = soma dos conjuntos
z Preencha as informações de dentro para fora (da – interseções dois a dois + interseção dos três
interseção para as demais informações): Bom! Já vimos a teoria e precisamos praticar o que
aprendemos, não é mesmo? Vamos praticar!
André Bernardo
1. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Determinado porto rece-
beu um grande carregamento de frango congelado,
carne suína congelada e carne bovina congelada, para
exportação. Esses produtos foram distribuídos em
800 contêineres, da seguinte forma: nenhum contêiner
foi carregado com os três produtos; 300 contêineres
10 foram carregados com carne bovina; 450, com carne
suína; 100, com frango e carne bovina; 150, com carne
suína e carne bovina; 100, com frango e carne suína.
Nessa situação hipotética,
250 contêineres foram carregados somente com car-
Carol ne suína.

( ) CERTO  ( ) ERRADO

z Preencha as demais informações no diagrama: Vamos extrair as informações e colocar dentro dos
diagramas:
André Bernardo 800 contêineres distribuição;
0 contêineres com os 3 produtos;
300 contêineres carne bovina;
450 contêineres carne suína;
100 contêineres com frango e carne bovina;
150 contêineres com carne suína e carne bovina;
0 12 0 100 contêineres com frango e carne suína.

Bovina Frango
RACIOCÍNIO LÓGICO

10
50 100 X
9 4

0 Carol
0
6
150 100

Colocamos o número 10 bem no centro, pois sabe- 200 Suína


mos que os três gostaram de dez músicas, depois
preenchemos com as demais informações: 119
Veja que apenas 200 contêineres foram carregados 800-400= 400 contêineres contêm franco. (Lembre-se, a
somente com carne suína. Resposta: Errado. banca não perguntou somente frango). Logo, 400 con-
têineres continham frango congelado. Resposta: Certo.
2. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Determinado porto rece-
beu um grande carregamento de frango congelado, 4. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Em um aeroporto, 30
carne suína congelada e carne bovina congelada, para passageiros que desembarcaram de determinado
exportação. Esses produtos foram distribuídos em voo e que estiveram nos países A, B ou C, nos quais
800 contêineres, da seguinte forma: nenhum contêiner ocorre uma epidemia infecciosa, foram selecionados
foi carregado com os três produtos; 300 contêineres para ser examinados. Constatou-se que exatamente
foram carregados com carne bovina; 450, com carne 25 dos passageiros selecionados estiveram em A ou
suína; 100, com frango e carne bovina; 150, com carne em B, nenhum desses 25 passageiros esteve em C e 6
suína e carne bovina; 100, com frango e carne suína. desses 25 passageiros estiveram em A e em B.
Nessa situação hipotética, Com referência a essa situação hipotética, julgue os
50 contêineres foram carregados somente com carne itens que se seguem
bovina. Se 11 passageiros estiveram em B, então mais de 15
estiveram em A.
( ) CERTO  ( ) ERRADO
( ) CERTO  ( ) ERRADO
Vamos extrair as informações e colocar dentro dos
diagramas: Dos 30 passageiros, são 25 que estiveram apenas
800 contêineres distribuição; em A ou B, de modo que os outros 5 passageiros esti-
0 contêineres com os 3 produtos; veram apenas em C. Veja ainda que 6 passageiros
300 contêineres carne bovina; estiveram A e B, de modo que os outros 19 estiveram
450 contêineres carne suína; somente em um desses dois países. Logo,
100 contêineres com frango e carne bovina;
150 contêineres com carne suína e carne bovina; A B
100 contêineres com frango e carne suína.

Bovina Frango

50 100 X X 6 25 – 6 – x =

19 – x

150 100

200 Suína
C 5

Veja que exatamente 50 contêineres foram carrega-


dos somente com carne bovina. Resposta: Certo.

3. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Determinado porto rece-


beu um grande carregamento de frango congelado, Sabemos que o número de pessoas que estiveram em
carne suína congelada e carne bovina congelada, para B é dado pela soma 6 + (19 – X). Ou seja,
exportação. Esses produtos foram distribuídos em 11 = 6 + (19 – X)
800 contêineres, da seguinte forma: nenhum contêiner 11 = 25 – X
foi carregado com os três produtos; 300 contêineres X = 25 – 11
foram carregados com carne bovina; 450, com carne X = 14
suína; 100, com frango e carne bovina; 150, com carne Logo, as pessoas que estiveram em A são X + 6 = 14
suína e carne bovina; 100, com frango e carne suína. + 6 = 20. Resposta: Certo.
Nessa situação hipotética,
400 contêineres continham frango congelado. 5. (CEBRASPE-CESPE — 2016) Situação hipotética: A
ANVISA realizará inspeções em estabelecimentos
( ) CERTO  ( ) ERRADO comerciais que são classificados como Bar ou Res-
taurante e naqueles que são considerados ao mesmo
Com as informações colocadas nos diagramas na tempo Bar e Restaurante. Sabe-se que, ao todo, são 96
questão anterior, podemos somar todas as informa- estabelecimentos a serem visitados, dos quais 49 são
ções que não possuem contato com o conjunto de classificados como Bar e 60 são classificados como
frango e subtrair do total. Veja: Restaurante. Assertiva: Nessa situação, há mais de 15
50 (só bovinos); estabelecimentos que são classificados como Bar e
150 (bovinos e suínos); como Restaurante ao mesmo tempo.
200 (só suínos).
Somando tudo isso, teremos 400 contêineres com ( ) CERTO  ( ) ERRADO
outras carnes, o que sobrou do total será a resposta
120 para a questão.
Extraindo os dados: Lembre-se de que a maioria dos problemas en-
total: 96; volvendo esse tema são resolvidos utilizando essa
bar: 49; propriedade fundamental. Porém, algumas questões
restaurante: 60. acabam sendo um pouco mais complexas e pode ser
Somando tudo, temos 49 + 60 = 109. Passou o total de útil conhecer algumas propriedades para facilitar. Va-
96, porque estamos contando 2x vezes os estabeleci- mos a elas.
mentos que estão na interseção. Logo, descontamos
o que passou do total. 109 - 96 = 13 estabelecimentos Propriedade das Proporções
que são classificados como Bar e como Restaurante
ao mesmo tempo. Resposta: Errado. � Somas Externas:

a c a+c
= =
b d b+d
RACIOCÍNIO LÓGICO ENVOLVENDO
Vamos entender um pouco melhor resolvendo
PROBLEMAS ARITMÉTICOS,
uma questão-exemplo:
GEOMÉTRICOS E MATRICIAIS Suponha que uma fábrica vai distribuir um prê-
mio de R$10.000 para seus dois empregados (Carlos
PROBLEMAS ARITMÉTICOS e Diego). Esse prêmio vai ser dividido de forma pro-
porcional ao tempo de serviço deles na fábrica. Carlos
Vamos relembrar alguns conceitos e fórmulas está há 3 anos na fábrica e Diego está há 2 anos. Quan-
sobre aritmética para que possamos resolvermos to cada um vai receber?
questões sobre esse tópico. Como o próprio nome já Primeiro, devemos montar a proporção. Sejam C
diz “Problemas de Raciocínio Lógico envolvendo Arit- a quantia que Carlos vai receber e D a quantia que
mética”. Então, vamos fazer várias questões ao longo Diego vai receber, então temos:
da teoria para entender e praticar mais ainda sobre
esse assunto. C D
=
3 2
RAZÃO E PROPORÇÃO COM APLICAÇÕES
Utilizando a propriedade das somas externas:
A razão entre duas grandezas é igual a divisão
entre elas, veja: C+D
C D
= =
3 2 3+2
2
5
Perceba que C + D = 10.000 (as partes somadas),
então podemos substituir na proporção:
Ou podemos representar por 2 ÷ 5 (Lê-se “2 está
para 5”).
C D C+D
Já a proporção é a igualdade entre razões, veja: = = = 10.000 = 2.000
3 2 3+2 5
2 4
= Aqui cabe uma observação importante: esse valor
3 6
2.000, que chamamos de “Constante de Proporcionali-
Ou podemos representar por 2 ÷ 3 = 4 ÷ 6 dade”, é que nos mostra o valor real das partes dentro
(Lê-se “2 está para 3 assim como 4 está para 6”). da proporção. Veja:
Os problemas mais comuns que envolvem razão
e proporção é quando se aplica uma “variável” qual- C
= 2.000
quer dentro da proporcionalidade e se deseja saber o 3
valor dela. Veja o exemplo: C = 2000 x 3
2 x ou 2 ÷ 3 = x ÷ 6 C = 6.000 (esse é o valor de Carlos)
=
3 6 D
= 2.000
2
Para resolvermos esse tipo de problema devemos
usar a Propriedade Fundamental da razão e propor- D = 2.000 x 2
RACIOCÍNIO LÓGICO

ção: “produto dos meios pelos extremos”. D = 4.000 (esse é o valor de Diego)
Meio: 3 e x
Extremos: 2 e 6 Assim, Carlos vai receber R$6.000 e Diego vai rece-
Logo, devemos fazer a multiplicação entre eles
ber R$4.000;
numa igualdade. Observe:
z Somas Internas:
3·X=2·6
3X = 12 a
=
c
=
a+b
=
c+d
b d b d
X = 12/3
X=4 121
É possível, ainda, trocar o numerador pelo deno- Logo,
minador ao efetuar essa soma interna, desde que
o mesmo procedimento seja feito do outro lado da 2A
= 1.000
proporção. 4

a
=
c
=
a+b = c+d 2A = 4 x 1.000
b d a c
2A = 4.000
Vejamos um exemplo:
A = 2.000
x 2
=
-
14 x 5 Fazendo a mesma resolução em B:
3B
x + 14 - x 2+5 = 1.000
= 9
x 2
3B = 9 x 1.000
14 7
=
x 2 3B = 9.000

7 · x = 2 · 14 B = 3.000
14 · 2
x= =4 Sendo assim, os funcionários com 2 anos de casa
7
receberão R$2.000 de bônus. Já os funcionários com 3
anos de casa receberão R$3.000 de bônus.
Portanto, encontramos que x = 4. O total pago pela empresa será:

Observação: vale lembrar que essa propriedade Total = 2.2000 + 3.3000 = 4000 + 9000 = 13000
também serve para subtrações internas;
Agora vamos estudar um tipo de problema que
z Soma com Produto por Escalar: aparece frequentemente em provas de concursos
envolvendo razão e proporção.
a c a + 2b c + 2d
= = =
b d b d REGRA DA SOCIEDADE

Vejamos um exemplo para melhor entendimento: Diretamente Proporcional


Uma empresa vai dividir o prêmio de R$13.000
proporcionalmente ao número de anos trabalhados. Um dos tópicos mais comuns em questões de pro-
São dois funcionários que trabalham há 2 anos na va é dividir uma determinada quantia em partes
empresa e três funcionários que trabalham há 3 anos. proporcionais a determinados números. Vejamos um
Seja A o prêmio dos funcionários com 2 anos e B exemplo para entendermos melhor como esse assun-
o prêmio dos funcionários com 3 anos de empresa, to é cobrado.
temos: Exemplo:
A B A quantia de 900 mil reais deve ser dividida em
=
2 3 partes proporcionais aos números 4, 5 e 6. A menor
dessas partes corresponde a:
Porém, como são 2 funcionários na categoria A e 3 Primeiro vamos chamar de X, Y e Z as partes pro-
funcionários na categoria B, podemos escrever que a porcionais, respectivamente a 4, 5 e 6. Sendo assim, X
soma total dos prêmios é igual a R$13.000. é proporcional a 4, Y é proporcional a 5 e Z é propor-
cional a 6, ou seja, podemos representar na forma de
2A + 3B = 13.000 razão. Veja:

Agora, multiplicando em cima e embaixo de um X Y Z


lado por 2 e do outro lado por 3, temos:
= = = constante de proporcionalidade
4 5 6

2A 3B Usando uma das propriedades da proporção,


=
4 9 somas externas, temos:

Aplicando a propriedade das somas externas, X+Y+Z 900.000


podemos escrever o seguinte: = 60.000
4+5+6 15

2A 3B 2A + 3B A menor dessas partes é aquela que é proporcional


= =
4 9 4+9 a 4, logo:

Substituindo o valor da equação 2A + 3B na pro- X


= 60.000
porção, temos: 4

2A 3B 2A + 3B 13.000 X = 60.000 x 4
= = = = 1.000
122 4 9 4+9 13 X = 240.000
Inversamente Proporcional A razão entre o número de mulheres e o número
total de alunos é de 5/8:
É um tipo de questão menos recorrente, mas, não M 5
menos importante. Consiste em distribuir uma quan- T
=
8
tia X a três pessoas, de modo que cada uma receba um
quinhão inversamente proporcional a três números. A turma tem 120 alunos, então: T = 120
Vejamos um exemplo: Fazendo os cálculos:
Suponha que queiramos dividir 740 mil em partes M 5
=
inversamente proporcionais a 4, 5 e 6. T 8
Vamos chamar de X as quantias que devem ser dis- M 5
tribuídas inversamente proporcionais a 4, 5 e 6, res- =
120 8
pectivamente. Devemos somar as razões e igualar ao
8 x M = 5 x 120
total que dever ser distribuído para facilitar o nosso
cálculo, veja: 8M = 600
600
X X X M=
+ + = 740.000 8
4 5 6
M = 75
Agora vamos precisar tirar o M.M.C (mínimo múl- A quantidade de homens da sala:
tiplo comum) entre os denominadores para resolver- 120 - 75 = 45 homens. Resposta: Letra B.
mos a fração.
4–5–6|2 2. (VUNESP — 2020) Em um grupo com somente pessoas
com idades de 20 e 21 anos, a razão entre o número
2–5–3|2 de pessoas com 20 anos e o número de pessoas com
1–5–3|3 21 anos, atualmente, é 4/5. No próximo mês, duas pes-
soas com 20 anos farão aniversário, assim como uma
1–5–1|5 pessoa com 21 anos, e a razão em questão passará a
ser de 5/8. O número total de pessoas nesse grupo é:
1 – 1 – 1 | 2 x 2 x 3 x 5 = 60
a) 30.
Assim, dividindo o M. M. C. Pelo denominador e
b) 29.
multiplicando o resultado pelo numerador temos:
c) 28.
d) 27.
15x 12x 10x
+ + = 740.000 e) 26.
60 60 60
37x A razão entre o número de pessoas com 20 anos e o
= 740.000
60 número de pessoas com 21 anos, atualmente, é 4/5.

X = 1.200.000 120 4x
=
121 5x Total de 9x
Agora basta substituir o valor de X nas razões para
achar cada parte da divisão inversa. No próximo mês, duas pessoas com 20 anos farão
aniversário, assim como uma pessoa com 21 anos, e
x 1.200.000 a razão em questão passará a ser de 5/8.
= = 300.000
4 4 120 4x - 2
= = 5
x 1.200.000 121 5x + 2 - 1 8
= = 240.000
5 5 4x - 2 5
=
x 1.200.000 5x + 1 8
= = 200.000
6 6
8 (4x - 2) = 5 (5x + 1)

Logo, as partes dividas inversamente proporcio- 32x – 16 = 25x + 5


nais aos números 4, 5 e 6 são, respectivamente 300K, 7x = 21
240K e 200K.
Exercite seus conhecimentos realizando os exercí- x=3
cios que seguem. Para sabermos o total de pessoas, basta substituir o
RACIOCÍNIO LÓGICO

valor de X na primeira equação:


1. (FAEPESUL — 2016) Em uma turma de graduação em 9x = 9 x 3 = 27 é o número total de pessoas nesse
Matemática Licenciatura, de forma fictícia, temos que grupo. Resposta: Letra D.
a razão entre o número de mulheres e o número total
de alunos é de 5/8. Determine a quantidade de homens 3. (IBADE — 2018) Três agentes penitenciários de um
desta sala, sabendo que esta turma tem 120 alunos. país qualquer, Darlan, Arley e Wanderson, recebem
juntos, por dia, R$ 721,00. Arley recebe R$ 36,00 mais
a) 43 homens. que o Darlan, Wanderson recebe R$ 44,00 menos que
b) 45 homens. o Arley. Assinale a alternativa que representa a diária
c) 44 homens. de cada um, em ordem crescente de valores.
d) 46 homens.
e) 47 homens. 123
a) R$ 249,00, R$ 213,00 e R$ 169,00. b) 225
b) R$ 169,00, R$ 213,00 e R$ 249,00. c) 165
c) R$ 145,00, R$ 228,00 e R$ 348,00. d) 154
d) R$ 223,00, R$ 231,00 e R$ 267,00.
e) R$ 267,00, R$ 231,00 e R$ 223,00. Total de alunos = 396

D + A + W = 721 Meninos = H
A = D + 36 Meninas = M
W = A - 44
Substituímos Arley em Wanderson: H 5x
Razão: +
W= A - 44 M 7x
W= 36+D-44 Agora vamos somar 5x com 7x = 12x
W= D-8
Substituímos na fórmula principal: 12x é igual ao total que é 396
D + A + W = 721
12x = 396
D + 36 + D + D – 8 = 721
3D + 28 = 721 x = 33
3D = 721 - 28
D = 693/3 Portanto o número de meninos será:
D = 231 Meninos = 5X = 5 x 33 = 165. Resposta: Letra C.
Substituímos o valor de D nas outras:
A = D + 36 REGRA DE TRÊS SIMPLES E COMPOSTA
A= 231+36= 267
W = A - 44 Regra de Três Simples
W= 267-44
W= 223
A Regra de Três Simples envolve apenas duas
Logo, os valores em ordem crescente que Wander-
grandezas. São elas:
son, Darlan, Arley recebem são, respectivamente,
R$ 223,00, R$ 231,00 e R$ 267,00. Resposta: Letra D.
z Grandeza Dependente: é aquela cujo valor se
4. (CEBRASPE-CESPE — 2018) A respeito de razões, pro- deseja calcular a partir da grandeza explicativa;
porções e inequações, julgue o item seguinte. z Grandeza Explicativa ou Independente: é aque-
Situação hipotética: Vanda, Sandra e Maura receberam la utilizada para calcular a variação da grandeza
R$ 7.900 do gerente do departamento onde trabalham, dependente.
para ser divido entre elas, de forma inversamente propor-
cional a 1/6, 2/9 e 3/8, respectivamente. Assertiva: Nes- Existem dois tipos principais de proporcionalida-
sa situação, Sandra deverá receber menos de R$ 2.500. des que aparecem frequentemente em provas de con-
cursos públicos. Veja a seguir:
( ) CERTO  ( ) ERRADO
z Grandezas Diretamente Proporcionais: o aumen-
6x 9x 8x to de uma grandeza implica o aumento da outra;
+ + = 7.900
1 2 3 z Grandezas Inversamente Proporcionais: o aumen-
to de uma grandeza implica a redução da outra.
Tirando o MMC entre 1, 2 e 3 vamos achar 6. Temos:
36x 27x 16x Vamos esquematizar para sabermos quando será
+ + = 7.900
6 6 6 direta ou inversamente proporcionais:
79x
= 7.900 DIRETAMENTE
6 + / + OU - / -
PROPORCIONAL
x = 600
Sendo assim, Sandra está inversamente proporcio- Aqui as grandezas aumentam ou diminuem juntas
nal a: (sinais iguais)
9x
2
PROPORCIONAL + / - OU - / +
Basta substituirmos o valor de X na proporção.
9x 9 x 600
= = 2.700 Aqui uma grandeza aumenta e a outra diminui
2 2
(sinais diferentes)
(Valor que Sandra irá receber é MAIOR que 2.500). Agora vamos esquematizar a maneira que iremos
resolver os diversos problemas:
Resposta: Errado.

5. (IESES — 2019) Uma escola possui 396 alunos matri- DIRETAMENTE


Multiplica cruzado
PROPORCIONAL
culados. Se a razão entre meninos e meninas foi de
5/7, determine o número de meninos matriculados.
INVERSAMENTE
PROPORCIONAL
Multiplica na horizontal
124 a) 183
Vejamos alguns exemplos para fixarmos um pouco No primeiro dia de abril, o casal Marcos e Paula com-
mais como isso tudo funciona. prou alimentos em quantidades suficientes para que
Exemplo 1: Um muro de 12 metros foi construído uti- eles e seus dois filhos consumissem durante os 30
lizando 2 160 tijolos. Caso queira construir um muro de dias do mês. No dia 7 desse mês, um casal de amigos
30 metros nas mesmas condições do anterior, quantos chegou de surpresa para passar o restante do mês
tijolos serão necessários? com a família. Nessa situação, se cada uma dessas
Primeiro vamos montar a relação entre as gran- seis pessoas consumir diariamente a mesma quan-
dezas e depois identificar se é direta ou inversamente tidade de alimentos, os alimentos comprados pelo
proporcional. casal acabarão antes do dia 20 do mesmo mês.

( ) CERTO  ( ) ERRADO


12 m -------- 2 160 (tijolos)
30 m -------- X (tijolos)
4 Pessoas ------- 24 Dias
6 Pessoas ------- x Dias
Veja que de 12m para 30m tivemos um aumen-
Temos grandezas inversas, então é só multiplicar
to (+) e que para fazermos um muro maior vamos
na horizontal:
precisar de mais tijolos, ou seja, também deverá ser
6x = 4 . 24
aumentado (+). Logo, as grandezas são diretamente
6x = 96
proporcionais e vamos resolver multiplicando cruza-
x = 96/6
do. Observe:
x = 16
12 m -------- 2.160 (tijolos) Como já haviam comido por 6 dias é só somar:
6 dias (consumidos por 4) + 16 dias (consumidos por
6) = 22 dias (a comida acabará no dia 22 de abril).
30 m -------- X (tijolos) Resposta: Errado.
12 · X = 30 . 2160
2. (CEBRASPE-CESPE — 2018) O motorista de uma
12X = 64800 empresa transportadora de produtos hospitalares
X = 5400 tijolos deve viajar de São Paulo a Brasília para uma entrega
de mercadorias. Sabendo que irá percorrer aproxima-
Assim, comprovamos que realmente são necessá- damente 1.100 km, ele estimou, para controlar as des-
rios mais tijolos. pesas com a viagem, o consumo de gasolina do seu
Exemplo 2: Uma equipe de 5 professores gastou 12 veículo em 10 km/L. Para efeito de cálculos, conside-
rou que esse consumo é constante.
dias para corrigir as provas de um vestibular. Consi-
Considerando essas informações, julgue o item que
derando a mesma proporção, quantos dias levarão 30
segue.
professores para corrigir as provas?
Nessa viagem, o veículo consumirá 110.000 dm3 de
Do mesmo jeito que no exemplo anterior, vamos
gasolina.
montar a relação e analisar:
( ) CERTO  ( ) ERRADO
5 (prof.) --------- 12 (dias)
30 (prof.) -------- X (dias)
Com 1 litro ele faz 10 km.
Sabendo que 1 L é igual a 1dm³, então podemos
Veja que de 5 (prof.) para 30 (prof.) tivemos um
dizer que com 1dm³ ele faz 10km
aumento (+), mas como agora estamos com uma equi-
Portanto,
pe maior o trabalho será realizado mais rapidamente. 10 km -------- 1dc³
Logo, a quantidade de dias deverá diminuir (-). Des- 1.100 km --------- x
sa forma, as grandezas são inversamente proporcio- 10x = 1.000
nais e vamos resolver multiplicando na horizontal. x = 110dm³ (a gasolina que será consumida).
Observe: Resposta: Errado.

5 (prof.) 12 (dias) 3. (VUNESP — 2020) Uma pessoa comprou determinada


30 (prof.) X (dias) quantidade de guardanapos de papel. Se ela utilizar 2
guardanapos por dia, a quantidade comprada irá durar
30 · X = 5 · 12 15 dias a mais do que duraria se ela utilizasse 3 guarda-
30X = 60 napos por dia. O número de guardanapos comprados foi:
RACIOCÍNIO LÓGICO

X=2 a) 60.
b) 70.
A equipe de 30 professores levará apenas 2 dias c) 80.
para corrigir as provas. d) 90.
Para podermos praticar um pouco mais sobre esse e) 100.
assunto, analisaremos algumas questões comentadas
de concursos. x = dias
3 guardanapos por dia -------- x
1. (CEBRASPE-CESPE — 2019) No item seguinte apre- 2 guardanapos por dia -------- x+15
senta uma situação hipotética, seguida de uma asser- São valores inversamente proporcionais, quanto
tiva a ser julgada, a respeito de proporcionalidade, mais guardanapos por dia, menos dias durarão.
porcentagens e descontos. Assim, multiplicamos na horizontal: 125
3x = 2 . (x+15) z As análises devem ser feitas individualmente. Ou
3x = 30+2x seja, deve-se comparar as grandezas duas a duas,
3x-2x = 30 mantendo as demais constantes;
x = 30 z A variável dependente fica isolada em um dos
Podemos substituir em qualquer uma das duas lados da proporção.
situações:
3 guardanapos x 30 dias= 90 Vamos analisar alguns exemplos e ver na prática
2 guardanapos x 45(30+15) dias = 90. como isso tudo funciona.
Resposta: Letra D. Exemplo 1: Se 6 impressoras iguais produzem
1000 panfletos em 40 minutos, em quanto tempo 3 des-
4. (FUNDATEC — 2017) Cinco mecânicos levaram 27 sas impressoras produziriam 2000 desses panfletos?
minutos para consertar um caminhão. Supondo que Da mesma forma que na regra de três simples,
fossem três mecânicos, com a mesma capacidade e vamos montar a relação entre as grandezas e analisar
ritmo de trabalho para realizar o mesmo serviço, quan- cada uma delas isoladamente duas a duas.
tos minutos levariam para concluir o conserto desse
mesmo caminhão? 6 (imp.) -------- 1000 (panf.) -------- 40 (min)
3 (imp.) -------- 2000 (panf.) -------- X (min)
a) 20 minutos.
Vamos escrever a proporcionalidade isolando a
b) 35 minutos.
parte dependente de um lado e igualando às razões da
c) 45 minutos.
seguinte forma – se for direta vamos manter a razão,
d) 50 minutos.
agora se for inversa vamos inverter a razão. Observe:
e) 55 minutos.
40 ? ?
Mecânicos ------ Minutos = #
X ? ?
5 ---------------- 27
3 ---------------- x Analisando isoladamente duas a duas:
Quanto menos mecânicos, mais minutos eles gas-
tarão para finalizar o trabalho, logo a grande- 6 (imp.) -------- 40 (min)
za é inversamente proporcional. Multiplica na 3 (imp.) ---- ---- X (min)
horizontal:
3x = 27.5 Perceba que de 6 impressoras para 3 impressoras
3x = 135 o valor diminui ( - ) e que o tempo irá aumentar ( + ),
x = 135/3 pois agora teremos menos impressoras para realizar
x = 45 minutos. a tarefa. Logo, as grandezas são inversas e devemos
Resposta: Letra C. inverter a razão.

5. (IESES — 2019) Cinco pedreiros construíram uma casa 40 3 ?


= #
em 28 dias. Se o número de pedreiros fosse aumenta- X 6 ?
do para sete, em quantos dias essa mesma casa fica-
ria pronta? Analisando isoladamente duas a duas:

a) 18 dias. 1000 (panf.) -------- 40 (min)


b) 16 dias. 2000 (panf.) ------ -- X (min)
c) 20 dias.
d) 22 dias. Perceba que de 1000 panfletos para 1200 panfle-
tos o valor aumenta ( + ) e que o tempo também irá
5 (pedreiros) ---------- 28 (dias) aumentar ( + ). Logo, as grandezas são diretas e deve-
7 (pedreiros) ------------- X (dias) mos manter a razão.
Perceba que as grandezas são inversamente propor-
cionais, então basta multiplicar na horizontal. 40 3 1000
= #
5 . 28=7 . X X 6 2000
7X = 140
X = 140/7 Agora basta resolver a proporção para acharmos
X = 20 dias. o valor de X.
Resposta: Letra C.
40 3000
X
= 12000
Regra de Três Composta
3X = 40 x 12
A Regra de Três Composta envolve mais de duas
variáveis. As análises sobre se as grandezas são direta- 3X = 480
mente e inversamente proporcionais devem ser feitas X = 160
cautelosamente, levando em conta alguns princípios:
As três impressoras produziriam 2000 panfletos
z As análises devem sempre partir da variável em 160 minutos, que correspondem há 2 horas e 40
126 dependente em relação às outras variáveis; minutos.
Para fixarmos mais ainda nosso conhecimento, Primeiro vamos passar para minutos:
vamos analisar mais um exemplo. 5h = 300min.
Exemplo 2: Um texto ocupa 6 páginas de 45 linhas
4h30min= 270min.
cada uma, com 80 letras (ou espaços) em cada linha.
Para torná-lo mais legível, diminui-se para 30 o min.-----Dias-----Pag.
número de linhas por página e para 40 o número de
letras (ou espaços) por linha. Considerando as novas 300 -------4-------1800
condições, determine o número de páginas ocupadas. 270 -------3-------X
Já aprendemos o passo a passo no exemplo ante-
rior. Aqui vamos resolver de maneira mais rápida. Resolvendo temos:

300 (Simplifica por 30)


6 (pág.) -------- 45 (linhas) -------- 80 (letras) 1800 4
= # 270 (Simplifica por 30)
X (pág.) -------- 30 (linhas) -------- 40 (letras) X 3
1800 4 10
6 ?
= #
? = #
X ? ? X 3 9
4 · X · 10 = 1800 · 3 · 9
Analisando isoladamente duas a duas:
X = 1215 páginas que esse mesmo equipamento é
6 (pág.) -------- 45 (linhas) capaz de digitalizar.

X (pág.) -- ----- 30 (linhas) Resposta: Letra C.

Perceba que de 45 linhas para 30 linhas o valor 2. (VUNESP — 2016) Em uma fábrica, 5 máquinas, todas
diminui ( - ) e que o número de páginas irá aumentar operando com a mesma capacidade de produção,
( + ). Logo, as grandezas são inversas e devemos inver- fabricam um lote de peças em 8 dias, trabalhando 6
ter a razão. horas por dia. O número de dias necessários para que
6 30 ? 4 dessas máquinas, trabalhando 8 horas por dia, fabri-
= #
X 45 ? quem dois lotes dessas peças é:

Analisando isoladamente duas a duas: a) 11.


b) 12.
6 (pág.) -------- 80 (letras) c) 13.
X (pág.) ------- 40 (letras) d) 14.
e) 15.
Veja que de 80 letras para 40 letras o valor diminui
( - ) e que o número de páginas irá aumentar ( + ). Logo, 5 máquinas -------1 lote --------- 8 dias ------------ 6 horas
as grandezas são inversas e devemos inverter a razão. 4 máquinas -------2 lotes --------x dias -------------8 horas
Quanto mais dias para entrega do lote, menos
6 30 40 horas trabalhadas por dia (inversa), menos máqui-
= #
X 45 80 nas para fazer o serviço (inversa) e mais lotes para
serem entregues (direta).
6 2 1
= # Resolvendo:
X 3 2
8/x = 1/2 * 8/6 * 4/5 (simplifique 8/6 por 2)
6
=
2 8/x = 1/2 * 4/3 * 4/5
X 6 8/x = 16/30 (simplifique 16/30 por 2)
8/x = 8/15
2X = 36 8x = 120
X = 18 x = 120/8
x = 15 dias.
O número de páginas a serem ocupadas pelo texto Resposta: Letra E.
respeitando as novas condições é igual a 18.
Agora, pratique um pouco do conteúdo estuda- 3. (CEBRASPE-CESPE — 2018) No item a seguir é apre-
do com os exercícios de bancas variadas dispostos sentada uma situação hipotética, seguida de uma
abaixo. assertiva a ser julgada, a respeito de proporcionalida-
de, divisão proporcional, média e porcentagem.
RACIOCÍNIO LÓGICO

1. (CEBRASPE-CESPE — 2020) Determinado equipamen- Todos os caixas de uma agência bancária trabalham
to é capaz de digitalizar 1.800 páginas em 4 dias, fun- com a mesma eficiência: 3 desses caixas atendem 12
cionando 5 horas diárias para esse fim. Nessa situação, clientes em 10 minutos. Nessa situação, 5 desses cai-
a quantidade de páginas que esse mesmo equipamen- xas atenderão 20 clientes em menos de 10 minutos.
to é capaz de digitalizar em 3 dias, operando 4 horas e
30 minutos diários para esse fim, é igual a: ( ) CERTO  ( ) ERRADO

a) 2.666. 3 caixas - 12 clientes - 10 minutos


b) 2.160.
5 caixas - 20 clientes - x minutos
c) 1.215.
d) 1.500. 10
=
5
#
12
e) 1.161. X 3 20 127
5 · 12 · X = 10 · 3 · 20 10X = 72
60x = 600 x = 7, 2 horas (7 horas + 0,2 horas = 7 horas + 0,2 ×
60 min = 7 horas e 12 minutos)
X = 10.
Obs: Para transformar horas em minutos, basta mul-
Os 5 caixas atenderão em exatamente 10 minutos.
tiplicarmos o número por 60 min. Logo, 0,2 horas =
Não em menos de 10 como a questão afirma. Res-
posta: Errado. 0,2 x 60 = 120/10 = 12 min. Resposta: Letra C.

4. (VUNESP — 2020) Das 9 horas às 15 horas, de trabalho PORCENTAGEM


ininterrupto, 5 máquinas, todas idênticas e trabalhan-
do com a mesma produtividade, fabricam 600 unida- A porcentagem é uma medida de razão com base
des de determinado produto. Para a fabricação de 400 100. Ou seja, corresponde a uma fração cujo denomi-
unidades do mesmo produto por 3 dessas máquinas, nador é 100. Vamos observar alguns exemplos e notar
trabalhando nas mesmas condições, o tempo estima- como podemos representar um número porcentual.
do para a realização do serviço é de:
30% = 30 (forma de fração)
a) 5 horas e 54 minutos. 100
b) 6 horas e 06 minutos. 30
c) 6 horas e 20 minutos. 30% = = 0,3 (forma decimal)
100
d) 6 horas e 40 minutos.
e) 7 horas e 06 minutos. 30% =
30
=
3
(forma de fração simplificada)
100 10
Das 9h às 15h = 6 horas = 360 min
Sendo assim, a razão 30% pode ser escrita de
360 min ------ 5 maquinas ----- 600 unidades (corta os zeros iguais)
várias maneiras:
x ------------- 3 maquinas ---- 400 unidades (corta os zeros iguais)
30 3
360
=
3
#
6 30% = = 0,3 =
X 5 4 100 10
Também é possível fazer a conversão inversa, isto
x·3·6 = 360·5·4 é, transformar um número qualquer em porcentual.
x·18 = 7.200 Para isso, basta multiplicar por 100. Veja:

x = 7200/18 25 x 100 = 2500%


x = 400 0,35 x 100 = 35%
0,586 x 100 = 58,6%
Logo, transformando minutos para horas novamen-
te temos: Número Relativo
X = 400min
A porcentagem traz uma relação entre uma parte e
X = 6h40min um todo. Quando dizemos 10% de 1000, o 1000 corres-
Resposta: Letra D. ponde ao todo. Já o 10% corresponde à fração do todo
que estamos especificando. Para descobrir a quanto
5. (VUNESP — 2020) Em uma fábrica de refrigerantes, 3 isso corresponde, basta multiplicar 10% por 1000.
máquinas iguais, trabalhando com capacidade máxima,
ligadas ao mesmo tempo, engarrafam 5 mil unidades de 10
10% de 1000 = 100 x 1000 = 100
refrigerante, em 4 horas. Se apenas 2 dessas máquinas
trabalharem, nas mesmas condições, no engarrafamen-
to de 6 mil unidades do refrigerante, o tempo esperado Dessa maneira, 1000 é o todo, enquanto 100 é a
para a realização desse trabalho será de: parte que corresponde a 10% de 1000.
Quando o todo varia, a porcentagem também
a) 6 horas e 40 minutos. varia, veja um exemplo:
b) 6 horas e 58 minutos. Roberto assistiu 2 aulas de Matemática Financeira.
c) 7 horas e 12 minutos. Sabendo que o curso que ele comprou possui um total
d) 7 horas e 20 minutos. de 8 aulas, qual é o percentual de aulas já assistidas
e) 7 horas e 35 minutos. por Roberto?
O todo de aulas é 8. Para descobrir o percentual,
3 máquinas ------------ 5 mil garrafas ------------ 4 horas devemos dividir a parte pelo todo e obter uma fração.
2 máquinas ------------ 6 mil garrafas ------------ x
Veja que se aumentar o tempo de trabalho quer dizer 2
=
1
que serão engarrafados mais refrigerantes (direta) e 8 4
se aumentar o tempo de trabalho quer dizer que são
menos máquinas trabalhando (inversa). Precisamos transformar em porcentagem, ou seja,
4 5000 2 vamos multiplicar a fração por 100:
= #
X 6000 3
1 x 100 = 25%
128 2·X·5 = 4·6·3 4
Soma e Subtração de Porcentagem No próximo mês é preciso pagar 920,00 ou seja
800,00 + 120,00 de juros. Agora é pegar 120,00
As operações de soma e subtração de porcentagem (juros) e dividir por 800,00 resultado:
são as mais comuns. É o que acontece quando se diz 120,00/800,00 = 0,15% ao mês.
que um número excede, reduziu, é inferior ou é supe- A questão diz que seria inferior a 0,14%, ou seja,
rior ao outro em tantos por cento. A grandeza inicial
está errada. Resposta: Errado.
corresponderá sempre a 100%. Então, basta somar ou
subtrair o percentual fornecido dos 100% e multipli-
car pelo valor da grandeza. 2. (CEBRASPE-CESPE — 2019) Na assembleia legislati-
Exemplo 1: Paulinho comprou um curso de 200 va de um estado da Federação, há 50 parlamentares,
horas-aula. Porém, com a publicação do edital, a esco- entre homens e mulheres. Em determinada sessão
la precisou aumentar a carga horária em 15%. Qual o plenária estavam presentes somente 20% das deputa-
total de horas-aula do curso ao final? das e 10% dos deputados, perfazendo-se um total de 7
Inicialmente, o curso de Paulinho tinha um total parlamentares presentes à sessão.
de 200 horas-aula que correspondiam a 100%. Com o Infere-se da situação apresentada que, nessa assem-
aumento porcentual, o novo curso passou a ter 100% bleia legislativa, havia:
+ 15% das aulas inicialmente previstas, portanto,, o
total de horas-aula do curso será: a) 10 deputadas.
b) 14 deputadas.
(1 + 0,15) x 200 = 1,15 x 200 = 230 horas-aula. c) 15 deputadas.
d) 20 deputadas.
Dica e) 25 deputadas.
A avaliação do crescimento ou da redução per-
centual deve ser feita sempre em relação ao 50 parlamentares
valor inicial da grandeza. Deputadas = X
Deputados = 50-X
Final - Inicial Compareceram 20% x e 10% (50-x), totalizando 7
Variação percentual =
Inicial parlamentares. Não sabemos a quantidade exata de
cada sexo. Vamos montar uma equação e achar o
Veja mais um exemplo para podermos fixar melhor. valor de X.
20% x + 10% (50-x) = 7
Exemplo 2: Juliano percebeu que ainda não assis- 20/100 . x + 10/100 . (50-x) = 7
tiu a 200 aulas do seu curso. Ele deseja reduzir o 2/10 . x + 1/10 . (50-x) = 7
número de aulas não assistidas a 180. É correto afir- 2x/10 + 50 - x/10 = 7 (faz o MMC)
mar que, se Juliano chegar às 180 aulas almejadas, o 2x + 50 - x = 70
número terá caído 20%? 2x - x = 70 - 50
A variação percentual de uma grandeza corres- x = 20 deputadas fazem parte da Assembleia Legis-
ponde ao índice:
lativa. Resposta: Letra D.
Variação percentual =
3. (VUNESP — 2016) Um concurso recebeu 1500 ins-
Final - Inicial 180 - 200 20
= =– = - 0,10 crições, porém 12% dos inscritos faltaram no dia da
Inicial 200 200
prova. Dos candidatos que fizeram a prova, 45% eram
mulheres. Em relação ao número total de inscritos, o
Como o resultado foi negativo, podemos afirmar
número de homens que fizeram a prova corresponde a
que houve uma redução percentual de 10% nas aulas
uma porcentagem de:
ainda não assistidas por Juliano. O enunciado está
errado ao afirmar que essa redução foi de 20%.
a) 45,2%.
Visando praticar o que estudou, realize os seguin-
tes exercícios comentados. b) 46,5%.
c) 47,8%.
1. (CEBRASPE-CESPE — 2020) Em determinada loja, d) 48,4%.
uma bicicleta é vendida por R$ 1.720 à vista ou em e) 49,3%.
duas vezes, com uma entrada de R$ 920 e uma par-
cela de R$ 920 com vencimento para o mês seguinte. Veja que se 12% faltaram, então 88% fizeram a
Caso queira antecipar o crédito correspondente ao prova.
valor da parcela, a lojista paga para a financeira uma Pessoas presentes (88%) e dessas 45% eram mulhe-
RACIOCÍNIO LÓGICO

taxa de antecipação correspondente a 5% do valor da res e 55% eram homens. Portanto, basta multiplicar
parcela. o percentual dos homens pelo total:
Com base nessas informações, julgue o item a seguir. 55% de 88% das pessoas que fizeram a prova; ou
Na compra a prazo, o custo efetivo da operação de finan- 0,55 x 0,88 = 0,484.
ciamento pago pelo cliente será inferior a 14% ao mês. Transformando em porcentagem
0,484 x 100 = 48,4%. Resposta: Letra D.
( ) CERTO  ( ) ERRADO
4. (FCC — 2018) Em uma pesquisa 60% dos entrevista-
Valor da bicicleta =1720,00 dos preferem suco de graviola e 50% suco de açaí.
Parcelado = 920,00 (entrada) + 920,00 (parcela) Se 15% dos entrevistados gostam dos dois sabores,
Na compra a prazo, o agente vai pagar 920,00 então, a porcentagem de entrevistados que não gos-
(entrada), logo vai sobrar (1720-920 = 800,00) tam de nenhum dos dois é de: 129
a) 80%. Nos juros simples, a incidência recorre sempre
b) 61%. sobre o valor original. Veja um exemplo para melhor
c) 20%. entender.
d) 10%. Exemplo 1:
e) 5%. Digamos que você emprestou 1000,00 reais, em um
regime de juros simples de 5% ao mês para um ami-
Vamos dispor as informações em forma de conjun- go,, o qual ficou de quitar o empréstimo após 5 meses.
tos para facilitar nossa resolução: Dessa forma, teremos o seguinte:
Graviola Açaí
CAPITAL
EMPRESTADO VALOR REAJUSTADO
(1000,00)
60% - 15% = 15% 50% - 15% =
1° mês = 1000,00 1000,00 + (5% de 1000,00) = 1050,00
45% 35% 2° mês = 1050,00 1050,00 + (5% de 1000,00) = 1100,00
Nenhum = x 3° mês = 1100,00 1100,00 + (5% de 1000,00) = 1150,00
4° mês = 1150,00 1150,00 + (5% de 1000,00) = 1200,00
Vamos somar todos os valores e igualar ao total que
é 100%: 45% + 15% + 35% + X = 100% 5° mês = 1200,00 1200,00 + (5% de 1000,00) = 1250,00
95% + X = 100%
X = 5%. Resposta: Letra E. Ao final do 5° mês você terá recebido 250,00 reais
de juros.
5. (FUNCAB — 2015) Adriana e Leonardo investiram R$ Fórmulas utilizadas em juros simples:
20.000,00, sendo o 3/5 desse valor em uma aplicação
que gerou lucro mensal de 4% ao mês durante dez
meses. O restante foi investido em uma aplicação, J=C·i·t
que gerou um prejuízo mensal de 5% ao mês, durante
o mesmo período. Ambas as aplicações foram feitas M=C+J
no sistema de juros simples.
Pode-se concluir que, no final desses dez meses, eles M = C · (1 + i ·J)
tiveram: Onde,

a) prejuízo de R$2.800,00. z J = juros;


b) lucro de R$3.200,00. z C = capital;
c) lucro de R$2.800,00. z i = taxa em percentual (%);
d) prejuízo de R$6.000,00. z t = tempo;
e) lucro de R$5.000,00. z M = montante.

3/5 de 20.000,00 = 12.000,00 Taxas Proporcionais e Equivalentes


12.000,00 · 4% = 480,00
480 · 10 (meses) = 4.800 (juros) Para aplicar corretamente uma taxa de juros, é im-
O que sobrou 20.000,00 - 12.000,00 = 8.000,00. Apli- portante saber a unidade de tempo sobre a qual a taxa
cação que foi investida e gerou prejuízo de 5% ao de juros é definida. Isto é, não adianta saber apenas
mês, durante 10 meses: que a taxa de juros é de “5%”, é preciso saber se essa
8.000,00 · 5% = 400,00 taxa é mensal, bimestral, anual etc. Dizemos que duas
400 · 10 meses= 4.000 taxas de juros são proporcionais quando guardam a
Portanto 20.000,00 + 4.800(juros) = 24,800,00 - mesma proporção em relação ao prazo. Por exemplo,
4.000= 20.800,00 /10 meses= 2.080,00 lucros. 12% ao ano é proporcional a 6% ao semestre, e tam-
Resposta: Letra C. bém é proporcional a 1% ao mês.
Basta efetuar uma regra de três simples. Para
JUROS SIMPLES E COMPOSTO obtermos a taxa de juros bimestral, por exemplo, que
é proporcional à taxa de 12% ao ano:
Juros Simples
12% ao ano ----------------------- 1 ano
A premissa, base da matemática financeira é a Taxa bimestral ------------------ 2 meses
seguinte: as pessoas e as instituições do mercado prefe-
rem adiantar os seus recebimentos e retardar os seus
Podemos substituir 1 ano por 12 meses, para dei-
pagamentos. Do ponto de vista estritamente racional, é
xar os valores da coluna da direita na mesma unidade
melhor pagar o mais tarde possível caso não haja inci-
temporal, temos:
dência de juros (ou caso esses juros sejam inferiores ao
que você pode ganhar aplicando o dinheiro).
“Juros” é o termo utilizado para designar o “preço 12% ao ano ---------------------- 12 meses
do dinheiro no tempo”. Quando você pega certa quan- Taxa bimestral ------------------ 2 meses
tia emprestada no banco, o banco te cobrará uma
remuneração em cima do valor que ele te emprestou, Efetuando a multiplicação cruzada, temos:
pelo fato de deixar você ficar na posse desse dinhei-
ro por um certo tempo. Essa remuneração é expressa 12% x 2 = Taxa bimestral x 12
130 pela taxa de juros. Taxa bimestral = 2% ao bimestre.
Duas taxas de juros são equivalentes quando são J = 240
capazes de levar o mesmo capital inicial C ao montan- C = 3.000
te final M após o mesmo intervalo de tempo. i=?
Uma outra informação importante e que você deve t = 4 bimestres, ou seja, 4 · 2 = 8 meses.
memorizar é que o cálculo de taxas equivalentes Substituindo:
quando estamos no regime de juros simples pode ser J=C·i·t
entendido assim: 1% ao mês equivale a 6% ao semes- 240 = 3000 · i · 8
tre ou 12% ao ano e levarão o mesmo capital inicial 240 = 24000 · i
C ao mesmo montante M após o mesmo período de i = 240 / 24000
tempo. i = 0,01 ou 1%
É relevante também você saber que no regime de Resposta: Letra E.
juros simples, taxas de juros proporcionais são, tam-
bém, taxas de juros equivalentes. 4. (VUNESP — 2020) Um capital de R$ 1.200,00, aplicado
Para podermos praticar um pouco mais sobre esse no regime de juros simples, rendeu R$ 65,00 de juros.
assunto, analise as questões comentadas de concursos Sabendo-se que a taxa de juros contratada foi de 2,5% ao
dispostas abaixo. ano, é correto afirmar que o período da aplicação foi de:

1. (FEPESE — 2018) Uma TV é anunciada pelo preço a) 20 meses.


de R$ 1.908,00 para pagamento em 12 parcelas de b) 22 meses.
159,00. A mesma TV custa R$ 1.410,00 para paga- c) 24 meses.
mento à vista. Portanto o juro simples mensal incluído d) 26 meses.
na opção parcelada é: e) 30 meses.

a) Menor que 2%. J = c. i. t/100


b) Maior que 2% e menor que 2,5%. 65 = 1.200 x 2,5 x t/100
c) Maior que 2,5% e menor que 2,75%. 65 = 30t
d) Maior que 2,75% e menor que 3%. t = 65/30 x 12
e) Maior que 3%. t = 26 meses
Resposta: Letra D.
1.908 - 1.410 = 498 (juros durante 12 meses)
J=C·I·t 5. (IBADE — 2019) Juliana investiu R$ 5.000,00, a juros
498 = 1410 · 12 · i / 100 simples, em uma aplicação que rende 3% ao mês,
49800 = 16920i durante 8 meses. Passados 8 meses, Juliana retirou
i = 49800/16920 todo o dinheiro e investiu somente metade em uma
i = 2,94%. Resposta: Letra D. outra aplicação, a juros simples, a uma taxa de 5% ao
mês por mais 4 meses. O total de juros arrecadado por
2. (CESPE — 2018) Uma pessoa atrasou em 15 dias o Juliana após os 12 meses foi:
pagamento de uma dívida de R$ 20.000, cuja taxa de
juros de mora é de 21% ao mês no regime de juros a) R$ 1.200,00.
simples. b) R$ 1440,00.
Acerca dessa situação hipotética, e considerando o c) R$ 620,00.
mês comercial de 30 dias, julgue o item subsequente. d) R$ 1820,00.
No regime de juros simples, a taxa de 21% ao mês é e) R$ 240,00.
equivalente à taxa de 252% ao ano.
J=C·i·t
( ) CERTO  ( ) ERRADO J= 5000 · 0,03 · 8
J= 150 · 8
No regime simples, sabemos que taxas propor- J = 1200 de lucro
cionais são também equivalentes. Como temos 12 Montante do aplicado com lucro M= C + J
meses no ano, a taxa anual proporcional a 21%am M=5000 + 1200
é, simplesmente: M = 6200 montante inicial e lucro
21% x 12 = 252% ao ano Nova aplicação de metade que lucrou 6200 / 2 =3100
Esta taxa de 252% ao ano é proporcional e também J=C·i·t
é equivalente a 21% ao mês. Portanto, o item está J = 3100 · 0,05 · 4
certo. J = 155 · 4
RACIOCÍNIO LÓGICO

Resposta: Certo. J = 620 lucro da nova aplicação


Somatório dos lucros:
3. (FUNDATEC — 2020) Qual foi a taxa mensal de uma M = 1200 + 620 = 1820 dos lucros
aplicação, sob regime de juros simples, de um capital Resposta: Letra D.
de R$ 3.000,00, durante 4 bimestres, para gerar juros
de R$ 240,00? Juros Compostos

a) 8%. Imagine que você pegou um empréstimo de


b) 5%. R$10.000,00 no banco, cujo pagamento deve ser rea-
c) 3%. lizado após 4 meses, à taxa de juros de 10% ao mês.
d) 2%. Ficou combinado que o cálculo de juros de cada mês
e) 1%. será feito sobre o total da dívida no mês anterior, e 131
não somente sobre o valor inicialmente emprestado. Observe um exemplo:
Neste caso, estamos diante da cobrança de juros com- No regime de juros compostos com capitalização
postos. Podemos montar a seguinte tabela: mensal à taxa de juros de 1% ao mês, a quantidade de
meses que o capital de R$100.000 deverá ficar investido
MÊS DO EMPRÉSTIMO 10.000,00 para produzir o montante de R$120.000 é expressa por:

1º MÊS 11.000,00 log2, 1


2º MÊS 12.100,00 log1, 01
3º MÊS 13.310,00
4º MÊS 14.641,00 Temos a taxa j=1%am, capital C=100.000 e montan-
te M=120.000. Na fórmula de juros compostos:
Logo, ao final de 4 meses você deverá devolver
ao banco R$14.641,00 que é a soma da dívida inicial M = C x (1+j)t
(R$10.000,00) e de juros de R$4.641,00. 120000 = 100000 x (1+1%)t
Fórmula utilizada em juros compostos:
12 = 10 x (1,01)t

M = C · (1 + i)t 1,2 = (1,01)t

Poderíamos ter utilizado a fórmula no nosso exem- Podemos aplicar o logaritmo dos dois lados:
plo. Veja:
log1,2 = log (1,01)t
M = 10000 x (1 + 10%)4 log1,2 = t · log 1,01
M = 10000 x (1 + 0,10) 4
log1, 1
t=
M = 10000 x (1,10) 4 log1, 01

M = 10000 x 1,4641
Logo, questão errada.
M = 14.641,00 reais Exercite seus conhecimentos realizando os seguin-
tes exercícios.
Podemos fazer a comparação entre juros simples e
compostos. Observe a tabela abaixo: 1. (FCC — 2017) A Cia. Escocesa, não tendo recursos
para pagar um empréstimo de R$ 150.000,00 na data
JUROS SIMPLES JUROS COMPOSTOS do vencimento, fez um acordo com a instituição finan-
Mais onerosos se t < 1 Mais onerosos se t > 1 ceira credora para pagá-la 90 dias após a data do
vencimento. Sabendo que a taxa de juros compostos
Mesmo valor se t = 1 Mesmo valor se t = 1 cobrada pela instituição financeira foi 3% ao mês, o
Juros capitalizados no final Juros capitalizados periodi- valor pago pela empresa, desprezando-se os centa-
do prazo camente (“juros sobre juros”) vos, foi, em reais:
Crescimento linear (reta) Crescimento exponencial
a) 163.909,00.
Valores similares para pra- Valores similares para pra- b) 163.500,00.
zos e taxas curtos zos e taxas curtos c) 154.500,00.
d) 159.135,00.
Juros Compostos – Cálculo do Prazo e) 159.000,00.

Nas questões em que é preciso calcular o prazo, Temos uma dívida de C = 150.000 reais a ser paga após
você deverá utilizar logaritmos, visto que o tempo “t” t = 3 meses no regime de juros compostos, com a taxa
está no expoente da fórmula de juros compostos. A de j = 3% ao mês. O montante a ser pago é dado por:
propriedade mais importante a ser lembrada é que, M = C x (1+j)t
sendo dois números A e B, então:
M = 150.000 x (1+0,03)3
M = 150.000 x (1,03)3
log AB = B × log A
M = 150.000 x 1,092727
M = 15 x 10927,27
Significa que o logaritmo de A elevado ao expoente
M = 163.909,05 reais
B é igual a multiplicação de B pelo logaritmo de A.
Resposta: Letra A.
Uma outra propriedade bastante útil dos logarit-
mos é a seguinte:
2. (FCC — 2017) O montante de um empréstimo de 4
anos da quantia de R$ 20.000,00, do qual se cobram
log bAl = 𝑙𝑜𝑔𝐴 − 𝑙𝑜𝑔B juros compostos de 10% ao ano, será igual a:
B
Isto é, o logaritmo de uma divisão entre A e B é a) R$ 26.000,00.
igual à subtração dos logaritmos de cada número. b) R$ 28.645,00.
Também, é importante ter em mente que “logA” c) R$ 29.282,00.
significa “logaritmo do número A na base 10”. d) R$ 30.168,00.
132 e) R$ 28.086,00.
Temos um prazo de t = 4 anos, capital inicial C = Veja que a taxa de juros é mensal, e o prazo da apli-
20000 reais, juros compostos de j = 10% ao ano. O cação foi de t = 0,5 mês (quinze dias).
montante final é: Quando o prazo é fracionário (inferior a 1 unida-
M = C x (1+j)t de temporal), juros simples rendem MAIS que juros
M = 20000 x (1+0,10)4 compostos. Logo, o montante auferido com a capi-
M = 20000 x 1,14 talização no regime de juros compostos será INFE-
M = 20000 x 1,4641 RIOR ao montante auferido no regime simples.
M = 2 x 14641 Resposta: Errado.
M = 29282 reais
Resposta: Letra C. PROBLEMAS ARITMÉTICOS

3. (FGV — 2018) Certa empresa financeira do mundo Vimos no início dessa apostila toda a parte teóri-
real cobra juros compostos de 10% ao mês para os ca que nos dá suporte para que cheguemos até aqui
empréstimos pessoais. Gustavo obteve nessa empre- e consigamos resolver mais algumas questões sobre
sa um empréstimo de 6.000 reais para pagamento, esse tópico. Todavia antes disso, lembre-se que, geral-
incluindo os juros, três meses depois. mente, os tópicos como fração, razão e proporção e
O valor que Gustavo deverá pagar na data do venci- porcentagem são os mais cobrados e por isso este é o
mento é: nosso foco principal. Mãos à obra.

a) 6.600 reais. 1. (FGV — 2015) Francisco vendeu seu carro e, do valor


b) 7.200 reais. recebido, usou a quarte parte para pagar dívidas, fican-
c) 7.800 reais. do então com R$ 21.600,00. Francisco vendeu seu car-
d) 7.986 reais. ro por:
e) 8.016 reais.
a) R$ 27.600,00.
Aqui foram dados C = 6000 reais, i = 10% a m e t = 3 b) R$ 28.400,00.
meses. Aplicando a fórmula, temos: c) R$ 28.800,00.
M = C x (1 + j)t d) R$ 29.200,00.
M = 6000 x (1,1)³ e) R$ 29.400,00.
M = 6000 x 1,331
M = 7986 reais Aqui temos uma questão clássica sobre problemas
Resposta: Letra D. com frações. Para resolver, você precisa ficar atento
ao enunciado da questão para extrair os dados da
4. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Um indivíduo investiu a melhor maneira possível. Veja:
quantia de R$ 1.000 em determinada aplicação, com Se Francisco usou 1/4 do valor recebido para pagar
taxa nominal anual de juros de 40%, pelo período de 6 dívidas, a fração restante é igual a 3/4, pois essa é
meses, com capitalização trimestral. Nesse caso, ao a fração complementar para completar um inteiro
final do período de capitalização, o montante será de: ¼ + ¾ = 1.
Assim, 3/4 do valor do carro equivalem a R$
a) R$ 1.200. 21.600,0. Qual o valor do carro todo?
b) R$ 1.210. 3/4x = 21600
c) R$ 1.331. 4x * 21600 = 3
d) R$ 1.400. x = 28800.
e) R$ 1.100. Resposta: Letra C.

Temos a taxa de 40% a. a. com capitalização trimes- 2. (FCC — 2016) Em um curso de informática, 2/3 dos alu-
tral, o que resulta em uma taxa efetiva de 40%/4 = nos matriculados são mulheres. Em certo dia de aula,
10% ao trimestre. Em t = 6 meses, ou melhor, t = 2 2/5 das mulheres matriculadas no curso estavam pre-
trimestres, o montante será: sentes e todos os homens matriculados estavam pre-
M = C x (1+j)t sentes, o que totalizou 27 alunos (homens e mulheres)
M = 1.000 x (1+0,10)2 presentes na aula. Nas condições dadas, o total de alu-
M = 1.000 x 1,21 nos homens matriculados nesse curso é igual a:
M = 1.210 reais
Resposta: Letra B.
a) 18.
b) 10
RACIOCÍNIO LÓGICO

5. (CEBRASPE-CESPE — 2017) Julgue o item seguinte,


c) 15.
relativo à matemática financeira.
d) 12.
Considere que dois capitais, cada um de R$ 10.000,
e) 21.
tenham sido aplicados, à taxa de juros de 44% ao
mês — 30 dias —, por um período de 15 dias, sendo
Seja x a quantidade de alunos matriculados no cur-
um a juros simples e outro a juros compostos. Nes-
so, sabemos que 2/3 são mulheres. Assim, temos
sa situação, o montante auferido com a capitalização
2x/3 mulheres e x/3 homens. Sabemos que 2/5 das
no regime de juros compostos será superior ao mon-
mulheres e todos os homens estavam presentes,
tante auferido com a capitalização no regime de juros
totalizando 27 pessoas. Temos:
simples.
2 2x x
# + = 27
( ) CERTO  ( ) ERRADO 5 3 3 133
4x x 4x
+ = 27 = 200
15 3 20
5x + 4x 4x = 200 × 20
= 27
15
4x =4000
9x = 27 × 15 x =1000
9x = 405 Os valores usados para pagar os serviços A e B foram:
x=45 Serviço A = 3000/4 = 750 reais
O total de homens é igual a x/3 = 45/3 = 15. Resposta: Serviço B = 1000/20 = 50 reais
Letra C.
Logo, o valor de A em relação a B é: 750/50 = 15
vezes maior.
3. (FGV — 2017) Fernando teve três filhos em três anos
seguidos. Quando ele fez 39 anos reparou que essa Resposta: Letra C.
sua idade era igual à soma das idades dos seus três
filhos. Nesse dia, o seu filho mais velho tinha: 5. (CEBRASPE-CESPE — 2017) Em um tanque A, há uma
mistura homogênea de 240 L de gasolina e 60 L de
a) 12 anos. álcool; em outro tanque B, 150 L de gasolina estão
b) 13 anos. misturados homogeneamente com 50 L de álcool.
c) 14 anos. A respeito dessas misturas, julgue os itens subsequentes.
d) 15 anos. Para que a proporção álcool/gasolina no tanque A fique
e) 16 anos. igual à do tanque B é suficiente acrescentar no tanque
A uma quantidade de álcool que é inferior a 25 L.
Perceba que os filhos nasceram em anos seguidos,
então, podemos dizer que o mais novo tem X anos, ( ) CERTO  ( ) ERRADO
os demais têm X+1 e X+2 anos de idade. Sabemos
que a idade de Fernando (39) é igual à soma das ida- A proporção álcool/gasolina do tanque B é de 50/150
= 1/3.
des dos filhos, ou seja,
Suponha que precisamos acrescentar uma quanti-
39 = X + X+1 + X+2 dade X de álcool no tanque A para ele chegar nesta
39 = 3X + 3 mesma proporção. A quantidade de álcool passará
3X = 39 – 3 a ser de 60 + X e a de gasolina será 240, de modo que
3X = 36 ficaremos com a razão:
X = 12 1/3 = (60+X) / 240
O filho mais velho tem X+2 = 12+2= 14 anos. Como o 240 está dividindo o lado direito, vamos
Resposta: Letra C. passá-lo para o lado esquerdo multiplicando:
240 × 1/3 = 60 + X
4. (VUNESP — 2018) Três quartos do total de uma ver- 80 = 60 + X
60 + X = 80
ba foi utilizada para o pagamento de um serviço A, e
X = 80 - 60
um quinto do que não foi utilizado para o pagamento X = 20 litros.
desse serviço foi utilizado para o pagamento de um Resposta: Certo.
serviço B. Se, da verba total, após somente esses
pagamentos, sobraram apenas R$ 200,00, então, é PROBLEMAS GEOMÉTRICOS E MATRICIAIS
verdade que o valor utilizado para o serviço A, quando
comparado ao valor utilizado para o serviço B, corres- Antes de começar a resolver exercícios sobre esse
ponde a um número de vezes igual a: assunto, é necessário ter o entendimento adequado
sobre geometria e matrizes. Para isso, vamos expla-
a) 13. nar a parte teórica sobre geometria e matriz e logo em
b) 14. seguida iremos resolver algumas questões envolven-
c) 15. do problemas geométricos e matriciais.
d) 16.
GEOMETRIA
e) 17.
Ponto, Reta e Plano
Seja “X” o valor da verba. O serviço A foi pago com
¾ dessa verba: ¾ de x = 3x/4. Não foi utilizado, por- Quando falamos sobre ponto, reta e plano, deve-
tanto, ¼ de x = x/4. mos ficar atentos que a parte mais importante é em
O serviço B foi pago com um quinto do que não foi relação à sua representação geométrica e espacial.
utilizado do serviço A.
Logo: 1/5 de x/4 = x/20. z Representação Simbólica:
Após esses dois pagamentos, restaram 200 reais.
Portanto: „ Os pontos são representados por letras maiús-
culas do nosso alfabeto, ou seja, A, B, C etc.;
x - 3x - x = 200 „ As retas são representadas pelas letras minús-
4 20
culas do nosso alfabeto, ou seja, a, b, c etc.;
20x - 15x - x
= 200 „ Os planos são representados pelas letras gregas
134 20 minúsculas, ou seja, β, ∞, α etc.
z Representação Gráfica: Por duas retas concorrentes:

r
α
P
α
ponto S C

reta r A B
plano

Vamos, agora, há alguns pontos interessantes:


Por duas retas distintas
„ Passando por um ponto “P” qualquer podemos
traçar infinitas retas e dois pontos determinam
uma única reta. Veja: α

Pelo ponto P podemos Os pontos A e B definem a


traçar infinitas retas posição de uma reta
S
A
P r

B z Razão entre Segmentos de Reta:

Quando dois pontos delimitam um conjunto de


pontos numa mesma reta, chamamos de segmento de
„ Pontos colineares são aqueles que pertencem à reta e podemos representar por duas letras como, por
mesma reta. exemplo AB. O início do segmento é em A e termina
em B. Veja a seguir:

C Reta s
B s
A B

A c Segmento de Reta AB
A B t
r
COLINEARES
r
Semirreta AB
NÃO COLINEARES
A B u

„ Um plano pode ser determinado de algumas z Feixe de Retas Paralelas:


maneiras. Veja:
Um conjunto de três ou mais retas paralelas num
Três pontos não colineares: plano é chamado feixe de retas paralelas. Temos,
ainda, uma reta que corta a reta de feixe que é chama-
C α da de reta transversal. Veja:

s t

B a
A
b

Por uma reta e um ponto fora dela: c


RACIOCÍNIO LÓGICO

P α d

z Teorema de Tales:

r A B
Quando temos um feixe de retas paralelas sobre
duas transversais quaisquer, determinamos segmen-
tos proporcionais. Veja a figura a seguir para entender
um pouco mais:
135
s t

A D a

B E
b
90°
C F
c

D G Os ângulos podem ser classificados quanto ao


d
valor do ângulo em relação à 90°:

z Ângulos agudos: são aqueles ângulos inferiores à


Vamos destacar algumas proporções: 90°. Ex.: 30o, 42o, 63o;
z Ângulos obtusos: são aqueles ângulos superiores
z AB ⁄ BC = DE ⁄ E F; à 90o. Ex.: 100o, 125o e 155o.
z BC ⁄ AB = EF ⁄ DE;
z AB ⁄ D E = BC ⁄ E F; Observação: os ângulos de 0 e 180º são denomina-
z D E ⁄ AB = EF ⁄ BC. dos de ângulos rasos.
Outra classificação de ângulos é em relação à
Ângulos medida:

Ângulo é a medida de uma abertura delimitada z Ângulos congruentes: são congruentes (iguais)
por duas semi-retas. Veja na figura a seguir o ângulo quando possuem a mesma medida;
A, que é a abertura delimitada pelas duas semi-retas z Ângulos complementares: são complementares
desenhadas: quando a soma entre os ângulos é 90o. Ex.: 60° +
30° = 90°. Os ângulos 30° e 60° são complementares
um do outro;
z Ângulos suplementares: são suplementares quando
a soma entre os ângulos é 180o. Ex.: 110° + 70° = 180°.
Os ângulos 70° e 110° são suplementares entre si.
A
A semi-reta que divide um ângulo em duas partes
iguais é denominada Bissetriz. Veja:

O ponto desenhado acima no encontro entre as


duas semi-retas é denominado “Vértice do ângulo”.
Um ângulo é medido de acordo com a sua abertura. A/2
Dizemos que uma abertura completa mede 360 graus
(360º). Veja: A/2

Agora observe esse cruzamento de retas. Vamos


tirar algumas conclusões interessantes.
A
B

A
C
D
Como 360o representam uma volta completa, 180º
representam meia-volta, como você pode ver a seguir
Os ângulos formados pelo cruzamento das retas
180° são denominados ângulos opostos pelo vértice e tem
o mesmo valor, ou seja, A = C e B = D.
Os ângulos A e B são suplementares, pois a soma
entre eles é de 180o, assim como a soma dos ângulos B
e C, C e D, e D e A.
Ângulos opostos pelo vértice têm a mesma medida.
Por sua vez, 90o representa metade de meia-volta, Uma outra unidade de medida de ângulos é cha-
isto é, ¼ de volta. Esse ângulo é conhecido como ângu- mada de “radianos”. Dizemos que 180o correspondem
lo reto e tem uma representação bem característica: a π (“pi”) radianos. Vamos usar uma regra de três sim-
ples para convertermos qualquer ângulo em radia-
nos. Veja, vamos converter 60o para radianos:

180° ---------------------------------- π radianos


136 60° ------------------------------------ x radianos
180x = 60 π Nº DE Nº DE
NOME NOME
LADOS LADOS
60r r
x= = radianos 3 Triângulo 9 Eneágono
180 3
4 Quadrilátero 10 Decágono
Polígonos 5 Pentágono 11 Undecágono
6 Hexágono 12 Dodecágono
Polígono é qualquer figura geométrica fechada for-
mada por uma série de segmentos de reta. Observe: 7 Heptágono ... ...
8 Octógono 20 Icoságono

Exercite seus conhecimentos realizando os exercí-


cios de bancas variadas dispostos a seguir.

1. (IDECAN — 2013) No triângulo a seguir, o lado KL é


paralelo ao segmento DE.

Os elementos de qualquer polígono são:

z Lados: são os segmentos de reta que formam o x


polígono (a figura a seguir, um pentágono, possui 5 D E
segmentos de reta, isto é, 5 lados); 115°
z Vértices: são os pontos de junção de dois segmen-
tos de reta consecutivos. Estão marcados com
letras maiúsculas na figura seguir; a 55°
z Diagonais: são os segmentos de reta que unem K L
dois vértices não consecutivos. São as retas verme-
lha traçadas no polígono a seguir:
A soma dos valores dos ângulos “x” e “a” é:
A
a) 170°.
b) 180°.
B c) 185°.
E
d) 190°.
e) 195°.
J

C D
55° x
a
Para calcular o número de diagonais de um polí- D E
gono, vamos precisar levar em consideração os vér- 115°
tices (lados). Dessa forma, chegaremos na seguinte
fórmula:
n # (n - 3) a 55°
D=
2 K L

Veja que o pentágono (n = 5) possui 5 diagonais. Veja que podemos colocar o ângulo “a” como suple-
mentar de 115°, pois os segmentos KL e DE são
z A soma do ângulo interno e do ângulo externo de paralelos. Assim como o ângulo 55° é suplementar
um mesmo vértice é igual a 180º; do ângulo “x”. Assim,
z A soma dos ângulos internos de um polígono de n
a + 115 = 180
lados é:
a = 65º
S = (n – 2) × 180° ------------------
RACIOCÍNIO LÓGICO

x + 55 = 180
Dica x = 125º
Logo, x + a = 190º.
A soma dos ângulos internos de um triângulo (n = Resposta: Letra D.
3) é 180º e nos quadriláteros (polígonos de 4 lados)
esta soma é 360º. 2. (CONSULPLAN — 2018) A soma dos ângulos internos
de um polígono regular que tem 20 diagonais é:
Os polígonos que possuem todos os lados iguais
e todos os ângulos internos iguais (congruentes) são a) 495.
chamados de polígonos regulares. Conheça algumas b) 720.
nomenclaturas dos principais polígonos regulares e c) 990.
os seus números de lados. d) 1080. 137
Vamos aplicar a fórmula das diagonais de um polí- β=α+θ
gono para descobrir o número de lados:
β = 44°30’ + 55°30’ = 99°60’ = 100°
n # (n - 3)
D= Resposta: Letra A.
2
2
n - 3n 4. (ESAF — 2003) Os ângulos de um triângulo encon-
20 = tram-se na razão 2 : 3 : 4. O ângulo maior do triângulo,
2
portanto, é igual a:
40 = n2 - 3n
n2 – 3n - 40 = 0 a) 40°.
b) 70°.
Vamos achar as raízes da equação do 2° grau: c) 75°.
d) 80°.
- (-3) ± √(-3)2 -4 · 1 · (- 40) e) 90°.
n=
2·1
Se os ângulos do triângulo se encontram na razão
2:3:4, podemos chamá-los de 2x, 3x e 4x e a soma
3 ± √9 + 160 dos ângulos de um triângulo qualquer é sempre
n=
180º.
2 Assim, 2x + 3x + 4x = 180°
9x = 180°
3 ± 13 x = 20°
n=
O maior ângulo é 4x = 4 ∙ 20° = 80°
2
Resposta: Letra D.
Como “n” é o número de diagonais, precisamos ape-
nas pegar o resultado positivo. Logo, MÉTRICA, ÁREAS E VOLUMES, ESTIMATIVAS,
APLICAÇÕES
3 + 13
n= = 8 lados
Sistema de Unidades de Medidas
2

Aplicando a fórmula da soma dos ângulos internos Quando estudamos o sistema de medidas nos
de um polígono, temos: atentamos ao fato de que ele serve para quantificar
dimensões que podem ter uma variação gigantesca.
S = (n – 2) × 180° Todavia existem as conversões entre as unidades para
S = (8 – 2) × 180° uma melhor interpretação e leitura.

S = 1080°. Medidas de Comprimento


Resposta: Letra D.
A unidade principal tomada como referência é o
3. (FEPESE — 2019) Na figura abaixo, as retas r e s são metro. Além dele, temos outras seis unidades dife-
paralelas.
rentes que servem para medir dimensões maiores ou
r menores. A conversão de unidades de comprimento
α segue potências de 10. Veja o esquema abaixo:

Km hm dam m dm cm MM
(quilômetro) (hectômetro) (decâmetro) (metro) (decímetro) (centímetro) (Milímetro)

β
θ ×10 ×10
s ×10 ×10 ×10 ×10

Se o ângulo α mede 44°30’ e o ângulo θ mede 55°30’, Km hm dam m dm cm MM


então a medida do ângulo β é:

a) 100°. :10 :10 :10 :10 :10 :10


b) 55°30’.
c) 60°. Exemplo: Converter 5,3 metros para centímetros:
d) 44°30”. Para sair do metro e chegar no centímetro deve-
e) 80°. mos multiplicar por 100 (10x10), pois “andamos” duas
r
casas até chegar em centímetro. Logo,
α
5,3m = 5,3 x 100 = 530 cm.
α
Medidas de Área (Superfície)
β
θ θ A unidade principal tomada como referência é o
s
138 metro quadrado.
Além dele, temos outras seis unidades diferentes Medidas de Tempo
que servem para medir dimensões maiores ou meno-
res. A conversão de unidades de superfície segue Medindo intervalos de tempos temos (hora – minu-
potências de 100. Veja o esquema a seguir: to – segundo) que são os mais conhecidos. Veja como
se faz a relação nessa unidade.
Para transformar de uma unidade maior para a
Km2 hm2 dam2 m2 dm2 cm2 MM2 unidade menor, multiplica-se por 60. Veja:
(quilômetro (hectômetro (decâmetro (metro (decímetro (centímetro (Milímetro
quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) Quadrado)

1 hora = 60 minutos
×100 ×100 ×100 ×100 ×100 ×100 h = 4 x 60 = 240 minutos

Para transformar de uma unidade menor para a


Km2 hm2 dam2 m2 dm2 cm2 MM2 unidade maior, divide-se por 60. Veja:

:100 :100 :100 :100 :100 :100 20 minutos = 20 / 60 = 2/6 = 1/3 da hora ou 1/3h.

Para medir ângulos a unidade básica é o grau.


Exemplo: Converter 5,3 m2 para cm2: Temos as seguintes relações:
Para sair do metro quadrado e chegar no cen-
tímetro quadrado devemos multiplicar por 10000 1 grau equivale a 60 minutos (1º = 60’)
(100x100), pois “andamos” duas casas até chegar em
centímetro quadrado. Logo, 5,3m2 = 5,3 x 10000 = 1 minuto equivale a 60 segundos (1’ = 60”)
53000 cm2.
Aqui vale fazer uma observação que os minutos e
Medidas de Volume (Capacidade) os segundos dos ângulos não são os mesmos do sistema
(hora – minuto – segundo). Os nomes são semelhantes,
mas os símbolos que os indicam são diferentes, veja:
A unidade principal tomada como referência é o
metro cúbico. Além dele, temos outras seis unidades
1h32min24s é um intervalo de tempo ou um instante
diferentes que servem para medir dimensões maiores
do dia.
ou menores. A conversão de unidades de superfície
segue potências de 1000. Veja o esquema a seguir 1º 32’ 24” é a medida de um ângulo.

GEOMETRIA PLANA
Km3 hm3 dam3 m3 dm3 cm3 MM3
(quilômetro (hectômetro (decâmetro (metro (decímetro (centímetro (Milímetro

Retângulo
cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) Cúbico)

×1.000 ×1.000 ×1.000 ×1.000 ×1.000 ×1.000 Chamamos de retângulo um paralelogramo (polí-
gono que tem 4 lados opostos paralelos) com todos os
ângulos internos iguais à 90°.
Km3 hm3 dam3 m3 dm3 cm3 MM3
b
:1.000 :1.000 :1.000 :1.000 :1.000 :1.000

Exemplo: Converter 5,3 m3 para cm3:


Para sair do metro cúbico e chegar no centímetro h h
cúbico devemos multiplicar por 1000000 (1000x1000),
pois “andamos” duas casas até chegar em centímetro
cúbico. Logo,
b
5,3m3 = 5,3 x 1000000 = 5300000 cm3.
Chamamos o lado “b” maior de base, e o lado
Veja, agora, algumas relações interessantes e que
menor “h” de altura.
você precisa ter em mente para resolver a diversas
questões.
Área do Retângulo
RACIOCÍNIO LÓGICO

UNIDADE RELAÇÃO DE UNIDADE Para calcularmos a área, vamos fazer a multipli-


1 quilograma (kg) 1000 gramas (g) cação de sua base (b) pela sua altura (h), conforme a
fórmula:
1 tonelada (t) 1000 quilogramas (kg)
1 litro (l) 1 decímetro cúbico (dm3) A=b×h
1 mililitro (ml) 1centímetro cúbico (cm ) 3
Exemplo: Um retângulo com 10 centímetros de
1 hectare (ha) 1 hectômetro quadrado (hm2) lado e 5 centímetros de altura, a área será:
1 hectare (ha) 10000 metros quadrados (m2)
A = 10cm × 5cm = 50cm2
139
Quando trabalhamos o conceito e cálculo de áreas Para calcular a área de um losango, vamos preci-
das figuras geométricas, usamos a unidade ao quadra- sar das suas duas diagonais: maior (D) e menor (d) de
do que no nosso exemplo tínhamos centímetros e pas- acordo com a figura a seguir:
samos para centímetros quadrados, que neste caso é a
unidade de área. L
L
Quadrado d

Nada além de um retângulo no qual a base e a altu- D


ra têm o mesmo comprimento, ou seja, todos os lados L L
do quadrado têm o mesmo comprimento, que chama-
remos de L. Veja:
Assim, a área do losango é dada pela fórmula a
L seguir:

D#d
A=
2
L L
Paralelogramo

É um quadrilátero (4 lados) com os lados opostos


paralelos entre si. Esses lados opostos possuem o mes-
L
mo tamanho.

A área também será dada pela multiplicação da b


base pela altura (b x h). Como ambas medem L, tere-
mos L x L, ou seja: h

A = L2

Trapézio b

Temos um polígono com 4 lados, sendo 2 deles A área do paralelogramo também é dada pela mul-
paralelos entre si, e chamados de base maior (B) e tiplicação da base pela altura:
base menor (b). Temos, também, a sua altura (h) que
é a distância entre a base menor e a base maior. Veja A=b×h
na figura a seguir
Triângulo
b
Trata-se de uma figura geométrica com 3 lados.
Veja-a a seguir:

a c
B

Conhecendo b, B e h, podemos calcular a área do


trapézio por meio da fórmula abaixo:
b
(B + b) # h
A=
2
Para calcular a área do triângulo, é preciso conhe-
cer a sua altura (h):
Losango

É um polígono com 4 lados de mesmo comprimen-


to. Veja a seguir:

L L a c

h
L L

b
140
O lado “b”, em relação ao qual a altura foi dada, é z Triângulo retângulo: possui um ângulo de 90°.
chamado de base. Assim, calcula-se a área do triângu-
lo utilizando a seguinte fórmula:
B
b#h
A= c
2
a

Vamos conhecer os tipos de triângulos existentes:


A
z Triângulo isósceles: é o triângulo que tem dois b
lados iguais. Consequentemente, os 2 ângulos
internos da base são iguais (simbolizados na figu-
ra pela letra A): Temos as seguintes nomenclaturas para cada lado
do triângulo. Veja:
O ângulo marcado com um ponto é o ângulo reto
(90º). Oposto a ele temos o lado “c” do triângulo, que
chamaremos de hipotenusa. Já os lados “a” e “b”,
a a que são adjacentes ao ângulo reto, são chamados de
c catetos.
O Teorema de Pitágoras nos dá uma relação entre
a hipotenusa e os catetos, dizendo que a soma dos
quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipote-
A A nusa: a2 = b2 + c2.
Agora vamos falar sobre algumas métricas interes-
C santes que estão presentes no triângulo retângulo.

z Triângulo escaleno: é o triângulo que possui os


três lados com medidas diferentes, tendo também
os três ângulos internos distintos entre si: b h c

n m
C H B
a B c a

Devemos nos atentar em relação a algumas fórmulas


C A que são extraídas do triângulo acima que poderão nos aju-
b dar com a resolução de algumas questões. Veja quais são:

h2 = m×n
z Triângulo equilátero: é o triângulo que tem todos
os lados iguais. Consequentemente, ele terá todos b2 = m×a
os ângulos internos iguais: c2 = n×a
b×c = a×h

Essas fórmulas são chamadas de relações métricas


A do triângulo retângulo.
a a
h
Círculo

A A Todos os pontos estão a uma mesma distância em


relação ao centro do círculo ou circunferência. Cha-
a mamos de raio e geralmente é representada por “r”.
Veja na figura a seguir:
Podemos calcular a altura usando a seguinte fórmula:
RACIOCÍNIO LÓGICO

a 3
h=
2

Para calcular a área do triângulo equilátero usan- r


do apenas o valor da medida dos lados (a), usamos a
fórmula a seguir:

2
a 3
A=
4
141
A área de um círculo é dada pela fórmula: A = π × E também sabemos a área desta volta completa,
r2. Na fórmula, a letra π (“pi”) representa um número que é a própria área do círculo ( π × r2). Vejamos como
irracional que é, aproximadamente, igual a 3,14. calcular a área do setor circular, em função do ângulo
Vejamos um exemplo para calcular a área de um central “α”:
círculo com 10 centímetros de raio:
360° ---------------------- π × r2
A = π × r2
α ------------------------- Área do setor circular
A = π × (10)2
Logo, área do setor circular =
A = π × 100
2
Substituindo π por 3,14, temos: a # rr
360c
A = 3,14×100 = 314cm2
Usando a mesma ideia, podemos calcular o com-
O perímetro de uma circunferência que é a mesma primento do segmento circular entre os pontos A e B,
coisa que o comprimento da circunferência é dado por: cujo ângulo central é “α” e que o comprimento da cir-
cunferência inteira é 2 πr. Confira abaixo:
C=2×π×r
360° --------------------- 2 πr
Para exemplificar, vamos calcular o perímetro α -------------------------- Comprimento do setor circular
daquela circunferência com 10cm de raio:
Logo, comprimento do setor circular =
C = 2 × 3,14 × 10
C = 6,28 × 10 = 62,8 cm a # 2rr
360c
O diâmetro (D) de uma circunferência é um seg-
mento de reta que liga um lado ao outro da circun- GEOMETRIA ESPACIAL
ferência, passando pelo centro. Veja que o diâmetro
mede o dobro do raio, ou seja, 2r. Poliedros

São figuras espaciais formadas por diversas faces,


cada uma delas sendo um polígono regular. Vamos
conhecer os principais poliedros, destacando alguns
pontos importantes como área e volumes.
D = 2r
Paralelepípedo Reto-Retângulo e Cubo

c a

b
Repare na figura a seguir: a a

A
O cubo é um caso particular do paralelepípedo re-
to-retângulo, ou seja, basta que igualemos os valores
α de a = b = c.
B Para calcular o volume de um paralelepípedo reto-
C
-retângulo, devemos multiplicar suas três dimensões.
Veja:
V=a×b×c

No caso do cubo, o volume fica:

Note que formamos uma região delimitada dentro V = a × a × = a3


do círculo. Essa região é chamada de setor circular.
Temos ainda um ângulo central desse setor circular As faces do paralelepípedo são retangulares,
simbolizado por α. Com base neste ângulo, consegui- enquanto as faces do cubo são todas quadradas.
mos determinar a área do setor circular e o compri- A área total do cubo é a soma das 6 faces quadra-
mento do segmento de círculo compreendido entre os das. Ou seja,
pontos A e B. Sabemos que o ângulo central de uma
142 volta completa no círculo é 360º. AT = 6a2
Agora, no paralelepípedo reto-retângulo, temos 2 Perceba que se “desenrolarmos” a área lateral e
retângulos de lados (a, b), dois retângulos de lados (b, ““abrirmos” todo o cilindro, temos o seguinte:
c) e dois retângulos de lados (b, c). Portanto, a área
total de um paralelepípedo é:

AT = 2ab + 2ac + 2bc

Prismas
H H
Vamos estudar os prismas retos, ou seja, aqueles
que têm as arestas laterais perpendiculares às bases.
Os prismas são figuras espaciais bem parecidas com R C
os cilindros. O que os difere é que a base de um pris-
ma não é uma circunferência. R
O prisma será classificado de acordo com a sua
base. Por exemplo, se a base for um pentágono, o pris-
ma será pentagonal. A área da superfície lateral do cilindro é igual a
2πℎ e o volume do cilindro é o produto da área da
base pela altura: V = πr2 × ℎ.

Esfera

Quando estamos estudando a esfera, precisamos


lembrar que tudo depende e gira em torno do seu raio,
Prisma triangular Prisma Prisma Prisma ou seja, é o sólido geométrico mais fácil de trabalhar.
Pentagonal Hexagonal Quadrangular

O volume para qualquer tipo de prisma será sem-


pre o produto da área da base pela altura. Veja:

V = Ab × h

A área total de um prisma será a soma da área late-


ral com duas bases.

AT = Al + 2Ab
O raio é simplesmente a distância do centro da es-
Cilindro fera até qualquer ponto da sua superfície.
O volume da esfera é calculado usando a seguinte
Vamos estudar o cilindro reto cujas geratrizes são fórmula:
perpendiculares às bases. Observe a figura a seguir: 4 3
V = 3 # rr

E a área da superfície pela fórmula a seguir:

A = 4 × πr2

Cone
base (círculo)
Observe a figura a seguir:

Geratriz
Altura
RACIOCÍNIO LÓGICO

A distância entre as duas bases é chamada de altu- Geratriz


ra (h). Quando a altura do cilindro é igual ao diâmetro
da base, o cilindro é chamado de equilátero.

Cilindro equilátero: ℎ = 2r

A base do cilindro é um círculo. Portanto, a área da


base do cilindro é igual a πr2. Base

143
Vamos extrair algumas informações:
A base de um cone é um círculo, então a área da
base é πr2.
Quando “abrimos” um cone, temos seguinte figura:
m'

A área lateral da pirâmide é dada por:


R Aℓ = pm′

A área total da pirâmide é dada por:


Temos, também, a área lateral que é dada pela fór-
mula πrg , onde “g” é o comprimento da geratriz do AT = Ab + Aℓ
cone.
Para calcularmos o volume de um cone, basta O volume da pirâmide é calculado da mesma for-
sabermos que equivale a 1/3 do produto entre a área ma que o volume do cone: 1/3 do produto da área da
da base pela altura. Veja: base pela altura. Veja:
Ab # h
rr h
2 V=
V= 3
3
Agora, pratique um pouco do conteúdo estudado
Em um cone equilátero a sua geratriz será igual ao realizando os exercícios comentados abaixo.
diâmetro, ou seja, 2r.
1. (VUNESP — 2018) Uma praça retangular, cujas medi-
Pirâmides das em metros, estão indicadas na figura, tem 160m
de perímetro.
A base de uma pirâmide poderá ser qualquer polí-
gono regular, no caso estamos falando apenas de pirâ-
mides regulares.
×

× + 20
Figura fora de escala
Pirâmide Pirâmide Pirâmide
Triangular Quadrangular Pentagonal Sabendo que 70% da área dessa praça estão recober-
tos de grama, então, a área não recoberta com grama
tem:
a) 450 m2.
b) 500 m2.
c) 400 m2.
d) 350 m2.
e) 550 m2.

Foi dado o perímetro dessa praça, que corresponde


à soma de todos os lados. Logo:
Pirâmide Pirâmide 2x + 2(x + 20) = 160
2x + 2x + 40 = 160
Hexagonal Heptagonal
4x = 120
x = 30 m
O segmento de reta que liga o centro da base a um
A área, portanto, será:
ponto médio da aresta da base é denominado “apótema Área = 30 x (30 + 20)
da base”. Por sua vez, indicaremos por “m” o apótema Área = 30 x 50 = 1500 m²
da base. E o segmento que liga o vértice da pirâmide ao Como 70% está recoberta por grama, 100 – 70 = 30%
ponto médio de uma aresta da base é denominado “apó- não é recoberta. Logo:
tema da pirâmide”. Indicaremos por m′ o apótema da Área não recoberta = 0,3 x 1500 = 450 m². Resposta:
144 pirâmide. Veja: Letra A.
2. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Os lados de um terreno Temos 4 vértices A, B, C e V. Também sabemos que
quadrado medem 100 m. Houve erro na escrituração, e temos 4 faces. O número de arestas pode ser conta-
ele foi registrado como se o comprimento do lado medis- do ou, então, obtido pela relação:
se 10% a menos que a medida correta. Nessa situação, V+F=A+2
deixou-se de registrar uma área do terreno igual a: 4+4=A+2
A = 6 arestas .
a) 20 m². Resposta: Letra D.
b) 100 m².
c) 1.000 m². 5. (VUNESP — 2018) Em um reservatório com a forma
d) 1.900 m². de paralelepípedo reto retângulo, com 2,5 m de com-
e) 2.000 m². primento e 2 m de largura, inicialmente vazio, foram
despejados 4 m³ de água, e o nível da água nesse
A área de um quadrado é L². Inicialmente os lados reservatório atingiu uma altura de x metros, conforme
do quadrado deveriam medir L = 100 m, portanto a mostra a figura.
área seria A = 100² = 10000 m². Porém, L foi regis-
trado com 10% a menos, ou seja, 100 – 10% x 100 =
90 m. Logo, a área passou a ser 90² = 8100 m².
Então, a área que deixou de ser registrada foi de:
10000 – 8100 = 1900 m². Resposta: Letra D.

3. (IDECAN — 2018) A figura a seguir é composta por


losangos cujas diagonais medem 6 cm e 4 cm. A área ×
da figura mede:
h

2,5

Sabe-se que para enchê-lo completamente, sem trans-


a) 48 cm2. bordar, é necessário adicionar mais 3,5 m³ de água.
b) 50 cm2. Nessas condições, é correto afirmar que a medida da
c) 52 cm2. altura desse reservatório, indicada por h na figura, é,
d) 60 cm2. em metros, igual a:
e) 64 cm2.
a) 1,25.
Sendo D e d as diagonais de um losango, sua área é b) 1,5.
dada por: c) 1,75.
Área = D x d / 2 = 6 x 4 / 2 = 12cm2 d) 2,0.
Como ao todo temos 5 losangos, a área total é: e) 2,5.
5 x 12 = 60cm2. Resposta: Letra D.
O volume total do reservatório é de 4 + 3,5 = 7,5m3.
4. (IBFC — 2017) A alternativa que apresenta o número Usando a fórmula para calcular o volume, ou seja,
total de faces, vértices e arestas de um tetraedro é: Volume = comprimento x largura x altura
7,5 = 2,5 x 2 x h
a) 4 faces triangulares, 5 vértices e 6 arestas. 3=2xh
b) 5 faces triangulares, 4 vértices e 6 arestas. h = 1,5m
c) 4 faces triangulares, 4 vértices e 7 arestas. Resposta: Letra B.
d) 4 faces triangulares, 4 vértices e 6 arestas.
e) 4 faces triangulares, 4 vértices e 5 arestas. MATRIZES E DETERMINANTES

Um tetraedro é uma figura formada por 4 faces ape- Matrizes


nas, veja:
Uma matriz Mmxn é uma tabela com “m linhas e n
V colunas”. Os elementos desta tabela são representa-
RACIOCÍNIO LÓGICO

dos na forma aij, onde “i representa a linha e j repre-


senta a coluna” deste termo. Veja um exemplo de uma
a matriz A2x2:
a

; E
5 -3
C A=
1 7
A
a
a Veja que temos 2 linhas e 2 colunas, ou seja, Aij =
B A2x2.
145
O termo a12, por exemplo, é igual a -3. z Matriz de ordem 3
É importante saber que dizemos que a ordem des-
ta matriz é 2x2. A partir dela, podemos criar a matriz Em uma matriz quadrada de ordem 3, o determi-
transposta AT, que é construída trocando a linha de nante é calculado da seguinte forma:
cada termo pela sua coluna, e a coluna pela linha.
Repare que a ordem de AT é 2x2:
RS 1 1 2V
W
SS W
Se A = SS- 2 3 5W
W WW
< 3 7F
5 1 SS 0
AT = 7 - 1W
- T X
Então, veja o passo a passo como calcular o det(A).
Uma matriz é quadrada quando possui o mesmo
número de linhas e colunas. Foi o que aconteceu no „ Repetir as duas primeiras colunas:
nosso exemplo.
Uma matriz possui uma diagonal principal, que no 1 1 2 1 1
nosso exemplo da matriz A2x2 é formada pelos núme-
-2 3 5 -2 3
ros 5 e 7. A outra diagonal é dita secundária, formada
pelos números -3 e 1. 0 7 -1 0 7

„ Multiplicar os termos no sentido da diagonal


; E
5 -3
A= principal (retas pontilhadas) e subtrair a mul-
1 7 tiplicação dos termos no sentido da diagonal
secundária (retas lisas):
Secundária Principal

Falamos que há uma matriz de identidade de or- 1 1 2 1 1


dem “n” quando a matriz quadrada possui todos os -2 3 5 -2 3
termos da diagonal principal iguais a 1 e todos os de-
0 7 -1 0 7
mais termos iguais a zero. Veja a matriz identidade de
ordem 3:
RS1 0 0VW [(1 × 3 × (-1) +1 × 5 × 0 + 2 × (-2) × 7)] - [(2 × 3 × 0 + 1 ×
SS W
SS0 1 0W
W 5 × 7 + 1 × (-2) × (-1))]
SS0 WW
0 1W (-3 + 0 – 28) – (0 + 35 + 2) =
I3 = T X
-31 – 37 = -68.

Dada uma matriz A, chamamos de inversa de A, ou Logo, o det(A) = -68.


A , a matriz tal que:
-1

z Matriz de ordem 4 ou superior


A x A-1 = I (matriz identidade)
Siga os seguintes passos:

„ Escolher uma linha ou coluna da matriz (dê


Determinantes preferência para a que tiver mais zeros);
„ Calcular o cofator relativo a cada termo da
O determinante de uma matriz é um número a ela linha ou coluna escolhida;
associado. Vejamos como calcular. „ Multiplicar cada termo da linha ou coluna
escolhida pelo seu respectivo cofator e, então,
z Matriz de ordem 1 somar tudo;

Em uma matriz quadrada de ordem 1, o determi- Cofator


nante é o próprio termo que forma a matriz. Exemplo:
O cofator de uma matriz de ordem n ≥ 2 é definido
Se A = [4], então det(A) = 4. como:
Aij = (-1) i + j. Dij
z Matriz de ordem 2
Veja um exemplo:
Em uma matriz quadrada de ordem 2, o determi-
nante é dado pela subtração entre o produto da dia- JK1 2 1 0N
O
KK O
gonal principal e o produto da diagonal secundária.
KK2 3 1 0O
O
Veja: Se A =
KK2 O
-3 2 1O
OO
Se A = ; E
5 -3 KK
2 1 1 4O
1 7 L P

146 Então det(A) = 5×7 – (-3) × 1 = 38.


Então, devemos seguir os passos apresentados A44 = (-1)8 × (-7)
acima:
A44 = 1 × (-7)
„ Escolher uma linha ou coluna da matriz (dê A44 = -7.
preferência para a que tiver mais zeros);
Agora, podemos calcular o determinante da matriz
original:
JK1 2 1 0N
O Determinante = a14× A14 + a24× A24 + a34 × A34 + a44× A44
KK O
KK2 3 1 0O
O Determinante = 0A14 + 0A24 + 1.2 + 4 (-7)
KK2 O
3 2 1O
OO Determinante = 0 + 0 + 2 - 28
KK Determinante = -26
2 1 1 4O As principais propriedades do determinante são:
L P
„ Calcular o cofator relativo a cada termo da z O determinante de A é igual ao de sua transposta AT
linha ou coluna escolhida; z Se uma fila (linha ou coluna) de A for toda igual a
zero, det(A) = 0;
Os termos da quarta coluna são o a14, a24, a34 e a44, e z Se multiplicarmos todos os termos de uma linha
chamaremos os respectivos cofatores de A14, A24, A34 e ou coluna de A por um valor “k”, o determinante
A44. Como os termos a14 e a24 são iguais a zero, eu não pre- da matriz será também multiplicado por k;
ciso calcular os cofatores A14 e A24, pois eles serão multi- z Se multiplicarmos todos os termos de uma matriz
plicados por zero e o resultado final será igual a zero. por um valor “k”, o determinante será multiplica-
O cofator A34 será: do por kn, onde n é a ordem da matriz;
z Se trocarmos de posição duas linhas ou colunas de A,
„ Escolher uma linha ou coluna da matriz (dê o determinante da nova matriz será igual a –det(A);
preferência para a que tiver mais zeros); z Se A tem duas linhas ou colunas iguais, então
det(A) = 0;
z Sendo A e B matrizes quadradas de mesma ordem,
JK1 2 1 0N
O det(AxB) = det(A)det(B);
KK O
KK2 3 1 0O
O z Uma matriz quadrada A é inversível se, e somente
KK2 O
3 2 1O
OO
se, det(A) ≠ 0;
KK z Se A é uma matriz inversível, det(A-1) = 1/det(A).
2 1 1 4O
L P
PROBLEMAS GEOMÉTRICOS E MATRICIAIS
Olhando somente para os termos que sobraram,
veja que temos uma matriz com 3 linhas e 3 colunas Agora que já relembramos a parte teórica sobre
apenas, cujo determinante sabemos calcular: geometria e matrizes, chegou o momento de resolver-
Determinante = 1.3.1 + 2.1.2 + 2.1.1 – 1.3.2 – 2.2.1 mos mais questões sobre esses tipos de problemas.
– 1.1.1 Assim, saberemos exatamente como as questões são
Determinante = -2 cobradas em provas.
O cofator A34 será:
1. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Os lados de um terreno
A34 = (-1)3+4 × determinante quadrado medem 100 m. Houve erro na escrituração,
e ele foi registrado como se o comprimento do lado
A34 = (-1)7 × (-2) medisse 10% a menos que a medida correta. Nessa
A34 = (-1) × (-2) situação, deixou-se de registrar uma área do terreno
igual a:
A34 = 2
a) 20 m².
Agora, vamos calcular o cofator A44. Para isso, b) 100 m².
devemos excluir a quarta linha e a quarta coluna da c) 1.000 m².
matriz original, ficando com: d) 1.900 m².
e) 2.000 m².
JK1 2 1 0N
O
KK O A área de um quadrado é L². Inicialmente, os lados
KK2 3 1 0O
O
RACIOCÍNIO LÓGICO

O do quadrado deveriam medir L = 100 m, portanto a


KK2 -3 2 1O
OO área seria A = 100² = 10000 m². Porém, L foi regis-
KK
2 1 1 4O trado com 10% a menos, ou seja, 100 – 10% x 100 =
L P 90 m. Logo, a área passou a ser 90² = 8100 m².
Então, a área que deixou de ser registrada foi de:
Calculando o determinante 3x3 que restou, temos: 10000 – 8100 = 1900 m². Resposta: Letra D.
Determinante = 1.3.2 + 2.1.2 + 2.(-3).1 – 1.3.2 – 1.(-
3).1 – 2.2.2 2. (FCC — 2017) Um terreno tem a forma de um trapézio.
Determinante = -7 Os lados não paralelos têm a mesma medida.
Assim, o cofator A44 é: A base maior desse trapézio mede 12 m, a base menor
mede 6 m e a altura mede 4 m. A área e o perímetro
A44 = (-1)4+4× determinante desse terreno são, respectivamente, iguais a: 147
a) 32 m² e 28 m. 4. (IBFC — 2016) Considerando as matrizes:
b) 36 m² e 28 m.

; E e B = < 1 2F
c) 36 m² e 24 m. 3 -2 1 4
d) 32 m² e 24 m. A=
1 2 -
e) 36 m² e 26 m.
Então, o resultado da expressão:
Extraindo os dados temos B = 12 m, b = 6 m e H =
4m. Vamos chamar os lados não paralelos de “L”. detA
Veja como fica esse trapézio: detB
6m
É igual a:

L L
a) 4/3.
4m b) -2.
c) 3/4.
3m 3m
d) 2.
12 m
e) ½.
Para descobrir o valor de L, basta aplicar o Teore- Para encontra a resposta da questão, você precisa
ma de Pitágoras no triângulo formado pelo lado L achar o determinante de cada matriz. Sendo assim:
com a altura de 4m e o trecho de 3m. Veja:
3 2
L² = 4² + 3² det A = = 3 × 2 – (-2 × 1) = 6 + 2 = 8
1 2
L² = 16 + 9
1 4
L² = 25 det B = = 1 × 2 – 4 × (-1) = 6
1 2
L=5m
Logo,
O perímetro do trapézio é dado pela soma de seus
quatro lados. Logo:
detA 8 4
= =
L + L + 6 + 12 = 5 + 5 + 18 = 28 m detB 6 3
A área é dada por: Resposta: Letra A.
(B + b) # h
A= 5. (VUNESP — 2017) Uma peça de madeira tem o for-
2 mato de um prisma reto com 15 cm de altura e uma
(12 + 6) # 4 base retangular com 6 cm de comprimento, conforme
A=
2 mostra a figura.
18 # 4
A=
2
72
A= = 36m2
2 15 cm
Resposta: Letra A.

3. (CEBRASPE-CESPE — 2018) O preço do litro de deter-


x
minado produto de limpeza é igual a R$ 0,32. Se um
6 cm
recipiente tem a forma de um paralelepípedo retângu- (Figura fora de escala)
lo reto, medindo internamente 1,2 dam × 125 cm × 0,08
hm, então o preço que se pagará para encher esse reci- Sabendo que o volume dessa peça é 720 cm3, a área
piente com o referido produto de limpeza será igual a: da base é
a) R$ 3,84. a) 40 cm2.
b) R$ 38,40. b) 48 cm2.
c) R$ 384,00. c) 44 cm2.
d) R$ 3.840,00. d) 36 cm2.
e) R$ 38.400,00. e) 52 cm2.

Devemos colocar todas as medidas na mesma uni- O volume é dado pela multiplicação das dimensões,
dade. Veja que: ou seja,
1,2 dam = 12m = 120dm = 1200 cm 720 = 15 . 6 . x
0,08hm = 0,8dam = 8m = 80dm = 800cm 120 = 15 . x
Assim, o volume total é de: 40 = 5 . x
V = 1200 x 125 x 800 8=x
V = 120.000.000 cm3 A área da base é:
V = 120.000 dm3 Área = 6.x = 6.8 = 48 cm2.
V = 120.000 litros Resposta: Letra B.
Se cada litro custa 0,32 reais, o preço total será de:
Preço = 0,32 x 120.000
148 Preço = 38.400 reais. Resposta: Letra E.
5. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Uma frase afirmativa que
HORA DE PRATICAR! possa ser classificada em verdadeira ou falsa é uma
proposição. Para formular composições de proposições
1. (CEBRASPE-CESPE — 2022) A seguir, são apresen- simples, a lógica matemática fazuso de alguns conec-
tadas informações obtidas a partir de uma pesquisa tivos padronizados: a conjunção (e, indicada por ˄); a
realizada com 1.000 pessoas. disjunção (ou, indicada por ˅); a condicional (se… então,
indicada por →); e a bicondicional(se, e somente se, indi-
� 480 possuem plano de previdência privada; cada por ↔). Também tem-se a negação, indicada por
� 650 possuem aplicações em outros tipos de produtos ¬, que age sobre uma proposição sozinha, negando seu
financeiros; sentido. Algumas sentenças,denominadas sentenças
� 320 não possuem aplicação em nenhum produto abertas, não são consideradas proposições porque seu
financeiro. valor- verdade depende de uma ou mais variáveis; elas
podem ser transformadas emproposições pelo uso de
Com base nessa situação hipotética, julgue o item um quantificador universal (para qualquer x) ou de um
seguinte. quantificador existencial (existe x).

Há mais pessoas que não possuem aplicações em Considerando essas informações, e que Z represen-
nenhum produto financeiro que pessoas que possuem ta o conjunto dos números inteiros, julgue o item
simultaneamente plano de previdência privada e apli- seguinte.
cações em outros produtos financeiros.
A seguinte afirmação é uma proposição: A quantidade
( ) CERTO  ( ) ERRADO de formigas no planeta Terra é maior que a quantidade
de grãos de areia.
2. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Ao procurar ativos para
realizar operações de day trade em uma lista de 260 ( ) CERTO  ( ) ERRADO
ações negociadas em bolsa de valores, um investi-
dor classificou 120 ações como de boa liquidez (ele- 6. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Julgue o item seguinte,
vado volume de negócios realizados diariamente) e considerando a proposição P: “Como nossas reservas
130 ações como de bom nível de volatilidade (muitas de matéria prima se esgotaram e não encontramos
variações de preço para cima ou para baixo ao longo um novo nicho de mercado, entramos em falência”.
do dia); 45 ações ele não classificou em nenhuma des-
sas classes. Caso a afirmação tivesse sido dita antes dos aconte-
cimentos, a proposição P poderia, sem prejuízo à sua
Tendo em vista essa situação hipotética, julgue o item estrutura lógica, ser substituída por: “Se nossas reser-
seguinte. vas de matéria prima se esgotarem e não encontrar-
mos um novo nicho de mercado, então entraremos em
Há mais ações com ambas as características mencio- falência”.
nadas que ações com nenhuma dessas características.
( ) CERTO  ( ) ERRADO
( ) CERTO  ( ) ERRADO
7. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Com relação a estruturas
3. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Ao procurar ativos para lógicas, julgue o item a seguir, nos quais são utilizados
realizar operações de day trade em uma lista de 260 os símbolos usuais dos conectivos lógicos e as letras
ações negociadas em bolsa de valores, um investi- P, Q, R e S representam proposições lógicas.
dor classificou 120 ações como de boa liquidez (ele-
vado volume de negócios realizados diariamente) e A frase “A capacidade hoteleira e o número de empre-
130 ações como de bom nível de volatilidade (muitas gos cresceram 10% no ano de 2003 no Nordeste bra-
variações de preço para cima ou para baixo ao longo sileiro, e isso foi consequência do total de 90 milhões
do dia); 45 ações ele não classificou em nenhuma des- de reais investidos na área de turismo pelo governo
sas classes. federal e pelos governos estaduais dessa região no
ano de 2002” pode ser expressa corretamente pela
Tendo em vista essa situação hipotética, julgue o item proposição lógica (P ∧ Q) ⇒ (R ∧ S).
seguinte.
( ) CERTO  ( ) ERRADO
Há mais ações consideradas apenas como de boa
liquidez, mas não com bom nível de volatilidade, do 8. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Considere os conectivos
RACIOCÍNIO LÓGICO

que ações consideradas apenas como de bom nível de lógicos usuais e assuma que as letras maiúsculas
volatilidade, mas não com boa liquidez. representam proposições lógicas e que o símbolo ⁓
representa a negação. Considere também que as três
( ) CERTO  ( ) ERRADO primeiras colunas de uma tabela-verdade que envolve
as proposições lógicas P, Q e R sejam as seguintes.
4. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Acerca de lógica mate-
mática, julgue o item a seguir.
P Q R
A frase “Saia daqui!” é uma proposição simples. V V V

( ) CERTO  ( ) ERRADO V V F


149
12. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Uma sequência de cha-
P Q R
ves lógicas (A, B, C, D, E) funciona de modo condicio-
V F V nal: cada chave pode estar aberta ou fechada, não
havendo terceiro estado possível. Asregras de funcio-
V F F namento das chaves determinam que:
F V V
� se a chave A está aberta, então a chave B está aberta;
F V F � se a chave B está aberta, então a chave C está aberta;
� se a chave B está aberta, então a chave D está aberta;
F F V � se a chave C ou a chave D estão abertas, então a chave
E está aberta.
F F F
Na busca por um sistema de diagnóstico que deter-
Com base nas informações apresentadas, julgue o mine, por meio do menor número de observações
item seguinte. possível, o estado das cinco chaves, observou-se que,
atualmente,a chave E está fechada.
A última coluna da tabela-verdade relacionada à expres-
são (P→Q)∨R apresenta valores V ou F na seguinte Com referência à situação descrita, julgue o próximo
sequência, de cima para baixo: V F F F V V V V. item.

( ) CERTO  ( ) ERRADO É impossível determinar o estado atual de todas as


chaves.
9. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Julgue o seguinte item,
considerando a proposição P: “Se o responsável pela ( ) CERTO  ( ) ERRADO
indicação fizer sua parte e seus aliados trabalharem
duro, vencerão.”. 13. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Uma sequência de cha-
ves lógicas (A, B, C, D, E) funciona de modo condicio-
Sendo verdadeiras a proposição P e as proposições nal: cada chave pode estar aberta ou fechada, não
“não venceram” e “os aliados do responsável pela indi- havendo terceiro estado possível. Asregras de funcio-
cação trabalharam duro”, pode-se concluir que o res- namento das chaves determinam que:
ponsável pela indicação não fez sua parte.
� se a chave A está aberta, então a chave B está aberta;
( ) CERTO  ( ) ERRADO � se a chave B está aberta, então a chave C está aberta;
� se a chave B está aberta, então a chave D está aberta;
10. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Considere a seguinte � se a chave C ou a chave D estão abertas, então a chave
proposição. E está aberta.

P: “Se a vegetação está seca e sobre ela cai uma faís- Na busca por um sistema de diagnóstico que deter-
ca, ocorre um incêndio.” mine, por meio do menor número de observações
possível, o estado das cinco chaves, observou-se que,
Com relação à proposição apresentada, julgue o item atualmente,a chave E está fechada.
seguinte.
A proposição P é equivalente à proposição “A vegeta- Com referência à situação descrita, julgue o próximo
ção não está seca ou sobre ela não cai nenhuma faís- item.
ca, ou ocorre um incêndio.”.
A chave B está fechada, com certeza.
( ) CERTO  ( ) ERRADO
( ) CERTO  ( ) ERRADO
11. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Considere as proposi-
ções lógicas P e Q, a seguir, a respeito de um condô- 14. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Considere verdadeiras as
mino chamado Marcos. seguintes informações a respeito dos funcionários de
uma empresa que possui vários postos de combustí-
� P: “Se Marcos figura no quadro de associados e está veis: “Todos os funcionários da empresa que trabalha-
com os pagamentos em dia, então ele tem direito a ram ou trabalham nos postos A ou B nasceram entre
receber os benefícios providos pela associação de 1970 e 1980”.
moradores de seu condomínio.”
� Q: “Marcos não figura no quadro de associados, mas Com base nessas informações, julgue o item a seguir.
ele está com os pagamentos em dia.” Tendo como
referência essas proposições, julgue o item a seguir. Se um funcionário da empresa nasceu entre 1970 e
1980 então ele trabalhou no posto A ou no posto B.
Considerando-se verdadeira a proposição P, é correto
concluir que, se Marcos não tem direito a receber os ( ) CERTO  ( ) ERRADO
benefícios providos pela associação de moradores de
seu condomínio, então, necessariamente, ele não figu- 15. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Com relação a estruturas
ra no quadro de associados nem está com os paga- lógicas, lógica de argumentação e lógica proposicio-
mentos em dia. nal, julgue o item subsequente.

150 ( ) CERTO  ( ) ERRADO


A negação da proposição “Todos são iguais perante a Considerando essa situação hipotética, julgue o item
lei” é “Todos são diferentes perante a lei”. seguinte.

( ) CERTO  ( ) ERRADO No sexto dia de seu treinamento, Marcos percorrerá


uma distância superior a 10 km.
16. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Considerando os conecti-
vos lógicos usuais, assumindo que as letras maiúscu- ( ) CERTO  ( ) ERRADO
las representam proposições lógicas e considerando
que o símbolo ⁓ representa a negação, julgue o item a 20. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Os resgates marítimos
seguir, relacionados à lógica proposicional. são frequentes nas costas brasileiras. O método de
busca por quadrado crescente é utilizado quando ape-
Considere as seguintes sentenças. nas um barco está trabalhando na operação.

S1: Todo bombeiro tem bom condicionamento físico. Partindo-se da origem do sistema de coordenadas,
S2: Toda pessoa que dorme bem tem bom condiciona- segue-se um padrão que se expande em quadrados
mento físico. concêntricos, provendo-se uma cobertura uniforme da
área de busca.
Sendo as sentenças S1 e S2 verdadeiras, então se
pode concluir que todo bombeiro dorme bem. Internet: <www.redebim.dphdm.mar. mil.br> (com adaptações).

( ) CERTO  ( ) ERRADO y (hm)

17. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Considere o seguinte


argumento.

Os grandes felinos africanos, que são animais, têm a


pele esverdeada e sabem voar porque os animais afri-
canos são répteis e vivem sobre as árvores. Além disso,
todos os animais que vivem em árvores são capazes de
voar, e todos os répteis têm a pele esverdeada. x (hm)

Com relação a esse argumento, julgue o item subsequente.

Esse argumento não é válido, pois os felinos não são


répteis.

( ) CERTO  ( ) ERRADO


O gráfico anterior ilustra, em um sistema de coorde-
18. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Com o objetivo de par- nadas cartesianas ortogonais xOy, parte da trajetória
ticipar de uma maratona de 42 km, Marcos montou o percorrida por determinado barco que realizou o méto-
seguinte programa de preparação física: nos dois pri- do de busca por quadrado crescente descrito no texto
meiros dias de treinamento, ele correrá uma mesma precedente. Os dois primeiros movimentos desse bar-
distância e, em cada dia a partir de então, ele correrá co — primeiro para o oeste e depois para o norte — têm
tantos quilômetros quanto terá corrido nos dois dias comprimentos iguais a 1 hectômetro (hm); os dois
imediatamente anteriores. Sabe-se que, pelo progra- próximos movimentos têm comprimentos iguais a 2
ma montado, Marcos deverá percorrer, no sétimo dia, hm; os dois movimentos seguintes a estes têm com-
13 quilômetros. primentos iguais a 3 hm; e assim sucessivamente.

Considerando essa situação hipotética, julgue o item Considerando as informações apresentadas, julgue o
seguinte. item subsequente, a partir dessa situação hipotética.

Após o início do treinamento, haverá um dia no qual a O referido barco fez sua segunda curva no ponto (1,
distância percorrida por Marcos será superior ao dobro −1).
daquela percorrida no dia imediatamente anterior.
( ) CERTO  ( ) ERRADO
( ) CERTO  ( ) ERRADO
RACIOCÍNIO LÓGICO

9 GABARITO
19. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Com o objetivo de par-
ticipar de uma maratona de 42 km, Marcos montou o
seguinte programa de preparação física: nos dois pri- 1 ERRADO
meiros dias de treinamento, ele correrá uma mesma
distância e, em cada dia a partir de então, ele correrá 2 ERRADO
tantos quilômetros quanto terá corrido nos dois dias 3 ERRADO
imediatamente anteriores. Sabe-se que, pelo progra-
ma montado, Marcos deverá percorrer, no sétimo dia, 4 ERRADO
13 quilômetros.
5 CERTO
151
6 CERTO

7 ERRADO

8 ERRADO

9 CERTO

10 CERTO

11 ERRADO

12 ERRADO

13 CERTO

14 ERRADO

15 ERRADO

16 ERRADO

17 ERRADO

18 ERRADO

19 ERRADO

20 ERRADO

ANOTAÇÕES

152
que é um número, para separar a quantidade de mer-
cados, farmácias, postos de combustíveis etc.
Os dados qualitativos podem ser:

z Ordinais: são aqueles que podem ser ordenados,


NOÇÕES DE ESTATÍSTICA como mês, nível de escolaridade, tamanho de rou-
pa (P, M, G) entre outros. Ex: O nível de escolari-
dade pode ser dividido em ensino fundamental,
ensino médio, ensino superior, pós graduação. Por
mais que seja um dado qualitativo, a gente conse-
ESTATÍSTICA DESCRITIVA E ANÁLISE
gue colocar isso em ordem, pois sabemos que pri-
EXPLORATÓRIA DE DADOS meiro vem o ensino fundamental, depois o ensino
médio e assim por diante. Da mesma forma o mês,
GRÁFICOS, DIAGRAMAS, TABELAS, MEDIDAS sabemos que primeiro vem janeiro, depois feverei-
DESCRITIVAS (POSIÇÃO, DISPERSÃO, ASSIMETRIA ro até chegar em dezembro;
E CURTOSE) z Nominais: que são aqueles que não podem ser
ordenados, como sexo, estado civil entre outros.
A estatística é a parte da matemática que se dedi- Ex: Podemos dividir os estados civis em casado,
ca à análise, apresentação e interpretação de dados união estável, solteiro, viúvo... claramente não
coletados. Esses dados são coletados dentro de uma temos uma ordem entre essas opções.
população, que é o conjunto total dos elementos a
serem estudados (podem ser pessoas, objetos etc.). Os dados quantitativos podem ser:
Dessa população, podemos coletar os dados de duas
maneiras: z Discretos: são aqueles dados que possuem um
conjunto finito de valores, como a quantidade de
� Censo: quando são coletados os dados de toda a acertos em uma prova de múltipla escolha, a quan-
população; tidade será apenas números inteiros, 0, 1, 2, 3 e
� Mostra: é um subconjunto da população, da qual assim por diante;
são coletados dados para, posteriormente, fazer z Contínuos: que são aqueles que possuem uma
uma inferência sobre a população (inferência escala contínua de valor como tempo, compri-
estatística). mento etc. Ex: Vamos considerar a variável altura.
Entre os dados 1,70m e 1,71m existe uma infinida-
Ex.: Na eleição, todas as pessoas aptas a votar são de de números.
a população. Quando uma empresa é contratada para
fazer uma pesquisa de intenção de voto, eles selecio- NORMAS DE APRESENTAÇÃO TABULAR
nam uma amostra dessa população, fazem as pergun-
tas pré-determinadas pela pesquisa, e com os dados Modelo de uma Tabela
das respostas fazem uma inferência de como a popu-
lação toda irá votar. Já mostramos algumas tabelas ao longo do mate-
Um dos ramos da estatística é a estatística descri- rial, mas afinal, para que serve, e como montar uma
tiva, onde estudaremos 4 tipos de medidas descritivas: tabela?
Uma tabela deve ser composta por diversas linhas
z A s medidas de tendência central que são medi- e colunas, sendo que devemos ter um título (normal-
das que indicam a posição dos dados, como média, mente na primeira linha da tabela), e vários dados
mediana, moda e quartis (também chamadas de organizados nas linhas e colunas seguintes.
medidas de posição); Geralmente, na primeira linha, depois do título,
z As medidas de dispersão que medem o grau de teremos as classes que serão retratadas nas linhas,
variabilidade dos elementos de um conjunto, como ex.: Estados, Siglas, População, Área, etc. Nas linhas
desvio-padrão, variância, amplitude; seguintes teremos os dados da tabela, onde teremos
z A assimetria da curva; em uma mesma linha o Estado, relacionando sua
z O achatamento da curva, chamado de curtose. sigla, sua população, sua área etc. Vejamos o exemplo
dessa tabela citada.
Essas duas últimas (assimetria e curtose) também
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

são conhecidas como medidas de distribuição. INFORMAÇÕES DOS ESTADOS DA REGIÃO


Os dados de uma amostra podem ser qualitati- SUDESTE
vos, que são aqueles dados não numéricos como sexo,
nacionalidade, avaliação nominal (bom, regular, ESTADO SIGLA POPULAÇÃO ÁREA (KM2)
ruim) etc., ou quantitativos, que são dados expres-
Minas Gerais MG 21.292.666 586.522
sos em números, que podem ser objeto de contagens,
medições como altura, peso etc. Espírito Santo ES 4.064.052 46.095
Cuidado, não necessariamente dados expressos
em números serão quantitativos, eles podem também Rio de
RJ 17.366.189 43.780
ser qualitativos, como RG, CPF, CNPJ, CEP, CNAE (clas- Janeiro
sificação nacional de atividades econômicas), geral-
São Paulo SP 45.919.049 248.222
mente esse tipo de código ou classificação é feito em
números. Ex: queremos saber a quantidade de empre-
sas que atuam em cada setor, podemos usar a CNAE, 153
Analisando a tabela acima, podemos concluir que acima, com uma série temporal, mostrando a
Minas Gerais (MG) é o maior estado da Região Sudeste, quantidade de cada espécie observada ao longo
pois tem a maior área, mas que o estado de São Paulo dos últimos 3 anos.
é o mais populoso, por ter uma população maior que
os outros.
ESPÉCIES QUE HABITAM A REGIÃO –
O importante é olhar uma tabela e entender quais
ÚLTIMOS 3 ANOS
dados podemos extrair com o que está apresentado
nela. QUANTIDADE OBSERVADA
ESPÉCIE
As tabelas mais utilizadas na estatística são as 2018 2019 2020
tabelas de frequência, conforme apresentamos no
Onça 30 38 45
item de média aritmética para dados agrupados.
Tamanduá 60 65 75
Tipos de Séries Estatísticas Lobo 30 90 107
Anta 50 80 90
As séries estatísticas são as diversas maneiras de
apresentar os dados desejados em forma de tabela, o
objetivo das séries estatísticas é organizar os dados Séries Temporais
observados e mostrá-los de maneira organizada, faci-
litando sua compreensão. De todas as séries, uma das mais importantes é a
Temos vários tipos séries estatísticas, mas vamos série temporal, que corresponde a um conjunto de
destacar algumas mais importantes: observações de uma variável ao longo do tempo, ou
seja, uma sequência de dados numéricos em ordem
z Séries Temporais: é um conjunto de observações sucessiva, que geralmente (mas não necessariamente)
de uma variável ao longo do tempo, ou seja, uma ocorre em intervalos uniformes. Ex.: Uma série que
sequência de dados numéricos em ordem sucessi- mostra a quantidade de picolés vendidos por uma sor-
va. Nesse tipo de série o que varia é o tempo, mas o veteria mensalmente ao longo de um ano.
fato e o local de observação são fixos; Podemos definir exemplos de séries temporais e
z Séries Geográficas: é um conjunto de observações de séries não temporais:
de uma variável em diferentes locais. Nesse tipo de
série o que varia é o local (região) da observação, SÉRIES NÃO
mas o tempo e o fato observado são fixos. Ex.: SÉRIES TEMPORAIS
TEMPORAIS
Série diária da temperatura Temperaturas de várias ci-
POPULAÇÃO DOS ESTADOS DA REGIÃO SUDESTE na cidade de São Paulo ao dades em um mesmo dia,
longo de um ano ou períodos diferentes
ESTADO POPULAÇÃO
Quantidade de furtos no
Quantidade de furtos
Minas Gerais 21.292.666 ano de 2018 nas diferen-
anuais em Cuiabá
tes capitais do país
Espírito Santo 4.064.052
Salários dos funcionários
Salário de um funcionário
Rio de Janeiro 17.366.189 de uma empresa no mes-
ao longo do ano
mo mês
São Paulo 45.919.049
As séries temporais são importantes para identifi-
z Séries Específicas: é um conjunto de observações car padrões de variáveis no tempo, para que se possa
de uma variável com diferentes categorias (espé- tentar prever possíveis danos no futuro. Para descre-
cies). Nesse tipo de variável o que varia são as cate- ver séries temporais, são utilizados modelos de pro-
gorias observadas, mas o tempo e o local são fixos. cessos estocásticos, que são processos controlados por
Ex.: Queremos analisar a quantidade de animais leis probabilísticas.
diferentes que habitam uma certa região de prote- Uma série temporal pode ser decomposta em três
ção florestal. Nesse caso a tabela será classificada séries temporais: tendência, sazonalidade e uma com-
pelas espécies observadas na região de interesse ponente aleatória (nível).
em um mesmo intervalo de tempo.
z Tendência: é o comportamento de longo prazo na
série, podendo ser determinístico (quando os valo-
ESPÉCIES QUE HABITAM A REGIÃO EM 2020
res da série podem ser descritos por uma função
QUANTIDADE matemática) e podendo ser estocástico (aquele
ESPÉCIE cujo estado é indeterminado, com origem em even-
OBSERVADA
tos aleatórios). Ex.: Quando analisamos a popu-
Onça 45 lação brasileira ao longo dos anos (vamos supor
uma série com 100 anos), vemos que a cada ano
Tamanduá 75
esse valor aumenta, nem sempre em uma mesma
Lobo 107 proporção, mas podemos notar uma tendência de
crescimento;
Anta 90 z Sazonalidade: é um padrão regular que ocorre
na série temporal. Uma série temporal é sazonal
z Séries Conjugadas (Mistas): nesse tipo de séries quando fenômenos que ocorrem durante o tempo
vamos conjugar dois tipos de séries em uma mes- se repetem em um mesmo período de tempo, ou
154 ma tabela. Ex.: Vamos conjugar a tabela específica seja, ocorrem sempre em uma mesma hora, todos
os dias, ou em um mesmo mês, todos os anos. Ex.:
Um aumento nas vendas de uma loja de roupas em
dezembro em todos os anos (período do Natal);
z Aleatório: é o que não pode ser explicado pela ten-
dência e sazonalidade, ou seja, é o resíduo, sendo
que a aleatoriedade não pode ser determinística
(descrito por uma função matemática) e será sem-
pre estocástico;
z Ciclo: longas ondas, mais ou menos regulares, em
torno de uma linha de tendência.

Outro ponto importante é a estacionariedade da


série temporal.
Dizemos que uma série temporal é estacionária
quando suas observações no tempo se posicionam
aleatoriamente ao redor de uma média constante,
transparecendo um equilíbrio estável. Exercite seus conhecimentos realizando os seguin-
tes exercícios comentados.

1. (FCC — 2018) Em séries temporais, as oscilações


aproximadamente regulares em torno da tendência:

a) são típicas de séries muito curtas, como dados dentro


de um mês.
b) dão a direção global dos dados.
c) podem ser decorrentes de fenômenos naturais e
socioeconômicos.
d) caracterizam uma série sem variável residual.
e) determinam o componente não sistemático.

Vamos analisar cada alternativa, mas iremos ver


que 4 são totalmente incorretas, e uma delas é um
pouco vaga, mas, mesmo assim correta, é mais fácil
chegar na resposta por eliminação:
Podemos notar que uma série estacionária se man- Alternativa a) Essas oscilações em torno da ten-
tém sempre em torno de uma média, que representa- dência são características de séries temporais, e
mos pela linha preta central na figura a seguir. acontecem tanto para séries longas quanto curtas.
Alternativa incorreta.
Alternativa b) Essa direção global é exatamente a
tendência, e não as oscilações em torno dela. Alter-
nativa incorreta.
Alternativa c) Exatamente, a tendência é o compor-
tamento a longo prazo, entretanto os valores não
serão exatamente os considerados em uma certa
função matemática, tendo sempre uma pequena
variação, que são essas oscilações em torno da
tendência. Essas variações podem ocorrer por inú-
meros fatores, dentre eles fenômenos naturais e
socioeconômicos. Alternativa correta.
Alternativa d) Essas oscilações são caracteriza-
das pelos resíduos, ou seja, variáveis residuais que
fazem com que os valores observados sejam próxi-
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

mo, mas não idênticos aos valores previstos, por-


tanto essas oscilações. Alternativa incorreta.
Alternativa e) Essas oscilações são naturais das
Uma série pode ser estacionária por um período observações, o comportamento sistemático de uma
curto, ou por um período longo, o modelo ARIMA observação se caracteriza pelo erro sistemático
pode descrever séries estacionárias e séries não esta- de observações, por exemplo, quando anotamos o
cionárias que não apresentam um comportamento horário de certas observações, mas o relógio utiliza-
totalmente aleatório, ou seja, uma não estacionarie- do está com 1 hora de atraso. Alternativa incorreta.
dade homogênea, que é quando uma série é estacio- Resposta: Letra C.
nária, flutuando ao redor de um nível, por um certo
tempo, depois muda de nível e flutua ao redor desse
novo nível, e depois muda novamente de nível e assim
por diante. 155
2. (IBADE — 2017) Considerando uma série temporal, é a) Nível Médio
correto afirmar que a tendência indica: b) Sazonalidade
c) Ciclicidade
a) comportamento sazonal a curto prazo. d) Tendência Linear
b) ciclos de altas e quedas periódicas de valores a curto e) Tendência Exponencial
prazo.
c) comportamento independente dos dados a longo, cur- Vemos que os dados possuem picos em alguns meses,
to e médio prazo.
e que esses valores acontecem sempre na mesma
d) comportamento a longo prazo.
época do ano (2, 14 e 26), ou seja, todo ano, no mes-
e) somente se há um outlier conhecido como ponto
influente. mo mês ocorre um pico, isso é a sazonalidade.
Como ao fazer a regressão linear temos uma reta ao
Por definição sabemos que a tendência caracteriza longo do tempo, essa sazonalidade não é lavada em
o comportamento a longo prazo. Resposta: Letra D. conta. Resposta: Letra B.

4. (IADES — 2014) Uma série temporal é qualquer con- 6. (CEBRASPE-CESPE — 2008) Uma agência de desen-
junto de observações ordenadas no tempo. Acerca volvimento urbano divulgou os dados apresentados
das séries temporais, assinale a alternativa correta. na tabela a seguir, acerca dos números de imóveis
ofertados (X) e vendidos (Y) em determinado municí-
a) As séries temporais não podem ser contínuas nem pio, nos anos de 2005 a 2007.
discretas.
b) Os modelos utilizados para descrever séries tempo-
rais não são controlados por fatores probabilísticos. NÚMERO DE IMÓVEIS
c) Os modelos utilizados para descrever séries tempo- ANO
OFERTADOS (X) VENDIDOS (Y)
rais são processos estocásticos, isto é, processos
controlados por leis probabilísticas. 2005 1.500 100
d) Um conjunto de observações ordenadas no tempo não
é uma série temporal. 2006 1.750 400
e) Um conjunto de índices diários da bolsa de valores
2007 2.000 700
não é um exemplo de série temporal.

Vamos analisar as alternativas. Considerando as informações do texto, julgue os itens


Alternativa a) as séries temporais podem ser qual- subsequentes. A variável X forma uma série estatísti-
quer uma das duas, tanto contínuas como discretas. ca denominada série temporal.
Alternativa incorreta.
Alternativa b) Os modelos são controlados por fato- ( ) CERTO  ( ) ERRADO
res probabilísticos SIM. Alternativa incorreta.
Alternativa c) Exatamente o contrário da alternati- Exatamente, uma série temporal é um conjunto de
va anterior, portanto alternativa correta. observações de uma variável ao longo do tempo.
Alternativa d) O exercício usou a definição de série Vemos os dados de duas variáveis (imóveis oferta-
temporal e afirmou que isso não era uma série tem- dos e imóveis vendidos) ao longo dos anos (2005,
poral. Alternativa incorreta. 2006 e 2007) Resposta: Certo.
Alternativa e) Esse exemplo é um conjunto de obser-
vações ordenadas no tempo, portanto uma série
MEDIDAS DE POSIÇÃO
temporal. Alternativa incorreta. Resposta: Letra C.

5. (CESGRANRIO - PETROBRAS — 2012) Média

Existem 3 tipos de média: a mais cobrada é a média


aritmética (simples ou ponderada), mas temos tam-
bém a média geométrica e a média harmônica.
Como veremos na parte de distribuição de pro-
babilidade, a média é o primeiro momento de uma
distribuição.
Temos duas formas de apresentação de dados para
que seja calculada a média, a mais comum é a apre-
sentação de vários dados não agrupados, onde são
listados vários valores. Por exemplo, em uma prova a
lista de notas de todos os alunos separadamente são
É preciso estimar o número de unidades de um certo
dados não agrupados. A outra forma de apresenta-
equipamento a serem vendidas por uma empresa. Um
estagiário fez um modelo de regressão linear, onde x ção é através de dados agrupados, nesse caso, vamos
(no do mês) e y as vendas realizadas em unidades são pensar no mesmo exemplo, mas, ao invés de termos
mostrados na figura acima. todas as notas diretamente, receberemos uma lista
Qual tipo de componente da série temporal de vendas dizendo que, 5 pessoas tiraram de 0 a 2, outras 7 tira-
NÃO foi observado no modelo? ram de 2 a 4, mais 15 tiraram de 4 a 6, outras 10 de 6 a
8 e os 3 restantes tiraram de 8 a 10, normalmente isso
156 é apresentado em uma tabela.
NOTA QUANTIDADE DE ALUNOS CURSO QUANTIDADE DE ALUNOS

0–2 5 Direito 55

2–4 7 Contabilidade 24

4–6 15 Estatística 35

6–8 10 Física ?

8 – 10 3
A média do número de alunos matriculados por
curso é 38,5. Nesse caso, qual a quantidade de alunos
Quando estamos tratando de média de dados de matriculados em Física?
uma população representamos pela letra grega μ A média de alunos matriculados por curso é dada
(mi), já quando estamos tratando de média de dados pela soma dos alunos de cada curso dividido pela
de uma amostra, representamos por x. quantidade de cursos, onde a média foi dada, e é 38,5,
e o total de cursos é 4.
Média Aritmética Simples Sabemos que a fórmula da média é:

A média aritmética simples é a que estamos mais


acostumados no dia a dia, ela é dada pela soma dos Soma
Média =
valores dos dados que queremos saber, dividido pela Quantidade
quantidade desses dados.
Soma
Soma 38,5 =
Média = 4
Quantidade
Soma = 38,5 · 4
Soma = Média x Quantidade
Soma = 154
Em linguagem matemática isso é dado por:
A soma dos alunos matriculados é 154, e vamos
chamar o número de alunos matriculados em Física
x= /
xi
para dados de uma amostra.
N de X.
Ou:
55 + 24 + 35 + X = 154

μ= /
xi
para dados de uma população. 114 + X = 154
N
X = 154 – 114
Onde: Ʃxi é o somatório dos dados X1, X2, X3...XN, e N
é a quantidade de dados da amostra/população. Cada X = 40
dado é representado por Xi.
Vamos supor que, na faculdade, teremos 4 provas Portanto, são 40 alunos matriculados em Física.
da disciplina de Estatística. Para calcular a média final
basta somar as 4 notas e dividir por 4. Média Aritmética Ponderada
Supondo que as notas tenham sido na ordem: 6,0;
7,0; 5,0; 8,0. A média ponderada é muito parecida com a média
simples, mas nela são colocados pesos diferentes para
alguns dados. Essa média é muito utilizada em provas.
Soma
Vamos pensar no mesmo exemplo da média sim-
Média =
Quantidade ples. Supondo que, na faculdade, teremos 4 provas
de Estatística, mas a prova 3 tem peso 2 e a prova 4
tem peso 3. Para calcular a média ponderada temos
6+7+5+8 que somar todas as notas, mas, as notas que têm pesos
Média =
4 devem ser somadas conforme seu peso, ou seja, se
for peso 2 temos que multiplicar essa nota por 2, se
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

for peso 3 temos que multiplicar essa nota por 3. E na


26 quantidade temos que considerar o peso também.
Média =
4 Supondo que as notas tenham sido na ordem: 6,0;
7,0; 5,0 (peso 2); 8,0 (peso 3). Nesse caso, a quantidade
Média = 6,5 de notas que vamos considerar deve ser 7, pois as pro-
vas 1 e 2 têm peso 1, a prova 3 é peso 2, e a prova 4 é
Ex: Em uma faculdade a quantidade de alunos peso 3. Portanto: 1 + 1 + 2 + 3 = 7.
matriculados em cada curso está apresentado na tabe-
la a seguir: Soma
Média =
Quantidade

157
6 + 7+ 2 · 5 + 8 · 3 15 · X = 187 – 97
Média = 15 · X = 90
7 90
X=
6 + 7 + 10 + 24 15
Média = X=6
7
Logo o Preço Unitário da Marca C é R$ 6,00.
47
Média = Agora vamos ver um exemplo em que os dados
7
são dados em classes. Vamos pensar no exemplo que
Média = 6,71 demos lá em cima, das notas dos alunos, sendo que
5 pessoas tiraram de 0 a 2, outras 7 tiraram de 2 a 4,
mais 15 tiraram de 4 a 6, outras 10 de 6 a 8 e os 3 res-
Média Aritmética para Dados Agrupados
tantes tiraram de 8 a 10.
Podemos ter duas formas de apresentação de
dados, uma que nos traz o dado e a frequência que NOTA QUANTIDADE DE ALUNOS
esse dado ocorre, e outra que dá um intervalo (que 0 |– 2 5
chamamos de classe) e a frequência de dados dessa
classe, ambas apresentadas no formato de tabela. 2 |– 4 7
Vamos mostrar um exemplo para cada tipo de apre- 4 |– 6 15
sentação de dados:
6 |– 8 10
z Ex: Em um evento foram compradas 4 marcas dife- 8 |– 10 3
rentes de água, conforme a tabela.
A barra (|) normalmente mostra que o dado limite
entre as classes pertence àquela classe, ou seja, a nota
QUANTIDADE DE
TIPOS PREÇO UNITÁRIO 2, estaria no limite entre a 1ª e a 2ª classe, nesse caso
GARRAFAS
por conta da barra vamos considerar que a nota 2 per-
A 5 R$ 3,80 tencente à 2ª classe.
B 8 R$ 6,00 Para achar a média nesse caso vamos fazer pra-
ticamente a mesma coisa do exemplo acima, mas o
C 15 ?
valor da classe que iremos usar é o ponto médio de
D 6 R$ 5,00 cada classe, ou seja, basta fazer a média da classe.
Cada classe tem uma variação de 2 pontos, portan-
O preço médio do total de garrafas compradas foi to a média de cada classe será:
de R$ 5,50. Qual o valor unitário da garrafa da marca C?
Para achar a média, temos que somar o valor de 0+2
todas as garrafas, sendo que para cada marca foram z Classe 1: =1
compradas uma quantidade diferente de garrafas. 2
Para resolver esse tipo de questão vamos incluir mais
2+4
uma coluna na tabela, que é a multiplicação do valor z Classe 2: =3
unitário com a quantidade de garrafas. 2

4+6
QUANTIDADE PREÇO z Classe 3: =5
TIPOS QXP
DE GARRAFAS UNITÁRIO 2
A 5 R$ 3,80 5 · 3,8 = 19
6+8
B 8 R$ 6,00 8 · 6 = 48 z Classe 4: =7
2
C 15 ? 15 · X
D 6 R$ 5,00 6 . 5 = 30 8 + 10
z Classe 5: =9
2
19 + 48 + 15 · x + 30
Média =
5 + 8 + 15 + 6
QUANTIDADE DE PONTO MÉDIO
NOTA
ALUNOS DA CLASSE
Sabemos que a média dos valores foi R$ 5,50,
portanto: 0 |– 2 5 1

97 + 15 · x 2 |– 4 7 3
5,5 =
34 4 |– 6 15 5

6 |– 8 10 7
5,5 · 34 = 97 + 15 · X
8 |– 10 3 9
158 187 = 97 + 15 · X
Agora basta fazer a coluna da multiplicação da frequên- Média Harmônica
cia (quantidade de alunos) pelo ponto médio da classe.
A média harmônica, μH, é dada por:

PONTO QUANT. N
QUANTIDADE
NOTA MÉDIO DA X PONTO μH = / 1 , ou seja:
DE ALUNOS X1
CLASSE MÉDIO
N
μH =
0 |– 2 5 1 5x1=5
1 1 1 1
2 |– 4 7 3 7 x 3 = 21 + + + ....+
X1 X2 X3 XN
4 |– 6 15 5 15 x 5 = 75

6 |– 8 10 7 10 x 7 = 70 Fazendo um paralelo com a média aritmética, na


média harmônica vamos inverter os termos, a quantida-
8 |– 10 3 9 3 x 9 = 27 de de dados observados (N) fica no numerador (em cima)
e a soma fica no denominador (embaixo). A diferença
Como temos toda a sala, estamos falando de popu- é que a soma não é dos dados propriamente, e sim, do
lação, e a média é dada por μ. inverso dos dados, ou seja, um sobre o valor observado.
Dificilmente vemos uma questão cobrar o cálculo
das médias geométrica e harmônica, mas, uma pro-
5 + 21 + 75 + 70 + 27 priedade que é mais cobrada, é a comparação das
μ=
5 + 7 + 15 + 10 + 3 médias aritmética, geométrica e harmônica. Precisa-
mos saber que a média aritmética é a maior, depois a
média geométrica e, por fim, a média harmônica que
198 é a menor.
μ=
40
μA > μG > μH
μ = 4,95
Para podermos praticar um pouco mais sobre esse
assunto, analisaremos algumas questões comentadas
Portanto, a nota média da classe foi 4,95.
de concursos.
A frequência apresentada em um exercício pode
ser absoluta ou relativa. A frequência absoluta é a 1. (CEBRASPE-CESPE — 2018-ADAPTADA) A tabela a
quantidade total, no nosso exemplo é a quantidade de seguir mostra a distribuição das idades dos 30 alunos
alunos que tiraram tais notas. A frequência relativa de uma sala de aula.
é a razão ou percentual entre a quantidade daquele
dado e o total, portanto a soma da frequência relativa
Idade (em anos) 10 11 12 13 14
de todas as classes resulta sempre em 1.
Número de alunos 14 8 3 4 1
QUANTIDADE
NOTA FREQ. RELATIVA Nesse caso, a média de idade dos alunos dessa sala é
DE ALUNOS
igual a 11 anos.
0 |– 2 5 5÷40 = 0,125 = 12,5%
( ) CERTO  ( ) ERRADO
2 |– 4 7 7÷40 = 0,175 = 17,5%

4 |– 6 15 15÷40 = 0,375 = 37,5% Na primeira linha temos a idade e na segunda temos


a quantidade de alunos com cada idade (frequência).
6 |– 8 10 10÷40 = 0,250 = 25% Veja que normalmente fazemos esse tipo de questão
com os dados dispostos em colunas, e aqui estão em
8 |– 10 3 3÷40 = 0,075 = 7,5%
linhas, portanto basta acrescentar uma linha da
TOTAL 40 1 = 100% freq. x idade.

IDADE NÚMERO DE
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

Média Geométrica IDADE X FREQ


(EM ANOS) ALUNOS
A média geométrica, μG, é dada por: 10 14 10x14=140

N 11 8 11x8=88
μG = √ X1 · X2 · X3 ..... XN
12 3 12x3=36
Fazendo um paralelo com a média aritmética, na
13 4 13x4=52
média geométrica ao invés de somarmos os dados,
vamos multiplicar, e ao invés de dividirmos pela 14 1 14x1=14
quantidade de dados observados (N) vamos fazer a
raiz enésima dessa quantidade. 140 + 88 + 36 + 52 + 14
Média =
14 + 8 + 3 + 4 + 1
159
( ) CERTO  ( ) ERRADO
330
Média =
30 Como temos uma média ponderada, iremos colo-
car no denominador a soma dos pesos das provas,
Média = 11 anos ou seja, diferentemente da média aritmética, onde
Resposta: Certo. todas as provas possuem o mesmo peso.
Já no numerador, vamos colocar a nota de cada pro-
Texto para Questões 02 e 03 va multiplicada pelo seu peso, ou seja, peso 1 para a
prova A, e os pesos que iremos calcular nas provas
Tendo em vista que, diariamente, a Polícia Fede- B e C.
ral apreende uma quantidade X, em kg, de drogas em Prova B o peso é 10% maior que na prova A, ou seja,
determinado aeroporto do Brasil, e considerando os vamos multiplicar o peso da prova A por 1,10, que
dados hipotéticos da tabela a seguir, que apresenta seria o peso da prova A, mais 10% (0,1).
os valores observados da variável X em uma amostra Peso(PB) = 1 · 1,10 = 1,10
aleatória de 5 dias de apreensões no citado aeroporto, A prova C tem peso 20% maior que a prova B (que
julgue os itens 02 e 03. tem peso 1,1), portanto vamos multiplicar o peso da
prova B por 1,2, que é o peso da prova A, mais 20%
(0,2).
DIA
Peso (PC) = 1,1 . 1,2 = 1,32
X (QUANTIDADE 1 2 3 4 5
DIÁRIA DE DROGAS PA + 1,1PB + 1,32PC
APREENDIDAS, EM Média =
10 22 18 22 28 1 + 1,11 + 1,32
KG)

2. (CEBRASPE-CESPE — 2018) A mediana das quantida- PA + 1,1PB + 1,32PC


des X observadas na amostra em questão foi igual a Média =
18 kg. 3,42

( ) CERTO  ( ) ERRADO Resposta: Errado.

A é a medida central da nossa amostra, entretanto, 5. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Considerando que a


para achar esse valor os dados precisam estar em análise de uma amostra de minério de chumbo tenha
ordem crescente. Vamos ordenar nossos dados para apresentado os seguintes resultados percentuais (%):
poder achar a mediana, sendo que o total de dados 8,10; 8,32; 8,12; 8,22; 7,99; 8,31, julgue o item a seguir,
são 5. relativo a esses dados.
10, 18, 22, 22, 28 O valor médio do teor de chumbo presente na amostra
A mediana será o 3º elemento, ou seja, 22. Resposta: foi superior a 8%.
Errado.
( ) CERTO  ( ) ERRADO
3. (CEBRASPE-CESPE — 2018) A moda da distribuição
dos valores X registrados na amostra foi igual a 22 kg. Essa questão nem precisávamos fazer conta, olhan-
do os números vemos que dos 6 números 5 são
( ) CERTO  ( ) ERRADO maiores que 8, chegando até a 8,32. O único núme-
ro menor que 8 é o 7,99, ou seja, muito próximo de
A moda é o valor que mais se repete, que nesse caso 8, logo a média com certeza será maior que 8 sem
é o 22 que se repete duas vezes, o restante aparece fazer a conta.
apenas uma vez (10, 18 e 28). Resposta: Certo. A média sempre será maior que o menor dos núme-
ros, e menor que o maior dos números (conside-
4. (CEBRASPE-CESPE — 2018) No item a seguir é apre- rando que tenhamos números diversos na nossa
sentada uma situação hipotética, seguida de uma amostra, pois se todos os números forem iguais, a
assertiva a ser julgada, a respeito de proporcionalida- média será o próprio número).
de, divisão proporcional, média e porcentagem. Podemos perceber isso, tirando 0,02 do maior
Em uma faculdade, para avaliar o aprendizado dos alu- número 8,32 (resultando 8,30), e passando para o
nos em determinada disciplina, o professor aplica as 7,99 (resultando 8,01). Agora todos os números são
provas A, B e C e a nota final do aluno é a média pon- maiores que 8, portanto a média com certeza será
derada das notas obtidas em cada prova. Na prova A, maior que 8.
o peso é 1; na prova B, o peso é 10% maior que o peso Caso alguém tenha feito a conta:
na prova A; na prova C, o peso é 20% maior que o peso
na prova B. 8,10 + 8,32 + 8,12 + 8,22 + 7,99 + 8,31
Nesse caso, se PA, PB e PC forem as notas obtidas por Média =
6
um aluno nas provas A, B e C, respectivamente, então
a nota final desse aluno é expressa por: 49,06
Média =
PA + 1,2PB + 1,21PC 6
Média = 8,1766
3,52
160 Resposta: Certo.
MODA, MEDIANA E QUARTIS d1 é a diferença entre a frequência da classe modal
com a classe anterior;
Moda d2 é a diferença entre a frequência da classe modal
com a classe posterior.
Quando dizemos que uma roupa está na moda, isso Veja que na fórmula de Czuber a classe anterior é
quer dizer que muita gente está usando esse tipo de mais importante que a classe posterior à classe modal,
roupa. A moda (Mo) na estatística é exatamente isso, pois d1 aparece em baixo e em cima, e o L é o limi-
é aquele dado que mais se repete na população ou na te inferior da classe modal. Vamos entender com um
amostra, ou seja, o dado com maior frequência.
exemplo:
Ex: Dado os valores observados: 3, 4, 5, 6, 6, 8, 8, 8,
Dada a distribuição de frequência.
9, 10. A moda é o 8 pois aparece 3 vezes.
Para dados não agrupados é tranquilo de achar a
moda, mas quando temos dados agrupados com inter- QUANTIDADE DE
NOTA
valos de classes não sabemos exatamente qual valor ALUNOS
dentro daquela classe mais se repete, para isso temos
3 métodos para achar a moda: moda bruta, moda de 0 |– 2 5
Pearson e moda de Czuber. 2 |– 4 7
A moda bruta, nada mais é que o valor médio da
classe modal. 4 |– 6 15
Ex:
6 |– 8 10

8 |- 10 3
QUANTIDADE DE
NOTA
ALUNOS
Para achar a moda vamos usar a Fórmula de Czu-
0 |– 2 5 ber. A classe modal é a classe com maior frequência,
portanto das notas entre 4 e 6, que tem 15 alunos.
2 |– 4 7
Portanto:
4 |– 6 15 L = 4 (limite inferior)
h = 2 (intervalo da classe: 6 – 4 = 2)
6 |– 8 10
d1 = 8 (diferença de frequência entre a classe
8 |- 10 3 modal e a classe anterior: 15-7 = 8)
d2 = 5 (diferença de frequência entre a classe
A classe modal é a que tem a maior frequência, ou modal e a classe posterior: 15-10 = 5)
seja, a que possui 15 alunos, que é a classe que vai de
4 a 6. Assim, pelo método da moda bruta, a moda será d1
a média da classe, ou seja, a média entre os limites da Mo = L + h ·
classe (4 e 6): d1 + d2

4+6 8
Mo = Mo = 4 + 2 ·
2 8+5

10 8
Mo = Mo = 4 + 2 ·
2 13

Mo = 5 16
Mo = 4 +
A moda de Pearson é dada pela fórmula: 13

Mo = 3 · Md – 2 · x Mo = 4 + 1,23
Mo = 5,23
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

Portanto, para achar a moda pelo método de Pear-


son, é preciso achar a mediana (Md) e a média arit- Mediana
mética (x).
A moda de Czuber é dada pela Fórmula de Czuber: A mediana (Md) é o valor que divide os dados em
duas partes iguais, ou seja, ao relacionar os dados em
d1 ordem crescente é o dado que fica na posição central.
Mo = L + h · Ex: Dado os valores observados: 3, 4, 5, 6, 6, 8, 8, 8,
d1 + d2
9, 10, 14.
Temos 11 dados nessa amostra, portanto o 6º valor
Onde: L é o limite inferior da classe modal (classe é o valor central, pois, temos 5 valores antes dele e 5
com maior frequência); depois, portanto a mediana é 8.
h é a amplitude da classe (diferença entre os extre-
mos da classe); 3, 4, 5, 6, 6, 8, 8, 8, 9, 10, 14 161
Quando temos número ímpar de observações, a Portanto o 8º termo da 3ª classe (que é a nossa me-
mediana será o próprio valor, mas quando tivermos diana) está 1,06 acima do limite inferior da classe me-
uma quantidade par de dados, não teremos um valor diana, que é 4.
central, nesse caso vamos fazer a média entre os dois
valores centrais. Md = 4 + 1,06 = 5,06

Vamos pensar nos seguintes dados: 3, 4, 5, 6, 6, 8, Quartis


8, 8, 9, 10
Aqui temos 10 dados, e para dividirmos nossa Assim como a mediana divide os dados em duas
amostra em duas partes iguais vamos separar entre partes iguais, os quartis dividem em 4 partes iguais.
o 6 e o 8, restando 5 dados para cada lado. Portanto, a Portanto, teremos 3 quartis (Q1, Q2 e Q3).
mediana será a média entre 6 e 8. O primeiro quartil (Q1) divide 25% dos dados antes
dele e 75% dos dados depois, o segundo quartil (Q2)
3, 4, 5, 6, 6,/8, 8, 8, 9, 10 divide 50% dos dados de um lado e 50% de outro, e o
terceiro quartil (Q3) divide 75% dos dados antes dele
6+8 14 e 25% depois. Entre cada quartil temos 25% dos dados.
Md = = =7 Alguém mais atento pode me falar, “mas se o Q2
2 2
divide os dados restando 50% para cada lado ele é a
mediana!”. Exatamente isso, o Q2 é a própria mediana.
Para dados não agrupados é tranquilo de achar a Vamos supor uma amostra com 20 dados:
mediana, mas quando temos dados agrupados com
intervalos de classes não sabemos exatamente qual (5) (5) (5) (5)
valor dentro daquela classe será o central, para isso 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20
vamos fazer uma regra de três para achar esse valor, Q1 Q2 Q3
esse método é chamado de interpolação linear. 5,5 10,5 15,5
Dada a distribuição de frequência:

Existem ainda os:


NOTA QUANTIDADE DE ALUNOS

0 |– 2 5 z Decis, que tem essa mesma ideia dos quartis, mas


divide a população/amostra em 10 partes iguais,
2 |– 4 7 portanto teremos 9 decis, ficando 10% da amostra
em cada parte;
4 |– 6 15 z Percentis, que divide a população amostra em 100
6 |– 8 10 partes iguais, portanto teremos 99 percentis, fican-
do 1% da amostra em cada parte. Por exemplo, o
8 |- 10 3 P10 significa que temos 10% dos dados a esquerda,
e o restante (90%) a direita.
O total de observações nessa população é 40. Portan-
to, a mediana estará entre o 20 e o 21, mas para fazer a MEDIDAS DE DISPERSÃO
conta vamos usar o termo inferior, portanto o 20º.
A mediana estará na terceira classe, pois até a Amplitude
segunda temos 12 alunos (5 + 7), e ao final da terceira
já teremos 27 alunos, portanto o 20º termo estará den- A amplitude é a diferença entre o maior valor e o
tro da 3ª classe (4 a 6). menor valor da lista de dados, vamos supor a lista: 3,
Como disse acima, até a classe anterior temos 12 6, 10, 12, 14, 20. A amplitude será:
alunos, para chegar a nossa mediana, que é o 20º ter-
mo, faltam 8 alunos. Portanto, vamos fazer uma regra Ampl = Xmáx – Xmín
de 3, onde a classe mediana tem 15 alunos em uma Ampl = 20 – 3 = 17
variação de 2 pontos, portanto para 8 alunos a varia-
ção de pontos será X. Desvio Quartílico

VARIAÇÃO DENTRO DA O desvio quartílico, que também podemos chamar


FREQUÊNCIA (ALUNOS)
CLASSE de amplitude semi-interquartílica é a diferença entre
o 3º quartil e o 1º quartil dividido por 2.
15 2

8 X Q3 - Q1
DQ =
2
15 · X = 2 · 8
Intervalo Quartílico
15 · X = 16

16 O intervalo quartílico é diferente do desvio quartí-


X= lico (intervalo semi-interquartílico), o intervalo quartí-
15 lico é apenas a diferença entre o quartil 3 e o quartil 1.

162 X = 1,06 IQ = Q3 – Q1
Desvio Na variância teremos pela primeira vez uma dife-
rença na fórmula quando consideramos uma popu-
Desvio é a diferença entre um dado qualquer de lação e uma amostra. Até agora, as fórmulas eram
uma amostra/população (Xi) e a média desses dados sempre iguais, mudávamos apenas a representação
(μ/ x). da média (de μ para x ).
Em uma população a variância é representada por
D = Xi - x σ2 (sigma ao quadrado), já para uma amostra a variân-
cia é representada por S2.
O desvio em si não diz muita coisa e nunca é cobra- Para uma amostra:
do, mas é importante para entendermos o desvio
médio e o desvio padrão (esse sim muito cobrado).
/ ^Xi - X h2
S2 = n-1
Desvio Médio
Para uma população:
A soma de todos os desvios de uma amostra resulta
em 0, vejamos o exemplo a seguir, de uma amostra
com 4 dados: 4, 6, 8, 10 / _Xi - n i2
σ2 = n

4 + 6 + 8 + 10 28 Podemos perceber que para uma amostra vamos


x= =
4 4 dividir por “n-1” e para uma população vamos dividir
por N. Usamos N (maiúsculo e minúsculo) para ilus-
x=7 trar que em uma população a quantidade de dados
é maior que na amostra, mas os dois “enes” querem
Portanto os desvios são: dizer a mesma coisa, ou seja, a quantidade de dados.
4: D = 4 – 7 = -3 Quando temos a variância populacional, podemos
6: D = 6 – 7 = -1 calcular a variância amostral aplicando um fator de
8: D = 8 – 7 = 1 correção, que é:
10: D = 10 – 7 = 3 n
Soma dos desvios: - 3 – 1 + 1 + 3 = 0
Portanto, para acharmos o desvio médio vamos n-1
utilizar o somatório dos módulos dos desvios e dividir
pela quantidade de dados. Utilizamos os módulos por- n
que se usássemos os valores normais a soma daria 0. S2 = σ2 ·
n-1
/ Xi - X para dados de uma amostra.
DM = n
Quando tivermos dados agrupados, basta multipli-
Ou: car cada parênteses pela frequência da classe.

/ Xi - n para dados de uma população. / f^Xi - X h2


DM = n S2 = n -1

Ex: Vamos usar o mesmo exemplo:


Ou
4: D = 4 – 7 = -3
6: D = 6 – 7 = -1
8: D = 8 – 7 = 1 / f_Xi - n i2
σ2 = n -1
10: D = 10–7 = 3
Os módulos serão: 3, 1, 1 e 3.
Existe uma outra forma de calcular a variância,
que em boas partes dos casos é mais rápida, que é a
3+1+1+3
diferença entre a média dos quadrados e o quadra-
DM =
4 do da média.
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

σ2 = x2 – (x)2
8
DM =
4 Ou seja, basta elevar todos os dados ao quadrado
e calcular a média desses valores, e subtrair disso a
DM = 2 média dos dados ao quadrado.

Variância Desvio Padrão

Falamos que a média é o primeiro momento de O desvio padrão nos dá a noção de quão disper-
uma distribuição, já a variância é chamada do segun- sos são os dados da amostra, quanto menor o desvio
do momento de uma distribuição. padrão, mais concentrado em torno da média aritmé-
A variância é uma medida de dispersão que mostra o tica estão os dados, quanto maior o desvio padrão,
quão distante cada valor desse conjunto está da média. mais dispersos esses dados. 163
O desvio padrão é a raiz da variância, portanto a a moda e o desvio padrão. A única grandeza diferen-
fórmula e as considerações sobre população e amos- te é a variância, que será multiplicada pelo quadrado
tra são as mesmas, apenas vamos fazer a raiz do dessa constante, pois lembremos que ela é o quadrado
resultado. do desvio padrão.
Em resumo, ao multiplicar os dados por uma cons-
Desvio padrão = √Variância tante k, os dados estatísticos irão alterar da seguinte
maneira:
Em uma população, o desvio padrão é representa-
da por σ (sigma), já para uma amostra o desvio padrão
é representado por S. FORMA DE CHEGAR AO
DADO ESTATÍSTICO
Para uma amostra: NOVO VALOR

Média (µ) µ.k


/ ^Xi - X h2
s= n -1 Mediana (Md) Md . k

Moda (Mo) Mo . k
Para uma população:
Desvio padrão (σ) σ. k
/ _Xi - ni
2
Variância (σ2) σ2 . k2
σ= n
Quando somamos todos os salários por uma cons-
Quando tivermos dados agrupados, basta multipli- tante qualquer (100 por exemplo), a média será altera-
car cada parênteses pela frequência da classe. da na mesma ordem, ou seja, para achar a nova média
somaremos a média anterior pela mesma constante. A
/ f^Xi - X h2 mesma coisa ocorre para a mediana e a moda. Entre-
s= n -1 tanto as medidas de dispersão, desvio padrão e variân-
cia não serão alteradas pela soma de uma constante.
Assim o resumo dos valores, após a soma dos
Ou
dados pela constante k são:

σ= / faXi -n k2
n FORMA DE CHEGAR AO
DADO ESTATÍSTICO
NOVO VALOR
Coeficiente de Variação Média (µ) µ+k

O coeficiente de variação (ou coeficiente de varia- Mediana (Md) Md + k


ção de Pearson) é a divisão do desvio padrão pela Moda (Mo) Mo + k
média.
Pra uma amostra: Desvio padrão (σ) Não muda

S Variância (σ2) Não muda


CV =
X
Resumindo, quando somamos k a todos os elemen-
Para uma população: tos de uma série de dados, e/ou quando multiplicamos
por k todos os elementos de uma série de dados:
v
CV = n
MULTIPLICAÇÃO
SOMA DE UMA
Propriedades DE UMA
CONSTANTE K
CONSTANTE K
Vamos pensar num conjunto de dados do salário NOVA MÉDIA/
de uma determinada empresa. Com esses valores MEDIANA/ Soma k Multiplica por k
podemos calcular a média, mediana, desvio padrão, MODA
variância etc.
Em determinado momento o dono da empresa NOVO DESVIO Multiplica pelo
Não altera
resolve dar um aumento de 10% para todos os fun- PADRÃO módulo de k
cionários, ou seja, multiplicando o salário de todos
NOVA
por 1,1. Nesse caso, o que acontecerá com esses dados Não altera Multiplica por k2
VARIÂNCIA
estatísticos? Ou então, o dono resolve aumentar R$
100,00 no salário de cada um, ou seja, somar 100,00
em todos os dados, o que acontecerá com esses dados Vantagens e Desvantagens da Média Aritmética
estatísticos?
Quando multiplicamos todos os salários por uma A média aritmética é, com certeza, o parâmetro
constante qualquer (1,1 por exemplo), a média será estatístico mais conhecido pela grande maioria das
alterada na mesma ordem, ou seja, para achar a nova pessoas, pois é muito usada desde os primeiros anos
média multiplicaremos a média anterior pela mesma de escola, e em muitos casos no dia a dia da popula-
164 constante (1,1). A mesma coisa ocorre para a mediana, ção, até pela facilidade de ser calculada.
Entretanto, levando em conta que a média aritmé- Gráfico de Barras e Colunas
tica é uma medida estatística (medida de tendência
central), assim como a mediana e a moda, por exem- Esses dois tipos de gráficos na verdade são basica-
plo, ela tem suas vantagens e desvantagens, ao com- mente os mesmos, a diferença é que no gráfico de bar-
pararmos com essas outras duas medidas. ras, as barras/colunas são horizontais e no gráfico de
colunas, as barras/colunas são verticais. Normalmen-
te esses gráficos são usados para representar dados
VANTAGENS DESVANTAGENS
qualitativos ordinais e quantitativos discretos.
Extremamente indicada É muita influenciada pelos
para dados em que os va- valores extremos, poden-
lores sejam simétricos em do causar uma distorção 5
relação ao valor central caso a distribuição seja 4
(Curva Normal) assimétrica 3
2
Não traz informações so- 1
Indicada para comparar bre a quantidade de dados 0
conjuntos de dados que acima ou abaixo da mé- 1 2
ia 3 4
guardem semelhança en- dia, bem como não é pos- r r ia ria ria
go go o o
tre si sível saber o valor mais te te teg teg
frequente Ca Ca Ca Ca

GRÁFICOS E DIAGRAMAS

Para representar os dados coletados existem vários Categoria 4


tipos de gráficos usados na estatística. Muitos deles são
conhecidos e sempre aparecem em reportagens, jor- Categoria 3
nais etc. Vamos mostrar alguns dos principais tipos de Categoria 2
gráficos:
Categoria 1
Caixa box-plot 0 2 4 6

A caixa box-plot (muito cobrado) é um gráfico que


nos mostra a distribuição de frequência, e é formado
No gráfico de colunas o eixo horizontal traz os
pelos quartis e pelos valores extremos.
dados qualitativos, ou quantitativos discretos, e o eixo
Mediana vertical traz as frequências (quantidades) de cada
Valor mínimo Valor máximo
Q1 (Q2) Q3 categoria. Já no gráfico de barras o eixo vertical traz
(limite inferior) (limite superior)
os dados qualitativos ou quantitativos discretos, e o
Dados
eixo horizontal traz as frequências de cada categoria.
discrepantes Vamos supor um gráfico de colunas, onde quere-
mos saber a quantidade de pessoas com diferentes
-20 -10 0 10 20 30 40 50 graus de escolaridade em um determinado concurso.

Vemos que a caixa é formada pelos 3 quartis, que


no caso seriam aproximadamente: Q1 = 0, Q2 = 20 e Q3 Grau de Instrução dos Candidatos
= 30. Os dados extremos seriam aproximadamente -15
e 40, portanto amplitude seria: 40 – (–15) = 40 + 15 = 55. 600
As duas bolinhas significam dados discrepantes 500
(outliers), que seriam dados que fogem do padrão do 400
restante dos dados. Os dados discrepantes são aqueles 300
que superam em 1,5 vezes o intervalo interquartílico 200
(diferença entre Q3 e Q1). 100
No nosso exemplo: 0
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

r
io rio ão
o éd e aç
Q3 – Q1 = 30 – 0 = 30 sin M Sup ad
u
En sin
o
in
o Gr
En s s
1,5 · 30 = 45 En Pó

Os dados discrepantes serão aqueles que forem


inferiores a 45 unidades de Q1, ou superiores a 45
unidades de Q3. Nesse tipo de gráfico vemos que não é possível
Limite inferior: 0 – 45 = - 45 falar em média ou mediana, mas podemos usar como
Limite superior: 30 + 45 = 75 medida de tendência central a moda, que nesse caso
Portanto, serão dados discrepantes os que tiverem seria o Ensino Superior, que é o grau de instrução que
valores inferiores a “–45” ou os superiores a 75. mais se repete no gráfico.

165
Gráfico de Dispersão Histograma

Estudaremos melhor esse tipo de gráfico quando O histograma é um dos principais gráficos da esta-
falarmos de correlação, mas, irei apresentar como ele tística, ele é muito utilizado para demonstrar a distri-
é feito, e quando é usado. buição de frequência de dados quantitativos contínuos.
O gráfico de dispersão, ou diagrama de dispersão, é O histograma é formado por colunas ou barras
uma associação entre pares de dados quantitativos, nor- (retângulos) de um conjunto de dados e dividido em
malmente são usados para entender a correlação entre classes uniformes ou não uniformes. Sendo que a
duas variáveis. Nele, vamos verificar as duas variáveis base do retângulo representa uma classe e a altura do
e colocar esses pontos em um plano cartesiano. retângulo representa a quantidade ou a frequência
Vamos fazer um gráfico de dispersão com as variá- absoluta com que o valor da classe ocorre no conjunto
veis peso e altura de um grupo de 6 pessoas: de dados.

Peso de bagagens despachadas


ALTURA 1,7 1,72 1,9 1,56 1,64 1,82 no Voo X da Companhia Aérea
PESO 75 81 87 52 70 90 Alfa
30
25
Altura x Peso
20

Frequência
100
90 15
80 10
70
5
60
50 0
40 10 20 30 40 50 60
1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 2
Peso, em Kg
Podemos ver que cada ponto representa o par
peso/altura de um indivíduo, mas discutiremos isso A tabela nos mostra que a maior parte das baga-
mais profundamente posteriormente. gens possui entre 30 e 35 kg, mas existem malas desde
0 a 60 kg.
Gráfico de Setores (pizza)
Gráfico Pictórico
O gráfico de setores normalmente é usado para apre-
sentar dados qualitativos como setores de um círculo O gráfico pictórico não é propriamente um tipo
(pedaços de uma pizza). Normalmente os dados são apre- específico de gráfico. Na verdade, o gráfico pictórico
sentados em percentuais, sendo que o total é 100% (360º). pode ser representado por um gráfico de barras, de
colunas, de linhas ente outros. A grande característica
desse gráfico é que, para chamar mais a atenção, são
Grau de Instrução
usadas figuras (imagens) na composição do gráfico.
Esse tipo de gráfico é muito usado em jornais e tele-
jornais, pois proporcionam uma comunicação mais
Pós Graduação rápida e com precisão de entendimento. Nesse tipo de
6% gráfico as figuras são, ao mesmo tempo, os dados esta-
tísticos e indicam a proporcionalidade desses dados.
Ensino
Ensino
Superior
Fundamental
25%
38%

Ensino
Médio
31%

Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior

Pós Graduação 6%
Podemos notar que esse gráfico nada mais é que
um gráfico de barras, mas, pelo fato de o gráfico mos-
Desse gráfico, podemos ver que, na pesquisa, o trar a quantidade de consumo anual de sorvete em
grau de instrução predominante é o Ensino Funda- diferentes países, ao invés de se colocar as barras,
mental, com 38%, e o mais raro é a Pós Graduação, foi colocada uma espátula de tomar sorvete, em um
com 6%. Também é um gráfico em que temos a moda tamanho proporcional ao da barra, e ao lado do gráfi-
166 como medida de tendência central. co foi colocada uma imagem de sorvetes.
MEDIDAS DE DISTRIBUIÇÃO Curtose

Assimetria A curtose é a medida que busca nos mostrar o grau


de concentração de valores em torno do centro da dis-
Associado ao histograma podemos fazer uma cur- tribuição, isso é mais fácil de entender como o “grau
va tangente aos dados do nosso histograma, e muitas de achatamento” da curva. Usamos como base a curva
vezes representamos nossa distribuição, resumida- de Gauss, que falaremos melhor em outro tópico, mas
mente, apenas por essa curva. é basicamente no seguinte formato.
Peso de bagagens despachadas
no Voo X da Companhia Aérea
Alfa
30
25
20
Frequência

15
10
5

0 Curva de Gauss (Distribuição Normal)


10 20 30 40 50 60
Quanto maior for a concentração de dados no cen-
Peso, em Kg
tro da curva, ou seja, quanto menos achatada for a
curva, menor será o coeficiente percentílico de cur-
Dizemos que uma distribuição é simétrica quando tose (CP).
ao dividirmos a curva na metade, a parte da direita O coeficiente percentílico de curtose é dado por:
seja exatamente um espelho da parte da esquerda, e
nesse caso, a média, a moda e a mediana são iguais.
Em outros casos a distribuição pode ser assimétri- Q3 - Q1
Cp =
ca, e aí teremos dois tipos: assimetria direita (positiva) 2 · (P90 - P10)
e assimetria esquerda (negativa).
A assimetria é o terceiro momento da distribuição. Onde:
Para não confundir vamos olhar sempre para o Q3 = 3º Quartil;
lado que a curva se “arrasta”, lembrando que em um Q1 = 1º Quartil;
gráfico quanto mais à esquerda nós vamos menor P90 = 90º percentil, ou 9º decil;
será nosso valor (tendendo a ir para o lado negativo), P10 = 10º percentil, ou 1º decil
e quanto mais à direita nós vamos maior será o nosso O CP da Curva de Gauss é de aproximadamente
valor (tendendo a ir para o lado positivo). Assim: 0,263. Nesse caso podemos classificar a distribuição
de 3 formas:
f CP < 0,263 – Leptocúrtica (curva menos achatada e
mais concentrada)
CP = 0,263 – Mesocúrtica (igual a Normal)
Curva Assimétrica CP > 0,263 – Platicúrtica (curva mais achatada e
Á Direita menos concentrada)
Mo Md X
Leptocúrtica ( C < 0,263)
Mo < Md < X Dados
Leptocúrtica ( C = 0,263)

Leptocúrtica ( C > 0,263)


O arrastado da curva é na parte direita dela, por-
tanto essa é a assimetria direita (ou positiva), pois é
para o lado positivo da curva.

f
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

Curva Assimétrica
Á Esquerda
X Md Mo Além desse coeficiente, temos também o coefi-
ciente de momento de curtose (CM), que é dado pelo
X < Md < Mo Dados quociente:

O arrastado da curva é na parte esquerda dela, M4


portanto essa é a assimetria esquerda (ou negativa), CM =
S4
pois é para o lado negativo da curva.

167
Onde: 3. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Tendo em vista que, dia-
riamente, a Polícia Federal apreende uma quantidade
M4 = Quarto momento central (que é a curtose – X, em kg, de drogas em determinado aeroporto do Bra-
sil, e considerando os dados hipotéticos da tabela a
não precisamos saber calcular);
seguir, que apresenta os valores observados da variá-
s4 = Variância (s2) ao quadrado, ou seja, desvio
vel X em uma amostra aleatória de 5 dias de apreen-
padrão elevado a quatro.
sões no citado aeroporto, julgue o item a seguir.
O coeficiente de momento de curtose da curva de
Gauss é 3, portanto a classificação será em função do
3. Quanto maior o CM mais concentrada a curva. DIA
CM > 3 – Leptocúrtica (curva menos achatada e
X (QUANTIDADE 1 2 3 4 5
mais concentrada)
DIÁRIA DE
CM = 3 – Mesocúrtica (igual a Normal) DROGAS
CM < 3 – Platicúrtica (curva mais achatada e menos APREENDIDAS, 10 22 18 22 28
concentrada) EM KG)

Cuidado para não confundir, quanto menor o CP


O desvio padrão amostral da variável X foi inferior a 7
maior a concentração da curva, e quanto maior o CM kg.
maior a concentração da curva.
Agora, pratique um pouco do conteúdo estuda- ( ) CERTO  ( ) ERRADO
do com os exercícios de bancas variadas dispostos a
seguir. Para achar o desvio padrão vamos ter que primeiro
achar a média dos dados, sendo que nesse caso esta-
Texto para Questões 01 e 02 mos tratando de uma amostra, conforme informado
no enunciado.
Cinco municípios de um estado brasileiro possuem
as seguintes quantidades de patrimônios históricos: 10 + 18 + 22 + 22 + 28
{2, 3, 5, 3, 2}. Admitindo que a média e o desvio-pa- x=
5
drão desse conjunto de valores sejam iguais a 3 e 1,2,
respectivamente, julgue os itens 01 e 02.
100
x=
1. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Para esse conjunto de 5
valores, a variância é igual a 3.
x = 20
( ) CERTO  ( ) ERRADO
Para achar o desvio-padrão de uma amostra (S):
A variância é o quadrado do desvio-padrão. / ^Xi - X h2
Variância é: σ2, sendo que σ é o desvio-padrão, que S2 =
n -1
vale 1,2.
Portanto: (10-20)2 +(18-20)2 +(22-20)2 +(22-20)2 +(28-20)2
σ2 = 1,22 S2 =
σ2 = 1,44 5-1
Resposta: Errado.
(-10)2 + (-2)2 + (2)2 + (2)2 +(8)2
2. (CEBRASPE-CESPE — 2018) O coeficiente de variação S2 =
4
é superior a 0,3 e inferior a 0,5.

( ) CERTO  ( ) ERRADO 100 + 4 + 4 + 4 + 64


S2 =
4
O coeficiente de variação é dado pela divisão do des-
vio-padrão pela média.
176
S2 =
σ 4
CV =
μ S2 = 44
S = √44
1,2 A raiz de 44 está entre 6 e 7, pois √36 = 6 e √49 = 7,
CV = portanto o desvio padrão é menor que 7. Não preci-
3 samos achar o valor exato do desvio-padrão. Res-
posta: Certo.
CV = 0,4
4. (CEBRASPE-CESPE — 2020) Considerando que o
Resposta: Certo. desenho esquemático (boxplot) se refere a uma variá-
vel quantitativa X, assinale a opção correta.
168
70 O gráfico de barras (coluna) mostra dados dividi-
dos em categorias, mostrando a frequência desses
dados por categoria. É ideal para variáveis quali-
tativas ordinais e quantitativas discretas. Para as
quantitativas contínuas normalmente usamos o
histograma. Nele é possível verificar a tendência,
40 pois podemos ver quais categorias se destacam den-
tre as outras, como no exemplo abaixo vemos que o
Ensino superior é a categoria predominante, e a pós
graduação é a menor. Resposta: Certo.
20
Grau de Instrução dos Candidatos
10
5
600
a) O intervalo interquartil é igual a 65. 500
b) Metade da distribuição da variável X se encontra entre 400
300
os valores 20 e 40.
200
c) Os valores da variável X que se encontram no intervalo 100
[5;10] representam 5% da distribuição de X. 0
d) A mediana de X é igual a 25. r
io io o
e) O primeiro quartil da distribuição de X é igual a 10. o éd er açã
sin M Su
p du
En sin
o
in
o Gr
a
Os pontos do gráfico são: En ns s
E Pó

70

Limite superior

PROBABILIDADE
40 3° Quartil

DEFINIÇÕES BÁSICAS
2° Quartil (Mediana)

20 A probabilidade é a parte da Matemática que cal-


cula a “chance” (probabilidade) de que algo aconteça,
10 1° Quartil como, por exemplo, jogar na Mega-Sena e ganhar, ou
5 então, de chutar uma questão no concurso e acertar.
Para iniciar essa teoria, vamos partir de alguns
Limite inferior
conceitos importantíssimos para a probabilidade:

Vamos analisar as alternativas: z Experimento aleatório: é o evento que pode ter


Alternativa a) O intervalo interquartil é a diferença diferentes resultados, quando repetidos nas mes-
do 3º quartil para o 1º quartil, ou seja: mas condições, ou seja, não sabemos o resultado,
40 – 10 = 30. Alternativa incorreta. mas podemos saber quais são os resultados pos-
Alternativa b) Cada um dos intervalos do gráfico síveis de serem obtidos. Ex.: O lançamento de um
equivale a 25% dos dados, portanto entre os valo- dado é um experimento aleatório, sabemos que
res 20 e 40 temos 25% da distribuição. Alternativa pode cair 1,2, 3, 4, 5 ou 6, mas não sabemos qual
incorreta. exatamente irá cair naquele lançamento específico;
Alternativa c) Cada um dos intervalos do gráfico z Ponto amostral: é qualquer um dos resultados
equivale a 25% dos dados. Alternativa incorreta. possíveis no experimento aleatório. Ex.: No lança-
mento do dado, se o dado cair com a face 1 para
Alternativa d) A mediana é o 2º quartil, que é 20.
cima é um ponto amostral, assim como todas as
Alternativa incorreta.
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

outras faces, 2, 3, 4, 5 e 6;
Alternativa e) O primeiro quartil é exatamente
z Espaço amostral: é o conjunto de todos os resul-
10.Resposta: Letra E.
tados possíveis do experimento aleatório, é dado
pela letra S. Ex.: No lançamento do dado, o espaço
5. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Julgue o item subsequen- amostral é: S = {1, 2, 3, 4, 5, 6}. Nesse caso, dizemos
te, referente à análise exploratória de dados. que o número de elementos do espaço amostral é
O gráfico de barras é adequado para a análise de variá- dado por n(S), portanto, nesse exemplo n(S) = 6.
veis qualitativas ordinais ou quantitativas discretas, A definição do espaço amostral é um passo muito
pois permite investigar a presença de tendência nos importante na resolução dos exercícios de proba-
dados. bilidade. Em muitas questões, para definirmos o
espaço amostral será usada a análise combinatória;
( ) CERTO  ( ) ERRADO z Evento: é um subconjunto do espaço amostral. O
evento será representado por uma letra maiúscula, A,
e o número de elementos do evento é dado por n(A). 169
Ex.: No lançamento do dado, se quisermos um A probabilidade é a divisão do número total de casos
resultado ímpar, temos 3 opções: 1, 3 e 5. Portanto, favoráveis pelo total de casos possíveis. Os casos
representamos isso da seguinte maneira: A = {1, 3, favoráveis são os moradores do Jardim Paulista
5} e n(A) = 3, pois o conjunto A possui 3 elementos. (89.000) e o total de casos possíveis é 290.000, ou
Quando temos um subconjunto vazio (), dizemos seja, o total de habitantes nessa população. Logo, a
que é um evento impossível, já que ele nunca probabilidade de selecionar um habitante do Jardim
poderá ocorrer. Já quando temos o subconjunto Paulista “P(JP)” é:
S, ele é igual ao espaço amostral e chamamos de
evento certo, pois ele, com certeza, irá ocorrer. 89.000
P(JP) =
290.000
Resumindo:
P(JP) = 0,3068 = 30,68%. Resposta: Certo.
z Experimento aleatório: lançamento do dado;
z Ponto amostral: a face que caiu virada pra cima;
AXIOMAS
z Espaço amostral: S = {1, 2, 3, 4, 5, 6} e n(S) = 6;
z Evento A: obter um resultado maior que 4: A = {5,
Axiomas são verdades inquestionáveis, ou seja,
6} e n(A) = 2;
conceitos fundamentais da probabilidade, também
z Evento impossível: obter o resultado 7. B = {} e
conhecido como axiomas de Kolmogorov.
n(B)=0;
Os axiomas da probabilidade são 3:
z Evento certo: obter resultado maior que 0 e menor
que 7; C = {1, 2, 3, 4, 5, 6} e n(C)=6.
z A probabilidade de um evento acontecer está entre
1 (evento certo – 100%) e 0 (evento impossível –
A probabilidade de ocorrer o evento A, representa-
0%); ≤ P(A) ≤ 1;
da por P(A), em um experimento aleatório é a divisão
z A soma das probabilidades de todos os eventos do
entre número de elementos de A, n(A), pelo núme-
espaço amostral é igual a 1: P(S) = P(A) + P(B) + P(C)
ro de elementos do espaço amostral n(S). Em outras
= 1 para um espaço amostral onde os únicos even-
palavras, dizemos que é a divisão do número de casos
tos possíveis são A, B e C;
favoráveis, n(A), pelo número de casos possíveis, n(S). Ex.: No lançamento de uma moeda, são dois even-
tos possíveis, podendo sair cara ou sair coroa. A
n (A)
P(A) = probabilidade de cada um dos eventos é ½, portan-
n (S) to, a soma entre eles é ½ + ½ = 1;
z Se A e B forem eventos mutuamente excluden-
Onde: tes, ou seja, se um ocorre o outro não ocorre, não
P(A) é a probabilidade de acontecer o evento A; havendo intersecção entre eles, a soma das pro-
n(A): é o número de elementos favoráveis que babilidades de cada evento é a probabilidade da
fazem parte do evento A; união dos dois eventos, que será 1.
n(S): é o número de elementos do espaço amostral S.
Vamos exemplificar, com uma questão de concur- P(AB) = P(A) + P(B), quando AB é vazio (θ).
so do CESPE.
Ex.: Quando temos dois eventos complementares,
1. (CEBRASPE-CESPE — 2016) Considere a seguinte isso sempre acontece, pois a probabilidade de um
informação para responder à questão: a Prefeitura evento acontecer somado com a probabilidade des-
do Município de São Paulo (PMSP) é subdividida em se evento não acontecer será sempre 1. Você fez uma
32 subprefeituras e cada uma dessas subprefeituras aposta na vitória do seu time, temos apenas dois even-
administra vários distritos. tos possíveis, ou seu time ganha, ou seu time não ganha
A tabela a seguir, relativa ao ano de 2010, mostra as (perde ou empata), é impossível acontecer as duas coi-
populações dos quatro distritos que formam certa sas. Esses eventos, portanto, são complementares.
região administrativa do município de São Paulo.
Intersecção de Eventos (Regra do E)
Distrito População (em 2010)
Quando um exercício pede a probabilidade de
Alto de Pinheiros 43.000 acontecer um evento E um outro evento qualquer,
temos a probabilidade da intersecção de dois eventos
Itaim Bibi 92.500 P(A⋂B). A fórmula é dada por:
Jardim Paulista 89.000
P(A e B) = P(A) · P(B|A)
Pinheiros 65.500
Onde:
Total 290.000 P(B|A) significa a probabilidade de ocorrer B, sen-
do que A já ocorreu.
Considerando-se a tabela apresentada, é correto Ex.: Qual a probabilidade de retirar dois ases de um
afirmar que, se, em 2010, um habitante dessa região baralho de cartas, sem que haja reposição das cartas.
administrativa tivesse sido selecionado ao acaso, a Apesar de o exercício não colocar o “e”, temos uma
chance de esse habitante ser morador do distrito Jar- intersecção de eventos aí, já que queremos retirar
dim Paulista seria superior a 29% e inferior a 33%. uma ás (A1), E depois, mais um Ás (A2). O total de car-
tas do baralho é 52 e o total de ases é 4.
170 ( ) CERTO  ( ) ERRADO A probabilidade de sair o primeiro ás é:
4 Na maioria dos casos conseguimos concluir se os
eventos são independentes ou dependentes, mas em
52 alguns casos, pelo relato, não é possível sabermos.
Nesse caso, sabemos que quando os eventos são inde-
Pois o total de eventos possíveis é 52, e o total de pendentes, a probabilidade de B ocorrer, sabendo que
eventos favoráveis é 4. A já ocorreu “P(B|A)”, é igual a probabilidade de B
A probabilidade de sair o segundo ás, dado que já ocorrer: “P(B)”.
saiu um ás, é:
3 P(B|A) = P(B).
51 Da mesma forma, P(A|B) = P(A).
Portanto, podemos dizer que os eventos A e B são
Pois agora temos apenas 3 ases e 51 cartas. independentes se, e somente se, ocorrer:
Portanto, a probabilidade de sortear dois ases é
P(A e B) = P(A) . P(B)
P(A1 e A2) = P(A1) · P(A2|A1)
Eventos Mutuamente Exclusivos
4 3
P(A1 e A2) = ·
52 51 Dizemos que dois eventos são mutuamente exclu-
sivos quando não podem ocorrer ao mesmo tempo, ou
seja, quando um ocorre, o outro não ocorre.
Simplificando o 4 com o 52, e o 3 com 51)
Portanto, quando dois eventos são mutuamente
exclusivos:
1 1
P(A1 e A2) = · z P(A|B) = 0; A probabilidade de “A” ocorrer, saben-
13 17
do que “B” já ocorreu, é zero;
1 z P(B|A) = 0; A probabilidade de “B” ocorrer, saben-
P(A1 e A2) = do que “A” já ocorreu, é zero;
221 z P(A e B) = 0; A probabilidade de A e B ocorrerem ao
mesmo tempo é zero.
Logo, a probabilidade de retirar dois ases é:
Os eventos complementares são sempre mutua-
mente exclusivos, mas os eventos mutuamente exclu-
1 sivos nem sempre são complementares, apesar de
ambos não acontecerem ao mesmo tempo. Para os
221
eventos serem mutuamente exclusivos, basta que
eles não possam ocorrer ao mesmo tempo. Para ser
INDEPENDÊNCIA complementar, quando um não ocorre, o outro obri-
gatoriamente tem que ocorrer. A probabilidade de
Eventos Independentes ocorrer o evento A é P(A), e seu complementar é não
A, representado por Ā, sendo que a probabilidade de
Dizemos que dois eventos são independentes acontecer Ā é P(Ā).
quando a ocorrência de um não interfere na probabi- Exemplo 1: No lançamento de um dado
lidade do outro. Evento A: sair um número par;
Um exemplo fácil de assimilar é no lançamento Evento B: sair um número ímpar.
sucessivo de um dado. Se no primeiro lançamento eu Esses dois eventos são mutuamente exclusivos e
tiro 3, quando vou lançar o segundo dado, a probabili- complementares, pois os dois não podem acontecer
dade de tirar qualquer coisa foi alterada? Não. A pro- ao mesmo tempo, e se o resultado não for ímpar, tem
babilidade de tirar qualquer número específico será que ser par.
sempre 1/6, logo, podemos dizer que esses eventos são Exemplo 2: Jogo do Palmeiras
independentes. Evento A: O Palmeiras ganhou o jogo;
Agora, vamos pensar no nosso exemplo do tópico Evento B: O Palmeiras perdeu o jogo.
anterior, retirando dois ases de um baralho. Esses dois eventos são mutuamente exclusivos,
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

pois os dois eventos não podem ocorrer ao mesmo


z Se tirarmos duas cartas em sequência, sem repo- tempo, mas não são complementares, pois pode acon-
sição da carta retirada, a probabilidade de retirar tecer um empate também. Portanto, se o Palmeiras
um ás na segunda tentativa é diferente da primei- não ganhou, não podemos dizer necessariamente que
ra, uma vez que já foi retirada uma carta, mudan- ele perdeu.
do o nosso espaço amostral e mudando o número Obviamente, dois eventos complementares ou dois
total de eventos favoráveis, portanto, esses even- eventos mutuamente excludentes são dependentes,
tos são dependentes; pois um evento altera a probabilidade do outro.
z Se retirarmos duas cartas em sequência, com repo-
sição da carta retirada, a probabilidade de retirar União de Dois Eventos (Regra do OU)
um ás na segunda tentativa é a mesma que na
primeira, pois o total de cartas não foi alterado Quando um evento pede a probabilidade de acon-
nem o total de ases, portanto, esses eventos são tecer um evento OU outro, temos a probabilidade da
independentes. união de dois eventos P(A∪B). A fórmula é dada por: 171
P(A ou B) = P(A) + P(B) – P(A e B) z P(B) = 0,75, se A e B forem mutuamente
exclusivos;
Ou, usando os símbolos:
Para os eventos serem mutuamente exclusivos:
P(A∪B) = P(A) + P(B) – P(A∩B)
P(A∪B) = P(A) + P(B)
z Quando dois eventos são dependentes, sabemos que: P(A) = 0,3; P(B) = 0,75;

P(A⋂B) = P(A) . P(B|A) P(A∪B) = P(A) + P(B)


P(A∪B) = P(A) + P(B) - P(A) . P(B|A) P(A∪B) = 0,3 + 0,75

z Quando temos dois eventos independentes, sabe- P(A∪B) = 1,05


mos que:
A probabilidade nunca pode ser maior que 1, por-
P(A⋂B) = P(A) . P(B) tanto, item errado.
P(A∪B) = P(A) + P(B) - P(A) . P(B)
z P(A∪B) = 0,15, se A e B forem mutuamente
z Quando temos dois eventos mutuamente exclusi- exclusivos;
vos, sabemos que:
Para os eventos serem mutuamente exclusivos:
P(A⋂B) = 0
P(A∪B) = P(A) + P(B)
P(A∪B) = P(A) + P(B)
P(A) = 0,3; P(A∪B) = 0,15;
P(A∪B) = P(A) + P(B)
Importante!
0,15 = 0,3 + P(B) (passando o 0,3 para o outro lado do
Eventos dependentes: P(A∪B) = P(A) + P(B) -
igual com sinal trocado).
P(A) · P(B|A)
Eventos independentes: P(A∪B) = P(A) + P(B) - P(B) = 0,15 – 0,3
P(A) · P(B) P(B) = - 0,15
Eventos mutuamente exclusivos: P(A∪B) = P(A)
+ P(B) A probabilidade nunca pode ser negativa, portan-
to, item errado.

Ex.: Vamos considerar os eventos A e B quaisquer, PROBABILIDADE CONDICIONAL


pertencentes a um mesmo espaço amostral, em um
experimento aleatório. Considerando que P(A) = 0,30, Já discutimos um pouco sobre isso, mas existe uma
vamos julgar essas 4 afirmações: fórmula muito comum nas questões de concurso, que
pode ser usada para questões com Probabilidade.
z P(B) = 0,6 e P(A⋂B) = 0.30, se A e B forem Lembrando que a probabilidade condicional é
independentes; aquela em que queremos a probabilidade de ocorrer
um evento, dado que um outro evento já ocorreu.
Para os eventos serem independentes: Por exemplo, vamos supor que eu retirei uma car-
ta de um baralho (que tem 52 cartas).
P(A⋂B) = P(A) . P(B) A probabilidade de eu retirar uma dama (Q) é: 4/52,
uma vez que temos 4 damas em 52 cartas possíveis.
P(A) = 0,3; P(B) = 0,6; P(A⋂B) = 0,18
P(A⋂B) = P(A) . P(B) P(Q) = 4/52 = 0,076 = 7,6%
0,18 = 0,3 . 0,6 Agora, a probabilidade de eu retirar uma carta
0,18 = 0,18 (CERTO) de copas (♥) é: 13/52, uma vez que temos 13 cartas de
copas e 52 cartas possíveis.
z P(B) = 0,6 e P(A∪B) = 0,7, se A e B forem
independentes; P(♥) = 13/52 = 0,25 = 25%

Para os eventos serem independentes: Indo mais além, a probabilidade de eu retirar uma
dama de copas, ou seja, retirar uma dama e que seja
P(A∪B) = P(A) + P(B) - P(A) · P(B) de copas, será 1/52, pois só temos uma dama de copas
no baralho.
P(A) = 0,3; P(B) = 0,6; P(A∪B) = 0,7
P(A∪B) = P(A) + P(B) - P(A) · P(B) P(Q♥) = 1/52 = 0,019 = 1,9%

0,7 = 0,3 + 0,6 - 0,3.0,6 Agora sim, vamos chegar à fórmula muito usada
da Probabilidade Condicional. Vamos supor que eu
0,7 = 0,9 – 0,18
queira saber a probabilidade de tirar uma dama, dado
172 0,7 = 0,72 (ERRADO) que a carta retirada é de copas. Ou seja, existe uma
condição, eu já sei que a carta é de copas, portanto, dessa situação, julgue o item a seguir. Considerando
meu espaço amostral, nesse caso, será apenas as cartas que a conclusão ao final do interrogatório tenha sido
de copas do baralho, ou seja, 13. Pensando diretamen- a de que apenas dois deles mentiram, mas que não
te, a probabilidade é 1/13 = 7,7%, mas muitas vezes fora possível identificá-los, escolhendo-se ao acaso
não é tão fácil de enxergar como nesse caso, portanto, dois entre os quatro para novos depoimentos, a proba-
existe uma fórmula para resolver essa questão. bilidade de apenas um deles ter mentido no primeiro
interrogatório é superior a 0,5.
P(A∩B)
( ) CERTO  ( ) ERRADO
P(A|B) =
P(B)
Vamos ver duas formas de resolver esse tipo de
exercício.
Ou seja, a probabilidade de ocorrer A, uma vez que São 4 suspeitos, sendo que, 2 mentem e 2 não men-
B já ocorreu, é a probabilidade da intersecção entre A tem. Vamos escolher 2 ao acaso, e queremos a possi-
e B, dividido pela probabilidade de B. bilidade de escolher 1 que mente e 1 que não mente.
Nesse nosso caso, iríamos dividir a probabilidade Podemos escolher isso de duas formas: 1º mente (A)
de ocorrer uma dama de copas: P(Q♥) = 1,9%, pela pro- E 2º não mente (B) OU 1º não mente (B) E 2º mente
babilidade de sair uma carta de copas: P(♥) = 25%. (A). Resposta: Certo.
1º mente (A) E 2º não mente (B)
1,9
P(Q|♥) = = 7,6% A probabilidade de escolher um que mente, com os 4
25 à disposição, é: P(A) = 2/4.
Saindo um que mente, restam 3 à disposição, sendo
A seguir, coloque seus conhecimentos em prática que 2 falam a verdade, a probabilidade de escolher
realizando os exercícios de bancas variadas dispostos um que fala a verdade é: P(B|A) = 2/3.
abaixo. 1º mente (A) E 2º não mente (B):

1. (CEBRASPE-CESPE — 2019) Em um espaço de proba- 2 2 4 1


bilidades, as probabilidades de ocorrerem os eventos P(A) . P(B|A) = · = =
4 3 12 3
independentes A e B são, respectivamente, P(A) = 0,3
e P(B) = 0,5. Nesse caso, P(B/A) = 0,2.
1º não mente (B) e 2º mente (A)
A probabilidade de escolher um que não mente, com
( ) CERTO  ( ) ERRADO os 4 à disposição, é: P(B) = 2/4.
Saindo um que não mente, restam 3 à disposição,
Queremos saber a probabilidade de ocorrer B, dado sendo que 2 mentem. A probabilidade de escolher
que A já ocorreu. Portanto, vamos usar a fórmula um que mente é: P(A|B) = 2/3.
da probabilidade condicional. Nesse caso, o evento 1º não mente (B) e 2º mente (A):
que já ocorreu é o A, portanto, ele vem depois da
barra (|) e será o denominador: 2 2 4 1
P(B) . P(A|B) = · = =
P(B∩A) 4 3 12 3
P(B|A) =
P(A) 1º mente (A) E 2º não mente (B) OU 1º não mente (B)
E 2º mente (A)
Pelo fato dos eventos A e B serem independentes, Agora, basta somar as duas probabilidades, pois,
sabemos que: irá acontecer uma coisa ou outra, ou seja, se acon-
tecer uma coisa com certeza não acontecerá a outra
P(B∩A) = P(A) · P(B) – valores dados no enunciado.
(eventos mutuamente exclusivos).
P(B∩A) = 0,3 · 0,5
1 1 2
Portanto, a probabilidade condicional é: + = = 0,666 = 66,6%
3 3 3
P(B∩A)
P(B|A) = A segunda forma de resolver é:
De 4 pessoas, temos que escolher 2, portanto, o
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

P(A)
total de possibilidades é dado pela combinação de
4 pegando 2.
0,3 · 0,5
P(B|A) =
0,3 4!
C4,2 =
P(B|A) = 0,5. Resposta: Errado. 2! · 2!

2. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Os indivíduos S1, S2, S3 4 · 3 · 2!


e S4, suspeitos da prática de um ilícito penal, foram C4,2 =
2 · 2!
interrogados, isoladamente, nessa mesma ordem. No
depoimento, com relação à responsabilização pela
C4,2 = 2 . 3
prática do ilícito, S1 disse que S2 mentiria; S2 disse
que S3 mentiria; S3 disse que S4 mentiria. A partir C4,2 = 6 173
Das 6 opções, as favoráveis são aquelas em que são P(Ā) = 0,8
escolhidos 1 que mente e 1 que não mente, portanto, P(UB) = P(Ā) + P(B) – P(Ā∩B)
não serão favoráveis apenas quando forem escolhi-
P(UB) = 0,8 + 0,85 – 0,8
dos juntos os 2 que mentem, ou juntos os 2 que não
mentem. Portanto, o total de casos desfavoráveis é P(UB) = 0,85
igual a 2, logo, o número de casos favoráveis é 4. Portanto, P(ĀUB) > P(Ā)
0,85 > 0,8. Resposta: Certo.
4 2
P(A) = = = 0,666 = 66,6%. Resposta: Certo.
6 3 4. (CEBRASPE-CESPE — 2018) A tabela a seguir mostra
dados categorizados, organizados por uma adminis-
tradora de cartões de crédito, a respeito da ocorrência
3. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Em determinado tribunal,
de fraudes em compras online, de acordo com os cri-
a probabilidade de extinção de um processo judicial
térios data e tipo de sítio.
com julgamento de mérito é P(A∩B)= 0,05 e a probabi-
lidade de extinção de um processo judicial sem julga-
mento de mérito é P(A∩B) = 0,15, em que os eventos Ā TIPO DE SÍTIO
e B são eventos mutuamente excludentes e denotam,
respectivamente, os eventos complementares dos DATA DE MÓVEIS E
DE JOGOS
eventos A e B. Com referência a essa situação hipoté- ELETRODO-
ONLINE
tica, julgue o item a seguir. MÉSTICOS

dias úteis 22 18
P(Ā∪B) > P(Ā)
fim de semana e
28 12
( ) CERTO  ( ) ERRADO feriados

Aqui não importa o que seja A ou B, vamos montar Com referência aos dados apresentados, julgue o item
uma tabelinha com as opções de intersecção entre que se segue.
A, Ā, B e B. Vamos lembrar que a probabilidade da Se as variáveis datam e tipo de sítio fossem totalmen-
soma de todos os eventos possíveis é sempre 1. te independentes, então a quantidade de fraudes que
ocorrem nos sítios de móveis e eletrodomésticos nos
B B TOTAL dias úteis deveria ser inferior a 14.
A
( ) CERTO  ( ) ERRADO
Ā
Vamos completar essa tabela com todos os totais:
Total 1

O exercício fala que P(A∩B) = 0,05 e P(A∩ B) = 0,15. TIPO DE SÍTIO

DATA DE TOTAL
B B TOTAL DE MÓVEIS E
JOGOS
ELETRODOMÉSTICOS
ONLINE
A 0,05 0,15 0,2
Dias úteis 22 18 40
Ā 0,8
Fim de
Total 1,00 semana 28 12 40
e feriados
Os eventos Ā e B são mutuamente excludentes, ou
TOTAL 50 30 80
seja, eles não podem ocorrer juntos, portanto, a
intersecção entre eles é nula.
Queremos saber a probabilidade de ocorrerem frau-
B B TOTAL des em sítios de móveis e eletrodomésticos (evento
A) nos dias úteis (evento B), considerando que esses
A 0,05 0,15 0,2 eventos sejam independentes.

Ā 0 0,8 P(A∩B) = P(A) · P(B)

Total 1,00 Para isso, temos que achar a probabilidade do even-


to A ocorrer e a probabilidade do evento B ocorrer.
Com isso podemos completar a tabela. O evento A é a fraude ocorrer em sítios de móveis e
eletrodomésticos, sendo que o total de fraudes nesse
B B TOTAL tipo de sítios é 30, de um total de 80 fraudes.

A 0,05 0,15 0,2 30


P(A) =
80
Ā 0,8 0 0,8

Total 0,85 0,15 1,00 O evento B é a fraude ocorrer em dias úteis, sendo
que o total de fraudes nesses dias é 40, de um total
174 de 80 fraudes.
40 A variável aleatória X pode assumir 3 valores, 0, 1
P(B) = ou 2, pois o espaço amostral das opções são: cara/cara
80 (X = 0 coroas), cara/coroa ou coroa/cara (X = 1 coroa),
e por último coroa/coroa (X = 2 coroas). Portanto, a
Portanto: probabilidade de sair uma coroa é:
30 40
P(A∩B) = · 40 40
80 80 =
80 80
30 1
P(A∩B) = ·
80 2 Pois são duas opções de sair apenas uma coroa:
coroa/cara e cara/coroa.
Assim, dizemos que a probabilidade de X = 1 é:
15 1
P(A∩B) = ·
80 1 1
P(X = 1) =
15 2
P(A∩B) =
80
Qual a probabilidade de X > 0? Para X ser maior
Portanto, para um total de 80 fraudes, 15 deveriam que 0, temos as opções X = 1 e X = 2. Das 4 opções de
ocorrer em dias úteis em sítios de móveis e eletrodo- resultado dos lançamentos, 3 situações satisfazem a
mésticos, caso esses eventos fossem independentes. condição da variável aleatória ser maior que 0.
Resposta: Errado.
3
5. (CEBRASPE-CESPE — 2019) Se Carlos estiver presente P(X > 0) =
na aula ministrada pela professora Paula, a probabili- 4
dade de ele aprender o conteúdo abordado é de 80%;
se ele estiver ausente, essa probabilidade cai para 0%.
As variáveis aleatórias podem ser discretas ou
Em 25% das aulas da professora Paula, Carlos está
contínuas, e são definidas pela sua função de pro-
ausente.
babilidade. Normalmente são definidas por P(x) ou
Com relação a essa situação hipotética, julgue o item
seguinte. P(X=x).
A probabilidade de Carlos não aprender o conteúdo Cuidado, essa definição P(X=x) pode parecer estra-
ministrado pela professora Paula é inferior a 25%. nha, mas o X maiúsculo significa a variável aleatória
X, que pode ser qualquer variável que estamos que-
( ) CERTO  ( ) ERRADO rendo estudar, como a quantidade de atendimentos
em um hospital ou a quantidade de caras em uma
Existem duas formas de Carlos não aprender: série de lançamentos da moeda. Já o x minúsculo é
1ª – Indo a aula: nesse caso, a probabilidade de o valor realmente assumido por essa variável, 1, 2,
ele não aprender é 20%, sendo que ele vai em 75% 3..., ou seja, se estamos falando da variável aleatória
das aulas. Portanto, a probabilidade de Paulo não quantidade de atendimentos em um dia em um hospi-
aprender indo a aula é: tal (X), essa quantidade pode ser 100, 50, 75 (x).
75% . 20% = 0,75 . 0,20 = 0,15 = 15% OU
2ª – Não indo a aula: nesse caso, a probabilidade de VARIÁVEIS ALEATÓRIAS DISCRETAS
ele não aprender é 100%, sendo que ele não vai em
25% das aulas, portanto, a probabilidade de Paulo A variável aleatória discreta é aquela que só pode
não aprender não indo a aula é: 100% . 25% = 1 . assumir valores discretos (contáveis) que normal-
0,25 = 25% mente são valores pertencentes aos conjuntos dos
Assim, para saber a probabilidade total de Carlos números naturais (N) ou inteiros (Z).
não aprender, acontecendo a 1ª forma OU a 2ª for- Ex.: Quantidade de resultado 3 em uma série de
ma, portanto, somamos as duas probabilidades:
sucessivos lançamentos de dados; número de vasos
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

15% + 25% = 40%. Resposta: Errado.


fabricados com defeito em um lote, retirados de for-
ma aleatória; quantidade de resultados cara em uma
VARIÁVEL ALEATÓRIA
série de 10 lançamentos de moeda. Perceba que em
Variável aleatória é uma função que associa um todos esses exemplos teremos um número inteiro
único valor real para cada ponto do espaço amostral, como resposta, exemplo 1, 2 ou 3 e etc.
podemos dizer ainda, que é uma variável quantitativa, Nas variáveis discretas, quando temos uma fun-
sendo que seu valor depende de fatores aleatórios. ção de distribuição de probabilidade acumulada,
Vamos supor dois lançamentos seguidos de uma chamamos de função de distribuição, que é dada
moeda honesta. Vamos chamar de X a variável alea- por: F(x) = P(X ≤ x), ou seja, é a probabilidade da variá-
tória que nos dá o número de coroas obtidas nesses vel aleatória X assumir um valor inferior a x.
dois lançamentos. Ex.: Dada uma variável que pode assumir os
seguintes valores de x e as respectivas probabilidades:
175
VALOR ESPERADO, VARIÂNCIA E COVARIÂNCIA
PROB.
XI P(X=XI)
ACUMULADA
Valor Esperado
1 0,1 0,1
O valor esperado de uma variável aleatória (tam-
2 0,3 0,4 bém chamado de esperança), que representamos por
3 0,4 0,8 E(X), nada mais é do que a média, que em uma função
de probabilidade é dada pela soma dos produtos dos
4 0,2 1,0 valores das variáveis pela sua probabilidade.
Imaginemos que X é uma variável que represente
Total 1
a quantidade de banheiros em uma casa, após a análi-
se de uma amostra de casas, foi construída a seguinte
Nessa variável X, o x pode ser 1 (com probabilida- tabela:
de de 10% de ocorrer), pode ser 2 (com probabilidade
de 30% de ocorrer), pode ser 3 (com probabilidade de
40% de ocorrer) ou pode ser 4 (com probabilidade de XI P(X=xi) Xi . P(X=Xi)
20% de ocorrer). 1 0,1 1 . 0,1 = 0,1
A função de distribuição dessa variável aleatória
seria: 2 0,3 2 . 0,3 = 0,6

3 0,4 3 . 0,4 = 1,2


0, se x < 1
0,1, se 1 ≤ x < 2 4 0,2 4 . 0,2 = 0,8
F(X) = 0,4, se 2 ≤ x < 3
0,8, se 3 ≤ x < 4 TOTAL 1 0,1 + 0,6 + 1,2 + 0,8 = 2,7
1,0, se x ≥ 4
E(X) = 2,7
Isto é: F(3) = P(X≤3) = P(X=1) + P(X=2) + P(X=3)
A tabela nos mostra que 10% das casas analisa-
Normalmente, as questões dão apenas a função de
das tinham 1 banheiro, 30% tinham 2 banheiros,
distribuição e pedem de algumas probabilidades. Por
40% tinham 3 banheiros e 20% tinham 4 banheiros.
exemplo:
A terceira coluna é a multiplicação da quantidade de
banheiros pela probabilidade.
z Achar probabilidade de (X = 4).
Isso significa que ao escolhermos uma casa qual-
quer, o valor esperado de banheiros dessa casa será
Lembrando que estamos falando de variável dis-
2,7, ou seja, ao pegarmos uma amostra qualquer,
creta, como temos o x = 4 na última linha com pro-
encontraremos em média 2,7 banheiros.
babilidade acumulada de 1, e na linha anterior a
Quando realizamos o lançamento de um dado,
probabilidade acumulada é 0,8, a probabilidade desse
sabemos que a probabilidade de tirar o número 4,
valor ser 4 é 1 – 0,8 = 0,2. Isso ocorre porque os únicos por exemplo, é 1/6 ou 0,16667, que é o valor esperado
valores que a variável aleatória discreta pode assumir E(X). Se jogarmos o dado 6 vezes, o esperado é tirar
são 1, 2, 3 ou 4. 4 apenas uma vez, mas isso não necessariamente vai
acontecer, pode ser que ele não saia nenhuma vez, ou
z Achar a probabilidade de (X<3) pode ser que ele saia 2 vezes, ou até mais, resultando
em um percentual diferente de 1/6.
Basta olhar na linha anterior a x=3, ou seja, P(X<3) Agora, se jogarmos o dado 100 vezes, o percentual
= 0,4. de resultado 4 que sairá, tende a se aproximar mais de
1/6, em comparação com o lançamento do dado por 6
z Achar a probabilidade de (X≤3). vezes. Se aumentarmos para 1.000 lançamentos, a ten-
dência é esse valor ser ainda mais próximo de 1/6, ou
P(X≤3) = 0,8. seja, quanto maior a quantidade de eventos, maior a
tendência do resultado do nosso experimento se apro-
VARIÁVEIS ALEATÓRIAS CONTÍNUAS ximar do valor esperado.
Por sua vez, essa teoria é chamada de Lei dos
A variável aleatória contínua é aquela que pode Grandes Números (LGN).
assumir qualquer valor real em um intervalo finito
ou infinito. Variância
Ex.: Tempo na corrida de 100m livres (entre 9 segun-
dos e 10 segundos existem infinitos números, conside- A variância de X, representada por Var(X) ou σ2, é
rando as casas decimais entre eles); peso das pessoas dada por:
do mundo todo (considerando as casas decimais, exis-
tem infinitos valores de peso para considerarmos). Var(X) = E(X2) – [E(X)]2
Nas variáveis contínuas, a função de probabi-
lidade é chamada de Função densidade de pro- Lembrando que o desvio-padrão (σ) é a raiz da
babilidade e a área definida sob a curva é igual a 1 variância.
(probabilidade total é sempre igual 1).
176
Covariância O exercício fala que as variáveis X e Y são inde-
pendentes e sabemos que a covariância entre duas
A covariância (variância conjunta) mede o grau variáveis independentes é 0.
de interdependência numérica entre duas variáveis Cov(X,Y) = 0 (pois elas são independentes).
aleatórias. Var(X+Y) = σX2 + σY2 + 0
Quando duas variáveis são estatisticamente inde- Var(X+Y) = σX2 + σY2. Resposta: Certo.
pendentes, sua covariância será igual a zero.
A covariância é dada por: DISTRIBUIÇÕES DE PROBABILIDADE

Cov(XY) = E(XY) – E(X) · E(Y) Uma distribuição de probabilidade descreve o


comportamento aleatório de um fenômeno dependen-
Lembrando que E(X) e E(Y) são as médias de x e y, te do acaso. A maioria das questões cobra a aplicação
e E(XY) é a média da multiplicação das variáveis X e Y. das fórmulas de cada distribuição. Em boa parte das
questões, o enunciado já diz qual a distribuição usada,
Transformação de Variáveis em outras ele cita algumas características e precisa-
mos saber qual distribuição está sendo tratada.
Algumas propriedades importantes dos conceitos As distribuições são divididas em distribuições
estudados, considerando a, b e c constantes, e, X e Y de probabilidade de variáveis aleatórias discretas e
variáveis aleatórias. distribuições de probabilidade de variáveis aleatórias
contínuas.
E(a) = a (a esperança de uma constante é a própria
constante) DISTRIBUIÇÃO DE PROBABILIDADE DE VARIÁVEIS
E(aX) = a.E(X) ALEATÓRIAS DISCRETAS

E(X+a) = E(X) + a Bernoulli


E(X+Y) = E(X) + E(Y)
A distribuição de Bernoulli é o resultado de uma
Var(a) = 0 (a variância de uma constante é zero) experiência aleatória que tenha apenas dois resulta-
Var(aX) = a2 · var(X) dos possíveis, que chamamos de: sucesso (P) e fracas-
so (q), que geralmente determinamos 1 para sucesso e
Var(X+a) = var(X) 0 para fracasso.
Var(X) = E(X2) – [E(X)]2
Var(X + Y) = Var(X) + Var(Y) + 2 · Cov(X,Y) X P(X)

Var(X - Y) = Var(X) + Var(Y) - 2.Cov(X,Y) 0 q


Cov(X,Y) = E(XY) – E(X) · E(Y) 1 p
Cov(X,a) = 0
As somas das probabilidades de sucesso e fracasso
Cov(X,X) = Var(X) é igual 1: p + q = 1, por isso muitas vezes podemos ver
Cov(aX,bY) = a · b · Cov(X,Y) a representação de q como “1 – p”.
A esperança (média) na distribuição de Bernoulli é:
Cov(X+Y,Z) = Cov(X,Z) + Cov(Y,Z)
Cov(X,Y) = Cov(Y,X) E(x) = 0 q + 1 . p
E(x) = p
Quando vamos transformar uma variável aleató-
ria, usamos essas propriedades para achar a média A variância (σ2) é dada por:
(esperança) e a variância dessa nova variável.
Abaixo, exercite seus conhecimentos realizando o Var(x) = p · q
seguinte exercício.
Para se determinar o número mínimo de lança-
1. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Julgue o item que se mentos/resultados para que se tenha um sucesso, bas-
segue, relativo à análise multivariada. ta fazer o inverso da probabilidade de sucesso (p).
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

Se X e Y forem variáveis independentes e tiverem dis-


tribuição normal com médias μX e μY, respectivamente,
e variâncias σx2 e σy2, respectivamente, então a soma X 2
+ Y terá média μX + μY e variância σX2 + σY2. Nmínimo =
3
( ) CERTO  ( ) ERRADO
Obs.: o resultado pode ser dado com casas decimais.
A média da soma das variáveis é:
E(X+Y) = E(X) + E(Y) Binomial
Portanto:
E(X+Y) = μX + μY A distribuição binomial é uma sucessão de Ber-
Já a variância é dada por: noullis, ou seja, vários eventos independentes que
Var(X+Y) = Var(X) + Var(Y) + 2.Cov(X,Y) tenha como resultados possíveis o sucesso ou o fracas-
Var(X+Y) = σX2 + σY2 + 2.Cov(X,Y) so. Em suma, a binomial é caracterizada por 3 fatores: 177
z Todas as n tentativas do experimento são independentes; algum crime no prazo de 5 anos, contados a partir do
dia em que eles foram libertados, seja superior a 0,4.
z Cada tentativa possui apenas dois resultados possí-
veis: sucesso ou fracasso; ( ) CERTO  ( ) ERRADO
z A probabilidade de sucesso em cada tentativa é p.
Trata-se de uma distribuição de Bernoulli, pois para
Portanto, os parâmetros em que se baseiam a distri- cada observação de um ex-condenado temos duas
buição binomial são: a quantidade de tentativas (n), a opções, ou ele é condenado novamente em 5 anos ou
probabilidade de sucesso em uma tentativa (p) e a quan- não é condenado novamente em 5 anos.
tidade de sucessos que queremos nas n tentativas (k). A probabilidade de voltar é 0,25, ou seja, p = 0,25.
A fórmula da distribuição binomial é: A probabilidade de não voltar (q) é 1 – p, ou seja,
1 – 0,25 = 0,75.
P(X=k) = Cn,k . pk . qn-k Como temos um grupo de 4 ex-condenados para
avaliar, vamos usar a distribuição binomial:
Onde: Cn,k é a combinação de n em k (análise Logo, em um grupo de 4 ex-condenados (n = 4), a
combinatória): probabilidade de 1 ex-condenado ser novamente
condenado (k =1) é:
n!
Cn,k = Na distribuição binomial:
k! · (n-k)! P(X = k) = Cn,k · pk · qn-k
P(X = 1) = C4,1 · 0,251 · 0,754-1

Importante! 4!
P(X = 1) = · 0,25 · 0,753
As questões normalmente pedem para calcular 1! · 3!
a probabilidade de ocorrer k sucessos em uma
sucessão de n tentativas. Ex.: Probabilidade de P(X = 1) = 4 · 0,25 · 0,753
tirar 3 vezes (k = 3) o número 5 no lançamento P(X = 1) = 1 · 0,753
de dados, após lançar esse dado por 10 vezes (n
= 10). Nesse caso, sabemos que a probabilidade P(X = 1) = 0,4218
de sucesso (tirar 5 no dado) é 1/6 (p = 1/6), logo Portanto, a probabilidade é superior a 0,4. Respos-
a probabilidade de fracasso é 5/6 (q = 5/6), pois ta: Certo.
temos 6 opções de resultado no dado.
Poisson
Para os valores da média e da variância da distri-
A distribuição de Poisson é uma aproximação da bino-
buição binomial basta multiplicar a Bernoulli por “n”.
mial para um número muito grande de eventos (n) e
A média na distribuição binomial é dada por: E(x) = n.p
A variância é dada por: Var(x) = n.p.q uma probabilidade pequena de sucesso (p). Uma dica
importante é que em provas, normalmente, quando se
Tabela da Distribuição Binomial trata de Poisson o exercício cita expressamente.
A fórmula da distribuição de Poisson é:

FÓRMULA P(X=x) = Cn,x . px . qn-x λx


P(X=x) = e-λ ·
MÉDIA np x!

VARIÂNCIA npq Onde λ é tanto a média quanto à variância.


Tabela da Distribuição de Poisson
DESVIO-PADRÃO √npq

A seguir, realize o seguinte exercício como forma λx


de exercitar o que aprendeu. FÓRMULA P(X=x) = e-λ.
x!
1. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Determinado órgão gover-
namental estimou que a probabilidade p de um ex-con- MÉDIA λ
denado voltar a ser condenado por algum crime no prazo
de 5 anos, contados a partir da data da libertação, seja VARIÂNCIA λ
igual a 0,25. Essa estimativa foi obtida com base em DESVIO-PADRÃO √λ
um levantamento por amostragem aleatória simples
de 1.875 processos judiciais, aplicando-se o método
da máxima verossimilhança a partir da distribuição de Distribuição Geométrica
Bernoulli.
Sabendo que P (Z < 2) = 0,975, em que Z representa A distribuição geométrica é o número de tentati-
a distribuição normal padrão, julgue o item que se vas até o primeiro sucesso. A fórmula é dada por:
segue, em relação a essa situação hipotética. Em um
grupo formado aleatoriamente por 4 ex-condenados P(X=x) = p . qx-1
libertos no mesmo dia, estima-se que a probabilida-
178 de de que apenas um deles volte a ser condenado por Sendo p a probabilidade de ocorrer o sucesso.
Nessa distribuição, se considerarmos o valor de X Nesse caso, a distribuição que mostra o número de
como o momento do primeiro sucesso, X não pode ser tentativas até o primeiro sucesso é a distribuição
0, pois não podemos ter um sucesso sem que o evento geométrica.
ocorra. Portanto, x será sempre maior que 0. A esperança da distribuição geométrica é dada por:
Se quisermos saber a probabilidade de alcançar o
1
sucesso no primeiro evento, vamos considerar X = 1. E(X) =
Se quisermos que o primeiro sucesso seja na quinta p
tentativa, teremos X = 5, nesse caso, teremos 4 fracas-
sos seguidos, e na quinta tentativa teremos o sucesso. Nesse caso, p é a probabilidade de sair uma decisão
A média na distribuição geométrica é dada por: desfavorável, que é ¼.
1
1 E(X) = 1
E(x) = 4
A variância é dada por: p
E(X) = 4
Portanto, a esperança é que a 4ª decisão seja des-
favorável, e não depois de 4 decisões. Resposta:
1 Errado.
Var(X) =
p2 As fórmulas que precisamos gravar de cada distri-
buição discreta.

FÓRMULA P(X=x) = p . qx-1


BINOMIAL POISSON GEOMÉTRICA

1 λx
MÉDIA P(X=x) =
FÓRMULA P(X=x) = e-λ· P(X=x) = p . qx-1
p Cn,x . px . qn-x
x!

MÉDIA np λ
q
VARIÂNCIA VARIÂNCIA npq λ
p2
DESVIO √q
PADRÃO √npq √λ
√q p
DESVIO-PADRÃO
p
DISTRIBUIÇÃO DE PROBABILIDADE DE VARIÁVEIS
ALEATÓRIAS CONTÍNUAS
Tabela da Distribuição Geométrica
Nas distribuições de variáveis aleatórias contínuas
Após o estudo, exercite seus conhecimentos reali- não trabalhamos com valores específicos de X (como
zando o seguinte exercício. fazemos normalmente em variáveis discretas), mas
sim com intervalos, pois em variáveis aleatórias con-
1. (CEBRASPE-CESPE — 2019) É igual a 3/4 a probabili- tínuas a probabilidade de encontrar um valor espe-
dade de determinado advogado conseguir decisão cífico é sempre 0. Apesar de essa probabilidade não
favorável a si em cada petição protocolada por ele ser nula, consideramos essa probabilidade zero, pelo
na vara cível de certo tribunal. O plano desse advoga- fato de termos infinitos valores possíveis.
Portanto:
do é protocolar, sequencialmente, 12 petições nessa
vara cível durante o ano de 2020. Favoráveis ou não,
P(X=x) = 0
as decisões do tribunal para petições são emitidas na
mesma ordem cronológica em que são protocoladas Assim, podemos dizer que:
e são sempre independentes entre si.
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

A partir dessa situação hipotética, julgue o próximo P(a<X<b) = P(a≤X<b) = P(a<X≤b) = P(a≤X≤b).
item, considerando as variáveis aleatórias X e Y, em
que X = quantidade de decisões emitidas pelo tribu- Ex.: Vamos pensar na variável altura de uma pes-
nal até que ocorra a primeira decisão não favorável ao soa. Considerando a população mundial, qual a pro-
advogado, e Y = quantidade de decisões emitidas pelo babilidade de eu encontrar alguém que tenha 1,72 m?
Provavelmente, você vai me dizer que é super alta,
tribunal favoráveis ao advogado.
mas não, pois quando digo 1,72 estou considerando
Espera-se que a primeira decisão desfavorável ao
que a altura seja exatamente 1,7200... com infinitos
advogado ocorra somente depois de, pelo menos, qua- zeros. Com um instrumento mais preciso, podemos
tro decisões favoráveis a ele. ver que uma pessoa pode ter 1,7200001, isso já é dife-
rente de 1,72. Por isso, dizemos que a probabilidade
( ) CERTO  ( ) ERRADO de encontrar um valor específico é zero.

179
Distribuição Uniforme Dica
A distribuição uniforme é aquela em que como o Essa é a principal distribuição e a que mais cai
nome diz é uniforme e sua função é dada por: em provas. Também é conhecida como Gaussia-
na (Curva de Gauss). Já a função é bem com-
plicada, mas a função pelo menos não cai em
1 provas:
F(x) = , a <x<b
b - a' 1 - (x - n)2
0, qualquer outro valor f(x) = · e 2v2
2r $ v

f (x) O gráfico da distribuição normal (importantíssimo


entender esse gráfico), que chamamos de curva nor-
1
mal, tem o formato de um sino invertido.
b-a
Freq
µ

a b x

O mais importante nessa distribuição (pelo menos


o que mais cai em provas) é a média (esperança) e a
variância. x
A média na distribuição uniforme é dada por:
O pico é a média (μ), e podemos ver que a maior
parte das observações (maiores frequências) estão em
a+b
E(x) = torno da média, e a frequência diminui conforme se
2 distancia da média.
Essa curva tem algumas características:
A variância é dada por:
z A função é simétrica em relação a μ;
z A média divide 50% das amostras para um lado da
(b - a)2 curva e 50% para o outro lado da curva;
Var(x) =
12 z A função tende a zero quando x se aproxima de
+∞ ou -∞;
z Média, mediana e moda são iguais.

1
Vamos pensar na variável altura de uma determi-
FÓRMULA f(x) =
b-a nada população, que segue a distribuição normal e
tem média 172 cm e desvio-padrão 10 cm.
Portanto:
a+b
MÉDIA
2 μ – σ = 172 – 10 = 162
μ + σ = 172 + 10 = 182
(b - a)2
VARIÂNCIA
12 Os dois pontos estão equidistantes da média (10
unidades), portanto o percentual de observações à
esquerda de 162 será igual ao percentual de observa-
b-a
ções à direita de 182.
DESVIO-PADRÃO
√λ
Freq
172
Tabela da Distribuição Uniforme
162 182
Normal

Na distribuição normal os parâmetros são média


= μ e variância = σ2, e pode ser apresentado como:
N(μ,σ2). Caso apareça a notação N(10,4), por exemplo,
saiba que estamos falando de uma distribuição nor- Altura
mal com média 10 e variância 4.
180 As probabilidades das áreas cinzas são iguais:
P(X<162) = P(X>182) (lembrando que por ser distribuição de variável contínua usar o sinal < ou ≤ é a mesma coisa).
Podemos dizer também que P(162<X<172) = P(172<X<182), ou seja, a área branca (probabilidade) entre 162 e
172 é igual a outra área branca entre 172 e 182.
Para qualquer distribuição normal algumas áreas são padronizadas, como as áreas entre μ – σ e μ + σ, μ – 2σ
e μ + 2σ, μ – 3σ e μ + 3σ...:

0.003% 99.994% 0.003%

-4σ +4σ
99.93%

-3σ +3σ
95.44%

-2σ +2σ

68.26%
-1σ +1σ

Disponível em: <http://www.portalaction.com.br/probabilidades/62-distribuicao-normal>. Acesso em: 27 nov. 2020

Para qualquer variável que tenha distribuição normal, sabendo a média e o desvio-padrão da variável, a pro-
babilidade de o valor estar entre μ -2σ e μ + 2σ é 95,44%, assim como os outros valores padronizados.
Portanto, as áreas delimitadas pelos desvios-padrão são definidas, mas para calcular qualquer outra área,
vamos usar a Distribuição Normal Padrão (Z ou Ф), que é uma curva normal especial, com média (μ) igual a 0
e desvio padrão (σ) igual a 1.
Para transformar uma distribuição normal qualquer em uma distribuição normal padrão, vamos usar a
seguinte fórmula (decore):

x-µ
Z=
σ

Onde X é o valor observado, μ é a média populacional, σ é o desvio padrão populacional e Z é o parâmetro


associado à função normal padrão.
Normalmente, as questões fornecem as probabilidades da função padronizada (Z), mas às vezes pode ser dada
a tabela da distribuição normal padrão.
Tabela 1: Áreas de uma distribuição normal padrão

0 Z
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

Z 0,00 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06 0,07 0,08 0,09

0,0 0,0000 0,0040 0,0080 0,0120 0,0160 0,0199 0,0239 0,0279 0,0319 0,0359

0,1 0,0398 0,0438 0,0478 0,0517 0,0557 0,0596 0,0636 0,0675 0,0714 0,0753

0,2 0,0793 0,0832 0,0871 0,0910 0,0948 0,0987 0,1026 0,1064 0,1103 0,1141

0,3 0,1179 0,1217 0,1255 0,1293 0,1331 0,1368 0,1406 0,1443 0,1480 0,1517

0,4 0,1554 0,1591 0,1628 0,1664 0,1700 0,1736 0,1772 0,1808 0,1844 0,1879

                     

0,5 0,1915 0,1950 0,1985 0,2019 0,2054 0,2088 0,2123 0,2157 0,2190 0,2224
181
Z 0,00 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06 0,07 0,08 0,09

0,6 0,2257 0,2291 0,2324 0,2357 0,0239 0,2422 0,2454 0,2486 0,2517 0,2549

0,7 0,2580 0,2611 0,2642 0,2673 0,2703 0,2734 0,2764 0,2794 0,2823 0,2852

0,8 0,2881 0,2910 0,2939 0,2967 0,2995 0,3023 0,3051 0,3078 0,3106 0,3133

0,9 0,3159 0,3186 0,3212 0,3238 0,3264 0,3289 0,3315 0,3340 0,3365 0,3389

...                    

O valor informado na tabela se refere à parte da direita do gráfico (hachurada na figura), ou seja, a partir da
média (que na normal padrão é sempre 0). O valor informado vai de 0 a z. O valor máximo dessa tabela tende
a ser 0,5 (50%), pois a direita da média temos 50% de probabilidade. O lado esquerdo da curva normal padrão
(negativo) é dado por simetria.
Podemos ter tabelas que mostram a probabilidade total, desde -∞ até o z, nesse caso os valores da tabela
variam de 0 a 1 (100%).
Para olhar na tabela, vamos usar, por exemplo, Z = 0,98. Vamos pegar a linha do 0,9 e a coluna do 0,08. Portan-
to, a probabilidade de Z estar entre a média (0) e 0,98 é 0,3365 = 33,65%.

Z 0,00 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06 0,07 0,08 0,09

0,0 0,0000 0,0040 0,0080 0,0120 0,0160 0,0199 0,0239 0,0279 0,0319 0,0359

0,1 0,0398 0,0438 0,0478 0,0517 0,0557 0,0596 0,0636 0,0675 0,0714 0,0753

0,2 0,0793 0,0832 0,0871 0,0910 0,0948 0,0987 0,1026 0,1064 0,1103 0,1141

0,3 0,1179 0,1217 0,1255 0,1293 0,1331 0,1368 0,1406 0,1443 0,1480 0,1517

0,4 0,1554 0,1591 0,1628 0,1664 0,1700 0,1736 0,1772 0,1808 0,1844 0,1879

                     

0,5 0,1915 0,1950 0,1985 0,2019 0,2054 0,2088 0,2123 0,2157 0,2190 0,2224

0,6 0,2257 0,2291 0,2324 0,2357 0,0239 0,2422 0,2454 0,2486 0,2517 0,2549

0,7 0,2580 0,2611 0,2642 0,2673 0,2703 0,2734 0,2764 0,2794 0,2823 0,2852

0,8 0,2881 0,2910 0,2939 0,2967 0,2995 0,3023 0,3051 0,3078 0,3106 0,3133

0,9 0,3159 0,3186 0,3212 0,3238 0,3264 0,3289 0,3315 0,3340 0,3365 0,3389

...                    

Logo: P(0<Z<0,98) = 33,65%. Essa tabela possui mais infinitas linhas, sendo as próximas, 1,0, 1,1, 1,2, 1,3... Até
que a probabilidade alcance 0,50 ou 50%.
Para entender melhor, vamos ver uma questão.

1. (FGV — 2016) Sabe-se que as notas de uma prova têm distribuição Normal com média μ = 6,5 e variância σ2 = 4. Adi-
cionalmente, são conhecidos alguns valores tabulados da normal-padrão.

Φ(1,3) ≅ 0,90 Φ(1,65) ≅ 0,95 Φ(1,95) ≅ 0,975

Onde, Φ(z) é a função distribuição acumulada da Normal Padrão.


Considerando-se que apenas os 10% que atinjam as maiores notas serão aprovados, a nota mínima para aprovação é:

a) 9,10;
b) 9,30;
c) 9,50;
d) 9,70;
e) 9,80.

Queremos as 10% maiores notas, portanto, o que está para trás disso são 90% das notas. Logo, queremos o ponto
da curva normal padrão que limite 90% dos dados para sua esquerda, que como podemos ver nos dados infor-
mados é: Φ(1,3) ≅ 0,90, ou seja, 90% das observações estão antes de Z = 1,3, e o restante, 10%, está após Z = 1,3.
Sabendo disso, podemos fazer a transformação ao contrário, pois temos o valor da normal padrão e queremos
saber o valor da distribuição das notas, sendo a média igual a 6,5 e o desvio padrão igual à raiz da variância,
que é 4.
182
μ = 6,5 Já a variância também só pode ser definida quan-
σ = √4 = 2 do o número de graus de liberdade for maior que 1,
entretanto, quando gl estiver entre 1 e 2, inclusive, a
x -μ variância é ∞, e quando for maior que 2, a variância
Z=
é dada por:
σ

x - 6,5 gl
1,3 =
2
gl - 2
2,6 = X – 6,5
X = 9,1 z Média:
Em algumas questões pode ser dado o valor da
„ gl ≤ 1: E(x) = indefinido
variável aleatória (X) e o exercício fornece as proba-
bilidades da normal padrão, assim, temos que achar „ gl > 1: E(x) = 0
o valor padronizado da variável aleatória em ques-
tão (Z) e ver a probabilidade associada a esse score. z Variância:
Resposta: Letra A.
„ gl ≤ 1: Var(x) = indefinido
t de Student „ 1 < gl ≤ 2: Var(x) = ∞

A distribuição t de Student é semelhante à curva gl


normal padrão, sendo simétrica em relação à média „ gl > 2: Var(x) =
e em formato de sino, porém, possui as caudas mais gl - 2
alargadas, possuindo assim mais valores extremos
(nas pontas), diferentemente da normal. A distribuição t de Student é usada quando não
O parâmetro que a define é o número de graus de conhecemos o valor da variância populacional (σ2),
liberdade (gl ou ν), quanto maior o grau de liberdade, pois nesse caso não é possível usar a distribuição nor-
mais próximo da curva normal essa distribuição será. mal. A forma de resolver as questões é parecida com a
Na distribuição t, os graus de liberdade são iguais ao normal, mas para achar a variável t vamos usar:
tamanho da amostra menos um, ou seja: gl = n – 1.
X- n
t= S
n
Importante!
Quanto maior o tamanho da amostra, mais a cur- Onde x é a média amostral, μ a média populacio-
va t será parecida com uma curva normal. nal, s o desvio padrão amostral e n é o tamanho da
amostra.

Freq μ

p p
1–p 2
gl = 2 2

Normal
gl = 5 padrão
0 0 tc
-tc

Muitas vezes ouvimos falar que a distribuição t de O valor do “t” é dado pela tabela, na qual vamos
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

Student só é usada para amostras de até 30 unidades, olhar dois parâmetros, o número de graus de liberda-
ou seja, n < 30, pois a curva gl = 30 já é muito pró- de e o valor de p, que é a soma das caudas da curva,
xima da curva normal, mas, isso não quer dizer que ou seja, os valores que estão além do tc. Por simetria,
não podemos aplicar a distribuição t para amostras o percentual presente em cada cauda é igual, por isso
maiores de 30. cada lado vale p/2.
Assim como todas as curvas de probabilidade, a Vamos supor que cada área branca nas caudas
vale 5%, nesse caso “p” valerá 5% + 5% = 10%, portan-
área sob a curva é igual a 1, ou seja, 100%.
to, a parte cinza vale 90%, ou seja, 90% dos dados de
Na distribuição t, a média, a moda e a mediana são
uma amostra/população estão nessa região. E vamos
iguais a zero quando o número de graus de liberdade considerar uma amostra de tamanho 25, portanto, 24
for maior que 1, caso contrário, a média não pode ser graus de liberdade.
definida.

183
Agora, basta olhar na tabela na linha de 24 graus de liberdade e p igual a 10%.

DISTRIBUIÇÃO T-STUDENT: VALORES TC TAIS QUE P(-TC ≤ T ≤ TC) = 1 - P


p 90% 80% 70% 60% 50% 10% 8% 1% 0,10%
1 0,158 0,325 0,510 0,727 1,000 6,314 7,916 63,657 636,619
2 0,142 0,289 0,445 0,670 0,816 2,920 3,320 9,925 31,599
3 0,137 0,277 0,424 0,584 0,765 2,353 2,605 5,841 12,924
... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Graus de
20 0,127 0,257 0,391 0,533 0,687 1,725 1,844 2,845 3,850
Liberdade
21 0,127 0,257 0,391 0,532 0,686 1,721 1,840 2,831 3,819
22 0,127 0,256 0,390 0,532 0,686 1,717 1,835 2,819 3,792
23 0,127 0,256 0,390 0,532 0,685 1,714 1,832 2,807 3,768
24 0,127 0,256 0,390 0,531 0,685 1,711 1,828 2,797 3,745
∞ 0,126 0,253 0,385 0,524 0,674 1,645 1,751 2,576 3,291

Portanto, valor de tc, nesse caso, é: - 1,711 e 1,711.

Freq μ

5% 95% 5%

-1,711 0 1,711

A última linha da tabela traz os dados de ∞ (infinitos) graus de liberdade. Se compararmos, vamos perceber
que são os mesmos valores da tabela da distribuição normal padrão.

Qui-quadrado

A distribuição qui-quadrado, representada por x2 (letra grega “qui” ao quadrado), que é um caso particular da
distribuição gamma, é a soma de distribuições normais padrões independentes ao quadrado:
r
∑ X2j = X2r
j=1

Vamos considerar “n” distribuições normais padrões independentes: Z1, Z2, ...Zn. Assim, a distribuição qui-qua-
drado terá “n” graus de liberdade e será a soma dos quadrados dessas distribuições normais.

Xn2 = Z12 + Z22 +...+ Z2n

Quando temos uma variável que é a soma de normais padrões, o número de graus de liberdade é a quanti-
dade de normais que estamos somando. Caso somemos duas variáveis diferentes, onde ambas sejam a soma de
normais padrões, com graus de liberdade m e n respectivamente, a nova variável, que também terá distribuição
qui-quadrado, terá m+n graus de liberdade.
Por outro lado, quando queremos saber se uma amostra de n elementos possui distribuição qui-quadrado,
vamos fazer os cálculos considerando o número de graus de liberdade com n-1, ou seja, uma unidade a menos que
a quantidade de elementos da amostra.

gl = n – 1

Onde n é o número de elementos da amostra)

O gráfico da distribuição qui-quadrado é um pouco diferente da distribuição normal, pois ele tem uma assi-
metria positiva (à direita), essa assimetria é positiva pois essa distribuição é a soma das normais ao quadrado,
portanto os resultados são sempre positivos. Abaixo, vemos um exemplo de uma distribuição qui-quadrado com
184 2 graus de liberdade.
Vamos supor que a área branca seja de 95%, assim,
0,4 o valor de p é 5%, ou seja, 95% dos dados de uma
amostra/população estão na região branca e 5% estão
na região cinza. Vamos considerar uma amostra de
0,3 tamanho 25, portanto 24 graus de liberdade.
Sabendo os valores de gl e p, vamos olhar na tabe-
0,2 la na linha de 24 graus de liberdade, e p igual a 5%.

0,1 DISTRIBUIÇÃO QUI-QUADRADO


UNICALDAL À DIREITA

0,0 GRAUS DE LIBERDADE


0 2 4 6 8 p 1 2 3 .... 20

Quanto maior for o número de graus de liberdade, 99,5% 0,000 0,010 0,072 ... 7,434
mais simétrica será a curva, portanto podemos dizer que 99% 0,000 0,020 0,115 ... 8,260
as grandezas graus de liberdade e simetria são direta-
mente proporcionais, como vemos na imagem a seguir. 97,5% 0,001 0,051 0,216 ... 9,591

95% 0,004 0,103 0,352 ... 10,851


g.l.= 2 90% 0,016 0,211 0,584 ... 12,443

10% 2,706 4,605 6,251 ... 28,412


g.l.= 5 5% 3,841 5,991 7,815 ... 31,410
g.l.= 10 1% 6,635 9,210 11,345 ... 37,566

g.l.= 15 0,50% 7,879 10,597 12,838 ... 39,997


g.l.= 30
x2 DISTRIBUIÇÃO QUI-QUADRADO
10 20 30 40 50 UNICALDAL À DIREITA

A média da distribuição qui-quadrado é igual ao GRAUS DE LIBERDADE


número de graus de liberdade e a variância é igual a
21 22 23 24 25
duas vezes o número de graus de liberdade.
8,034 8,643 9,260 9,886 10,520
E(x) = gl
Var(x) = 2.gl 8,897 9,542 10,196 10,856 11,524

10,283 10,982 11,689 12,401 13,120


Para achar os valores da distribuição qui-quadra-
do, vamos usar uma outra tabela. Pelo fato de o grá- 11,591 12,338 13,091 13,848 14,611
fico ser assimétrico à direita, a tabela da distribuição 13,240 14,041 14,848 15,659 16,473
qui-quadrado fornece os dados à direita de um deter-
minado ponto, por isso falamos que essa tabela é uni- 29,615 30,813 32,007 33,196 34,382
caudal à direita.
32,671 33,924 35,172 36,415 37,652
O valor do x2 é dado pela tabela, na qual vamos
olhar dois parâmetros, o número de graus de liberda- 38,932 40,829 41,638 42,980 44,314
de e o valor de p, que é o percentual à direita do nosso
ponto. 41,401 42,796 44,181 45,559 46,928

Portanto, o valor de x2, nesse caso, é 36,415.


NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

p
x2

36,415
185
Agora, vamos exercitar um pouco do conteúdo estudado.

1. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Uma amostra aleatória simples Y1, Y2, ..., Y25 foi retirada de uma distribuição normal com
média nula e variância σ², desconhecida. Considerando que P( x2 < 13) = P( x2 > 41) = 0,025, em que x2 representa a
distribuição qui-quadrado com 25 graus de liberdade, e que:

25
S2 = ∑ X2i
t=1

Julgue o item a seguir.


A variância da distribuição x² com 25 graus de liberdade é superior a 40.

( ) CERTO  ( ) ERRADO

Temos uma distribuição de qui-quadrado e a variância é dada por: 2 · gl


Var(x) = 2 · 25
Var (x) = 50
Resposta: Certo.

Distribuição Exponencial

A distribuição exponencial é uma distribuição que começa com um valor alto e diminui, tendendo a zero,
portanto, é assimétrica à direita.

f (x)

0.1 x

Sua função é dada por:

0, se x < 0
F(x) =
λ· e-λx ., se x ≥ 0

Onde λ é o parâmetro da taxa de distribuição. O parâmetro λé maior que 0 e tem a mesma unidade de medida
de x (se x é dado em centímetros λ também será dado em centímetros).

Importante!
Outra função muito cobrada da distribuição exponencial é a função acumulada, ou seja, ela dá a probabilidade
de valores acumulados até o valor X. A função é dada por: F(X ≤ x) = 1 – e-λx
A média na distribuição exponencial é dada por:

1
E(x) =
λ

A variância é dada por:

1
Var(X) =
λ2

186 Podemos perceber que o desvio-padrão será igual a média.


FÓRMULA P(X≤x) = 1 – e-λx 1
VARIÂNCIA 2.gl
1 λ2
MÉDIA
λ
DESVIO- 1
PADRÃO 2 $ gl
λ
1
VARIÂNCIA
λ2 Exercite seus conhecimentos realizando os exercí-
cios de bancas variadas dispostos a seguir.
1
DESVIO-PADRÃO Texto para Questões 1 a 3
λ
Todo paciente que chega a determinado posto hos-
Tabela da Distribuição Exponencial
pitalar é imediatamente avaliado no que se refere à
prioridade de atendimento. Suponha que o paciente
seja classificado como “emergente” (Y = 0) ou como
Ex.: Para uma variável que segue a distribuição
“não emergente” (Y = 1), e que as quantidades X, diá-
exponencial, com λ igual a 1/3, a probabilidade de
rias, de pacientes que chegam a esse posto sigam uma
encontrar um valor menor que 3 é: distribuição de Poisson com média igual a 20. Consi-
derando que W represente o total diário de pacien-
P(X ≤ x) = 1 – e-λx
tes emergentes, de tal sorte que: P(W=w|X=x)= b w l
x
1
- $3 0,1 0,9 , em que 0 < w < x e x > 0, julgue os itens
w x−w
P(X≤3) = 1 – e 3
subsequentes.
P(X≤3) = 1 – e-1
1. (CEBRASPE-CESPE — 2018) A variável Y segue uma
1 distribuição de Bernoulli, cuja probabilidade de suces-
P(X≤3) = 1 – so é igual a 0,9.
e
( ) CERTO  ( ) ERRADO
Número de Euler é aproximadamente 2,7
A variável Y assume apenas dois valores, 1 (suces-
so) e 0 (fracasso), portanto, segue uma distribuição
1 de Bernoulli. No caso sucesso é a probabilidade de
P(X≤3) = 1 –
2,7 ocorrer casos Não Emergentes, que é quando Y=1.
Posteriormente, o exercício nos dá uma distribuição
P(X≤3) = 1 – 0,37 binomial, considerando os pacientes emergentes
como sucesso (p). Podemos ver pela fórmula dada
P(X≤3) = 0,63 = 63%. que p = 0,1.
P(W=w|X=x) = b w l · 0,1w · 0,9x-w
x

T DE
UNIFORME NORMAL
STUDENT
p q
x -n
FÓRMULA x+n
f(x) = b1-a Z= v t= S Portanto, a probabilidade de casos emergentes é 0,1,
n
logo, a probabilidade de casos não emergentes é 0,9.
0, para Como na variável Y, o sucesso é representado pelos
MÉDIA a+b μ casos não emergentes, a probabilidade de sucesso é
2 gl > 1
0,9. Resposta: Certo.
gl
VARIÂNCIA (a - b)2 σ2 gl - 2 2. (CEBRASPE-CESPE — 2018) O total diário W de pacien-
12 para gl > 2 tes emergentes segue uma distribuição de Poisson
com média superior a 3.
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

DESVIO- gl
PADRÃO
a-b σ ( ) CERTO  ( ) ERRADO
12 gl - 2

O total diário de pacientes emergentes W é dado por


uma distribuição binomial, como podemos ver pela
QUI-QUADRADO EXPONENCIAL função apresentada:

P(W=w|X=x) = b w l · 0,1w · 0,9x-w


P(X≤x) = 1 x
FÓRMULA x2n = Z12 +...+ Z12
–e -λx

A média da distribuição binomial “W” é dada por:


1 E(W) = n · p
MÉDIA gl
λ Como podemos ver pela função, p = 0,1. Já o “n” é a
quantidade de pacientes, dada pela função “X”, cuja 187
média foi informada no enunciado como sendo 20, 0, 0384
ou seja, a média de pacientes totais por dia é 20. 10.000
E(W) = 20 . 0,1 = 2
A probabilidade de que um parafuso escolhido aleato-
Portanto, o exercício tem 2 erros, pois a distribuição
riamente tenha comprimento fora das especificações
é binomial, e não de Poisson, e a média é 2. Respos-
técnicas é inferior a 2,5%.
ta: Errado.
( ) CERTO  ( ) ERRADO
3. (CEBRASPE-CESPE — 2018) A variância do número diá-
rio de pacientes que chegam a esse posto hospitalar é
Queremos saber o percentual de parafusos fora das
igual a 20 pacientes².
especificações técnicas, ou seja, queremos os para-
fusos menores que 2,4cm e maiores que 3,6cm. Pode-
( ) CERTO  ( ) ERRADO mos ver que os dois valores estão a 0,6cm da média,
que é 3cm, ou seja, 2,4 é 0,6 a menos que 3cm, e 3,6 é
A quantidade de pacientes que chega ao posto por 0,6 a mais que 3cm.
dia é dada pela variável X, que segue uma distribui- Nesse caso, a probabilidade de ser maior que 3,6 é a
ção de Poisson. mesma que ser menor que 2,4, pelo fato da curva nor-
Na distribuição de Poisson, tanto a esperança, mal ser simétrica em torno da média, por isso, basta
quanto a variância é dada por λ. O exercício infor- calcular um dos valores e depois multiplicar por 2.
ma que a média é 20, portanto: E(X) = Var(X) = λ = Vamos calcular a probabilidade de o parafuso ser
20. Resposta: Certo. maior que 3,6. O exercício deu o desvio-padrão e a
média populacional:
4. (CEBRASPE-CESPE — 2018) O valor diário (em R$ mil) σ = 0,3
apreendido de contrabando em determinada região do
µ=3
país é uma variável aleatória W que segue distribuição
normal com média igual a R$ 10 mil e desvio padrão Vamos fazer a padronização, para saber o valor na
igual a R$  4  mil. Nessa situação hipotética, julgue o padronizada correspondente ao valor de 3,6.
item a seguir. P(W > R$ 10 mil) = 0,5.
x -µ
( ) CERTO  ( ) ERRADO Z=
σ
Na distribuição normal, a média fica no ponto máxi-
mo da curva: 3,6 - 0,3
10.000 Z(3,6) =
0,3

0,6
Z(3,6) =
0,3

Como a curva normal é simétrica, a probabilidade Z(3,6) = 2


de um valor estar na primeira parte da curva (bran-
O exercício informa que: Φ(2) = 0,975
co) é 50%, e de estar na segunda parte da curva (cin-
Portanto, a probabilidade de ser menor que 2 é
za) é 50%, portanto, a probabilidade de ser maior
0,975, ou seja, 97,5%, portanto a probabilidade de
que a média (10.000) é 0,5 (50%). Resposta: Certo.
ser maior que 2 é 2,5%, e essa é a mesma probabi-
lidade de a peça ter mais de 3,6. Portanto, a proba-
5. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Em uma fábrica de ferra- bilidade de a peça ter menos de 2,4 ou mais que 3,6
gens, o departamento de controle de qualidade realizou é 5%.
testes na linha de produção de parafusos. Os testes
ocorreram em dois campos: comprimento dos parafu-
sos e frequência com que esse comprimento fugia da
medida padrão. Historicamente, o comprimento médio
desses parafusos é 3 cm, e o desvio padrão observado
2,5% 95% 2,5%
é 0,3 cm. Foram avaliados 10.000 parafusos durante
uma semana. Desses, 1.000 fugiram às especificações
técnicas da gerência: o comprimento do parafuso deve-
ria variar de 2,4 cm a 3,6 cm. O chefe da linha de pro-
-2 -2
dução, porém, insiste em afirmar que, em média, 4% (2,4 cm) 3,6 cm)
da produção de parafusos fogem às especificações. O
departamento de controle de qualidade assume que os Resposta: Errado.
comprimentos dos parafusos têm distribuição normal.
A partir dessa situação hipotética, julgue os itens sub- Texto para Questões 6 e 7
sequentes, considerando que Φ(1) = 0,841, Φ(1,65) =
0,95, Φ(2) = 0,975 e Φ(2,5)  = 0,994, em que Φ(z) é a Em uma pequena clínica hospitalar, a receita diá-
função distribuição normal padronizada acumulada, e ria R e a despesa diária D, ambas em R$ mil, são variá-
188 que 0,002 seja valor aproximado para: veis aleatórias contínuas, tais que:
P(R ≤ r) = 1 – e-0,2r, para r ≥ 0; e P(R ≤ r) = 0, para r < 0; e Quando somamos ou subtraímos variáveis alea-
P(D ≤ d) = 1 – e-0,25d, para d ≥ 0; e P(D ≤ d) = 0, para d < 0. tórias que seguem distribuição normal padrão, o
resultado também será uma distribuição normal
Considerando que a covariância entre as variáveis padrão, portanto, as variáveis S e D seguem também
R e D seja igual a 10, e que S = R - D seja o saldo diário, a distribuição normal padrão. Resposta: Errado.
julgue os itens a seguir.
Texto para Questões 9 e 10
6. (CEBRASPE-CESPE — 2018) A variância do saldo diário é
Var(S) = 41. De acordo com uma agência internacional de com-
bate ao tráfico de drogas, o volume diário de cocaí-
( ) CERTO  ( ) ERRADO na líquida (X, em litros) apreendida por seus agentes
segue uma distribuição normal com média igual a 50
S=R–D L e desvio padrão igual a 10 L. A partir dessas infor-
mações e considerando que Z representa uma distri-
Var(R – D) = Var(R) + Var(D) – 2.Cov(R,D) buição normal padrão, em que P(Z ≤ -2) = 0,025, julgue
A variância de uma função exponencial é: os itens 10 a 11.

1 9. (CEBRASPE-CESPE — 2018) P(X < 60 litros) = P(X ≥ 40


Var(X) = litros)
λ2
( ) CERTO  ( ) ERRADO
A função exponencial acumulada é dada por: F(r,x)
= 1 – e-λx A probabilidade de X≥40, que é a mesma que X>40,
Pelas variáveis dadas no exercício, temos que: no desenho fica:
λr = 0,2 50
λd = 0,25
O exercício informa que a covariância entre R e D 40
é 10.
Cov(R,D) = 10
1 1
Var(R – D) = + – 2 . 10
0,2 2
0,252

1 1 A probabilidade de X<60 no desenho fica:


Var(S) = + – 20
0,04 0,0625 50
Var(S) = 25 + 16 – 20
Var(S) = 21 60
Resposta: Errado.

7. (CEBRASPE-CESPE — 2018) P(R ≤ 5) = P(D ≤ 4).

( ) CERTO  ( ) ERRADO

Basta substituir os valores nas funções. Como a distribuição normal é simétrica em torno
Vamos fazer primeiro P(R ≤ 5) da média (que nesse vaso vale 50). Os pontos 40 e
A função de R é: 60 estão 10 unidades distantes da média, de forma
P(R ≤ r) = 1 – e-0,2r simétrica, portanto as probabilidades delimitadas
P(R ≤ 5) = 1 – e-0,2.5 por ambos os pontos são iguais. Resposta: Certo.
P(R ≤ 5) = 1 – e-1
Agora, vamos achar P(D ≤ 4). 10. (CEBRASPE-CESPE — 2018) O valor mais provável para
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

A função D é: a realização da variável X é 50 litros, de modo que P(X


P(D ≤ d) = 1 – e-0,25d = 50 litros) > P(X = 30 litros).
P(D ≤ 4) = 1 – e-0,25.4
P(D ≤ 4) = 1 – e-1 ( ) CERTO  ( ) ERRADO
Portanto, as probabilidades são iguais. Resposta: Certo.
A probabilidade associada a um valor único, P(X=x)
8. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Considerando que X e Y = 0, é sempre zero, portanto, P(X=50) = 0 e P(X=30) =
sejam variáveis aleatórias mutuamente independen- 0, então, P(X=50) = P(X=30). Resposta: Errado.
tes que seguem distribuição normal padrão, jugue o
próximo item. 11. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Supondo que Z seja uma
A soma S = X + Y e a diferença D = X – Y seguem dis- distribuição normal padrão, considere as seguintes
tribuições distintas. transformações de variáveis aleatórias: W = 1 - Z e V
= Z2 - W2 + 1. A respeito dessas variáveis aleatórias,
( ) CERTO  ( ) ERRADO julgue o item a seguir. 189
A covariância entre W e Z é igual a -1.
TÉCNICAS DE AMOSTRAGEM:
( ) CERTO  ( ) ERRADO AMOSTRAGEM ALEATÓRIA SIMPLES,
Sabemos que:
ESTRATIFICADA, SISTEMÁTICA E POR
Var(W + Z) = Var(W) + Var(Z) + 2.Cov(W,Z) CONGLOMERADOS
Agora, vamos achar o valor de cada termo.
Pelo fato da distribuição Z ser uma normal padrão, AMOSTRA
sua variância é 1. Var(Z) = 1
Aleatória Simples
O exercício informou que: W = 1 – Z, logo: Var(W) =
Var(1 – Z) É o método mais utilizado, que consiste na escolha
Na variância, a soma e subtração de constantes não aleatória dos indivíduos de uma determinada popula-
interferem na variância: Var(W) = Var(-Z) ção que formarão a amostra, um detalhe importante
Podemos passar o -1, que multiplica o Z, para fora, desse método é que é preciso conhecer os dados de
elevando o valor ao quadrado: toda a população para, a partir de uma listagem, por
(Var(ax) = a2.var(x)) exemplo, sejam definidos aleatoriamente os indiví-
Var(W) = (-1)2 . Var(Z) duos estudados.
Var(W) = Var(Z) Ex.: Em uma sala de aula com 100 alunos quere-
Como a Var(Z) é igual a 1. mos escolher 15 para responderem a uma pesquisa
de satisfação dos professores. Portanto, a partir da
Var(W) = 1
lista dos 100 alunos da sala, selecionamos 15 aleato-
Agora, falta a Var(W+Z). Sabemos que W = 1 – Z
riamente, enumerando cada aluno e fazendo um sor-
W+Z=1 teio, como um bingo, por exemplo, ou até por algum
Logo: sistema específico randômico, como a funcionalidade
Var(W+Z) = Var(1) Random do Excel.
Como a variância de uma é zero, logo:
Var(W+Z) = 0 Sistemática
Agora que descobrimos todos os valores, podemos
substituir na fórmula inicial: É uma variação da amostragem aleatória simples,
Var(W + Z) = Var(W) + Var(Z) + 2.Cov(W,Z) na qual a partir da população ordenada (lista) esco-
0 = 1 + 1 + 2.Cov(W,Z) lhemos um critério para fazer a seleção.
0 = 2 + 2.Cov(W,Z) Ex.: Em uma fábrica que produz um certo objeto,
2.Cov(W,Z) = -2 a cada 10 peças produzidas retiramos uma para com-
Cov(W,Z) = -1 por nossa amostra, a fim de detectar possíveis erros
Resposta: Certo. de produção.

Estratificada
12. (CEBRASPE-CESPE — 2020) Se Y for uma variável alea-
tória contínua e simétrica em torno de zero, tal que
Consiste em dividir a população em grupos meno-
P(Y2<4)=0,4, então P(Y>2) será igual a:
res homogêneos, que chamamos de estratos, de forma
que os elementos de cada estrato sejam mais homo-
a) 0,2. gêneos (pouca variabilidade) e os estratos sejam mais
b) 0,3. heterogêneos (grande variabilidade). Os estratos
c) 0,4. devem ser mutuamente exclusivos, ou seja, cada indi-
d) 0,5. víduo deverá estar em apenas 1 estrato. Esses estratos
e) 0,6. podem ser divididos em idade, renda mensal, classe
social, sexo, entre outros.
Como a variável é simétrica em torno de zero, essa Dividida a população em estratos, são seleciona-
nomenclatura P(Y2<4) é a mesma coisa que dizer dos de forma aleatória simples parte dos elementos
P(-2<Y<2), pois (-2)2 = 4, assim como 22 = 4. de cada estrato.
Assim temos que, o percentual entre -2 e 2 é de 40%, Essa escolha dos elementos de cada estrato pode
ser feita de maneira:
pelo fato da distribuição ser simétrica em torno do
0, temos 20% de -2 a 0 e 20% de 0 a 2, portanto, a
z Uniforme: escolhendo, por exemplo, 10 pessoas
quantidade abaixo de -2 é 30% e a quantidade acima
de cada estrato;
de 2 também é 30% (0,3). z Proporcional: obedecendo a representatividade
de cada estrato na população, por exemplo, divi-
dindo os estratos entre homem e mulher, se 30%
da minha população é mulher e 70% de homens,
minha amostra será formada por 30% de mulheres
e 70% de homens.
30% 40% 30%
Conglomerado

Consiste em dividir uma população em conglome-


-2 -2 rado (subgrupos) como: quarteirões, famílias, orga-
190 Resposta: Letra B. nizações, agências, edifícios etc., selecionar de forma
aleatória simples alguns dos conglomerados e analisar todos os elementos do subgrupo escolhido. Nesse tipo de
amostra as pessoas de cada conglomerado não necessariamente precisam ter características comuns, como na
estratificada.
As bancas geralmente tentam confundir as amostras estratificada e por conglomerado, mas é bem fácil de
diferenciar as duas.
Na amostra estratificada, a população é dividida em grupos e, de todos os grupos, são selecionados alguns
elementos de forma aleatória.
Já na amostra por conglomerado, a população é dividida em grupos, e são selecionados alguns grupos, que
terão todos os elementos analisados.

HORA DE PRATICAR!
1. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Com respeito ao conjunto de dados {5a, 2a, 2a}, em que a representa uma constante não
nula, julgue o próximo item.

A média amostral desse conjunto de dados é igual a 2a.

( ) CERTO  ( ) ERRADO

2. (CEBRASPE-CESPE — 2022) O item a seguir é apresentada uma situação hipotética seguida de uma assertiva a ser julgada
a respeito de probabilidade e estatística.
Os preços de um determinado produto em 10 diferentes lojas são dados na tabela a seguir.

N.º DE LOJAS 2 3 1 2 2

PREÇO (R$) 195 210 220 235 240

A média aritmética dos preços encontrados foi de R$ 219,00.

( ) CERTO  ( ) ERRADO

3. (CEBRASPE-CESPE — 2022)

X FREQUÊNCIA RELATIVA

0 0,23

1 0,22

2 0,50

3 0,05

Considerando que a tabela acima mostra a distribuição de frequências de uma variável obtida com base em uma
amostra aleatória simples de tamanho igual a , julgue o item que se segue.
A média amostral da variável é inferior a 1,5.

( ) CERTO  ( ) ERRADO

4. (CEBRASPE-CESPE — 2022)

TABELA A
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

Classes Freq.
10-12 3
12-14 7
14-16 9
16-18 12
18-20 8
20-22 6
22-24 4
24-26 2
191
6. (CEBRASPE-CESPE — 2022)
TABELA B

Classes Freq. 400

2-4 1
350
4-6 4
300
6-8 5
250
8-10 7

frequência
200
10-12 10

12-14 13 150

14-16 17 100

16-18 21 50

18-20 18 0
20-22 15 0 5 10 15 20 25

22-24 11
Considerando que o histograma apresentado descre-
24-26 9 ve a distribuição de uma variável quantitativa X por
meio de frequências absolutas, julgue o item que se
26-28 6
segue.
28-30 3
O segundo decil da distribuição da variável X é igual a
30-32 2 20.

Com base nas tabelas de frequência A e B apresenta- ( ) CERTO  ( ) ERRADO


das anteriormente, julgue o item a seguir.
As médias aritméticas das séries A e B são idênticas, con- 7. (CEBRASPE-CESPE — 2022)
siderando o arredondamento até a segunda casa decimal.

( ) CERTO  ( ) ERRADO X FREQUÊNCIA RELATIVA

0 0,23
5. (CEBRASPE-CESPE — 2022)
1 0,22
400 2 0,50

350 3 0,05

300 Considerando que a tabela acima mostra a distribui-


ção de frequências de uma variável x obtida com base
250 em uma amostra aleatória simples de tamanho igual a
frequência

n, julgue o item que se segue.


200

A moda de é igual a 2.
150

100 ( ) CERTO  ( ) ERRADO

50 8. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Julgue o item a seguir,


considerando conceitos de estatística.
0
0 5 10 15 20 25 Com os seguintes dados, a variância da população é
de 149,25.

Considerando que o histograma apresentado descre- 36; 64; 18; 40; 35; 30; 41; 32
ve a distribuição de uma variável quantitativa X por
meio de frequências absolutas, julgue o item que se ( ) CERTO  ( ) ERRADO
segue.
A média amostral obtida com base nos pontos médios 9. (CEBRASPE-CESPE — 2022) No que diz respeito aos
dos intervalos de classe que constituem o histograma conceitos e cálculos utilizados em probabilidade e
é superior a 13. estatística, julgue o item a seguir.

( ) CERTO  ( ) ERRADO


192
Se, em determinada semana, as ações da PETROBRAS Será igual à média da soma
fecharam o pregão com as cotações, em unidades
monetária, iguais a 10,0; 9,0; 11,0; 12,0 e 8,0, respec- Z2021,A + Z2021,B + Z2021,C
tivamente de segunda à sexta-feira, então a variância
dessas cotações foi igual a 2,0. ( ) CERTO  ( ) ERRADO

( ) CERTO  ( ) ERRADO 13. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Com respeito ao con-


junto De Dados {0, 0, 1, 1, 1, 3}, Julgue O Item Que Se
10. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Com respeito ao con- Segue.
junto de dados {5a, 2a, 2a}, em que a representa uma
constante não nula, julgue o próximo item. Como A Média Amostral É Igual À Mediana Amostral,
A distribuição em tela pode ser considerada como
O coeficiente de variação independe do valor da cons- simétrica em torno da média.
tante a.
( ) CERTO  ( ) ERRADO
( ) CERTO  ( ) ERRADO
14. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Com respeito ao conjun-
11. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Com respeito ao conjun- to de dados {0, 0, 1, 1, 1, 3}, julgue o item que se segue.
to de dados {0, 0, 1, 1, 1, 3}, julgue o item que se segue.
Se μ3 representa o terceiro momento amostral centra-
O coeficiente de variação é igual ou superior a 1,2. do na média, então μ3 > 0, o que sugere que a distribui-
ção seja assimétrica à direita.
( ) CERTO  ( ) ERRADO
( ) CERTO  ( ) ERRADO
12. (CEBRASPE-CESPE — 2022)
15. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Com respeito ao conjun-
250 to de dados {0, 0, 1, 1, 1, 3}, julgue o item que se segue.

4
n
Com base na medida K = 2 — 3 , em que μr deno-
( n 2)
200
ta o r-ésimo momento amostral centrado na média, é
correto afirmar que a forma do conjunto de dadosem
tela é considerada platicúrtica.
perda (kg)

150 ano
z 2020 ( ) CERTO  ( ) ERRADO
z 2021
16. (CEBRASPE-CESPE — 2022) A seguir, são apresen-
100
tadas informações obtidas a partir de uma pesquisa
realizada com 1.000 pessoas.

50 � 480 possuem plano de previdência privada;


� 650 possuem aplicações em outros tipos de produtos
financeiros;
A B C � 320 não possuem aplicação em nenhum produto
tipo de carga financeiro.

Com base nessa situação hipotética, julgue o item


Considerando a figura precedente, que mostra dese-
seguinte.
nhos esquemáticos das distribuições das quantidades
de cargas perdidas nos anos de 2020 e 2021, segundo
Se uma pessoa escolhida ao acaso entre as que partici-
o tipode carga transportada por uma mineradora, jul-
param da pesquisa possui plano de previdência privada,
gue o item que se segue.
então a probabilidade de ela possuir também aplicação
em outros produtos financeiros é superior a 90%.
Suponha que os valores das quantidades de carga per-
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

dida sejam submetidos a uma normalização numérica


( ) CERTO  ( ) ERRADO
com base no critério do Z-score da forma

x a, t — U a, t 17. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Em uma empresa há 100


Za,t = produtos em estoque, todos de igual aparência, mas
v a, t
com qualidades distintas, que só são evidenciadas
em que Xa,t denota a quantidade de carga do tipo t per- com testes específicos: 40 são de alta qualidade, 35
dida no ano a,µa,t representa a quantidade média de são de média qualidade e 25 são de baixa qualidade.
carga do tipo t perdida no ano a, e σa,t refere-se aodes- Considerando essas informações e o procedimento de
vio padrão da distribuição da quantidade de carga do análise de uma amostra com 15 produtos, com reposi-
tipo t perdida no ano a. Como resultado dessa norma- ção, julgue o item a seguir. Espera-se que na amostra
lização, a média da soma haja, em média, 6 produtos de alta qualidade.

Z2020,A + Z2020,B + Z2020,C ( ) CERTO  ( ) ERRADO 193


18. (CEBRASPE-CESPE — 2022) No que diz respeito aos 9 GABARITO
conceitos e cálculos utilizados em probabilidade e
estatística, julgue o item a seguir.
1 ERRADO
Considere que, em uma sala de provas de um concur-
2 CERTO
so, ao se selecionar aleatoriamente um candidato para
acompanhar a abertura do envelope de provas, a pro- 3 CERTO
babilidade de ele ter estudado em escola particular é
0,32 e a probabilidade de ele ter estudado em escola 4 CERTO
particular e ser um candidato forte à aprovação é 0,24.
5 CERTO
Nessa situação, se o candidato selecionado estudou
em escola particular, então a probabilidade de ele ser 6 ERRADO
um candidato forte à aprovação é 0,75.
7 CERTO
( ) CERTO  ( ) ERRADO
8 CERTO
19. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Uma empresa dispõe de 9 CERTO
dez funcionários, dos quais selecionará quatro para
montar uma equipe para a realização de determinada 10 CERTO
tarefa, todos com igual função nessa tarefa. Márcio e
11 ERRADO
Marcos são muito amigos e, quando trabalham juntos,
costumam conversar demasiadamente, prejudicando 12 CERTO
a produtividade. Pedro e Paulo são desafetos, não tro-
cam entre si nem mesmo as comunicações essenciais 13 CERTO
para o desempenho da tarefa, prejudicando também a
14 CERTO
produtividade.
15 ERRADO
No que se refere a essa situação hipotética, julgue o
item que se segue. 16 CERTO

17 CERTO
Se os membros da equipe forem selecionados ao
acaso, a probabilidade de não haver prejuízos à pro- 18 CERTO
dutividade decorrentes dos aspectos mencionados é
inferior a 75%. 19 CERTO

20 ERRADO
( ) CERTO  ( ) ERRADO

20. (CEBRASPE-CESPE — 2022)

ANOTAÇÕES
AMOSTRAGEM ALEATÓRIA TAMANHO DA
SIMPLES AMOSTRA (N)

I com reposição 6

II sem reposição 5

Suponha que determinada população de tamanho N =


100 seja constituída pelos elementos x1, ..., x100. Para
a realização de um levantamento amostral sobre essa
população, cogitam-se duas possibilidades mostra-
das no quadro anterior, ambas pelo método de amos-
tragem aleatória simples. Se o tipo I for o escolhido,
então a amostragem será com reposição com n = 6.
No entanto, se o escolhido for o tipo II, então a amos-
tra será sem reposição com n = 5.

Com base nessas informações, julgue o item que se


segue.

Suponha que X1, X2, X3, X4, X5 sejam variáveis alea-


tórias que representam a amostra a ser obtida pela
amostragem do tipo II. Nesse caso, é correto afir-
mar que essas variáveis aleatórias são mutuamente
independentes.

( ) CERTO  ( ) ERRADO

194
como mouses, touch pad (área de toque nos portáteis),
canetas e mesas digitalizadoras.
Atualmente o Windows é oferecido na versão 10,
que possui suporte para os dispositivos apontadores

NOÇÕES DE
tradicionais, além de tela touch screen e câmera (para
acompanhar o movimento do usuário, como no siste-
ma Kinect do videogame Xbox).
INFORMÁTICA Em concursos públicos, as novas tecnologias e
suportes avançados são raramente questionados. As
questões aplicadas nas provas envolvem os concei-
tos básicos e o modo de operação do sistema opera-
cional em um dispositivo computacional padrão (ou
NOÇÕES DE SISTEMA OPERACIONAL tradicional).
(WINDOWS 10 E AMBIENTES LINUX) O sistema operacional Windows é um software
proprietário, ou seja, não tem o núcleo (kernel) dispo-
O sistema operacional proporciona a base para nível e o usuário precisa adquirir uma licença de uso
execução de todos os demais softwares no computa- da Microsoft.
dor. Ele é responsável por estabelecer o padrão para
comunicação com o hardware (através dos drivers).
Os computadores podem receber diferentes sistemas, Importante!
segundo a sua arquitetura de construção.
É possível termos dois ou mais sistemas operacio- A banca prioriza o conhecimento básico das
nais instalados em um dispositivo. No caso dos com- configurações do sistema operacional. O usuário
putadores, o usuário pode criar partições (divisões não encontrará muitas questões sobre a “parte
lógicas) no disco de armazenamento e instalar cada prática”, como ocorrem com outras organizado-
sistema (Windows e Linux) em uma delas. O usuário ras de concursos.
também poderá executar no formato de Máquina Vir-
tual (Virtual Machine), conforme detalhado no tópico
Virtualização. Funcionamento do Sistema Operacional
O que os sistemas operacionais têm em comum?
Do momento em que ligamos o computador até o
z Plataforma para execução de programas: eles momento em que a interface gráfica está completa-
oferecem recursos que são compartilhados pelos mente disponível para uso, uma série de ações e con-
programas executados, desenvolvidos para serem figurações são realizadas, tanto nos componentes de
compatíveis com o sistema operacional; hardware como nos aplicativos de software. Acompa-
z Núcleo monolítico: arquitetura monobloco, onde nhe a seguir estas etapas.
um único processo centraliza e executa as princi-
pais funções. No Windows, é o explorer.exe; HARDWARE SOFTWARE
z Interface gráfica: mesmo oferecendo uma inter-
face de linha de comandos, a interface gráfica é Energia elétrica - botão ON/
POST - Power On Self Test
OFF
a mais utilizada e questionada em provas, com
ícones que representam os itens existentes no Equipamento OK BIOS - Carregado para a
memória RAM
dispositivo;
z Multiusuário: os sistemas permitem que vários Disco de Inicialização Gerenciador de Boot
usuários utilizem o dispositivo, cada um com sua
respectiva conta e credenciais de acesso; Memória RAM Núcleo do Sistema
z Multiprocessamento: os sistemas possibilitam a Speracional
execução de vários processos simultaneamente, Periféricos de Entrada Drivers
gerenciando os recursos oferecidos pelo processador;
z Preemptivo: o sistema operacional poderá inter- Interface Gráfica
romper processos durante a sua execução;
z Multitarefas: os sistemas operacionais possibilitam Aplicativos
a execução de várias tarefas de forma simultânea
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

e concorrentes entre si, através do gerenciamento


profundo da memória do dispositivo; Todo dispositivo possui um sistema de inicialização.
z Interface com o hardware: o sistema operacio- Quando colocamos a chave no contato do carro e damos
nal contém arquivos que atuam como tradutores, a primeira mexida, todas as luzes do painel se acendem
possibilitando a comunicação do software com o e somente aquelas que estiverem ativadas permane-
hardware. cem. Quando ligamos o micro-ondas, ele acende todo o
painel e faz um beep. Quando ligamos o nosso smartpho-
NOÇÕES DE SISTEMA OPERACIONAL WINDOWS: ne, ele acende a tela e faz um toque. Estes procedimentos
WINDOWS 10 são úteis para identificar que os recursos do dispositivo
estão disponíveis corretamente para utilização.
O sistema operacional Windows foi desenvolvido
pela Microsoft para computadores pessoais (PC) em z POST – Power On Self Teste: autoteste da inicia-
meados dos anos 80, oferecendo uma interface gráfi- lização. Instruções definidas pelo fabricante para
ca baseada em janelas, com suporte para apontadores verificação dos componentes conectados; 195
z BIOS – Basic Input Output System: sistema bási- administrador de redes também poderá aces-
co de entrada e saída. Informações gravadas em sar o dispositivo com credenciais globais;
um chip CMOS (Complementary Metal Oxidy Semi-
conductor) que podem ser configuradas pelo usuá- z Usuário: poderá executar os programas que foram
rio usando o programa SETUP (executado quando instalados pelo administrador, mas não poderá
pressionamos DEL ou outra tecla específica no desinstalar ou alterar as configurações;
momento que ligamos o computador, na primeira z Convidado ou Visitante: poderá acessar apenas
tela do autoteste – POST Power On Self Test); os itens liberados previamente pelo administra-
z KERNEL – Núcleo do sistema operacional: o dor. Esta conta geralmente permanece desativada
Windows tem o núcleo fechado e inacessível para nas configurações do Windows, por questões de
o usuário. O Linux tem núcleo aberto e código fon- segurança.
te disponível para ser utilizado, copiado, estudado,
modificado e redistribuído sem restrição. O kernel No Windows, as permissões NTFS podem ser atri-
do Linux está em constante desenvolvimento por buídas em Propriedades, guia Segurança. Através de
uma comunidade de programadores, e para garantir permissões como Controle Total, Modificar, Gravar,
sua integridade e qualidade, as sugestões de melho- entre outras, o usuário poderá definir o que será
rias são analisadas e aprovadas (ou não) antes de acessado e executado por outros usuários do sistema.
serem disponibilizadas para download por todos; As permissões do sistema de arquivos NTFS não são
z Gerenciador de BOOT: o Linux tem diferentes compatíveis diretamente com o sistema operacional
gerenciadores de boot, mas os mais conhecidos são Linux, e caso tenhamos dois sistemas operacionais ou
o LILO e o Grub; dois dispositivos na rede com sistemas diferentes, um
z GUI - Graphics User Interface: interface gráfica, servidor Samba será necessário, para realizar a ‘tra-
porque o sistema operacional oferece também a dução’ das configurações.
interface de comandos (Prompt de Comandos ou O Windows oferece a interface gráfica (a mais usa-
Linha de Comandos). da e questionada) e pode oferecer uma interface de
linha de comandos para digitação. O Prompt de Coman-
Quando o sistema Windows não consegue ini- dos é a representação do sistema operacional MS-DOS
ciar de forma correta, é possível recuperar o acesso (Microsoft Disk Operation System), que era a opção
através de ferramentas de inicialização. Para acesso padrão de interface para o usuário antes do Windows.
a estes recursos, pode ser necessária uma conta com O Windows 10 oferece o Prompt de Comandos
credenciais de administrador. ‘básico’ e tradicional, acionado pela digitação de CMD
seguido de Enter, na caixa de diálogo Executar (aberta
z Restauração do Sistema: a cada vez que o Win-
dows foi iniciado com sucesso, um ponto de res- pelo atalho de teclado Windows+R = Run). Além dele,
tauração foi criado. A cada instalação de software existe o Windows Power Shell, que é a interface de
ou alterações significativas das configurações, um comandos programável, acessível pelo menu do botão
ponto de restauração é criado. Em caso de insta- Iniciar.
bilidade, o usuário pode retornar o Windows para Para conhecer as configurações do dispositivo, o
um ponto de restauração previamente criado; usuário pode acessar as Propriedades do computa-
z Reparação do Sistema: se arquivos do sistema dor no Explorador de Arquivos, ou o item Sistema em
foram seriamente modificados ou se tornaram Configurações (atalho de teclado Windows+I), ou pela
inacessíveis, o Windows não iniciará e não conse- Central de Ações (atalho de teclado Windows+A), ou
guirá recuperar para um ponto de restauração. O acionar o atalho de teclado Windows+Pause.
Windows permite a criação de um disco de recupe- A interface gráfica do Windows é caracterizada
ração do sistema, que restaura o Windows para as pela Área de Trabalho, ou Desktop. A tela inicial do
configurações originais; Windows exibe ícones de pastas, arquivos, programas,
z Histórico de Arquivos: a cada alteração, o Windo- atalhos, Barra de Tarefas (com programas que podem
ws armazena cópias dos arquivos originais e grava ser executados e programas que estão sendo executa-
os novos dados no local. Depois, caso necessário, o dos) e outros componentes do Windows.
usuário poderá acessar o Histórico de Arquivos e
retornar para uma cópia anterior do mesmo item;
z Versões anteriores (ou Cópias de Sombra): alte-
rações de conteúdos de pastas são monitorados Lixeira Microsoft Google Mozilla Kaspersky Firefox
pelo Windows. O usuário poderá acessar no menu Edge Chrome Thunderbird secure Co
de contexto, item Propriedades, guia Versões ante-
riores, as cópias anteriores da mesma pasta, res- W X

taurando e descartando as alterações posteriores. Provas Downloads- Caragua. Lista de Extra Dicas
concursos..txt
Anteriores Atalhos docx e-mails p... E-book

O Windows possui 3 níveis de acesso, que são as


Digite Aqui Para Pesquisar
credenciais.
Figura 1. Imagem da área de trabalho do Windows 10.
z Administrador: usuário que poderá instalar pro-
gramas e dispositivos, desinstalar ou alterar as
configurações. Os programas podem ser desinsta-
lados ou reparados pelo administrador;

„ Administrador local: configurado para o


dispositivo;
„ Administrador domínio: quando o disposi-
196 tivo está conectado em uma rede (domínio), o
Itens Excluídos Navegador padrão Windows 10 Atalhos z Windows Mail: aplicativo para correio eletrôni-
co, que carrega as mensagens da conta Microsoft
e pode se tornar um hub de e-mails com adição de
outras contas;
Lixeira Microsoft Google Mozilla Kaspersky
Edge Chrome Thunderbird secure Co
Firefox z Barra de Acesso Rápido: ícones fixados de pro-
Pasta de
Arquivos
Arquivos
gramas para acessar rapidamente;
W X
z Fixar itens: em cada ícone, ao clicar com o botão
Provas Downloads- Caragua. Lista de Extra dicas direito (secundário) do mouse, será mostrado o
Anteriores Atalhos docx e-mails p... E-book concursos.txt
menu rápido, que permite fixar arquivos abertos
Barra de Tarefas
recentemente e fixar o ícone do programa na bar-
Digite Aqui Para Pesquisar ra de acesso rápido;
Cortana z Central de Ações: centraliza as mensagens de
Área de Notificação
Botão Iniciar Visão de tarefas segurança e manutenção do Windows, como as
Barra de acesso rápido
Central de Ações atualizações do sistema operacional. Atalho de
Figura 2. Elementos da área de trabalho do Windows 10. teclado: Windows+A (Action). A Central de Ações
não precisa ser carregada pelo usuário, ela é car-
regada automaticamente quando o Windows é
A Área de Trabalho, caracterizada pela imagem do inicializado;
papel de parede personalizada pelo usuário, poderá z Mostrar área de trabalho: visualizar rapidamen-
ter uma proteção de tela ativada. Após algum tempo te a área de trabalho, ocultando as janelas que
sem utilização dos periféricos de entrada (mouse e estejam em primeiro plano. Atalho de teclado:
teclado), uma imagem ou tela será exibida no lugar da Windows+D (Desktop);
imagem padrão. z Bloquear o computador: com o atalho de tecla-
Na área de trabalho do Windows, o usuário pode- do Windows+L (Lock), o usuário pode bloquear o
rá armazenar arquivos e pastas, além de criar atalhos computador. Poderá bloquear pelo menu de con-
para itens no dispositivo, na rede ou na Internet. trole de sessão, acionado pelo atalho de teclado
A tela da área de trabalho poderá ser estendida ou Ctrl+Alt+Del;
duplicada, com os recursos de projeção. Ao acionar z Gerenciador de Tarefas: para controlar os aplica-
o atalho de teclado Windows+P (Projector), o usuário tivos, processos e serviços em execução. Atalho de
poderá: teclado: Ctrl+Shift+Esc;
z Minimizar todas as janelas: com o atalho de
z Tela atual: exibir somente na tela atual; teclado Windows+M (Minimize), o usuário pode
z Estender: ampliar a área de trabalho, usando dois minimizar todas as janelas abertas, visualizando
ou mais monitores, iniciando em uma tela e ‘conti- a área de trabalho;
nuando’ na outra tela; z Criptografia com BitLocker: o Windows oferece o
z Duplicar: exibir a mesma imagem nas duas telas; sistema de proteção BitLocker, que criptografa os
z Somente projetor: desativar a tela atual (no note- dados de uma unidade de disco, protegendo contra
book, por exemplo) e exibir somente no projetor acessos indevidos. Para uso no computador, uma
ou Datashow. chave será gravada em um pendrive, e para aces-
sar o Windows, ele deverá estar conectado;
O Windows 10 apresenta algumas novidades em z Windows Hello: sistema de reconhecimento facial
relação às versões anteriores. Assistente virtual, nave- ou biometria, para acesso ao computador sem a
gador de Internet, locais que centralizam informações necessidade de uso de senha;
etc. z Windows Defender: aplicação que integra recur-
sos de segurança digital, como o firewall, antivírus
z Botão Iniciar: permite acesso aos aplicativos ins- e antispyware.
talados no computador, com os itens recentes no
início da lista e os demais itens classificados em Atente-se: A banca prioriza o conhecimento de novos
ordem alfabética. Combina os blocos dinâmicos e recursos dos softwares constantes do edital publicado.
estáticos do Windows 8 com a lista de programas No Windows, algumas definições sobre o que está
do Windows 7; sendo executado podem variar, segundo o tipo de exe-
z Pesquisar: com novo atalho de teclado, permite cução. Confira:
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

localizar a partir da digitação de termos, itens no


dispositivo, na rede local e na Internet. Atalho de z Aplicativos: são os programas de primeiro plano,
teclado: Windows+S (Search); que o usuário executou;
z Cortana: assistente virtual. Auxilia em pesquisas z Processos: são os programas de segundo plano,
de informações no dispositivo, na rede local e na carregados na inicialização do sistema operacio-
Internet; nal, componentes de programas instalados pelo
z Visão de Tarefas: permite alternar entre os pro- usuário;
gramas em execução e abre novas áreas de traba- z Serviços: são componentes do sistema operacio-
lho. Atalho de teclado: Windows+TAB; nal carregados durante a inicialização para auxi-
z Microsoft Edge: navegador de Internet padrão do liar na execução de vários programas e processos.
Windows 10. Ele está configurado com o buscador
padrão Microsoft Bing, mas pode ser alterado; Os aplicativos em execução no Windows poderão
z Microsoft Loja: loja de app’s para o usuário bai- ser acessados de várias formas, alternando a exibição
xar novos aplicativos para Windows; de janelas, com o uso de atalhos de teclado. Confira: 197
z Alt + Tab: alterna entre os aplicativos em execu- NOÇÕES DE SISTEMA OPERACIONAL GNU
ção, exibindo uma lista de miniaturas deles para LINUX – CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA
o usuário escolher. A cada toque em Alt+Tab, a OPERACIONAL GNU LINUX
seleção passa para o próximo item, retornando ao
começo quando passar por todos; O sistema operacional Linux é uma opção ao sistema
z Alt + Esc: alterna diretamente para o próximo operacional Windows, com outras características próprias.
aplicativo em execução, sem exibir nenhuma jane- O sistema operacional Linux é mais utilizado em
la de seleção; sistemas de baixo custo, e possui diferentes distribui-
z Ctrl + Alt + Tab: alterna entre os aplicativos em ções para diferentes modelos de computadores. Por
execução como o Alt+Tab, mas a tela permanece ser um sistema de código aberto, deu origem a outros
em exibição, podendo usar as setas de movimenta- sistemas como o iOs (Apple) e o Android (Google).
ção para escolha do programa; Por ser um sistema operacional livre e licenciável,
z Windows + Tab: mostra a Visão de Tarefas, para possui a licença GNU GPL para distribuição. O projeto
escolher programas em execução ou outras áreas GNU foi lançado no começo dos anos 80 e atualmen-
de trabalho abertas. te é patrocinado pela FSF (Free Software Foundation).
Muitos usuários descobrem que no contexto de soft-
Vários recursos presentes no sistema operacional wares livres, ser livre não significa ser gratuito. Ao
Windows podem auxiliar nas tarefas do dia a dia. Pro- contrário do termo freeware, que identifica uma cate-
cure praticar as combinações de atalhos de teclado, goria de softwares gratuitos para utilização, o termo
por dois motivos: elas agilizam o seu trabalho cotidia- free no Linux está relacionada às liberdades de uso.
no e elas caem em provas de concursos. A GPL (GNU Public Licence) baseia-se em 4 liberda-
des ‘essenciais’:
4 - Maximizar
2 - Barra ou linha de título
3 - Minimizar 5 Fechar z A liberdade de executar o programa, para qual-
1 - Barra de Menus quer propósito (liberdade nº 0);
z A liberdade de estudar como o programa funciona
e adaptá-lo às suas necessidades (liberdade nº 1).
O acesso ao código-fonte é um pré-requisito para
esta liberdade;
z A liberdade de redistribuir cópias de modo que
você possa ajudar ao seu próximo (liberdade nº 2);
Área de trabalho
z A liberdade de aperfeiçoar o programa e liberar os
seus aperfeiçoamentos, de modo que toda a comu-
nidade beneficie deles (liberdade nº 3). O acesso ao
código-fonte é um pré-requisito para esta liberdade.
Figura 3. Elementos de uma janela do Windows 10.
Disponível em: <https://www.gnu.org/philosophy/free-sw.pt-br.html>.
1 . Barra de menus: são apresentados os menus com Acesso em: 27 nov. 2020.
os respectivos serviços que podem ser executados
no aplicativo; Características Básicas do Sistema Linux
2 . Barra ou linha de título: mostra o nome do arqui-
vo e o nome do aplicativo que está sendo execu- O Linux tem as seguintes características básicas:
tado na janela. Através dessa barra, conseguimos
mover a janela quando a mesma não está maximi- z Possui um kernel (núcleo) comum em todas as
zada. Para isso, clique na barra de título, mante- distribuições;
nha o clique e arraste e solte o mouse. Assim, você z FHS é um acrônimo para Hierarquia do Sistema de
estará movendo a janela para a posição desejada. Arquivos. Basicamente, ele é um padrão que todas
Depois é só soltar o clique; as distribuições Linux devem seguir para organi-
3. Botão minimizar: reduz uma janela de documento ou zar os seus diretórios;
aplicativo para um ícone. Para restaurar a janela para z O código fonte está disponível para ser baixado,
seu tamanho e posição anteriores, clique neste botão estudado, modificado e distribuído gratuitamente;
ou clique duas vezes na barra de títulos; z As distribuições oferecem recursos específicos para
4. Botão maximizar: aumenta uma janela de docu- cada proposta, mantendo o núcleo comum do sistema;
mento ou aplicativo para preencher a tela. Para z Cada distribuição poderá ter uma ou mais interfa-
restaurar a janela para seu tamanho e posição ces de usuário, e elas podem ser usadas em outras
anteriores, clique neste botão ou clique duas vezes distribuições;
na barra de títulos; z Possui modo gráfico e terminal de comandos;
5. Botão fechar: fecha o aplicativo ou o documento. z Existem distribuições gratuitas e pagas;
Solicita que você salve quaisquer alterações não z As modificações realizadas pelos usuários serão
salvas antes de fechar. Alguns aplicativos, como submetidas para avaliação da comunidade de
os navegadores de Internet, trabalham com guias desenvolvedores, que determinarão a importância
ou abas, que possui o seu próprio controle para e relevância delas, antes de tornar as modificações
fechar a guia ou aba. Atalho de teclado Alt+F4; oficiais para todo o mundo;
6. Barras de rolagem: as barras sombreadas ao z Como todo sistema operacional, possui suporte
longo do lado direito (e inferior de uma janela de para protocolos TCP, permitindo o acesso às redes
documento). Para deslocar-se para outra parte do de computadores com browsers ou navegadores;
documento, arraste a caixa ou clique nas setas da z Geralmente instalado em dispositivos com
198 barra de rolagem. Windows, o Linux oferece gerenciador de boot
(bootloader) para gerenciar a inicialização, exibindo um menu para o usuário escolher qual sistema operacio-
nal será usado na sessão atual;
z LILO e GRUB são os gerenciadores de boot mais comuns nas distribuições Linux;
z O Linux é um sistema operacional do tipo case sensitive, ou seja, diferencia letras maiúsculas de letras minús-
culas nos nomes de arquivos, diretórios e comandos.

Kernel (núcleo)

Shell (interpretador)

Terminal
(linha de comandos)

Interface gráfica

Figura 1. Assim como no Windows, o Linux tem camadas que separam os recursos.

Distribuições Linux

Distribuição é um conjunto de personalizações que mantém o mesmo núcleo (kernel) do Linux, mas apresen-
tável de forma diferenciada.
Puppy, Debian, Fedora, Kubuntu, Ubuntu, RedHat, SuSe, Mandrake, Xandros (da Corel) e Kurumim são alguns
exemplos de distribuições.
Ubuntu é a distribuição mais cobrada em concursos públicos, baseada na distribuição Debian. O Ubuntu é uma
versátil distribuição Linux que pode ser instalada em várias construções computacionais, desde que adaptadas
(drivers).

Big Linux Brasil

Gnoppix Alemanha

ImpiLinux África do Sul

Kurumim Brasil

Mint Irlanda

DeMuDi Europa

Finnix EUA
Insigne GNU Brasil

KeeP OS Brasil

Knoppix Alemanha

Linspire EUA
MeNTOPPIX Indonésia
MEPIS EUA

Rxart Argentina
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Satux Brasil
Symphony OS

Figura 2. Distribuição Ubuntu, derivada do Debian, é a mais questionada.

Diretórios Linux

Os diretórios são pastas onde armazenamos e organizamos arquivos e subpastas (subdiretórios). A represen-
tação dos diretórios segue o princípio lúdico de uma árvore. Árvore de diretórios ou folder tree é a forma como
as pastas dos sistemas Linux estão organizadas. Elas têm uma hierarquia, para facilitar a organização do sistema,
seus arquivos, bibliotecas e inclusive para melhorar a segurança do sistema.
FHS é um acrônimo para Hierarquia do Sistema de Arquivos. Basicamente, ele é um padrão que todas as dis-
tribuições Linux devem seguir para organizar os seus diretórios. 199
A escolha da árvore para representar a estrutura de diretórios, se mostrou adequada, dada a semelhança
entre seus componentes. Por exemplo, o diretório raiz é o primeiro diretório, assim como a raiz de uma árvore.
Encontramos diretórios principais, como /bin, /etc, /lib e /tmp, que podem ser considerados o ‘caule’ da árvore
de diretórios. Nos diretórios é possível criar subdiretórios, o que representam os galhos de uma árvore. E dentro
dos diretórios, temos arquivos (documentos, comandos, temporários) igual à árvore, como flores, folhas e frutos.
Enquanto o Windows representa com barra invertida um diretório, no Linux é usada a barra normal.
Diretórios, pastas e Bibliotecas são ‘sinônimos’. Diretórios é o nome usado no Windows XP e Linux, proveniente
do ambiente MS-DOS (interface de caracteres). Pastas é o nome usado no Windows. Bibliotecas é a estrutura de
organização criada no Windows Vista, que é utilizada no Windows 7, 8, 8.1 e 10 para organizar as informações
do usuário. Elas são usadas para organizar arquivos e subpastas (subdiretórios), mantendo-os até o momento de
serem apagados.

Importante!
Diretórios e comandos Linux são os itens mais importantes em concursos atualmente. Conceitos e caracte-
rísticas do sistema operacioal Linux já foram amplamente questionados nas provas anteriores.

Os diretórios são denominados com algumas letras que indicam o seu conteúdo. Confira na tabela a seguir.

NOME DESCRIÇÃO CONTEÚDO

/bin binary – binário = executável Contém os comandos (arquivos binários executáveis)

Contém os drivers dos dispositivos de hardware, para comunicação do


/dev device – dispositivo = hardware
sistema operacional com o equipamento

/home home – início Contém os arquivos dos usuários, como as bibliotecas do Windows

Contém as bibliotecas do sistema Linux, compartilhadas por vários


/lib library – biblioteca
programas

/usr user – usuário Contém as configurações dos usuários

Tabela – Diretórios Linux, exemplos básicos

Os comandos são grafados com letras minúsculas, assim como os nomes dos diretórios. Diretórios e comandos
são algumas letras do nome do conteúdo ou ação realizada, que é um termo em inglês.
A seguir, uma tabela mais completa, com quase todos os diretórios de uma distribuição padrão Linux.

DIRETÓRIO DESCRIÇÃO E COMENTÁRIOS

/ Raiz do sistema, o diretório que ‘’guarda’’ todos os outros diretórios

Arquivos/comandos utilizados durante a inicialização do sistema e por usuários (após a inicializa-


/bin
ção). O termo BIN é referência ao tipo de informação, binário

Arquivos utilizados durante a inicialização do sistema. Boot é uma expressão comum a vários
/boot
sistemas para indicar a inicialização

/dev Drivers de controle de dispositivos. DEV vem de device, dispositivo

/etc Arquivos de configurações do computador

/etc/sysconfig Arquivos de configuração do sistema para os dispositivos

/etc/passwd Dados dos usuários, senhas criptografadas... PASSWORD = senha

Sistemas de arquivos montados no sistema (file system table – tabela do sistema de arquivos). O
/etc/fstab
sistema de arquivos do Linux pode ser EXT3, EXT4, entre outros

/etc/group Grupos

/etc/include Header para programação em C, através do comando include

/etc/inittab Arquivo (tabela) de configuração do init

/etc/skel Contém os arquivos e estruturas que serão copiadas para um novo usuário do sistema

/home Pasta pessoal dos usuários comuns. Equivale às bibliotecas do sistema Windows

/lib Bibliotecas compartilhadas. LIB vem de library, biblioteca


200
DIRETÓRIO DESCRIÇÃO E COMENTÁRIOS

/lib/modules Módulos externos do kernel usados para inicializar o sistema

/misc Arquivos variados (misc de miscelânea)

Ponto de montagem de sistemas de arquivos (CD, floppy, partições...) MNT vem de mount,
/mnt
montagem

/proc Sistema de arquivos virtual com dados sobre o sistema. PROC vem de procedure

/root Diretório pessoal do root. Equivalente a pasta raiz da unidade de inicialização C

/sbin Arquivos/comandos especiais (geralmente não são utilizados por usuários comuns)

/tmp Arquivos temporários

Unix System Resources. Contém arquivos de todos os programas para o uso dos usuários de sis-
/usr
temas UNIX

/usr/bin Executáveis para todos os usuários

/usr/sbin Executáveis de administração do sistema

/usr/lib Bibliotecas dos executáveis encontrados no /usr/bin

/usr/local Arquivos de programas instalados localmente

/usr/man Manuais

/usr/info Informações

/usr/X11R6 Arquivos do X Window System e seus aplicativos

/var Contém arquivos que são modificados enquanto o sistema está rodando (variáveis)

/var/lib Bibliotecas

Contém os arquivos que armazenam informações, mensagens de erros dos programas, relatórios
/var/log
diversos, entre outros tipos de logs
Tabela – Diretórios Linux

Existem sites na Internet que oferecem emuladores de Linux, para treinamento. Acesse https://bellard.org/
jslinux/ para conhecer algumas opções.

Comandos Linux

Os comandos são denominados com algumas letras que indicam a tarefa que eles realizam. Confira na tabela
a seguir:

NOME DESCRIÇÃO AÇÃO

cp copy – copiar Copia os arquivos listados

ls list – listar Lista os arquivos e diretório do local atual

mv move – mover Pode mover ou renomear um arquivo ou diretório

rm remove – remover Apagar arquivos


NOÇÕES DE INFORMÁTICA

vi view – visualizar Permite visualizar e editar um arquivo


Tabela – comandos Linux, exemplos básicos

A seguir, uma tabela mais completa, com quase todos os comandos questionados pelas bancas organizadoras,
quando temos o item Linux no conteúdo programático.

COMANDO DESCRIÇÃO EXEMPLO AÇÃO


cat arq1.txt >> arq2.txt
Concatenar, juntar ou mostrar. Exi- O arq1.txt será concatenado com arq2.txt
cat arq1.txt arq2.txt >>
cat bir o conteúdo de arquivos ou dire- Os arq1.txt e arq2.txt serão unidos em arq3.txt
arq3.txt
cioná-lo para outro Exibirá arq1.txt
cat arq1.txt
cd Mudar diretório cd /home Muda para o diretório /home

201
COMANDO DESCRIÇÃO EXEMPLO AÇÃO
Copia o arquivo teste.txt para o diretório /
cp Copiar arquivos e diretórios cp teste.txt /home
home
Lê o conteúdo de um ou mais ar- O comando cut pode ser usado para mostrar
cut quivos e tem como saída uma co- cut arq1.txt apenas seções específicas de um arquivo de
luna vertical texto ou da saída de outros comandos
Comparar e mostrar as diferenças
diff diff arq1.txt arq2.txt Mostra a diferença entre os dois arquivos
entre arquivos e diretórios

exit Sair do usuário atual exit Sair do usuário atual

Exibe o arq1.txt (comando cat no modo type),


Seleciona uma linha de texto que cat arq1.txt | grep
grep com destaque para as linhas que contenham
contenha o texto pesquisado Nishimura
Nishimura

id Informa o usuário atual id Informa o usuário atual

Permite listar e configurar as inter-


Listar todas as interfaces (all)
ifconfig faces de rede (placas de rede) co- ifconfig -a
No Windows, o comando é ipconfig
nectadas no computador

init 0 Desligar
init Desligar ou reiniciar o computador
init 6 Reiniciar

ln Criar links de arquivos ln texto.txt Cria um atalho para o arquivo texto.txt

Lista os arquivos e diretórios existentes no


ls Listar arquivos e diretórios ls
diretório atual

kill Eliminar um processo em execução kill 998 Eliminar o processo 998


Cria o diretório novo, dentro do diretório /
mkdir Criar diretório mkdir /home/novo
home
mv texto.txt /home Move o arquivo texto.txt para o diretório /
Mover e renomear arquivos e
mv home
diretórios
mv texto.txt novo.txt Renomeia o arquivo texto.txt para novo.txt

passwd Mudar a senha do usuário passwd Mudar a senha

Listam os processos em execução,


ps e com o número poderá eliminar ps Listar os processos em execução
ele com o comando kill

pwd Exibe o diretório atual pwd Mostra onde estou

rm Deletar arquivos rm teste.txt Apaga o arquivo teste.txt


Remove o diretório novo que está no local
rmdir Remover diretórios rmdir novo
atual
sort Ordena o conteúdo de um arquivo sort arq1.txt Ordena o conteúdo do arquivo arq1.txt
Executar comandos como superu-
sudo sudo ps Executa o comando ps como superusuário
suário. Válido por 10 min
shutdown -r +10 Reinicia em 10 minutos
shutdown Desligar ou reiniciar o computador
shutdown -h +5 Desliga em 5 minutos
Exibir as últimas linhas de um
tail tail arq1.txt Exibe as 10 últimas linhas de arq1.txt
arquivo
Cria um arquivo que contém os outros, sem
tar Empacotar arquivos tar teste1.txt
compactar
Criar e modificar data do arquivo.
Criar o arquivo vazio teste.txt com a data
touch Se o arquivo não existe, ele é cria- touch teste.txt
atual
do vazio, com a data atual
Cria um novo usuário ou atuali-
Criar o usuário fernando, com os arquivos
useradd za as informações padrão de um useradd fernando
definidos em /etc/skel
usuário no sistema Linux
Entra em modo de visualização e edição do
vi Visualizar um arquivo no editor vi teste.txt
arquivo teste.txt

Tabela – comandos Linux

202
Todos os sistemas operacionais possuem recursos para a realização das mesmas tarefas. Não é correto afirmar
que um sistema é melhor que outro, sendo que eles são equivalentes em funcionalidades.

Prompt de Comandos (Windows) e Console de Comandos (Linux)

A interface que não é gráfica, ou seja, de caracteres, sempre existiu nos computadores. Mas entre o Windows
e Linux existem diferenças, tanto operacionais como de comandos. Confira um comparativo de comandos entre
o Linux e o Windows.

LINUX WINDOWS
Ajuda man, help ou info /?
Data e Hora date, cal ou hwclock date e time
Espaço em disco df dir
Processos em execução ps
Finalizar processo kill
Qual o diretório atual? pwd cd
Subir um nível cd .. cd..
Diretório raiz cd / cd \
Voltar ao diretório anterior cd –
Diretório pessoal cd ~
Copiar arquivos cp copy
Mover arquivos mv move
Renomear mv ren
Listar arquivos ls dir
Apagar arquivos rm del
Apagar diretórios rm deltree
Criar diretórios mkdir md
Alterar atributos attrib
Alterar permissões chmod
Alterar proprietário (dono) chown
Alterar grupo chgrp
Comparar arquivos e pastas diff comp
Empacotar arquivos tar
Compactar arquivos gzip compact
Alterar a senha passwd
Concatenar, juntar e mostrar cat
Mostrar, visualizar vi type
Pausa na exibição de páginas more ou less more
Interfaces de rede ifconfig ipconfig
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Caminho dos pacotes tracert route


Listar todas as conexões netstat arp -a
Apagar a tela clear Cls

Concatenar comandos | |
Direcionar a entrada para um comando < <
Direcionar a saída de um comando > >
Localizar ocorrências dentro do arquivo grep
Exibir as últimas linhas do arquivo tail

Diretório raiz / (barra normal) \ (barra invertida)


203
LINUX WINDOWS
Opção de um comando - (sinal de menos) / (barra normal)

Tabela – comparação de comandos Linux com comandos Windows

EDIÇÃO DE TEXTOS, PLANILHAS E APRESENTAÇÕES (PACOTES MICROSOFT OFFICE


365 E LIBREOFFICE)
INTRODUÇÃO

Um pacote de aplicativos para escritório é, sem dúvida, um dos mais úteis aplicativos que um computador pode
ter instalado. Independentemente do perfil de utilização do usuário, alguns dos aplicativos disponíveis em um
pacote como o Microsoft Office atendem a diferentes tarefas cotidianas. Das mais simples, até as mais complexas.
A Microsoft chama o pacote Office de ‘suíte de produtividade’, e tem como ‘concorrente’ o LibreOffice.
O Microsoft Office possui alguns aplicativos que trocaram de nomes ao longo do tempo. Atualmente está na
versão Office 365, que disponibiliza recursos via Internet (computação nas nuvens), com armazenamento de
arquivos no Microsoft OneDrive.
Serviços adicionais de comunicação, como o Microsoft Outlook e Microsoft Teams, fazem parte do pacote Micro-
soft Office 365.

PROGRAMAS MICROSOFT OFFICE LIBREOFFICE

Editor de Textos Microsoft Word LibreOffice Writer

Planilhas de Cálculos Microsoft Excel LibreOffice Calc

Apresentações de Slides Microsoft PowerPoint LibreOffice Impress

As extensões dos arquivos editáveis produzidos pelos pacotes de produtividade são apresentadas na tabela a seguir.

EXTENSÕES DE ARQUIVOS MICROSOFT OFFICE LIBREOFFICE

Editor de Textos DOCX ODT

Planilhas de Cálculos XLSX ODS

Apresentações de Slides PPTX ODP

As extensões do Microsoft Office, para arquivos editáveis, terminam em X, em referência ao conteúdo forma-
tado com XML, que foi introduzido na versão 2007. As extensões do LibreOffice iniciam com OD, em referência ao
Open Document, do Open Office.

Microsoft Office

Office 2003 Office 2007 Office 365

Até a versão 2003, os arquivos produzidos pelo Microsoft Office eram identificados com extensões de 3 letras, como
DOC, XLS e PPT. Algumas questões de concursos ainda apresentam estas extensões nas alternativas das questões.
Na versão 2007, o padrão XML (eXtensible Markup Language) foi implementado para oferecer portabilidade aos
documentos produzidos. As extensões dos arquivos passaram a ser identificadas com 4 letras, como DOCX, XLSX e PPTX.
Com o avanço dos recursos de computação na nuvem, o Office foi disponibilizado na versão on-line, que posterior-
mente se chamou 365, e é a versão atual do pacote. Com um novo formato de licenciamento, com assinaturas mensais e
anuais, ao invés da venda de licenças de uso, a instalação do Office 365 no computador disponibiliza a última versão do
pacote para escritórios.
Do ponto de vista prático, qual versão do Microsoft Office usar ou estudar?
Você deve ter a última versão disponível. Elas questionam as novidades das últimas versões disponíveis. Já
outras bancas organizadoras, a versão é indiferente. O mais importante será o conceito envolvido e sua aplicação
na formatação de arquivos.

LibreOffice

Open Office BrOffice LibreOffice


204
O pacote Star Office deu origem ao Open Office, com margens, colunas, tamanho da página, orientação,
código aberto, livre e gratuito. O formato de arquivo cabeçalhos, numeração de páginas, entre outras, as
(ODF – Open Document Format) é usado para os arqui- seções serão usadas;
vos produzidos, como ODT (Text – documento de z Parágrafos: formado por palavras e marcas de
texto), ODS (Sheet – planilha de cálculos) e ODP (Pre- formatação. Finalizado com Enter, contém forma-
sentation – apresentação de slides). tação independente do parágrafo anterior e do
O projeto BrOffice.org desenvolveu e ofereceu o parágrafo seguinte;
pacote com recursos especificamente úteis para os z Linhas: sequência de palavras que pode ser um
brasileiros. É comum ver esta informação no conteúdo parágrafo, ocupando uma linha de texto. Se for
programático dos editais de concursos (BrOffice.org), finalizado com Quebra de Linha, a configuração
além das questões que já foram aplicadas pelas bancas. atual permanece na próxima linha;
O LibreOffice é o pacote atual, disponível para z Palavras: formado por letras, números, símbolos,
download e instalação em diversas plataformas. Está caracteres de formatação etc.
na versão 7 (dezembro/2020), e possui recursos seme-
lhantes às versões anteriores, com uma interface Os arquivos produzidos nas versões anteriores do
redesenhada (clean), seguindo a tendência minimalis- Word são abertos e editados nas versões atuais. Arqui-
ta de outras aplicações (site Google, ícones do Micro- vos de formato DOC são abertos em Modo de Compa-
soft Office, ícones de app’s no smartphone, etc). tibilidade, com alguns recursos suspensos. Para usar
Do ponto de vista prático, qual versão do LibreOffi- todos os recursos da versão atual, deverá “Salvar
ce usar ou estudar? como” (tecla de atalho F12) no formato DOCX.
Para concursos das bancas CESPE/Cebraspe e Ins- Os arquivos produzidos no formato DOCX poderão
tituto Quadrix, você deverá ter a última versão dis- ser editados pelas versões antigas do Office, desde que
ponível. No site do LibreOffice você poderá fazer o instale um pacote de compatibilidade, disponível para
download gratuito. Ao passo que para outras bancas download no site da Microsoft.
organizadoras é recomendável verificar se o edital Os arquivos produzidos pelo Microsoft Office
pede uma versão específica (como LibreOffice 5) ou podem ser gravados no formato PDF. O Microsoft
se pede várias versões (LibreOffice 5 ou superior). Se Word, desde a versão 2013, possui o recurso “Refuse
for uma versão específica, serão questionados ícones PDF”, que permite editar um arquivo PDF como se fos-
e atalhos de teclado apenas dela. Se for uma versão se um documento do Word.
específica com o “ou superior” complementando, O Microsoft Word pode gravar o documento no for-
então serão questionados os recursos válidos para mato ODT, do LibreOffice, assim como é capaz de editar
todas as versões, e você poderá usar a última versão documentos produzidos no outro pacote de aplicativos.
disponível para estudos. Durante a edição de um documento, o Microsoft
Grande parte das questões de concursos públicos Word:
procuram questionar as diferenças entre os aplica-
tivos. Questiona-se, por exemplo, a respeito de um z Faz a gravação automática dos dados editados
recurso que é acionado com um atalho de teclado no enquanto o arquivo não tem um nome ou local de
Microsoft Word, mas que no LibreOffice Writer tem armazenamento definidos. Depois, se necessário, o
usuário poderá “Recuperar documentos não salvos”;
um atalho de teclado diferente. z Faz a gravação automática de auto recuperação
dos arquivos em edição que tenham nome e local
MICROSOFT WORD definidos, permitindo recuperar as alterações que
não tenham sido salvas;
Estrutura Básica dos Documentos z As versões do Office 365 oferecem o recurso de “Sal-
vamento automático”, associado à conta Microsoft,
Os documentos produzidos com o editor de textos para armazenamento na nuvem Microsoft OneDri-
Microsoft Word possuem a seguinte estrutura básica: ve. Como na versão on-line, a cada alteração, o sal-
vamento será realizado.
z Documentos: arquivos DOCX criados pelo Microsoft
Word 2007 e superiores. Os documentos são arquivos O formato de documento RTF (Rich Text Format) é
editáveis pelo usuário, que podem ser compartilha- padrão do acessório do Windows chamado WordPad,
dos com outros usuários para edição colaborativa; e por ser portável, também poderá ser editado pelo
z Os Modelos (Template): com extensão DOTX, con- Microsoft Word.
tém formatações que serão aplicadas aos novos Em questões sobre pacotes de aplicativos nas
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

documentos criados a partir dele. O modelo é usa- provas elaboradas pela banca organizadora CESPE/
do para a padronização de documentos; Cebraspe, as extensões de arquivos são amplamente
z O modelo padrão do Word é NORMAL.DOTM questionadas.
(Document Template Macros – modelo de docu- Ao iniciar a edição de um documento, o modo
mento com macros): as macros são códigos desen- de exibição selecionado na guia Exibir é “Layout de
volvidos em Visual Basic for Applications (VBA) Impressão”. O documento será mostrado na tela da
para a automatização de tarefas; mesma forma que será impresso no papel.
z Páginas: unidades de organização do texto, segun- O Modo de Leitura permite visualizar o documen-
do a orientação, o tamanho do papel e margens. As to sem outras distrações como a Faixa de Opções com
principais definições estão na guia Layout, mas tam- os ícones. Neste modo, parecido com Tela Inteira, a
bém encontrará algumas definições na guia Design; barra de título continua sendo exibida.
z Seção: divisão de formatação do documento, O modo de exibição “Layout da Web” é usado para
onde cada parte tem a sua configuração. Sempre visualizar o documento como ele seria exibido se esti-
que forem usadas configurações diferentes, como vesse publicado na Internet como página web. 205
Em “Estrutura de Tópicos” apenas os estilos de Títulos serão mostrados, auxiliando na organização dos blocos
de conteúdo.
O modo “Rascunho”, que antes era modo “Normal”, exibe o conteúdo de texto do documento sem os elementos gráfi-
cos (imagens, cabeçalho, rodapé) existentes nele.
Os modos de exibição estão na guia “Exibir”, que faz parte da Faixa de Opções. Ela é o principal elemento da
interface do Microsoft Office.

Acesso Rápido Guia Atual Item com Listagem Guias ou Abas

Caixa de Diálogo do Grupo Grupo Ícone com Opções

Figura 1. Faixa de opções do Microsoft Word

Para mostrar ou ocultar a Faixa de Opções, o atalho de teclado Ctrl+F1 poderá ser acionado. Na versão 2007 ela era
fixa e não podia ser ocultada. Atualmente ela pode ser recolhida ou exibida, de acordo com a preferência do usuário.
A Faixa de Opções contém guias, que organizam os ícones em grupos.

GUIA GRUPO ITEM ÍCONE

Recortar

Copiar
Área de Transferência

Colar

Página Inicial Pincel de Formatação

Nome da fonte Calibri (Corp

Tamanho da fonte

Fonte
Aumentar fonte

Diminuir fonte

Folha de Rosto

Páginas Página em Branco

Quebra de Página

Inserir
Tabelas Tabela

Imagem

Ilustrações Imagens Online

Formas

206
Importante!
Muitas bancas de concursos públicos e não costuma utilizar imagens em suas provas. Ela prioriza o conheci-
mento do candidato acerca dos conceitos dos softwares. Outras bancas organizadoras, priorizam o conheci-
mento do candidato acerca do uso dos recursos para a produção de arquivos (parte prática dos programas).

As guias possuem uma organização lógica, sequencial, das tarefas que serão realizadas no documento, desde
o início até a visualização do resultado final.

BOTÃO/GUIA DICA

Arquivo Comandos para o documento atual: salvar, salvar como, imprimir, salvar e enviar

Tarefas iniciais: o início do documento, acesso à área de transferência, formatação de fontes,


Página Inicial
parágrafos e formatação do conteúdo da página

Tarefas secundárias: adicionar um objeto que ainda não existe no documento, tabela, ilustrações
Inserir
e instantâneos

Layout da Página Configuração da página: formatação global do documento e formatação da página

Design Reúne formatação da página e plano de fundo

Referências Índices e acessórios: notas de rodapé, notas de fim, índices, sumários etc.

Correspondências Mala direta: cartas, envelopes, etiquetas, e-mails e diretório de contatos

Correção do documento: ele está ficando pronto... Ortografia e gramática, idioma, controle de
Revisão
alterações, comentários, comparar, proteger etc.

Exibir Visualização: podemos ver o resultado de nosso trabalho. Será que ficou bom?

Edição e Formatação de Textos

A edição e formatação de textos consiste em aplicar estilos, efeitos e temas, tanto nas fontes, como nos pará-
grafos e nas páginas.
Os estilos fornecem configurações padronizadas para serem aplicadas aos parágrafos. Estas formatações
envolvem as definições de fontes e parágrafos, sendo úteis para a criação dos índices ao final da edição do docu-
mento. Os índices são gerenciados através das opções da guia Referências.
No Microsoft Word estão disponíveis na guia Página Inicial, e no LibreOffice Writer estão disponíveis no menu
Estilos.
Com a ferramenta Pincel de Formatação, o usuário poderá copiar a formatação de um local e aplicar em outro
local no mesmo documento, ou em outro arquivo aberto. Para usar a ferramenta, selecione o ‘modelo de formatação
no texto’, clique no ícone da guia Página Inicial e clique no local onde deseja aplicar a formatação.
O conteúdo não será copiado, somente a formatação.
Se efetuar duplo clique no ícone, poderá aplicar a formatação em vários locais até pressionar a tecla Esc ou
iniciar uma digitação.

Seleção

Através do teclado e do mouse, como no sistema operacional, podemos selecionar palavras, linhas, parágrafos
e até o documento inteiro.

MOUSE TECLADO AÇÃO SELEÇÃO

- Ctrl+T Selecionar tudo Seleciona o documento


NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Botão principal - 1 clique na palavra Posiciona o cursor

Botão principal - 2 cliques na palavra Seleciona a palavra

Botão principal - 3 cliques na palavra Seleciona o parágrafo

Botão principal - 1 clique na margem Selecionar a linha

Botão principal - 2 cliques na margem Seleciona o parágrafo

Botão principal - 3 cliques na margem Seleciona o documento

- Shift+Home Selecionar até o início Seleciona até o início da linha

207
MOUSE TECLADO AÇÃO SELEÇÃO

- Shift+End Selecionar até o final Seleciona até o final da linha

- Ctrl+Shift+Home Selecionar até o início Seleciona até o início do documento

- Ctrl+Shift+End Selecionar até o final Seleciona até o final do documento

Botão principal Ctrl Seleção individual Palavra por palavra

Botão principal Shift Seleção bloco Seleção de um ponto até outro local

Botão principal
Ctrl+Alt Seleção bloco Seleção vertical
pressionado

Botão principal
Alt Seleção bloco Seleção vertical, iniciando no local do cursor
pressionado

Teclas de atalhos e seleção com mouse são importantes, tanto nos concursos como no dia-a-dia. Experimente
praticar no computador. No Microsoft Word, se você digitar =rand(10,30) no início de um documento em branco,
ele criará um texto ‘aleatório’ com 10 parágrafos de 30 frases em cada um. Agora você pode praticar à vontade.

Edição e Formatação de Fontes

As fontes são arquivos True Type Font (.TTF) gravadas na pasta Fontes do Windows, e aparecem para todos os
programas do computador.
Nomes de fontes como Calibri (fonte padrão do Word 2019), Arial, Times New Roman, Courier New, Verdana,
são os mais comuns. Atalho de teclado para formatar a fonte: Ctrl+Shift+F.
A caixa de diálogo Formatar Fonte poderá ser acionada com o atalho Ctrl+D.
Ao lado, um número indica o tamanho da fonte: 8, 9, 10, 11, 12, 14 e assim sucessivamente. Se quiser, digite o
valor específico para o tamanho da letra.
Atalhos de teclado: Pressione Ctrl+Shift+P para mudar o tamanho da fonte pelo atalho. E diretamente pelo
teclado com Ctrl+Shift+< para diminuir fonte e Ctrl+Shift+> para aumentar o tamanho da fonte.
Estilos são formatos que modificam a aparência do texto, como negrito (atalho Ctrl+N), itálico (atalho Ctrl+I)
e sublinhado (atalho Ctrl+S). Já os efeitos modificam a fonte em si, como texto tachado (riscado simples sobre as
palavras), subscrito (como na fórmula H2O – atalho Ctrl + igual), e sobrescrito (como em km2 – atalho Ctrl+Shift+mais).
A diferença entre estilos e efeitos é que, os estilos podem ser combinados, como negrito-itálico, itálico-subli-
nhado, negrito-sublinhado, negrito-itálico-sublinhado, enquanto os efeitos são concorrentes entre si.
Concorrentes entre si, significa que você escolhe o efeito tachado ou tachado duplo, nunca os dois simultanea-
mente. O mesmo para o efeito TODAS MAIÚSCULAS e Versalete. Sobrescrito e subscrito, Sombra é um efeito independen-
te, que pode ser combinado com outros. Já as opções de efeitos Contorno, Relevo e Baixo Relevo não, devem ser
individuais.
Finalizando... Temos o sublinhado. Ele é um estilo simples, mas comporta-se como efeito dentro de si mesmo.
Temos então Sublinhado simples, Sublinhado duplo, Tracejado, Pontilhado, Somente palavras (sem considerar os
espaços entre as palavras), etc. São os estilos de sublinhados, que se comportam como efeitos.

Edição e Formatação de Parágrafos

Os parágrafos são estruturas do texto que são finalizadas com Enter.


Um parágrafo poderá ter diferentes formatações. Confira:

z Marcadores: símbolos no início dos parágrafos;


z Numeração: números, ou algarismos romanos, ou letras, no início dos parágrafos;
z Aumentar recuo: aumentar a distância do texto em relação à margem;
z Diminuir recuo: diminuir a distância do texto em relação à margem;
z Alinhamento: posicionamento em relação às margens esquerda e direita. São 4 alinhamentos disponíveis:
Esquerda, Centralizado, Direita e Justificado;
z Espaçamento entre linhas: distância entre as linhas dentro do parágrafo;
z Espaçamento antes: distância do parágrafo em relação ao anterior;
z Espaçamento depois: distância do parágrafo em relação ao seguinte;
z Sombreamento: preenchimento atrás do parágrafo;
z Bordas: linhas ao redor do parágrafo.

208
Recuo especial de primeira linha - apenas a primeira linha será
deslocada em relação à margem esquerda
Margem esquerda Margem direita

2 2 4 6 8 10 10 14 16

Recuo deslocamento - as linhas


Recuo esquerda - todas as serão deslocadas em relação à
linhas serão deslocadas em margem esquerda, exceto a pri- Recuo direito - todas as linhas
relação à margem esquerda meira linha serão deslocadas em relação à
margem direita

Figura 2. Recuos de parágrafos (nos símbolos da régua)

Nos editores de textos, recursos que conhecemos no dia-a-dia possuem nomes específicos. Confira alguns exemplos:

z Recuo: distância do texto em relação à margem;


z Realce: marca-texto, preenchimento do fundo das palavras;
z Sombreamento: preenchimento do fundo dos parágrafos;
z Folha de Rosto: primeira página do documento, capa;
z SmartArt: diagramas, representação visual de dados textuais;
z Orientação: posição da página, que poderá ser Retrato ou Paisagem;
z Quebras: são divisões, de linha, parágrafo, colunas ou páginas;
z Sumário: índice principal do documento.

Muitos recursos de formatação não são impressos no papel, mas estão no documento. Para visualizar os caracte-
res não imprimíveis e controlar melhor o documento, você pode acionar o atalho de teclado Ctrl+* (Mostrar tudo).

CARACTERES NÃO IMPRIMÍVEIS NO EDITOR MICROSOFT WORD

Tecla(s) Ícone Ação Visualização

Quebra de Parágrafo: muda de parágrafo e pode


Enter -
mudar a formatação

Quebra de Linha: muda de linha e mantém a for-


Shift+Enter -
matação atual

Quebra de página: muda de página, no local atual


do cursor. Disponível na guia Inserir, grupo Pági-
Ctrl+Enter ou Ctrl+Return Quebra de página
nas, ícone Quebra de Página, e na guia Layout,
grupo Configurar Página, ícone Quebras

Quebra de coluna: indica que o texto continua na


Ctrl+Shift+ Enter próxima coluna. Disponível na guia Layout, grupo Quebra de coluna
Configurar Página, ícone Quebras

Separador de Estilo: usado para modificar o estilo


Ctrl+Alt+ Enter -
no documento

Insere uma marca de tabulação (1,25cm). Se esti-


TAB
ver no início de um texto, aumenta o recuo.

- - Fim de célula, linha ou tabela

ESPAÇO Espaço em branco


NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Ctrl+Shift+ Espaço Espaço em branco não separável

- - Texto oculto (definido na caixa Fonte, Ctrl+D) abc


- - Hifens opcionais

- - Âncoras de objetos

- - Selecionar toda a tabela

- - Campos atualizáveis pelo Word

209
Tabelas

As tabelas são estruturas de organização muito utilizadas para um layout adequado do texto, semelhante a
colunas, com a vantagem que estas não criam seções exclusivas de formatação.
As tabelas seguem as mesmas definições de uma planilha de Excel, ou seja, tem linhas, colunas, é formada por células,
e estas poderão conter também fórmulas simples.
Ao inserir uma tabela, seja ela vazia, a partir de um desenho livre, ou convertendo a partir de um texto, uma pla-
nilha de Excel, ou um dos modelos disponíveis, será apresentada a barra de ferramentas adicional na Faixa de Opções.
Um texto poderá ser convertido em Tabela, e voltar a ser um texto, se possuir os seguintes marcadores de for-
matação: ponto e vírgula, tabulação, enter (parágrafo) ou outro específico.
Algumas operações são exclusivas das Tabelas, como Mesclar Células (para unir células adjacentes em uma única),
Dividir Células (para dividir uma ou mais células em várias outras), alinhamento do texto combinando elementos
horizontais tradicionais (esquerda, centro e direita) com verticais (topo, meio e base).
O editor de textos Microsoft Word oferece ferramentas para manipulação dos textos organizados em tabelas.
O usuário poderá organizar as células nas linhas e colunas da tabela, mesclar (juntar), dividir (separar), visua-
lizar as linhas de grade, ocultar as linhas de grade, entre outras opções.
E caso a tabela avance em várias páginas, temos a opção Repetir Linhas de Cabeçalho, atribuindo no início da
tabela da próxima página, a mesma linha de cabeçalho que foi usada na tabela da página anterior.
As tabelas do Word possuem algumas características que são diferentes das tabelas do Excel. Geralmente estes itens
são aqueles questionados em provas de concursos.
Por exemplo, no Word, quando o usuário está digitando em uma célula, ocorrerá mudança automática de
linha, posicionando o cursor embaixo. No Excel, o conteúdo ‘extrapola’ os limites da célula, e precisará alterar as
configurações na planilha ou a largura da coluna manualmente.
Confira na tabela a seguir algumas das diferenças do Word para o Excel.

ATALHOS WORD EXCEL


Tabela, Mesclar Todos os conteúdos são mantidos Somente o conteúdo da primeira célula será mantido
Em inglês, com referências direcionais Em português, com referências posicionais
Tabela, Fórmulas
=SUM(ABOVE) =SOMA(A1:A5)
Tabelas, Fórmulas Não recalcula automaticamente Recalcula automaticamente e manualmente (F9)
Tachado Texto Não tem atalho de teclado Atalho: Ctrl+5
Quebra de linha manual Shift+Enter Alt+Enter
Copia apenas a primeira formatação da
Pincel de Formatação Copia várias formatações diferentes
origem
Ctrl+D Caixa de diálogo Fonte Duplica a informação da célula acima
Ctrl+E Centralizar Preenchimento Relâmpago
Ctrl+G Alinhar à Direita (parágrafo) Ir para..
Ctrl+R Repetir o último comando Duplica a informação da célula à esquerda
F9 Atualizar os campos de uma mala direta Atualizar o resultado das fórmulas
F11 - Inserir gráfico
Finaliza a entrada na célula e mantém o cursor na célula
Ctrl+Enter Quebra de página manual
atual
Alt+Enter Repetir digitação Quebra de linha manual
Finaliza a entrada na célula e posiciona o cursor na célula
Shift+Enter Quebra de linha manual
acima da atual, se houver
Shift+F3 Alternar entre maiúsculas e minúsculas Inserir função

Índices

Os índices podem ser construídos a partir dos estilos usados na formatação do texto, ou posteriormente atra-
vés da adição de itens manualmente. Basicamente, é todo o conjunto disponível na guia Referências.

z Sumário: principal índice do documento;


z Notas de Rodapé: inseridas no final de cada página, não formam um índice, mas ajudam na identificação de
citações e expressões;
z Notas de Fim: inseridas no final do documento, semelhante a Notas de Rodapé;
z Citações e Bibliografia: permite a criação de índices com as citações encontradas no texto, além das Referên-
cias Bibliográficas segundo os estilos padronizados;
z Legendas: inseridas após os objetos gráficos (ilustrações e tabelas), podem ser usadas para criação de um
Índice de Ilustrações;
210 z Índice: para marcação manual das entradas do índice;
z Índice de Autoridades: formato próprio de citação, disponível na guia Referências.

Os índices serão criados a partir dos Estilos utilizados durante o texto, como Título 1, Título 2, e assim por dian-
te. Se não forem usados, posteriormente o usuário poderá ‘Adicionar Texto’ no índice principal (Sumário), Marcar
Entrada (para inserir um índice) e até remover depois de inserido.
Os índices suportam Referências Cruzadas, que permitem o usuário navegar entre os links do documento de
forma semelhante ao documento na web. Ao clicar em um link, o usuário vai para o local escolhido. Ao clicar no
local, retorna para o local de origem.

Importante!
A guia Referências é uma das opções mais questionadas em concursos públicos por dois motivos: envolvem
conceitos de formatação do documento exclusivos do Microsoft Word e é utilizado pelos estudantes na for-
matação de um TCC (Trabalho de Conclusão de Curso).

MICROSOFT EXCEL

As planilhas de cálculos são amplamente utilizadas nas empresas para as mais diferentes tarefas. Desde a criação
de uma agenda de compromissos, passando pelo controle de ponto dos funcionários e folha de pagamento, ao controle
de estoque de produtos e base de clientes. Diversas funções internas oferecem os recursos necessários para a operação.
O Microsoft Excel apresenta grande semelhança de ícones com o Microsoft Word. O Excel “antigo” usava os
formatos XLS e XLT em seus arquivos, atualizado para XLSX e XLTX, além do novo XLSM contendo macros. A
atualização das extensões dos arquivos ocorreu com o Office 2007, e permanece até hoje.
As planilhas de cálculos não são banco de dados. Muitos usuários armazenam informações (dados) em uma
planilha de cálculos como se fosse um banco de dados, porém o Microsoft Access é o software do pacote Microsoft
Office desenvolvido para esta tarefa. Um banco de dados tem informações armazenadas em registros, separados
em tabelas, conectados por relacionamentos, para a realização de consultas.

Conceitos Básicos

z Célula: unidade da planilha de cálculos, o encontro entre uma linha e uma coluna. A seleção individual é com
a tecla CTRL e a seleção de áreas é com a tecla SHIFT (assim como no sistema operacional);
z Coluna: células alinhadas verticalmente, nomeadas com uma letra;
z Linha: células alinhadas horizontalmente, numeradas com números;

Barra de Acesso Rápido Coluna


Barra de Fórmulas
Faixa de
Opções

Célula NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Linha

z Planilha: o conjunto de células organizado em uma folha de dados. Na versão atual são 65546 colunas (nomeadas de A
até XFD) e 1048576 linhas (numeradas);
z Pasta de Trabalho: arquivo do Excel (extensão XLSX) contendo as planilhas, de 1 a N (de acordo com quanti-
dade de memória RAM disponível, nomeadas como Planilha1, Planilha2, Planilha3);
z Alça de preenchimento: no canto inferior direito da célula, permite que um valor seja copiado na direção
em que for arrastado. No Excel, se houver 1 número, ele é copiado. Se houver 2 números, uma sequência será 211
criada. Se for um texto, é copiado. Mas texto com números é incrementado. Dias da semana, nome de mês e
datas são sempre criadas as continuações (sequências);
z Mesclar: significa simplesmente “Juntar”. Havendo diversos valores para serem mesclados, o Excel manterá
somente o primeiro destes valores, e centralizará horizontalmente na célula resultante.

E após a inserção dos dados, caso o usuário deseje, poderá juntar as informações das células.
Existem 4 opções no ícone Mesclar e Centralizar, disponível na guia Página Inicial:

z Mesclar e Centralizar: Une as células selecionadas a uma célula maior e centraliza o conteúdo da nova célula.
Este recurso é usado para criar rótulos (títulos) que ocupam várias colunas;
z Mesclar através: Mesclar cada linha das células selecionadas em uma célula maior;
z Mesclar células: Mesclar (unir) as células selecionadas em uma única célula, sem centralizar;
z Desfazer Mesclagem de Células: desfaz o procedimento realizado para a união de células.

Elaboração de Tabelas e Gráficos

A tabela de dados, ou folha de dados, ou planilha de dados, é o conjunto de valores armazenados nas células.
Estes dados poderão ser organizados (classificação), separados (filtro), manipulados (fórmulas e funções), além de
apresentar em forma de gráfico (uma imagem que representa os valores informados).
Para a elaboração, poderemos:

z Digitar o conteúdo diretamente na célula. Basta iniciar a digitação, e o que for digitado é inserido na célula;
z Digitar o conteúdo na barra de fórmulas. Disponível na área superior do aplicativo, a linha de fórmulas é o
conteúdo da célula. Se a célula possui um valor constante, além de mostrar na célula, este aparecerá na barra
de fórmulas. Se a célula possui um cálculo, seja fórmula ou função, esta será mostrada na barra de fórmulas;
z O preenchimento dos dados poderá ser agilizado através da Alça de Preenchimento ou pelas opções automá-
ticas do Excel;
z Os dados inseridos nas células poderão ser formatados, ou seja, continuam com o valor original (na linha de
fórmulas) mas são apresentados com uma formatação específica;
z Todas as formatações estão disponíveis no atalho de teclado Ctrl+1 (Formatar Células);
z Também na caixa de diálogo Formatar Células, encontraremos o item Personalizado, para criação de máscaras
de entrada de valores na célula.

Formatos de Números, Disponível na Guia Página Inicial

Geral
123 Sem formato especifico
Número
12 4,00
Moeda
R$4,00

Contábil
R$4,00

Data Abreviada
04/01/1900
Data Completa
quarta-feira, 4 de janeiro de 1900
Hora
00:00:00
Porcentagem
400,00%
212
1 Fração
2 4

2 Científico
10 4,00E+00
Texto
ab 4

As informações existentes nas células poderão ser exibidas com formatos diferentes. Uma data, por exemplo, na
verdade é um número formatado como data. Por isso conseguimos calcular a diferença entre datas.
Os formatos Moeda e Contábil são parecidos entre si. Mas possuem exibição diferenciada. No formato de Moe-
da, o alinhamento da célula é respeitado e o símbolo R$ acompanha o valor. No formato Contábil, o alinhamento
é ‘justificado’ e o símbolo de R$ posiciona na esquerda, alinhando os valores pela vírgula decimal.

Moeda Contábil
R$4,00 R$4,00

Moeda CONTÁBIL

R$ 150,00 R$     150,00

R$ 170,00 R$    170,00

R$ 200,00 R$­    200,00

R$ 1.000,00 R$   1.000,00

R$ 10,54 R$    10,54

O ícone % é para mostrar um valor com o formato de porcentagem. Ou seja, o número é multiplicado por 100.
Exibe o valor da célula como percentual (Ctrl+Shift+%)

FORMATO
VALOR ß,0
PORCENTAGEM E 2 CASAS % ,0 0
PORCENTAGEM %

1 100% 100,00%

0,5 50% 50,00%

2 200% 200,00%

100 10000% 10000,00%

0,004 0% 0,40%

O ícone 000 é o Separador de Milhares. Exibir o valor da célula com um separador de milhar. Este comando
alterará o formato da célula para Contábil sem um símbolo de moeda.

VALOR FORMATO CONTÁBIL SEPARADOR DE MILHARES 000

1500 R$1.500,00 1.500,00

16777418 R$16.777.418,00 16.777.418,00

1 R$1,00 1,00

400 R$400,00 400,00


NOÇÕES DE INFORMÁTICA

27568 R$27.568,00 27.568,00

,00
Os ícones ß,0,00 à,0 são usados para Aumentar casas decimais (Mostrar valores mais precisos exibindo mais
casas decimais) ou Diminuir casas decimais (Mostrar valores menos precisos exibindo menos casas decimais).
Quando um número na casa decimal possui valor absoluto diferente de zero, ele é mostrado ao aumentar casas deci-
mais. Se não possuir, então será acrescentado zero.
Quando um número na casa decimal possui valor absoluto diferente de zero, ele poderá ser arredondado para cima ou
para baixo, de ao diminuir as casas decimais. É o mesmo que aconteceria com o uso da função ARRED, para arredondar.

Simbologia Específica

Cada símbolo tem um significado, e nas tabelas a seguir, além de conhecer o símbolo, conheça o significado e
alguns exemplos de aplicação. 213
OPERADORES ARITMÉTICOS OU MATEMÁTICOS

Símbolo Significado Exemplo Comentários

+ (mais) Adição = 18 + 2 Faz a soma de 18 e 2

- (menos) Subtração = 20 – 5 Subtrai 5 do valor 20

Multiplica 5 (multiplicando) por 4


* (asterisco) Multiplicação =5*4
(multiplicador)

/ (barra) Divisão = 25 / 10 Divide 25 por 10, resultando em 2,5

% (percentual) Percentual = 20% Faz 20 por cento, ou seja, 20 dividido por 100

Exponenciação Cálculo Faz 3 elevado a 2, 3 ao quadrado = 9


^(circunflexo) =3^2=8^(1/3)
de raízes Faz 8 elevado a 1/3, ou seja, raiz cúbica de 8

Ordem das Operações Matemáticas

z ( ) – parênteses;
z ^ – exponenciação (potência, um número elevado a outro número);
z * ou / – multiplicação (função MULT) ou divisão;
z + ou - – adição (função SOMA) ou subtração.

Como resolver as questões de planilhas de cálculos?

1. Leitura atenta do enunciado (português e interpretação de textos)


2. Identificar a simbologia básica do Excel (informática)
3. Respeitar as regras matemáticas básicas (matemática)
4. Realizar o teste, e fazer o verdadeiro ou falso (raciocínio lógico)

OPERADORES RELACIONAIS, USADOS EM TESTES

Símbolo Significado Exemplo Comentários

Se o valor de A1 for maior que 5, então mostre


> (maior) Maior que = SE (A1 > 5 ; 15 ; 17 )
15, senão mostre 17

Se o valor de A1 for menor que 3, então mos-


< (menor) Menor que = SE (A1 < 3 ; 20 ; 40 )
tre 20, senão mostre 40.

Se o valor de A1 for maior ou igual a 7, então


>= (maior ou igual) Maior ou igual a = SE (A1 >= 7 ; 5 ; 1 ) mostre 5, senão
mostre 1.

Se o valor de A1 for menor ou igual a 5, então


<= (menor ou igual) Menor ou igual a = SE (A1 <= 5 ; 11 ; 23 ) mostre 11, senão
mostre 23.

Se o valor de A1 for diferente de 1, então mos-


<> (menor e maior) Diferente = SE (A1 <> 1 ; 100 ; 8 )
tre 100, senão mostre 8.

Se o valor de A1 for igual a 2, então mostre 10,


= (igual) Igual a = SE (A1 = 2 ; 10 ; 50 )
senão mostre 50.

Princípios dos Operadores Relacionais

z Um valor jamais poderá ser menor e maior que outro valor ao mesmo tempo
z Uma célula vazia é um conjunto vazio, ou seja, não é igual a zero, é vazio
z O símbolo matemático ≠ não poderá ser escrito diretamente na fórmula, use <>
z O símbolo matemático ≥ não poderá ser escrito diretamente na fórmula, use >=
z O símbolo matemático ≤ não poderá ser escrito diretamente na fórmula, use <=

OPERADORES DE REFERÊNCIA

Símbolo Significado Exemplo Comentários

=$A1 Trava a célula na coluna A


$ (cifrão) Travar uma célula =A$1 Trava a célula na linha 1
=$A$1 Trava a célula A1, ela não mudará
214
OPERADORES DE REFERÊNCIA

Símbolo Significado Exemplo Comentários

Obtém o valor de A3 que está na planilha


! (exclamação) Planilha = Planilha2!A3
Planilha2

Informa o nome de outro arquivo do Excel,


[ ] (colchetes) Pasta de Trabalho =[Pasta2]Planilha1!$A$2
onde deverá buscar o valor

Informa o caminho de outro arquivo do Ex-


=’C:\FernandoNishimura\
‘ (apóstrofe) Caminho cel, onde deverá encontrar o arquivo para
[pasta2.xlsx]Planilha1’!$A$2
buscar o valor

; (ponto e vírgula) Significa E = SOMA (15 ; 4 ; 6 ) Soma 15 e 4 e 6, resultando em 25

Soma de A1 até B4, ou seja, A1, A2, A3, A4,


: (dois pontos) Significa ATÉ = SOMA (A1:B4)
B1, B2, B3, B4

Executa uma operação sobre as células em


Espaço Intersecção ($) =SOMA(F4:H8 H6:K10)
comum nos intervalos

Princípios dos Operadores de Referência

z O símbolo de cifrão transforma uma referência relativa (A1) em uma referência mista (A$1 ou $A1) ou em
referência absoluta ($A$1)
z O símbolo de exclamação busca o valor em outra planilha, na mesma pasta de trabalho ou em outro arquivo.
Ex.: =[Pasta2]Planilha1!$A$2

O símbolo de cifrão ($) é um dos mais importantes na manipulação de fórmulas de planilhas de cálculos. Todas
as bancas organizadoras questionam fórmulas com e sem eles nas referências das células.
Vamos conhecer uma questão que utiliza referências mistas. Ela foi aplicada pela Fundação VUNESP, para o cargo de
Papiloscopista da Polícia Civil de São Paulo, em 2018.
Assumindo que foi digitada a fórmula =$F2-G$2 na célula H2 e que essa fórmula foi copiada e colada nas célu-
las H3 até H9, assinale a alternativa com o valor que aparecerá na célula H6 da planilha do MS-Excel 2010, em sua
configuração original, exibida na figura:

a) –R$ 960,00
b) –R$ 100,00
c) R$ 400,00
d) R$ 500,00
e) R$ 360,00
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

A resposta correta é a letra B. A fórmula =$F2-G$2 inserida na célula H2 possui referências mistas.
O símbolo de cifrão transforma uma referência relativa ( A1 ) em uma referência mista ( A$1 ou $A1 ) ou em
referência absoluta ( $A$1 )
O símbolo de $ serve para fixar uma posição na referência (endereço da célula). A posição que ele estiver
acompanhando, não mudará. Quando não temos o símbolo de cifrão, temos uma referência relativa. A1
Se temos um símbolo de $, temos uma referência mista. $A1 ou A$1. E se temos dois símbolos de cifrão, temos
uma referência absoluta. $A$1
A fórmula =$F2-G$2 tem =$F2-G$2 fixo, ou seja, ao copiar e colar, não mudará. =$F__-__$2
Na célula H2 temos a fórmula =$F2-G$2
Na célula H6 teremos a fórmula =$F6-G$2, porque mudamos da célula H2 para H6 (linha 2 para linha 6), mas
permanecemos na mesma coluna H (não precisando mudar a letra G da segunda parte da fórmula).

215
Na célula H6 teremos a fórmula =$F6-G$2

SÍMBOLOS USADOS NAS FÓRMULAS E FUNÇÕES

Símbolo Significado Exemplo Comentários

Faz a soma de 15 e 3
= 15 + 3
Início de fórmula, função ou Compara o valor de A1 com 5, e caso
= (igual) = SOMA ( 15 ; 3 )
comparação seja verdadeiro, mostra 10, caso seja
=SE ( A1 = 5 ; 10 ; 11 )
falso, mostra 11

Retorna a data atual do computador.


Identifica uma função ou os = HOJE ( )
Faz a soma de A1 e B1.
( )parênteses valores de uma operação = SOMA (A1;B1)
Faz a soma de 3 e 5 antes de dividir
prioritária = (3+5) / 2
por 2

A função SE tem 3 partes, e estas


; (ponto e vírgula) Separador de argumentos =SE ( A1 = 5 ; 10 ; 11 )
estão separadas por ponto e vírgula

=SOMA(F4:H8 Executa uma operação sobre as célu-


Espaço Intersecção
H6:K10) las em comum nos intervalos

Importante!
As fórmulas e funções começam com o sinal de igual. Outros símbolos podem ser usados, mas o Excel subs-
tituirá pelo sinal de igual.

SÍMBOLOS PARA TEXTOS

Símbolo Significado Exemplo Comentários

Apresenta o texto Fernando.


“ (aspas duplas) Texto exato = “Fernando”
Se usado em testes, é “igual a”

Exibe os zeros não significativos,


‘(apóstrofe) Número como texto ‘0001
0001 como texto (ex.: placa de carro)

Exibe “Fernando Nishimura” (sem as


& (“E” comercial) Concatenar = “Fernando ”&” Nishimura” aspas), o resultado da junção dos
textos individuais

O símbolo & é usado para concatenar dois conteúdos, como por exemplo: =”15”&”A45” resulta em 15A45. Podere-
mos usar a função CONCATENAR, ou a função CONCAT, para obter o mesmo resultado do símbolo &.

CORRESPONDÊNCIA DE SÍMBOLOS E FUNÇÕES NO EXCEL

Símbolo Significado Exemplo Comentários

+ (sinal de mais) SOMA Adição =15+7 é o mesmo que =SOMA(15;7)

* (asterisco) MULT Multiplicação =12*3 é o mesmo que =MULT(12;3)

^ (circunflexo) POTÊNCIA Exponenciação =2^3 é o mesmo que =POTÊNCIA(2;3)

RAIZ Raiz quadrada =4^(1/2) é o mesmo que =RAIZ(4)


216
CORRESPONDÊNCIA DE SÍMBOLOS E FUNÇÕES NO EXCEL

& (E comercial) CONCATENAR Juntar textos =A1&A2&A3 é igual a =CONCATENAR(A1;A2;A3)

“ (aspas) TEXTO Converte em texto =”150144” é o mesmo que =TEXTO(150144)

Erros

Quando trabalhamos com planilhas de cálculos, especialmente no início dos estudos, é comum aparecerem men-
sagens de erros nas células, decorrente da falta de argumentos nas fórmulas, referências incorretas, erros de digita-
ção, entre outros. Vamos ver algumas das mensagens de erro mais comuns que ocorrem nas planilhas de cálculos.
As planilhas de cálculos oferecem o recurso “Rastrear precedentes”, dentro do conceito de Auditoria de Fórmulas.
Com este recurso, muito questionado em concursos da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o usuário poderá ver setas na
planilha indicando a relação entre as células, e identificar a origem das mensagens de erros.
A seguir, os erros mais comuns que podem ocorrer em uma planilha de cálculos no Microsoft Excel:

z #DIV/0! – indica que a fórmula está tentando dividir um valor por 0;


z #NOME? – indica que a fórmula possui um texto que o Excel 2007 não reconhece;
z #NULO! – a fórmula contém uma interseção de duas áreas que não se interceptam;
z #NUM! – a fórmula apresenta um valor numérico inválido;
z #REF! – indica que na fórmula existe a referência para uma célula que não existe;
z #VALOR! – indica que a fórmula possui um tipo errado de argumento;
z ##### – indica que o tamanho da coluna não é suficiente para exibir seu valor.

Funções Básicas

z SOMA(valores): realiza a operação de soma nas células selecionadas.

No Microsoft Excel, a função SOMA efetua a adição dos valores numéricos informados em seus argumentos. Se
existirem células com textos, elas serão ignoradas. Células vazias não são somadas.
=SOMA(A1;A2;A3) Efetua a soma dos valores existentes nas células A1, A2 e A3.
=SOMA(A1:A5) Efetua a soma dos 5 valores existentes nas células A1 até A5
=SOMA(A1;34;B3) Efetua a soma dos valores da célula A1, com 34 (valor literal) e B3.
=SOMA(A1:B4) Efetua a soma dos 8 valores existentes, de A1 até B4. O Excel não faz ‘triangulação’, operando
apenas áreas quadrangulares.
=SOMA(A1;B1;C1:C3) Efetua a soma dos valores A1 com B1 e C1 até C3.
=SOMA(1;2;3;A1;A1) Efetua a soma de 1 com 2 com 3 e o valor A1 duas vezes.

z SOMASE(valores;condição): realiza a operação de soma nas células selecionadas, se uma condição for
atendida.

A sintaxe é =SOMASE(onde;qual o critério para que seja somado)

=SOMASE(A1:A5;”>15”) Efetuará a soma dos valores de A1 até A5 que sejam maiores que 15
=SOMASE(A1:A10;”10”) Efetuará a soma dos valores de A1 até A10 que forem iguais a 10.

z MÉDIA(valores): realiza a operação de média nas células selecionadas e exibe o valor médio encontrado.

=MEDIA(A1:A5) Efetua a média aritmética simples dos valores existentes entre A1 e A5. Se forem 5 valores,
serão somados e divididos por 5. Se existir uma célula vazia, serão somados e divididos por 4. Células vazias não
entram no cálculo da média.

z MED(valores): informa a mediana de uma série de valores.

Mediana é o ‘valor no meio’. Se temos uma sequência de valores com quantidade ímpar, eles serão ordenados e o valor
no meio é a sua mediana. Por exemplo, para os valores (5,6,9,3,4), ordenados são (3,4,5,6,9) e a mediana é 5.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Se temos uma sequência de valores com quantidade par, a mediana será a média dos valores que estão no
meio. Por exemplo, para os valores (2,13,4,10,8,1), ordenados são (1,2,4,8,10,13), e no meio temos 4 e 8. A média de
4 e 8 é 6 ((4+8)/2).

z MÁXIMO(valores): exibe o maior valor das células selecionadas.

=MAXIMO(A1:D6) Exibe qual é o maior valor na área de A1 até D6. Se houver dois valores iguais, apenas um
será mostrado.

z MAIOR(valores;posição): exibe o maior valor de uma série, segundo o argumento apresentado.

Valores iguais ocupam posições diferentes.

=MAIOR(A1:D6;3) Exibe o 3º maior valor nas células A1 até D6. 217


z MÍNIMO(valores): exibe o menor valor das célu- = CONT.VALORES(A1:A10) Informa o resultado da
las selecionadas. contagem, informando quantas células estão preen-
chidas com valores, quaisquer valores.
=MINIMO(A1:D6) Exibe qual é o menor valor na
área de A1 até D6. z CONT.NÚM (células): conta todas as células em um
intervalo, exceto células vazias e células com texto.
z MENOR(valores;posição): exibe o menor valor de
uma série, segundo o argumento apresentado. =CONT.NÚM(A1:A8) Informa quantas células no
intervalo A1 até A8 possuem valores numéricos.
Valores iguais ocupam posições diferentes.
z CONT.SE(células;condição): Esta função conta quan-
=MENOR(A1:D6;3) Exibe o 3º menor valor nas célu- tas vezes aparece um determinado valor (número ou
las A1 até D6. texto) em um intervalo de células (o usuário tem que
indicar qual é o critério a ser contado)
z SE(teste;verdadeiro;falso): avalia um teste e retor-
na um valor caso o teste seja verdadeiro ou outro =CONT.SE(A1:A10;”5”) Efetua a contagem de quan-
caso seja falso. tas células existem no intervalo de A1 até A10 conten-
do o valor 5.
Esta função é muito solicitada em todas as bancas.
A sua estrutura não muda, sendo sempre o teste na z CONT.SES(células1;condição1;células2;condi-
primeira parte, o que fazer caso seja verdadeiro na ção2): Esta função conta quantas vezes aparece
segunda parte, e o que fazer caso seja falso na últi- um determinado valor (número ou texto) em um
ma parte. Verdadeiro ou falso. Uma ou outra. Jamais intervalo de células (o usuário tem que indicar
serão realizadas as duas operações, somente uma qual é o critério a ser contado), atendendo a todas
delas, segundo o resultado do teste. as condições especificadas.
A função SE usa operadores relacionais (maior, menor,
maior ou igual, menor ou igual, igual, diferente) para cons- =CONT.SES(A1:A10;”5”;B1:B10;”7”) Efetua a conta-
trução do teste. As aspas são usadas para textos literais. gem de quantas células existem no intervalo de A1 até
A10 contendo o valor 5 e ao mesmo tempo, quantas
=SE(A1=10;”O valor da célula A1 é 10”;”O valor da células existem no intervalo de B1 até B10 contendo
célula A1 não é 10”) o valor 7.
=SE(A1<0;”O valor da célula A1 é negativo”;”O
valor não é negativo”) z CONTAR.VAZIO (células): conta as células vazias
=SE(A1>0;”O valor da célula A1 é positivo”;”O valor de um intervalo.
não é positivo”)
=CONTAR.VAZIO(A1:A8) Informa quantas células
É possível encadear funções, ampliando as áreas vazias existem no intervalo A1 até A8.
de atuação. Por exemplo, um número pode ser negati-
vo, positivo ou igual a zero. São 3 resultados possíveis.
z SOMASE(células para testar;teste;células para
somar): efetua um teste nas células especificadas,
=SE(A1=0;”Valor é igual a zero”;SE(A1<0;”Valor é e soma as correspondentes nas células para somar.
negativo”;”Valor é positivo”)) Os intervalos de teste e de soma podem ser os mesmos.
Neste exemplo, se for igual a zero (primeiro teste),
=SOMASE(A1:A10;”>6”;A1:A10) somará os valores
exibe a mensagem e finaliza a função. Mas se não for
de A1 até A10 que sejam maiores que 6.
igual a zero, poderá ser menor do que zero (segundo
=SOMASE(A1:A10;”<3”;B1:B10) somará os valores
teste), e exibe a mensagem “Valor é negativo”, encer-
de B1 até B10 quando os valores de A1 até A10 forem
rando a função. E por fim, se não é igual a zero, e não
menores que 3.
é menor que zero, só poderia ser maior do que zero,
e a mensagem final “Valor é positivo” será mostrada.
Obs.: o sinal de igual, para iniciar uma função, é z SOMASES(células para somar; células1; teste1;
usado somente no início da digitação da célula. células2; teste2): verifica as células que atendem
As funções CONT são usadas para informar a aos testes e soma as células correspondentes.
quantidade de células, que atendem às condições Os intervalos de teste e de soma podem ser os mesmos.
especificadas. z MÉDIASE(células para testar;teste;células para
calcular a média): efetua um teste nas células especi-
ficadas, e calcula a média das células correspondentes.
- CONT.NÚM - para contar quantas células possuem Os intervalos de teste e de média podem ser os mesmos.
números.
- CONT.VALORES - quantidade de células que estão z PROCV(valor_procurado; matriz_tabela; núm_
preenchidas. índice_coluna; [intervalo_pesquisa]): a função
- CONTAR.VAZIO - quantidade de células que não PROCV é utilizada para localizar o valor_procurado
estão preenchidas. dentro da matriz_tabela, e quando encontrar, retor-
- CONT.SE - quantidade de células que atendem a nar à enésima coluna informada em núm_índice_
uma condição específica. coluna. A última opção, que será VERDADEIRO ou
- CONT.SES - quantidade de células que atendem a FALSO, é usada para identificar se precisa ser o valor
várias condições simultaneamente. exato (F) ou pode ser valor aproximado (V).
Por exemplo:
z CONT.VALORES(células): esta função conta todas as
218 células em um intervalo, exceto as células vazias. =PROCV(105;A2:C7;2;VERDADEIRO)
=PROCV(“Monte”;B2:E7;2;FALSO) FUNÇÕES LÓGICAS
FALSO
A função PROCV é um membro das funções de pes- Retorna o valor lógico FALSO
(Função FALSO)
quisa e Referência, que incluem a função PROCH.
Use a função tirar ou a função arrumar para VERDADEIRO
remover os espaços à esquerda nos valores da tabela. (Função Retorna o valor lógico VERDADEIRO
VERDADEIRO)

z ESQUERDA(texto;quantidade): extrai de uma Retornará um valor que você especifica


sequência de texto, uma quantidade de caracteres SEERRO se uma fórmula for avaliada para um
especificados, a partir do início (esquerda). (Função SEERRO) erro; do contrário, retornará o resultado
da fórmula
=ESQUERDA(“Fernando Nishimura”;8) exibe “Fern
ando”
Importante!
z DIREITA(texto;quantidade): extrai de uma sequên-
cia de texto, uma quantidade de caracteres especifi- Foram apresentadas muitas funções neste
cados, a partir do final. material, não é verdade? Existem milhares de
funções no Microsoft Excel e LibreOffice Calc.
=DIREITA(“Polícia Federal”;7) exibe “Federal”. Em concursos públicos, estas são as mais ques-
tionadas. Em provas de concursos, raramente
z CONCATENAR(texto1;texto2; ... ): junta os textos aparecem questões com funções, e quando apa-
especificados em uma nova sequência. recem, são as básicas e intermediárias.
=CONCATENAR(“Escrevente “;”Técnico “;”Judiciá-
rio”) – exibe “Escrevente Técnico Judiciário”. Gráficos

z INT(valor): extrai a parte inteira de um número. Além da produção de planilhas de cálculos, o


Microsoft Excel (e o LibreOffice Calc) produz gráficos
=INT(PI()) parte inteira do valor de PI – valor com os dados existentes nas células.
3,14159 exibe 3. Gráficos são a representação visual de dados numé-
ricos, e poderão ser inseridos na planilha como gráficos
z TRUNCAR(valor;casas decimais): exibe um ‘comuns’ ou gráficos dinâmicos.
número com a quantidade de casas decimais, sem Os gráficos dinâmicos, assim como as tabelas dinâ-
arredondar. micas, são construídos com dados existentes em uma
=TRUNCAR(PI();3) exibir o valor de PI com 3 casas ou várias pastas de trabalho, associando e agrupando
decimais – valor 3,14159 exibe 3,141. informações para a produção de relatórios completos.

z ARRED(valor;casas decimais): exibe um número z Os gráficos de Colunas representam valores em


com a quantidade de casas decimais, arredondan- colunas 2D ou 3D. São opções do gráfico de Colunas:
do para cima ou para baixo. Agrupada, Empilhada, 100% Empilhada, 3D Agru-
pada, 3D Empilhada, 3D 100% Empilhada, e 3D.
=ARRED(PI();3) exibir o valor de PI com 3 casas
decimais – valor 3,14159 exibe 3,142.

z HOJE(): exibe a data atual do computador;


z AGORA(): exibe a data e hora atuais do computador;
z DIA(data): extrai o número do dia de uma data;
z MÊS(data): extrai o número do mês de uma data;
z ANO(data): extrai o número do ano de uma data;
z DIAS(data1;data2): informa a diferença em dias
entre duas datas;
z DIAS360(data1;data2): informa a diferença em z Os gráficos de Linhas representam valores com
dias entre duas datas (ano contábil, de 360 dias); linhas, pontos ou ambos. São opções do gráfico de
z POTÊNCIA(base;expoente): eleva um número Linhas: Linha, Linha Empilhada, 100% Empilha-
(base) ao expoente informado; da, com Marcadores, Empilhada com Marcadores,
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

=POTÊNCIA(2;4) 2 elevado à 4, 24, 2x2x2x2 = 16 100% Empilhada com Marcadores, e 3D.

z MULT(número;número;número; ... ): multiplica


os números informados nos argumentos.

FUNÇÕES LÓGICAS
E Retorna VERDADEIRO se todos os seus
(Função E) argumentos forem VERDADEIROS
OU Retorna VERDADEIRO se um dos argu-
(Função OU) mentos for VERDADEIRO
NÃO z Os gráficos de Pizza representam valores propor-
Inverte o valor lógico do argumento cionalmente. São opções do gráfico de Pizza: Pizza,
(Função NÃO)
Pizza 3D, Pizza de Pizza, Barra de Pizza, e Rosca.
219
z Os gráficos de Barras representam dados de forma
semelhante ao gráfico de Colunas, mas na horizon-
tal. São opções dos gráficos de Barras: Agrupadas,
Empilhadas, 100% Empilhadas, 3D Agrupadas, 3D z Os gráficos de Superfície parecem com os gráficos
Empilhadas, e 3D 100% Empilhadas. de Linhas, e preenchem a superfície com cores.
São exemplos de gráficos de Superfície: 3D, 3D
Delineada, Contorno e Contorno Delineado.

z Os gráficos de Área representam dados de forma seme-


lhante ao gráfico de Linhas, mas com preenchimento
até a base (eixo X). São opções dos gráficos de Área: z Os gráficos de Radar são usados para mostrar a evo-
Área, Área Empilhada, Área 100% Empilhada, Área 3D, lução de itens. São exemplos de gráficos de Radar:
Área 3D Empilhada, e Área 3D 100% Empilhada. Radar, Radar com Marcadores, e Radar Preenchido.

z Os gráficos de Dispersão representam duas séries


z O gráfico do tipo Mapa de Árvore é usado para mos-
de valores em seus eixos. São opções dos gráficos
trar proporcionalmente a hierarquia dos valores.
de Dispersão: Dispersão, com Linhas Suaves e Mar-
cadores, com Linhas Suaves, com Linhas Retas e
Marcadores, com Linhas Retas, Bolhas e Bolhas 3D.

z O gráfico do tipo Explosão Solar se assemelha ao


gráfico de Rosca, mas o maior valor será o primei-
ro da série de dados.

z O gráfico do tipo Mapa, exibe a informação de


acordo com cada região. Sua única opção é o Mapa
Coroplético.
z Os gráficos do tipo Histograma são usados para
séries de valores com evolução, como idades da
população. São exemplos de gráficos do tipo Histo-
grama: Histograma e Pareto.

z Os gráficos de Ações necessitam que os dados este-


jam organizados em preço na alta, preço na baixa
e preço no fechamento. Datas ou nomes das ações
serão usados como rótulos. São exemplos de gráficos
de Ações: Alta-Baixa-Fechamento, Abertura-Alta-
z O gráfico do tipo Caixa Estreita é usado para proje-
-Baixa-Fechamento, Volume-Alta-Baixa-Fechamen-
ção de valores.
to, e Volume-Abertura-Alta-Baixa-Fechamento.

z O gráfico do tipo Cascata, exibe e destaca as varia-


ções dos valores ao longo do tempo.

220
z O gráfico do tipo Funil alinha dos valores em
ordem decrescente.
CLASSIFICAÇÃO COMENTÁRIOS

A classificação de dados alfa-


numéricos poderá ser ‘Classi-
ficar de A a Z’ em ordem
Classificar texto crescente, ou ‘Classificar de Z
z Os gráficos do tipo Combinação permitem com- a A’ em ordem decrescen-
binar dois tipos de gráficos para a exibição de te. É possível diferenciar letras
séries de dados. São exemplos de gráficos do tipo maiúsculas e minúsculas
Combinação: Coluna Clusterizada-Linha, Coluna
Clusterizada-Linha no Eixo Secundário, Área Empi- Quando a coluna possui números,
lhada-Coluna Clusterizada, e a possibilidade de Classificar podemos ‘Classificar do menor
criação de uma Combinação Personalizada. números para o maior’ ou ‘Classificar do
maior para o menor’

Se houver datas ou horas, po-


demos ‘Classificar da mais
Classificar datas antiga para a mais nova’
ou horas ou ‘Classificar da mais nova
Classificação de Dados para a mais antiga’, resumindo,
cronologicamente
A classificação de dados é uma parte importante
da análise de dados. Se você tiver formatado manual
Você pode classificar dados por texto (A a Z ou Z a A), ou condicionalmente um interva-
números (dos menores para os maiores ou dos maiores lo de células ou uma coluna de
para os menores) e datas e horas (da mais antiga para a Classificar por
tabela, por cor de célula ou cor
mais nova e da mais nova para a mais antiga) em uma cor de célula,
de fonte, poderá classificar por
ou mais colunas. cor de fonte ou
essas cores. Também será pos-
Você também poderá classificar por uma lista de ícones
sível classificar por um conjunto
clientes (como Grande, Médio e Pequeno) ou por for- de ícones criados ao aplicar uma
mato, incluindo a cor da célula, a cor da fonte ou o con- formatação condicional
junto de ícones.
A maioria das operações de classificação é identifi- Você pode usar uma lista per-
cada por coluna, mas você também poderá identificar sonalizada para classificar em
por linhas. Classificar uma ordem definida pelo usuá-
Disponível na guia Dados, e na guia Página Inicial, por uma lista rio. Por exemplo, uma coluna
a classificação poderá ser de texto, números, datas ou personalizada pode conter valores pelos quais
horas, por cor da célula, cor da fonte ou ícones, por você deseja classificar, como
uma lista personalizada, linhas, por mais de uma colu- Alta, Média e Baixa
na ou linha, ou por uma coluna sem afetar as demais.
Na caixa de diálogo Opções de
Classificação, em Orientação,
Classificar linhas clique em Classificar da esquer-
da para a direita e, em seguida,
clique em OK
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Classificar por Na caixa de diálogo Classificar,


mais de uma adicione mais de um critério
coluna ou linha para ordenação

Classificar uma
Basta selecionar a coluna de-
coluna em um
sejada, e na janela de diálogo,
intervalo de
manter o item “Continuar com a
células sem
seleção atual”
afetar as demais

221
MICROSOFT POWERPOINT

As apresentações de slides criadas pelo Microsoft PowerPoint 2010/2013/2016/2019 são arquivos de extensão
.PPTX. Caso contenham macros (comandos para automatização de tarefas) será atribuída a extensão .PPTM. E
ainda podemos trabalhar com os modelos (extensão .POTX e POTM).
Apesar de ser um aplicativo com finalidade diferente do editor de textos, ele possui muitas semelhanças que
acabam ajudando quem está iniciando nele. Da mesma forma que o editor de textos, é possível trabalhar com
seções (divisões), é possível inserir números de slides, é possível comparar apresentações, etc.

EXTENSÃO TIPO DE ARQUIVO CARACTERÍSTICAS


PPT Apresentação editável Versão 2003 ou anterior
PPS Apresentação executável Versão 2003 ou anterior
POT Modelo de apresentação Versão 2003 ou anterior
PPTX Apresentação editável Versão 2007 ou superior
Versão 2007 ou superior, que não necessita de programas para ser
PPSX Apresentação executável
visualizada
POTX Modelo de apresentação Recursos para padronização de novas apresentações
Recursos para padronização e automatização de novas
POTM Modelo de apresentação com macros
apresentações
Formato do LibreOffice Impress, que pode ser editado e salvo pelo
ODP Open Document Presentation
Microsoft PowerPoint
Formato de documento portável, sem alguns recursos multimídia
PDF/XPS Portable Document Format
inseridos na apresentação de slide

Importante!
Apresentações de slides é um tópico pouco questionado em provas de concursos. Conhecendo os conceitos do
Microsoft PowerPoint, você poderá aproveitá-los quando estudar LibreOffice Impress.

As apresentações de slides podem ser gravadas em formato de imagens (JPG, PNG), slide por slide, e até trans-
formadas em vídeo (extensão MP4).
Os recursos do PowerPoint, como animações, transições, narração, serão inseridos no vídeo, que poderá ser
reproduzido em outros dispositivos, como Smart TV em totens de propagandas.

Figura 1. Para produzir um vídeo da apresentação, acessar o botão Arquivo, menu Exportar, item Criar Vídeo.

Vamos conhecer alguns termos usados no aplicativo de edição de apresentações de slides.

z Slide: unidade de edição, como uma página da apresentação;


z Slide Mestre: slide com o modelo de formatação que será usado pelos slides da apresentação atual;
z Design: aparência do slide ou de toda a apresentação. O design combina cores, estilos e padrões para que a
aparência tenha um visual harmonizado. O PowerPoint oferece “Ideias de Design” a cada objeto inserido no
222 slide;
z Layout: disposição dos elementos dentro do slide. Quando a apresentação é iniciada, o slide de slide de título
é apresentado. O usuário poderá alterar para outro layout. Cada slide da apresentação poderá ter um layout
diferente.

Slide de Título Título e Conteúdo Cabeçalho da Duas Partes de Comparação


Seção Conteúdo

Somente Título Em Branco Conteúdo com Imagem com


Legenda Legenda
Figura 2. Layout de slide

z Seção: divisão de formatação dentro da apresentação (usadas para Apresentações Personalizadas). Poderá ter
‘duas apresentações’ dentro de uma, e no início, escolher qual delas será exibida para o público;
z Transições: animação entre os slides. Ao selecionar algum efeito de animação entre os slides (guia Transições,
grupo Transição para este slide), será disponibilizada a opção para configuração do Intervalo;
z Animação: animação dentro do slide, em um objeto do slide. Um objeto poderá ter diversas animações simul-
taneamente, enquanto a transição do slide é única. Poderão ser de Entrada, Ênfase, Saída ou Trajetórias de
Animação.

Conceito de Slides

Conforme observado no item anterior, os slides são as unidades de trabalho do PowerPoint. Assim como as
páginas de um documento do Microsoft Word, os slides possuem configurações como margens, orientação, núme-
ros de páginas (slides, no caso), cabeçalhos e rodapés, etc.
O PowerPoint trabalha com 4 conceitos principais de slides:

z Slide (modo de exibição Normal) : cada slide é mostrado para edição de seu conteúdo;
z Slide Mestre: para alterar o design e o layout dos slides mestres, alterando toda a apresentação de uma vez;
z Folhetos Mestre: para alterar o design e layout dos folhetos que serão impressos;
z Anotações Mestras: para alterar o design e layout das folhas de anotações;

NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Figura 3. Modo de exibição Normal, para edição da apresentação de slides

Nos modos de exibição, na guia Exibição, ocorreu uma pequena mudança em relação às versões anteriores,
com a inclusão do item Modo de Exibição de Estrutura de Tópicos: 223
z Normal: no modo de exibição Normal, miniaturas FORMATO VÍDEO HIPERLINKS
dos slides ou os tópicos aparecerão no lado esquerdo,
o slide atual aparecerá no centro (sendo possível sua PPTX X X
edição) e na área inferior da tela aparecerá a área de PPSX X X
anotações. Ajustar à janela encaixa o slide na área;
z Modo de Exibição de Estrutura de Tópicos: para PDF - X
editar e alternar entre slides no painel de estru-
MP4 X X
tura de tópicos. Útil para a criação de uma apre-
sentação a partir dos tópicos de um documento do JPG/PNG - -
Microsoft Word;
z Classificação dos Slides: no modo de exibição Classi-
Tabela. Recursos disponíveis ( X ), recursos indisponíveis ( - )
ficação de Slides, apenas miniaturas dos slides serão
mostradas. Estas miniaturas poderão ser organizadas,
arrastando-as. As operações de slides estão disponí- O formato PDF é portável, e poderá ser usado em
veis, como Excluir slide, Ocultar slide, etc. Mas não é qualquer plataforma. Praticamente todos os programas
possível editar o conteúdo. Somente após duplo clique disponíveis no mercado reconhecem o formato PDF.
será possível a edição do conteúdo; Confira a seguir os ícones do aplicativo, que costu-
z Anotações: exibir a página de anotações para edi- mam ser questionados em provas.
tar as anotações do orador da forma como ficarão
quando forem impressas;
Para entrar em modo de apresentação de sli-
z Modo de Exibição de Leitura: exibir a apresenta-
des do começo, devemos pressionar F5
ção como uma apresentação de slides que cabe na
janela. A barra de título do PowerPoint continuará A outra forma de iniciar uma apresentação de
sendo exibida. slides é a partir do Slide Atual, pressionando
Shift+F5 ou clicando no ícone da guia Apre-
Noções de Edição e Formatação de Apresentações sentação de Slides
Apresentar on-line: Transmitir a apresentação
A preparação de uma apresentação de slides segue
de slides para visualizadores remotos que
uma série de recomendações, quanto a quantidade de
possam assisti-la em um navegador da Web
texto, quantidade de slides, tempo da apresentação, etc.
Entretanto, para concursos públicos, o foco é outro. Apresentação de Slides Personalizada: criar
O questionamento é sobre como fazer, onde configu- ou executar uma apresentação de slides
rar, como apresentar, etc. personalizada. Uma apresentação de slides
Para entrar em modo de apresentação de slides do personalizada exibirá somente os slides se-
começo, devemos pressionar F5. Podemos escolher o íco- lecionados. Este recurso permite que você
ne ‘Do Começo’ na guia Apresentações de Slides, grupo tenha vários conjuntos de slides diferentes
Iniciar Apresentação de Slides. E ainda clicar no ícone (por exemplo, uma sucessão de slides de 30
correspondente na barra de status, ao lado do zoom. minutos e outra de 60 minutos) na mesma
A apresentação iniciará, e ao contrário do modo de apresentação
exibição Leitura em Tela Inteira, a barra de títulos não Configurar Apresentação de Slides: configurar
será mostrada. A outra forma de iniciar uma apresenta- opções avançadas para a apresentação de
ção de slides é a partir do Slide Atual, pressionando Shif- slides, como o modo de quiosque (em que a
t+F5 ou clicando no ícone da guia Apresentação de Slides. apresentação reinicia após o último slide, e
Durante a apresentação de slides, as setas de direção continua em loop até pressionar ESC), apre-
permitem mudar o slide em exibição. O Enter passa para sentação sem narração, vários monitores,
o próximo slide. O ESC sai da apresentação de slides. avançar slides, etc
Segurar a tecla CTRL e pressionar o botão princi-
pal (esquerdo) do mouse exibirá um ‘laser pointer’ na Ocultar Slide: ocultar o slide atual da apresen-
apresentação. Pressionar a letra C ou vírgula deixará tação. Ele não será mostrado durante a apre-
a tela em branco (clara). Pressionar E ou ponto final, sentação de slides de tela inteira
deixa a tela preta (escura). Testar Intervalos: iniciar uma apresentação de
A edição dos elementos textuais e parágrafos slides em tela inteira na qual você possa tes-
seguem os princípios do editor de textos Word. E os tar sua apresentação. A quantidade de tempo
comandos também são os mesmos. Por exemplo, o utilizada em cada slide é registrada e você
Salvar como PDF. pode salvar esses intervalos para executar a
De acordo com o formato escolhido, alguns recur- apresentação automaticamente no futuro
sos poderão ser desabilitados.
Gravar Apresentação de Slides: gravar narra-
ções de áudio, gestos do apontador laser ou
FORMATO ANIMAÇÕES TRANSIÇÕES ÁUDIO intervalos de slide e animação para reprodu-
PPTX X X X ção durante a apresentação de slides

PPSX X X X Álbum de Fotografias: criar ou editar uma


apresentação com base em uma série de ima-
PDF - - - gens. Cada imagem será colocada em um sli-
de individual
MP4 X X X
JPG/PNG - - -
224
Estrutura Básica dos Documentos
Ação: adicionar uma ação ao objeto seleciona-
do para especificar o que deve acontecer quan-
do você clicar nele ou passar o mouse sobre Os documentos do LibreOffice Writer possuem a
ele seguinte estrutura básica, semelhante aos conceitos
do Microsoft Word e conceitos:
Inserir número do slide: o número do slide re-
flete sua posição na apresentação z Documentos: arquivos ODT (Open Document Text).
Os documentos são arquivos editáveis pelo usuá-
Inserir vídeo no slide: permite inserir um video- rio. Os Modelos, com extensão OTT (Open Template
clipe no slide Text), contém formatações que serão aplicadas aos
novos documentos criados a partir dele;
Inserir áudio no slide: permite inserir um clipe z Páginas: unidades de organização do texto, segundo
de áudio no slide
o tamanho do papel e margens. Definições estão no
menu Formatar, item Estilo da Página..., guia Página.
Gravação de tela: gravar o que está sendo exi-
bido na tela e inserir no slide

Formas: linhas, retângulos, formas básicas,


setas largas, formas de equação, fluxograma, A4

estrelas e faixas, textos explicativos e botões


de ação

LIBREOFFICE WRITER

A interface da versão 6 é mais ‘leve’ que a interfa-


ce da versão 5. O fundo cinza escuro deu lugar a um
fundo cinza claro, com redesenho dos ícones, ficando
mais parecido com o Word 2016. z Seção: divisão de formatação do documento, onde
A versão 7 adaptou alguns ícones para o padrão cada parte tem a sua configuração. Sempre que
Português Brasil (antes o negrito era B, agora é N). forem usadas configurações diferentes, como mar-
O LibreOffice Writer é integrado com os demais gens, colunas, tamanho, etc., as seções serão usa-
programas do pacote, permitindo a inserção de fór- das. Disponível no menu Inserir, item Seção...;
mulas avançadas de cálculos do LibreOffice Calc em z Parágrafos: formado por palavras e marcas de formata-
uma tabela do documento de textos, por exemplo. ção. Finalizado com Enter, contém formatação indepen-
O LibreOffice Writer grava documentos com a dente do parágrafo anterior, e do parágrafo seguinte;
extensão ODT, mas também poderá gravar em outros z Linhas: sequência de palavras que pode ser um
formatos como DOCX, RTF, TXT e PDF. Os formatos parágrafo, ocupando uma linha de texto. Se for
que são gravados pelo programa, também poderão finalizado com Quebra de Linha, a configuração
ser abertos por ele. de formatação atual permanece na próxima linha;
z Palavras: formado por letras, números, símbolos,
caracteres de formatação, etc. Podemos definir a
Importante! formatação do texto no menu Formatar, item Tex-
to (nas versões anteriores era Caractere). E pode-
O que você faz no Word, você faz no Writer. Qua- mos escolher em Texto. A novidade na versão 5 é
se tudo tem correspondente entre os aplicati- que o menu Texto já exibe na lista todos os estilos
vos. Alguns atalhos de teclado são diferentes, e efeitos disponíveis no editor.
alguns nomes de comandos são diferentes, mas
a maioria dos itens são iguais. Edição e Formatação de Textos

A edição e formatação de textos consiste em apli-


O botão abc é usado para fazer a verificação orto- car estilos, efeitos e temas, tanto nas fontes, como nos
gráfica (atalho F7). Para realizar a auto verificação parágrafos e nas páginas. O LibreOffice Writer tem
ortográfica o atalho é Shift+F7. A auto verificação todos estes recursos, como o Microsoft Word.
ortográfica é para correção automática de todos os A seguir, conheça alguns exemplos. Cada texto
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

erros do documento segundo as configurações pré-de- contém a explicação sobre o efeito, ou estilo, ou confi-
terminadas pelo editor de textos Writer. guração aplicada.
O recurso de Ortografia e Gramática, acionado pela
tecla F7, permite identificar erros de ortografia (uma Edição e Formatação de Fontes
palavra de cada vez, sublinhado ondulado vermelho)
ou gramática (várias palavras, sublinhado ondulado As fontes são arquivos True Type Font (.TTF) gra-
verde). Já a autocoreção é um recurso diferente, que vadas na pasta Fontes do Windows, e aparecem para
permite substituir erros comuns, como a ausência de todos os programas do computador.
maiúscula no início de uma frase, corrigir o uso aci- Nomes de fontes como Liberation Serif (fonte
dental da tecla CapsLock (invertendo a digitação entre padrão do Writer 7), Arial, Times New Roman, Courier
maiúscula e minúscula), acentuação na palavra não New, Verdana, são os mais comuns.
(quando digitamos naõ), e principalmente a substitui- Ao lado do nome da fonte, um número indica o
ção de símbolos por palavras, definidos pelo usuário, tamanho da fonte: 8, 9, 10, 11, 12, 14 e assim sucessiva-
no menu Ferramentas, Opções de Autocorreção. mente. Se quiser, digite o valor específico que deseja. 225
Maiúsculas e Minúsculas, é chamado de “Circular Caixa”.
Shift+F3 para alternar pelo teclado.
As formatações de fontes e parágrafos podem ser removidas pelo ícone “Limpar Formatação Direta (Ctrl+M), disponível
na barra de formatação de Caracteres.
E na sequência temos os estilos e efeitos de textos.
Assim como no Microsoft Word, os estilos podem ser combinados e os efeitos são concorrentes entre si. Dife-
rem nos atalhos de teclado (em inglês) e o nome de alguns recursos.
Estilos são formatos que modificam a aparência do texto, como negrito (atalho de teclado Ctrl+B - Bold), itálico (atalho
de teclado Ctrl+I), sublinhado (atalho de teclado Ctrl+U - Underline) e sublinhado duplo (atalho de teclado Ctrl+D – Doub-
le, que não possui correspondente no Microsoft Word). Já os efeitos modificam a fonte em si, como texto tachado (riscado
simples sobre as palavras), subscrito (como na fórmula H2O – atalho de teclado Ctrl+Shift+B), e sobrescrito (como em km2 – atalho
de teclado Ctrl+Shift+P)
O LibreOffice Writer faz o mesmo que o Microsoft Word, mas com comandos diferentes e atalhos de teclado de
palavras em inglês.
O LibreOffice Writer tem algumas opções diferenciadas em relação ao Word. No Writer, acesse o menu Formatar,
Texto. Confira na tabela a seguir alguns exemplos comparativos entre o Writer e o Word.

ATALHO WORD ATALHO WRITER RESULTADO

Negrito Ctrl+N Ctrl+B (Bold) Exemplo de Texto

Itálico Ctrl+I Ctrl+I (Italic) Exemplo de Texto

Sublinhado (simples) Ctrl+S Ctrl+U (Underline) Exemplo de Texto

Sublinhado duplo - - Ctrl+D (Double) Exemplo de Texto

Tachado (simples) - - Exemplo de Texto

Tachado duplo Fonte (Ctrl+D) Formatar, Texto Exemplo de Texto

Sobrelinha - - - Exemplo de Texto

Sobrescrito Ctrl+Shift+mais Ctrl+Shift+P Exemplo de Texto

Subscrito Ctrl+ igual Ctrl+Shift+B Exemplo de Texto

Sombra - -

Contorno - - Exemplo de Texto

Aumentar tamanho Ctrl+Shift+ponto Ctrl + ] Exemplo de Texto

Diminuir tamanho Ctrl+Shift+vírgula Ctrl + [ Exemplo de Texto

Maiúsculas EXEMPLO DE TEXTO

Minúsculas exemplo de texto

Alternar (Circular caixa) Shift+F3 Shift+F3 Exemplo de Texto

Versalete - Ctrl+Shift+K - Exemplo De Texto

Limpar formatação - Ctrl+M Exemplo de Texto

Cor da Fonte - - Exemplo de Texto

226
ATALHO WORD ATALHO WRITER RESULTADO

Realce de Texto - - Exemplo de Texto

Os atalhos de teclado usados no LibreOffice Writer para alinhamentos de parágrafos são: Ctrl+L (Left = Esquer-
da), Ctrl+E (Centralizado), Ctrl+R (Right = Direita) e Ctrl+J (Justificado).

Atalhos de Teclado dos Editores de Textos

Uma dúvida muito comum entre os candidatos que prestam provas de concursos públicos, está relacionada
com os atalhos de teclado. Afinal, qual é a lógica que existe por trás destas combinações de teclas?
Os atalhos de teclado do Microsoft Office são próprios e em português. No LibreOffice, como em aplicações na
Internet (coloquei a opção do Google Documentos), os atalhos são em inglês.
Alguns atalhos não possuem exatamente a mesma inicial do comando, por estar sendo usado em outra situação.
Centralizado, por exemplo, do inglês Center. A letra C já está sendo usada em Ctrl+C (Copiar), e a próxima letra está dispo-
nível. Assim, o atalho de teclado para centralizar um texto é Ctrl+E, tanto no Word como no Writer.

ATALHO MICROSOFT WORD LIBREOFFICE WRITER GOOGLE DOCUMENTOS

Ctrl+A Abrir Selecionar tudo (All) Selecionar tudo (All)

Ctrl+B Salvar Negrito (Bold) Negrito (Bold)

Ctrl+D 1
Formatar Fonte Sublinhado Duplo (Double) -

Ctrl+E Centralizar Centralizar Ctrl+Shift+E

Ctrl+F - Localizar (Find) Localizar na página

Ctrl+G2 Alinhar texto à direita Ir para (Go To) Ctrl+Shift+R

Ctrl+H Localizar e Substituir

Ctrl+I Itálico Itálico Itálico

Ctrl+J 3
Justificado Justificado Ctrl+Shift+J

Barra de endereços do
Ctrl+K Inserir hiperlink Inserir hiperlink
navegador

Ctrl+L4 Localizar Alinhar texto à esquerda (Left) Ctrl+Shift+L

Ctrl+M Aumentar recuo5 Limpar formatação direta Ctrl+\

Ctrl+N6 Negrito Novo documento (New) -

Ctrl+O Novo documento Abrir documento (Open) Abrir documento (Open)

Ctrl+Q Alinhar texto à esquerda Sair do LibreOffice (Quit) -

Ctrl+R Repetir último comando Alinhar texto à direita (Right) Recarregar a página (Reload)

Ctrl+S Sublinhado Salvar documento (Save) Salvar página web

Ctrl+U Localizar e Substituir Sublinhado (Underline) Sublinhado (Underline)

Ctrl+Y Ir para Repetir último comando Repetir último comando


NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Ctrl+igual7 Subscrito Ctrl+Shift+B Ctrl+vírgula

Ctrl+Shift+mais Sobrescrito Ctrl+Shift+P Ctrl+ponto final

1 O atalho de teclado Ctrl+D, quando acionado no navegador de Internet, permite adicionar a página atual em Favoritos, que são os sites
preferidos do usuário.
2 O atalho de teclado Ctrl+G, quando acionado no navegador de Internet, permite localizar uma informação na página atual.
3 O atalho de teclado Ctrl+J, quando acionado no navegador de Internet, permite visualizar as transferências de arquivos em andamento e consultar os
arquivos que foram baixados (Downloads).
4 O atalho de teclado Ctrl+L, quando acionado no navegador de Internet, permite localizar uma informação na página atual.
5 Recuo é a distância do texto em relação à margem da página. O atalho de teclado Ctrl+M no Microsoft Word, aumenta o recuo esquerdo do parágrafo.
6 O atalho de teclado Ctrl+N, quando acionado no navegador de Internet, abre uma nova janela de navegação.
7  O atalho de teclado Ctrl+igual, quando acionado no navegador de Internet, aumenta o zoom de exibição da página. 227
ATALHO MICROSOFT WORD LIBREOFFICE WRITER GOOGLE DOCUMENTOS

Ctrl+Shift+V Colar Especial Colar Especial Colar sem formatação

Ctrl+Alt+Shift+V Colar sem formatação

Shift+F38 Maiúsculas e Minúsculas Maiúsculas e Minúsculas -

Um dos comandos que mais confunde candidatos na prova é o Navegador, do LibreOffice. Não tem nenhuma relação
com o browser de Internet e é usado para navegar dentro do documento em edição.
No LibreOffice Writer, o atalho F5 aciona o Navegador, que permite a navegação para:

z Página;
z Títulos;
z Tabelas;
z Quadros;
z Objetos OLE;
z Marca-páginas;
z Seções;
z Hiperlinks;
z Referências;
z Índices;
z Anotações;
z Objetos de Desenho;
z Controle;
z Fórmula de tabela;
z Fórmula de tabela incorreta.

A seleção no LibreOffice Writer tem uma sutil diferença em relação ao Microsoft Word. É a possibilidade de uso
de 4 cliques na seleção. Confira:

MOUSE TECLADO AÇÃO SELEÇÃO

- Ctrl+A Selecionar tudo Seleciona o documento

Botão principal - 1 clique na palavra Posiciona o cursor

Botão principal - 2 cliques na palavra Seleciona a palavra

Botão principal - 3 cliques na palavra Selecionar a frase

Botão principal - 4 cliques na palavra Seleciona o parágrafo

Cabeçalhos

Localizado na margem superior da página, poderá ser configurado em Inserir, Cabeçalho e rodapé.
Assim como no Word, é possível trabalhar com configurações diferentes dentro do mesmo documento. Para
isto, use as seções para dividir a formatação do documento.
Esta região aceitará qualquer elemento que seria usado no documento, como textos, imagens, tabelas, campos,
formas geométricas, hiperlinks, entre outros.

Inserir

Cabeçalho e rodapé Cabeçalho

228 8  O atalho F3 no navegador aciona a pesquisa, e Shift+F3 também.


Diferentemente da interface do Microsoft Word, que é baseada na Faixa de Opções com guias, grupos e ícones,
o LibreOffice tem a interface baseada em menus. Na tabela a seguir, confira algumas dicas para compreender a
sequência de comandos e menus do Writer. As dicas são válidas para o LibreOffice Calc e LibreOffice Impress.

MENU SIGNIFICADO
Permitem acesso às configurações de arquivo sobre o documento atual (novo, abrir, fechar, salvar, imprimir,
Arquivo
propriedades)

Permite acesso à Área de Transferência, além das opções temporárias (localizar, substituir, selecionar) e área de
Editar
transferência do Windows/Linux,
Permite a configuração dos objetos que serão exibidos na tela do aplicativo. Modos de visualização, interface do
Exibir
usuário, elementos da tela de edição, Marcas de Formatação, Barra Lateral e Zoom
Permite adicionar um item que não existe no documento atual. Adicionar qualquer objeto no arquivo atualmente
Inserir editado. Se este objeto é atualizável, será um campo. Elementos da página, elementos gráficos, elementos vi-
suais, referências e índices, elementos de mala direta e cabeçalho e rodapé
Formatar significa dar um formato a um objeto que já existe. Parágrafo, estilos, marcadores e numeração, tabu-
Formatar
lações, etc. Permite alterar elementos editáveis do documento
Os estilos são formatações pré-definidas para serem usadas no texto. Posteriormente poderão ser organizadas
Estilos
em um índice
Disponibilizam ferramentas para o trabalho com tabelas, segundo as convenções próprias do recurso. Ao incluir
Tabelas
uma tabela no documento, a barra de ícones Tabela será exibida
Permite a edição e programação de formulários diretamente no documento aberto, para entrada de dados
Formulários
padronizados

Oferece comandos para o gerenciamento do aplicativo, alterando as configurações em todos os próximos arqui-
Ferramentas
vos editados pelo aplicativo
Janela Oferece opções para organizar as janelas dos documentos em edição

Impressão

Disponível no menu Arquivo, e também pelo atalho Ctrl+P (e também pelo Ctrl+Shift+O, Visualizar Impressão),
a impressão permite o envio do arquivo em edição para a impressora. A impressora listada vem do Windows, do
Painel de Controle (ou Configurações, no caso do Windows 10).
Podemos escolher a impressora, definir como será a impressão (Imprimir Todas as Páginas, ou Seleção, Páginas especí-
ficas), quais serão as páginas (números separados com ponto e vírgula/vírgula indicam páginas individuais, separadas por
traço uma sequência de páginas).

NOÇÕES DE INFORMÁTICA

229
Havendo a possibilidade disponível na impressora, serão impressas de um lado da página, ou frente e verso
automático, ou manual. Ao contrário do Word, que exibe tudo em uma única tela do Backstage, o Writer divide
em guias as opções da impressão.

LIBREOFFICE CALC

O LibreOffice oferece o aplicativo Calc para criação de planilhas de cálculos. Opera de forma semelhante ao
Microsoft Excel, e possui apenas algumas diferenças (que já foram questionadas em concursos públicos).
Os arquivos de planilhas de cálculos podem ser criados pelo Microsoft Excel, LibreOffice Calc e Google Plani-
lhas. O arquivo produzido em um aplicativo poderá ser editado por outro programa, pois são compatíveis entre si.
Podemos gravar uma planilha do Microsoft Excel em qualquer local, e pelo LibreOffice Calc abrir normalmente. O
LibreOffice Calc reconhece o formato XLS/XLSX do Excel sem problemas, e o local de armazenamento não influencia
nos recursos disponíveis no aplicativo.
O arquivo criado pelo LibreOffice Calc receberá a extensão padrão ODS (Open Document Sheet), que é um com-
ponente do ODF (Open Document Format). O arquivo gravado é conhecido como PASTA DE TRABALHO, e poderá
ser gravado no formato do Microsoft Office, todas as versões.
Em cada Pasta de Trabalho, o LibreOffice Calc inicia com 1 planilha (folha de dados), identificada por abas na
parte inferior da tela de visualização. Cada planilha é independente das demais, e usamos o sinal de ponto final para
referenciar dados em outras planilhas.
As colunas são identificadas por letras, nomeadas de A até AMJ (tecla F5 para navegar na planilha, que possui 1024
colunas). As linhas são numeradas com números, de 1 até 1.048.576 (tecla F5 para navegar na planilha).
O encontro entre uma linha e uma coluna é célula.
O LibreOffice Calc tem menos colunas que o Microsoft Excel. Mas, isso não significa que ele seja melhor ou pior.
Cuidado com as comparações. Quando a banca sugere uma comparação, menosprezando um dos itens, geralmen-
te está errado.

Conceitos Básicos

z Célula: unidade da planilha de cálculos, o encontro entre uma linha e uma coluna. A seleção individual é com
a tecla CTRL e a seleção de áreas é com a tecla SHIFT (assim como no sistema operacional);
z Coluna: células alinhadas verticalmente, nomeadas com uma letra;
z Linha: células alinhadas horizontalmente, numeradas com números;
z Planilha: o conjunto de células organizado em uma folha de dados. Writer representa com (ponto final);
z Pasta de Trabalho: arquivo do Calc contendo as planilhas, de 1 a N (de acordo com quantidade de memória RAM
disponível, nomeadas como Planilha 1, Planilha 2, Planilha3). No Calc é extensão ODS;
z Alça de preenchimento: no canto inferior direito da célula, permite que um valor seja copiado na direção
em que for arrastado. No Excel, se houver 1 número, ele é copiado. Se houver 2 números, uma sequência será
criada. No Calc, 1 número cria uma sequência com incremento 1. Datas, dias da semana, nome dos meses, estas
opções criam listas pré-definidas;

Fernando Nishimura Aragão

z Mesclar células: significa simplesmente juntar. O LibreOffice Calc permite que o usuário escolha a forma
como as células serão mescladas. Ao clicar no ícone na barra de ferramentas, a caixa de diálogo “Mesclar
células” será exibida.

A célula pode receber diferentes formatações, especialmente na exibição de valores numéricos. Para a exi-
bição retornar ao padrão, pressionar Ctrl+M. A formação de células, linhas e colunas possibilita definir bordas,
sombreamento, e padrões que serão aplicados a estas.
Uma opção muito utilizada no Calc, e também no Excel, é Intervalos de Impressão. A planilha é grande (muitas
células, nomeadas de A1 até AMJ1048764) e podemos marcar o intervalo (Definir) que será considerado na impressão.
A formatação Condicional permite exibir células de diferentes cores e padrões, segundo condições estipuladas.
Por exemplo, quando desejamos que os números negativos sejam vermelhos e os positivos em azul, é um caso.

230
Formatar

Condiconal

Geranciar...

A formatação condicional pode apresentar visualmente as diferenças existentes nos dados da planilha de cál-
culos. É um recurso útil e muito questionado em provas.

Simbologia Específica

z Coluna+Linha formato de referência de cada célula da planilha. Colunas com letras, linhas com números. O
formato de referência é idêntico no Excel e Calc.
Exemplo: A1 – coluna A, linha 1, célula A1;

z = (sinal de igual) inicia uma fórmula ou função, ou faz uma comparação dentro de um teste.
Exemplos: = A1+A2 - efetua a soma do valor em A1 com o valor em A2.
=SE(A1=A2;”é igual”;”é diferente”) – efetua um teste e exibe uma mensagem;

z + (sinal de mais) Adição, ou início de fórmula/função.


Exemplo: +A1+A2 – efetua a soma do valor em A1 com o valor em A2;

z - (sinal de menos) Subtração, ou início de fórmula/função com inversão de resultado.


Exemplo: -A1+A2 – efetua a soma do valor em A1 com o valor em A2, invertendo o resultado;
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

z * (asterisco) multiplicação.
Exemplo: =A1*A2 - efetua a multiplicação do valor em A1 pelo valor em A2;

z / (barra ‘normal’) divisão.


Exemplo: =A1/A2 - efetua a divisão do valor em A1 pelo valor em A2;

z ^ (acento circunflexo) Exponenciação.


Exemplo: =A1^A2 - efetua a exponenciação do valor em A1 pelo valor em A2, A1 elevado a A2;

z % (símbolo de porcentagem) porcentagem. Exibe o valor em formato de porcentagem. Não faz o cálculo. Para
fazer o cálculo, é preciso dividir por 100 o resultado (por cento, por 100);

z & (símbolo de E comercial) concatenação. Reúne dois ou mais valores em uma única sequência.
231
Exemplo: Exemplo: =SE(A1<>A2;”Valores diferentes”;”São
=”Fernando”&”Nishimura” iguais”) – as mensagens são exibidas como digitadas;
=15&30
Fernando Nishimura z $ (cifrão) Fixar uma posição na referência, trans-
1530; formando a referência relativa em referência mista
ou absoluta. Muito utilizada em fórmulas e funções,
z . (ponto final) Significa Planilha. quando ela mudar de célula, será alterada ou não.
Exemplo: =Planilha1.A1+Planilha2.A2 – efetua Exemplo: =A$1 (linha 1 está fixa), =$B5 (coluna B
a soma do valor A1 que está em Planilha1 com o está fixa), =$A$6 (célula A6 está fixa)
valor de A2 que está em Planilha2; =$Planilha2.C17+10 – trava a referência para a
Planilha2;

Importante! z # (sinal de sustenido – iniciando uma mensagem,


apenas um) Erro.
Uma das poucas diferenças existentes entre o
Microsoft Excel e o LibreOffice Calc é a forma Mensagens de Erros
como referenciam planilhas. No Excel é o ponto
de exclamação, no Calc é o ponto final. Seguem abaixo os erros mais comuns que podem
ocorrer em uma planilha do LibreOffice Calc:
z > (sinal de maior) maior que. Usado para testes,
z ##### A célula não é larga o suficiente para mos-
para comparação.
trar o conteúdo;
Exemplo: =SE(A1>A2;”A1 é maior”;”A2 é maior”) –
z NUM! ou Err:503! Operação de ponto flutuante
efetua um teste e exibe uma mensagem;
inválida. Um cálculo resulta em overflow no inter-
valo de valores definido;
z < (sinal de menor) menor que. Usado em testes,
z #VALOR ou Err:519! Sem resultado. A fórmula
para comparação.
resulta em um valor que não corresponde à sua
Exemplo: =SE(A1<A2;”A1 é menor”;”A2 é menor”) –
definição; ou a célula que é referenciada na fórmu-
efetua um teste e exibe uma mensagem;
la contém um texto em vez de um número;
z #REF ou Err:524! Referências inválidas. Em uma
z >= (sinal de maior e sinal de igual, consecutivos,
fórmula, está faltando a coluna, a linha ou a plani-
sem espaço) maior ou igual a. Usado em testes,
lha que contém uma célula referenciada;
para comparação.
z #NOME? ou Err:525! Nomes inválidos. Não foi
Exemplo: =SE(A1>=A2;”A1 é maior ou igual a A2”;”A2
possível avaliar um identificador, por exemplo,
é maior que A1”) – teste e exibe uma mensagem;
não foi possível encontrar uma referência válida,
um nome de domínio válido, uma etiqueta de colu-
z <= (sinal de menor e sinal de igual, consecutivos, na/linha, uma macro, um separador decimal incor-
sem espaço) menor ou igual a. Usado em testes, reto, suplemento não encontrado;
para comparação. z #DIV/0! ou Err:532! Divisão por zero. Operação
Exemplo: =SE(A1<=A2;”A1 é menor ou igual a A2”;”A2 de divisão / quando o denominador é 0.
é menor que A1”) – teste e exibe uma mensagem;
Funções Básicas
z <> (sinal de menor e sinal de maior, consecuti-
vos, sem espaço) diferente. O Excel/Calc não usa o z SOMA (valores): realiza a operação de soma nas
símbolo ≠ Usado em testes, para comparação. células selecionadas.
Exemplo: =SE(A1<>A2;”Valores diferentes”;”São
iguais”) – teste e exibe uma mensagem;
=SOMA(A1;A2;A3) Efetua a soma dos valores exis-
tentes nas células A1, A2 e A3.
z ( ) (parênteses) Organizam operadores, valores, =SOMA(A1:A5) Efetua a soma dos 5 valores exis-
expressões, alterando a ordem de cálculo. O Excel tentes nas células A1 até A5
e Calc não utiliza chaves ou colchetes, como na =SOMA(A1;34;B3) Efetua a soma dos valores da
matemática, apenas parênteses; célula A1, com 34 (valor literal) e B3.
=SOMA(A1:B4) Efetua a soma dos 8 valores exis-
z ; (ponto e vírgula) separador de argumentos de uma tentes, de A1 até B4. O Excel não faz ‘triangulação’,
função ou separador de células em uma referência. operando apenas áreas quadrangulares.
Pode significar E em uma referência de valores. =SOMA(A1;B1;C1:C3) Efetua a soma dos valores
Exemplos: =SE(A1<>A2;”Valores diferentes”;”São A1 com B1 e C1 até C3.
iguais”) – separando os três argumentos da função. =SOMA(1;2;3;A1;A1) Efetua a soma de 1 com 2
=SOMA(A1;B2;C3;D4) – separando os quatro argu- com 3 e o valor A1 duas vezes;
mentos que serão somados;
z SOMASE (valores;condição): realiza a operação de
z : (dois pontos) indica ATÉ em uma referência de soma nas células selecionadas, se uma condição
faixa de células. for atendida.
Exemplo: = SOMA(A1:C3) – efetua a soma dos valo-
res na faixa A1 até C3, incluindo A2, A3, B1, B2, B3, =SOMASE(A1:A5;”>15”) Efetuará a soma dos valo-
C1 e C2; res de A1 até A5 que sejam maiores que 15.
=SOMASE(A1:A10;”10”) Efetuará a soma dos
232 z “ (aspas) indicam expressões de textos literais. valores de A1 até A10 que forem iguais a 10. A
sintaxe é =SOMASE(onde;qual o critério para que z CONT.SE (células;condição): Esta função conta quan-
seja somado); tas vezes aparece um determinado valor (número ou
texto) em um intervalo de células (o usuário tem que
z MEDIA (valores): realiza a operação de média indicar qual é o critério a ser contado)
nas células selecionadas e exibe o valor médio
=CONT.SE(A1:A10;”5”) Efetua a contagem de quan-
encontrado.
tas células existem no intervalo de A1 até A10 conten-
do o valor 5;
=MEDIA(A1:A5) Efetua a média aritmética simples
dos valores existentes entre A1 e A5. Se forem 5 valo-
z TEXTO (células;formato): exibe um valor numéri-
res, serão somados e divididos por 5. Se existir uma co no formato especificado por uma máscara.
célula vazia, serão somados e divididos por 4. Células
vazias não entram no cálculo da média; =TEXTO(7;”000”) Exibirá o número 7 com 3 casas,
portanto, 007;
z MED (valores): obtém o valor da mediana. A
mediana é o valor que está ‘no meio’ dos valores z MUDAR (texto;início;caracteres;novo_texto): per-
ordenados informados: mite trocar no texto informado, iniciando na posi-
ção início, o novo_texto, até o limite de caracteres.

=MUDAR(“José Carlos”; 1; 4; “João”) Troca o


“José” por “João”;

z PROCV(valor_procurado; matriz_tabela; núm_


índice_coluna; [intervalo_pesquisa]) A função
PROCV é utilizada para localizar o valor_procu-
=MED(A2:C2) qual é o valor que está no meio, de 6,
rado dentro da matriz_tabela, e, quando encon-
2 e 1? É o 2.
trar, retornar a enésima coluna informada em
=MÉDIA(A2:C2) qual é a média dos valores de A2
núm_índice_coluna. A última opção, que será
até C2? (6+2+1)/3 = 3;
VERDADEIRO ou FALSO, é usada para identificar
se precisa ser o valor exato (F) ou pode ser valor
z MÁXIMO (valores): exibe o maior valor das célu- aproximado (V).
las selecionadas.
=PROCV(105;A2:C7;2;VERDADEIRO)
=MAXIMO(A1:D6) Exibe qual é o maior valor na
=PROCV(“Monte”;B2:E7;2;FALSO)
área de A1 até D6. Se houver dois valores iguais, ape-
nas um será mostrado;
A função PROCV é um membro das funções de pes-
quisa e Referência, que incluem a função PROCH.
z MAIOR (valores;posição): exibe o maior valor de
Use a função tirar ou a função arrumar para
uma série, segundo o argumento apresentado.
remover os espaços à esquerda nos valores da tabela.
=MAIOR(A1:D6;3) Exibe o 3º maior valor nas célu-
las A1 até D6; z PROCH (o que; onde; linha; aproximadamente):
procura um valor na horizontal. Caso encontre,
z MÍNIMO (valores): exibe o menor valor das célu- retorna a linha correspondente ao argumento infor-
las selecionadas. mado. E a busca poderá ser exata ou aproximada.

=MINIMO(A1:D6) Exibe qual é o menor valor na Precedência dos Operadores


área de A1 até D6;
Tanto o LibreOffice Calc como o Microsoft Excel,
z MENOR (valores;posição): exibe o menor valor de usam precedência de operadores matemáticos para a
uma série, segundo o argumento apresentado. resolução das fórmulas.
A ordem de prioridade é parênteses, depois expo-
=MENOR(A1:D6;3) Exibe o 3º menor valor nas célu- nenciação (ou potência), depois multiplicação e divi-
las A1 até D6; são, e por último, adição e subtração.
^ Exponenciação A primeira operação que deve
z SE (teste;verdadeiro;falso): avalia um teste e retor- ser executada
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

na um valor caso o teste seja verdadeiro ou outro * Multiplicação A próxima operação a ser executa-
caso seja falso; da, assim como a Divisão.
/ Divisão
z CONT.VALORES (células): esta função conta todas + Adição Após realizar exponenciação, multiplica-
as células em um intervalo, exceto as células vazias. ção e divisão, faça a adição/subtração.
=CONT.VALORES(A1:A10) Informa o resultado da - Subtração.
contagem, informando quantas células estão preen- - Inversão de sinal Depois que todo o cálculo for
chidas com valores, quaisquer valores; realizado, faça a inversão do sinal.
Obs.: o uso de parênteses altera a ordem dos opera-
z CONT.NÚM (células): conta todas as células em um dores matemáticos.
intervalo, exceto células vazias e células com texto. P.E.M.D.A.S. = parênteses, exponenciação, multipli-
cação, divisão, adição e subtração.
=CONT.NÚM(A1:A8) Informa quantas células no Diferentemente da interface do Microsoft Excel,
intervalo A1 até A8 possuem valores numéricos; que é baseada na Faixa de Opções com guias, grupos e 233
ícones, o LibreOffice tem a interface baseada em menus. Na tabela a seguir, confira algumas dicas para compreen-
der a sequência de comandos e menus do Calc. As dicas são válidas para o LibreOffice Writer e LibreOffice Impress.

MENU SIGNIFICADO

Arquivo Oferece comandos para o gerenciamento do arquivo atual, aquele que está em primeiro plano

Acesso a recursos temporários (localizar, substituir, selecionar) e área de transferência do Windows/


Editar
Linux

Exibir Acesso aos controles sobre o que será mostrado na tela de edição, e como será exibido

Adicionar qualquer objeto no arquivo atualmente editado. Se este objeto é atualizável, será um
Inserir
campo

Formatar Mudar a aparência, mudar a configuração, dar uma forma, alterar o que está em edição

Planilha Opções de controle da planilha de dados no Calc

Oferece comandos para o gerenciamento do aplicativo, alterando as configurações em todos os


Ferramentas
próximos arquivos editados pelo aplicativo

Dados Classificação, filtro, filtro avançado, e demais opções de organização dos dados

Janela Oferece opções para organizar as janelas dos documentos

LIBREOFFICE IMPRESS

O aplicativo Microsoft PowerPoint se tornou, após anos, sinônimo de apresentações. É comum falarmos que esta-
mos apresentando um PowerPoint, mesmo que o arquivo tenha sido criado no LibreOffice Impress.
Os softwares de edição de slides (Microsoft PowerPoint, LibreOffice Impress, Google Apresentações) permitem
a criação de uma apresentação de slides para exibição para um público.
Ao iniciar o aplicativo, o usuário poderá escolher um modelo de apresentação para criação de um novo arqui-
vo. Ou poderá cancelar a caixa de diálogo, e escolher um arquivo que está gravado em um local de armazenamen-
to permanente, para ser aberto e editado naquela sessão de trabalho.

234 Arquivos do PowerPoint são abertos pelo LibreOffice Impress (antigo OpenOffice, BrOffice).
Da mesma forma, arquivos do LibreOffice Impress (formato ODP – Open Document Presentation) podem ser
abertos pelo Microsoft PowerPoint.
Ambos são capazes de produzir arquivos PDFs.
O LibreOffice Impress permite exportar uma apresentação ou desenho para diferentes formatos, incluindo os
citados no enunciado da questão.

z BMP: Windowns Bitmap (*.bmp);


z EMF: Enhanced Metafile (*.emf);
z EPS: Encapsulated PostScript (*.eps);
z GIF: Graphics InterchangeFormat (*.gif);
z JPEG: Joint Photographic Experts Group (*.jpg;*.jpeg;*.jfif;*.jiif;*.jpe);
z PNG: Portable Network Graphic (*.png);
z SVG: Scalable Vector Graphics (*.svg; *.svgz);
z TIFF: Tagged Image File Format (*.tif; *.tiff);
z WMF: Windows Metafile (*.wmf).

Importante!
Extensões de arquivos estão entre os itens mais questionados em provas de concursos das bancas organizadoras

Os modos de exibição permitem alternar entre a edição (Normal), exibição de títulos (Estrutura de Tópicos),
Notas (Anotações do apresentador) e Organizador de Slides (classificação de slides – miniaturas para organização).

Normal Estrutura de tópicos Notas Organizador de slides

z Leiaute: permite a escolha do tipo de conteúdo que será inserido no slide. Para não esquecer: é o esqueleto de
cada slide da apresentação. O layout do slide (leiaute do eslaide) é a definição da posição dos objetos dentro de
cada slide da apresentação;
z Modelos: permite a escolha do projeto visual que será utilizado no slide. Para não esquecer: é a aparência da
apresentação;
z Transição: permite a escolha do efeito visual que será utilizado na passagem de um slide para outro slide. Para
não esquecer: é a animação entre os slides da apresentação;
z Mestre: permite a escolha da posição de todos os elementos dentro de uma apresentação, assim como confi-
gurações específicas. Podemos configurar os slides, folhetos e anotações. Para não esquecer: é o esqueleto de
toda a apresentação;
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Exibir

Slide mestre

235
Elementos do slide mestre...

Assim como nos demais aplicativos, o ícone permite transformar um objeto inserido em um hyperlink. O
ícone está disponível na Barra de Ferramentas Padrão. Atalho de teclado: Ctrl+K
No LibreOffice, o Hiperlink poderá ser para:

Internet: endereço URL ou endereço FTP.

Correio: abre o aplicativo de e-mail padrão para o envio de uma mensagem eletrônica.

Documento: para algum local do documento atual, como uma Tabela, Seção ou Quadro.

Novo Documento: para qualquer outro arquivo editável do pacote LibreOffice.

Diferentemente da interface do Microsoft PowerPoint, que é baseada na Faixa de Opções com guias, grupos e
ícones, o LibreOffice tem a interface baseada em menus. Na tabela a seguir, confira algumas dicas para compreen-
der a sequência de comandos e menus do Impress. As dicas são válidas para o LibreOffice Writer e LibreOffice Calc.

MENU SIGNIFICADO

Arquivo Oferece comandos para o gerenciamento do arquivo atual, aquele que está em primeiro plano

Acesso a recursos temporários (localizar, substituir, selecionar) e área de transferência do


Editar
Windows/Linux

Acesso aos controles sobre o que será mostrado na tela de edição, e como será exibido.
Exibir
Cor, preto e branco, escala de cinza

Adicionar qualquer objeto na apresentação atualmente editada. Se este objeto é atualizá-


Inserir
vel, será um campo

Formatar Mudar a aparência, mudar a configuração, dar uma forma, alterar o que está em edição

Oferece comandos para o gerenciamento do aplicativo, alterando as configurações em


Ferramentas
todos os próximos arquivos editados pelo aplicativo

Iniciar a apresentação, configurar a apresentação, Cronometrar, Interação, Animação


Apresentação de slides personalizada, Transição de slides, Exibir e Ocultar slides, e criar uma apresentação
personalizada

Janela Oferece opções para organizar as janelas dos documentos

Menu Slide

Novidade do LibreOffice Impress 5 mantida na versão 6/7, que não existia nas versões anteriores. Possui opções
similares à guia Apresentação de Slides do Microsoft PowerPoint. Contém as opções para manipulação dos slides
da apresentação, incluindo o item Transição de Slides, para adicionar uma animação entre os slides.

236
Slide

Menu Apresentação de Slides

Outra novidade do LibreOffice Impress 5, com as opções e comandos para controle da apresentação. Foi man-
tido nas versões seguintes.
Semelhante ao PowerPoint, F5 inicia a apresentação a partir do primeiro slide e Shift+F5 inicia a partir do slide
atual. Esta é uma alteração importante, pois nas versões anteriores, F5 iniciava no slide atual, e agora é como no
PowerPoint, com dois atalhos de teclado diferentes.

REDES DE COMPUTADORES
INTRODUÇÃO A REDES (COMPUTAÇÃO/TELECOMUNICAÇÕES)

As redes de computadores surgiram nos ambientes militares, foram otimizadas nos ambientes governamen-
tais, exploradas comercialmente no ambiente empresarial e disponibilizadas para o público de diferentes formas.
Hoje, as redes de comunicação oferecem recursos para a troca de dados entre usuários, que podem ser pessoas
físicas, pessoas jurídicas, governos e até equipamentos autônomos (Internet das Coisas).
A Internet das Coisas (IoT) certamente aparecerá em provas de concursos, dada a sua presença no nosso dia-a-dia.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Desde os assistentes virtuais (Cortana e Siri), passando pela automação de residências (com ar condicionado conectado
no Wi-Fi, para ser ligado remotamente) chegando aos veículos com condução semiautônoma, que avisa o resgate em
caso de acidente.
As trocas de dados que inicialmente eram restritas aos envolvidos na comunicação, começaram a ser rea-
lizadas pelas redes de telecomunicações, com emprego da segurança da informação para proteção dos dados
trafegados.
Diversos protocolos foram desenvolvidos para cuidarem da transferência dos dados, da segurança da cone-
xão, do controle da qualidade dos dados recebidos, para autenticação dos usuários etc.
A rede de telefonia oferece conexão para aparelhos fixos e aparelhos móveis:

z Os aparelhos fixos, que no passado eram apenas os telefones analógicos para comunicação por voz, hoje
incluem Smart TVs e até geladeiras inteligentes;
z Os aparelhos móveis, que no passado eram apenas os celulares TDMA e CDMA de poucas operadoras, hoje
incluem veículos automotores e até sensores de radiofrequência.
237
É importante saber que redes de telefonia, em con- comercial e pública. A telefonia pública é caracteriza-
cursos públicos, são questionadas nas provas no for- da pelo TUP – Telefone de Uso Público, popularmen-
mato conceitual. As redes de comunicação aparecem te conhecido como “orelhão” em algumas regiões do
com questões que abordam o lado prático. país.
As redes de comunicações envolvem sistemas cons- Com a evolução da comunicação nas redes, atual-
truídos com fios de material condutor, cabos de condução mente ela é digital e inclui os aparelhos móveis de
de sinais luminosos (fibra óptica), antenas de rádio, ante- telefonia celular (3G, 4G, 5G) e aparelhos com cone-
nas de telefonia móvel, satélites e os próprios aparelhos. xões próprias (Internet das Coisas).
O conteúdo dos dados trafegados nas redes de comu- A comunicação de dados caracteriza-se pela troca
nicação não é importante. O que é importante é a cone- de informações entre os usuários e as operadoras, seg-
xão e a oferta de conectividade para os dispositivos. mentadas em aplicações e padrões, permitindo que
Inicialmente, as redes de telefonia eram analó- uma operadora ofereça por exemplo, navegação no
gicas e usadas para o tráfego de voz entre usuários, Facebook sem consumo do plano de dados.
mediante a centralização em centrais telefônicas. As conexões são realizadas por dois métodos dife-
Com o surgimento dos computadores e das redes rentes: comutação de circuitos ou comutação de pacotes
de computadores, as redes de telefonia passaram a
enviar e receber sinais de dados por meio de equipa- COMUTAÇÃO DE COMUTAÇÃO DE
mentos como modens e multiplexadores: CIRCUITOS PACOTES

z Os modens permitem a conexão de um aparelho Exige que o circuito seja Não exige configuração
digital na linha telefônica analógica. Ele modula e configurado antes de prévia, operando por
desmodula o sinal, enviando os dados digitais (bits) iniciar a comunicação rotas dinâmicas que
do computador para um canal analógico (que opera (ponta a ponta) mudam a cada conexão
com ondas);
Permite reserva de Não há reserva de largura
z Os multiplexadores foram usados no começo das
largura de banda de banda
redes para combinar vários modens em apenas
uma conexão, e continuam sendo empregados em Os pacotes podem
alguns dispositivos atualmente, como as antenas ser enviados por rotas
Os pacotes são enviados
de interconexão. diferentes e serão
sequencialmente
reagrupados quando
Alguns equipamentos de redes como os hubs e mul- chegaram ao destino
tiplexadores são considerados obsoletos no dia a dia
por suas limitações. Entretanto eles existem e ainda são Menos tolerante a falhas Mais tolerante a falhas
usados em aplicações específicas.
Nos anos 90, com a abertura da Internet para fins Comutação é a forma conectada para a realização
comerciais, as redes de telefonia se tornaram satura- da comunicação. O modelo de comutação por circui-
das, pelo tráfego de dados superior ao tráfego de voz. tos é a evolução das redes de telefonia e o modelo de
Estratégias como a conexão ADSL foram implemen- comutação por pacotes é utilizado nas redes de comu-
tadas para o máximo aproveitamento da estrutura nicação de dados.
existente, combinando o envio de dados e voz simul- Vamos conhecer alguns exemplos práticos, e
taneamente por um único canal. entender como a comutação de circuitos se diferencia
da comunicação de pacotes.
PSTN Quando realizamos uma ligação telefônica, esta-
Rede Pública de telefonia mos usando uma comutação de circuitos. Se houver
Comutada ou RPTC (do inglês um problema com a ligação, geralmente ela é finaliza-
Public switched telephone da, e precisaremos reiniciar o processo, para restabe-
network ou PSTN) lecer o circuito de comunicação.
Quando realizamos uma ligação telefônica via
WhatsApp, estamos usando uma comutação de paco-
PBX PABX tes. Se houver um problema com a ligação, geralmen-
te ela continuará, com cortes (pulando) nos pacotes
Aparelhos de que não foram transmitidos, sem necessidade de res-
Telefones Telex tabelecer a conexão.
Telefones Telefones Na telefonia VoIP (Voice Over Internet Protocol),
Aparelhos de Fax
observaremos estabilidade da conexão, porém com bai-
xa qualidade. Na telefonia convencional, observaremos
As redes públicas de telefonia comutada atendiam instabilidade da conexão, porém com boa qualidade.
diferentes tipos de conexões
Administradas pelas operadoras de telefonia, a rede Divisões do Sistema Telefônico
pública de telefonia comutada ou RPTC (do inglês Public
switched telephone network ou PSTN) é a rede telefôni- Os equipamentos existentes no sistema telefônico
ca mundial, comutada por circuitos, que foi inicialmen- podem ser classificados em categorias, de acordo com
te projetada para atender linhas fixas e analógicas. o tipo de operação que realizam.
Com a privatização dos serviços de telefonia no Equipamentos que são usados para a escolha do
Brasil, foi criado o Plano Geral da Universalização caminho, formam a rede de comutação. O supor-
dos Serviços de Telefonia, com a previsão de instala- te físico para a comunicação é a rede de acesso. O
238 ção e expansão da rede de telefonia fixa, doméstica, suporte físico ou lógico que permite a propagação da
informação, forma a rede de transmissão. E os siste- RJ45
mas secundários formam a infraestrutura do sistema. RJ45
Tipo de conector para GG45
8P8C
Cat6
z A rede de comutação opera a partir da escolha de
caminhos que serão usados para a comunicação. 100 250 600
Frequência
Quando estabelecida a conexão, ela será mantida e MHz MHz MHz
“isolada” das demais conexões, até que seja encerra-
350 500 750
da. A rede de comutação é limitada pela quantidade Frequência máxima
MHz MHz MHz
de conexões simultâneas que ela é capaz de realizar;
z A rede de acesso é formada pelos cabos telefôni-
cos, antenas de telefonia móvel, conexões de fibra Frequência: quanto maior, menor o alcance. Ao
óptica entre as centrais telefônicas, cidades, regiões, usar uma frequência maior, estamos usando mais
estados e países. Com a necessidade de maior velo- energia para transmitir com mais qualidade por um
cidade de acesso, ao mesmo tempo que aumentam espaço menor (como as rádios FM). Se usarmos uma
a quantidade de dispositivos conectados na Inter- frequência menor, enviaremos dados com menor con-
net, as empresas de telefonia precisam ampliar dia- sumo de energia, qualidade aceitável, para longas dis-
riamente a capacidade da rede de acesso; tâncias (como as rádios AM).
z A rede de transmissão é responsável pelo supor- As redes de telecomunicações estão sendo aperfei-
te físico ou lógico que permite a propagação da çoadas para suportar a transmissão de informações
informação por meio da rede de acesso. As redes com a introdução de novas tecnologias, tanto do lado
de transmissão envolvem os equipamentos e pro- dos equipamentos da rede (elementos de rede), quan-
cedimentos de autenticação e segurança, que pro- to dos meios de transmissão (redes de transporte) e
tegem o tráfego de dados de invasores ou espiões; dos sistemas de operação para gerenciamento (Gerên-
z A infraestrutura do sistema de telecomunica- cia de Redes de Telecomunicações).
ções são os sistemas secundários, como o forneci- Uma rede de telecomunicações pode ser composta
mento de energia elétrica para os equipamentos, de várias sub-redes, dependentes do tipo de serviço
as proteções contra eventos naturais que afetariam que é provido ao consumidor. Os serviços utilizados
um datacenter (inundação, incêndios, invasões pelos assinantes são dispostos em categorias.
físicas) e as proteções contra acessos indevidos As categorias mais comuns são: telefonia fixa, telefo-
(cabos blindados instalados dentro de tubulações nia celular, telefonia pública e comunicação de dados.
de aço, enterradas abaixo do nível das ruas).
Noções de Voz sobre IP (VOIP e Telefonia IP)
As redes de acesso não são construídas somente
com cabos telefônicos. São usadas diferentes tecnolo- VoIP é uma tecnologia que permite a transmissão de
gias para a transmissão dos dados por meio guiado. Os voz em tempo real por meio de protocolos de internet.
cabos coaxiais caíram em desuso pela baixa velocida- Para fazer isto, ela pega os sinais da voz, que são analó-
de. Os cabos de rede ainda são usados para diversas gicos, e os converte em sinais binários para que possam
operações domésticas e corporativas. As fibras ópti- ser transmitidos por meio da rede para outros disposi-
cas, que possuem velocidade superior, são usadas em tivos compatíveis. Talvez você até não saiba, mas apli-
empresas e entre conexões de longa distância. cativos do seu dia a dia como Skype, WhatsApp e outros
Os meios de transmissão guiados, como cabo utilizam a tecnologia VoIP de forma bastante acessível.
coaxial, cabo telefônico, cabo de rede e fibra ópti- Os telefones convencionais fazem a transmissão
ca estão sendo substituídos progressivamente pelos dos dados das chamadas sem converter as informa-
meios de transmissão não-guiados, como Wi-Fi e suas ções. Portanto, o mesmo impulso analógico gerado por
variantes de longo alcance. Assim como os hubs e um telefone em uma ponta é recebido pelo outro sem
multiplexadores, os meios guiados podem até sumir conversões. Como o VoIP utiliza servidores de inter-
do nosso campo de visão, mas continuarão sendo usa- net e até mesmo a nuvem, eles precisam converter a
dos nas conexões dentro das empresas de telefonia. voz em um formato digital binário para que possa ser
Confira algumas características dos cabos de rede recebida pelo outro dispositivo online, onde é feita a
Ethernet (CAT 5e, 6, 7). reconversão dos bits para vibrações sonoras.
Existem telefones especialmente designados para
serem utilizados via VoIP. Eles usam cabos RJ-45 ao
CARACTERÍSTICA CAT 5E CAT 6 CAT 7 invés de RJ-11, e podem receber chamadas de voz,
Linhas telefônicas Sim Sim Não fotos ou até vídeos. A tecnologia permite tanto uma
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

ótima comunicação interna entre ramais, como tam-


Usuários bém ligações para fora da empresa.
Sim Sim Não
domésticos Aparelhos VoIP podem ser softwares. Programas
como o Skype, da Microsoft, oferecem a possibilidade de
Usuários compra de um número de telefone, que será usado para
Sim Sim Não
corporativos ligações telefônicas como se fosse um aparelho comum.
Datacenter Não Não Sim Como os telefones VoIP trabalham?
Os telefones VoIP transformam a voz em sinais
Até Até Até digitais, encapsulados em pacotes, para serem trans-
Largura de banda 1000 1000 10000 mitidos pela rede de dados.
Mbps Mbps Mbps

Transmissão de 1000 1000 10


dados BASE-T BASE-TX GBASE-T
239
Quais as Vantagens da Telefonia VoIP?

Apesar do alto custo para implantação, o custo de ope-


Emissor Destinatário
ração é menor, comparado com a telefonia convencional.
Internet

Custos de implantação
Pacotes Perdidos Pacotes Perdidos
Telefonia convencional
Para a transmissão dos dados, tanto o emissor
como o receptor precisarão de conexão de dados e
energia elétrica.
Ao contrário do sistema de telefonia analógica, que
utiliza os próprios sinais da ligação para alimentar o Telefonia VoIP
sistema, na telefonia digital será necessária uma fonte
de energia para operação do equipamento emissor e
do equipamento receptor. Custos de operação
Se o usuário utiliza um softphone (programa para
ligações, como o Microsoft Skype), ainda estará sujeito
à disponibilidade de energia elétrica e de recursos da O aproveitamento da rede de dados, existente em
rede para realização da conexão VoIP. praticamente todas as empresas atualmente, dissolve
A transmissão de dados por uma rede de compu- os custos de operação dentro da franquia de dados
tadores poderá ser pelo protocolo TCP ou pelo UDP. contratada com a operadora.
A telefonia VoIP usa o UDP. Por quê? Na transmissão A padronização dos cabeamentos de redes e tele-
TCP, existirá uma conexão estabelecida do início ao fones facilita a instalação e manutenção, reduzindo a
fim da transmissão. Entretanto, para voz, este tipo de quantidade de itens em estoque.
conexão orientada é “desastrosa”. Como as ligações VoIP trafegam pela rede de dados,
direcionar as chamadas de um aparelho instalado na
mesa do funcionário para o seu smartphone será uma
ação imediata. No aparelho portátil, um app (aplicati-
Emissor Destinatário vo) receberá as ligações, aumentando a conectividade
dos colaboradores com os clientes.
Internet
Quais as Desvantagens da Telefonia VoIP?

A telefonia VoIP utiliza a rede de dados do usuário,


logo, é totalmente dependente da conexão de Internet.
Pacotes Perdidos Pacotes Perdidos
Quanto mais rápida, melhor, mas quanto mais utiliza-
da for a rede, mais lenta será a telefonia, ocasionando
Imagem – na telefonia VoIP, pacotes contendo par- perda de pacotes e ligações com falhas.
tes da voz da ligação telefônica podem ser perdidos, Por utilizar a rede de dados, precisará de energia
e por não ocorrer retransmissão em caso de falhas, o elétrica para manter a conexão. Em caso de ausência
destinatário receberá a ligação cortada, com falhas. de energia, equipamentos adicionais como no-break
podem auxiliar no fornecimento temporário de ener-
Dica gia para os dispositivos de conexões.
E o serviço de telefonia VoIP não permite ligações para
Confira mais detalhes sobre o TCP e o UDP no números de emergência, como o 190 da Polícia Militar.
capítulo sobre Modelos de arquitetura. É um dos O conector usado na telefonia via Internet é o
itens que tem grande incidência em provas. conector de rede (RJ45), com 8 fios (codificação 8P8C
ordem 568). O conector usado na telefonia convencio-
Os datagramas enviados aguardam confirmação nal é o RJ11, de 4 fios.
de recebimento, e caso tenha erro, faz a retransmis- O padrão de codificação 8P8C é compatível com
são. Em uma ligação telefônica seria o eco ou repeti- os padrões superiores, permitindo a conexão via Cat5
ção do áudio, talvez de forma infinita, caso a conexão em uma rede Cat6, por exemplo.
de Internet estiver oscilando. Um aparelho VoIP não pode ser conectado diretamente
Por este motivo, a telefonia VoIP é realizada pelo em uma rede telefônica convencional. Caso use um adap-
UDP, que é uma transmissão não orientada à conexão. tador, os recursos de videochamada, teleconferência, cha-
Os dados são transmitidos, mas se por algum motivo o mada em espera, e tantos outros recursos que justificam o
pacote não chegar ao destino, ele não será retransmi- uso de VoIP, não estarão disponíveis. Ou seja, um aparelho
tido. Assim, a banda de conexão permanece disponí- VoIP operará como se fosse um aparelho comum.
vel para novas transmissão.
O UDP utilizará outros protocolos “menores” para Uso da Telefonia VoIP nas Empresas
controle e transmissão da voz sobre IP. São exemplos
de protocolos auxiliares para implementação de VoIP: As empresas se beneficiam das características da
H.323, Media Gateway Control Protocol (MGCP), Real- telefonia VoIP, implementando serviços que um siste-
-time Transport Protocol (RTP) e Session Initiation Pro- ma de PABX convencional não poderia oferecer. Con-
240 tocol (SIP). fira alguns exemplos:
z Automatização do atendimento, com mensagens DETALHES Internet
personalizadas (como as operadoras de telefonia
fazem, quando ligamos para reportar um proble- Satélite9 , Fibra ótica10 , Cabos de
ma da rede, e baseado no nosso número, sabem de TECNOLOGIAS
cobre, Rádio, WiMax11
onde estamos telefonando);
z Controle das ligações telefônicas realizadas por
cada ramal da empresa; SIGLA MAN
z Redirecionamento de chamadas e atendimento
REDE Metropolitan Area Network
para todos os ramais, ou para alguns programados
anteriormente; As redes MAN’s abrangem cidades
z Chamadas em vídeo entre os ramais e para telefo- próximas em regiões metropolita-
nes externos compatíveis com a tecnologia, como nas, conectando várias LAN’s. Ser-
nos smartphones; COMENTÁRIO viços de transporte público usam
z Controle de tempo e qualidade das ligações, com enque- conexões em uma área MAN para
tes ao final da chamada para avaliar o atendimento; recolher a tarifa dos usuários dos
z Gravação das chamadas em arquivos de áudio, que
veículos
poderão ser rapidamente recuperadas graças às
tags de metadados que identificam o seu conteúdo. Pode ser Internet, extranet ou
DETALHES
intranet
Circuitos Virtuais
TECNOLOGIAS Fibra ótica, Cabos, Rádio, WiMax
Uma rede de circuitos virtuais é a união entre uma
rede de comutação de circuitos e uma rede de data-
gramas, pois apresenta características de ambas as SIGLA LAN
redes que formaram essa união.
Os circuitos virtuais são semelhantes a Comutação REDE Local Area Network
de Pacotes, por não haver reserva de recursos para a
Rede local, de acesso reduzido,
comunicação e utilizar o conceito de chamadas virtuais.
com dezenas ou centenas de dispo-
Vamos recordar os conceitos!
sitivos. Interligam dispositivos em
Na comutação de pacotes, os dados são enviados
da origem para o destino por caminhos (rotas) que redes domésticas e empresarias.
COMENTÁRIO
poderão mudar a cada conexão. Com equipamentos de intercone-
Na rede de datagramas, os pacotes de dados são xão (switch) é possível dividir uma
enviados em transmissões sequenciais, com um fluxo LAN muito grande em várias LAN’s
de pacotes da origem para o destino. menores, algumas virtuais (VLAN)
Os Circuitos Virtuais podem ser de dois tipos:
DETALHES Nem toda LAN será uma intranet
z Comutados (SVC - Switched Virtual Circuits): esta- Fibra ótica, Cabos, Rádio, WiMax,
belecidos e finalizados por meio de procedimentos de TECNOLOGIAS
Wi-Fi12
sinalização, que identificam a origem e o destino, e se
encarrega de efetuar a entrega dos pacotes de dados;
z Permanentes (PVC - Permanent Virtual Circuits): Wide Area Network
estabelecidos por meio de procedimentos de ges-
tão e mantidos durante um período contratual que
Metropolitan Area Network
identificam a origem e o destino, preestabelecendo
o caminho que deverá ser usado para a transmissão
dos pacotes de dados. Local Area Network

REDES DE COMPUTADORES: LOCAIS,


METROPOLITANAS E DE LONGA DISTÂNCIA

Por definição, a Internet, a WWW e a WAN são a Alcance das redes


integração de todos os protocolos e tecnologias, a par-
tir da unificação de comandos pelo protocolo TCP. As redes locais (LAN) usam equipamentos de inter-
A tabela a seguir mostra a classificação das redes conexão como hubs (considerados obsoletos), switches,
segundo o alcance geográfico de cada uma. roteadores e gateways. Conectam vários equipamentos
em redes físicas ou virtuais.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

SIGLA WAN

REDE Wide Area Network

Com alcance amplo, as redes WAN


interligam cidades, estados, países
COMENTÁRIO e continentes. Os backbones (espi-
nhas dorsais) conectam MAN’s e
LAN’s para a troca de informações

9  Conexão por satélite – vantagem: alcance global. Desvantagem: velocidade baixa.


10  Fibra ótica – tecnologia FTTH, utiliza repetidores de sinal a cada quilômetro (ex.: NovaDutra)
11  Wireless Max – conexão sem fio de alta potência e grande alcance.
12  Wireless Fidelity – conexão sem fio com fidelidade (qualidade, confiabilidade). Conhecido como Wi-Fi. 241
Ponto de Prédio Principal da Empresa
Wireless
Switch

Celular
Switch Modem Acesso
Servidor de Rede Internet
192.168.0.1
Roteador
PC Hub

Modem Acesso Anexo da Empresa


Internet
Ponte

Terminal Ponte
Servidor de Rede 192.168.0.2
Servidor de
Rede
Bridge (ponte). Servidores 192.168.0.1 e 192.168.0.2 são da mesma
Máquina rede, mas estão distantes. Uma ponte permite a conexão entre eles,
Multifuncional por serem da mesma rede.

Rede local de computadores Os equipamentos de rede procuram ser transpa-


rentes para o usuário final. Eles não aparecem, mas
Quando uma rede local possui muitos dispositivos, que estão lá, sim, eles estão.
a quantidade de conexões pode ser superior à quan-
tidade de endereços IPs disponíveis. Cada dispositivo
VLAN 1
deve ter um número IP para poder se conectar na rede,
e se forem muitos equipamentos, algumas técnicas
poderão ser usadas para garantir a conexão de todos.
Uma delas é o uso de NAT (Network Address Transla-
Switch Acesso Internet
tor), que é uma técnica que associa um endereço IP para Servidor de Rede Modem
192.168.0.1
vários dispositivos, cada um operando em uma porta.
Por exemplo, a rede tem o IP fixo 200.154.16.25 de acesso VLAN 2

à Internet, e pretende distribuir esta conexão para todos


os dispositivos. Com o NAT, um dispositivo 192.168.0.1
usará a porta 30000 para acessar a Internet. Os pedi-
dos serão controlados como 192.168.0.1:30000 e poderá Servidor de Rede
192.168.0.1
acessar por meio do 200.154.16.25. Outro dispositivo
192.168.0.2 usará a porta 30001, e assim por diante. Switch separando redes fisicamente próximas em redes virtuais
(VLANs). O servidor 192.168.0.1 é da VLAN1 e o servidor
Dica 192.168.1.1 é da VLAN2.

Se algum usuário externo tentar identificar o As redes metropolitanas possuem alcance maior
endereço IP de uma informação proveniente
que uma pequena LAN. Geralmente abrangem uma
de uma conexão compartilhada com NAT, não
área de até 100 km, e é usada para soluções de mobi-
poderá ver o número do verdadeiro dispositivo,
e saberá apenas o número de IP da conexão que lidade. Os cartões de ônibus são um exemplo. Cada
foi ‘traduzida’ pelo NAT. ônibus da frota se comunica com a antena (central)
que troca dados para autorizar ou barrar o acesso dos
Os equipamentos usados nas redes locais (LAN) usuários ao sistema. Ao passar um cartão na catraca
também são usados em outras estruturas de redes eletrônica o ônibus entra em contato com a central
como MAN e WAN. ‘debitando’ o crédito do cartão do usuário.
A rede metropolitana poderá ser, por exemplo, de uma
z Hub (concentrador de conexões): divide uma universidade que possui diversos campus distribuídos na
conexão com vários dispositivos. Quando recebe cidade, possibilitando a comunicação entre todos eles.
um pacote, envia para todos os dispositivos, procu-
rando quem é o destinatário;
z Roteador (encontra a melhor rota): usado para
encaminhar os pacotes, identificando a melhor
rota a cada novo envio; Acesso Internet Acesso Internet
z Switch (selecionador de conexões): permite o Servidor de rede Torre de Rádio
Empresa
envio de pacotes diretamente para o destinatá-
rio. Poderá dividir a rede física em várias redes
virtuais (Virtual LAN), melhorando o controle de MAN – tecnologias de comunicação sem fio de longo alcance, como
acesso. Poderá associar portas com endereços MAC rádio e Wi-Max serão usadas para conexão entre os participantes da
dos dispositivos, evitando que equipamentos des- rede.
conhecidos acessem a rede de dados;
z Modem: modulador e demodulador de sinal para As redes de amplo ou longo alcance (WAN) são
conexão na linha telefônica e acesso à Internet; aquelas que integram várias regiões metropolitanas,
z Ponte (bridge): usada para conexões de redes dis- ou até países. Uma empresa que possui matriz em São
tantes, dentro do mesmo contexto; Paulo e filiais em Belo Horizonte e Curitiba, mantém
z Gateway (portão): usada para conexões de redes comunicação direta entre elas por meio de uma cone-
242 distantes, de contextos diferentes. xão classificada como WAN (Wide Area Network). A
tecnologia de conexão será viabilizada por uma Extra- DNS
net, que é a conexão segura entre ambientes seguros,
usando um ambiente inseguro. O DNS (Domain Name System - Sistema de Nomes de
Domínios) é um sistema de gerenciamento de nomes
NOÇÕES DE TERMINOLOGIA E APLICAÇÕES, hierárquico e distribuído operando segundo duas defi-
TOPOLOGIAS nições: examinar e atualizar seu banco de dados e resol-
ver nomes de domínios em endereços de rede (IPs).
As redes locais possuem servidores, estações, siste-
ma operacional de rede, dispositivos de rede e proto- Servidor
colos de comunicação. DNS
Os servidores são usados para prover serviços às
estações (clientes).
As estações acessam os servidores e seus recursos.
O servidor utiliza um sistema operacional de rede Servidor
para atender à todas as solicitações dos clientes. Cliente de Rede
A comunicação entre os clientes e servidores é rea- www.novaconcursos.com.br Tabelas
DNS
lizada por meio de equipamentos de rede. Estes são os dados disponíveis
Atente-se:
Paradigma cliente-servidor. Somos clientes que Aplicações
acessam recursos oferecidos por servidores.
Os equipamentos usam protocolos para viabilizar
As redes de computadores promovem o compar-
a comunicação entre os dispositivos.
tilhamento e otimização dos recursos. São inúmeras
Internet aplicações que podem ser usadas em uma estrutura
Rede Local Servidores
em rede, entre elas:
Clientes Dispositivos
Roteador
z Servidor de Arquivos: armazenamento e distribui-
Servidor ção de arquivos na rede. Os usuários não precisarão
DNS
Switch Servidor de
rede usar pendrives e HDs externos, porque os arquivos
Hub
Servidor DHCP
Servidor de
estarão armazenados em um servidor, com pastas
impressaõ compartilhadas. As pastas compartilhadas poderão
ter restrições de acesso associadas à conta de cada
Rede local com clientes, conectados por dispositivos, acessando
usuário da rede. Com os arquivos centralizados
serviços de um servidor que permite acesso à Internet.
em um servidor de arquivos, não existirão cópias
‘perdidas’ nos computadores e o compartilhamento
Cada cliente deverá possuir uma identificação úni-
ca, conhecida como número de IP. O servidor da rede colaborativo será possível para edição simultânea.
poderá ter um serviço DHCP para atribuir o número
de IP para cada dispositivo. No DAS (Direct Attached Storage) temos um equi-
Quando um dispositivo deseja acessar a rede mun- pamento de armazenamento ligado diretamente ao
dial de computadores, ele deverá ter um endereço IP. Nas servidor. Ex.: HD Externo na porta USB
redes (e nas residências, nos roteadores Wi-Fi), o servi- No NAS (Network Attached Storage) trata-se de um
dor DHCP atribuirá um número de IP para o dispositivo. servidor de arquivos, geralmente sem periféricos, que
Saiba que: roda um sistema operacional e serve a vários compu-
Alguns serviços são providos por protocolos, e tadores de rede, como se fosse uma impressora com-
alguns protocolos são identificados como serviços. A partilhada. Qualquer usuário com permissão de acesso
definição das siglas ajuda na identificação de “quem é pode utilizá-lo. Esse mapeamento será compartilhado.
quem” dentro das redes. No SAN (Storage Area Network) temos um equi-
pamento com muito espaço para armazenamento. A
DHCP
diferença para NAS é que, neste caso, ele consegue
O DHCP (Dynamic Host Configuration Protocol gerenciar de forma mais granular a quantidade de
- Protocolo de configuração de host dinâmico), refe- área que será entregue a um solicitante. Esta área
re-se a um protocolo de serviço TCP/IP que oferece disponibilizada será usada apenas por um servidor,
configuração dinâmica de terminais, com concessão e ninguém mais irá mapeá-la. No servidor poderemos
de endereços IP de host e outros parâmetros de confi- montar essa área (disco de rede no Windows ou usan-
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

guração para clientes de rede. do NFS em Unix). Geralmente são chamados de parti-
Protocolo UDP porta 67 – servidor ções montadas (ou remotas).
Protocolo UDP porta 68 - cliente
Servidor Cliente
Clientes DHCP Servidor de
Preciso de um IP para acessar a rede Arquivos

Use o endereço 192.168.0.5 Cliente

Com o número de IP, ele poderá ingressar na rede


mundial. Ao buscar alguma informação na Internet, o
endereço URL (recurso) será traduzido para endere- Cliente
ço IP por servidores DNS, que localizam a informação
entre os servidores da nuvem. 243
z Servidor de Impressão: armazenamento e gerên- z Servidor Proxy: instalado ou configurado na cone-
cia da fila de impressão (spool). Assim, poderá com- xão de Internet, o proxy recebe os pedidos de conexão
partilhar uma impressora com vários usuários da dos usuários, avalia comparando com as regras exis-
rede. Os usuários que pedirem impressões, podem tentes nele, permite ou bloqueia o acesso ao endereço
usar o computador enquanto o servidor de impres- solicitado, copia as informações para o cache (tempo-
são gerencia a fila de impressão e seus recursos rários local) e registra a solicitação em arquivos log.

Opera na maioria das vezes de forma transparen-


Cliente te para os usuários, e é conhecido como firewall de
Servidor de
impressão aplicação. Quando o servidor proxy avalia os pedidos
Impressora 1 de acessos externos para a rede interna, é conhecido
Cliente como proxy reverso.
Servidor
Cliente www.novaconcursos.com.br Proxy
Cliente
Impressora 2
Estes são os dados disponíveis
Regras

z Servidor de Comunicação: utilizado para VoIP


e outras aplicações de comunicação. Possibilita Servidor
www.novaconcursos.com.br
gerenciar o controle das ligações telefônicas, per- Cliente Proxy

missões para ligações externas, cobrança automá-


tica etc. Conecta os dispositivos VoIP (aparelho de Estes são os dados disponíveis
telefonia) e os softwares de ligações telefônicas Regras
(Skype) e videoconferências (Microsoft Teams).

Servidor de
Skype
comunicação Importante!
Pequenas empresas que ainda utilizem o modelo
Telefone
VoIP de computação local, geralmente possuem um
servidor de rede que compartilha todos os outros
Microsoft serviços (impressão, proxy, DNS, gateway etc.).
Teams O modelo de computação local tem sido trocado
para o modelo de computação na nuvem.
z Servidor Gateway: operando como um roteador,
interliga diferentes redes. Permite que uma rede
interna compartilhe uma conexão de Internet, por- Topologias
que no Gateway, serviços como o RRAS (Remote and
Router Access Service – serviço de roteamento e aces- As topologias de rede podem ser lógicas ou físicas.
so remoto) recebem e distribuem o sinal para vários As topologias físicas tratam da forma como os disposi-
dispositivos. Devido à sua característica de conectar tivos em uma rede são conectados pelos meios físicos;
várias redes diferentes, ele pode ser isolado em uma a topologia lógica trata de como a informação é passa-
DMZ, aumentando a segurança do servidor interno, da de um dispositivo em uma rede para outro.
acerca dos ataques provenientes da Internet. A topologia física mostra a aparência, ou layout, da
rede (estrela, barramento, anel etc.).

z Topologia Barramento: todos os dispositivos estão


conectados no barramento de dados. Um pacote
será enviado para todos os dispositivos, que acei-
Usuário ADM Usuário OPER tam ou descartam. O barramento de dados estará
muito ocupado entregando pacotes de dados, dimi-
Servidor gateway nuindo a performance para os demais dispositivos.
Usuário ADM Usuário OPER Se o barramento for interrompido, toda a rede para.

VISITANTE Usuário PROD

z Servidor de Rede: gerencia o tráfego de dados, arma-


zena configurações dos usuários etc. Geralmente a
empresa possui um servidor “físico” e nele são criados
serviços virtuais, como servidor de e-mails, servidor de z Topologia Anel “simples”: todos os dispositivos
DNS, servidor DHCP, servidor de proxy etc; estão conectados no barramento de dados. Um
z Servidor DHCP: atende aos pacotes de broadcast pacote será enviado da Origem para o Destino,
enviados pela rede, entregando ao destinatário passando pelos dispositivos no caminho. Se o bar-
configurado. Atribuem um número de IP dinâmico ramento for interrompido, toda a rede para;
para cada dispositivo da rede, ou um número de z Topologia Anel “duplo”: todos os dispositivos
uma faixa de valores programados, ou desativado, estão conectados no barramento de dados. Um
244 permite o uso de IP fixo pelo dispositivo; pacote será enviado da Origem para o Destino,
passando pelos dispositivos no caminho. Se o bar- Existem 3 representações, sendo o modelo de referên-
ramento for interrompido em uma direção, o paco- cia OSI de 7 camadas o modelo conceitual mais difundido,
te será enviado em outra direção. temos o modelo TCP de 4 camadas que é o mais questio-
nado, e o modelo de 5 camadas TCP que é o mais conheci-
Origem Destino do por ser uma Pilha de Protocolos (com diferenciação na
camada Host/Rede, como no modelo OSI).
Em concursos, as bancas costumam pedir sobre o
Origem Modelo de Referência OSI (7 camadas) e o Modelo de
Referência TCP (4 camadas). O modelo que representa
a pilha de protocolos da Internet é usado para estudos
Destino e classificação, porém é pouco questionado em con-
cursos públicos.

PRINCIPAIS PROTOCOLOS E SUA DISTRIBUIÇÃO


z Topologia Estrela: a mais comum. Os dispositivos NA ARQUITETURA TCP/IP
são conectados a partir de um dispositivo central
(que poderá ser um computador, um hub, um swit- z A camada de Aplicação provê serviços de rede às
ch etc.) que recebe o pacote da Origem, identifica aplicações, e tem os protocolos HTTP (transferência
o Destino e entrega para ele. É a topologia que tem de hipertextos), FTP (transferência de arquivos),
menor atraso na entrega e em caso de falha de um SMTP (envio de e-mails), DNS (serviços de nomes de
dos nós, os demais continuarão operando. domínios), SNMP (gerenciamento da rede), TELNET
(acesso remoto) e SSH (acesso remoto seguro) como
Destino
Origem exemplos. No modelo OSI de 7 camadas, eles estão
distribuídos entre as camadas de Aplicação, Apre-
sentação e Sessão;
z A camada de Transporte cuida da transmissão
confiável de dados e sua segmentação. TCP (com
controle de envio), UDP (sem controle de entrega)
e SCTP são exemplos;
z A camada de Rede/Internet faz o endereçamen-
to lógico e roteamento do tráfego de dados, com
controle. Encontramos ali ARP (resolução de ende-
reços MAC), IP (protocolo de Internet - IPv4, IPv6),
IPsec, RARP (Reverse ARP) etc.;
z A camada de Interface com a rede, responsável
pelo endereçamento físico, transmissão confiável
dos quadros e interface com o meio físico, encon-
tramos os padrões de comunicação como ETHER-
A topologia lógica é a representação de como os NET, TOKEN RING, FRAME RELAY, ATM. O meio
dispositivos estão interligados. Enquanto a topologia físico, formado por equipamentos como modens e
física procura focar nas conexões diretas, apenas de roteadores, está nesta “última” camada.
um nível, na topologia lógica encontramos represen-
tações mais amplas, com vários níveis.
Modelo de referência ISO/OSI com 7 camadas
Combinações de topologias físicas como barra-
mentos com estrelas, em forma de árvore ou mista são
O modelo de referência procura organizar logica-
as mais comuns, quando falamos de topologia lógica.
mente os protocolos de comunicação entre os diferen-
Cada topologia possui suas vantagens e desvan-
tes tipos de sistemas, garantindo a comunicação ponto
tagens. Atualmente, os modelos barramento e anel
a ponto entre os dispositivos.
estão em desuso, priorizando Estrela e suas variações
Modelo OSI (do inglês Open Systems Interconnection),
por oferecerem facilidade para identificação de erros
formalizado pela ISO (do inglês International Organiza-
de comunicação entre o nó central e a estação.
tion for Standardization) foi lançado em 1984, organi-
Dificilmente encontrará uma rede que esteja em
zando em níveis ou camadas, os protocolos e elementos
total acordo com o modelo proposto. O mais comum é
de cada um, dentro do processo de comunicação.
encontrarmos topologia de rede híbrida, que combina
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

dois ou mais modelos de topologias para operar para


Camada do modelo ISO/OSI
os usuários. Como a topologia é transparente para o
usuário, a apresentação de topologias híbridas, mis- Cabeçalho
SDU (Unidade de Dados do
Dados da camada - PDU
tas, em malha, em árvore, são comuns para os admi- (Unidade de Dados do Protocolo)
Serviço)
nistradores dos sistemas.

MODELOS DE ARQUITETURA (OSI/ISO E TCP/IP) E O modelo OSI é formado por 7 camadas:


PROTOCOLOS
z Aplicação (Application): prover serviços de rede
Arquitetura TCP/IP de 4 Camadas às aplicações (camada 7);
z Apresentação (Presentation): criptografia, codifi-
Os protocolos de Internet são organizados em cama- cação, compressão e formatos de dados (camada 6);
das. As representações foram desenvolvidas para des- z Sessão (Session): iniciar, manter e finalizações
crever e organizar os processos e protocolos envolvidos. sessões (camada 5); 245
z Transporte (Transport): transmissão confiável de informações. A troca de informações poderá ser de
de dados e segmentação (camada 4); arquivos, dados de controle ou sinais de sincronização.
z Rede (Network): endereçamento lógico e rotea- Os protocolos podem ser divididos em três catego-
mento, controle de tráfego (camada 3); rias essenciais:
z Enlace de dados (Data Link): endereçamento físi-
co, transmissão confiável de quadros (camada 2); z Administrativos: usados pelos administrado-
z Físico (Physical): interface com meios de trans- res de redes para o gerenciamento, seja em nível
missão e sinalização (camada 1). global ou local, como o SNMP (Simple Network
Management Protocol – protocolo simples de
gerenciamento da rede);
O mnemônico F.E.R.T.S.A.A. é usado para lembrar as
z Usuários: para transferências de dados entre os
iniciais dos nomes das 7 camadas, iniciando na camada 1.
dispositivos, como o FTP (File Transfer Protocol –
Dados Dados protocolo de transferência de arquivos) e SMTP
Prover serviços de rede
(Simple Mail Transfer Protocol – protocolo simples
às aplicações
Protocolo de Aplicação de transferência de mensagens);
Aplicação Aplicação
http, ftp, dns, dhcp,
smtp, Telnet...
z Segurança: adicionados aos protocolos dos usuá-
Criptografia, codificação,
rios, para implementar camadas de segurança, pro-
Protocolo de Apresentação
compressão e formatos
Apresentação Apresentação
tegendo o tráfego de dados contra monitoramento
de dados
EBCDIC, NDR, XDR, TLS...
externo. TLS (Transport Layer Security – camada
Iniciar, manter e finalizar de transporte segura) e seu antecessor SSL (Secure
Protocolo de Sessão
sessões
Sessão Sessão Sockets Layer – camada para conexão segura) são
RCP, SSH, SCP, NetBIOS...
exemplos de padrões de segurança.
Transmissão confiável de
Protocolo de Transporte
dados, segmentação
Transporte Transporte
TCP, UDP, NetBEUI, SCTP, Dentro dos protocolos temos os seguintes tipos:
DCCP, RIP...
Endereçamento lógico e
roteamento; Controle de FTP
tráfego Rede Rede Rede Rede
IP, IPX, ICMP, ARP, RARP,
NAT, IPsec... Protocolo de Transferência de Arquivos (File
Endereçamento lógico e
roteamento; Controle de
Transfer Protocol) é um protocolo e um programa,
tráfego Enlace Enlace Enlace Enlace
que permite a troca de arquivos entre um Servidor
IP, IPX, ICMP, ARP, RARP,
NAT, IPsec...
FTP e um Cliente FTP. É um protocolo que utiliza duas
Interface com meios de
portas de conexão, sendo uma para transferência de
transmissão e sinalização dados (porta 20) e outra para trocar comandos de
Modem, camada física, Físico Físico Físico Físico
Ethernet, Wi-Fi,Bluetooth,
controle da transferência (porta 21). Anteriormente,
USB... o FTP anônimo era utilizado pela porta 69, mas caiu
em desuso, por questões de segurança. E ainda existe
Quando digitamos um endereço de Internet no o FFTP, Fast File Transfer Protocol, protocolo ‘rápido’.
navegador, estamos fazendo na camada de Aplicação. O envio é chamado de upload, e o recebimento é cha-
O pedido passará por todas as camadas do modelo mado de download. Os dados transferidos poderão ser
OSI, entrará na rede de telecomunicações, encontra- em ASCII (padrão de texto com caracteres ‘legíveis’) ou
rá o local onde está a informação desejada, e retor- binário (bit a bit, para transferência de executáveis).
nará para quem solicitou pelo mesmo caminho (rota)
do pedido inicial. Os cabeçalhos de identificação dos FTP - File Transfer Protocol - protocolo de transferência de arquivos
pacotes são usados para que o pedido chegue ao desti- Porta TCP 20 (dados) e 21 (controle)
no e retorne corretamente para o solicitante dele. FTP - Comando OPEN (iniciar transferência)

FTP - Comando PUT (para upload, adicionar arquivos)


z A camada física é a mais baixa da hierarquia e
nela são determinados como serão realizadas as FTP - Comando GET (para download, baixar arquicos
transferências de bits por meio de um canal de Cliente FTP
Servidor FTP
comunicação;
FTP - Dados transferidos para a solicitação GET
z A camada de enlace é para realizar a formatação FTP - comando CLOSE (finalizar transferência)
das mensagens e o endereçamento dos pontos de
comunicação;
z A camada de rede é para transferir os pacotes da ori-
HTTP
gem ao destino, fornecendo uma ligação entre redes;
z A camada de transporte provê uma entrega con-
Protocolo de Transferência de Hiper Textos (Hyper
fiável de mensagens processo a processo, além da
recuperação de erros; Text Transfer Protocol) é um protocolo para troca de
z A camada de sessão estabelece, gerencia e encer- dados entre um Servidor Web e um Cliente Web (nave-
ra sessões; gador de Internet, ou browser). A sua implementação
z A camada de apresentação é para traduzir, crip- para troca de informações levou ao estabelecimento
tografar e comprimir dados; da World Wide Web (www), formada por documen-
z A camada de aplicação possibilita acesso aos tos escritos em HTML (Hyper Text Markup Language
recursos de rede. – linguagem de marcação de hipertextos). O protocolo
HTTP usa a porta 80 para transferência de conteúdo
Protocolos multimídia, como textos, imagens, vídeos e músicas.

Os protocolos são padrões de comunicação. Eles


246 usam portas específicas do computador para a troca
HTTP - Hyper Text Transfer Protocol - protocolo de transferência de computador do usuário, removendo-as do servidor
hipertextos — Porta TCP 80 de e-mail. Deste modo, os e-mails deixam de estar dis-
poníveis por meio do webmail ou programa de e-mail
HTTP - request (requisição) (offline). Exige autenticação.

HTTP - response (resposta) IMAP (Internet Message Access Protocol)


Cliente WEB
Servidor WEB
Porta 143 e utiliza protocolo TCP. Melhoria do
HTTPS POP3. Permite o acesso de vários clientes à mesma
caixa de correio, mantendo as mensagens de e-mail
Protocolo de Transferência de Hiper Textos Segu- disponíveis no servidor para mais tarde acessar por
ro (Hyper Text Transfer Protocol Secure) é um pro- meio do webmail (online). Exige autenticação.
tocolo para troca de dados entre um Servidor Web e
um Cliente Web (navegador de Internet, ou browser) CONCEITOS BÁSICOS, FERRAMENTAS,
sobre uma camada de segurança (SSL ou TLS). A tro- APLICATIVOS E PROCEDIMENTOS DE INTERNET E
ca de dados será criptografada, e caso alguém obte- INTRANET
nha acesso externo ao conteúdo da transferência, não
conseguirá decodificar as informações trafegadas. A A Internet é a rede mundial de computadores que
criptografia é implementada pela verificação dos cer- surgiu nos Estados Unidos com propósitos militares,
tificados digitais que garantem a autenticidade da tro- para proteger os sistemas de comunicação em caso de
ca de dados. O protocolo HTTPS usa a porta 443 para ataque nuclear, durante a Guerra Fria.
transferência de conteúdo, que assim como o HTTP é Na corrida atrás de tecnologias e inovações, Esta-
formado por textos, imagens, vídeos e músicas. dos Unidos e União Soviética lançavam projetos que
Na transferência HTTPS é estabelecida a comuni- procuravam proteger as informações secretas de
cação segura entre o servidor e cliente. Nos navegado- ambos os países e seus blocos de influência.
res de Internet será apresentado um cadeado fechado ARPANET, criada pela ARPA, sigla para Advanced
e o prefixo https no endereço URL acessado, mostrado Research Projects Agency, era um modelo de troca e com-
na barra de endereços do navegador. Ao clicar nes-
partilhamento de informações que permitisse a descen-
te cadeado, será possível verificar a autenticidade do
tralização das mesmas, sem um ‘nó central’, garantindo a
servidor por meio dos certificados digitais.
continuidade da rede mesmo que um nó fosse desligado.
A troca de mensagens começou antes da própria
HTTP - Hyper Text Transfer Protocol Secure - protocolo seguro de transferência de
hipertextos - Porta TCP 443
Internet. Logo, o e-mail surgiu primeiro, e depois veio
a Internet como conhecemos e usamos.
Ela passou a ser usada também pelo meio educa-
HTTPS - request (requisição) cional (universidades) para fomentar a pesquisa aca-
Cliente WEB dêmica. No início dos anos 90 ela se tornou aberta e
HTTPS - certificado digital comercial, permitindo o acesso de todos.
Identidade confirmada

Servidor WEB
HTTPS - response (resposta)

Usuário Modem
SMTP Internet
Provedor de Acesso
Protocolo de Transferência de Simples de Mensa- Figura 1. Para acessar a Internet, o usuário utiliza um modem que se
gens (Simple Mail Transfer Protocol Secure) é um pro- conecta a um provedor de acesso através de uma linha telefônica
tocolo para troca de mensagens de correio eletrônico
entre um Servidor de e-mails e um Cliente de e-mails. A navegação na Internet é possível através da com-
Além da transferência de mensagens entre servidor e binação de protocolos, linguagens e serviços, operan-
cliente, também realiza a transferência de mensagens do nas camadas do modelo OSI (7 camadas) ou TCP (5
entre o servidor de e-mails do remetente e o servidor camadas ou 4 camadas).
de mensagens do destinatário. Utiliza a porta 25 e não A Internet conecta diversos países e grandes cen-
exige autenticação. Para troca de mensagens com auten- tros urbanos por meio de estruturas físicas chamadas
ticação, outras portas são usadas, como 587, 465 ou 2525. de backbones. São conexões de alta velocidade que
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Alguns servidores recusam mensagens na porta 25 com permitem a troca de dados entre as redes conectadas.
o objetivo de reduzir o lixo eletrônico (spam) na Internet. O usuário não consegue se conectar diretamente no
backbone. Ele deve acessar um provedor de acesso ou
SMTP - Simple Mail Transfer Protocol - protocolo de transferência simples de e-mail uma operadora de telefonia através de um modem, e
Porta TCP 25, 587, 465 ou 2525
a empresa se conecta na “espinha dorsal”.
Após a conexão na rede mundial, o usuário deve
SMTP enviar e-mail SMTP enviar e-mail utilizar programas específicos para realizar a navega-
ção e acesso ao conteúdo oferecido pelos servidores.
Cliente E-mail
Servidor E-mail Servidor E-mail

POP3 (Post Office Protocol, Version 3)

É mais antigo e menos seguro. Utiliza o protoco-


lo TCP na porta 110. Transfere as mensagens para o 247
CONCEITO USO COMENTÁRIOS z Grupos de Discussão, tanto no contexto de
WhatsApp e Telegram, como no formato clássico
Conhecida como nuvem e do Facebook e Yahoo Grupos.
também como World Wide
Web, ou WWW, a Internet é um Este tópico é muito prático e nos concursos públi-
Conexão entre
Internet ambiente inseguro, que utiliza
computadores cos são questionados os termos usados nos diferentes
o protocolo TCP para conexão
softwares, como “Histórico”, para nomear a lista de
em conjunto a outros para
aplicações específicas informações acessadas por um navegador de Internet.
Ao navegar na Internet, comece a observar os deta-
Ambiente seguro que exige lhes do seu navegador e as mensagens que são exibidas.
identificação, podendo estar Estes são os itens questionados em concursos públicos.
restrito a um local, que pode-
Conexão com
Intranet rá acessar a Internet ou não. A Ferramentas e Aplicativos Comerciais de Navegação
autenticação
Intranet utiliza o mesmo pro-
tocolo da Internet, o TCP, po-
dendo usar o UDP também As informações armazenadas em servidores web
são arquivos (recursos) identificados por um endere-
Conexão remota segura, pro- ço padronizado e único (endereço URL), exibidas em
Conexão entre
tegida com criptografia, entre um browser ou navegador de Internet.
dois dispositivos, ou duas Eles são usados nas redes internas, pois a Intranet utili-
Extranet dispositivos ou
redes. O acesso remoto é ge- za os mesmos protocolos, linguagens e serviços da Internet.
redes
ralmente suportado por uma Confira a seguir os principais navegadores de Inter-
VPN
net disponíveis no mercado.

Os editais costumam explicitar Internet e Intranet, NAVEGADOR DESENVOLVEDOR CARACTERÍSTICAS


mas também questionam Extranet. A conexão remota Edge
segura que conecta Intranet’s através de um ambiente Navegador padrão do
inseguro que é a Internet, é naturalmente um resulta- Windows 10, que subs-
Microsoft
tituiu o Microsoft Inter-
do das redes de computadores.
net Explorer

Internet Navegador padrão do


INTERNET, INTRANET E EXTRANET
Explorer Windows 7, um dos
Redes de mais questionados em
Microsoft
computadores concursos públicos, por
ser integrante do siste-
ma operacional
Internet Intranet Extranet
Firefox
Software livre e multi-
Rede mundial de Rede local de Acesso remoto
computadores acesso restrito seguro plataforma que é leve,
Mozilla
intuitivo e altamente
expansível
Utiliza os mesmos
Protocolos TCP/IP protocolos da Protocolos seguros
Internet Chrome
Um dos mais populares
Padrão de Criptografia em
Família TCP/IP navegadores do merca-
comunicação VPN Google
do, multiplataforma e
de fácil utilização
A Internet é transparente para o usuário. Qualquer
usuário poderá acessá-la sem ter conhecimento técnico Safari Desenvolvido original-
dos equipamentos que existem para possibilitar a conexão. mente para aparelhos da
Apple Apple, atualmente está
PROGRAMAS DE NAVEGAÇÃO (MICROSOFT EDGE, disponível para outros
MOZILLA FIREFOX E GOOGLE CHROME) sistemas operacionais

Opera
Nos concursos públicos e no dia a dia, estes são os Navegador leve com
itens mais utilizados pelas pessoas para acessar o con- proteções extras contra
Opera
rastreamento e minera-
teúdo disponível na Internet.
ção de moedas virtuais
As informações armazenadas em servidores,
sejam páginas web ou softwares como um serviço
(SaaS – camada mais alta da Computação na Nuvem),
são acessadas por programas instalados em nossos Microsoft Edge
dispositivos. São eles:
Navegador multiplataforma da Microsoft, padrão
z Navegadores de Internet ou browsers, para con- no Windows 10, atualmente é desenvolvido sobre
teúdo em servidores web; o kernel (núcleo) Google Chromium, o que traz uma
z Softwares de correio eletrônico, para mensa- série de itens semelhantes ao Google Chrome.
gens em servidores de e-mail; Integrado com o filtro Microsoft Defender SmartS-
z Redes Sociais, para conteúdos compartilhados creen, permite o bloqueio de sites que contenham
por empresas e usuários; phishing (códigos maliciosos que procuram enganar o
z Sites de Busca, como o Google Buscas e Microsoft usuário, como páginas que pedem login/senha do car-
248 Bing, para encontrar informações na rede mundial; tão de crédito).
Outro recurso de proteção é usado para combater Snippets fazem parte do navegador Firefox. Eles ofe-
vulnerabilidades do tipo XSS (cross-site-scripting), que recem pequenas dicas para que você possa aproveitar
favorecem o ataque de códigos maliciosos ao compar- ao máximo o Firefox. Também pode aparecer novida-
tilhar dados entre sites sem permissão do usuário. des sobre produtos Firefox, missão e ativismo da Mozil-
Ele substituiu o aplicativo Leitor, tornando-se o la, notícias sobre integridade da internet e muito mais.
visualizador padrão de arquivos PDFs no Windows
10. Foram adicionados recursos que permitem ‘Dese- Google Chrome
nhar’ sobre o conteúdo do PDF.
Mantém as características dos outros navegado- O navegador mais utilizado pelos usuários da
res de Internet, como a possibilidade de instalação de Internet é oferecido pela Google, que mantém serviços
extensões ou complementos, também chamados de como Buscas, E-mail (Gmail), vídeos (Youtube), entre
plugins ou add-ons, que permitem adicionar recursos muitos outros.
específicos para a navegação em determinados sites. Uma das pequenas diferenças do navegador em
As páginas acessadas poderão ser salvas para aces- relação aos outros navegadores é a tecla de atalho
sar off-line, marcadas como preferidas em Favoritos, para acesso à Barra de Endereços, que nos demais é
consultadas no Histórico de Navegação ou salvas F4 e nele é F6. Outra diferença é o acesso ao site de
como PDF no dispositivo do usuário. pesquisas Google, que oferece a pesquisa por voz se
Coleções no Microsoft Edge, é um recurso exclusivo você acessar pelo Google Chrome.
para permitir que a navegação inicie em um dispositi- Outro recurso especialmente útil do Chrome é o
vo e continue em outro dispositivo logado na mesma Gerenciador de Tarefas, acessado pelo atalho de tecla-
conta Microsoft. Semelhante ao Google Contas, mas do Shift+Esc. Quando guias ou processos do navegador
nomeado como Coleções no Edge, permite adicionar não estiverem respondendo, o gerenciador de tarefas
sugestões do Pinterest. poderá finalizar, sem finalizar todo o programa.
Outro recurso específico do navegador é a repro- Alguns recursos do navegador são ‘emprestados’
dução de miniaturas de vídeos ao pesquisar no site do site de buscas, como a tradução automática de
Microsoft Bing (buscador da Microsoft). páginas pelo Google Tradutor.
Internet Explorer É possível compartilhar o uso do navegador com
outras pessoas no mesmo dispositivo, de modo que
Foi o navegador padrão dos sistemas Windows, cada uma tenha suas próprias configurações e arqui-
e encerrou na versão 11. Alguns concursos ainda o vos. O navegador Google Chrome possui níveis dife-
questionam. Suas funcionalidades foram mantidas no rentes de acessos, que podem ser definidos quando o
Microsoft Edge, por questões de compatibilidade. usuário conecta ou não em sua conta Google.
A compatibilidade é um princípio no desenvolvi-
mento de substitutos para os programas, que deter- z Modo Normal: sem estar conectado na conta Goo-
mina que a nova versão ou novo produto, terá os gle, o navegador armazena localmente as informa-
recursos e irá operar como as versões anteriores ou ções da navegação para o perfil atual do sistema
produtos de origem. operacional. Todos os usuários do perfil, poderão
O atalho de teclado para abrir uma nova janela de consultar as informações armazenadas;
navegação InPrivate é Ctrl+Shift+P. z Modo Normal conectado na conta Google: o
As Opções de Internet, disponível no menu Fer- navegador armazena localmente as informações
ramentas, também poderá ser acessado pelo Painel da navegação e sincroniza com outros dispositivos
de Controle do Windows, devido à alta integração do conectados na mesma conta Google;
navegador com o sistema operacional. z Modo Visitante: o navegador acessa a Internet, mas
não acessa as informações da conta Google registrada;
Mozilla Firefox z Modo de Navegação Anônima: o navegador aces-
O Mozilla Firefox é o navegador de Internet que, sa a Internet e apaga os dados acessados quando a
como os demais browsers, possibilita o acesso ao con- janela é fechada.
teúdo armazenado em servidores remotos, tanto na
Internet como na Intranet.
É um navegador com código aberto, software livre, Importante!
que permite download para estudo e modificações. A navegação anônima é um recurso que muitos
Possui suporte ao uso de applets (complementos de
usuários utilizam para aumentar a sua privacida-
terceiros), que são instalados por outros programas
no computador do usuário, como o Java. de enquanto navega na Internet. Entretanto, ela
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Oferece o recurso Firefox Sync, para sincronização não te deixa anônimo. As informações acessa-
de dados de navegação, semelhante ao Microsoft Con- das serão registradas em dispositivos na rede e
tas e Google Contas dos outros navegadores. Entretan- pelos servidores que foram acessados.
to, caso utilize o modo de navegação privativa, estes
dados não serão sincronizados.
Assim como nos outros navegadores, é possível O navegador Google Chrome, quando conectado
definir uma página inicial padrão, uma página inicial em uma conta Google, permite que a exclusão do his-
escolhida pelo usuário (ou várias páginas) e continuar tórico de navegação seja realizada em todos os dis-
a navegação das guias abertas na última sessão. positivos conectados. Esta funcionalidade não estará
No navegador Firefox, o recurso Captura de Tela disponível, caso não esteja conectado na conta Google.
permite copiar para a Área de Transferência do com- Como já dito, um dos atalhos de teclado diferente
putador, parte da imagem da janela que está sendo no Google Chrome em comparação aos demais nave-
acessada. A seguir, em outro aplicativo o usuário gadores é F6. Para acessar a barra de endereços nos
poderá colar a imagem capturada ou salvar direta- outros navegadores, pressione F4. No Google Chrome
mente pelo navegador. o atalho de teclado é F6. 249
Para verificar a versão atualmente instalada do z Corretor ortográfico: permite a correção dos
Chrome, acesse no menu a opção “Ajuda” e depois textos digitados em campos de formulários, a par-
“Sobre o Google Chrome”. Se houver atualizações pen- tir de dicionários on-line disponibilizados pelos
dentes, elas serão instaladas. Se as atualizações foram desenvolvedores dos navegadores.
instaladas, o usuário poderá reiniciar o navegador.
Caso o navegador seja reiniciado, ele retornará nos Atalhos de Teclado
mesmos sites que estavam abertos antes do reinício,
com as mesmas credenciais de login. z Para acessar a barra de endereços do navegador,
O Google Chrome permite a personalização com pressione F4 ou Ctrl+E. No Google Chrome é F6;
temas, que são conjuntos de imagens e cores combina- z Para abrir uma nova janela, pressione Ctrl+N;
das para alterar a visualização da janela do aplicativo. z Para abrir uma nova janela anônima no Microsoft
Edge ou Google Chrome, pressione Ctrl+Shift+N. No
Conceitos e Funções Válidas para Todos os Internet Explorer e Mozilla Firefox é Ctrl+Shift+P;
Navegadores z Para fechar uma janela, pressione Alt+F4;
z Para abrir uma nova guia, pressione Ctrl+T;
z Modo normal de navegação: as informações z Para fechar uma guia, pressione Ctrl+F4 ou Ctrl+W;
serão registradas e mantidas pelo navegador. His- z Para reabrir uma guia fechada, pressione Ctrl+
tórico de Navegação, Cookies, Arquivos Temporá- Shift+T;
rios, Formulários, Favoritos e Downloads; z Para aumentar o zoom, o usuário pode pressionar
z Modo de navegação anônima: as informações Ctrl + = (igual);
de navegação serão apagadas quando a janela for z Para reduzir o zoom, o usuário pode pressionar
fechada. Apenas os Favoritos e Downloads serão Ctrl + - (menos);
mantidos; z Definir zoom em 100% – Ctrl+0 (zero);
z Dados de formulários: informações preenchidas z Para acessar a página inicial do navegador – Alt+Home;
em campos de formulários nos sites de Internet; z Para visualizar os downloads em andamento ou
z Favoritos: endereços URL salvos pelo usuário concluídos – Ctrl+J;
para acesso posterior. Os sites preferidos do usuá- z Localizar um texto no conteúdo textual da página
rio poderão ser exportados do navegador atual e – Ctrl+F;
importados em outro navegador de Internet; z Atualizar a página – F5;
z Downloads: arquivos transferidos de um servidor z Recarregar a página – Ctrl+F5.
remoto para o computador local. Os gerenciadores
de downloads permitem pausar uma transferência Nos navegadores de Internet, os links poderão ser
ou buscar outras fontes caso o arquivo não esteja abertos de 4 formas diferentes.
mais disponível;
z Uploads: arquivos enviados do computador local z clique - abre o link na guia atual;
para um servidor remoto; z clique + CTRL - abre o link em uma nova guia;
z Histórico de navegação: são os endereços URL z clique + SHIFT - abre o link em uma nova janela;
acessados pelo navegador em modo normal de z clique + ALT - faz download do arquivo indicado
navegação; pelo link.
z Cache ou arquivos temporários: cópia local dos
arquivos acessados durante a navegação; CONCEITOS DE URL
z Pop-up: janela exibida durante a navegação para
funcionalidades adicionais ou propaganda;
Na Internet, as informações (dados) são arma-
z Atualizar página: acessar as informações armaze-
zenadas em arquivos nos servidores de Internet. Os
nadas na cópia local (cache);
servidores são computadores, que utilizam pastas ou
z Recarregar página: acessar novamente as infor-
diretórios para o armazenamento de arquivos. Ao
mações no servidor, ignorando as informações
acessarmos uma informação na Internet, estamos
armazenadas nos arquivos temporários; acessando um arquivo. Mas como é a identificação
z Formato PDF: os arquivos disponíveis na Internet deste arquivo? Como acessamos estas informações?
no formato PDF podem ser visualizados direta- Por meio de um endereço URL.
mente no navegador de Internet, sem a necessida- O endereço URL (Uniform Resource Locator) que
de de programas adicionais. define o endereço de um recurso na rede. Na sua tra-
dução literal, é Localizador Uniforme de Recursos, e
Recursos de Sites, Combinados com os Navegadores possui a seguinte sintaxe:
de Internet
protocolo://máquina/caminho/recurso
z Cookies: arquivos de texto transferidos do ser-
vidor para o navegador, com informações sobre z “protocolo” é a especificação do padrão de comu-
as preferências do usuário. Eles não são vírus de nicação que será usado na transferência de dados.
computador, pois códigos maliciosos não podem Poderá ser http (Hyper Text Transfer Protocol –
infectar arquivos de texto sem formatação; protocolo de transferência de hipertexto), ou https
z Feeds RSS: quando o site oferece o recurso RSS, (Hyper Text Transfer Protocol Secure – protocolo
o navegador receberá atualizações para a página seguro de transferência de hipertexto), ou ftp (File
assinada pelo usuário. O RSS é muito usado entre Transfer Protocolo – protocolo de transferência de
sites para troca de conteúdo; arquivos), entre outros;
z Certificado digital: os navegadores podem utili- z “://” faz parte do endereço URL para identificar
zar chaves de criptografia com mais de 1024 bits, que é um endereço na rede e não um endereço
ou seja, aceitam certificados digitais para valida- local como “/” no Linux ou “:\” no Windows;
ção de conexões e transferências com criptografia z “máquina” é o nome do servidor que armazena a
250 e segurança; informação que desejamos acessar;
z “caminho” são as pastas e diretórios onde o arqui- porta: 5012
vo está armazenado; caminho: /owa/
z “recurso” é o nome do arquivo que desejamos
acessar. recurso: hotmail
querystring: path=/mail/inbox
Vamos conferir os endereços URL a seguir e suas fragmento: open
características.

Quando o usuário digita um endereço URL no seu


ENDEREÇO URL navegador, um servidor DNS (Domain Name Server –
CARACTERÍSTICAS
FICTÍCIO servidor de nomes de domínios) será contactado para
Usando o protocolo http, aces- traduzir o endereço URL em número de IP. A infor-
saremos o servidor abc, que é mação será localizada e transferida para o navegador
comercial (.com), no Brasil (.br). que solicitou o recurso.
Acessaremos a divisão multimí-
http://www.abc. dia (www) com arquivos textuais,
com.br/ vídeos, áudios e imagens. O re-
curso acessado é o index.html, Servidor DNS
entendido automaticamente pelo
navegador, por não ter nenhuma
especificação de recurso no fim Internet
Endereço URL
Usando o protocolo https, aces- Usuário
saremos o servidor abc, que é
Figura 2. Os endereços URL’s são reconhecíveis pelos usuários, mas
https://mail.abc. comercial (.com) e pode estar os dados são armazenados em servidores web com números de
com/caixa s/ registrado nos Estados Unidos. IP. O servidor DNS traduz um URL em número de IP, permitindo a
inbox/ Acessaremos o diretório caixas, navegação na Internet.
subdiretório inbox. Acessaremos
o serviço mail no servidor Dica
Usando o protocolo de transferên-
Os endereços URLs apontam para recursos na
cia de arquivos ftp, acessaremos
ftp://ftp.abc.g o servidor ftp da instituição go-
rede, que na verdade são arquivos. Os servidores
ov.br/edital.pdf vernamental (gov) brasileira (br) são computadores e todos os dados armazena-
chamada abc, que disponibiliza o dos neles são arquivos. As pastas são identifica-
recurso edital.pdf das no endereço URL como o caminho, dentro da
árvore de diretórios do servidor.
Outra forma de analisar um endereço URL é na sua
sintaxe expandida. Quando navegamos em sites na LINKS
Internet, nos deparamos com aquelas combinações de
símbolos que não parecem legíveis. Mas, como tudo Transferência de Informação e Arquivos
na Internet está padronizado, vamos ver as partes de
um endereço URL ‘completão’. Cada sistema operacional tem o seu sistema de
Confira: arquivos, para endereçamento das informações arma-
zenadas nos discos de armazenamento. Diretamente,
esquema://domínio:porta/caminho/recurso?- não é possível a comunicação ou leitura destes dados.
querystring#fragmento A família de protocolos TCP/IP procura normatizar o
envio e recebimento das informações entre dispositivos
Onde “esquema” é o protocolo que será usado na conectados em rede, através dos protocolos de transfe-
transferência. rência. Um protocolo é um padrão de comunicação, uma
linguagem comum aos dois dispositivos envolvidos na
comunicação, que possibilita a transferência de dados.
z “domínio” é o nome da máquina, o nome do site;
Alguns dos principais protocolos de transferência
z “:” e “porta”, indicam qual, entre as 65536 portas
de arquivos são:
TCP, serão usadas na transferência.
z “caminho” indica as pastas no servidor, que é um
z HTTP – Hyper Text Transfer Protocol: protocolo
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

computador com muitos arquivos em pastas;


z “recurso” é o nome do arquivo que está sendo de transferência de hipertextos;
acessado; z HTTPS – Hyper Text Transfer Protocol Secure:
z “?” é para transferir um parâmetro de pesquisa, protocolo seguro de transferência de hipertextos;
usado especialmente em sites seguros; z FTP – File Transfer Protocol: protocolo de trans-
z “#” é para especificar qual é a localização da infor- ferência de arquivos;
mação dentro do recurso acessado (marcas). z SMTP – Simple Mail Transfer Protocol: protoco-
lo simples de transferência de e-mail;
Exemplo:
Conhecer o funcionamento dos protocolos de Inter-
https://outlook.live.com:5012/owa/hotmail?path=/mail/ net auxilia na compreensão das tarefas cotidianas que
inbox#open envolvem as redes de computadores. Mensagens de
esquema: https:// erros, problemas de conexão, instabilidades e proble-
mas de segurança da informação se tornam mais claros
domínio: outlook.live.com
para quem conhece os protocolos e seu funcionamento. 251
z HTTP – Hyper Text Transfer Protocol: protocolo „ O usuário pode instalar um cliente FTP dedicado
de transferência de hipertextos: ao acesso aos servidores FTP, que opera de forma
mais rápida que nos navegadores de Internet;
„ Opera pela porta TCP 80; „ Pode utilizar criptografia;
„ Transfere arquivos HTML (Hyper Text Mar- „ O modo anônimo caiu em desuso, e poucos ser-
kup Language – linguagem de marcação de vidores FTP ainda aceitam conexão anônima.
hipertextos);
FTP – File Transfer Protocol _ Protocolo de Transferência de arquivos
„ Protocolo mais utilizado para navegação, tanto Porta TCP 20 (dados) e 21 (controle)
na Internet como na Intranet;
„ As tags (comandos) HTML são interpretadas pelo FTP – Comando OPEN (iniciar
transferência)
navegador de Internet, que exibe o conteúdo;
„ Arquivos HTML podem ser produzidos em edi- FTP – Comando PUT (para upload,
adicionar arquivos)
tores de textos sem formatação (como o Bloco
de Notas) ou em editores de textos completos FTP – Comando GET (para download,
(como o Microsoft Word). baixar arquivos)
Servidor
Cliente
FTP – dados transferidos para a Web
HTTP - Hyper Text Transfer Protocol - protocolo de transferência de Web
solicitação GET
hipertextos — Porta TCP 80

FTP – comando CLOSE


HTTP - request (requisição) (finalizar transferência)

HTTP - response (resposta)


Cliente WEB
Servidor WEB z SMTP – Simple Mail Transfer Protocol: protocolo
simples de transferência de e-mail:
z HTTPS – Hyper Text Transfer Protocol Secure:
protocolo seguro de transferência de hipertextos: „ Pode operar pelas portas TCP 25, 587, 465, ou
2525;
„ Opera pela porta TCP 443; „ A porta 25 é a mais antiga, e atualmente é blo-
queada pela maioria dos servidores, para evi-
„ Transfere arquivos HTML, ASP, PHP, JSP, DHTML
tar spam;
etc.;
„ A porta 587 é a padrão, com suporte para TLS
„ Protocolo mais utilizado para navegação segu- (camada adicional de segurança);
ra, tanto na Internet como na Intranet; „ A porta 465 foi atribuída para SMTPS (SMTP
„ As tags (comandos) HTML não mudam, mas pos- sobre SSL), mas foi reatribuída e depreciada;
suem comandos adicionais (scripts) que com- „ A porta 2525 não é uma porta oficial, mas mui-
plementam a exibição de conteúdo específico; to usada por provedores para substituir a porta
„ Utiliza criptografia, acionando camadas adicio- 587, quando ela estiver bloqueada;
nais como SSL e TLS na conexão; „ Transfere a mensagem de e-mail do cliente
para o servidor, e de um servidor para outro
servidor.
HTTP - Hyper Text Transfer Protocol Secure - protocolo seguro de transferência de
hipertextos - Porta TCP 443
SMTP – Simple Mail Transfer Protocol – Protocolo de Transferência
Simples de E-mail – Porta TCP 25, 587, 465, ou 2525
HTTPS - request (requisição)
SMTP – enviar SMTP – enviar
Cliente WEB e-mail e-mail
HTTPS - certificado digital
Identidade confirmada Cliente
E-mail Servidor Servidor
Servidor WEB E-mail E-mail
HTTPS - response (resposta)

Dica
„ O protocolo HTTPS é o mais questionado em pro-
vas de concursos, tanto em Conceitos de Internet O protocolo https é o mais questionado em pro-
e Intranet, como em Transferência de dados e vas de concursos públicos. Implementa seguran-
arquivos, como em Segurança da Informação. ça na conexão, possibilitando a troca de dados
segura entre o cliente e o servidor.
z FTP – File Transfer Protocol: protocolo de trans-
ferência de arquivos: SITES

„ Opera com duas portas TCP, uma para dados Os sites, como observado, são localizações na rede.
(20) e outra para comandos (21); Um site pode armazenar um conjunto de domínios
ou pastas ou arquivos. A primeira página de um site é
„ Transfere qualquer tipo de informação;
o seu índice (index.html, index.php, home.asp etc) e a
„ Pode transferir em modo byte a byte (arquivos partir dela poderemos acessar as outras informações
de textos) ou bit a bit (arquivos executáveis); armazenadas.
„ Os navegadores de Internet possuem suporte É possível acessar diretamente uma informação,
252 para acesso aos servidores FTP; digitando o seu endereço na Barra de Endereços.
Os recursos de sites acessados pelo usuário serão não está disponível no site de origem (como vídeos,
armazenados em uma lista, no computador local, por exemplo).
chamada Histórico. Podemos excluir todo o histórico Os arquivos temporários aceitam o sinal de inter-
através das opções de Internet existentes no menu/ rogação no nome, porque na simbologia dos servi-
função Ferramentas dos navegadores, ou evitar o seu dores, o sinal de interrogação indica que é um item
registro, utilizando o modo anônimo de navegação temporário, que em breve será excluído.
(Navegação InPrivate).
Os nomes entre os navegadores mudam um pou- Favoritos
co, mas o princípio de funcionamento é semelhan-
te. Outra diferença é o atalho de teclado associado. São os links de páginas que o usuário adicionou
Confira: em seu bookmarks, dentro de seu navegador web. As
informações de favoritos produzem arquivos LNK
z Internet Explorer: Navegação InPrivate (Ctrl+Shift+P) (links, atalhos), armazenados na pasta Favoritos, do
computador local, do usuário.
Arquivo Editar Exibir FavoritosFerramentas Ajuda Os itens existentes em Favoritos não estão disponí-
Excluir Histórico de Navegação Ctrl+Shift+Del veis em modo off-line, somente quando conectados à
Navegação InPrivate Ctrl+Shift+P
Internet, sujeito à disponibilidade do recurso no servi-
dor. Páginas dinâmicas (como o Mural de Recados do
z Mozilla Firefox: Nova janela privativa (Ctrl+Shift+P) Facebook), não serão adicionadas corretamente aos
Favoritos, gerando erro no acesso.
No menu Ferramentas, Opções de Internet, guia
Geral, Excluir Histórico de Navegação, o navegador
sugere manter os dados relacionados aos sites Favori-
tos, como cookies e arquivos temporários da Internet
que estejam associados, agilizando a navegação do
usuário nos sites
Para adicionar a página atual, teclar CTRL+D. Para
verificar os itens existentes, teclar CTRL+B.

Histórico de Navegação

z Google Chrome: Nova janela anônima (Ctrl+Shift+N) Os recursos de sites acessados pelo usuário serão
armazenados em uma lista, no computador local,
chamada Histórico. Podemos excluir todo o histórico
através das opções de Internet existentes no menu/
Nova guia Ctrl+T
função Ferramentas dos navegadores, ou evitar o seu
Nova janela Ctrl+N registro, utilizando o modo anônimo de navegação
Nova janela anônima Ctrl+Shift+N (incógnito).

z Microsoft Edge: Nova janela InPrivate (Ctrl+Shift+N) z Internet Explorer: Navegação InPrivate

Arquivo Editar Exibir FavoritosFerramentas Ajuda


Excluir Histórico de Navegação Ctrl+Shift+Del
Navegação InPrivate Ctrl+Shift+P

z Mozilla Firefox: Janela privativa (via menu)

Arquivo Editar Exibir Histórico Favoritos Ferramentas Ajuda


Nova aba Ctrl+T
Nova janela Ctrl+N
Nova janela privativa Ctrl+Shift+P

Cada informação acessada será copiada para o


computador local, e então exibida rapidamente em z Google Chrome: Janela anônima
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

caso de navegação entre páginas (Voltar ou Próximo),


por meio das ferramentas de navegação de páginas do
navegador (ou teclas Alt+seta à esquerda para Voltar e
Alt+seta à direita para Próximo). Nova guia Ctrl+T

Ao pressionar F5, o navegador recarrega a página Nova janela Ctrl+N


armazenada localmente e exibe novamente na janela Nova janela anônima Ctrl+Shift+N
do navegador. Os itens diferentes serão confirmados
na sequência.
Ao pressionar Ctrl+F5, toda a página é recarregada Cada informação acessada será copiada para o
na origem, ignorando a cópia local. computador local, e então exibida rapidamente em
Todos os dados acessados em modo “normal” de caso de navegação entre páginas (Voltar ou Próximo),
navegação serão copiados para o computador. Aces- através das ferramentas de navegação de páginas do
sando a pasta de arquivos temporários, é possível recu- navegador (ou teclas Alt+seta à esquerda para Voltar,
perar algum arquivo que foi acessado recentemente e e Alt+seta à direita para Próximo). 253
Todos os dados acessados em modo “normal” de Imprimir, do Mozilla Firefox
navegação serão copiados para o computador. Aces-
sando a pasta de arquivos temporários, é possível
recuperar algum arquivo que foi acessado recente-
mente e não está disponível no site de origem (como
vídeos, por exemplo).

IMPRESSÃO DE PÁGINAS

O navegador de Internet poderá imprimir a página


que está sendo acessada, se for possível (existem pági-
nas com restrições impostas por scripts Java).
No Internet Explorer, é possível escolher as opções
de configuração de página, disponíveis no menu
Arquivo, Configurar página (imagem a seguir).

Janela de Impressão do Google Chrome

Caso seja selecionado o item “Gráficos de segun-


do plano”, as imagens e propagandas serão impres-
sas também. Caso seja selecionado “Apenas seleção”,
somente a região selecionada será impressa.
Opcionalmente é possível salvar a página como
PDF, muito útil para gravar as informações que seriam
impressas em um arquivo PDF no computador. O
arquivo PDF, formato do Adobe Acrobat, reproduz
exatamente o que seria impresso no papel.

Importante!
Entre os tópicos do edital, este é um dos recursos
menos questionados. De acordo com a impres-
sora que o usuário possui, alguns recursos adi-
cionais poderão aparecer na caixa de diálogo
Configurar Página, do Internet Explorer
de impressão, acionada pelo atalho de teclado
A configuração da página do Internet Explorer Ctrl+P.
para impressão está dividida nas configurações para
Opções do papel, Margens, Cabeçalhos e Rodapé. PROGRAMAS DE CORREIO ELETRÔNICO (OUTLOOK
Possuem três partes (semelhante ao Microsoft Excel), EXPRESS E MOZILLA THUNDERBIRD)
sendo esquerda, centro e direita. Em cada local é pos-
sível incluir uma informação (e personalizar a fonte
O e-mail (Electronic Mail, correio eletrônico) é uma
utilizada).
forma de comunicação assíncrona, ou seja, mesmo
O Mozilla Firefox não possui uma tela própria para
que o usuário não esteja on-line, a mensagem será
impressão, e utiliza a mesma janela do sistema opera-
armazenada em sua caixa de entrada, permanecendo
cional instalado no computador.
disponível até ela ser acessada novamente.
O correio eletrônico (popularmente conhecido
como e-mail) tem mais de 40 anos de existência. Foi
um dos primeiros serviços que surgiu para a Internet,
e se mantém usual até os dias de hoje.

PROGRAMA CARACTERÍSTICAS

O Mozilla Thunderbird é um cliente de


e-mail gratuito com código aberto que po-
derá ser usado em diferentes plataformas

O eM Client é um cliente de e-mail gratui-


to para uso pessoal no ambiente Windo-
ws e Mac. Facilmente configurável. Tem a
versão Pro, para clientes corporativos

O Microsoft Outlook, integrante do paco-


te Microsoft Office, é um cliente de e-mail
que permite a integração de várias contas
em uma caixa de entrada combinada
254
PROGRAMA CARACTERÍSTICAS

O Microsoft Outlook Express foi o cliente


de e-mail padrão das antigas versões do Servidor de e-mails
Servidor de e-mails
Windows. Ainda aparece listado nos editais
de concursos, porém não pode ser utilizado
nas versões atuais do sistema operacional
Receber – POP3 Receber IMAP4
Webmail. Quando o usuário utiliza um na-
vegador de Internet qualquer para aces-
@ sar sua caixa de mensagens no servidor
de e-mails, ele está acessando pela mo-
dalidade webmail Usuário Usuário

Dica Cliente de e-mail Navegador de Internet


Apesar de existirem diversas opções para com-
posição, envio e recebi mento de mensagens ele- Figura 4. Usando o protocolo POP3, a mensagem é transferida para
o programa de e-mail do usuário e removida do servidor. Usando
trônicas, as bancas preferem as questões sobre o protocolo IMAP4, a mensagem é copiada para o navegador de
o cliente de e-mail Microsoft Outlook, integrante Internet e mantida no servidor de e-mails.
do pacote Microsoft Office.
Os protocolos de e-mails são usados para a troca
O Microsoft Outlook possui recursos que permitem o de mensagens entre os envolvidos na comunicação.
acesso ao correio eletrônico (e-mail), organização das men- O usuário pode personalizar a sua configuração, mas
sagens em pastas, sinalizadores, acompanhamento e tam- em concursos públicos o que vale é a configuração
bém recursos relacionados a reuniões e compromissos. padrão, apresentada neste material.
Os eventos adicionados ao calendário podem ser SMTP (Simple Mail Transfer Protocol) é o Protoco-
enviados na forma de notificação por e-mail para os
lo para Transferência Simples de E-mails. Usado pelo
participantes.
cliente de e-mail para enviar para o servidor de men-
O Outlook possui o programa para instalação no
computador do usuário e a versão on-line. Essa ver- sagens, e entre os servidores de mensagens do reme-
são pode ser gratuita (Outlook.com, antigo Hotmail) tente e do destinatário.
ou corporativa (Outlook Web Access – OWA, integran- POP3 ou apenas POP (Post Office Protocol 3) é o
te do Microsoft Office 365). Protocolo de Correio Eletrônico, usado pelo cliente de
e-mail para receber as mensagens do servidor remoto,
removendo-as da caixa de entrada remota.
IMAP4 ou IMAP (Internet Message Access Protocol)
Usuário é o Protocolo de Acesso às Mensagens via Internet é
usado pelo navegador de Internet (sobre os protoco-
los HTTP e HTTPS) na modalidade de acesso webmail,
@
transferindo cópias das mensagens para a janela do
navegador e mantendo as originais na caixa de men-
sagens do servidor remoto.
Figura 3. Para acessar as mensagens armazenadas em um servidor
de e-mails, o usuário pode usar um cliente de e-mail ou o navegador
de Internet

Formas de Acesso ao Correio Eletrônico Servidor Exchange Enviar e Receber Servidor Gmail
SMTP

Podemos usar um programa instalado em nosso Enviar – SMTP


dispositivo (cliente de e-mail) ou qualquer navegador Enviar e Receber
de Internet para acessarmos as mensagens recebi- Receber – POP3 IMAP4
das. A escolha por uma ou por outra opção vai além
da preferência do usuário. Cada forma de acesso tem
suas características e protocolos. Confira.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Remetente Destinatário
Cliente
Webmail
FORMA DE
CARACTERÍSTICAS Figura 5. O remetente está usando o programa Microsoft Outlook
ACESSO
(cliente) para enviar um e-mail. Ele usa o seu e-mail corporativo
Protocolo SMTP para enviar mensa- (Exchange). O e-mail do destinatário é hospedado no servidor Gmail,
gens e POP3 para receber. As men- e ele utiliza um navegador de Internet (webmail) para ler e responder
os e-mails recebidos.
Cliente de E-mail sagens são transferidas do servidor
para o cliente e são apagadas da cai-
xa de mensagens remota USO DO CORREIO ELETRÔNICO

Protocolo IMAP4 para enviar e para Para utilizar o serviço de correio eletrônico, o
receber mensagens. As mensagens usuário deve ter uma conta cadastrada em um serviço
Webmail são copiadas do servidor para a jane-
de e-mail. O formato do endereço foi definido inicial-
la do navegador e são mantidas na
mente pela RFC822, redefinida pela RFC2822, e atuali-
caixa de mensagens remota
zada na RFC5322. 255
Dica O e-mail pode ser enviado para vários destinatários,
porém o remetente é somente um endereço, o endereço
RFC é Request for Comments, um documento
do usuário que envio a mensagem de correio eletrônico.
de texto colaborativo que descreve os padrões
Conheça estes elementos na criação de uma nova
de cada protocolo, linguagem e serviço para ser
mensagem de e-mail.
usado nas redes de computadores.
CAMPOS DE UMA MENSAGEM DE E-MAIL
De forma semelhante ao endereço URL para recur-
sos armazenados em servidores, o correio eletrônico CAMPO CARACTERÍSTICAS
também possui o seu formato. Identifica o usuário que está enviando
Existem bancas organizadoras que consideram o a mensagem eletrônica, o remetente.
formato reduzido usuário@provedor no enunciado FROM (De)
É preenchido automaticamente pelo
das questões, ao invés do formato detalhado usuá- sistema
rio@provedor.domínio.país. Ambos estão corretos.
Identifica o (primeiro) destinatário da
mensagem. Poderão ser especifica-
CAMPOS DE UM ENDEREÇO DE E-MAIL – dos vários endereços de destinatários
USUÁRIO@PROVEDOR.DOMÍNIO.PAÍS nesse campo e serão separados por
TO (Para)
COMPONENTE CARACTERÍSTICAS vírgula ou ponto e vírgula (segundo o
serviço). Todos que receberem a men-
Antes do símbolo de @, identifica um sagem conhecerão os outros destina-
Usuário
único usuário no serviço de e-mail tários informados nesse campo
Significa AT (lê-se “em” ou “no”) e é Identifica os destinatários da men-
usado para separar a parte esquerda, sagem que receberão uma cópia do
@ que identifica o usuário, da parte a CC e-mail. CC é o acrônimo de Carbon
sua direita, que identifica o provedor (com cópia ou Copy (cópia carbono)
do serviço de mensagens eletrônicas cópia carbono) Todos que receberem a mensagem
conhecerão os outros destinatários
Imediatamente após o símbolo de @, informados nesse campo
identifica a empresa ou provedor que ar-
Nome do Identifica os destinatários da men-
mazena o serviço de e-mail (o servidor
domínio BCC sagem que receberão uma cópia do
de e-mail executa softwares como o Mi-
crosoft Exchange Server por exemplo) (CCO – com e-mail. BCC é o acrônimo de Blind
cópia oculta ou Carbon Copy (cópia carbono oculta).
Identifica o tipo de provedor, por cópia carbono Todos que receberem a mensagem
exemplo: COM (comercial), .EDU (edu- oculta) não conhecerão os destinatários in-
cacional), REC (entretenimento), GOV formados nesse campo
Categoria do
(governo), ORG (organização não go-
domínio SUBJECT Identifica o conteúdo ou título da
vernamental) etc., de acordo com as
definições de Domínios de Primeiro (assunto) mensagem. É um campo opcional
Nível (DPN) na Internet Anexar Arquivo: Identifica o(s) arqui-
vo(s) que está(ão) sendo enviado(s)
Informação que poderá ser omitida, ATTACH junto com a mensagem. Existem res-
quando o serviço está registrado nos (anexo) trições quanto ao tamanho do anexo e
Estados Unidos. O país é informado por
País tipo (executáveis são bloqueados pelos
duas letras, como: BR, Brasil; AR; Argen-
webmails). Não são enviadas pastas
tina; JP; Japão; CN; China; CO; Colômbia;
etc. O conteúdo da mensagem de e-mail
Mensagem poderá ter uma assinatura associada
inserida no final
Quando o símbolo @ é usado no início, antes do
nome do usuário, identifica uma conta em rede social.
Para o endereço URL do Instagram: https://www.ins- As mensagens enviadas, recebidas, apagadas ou
tagram.com/novaconcursos/, o nome do usuário é @ salvas, estarão em pastas do servidor de correio ele-
novaconcursos. trônico, nominadas como ‘caixas de mensagens’.
A pasta Caixa de Entrada contém as mensagens
Preparo e Envio de Mensagens recebidas, lidas e não lidas.
A pasta Itens Enviados contém as mensagens efe-
Ao redigir um novo e-mail, o usuário poderá preen- tivamente enviadas.
cher os campos disponíveis para destinatário(s), título A pasta Itens Excluídos contém as mensagens
da mensagem, entre outros. apagadas.
Para enviar a mensagem, é preciso que exista A pasta Rascunho contém as mensagens salvas e
um destinatário informado em um dos campos de não enviadas.
destinatários. A pasta Caixa de Saída contém as mensagens que
Se um destinatário informado não existir no servi- o usuário enviou, mas que ainda não foram transfe-
dor de e-mails do destino, a mensagem será devolvida. ridas para o servidor de e-mails. Semelhante ao que
Se a caixa de entrada do destinatário não puder rece- ocorre quando enviamos uma mensagem no app
ber mais mensagens, a mensagem será devolvida. Se WhatsApp, mas estamos sem conexão com a Internet.
o servidor de e-mails do destinatário estiver ocupado, A mensagem permanece com um ícone de relógio,
256 a mensagem tentará ser entregue depois. enquanto não for enviada.
Dica mensagem que está como texto sem formatação, ape-
nas se anexar o arquivo da imagem no e-mail.
Quando estamos conectados em uma conexão
Quando o e-mail é enviado como texto formatado
de Internet do tipo banda larga, a velocidade de
(HTML), uma imagem poderá ser enviada como anexo
acesso é tão rápida que nem vemos a mensa-
ou inserida dentro do corpo do e-mail.
gem passar pela Caixa de Saída. Porém, ao clicar
em Enviar, a mensagem vai primeiro para a Caixa Outras Operações com o Correio Eletrônico
de Saída, e depois de enviada, é armazenada na
pasta de Itens Enviados. O usuário poderá sinalizar a mensagem, tanto as
mensagens recebidas como as mensagens enviadas.
Lixo Eletrônico ou SPAM é um local para onde são Ele poderá solicitar confirmação de entrega e confir-
direcionadas as mensagens sinalizadas como lixo. mação de leitura. A mensagem recebida poderá ser
Spam é o termo usado para referir-se aos e-mails impressa, visualizar o código fonte ou ignorar mensa-
não solicitados, que geralmente são enviados para gens de um remetente.
um grande número de pessoas. Quando o conteúdo Confira a seguir as operações ‘extras’ para o uso do
é exclusivamente comercial, esse tipo de mensagem correio eletrônico com mais habilidade e profissiona-
é chamado de UCE (do inglês Unsolicited Commercial lismo, facilitando a organização do usuário.
E-mail – e-mail comercial não solicitado). Estas mensa-
gens são marcadas pelo filtro AntiSpam, e procuram
Ação e Características
identificar mensagens enviadas para muitos destina-
tários ou com conteúdo publicitário irrelevante para
z Marcar como não lida: uma mensagem lida
o usuário.
poderá ser marcada como mensagem não lida;
z Alta prioridade: quando marca a mensagem
Anexação de Arquivos
como Alta Prioridade, o destinatário verá um pon-
to de exclamação vermelho no destaque do título;
Os anexos são arquivos enviados com as mensa-
z Baixa prioridade: quando o remetente marca a
gens de correio eletrônico. Vale lembrar que não é
mensagem como Baixa Prioridade, o destinatário
possível enviar uma pasta de arquivos.
Cada serviço de e-mail possui um limite para o verá uma seta azul apontando para Baixo no des-
tamanho máximo dos anexos. Quando o usuário pre- taque do título;
cisar transferir arquivos muito grandes, pode utili- z Imprimir mensagem: o programa de e-mail ou
zar algum serviço de armazenamento de dados na navegador de Internet prepara a mensagem para
nuvem, como o Google Drive, o Microsoft OneDrive, ou ser impressa, sem as pastas e opções da visualiza-
o WeTransfer (site para envio de arquivos com tama- ção do e-mail;
nho de até 2 GB). z Ver código fonte da mensagem: as mensagens
Para enviar muitos arquivos como anexo, é possível possuem um cabeçalho com informações técnicas
compactar os arquivos em uma pasta compactada. A sobre o e-mail, e o usuário poderá visualizar elas;
pasta compactada é um recurso do sistema operacional z Ignorar: disponível no cliente de e-mail e em
Windows, para criação de um arquivo com extensão alguns webmails, ao ignorar uma mensagem, as
ZIP, que pode conter arquivos e pastas. Ao compactar próximas mensagens recebidas do mesmo reme-
arquivos, o tamanho de cada item costuma reduzir, e tente serão excluídas imediatamente ao serem
o arquivo ZIP, compatível com o sistema operacional armazenadas na Caixa de Entrada;
Windows, poderá ser anexado de uma vez, sem preci- z Lixo Eletrônico: sinalizador que move a mensa-
sar repetir o procedimento arquivo por arquivo. gem para a pasta Lixo Eletrônico e instrui o correio
Além da opção Anexar Arquivo, o cliente de e-mail eletrônico para fazer o mesmo com as próximas
oferece o recurso Anexar Item. Com o Anexar Item, o mensagens recebidas daquele remetente;
usuário poderá adicionar outra mensagem de e-mail z Tentativa de Phishing: sinalizador que move a
que recebeu, cartões de visita, anexar contatos, com- mensagem para a pasta Itens Excluídos e instrui o
promissos do calendário de reuniões etc. serviço de e-mail sobre o remetente da mensagem
estar enviando links maliciosos que tentam captu-
rar dados dos usuários;
z Confirmação de Entrega: o servidor de e-mails do
Anexar Anexar Assinatura Atribuir
destinatário envia uma confirmação de entrega,
Arquivo Item ▾ Política informando que a mensagem foi entregue na Cai-
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

xa de Entrada dele com sucesso;


Cartão de visita
z Confirmação de Leitura: o destinatário pode
Calendário...
confirmar ou não a leitura da mensagem que foi
Item do Outlook enviada para ele.
Figura 6. Anexar Item permite a inserção de elementos do correio
eletrônico. Dica
Anexar arquivos significa que o arquivo será A Confirmação de Entrega e a Confirmação de
enviado junto com a mensagem de e-mail. O correio Leitura são opções do correio eletrônico que são
eletrônico pode ter o conteúdo da mensagem formata- muito usadas em ambientes corporativos, para
do (padrão HTML) ou texto sem formatação. oficializar a comunicação entre os usuários.
No e-mail enviado como texto sem formatação,
não é possível inserir imagens ou elementos gráficos A confirmação de entrega é independente da
no corpo da mensagem. Para enviar imagens em uma confirmação de leitura. Quando o remetente está 257
elaborando uma mensagem de e-mail, ele poderá o Google Buscas como buscador padrão. As configura-
marcar as duas opções simultaneamente. Se as duas ções podem ser personalizadas pelo usuário.
opções forem marcadas, o remetente poderá receber Os sites de pesquisas incorporam recursos para ope-
duas confirmações para a mensagem que enviou, sen- rações cotidianas, como pesquisa por textos, imagens,
do uma do servidor de e-mails do destinatário e outra notícias, mapas, produtos para comprar em lojas on-line,
do próprio destinatário. efetua cálculos matemáticos, traduz textos de um idio-
ma para outro, entre inúmeras funcionalidades. Além
do mais, eles também ignoram pontuação, acentuação e
não diferenciam letras maiúsculas de letras minúsculas,
Servidor Exchange Servidor Gmail mesmo que sejam digitadas entre aspas.
Enviar e-mail
com confirmação O servidor confirma a E além de todas estas características, os sites de
de entrega entrega do e-mail na caixa pesquisa permitem o uso de caracteres especiais (sím-
de entreda do destinatário
bolos) para refinar os resultados e comandos para
Recebendo a
confirmação de entrega
selecionar o tipo de resultado da pesquisa. Nos con-
cursos públicos, estes são os itens mais questionados.
Destinatário Ao contrário de muitos outros tópicos dos editais
Remetente
Webmail de concursos públicos, esta parte você consegue prati-
Cliente
car, até no seu smartphone. Comece a usar os símbolos
e comandos nas suas pesquisas na Internet, e visuali-
Figura 7. Quando uma mensagem é enviada com Confirmação de ze os resultados obtidos.
Entrega, o remetente recebe a confirmação do servidor de e-mails
do destinatário, informando que ela foi armazenada corretamente na
Caixa de Entrada do e-mail do destinatário. SÍMBOLO USO EXEMPLO
Enviar e-mail Pesquisa exata, na
Aspas mesma ordem que
“Nova Concursos”
duplas forem digitados os
Servidor Exchange Servidor Gmail termos
Enviar e-mail
com confirmação O destinatário Menos ou Excluir termo da concursos
de leitura confirma a leitura
da mensagem traço pesquisa –militares
Recebendo a
confirmação de leitura concursos
Til (acento) Pesquisar sinônimos
~públicos
Remetente
Cliente
Destinatário Substituir termos na
Webmail pesquisa, para pes-
quisar “inscrições en-
Figura 8. Quando uma mensagem é enviada com Confirmação de Asterisco cerradas”, e “inscri- inscrições *
Leitura, o destinatário poderá confirmar (ou não) que fez a leitura do
ções abertas”, e “ins-
conteúdo do e-mail.
crições suspensas”
etc
Ao “Responder”, a resposta será enviada para o
remetente do e-mail. Cifrão Pesquisar por preço celulares $1000
Ao “Encaminhar”, a resposta será enviada para Intervalo de datas ou campeão
Dois pontos
outros destinatários, com os anexos. preço 1980..1990
Ao “Responder para todos”, a resposta será envia- Pesquisar em redes Instagram
da para o remetente do e-mail e para outros destinatá- Arroba
sociais @novaconcursos
rios visíveis do e-mail.
Pesquisar nas marca-
Hashtags #informática
ções de postagens
SÍTIOS DE BUSCA E PESQUISA NA INTERNET

Na Internet, os sites (sítios) de busca e pesquisa têm COMANDO USO EXEMPLO


como finalidade apresentar os resultados de endere-
ços URLs com as informações solicitadas pelo usuário. Resultados de ape- livro site:www.uol.
site
Google Buscas, da empresa Google, e Microsoft nas um site com.br
Bing, da Microsoft, são os dois principais sites de pes- Somente um tipo de apostila
quisa da atualidade. No passado, sites como Cadê, filetype
arquivo filetype:pdf
Aonde, Altavista e Yahoo também contribuíram para a
Definição de um
acessibilidade das informações existentes na Internet, define define:smtp
termo
indexando em diretórios os conteúdos disponíveis.
Os sites de pesquisas foram incorporados aos intitle No título da página intitle:concursos
navegadores de Internet, e na configuração dos bro- No endereço URL da
wsers temos a opção “Mecanismo de pesquisa”, que inurl inurl:nova
página
permite a busca dos termos digitados diretamente na
Pesquisa o horário
barra de endereços do cliente web. Esta funcionalida-
time em determinado time:japan
de transforma a nossa barra de endereços em uma
local
omnibox (caixa de pesquisa inteligente), que preenche
com os termos pesquisados anteriormente e oferece related Sites relacionados related:uol.com.br
sugestões de termos para completar a pesquisa.
Versão anterior do
O Microsoft Edge tem o Microsoft Bing como busca- cache cache:uol.com.br
site
258 dor padrão. O Mozilla Firefox e o Google Chrome têm
COMANDO USO EXEMPLO Os grupos de discussão do Facebook surgiram den-
tro da rede social e ganharam adeptos, especialmente
Páginas que con- pela facilidade de acesso, associação e participação.
link:
link tenham link para
novaconcursos
outras
ITEM CARACTERÍSTICAS
Informações de um location:méxico
location O grupo poderá ser público e visível,
determinado local terremoto
ou restrito e visível (qualquer um pode
Privacidade pedir para participar), ou secreto e in-
Os comandos são seguidos de dois pontos e não pos- visível (somente convidados podem
suem espaço com a informação digitada na pesquisa. ingressar)
O site de pesquisas Google também oferece respos-
tas para pedidos de buscas. O site Microsoft Bing ofe- Proprietário Criador do grupo
rece mecanismos similares. Participantes convidados pelo proprie-
Gerentes ou
As possibilidades são quase infinitas, pois os assis- tário para auxiliar na moderação das
Moderadores
tentes digitais (Alexa, Google Assistent, Siri, Cortana) mensagens e gerenciamento do grupo
permitem a pesquisa por voz. Veja alguns exemplos Em grupos no Facebook, pode ser o
de pedidos de buscas nos sites de pesquisas. Administrador criador ou gerente/moderador convi-
dado pelo dono do grupo
PEDIDO USO EXEMPLO Como receberá as mensagens. Poderá
Traduzir maçã ser uma por uma, ou resumo das men-
Traduzir... para.. Google Tradutor sagens por e-mail, ou e-mail de re-
para japonês Assinatura
sumos (com os tópicos recebidos no
lista telefôni- Páginas com o Lista telefôni-
grupo), ou nenhum e-mail (para leitura
ca:número telefone ca:99999-9999
na página do grupo)
Cotação da bol-
código da ação GOOG
sa de valores
Quais são as vantagens de um grupo?
Previsão do
clima localidade clima são paulo
tempo z Os participantes podem enviar uma mensagem,
Status de um que será enviada para todos os participantes;
código do voo ba247 z Permite reunir pessoas com os mesmos interesses;
voo (viagens)
z Organizar reuniões, eventos e conferências;
z Ter uma caixa de mensagens colaborativa, com
Os resultados apresentados pelas pesquisas do
possibilidade de acesso aos conteúdos que foram
site são filtrados pelo SafeSearch. O recurso procura
enviados antes do seu ingresso no grupo.
filtrar os resultados com conteúdo adulto, evitando
a sua exibição. Quando desativado, os resultados de
Os antigos grupos de discussão constituíram o
conteúdo adulto serão exibidos normalmente.
modelo a ser seguido para o desenvolvimento dos
No Microsoft Bing, na página do buscador www.
grupos do Facebook, WhatsApp e Telegram. Nesses
bing.com, acesse o menu no canto superior direito e
grupos, o participante envia um post, ou anúncio, ou
escolha o item Pesquisa Segura.
arquivo e todos podem consultar na página o que foi
No Google, na página do site do buscador www.goo- compartilhado.
gle.com, acesse o menu Configurações no canto inferior
direito e escolha o item Configurações de Pesquisa.
Como funcionam os grupos de discussão?

O usuário envia um e-mail para um endereço defi-


Importante! nido e faz a assinatura. Outras formas de associação
As bancas costumam questionar funcionali- incluem o pedido diretamente na página do grupo ou
dades do Microsoft Bing que são idênticas às o link recebido em um convite por e-mail.
funcionalidades do Google Buscas. Ao inserir o Depois de associado ao grupo, ele receberá em seu
nome do navegador da Microsoft na questão, a e-mail as mensagens que os outros usuários enviarem.
banca procura desestabilizar o candidato com a Poderá optar por um resumo das mensagens, ou resumo
dúvida acerca do recurso questionado. semanal, ou apenas visualizar na página do grupo. Lem-
brando que, nos anos 90/2000, os e-mails tinham tama-
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

nho limitado para a caixa de entrada de cada usuário.


GRUPOS DE DISCUSSÃO O envio para um endereço único permite a distribui-
ção para os assinantes da lista de discussão. Uma cópia
Existem serviços na Internet que possibilitam a da mensagem e anexos, se houverem, será disponibiliza-
troca de mensagens entre os assinantes de uma lista da no mural da página do grupo, para consultas futuras.
de discussão. O Grupos do Google é o último serviço
em atividade, segundo o formato original. Mensagem
enviada para
Yahoo Grupos foi encerrado em 15 de dezembro Grupos de todos os
de 2019 e seus membros não poderão mais enviar ou discussão participantes
inscritos no
receber e-mails. Mensagem enviada grupo
Grupo de Discussão, ou Lista de Discussão, ou para o endereço de de discussão
e-mail do grupo
Fórum de Discussão são denominações equivalentes
Usuários da Internet
para um serviço que centraliza as mensagens recebi- Quem não é inscrito
das que foram enviadas pelos membros redistribuin- no grupo, não recebe a
Usuário participante
do-as para os demais participantes. mensagem 259
Figura 8. Os usuários participantes dos grupos de discussão trocam
REDES
mensagens através de um hub que centraliza e distribui para os CARACTERÍSTICAS PÚBLICO ALVO
demais participantes. SOCIAIS

O Facebook é a Todos os usuários


A qualquer momento o usuário poderá desistir e maior rede social da de Internet e
sair do grupo, tanto pela página como por um endere- atualidade empresas
ço de e-mail próprio (unsubscribe).
A principal diferença entre um grupo de discussão O Twitter é uma rede
e uma lista de distribuição de e-mails está relacionada Ativistas, artistas,
social para publicações
empresas e políticos
com a exibição do endereço dos participantes. Em um curtas e rápidas
grupo de discussão, cada membro tem acesso a um
endereço que enviará cópia para todos os participan- O LinkedIn é uma rede Empresas,
social para conexões empregados,
tes do grupo. Nas mensagens respondidas, aparece o
entre empresas e empregadores e
endereço original do remetente. empregados candidatos
Apesar de o tópico aparecer em diversos editais
de concursos, faz vários anos que não são aplicadas Facebook Workplace,
Empresas que
questões sobre o tema, em todos os concursos, inde- usado por empresas
contratem o serviço e
para conectar seus
pendente da banca organizadora. seus colaboradores
colaboradores
Vale ressaltar que, os Grupos de Discussão (com as
características e funcionalidades originais) desaparece- O Instagram é uma
ram ao longo do tempo, sendo substituídos pelos grupos rede social para
Todos os usuários de
compartilhamento de
nas redes sociais (com novos recursos e integração com Internet e empresas
fotos, vídeos e venda
os perfis delas). Esse é um tópico que deverá ser questio- de produtos
nado cada vez menos, assim como Redes Sociais.
O Tumblr é uma
rede social para
REDES SOCIAIS compartilhamento Todos os usuários de
de conteúdo, como Internet e empresas
As redes sociais se tornaram populares entre os blogs (textos, imagens,
usuários ao oferecerem os pilares dos relacionamentos vídeos, links, etc.)
em formato digital: curtir, comentar e compartilhar.
Teoricamente, elas se dividem em duas catego-
rias: sites de relacionamento (redes sociais) e mídias MÍDIAS
CARACTERÍSTICAS PÚBLICO ALVO
SOCIAIS
sociais. Na prática, esses conceitos acabam sendo
sobrepostos nas novas redes. Wordpress é um portal
Usuários de Internet
O modelo pode ser centralizado, descentralizado de blogs que permite
com foco em
ou distribuído. No modelo centralizado, as informa- o armazenamento de
produção de conteúdo
ções são exibidas para os usuários a partir de servido- website
res de uma empresa, de acordo com os parâmetros de O Youtube é um portal Produtores de
cada usuário. Localização, idade, sexo, preferências de vídeos com recursos conteúdo multimídia e
políticas e todas as demais informações dadas pelos de redes sociais consumidores
usuários no perfil da rede social serão usadas para a
Usuários
apresentação dos resultados na linha do tempo dele. O O Wikipedia é um
colaboradores e
Twitter é um exemplo centralizado, com distribuição site para publicação
voluntários que
de conteúdo semelhante à topologia Estrela, das redes de conhecimento no
contribuem com novos
de computadores, com um nó centralizador. formato colaborativo
conteúdos e revisões
As redes sociais ou mídias descentralizadas são
aquelas que, apesar de existirem nós maiores e prin-
cipais, os usuários acessam apenas parte das informa- Saiba que, redes sociais é um tópico pouco questio-
ções disponíveis. Critérios informados nos perfis dos nado em concursos públicos, devido às atualizações
usuários, postagens que ele curtiu, postagens que ele que elas oferecem quase diariamente em seus recur-
ocultou para não ver mais nada relacionado, grupos sos e operação de algoritmos.
dentro das redes sociais etc. O Facebook é um exem- Se comparar o Facebook de hoje com as regras e
plo de rede descentralizada, na qual as conexões pes- recursos do Facebook do ano passado, verá que mui-
soais são expandidas para o grupo. tas funcionalidades foram alteradas.
As redes sociais distribuídas são aquelas que
dependem das conexões de um usuário para terem COMPUTAÇÃO NA NUVEM (CLOUD COMPUTING)
acesso a outras conexões. O LinkedIn, por exemplo,
prioriza as conexões conhecidas e as conexões rela- Computação em nuvem (em inglês, cloud compu-
cionadas, independente dos grupos dos quais o usuá- ting) refere-se ao processamento de dados remotos. O
rio está participando no momento. usuário envia informações inseridas em seu dispositi-
Em todas as redes sociais, a superexposição de vo local e os programas, na nuvem, executam as opera-
dados de usuários pode comprometer a segurança ções solicitadas, devolvendo para o periférico de saída
da informação. Técnicas de Engenharia Social podem do dispositivo local do usuário os resultados obtidos.
ser usadas para vasculhar as informações publicadas A expressão “nuvem” é usada para designar a
pelos usuários à procura de conexões, relacionamen- Internet, porém, na prática, pode, também, referen-
tos, senhas, dados de documentos e outras informa- ciar um processamento remoto dentro da rede inter-
ções que poderão ser usadas contra o usuário. na da empresa. Vale ressaltar que existem nuvens
privadas, públicas, híbridas e comunitárias.
A Computação em Nuvem é a evolução do prin-
cípio da Computação em Grade. Na Computação em
260
Grade, uma grande quantidade de clusters computa- provedor hospeda o hardware, o software, os servi-
cionais (servidores conectados entre si dentro de uma dores e os componentes de armazenamento;
infraestrutura compartilhada) aliada à disseminação z Platform as a Service (PaaS): proporciona acesso
da conexão de banda larga facilitaram a adoção da às ferramentas e aos serviços de desenvolvimento
Computação nas Nuvens por diferentes empresas. usados para entregar os aplicativos;
z Software as a Service (SaaS): permite aos usuá-
rios o acesso aos bancos de dados e software de
aplicativo. Os provedores de nuvem gerenciam a
infraestrutura. Os usuários armazenam dados nos
servidores do provedor de nuvem.
Usuário
Smartphone Obs.: Novas definições são criadas por empresas
Videogame Android com propósitos de marketing. Em concursos públicos,
as definições mais questionadas são SaaS, PaaS e IaaS.
Um sistema de computação legado, ou dedicado,
é aquele em que a empresa é responsável por todos
Internet os itens do projeto, desde o fornecimento de energia
para a operação dos servidores adquiridos por ela, até
a disponibilização de aplicações que foram compra-
das, por meio de Licenças, para sua utilização.
Desktop Linux Na computação em nuvem, é possível contratar de
Impressora uma operadora de nuvem, data centers, rede de dados,
Portátil Windows
Tablet armazenamento, servidores e sistemas de virtualização.
Figura 8. Os diferentes dispositivos acessarão os recursos Essa é uma Infraestrutura como um Serviço (IaaS).
disponibilizados na nuvem (Internet) Desenvolvedores podem contratar de uma ope-
radora de nuvem, data centers, rede de dados, arma-
A Computação na Nuvem pode ser vista como uma zenamento, servidores, sistemas de virtualização,
evolução e, também, uma convergência das tecnologias sistema operacional, banco de dados e segurança digi-
de virtualização e das arquiteturas (como os clusters tal. Essa é uma Plataforma como um Serviço (PaaS).
computacionais) orientadas a serviços. Atualmente, Usuários podem contratar de uma operadora de
a Computação nas Nuvens é o ponto de partida para o nuvem tudo, desde os data centers até as aplicações.
desenvolvimento de soluções computacionais que neces- Esse é um Software como um Serviço (SaaS).
sitem de rapidez, flexibilidade e acesso facilitado, ofere-
cendo, instantaneamente, a nível global, uma solução Computação LocalC omputação na Nuvem
para problemas do dia a dia.
Quem nunca pediu uma refeição ou solicitou um
meio de transporte através de um aplicativo? O sistema
de processamento dos pedidos, distribuição das deman-
das, localização dos prestadores de serviços e controle fis-
cal das vendas é realizado na nuvem, em servidores que
estão distribuídos ao redor do mundo, conectados em
tempo real para o atendimento das demandas.
A computação na nuvem oferece tudo como um servi-
ço: armazenamento de dados, plataforma para execução
de aplicações, infraestrutura para o desenvolvimento de
sistemas, espaço para testes de aplicativos etc. “Webware”
ou “software” baseado na Internet é a denominação para
esses programas que operam como serviços na rede.

Figura 9. Na computação local, tudo precisa ser adquirido e mantido


Importante! pelo usuário. Na computação na nuvem, o usuário precisará apenas
de um acesso à rede.
Tudo que é oferecido pela nuvem é um serviço
escalável e personalizável. Como é possível observar, a Computação nas
Nuvens é uma forma de disponibilização de recursos
equivalente à Computação Local, mas remotamente.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Armazenamento em nuvem é uma opção de arma-


Na tabela a seguir, vamos comparar esses dois forma-
zenamento remoto que usa o espaço em um provedor
de data center e é acessível de qualquer computador tos e suas responsabilidades.
com acesso à Internet. Google Drive, Microsoft One-
Drive, Apple iCloud e Dropbox são exemplos de servi- COMPUTAÇÃO LOCAL
ços de armazenamento em nuvem.
Teclado, mouse, scanner,
Entrada de Dados
Tecnologias de Serviços na Nuvem monitor touch screen

Existem várias opções que poderão ser contrata- Processamento de


Processador do computador
das como serviços, sendo as principais em concursos Dados
públicos: IaaS, PaaS e SaaS. Vejamos cada uma delas:
Monitor, impressora, placa de
z Infrastructure as a Service (IaaS): fornece recur- Saída de Dados modem, placa de rede, USB,
sos de computação virtualizados pela Internet. O HD etc.
261
COMPUTAÇÃO LOCAL com outros desenvolvedores) e ambiente integrado
(para teste, implementação e gerenciamento).
Programas Software como um Serviço (SaaS) oferecerá econo-
Instalados no computador
(softwares) mia de gastos (menor custo das licenças de softwares),
compartilhamento de arquivos (de forma fácil e rápi-
Serviços (backup) Responsabilidade do usuário da), portabilidade (na troca de dispositivos pessoais,
Serviços Responsabilidade do sistema o acesso ao serviço não será impactado com novas
(desfragmentador) operacional local instalações e configurações) e independência do siste-
ma operacional (a troca de dados será realizada pelo
Antivírus Responsabilidade do usuário protocolo TCP, que tem suporte em todos os sistemas
operacionais).
Firewall Responsabilidade do usuário

Permissões de Software como


Responsabilidade do usuário um Serviço
acesso
Consome
Gerenciamento da Usuário final
Responsabilidade do usuário
estrutura
SaaS
Fornece Suporta Fornece

COMPUTAÇÃO NAS
NUVENS Fornece Consome
Provedor Plataforma como um Serviço Desenvolvedor
Enviado para um serviço na PaaS
Entrada de Dados Fornece Suporta Consome
rede

Processamento de Computadores remotos,


Dados distribuídos na rede Infraestrutura como um Serviço
IaaS
Disponibilizado um link para
Figura 10. Os provedores, desenvolvedores e usuários finais,
Saída de Dados download, visualização ou fornecem, suportam ou consomem recursos da nuvem.
compartilhamento

Programas Os softwares são desenvolvidos na Plataforma


Disponíveis na Internet (PaaS), utilizando os recursos da estrutura na Infraes-
(softwares)
trutura (IaaS), para serem utilizados pelos usuários
Responsabilidade da finais como um serviço (SaaS). Na tabela a seguir,
Serviços (backup)
empresa vamos associar os itens da computação local com os
itens da computação na nuvem, a fim de mostrar que,
Serviços Responsabilidade da
na Nuvem, ocorre uma adaptação do nosso computa-
(desfragmentador) empresa
dor de casa.
Responsabilidade da
Antivírus COMPUTAÇÃO COMPUTAÇÃO
empresa
LOCAL NA NUVEM
Responsabilidade da
Firewall Microsoft Office Microsoft Office
empresa Software
(instalado) (on-line)
Permissões de Oferecido pela empresa, defi- Microsoft Windows Microsoft
acesso nido pelo usuário Plataforma
10 Windows Azure
Gerenciamento da Responsabilidade da Hardware e
estrutura empresa Hardware e energia energia elétrica
Infraestrutura
elétrica do usuário da empresa
provedora
Benefícios dos Serviços na Nuvem

Ao contratar Infraestrutura como um Serviço Vantagens da Computação em Nuvem


(IaaS), o usuário obtém economia de custo (pois não
há necessidade de comprar e manter hardwares), tem- O usuário não precisará se preocupar com atuali-
zações de softwares e hardwares, pois serão realiza-
po de colocação no mercado (pois poderá iniciar suas
das pela empresa contratada. Elas serão automáticas
operações imediatamente, sem esperar pela instala-
e disponibilizadas em tempo real para todos.
ção de um data center na empresa), disponibilidade
O compartilhamento de informações será facili-
em tempo integral e escalabilidade sob demanda (pela tado, bastando que outros usuários tenham acesso à
expansão ou contração da empresa de acordo com o Internet, para que possam acessar os dados comparti-
dia a dia da operação). lhados. Os serviços serão disponibilizados durante 24
Plataforma como um Serviço (PaaS) gera para o horas por dia, pelos sete dias da semana, com sistemas
usuário uma economia de gastos (novamente, rela- de redundância e recuperação de falhas sob responsa-
cionada ao hardware que não precisa ser adquirido), bilidade da empresa contratada.
desenvolvimento simplificado de aplicativos (por con- Assim, a necessidade de manutenção da infraestru-
ta dos ambientes de desenvolvimento para diferentes tura física da rede local diminui, bastando para o usuá-
262 plataformas), colaboração (pela comunicação on-line rio o fornecimento de energia elétrica e conexão de
rede para acesso aos serviços remotos. Além disso, por
ter menos equipamentos na infraestrutura local, o con-
sumo de energia elétrica, refrigeração e espaço físico
serão reduzidos, o que, indiretamente, contribui para a
preservação e uso racional dos recursos naturais.
Ainda, a Computação em Nuvem traz flexibilidade
para o uso e contratação de serviços. O usuário pode con-
tratar um pacote básico de serviços e, de acordo com a
sua necessidade, pode ampliar parâmetros do contrato,
alterando, de forma dinâmica, os limites de utilização.
Por fim, é preciso citar, como uma vantagem, a
elasticidade rápida. Os recursos são provisionados
dinamicamente, atendendo às necessidades pontuais
da operação do cliente (uma loja virtual pode aumen-
tar a quantidade de acessos simultâneos ao site apenas
na Black Friday por exemplo). Essa é a sua caracterís-
tica mais marcante.

Desvantagens da Computação em Nuvem 2. Tudo está duplicado

Quanto mais aplicações forem acessadas na


nuvem, mais velocidade de transferência de dados
será necessária. Portanto, a principal desvantagem da
Nuvem é inerente ao propósito dela mesma.
O tempo de inatividade é outra desvantagem.
Quando todos os sistemas estão em uma plataforma,
se ela ficar indisponível, a empresa e os usuários não
terão acesso a nada. Felizmente, isso tem mudado e,
hoje, as empresas fornecedoras de serviços na nuvem
conseguem oferecer up-time (tempo de uso disponí-
vel) acima de 99,9999%.
A dificuldade de migração é, sem dúvidas, a principal
desvantagem. Quanto mais utilizamos uma determina-
da empresa fornecedora, mais nos tornamos dependen-
te dela. Caso exista a necessidade de migração dos dados,
ela poderá ser dificultada ou até impossibilitada.
Para minimizar essa desvantagem, a replicação
de servidores é uma alternativa quando os dados são
3. A interface é na nuvem, os dados
replicados entre um servidor local e um servidor na estão armazenados localmente
nuvem.
Figura 11. Diferentes apresentações para a nuvem

Principais Características da Computação em Nuvem

On Demand Self Service, ou Autoatendimento sob


Demanda, significa que o usuário pode usar os ser-
viços, aumentar ou diminuir as capacidades com-
putacionais alocadas, como o tempo de servidor e
armazenamento de rede, sem a intervenção huma-
na com o provedor de serviços. O limite de crédito
do seu cartão de crédito virtual é um exemplo dessa
característica.
Ubiquitous Network Access, ou Amplo Acesso à
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Rede, significa que os serviços são acessíveis a partir


de qualquer plataforma. O usuário pode acessar um
sistema desenvolvido para Windows, armazenado em
um servidor Linux, a partir de seu smartphone Apple.
1. Tudo está na nuvem Quase todos os serviços disponíveis na nuvem são
assim.
Resource Pooling, ou Pool de Recursos, significa
que os serviços são armazenados em servidores dis-
tribuídos globalmente e seus recursos virtuais são
dinamicamente atribuídos ou retribuídos pelo clien-
te, conforme a sua demanda. É o modelo multi-inquili-
no (multi-tenancy), que possibilita a adesão de novos
clientes, em detrimento da oferta, pelos clientes atuais.
Um usuário em São Paulo pode contratar e acessar um 263
serviço ofertado por uma empresa em Belo Horizonte,
que mantém os servidores em uma cidade na Índia. CONCEITOS DE ORGANIZAÇÃO E DE
Rapid Elasticy, ou Elasticidade Rápida, significa GERENCIAMENTO DE INFORMAÇÕES,
que a alocação de mais ou menos recursos da nuvem
ARQUIVOS, PASTAS E PROGRAMAS
ocorrerá com agilidade, provisionando e liberando,
elasticamente, as demandas solicitadas pelo usuário.
CONCEITO DE PASTAS, DIRETÓRIOS, ARQUIVOS E
Ao contratar um armazenamento de dados na nuvem,
ATALHOS
o espaço disponível para uso será imediatamente
ajustado após a confirmação do pagamento.
No Windows 10, os diretórios são chamados de pastas.
Measured Service, ou Serviços Mensuráveis, sig-
E algumas pastas são especiais, coleções de arquivos,
nifica que todos os serviços são controlados e moni-
chamadas de Bibliotecas. São quatro Bibliotecas: Docu-
torados automaticamente pela nuvem, de maneira mentos, Imagens, Músicas e Vídeos. O usuário poderá
transparente para o usuário, sem a necessidade de criar Bibliotecas, para sua organização pessoal. Elas oti-
conhecimento técnico sobre a sua operação. É trans- mizam a organização dos arquivos e pastas, inserindo
parente para o usuário, pois ele não precisa conhecer apenas ligações para os itens em seus locais originais.
onde estão alocados os recursos computacionais con- O sistema de arquivos NTFS (New Technology File
tratados, acessando apenas a interface para acesso. System) armazena os dados dos arquivos em localiza-
ções dos discos de armazenamento. Os arquivos pos-
Tipos de Nuvem suem nome, e podem ter extensões.
O sistema de arquivos NFTS suporta unidades de
Conforme mencionado anteriormente, podemos armazenamento de até 256 TB (terabytes, trilhões de bytes)
classificar as nuvens, de acordo com a infraestrutu- O FAT32 suporta unidades de até 2 TB.
ra ou seus usuários, em: privada, pública, híbrida ou
comunidade (comunitária). Antes de prosseguir, vamos conhecer estes conceitos.
No modelo de Nuvem Privada, a infraestrutura
é proprietária ou alugada por uma única organiza- TERMO SIGNIFICADO OU APLICAÇÃO
ção, para ser operada exclusivamente por ela mesma,
podendo ser local ou remota. A empresa aplica políti- Unidade de disco de armazenamento
cas de acesso aos serviços para os usuários cadastra- Disco de
permanente, que possui um sistema de
dos e autorizados. armazenamento
arquivos e mantém os dados gravados
A definição de Nuvem Pública indica que a
infraestrutura pertence a uma organização que vende Estruturas lógicas que endereçam as par-
serviços para o público em geral, podendo ser acessa- Sistema de tes físicas do disco de armazenamento.
da por qualquer usuário que conheça a localização do Arquivos NTFS, FAT32, FAT são alguns exemplos de
serviço, não sendo admitidas técnicas de restrição de sistemas de arquivos do Windows
acesso ou autenticação.
No formato de Nuvem Híbrida, a infraestrutura Circunferência do disco físico (como
Trilhas um hard disk HD ou unidades removí-
é composta por, pelo menos, duas nuvens que pre-
veis ópticas)
servam as características originais do seu modelo, as
quais estão interligadas por uma tecnologia que possi- São ‘fatias’ do disco, que dividem as
bilita a portabilidade de informações e de aplicações. Setores
trilhas
Esse é o tipo mais comum encontrado no mercado.
Na Nuvem Comunidade (Comunitária), a infraes- Unidades de armazenamento no disco,
trutura é compartilhada por diversas organizações Clusters identificado pela trilha e setor onde se
que, normalmente, possuem interesses comuns, como encontra
requisitos de segurança, políticas, aspectos de flexibi- Estrutura lógica do sistema de arqui-
lidade e/ou compatibilidade. Pastas ou
vos para organização dos dados na
diretórios
unidade de disco

Arquivos Dados. Podem ter extensões

Organização FNA Pública Pode identificar o tipo de arquivo, asso-


Híbrida ciando com um software que permita
Extensão
Privada
visualização e/ou edição. As pastas po-
dem ter extensões como parte do nome
Comunitária
Arquivos especiais, que apontam para
outros itens computacionais, como
Organização X Organização Y Organização Z unidades, pastas, arquivos, disposi-
Atalhos
tivos, sites na Internet, locais na rede
etc. Os ícones possuem uma seta, para
diferenciar dos itens originais
Figura 12. De acordo com a natureza do acesso e dos interesses
envolvidos, uma nuvem poderá ser do tipo Pública, Privada, Híbrida
ou Comunitária. O disco de armazenamento de dados tem o seu
tamanho identificado em Bytes. São milhões, bilhões e
até trilhões de bytes de capacidade. Os nomes usados
são do Sistema Internacional de Medidas (SI) e estão
264 listados na escala a seguir.
Exabyte Arquivos de Programas (Pro-
Petabyte (EB)
gram Files), Usuários (Users),
Terabyte (PB) Estruturas
Windows. A primeira pasta da
Gigabyte (TB) do sistema
undiade é chamada raiz (da
Megabyte (GB) trilhão operacional
(MB) bilhão árvore de diretórios), repre-
Kilobyte
(KB) mil milhão sentada pela barra invertida
Byte
(B) Documentos (Meus Documen-
tos), Imagens (Minhas Ima-
Estruturas
Ainda não temos discos com capacidade na ordem gens), Vídeos (Meus Vídeos),
do Usuário
de Petabytes (PB – quatrilhão de bytes) vendidos PASTAS Músicas (Minhas Músicas)
comercialmente, mas quem sabe um dia? Hoje estas – BIBLIOTECAS
medidas muito altas são usadas para identificar gran-
Desktop, que permite acesso
des volumes de dados na nuvem, em servidores de Área de a Lixeira, Barra de Tarefas,
redes, em empresas de dados etc. Trabalho pastas, arquivos, programas
1 Byte representa uma letra, ou número, ou sím- e atalhos
bolo. Ele é formado por 8 bits, que são sinais elétri-
cos (que vale zero ou um). Os dispositivos eletrônicos Armazena os arquivos de dis-
utilizam o sistema binário para representação de Lixeira do cos rígidos que foram excluí-
informações. Windows dos, permitindo a recuperação
A palavra “Nova”, quando armazenada no disposi- dos dados
tivo, ocupará 4 bytes. São 32 bits de informação grava- Arquivos Extensão LNK, podem ser cria-
da na memória. ATALHOS que indicam dos arrastando o item com ALT
A palavra “Concursos” ocupará 9 bytes, que são 72 outro local ou CTRL+SHIFT pressionado
bits de informação.
Os bits e bytes estão presentes em diversos momen- Extensão DLL e outras, usa-
Arquivos de
tos do cotidiano. Um plano de dados de celular ofere- DRIVERS das para comunicação do
configuração
ce um pacote de 5 GB, ou seja, poderá transferir até software com o hardware
5 bilhões de bytes no período contratado. A conexão
Wi-Fi de sua residência está operando em 150 Mbps, O Windows 10 usa o Explorador de Arquivos (que
ou 150 megabits por segundo, que são 18,75 MB por antes era Windows Explorer) para o gerenciamento
segundo, e um arquivo com 75 MB de tamanho, leva-
de pastas e arquivos. Ele é usado para as operações
rá 4 segundos para ser transferido do seu dispositivo
de manipulação de informações no computador,
para o roteador wireless.
desde o básico (formatar discos de armazenamento)
Quando os computadores pessoais foram apresen-
até o avançado (organizar coleções de arquivos em
tados para o público, a árvore foi usada como analo-
Bibliotecas).
gia para explicar o armazenamento de dados, criando
O atalho de teclado Windows+E pode ser acionado
o termo “árvore de diretórios”.
para executar o Explorador de Arquivos.
Documentos Como o Windows 10 está associado a uma con-
Imagens ta Microsoft (e-mail Live, ou Hotmail, ou MSN, ou
Folhas Outlook), o usuário tem disponível um espaço de
Músicas
Flores armazenamento de dados na nuvem Microsoft One-
Vídeos
Frutos Drive. No Explorador de Arquivos, no painel do lado
direito, o ícone OneDrive sincroniza os itens com a
nuvem. Ao inserir arquivos ou pastas no OneDrive,
Pastas e Subpastas Tronco e Galhos eles serão enviados para a nuvem e sincronizados
com outros dispositivos que estejam conectados na
mesma conta de usuário.
Arquivos ocultos, arquivos de sistema, arquivos
somente leitura... os atributos dos itens podem ser
Diretório Raiz Raiz definidos pelo item Propriedades no menu de contex-
to. O Explorador de Arquivos pode exibir itens que
tenham o atributo oculto, desde que ajuste a configu-
ração correspondente.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Figura 4. Árvore de diretórios

No Windows 10, a organização segue a seguinte Extensões de Arquivos


definição:
O Windows 10 apresenta ícones que representam
arquivos, de acordo com a sua extensão. A extensão
caracteriza o tipo de informação que o arquivo arma-
zena. Quando um arquivo é salvo, uma extensão é
atribuída para ele, de acordo com o programa que o
criou. É possível alterar esta extensão, porém corre-
mos o risco de perder o acesso ao arquivo, que não
será mais reconhecido diretamente pelas configura-
ções definidas em Programas Padrão do Windows.
Confira na tabela a seguir algumas das extensões e
ícones mais comuns em provas de concursos. 265
EXTENSÃO ÍCONE FORMATO EXTENSÃO ÍCONE FORMATO

Adobe Acrobat. Pode ser cria- Arquivos executáveis, que não


do e editado pelos aplicativos EXE, COM, necessitam de outros progra-
Office. Formato de documento BAT mas para serem executados
PDF
portável (Portable Document
Format) que poderá ser visua-
lizado em várias plataformas
Se o usuário quiser, pode acessar Configurações
Documento de textos do Micro- (atalho de teclado Windows+I) e modificar o progra-
soft Word. Textos com forma- ma padrão. Alterando esta configuração, o arquivo
DOCX
tação que podem ser editados será visualizado e editado por outro programa de
pelo LibreOffice Writer escolha do usuário.
No Windows 10, Configurações é o Painel de Controle.
Pasta de trabalho do Micro-
A troca do nome alterou a organização dos itens de ajus-
soft Excel. Planilhas de cálcu- tes do Windows, tornando-se mais simples e intuitivo.
XLSX
los que podem ser editadas Através deste item o usuário poderá instalar e
pelo LibreOffice calc desinstalar programas e dispositivos, configurar o
Apresentação de slides do Windows, além de outros recursos administrativos.
Por meio do ícone Rede e Internet do Windows 10,
Microsoft PowerPoint, que po-
PPTX acessado pela opção Configurações, localizada na lista
derá ser editada pelo LibreOf-
exibida a partir do botão Iniciar, é possível configu-
fice Impress
rar VPN, Wi‐Fi, modo avião, entre outros. VPN/ Wi-Fi/
Texto sem formatação. For- Modo avião/ Status da rede/ Ethernet/ Conexão disca-
mato padrão do acessório da/ Hotspot móvel/ Uso de dados/ Proxy.
TXT Bloco de Notas. Poderá ser Modo Avião é uma configuração comum em smar-
aberto por vários programas tphones e tablets que permite desativar, de manei-
do computador ra rápida, a comunicação sem fio do aparelho – que
inclui Wi‑Fi, Bluetooth, banda larga móvel, GPS, GNSS,
Rich Text Format – formato NFC e todos os demais tipos de uso da rede sem fio.
de texto rico. Padrão do aces- Mas, eu não vejo as extensões de meus arquivos.
sório WordPad, este docu- Como resolver?
RTF O Explorador de Arquivos possui diferentes modos
mento de texto possui alguma
formatação, como estilos de de exibição. Poderá ser em Lista, ou Detalhes, ou Con-
fontes teúdo, entre outras. O usuário poderá ativar ou desati-
var a exibição das extensões dos arquivos, facilitando
Formato de vídeo. Quando o a manipulação dos itens.
Windows efetua a leitura do No Explorador de Arquivos do Windows 10, ao
conteúdo, exibe no ícone a exibir os detalhes dos arquivos, é possível visualizar
MP4, AVI, informações, como, por exemplo, a data de modifica-
miniatura do primeiro quadro.
MPG ção e o tamanho de cada arquivo.
No Windows 10, Filmes e TV
reproduzem os arquivos de
vídeo Modos de Exibição do Windows 10

Formato de áudio. O Gravador


de Som pode gravar o áudio.
MP3 O Windows Media Player e o
Groove Music, podem repro-
duzir o som

Formato de imagem. Quando o


Windows efetua a leitura do con-
BMP, GIF,
teúdo, exibe no ícone a miniatu-
JPG, PCX,
ra da imagem. No Windows 10,
PNG, TIF
o acessório Paint visualiza e edi-
ta os arquivos de imagens Ícones Extra Grandes Ícones Extra Grandes com nome (e extensão)

Formato ZIP, padrão do Win- Ícones Grandes


Ícones Grandes com nome (e extensão)
dows para arquivos com- Ícones médios com nome (e extensão)
pactados. Não necessita de Ícones Médios
organizados da esquerda para a direita
ZIP
programas adicionais, como Ícones pequenos com nome (e extensão)
o formato RAR, que exige o Ícones Pequenos
organizados da esquerda para a direita
WinRAR Ícones pequenos com nome (e extensão)
Lista
organizados de cima para baixo
Biblioteca de ligação dinâ-
Ícones pequenos com nome, data de
mica do Windows. Arquivo Detalhes modificaçã, tipo e tamanho.
que contém informações que
DLL Ícones médios com nome, tipo e tamanho,
podem ser usadas por vários Lado a Lado
organizado da esquerda para a direita.
programas, como uma caixa Ícones médios com nome, autores, data de
de diálogo Conteúdo
modificação, marcas e tamanho.
266
Área de Transferência Um arquivo chamado documento.docx será consi-
derado igual ao nome Documento.DOCX;
Um dos itens mais importantes do Windows não é z O Windows não permite que dois itens tenham o
visível como um ícone ou programa. A Área de Trans- mesmo nome e a mesma extensão quando estive-
ferência é um espaço da memória RAM, que armazena rem armazenados no mesmo local;
uma informação de cada vez. A informação armaze- z O Windows não aceita determinados caracteres
nada poderá ser inserida em outro local, e ela acaba nos nomes e extensões. São caracteres reservados,
trabalhando em praticamente todas as operações de para outras operações, que são proibidos na hora
manipulação de pastas e arquivos. de nomear arquivos e pastas. Os nomes de arqui-
Ao acionar o atalho de teclado Ctrl+X (Recortar), vos e pastas podem ser compostos por qualquer
estamos movendo o item selecionado para a memória caractere disponível no teclado, exceto os carac-
RAM, para a Área de Transferência. teres * (asterisco, usado em buscas), ? (interroga-
No Windows 10, se quiser visualizar o conteúdo ção, usado em buscas), / (barra normal, significa
da Área de Transferência, acione o atalho de teclado opção), | (barra vertical, significa concatenador de
Windows+V (View). comandos), \ (barra invertida, indica um caminho),
Ao acionar o atalho de teclado Ctrl+C (Copiar), “ (aspas, abrange textos literais), : (dois pontos, sig-
estamos copiando o item para a memória RAM, para nifica unidade de disco), < (sinal de menor, signi-
ser inserido em outro local, mantendo o original e fica direcionador de entrada) e > (sinal de maior,
criando uma cópia. significa direcionador de saída);
Ao acionar o atalho de teclado PrintScreen, esta- z Existem termos que não podem ser usados, como
mos copiando uma ‘foto da tela inteira’ para a Área de CON (console, significa teclado), PRN (printer, sig-
Transferência, para ser inserida em outro local, como nifica impressora) e AUX (indica um auxiliar), por
em um documento do Microsoft Word ou edição pelo referenciar itens de hardware nos comandos digi-
acessório Microsoft Paint. tados no Prompt de Comandos. (por exemplo, para
enviar para a impressora um texto através da linha
Ao acionar o atalho de teclado Alt+PrintScreen,
de comandos, usamos TYPE TEXTO.TXT > PRN).
estamos copiando uma ‘foto da janela atual’ para a
Área de Transferência, desconsiderando outros ele-
As ações realizadas pelos usuários em relação à mani-
mentos da tela do Windows.
pulação de arquivos e pastas, pode estar condicionada ao
Ao acionar o atalho de teclado Ctrl+V (Colar), o
local onde ela é efetuada, ou ao local de origem e destino
conteúdo que está armazenado na Área de Transfe- da ação. Portanto, é importante verificar no enunciado
rência será inserido no local atual. da questão, geralmente no texto associado, estes detalhes
As ações realizadas no Windows, em sua quase que determinarão o resultado da operação.
totalidade, podem ser desfeitas ao acionar o atalho de As operações podem ser realizadas com atalhos de
teclado Ctrl+Z imediatamente após a sua realização. teclado, com o mouse, ou com a combinação de ambos.
Por exemplo, ao excluir um item por engano, ao pres- A banca organizadora CESPE/Cebraspe não costuma
sionar DEL ou DELETE, o usuário pode acionar Ctrl+Z questionar ações práticas nas provas, e raramente uti-
(Desfazer) para restaurar ele novamente, sem neces- liza imagens nas questões.
sidade de acessar a Lixeira do Windows.
E outras ações podem ser repetidas, acionando o
OPERAÇÕES COM TECLADO
atalho de teclado Ctrl+Y (Refazer), quando possível.
Para obter uma imagem de alguma janela em Atalhos de Teclado Resultado da Operação
exibição, além dos atalhos de teclado PrintScreen e
Alt+PrintScreen, o usuário pode usar o recurso Instan- Não é possível recortar e colar
Ctrl+X e Ctrl+V na
tâneo, disponível nos aplicativos do Microsoft Office. na mesma pasta. Será exibida
mesma pasta
Outra forma de realizar esta atividade, é usar a uma mensagem de erro
Ferramenta de Captura (Captura e Esboço), disponível
Ctrl+X e Ctrl+V em Recortar (da origem) e colar (no
no Windows.
locais diferentes destino). O item será movido
Mas se o usuário quer apenas gravar a imagem
capturada, poderá fazer com o atalho de teclado Win- Copiar e colar. O item será du-
dows+PrintScreen, que salva a imagem em um arquivo Ctrl+C e Ctrl+V na plicado. A cópia receberá um
na pasta “Capturas de Tela”, na Biblioteca de Imagens. mesma pasta sufixo (Copia) para diferenciar
do original

importante! Copiar (da origem) e colar (no


Ctrl+C e Ctrl+V em
destino). O item será duplicado,
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

A área de transferência é um dos principais locais diferentes


mantendo o nome e extensão
recursos do Windows, que permite o uso de
comandos, realização de ações e controle das Deletar, apagar, enviar para a
ações que serão desfeitas. Lixeira do Windows, podendo re-
Tecla Delete em um
cuperar depois, se o item estiver
item do disco rígido
em um disco rígido local interno
Operações de Manipulação de Arquivos e Pastas ou externo conectado na CPU

Será excluído definitivamen-


Ao nomear arquivos e pastas, algumas regras pre-
Tecla Delete em te. A Lixeira do Windows não
cisam ser conhecidas para que a operação seja reali-
um item do disco armazena itens de unidades
zada com sucesso.
removível removíveis (pendrive), ópticas
ou unidades remotas
z O Windows não é case sensitive. Ele não faz distin-
ção entre letras minúsculas ou letras maiúsculas. 267
OPERAÇÕES COM TECLADO OPERAÇÕES COM MOUSE

Independentemente do local Ação do usuário Resultado da operação


Shift+Delete onde estiver o item, ele será
Renomear o item. Se o nome
excluído definitivamente
já existe em outro item, será
Duplo clique pausado
Renomear. Trocar o nome e sugerido numerar o item re-
a extensão do item. Se hou- nomeado com um sufixo
ver outro item com o mesmo Arrastar com botão princi-
nome no mesmo local, um su- pal pressionado, e soltar na O item será movido
F2 fixo numérico será adicionado mesma unidade de disco
para diferenciar os itens. Não
é permitido renomear um item Arrastar com botão princi-
que esteja aberto na memória pal pressionado, e soltar em O item será copiado
do computador outra unidade de disco

Arrastar com botão secundá- Exibe o menu de contexto,


Lixeira rio do mouse pressionado, e podendo “Copiar aqui” (no
soltar na mesma unidade local onde soltar)
Um dos itens mais questionados em concursos Arrastar com botão se- Exibe o menu de contexto,
públicos é a Lixeira do Windows. Ela armazena os cundário do mouse pres- podendo “Copiar aqui” (no
itens que foram excluídos de discos rígidos locais, sionado, e soltar em outra local onde soltar) ou “Mo-
internos ou externos conectados na CPU. unidade de disco ver aqui”
Ao pressionar o atalho de teclado Ctrl+D, ou a tecla
DELETE (DEL), o item é removido do local original e Ação do usuário Resultado da operação
armazenado na Lixeira. O item será copiado, quan-
Quando o item está na Lixeira, o usuário pode Arrastar com o botão princi-
do a tecla CTRL for liberada,
escolher a opção ‘Restaurar’, para retornar ele para o pal pressionado um item com
independente da origem ou
local original. Se o local original não existe mais, pois a tecla CTRL pressionada
do destino da ação
suas pastas e subpastas foram removidas, a Lixeira
recupera o caminho e restaura o item. Arrastar com o botão O item será movido, quan-
Os itens armazenados na Lixeira poderão ser principal pressionado um do a tecla SHIFT for libera-
excluídos definitivamente, escolhendo a opção “Esva- item com a tecla SHIFT da, independente da origem
ziar Lixeira” no menu de contexto ou faixa de opções pressionada ou do destino da ação
da Lixeira. Arrastar com o botão prin-
Quando acionamos o atalho de teclado Shift+Dele- Será criado um atalho para
cipal pressionado um item
te, o item será excluído definitivamente. Pelo Windo- o item, independente da ori-
com a tecla ALT pressiona-
gem ou do destino da ação
ws, itens excluídos definitivamente ou apagados após da (ou CTRL+SHIFT)
esvaziar a Lixeira, não poderão ser recuperados. É
possível recuperar com programas de terceiros, mas Clique em itens com o botão
isto não é considerado no concurso, que segue a con- principal, enquanto mantém Seleção individual de itens
a tecla CTRL pressionada
figuração padrão.
Os itens que estão na Lixeira podem ser arrastados Seleção de vários itens. O
com o mouse para fora dela, restaurando o item para Clique em itens com o botão primeiro item clicado será
o local onde o usuário liberar o botão do mouse. principal, enquanto mantém o início, e o último item
A Lixeira do Windows tem o seu tamanho definido a tecla SHIFT pressionada será o final, de uma região
em 10% do disco rígido ou 50 GB. O usuário poderá contínua de seleção
alterar o tamanho máximo reservado para a Lixei-
ra, poderá desativá-la excluindo os itens diretamen-
te, e configurar Lixeiras individuais para cada disco As ações envolvendo tela touchscreen foram ques-
conectado. tionadas quando o Windows 8 estava disponível. No
Windows 10, apesar de ter suporte para telas sensíveis
ao toque, não temos questões sobre as ações no siste-
OPERAÇÕES COM MOUSE
ma operacional com esta interface.
Ação do usuário Resultado da operação

Clique simples no botão


Selecionar o item
principal
SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO
Clique simples no botão Exibir o menu de contexto
secundário do item
PROCEDIMENTOS DE SEGURANÇA
Executar o item, se for exe-
cutável. Abrir o item, se for O que é Segurança da Informação?
editável, com o programa Essa é uma pergunta curta, que exige conhecimentos
padrão que está associa- diversos, para que possa ser respondida. Neste tópico,
Duplo clique
do. Nos programas do você encontrará as informações necessárias para isso.
computador, poderá abrir As redes de computadores tornaram-se cada vez mais
um item através da opção
interligadas e complexas. Elas integram, atualmente,
correspondente
268 muitos dispositivos, que, talvez, você não conheça, mas
Figura 3. Um protocolo seguro protege o tráfego de dados em uma
que estão ali, promovendo a troca de dados entre o seu
conexão insegura, criptografando as informações que são enviadas
equipamento e o servidor remoto o qual está acessando. e recebidas.
No entanto, é sabido que os criminosos virtuais podem
acessar redes de qualquer lugar do mundo. O usuário deverá utilizar um protocolo seguro para
Neste sentido, os profissionais de Segurança da Infor- acessar os dados, manter o seu dispositivo atualizado
mação procuram proteger os dados armazenados e tra- e protegido, utilizar uma senha forte de acordo com as
fegados entre os dispositivos por meio de equipamentos, políticas de segurança e práticas recomendadas, entre
programas e técnicas direcionadas. Para isso, o treina- outras ações. Além disso, deverá utilizar conexões segu-
mento dos usuários também é importante, considerando ras, como as VPN’s – Virtual Private Network –, para
que eles compreendem o elo mais fraco e vulnerável no acesso aos serviços remotos (Computação na Nuvem);
que se refere à Segurança da Informação. proteger-se das ameaças e ataques à Segurança da
Informação, utilizando medidas de proteção em seu
dispositivo, como antivírus, firewall e anti-spyware).
Iniciaremos nossos estudos sobre Segurança da
Informação com o tópico VPN. Elas são muito impor-
tantes para a comunicação segura e tornaram-se des-
taque nos últimos anos, por causa do trabalho remoto
(home office). Empresas e usuários que não utilizavam
uma conexão remota segura precisaram adaptar-se
Usuário final Servidor remoto aos novos tempos. Em concursos, a tendência é que
aumente a frequência de questões sobre esse tema,
Figura 1. A conexão entre o usuário cliente e o servidor é realizada pois se tornou popular devido à pandemia.
por diferentes equipamentos, que são transparentes para o usuário A seguir, conheceremos como é a Computação na
final. Nuvem, suas características, os tipos de nuvem, os ser-
viços oferecidos e as vantagens e desvantagens. Vale
Entre o servidor remoto e o usuário final, as infor- ressaltar que esse tópico já foi bastante abordado em
mações solicitadas passarão por vários dispositivos de alguns concursos, em provas de diversos cargos.
conexão (roteadores, repetidores de sinal, switches, Vírus de computador e softwares maliciosos:
bridges, gateways) antes de serem apresentadas no quem nunca foi vítima, não é mesmo? Esse será o ter-
dispositivo do usuário. ceiro tópico sobre Segurança da Informação, no qual
abordaremos os ataques e ameaças, com destaque
Dica para os principais e mais comuns em provas de con-
cursos. Assim como Computação na Nuvem, o tópico
Paradigma cliente-servidor: Nós somos clientes “Noções de Vírus, Worms e Pragas Virtuais” também é
e acessamos informações em servidores remo- muito questionado em concursos públicos.
tos. As redes de computadores, em concursos Finalizando o conteúdo de Segurança da Informa-
públicos, são abordadas, seguindo esse paradig- ção, estudaremos os mecanismos de proteção e defesa
ma. Usamos cliente web (browser ou navegador) contra os ataques e ameaças. Existem equipamentos
para acessar um servidor web. Usamos cliente de de proteção, no entanto, em concursos públicos, geral-
e-mail para acessar um servidor de e-mail. Usa- mente, são questionados os aplicativos para seguran-
mos um cliente FTP para acessar um servidor FTP. ça (antivírus, firewall, anti-spyware etc).
Apesar de existirem soluções integradas e avança-
Ataques e ameaças à Segurança da Informação das para os problemas de Segurança da Informação,
Invasor
que até usamos em nossos dispositivos, nos concursos
Vírus de Software
computador malicioso públicos, são questionadas as definições oficiais e as
configurações padrão dos programas.

NOÇÕES DE REDES PRIVADAS VIRTUAIS (VPN)

Usuário final Servidor remoto As redes privadas virtuais, popularmente identi-


Figura 2. O tráfego de dados, em uma conexão, é um ativo ficadas pela sigla VPN (do inglês Virtual Private Net-
interessante para invasores, vírus de computadores e softwares work), são criadas pelas empresas e usuários, para
maliciosos. estabelecer uma conexão segura entre dois pontos.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Antes de iniciarmos nosso estudo sobre elas, vamos


Invasores tentarão acessar a conexão e capturar os conhecer alguns dos conceitos básicos das redes de
dados trafegados. Os vírus de computador procuram infec- computadores, de acordo com as suas características
tar os arquivos e causar danos aos sistemas. Esses softwares de uso e nível de segurança.
maliciosos podem infectar dispositivos e sequestrar
arquivos. REDE CARACTERÍSTICAS BÁSICAS
Local Area Network é uma denominação
Protocolo seguro LAN relacionada ao alcance de uma rede, res-
trita a um prédio ou pequena região
Atualizações
É uma rede local (pelo seu alcance, é
Usuário final uma LAN), interna de uma organização,
Servidor remoto Intranet
Firewall
segura, com acesso restrito aos usuá-
Senha forte
rios cadastrados no servidor da rede
Antivírus
269
REDE CARACTERÍSTICAS BÁSICAS
Extranet É o acesso remoto seguro, de um ambiente inseguro, à intranet da organização
Rede mundial de computadores de acesso público e considerada insegura. A Internet é comumente
Internet
representada por uma nuvem

Intranet
Intranet
Extranet
Conexão segura

Matriz Internet Filial

Figura 4. A Extranet é uma conexão segura através de um ambiente inseguro (Internet) para redes internas protegidas (Intranet).

É importante destarcar que, toda Intranet é uma LAN, mas nem toda LAN é uma Intranet.
Por que usar uma VPN?
Porque é importante e necessário. A Internet é a rede mundial de computadores, que conecta diversos disposi-
tivos entre si, utilizando uma estrutura pública e insegura oferecida pelos governos e operadoras de telefonia. O
acesso à Internet é oferecido para todos e, por isso, usuários mal intencionados conseguem interceptar a comuni-
cação de outros usuários, monitorando o tráfego de dados e roubando informações.
Com uma VPN estabelecida entre os dispositivos, o risco na transmissão é muito pequeno. Lembrando que
nada é 100% seguro em Informática, independentemente da quantidade de sistemas e proteções implementadas.

Usuário mal intencionado

Conexão Tráfego sendo


insegura monitorao

Conexão
Usuário remoto insegura
Empresa
Internet
Figura 5. Usuários mal intencionados procuram “escutar” uma conexão insegura em busca de dados que possam comprometer a privacidade do
usuário ou empresa.

As empresas utilizam softwares de terceiros para estabelecer a conexão segura entre os dispositivos de seus colabo-
radores. Existem vários softwares que possibilitam a conexão segura, como a Área de Trabalho Remota (Windows) e
soluções de empresas de segurança digital (Forticlient VPN, Citrix Metaframe, TeamViewer, LogMeIn etc).
Os protocolos são padrões de comunicação. Para estabelecer uma conexão segura, protocolos seguros serão usa-
dos, criando um túnel seguro entre o emissor e o receptor, por meio de um ambiente vulnerável. Eles procuram
encapsular os dados transmitidos, para que, em caso de monitoramento, a leitura do conteúdo torne-se impossível,
uma vez que os dados se tornam criptografados.

Usuário mal intencionado

Protocolo Tráfego não


seguro será monitorado

Conexão Conexão
segura segura
Usuário remoto Internet Empresa
Figura 6. Usuários mal-intencionados não conseguem monitorar o conteúdo de uma conexão que esteja protegida com um protocolo seguro.

TIPO DE VPN CARACTERÍSTICA


� Um usuário pode conectar-se a uma rede, para acessar seus serviços e recur-
VPN de acesso remoto sos remotamente
(VPN client to site) � A conexão é segura e ocorrerá por meio de uma rede pública, como a Internet
� Será uma conexão (cliente) para um servidor remoto que aceita várias conexões

270
TIPO DE VPN CARACTERÍSTICA
� Dois roteadores estabelecem uma conexão segura para a troca de dados, sen-
do que um deles opera como cliente VPN e o outro, como servidor VPN
� É o modelo mais usado no âmbito empresarial, para conectar com segurança
VPN site a site a rede interna de uma filial com a rede interna de uma matriz
� Serão várias conexões (filial), acessando um servidor remoto que aceita várias
conexões (matriz)
� Também conhecida como VPN LAN to LAN

Protocolos

Quando uma navegação na Internet é realizada, os protocolos transferem os dados de um servidor para o
cliente de acordo com o paradigma Cliente-Servidor. O servidor oferece os dados e provê a conexão e, então, o
cliente acessa as informações e solicita serviços.
Em uma conexão, para evitar que os dados sejam acessados por pessoas não autorizadas, protocolos de segu-
rança e proteção poderão ser implementados, utilizando-se de chaves e certificados digitais para a garantia da
transferência segura dos dados.
Muitas siglas de protocolos estão relacionadas com este tópico. Confira algumas delas:

PROTOCOLO SIGNIFICADO CARACTERÍSTICAS SEGURO?


GRE Generic Routing Encapsulation Desenvolvido pela CISCO, prioriza a velocidade Não
SSL Secure Sockets Layer Camada adicional de segurança para a conexão Sim
TLS Transport Layer Security Camada de transporte seguro para a conexão Sim
Orientar o servidor para criação de uma conexão se-
SSH Secure Shell Sim
gura com o cliente
Extensão do protocolo IP para suprir a falta de seguran-
IPsec IP Security Protocol Sim
ça de informações que trafegam em uma rede pública
Protocolo para facilitar a comunicação bidirecional,
Telnet baseada em texto interativo (comandos), usando uma Não
conexão de terminal virtual
Atualização dos protocolos L2F (Protocolo de Enca-
L2TP Layer 2 Tunnelling Protocol minhamento da Camada 2) e PPTP (Protocolo de Tu- Não
nelamento Ponto-a-Ponto)
O PPTP adiciona um canal seguro ao TCP e utiliza um
Point-to-Point Tunneling
PPTP túnel GRE Sim
Protocol
� Algumas questões o apresentam com a sigla PPP
Criar conexões ponto a ponto (point to point) e site a
OpenVPN VPN de Código aberto site (site to site), usando um protocolo personalizado Sim
baseado no TLS e SSL

Dica
Protocolos seguros costumam mostrar a letra S na sua sigla, como em HTTPS.

Um protocolo seguro procura estabelecer uma conexão segura entre os dispositivos, possibilitando a troca de
informações. Antes do envio de dados, a conexão segura será negociada entre os dispositivos e aprovada após a
confirmação do certificado digital.

Usuário remoto Empresa


A conexão é segura?
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Sim, ela é. Segue o certificado digital.


OK. Conexão segura estabelecida?
Criptografando o caminho, para envio de dados.
Figura 7. A criptografia é usada para garantir a autenticidade e a integridade das conexões.

A conexão remota poderá ser uma simples conexão direta entre os dispositivos (ponto a ponto, túnel de cone-
xão, sem criptografia dos dados trafegados) ou uma conexão entre os dispositivos com segurança, utilizando
protocolos seguros, para criptografar o conteúdo trafegado no túnel de conexão.

Programas

Após conhecer as definições de uma VPN e os protocolos que podem ser utilizados, é comum surgir uma dúvida:
quais são os programas que usamos para transformar o nosso dispositivo em um cliente VPN? 271
A resposta é: depende. Cada dispositivo possui um sistema operacional e, de acordo com a origem (cliente) e o
destino (servidor), existem programas mais adequados para cada cenário.

ORIGEM (CLIENTE) DESTINO (SERVIDOR) EXEMPLO DE PROGRAMA PARA VPN


Windows Windows Área de Trabalho Remota
Windows Linux PuTTy
Linux Windows OpenVPN
Linux Linux Network-Manager

A utilização de um software de VPN, a fim de acessar a rede interna de uma organização (no modelo VPN client
to site), implementa segurança aos dados trafegados na forma de criptografia, para garantir a autenticidade e a
integridade das conexões. No entanto, onde a VPN será “iniciada”?
Nas redes de computadores, o firewall é um item especialmente importante em relação à segurança da infor-
mação. Ele é um filtro de portas TCP, que permite ou bloqueia o tráfego de dados. Logo, se uma conexão deseja
enviar e receber dados, precisa ter a porta correspondente liberada, em ambos os lados, tanto no cliente como no
servidor.
Se existe um firewall na rede, a VPN poderá ser instalada (e configurada) no firewall (mais comum), em frente
ao firewall (para autenticar o que está chegando), atrás do firewall (para autenticar o que chegou), paralelamente
ao firewall (para acompanhar o envio e recebimento dos pacotes) ou na interface dedicada do firewall (na conexão
VPN site to site, para atender a vários dispositivos da rede).
No Windows 10, a definição da VPN poderá ser realizada por meio da Central de Ações (atalho de teclado
Windows + A) ou em Configurações, Rede e Internet, VPN. O acesso Home Office é um tipo de conexão externa que
deverá utilizar uma VPN, para proteger os dados trafegados com o uso de criptografia implementada por proto-
colos seguros.

NOÇÕES DE VÍRUS, WORMS E PRAGAS VIRTUAIS

Sabe-se que ameaças e riscos de segurança estão presentes no mundo virtual. Assim como existem pessoas
boas e más no mundo real, existem usuários com boas ou más intenções no mundo virtual.
Os criminosos virtuais são genericamente denominados como hackers, porém o termo mais adequado seria
cracker. Um hacker é um usuário que possui muitos conhecimentos sobre tecnologia, podendo ser nomeado como
White Hat – hacker ético que usa suas habilidades com propósitos éticos e legais –, Gray Hat – aquele que comete
crimes, mas sem ganho pessoal (geralmente, para exposição de falhas nos sistemas) – e Black Hat – aquele que
viola a segurança dos sistemas para obtenção de ganhos pessoais.
Amadores ou inexperientes, profissionais ou experientes, todo usuário está sujeito aos riscos inerentes ao uso
dos recursos computacionais. São riscos de segurança digital:

z Ameaças: vulnerabilidades que existem e podem ser exploradas por usuários;


z Falhas: vulnerabilidades existentes nos sistemas, sejam elas propositais ou acidentais;
z Ataques: ação que procura denegrir ou suspender a operação de sistemas.

Devido à crescente integração entre as redes de comunicação, conexão com novos e inusitados dispositivos
(IoT – Internet das Coisas) e criminosos com acesso de qualquer lugar do mundo, as redes de informações torna-
ram-se particularmente difíceis de se proteger. Profissionais altamente qualificados são formados e contratados
pelas empresas com a única função de proteger os sistemas informatizados.
Em concursos públicos, as ameaças e os ataques são os itens mais questionados.

Dica
Você conhece a Cartilha de Segurança CERT? Disponível gratuitamente na Internet, ela é a fonte oficial de
informações sobre ameaças, ataques, defesas e segurança digital. Ela pode ser acessada pelo link: <https://
cartilha.cert.br/>. (Acesso em: 13 nov. 2020).

Ameaças

As ameaças são identificadas como aquelas que possuem potencial para comprometer a oferta ou existência
dos ativos computacionais, tais como: informações, processos e sistemas. Um ransomware – software que seques-
tra dados, utilizando-se de criptografia e solicita o pagamento de resgate para a liberação das informações seques-
tradas – é um exemplo de ameaça.
É importante entender que, apesar de a ameaça existir, se não ocorrer uma ação deliberada para sua execução
ou se medidas de proteção forem implementadas, ela é eliminada e não se torna um ataque. As ameaças à segu-
rança da informação podem ser classificadas como:

� Tecnológicas: quando ocorre mudança no padrão ou tecnologia, sem a devida atualização ou upgrade;
z Humanas: intencionais ou acidentais, que exploram vulnerabilidades nos sistemas;
272 z Naturais: não intencionais, relacionadas ao ambiente, como as catástrofes naturais.
As empresas precisam fazer uma avaliação das existirem no organismo, menor será o seu desempe-
ameaças que possam causar danos ao ambiente com- nho, fazendo com que recursos vitais sejam consumi-
putacional dela mesma (Gerenciamento de Risco), dos, podendo levar o hospedeiro à morte.
implementar sistemas de autenticação (Controlar o O vírus de computador é um código malicioso que
Acesso), definir os requisitos de senha forte (Política de infecta arquivos em um dispositivo. Quando o arquivo
Segurança), manter um inventário e realizar o rastrea- é executado, o código do vírus é duplicado, propagan-
mento de todos os ativos (Gerenciamento de Recursos), do-se para outros arquivos do computador. Quanto
além de utilizar sistemas de backup e restauração de mais vírus existirem no dispositivo, menor será o seu
dados (Gerenciamento de Continuidade de Negócios). desempenho, fazendo com que recursos computacio-
nais sejam consumidos, podendo levar o hospedeiro a
Falhas uma falha catastrófica.

As falhas de segurança nos sistemas de informação 1. E-mail com vírus de computador é enviado para o usuário
poderão ser propositais ou involuntárias. Se o progra-
mador insere, no código do sistema, uma falha que
produza danos ou permita o acesso sem autentica-
ção, temos um exemplo de falha proposital. Já se uma
falha for descoberta após a implantação do sistema,
sem que tenha sido uma falha proposital, e tenha sido
explorada por invasores, temos um exemplo de falha E-mail com vírus Usuário Arquivo
involuntária, inerente ao sistema.
Quando identificadas, as falhas são corrigidas pelas
empresas que desenvolveram o sistema por meio da 2. E-mail é aberto e o arquivo anexo infectado é executado.
distribuição de notificações e correções de segurança.
O Windows Update, serviço da Microsoft para atuali-
zação do Windows, distribui, mensalmente, os patches
(pacotes) de correções de falhas de segurança.

Ataques
E-mail com vírus Usuário Arquivo
Sem dúvidas, o assunto de maior destaque, tanto
em concursos como no mundo real, são os ataques.
3. O código do vírus é copiado para arquivos do computador
Coordenados ou isolados, os ataques procuram rom-
per as barreiras de segurança definidas na Política de
Segurança, com o objetivo de anular o sistema ou cap-
turar dados.
Os ataques podem ser classificados como:

z Baixa complexidade: exploram falhas de seguran-


E-mail com vírus Usuário Arquivo
ça de forma isolada e são facilmente identificados
e anulados;
z Média complexidade: combinam duas ou mais 4. Ao executar o arquivo infectado, novos arquivos serão infectados.
ferramentas e técnicas, para obter acesso aos
dados, sendo de média complexidade para a solu-
ção, gerando impactos na operação dos sistemas,
como a indisponibilidade;
z Alta complexidade: refinados e avançados, os
ataques combinam o acesso às falhas do sistema, E-mail com vírus Usuário Arquivo Arquivo
novos códigos maliciosos desconhecidos e a dis-
tribuição do ataque com redes zumbis, tornando
difícil a resolução do problema. O vírus de computador poderá entrar no disposi-
tivo do usuário por meio de um arquivo anexado em
Dica uma mensagem de e-mail, ou por cópia de arquivos
existentes em uma mídia removível, como o pen drive,
� Ameaças existem e podem afetar ou não os recebidos por alguma rede social, baixados de sites na
sistemas computacionais;
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Internet, entre outras formas de contaminação.


� Falhas existem e podem ser exploradas ou não
pelos invasores; VÍRUS DE
� Ataques são realizados todo o tempo contra CARACTERÍSTICAS
COMPUTADOR
todos os tipos de sistemas.
� Infectam o setor de boot do disco
de inicialização
Vírus de Computador Vírus de boot
� Cada vez que o sistema é iniciado,
o vírus é executado
O vírus de computador é a ameaça digital mais
popular. Tem esse nome por se assemelhar a um vírus Armazenados em sites na Internet,
orgânico ou biológico. O vírus biológico é um organis- são carregados e executados quan-
Vírus de script
mo que possui um código viral que infecta uma célu- do o usuário acessa a página, usan-
la de outro organismo. Quando a célula infectada é do um navegador de Internet
acionada, o código viral é duplicado e se propaga para
outras células saudáveis do corpo. Quanto mais vírus 273
VÍRUS DE Geralmente, eles deixam a comunicação na rede len-
CARACTERÍSTICAS ta, por ocuparem a conexão de dados ao enviarem
COMPUTADOR
cópias de seu código malicioso.
� As macros são desenvolvidas em
linguagem Visual Basic for Applica- Um verme biológico parasita um organismo, con-
tions (VBA) nos arquivos do Office, sumindo seus recursos e deixando o corpo debilitado.
Vírus de macro Um verme tecnológico parasita um dispositivo, consu-
para a automatização de tarefas
� Quando desenvolvido com propósi- mindo seus recursos de memória e conexão de rede,
tos maliciosos, é um vírus de macro deixando o aparelho e a rede de dados lentos.
Os worms não precisam ser executados pelo usuá-
O vírus “mutante” ou “polimórfico”, a
rio como os vírus de computador e a sua propagação
Vírus do tipo cada nova multiplicação, o novo ví-
será rápida caso não existam barreiras de proteção
mutante rus mantém traços do original, mas
que os impeçam.
é diferente dele
São programados para agir em uma de- 1. Dispositivo infectado se conecta na rede do usuário
Vírus time bomb terminada data, causando algum tipo
de dano no dia previamente agendado
� Um vírus stealth é um código mali-
cioso muito complexo, que se escon-
de depois de infectar um computador
� Ele mantém cópias dos arquivos
Vírus stealth
que foram infectados para si e, quan-
Smartphone Roteador do Impressora
do um software antivírus realiza a de- com worm Usuário
tecção, apresenta o arquivo original,
enganando o mecanismo de proteção 2. Roteador infectado envia o worm para a impressora
� O vírus Nimda explora as falhas de
segurança do sistema operacional
� Ele se propaga pelo correio eletrô-
Vírus Nimda nico e, também, pela web, em diretó-
rios compartilhados, pelas falhas de
servidor Microsoft IIS e nas trocas
de arquivos
Smartphone Roteador do Impressora
com worm Usuário
Todos os sistemas operacionais são vulneráveis
aos vírus de computador. Quando um vírus de com- 3. Impressora infectada demora muito para imprimir
putador é desenvolvido por um hacker, este procura
elaborá-lo para um software que tenha uma grande
quantidade de usuários iniciantes, o que aumenta as
suas chances de sucesso.
O Windows, por exemplo, possui muitos usuários
e a maioria deles não tem preocupações com seguran-
ça. Por isso, grande parte dos vírus de computadores Smartphone Roteador do Impressora
são desenvolvidos para atacarem sistemas Windows. com worm Usuário
O Linux, por sua vez, tem poucos usuários, se com- 4. Um novo dispositivo se conecta e é infectado
parado ao Windows, e a maioria deles possui muito
conhecimento sobre Informática, tornando a ação de
vírus nesse sistema uma ocorrência rara.
Já o Android, software operacional dos smartpho-
nes populares, é uma variação do sistema Linux ori-
ginal. Apesar de possuir essa origem nobre, é alvo de
milhares de vírus, por causa dos seus usuários, que, Smartphone Roteador do Impressora
na maioria das vezes, não têm rotinas de proteção e com worm Usuário
segurança de seus aparelhos.
Um vírus de computador poderá ser recebido por
e-mail, transferido de sites na Internet, compartilhado
em arquivos, através do uso de mídias removíveis infec-
tadas, nas redes sociais e por mensagens instantâneas.
Vale lembrar, no entanto, que um vírus necessita ser Smartphone
executado para que entre em ação, pois ele tem um hos-
pedeiro definido e um alvo estabelecido. Ele se propaga, Dica
inserindo cópias de si em outros arquivos, alterando ou
removendo arquivos do dispositivo para propagação e Os worms infectam dispositivos e propagam-se
autoproteção, a fim de não ser detectado pelo antivírus. para outros dispositivos de forma autônoma,
sem interferência do usuário.
Worms
Os worms podem ser recebidos automaticamen-
O worm é um verme que explora de forma indepen- te pela rede, inseridos por um invasor ou por ação
274 dente as vulnerabilidades nas redes de dispositivos. de outro código malicioso. Assim como os vírus, ele
poderá ser recebido por e-mail, transferido de sites na 3. Enquanto o usuário joga, o trojan desativa as proteções
Internet, compartilhado em arquivos, por meio do uso
de mídias removíveis infectadas, nas redes sociais e
por mensagens instantâneas.
Com o objetivo de explorar as vulnerabilidades dos
dispositivos, os worms enviam cópias de si mesmos E-mail com vírus Usuário Jogo on-line
para outros dispositivos e usuários conectados. Por
serem autoexecutáveis, costumam consumir grande
quantidade de recursos computacionais, promovendo
a instalação de outros códigos maliciosos e iniciando
ataques na Internet em busca de outras redes remotas.
4. Enquanto o usuário joga, o invasor consegue acesso
Pragas Virtuais

As diversas pragas virtuais são, genericamente,


chamadas de malwares (softwares maliciosos), por
apresentarem características semelhantes: oferecem
alguma vantagem para o usuário, mas realizam ações
danosas que acabarão prejudicando-o. Usuário Jogo on-line

� Cavalo de Troia ou Trojan

É um código malicioso que realiza operações mal-


-intencionadas enquanto realiza uma operação dese-
jada pelo usuário, como um jogo on-line ou reprodução
de um vídeo. Ele é enviado com o conteúdo desejado e,
ao ser executado, desativa as proteções do dispositivo,
para que o invasor tenha acesso aos arquivos e dados. z Spyware
Esse nome está, justamente, relacionado com a his-
tória do presente dado pelos gregos aos troianos, con- É um programa malicioso que procura monitorar
sistindo em um cavalo de madeira, com soldados em as atividades do sistema e enviar os dados capturados
seu interior. Após entrar nas fortificações de Troia, os durante a espionagem para terceiros. Existem softwa-
gregos desativaram as defesas e permitiram o acesso res espiões considerados legítimos (instalados com o
do seu exército. consentimento do usuário) e maliciosos (que execu-
tam ações prejudiciais à privacidade do usuário).
Os softwares espiões podem ser especializados na
Importante! captura de teclas digitadas (keylogger), nas telas e cli-
O Trojan ou Cavalo de Troia é apresentado, no ques efetuados (screenlogger) ou para apresentação
enunciado de algumas questões de concursos, de propagandas alinhadas com os hábitos do usuário
como um tipo de vírus de computador. (adware). Eles, geralmente, são instalados por outros
programas maliciosos, para aumentar a quantidade
de dados capturados.
1. E-mail com Cavalo de Troia é enviado para o usuário
z Bot

É um programa malicioso que mantém contato


com o invasor, permitindo que comandos sejam exe-
cutados remotamente.
O dispositivo controlado por um bot poderá integrar
E-mail com vírus Usuário uma rede de dispositivos zumbis, a chamada botnet.
Quando o invasor deseja atacar sites para provo-
2. E-mail é aberto e o link do jogo on-line é acessado car Negação de Serviço, ele aciona os bots que estão
distribuídos nos dispositivos do usuário, para que
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

façam a ação danosa. Além de esconder os rastros da


identidade do verdadeiro atacante, os bots poderão
continuar sua propagação através do envio de cópias
para outros contatos do usuário afetado.
E-mail com vírus Usuário Jogo on-line
z Backdoor

É um código malicioso semelhante ao bot, mas que,


além de executar comandos recebidos do invasor, rea-
liza ações para desativação de proteções e aberturas
de portas de conexão. O invasor, ciente das portas TCP
que estão disponíveis, consegue acesso ao dispositivo
para a instalação de outros códigos maliciosos e roubo
de informações.
275
Assim como os spywares, existem backdoors legí- CÓDIGO
timos (adicionados pelo desenvolvedor do software CARACTERÍSTICAS
MALICIOSO
para funcionalidades administrativas) e ilegítimos
(para operarem independente do consentimento do Falsifica dados de identificação, seja
usuário). do remetente de um e-mail (e-mail
Spoofing Spoofing), do endereço IP, dos ser-
z Rootkit viços ARP e DNS, escondendo a real
identidade do atacante
É um código malicioso especializado em esconder Intercepta as comunicações da rede
e assegurar a presença de outros códigos maliciosos Man-In-The-
para roubar os dados que trafegam na
para o invasor acessar o sistema. Essas pragas virtuais -Midle
conexão.
podem ser incorporadas em outras pragas, para que o
código que camufla a presença seja executado, escon- Intercepta as comunicações do apa-
dendo os rastros do software malicioso. Man-In-The- relho móvel, para roubar os dados
Após a remoção de um rootkit, o sistema afetado não -Mobile que trafegam na conexão do aparelho
se recupera dos dados apagados, sendo necessária uma smartphone
cópia segura (backup) para restauração dos arquivos.
Enquanto uma falha não é corrigida
pelo desenvolvedor do software, inva-
Dica Ataque de dia
sores podem explorar a vulnerabilida-
zero
Cavalo de Troia, Spyware, Bot, Backdoor e Root- de identificada antes da implantação
kit são as pragas digitais mais questionadas em da proteção
concursos públicos. Modificam páginas na Internet, alte-
Defacement rando a sua apresentação (face) para
Confira, na tabela a seguir, outras pragas digitais os usuários visitantes
que ameaçam a Segurança da Informação e a privaci-
dade dos usuários de sistemas computacionais. Sequestrador de navegador que pode
desde alterar a página inicial do bro-
CÓDIGO HiJacker wser, até realizar mudanças do meca-
CARACTERÍSTICAS nismo de pesquisas e direcionamento
MALICIOSO
para servidores DNS falsos
Gatilho para a execução de outros có-
digos maliciosos que permanece ina-
Bomba lógica
tiva até que um evento acionador seja Uma das ações mais comuns que procuram com-
executado prometer a segurança da informação é o ataque
Phishing. O usuário recebe uma mensagem (por
Sequestrador de dados que criptogra- e-mail, rede social ou SMS no telefone) e é induzido a
fa pastas, arquivos e discos inteiros, clicar em um link malicioso. O link acessa uma pági-
Ransomware
solicitando o pagamento de resgate na que pode ser semelhante ao site original, induzin-
para liberação do o usuário a fornecer dados pessoais, como login e
senha. Em ataques mais elaborados, as páginas captu-
� Simulam janelas do sistema opera-
ram dados bancários e de cartões de crédito. O objeti-
cional, induzindo o usuário a acionar
vo é simples: roubar dinheiro das contas do usuário.
um comando, fazendo a operação
Scareware
continuar normalmente
1. O usuário recebe um e-mail do ‘banco’, mas é falso
� O comando iniciará a instalação de
códigos maliciosos

Fraude que engana o usuário, induzin-


Phishing do-o a informar seus dados pessoais
em páginas de captura de dados falsas

Ataque aos servidores de DNS para al- Usuário


Pharming teração das tabelas de sites, direcio-
nando a navegação para sites falsos

Ataques na rede que simulam tráfe- 2. O link direciona o usuário para um site falso
go acima do normal com pacotes de
Negação de dados formatados incorretamente,
Serviço fazendo o servidor remoto ocupar-
-se com os pedidos e erros, negando
acesso para outros usuários

� Código que analisa ou modifica o


tráfego de dados na rede, em busca Usuário
de informações relevantes como lo-
Sniffing
gin e senha
� Enquanto o spyware não modifica o
conteúdo, o sniffing pode alterar
276
3. Ele informa os seus dados pessoais 4. Seus dados são enviados para o invasor, que
rouba $$$ das contas bancárias ou faz
compras no seu cartão de crédito

Usuário

4. Seus dados são enviados para o invasor, que Usuário


rouba $$$ das contas bancárias ou faz
compras no seu cartão de crédito
APLICATIVOS PARA SEGURANÇA (ANTIVÍRUS,
FIREWALL, ANTI-SPYWARE ETC.)

Nos itens anteriores, conhecemos as diferentes


ameaças e ataques que podem comprometer a segu-
rança da informação, expondo a privacidade do usuá-
rio. Para todas elas, existem mecanismos de proteção
Usuário
– softwares ou hardwares que detectam e removem os
códigos maliciosos ou impedem a sua propagação.
Independentemente da quantidade de sistemas de
Outra ação mais elaborada tecnicamente é o Phar- proteção, o comportamento do usuário poderá levar
ming. O invasor ataca um servidor DNS, modificando a uma infecção por códigos maliciosos, pois a maio-
as tabelas que direcionam o tráfego de dados e o usuá- ria desses códigos necessita de acesso ao dispositivo
rio acessa uma página falsa. Da mesma forma que o do usuário mediante autorização dada pelo próprio
Phishing, esse ataque procura capturar dados bancá- usuário. A autorização de acesso poderá estar camu-
rios do usuário e roubar o seu dinheiro. flada em um arquivo válido, como o Cavalo de Troia,
ou em mensagens falsas apresentadas em sites, como
1. O atacante modifica a tabela de um servidor DNS
o ataque de Phishing. Portanto, a navegação segura
começa com a atitude do usuário na rede.

Antivírus

Os vírus de computadores, como conhecemos no


tópico anterior, infectam um arquivo e propagam-se
para outros arquivos quando o hospedeiro é executa-
Usuário do. O código que infecta o arquivo é chamado de assi-
natura do vírus.
2. O link alterado direciona o usuário para um site falso
Os programas antivírus são desenvolvidos para
detectarem a assinatura do vírus existente nos arqui-
vos do computador. O antivírus precisa estar atualiza-
do, com as últimas definições da base de assinaturas
de vírus, para que seja eficiente na remoção dos códi-
gos maliciosos.

1. O usuário tem um vírus de computador instalado


Usuário

3. Ele informa os seus dados pessoais


NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Usuário Arquivo

Usuário 2. Um software antivírus é acionado para detecção

Usuário Arquivo

277
3. Ele compara o código com sua base de assinaturas 2. O arquivo será isolado e uma cópia enviada para
análise pelo fabricante do software antivírus

= Quarentena
Usuário Arquivo =
Usuário
4. Ele poderá eliminar o vírus, isolar ou excluir o arquivo

Fabricante
Arquivo Arquivo
= desinfectado excluído
Windows Defender
Usuário Quarentena
Em concursos públicos, as soluções de antivírus de
Quando o antivírus encontra um código malicioso terceiros, como Avast, AVG, Avira e Kaspersky rara-
em algum arquivo, que tenha correspondência com a mente são questionadas. Nós as usamos em nosso dia
base de assinaturas de vírus, ele poderá: a dia, mas, em provas de concursos, as bancas traba-
lham com as configurações padrões dos programas.
z Remover o vírus que infecta o arquivo;
O Windows 10 possui uma solução integrada de
z Criptografar o arquivo infectado e mantê-lo na
proteção, que é o Windows Defender. Na época do
pasta Quarentena, isolado;
Windows 7, a Microsoft adquiriu e disponibilizou o
z Excluir o arquivo infectado.
programa Microsoft Security Essentials como antiví-
Assim, o antivírus poderá proteger o dispositivo rus padrão do sistema operacional.
através de três métodos de detecção: assinatura dos A seguir, foi desenvolvida a solução Windows Defen-
vírus conhecidos, verificação heurística e comporta- der, para detecção e remoção de outros códigos mali-
mento do código malicioso quando é executado. ciosos, como os worms e Cavalos de Troia. Além disso, o
O que fazer quando o código malicioso do vírus Windows sempre ofereceu o firewall, um filtro de cone-
não está na base de assinaturas? xões para impedir ataques oriundos das redes conectadas.
A base de assinaturas é atualizada pelo fabricante No Windows 10, o Windows Defender faz a detec-
do antivírus, com as informações conhecidas dos vírus ção de vírus de computador, códigos maliciosos e
detectados. Entretanto, novos vírus são criados diaria- opera o firewall do sistema operacional, impedindo
mente. Para a detecção desses novos códigos malicio- ataques e invasões.
sos, os programas oferecem a Análise Heurística.
Firewall
z Análise Heurística
O firewall é um filtro de conexões que poderá ser
O software antivírus poderá analisar os arquivos do um software, instalado em cada dispositivo, ou um
dispositivo através de outros parâmetros, além da base hardware, instalado na conexão da rede, protegendo
de assinaturas de vírus conhecidos, para encontrar novos todos os dispositivos da rede interna. O sistema opera-
códigos maliciosos que ainda não foram identificados. cional disponibiliza um firewall pré-configurado com
Se o código enviado para análise for comprovada- regras úteis para a maioria dos usuários.
mente um vírus, o fabricante inclui sua assinatura na A maioria das portas comuns estão liberadas e a
base de vírus conhecidos. Assim, na próxima atualiza- maioria das portas específicas estão bloqueadas.
ção do antivírus, todos poderão reconhecer e remover
o novo código descoberto.

1. Ele compara o código com sua base de assinaturas,


mas não encontra correspondência com vírus conhecidos

Usuário

= .
Figura 13. O firewall controla o tráfego proveniente de outras redes
Usuário Arquivo
O firewall não analisa o conteúdo do tráfego, por-
tanto ele permite que códigos maliciosos, como os
vírus de computadores, infectem o computador ao
chegarem como anexos de uma mensagem de e-mail.
O usuário deve executar um antivírus e antispyware
nos anexos antes de executá-los.
278
Worm Malware
E-mail com vírus E-mail com vírus

Firewall Usuário Antispyware


Usuário
Trojan Spyware
E-mail com trojan E-mail com trojan
Figura 16. O antispyware é usado para evitar pragas digitais no
Figura 14. O firewall não analisa o conteúdo do tráfego, então dispositivo do usuário.
mensagens com anexos maliciosos passarão pela barreira e
chegarão até o usuário. Para proteção, o usuário deverá:

O firewall impede um ataque, seja de um hacker, z Manter o firewall ativado;


de um vírus, de um worm, ou de qualquer outra praga z Manter o antivírus atualizado e ativado;
digital que procure acessar a rede ou o computador z Manter o antispyware atualizado e ativado;
por meio de suas portas de conexão. Apenas o con- z Manter os programas atualizados com as corre-
teúdo liberado, como e-mails e páginas web, não será ções de segurança;
bloqueado pelo firewall. z Usar uma senha forte para acesso aos sistemas e
optar pela autenticação em dois fatores quando
disponível.

E-mail Página web

Firewall Usuário Usuário


Invasor Ataque de vírus

Propagação Malware
de worm
Firewall Antivírus Antispyware Atualizações Senha forte
Figura 15. O firewall não analisa o conteúdo do tráfego, mas impede
os ataques provenientes da rede. Figura 17. Para proteção: firewall ativado, antivírus atualizado e
ativado, antispyware atualizado e ativado, atualizações de softwares
instaladas e uso de senha forte.
O firewall não é um antivírus e nem um antispy-
ware. Ele permite ou bloqueia o tráfego de dados nas
portas TCP do dispositivo. Sendo assim, sua utilização UTM
não dispensa o uso de outras ferramentas de seguran-
ça, como o antivírus e o antispyware. Unified Threat Management (UTM), ou “Gerenciamen-
to Unificado de Ameaças”, são soluções abrangentes que
integram diferentes mecanismos de proteção em apenas
Importante! um programa. Elas realizam, em tempo real, a filtragem
de códigos acessados, otimizam o tráfego de dados nas
O firewall não é um antivírus, mas ele impede um conexões, controlam a execução das aplicações, protegem
ataque de vírus. Ele impedirá, por ser um ataque o dispositivo com um firewall, estabelecem uma conexão
e, não, por ser um vírus. VPN segura para navegação e entregam relatórios de fácil
compreensão para o usuário.

Antispyware Defesa Contra Ataques

Da mesma forma que existe a solução antivírus Quando o ataque é direcionado ao e-mail e nave-
contra vírus de computadores, existe uma solução gador de Internet, os filtros antispam e filtros anti-
que procura detectar, impedir a propagação e remo- phishing atendem aos requisitos de proteção. Se o
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

ver os códigos maliciosos que não necessitam de um ataque chega disfarçado, medidas de prevenção
hospedeiro. devem ser adotadas, como:
Genericamente, malware é um software malicioso.
Genericamente, spyware é um software espião. Assim, z Nunca fornecer informações confidenciais ou
quando os softwares maliciosos ganharam destaque secretas por e-mail;
e relevância para os usuários dos sistemas operacio- z Resistir à tentação de cliques em links das
nais, os spywares ganharam destaque. Comercialmen- mensagens;
te, tornou-se interessante nomear a solução como z Observar os downloads automáticos ou não iniciados;
antispyware. z Dentro das políticas de segurança para os funcio-
Na prática, um antispyware, ou um antimalware, nários, destacar que não se deve submeter à pres-
detecta e remove vários tipos de pragas digitais. são de pessoas desconhecidas.

Quando os ataques procuram atingir um servidor


da empresa, como ataques DoS (negação de serviço), 279
DDos (ataque distribuído de negação de serviços) ou Retorna o sistema
spoofing (fraude de identidade), uma das formas de e programas para o
A cada inicialização
proteção é o bloqueio de pacotes externos não con- ponto de restauração
RESTAURAÇÃO ou modificação,
escolhido,
vencionais. Se o usuário está utilizando um disposi- DO SISTEMA um ponto de
descartando
tivo móvel e sofre um ataque, ele deve aumentar o restauração é criado
alterações
nível de proteção do aparelho e as senhas precisam posteriores a ele
ser redefinidas o mais breve possível. Recupera os Restaurar os
Por fim, os ataques contra aplicativos poderão arquivos do usuário arquivos do usuário
ser minimizados ou anulados se o usuário mantiver BACKUP que foram copiados que foram copiados
os programas atualizados em seu dispositivo, apli- para a cópia de anteriormente no
cando as correções de segurança tão logo elas sejam segurança backup
disponibilizadas.
As cópias de segurança são criadas pelo sistema
operacional a partir de comandos do usuário, tanto
Importante! programados pelo Agendador de Tarefas automatica-
mente, como, manualmente, pelo utilizador.
Quando o usuário é envolvido na perpetração de O Agendador de Tarefas é um recurso do Windows que
ataques digitais, ele é considerado o elo mais fra- permite a programação de comandos nos computadores.
co da corrente de segurança da informação, por O Agendador poderá executar uma vez ou várias vezes de
estar sujeito a enganos e trapaças dos atacan- forma recorrente (todos os dias, todas as segundas-feiras
tes. A Engenharia Social consiste no conjunto de etc).
técnicas e atividades que procuram estabelecer Ao inserir os comandos de backup (cópia de segurança)
confiança mediante dados falsos, ameaças ou no Agendador de Tarefas, quando for o dia e horário pro-
dissimulação. gramados, será executado, para que o usuário tome as pro-
vidências com relação à cópia de seus arquivos de dados.

PROCEDIMENTOS DE BACKUP TIPOS DE BACKUP

O Backup é a cópia de segurança dos dados do Atualmente, o usuário dispõe de recursos que rea-
usuário. lizam o backup na nuvem diretamente, sem sua inter-
Neste tópico estudaremos sobre as ferramentas do sis- ferência no dia a dia. No smartphone Android, com a
tema operacional para proteção dos dados, a fim de com- Conta Google, podemos autorizar a sincronização das
preender que cada uma possui um objetivo específico. imagens e vídeos da câmera diretamente no Google
As cópias de segurança ganharam destaque nos Fotos. No smartphone iOS, com a Conta iCloud, pode-
últimos anos, devido aos ataques de ransomware. mos autorizar a sincronização das imagens e vídeos
Como o código malicioso reage às tentativas de aces- da câmera diretamente no Apple iCloud. E outras solu-
sos aos arquivos criptografados, as cópias de seguran- ções, como o Google Drive, Microsoft OneDrive e Dro-
ça, ao serem restauradas, recuperam os arquivos sem pbox poderão fazer a cópia de segurança na nuvem dos
alertar o atacante, prejudicando ainda mais o que já arquivos gravados na respectiva pasta do dispositivo.
foi comprometido. Entretanto, esta modalidade de backup na nuvem
Ransomware é um ataque que criptografa os não é, exatamente, uma cópia de segurança, mas
arquivos e as unidades do dispositivo do usuário, soli- apenas uma replicação (duplicação) de dados. Se os
citando o pagamento de um resgate para a liberação dados forem corrompidos ou criptografados por um
da chave de descriptografia. O usuário pode receber ransomware, corre-se o risco de ter as cópias “limpas”
sobrepostas pelas cópias infectadas com o malware.
um arquivo com o código malicioso por meio do cor-
Os sistemas de sincronização de dados, como o Dro-
reio eletrônico ou redes sociais e, após a execução do
pbox, OneDrive e Drive permitem o gerenciamento do
arquivo, seus dados serão totalmente ou parcialmente
histórico de versões, possibilitando a recuperação de
criptografados. Alguns códigos ransomware criptogra-
arquivos anteriores à última atualização de sincronização.
fam apenas o início dos arquivos, tornando-os ina- Em concursos públicos, são questionados os tipos de
cessíveis. A técnica é usada para que o sequestro dos backup “clássicos”: completo, incremental e diferencial.
dados seja realizado de forma extremamente rápida, Cada um deles possui suas vantagens e desvanta-
evitando que alguma ação ou reação do usuário inter- gens, as quais veremos a seguir.
rompa o processo de criptografia em andamento. As empresas costumam operar diferentes tipos de
backup, de acordo com suas necessidades de aplica-
RECUPERAÇÃO USO ções, disponibilidade, segurança e velocidade de aces-
Criado como disco so às informações copiadas.
de inicialização, A manutenção de cópias de segurança redundan-
Arquivos da permite iniciar o tes de arquivos importantes é recomendável. Ou seja,
INICIALIZAÇÃO
inicialização do Windows quando os
DO SISTEMA para os arquivos mais importantes, ter duas ou mais
Windows arquivos essenciais
do boot forem
cópias do mesmo backup é uma atitude correta, crian-
danificados do redundâncias. Se uma das cópias falhar, ou for
Retorna o Windows
comprometida, a outra cópia redundante poderá ser
Recupera arquivos para suas usada para recuperação dos dados.
alterados, configurações
REPARAÇÃO
danificados ou originais, sem os Backup Completo (ou Full)
DO SISTEMA
excluídos do sistema programas que
operacional foram instalados O Backup Completo ou Full é aquele no qual
280 posteriormente todos os arquivos são copiados para outro local de
armazenamento. A vantagem desse tipo de backup é a reprodução fiel e completa de todas as informações do
ambiente, possibilitando a restauração dos dados de forma contínua e imediata.
Entretanto, sua desvantagem é a quantidade de espaço de armazenamento necessário para os dados, além do tem-
po para conclusão do procedimento de cópia. Em sistemas críticos, que operam com banco de dados e acesso 24 horas
(como uma loja virtual de marketplace, as lojas Americanas), o backup completo poderia copiar dados que estariam
desatualizados alguns minutos depois, por não poder paralisar o sistema para que a cópia de segurança seja realizada.

1 TB

DOM SEG TER QUA QUI SEX SÁB


Figura 1 – backup completo de 1 TB.
Todas as cópias de segurança ocupam 1 TB cada.

Se acontecer um problema no sábado, por exemplo, bastaria pegar o backup completo da sexta-feira e pronto:
arquivos restaurados!
Se o backup completo for realizado em mídias “convencionais”, provavelmente, será necessário que o usuário
troque as mídias quando elas estiverem totalmente ocupadas. Já se o backup completo for realizado dentro da
rede de dados da empresa, o tempo ocupado na conexão poderá atrapalhar o uso de outros recursos pelos usuá-
rios. E se o backup completo for realizado na nuvem (Internet), o tempo de uso da conexão de Internet poderá
atrapalhar o acesso à rede mundial pelos usuários.
Portanto, o backup completo deve ser realizado em horários de menos utilização dos recursos da rede da
empresa, para otimizar sua operação e não atrapalhar os demais sistemas.
O tempo de vida do backup completo dependerá da Política de Segurança da Informação (PSI) definido pela empresa.

VANTAGENS DESVANTAGENS

� Reprodução fiel e completa � Maior espaço de armazenamento


COMPLETO � Recuperação rápida em caso de desastres � Maior tempo ocupado com backup
(restauração total)

Backup Incremental

Como o backup completo, realizado todos os dias demanda uma grande quantidade de espaço para armazena-
mento ou conexão da rede/Internet, uma alternativa é o backup Incremental.
Neste tipo de backup, serão copiados os dados que foram alterados desde o último backup incremental. Como
a quantidade de dados alterados pode variar de um período para outro, a quantidade de espaço reservado para
as cópias de segurança do tipo incremental será menor, comparado ao backup completo.
Iniciando com um backup completo, as alterações que forem observadas nos dados, em comparação com a
cópia completa, serão adicionadas na cópia incremental.

1 TB
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Completo

DOM SEG TER QUA QUI SEX SÁB

Figura 2 – backup incremental.


Apenas os dados alterados em relação ao completo são copiados. 281
Se acontecer um problema no sábado, por exemplo, for preciso restaurar os arquivos, será necessária a cópia
do último backup completo realizado e de todos os backups incrementais realizados até a data da ocorrência. A
manutenção das cópias incrementais é trabalhosa, exigindo verificação regular das mídias nas quais estão arma-
zenados os arquivos.

VANTAGENS DESVANTAGENS

INCREMENTAL � Rápido para copiar dados


� A manutenção das cópias é mais trabalhosa
� Rápido para restaurar dados

Backup Diferencial

A cópia diferencial é um pouco parecida com a cópia incremental.


Os dados que são copiados incluem os novos arquivos e os arquivos alterados (diferentes) em relação ao
backup completo.
As cópias são acumulativas, registrando na mídia atual os dados que foram usados na cópia anterior.
O backup diferencial tem facilidade para recuperação dos dados e segurança, pois, se uma das cópias estiver
com problema, as anteriores e posteriores poderão conter a informação desejada.
Depois de um certo tempo, definido pela PSI, o backup completo será realizado novamente, reiniciando a contagem.

1 TB
Completo

DOM SEG TER QUA QUI SEX SÁB

Figura 3 – backup diferencial.


Os dados alterados de um dia acumulam com o anterior, mantendo a última cópia como a mais completa de todas.

Se ocorrer um problema no sábado, por exemplo, basta usar o backup completo e o último backup diferencial
disponível. Entretanto, se o último backup diferencial disponível estiver com problemas nos dados da segunda-fei-
ra, basta resgatar em uma das outras cópias (terça, quarta ou quinta) a parte faltante.

VANTAGENS DESVANTAGENS

DIFERENCIAL � Boa velocidade para copiar dados


� Ocupa mais espaço que o backup incremental
� Maior segurança dos dados

Backup Completo, Incremental e Diferencial

As questões de concursos costumam questionar o backup dentro de algumas diretrizes: tipos, vantagens, des-
vantagens, custo, desempenho e disponibilidade.

VANTAGENS DESVANTAGENS
� Reprodução fiel e completa
COMPLETO � Maior espaço de armazenamento
� Recuperação rápida em caso de desastres
� Maior tempo ocupado com backup
(restauração total)

INCREMENTAL � Rápido para copiar dados


� Manutenção das cópias é mais trabalhosa
� Rápido para restaurar dados

DIFERENCIAL � Boa velocidade para copiar dados


� Ocupa mais espaço que o backup incremental
� Maior segurança dos dados

CUSTO DESEMPENHO DISPONIBILIDADE


COMPLETO Alto Demorado para fazer, rápido para restaurar Imediata
282
CUSTO DESEMPENHO DISPONIBILIDADE
Imediata, desde que tenham sido toma-
INCREMENTAL Médio Rápido para fazer e rápido para restaurar
das as medidas de manutenção
Rápido para fazer e demorado para
DIFERENCIAL Médio Imediata
restaurar

Outros Tipos de Backup

A escolha pelo modelo de backup ideal costuma considerar o custo, o desempenho e a disponibilidade. Portan-
to, além dos modelos básicos que caem em todas as provas de concursos, outras soluções são desenvolvidas pelas
empresas de tecnologia.
Existem soluções, no mercado, que combinam os modelos de backup “básicos”, oferecendo produtos
personalizados.

z Backup incremental contínuo: combina a ideia de um backup completo com atualizações semelhantes ao
backup diferencial, permitindo a recuperação com a última cópia incremental contínua;
z Backup completo sintético: combina um backup completo com cópias incrementais subsequentes, focando
nas alterações para reduzir a carga de trabalho dos servidores e a ocupação da banda da conexão de rede;
z Backup de espelhamento (o modelo de cópia do Dropbox, Microsoft OneDrive, Google Drive e Apple
iCloud é assim): tudo o que for realizado no original (aparelho) será repetido na cópia na nuvem. Se uma foto
é apagada, ela poderá ser apagada da cópia na nuvem simultaneamente;
z Backup local: tanto o dispositivo com o original como o dispositivo com a cópia estão no mesmo local físico;
z Backup externo: comum em pequenas empresas, compreende a situação na qual a cópia dos dados armaze-
nada em um HD externo é levada para a casa do técnico por exemplo;
z Backup FTP: um servidor FTP armazena os arquivos enviados pelo cliente FTP instalado no servidor local.
Opera de forma semelhante a um backup na nuvem.

BACKUP NA REDE DE DADOS OU INTERNET

A cópia de segurança deve ser armazenada em uma mídia protegida contra alterações, preferencialmente, em
um local físico diferente de onde se encontram os arquivos originais.
O armazenamento de dados na nuvem é uma realidade e muitas empresas possuem todas as suas informa-
ções na nuvem ou estão migrando-as para a Internet. A alta disponibilidade e segurança dos serviços contratados
com as provedoras de nuvem torna o investimento mais interessante que a manutenção de sua estrutura local
dedicada.
O gerenciamento de mídias, como fitas, discos rígidos, discos flexíveis e discos ópticos exige um controle pre-
ciso sobre o que está armazenado em cada mídia. Esse controle poderá exigir funcionários e softwares especiali-
zados e, de acordo com o tamanho da empresa, podem aumentar os custos da área de TI de forma significativa.
Portanto, uma das soluções está relacionada com o local onde o armazenamento será realizado, transferindo
das mídias removíveis para computadores remotos e sistemas de armazenamento de dados dedicados. Confira
alguns exemplos figurativos:

z Originais armazenados no servidor A da matriz e backup no servidor B da filial, conectados pela rede interna
e separados fisicamente;
z Originais armazenados no servidor A da matriz e backup no sistema NAS (Network Area Storage) da empresa,
separados fisicamente;
z Originais armazenados no servidor A da matriz e backup na nuvem privada, instalada em uma infraestrutura
contratada como um serviço em algum lugar do mundo literalmente.

MÍDIAS DE BACKUP

Fita
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

A fita de armazenamento de dados (ou, atualmente, Fita DAT – Digital Audio Tape) é uma forma de armazena-
mento magnético sequencial, que grava os dados em uma mídia inserida em um leitor/gravador.
Muito usada no passado, em servidores de dados, devido a sua alta capacidade de armazenamento de dados e
velocidade de leitura/gravação, atualmente está obsoleta. Os servidores com discos rígidos oferecem maior prote-
ção às mídias de armazenamento se comparados com as fitas magnéticas removíveis.
As fitas de armazenamento de dados, assim como as fitas cassetes de áudio, populares nos anos 70 e 80, deman-
dam manutenção constante das mídias e de seus leitores. Por serem cobertas por um composto magnético, as
cabeças de leitura e gravação tendem a “sujar” com resíduos deste composto, prejudicando as novas leituras/
gravações se os cabeçotes não forem regularmente limpos.
Devido às demandas de segurança e manutenção, elas começaram a desaparecer no início dos anos 2000.
Atualmente, algumas empresas ainda mantém fitas DAT, mas por outros motivos, especialmente, para a operação
de servidores legados (sistemas abandonados que não são mais atualizados e só oferecem o recurso de cópias de
segurança via fita DAT). 283
particionamento. A formatação consiste em definir o
sistema de arquivos, divisões e endereçamentos para
o armazenamento de dados. O particionamento con-
siste em dividir o disco em divisões lógicas distintas,
que possibilitam reduzir o espaço físico para endere-
çamento e redução do tempo de latência das cabeças
de leitura e gravação (tempo que o sistema permane-
ce parado).

A
C
Figura 4 – fita D2 e DAT comparadas a um smartphone.
B
Disco Rígido

O disco rígido é uma mídia de armazenamento de


dados magnética, que se popularizou nos anos 90 por
sua capacidade e velocidade de acesso aos dados. Os
primeiros modelos populares não ofereciam contro-
le de erros e, caso ocorressem problemas na mídia,
alguns softwares específicos seriam executados para
o isolamento dos problemas.
O disco rígido “clássico” possui um ou mais discos
metálicos com superfície magnetizável, que giram em
velocidades de 5.400 rpm (rotações por minuto) em
D
torno de um eixo central. Os braços de leitura e gra-
vação são posicionados acima da superfície do disco, Figura 6 – Disco Rígido
efetuando a coleta dos bits registrados ou gravando
Representação da divisão lógica.
novas informações a cada giro do disco.
Os braços de leitura e gravação possuem atuadores
Discos:
que identificam a posição na qual a informação está ou
deverá ser gravada, girando os respectivos discos (ou
pratos) para o correto posicionamento. Quando posicio- Trilhas (A)
Setores (B)
nado no local correto, a cabeça de gravação transfere as
Cluster (C e D)
informações que precisam ser armazenadas, as quais
permanecerão disponíveis por um bom tempo, mesmo
Os discos rígidos externos são usados para cópia
sem o fornecimento de energia, tornando o disco rígido
de segurança de dados, especialmente, pelos usuários
uma forma de armazenamento de dados permanente
domésticos e pequenas empresas, dada a facilidade
por não ser volátil, como a memória RAM.
de compra e praticidade de uso ao conectar em uma
porta USB, disponível em, praticamente, todos os dis-
positivos computacionais da atualidade.

Componente de armazenamento:

z Disco rígido: Memória secundária de armazena-


mento magnético13.
„ Permanente, não-volátil, “unidade C:”, hard
disk (HD).

z Disco rígido: Memória secundária de armazena-


Figura 5 – Disco Rígido (sem a proteção externa). mento memória flash14..
„ SATA II, USB: Permanente, não-volátil, “unida-
Os primeiros modelos trabalhavam com softwares de C:”, SSD (Solid State Disk).
exclusivos para cada fabricante, que efetuavam a gra-
vação dos dados, manutenção dos discos e até o “esta- Os discos SSD operam como discos rígidos, porém
cionamento” das cabeças de leitura/gravação para com velocidade superior para leitura e gravação de
transporte do equipamento desligado. dados, por serem construídos com chips de memória.
Os discos são divididos, logicamente, em setores, Para os programas de backup, não muda nada.
trilhas e clusters. Um cluster é uma unidade de arma- Os discos rígidos e SSDs podem ter mais de uma
zenamento de dados, localizado em determinado partição, como letra C: e D:. Entretanto, copiar dados
setor do disco, em determinada trilha. da partição C: para a partição D: não é considerado
A divisão lógica de um disco rígido segue o como um backup.
padrão que foi definido para os primeiros discos fle- O primeiro motivo é que a origem e o destino estão
xíveis, com definição no momento da formatação ou no mesmo local, portanto, em caso de sinistro no disco
13 Existem modelos de disco rígido sem disco, como os SSD (Solid State Drive), que é uma memória flash, armazenamento eletrônico.
14 A memória flash permite que a troca de informação seja mais rápida e, quando o dispositivo é desligado, poderá voltar, rapidamente, para onde
284 estava antes.
de origem, perde-se a cópia de segurança na partição gravações e baixa capacidade, sendo fabricado por
de destino, que está no mesmo disco de origem. E o cerca de cinco anos pela Toshiba, sem adesão de mui-
segundo motivo é que as partições podem ser desfei- tos outros fabricantes.
tas com a mesma rapidez com que são criadas, através
do Gerenciamento de Discos do Windows. CAPACIDADE USO
Os Discos Rígidos possuem capacidades elevadas,
CD – COMPACT Usado para
de 240 GB (gigabytes, bilhões de bytes), 320 GB, 500 700 MB
DISC música
GB, 1 TB (terabyte, trilhão de bytes), 2 TB etc. Possuem
DVD – DIGITAL
um baixo custo de aquisição por megabyte se compa- 4.7 GB Usado para vídeo
VIDEO DISC
rados as outras mídias de armazenamento de dados
da atualidade. HD-DVD - HIGH
Usado para vídeo
DENSITY DIGITAL 15 GB
de alta definição
VERSATILE DISC
Disco Flexível
Usado para vídeo
BLU-RAY 25 GB
de alta definição
Com baixa capacidade e facilidade de manuseio, os
discos flexíveis ou disquetes foram muito populares até
meados dos anos 2000. Com novos meios de armazena- O CD veio para substituir as fitas cassetes de áudio
mento disponíveis, como os discos ópticos e os pendri- e os discos de vinil, com a gravação digital do áudio
ves, conectados em portas USB, eles caíram em desuso. em uma mídia durável de alta qualidade. Com capa-
A capacidade de armazenamento dos discos flexí- cidade de 700 MB e algumas características de cons-
veis era de 180KB (modelo 5 ¼ de face simples) até trução específicas, rapidamente se tornaram o padrão
2.88 MB (modelo 3 ½ de última geração). para distribuição de instaladores de softwares, substi-
Os discos ZIP (ZIP Drive) foram oferecidos no come- tuindo inúmeros disquetes.
ço dos anos 2000, com capacidade de 100 MB, operan- Os drives leitores de CD do final dos anos 90 eram
do de forma semelhante às fitas DAT, com cartuchos substituídos por drives gravadores de CD, permitindo
próprios para uso em leitoras dedicadas. Apesar de a gravação de áudio digital e arquivos em computa-
sua capacidade aumentada em relação ao disquete, dores domésticos equipados com o “kit multimídia”.
outras mídias de armazenamento já ofereciam maior Unidades 12x, 24x, 48x e 52x se popularizaram, indi-
espaço para dados se comparadas aos “disquetes ZIP”. cando, com os números, a velocidade de rotação do dis-
O armazenamento de dados em discos flexíveis co e, consequentemente, maior velocidade de leitura/
tornou-se impossível atualmente, pois as mídias dei- gravação em relação aos outros modelos semelhantes.
xaram de ser fabricadas e o tamanho dos arquivos
supera vários megabytes (milhões de bytes) facilmente TIPO USO
nos dias de hoje.
Gravado pelo distri-
Somente
CD ROM buidor de software ou
leitura
música

Poderia gravar uma vez,


CD R Gravável ou várias vezes de for-
ma incremental

Poderia gravar várias ve-


CD RW Regravável
zes, como um disquete

O DVD foi desenvolvido para substituir as fitas de


vídeo, com maior qualidade de imagem e som, per-
mitindo a inclusão de vários conteúdos extras. Assim
como os CDs, também existiram modelos ROM, R e RW
de mídia DVD.
Na época dos DVDs, as mídias removíveis do tipo USB
começaram a aparecer no mercado, oferecendo capaci-
Figura 7 – Disco flexível 3 ½ desmontado. dade semelhante ou superior aos DVDs. Pendrives com
512 MB (megabyte – milhão de bytes), 1 GB, 2 GB, 4 GB,
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Disco Óptico 8 GB, 16 GB etc, rapidamente, se tornaram os preferidos


dos usuários para o armazenamento portátil de dados
Com a popularização das mídias ópticas, especial- em detrimento das mídias ópticas do tipo DVD.
mente, por substituírem as fitas cassetes, os discos de O padrão HD-DVD oferecia gravação de dados em
vinil e as fitas de vídeo, com qualidade de imagem mídias ópticas com densidade superior ao DVD e próximo
superior, os usuários enxergaram a possibilidade de do Blu-Ray, mas nem chegou a “emplacar” no mercado.
reutilizá-los como cópias de segurança. O Blu-Ray foi desenvolvido para substituir o DVD,
No início dos anos 2000, CDs, DVDs e o Blu-Ray eram com maior capacidade de armazenamento de dados e
os queridinhos para o armazenamento de dados. Suas a possibilidade de gravações de vídeos em alta resolu-
durabilidade, rapidez para leitura e gravação e gran- ção (HD – High Definition), que ocupavam mais espaço
de capacidade (para os padrões da época) fizeram das que um CD poderia armazenar.
mídias ópticas as preferidas para a cópia de segurança. Ainda foram propostos outros novos padrões de
O HD-DVD usava luz azul-violeta e acabou sen- mídias ópticas, como o HVD (Holographic Versatile
do superado pelo Blu-Ray devido às restrições de Disc), mas a era dos discos refletivos já estava acabando. 285
Eles chegaram tarde, pois armazenavam 25 GB e z Faça as seleções desejadas e clique em “Salvar con-
os pendrives já estavam em 128 GB. Poucos usuários figurações”, para executar o backup;
utilizaram Blu-Ray em seus computadores, sendo z Iniciar o procedimento e, no caso das mídias removí-
mais usados em aparelhos leitores para a reprodução veis, acompanhar a cópia e trocar quando solicitado.
de filmes em alta resolução.
O armazenamento de dados em discos ópticos foi Windows 8
a opção ideal no momento errado. A demora na popu-
larização das mídias com o público e o surgimento de z Executar a ferramenta “Salvar cópias de backup”;
outras formas de armazenamento de maior praticidade z Habilitar a opção “Ativar Histórico de Arquivos”;
ou capacidade tornaram as mídias ópticas as preferi- z Excluir as pastas que não deseja que sejam copia-
das para o armazenamento de cópias de segurança por das para o backup;
quase uma década nas pequenas e médias empresas, z A cópia de segurança será realizada localmente e o
porém sem tanta utilização pelos usuários domésticos. usuário poderá recuperar os arquivos em “Históri-
co de Arquivos”;
BACKUP NO WINDOWS z Para cópia externa, usar backup de cópia (manual-
mente) ou outra ferramenta de terceiros.
O Windows é o sistema operacional da Microsoft
muito popular nos computadores pessoais. Desde a O Windows 8 oferece a ferramenta Imagem de Sis-
versão Windows XP, existe uma ferramenta nativa tema para criação de uma cópia de todos os dados do
para a realização de backup (cópia de segurança dos computador. É como um backup completo, mas; no
dados do usuário). momento da recuperação dos dados, não é possível
A seguir, veremos os procedimentos para a reali- escolher quais arquivos serão recuperados. A imagem
zação da cópia de segurança em diferentes versões do do sistema é uma cópia estática de todo o disco e será
sistema operacional. Os procedimentos básicos são os restaurada em sua totalidade.
mesmos, mudando um detalhe ou outro.
Confira: Windows 10

Windows XP z Acionar o menu Iniciar, item Configurações (ou


atalho de teclado Windows + I);
z Executar a ferramenta Utilitário de Backup (nt z Abrir a opção “Atualização e Segurança”;
backup.exe); z Executar a ferramenta “Backup”;
z Escolher o Assistente de Backup (para criação da z Habilitar a opção “Ligar backup automático”;
cópia de segurança); z Excluir as pastas que não deseja que sejam copia-
z Para recuperação dos arquivos, use a opção Assis- das para o backup;
tente de Restore; z Definir qual a periodicidade da cópia de segurança
z Definir o que será copiado: tudo, arquivos selecio- em “Fazer backup dos meus arquivos”;
nados, ou estado do sistema de backup (informações z Definir qual o prazo de validade da cópia de segu-
sobre o gerenciamento das cópias de segurança); rança em “Manter meus backups”;
z Escolher o destino (unidade de disco externa, z Para cópia externa, usar backup de cópia (manual-
removível ou remota); mente) ou outra ferramenta de terceiros.
z Escolher o nome para o arquivo (extensão BKF –
Backup File); O Windows 10 oferece a ferramenta Imagem de
z Iniciar o procedimento e, no caso das mídias removí- Sistema, como no Windows 8. Para recuperação dos
veis, acompanhar a cópia e trocar quando solicitado. dados, escolha “Restaurar versões anteriores”.
As ferramentas do Windows para a realização de
backup não trabalham com os conceitos de tipos de
A extensão BAK (Backup) é usada por programas
backup (completo, diferencial e incremental). Elas
instalados no computador para cópia de segurança,
copiam os dados que o usuário escolher ou todo o dis-
geralmente temporária, de arquivos que estão em co. Portanto, elas são ferramentas de backup completo
edição. ou personalizado, sem detalhes que poderiam distin-
guir uma cópia incremental ou diferencial.
Windows Vista
BACKUP NA INTERNET
z Executar a ferramenta Backup e Restauração;
z Escolher entre “Fazer backup de arquivos” ou “do Ao instalar alguma ferramenta de armazenamen-
computador inteiro”; to de dados na nuvem, como o Microsoft OneDrive, ou
z Escolher o destino (unidade de disco externa, o Google Drive, ou Dropbox, é possível associar pastas
removível ou remota); para serem copiadas para a Internet.
z Iniciar o procedimento e, no caso das mídias removí- Conforme estudado no tópico sobre as definições
veis, acompanhar a cópia e trocar quando solicitado. de outros tipos de backups, este será um backup do tipo
espelhamento, no qual os dados apagados da cópia na
Windows 7 nuvem a partir de um dispositivo serão refletidos nos
outros dispositivos conectados na mesma conta.
z Executar a ferramenta Backup e Restauração; As ferramentas oferecem espaço gratuito básico,
z Escolher Configurar backup; com capacidade entre 2 GB e 15 GB, podendo contra-
z Escolher o destino (unidade de disco externa, tar mais espaço de armazenamento com 1 TB ou 2
removível ou remota); TB de capacidade. O pagamento será por licença de
z Escolher entre “Deixar o Windows escolher” ou assinatura mensal ou anual, semelhante ao modelo de
286 “Deixar que eu escolha”; licenciamento do Office 365.
ARMAZENAMENTO DE DADOS NA NUVEM (CLOUD 6. (CEBRASPE-CESPE — 2021) A respeito de noções de
STORAGE) informática, julgue o item a seguir.

A fim de ofertar um material de estudos o mais Embora as apresentações elaboradas no Microsoft


didático e organizado possível, optou-se por não repe- PowerPoint suportem animações e áudios, ainda não
tir o conteúdo sobre ARMAZENAMENTO DE DADOS é possível exibir vídeos do YouTube nessas apresenta-
NA NUVEM (CLOUD STORAGE), tendo em vista que ções, mesmo que o computador utilizado tenha aces-
ele foi amplamente abordado no assunto REDES DE so à Internet.
COMPUTADORES, mais especificamente em COMPU-
TAÇÃO NA NUVEM (CLOUD COMPUTING). ( ) CERTO  ( ) ERRADO

7. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Acerca do editor de texto


LibreOffice Writer 7.1, do programa de correio eletrôni-
HORA DE PRATICAR! co Mozilla Thunderbird e da computação em nuvem,
julgue o item subsequente.
1. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Com relação ao Windo- No LibreOffice Writer 7.1, por meio do ícone , dis-
ws 10 e às suas ferramentas para gerenciamento de ponível na barra de ferramentas Padrão, o usuário
arquivos e diretórios, julgue o item que se seguem. pode inserir, no documento em edição, um caractere
especial, não disponível no teclado.
A partir do menu Iniciar, acessível por meio da barra de
tarefas ou da tecla , é possível visualizar uma lista ( ) CERTO  ( ) ERRADO
de ferramentas proprietárias, assim como aquelas ins-
taladas pelo usuário. 8. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Julgue o item a seguir,
que tratam de redes de computadores, suas ferramen-
( ) CERTO  ( ) ERRADO tas e procedimentos.

2. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Julgue o próximo item, Denomina-se cabo coaxial, em uma rede de comuni-
relativo ao sistema operacional Linux, a redes de com- cação, o tipo de mídia de comunicação que realiza a
putadores e ao programa de navegação Microsoft conexão entre pontos, é imune a ruídos elétricos e é
Edge. responsável pela transmissão de dados com capaci-
dade de largura de banda muito maior do que os pares
O Linux utiliza, em seu terminal, os prompts padroni- trançados.
zados # e $ para, respectivamente, o usuário root e
outros usuários. ( ) CERTO  ( ) ERRADO

( ) CERTO  ( ) ERRADO 9. (CEBRASPE-CESPE — 2021) A respeito de redes de


computadores, sítios de pesquisa e busca na Internet,
3. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Julgue o próximo item, computação em nuvem e redes sociais, julgue o item
relativo a edição de textos, planilhas e apresentações. a seguir.

No Microsoft Word 365, a configuração que impede Em uma comunicação TCP/IP entre dois computa-
que a última linha de um parágrafo apareça na parte dores, não há controle de envio e recebimento de
inferior de uma página é conhecida como Estilo de pacotes, uma vez que esse modelo de transmissão é
parágrafo. considerado não orientado a conexão.

( ) CERTO  ( ) ERRADO ( ) CERTO  ( ) ERRADO

4. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Julgue o seguinte item, 10. (CEBRASPE-CESPE — 2022) A respeito do navegador
relativos a tecnologias, ferramentas, aplicativos e pro- Firefox, julgue o item a seguir.
cedimentos associados à Internet e intranet.
Caso mais de uma aba esteja aberta no navegador
No Word do Office 365, o recurso controlar alterações é Firefox, é possível encerrar uma delas por meio de cli-
limitado à visualização das alterações realizadas, sem que do mouse ou por meio de atalho com o teclado.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

que se possa removê-las ou torná-las permanentes.


( ) CERTO  ( ) ERRADO
( ) CERTO  ( ) ERRADO
11. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Acerca do navegador
5. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Considerando o Micro- Chrome, julgue o item a seguir.
soft Office 365, julgue o item seguinte.
O Chrome tem a capacidade de carregar uma página
No Excel, a função XLOOKUP é capaz de encontrar favorita, quando o usuário abre o navegador pela pri-
informações em um intervalo de linhas, mas, caso não meira vez no computador.
encontre a combinação desejada, poderá retornar fal-
so, por isso, para retornar o valor aproximado da com- ( ) CERTO  ( ) ERRADO
binação, deve ser usada a função CONT.SE.

( ) CERTO  ( ) ERRADO


287
12. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Julgue o próximo item, rela- Um firewall, mesmo o do tipo simples, garante a pro-
tivo ao sistema operacional Linux, a redes de computa- teção contra todas as modalidades de ataques de
dores e ao programa de navegação Microsoft Edge. computador; por isso, ele é um dos aplicativos de
segurança mais confiáveis que existem.
O Microsoft Edge, em sua versão mais atual, disponi-
biliza recurso que faz a leitura do texto de uma página ( ) CERTO  ( ) ERRADO
da Web em voz alta.
19. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Julgue o item seguinte,
( ) CERTO  ( ) ERRADO relativos a organização de arquivos e suas premissas
de segurança.
13. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Acerca do editor de texto
LibreOffice Writer 7.1, do programa de correio eletrôni- A heurística é um dos métodos de detecção das fer-
co Mozilla Thunderbird e da computação em nuvem, ramentas antimalware — como antivírus, antirootkit e
julgue o item subsequente. antispyware — que se baseiam nas estruturas, instru-
ções e características que o código malicioso possui
Recomendações é um dos painéis disponíveis no para identificá-lo.
gerenciador de extensões do Mozilla Thunderbird, em
sua versão mais atual. ( ) CERTO  ( ) ERRADO

( ) CERTO  ( ) ERRADO 20. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Julgue o próximo item,


acerca de conhecimentos de informática.
14. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Com relação a computa-
ção em nuvem, julgue o item a seguir. O backup incremental caracteriza-se pela cópia de
todos os dados alterados ou criados desde o último
Uma solução de software como o Microsoft Office backup completo.
365, que pode ser acessado pela Web, a partir de login
e senha em formato de assinatura com pagamentos ( ) CERTO  ( ) ERRADO
mensais, é denominada SaaS (Software as a Service).
9 GABARITO
( ) CERTO  ( ) ERRADO

15. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Julgue o próximo item, a 1 CERTO


respeito de Internet e intranet.
2 CERTO
Considere que a sintaxe “velocidade do jaguar” –carro 3 ERRADO
tenha sido utilizada em uma pesquisa no Google. Nes-
se caso, serão mostrados resultados que contenham 4 ERRADO
a frase velocidade do jaguar, com essa correspondên-
5 ERRADO
cia exata, sem a palavra carro.
6 ERRADO
( ) CERTO  ( ) ERRADO
7 CERTO
16. (CEBRASPE-CESPE — 2021) A respeito de redes de
8 ERRADO
computadores, sítios de pesquisa e busca na Internet,
computação em nuvem e redes sociais, julgue o item 9 ERRADO
a seguir.
10 CERTO
O LinkedIn é uma solução que proporciona a criação
11 CERTO
de conexões entre pessoas e empresas, para busca e
oferta de empregos, por isso não é considerado uma 12 CERTO
rede social.
13 CERTO
( ) CERTO  ( ) ERRADO
14 CERTO
17. (CEBRASPE-CESPE — 2021) No que se refere à segu- 15 CERTO
rança da informação, julgue o item a seguir.
16 ERRADO
Códigos maliciosos capazes de capturar tudo o que 17 ERRADO
for digitado no teclado do usuário são conhecidos
como rootkits. 18 ERRADO

( ) CERTO  ( ) ERRADO 19 CERTO

20 CERTO
18. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Julgue o item seguinte, a
respeito de organização e de gerenciamento de arqui-
vos, pastas e programas, dos aplicativos para segu-
rança da informação e dos procedimentos de becape.
288
Conceito Analítico de Crime

Do ponto de vista analítico, diferentes doutrinado-


res enxergam o crime de formas diferentes. Existem

NOÇÕES DE DIREITO várias correntes, mas as principais são duas:

PENAL E PROCESSUAL z A que entende que o crime é Fato Típico + Antijurí-


dico (concepção bipartida), sendo a culpabilidade
pressuposto de aplicação da pena (entre eles René
PENAL Ariel Dotti, Fernando Capez, Damásio de Jesus,
Julio Fabrini Mirabete, Cleber Masson);
z A que concebe o crime como um Fato Típico+
Antijurídico + Culpável (concepção tripartida
ou tripartite) e que é majoritária tanto no Brasil
INFRAÇÃO PENAL quanto no exterior. Entre seus adeptos estão tanto
aqueles que adotam a teoria da conduta finalista
TEORIA GERAL DO CRIME (como Heleno Fragoso, Eugenio Raúl Zaffaroni,
Luiz Regis Prado, Rogério Greco, entre outros) ou
Nomenclatura causalista (Nélson Hungria, Frederico Marques,
Aníbal Bruno e Magalhães Noronha).
A doutrina brasileira utiliza o termo infração de
forma genérica, para englobar os crimes ou delitos e Diferença entre Crime e Contravenção
as contravenções.
O Código Penal não utiliza em seu texto a expres- Antes de prosseguir com o estudo do crime, é inte-
são “delito”, optando por utilizar as expressões infra- ressante fazer a distinção entre crime e contravenção
ção, crime e contravenção, sendo que estas duas penal (também chamada de crime anão, delito Lilipu-
últimas estão incluídas na primeira. tiano, crime vagabundo ou delitti nani).
No Código de Processo Penal há certa confusão: Existem países que utilizam a classificação tripar-
algumas vezes usa-se o termo infração, de forma tida de infrações penais: delitos, crimes e contraven-
genérica, incluindo os crimes (ou delitos) e as contra- ções. O Brasil adota, como já vimos, a classificação
venções (veja, por exemplo, os arts. 70, 72, 74, 76, 77 bipartida, que divide as infrações entre crimes (ou
etc.). Em outras situações, emprega a expressão deli- delitos) e contravenções.
tos como sinônimo de Infração (por exemplo, confor- Não existe um dado único que faça a distinção
me consta nos arts. 301 e 302, CPP). entre os dois tipos de infração penal. Tanto os crimes
Para os fins do nosso estudo temos, então que quanto as contravenções configuram comportamen-
Infração Penal pode significar crime (ou delito) e tos que violam mandamentos legais que possuem
contravenção penal. como sanção a aplicação de uma pena. A grande dis-
As diferenças entre crime e contravenção serão tinção é a maior ou menor gravidade com que a lei vê
vistas mais adiante. tais condutas.
No entanto, existem outros elementos que ajudam
Conceito de Crime na distinção.
Em relação às penas: os crimes são punidos com
O conceito de crime não é natural e sim algo arti- penas privativas de liberdade (reclusão ou detenção),
ficial, criado pelo legislador tendo em vista os interes- restritivas de direitos e multa; já as contravenções são

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


ses da sociedade. Mas o que é crime? punidas com prisão simples e/ou multa.
Podemos responder essa pergunta de três formas Com relação ao elemento subjetivo: no crime é o
diferentes, olhando para o crime sob diferentes aspec- dolo ou a culpa; na contravenção é a voluntariedade.
tos: material, formal e analítico. Por último, é possível a tentativa nos crimes,
Veremos o conceito de crime de acordo com cada enquanto ela é incabível nas contravenções.
um desses pontos de vista:
ESPÉCIES
z Aspecto material: é o juízo, a visão que a socie-
dade tem sobre o que pode e deve ser proibido Qualificação é o nome que se dá ao fato ou a infra-
por meio da aplicação de sanção penal. Sob esse ção, seja pela doutrina ou pela lei. Assim, temos:
aspecto, o conceito material de crime consiste
na conduta que ofende um bem juridicamen- z É o nome que a lei dá (nomen juris). Por exemplo,
te tutelado (bem juridicamente considerado “ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem”
essencial para a existência da própria sociedade e é chamada pelo art. 129, CP, de “lesão corporal”;
manutenção da paz social); z São os nomes dados pela doutrina aos fatos crimi-
z Aspecto formal: é a concepção sob a ótica do direito. nosos. Por exemplo: crime de mera conduta, crime
Assim, o conceito formal de crime constitui uma permanente, crime próprio etc.);
conduta proibida por lei, que se realizada, resul- z É o nome dado à modalidade a que o fato pertence:
ta na aplicação de uma pena. Considera-se crime, crime ou contravenção. Por exemplo, “homicídio” é
dessa forma, o que o legislador apontar como tal; crime, enquanto o “jogo do bicho” é contravenção.
z Por fim, o conceito que interessa aos nossos estu-
dos: sob o aspecto analítico, procura-se apontar, A classificação doutrinária dos crimes serve para
estabelecer os elementos estruturais do crime. facilitar o estudo e o entendimento dos tipos penais
Vejamos: incriminadores. 289
No entanto, existem muitos nomes, ficando difícil de responsabilizar seu subordinado quando
fazer uma classificação definitiva, uma vez que os estu- este cometeu alguma infração no exercício do
diosos do Direito Penal, ao sistematizarem a matéria, cargo (condescendência criminosa);
acabam por criar novas nomenclaturas. „ Omissivos impróprios ou Comissivos por
As principais são: omissão: são os delitos de ação, praticado de
forma excepcional por omissão (nos casos em
z Crimes Comuns e Especiais: são os definidos no que o agente tem o dever jurídico de impedir o
Direito Penal Comum; os especiais são os descri- resultado e não o faz — § 2º, art. 13 CP).
tos no Direito Penal Especial;
z Crimes Comuns (quanto ao agente) e Próprios: Art. 13 […]
crime comum é aquele que pode ser praticado por § 2º A omissão é penalmente relevante quando o
qualquer pessoa (furto, homicídio etc.). Crime pró- omitente devia e podia agir para evitar o resultado.
prio é o que só pode ser cometido por um agente O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou
com qualidades especiais (uma condição jurídica,
vigilância;
como ser funcionário público; de parentesco, como
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de
mãe, filho; profissional, como médico; ou natural,
impedir o resultado;
como no caso da gestante. c) com seu comportamento anterior, criou o risco
da ocorrência do resultado.
Dentro do contexto dos crimes próprios há uma
categoria chamada crimes de mão própria ou de „ Omissivos por comissão: trata-se de uma
atuação pessoal, que são os que só podem ser cometi- prática rara na doutrina brasileira. Os crimes
dos pelo agente em pessoa, de forma direta, como, por omissivos por comissão são aqueles em que um
exemplo, no caso de falso testemunho (a testemunha indivíduo age com o fim de impedir que alguém
não pode mentir por meio de outro sujeito). O crime de
pratique um ato que salvaria o bem jurídico, ou
mão própria admite participação, mas não coautoria;
seja, causa dolosamente a omissão de terceiro.
z Crimes de Dano e de Perigo: crime de dano é o
z Crimes Instantâneos, Permanentes e Instantâ-
que apenas se consuma quando ocorre a efetiva
neos de Efeitos Permanentes
lesão ao bem jurídico (como no homicídio, nas
lesões corporais). Crime de perigo é o que se consu-
„ Crime instantâneo é aquele que se consuma
ma com a mera possibilidade do dano (como, por
imediatamente, em momento determinado,
exemplo, na rixa, art. 137, CP, e no incêndio, art.
sem prolongamento (Ex.: furto);
250, CP).
„ Crime permanente é aquele no qual a con-
Os crimes de perigo, por sua vez, subdividem-se em: sumação prolonga-se no tempo (Ex.: extorsão
mediante sequestro);
„ Crime de perigo presumido (ou abstrato) e „ Crime instantâneo de efeitos permanentes
crime de perigo concreto: No presumido ou é aquele em que a consumação também ocor-
abstrato o perigo é presumido pela lei. Basta a re em momento determinado, mas os efeitos
ação ou omissão (exemplo, art. 135, CP; art. 306, da consumação têm efeitos duradouros (Ex.:
CTB, e arts. 14 ao 16, do Estatuto do Desarma- homicídio, aborto).
mento). Já o concreto depende de prova efetiva
de perigo (exemplo, no crime de exposição ou Existe uma série de outras classificações, como
abandono de recém-nascido, art. 134, CP); crime continuado e delito putativo, por exemplo, que
„ Crime de perigo individual e crime de perigo serão vistas ao tratar de outros temas mais à frente.
comum (coletivo). Perigo individual é o que
coloca em risco de dano o bem jurídico de uma ELEMENTOS
só pessoa ou de grupo determinado de pessoas
(por exemplo, perigo de contágio venéreo, art. Sistemas Penais
130, CP). Já no perigo comum ou coletivo o risco
atinge um número indeterminado de pessoas O conceito analítico de crime, que é o que nos inte-
(como no delito de incêndio, art. 250, CP). ressa no presente estudo, apresenta várias concepções
diferentes sobre sua estrutura, elementos e maneira
z Crimes Comissivos e Omissivos: crime comissivo como esses elementos interagem entre si.
é aquele que implica em uma ação, um fazer do Dentre essas diferentes teorias, o Código Penal
sujeito; já o crime omissivo, caracteriza-se por um adotou a teoria finalista, de modo que, conforme
não-fazer. veremos a seguir, é imprescindível a presença do
dolo ou da culpa a fim de que se configure uma
Dividem-se nas seguintes modalidades: conduta penalmente relevante.
Concebida nos anos 1930 por Hans Welzel, um
„ Omissivos próprios ou puros: são os descri- alemão jurista e filósofo do direito, foi adotada no
tos por uma conduta negativa (conduta de não Brasil por doutrinadores como Damásio E. De Jesus,
fazer). É uma conduta tipificada que descreve Júlio Fabrinni Mirabete e Miguel Reale Júnior, dentre
um comportamento negativo no núcleo do tipo outros penalistas.
penal. Não é possível a tentativa. Exemplos Para a teoria finalista, também chamada de “teo-
de crimes omissivos próprios: comete crimes ria final”, “finalismo penal”, “teoria finalista da ação”
omissivos puros aqueles que não prestam assis- ou, ainda, “teoria da ação finalista”, o crime é fato
tência à pessoa ferida (omissão de socorro), típico (seus elementos são: conduta, dolosa ou cul-
290 comete crime também o funcionário que deixa posa; resultado naturalístico; relação de causalidade
ou nexo causal; e tipicidade), ilícito (antijurídico) e Existem várias nomenclaturas em lei para se refe-
culpável (imputabilidade; exigibilidade de conduta rir ao sujeito ativo:
diversa e potencial consciência da ilicitude).
Fator importante a ser lembrado quando se fala nes- z “Agente” (por exemplo, no inciso II, art. 14; art. 15;
ta teoria é que o dolo e a culpa integram o fato típico. incisos I e II, art. 18; art. 19; § 3º, art. 20; parágra-
Assim, segundo a teoria finalista, o conceito analí- fo único, art. 21; caput e parágrafo único, art. 23;
tico de crime é composto pelos seguintes elementos: caput e parágrafo único, art. 26, todos do CP);
z “Indiciado”, na fase do inquérito;
z Fato Típico z “Acusado”, “denunciado”, “réu”, durante a fase
processual;
„ Conduta; z “Sentenciado”, “preso”, “condenado”, “detento” ou
„ Resultado; “recluso”, para aqueles que já foram condenados.
„ Nexo causal;
„ Tipicidade. Usa-se, ainda, sob o ponto de vista biopsíquico, as
expressões “criminoso” ou “delinquente”.
z Antijurídico (ou ilícito) Por outro lado, sujeito passivo é entendido como
o titular do bem jurídico protegido, cuja ofensa funda-
„ Contrariedade ao ordenamento jurídico. menta o crime. Existem duas espécies:

z Culpabilidade: Juízo de reprobabilidade formado z Sujeito passivo formal, constante, geral ou gené-
pela: rico: é o Estado;
z Sujeito passivo material, eventual, particular ou
„ Imputabilidade; acidental: o titular do interesse protegido penal-
„ Exigibilidade de conduta diversa; mente (pode ser o ser humano, pessoa jurídica, a
„ Potencial consciência da ilicitude. coletividade ou o Estado).
Estudaremos agora os elementos do crime, de for- É importante salientar que pessoa incapaz pode
ma separada, assim como suas causas de exclusão. ser sujeito passivo do crime (recém-nascido, menor
em idade escolar, portador de deficiência mental etc.).
É possível ser sujeito passivo mesmo antes de nascer,
pois o feto tem direito à vida, bem jurídico protegido
SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO pela punição do aborto (arts. 124, 125 e 126, CP). Pes-
soa morta e animais não podem ser sujeitos passivo,
DA INFRAÇÃO PENAL pois não são titulares de direitos (podem ser objetos
materiais; a titularidade é de outros: família, coletivi-
Sujeitos do Crime dade etc.). Aproveitando que mencionamos objeto do
crime, guarde:
Antes de analisarmos os elementos do crime, é
importante fixar alguns conceitos sobre os sujeitos do z Objeto jurídico consiste no bem ou interesse tute-
crime. lado pela norma penal (como vida, patrimônio,
Sujeito ativo é quem pratica o fato descrito na nor- honra etc.);
ma penal incriminadora. O crime é uma ação huma- z Objeto material é a pessoa ou coisa sobre a qual
na, sendo que apenas o ser humano pode delinquir. recai a conduta criminosa (por exemplo a coisa
Animais e entes inanimados não possuem capacidade móvel, no furto).

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


penal (conjunto de condições necessárias para que
um sujeito possa ser titular de direitos e obrigações
na esfera penal).
TIPICIDADE, ANTIJURIDICIDADE,
CULPABILIDADE
Importante!
A Constituição Federal prevê no § 5º, art. 173, e § FATO TÍPICO
3º, art. 225, que a legislação ordinária estabeleça Não importa a posição adotada, bipartite (Crime =
a punição da pessoa jurídica nos atos cometidos Fato Típico + Antijurídico) ou tripartite (Crime = Fato
contra a economia popular, a ordem econômi- Típico + Antijurídico + Culpável) o primeiro elemento
ca e financeira e o meio ambiente. Atualmente (requisito, característica) do conceito analítico de cri-
apenas a Lei nº 9.605, de 1998, Lei de Proteção me é o fato típico.
Ambiental, prevê essa responsabilidade. Ou seja, O fato típico possui 4 elementos:
a pessoa jurídica responde por crime ambientais.
z Conduta dolosa ou culposa;
De acordo com o entendimento jurisprudencial, z Nexo de causalidade (exceto nos crimes de mera
é possível a responsabilização penal da pessoa conduta e nos formais);
jurídica por delitos ambientais independente- z Resultado (salvo nos crimes de mera conduta);
mente da responsabilização penal da pessoa físi- z Tipicidade.
ca. Não é adotada a teoria da dupla imputação.
Dos 4 elementos do fato típico, 2 deles, a conduta
e a tipicidade, são obrigatórios. Em alguns casos, não
são necessários o nexo de causalidade e o resultado. 291
No caso dos crimes materiais (como já vimos, que II - culposo, quando o agente deu causa ao resul-
é aquele que descreve uma conduta + um resultado tado por imprudência, negligência ou imperícia.
naturalístico e, para que o crime ocorra, é preciso que Parágrafo único. Salvo os casos expressos em lei,
aconteça o resultado descrito na norma), são neces- ninguém pode ser punido por fato previsto como
sários os 4 elementos para que se configure o crime, crime, senão quando o pratica dolosamente.
como, por exemplo, no caso do homicídio:
Veremos, agora de forma separada, o dolo e a cul-
pa, que são os elementos subjetivos da conduta.
CONDUTA
Uma facada NEXO CAUSAL
(por exemplo) Relação RESULTADO Importante!
de causa e TIPICIDADE Não existe crime sem dolo ou culpa (princípio da
Sendo crime
efeito entre a material, Adequação responsabilidade subjetiva).
facada (ação) requer o entre o fato
e o resultado resultado, no Os crimes, em geral, são dolosos e, excepcional-
praticado e a
(morte) caso a morte previsão legal: mente, culposos (apenas quando a lei, de forma
Art. 121, CP expressa, determinar).
(Matar alguém)

Dolo
No entanto, em alguns casos, vão bastar apenas a
conduta e a tipicidade. Isso ocorre nos crimes formais Podemos definir dolo como sendo a vontade de
(que dispensam a ocorrência do resultado, que é mero produzir o resultado típico.
exaurimento; ou ainda, nem o preveem, fazendo com No dolo direito (ou imediato ou determinado)
que seja desnecessário verificar o nexo causal), como existe a intenção do agente de ofender o bem jurídi-
no exemplo a seguir: co. Exemplo: querendo a morte da vítima, o atirador
desfere um tiro fatal.
Já no dolo indireto ou eventual, o sujeito assume
CONDUTA o risco de produzir o resultado.
Exigir que NEXO CAUSAL A diferença relevante está entre o dolo direito e o
se assine Não é RESULTADO eventual. Mas existem outras classificações de dolo,
um contrato necessário Não é
TIPICIDADE sem muita utilidade. Dentre essas, cabe mencionar o
favorável ao necessário Adequação dolo alternativo, que pode aparecer em algum enun-
autor, sob ciado de questão.
entre o fato
ameaça
praticado e a Dolo alternativo configura-se quando o agente
previsão legal: age com indiferença, buscando um resultado ou outro
Art. 158, CP
(não se trata de uma forma independente de dolo).
(Extorsão)
Exemplo de dolo alternativo é o do agente que encon-
tra uma carteira em um banco de praça e a leva para
Conduta casa, pouco se importando se alguém a esqueceu ali
ou é de alguém que se encontra brincado com o filho
A conduta é toda ação ou omissão humana, cons- no parque que fica dentro da praça. Neste caso, pode
ciente e voluntária, dirigida a determinada finalidade. ter praticado o crime de furto (art. 155, CP) ou de apro-
A conduta pode se realizar: priação de coisa achada (inciso II, art. 169, CP).
São elementos do dolo:
z Por uma ação (um fazer, um comportamento
positivo); z Consciência da conduta e do resultado;
z Por uma omissão (um não fazer, uma abstenção). z Consciência da relação causal objetiva entre a
conduta e o resultado;
Existem várias teorias que tratam da definição z Vontade de realizar a conduta e de produzir o
da conduta criminosa; é essencial conhecer a Teoria resultado.
Finalista da Conduta, elaborada por Hans Welzel e Culpa
sobre a qual já mencionamos. Para a teoria finalista,
adotada pelo CP, como vimos, a conduta precisa ser A culpa, por sua vez, não exige a intenção do agen-
ou dolosa ou culposa, ou seja, dolo e culpa, integram te de agredir a norma, mas ele acaba agindo de forma
o Fato Típico (estão dentro da conduta, que é um de descuidada para com o bem jurídico.
seus elementos). No crime culposo, o resultado ilícito não é deseja-
Mas o que são dolo e culpa? do, mas é previsível e poderia ter sido evitado. Deste
Ainda dentro do estudo da conduta, vamos estabe- modo, o agente não deseja o resultado, nem assume
lecer os conceitos de dolo e de culpa, essenciais para o risco de produzi-lo, mas não age com a responsabi-
o entendimento do próprio conceito de crime. Vamos, lidade necessária ao caso. Tal descuido se concretiza
em primeiro lugar, ao Código Penal verificar o que por meio da imprudência, negligência ou imperícia
está disposto sobre o dolo e a culpa. (espécies de culpa, conforme o inciso II, art. 18, CP):

Art. 18 Diz-se o crime: z Imprudência: é a forma ativa (positiva) de culpa,


Crime doloso em que o agente executa um comportamento sem
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou cautela (de forma precipitada ou com insensatez).
assumiu o risco de produzi-lo; Ex.: o sujeito que dirige em alta velocidade dentro
292 Crime culposo da cidade, onde há pedestres por todos os lados;
z Negligência: é a forma passiva (negativa) de cul- Exclusão de Ilicitude
pa, em que o agente deixa de agir, fica inerte, por
descuido ou desatenção, quando era necessário A antijuridicidade pode ser afastada por certas
agir de modo contrário. Ex.: não acionar o freio de causas, chamadas de “causas de exclusão da antijuri-
mão ao estacionar o veículo em uma ladeira; dicidade” ou “exclusão da ilicitude”. Na incidência de
z Imperícia: consiste na imprudência no campo uma delas, o fato permanece típico, mas não há cri-
técnico, pressupondo a falta de cautela relativa ao me: excluindo-se a ilicitude, e sendo ela um requisito
exercício de uma arte, um ofício ou uma profissão. do crime, fica excluído o próprio crime. Como conse-
Ex.: caso do médico que deixa de tomar os cuida- quência, o sujeito deve ser absolvido.
dos necessários quanto à assepsia antes de uma O art. 23, do CP, apresenta as causas de exclusão
cirurgia, o que acaba por causar uma infecção que da antijuridicidade:
provoca a morte do paciente.
Art. 23 Não há crime quando o agente pratica o fato:
I - em estado de necessidade;
Sempre nas questões que envolvem o dolo even-
II - em legítima defesa;
tual e culpa consciente, se fizermos uma leitura
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no
rápida, podemos ficar com dúvida. Portanto, vamos exercício regular de direito.
fazer a segunda leitura da questão e identificar as
palavras que diferenciam o dolo eventual da culpa
consciente.
Dica
Para facilitar seu estudo, memorize as causas
DOLO EVENTUAL CULPA CONSCIENTE de exclusão de ilicitude com o mnemônico Bru-
ce “LEEE”:
Prevê o resultado Prevê o resultado
� Legítima defesa;
Assume o risco do Acredita poder evitar o � Estado de necessidade;
resultado resultado � Estrito cumprimento de dever legal;
� Exercício regular de direito.
“Dane-se” “Danou-se”
Estado de Necessidade
TIPICIDADE
Art. 24 Considera-se em estado de necessidade
A tipicidade nada mais é do que a convergência, a quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que
cominação do fato no mundo com o tipo abstrato pre- não provocou por sua vontade, nem podia de outro
modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifí-
visto na lei. Por exemplo, o fato de eliminar a vida de
cio, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.
alguém encontra adequação ao previsto no art. 121,
§ 1º Não pode alegar estado de necessidade quem
CP, “matar alguém”.
tinha o dever legal de enfrentar o perigo.
As excludentes de tipicidade dividem-se em legais § 2º Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do
(quando expressamente previstas em lei) e suprale- direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de
gais (implicitamente previstas em lei). Podemos men- um a dois terços.
cionar como exemplos:
Conforme expressa o art. 24, CP, o estado de neces-
z De excludentes legais, o crime impossível (art. 17, sidade é a situação de perigo atual, que não foi provo-
CP); cada voluntariamente pelo agente, na qual ele viola o

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


z O impedimento de suicídio (§ 3º, art. 146); bem de outrem, para não sacrificar direito seu ou de
z Retratação no crime de falso testemunho (§ 2º, art. terceiros, sacrifício que não poderia razoavelmente
342). ser exigido.
Para que se configure:
Veja que elas não estão agrupadas em um único
artigo. z O perigo deve ser atual;
Por sua vez, como causas supralegais, podemos z Deve haver ameaça a direito próprio ou alheio,
citar o princípio da insignificância, já visto ante- cujo sacrifício não era razoável de se exigir;
riormente, e também a chamada adequação social z A situação não deve ter sido provocada pela von-
(comportamentos que são aceitos normalmente pela tade do agente;
sociedade e deixa de ser entendida como lesiva a z A situação deve ser inevitável de outro modo;
algum bem jurídico). z É necessário que o agente saiba que se encontra
em estado de necessidade (requisito subjetivo);
ANTIJURIDICIDADE (ILICITUDE) z Não deve haver o dever legal do agente de enfren-
tar o perigo (§ 1º, art. 24, CP).
A antijuridicidade, segundo requisito do crime,
consiste na contradição entre fato e o ordenamento O exemplo clássico é o de dois tripulantes de um
jurídico, resultando na lesão ao bem jurídico tutelado. navio que, após o naufrágio, dividem um único salva-
O fato típico, até prova em contrário, é um fato que, -vidas. Percebendo que vai afundar, um deles mata o
ajustando-se a um tipo penal, é antijurídico, a não ser outro com a finalidade de ficar com o salva-vidas para
que haja uma causa que o torne lícito. si só, salvando-se.

293
Legítima Defesa z Após a reação justa (meio e moderação), por impre-
vidência ou conscientemente continua desneces-
Art. 25 Entende-se em legítima defesa quem, usan- sariamente na ação. Estará agindo com excesso o
do moderadamente dos meios necessários, agente que intensifica demasiada e desnecessaria-
repele injusta agressão, atual ou iminente, a mente a reação inicialmente justificada. O excesso
direito seu ou de outrem. poderá ser doloso ou culposo. O agente responderá
Parágrafo único. Observados os requisitos previs- pela conduta constitutiva do excesso.
tos no caput deste artigo, considera-se também em
legítima defesa o agente de segurança pública que
repele agressão ou risco de agressão a vítima man-
tida refém durante a prática de crimes.
EXCLUDENTES DE ILICITUDE E DE
Constitui outra causa excludente de ilicitude, des- CULPABILIDADE
ta vez prevista no art. 25, CP. Encontra-se em legítima
defesa aquele que, utilizando os meios necessários As excludentes de culpabilidade podem ser divi-
com moderação, repele injusta agressão, atual ou imi- didas, para fins de estudo, em dois grupos: as que se
nente, a direito seu ou de terceiros. relacionam com o agente e as que dizem respeito ao
Para que se configure, é necessário haver: fato:

z Agressão injusta atual ou iminente, ou seja, pre- z Quanto ao agente do fato:


sente ou prestes a acontecer;
z Preservação de qualquer bem jurídico, próprio ou „ Existência de doença mental ou desenvolvi-
alheio (legítima defesa própria ou de terceiros); mento mental incompleto ou retardado (caput,
z Repulsa utilizando os meios necessários, de forma art. 26, CP);
moderada. „ Existência de embriaguez decorrente de vício
(caput, art. 26, CP);
Estrito Cumprimento do Dever Legal „ Menoridade (art. 27, CP).

Encontra-se na primeira parte, inciso III, art. 23, z Quanto ao fato (legais):
CP. Se o agente atua rigorosamente dentro do imposto
por norma legal, o comportamento não pode ser anti- „ Coação moral irresistível (art. 22, CP);
jurídico. É o caso do oficial de justiça que, cumprindo „ Obediência hierárquica (art. 22, CP);
determinação legal, realiza a apreensão de determi- „ Embriaguez decorrente de caso fortuito ou for-
nado bem de um cidadão. ça maior (§ 1º, art. 28, CP);
„ Erro de proibição escusável (art. 21, CP);
Exercício Regular de Direito „ Descriminantes putativas.
Está disposto na segunda parte, inciso III, art. 23,
z Quanto ao fato (supralegais):
CP. Da mesma forma que a anterior, não pode ser ilíci-
ta a conduta daquele que age estritamente exercendo
„ Inexigibilidade de conduta diversa;
direito seu.
„ Estado de necessidade exculpante;
Causas Supralegais de Exclusão da Antijuridicidade „ Excesso exculpante;
„ Excesso acidental.
Existem condutas consideradas justas pela cons-
ciência social que não se encontram previstas nas Doença Mental
causas de exclusão da antijuridicidade elencadas no
art. 23, CP. Nesse sentido, a doutrina aponta que o con- Doença mental pode ser conceituada como o qua-
sentimento do ofendido (fora das hipóteses em que o dro de alterações e doenças psíquicas que retiram
dissenso da vítima constitui requisito da figura típi- do indivíduo a faculdade de controlar e comandar a
ca) pode vir a excluir a ilicitude, caso se praticado em própria vontade. Importante esclarecer que a depen-
situação justificante, como é o caso do indivíduo que dência patológica, como a dependência de drogas,
tatua o corpo de outras pessoas, praticando conduta configura doença mental quando retira a capacidade
típica de lesões corporais, que, no entanto, são lícitas de entender ou querer.
se presente o consentimento do ofendido.
Desenvolvimento Mental Incompleto
Excesso Punível
Por desenvolvimento mental incompleto se
Ao reagir à agressão injusta que está sofrendo, ou entende as limitações na capacidade de compreensão
que está em vias de sofrer, em relação ao meio usado o da ilicitude do fato ou a incapacidade de se autodeter-
agente pode encontrar-se em três situações diferentes: minar de acordo com o entendimento (precário) uma
vez que o sujeito ainda não atingiu maturidade (seja
z Usa-se de um meio moderado e dentro do neces- física ou mental). São causas:
sário para repelir à agressão. Haverá necessaria-
mente o reconhecimento da legítima defesa; z A menoridade: os menores de 18 anos, em razão de
z De maneira consciente, emprega um meio desne- não sofrerem sanção penal pela prática de ilícito
cessário ou usa imoderadamente o meio necessá- penal, em decorrência da ausência de culpabilida-
rio. A legítima defesa fica afastada se for excluído de, estão sujeitos ao procedimento medidas sócio
294 um dos seus requisitos essenciais; educativos prevista no ECA;
z Características pessoais do agente, como a falta de z Consequencial: perda total da capacidade de
convivência social (surdo que ainda não aprendeu entender ou da capacidade de querer.
a se comunicar).
Dispõe o Código Penal:
Desenvolvimento Mental Retardado
Art. 26 É isento de pena o agente que, por doença men-
Configura aqui o indivíduo que tem uma capacida- tal ou desenvolvimento mental incompleto ou retarda-
de que não corresponde às experiências para aquele do, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente
momento de vida, o que significa que a plena poten- incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
cialidade jamais será atingida. Os inimputáveis aqui determinar-se de acordo com esse entendimento.
tratados não possuem condições de entender o crime Redução de pena
que cometeram. Parágrafo único. A pena pode ser reduzida de um
Como acabamos de ver, ao menor de 18 anos se a dois terços, se o agente, em virtude de perturba-
aplicam regras próprias. Ao completar 18 anos, a lei ção de saúde mental ou por desenvolvimento men-
presume que todos os indivíduos são imputáveis. tal incompleto ou retardado não era inteiramente
Porém, tal presunção é relativa, ou seja, é passível de capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
aferição. Assim, existem três possíveis critérios para a determinar-se de acordo com esse entendimento.
verificação da inimputabilidade: Menores de dezoito anos
Art. 27 Os menores de 18 (dezoito) anos são penal-
z Sistema psicológico: o que interessa é somente o mente inimputáveis, ficando sujeitos às normas
momento da ação ou omissão delituosa, se ele tinha estabelecidas na legislação especial.
ou não condições de avaliar o caráter criminoso do Emoção e paixão
fato e de orientar-se de acordo com esse entendi-
mento, ou seja, o momento da prática do crime. A No caso de embriaguez acidental completa, temos:
emoção não exclui a imputabilidade. A pessoa que
comete crime com integral alternação de seu estado Art. 28 Não excluem a imputabilidade penal:
físico-psíquico responde pelos seus atos; I - a emoção ou a paixão;
z Sistema biológico: interessa saber se o agente é Embriaguez
portador de alguma doença mental ou desenvolvi- II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool
mento mental incompleto ou retardo, caso positi- ou substância de efeitos análogos.
§ 1º É isento de pena o agente que, por embria-
vo, é considerado inimputável;
guez completa, proveniente de caso fortuito ou
z Sistema biopsicológico: exige-se que a causa
força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão,
geradora esteja prevista em lei e que, além disso,
inteiramente incapaz de entender o caráter ilí-
atue efetivamente no momento da ação delituo-
cito do fato ou de determinar-se de acordo com
sa, retirando do agente a capacidade de entendi-
esse entendimento.
mento e vontade. Desta forma, será inimputável
§ 2º A pena pode ser reduzida de um a dois terços,
aquele que, em razão de uma causa prevista em lei
se o agente, por embriaguez, proveniente de caso
(doença mental, incompleto ou retardado), atue no
fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo
momento da pratica da infração penal sem capaci- da ação ou da omissão, a plena capacidade de
dade de entender o caráter criminoso do fato. entender o caráter ilícito do fato ou de deter-
minar-se de acordo com esse entendimento.
Somente há inimputabilidade se os três requisitos
estiverem presentes, sendo exceção aos menores de A embriaguez admite qualquer meio probatório. É

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


18 anos, regidos pelo sistema biológico.
adotado o critério psicológico.
Já na embriaguez acidental fortuita, decorrente
IMPUTABILIDADE PENAL
de caso fortuito ou de força maior, que ocorre, por
exemplo, quando o agente não conhece o caráter
Questões Importantes sobre Inimputabilidade
alcoólico da bebida ou o agente é forçado a ingerir a
bebida, adota-se o critério psicológico. Porém, não
A inimputabilidade do acusado é fornecida pelo
basta estar embriagado fortuitamente.
exame pericial feito pelo médico legal, exame que é
Deve-se analisar se ao momento da ação ou omis-
denominado “incidente de insanidade mental”, em
são o agente era totalmente incapaz de entender o
que se suspende o processo até o resulto final. Há
prazo de 10 dias para provar a existência da causa caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo
excludente da culpabilidade (Lei nº 11.719, de junho com esse entendimento.
de 2008). A embriaguez pode ser completa (§ 1º, art. 28, CP),
Os requisitos biopsicológicos da inimputabilidade quando o agente é inteiramente incapaz de entender
são: o caráter ilícito do fato, e pode ser embriaguez incom-
pleta (§ 2º, art. 28, CP), quando o agente não possuía a
z Somente há inimputabilidade se os três requisitos plena capacidade de entender o caráter ilícito, ou seja,
estiverem presentes, sendo exceção aos menores não era inteiramente incapaz (possui um mínimo de
de 18 anos, regidos pelo sistema biológico; capacidade e determinação.
z Causal: existencial de doença mental ou de desen- Posto isso, teremos duas possibilidades:
volvimento incompleto ou retardado, causas pre-
vistas em lei; z Embriaguez completa = isenção de pena;
z Cronológico: atuação ao tempo da ação ou omis- z Embriaguez incompleta = redução de pena de 1/3
são delituosa; a 2/3. 295
A embriaguez patológica deve ser tratada como Para configurar concurso de pessoas em crimes
doença mental, regida pelo art. 26, CP. unissubjetivos, é necessário que todos os agentes
Já na embriaguez preordenada, o agente embria- sejam culpáveis. Se um agente não for culpável, não
ga-se para encorajar-se a praticar o crime. Será punido haverá concurso de pessoas, e sim autoria mediata.
pelo crime doloso cometido e terá a pena aumentada. Portanto, não será concurso de pessoas, por exem-
Aplicação da agravante genérica, alínea “l”, inciso II, plo, se o agente (imputável) encomenda a morte da
art. 61 do CP. vítima a um menor de 18 anos (inimputável). Será
caso de autoria mediata pelo fato de o agente impu-
tável utilizar o inimputável como instrumento para a
prática do delito.
Sendo assim, lembre-se que no Concurso de pes-
CONCURSO DE PESSOAS soas em crimes unissubjetivos é necessário:
DEFINIÇÃO
z Adequação típica;
z Agentes culpáveis.
O Código Penal define o concurso de pessoas no
caput do art. 29:
Nos crimes plurissubjetivos, como o próprio
nome indica, são os delitos que só podem ser pratica-
Art. 29 Quem, de qualquer modo, concorre para o
dos por duas ou mais pessoas, denominados crimes
crime incide nas penas a este cominadas, na medi-
de concurso necessário.
da de sua culpabilidade.
O tipo penal exige a pluralidade de pessoas e não
[...]
necessita de norma de extensão. Por exemplo: o Códi-
go Penal tipifica no art. 288 o delito de associação cri-
Guilherme Nucci (2018) diz que concurso de pes-
minosa, que exige 3 ou mais pessoas.
soas é a cooperação desenvolvida por várias pessoas
É necessário que apenas um agente seja culpável.
para o cometimento de uma infração penal. Tal coo-
Aproveitando o exemplo acima, no caso de associa-
peração pode se dar por meio de coautoria, participa-
ção criminosa, se um agente é culpável e os demais
ção, concurso de delinquentes, concurso de agentes e
agentes são inimputáveis (não podem ser culpados),
cumplicidade.
será um caso de concurso de pessoas em crimes pluris-
Podemos dizer que há concurso de pessoas quan-
subjetivos, ou seja, basta que um agente seja culpável.
do dois ou mais agentes concorrem para a prática do
Nos crimes eventualmente plurissubjetivos,
mesmo crime ou contravenção.
podemos chamá-lo também de pseudoconcurso, con-
curso impróprio ou concurso aparente, o delito pode
REQUISITOS ser praticado por uma pessoa, mas tem a pena aumen-
tada quando praticados em concursos de pessoas.
São requisitos do concurso de pessoas: Vejamos, o crime de furto pode ser praticado por
um único agente, mas há a modalidade de furto qua-
z Pluralidades de agentes; lificado mediante concurso de dois ou mais agentes.
z Conduta relevante; No caso de crimes eventualmente plurissubjetivos,
z Vínculo subjetivo; também basta que um agente seja culpável. Seguin-
z Unidade de crime. do o mesmo exemplo acima, se no furto qualificado
mediante concurso de pessoas um dos agentes é impu-
PLURALIDADE DE AGENTES tável e os demais agentes são inimputáveis, estaremos
diante de curso de pessoas em crimes eventualmente
O próprio nome, pluralidade de agentes, indica plurissubjetivos.
que a conduta criminosa é praticada por duas ou mais
pessoas. Parece simples, mas devemos estar muito Conduta Relevante
familiarizados com esse assunto quando tratamos de:
Neste requisito identifica-se que há pelo menos
z Crimes unissubjetivos; duas condutas penalmente relevantes.
z Crimes plurissubjetivos; O que devemos gravar na memória é que a contri-
z Crimes eventualmente plurissubjetivos. buição do partícipe deve ter influência sobre o resul-
tado, caso contrário, a participação é inócua.
Nos crimes unissubjetivos, o delito pode ser pra- Vamos ao exemplo:
ticado por um agente ou por dois ou mais agentes, o Conduta relevante: “A” se compromete a auxiliar
que chamamos de concurso eventual. “B” a fugir após o homicídio, concurso de pessoas no
Aqui, quando praticado em concurso (dois ou mais delito de homicídio, art. 121 do CP.
agentes) é necessária a adequação típica mediata. Conduta não relevante: “A” auxilia “B” a fugir após
É importante lembrar que adequação típica ime- o homicídio sem a comprometimento prévio, “A” pra-
diata ou indireta é quando para completar a tipici- tica favorecimento pessoal, art. 348 do CP e “B” pratica
dade é necessário conjugar o crime (tipo penal) com homicídio, art. 121 do CP.
uma norma de extensão.
Na tentativa, por exemplo, o agente tenta matar a Vínculo Subjetivo
vítima, e o art. 121 do CP (homicídio) é complementa-
do pelo inciso II, do art. 14, do CP (tentativa). Trata-se de nexo psicológico entre os agentes.
Na participação, por exemplo, o agente mata e víti- Sem o nexo psicológico, haverá vários crimes autô-
ma a pedido de outrem, e o art. 121 do CP (homicídio) nomos e, portanto, não é concurso de pessoas.
296 é conjugado com o art. 29 do CP (concurso de pessoa).
Vejamos o exemplo: Teorias do Autor
Paulo, em contato com Renata, afirma que preten-
de matar Ana, às 20h em determinado local. Laura, z Teoria subjetiva ou unitária: não diferencia o autor
inimiga de Ana, escuta a conversa e comparece ao do partícipe. Então, autor (e partícipe) é o agente que
local na hora indicada. Paulo ataca Ana, que conse- de qualquer modo contribui para a produção de um
gue se soltar e sai correndo. Laura, que estava atrás da resultado penalmente relevante. Temos por exemplo
árvore, derruba Ana e facilita a ação de Paulo. Ainda o art. 349 do CP, que dispõe, prestar a criminoso, fora
que Paulo e Laura não tenham acordado, Laura res- dos casos de coautoria ou de receptação, auxílio des-
ponderá como partícipe do homicídio porque aderiu tinado a tornar seguro o proveito do crime;
conscientemente à conduta de Paulo (Correia, 2018). z Teoria extensiva: não diferencia o autor do par-
tícipe, mas, traz a definição de cúmplice, o agente
Unidade de Crime que concorre de modo menos importante para o
resultado;
Em síntese, o Código Penal adotou a Teoria Monis- z Teoria objetiva ou dualista: diferencia autor e
ta, Unitária ou Igualitária. partícipe. Esta teoria se subdivide:
Isso significa que todos os agentes que concorrem
para o mesmo crime devem receber tratamento iguali- „ Teoria objetivo-formal (teoria restritiva):
tário no que diz respeito à classificação jurídica do fato. autor é quem realiza o núcleo do tipo penal
Há crime único e pluralidade de agentes. (“verbo”), ou seja, a conduta criminosa descri-
ta pelo preceito primário da norma incrimi-
nadora. Partícipe é quem de qualquer modo
z Crime único: se dois agentes praticam em concur-
concorre para o crime, sem praticar o núcleo
so o crime de roubo, não é possível que um agen-
do tipo. Vejamos o exemplo: autor do crime
te responda por roubo consumado e outro agente
de homicídio é o agente que efetua disparos
responsa por roubo tentado;
de revólver em alguém, matando-o. Partícipe
z Teoria Moderada: os agentes não receberão a mes-
é o agente que empresta a arma de fogo para a
ma pena; a aplicação da pena é individualizada de
finalidade da prática de homicídio.
acordo com a culpa de cada agente.
O art. 29 do Código Penal adotou essa teoria. Vejamos:
Autoria
Art. 29 Quem, de qualquer modo, concorre para o
Existem ainda três teorias sobre o concurso de crime incide nas penas a este cominadas, na medi-
pessoas: da de sua culpabilidade.

z Teoria Unitária (monista); „ Teoria objetivo-material: autor é quem pres-


z Teoria Pluralista; ta a contribuição objetiva mais importante
z Teoria Dualista. para a produção do resultado, e não necessa-
riamente aquele que realiza o núcleo do tipo
Vejamos ver cada uma das teorias: penal, o verbo. Partícipe é quem concorre de
forma menos relevante, ainda que mediante a
z Teoria Unitária (monista): trata-se de um crime realização do núcleo do tipo.
único e indivisível. Ocorre quando mais de um
agente concorre para a prática do delito, prati- z Teoria do domínio do fato: em síntese é uma teo-
cando o ato na sua totalidade ou não, e estes, res- ria intermediaria entre a teoria objetiva e a teo-

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


ponderão pelo mesmo crime. Haverá somente um ria subjetiva. Autor é aquele que tem o controle
delito e todos os agentes incorrem no mesmo tipo final do fato, apesar de não realizar o núcleo do
penal. Essa teoria é adotada pelo Código Penal; tipo penal.
z Teoria Pluralista: para essa teoria, quando mais
de um agente estiver realizando um delito, sendo O conceito de autor na teoria do domínio do fato,
as condutas diversas um dos outros ainda que para compreende:
realizar o mesmo resultado, cada qual responderá
pelas suas condutas, ou seja, cada agente pratica z Autor propriamente dito: é aquele que pratica o
um crime autônomo dos demais. Esta teoria foi núcleo do tipo penal;
adotada pelo Código Penal ao tratar do aborto, pois z Autor intelectual: é aquele que planeja mental-
quando praticado pela gestante, esta incorrerá na mente a empreitada criminosa;
pena do art. 124 do CP, se praticado por outrem, z Autor mediato: é aquele que se vale de um incul-
aplicar-se-á a pena do art. 126 do CP. O mesmo pro- pável ou de pessoa que atua sem dolo ou culpa
cedimento ocorre na corrupção ativa e passiva; para cometer a conduta criminosa;
z Teoria Dualista: de acordo com essa teoria, quan- z Coautores: é aquele que age em colaboração recí-
do houver mais de um agente, com condutas diver- proca e voluntária com o outro para a realização
sas entre si, provocando-se um resultado, deve-se da conduta principal. A conduta principal é o ver-
separar os coautores e partícipes, sendo que cada bo do tipo penal;
um deles responderá por um crime autônomo. z Partícipe: quem de qualquer modo concorre para
o crime, desde que não realize o núcleo do tipo
Além das teorias estudadas, vamos destacar as teo- penal nem possua o controle final do fato;
rias que conceituam o autor. z Partícipe na teoria do domínio do fato: Gui-
lherme Nucci (2018) esclarece que partícipe só
possui o domínio da vontade da própria conduta, 297
tratando-se de um “colaborador”, uma figura late- „ Se o agente não interfere, será trado como partícipe.
ral, não tendo o domínio finalista do crime. O deli-
to não lhe pertence: ele colabora no crime alheio. z Autor intelectual: a definição se encontra no art.
62, I, do CP, afirmando que a pena será agrava em
relação ao agente que promove, ou organiza a coo-
Importante! peração no crime ou dirige a atividade dos demais
Qual a teoria adotada pelo Código Penal? agentes.
O art. 29, caput, do CP, acolheu a teoria objetiva
Art. 62 [...]
ou dualista (objetivo-formal).
I - promove, ou organiza a cooperação no crime ou
Diferencia autor e partícipe: dirige a atividade dos demais agentes;
� Autor: quem realiza o núcleo do tipo penal; e
� Partícipe: quem de qualquer modo concorre z Autoria de escritório ou autoria mediata espe-
para o crime, sem executar a conduta criminosa. cial: agente que dita a ordem a ser executada por
outro autor direto, dotado de culpabilidade e pas-
sível de ser substituído a qualquer momento por
Coautoria e Concurso de Pessoas
outra pessoa, no âmbito de uma organização ilí-
Coautoria é a forma de concurso de pessoas que cita de poder. Temos por exemplo, o líder do PCC
ocorre quando o núcleo do tipo penal é executado por (Primeiro Comando da Capital), em São Paulo, ou
duas ou mais pessoas (Nucci, 2018). do CV (Comando Vermelho), no Rio de Janeiro que
Esclarecendo: se dois ou mais autores unidos entre comandam as redes ilícitas e hierarquizadas;
si para a prática de um determinado crime, por exem- z Autoria por convicção: o agente comete um cri-
plo, furto, estamos diante da hipótese de coautoria. me motivado por convicções pessoais, por exem-
A coautoria pode ser: plo, religião, moral, política, esporte (futebol);
z Autor por determinação: é quem se vale de outro,
z Parcial ou funcional; que não realiza conduta punível, por ausência de
z Direta ou material. dolo, em um crime de mão própria, ou ainda o
sujeito que não reúne as condições legalmente exi-
Vejamos: gidas para a prática de um crime próprio, quando
se utiliza de quem possui tais qualidades e se com-
z Coautoria parcial, ou funcional: diversos auto- porta de forma atípica, ou acobertado por uma
res praticam atos de execução diversos, os quais, causa de exclusão da ilicitude ou da culpabilidade
somados, produzem o resultado desejado, por (Sanches Cunha, 2016). Podemos exemplificar uma
exemplo, uma agente segura a vítima, outro agen- mulher que dá sonífero a outra e depois hipnotiza
te a esfaqueia, produzindo a sua morte; um amigo, ordenando-lhe que com ela mantenha
z Coautoria direta ou material: todos os autores relações sexuais durante o transe;
efetuam igual conduta criminosa, por exemplo, z Autoria colateral: dois ou mais agentes querem
vários agentes efetuam disparos com arma de fogo praticar o mesmo crime, mas não estão ligados
em direção à vítima, matando-a. pelo vínculo psicológico. Acompanhe o raciocínio
do exemplo:
Todas as vezes que estudamos coautoria pergunta-
mos se é admissível nos casos de crimes próprios e de
crimes de mão própria. Tiago e Felipe, sem vínculo psicológico, querem
matar Paulo.
z Crimes próprios ou especiais: são os casos em Tiago e Felipe ficam de tocaia na rua por onde Pau-
que o tipo penal exige uma situação de fato ou de lo costuma transitar.
direito diferenciada por parte do sujeito ativo, por Quando Paulo passar pela rua, Tiago e Felipe ati-
exemplo, dois funcionários públicos, juntos, prati- ram simultaneamente.
cam o crime de peculato, art. 312 do CP. Nos crimes Após o resultado da perícia, temos duas hipóteses:
próprios ou especiais é admitida a coautoria;
z Crimes de mão própria, de atuação pessoal z Se a morte resultou do disparo de Tiago, este res-
ou de conduta infungível: são as hipóteses que ponderá por homicídio consumado e Felipe res-
somente podem ser praticados pelo sujeito expres- ponderá por homicídio tentado;
samente indicado pelo tipo penal. O crime só pode z Se quando o tiro disparado por Felipe atingiu Pau-
ser praticado pela agente indicado no tipo penal, e lo quando ele já estava morto pelo disparo de Tia-
ninguém mais, por exemplo, crime de falsa perí- go, este responderá por homicídio consumado e
cia, art. 342 do CP. Nos crimes de mão própria não Felipe não responderá por nenhum crime, pois se
é admitida a coautoria. trata de crime impossível.

Há outros temas importantes que devemos z Multidão delinquente: o fato ocorre por influên-
conhecer sobre autoria e coautoria: cia de indivíduos reunidos, que, em clima de
tumultuo, ou manipulação, tornam-se desprovidos
z Executor de reserva: agente que acompanha, pre- de limites éticos e morais (Sanches Cunha, 2016);
sencialmente, a execução da conduta típica, fican- z Coautoria sucessiva: a regra é que todos os coau-
do à disposição, se necessário, para nela interferir. tores iniciem, juntos, a empreitada criminosa.
Rogério Greco (2015) adverte que pode acontecer
Ou seja: que alguém, ou mesmo o grupo, já tenha come-
çado a percorrer o iter criminis (fases do crime:
298 „ Se o agente interfere, será tratado como coautor; cogitação, atos preparatórios, atos de execução
e consumação), ingressando na fase dos atos de Participação
execução, quando outra pessoa adere à conduta
criminosa daquele, e agora, unidos pelo vínculo Há dois posicionamentos sobre o assunto, embora
psicológico, passam, juntos, a praticar a infração ambos dentro da teoria objetiva, formal ou normati-
penal; va, vejamos:
z Coautoria em crimes omissivos: há corrente na
doutrina que não admite a coautoria em crimes z Teoria Formal: autor é o agente que pratica a
omissivos. Porém, vamos tratar aqui da corrente figura típica descrita no tipo penal, e partícipe é
que admite a coautoria em crimes omissivos (pró- aquele que comete ações não contidas no tipo, res-
pondendo apenas pelo auxílio que prestou (enten-
prios, ou puros; impróprios, espúrios ou comissivos
dimento majoritário). O agente que furta os bens
por omissão). Ocorre a coautoria quando dois ou
de uma pessoa, incorre nas penas do art. 155 do
mais agentes, vinculados pela unidade de propó-
CP, enquanto aquele que o aguarda com o car-
sitos, prestam contribuições relevantes para a pro-
ro para ajudá-lo a fugir, responderá apenas pela
dução do resultado, realizando atos de execução
colaboração;
previstos na lei penal (Nucci, 2018). Por exemplo, z Teoria Normativa: autor é o agente que, além de
dois agentes podem, caminhando pela rua, depa- praticar a figura típica, comanda a ação dos demais
rar-se com outra, ferida, em busca de ajuda. Asso- (“autor executor” e “autor intelectual”).
ciadas, uma conhecendo a conduta da outra e até
havendo incentivo recíproco, resolvem ir embora, O partícipe é aquele que colabora para a prática
ou seja, os agentes são coautores do crime de omis- da conduta delitiva, mas sem realizar a figura típica
são de socorro definido no art. 135 do CP; descrita, e sem ter controle das ações dos demais.
z Autoria mediata: não está expresso no Código Aquele que planeja o delito e aquele que o executa
Penal, porém a doutrina trata do tema. De acordo são coautores.
com Guilherme Nucci (2018) “trata-se de espécie de Sendo assim, de acordo com a opinião majoritária
autoria em que alguém, o “sujeito de trás” se utiliza, teoria formal, o executor de reserva é apenas partí-
para a execução da infração penal, de uma pessoa cipe, ou seja, se João atira em Pedro e o mata, e logo
inculpável ou que atua sem dolo ou culpa.” após Mário também desfere tiros em Pedro, Mário
(executor de reserva) responderá apenas pela partici-
Há dois sujeitos nessa relação: pação, pois não praticou a conduta matar, já que ati-
rou em um cadáver.
„ Autor mediato: quem ordena a prática do O juiz poderá aplicar penas iguais para autor e
crime; partícipe, e até mesmo pena mais gravosa a este últi-
„ Autor imediato: aquele que executa a conduta mo, quando, por exemplo, for o mentor do crime.
criminosa. Sobre o assunto, ver o que preceitua o art. 29 do CP:

Guilherme Nucci exemplifica: “A”, desejando matar Art. 29 Quem, de qualquer modo, concorre para o
sua esposa, entrega uma arma de fogo municiada à “B”, crime incide nas penas a este cominadas, na medi-
criança de pouca idade, dizendo-lhe que, se apertar o da de sua culpabilidade.
gatilho na cabeça da mulher, essa lhe dará balas. Quan-
do se fala em pessoa sem culpabilidade, aí se insere Dessa forma deve-se analisar cada caso concreto
de modo a verificar a proporção da colaboração (Nuc-
qualquer um dos seus elementos: imputabilidade,
ci, 2018).
potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de
A participação é a modalidade de concurso de
conduta diversa. Ausente qualquer deles, faltará a

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


pessoas em que o sujeito não realiza diretamente o
culpabilidade. A pessoa que atua sem discernimento,
núcleo do tipo penal, mas de qualquer modo concorre
funciona como mero instrumento do crime.
para o crime.
Trata-se de qualquer tipo de colaboração, desde
que não relacionada à prática do verbo contido na
Importante! descrição da conduta criminosa.
A autoria mediata é incompatível com os cri- Exemplo: é partícipe de um homicídio aquele que,
mes culposos, pois nesses crimes, o resultado ciente do propósito criminoso do autor, e disposto a
naturalístico é involuntariamente produzido pelo com ele colaborar, empresta uma arma de fogo muni-
ciada para ser utilizada na execução do delito.
agente. Consequentemente, não se pode conce-
A participação possui dois requisitos:
ber a utilização de um inculpável ou de pessoa
sem dolo ou culpa para funcionar como instru- z Propósito de colaborar para a conduta do autor
mento de um crime cujo resultado o agente não (principal);
quer nem assume o risco de produzir (Nucci, z Colaboração efetiva, por meio de um compor-
2018) tamento acessório que concorra para a conduta
A autoria mediata é incompatível com os crimes principal.
de mão própria, porque a conduta somente pode
ser praticada pela pessoa diretamente indica- A participação pode ser:
da pelo tipo penal, ou seja, a infração penal não
pode ter a sua execução delegada a outrem. z Moral: a conduta do agente se restringe a induzir
ou instigar terceira pessoa a cometer uma infração
penal. Não há colaboração com meios materiais,
mas apenas com ideias de natureza penalmente 299
ilícitas. Induzir é fazer surgir na mente de outrem metade, quando mesmo tendo a intenção de cometer
a vontade criminosa, até então inexistente. Insti- crime menos grave era previsível o resultado do mais
gar é reforçar a vontade criminosa que já existe na grave. Vejamos:
mente de outrem;
z Material: o agente presta auxílio ao autor do cri- Art. 29 [...]
me. O partícipe que auxilia é chamado pela dou- § 2º Se algum dos concorrentes quis participar de
trina de cúmplice. Auxiliar é facilitar a execução crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste;
do crime sem, porém, executar o núcleo do tipo. O essa pena será aumentada até metade, na hipótese
auxílio pode-se dar durante os atos preparatórios de ter sido previsível o resultado mais grave.
ou executórios. Vamos exemplificar o auxílio na
participação material: Agravante

„ Emprestar o dinheiro para a compra de remé- O Código Penal, no art. 61, trata das circunstâncias
dio abortivo; agravantes gerais. Quanto as agravantes no caso de
„ Ensinar a fórmula do veneno que se irá minis- concurso de pessoas, essas estão dispostas no art. 62
trar à vítima; do CP, e será objeto de estudo neste momento:
„ Vigiar o local do crime para o agente executar
o roubo. Art. 62 A pena será ainda agravada em relação ao
agente que:
z Participação de menor importância: Participação I - promove, ou organiza a cooperação no crime ou
de menor importância, ou mínima, é a de reduzida dirige a atividade dos demais agentes;
eficiência causal. Por quê? Porque contribui para a
produção do resultado, mas de forma menos decisi- Quem promove ou organiza a cooperação no cri-
va. Entendeu? Apenas participa. me, ou dirige a atividade dos demais agentes, são os
autores intelectuais. O agente é organizador do delito.
O melhor critério para constatar a participa-
ção de menor importância é o da equivalência dos Art. 62 [...]
antecedentes. II - coage ou induz outrem à execução material do
A participação de menor importância está prevista crime;
no art. 29, § 1º, do CP, com pena pode ser diminuída
de 1/6 a 1/3.
Quem coage outrem à execução material do crime.
Veja, a coação pode ser física ou moral, resistível ou
Art. 29 [...]
§ 1º Se a participação for de menor importância, a
irresistível. Se a coação for resistível, coator e coagido
pena pode ser diminuída de um sexto a um terço. respondem pelo delito. Se a coação for irresistível, só
o coator responde pelo crime, sem a aludida agravan-
Encontramos em algumas doutrinas que a redu- te. Nessa coação não há propriamente concurso de
ção é mera faculdade do juiz, mas oriento que outras pessoas, e, sim, autoria mediata.
doutrinas têm a tese de que quando a lei concede ao Coagir alguém a praticar crime configura delito de
agente a possibilidade de obter certos benefícios, tal tortura, pois o coator será responsabilizado pelo deli-
possibilidade ingressa nos chamados direitos públicos to praticado pelo coagido em concurso material com o
de liberdade do réu. crime de tortura da alínea b, do inciso I, do art. 1º, da
É necessário saber que a participação de menor Lei n° 9.455, de 1997.
importância somente se aplica à participação. A atua-
ção do coautor é sempre relevante. Art. 62 [...]
Além disso, a participação de menor importância III - instiga ou determina a cometer o crime alguém
descreve uma causa de diminuição da pena, aplicável sujeito à sua autoridade ou não punível em virtude
na terceira fase da fixação da pena. Trata-se de direito de condição ou qualidade pessoal;
subjetivo do réu.
Lembre-se de que a diminuição da pena se relacio- Quem instiga ou determina a cometer o crime
na à participação, ou seja, ao comportamento adotado alguém sujeito à sua autoridade ou não punível em
pelo sujeito, e não à sua pessoa. virtude de condição ou qualidade pessoal. Quem
A redução da pena não alcançará o coautor nem induz ou instiga a cometer crime pessoa não punível,
o partícipe intelectual, isto é, o que planejou o crime, como o doente mental.
porque em tal caso não se pode falar em participação
de somenos importância.
É relevante saber que a menor importância da Importante!
cooperação pode ocorrer na preparação ou execução
do crime, embora seja mais frequente durante os atos Aquele que induz menor de dezoito anos a pra-
preparatórios. ticar crime contra determinada vítima será par-
As condições pessoais, referentes ao autor ser pri- ticipe do delito e ainda responderá pelo crime de
mário ou reincidente, perigoso ou não, não impedem corrupção de menores previsto no art. 244-B do
a redução da pena, se tiver contribuído minimamente ECA.
para a produção do resultado.
Há de se falar ainda sobre o § 2º, do art. 29, que
diz respeito à possibilidade de ser aplicada a pena Art. 62 [...]
de crime menos grave quando um dos concorrentes IV - executa o crime, ou nele participa, mediante
300 quis participar deste, ou então aumentar a pena até paga ou promessa de recompensa.
Quem executa o crime, ou nele participa, mediante z Homicídio Simples
paga ou promessa de recompensa. Em paga, o recebi-
mento é prévio. Em promessa de recompensa, o rece- O homicídio simples está previsto no caput do art. 121:
bimento é posterior à prática do delito.
Art. 121 Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.

Tanto o sujeito ativo quanto o sujeito passivo do


CRIMES CONTRA A PESSOA homicídio simples podem ser qualquer pessoa. A con-
duta é praticada mediante dolo (vontade consciente
CRIMES CONTRA A VIDA
do sujeito). O crime se consumará quando ocorrer a
efetiva morte da vítima. Admite-se a forma tentada.
Trataremos neste tópico dos crimes contra a vida, Ele é bastante difícil de ser configurado, já que dificil-
que estão incorporados nos arts. 121 ao 128, do Códi- mente ocorre este crime sem que alguma qualificadora
go Penal. Eles tutelam o bem jurídico mais relevante (que veremos a seguir) seja aplicada. Podemos entender,
que temos: a vida, nas suas modalidades intrauterina então, que o homicídio simples é residual, ou seja, será
ou extrauterina. Os crimes contra a vida poderão ser simples o homicídio quando ele não for qualificado.
dolosos ou culposos, sendo que os primeiros poderão Sobre o homicídio simples, a informação mais
ter conduta comissiva ou omissiva. importante é que, em regra, ele não é crime hedion-
do; entretanto, se for praticado em atividade típica de
Homicídio grupo de extermínio, ainda que cometido por um só
agente, será crime hediondo.
O crime de homicídio consiste na supressão da O homicídio simples só será crime hediondo quando
vida extrauterina praticada por outrem. Tem como praticado em atividade típica de grupo de extermínio,
ação a seguinte conduta: matar alguém. ainda que cometido por um só agente, conforme a pri-
A respeito do crime de homicídio, podemos levan- meira parte do inciso I, art. 1º, da Lei nº 8.072, de 1990.
tar os seguintes pontos:
Art. 1º São considerados hediondos os seguintes
z Núcleo o tipo: matar; crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848,
z Sujeito ativo e sujeito passivo: qualquer pessoa; de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consuma-
z Objeto material: o alguém previsto na conduta dos ou tentados:
necessariamente deve ser a pessoa humana; I - homicídio (art. 121), quando praticado em ativida-
z Consumação: o homicídio é consumado com a de típica de grupo de extermínio, ainda que cometido
morte da vítima. por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, §
2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII); [...]
É um crime classificado de diversas modalidades.
Atenção: a segunda parte do inciso I, art. 1º, da
As principais classificações são:
Lei nº 8.072, de 1990, com redação dada por meio da
Lei nº 13.964, de 2019, trata de hipóteses de homicídio
� Crime comum: pode ser praticado por qualquer
qualificado.
pessoa, sem que necessite de quaisquer condições
especiais;
z Homicídio Privilegiado
� Crime material: para sua consumação, é exigida a
ocorrência do resultado morte;
Art. 121 [...]

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


� Crime de forma livre: pode ser praticado com § 1º Se o agente comete o crime impelido por moti-
qualquer modo de execução (a tiros, facadas, pau- vo de relevante valor social ou moral, ou sob o
ladas, por meio de veneno, entre outros); domínio de violenta emoção, logo em seguida
� Crime instantâneo de efeitos permanentes: a a injusta provocação da vítima, o juiz pode
conduta delituosa não se prolonga no tempo e, reduzir a pena de um sexto a um terço.
após a consumação, os efeitos são irreversíveis;
� Crime plurissubsistente: pode ser praticado por Segundo Nucci, privilégios são circunstâncias
meio de um ou mais atos de execução; legais específicas, vinculadas ao tipo penal incrimi-
� Crime unissubjetivo: pode ser praticado por um nador, provocadoras da diminuição da faixa de apli-
ou mais agentes. cação da pena, em patamares prévia e abstratamente
estabelecidos pelo legislador, alterando o mínimo e o
É importante que você saiba as classificações aqui máximo previstos para o crime.
descritas, já que elas são bastante cobradas em provas. Para fins do nosso estudo, vamos entender o homi-
O crime de homicídio é dividido em: cídio privilegiado como uma modalidade mais branda
do crime de homicídio.
z Homicídio Doloso: O homicídio privilegiado está previsto no § 1º, art.
121, e configura-se quando o agente comete o crime
„ Homicídio simples (caput do art. 121, do CP); amparado por uma das seguintes situações:
„ Homicídio privilegiado (§ 1º, art. 121, do CP);
„ Homicídio qualificado (§ 2º, art. 121, do CP). „ Relevante valor social: é aquele crime que
atende aos interesses da coletividade, ou seja,
z Homicídio Culposo (§ 3º, art. 121, do CP). a sociedade o entende como possível e com-
preensível. Ex.: indivíduo acaba com a vida de
Veremos a seguir cada um deles. malfeitor em prol da sociedade; 301
„ Relevante valor moral: referente ao valor O Código Penal, no § 2º, art. 121, estabelece as
moral individual, leva-se em conta os interes- seguintes qualificadoras:
ses do agente. Temos como exemplos ações
movidas por compaixão, beneficiação, amparo. Art. 121 [...]
Ex.: eutanásia; § 2º [...]
„ Sob o domínio de violenta emoção, logo I - mediante paga ou promessa de recompensa,
ou por outro motivo torpe;
em seguida à injusta provocação da vítima:
II - por motivo fútil;
como o próprio nome diz, a ação tem que ter III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfi-
acontecido logo após o ato, e o agente estando xia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou
sob condições de grandes emoções. O agen- de que possa resultar perigo comum;
te deve estar completamente dominado pela IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissi-
situação. Ex.: O marido chega em casa e pega mulação ou outro recurso que dificulte ou torne
sua companheira em flagrante com outro indi- impossível a defesa do ofendido;
víduo; dominado pela raiva, sem pensar, e sem V - para assegurar a execução, a ocultação, a
controle, acaba matando o indivíduo. impunidade ou vantagem de outro crime:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
VI - contra a mulher por razões da condição de
Importante! sexo feminino: (Incluído pela Lei nº 13.104, de
� O agente deve estar sob o domínio de violenta 2015)
emoção; VII - contra autoridade ou agente descrito nos
arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integran-
� A ação deve ocorrer logo em seguida, ou seja,
tes do sistema prisional e da Força Nacional de
imediatamente após à injusta provocação; Segurança Pública, no exercício da função ou em
� Trata-se de repelir injusta provocação e não decorrência dela, ou contra seu cônjuge, com-
injusta agressão, vez que, se considerarmos uma panheiro ou parente consanguíneo até terceiro
injusta agressão, estaríamos frente a uma exclu- grau, em razão dessa condição: (Incluído pela Lei
dente de ilicitude (legítima defesa); nº 13.142, de 2015)
VIII - com emprego de arma de fogo de uso res-
� A injusta provocação deve ser da vítima e não
trito ou proibido:
de terceiros. Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
Atenção: As bancas examinadoras costumam
alterar o termo domínio por influência! Atenção: a segunda parte do inciso I, art. 1º, da Lei
nº 8.092, de 1990, com redação dada por meio da Lei
nº 13.964, de 2019, diz que será hediondo o homicídio
Quando reconhecido o privilégio, no crime de qualificado em todas as hipóteses dos incisos I, II, III,
homicídio, quais as consequências? O juiz pode redu- IV, V, VI, VII e VIII, do § 2º, art. 121, do CP.
zir a pena do agente de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço). Agora, vamos esclarecer cada um dos incisos do §
Atente-se ao patamar de redução da pena. 2º, art. 121, do CP:
Sobre o homicídio privilegiado, algumas conside- Se o homicídio é cometido:
rações são muito importantes para a sua prova:
Art. 121 [...]
„ A jurisprudência firmou entendimento que o § 2º [...]
homicídio privilegiado, ainda que qualificado, I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou
não é considerado crime hediondo. Para que por outro motivo torpe;
seja considerado um crime hediondo, é neces-
sário que a qualificadora seja de ordem objeti- Trata-se de uma qualificadora de ordem subjetiva.
va (estudaremos a seguir); O homicídio praticado mediante paga ou promessa
„ Não se comunica para coautores ou partícipes. de recompensa é conhecido doutrinariamente como
homicídio mercenário. Tal qualificadora se refere
à motivação do agente, sendo que a consumação do
Exemplo: o crime de homicídio é cometido por
delito ocorre com a morte da vítima e pagamento da
dois agentes (Vicente e Gabriel). Gabriel o pratica
recompensa é mero exaurimento do delito.
sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida
O homicídio mercenário fica configurado quan-
à injusta provocação da vítima; Vicente, não. Nesta
do o agente pratica o crime motivado por alguma
hipótese, Gabriel responderá por homicídio privile- recompensa (segundo a doutrina, deve ser de nature-
giado e Vicente, por homicídio. za econômica), que pode ser anterior (na modalida-
de paga) ou posterior (na modalidade promessa de
z Homicídio Qualificado recompensa).
A 6ª Turma do STJ entende que a comunicabilida-
No homicídio qualificado, o agente estará subme- de da qualificadora “mediante paga ou promessa de
tido a uma pena maior, mais grave. As qualificado- recompensa” não é automática, tratando-se de qualifi-
ras são fatores que tornam a conduta praticada pelo cadora de natureza pessoal, que não irá se comunicar
agente, de alguma forma, mais reprovável por parte automaticamente ao mandante do crime, responden-
da sociedade. do este na modalidade qualificada, se torpe for o moti-
vo que o levou a pagar pela morte da vítima.1
302 1 STJ. 6ª Turma. AgInt no REsp 1681816/GO, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 03/05/2018.
Importante! Quando o agente comete um homicídio, pratican-
A comunicabilidade da qualificadora ao mandan- do-o de forma que a defesa da vítima seja dificultada
te do crime não é automática e dependerá da ou se torne impossível, ele responderá na modalidade
apuração da motivação de cada um dos agentes. qualificada.

Art. 121 [...]


Assim, por exemplo, se Alessandro, que tem a V - para assegurar a execução, a ocultação, a impu-
intenção de matar um desafeto, chamado Antoniel, nidade ou a vantagem de outro crime;
pagar R$ 1.000,00 (mil reais) a Fabrício para que este
mate Antoniel, a qualificadora será aplicada a Fabrí- Nesta forma qualificada, o agente pratica o homi-
cio; já para Alessandro, o mandante, o homicídio não cídio para, de alguma forma, garantir uma vantagem
será necessariamente qualificado. relacionada a um outro crime. Trata-se de uma quali-
Motivo torpe refere-se a algo repugnante, nojen- ficadora de natureza subjetiva. A doutrina chama esta
to, abjeto. Ex.: matar o pai para ficar com sua herança. qualificadora de conexão instrumental, que pode ser
O STJ2 entende que o ciúme, por si só, sem outras cir- teleológica ou consequencial.
cunstâncias, não caracteriza o motivo torpe. Conexão instrumental teleológica assegura a exe-
cução futura de um outro crime (Homicídio + Crime:
Art. 121 [...] garantir a execução de outro crime).
II - por motivo fútil; Conexão instrumental consequencial assegura a
ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime,
Motivo fútil refere-se a um motivo pequeno, des- praticado anteriormente (Crime + Homicídio: assegu-
proporcional, banal. Há desproporcionalidade entre a
rar a ocultação, impunidade ou vantagem).
conduta praticada e a motivação. Ex.: homicídio moti-
Segundo a doutrina majoritária, o crime anterior
vado por dívida de uma carteira de cigarro no valor
ou posterior pode ter sido praticado por uma outra
de R$ 5,00.
pessoa, não existindo a obrigatoriedade de que seja o
Trata-se de uma qualificadora de natureza
próprio autor do homicídio.
subjetiva.
Atente-se, pois as bancas examinadoras costu-
mam confundir o candidato ao afirmar que nesta
Art. 121 [...]
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfi- qualificadora o agente pratica o homicídio para, de
xia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de alguma forma, garantir uma vantagem relacionada
que possa resultar perigo comum; a uma contravenção penal. A qualificadora é rela-
cionada a outro crime e não contravenção penal. O
Temos aqui uma qualificadora de natureza obje- Direito Penal não admite analogia in malam partem.
tiva, relacionada aos meios empregados pelo agente
para praticar o crime, que podem estar relacionados a Art. 121 [...]
meios insidiosos (emprego de veneno), cruéis (asfixia, VI - contra a mulher por razões da condição de sexo
tortura) ou que possam resultar em perigo comum feminino.
(fogo, explosivo).
Em relação ao emprego de veneno, segundo a Fique atento, pois este dispositivo tem grande incidên-
doutrina majoritária, tal qualificadora só irá se con- cia em provas de concursos públicos. Estamos falando do
figurar se ficar comprovado que a vítima ingeriu o feminicídio, uma qualificadora de ordem objetiva.

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


veneno sem saber que o fazia. Caso a vítima saiba que Você acertará todos os itens correspondentes quando
está ingerindo veneno, outra qualificadora poderá ser entender que nem toda morte de mulher será conside-
aplicada, a de meio cruel. rada feminicídio, mas sim a morte de mulher pratica-
Importante: No Direito Penal, o agente é puni- da em razão da sua condição de sexo feminino.
do, em regra, pelo crime que queria praticar. Assim, O Código Penal estabelece que se deve considerar
caso o agente queira torturar, mas se exceda e acabe razões de condição de sexo feminino quando a mor-
matando a vítima, irá responder por tortura qualifi- te da mulher envolver violência doméstica ou fami-
cada pelo resultado morte. Se o agente queria matar e liar ou menosprezo ou discriminação à condição de
usa a tortura como meio para atingir a sua finalidade, mulher. Vejamos:
irá responder por homicídio qualificado pela tortura.
Art. 121 [...]
Art. 121 [...] § 2º-A Considera-se que há razões de condição de
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimu- sexo feminino quando o crime envolve:
lação ou outro recurso que dificulte ou torne impos- I - violência doméstica e familiar;
sível a defesa do ofendido; II - menosprezo ou discriminação à condição de
mulher.
As qualificadoras mencionadas no inciso IV tam-
bém estão relacionadas aos meios empregados pelo O feminicídio ficará configurado com a morte da
agente. Trata-se de uma qualificadora de natureza mulher devido à violência de gênero e não quando
objetiva. ocorrer a morte da mulher em qualquer situação.

2 HC 123.918/MG e AgRg no AREsp 569047/PR. 303


Importante! função (devido ao cargo que eles ocupam ou função
Informativo 625 STJ Não caracteriza bis in idem
3 que eles exercem).
o reconhecimento das qualificadoras de motivo A qualificadora também será aplicada se o homi-
torpe e de feminicídio no crime de homicídio cídio for praticado contra o cônjuge, companheiro ou
praticado contra mulher em situação de violên- parente consanguíneo até o 3º (terceiro) grau dos
cia doméstica e familiar. agentes ou autoridades que vimos, também motivado
Isso ocorre porque o feminicídio é uma qualifi- pela função que os agentes ou autoridades exercem.
cadora de natureza objetiva, enquanto o motivo
torpe é uma qualificadora de natureza subjetiva. Dica
Sendo assim, é possível o reconhecimento da
É possível que o homicídio seja privilegiado e
qualificadora de motivo torpe e do feminicídio ao
qualificado ao mesmo tempo?
mesmo tempo, quando o homicídio for praticado
Sim, é possível, porém, é necessário que a qua-
contra mulher em situação de violência domésti-
ca e familiar. lificadora seja de natureza objetiva, ou seja, rela-
cionada aos meios empregados pelo agente para
executar o crime.
Ademais, é importante ressaltar que a pena do Segundo a doutrina majoritária, o homicídio
feminicídio será aumentada de 1/3 até a metade em privilegiado-qualificado não será considerado
casos de ser cometido nas hipóteses do § 7º, do art. hediondo, porque o privilégio afasta a hediondez.
121. Vejamos:
Art. 121 [...]
Art. 121 [...] VIII - com emprego de arma de fogo de uso restrito
§ 7º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um ou proibido;
terço) até a metade se o crime for praticado:
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses pos-
Trata-se de uma qualificadora de natureza objeti-
teriores ao parto;
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos,
va e deve ser interpretada de acordo com o Estatuto
maior de 60 (sessenta) anos, com deficiência ou do Desarmamento e demais normas complementares.
portadora de doenças degenerativas que acar-
retem condição limitante ou de vulnerabilidade físi- z Homicídio Culposo
ca ou mental;
III - na presença física ou virtual de descenden- Art. 121 [...]
te ou de ascendente da vítima; § 3º Se o homicídio é culposo:
IV - em descumprimento das medidas protetivas Pena - detenção, de um a três anos.
de urgência previstas nos incisos I, II e III do caput
do art. 22 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. O homicídio culposo é aquele em que o agente não
quer como o resultado a morte, nem assume o risco de
Grave bem as hipóteses de aumento de pena, pois
realizá-lo, mas acaba causando a morte de alguém por
são cobradas recorrentemente em provas de concurso
imprudência, negligência ou imperícia.
público.
A imprudência fica configurada quando o agente
Art. 121 [...] é afoito, praticando conduta não recomendada pela
§ 2º [...] vida em sociedade. Exemplo: João realiza ultrapassa-
VII - contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 gem em local proibido e atinge ciclistas que trafegam
e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema na rodovia.
prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no A negligência, por sua vez, fica configurada quan-
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra do o agente é omisso ou relapso. Ele não faz algo que
seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo a vida em sociedade recomenda.
até terceiro grau, em razão dessa condição. Além disso, imperícia é a falta de aptidão técnica
para o desempenho de determinada atividade.
O homicídio será qualificado quando praticado
Nos exemplos a seguir, que a doutrina apresen-
contra os seguintes agentes ou autoridades:
ta com mais frequência, poderemos ver a diferença
„ Integrantes das Forças Armadas (Marinha, entre a negligência e a imperícia:
Exército ou Aeronáutica);
„ Integrantes dos órgãos de segurança pública: „ Ex.: Adolfo é médico cirurgião. Certo dia, ao
Polícia Federal; Polícia Rodoviária Federal; fazer uma cirurgia renal, ele deixa um bisturi
Polícia Ferroviária Federal; Polícias Civis; Poli- dentro do paciente, que vem a óbito.
ciais Militares; Corpo de Bombeiros Militares;
Polícias Penais federal, estadual e municipal, Neste caso Adolfo irá responder por homicídio cul-
Guardas Municipais, Agentes de segurança viá- poso por negligência. Observe que ele é médico cirur-
ria, Força Nacional de Segurança Pública. gião, logo, tem perícia para a realização de cirurgias,
mas foi omisso ao esquecer o equipamento dentro do
Mais uma vez, você deve ficar atento e levar para a paciente.
sua prova que não é a morte de qualquer dos agentes
ou autoridades citados que irá qualificar o homicídio, „ Ex.: Teobaldo é médico clínico geral em período
mas sim se a morte deles for praticada no exercício de residência. Ele vai fazer uma cirurgia renal,
da função (enquanto eles trabalham) ou em razão da erra no procedimento e a vítima morre.
304 3 HC 433.898-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, por unanimidade, julgado em 24/04/2018, DJe 11/05/2018.
Teobaldo irá responder por homicídio culposo Nos casos do § 6º, a causa de aumento de pena é
por imperícia, já que faltava a ele aptidão necessária aplicável tanto ao homicídio simples, quanto ao homi-
para realizar perícias. cídio qualificado.
No caso do homicídio culposo, é possível a aplica- Já quanto ao feminicídio, conforme já vimos, o
ção do instituto do perdão judicial, previsto no § 5º, aumento será de 1/3 até metade, quando praticado
art. 121, do CP: nas circunstâncias do § 7º, art. 121.

Art. 121 [...] Induzimento, Instigação ou Auxílio a Suicídio ou à


§ 5º Na hipótese de homicídio culposo, o juiz Automutilação
poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüên-
cias da infração atingirem o próprio agente de
No Direito Penal Brasileiro, não se pune a autole-
forma tão grave que a sanção penal se torne
desnecessária. são, ou seja, uma pessoa não será punida penalmente
caso provoque mal somente a si própria.
Você pode entender a aplicação do perdão judicial O tipo penal que iremos estudar não pune o suicí-
ao seguinte caso: pai que, por imprudência, provoca dio, que consiste na eliminação da própria vida, mas
um acidente de trânsito e mata o próprio filho. Nes- sim a conduta daquele que induz, instiga ou auxilia a
te caso, as consequências da infração penal (homi- prática de um suicídio ou a automutilação.
cídio) atingem o pai de forma tão grave (a morte de
seu filho) que é desnecessária a aplicação de sanção Art. 122 Induzir ou instigar alguém a suicidar-se
penal, podendo o juiz deixar de aplicar a pena. ou a praticar automutilação ou prestar-lhe auxílio
O instituto do perdão judicial se aplica apenas aos material para que o faça:
casos de homicídio culposo. Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
Falaremos agora das causas de aumento de pena
aplicadas ao homicídio. Inicialmente, devemos entender o que significa
cada um dos verbos que configuram o tipo penal:
z Homicídio Majorado
z Induzir: criar uma ideia que não existe. A vítima
As causas de aumento de pena estão previstas nos nunca pensou em se suicidar e o agente a induz
§ § 4º, 6º e 7º, art. 121. Vejamos: fazendo com que tenha esta ideia;
z Instigar: reforçar uma ideia que já existe. A víti-
Art. 121 [...]
ma pensa ou já pensou em se suicidar e o agente a
§ 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada
de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobser- apoia a realizar;
vância de regra técnica de profissão, arte ou z Auxiliar: o agente presta auxílio material à víti-
ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato ma. Por exemplo, emprestando uma arma, uma
socorro à vítima, não procura diminuir as con- corda, entre outras formas de auxílio.
seqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão
em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é É importante destacar que a consumação do crime
aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é prati- do art. 122 dá-se com o mero induzimento, instigação
cado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou ou auxílio ao suicídio ou à automutilação, ou seja, tra-
maior de 60 (sessenta) anos. ta-se de um crime formal. O crime não depende da
ocorrência do resultado morte, mas ocorrendo, acar-
As causas de aumento de pena aplicáveis ao retará no reconhecimento de qualificadoras.
homicídio culposo merecem atenção especial. Nestes Com o advento da Lei nº 13.968, de 2019, na hipó-

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


casos, a pena é aumentada de 1/3, quando resultar: tese de a automutilação ou de a tentativa de suicídio
resultar lesão corporal de natureza grave ou gravíssi-
„ Inobservância de regra técnica de profissão,
ma, nos termos dos § § 1º e 2º, art. 129, do CP, a pena
arte ou ofício;
cominada é de reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
„ Se o agente deixa de prestar imediato socorro à
vítima, não procura diminuir as consequências
Art. 122 [...]
de seu ato. (Nas hipóteses em que a vítima tiver
§ 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio
morte instantânea, tal circunstância, por si só, não
resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssi-
pode afastar a causa de aumento da pena, exceto ma, nos termos dos § § 1º e 2º do art. 129 deste Código:
quando o óbito seja evidente a qualquer pessoa4); Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
„ Se o agente foge para evitar a prisão em flagrante. § 2º Se o suicídio se consuma ou se da automu-
tilação resulta morte:
Já no homicídio doloso, a pena é aumentada de Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
1/3 quando:
Essa redação (§ 1º, art. 122, do CP) citada põe fim
„ Crime praticado contra pessoa menor de 14
à discussão sobre a possibilidade de tentativa para o
anos ou maior de 60 anos.
induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio.
Art. 121 [...] Hoje, a lei diz que o crime de induzimento, insti-
§ 6º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até gação ou auxílio ao suicídio e, agora, à automutilação,
a metade se o crime for praticado por milícia admite tentativa. Porém, em caso de consumação do
privada, sob o pretexto de prestação de serviço de suicídio ou de a automutilação resultar morte, a pena
segurança, ou por grupo de extermínio. prevista é de reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
4 STJ. 5ª Turma. HC 269038-RS, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 2/12/2014 (Info 554). 305
z Forma Qualificada Por fim, se o crime de suicídio se consuma, ou se
da automutilação resulta morte e a vítima é menor de
Com a redação da Lei nº 13.968, de 2019, a pena 14 (quatorze) anos, ou contra quem não tem o neces-
para o crime de induzimento, instigação e auxílio ao sário discernimento para a prática do ato, ou que, por
suicídio e de automutilação é duplicada em dois casos. qualquer outra causa, não pode oferecer resistência,
Vejamos: responde o agente pelo crime de homicídio.

Art. 122 [...] Infanticídio


§ 3º A pena é duplicada:
I - se o crime é praticado por motivo egoístico, Art. 123 Matar, sob a influência do estado puerpe-
torpe ou fútil; ral, o próprio filho, durante o parto ou logo após:
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por Pena - detenção, de dois a seis anos.
qualquer causa, a capacidade de resistência.
O infanticídio é classificado pela doutrina como
Nestes casos, a vítima deve possuir uma capacida- crime bipróprio, já que ele exige qualidades especiais
de mínima de resistência. Caso a vítima seja menor, tanto do sujeito ativo quanto do sujeito passivo.
com capacidade de discernimento, o crime praticado É necessário que o sujeito ativo — quem pratica
será o de homicídio ou lesão corporal, conforme vere- a conduta — seja a própria mãe e que o sujeito pas-
mos no § 6º do art. 122. sivo — quem é ameaçado pela conduta criminosa
— seja o próprio filho, para que este tipo penal fique
z Aumento de Pena configurado.
São outros requisitos que devem estar presentes
Art. 122 [...] para configuração do crime de infanticídio:
§ 4º A pena é aumentada até o dobro se a conduta é
realizada por meio da rede de computadores, de z Que a mãe esteja sob a influência do estado
rede social ou transmitida em tempo real. puerperal
§ 5º Aumenta-se a pena em metade se o agente
é líder ou coordenador de grupo ou de rede O estado puerperal é uma alteração emocional
virtual. pela qual passam algumas mães durante o período
correspondente ao parto. Não existe prazo definido
Não é caso de crime de induzimento, instigação ou em lei, na doutrina ou na jurisprudência, sobre quan-
auxílio ao suicídio e à automutilação quando a vítima to tempo dura o estado puerperal.
não tem algum discernimento para a prática do suicí-
dio e da autolesão. Caso a conduta seja praticada con- z Que a conduta seja praticada durante ou logo
tra alguém sem qualquer discernimento, por exemplo, após o parto
uma criança de 10 anos de idade, não estaremos diante
do crime de induzir, instigar ou auxiliar a prática de O Código Penal adota, para o crime de infanticídio,
suicídio, mas sim diante do crime de homicídio. critério fisiológico, também denominado biopsicológi-
co ou fisiopsicológico, afastando-se do sistema psico-
Art. 122 [...] lógico, que exigia o motivo de honra. O simples estado
§ 7º Se o crime de que trata o § 2º deste artigo é
puerperal é apto ao reconhecimento do infanticídio.
cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou
Estado puerperal é o conjunto das perturbações
contra quem não tem o necessário discernimento
psíquicas e fisiológicas sofridas pela mulher em razão
para a prática do ato, ou que, por qualquer outra
causa, não pode oferecer resistência, responde o
do fenômeno do parto. Diversos fatores como, por
agente pelo crime de homicídio, nos termos do art. exemplo, sofrimento, a perda de sangue, a angústia,
121 deste Código. a inquietação ou outros podem levar a parturiente a
sofrer um colapso do senso moral, uma liberação de
Neste sentido, o Código Penal, trata, com a inclusão impulsos maldosos, chegando por isso a matar o pró-
da redação dada por meio da Lei nº 13.968, de 2019, da prio filho.
hipótese da automutilação ou da tentativa de suicídio A influência do estado puerperal normalmente
resulta lesão corporal de natureza gravíssima. Se for acontece em qualquer parto, havendo, inclusive, jul-
cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou con- gados dispensando a prova pericial para comprová-lo.
tra quem, por enfermidade ou deficiência mental, não O infanticídio deve ocorrer durante o parto ou logo
tem o necessário discernimento para a prática do ato, após, ou seja, logo em seguida ao parto, sem intervalo.
ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer Antes do início do parto, a morte do feto será aborto, e
se não ocorrer logo após o parto, será homicídio.
resistência, responde o agente pelo crime lesão corpo-
A expressão “logo após o parto” compreende todo
ral gravíssima.
o período em que permanecer a influência do esta-
do puerperal. Sobrevindo a fase da bonança, em que
Art. 122 [...]
§ 6º Se o crime de que trata o § 1º deste artigo resul- predomina o instinto materno, cessa a influência do
ta em lesão corporal de natureza gravíssima e estado puerperal. Se, não permanecendo o estado
é cometido contra menor de 14 (quatorze) anos puerperal, a mãe matar o filho, não estaremos diante
ou contra quem, por enfermidade ou deficiência do crime de infanticídio, mas de homicídio.
mental, não tem o necessário discernimento O delito só admite o dolo, que pode ser direto ou
para a prática do ato, ou que, por qualquer outra eventual.
causa, não pode oferecer resistência, responde o Se houver a hipótese de a conduta de a mãe, em
agente pelo crime descrito no § 2º do art. 129 estado puerperal, logo após o parto, culposamente
306 deste Código. matar o filho, estaremos diante de homicídio culposo.
Há certos casos em que a mulher, após o parto, vê-se acometida da chamada psicose puerperal, que é uma
doença mental que lhe tira totalmente o poder de autodeterminação. Nesta hipótese, a mãe é considerada absolu-
tamente inimputável, conforme o caput do art. 26, do CP.
Se, em outra hipótese, a mãe, além da influência do estado puerperal, tiver outra causa de semi-imputabili-
dade, consistente em perturbação da saúde mental, que não lhe retire a inteira capacidade de entendimento ou
autodeterminação, deverá ser aplicada a regra do parágrafo único, art. 26, do CP, ou seja, a pena do infanticídio
poderá ser reduzida de um a dois terços, ou poderá ser substituída por medida de segurança.

HOMICÍDIO

A parturiente mata o filho sem estar influenciada pelo Homicídio, art. 121, do CP
estado puerperal

INFANTICÍDIO

A parturiente mata o filho sob a influência do estado


Infanticídio, art. 123, do CP
puerperal

Infanticídio, art. 123, combinado com o parágrafo único,


A parturiente mata o filho influenciada pelo estado puer-
do art. 26, do CP
peral e por apresentar alguma outra causa que lhe tire a
Redução da pena de um a dois terços, ou medida de
plenitude do poder de autodeterminação
segurança

Infanticídio, art. 123, combinado com o caput do art. 26,


A parturiente mata o filho por estar acometida de doença
do CP
mental, psicose puerperal
Absolvição sumária, causa excludente da culpabilidade

O infanticídio admite tentativa.

Aborto

O crime de aborto, no Brasil, está no rol dos crimes contra a vida. É tutelado o nascituro desde a concepção.
O Código Penal não define o aborto. Cabe à jurisprudência e à doutrina defini-lo. De acordo com termos rela-
cionados à medicina, aborto é a expulsão do produto da concepção.
O aborto consiste na interrupção da gravidez com a morte do produto da concepção. Dessa definição sobres-
saem os seguintes elementos necessários à constituição do delito:

z Estado fisiológico da gravidez;


z Emprego de meios dirigidos à provocação do aborto;
z Morte do produto da concepção;
z Dolo.

O aborto é crime de forma livre, admitindo uma infinidade de meios executórios.

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


Os meios abortivos mais citados são:

z Processos químicos: introdução de certas substâncias químicas no organismo, como o fósforo, chumbo,
álcool, ácido etc.;
z Processos físico-mecânicos: curetagem, jogos esportivos, quedas voluntárias etc.;
z Processos físico-térmicos: bolsas de água quente e bolsas de gelo;
z Processos psíquicos: susto, sugestão, induzimento de terror etc.

O crime de aborto admite tentativa, na hipótese em que se emprega meios abortivos, mas não sobrevém a
morte do feto por circunstâncias alheias à vontade do agente.
Vejamos as hipóteses de aborto:

z Autoaborto

Art. 124 Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:
Pena - detenção, de um a três anos.

O autoaborto é o praticado pela própria gestante. Sujeito ativo do delito é a gestante. Ela executa diretamente
a conduta criminosa. Trata-se de crime de mão própria ou de atuação pessoal, pois só pode ser cometido pela
gestante em pessoa. O sujeito ativo é a própria gestante e a vítima é o feto.
Terceiros podem atuar como partícipes, mas não como coautores.
Neste caso temos um crime de mão própria, ou seja, somente pode ser praticado pela gestante, não admitindo
a coautoria, somente admite-se a participação. 307
Importante! Observe-se, porém, desde logo, que o aborto con-
sentido é crime bilateral, exigindo a presença de duas
O crime de aborto praticado por terceiro com
pessoas: a gestante e o terceiro executor.
o consentimento da gestante é uma exceção a O terceiro responde pelo art. 126, do CP (aborto
teoria monista adotada pelo Direito Penal. Tra- consensual), enquanto a gestante, pela 2ª parte, do art.
ta-se da adoção da Teoria Pluralista, em que a 124, do CP (aborto consentido).
cada agente será atribuído um tipo penal. O aborto consentido é crime de mão própria ou de
atuação pessoal, podendo ser cometido apenas pela
gestante. Mas, evidentemente, admite a presença do
z Aborto Praticado sem Consentimento da Ges- partícipe, consistente na conduta acessória do tercei-
tante ro que se limita a induzir, instigar ou auxiliar a ges-
tante a consentir na realização do aborto.
Art. 125 Provocar aborto, sem o consentimento
da gestante: z Aborto Qualificado
Pena - reclusão, de três a dez anos.
Art. 127 As penas cominadas nos dois artigos ante-
O art. 125, do CP, comina pena de reclusão de 3 riores são aumentadas de um terço, se, em con-
(três) a 10 (dez) anos ao aborto provocado sem o con- seqüência do aborto ou dos meios empregados para
sentimento da gestante. provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de
O não consentimento da gestante é o elemento natureza grave; e são duplicadas, se, por qual-
essencial à configuração do delito e pode ser: quer dessas causas, lhe sobrevém a morte.

„ Expresso; O art. 127, do CP, estabelece duas hipóteses de


„ Presumido. aborto qualificado:

Expresso, também conhecido como real, ocorre „ Aborto qualificado pela morte = penas
quando a gestante se opõe ao aborto, mas é vencida duplicadas;
pela violência física, grave ameaça e fraude, ou seja, „ Aborto qualificado pela lesão corporal de natu-
como exemplos, temos, respectivamente: chute na reza grave = aumento de 1/3.
barriga, ameaça de matar a gestante se ela não abor-
tar e colocar substância abortiva na alimentação da As lesões graves são aquelas tipificadas nos § § 1º
gestante, sem consentimento da vítima, mãe. e 2º, art. 129, do CP.
Presumido é quando a gestante está incapaz de
consentir nas formas previstas no parágrafo único,
art. 126, do CP: Dica
Os dois resultados qualificativos do delito, isto é,
„ A gestante não é maior de catorze anos; a morte e a lesão grave, devem ser imputados ao
„ A gestante é alienada mental (doente men- agente a título de culpa. Estamos diante de hipó-
tal) ou débil mental (desenvolvimento mental tese de crime preterdoloso: o agente age com
retardado).
dolo em relação ao aborto e culpa em relação
ao resultado.
Observe que neste delito do art. 125 o sujeito ativo
é o terceiro, aquele que realiza o aborto. As vítimas,
Agora, se o agente atua com dolo em relação à
sujeitos passivos, são a gestante e o feto. morte ou lesão grave, responde por aborto em
concurso formal com o crime de homicídio ou
z Aborto Consentido e Aborto Consensual crime de lesão corporal.

Já no art. 126, do CP, o crime de aborto é praticado z Aborto Legal


por terceiro, mas com o consentimento da gestante.
Aqui, temos na condição de sujeito ativo o terceiro e O art. 128, do CP, estabelece duas modalidades em
a gestante, e a vítima, sujeito passivo, apenas o feto. que o aborto não constitui delito, desde que praticado
por médico. Vejamos:
Art. 126 Provocar aborto com o consentimento
da gestante: Art. 128 Não se pune o aborto praticado por médico:
Pena - reclusão, de um a quatro anos. Aborto necessário
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo ante- I - Se não há outro meio de salvar a vida da
rior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou gestante;
é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência. II - Se a gravidez resulta de estupro e o aborto é
precedido de consentimento da gestante ou,
O aborto consentido ocorre quando a gestante per- quando incapaz, de seu representante legal.
mite que outrem o provoque. É essencial ao crime o
concurso dos dois elementos: Exclui-se a antijuridicidade, uma vez que a norma
penal permite expressamente o abortamento, estabe-
„ Consentimento da gestante; lecendo a licitude do fato.
„ Execução do aborto por terceiro. A doutrina divide o aborto legal da seguinte forma:
Aborto necessário ou terapêutico ou profilático;
308 Aborto sentimental ou humanitário ou ético.
„ Aborto Necessário ou Terapêutico ou z Lesão corporal privilegiada.
Profilático
As lesões corporais graves, gravíssimas e seguidas
Aborto necessário é o praticado por médico, se não de morte compõem o grupo lesões corporais qualifica-
há outro meio de salvar a vida da gestante, conforme das, segundo a doutrina penalista.
o inciso I, art. 128, do CP, desde que presentes três O crime de lesão corporal é classificado como deli-
requisitos: to não-transeunte, que é aquele que deixa vestígios,
Perigo real à vida da gestante; sendo necessária a realização de exame de corpo de
Não haver outro meio de salvar-lhe a vida; delito.
Execução por médico.
O aborto necessário exige perigo à vida, e não à Lesão Corporal Leve (Simples)
saúde, da gestante.
Quando chamado de terapêutico, tem efeito curati- Art. 129 Ofender a integridade corporal ou a saúde
vo, e quando profilático, preventivo. de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.

Importante! A lesão leve, também chamada de simples, previs-


ta no caput do art. 129, é residual, ou seja, teremos
ADPF 54 (feto anencéfalo): de acordo com o configurada tal modalidade de lesão, caso não se con-
entendimento do STF, é possível a gestante se figure nenhuma das outras.
submeter à antecipação terapêutica de parto em A lesão corporal qualificada está prevista nos pará-
caso de anencefalia, desde que diagnosticado grafos 1º, 2º e 3º, do art. 129.
por profissional habilitado. O ministro Gilmar
Mendes entende que não se deve punir o abor- Lesão Corporal Grave
to praticado por médico, com consentimento da
gestante, se o feto é anencéfalo.5 Art. 129 [...]
§ 1º Se resulta:
I - incapacidade para as ocupações habituais,
„ Aborto Sentimental ou Humanitário ou Ético por mais de trinta dias;
II - perigo de vida;
Aborto sentimental é aquele praticado para inter- III - debilidade permanente de membro, sentido
romper a gravidez resultante do estupro. ou função;
Os requisitos necessários para a exclusão da ilici- IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
tude do aborto humanitário são:
Gravidez resultante de estupro;
Prévio consentimento da gestante ou, quando A lesão corporal grave irá se configurar se resultar:
incapaz, de seu representante legal;
Execução por médico (se praticado por outras pes- z Incapacidade para as ocupações habituais, por mais
soas, respondem pelo crime). de 30 (trinta) dias. É necessário que a incapacidade
A prova do estupro pode ser feita por todos os dure mais de 30 (trinta) dias, ou seja, a partir do 31º
meios admissíveis em direito. dia, caso contrário, a lesão corporal não será grave.
Para a prática do aborto humanitário, não é neces- A incapacidade está relacionada a qualquer ocupa-
sário processo (ação penal), autorização judicial nem ção habitual, como estudo, treinos, rotinas domésti-
cas, e não somente ao trabalho;
sentença condenatória.

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


z Perigo de vida;
Ação penal é pública incondicionada.
z Debilidade permanente de membro, sentido ou fun-
ção (atenção, pois trata-se de debilidade e não per-
LESÕES CORPORAIS
da ou inutilização de membro, sentido ou função);
z Aceleração do parto.
Podemos entender lesão corporal como qualquer
alteração ou ofensa provocada na integridade corpo-
Lesão Corporal Gravíssima
ral ou na saúde de uma pessoa.
A lesão corporal é comum, material, instantânea e
Art. 129 [...]
de forma livre; portanto, pode ser praticada por qual-
§ 2º Se resulta:
quer pessoa, exige a ocorrência do resultado para fins I - Incapacidade permanente para o trabalho;
de consumação, a conduta não se prolonga no tempo II - enfermidade incurável;
e pode ser praticada de qualquer maneira (pedradas, III perda ou inutilização do membro, sentido ou
pauladas, tiros, socos, chutes, arranhões etc.). função;
As lesões corporais estão previstas no art. 129, IV - deformidade permanente;
do Código Penal, e podem ser divididas da seguinte V - aborto:
forma: Pena - reclusão, de dois a oito anos.

z Lesão corporal simples; A lesão corporal gravíssima configurar-se-á se


z Lesão corporal grave; resultar:
z Lesão corporal gravíssima;
z Lesão corporal seguida de morte; z Incapacidade permanente para o trabalho;
z Lesão corporal culposa; z Enfermidade incurável;
5 ADPF 54. Acordão disponível em: https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=3707334. Acesso em: 9 fev. 2022. 309
z Perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
z Deformidade permanente;
z Aborto.

Atente-se à seguinte tabela, elaborada para evitar confusões quanto às lesões grave e gravíssima:

LESÃO GRAVE LESÃO GRAVÍSSIMA

Debilidade permanente de membro, sentido ou função Perda ou inutilização do membro sentido ou função

Incapacidade para ocupações habituais, mais de 30 dias Incapacidade permanente para o trabalho

Aceleração de parto
Aborto
Perigo de vida

Exemplo: Devido às lesões sofridas, a vítima perde


Exemplo: órgãos duplos, rins — a perda de um deles caracte-
completamente a visão (embora ainda esteja fisi-
riza debilidade da função excretora —, perda de um ou mais
camente presente, o órgão ou membro é completa-
dentes — caracteriza debilidade da função mastigatória
mente inutilizável)

O Código Penal não divide as lesões em graves ou gravíssimas. Para o Código Penal Brasileiro (CPB), todas elas
são graves. Esta divisão é uma construção doutrinária.

Lesão Corporal Seguida de Morte

Art. 129 [...]


§ 3º Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de
produzi-lo:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

A lesão corporal seguida de morte dar-se-á quando ficar configurado que o agente não queria o resultado mor-
te (dolo direto no resultado morte) ou assumiu o risco de produzi-lo (dolo eventual no resultado morte).
Se o agente quer matar, ele responderá pelo homicídio. Porém, caso o agente queira apenas causar lesões
corporais, mas, por algum motivo, acabe se excedendo, provocando a morte da vítima, ele irá responder por
lesão corporal seguida de morte, desde que fique evidenciado que ele não quis nem assumiu o risco de produzir
o resultado morte.
O crime de lesão corporal seguida de morte é um crime preterdoloso, ou seja, é um crime qualificado pelo
resultado, em que temos dolo na conduta inicial e culpa no resultado produzido.

Lesão Corporal Culposa

Art. 129 [...]


§ 6º Se a lesão é culposa:
Pena - detenção, de dois meses a um ano.

A lesão corporal culposa é aquela em que o agente não quer causar lesão corporal na vítima, mas a produz por
ter sido imprudente, negligente ou imperito.
É importante compreender que não há gradações na lesão corporal culposa, ou seja, ela não se divide em leve,
grave ou gravíssima, mas tão somente será lesão corporal culposa.
No caso de lesão corporal culposa, é aplicável o instituto do perdão judicial, podendo o juiz deixar de aplicar a
pena se as consequências da infração penal atingirem o agente de forma que a aplicação de sanção penal torne-se
desnecessária.
Aplica-se o perdão judicial ao crime de lesão corporal culposa.

Lesão Corporal Privilegiada

Os motivos que levam o agente a praticar a lesão corporal privilegiada são os mesmos do homicídio privilegiado.

Art. 129 [...]


§ 4º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta
emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.

Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de vio-
lenta emoção, logo em seguida à injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de 1/6 (um sexto) a 1/3
(um terço).
É aplicável o instituto da substituição de pena nos casos de lesão corporal.
Não sendo graves as lesões, nos casos de lesão privilegiada ou nos casos de lesão recíproca (duas pessoas lesio-
310 nam-se umas às outras), o juiz poderá ainda substituir a pena de detenção pela de multa.
Art. 129 [...] Ferroviária Federal, Policiais Civis, Polícias Milita-
§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, des- res ou Corpo de Bombeiros Militares), integrantes
cendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com do sistema prisional (agentes penitenciários) e da
quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, pre- Força Nacional de Segurança Pública, no exercício
valecendo-se o agente das relações domésticas, de da função ou em razão dela, ou contra seu cônjuge,
coabitação ou de hospitalidade:
companheiro ou parente consanguíneo até o ter-
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.
ceiro grau, em razão dessa condição.
O Código Penal traz disposições específicas para os
PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
casos de lesão corporal praticada no âmbito de violência
doméstica. Neste caso, a pena do agente será mais grave,
estando ele submetido a auto de prisão em flagrante, e A periclitação da vida e da saúde é considerada
não somente a mero termo circunstanciado (salvo nos como crime de perigo, sendo criada, pelo autor do fato,
casos de lesão grave, gravíssima ou seguida de morte). uma situação de perigo, na qual a vítima é exposta.
Considera-se lesão corporal no âmbito de violência Crimes de perigo são aqueles que não exigem a
doméstica se praticada contra as seguintes pessoas ou efetiva ocorrência de dano, apesar de poder aconte-
nos seguintes casos: cer, para que se configurem.
Os crimes de perigo são divididos em:
z Ascendente;
z Descendente; z Crimes de perigo concreto: é exigida uma com-
z Cônjuge ou companheiro; provação de que realmente aconteceu um risco
z Quem conviva ou tenha convivido. de perigo ou lesão ao bem jurídico protegido pela
norma penal;
É importante mencionar que, caso a vítima seja z Crimes de perigo abstrato: Não se exige nenhu-
mulher, teremos a aplicação da Lei Maria da Penha ma comprovação, já que o perigo é presumido. Ex.:
e, mesmo que seja caso de lesão corporal leve, a ação Um individuo dirigir após ter ingerido álcool.
penal será pública incondicionada.
Agora, veremos as hipóteses majoradas do crime Analisaremos os seguintes crimes: perigo de con-
de lesões corporais. Há diversas causas de aumento tágio venéreo; perigo de contágio de moléstia grave;
de pena para este crime, portanto, leia-as com bastan- abandono de incapaz; exposição ou abandono de
te atenção. recém-nascido e omissão de socorro.
Nos casos de lesão corporal culposa:
A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se: Perigo de Contágio Venéreo

z O crime resulta de inobservância de regra técnica Art. 130 Expor alguém, por meio de relações
de profissão, arte ou ofício; sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio
z O agente deixa de prestar imediato socorro à de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber
vítima; que está contaminado:
z O autor não procura diminuir as consequências do Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
seu ato; § 1º Se é intenção do agente transmitir a moléstia:
z O agente foge para evitar prisão em flagrante. Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 2º Somente se procede mediante representação.
Nos casos de lesão corporal dolosa:
A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se: Este crime fica configurado quando o agente expõe

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato
z A vítima é menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que
(sessenta) anos; sabe ou deve saber que está contaminado.
z For hipótese de lesão corporal grave, gravíssima A forma qualificada deste crime ocorre se o agente
ou seguida de morte, praticada em quaisquer dos tem a intenção de transmitir a moléstia venérea.
casos de violência doméstica vistos; Este crime somente procede mediante represen-
z Se a vítima, enquadrada em um dos casos de vio- tação, ou seja, trata-se de crime promovido mediante
lência doméstica vistos, for pessoa portadora de ação penal pública condicionada.
deficiência. Moléstia venérea, segundo a doutrina, refere-se ao
nome genérico dado a qualquer doença que possa ser
A pena será aumentada de 1/3 (um terço) até a transmitida por meio de relação sexual, como sífilis.
metade: O crime consuma-se com a prática do ato sexual,
capaz de transmitir a moléstia venérea. Caso a vítima
z Se a lesão corporal for praticada por milícia priva- seja contaminada, tal fato será mero exaurimento do
da, sob o pretexto de prestação de serviço de segu- crime.
rança, ou por grupo de extermínio. O crime é de conduta vinculada, exigindo a con-
junção carnal, o coito anal, o sexo oral ou qualquer
A pena será aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 outro ato de libidinagem que sirva para a satisfação
(dois terços): da libido.
Caso a contaminação provenha de outra ação físi-
z Se a lesão for praticada contra autoridade ou ca, como o aperto de mão ou a ingestão de alimen-
agente das forças armadas (Marinha, Exército tos, inexistirá o crime de perigo de contágio venéreo,
ou Aeronáutica), das forças de segurança pública podendo subsistir o delito de lesão corporal, dolosa ou
(Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia culposa, ou os crimes dos arts. 131 e 132, do CP. 311
Importante!
É importante mencionar, pela própria natureza do tipo penal, que não se exige, para a sua configuração sim-
ples, dolo específico do agente em transmitir a doença venérea (caso ocorra esta hipótese, o crime será
qualificado), bastando que ele tenha a intenção de ter a relação sexual, sabendo ou devendo saber que está
contaminado.

Como o fato se relaciona a uma ou mais pessoas determinadas, estamos diante de um delito de perigo indivi-
dual, o qual deve ser averiguado diante do caso concreto. Isso porque da simples relação sexual do agente com a
vítima não decorre presunção absoluta da existência desse perigo. A presunção é relativa, admitindo prova em
contrário, como no caso de a vítima já ser portadora de doença venérea.

Perigo de Contágio de Moléstia Grave

Art. 131 Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de pro-
duzir o contágio:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Este crime se configura quando o agente praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está
contaminado, ato capaz de transmitir o contágio.
É necessário que o sujeito passivo, que pode ser qualquer pessoa, não seja contaminado pela moléstia grave
que o sujeito ativo pretende transmitir.
A moléstia grave, neste caso, não precisa, necessariamente, ser transmitida por meio de relação sexual, poden-
do ser transmitida por qualquer outro meio.
Temos como exemplo o agente que, de qualquer forma ou por qualquer meio, intencionalmente (exige-se o
dolo específico de transmitir a doença) transmite à vítima a tuberculose (moléstia grave).
Trata-se de norma penal em branco, complementada por meio dos atos praticados por órgãos administrativos
da área de saúde.
Mais uma vez, reiteramos: exige-se para a configuração deste tipo penal o dolo específico, que consiste na
intenção do agente de transmitir a moléstia grave.
A doutrina não admite, para este crime, o dolo eventual, quando o agente não quer diretamente transmitir a
doença, mas assume o risco de transmiti-la.
Trata-se de crime formal, que se consuma com a prática do ato destinado a transmitir a moléstia grave, não se
exigindo, para fins de consumação, a efetiva transmissão da moléstia.
Ao contrário do crime de Perigo de Contágeo Venéreo, procede-se mediante ação penal pública incondicionada.
Antes de passarmos para a análise de outros tipos penais, é importante que façamos uma distinção entre os
dois tipos penais que acabamos de ver:

PERIGO DE CONTÁGIO VENÉREO PERIGO DE CONTÁGIO DE MOLÉSTIA GRAVE

A transmissão deve se dar por meio de relação sexual A transmissão dá-se por qualquer meio

Transmite-se moléstia venérea Transmite-se moléstia grave

É norma penal em branco É norma penal em branco

Não se exige dolo específico Exige-se dolo específico

Ação penal pública condicionada Ação penal pública incondicionada

Perigo para a Vida ou Saúde de Outrem

O art. 132, do CP, trata do crime de perigo para a vida ou saúde de outrem:

Art. 132 Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente:


Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.
Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo
decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em desa-
cordo com as normas legais.

A conduta nuclear é expor, ou seja, colocar em perigo a vida, a integridade física ou a saúde de alguém. O peri-
go é concreto, direto, iminente e anormal.
Perigo concreto diz que a mera prática do comportamento ilícito não é suficiente para a caracterização do cri-
me, sendo imprescindível que, em face da conduta do agente, a vítima tenha a sua vida, a sua integridade corporal
ou a sua saúde exposta a risco de lesão.
Perigo direto visa a pessoa ou pessoas determinadas.
Perigo iminente está prestes a ocorrer. Se a possibilidade de ocorrência do perigo é futura ou presumida, não
312 estará caracterizada a infração penal do art. 132, do CP.
Perigo anormal não decorre da atividade de pro- Exposição ou Abandono de Recém Nascido
fissionais que trabalham com o risco, como o policial e
o bombeiro. Portanto, se o patrão não toma providên- Art. 134 Expor ou abandonar recém-nascido, para
cias para a segurança e proteção dos operários que ocultar desonra própria:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
trabalham na fábrica de explosivos, e dessa inação
§ 1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza
resulta uma situação concreta de perigo, estará confi-
grave:
gurado o crime do art. 132, do CP, na sua modalidade
Pena - detenção, de um a três anos.
omissiva. § 2º Se resulta a morte:
Pena - detenção, de dois a seis anos.
Abandono de Incapaz
O crime de exposição ou abandono de recém-nas-
Art. 133 Abandonar pessoa que está sob seu cui- cido configura-se quando o agente expõe ou abando-
dado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qual- na recém-nascido, para ocultar desonra própria.
quer motivo, incapaz de defender-se dos riscos
Este crime será praticado na modalidade qualifica-
resultantes do abandono:
da se do fato resultar:
Pena - detenção, de seis meses a três anos.
§ 1º Se do abandono resulta lesão corporal de
natureza grave: z Lesão corporal de natureza grave;
Pena - reclusão, de um a cinco anos. z Morte.
§ 2º Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. Este crime exige dolo específico, ou seja, um espe-
cial fim de agir, que consiste na prática da conduta
O crime de abandono de incapaz configura-se para ocultar desonra própria.
quando o agente abandona pessoa que está sob seu Segundo a doutrina majoritária, é exigido que o
cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qual- recém-nascido fique exposto à situação concreta de
quer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resul- perigo para que o crime se consume.
tantes do abandono. Ainda, conforme doutrina majoritária, trata-se de
São formas qualificadas do crime de abandono de crime próprio, que somente poderá ser praticado pelo
incapaz: pai ou pela mãe que buscam ocultar desonra própria.
Ex.: Mãe que expõe ou abandona o filho recém-
z Se do abandono resulta lesão corporal de natureza -nascido em uma lata de lixo para ocultar uma deson-
grave; ra (sua infidelidade).
z Se do abandono resulta a morte. O crime será promovido mediante ação penal
pública incondicionada.
“Incapaz” refere-se a qualquer pessoa que não
tenha condições de se proteger sozinha, podendo ficar Omissão de Socorro
exposta, em razão do abandono, à situação de perigo.
Tenha como exemplo o pai que deixa o filho, de Art. 135 Deixar de prestar assistência, quando
apenas dois anos de idade, sozinho em casa. Esta possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança aban-
criança não tem capacidade de se defender sozinha, donada ou extraviada, ou à pessoa inválida
ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente
configurando, assim, o tipo penal de abandono de
perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da
incapaz.
autoridade pública:
Para que o crime de abandono de incapaz seja Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
qualificado, é necessário que o resultado seja lesão Parágrafo único. A pena é aumentada de metade,

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


corporal grave ou morte. Caso resulte apenas lesão se da omissão resulta lesão corporal de natureza
corporal de natureza leve — bastante explorado pelas grave, e triplicada, se resulta a morte.
bancas — o crime será configurado em sua modalida-
de simples. Não se aplica este tipo penal ao agente que cau-
Veja características do crime de abandono de sou o perigo. Assim, se um indivíduo, com a intenção
incapaz: de causar lesões corporais, arremessa uma pedra na
vítima e foge, não poderá ele ser responsabilizado por
z É crime próprio, já que se exige uma condição omissão de socorro por não ter prestado socorro à
especial do agente: ser pessoa que tem o cuidado, vítima ou por não ter comunicado o fato à autoridade.
guarda, vigilância ou autoridade sobre a vítima; Fique atento às seguintes informações sobre a
z É crime formal, que não exige que ocorra qualquer omissão de socorro:
coisa com o abandonado (vítima) para fins de con-
sumação do crime. z Não admite tentativa (é crime omissivo próprio);
z Não admite a modalidade culposa.
Aumento de pena
Art. 133 [...] Dica
§ 3º As penas cominadas neste artigo aumentam-se
de um terço: Fique atento às causas de aumento de pena do
I - se o abandono ocorre em lugar ermo; crime de omissão de socorro.
II - se o agente é ascendente ou descendente,
cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima. O crime de omissão de socorro apresenta causas
III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos. de aumento de pena.
A pena será aumentada até o dobro se da negativa
de atendimento resulta lesão corporal grave. 313
A pena será aumentada até o triplo se da negativa § 3º Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é
de atendimento resulta morte. praticado contra pessoa menor de 14 (catorze)
anos.
Condicionamento de Atendimento Médico-Hospitalar
Emergencial O crime de maus-tratos consuma-se com a efeti-
va exposição da vítima ao perigo, que deverá ser
Art. 135-A Exigir cheque-caução, nota promissória ou demonstrada no caso concreto. Não há, portanto,
qualquer garantia, bem como o preenchimento prévio necessidade de resultado material, com dano efetivo
de formulários administrativos, como condição para à vítima.
o atendimento médico-hospitalar emergencial: É crime permanente, na modalidade privação de
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e cuidados ou alimentos e sujeição a trabalho excessivo
multa. ou inadequado; o delito é permanente, hipótese em
Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro que a consumação se prolonga no tempo, já que há
se da negativa de atendimento resulta lesão cor-
contínua e incessante agressão ao bem jurídico.
poral de natureza grave, e até o triplo se resulta a
Também é crime instantâneo, na modalidade
morte.
abuso de meios de correção ou disciplina o delito é
instantâneo, já que a consumação se dá em momento
Em 2012, foi inserido no Código Penal um novo
determinado, sem continuidade no tempo. No entan-
tipo penal, chamado de condicionamento de atendi-
to, entendemos que se o pai, com o fim de aplicar
mento médico-hospitalar emergencial, que se con-
castigo ao filho, trancá-lo por tempo excessivamente
figura quando o agente exigir cheque-caução, nota
promissória ou qualquer garantia, bem como o preen- prolongado, haverá crime permanente.
chimento prévio de formulários administrativos, A tentativa somente será possível nas formas
como condição para o atendimento médico-hospitalar comissivas, como no caso do agente que amarra a
emergencial. vítima e apanha um porrete, a fim de agredi-la, sendo
Suponha que um indivíduo ingresse em um hos- nesse exato momento surpreendido. As modalidades
pital necessitando de atendimento médico emergen- omissivas não aceitarão a forma tentada.
cial. O funcionário do hospital exige que ele deixe um O crime é qualificado se resulta:
cheque-caução para que o atendimento médico seja
realizado. Pronto, a situação configurou-se como tipo z Lesão corporal de natureza grave;
penal de condicionamento de atendimento médico- z Morte.
-hospitalar emergencial.
É necessário que o atendimento médico seja emer- Porém, aumenta-se a pena de um terço se o cri-
gencial. Assim, este crime não irá se configurar caso me é praticado contra pessoa menor de 14 anos.
o atendimento médico seja algo rotineiro, com uma
simples consulta, por exemplo. Dica
Trata-se de crime próprio, pois somente poderá ser
praticado por representantes ou funcionários hospita- O examinador pode tentar confundir o crime de
lares (sócios, administradores, atendentes, seguranças) Maus Tratos com Tortura.
ou profissionais da área da saúde (médicos, enfermei- Dentre as diferenças, podemos ressaltar que o
ros) incumbidos do atendimento emergencial. delito de maus tratos é de perigo, enquanto o de
O sujeito ativo deve ser a pessoa com poderes para tortura é de dano.
exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer Deve-se atentar também ao elemento subjetivo
garantia, bem como o preenchimento prévio de for- do autor. Se o fato é praticado para fim de edu-
mulários administrativos, como condição para o aten- cação, ensino, tratamento ou custódia, o crime
dimento médico-hospitalar emergencial. será o de maus tratos, já se o fato é cometido
Para esse crime, a pena cominada é detenção, de apenas para submeter a vítima a intenso sofri-
três meses a um ano, e multa. mento físico ou mental, estará caracterizado o
A pena é aumentada até:
crime de tortura.
z O dobro, se da negativa de atendimento resulta
RIXA
lesão corporal de natureza grave;
z O triplo, se resulta a morte.
Art. 137 Participar de rixa, salvo para separar
os contendores:
Maus-tratos Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou
multa.
Art. 136 Expor a perigo a vida ou a saúde de pes- Parágrafo único. Se ocorre morte ou lesão corporal
soa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, de natureza grave, aplica-se, pelo fato da partici-
para fim de educação, ensino, tratamento ou pação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a
custódia, quer privando-a de alimentação ou cui- dois anos.
dados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho
excessivo ou inadequado, quer abusando de meios
O crime ocorrerá quando o agente participar de
de correção ou disciplina:
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa. rixa, salvo para separar os contendores. A rixa é uma
§ 1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza briga generalizada, na qual não é possível identificar
grave: precisamente os atos que cada um dos agentes come-
Pena - reclusão, de um a quatro anos. teu, bem como não é possível identificar aquele que
§ 2º Se resulta a morte: deu causa ao início das agressões.
314 Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
O Secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais, Rogério Greco, explica:

[...] A finalidade da criação do delito de rixa foi evitar a impunidade que reinaria em muitas situações, onde não se
pudesse apontar, com precisão, o autor inicial das agressões, bem como aqueles que agiram em legítima defesa. Por
isso, pune-se a simples participação na rixa, de modo que todos aqueles que dela tomaram parte serão responsabi-
lizados por esse delito.6

Aquele que participa da rixa apenas com a finalidade de separar os contendores não irá responder por este
tipo penal.
O crime de rixa não admite a forma culposa.
Sobre este crime, é importante ficar atento quanto aos posicionamentos da doutrina dominante:

z Não admite tentativa;


z Consuma-se quando se inicia a rixa ou, caso já iniciada, quando o agente entra na rixa;
z Pode ser praticado à distância, não se exigindo que necessariamente ocorra contato físico. Ex.: Rixa em que os
agentes jogam pedras, garrafas ou mesas uns nos outros.

A rixa será qualificada, de acordo com o parágrafo único, do art. 137, quando, devido à rixa, ocorrer lesão
corporal de natureza grave ou a morte.
Segundo a doutrina majoritária, salvo no caso de ser possível identificar corretamente o autor da lesão grave
ou da morte, todos os agentes que participaram da rixa responderão pela modalidade qualificada, exceto, tam-
bém, se tiverem ingressado na rixa após a ocorrência da lesão grave ou da morte.

CRIMES CONTRA A HONRA

Os crimes contra a honra estão entre aqueles que mais são cobrados em provas de concurso público, então
vamos aprendê-los passo a passo.
Eles estão previstos entre os arts. 138 e 145, do Código Penal, e dividem-se em 3 (três) crimes diferentes:

z Calúnia;
z Difamação;
z Injúria.

Antes de analisarmos cada um dos tipos penais, é importante compreender que se protege a honra da pessoa,
na sua modalidade objetiva e subjetiva.
A honra é classificada em:

Conceito que o indivíduo possui perante seus pares em relação


aos seus atributos morais, éticos, físicos e intelectuais. Refere-se
HONRA OBJETIVA (HONRA EXTERNA)
ao apreço e respeito da pessoa no grupo social. É a reputação
social da pessoa

Conceito que o indivíduo possui de sua própria dignidade e deco-

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


HONRA SUBJETIVA (HONRA INTERNA) ro; trata-se do autoconceito dos atributos morais, éticos, físicos e
intelectuais. Refere-se ao nosso amor-próprio e autoestima

HONRA ESPECIAL OU PROFISSIONAL Referente a determinado grupo social ou profissional

Honra objetiva é aquilo que as pessoas (grupo social) pensam sobre o indivíduo.
Honra subjetiva é aquilo que o indivíduo pensa sobre si mesmo.

Calúnia

Art. 138 Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

A calúnia, que protege a honra objetiva, está prevista no art. 138, do Código Penal, e se configura quando o
agente caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime.
Exige-se que o fato imputado falsamente seja definido com um crime, não podendo ser uma mera contra-
venção penal. O crime pode ter acontecido ou não, para fins de consumação deste tipo penal.
Ex.: Joãozinho diz que Pedrinho praticou um roubo à padaria da esquina de onde moram, sabendo ser isso
falso. Pronto, Joãozinho praticou o crime de calúnia.
O crime de calúnia consuma-se quando o fato chega ao conhecimento de um terceiro, distinto do autor e da
vítima, já que o crime tutela a honra objetiva. Observe que o objeto jurídico protegido é a honra objetiva, que
consiste na reputação que a pessoa possui na sociedade.
6 GRECO, R. Curso de Direito Penal — Parte Especial V. II. Niterói: Editora Impetus, 2019, p. 392. 315
Tal crime não admite a modalidade culposa e, Nessas três hipóteses do § 3º, art. 138, do CP, ainda
segundo doutrina majoritária, pode ser praticado, que verdadeira a imputação, o crime de calúnia não
além do dolo direto, por dolo eventual. será excluído.
Não é exigido que o crime seja praticado na modali- Observa-se a possibilidade de a calúnia incidir
dade verbal, podendo ser praticado por outros meios, sobre o fato verdadeiro nessas três hipóteses em que
como, por exemplo, na modalidade escrita. a lei proíbe a exceção da verdade.
Em regra, a calúnia é crime unissubsistente, que A primeira ocorre quando o fato imputado cons-
se perfaz com a prática de um único ato, não sendo tituir delito de ação privada e o ofendido não houver
possível o fracionamento do seu iter criminis; entre- sido condenado por sentença transitada em julgado. A
tanto, caberá tentativa quando for possível promover vedação é justificada pelo princípio da disponibilida-
este fracionamento, a exemplo de calúnia praticada de da ação penal privada, que pode ou não ser ajuiza-
por meio de uma carta. da, consoante à exclusiva vontade do ofendido ou de
Em se tratando de intenção de brincar por parte do seu representante legal.
agente, não há que se falar no crime de calúnia, pois o A segunda hipótese, inciso II, do § 3º, do art. 138,
ato não tem o propósito de ofender, sendo assim, não
dita que não se admite a exceção da verdade quando a
incide no crime de calúnia – por falta de dolo – aquele
ofensa for irrogada contra o presidente da República
que age com intenção de brincar (animus jocandi).7
ou chefe de governo estrangeiro. Justifica-se a proibi-
ção pela alta relevância política desempenhada pelo
Art. 138 [...]
§ 1º Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a presidente da República, que não pode ficar à mercê
imputação, a propala ou divulga. de qualquer acusação. No tocante ao chefe de governo
§ 2º É punível a calúnia contra os mortos. estrangeiro, expressão que abrange o primeiro-minis-
tro e o presidente, a proibição encontra suas raízes na
Pune-se a calúnia praticada contra os mortos (nes- política de diplomacia que deve reinar nas relações
te caso, o sujeito passivo será família do morto): internacionais.
A terceira hipótese, inciso III, § 2º, do art. 138, de
z Segundo parte da doutrina, é possível que a calúnia proibição da vedação, dá-se quando o ofendido tiver
seja praticada contra pessoa jurídica, se o fato falsa- sido absolvido por sentença transitada em julgado do
mente imputado for referente a crime ambiental; fato criminoso que lhe é imputado, respeitando a coi-
z Equipara-se à calúnia, incorrendo nas mesmas sa julgada.
penas, a conduta daquele que, sabendo falsa a impu-
tação, a propala (espalha) ou divulga. Difamação

A calúnia admite, como regra, a exceção da verda- Art. 139 Difamar alguém, imputando-lhe fato
de, que nada mais se trata de prova da verdade, que é a ofensivo à sua reputação:
possibilidade que tem o agente de demonstrar que o fato Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
que ele imputou realmente aconteceu. Porém, em algu-
mas hipóteses não será admitida a exceção da verdade. A difamação configura-se quando o agente difa-
mar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua repu-
Art. 138 [...] tação. O crime de difamação tutela a honra objetiva. O
§ 3º Admite-se a prova da verdade, salvo: fato imputado pode ser falso ou verdadeiro, basta que
I - se, constituindo o fato imputado crime de ação seja ofensivo.
privada, o ofendido não foi condenado por sentença Ex.: Suponha que Lili diga para um grupo de vizi-
irrecorrível;
nhos que Márcia, também vizinha, é garota de progra-
II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas
indicadas no nº I do art. 141; ma e atende aos clientes no período noturno em sua
III - se do crime imputado, embora de ação pública, residência. A conduta praticada por Lili configura o
o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível. crime de difamação.
Observe que o fato imputado não constitui um cri-
Como regra, admite exceção da verdade, ou seja, me, podendo, inclusive, constituir uma contravenção
admite que o réu prove que a vítima realmente prati- penal. Entretanto, caso constitua crime, será calúnia.
cou o crime que lhe foi imputado. A difamação, assim como a calúnia, também se
No entanto, nos casos de crime imputado, embora consuma quando o fato chega ao conhecimento de um
de ação pública, em que o ofendido tenha sido absol- terceiro, distinto do autor e da vítima, já que também
vido por sentença irrecorrível, há uma presunção de protege a honra objetiva. Trata-se de crime formal e
que a imputação é falsa, respondendo o agente por ela. irá se configurar ainda que a conduta não desonre
Mas se o réu conseguir provar que o fato que impu- objetivamente a vítima.
tou à vítima é verdadeiro, ele será absolvido. Não há difamação praticada na modalidade cul-
Os crimes contra a honra dos Chefes dos Três Pode- posa. É possível a tentativa da difamação, quando for
res, com exceção da injúria (Presidente da República, possível fracionar o iter criminis, a exemplo da difa-
Presidente do Senado Federal, Presidente da Câma- mação cometida por meio de carta.
ra dos Deputados e Presidente do Supremo Tribunal A pessoa jurídica pode ser o sujeito passivo do cri-
Federal), em caso de motivação política, configurarão me de difamação.
delito contra a Segurança Nacional. Na difamação, a exceção da verdade não pode ser
Excepcionalmente, é proibida a prova da verdade, aplicada, salvo se o ofendido é funcionário público e a
em três hipóteses previstas no § 3º, art. 138. ofensa é relativa ao exercício da função.

316 7 (APn 887/DF, j. 03/10/2018).


� Exceção da Verdade Art. 140 [...]
§ 2º Se a injúria consiste em violência ou vias de
Art. 139 [...] fato, que, por sua natureza ou pelo meio emprega-
Parágrafo único. A exceção da verdade somente se do, se considerem aviltantes:
admite se o ofendido é funcionário público e a ofen- Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa,
sa é relativa ao exercício de suas funções. além da pena correspondente à violência.

Injúria No caso da injúria real, a ação penal do crime


deverá observar aquela prevista para a modalidade
Art. 140 Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignida- da lesão corporal praticada.
de ou o decoro: É possível que a injúria seja racial, quando consis-
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. tir na utilização de elementos referentes à raça, cor,
etnia, religião, origem ou à condição de pessoa idosa
A injúria, que tutela a honra subjetiva do agente, ou portadora de deficiência.
configura-se quando o agente injuriar alguém, ofen-
dendo-lhe a dignidade ou o decoro. Art. 140 [...]
Na injúria, o agente ofende a dignidade e o deco- § 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos
ro da vítima, emitindo ofensa depreciativa, mas sem referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a
condição de pessoa idosa ou portadora de defi-
imputar a ele fato definido como crime ou ofensivo
ciência: (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
a sua reputação. Exemplo: Fernando xinga Leandro,
Pena - reclusão de um a três anos e multa.
chamando-o de burro e idiota (fato genérico, indeter-
minado, vago). A conduta de Fernando configura o
Você deve levar em consideração para sua prova
crime de injúria.
os elementos que podem caracterizar a injúria racial,
Na injúria, há lesão à honra subjetiva da vítima, ou já que esse assunto tem grande incidência em provas.
seja, afeta-se o sentimento da pessoa em relação aos Sendo assim, caso o agente ofenda a vítima, fazendo
seus próprios atributos morais (dignidade), físicos e uso de um dos elementos mencionados, a exemplo do
intelectuais (decoro). Não é necessário que o fato che- agente que chama a vítima de macaco (utilize como
gue ao conhecimento de um terceiro. exemplo o caso do ex-goleiro do Santos Futebol Clube,
A injúria também é crime formal, consumando-se o Aranha, que foi chamado de macaco), irá cometer o
com a prática da conduta, independentemente de a crime de injúria racial.
vítima sentir lesada ou não a sua honra subjetiva.
A injúria só pode ser praticada dolosamente, não
sendo admitida a modalidade culposa. É admitida a Importante!
tentativa de injúria, quando o iter criminis puder ser
fracionado. Fique atento para não confundir a injúria racial
Lembre-se de que a injúria, assim como os demais com o crime de racismo.
crimes contra a honra, pode ser praticada por outros Na injúria racial, o animus do agente é ofender a
meios e não somente de forma verbal. honra subjetiva do indivíduo;
A injúria não admite exceção da verdade. No racismo, o animus é segregar; busca agredir
Sendo assim, é importante levar em consideração a coletividade.
o seguinte: O STJ e STF entenderam que a injúria racial é cri-
me imprescritível. Nos termos do relator Minis-
tro Edson Fachin “Assim, o crime de injúria racial,
EXCEÇÃO DA VERDADE

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


porquanto espécie do gênero racismo, é impres-
Calúnia É admitida como regra critível.” 8
Difamação É admitida excepcionalmente
Nos termos do § 2º, art. 138, do CP, é punível a calú-
Injúria Não é admitida
nia contra os mortos. Observe que não há a mesma
previsão para difamação e injúria.
Na injúria, o juiz pode deixar de aplicar a pena nos Nos casos de difamação e injúria, o sujeito passivo
seguintes casos: não é o morto, mas seu familiar.

Art. 140 [...] Disposições Comuns


§ 1º O juiz pode deixar de aplicar a pena:
I - quando o ofendido, de forma reprovável, provo- Vejamos as causas de aumento de pena aplicáveis
cou diretamente a injúria;
aos crimes contra a honra em geral (calúnia, difama-
II - no caso de retorsão imediata, que consista em
ção e injúria).
outra injúria.
Art. 141 As penas cominadas neste Capítulo
A injúria real configura-se quando a injúria con- aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes
siste em violência ou vias de fato, que, por sua nature- é cometido:
za ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes. I - contra o Presidente da República, ou contra chefe
Assim, caso o agente desfira um tapa no rosto da víti- de governo estrangeiro;
ma, com a intenção de ofendê-la (humilhá-la), irá pra- II - contra funcionário público, em razão de suas
ticar uma injúria real. funções;

8 HABEAS CORPUS 154.248. 317


III - na presença de várias pessoas, ou por meio que Por fim, sobre a ação penal nos crimes contra a
facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou honra, é importante que você saiba:
da injúria.
IV - contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou
portadora de deficiência, exceto no caso de injúria. AÇÃO PENAL NOS CRIMES CONTRA A HONRA

Regra Exceções
Atenção ao que dispõe o inciso IV, art. 141, pois a
pena não irá aumentar de 1/3 no caso de injúria pra- Ação será privada, Ação será pública condicionada
ticada contra pessoa maior de 60 anos ou portadora p ro c e d e n d o - s e nos casos de:
de deficiência. mediante queixa � Injúria real
A pena será aplicada em dobro se o crime contra � Injúria racial
a honra for praticado mediante paga ou promessa de � Se os crimes contra a honra fo-
recompensa. ram praticados contra funcionário
Veja as hipóteses de exclusão dos crimes contra público, em razão de suas funções
a honra:
Súmula 714 (STF) É concorrente a legitimidade do
Art. 142 Não constituem injúria ou difamação ofendido, mediante queixa e do Ministério Público,
punível: condicionada à representação do ofendido, para a
I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da cau- ação penal por crime contra a honra de servidor
sa, pela parte ou por seu procurador; público em razão do exercício de suas funções.
II - a opinião desfavorável da crítica literária, artís-
tica ou científica, salvo quando inequívoca a inten- Logo, atente-se a esta informação: nos casos de cri-
ção de injuriar ou difamar; mes contra a honra de funcionário público em razão
III - o conceito desfavorável emitido por funcioná- de suas funções, a ação penal será privada ou con-
rio público, em apreciação ou informação que pres- dicionada à representação do ofendido. A doutrina
te no cumprimento de dever do ofício.
dominante também entende desta forma.
Parágrafo único. Nos casos dos ns. I e III, responde pela
A ação será pública condicionada à requisição do
injúria ou pela difamação quem lhe dá publicidade.
Ministro da Justiça caso a conduta que configura cri-
me contra a honra seja praticada contra o Presidente
Para encerrarmos o assunto referente aos crimes
da República ou contra chefe de governo estrangeiro.
contra a honra, trataremos da retratação e da ação
penal. Segundo o Código Penal, a retratação, quando
CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL E CRIMES
admitida, constitui excludente de punibilidade.
CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL
Art. 143 O querelado que, antes da sentença, se
retrata cabalmente da calúnia ou da difamação, O caput do art. 5º, da Constituição Federal, assegu-
fica isento de pena. ra a todos o direito à liberdade. A partir dessa afir-
Parágrafo único. Nos casos em que o querelado mação, extrai-se que qualquer espécie de violação à
tenha praticado a calúnia ou a difamação utilizan- liberdade do ser humano reclama punição.
do-se de meios de comunicação, a retratação dar- O objeto jurídico é a liberdade do ser humano para
-se-á, se assim desejar o ofendido, pelos mesmos agir dentro dos limites legais.
meios em que se praticou a ofensa. Já o objeto material é a pessoa sobre a qual recai a
conduta criminosa.
Retratação refere-se à possibilidade que tem o Estudaremos, então, os crimes contra a liberdade
agente de retirar aquilo que disse, ou seja, de mani- individual.
festar que se equivocou em suas declarações, mani-
festando-se contrariamente ao que disse inicialmente. Constrangimento Ilegal
A injúria não admite retratação. O querelado que,
antes da sentença (segundo doutrina majoritária: sen- Art. 146 Constranger alguém, mediante violência
tença de 1º grau), retrata-se cabalmente da calúnia ou ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido,
da difamação, fica isento de pena. por qualquer outro meio, a capacidade de resistên-
Caso o querelado tenha praticado a calúnia ou cia, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que
difamação fazendo uso de meios de comunicação, ela não manda:
a retratação ocorrerá, caso assim deseje o ofendido, Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
pelos mesmos meios em que se praticou a ofensa.
Suponha que o agente tenha praticado o crime de Trata-se de crime comum que não admite a moda-
calúnia ou difamação pelo Facebook. Neste caso, a lidade culposa. É a imposição ilegal à vítima de um
retratação dar-se-á também pelo Facebook, se assim comportamento certo e determinado, comissivo ou
desejar a vítima. omissivo.
Caso alguém faça uso de referências, alusões ou Consuma-se o crime de constrangimento ilegal no
frases, sendo possível inferir calúnia, difamação ou instante em que a vítima faz ou deixa de fazer algo,
injúria, aquele que se julgar ofendido poderá pedir em decorrência da violência ou grave ameaça utiliza-
explicações em juízo. Caso seja recusado o pedido de da pelo agente. Admite tentativa.
explicações ou, a critério da autoridade judicial, não Ação penal: pública incondicionada.
tenha sido dado de maneira satisfatória, responderá O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, pois, tra-
pela ofensa. ta-se de crime comum.
318
Se o sujeito ativo for funcionário público, e o fato A pena será aplicada cumulativamente, nos termos
for cometido no exercício de suas funções, responderá do § 1º, art. 146, quando, para a execução do crime:
por abuso de autoridade, na forma na Lei 13.869, de
2019. z Reúnem-se mais de 3 (três pessoas) — deve
O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa, desde haver no mínimo 4 (quatro) pessoas;
que dotada de capacidade de autodeterminação. z Há emprego de arma — segundo a doutrina
A Lei nº 10.741, de 2003, Estatuto do Idoso, em seu dominante, pode ser qualquer arma e não neces-
art. 107, pune com reclusão, de 2 a 5 anos, aquele que sariamente arma de fogo.
coage, de qualquer modo, o idoso a doar, contratar,
testar ou outorgar procuração. Não serão enquadrados como constrangimento ilegal:
A Lei nº 7.170, de 1983, Crimes contra a Segurança
Nacional, no art. 28, sujeita à pena de reclusão, de 4 a Art. 146 [...]
12 anos, a conduta de atentar contra a liberdade pes- § 3º Não se compreendem na disposição deste
soal do Presidente da República, do Senado Federal, artigo:
I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consen-
da Câmara dos Deputados ou do Supremo Tribunal
timento do paciente ou de seu representante legal,
Federal.
se justificada por iminente perigo de vida;
A Lei nº 8.078, de 1990, Código de Defesa do Con- II - a coação exercida para impedir suicídio.
sumidor, no art. 71, prevê a pena de detenção, de 3
a 1 ano, e multa, para quem utilizar, na cobrança de Ameaça
dívidas, ameaça, coação, constrangimento físico ou
moral, afirmações falsas, incorretas ou enganosas, ou Art. 147 Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou
de qualquer outro procedimento que exponha o con- gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-
sumidor, injustificadamente, a ridículo ou interfira -lhe mal injusto e grave:
com seu trabalho, descanso ou lazer. Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Configurar-se-á como constrangimento ilegal Parágrafo único - Somente se procede mediante
quando o agente constranger alguém, mediante representação
violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver
reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de O crime de ameaça, previsto no art. 147, do Códi-
resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer go Penal, configurar-se-á quando o agente ameaçar
o que ela não manda. alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer
Exemplo: Jorge e Luís são vizinhos. Jorge é um outro meio simbólico, de lhe causar mal injusto e grave.
valentão que se sente dono do bairro. Certo dia, Luís O bem jurídico tutelado pela lei penal é a liberdade
passava pela rua, quando Jorge o aborda. Este, por- da pessoa humana, notadamente no tocante à paz de
tando uma arma de fogo, saca a arma e a aponta para espírito, ao sossego, à tranquilidade e ao sentimento de
Luís e diz que, sob pena de levar um tiro na cara, é segurança. É a pessoa contra a qual se dirige a ameaça.
para este dar meia volta e passar por outro lugar, Consuma-se quando a vítima toma conhecimento
já que não o quer mais passando por sua rua. Luís, do conteúdo da ameaça, pouco importando sua efe-
tiva intimidação e a real intenção do autor em fazer
temendo por sua vida, dá meia volta e retorna.
valer sua promessa.
A conduta de Jorge enquadra-se no constrangi-
O crime é formal, de consumação antecipada ou de
mento ilegal. Ele, fazendo uso de grave ameaça, cons-
resultado cortado. Basta o agente querer intimidar e a
trangeu Luís para que ele deixasse de fazer algo que a
sua ameaça ter capacidade para fazê-lo.
lei lhe permite (liberdade de locomoção).
A tentativa é admissível nas hipóteses de ameaça
A doutrina entende corretamente que o crime escrita, simbólica ou por gestos, e incompatível nos

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


de constrangimento ilegal é subsidiário; o agente casos de ameaça verbal.
por ele irá responder caso não seja enquadrado em Não se reclama nenhuma finalidade específica, e
uma outra conduta um tanto mais grave. Assim, caso não se admite a modalidade culposa. A ação penal é
o agente constranja a vítima, por meio de violência, pública condicionada à representação.
para que ela deixe de fazer alguma coisa, com o fim É possível verificar que o crime de ameaça é de
de obter para si vantagem econômica, não irá cometer ação livre, podendo ser praticado de qualquer forma
constrangimento ilegal, mas sim o crime de extorsão. pelo agente: verbalmente, por escrita, gestualmente,
O constrangimento ilegal admite tentativa, já que é entre outras formas.
crime plurissubsistente; é crime comum, que pode ser Assim, caso um indivíduo olhe para um desafeto
praticado por qualquer pessoa. e faça o gesto de uma arma com a mão e aponte para
Além das penas previstas para o constrangimen- este, o crime de ameaça poderá se configurar.
to ilegal, o agente irá responder pelas penas corres- É muito importante compreender que a ameaça
pondentes à violência; assim, caso o agente pratique está relacionada a um mal “injusto” e “grave”, con-
o crime por meio de violência, provocando lesões trário ao direito. Caso o agente ameace, por exemplo,
corporais na vítima, responderá por constrangimen- entrar na justiça para cobrar uma dívida (mal justo),
to ilegal em concurso material com o crime de lesões ele não irá cometer o crime de ameaça previsto no art.
corporais. 147, do CPB.
Trata-se de crime comum, que pode ser praticado
Art. 146 [...] por qualquer pessoa.
§ 1º As penas aplicam-se cumulativamente e em Em regra, não cabe tentativa, já que se trata de cri-
dobro, quando, para a execução do crime, se reú- me unissubsistente, que se consuma com a prática de
nem mais de três pessoas, ou há emprego de armas. um único ato; porém, a doutrina majoritária admite
§ 2º Além das penas cominadas, aplicam-se as cor- a tentativa se a ameaça for praticada na modalidade
respondentes à violência. escrita — por meio de uma carta, por exemplo. 319
A doutrina admite a ameaça condicionada, que Através dos meios utilizados o perseguidor acaba
ocorrerá quando o agente colocar uma condição para por:
a prática do mal injusto e grave. Exemplo: Mévio diz a
Tício: se você não fizer pelo menos um gol na final do z Ameaçar a integridade física da vítima;
campeonato, eu irei te matar. z Ameaçar a sua integridade psicológica;
O crime de ameaça se procede mediante ação z Restringir-lhe a capacidade de locomoção;
penal pública condicionada à representação. z De qualquer forma, invadir ou perturbar sua esfe-
ra de liberdade ou privacidade.
Perseguição
Veja que o crime de perseguição somente existe na
Art. 147-A Perseguir alguém, reiteradamente e por modalidade dolosa; no entanto, não há qualquer obje-
qualquer meio, ameaçando-lhe a integridade física tivo específico por parte do perseguidor, podendo agir
ou psicológica, restringindo-lhe a capacidade de motivado por ciúme, inveja, raiva, vingança, fixação,
locomoção ou, de qualquer forma, invadindo ou admiração, sentimento não correspondido ou outra
perturbando sua esfera de liberdade ou privacidade. razão qualquer.
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e Quanto as causas de aumento de pena, vejamos o
multa. que dispõe o § 1º:

O crime de perseguição é também conhecido por Art. 147-A [...]


crime de stalking (stalking deveria do verbo inglês § 1º A pena é aumentada de metade se o crime é
to stalk, que dá a ideia de perseguir incessantemente; cometido:
é uma palavra usada no mundo da caça, para fazer I - contra criança, adolescente ou idoso;
referência ao predador que persegue a presa de forma II - contra mulher por razões da condição de sexo
contínua). Alguns autores chamam o crime, ainda, de feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121 deste
perseguição ameaçadora ou de assédio por intrusão. Código;
Basicamente o delito consiste em uma forma de III - mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas
violência em que o sujeito ativo invade a vida privada ou com o emprego de arma.
da vítima, por meio da prática reiterada de atos que
acabam por restringir a liberdade do ofendido ou que O § 1º, do art. 147-A, apresenta formas majoradas
atacam sua privacidade. do crime de perseguição, hipóteses em que a pena é
O verbo-núcleo do tipo é perseguir, que tem o sen- aumentada da metade.
tido de importunar. O inciso I prevê três causas de aumento, tendo
em vista a idade da vítima; se for criança (menor de
12 anos); adolescente (entre 12 anos e dezoito anos
Importante! incompletos) ou idosa (idade igual ou superior a 60
anos).
O crime do art. 147-A somente se configura se A majorante que consta no inciso II, por sua vez,
a perseguição for praticada reiteradamente, isto segue a mesma fórmula prevista no feminicídio (§
é, de forma insistente, habitual (deve ser pratica- 2º-A, art. 121, do CP), isto é, aumenta-se a pena quan-
da pelo menos duas vezes). Uma única situação do o crime de perseguição é cometido contra mulher
não configura este tipo penal, como, por exem- por razões da condição de sexo feminino. Lembre-se,
plo, uma pessoa que, após uma discussão, per- considera-se que o crime é cometido por razões da
segue a outra de carro. condição de sexo feminino em duas hipóteses:

z No âmbito de violência doméstica e familiar;


Vale mencionar que, sendo crime habitual, não z Quando o crime é cometido com menosprezo ou
admite tentativa. discriminação à condição de mulher.
O delito do art. 147-A é um crime de forma livre,
isto é, a perseguição pode ser dar por qualquer meio. Por fim, a última majorante não diz respeito à víti-
Assim, o perseguidor (também chamado de stalker) ma, como nas anteriores, mas ao concurso de pessoas
pode seguir a vítima pessoalmente, a pé ou de carro, e ao emprego de armas. Em relação à primeira, veja
ou esperar sua passagem por lugares que frequente; que o dispositivo fala em 2 ou mais pessoas e não 2
pode, também, importuná-la por meio de telefone ou ou mais agentes (ou autor pode contar com a ajuda de
por aplicativos de mensagens ou, ainda, usar outros menores, por exemplo). Já em relação à majorante de
meios, como vigilância por câmeras, uso de drones emprego de armas, o entendimento é que podem ser
etc. armas de fogo ou armas brancas (faca, por exemplo).
Em outras palavras, os atos persecutórios podem
ser direitos ou indiretos, presenciais ou virtuais. São Art. 147-A [...]
exemplos de meios para praticar a perseguição seguir § 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuí-
a vítima todos os dias no trajeto até o trabalho; ligar zo das correspondentes à violência.
constantemente e desligar; rastrear a vítima por meio
de GPS; enviar presentes ou animais mortos; enviar Quanto ao concurso de crimes, o § 2º dispõe que,
mensagens por aplicativos de mensagens, sms, e-mail no caso de o perseguidor utilizar-se de violência para
ou cartas, entre outras formas. Quando realizada por provocar uma intimidação mais intensa da vítima, a
intermédio da internet, a perseguição é chamada de ele devem ser aplicadas também as penas relativas à
cyberstalking. violência.
320
Dica z Prejudique e perturbe o pleno desenvolvimen-
to da mulher, como, por exemplo, o marido ou
No caso do § 2º, seria a hipótese da aplicação do
companheiro que não permite que a mulher exer-
chamado concurso formal impróprio (previsto
ça livremente sua atividade profissional;
na parte final, do caput, do art. 70, do CP), situa-
z Vise degradar ou a controlar as ações, compor-
ção em que o sujeito ativo, movido por desígnios tamentos, crenças e decisões, como, por exem-
autônomos (quer perseguir e usar a violência), plo, quando se controla a forma como a mulher
mediante uma só conduta, provoca dois ou mais se porta socialmente, a forma como se veste, entre
resultados, devendo as penas serem somadas. outras escolhas.

Art. 147-A [...] Nos termos do art. 147-B, o dano emocional pode
§ 3º Somente se procede mediante representação ser causado por vários meios:

De acordo com o § 3º, do art. 147-A, a ação penal z Ameaça;


no crime de perseguição é pública condicionada à z Constrangimento;
representação, ou seja, a vítima ou seu representante z Humilhação;
devem, dentro do prazo decadencial, manifestar seu z Manipulação;
interesse em ver seguir o processo. z Isolamento;
z Chantagem;
Violência Psicológica Contra a Mulher z Ridicularização;
z Limitação do direito de ir e vir.
Outra importante inclusão realizada pela Lei nº
14.188, de 2021, foi a tipificação do crime de violência Por fim o artigo, em sua parte final, apresenta
psicológica contra a mulher. Vejamos: a expressão mediante qualquer outro meio que
causa prejuízo à sua saúde psicológica e autode-
Art. 147-B Causar dano emocional à mulher que
terminação. Trata-se de uma expressão mais aber-
a prejudique e perturbe seu pleno desenvolvimento
ta colocada pelo legislador (chamada de cláusula de
ou que vise a degradar ou a controlar suas ações,
interpretação analógica) que indica que o crime pode
comportamentos, crenças e decisões, mediante
ameaça, constrangimento, humilhação, manipula-
ocorrer de outras formas que não as elencadas na lei,
ção, isolamento, chantagem, ridicularização, limi- mas que acabem por gerar prejuízo à saúde psicológi-
tação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio ca e autodeterminação da vítima (como, por exemplo,
que cause prejuízo à sua saúde psicológica e quando o agente controla o uso das redes sociais e do
autodeterminação: telefone pela vítima).
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e A consumação do crime do art. 147-B, do CP, dá-se
multa, se a conduta não constitui crime mais com a causação do dano, isto é, do prejuízo à saúde
grave. psicológica e autodeterminação da mulher.

Importante: A violência psicológica é uma das for-


mas de violência contra a mulher prevista no inciso II, Importante!
art. 7º, da Lei Maria da Penha:
Nem sempre haverá a incidência da Lei nº
Art. 7º São formas de violência doméstica e fami-
11.340, de 2006 (Lei Maria da Penha) sobre o
liar contra a mulher, entre outras: art. 147-B, do CP, uma vez que o crime não exige

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


[...] violência doméstica ou familiar contra a mulher
II - a violência psicológica, entendida como qual- (a violência psicológica pode ser praticada, por
quer conduta que lhe cause dano emocional e exemplo, no âmbito profissional).
diminuição da autoestima ou que lhe prejudique
e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise
degradar ou controlar suas ações, comportamen- z Violência Psicológica como Motivo de Afasta-
tos, crenças e decisões, mediante ameaça, constran- mento do Agressor
gimento, humilhação, manipulação, isolamento,
vigilância constante, perseguição contumaz, insul- É importante também destacar as alterações da
to, chantagem, violação de sua intimidade, ridicu- Lei Maria da Penha no que concerne à violência psi-
larização, exploração e limitação do direito de ir e cológica contra a mulher. Vejamos:
vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à
saúde psicológica e à autodeterminação; Art. 12-C Verificada a existência de risco atual ou
iminente à vida ou à integridade física ou psicoló-
Voltando ao CP, a pena prevista é de 6 meses a 2 gica da mulher em situação de violência doméstica
anos, e multa, e o tipo é expressamente subsidiário, e familiar, ou de seus dependentes, o agressor será
ou seja, só terá incidência caso não configure crime imediatamente afastado do lar, domicílio ou local
mais grave. de convivência com a ofendida:
O novo tipo penal pode ser praticado por qualquer [...]
pessoa, homem ou mulher, sempre tendo a mulher
como sujeito passivo. A Lei nº 14.188, de 2021, alterou a o art. 12-C, da Lei
O núcleo do tipo é causar (gerar, originar, provo- Maria da Penha, para incluir a violência psicológica
car) dano emocional. O dano emocional, por sua vez, como fundamento para o afastamento do agressor do
nos termos da lei, pode ser aquele que: lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida. 321
Sequestro e Cárcere Privado executar o alvará de soltura imediatamente após
recebido ou de promover a soltura do preso quando
Art. 148 Privar alguém de sua liberdade, mediante esgotado o prazo judicial ou legal.
seqüestro ou cárcere privado:
Pena - reclusão, de um a três anos. Qualquer pessoa pode ser sujeito passivo. Se a víti-
§ 1º A pena é de reclusão, de dois a cinco anos: ma for ascendente, descendente, cônjuge ou compa-
I - se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou nheiro do agente, ou pessoa com idade superior a 60
companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) (sessenta) anos ou inferior a 18 (dezoito) anos, incide
anos;
a figura qualificada (incisos I e IV, § 1º, art. 148, do CP).
II - se o crime é praticado mediante internação da
Se a vítima for o Presidente da República, do Senado
vítima em casa de saúde ou hospital;
Federal, da Câmara dos Deputados ou do Supremo
III - se a privação da liberdade dura mais de quinze
dias.
Tribunal Federal, estará caracterizado crime contra
IV - se o crime é praticado contra menor de 18 a Segurança Nacional (art. 28, da Lei 7.170, de 1983).
(dezoito) anos; O elemento subjetivo é o dolo, sem qualquer fina-
V - se o crime é praticado com fins libidinosos. lidade específica. Não se admite a modalidade culpo-
§ 2º Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos sa. Se o propósito do agente for obter, para si ou para
ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço
ou moral do resgate, o crime será de extorsão mediante seques-
Pena - reclusão, de dois a oito anos. tro (art. 159, do CP). Se o delito for cometido com fins
libidinosos, incidirá a figura qualificada definida pelo
Antes de iniciarmos o estudo deste crime, é impor- inciso V, § 1º, art. 158, do CP.
tante entender a diferença entre o sequestro e o cár- O consentimento da vítima, se válido, exclui o
cere privado. crime.
No sequestro, ocorre restrição de liberdade da Este crime apresenta formas que o qualificam,
vítima, mas ela não fica necessariamente mantida em vejamos quais são elas:
recinto fechado. Já no cárcere privado, necessaria- Será qualificado o crime de sequestro e cárcere
mente a vítima terá sua liberdade restringida, sendo privado (incisos I ao V, § 1º, art. 158, do CP):
mantida em recinto fechado.
A consumação do crime dá-se com a privação da z Se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge
liberdade da vítima por tempo juridicamente relevan- ou companheiro do agente ou maior de 60 (ses-
te. Trata-se de crime permanente, ou seja, sua consu- senta) anos
mação se prolonga no tempo, fazendo com que seja
possível a prisão em flagrante do indivíduo a qual- A maior gravidade da conduta repousa no fato
quer momento enquanto a privação da liberdade da de ter sido o crime praticado no âmbito das relações
vítima estiver ocorrendo. familiares, no seio da união estável, ou ainda contra
Importante: Quando falamos em cárcere priva- pessoa idosa, mais frágil em razão da avançada ida-
do, estamos pensando em confinamento, clausura; já de, e, consequentemente, com menor possibilidade de
quando falamos em sequestro, estamos consideran- defesa.
do limites espaciais mais amplos. Ambos consistem na
privação da liberdade da vítima, sem o seu consenti- z Se o crime é praticado mediante internação da
mento, por tempo juridicamente relevante. Podem ser vítima em casa de saúde ou hospital
cometidos mediante detenção ou retenção.
A tentativa é possível, tanto no sequestro como no Crime conhecido como internação fraudulenta;
cárcere privado. pode ser praticado por médico ou por qualquer outra
O objeto jurídico é a liberdade de locomoção, con- pessoa.
sistente no direito de ir, vir e permanecer, de toda e
qualquer pessoa humana. z Se a privação da liberdade dura mais de 15
Tão relevante é esse direito que a Constituição (quinze) dias (inciso III)
Federal (CF), de 1988, prevê o habeas corpus como
garantia para zelar pelo seu respeito sempre que Quanto mais longa a supressão da liberdade, maio-
alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violên- res são as possibilidades de a vítima sofrer danos físi-
cia ou coação em sua liberdade de locomoção, por ile- cos e psíquicos.
galidade ou abuso de poder. Trata-se de crime a prazo. O período legalmente
O objeto material é a pessoa humana que suporta exigido deve ser computado em conformidade com
a conduta criminosa. a regra traçada pelo art. 10, do CP, compreendendo o
Importante: Qualquer pessoa pode ser o sujeito intervalo entre a consumação do delito e a libertação
ativo. Se, todavia, tratar-se de funcionário público do ofendido.
no exercício das suas funções, estará caracterizado o
crime de abuso de autoridade. Nos termos do inciso z Se o crime é praticado contra menor de 18
IV, art. 12, da Lei nº 13.869, de 2019 (Lei de Abuso de (dezoito) anos
autoridade), comete crime de abuso autoridade aque-
le que: Aplica-se às hipóteses em que a vítima é criança
ou adolescente e, nesse último caso, impede a utiliza-
Art. 12 [...] ção da agravante genérica prevista na alínea “h”, do
IV - prolonga a execução de pena privativa de liber- inciso II, art. 61, do CP. Não se confunde com o crime
dade, de prisão temporária, de prisão preventiva, tipificado no art. 230, da Lei nº 8.069, de 1990, Estatu-
de medida de segurança ou de internação, dei- to da Criança e do Adolescente, que apresenta crime
322 xando, sem motivo justo e excepcionalíssimo, de menos rigoroso.
z Se o crime é praticado com fins libidinosos

Esse inciso foi acrescido pela Lei nº 11.106, de 2005, para suprir a lacuna surgida em razão da revogação do
crime de rapto, que cuidava somente da privação da liberdade de mulher honesta. Atualmente, a qualificadora
consiste na privação da liberdade de uma pessoa, homem ou mulher, com fins sexuais. Trata-se de crime formal,
de resultado cortado ou de consumação antecipada — consuma-se com a privação da liberdade, desde que o
sujeito deseje praticar atos libidinosos com a vítima, pouco importando se alcança ou não o fim almejado. Se se
envolver sexualmente com a vítima, responderá, em concurso material, pelo delito em apreço e pelo respectivo
crime contra a liberdade sexual, tal como o estupro.
O § 2º qualifica o crime se resultar à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da detenção, grave
sofrimento físico ou moral. Estamos diante de crime qualificado pelo resultado. Os maus-tratos consistem na
conduta agressiva do agente que ofende a moral, o corpo ou a saúde da vítima, sem produzir lesão corporal. Se
ocorrer lesão corporal ou morte, haverá concurso material entre o sequestro ou cárcere privado, na forma sim-
ples, e o crime de lesão corporal ou homicídio.
Por fim, saiba que este crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa, e permanente (muito
importante que você fique atento à Súmula 711 do STF — A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou
ao crime permanente se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência).
Ex.: determinado agente pratica vários crimes em continuidade delitiva. Os primeiros atos são praticados sob
a égide de uma lei anterior menos grave. Os últimos atos são praticados sob a vigência de uma lei posterior mais
gravosa. Aplica-se ao crime continuado ou crime permanente sob cuja égide tenha cessado a continuidade, isto é,
a última lei, mesmo que seja mais grave.

Redução à Condição Análoga à de Escravo

Art. 149 Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada
exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua loco-
moção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência.

A doutrina classifica-o como crime de ação múltipla.


O tipo penal apresenta duas hipóteses equiparadas, respondendo o agente com as mesmas penas do tipo penal
principal.
Incorrerá nas mesmas penas aquele que cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalha-
dor, com o fim de retê-lo no local de trabalho, e aquele que mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se
apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.

Art. 149 [...]


§ 1º Nas mesmas penas incorre quem: (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
I - cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho;
(Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
II - mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalha-
dor, com o fim de retê-lo no local de trabalho. (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
§ 2º A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido: (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
I - contra criança ou adolescente; (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


II - por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem.

Observe o exemplo: Silvio, fazendeiro conhecido no interior de Goiás, coloca como jornada de trabalho para os
funcionários de sua fazenda a carga horária de 15 (quinze) horas diárias, pagando a eles um valor muito pequeno
como contraprestação. Silvio recusa-se a fornecer transporte para os trabalhadores irem embora, já que, segundo
ele, eles o devem valores referentes à moradia fornecida pela fazenda, não dispondo eles de outra maneira de ir
para casa senão pelo transporte da fazenda. Silvio está cometendo o tipo penal que estamos estudando.
O crime de redução à condição análoga à de escravo não admite a modalidade culposa, podendo ser praticado
apenas dolosamente.
É também crime permanente, portanto, sua conduta se prolonga no tempo.
Vejamos as causas de aumento de pena:

z Contra criança ou adolescente;


z Por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem.

Tráfico de Pessoas

Irá praticar o crime de tráfico de pessoas o agente que:

Art. 149-A Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave
ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a finalidade de:
I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo;
II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo;
III - submetê-la a qualquer tipo de servidão; 323
IV - adoção ilegal; ou
V - exploração sexual.

O tipo penal de tráfico de pessoas é misto alternativo, podendo ser praticado mediante a execução de qualquer
um dos seus 8 (oito) verbos.
Importante levar em consideração que, para compreender este tipo penal, é importante conhecer os verbos, os
meios empregados para a prática do crime e as finalidades. Acompanhe a tabela a seguir:

VERBOS MEIOS EMPREGADOS FINALIDADES

Agenciar
Aliciar Remover órgãos, tecidos ou partes do corpo
Grave ameaça
Recrutar Submeter a trabalhos em condições análogas à de
Violência
Transportar escravo
Coação
Transferir Submeter a qualquer tipo de servidão
Fraude
Comprar Adotar ilegalmente
Abuso
Alojar Explorar sexualmente
Acolher

Vamos exemplificar:
O agente, aqui no Brasil, realiza recrutamento de mulheres; por meio de fraude, faz propaganda de que o obje-
tivo é selecionar modelos para uma determinada marca de produtos de beleza e que o trabalho será na Europa.
Porém, as vítimas recrutadas seguem para a Europa e são submetidas à exploração sexual.
Veja que esse crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. Não se exige, também, nenhuma
condição especial do sujeito passivo do crime.
Quando há algumas circunstâncias específicas do agente ou da vítima e essas condições se encaixam nas
hipóteses da lei, a pena do crime de tráfico de pessoas será aumentada de 1/3 (um terço) até a metade. Vejamos:

Art. 149-A [...]


§ 1° A pena é aumentada de um terço até a metade se:
I - o crime for cometido por funcionário público no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las;
II - o crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou com deficiência;
III - o agente se prevalecer de relações de parentesco, domésticas, de coabitação, de hospitalidade, de dependência
econômica, de autoridade ou de superioridade hierárquica inerente ao exercício de emprego, cargo ou função; ou
IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território nacional.

Para encerrarmos o estudo dos crimes contra a liberdade pessoal, é importante mencionar que o crime de
tráfico de pessoas apresenta causa de diminuição de pena, desde que o agente preencha os 2 (dois) requisitos, que
são cumulativos.
A pena é reduzida de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se o agente:

z For primário;
z Não integrar organização criminosa.

CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO

Violação de Domicílio

Art. 150 Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de
direito, em casa alheia ou em suas dependências:
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
§ 1º Se o crime é cometido durante a noite, ou em lugar ermo, ou com o emprego de violência ou de arma, ou por
duas ou mais pessoas:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da pena correspondente à violência.

O agente que entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra vontade expressa ou tácita de
quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências, irá cometer o crime de violação de domicílio.
O crime de violação de domicílio é crime de mera conduta, já que a lei descreve a conduta, mas não descreve
resultado naturalístico; é, também, crime comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa.
Tutela-se, nesse crime, a tranquilidade doméstica, abrangente da intimidade, da segurança e da vida privada
proporcionadas pelo domicílio.
A incriminação da violação de domicílio não protege a posse ou a propriedade.
Não configura o delito em análise o ingresso em casa abandonada ou desabitada, podendo restar caracteriza-
do o crime de esbulho possessório, previsto no inciso II, § 1º, art. 161, do CP (crime contra o patrimônio).
324
Importante! É o “quem de direito”, o sujeito que tem o poder de
admitir ou excluir alguém da sua casa, pouco impor-
Casa desabitada não se confunde com casa na
tando quer seja ou não seu proprietário.
ausência de seus moradores, pois, nesse caso,
Pode ser:
é possível o crime de violação de domicílio, uma
vez que subsiste a proteção da tranquilidade z Uma pessoa a quem os demais habitantes da casa
doméstica. estão subordinados (regime de subordinação);
z Diversas pessoas, habitantes da mesma residência,
em relação isonômica (regime de igualdade).
Quanto ao objetivo material, é o domicílio invadi-
do, que suporta a entrada ou permanência de alguém,
O elemento subjetivo desse crime é o dolo, abran-
clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade
gente do elemento normativo “contra a vontade ex-
expressa ou tácita de quem de direito.
pressa ou tácita de quem de direito”.
Verifica-se que é necessário que a conduta seja
O crime é incompatível com o dolo eventual.
praticada clandestina ou astuciosamente, ou contra
Há atipicidade, por ausência de dolo, nas condutas
a vontade expressa ou tácita de quem de direito. Se de entrar em casa alheia para esconder-se da polícia
presente o consentimento do morador, explícito ou ou quando o sujeito supõe ingressar em local diverso
implícito, o fato é atípico. do proibido (erro de tipo). Não se admite a modalida-
Entrar ou permanecer clandestinamente em casa de culposa.
alheia ou em suas dependências significa fazê-lo de Crime de mera conduta ou de simples atividade.
forma oculta, sem se deixar notar pela vítima. Por sua Consuma-se quando o sujeito ingressa completa-
vez, entrar ou permanecer astuciosamente consiste mente na casa da vítima, ou então quando, ciente de
em conduta fraudulenta, maliciosa. que deve sair do local, não o faz por tempo juridica-
Entrar ou permanecer em casa alheia ou em suas mente relevante. É imprescindível a entrada concreta
dependências contra a vontade expressa ou tácita de em casa alheia.
quem de direito enseja a entrada ou permanência Cabe tentativa? É possível na conduta “entrar”
francas. Nesses casos, o dissentimento de quem de (crime comissivo), e incabível no núcleo “permane-
direito pode ser expresso ou tácito. cer” (crime omissivo próprio ou puro).
Sobre o sujeito ativo, o crime é comum, poden- Este crime apresenta forma qualificada:
do ser praticado por qualquer pessoa, inclusive pelo
proprietário do bem, quando entra ou permanece na z Durante a noite;
residência ocupada pelo inquilino contra sua vontade z Em lugar ermo;
expressa ou tácita. z Com o emprego de violência ou de arma;
Atenção: Se a violação de domicílio for praticada z Por 2 (duas) ou mais pessoas.
por agente público, resta configurado o crime da Lei
de Abuso de autoridade, Lei nº 13.869, de 2019, em seu Os patamares mínimo e máximo da pena do crime
art. 22. Veja em sua literalidade: serão alterados (de 1 a 3 meses para 6 meses a 2 anos)
se praticado em uma das hipóteses previstas.
Art. 22 Invadir ou adentrar, clandestina ou astu- Observe o que o Código Penal diz sobre a expres-
ciosamente, ou à revelia da vontade do ocupante, são “casa”:
imóvel alheio ou suas dependências, ou nele per-
manecer nas mesmas condições, sem determinação Art. 150 [...]
judicial ou fora das condições estabelecidas em lei: § 4º A expressão “casa” compreende:

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e I - qualquer compartimento habitado;
multa. II - aposento ocupado de habitação coletiva;
III - compartimento não aberto ao público, onde
Em que pese a possibilidade de configuração do alguém exerce profissão ou atividade.
crime de abuso de autoridade, este não será conside-
rado quando a violação ao domicílio se der por fun- A expressão “casa” não compreende:
dadas suspeitas de ocorrência de crime no interior da
residência.9 Art. 150 [...]
O Código Penal não protege a propriedade nem a § 5º Não se compreendem na expressão “casa”:
posse indireta do locador. I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habita-
ção coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do
O locatário, possuidor direto do imóvel, não é ofen-
n.º II do parágrafo anterior;
dido em sua posse, e sim em sua tranquilidade domés-
II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.
tica. A serviçal que permite o ingresso do amante em
seu quarto pratica o crime em concurso com ele.
Para encerrarmos o assunto violação de domicílio,
O divorciado pode cometer o crime ao entrar ou por fim, veremos os casos em que, mesmo com a vio-
permanecer na residência do seu ex-cônjuge contra lação, o fato não constituirá crime.
sua vontade.
Não há crime quando uma mulher, na ausência Art. 150 [...]
do seu marido, permite a entrada do amante em sua § 3º Não constitui crime a entrada ou permanência
residência. em casa alheia ou em suas dependências:
Vejamos, o sujeito passivo é o titular do direito à I - durante o dia, com observância das formalidades
tranquilidade doméstica. legais, para efetuar prisão ou outra diligência;

9 STF – RE 603.616/RO. 325


II - a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum Devassar significa acessar o conteúdo da corres-
crime está sendo ali praticado ou na iminência de o pondência, não necessariamente exigindo a divul-
ser. gação deste conteúdo. O sigilo da correspondência
é inviolável, por expressa disposição constitucional
Em concurso de crimes: a caracterização do delito (inciso XII, art. 5º).
reclama que tenha o agente, como finalidade própria, A devassa pode ser efetuada por qualquer meio;
ingressado ou permanecido em casa alheia, e nada embora seja o método mais comum, não é obrigató-
mais do que isso. ria a abertura da correspondência — o sujeito pode
Quando assim atua como meio de execução de conhecer o conteúdo de uma carta apalpando o objeto
outro crime mais grave, a violação de domicílio fica que está em seu interior, por exemplo, dinheiro, car-
absorvida (princípio da consunção). tão bancário, objetos de valor.
Subsiste o crime de violação de domicílio quando Assim, também pode praticar o delito o agente que
há dúvida acerca do verdadeiro propósito do agente se inteirar do seu conteúdo sem abri-la.
e quando caracteriza desistência voluntária, pois o Para caracterização do crime, não basta ao agen-
agente só responde pelos atos praticados. te devassar o conteúdo de correspondência fechada
Ação penal: pública incondicionada. dirigida a outrem. É preciso que o faça indevidamen-
te, sem ter o direito de tomar conhecimento do seu
CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DE conteúdo.
CORRESPONDÊNCIA O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, pois se
trata de crime comum.
Violação de Correspondência Incidirá uma agravante genérica se o crime for
cometido por pessoa prevalecendo-se do cargo, ou em
Observe: abuso da função.
É imprescindível que o sujeito pratique o fato em
Art. 151 Devassar indevidamente o conteúdo de decorrência do cargo ou função específica por ele
correspondência fechada, dirigida a outrem: desempenhada, relativa ao serviço postal.
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Detalhe: para ser sujeito passivo, observamos que
há duas vítimas o remetente e o destinatário.
A lei penal, por objeto jurídico, tutela a liberdade Exclui-se o crime se qualquer um deles autorizar
de comunicação do pensamento, concretizada pelo o conhecimento do conteúdo da correspondência por
sigilo da correspondência. terceira pessoa. Enquanto não chega ao destinatário,
É a correspondência, objeto material, por exemplo pertence unicamente ao remetente.
carta, bilhete, telegrama etc., violada pela conduta Vejamos alguns pontos importantes:
criminosa. A correspondência pode ser particular ou
oficial, pouco importando que esteja ou não redigida z A impossibilidade de localização do destinatário
em português. Exige-se, porém, que se trate de idio- não afasta o crime;
ma conhecido, pois, na hipótese de ser veiculada por z O falecimento do remetente não exclui o delito;
códigos incompreensíveis e indecifráveis, haverá cri- z Se a correspondência ainda não foi enviada, e
me impossível por absoluta impropriedade do objeto sobreveio sua morte, seus herdeiros têm o direi-
(art. 17, do CP). to de conhecer seu conteúdo, pois ela agora lhes
A lei penal protege a correspondência fechada, pertence;
pois somente esta contém em seu interior um segre- z Se o destinatário falece antes de receber a corres-
do. É preciso que seja a correspondência endereçada pondência, seus sucessores poderão conhecer seu
a destinatário específico. conteúdo, que provavelmente a eles interessa.
Não há crime de violação de correspondência:
O crime de violação de correspondência é dolo-
z Conduta do sujeito que lê uma carta cujo envelope so, abrange a ilegitimidade da conduta de devassar a
está aberto; correspondência alheia. Não se admite a modalidade
z Correspondências cujos envelopes possuem a culposa.
expressão “este envelope pode ser aberto pela Se a finalidade do agente for praticar espionagem
Empresa de Correios e Telégrafos”; contrária à Segurança Nacional, serão aplicáveis o
z Aquele que abre uma carta que encontrou e estava caput do art. 13 e o art. 14, da Lei nº 7.170, de 1983,
perdida há décadas em lugar público; conforme o caso.
z Alguém abre uma carta remetida ao povo, aos elei- O crime de violação de correspondência consuma-
tores em geral, aos amantes do futebol etc.; -se com o conhecimento do conteúdo da correspon-
z Os pais que abrirem cartas estranhas endereçadas dência. É possível a tentativa.
aos filhos menores; A ação penal é pública condicionada à representação.
z Ao diretor do estabelecimento prisional é assegu- Tratando-se de crime de dupla subjetividade pas-
rado o direito de acessar o conteúdo de correspon- siva (remetente e destinatário), o direito de represen-
dências suspeitas remetidas aos presos (inciso XV, tação pode ser exercido tanto pelo remetente como
§ único, art. 41, da Lei de Execução Penal); pelo destinatário da correspondência. Se um deles
z Quando um dos cônjuges abre correspondências quiser representar, e o outro não, prevalece a vontade
encaminhadas ao outro cônjuge, não há crime, em daquele que deseja autorizar a instauração da perse-
face do exercício regular de direito. cução penal.

326
Sonegação ou Destruição de Correspondência Aplica-se o § 1º, art. 56, da Lei nº 4.117, de 1962 —
Código Brasileiro de Telecomunicações — nas hipóte-
Acompanhe: ses em que a violação é praticada por funcionário do
governo encarregado da transmissão da mensagem.
Art. 151 [...] A parte final, do inciso II, § 1º, art. 151, do CP, foi
§ 1º Na mesma pena incorre: derrogada pela Lei nº 9.296, de 1996, que regulamenta
I - quem se apossa indevidamente de correspondên-
a parte final do inciso XII, art. 5º, da CF, de 1988.
cia alheia, embora não fechada e, no todo ou em
A Lei nº 9.296, de 1996 — Interceptação Telefônica
parte, a sonega ou destrói;
— criou um tipo penal específico para a violação do
sigilo telefônico no art. 10, veja:
É necessário que a correspondência seja endereça-
da a destinatário específico. Art. 10 Constitui crime realizar interceptação de
O crime previsto no § 1º, art. 40, da Lei 6.538, de comunicações telefônicas, de informática ou tele-
1978, é crime autônomo em relação ao caput deste mática, promover escuta ambiental ou quebrar
artigo. As penas alternativas cominadas em abstrato segredo da Justiça, sem autorização judicial ou
são as mesmas do delito de violação de correspondên- com objetivos não autorizados em lei.
cia, mas o legislador utilizou outro núcleo e inseriu Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e
novas elementares. multa.
O objeto jurídico é a inviolabilidade da correspon-
dência, no sentido de ser preservada pelo seu titular O dispositivo continua aplicável ao terceiro que
até quando reputar conveniente. não interveio na interceptação telefônica criminosa,
Tem como objetivo material a correspondência mas divulgou-a a outras pessoas.
alheia, mas agora retirada da esfera de disponibilida- Esse inciso II, § 1º, art. 151, do CP, tem como núcleo
de do seu titular. divulgar, transmitir e utilizar, tipo misto alternati-
Pode, no entanto, estar aberta ou fechada, uma vez vo. A prática de mais de uma conduta visando igual
que a conduta consiste em apossar-se da correspondên- objeto material caracteriza crime único.
cia para sonegá-la ou destruí-la, indevidamente, e não Divulgar é tornar algo público, dando conheci-
para tomar conhecimento ilegítimo do seu conteúdo. mento do seu conteúdo a outras pessoas.
A conduta consiste em apossar-se de correspon- Transmitir significa enviar de um local para outro.
dência alheia, ainda que aberta, para sonegá-la ou Utilizar é fazer uso de algo.
destruí-la, no todo ou em parte.
A modalidade desse crime é o dolo, abrangente da
ilegitimidade da conduta de apossar-se de correspon- Importante!
dência alheia, com a exigência da finalidade específi-
Na hipótese de um terceiro concorrer de qual-
ca de sonegá-la ou destruí-la.
quer modo para a interceptação telefônica ilegal,
É possível a tentativa.
será partícipe do crime definido pelo art. 10, da
Causa de aumento da pena:
Lei 9.296, de 1996. Se tiver ciência de uma gra-
Art. 151 [...] vação oriunda de violação telefônica indevida, e
§ 2º As penas aumentam-se de metade, se há dano divulgá-la, a ele será imputado o crime definido
para outrem. pelo inciso I, § 1º, art. 151, do CP.
O dano pode ser econômico ou moral, e o prejudi-
cado pode ser o remetente, o destinatário ou mesmo A modalidade do crime prevista no inciso III, § 3º,

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


um terceiro. art. 151, do CP, está em vigor.
Por tratar-se de crime de dupla subjetividade passi- A figura do inciso III é impedir, obstruir, a comu-
va, o direito de representação pode ser exercido tanto nicação ou conversação telegráfica, radioelétrica
pelo remetente como pelo destinatário da correspon- ou telefônica. Pune-se o indivíduo que, sem amparo
dência. Se um deles quiser representar, e o outro não, legal, não deixa ser realizada a comunicação ou con-
prevalece a vontade daquele que deseja autorizar a versação alheia.
instauração da persecução penal. O inciso IV, § 1º, art. 151, do CP, foi substituído pelo
art. 70, da Lei nº 4.117, de 1962 — Código Brasileiro de
Violação de Comunicação Telegráfica, Radioelétrica Telecomunicações.
ou Telefônica A finalidade da lei é vedar a uma pessoa, sem auto-
rização legal, a instalação ou utilização de aparelho
Art. 151 [...]
clandestino de telecomunicações.
§ 1º [...]
Nesse crime, tem-se por objeto jurídico o sigilo da
II - quem indevidamente divulga, transmite a
comunicação transmitida pelo telégrafo, pelo rádio e
outrem ou utiliza abusivamente comunicação tele-
gráfica ou radioelétrica dirigida a terceiro, ou con-
pelo telefone.
versação telefônica entre outras pessoas; O objeto material é a comunicação telegráfica ou
III - quem impede a comunicação ou a conversação radioelétrica dirigida a terceiro, ou a conversação
referidas no número anterior; telefônica entre pessoas, indevidamente divulgada,
IV - quem instala ou utiliza estação ou aparelho transmitida a outrem ou utilizada abusivamente.
radioelétrico, sem observância de disposição legal. O crime é de modalidade dolosa. Quanto à utiliza-
ção de comunicação telegráfica ou radioelétrica, exi-
A primeira parte, do inciso II, § 1º, art. 151, do CP, ge-se que o sujeito cometa o fato abusivamente, isto
está em vigor unicamente nas hipóteses em que a vio- é, com a consciência de abusar quanto ao uso indevi-
lação é efetuada por pessoas comuns. do da mensagem. 327
Sobre a consumação, observa-se que no tipo pre- abrir uma carta, ou por omissão, por exemplo, deixar
visto no inciso II ocorre com a divulgação, transmis- uma correspondência ser destruída pela chuva.
são ou utilização abusiva. A divulgação necessita do Desviar é afastar a correspondência do seu real
conhecimento do conteúdo da comunicação por um destino.
número indeterminado de pessoas. Sonegar é esconder, no sentido de obstar a che-
A ação penal na hipótese do inciso I é pública gada da correspondência ao correto estabelecimento
incondicionada. Nas hipóteses dos incisos II e III, é comercial ou industrial.
pública condicionada à representação. Já para o pre- Subtrair é apoderar-se da correspondência comer-
visto no inciso IV, é pública incondicionada. cial, retirando do seu devido lugar ou impedindo seu
envio ao destino original.
Art. 151 [...] Suprimir é destruir para que a correspondência
§ 2º As penas aumentam-se de metade, se há dano
não seja entregue em seu destino, ou para que seja
para outrem.
retirada do estabelecimento comercial ou industrial
para o qual foi encaminhada.
As penas, em todas as hipóteses, aumentam-se de
Revelar é permitir o acesso ao conteúdo da cor-
metade, se há dano para outrem.
respondência do estabelecimento comercial ou indus-
Esse dano pode ser econômico ou moral, e perti-
trial a quem seja alheio aos seus quadros ou não tenha
nente a qualquer pessoa.
o direito de conhecer o que nela se contém.
Art. 151 [...] Sobre o sujeito ativo, somente pode ser o sócio ou
§ 3º Se o agente comete o crime, com abuso de fun- empregado do estabelecimento comercial ou indus-
ção em serviço postal, telegráfico, radioelétrico ou trial, por ser crime próprio.
telefônico: Já o sujeito passivo é o estabelecimento comercial
Pena - detenção, de um a três anos. ou industrial titular da correspondência violada.
Esse crime é praticado na modalidade dolosa. Exi-
Aplicável às hipóteses não revogadas pela Lei nº ge-se também um especial fim de agir, representa-
4.117, de 1962 — Código Brasileiro de Telecomunica- do pela intenção de abusar da condição de sócio ou
ções — e pela Lei nº 6.538, de 1978 — Serviços Postais. empregado. É necessário ter o agente, ao tempo da
A incidência da figura qualificada só será cabível conduta, a consciência de que abusa da sua peculiar
quando o sujeito ativo desempenhar alguma função condição em relação à vítima.
em serviço postal, telegráfico, radioelétrico ou telefô- Não se admite a modalidade culposa.
nico, e dela abusar. O crime é formal, de consumação antecipada ou
Exige-se a relação de causalidade entre a fun- de resultado cortado. Consuma-se quando o agente
ção exercida abusivamente pelo agente e o delito desvia, sonega, subtrai ou suprime a correspondên-
praticado. cia comercial, ou então quando revela a terceiro seu
Quanto à qualificadora, a ação penal é pública conteúdo.
incondicionada. É possível a tentativa.
A ação penal é pública condicionada à representação.
Correspondência Comercial
CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DOS
Art. 152 Abusar da condição de sócio ou emprega- SEGREDOS
do de estabelecimento comercial ou industrial para,
no todo ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou Observamos que o inciso X, art. 5º, da CF, de 1988,
suprimir correspondência, ou revelar a estranho
é responsável por assegurar a inviolabilidade de dois
seu conteúdo:
direitos fundamentais do ser humano: honra e vida
Pena - detenção, de três meses a dois anos.
Parágrafo único. Somente se procede mediante privada.
representação. Reserva-se a toda pessoa o direito de manter segre-
do acerca de fatos de sua vida privada. Nessa seara, a
O objeto jurídico desse crime é a inviolabilidade norma constitucional resguarda os segredos pessoais.
de correspondência. A lei penal tutela a liberdade de De fato, um segredo inerente a alguém, quando
comunicação do pensamento transmitida por meio de divulgado ou revelado sem justa causa, tem o condão
correspondência comercial. de acarretar sérios danos às pessoas em geral.
O objeto material é a correspondência comercial Vejamos, os arts. 153 e 154, do Código Penal, res-
que suporta a conduta criminosa. No conceito de cor- guardam o conhecimento público de segredos cuja
respondência comercial, encaixa-se toda e qualquer revelação possa produzir danos a alguém.
carta, bilhete ou telegrama inerente à atividade mer- Não ingressa na proteção penal, consequentemen-
cantil. Deve relacionar-se às atividades exercidas pelo te, a punição pela revelação ou divulgação de fatos
estabelecimento comercial ou industrial. secretos incapazes de proporcionar consequências
O núcleo do tipo é abusar, que significa utilizar de jurídicas ao seu titular.
forma excessiva ou inadequada. Secreto é o fato da vida privada que se tem interes-
Os sócios ou empregados, no exercício de suas se em ocultar.
atividades, geralmente têm acesso a informações Pressupõe dois elementos:
contidas em correspondências endereçadas ao esta-
belecimento comercial ou industrial. z Negativo: ausência de notoriedade;
A conduta de abusar concretiza-se mediante o ato z Positivo: vontade determinante de sua custódia
de, no todo ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou ou preservação.
suprimir correspondência, ou revelar a estranho seu
328 conteúdo. Pode ser exteriorizada por ação, por exemplo,
Nos crimes contra a inviolabilidade de corres- Sujeito passivo é aquele a quem a divulgação do
pondência, o legislador busca coibir o conhecimen- segredo possa produzir dano, remetente, destinatário
to do conteúdo de uma missiva sem autorização ou qualquer outra pessoa.
para tanto; tutela-se unicamente a inviolabilidade de Esse crime é praticado na modalidade dolosa.
correspondência. Não se admite a forma culposa.
Já nos crimes contra a inviolabilidade dos segre- Consuma-se no instante em que o segredo é divul-
dos, protege-se um segredo nela contido, capaz de gado para um número indeterminado de pessoas.
ser divulgado ou revelado e com isso, causar danos a É possível a tentativa.
outrem. Além disso, o bem jurídico resguardado pela
lei penal é a inviolabilidade dos segredos. Art. 153 [...]
§ 1º-A Divulgar, sem justa causa, informações sigi-
Divulgação de Segredo losas ou reservadas, assim definidas em lei, conti-
das ou não nos sistemas de informações ou banco
Art. 153 Divulgar alguém, sem justa causa, conteú- de dados da Administração Pública:
do de documento particular ou de correspondência Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
confidencial, de que é destinatário ou detentor, e
cuja divulgação possa produzir dano a outrem:
A qualificadora, denominada de divulgação de
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa, de
sigilo funcional de sistemas de informações, foi ins-
trezentos mil réis a dois contos de réis.
§ 1º Somente se procede mediante representação. tituída pela Lei nº 9.983, de 2000, com o fim de tutelar
as informações sigilosas ou reservadas de interesse
O objeto jurídico é a inviolabilidade da intimidade da Administração Pública, notadamente as relativas à
ou da vida privada. Veda-se a divulgação de segredos Previdência Social.
cujo conhecimento por terceiros pode trazer prejuízos É necessário que a informação sigilosa ou reserva-
ao seu titular. da tenha conteúdo material.
O objeto material é o conteúdo secreto de docu- Logo, não há crime quando se tratar de informação
mento particular ou de correspondência confidencial. meramente verbal, ainda que sigilosa ou reservada.
Vejamos que o núcleo do tipo é divulgar, vulgari-
zar, tornar público ou conhecido um fato ou informa-
ção. Não basta a comunicação a uma só pessoa ou a Importante!
um número reduzido e limitado, exige-se propagação,
Informações são os dados sobre alguém ou
difusão, possibilitando o conhecimento do fato a um
número indeterminado de pessoas.
algo.
A conduta de divulgar pode ser praticada por Sigilosa é a informação confidencial, secreta.
variados meios — crime de forma livre. Veda-se que Reservada é a informação merecedora de cuida-
uma pessoa, destinatária de um documento particular dos especiais em relação às pessoas que dela
ou de uma correspondência confidencial, possa divul- possam ter ciência.
gá-la a terceiros, provocando danos a alguém.
Esse tipo penal não se aplica ao documento públi-
co, por ausência de previsão legal. A revelação do seu Trata-se de crime comum: pode ser praticado por
conteúdo pode, contudo, caracterizar o crime de vio- qualquer pessoa.
lação de sigilo funcional, previsto no art. 325, do CP. Se o sujeito ativo for funcionário público, a ele será
O elemento do tipo está contido na expressão sem imputado o crime de violação de sigilo funcional, con-
forme art. 325, do CP.

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


justa causa. Não é qualquer divulgação de conteúdo
de documento particular ou de correspondência confi- O sujeito passivo é o Estado.
dencial que caracteriza o delito de divulgação de segre- Nada impede a existência de um particular como
do — a divulgação deve ser realizada sem justa causa. sujeito passivo, desde que possa ser prejudicado pela
A justa causa conduz à exclusão da tipicidade divulgação das informações sigilosas ou reservadas.
do fato. Há justa causa, entre outras, nas seguintes
hipóteses: Art. 153 [...]
§ 2º Quando resultar prejuízo para a Administra-
z Comunicação à autoridade policial, ao Ministério ção Pública, a ação penal será incondicionada.
Público ou ao Poder Judiciário de infração penal;
z Consentimento do interessado; No caput, a ação penal é pública condicionada à
z Para servir de prova da existência de uma infração representação.
penal ou de sua autoria; Não se aplica a regra prevista no § 2º, art. 153, do
z Dever de testemunhar em juízo; CP, pois o tipo fundamental fala somente em dano a
z Defesa de interesse legítimo. outrem, excluindo, portanto, a eficácia penal da con-
duta criminosa em relação à Administração Pública.
Também não há crime quando alguém entrega à Na figura qualificada, em regra, é pública condicio-
autoridade policial, ao Ministério Público ou à autori- nada à representação.
dade judiciária uma missiva recebida de outrem, con- Nesse caso, somente o particular é ofendido pela
tendo a confissão de um delito pelo verdadeiro autor. conduta criminosa. No entanto, se do fato resultar
Trata-se de um crime próprio, pois o sujeito ativo prejuízo para a Administração Pública, a ação penal
do crime somente pode ser o destinatário ou detentor será pública incondicionada.
do documento particular ou correspondência de con-
teúdo confidencial. 329
Violação do Segredo Profissional

Acompanhe o que dispõe o art. 154:

Art. 154 Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou
profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa de um conto a dez contos de réis.
Parágrafo único. Somente se procede mediante representação.

O objeto jurídico é a inviolabilidade da intimidade e da vida privada das pessoas, relativamente ao segredo profissio-
nal. O dever de guardá-lo, contudo, não é absoluto.
Já o objeto material é o assunto transmitido ao profissional em caráter sigiloso.
O núcleo do tipo é revelar, no sentido de delatar ou denunciar.
O crime é de forma livre, comportando qualquer meio de execução.
Por ser crime próprio, somente pode ser cometido por quem teve conhecimento do segredo em razão de sua
função, ministério, ofício ou profissão.
Qualquer pessoa está suscetível a ser sujeito passivo prejudicado pela revelação do segredo, seja seu titular ou
até mesmo um terceiro.
Esse crime é praticado na modalidade dolosa, abrangente da ciência da ilegitimidade da conduta e da possibili-
dade de causar dano a outrem. Não se admite a modalidade culposa, e não se exige nenhuma finalidade específica.
Consuma-se no instante em que o confidente necessário revela a terceira pessoa o segredo de que tem ciência
em razão de função, ministério, ofício ou profissão. Basta que seja contado o conteúdo do segredo a uma única
pessoa, desde que esta conduta possa causar dano a alguém, patrimonial ou moral. Prescinde-se da produção do
resultado naturalístico. O crime é formal, de resultado cortado ou de consumação antecipada.
É admissível a tentativa na revelação do segredo por escrito, tal como na carta que se extravia (delito
plurissubsistente).
É pública condicionada à representação, a teor do parágrafo único, art. 154, do CP.

Invasão de Dispositivo Informático

Art. 154-A Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores, mediante violação
indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autori-
zação expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.

Em primeiro lugar, a Lei nº 14.155, de 2021, modificou o caput do art. 154-A, que dispõe sobre o crime de inva-
são (ou violação) de dispositivo informático.
Vale lembrar que o crime do art. 154-A foi inserido no Código Penal, em 2012, pela Lei nº 12.737, de 2012 (deno-
minada Lei Carolina Dieckmann em alusão ao caso de divulgação de imagens envolvendo a atriz).
Veja, no quadro a seguir, a comparação entre a redação original do caput do art. 154-A com a redação atual,
trazida pela Lei nº 14.155, de 2021:

REDAÇÃO ORIGINAL REDAÇÃO ATUAL

Art. 154-A Invadir dispositivo informático alheio, conec- Art. 154-A Invadir dispositivo informático de uso alheio,
tado ou não à rede de computadores, mediante violação conectado ou não à rede de computadores, com o fim de
indevida de mecanismo de segurança e com o fim de ob- obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem
ter, adulterar ou destruir dados ou informações sem au- autorização expressa ou tácita do usuário do dispositi-
torização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou vo ou de instalar vulnerabilidades para obter vantagem
instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita: ilícita:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Tanto na redação original quanto na nova, o verbo-núcleo é invadir, que dá a ideia de ingressar, penetrar sem
autorização.
Observe que a primeira alteração que se nota é que, na redação original, a invasão deveria dar-se em dis-
positivo alheio; agora, basta que o dispositivo seja de uso alheio, isto é, configura também crime, por exemplo, o
fato de o proprietário de um computador invadir o dispositivo que está sendo usado por outra pessoa a quem ele
emprestou.
A segunda alteração que se nota é que a redação original exigia que a invasão ocorresse mediante violação
indevida de mecanismo de segurança (quebrando uma senha, por exemplo); desse modo, se alguém tivesse
acesso aos dados constantes em um computador que foi esquecido ligado, não cometeria o delito do art. 154-A.
No entanto, tal expressão foi retirada e na redação atual, não se exige a violação de qualquer mecanismo de
segurança.
A terceira alteração diz respeito à finalidade específica (elemento subjetivo especial do tipo) da invasão; com
a modificação feita no art. 154-A, a invasão deve ocorrer com uma das seguintes finalidades:

z Obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do usuário do dispositivo;
330 z Instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita.
Importante!
Vale lembrar que o crime do art. 154-A é formal, ou seja, não é necessária, como resultado, a obtenção das
finalidades que constam no caput (obtenção, adulteração ou destruição de dados/informações; ou a obten-
ção de vantagem ilícita), consumando-se o delito, pois, com a invasão do dispositivo.

A quarta alteração deu-se em relação à pena da forma simples do crime, que passou de detenção, de 3 meses
a 1 ano, e multa, para reclusão de 1 a 4 anos, e multa.

z Forma Equiparada

O § 1º, do art. 154-A, apresenta uma forma equiparada ao caput (o agente responde pelas mesmas penas) com
a seguinte redação:

Art. 154-A [...]


§ 1º Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa de computa-
dor com o intuito de permitir a prática da conduta definida no caput.

O § 1º, que pune o agente que comercializa hardware ou software que permita a prática do delito previsto no
caput, não sofreu modificação pela Lei nº 14.155, de 2021.

z Forma Majorada
As causas de aumento de pena previstas no § 2º, art. 154-A, também sofreram alteração pela Lei nº 14.155, de
2021. Confira, no quadro a seguir, as alterações feitas:

REDAÇÃO ORIGINAL REDAÇÃO ATUAL

Art. 154-A [...] Art. 154-A [...]


§ 2º Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da § 2º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois
invasão resulta prejuízo econômico. terços) se da invasão resulta prejuízo econômico.

Com a modificação promovida pela Lei nº 14.155, de 2021, o aumento de pena que era de 1/6 a 1/3, passou a ser
de 1/3 a 2/3, nos casos em que a invasão resulta em prejuízo econômico.
Importante: A forma majorada prevista no § 2º é crime material, pois exige que se produza o resultado natu-
ralístico (ocorrência de prejuízo econômico) para que se consume.

z Forma Qualificada

A forma qualificada da invasão de dispositivo informático, prevista no § 3º, do art. 154-A, que se aplica no
caso de a invasão resultar a obtenção de conteúdo de comunicações eletrônicas privadas, segredos comerciais ou
industriais, informações sigilosas, ou o controle remoto não autorizado do dispositivo invadido, passou a ter pena
maior. Veja como era e como ficou o preceito secundário do dispositivo:

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


REDAÇÃO ORIGINAL REDAÇÃO ATUAL

Art. 154-A [...] Art. 154-A [...]


§ 3º Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de § 3º Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de
comunicações eletrônicas privadas, segredos comerciais comunicações eletrônicas privadas, segredos comerciais
ou industriais, informações sigilosas, assim definidas em ou industriais, informações sigilosas, assim definidas em
lei, ou o controle remoto não autorizado do dispositivo lei, ou o controle remoto não autorizado do dispositivo
invadido: invadido:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e mul- Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
ta, se a conduta não constitui crime mais grave.

A pena passou a ser reclusão de 2 a 5 anos mais multa. Veja que, na redação antiga, o delito previsto no § 3º
consistia em crime subsidiário (note a expressão “se a conduta não constitui crime mais grave”); com o aumento
da pena, essa expressão desapareceu.

z Outras Formas Majoradas

Os §§ 4º e 5º do art. 154-A não sofreram modificação por parte da Lei nº 14.155, de 2021, mantendo, portanto,
sua redação original:

Art. 154-A [...]


§ 4º Na hipótese do § 3º, aumenta-se a pena de um a dois terços se houver divulgação, comercialização ou transmis-
são a terceiro, a qualquer título, dos dados ou informações obtidos. 331
§ 5º Aumenta-se a pena de um terço à metade se o Para entendê-lo, dividiremos o conteúdo em duas
crime for praticado contra: partes:
I - Presidente da República, governadores e prefeitos
II - Presidente do Supremo Tribunal Federal z Subtrair (verbo): Consiste no ato de se apossar de
III - Presidente da Câmara dos Deputados, do Sena- propriedade de outra pessoa, seja para si ou para
do Federal, de Assembleia Legislativa de Estado, outra pessoa. Por exemplo, o agente subtrai para
da Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de si uma bicicleta que estava estacionada próximo
Câmara Municipal; ou à lanchonete;
IV - dirigente máximo da administração direta e z Coisa alheia móvel: É necessário que o objeto
indireta federal, estadual, municipal ou do Distrito material do crime de furto seja coisa móvel e que
Federal. pertença a outra pessoa; caso seja coisa imóvel, ou
seja objeto que pertença ao próprio autor, não con-
Os § § 4º e 5º cuidam, respectivamente, da majo- figurará furto. Exemplo: o agente que, aproveitando
rante que se aplica à forma equiparada (do § 1º), no da distração da vítima, subtrai o aparelho celular.
caso de divulgação, comercialização ou transmissão
dos dados ou informações para terceiros (ainda que É importante destacar que no delito de furto não
gratuita); e da causa de aumento em razão da vítima há emprego de violência nem grave ameaça à pessoa,
ser ocupante de um dos cargos elencados nos incisos distinguindo-se, nesse aspecto, do delito de roubo.
do § 5º. O furto tem as seguintes características:

z Ação Penal z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
quer pessoa (por exemplo: o agente subtrai um
Art. 154-B Nos crimes definidos no art. 154-A, aparelho celular);
somente se procede mediante representação, z Sujeito ativo: pode ser qualquer pessoa, exceto o
salvo se o crime é cometido contra a adminis- próprio proprietário do bem;
tração pública direta ou indireta de qualquer z Sujeito passivo: qualquer pessoa (ex.: o proprie-
dos Poderes da União, Estados, Distrito Federal ou tário, o possuidor ou detentor da coisa legítima).
Municípios ou contra empresas concessionárias Neste aspecto, a pessoa jurídica também pode ser
de serviços públicos. sujeito passivo do crime de furto;
z É crime material, que exige a ocorrência do resul-
No crime de invasão de dispositivo informático, tado naturalístico para fins de consumação, ou
em regra, a ação é pública condicionada à represen- seja, o crime só ocorre quando o sujeito ativo sub-
tação do ofendido ou de quem tiver qualidade para trai a coisa móvel (por exemplo, quando o agente
representá-lo. subtrai a bicicleta);
Isso é justificado pela disponibilidade do interesse z O furto só se pratica dolosamente;
atacado pelo delito, vinculado precipuamente à esfera z Não admite a modalidade culposa;
de intimidade da vítima. z É crime plurissubsistente, ou seja, a conduta
Reserva-se ao ofendido ou ao seu representante do agente para praticar o furto é fracionada em
a oportunidade (ou conveniência) para autorizar ou diversos atos que, somados, consumam o delito.
não o início da persecução penal. Portanto, admite a tentativa quando o agente, por
Excepcionalmente, a ação penal será pública motivos alheios à sua vontade, pratica alguns atos
incondicionada, nas hipóteses em que o delito envol- e não ocorre a consumação do delito. Por exemplo,
ver a Administração Pública, pois nesses casos há o agente, com animus de furtar objetos eletrôni-
ofensa a valores de natureza indisponível. cos de uma casa, pula o muro para ingressar no
interior da residência, mas o proprietário da casa
acorda e acende a luz, momento em que o agente
deixa de praticar os demais atos;
z A coisa sem dono não é objeto de furto;
CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO z Não configura o crime de furto (art. 155, do CP) a
subtração de coisa própria, mesmo que em poder
FURTO de terceiro, embora possa caracterizar o delito des-
crito no art. 346, do CP, ou o crime de furto de coisa
Furto Simples comum (art. 156, do CP);
z Não há furto de coisa abandonada, pois não inte-
Art. 155 Subtrair, para si ou para outrem, coisa gra o patrimônio de ninguém;
alheia móvel:
z Se houver o apoderamento de coisa perdida, pode
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
configurar o crime do inciso II, do parágrafo único,
do art. 169, do CP;
O primeiro crime contra o patrimônio é o furto
simples, disposto no caput do art. 155, do CP. z De acordo com a doutrina majoritária, os bens que
Em síntese, o crime de furto é definido por ser possuem o valor afetivo ou sentimental também
a subtração de coisa alheia móvel para si ou para pode ser objeto material de furto.
outrem.
Subtrair significa retirar a coisa da posse da vítima, A lei tutela a propriedade e a posse. A simples
passando-a ao poder do agente. Pode ocorrer por apo- detenção não configura o crime de furto.
deramento direto, quando o agente apreende a coisa Sobre a consumação deste crime, é importan-
manualmente, ou por apoderamento indireto, na hipó- te conhecer o posicionamento adotado pelas cortes
tese de o agente utilizar-se de terceiros ou de animal. superiores (STF e STJ).
332
Os tribunais superiores adotam a teoria da Vejamos os pontos mais questionados sobre o cri-
apprehensio, também chamada de amotio, que consi- me de furto:
dera consumado o crime de furto com a posse da res
furtiva, ainda que por breve espaço de tempo e segui- z Furto de coisas ilícitas: Podem ser objeto de fur-
da de perseguição do agente, sendo prescindível (dis- to. Por exemplo, responde por furto quem subtrai
pensável) a posse mansa e pacífica ou desvigiada do mercadoria contrabandeada e, neste caso, a vítima
bem furtado.10 responderá pelo crime de contrabando. Por outro
Um questionamento oportuno é verificar se o bem lado, as coisas ilícitas não podem ser objeto de fur-
subtraído deve ter valor econômico, ou seja, se o obje- to se constituírem elemento de outro crime; por
to material pode ser negociável. exemplo, a subtração de droga é crime do art. 33,
Vejamos os bens que integram o patrimônio: da Lei nº 11.343, de 2006; a subtração de arma de
fogo é crime do art. 16, da Lei nº 10.826, de 2003;
z Bens corpóreos, com existência material (por z Algumas partes naturais do corpo humano:
exemplo, um veículo) e incorpóreos, com existên- Podem ser objeto de furto se passíveis de figura-
cia abstrata (por exemplo, um direito autoral, de rem em uma relação jurídica; por exemplo, subtra-
valor econômico); ção do cabelo com o fim de obter lucro. Portanto,
z Bens de valor afetivo ou sentimental (por exem- a subtração de um rim ou outro órgão vital não é
plo, cartas e fotografias); furto, e sim lesão corporal grave ou homicídio con-
z Bens úteis à pessoa, embora destituídos de valor sumado ou tentado;
econômico ou sentimental (por exemplo, folha de z Cadáver: Não pode ser objeto de furto, pois cons-
cheque em branco e cartão de crédito). titui delito do art. 211, do CP — destruição, subtra-
ção ou ocultação de cadáver. Porém, se o cadáver
Portanto, vimos que não se pode restringir o patri- tem valor econômico, por exemplo, sendo perten-
mônio às coisas de valor econômico. Além disso, o cente à Faculdade de Medicina, haverá furto. Se
sujeito ativo do crime de furto pode ser qualquer pes- houver o furto de algum objeto que foi sepultado
soa, pois trata-se de crime comum ou geral. junto ao cadáver (por exemplo, arcada dentária de
Entretanto, existem algumas exceções quando o ouro), o crime será furto e a vítima será o herdeiro
crime de furto é praticado por pessoas específicas ou do de cujus;
em determinadas situações. Vejamos: z Energia elétrica: Discutia se constituía ou não
coisa móvel. O legislador penal tipificou o fur-
z Furto qualificado pelo abuso de confiança, previsto to de energia elétrica no § 3º, do art. 155, do CP,
no inciso II, § 4º, do art. 155; por ser crime próprio, o equiparando-se a coisa móvel à energia elétrica
agente é aquela pessoa em que a vítima confia (por ou qualquer outra que tenha valor econômico,
exemplo: o furto praticado por um empregado); por exemplo, energia radioativa, energia cinéti-
z Quanto ao proprietário, caso subtraia a própria coi- ca, energia atômica, energia genética etc. Porém,
sa que se encontra em poder de terceiro, não res- a energia deve ser suscetível de apossamento, ou
ponderá por furto, mas sim pelo crime de exercício seja, deve poder ser separada da coisa que a pro-
arbitrário das próprias razões (arts. 345 ou 346, do duz. Assim, não caracteriza furto o apossamento
CP, conforme a pretensão seja legítima ou ilegítima); da energia física de animal;
z Quando a coisa pertencer a mais de uma pessoa, z Instalação clandestina de TV a cabo: Há duas
o condômino que a subtrair responderá pelo deli- correntes:
to de furto de coisa comum (art. 156, do CP). Por
exemplo, um dos condôminos furta cadeiras da „ Primeira: Trata-se de fato atípico, pois não há
área de uso comum do condomínio; propriamente a subtração de energia e, sim,

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


z O funcionário público que subtrai bem público o aproveitamento de um serviço. A energia se
responderá por peculato-furto (§ 1º, do art. 312, do consome ou se reduz com o uso, e isso não ocor-
CP), desde que a função pública tenha facilitado a re com a TV a cabo, cuja utilização não gera
subtração, pois, se em nada facilitou, o delito será qualquer custo adicional para a operadora. É
de furto (art. 155, do CP). um mero ilícito civil. Observe que o art. 35, da
Lei nº 8.977, de 1995 dispõe que é “ilícito penal
„ Funcionário público que subtrai bem particu- a interceptação ou a recepção não autorizada
lar que se encontra sob a guarda ou custódia dos sinais de TV a Cabo”, entretanto, não lhe
da Administração Pública, desde que a função cominou qualquer pena, sendo vedada a sua
tenha facilitado a subtração, responderá por imposição pela via da analogia;
peculato-furto. Por exemplo: policial rodoviá- „ Segunda: Dominante no STJ, considera que há
rio que subtrai veículo que estava apreendi- crime de furto. Argumenta-se que o sinal de
do no pátio do posto de fiscalização da Polícia televisão se propaga por meio de ondas, o que,
Rodoviária; na definição técnica, enquadra-se como ener-
„ Funcionário público que subtrai bem particu- gia radiante, que é uma forma de energia asso-
lar que não estava sob a guarda ou custódia da ciada à radiação eletromagnética.
Administração Pública ou estava, mas a função
em nada facilitou a subtração, responderá por Furto Qualificado
furto. Por exemplo: policial rodoviário que sub-
trai um bem que se encontrava no porta-malas O furto qualificado é aquele no qual as penas
de um veículo que ele foi vistoriar, mas que não são modificadas nos patamares mínimos e máximo,
estava apreendido, cometerá o crime de furto. aumentando consideravelmente.
10  STJ. 3ª Seção. REsp 1524450-RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 14/10/2015 (recurso repetitivo) (Info 572). 333
Trata-se de qualificado por ter pena própria e não funcionário de empresa de telefonia para conseguir
mera causa de aumento de pena. Podemos exemplifi- entrar em uma casa e subtrair um aparelho celular
car com o caso de o agente furtar objetos eletrônicos que nela estava.
de uma casa utilizado chave falsa para abrir o portão
e a porta da casa. Dica
O furto será qualificado nas seguintes hipóteses:
Não confunda o furto mediante fraude com o
Art. 155 [...] estelionato.
§ 4º A pena é de reclusão de dois a oito anos, e mul- No furto mediante fraude, o agente usa a fraude
ta, se o crime é cometido: sobre a vítima para subtrair a coisa.
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à No estelionato, o agente emprega a fraude para
subtração da coisa; ludibriar a vítima e fazer com que ela mesma
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude,
entregue a coisa.
escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas. No furto qualificado pela escalada, segundo o STJ,
a entrada em um local dá-se por um meio anormal,
que exige do agente esforço físico incomum. Para a
z Com Destruição ou Rompimento de Obstáculo à
doutrina majoritária, não é relevante se ocorre por
Subtração da Coisa
cima ou por baixo, desde que o agente não pratique
nenhuma forma de destruição ou rompimento de
Destruir é desfazer, demolir. Por exemplo, o agen-
obstáculo, quando aplicaremos outra qualificadora ao
te destrói algo para subtrair a coisa, a exemplo daque-
fato. Nos termos do art. 171, do CPP, esta é uma prá-
le que arromba o portão de uma casa para entrar e
tica que exige perícia para que possa se configurar a
subtrair uma televisão.
qualificadora.
Romper é abrir brecha, arrombar, arrebentar,
No furto qualificado pela destreza, o agente faz
serrar, forçar, rasgar etc. Por exemplo, o agente abre
uso de alguma habilidade especial, que é empregada
a porta da casa com um pé de cabra para entrar e sub-
para que a subtração do bem se dê sem que a vítima
trair uma televisão.
perceba. Segundo a doutrina, o exemplo clássico é o
Importante: nos termos do art. 171, do Código de
batedor de carteira.
Processo Penal, é exigido a realização de exame peri-
Não há a qualificadora quando a vítima percebe a
cial para reconhecer a qualificadora. Nos dois casos
subtração. Em tal situação, o agente responde por ten-
(destruição e rompimento), o delito deixa vestígios,
tativa de furto simples, ou furto simples consumado,
sendo imprescindível o exame de corpo delito. Caso
caso consiga arrebatar o objeto.
os vestígios sejam inexistentes, o corpo de delito hou-
ver desaparecido ou as circunstâncias do crime não
z Com Emprego de Chave Falsa
permitirem a confecção do laudo, o exame pericial
poderá ser substituído por outros meios probatórios.
No emprego de chave falsa, para subtrair a coisa, o
O delito de dano é absorvido pelo furto qualificado,
agente faz uso de chave distinta da chave original ou
por força do princípio da subsidiariedade implícita.
de objeto capaz de abrir cadeado ou fechadura (por
Atenção! A destruição e o rompimento são formas
exemplo, gazuas, pedaço de arame, micha, clips etc.).
de violência que devem ser praticadas contra obstácu-
Anote-se que a chave falsa pode ou não ter formato
lo, e não sobre a pessoa. Caso a violência for direcio-
de chave.
nada à pessoa, estará configurado o crime de roubo.
A jurisprudência entende que no caso de furto de
Obstáculo é aquilo que protege a coisa para difi-
veículos realizado por “ligação direta”, não é possível
cultar a sua subtração, por exemplo, matar o cão de
aplicar a qualificadora do inciso III, § 4º, do art. 155,
guarda da residência, destruir as telhas para adentrar
vez que inexiste o emprego de instrumentos.
na residência ou, mesmo, cortar os fios do alarme do
A abertura com a chave verdadeira, obtida ilicita-
automóvel ou da cerca eletrificada. mente pelo agente, não caracteriza chave falsa.
A mera remoção de obstáculo, quando destituída A cópia da chave verdadeira, quando obtida lici-
da danificação, não qualifica o furto (por exemplo, tamente, não é chave falsa. Se, no entanto, for tirada
desparafusar o farol do automóvel e desatar o nó da clandestinamente, incide a qualificadora do crime de
corda que prende a canoa). furto.

z Com Abuso de Confiança, ou Mediante Fraude, z Mediante Concurso de 2 (duas) ou mais Pessoas
Escalada ou Destreza
O reconhecimento da qualificadora depende de
No abuso de confiança, o agente se vale de uma pelo menos duas pessoas atuando. Dentre essas, com-
relação prévia de confiança entre ele e o dono, o que putam-se os inimputáveis (menores e doentes men-
faz com que este diminua a vigilância sobre a coisa. tais) e os desconhecidos.
O agente utiliza essa confiança para se apoderar da Detalhe: se o comparsa é menor de dezoito anos,
coisa. Podemos citar como exemplo o furto cometido o agente responderá por furto qualificado em con-
pela empregada doméstica que, por possuir confiança curso material com o delito de corrupção de meno-
do dono, detém cópias da chave da casa do patrão e res, previsto no art. 244-B, do Estatuto da Criança e
aproveita essa confiança para subtrai bens no interior do Adolescente (ECA), desde que haja prova da efetiva
da casa. corrupção do menor.
O uso de fraude fica configurado quando o agen- Sobre a presença no local do crime, basta a simples
te usa de artifício para enganar a vítima para sub- participação, independentemente da presença na fase
334 trair a coisa, a exemplo do agente que se passa por da execução.
A absolvição do coautor nem sempre exclui a qua- explosão e de dano, pois já funcionam como causa de
lificadora. De fato, havendo prova da pluralidade de aumento de pena, aplicando-se o princípio da subsi-
agentes, a qualificadora deve ser reconhecida. diariedade tácita.
No delito de roubo, o concurso de pessoas gera
aumento de pena de um terço até metade. No furto, z Furto Mediante Uso de Dispositivo Eletrônico
a pena dobra. ou Informático (ou Furto Cibernético)
Há doutrina que sustenta a violação do princípio
da proporcionalidade da pena, porque o roubo é mais Art. 155 [...]
grave, de modo que o furto qualificado pelo concurso § 4º-B A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito)
de pessoas deveria sofrer apenas o aumento de um anos, e multa, se o furto mediante fraude é come-
terço até metade. tido por meio de dispositivo eletrônico ou infor-
O STJ editou a Súmula 442: “É inadmissível aplicar mático, conectado ou não à rede de computadores,
no furto qualificado pelo concurso de agentes a majo- com ou sem a violação de mecanismo de seguran-
rante do roubo”. ça ou a utilização de programa malicioso, ou por
qualquer outro meio fraudulento análogo.
z Furto Qualificado pelo Emprego de Explosivo § 4º-C A pena prevista no § 4º-B deste artigo, consi-
derada a relevância do resultado gravoso:
O § 4º-A, do art. 155, do CP, foi introduzido por I - aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços),
meio da Lei nº 13.654, de 2018, e dispõe que: se o crime é praticado mediante a utilização de ser-
vidor mantido fora do território nacional;
II - aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o cri-
Art. 155 [...]
§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) me é praticado contra idoso ou vulnerável.
anos e multa, se houver emprego de explosivo ou de
artefato análogo que cause perigo comum. A Lei nº 14.155, de 2021, incluiu no art. 155, do CP,
o § 4º-B, que consiste em modalidade de furto quali-
É o único furto que é crime hediondo (inciso IX, do ficado (pena de reclusão de 4 a 8 anos, e multa) se o
art. 1º, da Lei 8072, de 1990, com redação dada pela furto é cometido mediante fraude eletrônica, isto é, se
Lei 13.964, de 2019). realizado:
O meio utilizado, explosivo ou artefato análogo,
torna o fato mais grave, justificando-se o rigor da z Por meio de dispositivo eletrônico ou informático,
reprimenda penal, em razão da provocação de perigo conectado ou não à rede de computadores, com
coletivo. ou sem a violação de mecanismo de segurança ou
Meio explosivo é o que causa estrondo, como, por a utilização de programa malicioso;
exemplo, dinamite, pólvora. z Por qualquer meio fraudulento análogo.
Importante destacar que o tipo penal, ao contrário
do art. 251, do CP, não se refere à substância explosiva, Um típico exemplo de conduta que configura a for-
mas, sim, a meio explosivo. O meio explosivo utiliza- ma qualificada do § 4º-B é a realização de saques ou
do para explodir caixas eletrônicos de agências ban- transferências bancárias indevidas por meio de clo-
cárias para subtrair o dinheiro é um típico exemplo nagem de cartão/senha ou por meio de furto de cartão
do § 4º-A, do art. 155, do CP. Já no crime do art. 251, do via internet.
CP, podemos trazer a hipótese de o agente que lança
um artefato explosivo em um ponto de ônibus e que
expõe as pessoas a risco. Importante!
O meio ou artefato explosivo, a que se refere a qua-
lificadora em análise, abrange qualquer explosão, seja Para que se configure a modalidade qualificada

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


ela oriunda de substância explosiva ou não explosiva, de furto mediante fraude por meio eletrônico não
mas o assunto certamente ensejará polêmica. é necessário que o dispositivo esteja conectado
Sobre o artefato explosivo, trata-se de qualquer à internet.
objeto confeccionado por trabalho mecânico ou à mão,
por exemplo, as denominadas “bombas caseiras”.
Para a incidência da qualificadora, é preciso seja A Lei nº 14.155, de 2021, incluiu, também, no § 4º-C,
um explosivo ou artefato que cause perigo comum, ou causas de aumento de pena que se aplicam especial-
seja, que coloque em risco um número indeterminado mente ao furto qualificado mediante fraude, previsto
de pessoas ou de patrimônios. no § 4º-B. São duas as majorantes que consideram a
O agente que se utiliza de um explosivo com poten- relevância do resultado gravoso:
cial para causar perigo comum que, entretanto, mesmo
diante da explosão, não se concretiza, responderá, em z Aumento de 1/3 a 2/3 se o crime for praticado
caso de destruição ou rompimento de obstáculo, pelo mediante a utilização de servidor mantido fora
furto qualificado do inciso I, § 4º, do art. 155, do CP, e do território nacional (dada a dificuldade de
não pela qualificadora em análise, prevista no § 4º-A. repressão a tal crime);
O explosivo geralmente é utilizado em furtos de z Aumento de 1/3 ao dobro se o crime for praticado
caixas eletrônicos de bancos, sendo que, diante do contra idoso ou vulnerável.
advento desta nova qualificadora, encerra-se o antigo
debate travado acerca da adequação típica, que divi- Atenção: o § 4º-C prevê o aumento de pena quando
dia as opiniões entre o furto qualificado pela destrui- a vítima é idosa ou vulnerável. Vítima idosa, para fins
ção ou rompimento de obstáculo (inciso I, § 4º, do art. penais, é aquela com idade igual ou superior a 60 anos
155, do CP) e a explosão com intuito de obter vanta- (interpretação extensiva mais benéfica ao sujeito pas-
gem pecuniária (§ 2º, do art. 251, do CP). O enquadra- sivo). Por sua vez, o dispositivo não mencionou quem
mento do § 4º-A, do art. 155, do CP, absorve delitos de é vulnerável para os fins de aplicação da majorante, 335
devendo-se, neste caso, utilizar o conceito previsto no nesse crime os animais domésticos, não voltados para
art. 217-A (menor de 14 anos; ou pessoa que, em razão reprodução.
de enfermidade ou deficiência mental, não tem o dis- O animal, para caracterizar esta qualificadora,
cernimento necessário para a prática de certos atos). pode ser furtado tanto vivo quanto abatido, ainda que
em partes, no local da subtração.
z Furto de Veículo Automotor que Venha a Ser O bem jurídico primário é o patrimônio do produ-
Transportado para outro Estado ou para o tor e, o secundário é a saúde pública. Isso porque o
Exterior animal poderá ser comercializado pelo criminoso sem
que haja fiscalização do poder público, principalmen-
Já o § 5º, do art. 155, trata de outra importante qua- te sanitária. Pode-se incluir o sistema tributário na
lificadora, que ocorre quando há o furto de veículo condição de patrimônio lesado.
automotor que venha a ser transportado para outro Na prática, dificilmente esta qualificadora será
estado ou para o exterior. Vejamos: aplicada, pois este tipo de delito geralmente é pratica-
do por mais de uma pessoa e, diante disso, incidirá a
Art. 155 [...] qualificadora do inciso IV, § 4º, do art. 155, do CP, que
§ 5º A pena é de reclusão de três a oito anos, se a é mais grave.
subtração for de veículo automotor que venha a ser Com efeito, presente uma das qualificadoras do §
transportado para outro Estado ou para o exterior. 4º, exclui-se a incidência da qualificadora em apreço,
pois sua pena é mais branda, podendo funcionar, nes-
Não basta para a incidência da qualificadora, se caso, como circunstância judicial do art. 59, do CP,
porém, o furto de veículo automotor, pois ainda se servindo de parâmetro apenas para dosagem da pena-
exige o efetivo transporte para outro Estado ou para o -base. Entretanto, existe outra corrente mais favorável
exterior. Ou seja, para a consumação do crime, é neces- ao réu que, com base no princípio da especialidade,
sária a efetiva transposição dos limites geográficos. afasta a qualificadora do § 4º quando se tratar de
Veículo automotor engloba, por exemplo, carros, semovente domesticável de produção, impondo-se,
motos, lanchas, aviões etc., porém, a qualificadora é nesse caso, a qualificadora específica do § 6º, conside-
somente aplicável em caso de transposição de veícu- rando-a novatio legis in melius.
los e não abrange a transposição de partes deste (ex.: O objeto material é o animal domesticável de pro-
porta, motor). dução, ainda que abatido ou dividido em partes no
Não é necessário que o transporte para outro local da subtração.
Estado ou exterior seja realizado pelo próprio agen- Trata-se de um tipo penal aberto, porquanto a defi-
te. Basta que o agente saiba da intenção de eventual nição desse elemento normativo é complementada
receptador de transportar o veículo para outro Estado pelo juiz.
ou exterior.
Para a incidência da qualificadora, é necessário
Quem realiza o transporte após a consumação do
que o agente subtraia o animal por inteiro ou na sua
furto responde pelo crime de receptação. Por conse-
essência. O tipo penal refere-se à subtração de semo-
quência, o agente que é contratado para realizar o
vente, e não de partes dele, de modo que, quando o
transporte responde pelo furto, se o contrato for ante-
animal já estava abatido ou dividido em partes, a inci-
rior à subtração, e por receptação, se só foi contratado
dência da qualificadora estará condicionada à subtra-
após a consumação.
ção do todo ou das partes substanciais.
Consuma-se o transporte quando o veículo trans-
Na hipótese de o agente deixar no local apenas as
põe os limites das fronteiras do Estado ou do país, com
patas do boi e subtrair o restante, persiste a qualifi-
intuito de ali permanecer.
cadora. Não teria cabimento, por exemplo, qualificar
A mera condução do veículo para outro Estado ou
o delito pelo furto de uma picanha extraída de um
exterior, com o intuito de retornar ao local de origem,
animal já abatido. Também não incide a qualificadora
é insuficiente para a caracterização da qualificadora.
quando o próprio agente abate o animal, subtraindo-
Admite-se a tentativa quando o agente realiza a
-lhe apenas uma de suas partes.
subtração e é preso em flagrante, próximo à trans-
Observa-se que, ao tempo da conduta, é necessário
posição da fronteira, antes de obter a posse pacífica.
Sabemos que a jurisprudência considera o furto con- que o animal ainda pertença ao produtor, posto que o
sumado como o simples apossamento do bem, inde- intuito da lei foi protegê-lo.
pendentemente da posse pacífica. Porém, a tentativa A subtração, por exemplo, de um porco que se
tornou-se impossível, pois, com o início da remoção do encontra no açougue não qualifica o delito.
bem, o furto já se consuma nas modalidades anterio- Não há que se falar também no delito em estudo
res, ainda que o agente seja preso próximo à fronteira. quando se subtrai o leite da vaca ou outro bem pro-
duzido pelo animal, porquanto o tipo penal refere-
z Furto de Semovente Domesticável -se à subtração do semovente e não dos bens que ele
produz.
Art. 155 [...] Nessas hipóteses, o furto será simples.
§ 6º A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos
se a subtração for de semovente domesticável de z Subtração de Substâncias Explosivas ou de Aces-
produção, ainda que abatido ou dividido em partes sórios que, Conjunta ou Isoladamente, Possibili-
no local da subtração. tem sua Fabricação, Montagem ou Emprego

Por semovente domesticável podemos entender O objeto material consiste em substâncias explosi-
os animais — como bovinos, suínos, equinos, capri- vas ou acessórios que possibilitem fabricação, monta-
nos, aves — criados com o fim de abate, explora- gem ou emprego de substância explosiva.
336 ção, procriação ou comercialização. Não se incluem
O que é substância explosiva? Substância explosi- As duas teorias são aceitas, mas devemos com-
va é a que causa estrondo, dissolvendo-se com a arre- preender que incide o aumento de um terço não só
bentação, como, por exemplo, pólvora ou dinamite. em furtos de residência, mas também em bancos, joa-
Quanto aos acessórios, são os elementos que, em lherias, casas comerciais, bem como de automóveis
conjunto ou isoladamente, são capazes de se trans- estacionados na rua, de gado (abigeato).
formar quimicamente em uma substância explosiva; Aplica-se a regra do repouso noturno mesmo que o
aqui podemos exemplificar com o estopim, a espoleta local seja área comercial ou local desabitado.
e o cordel detonante. São esses acessórios que possibi-
litam a fabricação, montagem ou o emprego da subs- Furto Privilegiado
tância explosiva.
A fabricação é a produção ou confecção. Na verdade, trata-se de crime com diminuição de
pena, uma vez que diminui a pena em uma porcenta-
Montagem é a junção dos componentes.
gem ou aplica somente a pena de multa (para ser pri-
Emprego é a utilização.
vilegiado, o tipo deveria fixar novos valores mínimos
O tipo penal não se refere aos maquinários e
e máximos de pena).
outros objetos que também são utilizados para fabri-
car, montar ou utilizar os explosivos, mas tão somen- Art. 155 [...]
te aos acessórios que compõem a própria substância § 2º Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor
explosiva. a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de
É bom lembrar que configura crime, nos termos do reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois
inciso III, § único, do art. 16, da Lei nº 10.846, de 2003, terços, ou aplicar somente a pena de multa.
Estatuto do Desarmamento, possuir, deter, fabricar
ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem Está previsto no § 2º, do art. 155, do CP. Ocorre, por
autorização ou em desacordo com determinação legal exemplo, no caso de agente, primário, que subtraiu
ou regulamentar. uma pequena bolsa vazia de uma loja, cujo valor é
Esse delito será absorvido pelo crime do § 7º, do inferior ao salário mínimo.
art. 155, do CP, pois já funciona como qualificadora. São características do furto privilegiado:
A pena será de reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez)
anos, se a subtração for de substâncias explosivas ou z Réu primário;
z Coisa furtada de pequeno valor (segundo a juris-
de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibi-
prudência, até 1 salário mínimo).
litem sua fabricação, montagem ou emprego.
No caso do furto privilegiado, o juiz poderá adotar
Furto Majorado
uma das seguintes medidas:
O furto será majorado quando a ele for aplicada
z Substituir a pena de reclusão pela de detenção;
a causa de aumento de pena prevista no § 1º, do art. z Diminuir a pena de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois
155, do CP. terços);
z Aplicar somente a pena de multa.
Art. 155 [...]
§ 1º A pena aumenta-se de um terço, se o crime é Segundo o STJ, é possível o reconhecer privilé-
praticado durante o repouso noturno gio para o furto simples ou para o furto qualificado;
entretanto, neste caso, as qualificadoras têm que ser
Sobre o repouso noturno, considere que, segundo de natureza objetiva (emprego de chave falsa, por

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


o STJ (jurisprudência atual), a causa de aumento de exemplo).
pena se aplica ao furto simples e ao furto qualificado.
O furto majorado ocorre, por exemplo, quando o Súmula 511 (STJ) É possível o reconhecimento do
agente, aproveitando-se do repouso noturno, entra privilégio previsto no § 2º do art. 155 o CP nos casos
numa casa para furtar os eletroportáteis. de crime de furto qualificado, se estiverem presen-
Há discussão sobre a necessidade de a casa estar tes a primariedade do agente, o pequeno valor da
habitada e os moradores, repousando, para que inci- coisa e a qualificadora for de ordem objetiva.
da o aumento de um terço.
Duas teorias tratam da discussão: O termo “pequeno valor da coisa” é entendido, pela
jurisprudência, como o valor não excedente ao valor
do salário mínimo. É necessário o auto de avaliação.
z Teoria subjetiva: A razão de ser do aumento da
É claro que o referencial do salário mínimo não é tão
pena é a maior proteção à tranquilidade dos que
rígido, admitindo-se o privilégio quando a coisa exce-
repousam, bem como à incolumidade da vítima, que
de modicamente esse valor.
se encontra dormindo e desprotegida. Neste caso, Considera-se “ordem subjetiva” a hipótese de furto
restringe-se o aumento da pena ao furto cometido qualificado por abuso de confiança. Deve-se identifi-
em casa habitada com os moradores repousando; car a confiança da vítima para com o agente. Por isso,
z Teoria objetiva: O fundamento do aumento não se trata de furto privilegiado.
da pena é a proteção do patrimônio, que, nesse A regra é que as qualificadoras do crime de fur-
período, encontra-se vulnerável à subtração. A to são objetivas, por exemplo, emprego de chave
finalidade da lei visa proteger primordialmente o falsa. Nesta regra, há compatibilidade com o furto
patrimônio, e depois, a tranquilidade. qualificado.

337
Furto de Uso z Furto: Coisa alheia, crime comum e ação penal
incondicionada;
Esta conduta não exige a intenção de se apoderar, z Furto de coisa comum: Coisa comum, crime pró-
para si ou para outra pessoa, da coisa alheia móvel prio e ação penal condicionada.
que foi subtraída.
O furto de uso é fato atípico; tal instituto não se Outras Hipóteses
aplica ao crime de roubo.
Por exemplo, se o agente subtrai a coisa com a Não há furto na hipótese de o credor subtrair bens
intenção de usar e devolver depois, não cometerá o do devedor para ressarcir-se, pois se trata de um cri-
crime de furto. me específico, previsto no art. 345, do CP, exercício
Na hipótese de o indivíduo subtrair uma bicicleta, arbitrário das próprias razões. Vejamos: “A” deve uma
devolvendo-a após dar uma volta no quarteirão, não quantia em dinheiro para “B”. “B”, cansado de cobrar o
se configura crime de furto. valor da dívida, subtrai a bicicleta de “A” para quitá-la.
O reconhecimento do furto de uso necessita da O furto famélico é aquele em que o agente bus-
presença de dois requisitos: ca saciar a fome, não é estado de necessidade, salvo
se a subtração for o único meio de se alimentar. Por
z Uso momentâneo de coisa infungível, ou seja, o exemplo, a mãe, diante da necessidade de alimentar o
uso duradouro constitui crime de furto. Tratando- filho, subtrai uma maçã de uma barraca de feira para
-se de coisa fungível, como o dinheiro, nem o uso alimentá-lo.
momentâneo seguido da pronta restituição exclui O furto em estado de precisão, aquele em que o
o delito; agente está desempregado e subtrai alimentos, ele-
z Restituição imediata e integral da coisa. Nesta trodomésticos etc., constitui crime. Exemplo: o pai,
hipótese, o ladrão, para beneficiar-se do furto de estando desempregado e sem condições de manter o
uso, deve deixar a coisa no mesmo lugar de onde a sustento da família, subtrai alimentos e eletroportá-
subtraiu ou nas proximidades. teis de um hipermercado para suprir o sustento do lar.

Furto de Coisa Comum ROUBO E EXTORSÃO

Art. 156 Subtrair o condômino, co-herdeiro ou Roubo


sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamen-
te a detém, a coisa comum: O roubo é delito pluriofensivo, isto é, ofende mais
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. de um bem jurídico.
§ 1º Somente se procede mediante representação. A incriminação do roubo visa à tutela do patri-
§ 2º Não é punível a subtração de coisa comum mônio, da integridade fisiopsíquica, da saúde e da
fungível, cujo valor não excede a quota a que tem tranquilidade. Na forma qualificada como latrocínio,
direito o agente.
tutela-se também a vida.
O roubo pode ser simples, majorado ou qualifica-
Acabamos de dizer que é necessário que a coisa do. Vejamos neste momento o roubo simples, previsto
seja alheia no crime de furto. Entretanto, agora esta- no caput do art. 157:
mos diante de um crime específico, o furto de coisa
comum. z Roubo Simples
O furto de coisa comum irá se configurar quando
o agente for condômino, coerdeiro ou sócio, e sub- Art. 157 Subtrair coisa móvel alheia, para si ou
trair, para si ou para outrem, a quem legitimamente a para outrem, mediante grave ameaça ou violência
detém, coisa comum. a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio,
Temos aqui um crime próprio, que somente pode- reduzido à impossibilidade de resistência:
rá ser praticado pelo condômino, coerdeiro ou sócio. Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
É crime de ação penal pública condicionada à
representação. O objeto material do crime de roubo é a coisa
O Código Penal é expresso ao fixar que, se a coisa alheia móvel, ou seja, somente os bens móveis e cor-
comum for fungível (substituível por outra da mesma póreos podem ser objeto material do roubo. Em regra,
espécie, a exemplo do dinheiro), não será punível a o bem deve possuir valor econômico.
sua subtração caso o valor não exceda a quota a que Vamos falar das características do crime de roubo:
tem direito o agente.
Suponha que Alessandro, Fabrício e Diego z É crime comum, já que pode ser praticado por
sejam sócios. A sociedade é avaliada no valor de R$ qualquer pessoa;
150.000,00 (cento e cinquenta mil reais). As partes na z Sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer
sociedade são iguais. Assim, caso Alessandro subtraia pessoa;
R$ 50.000,00 (cinquenta mil), não cometerá crime, já z Sujeito passivo: pode ser tanto a pessoa que sofre a
que o valor subtraído não é superior à sua quota. violência física, moral e imprópria, quanto aquela
que sofre a lesão patrimonial. (Nada obsta que um
Dica dos criminosos execute a violência para que o seu
comparsa subtraia a coisa. Nesta hipótese, ambos
O furto de coisa comum não é tão cobrado em serão coautores de roubo). A pessoa jurídica tam-
provas de concursos públicos. Porém, quando bém pode ser sujeito passivo do crime de roubo;
cobrado, tentam misturar suas características z No crime de roubo, a conduta do agente recai
338 com as características do furto tradicional. sobre a pessoa e coisa alheia móvel;
z É crime complexo, já que atinge mais de um bem violência contra coisa, constituindo o delito de furto.
jurídico penalmente relevante (há mais de um cri- Por outro lado, há quem defenda que se trata de vio-
me configurando o tipo penal do crime de roubo): lência contra pessoa, configurando crime de roubo,
furto (+) ameaça ou violência; teoria mais aceita.
z Não admite a modalidade culposa; A trombada contra a vítima tem suas divergências
z É crime material, que exige a ocorrência do resul- na jurisprudência. Há quem afirma que se trata de fur-
tado para fins de consumação; to, exceto quando reduzir a vítima à impossibilidade
z Para consumação, adota-se, assim como no furto, de resistência, quando então configurará roubo. Outra
a teoria da apprehensio, ou amotio. Deste modo, parte defende que sempre se enquadrará na hipótese de
tem-se em vista o que dispõe a Súmula 582, do STJ: roubo, visto que o ato tem violência física. Aqui, no caso
de trombada, a maioria entende que se trata de furto.
Súmula 582 (STJ) Consuma-se o crime de roubo
com a inversão da posse do bem mediante emprego z Roubo Majorado
de violência ou grave ameaça, ainda que por bre-
ve tempo e em seguida à perseguição imediata ao O roubo majorado ocorre, por exemplo, quando o
agente e recuperação da coisa roubada, sendo pres- agente, sabendo que a vítima está prestando serviço
cindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada. de transporte de valores, subtrai, mediante violência,
os malotes que a vítima portava.
O roubo, previsto no art. 157, do CP, é dividido Vejamos as causas de aumento de pena aplicáveis
em 3 (três) espécies: ao crime de roubo.
Art. 157 [...]
„ Roubo próprio: Antes ou durante a subtração § 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até
da coisa móvel, o agente emprega violência ou metade:
grave ameaça. Ex.: Tício, fazendo uso de arma I - (revogado);
de fogo para intimidar a vítima, anuncia um II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
assalto e subtrai a mochila de Mévio — temos III - se a vítima está em serviço de transporte de
aqui o roubo próprio; valores e o agente conhece tal circunstância.
„ Roubo impróprio: O agente subtrai a coisa IV - se a subtração for de veículo automotor que
móvel, em seguida, a fim de assegurar a impu- venha a ser transportado para outro Estado ou
nidade do crime ou a detenção da coisa para para o exterior;
si ou para terceiro, emprega violência contra V - se o agente mantém a vítima em seu poder,
pessoa ou grave ameaça. restringindo sua liberdade.
VI - se a subtração for de substâncias explosi-
Art. 157 [...] vas ou de acessórios que, conjunta ou isolada-
§ 1º Na mesma pena incorre quem, logo depois de mente, possibilitem sua fabricação, montagem ou
subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa emprego.
ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com
crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro. emprego de arma branca;

Vejamos cada uma das majorantes:


Ex.: Tício subtrai uma garrafa de vinho caro em
um supermercado. Ao sair, verifica que o seguran-
A primeira majorante, concurso
ça está vindo em sua direção. Nesse momento, Tício,
de duas ou mais pessoas, justifi-
para poder fugir com a garrafa de vinho, desfere um
ca-se pela maior organização do
soco no rosto do segurança, que cai — temos aqui o
delito, aumentando a possibilida-

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


roubo impróprio.
de de consumação à medida em
que diminui a chance de defesa da
Dica vítima
PRIMEIRA Os menores de 18 anos, os doen-
Roubo próprio = Violência + subtração
MAJORANTE (II) tes mentais e os desconhecidos,
Roubo impróprio = Subtração + Violência
participantes da conduta crimino-
sa, também são computados.
„ Roubo com violência imprópria: O agente
Atenção quanto à diferença entre
subtrai coisa móvel alheia, depois de haver,
o crime de furto e de roubo: no
por qualquer meio, reduzido à impossibilidade
furto, o concurso de duas ou mais
a resistência. pessoas qualifica o crime; já no
roubo, esse fato é uma majorante
Ex.: Tício conhece Mévia em uma festa. Os dois vão
para a casa dela. Ele coloca sonífero na bebida dela, A segunda causa de aumen-
que entra em sono profundo; em seguida, o agente to ocorre quando a vítima está
subtrai todos o dinheiro existente na carteira de Mévia em serviço de transporte de va-
— temos aqui o roubo com violência imprópria. lores e o agente conhece tal
Há duas definições às quais devemos ter atenção: circunstância
SEGUNDA
arrebatamento inopino e trombada. Objetiva-se tutelar a segurança do
MAJORANTE (III)
No arrebatamento, que é o ato de arrancar com transporte
violência a coisa que está em poder da vítima ou no “Valores” abrange dinheiro, joias
corpo dela, temos por exemplo o ato de puxar o colar preciosas e qualquer outro bem
do pescoço da vítima. A doutrina divide-se. Alguns passível de ser convertido em
defendem a tese de que a arrebatamento caracteriza pecúnia 339
A terceira majorante consiste na A última causa de aumento de pena é a violên-
subtração de veículo automotor cia ou grave ameaça exercida com emprego de arma
que venha a ser transportado para branca.
outro Estado ou Exterior Abrange as armas impróprias, que são os instru-
A expressão “veículo automotor” mentos que servem para ataque ou defesa, embora
abrange, do mesmo modo que es-
não seja essa a sua finalidade, como tesoura, faca de
tudamos no crime de furto, aero-
naves, automóveis, motocicletas, cozinha, pedaço de pau, caco de vidro etc., bem como
lanchas as armas próprias que não sejam de fogo, que são os
TERCEIRA instrumentos cuja finalidade específica é o ataque
Para a incidência do aumento da
MAJORANTE (IV)
pena, é necessário que o veículo ou a defesa, como o punhal, a espada, o soco inglês e
seja efetivamente transportado outros.
para outro Estado ou Exterior. Isso
porque o transporte diminui a pos-
sibilidade de recuperação do bem, Importante!
facilitando ainda a adulteração
e negociação do veículo, envol- Em relação à causa de aumento de pena refe-
vendo, muitas vezes, terceiros de rente ao concurso de duas ou mais pessoas,
boa-fé entende o STJ, em se tratando de hipótese de
A quarta majorante ocorre quando associação criminosa, que os agentes respon-
o agente mantém a vítima em seu dem pelo roubo com aumento de pena e pelo
poder, restringindo a sua liberda-
crime de associação criminosa, em concurso
de. Viola-se a liberdade pessoal
de locomoção. A restrição da li- material.
QUARTA
berdade da vítima deve se dar por
MAJORANTE (V)
tempo juridicamente relevante,
mas que seja somente durante o O roubo praticado com restrição da liberdade
tempo para a subtração dos bens, é aquele em que o agente mantém a vítima em seu
diferentemente do que ocorre no poder, restringindo a sua liberdade. Por exemplo,
sequestro imagine que Tiago, portando uma faca, anuncie um
A quinta majorante acontece se assalto para subtrair o veículo de Diego. O autor sub-
a subtração for de substâncias trai o veículo, coloca a vítima no porta-malas e o leva
explosivas ou de acessórios que, por 10 quilômetros, liberando-o em seguida.
QUINTA
conjunta ou isoladamente, possi- No exemplo dado, será aplicada a causa de aumen-
MAJORANTE (VI)
bilitem sua fabricação, montagem to de pena a Tiago, já que ele restringiu a liberdade de
ou emprego. Trata-se de um crime Diego, vítima do roubo.
hediondo
A sexta majorante ocorre quando Art. 157 [...]
a violência ou ameaça é exercida § 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):
com o emprego de arma branca. I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego
Por arma branca entendemos de arma de fogo;
SEXTA
qualquer objeto que possa ser II - se há destruição ou rompimento de obstáculo
MAJORANTE (VII)
utilizado para atacar ou defender
mediante o emprego de explosivo ou de artefato
alguém, mas que, pela natureza do
análogo que cause perigo comum.
objeto, não tenha essa finalidade
§ 2º B Se a violência ou grave ameaça é exercida
(ex.: facas)
com emprego de arma de fogo de uso restrito ou
proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no
Ainda sobre as majorantes, é importante ressaltar caput deste artigo.
alguns pontos sobre a subtração de substâncias explo-
sivas ou acessórios: Aqui estamos diante de três majorantes do roubo
com emprego de arma de fogo. São elas:
z Substância explosiva é a que causa estrondo, dis-
solvendo-se com a arrebentação, como, por exem- Aquela cujo porte é passível de
plo, pólvora ou dinamite; obtenção. Neste caso, a pena
z Quanto aos acessórios, são os elementos que, em é aumentada de 2/3 (dois ter-
ARMA DE FOGO DE
ços), por força do inciso I, §
conjunto ou isoladamente, são capazes de se trans- USO PERMITIDO
2º-A, do art. 157, do CP, intro-
formar quimicamente em uma substância explo- duzido pela Lei nº 13.654, de
siva; aqui, podemos exemplificar com o estopim, 2018
a espoleta e o cordel detonante. São esses acessó- Aquela cujo porte é restrito a
rios que possibilitam a fabricação, montagem ou determinadas pessoas. Neste
emprego da substância explosiva; ARMA DE FOGO DE caso, a pena é dobrada, nos
z Fabricação é a produção ou confecção; USO RESTRITO termos do § 2º-B, do art. 157,
z Montagem é a junção dos componentes; do CP, introduzido pela Lei nº
340 z Emprego é a utilização. 13.964, de 2019
Aquela cujo porte é vedado. A passo que, no roubo, a majorante em análise depen-
pena também é dobrada, nos de, além do explosivo ou artefato que cause perigo
ARMA DE FOGO DE comum, que haja ainda destruição ou rompimento de
termos do § 2º-B, do art. 157,
USO PROIBIDO
do CP, introduzido pela Lei nº obstáculo.
13.964, de 2019
Roubo Qualificado
Justifica-se a majorante em razão da maior poten-
Art. 157 [...]
cialidade lesiva do fato, que cria risco de morte à
§ 3º Se da violência resulta:
vítima.
I - lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7
O porte velado, oculto, não majora a pena do rou-
(sete) a 18 (dezoito) anos, e multa;
bo, porque a lei exige o emprego da arma, consisten-
II - morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30
te no uso efetivo ou porte ostensivo. Assim, só incide (trinta) anos, e multa.
a majorante quando a violência ou grave ameaça é
exercida com emprego de arma de fogo.
O roubo será qualificado pelo resultado em duas
Observe que o roubo majorado absorve o delito de
hipóteses:
arma de fogo, previsto na legislação especial, que já
funciona como causa de aumento de pena.
z Lesão corporal grave;
Quanto à arma de brinquedo, não funciona como
z Morte — latrocínio.
causa de aumento de pena, pois não se trata de arma
de fogo, mas é suficiente para servir de meio de execu-
ção de um roubo simples. A doutrina majoritária entende que a lesão cor-
Quanto à arma descarregada, também não majora poral grave e a morte não precisam ser praticadas
a pena do roubo; falta-lhe potencialidade ofensiva e, intencionalmente pelo agente, ou seja, é possível que
portanto, não se trata de arma, respondendo o agente o roubo seja qualificado pelo resultado, mesmo se o
por roubo simples. resultado tiver sido provocado pelo agente culposa-
Já quanto à arma não apreendida, compete ao mente, quando ele faz uso de violência.
agente exibi-la em juízo para que seja periciada, sob Iniciaremos o estudo do roubo qualificado pela
pena de incidência da majorante diante da presunção lesão corporal.
de potencialidade ofensiva. Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena
Se a violência ou ameaça é exercida com emprego é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e multa.
de arma de fogo — causa de aumento de pena acres- Entende-se por lesão grave, nesta qualificadora,
cida pela Lei 13.654, de 2018 — devemos observar o tanto os resultados previstos no § 1º, do art. 129, do CP
seguinte: (lesão corporal grave), quanto os previstos no § 2º, do
art. 129, do CP (lesão corporal gravíssima).
z Quem praticou o crime de roubo com arma branca Se houver lesão leve, o roubo é simples.
antes da Lei nº 13.654, de 2018, não terá incidência Trata-se de crime qualificado pelo resultado.
de majorante; A lesão grave pode ocorrer a título de dolo ou culpa,
z Quem praticou o crime de roubo com arma branca sendo que, nessa última hipótese, o delito será preter-
depois da Lei nº 13.654, de 2018, e antes do Pacote doloso. Em ambos os casos, o delito de lesão corporal
Anticrime não terá incidência de majorante; é absorvido, porque já funciona como qualificadora.
z Quem praticou o crime de roubo com arma bran- Observe que se houver lesão grave consumada
ca depois do Pacote Anticrime terá a incidência da e subtração patrimonial tentada, para uns autores
majorante de 1/3 a 1/2; haverá o crime da 1ª parte, § 3º, do art. 157, consu-

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


z Quem praticou o crime de roubo com arma de fogo mado; outros, porém, sustentam que o delito seria
de uso permitido antes da Lei nº 13.654, de 2018, tentado.
terá a incidência da majorante de 1/3 a 1/2; O roubo qualificado pelo resultado morte, o latro-
z Quem praticou o crime de roubo com arma de fogo cínio, é um crime qualificado pelo resultado morte.
de uso permitido depois da Lei nº 13.654, de 2018, Por incrível que pareça, não se trata de crime con-
terá a incidência da majorante de 2/3; tra vida, mas sim de crime contra o patrimônio.
z Quem praticou o crime de roubo com arma de fogo Constitui crime hediondo.
de uso restrito ou proibido antes da Lei nº 13.654, Para compreendermos o momento de consumação
de 2018, terá a incidência da majorante de 1/3 a1/2; do latrocínio, é necessário conhecer a Súmula 610, do
z Quem praticou o crime de roubo com arma de fogo STF:
de uso restrito ou proibido depois da Lei nº 13.654,
de 2018, e antes do Pacote Anticrime terá a inci- Súmula 610 (STF) Há crime de latrocínio, quando
dência da majorante de 2/3; o homicídio se consuma, ainda que não realize o
z Quem praticou o crime de roubo com arma de fogo agente a subtração de bens da vítima.
de uso restrito ou proibido depois do Pacote Anti-
crime terá pena em dobro. SUBTRAÇÃO MORTE LATROCÍNIO

Vamos estudar agora o roubo majorado pela des- Consumada Tentada Latrocínio
truição ou rompimento de obstáculo com emprego de Tentada Tentada tentado
explosivo. Consumada Consumada Latrocínio
Observa-se que a qualificadora do § 4-A, do crime
Tentada Consumada consumado
de furto, tem incidência ainda que não haja destruição
ou rompimento de obstáculo, bastando o emprego de
explosivo ou de artefato que cause perigo comum, ao 341
Importante! O núcleo do tipo é o verbo constranger, que signi-
Caso o agente mate o seu comparsa, após a fica coagir, forçar, obrigar alguém a fazer, deixar de
prática do roubo, para ficar com a vantagem do fazer ou tolerar que se faça alguma coisa que a lei não
crime somente para si, não há que se falar, neste lhe impõe.
caso, em crime de latrocínio. O delito é punido a título de dolo. O agente visa
conseguir da vítima uma ação ou omissão, com o fim
de obter, para si ou para outrem, indevida vantagem
A palavra “latrocínio” não se encontra no atual econômica.
Código Penal. Trata-se de uma expressão tradicional. A finalidade específica é a intenção de obter uma
O latrocínio pode ser próprio ou impróprio. vantagem indevida e econômica.
O latrocínio próprio ocorre quando a morte A vantagem econômica pode consistir em bem
acontece antes ou durante a subtração da coisa; por móvel ou imóvel, diferentemente do roubo, cuja van-
exemplo, o agente mata o empregado de um estabele- tagem se restringe ao bem móvel.
cimento comercial, subtraindo em seguida o dinheiro A vantagem, além de econômica, deve ainda ser
do caixa. indevida, contrária ao direito.
No latrocínio impróprio, o agente primeiro se
Sobre o sujeito ativo, trata-se de crime comum,
apodera da coisa, sem qualquer violência, matando
podendo ser praticado por qualquer pessoa. Obser-
a vítima logo em seguida com o intuito de assegurar
ve que o funcionário público também pode cometer
a subtração ou a impunidade. Por exemplo, o agen-
te, logo após subtrair um bem, mata o policial que o extorsão. A doutrina ilustra a hipótese de escrivão de
surpreende. polícia que exige dinheiro de uma pessoa para influen-
O sujeito passivo é tanto a pessoa que sofre a lesão ciar o delegado de polícia a realizar o indiciamento.
patrimonial quanto aquela que é morta, podendo esta Sujeito passivo pode ser qualquer pessoa física ou
última ser até mesmo um policial ou terceiro. jurídica, inclusive a que sofre constrangimento sem
Observe que estamos diante de crime pluriofensi- lesão patrimonial.
vo, que ofende mais de um bem jurídico, quais sejam: O crime de extorsão ocorre quando, por exemplo,
o patrimônio e a vida. o agente chantageia uma mulher e o marido, amea-
Não há necessidade de que morra a vítima do çando de morte o seu filho, objetivando a obtenção de
patrimônio, sendo suficiente, para a caracterização do vantagem econômica.
delito, a morte de qualquer outra pessoa. Neste crime, observe que não se fala em coisa
Na hipótese de pluralidade de sujeitos passivos móvel, mas sim em indevida vantagem econômica.
com unidade de subtração patrimonial, haverá um Logo, para a configuração da extorsão, é possível que
só delito de latrocínio. Exemplo: o agente mata três a vantagem econômica seja coisa imóvel.
empregados e em seguida subtrai bens do patrão. Características da extorsão:
O latrocínio é delito qualificado pelo resultado,
tendo em vista a duplicidade de eventos. A morte
z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
pode ocorrer a título de dolo ou culpa. Somente na
quer pessoa;
hipótese de o latrocínio ser na modalidade culposa é
que o delito será preterdoloso. z É crime complexo, já que tutela tanto o patrimônio
A morte deve decorrer da violência física. Se decor- quanto a liberdade individual;
rer de grave ameaça ou violência imprópria, exclui-se z Não admite a modalidade culposa (só pode ser pra-
o delito de latrocínio, respondendo o agente por rou- ticado dolosamente);
bo em concurso com homicídio. z A consumação do crime dá-se quando a vítima,
Por fim, para encerrarmos o crime de roubo, sobre depois de sofrer a violência ou grave ameaça,
o latrocínio, fique atento ao seguinte: o latrocínio é o realiza o comportamento desejado pelo agente
roubo qualificado pelo resultado da violência empre- criminoso, ainda que este não venha a receber a
gada pelo agente, resultando-se uma morte. vantagem almejada. Trata-se de um crime formal,
Logo, se a morte resultar de outro elemento que sendo que o recebimento da vantagem indevida é
não seja a violência empregada, não há que se falar mero exaurimento para o crime.
em latrocínio.
O emprego de arma de brinquedo não caracteriza Súmula 96 (STJ) O crime de extorsão consuma-
a aplicação da causa de aumento de pena; entretanto, -se independentemente da obtenção da vantagem
pode contribuir para a configuração do crime de rou- indevida.
bo, já que pode caracterizar a grave ameaça.
É importante não confundir o crime de extorsão
Extorsão com o crime de roubo, que acabamos de estudar:
Art. 158 Constranger alguém, mediante violên-
ROUBO EXTORSÃO
cia ou grave ameaça, e com o intuito de obter
para si ou para outrem indevida vantagem eco- O agente emprega a violên-
nômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar cia ou grave ameaça para
de fazer alguma coisa: determinar um comporta-
O agente emprega a violên-
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. mento da vítima e obter in-
cia ou grave ameaça, visando
devida vantagem econômica
à subtração. A participação
Tutela-se a propriedade, a posse, a integridade A participação da vítima é in-
da vítima é dispensável
física e fisiopsíquica, bem como a liberdade pessoal. dispensável; sem ela, o autor
Trata-se de delito pluriofensivo, porque ofende mais não consegue obter a indevi-
da vantagem econômica
342 de um bem jurídico.
No delito de extorsão, há a presença dos seguintes anos, além de multa. Se resultar lesão corporal grave
elementos: ou morte, aplicam-se as penas previstas nos § 2º e 3º,
do art. 159, respectivamente.
z Constrangimento para obter da vítima uma ação, Por exemplo, a vítima é conduzida, no seu próprio
omissão ou tolerância; veículo, sendo coagida a percorrer caixas eletrônicos
z Emprego de violência ou grave ameaça; para a retirada de dinheiro, revelando ao meliante o
z Finalidade de obter, para si ou para outrem, inde- código secreto de seu cartão bancário magnético.
vida vantagem econômica. O bem jurídico protegido é o patrimônio e a liber-
dade pessoal de movimento, isto é, o direito de ir, vir e
z Extorsão Qualificada ficar no local livremente escolhido, assemelhando-se,
destarte, à extorsão mediante sequestro.
Art. 158 [...] O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. Trata-se
§ 1º Se o crime é cometido por duas ou mais pes- de crime comum.
soas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena É ainda crime permanente, viabilizando-se,
de um terço até metade. enquanto não cessar o estado de permanência, a par-
ticipação, a legítima defesa e a prisão em flagrante.
Dispõe o § 1º, do art. 158, do CP, que, se o crime for O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa física
cometido por duas ou mais pessoas, ou com o empre- ou jurídica.
go de arma, aumenta-se a pena de 1/3 até a metade. Admite-se a presença de mais de um sujeito passi-
Por exemplo: dois agentes chantageiam uma vo. Por exemplo, o extorsionário realiza o sequestro
mulher, ameaçando de morte a sua mãe, objetivando relâmpago do dirigente de uma pessoa jurídica, obri-
a obtenção de vantagem econômica. gando-o a assinar cheques da empresa.
Trata-se de causa de aumento de pena em quan- Para sua tipificação, exige-se a presença dos ele-
tidade fixa, que, em face da posição topográfica, é mentos da extorsão fundamental: constrangimen-
inaplicável à extorsão do § 2º, do art. 158. to, por meio de violência ou grave ameaça, para se
São duas as majorantes da pena, vejamos: obter da vítima uma ação ou omissão, com o fim de
obter, para si ou para outrem, indevida vantagem
„ Concurso de duas ou mais pessoas; econômica.
„ Emprego de arma. Observe que há emprego Observe que, se a vantagem for absolutamente
de qualquer arma, própria ou imprópria, não impossível de se obter, não há extorsão, respondendo
necessita ser arma de fogo. o agente apenas pelo delito de sequestro. Por exem-
plo, sequestro relâmpago para obrigar menor impú-
z Extorsão Qualificada pelo Resultado bere a assinar nota promissória.
Não se esqueça: além do constrangimento, por
Art. 158 [...] meio de violência ou grave ameaça, exige-se ainda a
§ 2º Aplica-se à extorsão praticada mediante vio- restrição da liberdade, isto é, um sequestro “relâmpa-
lência o disposto no § 3º do artigo anterior. go”, rápido.
Para que o sequestro relâmpago fique configura-
Veja que o § 2º, do art. 158, do CP, dispõe que será do, o Código Penal exige a restrição da liberdade da
aplicado à extorsão praticada mediante violência o vítima e que essa condição seja necessária para a
disposto no § 3º, do artigo anterior, ou seja, do crime obtenção da vantagem econômica.
de roubo. Ex.: “A”, criminoso conhecido na cidade, aborda
Assim, a extorsão qualificada pelo resultado ocor- “B”, apontando uma arma de fogo para ela, ameaçan-
re quando, em razão da violência, resulta a lesão cor- do-a. Com a intenção de obter indevida vantagem eco-

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


poral de natureza grave ou morte. nômica, “A” a conduz, forçadamente, em um veículo
Na hipótese de lesão grave, a pena é de reclusão de de origem duvidosa, ao banco, constrangendo a víti-
7 a 15 anos, além de multa; no caso de morte, reclusão ma, que saca R$ 1.000,00 para o autor.
de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa. No exemplo visto, ficou configurado o crime de
Observe que a lesão grave ou a morte deve decor- extorsão mediante restrição da liberdade. Analise os
rer de violência física, podendo ocorrer a título de elementos:
dolo ou culpa, afastando-se a qualificadora quando
resultar de grave ameaça.
z Emprego de grave ameaça;
z Constrangimento à vítima;
z Extorsão Qualificada pelo Sequestro — Seques- z Objetivo de obter indevida vantagem econômica;
tro Relâmpago z Restrição da liberdade, que foi condição necessá-
ria para obtenção da vantagem.
Art. 158 [...]
§ 3º Se o crime é cometido mediante a restrição da
liberdade da vítima, e essa condição é necessária
Se, no caso de sequestro relâmpago, ocorrer o
para a obtenção da vantagem econômica, a pena resultado morte ou o resultado lesão corporal de
é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da natureza grave, o agente será punido com as mes-
multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, mas penas aplicadas ao crime de extorsão median-
aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2º e te sequestro qualificada (24 a 30 anos; 16 a 24 anos,
3º, respectivamente. respectivamente).

Dispõe o § 3º, do art. 158, do CP, que se o crime z Extorsão Hedionda


é cometido mediante restrição da liberdade da víti-
ma, e essa condição é necessária para a obtenção da O delito de extorsão só é crime hediondo na situa-
vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 a 12 ção do § 3º, do art. 158, do CP. 343
Esta hipótese foi introduzida pela Lei 13.964, de A delação será aplicada no caso de o crime ser
2019. cometido em concurso de pessoas, ao concorrente
Assim, dispõe o inciso III, do art. 1º, da Lei nº 8.072, que denunciar à autoridade, facilitando a libertação
de 1990, que é crime hediondo a extorsão qualificada do sequestrado.
pela restrição da liberdade da vítima, ocorrência de Neste caso, o concorrente que denunciou terá a
lesão corporal ou morte. pena reduzida de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços).
A Lei nº 13.964, de 2019, em vez de manter como
hediondo o § 2º, do art. 158, do CP, e acrescentar o § 3º, z Extorsão Mediante Sequestro Qualificada
do art. 158, do CP, em sua nova redação, só fez menção
ao § 3º, do art. 158. Art. 159 [...]
Por exemplo, o agente restringe a liberdade da víti- § 1º Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro)
ma, com o emprego de violência a sua pessoa como horas, se o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou
forma de obter indevida vantagem econômica. maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometi-
do por bando ou quadrilha.
Pena - reclusão, de doze a vinte anos.
Extorsão Mediante Sequestro

Art. 159 Sequestrar pessoa com o fim de obter, para


Há quatro qualificadoras:
si ou para outrem, qualquer vantagem, como condi-
ção ou preço do resgate: „ Se o sequestrado é menor de 18 anos;
Pena - reclusão, de oito a quinze anos. „ Se o sequestro dura mais de 24 horas;
„ Se o sequestrado é maior de 60 anos;
A extorsão mediante sequestro, prevista no art. „ Se o crime é cometido por quadrilha ou bando.
159, do Código Penal, será configurada quando o agen-
te sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou A primeira encontra sua razão de ser na maior fra-
para outrem, qualquer vantagem, como condição ou gilidade emocional do sequestrado menor de 18 anos,
preço de resgate. cuja personalidade se encontra ainda em formação.
Neste crime, temos a restrição da liberdade da víti- A segunda qualificadora, o sequestro que dura
ma (mediante sequestro ou cárcere privado), só que mais de 24 horas, é um crime a prazo, porque o seu
o agente possui uma finalidade específica (exige-se reconhecimento depende de um lapso de tempo.
dolo específico): obter qualquer vantagem (segundo a Quanto mais duradouro o sequestro, maior o sofri-
doutrina, deve ser vantagem indevida e de natureza mento da vítima e dos familiares, daí a razão da qua-
patrimonial), como condição ou preço de resgate. lificadora. Contam-se as horas, minuto a minuto, a
Características da extorsão mediante sequestro: partir do início da privação da liberdade.
A terceira qualificadora foi introduzida pelo Esta-
tuto do Idoso. Ocorre quando o sequestrado é maior
z É crime comum — qualquer pessoa pode cometê-lo;
de 60 anos. Se no início do sequestro era menor de ses-
z É crime complexo — junção de 2 (dois) crimes:
senta, ao atingir esta idade incide a causa de aumen-
extorsão mais sequestro ou cárcere privado;
to, caso ainda esteja em poder dos sequestradores. Há
z É crime permanente, já que sua conduta se protrai
tese que afirma que a lei diz maior de 60 anos, motivo
(prolonga) — atenção à aplicação da Súmula 711,
pelo qual não se aplica qualificadora.
do STF;
A quarta qualificadora, crime cometido por quadri-
z É crime formal, que se consuma com a restrição da
lha ou bando, justifica-se pela maior organização dos
liberdade, desde que motivada pela obtenção de
sequestradores, aumentando as chances de êxito no
condição ou preço de resgate;
delito. Quadrilha ou bando é a associação estável ou
z Não admite a modalidade culposa; permanente entre três ou mais pessoas, com o intuito
z Admite tentativa. de cometer uma série indeterminada de delitos.
É importante mencionar que o agente deve seques- z Extorsão Mediante Sequestro Qualificada pelo
trar “pessoa”. Caso seja um animal (parece bobo, mas Resultado
já foi cobrado em prova), não haverá o crime de extor-
são mediante sequestro. Art. 159 [...]
É importante mencionar, também, um entendi- § 2º Se do fato resulta lesão corporal de natureza
mento defendido pela doutrina majoritária: no resul- grave:
tado “morte”, não é necessário que a pessoa morta Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
seja a vítima do sequestro, podendo ser qualquer pes- § 3º Se resulta a morte:
soa que morra em decorrência da extorsão mediante Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.
sequestro. Assim, por exemplo, se um empregado for
ao local combinado com os sequestradores, a pedido A extorsão mediante sequestro é qualificada se do
de seus patrões, entregar o resgate e for morto pelos fato resulta:
autores, a qualificadora será aplicada da mesma for-
ma (observe que o empregado não é vítima do crime „ Lesão corporal de natureza grave;
— não foi sequestrado nem pagou o resgate). „ Morte.
A pessoa jurídica pode ser vítima de extorsão
mediante sequestro, segundo entendimento doutriná- Vejamos uma hipótese: o agente priva a vítima
rio dominante, quando dela for exigida a vantagem da liberdade, colocando-a sob vigilância em um cati-
correspondente ao resgate. veiro; em seguida, visando obter vantagem, exige de
A extorsão mediante sequestro traz em suas dis- familiares da vítima o preço do resgate. Entretanto,
posições a possibilidade de aplicação do instituto da devido a um impasse com os familiares, o agente mata
344 delação premiada. a vítima.
O § 2º, do 159, do CP, dispõe que, se o fato resulta lesão corporal de natureza grave, a pena cominada é de
reclusão, de 16 a 24 anos.
E o § 3º, do 159, do CP, dispõe que, se resulta morte, a pena será reclusão de 24 a 30 anos.
A lesão grave e a morte podem ser dolosas ou culposas.
Os delitos de homicídio e lesão corporal, sejam eles dolosos ou culposos, são absorvidos, porque já funcionam
como qualificadoras.
A extorsão mediante sequestro seguida de morte é o crime mais grave do CP, tendo como pena mínima 24 anos
de reclusão.
Não há necessidade de que a morte seja provocada por violência física ou grave ameaça. O suicídio do seques-
trado, por exemplo, é suficiente para o reconhecimento da qualificadora, porque em tal situação é evidente a
culpa dos sequestradores.

A EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO SERÁ QUALIFICADA NOS SEGUINTES CASOS:

Se o crime
é cometido
por bando ou Se do fato
Se o sequestro é
Se o sequestro quadrilha (agora resultar lesão
menor de 18 anos Se do fato resultar
durar mais de é associação corporal de
ou maior de 60 a morte
24 horas criminosa - natureza
anos
responde pelos 2 grave
crimes)

Reclusão de Reclusão de Reclusão de Reclusão de Reclusão de


12 a 20 anos 12 a 20 anos 12 a 20 anos 16 a 24 anos 24 a 30 anos

z Causa de Redução de Pena

Art. 159 [...]


§ 4º Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do
sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços.

Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do


sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços, conforme disposto no § 4º, do art.159, do CP.
Para que incida a redução da pena, a delação deve ter sido feita à autoridade, devendo essa expressão ser
tomada em sentido amplo para abranger qualquer agente encarregado do combate à criminalidade, por exemplo,
juiz, autoridade policial etc.
Quanto maior a contribuição, maior a redução da pena.
Trata-se de causa obrigatória de redução de pena.
O art. 13, da Lei nº 9.807, de 1999, dispõe sobre a extinção da punibilidade pelo perdão judicial ao acusado que,

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


sendo primário, tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e o processo criminal, desde que
dessa colaboração tenha resultado cumulativamente a identificação dos demais agentes, a localização da vítima
com sua integridade física preservada e a recuperação total ou parcial do produto do crime.
Presentes apenas um desses requisitos, a pena ainda poderá ser reduzida de 1/3 a 2/3, independentemente da
primariedade do réu, por força do art. 14, da Lei nº 9.807, de 1999.

Extorsão Indireta

Art. 160 Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento que pode dar
causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

A extorsão indireta constitui forma mais branda de extorsão, que se configurará quando o agente exigir ou
receber, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento que pode dar causa a procedimen-
to criminal contra a vítima ou contra terceiro.
Como dito, é uma forma mais branda de extorsão, já que tem como pena a reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos,
enquanto a extorsão, em sua modalidade simples, tem como pena a reclusão de 4 (quatro) a 10 (anos).
É um crime que exige dolo específico, já que o agente pratica os verbos descritos no tipo penal (exigir ou rece-
ber) como garantia de dívida.
É necessário que o agente abuse da condição de alguém, assim, por exemplo, suponha que um agiota, apro-
veitando-se da condição de desespero pela qual se passa aquele que solicita um empréstimo, já que o filho deste
se encontra internado em estado grave e ele precisa do dinheiro para pagar o tratamento, exija documento que
possa dar causa a procedimento criminal — pronto, teremos configurada a extorsão indireta, já que o agiota abu-
sou da condição da vítima. 345
No verbo “exigir”, este crime é formal, consuman- Dica
do-se com a exigência do documento.
Não configura crime de usurpação de águas,
Já no verbo “receber”, é crime material, consu-
mando-se com o efetivo recebimento do documento.
mas crime de furto, quando se trata de água reti-
É admitida a tentativa, já que pode ter seu iter cri- rada de água represada pelo dono para criação
minis fracionado. de peixes.
É crime comum, já que não se exige qualquer con-
dição especial do sujeito. O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, pois, tra-
ta-se de crime comum.
USURPAÇÃO O sujeito passivo, por sua vez, é a pessoa que
pode sofrer dano em decorrência do desvio ou
Alteração de Limites represamento.
Consuma-se o crime no instante em que o agente
Art. 161 Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou efetua o desvio ou represamento, ainda que não obte-
qualquer outro sinal indicativo de linha divisória, nha a vantagem em proveito próprio ou alheio a que o
para apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa texto legal se refere. A tentativa é possível.
imóvel alheia:
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa. Esbulho Possessório

O objetivo da lei é resguardar a posse e a proprie- Art. 161 [...]


dade dos bens imóveis. § 1º Na mesma pena incorre quem: [...]
Esse tipo penal possui duas condutas típicas II - invade, com violência a pessoa ou grave
alternativas: ameaça, ou mediante concurso de mais de
duas pessoas, terreno ou edifício alheio, para o
z Supressão, ou seja, a total retirada do marco fim de esbulho possessório.
divisório;
z Deslocamento do marco divisório, afastando-o Veja que o crime de esbulho possessório tem por
do local correto, de modo a aumentar a área do objeto jurídico o patrimônio, no tocante à propriedade
agente. e, especialmente, à posse legítima de um imóvel, bem
como a integridade física e a liberdade individual da
É necessário que o agente tenha intenção de apro- pessoa humana atingida pela conduta criminosa.
priar-se, no todo ou em parte, da propriedade alheia, Pressupõe-se, neste crime, a invasão de proprieda-
por meio da supressão ou deslocamento do marco de imóvel alheia, edificada ou não, desde que o fato se
divisório. dê mediante emprego de violência ou grave ameaça
Temos, por exemplo, como hipótese que não confi- a pessoa, bem como mediante concurso de duas ou
gura crime, o fato de um agricultor retirar a cerca que mais pessoas.
divide as terras com outro proprietário apenas para É possível que o agente invada a propriedade
reformá-la. alheia sozinho ou em concurso com apenas mais uma
Trata-se de crime próprio, somente podendo ser pessoa e sem emprego de violência ou grave ameaça.
praticado pelo vizinho do imóvel, quer na zona urba- Nesse caso, o fato é atípico. Não obstante, o § 1º, do
na, quer na rural.
art. 1.210, do Código Civil, permite que o dono retome
Sendo assim, o sujeito passivo desse tipo penal só
a posse, desde que o faça imediatamente, por meio do
pode ser o vizinho, dono ou possuidor do imóvel.
chamado desforço imediato.
Consuma-se no exato instante em que o agente
Se, em outra hipótese, logo após a invasão pacífica,
suprime ou desloca o marco divisório, ainda que a
o invasor empregar violência para se manter na posse
vítima posteriormente perceba o ocorrido e retome a
quando o legítimo proprietário tentava retomá-la pelo
parte de que foi tolhida.
É possível a tentativa, quando o agente é flagrado desforço imediato, haverá a configuração do delito.
iniciando a supressão ou deslocamento e é impedido O crime só existe se a invasão se dá com o fim espe-
de prosseguir. Se já o fez por completo, conforme já cífico de esbulho possessório, ou seja, a retirada força-
mencionado, o crime está consumado, ainda que a da do legítimo possuidor, desde que o agente queira
vítima retome posteriormente a parte a que faz jus. excluir a posse da vítima para passar a exercê-la ele
próprio.
Usurpação de Águas O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, exceto o
dono.
Art. 161 [...] Trata-se de crime comum.
§ 1º Na mesma pena incorre quem: O dono que invade imóvel alugado não incorre no
I - desvia ou represa, em proveito próprio ou de tipo penal em análise, que exige expressamente que o
outrem, águas alheias; bem seja alheio.
Dependendo da hipótese, poderá incorrer em cri-
Neste delito, a lei resguarda as águas públicas me de violação de domicílio (art. 150) ou retirada de
ou particulares que passem por determinado local, coisa própria do poder de terceiro (art. 346, do CP).
evitando que o dono do terreno sofra prejuízo caso Já o sujeito passivo é o dono ou possuidor do imó-
alguém queira desviar o seu curso ou represá-las, sem vel invadido.
autorização para tanto. Consuma-se no momento da invasão.
Exige-se que sejam águas correntes, cujo curso seja É possível tentativa quando a invasão não se aper-
desviado ou represado pelo agente, alterando, portan- feiçoe em razão da oposição apresentada pelo dono,
346 to, seu fluxo pela propriedade. possuidor ou por terceiro.
Observe que, se o agente comete o esbulho com Tutela-se a propriedade e a posse.
emprego de violência, responde também pelas lesões Trata-se de crime doloso.
corporais causadas, ainda que leves, nos termos do § O tipo penal fala em coisa alheia, sem exigir que
2º, do art. 161, do CP, e as penas serão somadas. seja móvel. Portanto, caso o agente destrua, por exem-
plo, uma casa, praticará o crime de dano.
Art. 161 [...] Características do crime de dano:
§ 2º Se o agente usa de violência, incorre também
na pena a esta cominada. z Crime comum — pode ser praticado por qualquer
§ 3º Se a propriedade é particular, e não há emprego
pessoa;
de violência, somente se procede mediante queixa.
z Não admite a forma culposa. O dano culposo cons-
titui ilícito de ordem civil;
A ação penal será, em regra, pública incondicio-
nada; porém, caso não ocorra o emprego de violên- z É crime material, que exige a ocorrência do resul-
cia, a ação penal passa a ser privada e só se procede tado (destruição, inutilização ou deterioração).
mediante queixa.
Consuma-se quando o agente destrói, inutiliza ou
Supressão ou Alteração de Marca em Animais deteriora a coisa.
A danificação parcial constitui crime consumado,
Art. 162 Suprimir ou alterar, indevidamente, em enquadrando-se no verbo deteriorar.
gado ou rebanho alheio, marca ou sinal indicativo
de propriedade: Dano Qualificado
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.
O dano será praticado na modalidade qualificada
Este crime tutela a propriedade e a posse dos ani- se for cometido em uma das hipóteses a seguir:
mais semoventes.
Para a prática deste crime, é necessário que não Art. 163 [...]
tenha havido prévio furto ou apropriação indébita Parágrafo único. Se o crime é cometido:
dos animais, pois, nesses casos, o agente só será puni- I - com violência à pessoa ou grave ameaça;
do pela conduta anterior, sendo a supressão ou altera- II - com emprego de substância inflamável ou explo-
ção da marca impunível. siva, se o fato não constitui crime mais grave
A conduta típica consiste em apagar ou modificar III - contra o patrimônio da União, de Estado, do
o sinal indicativo de propriedade em gado ou rebanho Distrito Federal, de Município ou de autarquia,
alheios. fundação pública, empresa pública, sociedade de
Quando a lei se refere a gado, está protegendo a economia mista ou empresa concessionária de ser-
propriedade de animais de grande porte, como bois viços públicos;
ou cavalos, e quando se refere a rebanho, o faz em IV - por motivo egoístico ou com prejuízo conside-
relação a animais de porte menor, como porcos, ove- rável para a vítima:
lhas, cabras etc. Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa,
Marcas são feitas por ferro em brasa ou elementos além da pena correspondente à violência.
químicos no couro do animal.
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive Caso o crime de dano seja praticado com violência
quem possui animal que pertence a terceiro. à pessoa (forma qualificada vista acima), o agente res-
O sujeito passivo é dono do animal. ponderá pelo crime de dano em concurso com a pena
Consuma-se com a simples supressão ou alteração correspondente à violência.
da marca ou sinal, ainda que se dê apenas em relação Das hipóteses vistas, com exceção da qualificadora

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


a um animal. por motivo egoístico ou com prejuízo para a vítima
É possível a tentativa quando o agente não conse- (ação penal privada), nos demais casos, a ação penal
gue concretizar a remarcação iniciada, pela repentina será pública incondicionada.
chegada de alguém ao local, ou até mesmo quando
concretiza a remarcação, porém a faz de tal forma Introdução ou Abandono de Animais em Propriedade
que continua sendo possível identificar a marca do Alheia
verdadeiro dono.
Art. 164 Introduzir ou deixar animais em proprie-
DANO dade alheia, sem consentimento de quem de direito,
desde que o fato resulte prejuízo:
Art. 163 Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, ou
alheia: multa.
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Dispõe o art. 164, do CP, que é crime a conduta de
O crime de dano, previsto no art. 163, do CP, poderá introduzir ou deixar animais em propriedade alheia,
ser praticado mediante a execução das seguintes con- sem consentimento de quem de direito, desde que do
dutas: destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia. fato resulte prejuízo. Pena — detenção, de 15 dias a 6
Verbos do crime de dano (observe o que a doutrina meses, ou multa.
estabelece sobre cada um dos verbos): Tutela-se a propriedade e a posse do imóvel contra
o dano causado por animais.
z Destruir: Dano total da coisa alheia; O objetivo primordial da lei é a proteção da pro-
z Inutilizar: Dano parcial, mas que torna a coisa priedade rural, onde o delito é comumente cometido.
alheia sem utilidade; Todavia, estende-se também a tutelar a propriedade
z Deteriorar: Dano parcial da coisa alheia, que fica urbana, tendo em vista que a lei não restringiu a exis-
estragada, por exemplo. tência do delito à propriedade rural. 347
Trata-se de crime comum, pois pode ser cometido A apropriação indébita é crime que decorre de
por qualquer pessoa. uma relação de confiança entre o autor e a vítima.
Sujeitos passivos são o proprietário e o possuidor, Esta entrega a coisa móvel ao agente, devido à con-
titulares do patrimônio ofendido. fiança que deposita nele.
Consuma-se com a danificação total ou parcial da O agente recebe a coisa com boa intenção, mas,
propriedade alheia, isto é, com o efetivo prejuízo ao depois (parte da doutrina chama de dolo subsequen-
terceiro. te), altera sua intenção, apropria-se da coisa e passa a
Este crime somente se procede mediante queixa. agir como dono dela. Veja as principais características
da apropriação indébita:
Dano em Coisa de Valor Artístico, Arqueológico ou
Histórico z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
quer pessoa;
O proprietário comete o delito de dano ambiental, z Não admite a forma culposa;
previsto no art. 62, da Lei nº 9.605, de 1998, e não do z Não admite tentativa, conforme doutrina majoritá-
art. 165, do CP, que foi revogado pela citada lei, quan- ria, tratando-se de crime unissubsistente, ou seja,
do se tratar de coisa de valor artístico, arqueológico, é o conjunto de um só ato, a realização da condu-
histórico ou outro bem especialmente protegido por ta esgota a concretização do delito, por exemplo,
lei, ato administrativo ou decisão judicial, pois nesse apropriar-se de objeto de valor;
tipo penal não se exige que a coisa seja alheia. z É crime material, que se consuma quando o agente
inverte a posse da coisa alheia móvel.
Alteração de Local Especialmente Protegido
Aumento de Pena
Revogado pelo art. 63, da Lei nº 9.605, de 1998, que
dispõe ser crime a conduta de alterar o aspecto ou Art. 168 [...]
estrutura de edificação ou local especialmente prote- § 1º A pena é aumentada de um terço, quando o
gido por lei, ato administrativo ou decisão judicial, em agente recebeu a coisa:
razão de seu valor paisagístico, ecológico, turístico, I - em depósito necessário;
artístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquida-
etnográfico ou monumental, sem autorização da auto- tário, inventariante, testamenteiro ou depositário
ridade competente ou em desacordo com a concedida. judicial;
A pena é de reclusão, de um a três anos, e multa. III - em razão de ofício, emprego ou profissão.

Ação Penal Apropriação Indébita Previdenciária

Art. 167 Nos casos do art. 163, do inciso IV do Art. 168-A Deixar de repassar à previdência social
seu parágrafo e do art. 164, somente se procede as contribuições recolhidas dos contribuintes, no
mediante queixa. prazo e forma legal ou convencional:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
A ação penal é privada no dano simples (caput
do art.163, do CP) e no dano qualificado por motivo O crime de apropriação indébita previdenciária é
egoístico ou considerável prejuízo para a vítima (inci- um crime omissivo próprio, pois só pode ser praticado
so IV, § único, do art. 163, do CP). Nas demais formas pelo substituto tributário, que é a pessoa que recolhe
de dano qualificado, a ação é pública incondicionada. as contribuições sociais em nome do INSS para depois
as repassar.
APROPRIAÇÃO INDÉBITA A consumação deste crime, por ser omissivo pró-
prio, ocorre com a mera omissão do recolhimento da
Art. 168 Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que contribuição previdenciária.
tem a posse ou a detenção: No caso do contribuinte individual, ele é o res-
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. ponsável por esse desconto das contribuições e pelo
repasse ao INSS, de modo que é ele que responderá
Para compreender a apropriação indébita, é neces- pelo crime.
sário saber que o agente já tem a posse ou a detenção No caso de sociedade, para fins penais, o sujeito
da coisa, passando, posteriormente, a agir como se ativo é a pessoa física que no âmbito da empresa tem
fosse dono da coisa. Neste crime, exige-se que a coisa o poder de fato para decidir se irá ou não sonegar a
alheia seja móvel. contribuição arrecadada.
Não se deve confundir a apropriação indébita com Tutela-se o patrimônio do INSS, que é uma autar-
o crime de estelionato. Veja a diferença: quia federal, de modo que a competência é da Justiça
Federal, conforme o inciso IV, do art. 109, da Constitui-
APROPRIAÇÃO ção Federal.
ESTELIONATO
INDÉBITA Logo, o sujeito passivo é o INSS.
O agente recebe a coisa de O agente já recebe a coisa
boa-fé, depois, muda seu de má-fé, com a intenção
ânimo e passa a agir como de ficar com ela desde o Importante!
se fosse dono da coisa início Consumação: Ficará configurada quando o agen-
(passa a ter má-fé) te deixar de repassar à previdência social as con-
tribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo
348 e forma legal ou convencional.
Observe que o tipo penal principal é praticado na Não se trata de aplicação do princípio da insigni-
modalidade omissiva, deixando o agente de praticar ficância, porque a dívida tem um valor significativo,
uma conduta que deveria (repassar à previdência as mas se o valor for irrisório, por exemplo, R$ 100, R$
contribuições recolhidas após reter os valores). 200 ou R$ 300, ele poderá ser absolvido pelo princípio
Condutas equiparadas: receberá a mesma pena do da insignificância.
crime principal o agente que deixar de: Quando o valor da dívida atinge uma cifra razoável
de até R$ 10 mil, mas o INSS diz que não é preciso mover
Art. 168-A [...] a execução fiscal, nesse caso o réu poderá receber o per-
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem deixar de: dão judicial ou então ser condenado apenas na pena de
I - recolher, no prazo legal, contribuição ou outra multa, conforme o § 3º, do art. 168, do CP.
importância destinada à previdência social que
A pena deste crime poderá ser extinta (extinção da
tenha sido descontada de pagamento efetuado a
punibilidade), caso o agente, espontaneamente, decla-
segurados, a terceiros ou arrecadada do público;
II - recolher contribuições devidas à previdência re, confesse e efetue o pagamento das contribuições,
social que tenham integrado despesas contábeis ou importâncias ou valores e preste as informações devi-
custos relativos à venda de produtos ou à prestação das à previdência social, na forma definida em lei ou
de serviços; regulamento, antes do início da ação fiscal.
III - pagar benefício devido a segurado, quando as
respectivas cotas ou valores já tiverem sido reem- Art. 168-A [...]
bolsados à empresa pela previdência social. § 2º É extinta a punibilidade se o agente, esponta-
neamente, declara, confessa e efetua o pagamento
Trata-se de norma penal em branco, complemen- das contribuições, importâncias ou valores e presta
tada em diversos dispositivos pela lei previdenciária as informações devidas à previdência social, na for-
correspondente. ma definida em lei ou regulamento, antes do início
Veja as características do crime de apropriação da ação fiscal.
indébita previdenciária:
Apesar de o Código Penal estabelecer que a condu-
z É crime omissivo, como dito, já que o agente não ta do agente, para que sua punibilidade seja extinta,
pratica a conduta que se espera dele (repassar); seja praticada antes do início da ação fiscal, o STF e
z Não admite a modalidade culposa; o STJ têm admitido a aplicação da exclusão da puni-
z Deverá ser praticado de forma dolosa. Segundo o bilidade com o pagamento efetuado a qualquer tem-
STF, não é necessário dolo específico (especial fim
po, desde que antes do trânsito em julgado (sentença
de agir);
definitiva).
z Não admite tentativa.
Para encerrarmos o crime de apropriação indébita
previdenciária, vamos verificar uma hipótese de per-
O entendimento majoritário na doutrina é o de que
a apropriação indébita previdenciária é crime formal dão judicial e de crime privilegiado.
e, por isso, dispensa-se o enriquecimento indevido por A Lei nº 13.606, de 2018, lei bastante atual, diga-se
parte do agente ou o efetivo prejuízo ao erário. de passagem (importante atentar-se a isso), acrescen-
Contudo, o Supremo Tribunal Federal decidiu que tou dispositivo ao Código Penal que estabelece que a
o crime de apropriação indébita previdenciária é faculdade atribuída ao juiz de deixar de aplicar a pena
material, pois, quando o agente omitiu o repasse, con- ou de aplicar somente a pena de multa não se apli-
figurou-se o enriquecimento indevido e o consequen- ca aos casos de parcelamento de contribuições cujo
te prejuízo ao erário. valor, inclusive dos acessórios, seja superior àquele

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


Essa decisão corrobora com o entendimento exa- estabelecido, administrativamente, como sendo míni-
rado na Súmula Vinculante nº 24: mo para ajuizamento de suas execuções fiscais.
Faculta-se ao juiz:
Súmula Vinculante 24 Na linha da jurisprudência
deste Tribunal Superior, o crime de apropriação indé- z Deixar de aplicar a pena (perdão judicial);
bita previdenciária, previsto no art. 168-A, ostenta
z Aplicar somente a pena de multa (crime
natureza de delito material. Portanto, o momento
privilegiado).
consumativo do delito em tela corresponde à data da
constituição definitiva do crédito tributário, com o
exaurimento da via administrativa (ut, (RHC 36.704/ Essas situações poderão ocorrer se o agente for
SC, Rel. Ministro FELIX FISCHER, Quinta Turma, DJe primário e de bons antecedentes, desde que:
26/02/2016). Nos termos do art. 111, I, do CP, este é
o termo inicial da contagem do prazo prescricional Art. 168-A [...]
(AgRg no REsp 1.644.719/SP, DJe 31/05/2017). § 3º É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou
aplicar somente a de multa se o agente for primário
Importante estudar também o tema do princípio e de bons antecedentes, desde que:
da insignificância no crime de apropriação indébita I - tenha promovido, após o início da ação fiscal
previdenciária. e antes de oferecida a denúncia, o pagamento da
Neste caso, a Portaria nº 296, de 2007, da Previ- contribuição social previdenciária, inclusive aces-
dência Social diz que o INSS não executa, não move, sórios; ou
ação de execução fiscal por dívida de até R$ 10 mil, II - o valor das contribuições devidas, inclusive
de modo que, se o indivíduo pagasse débitos até esse acessórios, seja igual ou inferior àquele estabele-
valor a punibilidade estaria extinta pelo perdão judi- cido pela previdência social, administrativamente,
cial, obviamente, desde que ele seja primário e de como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas
bons antecedentes. execuções fiscais. 349
De acordo com a Procuradoria-Geral da Fazenda Apropriação de Tesouro
Nacional, o valor mínimo para ajuizar execuções fis-
cais por débito para com o fisco é de R$ 20 mil. Art. 169 [...]
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. [...]
Apropriação de Coisa Havida por Erro, Caso Fortuito Parágrafo único. Na mesma pena incorre:
ou Força da Natureza I - quem acha tesouro em prédio alheio e se apro-
pria, no todo ou em parte, da quota a que tem direi-
to o proprietário do prédio;
Art. 169 Apropriar-se alguém de coisa alheia vin-
da ao seu poder por erro, caso fortuito ou força da
natureza: Irá praticar este crime o agente que achar tesouro
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. em prédio alheio e se apropriar, no todo ou em parte,
da quota a que tem direito o proprietário do prédio.
Neste crime, a apropriação dá-se não devido à Aqui, pune-se a conduta do indivíduo que acha
relação de confiança existente entre autor e vítima, tesouro em prédio que pertence a outra pessoa e se
mas, sim, porque a coisa chegou ao poder do agente apropria da quota-parte que o proprietário do prédio
por erro, caso fortuito ou força da natureza. tem direito, de acordo com o Código Civil, que estabe-
Ex.: “A” recebe em sua casa, por erro do entregador lece que o tesouro deve ser dividido igualmente entre
de uma loja, uma televisão de 50 polegadas. O agente aquele que achou e entre o proprietário do local em
apropria-se da coisa havida por erro. que ele foi achado.
Caso “A” tenha recebido a coisa de boa-fé, mas, pos- O Código Civil conceitua tesouro como depósito
teriormente, altere a posse da coisa, apropriando-se antigo de coisas preciosas, oculto e de cujo dono não
dela, cometerá o crime de apropriação de coisa havi- haja memória.
da por erro, caso fortuito ou força da natureza. O tipo penal não se caracteriza com o verbo
Entretanto, para configuração do delito, o agente “achar”. Atente-se ao fato de que quem acha tesouro
não pode ter induzido nem mantido a pessoa em erro não comete crime algum. A conduta criminosa encon-
no momento do recebimento da coisa, caso contrário, tra-se no verbo “apropriar-se”, quando o agente se
tendo em vista a fraude, haverá o crime de estelionato. apropria da parte a que tem direito o proprietário do
Na apropriação de coisa havida por erro, ao tempo prédio.
do recebimento da coisa, o agente procede de boa-fé, Para que este crime se configure, é necessário que
não percebe o erro. Este é constatado após o recebi- o tesouro tenha sido localizado em prédio que possua
mento da coisa. proprietário.
Necessário, portanto, o dolo subsequente, isto é, o
agente recebe, identifica que não lhe pertence, mas Apropriação de Coisa Achada
fica com o patrimônio.
O erro deve ser alheio, isto é, de quem concede a Art. 169 [...]
disponibilidade da coisa ao sujeito ativo. É necessário Parágrafo único. Na mesma pena incorre: [...]
que o agente não perceba o aludido erro. II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apro-
Há uma duplicidade de erros, de quem entrega e pria, total ou parcialmente, deixando de restituí-la
de quem recebe a coisa. ao dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à
Quanto à distinção entre caso fortuito e força da autoridade competente, dentro no prazo de quinze
natureza, uma parcela significativa da doutrina consi- dias.
dera as expressões equivalentes. Mesmo assim, vamos
estabelecer uma diferenciação. O que dizer sobre “achado não é roubado”, ditado
Força da natureza é o acontecimento de eventos popular muito dito?
físicos ou naturais, de índole ininteligente, como o gra- O crime de apropriação de coisa achada não é mui-
nizo, o raio, a inundação, a tempestade e o terremoto. to conhecido, mas existe.
Caso fortuito deriva de fatos humanos, como a gre- Este crime será aplicado a quem achar coisa alheia
ve, o motim, a guerra, a queda de um avião etc. perdida e dela se apropriar, total ou parcialmente,
No delito em apreço, a coisa chega ao agente atra- deixando de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor
vés de um evento imprevisível. ou de entregá-la à autoridade competente, dentro do
Exemplo clássico: um vendaval lança as roupas do prazo de 15 (quinze) dias.
varal do vizinho ao quintal da casa de “B” e este apro- Trata-se de crime a prazo, que é aquele que, para
pria-se delas. Ou uma mala despenca de um avião, sua consumação, exige que transcorra determinado
caindo na chácara de “C”, que dela se apropria. Ainda, período (15 dias).
o animal de uma fazenda passa para a fazenda de “D”, Sujeito ativo é aquele que acha a coisa perdida.
que dele se apropria. Trata-se de crime próprio, pois é praticado por
Observe que a coisa não é entregue pela vítima ao aquele que acha a coisa perdida.
agente, originando-se o apossamento de um aconteci- Na hipótese de o sujeito ativo emprestar a coisa
mento imprevisível. à uma outra pessoa, vindo esta a se apropriar, não
Este crime não admite a modalidade culposa, cometerá o delito em apreço, e sim o crime de apro-
podendo ser praticado apenas a título de dolo. priação indébita, previsto no art. 168, do CP.
Trata-se de crime comum, podendo ser praticado Se, por outro lado, o proprietário achar a própria
por qualquer pessoa. coisa e deixar de restituí-la ao legítimo possuidor, que
O STJ entende que se trata de crime permanente, a havia perdido, também não se configura o delito,
ou seja, sua consumação se prolonga no tempo. porque o tipo penal exige que a coisa seja alheia.
O Código Penal apresenta duas hipóteses asseme- Sujeito passivo é o proprietário ou possuidor da
lhadas, punidas com a mesma pena: a apropriação de coisa perdida.
350 tesouro e a apropriação de coisa achada. O objeto material é coisa alheia perdida.
Trata-se de elemento normativo do tipo, cujo signi- No estelionato, a vítima, devido ao fato de ter sido
ficado requer um juízo de valor do magistrado. enganada, colabora com o agente, entregando-lhe, de
Coisa perdida é a que se encontra em lugar públi- alguma forma, a vantagem.
co ou de uso público em circunstâncias indicativas do Esta condição, inclusive, é fator que serve para
extravio, por exemplo, uma carteira exposta no meio diferenciar o estelionato de outros tipos penais que
da rua. com ele possam se confundir.
No caso de coisa abandonada (res derelicta) ou Características do crime de estelionato:
coisa sem dono (res nullius), não haverá crime algum
por parte de quem se apropriar. Este se torna dono z Crime comum: Não se exigem características espe-
da coisa. cíficas do sujeito ativo;
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, consistente z Crime material: O crime consuma-se com a ocor-
na vontade de apropriar-se da coisa. rência do resultado obtenção da vantagem ilícita,
Quanto à consumação, ocorre quando o agente
acarretando prejuízo a terceiro;
deixa de restituir a coisa ao dono ou legítimo possui-
z Não admite a forma culposa: Só se pratica a título
dor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro
de dolo;
do prazo de quinze dias.
z Admite a modalidade tentada.
O crime de apropriação de coisa achada poderá se
configurar:
O estelionato privilegiado é aquele em que o agen-
z Se o agente deixa de restituir a coisa achada ao te é primário e o prejuízo é de pequeno valor. Poderá
dono ou legítimo possuidor; o juiz, neste caso, substituir a pena de reclusão pela
z Se o agente deixa de entregar a coisa achada à pena de detenção, diminuir a pena de 1/3 a 2/3 ou apli-
autoridade competente. car somente a pena de multa.

Por fim, o Código Penal estabelece a possibilidade de Art. 171 [...]


se aplicar aos crimes previstos no capítulo da apropria- § 1º Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor
ção indébita os institutos aplicáveis ao furto privilegiado. o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o
Logo: disposto no art. 155, § 2º.

z Se o criminoso é primário; Vejamos as formas equiparadas do crime de este-


z Se é de pequeno valor a coisa. lionato, que serão submetidas às mesmas penas.

O juiz poderá: Disposição de Coisa Alheia como Própria

z Substituir a pena de reclusão pela pena de detenção; Art. 171 [...]


z Diminuir a pena de 1/3 a 2/3; § 2º Nas mesmas penas incorre quem:
z Aplicar somente a pena de multa. I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação
ou em garantia coisa alheia como própria;
ESTELIONATO E OUTRAS FRAUDES
Este crime está previsto no inciso I, § 2º, do art.
Estelionato 171, do CP, ou seja, o agente vende, permuta, dá em
pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia
Art. 171 Obter, para si ou para outrem, vantagem como própria — disposição de coisa alheia como pró-
ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo pria. O agente, neste crime, faz com que coisa alheia
alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qual- se passe como dele, enganando outrem.

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


quer outro meio fraudulento: Os verbos previstos no tipo são: vender, permutar
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de qui- (trocar), dar como pagamento, locação ou garantia.
nhentos mil réis a dez contos de réis.
z Vender: a venda é o contrato pelo qual as partes se
O crime de estelionato, art. 171, do CP, será pratica- obrigam a dar uma coisa por dinheiro. Aperfeiçoa-se
do quando o agente obtiver, para si ou para outrem, com o acordo de vontades acerca da coisa e do preço,
vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou independentemente da tradição. A tradição é neces-
mantendo alguém em erro, mediante artifício ardil sária para a aquisição da propriedade, e não para a
ou qualquer outro meio fraudulento. formação do contrato. Consuma-se o crime com a
O agente altera, de modo consciente, a data de óbi- obtenção da vantagem e causação do prejuízo;
to de seu genitor, induzindo o tabelião em erro para z Permutar (trocar): A permuta ou troca é o contrato
não pagar multa em procedimento extrajudicial de pelo qual as partes assumem a obrigação de dar uma
inventário (vantagem econômica). coisa por outra. Aperfeiçoa-se também com o simples
Observe que o crime fala em vantagem ilícita acordo de vontades, independentemente da entrega
(segundo a doutrina majoritária, deve ser vantagem do bem. Consuma-se o crime quando a vítima entre-
de natureza patrimonial), podendo ser coisa móvel ou ga ao estelionatário a coisa, pois, nesse momento,
imóvel. opera-se o prejuízo e a obtenção da vantagem;
A vantagem ilícita é obtida pelo agente, que se z Dar em pagamento: A dação em pagamento con-
utiliza de artificio ardil (método de enganar) ou qual- siste na extinção de uma obrigação vencida pelo
quer outro tipo de fraude. fato de o credor consentir em receber prestação
Ele induz a vítima em erro (ela não estava em erro diversa da que lhe é devida. Consuma-se o crime
e o agente o faz) ou mantém a vítima em erro (ela quando o estelionatário obtém a quitação da dívi-
estava em erro, o agente, de má-fé, faz com que ela da, mediante a promessa de entregar ao seu cre-
permaneça). dor uma certa coisa; 351
z Locação: É o contrato pelo qual uma das partes Fraude na Entrega de Coisa
se obriga a ceder a outra, por tempo determinado
ou não, o uso e gozo de coisa infungível, median- Art. 171 [...]
te certa retribuição. Consuma-se o crime quando § 2º [...]
o estelionatário recebe o sinal ou o pagamento do IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade
de coisa que deve entregar a alguém;
primeiro aluguel;
z Garantia: Compreende o penhor, a hipoteca e a
anticrese. Consuma-se o crime quando o estelio- Este crime está previsto no inciso IV, § 2º, do art.
natário obtém o empréstimo, dando em garantia 171, do CP, em que o agente defrauda substância, qua-
uma coisa alheia. lidade ou quantidade, de coisa que deve entregar a
alguém.
Alienação ou Oneração Fraudulenta de Coisa Própria Vejamos, o tipo penal faz a seguinte alusão: “coisa
que deve entregar a alguém”, pressupondo-se, portan-
Art. 171 [...] to, uma obrigação de prestação de dar entre as partes.
§ 2º [...] A obrigação deve ser a título oneroso. Se for gratui-
II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garan- ta, como o comodato e a doação, desaparece o delito,
tia coisa própria inalienável, gravada de ônus ou porque não há prejuízo ao credor. Nos negócios gra-
litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro, tuitos, não se pode reclamar sequer vício redibitório,
mediante pagamento em prestações, silenciando de modo que o devedor não é sancionado nem na
sobre qualquer dessas circunstâncias; esfera cível.
Se não houver uma obrigação antecedente, a
Este crime está previsto no inciso II, § 2º, do art. entrega de coisa defraudada pode configurar o delito
171, do CP, que consiste no agente que vende, permu- do caput do art. 171.
ta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria
inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel Fraude para Recebimento de Indenização ou Valor de
que prometeu vender a terceiro, mediante pagamen- Seguro
to em prestações, silenciando sobre qualquer dessas
circunstâncias. Art. 171 [...]
Temos que destacar que o objeto material do crime § 2º [...]
pode ser bem móvel ou imóvel. Vejamos: V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa
Coisa própria inalienável — Os bens inalienáveis própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou
são: bem de família do Código Civil, bem doado com agrava as consequências da lesão ou doença, com
cláusula de inalienabilidade e bem deixado por testa- o intuito de haver indenização ou valor de seguro
mento com cláusula de inalienabilidade.
Coisa própria gravada de ônus — Por exem- Este crime está previsto no inciso V, § 2º, do art.
plo: penhor, hipoteca, anticrese, enfiteuse, servidão, 171, do CP, em que o agente destrói, total ou parcial-
superfície, uso, usufruto, habitação e superfície. mente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio cor-
Coisa própria litigiosa — Bem sub-judice é aquele po ou a saúde, ou agrava as consequências da lesão ou
em que há uma ação judicial acerca da titularidade da doença, com o intuito de haver indenização ou valor
propriedade. de seguro.
Imóvel próprio que prometeu vender a tercei- O crime de fraude para recebimento de indeniza-
ro, mediante pagamento em prestações. ção ou valor de seguro, segundo a doutrina majoritá-
Observa-se que a lei é omissa em relação a imóvel ria, é crime formal, que se consuma com a prática da
que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento conduta, independentemente de o agente conseguir
à vista. Também é omissa sobre o compromisso que ou não receber os valores referentes a indenização ou
recai sobre bens móveis, ainda que em prestações. valor de seguro.
Lembre-se de que o agente não é punido penal-
Defraudação de Penhor mente por causar mal somente a si mesmo, sendo
assim, caso ele se lesione sem o fim de receber seguro,
Art. 171 [...] ele não será sujeito passivo do crime.
§ 2º [...] O sujeito passivo será a seguradora.
III - defrauda, mediante alienação não consentida
pelo credor ou por outro modo, a garantia pigno- Fraude no Pagamento por Meio de Cheque
ratícia, quando tem a posse do objeto empenhado;
Art. 171 [...]
Este crime está previsto no inciso III, § 2º, do art. § 2º [...]
VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos
171, do CP, e consiste na conduta de o agente defrau-
em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento.
dar, mediante alienação não consentida pelo credor
ou por outro modo, a garantia pignoratícia, quando
Este crime está previsto no inciso VI, § 2º, do art.
tem a posse do objeto empenhado. 171, do CP, e consiste no ato de o agente emitir cheque,
É essencial a fraude, isto é, a falta de autorização sem suficiente prisão de fundos em poder do sacado,
do credor. O consentimento deste exclui o crime. ou lhe frustrar o pagamento.
A consumação ocorre com a efetiva defraudação, Leve em consideração que, para configuração des-
isto é, com a alienação, ocultação, abandono etc. da ta forma equiparada de estelionato, é necessário que
coisa empenhada. o agente saiba desde o início que não dispõe de fundos
A defraudação parcial é suficiente para a consu- para cobrir o cheque, não se englobando nesta moda-
mação, porque diminui a garantia do credor, gerando lidade criminosa os casos de não pagamento de che-
352 prejuízo. que por motivos cotidianos (sem má-fé).
É importante conhecer duas Súmulas do STF refe- Art. 171 [...]
rentes ao crime de fraude no pagamento por meio de § 3º A pena aumenta-se de um terço, se o crime é
cheque: cometido em detrimento de entidade de direito
público ou de instituto de economia popular, assis-
Súmula 521 (STF) O foro competente para o pro- tência social ou beneficência.
cesso e julgamento dos crimes de estelionato, sob a
modalidade da emissão dolosa de cheque sem pro- A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se o cri-
visão de fundos, é o local onde se deu a recusa do me é praticado:
pagamento pelo sacado.
Súmula 554 (STF) O pagamento de cheque emiti- z Em detrimento de entidade de direito público
do sem provisão de fundos, após o recebimento da ou de instituto de economia popular, assistência
denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação social ou beneficência; é chamado de estelionato
penal. previdenciário.

Podemos concluir, pela leitura da Súmula 554, que, A pena será aplicada em dobro:
se o agente pagar os valores referentes ao cheque emi-
tido sem fundos antes do recebimento da denúncia, Estelionato Contra Idoso
será impedido o início da ação penal.
Vejamos também a Súmula 17, do STJ: “Quando o
O estelionato contra o idoso sofreu recentes altera-
falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade
ções pela Lei nº 14.155, de 2021, e aumenta a pena do
lesiva, é por este absorvido”.
estelionato de 1/3 ao dobro, quando cometido contra
Entenda da seguinte forma: se o uso do documento
idoso ou vulnerável. Vejamos a redação atual:
falso se exaurir (extinguir) na prática do estelionato,
este crime absorverá aquele.
Art. 171 [...]
Se não se exaurir, o agente responderá pelos dois § 4º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro,
crimes em concurso formal. se o crime é cometido contra idoso ou vulnerável,
considerada a relevância do resultado gravoso.
Fraude Eletrônica
Em relação a este crime, havia previsão anterior
§ 2º-A A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) que foi substituída pela nova redação do § 4º, que aca-
anos, e multa, se a fraude é cometida com a utiliza- bou por permitir a aplicação de pena menor do que
ção de informações fornecidas pela vítima ou por era possível antes da mudança. Veja a comparação no
terceiro induzido a erro por meio de redes sociais, quadro a seguir:
contatos telefônicos ou envio de correio eletrô-
nico fraudulento, ou por qualquer outro meio frau-
dulento análogo. REDAÇÃO ORIGINAL REDAÇÃO ATUAL
§ 2º-B A pena prevista no § 2º-A deste artigo, consi-
derada a relevância do resultado gravoso, aumen- Art. 171 [...] Art. 171 [...]
ta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime Estelionato contra idoso Estelionato contra idoso
é praticado mediante a utilização de servidor man- § 4º Aplica-se a pena em ou vulnerável
tido fora do território nacional. dobro se o crime for co- § 4º A pena aumenta-
metido contra idoso. -se de 1/3 (um terço) ao
A Lei nº 14.155, de 2021, promoveu, ainda, mudan- dobro, se o crime é co-
ças no crime de estelionato, com a inclusão de uma metido contra idoso ou
forma qualificada, no § 2º-A, e novas causas de vulnerável, considerada
aumento de pena, nos §§ 2º-B e 4º, todos do art. 171, a relevância do resultado

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


do CP. Houve alteração, também, na regra de compe- gravoso.
tência relativa ao estelionato, modificando-se o CPP,
conforme se verá mais adiante.
O § 2º-A incluiu no estelionato a chamada fraude O critério para o juiz aplicar o aumento de 1/3 ao
eletrônica, que consiste em forma qualificada cuja dobro, no caso do § 4º, deve ser a relevância do resul-
pena é de reclusão de 4 a 8 anos, e multa, na hipó- tado, que pode ser de menor ou maior importância
tese em que a fraude é cometida com a utilização de (antes da modificação, o juiz era obrigado a fixar no
informações fornecidas pela vítima ou por terceiro dobro).
induzido a erro por meio de redes sociais, contatos Importante destacar também que essa majorante
telefônicos ou envio de correio eletrônico fraudulen- incide sobre todas as modalidades de estelionato.
to, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo. Em regra, a ação procede-se mediante representa-
Veja que o ponto em comum que une as formas ção, exceto nos casos previstos no § 5º, do art. 171.
previstas é a ocorrência delito sem que a vítima esteja
presente (uma vez que se dá por meio de redes sociais, Art. 171 [...]
§ 5º Somente se procede mediante representação,
contatos telefônicos, e-mail fraudulento ou qualquer
salvo se a vítima for:
meio fraudulento análogo, como, por exemplo, por I - a Administração Pública, direta ou indireta;
meio de aplicativos de mensagem, como o WhatsApp II - criança ou adolescente;
ou Telegram). III - pessoa com deficiência mental; ou
As majorantes incluídas nos § 2º-B (servidor fora IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz.
do território nacional) e § 4º (contra idoso ou vulne-
rável) são idênticas às previstas no furto fraudulen- Duplicata Simulada
to eletrônico, valendo os comentários já feitos ao art.
155. Art. 172 Emitir fatura, duplicata ou nota de ven-
da que não corresponda à mercadoria vendida, em
quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado. 353
Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. A primeira conduta é tomar refeição em res-
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá taurante sem dispor de recursos para efetuar o
aquele que falsificar ou adulterar a escrituração do pagamento.
Livro de Registro de Duplicatas. A lei refere-se genericamente a restaurante, de tal
forma que abrange lanchonetes, cafés, bares e outros
O crime em tela é caracterizado pela consumação, estabelecimentos que sirvam refeição. Esta, aliás,
que ocorre com a mera colocação da duplicata em cir- engloba a ingestão de bebidas. Entende-se que o deli-
culação, não sendo necessário o prejuízo a terceiros. to não se configura quando o agente é servido em sua
Não há previsão de forma culposa. própria residência.
A segunda conduta incriminada é alojar-se em
Abuso de Incapazes hotel sem dispor de recursos para efetuar o pagamen-
to. A punição, evidentemente, estende-se a fatos que
Art. 173 Abusar, em proveito próprio ou alheio, de ocorram em estabelecimentos similares, como pen-
necessidade, paixão ou inexperiência de menor, ou sões ou pousadas.
da alienação ou debilidade mental de outrem, indu- A terceira e última conduta criminosa consiste em
zindo qualquer deles à prática de ato suscetível de
utilizar-se de meio de transporte (ônibus, táxi, lota-
produzir efeito jurídico, em prejuízo próprio ou de
terceiro:
ção, barco, trem) sem possuir recursos para efetuar o
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. pagamento.
O tipo penal expressamente exige que o agente
realize as condutas típicas sem dispor de recursos
O crime consuma-se independentemente de pre-
para efetuar o pagamento naquele instante.
juízo causado, ou seja, trata-se de crime formal.
É necessário (elementar do tipo penal) que o agen-
te não tenha recursos para pagar a refeição, o aloja-
Induzimento à Especulação
mento ou o meio de transporte.
Caso o agente tenha os recursos necessários, entre-
Art. 174 Abusar, em proveito próprio ou alheio, da
tanto, recuse-se a efetuar o pagamento, não cometerá
inexperiência ou da simplicidade ou inferioridade
o crime de outras fraudes.
mental de outrem, induzindo-o à prática de jogo ou
Deve-se identificar a má-fé do agente quando da
aposta, ou à especulação com títulos ou mercado-
rias, sabendo ou devendo saber que a operação é
prática da conduta descrita no tipo penal. Ele deve
ruinosa: saber que não dispõe de recursos para pagar e mesmo
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. assim utilizar os serviços descritos. Caso ocorra um
imprevisto, o agente perde seu dinheiro sem saber, por
O crime consuma-se independentemente da exis- exemplo, ele não será responsabilizado penalmente.
Trata-se de crime promovido mediante ação penal
tência de prejuízo; trata-se de crime formal. Uma
pública condicionada à representação da vítima.
situação peculiar é que o delito pode ser tanto realiza-
Admite-se a aplicação do instituto do perdão judi-
do por meio de jogos ou apostas lícitas quanto ilícitas.
cial, já que o juiz, conforme as circunstâncias, poderá
deixar de aplicar a pena.
Fraude no Comércio
Fraudes e Abusos na Fundação ou Administração de
Art. 175 Enganar, no exercício de atividade comer-
Sociedade por Ações
cial, o adquirente ou consumidor:
I - vendendo, como verdadeira ou perfeita, merca-
Art. 177 Promover a fundação de sociedade por
doria falsificada ou deteriorada;
ações, fazendo, em prospecto ou em comunicação
II - entregando uma mercadoria por outra: ao público ou à assembleia, afirmação falsa sobre a
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. constituição da sociedade, ou ocultando fraudulen-
§ 1º Alterar em obra que lhe é encomendada a qua- tamente fato a ela relativo:
lidade ou o peso de metal ou substituir, no mesmo Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, se o
caso, pedra verdadeira por falsa ou por outra de fato não constitui crime contra a economia popular.
menor valor; vender pedra falsa por verdadeira;
vender, como precioso, metal de ou outra qualidade: Trata-se de crime em que o fundador da socieda-
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. [...] de por ações (sociedade anônima ou comandita por
ações) induz ou mantém em erro os candidatos a
No crime de fraude no comércio, se o criminoso é sócios, o público ou presentes à assembleia, fazendo
primário e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz falsa afirmação sobre circunstâncias referentes a sua
pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, constituição ou ocultando fato relevante desta. Podem
diminuí-la de um a dois terços ou aplicar somente a girar elas sobre falsa informação a respeito de subs-
crições ou entradas, de recursos técnicos da compa-
pena de multa.
nhia, de nomes de pseudoinvestidores etc.
Na forma omissiva, pode o agente cometer o cri-
Outras Fraudes me ocultando o nome dos fundadores, problemas téc-
nicos etc., cujo conhecimento poderia prejudicar ou
Art. 176 Tomar refeição em restaurante, alojar-se impedir a subscrição de ações e a própria constituição
em hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem da sociedade. A fraude pode constar de prospecto ou
dispor de recursos para efetuar o pagamento: de comunicação feita ao público ou em assembleia da
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou empresa.
multa. Trata-se de crime próprio em que o sujeito ativo é
Parágrafo único. Somente se procede mediante o responsável pela fundação da sociedade por ações.
representação, e o juiz pode, conforme as circuns- Sujeitos passivos são as pessoas físicas ou jurídicas
354 tâncias, deixar de aplicar a pena. que subscreveram o capital ludibriadas.
É crime formal que se consuma no momento em Esses títulos, negociáveis por endosso, são entre-
que é lançado o prospecto ou o comunicado com a gues ao depositante, sendo que o primeiro é documen-
afirmação falsa ou contendo a omissão fraudulenta to de propriedade da mercadoria e confere ao dono o
de informação relevante, ainda que disso não decorra poder de disposição sobre a coisa, enquanto o segun-
qualquer resultado lesivo. do confere ao portador direito real de garantia sobre
Sobre a pena, é claro que as figuras do § 1º, do as mercadorias.
art. 177, do CP, são subsidiárias, ou seja, cedem lugar
Quem possui ambos tem a plena propriedade
quando o fato se enquadra como crime contra a eco-
delas.
nomia popular da Lei nº 1.521, de 1951.
Delito é a circulação desses títulos em desacordo
Art. 177 [...] com disposição legal.
§ 1º Incorrem na mesma pena, se o fato não consti- Trata-se de norma penal em branco, complemen-
tui crime contra a economia popular: tada pelo Decreto nº 1.102, de 1903.
I - o diretor, o gerente ou o fiscal de sociedade por De acordo com seus ditames, a emissão é irregular
ações, que, em prospecto, relatório, parecer, balan- quando:
ço ou comunicação ao público ou à assembleia, faz
afirmação falsa sobre as condições econômicas da
z A empresa não está legalmente constituída (art.
sociedade, ou oculta fraudulentamente, no todo ou
em parte, fato a elas relativo; 1º);
II - o diretor, o gerente ou o fiscal que promove, por z Inexiste autorização do Governo Federal para a
qualquer artifício, falsa cotação das ações ou de emissão (arts. 2º e 4º);
outros títulos da sociedade; z Inexistem as mercadorias no documento
III - o diretor ou o gerente que toma empréstimo à especificadas;
sociedade ou usa, em proveito próprio ou de tercei- z Há emissão de mais de um título para a mesma
ro, dos bens ou haveres sociais, sem prévia autori- mercadoria ou para os mesmos gêneros especifi-
zação da assembleia geral; cados no título;
IV - o diretor ou o gerente que compra ou vende, por z O título não perfaz as exigências reclamadas no
conta da sociedade, ações por ela emitidas, salvo art. 15, do Decreto.
quando a lei o permite;
V - o diretor ou o gerente que, como garantia de cré-
Sujeito ativo é o depositário da mercadoria.
dito social, aceita em penhor ou em caução ações
Sujeito passivo é o endossatário ou portador que
da própria sociedade;
VI - o diretor ou o gerente que, na falta de balanço,
recebe o título sem saber da ilegalidade.
em desacordo com este, ou mediante balanço falso, O crime consuma-se quando o título é colocado
distribui lucros ou dividendos fictícios; em circulação e a tentativa não é possível, pois, ou o
VII - o diretor, o gerente ou o fiscal que, por inter- agente o coloca em circulação, consumando o crime,
posta pessoa, ou conluiado com acionista, conse- ou não o faz, sendo atípica a conduta.
gue a aprovação de conta ou parecer;
VIII - o liquidante, nos casos dos ns. I, II, III, IV, V Fraude à Execução
e VII;
IX - o representante da sociedade anônima estran- Art. 179 Fraudar execução, alienando, desvian-
geira, autorizada a funcionar no País, que pratica do, destruindo ou danificando bens, ou simulando
os atos mencionados nos ns. I e II, ou dá falsa infor- dívidas:
mação ao Governo. Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
Parágrafo único. Somente se procede mediante
Observe-se que, em tal dispositivo, o legislador queixa.

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


pune o diretor, o gerente e, em alguns casos, o fiscal
e o liquidante, que incidam em fraude em afirmação O crime consiste na existência de uma senten-
referente à situação econômica da empresa, realizem ça a ser executada ou de uma ação executiva e
falsa cotação de ações, tomem emprestado ou usem mandamento.
indevidamente bens ou haveres da sociedade, com- O agente, com o fim de fraudar a execução, desfa-
prem ou vendam ilegalmente ações, prestem caução z-se de seus bens por meio de uma das condutas des-
ou penhor ilegais, distribuam lucros ou dividendos critas na lei:
fictícios ou aprovem fraudulentamente conta ou pare-
cer. Todos esses crimes são próprios, pois só podem z Alienando;
ser cometidos pelas pessoas expressamente mencio- z Desviando;
nadas no texto legal. z Destruindo ou danificando bens;
z Simulando dívidas.
Emissão Irregular de Conhecimento de Depósito ou
“Warrant” Sujeito ativo é o devedor.
Se for empresário e as condutas forem perpetra-
Art. 178 Emitir conhecimento de depósito ou war- das após decretada sua quebra, o ato caracterizará
rant, em desacordo com disposição legal: crime falimentar.
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa O sujeito passivo é o credor.
Trata-se de crime material que somente se consu-
Trata-se de dispositivo fundamentado no Decreto ma quando a vítima sofre algum prejuízo patrimonial
nº 1.102, de 1903, que permite a emissão do conheci- em consequência da atitude do agente.
mento de depósito e do warrant quando mercadorias A tentativa é possível quando o sujeito não conse-
são depositadas em armazéns gerais. gue realizar a conduta típica pretendida.
A ação penal é privada. 355
Se a fraude atingir execução promovida pela Receptação Culposa
União, Estado ou Município, a ação será pública
incondicionada. Art. 180 [...]
§ 3º Adquirir ou receber coisa que, por sua nature-
za ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou
RECEPTAÇÃO
pela condição de quem a oferece, deve presumir-se
obtida por meio criminoso:
O crime de receptação pode ser dividido em: Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou
ambas as penas.
z Receptação simples;
z Receptação qualificada; Segundo entendimento doutrinário majoritário, a
z Receptação culposa; receptação será culposa quando o agente adquirir ou
z Receptação de animal. receber coisa que, por sua natureza ou pela despro-
porção entre o valor e o preço, ou pela condição de
Antes de iniciarmos a análise de cada uma das quem a oferece, presume-se que tenha sido obtida por
divisões feitas, é importante mencionar que, segundo meio criminoso.
posicionamento doutrinário majoritário, confirmado Ex.: Fulano adquire uma motocicleta, avaliada em
pela jurisprudência do STF, a coisa deve ser móvel. R$ 10.000,00, de Ciclano, que pediu por ela o valor
É importante saber, também, que a receptação é de R$ 2.500,00. Fulano é abordado por policiais civis,
punível ainda que desconhecido ou isento de pena o identificando-se, posteriormente, que a motocicleta é
autor do crime de que proveio a coisa. objeto de furto.
Logo, a punição da receptação não depende da É possível que Fulano seja responsabilizado cri-
punição do crime anterior, de que se obteve a coisa. minalmente por receptação culposa, já que há muita
desproporção entre o valor da coisa e o preço pedido
Receptação Simples pelo agente, tendo ele elementos para presumir que a
coisa foi obtida por meio criminoso.
Art. 180 Adquirir, receber, transportar, conduzir À receptação culposa aplica-se o instituto do per-
ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que dão judicial, podendo o juiz deixar de aplicar a pena,
sabe ser produto de crime, ou influir para que ter- levando em consideração as circunstâncias do fato e
ceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte: caso o criminoso seja primário.
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. No caso de receptação dolosa, aplica-se o institu-
to do privilégio, podendo o juiz, caso o agente seja
O crime de receptação, previsto no art. 180, do primário e seja de pequeno valor a coisa, substituir
Código Penal, pratica-se quando o agente adquirir, a pena de reclusão pela pena de detenção, reduzir a
receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito pena de 1/3 a 2/3 ou aplicar somente a pena de multa.
próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, Em 2017, por meio da Lei 13.531, foi inserido
ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba importante dispositivo ao Código Penal, que aumenta
ou oculte. a pena do agente ao dobro.
É crime comum, tanto em relação ao sujeito ativo, A pena prevista para a receptação simples (própria
como em relação ao sujeito passivo. ou imprópria) será aplicada em dobro, tratando-se
A doutrina divide a receptação simples em própria de bens do patrimônio da União, de Estado, do Dis-
trito Federal, de Município ou de autarquia, fundação
ou imprópria. Conheça tal divisão:
pública, empresa pública, sociedade de economia mis-
ta ou empresa concessionária de serviços públicos.
z Receptação Própria: Adquirir, receber, transpor-
tar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou Art. 180 [...]
alheio, coisa que sabe ser produto de crime; § 6º Tratando-se de bens do patrimônio da União,
z Receptação Imprópria: Influir para que terceiro, de Estado, do Distrito Federal, de Município ou
de boa-fé, a adquira, receba ou oculte. de autarquia, fundação pública, empresa pública,
sociedade de economia mista ou empresa conces-
sionária de serviços públicos, aplica-se em dobro a
A receptação é crime de tipo misto alternativo, pena prevista no caput deste artigo.
podendo o agente ser responsabilizado penalmente
caso pratique qualquer um dos verbos descritos no Receptação de Animal
tipo penal.
Trata-se de um tipo autônomo de receptação e não
Receptação Qualificada de uma forma qualificada de receptação, já que se
alteram os patamares mínimos e máximos da pena.
A receptação qualificada é aquela praticada no A receptação de animal (semovente domesticável
exercício de atividade comercial ou industrial. de produção) tem a pena de reclusão, de 2 a 5 anos,
e multa.
Art. 180 [...] O crime de receptação de animal está previsto no
§ 1º Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocul- art. 180-A, do Código Penal.
tar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, Foi inserido pela Lei nº 13.330, de 2016, sendo, por-
vender, expor à venda, ou de qualquer forma utili- tanto, um tipo penal bastante recente.
zar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de
atividade comercial ou industrial, coisa que deve Art. 180-A Adquirir, receber, transportar, conduzir,
ocultar, ter em depósito ou vender, com a finalida-
saber ser produto de crime:
de de produção ou de comercialização, semovente
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa. domesticável de produção, ainda que abatido ou
dividido em partes, que deve saber ser produto de
356 crime:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. A segunda causa de imunidade, crime contra o
patrimônio praticado em prejuízo de ascendente, inci-
Aqui, também é admitido o dolo eventual (que de também nos casos de adoção.
deve saber ser produto de crime). Porém, se o filho adotivo furta o pai biológico, res-
Semovente domesticável de produção pode ser ponderá pelo delito, e vice-versa, pois a adoção extin-
entendido como o animal de bando, como bovinos e gue os vínculos com a família de sangue.
suínos, que constituem patrimônio de alguém, domes-
Tratando-se de vínculo de afinidade, como sogro,
ticados com finalidade produtiva.
sogra, genro, nora, padrasto, madrasta, enteado e
Ex.: Fulano adquire, no exercício do comércio em
seu açougue, gado abatido após ser furtado em uma enteada, não há imunidade, tendo em vista a vedação
fazenda, com a finalidade de comercializar a carne. da analogia.
Fulano praticou o crime de receptação de animal. A última causa de imunidade absoluta, quando se
pratica crime contra o patrimônio em prejuízo de des-
DISPOSIÇÕES GERAIS cendente, é aplicada também nos casos de adoção.

Imunidades nos Crimes Contra o Patrimônio Art. 182 Somente se procede mediante representa-
— Introdução ção, se o crime previsto neste título é cometido em
prejuízo:
As disposições gerais dos crimes contra o patrimô- I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
nio versam sobre as: II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.
z Imunidades;
Nas imunidades penais relativas, previstas no art.
„ Imunidades absolutas; 182, do CP, o delito, de ação pública incondicionada,
„ Imunidades relativas ou processuais penais; transmuda-se para ação pública condicionada à repre-
sentação da vítima ou de seu representante legal.
z Exceções às imunidades. Tratando-se de crime de ação privada, não há que
se falar em imunidade processual, cuja finalidade é
Art. 181 É isento de pena quem comete qualquer beneficiar, ao invés de prejudicar.
dos crimes previstos neste título, em prejuízo: A ação penal privada é mais vantajosa do que a
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; ação penal pública condicionada à representação.
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco
A primeira causa de imunidade processual con-
legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.
siste no fato de o delito ser praticado em prejuízo de
cônjuge judicialmente separado. Vejamos: marido fur-
As imunidades absolutas isentam de pena quem
comete delito contra o patrimônio em prejuízo de ta esposa um tempo depois de o casamento ser dis-
ascendente, descendente ou cônjuge, na constância solvido; estão separados judicialmente. Neste caso, há
da sociedade conjugal. imunidade relativa.
São autênticas escusas absolutórias, vedando Tratando-se de cônjuges divorciados ao tempo do
inclusive a instauração do inquérito policial. crime, não há qualquer imunidade. Por exemplo, após
Trata-se de um perdão legal. separados judicialmente, ex-esposa furta ex-marido.
A segunda causa, delito praticado em prejuízo
Conquanto o fato seja típico, antijurídico e culpá-
de irmão, abrange os irmãos germanos ou bilaterais
vel, há um impedimento legal da punibilidade, que é
(filhos dos mesmos pais) e os irmãos unilaterais, que
excluída antes mesmo da prática do delito, distinguin-
podem ser consanguíneos (filhos do mesmo pai) ou

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


do-se do perdão judicial, que é concedido pelo juiz na
uterinos (filhos da mesma mãe).
sentença, após o devido processo legal.
É claro que a imunidade também se estende aos
A primeira causa de imunidade é o delito prati-
irmãos adotivos.
cado em prejuízo de cônjuge, na constância da socie- Observa-se o seguinte, se o agente comete delito de
dade conjugal; por exemplo, não se instaura sequer furto em prejuízo de cunhado:
inquérito policial quando a esposa furta o marido, ou
vice-versa. z Se a sua irmã for casada no regime da comunhão
A imunidade subsiste na separação de fato. universal, haverá imunidade;
Exclui-se a imunidade se por ocasião do delito eles z Se o regime for o da comunhão parcial, só have-
estavam separados judicialmente. rá imunidade se o furto recaiu sobre bem comum,
A tendência é estender a imunidade à união está- isto é, comunicável em razão do casamento;
vel, considerando-a equiparada ao casamento. z Se o regime for o da separação de bens, não há
que se falar em imunidade, pois os bens não se
comunicam.
Importante!
O inciso IV, do art. 7º, da Lei Maria da Penha, con- A última causa de imunidade, delito praticado em
prejuízo de tio ou sobrinho com quem o agente coabi-
sidera também violência doméstica o atentado
ta, pode se caracterizar ainda que o crime tenha sido
contra o patrimônio da mulher. Diante disso, uma praticado fora do local em que eles vivem, como, por
corrente doutrinária sustenta que não haveria exemplo, em uma pescaria.
mais imunidade nos crimes patrimoniais contra Se não houver coabitação, mas apenas relação de
a mulher. Entretanto, o STJ já decidiu pela manu- hospitalidade, moradia eventual, como a que ocorre nas
tenção da imunidade, à medida que a referida lei férias escolares em que o sobrinho vai passar alguns dias
não a afastou expressamente. na casa de um tio, não há que se falar em imunidade. 357
Art. 183 Não se aplica o disposto nos dois artigos ESTUPRO
anteriores:
I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em Estupro
geral, quando haja emprego de grave ameaça ou
Art. 213 Constranger alguém, mediante violên-
violência à pessoa;
II - ao estranho que participa do crime. cia ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou
III - se o crime é praticado contra pessoa com idade a praticar ou permitir que com ele se pratique outro
igual ou superior a 60 (sessenta) anos. ato libidinoso:
Pena – reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
O art. 183, do CP, dispõe que as imunidades absolu-
tas e relativas não se aplicam: No caput do art. 213 encontra-se a modalidade
simples. Constranger significa forçar, coagir alguém
z Ao crime de roubo, ainda que o roubo seja com usando de violência (vis absoluta) ou grave ameaça
violência imprópria, como a subtração ocorrida (vis compulsiva). No caso do estupro a coação tem a
após o ladrão hipnotizar a vítima; exclui-se a imu- finalidade de se obter:
nidade, pois a lei não abre qualquer exceção ao
delito de roubo; z A conjunção carnal, que é a introdução do pênis
z Ao crime de extorsão, ainda que se trate da extor- na vagina (cópula vagínica);
são indireta, onde não há violência ou grave amea- z Outro ato libidinoso (diverso da conjunção car-
ça; exclui-se a imunidade; nal como, por exemplo, sexo oral, sexo anal,
z Aos delitos cometidos com emprego de grave toques íntimos ou sobre a roupa, masturbação e o
ameaça ou violência à pessoa; beijo lascivo). A conjunção carnal é um tipo de ato
z Ao estranho que participa do crime, pois a imuni- libidinoso (gênero).
dade é uma circunstância pessoal, logo, incomuni-
cável. Por exemplo, o terceiro que auxilia o marido
a furtar a esposa responde pelo crime de furto;
Atos libidinosos
z Aos delitos praticados contra pessoa com idade (gênero)
igual ou superior a 60 anos.

Conjunção carnal
(espécie)

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE


SEXUAL
Trata-se de um tipo misto alternativo, conforme
BEM JURÍDICO TUTELADO doutrina e jurisprudência do STF e STJ. Ou seja, se o
sujeito constrange a vítima à conjunção carnal e pra-
tica sexo oral, responde por um só crime. Da mesma
Na redação original do Código Penal de 1940, os forma a prática de vários atos libidinosos configura
tipos constantes no Título VI, da Parte Especial, eram crime único (claro, desde que contra a mesma víti-
chamados de “Crimes conta os costumes”. “Costu- ma, no mesmo contexto).
mes”, na época, tinha o significado de hábitos, condu- A redação do estupro antes da Lei nº 12.012, de
tas sexuais que eram aprovadas pela moral vigente. 2009, era assim:
Com a promulgação da Constituição Federal de
1988, que adotou a dignidade da pessoa humana como Art. 213 Constranger mulher à conjunção carnal,
fundamento, a doutrina passou a entender que ao invés mediante violência ou grave ameaça.
de tutelar os costumes, a lei penal deveria proteger o
bem jurídico liberdade sexual em sentindo amplo. Só mulher poderia ser vítima e somente o homem
Seguindo esse entendimento, a Lei nº 12.015, de 2009, poderia ser sujeito ativo, uma vez que só se consuma-
promoveu alterações em alguns tipos penais e mudou o va o crime pela conjunção carnal.
bem jurídico do Título VI, do CP, que passou a ser deno- Os demais atos libidinosos eram protegidos pelo
minado “Dos crimes contra a dignidade sexual”. tipo do atentado violento ao pudor, que se encontrava
Os crimes contra a dignidade sexual trazem, por- no art. 214, CP, hoje revogado:
tanto, a tipificação de condutas sexuais praticadas:
Art. 214 Constranger alguém, mediante violência ou
grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele se
z Contra a vontade da vítima — Capítulo I; pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal.
z Mediante fraude (vontade viciada) — Capítulo I;
z Contra vulneráveis — Capítulo II. Atenção: não houve abolitio criminis, pois, apesar
de o art. 214 ter sido revogado, as condutas por ele
Em todos os tipos penais dos crimes contra a dig- tratadas encontram-se hoje previstas no art. 213, CP
nidade sexual, o bem jurídico tutelado é a liberdade (houve, portanto, o que chamamos de continuidade
sexual. típico-normativa).
Inseridos ao tema “crimes contra a dignidade O estupro tem, também, duas formas qualifica-
sexual” encontram-se o tipo do estupro (art. 213, CP), das pelo resultado. A primeira, pela ocorrência de
o assédio sexual (art. 216-A), o registro não autorizado lesão corporal grave (tanto faz as graves quanto as
da intimidade sexual (art. 216-B) e o estupro de vulne- gravíssimas) ou pela idade da vítima:
rável (art. 217-A), tipos penais recorrentes em provas Art. 213 [...]
de concursos. Dentre estes, merece destaque o tipo do § 1º Se da conduta resulta lesão corporal de
art. 217-A, que costuma receber maior destaque nas natureza grave ou se a vítima é menor de 18
358 provas. (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:
Pena – reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. z “Curra” é o nome vulgarmente dado para a situa-
ção na qual dois ou mais agentes se revezam
E a outra forma é qualificada pela morte: na prática do estupro contra a mesma vítima.
Ocorre, por exemplo, quando um agente segura a
Art. 213 [...] vítima, enquanto o outro mantém com ela conjun-
§ 2º Se da conduta resulta morte: ção carnal; logo após, eles se revezam. Neste caso,
Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. cada um dos agentes vai responder por dois
crimes (um como autor e outro como coautor,
São, assim, três as formas qualificadas: como no nosso exemplo; ou ainda como partícipe,
dependendo da situação);
z Estupro com resultado lesão corporal grave (§ 1º); z A presença de lesões na vítima não é requisito
z Estupro contra vítima menor de 18 e maior de 14 (§ 1º); necessário, uma vez que certos atos libidinosos não
z Estupro com resultado em morte (§ 2º). deixam marcas visíveis que sejam passíveis de serem
apuradas por meio de exame de corpo de delito. Na
Todos os tipos de estupro (caput e parágrafos) são verdade, em algumas situações, o contato físico
considerados hediondos, conforme o inciso V, art. 1º, entre a vítima e o agressor não é necessário para
da Lei nº 8.072, de 1990. que haja consumação do estupro (com relação aos
atos libidinosos). O tipo do art. 213, menciona “prati-
z Hediondos: car” ou “permitir” (a vítima), que com ela se pratique
ato libidinoso diverso da conjunção carnal. Imagine
„ Art. 213, caput (estupro simples); a situação hipotética na qual o agente constrange a
„ Art. 213, § 1º (qualif. pela lesão grave/idade); vítima mediante grave ameaça a tocar seu próprio
„ Art. 213, § 2º (qualif. pela morte). corpo de maneira erótica (automasturbação). Neste
caso, o agente vai responder pelo estupro, uma vez
O sujeito ativo e o sujeito passivo do estupro que constrangeu a vítima a praticar ato libidinoso,
podem ser qualquer pessoa, sem qualquer qualifi- mediante grave ameaça;
cação especial (crime comum). Homens e mulheres z Absurdamente, o casamento da vítima com o
podem ser tanto autores quanto vítimas (crime bico- agressor (ou com terceiro), até 2005, configu-
mum). A esposa pode ser vítima do crime pratica- rava causa extintiva da punibilidade para os
do pelo marido, ou seja, ocorre o estupro quando crimes de estupro. A Lei nº 11.106, de 2005, entre
o marido constrange, mediante violência ou grave outras mudanças, acabou com essa possibilidade.
ameaça, sua esposa à prática de conjunção carnal
ou ato libidinoso. Não há nada que impeça, também, Formas Qualificadas Pelo Resultado
que a prostituta seja sujeito passivo.
É possível a participação (quando um dos autores O art. 213 apresenta duas formas de estupro qua-
segura a vítima para que com ela se pratique os atos) lificado pelo resultado: no § 1º (lesão grave) e no §
e a coautoria (quando há instigação, por exemplo). 2º (morte). Em relação à lesão corporal, esta pode ser
Só existe estupro doloso se consumado com a efeti- tanto grave quanto gravíssima (a distinção encontra-
va prática da conjunção carnal ou dos atos libidinosos -se no art. 129, CP, respectivamente, nos §§ 1º e 2º). As
(crime material). lesões leves são absorvidas.
Em relação a estes resultados mais graves (lesão
A grave ameaça ou a violência constituem cri-
grave e morte), a maioria da doutrina entende ser
mes-meio para a prática do estupro, ficando por
hipótese de crime preterdoloso, isto é, o resultado

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


ele absorvidos (princípio da consunção).
lesão ou morte se dá por culpa do agente (lembre-se:
Veremos, agora, algumas particularidades sobre o
preterdolo = dolo na conduta antecedente e culpa na
crime de estupro que já foram objeto de questiona-
consequente). Nesse sentido, se o agente quer estu-
mento em provas: prar e também tem o dolo de lesionar ou de matar,
vai responder pelos dois crimes em concurso. Alguns
z Consumação e tentativa. Observe dois exemplos: doutrinadores, no entanto, entre eles Guilherme Nuc-
ci, entendem ser indiferente o fato de o agente agir
„ O agente aborda sua vítima na rua e a leva para com dolo ou culpa em relação ao resultado mais grave.
um local ermo com a intenção de estuprá-la; lá O § 1º apresenta, ainda, a qualificadora pela ida-
chegando começa a tirar a roupa da vítima, de da vítima, caso seja menor de 18 e maior de 14. Em
momento que é interrompido pela chegada da relação à idade da vítima, temos as seguintes hipóteses
polícia, antes da prática de algum ato libidinoso (atenção que há uma possível “pegadinha” de prova):
ou de conjunção carnal. Neste caso, vai respon-
der pelo estupro na forma tentada; IDADE DA VÍTIMA CONSEQUÊNCIA
„ Vamos modificar um pouco o exemplo acima. Estupro simples
Nesta situação, ao retirar as roupas da vítima, o Maior de 18 anos
(caput, art. 213, CP)
sujeito toca e beija suas partes íntimas, quando
Vítima maior de 14 e menor Estupro qualificado
é surpreendido pela polícia. Muito embora não
de 18 (§ 1º, art. 213, CP)
tenha praticado a conjunção carnal, que era
seu dolo, antes de ser interrompido pela polícia Estupro de vulnerável
Vítima menor de 14 anos
praticou atos libidinosos ao tocar as partes ínti- (art. 217-A, CP)
mas da vítima. Neste caso, vai responder pelo
estupro consumado. 359
Você notou uma “falha”? O que acontece se a víti- É importante não confundir, na hora da prova, o
ma tiver exatos 14 anos, ou seja, se for estuprada exa- crime do art. 215 com o do art. 217-A (que veremos
tamente no dia em que completa 14 anos? Existe uma mais adiante). A redação da violação sexual mediante
lacuna na lei que deixa de fora da forma qualifica- fraude (art. 215) aponta que o agente deve impedir ou
da a vítima com exatos 14 anos completos na data dificultar a livre manifestação da vontade da vítima:
do crime (que fala em vítima “maior de” 14, mas não se o agente retira por completo a vontade da vítima
menciona com idade “igual”) bem como não tipifica (embebedando-a completamente, por exemplo), esta
se torna vulnerável, sendo o caso então da aplicação
a conduta com estupro de vulnerável (“menor de”
do tipo penal do art. 217-A (estupro de vulnerável).
14 anos). Neste caso, o enquadramento é feito como
Também não confunda o art. 215 com o 213 (estu-
estupro simples (caput, art. 213). Fique atento a este
pro): o meio de execução é diferente:
fato, que pode ser uma típica “pegadinha”.
z Art. 213 (estupro): Violência ou grave ameaça;
Causas de Aumento de Pena z Art. 215 (violação): Fraude ou outro meio que
impeça ou dificulte a manifestação de vontade.
Atente-se ao fato de que as causas de aumento de
pena que se aplicam a todos os crimes contra a dig- Veja que para que configure este tipo, deve haver
nidade sexual encontram-se no art. 226, que veremos fraude, engano, ardil; se houver violência ou grave
mais adiante. ameaça, não configura o art. 215, CP. Se a vítima for
Com a entrada em vigor da Lei nº 13.718, de 2018, menor de 14 anos, será o caso da incidência do art.
que alterou o art. 225, do Código Penal, todos os cri- 217-A. Não é crime hediondo.
mes contra a dignidade sexual passaram a ser crimes O parágrafo único, do art. 215, prevê a aplicação
de ação penal pública incondicionada, não precisando também da pena de multa se o delito é praticado com
mais da representação da vítima. a finalidade de obter vantagem econômica, como no
caso do agente que deixa de pagar a prostituta após
a realização da conjunção carnal ou de outro ato
Importante! libidinoso.
É importante destacar que, se durante a relação
O crime de estupro, previsto no art. 213, seja na sexual a vítima percebe a fraude e consente com a
sua forma simples ou qualificada, constitui cri- continuidade do ato, este se tornará atípico perante a
me hediondo. legislação brasileira.

IMPORTUNAÇÃO SEXUAL
VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE
Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018, o art. 215-A
A atual redação do art. 215, CP, deu-se com as revogou o art. 61, da Lei de Contravenções Penais (que
modificações da Lei nº 12.015, de 2009, da qual já fala- previa conduta semelhante), criando o tipo penal de
mos quando estudamos o estupro. Aqui houve nova importunação sexual:
continuidade típico-normativa: o tipo do art. 216 foi
revogado e a conduta, incluída no art. 215, CP. Art. 215-A Praticar contra alguém e sem a sua
anuência ato libidinoso com o objetivo de satis-
Art. 215 Ter conjunção carnal ou praticar fazer a própria lascívia ou a de terceiro:
outro ato libidinoso com alguém, mediante Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato
fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a não constitui crime mais grave.
livre manifestação de vontade da vítima:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
Exemplo de conduta tratada por este tipo penal
Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim
de obter vantagem econômica, aplica-se também
foi objeto de destaque na mídia em tempos recentes,
multa. que se materializava quando o sujeito, dentro de um
transporte coletivo, ejaculava na vítima ou se esfre-
Consiste na prática de conjunção carnal ou outro gava nela.
ato libidinoso com alguém (homem ou mulher) com Os principais aspectos sobre esse crime são:
emprego de fraude ou outro meio que impeça ou
dificulte a livre manifestação de vontade da vítima. z Não é hediondo;
Na violação sexual mediante fraude, não há o z É crime subsidiário (só será aplicado se não consti-
emprego de violência ou grave ameaça, o que difere tuir crime mais grave);
do estupro. Nesta situação, o ato é consentido (há a z É bicomum (homem e mulher podem ser sujeitos
manifestação de vontade da vítima), porém o agente ativos/passivos);
utiliza meios fraudulentos, enganando a vítima para z Se praticado contra menor de 14 anos, é afastado,
que esta conceda. incindo o tipo do art. 217-A (estupro de vulnerável);
O exemplo clássico (que já apareceu em mais de z Deve ser praticado contra vítima(s) determina(s);
uma prova) é o do médico que pede para que a pacien- se não é praticado contra pessoa específica, consti-
te tire toda a roupa, pois precisa examiná-la e, sem tui ato obsceno (art. 233, CP), como, por exemplo,
que seja necessário, toca as partes íntimas da vítima quando o agente se masturba no meio de um par-
(que foi enganada, pois pensou que os toques fossem que, sem se dirigir a ninguém de forma particular;
parte normal do exame; ou seja, houve engano sobre z É elementar do delito de importunação sexual que
a legitimidade do ato). Outro exemplo muito usado é o este seja realizado sem a anuência da vítima;
do irmão gêmeo que toma o lugar de seu irmão e pra- z Não há emprego de violência ou grave ameaça.
tica conjunção carnal com a namorada deste (engano
360 sobre a pessoa).
ASSÉDIO SEXUAL de pontos para ser aprovada em sua disciplina,
aproxima-se e toca sua barriga e seus seios? Nes-
O assédio sexual encontra-se previsto no art. 216-A: te caso, temos duas posições: a primeira corren-
te afirma que não, por não haver hierarquia ou
Art. 216-A Constranger alguém com o intuito de ascendência do docente em relação ao aluno (já
obter vantagem ou favorecimento sexual, pre-
foi o entendimento predominante e ainda pre-
valecendo-se o agente da sua condição de superior
hierárquico ou ascendência inerentes ao exer-
valece na doutrina); já pela segunda corrente,
cício de emprego, cargo ou função. adotada pelo STJ em 2019 (ao analisar exatamen-
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos te um caso como o do exemplo), afirma que, ape-
Parágrafo único. (VETADO) sar de não haver relação de hierarquia, há um
§ 2º o A pena é aumentada em até um terço se a domínio do docente sobre o aluno, sendo apli-
vítima é menor de 18 (dezoito) anos. cável o tipo do assédio sexual. Essa discussão
se aplica na relação entre líderes religiosos, como
O parágrafo único foi vetado. Temos apenas o § 2º. pastores e padres, e seus fiéis; neste caso, aplica-se
A palavra constranger, no caso do art. 216-A, não a posição da doutrina que afirma não ser possível.
tem o mesmo sentido do que no estupro: o assédio
sexual tem a ideia de intimidar alguém a fazer Em relação à configuração de crime de assédio na
alguma coisa (atos sexuais, libidinosos) sem o uso relação entre professor e aluno:
de violência ou grave ameaça. O intuito do agente é
obter favorecimento sexual de qualquer forma (pode z Em uma prova objetiva, o mais indicado é seguir a
ser até um beijo), mediante uma ameaça (quer pode posição do STJ, no sentido de que é possível o assé-
ser explícita ou não) ou de uma promessa (de promo- dio sexual entre professores e alunos;
ção, por exemplo), que também pode ser explícita ou
implícita. REsp 1.759.135 […] a Sexta Turma entendeu, por
O sujeito ativo está em posição hierarquicamente maioria, que é possível a configuração do crime de
superior à vitima (tem maior autoridade na estrutu- assédio sexual na relação entre professor e aluno.
ra administrativa) ou tem ascendência inerente ao
emprego, cargo ou função que exerce (setor privado); z Em uma prova discursiva, explique os dois
por sua vez, o sujeito passivo é o subordinado (assédio
posicionamentos.
vertical). É o que se chama de crime bipróprio (exige
características especiais do sujeito ativo e do passivo).
Lembre-se: em relação à hipótese de assédio
Não há assédio sexual entre funcionários do mes-
sexual entre líderes religiosos, não cabe a configura-
mo nível (assédio horizontal). Também não se confi-
ção do crime de assédio sexual.
gura quando o subordinado assedia o superior.
São aspectos relevantes relativos ao tipo do art.
216-A: REGISTRO NÃO AUTORIZADO DA INTIMIDADE
SEXUAL
z É crime bicomum;
z O flerte (paquera) ou o namoro não configuram a Incluído em dezembro de 2018, no CP, pela Lei nº
conduta descrita; 13.772, é o único crime que consta do Capítulo I-A, do
z Se a vítima é menor de 14 anos, configura o tipo Título VI:
do art. 217-A;
z É crime formal (de resultado cortado), ou seja, Art. 216-B Produzir, fotografar, filmar ou regis-

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


consuma-se com o constrangimento; trar, por qualquer meio, conteúdo com cena de
z O parágrafo § 2º determina o aumento de até um nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter ínti-
terço se a vítima tem mais de 14 e é menor do que mo e privado sem autorização dos participantes:
18 anos (atente-se ao fato de que o dispositivo fala Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e
em menor de 18, mas, como vimos, os menores de multa.
14 são cuidados pelo art. 217-A); não estabelece, Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem
realiza montagem em fotografia, vídeo, áudio ou
no entanto, o quantitativo mínimo de aumento: a
qualquer outro registro com o fim de incluir pes-
doutrina aponta que deve ser aplicado o aumento
soa em cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso
mínimo existente no CP: um sexto;
de caráter íntimo.
z A paixão do agente pela vítima não exclui o
crime (veja o inciso I, art. 28, do CP, que afirma
expressamente que a emoção e a paixão não afas- Note que o art. 216-B constitui em um tipo misto
tam a responsabilidade penal); alternativo, trazendo os seguintes núcleos: produzir,
z Não há relação de hierarquia (superioridade) fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio.
entre cônjuges, sendo assim, não é possível a con- Trata-se de um crime formal, consumando-se com a
figuração deste crime; mera prática de um dos núcleos. Se as imagens forem
z Conforme a doutrina majoritária, é crime ins- divulgadas, estará tipificado o crime do art. 218-C, que
tantâneo, não exigindo a prática de atos de forma veremos a seguir, do Código Penal.
reiterada; O crime de registro não autorizado da intimidade
z Não se exige que o assédio ocorra dentro do sexual configura-se, por exemplo, quando um locador
ambiente de trabalho; instala um equipamento de gravação de vídeo em um
z Por último, temos a questão da relação professor imóvel com a finalidade de captar imagens íntimas
e aluno. Existe o crime, por exemplo, quando o sem o conhecimento dos ocupantes. Ou, ainda, quan-
professor, ao afirmar a uma aluna que precisava do o vizinho filma a vizinha trocando de roupa. 361
O consentimento do ofendido afasta a tipicidade, de natureza jornalística, científica, cultural ou aca-
uma vez no tipo consta a expressão “sem a autoriza- dêmica com a adoção de recurso que impossibilite a
ção dos participantes”. identificação da vítima, ressalvada sua prévia auto-
rização, caso seja maior de 18 (dezoito) anos.

Importante! Veja bem, o art. 218-C (divulgação) prevê um crime


mais grave do que o previsto no art. 216-B (registro).
Apenas o maior de idade, capaz, pode consentir Uma das formas mais comuns de prática é o que
com o registro. Se a vítima for menor, configura se conhece por pornô de vingança (revenge porn, em
o delito do art. 240, do Estatuto da Criança e do inglês), na qual, após o término de um relacionamen-
Adolescente: to, o agente divulga cenas íntimas da(o) ex-parceira(o).
Art. 240 Produzir, reproduzir, dirigir, fotogra- Os pontos relevantes em relação ao tipo do art.
far, filmar ou registrar, por qualquer meio, cena 218-C são:
de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo
z Trata-se de crime subsidiário;
criança ou adolescente:
z É tipo misto alternativo, ou seja, se o agente praticar
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e todos os núcleos que constam no artigo, dentro do mes-
multa. mo contexto fático, responde somente por um crime;
z Assim como os demais crimes contra a digni-
dade sexual, procede-se mediante ação pública
É importante notar que a lei fala em “caráter ínti-
incondicionada;
mo e privado”. Por exemplo, filmar um casal realizan-
z Em relação ao sujeito passivo: pode ser qualquer
do ato sexual em uma praia não configura o tipo do um, desde que não seja menor de 18 anos. Neste
art. 216-B. caso, sendo criança ou adolescente, aplica-se o dis-
É cabível a tentativa: o agente pode tentar regis- posto no art. 241-B do ECA:
trar e não conseguir.
Art. 241-B Adquirir, possuir ou armazenar, por
Forma Equiparada qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de
registro que contenha cena de sexo explícito ou por-
O parágrafo único, do art. 216-B, apresenta uma nográfica envolvendo criança ou adolescente:
forma equiparada ao registro do caput. Neste caso, o Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
agente não registra cena verdadeira (ou seja, a víti-
ma não participa do ato), mas sim faz uma montagem z O § 1º do art. 218-C do CP, estipula causa especial
(de fotografia, vídeo, áudio ou qualquer meio) para de aumento de pena (de 1/3 a 2/3) se o agente man-
incluir alguém em cena de nudez ou ato sexual ou tém ou já manteve relação íntima de afeto com a
libidinoso de caráter íntimo. vítima, ou se o crime é cometido com a finalidade
Com o avanço de softwares de manipulação de de vingança ou de humilhar a pessoa exposta;
imagem cada vez mais potentes, essa forma de crime z Por fim, o § 2º indica causa especial de exclusão
tem aumentado cada vez mais na internet, sobretudo da ilicitude: não há crime quando a conduta se dá
com a inclusão do rosto de pessoas famosas em cenas em publicação que adote recurso que impossibilite
de filmes pornográficos (provavelmente você já ouviu identificar a vítima ou se devidamente autorizado,
falar do chamado deepfake, que consiste na manipula- no caso de pessoa maior e capaz.
ção de rostos por meio de inteligência artificial).
Vamos aproveitar e estudar outro tipo penal que ESTUPRO DE VULNERÁVEL
tem relação direta com o crime do art. 216-B.
Leia atentamente os verbos que constam no art. É o primeiro dos crimes do Capítulo II, “Crimes
216-B: produzir, fotografar, filmar ou registrar. sexuais contra vulnerável”. No caput do art. 217-A,
Observe que não há a expressão “divulgar”. E então, temos o estupro de vulnerável simples ou próprio:
o que acontece se alguém divulga a cena registrada?
Neste caso, incide em uma das formas previstas no Art. 217-A Ter conjunção carnal ou praticar
art. 218-C, incluído no CP em 2018, Divulgação de outro ato libidinoso com menor de 14 (cator-
cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerá- ze) anos:
vel, de cena de sexo ou de pornografia: Pena – reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.

Art. 218-C Oferecer, trocar, disponibilizar, transmi- Conforme podemos notar do tipo do art. 217-A, não
tir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou é necessário o constrangimento da vítima (mediante
divulgar, por qualquer meio - inclusive por meio de violência ou grave ameaça): qualquer prática de con-
comunicação de massa ou sistema de informática
junção carnal ou outro ato libidinoso com pessoa
ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro regis-
menor de 14 anos configura estupro de vulnerável (o
tro audiovisual que contenha cena de estupro ou
de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou constrangimento é presumido: presunção absoluta).
induza a sua prática, ou, sem o consentimento da Importante: A súmula nº 593, do STJ, dispõe sobre
vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia: o crime de estupro quando praticado com menor de
Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato 14 anos:
não constitui crime mais grave.
§ 1º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois Súmula nº 593 (STJ) O crime de estupro de vulne-
terços) se o crime é praticado por agente que man- rável se configura com a conjunção carnal ou prá-
tém ou tenha mantido relação íntima de afeto com tica de ato libidinoso com menor de 14 anos, sendo
a vítima ou com o fim de vingança ou humilhação. irrelevante eventual consentimento da vítima para
§ 2º Não há crime quando o agente pratica as con- a prática do ato, sua experiência sexual anterior ou
362 dutas descritas no caput deste artigo em publicação existência de relacionamento amoroso com o agente.
É importante mencionarmos que a idade da vítima ato ou ainda que já tenha praticado relações sexuais
é elemento constitutivo do crime de estupro de vul- anteriores (ou seja, a virgindade é irrelevante).
nerável. Deste modo, é sabido que o erro sobre o ele-
mento constitutivo do crime exclui o dolo do agente, Art. 217-A [...]
nos termos do § 1º, art. 20, do Código Penal — erro de § 5º As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º
tipo — “É isento de pena quem, por erro plenamente deste artigo aplicam-se independentemente do con-
justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato sentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido
que, se existisse, tornaria a ação legítima.” relações sexuais anteriormente ao crime.
Posto isso, imaginemos a seguinte situação: Tício
conhece Maria pelas redes sociais. Maria afirma tanto Os parágrafos 3º e 4º apresentam formas qualifi-
em sua página do Facebook, quanto pessoalmente a cadas, pela ocorrência de lesão corporal grave ou de
Tício, possuir 15 anos de idade. Tício e Maria realizam morte:
conjunção carnal consentida. Em que pese Maria afir-
mar possuir 15 anos, na realidade esta possui 13 anos.
Art. 217-A [...]
Neste caso, Tício desconhecia o fato de estar se rela-
§ 3º Se da conduta resulta lesão corporal de natu-
cionando com menor de 14 anos, o que afasta o dolo
reza grave:
de sua conduta. Assim, não é reconhecido o crime do
Pena – reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.
art. 217-A. Já, nesta mesma situação, caso Tício, conhe-
§ 4º Se da conduta resulta morte:
cendo da condição de menor de 14 anos de Maria, a
Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
procure novamente e venham a se relacionar sexual-
mente, este deverá ser condenado pelo crime do art.
217-A. Este é o entendimento o STJ, consoante HC Todas as hipóteses de estupro de vulnerável (§§
628.870/PR, Rel. Ministro Ribeiro Dantas.11 1º, 3º e 4º) são consideradas hediondas (conforme
prevê o inciso VII, art. 1º, da Lei nº 8.072, de 1990).
Forma Equiparada
z Hediondos:
O § 1º, do art. 217-A, apresenta a figura equiparada „ Art. 217-A, caput (estupro de vulnerável próprio);
do estupro de vulnerável: „ Art. 217-A, § 3º (qualificada pela lesão grave);
„ Art. 217-A, § 4º (qualificada pela morte).
Art. 217-A [...]
§ 1º Incorre na mesma pena quem pratica as ações
O art. 217-A tem os seguintes aspectos:
descritas no caput com alguém que, por enfermi-
dade ou deficiência mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato, ou que, por qual- z É crime material, consumando-se com a prática da
quer outra causa, não pode oferecer resistência. conjunção carnal ou de outro ato libidinoso;
z É cabível a tentativa;
Assim, são considerados vulneráveis (sujeitos pas- z Trata-se de tipo misto alternativo (lembre-se dos
sivos) para os fins dos crimes sexuais: comentários já feitos em outros crimes contra a
dignidade sexual);
z Art. 217-A, caput: z Assim como comentamos no caso do estupro do
art. 213, não é necessário o contato físico entre o
„ Menores de 14 anos (o Professor Rogério San- autor e a vítima.
chez denomina esta vulnerabilidade absoluta).
Por fim, cabe mencionar um tema muito inte-
z Art. 217-A, primeira parte: ressante: trata-se da chamada Exceção de Romeu

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


e Julieta. Você certamente já ouviu falar do clássico
„ Enfermos e doentes mentais que não pos- de William Shakespeare: Julieta é uma jovem que se
suem discernimento necessário para a prá- apaixona por Romeu, de uma família rival. A per-
tica do ato sexual (Rogério Sanchez denomina sonagem Julieta, na obra, tinha 13 anos quando se
esta de vulnerabilidade relativa, uma vez que, relacionou amorosamente com Romeu (que, tinha 17
por se tratar de critério biopsicológico, pode anos). Agora imagine tal situação frente à legislação
acontecer de o enfermo ou doente mental ter penal brasileira: Julieta se enquadraria, como vimos,
o discernimento exigido para a prática do ato). no conceito de vulnerável. Segundo a teoria da Exce-
ção de Romeu e Julieta, caso haja consentimento e,
z Art. 217-A, parte final: desde que haja pequena diferença de idade entre os
parceiros (normalmente se fala em até 5 anos), não
„ Qualquer um que, por outra causa, não pos- seria o caso de considerar o ato sexual, por exemplo,
sa oferecer resistência (por exemplo, uma de um casal de namorados de 13 e 18 anos, como estu-
pessoa que se encontra em coma ou sob efei- pro. No entanto, no Brasil, conforme jurisprudência
to de sedação; pessoa desacordada, por moti- consolidada, tal exceção não se aplica (lembre-se,
vo de embriaguez; vítima de golpe “boa noite de acordo com o STJ, “o consentimento da vítima, sua
Cinderela”). eventual experiência sexual anterior ou a existência de
relacionamento amoroso entre o agente e a vítima não
O parágrafo 5º, do art. 217-A, consiste em norma afastam a ocorrência do crime” – Resp 148.0881/PI,
penal explicativa: aplica-se a pena do estupro de vul- julgado em 26/08/2015).
nerável mesmo que a vítima tenha consentido com o
11 HABEAS CORPUS Nº 628.870 – PR (2020/0311523-6). Disponível em: https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1206298083/habeas-corpus-
-hc-628870-pr-2020-0311523-6/inteiro-teor-1206298093. Acesso em: 26 jan. 2022. 363
CORRUPÇÃO DE MENORES z Não há envolvimento físico do menor de 14 anos.
Este apenas assiste à prática de libidinagem.
O art. 218, do CP, trata do crime de corrupção de
menores: FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU DE OUTRA
FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇA OU
Art. 218 Induzir alguém menor de 14 (catorze) ADOLESCENTE OU DE VULNERÁVEL
anos a satisfazer a lascívia de outrem.
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. O art. 218-B tem seis núcleos:

Alguns autores entendem que quo nomen juris Art. 218-B Submeter, induzir ou atrair à prosti-
(nome do crime) foi revogado (a redação anterior fala- tuição ou outra forma de exploração sexual
va em “corromper”, que foi trocada por “induzir”), e alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que,
tratam este delito de “indução de vulnerável à lascí- por enfermidade ou deficiência mental, não tem o
via”. No entanto, essa divergência não traz maiores necessário discernimento para a prática do ato,
implicações. facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone:
Induzir, como você já sabe, é sugerir, dar a ideia Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos.
de algo a alguém. Nesta figura, o sujeito ativo é o
mediador (intermediário ou proxeneta) que induz a O art. 218-B visa punir o sujeito que insere (sub-
vítima menor de 14 anos a satisfazer a lascívia (dese- mete, induz ou atrai) o menor de 18 anos ou o vul-
jo sexual) de outrem (do beneficiário: o voyeur ou nerável (homem ou mulher) no âmbito da exploração
observador). sexual (prostituição e turismo sexual), tráfico para
É importante saber que para se configurar o tipo fins sexuais e pornografia) ou facilita sua permanên-
do art. 218, CP, o agente deve induzir a vítima (menor cia ou impede ou dificulta sua saída.
de 14) a praticar algum ato que tenha a finalidade de Em resumo, é trazer a vítima vulnerável para
satisfazer a lascívia de outra pessoa (o beneficiário). a prostituição (ou outra forma de exploração) ou
impedir que a vítima saia desse meio (neste último
Veja bem, o ato deve ser unicamente contemplativo
caso trata-se de crime permanente).
(como, por exemplo, fazer a vítima vestir uma fan-
tasia sensual ou se mostrar nua), ou seja, não ocorre
z Trata-se de um crime hediondo;
contato físico entre o beneficiado e a vítima.
z O sujeito passivo é pessoa menor de 18 anos. Se
Este terceiro também não pode vir a filmar, foto-
a pessoa for maior de 18 anos, poderá ser confi-
grafar ou, de qualquer meio, registrar a cena; caso
gurado o crime do art. 228, do CP. Se a pessoa for
isso ocorra, vai responder pelo previsto no art. 240, do
menor de 14 anos, o crime será o de estupro de
ECA (crime mais grave, com penas de reclusão entre 4
vulnerável;
e 8 anos, além de multa).
z Crime material, se consumando no momento em
Caso ocorra a prática de conjunção carnal ou outro que a vítima passa a realizar atos de prostituição
ato libidinoso envolvendo a vítima, aquele que indu- ou forma de exploração sexual.
ziu (caso tenha agido dolosamente) o beneficiado vai
responder pelo tipo do art. 217-A (estupro de vulne- Existem 4 formas de exploração sexual:
rável). Esta é a corrente majoritária, defendida por
Rogério Greco, Fernando Capez, Rogério Sanches, Cle- z Prostituição;
ber Masson, entre outros. z Turismo sexual;
z Tráfico para fins sexuais;
SATISFAÇÃO DE LASCÍVIA MEDIANTE PRESENÇA z Pornografia.
DE CRIANÇA OU ADOLESCENTE
O art. 218-B só cuida da prostituição e do turismo
Art. 218-A Praticar, na presença de alguém sexual envolvendo vulnerável. O tráfico é tratado pelo
menor de 14 (catorze) anos, ou induzi-lo a pre- inciso V, art. 149-A, CP (tráfico de pessoas); a pornogra-
senciar, conjunção carnal ou outro ato libidinoso, fia envolvendo vulnerável, pelos arts. 240, 241, 241-A
a fim de satisfazer lascívia própria ou de outrem:
e 241-E, do ECA.
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
Proxenetismo Mercenário
O tipo do art. 218-A pode ser divido em duas partes: Se houver a intenção do agente em obter lucro,
aplica-se também a pena de multa:
z Praticar conjunção carnal ou outro ato libidinoso
apto a satisfazer o prazer sexual, na frente de víti- Art. 218-B [...]
ma menor de 14 anos; § 1º Se o crime é praticado com o fim de obter van-
z Induzir menor de 14 a presenciar tais atos. tagem econômica, aplica-se também multa.

Aspectos que merecem destaque: Neste caso, se dá o nome ao agente de proxeneta


mercenário.
z De acordo com a maior parte da doutrina, não se Formas Equiparadas
exige a presença física da vítima no mesmo local
onde ocorre a conjunção ou o ato libidinoso. Ou De acordo com o § 2º, incorre nas mesmas penas:
seja, pode ser praticado por meio virtual;
z É tipo misto alternativo: se o sujeito induz a pre- z Quem pratica conjunção carnal ou outro ato
senciar e também pratica os atos, responde por um libidinoso com vítima vulnerável em situação
364 só crime; de prostituição ou exploração sexual;
z O proprietário, gerente ou responsável do local z Disposições aplicáveis a todos os crimes dos Capí-
em que ocorre a prática do delito do caput, lem- tulos I e II:
brando, claro, que devem ter conhecimento (pois
não há responsabilidade objetiva). Neste caso, a cas- „ Procedem-se mediante ação penal pública
sação da licença do local é efeito obrigatório (§ 3º). incondicionada (art. 225);
„ Aumento de pena (art. 226):
Trata-se de crime hediondo, em todas as formas: Art. 226 [...]
caput, incisos I e II, do § 2º. Agora já sabemos quais I - de quarta parte, se o crime é cometido com o
são os três os crimes contra a dignidade sexual que concurso de 2 (duas) ou mais pessoas;
são hediondos: II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto
ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companhei-
ro, tutor, curador, preceptor ou empregador
z Art. 213, caput e §§:
da vítima ou por qualquer outro título tiver
autoridade sobre ela;
„ Estupro. IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime
é praticado:
z Art. 217-A, caput e §§: a) mediante concurso de 2 (dois) ou mais agen-
tes (estupro coletivo);
b) para controlar o comportamento social ou
„ Estupro de vulnerável. sexual da vítima (estupro corretivo)

z Art. 218-B, caput e §§: O Capítulo V apresenta 5 tipos penais (arts. 227,
228, 229, 230 e 232-A). Sobre esses tipos, não há diver-
„ Favorecimento da prostituição ou outra forma gências doutrinárias ou jurisprudenciais, valendo a
de exploração sexual de vulnerável. leitura da lei seca (note que o art. 232-A não tem nada
a ver com dignidade sexual, tratando de migração). Os
DIVULGAÇÃO DE CENA DE ESTUPRO OU DE CENA arts. 231 e 231-A foram revogados, passando o tema a
DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL, DE CENA DE SEXO ser tratado pelo art. 149, CP.
OU DE PORNOGRAFIA O Capítulo VI traz dois tipos, o do art. 233 (ato
obsceno) e o do art. 234 (escrito ou objeto obsceno).
O tipo do art. 218-C é um crime subsidiário, que Sobre eles, além da leitura da lei, cabe mencionar que
possui seis núcleos (tipo misto alternativo): há discussão sobre a constitucionalidade de ambos,
em relação ao primeiro por violação ao princípio da
Art. 218-C Oferecer, trocar, disponibilizar, transmi- taxatividade (seria muito vago, subjetivo) e, quanto ao
tir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou segundo, por ferir a liberdade de expressão.
divulgar, por qualquer meio - inclusive por meio de Por fim, o Capítulo VII, nos arts. 234-A e 234-B,
comunicação de massa ou sistema de informática apresenta disposições que são aplicáveis a todo o
ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro regis- Título dos crimes contra a dignidade sexual, con-
tro audiovisual que contenha cena de estupro ou forme observado a seguir:
de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou
induza a sua prática, ou, sem o consentimento da z Disposições aplicáveis a todos os crimes contra a
vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia: dignidade sexual:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato
não constitui crime mais grave. „ Aumento de pena (234-A):

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Visa coibir qualquer tipo de divulgação de mate- Art. 234-A [...]
rial que contenha: III - de metade a 2/3 (dois terços), se do crime resul-
ta gravidez;
z Cena de estupro ou estupro de vulnerável ou que IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o agente:
faça apologia ou induza a prática de tais crimes; a) transmite à vítima doença sexualmente
z Cena de sexo, nudez ou pornografia, sem o consen- transmissível de que sabe ou deveria saber ser
timento da vítima. portador;
b) ou se a vítima é idosa (igual ou maior de 60 anos)
ou pessoa com deficiência.
Para os fins do art. 218-C, são vulneráveis: pessoas
com enfermidades ou doença mental ou que não pos-
sam, por qualquer razão, oferecer resistência. Veja z Correm em segredo de justiça (234-B).
bem que estas devem ter mais de 18 anos! No caso da
divulgação de imagens de estupro, estupro de vulne-
rável ou cenas de pornografia, nudez ou sexo, apli-
cam-se as disposições do ECA. DOS CRIMES CONTRA A FAMÍLIA
Bem, agora sabemos quais são os crimes contra a
dignidade sexual mais importantes (Capítulos I e II) e CRIMES CONTRA O CASAMENTO
quais as divergências doutrinárias e jurisprudenciais
que são aplicados a eles. O Capítulo III, que tratava Bigamia
sobre o Rapto, está revogado.
O Capítulo IV, nos arts. 225 e 226, apresenta dis- O primeiro crime contra o casamento tipificado
posições gerais que se aplicam aos crimes que já no Código Penal é o de bigamia, que consiste em dois
vimos até agora (do art. 213 ao 218-C). Veja a seguir. elementos: conduta de contrair novo casamento e, ao
mesmo tempo, o agente ser casado. 365
A lei não faz diferença se o agente é homem ou declarar solteiro. João praticou o crime-fim, bigamia,
mulher. ao se casar com Luiza, absorvendo o crime de falsida-
O agente desconsidera a proibição legal constante de ideológica. Maria e Luiza não praticaram nenhum
no art. 1521, VI, do CC, que diz que não podem se casar crime.
as pessoas já casadas, e dá início à formalização do
seu pedido de casamento mediante processo de habi- Figura Privilegiada
litação para o casamento, nos termos do art. 1525, do
CC. A figura privilegiada está no art. 235, § 1º, do CP,
O bem jurídico penalmente protegido é a família,
que dispões que aquele que, não sendo casado, con-
com base no art. 226 da CF, de 1988, principalmente
trai casamento com pessoa casada, conhecendo essa
sobre o caráter monogâmico do matrimônio.
circunstância, é punido com reclusão ou detenção, de
Rogério Grecco afirma que um dos documentos
exigidos no processo de habilitação para casamento é um a três anos.
a declaração feita pelos requerentes, na qual fica con- Vamos aproveitar a hipótese anterior e mudar um
signado o estado civil. Ele destaca que, ao praticar o pouco a história: João está validamente casado com
crime de bigamia, o agente também comete o delito de Maria desde 2010 e moram em São Paulo. João viajou
falsidade ideológica, crime-meio, que é absorvido pelo a trabalho para Salvador, cidade em que permanecerá
crime-fim, bigamia. por dois anos, 2019 e 2020. Em Salvador, no ano de
Para que ocorra o delito de bigamia é necessário 2020, conheceu Luiza. Atenção: Luiza, mesmo saben-
que o agente já seja casado legalmente, ou seja, casa- do que João é casado com Maria, que vive em São
mento válido de acordo com as normas de legislação Paulo, foi ao cartório com João e se habilitaram para
civil. se casarem. O casamento foi celebrado em agosto de
Não se pode falar em crime de bigamia quando: 2020. João praticou o crime-meio, falsidade ideológica
em Salvador por se declarar solteiro. João praticou o
z O agente mantinha anteriormente com alguém crime-fim, bigamia, ao se casar com Luiza, absorven-
união estável, mesmo que dessa relação tenha do o crime de falsidade ideológica. Luiza, sabendo que
advindo filhos; João é casado, pratica o crime de bigamia na figura
z O agente oficializou a cerimônia religiosa peran- privilegiada. Maria não pratica nenhum crime.
te a Igreja e não obedeceu às formalidades legais
contidas no art. 1515, do CC; Induzimento a Erro Essencial e Ocultação de
z O casamento anterior é inválido (anulado ou decla- Impedimento
rado nulo) por ocorrência de declaração judicial.
O crime de induzimento a erro essência e oculta-
Cleber Masson explicita que a bigamia é classifica- ção de impedimento está previsto no art. 236, do CP,
da como crime plurissubjetivo, plurilateral ou de con- que dispõe que se considera delito contrair casamen-
curso necessário, pois o tipo penal exige a presença de to, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou
duas pessoas, um homem e uma mulher. ocultando-lhe impedimento que não seja casamento
O bem jurídico imediato penalmente protegido anterior.
é a instituição familiar, e, mediatamente, o cônjuge Cleber Masson ensina que o objeto material do cri-
inocente. me é o casamento.
Podemos esquematizar então as características do
crime de bigamia como:
z O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, visto
que o delito pode ser praticado por ambos os con-
z O crime é doloso;
traentes, na situação em que simultaneamente um
z Não se admite a modalidade culposa;
engana o outro no tocante a determinado impedi-
z O crime se consuma com a efetiva celebração do
segundo matrimônio; mento, desconhecido do outro consorte;
z É possível a tentativa; z O sujeito passivo, por sua vez, é o Estado e, media-
z A ação penal é pública incondicionada. tamente, o cônjuge enganado;
z O crime é doloso e não admite a modalidade
De acordo com o § 2º, art. 235, do CP, anulado por culposa;
qualquer motivo o primeiro casamento, ou o segundo z O crime se consuma com o casamento, que se aper-
casamento por motivo que não a bigamia, considera- feiçoa quando os contraentes manifestam, perante
-se inexistente o crime. o juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conju-
Sobre a prescrição, esta começa a correr a partir gal, nos termos do art. 1514, do CC;
da data em que o fato se tornar conhecido. z Apesar de discussão na doutrina, prevalece que
O conhecimento do fato, exigido pela lei, refere-se esse crime admite tentativa, uma vez que estará
à autoridade pública que tenha poderes para apurar, condicionado à anulação ou declaração de nuli-
processar ou punir o responsável pelo delito, aí se dade do casamento por meio de sentença civil de
incluindo o Delegado de Polícia, o membro do MP e o nulidade ou anulação do casamento;
órgão do Poder Judiciário. z O termo inicial do prazo decadencial é a data do
Agora podemos ilustrar. João está validamente trânsito em julgado da sentença anulatória do
casado com Maria desde 2010 e moram em São Paulo. casamento;
João viajou a trabalho para Salvador, cidade em que z De igual modo, a prescrição da pretensão punitiva
permanecerá por dois anos, 2019 e 2020. Em Salva- somente se inicia a partir do trânsito em julgado
dor, no ano de 2020, conheceu Luiza. João e Luiza se da sentença anulatória do casamento;
habilitaram no cartório para se casarem. O casamen- z A ação penal é privada personalíssima.
to foi celebrado em agosto de 2020. João praticou o
366 crime-meio, falsidade ideológica em Salvador por se
A ação penal depende de queixa do contraente enga- z Não há fraude para enganar o outro contraente.
nado e não pode ser intentada senão depois de transitar Basta não declarar o impedimento matrimonial,
em julgado a sentença que, por motivo de erro ou impe- despontando como suficiente a simples omissão.
dimento, anule o casamento. Segundo o parágrafo único z O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa;
do art. 236 do Decreto Lei n° 2.848, de 1940. z Se ambos os contraentes têm conhecimento do
Aproveitando as hipóteses anteriores, vamos modi- impedimento, serão considerados coautores do
ficar a história. João está validamente casado com delito;
Maria desde 2010 e moram em São Paulo. João viajou z O Estado, em face do seu interesse na preservação
a trabalho para Salvador, cidade em que permanecerá das instituições familiares e na regularidade dos
por dois anos, 2019 e 2020. Em Salvador, no ano de casamentos, é o sujeito passivo desse delito;
2020, conheceu Luiza. Atenção: João disse a Luiza que z O crime é de modalidade de dolo direto, represen-
foi casado. João ainda é casado com Maria, não dis- tado pela expressão “conhecendo a existência de
solveu o casamento. Não anulou ou declarou nulo seu impedimento que lhe cause a nulidade absoluta”;
casamento com Maria. João, portanto, induziu Luiza z Não se exige nenhuma finalidade específica, e não
em erro. Sendo assim, João e Luiza se habilitaram no se admite a modalidade culposa;
cartório para se casarem. O casamento foi celebrado z O crime de conhecimento prévio de impedimento
em agosto de 2020. João praticou o crime-meio, falsi- se consuma com o casamento, que se realiza quan-
dade ideológica em Salvador por se declarar solteiro. do os nubentes manifestam, perante o juiz, a sua
João praticou o crime-fim, bigamia, ao se casar com vontade de estabelecer vínculo conjugal;
Luiza, absorvendo o crime de falsidade ideológica. z É possível a tentativa;
Luiza não praticou nenhum crime, pois foi induzida z A ação penal é pública incondicionada;
em erro por João. Maria não praticou nenhum crime. z O Ministério Público pode ajuizar ação civil para
decretação de nulidade do casamento, antes ou
Conhecimento Prévio de Impedimento simultaneamente ao oferecimento da ação penal.

De acordo com o art. 237 do CP, o agente que tem Simulação de Autoridade para Celebração de
o conhecimento prévio da existência de impedimen- Casamento
to que lhe cause a nulidade absoluta e, mesmo assim,
contrai casamento, conhecendo esta circunstância, Pratica crime contra a família o agente que se atri-
praticará o crime de conhecimento prévio de impedi- buir falsamente autoridade para celebração de casa-
mento com pena prevista de detenção de três meses mento, conforme disposto no art. 238, do CP.
a um ano. Este crime diz respeito ao presidente da celebração.
Trata-se mais uma vez de lei penal em branco Por exemplo, Vitor e Andresa estão se casando.
homogênea, pois os impedimentos matrimoniais são Cumpriram todos os requisitos da legislação civil.
indicados pelo art. 1.521, do CC. Porém, o celebrante não pode comparecer e para não
deixarem de se casarem na data marcada, o irmão da
Art. 1.521 Não podem casar: noiva, que é escrivão no cartório, celebra o casamen-
I - os ascendentes com os descendentes, seja o to. A conduta criminosa de simulação de autoridade
parentesco natural ou civil; para celebração de casamento recai no irmão da noi-
II - os afins em linha reta; va. Vitor e Andresa não praticaram crime.
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e Temos, então:
o adotado com quem o foi do adotante;
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais z O bem jurídico penalmente tutelado é a família e
colaterais, até o terceiro grau inclusive; a regularidade do exercício de função pública rele-

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V - o adotado com o filho do adotante; vante, qual seja, juiz de paz;
VI - as pessoas casadas; z O objeto material é o casamento;
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por
z O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa;
homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu
z O sujeito passivo é o Estado e, mediatamente, as
consorte.
pessoas enganadas pela conduta criminosa;
z Só existe o crime na modalidade dolosa;
O elemento material consiste em o agente se casar,
z Não se admite a modalidade culposa;
conhecendo a existência do impedimento. Não exige
z O crime se consuma com a atribuição de autorida-
comportamento ativo do agente. Basta não declarar a de pelo agente, prescindindo-se da celebração de
causa dirimente absoluta, simples omissão. qualquer casamento;
Vejamos, por exemplo: Adolfo e Marisa se casam. z É possível a tentativa;
Eles omitem o fato de que Marisa é cônjuge sobrevi- z A ação penal é pública incondicionada.
vente de Lucas e que Adolfo foi condenado por homi-
cídio por ter matado Lucas. Art. 237, do CP, combinado Simulação de Casamento
com o art. 1521, VII, do CC.
Ou seja: O crime de simulação de casamento está previs-
to no art. 239, do CP, em que diz que pratica crime o
z O bem jurídico penalmente tutelado é a família; agente que simula casamento mediante engano de
z O objeto material é o casamento; outra pessoa.
z Se o agente tem conhecimento da existência do
impedimento, salva a hipótese que caracteriza o z O bem jurídico penalmente protegido é a família,
crime de bigamia, e ainda assim convola matrimô- especialmente no que diz respeito à regularidade
nio, a ele será imputado o crime de conhecimento do casamento;
prévio de impedimento; z O objeto material é o casamento; 367
z Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa; Parto Suposto, Supressão ou Alteração de Direito
z É possível a participação de terceiros; Inerente ao Estado Civil de Recém-Nascido
z O sujeito passivo é o Estado, em decorrência do seu inte-
resse na integridade do matrimônio, e, mediatamente, O crime está previsto no art. 242, do CP, pois o par-
a pessoa enganada pela simulação de casamento; to suposto é quando a agente dá parto alheio como
z O crime é de modalidade dolosa; próprio ou registra como seu o filho de outrem. Outra
z Não se admite a modalidade culposa; conduta é o ato de ocultar recém-nascido ou substi-
z O crime se consuma com a simulação de qualquer tuí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao
ato relacionado à celebração do matrimônio, pou- estado civil.
co importando se o agente conseguiu alcançar a São três elementos:
falsa declaração de casado com outra pessoa;
z É possível a tentativa;
z A conduta de dar parto alheio como próprio;
z A ação penal é pública incondicionada.
z A conduta de registrar como seu o filho de outrem;
Vamos ilustrar. Pedro e Beatriz fazem o requeri- z A ocultação de recém-nascido ou a substituição,
mento para habilitação para se casarem. Pedro simu- mediante a supressão ou alteração de direito ine-
la o requerimento, mas Beatriz acredita que está tudo rente a estado civil.
correto. Se o casamento não vem a ser celebrado não
há crime. Se ocorre a celebração, o ato é simulado, Parece história de novela, mas acontece. Tiago e
pois Pedro enganou Andresa. Débora queriam ter um filho, mas, por questões de
Não há crime se os noivos simulam a celebração dificuldades de Débora engravidar, eles optaram por
para pregarem uma peça para os amigos. uma farsa. Os amigos de Tiago e Débora iriam dar à
Lembrando, o crime consiste em um consorte luz filhos gêmeos. Tiago, por trabalhar no hospital,
simular o casamento no sentido de faz de conta, dan- oculta um dos gêmeos, comunicando aos pais que um
do aparência de real aquilo que é falso. O agente enga- dos filhos veio a óbito. Tiago registra o recém-nasci-
no o outro contraente. do como seu filho, admitindo que Débora deu parto
alheio como próprio. Nesta hipótese, Tiago e Débora
CRIMES CONTRA O ESTADO DE FILIAÇÃO praticam o crime de parto suposto.
Registro de Nascimento Inexistente
z Tutela-se o estado de filiação, a instituição familiar
e a regularidade do registro civil;
O rol dos crimes contra o estado de filiação ini-
z O objeto material pode ser o registro ou então o
cia com a tipificação do registro de nascimento
inexistente. recém-nascido, dependendo da conduta criminosa
Pratica esse delito o agente que promove no regis- praticada;
tro civil a inscrição de nascimento inexistente, confor- z O sujeito ativo, na conduta “dar parto alheio como
me disposto no art. 241, do CP. próprio”, somente pode ser cometido por mulher;
O bem jurídico penalmente tutelado é o estado de z Admite-se coautoria e participação, inclusive de
filiação, como medida protetora da instituição fami- parte da mãe biológica;
liar. Protege-se a regularidade do sistema de registro z Nas demais condutas típicas, pode ser praticado
civil, pois os atos nele inscritos gozam de fé pública. por qualquer pessoa;
z O sujeito passivo é o Estado, interessado na regu-
laridade da família, e a pessoa prejudicada pela
Importante! conduta criminosa;
z Observe que nas duas primeiras condutas o crime
Rogério Grecco destaca que o delito de registro
de nascimento inexistente é uma forma especia- é doloso, independentemente de qualquer finali-
lizada do crime de falso, haja vista que o agente dade específica;
fornece, falsamente, os dados exigidos pelo art. z Já nas duas últimas modalidades, o crime é doloso,
54 da Lei de Registros Públicos, ao Cartório do mas com um especial fim de agir, consistente na
Registro Civil, a fim de promover a inscrição de intenção de suprimir ou alterar direito inerente ao
nascimento inexistente. estado civil;
z Não se admite, em nenhuma das quatro hipóteses,
a figura culposa;
Vejamos, por exemplo, Guilherme vai ao cartório z O crime de parto suposto se consuma com a suposi-
e fornece os dados para registrar o nascimento de ção do parto, ou, na hipótese de gravidez real, com
“alguém”, pessoa inexistente, como se seu filho fosse: a troca da criança que nasceu morta por outra;
z Na segunda conduta típica, a consumação se dá
z O registro civil é o objeto material do crime de com a inscrição no registro do filho alheio como
registro de nascimento inexistente; próprio;
z O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. Admite- z E nas duas últimas hipóteses, a consumação recla-
-se o concurso de pessoas; ma a prática de ato que efetivamente importe na
z O sujeito passivo é o Estado e as pessoas lesadas supressão ou alteração do estado civil do neonato;
pelo falso registro de nascimento; z É possível a tentativa em todas as condutas típicas;
z O crime é de modalidade dolosa. Não se admite a z A ação penal é pública incondicionada.
modalidade culposa;
z O crime se consuma com a efetiva inscrição no A pena prevista é de reclusão de dois a seis anos,
registro civil do nascimento inexistente; contudo, se o crime é praticado por motivo de reco-
z É possível a tentativa; nhecida nobreza, a pena cominada é detenção, de um
368 z A ação penal é pública incondicionada. a dois anos, podendo o juiz deixar de aplicar a pena.
Sonegação de Estado de Filiação z O elemento normativo é representado pela expres-
são “sem justa causa”, que funciona como elemen-
A conduta de deixar em asilo de expostos ou outra to negativo do tipo;
instituição de assistência filho próprio ou alheio, ocul- z Presente a justa causa para a falta de assistência
tando-lhe a filiação ou atribuindo-lhe outra, com o fim material, o fato será atípico. Por exemplo, o agente
de prejudicar direito inerente ao estado civil configu-
é demito e não tem provisão para pagar a pensão
ra o crime de sonegação de estado de filiação, previsto
alimentícia naquele momento.
no art. 243, do CP.
Vejamos: um dos fundamentos à caracterização do
delito de sonegação do estado de filiação é que esse O sujeito ativo somente pode ser as pessoas expres-
abandono se dê sem que a pessoa que o leve a efeito samente indicadas no art. 244, do CP, ou seja, aquele
informe aos responsáveis pela instituição, pública ou que deixa de prover a subsistência do cônjuge, ou de
particular, na qual foi entregue a criança, a respeito filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o tra-
de sua filiação correta, seja em forma de ocultação balho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (ses-
(não informando nada a respeito dela), seja atribuin- senta) anos.
do-lhe outra que não seja a verdadeira. Imagine que
uma mulher dê à luz ao filho, leve o recém-nascido z O sujeito passivo pode ser: os cônjuges, o filho
até a porta do orfanato e lá o abandona, ocultando a menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o tra-
filiação da criança. Se o recém-nascido é abandonado balho, qualquer que seja sua idade, o ascendente
em outro lugar, praça, margem de rio, calçada etc. o inválido, independentemente da sua idade, ou
crime será de abandono de incapaz. maior de 60 (sessenta) anos, se dependente de
assistência material, bem como qualquer descen-
z O objeto jurídico desse crime é o estado de filiação; dente ou ascendente gravemente enfermo, pouco
z O objeto material é a criança ou adolescente, filho
importando o grau de parentesco na linha reta;
próprio ou alheio, deixado em asilo de expostos ou
z O crime é doloso, independentemente de qualquer
outra instituição de assistência;
finalidade específica;
z O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa;
z O sujeito passivo é o Estado e o abandonado pre- z Não se admite a modalidade culposa;
judicado em seus direitos inerentes ao estado de z O crime se consuma quando o agente deixa, dolo-
filiação; samente e sem justa causa, de assegurar os recur-
z O crime é de sonegação de estado de filiação. sos necessários ou falta ao pagamento de pensão
alimentícia judicialmente acordada, fixada ou
A modalidade do crime é dolosa, observe que tem majorada, ou quando deixa de socorrer descen-
uma finalidade especial: o agir subjetivo específico. dente ou ascendente, gravemente enfermo;
Por exemplo, agente na intenção de prejudicar direi- z Não se exige efetivo prejuízo à vítima;
to inerente ao estado civil do filho próprio ou alheio z Não se admite tentativa;
abandonado. z Ação penal é pública incondicionada;
z Nas mesmas penas incide quem, sendo solvente,
z O crime se consuma com o abandono da criança frustra ou ilide, de qualquer modo, inclusive por
ou adolescente em instituição de assistência, ocul- abandono injustificado de emprego ou função, o
tando ou alterando o estado de filiação, mesmo pagamento de pensão alimentícia judicialmente
que não se alcance a finalidade específica de pre- acordada, fixada ou majorada.
judicar direito inerente ao estado civil;
z Admite-se a tentativa; Entrega de Filho Menor a Pessoa Inidônea
z Ação penal é pública incondicionada.

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


Outro crime contra a assistência familiar é a entre-
CRIMES CONTRA A ASSISTÊNCIA FAMILIAR ga de filho menor a pessoa inidônea, previsto no art.
245, do CP. Neste crime, o agente entrega filho menor
Abandono Material de 18 (dezoito) anos a pessoa em cuja companhia sai-
ba ou deva saber que o menor fica moral ou material-
O crime de abandono material, tipificado no art. mente em perigo.
244, do CP, ocorre quando o agente deixa, sem justa Os elementos que integram o crime são: a condu-
causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho ta de entregar o filho menor de 18 (dezoito) anos; e a
menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, pessoa em cuja companhia a agente sabia, ou tinha
ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) possibilidade de saber, que a vítima ficaria moral ou
anos, não lhes proporcionando os recursos necessá- materialmente em perigo.
rios ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia Observe que a lei penal não se limitou a dizer o
judicialmente acordada, fixada ou majorada. perigo para a formação moral da vítima. Poderá ocor-
Na prática, podemos exemplificar o agente que rer perigo para a sua integridade física ou mesmo
pede demissão do trabalho com a intenção de deixar para a sua vida. Por exemplo, os pais entregam seu
de pagar pensão alimentícia ao filho. Também consis- filho aos cuidados do tio que é portador de embria-
te no ato de o agente deixar, sem justa causa, de socor- guez patológica, ou de uma outra pessoa que é depen-
rer descendente ou ascendente, gravemente enfermo. dente químico.

z O bem jurídico penalmente tutelado é a assistência z O objeto jurídico é a assistência familiar, relati-
familiar (alimentos, habitação, vestuários, remé- vamente aos cuidados a serem dispensados pelos
dios etc.); pais aos filhos menores;
z O objeto material é a renda, pensão ou outro z O objeto material é o filho menor de 18 (dezoito)
auxílio; anos de idade; 369
z O sujeito ativo somente pode ser cometido pelos z Resida ou trabalhe em casa de prostituição;
pais do menor de 18 (dezoito) anos de idade. Em z Mendigue ou sirva a mendigo para excitar a comi-
face da vedação do emprego da analogia in malam seração pública.
partem no Direito Penal, os tutores ou guardiães
não podem figurar como sujeito ativo do delito em Assim, temos que:
análise;
z Sujeito passivo é o filho menor de 18 (dezoito) anos
z O objeto jurídico é a assistência familiar, no que
de idade, seja, criança ou adolescente.
diz respeito ao direito de acesso ao ensino obriga-
tório do filho em idade escolar;
Dica
z O objeto material do crime é a instrução primária
É indiferente a origem do filho, se o parentesco é do filho em idade escolar;
biológico ou adotivo. z O sujeito ativo, por ser o delito do art. 246, do CP,
crime próprio, somente pode ser cometido pelos
z O crime de entrega de filho menor a pessoa inidô- pais cujo filho esteja em idade escolar e carente de
nea é doloso; instrução primária.
z Não se admite a modalidade culposa;
z O crime se consuma com a efetiva entrega do filho Adverte Cleber Masson que o crime de abando
menor de 18 (dezoito) anos de idade a pessoa cuja
intelectual (art. 246, do CP) não se admite a analogia
companhia lhe acarrete perigo;
in malam partem no direito penal, os tutores ou qual-
z Admite-se a tentativa;
z Ação penal é pública incondicionada; quer outra espécie de responsável legal pela guarda
z A pena prevista é detenção, de 1 (um) a 2 (dois) da criança ou adolescente não podem figurar como
anos, mas poderá ser de 1 (um) a 4 (quatro) anos sujeito ativo do delito.
de reclusão, se o agente pratica delito para obter
lucro, ou se o menor é enviado para o exterior; z Sujeito passivo é o filho dependente de instrução
z Incorre, também, na pena de 1 (um) a 4 (quatro) primária e em idade escolar;
anos de reclusão quem, embora excluído o perigo z O crime é doloso;
moral ou material, auxilia a efetivação de ato des- z Não se admite a modalidade culposa, como na
tinado ao envio de menor para o exterior, com o hipótese dos pais que negligentemente se esque-
fito de obter lucro; cem de promover a matrícula do filho em idade
z Esta figura equiparada é crime comum e que pode escolar no estabelecimento de ensino;
ser praticado por qualquer pessoa.
z O crime se consuma quando os pais deixam de
efetuar a matrícula do filho em idade escolar em
Abandono Intelectual
estabelecimento de ensino após encerrado o prazo
para matrícula e os genitores permanecem inertes;
O Código Penal tipifica o delito de abandono inte-
lectual no art. 246, do CP. Neste delito o agente deixar, z Consuma-se também quando, por decisão dos pais,
sem justa causa, de prover a instrução primária de o filho em idade escolar definitivamente para de
filho em idade escolar. frequentar o estabelecimento de ensino;
O verbo “deixar” é utilizado na lei no sentido de z A consumação prescinde da comprovação de efeti-
não se levar a efeito, não atuar, no sentido de fazer vo prejuízo à criança ou adolescente;
com que se permita o acesso de filho ao estudo consi- z Não se admite tentativa;
derado fundamental. z Ação penal é pública incondicionada.
A justa causa é um elemento de natureza nor-
mativa, que dá ensejo a um juízo de valor que será CRIMES CONTRA O PÁTRIO PODER, TUTELA
realizado caso a caso. Por exemplo, os pais que, por CURATELA
se encontrarem em situação de absoluta pobreza
não tendo condições de levar seu filho à escola, que Induzimento à Fuga, Entrega Arbitrária ou Sonegação
se localiza muito distante de sua casa, ou ainda pelo de Incapazes
fato de não existir o próprio estabelecimento de ensi-
no são hipóteses que podem justificar a ausência de O crime de induzimento à fuga, entrega arbitrária
matrícula do filho que se encontra em idade escolar.
ou sonegação de incapazes, previsto no art. 248, do CP
Configura, portanto, crime a conduta dos pais que
é um crime com algumas condutas:
não matriculam o filho na escola por entenderem que
em casa a educação será melhor.
z Induzir menor de 18 (dezoito anos), ou interdito, a
É necessário esclarecer que a idade escolar dever
ser aquela apontada pelos arts. 4ºe 6º, da Lei nº 9394, fugir do lugar em que se acha por determinação de
de 1996, que estabelece 4 (quatro) anos o início da ida- quem sobre ele exerce autoridade, em virtude de
de escolar. lei ou de ordem judicial;
Também é crime de abandono intelectual o ato de z Confiar a outrem sem ordem do pai, do tutor ou do
permitir alguém que menor de dezoito anos, sujeito a curador algum menor de dezoito anos ou interdito;
seu poder ou confiado à sua guarda ou vigilância: z Deixar, sem justa causa, de entregá-lo a quem legi-
timamente o reclame.
z Frequente casa de jogo ou mal afamada, ou convi-
va com pessoa viciosa ou de má vida; Esse crime é de natureza mista alternativa e cumu-
z Frequente espetáculo capaz de pervertê-lo ou de lativa. Guilherme Nucci ensina que dependendo da
lhe ofender o pudor, ou participe de representação hipótese concreta, o agente pode responder por um
370 de igual natureza; delito ou pela prática de dois crimes.
A primeira conduta (induzir menor ou interdito a Destaca-se os seguintes elementos que integram o
fugir) pode ser associada à segunda, que é alternativa crime:
(confiar a outrem ou deixar de entregá-lo).
z A conduta de subtrair menor de 18 (dezoito) anos
Dica ou interdito;
z Poder de quem o tem sob a sua guarda;
Adverte Rogério Grecco: z Em virtude de lei ou de ordem judicial.
A ordem do pai, do tutor ou do curador e a justa
causa são consideradas elementos normativos Veja que o menor de 18 (dezoito) anos ou interdito
do tipo, que, se presentes, farão com que o fato deverá estar sob o poder de quem detém a sua guar-
seja considerado atípico. da, sendo que esta poderá ser proveniente de lei, por
exemplo, os pais em relação aos filhos no exercício
O objeto material do crime é a pessoa menor de 18 do poder familiar, ou decorrente de decisão judicial,
como acontece nas hipóteses em que se é nomeado
(dezoito) anos de idade ou interditada judicialmente.
um curador ao interdito.
Temos aqui três núcleos dos tipos penais:
O § 1º, do art. 249, do CP, destaca que o fato de ser o
agente pai ou tutor do menor ou curador do interdito
z Induzimento à fuga: fazer nascer na mente do não o exime de pena, se destituído ou temporariamen-
menor de 18 (dezoito) anos de idade ou interdito te privado do pátrio poder, tutela, curatela ou guarda.
a vontade de fugir do lugar em que se acha por Há crime de subtração de incapaz a simples conduta
determinação de quem sobre ele exerce autorida- de retirada da vítima do local onde ela se encontra, da
de, em virtude de lei ou decisão judicial; guarda de seu responsável legal, sendo irrelevante que
z Entrega arbitrária: entregar a outrem, sem ordem o agente aja com a intenção de prejudicar o incapaz. Há
dos pais, do tutor ou do curador, a pessoa menor também o crime em estudo se o acusado se excedeu na
de 18 (dezoito) anos de idade ou interditada autorização que a representante legal do menor tinha
judicialmente; lhe dado, tirando o menos de sua convivência.
Por outro lado, não crime de subtração de incapaz
z Sonegação de incapazes: deixar, recusar-se a
se os menores que eram levados pelo agente para a
entregar o menor de 18 (dezoito) anos ou interdito sua casa eram abandonados e viviam nas ruas, em
a quem legitimamente o reclame, comportando-se situação de risco.
desta forma sem justa causa.
z O bem jurídico penalmente protegido é o poder
Temos então as seguintes características: familiar, a tutela ou curatela, como medidas ine-
rentes à instituição familiar;
z O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa; z O objeto material é a pessoa menor de 18 (dezoito)
z Já o sujeito passivo, são, imediatamente os pais, anos de idade ou judicialmente interditada;
tutores ou curadores e, mediatamente, a pessoa z Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive
menor de 18 (dezoito) anos de idade ou judicial- os pais, tutores ou curadores, se tiverem sido desti-
mente interditada; tuídos ou se encontrarem temporariamente priva-
dos do poder familiar, tutela, curatela ou guarda
z O crime é doloso;
(art. 249, § 1º, do CP);
z Não se admite a modalidade culposa;
z O sujeito passivo é, imediatamente, o detentor da
z Admite-se a tentativa no induzimento à fuga e na
guarda do menor de 18 (dezoito) anos de idade ou
entrega arbitrária;
interdito e, mediatamente, o próprio incapaz.
z Não se admite a tentativa na sonegação de

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


incapazes; O pai ou mãe separados judicialmente, não desti-
z Ação penal é pública incondicionada. tuído do poder familiar, não pode ser responsabilizado
pelo crime em estudo na hipótese em que retém o filho
Consuma-se o crime a partir de: menor de idade por prazo superior ao judicialmente
convencionado, mas eventualmente pelo delito do art.
z Induzimento à fuga, com o simples induzimento 359, do CP, desobediência a decisão judicial sobre perda
à fuga, desde que idôneo ao convencimento, pois ou suspensão de direitos.
a lei não condicionou a pena à fuga concreta do Não será vítima do crime de subtração de incapa-
menor de 18 (dezoito) anos de idade ou interdito. zes o maior de 18 (dezoito) anos de idade, assim como
z Entrega arbitrária, quando concretiza a entrega do a pessoa portadora de enfermidade ou deficiência
menor de 18 (dezoito) anos ou interdito a terceira mental que ainda não foi interditada judicialmente.
pessoa, sem autorização do pai, tutor ou curador.
z Sonegação de incapazes, no instante em que o z O crime é doloso;
agente deixa, sem justa causa, de entregar o menor z Não se admite a modalidade culposa;
ou interdito a quem legitimamente o reclame. z Consuma-se quando o menor de 18 (dezoito) anos
de idade ou interdito é retirado da esfera de vigi-
Subtração de Incapazes lância da pessoa que detinha sua guarda em virtu-
de de lei ou de ordem judicial;
O crime de subtração de incapazes está previsto no z Admite-se a tentativa;
art. 249, do CP. Neste crime o agente subtrai menor de z Ação penal é pública incondicionada;
18 (dezoito) anos ou interdito ao poder de quem o tem z A pena prevista no CP é detenção, de dois meses a
sob sua guarda em virtude de lei ou de ordem judicial. dois anos, se o fato não constitui elemento de outro
crime. 371
No caso de restituição do menor ou do interdito, se Sobre o crime de circulação de moeda falsa, fique
este não sofreu maus tratos ou privações, o juiz pode atento às seguintes informações:
deixar de aplicar pena.
z É crime de ação múltipla, que se configura com a
prática de quaisquer um dos verbos descritos no
tipo penal;
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA z Caso o agente pratique mais de um verbo, no mes-
mo contexto fático, responderá por apenas um cri-
MOEDA FALSA
me de circulação de moeda falsa;
z O crime somente poderá ser praticado dolosamen-
Art. 289 Falsificar, fabricando-a ou alterando-a,
te, portanto, é necessário que o agente saiba ou
moeda metálica ou papel-moeda de curso legal no
tenha dúvida sobre a falsidade da moeda;
país ou no estrangeiro:
Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa. z Admite tentativa;
z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
Este crime pode ser praticado de duas formas: quer pessoa, salvo aquele que falsifica a moeda
— não se trata de hipótese de concurso de crimes,
assim, caso o agente falsifique a moeda e a guarde,
FALSIFICAR A MOEDA METÁLICA OU PAPEL- responderá apenas pelo crime de moeda falsa.
MOEDA DE CURSO LEGAL NO PAÍS ESTRANGEIRO

Neste caso, o agente cria a moeda fal- Art. 289 [...]


Fabricando-a § 2º Quem, tendo recebido de boa-fé, como verda-
sa ou papel-moeda
deira, moeda falsa ou alterada, a restitui à circula-
Neste caso, o agente altera uma moe- ção, depois de conhecer a falsidade, é punido com
Alterando-a da ou papel-moeda que são verdadei- detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
ros, transformando-os em falsos
Se o agente recebe a moeda de boa-fé, mas, para
não ficar no prejuízo, a restitui à circulação, ele res-
Sobre o crime de moeda falsa, é importante levar ponderá criminalmente?
em consideração o seguinte: Sim. A resposta é positiva.
Neste caso, responderá o agente pelo crime de
z É crime comum, que pode ser praticado por qual- circulação de moeda falsa na modalidade privilegia-
quer pessoa; da, com uma pena bem mais branda em relação aos
z Não admite a modalidade culposa, podendo ser outros dois tipos penais que já estudamos.
praticado somente a título de dolo; Sobre o crime de circulação de moeda falsa privile-
z Admite a tentativa; giada, fique atento ao seguinte:
z Segundo posicionamento doutrinário majoritário,
para configuração deste crime, a falsificação ou
z O recebimento da moeda dá-se de boa-fé, pois o
alteração não podem ser grosseiras (aquela vista a
agente acredita que é verdadeira;
olho nu por qualquer pessoa dotada de capacidade
z A restituição à circulação deve dar-se dolosamente,
mediana) — neste caso, estaremos diante de con-
isto é, o agente já conhece sobre a falsidade da moeda;
duta que configura crime impossível em relação
z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
ao crime de moeda falsa.
quer pessoa, exceto o falsificador que pratica o cri-
me de falsificar moeda;
Contudo, caso a falsificação seja grosseira, o seu
z Admite tentativa.
uso pode caracterizar o crime de estelionato, confor-
me entendimento sumulado do STJ.
Dica: Não se aplica o instituto do arrependi-
mento posterior ao crime de moeda falsa.
Súmula 73 (STJ) A utilização de papel moeda gros-
seiramente falsificado configura, em tese, o crime
de estelionato, da competência da Justiça Estadual. Imagine a seguinte situação: o réu utilizou uma
moeda falsa para comprar um fogão em determinado
Exige-se que a moeda metálica ou papel-moeda comércio. Descobriu-se, em momento posterior, que
tenham curso legal no país ou no estrangeiro. Caso se tratava de uma moeda falsa e, antes da denúncia,
não tenham, ou estejam fora de circulação, não irá se o réu realizou o pagamento do fogão com uma moeda
configurar este crime. verdadeira, evitando o prejuízo. Neste ínterim, ainda
que o réu se arrependa e evite o prejuízo, o crime de
Art. 289 [...] moeda falsa já estará consumado (o dano patrimonial
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem, por conta é mero exaurimento do crime).
própria ou alheia, importa ou exporta, adquire, O STJ entende que a vítima do crime de moeda
vende, troca, cede, empresta, guarda ou introduz falsa é a coletividade, não sendo passível de repara-
na circulação moeda falsa. ção. Desse modo, os crimes contra a fé pública, seme-
lhantes aos demais crimes não patrimoniais em geral,
O princípio da insignificância não é aplicado aos são incompatíveis com o instituto do arrependimento
crimes contra a fé pública. No crime de falsificação de posterior, dada a impossibilidade material de haver
moeda, pouco importa a quantidade de moedas e o reparação do dano causado ou a restituição da coisa
seu valor. subtraída.12
12 TJ. 6ª Turma. REsp 1242294-PR, Rel. originário Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 18/11/2014
372 (Info 554).
O crime de moeda falsa possui formas qualificadas. Art. 290 [...]
Parágrafo único. O máximo da reclusão é elevado
Art. 289 [...] a doze anos e multa, se o crime é cometido por fun-
§ 3º É punido com reclusão, de três a quinze anos, cionário que trabalha na repartição onde o dinhei-
e multa, o funcionário público ou diretor, gerente, ro se achava recolhido, ou nela tem fácil ingresso,
ou fiscal de banco de emissão que fabrica, emite ou em razão do cargo.
autoriza a fabricação ou emissão:
I - de moeda com título ou peso inferior ao determi- Existe a possibilidade de ser crime próprio, caso
nado em lei; seja cometido por funcionário que trabalha na repar-
II - de papel-moeda em quantidade superior à tição onde o dinheiro se achava recolhido, ou nela
autorizada. tenha fácil ingresso, em razão do cargo.
§ 4º Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz Neste caso, o máximo da reclusão é elevado a doze
circular moeda, cuja circulação não estava ainda anos.
autorizada.
Petrechos para Falsificação de Moeda
Responderá pelo crime de moeda falsa na moda-
lidade qualificada o funcionário público ou diretor, Art. 291 Fabricar, adquirir, fornecer, a título one-
gerente ou fiscal de banco de emissão que fabrica, roso ou gratuito, possuir ou guardar maquinismo,
emite ou autoriza a fabricação ou emissão de moeda aparelho, instrumento ou qualquer objeto espe-
com título ou peso inferior ao determinado em lei ou cialmente destinado à falsificação de moeda:
de papel-moeda em quantidade superior à autoriza- Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
da. Neste caso, trata-se de crime próprio, que somente
poderá ser praticado pelo funcionário público ou dire- O objeto material deste crime é o maquinismo,
tor, gerente ou fiscal de banco de emissão. aparelho, instrumento ou qualquer objeto especial-
Também pratica o delito de moeda falsa na moda- mente destinado à falsificação de moeda.
lidade qualificada o agente que desvia e faz circular Embora o artigo tenha a previsão do termo “espe-
moeda, cuja circulação não estava ainda autorizada. cialmente”, é desnecessário o uso exclusivo do petre-
O crime de moeda falsa na modalidade qualificada cho para falsificação de moeda. De acordo com o
não admite a forma culposa. Informativo 633, do STJ, basta que o agente detenha a
Os crimes relacionados à moeda falsa são proces- posse de petrechos especialmente destinados à falsifi-
sados e julgados pela Justiça Federal. cação de moeda, sendo prescindível que o maquinário
A ação penal é pública incondicionada. seja de uso exclusivo para esse fim.
Dica: O uso de tais objetos, para a configuração do
crime em tela, depende da análise do elemento subje-
Importante! tivo do tipo (dolo), de modo que, se o agente detém a
posse de impressora, ainda que manufaturada visan-
Tratando-se de falsificação grosseira, poderá do ao uso doméstico, mas com o propósito de a utilizar
caracterizar o estelionato, de competência da precipuamente para contrafação de moeda, incorre
Justiça Estadual. no crime de petrechos para falsificação de moeda.
E, anote: não se aplica o princípio da insignificân- É desnecessário que a posse de petrechos seja espe-
cia ao crime de moeda falsa. cificamente com o uso exclusivo para falsificação de
moeda.13
Temos, neste artigo, uma conduta que constitui
Crimes Assimilados ao de Moeda Falsa exceção à punição de um crime a partir do momen-

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


to em que se inicia a execução do crime. Isso porque,
Art. 290 Formar cédula, nota ou bilhete representa- caso um agente tenha a finalidade de falsificar moe-
tivo de moeda com fragmentos de cédulas, notas ou da e, para isso, adquira um aparelho, mesmo que não
bilhetes verdadeiros; suprimir, em nota, cédula ou inicie a execução da falsificação, poderá ser responsa-
bilhete recolhidos, para o fim de restituí-los à circu- bilizado criminalmente pelos atos preparatórios, que
lação, sinal indicativo de sua inutilização; restituir constituem crime autônomo.
à circulação cédula, nota ou bilhete em tais condi- Sobre o crime de petrechos para emissão de moe-
ções, ou já recolhidos para o fim de inutilização: da, é importante ficar atento ao seguinte:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
z É crime de ação múltipla, que poderá ser praticado
É importante, sobre o delito assimilado à moeda por meio da execução de quaisquer um dos verbos
falsa: previstos no tipo penal: fabricar, adquirir, forne-
cer, possuir ou guardar;
z É crime comum, que pode ser praticado por qual- z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
quer pessoa; quer pessoa;
z O crime é doloso; z O crime configura-se ainda que o agente pratique
z Não admite a modalidade culposa; as condutas descritas no tipo penal sem finalidade
z Admite tentativa; onerosa;
z É processado e julgado pelo Justiça Federal, z No verbo guardar, trata-se de crime permanente,
mediante ação penal pública incondicionada; que admite a prisão em flagrante enquanto não se
z Trata-se de tipo penal misto alternativo, que se cessar a permanência;
consuma com a prática de quaisquer das condutas z O delito é doloso;
previstas no tipo penal. z Não admite a modalidade culposa;
13 STJ. 6ª Turma. REsp 1758958-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 11/09/2018 (Info 633). 373
z Admite tentativa. Art. 293 [...]
§ 1º Incorre na mesma pena quem:
Emissão de Título ao Portador Sem Permissão Legal I - usa, guarda, possui ou detém qualquer dos papéis
falsificados a que se refere este artigo;
Art. 292 Emitir, sem permissão legal, nota, bilhe- II - importa, exporta, adquire, vende, troca, cede,
te, ficha, vale ou título que contenha promessa de empresta, guarda, fornece ou restitui à circulação
pagamento em dinheiro ao portador ou a que falte selo falsificado destinado a controle tributário;
indicação do nome da pessoa a quem deva ser pago: III - importa, exporta, adquire, vende, expõe à
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. venda, mantém em depósito, guarda, troca, cede,
Parágrafo único. Quem recebe ou utiliza como empresta, fornece, porta ou, de qualquer forma,
dinheiro qualquer dos documentos referidos neste utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício
artigo incorre na pena de detenção, de quinze dias de atividade comercial ou industrial, produto ou
a três meses, ou multa. mercadoria:
a) em que tenha sido aplicado selo que se destine a
O crime de emissão de título ao portador sem controle tributário, falsificado;
emissão legal é praticado quando o agente emite, sem b) sem selo oficial, nos casos em que a legislação
permissão legal, nota, bilhete, ficha, vale ou título que tributária determina a obrigatoriedade de sua
contenha promessa de pagamento em dinheiro ao aplicação.
portador ou a que falte indicação do nome da pessoa § 2º Suprimir, em qualquer desses papéis, quan-
a quem deva ser pago. do legítimos, com o fim de torná-los novamente
Considera-se menos grave a conduta de quem uti- utilizáveis, carimbo ou sinal indicativo de sua
liza nota, bilhete, ficha, vale ou título que contenha inutilização:
promessa de pagamento em dinheiro ao portador ou Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
a que falte indicação do nome da pessoa a quem deva § 3º Incorre na mesma pena quem usa, depois de
ser pago como dinheiro. alterado, qualquer dos papéis a que se refere o
É importante saber, sobre o delito de emissão de parágrafo anterior.
título ao portador legal: § 4º Quem usa ou restitui à circulação, embora
recibo de boa-fé, qualquer dos papéis falsificados
z Exige-se que o agente não tenha permissão legal ou alterados, a que se referem este artigo e o seu
para a emissão; § 2º, depois de conhecer a falsidade ou alteração,
z Se o agente tem permissão para emitir o título ao incorre na pena de detenção, de seis meses a dois
portador, o fato será atípico; anos, ou multa.
z O delito é doloso; § 5º Equipara-se a atividade comercial, para os fins
z Não admite a modalidade culposa; do inciso III do § 1º, qualquer forma de comércio
z É crime comum, que pode ser praticado por qual- irregular ou clandestino, inclusive o exercido em
quer pessoa. vias, praças ou outros logradouros públicos e em
residências.
FALSIDADE DE TÍTULOS E OUTROS PAPÉIS
PÚBLICOS O tipo penal do crime de falsificação de papéis
públicos apresenta três modalidades em que a pena
Falsificação de Papéis Públicos será mais branda se comparada ao tipo penal prin-
cipal e às formas equiparadas, que têm como pena a
Art. 293 Falsificar, fabricando-os ou alterando-os: reclusão de dois a oito anos e multa:
I - selo destinado a controle tributário, papel
selado ou qualquer papel de emissão legal destina- z Aquele que suprimir, em qualquer dos papéis vis-
do à arrecadação de tributo;
tos anteriormente, quando legítimos, com o fim de
II - papel de crédito público que não seja moeda
torná-los novamente utilizáveis, carimbo ou sinal
de curso legal;
III - vale postal; indicativo de sua inutilização, incorrerá na pena
IV - cautela de penhor, caderneta de depósito de reclusão de um a quatro anos e multa;
de caixa econômica ou de outro estabelecimento z Aquele que usar os papéis, depois de alterados
mantido por entidade de direito público; (após a supressão de carimbo ou sinal indicativo
V - talão, recibo, guia, alvará ou qualquer outro de inutilização, quando legítimos, com o fim de
documento relativo a arrecadação de rendas torná-los utilizáveis), incorrerá na pena de reclu-
públicas ou a depósito ou caução por que o são de um a quatro anos e multa;
poder público seja responsável; z Aquele que usar ou restituir à circulação, embora
VI - bilhete, passe ou conhecimento de empresa de
recebido de boa-fé, qualquer dos papéis falsifica-
transporte administrada pela União, por Estado ou
por Município: dos ou alterados, depois de conhecer a falsidade
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. ou alteração, incorrerá na pena de detenção, de
seis meses a dois anos, ou multa.
O tipo penal do caput poderá ser praticado com a
falsificação de quaisquer um dos documentos vistos Qualquer forma de
acima, de duas formas: fabricando-os (neste caso, o comércio irregular ou
agente cria um documento) ou alterando-os (o agente Equipara-se clandestino, inclusive
altera documento já existente). à atividade o exercido em vias,
Existem formas equiparadas ao crime de falsifica- comercial praças ou outros
ção de papéis públicos, incorrendo o agente nas mes- logradouros públicos e
374 mas penas deste. em residências
Sobre o crime de falsificação de papéis públicos, é Vejamos os crimes deste capítulo:
importante levar em consideração o seguinte:
Falsificação do Selo ou Sinal Público
z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
quer pessoa; Art. 296 Falsificar, fabricando-os ou alterando-os:
z Só admite a modalidade dolosa — não pode ser I - selo público destinado a autenticar atos oficiais
praticado culposamente; da União, de Estado ou de Município;
z Caso a falsificação seja grosseira, haverá a atipici- II - selo ou sinal atribuído por lei a entidade de
dade deste crime; direito público, ou a autoridade, ou sinal público de
z Admite a tentativa; tabelião:
z Se o papel for de emissão da União, será processa- Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
do e julgado pela Justiça Federal; § 1º Incorre nas mesmas penas:
z Será de competência do Juizado Especial Criminal I - quem faz uso do selo ou sinal falsificado;
II - quem utiliza indevidamente o selo ou sinal
Federal nas hipóteses de crime privilegiado, defi-
verdadeiro em prejuízo de outrem ou em pro-
nido no § 4º, art. 293, do CP.
veito próprio ou alheio.
III - quem altera, falsifica ou faz uso indevido de
Petrechos de Falsificação marcas, logotipos, siglas ou quaisquer outros sím-
bolos utilizados ou identificadores de órgãos
Art. 294 Fabricar, adquirir, fornecer, possuir ou ou entidades da Administração Pública.
guardar objeto especialmente destinado à falsifi- § 2º Se o agente é funcionário público, e comete
cação de qualquer dos papéis referidos no artigo o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a
anterior: pena de sexta parte.
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

Sobre o crime de petrechos de falsificação, é impor- FALSIFICAÇÃO DE SELO OU SINAL PÚBLICO


tante que você saiba, para a sua prova, as seguintes
Falsificar (fabricando ou alterando)
informações:
Selo público destinado Selo ou sinal atribuído por
z É crime de ação múltipla, que poderá ser praticado a autenticar atos ofi- lei a entidade de direito
mediante a execução de qualquer um dos verbos ciais da União, de Esta- público, ou a autoridade, ou
previstos no tipo penal: fabricar, adquirir, forne- do ou de Município sinal público de tabelião
cer, possuir ou guardar;
z É crime comum, que poderá ser praticado por
Sobre este crime, é importante que você leve em
qualquer agente;
consideração as seguintes disposições:
z Entretanto, caso o crime seja praticado por fun-
cionário público, prevalecendo-se este do cargo, a
z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
pena será aumentada da sexta parte (1/6).
quer pessoa;
z Caso o crime seja praticado por funcionário públi-
Art. 295 Se o agente é funcionário público, e come-
co, prevalecendo-se do cargo, a pena será aumen-
te o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a
pena de sexta parte. tada da sexta parte (aumento de 1/6);
z Só pode ser praticado dolosamente;
A pena do crime de petrechos de falsificação será z Admite a modalidade tentada, já que se trata de
aumentada de 1/6 (um sexto) se o agente é funcionário crime plurissubsistente, quando o delito, para ser

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


público e comete o crime prevalecendo-se do cargo. praticado, necessita de vários atos para atingir o
resultado;
z Assim como o crime de petrecho para falsificação z A falsificação pode dar-se de 2 (duas formas): com
de moeda, o objeto deve ser destinado especial- a fabricação (o agente cria o selo ou sinal) ou com
mente para falsificar os papéis previstos no art. a alteração (o agente modifica o selo ou sinal).
293; caso o objeto tenha outras finalidades (tem
outras utilidades e também serve para falsificar Trata-se de crime de forma livre, que pode ser pra-
papéis), não há que se falar na prática deste tipo ticado de qualquer modo pelo agente.
penal;
z Só poderá ser praticado dolosamente; Falsificação de Documento Público
z Admite a modalidade tentada;
z No verbo guardar, trata-se de crime permanente, Art. 297 Falsificar, no todo ou em parte, docu-
protraindo-se a conduta no tempo. mento público, ou alterar documento público
verdadeiro:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
FALSIDADE DOCUMENTAL
§ 1º Se o agente é funcionário público, e comete o
crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena
De acordo com o art. 232, do CPP, documentos são de sexta parte.
quaisquer escritos, instrumentos ou papéis públicos § 2º Para os efeitos penais, equiparam-se a docu-
ou particulares. mento público o emanado de entidade paraestatal,
O CPP estabelece requisitos para que um papel o título ao portador ou transmissível por endosso,
seja considerado documento: forma escrita, autor as ações de sociedade comercial, os livros mercan-
certo, possuir conteúdo de relevância jurídica e valor tis e o testamento particular.
probatório. § 3º Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz
inserir: 375
I - na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado a fazer prova perante a previdência
social, pessoa que não possua a qualidade de segurado obrigatório;
II - na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento que deva produzir efeito perante a
previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter sido escrita;
III - em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as obrigações da empresa perante a
previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter constado.
§ 4º Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados no § 3º, nome do segurado e seus dados
pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de prestação de serviços.

A sua conduta típica é: falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público
verdadeiro.
O crime pode ser praticado das seguintes formas:

Falsificar, total
Alterar documento
ou parcialmente,
público verdadeiro
documento público

Aqui, o agente cria Aqui, o agente


um documento modifica o
público que não documento público
existia que já existia

Trata-se de falsidade material, na qual o agente cria um documento público falso ou modifica o documento
público verdadeiro, tornando-se falsos em seu aspecto material, podendo o conteúdo ser verdadeiro ou não.
São condutas equiparadas ao crime de falsificação de documento público, incorrendo nas mesmas penas o
agente que insere ou faz inserir, as que estão descritas nos incisos do § 3º, do art. 297, do CP.

Importante!
Cleber Masson (2018) destaca que se a falsidade lançada na Carteira de Trabalho e Previdência Social rela-
cionar-se com os direitos trabalhistas do empregado, incidirá o crime definido no art. 49, do Decreto-lei 5.452,
de 1943. Por seu turno, se a falsidade atingir a Previdência Social, estará caracterizado o crime tipificado no
inciso II, § 3º, art. 297, do CP.

É de suma importância você saber que não se pode confundir a falsidade material com a falsidade ideológica.

FALSIDADE MATERIAL FALSIDADE IDEOLÓGICA


O agente cria um documento falso ou modifica um docu- O agente falsifica a declaração que deveria constar no do-
mento verdadeiro cumento público ou privado, que é verdadeiro
O documento é materialmente falso O documento é materialmente verdadeiro, com o conteúdo
Altera-se o aspecto formal do documento, podendo o con- falso
teúdo ser verdadeiro ou não Altera-se o conteúdo do documento, mas o aspecto formal
Crimes: falsificação de documento público ou particular continua intacto
Por exemplo, criar uma certidão de nascimento Crime: falsidade ideológica
Por exemplo, alterar data de nascimento em certidão de
nascimento

Sobre o crime de falsificação de documento público, é importante que você leve em consideração as seguintes
informações:

z O crime é comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa;


z Na hipótese de o agente ser funcionário público e, ainda, se prevaleça do cargo para praticar o delito, a pena
será aumentada em um sexto;
z O delito é doloso, não exige fim especial;
z Não admite a modalidade culposa;
z Admite a tentativa;
z O objeto material do crime é o documento público.

É muito importante que você saiba o que é documento público, para fins de configuração deste crime, já que
existe, também, o crime de falsificação de documento particular, já que eles são apenados de formas diferentes,
376 sendo aquele mais grave do que este.
Para fins de concurso público, pode-se conceituar A conduta é muito semelhante ao crime de falsifi-
documento público como aquele emitido por funcio- cação de documento público, sendo diferente no que
nário público, no exercício de suas funções, a serviço se refere ao objeto material do crime. Estes crimes
da União, estados-membros, Distrito Federal ou muni- também se diferenciam em relação à pena cominada.
cípios (emitido por órgãos ou entidades públicas).
Porém, o Código Penal equipara alguns outros Falsificação de documento Falsificação de documento
documentos, embora emitidos por particulares, a público particular
documento público.
Objeto Material: documento Objeto material: documento
público particular
z Falsificação total: criação de todo o material
escrito que representa o documento; Pena: Reclusão, de dois a seis Pena: Reclusão, de um a cinco
z Falsificação parcial: há uma criação de uma par- anos, e multa anos, e multa

te falsa do documento público verdadeiro, a qual


pode dele ser individualizada; Já estudamos o documento público e agora esta-
z Alteração de documento público: inserir ou mos compreendendo o particular. Mas, o que é docu-
suprimir falsamente informações escritas no pró- mento particular?
prio corpo do documento verdadeiro, após a sua
Documento particular é aquele que não é docu-
criação.
mento público, nem equiparado a documento públi-
co, por exemplo, cartão de identificação de veículo de
ALTERAÇÃO FALSIFICAÇÃO PARCIAL moradores de condomínio residencial.
A falsidade diz respeito Parte do documento, que Neste delito, a falsidade também pode ser mate-
às informações falsa- dele pode ser individuali- rial, alterando-se a forma estrutural do documento,
mente inseridas ou re- zada, é criada falsamente podendo o conteúdo ser verdadeiro ou não.
tiradas do papel, o que É importante destacar sobre o crime de falsifica-
ocorre posteriormente ção de documento particular o seguinte:
à criação do documento
z É crime comum;
O título ao portador é documento de crédito que z Admite a tentativa;
não informa o seu beneficiário, a exemplo do cheque z É delito doloso, sem a necessidade de exigir espe-
no valor de até R$ 100,00 (cem reais). O endosso é uma cial fim;
forma de transferir a propriedade de um título (do z Aplica-se a Súmula 17, do STJ: Quando o falso se
endossante para o endossatário), como os cheques em exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesi-
geral e as notas promissórias, que constituem exem- va, é por este absorvido;
plos de títulos transmissíveis por endosso. z Na hipótese de a falsificação ser grosseira, não irá
se configurar este crime, mas poderá se configurar
Falsificação de Documento Público X Estelionato outro tipo penal.

Súmula 17 (STJ) Quando o falso se exaure no este- Para fins de aplicação deste crime, equipara-se a
lionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este
documento particular o cartão de crédito ou de débito.
absorvido.

Falsificação de Cartão
Esta súmula se refere à aplicação do princípio da

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


consunção ou absorção. Quando o crime de falsifica-
Art. 298 [...]
ção de documento público for meio para praticar o
Parágrafo único. Para fins do disposto no caput,
crime de estelionato, será por este absorvido.
equipara-se a documento particular o cartão de
Por exemplo, agente que, para obter ilícita van-
crédito ou débito.
tagem em prejuízo de terceiro, altera sua carteira de
identidade verdadeira, responderá apenas pelo crime
de estelionato caso a potencialidade lesiva da falsifica- Falsidade Ideológica
ção fique exaurida com a prática do estelionato.
Caso a falsificação ou alteração sejam grosseiras, Art. 299 Omitir, em documento público ou par-
haverá atipicidade deste crime, podendo configurar ticular, declaração que dele devia constar, ou
outra infração penal. nele inserir ou fazer inserir declaração falsa
ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de
Falsificação de Documento Particular prejudicar direito, criar obrigação ou alterar
a verdade sobre fato juridicamente relevante:
Art. 298 Falsificar, no todo ou em parte, docu- Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o
mento particular ou alterar documento particular documento é público, e reclusão de um a três anos,
verdadeiro: e multa, de quinhentos mil réis a cinco contos de
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. réis, se o documento é particular.
Parágrafo único. Se o agente é funcionário públi-
O crime de falsificação de documento particular co, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou
é praticado quando o agente age de acordo com o se a falsificação ou alteração é de assentamento de
núcleo do tipo, ou seja, falsifica, no todo ou em parte, registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte.
documento particular ou altera (segundo núcleo do
tipo) documento particular verdadeiro. 377
A FALSIDADE IDEOLÓGICA CONFIGURA-SE DAS A pena do crime será distinta conforme a natureza
SEGUINTES FORMAS: do documento:
Omitir, em documento Inserir ou fazer inserir, em do-
z Se documento público: Reclusão de um a cinco
público ou particular, cumento público ou particular,
declaração que dele declaração falsa ou diversa anos, e multa;
devia constar da que devia constar z Se documento privado: Reclusão de um a três
anos, e multa.

A falsidade ideológica pode ser praticada tanto em Sobre o crime de falso reconhecimento de firma ou
documento público quanto em documento particular, letra, você deve ficar atento ao seguinte:
tendo, como distinção, tão somente a pena, vejamos:
z É crime próprio, que só poderá ser praticado pelo
z Documento público: reclusão, de um a cinco anos, funcionário público que possui como atribuição
e multa; reconhecer firma ou letra (ex.: tabeliães);
z Documento particular: reclusão, de um a três z Admite a participação de particular, desde que
anos, e multa. conheça a condição de funcionário público do
agente;
Em relação ao crime de falsidade ideológica, é z Só poderá ser praticado dolosamente;
importante que você leve em consideração as seguin- z Não exige fim especial de agir (dolo específico);
tes informações: z Segundo posicionamento que prevalece, trata-se
de crime plurissubsistente, que admite, portanto,
z Não admite a modalidade culposa — só pode ser a tentativa;
praticado dolosamente; z A ação penal será pública incondicionada;
z Exige-se dolo específico (especial fim de agir): fim z Para diferenciar o crime de falso conhecimento de
de prejudicar direito, criar, obrigação ou alterar a firma ou letra, do crime de falsa perícia, devemos
verdade sobre fato juridicamente relevante; nos atentar ao contexto em que o agente está inse-
z É crime comum; rido. No primeiro crime, o agente possui atribui-
z Caso a conduta seja praticada sem uma das finali- ção para reconhecer firma ou letra, já no segundo,
dades específicas (dolo específico) vistas acima, o o agente é o perito que falseia a perícia e pode
crime não irá se configurar; envolver a análise de letra (exame grafotécnico).
z Admite a modalidade tentada nas condutas comis-
sivas, mas não admite, segundo posicionamen- Certidão ou Atestado Ideologicamente Falso
to doutrinário majoritário, na conduta omissiva
(omitir); Art. 301 Atestar ou certificar falsamente, em razão
de função pública, fato ou circunstância que habi-
z Neste crime, a forma do documento segue intacta;
lite alguém a obter cargo público, isenção de ônus
o que se falsifica é o conteúdo das informações con-
ou de serviço de caráter público, ou qualquer outra
tidas no documento público ou particular (com a vantagem:
omissão de declaração ou com a declaração falsa). Pena - detenção, de dois meses a um ano.

Causas de aumento de pena (aumento da sexta Conduta típica: atestar ou certificar falsamente,
parte — 1/6): em razão de função pública, fato ou circunstância que
habilite alguém a obter cargo público, isenção de ônus
z Se o agente é funcionário público, e comete o cri- ou de serviço de caráter público, ou qualquer outra
me prevalecendo-se do cargo. Não basta que seja vantagem.
praticado por funcionário público, para se aplicar Sobre este crime, é importante levar em conside-
a causa de aumento da pena, mas, também, que ele ração o seguinte:
se prevaleça do cargo para praticar o crime;
z Se a falsificação ou alteração é de assentamento de z Trata-se de crime próprio, que só pode ser prati-
registro civil. cado por funcionário público, em razão da função
pública;
Falso Reconhecimento de Firma ou Letra z Admite o concurso de pessoas com particulares,
desde que estes conheçam sobre a situação de fun-
Art. 300 Reconhecer, como verdadeira, no exer- cionário público;
cício de função pública, firma ou letra que o não z Não admite a modalidade culposa;
seja: z Admite a forma tentada;
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o z É crime de ação múltipla, que pode se configurar
documento é público; e de um a três anos, e multa, com a prática de quaisquer um dos verbos previs-
se o documento é particular. tos no tipo penal: atestar ou certificar;
z Para a configuração deste crime, exige-se que a
Este crime se configura com a prática da seguinte certificação ou o atestado se deem para as finali-
conduta típica: reconhecer, como verdadeira, no exer- dades previstas no tipo penal: habilitar alguém a
cício de função pública, firma ou letra que o não seja. obter cargo público; isentar de ônus ou de serviço
Entenda da seguinte forma: de caráter público, ou qualquer outra vantagem;
z Caso o crime tenha como finalidade a obtenção de
z Firma: assinatura; lucro (finalidade específica), será aplicada, além
378 z Letra: manuscrito daquele que assina. da pena privativa de liberdade, a pena de multa.
Falsidade Material de Atestado ou Certidão z Não admite a forma culposa — deve ser praticado
dolosamente;
Art. 301 [...] z Não exige fim especial de agir (dolo específico), sal-
§ 1º Falsificar, no todo ou em parte, atestado ou vo no caso de obtenção de lucro;
certidão, ou alterar o teor de certidão ou de atesta-
z Admite a tentativa;
do verdadeiro, para prova de fato ou circunstância
z Caso o médico pratique a conduta com finalidade
que habilite alguém a obter cargo público, isenção
de obter lucro (dolo específico), será aplicada a ele,
de ônus ou de serviço de caráter público, ou qual-
quer outra vantagem: além da pena privativa de liberdade, a pena de
Pena - detenção, de três meses a dois anos. multa;
§ 2º Se o crime é praticado com o fim de lucro, apli- z Exige-se que a conduta praticada pelo médico se
ca-se, além da pena privativa de liberdade, a de dê no exercício da função.
multa.

Ainda no § 1º, art. 301, do CP, temos um outro tipo Importante!


penal: Certidão ou Atestado Ideologicamente Falso.
Se o médico fornece o atestado no exercício de
Sobre este crime, é importante levar em conside-
função pública (médico que trabalha em hospital
ração o seguinte:
público — funcionário público), cometerá o crime
previsto no art. 301 (certidão ou atestado ideolo-
z É crime comum, que poderá ser praticado por
qualquer pessoa; gicamente falso).
Se o médico, funcionário público, aufere vanta-
„ O crime previsto no caput deste artigo é crime gem para emissão de atestado falso, será cons-
próprio (só pode ser praticado por funcionário tatado o crime de corrupção passiva, presente no
público autorizado a emitir atestados ou certi- capítulo “Crimes contra a Administração Públi-
dões), ao passo em que o crime do § 1º é crime ca”, do Código Penal.
comum.

z Só pode ser praticado dolosamente — não admite É importante ressaltar também que, caso o falso
a forma culposa; atestado médico seja destinado à pratica de outro cri-
me, tendo o médico ciência desta circunstância, será
„ É crime não transeunte (deixa vestígios mate- este responsabilizado como partícipe pelo crime mais
riais), ou seja, é necessária a comprovação da grave (princípio da consunção), restando absorvido o
materialidade do delito por meio de perícia; crime do art. 302.

z Admite a modalidade tentada; Reprodução ou Adulteração de Selo ou Peça


z É crime de ação múltipla, que pode ser pratica- Filatélica
do mediante a execução de quaisquer uma das
Art. 303 Reproduzir ou alterar selo ou peça filaté-
seguintes condutas:
lica que tenha valor para coleção, salvo quando a
reprodução ou a alteração está visivelmente anota-
„ Falsificar, no todo ou em parte, atestado ou
da na face ou no verso do selo ou peça:
certidão; Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
„ Alterar o teor de certidão ou atestado Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem,
verdadeiro.

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


para fins de comércio, faz uso do selo ou peça
filatélica.

Importante! O crime tipificado neste artigo foi tacitamente


Caso o crime tenha como finalidade a obtenção revogado pelo art. 39, da Lei nº 6.538, de 1978.
de lucro (finalidade específica), será aplicada,
também, a pena de multa. Uso de Documento Falso

Art. 304 Fazer uso de qualquer dos papéis falsifi-


Falsidade de Atestado Médico cados ou alterados, a que se referem os arts. 297
a 302:
Art. 302 Dar o médico, no exercício da sua profis- Pena - a cominada à falsificação ou à alteração.
são, atestado falso:
Pena - detenção, de um mês a um ano. Vamos recordar quais são os tipos penais previstos
Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim entre os arts. 297 e 302, do Código Penal:
de lucro, aplica-se também multa.
z Falsificação de documento público;
Este crime tem como figura típica a seguinte con- z Falsificação de documento particular e Falsifica-
duta: dar o médico, no exercício da sua profissão, ates- ção de cartão;
tado falso. z Falsidade ideológica;
Sobre este crime, é importante levar em consideração: z Falso reconhecimento de firma ou letra;
z Certidão ou atestado ideologicamente falso;
z É crime próprio, que só poderá ser praticado por z Falsidade material de atestado ou certidão;
médico; z Falsidade de atestado médico. 379
O uso de qualquer um dos documentos previstos expedidor do documento (unidade da federação que
acima configura o crime de uso de documento falso, o expediu), mas sim o órgão ou entidade ao qual foi
respondendo o agente com a mesma pena correspon- apresentado o documento.
dente à falsificação ou alteração. Caso o agente apresente o documento falso a um
Por exemplo, caso um agente seja surpreendido órgão ou entidade federais, a exemplo da Polícia Rodo-
utilizando um documento público falso, será respon- viária Federal e do INSS, a competência para processo
sabilizado com a pena de reclusão de dois a seis anos, e julgamento será da Justiça Federal. Se o documento
e multa, mesma pena aplicada ao crime de falsifica- falso for apresentado a órgão ou entidade estaduais, a
ção de documento público. Se o agente que fez uso do exemplo das polícias civis ou da SANEAGO, o processo
documento falso for o mesmo que o falsificou, ele será e julgamento será de competência da Justiça Estadual.
responsabilizado de que forma?
Segundo entendimento que predomina no STJ, Supressão de Documento
neste caso, deverá o agente responder apenas por fal-
sificação de documento público. Art. 305 Destruir, suprimir ou ocultar, em benefício
Assim, caso o agente falsifique e use o documento próprio ou de outrem, ou em prejuízo alheio, docu-
falso, deverá responder apenas por aquele. mento público ou particular verdadeiro, de que não
De acordo com o entendimento jurisprudencial do podia dispor:
STF e STJ, o crime de uso, quando cometido pelo pró- Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa, se o
prio agente que falsificou o documento, configura “post documento é público, e reclusão, de um a cinco
factum” não punível, vale dizer, é mero exaurimento anos, e multa, se o documento é particular.
do crime de falso. Há impossibilidade de condenação
pelo crime previsto no art. 304, do Código Penal.14 Trata-se de crime de ação múltipla, que poderá ser
Sobre este crime, é importante saber: praticado com a execução das seguintes condutas:

z Para caracterização deste crime, não basta o mero z Destruir, Suprimir e Ocultar: Documento públi-
porte do documento falso, exigindo-se que o agen- co ou particular verdadeiro, de que não podia dis-
te o use efetivamente, apresentando-o a alguém;
por, em benefício próprio ou de outrem, ou em
z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
prejuízo alheio.
quer pessoa;
z É crime formal;
A pena do crime será diferente, a depender da
z Não admite a modalidade culposa — só pode ser
natureza do documento destruído, suprimido ou
praticado dolosamente;
z Não exige fim especial de agir (dolo específico); ocultado.
z Caso o agente desconheça a falsidade do documen-
to e o utilize, não há que se falar na configuração z Documento público: Reclusão, de dois a seis
deste tipo penal, já que, como visto acima, o ele- anos, e multa;
mento subjetivo é somente o dolo; z Documento particular: Reclusão, de um a cinco
z Prevalece o entendimento de que não admite a anos, e multa.
modalidade tentada, já que se trata de crime unis-
subsistente, perfazendo-se mediante a execução Em relação aos tipos penais que apresentam penas
de um único ato (ou o agente usa o documento e como visto acima, você deve ter um cuidado redobra-
pratica o crime; ou o agente não usa o documento do ao analisar o tipo penal e possíveis questões de pro-
e o fato será atípico); va sobre o tema.
z Segundo o STJ, se o documento usado for grosseira- Sobre este crime, faz-se necessário ficar atento às
mente falsificado, perceptível aos olhos do homem seguintes informações:
comum, não irá se configurar o crime de uso de
documento falso. z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
quer agente;
A Súmula 522, do STJ, diz respeito ao uso de docu- z Não admite a modalidade culposa;
mento falso e o instituto da autodefesa. Vejamos: z É necessário que o agente pratique as condutas des-
critas no tipo penal em benefício próprio ou alheio
Súmula 522 (STJ) A conduta de atribuir-se falsa
ou em prejuízo alheio (finalidade específica);
identidade perante autoridade policial é típica, ain-
da que em situação de alegada autodefesa.
z Exige-se, para configuração deste tipo penal, que o
agente não possa dispor do documento público ou
A respeito da competência para processar e julgar particular;
o crime de uso de documento falso, vejamos: z Admite a tentativa.

Súmula 546 (STJ) A competência para processar OUTRAS FALSIDADES


e julgar o crime de uso de documento falso é fir-
mada em razão da entidade ou órgão ao qual foi Falsificação do Sinal Empregado no Contraste de
apresentado o documento público, não importando Metal Precioso ou na Fiscalização Alfandegária, ou
a qualificação do órgão expedidor. para Outros Fins

Assim, caso o agente utilize uma carteira de iden- Art. 306 Falsificar, fabricando-o ou alterando-o,
tidade falsa, não será relevante para fins de análise marca ou sinal empregado pelo poder público
de competência para processo e julgamento o órgão no contraste de metal precioso ou na fiscalização

380 14 (STF — AP 530 — Rel. Min. Rosa Weber — Rel. p/ Acórdão: Min. Roberto Barroso — 1ª Turma — julgado em 9-9-2014).
alfandegária, ou usar marca ou sinal dessa natu- preso e de que não se descubra a sua condição de pro-
reza, falsificado por outrem: curado, ao ser abordado por uma equipe policial, atri-
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. bui a si próprio o nome de Mévio, contra quem não
Parágrafo único. Se a marca ou sinal falsificado é o existe nenhuma medida judicial.
que usa a autoridade pública para o fim de fiscali- Vejamos: no exemplo acima, configurou-se o crime
zação sanitária, ou para autenticar ou encerrar de falsa identidade, já que o agente, com a finalidade
determinados objetos, ou comprovar o cumprimen-
de obter proveito próprio, atribuiu a si mesmo falsa
to de formalidade legal:
identidade.
Pena - reclusão ou detenção, de um a três anos, e
Mas o fato de Tício se atribuir falsa identidade
multa.
para evitar prisão não está de acordo com o princípio
do Direito Processual Penal, que permite que o indi-
Trata-se de crime de ação múltipla, que pode ser
víduo não seja compelido a produzir provas contra
praticado mediante a execução dos verbos:
si mesmo, podendo, inclusive, mentir? Caso ele seja
responsabilizado penalmente, não haveria violação
z Falsificar;
ao princípio da não autoincriminação?
z Usar.
Por muito tempo, este assunto foi divergente.
O entendimento que predomina atualmente é o de
Responderá o agente com uma pena mais branda,
que a responsabilização penal por falsa identidade,
podendo ser reclusão ou detenção, de um a três anos,
ainda que diante de situação de alegada autodefesa,
e multa, se a marca ou sinal falsificado é o que usa a
não viola o princípio da não autoincriminação, sendo,
autoridade pública para o fim de:
portanto, fato típico.
Importante:
z Fiscalização sanitária;
z Autenticar ou encerrar determinados objetos;
Súmula 522 (STJ) A conduta de atribuir-se falsa
z Comprovar o cumprimento de formalidade legais. identidade perante autoridade policial é típica, ain-
da que em situação de alegada autodefesa.
Sobre este crime, é importante levar as seguintes
informações para a sua prova: Sobre o crime de falsa identidade, é importante
que você leve em consideração:
z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
quer pessoa; z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
z Não admite a modalidade culposa — só pode ser quer pessoa;
praticado dolosamente; z Não admite a modalidade culposa — o elemento
z Não exige dolo específico; subjetivo exigido é sempre o dolo;
z Admite a forma tentada, salvo quando executado z Exige dolo específico: o agente deve praticar a con-
por meio verbo usar. duta com o fim de obter vantagem, em proveito
próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem;
Dica z Não admite tentativa. Parte da doutrina admite-a,
ainda que de difícil configuração, caso o crime seja
Falsificar, fabricando-o ou alterando-o, admite
praticado de forma escrita;
tentativa.
z É crime formal, que se consuma independente-
Usar não admite tentativa. mente de o agente conseguir obter a vantagem ou
efetivamente causar dano;
Falsa Identidade z Trata-se de crime subsidiário, respondendo o

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


agente por ele apenas se o fato não constituir ele-
Art. 307 Atribuir-se ou atribuir a terceiro fal- mento de crime mais grave;
sa identidade para obter vantagem, em proveito
próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, Dica
se o fato não constitui elemento de crime mais O crime de falsa identidade é subsidiário, e só
grave. será cabível quando o fato não constituir ele-
mento de crime mais grave. Desta feita, caso
Figura típica: atribuir-se, ou atribuir a terceiro, fal- o indivíduo, valendo-se da falsa identidade,
sa identidade para obter vantagem, em proveito pró- obtenha efetivamente a vantagem indevida em
prio ou alheio, ou para causar dano a outrem. prejuízo alheio, estará configurado o crime de
O crime pode ser praticado das seguintes formas: estelionato.

FALSA IDENTIDADE z Não se exige que o agente atribua a si ou a tercei-


ro nome de pessoa real, podendo ocorrer caso o
Atribuir-se Atribuir a Terceiro
nome seja inexistente.
O agente atribui a falsa O agente atribuiu falsa iden-
identidade a si próprio tidade a uma outra pessoa Uso de Documento de Identidade Alheia

Art. 308 Usar, como próprio, passaporte, título de


Neste crime, o agente se passa por uma outra eleitor, caderneta de reservista ou qualquer docu-
pessoa. Por exemplo, um indivíduo, chamado Tício, mento de identidade alheia ou ceder a outrem,
sabendo que se encontra, em seu desfavor, um man- para que dele se utilize, documento dessa nature-
dado de prisão em aberto, com a finalidade de não ser za, próprio ou de terceiro: 381
Pena - detenção, de quatro meses a dois anos, e DIFERENÇAS
multa, se o fato não constitui elemento de crime Falsa Identidade Fraude de Lei sobre Estrangeiro
mais grave.
Crime comum, Finalidade Crime próprio Finalidade
que pode ser específica: que só pode ser específica:
Este crime pode ser praticado das seguintes praticado obter vantagem praticado pelo entrar ou
por qualquer em proveito estrangeiro permanecer
formas: pessoa próprio ou no território
alheio, ou para nacional
z Quando o agente faz uso de documento de identi- causar dano a
outrem
ficação alheio;
z Quando o agente cede, para que outro utilize,
z Forma simples: Usar o estrangeiro, para entrar ou
documento de identificação próprio ou alheio.
permanecer no território nacional, nome que não
é o seu.
O tipo penal apresenta hipótese de interpretação ana-
lógica, já que exemplifica quais são os documentos de
„ Detenção, de um a três anos, e multa.
identidade, a exemplo do passaporte, título de eleitor e
caderneta de reservista (fórmulas casuísticas), e, por fim, z Forma qualificada: Atribuir a estrangeiro falsa
amplia as possibilidades ao utilizar a expressão “qual- qualidade para promover-lhe a entrada em terri-
quer documento de identidade (fórmula genérica)”. tório nacional.
Sobre este crime, é importante que você leve para
a sua prova o seguinte: „ Reclusão, de um a quatro anos, e multa.

z É crime comum, que pode ser praticado por qual- Sobre este crime, é importante que você leve em
quer indivíduo; consideração as seguintes informações:
z Para que o delito se configure, basta que o agente
atue com dolo, sendo desnecessário o fim especial z É crime próprio;
de agir; z Não admite a modalidade culposa — só poderá ser
z Não admite a modalidade culposa — só pode ser praticado dolosamente;
praticado dolosamente; z Exige finalidade especial de agir (dolo específico):
z Admite-se a modalidade tentada;
z É crime subsidiário, não respondendo o agente „ Forma simples: entrar ou permanecer no terri-
por ele se o fato constituir elemento de crime mais tório nacional;
grave. „ Forma qualificada: promover a entrada do
estrangeiro no território nacional.
Os crimes a seguir apresentam condutas bastante
parecidas. Cuidado para não as confundir: z Não admite a modalidade tentada;
z Caso o estrangeiro tente entrar ou permanecer no
território nacional utilizando-se de documento
FALSIFICAÇÃO
Conduta: falsificar, no todo ou em parte, docu- falso, irá responder pelo art. 304, do Código Penal
DE DOCUMENTO
mento público ou particular ou alterar documen-
PÚBLICO OU
to público ou particular verdadeiro
(uso de documento falso);
PARTICULAR z Caso pratique as duas condutas, irá responder
Conduta: fazer uso de qualquer dos papéis fal- pelos crimes em concurso.
USO DE DOCU- sificados ou alterados, a que se referem os arts.
MENTO FALSO 297 a 302 (incluindo documento público ou Falsidade em Prejuízo da Nacionalização da
particular)
Sociedade
Conduta: atribuir-se, ou atribuir a terceiro, falsa
FALSA
identidade para obter vantagem, em proveito Art. 310 Prestar-se a figurar como proprietário ou
IDENTIDADE
próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem
possuidor de ação, título ou valor pertencente a
Conduta: usar, como próprio, passaporte, título estrangeiro, nos casos em que a este é vedada por
USO DE DOCU- de eleitor, caderneta de reservista ou qualquer lei a propriedade ou a posse de tais bens:
MENTO DE IDEN- documento de identidade alheia ou ceder a ou- Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.
TIDADE ALHEIO trem, para que dele se utilize, documento dessa
natureza, próprio ou de terceiro
Este crime tipifica a conduta daquele que figura
como “laranja” de estrangeiro, que age como proprie-
Fraude de Lei Sobre Estrangeiro tário ou possuidor de valores, ações ou títulos que,
na verdade, pertencem a um estrangeiro, já que a lei
Art. 309 Usar o estrangeiro, para entrar ou perma- proíbe a este a propriedade ou a posse.
necer no território nacional, nome que não é o seu: Por exemplo, a Constituição Federal estabelece
Pena - detenção, de um a três anos, e multa. que a propriedade de empresa jornalística e de radio-
Parágrafo único. Atribuir a estrangeiro falsa qua- difusão sonora e de sons e imagens é privativa de bra-
lidade para promover-lhe a entrada em território sileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos,
nacional: não podendo o estrangeiro ser proprietário de uma
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. dessas empresas.
Suponha que Augusto, brasileiro nato, preste-se a
Trata-se de crime bastante parecido com o crime figurar como proprietário de empresa jornalística e
de falsa identidade, porém, com este não se confunde. de radiodifusão sonora e de sons e imagens, que, na
382 verdade, pertence a Alfred, estadunidense nato.
Vejamos, a conduta praticada por Augusto configu- DAS FRAUDES EM CERTAMES DE INTERESSE
ra o tipo penal previsto no art. 310, do CP, podendo ele PÚBLICO
ser incurso nas penas de detenção, de seis meses a três
anos, e multa. Fraudes em Certames de Interesse Público
Sobre o crime previsto no art. 310, é importante
levar em consideração: Art. 311-A Utilizar ou divulgar, indevidamente,
com o fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de com-
z É crime próprio, que só poderá ser praticado por prometer a credibilidade do certame, conteúdo sigi-
loso de:
brasileiro, seja nato ou naturalizado;
I - concurso público;
z Não admite a modalidade culposa — só pode ser
II - avaliação ou exame públicos;
praticado dolosamente;
III - processo seletivo para ingresso no ensino supe-
z Não exige fim especial de agir (dolo específico);
rior; ou
z É necessário que o agente saiba que a propriedade IV - exame ou processo seletivo previstos em lei:
ou posse dos bens seja proibida por lei ao estran- Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
geiro (lembre-se de que o crime não admite a for- § 1º Nas mesmas penas incorre quem permite ou
ma culposa); facilita, por qualquer meio, o acesso de pessoas não
z Admite tentativa. autorizadas às informações mencionadas no caput.
§ 2º Se da ação ou omissão resulta dano à adminis-
Adulteração de Sinal Identificador de Veículo tração pública:
Automotor Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
§ 3º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato é
Art. 311 Adulterar ou remarcar número de chassi cometido por funcionário público.
ou qualquer sinal identificador de veículo auto-
motor, de seu componente ou equipamento: Este tipo penal foi editado para proteger a lisura
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa. dos certames de interesse público.
§ 1º Se o agente comete o crime no exercício da fun- Este crime tem como figura típica a prática da
ção pública ou em razão dela, a pena é aumenta- seguinte conduta: utilizar ou divulgar, indevidamen-
da de um terço.
te, com o fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de
comprometer a credibilidade do certame, conteúdo
sigiloso de:
Importante!
Este crime apresenta uma causa de aumento de z Concurso público (segundo Sanches, instrumento
pena, ou seja, a pena será aumentada de um ter- de acesso a cargos e empregos públicos);
ço se o agente cometer o crime no exercício da z Avaliação ou exame públicos (segundo Sanches,
função pública ou em razão dela. abrange, por exemplo, os exames psicotécnicos);
z Processo seletivo para ingresso no ensino superior
(conforme Sanches, engloba vestibulares e outras
Art. 311 [...] formas de avaliação para ingresso no ensino supe-
§ 2º Incorre nas mesmas penas o funcionário rior, a exemplo do ENEM);
público que contribui para o licenciamento ou z Exame ou processo seletivo previstos em lei (con-
registro do veículo remarcado ou adulterado, forme ensina Rogério Sanches, a exemplo do exa-
fornecendo indevidamente material ou infor- me da OAB).
mação oficial.

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


Incorrerá nas mesmas penas (forma equiparada) o FRAUDES EM CERTAMES DE INTERESSE PÚBLICO
funcionário público que contribui para o licenciamen-
to ou registro do veículo remarcado ou adulterado, Conduta: utilizar ou divulgar, indevidamente, com o
fornecendo indevidamente material ou informação fim de beneficiar a si ou a outrem, ou comprometer a
oficial. credibilidade do certame, conteúdo sigiloso de :
Neste caso, trata-se de crime próprio, que só pode-
rá ser praticado pelo funcionário público. Processo Exame ou
Concurso Avaliação ou seletivo para processo
Sobre o crime de adulteração de sinal identifica-
público exame públicos ingresso no seletivo previsto
dor de veículos, fique atento ao seguinte: ensino superior em lei

z Em regra, é crime comum, que pode ser praticado


por qualquer pessoa; O crime de fraude em certames de interesse públi-
z O aumento de pena é aplicável no caso de ser pra- ca apresenta uma forma equiparada, uma forma
ticado por funcionário público no exercício da fun- qualificada e uma forma majorada (com aumento de
ção ou em razão dela e à forma equiparada, que pena):
constitui crime próprio;
z Trata-se de crime instantâneo; z Forma equiparada: incorre nas mesmas penas o
z Este crime não é permanente. Portanto, a sua con- agente que permite ou facilita, por qualquer meio,
duta não se prolonga no tempo; o acesso de pessoas não autorizadas às informa-
z Não admite a modalidade culposa — só será prati- ções sigilosas relacionadas a concurso público;
cado com dolo; avaliação ou exame públicos; processo seletivo
z Não exige dolo específico; para ingresso no ensino superior; ou exame ou
z Admite a modalidade tentada. processo seletivo previstos em lei; 383
z Forma qualificada: se da ação ou omissão resultar Os crimes praticados por funcionário público con-
dano à administração pública; tra a administração em geral são chamados de crimes
z Forma majorada: a pena será aumentada de 1/3 funcionais. Os crimes funcionais são aqueles prati-
(um terço) se o fato é cometido por funcionário cados contra a Administração Pública por indivíduo
público. que se encontra investido em uma função pública. São
divididos em funcionais próprios, ou puros, e funcio-
Sobre este crime, é importante ficar atento às nais impróprios, ou impuros.
seguintes informações: Os crimes funcionais próprios são aqueles que
serão atípicos caso não sejam praticados por funcio-
z Este crime se aplica a certames de interesse públi- nários públicos. Segundo a doutrina, neste caso, ocor-
co de maneira geral, e não apenas a concursos rerá uma hipótese de atipicidade absoluta.
públicos em sentido estrito; Os crimes funcionais impróprios são aqueles que
z É crime comum, que pode ser praticado por qual- serão desclassificados para outras infrações penais
quer pessoa. caso não sejam praticados por funcionários públicos.
Segundo a doutrina, neste caso, ocorrerá uma hipóte-
É comum acharem que se trata de crime próprio, se de atipicidade relativa.
que só pode ser praticado por funcionário público. Já a conduta que define o crime de peculato-furto,
Contudo, não é crime próprio. Na verdade, para este praticada por meio do verbo subtrair, será desclassi-
crime, a condição de funcionário público não é ele- ficada para o crime de furto, caso não seja praticada
mentar, constituindo, contudo, causa de aumento de por um funcionário público.
pena de 1/3 (um terço). O Código Penal, em seu art. 327, define o que é fun-
Vejamos os pontos importantes deste crime: cionário público. Vejamos:

z Não admite a modalidade culposa — só pode ser Art. 327 Considera-se funcionário público, para os
praticado dolosamente; efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou
z Exige fim especial de agir (dolo específico): fim de sem remuneração, exerce cargo, emprego ou fun-
beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer a ção pública.
§ 1º Equipara-se a funcionário público quem exerce
credibilidade do certame;
cargo, emprego ou função em entidade paraestatal,
z Trata-se de crime formal, que se consuma com a
e quem trabalha para empresa prestadora de ser-
mera divulgação ou utilização das informações
viço contratada ou conveniada para a execução de
sigilosas, ainda que o agente não consiga benefi- atividade típica da Administração Pública.
ciar a si ou a terceiro ou não consiga comprometer § 2º A pena será aumentada da terça parte quan-
a credibilidade do certame público; do os autores dos crimes previstos neste Capítu-
z Admite a forma tentada; lo forem ocupantes de cargos em comissão ou de
z Caso o agente promova a utilização ou divulgação função de direção ou assessoramento de órgão da
das informações sigilosas devidamente (com justa administração direta, sociedade de economia mis-
causa), não há que se falar na prática deste crime. ta, empresa pública ou fundação instituída pelo
poder público.
REFERÊNCIAS

CAPEZ, F. Curso de Direito Penal. Vol. 1, 19ª ed. Importante!


São Paulo: Saraiva, 2016.
Para o Direito Penal, funcionário público é aquele
CUNHA, R. S. Pacote Anticrimes — Lei 13.964, de
que, embora transitoriamente ou sem remunera-
2019: Comentários às Alterações no CP, CPP e LEP.
Salvador: Juspodium, 2020. ção, exerce cargo, emprego ou função pública.
GONÇALVES, V. E. R. Direito penal esquematiza- Como é possível de se observar, o conceito de
do: parte especial. 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 2016. funcionário público é bastante amplo. No § 1º,
JESUS, D. de. Código Penal Anotado. 22ª ed. São art. 327, o Código Penal equipara a funcionário
Paulo: Saraiva, 2017. público quem exerce cargo, emprego ou função
MASSON, C. Código Penal Comentado. 2ª ed. São em entidade paraestatal, e quem trabalha para
Paulo: Método, 2019. empresa prestadora de serviço contratada ou
conveniada para a execução de atividade típica
da Administração Pública.

CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO O art. 327, do CP, faz menção a cargo público,
PÚBLICA emprego público e função pública. Vamos distinguir:

CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIOS z Cargo público é o criado por lei, com nomencla-
PÚBLICOS CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL tura e número certo, junto à administração direta;
z Emprego público, por sua vez, é a função pública
Nos crimes contra a Administração Pública, o bem exercida em caráter temporário ou extraordinário
jurídico genericamente tutelado é a moralidade ou (por exemplo, diarista que presta serviço de faxi-
probidade administrativa. na em uma repartição pública). Assim, obtém-se
Tratam-se de crimes próprios, que exigem uma por exclusão o conceito de emprego público como
condição especial do sujeito ativo: ser funcionário sendo todo aquele que não se classifica como cargo
384 público. público;
z Função pública é toda e qualquer atividade que determinado, os agentes vão ao local e subtraem o
realiza os fins próprios do Estado (por exemplo, computador.
perito judicial, estagiário do Ministério Público ou No exemplo apresentado, tanto José quanto Jonas
da Defensoria Pública ou de qualquer outro órgão responderão pelo crime de peculato (vamos estudar
público, juiz de direito, Presidente da Repúbli- suas características a seguir), já que praticaram a con-
ca, Governador de Estado, escreventes, Prefeitos, duta em concurso de pessoas e a condição de caráter
vereadores, faxineiros do fórum etc.). pessoal (ser funcionário público) comunica-se aos
demais agentes (é necessário que eles conheçam a
Além dos dispositivos legais, é importante termos condição).
ciência de alguns julgados que estabelecem que são Vejamos agora cada um dos crimes funcionais:
considerados funcionários públicos para fins penais:
Peculato
z Diretor de organização social;15
z Administrador de Loteria;16 Art. 312 Apropriar-se o funcionário público de
z Advogados dativos;17 dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel,
z Médico de hospital particular credenciado/conve- público ou particular, de que tem a posse em
niado ao SUS;18 razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito pró-
z Estagiário de órgão ou entidade públicos;19 prio ou alheio:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
Nestes termos, não são considerados funcionários § 1º Aplica-se a mesma pena, se o funcionário públi-
públicos para fins penais os depositários judiciais.20 co, embora não tendo a posse do dinheiro, valor
No § 2º, do art. 327, o Código Penal apresenta uma ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja
causa de aumento de pena aplicável a todos os crimes subtraído, em proveito próprio ou alheio, valen-
praticados por funcionário público contra a adminis- do-se de facilidade que lhe proporciona a qua-
tração em geral. Observe: lidade de funcionário.
A pena será aumentada de 1/3 (terça parte) quan-
do os autores dos crimes praticados por funcionário O crime de peculato, previsto no art. 312, do CP, é
público contra a administração em geral forem ocu- dividido doutrinariamente da seguinte forma:
pantes de cargos em comissão ou de função de direção
ou assessoramento de órgão da administração direta, z Peculato próprio:
sociedade de economia mista, empresa pública ou fun-
dação instituída pelo poder público. „ Peculato-apropriação;
É importante saber que a pena não será aumen- „ Peculato-desvio.
tada caso o funcionário público ocupe cargo em
comissão ou função de direção ou assessoramento em z Peculato impróprio:
autarquias, por falta de previsão legal. Lembre-se de
que o nosso ordenamento jurídico não admite a ana- „ Peculato-furto.
logia para prejudicar o agente.
Não podemos deixar de tratar do concurso de pes- z Peculato culposo;
soas nos crimes funcionais. z Peculato mediante erro de outrem (peculato
Os crimes funcionais são crimes próprios, à medi-
estelionato).
da que o autor deve ser funcionário público e, em
regra, não podem serem praticados por qualquer pes-
O peculato-apropriação configurar-se-á quando
soa. Todavia, admitem a participação e a coautoria,

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


o funcionário público se apropriar de dinheiro, valor
bem como a autoria mediata.
ou qualquer outro bem móvel, público ou particular,
Os crimes funcionais são próprios, porém admi-
tem a coautoria de particular, sendo possível que este de que tem a posse em razão do cargo; por exemplo,
venha a ser responsabilizado por delito funcional vereador que se apropria de bens (aparelho de celu-
contra a Administração Pública, desde que pratique a lar, notebook) do qual tem posse em razão do cargo
infração penal em concurso com funcionário público (eletivo) que ocupa.
e que tenha conhecimento desta qualidade. É muito importante que você fique atento, em rela-
Isso é decorrente da teoria monista ou unitária da ção ao peculato-apropriação, ao seguinte:
ação, prevista nos arts. 29 e 30, do CP, segundo a qual
todo aquele que concorre para o crime responde para z Para que se configure, é necessário que o agente
o mesmo crime. tenha a posse do bem em razão do seu cargo;
Vamos exemplificar: José, funcionário público, z O bem pode ser público ou particular (imagine um
convida seu amigo de infância, Jonas, para juntos objeto particular — notebook — apreendido em
subtraírem um computador na repartição pública em uma delegacia de polícia);
que aquele trabalha. O funcionário público obteria z O sujeito passivo é a Administração Pública; con-
facilidades para praticar o crime, já que havia ficado tudo, no caso de bem particular, o dono do bem
com a chave da repartição naquele período. No dia também será sujeito passivo do delito.
15 STF. 1ª Turma. HC 138484/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 11/9/2018 (Info 915).
16 STJ. 5ª Turma. AREsp 679.651/RJ, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 11/09/2018.
17 STJ. 5ª Turma. HC 264.459- SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 10/3/2016 (Info 579).
18 STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1101423/RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 06/11/2012.
19 STJ. 6ª Turma. REsp 1303748/AC, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 25/06/2012.
20 STJ. 6ª Turma. HC 402949-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 13/03/2018 (Info 623). 385
O peculato-desvio ocorrerá quando o funcioná- O peculato-furto configurar-se-á quando o funcio-
rio público desviar, em proveito próprio ou alheio, nário público, embora não tendo a posse do dinhei-
dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, públi- ro, valor ou bem, subtrai-lo ou, concorre para que ele
co ou particular. O funcionário público dá destinação seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valen-
diversa ao bem que está sob sua responsabilidade; do-se de facilidade proporcionada pela qualidade de
esse desvio será necessariamente em proveito próprio funcionário.
ou alheio. O peculato-furto pode ser praticado de duas
Segundo posicionamento majoritário (apesar de formas:
algumas posições jurisprudenciais em sentido con-
trário), para que se configure o peculato-desvio, é z Subtraindo o dinheiro, valor ou bem;
necessário que o bem seja desviado para integrar o z Concorrendo para que seja subtraído o dinheiro,
patrimônio do próprio funcionário público ou de ter- valor ou bem.
ceiros, não se configurando o tipo penal caso ocorra
mero desvio de finalidade. É importante mencionar que:
Uma parte minoritária da doutrina defende que,
para que se configure o peculato-desvio, não é neces- z Para que se configure este crime, é necessário que
sária a intenção de assenhoramento (apoderar-se) por o funcionário público não tenha a posse da coisa;
parte do funcionário público, podendo se configurar z O primeiro é o verbo “subtrair”, que é o fato de o bem
com o mero uso irregular da coisa pública, em provei- ser arrebatado pelo próprio funcionário público;
to próprio ou alheio. z O segundo é o verbo “concorrer”, que significa
Com base no que foi exposto acima, é importante induzir, instigar ou auxiliar uma outra pessoa a
mencionar que o peculato de uso, em regra, é conside- realizar a subtração (por exemplo, o funcionário
rado figura atípica. público distrai os demais para que o seu amigo,
Segundo Cleber Masson, o uso momentâneo de coi- que é ladrão, ingresse na repartição para surru-
sa infungível, sem a intenção de incorporá-la ao patri- piar os bens);
mônio pessoal ou de terceiro, seguido da sua integral z Para que se configure o peculato-furto, é necessá-
restituição a quem de direito, é atípico. rio que o ato seja doloso;
É necessário sabermos o que significa infungível. z A qualidade de funcionário público deve acarretar
O art. 85, do CC, dispõe que são fungíveis os móveis alguma facilidade para a subtração da coisa. Caso
que podem substituir-se por outros da mesma espécie, não haja facilidade, o agente responderá por furto
qualidade e quantidade. normalmente.
O Código Civil não define os bens infungíveis,
mas podemos compreender que são os bens que não Vamos trazer dois exemplos:
podem ser substituídos por outros da mesma espécie, Exemplo 1: Carlos é funcionário público. Certo
dia, na hora de sair, valendo-se do fato de estar sozi-
quantidade e qualidade.
nho na repartição, Carlos subtrai um notebook do
É importante mencionar que é necessário, para
órgão público. Está certamente configurado o crime
que não seja típica a conduta do peculato de uso, que
de peculato-furto, já que a condição de funcionário
o bem seja infungível e não consumível, a exemplo de
público de Carlos foi uma facilidade para que ele sub-
um carro oficial ou de um computador.
traísse o bem.
Caso o bem seja fungível e consumível, a exemplo
Exemplo 2: Michele é funcionária pública de Tri-
do dinheiro, a conduta será típica.
bunal Federal. Certo dia, ao passar em frente a uma
Se a conduta relacionada ao peculato de uso for
escola que se encontra próxima a sua casa, Michele
praticada por Prefeito, o fato será típico, independen-
percebe que o vigilante esqueceu a porta dos fundos
temente da natureza do bem, por expressa previsão
aberta, estando próximo um aparelho celular da esco-
legal no inciso II, art. 1º, do Decreto-Lei nº 201, de 1967.
la. Michele entra pela porta e subtrai o aparelho. Não
há que se falar em peculato-furto, já que a qualidade
de funcionária pública de Michele em nada contri-
Importante! buiu para a prática da subtração, podendo qualquer
O administrador que desconta valores da folha pessoa, na mesma situação, praticar a conduta deli-
de pagamento dos servidores públicos para tuosa apresentada pelo exemplo. Michele responderá
quitação de empréstimo consignado e não os pelo crime de furto.
repassa à instituição financeira pratica pecula- Observe que:
to-desvio, sendo desnecessária a demonstra-
z Admite a modalidade tentada, já que se trata de
ção de obtenção de proveito próprio ou alheio,
crime plurissubsistente (atos múltiplos, ou seja, o
bastando a mera vontade de realizar o núcleo
autor entra no local, o autor subtrai a coisa);
do tipo.21 Deste modo, podemos constatar que z O bem subtraído pode ser público ou particular;
basta a destinação diversa daquela que deveria z O sujeito passivo é a administração pública. Caso
ter o bem para que se consume o crime de pecu- o bem seja particular, também será sujeito passivo
lato-desvio. A obtenção de vantagem indevida é da infração penal o dono do bem;
mero exaurimento do crime. Trata-se de crime z É crime material.
formal.

21 APn 814-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Rel. Acd. Min. João Otávio de Noronha, Corte Especial, por maioria, julgado em 06/11/2019,
386 DJe 04/02/2020.
Peculato Culposo O peculato mediante erro de outrem está previs-
to no art. 313, do CP, configurando-se quando o funcio-
Art. 312 […] nário público se apropriar de dinheiro ou qualquer
§ 2º Se o funcionário concorre culposamente utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro
para o crime de outrem: de outrem.
Pena - detenção, de três meses a um ano. Parte da doutrina chama esta modalidade de
peculato-estelionato.
O peculato culposo, previsto no § 2º, art. 312, con- Sujeito ativo é o funcionário público que, por erro
figura-se quando o funcionário público concorre cul- de outrem, toma posse de um bem móvel, em razão
posamente para o crime de outrem. da função, apropriando-se do mesmo. O terceiro que
Dos crimes praticados por funcionário público induz o funcionário a apropriar-se do bem que rece-
contra a administração em geral, o peculato é o úni- beu por erro será partícipe deste delito de peculato
co que prevê expressamente a possibilidade de ser mediante erro.
cometido na modalidade culposa. O elemento subjetivo do tipo é o dolo subsequente,
isto é, posterior ao recebimento da coisa.
No peculato culposo, o funcionário público não
Em um primeiro momento, o funcionário público
tem intenção em praticar o crime, contudo, por culpa,
toma posse do bem de boa-fé, sem constatar o erro
acaba concorrendo para a subtração da coisa. alheio, mas, posteriormente, após detectar o erro,
Neste sentido, Damásio ensina que no peculato apropria-se da coisa.
culposo podem ocorrer as seguintes situações: É importante levar em consideração as seguintes
características do crime de peculato mediante erro de
z Um funcionário, por culpa, concorre para que outrem:
outro funcionário cometa peculato (caput ou § 1º);
z Um funcionário, por culpa, concorre para que z É crime material, que se consuma quando o agen-
outro funcionário ou um particular cometam o te inverte a propriedade do dinheiro ou outra uti-
fato; lidade, sabendo que eles chegaram ao seu poder
z Um funcionário, por culpa, concorre para que um por erro de outra pessoa, passando a agir como se
particular cometa o fato (furto etc.). dono fosse;
z Segundo a doutrina majoritária, admite a modali-
Vejamos: José, agente de polícia legislativa, esque- dade tentada;
ce, por omissão, já que queria assistir a um jogo de z O funcionário público deve receber a coisa em
razão do cargo que exerce;
futebol, de trancar uma porta da Câmara Legislativa
z O sujeito passivo é a Administração Pública. Caso
do Distrito Federal, ao qual somente ele tem acesso.
o bem seja particular, também será sujeito passivo
No ambiente em que a porta se encontra, há vários o dono do bem;
objetos de valor considerável para o Poder Legislativo z Parte da doutrina entende que se a pessoa for
distrital. Simba, também policial legislativo, aprovei- induzida a erro, configurar-se-á o crime de estelio-
tando-se do fato de a porta estar aberta, ingressa no nato, previsto no art. 171, do CP, sendo necessário,
local e subtrai uma câmera fotográfica. para caracterização do crime de peculato median-
Neste exemplo, José poderá ser responsabiliza- te erro de outrem, que a vítima entregue a coisa
do criminalmente pelo crime de peculato culposo, já por erro próprio.
que concorreu culposamente para o crime de outrem
(peculato-furto de Simba). O agente foi omisso ao dei- Inserção de Dados Falsos em Sistemas de
xar de trancar a porta, fator que contribuiu para a Informação

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


prática da subtração.
O crime de inserção de dados falsos em sistemas
Art. 312 […] de informação está previsto no art. 313-A, do CP:
§ 3º No caso do parágrafo anterior, a reparação do
dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a Art. 313-A Inserir ou facilitar, o funcionário autori-
punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a zado, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir
pena imposta. indevidamente dados corretos nos sistemas infor-
matizados ou bancos de dados da Administração
Pública com o fim de obter vantagem indevida para
Sobre o peculato culposo, é importante saber que o si ou para outrem ou para causar dano:
§ 3º, do art. 312, do CP, dispõe que: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e
multa.
z Se a reparação do dano resultante do peculato cul-
poso ocorrer antes de a sentença transitar em jul- Dica
gado, extingue a punibilidade;
z Se a reparação do dano resultante do peculato cul- “Inserção de dados falsos em sistemas de
poso ocorrer após a sentença transitar em julgado, informação” é também chamado de peculato
a pena será reduzida da metade. eletrônico.

Art. 313 Apropriar-se de dinheiro ou qualquer uti- Sujeito ativo é apenas o funcionário público auto-
lidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro rizado a inserir ou excluir dados do sistema. Outros
de outrem: funcionários que não dispõem desta competência res-
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. pondem pelo crime do art. 313-B, do CP. Trata-se de
crime próprio.
387
A fraude no sistema informatizado ou em bancos Trata-se de crime próprio, sendo praticado somen-
de dados pelo funcionário competente, para obter te por funcionário público, qualquer que seja a sua
vantagem para si ou para outrem, caracteriza o delito função, estando autorizado ou não a manipular sis-
em análise, sendo que o estelionato, por ser um crime temas de informações ou programas de informática.
menos grave, é absorvido. A consumação deste crime se dá com a modifica-
Para que este crime se configure, é necessário que ção ou alteração não autorizada do sistema. Não é
as condutas descritas no tipo penal sejam praticadas necessário um especial fim de agir.
por funcionário público autorizado a operar os siste- Caso o funcionário público seja autorizado ou pra-
mas informatizados ou bancos de dados da Adminis- tique a conduta por solicitação da autoridade compe-
tração Pública. tente, o fato será atípico.
Trata-se de crime plurinuclear, já que o tipo penal A pena deste crime será aumentada de 1/3 (um
descreve vários verbos que podem ser praticados terço) até metade caso da modificação ou alteração
para a sua configuração. resulte dano para a Administração Pública ou para o
Condutas: administrado.
Fique atento às diferenças entre os tipos penais
z Inserir dados falsos; do crime de inserção de dados falsos em sistemas de
informação e do crime de modificação ou alteração
z Facilitar a inserção de dados falsos;
não autorizada de sistemas de informação:
z Alterar dados corretos;
z Excluir indevidamente dados corretos.
MODIFICAÇÃO OU AL-
INSERÇÃO DE DADOS
É necessário, para a tipificação do delito, que as TERAÇÃO NÃO AUTO-
FALSOS EM SISTEMAS
condutas acima sejam realizadas em sistema informa- RIZADA DE SISTEMAS
DE INFORMAÇÃO
tizado (computador) ou bancos de dados (fichários, DE INFORMAÇÃO
livros ou outro meio físico) da Administração Pública. Verbos: Inserir, facilitar a Verbos: modificar ou alterar
Objeto material: inserção, alterar, excluir Se praticado por funcio-
indevidamente nário autorizado, será fato
z Sistemas informatizados ou bancos de dados da Deve ser praticado por atípico
Administração Pública funcionário autorizado Não exige dolo específico
Exige dolo específico de
Finalidade (dolo específico): obter vantagem indevida
ou de causar dano
z Obter vantagem indevida para si ou para outrem;
z Causar dano.
Extravio, Sonegação ou Inutilização de Livro ou
Documento
O elemento subjetivo do tipo é o dolo específico,
que consiste no fim de obter vantagem indevida para Está previsto no art. 314, do Código Penal.
si ou para outrem ou causar dano à Administração
Pública ou a uma terceira pessoa. Art. 314 Extraviar livro oficial ou qualquer docu-
Sem esta finalidade de obter vantagem ou causar mento, de que tem a guarda em razão do cargo;
dano, haverá o crime do art. 313-B, do CP. sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente:
O crime consuma-se com a conduta, independen- Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não
temente do resultado. Trata-se de crime formal, que constitui crime mais grave.
se caracteriza ainda que a vantagem ou o dano alme-
jado não se verifique. Os núcleos do tipo são os verbos extraviar (fazer
Admite-se a tentativa na hipótese de o agente ser desaparecer), sonegar (não apresentar) e inutilizar
surpreendido antes de ultimar a conduta, por exem- (tornar imprestável).
plo, agente é flagrado quando iniciava a supressão dos Sobre este crime, é importante que você saiba:
dados corretos.
z Trata-se de crime subsidiário (o crime fica absorvi-
Modificação ou Alteração Não Autorizada de do quando o fato constitui crime mais grave), res-
Sistemas de Informação pondendo por ele, o funcionário público, apenas se
não se configurar crime mais grave;
O crime de modificação ou alteração não autori- z Não admite a modalidade culposa;
zada de sistemas de informação está previsto no art. z Admite tentativa;
313-B, do Código Penal. z O extravio, a sonegação e inutilização podem ser
parciais ou totais.
Art. 313-B Modificar ou alterar, o funcionário,
sistema de informações ou programa de infor- Sujeito ativo é apenas o funcionário público res-
mática sem autorização ou solicitação de autori- ponsável pela guarda do livro oficial ou documen-
dade competente: to. Se a conduta for praticada por outro funcionário
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, público, o crime será o previsto no art. 337, do CP. Caso
e multa. seja praticado por advogado ou procurador, que inu-
Parágrafo único. As penas são aumentadas de tiliza documento ou objeto do processo, o enquadra-
um terço até a metade se da modificação ou altera- mento será no art. 356, do CP.
ção resulta dano para a Administração Públi- O delito em estudo é subsidiário, pois só será apli-
388 ca ou para o administrado. cado se não houver outro crime mais grave.
Assim, o funcionário público que recebe dinheiro qualquer represália por parte do funcionário público,
para destruir livro ou documento responderá apenas pode ou não pagar a vantagem indevida.
pelo crime de corrupção passiva, que é mais grave. Vamos exemplificar: funcionário público, agen-
Por fim, quando se tratar de livros ou documentos te de trânsito, exige de particular a quantia de R$
relativos a tributos, o funcionário que tinha a guar- 2.000,00 para que libere o seu veículo, sob pena de
da e praticou uma das condutas acima responderá levá-lo indevidamente ao pátio do Detran.
pelo crime do inciso I, art. 3º, da Lei nº 8.137, de 1990, A vantagem indevida, segundo posicionamento
quando o fato acarretar pagamento indevido ou ine- majoritário, não necessita ser patrimonial, podendo
xato de tributo. ser qualquer outra vantagem.
É importante mencionar que a concussão ocorrerá
Emprego Irregular de Verbas ou Rendas Públicas em razão da função do agente público, não se exigindo
que o fato seja praticado no efetivo desempenho das
Art. 315 Dar às verbas ou rendas públicas aplica- atribuições do cargo. Sendo assim, este crime pode ser
ção diversa da estabelecida em lei: cometido por funcionário público de férias e, segundo
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. a doutrina dominante, nomeado, mas não empossado
(antes de assumir).
Este crime não se aplica ao Prefeito Municipal, res- A violência ou grave ameaça (morte, prisão) não
pondendo este pelo crime previsto em lei específica, o são elementos integrantes do crime de concussão.
Decreto nº 201, de 1967. Se o funcionário público exigir o pagamento de
Exige que o emprego irregular aconteça em bene- vantagem indevida, mediante violência ou grave
fício da própria Administração Pública, contrariando ameaça, estará cometendo o crime de extorsão, pre-
a legislação, não podendo o agente desviar as verbas visto no art. 158, do Código Penal.
ou rendas em benefício próprio, sob pena de respon- Sobre a concussão, é importante que você conheça
der por outro crime. as seguintes informações, frequentemente cobradas
Vamos exemplificar: a Câmara Legislativa do em prova:
Município XYZ aprova a utilização de um milhão de
reais para construção de uma passarela. A autoridade z Não pode ser praticada na modalidade culposa;
pública competente utiliza a verba mencionada para z Trata-se de crime formal, que se consuma com a
a construção de uma escola. prática da exigência, sendo o recebimento da van-
Pronto, configurou-se o crime de emprego irregu- tagem mero exaurimento do crime;
lar de verbas ou rendas públicas. O agente deu às ver- z O particular, de quem se exigiu a vantagem inde-
bas públicas destinação diversa daquela estabelecida vida, é sujeito passivo secundário deste crime. A
em lei. Administração Pública é o sujeito passivo primário;
Observe que a destinação da verba ocorreu no inte- z Em regra, não admite a tentativa, salvo quando
resse da administração, já que, caso se dê em benefí- for possível fracionar o iter criminis, a exemplo da
cio próprio, o agente responderá por outro crime. concussão praticada mediante carta endereçada à
É importante mencionar a aplicação da excludente vítima;
de ilicitude do estado de necessidade: caso o empre- z É possível praticar a concussão indiretamente,
go se dê devido a uma situação de perigo iminente quando, por exemplo, o funcionário público exi-
(utilizou-se verba pública destinada ao esporte para ge a vantagem indevida por intermédio de outra
se construir um abrigo durante perigo de chuvas que pessoa.
desabrigaram grande parte da população), o fato será
típico, mas não será antijurídico. É importante diferenciar concussão e corrupção

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


Sobre o emprego irregular de verbas ou rendas passiva:
públicas, é importante mencionar:
Tem no núcleo do tipo o verbo “exi-
z Este crime será praticado pelo funcionário público gir” — há um caráter intimidativo na
CONCUSSÃO
que tem poder de decisão sobre as verbas ou ren- conduta
das públicas, podendo delas dispor; O ato de exigir é algo impositivo
z Não exige nenhum fim específico;
Tem os verbos “solicitar ou receber,
z Não admite a modalidade culposa;
ou aceitar”
z Admite a tentativa; Solicitar é pedir, o que, portanto, não
z Não exige a ocorrência de dano pela Administra- CORRUPÇÃO pressupõe intimidação
ção Pública para a sua configuração. PASSIVA Receber e aceitar pressupõem uma
conduta ativa do particular, ou seja,
Concussão além de não ocorrer intimidação, há
uma conduta inicial do terceiro
Art. 316 Exigir, para si ou para outrem, direta
ou indiretamente, ainda que fora da função ou
antes de assumi-la, mas em razão dela, vanta- Excesso de Exação
gem indevida:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. O excesso de exação, previsto no § 1º, art. 316, do
CP, é uma forma de concussão. Configura-se quando
No crime de concussão, o funcionário público, o funcionário público exige tributo ou contribuição
valendo-se de sua autoridade, exige (conduta mais social, que sabe ou deveria saber indevido, ou, quan-
forte do que apenas pedir) o pagamento de vanta- do devido, emprega na cobrança meio vexatório ou
gem não devida pela pessoa. O particular, por temer gravoso, que a lei não autoriza. 389
Art. 316 [...] Se o funcionário desviar, em proveito próprio ou
§ 1º Se o funcionário exige tributo ou contribui- de outrem, o que recebeu indevidamente para reco-
ção social que sabe ou deveria saber indevido, lher aos cofres públicos, responderá por excesso de
ou, quando devido, emprega na cobrança meio exação na modalidade qualificada.
vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza: Quando observamos a forma qualificada do exces-
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. so de exação, é possível compreender que o tipo penal
não exige que o funcionário público tenha a intenção
Exação significa correção, exatidão. de ficar para si ou para outro aquilo que recebeu. Caso
o faça, responderá pelo crime na forma qualificada.
Na concussão propriamente dita, exige-se que o fun-
Importante! cionário público pratique a conduta visando obter a
São duas as formas de cometer este delito: vantagem indevida para si ou para outrem, constituin-
do-se, assim, elemento de distinção entre os tipos penais.
� Exigência indevida de tributo ou contribuição
social;
Corrupção Passiva
� Cobrança devida de tributo ou contribuição
social, mas de forma vexatória ou gravosa. Art. 317 Solicitar ou receber, para si ou para
outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora
da função ou antes de assumi-la, mas em razão
O núcleo do tipo é o verbo exigir que, diferente-
dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa
mente do crime de concussão, não significa uma de tal vantagem:
ameaça, mas sim a simples cobrança indevida. Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e
A cobrança é indevida quando o tributo ou a con- multa.
tribuição social não existe ou então já foi pago, bem
como na hipótese em que a cobrança é excessiva, em A corrupção passiva, prevista no art. 317, do Códi-
valor maior que o devido. go Penal, configurar-se-á quando o funcionário públi-
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, que consiste co solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta
no fato de o agente ter consciência, ou dúvida, de que ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes
se trata de uma cobrança indevida. de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida,
Na segunda modalidade criminosa, cobrança ou aceitar promessa de tal vantagem.
vexatória ou gravosa, o tributo ou contribuição social A doutrina classifica a corrupção passiva em pró-
é devido. O problema reside no “modus operandi” da pria ou imprópria, antecedente ou subsequente:
cobrança, que é feita de forma vexatória, humilhante,
ou gravosa, vale dizer, com a imposição de medidas z Própria: Quando o funcionário público pratica os
totalmente desnecessárias. verbos do tipo penal para praticar ato ilícito (por
Neste caso, o crime consuma-se com a simples exemplo, oficial de justiça recebe dinheiro para
cobrança vexatória ou gravosa, independentemente retardar o cumprimento do mandado de citação);
do recebimento. z Imprópria: Quando o funcionário público pratica
Admite-se a tentativa quando a cobrança vexató- os verbos do tipo penal para praticar ato lícito (por
ria ou gravosa é realizada por escrito, mas, por cir- exemplo, escrevente solicita dinheiro para que a
cunstâncias alheias à vontade do agente, é descoberta certidão seja expedida dentro do prazo);
antes que a vítima tomasse conhecimento. z Antecedente: Quando a vantagem indevida é
Vejamos: José, funcionário público da prefeitu- entregue ao funcionário público antes de sua ação
ra do Município de Simplicidade, sabendo que seu ou omissão (por exemplo, juiz recebe vantagem
vizinho, Márcio, deve dez mil reais em tributo, para indevida para prolatar sentença absolutória);
cobrá-lo, coloca uma faixa enorme na entrada da rua, z Subsequente: Quando a vantagem indevida é
com a seguinte frase escrita: “Márcio, deixe de ser entregue ao funcionário público depois de sua
irresponsável e pague os dez mil reais que você deve ação ou omissão (por exemplo, após retardar o
de tributo à prefeitura”. processo até levá-lo à prescrição, o juiz solicita
No exemplo, José cobrou imposto devido, fazendo vantagem indevida ao réu).
uso de meio vexatório, não autorizado por lei, confi-
gurando-se, assim, o excesso de exação. Observe que a corrupção passiva pode ser direita
Sobre o excesso de exação, é importante ou indireta:
mencionar:
z Direta: quando é o próprio funcionário público
z Não admite a modalidade culposa, pois a expres- que solicita, recebe ou aceita promessa de vanta-
são “que sabe” é dolo direto, e a expressão “devia gem indevida;
saber” é dolo eventual; z Indireta: quando uma interposta pessoa, em con-
z Admite a tentativa quando for possível fracionar o luio com o funcionário público, solicita, recebe
iter criminis, a exemplo do excesso de exação prati- ou aceita promessa de vantagem indevida. Nesse
cado mediante carta endereçada à vítima. caso, tanto o “testa de ferro” quanto o funcionário
público responderão por corrupção passiva.
Art. 316 […]
§ 2º Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou Entende a doutrina majoritária que o mero presen-
de outrem, o que recebeu indevidamente para reco- te recebido pelo funcionário público, por gratidão ou
lher aos cofres públicos: amizade (por exemplo, uma lembrancinha de natal)
390 Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. não configura o crime de corrupção passiva.
A vantagem indevida, segundo posicionamento Importante!
majoritário, não necessita ser patrimonial, podendo Não seja surpreendido por pegadinhas em pro-
ser qualquer outra vantagem. va: a corrupção passiva e a concussão diferen-
Sobre a corrupção passiva, leve em consideração ciam-se nos verbos que configuram o tipo penal
que: incriminador.
� Corrupção passiva: solicitar, receber ou aceitar
z Não pode ser praticada na modalidade culposa; promessa;
z Trata-se de crime formal, quando praticada por � Concussão: exigir.
meio dos verbos solicitar e aceitar promessa, que
se consuma com a conduta, sendo o efetivo recebi-
Facilitação de Contrabando ou Descaminho
mento da vantagem mero exaurimento do crime.
Quando praticada por meio do verbo receber, é O crime de facilitação de contrabando ou descami-
crime material, que exige o efetivo recebimento nho está previsto no art. 318, do CP.
para se consumar (§ 2º, art. 317, do CP);
z Em regra, não admite a tentativa, salvo quando Art. 318 Facilitar, com infração de dever funcio-
nal, a prática de contrabando ou descaminho
for possível fracionar o iter criminis, a exemplo da
(art. 334):
corrupção passiva praticada mediante emprego de Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.
carta;
z É possível praticar a corrupção passiva indireta- Configurar-se-á quando o funcionário público faci-
mente, quando, por exemplo, o funcionário públi- litar, com infração de dever funcional, a prática de
co exige a vantagem indevida por meio de outra contrabando ou descaminho.
pessoa. Contrabando é a exportação ou a importação do
território nacional de uma mercadoria proibida.
É importante realizar um breve paralelo com o cri- Descaminho é a exportação ou importação do terri-
me de corrupção ativa, que será estudado no tópico tório nacional de uma mercadoria lícita, mas median-
dos crimes cometidos por particulares contra a admi- te sonegação dos direitos ou impostos devidos.
nistração em geral, que é aquela em que o particular O núcleo do tipo é o verbo facilitar, que significa
oferece ou promete vantagem indevida a funcionário viabilizar, tornar mais simples o contrabando ou des-
público. caminho. O elemento subjetivo é o dolo que pode ser
Atenção! Na corrupção passiva, o particular que direto ou eventual. Relembrando:
paga a vantagem indevida solicitada pelo funcio-
z Dolo direto (determinado): ocorre quando o agen-
nário público não pratica crime algum, por falta de
te prevê determinado resultado, dirigindo sua con-
tipicidade penal.
duta na busca de realizar esse mesmo resultado;
O crime de corrupção, seja ativa ou passiva, é uni-
z Dolo eventual: o agente prevê pluralidade de
lateral e formal — são independentes em si. A com- resultados, porém dirige sua conduta na realiza-
provação de um dos crimes não pressupõe a do ção de um deles. Quer um resultado, mas aceita o
outro. outro resultado.
A corrupção passiva possui uma forma privilegiada.
Observa-se que o crime se consuma com a primei-
Art. 317 […] ra conduta que facilita o contrabando ou descaminho,
§ 2º Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou ainda que não haja efetivamente a entrada ou saída

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


retarda ato de ofício, com infração de dever funcio- da mercadoria do território nacional.
nal, cedendo a pedido ou influência de outrem: Trata-se de crime formal, pois se consuma com a
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. conduta, independentemente da ocorrência do con-
trabando ou descaminho.
Observe que na corrupção passiva privilegiada Admite-se a tentativa quando o agente se empenha
o agente pratica a conduta não com a finalidade de para realizar a conduta de facilitar o contrabando ou
conseguir alguma vantagem indevida, mas sim com descaminho, mas é surpreendido antes de concluí-la.
a finalidade de ceder a pedido ou influência de outro. É possível extrair da leitura do tipo penal que o cri-
Trata-se de crime material e consuma-se quando me será praticado pelo funcionário público que tem o
o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda o dever funcional de evitar a prática dos crimes de con-
ato de ofício. trabando e descaminho.
A doutrina dominante entende que, caso o funcio-
Por outro lado, a pena da corrupção passiva será
nário público não tenha o dever funcional de evitar
aumentada de 1/3 (um terço) se, em consequência
a prática do contrabando ou descaminho, responderá
da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou
como partícipe do crime de contrabando ou do crime
deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica de descaminho.
infringindo dever funcional. Sobre este crime, é pertinente saber:

Art. 317 […] z Pode ser praticado de forma comissiva (quando o


§ 1º A pena é aumentada de um terço, se, em con- funcionário indica uma forma de o contrabandista
sequência da vantagem ou promessa, o funcionário desviar-se da fiscalização), ou omissiva (quando o
retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício funcionário, ciente de que há produto de descami-
ou o pratica infringindo dever funcional. nho em um compartimento, não o inspeciona, libe-
rando as mercadorias); 391
z Não admite a modalidade culposa;
z É crime formal, que se consuma com a facilitação, independente ou não de o agente conseguir praticar o con-
trabando ou o descaminho;
z Admite a tentativa somente na forma comissiva, quando o funcionário público indica o método de se desviar
da fiscalização, mas outro servidor impede o desvio;
z A competência é da Justiça Federal.

Prevaricação

Art. 319 Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei,
para satisfazer interesse ou sentimento pessoal:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

O crime de prevaricação é dividido em:

z Própria: prevista no art. 319, do Código Penal;


z Imprópria: prevista no art. 319-A, do Código Penal.

A prevaricação própria configurar-se-á quando o funcionário público retardar ou deixar de praticar, inde-
vidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento
pessoal.
O crime em estudo não se confunde com a corrupção passiva privilegiada, em que o agente age ou deixa de
agir cedendo a pedido ou influência de outrem.
Na prevaricação não existe esse pedido ou influência. O agente toma a iniciativa de agir ou se omitir para satis-
fazer interesse ou sentimento pessoal. Assim, se um fiscal flagra um desconhecido cometendo irregularidade e
deixa de autuá-lo em razão de insistentes pedidos deste, há corrupção passiva privilegiada, mas, se o fiscal deixa de
autuar porque percebe que a pessoa é um antigo amigo, configura-se a prevaricação.
A prevaricação poderá ser praticada de três formas diferentes:

z Retardar indevidamente a prática de ato de ofício;


z Deixar de praticar indevidamente ato de ofício;
z Praticar ato de ofício contra disposição expressa de lei.

O crime de prevaricação exige um fim específico de agir: satisfazer interesse ou sentimento pessoal. Não con-
fundir com o crime de corrupção passiva privilegiada (estudado anteriormente). Vejamos a tabela a seguir para
facilitar seu entendimento:

CORRUPÇÃO PASSIVA PRIVILEGIADA PREVARICAÇÃO

Praticar, deixar de praticar ou retardar ato de


Retardar ou deixar de praticar ato de ofício
ofício

Para satisfazer interesse ou sentimento pessoal (não há atuação


Cedendo a pedido ou influência de outrem
de terceiro)

Você pode entender interesse ou sentimento pessoal de diversas formas: vingança, compaixão, ódio, amizade,
preguiça, entre outros.

Dica
Sobre a prevaricação, leve para a sua prova:
� Não admite a forma culposa;
� Pode ser praticado de forma omissiva (retardar ou deixar de praticar) ou comissiva (praticar);
� Admite tentativa apenas quando praticado de forma comissiva.
Tentativa na prevaricação:
� Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício: não admite tentativa;
� Praticar ato de ofício contra disposição expressa de lei: admite tentativa.

Art. 319-A Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar ao preso o
acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o
ambiente externo:
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

A prevaricação imprópria configurar-se-á quando o diretor de penitenciária e/ou agente público deixar de cumprir
seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros
presos ou com o ambiente externo.
Trata-se de crime próprio, só podendo ser praticado pelo diretor de penitenciária ou pelo funcionário público
que tem o dever funcional de impedir que o preso tenha acesso a aparelho de comunicação com outros presos ou
392 com o ambiente externo.
Sobre a prevaricação imprópria, é importante ressaltar:

z Não admite a forma culposa;


z Não admite tentativa.

Condescendência Criminosa

A condescendência criminosa está prevista no art. 320, do Código Penal:

Art. 320 Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração no exer-
cício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.

Este crime pode ser praticado de duas formas:

z Quando o funcionário público, por indulgência, deixa de responsabilizar o subordinado que cometeu infração
no exercício do cargo;
z Quando o funcionário público, que não é competente para responsabilizar aquele que cometeu infração no
exercício do cargo, por indulgência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente.

A doutrina majoritária entende que o crime de condescendência criminosa só pode ser praticado por superior
hierárquico, que dolosamente, se omite. O funcionário que foi beneficiado não responde pelo delito em tela.
Você pode entender indulgência como compaixão, pena, piedade, clemência.
Há um requisito que deve ser cumprido para a prática da condescendência criminosa: uma infração funcional
(que pode ser uma violação administrativa ou penal) praticada por subordinado no exercício das atribuições do
seu cargo.
A consumação dá-se quando o superior toma conhecimento da infração e não providencia imediatamente a
responsabilização do infrator ou não comunica o fato à autoridade competente.
Sobre a condescendência criminosa, fique atento:

z Não admite a forma culposa;


z É crime omissivo;
z Não admite tentativa.

Como é possível observar, os crimes de corrupção passiva privilegiada, prevaricação e condescendência crimi-
nosa possuem características similares. Vejamos as diferenças:

CORRUPÇÃO PASSIVA
PREVARICAÇÃO CONDESCENDÊNCIA CRIMINOSA
PRIVILEGIADA

O agente deixa de praticar ato de ofí- O agente deixa de praticar ato de O agente deixa de praticar ato de ofí-
cio cedendo a pedido ou influência ofício para satisfazer sentimento ou cio (responsabilizar o subalterno) por
de outrem interesse pessoal indulgência

Advocacia Administrativa

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


O crime de advocacia administrativa, previsto no art. 321, do Código Penal, pode ser praticado na modalidade
simples ou qualificada.

Art. 321 Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se da
qualidade de funcionário
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa
Parágrafo único. Se o interesse é ilegítimo:
Pena - detenção, de três meses a um ano, além da multa.

Modalidade simples: configura-se quando o funcionário público patrocinar, direta ou indiretamente, interes-
se privado perante a Administração Pública, valendo-se da qualidade de funcionário.
É necessário que a condição de funcionário público proporcione alguma facilidade ao sujeito ativo, que patro-
cina interesse de terceiro, pessoa privada; caso não haja facilidade alguma proporcionada pelo cargo, o fato será
atípico.
O agente pode praticar este crime de diversas maneiras, como, por exemplo, fazendo uma petição, solicitando
um benefício.
Modalidade qualificada: o crime de advocacia administrativa será qualificado caso o interesse privado seja
ilegítimo.

z Forma simples: interesse privado legítimo;


z Forma qualificada: interesse privado ilegítimo.

393
Sobre a advocacia administrativa, fique atento em A conduta típica é: abandonar cargo público, fora
sua prova: dos casos permitidos em lei.
O nome do crime é abandono de função, porém,
z Não admite a modalidade culposa; o tipo penal fala em abandono de cargo público. É
z É crime formal, que se consuma com a conduta, importante que você saiba que o conceito de função
não se exigindo que se atinja o interesse privado pública é mais amplo que o de cargo público (não há
pleiteado; cargo sem função, mas há função sem cargo).
z Segundo doutrina majoritária, admite tentativa Sendo assim, não haverá crime se ocorrer mero
quando for possível se fracionar o iter criminis; abandono de função pública (apesar do nome) ou de
z É desnecessário que o fato ocorra na própria repar- emprego público, mas tão somente no caso de aban-
tição em que trabalha o agente. Este pode usar da dono de cargo público (não se admite a analogia in
sua qualidade de funcionário para pleitear favores malam partem).
em qualquer esfera da Administração. Trata-se de um crime de mão própria, ou seja, só
pode ser praticado pelo funcionário público ocupante
Violência Arbitrária do cargo que foi abandonado. Este abandono deve ser
por tempo juridicamente relevante.
Art. 322 Praticar violência, no exercício de função De acordo com posicionamento doutrinário majo-
ou a pretexto de exercê-la. ritário, as hipóteses de greve não configuram este tipo
Pena - detenção, de seis meses a três anos, além da penal.
pena correspondente à violência. As hipóteses em que o agente abandona o cargo
público, admitidas em lei, não configuram o crime de
Este delito encontrava divergência quanto a sua abandono de função.
aplicação, tendo em vista as edições realizadas pela O crime de abandono de função tem circunstân-
Lei de Abuso de Autoridade (Lei nº 13.869, de 2019). cias que o qualificam:
Esta discussão não mais possui fundamento, sendo
que esta lei não tipificou o crime de violência arbi- z Se o fato resulta prejuízo público;
trária. Sendo assim, o delito ainda esse encontra em z Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa
vigor. de fronteira.
A prática da violência deve dar-se em razão da
Cabe destacar qualificadora do § 2º no que diz res-
função pública, não havendo a exigência de que seja
peito à faixa de fronteira. Essa qualificadora é uma
praticado no efetivo desempenho das funções do car-
norma penal em branco, visto que a definição da fai-
go, podendo, portanto, ser praticada, por exemplo,
xa de fronteira é fornecida pela Lei nº 6.634, de 1979,
por um funcionário público que se encontre de folga.
compreendendo um raio de 150 (cento e cinquenta)
Sobre esse crime, leve em consideração os seguin-
quilômetros ao longo das fronteiras nacionais.
tes pontos:
O fundamento desta qualificadora é a proteção à
soberania nacional que, nas fronteiras, torna-se mais
z A violência arbitrária não admite a forma culposa,
vulnerável.
devendo ser praticada dolosamente; Exige-se que o abandono se dê por um prazo rele-
z Admite tentativa; vante, apesar de o Código Penal não fixar prazo deter-
z Segundo Rogério Greco, o objeto material será o minado. Entende a doutrina que o prazo será fixado
administrado contra o qual é praticada a violência pelo estatuto a que estiver submetido o funcionário
arbitrária; público.
z A violência tem que ser praticada arbitrariamente, Em regra: o prazo será de 30 (trinta) dias — pra-
não se enquadrando neste tipo penal as hipóteses zo previsto na maioria dos estatutos de servidores
de uso necessário e progressivo da força, admiti- públicos.
das em lei;
z O crime aperfeiçoa-se ainda que as vítimas da
Dica
agressão não sofram lesões;
z Caso alguma das vítimas sofra lesão ou morra, o Sobre o crime de abandono de função, leve para
agente responderá por este crime e pelo crime cor- a sua prova:
respondente à violência praticada (lesões corpo- � É crime omissivo;
rais ou homicídio). � Não admite tentativa;
� Só pode ser praticado dolosamente — não
Abandono de Função admite a culpa.

O crime de abandono de função está tipificado no Exercício Funcional Ilegalmente Antecipado ou


art. 323, do CP. Prolongado

Art. 323 Abandonar cargo público, fora dos casos Este crime está previsto no art. 324, do CP.
permitidos em lei:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. Art. 324 Entrar no exercício de função pública
§ 1º Se do fato resulta prejuízo público: antes de satisfeitas as exigências legais, ou conti-
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. nuar a exercê-la, sem autorização, depois de saber
§ 2º Se o fato ocorre em lugar compreendido na fai- oficialmente que foi exonerado, removido, substi-
xa de fronteira: tuído ou suspenso:
394 Pena - detenção, de um a três anos, e multa. Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
Tutela-se a Administração Pública, no tocante ao Este crime pode ser praticado de duas formas:
seu normal funcionamento, pois o exercício ilegal de
função pública afeta a prestação de serviços públicos. z Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo
Conduta típica: entrar no exercício de função e que deva permanecer em segredo;
pública antes de satisfeitas as exigências legais, ou z Facilitar a revelação de fato de que tem ciência em
continuar a exercê-la, sem autorização, depois de razão do cargo e que deva permanecer em segredo.
saber oficialmente que foi exonerado, removido,
substituído ou suspenso: É importante mencionar que o agente toma conhe-
Este crime pode ser praticado de duas formas: cimento do fato em relação ao qual deve permanecer
em segredo em razão do cargo que ocupa, não se exi-
z Entrar no exercício de função pública antes de gindo que tenha sido no efetivo desempenho das atri-
satisfeitas as exigências legais; buições do cargo.
z Continuar a exercer a função pública, sem autori- Logo, o crime pode ser praticado no caso de o
zação, depois de saber oficialmente que foi exone- agente tomar conhecimento do fato durante período
rado, removido, substituído ou suspenso. É exigido de licença, mas em razão do cargo.
que o funcionário público tenha sido oficialmente O Código Penal apresenta duas formas equipara-
comunicado sobre sua exoneração, remoção, subs- das do crime de violação de sigilo funcional. Observe:
tituição ou suspensão. Neste aspecto, ressalta-se Incorrerá nas mesmas penas o funcionário público
que o crime é instantâneo e prescinde de habitua- que:
lidade da conduta para sua consumação.
z Permite ou facilita, mediante atribuição, forneci-
Observe que o exercício funcional ilegalmente mento e empréstimo de senha ou qualquer outra
antecipado ou prolongado somente pode ser prati- forma, o acesso de pessoas não autorizadas a siste-
cado por funcionário público já nomeado, mas ainda mas de informações ou banco de dados da Admi-
sem ter cumprido todas as exigências legais (1ª parte), nistração Pública;
ou então pelo indivíduo que era funcionário público, z Utiliza-se, indevidamente, do acesso restrito.
porém deixou de sê-lo em razão de ter sido oficial-
mente exonerado, removido, substituído ou suspenso Forma qualificada: se da ação ou omissão resulta
(parte final). dano à Administração Pública ou a outrem.
Em ambas as hipóteses, o crime é de mão própria, Sobre este crime, fique atento:
de atuação pessoal ou de conduta infungível, pois
somente pode ser cometido pela pessoa expressamen- z Só será praticado dolosamente — não admite for-
te indicada no tipo penal. ma culposa;
Se um particular entrar no exercício da função z Em regra, não admite tentativa, salvo casos excep-
pública, a ele deverá ser imputado o crime de usurpa- cionais, a exemplo de ser praticado na forma escrita.
ção de função pública (art. 328 do CP).
Sobre o tipo penal em comento, é importante Violação de Sigilo de Proposta de Concorrência
saber:
Este tipo penal era previsto no art. 326, e foi revo-
z Não admite a forma culposa; gado pelo art. 337-J também do Código Penal.
z Admite tentativa.
Art. 326 Devassar o sigilo de proposta de concor-
Violação de Sigilo Funcional rência pública, ou proporcionar a terceiro o ensejo

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


de devassá-lo:
O crime de violação de sigilo funcional encontra-se Pena - Detenção, de três meses a um ano, e multa.
previsto no art. 325, do Código Penal:
CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA
Art. 325 Revelar fato de que tem ciência em razão A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
do cargo e que deva permanecer em segredo, ou
facilitar-lhe a revelação: Os crimes praticados por particular contra a Admi-
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou mul- nistração Pública estão previstos entre os arts. 328 e
ta, se o fato não constitui crime mais grave.
337-A, do Código Penal.
§ 1º Nas mesmas penas deste artigo incorre quem:
Tratam-se de crimes comuns, que não exigem
I - permite ou facilita, mediante atribuição, forne-
nenhuma condição ou qualidade especial do sujeito
cimento e empréstimo de senha ou qualquer outra
forma, o acesso de pessoas não autorizadas a siste- ativo, podendo ser praticados por qualquer pessoa.
mas de informações ou banco de dados da Adminis-
tração Pública; Usurpação de Função Pública
II - se utiliza, indevidamente, do acesso restrito.
§ 2º Se da ação ou omissão resulta dano à Adminis- O crime de usurpação de função pública configu-
tração Pública ou a outrem: rar-se-á quando o agente usurpar o exercício de fun-
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. ção pública.

Este delito irá se configurar quando o agente públi- Art. 328 Usurpar o exercício de função pública:
co revelar fato de que tem ciência em razão do cargo Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.
e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a
revelação. Usurpar significa apoderar-se, tomar algo pela for-
ça ou sem direito. 395
Inicialmente, é importante que você não confunda Ocorre se, do fato, o agente auferir vantagem
o usurpador de função com o funcionário ou agente (qualquer tipo de vantagem e não necessariamente
público de fato (assunto bastante cobrado, tanto na financeira).
disciplina Direito Penal, quanto na disciplina Direito Sobre o crime de usurpação de função pública, é
Administrativo): importante que você leve em consideração:

z Usurpação de função pública: o agente exerce a z Não admite a modalidade culposa;


função sem nenhum tipo de investidura, apode- z Admite tentativa;
rando-se dela. É crime; z Pode ser praticado por funcionário público, segun-
z Funcionário ou agente de fato: o agente exerce a do posicionamento que prevalece, mas a função
usurpada deve ser totalmente alheia à função dele
função pública, por ter ocorrido alguma irregula-
(sendo ele considerado particular);
ridade. Não é crime.
z É crime formal, não se exigindo para a sua configu-
ração prejuízo ou dano à Administração Pública;
z Ação penal pública incondicionada.
Importante!
Segundo posicionamento doutrinário majoritá- Resistência
rio, é necessário, para fins de consumação, que
o agente execute algum ato inerente ao exercício O crime de resistência está previsto no art. 329, do
da função, não configurando o crime a mera apre- Código Penal:
sentação a terceiros como funcionário público.
Art. 329 Opor-se à execução de ato legal, mediante
violência ou ameaça a funcionário competente para
executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio:
Vamos exemplificar:
Pena - detenção, de dois meses a dois anos.
§ 1º Se o ato, em razão da resistência, não se
z Exemplo 1: Antônio apresenta-se como policial executa:
militar para seus conhecidos como forma de se Pena - reclusão, de um a três anos.
autovalorizar. Não há que se falar em configura- § 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuí-
ção do crime de usurpação de função pública, já zo das correspondentes à violência.
que o agente não praticou nenhum ato inerente ao
exercício da função policial militar, podendo, con- A conduta típica deste crime é opor-se à execução
forme o caso, configurar outra infração penal; de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcio-
z Exemplo 2: Antônio adquire, fraudulentamente, nário competente para executá-lo ou a quem lhe este-
uma farda da polícia militar. Em determinado dia, ja prestando auxílio.
ele promove uma falsa barreira e passa a abordar Sobre a conduta típica, as seguintes informações
as pessoas que nela passam. Há a prática do crime são muito importantes:
de usurpação de função pública, já que o agente
praticou ato inerente ao exercício da função poli- z Exige-se que o ato praticado pelo funcionário
público seja legal;
cial militar.
z Se o ato praticado por funcionário público for ile-
gal, não há que se falar em resistência;
Não confunda o crime de usurpação de função
z Exige-se que o funcionário público seja competen-
pública com o crime exercício funcional ilegalmente
te para executar o ato;
antecipado ou prolongado: z Não se exige que a violência ou ameaça seja empre-
gada diretamente contra o funcionário competen-
EXERCÍCIO FUNCIONAL te, podendo ser empregada contra o terceiro que
USURPAÇÃO DE ILEGALMENTE esteja auxiliando o funcionário.
FUNÇÃO PÚBLICA: ANTECIPADO OU
PROLONGADO: Sobre a resistência, é importante que você leve em
consideração:
O agente não possui víncu- O agente possui algum
lo algum com a Adminis- tipo de vínculo com a Ad-
tração Pública (em relação ministração Pública z Deve ser praticada dolosamente;
à função usurpada) É crime praticado por fun- z A oposição constitui um ato positivo, devendo o
É crime praticado por par- cionário público contra a agente empregar violência ou grave ameaça;
ticular contra a Adminis- Administração Pública z O emprego de violência ou ameaça contra dois ou
tração Pública mais funcionários públicos, em uma situação fáti-
ca, configura crime único.22

Há uma forma qualificada do crime de usurpação O direito brasileiro não pune a resistência passiva,
de função pública: que é aquela em que o agente resiste ao ato sem o uso
de violência ou ameaça, a exemplo daquele que, ao
Art. 328 [...] ser preso, deita-se no chão para impedir o ato.
Parágrafo único. Se do fato o agente aufere A violência ou ameaça deve ser empregada contra
vantagem: pessoa, não constituindo o crime se empregada contra
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. coisa (posição dominante).
396 22 (TJSP — Rel. Onei Raphael — RT 577/342).
É crime formal, que se consuma com a prática da Art. 331 Desacatar funcionário público no exercí-
violência ou ameaça. cio da função ou em razão dela:
Admite tentativa, nas hipóteses de fracionamento Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
do iter criminis.
Desacatar = ofender, faltar com respeito.
z Resistência qualificada: se, em razão da resistên- Não se exige que o funcionário público esteja no
cia, o ato não se executa. efetivo desempenho das atribuições do seu cargo para
caracterização do crime de desacato, mas sim que a
Por fim, leve para a sua prova: o agente responde- ofensa se dê em razão da função pública.
rá pela resistência e pela violência empregada.
Vejamos: se, para se opor à execução de ato legal z Exemplo 1: Diego Souza xinga Cássio, policial civil,
praticado por funcionário competente, o particular que estava no exercício de sua função, de “poli-
usa de violência, causando lesão corporal de nature- cialzinho de merda”, quando este estava prestes a
za grave, responderá pelos dois crimes: resistência e prender aquele;
lesão grave. z Exemplo 2: Diego Souza xinga Cássio, policial
civil, em um restaurante em Porto Seguro, durante
Desobediência as férias deles, de “policialzinho de merda”, pelo
fato de Cássio tê-lo prendido no passado;
Este crime está previsto no art. 330, do Código z Exemplo 3: Diego Souza xinga Cássio, policial civil,
Penal. Configurar-se-á quando o agente desobedecer de “babaca sem noção”, em uma partida de fute-
à ordem legal de funcionário público. bol, pelo fato deste ter pegado um pênalti daquele.

Art. 330 Desobedecer a ordem legal de funcionário Nos exemplos 1 e 2, configura-se o crime de desa-
público: cato, já que a ofensa proferida pelo agente se deu em
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e razão da função exercida pelo funcionário público.
multa. No exemplo 3, não há que se falar em desacato.
Embora Cássio seja funcionário público, a ofensa pro-
Vitor Eduardo Rios Gonçalves destaca que: ferida pelo agente em nada tem a ver com a função
pública.
z Deve haver uma ordem: significa determinação, Sobre o desacato, é importante que você fique
mandamento. O não atendimento de mero pedido atento às seguintes considerações:
ou solicitação não caracteriza o crime;
z A ordem deve ser legal: material e formalmente. z O desacato pode dar-se por qualquer meio: insul-
Pode até ser injusta, só não pode ser ilegal; tos, vias de fato, gestos, entre outros;
z Deve ser emanada de funcionário público com- z O desacato deve ser praticado contra funcionário
petente para proferi-la. Ex.: delegado de polícia público, não caracterizando este tipo penal a críti-
requisita informação bancária e o gerente do ban- ca ou ofensa à repartição pública;
co não atende. Não há crime, pois o gerente só está z É crime formal, que se consuma com a prática da
obrigado a fornecer a informação se houver deter- conduta descrita no tipo penal, independentemen-
minação judicial; te de o funcionário público se considerar ofendido
z É necessário que o destinatário tenha o dever jurí- ou não;
z Só pode ser praticado dolosamente;
dico de cumprir a ordem. Além disso, não haverá
z Deve ser praticado na presença do funcionário
crime se a recusa se der por motivo de força maior

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


público — doutrina dominante.
ou por ser impossível por algum motivo o seu
cumprimento.

A ordem deve ser legal. Caso de trate de ordem


Importante!
ilegal, não há que se falar na configuração deste tipo Não se confunde o crime de desacato com os
penal. crimes contra a honra. No desacato, a ofensa é
Sobre a desobediência, é importante que você leve dirigida à figura do funcionário público e não à
em consideração: pessoa em si. Deste modo, a doutrina majoritária
entende que o crime de desacato deve ser prati-
z Não admite a culpa; cado na presença do funcionário público, ao pas-
z Pode ser praticada tanto na forma omissiva quan- so que, caso a ofensa seja irrogada na ausência
to na forma comissiva; física do funcionário, será caracterizado crime
z Na forma omissiva, não admite tentativa, na forma contra a honra.
comissiva, admite;
z Deve haver ordem emanada por funcionário
público, não caracterizando este crime a mera Em dezembro de 2016, a 5ª turma do STJ decidiu
solicitação. pela descriminalização do crime de desacato, por
entender que este crime viola a liberdade de expres-
Desacato são do indivíduo, em julgamento de habeas corpus.
Contudo, a 3ª seção do STJ pacificou posiciona-
O crime de desacato, previsto no art. 331, do Código mento do tribunal no sentido de que o desacato con-
Penal, tem como conduta típica desacatar funcionário tinua sendo crime, pois isso não viola a liberdade de
público no exercício da função ou em razão dela. expressão. 397
Tráfico de Influência

O crime de tráfico de influência está previsto no art. 332, do Código Penal:

Art. 332 Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto
de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada da metade, se o agente alega ou insinua que a vantagem é também destinada
ao funcionário.

Conduta típica: solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem,
a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função.
Trata-se de crime plurinuclear, que pode ser praticado com o exercício de qualquer um dos verbos previstos
no tipo penal:

z Solicitar;
z Exigir;
z Cobrar;
z Obter.

O agente não tem influência sobre o funcionário público, mas passa a impressão de que a tem, com a finalida-
de de obter vantagem ou promessa de vantagem.
Caso o agente realmente tenha poder de influência sobre o funcionário público que praticará o ato, não há que
se falar em tráfico de influência, podendo, no entanto, configurar-se outro crime.
Sobre o tráfico de influência, é importante que você tome cuidado com as seguintes informações:

z A pessoa que paga a vantagem pratica indiferente penal, por falta de previsão legal desta conduta;
z Em regra, é crime formal, consumando-se com a solicitação, exigência ou cobrança;
z No caso do verbo obter, o crime é material;
z Só pode ser praticado dolosamente;
z Exige um especial fim de agir: obter vantagem ou promessa de vantagem para si ou para outrem.

A pena do crime de tráfico de influência será aumentada de metade se o agente alega ou insinua que a vanta-
gem é também destinada ao funcionário.

Corrupção Ativa

O crime de corrupção ativa, previsto no art. 333, do Código Penal, é um dos tipos penais mais cobrados em
relação aos crimes contra a administração pública.

Art. 333 Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou
retardar ato de ofício.
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou
omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional.

Conduta típica: oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar,
omitir ou retardar ato de ofício.

CORRUPÇÃO PASSIVA CORRUPÇÃO ATIVA

Solicitar
Oferecer
Receber

Aceitar Prometer

Fique atento às informações a seguir, muito importantes em relação à corrupção ativa:

z Trata-se de crime plurinuclear, já que o tipo penal prevê mais de um verbo para sua prática: oferecer e prome-
ter. Por exemplo, João oferece uma quantia em dinheiro ao policial rodoviário federal para não ser multado
pela prática de infração de trânsito. Pedro promete entregar uma quantia em dinheiro ao guarda municipal
quando retornar ao seu veículo que está estacionado em local proibido;
z É crime formal, que se consuma com a prática da conduta delituosa, não se exigindo que o funcionário público
aceite a vantagem ou promessa de vantagem;
z Não admite a forma culposa;
z Exige-se dolo específico: a intenção de determinar o funcionário público a praticar, omitir ou retardar ato de
398 ofício;
z Caso o particular ceda à solicitação (corrupção passiva) ou à exigência (concussão), e entregue vantagem inde-
vida, seja em pagamento ou dando algo, a sua conduta será atípica, conforme posicionamento jurisprudencial
majoritário;
z A pena da corrupção ativa será aumentada de 1/3 (um terço) se em razão da vantagem ou promessa, o funcio-
nário público retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional

Não confunda os crimes de corrupção ativa, corrupção passiva e concussão:

CORRUPÇÃO ATIVA CORRUPÇÃO PASSIVA CONCUSSÃO


Verbos: oferecer e prometer Verbos: solicitar, receber e aceitar Verbo: exigir
Praticado por particular contra a Admi- promessa
nistração Pública Crime praticado por funcionário públi-
É crime quando o agente, com oferta Quando se tratar de corrupção passi- co contra a Administração Pública
ou promessa de vantagem, quer que o va privilegiada, quando o funcionário
funcionário público retarde ato de ofí- público “dá o jeitinho” e não pratica O agente exige, para si ou para outrem,
cio, omita ato de ofício ou pratique ato o ato que deveria, o particular figu- vantagem indevida, direta ou indireta,
de ofício ra como partícipe por ter praticado o ainda que fora da sua função pública,
Quando a corrupção ativa é para obter induzimento ou antes de assumi-la, mas em razão
voto, o crime será o tipificado no art. dela
229, do Código Eleitoral
Se o agente se limitar a pedidos como
“dar um jeitinho” ou “quebrar o galho”,
não se configura crime de corrupção
ativa por falta de elementares

Descaminho e Contrabando

Os crimes de descaminho e contrabando, previstos nos arts. 334 e 334-A, respectivamente, do Código Penal,
constituem práticas distintas, que devem ser observadas. Vamos simplificar estes crimes:

z Descaminho: consiste em não pagar direito ou imposto devido pela entrada, saída ou consumo de mercadoria;
z Contrabando: consiste na importação ou exportação de mercadoria proibida.

No descaminho, a mercadoria não tem a comercialização proibida no território brasileiro, já no contrabando,


sim.
No passado, os dois tipos penais estavam previstos no mesmo dispositivo. Contudo, houve alteração e, no
momento, cada um destes crimes integra um tipo penal distinto.
Vejamos cada um deles:

z Descaminho

Art. 334 Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou
pelo consumo de mercadoria.

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
§ 1º Incorre na mesma pena quem:
I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei;
II - pratica fato assimilado, em lei especial, a descaminho;
III - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no
exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira que introduziu clandes-
tinamente no País ou importou fraudulentamente ou que sabe ser produto de introdução clandestina no território
nacional ou de importação fraudulenta por parte de outrem;
IV - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mer-
cadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de documentação legal ou acompanhada de documentos que
sabe serem falsos.
§ 2º Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou
clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências.
§ 3º A pena aplica-se em dobro se o crime de descaminho é praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial.

Sobre o crime de descaminho, é importante que você leve em consideração o seguinte:

„ Trata-se de crime comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa;
„ Trata-se de crime tributário formal, ou seja, não é necessária a prévia constituição definitiva do crédito
tributário;
„ Admite a forma tentada, quando, no caso de exportação, o crime é tentado se a mercadoria não chega a
sair do país;
„ A fraude utilizada pelo agente para iludir o pagamento de imposto pode se dar tanto em relação à quanti-
dade quanto em relação à qualidade do produto; 399
„ Não admite a modalidade culposa; Súmula 151 (STJ) A competência para o processo
„ O crime consuma-se com a simples conduta de e julgamento por crime de contrabando ou desca-
iludir o Estado quanto ao pagamento dos tribu- minho define-se pela prevenção do Juízo Federal do
tos devidos; lugar da apreensão dos bens.
„ Admite a aplicação do princípio da insignifi-
cância, nos casos em que o valor seja inferior Impedimento, Perturbação ou Fraude de
àquele considerado irrelevante para fins de Concorrência
execução fiscal;
O crime previsto no art. 335 foi revogado pelos art.
337-I e 337-K, do Código Penal.
Importante!
Art. 335 Impedir, perturbar ou fraudar concorrên-
Tanto para o STF quanto para o STJ, atualmente, cia pública ou venda em hasta pública, promovida
poderá ser aplicado o princípio da insignificância pela administração federal, estadual ou municipal,
ao crime de descaminho que não exceda o valor ou por entidade paraestatal; afastar ou procurar
de R$ 20.000,00 (vinte mil reais). afastar concorrente ou licitante, por meio de vio-
lência, grave ameaça, fraude ou oferecimento de
vantagem:
„ O pagamento integral da dívida tributá- Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou mul-
ria não extingue a punibilidade do crime de ta, além da pena correspondente à violência.
descaminho.23 Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem se
abstém de concorrer ou licitar, em razão da vanta-
z Contrabando gem oferecida.

Art. 334-A Importar ou exportar mercadoria Inutilização de Edital ou de Sinal


proibida:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 ( cinco) anos. Art. 336 Rasgar ou, de qualquer forma, inutilizar
§ 1º Incorre na mesma pena quem: ou conspurcar edital afixado por ordem de fun-
I - pratica fato assimilado, em lei especial, a cionário público; violar ou inutilizar selo ou sinal
contrabando; empregado, por determinação legal ou por ordem
II - importa ou exporta clandestinamente merca- de funcionário público, para identificar ou cerrar
doria que dependa de registro, análise ou auto-
qualquer objeto:
rização de órgão público competente;
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
III - reinsere no território nacional mercadoria
brasileira destinada à exportação;
IV - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, Conduta típica: rasgar ou, de qualquer forma,
de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou inutilizar ou conspurcar edital afixado por ordem de
alheio, no exercício de atividade comercial ou funcionário público; violar ou inutilizar selo ou sinal
industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira; empregado, por determinação legal ou por ordem de
V - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio funcionário público, para identificar ou cerrar qual-
ou alheio, no exercício de atividade comercial ou quer objeto.
industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira. O crime de inutilização de edital ou de sinal, pre-
§ 2º Equipara-se às atividades comerciais, para os visto no art. 336, do Código Penal, é de ação múltipla,
efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio podendo ser praticado da seguinte forma:
irregular ou clandestino de mercadorias estrangei-
ras, inclusive o exercido em residências.
z Rasgar ou, de qualquer forma, inutilizar ou cons-
§ 3º A pena aplica-se em dobro se o crime de con-
purcar (manchar ou tornar sujo, de forma que não
trabando é praticado em transporte aéreo, marí-
timo ou fluvial. possa ser utilizado) edital afixado por ordem de
funcionário público;
Sobre o crime de contrabando, é importante que z Violar ou inutilizar selo ou sinal empregado, por
você leve o seguinte para a sua prova: determinação legal ou por ordem de funcionário
público, para identificar ou cerrar (encobrir) qual-
„ Trata-se de crime comum, que pode ser pratica- quer objeto.
do por qualquer pessoa;
„ Não admite a modalidade culposa; Sobre o crime de inutilização de edital ou de sinal,
„ Admite tentativa; leve em consideração:
„ Não admite a aplicação do princípio da
insignificância. z É crime comum;
z Admite tentativa;
É importante mencionar que, no caso de produ- z Segundo posicionamento doutrinário dominante,
tos específicos, a exemplo de armas de fogo ou subs- caso a conduta seja praticada quando não mais
tâncias entorpecentes, prevalecerá a aplicação da produz efeito o edital (fora do seu prazo de vali-
legislação especial, aplicando-se, respectivamente, o dade, por exemplo), não se configurará este tipo
Estatuto do Desarmamento (Lei nº 10.826, de 2003) e a penal;
Lei de Drogas (Lei nº 11.343, de 2006).
De acordo com a Súmula 151, do STJ:
23 STJ. 5ª Turma. RHC 43558-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 5/2/2015 (Info 555). STJ. 6ª Turma. HC 271650/PE, Rel. Min. Reynaldo Soa-
400 res da Fonseca, julgado em 03/03/2016.
Subtração ou Inutilização de Livro ou Documento Art. 337-A Suprimir ou reduzir contribuição social
previdenciária e qualquer acessório, mediante as
O crime de subtração ou inutilização de livro ou seguintes condutas:
documento está previsto no art. 337, do CP. I - omitir de folha de pagamento da empresa ou de
documento de informações previsto pela legislação
Art. 337 Subtrair, ou inutilizar, total ou parcial- previdenciária segurados empregado, empresário,
mente, livro oficial, processo ou documento confia- trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a
do à custódia de funcionário, em razão de ofício, ou este equiparado que lhe prestem serviços;
de particular em serviço público: II - deixar de lançar mensalmente nos títulos pró-
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, se o fato não prios da contabilidade da empresa as quantias
constitui crime mais grave. descontadas dos segurados ou as devidas pelo
empregador ou pelo tomador de serviços;
Tutela-se a Administração Pública, relativamente III - omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros
ao normal funcionamento da atividade administrativa. auferidos, remunerações pagas ou creditadas e
Cabe destacar que o livro oficial, processo ou docu- demais fatos geradores de contribuições sociais
mento (público ou particular) é confiado à custódia de previdenciárias:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
funcionário, em razão de ofício, ou de particular em
§ 1º É extinta a punibilidade se o agente, espon-
serviço público.
taneamente, declara e confessa as contribuições,
Por isso, é dever que seja confiada a custódia a
importâncias ou valores e presta as informações
funcionário, em razão de ofício, não se verificando devidas à previdência social, na forma definida em
este crime quando alguém subtrai ou inutiliza, total lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal.
ou parcialmente, um livro oficial, processo ou docu- § 2º É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou
mento de quem não o guarda por conta da sua função. aplicar somente a de multa se o agente for primário
É importante analisar que, na parte final do precei- e de bons antecedentes, desde que:
to primário do dispositivo em estudo, há a expressão I - (vetado)
“ou de particular em serviço público”, pois existem, II - o valor das contribuições devidas, inclusive
em certas hipóteses excepcionais, particulares que acessórios, seja igual ou inferior àquele estabele-
desempenham funções públicas (por exemplo, mesá- cido pela previdência social, administrativamente,
rio nas eleições). Observe que se alguém subtrair ou como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas
inutilizar, total ou parcialmente, algum documento execuções fiscais.
confiado a essas pessoas, a ele será imputado o crime § 3º Se o empregador não é pessoa jurídica e sua
de subtração ou inutilização de livro ou documento. folha de pagamento mensal não ultrapassa R$
Sobre o núcleo do tipo: 1.510,00 (um mil, quinhentos e dez reais), o juiz
poderá reduzir a pena de um terço até a metade ou
aplicar apenas a de multa.
z Subtrair: retirar o livro oficial, processo ou docu-
§ 4º O valor a que se refere o parágrafo anterior
mento do local em que se encontra, dele se apode-
será reajustado nas mesmas datas e nos mesmos
rando o agente; índices do reajuste dos benefícios da previdência
z Inutilizar: tornar imprestável o livro oficial, pro- social.
cesso ou documento, total ou parcialmente. Não se
reclama sua efetiva destruição. Extinção da punibilidade: caso o agente, de for-
ma espontânea, declare ou confesse as contribuições,
Consuma-se o crime em estudo no instante em que importâncias ou valores e preste as informações devi-
o livro oficial, processo ou documento é subtraído, das à previdência social, na forma definida em lei ou

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


mediante seu apoderamento pelo agente, seguido da regulamento, antes do início da ação fiscal (não se exi-
inversão da sua posse e sua consequente retirada da ge o pagamento do tributo sonegado).
esfera de vigilância da vítima, ou então inutilizado, A declaração ou confissão e a prestação das infor-
total ou parcialmente. mações deverão ocorrer antes do início da ação fiscal.
Observe que se o documento se destina a fazer Sobre o crime de sonegação de contribuição previ-
prova de relação jurídica, e o agente visa beneficiar a denciária, é importante ficar atento ao seguinte:
si próprio ou a terceiro, o fato constituirá crime mais
grave. Sobre o este tipo penal, é importante ficar aten- z Não admite a modalidade culposa;
to ao seguinte: z De acordo com o art. 34, da Lei nº 9.249, de 1995,
confirmado pela doutrina majoritária, o pagamen-
z É crime comum; to integral do tributo ou contribuição social, após a
z Admite tentativa; ação fiscal, mas antes do recebimento da denúncia,
z É crime subsidiário, respondendo o agente por ele também acarretará a extinção da punibilidade:
apenas caso não se configure um crime mais grave;
z Na hipótese de o documento destinar-se a fazer Art. 34 (Lei 9.249, de 1995) Extingue-se a punibi-
prova de relação jurídica, e o agente visar bene- lidade dos crimes definidos na Lei 8.137, de 27 de
ficiar a si próprio ou a terceiro, o fato constituirá dezembro de 1990, e na Lei 4.729, de 14 de julho de
mais grave; 1965, quando o agente promover o pagamento do
z Somente será praticado na modalidade dolosa. tributo ou contribuição social, inclusive acessórios,
antes do recebimento da denúncia.
Sonegação de Contribuição Previdenciária
Será extinta a punibilidade se o agente, espon-
O crime de sonegação de contribuição previden- taneamente, declarar e confessar as contribuições,
ciária está previsto no art. 337-A, do Código Penal: importâncias ou valores e prestar as informações 401
devidas à previdência social, na forma definida em lei Pena – reclusão, de 1 (um) a 8 (oito) anos, e multa.
ou regulamento, antes do início da ação fiscal. Parágrafo único. A pena é aumentada de 1/3 (um
O termo final para o pagamento é o início da ação terço), se, em razão da vantagem ou promessa, o
fiscal. Se o agente for beneficiado pela concessão do funcionário público estrangeiro retarda ou omi-
parcelamento dos valores devidos a título de contri- te o ato de ofício, ou o pratica infringindo dever
buição social previdenciária, ou qualquer acessório, o funcional. 
pagamento integral do débito importará na extinção
da punibilidade (§ 4º, art. 83, da Lei nº 9.430, de 1996). Não se pode confundir este crime com o crime de
O Supremo Tribunal Federal entende, com amparo corrupção ativa. Vejamos a tabela comparativa:
no art. 69, da Lei nº 11.941, de 2009, que o pagamento
integral do débito fiscal acarreta na extinção da puni- CORRUPÇÃO ATIVA EM
bilidade do agente, ainda que efetuado após o julga- TRANSAÇÃO COMER- CORRUPÇÃO ATIVA
mento da ação penal, desde que antes do trânsito em CIAL INTERNACIONAL
julgado da condenação. Destaca-se:
Verbos: prometer, oferecer Verbos: oferecer e prometer
z A competência para julgar o crime de sonegação de e dar
contribuição previdenciária é da Justiça Federal;
Fim específico: determi- Fim específico: determi-
z Admite a forma tentada;
nar o funcionário público nar o funcionário público
z É crime material; estrangeiro a praticar, omi- a praticar, omitir ou retar-
z Este tipo penal admite a aplicação do princípio da tir ou retardar ato de ofício dar ato de ofício
insignificância, excluindo-se, assim, a tipicidade relacionado à transação
material do crime; comercial internacional
z Se o empregador não é pessoa jurídica e sua folha
de pagamento mensal não ultrapassa R$ 1.510,00
(um mil, quinhentos e dez reais), o juiz poderá O crime de corrupção ativa em transação comer-
reduzir a pena de um terço até a metade ou aplicar cial internacional terá sua pena aumentada de 1/3
apenas a de multa. (um terço) se, em razão da vantagem ou promessa, o
funcionário público estrangeiro retarda ou omite o
CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional.
A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ESTRANGEIRA Sobre este crime, é importante mencionar que:

Dividem-se em dois tipos penais: z Só poderá ser praticado dolosamente;


z É crime comum;
z Corrupção ativa em transação comercial interna- z Nos verbos oferecer e prometer, trata-se de crime
cional; formal, de consumação antecipada;
z Tráfico de influência em transação comercial z No verbo dar, trata-se de crime material, que se
internacional. consuma com a obtenção do resultado;
z Admite tentativa, quando for possível fracionar
Inicialmente, é importante destacar quem é o fun- o iter criminis, as fases do crime, da cogitação ao
cionário público estrangeiro e quem se equipara a exaurimento.
funcionário público estrangeiro.
É a fase mental de preparação do crime: idealização de
COGITAÇÃO OU
z Funcionário público estrangeiro: quem, ainda FASE INTERNA
liberação e resolução
Não há conduta penalmente relevante
que transitoriamente ou sem remuneração, exer-
ce cargo, emprego ou função pública em entida-
des estatais ou em representações diplomáticas de
O crime começa a se projetar no mundo exterior.
país estrangeiro; ATOS
PREPARATÓRIOS
O agente adquire arma de fogo
z Equipara-se a funcionário público estrangeiro: Em regra não são puníveis, salvo nos crimes-obstáculo

quem exerce cargo, emprego ou função em empre-


sas controladas, diretamente ou indiretamente,
O agente começa a realizar o núcleo do tipo penal, de forma idô-
pelo Poder Público de país estrangeiro ou em orga- ATOS DE
nea e inequívoca.
EXECUÇÃO
nizações públicas internacionais. Nesta fase, pode haver punição pela tentativa

Corrupção Ativa em Transação Comercial


Crime consumado é quando nele se reúnem todos os elementos
Internacional CONSUMAÇÃO de sua definição legal.
Fim do iter criminis
O crime de corrupção ativa em transação comer-
cial internacional, previsto no art. 337-B, do Código
Penal, é bastante parecido com o tipo penal de cor- Não influi na tipicidade, mas pode influenciar na dosimetria da
EXAURIMENTO pena, ser reconhecido como qualificadora ou configurar crime
rupção ativa, crime praticado por particular contra a autônomo
administração em geral, que já analisamos.

Art. 337-B Prometer, oferecer ou dar, direta ou Tráfico de Influência em Transação Comercial
indiretamente, vantagem indevida a funcioná- Internacional
rio público estrangeiro, ou a terceira pessoa,
para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar Art. 337-C Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si
ato de ofício relacionado à transação comercial ou para outrem, direta ou indiretamente, vantagem
402 internacional: ou promessa de vantagem a pretexto de influir em
ato praticado por funcionário público estrangeiro no exercício de suas funções, relacionado a transação comercial
internacional:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada da metade, se o agente alega ou insinua que a vantagem é também destinada
a funcionário estrangeiro.

O crime de tráfico de influência em transação comercial internacional, previsto no art. 337-C, do Código Penal,
é muito parecido com o crime de tráfico de influência, crime praticado por particular contra a administração em
geral, previsto no art. 332, do Código Penal.
Vejamos a tabela comparativa:

TRÁFICO DE INFLUÊNCIA EM TRANSAÇÃO


TRÁFICO DE INFLUÊNCIA
COMERCIAL INTERNACIONAL
Verbos: solicitar, exigir, cobrar ou obter Verbos: solicitar, exigir, cobrar ou obter
Pretexto: influir em ato praticado por funcionário público Pretexto: influir em ato praticado por funcionário público
estrangeiro no exercício de suas funções, relacionado à no exercício da função
transação comercial internacional

O crime de tráfico de influência em transação comercial internacional terá sua pena aumentada da metade se
o agente alega ou insinua que a vantagem é também destinada ao funcionário público estrangeiro.
Em relação a este tipo penal, é importante ficar atento ao seguinte:

z Só poderá ser praticado dolosamente;


z É crime comum;
z Nos verbos solicitar, exigir e cobrar, trata-se de crime formal, de consumação antecipada;
z No verbo obter, trata-se de crime material, que se consuma com a obtenção do resultado;
z Admite tentativa, quando for possível fracionar o iter criminis.

CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS ADMINISTRATIVOS (INCLUÍDO PELA LEI Nº 14.133, DE 1º DE ABRIL DE


2021)

Em 1º de abril de 2021, foi publicada a Lei nº 14.133, de 2021, Nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos.
Além de inovar na disposição sobre licitações e contratos, a nova lei trouxe algumas alterações legislativas em outros
diplomas, dentre os quais o Código Penal.
A grande novidade é que agora os crimes licitatórios estão dentro do Código Penal, inseridos dentro do
título “Dos Crimes Contra a Administração Pública” (arts. 337-E ao art. 337-P).
Com a entrada em vigência da Lei nº 14.133, de 2021, os crimes licitatórios passaram a ser crimes contra a
Administração Pública.
Vale destacar que não houve grande mudança em relação aos crimes que eram previstos na lei de licitações
anterior (Lei nº 8.666, de 1993), sendo as condutas praticamente as mesmas, com idêntica ou muito parecida
tipificação.
Resumidamente, foram as seguintes as alterações:

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


z Os crimes licitatórios ganharam “nomes legais” (contratação direta ilegal; frustração do caráter competitivo
de licitação etc.);
z A punição ficou mais rigorosa, uma vez que a maioria dos crimes que eram punidos com detenção agora são
punidos com reclusão;
z A punição ficou mais rigorosa, também, em relação à quantidade de pena, e foi inserido um novo tipo penal, o
crime de omissão grave de dado ou de informação por projetista, no art. 337-O, do CP.

Veja, a seguir, de forma esquematizada, com ficaram os crimes licitatórios após a mudança e sua inclusão no
CP.

Contratação Direta Ilegal

REDAÇÃO NA LEI Nº 8.666, DE 1993 REDAÇÃO ATUAL NO CÓDIGO PENAL

Art. 89 Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses Contratação direta ilegal
previstas em lei, ou deixar de observar as formalidades Art. 337-E Admitir, possibilitar ou dar causa à contrata-
pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade: ção direta fora das hipóteses previstas em lei:
Pena – detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa. Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre aquele que, ten-
do comprovadamente concorrido para a consumação da
ilegalidade, beneficiou-se da dispensa ou inexigibilidade
ilegal, para celebrar contrato com o Poder Público.

403
Veja que, apesar da redação diferente, o tipo é basicamente o mesmo, punindo a contratação direta ilegal. O
que houve foi o aumento substancial no tipo e na quantidade de pena. Trata-se de uma lex gravior, não retroativa.
A exclusão do parágrafo único, que dispunha sobre o beneficiário, não exclui a possibilidade de que ele seja
punido, uma vez que o crime se aplica a qualquer pessoa que incorra na conduta de admitir, possibilitar ou dar
causa à contratação direta fora das hipóteses previstas em lei (o que inclui o beneficiário).
Observe, também, que todos os crimes passaram a ter um nomen criminis (nome do crime).
Trata-se de crime formal, e se consuma com a mera dispensa ou inexigibilidade de licitação fora das hipóteses
legais. Para a prática deste crime, é necessária a comprovação do dolo específico do agente.

Frustração do Caráter Competitivo de Licitação

REDAÇÃO NA LEI Nº 8.666, DE 1993 REDAÇÃO ATUAL NO CÓDIGO PENAL

Art. 90 Frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou Frustração do caráter competitivo de licitação
qualquer outro expediente, o caráter competitivo do proce- Art. 337-F Frustrar ou fraudar, com o intuito de obter para
dimento licitatório, com o intuito de obter, para si ou para si ou para outrem vantagem decorrente da adjudicação
outrem, vantagem decorrente da adjudicação do objeto da do objeto da licitação, o caráter competitivo do processo
licitação: licitatório:
Pena – detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Pena - reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos, e multa.

Novamente, o destaque é para o tratamento mais rigoroso.


O sujeito ativo é o concorrente que frusta o caráter competitivo da licitação, com intuito de receber vantagem
(especial fim de agir).
Trata-se de crime formal, consumando-se com o ato capaz de frustrar ou fraudar o caráter competitivo da
licitação. Não é necessário que o agente venha a obter vantagem na licitação.

Frustração do Caráter Competitivo de Licitação

REDAÇÃO NA LEI Nº 8.666, DE 1993 REDAÇÃO ATUAL NO CÓDIGO PENAL

Art. 91 Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse Patrocínio de contratação indevida


privado perante a Administração, dando causa à ins- Art. 337-G Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse
tauração de licitação ou à celebração de contrato, cuja privado perante a Administração Pública, dando causa à
invalidação vier a ser decretada pelo Poder Judiciário: instauração de licitação ou à celebração de contrato cuja in-
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e validação vier a ser decretada pelo Poder Judiciário:
multa. Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa.

Redação quase idêntica, com tratamento mais rigoroso.


Trata-se de crime material, consumando-se com a instauração de licitação ou com a celebração do contrato.

Modificação ou Pagamento Irregular em Contrato Administrativo

REDAÇÃO NA LEI Nº 8.666, DE 1993 REDAÇÃO ATUAL NO CÓDIGO PENAL


Art. 92 Admitir, possibilitar ou dar causa a qualquer modi- Modificação ou pagamento irregular em contrato
ficação ou vantagem, inclusive prorrogação contratual, em administrativo
favor do adjudicatário, durante a execução dos contratos Art. 337-H Admitir, possibilitar ou dar causa a qualquer
celebrados com o Poder Público, sem autorização em lei, modificação ou vantagem, inclusive prorrogação con-
no ato convocatório da licitação ou nos respectivos instru- tratual, em favor do contratado, durante a execução dos
mentos contratuais, ou, ainda, pagar fatura com preterição contratos celebrados com a Administração Pública, sem
da ordem cronológica de sua exigibilidade, observado o autorização em lei, no edital da licitação ou nos respecti-
disposto no art. 121 desta Lei: vos instrumentos contratuais, ou, ainda, pagar fatura com
Pena – detenção, de dois a quatro anos, e multa. preterição da ordem cronológica de sua exigibilidade:
Parágrafo único. Incide na mesma pena o contratado que, Pena - reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos, e multa.
tendo comprovadamente concorrido para a consuma-
ção da ilegalidade, obtém vantagem indevida ou se be-
neficia, injustamente, das modificações ou prorrogações
contratuais.

Veja que foi um dos mais significativos aumentos de pena.


Trata-se de crime próprio, e só pode ser praticado pelo administrador que admite, possibilita ou dá causa à
modificação ilegal do contrato ou o que paga ou dá causa ao pagamento de fatura. É admitida a participação do
contratado.

404
Modificação ou Pagamento Irregular em Contrato Administrativo

REDAÇÃO NA LEI Nº 8.666, DE 1993 REDAÇÃO ATUAL NO CÓDIGO PENAL

Art. 93 Impedir, perturbar ou fraudar a realização de qual- Perturbação de processo licitatório


quer ato de procedimento licitatório: Art. 337-I Impedir, perturbar ou fraudar a realização de
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e qualquer ato de processo licitatório:
multa. Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e
multa.

A nova redação é idêntica à da lei anterior; houve apenas a inclusão do nome do crime e o aumento na quan-
tidade de pena (o legislador manteve o crime apenado com detenção).
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. Trata-se de crime comum.
A conduta do agente deve ser apta a lesionar o bem jurídico, quais sejam: os atos que compõem o processo
licitatório.

Violação de Sigilo em Licitação

REDAÇÃO NA LEI Nº 8.666, DE 93 REDAÇÃO ATUAL NO CÓDIGO PENAL

Art. 94 Devassar o sigilo de proposta apresentada em pro- Violação de sigilo em licitação


cedimento licitatório, ou proporcionar a terceiro o ensejo de Art. 337-J Devassar o sigilo de proposta apresentada em
devassá-lo: processo licitatório ou proporcionar a terceiro o ensejo
Pena – detenção, de 2 (dois) a 3 (três) anos, e multa. de devassá-lo
Pena - detenção, de 2 (dois) anos a 3 (três) anos, e multa.

Este foi o único crime licitatório que não foi alterado, havendo apenas a inclusão do nomen criminis.

Afastamento de Licitante

REDAÇÃO NA LEI Nº 8.666, DE 1993 REDAÇÃO ATUAL NO CÓDIGO PENAL


Art. 95 Afastar ou procurar afastar licitante, por meio de Afastamento de licitante
violência, grave ameaça, fraude ou oferecimento de van- Art. 337-K Afastar ou tentar afastar licitante por meio de
tagem de qualquer tipo: violência, grave ameaça, fraude ou oferecimento de vanta-
Pena – detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, gem de qualquer tipo:
além da pena correspondente à violência. Pena - reclusão, de 3 (três) anos a 5 (cinco) anos, e multa,
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se abstém além da pena correspondente à violência.
ou desiste de licitar, em razão da vantagem oferecida. Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se abstém
ou desiste de licitar em razão de vantagem oferecida.

Neste tipo, houve apenas o aumento de pena.

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


Fraude em Licitação ou Contrato

REDAÇÃO NA LEI Nº 8.666, DE 1993 REDAÇÃO ATUAL NO CÓDIGO PENAL


Art. 96 Fraudar, em prejuízo da Fazenda Pública, licitação Fraude em licitação ou contrato
instaurada para aquisição ou venda de bens ou mercado- Art. 337-L Fraudar, em prejuízo da Administração Pública,
rias, ou contrato dela decorrente: licitação ou contrato dela decorrente, mediante:
I – elevando arbitrariamente os preços; I - entrega de mercadoria ou prestação de serviços com
II – vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria qualidade ou em quantidade diversas das previstas no edi-
falsificada ou deteriorada; tal ou nos instrumentos contratuais;
III – entregando uma mercadoria por outra; II - fornecimento, como verdadeira ou perfeita, de mercado-
IV – alterando substância, qualidade ou quantidade da ria falsificada, deteriorada, inservível para consumo ou com
mercadoria fornecida; prazo de validade vencido;
V – tornando, por qualquer modo, injustamente, mais one- III - entrega de uma mercadoria por outra;
rosa a proposta ou a execução do contrato: IV - alteração da substância, qualidade ou quantidade da
Pena – detenção, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. mercadoria ou do serviço fornecido;
V - qualquer meio fraudulento que torne injustamente
mais onerosa para a Administração Pública a proposta ou
a execução do contrato:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos, e multa.

No crime de fraude em licitação ou contrato, o destaque é para a inclusão do inciso I e a punição mais grave.
O crime consuma-se com a ocorrência do prejuízo à Administração Pública.

405
Contratação Inidônea

REDAÇÃO NA LEI Nº 8.666, DE 1993 REDAÇÃO ATUAL NO CÓDIGO PENAL


Art. 97 Admitir à licitação ou celebrar contrato com em- Contratação inidônea
presa ou profissional declarado inidôneo: Art. 337-M Admitir à licitação empresa ou profissional de-
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e clarado inidôneo:
multa. Pena - reclusão, de 1 (um) ano a 3 (três) anos, e multa.
Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que, de- § 1º Celebrar contrato com empresa ou profissional decla-
clarado inidôneo, venha a licitar ou a contratar com a rado inidôneo:
Administração. Pena - reclusão, de 3 (três) anos a 6 (seis) anos, e multa.
§ 2º Incide na mesma pena do caput deste artigo aquele
que, declarado inidôneo, venha a participar de licitação e,
na mesma pena do § 1º deste artigo, aquele que, declarado
inidôneo, venha a contratar com a Administração Pública

O novo tipo apresenta o mesmo teor do tipo revogado, apenas disposto de forma diferente e com pena maior.

Impedimento Indevido

REDAÇÃO NA LEI Nº 8.666, DE 1993 REDAÇÃO ATUAL NO CÓDIGO PENAL


Art. 98 Obstar, impedir ou dificultar, injustamente, a inscri- Impedimento indevido
ção de qualquer interessado nos registros cadastrais ou Art. 337-N Obstar, impedir ou dificultar injustamente a
promover indevidamente a alteração, suspensão ou can- inscrição de qualquer interessado nos registros cadas-
celamento de registro do inscrito: trais ou promover indevidamente a alteração, a suspensão
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e ou o cancelamento de registro do inscrito:
multa. Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Novamente, o novo tipo apresenta a mesma redação do tipo revogado, aumentando-se a pena.

Omissão Grave de Dado ou de Informação por Projetista

REDAÇÃO NA LEI Nº 8.666, DE 1993 REDAÇÃO ATUAL NO CÓDIGO PENAL

Sem correspondente na Lei anterior Omissão grave de dado ou de informação por projetista
Art. 337-O. Omitir, modificar ou entregar à Administração
Pública levantamento cadastral ou condição de contorno
em relevante dissonância com a realidade, em frustração
ao caráter competitivo da licitação ou em detrimento da
seleção da proposta mais vantajosa para a Administração
Pública, em contratação para a elaboração de projeto bá-
sico, projeto executivo ou anteprojeto, em diálogo compe-
titivo ou em procedimento de manifestação de interesse:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa.
§ 1º Consideram-se condição de contorno as informa-
ções e os levantamentos suficientes e necessários para a
definição da solução de projeto e dos respectivos preços
pelo licitante, incluídos sondagens, topografia, estudos
de demanda, condições ambientais e demais elementos
ambientais impactantes, considerados requisitos míni-
mos ou obrigatórios em normas técnicas que orientam a
elaboração de projetos.
§ 2º Se o crime é praticado com o fim de obter benefício,
direto ou indireto, próprio ou de outrem, aplica-se em do-
bro a pena prevista no caput deste artigo.

O art. 337-O, do CP, que dispõe sobre o crime de omissão grave de dado ou informação por projetista, é o único
que não encontra correspondente na Lei nº 8.666, de 1993.
O tipo pune com pena de reclusão 6 meses a 3 anos e multa o contratado pela Administração Pública com a
finalidade de elaborar anteprojeto, projeto básico ou projeto executivo de obras e serviços de engenharia, que
omita, modifique ou entregue algum dado ou informação errado.
O dispositivo visa coibir que o contratado omita, modifique ou entregue informações relevantes para o pro-
cesso licitatório que não reflitam a realidade no que diz respeito ao levantamento cadastral ou à condição de
contorno.
Observe que a pena se aplica em dobro se o crime for praticado com o fim de obter benefício, direto ou indi-
406 reto, próprio ou de outrem.
Da Pena de Multa Cominada aos Crimes em Licitações e Contratos Administrativos

REDAÇÃO NA LEI Nº 8.666, DE 1993 REDAÇÃO ATUAL NO CÓDIGO PENAL

Art. 99 A pena de multa cominada nos arts. 89 a 98 desta Art. 337-P A pena de multa cominada aos crimes pre-
Lei consiste no pagamento de quantia fixada na sentença vistos neste Capítulo seguirá a metodologia de cálculo
e calculada em índices percentuais, cuja base correspon- prevista neste Código e não poderá ser inferior a 2% (dois
derá ao valor da vantagem efetivamente obtida ou poten- por cento) do valor do contrato licitado ou celebrado com
cialmente auferível pelo agente. contratação direta.
§ 1º Os índices a que se refere este artigo não poderão
ser inferiores a 2% (dois por cento), nem superiores a 5%
(cinco por cento) do valor do contrato licitado ou celebra-
do com dispensa ou inexigibilidade de licitação.
§ 2º O produto da arrecadação da multa reverterá, con-
forme o caso, à Fazenda Federal, Distrital, Estadual ou
Municipal.

Outra modificação trazida foi a exclusão do teto previsto para a multa cominada aos crimes licitatórios, que
antes era limitada a 5% do valor do contrato licitado ou celebrado com dispensa ou inexigibilidade de licitação.
Além disso, o art. 99, da Lei nº 8.666, de 1993, trazia forma especial de cálculo de multa, que era aplicada em
porcentagem sobre o valor da vantagem efetivamente obtida ou potencialmente auferível pelo agente. Agora,
segue-se a regra geral do CP, com a estipulação de dias-multa.
O único ponto mantido de acordo com a Lei anterior foi que o valor da pena não pode ser inferior a 2% do
valor do contrato licitado ou celebrado com contratação direta.

Importante!
A forma do cálculo da pena de multa dos crimes licitatórios seguia forma especial na Lei nº 8.666, de 1993;
agora, o cálculo segue a sistemática prevista no CP .

CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA

Os crimes contra a administração da justiça têm como finalidade proteger uma regular fruição da atividade
judicial brasileira, incluindo atividades de natureza policial.
A atividade judicial é de fundamental importância para a sociedade, necessitando, assim, de proteção por
parte do Direito Penal.

Reingresso de Estrangeiro Expulso

Art. 338 Reingressar no território nacional o estrangeiro que dele foi expulso:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, sem prejuízo de nova expulsão após o cumprimento da pena.

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


Este crime, previsto no art. 338, do Código Penal, irá se configurar quando o estrangeiro que foi expulso do
Brasil reingressar ao território nacional.
Nos termos do art. 54, da Lei de Migração (Lei nº 13.445, de 2017), a expulsão consiste em medida administrativa
de retirada compulsória de migrante ou visitante do território nacional, conjugada com o impedimento de reingresso
por prazo determinado.
O agente será responsabilizado penalmente, podendo, ainda, sofrer nova expulsão do território brasileiro.
Sobre o crime de reingresso de estrangeiro expulso, é importante ficar atento ao seguinte:

z É crime de mão própria, praticado pelo estrangeiro expulso, não podendo a figura típica ser praticada por
intermédio de terceira pessoa. O fato de o crime ser de mão própria não exclui a possibilidade de concurso de
pessoas na modalidade participação;
z É necessário, para configuração do crime, que o estrangeiro tenha ciência de que foi expulso do território bra-
sileiro (prévia e oficial expulsão do estrangeiro, por meio de decisão administrativa);
z Admite tentativa;
z É crime material, que se consuma com o devido reingresso ao território nacional, após ter deixado o país em
razão da expulsão. Não é necessário que o agente realize alguma conduta típica criminosa específica. Trata-se
de crime instantâneo;
z Trata-se de crime de competência da justiça federal;
z Não se tipifica o crime quanto o estrangeiro, após decretada sua expulsão, permanece indevidamente no país.

407
Denunciação Caluniosa No caso de denunciação caluniosa privilegiada, a
pena será diminuída de metade, caso a imputação seja
A denunciação caluniosa está prevista no art. 339, de prática de contravenção penal.
do Código Penal: Observe as principais diferenças entre a denuncia-
ção caluniosa e o crime de calúnia:
Art. 339 Dar causa à instauração de investigação
policial, de processo judicial, instauração de inves-
DENUNCIAÇÃO
tigação administrativa, inquérito civil ou ação de CALÚNIA
CALUNIOSA
improbidade administrativa contra alguém, impu-
tando-lhe crime de que o sabe inocente: É crime contra a adminis- É crime contra a honra
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. tração da justiça A ação penal é privada
§ 1º A pena é aumentada de sexta parte, se o agente A ação penal é pública in- Punida pelo fato de o agen-
se serve de anonimato ou de nome suposto. condicionada; discute-se te ofender a honra objetiva
§ 2º A pena é diminuída de metade, se a imputação na doutrina e jurisprudên- da vítima
é de prática de contravenção. cia se o processo por de- É admitida a imputação
nunciação caluniosa pode falsa apenas de crime
Tem como figura típica a seguinte conduta: dar ser iniciado antes do des-
causa direta ou indireta à instauração de investigação fecho do procedimento ou
ação originários
policial, de processo judicial, instauração de investiga-
Punida pelo fato de o agen-
ção administrativa, inquérito civil ou ação de impro-
te movimentar falsamente
bidade administrativa contra alguém, imputando-lhe o aparato estatal, tentando
crime de que o sabe inocente. prejudicar a vítima perante
Como é possível se extrair pela leitura da figura o Estado
típica, o crime pode ser praticado mesmo que o agen- É admitida a imputação
te dê causa a outro procedimento, ainda que não seja falsa de crime ou contra-
processo judicial, a exemplo de investigação policial venção penal
ou administrativa. É importante compreender isso,
pois muitas questões abordam esta situação.
Comunicação Falsa de Crime ou Contravenção
Sobre o crime de denunciação caluniosa, é impor-
tante ficar atento ao seguinte: Art. 340 Provocar a ação de autoridade, comuni-
cando-lhe a ocorrência de crime ou de contraven-
z Só pode ser praticado dolosamente. Parte da dou- ção que sabe não se ter verificado:
trina não admite o dolo eventual neste crime, já Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
que o tipo penal exige que o agente saiba que o
fato é imputado contra pessoa inocente.
Importante!
A denunciação caluniosa poderá se configurar
quando o agente imputa crime que realmente acon- Ao contrário do que ocorre no crime de denun-
teceu contra pessoa que sabe ser inocente ou quando ciação caluniosa, no crime de falsa comuni-
imputa a alguém a prática de crime que não existiu cação de crime ou contravenção o agente não
(neste caso, não há dúvidas sobre a inocência da pes- individualiza o autor do fato que não existiu, mas
soa, já que o fato sequer aconteceu); apenas comunica à autoridade crime ou contra-
venção penal que sabe não ter ocorrido.
z É necessário que o fato imputado seja crime ou
contravenção penal (no caso de contravenção
penal, a pena será reduzida de metade), não se Sobre este crime, é importante mencionar que:
configurando este tipo penal caso o agente impute
infração administrativa ou civil; z Não admite a forma culposa. Assim, se o agente
z É crime comum; comunica à autoridade, sem intenção, crime ou
z Admite a forma tentada. Por exemplo, o agente contravenção penal, provocando a ação desta, este
narra ao delegado de polícia que o autor de deter- tipo penal não estará configurado;
minado crime foi a pessoa A, mas o delegado não z É crime comum;
inicia qualquer investigação porque o verdadeiro z Admite tentativa;
autor do crime é B, que se apresenta e confessa ter z Se o fato imputado for infração administrativa ou
cometido o delito antes mesmo de a autoridade ter civil, não irá se configurar o crime;
iniciado qualquer investigação; z A maioria da doutrina, não se configura o crime
z A pessoa contra quem se imputa o crime deve ser quando o agente se limita a comunicar ilícito penal
determinada, sendo ela, assim como o Estado, o diverso do que realmente ocorreu, desde que o
sujeito passivo da prática delituosa; fato comunicado e o que realmente ocorreu sejam
z Em regra, a denunciação caluniosa absorve o cri- crimes da mesma natureza;
me de calúnia. z Se o agente faz a comunicação falsa para tentar
ocultar outro crime por ele praticado, responde
A pena será aumentada de 1/6 (sexta parte), caso também pela comunicação falsa de crime.
o agente se sirva de anonimato ou de nome suposto.
408
COMUNICAÇÃO Art. 342 Fazer afirmação falsa, ou negar ou
DENUNCIAÇÃO calar a verdade como testemunha, perito, con-
FALSA DE CRIME OU
CALUNIOSA tador, tradutor ou intérprete em processo judi-
CONTRAVENÇÃO
cial, ou administrativo, inquérito policial, ou em
O agente não aponta pes-
juízo arbitral:
soa certa e determinada O agente aponta pessoa
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e
como autora da infração certa e determinada como
multa.
penal, mas apenas comu- autora da infração penal
nica fato inexistente
Trata-se de crime plurinuclear, que poderá ser
Instaura inquérito policial, praticado mediante a execução de quaisquer um dos
procedimento investiga-
verbos previstos no tipo penal.
Adota alguma ação com tório criminal, processo
Sua consumação ocorre com o encerramento do
finalidade de apurar os judicial, processo adminis-
fatos trativo disciplinar, inquérito depoimento.
civil ou ação de improbida- Sobre o crime de falso testemunha ou falsa perícia,
de administrativa é importante levar para a sua prova:

z Não admite a forma culposa;


Exemplo: José Carlos viu uma publicação no Face-
z Sujeito ativo: É crime de mão própria, que só pode-
book relacionada a um aborto. De imediato, ligou
rá ser praticado por uma das pessoas previstas no
para uma delegacia de polícia e comunicou o crime ao
tipo penal (testemunha, perito, contador, tradutor
delegado de polícia, que iniciou as investigações sobre
ou intérprete).
o fato. Entretanto, não sabia José Carlos que o abor-
to não existiu, já que a publicação se tratava de uma
brincadeira por parte daquele que a realizou. Importante!
Não há que se falar em figura típica da comunica-
ção falsa de crime, já que o agente não teve dolo de � O ofendido (vítima) que praticar quaisquer dos
comunicar falsamente o fato que não existiu. verbos previstos no tipo penal não pratica o crime
de falso testemunho, já que ele não é testemunha;
Autoacusação Falsa � Os investigados ou acusados não cometem o
crime de falso testemunho, pois não são consi-
Art. 341 Acusar-se, perante a autoridade, de crime derados testemunhas;
inexistente ou praticado por outrem: � As pessoas descompromissadas ou dispensa-
Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou
das de depor, bem como as pessoas proibidas
multa.
de depor, poderão ser responsabilizadas pelo
É possível a configuração deste tipo penal quando delito em tela.
o agente se acusar de:
Segundo posicionamento doutrinário dominante:
z Crime não existente (a conduta criminosa sequer
foi praticada, sequer existiu); z O falso testemunho não admite coautoria, mas é
z Crime existente, mas praticado por outra pessoa possível a participação;
(a conduta criminosa foi realmente realizada, mas z A falsa perícia admite coautoria e participação.

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


foi outro indivíduo que a praticou).
Causas de Aumento de Pena
Sobre a autoacusação falsa, é importante levar em
consideração: Art. 342 [...]
§ 1º As penas aumentam-se de um sexto a um ter-
z Só pode ser praticado dolosamente; ço, se o crime é praticado mediante suborno ou
z Admite a modalidade tentada na forma escrita, se cometido com o fim de obter prova destinada a
quando a confissão falsa remetida se extravia; produzir efeito em processo penal, ou em processo
z Não se exige que seja praticado apenas perante civil em que for parte entidade da administra-
a autoridade policial, mas pode ser na presença ção pública direta ou indireta.
de qualquer autoridade competente (delegado de
polícia, membro do Ministério Público, autoridade O tipo penal apresenta hipóteses que aumentarão
judicial etc.); a pena do agente. As penas aumentam-se de 1/6 (um
z Não se exige a prática de qualquer ato por parte da sexto) a um terço, se o crime é:
autoridade para a consumação do crime, bastando
a autoacusação falsa; z Praticado mediante suborno;
z O direito da autodefesa não permite que se impute z Cometido com o fim de obter prova destinada a
falsamente crime a si mesmo. produzir efeito em processo penal;
z Cometido com o fim de obter prova destinada a pro-
Falso Testemunho ou Falsa Perícia duzir efeito em processo civil em que for parte enti-
dade da Administração Pública direta ou indireta.
O crime de falso testemunho ou falsa perícia está
previsto no art. 342, do Código Penal. 409
Retratação — Causa Especial de Extinção da Sobre o crime de corrupção ativa de testemunha
Punibilidade contador, perito, intérprete ou tradutor, é importante
ficar atento ao seguinte:
Art. 342 [...]
§ 2º O fato deixa de ser punível se, antes da sen- z Não pode ser praticado culposamente;
tença no processo em que ocorreu o ilícito, o z Nos verbos oferecer ou prometer, é crime formal;
agente se retrata ou declara a verdade. z No verbo dar, é crime material;
z Admite tentativa, quando for possível fracionar o
Se o agente se retratar ou falar a verdade poderá iter criminis;
ter extinta a punibilidade do crime, desde que isso: z O crime de corrupção ativa de testemunha ou
perito deixa de ser punível se, antes da sentença
z Seja realizado antes da sentença (ainda preva- no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se
lece o entendimento de que se trata da sentença retrata ou declara a verdade, mas não se estende
recorrível); ao crime apurado no procedimento em que a tes-
z Seja realizado no processo em que ocorreu o ilícito temunha faltou com a verdade.
(no processo em que se deu o falso e não no proces-
so referente ao falso). Coação no Curso do Processo

Não responderá pelo crime de falso testemu- Art. 344 Usar de violência ou grave ameaça,
nho a pessoa que praticar as condutas descritas no com o fim de favorecer interesse próprio ou
tipo penal incriminador com a finalidade de não se alheio, contra autoridade, parte, ou qualquer
autoincriminar. outra pessoa que funciona ou é chamada a intervir
Lembre-se de que ninguém será prejudicado por em processo judicial, policial ou administrativo, ou
em juízo arbitral:
não produzir provas contra si mesmo.
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, além
Quando a testemunha mente por estar sendo
da pena correspondente à violência.
ameaçada de morte ou algum outro mal grave, não
responde pelo crime de falso testemunho. O crime de coação no curso do processo é aquele
em que, para beneficiar a si ou a terceiro, o agente
Corrupção Ativa de Testemunha ou Perito emprega violência ou grave ameaça contra pessoas
que participam do processo ou juízo arbitral.
Art. 343 Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou Observe as duas hipóteses:
qualquer outra vantagem a testemunha, perito,
contador, tradutor ou intérprete, para fazer afirma-
z Suponha que André tenha praticado um crime de
ção falsa, negar ou calar a verdade em depoimento,
roubo a um supermercado, estando ele sendo pro-
perícia, cálculos, tradução ou interpretação:
cessado por isso. Thais, funcionária do supermer-
Pena - reclusão, de três a quatro anos, e multa.
cado, é testemunha, tendo sido marcado um dia
para que ela comparecesse em juízo para dar seu
O art. 343, do Código Penal, apresenta um outro
depoimento. André, com a finalidade de favorecer
tipo penal, chamado por parte da doutrina de corrup- seus próprios interesses, vai à casa de Thais e, uti-
ção ativa de testemunha contador, perito, intérprete lizando-se de uma arma de fogo para ameaçá-la,
ou tradutor. exige que ela diga que não foi ele quem praticou o
fato, mas outra pessoa. André praticou o crime de
z Verbos: dar, oferecer ou prometer; coação no curso do processo, já que empregou gra-
z Destinatário: testemunha, perito, contador, tra- ve ameaça contra pessoa chamada a intervir em
dutor ou intérprete; processo judicial;
z Finalidade: fazer com que as pessoas façam z Aproveitando a mesma hipótese anterior, porém,
afirmação falsa, neguem ou calem a verdade agora André, sabendo sobre o que Thais disse na
em depoimento, perícia, cálculos, tradução ou inquirição, vai à casa dela e, utilizando-se de uma
interpretação. arma de fogo para ameaçá-la, diz que irá matá-la
por não dizer que foi outra pessoa que praticou o
Art. 342 [...] crime, por tê-lo incriminado. André, nesta hipó-
Parágrafo único. As penas aumentam-se de um sex- tese, praticou o crime de ameaça, uma vez que
to a um terço, se o crime é cometido com o fim de empregou grave ameaça contra a pessoa após o
obter prova destinada a produzir efeito em proces- depoimento, exaurindo-se a participação daquela
so penal ou em processo civil em que for parte enti- na ação.
dade da administração pública direta ou indireta.
Caso o agente se utilize de violência para praticar o
As penas irão aumentar de 1/6 a 1/3 (um sexto a crime de coação no curso do processo, responderá por
um terço), se o crime é: este, além da pena correspondente à violência.
Sobre a coação no curso do processo, fique atento
z Cometido com o fim de obter prova destinada a às seguintes informações:
produzir efeito em processo penal;
z Cometido com o fim de obter prova destinada a z Pode ser praticado contra as autoridades respon-
produzir efeito em processo civil em que for par- sáveis pela condução do processo, como juízes,
te entidade da Administração Pública direta ou promotores, delegados de polícia, entre outros;
410 indireta. z Só pode ser praticado dolosamente;
z Exige-se o dolo específico por parte do agente de z Trata-se de crime próprio. Exige-se que a coisa seja
favorecer interesse próprio ou alheio; própria do agente que praticou a conduta delituosa.
z É crime formal, que se consuma com o uso de vio- Pode haver coautoria ou participação de terceiros;
lência ou grave ameaça, independentemente de o z O objeto deve estar em poder de terceiro por deter-
coagido ceder; minação judicial ou convenção. Se for por outro
z Admite a forma tentada na hipótese de o crime ser motivo, não se configurará este crime;
praticado por escrito e haver extravio. z Admite tentativa.

Exercício Arbitrário das Próprias Razões Para consumação deste crime, existem duas correntes:

Art. 345 Fazer justiça pelas próprias mãos, para z O crime é formal e consuma-se quando o agente
satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quan- emprega o meio executório;
do a lei o permite: z O crime é material e só se consuma com a satisfa-
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, ção da pretensão visada.
além da pena correspondente à violência.
Parágrafo único. Se não há emprego de violência, Fraude Processual
somente se procede mediante queixa.
Art. 347 Inovar artificiosamente, na pendência de
Observe a parte final da figura típica: salvo quan- processo civil ou administrativo, o estado de lugar,
do a lei o permite. de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o
Pode-se concluir que, quando houver permissão juiz ou o perito:
legal, o agente que fizer justiça com as próprias mãos Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.
não será responsabilizado criminalmente. Assim, caso Parágrafo único. Se a inovação se destina a produ-
o agente mate alguém em legítima defesa, não será ele zir efeito em processo penal, ainda que não inicia-
responsabilizado criminalmente. do, as penas aplicam-se em dobro.
Observe o exemplo a seguir: Tício é proprietário
de uma casa que se encontra alugada para Mévio. O Com previsão legal no art. 347, do Código Penal, o
inquilino está devendo 6 (seis) meses de aluguel. Tício, crime de fraude processual configurar-se-á quando o
indignado com a situação, vai até o local, troca todas as agente inovar artificiosamente, na pendência de proces-
fechaduras e coloca os objetos pessoais de Mévio do lado so civil ou administrativo, o estado de lugar, de coisa ou
de fora. Neste caso, Tício praticou o crime de exercício de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito.
arbitrário das próprias razões, já que fez justiça com as Aplica-se a pena em dobro se a inovação se destina
próprias mãos, para satisfazer pretensão legítima (ele a produzir efeito em processo penal, ainda que não
tinha o direito de receber os valores correspondentes ao indiciado o agente.
aluguel de seu imóvel). A pretensão do agente deveria Exemplo: Carlos praticou o crime de homicídio, ao
ter sido solucionada pelos meios legais pertinentes. matar Cláudio, que lhe devia uma quantia em dinhei-
Sobre o exercício arbitrário das próprias razões, ro. Com a finalidade de simular uma hipótese de legíti-
deve-se ficar atento ao seguinte: ma defesa, para induzir o perito a erro, Carlos coloca,
fraudulentamente, nas mãos da vítima, uma arma de
z É crime comum, que pode ser praticado por qual- fogo, modificando o estado de pessoa.
quer pessoa; Carlos praticou o crime de fraude processual, res-
z Só poderá ser praticado dolosamente; pondendo pelo crime com a pena dobrada, já que ino-
z É crime formal, consumando-se com o emprego ou vou artificiosamente, na pendência de processo penal.
uso do meio arbitrário, independentemente de o Sobre o crime de fraude processual, fique atento

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


agente alcançar ou não a pretensão; ao seguinte:
z Admite tentativa;
z Caso o agente pratique o crime com emprego de z É crime comum;
violência, responderá também por ela. z Não admite a modalidade culposa;
z Exige dolo específico: fim de induzir a erro juiz ou
Subtração ou Dano de Coisa Própria Legalmente em perito;
Poder de Terceiro z É crime formal, que se consuma com a prática da
conduta prevista no tipo penal, ainda que não seja
Art. 346 Tirar, suprimir, destruir ou danificar coi- efetivamente induzido a erro o juiz ou o perito;
sa própria, que se acha em poder de terceiro por z Admite a modalidade tentada.
determinação judicial ou convenção:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
Importante!
No art. 346, do Código Penal, há uma outra figu-
ra típica, bastante parecida com o crime de exercício A respeito do direito à não autoincriminação,
arbitrário das próprias razões. Sobre este tipo penal, é vejamos o entendimento do STJ: “O direito à não
importante salientar: autoincriminação não abrange a possibilidade
de os acusados alterarem a cena do crime, ino-
z Só pode ser praticado dolosamente; vando o estado de lugar, de coisa ou de pessoa,
z É crime de ação múltipla, que irá se configurar com para, criando artificiosamente outra realidade,
a prática de quaisquer um dos verbos previstos no levar peritos ou o próprio Juiz a erro de avalia-
tipo penal: tirar, suprimir, destruir ou danificar; ção relevante”.24
24 (STJ: HC 137.206/SP, rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, 5ª Turma, j. 01.12.2009). 411
Favorecimento Pessoal Sobre o favorecimento pessoal, leve para a sua
prova o seguinte:
Art. 348 Auxiliar a subtrair-se à ação de autorida-
de pública autor de crime a que é cominada pena z Não pode ser praticado culposamente;
de reclusão:
z É crime comum;
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
z O crime consuma-se com o êxito na subtração do
§ 1º Se ao crime não é cominada pena de reclusão:
criminoso;
Pena - detenção, de quinze dias a três meses, e
multa. z Caso não ocorra êxito na subtração, haverá a
§ 2º Se quem presta o auxílio é ascendente, des- modalidade tentada;
cendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica z É crime acessório, que exige a ocorrência de delito
isento de pena. anterior;
z A infração penal cometida pelo agente deve cons-
O favorecimento pessoal, previsto no art. 348, do tituir um crime. Se a infração for tipificada como
Código Penal, configurar-se-á quando o agente auxi- contravenção penal, o favorecimento será atípico;
liar a subtrair-se à ação de autoridade pública autor z Não pratica o crime o agente que auxiliar a sub-
de crime a que é cominada pena de reclusão. trair-se à ação de autoridade pública autor de con-
O crime consiste no apoio dado ao criminoso, seja travenção penal.
dando refúgio, abrigo ou facilitando a sua fuga. Neste
crime, o auxílio dá-se após a prática do crime, o que Favorecimento Real
difere da participação, em que o auxílio é prestado
antes ou durante o crime. Art. 349 Prestar a criminoso, fora dos casos de
co-autoria ou de receptação, auxílio destinado
a tornar seguro o proveito do crime:
FAVORECIMENTO PARTICIPAÇÃO NO Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
PESSOAL DELITO
Requisitos do favorecimento real:
Auxílio ao criminoso ocor- Auxílio ao criminoso ocorre
re após a prática do crime antes ou durante o crime
z Prestar auxílio a criminoso após a prática do
crime;
Este tipo penal pode gerar algumas dúvidas. Para z O auxílio é destinado a tornar seguro o proveito do
esclarecê-las, vamos analisar alguns exemplos: crime (que já ocorreu) — não abrange o provento
Exemplo 1: Júnior pratica o crime de roubo. O de contravenção penal;
delegado de polícia da região está a sua procura. O z Aquele que presta auxílio não pode ser coautor ou
autor do crime pede para se esconder do delegado na receptador do crime praticado anteriormente.
casa de Danilo, seu amigo. Danilo, em sua casa, escon-
de Júnior. Júnior responderá pelo crime de roubo; Ao favorecimento real não se aplica a escusa penal
Danilo, pelo crime de favorecimento pessoal, já que absolutória mesmo que a conduta seja praticada pelo
auxiliou a se subtrair da ação de autoridade pública ascendente, descendente, cônjuge ou irmão.
autor de crime a que se comina pena de reclusão. Sobre o favorecimento real, é importante mencio-
Exemplo 2: Francisco, Jefferson e César combi- nar que:
nam um crime de roubo. Francisco e Jefferson vão
praticar o verbo descrito no tipo penal, César irá dar z Não admite a culpa;
fuga aos agentes. O crime é praticado, os policiais z Admite tentativa;
acabam tomando conhecimento da prática delituosa z O auxílio não pode ter sido combinado previamen-
e vão atrás dos criminosos, contudo, eles conseguem te pelos agentes; caso os agentes combinem antes,
se evadir. Todos os agentes responderão apenas pelo o crime não será de favorecimento real, e sim
crime de roubo. Não se aplica a César, responsável haverá participação;
pela fuga, o crime de favorecimento pessoal, porque, z É crime comum.
para que se configure este crime, não pode o agente
ter participado do crime anterior e nem pode haver Favorecimento Real Impróprio ou Ingresso Não
liame subjetivo prévio entre os agentes, ou seja, liga- Autorizado de Aparelho Telefônico ou Similar em
ção ou vínculo psicológico e subjetivo entre os agentes Presídio
do delito.
Este crime apresenta uma forma privilegiada, à Há uma conduta típica, prevista no art. 349-A, do
qual se comina uma pena mais branda se ao crime Código Penal, inserida no ano de 2009, chamada por
praticado não é cominada pena de reclusão (detenção, parte da doutrina de favorecimento real impróprio.
por exemplo).
Haverá isenção de pena (escusa penal absolutória) Art. 349-A Ingressar, promover, intermediar, auxi-
caso a conduta que configura o favorecimento pessoal liar ou facilitar a entrada de aparelho telefônico de
seja praticada por: comunicação móvel, de rádio ou similar, sem auto-
rização legal, em estabelecimento prisional.
z Ascendente; Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
z Descendente;
z Cônjuge; Trata-se de crime plurinuclear, que poderá ser
z Irmão. praticado mediante a execução de quaisquer um dos
verbos descritos no tipo penal incriminador.
412
Sobre este crime, é importante levar para a sua prova: Na forma culposa, é crime próprio, que será prati-
cado pelo funcionário incumbido da guarda ou custó-
z Não admite a culpa; dia da pessoa presa.
z Caso haja autorização legal para ingresso do apa-
relho, o fato será atípico; Sobre o crime de fuga de pessoa presa ou subme-
z É crime comum; tida à medida de segurança, é importante levar em
z A pessoa que se encontra presa poderá responder consideração:
por este tipo penal; contudo, caso apenas utilize o
aparelho que ingressou no estabelecimento prisio- z Pode ser praticado tanto intramuros (no interior
nal, não será punida por este crime, cometendo de estabelecimento de natureza prisional) quando
apenas falta grave, de acordo com a Lei de Execu- extramuros (durante procedimento de escolta ou
ções Penais. condução);
z Em regra, trata-se de crime comum, que pode ser
Exercício Arbitrário ou Abuso de Poder praticado por qualquer pessoa;
z Admite a forma culposa;
Este crime, previsto no art. 350, do Código Penal, z É necessário, para configuração do crime, que a
encontrava-se revogado tacitamente pela Lei de Abu- prisão a que está submetida a pessoa seja legal;
so de Autoridade, Lei 4.898, de 1965. Com a Lei nº z Trata-se de crime material, que se consuma com a
13.964, de 2019, o crime foi expressamente revogado. efetiva fuga;
z Admite a forma tentada;
Fuga de Pessoa Presa ou Submetida à Medida de z Caso seja praticado mediante violência contra pes-
Segurança
soa, responderá o agente também pela violência.
Art. 351 Promover ou facilitar a fuga de pessoa
Evasão Mediante Violência Contra Pessoa
legalmente presa ou submetida a medida de segu-
rança detentiva:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. Art. 352 Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou
o indivíduo submetido a medida de segurança
detentiva, usando de violência contra a pessoa:
Previsto no art. 351, do CP, este crime tem a seguin-
Pena - detenção, de três meses a um ano, além da
te figura típica: Promover ou facilitar a fuga de pessoa
pena correspondente à violência.
legalmente presa ou submetida a medida de seguran-
ça detentiva. Como se pode observar pela leitura da
Sobre este crime, é muito importante que você
figura típica, este tipo penal poderá ser praticado de
2 (duas) formas: leve em consideração:

z Com a promoção da fuga; z Trata-se de crime próprio, que só poderá ser prati-
z Com a facilitação da fuga. cado por pessoa presa ou submetida a medida de
segurança detentiva;
z Forma qualificada: z Só pode ser praticado dolosamente;
z É crime de atentado ou de empreendimento, pois
Art. 351 [...] prevê expressamente em sua descrição típica a
§ 1º Se o crime é praticado a mão armada, ou por conduta de tentar o resultado, por isso, não admi-
mais de uma pessoa, ou mediante arrombamento, a te a tentativa;
pena é de reclusão, de dois a seis anos. z Exige-se o emprego de violência contra pessoa.

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


§ 2º Se há emprego de violência contra pessoa, apli-
ca-se também a pena correspondente à violência. Caso não haja emprego de violência ou se esta seja
§ 3º A pena é de reclusão, de um a quatro anos, se o empregada contra coisa, não irá se configurar este
crime é praticado por pessoa sob cuja custódia ou crime.
guarda está o preso ou o internado.
z Exemplo 1: Michele, presa em uma penitenciá-
„ Se o crime é praticado por pessoa sob cuja cus-
ria feminina, para fugir, emprega violência con-
tódia ou guarda está o preso ou internado, será
tra uma agente prisional, conseguindo, assim,
crime próprio. Obs: Se a prisão for ilegal, não
evadir-se;
haverá a incidência deste crime, uma vez que
z Exemplo 2: Michele, presa em uma penitenciária
estará presente a legítima defesa de terceiro;
feminina, aproveitando de um momento de des-
„ Se o crime é praticado à mão armada, ou por
cuido dos agentes prisionais, quebra uma janela
mais de uma pessoa, ou mediante arromba-
com um soco e foge do estabelecimento prisional;
mento, a pena é de reclusão, de dois a seis anos;
„ Se há emprego de violência contra a pessoa, o z Exemplo 3: Michele, presa em uma penitenciária
agente responderá também pelo crime corres- feminina, ao verificar que os agentes prisionais
pondente à violência. estão distraídos, foge, pulando o muro do estabe-
lecimento prisional.
z Forma culposa:
Apenas no exemplo 1 haverá a configuração do
Art. 351 [...] crime de evasão mediante violência contra pessoa, já
§ 4º No caso de culpa do funcionário incumbido da que no exemplo 2 a violência foi empregada contra
custódia ou guarda, aplica-se a pena de detenção, coisa e no exemplo 3 não houve emprego de violência.
de três meses a um ano, ou multa. 413
Importante! z Não é relevante, para fins de caracterização des-
te crime, se o interesse dos presos é legítimo ou
Se da violência resultarem lesões, ainda que
ilegítimo;
leves, ou morte, o agente responderá pelos dois z Caso seja praticado com emprego de violência, res-
crimes, e as penas serão somadas. ponderão os agentes, também, por ela;
z Caso os agentes consigam evadir-se em decorrên-
cia da violência empregada para o motim, respon-
Arrebatamento de Preso
derão também pelo crime do art. 352, do CP;
z Admite a forma tentada.
Art. 353 Arrebatar preso, a fim de maltratá-lo,
do poder de quem o tenha sob custódia ou guarda:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, além da pena
Patrocínio Infiel
correspondente à violência.
Art. 355 Trair, na qualidade de advogado ou procu-
rador, o dever profissional, prejudicando interesse,
Sobre este crime, são relevantes as seguintes
cujo patrocínio, em juízo, lhe é confiado:
informações: Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na pena deste artigo o
z Não admite a modalidade culposa; advogado ou procurador judicial que defende na
z Exige dolo específico: fim de maltratar o preso mesma causa, simultânea ou sucessivamente, par-
(aplicar-lhe uma surra, por exemplo); tes contrárias.
z É crime comum, pode ser praticado por qualquer
pessoa; No art. 355, do CP, temos dois crimes distintos,
z O tipo penal diz preso, sem discriminar se a prisão com as seguintes condutas típicas: patrocínio infiel
é legal ou ilegal; por isso, o agente pode cometer o no caput e patrocínio simultâneo ou tergiversação no
crime mesmo que a prisão seja ilegal; parágrafo único.
z O direito penal não permite a analogia, portan-
to, não haverá a incidência deste crime se o ato é z Patrocínio Infiel: trair, na qualidade de advogado
cometido contra pessoa internada por medida de ou procurador, o dever profissional, prejudicando
segurança; interesse, cujo patrocínio, em juízo, lhe é confiado.
z O preso arrebatado é sujeito passivo secundário;
z É crime formal, que se consuma com o arrebata- Sobre o crime de patrocínio infiel, é importante
mento, independentemente de se conseguir mal- que você saiba que:
tratar o preso;
z Admite a forma tentada; „ É crime próprio, que só será praticado pelo advo-
z Quando o agente empregar a violência em con- gado ou procurador que trair o dever funcional;
curso com o arrebatamento de preso, seja lesão „ É crime material, que se consuma quando se
corporal leve, grave ou gravíssima, mesmo que o prejudicar o interesse do representado;
„ Não admite forma culposa;
resultado seja morte, o sujeito ativo responderá
„ Admite tentativa somente quando o advogado
pelos dois crimes (arrebatamento de preso e lesão
ou procurador pretende cometer o crime na
corporal, por exemplo).
forma comissiva, uma vez que na forma omis-
siva não se admite a tentativa;
Motim de Presos
„ É crime próprio;
„ Não admite a forma culposa;
Art. 354 Amotinarem-se presos, perturbando a
„ É crime formal, que não exige o prejuízo;
ordem ou disciplina da prisão:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da
z Patrocínio simultâneo ou tergiversação: defen-
pena correspondente à violência.
der, na mesma causa, o advogado ou procura-
dor judicial, simultânea (patrocínio simultâneo)
Amotinarem-se transmite a ideia de revolta cole-
ou sucessivamente (tergiversação ou patrocínio
tiva dos presos com a ordem e a disciplina da prisão,
sucessivo), partes contrárias.
provocando perturbação e alvoroço.
Ordem diz respeito à tranquilidade do ambiente O patrocínio simultâneo configura-se quan-
prisional. do o advogado patrocinar as partes contrárias
Disciplina consiste no respeito e obediência às simultaneamente.
regras previamente estabelecidas. A tergiversação configura-se quando o advogado
deixa de patrocinar o seu cliente para patrocinar a
Sobre este crime, fique atento ao seguinte: parte contrária.

z É crime plurissubjetivo ou de concurso necessário, Sobre o crime de patrocínio simultâneo ou tergi-


já que será praticado por “presos”; versação, é importante saber que:
z É crime próprio, que só poderá ser praticado por
pessoas presas; „ É crime doloso;
z Só pode ser praticado dolosamente; „ Não admite a modalidade culposa;
z O Código Penal não faz referência ao número de „ A traição do advogado ou procurador deve pro-
presos que é necessário para a configuração do duzir prejuízo relevante de qualquer natureza,
tipo penal, mas deixa claro se tratar de um crime material ou moral, desde que lícito;
414 coletivo; „ Admite tentativa;
„ A ação penal é pública incondicionada. A pena do crime de exploração de prestígio será
aumentada de 1/3 (um terço) se o agente alega ou insi-
Sonegação de Papel ou Objeto de Valor Probatório nua que o dinheiro ou utilidade também se destina
ao juiz, ao jurado, ao órgão do ministério público, ao
Art. 356 Inutilizar, total ou parcialmente, ou funcionário de justiça, ao perito, ao tradutor, ao intér-
deixar de restituir autos, documento ou objeto prete ou à testemunha.
de valor probatório, que recebeu na qualidade de Sobre o crime de exploração de prestígio, leve para
advogado ou procurador: a sua prova:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.
z É crime comum, que poderá ser praticado por
Previsto no art. 356, do CP, este crime se configu- qualquer pessoa;
ra quando o agente inutilizar, total ou parcialmente, z Só poderá ser praticado dolosamente;
ou deixar de restituir autos, documento ou objeto de z No verbo solicitar, é crime formal;
valor probatório, que recebeu na qualidade de advo- z No verbo receber, é crime material;
gado ou procurador. z Admite tentativa.
Este crime pode ser praticado de duas formas:
Violência ou Fraude em Arrematação Judicial
z Inutilizar, total ou parcialmente, autos, documento
ou objeto de valor probatório (forma comissiva); Art. 358 Impedir, perturbar ou fraudar arrema-
tação judicial; afastar ou procurar afastar con-
z Deixar de restituir autos, documento ou objeto de
corrente ou licitante, por meio de violência, grave
valor probatório (forma omissiva). ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem:
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa,
Sobre este tipo penal, é importante ficar atento ao além da pena correspondente à violência.
seguinte:
Arrematação judicial, também conhecida como
z É crime próprio, que só pode ser praticado pelo leilão ou praça, é o ato de transferência dos bens
advogado ou procurador que recebeu os autos, penhorados do devedor, em que um funcionário da
documento ou objeto de valor probatório; justiça apregoa e um interessado os adquire, em hasta
z Não é punido na modalidade culposa; pública, pelo maior lance.
z A doutrina dominante admite a tentativa na moda- Trata-se de atividade inerente ao Poder Judiciário,
lidade comissiva — “inutilizar”, mas não admite consistente em verdadeira expropriação destinada à
na modalidade omissiva — “deixar de restituir”. satisfação de crédito não cumprido voluntariamente.
Sobre este crime, é importante ficar atento ao
Exploração de Prestígio seguinte:

Está previsto no art. 357, do CP: z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
quer pessoa;
Art. 357 Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer z Não admite a forma culpada;
outra utilidade, a pretexto de influir em juiz, jura- z Admite tentativa quando o agente não consegue,
do, órgão do Ministério Público, funcionário de jus- por circunstâncias alheias a sua vontade, impedir,
tiça, perito, tradutor, intérprete ou testemunha: perturbar ou fraudar a arrematação judicial;
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. z No caso de emprego de violência, responderá o
Parágrafo único. As penas aumentam-se de um agente, também, por ela.

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


terço, se o agente alega ou insinua que o dinheiro
ou utilidade também se destina a qualquer das pes- Desobediência a Decisão Judicial Sobre Perda ou
soas referidas neste artigo. Suspensão de Direito

Não se deve confundir este tipo penal com o cri- Art. 359 Exercer função, atividade, direito, autori-
me de tráfico de influência, previsto no art. 332, do CP. dade ou múnus, de que foi suspenso ou privado por
decisão judicial:
Vejamos a diferença na tabela a seguir:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou
multa.
EXPLORAÇÃO DE TRÁFICO DE
PRESTÍGIO (ART. 357) INFLUÊNCIA (ART. 332) Este crime está previsto no art. 359, do CP, e confi-
Crime contra a administra- Crime contra a administra- gurar-se-á quando o agente exercer função, atividade,
ção da justiça ção em geral direito, autoridade ou múnus, de que foi suspenso ou
Solicitar ou receber dinhei- Solicitar, exigir, cobrar privado por decisão judicial.
ro ou qualquer outra utilida- ou obter, para si ou para O crime de desobediência a decisão judicial sobre
de, a pretexto de influir em outrem, vantagem ou pro- perda ou suspensão de direito, inserido no Código
messa de vantagem, a pre- Penal entre os crimes contra a administração da justi-
texto de influir em ça, representa uma modalidade especial do delito de
desobediência, capitulado no art. 329, do CP, entre os
juiz, jurado, órgão do Mi- em ato praticado por fun- crimes praticados por particular contra a administra-
nistério Público, funcio- cionário público no exercí- ção em geral.
nário de justiça, perito, cio da função Há, nos dois delitos, o descumprimento de ordem
tradutor, intérprete ou legal emanada de funcionário público. No entanto, o
testemunha crime definido no art. 359, do CP, possui elementos 415
especializantes, pois o agente não desobedece a uma II - quando o montante da dívida consolidada ultra-
simples ordem legal emitida por qualquer funcioná- passa o limite máximo autorizado por lei.
rio público.
Neste crime, o agente vai além, exercendo função, Conduta típica: ordenar, autorizar ou realizar ope-
atividade, direito, autoridade ou múnus de que estava ração de crédito, interno ou externo, sem prévia auto-
suspenso ou privado por decisão judicial. rização legislativa.
Tutela-se a administração da justiça. Trata-se de crime de ação múltipla, que poderá ser
Quanto ao sujeito ativo, verifica-se que se trata praticado mediante a execução de qualquer um dos
de crime próprio ou especial, pois somente pode ser verbos previstos no tipo penal. Responde por este cri-
praticado pela pessoa que, por decisão judicial, foi me aquele que praticar a conduta típica.
suspensa ou privada relativamente ao exercício de Há formas equiparadas do crime de contratação
determinada função, atividade, direito, autoridade ou de operação de crédito, incorrendo nas mesmas penas
múnus. aquele que ordena, autoriza ou realiza, operação de
O sujeito passivo é o Estado. crédito, interno ou externo:
Consuma-se com o simples exercício da função,
atividade, direito, autoridade ou múnus do qual o z Com inobservância de limite, condição ou montan-
agente foi suspenso ou privado por decisão judicial, te estabelecido em lei ou em resolução do Senado
ainda que desta conduta não seja produzido nenhum
Federal;
resultado naturalístico.
z Quando o montante da dívida consolidada ultra-
Basta a prática de um único ato capaz de afrontar a
passa o limite máximo autorizado por lei.
determinação emanada do Poder Judiciário.
Sobre este crime, é importante que você leve em
Sobre este crime, é importante levar em conside-
consideração as seguintes informações:
ração que:
z Só poderá ser praticado dolosamente;
z Admite a modalidade tentada; z Não admite a modalidade culposa;
z Exige-se que a suspensão ou privação se dê por z Caso o agente pratique as condutas com autoriza-
decisão judicial. Caso se trate de decisão adminis- ção legislativa prévia, o fato será atípico, mas, se
trativa, não se configurará este tipo penal. ultrapassar os limites da lei, o fato será típico;
z Nos verbos ordenar e autorizar, o crime é formal;
CRIMES CONTRA AS FINANÇAS PÚBLICAS z No verbo realizar, o crime é material.

Os crimes contra as finanças públicas foram acres- Inscrição de Despesas Não Empenhadas em Restos
cidos ao Código Penal, em capítulo próprio dos crimes a Pagar
contra a Administração Pública, no ano 2000.
Estão previstos do art. 359-A ao art. 359-H. Este crime está previsto no art. 359-B, do CP.

Dica Art. 359-B Ordenar ou autorizar a inscrição em


restos a pagar, de despesa que não tenha sido pre-
Os crimes contra as finanças públicas são pró- viamente empenhada ou que exceda limite estabe-
prios, praticados por funcionário público (crimes lecido em lei:
funcionais), exigindo-se que este funcionário Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
possa dispor sobre as finanças públicas.
Configurar-se-á quando o agente ordenar ou auto-
Parte considerável da doutrina entende ser possí- rizar a inscrição em restos a pagar de despesa que não
vel que o particular seja sujeito ativo dos crimes con- tenha sido previamente empenhada ou que exceda
tra as finanças públicas, desde que, por força de lei, limite estabelecido em lei.
tenha disponibilidade sobre elas. Entretanto, tal pos- Pode ser praticado de duas formas:
sibilidade é caso extremamente excepcional.
Todos os crimes contra as finanças públi- z Ordenar ou autorizar a inscrição em restos a
cas são processados mediante ação penal pública pagar de despesa que não tenha sido previamente
incondicionada. empenhada;
z Ordenar ou autorizar a inscrição em restos a pagar
Contratação de Operação de Crédito de despesa que exceda limite estabelecido em lei.

Este crime se encontra previsto no art. 359-A, do Faz-se necessário compreender o que significa
CP: empenho, liquidação e ordem de pagamento:

Art. 359-A Ordenar, autorizar ou realizar operação z Empenho: ato emanado de autoridade competen-
de crédito, interno ou externo, sem prévia autoriza- te que cria para o Estado obrigação de pagamento
ção legislativa:
pendente ou não de implemento de condição;
Pena – reclusão, de 1 (um) a 2 (dois) anos.
z Liquidação: consiste na verificação do direito
Parágrafo único. Incide na mesma pena quem orde-
na, autoriza ou realiza operação de crédito, interno adquirido pelo credor, tendo por base os títulos e
ou externo: documentos comprobatórios do respectivo crédito;
I - com inobservância de limite, condição ou mon- z Ordem de pagamento: despacho exarado por
tante estabelecido em lei ou em resolução do Sena- autoridade competente, determinando que a des-
416 do Federal; pesa seja paga.
Sobre os restos a pagar, trata-se das despesas O sujeito passivo é a União, os estados, os municí-
empenhadas, mas não pagas até o dia 31 de dezem- pios ou o Distrito Federal, dependendo do ente federa-
bro. Dessa forma, o tipo penal pune o administrador tivo afetado pela conduta criminosa, e, mediatamente,
que: a coletividade, em face do prejuízo causado pelo abalo
nas finanças públicas.
z Inscreve em restos a pagar despesas que não foram Consuma-se quando o sujeito ativo ordena ou auto-
previamente empenhadas; riza a assunção de obrigação, nos últimos oito meses
z Inscreve em restos a pagar despesas previamente do mandato ou legislatura, cuja despesa não possa
empenhadas, mas com excesso aos limites legais. ser paga naquele exercício financeiro ou reste parte
a ser paga no exercício seguinte, sem contrapartida
Quanto ao sujeito ativo, somente pode ser pra- suficiente para tanto, independentemente da compro-
ticado pelo agente público dotado da atribuição de vação de prejuízo aos cofres públicos.
ordenar ou autorizar a inscrição da despesa. Se o fun- Sobre este crime, é importante ficar atento às
cionário público praticar o ato sem atribuição legal seguintes disposições:
para tanto, este será passível de anulação pelo próprio z Só pode ser praticado dolosamente;
Poder Público, tornando atípica a conduta. z Este crime só se configura se as condutas típicas
O sujeito passivo é a União, os estados, os municí- forem praticadas nos dois últimos quadrimestres
pios ou o Distrito Federal, dependendo do ente federa- (oito meses anteriores ao término do mandato) do
tivo afetado pela conduta criminosa, e, mediatamente, último ano do mandato ou legislatura;
a coletividade, em face do prejuízo causado pelo abalo z É crime de ação múltipla;
nas finanças públicas. z Admite a modalidade tentada, apesar de ser de difí-
Consuma-se no momento da prática da conduta cil comprovação, segundo posicionamento doutri-
legalmente descrita (ordenar ou autorizar a inscrição nário majoritário.
em restos a pagar), independentemente da lesão ao
Ordenação de Despesa não Autorizada
erário.
Sobre este crime, é importante levar em
O crime de ordenação de despesa não autorizada
consideração:
está previsto no art. 359-D, do CP:
z Não admite a modalidade culposa; Art. 359-D Ordenar despesa não autorizada por lei:
z Trata-se de crime de ação múltipla. Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.

Assunção de Obrigação no Último Ano do Mandato Ordenar tem o sentido de mandar, determinar que
ou Legislatura se realize a despesa pública, a qual compreende os
desembolsos efetuados pelo Estado para fazer frente
Art. 359-C Ordenar ou autorizar a assunção de às suas diversas responsabilidades junto à sociedade.
obrigação, nos dois últimos quadrimestres do últi- Sobre o sujeito ativo, trata-se de crime próprio ou
mo ano do mandato ou legislatura, cuja despesa especial, pois somente pode ser cometido pelo funcio-
não possa ser paga no mesmo exercício financei- nário público com atribuição para ordenar despesas,
ro ou, caso reste parcela a ser paga no exercício conhecido como “ordenador de despesas”.
seguinte, que não tenha contrapartida suficiente de O tipo penal não alcança o “realizador de despesas”,
disponibilidade de caixa:
compreendido como a pessoa que se limita a cumprir
ou executar a ordem expedida pelo ordenador.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
O sujeito passivo é a União, os estados, os muni-
cípios ou o Distrito Federal, dependendo do ente
O objeto material do crime é a obrigação assumi-

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


federativo prejudicado pela conduta criminosa, e,
da nos dois últimos quadrimestres do último ano do
secundariamente, a coletividade, em decorrência dos
mandato ou legislatura. prejuízos causados pela ordenação de despesas públi-
Pode ser praticado de duas formas: cas não autorizadas em lei.
Consuma-se o crime quando o funcionário público
z Ordenar ou autorizar a assunção de obrigação, ordena a realização da despesa sem autorização legal,
nos dois últimos quadrimestres do último ano do independentemente da comprovação de efetiva lesão
mandato ou legislatura, cuja despesa não possa ser ao erário. Sobre este tipo penal, é importante mencio-
paga no mesmo exercício financeiro; nar que:
z Ordenar ou autorizar a assunção de obrigação, nos
dois últimos quadrimestres do último ano do man- z Não admite a forma culposa;
dato ou legislatura, se restar parcela a ser paga no z É crime de ação simples;
exercício seguinte, que não tenha contrapartida z Caso a despesa seja ordenada com autorização
suficiente de disponibilidade de caixa. legislativa, o fato será atípico;
z É crime formal, segundo Nucci.
A prática do crime não está apenas relacionada ao
mantado eletivo, mas também ao mandato decorrente Prestação de Garantia Graciosa
de indicação.
Trata-se de crime próprio ou especial, por isso, Está prevista no art. 359-E, do CP:
somente agentes públicos titulares de mandato ou
legislatura, representantes dos órgãos e entidades Art. 359-E Prestar garantia em operação de crédito
indicados no art. 20 da Lei Complementar nº 101, de sem que tenha sido constituída contragarantia em
2000, Lei de Responsabilidade Fiscal, podem ser o valor igual ou superior ao valor da garantia pres-
sujeito ativo, pois apenas tais pessoas têm atribuição tada, na forma da lei:
para assunção de obrigações. Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. 417
O tipo penal pune a conduta do funcionário públi- A omissão que não ultrapassa os limites de restos a
co que presta garantia sem a observância do requisito pagar não configura este crime.
legal. Sobre este crime, fique atento ao seguinte:
Quanto aos requisitos legais, devemos entender
que “prestar” tem o sentido de conceder ou autorizar z Só pode ser praticado dolosamente;
garantia, e isso está em conformidade com o inciso IV, z É crime omissivo;
art. 29, da Lei Complementar nº 101, de 2000, Lei de z Não admite tentativa.
Responsabilidade Fiscal, que afirma que concessão de
garantia é o compromisso de adimplência de obrigação Aumento de Despesa Total com Pessoal no Último
financeira ou contratual assumida por algum ente da Ano do Mandato ou Legislatura
Federação ou entidade a ele vinculada.
As condições para a concessão de garantia encon- Art. 359-G Ordenar, autorizar ou executar ato que
tram-se no art. 40, da citada lei. Destaca-se entre elas acarrete aumento de despesa total com pessoal,
o oferecimento de contragarantia, em valor igual ou nos cento e oitenta dias anteriores ao final do man-
superior ao da garantia a ser concedida, visando ao dato ou da legislatura:
equilíbrio das finanças públicas. Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
Sobre este crime, fique atento:
Ordenar é determinar alguma coisa.
Autorizar significa permitir que algo seja feito.
z Este crime não admite a modalidade culposa;
Executar traz a ideia de realizar ou concretizar
z Não basta que seja constituída a contragarantia,
algo.
exige-se que ela seja igual ou superior ao valor da
Este crime tem como finalidade evitar que se
garantia prestada;
aumente as despesas totais com pessoal, concedendo
z Caso a contragarantia seja inferior ou não seja
aumentos, contratando, fazendo alterações na carrei-
prestada, este crime estará configurado.
ra, entre outras formas, nos últimos dias do mandato
ou legislatura, deixando para outro funcionário públi-
Não Cancelamento de Restos a Pagar
co a responsabilidade de arcar com os compromissos.
A diferença entre o art. 359-G e o art. 359-C, do
Art. 359-F Deixar de ordenar, de autorizar ou de pro-
CP, é que o crime em estudo não se relaciona com a
mover o cancelamento do montante de restos a pagar
infração penal tipificada no art. 359-C, do CP, porque
inscrito em valor superior ao permitido em lei:
na assunção de obrigação no último ano do manda-
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
to ou legislatura levam-se em conta despesas que não
podem ser pagas no mesmo exercício, ficando a obri-
Deixar de ordenar é não determinar a terceiro que
gação de pagamento ao sucessor, sem ter disponibili-
algo seja feito.
dade orçamentária para tanto.
Deixar de autorizar é não permitir que terceira
No art. 359-G, do CP, o aumento de despesa com pes-
pessoa faça algo.
soal é permanente, ou seja, ultrapassará o exercício
Deixar de promover equivale a não realizar direta-
financeiro, atingindo anos futuros. Consequentemen-
mente alguma coisa.
te, o orçamento do ente federativo ou órgão público
O administrador público que se depara com restos ficará inevitavelmente comprometido, deixando de
a pagar inscritos em valor superior ao limite permiti- propiciar ao administrador público futuro condições
do em lei tem o dever legal de autorizar, ordenar ou para gerir adequadamente a máquina estatal.
promover o seu cancelamento, sob pena de incorrer Destaca-se que o elemento temporal do art. 359-G, do
no crime de não cancelamento de restos a pagar. CP, está consubstanciado na expressão “nos cento e oiten-
O sujeito ativo é o funcionário público com atribui- ta dias anteriores ao final do mandato ou da legislatura”.
ção para ordenar, autorizar ou promover o cancela- Assim, fora do período legalmente indicado, não
mento do montante de restos a pagar indevidamente há que se falar na prática do delito, ainda que exista
inscritos. Trata-se de crime próprio ou especial. Com ilegal aumento da despesa total com pessoal.
isso, o funcionário público que deixa o cargo será res- O sujeito ativo somente pode ser praticado pelo
ponsabilizado pela “inscrição de despesas não empe- funcionário público com atribuição para ordenar,
nhadas em restos a pagar” (art. 359-B), ao passo que autorizar ou executar ato que acarrete aumento de
o funcionário público que assume o cargo deverá ser despesa total com pessoal, nos últimos 180 dias do
responsabilizado por não ter determinado o “cance- mandato ou legislatura.
lamento do montante de restos a pagar” (art. 359-F), O sujeito passivo é a União, os estados, os municí-
inscrito em valor superior ao legalmente permitido. pios ou o Distrito Federal, dependendo do ente federa-
Os dois agentes contribuem para o mesmo resul- tivo afetado pela conduta criminosa, e, mediatamente,
tado, mas a eles serão imputados crimes diversos, em a coletividade, em razão dos prejuízos causados pelo
face do especial tratamento conferido pela lei penal. aumento de despesa total com pessoal no último ano
O sujeito passivo é a União, os estados, os municí- do mandato ou legislatura.
pios ou o Distrito Federal, dependendo do ente federa- Consuma-se quando o agente público ordena,
tivo afetado pela conduta criminosa, e, mediatamente, autoriza ou executa o ato de aumento de despesa com
a coletividade, em razão dos prejuízos causados pelo pessoal, nos últimos 180 dias de mandato ou legislatu-
não cancelamento de restos a pagar. ra, independentemente da comprovação de prejuízo
O crime consuma-se quando o sujeito ativo deixa econômico ao erário.
de ordenar, de autorizar ou de promover o cancela- Sobre este crime, leve em consideração o seguinte:
mento do montante de restos a pagar inscrito inde-
vidamente, independentemente de comprovação de z Só pode ser praticado dolosamente;
418 lesão patrimonial ao erário. z É crime de ação múltipla;
z Para sua configuração, deve ser praticado nos 180 existisse uma formal fase de acusação, e, consequen-
dias que antecedem o fim do mandato ou legisla- temente, apenava-se o acusado.
tura. Caso realizado em outro período, não irá se A denominação inquérito policial, no Brasil, surgiu
configurar; com a edição da Lei 2.033, de 20 de setembro de 1871,
z Admite tentativa. regulamentada pelo Decreto 4.824, de 22 de novembro
de 1871, encontrando-se no art. 42 do citado decreto
Oferta Pública ou Colocação de Títulos no Mercado a seguinte definição: “O inquérito policial consiste em
todas as diligências necessárias para o descobrimento
Este crime se encontra previsto no art. 359-H, do CP: dos fatos criminosos, de suas circunstâncias e de seus
autores e cúmplices, devendo ser reduzido a instrumen-
Art. 359-H Ordenar, autorizar ou promover a ofer- to escrito”. Passou a ser função da polícia judiciária a
ta pública ou a colocação no mercado financeiro sua elaboração. Apesar de seu nome ter sido mencio-
de títulos da dívida pública sem que tenham sido nado pela primeira vez na referida Lei 2.033, as suas
criados por lei ou sem que estejam registrados em funções, que são da natureza do processo criminal,
sistema centralizado de liquidação e de custódia: existem de longa data e tornaram-se especializadas
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. com a aplicação efetiva do princípio da separação da
polícia e da judicatura. Portanto, já havia no Código
Ordenar é determinar. de Processo de 1832 alguns dispositivos sobre o proce-
Autorizar equivale a permitir que algo seja feito. dimento informativo, mas não havia o nomen juris de
Promover traz a ideia de realizar, concretizar a inquérito policial.
oferta pública ou colocação de títulos no mercado. Ao decorrer dos anos passou a ser reconhecido
O objeto material do crime são os títulos da dívida mundialmente que para que se possa dar início a um
pública. Nos termos do inciso II, art. 29, da Lei Com- processo criminal contra alguém, faz-se necessária a
plementar nº 101, de 2000, Lei de Responsabilidade presença de um lastro probatório mínimo, apontando
Fiscal, considera-se dívida pública mobiliária aquela no sentido da prática de uma infração penal e da pro-
representada por títulos emitidos pela União, inclusive babilidade de o acusado ser o seu autor.
os do Banco Central do Brasil, Estados e Municípios.
O sujeito ativo somente pode ser praticado pelo REFERÊNCIA
funcionário público dotado da atribuição para orde-
nar, autorizar ou promover oferta pública ou colo- LIMA, R. B. de. Manual de Processo Penal: Volu-
cação no mercado financeiro de títulos da dívida ma Único – 8ª ed. rev. ampl. e atual. Salvador: Ed.
pública. JusPodivm, 2020.
O sujeito passivo é a União, os estados, os muni-
cípios ou o Distrito Federal, dependendo do ente NATUREZA
federativo atingido pela conduta criminosa, e, media-
tamente, a pessoa física ou jurídica prejudicada pela O Inquérito Policial possui natureza de procedi-
compra de títulos irregularmente emitidos. mento administrativo. Não é ainda um processo, por
Consuma-se o crime em estudo no momento em isso não se fala em partes munidas de completo poder
que o agente público ordena, autoriza ou promove a de contraditório e ampla defesa. Ademais, por sua
oferta pública ou a colocação no mercado financeiro natureza administrativa, o procedimento não segue
de títulos da dívida pública sem que tenham sido cria- uma sequência rígida de atos.
dos por lei ou sem que estejam registrados em sistema
centralizado de liquidação e de custódia, independen- Dica

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


temente de efetivo prejuízo ao erário.
Sobre este crime, é importante mencionar: Como o inquérito policial é mera peça informa-
tiva, eventuais vícios constantes não têm o con-
z Só pode ser praticado dolosamente; dão de contaminar o processo penal a que der
z É crime de ação múltipla; origem.
z Caso os títulos da dívida pública tenham sido cria-
dos por lei ou estejam registrados no sistema cen- Nesse momento, ainda não há o exercício de pre-
tralizado de liquidação e de custódia, a prática da tensão acusatória. Não se trata, pois, de processo judi-
conduta prevista no tipo penal será atípica. cial, nem tampouco de processo administrativo. O
inquérito policial consiste em um conjunto de diligên-
cias realizadas pela polícia investigativa.

CONCEITO
NOTITIA CRIMINIS E O INQUÉRITO
POLICIAL De acordo com o autor Renato Brasileiro de Lima,
o Inquérito Policial é um procedimento administrativo
HISTÓRICO inquisitório e preparatório, presidido pelo Delegado de
Polícia, com vistas à identificação de provas e a colheita
Em Roma surgiram as primeiras investigações de elementos de informação quanto à autoria e mate-
exercidas pelo Estado e, nesta época, o poder era ili- rialidade da infração penal, a fim de possibilitar que o
mitado e arbitrário. O nome dado a tal fase persecu- titular da ação penal possa ingressar em juízo.
tória, de caráter investigativo, era “inquisitio”, e, após Para que se possa dar início a um processo crimi-
o esclarecimento baseando-se em critérios da época, nal contra alguém, faz-se necessária a presença de um
passava-se de imediato ao processo cognitio, sem que lastro probatório mínimo, apontando no sentido da 419
prática de uma infração penal e da probabilidade de o Existe uma pequena parcela da doutrina que
acusado ser o seu autor. Daí a finalidade do inquérito defende ser o inquérito policial indispensável; no
policial, instrumento usado pelo Estado para a colhei- entanto, para fins de prova, adote a posição da
ta desses elementos de informação, viabilizando o dispensabilidade.
oferecimento da peça acusatória quando houver justa
causa para o processo. Discricionário

FINALIDADE A autoridade policial pode conduzir e determinar


o rumo das diligências da maneira que entender ser
O Estado tem o Poder-Dever de punir um supos- mais adequada. Trata-se da inexistência de um padrão
to autor do ilícito. Todavia, para que o Estado faça a (formalidade) a seguir.
persecução criminal em juízo é preciso de elementos É importante destacar que a discricionariedade
mínimos quanto a autoria e a materialidade da infra- não está relacionada à instauração ou não do inquéri-
ção penal, que caracteriza justa causa. Inclusive, a fal-
to policial, mas sim está ligada à condução das inves-
ta de justa causa é motivo idôneo para a rejeição da
tigações. Deste modo, caso haja elementos suficientes
peça acusatória pelo juiz.
para a instauração do IP, este deve ser instaurado. A
Muitas vezes o titular da ação penal, o Ministério
discricionariedade reflete a liberdade da autoridade
Público, não consegue formar uma opinião sobre a
em realizar as diligências necessárias de acordo com
viabilidade da acusação sem as peças informativas do
inquérito policial. Portanto, a finalidade do inquérito cada caso concreto.
é colher esses elementos mínimos com vistas ao ajui- A discricionariedade do Inquérito Policial não se
zamento ou não da ação penal. confunde com arbitrariedade. A discricionariedade
diz respeito à liberdade de atuação da autoridade
CARACTERÍSTICAS policial nos limites estabelecidos em lei. Quando a
autoridade policial ultrapassa tais limites, ela passa a
O inquérito policial possui algumas características atuar de forma arbitrária (contrária à lei).
próprias. Algumas estão previstas na própria lei; outras
têm origem na doutrina e nas jurisprudências. O IP é: Oficial

Escrito Incumbe ao delegado de polícia (civil ou federal) a


presidência do inquérito policial.
Todos os atos que forem produzidos durante o
inquérito policial devem ser escritos ou, quando Oficioso
forem realizados de forma oral, reduzidos a termo.
Tal previsão encontra-se no art. 9º, do CPP, que será Ao tomar conhecimento de notícia de crime de
estudado mais adiante. ação penal pública incondicionada, a autoridade poli-
cial é sempre obrigada a agir de ofício.
Inquisitivo
Sigiloso
O IP é um procedimento administrativo destinado
a reunir as mínimas informações necessárias para a Segundo o art. 20, do CPP, o inquérito policial, em
propositura da ação penal; nele, não se aplica o prin- regra, será sigiloso às pessoas em geral. No que con-
cípio do contraditório. cerne aos envolvidos (ofendido, indiciado, advogados
etc.), esta regra não será aplicável.
Indisponível Nesse sentido, vale observar o que diz a Súmula
Vinculante nº 14:
De acordo com o art. 17, do CPP, uma vez instaura-
do o inquérito policial, a autoridade policial não pode- Súmula Vinculante nº 14 É direito do defensor,
rá mais arquivá-lo. no interesse do representado, ter acesso amplo
aos elementos de prova que, já documenta-
Dispensável dos em procedimento investigatório realizado por
órgão com competência de polícia judiciária, digam
O inquérito policial não é obrigatório. Como já respeito ao exercício do direito de defesa.
mencionado, o IP possui um caráter meramente infor-
mativo e busca reunir informações a respeito do cri- Assim, não poderá ser negado ao defensor do
me. Deste modo, quando o titular da ação já possui investigado o acesso aos elementos de prova que já
os elemento necessários para o oferecimento da ação constem nos autos do inquérito policial. Esse acesso
penal, o inquérito será dispensável. Quanto a este aos autos não abrange aquelas diligências investiga-
tema, dispõe o § 5º, do art. 39, do Código de Processo
tórias que ainda estão em andamento, tendo em vista
Penal:
que o acesso por parte do defensor pode gerar pre-
juízos à investigação. Por exemplo, caso o advogado
Art. 39 […]
§ 5º O órgão do Ministério Público dispensará o tivesse acesso à interceptação telefônica de seu cliente
inquérito, se com a representação forem ofereci- que ainda está em curso, poderia instruí-lo a não falar
dos elementos que o habilitem a promover a ação a respeito do crime investigado, o que geraria grandes
penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo prejuízos à investigação.
420 de quinze dias.
Dica DILIGÊNCIAS

Utilize o mnemônico É ID²OSO para se lembrar Assim que a notitia criminis chegar ao conheci-
das características do inquérito policial: mento da autoridade policial, o delegado deve obser-
Escrito var o que determinam os arts. 6º e 7º, do CPP. A seguir,
Inquisitorial (inquisitivo) analisaremos esses dispositivos.
Indisponível
Dispensável Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da
infração penal, a autoridade policial deverá:
Discricionário
I - dirigir-se ao local, providenciando para que
Oficioso não se alterem o estado e conservação das coisas,
Sigiloso até a chegada dos peritos criminais;
Oficial
O inciso I, art. 6º, cuida da preservação do local
POLÍCIA JUDICIÁRIA E TITULARIDADE DO de crime, que visa impedir que se altere o local dos
INQUÉRITO POLICIAL fatos que possam prejudicar a realização da perícia.

Art. 4º (CPP) A polícia judiciária será exercida Dica


pelas autoridades policiais no território de suas
respectivas circunscrições e terá por fim a apura- A modificação dolosa de local de crime, com a
ção das infrações penais e da sua autoria. finalidade de induzir a erro o juiz ou perito, con-
Parágrafo único. A competência definida neste arti- figura o delito de fraude processual, previsto no
go não excluirá a de autoridades administrativas, a art. 347, do CP. Por sua vez, o art. 312, do Código
quem por lei seja cometida a mesma função. de Trânsito Brasileiro, define como crime a con-
duta de inovar artificiosamente, em caso de aci-
O inquérito policial é realizado pela polícia judi- dente automobilístico com vítima, na pendência
ciária (Polícia Civil ou Polícia Federal). A instauração do respectivo procedimento policial ou proces-
e a presidência do IP ficam a cargo da autorida- so penal, o estado de lugar, de coisa ou de pes-
de policial (delegado da Polícia Civil ou da Polícia soa, a fim de induzir a erro o agente policial, o
Federal). perito ou juiz.
Nesse sentido, assim dispõe o § 1º, art. 2º, da Lei nº
12.830, de 2013: Art. 6° [...]
II - apreender os objetos que tiverem relação com
o fato, após liberados pelos peritos criminais;
Art. 2º (Lei nº 12.830, de 2013) [...]
§ 1º Ao delegado de polícia, na qualidade de auto-
ridade policial, cabe a condução da investigação Os objetos relacionados ao fato podem ser os mais
criminal por meio de inquérito policial ou outro variados, de armas de fogo até objetos de uso comum,
procedimento previsto em lei, que tem como objeti- mas que podem contribuir para a busca da verda-
vo a apuração das circunstâncias, da materiali- de sobre os fatos. Veja que tais objetos destinam-se,
dade e da autoria das infrações penais. em primeiro lugar, à análise por parte dos peritos e,
somente após liberados por estes, passam para a guar-
da da autoridade policial. Posteriormente, os objetos
Do art. 4º, do CPP, é possível identificar a caracte-
que puderem ser restituídos são devolvidos aos legí-
rística do inquérito de ser oficial (oficialidade), uma
timos proprietários, exceto se consistirem em coisas

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


vez que se encontra sob o encargo de autoridades cujo uso, fabrico, alienação, porte ou detenção são
públicas (delegado de polícia). proibidos, conforme estabelece a alínea “a”, inciso II,
O cargo de delegado (Civil ou Federal) é de carreira do art. 91, do CP.
(concursado) e é auxiliado em suas funções por inves-
tigadores de polícia, escrivães e agentes policiais, Art. 6° [...]
entre outros. III - colher todas as provas que servirem para o
O fundamento constitucional do exercício das fun- esclarecimento do fato e suas circunstâncias;
ções de polícia judiciária pela Polícia Federal encon-
tra-se no § 1º, art. 144, da CF; por sua vez, a previsão O inciso III traz uma permissão genérica para que
do exercício pelas Polícias Civis dos estados e do Dis- a autoridade policial colha (produza) qualquer tipo
trito Federal encontra-se no § 4º, art. 144, da CF. De de prova que entenda necessária para a investigação,
acordo com tais dispositivos, cabe aos órgãos da Polí- ainda que tal não esteja expressamente prevista nos
cia Federal e da Polícia Civil realizar as investigações demais incisos do art. 6º, como, por exemplo, a oitiva
de testemunhas e a representação ao juiz para decre-
necessárias, colhendo provas e formando o inquérito
tação de quebra de sigilo telefônico.
policial, que servirá de base para futura ação penal.
O parágrafo único, do art. 4º, do CPP, deixa claro
Art. 6° [...]
que, além do inquérito policial, admitem-se outros IV - ouvir o ofendido;
meios de produzir provas com a finalidade de funda-
mentar a ação penal, como, por exemplo, o inquérito Ouvir a vítima do delito é uma das mais impor-
policial militar, as sindicâncias e os processos admi- tantes providências a serem tomadas pela autoridade
nistrativos e as Comissões Parlamentares de Inquérito. policial, uma vez que o ofendido pode fornecer dados
essenciais para a descoberta da autoria e para a con-
vicção sobre a materialidade. 421
Art. 6° [...] ação, conforme determina a alínea “b”, inciso III, do
V - ouvir o indiciado, com observância, no que for art. 564, do CPP).
aplicável, do disposto no Capítulo III do Título Vll, São algumas perícias que devem ser realizadas,
deste Livro, devendo o respectivo termo ser assina- dentre outras: exame químico-toxicológico nos cri-
do por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido
mes de tráfico ou porte de droga; exame da arma de
a leitura;
fogo nos crimes previstos no Estatuto do Desarma-
O inciso V cuida do interrogatório do indiciado, que mento; exame no documento para apurar a falsidade
é a pessoa a quem se aponta, na fase do inquérito, como documental.
autor da infração penal (indiciar é verificar que existe
a probabilidade do até então suspeito ser o agente). Art. 6° [...]
O § 6º, art. 2º, da Lei nº 12.830, de 2013, exige que VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo
a autoridade policial, ao indiciar o suspeito, aponte processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar
nos autos do IP os motivos que levaram a proceder aos autos sua folha de antecedentes;
ao indiciamento, bem como justifique a classificação
feita em determinado tipo penal. Apesar de o inciso VIII, art. 6º, mencionar apenas
Ao interrogatório do indiciado aplicam-se as o processo datiloscópico, a identificação criminal con-
regras do interrogatório judicial, previstas nos arts. siste na coleta de dados físicos (fotografia, impressão
185 a 196, do CPP, com as devidas adaptações (uma datiloscópica e material genético) com a finalidade de
vez que o indiciado ainda não é réu. Nesse sentido, individualizar o indiciado.
não é necessária a presença do defensor no inter- Atualmente, a Lei nº 12.037, de 2009, dispõe sobre
rogatório feito na delegacia, assim como o advogado o assunto e regulamenta a regra constitucional previs-
não tem direito de interferir no interrogatório a ta no inciso LVIII, art. 5º, de que a pessoa civilmente
fim de fazer perguntas. No entanto, o delegado não identificada não será submetida à identificação crimi-
pode proibir o advogado de acompanhar o interroga- nal, salvo nas hipóteses previstas em lei.
tório. Vale lembrar que o inciso LXIII, art. 5º, da CF,
assegura ao indiciado o direito de permanecer calado
durante o interrogatório.
Dica
Voltando ao art. 6º, do CP, o inciso V cuida, ainda, Folha de antecedentes (FA) é o documento no
da chamadas testemunhas instrumentárias. A auto- qual consta a vida pregressa criminal de todas
ridade policial deve assegurar que o termo de inter- as pessoas que já possuem identificação civil.
rogatório seja assinado por duas testemunhas que
Nessa ficha, constam, por exemplo, os indicia-
presenciaram a leitura da peça para o indiciado.
mentos e as ações penais às quais o indivíduo
Art. 6° [...] respondeu.
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coi-
sas e a acareações; Art. 6° [...]
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob
O reconhecimento de pessoa busca indicar o o ponto de vista individual, familiar e social, sua
autor do crime e é realizado pela vítima e pelas tes- condição econômica, sua atitude e estado de ânimo
temunhas que tenham presenciado a prática do cri- antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer
me. O procedimento adotado pela autoridade policial outros elementos que contribuírem para a aprecia-
é o que consta nos arts. 226 a 228, do CPP. O indiciado ção do seu temperamento e caráter.
não pode se recusar a participar do reconhecimento.
O direito de não ser obrigado a produzir prova contra Conforme visto acima, a FA traz informações sobre
si mesmo não se aplica a atos passivos, como é o caso a vida pregressa criminal do indivíduo (indiciamento
do reconhecimento, mas somente a procedimentos e processos criminais aos quais respondeu). O inciso
ativos ou invasivos (como o fornecimento de material IX cuida da vida pregressa e diz respeito aos dados
grafotécnico e de amostra de sangue). relevantes sobre o passado da pessoa em seu contexto
O reconhecimento de objetos, por sua vez, recai individual, familiar, social e econômico. Além disso,
sobre os instrumentos utilizados do crime (uma arma cuida de colher seu estado de espírito antes, duran-
de fogo, por exemplo) e sobre os objetos materiais do te e depois da prática criminosa e também de outros
crime (como os objetos furtados). elementos que possibilitem traçar a personalidade do
Já a acareação consiste no ato de colocar frente indiciado.
a frente duas pessoas que prestaram depoimentos
divergentes sobre pontos relevantes para a investiga- Art. 6° [...]
ção. A acareação segue as regras previstas nos arts. X - colher informações sobre a existência de filhos,
229 e 230, do CPP. respectivas idades e se possuem alguma deficiência
e o nome e o contato de eventual responsável pelos
Art. 6° [...]
cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa.
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame
de corpo de delito e a quaisquer outras perícias;
O inciso X foi incluído no art. 6º pela Lei nº 13.257,
O exame de corpo de delito está previsto no art. 158 de 2016, denominada Lei da Primeira Infância. O dis-
e seguintes do CPP, e é indispensável nos crimes que positivo visa à proteção das crianças de até 6 anos
deixam vestígios (sua não realização gera nulidade da de idade que podem sofrer consequências decorren-
tes da prática de crimes por seus pais. Com base em
422 tal conhecimento, a autoridade policial pode, por
exemplo, solicitar apoio de órgãos de assistência regimentos das respectivas Casas, serão criadas
social ou de proteção da criança.25 pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal,
em conjunto ou separadamente, mediante requeri-
Art. 7º Para verificar a possibilidade de haver a mento de um terço de seus membros, para a apura-
infração sido praticada de determinado modo, a ção de fato determinado e por prazo certo, sendo
autoridade policial poderá proceder à reprodução suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao
simulada dos fatos, desde que esta não contrarie a Ministério Público, para que promova a responsa-
moralidade ou a ordem pública. bilidade civil ou criminal dos infratores.

O art. 7º trata da reconstituição do crime, que TITULARIDADE


consiste em uma simulação dos fatos, muito comum
principalmente em homicídios. Polícia judiciária e titularidade do inquérito policial
Não é permitida a reconstituição que contrariar a
moral e a ordem pública, como, por exemplo, a reprodu- Art. 4º (CPP) A polícia judiciária será exercida
ção de crimes sexuais utilizando a vítima e o indiciado. pelas autoridades policiais no território de suas
Além das atividades que constam nos arts. 6º e respectivas circunscrições e terá por fim a apura-
7º, do CPP, a autoridade policial tem outras funções ção das infrações penais e da sua autoria.
durante o IP, que se encontram elencadas no art. 13, Parágrafo único. A competência definida neste arti-
do CPP, que será estudado mais adiante. go não excluirá a de autoridades administrativas, a
quem por lei seja cometida a mesma função.
INVESTIGAÇÃO POLICIAL INICIADA POR PRISÃO
O inquérito policial é realizado pela polícia judi-
EM FLAGRANTE
ciária (Polícia Civil ou Polícia Federal). A instauração
Art. 8º Havendo prisão em flagrante, será observa-
e a presidência do IP ficam a cargo da autorida-
do o disposto no Capítulo II do Título IX deste Livro. de policial (delegado da Polícia Civil ou da Polícia
Federal).
No caso da lavratura de auto de prisão em flagran- Nesse sentido, assim dispõe o § 1º, art. 2º, da Lei nº
te, devem ser seguidas as disposições constantes nos 12.830, de 2013:
arts. 301 e seguintes, do CPP.
Art. 2º (Lei nº 12.830, de 2013) [...]
§ 1º Ao delegado de polícia, na qualidade de auto-
FORMALISMO DO INQUÉRITO POLICIAL
ridade policial, cabe a condução da investigação
criminal por meio de inquérito policial ou outro
Art. 9º Todas as peças do inquérito policial serão, procedimento previsto em lei, que tem como objeti-
num só processado, reduzidas a escrito ou datilo-
vo a apuração das circunstâncias, da materiali-
grafadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade.
dade e da autoria das infrações penais.

O IP é um procedimento formal, que exige peças Do art. 4º, do CPP, é possível identificar a caracte-
escritas e datilografadas, rubricadas pelo delegado rística do inquérito de ser oficial (oficialidade), uma
de polícia. O art. 9º expressa a característica de ser o vez que se encontra sob o encargo de autoridades
inquérito escrito.
públicas (delegado de polícia).
O cargo de delegado (Civil ou Federal) é de carreira
FUNDAMENTO (concursado) e é auxiliado em suas funções por inves-
tigadores de polícia, escrivães e agentes policiais,
O fundamento legal do Inquérito Policial encontra- entre outros.

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


-se no Código de Processo Penal (CPP): O fundamento constitucional do exercício das fun-
ções de polícia judiciária pela Polícia Federal encon-
Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas auto- tra-se no § 1º, art. 144, da CF; por sua vez, a previsão
ridades policiais no território de suas respectivas
do exercício pelas Polícias Civis dos estados e do Dis-
circunscrições e terá por fim a apuração das infra-
trito Federal encontra-se no § 4º, art. 144, da CF. De
ções penais e da sua autoria.
Parágrafo único. A competência definida neste arti- acordo com tais dispositivos, cabe aos órgãos da Polí-
go não excluirá a de autoridades administrativas, a cia Federal e da Polícia Civil realizar as investigações
quem por lei seja cometida a mesma função. necessárias, colhendo provas e formando o inquérito
policial, que servirá de base para futura ação penal.
Perceba que o Código não dá exclusividade ao O parágrafo único, do art. 4º, do CPP, deixa claro
inquérito como forma de investigação. Lembre-se que que, além do inquérito policial, admitem-se outros
a CPI e o procedimento investigativo do Ministério meios de produzir provas com a finalidade de funda-
Público também são formas de obter lastro probatório mentar a ação penal, como, por exemplo, o inquérito
mínimo pensando em uma futura ação penal. policial militar, as sindicâncias e os processos admi-
Conforme a literalidade do art. 58 da Constituição nistrativos e as Comissões Parlamentares de Inquérito.
Federal, as CPI’s possuem poderes de investigação:
GRAU DE COGNIÇÃO
Art. 58 [...]
§ 3º As comissões parlamentares de inquérito, que No processo penal há três diferentes níveis de cog-
terão poderes de investigação próprios das auto- nição, segundo se busque um juízo de possibilidade,
ridades judiciais, além de outros previstos nos de probabilidade ou de certeza.
25 CARLOS, E. Inquérito policial: Grau de cognição. Matérias para concurso. Disponível: https://materiasparaconcursos.com.br/2018/08/06/
inquerito-policial-grau-de-cognicao/ 423
Para se chegar a um juízo de certeza, é necessário esgotar toda a matéria probatória, através de uma cognição
plena, o que justificaria uma sentença condenatória.
Já para o início de uma ação penal, é necessário tão somente um juízo de probabilidade, que seria o predomí-
nio das razões positivas que afirmam a existência do delito e sua autoria.
Quanto à investigação preliminar, para sua deflagração, basta um juízo de possibilidade (razões favoráveis
forem equivalentes às contrárias).

VALOR PROBATÓRIO

A finalidade de toda e qualquer investigação preliminar é a identificação de fontes de prova da autoria e


materialidade, e, na sequência, a colheita desses elementos informativos, de modo a auxiliar na formação da
opinio delicti (opinião a respeito de delito) do titular da ação penal. Por exemplo, por meio do inquérito policial o
promotor de justiça pode se convencer que ocorreu determinado crime e que certa pessoa é o seu autor, estando
o parquet obrigado a oferecer a ação penal.
Partindo da premissa de que os elementos de informação produzidos na fase investigatória devem ter como
objetivo precípuo a formação da convicção do titular da ação penal e, eventualmente, subsidiar a decretação de
medidas cautelares, não se pode admitir que o juiz da instrução e julgamento forme seu convencimento com base
neles. Por exemplo, o juiz não pode condenar exclusivamente com um interrogatório obtido na fase de inquérito.
Uma sentença condenatória em um Estado Democrático de Direito só poderá ter por fundamento provas pro-
duzidas validamente no curso da instrução processual, com plena observância da publicidade, oralidade, imedia-
ção, contraditório e ampla defesa, o que afasta a possibilidade de utilização residual dos elementos informativos,
cuja produção não assegura a observância desses postulados.

Dica
Ante a criação do juiz das garantias, o ideal é concluir que a investigação preliminar não mais poderá integrar
os autos do processo judicial, salvo no tocante às provas irrepetíveis, antecipadas e meios de obtenção de
prova.

De acordo com o art. 3-B, verifica-se o baixo valor probatório das investigações para a conclusão do processo:

Art. 3°-B [...]


§ 3º Os autos que compõem as matérias de competência do juiz das garantias ficarão acautelados na secretaria
desse juízo, à disposição do Ministério Público e da defesa, e não serão apensados aos autos do processo enviados
ao juiz da instrução e julgamento, ressalvados os documentos relativos às provas irrepetíveis, medidas de obtenção
de provas ou de antecipação de provas, que deverão ser remetidos para apensamento em apartado.

Apesar do enfraquecimento da investigação para a decisão final, não há dúvidas sobre a importância do pro-
cedimento investigatório para o nascimento do processo, pois essa apuração preliminar evita que inocentes sejam
processados sem justa causa, o que sem dúvidas macula a imagem do indivíduo inocente e o seu próprio senso
de (in)justiça.

FORMAS DE INSTAURAÇÃO

As formas de instauração (início) do inquérito policial dependem da natureza da ação penal correspondente
ao crime que se apura.
Vale lembrar que, de acordo com o art. 100, do Código Penal, ação pública é aquela cuja iniciativa cabe ao MP.
A ação pública subdivide-se em incondicionada (que não exige manifestação da vítima solicitando, de forma
expressa, a atuação do Estado) e condicionada (que exige a manifestação do ofendido no sentido de querer ver o
fato apurado). Como regra, quando a lei nada fala em contrário, a ação é pública.

Art. 5º Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado:


I - de ofício;
II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do ofendido ou de
quem tiver qualidade para representá-lo.
§ 1º O requerimento a que se refere o no II conterá sempre que possível:
a) a narração do fato, com todas as circunstâncias;
b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as razões de convicção ou de presunção de ser ele
o autor da infração, ou os motivos de impossibilidade de o fazer;
c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profissão e residência.
§ 2º Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá recurso para o chefe de Polícia.
§ 3º Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal em que caiba ação pública
poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedência das
informações, mandará instaurar inquérito.
424
§ 4º O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação, não poderá sem ela ser iniciado.
§ 5º Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá proceder a inquérito a requerimento de
quem tenha qualidade para intentá-la.

Como visto, o art. 5º, do CPP, estabelece cinco formas pelas quais pode se instaurar um IP. O fluxograma a
seguir sistematiza as informações trazidas pelo artigo:

Ofício
Autoridade
judiciária
Requisição
INSTAURAÇÃO Ministério
DO INQUÉRITO Público
POLICIAL

Ministério
Requerimento
Público

APF — Auto
de Prisão em
Flagrante

Instauração de Ofício

A instauração de ofício (I, art. 5º, do CPP) ocorre por ato voluntário da autoridade policial, sem que alguém
tenha feito um pedido expresso. Sempre que a autoridade policial tomar conhecimento da ocorrência de um cri-
me de ação pública, dentro de sua área de atuação, deve obrigatoriamente instaurar inquérito policial, mediante
a produção de um documento denominado portaria (é usual que se utilize a expressão “baixar portaria”).
A informação (chamada de notitia criminis) pode chegar ao conhecimento do delegado de polícia, por exem-
plo, mediante a lavratura de um boletim de ocorrência na delegacia, por uma matéria publicada na imprensa ou,
ainda, por meio de fatos trazidos por outros policiais ou pessoas do povo. Veja que, conforme dispõe o § 3º, art. 5º,
do CPP, qualquer pessoa — não necessariamente a vítima — pode levar ao conhecimento do delegado a ocorrên-
cia de um fato que consiste em infração penal (é o que se chama de delatio criminis).
Notitia criminis é o nome que se dá ao conhecimento pela autoridade policial de um fato criminoso. A notitia
crimininis de cognição imediata, direta ou espontânea é aquela em que a autoridade toma conhecimento do fato
por meio de suas atividades rotineiras (como, por exemplo, por informações trazidas por outros policiais ou pela
imprensa). Já a notitia criminis de cognição mediata, indireta ou provocada é que se dá de forma indireta (como
quando há requerimento do ofendido). Por sua vez, a notitia criminis de cognição obrigatória ou compulsória
ocorre quando o delegado toma conhecimento sobre o crime no caso da prisão em flagrante delito. Por fim, a
delatio criminis é uma espécie de notitia criminis que ocorre quando a comunicação do crime se dá por terceiro
(e não pela vítima). A denúncia anônima, que pode dar origem às investigações, mas que não autoriza por si só a
instauração do IP, é chamada de notitia criminis inqualificável ou apócrifa.
Para facilitar a compreensão das espécies de notitia criminis, veja o esquema a seguir:

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


Autoridade toma
Imediata ou conhecimento do fato por
direta meio de suas atividades
rotineiras

É provocada
NOTITIA Mediata ou Autoridade toma
CRIMINIS indireta conhecimento de forma
indireta (requerimento)

Casos em que autoridade


Coercitiva ou
toma conhecimento por
obrigatória
meio do APF

Vale mencionar que o STF, ao analisar o Inquérito 1.957/PR, decidiu que a autoridade policial não pode ins-
taurar um IP de imediato quando a notícia da prática de um crime vier de fonte anônima e desacompanhada
de qualquer elemento de prova. Nessa hipótese, a autoridade policial deve determinar a realização de diligên-
cias preliminares e, somente caso se confirme a possibilidade da ocorrência do delito, é que pode dar início ao
inquérito.

425
Espécie de Notitia
Criminis

Simples: comunicação
por qualquer do povo
DELATIO
CRIMINIS Postulatória:
comunicação feita pelo
ofendido

Inqualificável ou Denúncia anônima (não autoriza por si


Apócrifa só a instauração do IP)

Requisição do Juiz ou do Ministério Público (1ª Parte, Inciso II, Art. 5º, do CPP)

A requisição, tanto do juiz quanto do MP, é sinônimo de ordem. Ou seja, a autoridade policial está obrigada a
dar início ao IP, baixando portaria, quando recebe requisição de um juiz ou promotor de justiça.
Nem o juiz nem o representante do Ministério Público são superiores hierárquicos do delegado; por tal motivo,
não podem dar ordens à autoridade policial. Nesse sentido, ao requisitar a instauração do IP, o MP ou o juiz estão
apenas fazendo com que o delegado cumpra a lei.
Requerimento do Ofendido (2ª Parte, Inciso II, Art. 5º, do CPP)

Muito embora, como prevê o § 3º, art. 5º, qualquer pessoa possa levar ao conhecimento do delegado a ocor-
rência de um crime (normalmente por meio da lavratura de um boletim de ocorrência), o legislador optou por
possibilitar que a vítima possa solicitar formalmente à autoridade policial o início do inquérito.
De acordo com o § 1º, art. 5º, do CPP, o requerimento do ofendido deve conter a indicação detalhada da ocor-
rência e do objeto da investigação (não cabe uma petição genérica, simplesmente requerendo a instauração de
inquérito). Muito embora o § 1º faça referência somente ao requerimento do ofendido, que não pode ser genérico,
o entendimento é que se aplica tal regra também à requisição feita pelo juiz ou promotor.
A autoridade policial pode indeferir o requerimento, conforme determina o § 3º, art. 5º, do CPP. Neste caso,
o ofendido pode recorrer ao chefe de polícia (parte da doutrina entende ser o Delegado-Geral; outro entendem
ser o Secretário de Segurança Pública). Caso o recurso seja deferido, o IP é instaurado sem a necessidade de a
autoridade baixar portaria.
O requerimento para instauração de IP pode ser feito tanto em crimes de ação pública quando em crimes de
ação privada (§ 5º, art. 5º, do CP).

Auto de Prisão em Flagrante


O auto de prisão em flagrante consiste no documento que contém as informações relativas à prisão em flagrante.
Uma vez lavrado o auto de prisão em flagrante, o inquérito já está instaurado (não requer que se baixe portaria).
Representação do Ofendido nos Crimes de Ação Penal Pública Condicionada
Conforme dispõe o § 5º, art. 5º, do CPP, nos crime de ação privada, o IP só pode ser instaurando mediante a
apresentação de requerimento do titular da ação (ofendido ou seu representante legal, ou, no caso de morte, o
cônjuge, ascendente, descendente ou irmão). Veja que não se exige que seja feito por intermédio de advogado.
Por fim, para facilitar a memorização, o fluxograma a seguir reúne as formas de instauração do inquérito policial:

Ofício

Requisição do
Crimes de ação Ministério Público
penal pública
incondicionada Requerimento da
vítima

FORMAS DE APF
INSTAURAÇÃO
DO INQUÉRITO
POLICIAL

Crimes de ação Necessária a


penal pública representação da
condicionada à vítima
representação

Necessário o
Crimes de ação
requerimento da
privada
vítima
426
NOTITIA CRIMINIS E DELATIO CRIMINIS z Colher informações sobre a existência de filhos, res-
pectivas idades e se possuem alguma deficiência e
Notitia criminis é o conhecimento, espontâneo ou o nome e o contato de eventual responsável pelos
provocado, por parte da autoridade policial, acerca de cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa.
um fato delituoso. Subdivide-se em:
Notitia criminis de cognição imediata (ou O Código de Processo Penal traz opções de diligên-
espontânea): ocorre quando a autoridade policial cias investigatórias que poderão ser adotadas pela
toma conhecimento do fato delituoso por meio de autoridade policial ao tomar conhecimento de um fato
suas atividades rotineiras.
delituoso. Algumas são de caráter obrigatório, como,
Notitia criminis de cognição coercitiva: ocorre
por exemplo, a realização de exame pericial quando
quando a autoridade policial toma conhecimento do
a infração deixar vestígios; outras, no entanto, têm
fato delituoso através da apresentação do indivíduo
sua realização condicionada à discricionariedade da
preso em flagrante.
autoridade policial, que deve determinar sua realiza-
Já a delatio criminis é uma espécie de notitia crimi-
ção de acordo com as peculiaridades do caso concreto.
nis, consubstanciada na comunicação de uma infração
penal feita por qualquer pessoa do povo à autoridade Concluída a investigação policial, os autos do
policial. A depender do caso concreto, pode funcio- inquérito policial devem ser encaminhados primeira-
nar como uma notitia criminis de cognição imediata, mente ao Poder Judiciário, e somente depois ao Minis-
quando a comunicação à autoridade policial é feita tério Público.
durante suas atividades rotineiras, ou como notitia Em se tratando de crime de ação penal de inicia-
criminis de cognição mediata, na hipótese em que a tiva privada, deve o juiz determinar a permanência
comunicação à autoridade policial feita por terceiro dos autos em cartório, aguardando-se a iniciativa do
se dá através de expediente escrito. ofendido ou de seu representante legal.
Cuidando-se de crime de ação penal pública, os
PROCEDIMENTOS INVESTIGATIVOS autos do inquérito policial são remetidos ao Ministério
Público, que poderá: formalizar acordo de não perse-
O procedimento investigativo inerente ao Inqué- cução penal; oferecer denúncia; entender pelo arqui-
rito Policial não é exclusivo da autoridade policial. vamento; requisitar diligências; declinar competência.
O Ministério Público pode fazer investigações, mes- De acordo com o novo regramento constante do
mo porque a ele quem mais interessa a investigação, art. 28 do CPP, deixará de haver qualquer controle
visto que a finalidade desta é o acolhimento de lastro judicial sobre a promoção de arquivamento apre-
probatório mínimo para o ajuizamento da ação penal. sentada pelo órgão ministerial. O controle sobre tal
Ademais, a CPI também é uma forma de colher infor- decisão ficará restrito ao Ministério Público. Todavia,
mações para futura responsabilização pessoal. a eficácia desse dispositivo foi suspensa em virtude
de medida cautelar concedida pelo Min. Luiz Fux nos
Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas auto- autos da ADI nº 6.305 (j. 22/01/2020).
ridades policiais no território de suas respectivas
circunscrições e terá por fim a apuração das infra- INDICIAMENTO
ções penais e da sua autoria.
Parágrafo único. A competência definida neste arti- Indiciar é atribuir a autoria de uma infração penal
go não excluirá a de autoridades administrativas, a a uma pessoa. É apontar uma pessoa como prová-
quem por lei seja cometida a mesma função. vel autora ou partícipe de um delito. Possui caráter
ambíguo, constituindo-se, ao mesmo tempo, fonte de
O CPP esclarece que logo que tiver conhecimen- direitos, prerrogativas e garantias processuais, e fon-
to da prática da infração penal, a autoridade policial te de ônus e deveres que representam alguma forma

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


deverá (rol exemplificativo): de constrangimento, além da inegável estigmatização
social que a publicidade lhe imprime.
z Dirigir-se ao local, providenciando para que não De acordo com o art. 5º da CF:
se alterem o estado e conservação das coisas, até a
chegada dos peritos criminais; Art. 5° [...]
z Apreender os objetos que tiverem relação com o LVII - ninguém será considerado culpado até o trân-
fato, após liberados pelos peritos criminais; sito em julgado de sentença penal condenatória;
z Colher todas as provas que servirem para o escla- LXIII - o preso será informado de seus direitos,
recimento do fato e suas circunstâncias; entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe
z Ouvir o ofendido; assegurada a assistência da família e de advogado;
z Ouvir o indiciado;
z Proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e A condição de indiciado poderá ser atribuída já no
a acareações; auto de prisão em flagrante ou até o relatório final do
z Determinar, se for o caso, que se proceda a exame delegado de polícia. Logo, uma vez recebida a peça
de corpo de delito e a quaisquer outras perícias; acusatória, não será mais possível o indiciamento, já
z Ordenar a identificação do indiciado pelo processo que se trata de ato próprio da fase investigatória.
datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos Considera-se indispensável a presença de elemen-
sua folha de antecedentes; tos informativos acerca da materialidade e da autoria
z Averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o do delito para que seja feito o indiciamento. Assim, o
ponto de vista individual, familiar e social, sua delegado de polícia deve cientificar o investigado, atri-
condição econômica, sua atitude e estado de âni- buindo-lhe, fundamentadamente, a condição jurídica
mo antes e depois do crime e durante ele, e quais- de “indiciado”. Esse procedimento funciona como um
quer outros elementos que contribuírem para a poder-dever da autoridade policial, uma vez conven-
apreciação do seu temperamento e caráter; cida da concorrência dos seus pressupostos. 427
INDICIAMENTO DIRETO INDICIAMENTO Uma vez relatado, o IP é remetido ao juiz com-
(REGRA) INDIRETO petente, que é identificado segundo os critérios de
competência jurisdicional estabelecidos nos arts. 69 e
O indiciamento direto ocor- O indiciamento indireto
re quando o indiciado está ocorre quando o indiciado seguintes, do CPP.
presente está ausente. Ex.: foragido O § 2º, art. 10, do CPP, menciona a hipótese de indi-
cação de testemunhas não inquiridas, o que deve ser
Ausente qualquer elemento de informação quan- excepcional, cabível somente no caso de investigado
to ao envolvimento do agente na prática delituosa, preso cujo prazo para terminar o inquérito é de 10
a jurisprudência tem admitido a possibilidade de dias. No caso de investigado solto, o delegado pode
impetração de habeas corpus a fim de sanar o cons- pedir a dilação do prazo do IP, prevista no § 3º.
trangimento ilegal daí decorrente, buscando-se o
desindiciamento. INSTRUMENTOS DO CRIME E OBJETOS DE PROVA
De acordo com o STF, o indiciamento é ato privati-
vo do delegado de polícia, ninguém pode ordená-lo a Art. 11 Os instrumentos do crime, bem como os
fazer isso. objetos que interessarem à prova, acompanha-
Por fim, em se tratando de crimes de lavagem de rão os autos do inquérito.
capitais, a lei determina o afastamento do servidor
público de suas funções como efeito automático do Os instrumentos do crime, assim como os objetos
indiciamento, permitindo seu retorno às atividades de interesse da prova, devem ser encaminhados ao
funcionais apenas se houver decisão judicial funda- fórum, juntamente com o IP, para apreciação pelo juiz
mentada nesse sentido. ou pelos jurados ou, ainda, para que neles possa ser
feita contraprova caso haja contestação pela defesa.
GARANTIAS DO INVESTIGADO Instrumentos do crime são os objetos usados pelo
agente para cometer crime, tais como armas e docu-
O investigado é sujeito de direitos, de maneira que mentos falsos. Objetos de interesse da prova, por sua
são resguardados direitos inerentes à dignidade da vez, são coisas que servem para demonstrar a verda-
pessoa humana durante a investigação. Por exemplo, de do ocorrido, tais como telefone celular, computa-
a Constituição Federal (art. 5º) garante o direito ao dor, objeto da vítima com marcas de violência, entre
silêncio e não produção de provas contra si mesmo. outros.

Art. 5° [...] INQUÉRITO COMO BASE DA DENÚNCIA OU QUEIXA


LXIII - o preso será informado de seus direitos,
entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe Art. 12 O inquérito policial acompanhará a denún-
assegurada a assistência da família e de advogado; cia ou queixa, sempre que servir de base a uma ou
Ademais, a tortura, bem como qualquer outro tra- outra.
tamento degradante, que venha ferir o rol de direi-
tos fundamentais é rechaçado pelo ordenamento
O inquérito não é imprescindível para o ofereci-
jurídico pátrio.
III - ninguém será submetido a tortura nem a trata- mento da denúncia (peça acusatória inicial apresen-
mento desumano ou degradante; tada pelo Ministério Público nos casos de ação penal
XLVII - não haverá penas: pública) nem da queixa (peça acusatória inicial apre-
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos sentada por meio do advogado do ofendido quando a
termos do art. 84, XIX; ação for de iniciativa privada). No entanto, de acordo
b) de caráter perpétuo; com o art. 12, do CPP, quando o IP servir de base para
c) de trabalhos forçados; a denúncia ou queixa, deve obrigatoriamente acom-
d) de banimento; panhar uma ou outra.
e) cruéis;
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integri- OUTRAS INCUMBÊNCIAS DA AUTORIDADE
dade física e moral.
POLICIAL
CONCLUSÃO
Art. 13 Incumbirá ainda à autoridade policial:
I - fornecer às autoridades judiciárias as infor-
Art. 10 [...] mações necessárias à instrução e julgamento
§ 1º A autoridade fará minucioso relatório do que
dos processos;
tiver sido apurado e enviará autos ao juiz competente.
II - realizar as diligências requisitadas pelo juiz
§ 2º No relatório poderá a autoridade indicar tes-
ou pelo Ministério Público;
temunhas que não tiverem sido inquiridas, mencio-
III - cumprir os mandados de prisão expedidos
nando o lugar onde possam ser encontradas.
pelas autoridades judiciárias;
§ 3º Quando o fato for de difícil elucidação, e
o indiciado estiver solto, a autoridade poderá IV - representar acerca da prisão preventiva.
requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulte-
riores diligências, que serão realizadas no prazo O art. 13, do CPP, elenca uma série de atribuições
marcado pelo juiz. do delegado de polícia. Vale lembrar que o delegado
exerce atividade de polícia judiciária, que é auxiliar
O inquérito deve encerrado por minucioso rela- do Poder Judiciário em sua atividade investigatória.
tório dando conta de tudo o que foi apurado (mate- No inciso IV, “representar” significa dar razões
rialidade e autoria da infração ou sua ausência), para que alguém seja preso cautelarmente pela auto-
relatando as diligências efetuadas, como regra, em ridade judiciária.
428 ordem cronológica.
Além das funções previstas no art. 13, o delegado públicos ou empresas privadas informações e dados
de polícia possui outras funções previstas no CPP e cadastrais de vítimas e de suspeitos. Veja que se tra-
em outras leis e que são ligadas, de forma direta ou ta da inovação (antes, tanto o MP quanto o delegado
indireta, à instrução do processo, como, por exemplo, de polícia tinham que pedir ao juiz) da solicitação de
o arbitramento de fiança nos crimes cuja pena comi- dados cadastrais para fins de investigação. Os dados e
nada não seja superior a 4 anos, de acordo com o art. informações devem ser meramente cadastrais, como
322, do CPP, e a representação para instauração de nome e endereço de um correntista de banco ou clien-
incidente de insanidade mental, conforme prevê o § te de uma operadora de telefonia: nunca poderá ser
1º, art. 149, entre outras atividades. solicitada diretamente por eles a quebra de sigilo ban-
cário ou telefônico (estas, sim, somente o juiz pode
PODER DE REQUISIÇÃO DE DADOS E determinar). O prazo para cumprimento da requisi-
INFORMAÇÕES CADASTRAIS PELO MINISTÉRIO ção é curto: 24 horas (parágrafo único, art. 11, da Lei
PÚBLICO E AUTORIDADE POLICIAL nº 13.444, de 2016).
Por sua vez, o art. 13-B passou a tratar do que se
Art. 13-A Nos crimes previstos nos arts. 148, 149 e
chama genericamente de informação ERB — Estações
149-A, no § 3º do art. 158 e no art. 159 do Decreto-Lei
de Rádio Base. De acordo com o que dispõe o art. 13-B,
no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal),
o membro do MP ou o delegado de polícia podem
e no art. 239 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990
(Estatuto da Criança e do Adolescente), o membro do requisitar, mediante autorização judicial, às empre-
Ministério Público ou o delegado de polícia pode- sas de telefonia/telemática que disponibilizem ime-
rá requisitar, de quaisquer órgãos do poder público diatamente os meios técnicos que possam permitir
ou de empresas da iniciativa privada, dados e infor- a localização da vítima ou dos suspeitos de crime de
mações cadastrais da vítima ou de suspeitos tráfico de pessoas. Dentre esses meios, um de grande
Parágrafo único. A requisição, que será atendida no eficácia é o que utiliza as informações das Estações de
prazo de 24 (vinte e quatro) horas, conterá: Rádio Base (ERB), que são os equipamentos (antenas)
I - o nome da autoridade requisitante que fazem a conexão entre os telefones celulares e a
II - o número do inquérito policial; e companhia telefônica; por meio desses equipamentos,
III - a identificação da unidade de polícia judiciária é feita a localização das coordenadas de GPS dos apa-
responsável pela investigação relhos de celular da vítima ou dos autores do crime.
Art. 13-B Se necessário à prevenção e à repressão Veja que não se trata de realizar a interceptação
dos crimes relacionados ao tráfico de pessoas, das comunicações (que é tratada por lei específica)
o membro do Ministério Público ou o delegado de mas sim de acesso a dados de coordenadas. Observe,
polícia poderão requisitar, mediante autorização também, a diferença entre o disposto no art. 13-A, do
judicial, às empresas prestadoras de serviço de tele- CPP, situação que não requer autorização judicial,
comunicações e/ou telemática que disponibilizem
para o que prevê o art. 13-B, opção que só pode ser
imediatamente os meios técnicos adequados – como
feita com ordem do juiz.
sinais, informações e outros – que permitam a locali-
zação da vítima ou dos suspeitos do delito em curso.
§ 1º Para os efeitos deste artigo, sinal significa posi- REQUERIMENTO DE DILIGÊNCIAS DURANTE O
cionamento da estação de cobertura, setorização e INQUÉRITO POLICIAL
intensidade de radiofrequência.
§ 2º Na hipótese de que trata o caput, o sinal: Art. 14 O ofendido, ou seu representante legal, e o
I - não permitirá acesso ao conteúdo da comunica- indiciado poderão requerer qualquer diligência,
ção de qualquer natureza, que dependerá de autori- que será realizada, ou não, a juízo da autoridade.
zação judicial, conforme disposto em lei;
II - deverá ser fornecido pela prestadora de telefonia A vítima, pessoalmente ou por meio de seu repre-

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


móvel celular por período não superior a 30 (trinta) sentante legal, assim como o indiciado, podem reque-
dias, renovável por uma única vez, por igual período; rer ao delegado a realização de alguma diligência
III - para períodos superiores àquele de que trata o (como a oitiva de uma testemunha, por exemplo) que
inciso II, será necessária a apresentação de ordem considerem útil para a elucidação dos fatos.
judicial. A autoridade policial pode deferir ou indeferir tal
§ 3º Na hipótese prevista neste artigo, o inquérito pedido, sem necessidade de fundamentação.
policial deverá ser instaurado no prazo máximo de
72 (setenta e duas) horas, contado do registro da PRESENÇA DO DEFENSOR TÉCNICO DO
respectiva ocorrência policial
INVESTIGADO NOS CASOS DE LETALIDADE
§ 4º Não havendo manifestação judicial no pra-
POLICIAL
zo de 12 (doze) horas, a autoridade competente
requisitará às empresas prestadoras de serviço de
telecomunicações e/ou telemática que disponibili- Art. 14-A Nos casos em que servidores vinculados
zem imediatamente os meios técnicos adequados – às instituições dispostas no art. 144 da Consti-
tuição Federal figurarem como investigados em
como sinais, informações e outros – que permitam
inquéritos policiais, inquéritos policiais militares e
a localização da vítima ou dos suspeitos do delito
demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto
em curso, com imediata comunicação ao juiz.
for a investigação de fatos relacionados ao uso
da força letal praticados no exercício profis-
A Lei nº 13.444, de 2016, Lei de Prevenção e Repres- sional, de forma consumada ou tentada, incluindo
são ao Tráfico de Pessoas, acrescentou ao Código de as situações dispostas no art. 23 do Decreto-Lei nº
Processo Penal os arts. 13-A e 13-B. 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), o
O art. 13-A, do CPP, passou a permitir ao repre- indiciado poderá constituir defensor.
sentante do MP ou à autoridade policial, em certos § 1º Para os casos previstos no caput deste artigo, o
crimes, tais como sequestro e cárcere privado e trá- investigado deverá ser citado da instauração do
fico de pessoas, requisitarem diretamente a órgãos procedimento investigatório, podendo constituir 429
defensor no prazo de até 48 (quarenta e oito) horas CURADOR
a contar do recebimento da citação.
§ 2º Esgotado o prazo disposto no § 1º deste artigo Art. 15 Se o indiciado for menor, ser-lhe-á nomeado
com ausência de nomeação de defensor pelo inves- curador pela autoridade policial.
tigado, a autoridade responsável pela investigação
O curador é a pessoa que, tanto no interrogatório
deverá intimar a instituição a que estava vincula-
prestado na fase policial, quanto no interrogatório em
do o investigado à época da ocorrência dos fatos,
para que essa, no prazo de 48 (quarenta e oito)
juízo, tem a função de proteger ou orientar o menor
horas, indique defensor para a representação do de 21 anos, suprindo-lhe a imaturidade. No entan-
investigado. to, após a redução da maioridade civil de 21 para 18
§ 3º Havendo necessidade de indicação de defen- anos, trazida pelo Código Civil de 2002, não se deve
sor nos termos do § 2º deste artigo, a defesa cabe- mais considerar que a pessoa menor de 21 necessite
rá preferencialmente à Defensoria Pública, e, nos de curador, uma vez que alguém que atingiu a maiori-
locais em que ela não estiver instalada, a União ou a dade aos 18 anos é plenamente capaz de exercer qual-
Unidade da Federação correspondente à respectiva quer atividade pública.
competência territorial do procedimento instaurado Vale sempre lembrar que os menores de 18 não
deverá disponibilizar profissional para acompanha- podem ser indiciados em inquérito, tendo em vista
mento e realização de todos os atos relacionados à sua inimputabilidade penal.
defesa administrativa do investigado. Muito embora não tenha mais aplicação, é interes-
§ 4º A indicação do profissional a que se refere o § sante mencionar que não é qualquer pessoa que pode-
3º deste artigo deverá ser precedida de manifestação ria ser nomeada como curador: a pessoa deveria ser
de que não existe defensor público lotado na área maior de 21 anos, em pleno gozo da capacidade civil,
territorial onde tramita o inquérito e com atribuição alfabetizada e não poderia ser subordinada adminis-
para nele atuar, hipótese em que poderá ser indicado trativamente ao juiz, promotor ou delegado.
profissional que não integre os quadros próprios da
Administração. DEVOLUÇÃO DO INQUÉRITO PARA AUTORIDADE
§ 5º Na hipótese de não atuação da Defensoria POLICIAL
Pública, os custos com o patrocínio dos interesses
dos investigados nos procedimentos de que trata Art. 16 O Ministério Público não poderá requerer a
este artigo correrão por conta do orçamento pró- devolução do inquérito à autoridade policial, senão
para novas diligências, imprescindíveis ao ofereci-
prio da instituição a que este esteja vinculado à
mento da denúncia.
época da ocorrência dos fatos investigados.
§ 6º As disposições constantes deste artigo se apli- O art. 16 cuida de situação em que o promotor, ao
cam aos servidores militares vinculados às institui- receber o IP devidamente concluído e relatado, por
ções dispostas no art. 142 da Constituição Federal, entender que falta alguma diligência fundamental
desde que os fatos investigados digam respeito a para a formação de sua convicção, requer ao juiz que
missões para a Garantia da Lei e da Ordem.
os autos retornem à autoridade policial para que esta
dê continuidade às investigações. Fora de tal hipótese,
A Lei nº 13.964, de 2019 (Lei Anticrime), acrescen- o MP não pode requerer a devolução do IP ao delegado.
tou ao CPP o art. 14-A, que prevê procedimento a ser
adotado sempre que o objeto do inquérito policial for ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL
a apuração de fatos relacionados ao uso de força legal
praticados no exercício profissional por integrantes Art. 17 A autoridade policial não poderá man-
das forças de segurança pública. dar arquivar autos de inquérito.
A partir de tal alteração, o integrante das forças
O arquivamento do inquérito policial é tratado
de segurança pública que figurar como investigado
no art. 28, do CPP, e será estudado com detalhes mais
em caso de letalidade policial (morte de civil causa-
adiante. Desde já vale alertar, no entanto, que a Lei
da por ação das forças de segurança) deve ser cien-
Anticrime promoveu importante alteração nas regras
tificado (a lei usa a expressão “citado”, que, apesar de arquivamento do IP.
de impropriamente utilizada, deve ser observada O art. 17, por sua vez, indica que o inquérito é
para fins de prova) da existência de procedimento indisponível, isto é, uma vez instaurado, não pode ser
investigatório (entre os quais, o IP) e poderá nomear arquivado pelo delegado de polícia.
defensor técnico. Vale mencionar que o mesmo pro-
cedimento foi incluído no Código de Processo Penal Desarquivamento do Inquérito
Militar, no art. 16-A.
A citação prevista no art. 14-A deve ser observada Art. 18 Depois de ordenado o arquivamento do
inquérito pela autoridade judiciária, por falta de
tanto nos casos consumados quanto nos tentados e,
base para a denúncia, a autoridade policial poderá
também, nas hipóteses em que se configura excluden- proceder a novas pesquisas, se de outras provas
te de ilicitude. tiver notícia.
A Garantia da Lei e da Ordem (GLO) a que se refere
o § 6º consiste em autorização para que as Forças Arma- O art. 18 dispõe que, uma vez arquivado o IP, é pos-
das atuem em situações de grave perturbação da ordem sível seu desarquivamento caso surjam novas pro-
ou em eventos de grandes proporções (como a Copa do vas (novas pesquisas).
Mundo). As operações de GLO são previstas no art. 142, Nesse sentido, vale trazer o teor da Súmula 524,
da Constituição Federal, e regulamentadas pela Lei Com- do STF: Arquivado o inquérito policial, por despacho
plementar nº 97, de 1999, e pelo Decreto nº 3.897, de 2001. do juiz, a requerimento do promotor de justiça, não
430 pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas.
Importante! Nesse sentido, já decidiu o STF, no julgamento do
HC 82.354, que o advogado do indiciado tem pleno
De acordo com o art. 18, do CPP, e com o teor da
acessos aos autos do inquérito policial.
Súmula 524, do STF, somente é possível o desar-
quivamento do IP pelo surgimento de provas INCOMUNICABILIDADE DO INDICIADO
novas quando o fundamento do arquivamento
foi a insuficiência de provas (indícios de auto- Art. 21 A incomunicabilidade do indiciado depen-
ria e prova do crime). Assim sendo, inquéritos derá sempre de despacho nos autos e somente será
arquivados por atipicidade (não constituir o fato permitida quando o interesse da sociedade ou a
um crime), excludente de ilicitude, excludente de conveniência da investigação o exigir.
culpabilidade ou extinção da punibilidade não Parágrafo único. A incomunicabilidade, que não
podem ser desarquivados. excederá de três dias, será decretada por despacho
fundamentado do Juiz, a requerimento da autorida-
de policial, ou do órgão do Ministério Público, res-
Por fim, vale mencionar que, em relação ao arqui- peitado, em qualquer hipótese, o disposto no artigo
89, inciso III, do Estatuto da Ordem dos Advogados
vamento fundamentado em excludente da ilicitude,
do Brasil (Lei n. 4.215, de 27 de abril de 1963) (Reda-
existe certa polêmica tendo em vista alguns julgados
ção dada pela Lei nº 5.010, de 30.5.1966)
do próprio STF (por exemplo, o HC 87395). Para o STJ,
o desarquivamento somente é possível no caso de
O art. 21, do CPP, não foi recepcionado pela Cons-
insuficiência de provas. Para fins de concurso, vale o
tituição de 1988, não tendo, pois, aplicação. A inco-
entendimento da Súmula 524, do STF.
municabilidade consiste na hipótese de se prender
alguém sem que se permita a comunicação externa e
INQUÉRITO POLICIAL NOS CRIMES DE AÇÃO o direito de contato com o advogado e com a família.
PRIVADA De acordo com o inciso LXII, art. 5º, da CF, a pri-
são de qualquer pessoa e o local onde ela se encon-
Art. 19 Nos crimes em que não couber ação tra devem ser imediatamente comunicados ao juiz
pública, os autos do inquérito serão remetidos ao competente e à família do preso ou à pessoa por ele
juízo competente, onde aguardarão a iniciativa do
indicada. Por sua vez, o inciso IV, § 3º, do art. 136, da
ofendido ou de seu representante legal, ou serão
CF, veda a incomunicabilidade do preso até mesmo
entregues ao requerente, se o pedir, mediante
na vigência do estado de defesa, que é uma situação
traslado.
excepcional de crise.
O art. 19, do CPP, indica que, uma vez concluído o
CIRCUNSCRIÇÃO POLICIAL
inquérito que apurou crime que se procede mediante
ação penal privada, este deve ser remetido ao juízo
Art. 22 No Distrito Federal e nas comarcas em
competente, aguardando em cartório o ajuizamento que houver mais de uma circunscrição policial,
da queixa-crime por parte do ofendido, ou, caso este a autoridade com exercício em uma delas poderá,
deseje melhor analisar os autos, poderá levar consi- nos inquéritos a que esteja procedendo, ordenar
go (o que se denomina “fazer carga”) o IP, devendo diligências em circunscrição de outra, independen-
ficar cópia integral no cartório (a cópia é chamada temente de precatórias ou requisições, e bem assim
traslado). providenciará, até que compareça a autoridade
competente, sobre qualquer fato que ocorra em sua
SIGILO DO INQUÉRITO presença, noutra circunscrição.

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


Art. 20 A autoridade assegurará no inquérito o Circunscrição policial é a divisão territorial que
sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido existe em determinadas cidades e no DF na qual o
pelo interesse da sociedade. delegado de polícia exerce suas funções (equivale à
Parágrafo único. Nos atestados de antecedentes competência do juiz).
que lhe forem solicitados, a autoridade policial não O art. 22 autoriza que um delegado que preside
poderá mencionar quaisquer anotações referentes um IP ou seus policiais subordinados ingressem na
a instauração de inquérito contra os requerentes. circunscrição de outra autoridade policial para efe-
tuar diligências, sem que haja necessidade de expedir
O inquérito é sigiloso, conforme indica o art. 20, ofícios ou requisições para a realização do ato.
do CPP. Isso significa que o acesso aos autos do IP
não é livre a qualquer pessoa do povo, nem mesmo COMUNICAÇÃO AO INSTITUTO DE IDENTIFICAÇÃO
ao indiciado, pessoalmente. No entanto, tal restrição E ESTATÍSTICA
não se aplica ao advogado, tendo em vista o que o
inciso XIV, art. 7º, da Lei nº 8.906, de 1994 (Estatuto da Art. 23 Ao fazer a remessa dos autos do inquérito
Advocacia), estabelece que: ao juiz competente, a autoridade policial oficiará
ao Instituto de Identificação e Estatística, ou
Art. 7º (Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994) São repartição congênere, mencionando o juízo a que
direitos do advogado: tiverem sido distribuídos, e os dados relativos à
[...] infração penal e à pessoa do indiciado.
XIV - examinar em qualquer repartição policial,
mesmo sem procuração,autos de flagrante e de Atualmente, por conta da informatização, tais
inquérito, findos ou em andamento, ainda que con- dados são lançados em sistemas e acessados direta-
clusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar mente pelos institutos de identificação e estatística.
apontamento Em cada Estado, o instituto tem uma nomenclatura 431
diferente; em São Paulo, por exemplo, é o Instituto de Art. 3º O Ministério Público da União exercerá o
Identificação Ricardo Gumbleton Daunt o responsável controle externo da atividade policial tendo
por concentrar todas as informações criminais sobre em vista:
a) o respeito aos fundamentos do Estado Demo-
qualquer indivíduo.
crático de Direito, aos objetivos fundamentais
da República Federativa do Brasil, aos princípios
INQUÉRITO POLICIAL E O CONTROLE EXTERNO DA informadores das relações internacionais, bem
ATIVIDADE POLICIAL PELO MINISTÉRIO PÚBLICO como aos direitos assegurados na Constituição
Federal e na lei;
A atividade policial é indispensável para a pro- b) a preservação da ordem pública, da incolumida-
moção da segurança pública e, portanto, para a efe- de das pessoas e do patrimônio público;
tivação dos direitos fundamentais, devendo, sempre, c) a prevenção e a correção de ilegalidade ou de
pautar-se pelo respeito ao interesse público26. Neste abuso de poder;
sentido, a Constituição da República Federativa do d) a indisponibilidade da persecução penal;
Brasil, de 1988, elenca as funções institucionais do e) a competência dos órgãos incumbidos da segu-
Ministério Público (MP), dentre as quais consta o con- rança pública.
trole externo da atividade policial. Vejamos:
O Capítulo III, Título I, da Lei Complementar nº 75,
Constituição da República Federativa do Bra- de 1993, cuida de disciplinar sobre o controle externo
sil de 1988 da atividade policial. De acordo com o art. 9º, o Minis-
tério Público da União exerce tal controle por meio de
Art. 129 São funções institucionais do Ministério medidas judiciais e extrajudiciais. Vejamos:
Público:
I - promover, privativamente, a ação penal pública, Art. 9º O Ministério Público da União exercerá o
na forma da lei; controle externo da atividade policial por meio de
II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos medidas judiciais e extrajudiciais podendo:
e dos serviços de relevância pública aos direitos I - ter livre ingresso em estabelecimentos policiais
assegurados nesta Constituição, promovendo as ou prisionais;
medidas necessárias a sua garantia; II - ter acesso a quaisquer documentos relativos à
III - promover o inquérito civil e a ação civil públi- atividade-fim policial;
ca, para a proteção do patrimônio público e social, III - representar à autoridade competente pela ado-
do meio ambiente e de outros interesses difusos e ção de providências para sanar a omissão indevida,
coletivos; ou para prevenir ou corrigir ilegalidade ou abuso
IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou de poder;
representação para fins de intervenção da União e IV - requisitar à autoridade competente para ins-
dos Estados, nos casos previstos nesta Constituição; tauração de inquérito policial sobre a omissão
V - defender judicialmente os direitos e interesses ou fato ilícito ocorrido no exercício da atividade
das populações indígenas; policial;
VI - expedir notificações nos procedimentos admi- V - promover a ação penal por abuso de poder.
nistrativos de sua competência, requisitando infor-
mações e documentos para instruí-los, na forma da Também foi objeto de discussão a possibilidade
lei complementar respectiva; de o Ministério Público realizar investigações crimi-
VII - exercer o controle externo da atividade nais ou não. Para sanar tal controvérsia, foi editada a
policial, na forma da lei complementar men-
referida Lei Complementar nº 75, de 1993. Ademais,
cionada no artigo anterior;
o STF pacificou o entendimento mediante o Recurso
VIII - requisitar diligências investigatórias e a
Extraordinário nº 593.727 (com repercussão geral).
instauração de inquérito policial, indicados os
fundamentos jurídicos de suas manifestações A seguir, vejamos a disposição do art. 8º, da Lei
processuais; Complementar nº 75, de 1993:
IX - exercer outras funções que lhe forem conferi-
das, desde que compatíveis com sua finalidade, Art. 8º Para o exercício de suas atribuições, o
sendo-lhe vedada a representação judicial e a con- Ministério Público da União poderá, nos procedi-
sultoria jurídica de entidades públicas. mentos de sua competência:
I - notificar testemunhas e requisitar sua condução
A principal finalidade do controle externo da ati- coercitiva, no caso de ausência injustificada;
II - requisitar informações, exames, perícias e docu-
vidade policial é a busca por um serviço de segurança
mentos de autoridades da Administração Pública
pública que seja prestado com eficiência e respeito
direta ou indireta;
aos direitos de todos os cidadãos. Diante disso, alguns
III - requisitar da Administração Pública servi-
estudiosos argumentam que, pelo sistema de freios ços temporários de seus servidores e meios mate-
e contrapesos e pela constante fiscalização entre riais necessários para a realização de atividades
órgãos, é válido o controle do MP em relação à polícia específicas;
sem que isso configure nenhum tipo de hierarquia. IV - requisitar informações e documentos a entida-
Por outro lado, uma parcela da doutrina questiona des privadas;
tal controle do MP, uma vez que os órgãos de polícia V - realizar inspeções e diligências investigatórias;
são independentes e autônomos, não devendo sofrer VI - ter livre acesso a qualquer local público ou pri-
nenhum tipo de interferência. vado, respeitadas as normas constitucionais perti-
De acordo com a Lei Complementar nº 75, de 1993, nentes à inviolabilidade do domicílio;

26 MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS. Controle da atividade policial. Disponível em: https://www.mpmg.mp.br/areas-de-atua-
432 cao/defesa-do-cidadao/controle-externo-da-atividade-policial/apresentacao/. Acesso em: 13 out. 2021.
VII - expedir notificações e intimações necessárias art. 400, § 1º), sem que tanto configure cerceamen-
aos procedimentos e inquéritos que instaurar; to de defesa.
VIII - ter acesso incondicional a qualquer banco de 4. Nos termos da jurisprudência desta Corte, a
dados de caráter público ou relativo a serviço de mera impressão do juiz sobre a possibilidade de
relevância pública; o paciente interferir na instrução criminal, bem
IX - requisitar o auxílio de força policial. como sua situação econômica, sem a indicação de
elementos concretos demonstradores do risco de
Diante do exposto, nota-se que, além de requisi- fuga, não constituem fundamentos idôneos para
tar uma investigação policial, ficou entendido que o o decreto de prisão preventiva. Os autos revelam,
Ministério Público pode promover, por autoridade ainda, situação configuradora de excesso de prazo
própria, investigações de natureza penal. da prisão cautelar.
5. Habeas corpus denegado. Ordem concedida de
ofício para revogar a prisão cautelar.
FUNDAMENTOS
z Em nenhuma lei, atribuem-se, exclusivamente, à (HC 85011, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Relator(a) p/ Acórdão: Min.
autoridade policial atividades investigativas (ex.: TEORI ZAVASCKI, Primeira Turma, julgado em 26/05/2015, DJe-119
CPI, sindicância etc) DIVULG 19-06-2015 PUBLIC 22-06-2015 EMENT VOL-02772-01 PP-
00001)
z O rol constitucional de atribuições definidas para o
Ministério Público é exemplificativo Uma vez estabelecido que o MP pode realizar
z De acordo com a teoria dos poderes implícitos, para investigações, é necessário que alguns parâmetros
atingir o fim (propor a ação penal), é lógico que o sejam respeitados durante a investigação ministerial.
MP pode valer-se dos meios para chegar a isso São eles:
(investigar)
z Respeito aos direitos e garantias fundamentais dos
HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL E PRO- investigados;
CESSUAL PENAL. PODER DE INVESTIGAÇÃO z Os atos investigatórios necessitam ser documenta-
DO MINISTÉRIO PÚBLICO. POSSIBILIDADE. dos e praticados por membros do MP;
IMPEDIMENTO OU SUSPEIÇÃO DE MEMBRO DO z Respeito à reserva constitucional de jurisdição (ex.:
ÓRGÃO MINISTERIAL QUE PARTICIPOU DA FASE interceptação telefônica e quebra de sigilo bancá-
INVESTIGATÓRIA. INOCORRÊNCIA. COMPETÊN- rio — ambas necessitam de autorização judicial);
CIA PARA JULGAR ARGUIÇÃO DE IMPEDIMEN- z Devem ser respeitadas as prerrogativas profissio-
TO OU SUSPEIÇÃO DE PROMOTOR DE JUSTIÇA. nais asseguradas por lei aos advogados;
MAGISTRADO DE PRIMEIRO GRAU. ART. 104 DO z Obediência à Súmula Vinculante nº 14, do STF:
CPP. PRISÃO CAUTELAR. FUNDAMENTAÇÃO INI-
DÔNEA. EXCESSO DE PRAZO CONFIGURADO. Súmula Vinculante nº 14 É direito do defensor,
1. Ao concluir o julgamento do RE 593.727/MG, no interesse do representado, ter acesso amplo aos
com repercussão geral reconhecida, o Plenário des- elementos de prova que, já documentados em pro-
ta Corte assentou a seguinte tese: “o Ministério cedimento investigatório realizado por órgão com
Público dispõe de competência para promover, competência de polícia judiciária, digam respeito
por autoridade própria, e por prazo razoá- ao exercício do direito de defesa);
vel, investigações de natureza penal, desde
que respeitados os direitos e garantias que
z A investigação deve ser realizada em prazo
assistem a qualquer indiciado ou a qualquer
razoável;
pessoa sob investigação do Estado, observa-
das, sempre, por seus agentes, as hipóteses de
z Permanente controle do Poder Judiciário.

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


reserva constitucional de jurisdição e, tam-
bém, as prerrogativas profissionais de que se A seguir, vejamos a tese fixada pelo STF:
acham investidos, em nosso País, os Advoga-
dos (Lei 8.906, de 1994, artigo 7º, notadamen- O Ministério Público dispõe de competência
te os incisos I, II, III, XI, XIII, XIV e XIX), sem para promover, por autoridade própria, e
prejuízo da possibilidade – sempre presente no por prazo razoável, investigações de nature-
Estado democrático de Direito – do permanen- za penal, desde que respeitados os direitos e
te controle jurisdicional dos atos, necessaria- garantias que assistem a qualquer indiciado ou a
mente documentados (Súmula Vinculante 14), qualquer pessoa sob investigação do Estado, obser-
praticados pelos membros dessa instituição”. vadas, sempre, por seus agentes, as hipóteses de
2. A jurisprudência do STF é no sentido de que a reserva constitucional de jurisdição e, também, as
participação de membro do Ministério Público prerrogativas profissionais de que se acham inves-
na fase investigatória não acarreta, por si só, tidos, em nosso País, os Advogados (Lei 8.906, de
seu impedimento ou sua suspeição para o ofe- 1994, artigo 7º, notadamente os incisos I, II, III, XI,
recimento da denúncia, e nem poderia ser dife- XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da possibilidade —
rente à luz da tese firmada pelo Plenário, mormente sempre presente no Estado democrático de Direito
por ser ele o dominus litis e sua atuação estar vol- — do permanente controle jurisdicional dos atos,
tada exatamente à formação de sua convicção. necessariamente documentados (Súmula Vinculan-
3. À luz do art. 104 do CPP, é do juiz de primeira ins- te 14), praticados pelos membros dessa instituição.
tância a competência para processar e julgar exce- (STF. Plenário. RE 593727/MG, red. p/ o acórdão
ção de impedimento ou suspeição de promotor de Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/5/2015).
justiça, a quem cabe, inclusive, decidir sobre a rea-
lização ou não de diligências solicitadas nesse inci- Por fim, é importante destacar, ainda, o art. 10, dis-
dente processual, podendo indeferir as que entender posto no Capítulo III, da Lei Complementar nº 75, de
irrelevantes, impertinentes ou protelatórias (CPP, 1993. Vejamos: 433
Art. 10 A prisão de qualquer pessoa, por parte de sequência da homologação ou não pela instância de
autoridade federal ou do Distrito Federal e Terri- revisão ministerial.
tórios, deverá ser comunicada imediatamente ao Incumbe exclusivamente ao Ministério Público
Ministério Público competente, com indicação do avaliar se os elementos de informação de que dis-
lugar onde se encontra o preso e cópia dos docu- põe são (ou não) suficientes para o oferecimento da
mentos comprobatórios da legalidade da prisão. denúncia. Nenhum inquérito pode ser arquivado sem
expressa determinação do MP.
ARQUIVAMENTO E DESARQUIVAMENTO DO
INQUÉRITO POLICIAL

O Pacote Anticrime trouxe novo procedimento


para o arquivamento no âmbito da justiça estadual, DA PROVA
justiça federal e justiça comum do DF. De acordo com
o art. 28 do CPP reformado, deixará de haver qualquer CONSIDERAÇÕES GERAIS
controle judicial sobre a promoção de arquivamento
apresentada pelo Ministério Público. Provar significa demonstrar a veracidade de um
Ocorre que, a eficácia desse dispositivo foi suspen- fato, por meio de inspeção/verificação/exame. Ou
sa em virtude de medida cautelar concedida nos autos seja, provar exige atividade intelectual para conhecer
de Ação Direta de Inconstitucionalidade. Inclusive, foi o verdadeiro.
determinado que o antigo art. 28 permaneça em vigor Existe um conjunto de atividades que visam obter
enquanto perdurar a cautelar: a verdade dos fatos relevantes para o julgamento. Um
exemplo é a produção dos meios e atos praticados no
Art. 28 Se o órgão do Ministério Público, ao invés processo que buscam o convencimento do juiz (perí-
de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento cia, testemunhas etc.)
do inquérito policial ou de quaisquer peças de infor- Portanto, a prova permite a formação da convic-
mação, o juiz, no caso de considerar improcedentes ção do órgão julgador no curso processual quanto à
as razões invocadas, fará remessa do inquérito ou existência de determinada situação fática. Para isso,
peças de informação ao procurador-geral, e este existem instrumentos idôneos, lícitos e legítimos des-
oferecerá a denúncia, designará outro órgão do critos na legislação processual penal.
Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no
pedido de arquivamento, ao qual só então estará o Art. 155 O juiz formará sua convicção pela livre
juiz obrigado a atender. apreciação da prova produzida em contraditório
judicial, não podendo fundamentar sua decisão
Novo procedimento de arquivamento: exclusivamente nos elementos informativos colhi-
dos na investigação, ressalvadas as provas cautela-
z O MP ordena o arquivamento do inquérito policial; res, não repetíveis e antecipadas.
z O MP comunica a vítima, o investigado e a autori-
dade policial; PRESERVAÇÃO DE LOCAL DE CRIME
z O MP encaminha os autos para a instância de revi-
são ministerial para fins de homologação, na for-
O isolamento da área deve ser mantido pelo tem-
ma da lei;
po necessário determinado pelos peritos. O local deve
z Se a vítima, ou seu representante legal, não con-
ser lacrado e estudado, pois é a principal fonte de
cordar com o arquivamento do inquérito policial,
provas técnicas. O objetivo desse procedimento é que
poderá, no prazo de 30 dias do recebimento da
o cenário original não seja alterado e as provas não
comunicação, submeter a matéria à revisão da ins-
sejam contaminadas.
tância competente do órgão ministerial, conforme
É importante conhecer a seguinte classificação:
dispuser a respectiva lei orgânica;
z Nas ações penais relativas a crimes praticados em
detrimento da União, Estados e Municípios, a revi- IDÔNEO INIDÔNEO
são do arquivamento do inquérito policial poderá Local alterado após o crime
ser provocada pela chefia do órgão a quem couber Ocorre quando não há al- Ex.: as autoridades policiais
a sua representação judicial. teração do local após o não chegam a tempo de la-
crime crar o ambiente e, por isso,
No antigo procedimento de arquivamento, o Ex.: as autoridades poli- outras pessoas adentram o
Ministério Público oferecia o arquivamento e o juiz ciais cercam a área a tem- local, após a infração crimi-
decidia se acolhia ou não. Caso a autoridade judicial po de nada ser alterado nal, e têm contato com as
não acolhesse o arquivamento, remetia ao PGJ para provas
que dele partisse a decisão final, no sentido de arqui-
var ou não. Caso não entendesse pelo arquivamento,
Perceba que o Código de Processo Penal traz vários
o PGJ designava um longa manus para propor a ação
dispositivos no sentido de preservar o local do crime
penal ou ele mesmo o fazia.
para a apuração do delito:
Com a mudança trazida pelo Pacote Anticrime, o
controle do arquivamento passa a ser realizado no Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da
âmbito exclusivo do Ministério Público, atribuindo-se infração penal, a autoridade policial deverá:
à vítima a legitimidade para questionar a correção da I - dirigir-se ao local, providenciando para que não
postura adotada pelo órgão ministerial. se alterem o estado e conservação das coisas, até a
Entenda que o arquivamento continua funcionan- chegada dos peritos criminais;
do como um ato complexo, mas agora constituindo em II - apreender os objetos que tiverem relação com o
434 um primeiro momento pela decisão do promotor e na fato, após liberados pelos peritos criminais;
III - colher todas as provas que servirem para o z Acondicionamento (o vestígio é embalado de for-
esclarecimento do fato e suas circunstâncias; ma individualizada, com anotação da data, hora e
IV - ouvir o ofendido; nome de quem fez a coleta e o acondicionamento);
V - ouvir o indiciado, com observância, no que for z Transporte, garantindo a manutenção das caracte-
aplicável, do disposto no Capítulo III do Título Vll, rísticas originais e o controle da posse;
deste Livro, devendo o respectivo termo ser assina- z Recebimento (com informações);
do por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a z Processamento (exame pericial com laudo do
leitura; perito);
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas z Armazenamento para realização de contra perícia,
e a acareações; ser descartado ou transportado;
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exa- z Descarte, liberação do vestígio, com ou sem autori-
me de corpo de delito e a quaisquer outras perícias; zação judicial, a depender do caso.
VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo pro-
cesso datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos Lembre-se que em uma mera coleta de sangue
autos sua folha de antecedentes;
para exames de rotina já existe uma sistemática rígi-
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob
da para evitar erros no resultado, imagine agora todos
o ponto de vista individual, familiar e social, sua
os cuidados que precisam ser adotados para não ser
condição econômica, sua atitude e estado de ânimo
antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer cometida nenhuma injustiça em âmbito penal. Logo,
outros elementos que contribuírem para a aprecia- todos os procedimentos elencados na lei precisam ser
ção do seu temperamento e caráter. obedecidos para a valoração de uma prova.
X - colher informações sobre a existência de filhos, A coleta dos vestígios deverá ser realizada pre-
respectivas idades e se possuem alguma deficiência ferencialmente por perito oficial, que dará o enca-
e o nome e o contato de eventual responsável pelos minhamento necessário para a central de custódia.
cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa. É proibida a entrada em locais isolados bem como a
Art. 169 Para o efeito de exame do local onde hou- remoção de quaisquer vestígios de locais de crime
ver sido praticada a infração, a autoridade provi- antes da liberação por parte do perito responsável,
denciará imediatamente para que não se altere o sendo tipificada como fraude processual a sua reali-
estado das coisas até a chegada dos peritos, que zação (art. 158-C).
poderão instruir seus laudos com fotografias, dese- No acondicionamento para transporte, o reci-
nhos ou esquemas elucidativos. piente precisa estar selado com lacre e numeração
Parágrafo único. Os peritos registrarão, no laudo, individualizada, para garantir a inviolabilidade e a
as alterações do estado das coisas e discutirão, no
idoneidade do vestígio durante o transporte. O reci-
relatório, as consequências dessas alterações na
piente precisa individualizar o vestígio e preservá-lo.
dinâmica dos fatos.
Após cada rompimento de lacre, deve-se fazer
constar na ficha de acompanhamento de vestígio o
Imagine que um homicida, após o cometimento
nome e a matrícula do responsável, a data, o local, a
do crime, lembre-se de que deixou seu RG no local do
finalidade, bem como as informações referentes ao
crime e volte para buscá-lo. Se a autoridade policial
novo lacre utilizado. O lacre rompido deverá ser acon-
agir com rapidez e lacrar o local do crime, impossi-
dicionado no interior do novo recipiente (art. 158-D).
bilitando o acesso de qualquer pessoa, evitará que o
Todos os Institutos de Criminalística deverão ter
criminoso se livre de uma prova valiosa para a eluci-
uma central de custódia destinada à guarda e controle
dação dos fatos. dos vestígios. Toda central de custódia deve possuir
os serviços de protocolo. Na central de custódia, a

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


EXAME DE CORPO DE DELITO E PERÍCIAS EM entrada e a saída de vestígio deverão ser protocola-
GERAL das, consignando-se informações sobre a ocorrência
no inquérito que a eles se relacionam (art. 158-E).
O Pacote Anticrime trouxe dentro da perícia a Após a realização da perícia, o material deverá ser
cadeia de custódia como garantidora da autenticidade devolvido à central de custódia, devendo nela perma-
das evidências coletadas e examinadas, sem que haja necer. Caso a central de custódia não possua espaço
espaço para adulteração. Assim, documenta-se de
ou condições de armazenar determinado material,
maneira formal um procedimento destinado a manter
deverá a autoridade policial ou judiciária determinar
a história cronológica de uma evidência.
as condições de depósito do referido material em local
A consequência da quebra da cadeia de custódia
diverso, mediante requerimento do diretor do órgão
(break on the chain of custody) é a proibição de valo-
ração probatória com a consequente exclusão dela e central de perícia oficial de natureza criminal (art.
de toda a derivada. Em suma, preservar a fonte de 158-F).
prova garante a validade da prova. A preocupação com a audiência de custódia ini-
O período da cadeia de custódia vai do reconheci- ciou-se nos Estados Unidos, na década de 90, quando
mento do elemento de prova até o seu descarte. São o ex-jogador de futebol americano e então ator O. J.
etapas do rastreamento do vestígio: Simpson foi acusado de ser o executor do homicídio
de sua ex-esposa e de um amigo dela, e absolvido. A
z Reconhecimento como elemento potencial para a defesa conseguiu absolvição justamente porque a pre-
produção de prova; servação do local foi inadequada. A partir de então a
z Isolamento para evitar que se altere; cadeia de custódia passou a ser pensada e desenvolvi-
� Fixação (descrição detalhada do vestígio como se da pela maioria dos países.
encontra no local do crime ou no corpo de delito);
� Coleta para análise pericial; 435
PERITOS E INTÉRPRETES Art. 156 A prova da alegação incumbirá a quem a
fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício:
Art. 159 O exame de corpo de delito e outras perícias I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal,
serão realizados por perito oficial, portador de diploma a produção antecipada de provas consideradas
de curso superior. urgentes e relevantes, observando a necessidade,
§ 1º Na falta de perito oficial, o exame será realizado adequação e proporcionalidade da medida;
por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma II – determinar, no curso da instrução, ou antes de
de curso superior preferencialmente na área específica, proferir sentença, a realização de diligências para
dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada dirimir dúvida sobre ponto relevante
com a natureza do exame.
No processo penal, diferente do que acontece no proces- No sistema processual penal existe distribuição do
so civil, as partes não intervêm na nomeação do perito. ônus da prova entre acusação e defesa:
Quem não pode ser perito? Se antes prestou depoimen- Incumbe à acusação somente a prova da existên-
to/opinou sobre o objeto da perícia; analfabetos; meno- cia do fato típico;
res de 21 anos. Comprovada a existência do fato típico existe uma
Atenção: Os intérpretes são equiparados a peritos para presunção de que o fato também é ilícito e culpável,
fins penais. cabe ao acusado informar tal presunção. Portanto,
compete ao réu o ônus da prova quanto às excluden-
tes da ilicitude, da culpabilidade, ou acerca da presen-
Por fim, vale lembrar que sempre que a infração ça de causa extintiva da punibilidade.
deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo Sendo assim, se o acusado apontar a existência de
de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a um álibi, caberá a ele fazer prova de sua alegação.
confissão do acusado. Ex.: uma pessoa apanha, deve Em virtude da regra probatória que deriva do
ser feito o exame de corpo de delito para que seja ana- princípio da presunção de inocência, tem-se que
lisada a lesão corporal. somente é possível um decreto condenatório quando
o magistrado estiver convencido da prática do delito
REQUISITOS E ÔNUS DA PROVA por parte do acusado. Já para a defesa, basta que pro-
duza um estado de dúvida para que o acusado possa
ser absolvido.
Antes de tudo, deve-se saber o conceito de ônus: Outro ponto interessante é que para a acusação,
um imperativo do próprio interesse, estando situados exige-se prova além de qualquer dúvida razoável;
no campo da liberdade. Ainda que haja seu descumpri- para a defesa, basta criar um estado de dúvida.
mento, não haverá qualquer ilicitude, pois o cumpri- Da regra de julgamento do in dubio pro reo decor-
mento do ônus interessa ao próprio sujeito onerado. rente do princípio da presunção de inocência, tem-se
que o ônus da prova recai precipuamente sobre o
ÔNUS PERFEITO ÔNUS MENOS PERFEITO Ministério Público ou sobre o querelante.
A inversão do ônus da prova significaria, portanto,
O ônus é perfeito quando Um ônus é tido como me-
adotar a regra contrária: in dubio pro societate ou in
o prejuízo, que é o resul- nos perfeito quando os
dubio contra reum. Diante da hierarquia constitucio-
tado de seu descumpri- prejuízos que derivam de
nal do princípio da presunção de inocência, forçoso é
mento, ocorre necessária seu descumprimento se
concluir que nenhuma lei poderá, então, inverter
e inevitavelmente produzem de acordo com
o ônus da prova com relação à condenação penal,
a avaliação judicial
sob pena de ser considerada inconstitucional.
A intervenção do juiz das garantias na fase inves-
O ônus da prova funciona como uma regra de tigatória deve ser contingente e excepcional: Art. 3º-A.
julgamento a ser aplicada pelo juiz quando perma- O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a
necer em dúvida no momento do julgamento. Em iniciativa do juiz na fase de investigação e a substitui-
outras palavras, o ônus funciona como uma regra de ção da atuação probatória do órgão de acusação
julgamento destinada ao juiz acerca do conteúdo da
sentença que deve proferir, caso não tenha sido com- NULIDADE DA PROVA
provada a verdade de uma afirmação feita no curso
do processo. O ato processual deve ser praticado em conso-
Em seu aspecto subjetivo, o ônus da prova deve ser nância com a Constituição Federal, com as Conven-
compreendido como o encargo que recai sobre as par- ções Internacionais sobre Direitos Humanos e com
tes de buscar as fontes de prova capazes de compro- as leis processuais penais, assegurando-se, assim, não
var as afirmações por elas feitas ao longo do processo, somente às partes, como a toda a coletividade, a exis-
introduzindo-as no processo utilizando-se dos meios tência de um processo penal justo e em consonância
de prova legalmente admissíveis. com o princípio do devido processo legal.
Assim, a nulidade é compreendida como espécie de
Vale lembrar que no âmbito processual penal, o ônus
sanção aplicada ao ato processual defeituoso, do que
da prova subjetivo é atenuado por força da regra da
deriva a inaptidão para a produção de seus efeitos regu-
comunhão da prova e dos poderes instrutórios do juiz. lares. Apenas os atos processuais realizados em conso-
Conforme o princípio do livre convencimento nância com o ordenamento jurídico serão considerados
motivado, o juiz poderá formar seu convencimento a válidos e idôneos a produzir os efeitos almejados.
partir de todas as provas constantes do processo, quer Todavia, existem irregularidades/defeitos sem con-
tenham sido elas produzidas pela parte que se bene- sequência, isto é, apesar de o ato processual não ter
ficiou com tal prova, quer por iniciativa da parte con- sido praticado em fiel observância do modelo legal,
436 trária, quer pela própria iniciativa probatória do juiz. esta irregularidade não tem o condão de acarretar
qualquer consequência. Outras irregularidades/defei- ou da defesa, providenciará, independentemente de
tos acarretam tão somente sanções extraprocessuais, requerimento de qualquer das partes, para sua jun-
ex.: multa. Mas também existem irregularidades/ tada aos autos, se possível.
defeitos que podem acarretar a invalidação do ato Art. 235 A letra e firma dos documentos particu-
processual. Neste caso, a irregularidade atenta contra lares serão submetidas a exame pericial, quando
o interesse público ou contra interesse preponderante contestada a sua autenticidade.
das partes. Art. 236 Os documentos em língua estrangeira,
sem prejuízo de sua juntada imediata, serão, se
necessário, traduzidos por tradutor público, ou, na
Dica falta, por pessoa idônea nomeada pela autoridade.
Irregularidades ou defeitos que acarretam a ine- Art. 237 As públicas-formas só terão valor quan-
xistência jurídica: a violação ao devido processo do conferidas com o original, em presença da
legal é tão absurda que acarreta a própria ine- autoridade.
Art. 238 Os documentos originais, juntos a pro-
xistência do ato jurídico. É o que ocorre com
cesso findo, quando não exista motivo relevante
uma sentença prolatada por juiz impedido, tida
que justifique a sua conservação nos autos, pode-
como inexistente, haja visto a gravidade do pre- rão, mediante requerimento, e ouvido o Ministério
juízo causado à imparcialidade da autoridade Público, ser entregues à parte que os produziu,
jurisdicional. ficando traslado nos autos.

Portanto, os atos podem ser: RECONHECIMENTO DE PESSOAS E COISAS

z Perfeitos. Ex.: sentença que reúna todos os requisitos; Art. 226 Quando houver necessidade de fazer-se
z Meramente irregulares. Ex.: uma palavra errada. o reconhecimento de pessoa, proceder-se-á pela
z Nulos. Ex.: falta de defesa técnica; seguinte forma:
z Inexistentes. Ex.: falta de sentença. I - a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento
será convidada a descrever a pessoa que deva ser
No campo das provas, a lei estabelece a obriga- reconhecida;
toriedade da realização do exame de corpo de delito Il - a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será
quando a infração penal deixar vestígios: colocada, se possível, ao lado de outras que com ela
tiverem qualquer semelhança, convidando-se quem
Art.158 Quando a infração deixar vestígios, será tiver de fazer o reconhecimento a apontá-la;
indispensável o exame de corpo de delito, direto ou III - se houver razão para recear que a pessoa cha-
indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado. mada para o reconhecimento, por efeito de intimi-
Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à realização dação ou outra influência, não diga a verdade em
do exame de corpo de delito quando se tratar de face da pessoa que deve ser reconhecida, a autori-
crime que envolva: dade providenciará para que esta não veja aquela;
I - violência doméstica e familiar contra mulher; IV - do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto por-
II - violência contra criança, adolescente, idoso ou menorizado, subscrito pela autoridade, pela pessoa
pessoa com deficiência. chamada para proceder ao reconhecimento e por
duas testemunhas presenciais.
Se era possível a realização do exame direto, ou, Parágrafo único. O disposto no III deste artigo não
ainda, se a ausência do exame direto não foi supri- terá aplicação na fase da instrução criminal ou em
plenário de julgamento.
da pelo exame de corpo de delito indireto, deverá o
Art. 227 No reconhecimento de objeto, proceder-se-

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


processo ser anulado, a partir do momento em que o
-á com as cautelas estabelecidas no artigo anterior,
laudo deveria ter sido juntado ao processo.
no que for aplicável.
Art. 228 Se várias forem as pessoas chamadas a
DOCUMENTOS DE PROVA efetuar o reconhecimento de pessoa ou de objeto,
cada uma fará a prova em separado, evitando-se
Art. 231 Salvo os casos expressos em lei, as par- qualquer comunicação entre elas.
tes poderão apresentar documentos em qual-
quer fase do processo.
ACAREAÇÃO
Art. 232 Consideram-se documentos quaisquer escri-
tos, instrumentos ou papéis, públicos ou particulares.
Parágrafo único. À fotografia do documento, devi- Acareação é um procedimento que busca a apu-
damente autenticada, se dará o mesmo valor do ração da verdade por meio de confronto entre as
original. partes, testemunhas ou outros participantes no pro-
Art. 233 As cartas particulares, interceptadas ou cesso que prestaram informações divergentes nas
obtidas por meios criminosos, não serão admitidas suas declarações.27
em juízo.
Parágrafo único. As cartas poderão ser exibidas em Art. 229 A acareação será admitida entre acusados,
juízo pelo respectivo destinatário, para a defesa de entre acusado e testemunha, entre testemunhas,
seu direito, ainda que não haja consentimento do entre acusado ou testemunha e a pessoa ofendida, e
signatário. entre as pessoas ofendidas, sempre que divergirem,
Art. 234 Se o juiz tiver notícia da existência de em suas declarações, sobre fatos ou circunstâncias
documento relativo a ponto relevante da acusação relevantes.

27 BRASIL. TJDFT. Acareação. Disponível em: https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/campanhas-e-produtos/direito-facil/


edicao-semanal/acareacao#:~:text=A%20acarea%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20procedimento,que%20prestaram%20
informa%C3%A7%C3%B5es%20pr%C3%A9vias%20divergentes. Acesso em: 01 mar. 2022. 437
Parágrafo único. Os acareados serão repergunta- A confissão é divisível e retratável, de maneira que
dos, para que expliquem os pontos de divergências, o juiz analisará de acordo com o exame das provas em
reduzindo-se a termo o ato de acareação. seu conjunto.
Art. 230 Se ausente alguma testemunha, cujas
declarações divirjam das de outra, que esteja pre- Art. 197 O valor da confissão se aferirá pelos crité-
sente, a esta se darão a conhecer os pontos da diver- rios adotados para os outros elementos de prova,
gência, consignando-se no auto o que explicar ou e para a sua apreciação o juiz deverá confrontá-
observar. Se subsistir a discordância, expedir-se-á -la com as demais provas do processo, verifican-
precatória à autoridade do lugar onde resida a tes- do se entre ela e estas existem compatibilidade ou
temunha ausente, transcrevendo-se as declarações concordância.
desta e as da testemunha presente, nos pontos em
que divergirem, bem como o texto do referido auto,
PERGUNTAS AO OFENDIDO
a fim de que se complete a diligência, ouvindo-se a
testemunha ausente, pela mesma forma estabeleci-
da para a testemunha presente. Esta diligência só Do Ofendido
se realizará quando não importe demora prejudi-
cial ao processo e o juiz a entenda conveniente. O ofendido será qualificado e perguntado sobre as
circunstâncias da infração. A jurisprudência, inclusi-
Os peritos, em regra, não estão sujeitos à acarea- ve, admite a condução coercitiva do ofendido.
ção. A exceção ocorre quando houver suspeita de que Para a sua proteção, o ofendido é comunicado
um, ou ambos os peritos procederam com falsa perí- sobre o ingresso e saída do acusado da prisão, dia da
cia. Nesta hipótese é possível que ocorra a acareação. audiência, resultado da sentença/acórdão etc. Inclusi-
ve, na audiência o ofendido tem um espaço separado
INDÍCIOS dos demais. O juiz sempre busca tomar as providên-
cias necessárias para a preservação da intimidade do
Art. 239 Considera-se indício a circunstância ofendido.
conhecida e provada, que, tendo relação com o
fato, autorize, por indução, concluir-se a exis- TESTEMUNHAS
tência de outra ou outras circunstâncias.
Art. 202 Toda pessoa poderá ser testemunha.
INTERROGATÓRIO E CONFISSÃO
Testemunha é qualquer pessoa que toma conhe-
O interrogatório exige entrevista prévia e reserva- cimento sobre algo juridicamente relevante para o
da com defensor, qualificação do acusado e cientifica- processo. A regra geral é que qualquer um pode ser
ção do inteiro teor da acusação. O acusado deve ser testemunha, independentemente da idade ou de qual-
informado sobre o direito ao silêncio e interrogado na quer outra qualidade.
presença de seu defensor.
É nula a “entrevista” realizada pela autoridade Compromisso da Testemunha
policial com o investigado, durante a busca e apreen-
são em sua residência, sem que tenha sido assegurado Art. 203 A testemunha fará, sob palavra de honra, a
ao investigado o direito à prévia consulta a seu advo- promessa de dizer a verdade do que souber e Ihe for
gado e sem que ele tenha sido comunicado sobre seu perguntado, devendo declarar seu nome, sua idade,
direito ao silêncio e de não produzir provas contra si seu estado e sua residência, sua profissão, lugar onde
mesmo. Isso consiste em violação do direito ao silên- exerce sua atividade, se é parente, e em que grau, de
cio e à não autoincriminação. alguma das partes, ou quais suas relações com qual-
Como é feito o interrogatório do réu preso? Em quer delas, e relatar o que souber, explicando sempre
sala própria, no estabelecimento em que estiver reco- as razões de sua ciência ou as circunstâncias pelas
lhido. Precisa ser garantida a segurança de todos, a quais possa avaliar-se de sua credibilidade.
publicidade do ato e a presença do advogado. Exce-
ção: interrogatório por videoconferência. Requisitos: A testemunha, quando faz seu depoimento, presta
compromisso formal de dizer a verdade. No entanto,
z Decisão fundamentada do juiz (de ofício ou a algumas pessoas não prestam compromisso:
requerimento das partes);
z Prevenir risco à segurança pública, pois existe fun-
Doentes e
dada suspeita que o preso integre organização cri-
deficientes mentais
minosa ou irá fugir durante o deslocamento;
(art. 203)
z Dificuldade de comparecimento do preso. Ex.:
enfermidade;
z Para o réu não influenciar testemunhas ou víti-
mas (obs.: primeiro se busca a videoconferência NÃO PRESTAM Menores de 14 anos
destas); COMPROMISSO (art. 203)
z Gravíssima questão de ordem pública.

DA CONFISSÃO
Pessoas do art. 206
A confissão já foi vista no passado como a rainha
das provas, todavia, muitas pessoas já assumiram
uma culpa que não é delas, assim o ato de confessar o
438 crime passou a exigir a verificação de outras provas.
Outra ressalva é estabelecida no art. 208, que dis- § 2º Não será computada como testemunha a pes-
põe que o compromisso não se aplicará aos doentes, soa que nada souber que interesse à decisão da
deficientes mentais, menores de 14 anos e às pessoas causa.
do art. 206. Art. 210 As testemunhas serão inquiridas cada
uma de per si, de modo que umas não saibam
Art. 208 Não se deferirá o compromisso a que nem ouçam os depoimentos das outras, deven-
alude o art. 203 aos doentes e deficientes men- do o juiz adverti-las das penas cominadas ao
tais e aos menores de 14 (quatorze) anos, nem falso testemunho.
às pessoas a que se refere o art. 206. Parágrafo único. Antes do início da audiência e
durante a sua realização, serão reservados espa-
O art. 204 dispõe sobre a forma que é realizado o ços separados para a garantia da incomunicabili-
depoimento. Veja: dade das testemunhas.
Art. 211 Se o juiz, ao pronunciar sentença final,
Art. 204 O depoimento será prestado oralmen- reconhecer que alguma testemunha fez afirma-
te, não sendo permitido à testemunha trazê-lo por ção falsa, calou ou negou a verdade, remeterá
escrito. cópia do depoimento à autoridade policial
Parágrafo único. Não será vedada à testemunha, para a instauração de inquérito.
entretanto, breve consulta a apontamentos. Parágrafo único. Tendo o depoimento sido prestado
em plenário de julgamento, o juiz, no caso de profe-
O depoimento é prestado oralmente, no entanto, a rir decisão na audiência (art. 538, § 2°), o tribunal
testemunha pode consultar apontamentos. (art. 561), ou o conselho de sentença, após a vota-
ção dos quesitos, poderão fazer apresentar imedia-
Art. 205 Se ocorrer dúvida sobre a identidade tamente a testemunha à autoridade policial.
da testemunha, o juiz procederá à verificação Art. 212 As perguntas serão formuladas pelas
pelos meios ao seu alcance, podendo, entretanto, partes diretamente à testemunha, não admitin-
tomar-lhe o depoimento desde logo. do o juiz aquelas que puderem induzir a resposta,
não tiverem relação com a causa ou importarem na
A dúvida sobre a identidade da testemunha não repetição de outra já respondida.
impede que o depoimento seja prestado, ficando a Parágrafo único. Sobre os pontos não esclarecidos,
verificação para um momento posterior caso não pos- o juiz poderá complementar a inquirição.
sa ser feita no momento. Art. 213 O juiz não permitirá que a testemunha
manifeste suas apreciações pessoais, salvo quando
Art. 206 A testemunha não poderá eximir-se da inseparáveis da narrativa do fato.
obrigação de depor. Poderão, entretanto, recu- Art. 214 Antes de iniciado o depoimento, as partes
sar-se a fazê-lo o ascendente ou descendente, o poderão contraditar a testemunha ou arguir cir-
afim em linha reta, o cônjuge, ainda que desqui- cunstâncias ou defeitos, que a tornem suspeita de
tado, o irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo parcialidade, ou indigna de fé. O juiz fará consig-
do acusado, salvo quando não for possível, por nar a contradita ou arguição e a resposta da tes-
outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato temunha, mas só excluirá a testemunha ou não lhe
e de suas circunstâncias.
deferirá compromisso nos casos previstos nos arts.
207 e 208.
Testemunhar é uma obrigação; a recusa pode con- Art. 215 Na redação do depoimento, o juiz deverá
figurar crime de desobediência. As pessoas elencadas cingir-se, tanto quanto possível, às expressões usa-
no art. 206 não são obrigadas a prestá-lo. No entan- das pelas testemunhas, reproduzindo fielmente as
to, caso deponham, não prestam compromisso. suas frases.

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


Art. 216 O depoimento da testemunha será redu-
Art. 207 São proibidas de depor as pessoas que, zido a termo, assinado por ela, pelo juiz e pelas
em razão de função, ministério, ofício ou profis- partes. Se a testemunha não souber assinar, ou não
são, devam guardar segredo, salvo se, desobri- puder fazê-lo, pedirá a alguém que o faça por ela,
gadas pela parte interessada, quiserem dar o depois de lido na presença de ambos.
seu testemunho. Art. 217 Se o juiz verificar que a presença do réu
poderá causar humilhação, temor, ou sério cons-
trangimento à testemunha ou ao ofendido, de modo
As pessoas elencadas no art. 207 são proibidas de que prejudique a verdade do depoimento, fará a
depor tendo em vista a obrigação de guardar segredo inquirição por videoconferência e, somente na
por conta de ministério (padre, pastor, por exemplo), impossibilidade dessa forma, determinará a retira-
ofício ou profissão (psicólogo, advogado, por exem- da do réu, prosseguindo na inquirição, com a pre-
plo). No entanto podem depor se: sença do seu defensor.
Parágrafo único. A adoção de qualquer das medidas
� A parte interessada (o cliente, paciente ou aquele previstas no caput deste artigo deverá constar do
que confessou ao padre, por exemplo) autorizarem; termo, assim como os motivos que a determinaram.
Art. 218 Se, regularmente intimada, a testemunha
z Quiserem dar o seu testemunho.
deixar de comparecer sem motivo justificado, o juiz
poderá requisitar à autoridade policial a sua apre-
Testemunhas de Referência sentação ou determinar seja conduzida por oficial
de justiça, que poderá solicitar o auxílio da força
Art. 209 O juiz, quando julgar necessário, poderá pública.
ouvir outras testemunhas, além das indicadas Art. 219 O juiz poderá aplicar à testemunha faltosa
pelas partes. a multa prevista no art. 453, sem prejuízo do pro-
§ 1º Se ao juiz parecer conveniente, serão ouvidas cesso penal por crime de desobediência, e condená-
as pessoas a que as testemunhas se referirem. -la ao pagamento das custas da diligência. 439
Art. 220 As pessoas impossibilitadas, por enfer- A busca consiste na procura de um objeto ou de
midade ou por velhice, de comparecer para depor, uma pessoa de interesse do processo. Como se obser-
serão inquiridas onde estiverem. va, a busca pode ser domiciliar ou pessoal. A busca
Art. 221 O Presidente e o Vice-Presidente da Repú- domiciliar, que consiste na busca material portas
blica, os senadores e deputados federais, os minis- adentro de uma casa, é cabível nas hipóteses previstas
tros de Estado, os governadores de Estados e
no § 1º, art. 240, do CPP.
Territórios, os secretários de Estado, os prefeitos
do Distrito Federal e dos Municípios, os deputados
Já a busca pessoal é a procura material feita nas
às Assembleias Legislativas Estaduais, os membros vestes, pastas, malas e outros objetos que estejam com
do Poder Judiciário, os ministros e juízes dos Tribu- a pessoa revistada e, quando necessário, no próprio
nais de Contas da União, dos Estados, do Distrito corpo. A busca pessoal é realizada nas hipóteses do §
Federal, bem como os do Tribunal Marítimo serão 2º, art. 240, do CPP.
inquiridos em local, dia e hora previamente ajusta-
dos entre eles e o juiz. Busca Domiciliar
§ 1º O Presidente e o Vice-Presidente da Repú-
blica, os presidentes do Senado Federal, da Art. 240 A busca será domiciliar ou pessoal.
Câmara dos Deputados e do Supremo Tribu-
nal Federal poderão optar pela prestação de
O § 1º dispõe das hipóteses em que pode ser auto-
depoimento por escrito, caso em que as pergun-
tas, formuladas pelas partes e deferidas pelo juiz, rizada a busca domiciliar. Trata-se de um rol taxativo,
lhes serão transmitidas por ofício. ou seja, não é admitida a sua ampliação. Vejamos:
§ 2º Os militares deverão ser requisitados à
autoridade superior. Art. 240 [...]
§ 3º Aos funcionários públicos aplicar-se-á o dis- § 1º Proceder-se-á à busca domiciliar, quando
posto no art. 218, devendo, porém, a expedição do fundadas razões a autorizarem, para:
mandado ser imediatamente comunicada ao chefe a) prender criminosos;
da repartição em que servirem, com indicação do b) apreender coisas achadas ou obtidas por
dia e da hora marcados. meios criminosos;
Art. 222 A testemunha que morar fora da juris- c) apreender instrumentos de falsificação ou de
dição do juiz será inquirida pelo juiz do lugar de contrafação e objetos falsificados ou contrafeitos;
sua residência, expedindo-se, para esse fim, carta d) apreender armas e munições, instrumentos
precatória, com prazo razoável, intimadas as partes. utilizados na prática de crime ou destinados a
§ 1º A expedição da precatória não suspenderá a fim delituoso;
instrução criminal. e) descobrir objetos necessários à prova de infra-
§ 2º Findo o prazo marcado, poderá realizar-se o ção ou à defesa do réu;
julgamento, mas, a todo tempo, a precatória, uma f) apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao
vez devolvida, será junta aos autos. acusado ou em seu poder, quando haja suspeita de
§ 3º Na hipótese prevista no caput deste artigo, que o conhecimento do seu conteúdo possa ser útil
a oitiva de testemunha poderá ser realizada por à elucidação do fato;
meio de videoconferência ou outro recurso tecno- g) apreender pessoas vítimas de crimes;
lógico de transmissão de sons e imagens em tempo h) colher qualquer elemento de convicção.
real, permitida a presença do defensor e podendo Art. 241 Quando a própria autoridade policial ou
ser realizada, inclusive, durante a realização da judiciária não a realizar pessoalmente, a busca
audiência de instrução e julgamento. domiciliar deverá ser precedida da expedição de
Art. 222-A As cartas rogatórias só serão expedidas mandado.
se demonstrada previamente a sua imprescindibi- Art. 242 A busca poderá ser determinada de ofício
lidade, arcando a parte requerente com os custos ou a requerimento de qualquer das partes.
de envio. Art. 243 O mandado de busca deverá:
Parágrafo único. Aplica-se às cartas rogatórias o I - indicar, o mais precisamente possível, a casa em
disposto nos §§ 1º e 2º do art. 222 deste Código. que será realizada a diligência e o nome do respec-
Art. 223 Quando a testemunha não conhecer a lín- tivo proprietário ou morador; ou, no caso de busca
gua nacional, será nomeado intérprete para tradu- pessoal, o nome da pessoa que terá de sofrê-la ou os
zir as perguntas e respostas. sinais que a identifiquem;
Parágrafo único. Tratando-se de mudo, surdo ou II - mencionar o motivo e os fins da diligência;
surdo-mudo, proceder-se-á na conformidade do III - ser subscrito pelo escrivão e assinado pela
art. 192. autoridade que o fizer expedir.
Art. 224 As testemunhas comunicarão ao juiz, den- § 1º Se houver ordem de prisão, constará do
tro de um ano, qualquer mudança de residência, próprio texto do mandado de busca.
sujeitando-se, pela simples omissão, às penas do § 2º Não será permitida a apreensão de docu-
não-comparecimento. mento em poder do defensor do acusado, salvo
Art. 225 Se qualquer testemunha houver de ausen- quando constituir elemento do corpo de delito.
tar-se, ou, por enfermidade ou por velhice, inspirar
receio de que ao tempo da instrução criminal já não
Cabe ressaltar que, em razão do princípio constitu-
exista, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento de
cional da inviolabilidade de domicílio, a casa é consi-
qualquer das partes, tomar-lhe antecipadamente o
depoimento. derada asilo inviolável do indivíduo, nos termos do
inciso XI, do art. 5º da Constituição Federal:
BUSCA E APREENSÃO
Art. 5° (CF, de 1988) [...]
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, nin-
A busca e apreensão é tanto uma forma de obten- guém nela podendo penetrar sem consentimento
ção de prova quanto um meio de assegurar direitos. do morador, salvo em caso de flagrante delito ou
Esta pode ocorrer na fase judicial e na fase de investi- desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o
gação policial, e é determinada de ofício ou a requeri- dia, por determinação judicial;
440 mento de qualquer uma das partes.
Deste modo, mesmo com autorização judicial, Art. 248 [...]
a busca domiciliar só poderá ocorrer durante o dia. § 2° Proceder-se-á à busca pessoal quando hou-
Vejamos: ver fundada suspeita de que alguém oculte con-
sigo arma proibida ou objetos mencionados nas
Art. 245 As buscas domiciliares serão executa- letras b a f e letra h do parágrafo anterior.
das de dia, salvo se o morador consentir que se
realizem à noite, e, antes de penetrarem na casa, os Quanto a este tema, é importante ressaltar o dis-
executores mostrarão e lerão o mandado ao mora- posto no art. 249:
dor, ou a quem o represente, intimando-o, em segui-
da, a abrir a porta. Art. 249 A busca em mulher será feita por
§ 1º Se a própria autoridade der a busca, declarará outra mulher, se não importar retardamento
previamente sua qualidade e o objeto da diligência. ou prejuízo da diligência.
§ 2º Em caso de desobediência, será arrombada a
porta e forçada a entrada. Nos termos do art. 249, do CPP, a busca pessoal em
§ 3º Recalcitrando o morador, será permitido o mulher deve ser feita por agente policial do sexo femi-
emprego de força contra coisas existentes no interior nino; esta é a regra. Excepcionalmente, pode ser feita
da casa, para o descobrimento do que se procura. por homem se a falta de uma agente policial causar
§ 4º Observar-se-á o disposto nos §§ 2º e 3º, quan-
atraso ou prejuízo da diligência. Na prática deve-se
do ausentes os moradores, devendo, neste
evitar que um homem faça busca em uma mulher,
caso, ser intimado a assistir à diligência qual-
quer vizinho, se houver e estiver presente.
mas a posição que consta no art. 249 deve ser utilizada
§ 5º Se é determinada a pessoa ou coisa que se vai para fins de prova de concurso.
procurar, o morador será intimado a mostrá-la. A busca domiciliar segue alguns critérios formais,
§ 6º Descoberta a pessoa ou coisa que se procura, já a busca pessoal independe de mandado, podendo
será imediatamente apreendida e posta sob custó- ser decretada pela própria autoridade policial e seus
dia da autoridade ou de seus agentes. agentes e também pela autoridade judicial, quando
§ 7º Finda a diligência, os executores lavrarão auto presente fundadas suspeitas.
circunstanciado, assinando-o com duas testemu-
nhas presenciais, sem prejuízo do disposto no § 4º. Art. 244 A busca pessoal independerá de manda-
do, no caso de prisão ou quando houver funda-
É importante destacar que caso os moradores não da suspeita de que a pessoa esteja na posse de
se encontrem em casa, deverá ocorrer a intimação de arma proibida ou de objetos ou papéis que cons-
qualquer vizinho para assistir a diligência, nos termos tituam corpo de delito, ou quando a medida for
do § 4º, do art. 245. determinada no curso de busca domiciliar.
Para fins de busca domiciliar, casa é considerada
como qualquer compartimento habitado, ou aposen- Cabe ressaltar também que, nos casos de perse-
to ocupado de habitação coletiva, ou ainda compar- guição, a busca pessoal poderá ser realizada em loca-
timento não aberto ao público, onde alguém exerce lidade diversa daquela na qual a autoridade exerce
profissão ou atividade. Nos termos do art. 246: seu poder. Nestes casos a perseguição se inicia no
território onde a autoridade possui atribuição legal.
Art. 246 Aplicar-se-á também o disposto no artigo Vejamos:
anterior, quando se tiver de proceder a busca em
compartimento habitado ou em aposento ocupado Art. 250 A autoridade ou seus agentes poderão
de habitação coletiva ou em compartimento não penetrar no território de jurisdição alheia,
aberto ao público, onde alguém exercer profissão ainda que de outro Estado, quando, para o fim de
ou atividade. apreensão, forem no seguimento de pessoa ou

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


coisa, devendo apresentar-se à competente autori-
dade local, antes da diligência ou após, conforme a
Dica urgência desta.
Também são considerados como casa: § 1º Entender-se-á que a autoridade ou seus agentes
� Quartos de hotéis, pousadas, motéis, etc., vão em seguimento da pessoa ou coisa, quando:
a) tendo conhecimento direto de sua remoção ou
quando ocupados;
transporte, a seguirem sem interrupção, embora
� Veículos quando representarem a habitação depois a percam de vista;
de alguém (boleia de caminhão não é casa para b) ainda que não a tenham avistado, mas sabendo,
fins penais). por informações fidedignas ou circunstâncias indi-
ciárias, que está sendo removida ou transportada
Art. 247 Não sendo encontrada a pessoa ou coisa em determinada direção, forem ao seu encalço.
procurada, os motivos da diligência serão comuni- § 2º Se as autoridades locais tiverem fundadas
cados a quem tiver sofrido a busca, se o requerer. razões para duvidar da legitimidade das pessoas
Art. 248 Em casa habitada, a busca será feita de que, nas referidas diligências, entrarem pelos seus
modo que não moleste os moradores mais do que o distritos, ou da legalidade dos mandados que apre-
indispensável para o êxito da diligência. sentarem, poderão exigir as provas dessa legitimi-
dade, mas de modo que não se frustre a diligência.
Busca Pessoal
A autoridade policial ou seus agentes não são obri-
O § 2º, do art. 240, dispõe sobre a busca pessoal. gados a interromper a diligência em andamento por
Esta é realizada em pessoas, e possui como fim encon- estarem fora da área de sua competência. Quando isto
trar arma proibida ou objetos. ocorre, devem ser tomadas as cautelas que constam
no art. 250, do CPP.
441
Se a infração for inafiançável, a falta de exibição
DA PRISÃO CAUTELAR do mandado não impede a prisão. O preso será ime-
diatamente apresentado ao juiz que tiver expedido o
O sistema processual penal permite durante o trâ- mandado, para a realização de audiência de custódia.
mite processual a imposição de restrições tanto à liber- A audiência de custódia serve, por exemplo, para o juiz
dade do indivíduo (ex.: prisão cautelar), como medidas identificar eventuais maus tratos sofridos pelo preso.
cautelares diversas da prisão, ex.: monitoração eletrô-
nica. Isso acontece para a proteção do processo. Ex.:
imagine que haja risco de o acusado fugir do país, o ANTES DO PACOTE APÓS O PACOTE
juiz pode reter o passaporte do indivíduo, ou, a reque- ANTICRIME ANTICRIME
rimento do Ministério Público impor uma prisão cau- Art. 283 Ninguém poderá Art. 283 Ninguém poderá
telar. A prisão preventiva somente será determinada ser preso senão em fla- ser preso senão em fla-
quando não for cabível a sua substituição por outra grante delito ou por ordem grante delito ou por ordem
medida cautelar. Ademais, o não cabimento da substi- escrita e fundamentada da escrita e fundamentada da
tuição por outra medida cautelar deverá ser justificado autoridade judiciária com- autoridade judiciária com-
de forma fundamentada nos elementos presentes do petente, em decorrência petente, em decorrência
caso concreto, de forma individualizada (art. 282, § 6º). de sentença condenatória de prisão cautelar ou em
As medidas cautelares não se aplicam à infração
transitada em julgado ou, virtude de condenação
que não for cominada pena privativa de liberdade,
no curso da investigação criminal transitada em
pois a intensidade da medida não faz sentido se a pró-
ou do processo, em virtu- julgado.
pria lei comina um resultado mais brando para aque-
de de prisão temporária ou
le determinado crime. prisão preventiva.
Art. 287 Se a infração for Art. 287 Se a infração for
PRISÃO EM FLAGRANTE
inafiançável, a falta de inafiançável, a falta de
exibição do mandado não exibição do mandado não
Ninguém poderá ser preso senão:
obstará à prisão, e o preso, obstará a prisão, e o preso,
em tal caso, será imedia- em tal caso, será imediata-
z Em flagrante delito;
tamente apresentado ao mente apresentado ao juiz
z Ordem escrita e fundamentada da autoridade judi-
juiz que tiver expedido o que tiver expedido o man-
ciária competente;
mandado. dado, para a realização de
z Prisão cautelar (prisão temporária, prisão preven-
audiência de custódia.
tiva etc.);
z Condenação criminal transitada em julgado.
Perceba que o Pacote Anticrime dividiu a prisão
em duas espécies: prisão cautelar e prisão execução
Qualquer do povo poderá (flagrante facultativo)
de pena. Ademais, a nova legislação impôs a realiza-
prender em flagrante delito; as autoridades poli-
ção da audiência de custódia seguida da prisão.
ciais deverão (flagrante compulsório) prender em
Após receber o auto de prisão em flagrante, no pra-
flagrante delito.
zo máximo de 24 horas (contadas da realização da pri-
são), o juiz deverá promover Audiência de custódia,
FLAGRANTE Está cometendo ou acaba de com a presença do acusado, seu advogado constituí-
PRÓPRIO cometer do ou membro da Defensoria Pública e o membro do
FLAGRANTE É perseguido logo após, em si- Ministério Público.
IMPRÓPRIO, tuação que faça presumir ser Se transcorridas as vinte e quatro horas, a não rea-
IRREAL, QUASE autor da infração lização da audiência de custódia (sem motivação idô-
FLAGRANTE nea) ensejará a Ilegalidade da prisão, a ser relaxada
pela autoridade competente, sem prejuízo da possibi-
É encontrado, logo depois, com lidade de imediata decretação de prisão preventiva.
FLAGRANTE instrumentos, armas e objetos Ademais, a autoridade que deu causa, sem motivação
PRESUMIDO, FICTO que façam presumir ser ele au- idônea, à não realização da audiência de custódia no
tor da infração prazo estabelecido responderá administrativa, civil e
FLAGRANTE A autoridade policial espera o penalmente pela omissão.
ESPERADO início da execução delitiva Todavia, no dia 22/01/2020, o Ministro Luiz Fux
O agente é induzido a cometer suspendeu a eficácia da liberação da prisão pela não
FLAGRANTE o delito S145/STF: Não há crime realização da audiência de custódia no prazo de 24
PREPARADO/ quando a preparação do flagran- horas.
PROVOCADO te pela polícia torna impossível Na audiência de custódia, o juiz decide fundamen-
sua consumação tadamente (art. 310):

A autoridade policial tem a fa- z Relaxar a prisão ilegal;


culdade de aguardar o momen- z Converter a prisão em flagrante em preventiva,
to mais adequado para realizar quando presentes os requisitos, e se revelarem
FLAGRANTE a prisão, ainda que sua atitude inadequadas ou insuficientes as medidas cautela-
PRORROGADO/ implique na postergação da res diversas da prisão;
DIFERIDO intervenção z Conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.
Obs.: só na lei de organização cri-
minosa basta a comunicação pré-
via do juiz (e não a autorização)
442
Antes do Pacote Anticrime De acordo com o art. 310 do CPP, se o juiz verifi-
car, pelo auto de prisão em flagrante, que o agente
Art. 310 Ao receber o auto de prisão em flagrante, praticou o fato em legítima defesa, o juiz pode, de
o juiz deverá fundamentadamente: maneira fundamentada, conceder ao acusado liber-
I - relaxar a prisão ilegal; ou dade provisória, mediante termo de comparecimen-
II - converter a prisão em flagrante em preventiva, to obrigatório a todos os atos processuais, sob pena de
quando presentes os requisitos constantes do art. revogação.
312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou Se o juiz verificar que o agente é reincidente ou
insuficientes as medidas cautelares diversas da pri- que integra organização criminosa armada ou milí-
são; ou
cia, ou que porta arma de fogo de uso restrito, deverá
III - conceder liberdade provisória, com ou sem
denegar a liberdade provisória, com ou sem medi-
fiança.
das cautelares.
Parágrafo único. Se o juiz verificar, pelo auto de pri-
são em flagrante, que o agente praticou o fato nas
condições constantes dos incisos I a III do caput do PRISÃO PREVENTIVA
art. 23 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro
de 1940 - Código Penal, poderá, fundamentada- Em qualquer fase da investigação policial ou do
mente, conceder ao acusado liberdade provisória, processo penal, caberá a prisão preventiva decreta-
mediante termo de comparecimento a todos os atos da pelo juiz, a requerimento do ministério público, do
processuais, sob pena de revogação. querelante ou do assistente, ou por representação da
autoridade policial.
Após o Pacote Anticrime A prisão preventiva poderá ser decretada como:

Art. 310 Após receber o auto de prisão em flagran- z Garantia da ordem pública;
te, no prazo máximo de até 24 (vinte e quatro) horas z Garantia da ordem econômica;
após a realização da prisão, o juiz deverá promover z Por conveniência da instrução criminal;
audiência de custódia com a presença do acusado, z Assegurar a aplicação da lei penal (risco de fuga).
seu advogado constituído ou membro da Defensoria
Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa Todavia, a prisão preventiva só pode ser decretada
audiência, o juiz deverá, fundamentadamente:
desde que haja prova da existência do crime e indício
I - relaxar a prisão ilegal; ou
suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado
II - converter a prisão em flagrante em preventiva,
quando presentes os requisitos constantes do art.
de liberdade do imputado (ex. risco de fuga). A deci-
312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou são precisa ser motivada e fundamentada mostrando
insuficientes as medidas cautelares diversas da pri- receio de perigo e existência concreta de fatos novos
são; ou ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da
III - conceder liberdade provisória, com ou sem medida adotada.
fiança. Vale lembrar que as prisões cautelares não devem
§ 1º Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em fla- ser confundidas com a prisão-pena, pois as primeiras
grante, que o agente praticou o fato em qualquer buscam assegurar a boa aplicação do Direito Penal
das condições constantes dos incisos I, II ou III do em casos que exigem tal medida de urgência, já a
caput do art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de segunda advém do trânsito em julgado da condena-
dezembro de 1940 (Código Penal), poderá, fun- ção criminal.
damentadamente, conceder ao acusado liberdade
provisória, mediante termo de comparecimento Antes do Pacote Anticrime
obrigatório a todos os atos processuais, sob pena

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


de revogação.
Art. 311 Em qualquer fase da investigação policial
§ 2º Se o juiz verificar que o agente é reincidente
ou do processo penal, caberá a prisão preventiva
ou que integra organização criminosa armada ou
decretada pelo juiz, de ofício, se no curso da ação
milícia, ou que porta arma de fogo de uso restrito,
penal, ou a requerimento do Ministério Público, do
deverá denegar a liberdade provisória, com ou sem
querelante ou do assistente, ou por representação
medidas cautelares.
da autoridade policial.
§ 3º A autoridade que deu causa, sem motivação
Art. 312 A prisão preventiva poderá ser decretada
idônea, à não realização da audiência de custódia
como garantia da ordem pública, da ordem econô-
no prazo estabelecido no caput deste artigo res-
mica, por conveniência da instrução criminal, ou
ponderá administrativa, civil e penalmente pela
para assegurar a aplicação da lei penal, quando
omissão.
houver prova da existência do crime e indício sufi-
§ 4º Transcorridas 24 (vinte e quatro) horas após o
ciente de autoria.
decurso do prazo estabelecido no caput deste arti-
Parágrafo Único.A prisão preventiva também
go, a não realização de audiência de custódia sem
poderá ser decretada em caso de descumprimento
motivação idônea ensejará também a ilegalidade
de qualquer das obrigações impostas por força de
da prisão, a ser relaxada pela autoridade compe-
outras medidas cautelares (art. 282, § 4o).
tente, sem prejuízo da possibilidade de imediata
Art. 313 Nos termos do art. 312 deste Código, será
decretação de prisão preventiva.
admitida a decretação da prisão preventiva: (Reda-
ção dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
Ademais, de acordo com a jurisprudência, a deci- I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa
são proferida na audiência de custódia reconhecendo de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos;
a atipicidade do fato não faz coisa julgada. A decisão II - se tiver sido condenado por outro crime dolo-
não vincula o titular da ação penal, que poderá ofere- so, em sentença transitada em julgado, ressalva-
cer acusação contra o indivíduo, narrando os mesmos do o disposto no inciso I do caput do art. 64 do
fatos, e o juiz poderá receber a denúncia.
443
Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - § 2º Não será admitida a decretação da prisão pre-
Código Penal; ventiva com a finalidade de antecipação de cumpri-
III - se o crime envolver violência doméstica e fami- mento de pena ou como decorrência imediata de
liar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, investigação criminal ou da apresentação ou rece-
enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a bimento de denúncia.
execução das medidas protetivas de urgência; Art. 316 O juiz poderá, de ofício ou a pedido das
Parágrafo Único. Também será admitida a prisão partes, revogar a prisão preventiva se, no correr
preventiva quando houver dúvida sobre a identi- da investigação ou do processo, verificar a falta de
dade civil da pessoa ou quando esta não fornecer motivo para que ela subsista, bem como novamente
elementos suficientes para esclarecê-la, devendo decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.
o preso ser colocado imediatamente em liberdade Parágrafo único. Decretada a prisão preventi-
após a identificação, salvo se outra hipótese reco- va, deverá o órgão emissor da decisão revisar
mendar a manutenção da medida. a necessidade de sua manutenção a cada 90
§ 1º Também será admitida a prisão preventiva (noventa) dias, mediante decisão fundamentada,
quando houver dúvida sobre a identidade civil da de ofício, sob pena de tornar a prisão ilegal.
pessoa ou quando esta não fornecer elementos
suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser
Perceba que com o Pacote Anticrime o juiz não
colocado imediatamente em liberdade após a iden-
pode mais decretar de ofício a prisão preventiva,
tificação, salvo se outra hipótese recomendar a
manutenção da medida.
para que seja preservado o sistema acusatório, no
Art. 316 O juiz poderá revogar a prisão preven- qual as funções de acusar e julgar são extremamente
tiva se, no correr do processo, verificar a fal- separadas. Ademais, a nova lei ressaltou que a prisão
ta de motivo para que subsista, bem como de preventiva exige demonstração do perigo que cau-
novo decretá-la, se sobrevierem razões que a sa a liberdade do acusado. Por fim, como espelho do
justifiquem. Código de Processo Civil de 2015, alguns requisitos são
estabelecidos quanto a motivação da prisão.
Não se considera fundamentada qualquer deci-
Após o Pacote Anticrime
são judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acór-
dão, que:
Art. 311 Em qualquer fase da investigação policial
ou do processo penal, caberá a prisão preventiva
decretada pelo juiz, a requerimento do Ministério z Limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfra-
Público, do querelante ou do assistente, ou por se de ato normativo, sem explicar sua relação com
representação da autoridade policial. a causa ou a questão decidida;
Art. 312 A prisão preventiva poderá ser decretada z Empregar conceitos jurídicos indeterminados,
como garantia da ordem pública, da ordem econô- sem explicar o motivo concreto de sua incidência
mica, por conveniência da instrução criminal ou no caso;
para assegurar a aplicação da lei penal, quando z Invocar motivos que se prestariam a justificar
houver prova da existência do crime e indício sufi- qualquer outra decisão;
ciente de autoria e de perigo gerado pelo estado de z Não enfrentar todos os argumentos deduzidos no
liberdade do imputado. processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão
§ 1º A prisão preventiva também poderá ser decre- adotada pelo julgador;
tada em caso de descumprimento de qualquer das z Limitar-se a invocar precedente ou enunciado de
obrigações impostas por força de outras medidas súmula, sem identificar seus fundamentos deter-
cautelares (art. 282, § 4o).
minantes nem demonstrar que o caso sob julga-
§ 2º A decisão que decretar a prisão preventiva
mento se ajusta àqueles fundamentos;
deve ser motivada e fundamentada em receio de
perigo e existência concreta de fatos novos ou con- z Deixar de seguir enunciado de súmula, jurispru-
temporâneos que justifiquem a aplicação da medi- dência ou precedente invocado pela parte, sem
da adotada. demonstrar a existência de distinção no caso em
Art. 313 Nos termos do art. 312 deste Código, será julgamento ou a superação do entendimento.
admitida a decretação da prisão preventiva:
I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa
de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos; Importante!
II - se tiver sido condenado por outro crime doloso,
em sentença transitada em julgado, ressalvado o O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes,
disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto- revogar a prisão preventiva se, no correr da
-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código investigação ou do processo, verificar a falta de
Penal; motivo para que ela subsista, bem como nova-
III - se o crime envolver violência doméstica e fami- mente decretá-la, se sobrevierem razões que a
liar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, justifiquem. Decretada, deve-se revisar a neces-
enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a sidade de sua manutenção a cada 90 (noventa)
execução das medidas protetivas de urgência;
dias.
§ 1º Também será admitida a prisão preventiva
quando houver dúvida sobre a identidade civil da
pessoa ou quando esta não fornecer elementos
PRISÃO TEMPORÁRIA
suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser
colocado imediatamente em liberdade após a iden-
tificação, salvo se outra hipótese recomendar a A prisão temporária só cabe no caso de determi-
manutenção da medida. nados crimes taxados pela lei, quando imprescindível
para as investigações do inquérito policial; ou quando
o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer
444
elementos necessários ao esclarecimento de sua iden- situação hipotética, a falta dos elementos subjetivos
tidade. São necessárias fundadas razões de autoria ou de justificação acarreta a ilicitude da conduta e enseja
participação do indiciado nos seguintes crimes: a punição da autora pelo crime correspondente.

z Homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2º); ( ) CERTO  ( ) ERRADO
z Sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e
seus §§ 1º e 2º); 3. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Com relação à ilicitude
z Roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1º, 2º e 3º); e às suas causas de justificação, julgue o item que se
z Extorsão (art. 158, caput, e seus §§ 1º e 2º); segue.
z Extorsão mediante sequestro (art. 159, caput, e A legítima defesa é admitida contra quem pratica a
seus §§ 1º, 2º e 3º); agressão, física ou moral, mesmo que o agressor esteja
z Estupro (art. 213, caput, e sua combinação com o acobertado por uma causa de exclusão da culpabilidade.
art. 223, caput, e parágrafo único);
z Atentado violento ao pudor (art. 214, caput, e sua ( ) CERTO  ( ) ERRADO
combinação com o art. 223, caput, e parágrafo
único); 4. (CEBRASPE-CESPE — 2020) Mário, após ingerir
z Rapto violento (art. 219, e sua combinação com o bebida alcoólica em uma festa, agrediu um casal de
art. 223 caput, e parágrafo único); namorados, o que resultou na morte do rapaz, devido
z Epidemia com resultado de morte (art. 267, § 1º); à gravidade das lesões. A moça sofreu lesões leves.
z Envenenamento de água potável ou substância ali-
mentícia ou medicinal qualificado pela morte (art. A partir dessa situação hipotética, julgue o item a seguir.
270, caput, combinado com art. 285);
z Quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código Porque estava embriagado, Mário deve ser considera-
Penal; do inimputável.
z Genocídio (arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº 2.889, de 1º
de outubro de 1956), em qualquer de suas formas ( ) CERTO  ( ) ERRADO
típicas;
z Tráfico de drogas (art. 12 da Lei nº 6.368, de 21 de 5. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Com relação à teoria
outubro de 1976); geral do direito penal, julgue o item seguinte.
z Crimes contra o sistema financeiro (Lei nº 7.492, Conforme a autoria de escritório, tanto o agente que
de 16 de junho de 1986). dá a ordem como o que cumpre respondem pelo tipo
z Crimes previstos na Lei de Terrorismo (Lei nº penal.
13.260, de 16 de março de 2016).
( ) CERTO  ( ) ERRADO
A prisão temporária será decretada pelo Juiz, em
face da representação da autoridade policial ou de 6. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Em janeiro de 2021,
requerimento do Ministério Público, e terá o prazo de Lucas, com 20 anos de idade e nítida vontade de
5 (cinco) dias, prorrogável por igual período em caso matar Rafael, adquiriu uma arma de fogo e começou
de extrema e comprovada necessidade. a procurá-lo pela cidade. Na semana anterior ao ani-
Decorrido o prazo contido no mandado de prisão, versário de 14 anos de Rafael, Lucas encontrou Rafael
a autoridade responsável pela custódia deverá, inde- enquanto este conversava com uma pessoa e, então,
pendentemente de nova ordem da autoridade judi- disparou cinco tiros contra a vítima, que veio a óbito
cial, pôr imediatamente o preso em liberdade, salvo trinta dias depois. Posteriormente, em seu interroga-
se já tiver sido comunicada da prorrogação da prisão tório, Lucas afirmou que havia matado Rafael por este

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


temporária ou da decretação da prisão preventiva. ser enteado de um policial civil que o investigava por
Lembre-se que os presos temporários devem ficar outros crimes.
separados dos demais detentos. Considerando essa situação hipotética, julgue o item a
seguir.

Ainda que Lucas soubesse a idade de Rafael quando


HORA DE PRATICAR! do cometimento do crime, não haverá a incidência da
previsão de aumento de pena baseada na idade da víti-
1. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Com relação a aspectos ma, pois, no momento de sua morte, Rafael tinha mais
do direito penal, julgue o item a seguir. de quatorze anos.
Pela teoria da tipicidade conglobante, a existência de
estado de necessidade putativo afasta a tipicidade da ( ) CERTO  ( ) ERRADO
conduta.
7. (CEBRASPE-CESPE — 2020) Julgue o próximo item,
( ) CERTO  ( ) ERRADO acerca da aplicação pericial.
Situação hipotética: Vítima de lesão corporal dolosa
2. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Com relação à ilicitude apresentou, como resultado da agressão, somente
e às suas causas de justificação, julgue o item que se uma fratura mandibular alinhada, perfeitamente recu-
segue. perada após seis semanas de bloqueio intermaxilar.
Considere que uma mulher penalmente imputável Assertiva: Segundo o art. 129 do Código Penal, nesse
tenha provocado em si um aborto, restando caracte- caso ocorreu lesão corporal grave.
rizados, objetivamente, quando da sua conduta, os
pressupostos do estado de necessidade, os quais ( ) CERTO  ( ) ERRADO
eram totalmente desconhecidos da autora. Nessa 445
8. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Acerca do fato típico, da 14. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Com relação ao direito
teoria e da classificação dos crimes, julgue o item a penal, julgue o item a seguir.
seguir. O particular pode responder pelo crime de peculato,
O crime de sequestro é considerado um crime conti- desde que o crime tenha sido praticado em concurso
nuado, já que ele se prolonga no tempo e a sua consu- de pessoas com funcionário público, mesmo que o
mação só cessa pela vontade do agente. particular não saiba da condição pessoal do funcioná-
rio público.
( ) CERTO  ( ) ERRADO
( ) CERTO  ( ) ERRADO
9. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Com relação aos crimes
previstos na Parte Especial do Código Penal, julgue o 15. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Margarida foi indiciada
próximo item. pela prática de crime hediondo. Ao comparecer na
Considere que o funcionário de determinado esta- delegacia de polícia, ela apresentou a certidão de nas-
belecimento, em conluio com seu comparsa, tenha cimento, tendo alegado ter apenas esse documento.
combinado a subtração de bens da empresa e que, Durante a oitiva, espontaneamente confessou a auto-
no dia dos fatos, o comparsa tenha adentrado o esta- ria do fato. Com fundamento na confissão, o delegado
belecimento com uma simulação de arma de fogo e determinou algumas diligências.
exigido a entrega dos valores que estavam em poder
do referido funcionário e de terceira pessoa. Conside- Considerando a situação hipotética apresentada, jul-
re, ainda, que o funcionário, simulando ser una vítima, gue o item seguinte.
tenha recolhido o dinheiro dos demais empregados e
o entregado ao comparsa. Nessa situação hipotética, O termo de confissão de Margarida, que poderia, se
a denúncia deverá narrar a conduta como fraudulenta quisesse, ter permanecido em silêncio durante a oiti-
e como crime de estelionato, em razão do não empre- va, deve ser assinado por duas testemunhas que lhe
go de violência devido ao envolvimento do funcionário tenham ouvido a leitura.
da empresa como suposta vítima.
( ) CERTO  ( ) ERRADO
( ) CERTO  ( ) ERRADO
16. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Quanto à prova criminal,
10. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Com relação aos crimes julgue o item que se seguem.
previstos na Parte Especial do Código Penal, julgue o A confissão do acusado não dispensa a realização do
próximo item. exame de corpo de delito nos casos de crimes não
A prática sexual com pessoa em estado de sono transeuntes.
caracteriza estupro de vulnerável.
( ) CERTO  ( ) ERRADO
( ) CERTO  ( ) ERRADO
17. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Plínio, homem negro, de
11. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Com relação aos crimes 24 anos de idade, caminhava em direção à parada de
contra a fé pública e a administração pública, julgue o ônibus quando escutou a sirene de uma viatura poli-
item a seguir. cial e a ordem para que levantasse suas mãos. Após a
A mesma pena aplicada ao falsificador de selo desti- busca pessoal, o abordado perguntou aos policiais mili-
nado a controle tributário também se aplica à pessoa tares o motivo da abordagem e eles responderam que
que utilizar o selo sabendo que ele foi alterado por Plínio se encontrava em situação de fundada suspeita.
terceiro.
Considerando essa situação hipotética, julgue o seguin-
( ) CERTO  ( ) ERRADO te item.

12. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Considerando a legisla- A fundada suspeita, prevista no Código de Processo
ção penal, julgue o item a seguir. Penal, historicamente demonstra a existência do perfi-
A conduta do comerciante de dolosamente alterar lamento racial nas abordagens policiais.
parte das informações dos livros mercantis da sua
empresa configura o crime de falsificação de docu- ( ) CERTO  ( ) ERRADO
mento particular.
18. (CEBRASPE-CESPE — 2021) o item seguinte apresen-
( ) CERTO  ( ) ERRADO ta uma situação hipotética seguida de uma assertiva
a ser julgada, acerca de direito processual penal.
13. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Com relação ao direito Por ocasião da realização da audiência de custódia
penal, julgue o item a seguir. relativa a determinada prisão em flagrante, o juiz veri-
Suponha que, em determinado estabelecimento pri- ficou a legalidade da prisão e procedeu ao interrogató-
sional, um visitante de preso estivesse sob suspeita rio do preso. Nessa situação, o juiz agiu corretamente,
de estar cometendo um crime e, ao ter sido abordado, pois a audiência de custódia é o momento processual
tenha atribuído a si falsa identidade perante a auto- adequado para a realização do interrogatório do preso,
ridade policial. Nessa situação, se a falsa atribuição visto que ela é realizada em data próxima à da ocor-
tiver ocorrido como autodefesa, a conduta será atípica rência dos fatos.
penalmente.
( ) CERTO  ( ) ERRADO
( ) CERTO  ( ) ERRADO
446
19. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Com relação ao proces-
so penal, julgue o item a seguir.
O juiz poderá decretar, de ofício, a prisão preventiva
em qualquer fase do processo, sendo-lhe vedado
decretá-la na fase da investigação policial.

( ) CERTO  ( ) ERRADO

20. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Ainda com relação ao


processo penal brasileiro, julgue o item que se segue.
Se o ato não resultar em prejuízo para a acusação ou
para a defesa, não há de se declarar a sua nulidade.

( ) CERTO  ( ) ERRADO

9 GABARITO

1 ERRADO

2 CERTO

3 CERTO

4 ERRADO

5 CERTO

6 ERRADO

7 CERTO

8 ERRADO

9 ERRADO

10 CERTO

11 CERTO

12 ERRADO

13 ERRADO

14 ERRADO

15 CERTO

16 CERTO

NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL


17 CERTO

18 ERRADO

19 ERRADO

20 CERTO

ANOTAÇÕES

447
ANOTAÇÕES

448
salvo nos casos em que a própria norma consti-
tucional estabelece a aplicação desigual. Como
exemplo, podem-se citar o caso da exclusão de
mulheres e eclesiásticos do serviço militar obriga-

NOÇÕES DE DIREITO
tório em tempo de paz, ou os casos de existência
de um pressuposto lógico e racional que justifique
a desequiparação efetuada, como a existência de
CONSTITUCIONAL assentos reservados para gestantes, idosos e pes-
soas com deficiência nos transportes coletivos.

Art. 5º [...]
I - homens e mulheres são iguais em direitos e
DIREITOS E GARANTIAS obrigações, nos termos desta Constituição;
FUNDAMENTAIS
O inciso I decorre do direito à igualdade. Trata-se
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS da igualdade entre homens e mulheres. Inicialmen-
te, há de se esclarecer que os direitos das mulheres são
Direito à Vida, à Liberdade, à Igualdade, à Segurança relativamente recentes, de modo que grande parte da
e à Propriedade, Garantias Constitucionais legislação anterior à CF, de 1988, estabelecia situações
Individuais, Garantias dos Direitos Coletivos, Sociais diferenciadas entre homens e mulheres, como, por
e Políticos exemplo, a necessidade de autorização marital para
que a esposa ocupasse cargo público ou exercesse a
Os direitos individuais e coletivos estão disciplina- profissão fora do lar e o fato de o marido ser tido como
dos no art. 5º, da CF, de 1988. Muito cobrado em provas o chefe da sociedade conjugal, competindo a ele, entre
de concursos públicos, esse dispositivo é o mais exten- outros deveres, a administração dos bens do casal.
so dessa norma, sendo composto pelo caput (capítulo), Assim sendo, esse inciso foi direcionado tanto
por 78 (setenta e oito) incisos e 4 (quatro) parágrafos. ao legislador, para que corrigisse tais desigualdades
Vejamos cada uma de suas partes: legais, como aos operadores do direito, para que não
fossem mais estabelecidos critérios discriminatórios.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distin- Atenção! Existem dois tipos de igualdade: a for-
ção de qualquer natureza, garantindo-se aos bra- mal e a material. A igualdade formal consiste em tra-
sileiros e aos estrangeiros residentes no País tar a todos de maneira igual, independentemente de
a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, qualquer condição. Já a igualdade material busca a
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos igualdade de fato, para que todos tenham os mesmos
termos seguintes:
direitos e obrigações. Trata-se, portanto, da igualdade
efetiva, real, concreta ou situada. Assim, a igualdade
O caput do art. 5º traz os cinco pilares dos direitos
nada mais é que tratar igualmente os iguais, com os
individuais e coletivos, quais sejam: vida, liberdade,
mesmos direitos e obrigações, e desigualmente os
igualdade, segurança e propriedade. Deles decor-
desiguais, na medida de sua desigualdade.
rem todos os demais direitos estruturados nos seus
incisos, como, por exemplo, do direito à vida, decor-
Art. 5º [...]
rem o direito à integridade física e moral, a proibição II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de
da pena de morte e a proibição de venda de órgãos. fazer alguma coisa senão em virtude de lei;
Quando a Constituição fala “brasileiros e estrangei-
ros residentes no país”, não significa que o estrangei- O inciso II decorre do direito à segurança. Trata-se,
ro não residente não possua direitos, pois os direitos
portanto, da segurança em matéria pessoal estampa-
fundamentais são destinados a qualquer pessoa que
da pelo princípio da legalidade. Em síntese, todas as
se encontre em território nacional.
pessoas estão submetidas ao império da lei, de modo
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
A CF, de 1988, adota o critério quantitativo para
que somente a lei pode obrigar alguém a fazer ou
definir os titulares dos direitos fundamentais, ou seja,
deixar de fazer algo. Assim sendo, somente a lei pode
a população brasileira — todos aqueles que residem
limitar a vontade do indivíduo e obrigá-lo a fazer ou
em território brasileiro.
não fazer algo, como, por exemplo, o uso obrigatório
Além disso, o caput traz o princípio da isonomia
de máscaras faciais de proteção.
ou da igualdade (“todos são iguais perante a lei, sem
Ressalta-se que o princípio da legalidade possui
distinção de qualquer natureza”). Tal princípio tem,
duas facetas, sendo uma delas destinada aos parti-
como fundamento, o fato de que todos nascem e vivem
culares e a outra destinada à Administração. A lega-
com os mesmos direitos e obrigações perante o Estado
lidade aplicada ao particular difere-se da legalidade
brasileiro. São destinatários do princípio da igualdade
aplicada à Administração, tendo em vista que ao par-
tanto o legislador como os aplicadores da lei.
ticular tudo pode se não proibido por lei. Já em rela-
ção à Administração, seus atos são engessados, sendo
z Igualdade na lei: direcionado ao legislador, de
assim, somente pode praticar atos dispostos em lei.
modo a vedar a elaboração de dispositivos que
estabeleçam desigualdades ou privilégio entre as
Art. 5º [...]
pessoas;
III - ninguém será submetido a tortura nem a tra-
z Igualdade perante a lei: direcionado aos aplica-
tamento desumano ou degradante;
dores da lei, uma vez que não é possível utilizar
critérios discriminatórios na aplicação da norma,
449
O inciso III decorre do direito à vida, por decor- do pensamento de outra, como, por exemplo, no caso
rer da violação à integridade humana, tanto física de notícia inverídica ou errônea. Salienta-se por fim
como psicológica. Torturar1 é causar ao indivíduo que o direito de resposta é aplicado tanto à pessoa físi-
sofrimento físico ou mental como forma de intimida- ca quanto à jurídica.
ção ou castigo. É, também, utilizar-se de métodos como
forma de anular a personalidade ou diminuir a capa-
cidade física ou metal, mesmo que sem dor. Assim, a Importante!
CF, de 1988, veda tanto a tortura como qualquer tipo
de tratamento desumano ou degradante. Temos como O inciso V prevê a indenização por dano material,
exemplo prático de tal inciso a Súmula Vinculante nº moral ou à imagem. De acordo com a Súmula nº
11, a qual dispõe sobre o uso de algemas, que, se for de 37, do Superior Tribunal de Justiça2, esses danos
forma arbitrária, pode acarretar em tratamento desu- são acumuláveis.
mano ou degradante.
Art. 5º [...]
Súmula Vinculante nº 11 Só é lícito o uso de alge-
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de
mas em casos de resistência e de fundado receio de
crença, sendo assegurado o livre exercício dos
fuga ou de perigo à integridade física própria ou
cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a
alheia, por parte do preso ou de terceiros, justifi-
proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
cada a excepcionalidade por escrito, sob pena de
responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente
ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato A liberdade de consciência abrange a liberdade
processual a que se refere, sem prejuízo da respon- de consciência em sentido estrito, ou seja, a liber-
sabilidade civil do Estado. dade de pensamento de foro íntimo em questões não
religiosas, tais como convicções de ordem ideológica
Art. 5º [...] ou filosófica. Abrange, ainda, a liberdade de crença,
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo isto é, a liberdade de pensamento de foro íntimo em
vedado o anonimato; questões de natureza religiosa. Com relação à religião,
o inciso VI assegura tanto a liberdade de crença (foro
Todas as pessoas possuem direito atinentes à íntimo), ou seja, de ter uma religião, como a liberdade
liberdade de foro íntimo, ou seja, de ter convicções de expressão, isto é, de culto. Além disso, estabelece
religiosas, filosóficas, políticas, entre outras, possuin- a liberdade religiosa, ou seja, de mudar de crença ou
do, portanto, o direito de pensar. Além disso, possuem religião e de manifestação.
direito de expressar livremente esses pensamentos.
Assim, o direito à expressão do pensamento, que Art. 5º [...]
decorre do direito à liberdade de expressão (sendo VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação
este fundamento do Estado Democrático de Direito), de assistência religiosa nas entidades civis e
está disciplinado no inciso IV. militares de internação coletiva;
O pensamento em si é absolutamente livre, por ser
uma questão de foro íntimo. O indivíduo pode pen- O inciso VII é decorrência do direito à liberdade
sar em que quiser, sem que o Estado possa interferir. de crença e culto, de modo a garantir aos internados
No entanto, quando este pensamento é exteriorizado, em estabelecimentos prisionais e de saúde o acesso à
passa a ser possível a tutela e proteção do Estado. assistência espiritual e religiosa; contudo, lembre-se
Cumpre mencionar que é da liberdade de expres- de que essa admissão não influi no fato de o Estado
são que decorrem a proibição de censura e a vedação ser laico.
do anonimato, por exemplo. Portanto, ao mesmo tem-
po que a Constituição assegura a liberdade de mani- Art. 5º [...]
festação de pensamento, ela obriga que as pessoas VIII - ninguém será privado de direitos por moti-
assumam a responsabilidade pelo que exteriorizam. vo de crença religiosa ou de convicção filosófi-
Além disso, a vedação ao anonimato é aplicada, ca ou política, salvo se as invocar para eximir-se
também, às denúncias. Segundo o STF, é vedado o de obrigação legal a todos imposta e recusar-se
recebimento de denúncias anônimas, contudo, isso a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
não impede que o Estado apure de forma sumária a
verossimilhança das alegações. O inciso VIII traz a chamada escusa de consciên-
cia ou objeção de consciência. Trata-se do direito de
Art. 5º [...] não cumprir um serviço obrigatório por razões rela-
V - é assegurado o direito de resposta, proporcio- cionadas a sua consciência ou crença, de modo a asse-
nal ao agravo, além da indenização por dano mate- gurar que não ocorrerá a perda dos direitos civis ou
rial, moral ou à imagem; políticos em decorrência de tal recusa. Por exemplo:
a pessoa que, por questão religiosa, seja contrária ao
A expressão do pensamento é livre, porém, não é serviço militar poderá alegar tal imperativo de cons-
absoluta. Assim, a pessoa é livre para expor sua opi- ciência em seu alistamento militar. No entanto, a CF,
nião, porém, atingindo-se a honra de alguém, por de 1988, estabelece que, mesmo que dispensada da
exemplo, ela poderá ser responsabilizada civil e penal- prática dessa atividade, ela terá que cumprir serviço
mente. Além disso, a CF, de 1988, estabelece o direito alternativo.
de resposta, ou seja, o exercício do direito de defesa
da pessoa que foi ofendida em razão da manifestação
1 Conceito em conformidade com o art. 2º, da Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura.
450 2 Súmula nº 37 (STJ) São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato.
Art. 5º [...] § 5º Não se compreendem na expressão «casa»:
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habita-
artística, científica e de comunicação, indepen- ção coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do
dentemente de censura ou licença; n.º II do parágrafo anterior;
II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.
O inciso IX trata da liberdade de expressão das
atividades intelectual, artística, científica e de comu- O dispositivo traz três exceções à regra. A primei-
nicação. Assim, a CF, de 1988, veda, expressamente, ra exceção é a possibilidade de ingresso no caso de fla-
qualquer atividade de censura ou licença, inclusive a grante delito ou desastre, ou seja, é possível ingressar
proveniente de atuação jurisdicional. no local se um crime estiver ocorrendo ou tiver aca-
Cumpre esclarecer os conceitos de censura e bado de ocorrer, por exemplo. A segunda exceção per-
licença: mite a entrada no local para prestar socorro, como,
por exemplo, no caso de o imóvel estar pegando fogo e
z Censura: é a verificação da compatibilidade ou ter alguém em seu interior. Por fim, é possível ingres-
não entre um pensamento que se pretende expres- sar na casa mediante autorização judicial, como, por
sar com as normas legais vigentes; exemplo, quando o juiz expede um mandado judicial
z Licença é a exigência de autorização para que o para busca de algum(a) objeto/pessoa no local.
pensamento possa ser exteriorizado. É importante consignar que, mesmo com autoriza-
ção judicial, o ingresso deve ocorrer apenas durante
Art. 5º [...] o dia, ou seja, durante o período noturno, dependerá
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, do consentimento do morador. Assim sendo, durante
a honra e a imagem das pessoas, assegurado o o dia, exibindo-se o mandado judicial, a busca pode
direito a indenização pelo dano material ou moral ser realizada mesmo sem a concordância do morador,
decorrente de sua violação; sendo possível, inclusive, o arrombamento de porta se
houver necessidade.
O inciso X decorre do direito à vida e traz a pro- Atenção! O inciso III, do art. 22, da Lei nº 13.869,
teção dos direitos de personalidade, ou seja, o direi- de 2019, estabelece como dia o período compreendido
to à privacidade. Trata-se dos atributos morais que entre as 5h e 21h.
devem ser preservados e respeitados por todos, uma
vez que a vida não deve ser protegida apenas em seus Art. 5º [...]
aspectos materiais. XII - é inviolável o sigilo da correspondência e
Aqui, torna-se necessário explicar alguns termos: das comunicações telegráficas, de dados e das
intimidade é o direito de estar só, ou seja, de não ser comunicações telefônicas, salvo, no último caso,
perturbado em sua vida particular; vida privada refe- por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que
re-se ao relacionamento de um indivíduo com seus a lei estabelecer para fins de investigação criminal
familiares e amigos, quer em seu lar quer em locais ou instrução processual penal;
fechados; honra é o atributo pessoal que compreende
tanto a autoestima (honra subjetiva) quanto a reputa- A inviolabilidade das comunicações pessoais
ção de que goza a pessoa no meio social (honra objeti- está disciplinada no inciso XII e também decorre do
va); imagem é a expressão exterior da pessoa, ou seja, direito à segurança. O dispositivo considera comuni-
seus aspectos físicos (imagem-retrato), bem como a cações pessoais:
exteriorização de sua personalidade no meio social
(imagem-atributo). z As correspondências: comunicações recebidas
em casa, como, por exemplo, as cartas, as contas,
Art. 5º [...] os comunicados e avisos comerciais;
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém z A comunicação telegráfica: comunicados mais
nela podendo penetrar sem consentimento do rápidos, que podem ser enviados tanto na forma
morador, salvo em caso de flagrante delito ou
escrita como pela internet, tais como o telegrama;
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante
z A comunicação de dados: comunicação feita por
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
o dia, por determinação judicial;
meio de rede de computadores, como, por exem-
plo, a compra de produtos online ou homebank;
A inviolabilidade do domicílio está prevista no
z As comunicações telefônicas: ligações feitas e
inciso XI, do art. 5º, e decorre do direito à segurança.
recebidas por meio de telefone fixo ou móvel.
O dispositivo traz a regra de que a casa é inviolável
e o ingresso nela deve ser feito com o consentimento
do morador. Considera-se casa o lugar, não aberto ao Embora não conste do inciso, o sigilo foi estendi-
público, em que uma pessoa vive ou trabalha. Trata- do aos dados telemáticos por meio da Lei nº 9.296,
-se, portanto, de um conceito amplo, o qual se refere de 1996. Assim, estão protegidas as mensagens troca-
ao lugar reservado à intimidade e à vida privada do das por meio de Skype, e-mail, WhatsApp, Messenger,
indivíduo. entre outros.
O conceito jurídico de casa está previsto nos §§ 4º e É importante mencionar que as violações de cor-
5º, do art. 150, do Código Penal. Vejamos: respondência e de comunicação telegráfica são cri-
mes previstos no art. 151, do Código Penal, e na Lei nº
Art. 150 (Código Penal) [...] 6.538, de 1978, a qual dispõe sobre os serviços postais.
§ 4º A expressão «casa» compreende: Cabe consignar, ainda, que a quebra das comuni-
I - qualquer compartimento habitado; cações telefônicas é admitida mediante autorização
II - aposento ocupado de habitação coletiva; judicial (“salvo no último caso”) para fins de investiga-
III - compartimento não aberto ao público, onde ção criminal ou instrução processual penal. Portanto,
alguém exerce profissão ou atividade. somente para fins penais. 451
Atenção! Como não existe direito absoluto, é pos- viger a lei marcial, de modo que o ir e vir dos indiví-
sível a quebra do sigilo das demais comunicações duos pode sofrer limitações.
mediante autorização judicial. A garantia constitucional que objetiva assegurar o
direito de locomoção é o habeas corpus, que será tra-
Art. 5º [...] tado adiante.
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofí-
cio ou profissão, atendidas as qualificações profis- Art. 5º [...]
sionais que a lei estabelecer; XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem
armas, em locais abertos ao público, indepen-
O direito de exercício de qualquer atividade dentemente de autorização, desde que não
profissional decorre do direito à liberdade. Trata-se frustrem outra reunião anteriormente convoca-
da faculdade de escolher o trabalho que se pretende da para o mesmo local, sendo apenas exigido pré-
exercer. No entanto, é necessário atender às qualifica- vio aviso à autoridade competente;
ções profissionais exigidas pela lei, como, por exem-
plo, para ser médico, um dos requisitos é ter feito O inciso XVI traz outro desdobramento do direito
faculdade de Medicina em território nacional ou ter à liberdade: o direito de reunião. Por reunião, enten-
sido aprovado em exame de revalidação no caso de de-se o agrupamento organizado de pessoas de cará-
faculdade estrangeira. ter transitório e voltado para determinada finalidade.
Essa é uma norma constitucional de eficácia con- Portanto, é preciso que o evento seja organizado e
tida, ou seja, uma norma que produz todos os efeitos. preencha os seguintes requisitos: reunião pacífica e
No entanto, cabe destacar que uma norma infracons- sem armas; fins lícitos; aviso prévio à autoridade com-
titucional (lei) pode conter o seu alcance ao fixar petente e local aberto ao público.
condições ou requisitos para o pleno exercício da pro- O STF, quanto à “Marcha da Maconha”, entendeu
fissão, como, por exemplo, a regra de que, para advo- que a passeata é constitucional, assim, compatível
gar, é necessária a aprovação no exame da Ordem dos com o direito de reunião. Contudo, é inadmissível a
Advogados do Brasil. incitação ao uso de entorpecentes.
Atenção! Aviso prévio não se confunde com auto-
Art. 5º [...] rização. Para se reunir, é preciso, apenas, comunicar
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação à autoridade local, a fim de evitar, por exemplo, que,
e resguardado o sigilo da fonte, quando necessá-
no mesmo local, dia e hora, coincidam agrupamentos
rio ao exercício profissional;
de pessoas com posicionamentos distintos (exemplo:
manifestações pró-aborto e contrária ao aborto).
O inciso XIV disciplina o direito de informação,
que é um dos desdobramentos do direito à liberdade.
Art. 5º [...]
O direito à informação possui tríplice alcance, por
XVII - é plena a liberdade de associação para fins
englobar o direito de informar, de se informar e de lícitos, vedada a de caráter paramilitar;
ser informado.
A liberdade de associação encontra-se disciplina-
da no inciso XVII. Diferentemente da reunião, a asso-
Importante! ciação não possui caráter transitório. Portanto, se o
A liberdade de informação jornalística está pre- caráter do agrupamento for permanente, tem-se uma
vista no § 1º, do art. 220, da CF, de 1988, e é associação. É importante mencionar que tanto a reu-
mais abrangente que a liberdade de imprensa, nião como a associação devem possuir fins pacíficos.
que assegura o direito de veiculação de impres- No Brasil, é proibida a associação para fins ilícitos,
sos sem qualquer tipo de restrição por parte do como, por exemplo, a associação para fins contrários
Estado. à lei penal. Também é vedada a associação de caráter
paramilitar, ou seja, a associação civil e desvinculada
do Estado, que se encontra armada e com estrutura
Ressalta-se, ainda, que o dispositivo resguarda o similar às instituições militares, de modo a se utilizar
sigilo da fonte quando necessário ao exercício profis- de táticas e técnicas policiais ou militares para alcan-
sional. Deste modo, por exemplo, nenhum jornalista çar os seus objetivos.
poderá ser obrigado a revelar o nome de seu infor-
mante ou a fonte de suas informações. Além disso, seu Art. 5º [...]
silêncio não poderá sofrer qualquer sanção. XVIII - a criação de associações e, na forma da lei,
a de cooperativas independem de autorização,
Art. 5º [...] sendo vedada a interferência estatal em seu
XV - é livre a locomoção no território nacional funcionamento;
em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos
termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair O inciso XVIII disciplina o direito de associação.
com seus bens; Trata-se da possibilidade de criação de sindicatos sem
a interferência do Estado.
A liberdade de ir e vir encontra-se disciplinada no
inciso XV, do art. 5º, da CF, de 1988. Trata-se, portan- Art. 5º [...]
to, do direito de locomoção, que é um dos desdobra- XIX - as associações só poderão ser compulso-
mentos do direito à liberdade. Observa-se, no entanto, riamente dissolvidas ou ter suas atividades
que a liberdade de locomoção é restrita a tempo de suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no
452 paz, ou seja, no caso de decretação de guerra, passa a primeiro caso, o trânsito em julgado;
O inciso XIX, que também disciplina o direito de Observa-se, no entanto, que, em termos constitu-
associação, estabelece que as associações somente cionais, o direito de propriedade é mais amplo que no
poderão ter suas atividades suspensas ou encerra- direito civil, por abranger qualquer direito de conteú-
das compulsoriamente (a força) por decisão do Poder do patrimonial ou econômico, ou seja, tudo aquilo que
Judiciário. Salienta-se, por necessário, que, no caso de possa ser convertido em dinheiro, alcançando crédi-
dissolução da associação, esta somente poderá ocor- tos e direitos pessoais.
rer após o trânsito em julgado, ou seja, quando não
couber mais recursos. Art. 5º [...]
XXIII - a propriedade atenderá a sua função
social;
Importante!
O inciso XXIII traz um limite ao direito de pro-
� Dissolução das associações: decisão judicial priedade. Assim, a utilização de um bem deve ser fei-
+ trânsito em julgado; ta de acordo com a conveniência social da utilização
� Suspensão das associações: decisão judicial. da coisa, ou seja, atendendo a sua função social. Por-
tanto, o direito do dono deve ajustar-se aos interesses
da sociedade.
Art. 5º [...]
XX - ninguém poderá ser compelido a associar- Art. 5º [...]
-se ou a permanecer associado; XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para
desapropriação por necessidade ou utilidade
O inciso XX, que também disciplina o direito de pública, ou por interesse social, mediante justa
associação, estabelece que não é possível obrigar e prévia indenização em dinheiro, ressalvados
qualquer pessoa a se associar, ou seja, o indivíduo tem os casos previstos nesta Constituição;
liberdade de escolha, podendo optar por fazer parte
do grupo ou não. Além disso, uma vez associado, ele O inciso XXIV trata da hipótese mais drástica do
será livre para decidir se permanece ou não associa- poder de intervenção do Estado na economia: a desa-
do. Portanto, compreende o direito de associar-se a propriação. A desapropriação é o ato pelo qual o
outras pessoas para formação de uma entidade, como Estado toma para si ou para outrem (terceira pessoa)
também de deixar de participar quando for de seu bens de particulares, por meio do pagamento de jus-
interesse. ta e prévia indenização. Portanto, trata-se de uma das
hipóteses de aquisição originária da propriedade. É
Art. 5º [...] cabível a desapropriação nas seguintes hipóteses:
XXI - as entidades associativas, quando expressa-
mente autorizadas, têm legitimidade para repre- z Por necessidade pública: hipótese na qual o bem
sentar seus filiados judicial ou extrajudicialmente; a ser desapropriado é imprescindível para a reali-
zação de uma atividade essencial do Estado;
O inciso XXI é o último dispositivo que trata do z Por utilidade pública: hipótese na qual o bem não
direito de associação. Ele se refere à representação é imprescindível, mas é conveniente para a reali-
do filiado pela associação, quer em âmbito judicial zação de uma atividade estatal;
quer em âmbito extrajudicial, isto é, ele se refere à z Por interesse social: hipótese na qual a desapro-
legitimação da associação para atuar em nome dos priação é conveniente para o desenvolvimento da
associados. sociedade.
Cabe esclarecer que representante é aquele que
age em nome alheio, defendendo direito alheio. No Atenção! Não confundir com desapropriação
caso das associações, para que estas atuem na condi- sancionatória, hipótese em que o bem não respeita a
ção de representantes, é preciso autorização expressa função social da propriedade. Nela, a indenização não
dos filiados, não bastando que exista autorização em é prévia, sendo o prazo de resgate (Títulos da Dívida
Pública) de 10 (dez) anos para bens urbanos e de 20
estatuto. Assim sendo, só poderão atuar se devida-
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
(vinte) anos para bens rurais. Ainda, não confunda
mente autorizadas pelos associados.
desapropriação com expropriação, que consiste na
Além disso, ao contrário da representação, a subs-
perda da propriedade no caso de cultivo de substân-
tituição judicial ou extrajudicial da associação inde-
cias entorpecentes ou de trabalho escravo. Nela, não
pende de autorização, uma vez que, na substituição, a
há pagamento de indenização.
associação atua em nome próprio, defendendo direito
alheio (dos associados).
Art. 5º [...]
XXV - no caso de iminente perigo público, a auto-
Art. 5º [...] ridade competente poderá usar de propriedade
XXII - é garantido o direito de propriedade; particular, assegurada ao proprietário indeniza-
ção ulterior, se houver dano;
O direito de propriedade encontra-se disciplina-
do no inciso XXII, do art. 5º. Tratam-se dos direitos A requisição temporária da propriedade está
pessoais de natureza econômica. disciplinada no inciso XXV. Trata-se da possibilidade
De acordo com o art. 1.228, do Código Civil, o direi- de o Poder Público, em momentos de calamidade (já
to de propriedade consiste na faculdade de usar, gozar ocorrida ou prestes a ocorrer), ingressar na posse de
e dispor da coisa, assim como o direito de reavê-la do bem particular, para assegurar a preservação de direi-
poder de quem quer que, injustamente, a possua ou a tos mais importantes que a propriedade, tais como a
detenha. vida e a integridade das pessoas. Por exemplo, no caso
de uma enchente em um determinado local, o Poder 453
Público fazer de um imóvel privado, próximo ao local, participarem aos criadores, aos intérpretes e às
um hospital de atendimento às vítimas. respectivas representações sindicais e associativas;
A requisição temporária é uma exceção ao princí-
pio da indenização prévia, uma vez que o pagamento O inciso XXVIII também protege a propriedade
está condicionado à existência de danos. intelectual. Deste modo, o dispositivo assegura a
proteção de tais direitos ao indivíduo que participou
Art. 5º [...] de obra coletiva, além de proteger a reprodução da
XXVI - a pequena propriedade rural, assim defi- imagem e voz humanas. Ainda, assegura o direito de
nida em lei, desde que trabalhada pela família, fiscalização do aproveitamento econômico tanto nas
não será objeto de penhora para pagamento de obras individuais como nas coletivas.
débitos decorrentes de sua atividade produtiva,
dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu
Art. 5º [...]
desenvolvimento;
XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos
industriais privilégio temporário para sua utili-
O inciso XXVI disciplina a impenhorabilidade zação, bem como proteção às criações industriais,
da pequena propriedade rural, por ser esta consi- à propriedade das marcas, aos nomes de empresas
derada bem de família e, portanto, insuscetível de e a outros signos distintivos, tendo em vista o inte-
penhora, de modo a ficar a salvo de execuções por resse social e o desenvolvimento tecnológico e eco-
dívidas decorrentes da atividade produtiva. Além nômico do País;
disso, a CF, de 1988, estabelece que esta deverá rece-
ber os recursos previstos em lei que financiem o seu O último dispositivo que trata da propriedade
desenvolvimento.
intelectual é o inciso XXIX, garantindo aos autores de
Embora o dispositivo não conceitue pequena pro-
inventos industriais os privilégios para sua utilização,
priedade rural, o entendimento mais amplo é de que
ainda que de forma temporária. Além disso, assegu-
esta possui área entre 1 (um) e 4 (quatro) módulos fis-
ra a proteção às criações industriais, à propriedade
cais, na qual a família trabalha, consistindo, pois, na
das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos
sua única fonte de sobrevivência.
distintivos.
Art. 5º [...]
XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo Art. 5º [...]
de utilização, publicação ou reprodução de suas XXX - é garantido o direito de herança;
obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo
que a lei fixar; O direito de herança, que decorre do direito à
propriedade, está disciplinado no inciso XXX. Trata-
O inciso XXVII disciplina o direito de proprieda- -se da modificação da titularidade do bem em decor-
de intelectual, ou seja, a proteção legal e o reconheci- rência do falecimento (sucessão hereditária). Assim, o
mento de autoria em produções. Existem três tipos de patrimônio do de cujus transmite-se aos seus herdei-
propriedade intelectual, quais sejam: ros, os quais se sub-rogam nas relações jurídicas do
falecido, tanto no ativo como no passivo, até os limites
z Propriedade industrial: criações que movimen- da herança.
tam o mercado e são empregadas para manter a
competitividade. Seu foco é voltado para a área
empresarial. São exemplos: as patentes, marcas, Importante!
desenhos, indicações geográficas, entre outros;
z Direitos autorais: criações artísticas, culturais e O direito de sucessão está regulado no Código
científicas, como, por exemplo, as obras intelec- Civil.
tuais, literárias e artísticas;
z Proteção sui generis: são as criações híbridas,
Art. 5º [...]
isto é, aquelas que se encontram em um estado
XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situa-
intermediário entre a propriedade industrial e
dos no País será regulada pela lei brasileira em
os direitos autorais. Exemplos: a topografia dos
benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sem-
circuitos integrados (mask works), a proteção de pre que não lhes seja mais favorável a lei pes-
Cultivares (obtenções vegetais ou variedades vege- soal do de cujus;
tais) e conhecimentos tradicionais associados aos
recursos genéticos.
Ainda com relação ao direito de herança, o inci-
so XXXI estabelece a lei que deverá ser aplicada caso
Neste sentido, a CF, de 1988, garante aos autores o
a sucessão envolva bens de estrangeiros situados no
direito exclusivo de utilização, publicação ou repro-
Brasil. Assim, a regra é que se aplica a lei brasileira
dução de suas obras, sendo esse direito transmitido
sempre que esta beneficiar cônjuge ou filho brasilei-
aos herdeiros do autor (direitos sucessórios) pelo tem-
ro. No entanto, caso a lei estrangeira (lei do país do
po que a lei fixar.
de cujus) seja mais benéfica a estas pessoas, ela é que
Art. 5º [...] será aplicada.
XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:
a) a proteção às participações individuais em Art. 5º [...]
obras coletivas e à reprodução da imagem e voz XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a
humanas, inclusive nas atividades desportivas; defesa do consumidor;
b) o direito de fiscalização do aproveitamen-
454 to econômico das obras que criarem ou de que
O inciso XXXII traz a proteção ao consumidor Importante!
como um dos direitos e deveres individuais e coleti- Fique atento ao remédio constitucional aplicado
vos. Como consequência, a defesa do consumidor será para sanar ilegalidade quanto ao direito de certidão
promovida por meio do Estado. Vale lembrar que é — Mandado de Segurança —, pois as bancas cos-
a Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, conheci- tumam tentar confundir o candidato, dizendo que
da como Código de Defesa do Consumidor (CDC), que o remédio constitucional cabível é o habeas data.
estabelece as regras de proteção ao consumidor.

Art. 5º [...] Art. 5º [...]


XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder
públicos informações de seu interesse particu- Judiciário lesão ou ameaça a direito;
lar, ou de interesse coletivo ou geral, que serão
prestadas no prazo da lei, sob pena de responsa- O princípio da inafastabilidade de jurisdição
bilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja ou do controle do Poder Judiciário está disciplina-
imprescindível à segurança da sociedade e do do no inciso XXXV. Tal princípio é um desdobramento
Estado; do direito à segurança (garantias jurisdicionais). Esse
princípio garante que todas as pessoas tenham acesso
ao Poder Judiciário.
O inciso XXXIII decorre do direito de informação.
Trata-se de assegurar aos indivíduos o conhecimento
Art. 5º [...]
de informações relativas à sua pessoa, quando cons- XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido,
tantes de banco de dados de entidades governamen- o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;
tais ou abertas ao público, bem como de informação
de interesse da coletividade. Aqui, vale mencionar O inciso XXXVI é, também, um desdobramento do
que não óbice à divulgação da remuneração de ser- direito à segurança. Trata-se da garantia constitucio-
vidor público. nal de que as novas leis não retirem das pessoas os
direitos que elas adquiriram por meio de lei antiga, de
Art. 5º [...] modo que as situações disciplinadas por uma norma
XXXIV - são a todos assegurados, independente- devem continuar protegidas por esta mesmo depois de
mente do pagamento de taxas: sua revogação ou substituição por outra em três casos3:
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em
defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso z Direito Adquirido: é o direito assegurado à pessoa
de poder; quando esta cumpriu todos os requisitos para a sua
b) a obtenção de certidões em repartições públi- concessão pela norma anterior antes de ocorrer a
cas, para defesa de direitos e esclarecimento de alteração legal. Exemplo: uma pessoa completou o
situações de interesse pessoal; tempo de contribuição previsto pela lei para apo-
sentar, mas optou por permanecer trabalhando. Se
O inciso XXXIV disciplina o direito de petição e o nova lei alterar os requisitos para aposentadoria,
de modo a aumentar o tempo de contribuição, essa
direito de certidão. O dispositivo assegura aos indi-
pessoa não será prejudicada, pois adquiriu o direi-
víduos o direito de formular pedidos para a Adminis-
to pela lei anterior;
tração Pública em defesa de seus direitos e, quando
cabível, de terceiros, bem como de formular reclama- Atenção! Direito adquirido não se confunde com
ções contra atos ilegais e abusivos cometidos pelos expectativa de direito. Se a pessoa não completou
agentes do Estado. Assegura, ainda, o direito de plei- todos os requisitos para a concessão do direito, ela
tear, do Estado, documento expedido por este, que, não tem direito adquirido e, sim, expectativa de direi-
por possuir fé pública, é utilizado para comprovar a to. Exemplo: falta, para o indivíduo, um mês para que
existência de um fato. Deste modo, assegura ao indi- se complete o tempo de contribuição previsto pela lei
víduo a obtenção de certidão para a defesa de direitos para se aposentar. Antes de preencher tal requisito, NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
ou esclarecimento de situações de interesse pessoal. a lei é alterada e o tempo majorado. Esta pessoa não
O exercício de tais direitos é gratuito, ou seja, inde- poderá se aposentar, pois tinha apenas expectativa
pendem de qualquer pagamento. Importante men- de direito, uma vez que todos os requisitos não foram
preenchidos para a sua concessão;
cionar que, embora o dispositivo empregue o termo
“taxas”, esta foi utilizada em sentido amplo, visto que
z Ato jurídico Perfeito: trata-se do ato realizado
proíbe a cobrança de qualquer importância (taxa,
validamente sob a vigência de uma lei, mesmo que
tarifa ou preço público). A função da gratuidade é não esta tenha sido posteriormente revogada ou modi-
obstar ou dificultar o exercício do direito, uma vez ficada. Exemplo: adolescente que se casou antes
que pessoas sem recursos financeiros teriam dificul- de ter completado a idade núbil nas hipóteses per-
dades de exercer seu direito se este fosse condiciona- mitidas pelo Código Civil terá seu casamento como
do ao pagamento. válido mesmo após a alteração da lei civil, pela Lei
nº 13.811, de 2019, que proibiu, expressamente, o
3 Em conformidade com o art. 6º, do Decreto Lei nº 4.657, de 1942 (Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro). Veja: “A Lei em vigor terá
efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. § 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consu-
mado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. § 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ale,
possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. § 3º
Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso”. 455
casamento de menor de 16 (dezesseis) anos, pois pelo princípio da anterioridade, a lei que estabelece o
seus efeitos são protegidos pela lei anterior; crime e a pena deve ser anterior a sua prática.
z Coisa Julgada: é a autoridade dada às decisões
do Poder Judiciário quando destas não caiba mais Art. 5º [...]
recurso, de modo a impedir a modificação ou dis- XL - a lei penal não retroagirá, salvo para bene-
cussão da decisão de mérito. Exemplo: uma ação de ficiar o réu;
paternidade foi julgada procedente após o supos-
to pai ter se recusado a realizar o exame de DNA. O princípio da irretroatividade da lei penal
Assim, não é possível que, tempos depois, o suposto mais gravosa está disciplinado no inciso XL. Em ter-
pai resolva fazer o exame para se eximir da paterni- mos de direito penal, a regra é a lei do tempo do cri-
dade, pois a decisão não pode ser mais modificada. me, ou seja, será aplicada a lei do tempo da ação ou
omissão. É possível, no entanto, aplicar lei posterior
caso esta seja mais benéfica ao réu. Exemplo: nova lei
Importante! deixa de considerar o fato como crime ou diminui a
sua pena.
A coisa julgada divide-se em coisa julgada mate- A retroatividade da lei penal mais benéfica é abso-
rial — quando impede a discussão em qualquer luta, isto é, ela desconstituirá, inclusive, condenações
processo — e coisa julgada formal — quando já transitadas em julgado. Exemplo: sujeito que cum-
impede a discussão no mesmo processo. pre pena por um crime que lei posterior deixou de
considerar respectivo ato como crime (caso de abolitio
criminis) será colocado em liberdade.
Art. 5º [...]
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção; Art. 5º [...]
XLI - a lei punirá qualquer discriminação atenta-
A proibição dos tribunais de exceção, que decor- tória dos direitos e liberdades fundamentais;
re do direito à segurança, encontra-se prevista no inci-
so XXXVII. Busca-se proibir que os tribunais ou juízos O inciso XLI decorre do direito à igualdade.
sejam criados especialmente para julgar determina- Trata-se da necessidade de reconhecer que todos os
dos crimes ou pessoas (nos casos concretos). indivíduos possuem os mesmos direitos e as mesmas
Atenção! Tribunal de exceção não se confunde proteções. Além disso, a lei não só não poderá ser apli-
com Justiças especializadas e foro privilegiado. cada de modo discriminatório, como também deverá
punir tais discriminações com base em qualquer con-
Art. 5º [...] dição pessoal, como sexo, cor, origem, entre outras.
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a
organização que lhe der a lei, assegurados: Art. 5º [...]
a) a plenitude de defesa; XLII - a prática do racismo constitui crime
b) o sigilo das votações; inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de
c) a soberania dos veredictos; reclusão, nos termos da lei;
d) a competência para o julgamento dos crimes
dolosos contra a vida; O inciso XLII trata da prática de racismo. Embora
a Constituição não tipifique o crime, ela manda crimi-
Outro desdobramento do direito à segurança é a nalizar a conduta de racismo. Além disso, estabelece
garantia do julgamento pelo Tribunal do Júri em a não concessão de fiança ao racismo (inafiançável)
crimes dolosos contra a vida, ou seja, homicídio (art. e, ainda, que o ato pode ser julgado a qualquer tempo,
121, CP), induzimento, instigação ou auxílio a suicídio independentemente da data em que foi cometido, pois
ou à automutilação (art. 122, CP), infanticídio (art. 123, não se sujeita ao decurso do tempo (imprescritível).
CP) e aborto (arts. 124 a 128, CP); contudo, salienta-se Vale lembrar, aqui, que a Lei nº 7.716, de 1989, é a Lei
que lei ordinária poderá ampliar a competência do do Racismo, e a Lei nº 12.288, de 2010, estabelece o
Tribunal do Júri, não havendo qualquer ofensa quan- Estatuto da Igualdade Racial.
to ao disposto na CF.
Trata-se de direito do indivíduo de ser julgado por XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e
seus pares e, não, por um juízo de critério eminente- insuscetíveis de graça ou anistia a prática da
mente técnico. tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e
drogas afins, o terrorismo e os definidos como
Súmula Vinculante nº 45 A competência consti- crimes hediondos, por eles respondendo os man-
tucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro dantes, os executores e os que, podendo evitá-los,
por prerrogativa de função estabelecido exclusiva- se omitirem;
mente pela Constituição Estadual.
O inciso XLIII estabelece os crimes em que não
Art. 5º [...] cabe fiança nem perdão, ou seja, graça, indulto e
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defi- anistia. Embora o dispositivo não mencione o indulto,
na, nem pena sem prévia cominação legal; ele também não é cabível nos crimes elencados.

Os princípios da anterioridade e da reserva Dica: Para lembrar dos crimes, memorize: T T T


da lei penal (nullum crimen, nulla poena, sine lege) H ou 3TH:
encontram-se disciplinados no inciso XXXIX. Em sín-
tese, pelo princípio da reserva legal, não há crime sem Tortura;
456 lei que o defina, nem pena sem cominação legal. Já Tráfico;
Terrorismo; O princípio da intranscendência ou personali-
Hediondos. zação da pena está disciplinado no inciso XLV. Tra-
ta-se da impossibilidade da pena ser aplicada a outra
A graça e o indulto são modalidades de perdão pessoa que não o delinquente, uma vez que somente
concedidas pelo Presidente da República, de modo o autor da infração penal pode ser responsabiliza-
a extinguir a punibilidade do agente. Enquanto, na do. Com a morte do condenado, declara-se extinta a
graça, o perdão é concedido de forma individual por punibilidade do crime. Assim, a pena não poderá ser
meio de decreto e mediante provocação do interes- cumprida, por exemplo, pelos familiares ou herdeiros
sado, no indulto, o perdão é coletivo e concedido por do autor do crime se este houver falecido. No entanto,
decreto, o qual não possui destinatário certo e inde- refere-se apenas à esfera penal, ou seja, a obrigação
pende de provocação. O indulto pode ser total ou par- civil de reparar os danos pode ser estendida aos seus
cial (comutação). sucessores até o limite do valor do patrimônio trans-
Já a anistia é o perdão concedido pelo Congresso ferido (herança).
Nacional, por meio de lei, aos crimes e atos adminis- Atenção! Multa é uma espécie de pena (art. 32, CP)
trativos. Na anistia, exclui-se o crime, rescinde-se a e, portanto, não pode ser imposta aos herdeiros.
condenação e extingue-se totalmente a punibilidade.
Cabe destacar que a anistia pode ser concedida pelas Art. 5º [...]
Assembleias Legislativas, porém se restringe aos atos XLVI - a lei regulará a individualização da pena
administrativos, como, por exemplo, às transgres- e adotará, entre outras, as seguintes:
sões disciplinares de servidores estaduais. a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;
É importante mencionar que esses crimes são
c) multa;
prescritíveis, além de ser cabível a liberdade provi-
d) prestação social alternativa;
sória. Ainda, a Lei nº 9.455, de 1997, trata dos crimes e) suspensão ou interdição de direitos;
de tortura; a Lei nº 11.343, de 2006, dos crimes de dro-
gas; a Lei nº 13.260, de 2016, do terrorismo; a Lei nº Dica: A fim de auxiliá-lo na memorização, guarde
8.072, de 1990, cuida dos crimes hediondos. o mnemônico 3PMS (RI):
Art. 5º [...] 3P — Privação ou restrição da liberdade (não esque-
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescri- ça que no primeiro “p” há, implícito, um “r” da
tível a ação de grupos armados, civis ou milita- pena de restrição); perda de bens; prestação social
res, contra a ordem constitucional e o Estado alternativa;
Democrático; M — Multa;
S — Suspensão ou interdição de direitos (lembre-se de
O inciso XLIV também traz hipóteses de não con- que aqui também há, implícito, um “i” de interdição).
cessão de fiança, cuja ação ou omissão pode ser julga-
da a qualquer tempo, independentemente da data em O inciso XLVI disciplina o princípio da individua-
que foi cometido. Tratam-se dos crimes desenvolvidos lização da pena, uma vez que as penas devem ser
pelas organizações criminosas contra a ordem consti- previstas, impostas e executadas, em conformidade
tucional e democrática, como, por exemplo, no golpe com as condições pessoais de cada réu. Para tanto, a
de Estado. Cabe lembrar que a Lei nº 12.850, de 2013, individualização deve operar-se em três fases distin-
é que trata das organizações criminosas. tas: legislativa, no momento em que elabora a norma;
judicial, no momento da dosimetria da pena; executi-
Dica va, na execução penal.
Para auxiliá-lo na memorização do conteúdo
dos últimos 3 incisos, leve em consideração o Art. 5º [...]
XLVII - não haverá penas:
seguinte mnemônico: RAAÇÃO 3TH.
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada,
RA — racismo nos termos do art. 84, XIX;
AÇÃO — ação de grupos armados b) de caráter perpétuo;
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
3TH — tortura, tráfico, terrorismo, hediondos c) de trabalhos forçados;
Esquematizando todo o conteúdo relacionado d) de banimento;
ao mnemônico, temos: e) cruéis;
Inafiançáveis  RAAÇÃO 3TH
Imprescritíveis  RAAÇÃO O inciso XLVII, que decorre tanto do direito à vida
Insuscetíveis de graça ou anistia  3TH como do direito à segurança, estabelece a proibição
de determinadas penas. Assim, é vedada a pena de
Art. 5º [...] morte em tempos de paz. Isso porque, quando decla-
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do rada a guerra pelo Presidente da República após a
condenado, podendo a obrigação de reparar autorização do Congresso Nacional, vigora a parte ati-
o dano e a decretação do perdimento de bens nente aos tempos de guerra4 do Código Penal Militar
ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores (CPM) e do Código de Processo Penal Militar (CPPM),
e contra eles executadas, até o limite do valor do que estabelece, em determinados casos, a pena de
patrimônio transferido; morte. Exemplo: traição (art. 355, CPM)5.
4 Art. 15 (CPM) O tempo de guerra, para os efeitos da aplicação da lei penal militar, começa com a declaração ou o reconhecimento do estado
de guerra, ou com o decreto de mobilização se nele estiver compreendido aquele reconhecimento; e termina quando ordenada a cessação das
hostilidades.
5 Art. 355 Tomar o nacional armas contra o Brasil ou Estado aliado, ou prestar serviço nas forças armadas de nação em guerra contra o Brasil:
Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau mínimo. 457
Art. 5º [...] Também é possível a extradição de brasileiro natu-
XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimen- ralizado por comprovado envolvimento em tráfico ilí-
tos distintos, de acordo com a natureza do deli- cito de entorpecentes e drogas afins, praticado antes
to, a idade e o sexo do apenado; ou depois da naturalização.

O inciso XLVIII traz um dos princípios relativos Art. 5º [...]


à execução da pena privativa de liberdade. Trata- LII - não será concedida extradição de estrangei-
-se da exigência de que o cumprimento da pena seja ro por crime político ou de opinião;
feito de acordo com a natureza do crime, a idade e
o sexo do apenado. É por essa razão que os adoles- No que se refere à extradição de estrangeiro, o
centes ficam em estabelecimentos distintos dos adul- inciso LII veda a entrega por crime político ou de
tos, assim como as mulheres permanecem em local opinião. Considera-se um crime como político se ele
diverso dos homens. Esse dispositivo decorre tanto do envolver ações ou omissões que prejudicam os inte-
direito à segurança como do direito à vida. resses do país, do governo ou do sistema político.
O crime político pode ser de dois tipos: próprio e
Art. 5º [...]
impróprio. Crime político próprio é aquele capaz de
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à inte- ameaçar a ordem institucional ou o sistema vigente.
gridade física e moral; Já o crime político impróprio é aquele crime comum
quando conexo ao crime político, de modo a ter
natureza comum, mas conotação político-ideológica,
O inciso XLIX estabelece outro princípio relativo
como, por exemplo, a extorsão mediante sequestro
à execução da pena privativa de liberdade: a pro-
para obter fundos para determinado grupo político.
teção à integridade física e moral do preso. Busca-se,
Ainda há o crime de opinião, que é aquele que se con-
portanto, proteger os indivíduos da força do Estado.
figura com o abuso da liberdade de expressão ou de
Trata-se, também, de um dos desdobramentos do
pensamento, como, por exemplo, nos casos dos crimes
direito à segurança, por envolver garantias proces- contra a honra.
suais; e do direito à vida, por envolver a integridade
do indivíduo. Art. 5º [...]
LIII - ninguém será processado nem sentencia-
Art. 5º [...] do senão pela autoridade competente;
L - às presidiárias serão asseguradas condições
para que possam permanecer com seus filhos O princípio do juiz natural ou do juiz competen-
durante o período de amamentação; te encontra-se disciplinado no inciso LIII. Trata-se da
garantia de que nenhuma pessoa será processada ou
O inciso L traz um princípio relativo à execução julgada por uma autoridade especialmente designada
da pena privativa de liberdade. Trata-se do direito para o caso. Deste modo, as regras de competência
dos filhos de permanecerem com suas mães e serem devem estar restabelecidas no ordenamento jurídico,
amamentados por elas durante a execução da pena. de forma a assegurar que o julgamento seja realizado
Vale destacar que o art. 89, da Lei nº 7.210, de 1984 por um juiz independente e imparcial.
(Lei de Execução Penal), estabelece que a penitenciá-
ria de mulheres terá uma seção para gestantes e par- Art. 5º [...]
turientes e uma creche para abrigar crianças entre 6 LIV - ninguém será privado da liberdade ou de
(seis) meses e 7 (sete) anos. seus bens sem o devido processo legal;

Art. 5º [...] O princípio do devido processo legal está disci-


LI - nenhum brasileiro será extraditado, sal- plinado no inciso LIV. Trata-se do desdobramento do
vo o naturalizado, em caso de crime comum, direito à segurança, de modo a garantir que os indi-
praticado antes da naturalização, ou de com- víduos não sejam presos nem percam seus bens por
provado envolvimento em tráfico ilícito de atuação arbitrária do poder do Estado. Assim sendo,
entorpecentes e drogas afins, na forma da lei; deverá existir um processo com todas as etapas pre-
vistas em lei e com todas as garantias constitucionais.
A proibição de extradição de brasileiro encon- Se tais regras não forem observadas, o processo é pas-
tra-se disciplinada no inciso LI. Extradição é uma sível de nulidade.
medida de cooperação internacional em que um Esta-
Art. 5º [...]
do entrega a outro Estado, a pedido deste, indivíduo
LV - aos litigantes, em processo judicial ou admi-
que deva responder a processo penal ou cumprir
nistrativo, e aos acusados em geral são assegu-
pena. De acordo com a Norma Constitucional, o Brasil rados o contraditório e ampla defesa, com os
não entrega brasileiro para responder processo penal meios e recursos a ela inerentes;
ou cumprir pena em outro país.
É possível, no entanto, a entrega de brasileiro O inciso LV traz o princípio do contraditório e da
naturalizado, ou seja, que tenha adquirido a naciona- ampla defesa. Tal princípio objetiva garantir a igual-
lidade brasileira por outro motivo que não vinculado dade das partes de uma relação processual, bem como
ao nascimento (filiação ou local do nascimento), desde a segurança processual. Assim sendo, a parte contrá-
que seja por crime comum e que este tenha sido prati- ria necessita ser ouvida (audiatur et altera pars), pois
cado antes de sua naturalização e, portanto, quando o não podem ser atribuídas a uma parte vantagens de
458 agente tinha outra nacionalidade. que a outra não disponha.
Como consequência, as partes têm acesso a tudo O inciso LVII traz o princípio da presunção de ino-
que consta dos autos, como, por exemplo, todas as cência ou da presunção de culpabilidade. Assim, antes
provas produzidas pela outra parte, podendo mani- da condenação definitiva em um processo criminal,
festar-se ou não. Além disso, a defesa pode ser exerci- as pessoas ainda não são consideradas culpadas. Isso
da de forma ampla, como, por exemplo, é possível ao ocorre porque quem possui o ônus de provar a culpa é
indivíduo optar pela autodefesa (quando permitido) o Ministério Público, como órgão titular da ação penal
ou pela defesa técnica. Assim, a ampla defesa garan- pública e da vítima, no caso de ação penal privada.
te ao agente a possibilidade de se defender sem qual- Deste modo, não compete ao acusado provar sua
quer impedimento aos seus direitos constitucionais. inocência, mas ao Ministério Público ou à vítima com-
Ademais, destaca-se o conteúdo da Súmula Vincu- provar a responsabilidade do réu até a última instância.
lante nº 14, a qual dispõe sobre o acesso a procedi-
mento investigatório por defensor do investigado. Art. 5º [...]
LVIII - o civilmente identificado não será subme-
Súmula Vinculante nº 14 É direito do defensor, tido a identificação criminal, salvo nas hipóteses
no interesse do representado, ter acesso amplo aos previstas em lei;
elementos de prova que, já documentados em pro-
cedimento investigatório realizado por órgão com A proibição da identificação criminal da pes-
competência de polícia judiciária, digam respeito soa já civilmente identificada encontra-se no inciso
ao exercício do direito de defesa. LVIII. Entende-se, por identificação, o processo utili-
zado para se estabelecer a identidade de pessoas ou
Observe que os documentos referentes às diligên- coisas. Assim, se o indivíduo apresenta documento de
cias em curso não são de apresentação obrigatória, identidade civil válido e sem qualquer suspeita funda-
tendo em vista a possibilidade de frustrá-las. da de falsidade, ele não poderá ser identificado crimi-
Imagine, por exemplo, que em determinada inves- nalmente, ou seja, por meio do processo datiloscópico.
tigação tenha sido deferida, pelo Poder Judiciário, a O objetivo do dispositivo é evitar o constrangimento
interceptação telefônica de determinado investigado. pessoal de pessoas já identificadas civilmente.
Ora, é óbvio que o acesso, pelo advogado do investi- Cumpre esclarecer que a Lei nº 12.037, de 2009,
gado, comprometeria a diligência, já que este poderia disciplina o inciso e estabelece quais documentos ser-
avisar seu cliente da medida. vem para a identificação civil. Ainda, a regra da não
identificação criminal não é absoluta e abarca exce-
Art. 5º [...] ções. No entanto, tais exceções devem estar discipli-
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas nadas em lei.6
obtidas por meios ilícitos;
Art. 5º [...]
LIX - será admitida ação privada nos crimes de
A proibição de prova ilícita encontra-se estabele-
ação pública, se esta não for intentada no prazo
cida no inciso LVI. As provas obtidas de forma ilícita
legal;
são absolutamente nulas, não podendo gerar qual-
quer efeito no convencimento do juiz.
O inciso LIX traz a possibilidade de ação penal
privada subsidiária à ação penal pública. Assim,
z Prova ilícita é aquela que viola direito material. nos casos em que o representante do Ministério Públi-
Exemplos: confissão mediante tortura e intercep- co não ofereceu a denúncia, não requereu diligências
tação telefônica sem autorização judicial; ou não ordenou o arquivamento do Inquérito Policial,
z Prova ilegítima é aquela que viola direito proces- no prazo legal, admite-se o oferecimento da queixa
sual. Exemplo: confissão do acusado em juízo sem crime.
a presença do advogado. A CF, de 1988, não estabeleceu hipótese de restri-
ção quanto à aplicação da ação penal privada subsi-
O Supremo Tribunal Federal, adequadamente, diária da pública nos processos relativos aos delitos
adotou, por maioria de votos, a denominada teoria previstos na legislação especial, como, por exemplo,
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
fruits of poisonous tree (frutos da árvore envenenada). nas ações em que se apuram crimes eleitorais.
São nulas tanto as provas produzidas de forma ilícita
como também as derivadas (surgidas em decorrência Art. 5º [...]
da prova ilícita), ainda que obtidas de forma regular. LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos
Há contaminação do vício original, com exclusão atos processuais quando a defesa da intimida-
da prova ilícita, bem como de suas derivações. de ou o interesse social o exigirem;

Art. 5º [...] Como regra, todo processo é público, ou seja, é per-


LVII - ninguém será considerado culpado até o trân- mitido o acesso aos atos. No entanto, em alguns casos,
sito em julgado de sentença penal condenatória; tais como ações de divórcio, guarda, entre outros, essa
publicidade é restrita às partes e seus procuradores, com
o objetivo de resguardar a intimidade dos envolvidos.
6 Art. 3º (Lei nº 12.037, de 2009) Embora apresentado documento de identificação, poderá ocorrer identificação criminal quando: I - o docu-
mento apresentar rasura ou tiver indício de falsificação; II - o documento apresentado for insuficiente para identificar cabalmente o indiciado;
III - o indiciado portar documentos de identidade distintos, com informações conflitantes entre si; IV - a identificação criminal for essencial às
investigações policiais, segundo despacho da autoridade judiciária competente, que decidirá de ofício ou mediante representação da autorida-
de policial, do Ministério Público ou da defesa; V - constar de registros policiais o uso de outros nomes ou diferentes qualificações; VI - o esta-
do de conservação ou a distância temporal ou da localidade da expedição do documento apresentado impossibilite a completa identificação dos
caracteres essenciais. Parágrafo único. As cópias dos documentos apresentados deverão ser juntadas aos autos do inquérito, ou outra forma
de investigação, ainda que consideradas insuficientes para identificar o indiciado. 459
Também é possível restringir a publicidade quan- Como a prisão em flagrante é a única modalida-
do o interesse da sociedade exigir, como, por exem- de de prisão acautelatória que não conta com ordem
plo, em determinados crimes ou atos, envolvendo judicial prévia, visto que é imposta no momento em
crianças e adolescentes. É importante mencionar, no que a infração penal é praticada ou em momentos
entanto, que a restrição da publicidade dos atos pro- após, faz-se necessária sua comunicação imediata ao
cessuais não poderá prejudicar o interesse público à juiz, para que este possa efetuar o controle de legali-
informação. dade da prisão.
A CF, de 1988, não fixa o prazo da comunicação,
porém o art. 306, do Código de Processo Penal, estabe-
Importante! lece que a comunicação será imediata e os autos reme-
tidos em até 24 (vinte e quatro) horas após a prisão.
A restrição da publicidade é popularmente Além da comunicação ao juiz, a CF, de 1988, prevê a
conhecida como segredo de Justiça. comunicação à família do preso ou pessoa por ele indi-
cada, com o escopo não só de dar notícia de seu para-
deiro, como também de prestar-lhe a assistência devida.
Art. 5º [...]
LXI - ninguém será preso senão em flagrante Art. 5º [...]
delito ou por ordem escrita e fundamentada de LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre
autoridade judiciária competente, salvo nos casos os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegu-
de transgressão militar ou crime propriamen- rada a assistência da família e de advogado;
te militar, definidos em lei;
Considerando que a liberdade é a regra e a sua res-
Pelo inciso LXI, depreende-se que a liberdade é a trição só é legítima quando efetuada nos estritos limites
regra e a prisão é a exceção. Por essa razão, o dispo- legais, o inciso LXIII estabelece que o preso em flagran-
sitivo fixa as hipóteses em que o indivíduo será preso. te deve ser comunicado dos seus direitos. Entre esses
Assim, a CF, de 1988, protege os indivíduos da força do direitos, encontra-se o de permanecer em silêncio.
Estado, uma vez que veda a prisão arbitrária ou abu- O silêncio do preso é apenas silêncio e não poderá
siva e estabelece que a restrição da liberdade só será ser utilizado de forma contrária. O acusado não é obri-
legítima quando respeitados os parâmetros legais. gado a produzir provas contra si mesmo. Ao se calar,
Trata-se de um dos desdobramentos do direito à segu- esse silêncio não pode ser considerado como prova.
rança, por envolver garantias processuais. Além disso, o dispositivo também estabelece a
Em termos de processo penal, existem dois tipos assistência da família e do advogado, garantindo tan-
de prisão. A prisão pena que é aquela decorrente de to o apoio pessoal como a assistência técnica que lhe
sentença penal condenatória transitada em julgado, é devida.
ou seja, o processo foi finalizado, a pessoa condena-
da e não cabe mais recurso, ingressando na fase de Art. 5º [...]
execução penal. Além disso, há a prisão processual, LXIV - o preso tem direito à identificação dos
que tem função acautelatória e é aquela que ocorre responsáveis por sua prisão ou por seu interro-
gatório policial;
durante a fase de investigação, instrução e antes do
julgamento definitivo, como a prisão em flagrante, a
O inciso LXIV também decorre do direito à segu-
prisão temporária e a prisão preventiva.
rança, uma vez que busca prevenir a prisão arbitrária.
Portanto, durante o curso do processo, o indiví-
Assim, é assegurada ao indivíduo a identificação dos
duo somente será preso se estiver em flagrante delito
responsáveis por sua prisão e interrogatório, uma
(estiver cometendo o delito, acabou de cometê-lo, foi
vez que lhe é garantido questionar a competência ou
perseguido logo após ou foi encontrado logo depois, atribuição dessas autoridades em conformidade com
com algo que faça presumir ser o autor da infração)7 a norma vigente e os princípios constitucionais e de
ou se for determinado pelo juiz nos demais casos das direitos humanos.
prisões acautelatórias.
Observa-se, ainda, que o inciso traz exceções, quais Art. 5º [...]
sejam: transgressão militar ou crime propriamen- LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxa-
te militar, definido em lei. Quanto às transgressões, da pela autoridade judiciária;
estas estão previstas nos regulamentos disciplinares,
tanto das Forças Armadas como das Forças Auxiliares. O inciso LXV traz mais um dos desdobramentos
A elas é aplicado procedimento de apuração especí- do direito à segurança ao prever o relaxamento da
fico, também garantindo o contraditório e a ampla prisão ilegal. Assim, se o magistrado constatar que a
defesa. Já os crimes militares encontram-se previstos prisão foi ilegal, ele deverá colocar o preso em liber-
no Código Penal Militar, porém esse diploma não defi- dade de forma imediata e sem condições. Exemplo: o
ne quais são os crimes propriamente militares. indivíduo foi preso em flagrante, porém não se enqua-
drava nas hipóteses de flagrância do art. 302, do CPP.
Art. 5º [...] Relaxa-se prisão ilegal e revoga-se as demais prisões
LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se cautelares, uma vez que estas necessitam de requisitos
encontre serão comunicados imediatamente ao para serem decretadas e não estão estes presentes. O
juiz competente e à família do preso ou à pessoa magistrado deve revogar a prisão ou substituí-la por
por ele indicada; medidas cautelares diversas.
7 Art. 302 (CPP) Considera-se em flagrante delito quem: I -está cometendo a infração penal; II - acaba de cometê-la; III - é perseguido, logo após,
pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração; IV - é encontrado, logo depois, com
460 instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração.
Art. 5º [...] Não cabe HC nos seguintes casos:
LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela
mantido, quando a lei admitir a liberdade provi- z Perda de patente;
sória, com ou sem fiança; z Perda de cargo;
z Pena de multa;
O inciso LXVI reforça que a regra é a liberdade e z Bens apreendidos (Obs.: no caso do passaporte, o
sua supressão é apenas medida excepcional e somente STJ diz que caberá o HC. Já o STF diz que não cabe);
deve ser decretada nos casos em que a norma autorizar. z Pena extinta.

Art. 5º [...] De acordo com o § 2º, do art. 142, não caberá habeas
LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo corpus em relação a punições disciplinares militares.
a do responsável pelo inadimplemento voluntário Além dos militares das Forças Armadas, essa dispo-
e inescusável de obrigação alimentícia e a do sição é estendida aos membros das Polícias Militares
depositário infiel; e dos Corpos de Bombeiros Militares (art. 42, CF, de
1988).
O inciso LXVII trata da prisão civil por dívida. No entanto, é cabível o HC se a sanção militar tiver
Considera-se prisão civil a medida privativa da liber- sido aplicada de forma ilegal por autoridade incompe-
dade que não possui caráter de pena e que tem como tente ou em desacordo com as formalidades legais ou
finalidade compelir o devedor a satisfazer uma obri- além dos limites fixados em lei.
gação. Atualmente, a única hipótese de prisão por
dívidas é a de caráter alimentar, ou seja, o indivíduo Art. 5º [...]
deixou de pagar a pensão alimentícia devida. LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para
Por se tratar de uma norma constitucional de efi- proteger direito líquido e certo, não amparado
cácia contida, a prisão do depositário infiel, prevista por habeas-corpus ou habeas-data, quando o
na CF, de 1988, embora constitucional, tornou-se ilíci- responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for
ta em razão das seguintes Súmulas: autoridade pública ou agente de pessoa jurídi-
ca no exercício de atribuições do Poder Público;
Súmula Vinculante nº 25 (STF) É ilícita a prisão
civil de depositário infiel, qualquer que seja a moda- O inciso LXIX traz outro remédio constitucional: o
lidade do depósito. mandado de segurança (MS). Se o HC tutela a liber-
Súmula nº 419 (STJ) Descabe a prisão civil do depo- dade de locomoção e o habeas data, o acesso e a retifi-
sitário judicial infiel. cação de dados, o MS é cabível para os demais direitos,
sendo que seu objetivo e alcance é feito por exclusão.
Art. 5º [...] Cabe destacar que a lei que disciplina o MS é a Lei nº
LXVIII - conceder-se-á habeas-corpus sempre que 12.016, de 2009.
alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer O MS é cabível quando houver direito líquido e
violência ou coação em sua liberdade de loco- certo, ou seja, direito que pode ser comprovado de
moção, por ilegalidade ou abuso de poder; plano e que se apresenta de forma manifesta. Deste
modo, a prova deve ser toda pré-constituída, sendo
O inciso LXVIII traz um dos remédios constitucio- que os documentos comprobatórios do direito devem
nais: o habeas corpus (HC). Remédios constitucio- acompanhar a própria petição inicial, salvo se estes
nais são as ações constitucionais previstas na própria estiverem em repartição ou em poder de autoridade
Constituição com a finalidade de reclamar o restabele- que se recuse a fornecê-los por certidão. Consequen-
cimento de direitos fundamentais violados. temente, no MS, não há fase instrutória
O HC é uma dessas ações constitucionais, sendo O MS pode ser de duas espécies:
utilizado para a tutela da liberdade de locomoção
sempre que alguém estiver sofrendo ou na iminência z Mandado de segurança repressivo, cuja ordem
de sofrer constrangimento ilegal do seu direito de ir de segurança objetiva cessar constrangimento ile-
e vir. Tal ação pode ser utilizada tanto em questões gal já existente;
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
penais como em questões civis, desde que haja cons- z Mandado de segurança preventivo, cuja ordem
trangimento ilegal efetivo ou potencial ao direito de ir de segurança busca pôr fim à iminência de cons-
e vir. Exemplo: prisão por débitos alimentares. trangimento ilegal a direito líquido e certo.
Existem três modalidades de HC, quais sejam:
Não cabe MS contra:
z Habeas Corpus liberatório ou repressivo, em
que a ordem é concedida para fazer cessar o cons- z Ato do qual caiba recurso com efeito suspensivo,
trangimento à liberdade de locomoção quando já independentemente de caução;
existente; z Decisão judicial da qual caiba recurso com efeito
z Habeas Corpus preventivo, em que a ordem é suspensivo;
concedida quando houver ameaça ao direito de ir z Decisão judicial transitada em julgado.
e vir, de modo a impedir que uma pessoa venha a
ter restringido seu direito; Por fim, seu prazo (decadencial) de impetração
z Habeas Corpus de ofício, em que a ordem é é de 120 (cento e vinte) dias, contados da ciência do
concedida pela autoridade judicial sem pedido, interessado do ato impugnado.
quando esta verificar, no curso de um proces-
so, que alguém está sofrendo ou na iminência de Art. 5º [...]
sofrer constrangimento ilegal em sua liberdade de LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser
locomoção. impetrado por: 461
a) partido político com representação no Con- b) para a retificação de dados, quando não se
gresso Nacional; prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou
b) organização sindical, entidade de classe ou administrativo;
associação legalmente constituída e em funciona-
mento há pelo menos um ano, em defesa dos inte- O habeas data (HD) é o remédio constitucional
resses de seus membros ou associados; para a tutela do direito de informação e de intimida-
de do indivíduo, de modo a garantir ao impetrante
Do mesmo modo que o MS individual, é possível o conhecimento de informações pessoais constantes
ingressar com mandado de segurança coletivo nos de banco de dados de entidades governamentais ou
casos de direitos coletivos, assim entendidos como abertas ao público, bem como o direito de retificação
os transindividuais, cuja natureza for indivisível, ou dessas informações quando errôneas.
seja, de que sejam titulares grupos ou categorias de Cumpre salientar que a lei que disciplina o HD é
pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por a Lei nº 9.507, de 1997. Por essa lei, o HD também é
uma relação jurídica básica, e direitos individuais
cabível no que há registrado no inciso III, art. 7º. Veja:
homogêneos, assim entendidos como aqueles decor-
rentes de origem comum e de atividade ou situação
Art. 7° (Lei nº 9.507, de 1997) [...]
específica da totalidade ou de parte dos associados ou
III - para a anotação nos assentamentos do interes-
membros do impetrante. sado, de contestação ou explicação sobre dado ver-
Trata-se de inovação da CF, de 1988, para a tute- dadeiro mas justificável e que esteja sob pendência
la de direitos coletivos líquidos e certos, também não judicial ou amigável.
amparados por HC ou habeas data, quando o respon-
sável pela ilegalidade for autoridade pública ou agen- Ademais, a informação, a retificação ou a anotação
te de pessoa jurídica no exercício de atribuições do foram negadas pela Administração Pública (entidades
Poder Público.
governamentais da Administração direta ou indireta)
O MS coletivo segue as mesmas regras do individual.
ou particular (pessoas jurídicas de direito privado)
Para partidos políticos, exige-se representação no
que mantenham banco de dados aberto ao público.
Congresso Nacional (pelo menos, um deputado ou
O HD pode ser impetrado por qualquer pessoa,
senador do partido). Para associação, exige-se que ela
física ou jurídica, brasileira ou estrangeira, desde que
tenha sido constituída há, pelo menos, um ano.
as informações solicitadas digam respeito ao próprio
indivíduo. Além disso, o HD não é instrumento jurídi-
Art. 5º [...]
LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sem- co adequado para se ter acesso aos autos do processo
pre que a falta de norma regulamentadora tor- administrativo disciplinar (PAD).
ne inviável o exercício dos direitos e liberdades
constitucionais e das prerrogativas inerentes à Art. 5º [...]
nacionalidade, à soberania e à cidadania; LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para
propor ação popular que vise a anular ato lesi-
O inciso LXXI traz o mandado de injunção (MI), vo ao patrimônio público ou de entidade de que o
ação constitucional para a tutela dos direitos previs- Estado participe, à moralidade administrativa,
tos na CF, de 1988, inerentes à nacionalidade, à sobe- ao meio ambiente e ao patrimônio histórico
rania e à cidadania, os quais não podem ser exercidos e cultural, ficando o autor, salvo comprovada
em razão da falta de norma regulamentadora. Portan- má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da
sucumbência;
to, são pressupostos para o MI:

z Existência de um direito constitucionalmente pre- O inciso LXXIII traz outro remédio constitucional:
visto com relação à nacionalidade, soberania e a ação popular. Trata-se da ação constitucional colo-
cidadania; cada à disposição de qualquer cidadão para fiscalizar
z A não autoaplicabilidade desse direito; o Poder Público. Cabe esclarecer que cidadão é aque-
z Falta de norma infraconstitucional regulamenta- le que possui capacidade eleitoral ativa, ou seja, que
dora que inviabilize o exercício do direito previsto pode votar. Portanto, a ação popular é cabível para os
na CF, de 1988. maiores de 16 (dezesseis) anos se eleitores.
Atenção! Não há necessidade de os menores de 18
Cabe lembrar que a lei que disciplina o MI é a Lei (dezoito) anos serem assistidos, pois consiste em um
nº 13.300, de 2016. direito político. Ademais, quanto aos estrangeiros, é
A omissão normativa decorrente da não elabora- possível o ajuizamento da ação popular pelo portu-
ção de ato legislativo ou administrativo permite ao guês em situação de equiparação com brasileiro.
indivíduo, ao Ministério Público e à Defensoria públi- Em regra, a ação popular é gratuita. O motivo da
ca ingressarem com o MI. gratuidade é permitir o acesso ao Poder Judiciário de
Atualmente, adota-se a Teoria Concretista, ou todos os cidadãos para a defesa dos atos lesivos do
seja, o magistrado resolve o caso concreto (sentença Poder Público. No entanto, o inciso LXXIII estabele-
normativa) e não mais comunica o Poder Legislativo ce uma exceção: haverá custas e sucumbência caso
para suprir a omissão. o autor ingresse com a ação com má-fé e esta seja
comprovada.
Art. 5º [...]
LXXII - conceder-se-á habeas-data:
a) para assegurar o conhecimento de informa- Importante!
ções relativas à pessoa do impetrante, constan-
tes de registros ou bancos de dados de entidades A má-fé deve ser sempre provada, enquanto a
462 governamentais ou de caráter público; boa-fé é sempre presumida.
Art. 5º [...] Por fim, em recentíssima alteração constitucional,
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica a Emenda Constitucional nº 115, de 10 de Fevereiro de
integral e gratuita aos que comprovarem insufi- 2022, adicionou o inciso LXXIX ao art. 5º da CF, o qual
ciência de recursos; busca incluir a proteção de dados pessoais entre os
direitos e garantias fundamentais. Ademais, embora
O inciso LXXIV garante o acesso à Justiça a todas não seja objeto de estudo deste tópico, cabe ressaltar
as pessoas. Assim sendo, o Estado brasileiro deve- que a competência para legislar sobre a proteção e
rá prestar a assistência jurídica de forma integral e tratamento de dados pessoais é de privativa da União.
gratuita àqueles que comprovarem insuficiência de De acordo com o § 1º, os direitos e garantias indi-
recursos financeiros. Esse direito instrumentaliza-se viduais e coletivos previstos no art. 5º estão prontos
por meio da Defensoria Pública ou por meio do convê- para serem aplicados e exigidos, uma vez que não
nio com a Defensoria Pública/Ordem dos Advogados
dependem da existência de qualquer outra norma
do Brasil através da nomeação de advogado dativo.
para produzir efeitos.
Atenção! Não confundir aplicação imediata com a
Art. 5º [...]
aplicabilidade da norma constitucional (norma cons-
LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro
judiciário, assim como o que ficar preso além do titucional de eficácia plena, contida e limitada).
tempo fixado na sentença;
Art. 5º [...]
O inciso LXXV visa evitar abusos por parte do § 2º Os direitos e garantias expressos nesta Consti-
Poder Público ao prever a responsabilidade civil do tuição não excluem outros decorrentes do regime
e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
Estado nos casos de erro do Poder Judiciário e prisão
internacionais em que a República Federativa do
por tempo além do fixado em sentença.
Brasil seja parte.
A responsabilidade civil do Estado será estudada
posteriormente.
O § 2º estabelece que o rol de direitos e deveres
Art. 5º [...] disposto no art. 5º é exemplificativo e não taxativo.
LXXVI - são gratuitos para os reconhecidamente Portanto, podem existir outros direitos em outros dis-
pobres, na forma da lei: positivos da CF, de 1988, em outros diplomas legais,
a) o registro civil de nascimento; em tratados internacionais, entre outros.
b) a certidão de óbito;
Art. 5º [...]
Ao garantir a gratuidade das certidões de nasci- § 3º Os tratados e convenções internacionais
mento e óbito, a CF, de 1988, assegura que as pessoas sobre direitos humanos que forem aprovados,
possam ser registradas e possam usufruir dos direitos em cada Casa do Congresso Nacional, em dois
personalíssimos decorrentes, como, por exemplo, os turnos, por três quintos dos votos dos respec-
direitos de possuir um nome, de poder ser matriculado tivos membros, serão equivalentes às emendas
em uma escola, entre outros. Assim, a CF, de 1988, garan- constitucionais.
te que a falta de recursos financeiros não seja considera-
da um obstáculo para o exercício de tais direitos. O § 3º estabelece as regras para a incorporação
do tratado internacional que verse sobre direi-
Art. 5º [...] tos humanos. Via de regra, o tratado internacional,
LXXVII - são gratuitas as ações de habeas-cor- após a sua celebração e assinatura pelo Presidente da
pus e habeas-data, e, na forma da lei, os atos República, passa por referendo parlamentar para sua
necessários ao exercício da cidadania. incorporação. Assim, o Poder Legislativo o aprova,
por meio de um Decreto Legislativo, e o remete ao Pre-
O inciso LXXVII trata da gratuidade dos remédios sidente da República para sua ratificação, por meio de
constitucionais de habeas corpus e habeas data. A Decreto. O Decreto do Executivo é, por sua vez, pro-
finalidade do dispositivo é garantir o acesso de todas mulgado e publicado em Diário Oficial da União e pas-

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL


as pessoas a esses remédios constitucionais. sa a ter força de lei.
No caso de tratado sobre direitos humanos, a CF,
Art. 5º [...] de 1988, disciplinou a possibilidade de sua incorpo-
LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrati- ração, seguindo os mesmos procedimentos cabíveis
vo, são assegurados a razoável duração do pro- para as Emendas Constitucionais, ou seja, dois turnos
cesso e os meios que garantam a celeridade de sua
em cada Casa do Congresso Nacional e aprovação por
tramitação. 3
/5 dos votos. Deste modo, o tratado passa a ser incor-
porado, no ordenamento jurídico, com força de nor-
Este inciso trata o princípio da celeridade pro-
ma constitucional.
cessual. Desta forma, a CF, de 1988, assegura a todos,
O § 3º, do art. 5º, da CF, de 1988, foi incluído pela
quer no âmbito judicial, quer no âmbito administra-
Emenda Constitucional nº 45, de 2004. Portanto, ape-
tivo, a duração razoável do processo, bem como dos
nas os tratados incorporados após essa Emenda e
meios que garantam a celeridade de sua tramitação.
seguindo os parâmetros do dispositivo possuem força
Art. 5º [...] de norma constitucional. Para os incorporados ante-
§ 1º As normas definidoras dos direitos e garantias riormente, caso se refiram aos direitos humanos, são
fundamentais têm aplicação imediata. considerados supralegais. Para todos os demais trata-
LXXIX - é assegurado, nos termos da lei, o direito dos, força legal.
à proteção dos dados pessoais, inclusive nos meios
digitais. 463
Art. 5º [...] Neste sentido, o Estado deve assegurar que a quan-
§ 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal tidade de alimento seja suficiente para o indivíduo e
Penal Internacional a cuja criação tenha mani- sua família, que ele possa se vestir, ter moradia, aces-
festado adesão. so aos serviços médicos e sociais e segurança em casos
de imprevistos, tais como desemprego, incapacidade,
Esse parágrafo também foi incluído pela Emenda velhice, entre outros. Além disso, devem-se assegurar
Constitucional nº 45, de 2004. O Tribunal Penal Inter- os cuidados e assistência devidos à maternidade e à
nacional (TPI) encontra-se disciplinado no Estatuto infância.
de Roma e tem como finalidade julgar os crimes de O referido artigo assegura, ainda, o direito ao tra-
genocídio, crimes de guerra, crimes contra a humani- balho. Para tanto, o art. 7º estipula as condições neces-
dade e crimes de agressão. sárias para a realização do trabalho e adota medidas
Atenção! Não confundir o TPI com a Corte Inter- de proteção ao trabalhador nos seguintes termos:
nacional de Justiça, também conhecida como Tribu-
nal de Haia, que é o órgão jurídico da Organização das Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos
Nações Unidas. e rurais, além de outros que visem à melhoria de
sua condição social
DIREITOS SOCIAIS
Observa-se que esse dispositivo trata tanto dos
Os direitos sociais estão disciplinados nos arts. 6º a trabalhadores urbanos como dos rurais e funda-se no
11, da CF, de 1988. Esses direitos se dividem em direi- princípio da igualdade. Por essa razão, a CF, de 1988,
tos sociais propriamente ditos (art. 6º), direitos tra- veda, por exemplo, a diferenciação de salários, o exer-
balhistas (art. 7º) e direitos sindicais (arts. 8º a 11). cício de funções e critério de admissão que tenham
Vejamos cada um deles: como base a idade, o sexo ou o estado civil, entre
outros. Vejamos as proteções trazidas nele:
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saú-
de, a alimentação, o trabalho, a moradia, o Art. 7º [...]
transporte, o lazer, a segurança, a previdência I - relação de emprego protegida contra despedida
social, a proteção à maternidade e à infância, a arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei
assistência aos desamparados, na forma desta complementar, que preverá indenização compen-
Constituição. satória, dentre outros direitos;

Os direitos sociais encontram-se estabelecidos no A CF, de 1988, do mesmo modo que estipula as
art. 6º, da CF, de 1988. Trata-se dos direitos ligados à condições necessárias para a realização do trabalho,
concepção de que é dever do Estado garantir igual- adota medidas de proteção ao trabalhador contra a
despedida arbitrária ou sem justa causa, com o obje-
dade de oportunidades a todos através de políticas
tivo de resguardar o trabalhador contra as incerte-
públicas. O dispositivo assegura alguns dos direitos
zas do mercado de trabalho. Assim, o inciso I prevê
denominados de segunda geração/dimensão, tais
que uma lei complementar estabelecerá indenização
como o direito à educação, trazendo a ideia de que
compensatória, dentre outros direitos.
a instrução é o meio adequado para que o indivíduo
possa exercer outros direitos, tais como a liberdade de
expressão, a liberdade de associação, os direitos polí-
Importante!
ticos, entre outros.
Garante, também, o acesso dos indivíduos a um Ainda não foi elaborada lei complementar dis-
sistema de saúde, além da assistência e proteção ciplinando o assunto. Por essa razão, aplica-se
econômica em determinados momentos, tais como o disposto no art. 10, do Ato das Disposições
incapacidade temporária ou definitiva, velhice, entre Constitucionais Transitórias, que fixa como
outros. Trata-se, pois, de um programa de proteção indenização o valor de 40% do depositado no
social para amparar as pessoas em determinados Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS)
eventos, assim, classifica-se tal norma como de efi- como a quantia devida a título de indenização
cácia limitada, mais especificamente de princípio compensatória.
programático.
Do art. 6º é que advém a ideia de reserva do pos-
sível, pois o Estado deve garantir os direitos em con- Art. 7º [...]
formidade com seus recursos. Esse dispositivo traz a II - seguro-desemprego, em caso de desemprego
ideia de mínimo existencial, ou seja, de um padrão involuntário;
mínimo de condições materiais aceitáveis para uma
vida com dignidade, consoante se depreende do pará- O inciso II trata do seguro-desemprego, que tem
grafo único. como finalidade assegurar assistência financeira, de
modo temporário, ao trabalhador que foi dispensado
Art. 6º [...] involuntariamente, ou seja, sem justa causa.
Parágrafo único. Todo brasileiro em situação de
vulnerabilidade social terá direito a uma renda Art. 7º [...]
básica familiar, garantida pelo poder público em III - fundo de garantia do tempo de serviço;
programa permanente de transferência de renda,
cujas normas e requisitos de acesso serão deter- O FGTS encontra-se estabelecido no inciso III.
minados em lei, observada a legislação fiscal e Seu objetivo é resguardar o trabalhador nos casos
464 orçamentária de desemprego involuntário, aposentadoria, entre
outras situações, de modo que o trabalhador possa Diferentemente do salário mínimo, que é nacio-
sacar esses valores. nalmente unificado, é possível que os Estados e o Dis-
De acordo com a atual orientação do STF, o prazo trito Federal instituam piso salarial estadual diferente
prescricional para o trabalhador reclamar valores do do nacional, em conformidade com o parágrafo único,
FGTS é de cinco anos (prescrição quinquenal), tendo, do art. 22, da CF, de 1988, e Lei Complementar nº 103,
como base, o princípio da segurança jurídica (ARE nº de 2000.
709.212, STF).
Art. 7º [...]
Art. 7º [...] VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em
IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmen- convenção ou acordo coletivo;
te unificado, capaz de atender a suas necessidades
vitais básicas e às de sua família com moradia, ali- O inciso VI traz a regra de que o salário do traba-
mentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higie- lhador não pode ser reduzido. A redução somente é
ne, transporte e previdência social, com reajustes admitida por meio de negociação coletiva com a par-
periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, ticipação obrigatória do sindicato.
sendo vedada sua vinculação para qualquer fim; A Medida Provisória (MP) nº 936, de 2020, que foi
editada em razão da pandemia da COVID-19, passou a
O inciso IV estabelece a existência de uma remu- permitir a redução salarial por meio de acordo indivi-
neração mínima, justa e suficiente para assegurar ao dual firmado entre o empregador e o empregado, ou
trabalhador e a sua família uma vida digna. Assim, o seja, sem a participação do sindicato.
salário mínimo deve ter a capacidade de atender às Considerando que o texto constitucional estabelece
necessidades tanto do trabalhador como de sua famí- que o acordo seja coletivo, a MP foi submetida ao STF,
lia. Cumpre mencionar que o valor deve ser fixado que manteve a eficácia da regra (acordo individual)
em lei, ou seja, faz-se necessária a edição de lei para a de redução temporária do salário por, no máximo, 90
(noventa) dias, sob o fundamento de que se trata de
fixação do valor do salário mínimo.
momento excepcional e que o acordo individual seria
Vale destacar que o STF entende não ser necessá-
razoável por preservar o vínculo de emprego duran-
rio que o percentual de reajuste seja fixado em lei (em
te o período, bem como que a atuação do sindicato
sentido estrito), podendo a definição de tais valores
demandaria demora, gerando insegurança jurídica e
ser feita por meio de decreto presidencial. Sobre o
aumentando o risco de desemprego.
tema, existem quatro Súmulas Vinculantes importan-
tes, as quais é relevante conhecer: Art. 7º [...]
VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo,
Súmula Vinculante nº 4 Salvo nos casos previs- para os que percebem remuneração variável;
tos na Constituição, o salário mínimo não pode ser
usado como indexador de base de cálculo de vanta- O inciso VII é um desdobramento do inciso IV ao
gem de servidor público ou de empregado, nem ser estabelecer que todo trabalhador tem o direito a rece-
substituído por decisão judicial. ber uma remuneração justa e satisfatória que lhe asse-
gure existência compatível com a dignidade humana.
Súmula Vinculante nº 6 Não há violação à CF no
estabelecimento de remuneração inferior ao míni- Art. 7º [...]
mo em relação ao soldo dos recrutas, prestadores VIII - décimo terceiro salário com base na remu-
do serviço militar inicial. neração integral ou no valor da aposentadoria;

Súmula Vinculante nº 15 O cálculo de gratifica- O inciso VIII estabelece o décimo terceiro salá-
ções e outras vantagens do servidor público não rio ou gratificação de Natal aos trabalhadores. Para
incide sobre o abono utilizado para se atingir o os servidores públicos, a gratificação recebe o nome
salário mínimo. de adicional natalino. Tal gratificação foi introduzida
pela Lei nº 4.090, de 1962, garantindo ao trabalhador
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Súmula Vinculante nº 16 Os artigos 7º, IV, e 39, formal e com carteira assinada o correspondente a
§ 3º (redação da EC n. 19/1998), da Constituição 1/12 de sua remuneração ou aposentadoria.
referem-se ao total da remuneração percebida pelo
servidor público.
Art. 7º [...]
IX - remuneração do trabalho noturno superior
Prosseguindo nossa análise dos incisos do art. 7º, à do diurno;
da CF, temos:
O inciso IX trata do trabalho noturno. De acordo
Art. 7º [...] com o dispositivo, a remuneração deve ser superior
V - piso salarial proporcional à extensão e à com- ao trabalho no período diurno.
plexidade do trabalho; A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), ao
regular a matéria, estabelece, no art. 73, como perío-
O inciso V assegura contraprestação mínima aos do noturno, o trabalho desenvolvido entre as 22h de
trabalhadores pertencentes à mesma categoria pro- um dia e as 5h do dia seguinte. Assim, durante esse
fissional, como, por exemplo, professores, metalúrgi- período, o adicional é de, pelo menos, 20% sobre a
cos, farmacêuticos, entre outros. O piso deve levar em hora diurna. Além disso, o cômputo da hora também
consideração a extensão e a complexidade do trabalho é realizado de forma diferente, uma vez que cada
e não pode ser fixado em múltiplos do salário mínimo. hora noturna possui cinquenta e dois minutos e trinta
segundos. 465
Com relação ao trabalho rural, na lavoura, consi- modo a possibilitar que o trabalhador cumpra jornada
dera-se noturno o trabalho executado entre 21h de de 9 ou 8 horas durante esses dias, de modo a totalizar
um dia e 5h do dia seguinte. Já na pecuária, inicia-se 44 horas. Na jornada espanhola, há uma alternância na
às 20h de um dia e encerra-se às 4h do dia posterior. prestação de 48 horas em uma semana e 40 horas em
Acresce que o adicional é de 25% e que não há previ- outra, como, por exemplo, trabalhando sábados alter-
são de cômputo diferenciado para a hora noturna. nados. Assim, haveria uma média de 44 horas sema-
nais, o que evitaria o pagamento de hora extra.
Art. 7º [...]
X - proteção do salário na forma da lei, consti- Art. 7º [...]
tuindo crime sua retenção dolosa; XIV - jornada de seis horas para o trabalho reali-
zado em turnos ininterruptos de revezamento,
O inciso X estabelece a criminalização da con- salvo negociação coletiva;
duta de retenção do salário como uma das formas
de proteção ao trabalhador. Salienta-se que a con- Assim como o inciso anterior, o inciso XIV tam-
duta somente será considerada como crime se hou- bém prevê limite para a jornada de trabalho. Esse
ver dolo, ou seja, quando o empregador não paga dispositivo se aplica aos casos de jornada de trabalho
porque não quer. Cumpre esclarecer que esse inciso com turnos ininterruptos e de revezamento, ou seja,
possui eficácia constitucional limitada e carece de lei aqueles locais que funcionam 24 horas por dia. Nesses
regulamentadora. casos, o empregado não poderá trabalhar mais de 6
horas. Ressalta-se, por fim, a possibilidade de nego-
Art. 7º [...] ciação coletiva para aumentar a jornada.
XI - participação nos lucros, ou resultados, desvin-
culada da remuneração, e, excepcionalmente, Art. 7º [...]
participação na gestão da empresa, conforme defi- XV - repouso semanal remunerado, preferencial-
nido em lei; mente aos domingos;

A participação nos lucros ou resultados, em O inciso XV garante o descanso do trabalhador.


caráter excepcional, na gestão da empresa encon- Trata-se do repouso semanal remunerado, também
tra-se prevista no inciso XI. Trata-se de um valor des- denominado descanso semanal remunerado (DSR),
vinculado da remuneração e definido em lei. Esse que é a possibilidade de o trabalhador ausentar-se de
inciso também possui eficácia limitada, porém é regu- seu trabalho por 24 (vinte e quatro) horas, manten-
lamentado pela Lei nº 10.101, de 2000. do-se a remuneração respectiva. Para o descanso e
recomposição do empregado, a CF, de 1988, estabele-
Art. 7º [...] ce, como preferência, os domingos.
XII - salário-família pago em razão do depen-
dente do trabalhador de baixa renda nos termos Art. 7º [...]
da lei; XVI - remuneração do serviço extraordinário
superior, no mínimo, em cinquenta por cento à do
O inciso XII estabelece o salário-família. Trata-se normal;
de um benefício regulamentado pelos arts. 65 a 70, da
Lei nº 8.213, de 1991, concedido aos trabalhadores que O pagamento de horas extras encontra-se previs-
possuem filhos ou equiparados de até 14 anos, ou com to no inciso XVI. A CF, de 1988, além de fixar a duração
algum tipo de deficiência. Para ter direito ao valor, o da jornada de trabalho, com o objetivo de evitar abu-
trabalhador deve enquadrar-se no limite máximo de sos por parte do empregador, garante ao trabalhador
renda estipulado pela Administração Pública. que os serviços prestados que excedam a jornada nor-
Até a Emenda Constitucional nº 20, de 1998, o bene- mal de trabalho sejam considerados extraordinários
fício era pago a todos os trabalhadores. Após sua edição, e pagos com o valor de, no mínimo, 50% a mais que o
o salário-família ficou restrito ao trabalhador de baixa valor normal.
renda. Para o ano de 2021, a tabela do Governo Federal
fixou o valor do salário-família em R$ 51,27 e limitou o Art. 7º [...]
benefício aos trabalhadores que recebem até R$ 1.503,25. XVII - gozo de férias anuais remuneradas com,
pelo menos, um terço a mais do que o salário
Art. 7º [...] normal;
XIII - duração do trabalho normal não superior
a oito horas diárias e quarenta e quatro sema- O inciso XVII estabelece o direito às férias. Tra-
nais, facultada a compensação de horários e a ta-se do descanso anual do trabalhador, que deve ser
redução da jornada, mediante acordo ou conven- remunerado e acrescido de, pelo menos, 1/3 a mais do
ção coletiva de trabalho; que o salário normal.

O inciso XIII fixa a jornada de trabalho diária Art. 7º [...]


em até 8 horas e a semanal em 44 horas, permitida, XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do empre-
porém, a compensação de horários e a redução da jor- go e do salário, com a duração de cento e vinte
nada, por meio de acordos ou convenção coletiva de dias;
trabalho. Trata-se dos denominados bancos de horas
e as escalas de revezamento. A licença à gestante encontra-se prevista no inci-
No Brasil, são admitidas as jornadas inglesa e espa- so XVIII. Trata-se do direito dos filhos recém-nascidos
nhola. Na jornada inglesa, existe uma diluição de 4 ou adotados de permanecerem com suas genitoras no
466 horas no intervalo entre segunda e sexta-feira, de momento inicial de sua vida ou na casa da adotante,
da nova vida, com o objetivo de desenvolver víncu- Art. 7º [...]
los de afeto e cuidados necessários para o desenvolvi- XXIII - adicional de remuneração para as ativida-
mento saudável da criança. des penosas, insalubres ou perigosas, na forma
Constitucionalmente, o prazo de duração é de 120 da lei;
dias, porém a Lei nº 11.770, de 2008, estendeu, para
determinados casos, esse período de licença para 180 O inciso XXIII estabelece os adicionais de ativida-
dias. des penosas, insalubres e perigosas. Atividade peno-
A Lei nº 12.010, de 2009 (Lei da Adoção), estendeu sa é aquela exercida em zonas de fronteira ou aquela
às adotantes o mesmo prazo de licença das gestantes, que exige, para a sua realização, esforços físicos repe-
passando a ser de, no mínimo, 120 dias. Antes, a dura- titivos e intensos, de modo a causar esgotamento ou
ção da licença variava conforme a idade do filho. desgaste excessivo. Nessa atividade, não há um dano
efetivo à saúde do trabalhador, mas exige um maior
Art. 7º [...] grau de atenção ou sacrifício físico ou mental, como,
XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em por exemplo, serviços industriais em que o trabalha-
lei; dor é submetido a uma altura superior a três metros.
Por outro lado, na atividade insalubre, há um com-
O inciso XIX trata da licença-paternidade, que, ao prometimento à saúde do trabalhador devido a seu
contrário do que ocorre com a licença à gestante, não ambiente de trabalho, como, por exemplo, o traba-
possui prazo fixado pela CF, de 1988. Refere-se, tam-
lhador que é submetido a calor ou a frio intenso ou
bém, ao direito do filho de ter o genitor ao seu lado no
a ruído contínuo e intermitente. Por fim, atividade
momento inicial de sua vida.
perigosa é aquela que pode ameaçar a vida do traba-
lhador, como, por exemplo, a exercida em instalações
Art. 7º [...]
XX - proteção do mercado de trabalho da elétricas de grandes voltagens.
mulher, mediante incentivos específicos, nos ter-
mos da lei;
Importante!
O inciso XX estabelece a criação, por meio de lei, De acordo com o TST, não é possível a percep-
de normas de proteção do mercado de trabalho da
ção cumulativa dos adicionais de insalubridade
mulher. O dispositivo tem por objetivo proporcionar
e periculosidade.
a efetiva igualdade entre homens e mulheres. Tais
regras foram introduzidas pela CLT e tratam de temas
como a duração e condições de trabalho, a discrimi- Art. 7º [...]
nação, o trabalho noturno, a proteção à maternidade, XXIV - aposentadoria;
entre outros.
A aposentadoria está estabelecida no inciso XXIV,
Art. 7º [...] de modo a assegurar ao trabalhador o afastamento de
XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de
suas atividades após o cumprimento dos requisitos
serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos ter-
mos da lei;
previstos em lei, tais como idade e tempo de contri-
buição, bem como por motivo de incapacidade.
O aviso prévio está estabelecido no inciso XXI.
Art. 7º [...]
Trata-se do direito que tem o trabalhador de não ser
XXV - assistência gratuita aos filhos e dependen-
surpreendido com o seu desligamento e poder pro-
tes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de ida-
gramar-se para voltar a enfrentar a concorrência do
de em creches e pré-escolas;
mercado de trabalho. Por esse motivo, o aviso prévio
é proporcional, ou seja, quanto maior o tempo de ser-
viço prestado à empresa, maior a sua permanência O inciso XXV trata da assistência em creche e pré-
antes do desligamento. O prazo mínimo previsto na -escola devida aos filhos e dependentes dos trabalha-

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL


CF, de 1988, é de 30 (trinta) dias. dores desde o nascimento até os 5 anos.
De acordo com o STF, o inciso XXI é uma norma Com a Emenda Constitucional nº 53, de 2006, o pri-
constitucional híbrida, uma vez que possui uma parte meiro ano do ensino fundamental passou a ser cursa-
de eficácia plena (mínimo de 30 dias) e outra limita- do a partir dos 6 anos de idade. É por essa razão que
da (nos termos da lei). Segundo os termos da Lei nº o auxílio creche ou auxílio pré-escola é devido até os
12.506, de 2011, a esses 30 dias serão acrescidos três 5 anos (cessa ao completar 6 anos quando pode fre-
dias por ano de serviço prestado na mesma empresa quentar a escola).
até o total de 60 dias. Portanto, a duração máxima do
aviso prévio é de 90 dias (30 dias assegurados pela CF, Art. 7º [...]
de 1988 e outros 60 previstos na lei). XXVI - reconhecimento das convenções e acordos
coletivos de trabalho;
Art. 7º [...]
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, O inciso XXVI ressalta a importância das entidades sin-
por meio de normas de saúde, higiene e segurança; dicais nas negociações coletivas, de modo a permitir que
se incrementem as condições sociais dos trabalhadores.
O inciso XXII traz a obrigação do empregador de pre-
servar a saúde do trabalhador por meio da adoção de Art. 7º [...]
medidas, quer individuais quer coletivas, que o previ- XXVII - proteção em face da automação, na forma
nam e o protejam dos riscos ambientais do trabalho. da lei; 467
A proteção em face da automação é assegurada Também decorrente do princípio da igualdade,
no inciso XXVII. Trata-se de um mecanismo de proteção a CF, de 1988, veda qualquer tipo de discriminação
do trabalhador que perdeu seu posto de trabalho para do trabalhador com deficiência. A proibição de dis-
a automação, ou seja, pela máquina, de modo que a lei criminação estende-se desde a sua admissão. Assim
possa criar meios, tais como cursos e treinamentos, que sendo, o fato de o trabalhador possuir uma limitação,
possibilitem sua recolocação no mercado de trabalho. quer física, psíquica ou intelectual, não tem o condão
de permitir que o empregador pague uma contrapres-
Art. 7º [...] tação diversa dos demais funcionários por exemplo.
XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a
cargo do empregador, sem excluir a indenização Art. 7º [...]
a que este está obrigado, quando incorrer em dolo XXXII - proibição de distinção entre trabalho
ou culpa; manual, técnico e intelectual ou entre os profis-
sionais respectivos;
O seguro contra acidentes de trabalho encontra-
-se previsto no inciso XXVIII. O seguro é de competência Mais um dispositivo que decorre do princípio
do empregador e não exclui a indenização a que este da igualdade e veda a distinção entre as atividades
está obrigado no caso de incorrer em dolo ou culpa. desempenhadas, ou seja, a atividade manual não
poderá ser tida como mais ou menos importante que
Súmula Vinculante nº 22 A Justiça do Trabalho a intelectual por exemplo.
é competente para processar e julgar as ações
de indenização por danos morais e patrimoniais Art. 7º [...]
decorrentes de acidente de trabalho propostas por XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigo-
empregado contra empregador, inclusive aquelas so ou insalubre a menores de dezoito e de qual-
que ainda não possuíam sentença de mérito em quer trabalho a menores de dezesseis anos,
primeiro grau quando da promulgação da Emenda salvo na condição de aprendiz, a partir de qua-
Constitucional 45/2004. torze anos;

Prosseguimos com o inciso XXIX, do art. 7º, da CF: O inciso XXXIII estabelece os limites etários para
o desempenho do trabalho. Aos menores de 16 anos
Art. 7º [...] não é possível o desempenho da atividade laboral,
XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das exceto no caso de aprendiz, que poderá desenvolver
relações de trabalho, com prazo prescricional
a atividade entre 14 e 24 anos.
de cinco anos para os trabalhadores urbanos e
Atenção! Aprendiz não se confunde com estagiá-
rurais, até o limite de dois anos após a extinção
do contrato de trabalho;
rio. Aprendiz é o jovem contratado por entes de coo-
peração governamental, como, por exemplo, o SENAC
e o SENAI, para aprender uma profissão, ou seja, a
O inciso XXIX trata da prescrição das verbas tra-
formação profissional é desenvolvida no ofício. Por
balhistas. O prazo para que o trabalhador ingresse
com ação trabalhista é de 2 (dois) anos contados da outro lado, estagiário é o estudante que complemen-
extinção do contrato de trabalho. Já com relação aos ta, por meio do trabalho, o ensino do curso que está
créditos, a prescrição é de 5 (cinco) anos. Exemplo: desenvolvendo. Estagiário não é empregado nem está
trabalhador que exerceu atividade na empresa entre submetido a limite de idade.
os períodos de 2010 a 2020. Ele terá até 2022 (dois anos Além disso, o dispositivo veda o trabalho noturno,
da extinção do contrato de trabalho) para promover a perigoso ou insalubre aos maiores de 16 e menores
ação e poderá cobrar os créditos dos últimos 5 anos, de 18 anos, por se tratarem de pessoas em formação.
ou seja, se ingressou em 2020, poderá pleitear os cré-
ditos de 2015 em diante.
Quanto às nomenclaturas “prescrição relativa” e Importante!
“prescrição total”, é importante distinguir que pres- Não há previsão expressa do trabalho penoso
crição relativa é a interna, ou seja, aquela que ocorre aos menores de 18 anos.
dentro do contrato de trabalho, tendo como prazo 5
anos. Já a prescrição total é aquela que ocorre após o
fim do contrato de trabalho, ou seja, de 2 anos. Art. 7º [...]
XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalha-
Art. 7º [...] dor com vínculo empregatício permanente e o
XXX - proibição de diferença de salários, de trabalhador avulso
exercício de funções e de critério de admissão por
motivo de sexo, idade, cor ou estado civil; O inciso XXXIV também decorre do princípio da
igualdade. Por ele, depreende-se a igualdade de direi-
O inciso XXX decorre do princípio da igualdade e
tos entre os trabalhadores com vínculo empregatício
foi tratado anteriormente quando explanado acerca
e os trabalhadores avulsos. Entende-se por trabalha-
do salário.
dor avulso aquele que, de forma sindicalizada ou não,
Art. 7º [...] presta serviços tanto de natureza urbana como rural,
XXXI - proibição de qualquer discriminação no sem possuir vínculo empregatício, e a diversas empre-
tocante a salário e critérios de admissão do traba- sas, com intermediação obrigatória do sindicato da
lhador portador de deficiência; categoria ou, quando se tratar de atividade portuária,
com intermediação do Órgão Gestor de Mão de Obra
468 (OGMO).
Art. 7º [...] A representação e substituição do sindicato na
Parágrafo único. São assegurados à categoria dos defesa dos direitos e interesses de seus membros está
trabalhadores domésticos os direitos previstos disciplinada no inciso III. Atente-se ao fato de o sindi-
nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, cato poder atuar não somente em questões judiciais,
XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e mas também em questões administrativas.
XXXIII e, atendidas as condições estabelecidas em
lei e observada a simplificação do cumprimento Art. 8º [...]
das obrigações tributárias, principais e acessórias, IV - a assembleia geral fixará a contribuição que,
decorrentes da relação de trabalho e suas peculiari- em se tratando de categoria profissional, será des-
dades, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV contada em folha, para custeio do sistema con-
e XXVIII, bem como a sua integração à previdência federativo da representação sindical respectiva,
social. independentemente da contribuição prevista em lei;

Por fim, o parágrafo único trata dos direitos dos O inciso IV trata da contribuição confederativa
trabalhadores domésticos. Considera-se doméstico sindical. Cumpre esclarecer, no entanto, que nenhu-
o trabalhador que presta serviços de natureza contí- ma das contribuições relativas à atividade sindical
nua e de finalidade não lucrativa à pessoa ou à famí- é obrigatória, de modo a depender de autorização
lia no âmbito residencial destas, como, por exemplo, expressa e prévia do destinatário. Portanto, somente
cozinheiro residencial, jardineiro, babá, entre outros. quem é filiado ao respectivo sindicato deve pagar a
O dispositivo remete a determinados incisos, ressal- contribuição confederativa prevista nesse dispositivo.
tando que parte desse direito depende de regulamen-
tação legal, como no caso do FGTS. Art. 579 (CLT) O desconto da contribuição sindical
Os direitos sindicais encontram-se disciplinados está condicionado à autorização prévia e expressa
nos arts. 8º a 11. Vejamos cada um deles: dos que participem de uma determinada categoria
econômica ou profissional, ou de uma profissão
Art. 8º É livre a associação profissional ou sin- liberal, em favor do sindicato representativo da
dical, observado o seguinte: mesma categoria.
I - a lei não poderá exigir autorização do Esta-
do para a fundação de sindicato, ressalvado o Súmula Vinculante nº 40 A contribuição con-
registro no órgão competente, vedadas ao Poder federativa de que trata o art. 8º, IV, da Constitui-
Público a interferência e a intervenção na organi- ção Federal, só é exigível dos filiados ao sindicato
zação sindical; respectivo.

O inciso I, do art. 8º, traz o princípio da liberda- Continuamos com o inciso V, do art. 8º, da CF:
de sindical. Pelo dispositivo, é possível observar duas
situações distintas. A primeira refere-se à relação Art. 8º [...]
entre o Estado e o sindicato. Já a segunda, entre o sin- V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a man-
dicato e o sindicalizado. Portanto, essa liberdade de ter-se filiado a sindicato;
associação sindical possui dupla dimensão, de modo
a assegurar o direito dos trabalhadores em geral de O inciso V é um desdobramento do direito à liber-
criarem entidades sindicais, como também a liberda- dade de associação prevista no art. 5º, da CF, de 1988.
de de aderirem ou não ao sindicato, assim como se
desfiliarem conforme sua vontade. Art. 8º [...]
De acordo com o STF, para que um sindicato possa VI - é obrigatória a participação dos sindicatos
defender a categoria, não é preciso estar registrado no nas negociações coletivas de trabalho;
órgão competente (Ministério do Trabalho), bastando o
registro no Cartório de Registro das Pessoas Jurídicas. As entidades sindicais possuem a denominada
função negocial. Assim, com o objetivo de assegurar
Art. 8º [...]
melhores condições e direitos aos trabalhadores, o
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
II - é vedada a criação de mais de uma organi-
zação sindical, em qualquer grau, representativa
inciso IV estabelece como obrigatória a participação
de categoria profissional ou econômica, na mesma dos sindicatos nas negociações coletivas.
base territorial, que será definida pelos trabalha-
dores ou empregadores interessados, não podendo Art. 8º [...]
ser inferior à área de um Município; VII - o aposentado filiado tem direito a votar e
ser votado nas organizações sindicais;
O inciso II traz o princípio da unicidade sindical,
ou seja, a regra pela qual é vedada a criação de mais O inciso VII cuida do direito de votar e ser votado
de uma organização sindical na mesma base territo- do aposentado filiado à entidade sindical.
rial. Por essa razão, a CF, de 1988, definiu a base ter-
ritorial mínima, ou seja, o Município. No entanto, não Art. 8º [...]
especificou a base máxima, de modo que pode haver VIII - é vedada a dispensa do empregado sin-
um sindicato para a defesa da categoria no âmbito dicalizado a partir do registro da candidatura
estadual ou nacional. a cargo de direção ou representação sindical
e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o
Art. 8º [...] final do mandato, salvo se cometer falta grave
III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e inte- nos termos da lei.
resses coletivos ou individuais da categoria,
inclusive em questões judiciais ou administrativas; 469
A estabilidade do dirigente sindical encontra-se O art. 10 decorre do direito a uma gestão
prevista no inciso VIII. Seu objetivo é permitir que democrática, ou seja, de participação junto aos
seus dirigentes atuem sem medo de represálias, ou colegiados dos órgãos públicos que gerenciam os inte-
seja, de serem desligados do emprego devido à atua- resses profissionais ou os valores aplicados nos fun-
ção. Trata-se, portanto, da regra que proíbe a dispen- dos previdenciários.
sa do empregado sindicalizado a partir do registro da
candidatura a cargo de direção ou representação sin- Art. 11 Nas empresas de mais de duzentos
dical. No caso dos eleitos, mesmo que na condição de empregados, é assegurada a eleição de um
suplentes, a estabilidade perdura até um ano após o representante destes com a finalidade exclusiva
final do mandato. de promover-lhes o entendimento direto com os
Observa-se, no entanto, que a estabilidade não é empregadores.
absoluta, uma vez que é possível a demissão em caso
de cometimento de falta grave. Ainda, cabe destacar Por fim, o art. 11 estabelece, como mecanismo de
que, de acordo com a alínea “a”, do inciso II, do art. promover o entendimento e facilitar o diálogo entre
10, do ADCT, os membros da Comissão Interna para empregados e empregador em empresas maiores
Prevenção de Acidentes (CIPA) eleitos pelos trabalha- (com mais de 200 funcionários), a formação de uma
dores também possuem estabilidade; já os indicados comissão de representação.
pelo empregador não a possuem. Atenção! Os representantes não se confundem
A estabilidade conferida pelo inciso VIII já foi obje- com os dirigentes sindicais.
to de prova no que tange a sua destinação. Cumpre
ressaltar que esse benefício não é destinado à pessoa NACIONALIDADE
do empregado (intuitu personae), mas sim à represen-
tação sindical. O direito à nacionalidade é a garantia de ter um
vínculo político-jurídico com um país, uma vez que
Art. 8º [...]
todas as pessoas têm direito de se vincular a um Esta-
Parágrafo único. As disposições deste artigo apli-
cam-se à organização de sindicatos rurais e de
do soberano para que este possa assegurar a proteção
colônias de pescadores, atendidas as condições dos seus direitos fundamentais.
que a lei estabelecer. A ausência de vínculo enseja a condição de apátri-
da e impede que o indivíduo pleiteie proteção jurídica
Por fim, o parágrafo único estabelece que essas básica por não estar vinculado a nenhum Estado. Des-
regras também são aplicadas aos sindicatos rurais e te modo, ter uma nacionalidade significa ter direito à
de pescadores. proteção jurídica e política por parte de um Estado.
A nacionalidade pode ser originária ou derivada.
Art. 9º É assegurado o direito de greve, competin- Vejamos:
do aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade
de exercê-lo e sobre os interesses que devam por z Nacionalidade originária é aquela que decor-
meio dele defender. re do nascimento e, a depender do Estado, pode
seguir o critério de vínculo biológico (jus sangui-
O direito de greve dos trabalhadores encontra-se nis), ou o critério do local do nascimento (jus solis),
assegurado no art. 9º, da CF, de 1988. Inicialmente, há ou os dois. Nesse tipo de nacionalidade, é possível
de se esclarecer que a expressão “trabalhadores” se a coexistência de mais de uma nacionalidade (ex.:
refere aos empregados da iniciativa privada, geral- filho de italiano nascido no Brasil é italiano por
mente regidos pela CLT. Em síntese, greve é a suspen- sangue e brasileiro por solo);
são temporária das atividades laborais desenvolvidas z Nacionalidade derivada é aquela que decorre de
e tem como causa o interesse dos trabalhadores. qualquer outro fator que não seja o nascimento,
Ademais, salienta-se, conforme já cobrado em como, por exemplo, passar a residir em um país
prova, que a greve, apesar de ser um direito social ou casar-se com um estrangeiro e adquirir a nacio-
conferido ao trabalhador, não depende de específica
nalidade deste (essa hipótese não existe no direito
prestação estatal para que seja exercida.
brasileiro, pois o casamento com brasileiro, por
si só, não dá o direito à nacionalidade brasileira).
Art. 9º [...]
Para adquirir a nacionalidade derivada, é necessá-
§ 1º A lei definirá os serviços ou atividades essen-
ciais e disporá sobre o atendimento das necessida- rio um procedimento chamado de naturalização e,
des inadiáveis da comunidade. em regra, ao se adquirir uma nova nacionalidade,
§ 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis por ser esta voluntária, perde-se a nacionalidade
às penas da lei. anterior (direito de opção).

No que se refere aos serviços essenciais, tais como Os direitos de nacionalidade estão disciplinados nos
transporte público, serviços de fornecimento de luz, arts. 12 e 13, da CF, de 1988. Vejamos cada um deles:
água, entre outros, o direito de greve é assegurado, mas
sofre restrições. A lei que disciplina a greve dos traba- Art. 12 São brasileiros:
lhadores dos serviços essenciais é a Lei nº 7.783, de 1989. I - natos:
a) os nascidos na República Federativa do Brasil,
Art. 10 É assegurada a participação dos traba- ainda que de pais estrangeiros, desde que estes
lhadores e empregadores nos colegiados dos não estejam a serviço de seu país;
órgãos públicos em que seus interesses profissio- b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro
nais ou previdenciários sejam objeto de discussão ou mãe brasileira, desde que qualquer deles este-
470 e deliberação. ja a serviço da República Federativa do Brasil;
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasilei- de língua portuguesa apenas residência por um
ro ou de mãe brasileira, desde que sejam regis- ano ininterrupto e idoneidade moral;
trados em repartição brasileira competente b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade,
ou venham a residir na República Federativa do residentes na República Federativa do Brasil há
Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atin- mais de quinze anos ininterruptos e sem con-
gida a maioridade, pela nacionalidade brasileira; denação penal, desde que requeiram a nacionali-
dade brasileira.
No que se refere à nacionalidade originária, a CF,
de 1988 adota, no inciso I, do art. 12, um sistema misto Conforme vimos, a naturalização é o meio pelo
de definição da nacionalidade, uma vez que os dois qual se adquire a nacionalidade por outro motivo que
critérios estão inseridos em seu dispositivo para defi- não o nascimento. Trata-se do ato pelo qual um país
nir brasileiro nato. concede a um estrangeiro a qualidade de nacional
A alínea “a” adota o critério territorial ao con- desse Estado. A naturalização pressupõe pedido da
siderar brasileiro o nascido em solo brasileiro, tanto parte interessada.
de pais brasileiros como estrangeiros, desde que estes O inciso II estabelece, como critério para que se
não estejam a serviço de seus países. adquira a naturalização, o lapso temporal. No caso
Atente-se ao fato de para que a criança não seja dos estrangeiros originários de países de língua portu-
considerada brasileira, algum dos pais estrangeiros guesa, tais como Portugal, Cabo Verde, Moçambique,
deve estar a serviço de seu país de origem; ressalta- entre outros, a Norma Constitucional prevê residência
-se este ponto pois os examinadores implementaram de apenas um ano ininterrupta e idoneidade moral. Já
as cobranças acerca dessa temática. para os demais estrangeiros, faz-se necessário residir
Por exemplo, o casal Bob e Mary é residente da por mais de 15 (quinze) anos e não possuir condena-
cidade de Bruxelas, na Bélgica. Bob é natural da Bél- ção penal.
gica, já Mary possui nacionalidade alemã. Mary, após Note que, além do prazo de residência, enquan-
alguns anos morando na Bélgica, conquista um cargo to, para um, basta a idoneidade, para os demais, não
público neste país. Em razão do cargo que ocupa, Mary deve existir condenação penal.
foi convocada para tratar de assuntos internacionais
no Brasil, a serviço da Bélgica e, durante a sua estadia REQUISITOS
no Brasil, entrou em trabalho de parto, dando à luz a Nacionalidade
Peter, fruto do seu relacionamento com Bob. No caso Nacionalidade Ordinária
Extraordinária
em tela, Peter terá nacionalidade brasileira nata, tendo
� Ser estrangeiro origi- � Ser estrangeiro de qual-
em vista que sua mãe, embora a serviço da Bélgica, não
nário de país de língua quer nacionalidade
estava à serviço do seu país de origem (Alemanha).
portuguesa � Residência, ininterrupta,
Outro exemplo que pode ser cobrança de alguma
� Residência no Brasil por no Brasil por mais de 15
questão mais elaborada é o caso de criança nasci-
1 ano ininterrupto anos
da em território nacional, sendo que um dos pais é
� Idoneidade moral � Ausência de condena-
estrangeiro a serviço de seu país e o outro é brasileiro;
neste caso, devido ao fato de ser filho de brasileiro, Obs.: Aqui a nacionalidade ção penal
será, a criança, considerada brasileira nata. se dará por ato discricio- � Requerimento por parte
Já a alínea “b” adota o critério sanguíneo aliado nário do Presidente do interessado
ao trabalho, ao considerar brasileiro aquele que nas-
ceu fora do solo brasileiro, porém possuindo pai ou Art. 12 [...]
mãe brasileiros e um destes esteja a serviço do Bra- § 1º Aos portugueses com residência permanente
sil, como, por exemplo, filho de diplomata brasileiro a no País, se houver reciprocidade em favor de brasi-
serviço no Japão. leiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao bra-
Por fim, a alínea “c” adota o critério sanguíneo sileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição.
aliado à opção ou registro do nascimento em repar-
tição competente, considerando como brasileiro aque- O § 1º estabelece a possibilidade de reciprocida-
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
le que nasceu fora do território brasileiro, sendo filho de para os portugueses residentes de forma perma-
de pai ou mãe brasileiros sem que qualquer um deles nente no Brasil. Trata-se de benefícios decorrentes do
estivesse a serviço do Brasil, e foi registrado na reparti- Estatuto da Igualdade no que se refere aos direitos e
ção brasileira competente no exterior (Consulado). obrigações civis e políticos sem a perda da naciona-
Também é considerado brasileiro nato por essa lidade originária. Esse Estatuto encontra respaldo no
alínea aquele que nasceu fora do território brasileiro, Decreto nº 3.927, de 2001, que promulgou o Tratado
sendo filho de pai ou mãe brasileiros sem que qualquer de Amizade, Cooperação e Consulta entre Brasil e
um deles estivesse a serviço do Brasil, e veio a residir no Portugal.
Brasil, tendo optado pela nacionalidade brasileira após
atingida a maioridade. Exemplo: filha de alemã com Art. 12 [...]
brasileiro nascida na Alemanha, mas que se mudou § 2º A lei não poderá estabelecer distinção entre
para o Brasil e, tendo completado 18 (dezoito) anos, brasileiros natos e naturalizados, salvo nos
tenha optado pela nacionalidade brasileira; a esta últi- casos previstos nesta Constituição.
ma forma se dá o nome de nacionalidade potestativa.
De acordo com o § 2º, independentemente de a
Art. 12 [...] nacionalidade ter sido adquirida de modo originário
II - naturalizados: ou derivado, todos os brasileiros são iguais em direi-
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionali- tos e obrigações. Trata-se, portanto, de um desdobra-
dade brasileira, exigidas aos originários de países mento do direito à igualdade. 471
Como nenhum direito é absoluto, a CF, de 1988, Nessa situação, o indivíduo terá dupla naciona-
pode estabelecer tratamento diferente aos natos e lidade, tendo em vista ter nascido no Brasil (país
naturalizados, mas tão somente a CF. Como exemplo que adota, nesse caso, o critério territorial) e ser
tem-se o parágrafo a seguir: filho de pais italianos (país este que adota o crité-
rio sanguíneo). Desta forma, será atribuída dupla
Art. 12 [...] nacionalidade à criança;
§ 3º São privativos de brasileiro nato os cargos: z Imposição de nacionalidade como condição
I - de Presidente e Vice-Presidente da República; para permanência em território estrangeiro
II - de Presidente da Câmara dos Deputados; ou para exercício de direitos civis. É o caso, por
III - de Presidente do Senado Federal;
exemplo, de jogador de futebol brasileiro que é
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
contratado por determinado clube de país estran-
V - da carreira diplomática;
VI - de oficial das Forças Armadas. geiro, onde é obrigatório a aquisição da nacionali-
VII - de Ministro de Estado da Defesa. dade para permanecer em seu território.

Os cargos elencados no § 3º não podem ser preen- O brasileiro que perdeu sua nacionalidade por ter
chidos por brasileiros naturalizados, nem por estran- se naturalizado poderá readquirir a nacionalidade
geiros. Observa-se que os quatro primeiros incisos se brasileira ou ter revogado o ato que declarou a sua
referem ao Chefe de Estado e àqueles que estão em perda, retornando à condição de brasileiro nato por
sua ordem sucessória. O inciso V refere-se àqueles expressa previsão da Lei nº 13.445, de 2017 (Lei de
que irão representar o Estado brasileiro no exterior, Migração). Exemplo: brasileira que se casa com ale-
enquanto os incisos VI e VII têm relação com a segu- mão e naturaliza-se alemã, porém se divorcia de seu
rança nacional. marido e volta ao Brasil.
Vale destacar que o brasileiro naturalizado poderá
ser senador ou deputado, só não poderá ser presiden- Art. 13 A língua portuguesa é o idioma oficial
te das casas. da República Federativa do Brasil.
§ 1º São símbolos da República Federativa do
Brasil a bandeira, o hino, as armas e o selo
Dica nacionais.
Para memorizar o rol elencado no § 3º, utiliza-se § 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
o mnemônico MP3.COM poderão ter símbolos próprios.
M — Ministro do STF
P — Presidente e Vice O art. 13 não é um direito de nacionalidade, mas
P — Presidente da Câmara estabelece regras com relação ao Estado brasileiro.
P — Presidente do Senado A primeira regra diz respeito ao idioma oficial, que
C — Carreira diplomática é a língua portuguesa. Trata-se, portanto, da língua
O — Oficial das Forças Armadas que toda a população brasileira deve utilizar em suas
M — Ministro da Defesa ações oficiais, ou seja, nas suas relações com as insti-
tuições do Estado. A outra regra diz respeito aos sím-
Art. 12 [...] bolos do Brasil.
§ 4º Será declarada a perda da nacionalidade do Para memorizar os símbolos, utilize o mnemônico
brasileiro que: BAHIAS:
I - tiver cancelada sua naturalização, por senten-
ça judicial, em virtude de atividade nociva ao Bandeira
interesse nacional; Hino
II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos Armas
casos: Selo nacional
a) de reconhecimento de nacionalidade originária
pela lei estrangeira;
A última regra diz respeito ao fato de os Estados
b) de imposição de naturalização, pela norma
membros, Distrito Federal e Municípios possuírem
estrangeira, ao brasileiro residente em estado
estrangeiro, como condição para permanência em símbolos próprios. Alguns Estados membros possuem
seu território ou para o exercício de direitos civis; símbolos diferentes, como, por exemplo, o Estado de
São Paulo, que, de acordo com o art. 7º, de sua Consti-
Por fim, o § 4º traz as hipóteses de perda da nacio- tuição Estadual, tem, como símbolos, a bandeira, o bra-
nalidade. A primeira possibilidade é a perda da nacio- são de armas e o hino. Não constam o selo e as armas,
nalidade derivada, ou seja, aquela adquirida pela estando, portanto, de forma diversa da CF, de 1988.
naturalização quando houver sentença judicial deter-
minando seu cancelamento, em decorrência de ativi- CIDADANIA E DIREITOS POLÍTICOS
dade nociva praticada pelo naturalizado. A segunda
possibilidade decorre do denominado princípio da Os direitos políticos encontram-se disciplinados
vassalagem, isto é, a aquisição de nacionalidade deri- nos arts. 14 a 16 da Constituição Federal. São direi-
vada implica a perda da nacionalidade de origem. tos relacionados com a participação popular, funda-
A perda da nacionalidade comporta duas exceções dos na ideia de que os cidadãos possuem o direito de
que não decorrem da vontade do indivíduo, são elas: influenciar as decisões do Estado, bem como de influir
na formação da vontade deste.
z Reconhecimento da nacionalidade por lei Os direitos políticos conferidos à população brasi-
estrangeira. É o caso, por exemplo, de uma crian- leira são exercidos através do sufrágio universal, que
472 ça que nasceu no Brasil e possui pais italianos. é compreendido pela:
z Capacidade eleitoral ativa: direito de votar; ainda, acautelar a moralidade administrativa, o meio
z Capacidade eleitoral passiva: direito de ser ambiente e patrimônio histórico e cultural brasileiro.
votado. Essa capacidade é conferida ao cidadão por meio
do alistamento eleitoral. São inalistáveis os estran-
De acordo com o art. 14 da CF, a soberania popular geiros e os conscritos (durante serviço militar obriga-
será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto dire- tório, ou seja, aqueles que se alistaram no exército e
to e secreto, mediante: foram convocados a prestar serviço militar).
z Plebiscito;
Alistamento Eleitoral e o Voto
z Referendo;
z Iniciativa popular.
Nos termos do § 1º, do art. 14, da Constituição
Antes de prosseguir no estudo dos direitos políticos, Federal, o alistamento eleitoral e do voto são:
faz-se importante conceituar e diferenciar os meca-
nismos de democracia direta elencados acima, quais z Obrigatórios
sejam: o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular.
Tanto o plebiscito quanto o referendo são instru- „ Para os maiores de dezoito anos;
mentos que se destinam à consulta popular sobre
determinado assunto (ato administrativo ou lei). z Facultativos
A principal diferença entre eles está atrelada ao
momento da consulta. „ Os analfabetos;
No plebiscito, a consulta é prévia, ou seja, antes da „ Os maiores de setenta anos;
criação do ato administrativo ou da lei, convocam-se „ Os maiores de dezesseis e menores de dezoito
os cidadãos para responderem à consulta. Ao passo anos.
que, no referendo, primeiro cria-se o ato administra-
tivo ou a lei, e depois se autoriza a consulta ao povo. Condições de Elegibilidade
Para ajudar na memorização da diferença entre o
plebiscito e o referendo, associe:
Conforme § 3°, do art. 14, da CF, são condições de
Plebiscito com PREbiscito: o termo pre remete
para algo que ocorre previamente/antes/anterior, tal elegibilidade, isto é, condições para se eleger a deter-
como o plebiscito que a consulta popular é prévia. minado cargo político:
Referendo com REFERIR: o termo referir reme-
te para algo que “diz respeito” ou “que tem relação”, z Nacionalidade brasileira
ou seja, que já aconteceu/falou/fez/existe, tal como no z O pleno exercício de direitos
referendo que a consulta é posterior à criação do ato políticos
administrativo ou da lei. Elegibilidade z Alistamento eleitoral
A Iniciativa Popular é um instrumento de demo- z Domicilio eleitoral na circuns-
cracia direta que permite aos cidadãos a apresentação crição correspondente
de proposta de lei, desde que preenchidos os seguintes z Filiação partidária
requisitos previstos no § 2º, do art. 61, da CF:
A constituição também define a idade mínima que
Art. 61 [...]
cada candidato deve ter, a depender do cargo que
§ 2º A iniciativa popular pode ser exercida pela
apresentação à Câmara dos Deputados de projeto deseja se eleger:
de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do
eleitorado nacional, distribuído pelo menos por z Presidente e Vice-Presidente da República e Sena-
cinco Estados, com não menos de três décimos por dor: 35 anos;
cento dos eleitores de cada um deles. z Governador e Vice-Governador dos Estados-mem-
bros e do Distrito Federal : 30 anos;
Da leitura do dispositivo acima, extrai-se os seguin- z Deputado Federal, Deputador Estadual ou Distri- NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
tes pontos: tal, Prefeito e Vice-Prefeito e Juiz de Paz: 21 anos;
z Vereador: 18 anos.
z Deve ser proposto na Câmara de Deputados;
z É necessário a assinatura de, no mínimo, 1% (um
A condição de nacional é um pressuposto para a
por cento) do eleitores brasileiros;
de cidadão. A cidadania em sentido estrito é o status
z Este 1% (um por cento) deve ser composto de elei-
tores de, pelos menos, 05 (cinco) Estados-membros. de nacional acrescido dos direitos políticos, isto é, o
z Cada um dos Estados-membros referidos acima poder participar do processo governamental, sobre-
deve possuir no mínimo 0,3% (três décimos) do seu tudo pelo voto. Assim, a nacionalidade é condição
próprio eleitorado estadual. necessária, mas não suficiente para o exercício da
cidadania.
Direitos Políticos Ativos
Dica
É o que confere ao cidadão a capacidade de votar,
participar de plebiscitos ou referendos, subscrever Nacional é diferente de cidadão, logo cidadania é
projeto de iniciativa popular, bem como de propor diferente de nacionalidade!
ação popular para anular ato lesivo ao patrimônio
público ou de entidade de que o Estado participe ou, 473
Inelegibilidades recondução por um período somente, no Brasil, após
o período de um mandato, o governante pode voltar a
A Constituição não menciona exaustivamente se candidatar para o posto.
todas as hipóteses de inelegibilidade, apenas fixa
algumas, deixando reservado que lei complementar Art. 14 [...]
poderá estabelecer outros casos de inelegibilidade. § 5º O Presidente da República, os Governadores de
Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os
Art. 14 [...] houver sucedido, ou substituído no curso dos man-
§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de datos poderão ser reeleitos para um único período
inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim subsequente.
de proteger a probidade administrativa, a morali- § 6º Para concorrerem a outros cargos, o Presidente
dade para exercício de mandato considerada vida da República, os Governadores de Estado e do Distri-
pregressa do candidato, e a normalidade e legitimi- to Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respec-
dade das eleições contra a influência do poder eco- tivos mandatos até seis meses antes do pleito.
nômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou
emprego na administração direta ou indireta.
Por sua vez, o militar é elegível, se cumpridos
alguns requisitos:
Em regra:
Art. 14 [...]
Art. 14 [...] § 8º O militar alistável é elegível, atendidas as
§ 4º São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos. seguintes condições:
I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá
Há também a inelegibilidade derivada do casa- afastar-se da atividade;
mento ou do parentesco com o Presidente da Repú- II - se contar mais de dez anos de serviço, será agre-
blica, com os Governadores de Estado e do Distrito gado pela autoridade superior e, se eleito, passará
Federal e com os Prefeitos, ou com quem os haja subs- automaticamente, no ato da diplomação, para a
tituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito. inatividade.

Art. 14 [...] O Mandato eletivo pode ser impugnado:


§ 7º São inelegíveis, no território de jurisdição do
titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou Art. 14 [...]
afins, até o segundo grau ou por adoção, do Pre- § 10 O mandato eletivo poderá ser impugnado ante
sidente da República, de Governador de Estado ou a Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias conta-
Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de dos da diplomação, instruída a ação com provas de
quem os haja substituído dentro dos seis meses abuso do poder econômico, corrupção ou fraude;
anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato § 11 A ação de impugnação de mandato tramitará
eletivo e candidato à reeleição. em segredo de justiça, respondendo o autor, na for-
ma da lei, se temerária ou de manifesta má-fé.
Acerca do assunto, é importante conhecer o texto
da Súmula nº 6 do TSE: Perda e Suspensão dos Direitos Políticos

Súmula 6, TSE: São inelegíveis para o cargo de A perda e a suspensão dos direitos políticos
chefe do Executivo o cônjuge e os parentes, indica- podem se dar, respectivamente, de forma definitiva
dos no § 7º do art. 14 da Constituição Federal, do
ou temporária.
titular do mandato, salvo se este, reelegível, tenha
Ocorrerá a perda quando: houver cancelamento
falecido, renunciado ou se afastado definitivamente
do cargo até seis meses antes do pleito.:
da naturalização por sentença transitada em julga-
do e no caso de recusa de cumprir obrigação a todos
imposta ou prestação alternativa (é o caso do serviço
Na mesma temática, veja a redação da Súmula Vin-
militar obrigatório).
culante nº 18 do STF (de observância obrigatória):
Já a suspensão ocorre enquanto persistirem os
Súmula vinculante 18-STF: A dissolução da socie-
motivos desta, ou seja, enquanto o indivíduo não o
dade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, retomar a capacidade civil ele terá seus direitos políti-
não afasta a inelegibilidade prevista no § 7º do arti- cos suspensos. Readquirindo-a, alcançará, novamente
go 14 da Constituição Federal o status de cidadão. Também são passíveis de suspen-
são os condenados criminalmente (com sentença tran-
Todo inalistável é inelegível, mas nem todo inele- sitado em julgado). Cumprida a pena, readquirem os
gível é inalistável. Assim, quem não pode votar, como direitos políticos; no caso de improbidade administra-
os estrangeiros e os conscritos durante serviço mili- tiva, a suspensão será, da mesma forma, temporária.
tar obrigatório, não pode ser votado, assim como os
analfabetos. No entanto, isso não significa que os que Art. 15 É vedada a cassação de direitos políticos,
não podem ser votados, necessariamente, não possam cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:
votar. Ex.: o analfabeto é inelegível, mas não é inalistá- I - cancelamento da naturalização por sentença
vel, logo, pode votar, embora seu voto não seja obriga- transitada em julgado;
II - incapacidade civil absoluta;
tório, mas não pode ser votado.
III - condenação criminal transitada em julgado,
Quanto à reeleição e desincompatibilização, a enquanto durarem seus efeitos;
Emenda Constitucional nº 16 trouxe a possibilidade IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta
de reeleição para o chefe dos Poderes Executivos fede- ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;
ral, estadual, distrital e municipal. Ao contrário do sis- V - improbidade administrativa, nos termos do art.
474 tema americano de reeleição, que permite apenas a 37, § 4º.
Acerca da suspensão de direitos políticos importa O art. 17 também diz respeito ao regime democrá-
destacar o seguinte: tico, que tem no povo a única fonte de legitimidade
do poder, ou seja, a fonte da qual emana todo poder.
Súmula 9, do TSE: A suspensão de direitos políti- O regime democrático pode ser exercido de três
cos decorrente de condenação criminal transitada formas:
em julgado cessa com o cumprimento ou a extinção
da pena, independendo de reabilitação ou de prova
z De forma direta: pelo próprio povo;
de reparação dos danos.
z De forma indireta: pelos representantes do povo;
Ainda, acerca da suspensão de direitos políticos, o z De forma semidireta ou participativa: pela combi-
Supremo Tribunal Federal manifesta: nação dos dois critérios.

A suspensão de direitos políticos prevista no art. O regime democrático brasileiro possui caracte-
15, III, da Constituição Federal, aplica-se no caso rísticas da forma indireta e da forma direta. A demo-
de substituição da pena privativa de liberdade pela cracia indireta é exercida pelo voto, haja vista que o
restritiva de direitos. STF. Plenário. RE 601182/MG, povo é o titular do poder de sufrágio. O voto possui
Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexan- caráter universal, ou seja, todos podem votar, além
dre de Moraes, julgado em 8/5/2019 (repercussão de ser direto e secreto, com igual valor, na localida-
geral) (Info 939). de do domicílio eleitoral. O povo participa da esco-
lha dos representantes políticos federais, estaduais e
Por fim, concluindo o assunto de direitos políticos,
municipais (Poder Executivo e Legislativo).
veja o que dispõe o art. 16 da CF:
A democracia direta é exercida por plebiscito,
referendo e iniciativa popular (incisos I, II e III, art.
Art. 16 A lei que alterar o processo eleitoral entra-
rá em vigor na data de sua publicação, não se apli- 14, da CF, de 1988), bem como por iniciativa compar-
cando à eleição que ocorra até um ano da data tilhada (incisos XXXVIII e LXXIII, art. 5º; XII e XIII, art.
de sua vigência. 29; § 3º, art. 37; § 2º, art. 74; art. 187; VII, § único, art.
194; II, art. 204; VI, art. 206, e art. 224, da CF, de 1988).
PARTIDOS POLÍTICOS A diferença entre o plebiscito e o referendo é que,
no plebiscito, a população é chamada para se mani-
Os partidos políticos encontram-se disciplinados festar antes de o Estado elaborar a lei. Exemplo: o ple-
no Título II, da Constituição Federal, de 1988, que trata biscito de 1993, em que a população escolheu entre
sobre os direitos e garantias fundamentais. monarquia e república e entre parlamentarismo e
Depreende-se por partidos políticos a pessoa jurí- presidencialismo. Por outro lado, no referendo o
dica de direito privado que tem por objetivo assegurar Estado faz a legislação e depois a submete à popula-
e defender os direitos de uma determinada parcela da ção. Exemplo: Estatuto do Desarmamento.
população. Em síntese, partido político é aquele for- Outro ponto importante refere-se ao pluriparti-
mado por diversas pessoas unidas em prol de ideali- darismo, que é um dos fundamentos da República
zações políticas e sociais comuns. Federativa do Brasil (V, art. 1º, CF, de 1988). Assim,
Vejamos o que estabelece a CF, de 1988: para assegurar o regime democrático e a representa-
tividade na defesa dos direitos fundamentais, devem
Art. 17 É livre a criação, fusão, incorporação coexistir diversas entidades formadas pela livre asso-
e extinção de partidos políticos, resguardados a ciação de pessoas e com ideologias comuns.
soberania nacional, o regime democrático, o Como consequência, a defesa dos direitos fun-
pluripartidarismo, os direitos fundamentais damentais pode ser efetivada por poderem coexistir
da pessoa humana e observados os seguintes diversos pensamentos e posicionamentos.
preceitos: Importante mencionar que o caput do art. 17 tra-
I - caráter nacional;
ta da liberdade na criação, fusão, incorporação e
II - proibição de recebimento de recursos finan-

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL


extinção, ou seja, o partido é livre para definir sua
ceiros de entidade ou governo estrangeiros ou de
subordinação a estes;
criação, fusão, incorporação e extinção. No entanto,
III - prestação de contas à Justiça Eleitoral; existem preceitos a serem observados, como o caráter
IV - funcionamento parlamentar de acordo com nacional do partido político (não é possível a existên-
a lei. cias de partidos regionais ou locais), a proibição de
recebimento de recursos financeiros de entidade ou
O art. 17 correlaciona a importância dos partidos governo estrangeiros ou de subordinação a estes (o
políticos à soberania nacional, ou seja, ao poder do partido político trata de interesse nacional, de modo
Estado de, como uma unidade de decisão em um terri- que não pode possuir qualquer vínculo com outro
tório, estabelecer o que é de sua competência e o que Estado), a prestação de contas à Justiça Eleitoral (que
não lhe cabe decidir. traça suas regras) e o funcionamento parlamentar de
A soberania pode ser concebida sob duas óticas: a acordo com a lei.
soberania interna representa o poder do Estado em Lembre-se: a Lei que disciplina os partidos políti-
relação às pessoas e coisas em seu interior (pode-se cos é a Lei nº 9.096, de 1995.
dizer o direito de impor suas regras dentro do seu ter- Observa-se, entretanto, que, embora a CF, de 1988,
ritório). Já a soberania externa representa a igualda- tenha assegurado a livre criação, fusão e incorpora-
de jurídica conferida aos Estados (todos os países são ção de partidos políticos, esta não é absoluta, visto que
juridicamente iguais e possuem direitos e obrigações). se encontra condicionada aos princípios do sistema
democrático-representativo e do pluripartidarismo. 475
Como consequência, são consideradas constitucio- A cláusula de barreira estabeleceu, por exemplo,
nais as normas que fortalecem o controle quantitativo novas normas de acesso dos partidos políticos aos
e qualitativo dos partidos, se não houver afronta ao recursos do Fundo Partidário, bem como ao tempo de
princípio da igualdade ou causar qualquer ingerência propaganda eleitoral gratuita no rádio e televisão. Tal
em seu funcionamento interno. desempenho eleitoral exigido às legendas partidárias
será aplicado de forma gradual até ser concretizado
Art. 17 [...] nas eleições de 2030, nos termos da EC nº 97, de 2017.
§ 1º É assegurada aos partidos políticos auto-
Há de se mencionar, ainda, a vedação à celebra-
nomia para definir sua estrutura interna e
ção de coligações nas eleições proporcionais, prevista
estabelecer regras sobre escolha, formação
e duração de seus órgãos permanentes e pro- no parágrafo 1º, do art. 17, e que esta, nos termos da
visórios e sobre sua organização e funciona- EC n° 97, de 2017, começou a ser aplicada a partir das
mento e para adotar os critérios de escolha e o eleições de 2020.
regime de suas coligações nas eleições majori- A EC nº 97, de 2017, gerou, ainda, o fim das coliga-
tárias, vedada a sua celebração nas eleições ções nas eleições proporcionais a partir das eleições
proporcionais, sem obrigatoriedade de vincu- de 2020. Consequentemente, somente é possível haver
lação entre as candidaturas em âmbito nacio- coligações nas eleições majoritárias, ou seja, para os
nal, estadual, distrital ou municipal, devendo
cargos de Presidente, Governador, Prefeito e Senador.
seus estatutos estabelecer normas de disciplina e
fidelidade partidária. Art. 17 [...]
§ 2º Os partidos políticos, após adquirirem perso-
Se o caput do art. 17 assegura a liberdade para nalidade jurídica, na forma da lei civil, regis-
criação dos partidos políticos, o parágrafo 1° traz a trarão seus estatutos no Tribunal Superior
cláusula de barreira, também chamada de cláusu- Eleitoral.
la de desempenho, que se refere à necessidade de
desempenho mínimo do partido para que ele conti- Por ser uma pessoa jurídica de direito privado, os
nue existindo. partidos políticos adquirem sua personalidade jurí-
Neste ponto, fazem-se necessárias algumas obser- dica com seu registro em cartório de registros civis,
vações. A princípio, o art. 13, da Lei nº 9.096, de 1995, nos termos do parágrafo 2°, do art. 17.
disciplinava a cláusula de barreira nos seguintes A natureza de pessoa jurídica de direito privado
termos: também consta no art. 1º, da Lei n° 9.096, de 1995.
Lei nº 9.096, de 1995 Assim, o partido político será criado de acordo com a
Art. 13 Tem direito a funcionamento parlamentar, lei civil, ou seja, o Código Civil e a Lei n° 6.015, de 1973
em todas as Casas Legislativas para as quais tenha (Lei de Registros Públicos).
elegido representante, o partido que, em cada elei- Verifica-se, ainda, a necessidade de registro do
ção para a Câmara dos Deputados obtenha o apoio estatuto no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas
de, no mínimo, cinco por cento dos votos apurados, atenção: o registro no TSE não constitui o partido,
não computados os brancos e os nulos, distribuí- pois sua natureza é apenas administrativa.
dos em, pelo menos, um terço dos Estados, com um
Os requisitos para fundação de partidos políticos
mínimo de dois por cento do total de cada um deles.
encontram-se disciplinados na Lei nº 9.096, de 1995, e
No entanto, em dezembro de 2006, o Supremo Tri- na Resolução do TSE nº 23.465, de 2015.
bunal Federal (STF), na Ação Direta de Inconstitucio-
nalidade (ADI) n° 1.351, considerou que o art. 13, da
Lei nº 9.096, de 1995, era inconstitucional por violar o Importante!
fundamento do pluralismo político, uma vez que o art.
O art. 7º, da Lei nº 9.096, de 1995, repetiu o pará-
17 assegurava a liberdade para criação dos partidos
grafo 2° no que se refere à aquisição da perso-
políticos de forma igualitária, ou seja, todos os parti-
dos eram iguais, independentemente de tamanho e nalidade jurídica. No entanto, o parágrafo 1º, do
ideologia, de modo a não existir partidos de 1ª e 2ª art. 7º, foi alterado pela Lei nº 13.107, de 2015,
categoria. de modo a trazer regra de limitações quanto às
Ainda no ano de 2006, foi acrescentado pela EC assinaturas e o tempo mínimo para fusão parti-
n° 52, de 2006, o parágrafo 1° ao art. 17, trazendo o dária. Como consequência, foi ajuizada no STF a
fim da verticalização, ou seja, de que nas candidatu- ADI nº 5311. O STF considerou que a norma era
ras federais, estaduais e municipais os partidos sejam constitucional e que fortalecia o controle quanti-
obrigados a se unirem ou se enfrentarem. Portanto, se tativo e qualitativo dos partidos. Posteriormen-
dois partidos decidiram se enfrentar no plano federal,
te, a Lei nº 13.165, de 2015, alterou o parágrafo,
nada impede que, no âmbito estadual, eles possam se
unir. Trata-se da necessidade de maior liberdade das de modo a incluir a necessidade, para a criação
agremiações políticas. de partidos políticos, de assinaturas diferentes,
Pouco mais de dez anos após a inclusão do pará- como mecanismo de evitar que se conseguis-
grafo 1°, a Emenda Constitucional (EC) n° 97, de 2017, se a quantidade necessária para criação de um
alterou o dispositivo e acrescentou a ele a cláusula de partido político e, posteriormente, as mesmas
barreira, que era apenas uma previsão legal (decla- pessoas criassem outros partidos decorrentes
rada como inconstitucional), para a Constituição deste primeiro.
Federal, trazendo, assim, a possibilidade de sua imple-
mentação. Trata-se do denominado ativismo congres-
476 sual ou efeito backlash.
Art. 17 [...] eleição e não o resultado da última eleição. Exemplo: o
§ 3º Somente terão direito a recursos do fundo DEM elegeu muitos deputados federais em 2014, mas
partidário e acesso gratuito ao rádio e à tele- muitos deles migraram para o PSD, que não existia
visão, na forma da lei, os partidos políticos que nessa eleição. Assim, se prevalecesse a tese da eleição
alternativamente: anterior, o DEM teria muito tempo de rádio, enquanto
I - obtiverem, nas eleições para a Câmara dos o PSD não teria nenhum.
Deputados, no mínimo, 3% (três por cento) dos É importante lembrar que as sátiras e crônicas
votos válidos, distribuídos em pelo menos um envolvendo os políticos, de acordo com o STF, são
terço das unidades da Federação, com um míni- possíveis por decorrerem do direito à liberdade de
mo de 2% (dois por cento) dos votos válidos em expressão.
cada uma delas; ou
II - tiverem elegido pelo menos quinze Deputa- Art. 17 [...]
dos Federais distribuídos em pelo menos um ter- § 4º É vedada a utilização pelos partidos políti-
ço das unidades da Federação. cos de organização paramilitar.

O parágrafo 3°, do art. 17, disciplina a forma de dis- O parágrafo 4°, do art. 17, veda a utilização pelos
tribuição dos recursos do fundo partidário e direito partidos políticos de organização paramilitar. O
de antena. De acordo com o dispositivo, a distribui- objetivo do dispositivo é impedir que o poder polí-
ção do dinheiro proveniente do fundo partidário e a tico seja adquirido pela força e não pelas ideologias
divisão de tempo de rádio e TV leva em consideração e pelos posicionamentos, de modo a garantir que as
a representação do partido na Câmara dos Deputados. regras democráticas sejam respeitadas.
O Fundo Partidário é um Fundo Especial de Assis- Complementando esse parágrafo, o art. 6º, da Lei
tência Financeira aos Partidos Políticos que tenham nº 9.096, de 1995, assim estabelece:
seu estatuto registrado no TSE, bem como a prestação
Art. 6º É vedado ao partido político ministrar ins-
de contas regular perante a Justiça Eleitoral. Ele, que é
trução militar ou paramilitar, utilizar-se de organi-
a principal fonte de verbas dos partidos, é constituído
zação da mesma natureza e adotar uniforme para
por dotações orçamentárias da União, multas, penali- seus membros.
dades, doações e outros recursos financeiros estabele-
cidos no art. 38 da Lei n° 9.096, de 1995. Estes valores Portanto, ao regulamentar esse dispositivo cons-
são repassados aos partidos políticos por meio do art. titucional, a Lei nº 9.096, de 1995, também proibiu
41-A da Lei n° 9.096, de 1995, que assim estabelece: que partido político ministrasse instrução militar
ou paramilitar, bem como utilizasse de organização
Lei nº 9.096, de 1995 da mesma natureza ou adotasse uniforme para seus
Art. 41-A Do total do Fundo Partidário: membros.
I - 5% (cinco por cento) serão destacados para
entrega, em partes iguais, a todos os partidos que Art. 17 [...]
atendam aos requisitos constitucionais de acesso § 5º Ao eleito por partido que não preencher
aos recursos do Fundo Partidário; e os requisitos previstos no § 3º deste artigo é asse-
II - 95% (noventa e cinco por cento) serão distribuí- gurado o mandato e facultada a filiação, sem
dos aos partidos na proporção dos votos obtidos na perda do mandato, a outro partido que os
última eleição geral para a Câmara dos Deputados. tenha atingido, não sendo essa filiação considera-
Parágrafo único. Para efeito do disposto no inciso da para fins de distribuição dos recursos do fundo
II, serão desconsideradas as mudanças de filiação partidário e de acesso gratuito ao tempo de rádio e
partidária em quaisquer hipóteses. de televisão.
Outro ponto importante é a vedação de doação a
campanhas por pessoas jurídicas. Assim, passou a Neste ponto, é importante tratar da fidelidade par-
ser proibido que empresas doassem quantidades de tidária. A parte final do § 1º, art. 17, da CF, de 1988, dá
dinheiro ou bens para patrocinar a campanha política autonomia aos partidos políticos para estabelecerem
dos pretensos candidatos. normas a respeito da fidelidade e disciplina partidá-

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL


Se a doação de pessoas jurídicas à campanha é rias. Em síntese, considera-se infidelidade partidária
proibida, o STF entendeu que esta vedação não se quando alguém muda de partido sem motivo justifica-
estende às pessoas físicas, desde que identificadas. do. Tal transferência de legenda pode ou não ensejar
Ressalta-se, todavia, que o Congresso Nacional criou, na perda o cargo eletivo.
então, a figura do doador oculto, que, por sua vez,
também foi proibida pelo STF. Dica
Importante mencionar, ainda, as regras nos
debates eleitorais e a possibilidade de convite por Puxador de votos
emissoras. Antes, prevalecia a regra de que caso os O STF posiciona-se no sentido de que é possível
partidos não possuíssem o número mínimo de repre- existir o fenômeno do “puxador de votos” (can-
sentantes na Câmara dos Deputados, mas possuíssem didato que, em razão do quociente eleitoral para
um candidato forte e que estivesse bem colocado na as eleições proporcionais, recebe número de
disputa eleitoral, este somente poderia participar dos
votos suficiente para eleger outros candidatos),
debates se todos os outros candidatos concordassem.
Ocorre, porém, que o STF relativizou a regra e permi- porém os candidatos a serem “puxados” devem
tiu que o convite de participação nos debates poderia demonstrar um mínimo de desempenho, ou seja,
partir das próprias emissoras. devem demonstrar o mínimo de 1/10 do quo-
No que se refere à representação, o STF entende ciente eleitoral.
que o tempo a ser considerado é o da representação
do partido na Câmara dos Deputados às vésperas da 477
Art. 17 [...] ordem jurídica soberana, que tem por fim o bem comum
§ 6º Os Deputados Federais, os Deputados de um povo situado em determinado território”.
Estaduais, os Deputados Distritais e os Verea- Soberania é o poder político supremo e indepen-
dores que se desligarem do partido pelo qual dente que o Estado detém, consistente na capacidade
tenham sido eleitos perderão o mandato, salvo para editar e reger suas próprias normas e seu orde-
nos casos de anuência do partido ou de outras namento jurídico.
hipóteses de justa causa estabelecidas em lei, A finalidade consiste no objetivo maior do Estado,
não computada, em qualquer caso, a migração de que é o bem comum, conjunto de condições para o
partido para fins de distribuição de recursos do desenvolvimento integral da pessoa humana.
fundo partidário ou de outros fundos públicos e de
Povo é o conjunto de indivíduos, em regra, com um
acesso gratuito ao rádio e à televisão.
objetivo comum, ligados a um determinado território
pelo vínculo da nacionalidade.
Por fim, o parágrafo 6º trata das hipóteses de perda Território é o espaço físico dentro do qual o Esta-
de mandato. A princípio, o STF adotava o posiciona- do exerce seu poder e sua soberania. Onde o povo se
mento de que o mandato pertencia ao partido políti- estabelece e se organiza com ânimo de permanência.
co, ou seja, se o político saísse do partido pelo qual foi A Constituição de 1988 adotou a forma republica-
eleito, o seu mandato seria perdido. Posteriormente, o na de governo, o sistema presidencialista de gover-
STF mudou de entendimento no que se refere às elei- no e a forma federativa de Estado. Note tratar-se de
ções majoritárias (presidente, governador, prefeito e
senador), uma vez que os eleitores votam no político, três definições distintas.
e não no partido. Como consequência, a fidelidade CHEFIA DE ESTADO E CHEFIA DE GOVERNO
partidária passou a ser aplicada somente nas eleições
proporcionais (deputados federais, estaduais, distri- O Brasil adota o presidencialismo, que tem unifi-
tais e vereadores). cadas na figura do Presidente da República as funções
Complementando o dispositivo, o art. 26, da Lei nº do Chefe de Estado e Chefe de Governo. Portanto, o
9.096, de 1995, estabelece: Poder Executivo brasileiro é monocrático.
Como chefe de Estado, o presidente representa o
Art. 26 Perde automaticamente a função ou car- país nas suas relações internacionais e como chefe de
go que exerça, na respectiva Casa Legislativa, em governo exerce a liderança nacional, gerindo o país
virtude da proporção partidária, o parlamentar política e administrativamente.
que deixar o partido sob cuja legenda tenha
sido eleito.

Importante é trazer alguns exemplos de exceções


à perda do mandato. O ex-deputado Clodovil Her- DEFESA DO ESTADO E DAS
nandes foi eleito por um partido. No entanto, durante INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS
seu mandato, sofreu situação de grave perseguição
pessoal devido à sua orientação sexual. Por esta razão, SEGURANÇA PÚBLICA E ORGANIZAÇÃO DA
Clodovil migrou de partido. Analisando o caso, o STF SEGURANÇA PÚBLICA
entendeu que, quando Clodovil trocou de partido, ele
não perdeu o mandato, uma vez que foi reconhecida a A segurança pública é dever do Estado, direito e
grave perseguição. No entanto, após o seu falecimen- responsabilidade de todos, a qual objetiva a preserva-
to, o STF fixou o posicionamento de que a vaga não ção da ordem pública e da incolumidade de pessoas e
seria do partido que o recebeu, mas, sim, do partido do patrimônio, conforme consagra o art. 144 do texto
que o elegeu. Já o deputado Alexandre Frota foi expul- constitucional.
so do partido pelo qual foi eleito, porém a expulsão É exercido por meio de órgãos federais e esta-
não acarretou a perda do mandato e o deputado man- duais como a polícia federal, polícia rodoviária fede-
teve-se no cargo em outro partido. ral, polícia ferroviária federal, polícias civis, polícias
militares, o corpo de bombeiros militares e as polícias
penais federal, estadual e distrital, esta última acres-
centada pela Emenda Constitucional nº 104, de 2019.
Conforme o § 8º do art. 144 da CF os municípios
PODER EXECUTIVO podem constituir guardas municipais destinados à pro-
teção de seus bens, serviços e instalações (deve atuar
FORMA E SISTEMA DE GOVERNO
somente na municipalidade). Cuidado! Esse órgão não
integra a estrutura de segurança pública para exercer
A origem de um Estado pode se dar de forma a função de polícia ostensiva.
natural, religiosa (Estado criado por Deus), pela for- Para o STF os órgãos que compõe a segurança
ça e domínio dos mais fortes sobre os mais fracos, pública estão relacionados nos incisos I ao VI do art.
pelo agrupamento de famílias, de forma contratual, 144 da CF, sendo esse rol taxativo, ou seja, não podem
de forma derivada: por união, quando dois estados os municípios ou estados criarem outros órgãos para
soberanos se unem formando um só novo estado, ou integrarem à segurança pública.
fracionamento, quando um estado se divide em dois
novos estados independentes, ou de forma atípica, a Art. 144 A segurança pública, dever do Estado,
exemplo do Vaticano e de Israel. direito e responsabilidade de todos, é exercida para
São elementos constitutivos do Estado: a soberania, a a preservação da ordem pública e da incolumidade
finalidade, o povo e o território. Assim, Dalmo de Abreu das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes
478 Dallari (apud Lenza, 2019, p. 719) define Estado como “a órgãos:
I - polícia federal; Art. 144 [...]
II - polícia rodoviária federal; III - exercer as funções de polícia marítima, aero-
III - polícia ferroviária federal; portuária e de fronteiras;
IV - polícias civis; IV - exercer, com exclusividade, as funções de polí-
V - polícias militares e corpos de bombeiros cia judiciária da União.
militares.
VI - polícias penais federal, estaduais e distrital. z Polícia Rodoviária Federal (art. 144, § 2º da CF)
é órgão permanente, organizado e mantido pela
Sobre o Departamento de Trânsito o STF já manifestou: União, tem como função o patrulhamento ostensi-
Os Estados-membros, assim como o Distrito Fede- vo das rodovias federais;
ral, devem seguir o modelo federal. O art. 144 da Cons- z Polícia Ferroviária Federal (art. 144, § 3º da CF)
tituição aponta os órgãos incumbidos do exercício da é órgão permanente, organizado e mantido pela
segurança pública. Entre eles não está o Departamen- União, tem como função o patrulhamento ostensi-
to de Trânsito. Resta, pois, vedada aos Estados-mem- vo das ferrovias federais.
bros a possibilidade de estender o rol, que esta Corte
já firmou ser numerus clausus, para alcançar o Depar- A Polícia Ferroviária Federal surgiu no Brasil em
tamento de Trânsito. 1852 por Decreto Imperial, nessa época era denomi-
[ADI 1.182, voto do rel. min. Eros Grau, j. 24-11- nada como “Polícia dos Caminhos de Ferro” e tinha o
2005, P, DJ de 10-3-2006.] objetivo de cuidar das riquezas que eram transporta-
Vide ADI 2.827, rel. min. Gilmar Mendes, j. 16-9- das pelos trilhos de ferro.
2010, P, DJE de 6-4-2011 Entretanto, apesar de ter autorização na atual
Serviços da segurança pública são custeados constituição, hoje essa polícia não existe de fato.
mediante impostos, sendo que não é permitida a cria-
ção de taxa para esta finalidade, ainda, a remunera- z Polícias Civis (art. 144, § 4º da CF) são dirigidas
ção dos servidores será exclusivamente por subsídio por delegados de carreiras e subordinadas aos
fixado em parcela única, na forma do § 4º do art. 39 Governadores dos estados ou DF têm função de
da CF, de 1988. polícia judiciária (exercício da segurança pública)
e apuração de infrações penais, salvo as militares.
Art. 39 A União, os Estados, o Distrito Federal e
os Municípios instituirão conselho de política de
Art. 144 [...]
administração e remuneração de pessoal, integra-
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de
do por servidores designados pelos respectivos
polícia de carreira, incumbem, ressalvada a compe-
Poderes. [...]
tência da União, as funções de polícia judiciária e a
§ 4º O membro de Poder, o detentor de mandato
apuração de infrações penais, exceto as militares.
eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários
Estaduais e Municipais serão remunerados exclu-
sivamente por subsídio fixado em parcela úni- Fique atento que o art. 144 § 4º não menciona a ati-
ca, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, vidade penitenciária como atividade da polícia civil.
adicional, abono, prêmio, verba de representação A Constituição do Brasil – art. 144, § 4º – define
ou outra espécie remuneratória, obedecido, em incumbirem às polícias civis “as funções de polícia
qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI. judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as
militares”. Não menciona a atividade penitenciária,
z Polícia Federal (art. 144, § 1º da CF) é órgão per- que diz com a guarda dos estabelecimentos prisionais;
manente, organizado e mantido pela União. Exer- não atribui essa atividade específica à polícia civil.
ce a função de polícia judiciária da União, que está (STF. ADI 3.916, rel. min. Eros Grau, DJE de 14-5-2010)
disposto nos incisos I ao IV, vejamos:
z Polícias militares e Corpo de Bombeiros Militar
Art. 144 [...] (art. 144, § 5º da CF): as polícias militares cabem
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão à polícia ostensiva sendo atribuído a preservação
permanente, organizado e mantido pela União e da ordem pública e ao corpo de bombeiros milita- NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
estruturado em carreira, destina-se a: res objetivam a execução das atividades de defesa
I - apurar infrações penais contra a ordem polí- civil, prevenção e combate a incêndios, buscas e
tica e social ou em detrimento de bens, serviços e
salvamentos públicos.
interesses da União ou de suas entidades autárqui-
cas e empresas públicas, assim como outras infra-
ções cuja prática tenha repercussão interestadual Ainda, conforme consagra § 6º do art. 144 da CF
ou internacional e exija repressão uniforme, segun- ambos “subordinam-se, juntamente com as polícias civis
do se dispuser em lei; e as polícias penais estaduais e distrital, aos Governado-
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entor- res dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios”.
pecentes e drogas afins, o contrabando e o desca-
minho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros
z Polícias Penais Federal, estaduais e distrital
órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;
(art. 144 § 5º-A) foi incluído pela Emenda Consti-
Conforme considerações do STF, na busca e apreen- tucional nº 104 de 2019, às polícias penais cabe à
são de tráfico de drogas o cumprimento da ordem segurança dos estabelecimentos penais, vincula-
judicial pela polícia militar não contamina o flagrante das ao órgão administrador do sistema penal da
e a busca e apreensão realizadas. unidade federativa a que pertencem.

479
Ou seja, deve-se atingir maior número possível de
ORDEM SOCIAL pessoas necessitadas de acordo com a possibilidade
econômica do sistema da seguridade social.
BASE E OBJETIVOS DA ORDEM SOCIAL
Art. 194 [...]
A ordem social está consagrada no Título VIII da IV - irredutibilidade do valor dos benefícios;
Constituição, e tem como base o princípio do trabalho Todos os benefícios decorrentes da seguridade
e como objetivo o bem estar e a justiça sociais, é uma social devem ser irredutíveis.
extensão dos direitos fundamentais previstos no Títu-
Art. 194 [...]
lo II da Constituição.
V - equidade na forma de participação no custeio;
A ideia é valorizar o trabalho humano e preservar
a livre iniciativa, buscando um equilíbrio para as rela- Em suma, é a participação que cada contribuin-
ções sociais, garantindo a todos uma existência digna. te deve fazer com a seguridade social conforme sua
O conteúdo da ordem social foi relacionado em capacidade contributiva.
oito Capítulos na Constituição, são temas que abor- Art. 194 [...]
dam diversos outros ramos do direito. Nesse sentido, VI - diversidade da base de financiamento, identi-
o professor José Afonso da Silva preleciona: ficando-se, em rubricas contábeis específicas para
cada área, as receitas e as despesas vinculadas a
A Constituição deu bastante realce à ordem social. ações de saúde, previdência e assistência social,
Forma ela com o título dos direitos fundamentais o preservado o caráter contributivo da previdência
núcleo substancial do regimento democrático instituí- social;
do. Mas é preciso convir que o título da ordem social
misturou assuntos que não se afinam com essa natu- A seguridade será financiada por toda a sociedade,
reza. Jogaram-se aqui algumas matérias que não tem sendo que não terá apenas uma fonte de renda.
um conteúdo típico de ordem social. (Curso de Direito
Art. 194 [...]
Constitucional Positivo, 2017, p. 844)
VII - caráter democrático e descentralizado da
administração, mediante gestão quadripartite,
Os assuntos abordados no Título VIII são: segurida- com participação dos trabalhadores, dos empre-
de social (art. 194 a 204); educação, cultura e deporto gadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos
(art. 205 a 217); ciência e tecnologia (art. 218 e 219); colegiados;
comunicação social (art. 220 a 224); meio ambiente
(art. 225); família, criança, adolescente, jovem e idoso Desta maneira, a seguridade terá a participação
(art. 226 a 230) e dos índios (art. 231 a 232). Passaremos democrática e uma gestão descentralizada.
à análise desses assuntos ao decorrer deste capítulo. Conforme dispõe o art. 195, a seguridade social
será financiada por toda a sociedade, nos termos da
SEGURIDADE SOCIAL lei, sendo direta (mediante o pagamento das contri-
buições sociais) ou indireta (previsão na lei orçamen-
A seguridade social assegura os direitos relativos à tária anual) e mediante recursos provenientes da
saúde, à previdência e à assistência social, é um con- União, estados, DF e municípios e das contribuições
junto de ações dos poderes públicos e da sociedade, sociais:
consagrada nos arts. 194 a 204 da CF.
Art. 195 [...]
I - do empregador, da empresa e da entidade
SEGURIDADE SOCIAL
a ela equiparada na forma da lei, incidentes
Saúde Previdência Social Assistência Social sobre:
Art. 196 a 200 Art. 201 a 202 Art. 203 a 204 a) a folha de salários e demais rendimentos do
trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à
Os objetivos da seguridade social são de observân- pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vín-
cia obrigatória e estão enumerados nos incisos do art. culo empregatício;
b) a receita ou o faturamento;
194 da CF. A seguir segue os dispositivos mencionados
c) o lucro;
seguido de breve explicação. II - do trabalhador e dos demais segurados da
Art. 194 [...] previdência social, podendo ser adotadas alíquo-
I - universalidade da cobertura e do atendimento; tas progressivas de acordo com o valor do salário
de contribuição, não incidindo contribuição sobre
Deste modo, todas as pessoas devem ter acesso à aposentadoria e pensão concedidas pelo Regime
saúde, previdência e assistência social. Geral de Previdência Social;
Art. 194 [...] III - sobre a receita de concursos de
II - uniformidade e equivalência dos benefícios e prognósticos.
serviços às populações urbanas e rurais; IV - do importador de bens ou serviços do exte-
rior, ou de quem a lei a ele equiparar. (grifos
Em resumo, não é possível discriminar ou retirar nossos)
direitos sociais do indivíduo.
FINANCIAMENTO - DA SEGURIDADE SOCIAL
Art. 194 [...]
III - seletividade e distributividade na prestação dos DIRETA INDIRETA
benefícios e serviços; Contribuições Sociais Recursos Orçamentários

480
NOS TERMOS DA LEI z Considerações do STF sobre o Coronavírus: ADI
Recursos provenientes dos Contribuições sociais 926 e ADPF 672
orçamentos Art. 195, I e II, III e IV da CF
� Empregador, da empresa
e da entidade a ela equi-
parada na forma da lei
z Trabalhador e dos demais
� União
segurados da previdência
� Estados
social
� Distrito Federal Sobre o tema, vamos relembrar conforme estuda-
z Sobre a receita de concur-
� Municípios
sos de prognósticos mos no decorrer deste material sobre a ADI 926, de
z Importador de bens ou 2020 e ADPF 672, ações que deram origem as conside-
serviços do exterior, ou de
rações do STF sobre a repartição das competências em
quem a lei a ele equiparar
face da pandemia do covid-19.
Os legitimados da ADI 926, de 2020, sustentaram
Saúde
que a redistribuição de poderes de polícia sanitária
A Saúde é direito de todos e dever do Estado, regu- introduzida pela MP na Lei Federal 13.979, de 2020,
lamentada no art. 196 da CF e pela Lei nº 8.080, de interferiu no regime de cooperação entre os entes
1990, dispositivos que visam garantir mediante políti- federativos. Ainda, alegaram que essa centraliza-
cas sociais e econômicas conjunto de ações do Estado ção de competência esvazia a responsabilidade
destinados à redução de riscos relativos de doenças e constitucional de estados e municípios para cuidar
suas consequências. A saúde não tem natureza contri- da saúde, dirigir o Sistema Único de Saúde e execu-
butiva, ou seja, deverá ser prestada a quem precisar e tar ações de vigilância sanitária e epidemiológica.
independe de pagamento, desse modo ficam sujeitos Assim, ao apreciar o caso em tela, o Ministro Marco
ao controle, fiscalização e regulamentação do poder Aurélio, em decisão monocrática, considerou que a
público, ou seja, são de relevância pública. redistribuição de atribuições pela MP 926, de 2020
O poder público cumpre seu dever na relação não afasta a competência concorrente dos entes
jurídica da saúde através do sistema único de saúde, federativos, ou seja, entendeu que a distribuição de
sendo um conjunto de ações e serviços organizado de atribuições prevista na Medida Provisória não contra-
acordo com a descentralização, atendimento integral
ria a Constituição Federal, pois as providências não
e com a participação da comunidade.
afastaram atos a serem praticados pelos demais entes
Ainda, conforme art. 200 da CF, compete ao siste-
ma único de saúde o controle de substancias de inte- federativos no âmbito da competência comum para
resse para a saúde e outras destinadas à prestação legislar sobre saúde pública (art. 23, II da CF) (ADI
sanitária, em sua área da atuação, a Emenda Consti- 6341, rel. Min. Marco Aurélio, decisão em 24.03.2020,
tucional 85, de 2015, passou a incluir também como DJe em 26.03.2020).
competência, o desenvolvimento científico e tecnoló- Bem como, na ADPF 672 proposta pelo Conselho
gico e a inovação. Federal da OAB em face dos atos omissivos e comissi-
Conforme o § 1º, art. 198, da CF, o sistema único de vos praticados pelo Poder Executivo federal decorrente
saúde será financiado com orçamentos da seguridade da pandemia, o Ministro do STF, Alexandre de Moraes
social dos entes da Federação, além de outras fontes. em decisão monocrática considerou que no caso de cri-
Nesse sentido, o STF considerou que a responsabilida- se, como a que vivenciamos pela pandemia da covid-19
de dos entes da Federação deve ser solidária, vejamos. a cooperação entre os entes federativos são de suma
importância para a defesa do interesse público. Assim,
EMENTA DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMI- reconheceu e assegurou que os Estados e Municípios
NISTRATIVO DIREITO À SAÚDE. TRATAMENTO
tem competência para manutenção das medidas res-
MÉDICO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DOS
ENTES FEDERADOS. CONSONÂNCIA DA DECI- tritivas durante a pandemia, como por exemplo, a
suspensão das atividades de ensino e as restrições às
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
SÃO RECORRIDA COM A JURISPRUDÊNCIA CRIS-
TALIZADA NO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. atividades do comércio. (ADPF 672, rel. Min. Alexandre
RECURSO EXTRAORDINÁRIO QUE NÃO MERE- de Moraes, decisão em 08.04.2020, Dje em 15.04.2020)
CE TRÂNSITO. REELABORAÇÃO DA MOLDURA O texto constitucional autoriza gestores locais admitir
FÁTICA. PROCEDIMENTO VEDADO NA INSTÂN- agentes comunitários de saúde e agentes de combate às
CIA EXTRAORDINÁRIA. ACÓRDÃO RECORRIDO epidemias através de processo seletivo público, de acor-
PUBLICADO EM 11/07/2014.
do com os requisitos específicos para sua atuação. Desse
1. O entendimento adotado pela Corte de origem,
nos moldes do assinalado na decisão agravada, modo, o regime jurídico, piso salarial e as diretrizes para
não diverge da jurisprudência firmada no âmbito o plano de carreira serão dispostos em lei federal.
deste Supremo Tribunal Federal. Entender de modo O servidor que exerça funções equivalentes aos
diverso demandaria a reelaboração da moldura agentes comunitários de saúde e agentes de combate
fática delineada no acórdão de origem, o que tor- às epidemias poderá perder o cargo em caso de des-
na oblíqua e reflexa eventual ofensa, insuscetível, cumprimento de requisitos específicos (art. 198 § 6º).
como tal, de viabilizar o conhecimento do recurso Como forma de complementar o sistema único de
extraordinário.
saúde, é livre a iniciativa privada a assistência à saúde
2. As razões do agravo regimental não se mostram
aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a mediante contrato de direito público ou convênio, ten-
decisão agravada. 3. Agravo regimental conhecido do preferência às entidades filantrópicas e as sem fins
e não provido. (RE 855.178-RG, rel. min. Luiz Fux, j. lucrativos.
5-3-2015, P, DJE de 16-3-2015, Tema 793). 481
O § 2º, art. 199, veda a destinação de recursos públi- Homem - 60 (sessenta) anos
cos para auxílios ou subvenções às instituições priva- de idade
Mulher - 55 anos de idade.
das com fins lucrativos. Bem como, conforme § 3º, é Também se aplica para os
TRABALHADORES Art. 201,
vedada também a participação direta ou indireta de RURAIS § 7º, II da CF
que exerçam suas ativida-
empresas ou capitais estrangeiros na assistência à saú- des em regime de economia
familiar, nestes incluídos o
de no País, com exceção dos casos previstos em lei. produtor rural, o garimpeiro e
o pescador artesanal
Previdência Social
Referente ao tempo de serviço militar exercido
A emenda constitucional nº 103, de 2019, também pelos membros das polícias militares, corpo de bom-
chamada como reforma da previdência, trouxe diver- beiro militar, da marinha, exército, aeronáutica e ao
sas modificações ao texto constitucional, alterou o serviço militar obrigatório, terão contagem recíproca
sistema de previdência social e estabeleceu regras de para fins de inativação militar ou aposentadoria, e a
transição e disposição transitórias. compensação financeira será devida entre as receitas
Conforme o art. 201 das CF, a previdência social de contribuição referentes aos militares e as receitas
de contribuição aos demais regimes, conforme deter-
será organizada sob forma de regime geral, de filiação
mina o § 9º-A, art. 201, da CF.
obrigatória. Ainda, a previdência social tem nature-
za contributiva, ou seja, destinada apenas para quem Para os trabalhadores de baixa renda o texto
contribui, devendo ser observado os critérios que pre- constitucional também prevê a inclusão de alíquotas
servem o equilíbrio financeiro e atuarial. diferenciadas, bem como aos que se encontram em
A previdência social é uma espécie de seguro, situação de informalidade e ao trabalho doméstico no
que protege seus segurados de eventos como morte, âmbito de sua residência, estes serão concedidas apo-
invalidez, reclusão ou desemprego, ou seja, dos riscos sentadorias no valor de um salário-mínimo.
sociais, são prestações pecuniárias aos segurados e às Serão aposentados compulsoriamente os empre-
pessoas que contribuam para previdência. gados dos consórcios públicos, das empresas públicas,
das sociedades de economia mista e das suas subsidiá-
rias, desde que observado o cumprimento do tem-
PREVIDÊNCIA SOCIAL
po mínimo de contribuição ao atingir 70 anos de
Benefícios Serviços idade, ou aos 75 anos de idade, os servidores titu-
lares de cargos efetivos da União, dos Estados, do
É por meio do Instituto Nacional do Seguro Social Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas
– INSS que o segurado pode receber os benefícios pre- autarquias e fundações, os membros do Poder
videnciários relacionados nos incisos do art. 201 da Judiciário, do Ministério Público, das Defensorias
CF, são os seguintes: Públicas e dos Tribunais e dos Conselhos de Con-
tas, na forma da lei complementar nº 152 de 2015.
Art. 201 [...] Ainda, conforme consagra o art. 202 da CF o regi-
I - cobertura dos eventos de incapacidade temporária
me de previdência privada é facultativo e de caráter
ou permanente para o trabalho e idade avançada;
II - proteção à maternidade, especialmente à complementar, deve ser organizado de forma autôno-
gestante; ma e será regulamentado por lei complementar.
III - proteção ao trabalhador em situação de desem-
prego involuntário; Assistência Social
IV - salário-família e auxílio-reclusão para os
dependentes dos segurados de baixa renda; Assistência social se refere às políticas sociais vol-
V - pensão por morte do segurado, homem ou tadas a prover as necessidades básicas do cidadão que
mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes, dela necessitar. Consagrada na Constituição Federal
observado o disposto no § 2º.
no art. 203 e 204 e regulamentada pela Lei 8.742, de
2013, tem os seguintes objetivos:
O § 2º, mencionado no inciso V, determina que
benefícios que substituem o salário de contribuição
Art. 203 A assistência social será prestada a quem
ou o rendimento do trabalho do segurado não podem
dela necessitar, independentemente de contribui-
ter valor mensal inferior ao salário mínimo.
ção à seguridade social, e tem por objetivos:
A emenda constitucional nº 103 de 2019, dentre
I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à
outras modificações, alterou os requisitos necessários
adolescência e à velhice;
para requerimento de aposentadoria presentes no art.
II - o amparo às crianças e adolescentes carentes;
201, § 7º da Constituição. Vejamos no quadro explica-
III - a promoção da integração ao mercado de trabalho;
tivo os requisitos necessários para requerimento de IV - a habilitação e reabilitação das pessoas porta-
aposentadoria após a reforma da previdência. doras de deficiência e a promoção de sua integra-
ção à vida comunitária;
Homem - 65 anos de idade; V - a garantia de um salário mínimo de benefício
Mulher - 62 anos de idade; mensal à pessoa portadora de deficiência e ao ido-
Observado tempo mínimo de
so que comprovem não possuir meios de prover à
contribuição
Exceção: Professor que própria manutenção ou de tê-la provida por sua
TRABALHADORES Art. 201, comprove tempo de efetivo família, conforme dispuser a lei.
URBANOS § 7º, I da CF exercício das funções de ma-
gistério na educação infantil
e no ensino fundamental e Como visto, a Constituição Federal prevê a possi-
médio fixado em lei comple- bilidade de um pagamento assistencial ao deficiente
mentar: será reduzido em 5 físico ou idoso que não possa prover suas próprias
anos o requisito de idade
482 necessidades ou pelos seus familiares.
É financiada com recursos do orçamento da segu- desportivas de manifestação cultural, mas para tanto
ridade social e tem natureza não contributiva, ou seja, exige a regulamentação por lei específica que assegu-
não é um seguro social, pois não depende de contri- re o bem-estar dos animais envolvidos.
buição do beneficiário.
Art. 225 [...]
MEIO AMBIENTE § 7º Para fins do disposto na parte final do inciso
VII do § 1º deste artigo, não se consideram cruéis
O meio ambiente tem previsão no texto constitu- as práticas desportivas que utilizem animais, des-
cional no art. 225, que define o meio ambiente ecolo- de que sejam manifestações culturais, conforme o §
gicamente equilibrado como bem de uso comum do 1º do art. 215 desta Constituição Federal, registra-
povo, sendo dever do Poder Público e da coletivida- das como bem de natureza imaterial integrante do
de defender e preservar para as presentes e futuras patrimônio cultural brasileiro, devendo ser regula-
gerações. mentadas por lei específica que assegure o bem-es-
O § 1º, art. 225, prevê as medidas para assegurar a tar dos animais envolvidos.
efetividade deste direito, vejamos:
Ainda, além do meio de atuação relacionado nos
Art. 225 [...]
I - preservar e restaurar os processos ecológicos
incisos do art. 225, a Constituição também prevê con-
essenciais e prover o manejo ecológico das espécies dutas a serem observadas, por exemplo, aquele que
e ecossistemas; explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar
II - preservar a diversidade e a integridade do patri- o meio ambiente degradado (art. 225, § 2º da CF).
mônio genético do País e fiscalizar as entidades O texto constitucional também se preocupou em
dedicadas à pesquisa e manipulação de material declarar como patrimônio nacional a Floresta Ama-
genético;
zônica, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal
III - definir, em todas as unidades da Federação,
espaços territoriais e seus componentes a serem Mato-Grossense e a Zona Costeira, sua utilização será
especialmente protegidos, sendo a alteração e a na forma da lei.
supressão permitidas somente através de lei, veda- Ainda, conforme art. 225, § 5º, são indisponíveis
da qualquer utilização que comprometa a integri- as terras devolutas (terras que pertencem ao poder
dade dos atributos que justifiquem sua proteção; público sem destinação pública) ou arrecadadas pelos
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra
Estados, por ações discriminatórias, necessárias à
ou atividade potencialmente causadora de signifi-
proteção dos ecossistemas naturais.
cativa degradação do meio ambiente, estudo prévio
de impacto ambiental, a que se dará publicidade;
V - controlar a produção, a comercialização e o FAMÍLIA, CRIANÇA, ADOLESCENTE E IDOSO
emprego de técnicas, métodos e substâncias que
comportem risco para a vida, a qualidade de vida O termo “família” ao longo dos anos foi se transmu-
e o meio ambiente; dando. Trata-se, por sinal, de um tema que vem sen-
VI - promover a educação ambiental em todos os do discutido constantemente. A mais revolucionária
níveis de ensino e a conscientização pública para a mudança veio com a promulgação da Constituição Fede-
preservação do meio ambiente; ral de 1988, que ampliou o conceito de família e passou
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma
a proteger todos os seus membros de forma igualitária.
da lei, as práticas que coloquem em risco sua fun-
É inegável a transformação da estrutura familiar,
ção ecológica, provoquem a extinção de espécies ou
submetam os animais a crueldade. (grifo nosso) identificada na Carta Republicana, que se ergue como
a nova tábua valorativa das relações familiares.
O STF considerou que a prática de exercício cul- Até o advento da constituição de 1988, o reconheci-
tural que submeta aos animais à crueldade viola o mento da família estava intimamente ligado ao casa-
inciso VII do art. 225 é inconstitucional, por exemplo, mento. Segundo a maioria dos estudiosos, a família
foi declarada inconstitucional a Lei nº 15.299, de 2013 era conceituada como o conjunto de pessoas que se
do estado do Ceará que regulamentava a vaquejada, achavam vinculadas entre si pelo matrimônio, pela
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
vejamos: filiação e pela adoção.
A partir da constituição de 1988, passou-se a reco-
VAQUEJADA – MANIFESTAÇÃO CULTURAL – ANI- nhecer outras formas de constituição de família, que
MAIS – CRUELDADE MANIFESTA – PRESERVAÇÃO não exclusivamente pelo casamento, ampliando o
DA FAUNA E DA FLORA – INCONSTITUCIONALI- rol de entidades familiares, considerando também a
DADE. A obrigação de o Estado garantir a todos o união estável e a família monoparental, ainda, o tex-
pleno exercício de direitos culturais, incentivando to constitucional consagra a família como a base da
a valorização e a difusão das manifestações, não
sociedade, com especial proteção do Estado.
prescinde da observância do disposto no inciso VII
A família monoparental, por exemplo, é a família for-
do artigo 225 da Carta Federal, o qual veda práti-
ca que acabe por submeter os animais à crueldade. mada só pela mãe ou só pelo pai e seus respectivos filhos,
Discrepa da norma constitucional a denominada conforme o § 4º, art. 226, da CF.
vaquejada. (ADI 4.983, rel. min. Marco Aurélio, j. Conforme o § 4º, art. 226, da CF, que reconhece a
6-10-2016, P, DJE de 27-4-2017) família monoparental. Pedro Lenza (2020) preleciona
que, sendo assim, o Estado também deverá assegurar
Posteriormente, a Emenda Constitucional n. 96, de proteção especial às famílias instituídas por insemi-
2017 inovou ao acrescentar o § 7º ao art. 225, não con- nação artificial, produção independente e etc8.
siderando cruel a utilização de animais em práticas
8 LENZA, P. Direito Constitucional Esquematizado. 24ª ed. São Paulo, 2020, p. 1512. 483
Destarte, o Supremo Tribunal Federal, em 2011, no Mais adiante, o texto constitucional também ampa-
julgamento da ADPF n° 132/RJ e ADI n° 4.277/DF, reco- ra as pessoas idosas:
nheceu a união homoafetiva como família sob análi-
se do art. 1.723 do código civil em consonância com Art. 230 A família, a sociedade e o Estado têm o dever
a Constituição Federal, ou seja, reconheceu a união de amparar as pessoas idosas, assegurando sua par-
homoafetiva como constitucional, vejamos a ementa ticipação na comunidade, defendendo sua dignidade e
do julgamento (Considerações do STF do julgamento bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida.
mencionado já foi objeto de pergunta da banca Cespe). § 1º Os programas de amparo aos idosos serão exe-
cutados preferencialmente em seus lares.
INTERPRETAÇÃO DO ART. 1.723 DO CÓDIGO CIVIL § 2º Aos maiores de sessenta e cinco anos é garanti-
EM CONFORMIDADE COM A CONSTITUIÇÃO FEDE- da a gratuidade dos transportes coletivos urbanos.
RAL (TÉCNICA DA “INTERPRETAÇÃO CONFORME”).
RECONHECIMENTO DA UNIÃO HOMOAFETIVA Idoso é considerado pessoa com idade igual ou
COMO FAMÍLIA. PROCEDÊNCIA DAS AÇÕES. Ante a superior a 60 anos, conforme Lei nº 8.842, de 1994
possibilidade de interpretação em sentido preconcei- (Política Nacional do Idoso) e a Lei nº 10.741, de 2003
tuoso ou discriminatório do art. 1.723 do Código Civil, (Estatuto do idoso). Por conseguinte, a Lei nº 13.466, de
não resolúvel à luz dele próprio, faz-se necessária a
2017 determina a prioridade especial ao idoso maior
utilização da técnica de “interpretação conforme à
de 80 anos, devendo este ter prioridade e atendimento
Constituição”. Isso para excluir do dispositivo em
preferencial, por exemplo, nos casos de atendimento
causa qualquer significado que impeça o reconheci-
mento da união contínua, pública e duradoura entre à saúde.
pessoas do mesmo sexo como família. Reconhecimen-
to que é de ser feito segundo as mesmas regras e com ÍNDIO
as mesmas consequências da união estável heteroafe-
tiva. (ADI 4277 / DF, rel. Min. Ayres Brito, data do jul- Ordenamento jurídico brasileiro valoriza as dife-
gamento 05.05.2011, DJe 14.10.2011) renças culturais, garantindo e respeitando o modo de
vida das comunidades indígenas. O texto constitucional
O casamento civil é de celebração gratuita, sendo foi um grande avanço referente os direitos indígenas,
que, o religioso terá efeito civil, nos termos da lei. No garantindo a eles a preservação da sua organização
que tange à dissolução do casamento civil, o texto cons- social, costumes, crenças, língua e tradições.
titucional foi modificado pela Emenda Constitucional A Constituição também garantiu o direito originário
n° 66, de 2010, que então permitiu a dissolução do casa- sobre as terras que os índios tradicionalmente ocupa-
mento civil pelo divórcio, que antes só se dava após o vam, cabendo à União demarcá-las e garantir que seus
cumprimento de alguns requisitos, agora é imediato. bens sejam respeitados, sendo inalienáveis e indisponí-
É dever do Estado, da família e da sociedade asse- veis, bem como, os direitos sobre elas, imprescritíveis.
gurar com prioridade os direitos fundamentais da Determina o § 6º, art. 231, da CF, que são nulos e extin-
criança, do adolescente, do jovem, com prioridade na tos os atos que tenham por objeto a ocupação, o domínio
vida, saúde, alimentação, educação, lazer, profissiona- e a posse das terras indígenas, ou a exploração das rique-
lização, cultura, dignidade, ao respeito, à liberdade e zas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes,
à convivência familiar e comunitária (art. 227 da CF). com exceção ao relevante interesse público da União.
A Constituição também determina a promoção
de programas de assistência à criança, adolescente e
jovem, vejamos. Importante!
Art. 227 [...] É de competência exclusiva do Congresso Nacio-
§ 1º O Estado promoverá programas de assistên- nal autorizar, em terras indígenas, a exploração e o
cia integral à saúde da criança, do adolescente e do aproveitamento de recursos hídricos e a pesquisa
jovem, admitida a participação de entidades não e lavra de riquezas minerais (art. 49, XVI da CF).
governamentais, mediante políticas específicas e
obedecendo aos seguintes preceitos:
I - aplicação de percentual dos recursos públicos O art. 232 da CF, autoriza a participação dos índios
destinados à saúde na assistência materno-infantil; e as suas comunidades e organizações como partes
II - criação de programas de prevenção e atendi- legítimas para ingressar em juízo para defender seus
mento especializado para as pessoas portadoras de
interesses, com a participação do Ministério Público
deficiência física, sensorial ou mental, bem como de
integração social do adolescente e do jovem portador em todos os atos do processo.
de deficiência, mediante o treinamento para o traba-
lho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens
e serviços coletivos, com a eliminação de obstáculos
arquitetônicos e de todas as formas de discriminação.
DIREITOS HUMANOS NA
Ainda, consagra a igualdade de direitos e qualifi- CONSTITUIÇÃO FEDERAL
cação aos filhos havidos ou não do casamento ou por
adoção (art. 227, § 6º da CF). A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E OS TRATADOS
O art. 228 da CF, determina que os menores de INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS
dezoito anos são penalmente inimputáveis, ou seja,
não podem responder criminalmente, sendo que, Com a promulgação da Constituição Federal de
após verificada prática de ato infracional, estarão 1988, o Brasil foi definido como um Estado Democráti-
484 sujeitos às medidas previstas em legislação especial. co de Direito. Em razão disso, é certo que a Constituição
trouxe importantes direitos e garantias. No artigo 5º, os direitos fundamentais; nos artigos 6º ao 11, os direitos
sociais e, nos artigos 14 e 15, os direitos políticos.
A inserção desses direitos em nosso ordenamento jurídico decorre de o Brasil ter aderido a tratados e convenções inter-
nacionais, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o Pacto de Direitos Civil e Políticos da ONU e o Pacto dos
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.
O direito à vida e a preservação à integridade física e moral, bem como à liberdade e à igualdade, à propriedade e à
segurança constituem os direitos e garantias fundamentais que estão previstos no artigo 5º, caput da Constituição Federal.
Esses direitos e garantias constitucionais correspondem aos direitos humanos previstos em pactos dos quais
o Brasil tornou-se signatário. Diante disso, tornou-se necessária a inclusão desses direitos em nosso ordenamento
jurídico, o que ocorreu pela Constituição Federal de 1988.
É importante dizer que, assim como os direitos humanos, os direitos fundamentais mencionados possuem
algumas características:

São direitos garantidos a todos que estejam sob a égide, ou seja, vivendo no território
UNIVERSALIDADE
brasileiro e, portanto, sob a vigência da Constituição Federal

O titular dos direitos e garantias fundamentais não pode deles renunciar. Poderá, contudo,
IRRENUNCIÁVEL
não exercer o direito, mas jamais dele abrir mão

Ainda como consequência da característica acima, o titular de um direito fundamental


INALIENABILIDADE também não poderá aliená-lo, ou seja, não pode realizar qualquer tipo de transação
abrindo mão de seu direito, pois não há conteúdo econômico

Esses direitos são imprescritíveis. Diante disso, a qualquer tempo, aquele que sofrer lesão a
um de seus direitos ou garantias fundamentais, poderá buscar a reparação diante do Poder
IMPRESCRITIBILIDADE
Judiciário. Assim, o lapso temporal não terá o condão de impedir que a pessoa lesada bus-
que exigir a proteção de seu direito

A NATUREZA JURÍDICA DA INCORPORAÇÃO DE NORMAS INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS HUMANOS AO


DIREITO INTERNO BRASILEIRO

Diante da grandiosidade e importância dos tratados que versam sobre direitos humanos, uma importante
inovação foi trazida em 2004, com a Emenda Constitucional 45 inserida na Constituição Federal Brasileira. Este é
um assunto muito importante, por isso, atente-se à informação a seguir:
Foi acrescentado ao artigo 5º da Constituição Federal o § 3º, que passou a prever que os tratados e convenções
internacionais que versem sobre direitos humanos e fossem votados pelo Congresso Nacional – em cada uma das
Casas, em dois turnos e que obtivessem três quintos dos votos dos seus membros – serão aprovados e terão equiva-
lência a uma emenda constitucional.
Lembre-se: 2; 2; 3/5: ou seja, duas casas, sendo necessária a votação em dois turnos com a necessidade de três
quintos de votos (3/5) para sua aprovação.
Daí, vê-se a importância que se atribuiu aos direitos humanos, pois, tendo havido a adesão pelo Brasil a qual-
quer convenção ou tratado que trate de uma matéria relativa aos direitos humanos, essa regra passa a valer com
força de emenda constitucional.
Está claro que, com isso, os tratados e convenções de direitos humanos, quando ratificados pelo Brasil, ganham a mesma
relevância das normas previstas na Constituição Federal, razão pela qual devem ser cumpridos e observados por todos.

Dica
Tratados de direitos humanos ratificados pelo Brasil terão valor de norma constitucional, quando obedecido
o critério previsto no § 3º do artigo 5ºda Constituição Federal. NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

POSIÇÕES DOUTRINÁRIAS

A Posição do Supremo Tribunal Federal

Até então, o que vigorava em relação aos tratados era o § 2º do artigo 5º da Constituição Federal, que determina
o seguinte:

Art. 5º [...]
§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios
por ele adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

Não restam dúvidas que a partir desse dispositivo já estava expresso na Constituição que os tratados vigoram
sem qualquer problema no ordenamento jurídico. Mas havia certa discussão se teriam ou não status de uma nor-
ma constitucional ou infraconstitucional, ou seja, que não está prevista no texto constitucional. Entretanto, após
a emenda acima mencionada, a questão está pacificada.
Os tratados que tratem de matérias relacionadas aos Direitos Humanos, quando aprovados nos mesmos trâmites
das emendas constitucionais, gozam desse status. 485
Nesse sentido, é importante mencionar a conclu- O exercício da cidadania, portanto, é a vivência
são de Ricardo Castilho: experimentada por todos nós, cumprindo deveres de
respeito às leis e ao próximo, bem como a exigência
Em síntese, os tratados internacionais de direitos de ver nossos direitos efetivados e de participar dos
humanos, por força do art. 5º, § 2º, possuirão sempre rumos do país por meio de seus direitos políticos.
status jurídico de norma constitucional. São mate- No Brasil, a cidadania apareceu de forma muito
rialmente constitucionais, não importando se foram
tímida ao prever o direito de voto universal na Consti-
tuição de 1891 – embora com exceções àqueles que de
ratificados antes ou depois da Emenda Constitucional
fato podiam votar – e na de 1934, que trouxe o direito
n. 45. A inovação trazida pelo § 3º do dispositivo men-
de voto à mulher.
cionado diz respeito apenas à possibilidade de atri-
Porém, é de fato pela Constituição Federal (CF) de
buição de um status formalmente constitucional aos 1988 que a cidadania passou a ser efetivamente um
tratados, visto que equiparados em sua formação às valor prezado pelo ordenamento jurídico. Ela defi-
emendas constitucionais (Direitos Humanos. Sinop- ne que o Brasil constitui um Estado Democrático de
ses Jurídicas – 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2015). Direito. Em razão disso, o parágrafo único do artigo 1º
da CF define o seguinte:
Há ainda que se mencionar que o Supremo Tribu-
nal Federal firmou jurisprudência no sentido de que os Art. 1º [...]
tratados que versem sobre direitos humanos que foram Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que
incorporados ao ordenamento jurídico brasileiro antes exerce por meio de representantes eleitos ou direta-
mente, nos termos desta Constituição.
da Emenda Constitucional n.º 45, de 2004 (ou seja, sem
observar o disposto no § 3º do artigo 5ºda Constituição
Portanto, se o poder emana do povo, resta claro
Federal) terão status supralegal ou infraconstitucional.
que, por ser detentor desse poder, cabe a cada um dos
Importa dizer que a doutrina divergiu sobre o brasileiros o exercício da cidadania. Ou seja, deverá
assunto. Uma primeira corrente defendeu o que foi fazer valer seus direitos, bem como deve agir diaria-
mencionado acima, ou seja, que embora esses tratados mente de forma comprometida com sua nação.
tenham sido ratificados antes da Emenda Constitucio- É possível dizer, então, que a relação entre direitos
nal n.º 45, de 2004, deveriam ser recepcionados como humanos e cidadania ocorre quando a pessoa age em
normas equivalentes às emendas constitucionais. observância às leis do país em que vive e também bus-
Por sua vez, uma segunda corrente doutrinária ado- ca que seus direitos sejam cumpridos.
tou posicionamento pelo qual não poderia um tratado O cidadão é assim definido como aquele que pro-
de direitos humanos aprovado por quórum de lei ordi- tege o meio ambiente em que vive e também exige de
nária, ser incorporado como emenda constitucional. seus governantes a efetivação de políticas públicas
Finalmente, uma última corrente entendeu que por meio de medidas práticas que protejam reservas
ambientais, promovam a limpeza de rios, proteção da
seria possível a transformação dessa lei ordinária em
fauna e da flora, por exemplo.
norma de status constitucional, podendo ser reapre-
A cidadania também é exercida quando a popula-
ciado em consonância com o parágrafo 3º do artigo 5º. ção exerce seu direito ao voto para a escolha dos seus
Atualmente, no Brasil, os tratados de direitos humanos governantes, e também quando sai às ruas em mani-
que forem aprovados em cada Casa do Congresso Nacio- festações pacíficas contra corrupção.
nal, em dois turnos, por três quintos dos votos de seus Percebe-se, portanto, que o exercício da cidada-
membros, terão equivalência a emenda constitucional. nia está intimamente ligado aos direitos humanos. É
o meio pelo qual a pessoa dispõe para fazer com que
DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA seus direitos fundamentais sejam observados. O cida-
dão, portanto, é o sujeito que goza de direitos políticos
Mostra-se necessário verificar a relação entre os no Estado em que vive.
direitos humanos e a cidadania, sendo que ambos Como visto, a cidadania é um dos fundamentos da
devem caminhar de forma harmônica e conjunta. A República. Dessa forma, todo aquele que vive em territó-
cidadania é um dos fundamentos da República Fede- rio brasileiro tem assegurada sua cidadania. Já vimos a
rativa do Brasil, assim como a dignidade da pessoa origem dela e também como pode ser, de fato, exercida.
humana. Está assim prevista no inciso II do artigo 1º Quando falamos em direitos da cidadania, podemos
falar nos direitos fundamentais previstos na Constitui-
da Constituição Federal.
ção Federal e já mencionados, como o direito à igual-
Mas, afinal, o que é cidadania? Sua origem históri-
dade, à manifestação do pensamento, à liberdade de
ca remonta à Grécia Antiga. Tratava-se do reconheci-
consciência e de crença e à inviolabilidade do domicí-
mento atribuído àqueles detentores de direitos e que
lio. Lembre-se que o rol de direitos é muito mais exten-
participavam das decisões políticas da polis (palavra
so e está previsto no artigo 5º da Constituição Federal.
de origem grega que se refere a um modelo de cida- Também de grande importância para a cidada-
de antiga) em que habitavam. Porém, tratava-se de um nia são os direitos políticos. É por meio deles que o
atributo apenas daqueles que possuíam propriedades cidadão tem em suas mãos o poder para a escolha de
e, portanto, detinham poder para participação política. seus governantes, bem como o de se manifestar sobre
O conceito de cidadania e sua concretização tam- questões relevantes para a nação.
bém é atribuído à Revoluções Inglesas, no século XVII, e Quanto aos deveres do cidadão, incluem-se aí o res-
à Revolução Francesa, no ano de 1789. Trata-se do reco- peito às leis e também ao próximo. Isso porque, para que
nhecimento do indivíduo como membro integrante de uma pessoa faça parte de uma nação como um cidadão,
uma nação, detentor de direitos e deveres para a vida deverá também respeitar os demais, não agindo de forma
em sociedade. É aquele que goza de direitos políticos. que sua liberdade possa tolher a dos outros. A cidadania é
486 um fundamento da República Federativa do Brasil.
Aos poucos, esse direito natural e universal adqui-
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS riu contornos dentro do ordenamento jurídico de cada
DIREITOS HUMANOS Estado, passando a ser positivado, ou seja, virando
norma interna, elaborada segundo as peculiaridades e
Direitos Humanos são os direitos inerentes aos seres interesses de cada país. Foi assim na Revolução Inglesa,
humanos como um todo, independentemente de qual- com a Declaração Inglesa de Direitos, de 1689, a qual
quer condição, tais como sexo, idade, nacionalidade, consagrou a supremacia do parlamento e o império da
religião, entre outros. No entanto, tais direitos são cons- lei; na Revolução Americana, com a independência das
tantemente relativizados, por ser objeto de interpreta- colônias britânicas na América do Norte e a elaboração
ções equivocadas, normalmente ligados à proteção de da Constituição estadunidense, de 1787; e, por fim, na
grupos específicos, como, por exemplo, a proteção de Revolução Francesa, com a Declaração Francesa dos
criminosos. Todavia, não é possível reduzi-lo dessa for- Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, um marco
ma, uma vez que sua proteção é bastante abrangente. para a proteção de direitos humanos no plano nacional.
Entender que absolutamente todas as pessoas pos- No entanto, para sua plena efetivação, fazia-se
suem direitos é o primeiro passo para compreender o necessário um processo de internacionalização desses
que são os direitos humanos. Portanto, eu, você, seu direitos, o que significa dizer que era preciso que esses
vizinho, seu amigo, seu inimigo, aquele vendedor da direitos fossem normatizados pelos Estados de forma
esquina, aquela senhora que frequenta a igreja, o pas- conjunta, de modo a formar um conjunto de direitos
tor, a moça da lanchonete, o rapaz da academia e, até positivos universais. Observa-se, entretanto, que os
mesmo, os desconhecidos: todos nós somos titulares países da Europa não estavam muito interessados em
dos direitos humanos. garantir a todos, que não os europeus, a consecução
O segundo passo para entender os direitos huma- desses direitos. Se todos tivessem os mesmos direitos,
nos é abandonar os preconceitos, isto é, os conceitos como seria justificado a violência e o desrespeito no
preconcebidos, ou melhor, os conceitos invisíveis que processo de colonização? Como se justificaria o proces-
carregamos sem perceber, assim como os esterióti- so de escravidão dos povos nativos? Consequentemen-
pos, como, por exemplo, rotulações relativas ao sexo, te, até a primeira metade do século XX, todos os acordos
envolvendo generalizações sobre as capacidades físi- estavam voltados para a Europa e seus interesses.
cas, emocionais e intelectuais de mulheres e homens, Com a Segunda Guerra Mundial, muita coisa mudou.
tais como “homens são naturalmente provedores”, Primeiro, a participação importante de países de
“feministas odeiam os homens”, “filhos de pais sepa- outros continentes fizeram com que o foco deixasse de
rados são desajustados”, entre outras. recair somente na Europa. Além disso, os atos cometi-
Assim sendo, os direitos humanos não estão liga- dos durante a guerra deram ensejo a um movimento
dos a nenhum grupo, então generalizar e estereotipar de reconstrução dos direitos. Esse movimento nasceu
os direitos e as pessoas somente ajuda a perpetuar o consubstanciado na concepção de que todos os Estados
desrespeito e a impedir a igualdade, além de contri- têm a obrigação de respeitar os direitos humanos e que
buir para a propagação do desconhecimento, pois, compete à comunidade internacional a responsabilida-
quando se relativiza os direitos humanos, aqueles que de de exigir o cumprimento dessa obrigação.
deveriam lutar por seus direitos não sabem que os Surgiu, assim, o Sistema de Proteção dos Direitos
têm, muito menos sabem como se proteger. Humanos, que teve, como marco, a Declaração Uni-
Observa-se que, embora os direitos humanos sejam versal dos Direitos Humanos (DUDH), de 1948.
inerentes à própria humanidade, o Sistema de Prote- Antes de iniciar o estudo da DUDH, é preciso ter em
ção dos Direitos Humanos, que visa a assegurar a tute- mente que, para melhor compreendê-la, é primordial
la de tais direitos, é um fenômeno recente na história. entender a estrutura e identificar as ideias mais impor-
Nos primórdios, os direitos estavam atrelados ao uso tantes da Declaração. Por essa razão, é extremamente
da força, de modo que, para saber se a pessoa estava importante ler os artigos e tentar compreender os pon-
segura ou não, dependia do seu grupo estar na posi- tos mais importantes, sem precisar, contudo, decorá-los.
ção de vencedor ou vencido. Populações derrotadas Feitas essas considerações iniciais, bons estudos!
eram escravizadas e perdiam seus direitos, tanto que
o primeiro esboço de declaração de direitos huma- ESTRUTURA DA DUDH
nos foi quando o rei persa, Ciro II, após conquistar a NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Babilônia, em 539 a.C., permitiu que os povos exilados A Declaração Universal dos Direitos Humanos
regressassem as suas terras de origem. (DUDH) foi adotada e proclamada em 10 de dezem-
É possível visualizar, também, alguns esboços bro de 1948, por meio da Resolução nº 217 A III, da
de direitos humanos na Grécia e Roma Antiga, onde Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas
se consolidou a ideia de lei do mais forte, ou seja, lei (ONU). Ela não é, tecnicamente, um tratado interna-
natural, com direitos pertencentes ao ser humano por cional, sendo, apenas, uma declaração política e, não,
sua própria natureza. jurídica, que apenas delineia os direitos humanos.
Com o passar dos tempos, esse conceito de lei natu- Isso significa dizer que ela não é obrigatória? Bem,
ral foi adquirindo contornos de um direito universal, temos, aqui, dois posicionamentos doutrinários dife-
estabelecido pela própria natureza, ou seja, de um rentes. Para parte da doutrina, por não ser a DUDH
direito natural. Em princípio, estabeleceu-se no Esta- um tratado propriamente dito, ela não possui obri-
do Moderno, com a Magna Carta Inglesa (conhecida gatoriedade legal e, consequentemente, funcionaria
como Carta de João Sem Terra), de 1215, primeiro como uma espécie de recomendações aos Estados.
documento que reconheceu que ninguém pode anular É por essa razão que quem defende esse caráter
os direitos do povo, nem mesmo o rei. Posteriormente, de soft law (quase direito ou direito flexível) da DUDH
com a Petição de Direitos, de 1628, uma declaração de afirma que os direitos humanos previstos na Decla-
liberdade civis inglesa, que reafirmou alguns direitos ração somente se tornaram obrigatórios com a trans-
mínimos e limitou, também, o poder dos soberanos. formação dela em dois pactos, o Pacto Internacional 487
dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional através de políticas públicas, sendo os denominados
dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, ambos de direitos econômicos, sociais e culturais.
1966, pois apenas quando os Estados firmam o tratado Neste primeiro momento, basta entender que a
é que eles assumem os compromissos nele contidos. DUDH é uma junção de dois tipos de direitos. Quando
Em contrapartida, para outra parte da doutrina, a nosso estudo adentrar nos artigos propriamente ditos,
DUDH é uma norma jus cogens9, ou seja, uma norma as diferenças ficarão mais visíveis e será mais fácil com-
de direito internacional tida como aceita e reconheci- preender a proteção e o papel dos Estados. Então, guarde
da por todos os Estados independentemente de estar essa informação, para que ela possa ser bem compreen-
positivada ou não em tratado, sendo, por essa razão, dida quando os artigos começarem a ser analisados:
imperativa e vinculante. Deste modo, mesmo sendo
uma declaração política e não ter sido firmada pelos
Estados, os direitos contidos nela independem da
7 (sete) Considerandos
aquiescência dos Estados, por serem inderrogáveis. (Considerações)
Por exemplo, nos dias de hoje, tanto a tortura como
a escravidão são tidas como condutas inaceitáveis, de
forma que não haveria a necessidade de ser feito um
tratado pelos Estados para transformar tais condutas
em proibidas. Preâmbulo Direitos Civis e Políticos

Artigo 1° Artigos 21 e 22
Dica
Natureza jurídica da DUDH – Duas posições
doutrinárias: Direitos Econômicos,
� Recomendação (não é um tratado); Sociais e Culturais
� Norma imperativa (norma jus cogens).
Artigos 28, 29 e 30
A DUDH é composta por um preâmbulo e trinta
artigos O preâmbulo, que é a parte que precede o tex-
PREÂMBULO
to articulado da Declaração, é composto por sete Con-
siderandos (considerações).
A DUDH inovou na concepção dos direitos huma-
Diferentemente do que ocorre com o preâmbulo
nos ao introduzir algumas das características ineren-
da Constituição, sobre o qual o interesse das bancas
tes aos direitos humanos em seus Considerandos. Na
examinadoras é muito pequeno, por ter a função de
realidade, ela reafirmou os conceitos e fundamentos
servir de interpretação e integração da própria norma
que baseiam toda a sua formulação. Vejamos cada
constitucional ao reafirmar as intenções do Estado-
uma das considerações, com as características e fun-
-membro com a elaboração da Constituição, o preâm-
damentos trazidos.
bulo da DUDH traz considerações importantes, como,
por exemplo, a característica da indivisibilidade dos
Considerando que o reconhecimento da dignidade
direitos humanos e, por essa razão, é necessário ser inerente a todos os membros da família humana
estudado da mesma forma que seus artigos e de seus direitos iguais e inalienáveis é o funda-
Com relação aos artigos, os trinta, contidos na mento da liberdade, da justiça e da paz no mundo, [...].
DUDH, podem ser divididos em dois grandes grupos:
A primeira consideração traz as características
z Liberdades Civis e Direitos Políticos: arts. 1º ao da universalidade e a inalienabilidade dos direitos
21; humanos. Universal no sentido de que se aplica a todos
z Direitos Econômicos, Sociais e Culturais: arts. 22 os seres humanos e inalienável na medida em que, por
ao 28. terem como fundamento a liberdade, justiça e paz no
mundo, não podem ser transferidos ou negociados.
Os arts. 29 e 30 não se enquadram nem em um gru- Os direitos são conferidos a todos os seres humanos,
po nem no outro. Eles tratam de deveres e regras de os quais deles não podem se desfazer, porque são indis-
interpretação, fazendo o fechamento da declaração. poníveis, tendo em vista a proteção da pessoa humana.
Deste modo, há uma combinação de discurso libe- Do seu caráter universal decorre a garantia da dig-
ral com o discurso social da cidadania, ou seja, o valor nidade da pessoa humana, uma vez que o direito de
da liberdade com o valor da igualdade. possuir condições mínimas para ter uma vida plena
Explicando melhor: a Declaração combina os e digna é inerente a todos os indivíduos. Observa-se,
direitos ligados às prerrogativas inerentes ao indiví- ainda, que o reconhecimento da dignidade traz con-
duo, como a vida, a liberdade, a propriedade, denomi- sigo o fundamento da igualdade, por não comportar
nados de direitos civis ou individuais e os direitos de distinções relacionadas à raça, sexo, língua, religião,
cidadania, que envolve o direito de votar e ser votado, origem social ou nacional, entre outros.
de ocupar cargos ou funções políticas e de permane-
cer nesses cargos, os denominados direitos políticos, Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos
com os direitos ligados à concepção de que é dever do direitos humanos resultaram em atos bárbaros
Estado garantir igualdade de oportunidades a todos que ultrajaram a consciência da humanidade e que

9  A noção de jus cogens foi elaborada, expressamente, pela primeira vez, no artigo 53 da Convenção de Viena, sobre direito dos tratados de 1969,
que assim estabeleceu “É nulo um tratado que, no momento de sua conclusão, conflite com uma norma imperativa de Direito Internacional geral.
Para os fins da presente Convenção, uma norma imperativa de Direito Internacional geral é uma norma aceita e reconhecida pela comunidade
internacional dos Estados como um todo, como norma da qual nenhuma derrogação é permitida e que só pode ser modificada por norma ulterior
488 de Direito Internacional geral da mesma natureza”.
o advento de um mundo em que mulheres e homens somente a mencionar a expressão em seus dispositi-
gozem de liberdade de palavra, de crença e da liber- vos, sem dar sentido ou definição a ela.
dade de viverem a salvo do temor e da necessidade Por conseguinte, para dar interpretação à expres-
foi proclamado como a mais alta aspiração do ser são direitos humanos contida na Carta, foi elaborada
humano comum, [...]. a Resolução nº 217 A III, da Assembleia Geral, a qual
proclamou a DUDH.
A segunda consideração traz a historicidade
como uma das características, visto que os direitos Considerando que os Países-Membros se com-
humanos são frutos de um desenvolvimento histó- prometeram a promover, em cooperação com
rico marcado por lutas, barbáries e desrespeitos. Os as Nações Unidas, o respeito universal aos direi-
direitos humanos não surgiram em 1948 com a DUDH. tos e liberdades fundamentais do ser humano e a
Eles nasceram aos poucos, quer na Babilônia, quer na observância desses direitos e liberdades, [...].
Inglaterra, quer nos Estados Unidos, quer na França,
entre outros países. Foi por meio destes esboços que os A essencialidade e a inviolabilidade dos direitos
direitos humanos puderam se desenvolver até, final- humanos são as características trazidas no sexto Con-
mente, se firmarem na ordem jurídica internacional. siderando. Os direitos humanos, por serem essenciais,
Entender o contexto histórico é extremamente devem gozar de status diferenciado perante o ordena-
importante para compreender o porquê da proteção mento jurídico dos Estados. Da essencialidade decorre a
dada pelos direitos humanos em cada momento da inviolabilidade, destacando que é dever tanto dos Esta-
história mundial. dos como dos indivíduos respeitar os direitos humanos.
Por conseguinte, os Estados-membros da ONU compro-
Considerando ser essencial que os direitos humanos metem-se a não violar os direitos humanos.
sejam protegidos pelo império da lei, para que o
ser humano não seja compelido, como último recur- Considerando que uma compreensão comum des-
so, à rebelião contra a tirania e a opressão, [...]. ses direitos e liberdades é da mais alta importância
para o pleno cumprimento desse compromisso, [...].
A característica da efetividade dos direitos huma-
nos é encontrada na terceira consideração, uma vez que Por fim, a sétima consideração traz a característica
é dever do Estado a sua tutela. Os direitos humanos da indivisibilidade desses direitos. Não existe hierar-
devem ser protegidos pelo “império da lei”, ou seja, por quia entre os direitos humanos, pois todos possuem
normas gerais e abstratas aplicáveis a todos. No entan- o mesmo valor como direito. Consequentemente, eles
to, de nada adianta a mera previsão abstrata do direito são indivisíveis na medida em que a garantia dos
se o Estado não agir para a sua concretização, pois é direitos civis e políticos é condição para a observância
seu dever agir de maneira eficaz, de modo a permitir o dos direitos econômicos, sociais e culturais. Portanto,
pleno desenvolvimento e efetividade dos direitos. quando um deles é violado, os outros também o são.
Agora, portanto, a Assembleia Geral proclama a pre-
Considerando ser essencial promover o desen- sente Declaração Universal dos Direitos Humanos
volvimento de relações amistosas entre as como o ideal comum a ser atingido por todos os povos
nações, [...]. e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo
e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta
A quarta consideração não traz uma característica em Declaração, esforcem-se, por meio do ensino e da educa-
si, mas uma regra no que tange à resolução dos conflitos ção, em promover o respeito a esses direitos e liberda-
internacionais. Observa-se que os Estados são diferentes des e pela adoção de medidas progressivas de caráter
uns dos outros, seja em termos culturais, históricos, geo- nacional e internacional, por assegurar o seu reconhe-
gráficos, políticos, entre outros. Entretanto, por mais que cimento e a sua observância universais e efetivos, tan-
os países sejam diferentes, deve-se primar pela resolução to entre os povos dos próprios Países-Membros quanto
pacífica das controvérsias, ou seja, para que os proble- entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.
mas sejam solucionados pela paz. Para tanto, faz-se neces- Assim sendo, após essas sete considerações, foi pro-
sário que as relações amistosas sejam desenvolvidas. clamada a DUDH.
A proclamação da DUDH contém uma das caracte- NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Considerando que os povos das Nações Unidas rísticas dos direitos humanos: a vedação ao retroces-
reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos fun- so. Os direitos humanos jamais podem regredir, ou
damentais do ser humano, na dignidade e no seja, ser diminuídos ou reduzidos no seu aspecto de
valor da pessoa humana e na igualdade de direitos proteção. Eles devem ser progressivos, o que significa
do homem e da mulher e que decidiram promover dizer que os Estados não podem proteger menos do
o progresso social e melhores condições de vida em
que já protegem.
uma liberdade mais ampla, [...].
Passaremos, agora, à análise de seus artigos
A quinta consideração remete a um dos propósitos
da Carta da Organização das Nações Unidas (ONU). DUDH
Com o final da Segunda Guerra Mundial e criação da
ONU, uma organização internacional, com o objetivo de A estrutura bipartite da DUDH decorre da ideia de
manter a paz e a segurança internacional, foi observado progressividade dos direitos humanos, contida, inclu-
pelos Estados-membros que não existia, no âmbito inter- sive, em sua proclamação.
nacional, um documento que pudesse tutelar os direitos É importante lembrar de que os direitos não sur-
inerentes a todos os seres humanos. Assim, a Carta da giram de uma vez só. Eles são frutos de um desen-
ONU deu respaldo à proteção dos direitos humanos. volvimento histórico. Se, no início, os seres humanos
A Carta da ONU trouxe, pela primeira vez, a expres- não tinham direitos, com o decorrer dos tempos, eles
são direitos humanos. No entanto, a Carta prestou-se começaram a ser firmados. 489
Os primeiros direitos reconhecidos foram aque- Assim sendo, a DUDH inicia seus dispositivos com os
les ligados ao próprio indivíduo, como, por exemplo, direitos de primeira geração/dimensão, ou seja, os direi-
o direito de viver, de possuir bens, de se locomover. É tos civis e políticos, que exigem uma postura negativa do
como se fosse um primeiro olhar do Estado para o indi- Estado (uma não interferência). Depois, passa a discipli-
víduo. Um olhar que reconheceu que os seres humanos nar os direitos de segunda geração/dimensão, isto é, os
possuem direitos mínimos e que o poder do Estado não direitos econômicos, sociais e culturais, que demandam
é ilimitado. Tratou-se, portanto, da defesa do indivíduo uma postura positiva do Estado (uma prestação).
diante do abuso do poder do Estado. Neste primeiro
momento, foram reconhecidas as liberdades dos indiví-
duos, ou seja, seus direitos civis e individuais, que abran- Importante!
gem todas as pessoas, sem qualquer distinção. Também A DUDH não traz os direitos de terceira geração/
foram reconhecidos os direitos de participação popular dimensão.
na administração do Estado, isto é, os direitos políticos.
No entanto, esses direitos de cidadania eram bem limita-
dos, pois estavam restritos a quem detinha a qualidade Vamos, então, estudar cada um desses direitos.
de cidadão e, por isso, atingiam somente os eleitores. As
mulheres, por exemplo, não eram consideradas cidadãs, Direitos Civis e Políticos
assim como os estrangeiros e, consequentemente, não
possuíam os direitos políticos, embora fossem titulares Englobam os artigos 1º ao 21 da DUDH. Vejamos
dos direitos civis mínimos garantidos pelo Estado. cada um deles:
A esses direitos dá-se o nome de direitos de primei-
ra geração/dimensão, por serem os primeiros direitos Artigo 1º Todas as pessoas nascem livres e iguais
em dignidade e direitos. São dotadas de razão
tutelados pelo Estado.
e consciência e devem agir em relação umas às
Usa-se tanto a expressão geração como dimensão. outras com espírito de fraternidade.
Trata-se de uma classificação elaborada por Karel Vasak
para classificar os direitos em categorias, conforme o Pela leitura desse artigo, depreende-se que os indiví-
contexto histórico do qual surgiram. Didaticamente, duos nascem com direitos iguais e com todas as liberda-
o jurista atrelou as três categorias dos direitos huma- des inerentes aos seres humanos. Nascer livre significa
nos aos princípios da Revolução Francesa: liberdade, nascer com a possibilidade de fazer escolhas, de dar
igualdade e fraternidade. Assim, os direitos de primei- rumo à própria vida de acordo com a própria inteligên-
ra geração/dimensão são os direitos de liberdade; os de cia e consciência e, não, por estipulações alheias.
segunda, igualdade e, os de terceira, fraternidade. É saber que, por mais que o meio social possa
Os segundos direitos reconhecidos foram aqueles influenciar nas escolhas, a pessoa é livre para mudar
voltados a estabelecer a igualdade entre os indivíduos. o rumo dado a ela por aquela sociedade. Só que de
Depois do olhar inicial para o indivíduo, reconhecendo nada adiantaria nascer com liberdade se os direitos
suas liberdades, o Estado passou a visualizá-lo como fossem diferentes. Portanto, nascer igual significa
membro da sociedade. Assim, foi possível reconhecer poder gozar de todos os direitos, independente de ser
as diferenças entre as pessoas. Como consequência, homem ou mulher, rico ou pobre, religioso ou não, da
passou-se a exigir um papel mais ativo do Estado para cor da pele, da nacionalidade, entre outros fatores.
garantir direitos de oportunidade iguais aos indiví-
duos, por meio de políticas públicas, como, por exem- Dica
plo, o acesso à educação e à saúde, o voto feminino, a
regulamentação das regras trabalhistas e previdenciá- A menção “espírito de fraternidade” não guarda
rias, entre outros. Por conseguinte, passa-se a exigir relação com os direitos de terceira dimensão/
uma ação e, não mais, uma omissão do Estado10. geração. A expressão é no sentido de evitar con-
A esses direitos dá-se o nome de direitos de segun- dutas individualistas.
da geração/dimensão, estando ligados ao poder de
exigir do Estado a consecução dos direitos econô- Artigo 2º 1. Todo ser humano tem capacidade para
micos, sociais e culturais. gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta
Por fim, os terceiros direitos reconhecidos encon- Declaração, sem distinção de qualquer espécie,
seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião polí-
tram-se atrelados ao ideal de fraternidade, por dizerem
tica ou de outra natureza, origem nacional ou social,
respeito à coletividade. O olhar é mais amplo, visuali-
riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.
zando direitos que transcendem os indivíduos, ou seja, 2. Não será também feita nenhuma distinção fun-
direitos transindividuais. Esses direitos são constituídos dada na condição política, jurídica ou inter-
por interesses indivisíveis, que podem abranger um nacional do país ou território a que pertença
número indeterminado de pessoas, sujeitos indeter- uma pessoa, quer se trate de um território inde-
minados e indetermináveis, denominados de direitos pendente, sob tutela, sem governo próprio, quer
difusos, como, por exemplo, o direito ao meio ambiente sujeito a qualquer outra limitação de soberania.
ecologicamente equilibrado, o direito à autodetermina-
ção dos povos, o direito à comunicação, entre outros. Esse artigo é composto de dois itens. O primeiro
Podem, também, abranger um grupo ou categoria item estabelece que os direitos e liberdades contidos
determinada de pessoas determináveis unidas pelo na DUDH podem ser invocados por todos os indi-
mesmo interesse jurídico, denominados de direito cole- víduos independentemente de qualquer condição
tivo, como, por exemplo, a proteção de determinados pessoal, tais como sexo, raça, nacionalidade, condi-
grupos sociais, tidos como vulneráveis. ção social, entre outros. Trata-se, portanto, da não
490 10  São chamados de liberdades positiva ou prestacional.
distinção fundada em atributo pessoal. Em contrapar- Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além
tida, o segundo item amplia a abrangência do disposi- da pena correspondente à violência.
tivo, para vedar as distinções fundadas em condições § 1º Nas mesmas penas incorre quem:
política, jurídica ou internacional do país ou território I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por
a que pertença o indivíduo. Deste modo, os posicio- parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local
namentos políticos e jurídicos adotados pelo Estado, de trabalho;
interna ou externamente, não podem servir de moti- II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho
ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do
vo para tratamentos diferenciados entre as pessoas.
trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.
Entenda a diferença:
§ 2º A pena é aumentada de metade, se o crime é
Item 1 – tratamento distinto por ser brasileiro
cometido:
(condição pessoal);
I – contra criança ou adolescente;
Item 2 – tratamento distinto ao brasileiro, devido a II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia,
uma determinada postura adotada pelo Brasil (condi- religião ou origem.
ção política e jurídica do Estado). Artigo 149-A Agenciar, aliciar, recrutar, transpor-
tar, transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa,
Artigo 3º Todo ser humano tem direito à vida, à mediante grave ameaça, violência, coação, fraude
liberdade e à segurança pessoal. ou abuso, com a finalidade de:
I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo;
O Artigo 3º traz três direitos distintos: vida, liberdade II - submetê-la a trabalho em condições análogas à
e segurança. O direito à vida engloba não só a garantia de escravo;
do indivíduo de não ter interrompido o seu processo III - submetê-la a qualquer tipo de servidão;
vital, salvo pela morte espontânea e inevitável, como IV - adoção ilegal; ou
também o direito de não ter violada a sua integridade V - exploração sexual.
física e moral, o direito de ter uma vida digna, justa, Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
entre outros. O direito à liberdade é a faculdade de fazer § 1º A pena é aumentada de um terço até a metade se:
ou não algo, ou seja, de efetuar escolhas, mesmo que I - o crime for cometido por funcionário públi-
estas não sejam exteriorizadas. É ter a liberdade tanto co no exercício de suas funções ou a pretexto de
para pensar como para exteriorizar esse pensamento. exercê-las;
II - o crime for cometido contra criança, adolescen-
Por fim, o direito à segurança refere-se à possibili-
te ou pessoa idosa ou com deficiência;
dade de exercer com tranquilidade os direitos huma-
III - o agente se prevalecer de relações de paren-
nos. Segurança abrange não só os direitos relativos
tesco, domésticas, de coabitação, de hospitalidade,
à segurança do indivíduo, como também os direito à de dependência econômica, de autoridade ou de
segurança das relações jurídicas. superioridade hierárquica inerente ao exercício de
emprego, cargo ou função; ou
Artigo 4 º Ninguém será mantido em escravidão ou IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do
servidão; a escravidão e o tráfico de escravos serão território nacional.
proibidos em todas as suas formas. § 2º A pena é reduzida de um a dois terços se o agente
for primário e não integrar organização criminosa
O artigo 4º veda a escravatura e o comércio de escra- Artigo 5º Ninguém será submetido à tortura, nem
vos. O conceito de escravidão, no direito internacional, a tratamento ou castigo cruel, desumano ou
comporta dois elementos fundamentais11. O primeiro degradante.
é o estado ou condição do indivíduo, ou seja, basta a
restrição ou controle sistemático da autonomia indivi- O artigo 5º trata da tortura, que é um dos desdo-
dual e liberdade de movimento independentemente da bramentos do direito à vida, por decorrer da violação
condição jurídica. Isso significa dizer que, mesmo que a à integridade humana, tanto física como psicológica.
norma do Estado não permita a escravidão ou que não Torturar12 é causar, ao indivíduo, sofrimento físico
exista um documento formal, se a pessoa tiver sua liber- ou mental como forma de intimidação ou castigo. É,
dade individual controlada ou restrita de forma ilícita também, utilizar-se de métodos como forma de anu-

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL


e sistemática, será caracterizado o primeiro elemento. lar a personalidade ou diminuir a capacidade física
O segundo elemento envolve o exercício de algum dos ou mental, mesmo que sem dor (física ou mental).
atributos atinentes ao direito de propriedade, como,
por exemplo, o controle que restrinja ou prive, signifi- Dica
cativamente, a pessoa de sua liberdade individual com
intenção de exploração. Exemplo: execução de trabalho Embora a Constituição Federal de 1988 pos-
forçado, exploração sexual, entre outros. sua um dispositivo semelhante, ela não traz a
É importante considerar que, no Código Penal, expressão “castigo cruel”. Como é possível que
encontram-se previstos dois crimes relacionados a seja cobrado a literalidade do artigo, é importan-
essa proibição, a saber: te perceber a diferença entre os dispositivos:

Artigo 149 Reduzir alguém a condição análoga à Artigo 5º[...]


de escravo, quer submetendo-o a trabalhos força- III, CF/88 Ninguém será submetido a tortura nem a
dos ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a tratamento desumano ou degradante.
condições degradantes de trabalho, quer restrin- Artigo 6º Todo ser humano tem o direito de ser,
gindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão em todos os lugares, reconhecido como pessoa
de dívida contraída com o empregador ou preposto: perante a lei.

11  Conforme artigo 6º da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica).
12  Conforme art. 2º da Convenção Interamericana, para prevenir e punir a tortura. 491
O artigo 6º trata do reconhecimento da personali- o artigo 9º protege os indivíduos da força do Estado,
dade humana, ou seja, da qualidade de pessoa, inde- uma vez que veda a prisão arbitrária ou abusiva e
pendente da análise de condutas praticadas. Significa estabelece que a restrição da liberdade só será legí-
que lei deve reconhecer todos os seres humanos como tima quando respeitados os parâmetros da lei. Trata-
detentores de direitos e deveres sem valorações, pois -se, também, de um dos desdobramentos do direito à
todos são merecedores de proteção. Consequente- segurança, por envolver garantias processuais.
mente, não é possível efetuar gradações da dignida- No Brasil, as garantias processuais relacionadas
de humana, uma vez que a dignidade da pessoa não à prisão estão previstas no artigo 5º da Constituição
pode ser retirada ou desprezada pela prática de con- Federal, de 1988. Abaixo, estão dispostas duas dessas
dutas tidas como reprováveis pela sociedade. Por essa garantias:
razão, até mesmo os criminosos devem ser considera-
dos sujeitos de direito. LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus
Em termos simples, ser reconhecido como pessoa bens sem o devido processo legal;
é pressuposto para ter direito a possuir direitos, inde- LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito
pendentemente de qualquer análise de suas condutas. ou por ordem escrita e fundamentada de autorida-
de judiciária competente, salvo nos casos de trans-
Artigo 7º Todos são iguais perante a lei e têm gressão militar ou crime propriamente militar,
direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da definidos em lei;
lei. Todos têm direito a igual proteção contra qual- Artigo 10 Todo ser humano tem direito, em plena
quer discriminação que viole a presente Declaração igualdade, a uma justa e pública audiência por
e contra qualquer incitamento a tal discriminação. parte de um tribunal independente e imparcial,
para decidir seus direitos e deveres ou fundamento
O artigo 7º traz o direito à igualdade. Trata-se de qualquer acusação criminal contra ele.
da necessidade da lei reconhecer que todos os seres
humanos possuem os mesmos direitos e as mesmas O artigo 10 também estabelece uma garantia pro-
proteções. Além disso, a lei não pode ser aplicada de cessual, ou seja, o direito que todas as pessoas têm
modo discriminatório, de modo a negar direitos bási- de serem julgadas por um tribunal independente e
cos aos indivíduos em razão de qualquer condição imparcial. Trata-se, portanto, do desdobramento do
pessoal, como sexo, cor, origem, entre outros. direito à segurança (jurídica) somado ao direito à
igualdade. Isso significa dizer que a prestação jurisdi-
cional não deve estar atrelada a outros interesses que
Importante! não os amparados e tutelados pela lei. E mais além,
que ela seja prestada igualmente a todas as pessoas,
A ideia de igualdade possui duas acepções: de forma independente e imparcial.
Igualdade formal: todos são iguais perante a lei. Por mais que a interpretação do artigo conduza à
Tratar a todos de forma igual; esfera penal, sua abrangência não pode estar limitada
Igualdade material: igualdade, de fato, perante a a essa área do direito. Isso porque a prestação jurisdi-
lei (tratar igualmente os iguais e, desigualmente, cional igualitária não se restringe a questões penais.
os desiguais. Ela pode envolver outros âmbitos do direito, como,
por exemplo, a garantia de acesso de todos os indiví-
duos à Justiça, independentemente de sua condição
Artigo 8º Todo ser humano tem direito a receber econômica. Assim, a possibilidade de pessoas sem
dos tribunais nacionais competentes remédio condições econômicas pleitearem a tutela do Estado
efetivo para os atos que violem os direitos funda- por intermédio da Defensoria Pública (Estado pres-
mentais que lhe sejam reconhecidos pela constitui-
tando assistência jurídica) é um exemplo de prestação
ção ou pela lei.
igualitária
O artigo 8º estabelece que a prestação jurisdicional
Artigo 11
dada pelo Estado aos indivíduos deve ser efetiva. Tra- 1. Todo ser humano acusado de um ato delituoso
ta-se de um dos desdobramentos do direito à seguran- tem o direito de ser presumido inocente até que a
ça, por trazer a ideia de segurança jurídica. Envolve as sua culpabilidade tenha sido provada de acordo
garantias processuais, tais como os princípios da dura- com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham
ção razoável do processo, do devido processo legal, do sido asseguradas todas as garantias necessárias à
contraditório e da ampla defesa, entre outros, além de sua defesa.
seu reconhecimento pelas constituições ou pelas leis. 2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação
A expressão “remédio efetivo” não tem relação ou omissão que, no momento, não constituíam
direta com os remédios constitucionais previsto na delito perante o direito nacional ou interna-
Constituição Federal, de 1988 (habeas corpos, habeas cional. Também não será imposta pena mais forte
data, mandado de segurança, mandado de injunção, de que aquela que, no momento da prática, era apli-
e ação popular). O sentido dado pelo artigo diz res- cável ao ato delituoso.
peito à efetividade da tutela jurisdicional, para evitar,
por exemplo, a justiça tardia ou a não apreciação da O artigo 11 é composto de dois itens. O primeiro
demanda por parte do Estado. item traz o princípio da presunção de que todos os
seres humanos acusados de práticas delituosas são
Artigo 9º Ninguém será arbitrariamente preso, inocentes até que a culpabilidade tenha sido prova-
detido ou exilado. da. Isso significa dizer que não é o acusado que tem
que provar que é inocente, mas o Estado que tem a
A liberdade é a regra e a sua restrição só é legíti- responsabilidade de demonstrar a responsabilidade
492 ma quando efetuada nos estritos limites legais. Assim, criminal deste.
Portanto, por essa garantia processual, decorrente Como é possível que seja cobrado a literalidade
do direito à segurança, compete ao Estado o ônus de do artigo, é importante perceber a diferença entre os
provar a culpa do indivíduo. dispositivos:

z Presunção de inocência = ônus da prova do Estado Artigo 5º, XV, CF/88: é livre a locomoção no terri-
tório nacional em tempo de paz, podendo qualquer
A inocência é presumida, porque quem deve pro- pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer
var a culpa do indivíduo é o Estado. ou dele sair com seus bens;
O segundo item do artigo 11 estabelece uma
regra de aplicação da norma penal, trazendo a ideia Se o primeiro item estabelece a liberdade de loco-
de anterioridade da lei penal. Trata-se de mais uma moção interna, o segundo item trata da liberdade de
garantia processual decorrente do direito à seguran- locomoção externa e, portanto, do direito de locomo-
ça, no sentido de que é necessário que exista de uma ção entre os Estados, ou seja, o direito de entrar, per-
norma penal anterior estabelecendo tanto a conduta manecer ou sair de um país.
(primeira parte do item) como a sanção (segunda par- Assim como qualquer um dos direitos humanos, a
te do item), para que os indivíduos possam ser con- liberdade de locomoção, tanto interna como externa,
denados pela sua prática. Veda-se, portanto, o direito não é ilimitada. Exemplo: mesmo possuindo o direito
penal retroativo. de locomoção, não é possível ingressar em uma pro-
Neste sentido, a conduta tem que ser considera- priedade alheia fora das hipóteses previstas na CF, de
da crime antes da sua prática (anterioridade da lei 1988 (convite, desastre, flagrante delito, prestar socor-
penal). A pena imposta deve ser aquela prevista pela ro ou ordem judicial durante o dia), podendo, inclusi-
lei no momento de sua prática, mesmo que a lei a ve, caracterizar o crime de invasão de domicílio. Do
modifique posteriormente (irretroatividade da lei mesmo modo, a Lei nº 13.445, de 2017 (Lei de Migra-
penal mais grave). ção) estabelece as hipóteses de ingresso e permanên-
cia do estrangeiro no Brasil.
Artigo 12 Ninguém será sujeito à interferência na
sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na Artigo 14
sua correspondência, nem a ataque à sua honra e
1. Todo ser humano, vítima de perseguição, tem
reputação. Todo ser humano tem direito à proteção
o direito de procurar e de gozar asilo em outros
da lei contra tais interferências ou ataques.
países.
2. Esse direito não pode ser invocado em caso de
O artigo 12 disciplina um dos diretos decorrentes perseguição legitimamente motivada por cri-
do direito à vida, ou seja, o direito à vida privada. Tra- mes de direito comum ou por atos contrários aos
ta-se da proteção da intimidade como essencial aos objetivos e princípios das Nações Unidas.
seres humanos, o que significa dizer que as pessoas
têm o poder de decidir quais informações, condutas, O artigo 14 disciplina o instituto de proteção inter-
escolhas, preferências, entre outros, quer levar ao nacional denominado de asilo. Asilo é o acolhimento,
conhecimento público e quais quer manter exclusi- pelo Estado, do indivíduo que está sendo perseguido
vamente em sigilo. Para tanto, cabe à lei garantir a injustamente. Essa proteção pode ser tanto no próprio
privacidade.
território do Estado (asilo territorial) como em órgão
São exemplos de proteção à esfera privada, trazi-
de representação em Estado estrangeiro, como embai-
das pela Constituição Federal, de 1988, a inviolabili-
xada ou consulado (asilo diplomático). Assim, o pri-
dade do domicílio (Artigo 5º, XI) e a inviolabilidade do
meiro item estabelece o direito à proteção territorial
sigilo da correspondência e das comunicações telegrá-
ou diplomática, enquanto o segundo item disciplina o
ficas, de dados e das comunicações telefônicas (Artigo
caso de não aplicação do instituto, ou seja, no caso de
5º, XII), além do direito de indenização por dano mate-
a perseguição ser legitimamente motivada por crime
rial ou moral no caso de violação da intimidade, vida
privada, honra e imagem (Artigo 5º, X). comum ou por ato contrário aos propósitos ou princí-
pios das Nações Unidas. Assim, se uma determinada
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Artigo 13 pessoa comete um crime, tal perseguição não pode ser
1. Todo ser humano tem direito à liberdade de loco- considerada como injusta.
moção e residência dentro das fronteiras de cada É importante ressaltar que, quando a pessoa come-
Estado. te um crime em um Estado e vai para outro, para evi-
2. Todo ser humano tem o direito de deixar qual- tar a punição, o direito internacional estabelece o
quer país, inclusive o próprio e a esse regressar. instituto da extradição como forma de os países cola-
borarem uns com os outros. Assim, é possível que um
O artigo 13, que decorre do direito à liberdade, é Estado entregue uma pessoa para à Justiça de outro
dividido em dois itens. O primeiro item estabelece o Estado. Aqui, a perseguição (para processar e punir)
direito que todas as pessoas têm de se locomoverem é legítima, diferentemente do asilo, em que a perse-
em decorrência da própria vontade, ou seja, o direito guição é ilegítima, como nos casos de crimes políticos
de acesso, de ingresso ou de trânsito dentro dos limi- e de opinião.
tes territoriais do seu País. Ressalta-se que o item tam-
bém disciplina a liberdade de residência. Artigo 15
Embora a Constituição Federal de 1988 possua um 1. Todo ser humano tem direito a uma
dispositivo semelhante, a liberdade de locomoção da nacionalidade.
Constituição Federal, de 1988 é limitada ao tempo de 2. Ninguém será arbitrariamente privado de
paz, diferentemente da DUDH, que não estabelece res- sua nacionalidade, nem do direito de mudar de
trição temporal. nacionalidade. 493
O artigo 15 estabelece o direito à nacionalidade, ou ou seja, da igualdade entre homens e mulheres nas
seja, ter um vínculo político-jurídico com um país, pois relações conjugais.
todos os seres humanos têm direito de se vincularem A idade núbil, no Brasil, é 16 (dezesseis) anos e a
a um Estado soberano para que este possa lhe assegu- igualdade entre homem e mulher nas relações conju-
rar proteção aos seus direitos fundamentais. A ausên- gais passou a ser protegida com a Constituição Federal,
cia de vínculo enseja a condição de apátrida e impede de 1988. Como exemplo, pode-se citar a transformação
que o indivíduo pleiteie proteção jurídica básica por do pátrio poder em poder familiar, em que a vontade
não estar vinculado a nenhum estatuto pessoal. Deste do cônjuge varão deixou de ser preponderante.
modo, o primeiro item estabelece o direito à proteção O segundo item do artigo 16 refere-se ao consen-
jurídica e política por parte de um Estado, ou seja, o timento do nubente, que deve ser livre e pleno. O
direito de ter uma nacionalidade. casamento é uma escolha e, por essa razão, não pode
A nacionalidade pode ser originária ou derivada. ser imposto. Busca-se, portanto, evitar casamentos
Nacionalidade originária é aquela que decorre do arranjados ou forçados. Por fim, o terceiro item trata
nascimento e, a depender do Estado, pode seguir o cri- da proteção que deve ser concedida à família, tanto
tério de vínculo biológico (jus sanguinis) ou o critério pela sociedade como pelo Estado, pois é da família que
do local do nascimento (jus solis), ou os dois, como no advêm os indivíduos, ou seja, é o núcleo natural e fun-
caso do Brasil. damental de onde emana a sociedade.
Nesse tipo de nacionalidade (originária), é possível
a coexistência de mais de uma nacionalidade. Exem- Artigo 17
plo: filho de italiano nascido no Brasil é italiano por 1. Todo ser humano tem direito à propriedade, só
sangue e brasileiro por solo. ou em sociedade com outros.
2. Ninguém será arbitrariamente privado de
Nacionalidade derivada é aquela que decorre de
sua propriedade.
qualquer outro fator que não o nascimento, como,
por exemplo, passar a residir em um país ou casar-se
O artigo 17 trata do direito à propriedade. Trata-se
com um estrangeiro e adquirir a nacionalidade deste
do direito que todos os seres humanos têm de usar,
(essa hipótese não existe no direito brasileiro, pois o
gozar e dispor da coisa, assim como retomá-la de
casamento com brasileiro, por si só, não dá o direito
quem, injustamente, a detenha. O primeiro item esta-
à nacionalidade brasileira). Para adquirir a naciona-
belece que a propriedade pode ser individual ou em
lidade derivada é necessário um procedimento cha-
conjunto. Já o segundo item veda a perda arbitrária
mado de naturalização. Em regra, ao se adquirir uma
da propriedade. Deste modo, para que a pessoa seja
nova nacionalidade, por ser esta voluntária, perde-se
privada de sua propriedade, deve a lei estabelecer os
a nacionalidade anterior (direito de opção).
critérios e as hipóteses. Por exemplo, o direito brasi-
O segundo item, por sua vez, estabelece que o
leiro autoriza a expropriação de propriedade em que
direito à nacionalidade não pode ser retirado arbi- for encontrado trabalho escravo.
trariamente, assim como não pode ser imposto. Nes- A CF, de 1988, garante o direito à propriedade e
te sentido, o brasileiro continuará a ser brasileiro, que esta deve atender a sua função social (Artigo 5º,
independente de qualquer conduta praticada, porém, XXII e XXIII).
se quiser adquirir outra nacionalidade, como, por
exemplo, passar a residir em outro país e tornar-se Artigo 18 Todo ser humano tem direito à liber-
nacional deste, não será compelido a continuar como dade de pensamento, consciência e religião; esse
brasileiro. Essa hipótese é muito comum entre atletas, direito inclui a liberdade de mudar de religião ou
que optam por outra nacionalidade, para poderem crença e a liberdade de manifestar essa religião
competir por estes países em uma Copa do Mundo ou ou crença pelo ensino, pela prática, pelo culto em
Olimpíada. público ou em particular.

Artigo 161 Os homens e mulheres de maior ida- O direito à liberdade está disciplinado no artigo 18
de, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade da DUDH. De acordo com o dispositivo, os seres huma-
ou religião, têm o direito de contrair matrimônio nos têm direito de liberdade de foro íntimo, ou seja,
e fundar uma família. Gozam de iguais direi- de ter convicções religiosas, filosóficas, políticas, entre
tos em relação ao casamento, sua duração e sua outros. Portanto, têm direito de pensar e de expres-
dissolução. sar livremente esses pensamentos. Com relação à
2. O casamento não será válido senão com o livre e religião, assegura tanto a liberdade de crença (foro
pleno consentimento dos nubentes. íntimo), ou seja, de ter uma religião, como a liberdade
3. A família é o núcleo natural e fundamental de expressão, isto é, de culto. Além disso, estabelece a
da sociedade e tem direito à proteção da sociedade
liberdade religiosa, de mudar de crença ou religião e
e do Estado.
de manifestação desta.
O pensamento, em si, é absolutamente livre, por
O artigo 16 estabelece o direito de contrair matri- ser uma questão de foro íntimo. O indivíduo pode
mônio, ou seja, de se casar. Ele é dividido em três itens. pensar em que quiser sem que o Estado possa interfe-
O primeiro item traz duas importantes proteções. A rir. No entanto, quando esse pensamento é exteriori-
primeira refere-se à idade núbil, ou seja, que o casa- zado, passa a ser possível a tutela e proteção do Estado
mento seja possível somente a partir de uma deter-
minada idade. Observa-se, no entanto, que o item Artigo 19 Todo ser humano tem direito à liber-
não estabelece nenhuma idade, mencionando apenas dade de opinião e expressão; esse direito inclui
“maior idade”. Por conseguinte, a idade núbil pode a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e
ser fixada a critério da legislação de cada país, não se de procurar, receber e transmitir informações e
podendo admitir casamento de crianças. A outra pro- ideias por quaisquer meios e independentemente de
494 teção importante decorre do princípio da igualdade, fronteiras.
Complementando o artigo 18, o artigo 19 trata do universal e periódico (são cláusulas pétreas). A obri-
direito à liberdade de opinião e expressão, ou seja, de gatoriedade do voto, por sua vez, pode ser alterada
expressar livremente os pensamentos em qualquer (tornar-se facultativo).
evento ou área do conhecimento. Cumpre mencio-
nar que é da liberdade de expressão que decorrem a Direitos Econômicos, Sociais e Culturais
proibição de censura e a vedação do anonimato por
exemplo. Conforme visto, esta segunda parte engloba os
A expressão do pensamento é livre, porém não direitos de segunda geração/dimensão, ou seja, aque-
é absoluta. Assim, a pessoa é livre para expor sua les que demandam a atuação e proteção do Estado
opinião, mas se esta atingir a honra de alguém, por para assegurar a todas as pessoas a igualdade. Eles
exemplo, ela poderá ser responsabilizada civil e estão previstos nos artigos 22 ao 28 da DUDH. Vejamos
penalmente. cada um deles:

Artigo 20 Artigo 22 Todo ser humano, como membro da


1. Todo ser humano tem direito à liberdade de sociedade, tem direito à segurança social, à
reunião e associação pacífica realização pelo esforço nacional, pela coope-
2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma ração internacional e de acordo com a orga-
associação. nização e recursos de cada Estado, dos direitos
econômicos, sociais e culturais indispensáveis à
A liberdade de reunião e associação encontram- sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua
-se disciplinadas no artigo 20 da DUDH. Por reunião personalidade.
depreende-se o agrupamento organizado de pessoas
para uma determinada finalidade e com caráter tran- O artigo 22 assegura aos indivíduos um sistema
sitório. Se o caráter do agrupamento for permanente, de assistência e proteção econômica em determina-
tem-se uma associação. Importante mencionar que dos momentos, tais como incapacidade temporária
tanto a reunião como a associação devem servir para ou definitiva, velhice, maternidade, entre outros, ou
fins pacíficos. Além disso, ninguém poderá ser com- seja, um programa de proteção social para amparar
pelido a se associar e, uma vez associado, será livre, as pessoas em determinados eventos. Também garan-
também, para decidir se permanece ou não associado. te a consecução de esforços nacionais, de cooperação
internacional e de organização e gerenciamento dos
recursos disponíveis pelos Estados com o objetivo de
Importante! garantir as condições indispensáveis a uma vida com
No Brasil, é proibida a associação para fins ilíci- dignidade.
tos e paramilitares. Desse artigo, advém a ideia de “reserva do possí-
vel”, pois o Estado deve garantir os direitos em confor-
midade com seus recursos.
Artigo 21
1. Todo ser humano tem o direito de tomar Artigo 23
parte no governo de seu país diretamente ou 1. Todo ser humano tem direito ao trabalho, à
por intermédio de representantes livremente livre escolha de emprego, a condições justas
escolhidos e favoráveis de trabalho e à proteção contra o
2. Todo ser humano tem igual direito de acesso desemprego.
ao serviço público do seu país. 2. Todo ser humano, sem qualquer distinção,
3. A vontade do povo será a base da autoridade do tem direito a igual remuneração por igual
governo; essa vontade será expressa em eleições trabalho.
periódicas e legítimas, por sufrágio universal, 3. Todo ser humano que trabalha tem direito a
por voto secreto ou processo equivalente que uma remuneração justa e satisfatória que lhe
assegure a liberdade de voto. assegure, assim como à sua família, uma existên-
cia compatível com a dignidade humana e a que se
O artigo 21 encerra o rol dos direitos civis e políti- acrescentarão, se necessário, outros meios de pro- NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
cos previstos na DUDH. Na realidade, o dispositivo é o teção social.
único que disciplina os direitos políticos, sendo dividi- 4. Todo ser humano tem direito a organizar sin-
do em três itens. O primeiro item dá ênfase ao regime dicatos e a neles ingressar para proteção de seus
democrático de governo, ao estabelecer os indivíduos interesses.
como titulares da soberania. Desse modo, os seres
humanos podem participar diretamente do governo O artigo 23 assegura às pessoas o direito ao traba-
(democracia direta) ou indiretamente, por meio de lho e à livre escolha do emprego, ou seja, a liberdade
seus representantes escolhidos pelo voto (democracia de escolha profissional. Para tanto, deve o Estado esti-
indireta). Trata-se, também, do direito de votar e ser pular as condições necessárias para a realização do
votado. trabalho e adotar medidas de proteção ao trabalhador
O segundo item refere-se aos serviços prestados contra o desemprego.
pelo Estado, os quais devem respeitar o direito à igual- Considerando-se que todo trabalho tem direito
dade, ou seja, todos os indivíduos tem acesso aos mes- a uma contraprestação, essa remuneração deve ser
mos serviços prestados. pautada pelo princípio da igualdade, evitando que
Por fim, o terceiro item trata do direito de voto, pessoas que exerçam as mesmas funções e nos mes-
que deve ser periódico, legítimo, universal e secreto. mos locais recebam valores diferentes de acordo com
É importante frisar que, no Brasil, não é possível suas características pessoais, como sexo, cor, naciona-
alterar as regras com relação ao voto direto, secreto, lidade, religião, entre outros. Assim sendo, também é 495
dever do Estado adotar medidas de proteção ao traba- religiosos e coadjuvará as atividades das Nações
lhador contra tratamentos discriminatórios. Unidas em prol da manutenção da paz.
O dispositivo garante, ainda, que a remuneração 3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do
seja justa e suficiente para assegurar ao trabalhador gênero de instrução que será ministrada a seus filhos.
e à sua família uma vida digna. Por fim, estabelece
o direito à livre criação de sindicatos, para que estes O artigo 26 assegura aos seres humanos o direito à
possam garantir os meios de proteção aos direitos dos educação. O dispositivo traz a ideia de que a formação
integral da pessoa depende de instrução, pois somente
trabalhadores.
com uma instrução adequada o indivíduo pode exer-
Sobre isso, vale ressaltar que a Constituição Fede-
cer outros direitos, tais como a liberdade de expres-
ral, de 1988, disciplina os direitos dos trabalhadores
são, a liberdade de associação, os direitos políticos,
urbanos e rurais em seu artigo 7º.
entre outros. Deste modo, cabe ao Estado assegurar o
acesso à instrução e garantir sua gratuidade ao menos
Artigo 24 Todo ser humano tem direito a repou- nos níveis elementares e fundamentais.
so e lazer, inclusive a limitação razoável das Quanto à obrigatoriedade, esta deve ser apenas
horas de trabalho e a férias remuneradas
da instrução elementar, assegurando o acesso nos
periódicas.
demais níveis de instrução. Nesse ponto é importante
observar que, embora o dispositivo estabeleça o direi-
O artigo 24 também assegura um direito dos tra- to prioritário dos pais na escolha do gênero de instru-
balhadores. Trata-se de duas regras para evitar que ção, ele também limita sua liberdade de escolha ao
o trabalhador seja levado à exaustão. A primeira é a estipular caráter obrigatório à instrução elementar,
estipulação de períodos de descanso, ou seja, da pro- uma vez que os pais não poderão privar seus filhos do
teção do repouso e do lazer, assim como a garantia de ensino elementar formal.
gozo de férias remuneradas e periódicas. A segunda é
a limitação da jornada do trabalho.
Importante!
Artigo 25
1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida A DUDH não define o que é ensino elementar.
capaz de assegurar a si e à sua família saúde, bem-
-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação,
Artigo 27
cuidados médicos e os serviços sociais indispensá-
1. Todo ser humano tem o direito de participar livremen-
veis e direito à segurança em caso de desemprego,
te da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de
doença invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de participar do progresso científico e de seus benefícios.
perda dos meios de subsistência em circunstâncias 2. Todo ser humano tem direito à proteção dos inte-
fora de seu controle. resses morais e materiais decorrentes de qualquer pro-
2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados dução científica literária ou artística da qual seja autor.
e assistência especiais. Todas as crianças, nascidas
dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma O artigo 27 busca assegurar o acesso dos indiví-
proteção social. duos ao direito cultural. O primeiro item do artigo
refere-se ao direito de participar, ou seja, de ter aces-
O artigo 25 traz a ideia de mínimo existencial, ou so aos meios de cultura e artes, bem como aos meios
seja, de um padrão mínimo de condições materiais científicos. Já o segundo item estabelece os meios de
aceitáveis para uma vida com dignidade. proteção ao direito do autor, quer em seu aspecto
Nestes termos, deve-se assegurar que a quantida- material, quer em seu aspecto moral.
de de alimentos deve ser suficiente para o indivíduo e
sua família, que ele possa se vestir, ter moradia, aces- Artigo 28 Todo ser humano tem direito a uma
so aos serviços médicos, sociais e segurança em caso ordem social e internacional em que os direitos e
de imprevistos, tais como desemprego, incapacidade, liberdades estabelecidos na presente Declaração
velhice etc. Além disso, devem-se assegurar os cuida- possam ser plenamente realizados.
dos e assistência devidos à maternidade e à infância,
sem qualquer distinção entre os filhos. Finalizando os direitos econômicos, sociais e cul-
É importante saber que, antes da Constituição turais, o artigo 28 reafirma os direitos elencados na
Federal, de 1988, a proteção aos filhos concebidos no DUDH e estabelece que uma ordem social condizente
casamento era diferente dos gerados fora do matri- com os valores da dignidade humana somente poderá
mônio. Por exemplo, uma pessoa casada não poderia ser efetivada com a consecução de todos os direitos
registrar filho havido fora deste casamento. previstos na declaração. Portanto, os Estados devem
se comprometer a adotar a Declaração, tanto em seu
âmbito interno como em seu âmbito externo.
Artigo 26
1. Todo ser humano tem direito à instrução. A ins-
trução será gratuita, pelo menos nos graus elemen- Outros Dispositivos
tares e fundamentais. A instrução elementar será
obrigatória. A instrução técnico-profissional será Os artigos 29 e 30 da DUDH não se enquadram
acessível a todos, bem como a instrução superior, como direitos civis e políticos nem como direitos eco-
esta baseada no mérito. nômicos, sociais e culturais. A eles compete fazer o
2. A instrução será orientada no sentido do pleno fechamento da Declaração.
desenvolvimento da personalidade humana e do
fortalecimento do respeito pelos direitos do ser Artigo 29
humano e pelas liberdades fundamentais. A ins- 1. Todo ser humano tem deveres para com a comu-
trução promoverá a compreensão, a tolerância e a nidade, na qual o livre e pleno desenvolvimento
496 amizade entre todas as nações e grupos raciais ou de sua personalidade é possível.
2. No exercício de seus direitos e liberdades, todo com esses Princípios em tudo quanto for necessário
ser humano estará sujeito apenas às limitações à manutenção da paz e da segurança internacionais.
determinadas pela lei, exclusivamente com o fim 7. Nenhum dispositivo da presente Carta autoriza-
de assegurar o devido reconhecimento e respeito rá as Nações Unidas a intervirem em assuntos que
dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer dependam essencialmente da jurisdição de qualquer
as justas exigências da moral, da ordem pública e Estado ou obrigará os Membros a submeterem tais
do bem-estar de uma sociedade democrática. assuntos a uma solução, nos termos da presente Car-
3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipó- ta; este princípio, porém, não prejudicará a aplicação
tese alguma, ser exercidos contrariamente aos das medidas coercitivas constantes do Capitulo VII.
objetivos e princípios das Nações Unidas.
Vejamos, agora, o artigo 30, o qual encerra a DUDH.
Depois de vinte e oito artigos estabelecendo os
direitos inerentes aos seres humanos, o artigo 29 é o Artigo 30 Nenhuma disposição da presente Decla-
único que traz os deveres. Assim, cabe ao indivíduo ração poder ser interpretada como o reconheci-
contribuir para o desenvolvimento da comunidade, o mento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do
que significa dizer que, se por um lado a sociedade se direito de exercer qualquer atividade ou praticar
compromete a garantir a consecução dos direitos das qualquer ato destinado à destruição de quaisquer
pessoas, por outro, essas pessoas também se compro- dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.
metem com a sociedade.
Além disso, o dispositivo estabelece que os direitos O artigo 30 traz a regra de interpretação da Decla-
e liberdades somente podem ser limitados pela lei, de ração para garantir a adequação entre os direitos
modo a evitar, por exemplo, o abuso do direito. Por estabelecidos e a consecução da dignidade da pessoa
fim, o artigo estabelece a relação entre a DUDH e a humana. Consequentemente, não é possível a redu-
Carta das Nações Unidas, de maneira que nenhum ção da proteção, a exclusão do direito, a distorção de
direito tutelado possa ser exercido contrariando os acesso a algum direito baseado em uma interpretação
objetivos e princípios da outra. errônea do conteúdo e estrutura. Portanto, a interpre-
A título de conhecimento, os propósitos e princí- tação deve respeitar a própria DUDH.
pios da ONU são:

Artigo 1º
1. Manter a paz e a segurança internacionais e,
para esse fim: tomar, coletivamente, medidas efe- CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE
tivas para evitar ameaças à paz e reprimir os atos
de agressão ou outra qualquer ruptura da paz e
DIREITOS HUMANOS
chegar, por meios pacíficos e de conformidade com
os princípios da justiça e do direito internacional, CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS
a um ajuste ou solução das controvérsias ou situa- (PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA RICA)
ções que possam levar a uma perturbação da paz;
2. Desenvolver relações amistosas entre as nações, basea- A Convenção Americana de Direitos Humanos,
das no respeito ao princípio de igualdade de direitos e de conhecida também como Pacto de São José da Costa
autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas Rica, é o tratado de maior relevância para o Sistema
apropriadas ao fortalecimento da paz universal; Interamericano de proteção aos direitos humanos.
3. Conseguir uma cooperação internacional para
Foi assinado em 22 de novembro de 1969 na cidade
resolver os problemas internacionais de caráter
econômico, social, cultural ou humanitário, e para de San José na Costa Rica, razão pela qual recebeu o
promover e estimular o respeito aos direitos huma- nome acima mencionado. Além disso, é importante
nos e às liberdades fundamentais para todos, sem lembrar que ela foi o marco inicial do Sistema Intera-
distinção de raça, sexo, língua ou religião; e mericano de Proteção aos direitos Humanos.
4. Ser um centro destinado a harmonizar a ação das O Brasil tornou-se signatário do Pacto, ou seja,
nações para a consecução desses objetivos comuns. assinou o tratado, em 25 de setembro de 1992, e este
Artigo 2º passou a vigorar em nosso ordenamento jurídico a
1. A Organização é baseada no princípio da igual- partir do Decreto nº 678 de 06 de novembro de 1992.

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL


dade de todos os seus Membros.
A Convenção é composta de 82 artigos. Dentre
2. Todos os Membros, a fim de assegurarem para
todos em geral os direitos e vantagens resultantes esses, podemos destacar:
de sua qualidade de Membros, deverão cumprir de
boa fé as obrigações por eles assumidas de acordo z Direito à vida (art. 4): do qual decorre a proteção
com a presente Carta. reconhecida desde o momento da concepção e a
3. Todos os Membros deverão resolver suas contro- impossibilidade de restabelecimento da pena de
vérsias internacionais por meios pacíficos, de modo morte nos países em que houver sido abolida;
que não sejam ameaçadas a paz, a segurança e a
justiça internacionais. Art. 4 Direito à vida
4. Todos os Membros deverão evitar em suas rela-
1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua
ções internacionais a ameaça ou o uso da força
vida. Esse direito deve ser protegido pela lei e, em
contra a integridade territorial ou a dependência
política de qualquer Estado, ou qualquer outra ação geral, desde o momento da concepção. Ninguém
incompatível com os Propósitos das Nações Unidas. pode ser privado da vida arbitrariamente.
5. Todos os Membros darão às Nações toda assis- 2. Nos países que não houverem abolido a pena de
tência em qualquer ação a que elas recorrerem de morte, esta só poderá ser imposta pelos delitos mais
acordo com a presente Carta e se absterão de dar graves, em cumprimento de sentença final de tribu-
auxílio a qual Estado contra o qual as Nações Uni- nal competente e em conformidade com lei que esta-
das agirem de modo preventivo ou coercitivo. beleça tal pena, promulgada antes de haver o delito
6. A Organização fará com que os Estados que não sido cometido. Tampouco se estenderá sua aplicação
são Membros das Nações Unidas ajam de acordo a delitos aos quais não se aplique atualmente. 497
3. Não se pode restabelecer a pena de morte nos b) o serviço militar e, nos países onde se admite
Estados que a hajam abolido. a isenção por motivos de consciência, o serviço
4. Em nenhum caso pode a pena de morte ser apli- nacional que a lei estabelecer em lugar daquele;
cada por delitos políticos, nem por delitos comuns c) o serviço imposto em casos de perigo ou cala-
conexos com delitos políticos. midade que ameace a existência ou o bem-estar da
5. Não se deve impor a pena de morte a pessoa que, comunidade;
no momento da perpetração do delito, for menor de d) o trabalho ou serviço que faça parte das obriga-
dezoito anos, ou maior de setenta, nem aplicá-la a ções cívicas normais.
mulher em estado de gravidez.
6. Toda pessoa condenada à morte tem direito a soli- z Garantias judiciais (art. 8): Abrange o contraditó-
citar anistia, indulto ou comutação da pena, os quais rio e a ampla defesa, a presunção de inocência do
podem ser concedidos em todos os casos. Não se pode indivíduo, dentre outras garantias. Vejamos:
executar a pena de morte enquanto o pedido estiver
pendente de decisão ante a autoridade competente. Art. 8 Garantias judiciais
1. Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as
z Direito à integridade pessoal (art. 5): que abran- devidas garantias e dentro de um prazo razoável,
ge o direito à integridade física, psíquica e moral, por um juiz ou tribunal competente, independente
impossibilidade de prática de tortura, impossibili- e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na
dade de aplicação de pena sem que se respeite à apuração de qualquer acusação penal formulada
dignidade da pessoa do condenado, impossibilida- contra ela, ou para que se determinem seus direitos
de de a pena passar da pessoa do delinquente; ou obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal
ou de qualquer outra natureza.
Art. 5 Direito à integridade pessoal 2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que
1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua se presuma sua inocência enquanto não se compro-
integridade física, psíquica e moral. ve legalmente sua culpa. Durante o processo, toda
2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguin-
ou tratos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda tes garantias mínimas:
pessoa privada da liberdade deve ser tratada com o a) direito do acusado de ser assistido gratuitamen-
respeito devido à dignidade inerente ao ser humano. te por tradutor ou intérprete, se não compreender
3. A pena não pode passar da pessoa do delinquente. ou não falar o idioma do juízo ou tribunal;
4. Os processados devem ficar separados dos con- b) comunicação prévia e pormenorizada ao acusa-
denados, salvo em circunstâncias excepcionais, e do da acusação formulada;
ser submetidos a tratamento adequado à sua con- c) concessão ao acusado do tempo e dos meios ade-
dição de pessoas não condenadas. quados para a preparação de sua defesa;
5. Os menores, quando puderem ser processados, d) direito do acusado de defender-se pessoalmente ou de
devem ser separados dos adultos e conduzidos a ser assistido por um defensor de sua escolha e de comu-
tribunal especializado, com a maior rapidez possí- nicar-se, livremente e em particular, com seu defensor;
vel, para seu tratamento. e) direito irrenunciável de ser assistido por um
6. As penas privativas da liberdade devem ter por defensor proporcionado pelo Estado, remunerado
finalidade essencial a reforma e a readaptação ou não, segundo a legislação interna, se o acusado
social dos condenados. não se defender ele próprio nem nomear defensor
dentro do prazo estabelecido pela lei;
z Proibição da escravidão e da servidão (art. 6): f) direito da defesa de inquirir as testemunhas pre-
Neste artigo, é de grande relevância atentar-se às sentes no tribunal e de obter o comparecimento,
como testemunhas ou peritos, de outras pessoas
hipóteses que não constituem trabalhos forçados
que possam lançar luz sobre os fatos;
ou obrigatórios, presentes no parágrafo 3º. Veja-
g) direito de não ser obrigado a depor contra si
mos a íntegra do artigo: mesma, nem a declarar-se culpada;
h) direito de recorrer da sentença para juiz ou tri-
Art. 6 Proibição da escravidão e da servidão bunal superior.
1. Ninguém pode ser submetido a escravidão ou a ser- 3. A confissão do acusado só é válida se feita sem
vidão, e tanto estas como o tráfico de escravos e o tráfi- coação de nenhuma natureza.
co de mulheres são proibidos em todas as suas formas. 4. O acusado absolvido por sentença passada em
2. Ninguém deve ser constrangido a executar tra- julgado não poderá ser submetido a novo processo
balho forçado ou obrigatório. Nos países em que pelos mesmos fatos.
se prescreve, para certos delitos, pena privativa da 5. O processo penal deve ser público, salvo no que for
liberdade acompanhada de trabalhos forçados, esta necessário para preservar os interesses da justiça.
disposição não pode ser interpretada no sentido de
que proíbe o cumprimento da dita pena, imposta
z Direito à indenização (art. 10): garantido àque-
por juiz ou tribunal competente. O trabalho força-
le que permanecer preso em virtude de sentença
do não deve afetar a dignidade nem a capacidade
física e intelectual do recluso. condenatória transitada em julgado proferida com
3. Não constituem trabalhos forçados ou obri- erro judiciário, ou seja, quem foi privado de sua
gatórios para os efeitos deste artigo: liberdade em virtude de um equívoco cometido
a) os trabalhos ou serviços normalmente exigidos pelo Estado durante seu julgamento terá direito
de pessoa reclusa em cumprimento de sentença ou a receber uma indenização em virtude dos danos
resolução formal expedida pela autoridade judiciá- decorrentes da situação vivenciada:
ria competente. Tais trabalhos ou serviços devem
ser executados sob a vigilância e controle das auto- Art. 10 Direito à indenização
ridades públicas, e os indivíduos que os executarem Toda pessoa tem direito de ser indenizada confor-
não devem ser postos à disposição de particulares, me a lei, no caso de haver sido condenada em sen-
498 companhias ou pessoas jurídicas de caráter privado; tença passada em julgado, por erro judiciário.
z Proteção à família (art. 17): 2. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Túlio, líder de movimen-
to pela liberação do uso da maconha, comunicou as
Art. 17 Proteção da família autoridades acerca da realização de marcha, com cer-
1. A família é o elemento natural e fundamental da socie- ca de duas mil pessoas, em determinado local público,
dade e deve ser protegida pela sociedade e pelo Estado. a favor de projeto de lei que propunha a legalização
2. É reconhecido o direito do homem e da mulher de con- do consumo recreativo desse entorpecente. Ao tomar
traírem casamento e de fundarem uma família, se tive- conhecimento do evento, Luísa, presidente da Asso-
rem a idade e as condições para isso exigidas pelas leis ciação de Prevenção ao Uso de Drogas, convocou,
internas, na medida em que não afetem estas o princípio sem avisar a autoridade competente, manifestação
da não-discriminação estabelecido nesta Convenção. contra o mencionado projeto de lei para o mesmo dia
3. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e local da referida marcha.
e pleno consentimento dos contraentes. Considerando essa situação hipotética, as disposi-
4. Os Estados Partes devem tomar medidas apro- ções da Constituição Federal de 1988 (CF) e o enten-
priadas no sentido de assegurar a igualdade de dimento do Supremo Tribunal Federal (STF), julgue o
direitos e a adequada equivalência de responsabili-
item que se segue.
dades dos cônjuges quanto ao casamento, durante o
A marcha liderada por Túlio viola preceito constitucio-
casamento e em caso de dissolução do mesmo. Em
nal, porque a realização de manifestações públicas
caso de dissolução, serão adotadas disposições que
assegurem a proteção necessária aos filhos, com base em favor da liberação do uso de drogas não encon-
unicamente no interesse e conveniência dos mesmos. tra amparo no exercício dos direitos fundamentais da
5. A lei deve reconhecer iguais direitos tanto aos livre manifestação de pensamento e de reunião.
filhos nascidos fora do casamento como aos nasci-
dos dentro do casamento. ( ) CERTO  ( ) ERRADO

z Direito ao nome (art. 18): 3. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Com base no texto da


Constituição Federal de 1988, julgue o item seguinte.
Art. 18 Direito ao nome O pagamento, pelo empregador, do seguro de acidente
Toda pessoa tem direito a um prenome e aos nomes de trabalho exclui a sua responsabilidade civil em face
de seus pais ou ao de um destes. A lei deve regular a de eventual indenização a que o empregado faça jus
forma de assegurar a todos esses direitos, mediante em razão de acidente laboral.
nomes fictícios, se for necessário.
( ) CERTO  ( ) ERRADO
z Direitos da criança (art. 19):
4. (CEBRASPE-CESPE — 2022) O item apresenta uma
Art. 19 Direitos da criança situação hipotética seguida de uma assertiva, a ser jul-
Toda criança tem direito às medidas de proteção gada com base nos direitos e garantias fundamentais
que a sua condição de menor requer por parte da assegurados na Constituição Federal de 1988 (CF).
sua família, da sociedade e do Estado A mineradora Y tem reduzido seu quadro de funcioná-
rios contratados, em razão de contenção de despesas,
z Direito à igualdade perante a lei (art. 24): e Ivo, empregado sindicalizado, estava na lista para
ser dispensado, porém foi eleito como suplente para
Art. 24 Igualdade perante a lei cargo de direção do sindicato. Nessa situação, com a
Todas as pessoas são iguais perante a lei. Por con- sua eleição, Ivo não poderá ser dispensado até um ano
seguinte, têm direito, sem discriminação, a igual
após o final do mandato, salvo se cometer falta grave.
proteção da lei.
( ) CERTO  ( ) ERRADO
A Convenção também estabelece que a Comissão Inte-
ramericana de Direitos Humanos e a Corte Interamericana
5. (CEBRASPE-CESPE — 2022) O item apresenta uma
de Direitos Humanos são órgãos competentes para o reco-
situação hipotética seguida de uma assertiva, a ser jul-
nhecimento das questões de que tratam o Pacto (art. 33).
gada com base nos direitos e garantias fundamentais
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
assegurados na Constituição Federal de 1988 (CF).
Art. 33 São competentes para conhecer dos assuntos
relacionados com o cumprimento dos compromissos
Wil renunciou à nacionalidade estadunidense, natura-
assumidos pelos Estados Partes nesta Convenção: lizou-se brasileiro e casou-se com Amélia, brasileira,
a) a Comissão Interamericana de Direitos Huma- com quem atualmente vive no Brasil. Nessa situação,
nos, doravante denominada a Comissão; e se o casal tiver um filho, este poderá ser registrado na
b) a Corte Interamericana de Direitos Humanos, embaixada ou em consulado dos Estados Unidos da
doravante denominada a Corte. América no Brasil, de modo a ter dupla cidadania.

( ) CERTO  ( ) ERRADO


HORA DE PRATICAR!
6. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Julgue o seguinte item,
1. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Julgue o item seguinte, acerca dos direitos e garantias fundamentais estabe-
considerando as disposições da legislação social. lecidos na Constituição Federal (CF).
O objetivo fundamental da Constituição Federal de 1988 Pressuponha-se que Pepe, brasileiro, tenha saído do
é amenizar as situações de vulnerabilidade socioeco- Brasil para atuar como jogador de futebol em determi-
nômica e reconfigurar as expressões da questão social. nado país estrangeiro e que, para a sua permanência
lá, tenha sido obrigado a adquirir a cidadania desse
( ) CERTO  ( ) ERRADO país. Nessa situação, ao adquirir outra nacionalidade, 499
Pepe perderá a condição de nacional brasileiro pelo Sobre o tema, julgue o seguinte item.
tempo que permanecer com outra cidadania.
O Poder Judiciário pode determinar que o Estado
( ) CERTO  ( ) ERRADO implemente políticas públicas no campo da seguran-
ça pública se caracterizada inadimplência quanto a tal
7. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Julgue o item subsequente, dever constitucional.
tendo em vista os termos da CF e a jurisprudência do STF.
Não implica disposição de competência legal a even- ( ) CERTO  ( ) ERRADO
tual delegação de ato de expulsão de estrangeiro
ao ministro de Estado da Justiça pelo presidente da 14. (CEBRASPE-CESPE — 2022) A Constituição Fede-
República. ral de 1988 estabelece normas a respeito da segu-
rança pública, a ser exercida para a preservação da
( ) CERTO  ( ) ERRADO ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio.
8. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Julgue o próximo item,
a respeito das práticas na administração pública Sobre o tema, julgue o seguinte item.
brasileira.
Ação popular, plebiscito e audiência pública são exem- O rol de órgãos encarregados do exercício da seguran-
plos de formas de controle legislativo na administra- ça pública, previsto na Lei Maior, não é taxativo, permi-
ção pública. tindo-se aos estados-membros e ao Distrito Federal a
criação de outros órgãos com a mesma função.
( ) CERTO  ( ) ERRADO
( ) CERTO  ( ) ERRADO
9. (CEBRASPE-CESPE — 2022) À luz da Constituição
Federal de 1988, julgue o item a seguir, acerca de direi- 15.
(CEBRASPE-CESPE — 2022) No que concerne à
tos e garantias fundamentais. organização do Estado e às competências dos entes
A cassação dos direitos políticos poderá ocorrer na federados, julgue o item subsequente, com base na
hipótese de constatação terminativa do cometimento jurisprudência do STF.
de ato de improbidade administrativa por um cidadão É constitucional lei estadual que estabeleça prazo
ou cidadã. máximo para que os planos de saúde autorizem solici-
tações de exames e procedimentos cirúrgicos de seus
( ) CERTO  ( ) ERRADO usuários, visto que se trata de matéria relativa a direito
do consumidor.
10. (CEBRASPE-CESPE — 2022) No tocante aos direitos e
às garantias constitucionais, julgue o item. ( ) CERTO  ( ) ERRADO
Não existe no Brasil nenhuma hipótese legal de aco-
lhimento da chamada candidatura nata, ou seja, o 16. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Com base no texto da
direito de o titular de mandato eletivo proporcional ser, Constituição Federal de 1988, julgue o item seguinte.
obrigatoriamente, escolhido e registrado pelo partido O participante de regime próprio de previdência social
como candidato à reeleição. somente poderá se filiar ao regime geral de previdên-
cia social na qualidade de segurado facultativo.
( ) CERTO  ( ) ERRADO
( ) CERTO  ( ) ERRADO
11. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Com base na Constituição
Federal de 1988, julgue o item que se segue, a respeito da 17. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Acerca da responsabili-
organização dos poderes e da organização do Estado. dade por dano ambiental, julgue o item subsequente.
Quando os cargos de presidente e de vice-presidente De acordo com o entendimento do Superior Tribunal
da República estiverem em vacância, serão chamados de Justiça, havendo comprovado dano ambiental por
ao exercício da presidência, sucessiva e exclusiva- falha de fiscalização, a administração pública respon-
mente, os presidentes da Câmara dos Deputados e do derá, solidariamente com o agente poluidor, na execu-
Supremo Tribunal Federal. ção do dever de indenizar e de reparar o dano, uma vez
que a responsabilidade civil do Estado por omissão é
( ) CERTO  ( ) ERRADO objetiva.

12. (CEBRASPE-CESPE — 2022) A respeito das atribui- ( ) CERTO  ( ) ERRADO


ções do Poder Executivo, do Poder Legislativo e dos
tribunais de contas, julgue o item a seguir. 18. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Acerca do meio ambien-
Compete ao presidente da República, mediante decreto, te e dos direitos das populações indígenas, julgue o
extinguir funções ou cargos públicos que estejam vagos. próximo item.
O aproveitamento dos recursos hídricos, a pesquisa
( ) CERTO  ( ) ERRADO e a lavra de riquezas mineiras em terras indígenas só
podem ser efetivados mediante autorização do Sena-
13. (CEBRASPE-CESPE — 2022) A Constituição Fede- do Federal, ouvidas as comunidades afetadas.
ral de 1988 estabelece normas a respeito da segu-
rança pública, a ser exercida para a preservação da ( ) CERTO  ( ) ERRADO
ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio.
500
19. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Em relação a aspectos
relativos aos direitos humanos, julgue o item a seguir.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos prevê o
direito ao asilo ainda que o ato praticado atente contra
os objetivos e princípios das Nações Unidas.

( ) CERTO  ( ) ERRADO

20. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Em relação a aspectos


relativos aos direitos humanos, julgue o item a seguir.
Além de absorver o princípio da dignidade da pessoa
humana como um dos norteadores do texto cons-
titucional, a Constituição Federal de 1988 também
estabeleceu mecanismo especial de incorporação de
regras relativas a direitos humanos ao ordenamento
jurídico brasileiro.

( ) CERTO  ( ) ERRADO

9 GABARITO

1 ERRADO

2 ERRADO

3 ERRADO

4 CERTO

5 ERRADO

6 ERRADO

7 CERTO

8 ERRADO

9 ERRADO

10 CERTO

11 ERRADO

12 CERTO

13 CERTO

14 ERRADO

15 ERRADO

16 ERRADO

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL


17 ERRADO

18 ERRADO

19 ERRADO

20 CERTO

ANOTAÇÕES

501
ANOTAÇÕES

502
São pessoas jurídicas de direito privado: empre-
sas públicas, sociedades de economia mista, funda-
ções governamentais com estrutura de pessoa jurídica
de direito privado, subsidiárias e consórcios públicos
de direito privado.
NOÇÕES DE DIREITO Autarquias
ADMINISTRATIVO As autarquias são pessoas jurídicas de direito
público interno, criadas por legislação própria, que
têm por escopo exercer as funções típicas da Adminis-
tração Pública. Trata-se da prestação descentralizada
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E de serviços públicos.
ATIVIDADE ADMINISTRATIVA As autarquias possuem um conceito definido
em lei, mais especificamente no inciso I, art. 5º, do
ADMINISTRAÇÃO DIRETA E INDIRETA Decreto-Lei nº 200, de 1967: para os fins desta lei,
considera-se:
Administração Direta, ou Centralizada, é a
parte da Administração Pública que compreende: as Art. 5° [...]
I - Autarquia - o serviço autônomo, criado por
pessoas jurídicas de direito público interno (União,
lei, com personalidade jurídica, patrimônio e
Estados, Municípios e Distrito Federal), somados a
receita próprios, para executar atividades típicas
todos os seus ministérios, ouvidorias, secretarias e da Administração Pública, que requeiram, para seu
outros tantos órgãos despersonalizados. melhor funcionamento, gestão administrativa e
Já a Administração Indireta ou Descentraliza- financeira descentralizada.
da é a expressão utilizada para designar o conjunto
de pessoas jurídicas autônomas criadas pelo próprio Podemos fazer alguns comentários sobre o concei-
Estado para atingir determinada finalidade pública. to apresentado. Ao dizer que as autarquias são cria-
Se as entidades são dotadas de personalidade jurídi- das “para executar atividades típicas da Administração
ca própria, elas têm patrimônio próprio, que não se Pública”, o texto legal faz referência àquelas ativida-
confunde com o patrimônio pessoal de seus agentes, des características do Poder Público e que só podem
e também têm responsabilidade pelos danos e prejuí- ser executadas pelo mesmo, em regra. São atividades
zos causados por seus agentes públicos, podendo res- em que deve haver a prevalência do interesse público
ponder judicialmente pela prática desses atos. sobre o privado; por isso mesmo, as autarquias gozam
de diversas prerrogativas para executar tais tarefas. É
Dica por isso que as autarquias são pessoas jurídicas de
direito público. Com isso, tais entidades são proibi-
Estudaremos a fundo os conceitos aqui expos- das de exercer qualquer atividade econômica, o que
tos, mas, de antemão, lembre-se do mnemônico lhes proporciona uma grande vantagem: não pode ser
“FASE” para memorizar as espécies de entidades decretada a falência delas e também gozam de imuni-
descentralizadas: Fundação Pública, Autarquia, dade tributária.
Sociedade de Economia Mista, Empresa Pública. A sua criação depende de lei específica. Isso signi-
fica que a sua existência é condicionada apenas pelo
Autarquias, Fundações, Empresas Públicas, trabalho realizado pelo legislador; não há outros atos
Sociedades de Economia Mista, Órgãos e Agentes subsequentes que condicionam sua existência, como
acontece com as pessoas jurídicas de direito privado.
Públicos
De mesmo modo, a extinção de autarquias somente
pode se dar por lei específica.
As entidades da Administração Indireta podem ter

NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO


personalidade jurídica de direito público ou de direito
privado. Tal diferença é bastante relevante no que diz
CRIAÇÃO DE ENTIDADES DA
respeito ao procedimento de criação dessas entidades
ADMINISTRAÇÃO INDIRETA
autônomas.
As pessoas jurídicas de direito público são criadas
por lei (XIX, art. 37, da CF, de 1988) e a sua personali-
dade jurídica advém no momento em que tal legisla-
ção entra em vigor no âmbito jurídico, não havendo Autarquia Outras entidades
necessidade de registro em cartório. As pessoas jurí-
dicas de direito privado, todavia, são autorizadas pela
lei (XX, art. 37, da CF, de 1988), ou seja, a legislação Lei específica cria e Lei específica
deve permitir que ela exista para que o Poder Execu- extingue autoriza
tivo regulamente suas funções mediante a expedição
de decretos. Sua personalidade jurídica, dessa forma,
está condicionada ao seu registro em cartório. O regime de pessoal das autarquias é o estatu-
São pessoas jurídicas de direito público, membros tário. Significa que a autarquia não pode contratar
da Administração Indireta: autarquias, fundações quem ela quiser, como se fosse um empregador: seus
públicas, agências reguladoras e associações públicas. funcionários devem ser servidores públicos, pre-
viamente aprovados em prova de concurso público. 503
Assim, todas as questões referentes ao regime laboral „ Especiais stricto sensu (Banco Central);
desses servidores devem ser resolvidas tendo como „ Agências reguladoras (Anatel, Anvisa).
base a Lei nº 8.112, de 1990, conhecida também como
Estatuto dos Servidores Públicos Civis da União. z Corporativas: Corporações profissionais, que pro-
O patrimônio das autarquias consiste em bens movem o controle e a fiscalização de categorias
públicos, que gozam da garantia de serem inalie- profissionais. Exemplos: CREA, CRO, CRM;
náveis e impenhoráveis. Se o patrimônio é público, z Fundacionais: São as fundações públicas, enti-
significa que ele é utilizado de forma a atender uma dades que arrecadam patrimônio para o cumpri-
finalidade pública. Logo, a autarquia não pode abrir mento de um objetivo específico. Exemplos: Funai,
mão desses bens, nem os dar em garantia. Procon, Funasa;
As autarquias, por estarem submetidas ao regime z Territoriais: Autarquias de controle da União,
de direito público, praticam, por meio de seus agentes, também denominadas territórios federais (art. 33,
atos administrativos (declarações unilaterais de vonta- da CF, de 1988). A atual Constituição aboliu os ter-
de) e somente podem celebrar contratos públicos (con- ritórios federais remanescentes;
tratos administrativos), isto é, são contratos típicos da z Associativas: São as autarquias criadas pelo
Administração Pública, que a colocam em posição mais resultado de uma celebração de consórcio públi-
vantajosa em relação ao particular interessado. co, também denominadas associações públicas.
As autarquias possuem imunidade tributária, Se o contrato de consórcio público envolver múl-
com fundamento no § 2º, do art. 150, da CF, que dispõe tiplos entes da Federação, tais autarquias podem
que é vedada a cobrança de impostos de autarquias, ser transfederativas. Exemplo: associação criada
no que se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços, entre União, estados e municípios para a constru-
vinculados a suas finalidades essenciais ou às delas ção de um teatro.
decorrentes.
Pode-se afirmar que vigora o princípio da espe-
cialidade no regime das autarquias. Isso significa que
Importante!
cada entidade é criada para atender a uma finalidade
individual e específica. Exemplificando: para tratar Curioso é o caso da Ordem dos Advogados do
de questões do regime de previdência social, temos o Brasil (OAB). A OAB sempre foi considerada uma
INSS, que é a única autarquia responsável pela con- autarquia de regime comum. Todavia, durante o
cessão de benefícios previdenciários. É o próprio INSS julgamento da ADI nº 3.026, o STF decidiu mudar
que responde em juízo, havendo uma ação previden- seu entendimento, ao decidir que a OAB é um
ciária pleiteada por particular, e não a União/Estado. serviço independente e de natureza especial e
O juízo competente para julgar causas comuns
que, por isso mesmo, não pode sofrer controle
que envolvem as autarquias federais é a Justiça
específico das autarquias. Assim, a OAB seria
Federal. Já no que tange aos processos que envolvem
as autarquias estaduais e municipais, a competên- considerada uma entidade própria sui generis, e
cia será da Justiça Estadual. não é mais uma autarquia.
A responsabilidade civil das autarquias é objeti-
va; elas respondem pelos prejuízos que seus agentes,
Fundações Públicas
nessa qualidade, causarem a terceiros, nos termos do
§ 6º, do art. 37, da CF.
As fundações públicas são consideradas espécies
Para facilitar seu estudo, veja as principais infor-
de autarquias, possuindo diversas características
mações e características das autarquias:
similares. Fundação pública é, nos termos do inciso
IV, art. 5º, do Decreto-Lei nº 200, de 1967:
z Prestação de serviços e atividades típicas do
Estado;
Art. 5° [...]
z Não se destinam à exploração de atividade econômica;
IV - Fundação Pública - a entidade dotada de per-
z Regime jurídico público;
sonalidade jurídica de direito privado, sem fins
z Criadas por lei, com personalidade jurídica, patri-
lucrativos, criada em virtude de autorização
mônio e receita próprios; legislativa, para o desenvolvimento de atividades
z Possuem imunidade tributária; que não exijam execução por órgãos ou entidades
z Celebram contratos administrativos; de direito público, com autonomia administrativa,
z Responsabilidade civil objetiva. patrimônio próprio gerido pelos respectivos órgãos
de direção, e funcionamento custeado por recursos
Devido à multiplicidade de assuntos, temos, con- da União e de outras fontes.
sequentemente, uma multiplicidade de autarquias. A
doutrina tende a classificar as autarquias nos seguin- Já de acordo com o entendimento da doutrinadora
tes grupos: Maria Sylvia Di Pietro, fundação pública é:

z Administrativas: São as autarquias comuns, apre- Instituída pelo Poder Público com o patrimônio,
sentam regime jurídico ordinário. Exemplo: Insti- total ou parcialmente público, dotado de perso-
tuto Nacional de Seguridade Social (INSS); nalidade jurídica, de direito público ou privado, e
z Especiais: Possuem maior autonomia em relação destinado, por lei, ao desempenho de atividades do
às autarquias administrativas devido à presença Estado na ordem social, com capacidade de autoad-
de certas características, como a presença de diri- ministração e mediante controle da Administração
gentes com mandato fixo. Podem subdividir-se em: Pública, nos limites da lei.1

504 1 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 31. ed. São Paulo: Ed. GenMétodo, 2018.
A Funai, Funasa e o IBGE são alguns exemplos de
FUNDAÇÕES PÚBLICAS FUNDAÇÕES PÚBLICAS
fundações públicas. DE DIREITO PÚBLICO DE DIREITO PRIVADO
Pelo conceito disposto na legislação, percebe-se
que o referido Decreto-Lei dispõe serem as funda- Lei específica autoriza a Lei específica autoriza a
ções entidades com personalidade jurídica de direito sua criação sua criação
privado. Tal conceituação não foi recepcionada pela Necessário obter registro Necessário obter registro
Constituição de 1988 que, no inciso XIX, do art. 37, dos atos constitutivos dos atos constitutivos
decidiu não fazer tal distinção: Pessoal regido pelo regi-
Pessoal regido pela CLT
me estatutário
Art. 37 (CF, de 1988) [...]
Competência para julgar: Competência para julgar:
XIX - somente por lei específica poderá ser criada
Justiça Federal Justiça Estadual (comum)
autarquia e autorizada a instituição de empresa
pública, de sociedade de economia mista e de fun- Responsabilidade civil Responsabilidade civil
dação, cabendo à lei complementar, neste último objetiva objetiva
caso, definir as áreas de sua atuação; Bens públicos Bens privados

Dessa forma, concluímos que as fundações podem Agências Reguladoras: Características e


ser tanto de Direito Público como de Direito Priva- Classificação
do, dependendo do que a lei instituidora da fundação
delimitar quanto às suas competências. Todavia, é O surgimento das agências reguladoras possui for-
importante frisar que mesmo as fundações de regime tes relações com a época das privatizações na segunda
jurídico privado devem obediência às normas públi- metade dos anos 1990. Nesse contexto, as agências regu-
cas, e não à legislação civil. ladoras foram introduzidas, sobretudo pelas ECs nº 8 e
Sobre esse tema, cabe diferenciar o regime de 9, ambas de 1995, para atuar como órgãos reguladores,
pessoal das fundações públicas de direito público e fiscalizadores e controladores da iniciativa privada, que
privado. No âmbito das fundações públicas de direito passaram a desenvolver as tarefas originalmente atri-
privado, o regime trabalhista será regido pela CLT. Já buídas ao Estado. Alguns exemplos de agências regula-
nos casos de fundações de direito público, deverá ser doras: Aneel, Anatel, Ancine, ANP, entre outros.
aplicado o regime jurídico único (estatutário). As agências reguladoras também são autarquias
As fundações de direito privado, para sua criação, sob um regime especial, diferenciando-se das autar-
precisam de autorização por lei. São diferentes de quias comuns em dois aspectos:
uma autarquia, que é criada por lei. Aqui, a fundação
já existe, mas, para atuar no mercado privado, deve, z Estabilidade: Os dirigentes das agências regulado-
além de possuir autorização legislativa, obter registro ras não podem ser exonerados por qualquer moti-
dos atos constitutivos em cartório para adquirir sua vo, ao contrário do que acontece nas autarquias, nas
personalidade jurídica, como se fosse uma empresa. quais seus dirigentes atuam em cargos de comissão.
Quanto ao patrimônio, quando se tratar de funda- Assim, os dirigentes das agências têm maior pro-
ções públicas de direito público, os bens serão caracte- teção contra o desligamento forçado, promovendo
rizados como bens públicos. Por conseguinte, quanto maior estabilidade no exercício de seu cargo;
às fundações públicas de direito privado, seu patrimô- z Mandato fixo: Os dirigentes não possuem cargo
nio consiste em bens privados, que não gozam das vitalício. Entretanto, a existência de mandato fixo
garantias de inalienabilidade e impenhorabilidade garante também maior estabilidade no seu cargo,
presentes nos bens públicos. visto que ele tem prazo determinado para se encer-
Como o patrimônio se destaca do seu instituidor, o rar. A duração dos mandatos pode variar depen-
controle desse referido patrimônio é feito por órgão dendo de cada agência, podendo ser de três anos,
especial, denominado curadoria das fundações. No como na Anvisa, quatro anos, como na Aneel, ou
caso das fundações de direito público, o controle fiscal até cinco anos, como na Anatel.

NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO


é exercido pelo Ministério Público.
Importante, também, destacar que as fundações As agências reguladoras podem ser classificadas:
privadas podem celebrar contratos privados, os ins-
trumentos contratuais típicos da esfera privada, como z Quanto à sua origem:
compra e venda, locação de imóvel etc.
Quanto à competência para julgar as causas que „ Agências federais;
envolvem as fundações, devemos ter ciência de que „ Estaduais;
as fundações públicas de direito público, quando na „ Municipais;
esfera federal, submetem-se à Justiça Federal. Por „ Distritais.
outro lado, embora isso seja alvo de controvérsia
na doutrina, entende-se que as fundações públicas z Quanto à atividade preponderante:
de direito privado, nas causas comuns (inclusive de
âmbito federal), submetem-se à Justiça Estadual. „ Agências de serviço, que exercem as funções
A responsabilidade civil das fundações públicas é típicas;
de ordem objetiva. Respondem objetivamente pelos „ Agências de polícia, que exercem fiscalização
prejuízos causados por seus agentes a terceiros. das atividades econômicas;
Para facilitar seus estudos, veja na tabela a seguir as „ Agências de fomento, que ajudam a desenvol-
principais informações e características das fundações: ver o setor privado;
„ Agências de uso de bens públicos. 505
z Quanto à previsão constitucional:

„ Agências com referência constitucional (a Anatel tem previsão no inciso XI, art. 21, da CF, de 1988);
„ Agências sem referência constitucional — são a grande maioria.

z Quanto ao momento de sua criação:

„ Agências de primeira geração (1996 a 1999), na época das privatizações;


„ De segunda geração, de 2000 a 2004;
„ De terceira geração, que adveio com as agências pluripotenciárias (2005 em diante), exercendo múltiplas
funções simultaneamente.

Associações Públicas: a Criação de Consórcio

A União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios são os entes responsáveis pela regulamentação dos con-
sórcios públicos e dos convênios de cooperação, autorizando a gestão associada de serviços públicos, bem como a
transferência total ou parcial de encargos, serviços, pessoal e bens essenciais à continuidade dos serviços transferi-
dos (art. 241, da CF, de 1988).
Essas pessoas jurídicas autônomas, criadas pelos entes federados, e que têm por objeto medidas de mútua
cooperação, denominam-se consórcio públicos. Os consórcios públicos são disciplinados pela Lei nº 11.107, de
2005. Uma das características mais distintas dos consórcios é a possibilidade de eles possuírem natureza de Direi-
to Público ou de Direito Privado.
Consórcios de Direito Privado obedecem às normas da legislação civil, e possuem regime celetista, embora
não possam ter fins lucrativos. Por isso, não integram a Administração Pública. Já os consórcios de direito público
são as associações públicas propriamente ditas, podendo ser inclusive transfederativas se integrarem todas as
esferas das pessoas consorciadas (federal, estadual, municipal).

Empresas do Estado: as Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista

Passemos a analisar o grupo de pessoas jurídicas denominado Empresas do Estado (ou empresas estatais).
São as pessoas jurídicas de direito privado pertencentes à Administração Indireta e comportam duas espécies: as
empresas públicas e as sociedades de economia mista.
Muitas das características apresentadas pelas fundações privadas aplicam-se às empresas estatais, isto é, sua
criação depende de autorização legislativa além do registro em cartório; seu patrimônio se constitui de bens
privados; sua atividade principal consiste em exercer uma atividade econômica; e a aptidão para celebrar con-
tratos privados.
As empresas públicas e as sociedades de economia mista apresentam características em comum:

z Atuação na prestação de serviços públicos ou no desenvolvimento de atividade econômica: As empresas


exploradoras de atividade econômica geralmente recebem menor controle pela Administração, embora tam-
bém apresentem certas desvantagens, como não terem imunidade a impostos e o fato de seus bens não terem
natureza pública, podendo ser penhorados;
z Sofrem controle pelo Tribunal de Contas da União: Também podem sofrer controle pelo Poder Judiciário,
no que couber;
z Contratação de bens e serviços mediante prévia licitação: A licitação é o processo utilizado a fim de pro-
mover uma competição justa com as empresas privadas do mesmo setor. Tal imposição não é exigida para as
empresas públicas e sociedades de economia mista exploradoras de atividade econômica;
z Obrigatoriedade de realização de concurso público: Trata-se de uma forma de avaliar os melhores funcio-
nários dentro de um grupo seleto de candidatos;
z Contratação de pessoal pelo regime celetista: Seus membros são denominados empregados públicos, salvo
nas hipóteses de contratação para cargo comissionado. Todas as controvérsias envolvendo o regime laboral
dos empregados públicos devem ser resolvidas com base na CLT. Apesar disso, a vedação de acumular dois
cargos públicos também se estende aos empregos públicos;
z Impossibilidade de decretar sua falência: No caso das estatais prestadoras de serviços públicos, nos termos
do inciso I, art. 2º, da Lei nº 11.101, de 2005.

As empresas públicas são pessoas jurídicas de Direito Privado cuja criação depende de autorização legal. Sua
personalidade é concedida pelo registro de seus atos constitutivos em cartório, com a totalidade de seu capital
público e regime organizacional livre (II, art. 5º, do Decreto-Lei nº 200, de 1967), podendo ser organizadas como
sociedade anônima, sociedade de responsabilidade limitada ou, ainda, sociedade por comandita de ações. São
empresas públicas: o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a Caixa Econômica Fede-
ral (CEF) e a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero).
As sociedades de economia mista têm seu conceito legal previsto no III, art. 5º, do Decreto-Lei nº 200, de 1967.
São pessoas jurídicas de direito privado cuja criação também depende de autorização legal e de registro em cartó-
rio. Possuem a maioria de seu capital público e devem ser obrigatoriamente organizadas como sociedades
anônimas. São sociedades de economia mista: Petrobras, Banco do Brasil, Eletrobras.
506
Percebemos algumas diferenças entre as empresas públicas e as sociedades de economia mista. A primeira
diz respeito ao capital constitutivo: enquanto, nas empresas públicas, todo o seu capital deve ser público (o
Decreto-Lei nº 200, de 1967, dispõe que seu capital deve advir totalmente “da União”, mas se admite também o
capital de origem estadual e municipal), as sociedades de economia mista admitem a presença do capital de
origem privada, mas pelo menos 50% mais uma de suas ações com direito a voto devem pertencer ao Estado.
Além disso, outra diferença relevante é em relação à forma de sua organização: as sociedades de economia
mista devem obrigatoriamente ter a estrutura de sociedade anônima; trata-se de disposição legal do próprio
Decreto-Lei nº 200, de 1967. As empresas públicas, por sua vez, não sofrem essa imposição, podendo adotar a
estrutura que desejarem.

EMPRESA PÚBLICA (EP) SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA (SEM)

Personalidade jurídica de direito privado Personalidade jurídica de direito privado

Criação autorizada por lei Criação autorizada por lei

Capital social integralmente público (todo o seu capital Capital Social majoritariamente público (50% + 1). Ações
deve ser público) com direito a voto pertencem na maioria ao Estado

Forma organizacional livre Forma de Sociedade Anônima (S/A)

Outro ponto importante a ser levantado diz respeito às empresas subsidiárias de Empresa Pública (EP) e Socie-
dade de Economia Mista (SEM). Isso corre quando as EP ou SEM, visando melhorar a organização das suas opera-
ções, criam outras empresas, conhecidas como subsidiárias.
As empresas subsidiárias integram a Administração Indireta e possuem personalidade jurídica própria. De acor-
do com o Decreto 8.945, de 2016, as subsidiárias possuem a maioria das ações com direito a voto pertencente direta
ou indiretamente à EP ou SEM.
Cabe destacar também a diferença entre as empresas subsidiárias e as sociedades empresárias que possuem
participação do Estado. A primeira diferença está no fato de que as empresas subsidiárias de EP e SEM integram a
Administração Indireta, diferentemente das sociedades por participação. Outro ponto importante é que o Estado
não possui controle da entidade que possui participação.
Por fim, lembre-se: é possível a participação estatal em sociedades privadas, com o capital minoritário e sob o
regime de direito privado.
Quanto ao regime jurídico aplicável às EP e SEM, é necessário ter uma atenção especial. Em regra, o regime
aplicável é o de direito privado, porém, esse regime mudará a depender da atividade a ser desenvolvida.
Refere-se às EP e SEM exercer atividade econômica em sentido estrito, estará sujeita a normas do direito pri-
vado. Já se prestarem serviços públicos, aplicarão o regime jurídico de direito público. Para facilitar seu estudo,
veja o esquema a seguir:

EMPRESA PÚBLICA OU
SOCIEDADE DE ECONOMIA
MISTA

Atuando em atividade Prestando serviços


econômica públicos

NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO


Regime jurídico de Regime jurídico de
direito privado direito público

Quanto à imunidade tributária, cabe ressaltar que quando a EP ou a SEM explorar atividade econômica em
sentido estrito, não fará jus à imunidade tributária recíproca ou a privilégios fiscais. Por outro lado, caso preste
serviços públicos, sem cunho econômico, fará jus às imunidades e aos privilégios mencionados.
Outro ponto importantíssimo diz respeito à responsabilidade civil por danos que seus agentes, nessa quali-
dade, causarem a terceiros. A responsabilidade será objetiva quando a EM ou a SEM for prestadora de serviços
públicos. Já caso a estatal seja exploradora de atividade econômica, a responsabilidade será subjetiva, ou seja, ela
só será obrigada a indenizar os danos causados por culpa ou dolo.
O juízo competente será a Justiça Estadual quando se tratar de EP ou SEM de nível estadual ou municipal. Em
contrapartida, quando se tratar de estatais da esfera federal, devemos separá-las: EP federais serão julgadas pela
justiça federal; SEM federais serão julgadas pela Justiça Estadual.
São muitos detalhes nos que concerne às EP e SEM. Para sistematizar as informações vistas, acompanhe os
esquemas a seguir:

507
Pode adotar qualquer
forma admitida

Capital Social
integralmente público Objetiva, quando
prestadora de serviço
público
Responsabilidade civil
Subjetiva, quando
explorar atividade
EMPRESA PÚBLICA econômica

EP Federal: Justiça
Federal

Juízo competente
EP Estadual ou
Municipal: Justiça
Estadual

Somente poderá ser


constituída na forma
de Sociedade Anônima
(S/A)

Capital Social misto


Objetiva, quando
prestadora de serviço
público
Responsabilidade civil
Subjetiva, quando
SOCIEDADE DE explorar atividade
ECONOMIA MISTA econômica

SEM Federal: Justiça


Estadual

Juízo competente
SEM Estadual ou
Municipal: Justiça
Estadual
DAS ENTIDADES DE COLABORAÇÃO E SEU REGIME JURÍDICO

Por fim, convém explanar sobre algumas pessoas jurídicas às quais, apesar de não integrarem a Adminis-
tração Pública, seja Direta ou Indireta, são aplicáveis as normas gerais de Direito Administrativo. Essas são as
entidades paraestatais.
As entidades paraestatais são entidades privadas que realizam atividades de interesse coletivo, sem fins
lucrativos, que recebem incentivos de entidades públicas. Tais empresas privadas, cujo objetivo é a execução de
serviços de relevante interesse público, são denominadas entidades do Terceiro Setor. Tradicionalmente, conside-
ra-se “entidade paraestatal” sinônimo de entidades da Administração Indireta.
As entidades paraestatais, por serem regidas pelo direito privado, não têm os privilégios concedidos constitu-
cionalmente às entidades de direito público. Essas entidades paraestatais podem se apresentar sob as seguintes
formas:

Organização Social

A organização social (OS) não é uma pessoa jurídica especial, mas uma qualificação especial outorgada pelo
governo federal a entidades da iniciativa privada, sem fins lucrativos, cuja outorga autoriza a fruição de van-
tagens peculiares, como isenções fiscais, destinação de recursos orçamentários, repasse de bens públicos, bem
508 como empréstimo temporário de servidores governamentais.
A Lei nº 9.637, de 1998, é a lei que regulamenta essa qualificação das OS, e seu art. 1º é bastante claro ao delimi-
tar a área de atuação de tais entidades privadas: de modo geral, a OS será concedida a empresas cujas principais
atividades sejam dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico, à proteção e
preservação do meio ambiente, à cultura e à saúde. Desempenham, portanto, atividades de interesse público,
mas que não se caracterizam como serviços públicos stricto sensu, razão pela qual é incorreto afirmar que as
organizações sociais são concessionárias ou permissionárias.
O art. 2º, da referida Lei, dispõe sobre os requisitos para a outorga da qualificação como OS. São requisitos
específicos para que as entidades privadas referidas no artigo anterior habilitem-se à qualificação como organização
social:

z Comprovar o registro de seu ato constitutivo, incluindo a natureza social de seus objetivos, suas finalidades não
lucrativas, a composição dos membros de sua diretoria etc. (inciso I, art. 2º);
z Haver aprovação, quanto à conveniência e oportunidade de sua qualificação como organização social, do Minis-
tro ou titular de órgão supervisor ou regulador da área de atividade correspondente ao seu objeto social e do
Ministro de Estado da Administração Federal e Reforma do Estado (inciso II, art. 2º). Importante ressaltar que a
concessão de tal qualificação é ato discricionário, ficando a cargo do agente responsável (Ministro de Estado)
— considerando critérios de conveniência e oportunidade — conceder ou não tal qualificação.

O instrumento de formalização da parceria entre a Administração e a organização social é o contrato de


gestão, cuja aprovação deve ser submetida ao Ministro de Estado ou a outra autoridade supervisora da área de
atuação da entidade.
As organizações sociais representam uma espécie de parceria entre a Administração e a iniciativa privada,
exercendo atividades que, antes da Emenda 19, de 1998, eram desempenhadas por entidades públicas. Por isso,
seu surgimento no direito brasileiro está relacionado a um processo de privatização lato sensu, realizado por
meio da abertura de atividades públicas à iniciativa privada.

Organização da Sociedade Civil de Interesse Público

As Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs) são também pessoas jurídicas de direito pri-
vado, sem fins lucrativos, instituídas por iniciativa dos particulares e qualificadas pelo Estado, para desempenhar
serviços não exclusivos do Estado, com fiscalização pelo Poder Público, formalizando a parceria com a Adminis-
tração Pública por meio de termo de parceria.
A lei que disciplina as OSCIPs é a Lei nº 9.790, de 1999, regulamentada pelo Decreto nº 3.100, de 1999. O art. 3º,
da Lei, dá uma noção mais ampla e geral sobre as entidades que podem ser qualificadas como OSCIPs, in verbis:

Art. 3º A qualificação instituída por esta Lei, observado em qualquer caso, o princípio da universalização dos ser-
viços, no respectivo âmbito de atuação das Organizações, somente será conferida às pessoas jurídicas de direito
privado, sem fins lucrativos, cujos objetivos sociais tenham pelo menos uma das seguintes finalidades:
I - promoção da assistência social;
II - promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico;
III - promoção gratuita da educação, observando-se a forma complementar de participação das organizações de que
trata esta Lei;
IV - promoção gratuita da saúde, observando-se a forma complementar de participação das organizações de que
trata esta Lei;
V - promoção da segurança alimentar e nutricional;
VI - defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável;
VII - promoção do voluntariado;

NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO


VIII - promoção do desenvolvimento econômico e social e combate à pobreza;
IX - experimentação, não lucrativa, de novos modelos sócio-produtivos e de sistemas alternativos de produção,
comércio, emprego e crédito;
X - promoção de direitos estabelecidos, construção de novos direitos e assessoria jurídica gratuita de interesse
suplementar;
XI - promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos humanos, da democracia e de outros valores universais;
XII - estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias alternativas, produção e divulgação de informações e
conhecimentos técnicos e científicos que digam respeito às atividades mencionadas neste artigo.
XIII - estudos e pesquisas para o desenvolvimento, a disponibilização e a implementação de tecnologias voltadas à
mobilidade de pessoas, por qualquer meio de transporte.

Como já mencionamos, o instrumento que regula essa relação do Poder Público com a OSCIP é o termo de
parceria, que discriminará direitos, responsabilidades e obrigações das partes signatárias (art. 10), prevendo espe-
cialmente metas a serem alcançadas, prazo de duração, direitos e obrigações das partes e formas de fiscalização.
Além disso, outra diferença marcante entre a OSCIP da OS é que sua concessão é ato vinculado (§ 2º, art. 1º, Lei nº
9.790, de 1999), podendo-se falar em um “direito adquirido” da empresa privada em obter a qualificação de OSCIP.
O requerimento deve ser encaminhado ao Ministro da Justiça, na forma do art. 5º da referida Lei.

509
Esquematicamente, podemos estabelecer as principais diferenças entre a OS e a OSCIP da seguinte forma:

PRINCIPAIS DISTINÇÕES OS OSCIP


Lei nº 9.790, de 1999 + Decreto nº
Quanto à legislação Lei nº 9.637, de 1998
3.100, de 1999
Atividades de interesse público ante- Atividades não exclusivas do Estado,
Quanto ao exercício de funções riormente desempenhadas pelo Esta- mas de relevante interesse público
do (mais restrito) (mais abrangente)
Quanto ao instrumento que formaliza
Contrato de Gestão Termo de Parceria
a relação
Ato discricionário; conveniência e
Quanto à vinculação da qualificação Ato vinculado; disposição legal
oportunidade
Quanto ao ente público outorgante Ministro de Estado Ministro da Justiça
Quanto à possibilidade de direito
Não há tal possibilidade Há direito adquirido sobre a outorga
adquirido

CONCEITO DE ADMINISTRAÇÃO, NATUREZA E FINS DA ADMINISTRAÇÃO

Noções de Administração Pública

Segundo José Afonso da Silva (2017), administração pública é o conjunto de meios institucionais, financeiros e
humanos destinados à execução das decisões políticas2.
A Constituição Federal de 1988 estabeleceu regras gerais e preceitos específicos no Capítulo VII do Título III. São
normas que tratam da organização, diretrizes, remuneração e atuação dos servidores, acesso aos cargos públicos etc.
Assim, a seguir passaremos a estudar as regras e preceitos específicos da Administração Pública.

NATUREZA, ELEMENTOS E FINS

O Título III, da Constituição Federal refere-se às normas das orientações de atuação dos agentes administrativos,
empregos públicos, responsabilidade civil etc., ou seja, trata-se da administração de bens e interesse público, assim,
conclui-se que a administração pública tem natureza de “múnus público”. Por exemplo, os agentes públicos são obri-
gados a velar pela estrita observância dos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade no trato
dos assuntos que lhe são afetos, caso contrário o agente estará cometendo ato de improbidade administrativa sujeito
as sanções e penalidades previstas na Lei nº 8429, de 1992.

Dica
A palavra múnus tem origem no latim e significa dever, obrigação etc. O múnus público é uma obrigação
imposta por lei, em atendimento ao poder público, que beneficia a coletividade e não pode ser recusado,
exceto nos casos previstos em lei. Por exemplo: dever de votar, depor como testemunha, atuar como mesário
eleitoral, serviço militar, entre outros3.

Toda vez que a administração pública pratica uma ação que produz um efeito jurídico, chamamos de ato admi-
nistrativo que produz efeitos que podem criar, modificar ou extinguir direitos.
Os elementos dos atos administrativos são competência, objeto, motivo, finalidade e forma. Toda vez que
um ato é praticado deve se observar qual é a competência da pessoa que o praticou, ou seja, a competência é a
função atribuída a cada órgão ou autoridade por lei, tem como característica ser irrenunciável, imprescritível,
inderrogável e improrrogável.
O art. 12 da Lei nº 9.784, de 1999 (Lei que regula o processo administrativo no âmbito da administração pública),
permite a delegação de competência, vejamos:

Art. 12 Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver impedimento legal, delegar parte da sua com-
petência a outros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam hierarquicamente subordinados, quando for
conveniente, em razão de circunstâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial.
Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se à delegação de competência dos órgãos colegiados aos
respectivos presidentes.

O resultado do ato administrativo é o objeto, ou seja, é aquilo que o ato decide, por exemplo, a punição decor-
rente de uma multa de trânsito. O elemento motivo são as razões de fato e de direito que levaram a Administração
Pública a praticar determinado ato, por exemplo, é a infração de trânsito que deu origem a multa. A finalidade
deve objetivar alcançar sempre o interesse público (definido em lei), é o resultado que a Administração Pública
2 SILVA, op. cit, p. 665.
3 Disponível em <https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/campanhas-e-produtos/direito-facil/edicao-semanal/munus-publico.> Acesso
510 em: 12 out 2020.
pretende alcançar com determinado ato, por exem- O princípio da supremacia do interesse públi-
plo, a desapropriação por utilidade pública. Por fim, co é o princípio que dá os poderes e prerrogativas à
a forma é manifestação do ato, por exemplo, publicar Administração Pública. A supremacia do interesse
no Diário Oficial da União a nomeação do Servidor público sobre o privado é um aspecto fundamental
Público. para o exercício da função administrativa. Podemos
citar como exemplo a desapropriação de um imóvel
pertencente a um particular: o particular pode ter
COMPETÊNCIA Atribuição legal para praticar o ato interesse em não ter seu bem desapropriado, ou achar
OBJETO Resultado do ato, o que o ato decide o valor da indenização injusto, mas ele não pode ter
interesse em extinguir o instituto da expropriação
MOTIVO Razões fáticas e jurídicas administrativa. Trata-se de um instituto que deve
existir, independentemente da sua vontade.
Resultado que o ato deseja (interesse Mas se o Estado apenas tivesse prerrogativas, com
FINALIDADE
público) certeza ele agiria com abuso de autoridade. É por isso
FORMA Manifestação do ato que ao Estado também lhe incumbe uma série de deve-
res, fundadas pelo princípio da indisponibilidade
do interesse público. Tal princípio pressupõe que o
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO
Poder Público não é dono do interesse público, ele deve
manuseá-lo segundo o que a norma lhe impõe. É por
Noção Geral de Princípio
isso que ele não pode se desfazer de patrimônio públi-
co, contratar quem ele quiser, realizar gastos sem pres-
Por motivos didáticos, costuma-se dividir as nor- tar contas a seu superior, etc. Tais atos configuram em
mas cogentes em regras e princípios. Regras são nor- desvio de finalidade, uma vez que o objetivo principal
mas cogentes que traduzem um comando direto, são deles não é de interesse público, mas apenas do pró-
criadas pelo legislador (portanto, são positivadas), prio agente, ou de algum terceiro beneficiário.
e são utilizadas para a solução de casos concretos e
específicos. Os princípios, por sua vez, delimitam os Princípios Constitucionais da Administração Pública
valores fundamentais de um ramo do direito, pos-
suem conteúdo muito mais abrangente. São conside-
São os princípios expressos, previstos no Texto
rados mais importantes, dado o seu caráter geral e
Constitucional, mais especificamente no caput do art.
abstrato. Os princípios são descobertos pela doutrina,
37. Segundo o referido dispositivo:
através da análise das regras, retirando os aspectos
concretos desta. O legislador, dessa forma, tem um
Art. 37 A administração pública direta e indireta
papel indireto na criação dos princípios. de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Apesar das diferenças mencionadas, é indiscutível Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
que os princípios e as regras são normas que apresen- princípios de legalidade, impessoalidade, moralida-
tam força cogente máxima. Porém, como os princípios de, publicidade e eficiência.
possuem valores fundamentais de um ramo jurídico,
são considerados hierarquicamente superiores. Vio- Assim, esquematicamente, temos os princípios
lar uma regra é um erro grave, mas violar um prin- constitucionais da:
cípio é erro gravíssimo: é cometer ofensa a todo um
ordenamento de comandos. z Legalidade: fruto da própria noção de Estado de
Direito, as atividades do gestor público estão sub-
DOS PRINCÍPIOS DE DIREITO ADMINISTRATIVO missas a forma da lei. A legalidade promove maior
segurança jurídica para os administrados, na
Os princípios de Direito Administrativo são, medida em que proíbe que a Administração Públi-
assim, os princípios que atuam como diretrizes sistê- ca pratique atos abusivos. Ao contrário dos parti-
micas do próprio regime jurídico-administrativo. Os culares, que podem fazer tudo aquilo que a lei não
princípios que regem a atividade da Administração proíbe, a Administração só pode realizar o que lhe
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Pública são vastos, podendo estar explícitos em nor- é expressamente autorizado por lei;
ma positivada, ou até mesmo implícitos, porém deno- z Impessoalidade: a atividade da Administração
tados segundo a interpretação das normas jurídicas. Pública deve ser imparcial, de modo que é vedado
Temos, assim: princípios gerais de Direito Adminis- haver qualquer forma de tratamento diferenciado
trativo, os princípios constitucionais, e os princípios entre os administrados. Esse princípio apresenta
infraconstitucionais. algumas vertentes que são importantes conhecer.
A primeira diz respeito à finalidade: há uma for-
Princípios Gerais de Direito Administrativo te relação entre a impessoalidade e a finalidade
pública, pois quem age por interesse próprio não
Os princípios gerais de Direito Administrativo, condiz com a finalidade do interesse público. A
são os princípios basilares desse ramo jurídico, sen- outra vertente diz respeito a pessoa do adminis-
do aplicáveis ante ao fato de a Administração Públi- trador, pois a atividade administrativa é conside-
ca ser considerada pessoa jurídica de direito público. rada de seus órgãos e pessoas jurídicas, e nunca de
São princípios implícitos, uma vez que eles não preci- seus agentes; pessoas físicas. Esse é o fundamento
sam estar expressos na legislação para que a doutri- da chamada “Teoria do Órgão”. Por causa disso, é
na aceite sua existência, afinal, sem esses princípios vedada a possibilidade do agente público de utili-
a Administração não poderia funcionar direito. São zar os recursos da Administração Pública para fins
dois: o princípio da supremacia do interesse público, e de promoção pessoal, conforme aponta o § 1º do
o princípio da indisponibilidade do interesse público. art. 37 da CF, de 1988; 511
z Moralidade: a Administração impõe a seus agen- necessária a intervenção judicial para que a própria
tes o dever de zelar por uma “boa-administra- Administração anule ou revogue esses atos.
ção”, buscando atuar com base nos valores da Não havendo necessidade de recorrer ao Poder
moral comum, isso é, pela ética, decoro, boa-fé, e Judiciário, quis o legislador que a Administração
lealdade. A moralidade não é somente um prin- possa, dessa forma, promover maior celeridade na
cípio, mas também requisito de validade dos atos recomposição da ordem jurídica afetada pelo ato ilí-
administrativos; cito, e garantir maior proteção ao interesse público
z Publicidade: a publicação dos atos da Administra- contra os atos inconvenientes.
ção promove maior transparência e garante eficá- Segundo o disposto no art. 53 da Lei nº 9.784, de
cia erga omnes. Além disso, também diz respeito 1999:
ao direito fundamental que toda pessoa tem de
obter acesso a informações de seu interesse pelos Art. 53 A Administração deve anular seus próprios
órgãos estatais, salvo as hipóteses em que esse atos, quando eivados de vício de legalidade, e pode
direito ponha em risco a vida dos particulares ou revogá-los por motivo de conveniência ou oportuni-
o próprio Estado, ou ainda que ponha em risco a dade, respeitados os direitos adquiridos.
vida íntima dos envolvidos;
z Eficiência: implementado pela reforma adminis- A distinção feita pelo legislador é bastante opor-
trativa promovida pela Emenda Constitucional tuna: ele enfatiza a natureza vinculada do ato anu-
nº 19 de 1998, a eficiência se traduz na tarefa da latório, e a discricionariedade do ato revogatório. A
Administração de alcançar os seus resultados de Administração pode revogar os atos inconvenientes,
uma forma célere, promovendo melhor produti- mas tem o dever de anular os atos ilegais.
vidade e rendimento, evitando gastos desneces- A autotutela também tem previsão em duas súmu-
las do Supremo Tribunal Federal. Súmula nº 346:
sários no exercício de suas funções. A eficiência
fez com que a Administração brasileira adquiris-
Súmula nº 346 A Administração Pública pode
se caráter gerencial, tendo maior preocupação na
declarar a nulidade de seus próprios atos.
execução de serviços com perfeição ao invés de se
preocupar com procedimentos e outras burocra-
E a Súmula nº 473:
cias. A adoção da eficiência, todavia, não permite à
Administração agir fora da lei, não se sobrepõe ao
Súmula nº 346 A administração pode anular seus
princípio da legalidade. próprios atos, quando eivados de vícios que os tor-
nam ilegais, porque deles não se originam direitos;
ou revogá-los, por motivo de conveniência ou opor-
Importante! tunidade, respeitados os direitos adquiridos, e res-
salvada, em todos os casos, a apreciação judicial.
Um método que facilita a memorização desses
princípios é a palavra “limpe”, pois temos os prin-
Princípio da Motivação
cípios da:
Legalidade Um princípio implícito, também pode constar em
Impessoalidade algumas questões como “princípio da obrigatória
Moralidade motivação”. Trata-se de uma técnica de controle dos
Publicidade atos administrativos, o qual impõe à Administração o
Eficiência dever de indicar os pressupostos de fato e de direito
que justificam a prática daquele ato. A fundamenta-
ção da prática dos atos administrativos será sempre
Princípios Reconhecidos em Legislação por escrito. Possui previsão no art. 50 da Lei nº 9.784,
Infraconstitucional de 1999:

Os princípios administrativos não se esgotam no Art. 50 Os atos administrativos deverão ser moti-
âmbito constitucional. Existem outros princípios cuja vados, com indicação dos fatos e dos fundamentos
previsão não está disposta na Carta Magna, e sim na jurídicos, quando (...)”;
legislação infraconstitucional, sendo reconhecidos tan-
to pela doutrina como pela jurisprudência. É o caso E também no art. 2º, par. único, VII, da mesma Lei:
do disposto no caput do art. 2º da Lei nº 9.784, de 1999:
Art. 2° [...]
Art. 2° A Administração Pública obedecerá, den- Parágrafo único - Nos processos administrativos
tre outros, aos princípios da legalidade, finalida- serão observados, entre outros, os critérios de: [...]
de, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, VII - indicação dos pressupostos de fato e de direito
moralidade, ampla defesa, contraditório, seguran- que determinarem a decisão.
ça jurídica, interesse público e eficiência.
A motivação é uma decorrência natural do princí-
Princípio da Autotutela pio da legalidade, pois a prática de um ato administra-
tivo fundamentado, mas que não esteja previsto em
A autotutela é um princípio que diz respeito ao lei, seria algo ilógico.
controle interno que a Administração Pública exer- Convém estabelecer a diferença entre motivo e
ce sobre os seus próprios atos. Isso significa que, motivação. Motivo é o ato que autoriza a prática da
havendo algum ato administrativo ilícito ou que seja medida administrativa, portanto, antecede o ato
512 inconveniente e contrário ao interesse público, não é administrativo.
A motivação, por sua vez, é o fundamento escrito, Princípio da Proporcionalidade
de fato ou de direito, que justifica a prática da referida
medida. Exemplo: na hipótese de alguém sofrer uma O princípio da proporcionalidade tem similitudes
multa por ultrapassar limite de velocidade, a infração com o princípio da razoabilidade, sendo implícito
é o motivo (ultrapassagem do limite máximo de velo- também. Há muitos autores, inclusive, que preferem
cidade); já o documento de notificação da multa é a unir os dois princípios em uma nomenclatura só. De
fato, a Administração Pública deve atentar-se a exage-
motivação. A multa seria, então, o ato administrativo
ros no exercício de suas funções. A proporcionalidade
em questão.
é um aspecto da razoabilidade voltado a controlar a
Quanto ao momento correto para sua apresenta-
justa medida na prática de atos administrativos. Bus-
ção, entende-se que a motivação pode ocorrer simul-
ca evitar extremos, exageros, pois podem ferir o inte-
taneamente, ou em um instante posterior a prática do resse público.
ato (em respeito ao princípio da eficiência). A motiva- Segundo o art. 2º, par. único, VI, da Lei nº 9.784, de
ção intempestiva, isso é, aquela dada em um momen- 1999, deve o Administrador agir com:
to demasiadamente posterior, é causa de nulidade do
ato administrativo. Art. 2° [...]
Parágrafo único [...]
Princípio da Finalidade IV - adequação entre meios e fins, vedada a imposi-
ção de obrigações, restrições e sanções em medida
Sua previsão encontra-se no art. 2º, par. único, II, superior àquelas estritamente necessárias ao aten-
da Lei nº 9.784, de 1999. dimento do interesse público.

Art. 2° [...] Na prática, a proporcionalidade também encontra


Parágrafo único - Nos processos administrativos sua aplicação no exercício do poder disciplinar e do
serão observados, entre outros, os critérios de: poder de polícia.
II - atendimento a fins de interesse geral, vedada a Esses não são os únicos princípios que regem as
renúncia total ou parcial de poderes ou competências, relações da Administração Pública. Porém, escolhe-
salvo autorização em lei. mos trazer com mais detalhes os princípios que jul-
gamos ser mais característicos da Administração. Isso
O princípio da finalidade muito se assemelha ao da não quer dizer que outros princípios não possam ser
primazia do interesse público. O primeiro impõe que estudados ou aplicados a esse ramo jurídico. A Admi-
o Administrador sempre aja em prol de uma finalida- nistração também deve atender aos princípios da res-
de específica, prevista em lei. Já o princípio da supre- ponsabilidade, ao princípio da segurança jurídica, ao
macia do interesse público diz respeito à sobreposição princípio do contraditório e ampla defesa, ao princí-
do interesse da coletividade em relação ao interesse pio da isonomia, entre outros.
privado. A finalidade disposta em lei pode, por exem-
plo, ser justamente a proteção ao interesse público.
Com isso, fica bastante clara a ideia de que todo
ato, além de ser devidamente motivado, possui um ATOS E PODERES ADMINISTRATIVOS
fim específico, com a devida previsão legal. O desvio
de finalidade, ou desvio de poder, são defeitos que tor- PODERES
nam nulo o ato praticado pelo Poder Público.
Poder Vinculado e Poder Discricionário
Princípio da Razoabilidade
Optamos por apresentar tais poderes em conjunto,
Agir com razoabilidade é decorrência da própria uma vez que eles tratam de um mesmo assunto. Poder
noção de competência. Todo poder tem suas corres- vinculado é aquele em que a lei atribui determina-
pondentes limitações. O Estado deve realizar suas da competência ao administrador, delimitando todos
os aspectos de sua conduta, a qual deve compulso-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
funções com coerência, equilíbrio e bom senso. Não
basta apenas atender à finalidade prevista na lei, mas riamente seguir a forma prevista na lei, não haven-
é de igual importância o como ela será atingida. É uma do qualquer margem de liberdade para que o agente
público escolha a melhor forma de cumprir suas fun-
decorrência lógica do princípio da legalidade.
ções. Os atos praticados no exercício do poder vincu-
Dessa forma, os atos imoderados, abusivos, irracio-
lado são denominados atos vinculados.
nais e incoerentes, são incompatíveis com o interesse
Poder discricionário, por sua vez, é o poder ao
público, podendo ser anulados pelo Poder Judiciário
qual o legislador, ao delimitar a competência da
ou pela própria entidade administrativa que prati-
Administração Pública, confere também uma mar-
cou tal medida. Em termos práticos, a razoabilidade gem de liberdade para que o agente do Estado possa
(ou falta dela) é mais aparente quando tenta coibir o escolher, diante da situação jurídica, qual o caminho
excesso pelo exercício do poder disciplinar ou poder mais adequado, ou qual a melhor forma de solução
de polícia. Poder disciplinar traduz-se na prática de daquela desavença. A Lei não impõe um único com-
atos de controle exercidos contra seus próprios agen- portamento como no poder vinculado: ela delega ao
tes, isso é, de destinação interna. Poder de polícia é o administrador a faculdade de avaliar a melhor solu-
conjunto de atos praticados pelo Estado que tem por ção para cada caso. Garantir margem de liberdade
escopo limitar e condicionar o exercício de direitos não significa que o administrador deve agir fora da
individuais e o direito à propriedade privada. lei, pois a discricionariedade não o permite estar
acima da legislação. Além disso, o poder discricioná-
rio também pode sofrer controle por parte do Poder 513
Judiciário, exceto quando a questão for referente ao Mas a delegação também poderá ser feita para
mérito dos atos discricionários (a conveniência e uti- outro órgão ou agente que esteja fora da sua linha hie-
lidade de manter o ato em vigor), cuja competência é rárquica, hipótese que denominamos de delegação
exclusiva da própria Administração Pública. horizontal.
Em suma, para melhor compreender a questão da O art. 12 da Lei n° 9.784, de 1999 dispõe do mesmo
vinculação e discricionariedade na atuação da Admi- modo:
nistração Pública, basta lembrar de uma lanterna
(Lei) iluminando uma parede escura (ato administra- Art. 12 Um órgão administrativo e seu titular pode-
tivo): o ponto central, onde é mais iluminado, é a área rão, se não houver impedimento legal, delegar par-
de vinculação dos atos administrativo à lei, e dali não te da sua competência a outros órgãos ou titulares,
há qualquer margem de liberdade. Por outro lado, nos ainda que estes não lhe sejam hierarquicamente
cantos da projeção na parede, onde se situa a região subordinados, quando for conveniente, em razão de
circunstâncias de índole técnica, social, econômica,
menos iluminada, é a área da discricionariedade, pois
jurídica ou territorial”.
o administrador tem maior liberdade de atuação e
não se encontra “preso” à iluminação intensa. Isso
Essa transferência de competência é sempre pro-
não significa que ele pode “caminhar para a escuri-
visória, o que significa que pode ser revogada a qual-
dão”: apesar de ser fosca, a iluminação ainda existe.
quer tempo.
Atualmente, muito se questiona sobre a legalidade
A regra geral é sempre a delegabilidade das compe-
administrativa, que fundamenta a vinculação de seus
tências. Todavia, a própria legislação (art. 13 da Lei n°
atos. Dizer que a vinculação é uma simples obediên-
9.784, de 1999) assevera três matérias que não podem
cia à legislação é uma noção muito restrita e aquém
ser delegadas. Assim, são indelegáveis: a edição de ato
da realidade social. A legalidade, enquanto vazia ou
de caráter normativo, pois constituem-se em regras
formal (noção de fazer um checklist do ato), desvincu-
gerais aplicáveis a todos os órgãos, incompatível com
lada do cumprimento de direitos fundamentais, não
a delegação; a decisão em recursos administrativos,
se sustenta. Doutrinariamente se sustenta uma revi- para evitar que a mesma autoridade possa julgar o
são da legalidade, de modo que os administradores, mesmo processo mais de uma vez pela delegação; e
agora, vinculam-se não somente à Lei, e sim à Cons- as matérias que forem consideradas de competência
tituição (constitucionalidade administrativa). Assim, exclusiva do órgão ou autoridade.
um comando oriundo de uma lei manifestamente A avocação encontra-se disposta no art. 15 da Lei
inconstitucional pode não ser cumprida pelos agentes n° 9.784, de 1999. Consiste na possibilidade da autori-
públicos. dade competente de chamar para si a competência de
um agente ou órgão subordinado. Trata-se de medida
Poder Hierárquico excepcional e temporária e somente pode ser realiza-
da dentro da mesma linha hierárquica, o que significa
Poder hierárquico é o poder que dispõe o Execu- que a avocação só pode ser vertical, não se admite a
tivo para organizar e distribuir as funções de seus avocação horizontal. Esquematicamente, temos:
órgãos, bem como ordenar e rever a atuação de seus
agentes, estabelecendo uma relação de subordinação
DELEGAÇÃO AVOCAÇÃO
entre os servidores do seu quadro de pessoas. As rela-
ções de hierarquia são características únicas, existem Distribuição de Absorção de
somente no âmbito do Poder Executivo, isso é, não competências competências
existe hierarquia entre órgãos do Poder Legislativo e
do Judiciário. Além disso, importante frisar que não Admite horizontal e
Admite apenas vertical
existe poder hierárquico entre membros da Adminis- vertical
tração Indireta, pois estes são entidades autônomas,
que não se subordinam aos entes que o criaram. Pela Por fim, a revisão é a capacidade de rever os atos
hierarquia, há a imposição ao subalterno da estrita dos inferiores hierárquicos, apreciando todos os seus
obediência às ordens e instruções legais superiores, aspectos para a análise de sua manutenção ou inva-
além de definir a responsabilidade de cada um de lidação. É somente possível a revisão de atos prati-
seus agentes e órgãos públicos. cados pelos órgãos públicos e agentes subordinados
Quanto as suas características, diz-se que o poder hierarquicamente.
hierárquico é interno e permanente. Interno é o Para as entidades da Administração Indireta, real-
poder que atinge apenas os próprios membros da mente, não há como aplicar o poder hierárquico, uma
Administração e não tem o condão de atingir as rela- vez que, por definição, elas não integram a mesma
ções dos particulares. É também um poder perma- linha de hierarquia. São entes diferentes do seu cria-
nente porque não é exercido de modo esporádico e dor, com personalidade jurídica própria, com patri-
episódico, como acontece no poder disciplinar. mônio exclusivo e podendo se responsabilizar em
Do poder hierárquico são decorrentes certas facul- juízo sem o auxílio da Administração Direta.
dades implícitas ao superior, tais como dar ordens e O que existe para as entidades da Administração
fiscalizar o seu cumprimento, delegar e avocar atri- Indireta é uma forma de controle fiscalizatório e fina-
buições, bem como rever atos de seus inferiores. lístico de seus atos, o qual denomina-se supervisão
A delegação é a transferência temporária de com- ministerial. A supervisão é feita pelo ente controla-
petência administrativa de seu titular, a outro órgão dor, geralmente são os entes da Administração Dire-
ou agente público. A delegação poderá ser vertical ta (União, Estados, Municípios, Distrito Federal e os
quando a matéria for outorgada a um outro órgão ou seus órgãos, ministérios e secretarias). A supervisão
agente público subordinado à autoridade outorgante, não se confunde com subordinação, pois entende-
514 permanecendo na mesma linha hierárquica. -se que na supervisão o ente controlado possui uma
maior margem de liberdade do que os órgãos hierar- funcional. Percebe-se, então, que o poder disciplinar
quicamente subordinados. A supervisão ministerial apresenta caráter punitivo e sancionador, enquanto
não admite, por exemplo, a possibilidade de revisão o poder hierárquico advém da simples obediência dos
dos atos praticados pela entidade controlada, pois a subalternos para com a entidade detentora deste poder.
revisão é uma forma de controle de mérito dos atos A discricionariedade do poder disciplinar traduz-
administrativos. Isso infere na autonomia garantida -se na possibilidade da Administração em poder esco-
constitucionalmente a essas entidades. lher qual a punição mais apropriada para cada caso,
isso é, ela possui certa margem de liberdade para o
seu exercício. Claro que, dentre essas escolhas, o
Importante! administrador não pode escolher “não punir” o agen-
te público. Por isso, costuma-se dizer que, quanto ao
Cuidado para não confundir alguns conceitos. dever de punir, esse tem natureza vinculada. A discri-
Quando um ato administrativo é ilícito (contrário cionariedade atinge, somente, quanto à modalidade
a Lei), a hipótese de controle recai sobre a lega- de punição que deve ser aplicada.
lidade do ato. Se o vício for insanável, a hipótese Os servidores públicos que cometerem qualquer
é de anulação, e pode ser realizada tanto pela infração no exercício de suas funções estão sujeitos
Administração Pública quanto pelo Poder Judi- às seguintes penalidades, dispostas no art. 127 da Lei
ciário. Por outro lado, quando o ato for conside- n° 8.112, de 1990: advertência; suspensão; demissão;
rado inconveniente e inoportuno, discricionário, cassação de aposentadoria ou disponibilidade; desti-
o Poder Judiciário não pode exercer controle tuição de cargo em comissão e destituição de função
de mérito, pois essa é uma tarefa exclusiva da comissionada. A aplicação de qualquer uma dessas
Administração, dentro da sua linha hierárquica. penalidades depende de prévio processo administra-
O método mais correto para o ato inconveniente, tivo, respeitada a garantia de contraditório e ampla
neste caso, é o da revogação. defesa, sob pena de nulidade da sanção. Sobre qual
sanção será aplicada, isso vai depender de cada caso,
considerando os danos que sua conduta causarem, se
Lembrando que são considerados entes da Admi- houve aspectos agravantes ou atenuantes, se o agente
nistração Indireta: as autarquias, as fundações, as público é primário ou reincidente, e os seus antece-
empresas públicas e as sociedades de economia mista. dentes funcionais (art. 128, Lei n° 8.112, de 1990).
Do mesmo modo, não há que se falar em Poder Hie-
rárquico quando estamos diante de pessoas e órgãos Poder Regulamentar
independentes. Por exemplo: não há uma relação de
hierarquia entre as pessoas que ocupam cargos polí- O poder regulamentar consiste na possibilidade do
ticos. Não há hierarquia, também, entre os membros Chefe do Poder Executivo de cada entidade da Federa-
dos Três Poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário): ção de editar atos administrativos gerais, abstratos ou
eles atuam de forma independente e harmônica entre concretos, expedidos para dar fiel cumprimento à lei.
si, um não se subordina ao outro. Seu fundamento legal encontra-se disposto no art. 84,
IV, da CF, de 1988:
Poder Disciplinar
Art. 84 Compete privativamente ao Presidente da
O poder disciplinar consiste na faculdade da Admi- República:
nistração de punir seus agentes, nas hipóteses em que [...]
estes tenham cometido alguma infração de ordem IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis,
funcional. Por exemplo: quando o servidor público se bem como expedir decretos e regulamentos para
apresenta no serviço embriagado, não apenas uma vez, sua fiel execução.
mas constantemente, isso é uma transgressão discipli-
nar, uma conduta incompatível com a atuação dos ser- O art. afirma que tal ato é de competência exclusi-
vidores públicos. Por isso ele deve ser punido, mas essa va do Presidente, o que significa que seria indelegável
punição não advém de um processo penal (não enseja a qualquer subordinado. Porém, isso não é totalmen-
a prisão), é uma punição aplicável por pessoas de den- te correto: o parágrafo único do mesmo dispositivo NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
tro da própria Administração, e geralmente envolvem constitucional diz que há a possibilidade do Presidente
ou a suspensão ou a demissão do cargo público. delegar algumas de suas atribuições para os Ministros
O poder disciplinar é correlato com o poder hierár- de Estado, o Procurador-Geral da República ou ain-
quico, mas não se confunde com o mesmo. No poder hie- da para o Advogado-Geral da União. Além disso, este
rárquico, a Administração Pública distribui e escalona as poder pode ser exercido, por simetria, pelos Governa-
suas funções executivas. Já no uso do poder disciplinar, dores e Prefeitos. Assim, para fins didáticos, costuma-se
a Administração simplesmente controla o desempenho dizer que o poder regulamentar só pode ser delegado
de funções e a conduta de seus servidores, responsabili- excepcionalmente, com algumas restrições.
zando-os pelas faltas porventura cometidas. Vale notar quais competências do Presidente da
Em relação as suas características, o poder disci- República podem ser delegadas? O art. 84 pode ser
plinar é interno, não-permanente ou temporário um tanto confuso nesse sentido, mas a interpretação
e discricionário. Assim como o poder hierárquico, a correta é a de que, em regra, as competências do Pre-
imposição de sanções pela Administração não se aplica sidente são exclusivas e indelegáveis. Excepcional-
aos particulares, somente a seus próprios servidores, mente, a matéria disposta nos incisos VI (dispor
salvo as hipóteses de estes serem contratados pela Admi- mediante decreto sobre a organização e funciona-
nistração Pública. Todavia, distingue-se do poder hierár- mento da administração federal quando não implicar
quico na medida em que é não-permanente, isso é, só aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos
será aplicado se e quando o servidor cometer infração públicos; e a extinção de funções ou cargos públicos, 515
quando vagos), XII (conceder indulto e comutar penas, A expressão “poder de polícia” pode ser interpre-
com audiência, se necessário, dos órgãos instituídos em tada de duas maneiras: em um sentido amplo, cor-
lei), e a primeira parte do inciso XXV (prover os car- responde a qualquer limitação estatal à liberdade e
gos públicos federais, na forma da lei) são competên- propriedade privada, de origem administrativa ou
cias que podem ser transferidas para as pessoas legislativa. Há também o poder de polícia em senti-
públicas previstas no parágrafo único do referido do restrito, mais utilizado pela doutrina, que engloba
art. 84. Observe que a competência para extinguir o apenas as restrições impostas pelas limitações admi-
cargo público enquanto ainda ocupado não pode ser nistrativas, excluindo as limitações de ordem legal.
delegada. Em sentido restrito, envolve atividades administrati-
Uma das palavras chave do poder regulamentar é vas de fiscalização e condicionamento da esfera priva-
regulamento. Trata-se de ato administrativo que tem da de interesses, em prol da coletividade.
por escopo estabelecer detalhes e diretrizes quanto ao O poder de polícia tem grande destaque no exercí-
modo de aplicação dos dispositivos legais, dando maior cio das funções da Administração moderna, junto com
concretude aos comandos gerais e abstratos presentes a prestação de serviços públicos e o fomento à inicia-
na legislação. Não se confunde com o decreto, que é tiva privada. Porém, essas duas funções representam
outro ato administrativo que introduz o regulamento uma atuação estatal ampliativa, enquanto o poder de
em si. Decreto representa a forma do ato administrati- polícia representa uma atuação restritiva do Estado,
vo, enquanto o regulamento representa seu conteúdo. limitando a liberdade e a propriedade individual em
Ambos os decretos e regulamentos são atos em posi- favor do interesse público.
ção de inferioridade em relação as leis e, por isso, não O art. 78 do Código Tributário Nacional (CTN) tem
são capazes de criar direitos e obrigações aos particu- seu conceito legal de poder de polícia:
lares sem fundamento legal. Suas funções primordiais,
no entanto, são a redução da margem de interpretação Art. 78 Considera-se poder de polícia atividade da
das normas, pois se um decreto dispõe qual é a forma administração pública que, limitando ou discipli-
mais correta de aplicação da lei, esta perde um pouco nando direito, interesse ou liberdade, regula a práti-
de seu caráter geral e abstrato, seu campo de discri- ca de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse
público concernente à segurança, à higiene, à ordem,
cionariedade é reduzido a uma única forma válida de
aos costumes, à disciplina da produção e do merca-
aplicação no âmbito jurídico. Por isso, o poder regula-
do, ao exercício de atividades econômicas dependen-
mentar apresenta natureza vinculada.
tes de concessão ou autorização do Poder Público, à
Existem diversas espécies de regulamentos admi- tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e
nistrativos: aos direitos individuais ou coletivos.

z Regulamentos administrativos ou de organiza- Diante de tudo que foi exposto, podemos conceituar
ção: são aqueles que disciplinam questões internas “poder de polícia” como a atividade da Administra-
de estruturação e funcionamento da Administra- ção Pública, com fundamento na lei e na supremacia
ção Pública, bem como as relações jurídicas de geral, que consiste na imposição de limites à liberdade
sujeição especial do Poder Público perante par- e à propriedade dos particulares, regulando a prática
ticulares. Exemplo: regulamento que disciplina desses atos, ou a abstenção dos mesmos, manifestan-
organização e funcionamento da administração do-se por meio de atos normativos ou concretos, tudo
federal (art. 84, VI, a, da CF, de 1988); isso em benefício do interesse público.
z Regulamentos habilitados ou delegados: em Ao dizer que se trata de atividade da Administra-
alguns países, há a possibilidade de o Poder Legis- ção Pública, procuramos enfatizar a concepção stric-
lativo delegar ao Executivo a disciplina de maté- to sensu do poder de polícia, que não se confunde com
rias reservadas privativamente à lei, havendo as limitações à liberdade e ao direito de propriedade
uma transferência de competência legislativa. impostas pelo legislador. Por ser atividade da Admi-
Tais regulamentos não são admitidos no direito nistração, deve ser exercido respeitando-se os princí-
administrativo brasileiro; pios da razoabilidade e proporcionalidade.
z Regulamentos executivos: são os regulamentos A fundamentação legal é outro aspecto importan-
comuns, expedidos sobre matéria disciplinada pela te do poder de polícia, uma vez que a lei condiciona o
legislação, permitindo a fiel execução da norma exercício de determinadas atividades à obtenção de
legal. É a hipótese do art. 84, IV, da CF, de 1988; licenças ou concessões pelo Poder Público. O legisla-
z Regulamentos autônomos: são os que dispõem dor deve, então, elaborar os requisitos necessários
sobre tema não disciplinado pela legislação. Há um para o exercício do poder de polícia pelo Estado.
conjunto de temas que a norma constitucional reti- O poder de polícia tem por objeto a imposição de
rou da competência do Poder Legislativo e atribuiu limitações à liberdade e propriedade dos particu-
sua disciplina ao Poder Executivo. A EC n° 32, de lares, instituindo condições capazes de compatibili-
2001 elenca dois temas que só podem ser disciplina- zar seu exercício às necessidades de interesse público.
dos por decreto expedido pelo Presidente da Repú- Tais imposições também podem ser aplicadas ao Esta-
blica: a organização da administração federal; e a do. Isso significa que até mesmo o Poder Público pode
extinção de funções e cargos vagos e não ocupados. ter suas liberdades e propriedades sofrendo limita-
ções em face das necessidades do interesse público.
Poder de Polícia Para o seu exercício, a Administração Pública deve
regular a prática dos atos ou a abstenção de fatos.
Devemos nos aprofundar mais no Poder de Polícia, Em regra, o poder de polícia manifesta-se em obriga-
uma vez que é a espécie de poder da Administração que ções negativas, ou de não fazer, impostas aos particu-
tem mais chances de cair em uma questão de prova. lares, limitando a esfera de atuação dos seus direitos.
516 Excepcionalmente, pode também manifestar-se
mediante obrigações positivas ou de fazer, como é o pública em duas categorias de “polícias” distintas: a
caso da imposição da função social da propriedade polícia administrativa e a polícia judicial.
ao dono do imóvel, disposta no art. 5°, XXII, da CF, de A polícia administrativa tem um caráter pre-
1988. ventivo. Isso significa que a sua atuação deve ocorrer
O poder de polícia se manifesta pela expedição de antes da prática do delito, tendo por finalidade evitar a
atos normativos, como é o caso das regras sobre o direi- sua ocorrência. Submete-se às regras de Direito Admi-
to de construir, ou por meio de atos concretos, como a nistrativo. No Brasil, a polícia administrativa é exer-
obtenção de licença para a reforma de um imóvel, cujo cida por diversos órgãos de fiscalização de diversas
interesse é exclusivo do particular (proprietário do áreas, como saúde, educação, trabalho, previdência e
imóvel, no caso). Ele se difere do Poder Disciplinar assistência social. A polícia administrativa protege os
quanto ao destinatário da sanção: o Poder de Polícia interesses primordiais da sociedade ao impedir com-
somente atinge os particulares, isso é, aquelas pes- portamentos individuais que possam causar prejuízos
soas da esfera privada que não integram a Adminis- maiores à coletividade.
tração Pública. O Poder Disciplinar, por sua vez, é um A polícia judiciária, por sua vez, apresenta cará-
poder interno que não atinge particulares, e sim os pró- ter repressivo. Sua atuação ocorre após a constatação
prios agentes públicos dentro da Administração. de um crime. Após sua ocorrência, deve a polícia judi-
Por fim, convém ressaltar a finalidade do poder de ciária abrir um processo de investigação em busca
polícia: agir em prol do interesse público. Por isso, da autoria e da materialidade do crime. Sua razão de
o Estado deve conciliar os direitos individuais, com ser é a punição dos infratores. Rege-se pelas regras de
o interesse da coletividade. Tal finalidade é típica da Direito Processual Penal. Ela incide sobre pessoas, ao
Administração Pública, pois tem como fundamento o contrário da polícia administrativa, que age sobre a
princípio sistêmico da primazia do interesse público atividade das pessoas. A função de polícia judiciária é
sobre o privado. exercida pelas corporações especializadas, denomina-
das Polícia Civil e Polícia Federal.
Natureza Jurídica do Poder de Polícia
Uso e Abuso de Poder
Quanto a sua natureza jurídica, é entendimento
majoritário que o poder de polícia é discricionário. Quando o agente público exerce adequadamente
Na doutrina, muitos autores costumam definir poder suas competências, atuando em conformidade com a
de polícia utilizando-se da expressão “faculdade que legislação, sem excessos ou desvios, diz-se que ele faz
o Estado possui de impor limites”. Isso quer dizer que uso regular do poder. Entretanto, havendo hipóteses
não apresenta características de obrigação legal, mas de exercício de competências fora dos limites legais,
de uma permissão. A escolha sobre qual método utili- visando apenas interesses alheios, trata-se de clara
zar para o exercício do referido poder, e quando, com- hipótese de uso irregular do poder, também denomi-
pete somente à própria Administração Pública. nado abuso de poder.
Porém, vale ressaltar as hipóteses de obtenção de O abuso de poder, além de causar a invalidade do
licença. A licença é ato administrativo relacionado ao ato, constitui em ilícito ensejador de responsabilidade
poder de polícia, que apresenta previsão legal para a pela autoridade competente que causou danos com
sua obtenção, tratando-se, por isso, de ato vinculado. seu uso irregular.
Com isso, podemos afirmar que a manifestação do Abuso de poder pode se manifestar no exercício
poder de polícia pode ocorrer mediante a expedição das funções administrativas sob duas formas: pelo
de atos no exercício da competência discricionária da excesso de poder e pelo desvio de finalidade.
Administração, ou por meio de atos vinculados, com a Excesso de poder é a hipótese de uso irregular dos
devida previsão legal. poderes administrativos pelo qual a autoridade prati-
O poder de polícia também é em regra indelegá- ca algum ato desrespeitando os limites impostos, exor-
vel, uma vez que pressupõe a posição de superiori- bitando o uso de suas faculdades administrativas. Ao
dade de quem o exerce, não podendo ser transferido exceder sua competência legal, o agente responsável age
a particulares (art. 4°, III, da Lei n° 11.079, de 2004). com exageros e desproporcionalidade, o que torna o ato
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Obviamente, o poder de império é único e exclusivo praticado por ele absolutamente inválido. Mas o excesso
do Estado, se ele pudesse ser transferido a particula- de poder admite convalidação, ou seja, há hipóteses em
res, tal medida seria um atentado contra a paz social. que se pode corrigir vício cometido no ato preservando
Todavia, isso não impede que o Poder Público pos- sua eficácia, dependendo do caso concreto.
sa delegar as atividades consideradas preparatórias Desvio de finalidade, por sua vez, é vício do ato
ou sucessivas do poder de polícia. Essa delegação é administrativo, praticado sempre por autoridade com-
possível, desde que esses entes que recebem essa dele- petente, que tem por fim diverso daquele previsto,
gação (entes da administração indireta, pessoas jurí- explícita ou implicitamente, nas regras de competên-
dicas de direito privado, particulares etc.) tenham um cia da legislação (art. 2°, par. único, e, da Lei n° 4.717,
vínculo com a própria Administração. de 1965). A finalidade diversa não macula os requisi-
tos essenciais dos atos administrativos (competência,
Polícia Administrativa e Polícia Judiciária objeto, forma, motivo), mas tende a macular o ato, tor-
nando-o nulo. O único caminho possível para esse ato
A concepção do poder de polícia abrange muito é a anulação, ou seja, não há possibilidade de convali-
mais do que a simples promoção de segurança públi- dação. O desvio de finalidade pode ocorrer tanto nas
ca. Todavia, é imprescindível destacar as atividades condutas comissivas, em seu campo de atuação, quanto
estatais de prevenção e repressão da criminalidade nas condutas omissivas, isso é, quando o agente públi-
sob a ótica do poder de polícia. Assim, costuma-se divi- co se abstém de realizar tarefa legalmente imposta.
dir a atuação do Estado para promoção da segurança 517
Exemplos de desvio de finalidade são bastan- Competência
te comuns na Administração Pública brasileira: a
construção de estrada cujo trajeto foi elaborado com Competência diz respeito à capacidade do agente
objetivo de valorizar a propriedade rural de um público para o exercício dos atos administrativos. É
governador, a nomeação de réu em ação penal a cargo requisito de validade, haja vista que, no Direito Admi-
público para obter foro privilegiado e transferir seu nistrativo, a lei é quem estabelece as competências
processo para o STF etc. Percebe-se que, em todos os atribuídas a seus agentes para o desempenho de suas
casos, há a sobreposição de um interesse particular funções. Quando o agente atua fora dos limites da lei,
sobre o interesse da coletividade: os agentes estatais, diz-se que cometeu ato nulo por excesso de poder. É,
dessa forma, praticam atos visando obter alguma van- por isso, sempre um ato vinculado.
tagem pessoal, para eles mesmos ou para outrem, con- A competência possui certas características próprias,
cretizando, assim, o desvio de finalidade. a saber: obrigatória, intransferível, irrenunciável,
imodificável, imprescritível e improrrogável. Vere-
ATOS ADMINISTRATIVOS mos de modo mais específico cada uma delas a seguir:

Conceito z Obrigatória, porque representa um dever do agen-


te público;
Tudo que praticamos em nossas vidas pode ser
z Intransferível significa que, de modo geral, a com-
considerado atos. Mas, para o Direito, os atos são aque-
petência é um quesito personalíssimo, não pode
les capazes de motivar efeitos jurídicos. E, assim como
ser transferido para terceiros;
as pessoas na vida privada, a Administração Pública
também pratica atos, os quais possuem potencial de z Irrenunciável, porque o agente público não pode
produzir efeitos jurídicos diversos. abrir mão de sua competência;
Para Hely Lopes Meirelles, atos administrativos z Imodificável significa que a competência, uma vez
são as manifestações de vontade da Administração estabelecida, não pode sofrer alterações posteriores.
Pública que objetivam adquirir, resguardar, transfe- z Imprescritível, porque a competência perdura ao
rir, modificar, extinguir e declarar direitos ou impor longo do tempo, ela não caduca;
obrigações aos particulares ou a si própria. Isso signi- z Improrrogável significa dizer que se é competente
fica que a Administração, antes mesmo de iniciar sua hoje, continuará sendo sempre, exceto por previ-
atuação, deve expedir uma declaração que exprime a são legal expressa em sentido contrário.
sua vontade de realizar o referido ato.
Importante frisar o caráter infralegal dos atos admi- No entanto, essas características não vedam a pos-
nistrativos, pois imprescindível é a submissão da Admi- sibilidade de delegação, quando prevista em lei. Por
nistração Pública, seus agentes e órgãos à soberania isso, pode-se dizer também que a delegabilidade é
popular. outra característica da competência. Porém, atente-se
ao disposto no art. 13 da Lei nº 9.784, de 1999:
Não podem ser objeto de delegação:
Importante!
É imprescindível, assim, que o ato administrativo Art. 13 [...]
esteja previsto em lei, sendo que seu conteúdo I - a edição de atos de caráter normativo;
não pode ser contrário a ela (contra legem), mas II - a decisão de recursos administrativos;
deve complementá-la, apresentando, então, uma III - as matérias de competência exclusiva do órgão
ou autoridade. Alguns atos, então, não podem ser
conformidade (secundum legem).
delegados a outras autoridades, principalmente se
tais atos são de competência exclusiva do agente
Elementos ou Requisitos público.

Os requisitos ou elementos dos atos administrati- Objeto


vos são assuntos com imensa divergência doutrinária.
A maioria dos concursos públicos ainda adota a con- Objeto é o conteúdo do ato, ou o resultado que
cepção mais clássica dos requisitos dos atos adminis- pretende ser almejado pela prática do ato administra-
trativos e, por isso, daremos maior destaque a ela. tivo. Todo ato administrativo tem por objeto a cria-
De modo geral, a corrente clássica, defendida por ção, modificação, ou comprovação de situações
autores, como Hely Lopes Meirelles, tende a dispor jurídicas concernentes a pessoas, bens, ou atividades
cinco requisitos dos atos administrativos para a sua sujeitas ao exercício do Poder Público. É por meio dele
formação, utilizando, como inspiração, o preceito legal que a Administração exerce seu poder, concede um
disposto no art. 2º da Lei nº 4.717, de 1965. São eles: benefício, aplica uma sanção, declara sua vontade,
estabelece um direito do administrado etc.
Art. 2° [...]
O objeto pode não estar previsto expressamente
a) competência;
b) objeto; na legislação, cabendo ao agente competente a opção
c) forma; que seja mais oportuna e conveniente ao interesse
d) motivo; público. A definição de objeto do ato administrativo
e) finalidade. trata-se, por isso, de ato discricionário.

518
Forma Antônio Bandeira de Mello. Por ser pouco utilizada
em concursos públicos, observaremos apenas os pon-
A forma é o modo por meio do qual se exterioriza tos essenciais e didáticos da referida classificação.
o ato administrativo, é seu revestimento. O desrespeito Para essa concepção moderna, são requisitos dos
à forma do ato acarreta na sua nulidade. Trata-se de atos administrativos:
ato vinculado, quando exigida por Lei, e discricionário
quando a sua escolha couber ao próprio agente público. a) sujeito;
Em regra, os atos administrativos são sempre exte- b) motivo;
riorizados por escrito, mas podem também ser orais, c) requisitos procedimentais;
gestuais, ou até mesmo expedidos por máquinas. O d) finalidade;
art. 22 da Lei nº 9.784/1999 determina que: e) causa e
f) formalização.
Art. 22 Os atos do processo administrativo não
dependem de forma determinada senão quando a Sujeito, requisitos procedimentais e causa são os
lei expressamente a exigir. requisitos vinculados, enquanto o motivo, a finalida-
de e a formalização são requisitos discricion.
Motivo
Atributos
O motivo é a circunstância de fato ou de direito que
Atributos são as características dos atos adminis-
determina ou autoriza a prática do ato, isso é, a situa-
trativos, que os distinguem dos demais atos jurídicos,
ção fática que justifica a realização do ato. Situação
pois estão submetidos ao regime jurídico administrativo.
de fato é o conjunto de circunstâncias que motivam
Essas características traduzem em prerrogativas concedi-
a realização do ato; questões de direito é a previsão
das à Administração Pública para que ela possa atender
legal que leva à realização do ato.
de maneira adequada as necessidades da população.
O motivo pode ser tanto requisito vinculado como A doutrina mais moderna4 faz referência a cinco
discricionário, dependendo do comando legal impos- atributos distintos:
to aos agentes. Assim, o motivo será vinculado quando
a lei expressamente obrigar o agente a agir de um cer- a) presunção de legitimidade e veracidade;
to modo, como na hipótese de lançamento tributário b) imperatividade;
(o fiscal da Receita não tem direito de escolha, se deve c) exigibilidade;
ou não fazer o lançamento). d) auto executoriedade;
Situação diversa é a do pedido de demissão de ser- e) tipicidade.
vidor público no caso de incontinência pública (art.
132, V, da Lei nº 8.112, de 1990), hipótese em que a Veremos cada um desses atributos de modo mais
autoridade competente tem maior liberdade para específico a seguir:
avaliar se a demissão é realmente ato necessário ou Presunção de legitimidade e veracidade.
não, dependendo do caso concreto. Também pode ser denominado presunção de
Não se confunde motivo com motivação, essa é a legalidade. Significa que todo ato administrativo
justificativa para a realização de determinado ato. O é considerado válido no âmbito jurídico até surgir
motivo ocorre em momento anterior à prática do ato, prova em contrário. Se, pelo princípio da legalidade,
enquanto a motivação, por ser uma série de explica- ao Administrador só cabe fazer o que a lei permite,
ções que justificam a expedição do ato, ocorre sem- então, presume-se que o fez respeitando a lei.
Nosso Direito admite duas formas de presunção:
pre em momento posterior. Assim, todo o ato tem seu
motivo (Teoria dos Motivos Determinantes), mas nem
z Presunção juris et de jure que significa “de direito e
sempre é expedido adjunto com a motivação, que
por direito”, é presunção absoluta, que não admite
nada mais é do que a exteriorização dos motivos.
prova em contrário;
z Presunção juris tantum, resultante do próprio
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Finalidade
direito e, embora por ele estabelecida como verda-
deira, admite prova em contrário.
Finalidade é o objetivo a ser almejado pela prática
daquele ato administrativo. Em muitos casos, o obje- A presunção dos atos administrativos é juris tan-
tivo almejado é a proteção do interesse público. Sem- tum. Trata-se, então, de presunção relativa. Cabe ao
pre que o ato for praticado, tendo em vista o interesse particular que alegou a ilegalidade do ato administra-
alheio, será nulo por desvio de finalidade. tivo provar a carência de legitimidade do mesmo.
Por exemplo: o trancamento de um estabelecimen- A presunção atinge todos os atos, inclusive aqueles
to, após constatação de falta de cuidados higiênicos praticados pela Administração com base no direito priva-
com os alimentos, visa a proteção da vida e da saúde do. Qualquer que seja o ato, se praticado pela Administra-
dos cidadãos que frequentam aquele local. Pode-se ção Pública, será presumidamente legítimo e verdadeiro.
afirmar, de modo geral, que a finalidade de um ato
administrativo sempre será a proteção dos direitos e Imperatividade
garantias fundamentais da pessoa humana.
Além dessa concepção clássica, há também uma Compreendida também como coercibilidade, os
classificação mais moderna dos requisitos dos atos atos administrativos se impõem aos destinatários, inde-
administrativos, elaborada por autores como Celso pendentemente de sua concordância, outorgando-lhes
4 MAZZA, A. Manual de direito administrativo. 8ª Edição. São Paulo: Saraiva, 2018. 519
deveres e obrigações. A imperatividade garante ao uso de atos inominados, sem tipificação, que impõe
Poder Público a capacidade de produzir atos que geram obrigações cuja previsão legal não existe. É um atri-
consequências perante terceiros. O Estado somente con- buto que deriva do próprio princípio da legalidade.
segue alcançar seus objetivos de forma eficiente se ele
se encontrar em posição superior aos seus governados. Dica
A justificativa da criação unilateral, ainda que contra
a vontade dos administrados, dos atos administrativos A tipicidade é uma característica marcante da
é o Poder coercitivo do Estado, também denominado expropriação de bens particulares pelo Poder
Poder Extroverso ou Poder de Império. Esse não é um Público. É o caso de desapropriação adminis-
atributo comum a todos os atos, mas tão somente aos trativa, hipótese em que o Poder Público tem a
que impõem obrigações aos administrados. Assim, não prerrogativa de tirar da esfera de alguma pessoa
têm essa característica os atos que outorgam direitos física a titularidade sobre bem imóvel, trans-
(autorização, permissão, licença), bem como aqueles formando-o em bem público. Para tanto, deve
meramente administrativos (certidão, parecer). realizar um procedimento envolvendo aspectos
mais complexos, como a declaração de utili-
Exigibilidade dade ou necessidade pública (art. 5º, XXIV, da
CF, de 1998), bem como a necessidade de pré-
Consiste no atributo que permite à Administração via indenização ao particular que teve seu bem
Pública aplicar sanções aos particulares por violação expropriado, em pecúnia (art. 182, § 3º, da CF,
da ordem jurídica, sem a necessidade de recorrer ao
de 1988).
processo judicial, que é demasiado longo e repleto
de solenidades. A exigibilidade permite ao Adminis-
Classificação
trador aplicar as sanções administrativas, como mul-
tas, advertências e interdição de estabelecimentos
Atos administrativos existem dos mais variados tipos.
comerciais.
Para efeitos didáticos, costuma-se dividir e agrupá-los,
formando-se uma verdadeira classificação desses atos.
Autoexecutoriedade
Portanto, passemos a analisar as diversas modalidades de
atos administrativos, observando os seguintes critérios:
A autoexecutoriedade permite que a Administra-
ção Pública possa realizar a execução material de
Quanto ao Grau de Liberdade
seus atos. A expressão “auto” advém do fato de que
o Poder Público não necessita de autorização judicial
z Atos vinculados: são aqueles praticados pela
para desconstituir a situação irregular e violadora da
Administração Pública sem nenhuma liberdade
ordem jurídica, o que a difere da exigibilidade, que
de atuação. A lei define todas as margens de sua
não tem o condão de, por si só, desconstituir a irre-
conduta. Havendo vício no ato vinculado, pode-se
gularidade do ato, apenas pune o infrator. Para tanto, pleitear a sua anulação, pois trata-se de vício de
necessita da presença de dois requisitos: a previsão legalidade. É o caso, por exemplo, da concessão de
legal, como nos casos de Poder de Polícia; e o caráter aposentadoria para o contribuinte beneficiário;
de urgência, a fim de preservar o interesse coletivo. z Atos discricionários: a lei também estabelece
Assim, não há necessidade de intervenção judicial uma série de regras para a prática de um ato, mas
nas hipóteses de: apreensão de mercadorias contra- deixa certo grau de liberdade ao agente público,
bandeadas, na demolição de construção irregular, que poderá optar por um entre vários caminhos
na interdição de estabelecimento comercial irregu- igualmente válidos. Há uma avaliação subjetiva
lar, entre outros. Todavia, afirmar que a execução prévia à edição do ato. É o caso das permissões
independe de manifestação do Judiciário não signifi- para o uso de bem público. No caso de o ato dis-
ca dizer que escapa do controle judicial. Poderá ser cricionário não ser mais conveniente e oportuno
levado ao crivo, mas somente a posteriori, depois para a Administração Pública, a solução mais cor-
de seu cumprimento, se houver provocação da par- reta para sua extinção é a revogação.
te interessada. As medidas judiciais mais adequadas
para contestar a força coercitiva administrativa são o Quanto à Formação de Vontade
mandado de segurança e o habeas data (art. 5º, LXIX e
LXVIII, da CF, de 1988). z Atos simples: são aqueles que nascem da manifes-
Importante ressaltar ainda que os princípios da tação de vontade de apenas um órgão, seja ele uni-
razoabilidade e proporcionalidade impõem limites pessoal (formado só por uma pessoa) ou colegiado
na atuação coercitiva dos agentes públicos. A autoe- (composto por várias pessoas). O ato que altera
xecutoriedade (leia-se o uso de força física) deve ser o horário de atendimento da repartição pública,
utilizada com bom senso e moderação. emitido por uma única pessoa, bem como a deci-
são administrativa do Conselho de Contribuintes
Tipicidade do Ministério da Fazenda, que expressa vontade
única apesar de ser órgão colegiado, são exemplos
A tipicidade diz respeito à necessidade de respei- de atos simples;
tar as finalidades específicas delimitadas pela lei, para z Atos complexos: são aqueles que se formam pela
cada espécie de ato administrativo. Dependendo da união de várias vontades, isso é, que necessitam da
finalidade que o Poder Público almeja, existe um ato manifestação de vontade de dois ou mais órgãos
definido em lei. A lei deve sempre estabelecer os tipos diferentes para a sua formação. Enquanto todos os
de atos e suas consequências, promovendo ao particu- órgãos competentes não se manifestarem da for-
520 lar a garantia de que a Administração Pública não fará ma devida, o ato não estará perfeito;
z Atos compostos: é aquele que advém de mani- z Atos de expediente: são atos internos, elaborados
festação de apenas um órgão. Porém, para que por autoridade subalterna, que não tem capacida-
produza efeitos, depende da aprovação, visto, de decisória. Exemplo: numeração dos autos no
ou anuência de outro ato, que o homologa, como processo judicial.
condição para a executoriedade daquele ato. Cos-
tuma-se afirmar que o ato posterior é acessório Quanto à Exequibilidade
do anterior, pois a manifestação do segundo ato
não possui a mesma matéria do primeiro: ele ape- z Atos perfeitos ou imperfeitos: a perfeição diz
nas complementa a aplicação deste. Exemplo: a respeito aos atos que completaram seu processo de
nomeação de servidor público, que deve sempre formação, isso é, que já apresentam todos os cinco
anteceder a sua aprovação em concurso público. elementos do ato administrativo (agente, forma,
finalidade, objeto e motivo). Por outro lado, atos
Quanto aos Destinatários imperfeitos são os que ainda não completaram seu
processo de formação, seja porque carecem de um
z Atos gerais: são o conjunto de regras de caráter dos cinco elementos, seja porque recai uma condição
abstrato e impessoal. Seus destinatários são mui- suspensiva que impede que o ato se torne perfeito;
tos, mas unidos por características em comum, que z Atos válidos ou inválidos: a validade não é sinô-
os faz destinatários do mesmo ato. Para produzi- nimo de perfeição, uma vez que possui relação
rem seus efeitos, já que externos, devem ser publi- com o ordenamento jurídico, e não com os elemen-
cados na imprensa oficial. Exemplos: os editais de tos constitutivos. Todo ato administrativo válido
concurso público, as instruções normativas; deve ter uma norma jurídica como fundamento,
z Atos coletivos: são aqueles expedidos a um grupo caso contrário, é considerado um ato ilícito (inváli-
definido de destinatários. É o caso, por exemplo, do), podendo ser anulado;
de alteração de horário de funcionamento de uma z Atos eficazes ou ineficazes: o critério analisado
repartição pública. Tal ato, evidentemente, somen- aqui é a eficácia dos atos administrativos. Ato efi-
te é do interesse daqueles funcionários. A publici- caz é aquele que já está produzindo efeitos concre-
dade é atendida apenas com a comunicação dos tos. São considerados eficazes porque sobre eles
interessados, visto que é um ato interno da Admi- não recai nenhum prazo ou condição suspensiva.
nistração Pública; Já os atos ineficazes são aqueles que não podem
z Atos individuais: são aqueles destinados a ape- produzir seus efeitos, seja por motivos de perfeição,
nas um único destinatário. Exemplo: a promoção seja pela ausência de um outro ato administrativo
que o homologue. É o caso, por exemplo, da investi-
de um determinado servidor público. A exigência
dura de candidato em um cargo público. Tal ato por
da publicidade depende somente da comunicação
si só é ineficaz, se o candidato não tiver, além de ser
do interessado, não há necessidade de publicação
aprovado em concurso público, realizado outro ato
pelo Diário Oficial.
que é a assinatura do termo de posse.
Quanto aos Efeitos
Alguns autores como, Celso Antônio Bandeira de
Mello salientam que há uma mescla dessa última
z Atos constitutivos: são aqueles que geram uma
classificação, o que significa que o ato administrativo
nova situação jurídica aos destinatários. Pode ser
pode se encontrar de diversas formas, tais como:
pela outorga de um novo direito, como permissão de
uso de bem público, ou a imposição de uma obriga- a) perfeito, válido e eficaz;
ção, como estabelecer um período de suspensão; b) perfeito, válido e ineficaz;
z Atos declaratórios: são aqueles que afirmam uma c) perfeito, inválido e ineficaz; ou ainda
situação já existente, seja de fato ou de direito. Não d) imperfeito, inválido e ineficaz.
cria, transfere ou extingue situação jurídica, ape-
nas a reconhece. É o caso da expedição de uma cer- Os critérios apresentados não são exaustivos: há
tidão de tempo de serviço; outras formas de classificação dos atos administrati-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
z Atos modificativos: são os que tem capacidade de vos adotadas por diversos autores. Escolhemos apre-
alterar a situação já existente, sem que seja extin- sentar aqueles que têm mais chances de aparecer em
ta. Todavia, não tem o condão de criar direitos e uma questão de prova.
obrigações. Exemplo: a alteração do horário de
atendimento da repartição; Espécies
z Atos extintivos: também denominados atos des-
constitutivos, são aqueles que põem termo a um Os atos administrativos tipificados pela legislação
direito ou dever preexistentes. Exemplo: a demis- brasileira são diversos. Por isso, também é utilizado,
são de servidor público. para fins didáticos, uma sistematização dos atos admi-
nistrativos. A doutrina divide os atos administrativos
Quanto ao Objeto previstos da legislação em cinco espécies distintas:

z Atos de império: são aqueles praticados pela z Atos normativos: são aqueles que apresentam
Administração em posição de superioridade comandos gerais e abstratos para o cumprimento
perante os particulares, como na imposição de da lei. Alguns autores, inclusive, chegam a consi-
multa por infração administrativa; derar tais atos “leis em sentido material”. São atos
z Atos de gestão: são expedidos pela Administração, normativos: os decretos e regulamentos; as instru-
em posição de igualdade em relação aos administra- ções normativas; os regimentos; as resoluções; e as
dos. É o caso da alienação de bem público; deliberações; 521
z Atos ordinatórios: correspondem a manifesta- z Extinção ipsu iure pelo desaparecimento da
ções internas da Administração Pública decorren- pessoa ou objeto: os atos administrativos podem
tes do poder hierárquico, estabelecendo regras de tratar das pessoas ou coisas. Desaparecendo um
funcionamento de seus órgãos internos e regras desses elementos, o ato extingue-se automatica-
de conduta de seus agentes. Tais atos não podem mente, pois perdeu a sua utilidade. As pessoas
disciplinar as condutas dos particulares. São atos “desaparecem” com seu falecimento, como a mor-
ordinatórios: as instruções; as circulares; os avi- te de servidor público que receberia promoção; e
sos; as portarias; os ofícios; as ordens de serviço; as coisas com a sua ruína ou destruição, como o
os despachos; entre outros; desabamento de prédio que recebeu licença para
z Atos negociais: são aqueles que manifestam a a sua reforma.
vontade da Administração em consonância com z Extinção por renúncia: ocorre quando o próprio
o interesse dos particulares. Exemplos: a licença, beneficiário abre mão da situação proporcionada
a autorização, a permissão, a concessão, a apro- pelo ato administrativo. É o caso da exoneração de
vação, a homologação, a renúncia, etc. Os atos cargo público a pedido do seu ocupante;
negociais podem ser vinculados (licença) ou discri- z Retirada do ato: é a forma mais importante de
cionários (autorização), definitivos ou precários, extinção dos atos administrativos, para os concursos
sendo passíveis de revogação pelo Poder Público públicos. É a extinção que se dá pela expedição de um
segundo ato, elaborado para extinguir ato adminis-
a qualquer tempo. A característica especial desses
trativo anterior a ele. Comporta cinco modalidades,
atos é que eles não disciplinam direitos, e sim inte-
que serão vistas com maiores detalhes: revogação,
resses dos particulares;
anulação, cassação, caducidade e contraposição.
z Atos enunciativos: também denominados “atos
de pronúncia”, são aqueles que certificam, ou ates-
Revogação
tam a existência de uma situação jurídica peculiar.
Tais atos possuem caráter predominantemente
Revogação é a extinção de ato administrativo que
declaratório. São atos enunciativos: as certidões;
se encontra perfeito e apto a produzir seus efeitos,
os atestados; os pareceres etc.;
praticado pela própria Administração Pública. Essa
z Atos punitivos: como o próprio nome supõe, são
remoção é fundada em razões de conveniência e opor-
os atos que aplicam sanções aos particulares, ou tunidade, sempre almejando a proteção do interesse
aos servidores que pratiquem condutas irregula- público. Nessa hipótese, ocorre uma causa superve-
res, nos termos da lei. São atos punitivos: as mul- niente, que altera o juízo de conveniência e oportu-
tas, as interdições; e a destruição de coisas. nidade sobre a permanência de ato discricionário,
obrigando a Administração a expedir um segundo ato
Extinção e Invalidação do Ato Administrativo capaz de revogar esse ato anterior.
e Controle do Ato Administrativo: Anulação e O conceito de revogação tem previsão no art. 53 da
Revogação Lei nº 9.784, de 1999:

Os atos administrativos possuem um ciclo de Art. 53 A Administração deve anular seus próprios
vida. Eles são criados, começam a produzir efeitos e, atos, quando eivados de vício de legalidade, e pode
depois de um tempo, desaparecem. Vamos analisar revogá-los por motivo de conveniência ou oportuni-
com mais detalhes justamente o desaparecimento dade, respeitados os direitos adquiridos.
dos atos administrativos, embora seja preferível uti-
lizar o termo “extinção” (ou “invalidação”) dos atos Sobre o mesmo assunto, a Súmula nº 473, do STF:
administrativos.
Para melhor compreensão do tema, a doutrina Súmula nº 473 A administração pode anular seus
utiliza-se de uma sistematização das formas de extin- próprios atos, quando eivados de vícios que os tor-
ção dos atos administrativos. A principal divisão que nam ilegais, porque deles não se originam direitos;
ou revogá-los, por motivo de conveniência ou opor-
deve ser feita é em relação à produção de efeitos: exis-
tunidade, respeitados os direitos adquiridos, e res-
tem atos administrativos eficazes e atos ineficazes.
salvada, em todos os casos, a apreciação judicial.
Quando ineficaz, o ato pode ser extinto pela retirada,
ou pela sua recusa pelo beneficiário. Tratando-se de
Por tratar-se de questão de mérito, a revogação
atos eficazes, há quatro formas de extinção dos atos somente pode ser decretada pela própria Administra-
administrativos: ção Pública. É, também, decorrência do princípio da
autotutela: a Administração Pública tem competência
z Extinção ipsu iure pelo cumprimento dos efei- para anular e revogar seus atos, sendo descabida a
tos: é a extinção que ocorre pelo cumprimento manifestação do Poder Judiciário nos atos adminis-
integral dos efeitos do ato administrativo. É a trativos discricionários. A revogação é elaborada pela
extinção natural esperada por todo ato adminis- mesma autoridade que praticou o ato principal.
trativo. Pode ocorrer mediante: O ato revocatório é sempre secundário, consti-
tutivo e discricionário. Seu objeto será sempre o ato
„ Esgotamento do conteúdo, como a vacina- administrativo ou a relação jurídica anterior perfei-
ção de enfermos após expedição de ordem de ta e eficaz, destituído de qualquer vício. A revogação
entrega das vacinas; atinge somente os atos discricionários: para os atos
„ Execução da ordem, como o guinchamento de vinculados, a medida cabível é a anulação.
veículo; Por fim, em relação a seus efeitos, a revogação não
„ Implemento de condição resolutiva ou termo pode atingir as situações jurídicas do passado. Isso
522 final, como o prazo final para renovação da CNH; significa que a revogação produz efeitos futuros, não
retroativos, ou ex nunc. Há a possibilidade do particu- eleições, e atuam em mandatos fixos, os quais têm o
lar, que se sentiu prejudicado com a referida medida, condão de extinguir a relação destes com o Estado
ingressar em juízo com pedido de indenização contra de modo automático pelo simples decurso do tempo.
a Administração. Percebe-se, dessa forma, que a sua vinculação com o
Estado não é profissional, mas estatutária ou institu-
Anulação cional. São agentes políticos os parlamentares, o Pre-
sidente da República, os prefeitos, os governadores,
É a extinção de ato administrativo defeituoso, pois bem como seus respectivos vices, ministros de Estado
carece de legalidade, podendo ser expedido pela Admi- e secretários.
nistração Pública, ou até mesmo pelo Poder Judiciário. A
anulação deriva do próprio princípio da legalidade e auto- Agentes Militares
tutela. Também possui fundamento no art. 53 da Lei nº
9.784, de 1999, bem como na Súmula nº 473, do STF. Os agentes militares constituem uma categoria à
A anulação realizada pela própria Administração parte dos demais agentes políticos, uma vez que as
ocorre mediante a expedição de ato anulatório. Suas instituições militares possuem fortes bases funda-
características principais são: é ato secundário, cons- mentadas na hierarquia e na disciplina. Apesar de
titutivo e vinculado. Tanto a Administração como o também apresentarem vinculação estatutária, seu
Poder Judiciário podem decretar a anulação de ato regime jurídico é disciplinado por legislação especial,
administrativo. Outra característica importante é o e não aquela aplicável aos servidores civis. São agen-
prazo definido pelo caput do art. 54 da Lei nº 9.784, tes militares os membros das Polícias Militares e dos
de 1999: Corpos de Bombeiros militares dos Estados, Distrito
Federal e Territórios, bem como os demais militares
Art. 54 O direito da Administração de anular os ligados ao Exército, Marinha e Aeronáutica. Algumas
atos administrativos de que decorram efeitos favo- características que merecem destaque são: a proibi-
ráveis para os destinatários decai em cinco anos, ção de sindicalização dos militares, a proibição do
contados da data em que foram praticados, salvo direito de greve e a proibição à filiação partidária.
comprovada má-fé.
Servidores Públicos
O prazo decadencial de cinco anos é atributo exclu-
sivo da anulação. De modo geral, podemos dizer que a Constituição
Por fim, em relação a seus efeitos, é importante fri- Federal de 1988 apresenta dois tipos de regimes para
sar que o ato nulo (aquele que carece de legalidade) os agentes estatais: o regime estatutário ou de cargos
tem o seu defeito constatado desde a sua concepção. públicos, e o regime celetista ou de empregos públicos.
Por isso, a anulação deve desconstituir os efeitos des- Os servidores públicos são contratados pelo regi-
de a data da prática daquele ato. Podemos afirmar, me estatutário, enquanto os empregados públicos são
então, que a anulação possui efeito retroativo, ou ex contratados pelo regime celetista, que muito se asse-
tunc. Em regra, não gera ao particular direito à inde- melha às regras contidas na CLT.
nização pela anulação de ato ilegal, salvo se compro- Atente-se a este conceito: servidor público é o
var ter sofrido dano anormal para ocorrência, do qual agente contratado pela Administração Pública, direta
não tenha participado. ou indireta, sob o regime estatutário, sendo selecio-
nado mediante concurso público, para ocupar cargos
públicos, possuindo vinculação com o Estado de natu-
reza estatutária e não-contratual.
O regime dos cargos públicos é disciplinado pela
SERVIDORES PÚBLICOS Lei Federal nº 8.112, de 1990, também conhecida como
Estatuto do Servidor Público.
ORGANIZAÇÃO DO SERVIÇO PÚBLICO E NORMAS Frente a isso, um ponto relevante a ser ressalta-
CONSTITUCIONAIS PERTINENTES do desse regime é o alcance da estabilidade mediante
o fim do período de estágio probatório. Tal alcance
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Nas lições de Celso Antônio Bandeira de Mello, permite que o servidor não seja desligado de suas
são agentes públicos as pessoas que exercem uma funções, salvo pelas hipóteses previstas em lei, como
função pública, ainda que em caráter temporário ou a sentença judicial transitada em julgado, processo
sem remuneração. Trata-se de uma expressão ampla administrativo disciplinar, ou a não aprovação em
e genérica, uma vez que engloba todos aqueles que, avaliação periódica de desempenho (§ 1º, art. 41, da
dentro da organização da Administração Pública, CF, de 1988).
exercem determinada função pública. Dentre os cargos públicos, ainda, há aqueles que
Assim, podemos dizer que agente público é gênero, são vitalícios, que se apresentam de forma mais van-
o qual comporta diversas espécies, como os agentes tajosa, uma vez que o estágio probatório possui um
políticos, os agentes militares, os servidores públi- tempo menor (2 anos, sendo de 3 anos para os car-
cos estatutários, os empregados públicos, os agentes gos não-vitalícios), bem como possui a característica
honoríficos, entre outros. Por isso, vamos especificar de o desligamento ocorrer apenas mediante sentença
cada um deles com maiores detalhes. condenatória transitada em julgado. São vitalícios os
cargos de: Magistratura, do Tribunal de Contas, e os
Agentes Políticos cargos dos membros do Ministério Público.
Além da estabilidade, são também assegurados aos
Os agentes políticos possuem como característica servidores estatutários alguns direitos trabalhistas.
principal o fato de exercerem uma função pública de Vejamos aqui os mais importantes, de acordo com o §
alta direção do Estado. Seu ingresso é feito mediante 3º, art. 39, da CF, de 1988: 523
z Salário mínimo; públicos, acessíveis a todos os brasileiros, são criados
z Remuneração de trabalho noturno superior ao por lei, com denominação própria e vencimento pago
diurno; pelos cofres públicos, para provimento em caráter
z Repouso semanal remunerado; efetivo ou em comissão.
z Férias trabalhadas; A criação, transformação e extinção de cargos,
z Licença à gestante. empregos ou funções públicas depende sempre de uma
lei instituidora (inciso X, art. 48, CF, de 1988). Porém,
Empregado Público havendo um cargo ou função vago, a sua extinção
pode se dar mediante expedição de decreto pelo Poder
De modo diferente da contratação dos servidores, Executivo.
os empregados públicos são contratados mediante
regime celetista, isto é, com aplicação das regras pre- z Investidura na Função
vistas na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Trata-se de uma vinculação contratual. A contratação Para ocupar um cargo público, é necessário haver
de empregados públicos dá-se, em regra, pelas pes- o seu devido provimento, ou seja, deve haver um ato
soas jurídicas de direito privado integrantes da Admi- administrativo constitutivo e hábil para a investidu-
nistração Indireta (empresas públicas, sociedades de ra do servidor no respectivo cargo. Com relação aos
economia mista, consórcios etc.). Além disso, o ingres- requisitos para a investidura em cargo público, dis-
so de tais pessoas também depende da sua aprovação põe o art. 5º, da Lei n° 8.112, de 1990:
em concurso público.
O regime dos empregados públicos é menos prote- Art. 5º São requisitos básicos para investidura em
tivo do que o regime estatutário. Isso se deve ao fato de cargo público:
que os empregados públicos não gozam da estabilida- I - a nacionalidade brasileira;
de que os servidores possuem. Ao serem empossados, II - o gozo dos direitos políticos;
os empregados passam por um período de experiên- III - a quitação com as obrigações militares e
cia de 90 dias. Todavia, mesmo após esse período, os eleitorais;
IV - o nível de escolaridade exigido para o exercício
empregados públicos podem ser dispensados.
do cargo;
A diferença dos empregados públicos para com os
V - a idade mínima de dezoito anos;
demais consiste no fato de que a sua demissão será VI - aptidão física e mental.
sempre motivada, após regular processo administra-
tivo, mediante contraditório e ampla defesa. Impor-
O rol apresentado no art. 5° é meramente exem-
tante lembrar que, para a Administração Pública,
plificativo, pois a depender das atribuições do cargo
a motivação de seus atos, bem como o tratamento
almejado, podem existir outros requisitos exigidos
impessoal e a finalidade pública, são princípios nor-
para ocupação e posse. Observe, ainda, que tais requi-
teadores de sua atuação. Uma demissão imotivada de
sitos que forem exigidos devem ser comprovados
um empregado público seria absolutamente inadmis-
somente no momento da posse.
sível nessas condições. Conforme aludido no art. 7º, da Lei n° 8.112, de
1990, a investidura em cargo público ocorrerá com a
REGIME DOS SERVIDORES PÚBLICOS FEDERAIS: A posse.
LEI N° 8.112, DE 1990
z Provimento
O regime dos servidores públicos possui ampla
previsão normativa. Além do renomado art. 37, da Há diversas formas de provimento dos cargos
Constituição Federal, no âmbito infraconstitucional públicos, podendo ser classificado em dois grupos:
temos a Lei nº 8.112, de 1990 (Estatuto dos Servido-
res Públicos Federais), isto é, a legislação que institui „ Quanto à durabilidade: o provimento pode ser de
o regime jurídico dos servidores públicos da União, caráter efetivo, capaz de garantir estabilidade e
autarquias, fundações, agências reguladoras e asso- até mesmo vitaliciedade para o ocupante; ou em
ciações, todas em âmbito federal. Bastante exigida em comissão, quando o referido cargo não goza de
concursos públicos, convém salientar as principais estabilidade, podendo o servidor ser destituído ad
características a respeito do regime dos servidores nutum, isto é, de forma unilateral, sem a anuência
públicos: do servidor;
„ Quanto à preexistência de vínculo: temos o pro-
Dos Cargos Públicos: Conceito, Investidura na vimento originário, que não depende de vincu-
Função Pública, Provimento, Vacância lação jurídica anterior com o Estado (nomeação);
ou derivado, se o referido servidor já possuía
z Conceito algum vínculo com o Estado (promoção, remoção,
readaptação).
Para todos os efeitos legais, o servidor público está
intrinsecamente ligado à noção de cargo público. Con- O art. 8º, da Lei n° 8.112, de 1990, dispõe sobre as
forme dispõe o art. 3° do Estatuto dos Servidores, cargo formas de provimento em cargos públicos:
público é o conjunto de atribuições e responsabilidades
previstas na estrutura organizacional que devem ser „ Nomeação: trata-se da única forma de provi-
cometidas a um servidor. A expressão “cometida” no mento originário, uma vez que não exige uma
contexto do artigo de lei refere-se às atribuições e res- relação jurídica prévia do servidor para com
ponsabilidades que são atribuídas ao servidor público o Estado. A nomeação depende sempre de pré-
524 em decorrência do cargo público ocupado. Os cargos via habilitação em concurso público de provas,
ou de provas e títulos. Além disso, a nomeação Suponha que, em uma situação anterior, o servidor
poderá ser promovida não somente em caráter Carlos foi demitido por um motivo injusto. Esse motivo
efetivo, como também para os cargos de con- injusto pode advir de qualquer evento, como ter sido
fiança ou em comissão (incisos I e II, dos arts. erroneamente acusado de ter praticado uma transgres-
9º e 10, da Lei nº 8.112, de 1990); são (falaremos das transgressões em momento poste-
„ Promoção: é uma forma de provimento deri- rior). Carlos, então, resolveu ingressar com ação em
vado, haja vista que ela beneficia somente os juízo e por meio de decisão judicial (ou administrativa)
servidores que já ingressaram em cargos públi- conseguiu comprovar que a sua demissão foi injusta,
cos em caráter efetivo. Os demais requisitos ficando determinada a sua invalidação. Com isso, ele
para o ingresso e o desenvolvimento do servidor pode ser reintegrado ao seu cargo a fim de voltar a
na carreira, mediante promoção, serão estabele- desempenhar suas funções na repartição pública.
cidos pela lei que fixar as diretrizes do sistema É proibida a criação de cargos excessivos pela
de carreira na Administração Pública Federal e Administração Pública, tendo em vista que em toda
seus regulamentos (parágrafo único, art. 10, da repartição existe um número exato de cargos a serem
Lei nº 8.112, de 1990); ocupados pelos servidores.
„ Readaptação: é, também, uma forma de pro- Logo, no exemplo apresentado, o cargo perten-
vimento derivado, pois trata-se de hipótese ce originalmente a Carlos. Assim, o servidor Márcio,
de atribuição ao servidor para um cargo com que estava ocupando o lugar de Carlos durante sua
funções e responsabilidades distintas e com- ausência, deverá ser reconduzido para o seu cargo de
patíveis com a limitação que tenha sofrido em origem ou, não sendo possível, devido à extinção do
sua capacidade física ou mental, verificada cargo nesse período, poderá ser aproveitado em outro
em inspeção médica. Assim, por exemplo, um cargo similar.
motorista de ônibus que sofre acidente e acaba Não havendo outro cargo similar, Márcio será pos-
perdendo algum membro essencial para diri- to em disponibilidade.
gir poderá ser readaptado para executar uma Encontrando-se provido o cargo, o seu eventual ocu-
função similar, mas não idêntica à anterior. Na pante será reconduzido ao cargo de origem, sem direito
hipótese do servidor readaptando se mostrar à indenização ou aproveitado em outro cargo, ou, ain-
completamente inválido para exercer qualquer da, posto em disponibilidade (§ 2º, art. 28, idem).
cargo, ele será compulsoriamente aposentado; A disponibilidade é uma garantia de caráter pro-
„ Reversão: outra forma de provimento deriva- tecionista atribuída pela Constituição Federal ao ser-
do, em que temos o retorno à atividade de um vidor público estável, cuja finalidade é resguardar o
servidor aposentado por invalidez, ou por puro vínculo do servidor com a Administração Pública, de
e simples interesse da Administração, desde que maneira a não ser excluído dos quadros de pessoal
(art. 25, do Estatuto dos Servidores Públicos): quando seu cargo for declarado desnecessário ou
extinto. Durante o período em que o servidor perma-
Art. 25 [...]
necer disponível, sua remuneração é mantida.
II - [...]
a) tenha solicitado a reversão;
b) a aposentadoria tenha sido voluntária; „ Recondução: por fim, a recondução é a forma
c) estável quando na atividade; de provimento derivado consistente no retorno
d) a aposentadoria tenha ocorrido nos cinco anos do servidor público estável ao cargo anterior-
anteriores à solicitação; mente ocupado, e decorrerá de inabilitação em
e) haja cargo vago estágio probatório relativo a outro cargo, ou ain-
da pela reintegração do anterior ocupante (I e II,
A reversão far-se-á para o mesmo cargo ou para o art. 29, da Lei nº 8.112, de 1990). Uma situação
cargo resultante de sua transformação. Em termos de excepcional é a da extinção do cargo durante o
remuneração, o servidor que retornar à atividade por período de estágio probatório. Nessas condições,
interesse da Administração perceberá a remuneração segundo a Súmula n° 22, do STF, inexiste direito
do cargo que voltar a exercer, em substituição da apo- à recondução, e o servidor será exonerado.
sentadoria que recebia (§ 4º, art. 25, idem);
É o caso do servidor Márcio, já mencionado duran- NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
„ Aproveitamento: mais uma forma de pro- te a reintegração do servidor Carlos. A recondução
vimento derivado, consistente no retorno de tem prioridade em relação a pôr o servidor em dis-
servidor em disponibilidade, sendo seu regresso ponibilidade. Colocar o servidor em disponibilidade
obrigatório para cargo de atribuições e venci- é considerada uma última medida, pois o correto é a
mentos compatíveis com os do anteriormente Administração fazer com que todos os servidores que
ocupados (art. 30, da Lei nº 8.112, de 1990). Será contratou estejam efetivamente no exercício de suas
tornado sem efeito o aproveitamento e cassa- atividades, de modo a evitar a oneração dos cofres
da a disponibilidade se o servidor não entrar públicos com servidores inativos que continuam a
em exercício no prazo legal, salvo comprovada receber remuneração e outros benefícios.
doença por junta médica oficial (art. 32, idem);
„ Reintegração: é a forma de provimento deri- z Vacância
vado que ocorre pela reinvestidura do servidor
estável no cargo anteriormente ocupado, ou no A Lei nº 8.112, de 1990, também faz menção das
cargo resultante de sua transformação, na hipó- hipóteses de vacância, isto é, são hipóteses em que o
tese de sua demissão ser invalidada por decisão servidor deixa o cargo ocupado anteriormente. Essas
judicial ou administrativa, tendo direito também situações podem ser de caráter definitivo, como, por
ao ressarcimento de todas as vantagens (caput, exemplo, a extinção do cargo público, ou quando
art. 28, Lei nº 8.112, de 1990). ocorre a troca do cargo ocupado pelo servidor. 525
Art. 33 São formas de vacância dos cargos públicos: IV - vinculação entre os graus de responsabilidade e
I - exoneração; complexidade das atividades;
II - demissão; V - mesmo nível de escolaridade, especialidade ou
III - promoção; habilitação profissional;
IV (REVOGADO); VI - compatibilidade entre as atribuições do cargo e
V (REVOGADO); as finalidades institucionais do órgão ou entidade.
VI - readaptação;
VII - aposentadoria; A substituição encontra-se disposta no art. 38, do
VIII - posse em outro cargo inacumulável; Estatuto. Segundo o caput desse dispositivo, os servi-
IX - falecimento. dores investidos em cargo ou função de direção ou che-
fia e os ocupantes de cargo de Natureza Especial terão
Observe que algumas das hipóteses de vacância são substitutos indicados no regimento interno ou, no caso
as mesmas das hipóteses de provimento. Isso ocorre de omissão, previamente designados pelo dirigente
porque, como mencionamos, o provimento derivado máximo do órgão ou entidade.
dos cargos públicos pressupõe uma relação jurídica A substituição é uma troca de um servidor por
anterior entre o servidor e a Administração Pública. outro, aplicável somente para os cargos de comis-
Nessas hipóteses (readaptação, promoção), o Poder são ou função de direção e chefia, bem como cargos
Público necessita extinguir um cargo público (uma de Natureza Especial. O servidor substituto indica-
relação jurídica anterior) para criar um cargo novo. do assume, automaticamente, o exercício do cargo,
Dessas hipóteses, a que merece maiores esclareci- nos casos de afastamentos, impedimentos legais ou
mentos é a exoneração. Nas linhas do art. 35, a exo- regulamentares do titular, bem como na hipótese de
neração de cargo efetivo dar-se-á a pedido do servidor, vacância do cargo.
ou de ofício. Quando de ofício, a exoneração será rea- Um direito muito importante do servidor substitu-
lizada quando não satisfeitas as condições do estágio to é que ele pode optar, entre o cargo que ocupava
probatório; ou ainda quando, tendo tomado posse, o antes e o cargo que passa a ocupar pela substituição,
servidor não entrar em exercício no prazo estabelecido. pela remuneração mais vantajosa (§ 2º, art. 38). Seria
A remoção é elencada no art. 36, da Lei nº 8.112, de injusto o substituto ganhar menos do que recebia
1990. Pelo disposto no caput do referido artigo, remo- antes da substituição.
ção é o deslocamento do servidor, a pedido ou de ofício,
no âmbito do mesmo quadro, com ou sem mudança de DIREITOS DOS SERVIDORES
sede. A remoção não é uma forma de provimento em
cargo público. A prerrogativa é qualquer situação de vantagem
O artigo ainda apresenta algumas modalidades de obtida pela natureza de um cargo ou de uma função.
remoção, que podem ser: No caso dos agentes públicos, existem algumas prer-
rogativas que são comuns para todo e qualquer car-
Art. 36 [...] go público, e existem algumas prerrogativas que são
Parágrafo único. [...] mais restritas, exclusivas apenas para alguns cargos.
I - de ofício, no interesse da Administração; Geralmente essas prerrogativas mais exclusivas são
II - a pedido, a critério da Administração; aplicáveis para os cargos militares e para os cargos de
III - a pedido, para outra localidade, independente- natureza política.
mente do interesse da Administração: No momento, é importante focar nas prerrogativas
a) para acompanhar cônjuge ou companheiro, tam- que se aplicam para todos os servidores públicos, que
bém servidor público civil ou militar, de qualquer ocupam cargos públicos em geral. A primeira grande
dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
prerrogativa diz respeito à estabilidade.
Federal e dos Municípios, que foi deslocado no inte-
A estabilidade é a condição que o servidor público
resse da Administração;
atinge após completar alguns requisitos. O seu princi-
b) por motivo de saúde do servidor, cônjuge, com-
pal efeito é que, uma vez estável no cargo, o servidor
panheiro ou dependente que viva às suas expensas
e conste do seu assentamento funcional, condicio- público não pode ser demitido por razões de conve-
nada à comprovação por junta médica oficial; niência ou oportunidade pela Administração. Ela não
c) em virtude de processo seletivo promovido, na pode demitir o servidor estável “porque não quer
hipótese em que o número de interessados for supe- mais” trabalhar com ele.
rior ao número de vagas, de acordo com normas Segundo o art. 21, do Estatuto dos Servidores
preestabelecidas pelo órgão ou entidade em que Públicos Civis da União, uma vez que o servidor seja
aqueles estejam lotados. habilitado em concurso público e empossado em cargo
de provimento efetivo adquirirá estabilidade no ser-
A redistribuição é o deslocamento de cargo para viço público ao completar 2 (dois) anos de efetivo
provimento efetivo, ocupado ou vago no âmbito do exercício.
quadro geral de pessoal, para outro órgão ou entida- Interessante observar que a Constituição Federal
de do mesmo Poder, com prévia apreciação do órgão de 1988 também prevê a prerrogativa de estabilida-
central do SIPEC, segundo o que dispõe o art. 37, do de em seu art. 41. Todavia, os requisitos são distintos:
referido Estatuto, desde que sejam observados os para o Texto Constitucional, o servidor público só
seguintes preceitos: adquire estabilidade após completar 3 (três) anos de
efetivo exercício.
Art. 37 [...] Isso não significa que, uma vez o servidor estando
I - interesse da administração; estável no seu cargo, ele pode fazer o que quiser e não
II - equivalência de vencimentos; sofrerá nenhuma punição. A estabilidade não lhe dá
III - manutenção da essência das atribuições do “carta branca” para agir como bem entender. Por isso,
526 cargo; o conteúdo do art. 22, da Lei nº 8.112, de 1990:
Art. 22 O servidor estável só perderá o cargo em z Vencimentos: vencimentos está para o servidor
virtude de sentença judicial transitada em julgado assim como o salário está para o empregado. Con-
ou de processo administrativo disciplinar no qual siste na retribuição pecuniária pelo exercício do
lhe seja assegurada ampla defesa. cargo público, cujo valor é previamente fixado
em lei. Os vencimentos de cargos efetivos são, em
O Texto Constitucional vai um pouco além: ele pre- regra, irredutíveis;
vê ao todo, quatro modalidades de demissão de servi- z Remuneração: é mais abrangente. É o vencimen-
dor estável. São elas: to do cargo, somado a todas as outras vantagens
pecuniárias estabelecidas em lei. O menor valor
z Por sentença judicial transitada em julgado: é pago ao servidor público, independentemente de
a forma mais demorada para se demitir um servi- sua vinculação, é o valor do salário mínimo vigen-
dor, considerando todo o aspecto burocrático exis- te (§ 3º, art. 39, da CF, de 1988).
tente no processo judicial. O trânsito em julgado da
sentença somente ocorre quando esgotados todos
os recursos cabíveis; Importante!
z Mediante processo administrativo em que lhe
seja assegurada ampla defesa. As regras referentes O art. 39, da Constituição Federal, apresenta
ao Processo Administrativo Disciplinar (ou PAD) algumas regras gerais sobre o regime dos servi-
serão vistas mais adiante; dores públicos. Dentre as regras constitucionais,
z Mediante procedimento de avaliação periódica o § 1º do referido dispositivo prevê que a fixação
de desempenho, na forma de lei complementar, dos padrões de vencimento e dos demais com-
assegurada ampla defesa: quem não for aprova- ponentes do sistema remuneratório observará
do na avaliação periódica de desempenho pode três aspectos: a natureza, o grau de responsabili-
ser exonerado de seu cargo público, independen- dade e a complexidade dos cargos componentes
temente de ter completado o período de efetivo de cada carreira; os requisitos para a investidura;
exercício; e também as peculiaridades dos cargos.
z Por excesso de gasto com pessoal: as hipóteses 1
a 3 estão previstas nos incisos do art. 41. Todavia,
essa última hipótese encontra-se disposta no inciso z Regime de subsídios: trata-se de uma forma espe-
II, § 3º, art. 169, da CF, de 1988. Sob o aspecto orça- cial de remuneração, feita em uma única parcela.
mentário e financeiro, não pode a Administração O regime de subsídios, previsto no § 4º, art. 39, da
Pública realizar gastos superiores àqueles previs- CF, de 1988, foi introduzido com a finalidade de
tos em seu orçamento anual. Com isso, havendo a coibir os “supersalários” comumente existentes no
necessidade, é possível, sim, que um servidor está- regime de servidores públicos brasileiros. Impor-
vel seja exonerado de seu cargo apenas por moti- tante ressaltar que recebem por subsídios somen-
vos de “balancear” as contas públicas. te os Chefes do Poder Executivo, parlamentares,
magistrados, ministros de Estado, secretários esta-
Outra prerrogativa que merece maior destaque é duais, membros do Ministério Público e da Advo-
a vitaliciedade. É um instituto bastante parecido com cacia Pública, entre outros.
a estabilidade, mas não pode ser confundido com a
mesma. A vitaliciedade não é adquirida por qualquer Das Vantagens
servidor: ela é somente concedida para alguns cargos
públicos especiais. À luz do disposto no art. 49, do Estatuto, além dos
São considerados cargos vitalícios, segundo a pró- vencimentos, aos funcionários públicos serão pagas
pria Constituição Federal: os cargos de Magistratura as seguintes vantagens: as indenizações, as gratifica-
(inciso I, art. 95), os membros do Ministério Público ções e os adicionais.
(“a”, § 5º, art. 128) e os cargos ocupados pelos membros
do Tribunal de Contas da União ou TCU (§ 3º, art. 73). z Das Indenizações
A vitaliciedade é um instituto ainda mais forte do
que a estabilidade. Uma vez que a pessoa ocupe um Indenizações são valores pagos aos servidores, NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
desses cargos vitalícios, ela somente pode ser exone- mas que não integram seus vencimentos. O Esta-
rada mediante sentença judicial transitada em julga- tuto prevê algumas hipóteses de recebimento de
do. Essa é a única hipótese de exoneração, motivo pelo indenizações:
qual ela garante uma prerrogativa maior do que ape-
nas a estabilidade. „ Ajuda de custo por mudança (art. 53): devida
Das hipóteses de exoneração, apesar de ser um como forma de compensar as despesas de ins-
aspecto relativo ao Regime de Previdência, é também talação de servidor que tiver exercício em nova
considerada como uma forma de exoneração a apo- sede, ocorrendo mudança de seu domicílio;
sentadoria compulsória, isto é, a concessão do referido „ Ajuda de custo por falecimento (§ 2º, art. 53):
benefício previdenciário quando o servidor estável ou devido à família do servidor que vier a falecer
vitalício completar 75 (setenta e cinco) anos de idade. na nova sede, sendo devido para custear o
A diferença é que, no caso da aposentadoria compul- transporte para a localidade de origem;
sória, o servidor para de trabalhar, mas continua rece- „ Diárias por deslocamento (art. 58): devida ao
bendo uma “remuneração”, chamada de provento. servidor que se afastar, por motivos de serviço,
A Lei nº 8.112, de 1990, em seus arts. 40 e 41, elen- da sede em caráter transitório, para outro local
ca diversos direitos e gratificações aos servidores dentro ou fora do país, receberá tal indenização
públicos, os quais são de grande importância conhe- como forma de ajuda no custeio de passagens
cer. Vejamos os principais direitos: e diárias destinadas a indenizar as parcelas 527
de despesas extraordinárias com pousada, ali- de 1990). Poderão ser parceladas em até três períodos,
mentação e locomoção urbana. O § 3º, do art. desde que assim requeridas pelo servidor, e no inte-
59, prevê que o servidor que receber diárias e resse da administração pública, na forma do § 3º, do
não se afastar da sede, por qualquer motivo, mesmo dispositivo legal.
fica obrigado a restituí-las integralmente, no
prazo de 5 (cinco) dias; Das Licenças
„ Transporte (art. 60): será concedida inde-
nização ao funcionário público que realizar As licenças são uma espécie de afastamento com
despesas com a utilização de meio próprio de algumas características próprias. Ou seja, os casos de
locomoção para a execução de serviços exter- licença ocorrem, via de regra, por interesse e a pedido
nos, por força das atribuições próprias do car- do particular. Estão dispostas nos arts. 81 e seguintes,
go, conforme disposto em regulamento; da Lei dos Servidores Públicos Federais. De acordo
„ Auxílio-moradia (art. 60-A): trata-se de res- com o art. 81, conceder-se-á licença ao servidor:
sarcimento das despesas comprovadamente
realizadas pelo servidor com aluguel de mora- Art. 81 [...]
dia ou com hospedagem realizado por algum I - por motivo de doença em pessoa da família;
hotel, dependendo do preenchimento de alguns
requisitos, como não ter um imóvel funcional Essa licença somente poderá ser concedida se for
disponível para uso, seu cônjuge não ser ocu- indispensável assistência direta do servidor, de forma
pante de imóvel funcional, ou que nenhuma que não possa ser prestada simultaneamente com o
outra pessoa que resida com o servidor receba exercício das funções públicas, pelo que dispõe o § 1º,
a mesma indenização etc. do art. 83, da Lei nº 8.112, de 1990.

z Gratificações, Adicionais e Retribuições Art. 83 [...]


II - por motivo de afastamento do cônjuge ou
O art. 61, do Estatuto dos Servidores Públicos, tam- companheiro;
bém prevê o pagamento das seguintes gratificações:
Trata-se de licença que poderá ser deferida ao ser-
Art. 61 [...] vidor para acompanhar cônjuge que foi deslocado
I - retribuição pelo exercício de função de direção, para outro ponto do território nacional, para o exte-
chefia e assessoramento; rior ou para exercer mandato eletivo dos poderes
II - gratificação natalina; executivo e legislativo. Nesse caso, a licença será por
III – revogado; prazo indeterminado e sem remuneração, nos temos
IV - adicional pelo exercício de atividades insalu- do caput e § 1º, do art. 84, da nº Lei 8.112, de 1990.
bres, perigosas ou penosas;
V - adicional pela prestação de serviço extraordinário; Art. 84 [...]
VI - adicional noturno; III - para o serviço militar (art. 85 da Lei 8.112, de
VII - adicional de férias; 1990);
VIII - outros, relativos ao local ou à natureza do IV - para atividade política;
trabalho;
IX - gratificação por encargo de curso ou concurso. Segundo o art. 86, da Lei 8.112, de 1990, o servidor
terá direito à licença, sem remuneração, durante o
Gratificação de encargo por curso o concurso é período que mediar entre a sua escolha em convenção
decida ao servidor que (art. 76-A): partidária, como candidato a cargo eletivo, e a véspera
do registro de sua candidatura perante a Justiça Eleito-
Art. 76-A [...] ral, e a partir do registro da candidatura e até o décimo
I - atuar como instrutor em curso de formação, de dia seguinte ao da eleição, o servidor fará jus à licença,
desenvolvimento ou de treinamento regularmen- assegurados os vencimentos do cargo efetivo, somente
te instituído no âmbito da administração pública pelo período de três meses (§ 2º, do mesmo artigo).
federal;
II - participar de banca examinadora ou de comis-
Art. 86 [...]
são para exames orais, para análise curricular,
V - para capacitação;
para correção de provas discursivas, para elabora-
ção de questões de provas ou para julgamento de
recursos intentados por candidatos; Após cada quinquênio do efetivo exercício públi-
III - participar da logística de preparação e de co, sendo do interesse da Administração, o servidor
realização de concurso público envolvendo ativi- poderá se afastar do cargo com a efetiva remunera-
dades de planejamento, coordenação, supervisão, ção, por até três meses, para fazer curso de capacita-
execução e avaliação de resultado, quando tais ção profissional (art. 87, da Lei nº 8.112, de 1990).
atividade não tiverem incluídas em suas funções
permanentes; Art. 87 [...]
IV - participar da aplicação, fiscalizar ou avaliar VI - para tratar de interesses particulares;
provas de exames de vestibular ou de concurso
público ou supervisionar essas atividades. A critério da Administração Pública, poderá ser
concedida somente ao servidor público que ocupe
O servidor, em relação às férias, fará jus a trin- cargo efetivo (desde que não esteja em estágio proba-
ta dias de licença para cada 12 meses de serviço, que tório), licença para cuidar de interesse particulares
podem ser acumuladas, até o máximo de dois períodos, por até três anos consecutivos, sem o recebimento de
528 no caso de necessidade do serviço (art. 77, Lei nº 8.112, remuneração (art. 91, da Lei nº 8.112, de 1990).
Art. 91 [...] Para que o servidor público possa se afastar de
VII - para desempenho de mandato classista. suas funções para o estudo ou missão no exterior, a
Lei nº 8.112, de 1990, também apresenta algumas
Nessa situação será concedida licença sem remu- regras a serem observadas com disposição nos arts.
neração ao servidor que for desempenhar mandato 95 e 96:
em confederação, federação, associação de classe de
âmbito nacional, sindicato representativo de catego- Art. 95 O servidor não poderá ausentar-se do País
ria ou entidade fiscalizadora de profissão (art.92, da para estudo ou missão oficial, sem autorização do
Lei nº 8.112, de 1990). Presidente da República, Presidente dos Órgãos do
Poder Legislativo e Presidente do Supremo Tribu-
Apesar de haver previsão para concessão de licen-
nal Federal.
ça por prêmio em virtude de assiduidade, tal hipótese § 1º A ausência não excederá a 4 (quatro) anos, e
acabou sendo revogada pela Lei nº 9.527, de 1997. finda a missão ou estudo, somente decorrido igual
As licenças, como se depreende, são hipóteses de período, será permitida nova ausência.
desligamento temporário do servidor com o seu res- § 2º Ao servidor beneficiado pelo disposto neste
pectivo cargo, havendo uma expectativa para o seu artigo não será concedida exoneração ou licença
retorno. As licenças poderão ser concedidas com ou para tratar de interesse particular antes de decor-
sem remuneração, a depender de cada situação. rido período igual ao do afastamento, ressalvada a
hipótese de ressarcimento da despesa havida com
Dos Afastamentos seu afastamento.
§ 3º O disposto neste artigo não se aplica aos servi-
dores da carreira diplomática.
Os afastamentos propriamente ditos não se con- [...]
fundem com as licenças já estudadas. Trata-se de Art. 96 O afastamento de servidor para servir em
hipóteses em que ocorre o afastamento do servidor organismo internacional de que o Brasil participe
de suas funções por determinação da administração ou com o qual coopere dar-se-á com perda total da
pública, e, em regra, o servidor receberá sua remu- remuneração.
neração integral. A previsão legal está elencada nos
arts. 93 e seguintes, da Lei nº 8.666, de 1990. São qua- O afastamento do servidor com a finalidade de
tro hipóteses: participação em programa de pós-graduação stricto
sensu no país, no interesse da Administração Pública,
z Para servir a outro órgão ou entidade; acontecerá desde que a participação não possa ocor-
z Para exercício de mandato eletivo; rer simultaneamente com o exercício do cargo ou
z Para estudos ou missões no exterior; mediante compensação de horário, art. 96-A, da Lei
z Para participação em programa de pós-graduação nº 8.112, de 1990. O servidor continuará a receber sua
stricto sensu dentro do País. remuneração no período em que estiver cursando sua
especialização.
A hipótese arrolada no inciso I tem sua regulamen- Para compreender melhor a diferença entre licen-
ças e afastamentos, segue uma tabela explicativa.
tação no art. 93, e será cedida ao servidor nas seguintes
condições: para exercício de cargo em comissão ou fun-
LICENÇA AFASTAMENTO
ção de confiança e em casos previstos em leis específicas.
O art. 94, da Lei nº 8.112, de 1990, traz as especifi- Finalidade é de interesse
Finalidade é de interesse ex-
cações necessárias para o afastamento para exercício do agente e da Adminis-
clusivo do agente público
de mandato eletivo: tração Pública
Ex: doença do cônjuge/mem- Ex: realização de especia-
Art. 94 Ao servidor investido em mandato eletivo bro da família; para exercer lização; realização de mis-
aplicam-se as seguintes disposições: atividade política; para tratar são no exterior; para servir
I - tratando-se de mandato federal, estadual ou dis- de interesses particulares a outro órgão/entidade
trital, ficará afastado do cargo;
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Possui prazos mais curtos Possui prazos mais lon-
II - investido no mandato de Prefeito, será afasta-
(dias, semanas) gos (meses, anos)
do do cargo, sendo-lhe facultado optar pela sua
remuneração;
III - investido no mandato de vereador: Uma questão que costuma cair com bastante fre-
a) havendo compatibilidade de horário, perceberá quência nas provas de concurso público é sobre a
as vantagens de seu cargo, sem prejuízo da remu- remuneração de servidor afastado para exercício de
neração do cargo eletivo; mandato eletivo (art. 94, Lei nº 8.112, de 1990). A regra
b) não havendo compatibilidade de horário, será geral é que, para exercer um mandato eletivo, o ser-
afastado do cargo, sendo-lhe facultado optar pela vidor deve se afastar do cargo e deixar de receber a
sua remuneração. remuneração do mesmo. Porém, tratando-se de exer-
§ 1º No caso de afastamento do cargo, o servidor cício de mandato de Prefeito, o servidor afastado
contribuirá para a seguridade social como se em poderá optar, dentre as duas remunerações, por
exercício estivesse. aquela que lhe for mais vantajosa (valores maiores,
§ 2º O servidor investido em mandato eletivo ou mais benefícios etc.).
classista não poderá ser removido ou redistribuí- Outro aspecto importante: no caso de mandato de
do de ofício para localidade diversa daquela onde Vereador, o servidor poderá exercer os dois car-
exerce o mandato. gos e receber ambas as remunerações, desde que
comprovada a compatibilidade de horários (atua
como Vereador de dia e como agente público de noite, 529
e vice-versa). Sendo incompatível o horário dos dois Art. 184 O Plano de Seguridade Social visa a dar
cargos, o Vereador pode optar pela remuneração mais cobertura aos riscos a que estão sujeitos o servidor
vantajosa, igual ao Prefeito. Isso é assim porque, mui- e sua família, e compreende um conjunto de benefí-
tas vezes, a remuneração dos Prefeitos e Vereadores cios e ações que atendam às seguintes finalidades:
de pequenos Municípios costuma ser menor do que I - garantir meios de subsistência nos eventos de
doença, invalidez, velhice, acidente em serviço, ina-
a remuneração do cargo público anterior, e ele pode
tividade, falecimento e reclusão;
facilmente se locomover de um ambiente de trabalho
II - proteção à maternidade, à adoção e à paternidade;
para outro nesse município de porte menor.
III - assistência à saúde.
Das Concessões
De modo geral, pode-se dizer que ao servidor é
Diz respeito às ocasiões em que o servidor poderá se garantido os seguintes benefícios previdenciários:
ausentar do serviço e não deixará de receber remune-
ração, de acordo com o art. 97, da Lei nº 8.112, de 1990. z Aposentadoria: possui previsão tanto na Cons-
tituição Federal quanto na Lei nº 8.112, de 1990.
Art. 97 Sem qualquer prejuízo, poderá o servidor O Regime Próprio de Previdência dos Servido-
ausentar-se do serviço: res (RPPS) também sofreu alterações na chama-
I - por 1 (um) dia, para doação de sangue; da “Reforma da Previdência”, promulgada pela
II - pelo período comprovadamente necessário para Emenda Constitucional nº 103, de 2019. Com isso,
alistamento ou recadastramento eleitoral, limita- temos dois textos normativos que, até o presente
do, em qualquer caso, a 2 (dois) dias; momento, dispõem sobre a aposentadoria.
III - por 8 (oito) dias consecutivos em razão de:
a) casamento;
À luz da Constituição Federal (art. 40), o servidor
b) falecimento do cônjuge, companheiro, pais,
será aposentado:
madrasta ou padrasto, filhos, enteados, menor sob
guarda ou tutela e irmãos.
z Por incapacidade permanente: para o trabalho,
no cargo em que estiver investido, quando insus-
Do Direito de Petição
cetível de readaptação. O Texto Constitucional
explicita que será obrigatória a realização de ava-
É importante ressaltar que ao servidor é conferido
liações periódicas para verificação da continuida-
direito de petição, na forma do art. 104 e seguintes,
de das condições que ensejaram a concessão da
da Lei nº 8.112, de 1990, para requerer direitos e inte-
aposentadoria, na forma de lei do respectivo ente
resses próprios em face do Poder Público.
federativo;
O requerimento será dirigido à autoridade compe-
z Compulsoriamente: com proventos proporcio-
tente para decidi-lo e na sequência encaminhado por
nais ao tempo de contribuição, aos 70 (setenta)
intermédio daquela a qual o servidor estiver imedia-
anos de idade, ou aos 75 (setenta e cinco) anos de
tamente subordinado, nos termos do art. 105, da refe-
idade, na forma da lei complementar nº 152, de
rida legislação. 2015. Essa lei complementar dispõe sobre a apo-
Deve ser respeitado o princípio do contraditório e sentadoria compulsória com proventos propor-
da ampla defesa, dando espaço para que tanto o servi- cionais, sendo aplicável aos servidores ocupantes
dor público como o Estado possam impugnar todos os de cargos públicos da União, Estados, Municípios,
pontos do requerimento, apresentar sua defesa técni- Distrito Federal e suas autarquias e fundações; aos
ca escrita e interpor recursos (art. 107, Lei nº 8.666, de membros do Poder Judiciário; aos membros do
1990) das decisões que lhe prejudicarem. Ministério Público; e aos membros da Defensoria
O direito de requerer decai: em 5 (cinco) anos, Pública;
quanto aos atos de demissão e de cassação de apo- z Voluntariamente, no âmbito da União, aos 62
sentadoria ou disponibilidade, ou que afetem interes- (sessenta e dois) anos de idade, se mulher, e aos 65
se patrimonial e créditos resultantes das relações de (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e, no
trabalho; ou em 120 (cento e vinte) dias, nos demais âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Muni-
casos, salvo quando outro prazo for fixado em lei. cípios, na idade mínima estabelecida mediante
emenda às respectivas Constituições e Leis Orgâ-
Do Regime Previdenciário (RPPS) nicas, observados o tempo de contribuição e os
demais requisitos estabelecidos em lei comple-
Servidor público não é empregado. Por isso, não se mentar do respectivo ente federativo.
aplica a ele o Regime Geral de Previdência, conhecido
também como RGPS. Os servidores possuem um regi- Com base na Lei n° 8.112, de 1990 (art. 186), ao
me próprio denominado Regime Próprio de Previdên- servidor federal poderá ser concedido aposentadoria:
cia dos Servidores (ou RPPS).
O regime em questão tem suas políticas elaboradas z Aposentadoria por invalidez: permanente, sen-
e executadas pela Secretaria de Previdência do Minis- do os proventos integrais quando decorrente de
tério da Fazenda. Esse regime é compulsório para o acidente em serviço, moléstia profissional ou
servidor público do ente federativo que o tenha ins- doença grave, contagiosa ou incurável, especifica-
tituído, com teto e subtetos definidos pela Emenda da em lei, e proporcionais nos demais casos (inciso
Constitucional nº 41, de 2003. I, do art. 186);
Mas o Regime de Previdência dos Servidores tam- z Aposentadoria compulsória: aos setenta anos de
bém possui dispositivos previstos na Lei nº 8.112, de idade, com proventos proporcionais ao tempo de
530 1990. Segundo o art. 184, da referida lei, serviço (inciso II, do art. 186);
z Aposentadoria voluntária: de acordo com os z Licença por acidente em serviço (art. 212): o
seguintes critérios de idade e de contribuições: aos Estatuto considera como acidente em serviço o
35 (trinta e cinco) anos de serviço, se homem, e aos dano físico ou mental sofrido pelo servidor, que se
30 (trinta) se mulher, com proventos integrais; aos relacione, mediata ou imediatamente, com as atri-
30 (trinta) anos de efetivo exercício em funções buições do cargo exercido. O servidor acidente em
de magistério se professor, e 25 (vinte e cinco) se serviço receberá remuneração integral;
professora, com proventos integrais; aos 30 (trinta) z Pensão por morte (art. 215): esse é um dos raros
anos de serviço, se homem, e aos 25 (vinte e cin- benefícios que não é devido ao servidor (por moti-
co) se mulher, com proventos proporcionais a esse vos óbvios), mas a seus dependentes, incluindo nesse
tempo; aos 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se grupo o cônjuge, o cônjuge divorciado ou separado
homem, e aos 60 (sessenta) se mulher, com pro- judicialmente ou de fato; o companheiro ou compa-
ventos proporcionais ao tempo de serviço (alíneas nheira que comprove união estável como entidade
a, b e c, inciso III, do art. 186). familiar; ou ainda o filho de qualquer condição, ou
seja, todos os entes equiparados a filho (enteado,
menor tutelado), desde que preencha as seguintes
Importante! condições: a) seja menor de 21 (vinte e um) anos; b)
seja inválido; c) tenha deficiência grave; ou ainda d)
Com a entrada em vigor da Emenda Constitucio-
tenha deficiência intelectual ou mental;
nal nº 103, de 2019, as regras para a aposenta-
z Auxílio-funeral: trata-se de benefício devido à
doria voluntária dos agentes públicos sofreram
família do servidor falecido na atividade ou aposen-
algumas alterações. As chances de uma questão
tado, em valor equivalente a um mês da remunera-
sobre essas novas regras caírem em uma prova ção ou provento, que será pago à pessoa da família
no momento são pequenas, mas é importante que tiver custeado o funeral, segundo o que dispõe
se prevenir. Existem também regras de transição o caput e § 3º, do art. 226, da Lei nº 8.112, de 1990;
mais específicas, as quais devem ser conheci- z Auxílio-reclusão (art. 229): outro benefício tam-
das pelo candidato, ao menos um pouco. Por bém devido aos dependentes do servidor, cujo
isso, uma leitura da emenda constitucional 103, valor poderá ser:
de 2019, na íntegra, é altamente recomendada.
Art. 229 [...]
I - dois terços da remuneração, quando afastado
z Auxílio-natalidade (art. 196): o auxílio-natalida- por motivo de prisão, em flagrante ou preventiva,
de é devido à servidora por motivo de nascimento determinada pela autoridade competente, enquan-
de filho, em quantia equivalente ao menor ven- to perdurar a prisão;
cimento do serviço público, inclusive no caso de II - metade da remuneração, durante o afastamen-
natimorto; to, em virtude de condenação, por sentença defini-
z Salário-Família (caput e § ° único, do art. 197): o tiva, a pena que não determine a perda de cargo.
salário-família é devido ao servidor segundo o núme-
DEVERES
ro de dependentes econômicos deste. Para todos os
efeitos, são considerados dependentes econômicos:
Apesar da grande quantidade de direitos e van-
Art. 197 [...]
tagens, o Estatuto dos Servidores Públicos também
Parágrafo único. [...] atribui, aos mesmos, diversos deveres, com base no
I - o cônjuge ou companheiro e os filhos, inclusive regime disciplinar o qual, se não for atendido, enseja
os enteados até 21 (vinte e um) anos de idade ou, se a instauração de processo disciplinar para a apuração
estudante, até 24 (vinte e quatro) anos ou, se inváli- de infrações funcionais.
do, de qualquer idade; Os deveres disciplinados pelo Estatuto Federal
II - o menor de 21 (vinte e um) anos que, median- podem ser divididos de duas formas, quais sejam:
te autorização judicial, viver na companhia e às deveres que são relacionados ao comportamento fun-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
expensas do servidor, ou do inativo; cional (obrigações que devem ser cumpridas pelos
III - a mãe e o pai sem economia própria. servidores; trata-se do inciso I; das alíneas “a”, “b” e
“c”, do inciso V, e dos incisos VI, VIII e XII, do art. 116)
z Licença para tratamento de saúde (art. 202):
e deveres relativos ao comportamento profissional
essa licença dependente de perícia médica, sem
(são aqueles comportamentos inerentes às atividades
prejuízo da remuneração a que fizer jus. O servi-
profissionais desempenhadas pelos particulares; são
dor precisa comprovar que realmente está doente
os incisos II, III, IV, VII, IX, X e XI, do art. 116).
e não pode trabalhar;
Nos termos do art. 116, da Lei nº 8.112, de 1990:
z Licença à gestante, à adotante e licença-pater-
nidade (art. 207): a licença à gestante/adotante/
Art. 116 São deveres do servidor:
paternidade será concedida por prazo não supe- I - exercer com zelo e dedicação as atribuições do
rior a 120 dias, sem prejuízo da remuneração. cargo
Todavia, a servidora gestante poderá prorrogar II - ser leal às instituições a que servir;
esse prazo, desde que o requeira até o final do pri- III - observar as normas legais e regulamentares;
meiro mês após o parto, e terá duração de sessenta IV - cumprir as ordens superiores, exceto quando
dias. Trata-se de uma inovação trazida pelo Decre- manifestamente ilegais;
to nº 6.690, de 2008. Pelo nascimento ou adoção de V - atender com presteza;
filhos, o servidor terá direito à licença-paternidade a) ao público em geral, prestando as informações
de 5 (cinco) dias consecutivos; requeridas, ressalvadas as protegidas por sigilo; 531
b) à expedição de certidões requeridas para defesa Sendo assim, é vedado ao servidor utilizar-se
de direito ou esclarecimento de situações de inte- de sua hierarquia funcional como meio de coagir
resse pessoal; outros servidores a se filiados a algum sindicato ou
c) às requisições para a defesa da Fazenda Pública; associação.
VI - levar as irregularidades de que tiver ciência
em razão do cargo ao conhecimento da autoridade Art. 117 [...]
superior ou, quando houver suspeita de envolvi- VIII - manter sob sua chefia imediata, em cargo
mento desta, ao conhecimento de outra autoridade ou função de confiança, cônjuge, companheiro ou
competente para apuração; parente até o segundo grau civil;
VII - zelar pela economia do material e a conserva-
ção do patrimônio público;
Essa proibição tem o fito de evitar a prática do
VIII - guardar sigilo sobre assunto da repartição;
nepotismo e garantir a aplicação da garantia constitu-
IX - manter conduta compatível com a moralidade
cional da impessoalidade administrativa.
administrativa;
X - ser assíduo e pontual ao serviço;
XI - tratar com urbanidade as pessoas; Art. 117 [...]
XII - representar contra ilegalidade, omissão ou IX - valer-se do cargo para lograr proveito pessoal
abuso de poder. ou de outrem, em detrimento da dignidade da fun-
ção pública;
X - participar de gerência ou administração de
Das Proibições
sociedade privada, personificada ou não personifi-
cada, exercer o comércio, exceto na qualidade de
O art. 117, da mesma Lei, impõe aos servidores acionista, cotista ou comanditário;
públicos diversas proibições. Trata-se de uma maté- XI - atuar, como procurador ou intermediário,
ria que exige grande capacidade de memorização, junto a repartições públicas, salvo quando se tra-
ainda que não necessite de um alongamento muito tar de benefícios previdenciários ou assistenciais
detalhado. de parentes até o segundo grau, e de cônjuge ou
companheiro;
Art. 117 Ao servidor é proibido:
I - ausentar-se do serviço durante o expediente, sem É proibido ao servidor exercer a chamada advo-
prévia autorização do chefe imediato; cacia administrativa. Essa é uma situação em que o
II - retirar, sem prévia anuência da autoridade agente público, aproveitando de sua influência, faz
competente, qualquer documento ou objeto da uso de sua condição de servidor público para benefi-
repartição; ciar as pessoas que estiver representando.
III - recusar fé a documentos públicos;
Art. 117 [...]
Recusar fé a documentos públicos significa dizer XII - receber propina, comissão, presente ou vantagem
que o servidor não pode se recusar a receber qualquer de qualquer espécie, em razão de suas atribuições;
tipo de documento oficial (documento proveniente de XIII - aceitar comissão, emprego ou pensão de esta-
órgãos públicos), com a exceção dos casos em que exis- do estrangeiro;
tir suspeita de fraude ou qualquer outra irregularidade. XIV - praticar usura sob qualquer de suas formas;

Art. 117 [...] Fica proibido ao servidor público realizar emprés-


IV - opor resistência injustificada ao andamento de timos com taxas de juros excessivos.
documento e processo ou execução de serviço;
V - promover manifestação de apreço ou desapreço Art. 117 [...]
no recinto da repartição; XV - proceder de forma desidiosa;
XVI - utilizar pessoal ou recursos materiais da
O serviço nas repartições públicas deve ser execu- repartição em serviços ou atividades particulares;
tado com imparcialidade dos servidores, sendo regra XVII - cometer a outro servidor atribuições estra-
que seja evitado a exposição de convicções particula- nhas ao cargo que ocupa, exceto em situações de
res (ideologias políticas, religiosas etc.) que possam emergência e transitórias;
intervir negativamente no ambiente de trabalho. XVIII - exercer quaisquer atividades que sejam
incompatíveis com o exercício do cargo ou função e
Art. 117 [...] com o horário de trabalho;
VI - cometer a pessoa estranha à repartição, fora XIX - recusar-se a atualizar seus dados cadastrais
dos casos previstos em lei, o desempenho de atri- quando solicitado.
buição que seja de sua responsabilidade ou de seu
subordinado; Acumulação de Cargo, Emprego e Função Pública

Atribuir serviço à pessoa de repartição, diversa Sobre a acumulação de cargos, emprego e funções
responsabilidade fora de sua competência de atuação. públicas, deve-se salientar que o ordenamento jurídi-
co brasileiro, em regra, proíbe a acumulação de car-
Art. 117 [...] gos e empregos públicos. Tal proibição se estende,
VII - coagir ou aliciar subordinados no sentido de inclusive, para as entidades da Administração Indire-
filiarem-se a associação profissional ou sindical, ou ta. O caput do art. 118, da Lei nº 8.112, de 1990, dispõe
a partido político; no mesmo sentido: Ressalvados os casos previstos na
Constituição, é vedada a acumulação remunerada de
A liberdade de associação sindical é um direito cargos públicos. Apesar de o referido texto legal dispor
532 fundamental previsto pela Constituição Federal. sobre agentes públicos no âmbito federal, entendemos
que também possa ser aplicado aos agentes públicos A responsabilidade penal é, definitivamente, a
dos Estados, Municípios e Distrito Federal. mais grave e perigosa, uma vez que ela pode repercu-
A proibição de acumular cargos estende-se tam- tir nas demais esferas, tanto pela condenação do ser-
bém a empregos e funções em autarquias, fundações vidor condenado, quanto pela sua absolvição devido à
públicas, empresas públicas, sociedades de economia falta de provas materiais ou pela negação de sua auto-
mista da União, do Distrito Federal, dos Estados, dos ria, sendo essas últimas hipóteses apenas exceções,
Territórios e dos Município (§ 1º, art. 118). segundo aludido pelo art. 123.
Pela leitura do dispositivo, percebe-se que a pró- A responsabilidade administrativa resulta de
pria Constituição Federal dispõe de um rol de casos ato omissivo ou comissivo praticado pelo servidor
excepcionais em que é permitida a acumulação des- no desempenho de cargo ou função, à luz do art. 124.
sas funções. Há entendimento praticamente unânime Consiste na instauração de processo disciplinar,
de que se trata de um rol taxativo, ou seja, são válidas motivo pelo qual haverá a verificação da conduta deli-
apenas aquelas hipóteses de acumulação de cargos. tuosa do agente, bem como a aplicação da pena mais
Assim, as hipóteses de acumulação de cargos cons-
adequada. Imprescindível reforçar que a aplicação de
titucionalmente autorizadas são:
qualquer pena ao servidor público pressupõe um pro-
cesso administrativo, sendo assegurado ao acusado
z Dois cargos de professor (“a”, XVI, art. 37);
direito ao contraditório e à ampla defesa, sendo obri-
z Um cargo de professor com outro técnico ou cientí-
gatória, inclusive, a presença do advogado em todas
fico (“b”, XVI, art. 37);
as fases do referido processo (Súmula nº 343, do STJ).
z Dois cargos ou empregos privativos de profissio-
nais na área da saúde (“c”, XVI, art. 37); Todavia, tal entendimento vem sofrendo alterações,
z Um cargo de vereador com outro cargo, emprego pois o STF já reconheceu na Súmula Vinculante nº 5
ou função pública (III, art. 38); que a falta de defesa técnica no processo administrati-
z Um cargo de magistrado e outro de magistério (I, vo disciplinar não é inconstitucional.
parágrafo único, art. 95); Em relação às penalidades administrativas apli-
z Um cargo de membro do Ministério Público e outro cáveis aos servidores públicos, a Lei nº 8.112, de 1990,
de magistério (“d”, II, § 5º, art. 128). (art. 127) prevê aplicação das seguintes sanções:

Segundo o § 2º, do art. 118, da Lei nº 8.112, de 1990, z Advertência: é a sanção mais branda, aplicável
a acumulação de cargos, ainda que lícita, fica condicio- por escrito para o servidor que cometer atos como:
nada à comprovação da compatibilidade de horários. ausentar-se do serviço injustificadamente; recusar
Considera-se também como acumulação proibida a fé a documento público; retirar qualquer docu-
percepção de vencimento de cargo ou emprego públi- mento da repartição sem a devida autorização;
co efetivo com proventos da inatividade, salvo quando manter sob sua chefia cônjuge, companheiro ou
os cargos de que decorram essas remunerações forem parente até o segundo grau; entre outros;
acumuláveis na atividade (§ 3º, do art. 118). z Suspensão: aplicável somente quando o servidor
Cargos em comissão são os cargos ocupados de é reincidente nas faltas puníveis por advertên-
forma transitória por servidores públicos nomeados cia, desde que não tipifiquem infrações sujeitas a
por autoridade competente. Nos termos do art. 119, demissão do cargo. A suspensão não poderá ser
ao servidor também não será permitida a ocupação aplicada por prazo maior a noventa dias;
de mais de um cargo comissionado. z Demissão: trata-se da penalidade mais grave atri-
O servidor vinculado ao regime desta Lei que acu- buída ao servidor público, uma vez que tem o con-
mular licitamente dois cargos efetivos, quando inves- dão de exonerá-lo de seu cargo. A demissão será
tido em cargo de provimento em comissão, ficará aplicada nos seguintes casos:
afastado de ambos os cargos efetivos, salvo na hipóte-
se em que houver compatibilidade de horário e local Art. 132 [...]
com o exercício de um deles, declarada pelas autori- I - crime contra a administração pública;
dades máximas dos órgãos ou entidades envolvidos II - abandono de cargo;
(art. 120).
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
III - inassiduidade habitual;
IV - improbidade administrativa;
RESPONSABILIDADE DOS SERVIDORES V - incontinência pública e conduta escandalosa, na
repartição;
Por fim, em relação à responsabilidade dos ser- VI - insubordinação grave em serviço;
vidores públicos, o art. 121, da Lei nº 8.112, de 1990, VII - ofensa física, em serviço, a servidor ou a parti-
é bastante claro ao dispor que “O servidor responde cular, salvo em legítima defesa própria ou de outrem;
civil, penal e administrativamente pelo exercício irregu- VIII - aplicação irregular de dinheiros públicos;
lar de suas atribuições”. Vemos, então, que uma única IX - revelação de segredo do qual se apropriou em
conduta praticada pelo referido servidor pode ensejar razão do cargo;
em responsabilização em três esferas distintas. X - lesão aos cofres públicos e dilapidação do patri-
A responsabilidade civil do servidor público decor- mônio nacional;
re da prática de atos comissivos ou omissivos, dolosos XI - corrupção;
ou culposos, que sejam capazes de causar danos mate- XII - acumulação ilegal de cargos, empregos ou fun-
riais ao erário (patrimônio público), ou a terceiros, pelo ções públicas;
que dispõe o art. 122, da Lei nº 8.112, de 1990. XIII - transgressão dos incisos IX a XVI do art. 117.
A responsabilidade penal do servidor tem seu
fundamento na apuração de uma conduta criminal, Muitas dessas hipóteses impedem que o infrator
isso é, a hipótese em que o servidor público possa pra- retorne ao serviço público federal, por isso trata-se de
ticar um ilícito penal, ou crime. uma das penalidades mais gravosas; 533
z Cassação de Aposentadoria ou da Disponibi- Os responsáveis pela aplicação das penalidades
lidade: o servidor inativo que houver praticado disciplinares serão (art. 141):
falta punível com a demissão terá a sua aposenta-
doria, ou sua disponibilidade cassada; Art. 141 [...]
z Destituição de Cargo em Comissão ou Função I - pelo Presidente da República, pelos Presidentes
Comissionada: caso o servidor ocupante de car- das Casas do Poder Legislativo e dos Tribunais
go não efetivo cometa uma das faltas passíveis da Federais e pelo Procurador-Geral da República,
pena de suspensão e demissão, poderá perder o quando se tratar de demissão e cassação de apo-
seu cargo de confiança ou função comissionada. sentadoria ou disponibilidade de servidor vincula-
do ao respectivo Poder, órgão, ou entidade;
II - pelas autoridades administrativas de hierar-
Segundo o art. 136, a demissão ou a destituição de
quia imediatamente inferior àquelas mencionadas
cargo em comissão em decorrência da prática de atos
no inciso anterior quando se tratar de suspensão
contra o erário público, nos casos dos incisos IV, VIII, X
superior a 30 (trinta) dias;
e XI, do art. 132, implica a indisponibilidade dos bens
III - pelo chefe da repartição e outras autoridades
(bens adquiridos pelo servidor em decorrência de
na forma dos respectivos regimentos ou regula-
atos cometidos contra os cofres públicos utilizando-se
mentos, nos casos de advertência ou de suspensão
da condição de servidor) e o ressarcimento ao erário, de até 30 (trinta) dias;
sem prejuízo da ação penal cabível. IV - pela autoridade que houver feito a nomea-
A demissão ou a destituição de cargo em comis- ção, quando se tratar de destituição de cargo em
são, por infringência dos incisos IX e XI, do art. 117, comissão.
incompatibiliza o ex-servidor para nova investidura
em cargo público federal, pelo prazo de 5 (cinco) anos.
Mesmo que a administração pública tenha o dever
Ou seja, dentro desse prazo estabelecido, ainda que
de responsabilizar os seus servidores públicos pelas
o ex-servidor público demitido ou destituído preste
infrações praticadas de que tiver conhecimento, é
novo concurso e se classifique, não poderá ser investi-
do e tomar posse de novo cargo. importante observar que essas penalidades devem
Não poderá retornar ao serviço público federal o ser aplicadas a contar da data em que o fato se tornou
servidor que for demitido ou destituído do cargo em conhecido. A prescrição da ação disciplinar é regula-
comissão por infringência dos incisos I, IV, VIII, X e XI, mentada pelo art. 142.
art. 132, (parágrafo único, do art. 137).
Configura abandono de cargo a ausência inten- Art. 142 A ação disciplinar prescreverá:
cional do servidor ao serviço por mais de trinta dias I - em 5 (cinco) anos, quanto às infrações puníveis
consecutivos (art. 138). Nesse caso, o servidor deixa com demissão, cassação de aposentadoria ou dis-
de comparecer ao serviço por mera liberalidade por ponibilidade e destituição de cargo em comissão;
mais de trinta dias seguidos. II - em 2 (dois) anos, quanto à suspensão;
Entende-se por inassiduidade habitual a falta ao ser- III - em 180 (cento e oitenta) dias, quanto à advertência.
viço, sem causa justificada, por sessenta dias, interpola- § 1º O prazo de prescrição começa a correr da data
damente, durante o período de doze meses (art. 139). em que o fato se tornou conhecido.
§ 2º Os prazos de prescrição previstos na lei penal
aplicam-se às infrações disciplinares capituladas
Art. 140 Na apuração de abandono de cargo ou
também como crime.
inassiduidade habitual, também será adotado o
§ 3º A abertura de sindicância ou a instauração de
procedimento sumário a que se refere o art. 133 [...].
processo disciplinar interrompe a prescrição, até a
decisão final proferida por autoridade competente.
O procedimento administrativo sumário é aplicável § 4º Interrompido o curso da prescrição, o prazo
somente em situações de verificação de acúmulo ilegal começará a correr a partir do dia em que cessar a
de cargos, inassiduidade habitual e abandono de cargo e interrupção.
em todos esses casos é cabível e penalidade de demissão.
E ainda para que se aplique o procedimento sumá- Do Processo Administrativo Disciplinar: Conceito,
rio é importante que se siga os requisitos apresenta- Princípios, Fases e Modalidades
dos a seguir, indicando a materialidade da infração
administrativa, ou seja, apresentando provas de que o
O processo administrativo é o instrumento desti-
fato ocorreu e deve ser julgado.
nado a apurar as responsabilidades do servidor por
infração praticada no exercício de suas atribuições ou
Art. 140 [...]
I - a indicação da materialidade dar-se-á:
relacionada ao cargo que ocupa. O processo pode ocor-
a) na hipótese de abandono de cargo, pela indica- rer em procedimento ordinário ou em sindicância.
ção precisa do período de ausência intencional do A sindicância é definida como uma averiguação
servidor ao serviço superior a trinta dias; sumária promovida no intuito de obter informações
b) no caso de inassiduidade habitual, pela indicação ou esclarecimentos necessários à determinação do
dos dias de falta ao serviço sem causa justificada, verdadeiro significado dos fatos denunciados. Compa-
por período igual ou superior a sessenta dias inter- rando com o processo penal, pode-se afirmar que a
poladamente, durante o período de doze meses; sindicância é como se fosse a “fase investigativa”, pois
II - após a apresentação da defesa a comissão ela- o fim dela não resulta em uma sentença ou decisão:
borará relatório conclusivo quanto à inocência ou ela serve primordialmente para apurar o que ocorreu,
à responsabilidade do servidor, em que resumirá as e se é necessário instaurar o processo posteriormente.
peças principais dos autos, indicará o respectivo Segundo o art. 145, da sindicância poderá resultar:
dispositivo legal, opinará, na hipótese de abandono
de cargo, sobre a intencionalidade da ausência ao I - arquivamento do processo;
serviço superior a trinta dias e remeterá o processo II - aplicação de penalidade de advertência ou sus-
534 à autoridade instauradora para julgamento. pensão de até 30 (trinta) dias;
III - instauração de processo disciplinar. Importante o conteúdo do art. 156, ao dispor que:

Como forma de impedir que o servidor venha Art. 156 É assegurado ao servidor o direito de
interferir de forma negativa durante a investigação acompanhar o processo pessoalmente ou por inter-
da apuração de sua conduta, estabelece o art. 147 o médio de procurador, arrolar e reinquirir testemu-
afastamento preventivo do mesmo: Como medida nhas, produzir provas e contraprovas e formular
cautelar e a fim de que o servidor público não venha quesitos, quando se tratar de prova pericial.
a influir na apuração da irregularidade ao mesmo
O art. 156 trata de um conteúdo muito importante,
atribuída, a autoridade instauradora do processo
ou seja, cuida do direito de defesa do servidor público.
administrativo-disciplinar, verificando a existência de
Não é porque não estamos em um processo judicial
veementes indícios de responsabilidades, poderá orde-
(com a figura de um membro do Poder Judiciário) que
nar o seu afastamento do exercício do cargo.
não devem ser aplicados os princípios mais básicos e
fundamentais do mesmo.
z Do Processo Disciplinar
É cabível no processo administrativo a aplicação
dos princípios do contraditório e ampla defesa, a dis-
Uma vez encerrada a sindicância e, constatado
paridade de armas, o direito de ter ciência e conheci-
uma conduta irregular, temos o início do processo
administrativo disciplinar (PAD), ou ordinário. Segun- mento do processo, o direito de ser representado por
do o art. 148, o processo administrativo ordinário é autoridade competente etc.
o instrumento destinado a apurar responsabilidade do A seguir temos alguns meios de prova que são
servidor público pela infração praticada no exercício de admitidos no processo administrativo, sendo, pratica-
suas atribuições ou que tenha relação com as atribui- mente os mesmos meios de prova admitidos em pro-
ções do cargo em que se encontre investido. cesso judicial.
Segundo o art. 149, o processo será conduzido por As testemunhas estão dispostas no art. 157, e serão
Comissão composta de três servidores estáveis desig- intimadas a depor mediante mandado expedido pelo
nados pela autoridade competente, observado o dis- presidente da comissão, devendo a segunda via, com
posto no § 3º, do art. 143, que indicará, dentre eles, o ciente do interessado, ser anexado aos autos. Quem
o seu presidente, que deverá ser ocupante de cargo convoca as testemunhas para colher seus respectivos
efetivo superior ou de mesmo nível, ou ter nível de depoimentos, e quem faz toda a colheita de todos os
escolaridade igual ou superior ao do indiciado. meios de prova, é a Comissão e não a autoridade jul-
Não temos a figura de um Juiz de Direito no proces- gadora que, por sua vez, somente vai atuar no PAD
so administrativo, e sim uma “autoridade julgadora”. quando todo o trabalho da Comissão tiver encerrado.
A Comissão não faz parte da autoridade julgadora, ela Se a testemunha for servidor público, a expedição
fica encarregada de realizar um relatório contendo do mandado tem que ser imediatamente comunicada
todas as provas colhidas e todos os fatos devidamente ao chefe da repartição onde serve, com a indicação do
investigados. dia e hora marcados para inquirição. (parágrafo único,
Ao todo, são três as fases do processo adminis- art. 157). O servidor não pode se ausentar de seu servi-
trativo disciplinar (art. 151): ço sem apresentar uma justificativa válida para tanto.
Concluída a inquirição das testemunhas, a comis-
Art. 151 [...] são promoverá o interrogatório do acusado, observa-
I - instauração, com a publicação do ato que cons- dos os procedimentos previstos nos arts. 158 e 159.
tituir a comissão; No caso de mais de um acusado, cada um deles será
II - inquérito administrativo, que compreende ins-
ouvido separadamente e, sempre que divergirem em
trução, defesa e relatório;
suas declarações sobre fatos ou circunstâncias, será
III - julgamento.
promovida a acareação entre eles.
Art. 152 O prazo para a conclusão do proces-
so disciplinar não excederá 60 (sessenta) dias, A citação do indiciado está disposta no art. 161.
Tipificada a infração disciplinar, será formulada a
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
contados da data de publicação do ato que consti-
tuir a comissão, admitida a sua prorrogação por indiciação do servidor, com a especificação dos fatos a
igual prazo, quando as circunstâncias o exigirem. ele imputados e das respectivas provas.
O indiciado será citado por mandado expedido
z Do Inquérito Administrativo pelo presidente da comissão para apresentar defesa
escrita, no prazo de 10 (dez) dias, sendo assegurado
O inquérito administrativo é a fase em que temos dar vista do processo na repartição, isso é, olhar pági-
a apuração da responsabilidade disciplinar do servi- na por página, parágrafo por parágrafo, tudo o que já
dor público. Ela compreende a fase instrutória (colhei- foi produzido no PAD (§ 1º, do art. 161).
ta de provas), a citação e apresentação da defesa do Considerar-se-á revel o indiciado que, regular-
servidor que está sendo acusado, além da produção mente citado, não apresentar defesa no prazo legal.
de um documento chamado relatório. A revelia será declarada, por termo, nos autos do pro-
cesso e devolverá o prazo para a defesa (caput e § 1º,
Art. 155 Na fase do inquérito, a comissão promoverá
do art. 164).
a tomada de depoimentos, acareações, investigações
Uma vez apuradas todas as provas, a Comissão ela-
e diligências cabíveis, objetivando a coleta de prova,
recorrendo, quando necessário, a técnicos e peritos, borará um relatório de tudo que foi constado no pro-
de modo a permitir a completa elucidação dos fatos. cesso. Não é ainda uma decisão, pois o relatório será
encaminhado para a autoridade julgadora.
535
z Do Julgamento Art. 144 [...]
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de
A fase do julgamento tem início com o recebimen- polícia de carreira, incumbem, ressalvada a compe-
to do relatório da Comissão, e terá prazo máximo de 20 tência da União, as funções de polícia judiciária e a
dias para decidir se acata o relatório ou não (art. 167). apuração de infrações penais, exceto as militares.
O caput e parágrafo único, art. 168, dispõe, de modo
geral, que a autoridade julgadora não está subordina- A Polícia Civil do Estado de Rondônia (PC-RO) é órgão
da ao que foi dito no relatório da Comissão. O julga- vinculado e subordinado à Secretaria de Estado de Segu-
mento acatará o relatório da comissão, salvo quando rança Pública, Defesa e Cidadania (SESDEC), Órgão Cen-
contrário às provas dos autos. Quando o relatório da tral do Sistema Operacional de Defesa e Segurança do
comissão contrariar as provas dos autos, a autorida- Estado de Rondônia, tendo sua competência geral descri-
ta no art. 136 da Lei Complementar Estatual nº 965, de
de julgadora poderá, motivadamente, agravar a pena-
2017, que dispõe sobre a organização e estrutura do Poder
lidade proposta, abrandá-la ou isentar o servidor de
Executivo do Estado de Rondônia, nos seguintes termos:
responsabilidade.
À luz do disposto no art. 172, o servidor que res-
Art. 136 À Polícia Civil - PC, vinculada e subordi-
ponder a processo disciplinar só poderá ser exone-
nada à Secretaria de Estado da Segurança, Defe-
rado a pedido, ou aposentado voluntariamente, após sa e Cidadania - SESDEC, compete o exercício das
a conclusão do processo e o cumprimento da penali- funções de Polícia Judiciária e de apuração das
dade, acaso aplicada. Ocorrida a exoneração de que infrações penais, bem como a realização das perí-
trata o inciso I, parágrafo único, do art. 34, o ato será cias médico-legais e criminalísticas e execução
convertido em demissão, se for o caso. de serviços de identificação, recrutamento,
seleção, formação e aperfeiçoamento profissio-
z Da Revisão do Processo Administrativo Disciplinar nal de servidores policiais civis do Estado.

A qualquer tempo poderá ser requerida a revisão Os servidores públicos civis do Estado de Rondô-
do procedimento administrativo, a pedido ou de ofí- nia são regidos pela Lei Complementar Estadual nº
cio, quando se aduzirem fatos novos ou circunstân- 68, de 1992 (LC-RO nº 68, de 1992), que dispõe sobre o
cias suscetíveis de justificar a inocência do punido ou Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis do Esta-
a inadequação da penalidade aplicada (art. 174). do de Rondônia, das Autarquias e das Fundações Públi-
A revisão é uma forma de defesa utilizada pelo cas Estaduais, aqui também incluídos os servidores do
acusado ou seu representante, para que a autoridade Grupo Ocupacional Atividades de Polícia.
possa realizar um novo julgamento do PAD, porque Já a Lei Complementar Estadual nº 76, de 1993
apareceu um fato ou circunstância nova que compro- (LC-RO nº 76, de 1993) dispõe sobre o Estatuto da Polí-
vem a inocência do requerente. cia Civil do Estado de Rondônia. A referida norma trata
A revisão de que trata este artigo poderá ser requeri- das peculiaridades do regime jurídico do Servidor
da em caso de falecimento, ausência ou desaparecimen- Policial Civil do Estado de Rondônia, complementan-
to do servidor público, por qualquer pessoa da família, do as regras gerais aplicáveis a todo servidor públi-
ou ainda em caso de incapacidade mental do servidor co civil expressas na LC-RO nº 68, de 1992, por forma
público, pelo respectivo curador (§ § 1º e 2º, art. 174). do art. 94 da LC nº 76, de 1993, que assim preceitua:
No processo revisional, o ônus da prova recai sem- aplicam-se aos integrantes do grupo atividades da Polí-
pre ao requerente, correndo em apenso ao processo cia Civil, todas as disposições do Estatuto dos Servi-
original (arts. 175 e 178). dores Públicos Civis do Estado de Rondônia.
A comissão revisora terá 60 (sessenta) dias para a Nesse contexto, verifica-se que ambas as normas
conclusão dos trabalhos de revisão (art. 179). O prazo (LC nº 68, de 1992 e LC nº 76, de 1993) complementam-se.
para julgamento será de 20 (vinte) dias, contados do É possível encontrar alguns dispositivos da LC nº
76, de 1993 em conflito com a LC nº 68, de 1992. Neste
recebimento do processo, no curso do qual a autorida-
caso, você deve estar atento ao enunciado da questão,
de julgadora poderá determinar diligências (parágra-
isto é, ver como o examinador pede, se com base na lei
fo único, do art. 181).
específica do servidor policial civil (LC nº 76, de 1993)
Lembrando que, se da revisão do processo resultar a
ou na lei geral aplicável a todos os servidores públicos
inocência do servidor, ele tem direito de ser reintegrado
civis do Estado de Rondônia (LC nº 68, de 1992). Fique
ao cargo que antigamente ocupava, exceto em relação ao
tranquilo, pois a questão deve trazer isso de forma
cargo em comissão, que será convertido em exoneração.
expressa.
A revisão do processo não admite a reformatio in pejus,
Para facilitar o estudo da LC nº 76, de 1993, iremos
o que significa que não poderá resultar agravamento da
agrupar os dispositivos legais correlatos ao mesmo
penalidade já aplicada (parágrafo único, do art. 182). assunto, pois em alguns casos um tema é tratado em
mais de um título ou capítulo da norma. Vamos ao
estudo detalhado da LC nº 76, de 1993?
LEI COMPLEMENTAR Nº 76, DE 1993
(ESTATUTO DA POLÍCIA CIVIL DO Polícia Civil: Estrutura e Funcionamento

ESTADO DE RONDÔNIA) Como dito anteriormente, a LC nº 76, de 1993 dis-


põe sobre as peculiaridades do regime jurídico do Ser-
POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE RONDÔNIA vidor Policial Civil do Estado de Rondônia, pertencente
ao Grupo Ocupacional Atividades de Polícia (art. 1º).
A polícia civil é órgão integrante da segurança A PC-RO é instituição de caráter permanente
pública, com previsão expressa no § 4º do art. 144 da do Poder Público, essencial à função jurisdicional
536 Constituição Federal de 1988 (CF-88), que lhe atribui: do Estado, tendo como missão geral a repressão da
criminalidade, da violência e, de forma exclusiva, o Art. 4º A função policial, fundada na hierarquia e
exercício das funções de Polícia Judiciária e a apura- na disciplina, é incompatível com qualquer outra
ção de infrações penais, exceto as militares. Vejamos atividade, exceto as previstas em Lei. [...]
os conceitos muito importantes do arts. 2º e 3º. Art. 96 Os integrantes do Grupo de Atividades da
Polícia Civil terão regime especial de trabalho, em
Art. 2º Denomina-se Polícia Civil a instituição base de vencimentos fixados e atualizados por lei,
levando-se em conta a natureza específica das fun-
responsável pela repressão da criminalidade, da
ções e condições para o exercício, os riscos a ela
violência e pela preservação dos direitos constitu-
inerentes a irregularidade dos chamados a qual-
cionais do cidadão e da sociedade civil organizada.
quer hora, bem como a proibição legal do exercício
Art. 3º A Polícia Civil é instituição permanente do
de outras atividades remuneradas, ressalvado a de
Poder Público, essencial à função jurisdicional do
Magistério.
Estado, incumbindo-lhe a preservação da ordem
jurídica, da paz social, do regime democrático, do
Estado de Direito e, com exclusividade, o exercício Entretanto, o § 3º do art. 96 excepciona:
das funções de Polícia Judiciária e a apuração de
infrações penais, exceto as militares, constituindo Art. 96 [...]
também, órgão essencial da atividade persecutória § 3º Os Peritos de Natureza Criminal do Estado
no combate à criminalidade e à violência. de Rondônia poderão exercer outra atividade
técnica ou científica autônoma remunerada,
Parágrafo único. Para efeito de deveres, é conside-
desde que ocorra compatibilidade de horário e a
rado servidor policial civil o ocupante do cargo em
não acumulação de cargo público.
comissão ou função gratificada com atribuições e
responsabilidades de natureza policial.
Neste caso, o perito criminal poderá exercer outra
atividade particular, desde que não prejudique a jorna-
Nota-se que a PC-RO tem como fundamento essen-
da de trabalho na função policial. Mas se a outra ativi-
cial de existência o suporte ao poder judiciário esta-
dade for no serviço púbico, o único cargo público que
dual (essencial à função jurisdicional do Estado),
pode acumular é o de professor, sob pena de configurar
sobretudo na atividade de apuração de infrações
a acumulação ilegal de cargo público, que é proibida.
penais que não sejam de caráter militar.
Quando o servidor integrante do Grupo Ativida-
A atribuição da polícia civil é residual, isto é,
de de Polícia Civil estiver em exercício fora das uni-
somente os delitos que não são de atribuição da polí-
dades administrativas da PC-RO, mas em atividade
cia federal é que cabem à polícia civil apurar.
interligada com a segurança pública, todos os seus
As infrações penais que são julgadas pelo poder
direitos e deveres vinculados ao cargo efetivo serão
judiciário da União, a exemplo dos crimes em detri-
mantidos, inclusive a subordinação hierárquica
mento a bens de órgãos públicos federais, são apura- perante o Diretor-Geral, que pode convocá-lo a qual-
das pela polícia federal (polícia judiciária da União) quer momento para missões específicas de excepcio-
e não pela polícia civil (polícia judiciária do Estado). nal interesse (§§ 6º e 7º do art. 8º):

z Autonomia Art. 8º [...]


§ 6º A incidência da designação temporária para
A PC-RO possui autonomia administrativa, fun- o exercício de atividades públicas incorpora
cional e financeira, dispondo de orçamento próprio. aquelas efetivadas em lei específica de estrutu-
(art. 5º). ra do Poder Executivo. (Acrescido pela Lei Comple-
mentar nº 992, de 24/08/2018)
Art. 5º A Polícia Civil, instituição dirigida por § 7º Os servidores que estiverem exercendo seus car-
Delegado de Polícia de Carreira da última gos em outros Poderes, Órgãos ou Instituições
classe, terá autonomia administrativa, funcional mantêm a subordinação hierárquica perante o
e financeira, dispondo de dotações orçamentárias Delegado-Geral de Polícia Civil e poderão ser con-
próprias, conforme dispuser a Lei de Diretrizes vocados, em caso de necessidade, para serviços
definidos como excepcionais ao interesse da Ins-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Orçamentárias.
Parágrafo único. Lei própria fixará percentual tituição, mediante prévia comunicação.
orçamentário suficiente a manter o funcionamento
das atividades da Superintendência Geral de Polí- Destacamos o disposto no art. 98. Vejamos:
cia Técnica prevista no parágrafo único do artigo
146 da Constituição Estadual. Art. 98 É vedado o preenchimento de funções
policiais por pessoal estranho ao Grupo de Ati-
A Superintendência Geral de Polícia Técnica, tam- vidades da Polícia Civil.
bém chamada de Departamento de Polícia Técnica
(DPT) terá percentual orçamentário suficiente a De igual forma, o art. 102 proíbe a realização de
atividades que não sejam próprias da classe a que
manter o funcionamento das atividades fixas em lei
pertence o servidor policial, com exceção dos casos do
própria (parágrafo único do art. 5º).
exercício de cargo em comissão ou função gratificada.
z Dedicação Exclusiva do Servidor Policial Civil
Art. 102 Nenhum servidor policial poderá desem-
penhar atribuições diversas das pertinentes à clas-
O servidor que desempenha a função policial se a que pertence, salvo quando se tratar de cargo
civil (Grupo Atividades de Polícia Civil) não pode em comissão ou designado para o exercício de fun-
exercer outra atividade, exceto a de magistério (pro- ção gratificada, respeitando o contido nesta Lei
fessor), conforme previsão expressa nos arts. 4º e 96. Complementar. 537
O Departamento de Polícia Técnica (DPT) ou Superintendência Geral de Polícia Técnica, competente para a rea-
lização de perícias médico-legais e criminalísticas, dos serviços de identificação e do desenvolvimento de pesquisas
de sua área de atuação (§ 4º do art. 8º), não existe mais como unidade administrativa integrante da PC-RO, apesar
de constar ainda de forma expressa na LC-RO nº 76, de 1993.
O DPT foi transformado em Superintendência de Polícia Técnico-Científica (POLITEC), com vinculação e
subordinação direta à SESDEC, nos termos do art. 1º da LC-RO nº 828, de 2015.
Vale registrar que os servidores do Grupo Ocupacional Atividades de Polícia Civil lotados no DPT (cargos de
Perito Criminal, Agente de Criminalística, Agente de Polícia, Técnico em Laboratório, Escrivão de Polícia, Datilos-
copista Policial, Técnico de Necropsia, Odontólogo Legal) foram cedidos para a POLITEC, sem perderem a condi-
ção de Policial civil, nos termos da LC-RO citada.
Para efeito de prova, considerando que não houve revogação expressa do texto da LC-RO nº 76, de 1993,
sobretudo na parte que trata da existência do DPT e dos seus servidores, a resposta deve ser dada conforme o
texto do Estatuto da PC-RO.

z Gestão e Organização das Unidades Administrativas Institucionais

De acordo com o art. 97 do Estatuto, as diretorias, departamentos e unidades policiais civis, centralizadas ou
não, bem assim o arts. 110-A 110-B, terão o seguinte comando:

ORDEM UNIDADE QUEM COMANDA QUEM DÁ POSSE


Delegado de Polícia de Classe Espe- Governador do Estado (art.
I Direção Geral da Polícia Civil
cial (última classe) 16)
Delegado de Polícia de Classe Diretor Geral da PC-RO (art.
II Direção Executiva da Polícia Civil
Especial 17)
Delegado de Polícia de Classe Diretor Geral da PC-RO (art.
III Corregedoria Geral de Polícia Civil
Especial 17)
Não aplicável, pois inexiste
Presidência das Comissões de jul- Delegados de Polícia do quadro esta-
IV cargo nas comissões, mas
gamento disciplinar dual (qualquer classe)
somente função
Delegado de Polícia de Classe Es-
pecial com maior número de títulos Diretor Geral da PC-RO (art.
V Direção da Academia de Polícia
(Doutorado, Curso Superior de Polícia, 17)
Mestrado, Especialização)
Titular da Direção de Departamen- Delegado de Polícia de Classe Diretor Geral da PC-RO (art.
VI
to ou órgão similar Especial 17)
Auxiliar da Direção de Departa- Delegado de Polícia de 3ª Classe Diretor Geral da PC-RO (art.
VII
mento ou órgão similar (Preferencialmente) 17)
Titular da Direção do Departamen- Perito Criminal ou Médico Legista de Diretor Geral da PC-RO (art.
VIII
to de Polícia Técnica Classe Especial 17)
Perito Criminal ou Médico Legista de
Auxiliar da Direção do Departa- Diretor Geral da PC-RO (art.
IX 3ª Classe
mento de Polícia Técnica 17)
(Preferencialmente)
Perito Criminal ou Médico Legista
Titular dos Institutos e Coordena- Diretor Geral da PC-RO (art.
X de Classe Especial ou Classe mais
ção das Sessões de Criminalísticas 17)
elevada
Delegado de Polícia de Classe
Titular de Delegacia de Polícia Es- Diretor Geral da PC-RO (art.
XI Especial
pecializada de terceira entrância 17)
(Preferencialmente)
Auxiliar de Delegacia de Polícia Es- Delegado de Polícia de 3ª Classe Diretor Geral da PC-RO (art.
XII
pecializada de terceira entrância (Preferencialmente) 17)
Titular de Delegacia de Polícia Es- Delegado de Polícia de 2ª Classe ou Diretor Geral da PC-RO (art.
XIII
pecializada de segunda entrância superior (3ª Classe) 17)
Delegado de Polícia de 1ª Classe ou
Auxiliar de Delegacia de Polícia Es- Diretor Geral da PC-RO (art.
XIV da mesma classe (2ª Classe) mais
pecializada de segunda entrância 17)
moderno ou superior (3ª Classe)
Titular de Delegacia de Polícia Delegado de Polícia de Classe Diretor Geral da PC-RO (art.
XV
Regional Especial 17)
Auxiliar de Delegacia de Polícia Delegado de Polícia de classe inferior Diretor Geral da PC-RO (art.
XVI
Regional (3ª Classe) 17)
Titular de Delegacia de Polícia de Diretor Geral da PC-RO (art.
XVII Delegado de Polícia de 3ª Classe
538 comarca de terceira entrância 17)
ORDEM UNIDADE QUEM COMANDA QUEM DÁ POSSE
Auxiliar de Delegacia de Polícia de Delegado de Polícia de 2ª Classe ou Diretor Geral da PC-RO (art.
XVIII
comarca de segunda entrância de 3ª Classe mais moderno 17)
Titular de Delegacia de Polícia de Diretor Geral da PC-RO (art.
XIX Delegado de Polícia de 2ª Classe
comarca de segunda entrância 17)
Auxiliar de Delegacia de Polícia de Delegado de Polícia de 1ª Classe ou Diretor Geral da PC-RO (art.
XX
comarca de segunda entrância de 2ª Classe mais moderno 17)
Titular de Delegacia de Polícia de Diretor Geral da PC-RO (art.
XXI Delegado de Polícia de 1ª Classe
comarca de primeira entrância 17)
Auxiliar de Delegacia de Polícia de Diretor Geral da PC-RO (art.
XXII Delegado de Polícia de mais moderno
comarca de primeira entrância 17)

Atenção para o disposto no art. 110, que está em conflito com o inciso I do art. 97. Na prática, atualmente o car-
go de Diretor-Geral da PC-RO é privativo de Delegado de Polícia de carreira de Classe Especial (última classe)
e não de qualquer classe, como consta no art. 110 (O Diretor Geral de Polícia Civil será escolhido pelo Governador
do Estado dentre os Delegados de Polícia de carreira, pertencentes ao quadro da Polícia Civil do Estado de Rondônia.)
No mesmo sentido é a redação atual do art. 146 da Constituição do Estado de Rondônia (CE-RO):

Art. 146 A Polícia Judiciária Civil, instituição permanente, dotada de autonomia administrativa e financeira,
instrumento a propositura de ações penais, incumbida de exercer as funções de polícia judiciária, a formação de
procedimentos criminais e a apuração de infrações penais comuns, exceto as militares e ressalvada a competência
da União, é dirigida por Delegado de Polícia de última classe na carreira, nomeado pelo Governador do Esta-
do, nos termos desta Constituição.

De acordo com o § 1º do art. 97, todos demais cargos gerenciais citados (itens VI a XXII), com exceção da Dire-
ção Geral, Executiva, Academia, Corregedoria e Presidência de Comissões (itens I a V citados no quadro), poderão
der ocupados por delegado de classe inferior à exigida, desde que o Conselho Superior de Polícia (CONSUPOL)
convide os delegados de classe mais elevada e não haja interesse.

Dica
O Grupo Ocupacional Polícia Civil está estruturado em classes na seguinte ordem crescente: 1ª Classe, 2ª
Classe, 3ª Classe e Especial, conforme Lei Estadual nº 1.044, de 2002.

� Princípios Institucionais

A instituição Polícia Civil de Rondônia possui elementos basilares que norteiam as ações do servidor policial
civil na execução de suas atividades, conforme reza o art. 6º:

Unidade

Indivisibilidade

Autonomia funcional NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO


PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS

Unidade de doutrina
e procedimento

Hierarquia

Disciplina

Legalidade

Impessoalidade

Moralidade

539
z Símbolos VIII - adotar providências preventivas com o obje-
tivo de evitar lesões às pessoas e danos a bens
Os símbolos de uma instituição representam a públicos e particulares;
sua identidade visual, o seu patrimônio. É por meio IX - promover o recrutamento, seleção, forma-
ção, aperfeiçoamento e desenvolvimento profis-
deles que é possível verificar a existência institucio-
sional e cultural do policial civil;
nal, diante da distinção característica que se destaca
X - propiciar segurança e tranquilidade, bem
no meio social. como garantir o livre exercício dos direitos da
De acordo com o art. 7º do Estatuto, são símbolos cidadania;
da PC-RO: XI - colaborar com a justiça criminal, providen-
ciando o cumprimento dos mandados de pri-
SÍMBOLOS são expedidos pelas autoridades judiciárias,
fornecendo as informações necessárias à instru-
Outro que
ção e julgamento dos processos, e realizando as
Hino Bandeira Brasão Distintivo
identifique diligências fundamentadamente requisitadas pelo
a instituição Juiz de Direito e membros do Ministério Público
(instituído pelo
Chefe do Poder nos autos do inquérito policial;
Executivo) XII - organizar e manter o cadastramento de
armas, munições, explosivos e demais produtos
Atenção: não confundir com os símbolos da Repú- controlados, bem como expedir licença para as res-
pectivas aquisições e portes;
blica Federativa do Brasil: bandeira, hino, armas e
XIII - manter o serviço de estatística policial em
selo nacionais (§ 1º do art. 13 da CF, 1988), nem com
adequação com os institutos oficiais de estatís-
os símbolos do Estado de Rondônia: bandeira, hino, tica e pesquisa de maneira a fornecer informações
brasão e outro instituído por lei (art. 2º da CE-RO). precisas e atualizadas sobre índice de criminalida-
de, de violência e de infrações de trânsito;
z Funções Institucionais XIV - exercer a supervisão dos serviços de segu-
rança privada;
Já mencionamos anteriormente que a função pre- XV - exercer a fiscalização de jogos e diversões
cípua da polícia civil nos Estados é a de polícia judi- públicas expedindo o competente alvará.
ciária e a apuração de infrações penais, exceto as de
competência da União e as militares. Para melhor memorização, destacamos as pala-
O art. 8º do Estatuto transcreve as várias outras vras-chaves de cada uma dessas funções. Atente-se ao
funções derivadas das principais (de polícia judiciá- fato de que a relação das funções não é taxativa, pois
ria, investigatória policial, preventiva da ordem social podem ser estabelecidas outras mediante lei, nos ter-
e dos direitos, ao combate eficaz da criminalidade e da mos do § 1º do art. 8º, que assim prescreve:
violência) executadas pela PC-RO, a saber:
Art. 8º [...]
§ 1º A competência conferida à Polícia Civil por
Art. 7° [...]
esta Lei Complementar, não exclui a possibilida-
I - cumprir e fazer cumprir, no âmbito das suas
de de exercer atribuições conferidas em outras
funções, os direitos e garantias constitucionais
leis.
fundamentais, buscando o respeito à dignidade
da pessoa humana e sua convivência harmônica na
Entre os assuntos mais cobrados em prova sobre
comunidade;
a função da polícia civil, estão os relacionados ao
II - praticar, com exclusividade, todos os atos neces-
Inquérito Policial:
sários à apuração das infrações penais e a ela-
boração do inquérito policial;
z Se verificada a configuração de infração penal
III - adotar as providências cautelares destinadas a
militar, os autos serão remetidos à autoridade
preservar os vestígios e as provas das infrações
penais;
competente, pois a PC-RO é responsável somente
IV - guardar, nos autos investigatórios, o sigilo pela infração penal civil (§ 2º do art. 8º);
necessário à elucidação do fato ou exigido pelo z Depois de ordenado o arquivamento do inquérito
interesse da sociedade; policial por falta de base para a denúncia, poderá a
V - exercer o policiamento repressivo e de vigi- autoridade policial proceder novas investigações,
lância das infrações penais, mantendo para se de outras provas tiver notícia (§ 3º do art. 8º).
isso, equipes de operações especiais compostas de
policiais treinados, uniformizados ou não, Do Provimento de Cargo Efetivo
armamento e meios de transportes adequados para
realizar o rastreamento investigatório aéreo, z Concurso Público
em águas territoriais e terrestres;
VI - manter estreito e constante intercâmbio de A ocupação de cargos efetivos do Grupo Ocupacional
caráter investigatório e judicial entre as repar- Polícia Civil ocorre mediante aprovação em concurso
tições e organizações congêneres; público, que será planejado pelo CONSUPOL, executado
VII - atuar na defesa do consumidor, da criança pela Academia de Polícia Civil (ACADEPOL) (art. 14) e
e do adolescente, da fauna e da flora, promoven- realizado em fases eliminatórias (art. 9º), a saber:
do o inquérito civil ou criminal, conforme o caso o
exigir; z Provas (escritas e de capacidade física) e títulos,
540 devendo o candidato ter formação superior;
z Prova oral (conteúdo exigido nas provas objetivas), exclusivamente para os cargos de Delegado de Polícia,
Perito Criminal e Médico Legista;
z Frequência e aprovação no curso de formação da Academia de Polícia;
z Outras etapas a serem estabelecidas no edital, que se concretizará através de resolução do CONSUPOL.

O edital do concurso fixará regras com instruções especiais com base nas peculiaridades de cada cargo efetivo
em disputa, a saber:

Art. 10 Os concursos públicos reger-se-ão por instruções especiais que estabelecerão em função da natureza
do cargo:
I - tipo e conteúdo das provas e as categorias dos títulos;
II - a forma de julgamento e a valorização das provas e dos títulos;
III - cursos de formação a que ficam sujeitos os candidatos classificados;
IV - os critérios de habilitação e classificação final para fins de nomeação; e
V - as condições para provimento de cargo, referente a:
a) capacidade física e mental;
b) conduta na vida pública e privada e a forma de sua apuração; e
c) escolaridade.

Importante!
Serão matriculados no curso de formação, mediante admissão do Diretor-Geral da Polícia Civil, somente o
número equivalente ao de cargos efetivos disponibilizados no edital do concurso (arts. 11 e 12).

O curso de formação é destinado à formação técnico-profissional do candidato classificado e possui caráter


experimental e transitório, ou seja, o postulante ao cargo não estabelece vínculo definitivo com a Administração
Pública. Durante esse período, o candidato/aluno terá como contraprestação financeira a título de bolsa especial
o equivalente a 80% do vencimento e demais vantagens do cargo pretendido, conforme rezam o caput e o § 1º
do art. 12:

Art. 12 Os candidatos a que se refere o artigo anterior serão admitidos pelo Diretor-Geral da Polícia Civil, em
caráter experimental e transitório, para a formação técnico-profissional.
§ 1º A admissão de que trata este artigo far-se-á com retribuição correspondente a 80% (oitenta por cento)
do vencimento e demais vantagens do cargo vago a que se candidatar o concursado, a título de bolsa especial.

E se o candidato já for servidor público ocupante de cargo efetivo no Estado de Rondônia? Neste caso, o ser-
vidor ficará afastado do seu cargo até o término do concurso junto à Academia de Polícia Civil, sem prejuízo de
sua remuneração, computando o tempo de serviço para todos os efeitos legais (§ 2º do art. 12), bem como tem a
faculdade de escolher a bolsa especial ou a remuneração do seu cargo efetivo (§ 3º do art. 12).
Veja a literariedade dos §§ 2º e 3º do art. 12:

Art. 12 [...]
§ 2º Sendo servidor público estadual o candidato matriculado ficará afastado do seu cargo até o término do
concurso junto à Academia de Polícia Civil, sem prejuízo de sua remuneração, computando o tempo de serviço
para todos os efeitos legais.
§ 3º É facultado ao servidor, afastado nos termos do parágrafo anterior, optar pela retribuição prevista no § 1º.

O candidato terá sua matrícula cancelada e será dispensado do curso de formação quando deixar de atender

NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO


os seguintes requisitos:

Art. 13 [...]
I - não atinja o mínimo de frequência estabelecida para o curso; e,
II - não tenha conduta irrepreensível na vida pública ou privada.
Parágrafo único. Os critérios para a apuração das condições constantes dos Incisos I e II serão fixados em
regulamento.

Por fim, caso haja aprovação no curso de formação, o candidato será nomeado, obedecida a ordem de classi-
ficação, nos termos do art. 15:

Art. 15 A nomeação obedecerá à ordem de classificação no concurso.

Sabemos que há vários detalhes sobre o tema concurso público. Mas fique tranquilo, pois iremos facilitar a
compreensão através de um resumo esquemático:

541
Tipo, conteúdo e forma de
julgamento das provas e
categorias dos títulos

Condições de provimento:
CONSUPOL escolaridade, capacidade física e
Planejamento
(Edital – Resolução) mental e conduta na vida pública
e privada

Critérios de habilitação e
Execução ACADEPOL
classificação final

Diretor-Geral da PC-RO admite


Provas e títulos (número equivalente de vagas)
CONCURSO PÚBLICO

Prova oral Caráter experimental e transitório

Fases
(eliminatórias)
Curso de formação Bolsa especial (80% da
(técnico-professional) remuneração do cargo)

Servidor público estadual:


Outra prevista no edital afastado para frequentar o curso +
opção pela bolsa/remuneração

Matrícula cancelada e dispensa


Validade 2 anos (máximo) do curso: baixa frequência ou
conduta repreensível

z Posse

É considerado o momento solene de estabelecimento de vínculo do nomeado com cargo público. Na prática,
é como se fosse o ato de “celebração de contrato” entre o nomeado com a Administração Pública. É nessa oportu-
nidade que o empossando assume os deveres e responsabilidades adstritos ao cargo que passará a ocupar, bem
como o poder público obriga-se a conceder direitos e vantagens vinculados ao aludido cargo.
O arts. 16 e 17 determinam quem é competente para dar posse, a saber:

Art. 16 O Governador do Estado é a autoridade competente para dar posse ao Diretor-Geral da Polícia Civil.
Art. 17 O Diretor-Geral de Polícia Civil é a autoridade competente para dar posse aos demais servidores da
Polícia Civil do Estado de Rondônia.

No ato da posse, o servidor assume o seguinte compromisso policial:

Art. 17 [...]
§ 1º [...] “Prometo observar e fazer rigorosa obediência à Constituição, às leis e regulamentos do País, desempenhar
minhas funções com lealdade e exação, com desprendimento e correção, com dignidade e honestidade e considerar
como inerente à minha pessoa, a reputação e a honrabilidade do organismo policial que passo agora a servir.”

Dica
A nomeação e posse podem ser tanto para o cargo efetivo como em comissão. Logo, muito cuidado para
a questão da prova, que pode restringir a nomeação e posse somente ao cargo efetivo (que exige concurso
público).

Por fim, após o servidor ser aprovado em concurso público, nomeado e empossado, somente poderá solicitar
aposentadoria voluntária após cumprir o mínimo de 5 anos no cargo policial civil, nos termos do § 2º do art. 17:

Art. 17 [...]
§ 2º Nomeado e empossado o servidor policial civil obriga-se ao exercício do cargo pelo prazo mínimo de 5
(cinco) anos, para efeito de aposentadoria voluntária.
542
z Estágio Probatório e Estabilidade Para efeito de sede, o entendimento sedimentado
é de que está circunscrito ao âmbito do município.
O estágio probatório é exclusivo para ocupante de Essa mudança de unidade policial pode ocorrer nas
cargo efetivo e tem início com o efetivo exercício do seguintes hipóteses:
servidor no cargo do qual tomou posse. Objetiva avaliar
as aptidões do servidor para o cargo, ou seja, verificar Art. 20 [...]:
se ele, de fato, está em plena condição para ocupar e I - pedido do servidor policial civil observado o seu
desempenhar a contento as atribuições e assumir as res- interesse;
ponsabilidades vinculadas ao cargo e ao serviço público. II - “ex-offício”, no interesse da administração; e
Com efeito, durante o estágio probatório são ava- III - compulsoriamente, a bem da disciplina,
liados os requisitos específicos do art. 18, para o mediante prévio Processo Administrativo Disciplinar.
servidor ocupante de cargo efetivo do Grupo Ocupa-
cional Polícia Civil: Nos termos do § 2º do art. 20, a relotação depende
da existência de vaga na unidade de destino, exce-
Art. 18 Além dos requisitos previstos no Regime to quando for “a pedido” mediante permuta (pedidos
Jurídico dos Servidores Públicos Civis do Estado simultâneos de servidores ocupantes da mesma cate-
de Rondônia, deverão constar na apuração do
goria funcional – § 3º do art. 20), pois neste caso os
estágio probatório do grupo policial os seguintes
servidores irão apenas “trocar” de local de trabalho,
requisitos:
I - idoneidade; não havendo que falar no que comumente se chama
II - dedicação às atividades policiais; de preenchimento de “claro de lotação”.
III - lealdade; e, Preceituam os §§ 2º e 3º do art. 20:
IV - respeito à hierarquia.
Art. 20 [...]
Conforme destaca o caput do art. 18, além dos § 2º Ressalvado o disposto no § 3º, qualquer
requisitos expressos no Estatuto da PC-RO, serão obje- que seja o motivo, dependerá sempre da exis-
to de avaliação os requisitos constantes no § 1º do art. tência de vaga na unidade para onde deva ser
relotado o servidor policial civil na categoria fun-
28 da LC-RO nº 68, de 1992, exigidos para todos os ser-
cional a que pertença.
vidores públicos civis do Estado de Rondônia, a saber:
§ 3º A relotação por permuta exige pedidos
assiduidade, pontualidade, disciplina, capacidade de
escritos simultâneos de ambos os servidores
iniciativa, produtividade e responsabilidade. policiais civis interessados, pertencentes à mes-
A avaliação do servidor ocorrerá da seguinte forma: ma categoria funcional.

Ficha de avaliação Outra observação importante é o deslocamento a pedi-


Responsável: chefe encaminhada para
Avaliação semestral
imediato do servidor o Diretor-Geral da do também depende do efetivo exercício servidor por pelo
PC-RO menos 1 ano na unidade de origem (§ 1º do art. 20).
Os Delegados de Polícia somente poderão ser relo-
tados compulsoriamente por conveniência do ser-
viço e por meio de representação apresentada pelo
Chefe imediato Servidor não
Diretor-Geral de Polícia perante o CONSUPOL, que
Instauração do
processo disciplinar
comunica o preencher os decidirá por maioria de votos com votação secreta
CONSUPOL requisitos
(§ 4º do art. 20).
Uma vez deferida a relotação, ela deverá ocorrer
nos prazos previstos no art. 22:

Comissão Especial Se o servidor for Art. 22 O servidor policial civil relotado deverá
(3 servidores estável no serviço
estáveis, presidida público (outro entrar em exercício do cargo ou função nos seguin-
por Delegado de cargo), para este tes prazos:
Polícia será reconduzido
I - oito (08) dias, se for para outro município; e,
II - três (03) dias, no mesmo município.
Atenção para a LC-RO nº 76, de 1993, que não traz NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
de forma expressa o período do estágio probatório. O parágrafo único do dispositivo supra admite que
A previsão do período do estágio probatório está os prazos poderão ser prorrogados por igual perío-
expressa no caput do art. 28 da LC-RO nº 68, de 1992, do, a critério do Diretor-Geral da Polícia Civil.
que estabelece ser de 2 anos. Contudo, esse prazo confli- Por fim, o art. 23 determina:
ta com o que consta do art. 41 da CF-88, que estabelece
ser de 3 anos o período de provas do servidor, a fim de Art. 23 O ato de relotação e transferência do ser-
garantir a estabilidade. Em suma, o candidato deve estar vidor policial civil é da competência privada do
atento ao enunciado da questão, para saber qual a base Diretor-Geral da Polícia Civil.
legal de referência que o examinador quer considerar.
z Elogio
z Relotação
O art. 24 traz o conceito de elogio da seguinte
Dispõe o art. 19 que: forma:

Art. 19 A relotação é o deslocamento do servidor Art. 24 Elogio é a menção individual consigna-


policial de uma para outra unidade policial, da no assentamento funcional ou ficha cadastral
observado o disposto nesta Lei Complementar, com do servidor policial civil, em decorrência de atos
ou sem mudança de sede. meritórios que tenha praticado. 543
Já no art. 25 estão relacionados quais os atos meritórios dignos de elogio:

Art. 25 [...]:
I - ato que caracterize dedicação excepcional no cumprimento do dever, transcendendo ao que é normalmen-
te exigível do servidor policial civil por disposição legal ou regulamentar, e que importe ou passa importar risco
da própria segurança pessoal; e,
II - cumprimento do dever de que resulte sua morte, invalidez ou lesão corporal de natureza grave.

Para facilitar o processamento do elogio, elaboramos o quadro esquemático a seguir, nos termos do art. 26 do
Estatuto:

ELOGIO
Quem pede? Quem aprova? Tem formalidade?
Anotação ficha funcional
+
Autoridades e cidadãos CONSUPOL
Publicação no Diário Oficial do Estado
de Rondônia
Governador
Anotação ficha funcional
Secretário de Estado da Segurança
Não existe +
Pública
Divulgação sem formalidade
Diretor-Geral da Polícia Civil

Do Vencimento, da Remuneração, das Prerrogativas e dos Direitos

z Vencimento e Remuneração

Vencimento é a retribuição pecuniária pelo exercício do cargo público, com valor fixado em lei.
Remuneração é o vencimento do cargo acrescido das vantagens permanentes ou temporárias estabelecidas
em lei.
A LC-RO nº 76, de 1993 apenas registra que no art. 28 que:

Art. 28 Além do vencimento e demais vantagens concedidas através do Regime Jurídico dos Servidores Públi-
cos Civis do Estado de Rondônia, o servidor policial civil tem sua estrutura remuneratória definida na Lei Com-
plementar n.º 58 de 077 de julho de 1992.

A LC-RO nº 76, de 1993 afirma que o servidor policial fará jus às vantagens existentes no Regime Jurídico dos
Servidores Públicos Civis do Estado de Rondônia (LC-RO nº 68, de 1992) com a estrutura remuneratória fixada na
revogada Lei Complementar nº 58, de 1992, que atualmente é representada pela Lei Estadual nº 1.041, de 2002.

z Prerrogativas e Direitos

Prerrogativas são privilégios que o policial civil possui em razão do exercício do cargo. Já os direitos decor-
rem de vantagens expressas em norma legal. A bem da verdade, prerrogativas são direitos especiais assegurados
a uma determinada categoria de pessoas.

„ Privilégios de Qualquer Servidor Policial Civil

Infração Penal Envolvendo Servidor Policial Civil: O art. 29 aduz que:

Art. 29 [...] se no curso de investigação houver indícios de prática penal atribuída ao servidor policial civil, a
autoridade policial remeterá, imediatamente, cópia do procedimento ao Diretor Geral da Polícia Civil.

E nos crimes de responsabilidade envolvendo policial civil:

Art. 30 [...] a queixa ou a denúncia será instruída com documentos ou justificação que façam presumir a
existência do delito, ou com declaração fundamentada da impossibilidade de apresentação de quaisquer dessas
provas.

O servidor policial civil acusado será notificado para responder, por escrito, dentro do prazo de 15 (quinze)
dias. É que chamamos de direito à defesa prévia (§ 1º do art. 30).
Além das prerrogativas constantes da LC-RO nº 68, de 1992, o servidor policial civil terá as seguintes prerroga-
tivas nos termos do art. 31 do Estatuto:
Art. 31 [...]:
I - promoção por “ato de bravura” ou mesmo “post mortem” independente de vaga;
II - Ter ingresso e trânsito livres, em razão de serviço, em qualquer recinto público ou privado, respeitada a
garantia constitucional de inviolabilidade do domicílio;
544
III - Medalha de “Mérito Policial” conforme dis- Autonomia e independência:
puser a lei; e,
IV - O Policial Civil, em atividade ou aposentado, Art. 35 Os Delegados de Polícia gozam de autono-
tem direito à identidade funcional equivalente mia e independência no exercício das funções de
à identidade civil e porte livre de arma em todo seu cargo.
o território nacional.
Foro privilegiado:
Prisão Especial: Consiste no cerceamento da liber-
dade do servidor em espaço físico diverso de onde Art. 36 Os Delegados de Polícia serão processados
ficam os presos comuns. Na prática, o recolhimento e julgados originariamente pelo Tribunal de
ocorre em espaço reservado dentro das corporações Justiça nos crimes comuns e nos de responsabili-
policiais e não nos presídios. dade, salvo exceção de ordem constitucional.
De acordo com o caput do art. 83, o servidor policial
civil terá direito à prisão especial desde a prisão pre-
ventiva, em flagrante delito ou decorrente de pro-
Importante!
núncia até que a o trânsito em julgado da sentença.
Durante esse período, o servidor fica proibido de Apesar de haver discussão acerca da constitu-
exercer qualquer atividade funcional ou sair da unida- cionalidade desse foro privilegiado, não há qual-
de, sem expressa autorização do Juiz de Direito a cuja quer revogação formal do texto da LC-RO nº 76,
disposição se encontre (§ 1º do art. 83). de 1993. Logo, se houver em sua prova alternati-
Após o trânsito em julgado da condenação, o ser-
va dizendo que existe tal privilégio, pode marcar
vidor policial será encaminhado ao estabelecimento
como correta.
prisional onde cumprirá a pena em dependência iso-
lada dos demais presos, chamada de sala especial,
não abrangidos por esse regime, mas sujeitos a um Tratamento protocolar:
sistema disciplinar próprio (§ 3º do art. 83).
Caso o servidor esteja preso e ainda está pendente Art. 36 [...]
o trânsito em julgado da sentença, mas ocorre a publi- § 1º Os Delegados de Polícia gozam do mesmo
cação do ato de demissão no Diário Oficial, o ex-ser- tratamento distinguidos às demais carreiras
vidor policial civil será encaminhado, desde logo, ao jurídicas.
estabelecimento penal que for determinado, onde
permanecerá em sala especial (§ 2º do art. 83).
Sobre o tratamento conferido ao Delegado de Polícia,
A razão da prisão em local diferente dos demais
a CE-RO no § 3º do art. 146, garante o mesmo tratamento
presos decorre da situação funcional do servidor que
protocolar que recebem os magistrados, os membros da
exercia uma atividade que, por sua natureza, é de
Defensoria Pública e do Ministério Público.
combate ao crime envolvendo pessoas recolhidas nos
presídios. Logo, caso fosse colocado no mesmo espa- Prisão: Acerca das hipóteses de prisão do Delega-
ço físico dos demais presos, estar-se-ia colocando em do de Polícia, vejamos:
risco a incolumidade física do servidor policial civil.
Art. 36 [...]
„ Privilégios exclusivos de Delegado de Polícia § 2º Os Delegados de Polícia somente poderão ser
presos em caso de flagrante ou delito de crime
inafiançável ou por ordem escrita e fundamen-
Promoção: Em regra, o Delegado de Polícia inicia
tada do Tribunal competente, caso em que, a
sua carreira na 1ª Classe, coincidindo com lotação em
autoridade fará imediata comunicação e apresen-
unidade policial de primeira entrância.
tação do preso ao Diretor Geral de Polícia Civil.
E, à medida que vai surgindo vaga nas entrâncias
superiores (segunda e terceira entrância), ocorre a
promoção com mudança de classe, conforme defi- Sigilo:
nição da classificação das unidades policias e vagas,
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Art. 36 [...]
definas em lei própria (art. 34).
§ 3º Os procedimentos administrativos disci-
A promoção pessoal do Delegado de Polícia pode
plinares e as punições de Delegados de Polícia,
se dar por dois critérios: antiguidade e merecimento.
terão caráter sigiloso.
Na hipótese de promoção por merecimento, o Dele-
gado de Polícia receberá, previamente, a relação dos
Intimação pessoal e escolha para ser ouvido:
órgãos de categoria correspondente à futura promoção
que se encontram vagas, conforme reza o art. 33:
Art. 37 O Delegado de Polícia receberá intimação
pessoal em qualquer processo e grau de juris-
Art. 33 O Delegado de Polícia que fizer jus à pro-
dição, e será ouvido, como testemunha, em dia,
moção por merecimento receberá, previamente,
a relação dos órgãos de categoria correspondente à hora e local previamente ajustados com a auto-
futura promoção que se encontram vagas. ridade competente.

Já o art. 32 estatui que: Dos Deveres

Art. 32 O Delegado de Polícia poderá recusar-se a Os deveres do servidor policial civil integram uma
integrar lista de promoção sempre que não lhe relação não taxativa, pois, além dos que estão expres-
convier a relotação para área de atribuição de sos no estatuto policial, também se aplicam os da
categoria correspondente à nova entrância. LC-RO nº 68, de 1992. 545
Vejamos a seguir os deveres constantes no art. 38 Na prática, por uma mesma conduta pode o ser-
da LC-RO nº 76, de 1993, com o destaque para as pala- vidor responder administrativa, cível e penalmente.
vras-chaves a serem memorizadas:
z Responsabilidade administrativa
Art. 38 [...]
I - desempenhar com zelo e presteza, as tarefas e „ Resulta de ação ou omissão no desempenho do
missões que lhe forem cometidas;
cargo ou função (art. 45), configurando uma
II - informar, incontinenti, à autoridade a que esti-
das transgressões descritas no Estatuto.
ver diretamente subordinado, toda e qualquer alte-
ração de endereço da residência, bem como o
número de telefone; z Responsabilidade civil
III - prestar informações corretas ao solicitante
ou encaminhá-lo a quem possa prestá-las; „ Resulta dano à Administração ou a terceiro.
IV - comunicar, ao superior hierárquico, o endere-
ço onde possa ser encontrado, quando dos afas- z Responsabilidade penal
tamentos regulares;
V - conduzir-se, na vida pública, como na particu- „ Abrange as infrações ao servidor policial civil
lar, de modo a dignificar a função policial;
nessa qualidade.
VI - residir na localidade onde exerça seu cargo
ou função;
VII - frequentar, com assiduidade, cursos instituí- A responsabilidade civil passível de reparação
dos pela Academia de Polícia Civil, em que seja perante à Administração caracteriza-se, especialmen-
matriculado, para fins de aperfeiçoamento e atuali- te nas hipóteses do art. 41, in verbis:
zação dos seus conhecimentos profissionais;
VIII - portar, sempre, a carteira de identificação Art. 41 Caracteriza-se especialmente a responsabilidade:
policial; I - pela sonegação de valores e objetos confia-
IX - ser leal para com os companheiros de tra- dos à sua guarda ou responsabilidade, por não
balho, com eles cooperar e manter espírito de prestar contas, ou por não as tomar, na forma e no
solidariedade; prazo estabelecidos nas leis, regulamentos, instru-
X - participar das comemorações cívicas do Esta- ções e ordens de serviço;
do e da Nação; II - pelas faltas, danos, avarias e quaisquer outros
XI - manter-se informado e atualizado das nor-
prejuízos que sofrerem os bens e os materiais sob
mas policiais;
sua guarda, ou sujeitos a seu exame ou fiscalização;
XII - divulgar, para conhecimento dos subordina-
III - pela falta ou inexatidão das necessárias
dos, as normas policiais; e,
averbações nas notas de despacho, guias e outros
XIII - manter discrição sobre os assuntos da
documentos da receita ou que tenham relação; e,
repartição e, especialmente, quanto a despachos,
decisões e providências. IV - por qualquer erro de cálculo ou redução con-
tra a fazenda Estadual.
O cumprimento desses deveres é necessário para
garantir a funcionalidade efetiva da instituição, bem A responsabilidade será apurada através de pro-
como boa imagem institucional. cessos administrativos (caput do art. 42) e a reposição
Os deveres do art. 38 aplicam-se a todos os ser- ao erário ocorrerá da seguinte forma:
vidores policiais civis, inclusive aos ocupantes de
cargos em comissão e servidores à disposição da z Servidor agiu com má-fé: repor de uma única vez
Polícia Civil. a importância aos cofres públicos, não obstante
Isso pode ser objeto de questão na prova, pois outras penalidades cabíveis (§ 1º do art. 42);
estão sujeitos aos deveres todos aqueles que integram z Servidor agiu de boa-fé: indenização poderá ser
a força de trabalho da instituição Polícia Civil do Esta- descontada do vencimento ou remuneração, não
do de Rondônia, seja servidor ocupante de cargo do excedendo o desconto à décima parte do valor
Grupo Atividade de Polícia Civil ou ocupante de qual- deste, ficando sujeito à penalidade de repreensão, se
quer outro cargo público. primário; suspensão, se reincidente (§ 2º do art. 42).

Das Responsabilidades Assim está previsto no art. 42:

De acordo com o art. 40 do estatuto: Art. 42 A responsabilidade será apurada através


de processos administrativos.
Art. 40 Pelo exercício irregular de suas atribuições, § 1º Tendo havido má fé, o servidor policial civil,
o servidor policial civil, responde civil, penal e nos casos de indenização à Fazenda Estadual, fica
administrativamente. obrigado a repor de uma única vez a importân-
cia aos cofres públicos, não obstante outras pena-
Referidas responsabilidades poderão ser acumu- lidades cabíveis.
ladas, sendo umas e outras independentes entre si, § 2º Não tenho havido má fé, a importância da
assim como o são as instâncias cível e administrativa, indenização poderá ser descontada do vencimen-
nos termos do art. 46, in verbis: to ou remuneração, não excedendo o desconto à
décima (10ª) parte do valor deste, ficando sujeito
Art. 46 As cominações civis, penais e disciplinares à penalidade de repreensão, se primário; sus-
cumular-se-ão, sendo umas e outras independen- pensão, se reincidente.
tes entre si, assim como o são as instâncias cível e
546 administrativa.
Por outro lado, quando o dano for causado a terceiros, o servidor deverá ressarcir à Administração por meio
de uma ação regressiva depois de transitada em julgado a decisão judicial que condenou o Estado a pagar o
terceiro prejudicado, nos termos do § 3º do art. 42.
Caso o servidor esteja sendo processado criminalmente, o CONSUPOL poderá adotar as seguintes providên-
cias (§ 1º do art. 44):

z Por 2/3 de seus membros: determinar o afastamento temporário ou não do exercício do cargo ou das fun-
ções, com supressão das vantagens;
z Por maioria simples de seus membros: aprovar ou não a ascensão funcional do servidor policial civil.

Art. 44 [...]
§ 1º. O Conselho Superior de Polícia Civil, por dois terços (2/3) de seus membros, poderá decidir pelo afasta-
mento temporário ou não do exercício do cargo ou das funções, com supressão das vantagens previstas nesta Lei
Complementar e por maioria simples, sobre a ascensão funcional ou não do servidor policial civil, processado
criminalmente.

Determina o art. 106 que:

Art. 106 Os servidores estranhos ao Grupo de Pessoal da Polícia Civil, à disposição de unidades policiais,
serão obrigatoriamente recolhidos à repartição de origem, se sofrerem punição apuradas em procedimentos
administrativos, disciplinares ou criminais.

Transgressões Disciplinares e Penalidades

As transgressões disciplinares são condutas consideradas danosas às atividades da Administração Pública,


bem como à boa reputação institucional.
Caso haja o cometimento de uma transgressão expressa no art. 39 do estatuto, o servidor estará sujeito a uma
punição disciplinar (penalidade) no âmbito administrativo expressa no art. 47:

Art. 47 São penalidades disciplinares:


I - repreensão;
II - suspensão;
III - demissão;
IV - cassação de aposentadoria ou disponibilidade;
V - destituição de cargo em comissão;
VI - destituição de função; e,
VII - relotação compulsória.

Visando facilitar o estudo, faremos quadro esquemático que resume a transgressão e a penalidade aplicável
em cada caso:
Repreensão Aplicada por escrito
DISPOSIÇÕES GERAIS DAS TRANSGRESSÕES E PENALIDADES

Reincidência de repreensão
+ hipóteses legais

Suspensão Máximo até 90 dias

Possível converte em
multa de 50% por dia de

NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO


vencimento (conveniência do
serviço)

Contumácia em transgressão
Demissão + suspensão mais de 3x
durante 2 anos + hipóteses
legais

Cassação de aposentadoria
Hipóteses de demissão
e disponibilidade

Destituição de cargo em Hipótese de suspensão ou


comissão demissão

Falta de cumprimento do
Destituição de função dever + inconveniência de
permanecer em serviço

Falta de cumprimento do
Relotação compulsória dever + inconveniência de
permanecer em serviço
547
z Repreensão Nesse contexto, por exclusão, seguem as transgres-
sões disciplinares do art. 39 que ensejam a suspensão:
Veja a seguir as hipóteses legais passíveis de puni-
ção com repreensão: Art. 39 É considerado transgressão disciplinar:
[...]
XI - atuar, como procurador ou intermediário,
Art. 39 É considerado transgressão disciplinar:
junto a repartições públicas, salvo quando se tratar
I - ausentar-se do serviço durante o expediente,
de beneficiários;
sem prévia autorização do chefe imediato;
[...]
II - retirar, sem prévia anuência da autoridade compe-
XIV - praticar usura sob qualquer de suas formas;
tente, qualquer documento ou objeto da repartição;
[...]
III - recusar fé a documentos públicos;
XVII - utilizar pessoal ou recursos materiais da repar-
IV - opor resistência injustificada ao andamento
tição em serviços ou atividades particulares;
de documentos, processo ou execução de serviço;
XVIII - exercer quaisquer atividades que sejam
V - promover manifestação de apreço ou desapre-
incompatíveis com o exercício do cargo ou fun-
ço no recinto da repartição;
ção e com o horário de trabalho;
VI - cometer a pessoa estranha à repartição,
[...]
fora dos casos previstos em lei, o desempenho de
XX - deixar de cumprir ordem superior, salvo
atribuição que seja de sua responsabilidade
quando manifestamente ilegal, representando nes-
ou de seu subordinado;
te caso;
VII - coagir ou aliciar subordinados no sentido
XXI - interceder maliciosamente em favor ou
de filiarem-se a associação profissional ou sindi-
contra parte;
cal, ou partido político;
[...]
VIII - manter sob sua chefia imediata, em cargo XXVII - faltar, salvo por motivo relevante a ser
ou função de confiança, cônjuge, companheiro ou comunicado por escrito no primeiro dia em que
parente até o segundo grau civil; deva comparecer à sua sede de exercício, para o
[...] ato processual, judiciário ou administrativo,
XIX - negligenciar no cumprimento do dever; do qual tenha sido previamente cientificado;
XXII - manter relações de amizade ou exibir-se em [...]
público com pessoas de notório e desabonadores XXXII - divulgar ou propiciar a divulgação,
antecedentes criminais, salvo por motivo de serviço; através da imprensa falada, escrita ou televisada,
XXIII - faltar, chegar atrasado ou abandonar sem autorização da autoridade competente, de
escala de serviço ou plantão, ou deixar de comu- notícias ou fato de caráter policial;
nicar com antecedência, à autoridade a que estiver XXXIII - referir-se de modo depreciativo às auto-
subordinado, salvo por motivo de força maior; ridades e a atos da administração pública,
XXIV - permutar horário de serviço ou execu- qualquer que seja o meio empregado para esse fim;
ção de tarefa sem expressa permissão de superior XXXIV - tecer comentários que possam gerar des-
hierárquico; crédito da instituição policial;
XXV - descuidar de sua aparência física ou do XXXV - deixar de reassumir exercício, sem justo
asseio; motivo, ao final dos afastamentos regulamentares,
[...] ou, ainda, quando convocado por ordem superior;
XXVIII - interferir em assunto de natureza poli- [...]
cial que não seja de sua competência; XXXVII - fazer uso indevido de documento fun-
XXIX - exibir, desnecessariamente, arma, distin- cional, arma, algema ou bens da repartição ou
tivo ou algema; cedê-los a terceiros;
XXX - deixar de ostentar distintivo, quando exi- XXXVIII - maltratar ou permitir maltrato físico
gido para o serviço; ou moral a preso sob sua guarda;
XXXI - deixar de identificar-se, quando solicitado XXXIX - desrespeitar, procrastinar ou concorrer
ou quando as circunstâncias o exigirem; para a procrastinação do cumprimento de
[...] decisão ou ordem superior ou judicial;
XXXVI - atribuir-se qualidade funcional diversa XL - tratar o superior hierárquico, subordinado ou
do cargo ou função que exerça; colega sem o devido respeito ou deferência;
[...] [...]
XLI - deixar de concluir nos prazos legais, sem XLII - dirigir viatura policial com imprudên-
motivo justo, procedimentos de polícia judiciária, cia, imperícia, negligência ou sem documento de
administrativos ou disciplinares; habilitação;
[...] [...]
XLIV - criar animosidade, velada ou ostensiva, XLV - atribuir ou permitir que se atribua a pes-
entre subalternos, superiores ou colegas, ou indis- soa estranha à repartição, fora dos casos previs-
pô-los de qualquer forma; tos em lei, o desempenho de encargos policiais;

z Suspensão Também é prevista com a aplicação de suspensão


a recusa de submissão à inspeção médica, nos termos
O art. 50 prescreve as situações que ensejam a do § 1º do art. 50:
punição com suspensão:
Art. 50 [...]
Art. 50 A suspensão será aplicada em caso de § 1º Será punido com suspensão de até 15 (quin-
reincidência das faltas punidas com repreensão ze) dias o servidor policial civil que, injustificada-
e de violação das demais transgressões que não mente, recusar-se ser submetido a inspeção
tipifiquem infração sujeita a penalidade de médica determinada pela autoridade competente,
demissão, não podendo exceder de 90 (noventa) cessando os efeitos de penalidade uma vez cumpri-
548 dias. da a determinação.
z Demissão DESTITUIÇÃO DE CARGO EM COMISSÃO
Casos de suspensão
Já as hipóteses de demissão estão expressas no art. 52:
Casos de demissão
Art. 52 A demissão será aplicada nos seguintes
casos: z Destituição de Função ou a Relotação Compulsória
I - crime contra a administração pública;
II - abandono de cargo;
III - inassiduidade habitual; Tem sua previsão incidência expressa no art. 57,
IV - improbidade administrativa; in verbis:
V - incontinência pública e conduta escandalo-
sa na repartição; Art. 57 A destituição de função ou a relotação
VI - insubordinação grave em serviço; compulsória terá por fundamento a falta de exa-
VII - ofensa física, em serviço, a servidor ou ção no cumprimento do dever, ou a inconve-
particular, salvo em legítima defesa própria ou de niência de permanecer o servidor policial civil no
outrem; exercício de suas atividades em determinada unida-
VIII - aplicação irregular de dinheiro público; de ou localidade.
IX - revelação de segredo do qual se apropriou
indevidamente; DESTITUIÇÃO DE FUNÇÃO E RELOTAÇÃO
X - lesão aos cofres públicos e dilapidação do COMPULSÓRIA
patrimônio nacional;
XI - corrupção em todas as modalidades; Falta de exação no cumprimento do dever
XII - acumulação ilegal de cargos, empregos ou Inconveniência de permanecer o servidor na unidade
funções públicas; e, ou localidade
XIII - transgressão dois incisos IX, X, XII, XIII, XV,
XVI, XXVI, XLIII, e XLVI do art. 39.
Dica
De igual modo, as transgressões do art. 39 que
levam à demissão são as seguintes: É necessário saber no que consiste cada uma
das transgressões? Não! O examinador cobra a
Art. 39 É considerado transgressão disciplinar: literalidade da norma. O que você deve decorar
[...] são as palavras-chave das transgressões e, pela
IX - valer-se do cargo para lograr proveito pes- natureza da gravidade da conduta, identificar
soal ou de outrem, em detrimento da dignidade da qual a penalidade cabível.
função pública;
X - participar de gerência ou administração de
Da mesma forma que os deveres, estão sujeitos às
empresa privada, de sociedade civil, ou exercer
transgressões tanto o servidor ocupante do cargo do
o comércio, exceto na qualidade de acionista,
cotista ou comandatário; Grupo Atividade de Polícia Civil ou outro ocupante
[...] de qualquer outro cargo público, efeito ou não, que
XII - receber propina, comissão, presentes ou esteja trabalhando na instituição Polícia Civil de Ron-
vantagem de qualquer espécie, em razão de suas dônia (parágrafo único do art. 39).
atribuições; Determinadas quais são as transgressões, as suas
XIII – aceitar comissão, emprego ou pensão de respectivas penalidades e quem pode praticá-las,
governo estrangeiro; vamos agora aprender quem é competente para apli-
[...] car as penalidades. Para tanto, segue mais um quadro
XV - proceder de forma desidiosa; esquematizado relacionando a autoridade compe-
XVI - cometer a outro servidor atribuições
tente para imposição das penas disciplinares, nos
estranhas ao cargo que ocupa, exceto em situa-
exatos contornos do art. 59:
ções de emergência e transitórias;
[...]

NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO


XXVI - apresentar-se ao trabalho ou em públi- z Governador:
co, alcoolizado ou fazer uso de substância que
determine dependência física ou psíquica; „ Demissão;
[...] „ Cassação de aposentadoria ou disponibilidade.
XLIII - manter transação ou relacionamento
indevido com preso, pessoa em custódia e respec- z Secretário de Segurança Pública:
tivos familiares;
[...]
„ Repreensão;
XLVI - exercer pressão ou influir junto a subordina-
„ Suspensão de até 90 dias.
ção para forçar determinada solução ou resultado.

z Diretor-Geral da PC:
z Destituição de Cargo em Comissão

Sobre as hipóteses de cabimento, assim preleciona „ Repreensão;


o art. 55: „ Suspensão de até 60 dias.

Art. 55 A destituição de cargo em comissão z Corregedor-Geral da PC:


exercido por não ocupante de cargo efetivo será
aplicada nos casos de infração sujeita às penalida- Repreensão;
des de suspensão e de demissão. Suspensão de até 45 dias. 549
z Diretores de Departamento da PC: z Improbidade administrativa;
z Aplicação irregular de dinheiro público;
„ Repreensão; z Lesão aos cofres públicos e dilapidação do patri-
„ Suspensão de até 30 dias. mônio nacional;
z Corrupção em todas as modalidades.
z Diretores de Divisões e Delegados de Polícia de
Carreira: Dos Procedimentos para Aplicação da Penalidade

„ Repreensão; Quando uma autoridade tiver ciência de irregu-


„ Suspensão de até 15 dias. laridade no serviço público com base em fato ou em
denúncia, fará a apuração e aplicação das sanções dis-
Segue a íntegra do art. 59: ciplinares, seja através de uma sindicância ou proces-
so administrativo disciplinar (PAD).
Art. 59 Para imposição de penas disciplinares, A sindicância é um procedimento apuratório mais
são competentes: simples que serve de base para a instauração do PAD,
I - o Governador do Estado nos casos de mas não é condição essencial para instaurá-lo, pois é
demissão e cassação de aposentadoria ou possível ocorrer o PAD sem ter existido uma sindicância.
disponibilidade; O parágrafo único do art. 67 elenca as hipóteses de
II - o Secretário de Estado da Segurança, Defesa obrigatoriedade do PAD; vejamos:
e Cidadania, nos casos de repreensão ou suspen-
são de até 90 (noventa) dias; Art. 67 [...]
III - o Diretor-Geral da Polícia Civil, nos casos de Parágrafo único. O processo disciplinar precede-
repreensão ou suspensão de até 60 (sessenta) dias; rá à aplicação das penas de suspensão por mais
IV - o Corregedor-Geral de Polícia Civil, nos de trinta (30) dias, destituição de cargo em
casos de repreensão ou suspensão de até 45 comissão, demissão, cassação de aposentado-
(quarenta e cinco) dias; ria ou de disponibilidade, ressalvada a hipótese
V - os Diretores de Departamentos ou órgãos de de penalidade de sua sentença judicial.
nível departamental, bem como os Delegados
Regionais, nos casos de repreensão ou suspen-
Em síntese, temos:
são de até 30 (trinta) dias; e,
VI - os Diretores de Divisões, Delegados de Polí-
cia de Carreira, nos casos de repreensão ou sus- z Suspensão por mais de trinta dias;
pensão de até 15 (quinze) dias. z Destituição de cargo em comissão;
z Demissão;
Imperioso destacar que não constituem impedi- z Cassação de aposentadoria ou de disponibilidade.
mento para a aplicação de pena disciplinar as causas
excludentes de antijuridicidade prevista no Código Dica
Penal Brasileiro (art. 65).
Conforme prescreve o art. 61, da pena aplicada Nas situações de penalidades mais brandas
será dado conhecimento à Unidade de Pessoal da Polí- (repreensão e suspensão por menos de 30 dias)
cia Civil, para anotações na ficha funcional do servidor. que dispensam o PAD, poderá a autoridade ins-
Considera-se falta grave o superior hierárquico taurá-lo, se assim entenderem conveniente. Não é
que dificultar, impedir ou de alguma forma frustrar a porque a norma obriga a instauração nas hipóte-
aplicação da penalidade disciplinar (art. 64). ses mencionadas que não poderá ser instaurado o
Quando ocorre o cometimento de uma trans- PAD nas outras situações. Fique ligado na questão!
gressão, nem sempre será aplicada pena disciplinar
formalmente cominada, pois o art. 66 prevê circuns- Nesse contexto, na hipótese de transgressão de
tâncias que agravam a pena, quando não consti- servidor subordinado a uma autoridade que é com-
tuem ou qualificam outras transgressões, a saber: petente para aplicar a penalidade que dispensa a
instauração do PAD, poderá a própria autoridade rea-
Art. 66 [...] lizar uma breve sindicância, no prazo de 24 horas, e
I - reincidência; aplicar a pena, nos termos do art. 60:
II - prática de transgressão disciplinar durante a
execução de serviço policial; Art. 60 Quando a autoridade que tiver ciência
III - coação, instigação ou determinação para da falta praticada por servidor sob sua direta
que outro policial civil, subordinado ou não, pra- subordinação, sendo ela punível independente-
tique a transgressão ou dela participe; e, mente de processo disciplinar, aplicará, desde
IV - impedir ou dificultar, de qualquer maneira a logo, a pena que seja de sua alçada, apresen-
apuração da falta funcional cometida. tando, fundamentadamente de imediato, por via
hierárquica, a quem seja competente para aplicar
Como dito, são situações que fazem como que a aquela que escape aos limites de sua atribuição.
autoridade competente aplique pena mais grave do Parágrafo único. A imposição da pena será prece-
que a prevista, isoladamente, para a infração cometida. dida de breve sindicância, realizada em 24 (vin-
Além do rompimento do vínculo do servidor com te e quatro) horas, contadas do conhecimento do
a Administração nos casos de demissão e destituição fato gerador da punição.
de cargo em comissão, ocorrerá a indisponibilidade
dos bens e o ressarcimento ao erário, sem prejuízo São competentes para determinar a abertura de
de possível ação penal cabível à espécie, quando pre- PAD as autoridades competentes para aplicar a res-
sentes as seguintes transgressões (art. 56): pectiva penalidade, de acordo com o art. 68.
550
Todos os passos a serem seguidos durante a apuração de uma transgressão no âmbito PAD estão descritos nos
dispositivos a seguir, cujas partes de maior importância estão destacadas:

Art. 69 Promoverá processo disciplinar uma comissão designada pela autoridade que o houver determinado e com-
posta de três (03) servidores, indicado, entre seus membros, o respectivo presidente.
§ 1º O presidente da comissão designará um de seus membros para secretariar os trabalhos.
§ 2º Sem prejuízo do disposto neste artigo, o Secretário de Estado da Segurança Pública poderá instituir comissões
permanentes de processo disciplinar junto à Corregedoria Geral da Polícia Civil e Delegacias Regionais de Polícia.
Art. 70 Sempre que necessário, a comissão dedicará todo o seu tipo de trabalho ao processo disciplinar,
ficando seus membros, em tal caso, dispensados do serviço normal da repartição durante o curso da diligência e
elaboração dos relatórios.
Art. 71 O processo disciplinar será iniciado dentro de quarenta e oito (48) horas, contadas a partir da data do
conhecimento do ato designatório por parte da comissão, e relato no prazo de sessenta (60) dias, prorrogável,
ocorrendo força maior, por igual prazo, por ato da autoridade que houver determinado a sua instauração.
Art. 72 A comissão procederá todas as diligências necessárias, recorrendo, sempre que a natureza do fato o
exigir, a peritos ou técnicos especializados, e requisitando ao Secretário de Estado da Segurança Pública ou ao
Diretor Geral da Polícia Civil o pessoal, material e documentos necessários ao seu funcionamento.
Art. 73 Ultimada a fase de apuração e sindicância, a comissão fará citar o sindicado para, no prazo de dez (10)
dias, apresentar defesa, sendo-lhe facultada vista do processo.
§ 1º Achando-se o sindicado em lugar incerto ou verificado que se oculta para dificultar a citação, será esta rea-
lizada por edital, publicado em caráter preferencial sobre outras matérias, no órgão oficial, por três (3) vezes conse-
cutivas e com o prazo de quinze (15) dias para a defesa, contando-se este do dia imediato ao da última publicação.
§ 2º Havendo mais de um sindicado, o prazo será de vinte (20) dias, comum a todos.
Art. 74 Nas primeiras quarenta e oito (48) horas do prazo destinado à defesa, poderá o sindicado requerer a rea-
lização de quaisquer diligências, que serão deferidas se não tiverem finalidade meramente protelatória.
Parágrafo único. Neste caso, o prazo de defesa será de oito (8) dias, se apenas um sindicado, e de dezoito (18) dias, se
mais de um, e começará a correr da data da conclusão das diligências, intimidados os sindicados.
Art. 75 Não apresentando o indiciado defesa no prazo legal, será considerado revel, caso em que a comissão
nomeará um defensor para defendê-lo.
§ 1º O defensor nomeado terá o prazo de três (3) dias contados a partir da ciência de sua nomeação, para ofe-
recer a defesa.
§ 2º Será permitida a presença de defensor constituído pelo indiciado no curso da instauração do processo,
assegurado ao mesmo o direito de formular perguntas a testemunhas através do presidente da Comissão.
§ 3º São irrecorríveis as decisões adotadas, no curso da instauração pela Comissão de Processo Disciplinar.
Art. 76 Recebida a defesa, será a mesma anexada aos autos mediante termo, após o que a comissão elabo-
rará relatório com o histórico dos trabalhos realizados e apreciará, isoladamente, em relação a cada indiciado
a irregularidade de que foi acusado e as provas recolhidas no processo, propondo, então justificadamente, a isenção
de responsabilidade ou punição do indiciado, neste último caso, a penalidade que couber ou as medidas que entender
adequadas.
§ 1º Deverá ainda a comissão, em seu relatório, sugerir quaisquer outras providências que lhe pareçam
de interesse do serviço público, inclusive a apuração da responsabilidade criminal do indiciado quando for o
caso.
§ 2º Sempre que no curso do processo disciplinar for constatada a participação de outros servidores, será
apurada a responsabilidade disciplinar destes, independente de nova intervenção da autoridade que o mandou
instaurar.

NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO


Art. 77 A comissão, não permanente, após elaborar o seu relatório se dissolverá, mas os seus membros prestarão,
a qualquer tempo, à autoridade competente, os esclarecimentos que forem solicitados a respeito do processo disciplinar.
Art. 78 Recebido o processo, a autoridade que determinou a sua instauração o julgará no prazo de trinta
(30) dias, a contar do seu recebimento.
§ 1º A autoridade referida neste artigo poderá solicitar parecer de qualquer órgão ou servidor sobre o processo,
desde que o julgamento seja proferido no prazo legal.
§ 2º O julgamento deverá ser fundamentado, promovendo, ainda, a autoridade, a expedição dos atos decorren-
tes e as providências necessárias à sua execução, inclusive a aplicação de penalidade.
Art. 79 Quando escaparem à sua alçada as penalidades e providências que lhe parecem cabíveis, a autoridade
proporá, dentro do prazo marcado para o julgamento, a que for competente.
Parágrafo único. No caso deste artigo, o prazo para o julgamento final será acrescido de mais quinze (15) dias.
Art. 80 O servidor policial civil, só poderá ser exonerado ou dispensado, mesmo a pedido, após a conclusão do
processo disciplinar a que responder, desde que reconhecida a sua inocência.
Art. 81 As decisões serão sempre publicadas no órgão oficial, dentro do prazo de dez (10) dias.
Art. 82 Quando a infração disciplinar constituir ilícito penal, a autoridade competente remeterá os autos ao
Ministério Público, mediante translado.

551
Para consolidar a compreensão das etapas de processamento do PAD, segue o mapa mental a seguir:

Citação do sindicado
Abertura do PAD: Formação da Comissão
Lugar incerto/não
autoridade competente apuradora: 3 servidores Diligências necessárias
sabido: edital (3x
para aplicar penalidade (1 é o presidente)
consecutivas)

Defesa:
10 dias (citação
Nomeação de defensor
Defesa de defensor pessoal)
Relatório da comissão (não apresentação de
nomeado (3 dias) 15 dias (citação edital)
defesa no prazo legal)
20 dias (mais de 1
sindicado)

Julgamento pela
autoridade que Publicação da decisão
instaurou o processo (10 dias)
(30 dias)

Importante!
Sempre que houver risco de o servidor interferir na apuração da irregularidade durante o PAD, a autoridade
que instaurou o procedimento poderá determinar o afastamento do servidor da atividade do cargo, pelo prazo
de até 60 dias + prorrogação por igual prazo. Durante esse período, o servidor não terá prejuízo na sua remu-
neração (art. 63).

Do Recurso Administrativo

De acordo com o art. 84:

Art. 84 caberá recurso, em petição fundamentada, no prazo de cinco (5) dias, contados da data da publicação da
deliberação punitiva ou de proposta de aplicação de pena, ao Conselho Superior de Polícia Civil.

As hipóteses de cabimento de recurso são taxativas e estão descritas no art. 87, in verbis:

Art. 87 [...]:
I - erro de forma;
II - erro de individualização; e
III - omissão ou equívoco do dispositivo de lei

Por sua vez, o Presidente do CONSUPOL poderá, ao receber o recurso, dar-lhe efeito suspensivo, que consiste
na suspensão do cumprimento da sanção disciplinar (art. 85).
No âmbito do CONSUPOL, cabe à 3ª Turma sortear entre seus integrantes o Relator, não podendo dela partici-
par o Conselheiro relator dos autos que ensejou a punição ou proposta de aplicação da pena (art. 86).

Revisão do Processo Disciplinar

O art. 88 traz a previsão de revisão do PAD, hipótese de indeferimento de plano, bem assim quem tem legiti-
midade para apresentá-lo. Vejamos:

Art. 88 A qualquer tempo, pode ser requerida a revisão de processo disciplinar de que haja resultado pena
disciplinar, quando forem aduzidas circunstâncias suscetíveis de modificar o julgamento.
§ 1º Não constitui fundamento para revisão a simples alegação de injustiça da penalidade.
§ 2º Será inferido “in limine” o pedido, se não for devidamente fundamentado.
§ 3º A revisão poderá ser requerida pelo cônjuge, descendente ou ascendente do servidor policial civil, se este
houver falecido ou tiver sido declarado ausente ou incapaz.

A simples alegação de injustiça da penalidade não é fundamento suficiente para revisar o processo. Caso o
pedido esteja sem a devida fundamentação, será indeferido de pronto (“in limite”). O pedido poderá ser subscrito
pelo servidor que foi penalizado ou cônjuge, descendente ou ascendente de servidor policial, se este houver fale-
cido ou tiver sido declarado ausente ou incapaz. O pedido será dirigido ao Presidente do CONSUPOL que, por sua
vez, designará comissão para proceder a revisão pleiteada
552
Sobre a quem deve ser direcionado o pedido, assim O início da contagem do prazo da prescrição ocor-
prescreve o art. 89: rerá da seguinte forma, nos termos do art. 93:

Art. 89 O pedido será dirigido ao Presidente do z Transgressão com dia certo de consumação: Do
Conselho Superior da Polícia Civil, que, se o dia da consumação;
deferir designará comissão para proceder a revi- z Transgressão permanente ou continuada: do dia
são pleiteada, observando o disposto nesta Lei que cessou a permanência ou continuação;
Complementar.
z Transgressão sem o imediato conhecimento de
sua existência: do dia que a autoridade tomou
Sobreleva ressaltar que não poderá ser membro
conhecimento.
da comissão revisora, quem tiver participado da
comissão disciplinar vinculada ao procedimento
Atente-se ao fato de que a prescrição é interrompi-
administrativo em revisão (parágrafo único do art. 89).
da com a citação do sindicado (§ 4º do art. 92).
Por fim, apresentado o pedido de revisão, o pro-
cessamento ocorrerá na forma descrita nos dispositi-
Considerações Finais
vos legais seguintes:

Art. 90 Apensado o pedido ao processo disciplinar


z Regime Especial de Trabalho
a ser revisto, terá início, dentro de dez (dez) dias,
a produção das provas indicadas pelo requeren- Art. 96 os integrantes do Grupo Atividades de Polí-
te, em prazo não superior a trinta (trinta) dias. cia Civil terão regime especial de trabalho, em
§ 1º Concluída a instrução, será aberta vista base de vencimentos fixados e atualizados por lei,
ao requerente, pelo prazo de cinco (5) dias, para levando-se em conta a natureza específica das
alegações. funções e condições para o exercício, os riscos
§ 2º Decorrido o prazo do parágrafo anterior, a ela inerentes, a irregularidade dos horários
a comissão revisora dentro de cinco (5) dias, de trabalhos, sujeitos a plantões noturnos e
encaminhará o processo com relatório conclusi- chamados a qualquer hora.
vo ao Conselho Superior da Polícia Civil.
§ 3º O Conselho Superior de Polícia Civil delibe- z Jornada de Trabalho: os integrantes do Grupo
rará em dez (10) dias, e, se não couber a revisão, Atividades de Polícia Civil estão sujeitos a uma
encaminhá-lo-á a autoridade competente. jornada de trabalho de quarenta horas semanais.
Art. 91 Julgada procedente a revisão, tornar-se-á Vejamos:
sem efeito a penalidade imposta, com ressarci-
mento dos direitos por elas atingidos. Art. 96 [...]
§ 1º A jornada de trabalho é de quarenta (40)
Prescrição do Direito de Aplicação da Sanção horas semanais e os horários normais de tra-
Administrativa balho serão fixados em regimento interno.
§ 2º Para os serviços realizados em forma de rodí-
Para facilitar a compreensão do tema, segue um zio ou dependente de escala, os horários de tra-
quadro esquematizado dos prazos da prescrição da balho, bem como os períodos de descanso, serão
pretensão punitiva para cada uma das penalidades fixados na medida das necessidades do servi-
possíveis, nos termos do art. 92 do Estatuto da PC-RO: ço policial e da natureza das funções.

z 180 dias z Servidor Transposto para o Quadro em Extin-


ção Ex-Território de Rondônia: esses servidores
„ Repreensão. que foram beneficiados pela Emenda Constitucio-
nal nº 60, de 11 de novembro de 2009, continuarão
z 2 anos a exercer suas atividades funcionais, sem quais-

NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO


quer alterações (§ 2º do art. 97);
„ Suspensão; z Condutores de Viaturas e Agente de Portaria:
„ Destituição do cargo em comissão; assim prescreve o parágrafo único do art. 98 acer-
„ Remoção compulsória. ca da situação funcional desses servidores:

z 5 anos Art. 98 [...]


Parágrafo único. Os atuais ocupantes das catego-
„ Demissão; rias funcionais de Condutor de Viaturas ou Moto-
„ Cassação de aposentadoria e disponibilidade. ristas e Agente de Portaria, pertencentes ao quadro
de servidores do Estado e lotados até a promul-
gação da Constituição Estadual, ocorrida no
Importante! ano de 1989, que estejam exercendo suas funções
junto à Secretaria de Estado de Segurança Pública,
Já foi objeto de questionamento em prova o em atividade policial e portadores de habilita-
prazo de prescrição quando uma conduta con- ção técnica concedida pela Academia de Polícia
figura ao mesmo tempo infração administrativa Civil, serão enquadrados por transposição nos
e penal. Neste caso, o prazo para prescricional termos deste artigo, sendo seu novo cargo o de
da punição administrativa é o mesmo estipulado Agente de Polícia.
pela lei penal (§ 3º do art. 93). 553
z Atividades e Cursos ministrados pela ACADE- z Vedação a Cônjuge ou Parente até 2º grau na
POL: nos termos do art. 99: Chefia do Servidor

Art. 99 Toda a atividade vinculada à função Art.108 É vedado ao servidor policial civil, traba-
policial ou dela decorrente, inclusive os cursos lhar sob as ordens do cônjuge ou parente até o
ministrados pela Escola de Polícia Civil, serão ava- segundo grau, salvo quando não houver na locali-
liados pelo Conselho Superior da Polícia Civil. dade outra unidade policial.
§ 1º Os cursos de formação e aperfeiçoamen-
to ministrados pela Academia de Polícia Civil, são
de caráter obrigatório e complementar ao
exercício.
LEI COMPLEMENTAR Nº 68, DE 1992
Uma vez notificado do curso na ACADEPOL, o (REGIME JURÍDICO DOS SERVIDORES
servidor deve comparecer para a atividade, ficando PÚBLICOS CIVIS DO ESTADO DE
vedada a concessão de férias ou licença, a não ser por
motivo de saúde no período respectivo (art. 100).
RONDÔNIA)
A fim de que você compreenda melhor o regime
Art. 99 [...]
jurídico dos funcionários do Tribunal de Justiça do
§ 2º A autoridade policial ou chefe de unidade, que
omitir dados relativos à conduta do aluno Estado de Rondônia, é importante estabelecermos
estagiário, ou declará-los falsamente, será res- alguns conceitos iniciais. Desse modo, não o confundi-
ponsabilizada funcionalmente, sem prejuízo rá com outros institutos.
de medidas penais. Esses funcionários estão inseridos em um grupo
muito grande de pessoas que atuam dentro do Estado
Visando facilitar a frequência nos cursos, o art. 101 (qualquer que seja o Estado), denominados agentes
do estatuto estabelece que: públicos. É o que conhecemos, popularmente, como
“funcionários públicos”.
Art. 101 Durante os cursos, os servidores policiais A legislação costuma atribuir alguns conceitos
civis neles matriculados poderão ser designados próprios, mas, no momento, é imprescindível que
para unidades policiais que tornem possível a você conheça o conceito de agente público definido
sua presença às aulas, exceto nos casos de matrí- pela doutrina. Nas lições de Celso Antônio Bandeira
cula em curso intensivo, quando o servidor policial de Mello, jurista, advogado e professor universitário,
permanecerá à disposição da Academia de Polícia agentes públicos são as pessoas que exercem uma
Civil. função pública, ainda que em caráter temporário ou
sem remuneração.
z Almanaque Policial Civil: compêndio de infor- Pelo conceito do renomado jurista, podemos con-
mações contendo o tempo de serviço, elogios e cluir que o termo “agente público” compreende uma
punições de cada integrante do efetivo policial civil. expressão ampla e genérica, que serve para englobar
Será publicado pelo CONSUPOL no mês de janeiro todos aqueles que, dentro da organização da Adminis-
de cada ano (art. 103); tração Pública, exercem determinada função pública.
z Fé pública Assim, podemos dizer que agente público é um
gênero, o qual comporta diversas espécies, como os
Art. 104 Os termos e demais atos firmados agentes militares, os agentes políticos, os servidores
pelos Delegados de Polícia, Peritos Oficiais e públicos estatutários, os empregados públicos, os
Escrivães de Polícia, em razão do cargo, tem fé agentes honoríficos e temporários, entre outros.
pública; Os agentes militares constituem uma categoria
a parte dos demais agentes políticos, uma vez que
z Residência no local de lotação: Prescreve o art. as instituições militares possuem fortes bases funda-
105 que é dever das autoridades policiais, seus mentadas na hierarquia e na disciplina. São regula-
agentes e auxiliares fixarem residência no muni- mentados por legislação especial, que não é a mesma
cípio ou sede da unidade policial em que prestam dos servidores públicos civis. São agentes militares
serviço ou onde lhes tenha sido permitido, não os membros das Polícias Militares e dos Corpos de
podendo afastar-se sem prévia autorização supe- Bombeiros Militares dos Estados, Distrito Federal e
rior, salvo para atos e diligências de seus encargos. Territórios, bem como os demais militares ligados ao
Exército, Marinha e Aeronáutica. A Polícia Civil não
Dica entra nesse grupo.
Os agentes políticos são aqueles que exercem uma
Sobre o tema de residência no local onde traba- função pública de alta direção do Estado. Seu ingres-
lha, vale registrar que há decisão judicial aduzin- so é feito mediante eleições, atuando em mandatos
do ser norma inconstitucional. Todavia, para fins fixos, os quais têm o condão de extinguir a relação
de prova, como não houve revogação específica destes com o Estado de modo automático pelo simples
do dispositivo, deve ser considerada válida essa decurso do tempo. O que difere um agente político dos
regra de residência na sede da unidade policial demais servidores é a sua vinculação com o Estado,
de lotação do servidor policial civil do Estado de que não é profissional, mas institucional. São agentes
Rondônia. políticos os parlamentares, o Presidente da República,
os prefeitos, os governadores, bem como seus respec-
554 tivos vices, ministros de Estado e secretários.
O grupo de agentes públicos mais importante para tratamento impessoal, são princípios norteadores de
os seus estudos é definitivamente os servidores públi- sua atuação. Uma demissão imotivada de um empre-
cos civis. De modo geral, podemos dizer que a Consti- gado público seria, absolutamente, inadmissível nes-
tuição Federal de 1988 apresenta dois tipos de regimes sas condições.
para os agentes estatais: o regime estatutário ou de Por fim, temos os denominados trabalhadores
cargos públicos e o regime celetista ou de empregos temporários. Estão previstos no inciso IX, do art. 37
públicos. Os servidores públicos são contratados pelo da Constituição Federal. Pela nomenclatura, pode-se
regime estatutário, enquanto os empregados públicos já concluir que eles são uma forma de empregados
são contratados pelo regime celetista, que muito se e, não, servidores. Porém, apresentam um aspecto
assemelha com as regras contidas na CLT. especial: o seu vínculo é contratual, no entanto, tem-
Por isso, é importante você guardar esse conceito. porário, o que significa que essas pessoas somente são
Servidor público é o agente contratado pela Admi- contratadas para satisfazer uma necessidade momen-
nistração Pública, direta ou indireta, sob o regime tânea do Estado. Uma vez satisfeita essa necessidade,
estatutário, sendo selecionado mediante concurso o seu vínculo é desfeito automaticamente.
público para ocupar cargos públicos, possuindo vin- Por causa dessa necessidade temporária, os traba-
culação com o Estado de natureza estatutária e não lhadores temporários são os únicos agentes públicos que
contratual. A ideia do servidor público é que ele é o são contratados sem a necessidade de prévia aprovação
“profissional da Administração Pública”, sendo assim, em concurso público. Essa é a única exceção. A regra
ele deve exercer suas funções com proeza e eficiência, geral é de que os agentes públicos, para ingressarem em
evitando favorecimentos e a prática de atos com fina- cargo ou emprego de provimento efetivo, precisam ser,
lidades pessoais – dele próprio ou de terceiros. antes, aprovados em concurso público.
Talvez você já saiba essa informação, pois deve ser Os funcionários que trabalham para o TJ-RO
um dos principais motivos pelo qual está estudando são servidores públicos. O seu regime jurídico é esta-
para a aprovação. De qualquer modo, é importante tutário, não contratual e tais funcionários têm direito
frisar sobre o alcance da estabilidade. A estabilidade à estabilidade, observados alguns requisitos, os quais
é uma das principais prerrogativas dos servidores veremos adiante.
públicos e seu alcance permite que eles não sejam
desligados de suas funções, salvo pelas hipóteses pre- LEI COMPLEMENTAR Nº 68, DE 1992 – REGIME
vistas em lei, quais sejam: mediante sentença judicial JURÍDICO DOS SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS DO
transitada em julgado, processo administrativo disci- ESTADO DE RONDÔNIA
plinar ou a não aprovação em avaliação periódica de
desempenho (Art. 41, § 1º, da CF, de 1988). Agora que você já tem um panorama geral sobre as
Além da estabilidade, é, também, assegurado aos principais características dos diversos agentes públi-
servidores estatutários alguns direitos trabalhistas, cos e o que os distingue uns dos outros, daremos pros-
como se depreende da leitura do § 3º do art. 39 da seguimento ao nosso estudo, abordando a legislação
CF, de 1988. Como exemplos, temos: salário mínimo; que trata do regime jurídico dos servidores públicos
remuneração de trabalho noturno superior ao diurno; do Estado de Rondônia. A Lei Complementar nº 68, de
repouso semanal remunerado, férias remuneradas, 9 de dezembro de 1992, conhecida como o Estatuto
licença à gestante etc. Veremos sobre esses direitos, dos Funcionários Públicos Civis do Estado de Rondô-
vantagens e prerrogativas em momento posterior. nia está presente no edital e há grandes chances de ser
Diferentemente do que ocorre na contratação dos cobrada em prova.
servidores, os empregados públicos são contratados
mediante regime celetista, isso é, com aplicação das Art. 1º Esta Lei Complementar institui o Regime
regras previstas na Consolidação das Leis do Traba- Jurídico dos Servidores Públicos Civis do Estado de
lho (CLT). Trata-se de uma vinculação contratual e Rondônia, das Autarquias e das Fundações Públi-
não estatutária. A contratação desse grupo de fun- cas Estaduais.
cionários se dá, em regra, pelas pessoas jurídicas de
direito privado integrantes da Administração Indireta Os dispositivos desse Estatuto, trazidos neste mate-
(empresas públicas, sociedades de economia mista, rial, dizem respeito aos seguintes assuntos: os cargos
consórcios etc.). Além disso, o ingresso de tais pes- públicos e as respectivas formas de provimento e NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
soas também depende da sua aprovação em concurso vacância; os direitos e garantias gerais; o regime dis-
público. ciplinar, envolvendo uma enorme gama de deveres,
O regime dos empregados públicos é menos prote- vedações, a tríplice responsabilidade e o direito de
tivo do que o regime estatutário. Isso se deve ao fato petição, a ser exercido mediante processo adminis-
de que os empregados públicos não gozam da estabi- trativo disciplinar, conferido a todos os servidores
lidade que os servidores possuem. Ao serem empossa- estaduais.
dos, os empregados apenas passam por um período de Essas matérias se encontram em várias legislações
experiência de 90 dias, mas não têm direito à estabi- distintas em diferentes âmbitos da Federação. Por
lidade e, mesmo após esse período de experiência, os isso, faremos menção tanto à Constituição Federal, de
empregados públicos podem ser dispensados. 1988, como à Lei Federal nº 8.112, de 1990 (Regime dos
A diferença dos empregados públicos para com Servidores Públicos Civis da União) quando for abso-
os demais empregados da esfera privada, além da lutamente necessário.
presença do exame de concurso público, consiste no Dada a multiplicidade de leis, em âmbitos diferen-
fato de que a sua demissão nunca será feita da noi- tes da Federação, é comum que o candidato questione
te pro dia. A demissão será sempre motivada, após qual lei ele deve utilizar para responder às questões de
regular processo administrativo, respeitado o direito provas. Primeiramente, é importante ressaltar que lei
ao contraditório e à ampla defesa. Para a Administra- federal não se sobrepõe à lei estadual e vice-versa. O
ção Pública, a motivação de seus atos, bem como o Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Estado de 555
Rondônia é aplicável, sim, ao regime jurídico dos poli- Neste sentido, a fim de ocupar um cargo público,
ciais civis do mesmo Estado, desde que não apresente não é necessário que o candidato resida ou tenha
conteúdo incompatível com o seu regime jurídico. nascido no determinado Estado para qual a vaga foi
disponibilizada.

Importante! Art. 5º Os cargos públicos, acessíveis a todos os


brasileiros, são criados por lei, com denomina-
Durante a prova, o candidato deve se ater ao con- ção própria e vencimento pago pelos cofres públi-
teúdo exposto no enunciado. A grande maioria das cos, para provimento em caráter efetivo ou em
questões de prova delineia a legislação que deve ser comissão.
utilizada para respondê-la. Procure por expressões, § 1º Os cargos públicos de provimento efetivo serão
como “nos termos da Constituição Federal”, “segun- organizados em grupos ocupacionais.
§ 2º VETADO.
do a Lei nº 8.112, de 1990” e “com base no Estatuto
dos Servidores estaduais [...]”, entre outros.
Já o art. 6º, trata da vedação de atribuição de fun-
ção diversa ao servidor público, ou seja, o servidor só
DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES estará obrigado a realizar as atividades inerentes ao
seu cargo. A segunda parte do artigo ainda traz uma
Preliminarmente, o art. 2º nos esclarece a quem se exceção esta regra. Vejamos:
aplica o regime jurídico disposto nesse Estatuto.
Art. 6º É vedado atribuir ao servidor público
outros serviços, além dos inerentes ao cargo de
Art. 2º As disposições desta Lei Complementar
que seja o titular, salvo quando designado para o
são aplicáveis, no que couber, aos servidores da
exercício de cargo em comissão, função grati-
Assembleia Legislativa, do Tribunal de Justiça,
ficada ou para integrar comissões ou grupos
do Tribunal de Contas e do Ministério Público
de trabalhos.
do Estado de Rondônia. Art. 7º É proibida a prestação de serviços gratui-
tos, salvo nos casos previstos em lei.
Pela leitura do dispositivo, identificamos que o
regime jurídico dos servidores públicos se aplica aos DOS CARGOS PÚBLICOS: PROVIMENTO,
integrantes dos Tribunais de Justiça do Estado de Ron- MOVIMENTAÇÃO E VACÂNCIA
dônia. Portanto, se você pretende prestar concurso, a
fim de ocupar uma vaga no TJ-RO, deverá conhecer Prover, neste contexto, significa criar. Logo, a
muito bem os dispositivos dessa legislação para obter Administração do Estado de Rondônia é competente
a sua aprovação. para preencher os próprios cargos públicos.
Faremos maiores menções aos servidores de dentro
da Administração Pública apenas para fins didáticos. Da Investidura no Cargo: Concurso Público, Posse,
O regime dessa Lei, no entanto, aplica-se, também, aos Exercício e Estágio Probatório
servidores da Assembleia Legislativa (Poder Legislati-
vo), bem como ao Ministério Público do Estado de Ron- É de extrema importância que o candidato saiba
dônia. É importante saber que, apesar desse conteúdo como se dá a investidura no cargo público. Vale frisar
dar bastante enfoque na Administração Pública, que que investidura é diferente de provimento. A inves-
faz parte do Poder Executivo, o regime estatutário não tidura é a sequência de etapas que o candidato deve
se limita apenas a essa Função do Estado. Existem ser- passar para, finalmente, ocupar o desejado cargo
vidores públicos nos Três Poderes, bem como naqueles público. Aqui, o cargo já está criado (ou provido), resta
órgãos que não fazem parte dos Três Poderes, porém, que alguém o ocupe.
ainda assim, exercem uma função essencial à Justiça, Investidura é o ato que o candidato faz para ocu-
como no caso dos Ministérios Públicos. par o cargo público (é a assunção, ligação do servidor
Em seguida, os arts. 3º e 4º apresentam algumas com o cargo). A investidura se dá com a posse.
definições iniciais importantes ao nosso estudo: Provimento é o ato administrativo de preenchi-
mento de cargo público feito pela autoridade com-
Art. 3º Para os efeitos desta Lei Complementar, petente de cada setor. Pode se dar de várias formas,
servidor público é a pessoa legalmente investida como a nomeação, a promoção, a reintegração etc.
em cargo público. Para tanto, o art. 8º nos apresenta os requisitos
Art. 4º Cargo Público é o conjunto de atribuições e essenciais para a investidura em cargo público esta-
responsabilidades de natureza permanente cometi- dual. São requisitos que o candidato deve possuir, ao
da ou comestíveis a servidor público, com denomi- menos, até a data da prova. Esses requisitos muito se
nação própria, quantidade 2 certa, prevista em lei e assemelham com os requisitos que aparecem na legis-
pagamento pelos cofres públicos, de provimento em lação federal (Art. 5º, Lei nº 8.112, de 1990) e, por isso, a
caráter efetivo ou em comissão. sua memorização deve ser mais fácil. São os seguintes:

A noção de servidor público, como podemos ver, Art. 8º São requisitos básicos para investidura em
está intrinsecamente ligada à noção de cargo público. cargo público:
I – a nacionalidade brasileira;
De início, é importante saber que os cargos públicos
II – o gozo dos direitos políticos;
do Estado de Rondônia são acessíveis a todos os bra- III – a quitação com as obrigações militares e
sileiros, observadas as condições prescritas em lei e eleitorais;
regulamento, sendo criados por lei, com denominação IV – o nível de escolaridade exigido para o exercício
própria e vencimento pago pelos cofres públicos (Art. do cargo;
556 5º). V – a idade mínima de dezoito anos;
VI – aptidão física e mental, comprovada em inspe- I – inexistência de concurso público válido com can-
ção médica; didatos aprovados para os cargos em que se preten-
VII – habilitação em concurso público, salvo quando se de aproveitar;
tratar de cargos para os quais a lei assim não o exija. II – igual denominação, descrição, atribuições,
§ 1º Para o provimento de cargo de natureza técni- competências, direitos e deveres do cargo;
ca exigir-se-á a respectiva habilitação profissional. III – iguais requisitos de habilitação acadêmica e
§ 2º As pessoas portadoras de deficiência física é profissional;
assegurado o direito de se inscrever em concurso IV – lotação na mesma localidade de opção do
público para provimento de cargos, cujas atribuições edital;
sejam compatíveis com sua deficiência e o disposto
V – observância à ordem de classificação;
no Art. 7º, inciso XXXI, da Constituição Federal.
VI – situação excepcional do órgão requisitante;
VII – autorização do órgão que elaborou o concurso;
Um requisito que costuma ser exigido, embora não
VIII – remuneração e estrutura de carreiras análo-
esteja previsto nesse rol do art. 8º, diz respeito à decla-
gas; e
ração dos bens e valores que constituem o seu patri- IX – opção expressa do candidato
mônio, nos termos da regulamentação própria. Essa § 4º Realizado o aproveitamento do candidato na
declaração de patrimônio do candidato é importante, condição do § 3º, não poderá ocorrer o retorno ou
caso haja uma eventual condenação do mesmo por ingresso no cargo ao qual concorreu no concurso
ato de improbidade administrativa que possa causar público
enriquecimento ilícito, ou que cause danos ao erário.
O concurso público, segundo o art. 13, será de
O concurso público terá validade de 2 (dois) anos,
provas ou de provas e títulos, podendo ser realizado
sendo prorrogável, uma única vez, por mais dois
em duas etapas. Esse processo tem, por escopo, justa-
anos. O fato de o concurso público possuir um prazo
mente, classificar os candidatos de modo que a Admi-
nistração possa escolher, dentre um grande número de validade é muito importante, principalmente para
de interessados, aqueles que estão mais aptos a ocu- os candidatos que foram aprovados, mas que ainda
par o referido cargo público. não foram nomeados. É uma situação bastante desa-
gradável, pois, mesmo concluindo todas as etapas, o
Art. 13 O concurso será de provas ou de provas e candidato deve permanecer na espera de que o Poder
títulos, podendo ser realizado em duas etapas con- Público venha, eventualmente, nomeá-lo para o tão
forme dispuseram a lei e o regulamento do respecti- sonhado cargo público.
vo Plano de Carreira. Como forma de evitar essas situações, o texto
Art. 13-A Os exames médicos ou laboratoriais exi- do § 2º do art. 14 destaca que: Não pode ser aberto
gidos em concurso públicos deverão ser prestados novo concurso enquanto houver candidato aprova-
pela rede de serviço público de saúde. (Incluído pela do em concurso anterior com prazo de validade não
LC nº 518, de 23.7.2009)
expirado.
Parágrafo único. Os exames de que trata o caput do
A jurisprudência vem tratando com bastante fre-
presente artigo, deverão ser entregues ao interessa-
do em tempo hábil para a investidura ou posse nos
quência sobre essa matéria. Em 2011, o STF, durante o
termos do edital do respectivo concurso público. julgamento do recurso extraordinário RE nº 598.099,
(Incluído pela LC nº 518, de 23.7.2009) que teve, como vencedor, o voto do relator, o Minis-
tro Gilmar Mendes, decidiu que “a aprovação em con-
A Administração trabalha com a noção de excelên- curso público dentro do número de vagas previstas no
cia na prestação de serviços públicos, portanto não é edital gera direito público subjetivo à nomeação”.
qualquer pessoa que serve para trabalhar para ela, Na prática, isso significa que, se você prestou um
sendo necessário escolher o “melhor dos melhores” concurso público com um número de 100 vagas dis-
candidatos. Por isso, o concurso público possui etapas poníveis e foi aprovado na classificação geral em 100º
eliminatórias (que retiram os candidatos que não pas- lugar, você tem direito a ser nomeado para essa vaga.
sam em um exame) e etapas classificatórias (que sepa- A Administração pode até demorar certo período para

NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO


ram os candidatos aprovados, baseando-se nas notas realizar a sua nomeação, mas a conquista desse direi-
que cada um obteve nas provas). to faz com que você não seja preterido por outra pes-
Vejamos o texto do art. 14, que trata do prazo de soa. Não pode, por exemplo, o Poder Público realizar
validade do concurso público: novo concurso público e aprovar “novos candidatos”
e, também, essa 100ª vaga não pode ser ocupada com
Art. 14 O concurso público tem validade de até 02 um trabalhador temporário.
(dois) anos podendo ser prorrogado uma única vez, Vale ressaltar que, quando o candidato, que foi
por igual período. aprovado e convocado para nomeação, manifestar
§ 1º As condições de realização do concurso serão
desistência do pleito, é possível nomear outro para
fixadas em edital, publicado no Diário Oficial do
ocupar seu lugar. De acordo com o STJ, durante um
Estado e divulgado pelos veículos de comunicação.
§ 2º Não se abrirá novo concurso enquanto hou- julgamento da AgRg no ROMs nº 48.266/TO, o então
ver candidato aprovado em concurso anterior com relator Ministro Benedito Gonçalves decidiu que
prazo de validade não expirado.
§ 3º O edital poderá prever o aproveitamento dos O candidato aprovado fora do número de vagas
aprovados em concurso público para provimento previstas no edital de concurso público tem direi-
em órgão diverso do Poder Executivo do Estado de to subjetivo à nomeação quando o candidato
Rondônia, para atender ao interesse público, des- imediatamente anterior na ordem de classifi-
de que atendidos, cumulativamente, os seguintes cação, aprovado dentro do número de vagas,
requisitos: for convocado e manifestar desistência. 557
A desistência pode ser decretada por diversos moti- Ministério Público às autoridades que lhes sejam
vos, como, por exemplo, se o candidato foi, também, diretamente subordinadas;
aprovado em concurso para ocupar outro cargo vago. II – Os Secretário de Estado, aos dirigentes das enti-
O § 3º do art. 14 menciona, ainda, uma forma do dades, cargos comissionados, funções de confiança
próprio edital do concurso público de prever o apro- vinculadas às respectivas pastas;
veitamento dos candidatos remanescentes. Tudo isso III – O Secretário de Estado da Administração aos
demais funcionários do Poder Executivo, exceto ao
possui a finalidade de evitar que o Poder Público use
servidor pertencente ao Grupo de Polícia Civil, cuja
de uma artimanha denominada “cadastro de reser-
posse será dada pelo Diretor Geral da Polícia Civil.
va”, que é basicamente uma “lista de espera” de can-
didatos aprovados em concurso público, mas fora do
O art. 19 apresenta em seus incisos as pessoas que
número de vagas abertas. Uma prática muito comum
são competentes para dar posse ao servidor público.
era a de que um órgão público abria concurso público,
No caso dos servidores públicos do TJ-RO, a autorida-
mas não para ocupar uma vaga efetivamente e, sim,
de competente para dar a posse é o Governador do
para entrar nesse cadastro de reserva.
Estado, conforme se depreende da leitura do inciso I.
Neste sentido, uma vez aprovado nas etapas do
Já empossado, o servidor público deve entrar em
concurso, deve o candidato assinar termo de posse.
efetivo exercício. Entrar em efetivo exercício signifi-
ca, basicamente, que o servidor público deve “sentar
Art. 10 A investidura em cargo público ocorre
na cadeira” e começar a exercer as atribuições de seu
com a posse. [...]
cargo. É o art. 20 que trata desse assunto. Vejamos:
Art. 17 A posse dar-se-á pela assinatura do res-
pectivo termo, no qual o servidor se comprometerá
Art. 20 O exercício é o efetivo desempenho das atri-
a cumprir fielmente os deveres do cargo.
buições do cargo.
§ 1º A posse ocorrerá no prazo de 30 (trinta) dias
§ 1º É de 30 (trinta) dias o prazo para o servidor
contados da publicação do ato de nomeação, entrar em exercício, contados da data da pos-
prorrogável por mais de 30 (trinta) dias, a se ou do ato que lhe determinar o provimento
requerimento do interessado. § 2º Será exonerado o servidor empossado que não
§ 2º Em se tratando de servidor em licença ou afas- entrar em exercício no prazo previsto no parágrafo
tamento por qualquer outro motivo legal, o prazo anterior.
será contado do término do impedimento. § 3º Cabe à autoridade competente do órgão ou
§ 3º A posse poderá dar-se mediante procuração entidade para onde for designado o servidor, dar-
específica. -lhe exercício.
§ 4º Só haverá posse nos casos de provimento de
cargo por nomeação. Pela leitura do § 1º do art. 20, vemos que o servidor
§ 5º No ato da posse, o servidor apresentará decla- possui um prazo de 30 dias para entrar em exercí-
ração de bens que constituam seu patrimônio, na cio, uma vez assinado o termo de posse. E, caso ele
forma da Constituição do Estado, prova de quita- não entre em exercício no prazo demarcado, será exo-
ção com a Fazenda Pública e Certidão Negativa do nerado, havendo a investidura de outro candidato em
Tribunal de Contas e declarará o exercício ou não seu lugar.
de outro cargo, emprego ou função pública. Outro tema de grande relevância é o estágio pro-
§ 6º Será tornado sem efeito o ato de provimento batório que, por sua vez, tem previsão no art. 28.
se a posse não ocorrer nos prazos previstos no § 1º
deste artigo e § 1º do artigo 20. Art. 28 O Servidor nomeado para o cargo de provi-
mento efetivo fica sujeito a um período de estágio
Posse é o ato pelo qual a pessoa é investida em car- probatório de 02 (dois) anos, com o objetivo de ava-
go público, aceitando, expressamente, as atribuições, liar seu desempenho visando a sua confirmação ou
deveres e responsabilidades, assumindo o compro- não no cargo para o qual foi nomeado.
misso de bem servir, formalizado com a assinatura do § 1º São requisitos básicos a serem apurados no
termo pela autoridade competente e pelo empossado. estágio probatório:
É a posse o ato que completa e formaliza a investidura I – assiduidade;
do cargo público. II – pontualidade;
O prazo para a posse ocorrer é de 30 dias contados III – disciplina;
da publicação do ato de nomeação e prorrogável por IV – capacidade de iniciativa;
mais 30 dias, a requerimento do interessado. V – produtividade;
VI – responsabilidade.
A posse deve ser feita, de preferência, via assina-
§ 2º A verificação dos requisitos mencionados nes-
tura direta, pessoalmente, pelo candidato, embora o
te artigo será efetuada por comissão permanente,
§ 3º do art. 17 preveja que a posse pode se dar, tam- onde houver, ou por uma comissão composta no
bém, por procuração específica, quando se tratar de mínimo de 03 (três) membros, que será designada
funcionário ausente do País ou do Estado, ou, ainda, pelo titular do Órgão onde o servidor nomeado vier
em casos especiais, a juízo da autoridade competente. a ter exercício e far-se-á mediante apuração semes-
tral em Ficha Individual de Acompanhamento de
Art. 18 A posse em cargo público dependerá de pré- Desempenho.
via inspeção médica oficial. § 3º Nas comissões de que trata o parágrafo ante-
Parágrafo único. Só poderá ser empossado o candi- rior participará, obrigatoriamente, o chefe ime-
dato que for julgado apto física e mentalmente para diato do servidor, quando da avaliação do estágio
o exercício do cargo. probatório.
Art. 19 São competentes para dar posse: § 4º O servidor não aprovado no estágio probatório
I – O Governador do Estado, os Presidentes da será exonerado ou, se estável, reconduzido ao car-
Assembleia Legislativa, do Tribunal de Justiça, go anteriormente ocupado, observado o disposto
558 do Tribunal de Contas e Procurador Geral do no artigo
§ 5º O servidor em estágio probatório poderá ser IV – reintegração;
cedido para ocupar cargo em comissão, podendo V – aproveitamento;
ficar suspensa sua avaliação pelo tempo de cedên- VI – reintegração;
cia, a critério do órgão cedente. VII – recondução;
VIII – VETADO;
Dispõe o referido artigo que o servidor nomeado IX – VETADO;
para cargo de provimento efetivo ficará sujeito a está-
gio probatório, que é o período de 2 (dois) anos duran- Nomeação
te o qual é observado o atendimento dos requisitos
necessários à confirmação do servidor nomeado em A nomeação é uma das formas de provimento
virtude de concurso público. mais importantes. Trata-se da única forma de provi-
Esses requisitos, que serão utilizados na avalia- mento originária. Vejamos:
ção do servidor, estão previstos no § 1º do art. 28,
sendo eles: a assiduidade, a pontualidade; a discipli- Art. 15 A nomeação é a forma originária de provi-
na, a capacidade de iniciativa, a produtividade e a mento dos cargos públicos.
responsabilidade. Parágrafo único. A nomeação para o cargo de
O estágio probatório inicia-se com o efetivo exercí- carreira ou cargo isolado de provimento efetivo
cio do servidor no cargo. Assim que ele ocupa o cargo depende de prévia habilitação em concurso públi-
e começa a exercer as suas atribuições decorrentes co, obedecidos a ordem de classificação e o prazo
do cargo, será computado o período de estágio pro- de sua validade.
batório. No entanto, esse não é o único “empecilho”
no meio do caminho do servidor para a aquisição de A nomeação poderá ocorrer de três formas: em
estabilidade. caráter efetivo, para os cargos estruturados em carrei-
Como condição para aquisição da estabilidade, é ra; em caráter temporário, para os cargos em comis-
obrigatória, também, a aprovação em avaliação espe- são, de livre provimento e exoneração; e também em
cial de desempenho por comissão instituída para essa caráter temporário, para substituição de cargos em
finalidade. Apesar de não estar prevista na legislação comissão, havendo uma situação de extrema necessi-
estadual, a avaliação de desempenho está prevista no dade e urgência para tanto (Art. 16, I, II e III).
§ 4º do art. 41 da CF, de 1988. É uma exigência aplicá-
vel aos servidores públicos, seja no âmbito estadual, Art. 16 A nomeação será feita:
municipal ou federal. I – em caráter efetivo, para os cargos de carreira;
II – em caráter temporário, para os cargos em
Art. 41 (CF, de 1988) [...] comissão, de livre provimento e exoneração;
§ 4º Como condição para a aquisição da estabilida- III – em caráter temporário, para substituição de
de, é obrigatória a avaliação especial de desempe- cargos em comissão.
nho por comissão instituída para essa finalidade.
Trataremos, primeiro, dos cargos em comissão, os
O que difere a avaliação de desempenho do estágio quais estão inseridos no grupo das “funções de con-
probatório é a sua frequência: o estágio probatório fiança”. Seu aspecto mais característico é o fato de
é um período que ocorre apenas uma vez, enquan- que para o ingresso, não é necessária a aprovação em
to que a avaliação periódica de desempenho ocorre concurso público. Isso porque os cargos em comissão
inúmeras vezes, de forma periódica como o próprio são diferentes, uma vez que são providos por livre
nome indica. nomeação da autoridade competente.
O servidor que não for aprovado em estágio proba- A autoridade tem uma grande margem de liber-
tório ou, de igual modo, na avaliação de desempenho, dade na escolha do servidor ocupante desse cargo,
será exonerado de seu cargo. Sendo estável e, portan- podendo utilizar de critérios mais subjetivos, basea-
to, não podendo ser exonerado, ele será reconduzido dos no voto de confiança que a autoridade tem pelo
ao cargo anteriormente ocupado. candidato. Justamente pelo fato de o cargo em comis-
são ser, geralmente, criado para as funções de dire-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Das Formas de Provimento em Cargos Públicos ção, chefia e assessoramento, não há a necessidade de
abrir concurso público para preencher esses cargos.
As formas de provimento de cargos públicos Apesar de não termos essa noção pela leitura do
podem ser classificadas em provimento originário e Estatuto, na prática, essa liberdade de escolha do
provimento derivado. servidor ocupante do cargo em comissão, como, por
A forma de provimento originário decorre do exemplo, para um cargo de chefia de uma repartição
preenchimento de cargo quando o servidor não pos- pública funciona da seguinte maneira: pode a auto-
suía vínculo anterior com a administração pública. Já ridade competente escolher um servidor integrante
a forma de provimento derivado, o servidor já possuía da própria repartição para ocupar o cargo; requisitar
um vínculo anterior. um servidor ocupante de um cargo da Administração
Atenção: a única forma de provimento originário é Indireta (uma autarquia) para ocupar o referido car-
a nomeação, que estudaremos em seguida. go ou, ainda, escolher um particular, fora dos quadros
As formas de provimento estão previstas nos inci- públicos, para ocupar o cargo, ressalvado apenas o
sos do art. 11, vejamos: percentual mínimo reservado para os servidores de
carreira.
Art. 11 São formas de provimento de cargo público: Atente-se ao fato de que, mesmo que a autoridade
I – nomeação; possa nomear um particular para ocupar um cargo
II – promoção; em comissão, a jurisprudência restringe bastante essa
III – readaptação; liberdade de escolha. 559
A Súmula Vinculante nº 13, do STF, veda o que é Promoção
conhecido por “nepotismo no funcionalismo públi-
co”, ao dispor que: A promoção é a única forma de ascensão que per-
siste com a alteração da legislação federal. O Estatuto
Súmula Vinculante 13, do STF: A nomeação de não dedica nenhum dispositivo para tratar da promo-
cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, ção, mas podemos defini-la como a elevação do fun-
colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, cionário à classe imediatamente superior àquela em
inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor que se encontra, dentro da mesma série de classes na
da mesma pessoa jurídica investido em cargo de categoria funcional a que pertence.
direção, chefia ou assessoramento, para o exercí-
cio de cargo em comissão ou de confiança ou, ain- Readaptação
da, de função gratificada na administração pública
direta e indireta em qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
A readaptação está prevista no art. 31. É a inves-
compreendido o ajuste mediante designações recí- tidura do servidor em cargo de atribuições e respon-
procas, viola a Constituição Federal. sabilidades compatíveis com a limitação que tenha
sofrido em suas capacidades física ou mental, verifi-
Tal nomeação violaria princípios constitucionais cada em inspeção médica.
da impessoalidade e do tratamento isonômico dos
particulares. Assim, a autoridade pública pode, por Art. 31 Readaptação é a investidura do servidor
exemplo, escolher um amigo íntimo para ocupar o em cargo de atribuições e responsabilidades com-
referido cargo, mas não pode escolher o seu irmão, patíveis com a limitação que tenha sofrido em
seu tio ou seu primo. sua capacidade física ou mental verificada em
O provimento de cargos efetivos segue todas as inspeção médica.
etapas mencionadas anteriormente. Ao contrário da § 1º Se julgado incapaz para o serviço público, o
readaptado será aposentado.
nomeação em cargos de comissão, o candidato inte-
§ 2º A readaptação será efetivada em cargo de atri-
ressado deve buscar a prévia aprovação em con-
buições afins, respeitada a habilitação exigida.
curso público de provas ou de provas e títulos, de
acordo com a natureza e a complexidade do cargo.
O tema referente ao plano de carreiras dos cargos Supomos, por exemplo, que um motorista de
do Poder Judiciário do Estado de Rondônia será visto, ônibus sofra um acidente e acabe perdendo algum
em maiores detalhes, quando analisarmos a legisla- membro essencial para dirigir. O motorista poderá
ção específica que melhor regulamenta esse assunto. ser readaptado, para executar uma função similar,
Por ora, o que você deve compreender é que os cargos mas não idêntica à anterior. Na hipótese do servidor
de provimento efetivo são estruturados em carreira readaptado se mostrar completamente inválido para
e a aprovação em concurso público faz com que o exercer qualquer cargo, ele será compulsoriamente
servidor comece a sua carreira no funcionalismo no aposentado.
cargo de nível e grau mais baixo, podendo progredir
na mesma com base em critérios de antiguidade e na Reversão
obtenção de méritos.
A reversão é outra forma de provimento derivado,
Dica com a qual se dá o retorno à atividade de um servidor
quando tornarem insubsistentes os motivos deter-
A nomeação é a única forma de provimento ori- minantes de sua aposentadoria por invalidez, verifi-
ginário de cargos públicos, pois é a forma de cados em inspeção médica oficial, ou por solicitação
provimento em que não se pressupõe uma rela- voluntária do aposentado, a critério da administração.
ção preexistente entre o servidor e a Administra-
ção. Todas as outras formas de provimento são Art. 32 Reversão é o reingresso de servidor aposen-
derivadas. tado no serviço público, quando insubsistentes os
motivos determinantes de sua aposentadoria
As formas de ascensão funcional eram três: a pro- por invalidez, verificados em inspeção médica ofi-
moção, o acesso e a transferência. Ocorre que a legis- cial ou por solicitação voluntária do aposentado, a
lação federal acabou alterando o regime jurídico dos critério da administração.
servidores públicos no âmbito federal e o referido § 1º A reversão dar-se-á no mesmo cargo, no cargo
Estatuto (Lei nº 8.112, de 1990), os quais não preveem, resultante de sua transformação, ou em outro de
mais, as hipóteses de acesso e transferência, por igual vencimento.
§ 2º Encontrando-se provido o cargo, o servidor
serem consideradas inconstitucionais. Entendemos
exercerá suas atribuições como excedente, até a
que as hipóteses de acesso e transferência também
ocorrência de vaga.
não são aplicadas ao regime dos servidores estaduais.
A vedação ao acesso e à transferência está de acor-
do com o texto do enunciado da Súmula Vinculante nº O servidor que retornar à atividade por interesse
43, do STF, ao dispor que: da Administração perceberá a remuneração do cargo
que voltar a exercer, em substituição da aposentado-
Súmula Vinculante nº 43, do STF: É inconstitu- ria que recebia.
cional toda modalidade de provimento que propicie
ao servidor investir-se, sem prévia aprovação em Art. 33 Não poderá reverter o aposentado que já
concurso público destinado ao seu provimento, em tiver completado 70 (setenta) anos de idade.
cargo que não integra a carreira na qual anterior-
560 mente investido.
Reintegração Art. 38 Havendo mais de um concorrente à mesma
vaga, tem preferência o de maior tempo de disponi-
Reintegração é o reingresso do servidor na admi- bilidade e, no caso de empate, o de maior tempo de
nistração pública em decorrência de decisão adminis- serviço público.
trativa definitiva ou sentença judicial transitada em
julgado, com ressarcimento de prejuízos resultantes Ocorrendo a extinção ou declaração da desneces-
do afastamento. sidade do cargo, o servidor efetivo estável ficará em
disponibilidade, com remuneração proporcional ao
Art. 34 Reintegração é a reinvestidura do servi- tempo de serviço, até o seu adequado e obrigatório
dor estável no cargo anteriormente ocupado aproveitamento em outro cargo. Não será aberto con-
ou no resultante de sua transformação, quan- curso para o preenchimento de cargo público enquan-
do invalidada a sua demissão por decisão adminis- to houver em disponibilidade servidor originário do
trativa ou judicial, com ressarcimento de todas as
cargo a ser provido.
vantagens.
Aproveitamento, por outro lado, é o retorno ao
§ 1º A decisão administrativa que determinar a rein-
tegração é sempre proferida em pedido de reconsi-
exercício do cargo do funcionário em disponibilidade.
deração, em recurso ou em revisão de processo. É importante o texto do art. 38, pois destaca como a
§ 2º Encontrando-se provido o cargo, seu eventual disponibilidade está ligada ao aproveitamento.
ocupante, é reconduzido a seu cargo de origem, sem
direito a indenização, aproveitado em outro cargo Art. 39 Fica sem efeito o aproveitamento e cessada
ou posto em disponibilidade remunerada. a disponibilidade, se o servidor não entrar em exer-
§ 3º Na hipótese do cargo ter sido extinto, o servi- cício no prazo legal, salvo doença comprovada pelo
dor ficará em disponibilidade observado o disposto órgão médico oficial.
nos artigos 37 e 38.
Das Formas de Vacância nos Cargos Públicos
É o caso, por exemplo, do servidor que teve sua
conduta apurada por processo disciplinar, por ter Se a Administração Pública tem competência para
cometido a falta de desídia no serviço (xingou um criar cargos públicos, deve, também, ter competência
colega ou um civil que não é membro do Estado). para extingui-los. Sobre o tema, o art. 40 aponta as
Após a apuração de sua conduta e decretada a pena hipóteses de vacância dos cargos públicos. Vejamos:
de demissão, o servidor pode pedir revisão do proces-
so para alegar um fato novo, alegando, por exemplo, Art. 40 A vacância do cargo público decorrerá de:
que não foi ele quem praticou a conduta transgresso- I – exoneração;
ra, mas um colega que estava do seu lado. Com isso, II – demissão;
ele, finalmente, consegue provar sua inocência, sendo III – promoção;
que a decisão administrativa acaba por ser anulada IV – readaptação;
V – posse em outro cargo inacumulável;
devido a esse fato novo e o servidor pode voltar a ocu-
VI – falecimento;
par seu cargo. VII – aposentadoria;
Encontrando-se provido esse cargo, seu eventual VIII – VETADO.
ocupante é reconduzido a seu cargo de origem, sem
direito à indenização, aproveitado em outro cargo ou A exoneração em cargo efetivo está prevista no art.
posto em disponibilidade remunerada. 41, enquanto que a exoneração para cargos em comis-
são está prevista no art. 42.
Recondução
Art. 41 A exoneração de cargo efetivo dar-se-á
A recondução, por sua vez, está prevista no art. 35 pedido do servidor ou de ofício.
e é a forma de provimento do servidor público está- Parágrafo único. A exoneração de ofício dar-se-á:
vel, que não pode ser exonerado (mandado embora). I – quando não satisfeitas as condições do estágio
probatório e não couber a recondução;
II – quando o servidor não tomar posse ou deixar
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Art. 35 Recondução é o retorno do servidor está-
vel ao cargo por ele anteriormente ocupado. de entrar em exercício nos prazos legais.
§ 1º A recondução decorre de: Art. 42 A exoneração do cargo em comissão
I – inabilitação em estágio probatório relativo a dar-se-á:
I – a juízo da autoridade competente;
outro cargo;
II – a pedido do próprio servidor.
II – reintegração do anterior ocupante.
§ 2º Encontrando-se provido o cargo de origem, o servi-
dor será aproveitado em outro, de igual remuneração.
A exoneração para cargo de provimento efetivo
será feita a pedido do servidor ou de ofício. Quando
for de ofício, a exoneração será concedida quando
Disponibilidade e Aproveitamento não satisfeitas as condições do estágio probatório e
não couber a recondução ou, ainda, quando o servi-
Aproveitamento e disponibilidade são duas for- dor não tomar posse ou deixar de entrar em exercício
mas de provimento que possuam uma relação bastan- nos prazos legais.
te intrínseca. Observemos o texto dos arts. 37 e 38: A exoneração também pode ocorrer para cargos
em comissão, podendo ser a pedido do servidor ou a
Art. 37 Extinto o cargo ou declarada sua desne- juízo da autoridade competente.
cessidade, seu titular, desde que estável, fica em
disponibilidade remunerada até seu adequado apro- Art. 43 A demissão de cargo efetivo será aplicada
veitamento em outro cargo de atribuições e venci- como penalidade, observado o disposto nesta Lei
mentos compatíveis com o anteriormente ocupado. Complementar. 561
As hipóteses referentes à demissão serão melhor assegurado o aproveitamento do outro em serviço
analisadas quando tratarmos do regime disciplinar. estadual na mesma localidade;
Por ora, é importante saber que a demissão se difere b) para acompanhar o cônjuge que fixe residência
da exoneração pelo fato de que ela é considerada uma em outra localidade, em virtude de deslocamento
sanção, uma punição. A exoneração, ao contrário, é compulsório, devidamente comprovado;
apenas uma forma de desligamento do servidor de seu c) por motivo de tratamento de saúde do próprio
cargo e pode ser requerida por ele próprio (não existe servidor, do cônjuge ou dependente, desde que
hipótese de o servidor pedir demissão para si mesmo). fiquem comprovadas, em caráter definitivo pelo
As hipóteses referentes à aposentadoria serão vis- órgão médico oficial, as razões apresentadas pelo
tas em momento posterior, quando tratarmos do Regi- servidor, independente de vaga.
me Previdenciário dos Servidores Públicos. III – no interesse do serviço público, para ajusta-
mento de quadro de pessoal às necessidades dos
serviços, inclusive nos casos de reorganização,
Da Movimentação
extinção ou criação de órgão ou entidade, confor-
me dispuser o regulamento.
A movimentação é uma mudança de localidade, isso § 1º Na hipótese do inciso II, deverão ser observa-
é, compreende as hipóteses em que o servidor públi- das, para os membros do magistério, a compatibili-
co “se movimenta” e ocupa um cargo parecido com o dade de área de atuação e carga horária.
anterior, mas em uma posição geográfica diferente. § 2º Para os membros do magistério, a remoção
Há legislações de outros Estados que tratam a processar-se-á somente entre unidades educacio-
movimentação como hipótese de provimento/vacân- nais e entre unidades constantes da estrutura da
cia, porque a movimentação sempre pressupõe um Secretaria de Estado da Educação.
cargo do qual o servidor se desliga (vacância), para,
depois, ocupar outro cargo em outro local (provimen- Como exemplo, suponha que um servidor público
to). Mas o Estatuto dos Servidores de Rondônia trata se case com outro servidor, mas o cônjuge exerce car-
dessas hipóteses como situações singulares, à parte
go público em outro Município. Assim, como forma de
das demais. Isso vale, também, para as questões que
acompanhar o cônjuge e continuar exercendo suas
apareceram em provas passadas.
atribuições, pode o servidor requerer a sua remoção,
para exercer um cargo de atribuições similares ao
Art. 44 São formas de movimentação de pessoal:
I – remoção; anterior, mas em outro local. Esse é um claro caso de
II – relotação; remoção a pedido do servidor – o inciso II, do art. 49,
III – cedência. como vimos, traz as situações em que ocorre a remo-
Art. 45 É vedada a movimentação “ex-ofício” de ção a pedido do interessado.
servidor que esteja regularmente matriculado em Pode, ainda, a remoção ocorrer por permuta, que
Instituição de Ensino Superior de formação, aper- será processada a pedido escrito de ambos os interessa-
feiçoamento ou especialização profissional que dos, desde que observada a compatibilidade de cargos,
guarde correspondência com as atribuições do res- com anuência dos respectivos Secretários ou dirigentes
pectivo cargo. de órgãos, conforme dispuser em regulamento. É pos-
Art. 46 Nos casos de extinção de órgãos ou enti- sível que ocorra, por exemplo, uma “troca de servido-
dades, os servidores estáveis que não puderem res”, a fim de trabalhar um no local do outro.
ser movimentados na forma prevista no presente
Ademais, a remoção pode se dar, também, quan-
Capítulo serão colocados em disponibilidade, até
seu aproveitamento na forma prevista nesta Lei do a Administração Pública entender ser conveniente
Complementar. para ela, como, por exemplo, para ajuste de quadro
de pessoal às necessidades dos serviços, inclusive nos
O art. 44 dispõe sobre três hipóteses de movimen- casos de reorganização ou, ainda, extinção ou criação
tação: a remoção, a relotação e a cedência. Vejamos de órgão ou entidade.
cada uma delas separadamente:
Art. 50 Não haverá remoção de servidores em está-
gio probatório, ressalvados os casos previstos na
z Remoção
alínea ‘b’ do inciso II, e no inciso III, do artigo 49.
(Redação dada pela LC nº 794, de 9.9.2014)
Art. 47 Remoção é a movimentação do servidor, a Parágrafo único. A remoção dos servidores que com-
pedido “ex-ofício” de um para outro órgão ou uni- põem o quadro funcional da Secretaria de Estado da
dade, sem alteração de situação funcional, respei- Educação – SEDUC, Secretaria de Estado de Justiça
tada a existência de vagas no âmbito do respectivo – SEJUS, Secretaria de Estado da Segurança, Defesa
quadro lotacional, com ou sem mudança de sede,
e Cidadania – SESDEC e Secretaria de Estado da Saú-
por ato do Chefe do Poder Executivo.
de – SESAU, limitar-se-á ao máximo a 10% (dez por
Art. 48 Dar-se-á remoção:
cento) do total de servidores ativos do quadro lota-
I - de uma Secretaria, Autarquia ou Fundação para
cional. (Incluído pela LC nº 794, de 9.9.2014)
outra;
Art. 51 Quando a remoção ocorrer com mudança
II - de uma Secretaria, Autarquia ou Fundação para de sede terá o servidor, o cônjuge ou companheiro
órgão diretamente subordinado ao e seus dependentes direito à transferência escolar,
Governador e vice-versa; independente de vaga nas escolas de qualquer nível
III - de um órgão subordinado ao Governador para do Sistema Estadual de Ensino.
outro da mesma natureza.
Art. 49 A remoção processar-se-á:
I – por permuta, mediante requerimento conjunto z Relotação
dos interessados, desde que observada a compati-
bilidade de cargos, com anuência dos respectivos Art. 52 Relotação é a movimentação do servidor a
Secretários ou dirigentes de órgãos, conforme dis- pedido ou “ex-officio”, de uma unidade administra-
puser em regulamento; tiva para outra dentro do mesmo órgão, por ato do
II – a pedido do interessado nos seguintes casos: titular do órgão, com ou sem alteração do domicílio
a) sendo ambos servidores, o cônjuge removido no ou residência, respeitada a existência de vagas no
562 interesse do serviço público para outra localidade, quadro lotacional.
A relotação se difere um pouco da remoção, por julgado ou de resultado do processo administrati-
estar embasada no ajustamento de pessoal às neces- vo disciplinar, no qual lhe tenha sido assegurada
sidades de serviço. Como exemplo, suponhamos que ampla defesa.
um Município esteja em carência de enfermeiros para
atender a diversos hospitais públicos devido à pande- A estabilidade é a condição que o servidor público
mia que o país atualmente enfrenta. É possível que atinge após completar alguns requisitos. O seu princi-
um outro Município, que possua diversos agentes de pal efeito é que, uma vez estável no cargo, o servidor
saúde postos em disponibilidade, possa relotar essas público não pode ser demitido por razões de conve-
pessoas para trabalhar nesse Município cuja área de niência ou oportunidade pela Administração.
saúde está mais carente. Segundo o art. 29 desse Estatuto, o servidor adqui-
re estabilidade no serviço público ao completar 02
� Cedência
(dois) anos de efetivo exercício. Por outro lado, é
importante observar que a Constituição Federal, de
Art. 53 Cedência é o ato através do qual o servi-
dor é cedido para outro Estado, Poder, Município,
1988, também prevê a prerrogativa de estabilidade
Órgão ou Entidade. em seu art. 41, todavia apresenta requisitos distin-
§ 1º A cedência referida no “caput” deste artigo só tos. Para o Texto Constitucional, o servidor público só
será admitida quando se tratar de servidor efetivo adquire estabilidade após completar 3 (três) anos de
do Estado de Rondônia, e será sempre sem ônus efetivo exercício.
para o órgão cedente, por Ato do Chefe do Poder
Executivo, através de processo específico, ressalva-
das as cedências onde haja contraprestação para Importante!
os partícipes.
§ 2º Ao servidor cedido para ocupar cargo em Algumas bancas costumam dar preferência para
comissão, é assegurada sua vaga na lotação do o prazo disposto na Constituição Federal. Por
órgão de origem.
§ 3º O servidor em estágio probatório poderá ser
isso, se a questão não mencionar a legislação
cedido para ocupar cargo em comissão. em que se baseia, é preferível que o candidato
§ 4º A cedência dos servidores que compõem o qua- responda que a estabilidade é adquirida após
dro funcional da SEDUC, SEJUS, SESDEC e SESAU, três anos de efetivo exercício.
limitar-se-á ao máximo de 10% (dez por cento) do � Estatuto: 2 anos de efetivo exercício;
total de servidores ativos do quadro lotacional.
� CF: 3 anos de efetivo exercício.
Atente-se ao enunciado da questão.
A cedência geralmente ocorre com os servidores
públicos ocupantes de cargo em comissão ou que ain-
da se encontram em estágio probatório. Sendo assim, Isso não significa que, uma vez o servidor seja
ela ocorre com maior frequência com servidores não estável no seu cargo, poderá fazer o que quiser, sem
estáveis, sendo admitida, quando se tratar do servidor sofrer nenhuma punição. A estabilidade não lhe dá
efetivo, e sempre sem ônus para o órgão cedente, por
“carta branca” para agir como bem entender. Por isso,
Ato do Chefe do Poder Executivo, através de processo
o conteúdo do art. 30: o servidor estável somente é
específico, ressalvadas as cedências em que haja con-
afastado do serviço público, [...] em virtude de senten-
traprestação para os partícipes.
ça judicial transitada em julgado ou de resultado
do processo administrativo disciplinar, sendo asse-
DOS DIREITOS E VANTAGENS
gurada a ampla defesa.
Sobre isso, o Texto Constitucional vai um pouco
Pelo regime estatutário, os servidores públicos
possuem uma grande gama de direitos, prerrogativas, mais além, prevendo quatro modalidades de demis-
benefícios, vantagens e autorizações que tornam seu são de servidor estável em seu art. 41. Vejamos:
regime único. Por ora, passemos a ver os principais
direitos e vantagens aplicáveis a todos os servidores z Por sentença judicial transitada em julgado: é
públicos estaduais. a forma mais demorada para se demitir um servi-

NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO


Prerrogativa é qualquer situação de vantagem dor, considerando todo o aspecto burocrático exis-
obtida pela natureza de um cargo ou de uma função. tente no processo judicial. O trânsito em julgado da
No caso dos agentes públicos, existem algumas prer- sentença somente ocorre quando esgotados todos
rogativas que são comuns para todo e qualquer car- os recursos cabíveis;
go público e outras que são mais restritas, exclusivas z Mediante processo administrativo em que lhe
apenas para alguns cargos. Geralmente, essas prerro- seja assegurada ampla defesa: De modo geral, a
gativas mais exclusivas são aplicáveis para os cargos aplicação da demissão deve advir de um processo
militares e para os cargos de natureza política. A pri- em que se apura a conduta do servidor transgres-
meira grande prerrogativa, como já mencionado, diz sor, dando oportunidade para o mesmo se defen-
respeito à estabilidade. der da acusação. As regras mais específicas do
O Estatuto apresenta somente dois dispositivos Processo Administrativo Disciplinar (PAD) serão
sobre a estabilidade. São os arts. 29 e 30: vistas mais adiante;
z Mediante procedimento de avaliação periódica
Art. 29 O servidor habilitado em concurso público de desempenho, na forma de lei complementar,
e empossado em cargo de provimento efetivo adqui-
assegurada ampla defesa: quem não for aprova-
re estabilidade no serviço público ao completar 02
(dois) anos de efetivo exercício. do na avaliação periódica de desempenho, pode
Art. 30 O servidor estável somente é afastado do ser exonerado de seu cargo público, independen-
serviço público, com consequente perda do car- temente de ter completado o período de efetivo
go, em virtude de sentença judicial transitada em exercício; 563
z Por excesso de gasto com pessoal: as hipóteses § 3º É assegurada a isonomia de vencimentos para
anteriores estão previstas nos incisos do art. 41. cargos de atribuições iguais ou assemelhadas do
Todavia, essa última hipótese encontra-se disposta mesmo poder ou entre servidores dos três poderes,
no art. 169, § 3º, II da CF, de 1988. Sob o aspecto ressalvadas as vantagens de caráter individual e as
orçamentário e financeiro, não pode a Administra- relativas à natureza ou local de trabalho.
ção Pública realizar gastos superiores àqueles pre-
vistos em seu orçamento anual. Com isso, havendo É importante ressaltar que há uma série de limita-
necessidade, é possível, sim, que um servidor está- ções relativas à remuneração dos servidores públicos.
vel seja exonerado de seu cargo, apenas por moti- O salário dos agentes públicos é, em sua grande maio-
ria, parte do orçamento dos gastos públicos. Atual-
vos de “balancear” as contas públicas.
mente, um dos problemas que a sociedade brasileira
enfrenta é o inchaço do Poder Público, o qual deve
Outra prerrogativa que merece maior destaque é
ser levado em consideração quando da imposição
a vitaliciedade. Esse é um instituto bastante parecido
de limites aos ganhos de seus agentes. Se os salários
com a estabilidade, mas não pode ser confundido com
sobrecarregarem a folha de pagamentos, isso pode
a mesma. A vitaliciedade não é adquirida por qual-
gerar problemas para os sucessores desses servidores
quer servidor, sendo somente concedida para alguns e, consequentemente, para toda a sociedade.
cargos públicos especiais. Por isso, à remuneração dos servidores são impos-
São considerados cargos vitalícios, segundo a pró- tos dois tipos de limites salariais: um limite global e
pria Constituição Federal: os cargos de Magistratura um limite individual. A expressão “teto” é utilizada
(Art. 95, inciso I), os membros do Ministério Público como sinônimo de “valor máximo limite”.
(Art. 128, § 5º, a) e os cargos ocupados pelos membros O limite global, apesar do nome, faz referência
do Tribunal de Contas da União ou TCU (Art. 73, § 3º). ao limite imposto pelo art. 169 da CF, de 1988, que
A vitaliciedade é um instituto ainda mais forte assim prevê: “A despesa com pessoal ativo e inativo
do que a estabilidade. Uma vez que a pessoa ocupe da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Muni-
um desses cargos vitalícios, somente poderá ser exo- cípios não poderá exceder os limites estabelecidos em
nerada mediante sentença judicial transitada em jul- lei complementar”. Essa “lei complementar” a qual o
gado (Art. 76). Essa é a única hipótese de exoneração, dispositivo constitucional faz referência é a Lei Orça-
motivo pelo qual a vitaliciedade garante uma prerro- mentária Anual. Como já mencionado, o salário dos
gativa maior que a estabilidade. agentes públicos não pode exceder o orçamento públi-
Sobre os direitos e vantagens, geralmente, a legis- co da entidade federativa, pois ela é obrigada a apre-
lação costuma dividi-los quanto a sua economicidade. sentar todos os seus ganhos e gastos anuais.
Existem vantagens de natureza pecuniária (que afe- A fim de que se mantenha o controle sobre o quan-
tam a quantia que o servidor ganha) e os de natureza to cada agente público pode ganhar, a título de remu-
não pecuniária. Trataremos, primeiro, das vantagens neração, foram criados os tetos remuneratórios. Eles
de natureza pecuniária. representam os limites individuais, que se traduzem
na remuneração de determinados cargos públicos,
Das Vantagens de Natureza Pecuniária: Vencimento, sendo que nenhum outro agente pode ganhar mais do
Adicionais e Gratificações que foi estabelecido.
Esses tetos remuneratórios estão dispostos no
Sobre as vantagens pecuniárias, devemos estabele- art. 37, inciso XI, também da Constituição Federal, de
cer algumas noções gerais. O art. 64 apresenta o venci- 1988. Podem ser divididos em:
mento, que é a retribuição pecuniária mensal devida
ao servidor correspondente ao padrão fixado em lei. O z Teto Geral: é a remuneração de um Ministro do
vencimento está para o servidor assim como o saldo Supremo Tribunal Federal. É o valor que nenhuma
de salário está para o empregado sob regime celetista. remuneração, de qualquer agente público, pode
superar, independentemente do âmbito federati-
Art. 64 Vencimento é a retribuição pecuniária pelo vo. Ninguém, nem mesmo um agente público da
exercício do cargo público, com valor fixado em Lei. União, pode ganhar mais que um Ministro do
STF;
Remuneração, nos termos do art. 65, é o venci- z Subtetos: o teto remuneratório, nesses casos, vai
mento do cargo acrescido das vantagens permanentes depender de onde o agente público se situa. Assim,
ou temporárias estabelecidas em Lei. De acordo com o o Teto Municipal tem, por base, os valores dos
§ 2º, o vencimento do cargo efetivo, acrescido das van- subsídios pagos aos Prefeitos; o Teto dos Estados
tagens de caráter permanente, são irredutíveis, sendo e Distrito Federal tem, por base, os subsídios rece-
essa uma garantia constitucional. bidos pelos Governadores, Deputados e Desembar-
gadores, a depender o agente público é ocupante
Art. 65 Remuneração é o vencimento do cargo de cargo, respectivamente, dos Poderes Executivo,
acrescido das vantagens permanentes ou temporá- Legislativo e Judiciário.
rias estabelecidas em Lei.
§ 1º Ao servidor nomeado para o exercício de cargo
Para facilitar os seus estudos:
em comissão é facultado optar pelo vencimento e
demais vantagens de seu cargo efetivo, acrescido
de indenização paga por meio da gratificação de z Gastos públicos possuem um limite global, que é
representação do cargo em comissão. (Redação o disposto na Lei Orçamentária Anual, e um limite
dada pela LC nº 466, de 11.7.2008) individual, que são os tetos remuneratórios;
§ 2º O vencimento do cargo efetivo, acrescido das z Teto Geral: se aplica aos servidores da União. É o
vantagens de caráter permanente é irredutível. salário do Ministro do STF;
564 z Subtetos:
„ Se for Município, é o salário do Prefeito; Quando a Ajuda de Custo, vejamos o que dispõe o
„ Se for Estados/DF, é o salário do Governador art. 73:
(Executivo), ou dos Deputados (Legislativo), ou
dos Desembargadores (Judiciário). Art. 73 A ajuda de custo destina-se às despesas de
instalação do servidor que, no interesse do serviço,
Ademais, veja as peculiaridades da remuneração passa a ter exercício em nova sede, com mudança
nos artigos seguintes: de domicílio em caráter permanente.
§ 1º Correm por conta da administração as despe-
Art. 66 O servidor perderá: sas de transporte do servidor e de sua família, com-
I - a remuneração dos dias que faltar ao serviço; preendendo passagem, bagagem e bens pessoais.
II - a parcela de remuneração diária, proporcional § 2º A família do servidor que falecer na nova sede
aos atraso, ausências e saídas antecipadas, iguais são assegurados ajuda de custo e transporte para
ou superior a 60 (sessenta) minutos; a localidade de origem, dentro do prazo de 01 (um)
III - a metade da remuneração, na hipótese de apli- ano, contado do óbito.
cação da penalidade de suspensão quando, por § 3º A ajuda de custo será paga no valor de R$ 700,00
conveniência do serviço, a penalidade for converti- (setecentos reais), assegurada a revisão deste valor,
da em multa, na base de 50% (cinquenta por cento) sempre na mesma data e mesmo índice usado para
por dia de vencimento, ficando o servidor obrigado alterar a remuneração e subsídios dos ocupantes de
a permanecer em serviço. cargos públicos na administração direta.
Art. 67. Salvo imposição legal, ou mandado judicial, § 4º Quando se tratar de viagem para fora do país
nenhum desconto incidirá sobre a remuneração ou compete ao Chefe do Poder Executivo o arbitra-
provento. mento de ajuda de custo, independentemente de
Parágrafo único. Mediante autorização do servidor, limite previsto no parágrafo anterior, até o teto de
poderá haver consignação em folha de pagamento uma remuneração correspondente ao limite desse
a favor de terceiros, a critério da administração Poder, devendo o servidor:
e com reposição de custos, na forma definida em I – no prazo máximo de 30 (trinta) dias do regresso,
regulamento. apresentar relatório circunstanciado, comprovan-
Art. 68 As reposições indenizações ao erário serão do a realização da viagem para o fim estabelecido;
descontadas em parcelas mensais, não excedentes II – caso não cumpra o disposto no inciso anterior
à décima parte da remuneração ou provento, em o que acarretará a nulidade da ajuda de custo, fica
valores atualizados monetariamente. obrigado a devolver imediatamente a importância
recebida, sem prejuízo da sanção disciplinar cabível.
O art. 69 trata de outras formas de retribuição, § 5º A ajuda de custo será paga antecipadamente
como as indenizações, os auxílios, os adicionais e as ao servidor, facultando o seu recebimento na nova
gratificações. Vejamos: sede.

Art. 69 Além do vencimento, poderão ser pagas ao A ajuda de custo corresponde às despesas de insta-
servidor as seguintes vantagens: lação do servidor que, no interesse do serviço, passa
I – indenizações; a ter exercício em nova sede, com mudança de domi-
II – auxílios; cílio em caráter permanente (Art. 73). A ajuda de cus-
III – adicionais; to destina-se a compensar o servidor pelas despesas
IV – gratificações. realizadas com seu transporte e de sua família, com-
§ 1º As indenizações não se incorporam ao venci- preendendo passagem, bagagem e bens pessoais.
mento ou provento para qualquer efeito.
§ 2º As gratificações e os adicionais incorporam-se Art. 74 Não será concedida ajuda de custo ao ser-
ao vencimento ou provento, nos casos e condições vidor que se afastar do cargo, ou reassumi-lo, em
previstos em lei. virtude de mandato eletivo.
Art. 75 Será concedida ajuda de custo àquele que,
Os §§ 1º e 2º tratam das vantagens pecuniárias que não sendo servidor do Estado, for nomeado para
se incorporam aos vencimentos do servidor público.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Cargo em Comissão, com mudança de domicílio.
Isso é importante, pois muitos benefícios previden- Art. 76 O servidor restituirá a ajuda de custo
ciários têm, como base de cálculo, os vencimentos dos quando:
servidores públicos. I – não se transportar para nova sede nos prazos
determinados;
Art. 70 As vantagens pecuniárias percebidas pelo II – antes de terminar a missão, regressar volunta-
servidor público não são computadas nem acumu- riamente, pedir exoneração ou abandonar o serviço.
ladas para fins de concessão de acréscimos ulterio- Art. 77 Não há obrigação de restituir a ajuda de
res, sob o mesmo título ou idêntico fundamento. custo quando o regresso do servidor obedecer a
determinação superior ou por motivo de sua pró-
As indenizações são três, segundo o art. 71, quais pria saúde ou, ainda, por exoneração a pedido,
sejam: ajuda de custo; diárias; transporte. após trezentos e sessenta e cinco dias de exercício
na nova sede.
Art. 71 Constituem indenizações ao servidor:
I - ajuda de custo; O art. 78 dispõe sobre as diárias. Vejamos:
II - diárias;
III - transporte. Art. 78 O servidor que a serviço se afastar da sede
Art. 72 Os valores das indenizações, bem como as em caráter eventual ou transitório fará jus a passa-
condições para concessão, serão estabelecidos em gem e diárias, para cobrir as despesas de pousada,
regulamento. alimentação e locomoção urbana. 565
Parágrafo único - A diária será concedida por dia Dos Adicionais
de afastamento, sendo devida pela metade, quando
o afastamento não exigir pernoite fora da sede. Os adicionais devidos aos servidores estaduais
são bem parecidos com os adicionais devidos aos
O art. 80 trata da hipótese em que o servidor é empregados, na legislação trabalhista. O Estatuto pre-
obrigado a restituir o que recebeu a título de diárias. via, ao todo, cinco, no entanto, dois deles foram revo-
O servidor que receber diárias e não se afastar da gados pela Lei nº 1.068, de 2002. Agora, o art. 86 prevê
sede, por qualquer motivo, fica obrigado a restituí-la, apenas três: os adicionais pela prestação de serviços
integralmente, no prazo de 05 (cinco) dias, sujeito à extraordinários; os adicionais noturnos; o adicional de
punição disciplinar se recebida de má fé. férias.
A respeito do adicional pela prestação de servições
Art. 80 O servidor que receber diárias e não se afas- extraordinários, a lei prevê em seu art. 92 a 95:
tar da sede, por qualquer motivo, fica obrigado a
restituí-la integralmente, no prazo de 05 (cinco) dias, Art. 92 O serviço extraordinário será remunerado
sujeito a punição disciplinar se recebida de má fé. com acréscimo de 50% (cinquenta por cento) em
Parágrafo único. Na hipótese do servidor retornar relação a hora normal de trabalho.
à sede em prazo menor do que o previsto para seu Art. 93 O serviço extraordinário tem caráter even-
afastamento, restituirá as diárias recebidas em
tual e só será admitido em situações excepcionais
excesso, no prazo previsto no “caput” deste artigo.
e temporárias, respeitando o limite máximo de 02
(duas) horas diárias.
A indenização de transporte, segundo o art. 82, será Art. 94 É vedado conceder gratificação por servi-
concedida a servidor que realize despesas com a utiliza- ço extraordinário, com o objetivo de remunerar
ção do próprio veículo para a execução de serviços exter- outros serviços e encargos.
nos, por força das atribuições próprias do cargo. Observe § 1º - O servidor que receber a importância relati-
o texto do art. 82 apenas para fins de comparação: va a serviço extraordinário que não prestou, será
obrigado a restituí-la de uma só vez, ficando ainda
Art. 82 Conceder-se-á indenização de transporte a sujeito à punição disciplinar.
servidor que realize despesas com a utilização de § 2º - Será responsabilizada a autoridade que infrin-
meio próprio de locomoção para execução de servi- gir o disposto no “caput” deste artigo.
ços externos, por força das atribuições próprias do Art. 95 Será punido com pena de suspensão e, na
cargo, conforme dispuser o regulamento. reincidência, com a demissão, o servidor que:
I - atestar falsamente com prestação de serviço
Os Auxílios são bem parecidos com as indeniza- extraordinário.
ções, mas, ao contrário delas, existem apenas dois II - se recusar, sem justo motivo, à prestação de ser-
tipos de auxílios: auxílio vale-transporte e a diferença viço extraordinário
de caixa, os quais estão previstos nos arts. 84 e 85:
Pela leitura dos dispositivos, vemos que o valor do
Art. 84 O auxílio transporte é devido a servidor nos adicional sobre serviço extraordinário é de 50% sobre
deslocamentos de ida e volta, no trajeto entre sua os seus vencimentos, a título de adicional. O art. 93
residência e o local de trabalho, na forma estabele-
trata sobre o limite máximo de 2 horas diárias o servi-
cida em regulamento.
ço extraordinário de caráter eventual, sendo admitido
§ 1º O auxílio transporte é concedido mensalmente
e por antecipação, com a utilização de sistema de somente em situações excepcionais e temporárias.
transporte coletivo, sendo vedado o uso de trans- Embora o inciso IV do art. 86 desta Lei ainda pre-
portes especiais. veja a hipótese de adicionais noturnos, os artigos 96 e
§ 2º Ficam desobrigados da concessão por auxílio, 97, que tratavam a respeito desse tema, foram revoga-
os órgãos ou entidades que 19 transportem seus dos pela LO nº 1.068, de 10.04.2002.
servidores por meios próprios ou contratados.
Do Adicional de Férias
O auxílio-transporte, que não deve ser confundido
com a indenização de transporte, é devido ao servi- Art. 98 Independentemente de solicitação será
dor, para cobrir gastos com os deslocamentos de ida pago ao servidor, por ocasião das férias, um adicio-
e volta, no trajeto entre sua residência e o local de nal correspondente a 1/3 (um terço) da remunera-
trabalho, na forma estabelecida em regulamento (Art. ção do período das férias.
84). É concedido mensalmente e por antecipação, com § 1º No caso de o servidor exercer função de direção
a utilização de sistema de transporte coletivo, sendo ou chefia ou assessoramento ou ocupar cargo em
vedado o uso de transportes especiais. comissão, a respectiva vantagem será considerada
no cálculo do adicional de que trata este artigo.
Art. 85 Ao servidor que, no desempenho de suas atri- § 2º O servidor em regime de acumulação legal,
buições, pagar ou receber em moeda corrente, será receberá o adicional de férias 22 calculado sobre a
concedido auxílio de 20% (vinte por cento) do valor do remuneração dos dois cargos.
respectivo vencimento básico, para compensar even-
tuais diferenças de caixa, conforme regulamento. Trataremos do instituto das férias mais adiante.
Por ora, é importante você saber que, independente-
Já o auxílio de diferença de caixa é concedido ao mente de solicitação, será pago ao servidor, por oca-
servidor que, no desempenho de suas atribuições, sião das férias, um adicional correspondente a 1/3
pagar ou receber em moeda corrente. O valor do auxí- (um terço) da remuneração do período das férias.
lio será de 20% do valor do respectivo vencimento
566 básico.
Gratificações

Art. 99 São concedidas aos servidores as seguintes gratificações:


I - pelo exercício de Função de Direção, Chefia, Assessoramento e Assistência;
II - natalina;
III - pela elaboração ou execução de trabalhos técnicos ou científicos;
IV - outras instituídas por lei.

A gratificação natalina está prevista nos art. 103 a 106. Vejamos:

Art. 103 A gratificação natalina corresponde 1/12 (um doze avos) da remuneração a que o servidor fizer jus no
mês de dezembro, por mês de exercício no respectivo ano, extensiva aos inativos.

A fração igual ou superior a 15 (quinze) dias será considerada como mês integral. Suponha, por exemplo, que
um servidor tenha trabalhado do dia 1º de janeiro até o dia 14 de abril, quando foi exonerado de seu cargo. Nesse
caso, ele só tem direito a receber gratificação natalina até o mês de março, pois não trabalhou 15 dias no mês de
abril.

Art. 104 A gratificação será paga até o dia 20 do mês de dezembro de cada ano.
Art. 105 O servidor exonerado perceberá sua gratificação natalina, proporcionalmente aos meses de exercício, cal-
culada sobre a remuneração do mês de exoneração.
Art. 106 Quando o servidor perceber além do vencimento ou remuneração fixa, parte variável, a bonificação natali-
na corresponderá à soma da parte fixa mais a média aritmética da parte variável até o mês de novembro.
§ 1º No caso de acumulação constitucional, será devida a gratificação natalina em ambos os cargos ou funções.

Sobre a gratificação por execução de trabalhos técnicos ou científicos, vejamos o que dispõe o art. 107:

Art. 107 A gratificação pela elaboração ou execução de trabalho técnico ou científico será concedida quando se
tratar:
I – de trabalho que venha a resultar benefício para a humanidade;
II – de trabalho que venha a resultar melhoria nas condições econômicas na Nação ou do Estado, ou do em estar da
coletividade;
III – de trabalho que venha resultar melhoria sensível para a Administração Pública, ou em benefício do público, ou
de seus próprios serviços;
IV – de trabalho elaborado por determinação ou solicitação do Governador ou Secretário de Estado, cumulativa-
mente com as funções do cargo, e que venha a se constituir em Projeto de Lei ou Decreto de real importância, apro-
vado pelo Chefe do Poder Executivo.

Para fins de memorização, segue fluxograma indicando a estrutura da remuneração dos servidores do estado
de Rondônia:

REMUNERAÇÃO
DOS SERVIDORES
PÚBLICOS ESTADUAIS
DE RONDÔNIA

Outras vantagens
Indenizações e

NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO


Vencimentos Adicionais Gratificações previstas em lei
auxílios
estadual

Ajuda de custo, diária, Serviço extraordinário, Exercício de função


transporte noturno, e de férias direção e chefia

Vale-transporte e
Natalina
diferença de caixa

Trabalho técnico ou
cientifico

567
Das Vantagens Não Pecuniárias O art. 116, por sua vez, trata das licenças. Dos
direitos, vantagens e outros benefícios, as licenças
Conforme vimos anteriormente, além das van- compreendem um assunto que aparece com mais
tagens pecuniárias, existem, ainda, as vantagens de frequência em questões de prova. Então, saber dife-
natureza não pecuniária. A estabilidade, já estudada, renciar todas as licenças é essencial para a aprovação.
é uma delas. Além das prerrogativas, são, também, É importante frisar, também, que algumas bancas de
vantagens dessa mesma natureza as férias, as licen- concurso têm exigido do candidato saber diferenciar
ças, os afastamentos e o direito de petição. as licenças dos afastamentos. Essa é uma distinção
As férias estão previstas no art. 110, sendo impor- que não aparece muito em legislação e, por isso, não
tante conhecer o seu conteúdo na íntegra. Vejamos: há um critério que seja absolutamente infalível.
Podemos afirmar que, de modo geral, as licenças
Art. 110 O servidor fará jus a 30 (trinta) dias conse- são concedidas a interesse exclusivo do próprio ser-
cutivos de férias, de acordo com escala organizada. vidor, ao contrário dos afastamentos, que são conce-
§ 1º A escala de férias deverá ser elaborada no mês
didos em interesse comum tanto do servidor como da
de novembro do ano em curso, objetivando sua
própria Administração Pública. Além disso, os prazos
aplicação no ano seguinte, podendo ser alterada de
acordo com a premente necessidade de serviço.
das licenças são, geralmente, mais curtos (dias, sema-
§ 2º É vedado levar à conta das férias qualquer falta nas ou meses). Já as autorizações costumam ter pra-
ao trabalho. zos mais longos (anos).
§ 3º Somente depois do primeiro ano de exercício, Para compreender melhor a diferença entre licen-
adquirirá o servidor o direito a férias. ças e afastamentos, segue uma tabela explicativa.
§ 4º É proibida a acumulação de férias, salvo por
absoluta necessidade de serviço devidamente justi- LICENÇA AFASTAMENTO
ficada e pelo máximo de 02 (dois) períodos. Finalidade: é de interesse do
§ 5º Os professores, desde que em regência de clas- Finalidade: é de interesse
agente e da Administração
se, gozarão férias fora do período letivo. exclusivo do agente público
Pública
Ex.: Doença do cônjuge/mem- Ex.: Realização de especiali-
Todo servidor público civil tem direito a um período bro da família; exercer ativida- zação; realização de missão
de férias na proporção de trinta dias consecutivos ao de política; tratar de interesses no exterior; servir a outro
ano, de acordo com a escala organizada pelo dirigen- particulares órgão/entidade
te da Unidade Administrativa. No geral, o instituto das Possui prazos mais curtos Possui prazos mais longos
férias é praticamente o mesmo dos empregados celetis- (dias, semanas) (meses, anos)
tas. Para cada 12 (doze) meses trabalhados, o servidor
tem direito a um período de descanso correspondente
a trinta dias. O funcionário não poderá gozar, por ano, O art. 116 apresenta o rol das licenças em seus inci-
de mais de dois períodos de férias, salvo por absoluta sos. Vejamos:
necessidade de serviço devidamente justificada (Art.
110, § 4º). Não pode, por exemplo, o servidor pular um Art. 116 Conceder-se-á ao servidor Licença:
período de descanso para, depois, gozar de 60 dias de I – por motivo de doença em pessoa da família;
II – por motivo de afastamento do cônjuge ou
férias no ano subsequente. No entanto, como vimos,
companheiro;
essa é uma regra que admite exceção.
III – para o serviço militar;
Vejamos as outras disposições no que se refere às
IV – para atividade política;
férias: V – prêmio por assiduidade;
VI – para tratar de interesse particular;
Art. 111 Durante as férias, o servidor terá direito VII – para desempenho de mandato classista;
às vantagens como se estivesse em exercício. VIII – para participar de cursos de especialização
Art. 112 É vedada a concessão de férias superiores ou aperfeiçoamento;
a 30 (trinta) dias, consecutivos ou não, por ano, a IX – VETADO.
qualquer servidor público estadual, com exceção § 1º A licença prevista no inciso I será precedida de
dos casos previstos em lei específica. exame por médico ou junta médica oficial.
Art. 113 É facultado ao servidor converter 1/3 das § 2º O servidor não poderá permanecer em licen-
férias em abono pecuniário, desde que requeira ça da mesma espécie por um período superior a 24
com pelo menos 60 (sessenta) dias de antecedência. (vinte e quatro) meses, salvo nos casos dos incisos
Parágrafo único - No cálculo do abono pecuniário II, III, IV, VII, VIII e IX.
será considerado o valor adicional de férias. § 3º É vedado o exercício da atividade remunera-
Art. 114 O servidor que opera direta e permanente- da durante o período da licença prevista no inciso
mente com Raio X ou substância radioativas, goza- I deste artigo.
rá obrigatoriamente, 20 (vinte) dias consecutivos
de férias, por semestre de atividade profissional,
proibida, em qualquer hipótese, a acumulação.
Da Licença por Motivo de Doença em Pessoa da
Parágrafo único Para cada período de gozo de Família
férias, será antecipado ao servidor(a) o valor cor-
respondente a 1/3(um terço) da sua remuneração, O art. 119 prevê a licença por motivo de doença em
não fazendo jus a concessão de abono pecuniário pessoa da família. O dispositivo elenca quais entes são
de que trata o artigo 113. considerados “pessoa da família. Vejamos:
Art. 115 As férias somente poderão ser interrom-
pidas por motivo de calamidade pública, como- Art. 119 Poderá ser concedida licença ao servidor
ção interna, convocação para júri, serviço militar por motivo de doença do cônjuge ou companheiro,
ou eleitoral ou por motivo de superior interesse padrasto ou madrasta, ascendente, descendente,
568 público. enteado e colateral consanguíneo ou afim até o
segundo grau civil, mediante comprovação por Jun- Da Licença para Exercício de Mandato Eletivo/
ta Médica Oficial. Mandato Classista
§ 1º A licença somente será deferida se a assistência
direta do servidor for indispensável e não puder ser Art. 122 O servidor terá direito a licença, sem
prestada simultaneamente com o exercício do cargo. remuneração, durante o período que mediar entre
§ 2º A licença será concedida sem prejuízo de remu- a sua escolha em convenção partidária como can-
neração do cargo efetivo, até 90 (noventa) dias, didato a cargo eletivo, e a véspera do registro de
podendo ser prorrogada por até 90 (noventa) dias, sua candidatura perante a Justiça Eleitoral.
mediante parecer da Junta Médica e, excedendo § 1º - O servidor candidato a cargo eletivo na loca-
estes prazos, sem remuneração. lidade onde desempenha suas funções e que exerça
§ 3º Sendo os membros da família servidores públi-
cargo de direção, chefia, assessoramento, arreca-
cos regidos por este Estatuto, a licença será conce-
dação ou fiscalização, dele será afastado, a partir
dida, no mesmo período, a apenas um deles.
do dia imediato ao do registro de sua candidatura
§ 4º A licença pode ser concedida para parte da jor-
perante a Justiça Eleitoral, até o 15º (décimo quin-
nada normal de trabalho, a pedido do servidor ou a
critério da Junta Médica Oficial. to) dia seguinte ao do pleito.
§ 5º A licença fica automaticamente cancelada com § 2º - A partir do registro da candidatura e até o 15º
a cassação do fato originador, levando-se à conta (décimo quinto) dia seguinte ao da eleição, o servi-
de falta as ausências desde 08 (oito) dias após a ces- dor fará jus à licença como se em efetivo exercício
sação de sua causa até o dia útil anterior à apresen- estivesse, com a remuneração de que trata o art. 65.
tação do servidor ao serviço.
O art. 134, por sua vez, trata da licença para exer-
Para a concessão da licença, deve ser apresentada cer mandato eletivo, que terá a mesma duração desse
comprovação pela Junta Médica Oficial. Além disso, mandato.
é concedida sem prejuízo dos vencimentos do servi-
dor, o que significa que ele deixa de trabalhar, mas Art. 134 Ao servidor em exercício de mandato eleti-
continua ganhando a sua remuneração. Vale destacar vo aplicar-se-ão as seguintes disposições:
que somente será deferida se a assistência direta do I - em qualquer caso em que se exija o afastamento
servidor for indispensável e não puder ser prestada, para o exercício de mandato eletivo, seu tempo de
simultaneamente, com o exercício do cargo. serviço será contado para todos os efeitos legais;
II - investido no mandato de Prefeito, será afas-
Da Licença para Acompanhar Cônjuge ou tado do cargo efetivo, facultada a opção pela sua
Companheiro remuneração;
III - investido em mandato de Vereador, havendo
O servidor terá direito à licença para acompanhar compatibilidade de horário, perceberá as vantagens
o cônjuge ou companheiro(a) que tiver sido desloca- do seu cargo efetivo, sem prejuízo na remuneração
do para outro Estado da Federação, para o exterior ou do cargo eletivo, e não havendo compatibilidade,
para o exercício eletivo (Art. 120). Essa licença será será aplicada a norma do inciso anterior.
concedida mediante pedido e poderá ser renovada de Parágrafo único - Para efeito de benefício previden-
dois em dois anos, sem que o servidor tenha direito a ciário, no caso de afastamento, os valores serão
perceber vencimentos. determinados como se no exercício estivesse.

Art. 120 O servidor terá direito à licença para Uma questão que costuma cair com bastante fre-
acompanhar o cônjuge ou companheiro que for quência nas provas de concurso público é sobre a
deslocado para outro Estado da Federação, para o remuneração de servidor afastado para exercício de
exterior ou para o exercício eletivo. mandato eletivo (Art. 94, Lei nº 8.112, de 1990 e inci-
§ 1º A licença será sem remuneração, salvo se exis-
sos do Art. 134, Lei Complementar nº 68, de 1992). A
tir no novo local da residência, unidade pública
regra geral é que, para exercer um mandato eletivo, o
estadual onde possa o servidor exercer as ativida-
des do cargo em que estiver enquadrado. servidor deve se afastar do cargo e, portanto, deixar
de receber a remuneração do mesmo. Porém, tratan-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
§ 2º A licença será concedida mediante pedido e
poderá ser renovada de 02 (dois) em 02 (dois) anos. do-se de exercício de mandato de Prefeito, o servidor
afastado poderá optar, dentre as duas remunera-
Da Licença para Convocação ao Serviço Militar ções, por aquela que lhe for mais vantajosa (valo-
Obrigatório res maiores, mais benefícios etc.).
No caso de exercício de mandato de Vereador,
Ao servidor convocado para o serviço militar será o servidor poderá exercer os dois cargos e perceber
concedida licença, na forma e condições previstas ambas as remunerações, desde que comprovada a
em legislação específica. O único requerimento dessa compatibilidade de horários (atuando como Vereador
licença, previsto no § 1º do art. 121, é a apresentação de dia e como agente público de noite, ou vice-versa).
de documento oficial que comprove a incorporação. Sendo incompatíveis os horários dos dois cargos, o
Vereador pode optar pela remuneração mais vanta-
Art. 121 Ao servidor convocado para o serviço mili- josa, igual ao Prefeito. Isso é assim, porque, muitas
tar será concedida licença, na forma e condições
vezes, a remuneração dos Prefeitos e Vereadores de
previstas na legislação específica.
§ 1º A licença será concedida mediante apresentação
pequenos Municípios costuma ser menor que a remu-
do documento oficial que comprove a incorporação. neração do cargo público anterior e ele pode, facil-
§ 2º Concluído o serviço militar, o servidor terá 30 mente, se locomover de um ambiente de trabalho
(trinta) dias sem remuneração para reassumir o para outro.
exercício do cargo. 569
Dica
� Mandato de Prefeito: servidor afastado poderá optar pela remuneração mais vantajosa;
� Mandato de Vereador: servidor exerce os dois cargos e recebe as duas remunerações se existir a compati-
bilidade de horários. Caso os horários sejam incompatíveis, o Vereador poderá optar pela remuneração mais
vantajosa.

A licença para desempenho de mandato classista é bem parecida com a licença para exercício de mandato
eletivo e, inclusive, possui duração igual, podendo ser renovada em caso de reeleição (Art. 131, § 2º).

Da Licença Prêmio

Art. 123 Após cada quinquênio ininterrupto de efetivo serviço prestado ao Estado de Rondônia, o servidor fará jus
a 3 (três) meses de licença, a título de prêmio por assiduidade com remuneração integral do cargo e função que
exercia.

É uma licença diferenciada, pois o seu requisito não consiste na apresentação de um documento ou de inspe-
ção médica, exigindo apenas que o servidor tenha exercido suas atribuições por cinco anos ininterruptos.

Art. 123 [...]


§ 1º Os períodos de licença prêmio já adquiridos e não gozados pelo servidor que vier a falecer, serão convertidos em
pecúnia, e revertidos em favor de seus beneficiários da pensão. [...]

Da Licença para Tratar de Interesses Particulares

Art. 128 O servidor pode obter licença sem vencimento para tratar de interesse.
§ 1º A licença de que trata o “caput” deste artigo terá duração de três anos consecutivos, prorrogável por igual
período, vedada a sua interrupção, respeitado o interesse da administração.
§ 2º - O servidor que requerer a licença sem remuneração deverá permanecer em exercício até a data da publicação
do ato.
§ 3º - O disposto nesta seção não se aplica ao servidor em estágio probatório.
§ 4º - O servidor licenciado para tratar de interesse particular não poderá, no âmbito da
Administração Pública Direta, Autarquia e Fundacional dos Poderes Estaduais e Municipais, ser contratado tempo-
rariamente, a qualquer título
§ 5º O servidor não poderá ser demitido, no período de 1 (um) ano, após o cumprimento da Licença sem remuneração.
§ 6º Quando estiver em gozo de Licença Extraordinária Incentivada o servidor não será demitido

A licença para tratar de interesses particulares, segundo o art. 128, é concedida sem vencimentos. A referida
licença terá duração de três anos consecutivos, prorrogável por mais três anos, sendo vedada a sua interrupção,
exceto no caso de interesse da Administração (Art. 128, § 1º).
O que há de especial nessa licença é o fato dela não poder ser concedida para o servidor que ainda esteja
em período de estágio probatório, o qual deve ser estável para requerer a licença.

Art. 129 O servidor poderá desistir da licença a qualquer tempo.


Parágrafo único. Fica caracterizado o abandono de cargo pelo servidor que não retornar ao serviço 30 (trinta) dias
após o término da licença.

Da Licença para Aperfeiçoamento Profissional

Art. 132 O servidor estável poderá afastar-se do órgão ou entidade em que tenha exercício ou ausentar-se do Estado,
para estudo ou missão oficial, mediante autorização do Chefe de cada Poder.
§ 1º - V E T A D O.
§ 2º - Ao servidor autorizado a frequentar curso de graduação, aperfeiçoamento ou especialização, com ônus, é asse-
gurada a remuneração integral do cargo efetivo, ficando obrigado a remeter mensalmente ao seu órgão de lotação
o comprovante de frequência do referido curso.
§ 3º - A falta de frequência implicará a suspensão automática da licença e da remuneração do servidor, devendo
retornar ao serviço no prazo de 30 (trinta) dias.
§ 4º - A licença para frequentar curso de aperfeiçoamento ou especialização somente será concedida se este for com-
patível com a formação e as funções exercidas pelo servidor e do interesse do Governo do Estado.
§ 5º - A licença para frequentar cursos de graduação será restrita àqueles não oferecidos pelas Instituições de Ensino
Superior existentes no Estado.
§ 6º - Findo o estudo, somente, decorrido igual período, será permitido novo afastamento.
Art. 133 Concluindo a licença de que trata o artigo anterior, ao servidor beneficiado não será concedida a exonera-
ção ou licença para interesse particular, antes de decorrido período igual ao do afastamento, ressalvada a hipótese
do ressarcimento da despesa havida com seu afastamento, ao Tesouro Estadual.
Parágrafo único - Não cumprida a obrigação prevista neste artigo, o servidor ressarcirá ao Estado as despesas
570 havidas com seu afastamento.
Mesmo que o estudo/missão não seja de presença obrigatória, a falta de frequência implicará na suspensão
automática da licença e da remuneração do servidor, o qual deverá retornar ao serviço no prazo de 30 dias (Art.
132, § 3º).
Como forma de facilitar os seus estudos, trouxemos uma tabela que apresenta as licenças mais importantes e
destaca as principais diferenças entre elas, de acordo com as seguintes características dispostas:

z O nome da licença;
z Os requisitos que o servidor deve possuir para requerer a licença;
z Os documentos necessários que devem acompanhar o requerimento;
z O prazo (quando mencionado) e se deve ou não perceber o vencimento/remuneração enquanto licenciado.

DOENÇA MEMBRO DA PRÊMIO POR


ACOMPANHAR CÔNJUGE OBRIGAÇÕES MILITARES
FAMÍLIA ASSIDUIDADE
Servidor possui cônjuge
Servidor possui pessoa da Servidor foi convocado para Servidor deve demonstrar
que deve servir mandato ou
família doente serviço militar assiduidade no serviço
missão
Depende de inspeção Documento que comprove a Exercer suas funções por 5
Pedido simples
médica incorporação anos ininterruptos
Enquanto durar o serviço
90 dias, prorrogável mais 90 2 anos; admite renovação; Três meses
militar
dias (com vencimentos) sem vencimentos (com vencimentos)
(com vencimentos)

TRATAR DE INTERESSES EXERCER MANDATO ELETIVO/ APERFEIÇOAMENTO


PARTICULARES CLASSISTA PROFISSIONAL
Servidor tem interesse em realizar
Servidor possui um problema Servidor é candidato a exercer manda- estudos ou missão oficial compatí-
particular to eletivo ou classista veis com a formação e as funções
exercidas
Deve ser estável - Deve ser estável
Enquanto durar mandato
Até 3 anos, admite prorrogação (sem Enquanto durar o curso/missão
(sem vencimentos, EXCETO para os
vencimentos) (com vencimentos)
mandatos de Prefeito e Vereador)

Outra vantagem não pecuniária está prevista no art. 141, que trata do direito de petição, assegurando ao
servidor estadual o direito de requerer, pedir reconsideração e recorrer de decisões.
O servidor público, bem como qualquer cidadão brasileiro, tem direito de pleitear contra o Estado, exigindo
do mesmo uma resposta diante do seu requerimento, valendo ressaltar que esse direito não admite pagamento
de custas. É uma garantia prevista constitucionalmente, dada a sua grande importância.
O direito de petição é fruto da própria noção de Estado de Direito, abrangendo três peças a serem utilizadas
pelo servidor em processo administrativo: o requerimento, o pedido de reconsideração e o recurso hierárquico.

Art. 142 O requerimento é dirigido à autoridade competente para decidí-lo e encaminhado por intermédio daquele
a quem o requerente esteja imediatamente subordinado.
Art. 143 Cabe pedido de reconsideração, que não pode ser renovado, à autoridade que tenha expedido o ato ou pro-
ferido a primeira decisão. Parágrafo único. O requerimento e o pedido de reconsideração devem ser decididos dentro
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
de trinta dias, prorrogáveis por igual período, em caso de diligência.
Art. 144 Sob pena de responsabilidade, será assegurado ao servidor:
I – o rápido andamento dos processos de seu interesse nas repartições públicas;
II – a ciência das informações, pareceres e despachos dados em processos que a ele se refiram;
III – a obtenção de certidões requeridas para defesa de seus direitos e esclarecimentos de situações, salvo se o inte-
resse público impuser sigilo.

O pedido de reconsideração é cabível à autoridade que tenha expedido o ato ou proferido a primeira decisão.
O requerimento e o pedido de reconsideração devem ser decididos dentro de trinta dias, prorrogáveis por igual
período, em caso de diligência.
O recurso hierárquico é tratado pelo art. 146. Vejamos:

Art. 146 Cabe recurso:


I – do indeferimento do pedido de reconsideração;
II – das decisões sobre os recursos, sucessivamente interpostos.
§ 1º O recurso é dirigido à autoridade imediatamente superior à que tenha expedido o ato proferido a decisão e,
sucessivamente na escala ascendente, às demais autoridades, devendo ser decidido no prazo de 30 (trinta) dias.
§ 2º Nenhum recurso pode ser dirigido mais de uma vez à mesma autoridade.
§ 3º O recurso é encaminhado por intermédio da autoridade a que o requerente esteja imediatamente subordinado. 571
§ 4º Os pedidos de reconsideração e os recursos As proibições se traduzem em condutas que o
não têm efeito suspensivo; os que sejam provi- servidor não pode, em hipótese nenhuma, praticar
dos, porém, dão lugar às retificações necessárias, durante o exercício de suas atribuições. Elas estão
retroagindo seus efeitos à data do ato impugnado. previstas no art. 155.

O recurso hierárquico é aquele dirigido não à auto- Art. 155 Ao servidor é proibido:
ridade que proferiu a decisão, mas àquela hierarqui- I – ausentar-se do serviço durante o expediente,
camente superior. sem prévia autorização do chefe 37 imediato;
Quanto ao efeito suspensivo, o § 4º do art. 146 dis- II – retirar, sem prévia anuência da autoridade
põe que os pedidos de reconsideração e os recursos competente, qualquer documento ou objeto da
não têm efeito suspensivo. Na prática, isso não é total- repartição;
III – recusar fé a documentos públicos;
mente verdadeiro, pois pode o recorrente, desde que
IV – opor resistência injustificada ao andamento de
esteja expresso e o recurso seja interposto dentro do
documento e processo ou execução de serviços;
prazo correto (tempestivo), requerer a suspensão da V – promover manifestações de apreço ou desapre-
decisão que corre contra ele. No entanto, se houver ço no recinto da repartição;
alguma questão de prova abordando sobre o tema, é VI – cometer a pessoa estranha à repartição, fora
melhor se ater à letra da Lei. dos casos previstos em lei, o desempenho de atri-
Nossa interpretação é a de que o texto do dispo- buição que seja de sua responsabilidade ou de seu
sitivo diz que os recursos não têm efeito suspensivo, subordinado;
pelo menos, de ofício. O efeito suspensivo deve ser VII – coagir ou aliciar subordinados no sentido de
concedido toda vez que houver justo receio de prejuí- filiarem-se a associação profissional ou sindical, ou
zo, de reparação difícil ou incerta. Apenas o pedido de a partido político;
reconsideração é que não pode, em hipótese nenhu- VIII – manter sob sua chefia imediata, em cargo
ma, suspender a decisão. ou função de confiança, cônjuge, companheiro ou
parente até segundo grau civil;
IX – valer-se do cargo para lograr proveito pessoal
Art. 148 [...]
ou de outrem, em detrimento da dignidade da fun-
I – em cinco anos, quanto aos atos de demissão, cas-
ção pública;
sação de aposentadoria e de disponibilidade ou que
X – participar de gerência ou administração de
afetem interesse patrimonial e créditos resultantes
empresa privada, de sociedade civil, ou exercer o
da relação de trabalho; comércio, exceto na qualidade de acionista, cotista
II – em 180 (cento e oitenta) dias, nos demais casos. ou comanditário;
XI – atuar, como procurador ou intermediário,
As regras específicas sobre o processo administra- junto as repartições públicas, salvo quando se tra-
tivo disciplinar serão vistas mais adiante. tar de benefícios previdenciários ou assistenciais
de perante até o segundo grau e de cônjuge ou
DO REGIME DISCIPLINAR companheiro;
XII – receber propina, comissão, presente ou van-
Dos Deveres e das Vedações Impostas aos tagem de qualquer espécie, em razão de suas
atribuições;
Servidores Públicos
XIII – aceitar comissão, emprego ou pensão de
Estado estrangeiro;
Os servidores públicos, dada a sua grande impor- XIV – praticar usura sob qualquer de suas formas;
tância para as funções estatais, possuem uma gama de XV – proceder de forma desidiosa;
deveres e de vedações, isto é, de condutas que ele deve XVI – utilizar pessoal ou recursos materiais de
seguir e de condutas que ele é proibido de praticar. repartição em serviço ou atividades particulares;
Os deveres imputados a todo servidor estadual XVII – cometer a outro servidor atribuições estra-
estão previstos no art. 154. É um grande rol e a sua nhas ao cargo que ocupa, exceto em situações de
emergência e transitórias;
memorização tende a ser mais eficiente por meio da
XVIII – exercer quaisquer atividades que sejam
leitura da lei seca. Vejamos: incompatíveis com o exercício do cargo ou função e
com o horário de trabalho;
Art. 154 São deveres do servidor: XIX – deixar de pagar dívidas ou pensões a que este-
I – assiduidade e pontualidade; ja obrigado em virtude de decisão judicial.
II – urbanidade;
III – lealdade às instituições a que servir; Algo importante sobre essas vedações é que, a
IV – observância das normas legais e depender da natureza e da sua gravidade, pode ense-
regulamentares; jar a aplicação de uma sanção disciplinar mais branda
V – obediência às ordens superiores, exceto quando ou mais severa. Veremos a respeito desse tema mais
manifestamente ilegais; adiante.
VI – atender prontamente às requisições para defe- Outra vedação, que não aparece nesse rol do art.
sa da Fazenda Pública e à expedição de certidões; 155, diz respeito à acumulação de cargos públicos.
VII – zelar pela economia do material e conserva- O art. 156 diz que, em regra, a acumulação de cargos
ção do patrimônio público; públicos é vedada, salvo as hipóteses previstas na
VIII – representar contra a ilegalidade ou abuso de Constituição.
poder, por via hierárquica;
IX – levar ao conhecimento da autoridade as irre- Art. 156 É vedada a acumulação remunerada de
gularidades de que tiver ciência; cargos públicos ressalvados os casos previstos na
X – manter conduta compatível com a moralidade Constituição Federal.
572 administrativa.
§ 1º A proibição de acumular estende-se a cargos, empregos e funções em autarquias, fundações públicas, empresas
públicas, sociedades de economia mista da União, do Distrito Federal, Estado e dos Municípios.
§ 2º A acumulação de cargos, ainda que lícita, é condicionada à comprovação de compatibilidade de horários.

É permitida, excepcionalmente, a acumulação remunerada de cargos públicos quando houver compatibilida-


de de horários nos casos previstos no art. 37, XVI, da Constituição Federal: de 2 (dois) cargos de professor; de 1
(um) cargo de professor com outro técnico ou científico, de nível médio ou superior; de 2 (dois) cargos privativos
de médico.
Cargo técnico ou científico pode ser compreendido como o cargo que requer um conhecimento técnico especí-
fico na área de atuação do profissional, exigindo habilitação legal específica, que pode ser de grau universitário ou
profissionalizante de segundo grau. Essa exigência de habilitação legal específica tem origem na jurisprudência. O
STJ pacificou o entendimento, durante o julgamento do RMS 14.456/AM, proferido pelo Ministro relator Hamilton
Carvalhido, que “não é possível a acumulação dos cargos de professor e Técnico Judiciário, de nível médio, para o
qual não se exige qualquer formação específica e cujas atribuições são de natureza eminentemente burocráticas”.
Sobre os “dois cargos de médico”, vale frisar que essa expressão deve ser interpretada de forma abrangente,
podendo recair não apenas para cargos privativos de médico, como para qualquer profissional da área da saúde,
incluindo por exemplo os(as) enfermeiros(as).
É, também, importante lembrar das hipóteses de acumulação de cargos e remuneração com os mandatos de
Prefeito e Vereador vistas anteriormente. Para melhor destacar o referido conteúdo, segue uma tabela explicativa:

ACUMULAÇÃO DE CARGOS PÚBLICOS PERMITIDA PELA CF, DE 1988 E LEGISLAÇÃO FEDERAL/ESTADUAL


2 cargos de professor
1 professor + 1 técnico ou científico
2 cargos privativos de médico/profissional saúde
1 cargo público + cargo político Prefeito ou Vereador

Da Responsabilidade dos Servidores

O Estatuto apresenta, em seu art. 160, o que a doutrina gosta de denominar de tríplice responsabilidade dos
servidores públicos. Ela é tríplice, porque o servidor responde civil, penal e administrativamente pelo exercício
irregular de suas atribuições.

Art. 160 O servidor responde civil, penal e administrativamente pelo exercício irregular de suas atribuições.

A responsabilidade civil decorre de conduta funcional, comissiva ou omissiva, dolosa ou culposa, que acarrete
prejuízo para o patrimônio do Estado, de suas entidades ou de terceiros.

Art. 161 A responsabilidade civil decorre de procedimento doloso ou culposo que importe em prejuízo do patri-
mônio do Estado ou terceiros.
§ 1º A indenização pelos prejuízos causados à Fazenda Pública pode ser liquidada através de desconto em folha, em
parcelas mensais inferiores à décima parte da remuneração ou provento.
§ 2º Tratando-se de dano causado a terceiros, o servidor responde perante a Fazenda Pública, em ação regressiva.
Art. 162 A responsabilidade penal abrange os crimes e contravenções imputados ao servidor, nessa qualidade.
Art. 163 A responsabilidade administrativa resulta de ato omissivo ou comissivo praticado no desempenho de cargo
ou função.

A responsabilidade penal abrange os crimes e contravenções imputados, por lei, ao funcionário nesta quali-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
dade. A responsabilidade administrativa, por outro lado, consiste na instauração de processo disciplinar, a fim de
analisar a conduta delituosa do agente e decidir pela aplicação da pena mais adequada.
É imprescindível reforçar que a aplicação de qualquer pena ao servidor público pressupõe um processo admi-
nistrativo, sendo assegurado ao acusado o direito ao contraditório e à ampla defesa, sendo obrigatória, inclusive,
a presença do advogado em todas as fases do referido processo (Súmula nº 343, do STJ). Todavia, tal entendimento
vem sofrendo alteração, pois o STF já reconheceu, na Súmula Vinculante nº 5, o entendimento de que a falta de
defesa técnica no processo administrativo disciplinar não é inconstitucional.

Art. 164 A responsabilidade administrativa não exime a responsabilidade civil ou criminal, nem o pagamento da
indenização elide a pena disciplinar.
Art. 165 A responsabilidade civil ou administrativa do servidor é afastada em caso de absolvição criminal que negue
a existência do fato ou sua autoria.

A regra geral é que as esferas de responsabilidade são independentes e não se comunicam entre si. Isso sig-
nifica que, uma absolvição na esfera administrativa não seja, automaticamente, em absolvição na esfera penal.
Contudo, essa regra apresenta uma importante exceção: a responsabilidade patrimonial e administrativa do
servidor será afastada no caso de absolvição criminal que dê como provada a inexistência do fato ou de
sua autoria.
573
Esquematicamente, podemos dividir as três esferas de responsabilidade, destacando-se a sua natureza, os
tipos de sanções impostas e da possibilidade delas se comunicarem entre si. Vejamos:

RESPONSABILIDADE
RESPONSABILIDADE CIVIL RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA
CRIMINAL
Natureza indenizatória (reparação de Natureza disciplinar (apurar transgressões Natureza penal (apurar crimes
danos) disciplinares) e contravenções)
Sanção: advertência, repreensão, suspen- Sanção: decretação de prisão
Sanção: restituição de valores ao erário
são, demissão, cassação de aposentadoria e restrição de direitos

Das Sanções Disciplinares

Não cumprindo um dos deveres ou na ocorrência de uma das proibições previstas em Lei, ao servidor será
aplicada as seguintes sanções (ou penas) disciplinares, na forma do art. 166:

Art. 166 São penalidades disciplinares:


I – repreensão;
II – suspensão;
III – demissão;
IV – cassação de aposentadoria ou disponibilidade;
V – destituição de cargo em comissão;
VI – destituição de função gratificada.

Os arts. 167 e seguintes apresentam quais infrações são passíveis de aplicar a correspondente sanção.

Art. 167 São infrações disciplinares puníveis com pena de repreensão, inserta nos assentamentos funcionais:
I – inobservar o dever funcional previsto em lei ou regulamento;
II – deixar de atender convocação para júri ou serviço eleitoral;
III – desrespeitar, verbalmente ou por atos, pessoas de seu relacionamento profissional ou público;
IV – deixar de pagar dívidas ou pensões a que esteja obrigado em virtude de decisão judicial;
V – deixar de atender, nos prazos legais, sem justo motivo, sindicância ou processo disciplinar.
Art. 168 São infrações disciplinares puníveis com suspensão de até 10 (dez) dias:
I – a reincidência de qualquer um dos itens do artigo 167;
III – faltar à verdade, com má fé, no exercício das funções;
IV – deixar, por condescendência, de punir subordinado que tenha cometido infração disciplinar;
X – retirar, sem autorização escrita do superior, qualquer documentos ou objeto da repartição.
Art. 169 São infrações disciplinares puníveis com suspensão de até 30 (trinta) dias:
I – a reincidência de qualquer um dos itens do artigo 168;
II – ofensa física, em serviço, contra qualquer pessoa, salvo em legítima defesa;
VI – aceitar representação ou vantagens financeiras de Estado estrangeiro;
Art. 170 São infrações disciplinares puníveis com demissão:
I - crime contra a administração pública;
II - abandono de cargo ou emprego; (Redação dada pela LC nº 164, de 27.12.1996)
III - inassiduidade habitual;
IV - improbidade administrativa;
VI – insubordinação grave em serviço;
VIII – aplicação irregular de dinheiro público;
X – lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimônio público;
XI – corrupção em quaisquer modalidades;
XII – acumulação ilegal de cargos, empregos ou funções públicas;
XIII – a transgressão dos incisos IX a XVII do artigo 155;

O Estatuto não prevê hipóteses de aplicação da cassação de aposentadoria ou disponibilidade, apenas afirma
em seu art. 171 os casos em que ela será aplicada. Vejamos:

Art. 171 A cassação de aposentadoria ou disponibilidade aplica-se:


I – ao servidor que, no exercício de seu cargo, tenha praticado falta punível com demissão;
II – ao servidor que, mesmo aposentado ou em disponibilidade, aceite representação ou vantagens financeiras de
Estado estrangeiro, sem prévia autorização da autoridade competente.

É impossível demitir o servidor que já está aposentado, uma vez que ele não trabalha mais. Por isso, o servidor
aposentado não é exonerado, mas pode ter a sua aposentadoria cassada.

Art. 178 Para a imposição de pena disciplinar são competentes:


I – no caso de demissão e cassação de aposentadoria ou de disponibilidade, a autoridade competente para nomear
ou aposentar;
II – no caso de suspensão, o Secretário de Estado, autoridades equivalentes, dirigentes de 43 autarquias e fundações
públicas;
574 III – no caso de repreensão, a chefia imediata.
Art. 179 Prescreve em 5 (cinco) anos a ação puni- apuração preliminar de infrações disciplinares,
tiva da Administração Pública Estadual, direta e podendo ensejar, ou não, a imediata imputação de
indireta, objetivando apurar infração à legislação pena, desde que assegurada, ao acusado, ampla
em vigor, contados da data da prática do ato ou, no defesa, e não restem dúvida quanto à culpabilidade,
caso de infração permanente ou continuada, do dia nos termos do Capítulo II, deste Título.
em que tiver cessado.
§ 1º Incide a prescrição no procedimento adminis- Pela leitura do dispositivo, conclui-se que a sindi-
trativo paralisado por mais de 3 (três) anos, pen- cância é um procedimento apuratório sumário através
dente de julgamento ou despacho, cujos autos serão
do qual o Estado ou suas autarquias reúnem elementos
arquivados de ofício ou mediante requerimento da
informativos para determinar a verdade em torno de
parte interessada, sem prejuízo da apuração da res-
ponsabilidade funcional decorrente da paralisação, possíveis irregularidades que possam configurar, ou
se for o caso. não, ilícitos administrativos.
§ 2º Quando o fato objeto da ação punitiva da admi- Comparando com o processo penal, pode-se afir-
nistração também constituir crime, a prescrição mar que a sindicância é como se fosse a “fase inves-
reger-se-á pelo prazo previsto na Lei Penal. tigativa”, pois o seu fim não resulta em uma sentença
ou decisão. Ela serve, primordialmente, para apurar o
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR que ocorreu e se há necessidade de instaurar o proces-
so. Apesar disso, é possível que a sindicância resulte
O Processo Administrativo Disciplinar (PAD) é na aplicação de pena de repreensão ou de suspensão
o meio pelo qual a autoridade competente apura as (nunca de demissão).
transgressões cometidas pelos agentes públicos, apli- Pode-se concluir, então, que a sindicância nada
cando a eles as respectivas sanções. A sua instauração mais é que uma averiguação sumária promovida no
torna-se imprescindível, pois é a oportunidade que o intuito de obter informações ou esclarecimentos ne-
servidor acusado tem para se defender. cessários à determinação do verdadeiro significado
A aplicação da pena de demissão sempre pressu- dos fatos denunciados. Ela compreende uma etapa
põe um processo disciplinar, que visa garantir o direi- que pode ocorrer antes do curso do procedimento or-
to ao contraditório e à ampla defesa. Nesse mesmo dinário (Art. 189), mas não é, necessariamente, uma
sentido, prevê a Súmula nº 20, do STF: “É necessá- etapa obrigatória do processo ordinário.
rio processo administrativo com ampla defesa, para Ademais, ela não é essencial ao curso do PAD se
demissão de funcionário admitido por concurso”. a transgressão for considerada gravíssima, sujeita
A necessidade de um processo formal é assegura- a uma pena incompatível com a sindicância, ou se
da, inclusive, para o servidor em estágio probatório, a transgressão se configura automaticamente, não
conforme dispõe a Súmula nº 21 do STF: “Funcioná- havendo necessidade de sua investigação.
rio em estágio probatório não pode ser exonerado nem
demitido sem inquérito ou sem as formalidades legais Art. 183 A sindicância que tomarem conhecimento
de apuração de sua capacidade”. de transgressões disciplinares praticadas por servi-
Veremos, a seguir, as principais características do dores deverão remeter a documentação pertinente
Processo Disciplinar pelo Estatuto dos Servidores Públi- ou a prova material da infração, ao Secretário de
cos de Rondônia. Dispõe o caput do art. 181 que a auto- Estado ou titular do órgão a que pertence o servi-
ridade que tiver ciência de irregularidades no serviço dor, o qual determinará a instauração imediata de
público é obrigada a promover a sua apuração imedia- sindicância mediante portaria, constituindo comis-
ta, mediante sindicância ou processo disciplinar. são composta de servidores ao mesmo subordina-
Guarde bem esse conceito: o processo administra- do, aplicando-se, no que couber, os critérios dos
tivo disciplinar é o instrumento destinado a apurar artigos 194 e 199, desta Lei Complementar.
as responsabilidades do servidor por infração prati-
cada no exercício de suas atribuições ou relacionada A sindicância se instaura mediante portaria, for-
com o cargo que ocupa. Esse processo pode ocorrer malizando-se o processo que deve conter algumas
em procedimento ordinário ou em sindicância. peças essenciais, todas elas previstas no artigo 184:
Segue um fluxograma sobre como corre o Processo
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Administrativo Disciplinar: Art. 184 A instauração de sindicância é formali-
zada pela autuação da portaria, formalizando-se
o processo que deve conter, ao final, as seguintes
Procedimento peças:
SINDICÂNCIA Administrativo Recursos I – denúncias e outros documentos que a instruem;
Ordinário II – certidão ou cópia da ficha funcional do acusado;
III – designação de dia, hora e local para:
a) depoimento de testemunhas;
Da Sindicância b) audiência inicial;
c) citação do acusado para acompanhar o proces-
A sindicância está prevista no parágrafo único do so pessoalmente ou por intermédio de procurador
art. 181. Vejamos: devidamente habilitado, bem como para interroga-
tório no prazo de 03 (três) dias;
IV – certidões dos atos praticados;
Art. 181 A autoridade que tiver ciência de irregula- V – abertura de prazo de, no máximo, 5 (cinco) dias
ridades no serviço público é obrigada a promover para o sindicado apresentar defesa, à critério da
a sua apuração imediata, mediante sindicância ou comissão;
processo disciplinar. VI – relatório da comissão;
Parágrafo único. A instauração de sindicância é de VII – julgamento da autoridade, ou fundamentação
competência do Secretário de Estado ou titu- para a remessa dos autos a Comissão Permanente
lar do órgão a que pertence o servidor, para de Processo Administrativo Disciplinar – CPPAD; 575
VIII – publicação do julgamento. § 1º Compete ao Chefe do Poder Executivo, prorro-
Parágrafo único – A autoridade julgadora da sindi- gar por mais 50 (cinquenta) dias, o prazo de suspen-
cância só poderá imputar pena de sua responsabili- são já ordenada, findo o qual cessará o respectivo
dade se a comissão houver facultado ampla defesa efeito ainda que o processo não esteja concluído.
ao acusado. § 2º Não decidido o processo no prazo de afasta-
mento ou de sua prorrogação, o indiciado reassu-
Da sindicância poderá resultar um desses três mirá automaticamente o exercício de seu cargo ou
caminhos: o arquivamento do processo, a aplicação função, aguardando aí, o julgamento
de penalidade de repreensão ou suspensão de até
30 (trinta) dias ou, ainda, a instauração de processo Dica
disciplinar.
Enquanto corre o processo disciplinar, seja por
Art. 189 A sindicância é meio eficaz para apurar, sindicância ou por processo ordinário, o servi-
em primeiro plano, a veracidade de denúncias ou a dor deve ser afastado preventivamente do ser-
existência de irregularidades passíveis de punição, viço quando a sua presença possa prejudicar a
podendo ensejar a abertura de Processo Adminis- apuração dos fatos. O afastamento preventivo é
trativo Disciplinar. disciplinado pelo art. 191, que dispõe que o ser-
§ 1º O processo de sindicância será arquivado quan- vidor deverá ser suspenso de seu serviço pelo
do o fato narrado não configurar evidente infração prazo máximo de 30 dias, sem prejuízo da sua
disciplinar ou ilícito penal, ou quando evidenciada
remuneração.
a falta de indício suficiente para a instauração do
Processo Administrativo Disciplinar.
§ 2º O prazo para conclusão da sindicância não Do Processo Disciplinar Ordinário
excederá 30 (trinta) dias, podendo ser prorrogado
por mais 5 (cinco) dias, a critério da autoridade Art. 192 O Processo Administrativo Disciplinar é
superior. o instrumento destinado a apurar responsabilida-
§ 3º A fase instrutória encerra-se com o relatório de de servidor por infração praticada no exercício
de instrução no qual são resumidos os fatos e as de suas atribuições, ou que tenha relação com as
respectivas provas, tipificada, ou não, a infração atribuições do cargo em que se encontre investido,
disciplinar visando o encerramento ou continuação assegurando-se, ao denunciado, ampla defesa.
do feito através de arquivamento e/ou abertura de Parágrafo único. A entidade sindical representativa
Processo Administrativo Disciplinar. da categoria do servidor processado poderá indicar
representante para acompanhamento do processo
Conforme prevê o § 1º do art. 189, o processo de
sindicância será arquivado quando o fato narrado Pode-se definir o processo disciplinar ordinário
não configurar evidente infração disciplinar ou ilícito como o instrumento destinado a apurar a responsa-
penal, ou quando evidenciada a falta de indícios sufi- bilidade do servidor público pela infração pratica-
cientes para a instauração do Processo Administrativo da no exercício de suas atribuições ou que tenha
Disciplinar. relação com as atribuições do cargo em que se
encontre investido. Todo o conteúdo apurado na sin-
Art. 190 Sempre que o ilícito praticado pelo servi- dicância será posto em apenso ao processo.
dor ensejar a imposição de pena que não seja da Quanto a competência para determinar a abertura
competência da autoridade responsável pela sindi- de um PAD, vejamos o art. 193:
cância, será obrigatória a instauração de Processo
Disciplinar, com a remessa dos autos da sindicân- Art. 193 São competentes para determinar a aber-
cia à Comissão Permanente de Processo Adminis- tura de Processo Administrativo Disciplinar, o
trativo Disciplinar – CPPAD. Governador do Estado, os Secretários de Estado, os
Parágrafo único. Na hipótese de o relatório con- Presidentes de Autarquias e Fundações, e os Titu-
cluir que a infração está capitulada como ilícito lares dois demais Poderes e Órgãos Públicos, nas
penal a autoridade competente encaminhará cópia áreas de suas respectivas competências.
dos autos à autoridade policial para instauração de
inquérito policial, independente da imediata instau-
ração do Processo Administrativo Disciplinar. Governador do Estado

Uma vez constado que o ilícito praticado pelo ser-


vidor enseja a imposição de pena que não seja da com-
petência da autoridade responsável pela sindicância, Secretários de Estado
será obrigatória a instauração de Processo Discipli- COMPETENTES PARA
DETERMINAR A
nar, com a remessa dos autos à Comissão Permanente
ABERTURA DE PAD
de Processo Administrativo Disciplinar – CPPAD (Art. Presidentes de Autarquias
190). e Fundações
A respeito do afastamento preventivo do servido,
vejamos o disposto no art. 191: Titulares dos demais
Poderes e Órgãos
Art. 191 Cabe a suspensão preventiva do servidor, Públicos
sem prejuízo da remuneração, em qualquer fase do
Processo Administrativo Disciplinar a que esteja
respondendo, pelo prazo de 30 (trinta) dias, desde
que sua permanência em serviço possa prejudicar
a apuração dos fatos.
576
O processo disciplinar é dividido em três fases: a § 1º Havendo mais de um acusado, o prazo é
instauração, com a publicação do ato que constituir a comum e de 10 (dez) dias.
comissão; a fase instrutória, que compreende a apre- § 2º Achando-se o acuso em lugar incerto e não
sentação da Portaria, a defesa do acusado e o relatório sabido, expedir-se-á edital, com prazo de 10 (dez)
de todas as provas que foram colhidas; o julgamento, dias, publicado 01 (uma) vez no Diário Oficial
com a possibilidade de interpor recurso. do Estado, e fixado no quadro de avisos do órgão
ao qual o acusado é vinculado, para que o mesmo
se apresente para interrogatório e/ou protocolar
Art. 194 O Processo Administrativo Disciplinar
sua defesa.
será conduzido por uma comissão composta de 3
§ 3º O prazo a que se refere o parágrafo anterior,
(três) servidores dentre os componentes da Comis-
será contado da publicação, que deve ser juntada
são Permanente de Processo Administrativo Dis-
no processo pelo Secretário.
ciplinar – CPPAD, designados pelo Coordenador
Geral, indicando, entre seus membros o respectivo
Presidente. Se o acusado não apresentar defesa no prazo esta-
§ 1º A designação da comissão será feita por meio belecido no §3º do art. 199, será considerado revel. A
de portaria da qual constará, detalhadamente, o revelia, no PAD, enseja que a autoridade instauradora
motivo da instauração do processo. do processo designe ao revel um servidor para atuar
§ 2º O Presidente da comissão designará um servi- como seu defensor dativo.
dor para secretariar os trabalhos.
§ 3º Não poderá participar de comissão de sindi- Art. 201 Considerar-se-á revel o acusado que, regu-
cância ou de Processo Administrativo Disciplinar, larmente citado, não apresentar defesa no prazo
cônjuge, companheiro ou parente do acusado, con- legal.
sanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até § 1º A revelia será declarada por termos nos autos
o terceiro grau. do processo, e reputar-se-ão verdadeiros os fatos
Art. 195 Após publicação da portaria de instaura- afirmados na acusação.
ção, ou recebimento da cópia desta pelo acusado, § 2º Para defender o servidor revel, a autoridade
terá a comissão o prazo de 50 (cinquenta) dias para instauradora do processo designará um servidor
relatar o processo sendo admitida a sua prorroga- estável como defensor dativo, ocupante do cargo
ção por mais 30 (trinta) dias, quando as circunstân- de nível igual ou superior ao indiciado, permitindo
cias o exigirem. seu afastamento do serviço normal da repartição
§ 1º Em qualquer hipótese, a publicação é obriga- durante o tempo estritamente necessário ao cum-
tória. primento daquele mister.
§ 2º Os autos da sindicância integram o Processo § 3º O servidor nomeado terá um prazo de 05 (cin-
Administrativo Disciplinar, como peça informativa co) dias, contados a partir da ciência de sua desig-
da instrução. nação, para oferecer a defesa.

Pela leitura dos dispositivos, vemos que o PAD Uma vez citado, o indiciado poderá requerer suas
ordinário é coordenado por uma Comissão, que fica provas no prazo de 5 (cinco) dias, podendo renovar
encarregada de fazer toda a fase instrutória do pro- o pedido, no curso do inquérito, se necessário, para
cesso, envolvendo a apresentação de documentos, demonstração de fatos novos. Essa pode ser considera-
depoimentos de testemunhas e outros meios de prova da a fase instrutória do PAD, uma vez que é justamen-
admitidos. Ao final, a Comissão deve emitir um rela- te nessa fase que ocorrem a tomada de depoimento,
tório de tudo o que ocorreu, dando um voto final pela as acareações, as investigações e diligências cabíveis,
condenação ou inocência do servidor autuado. objetivando a coleta de provas.
Uma vez instaurado o processo, mediante a publi- A fase de julgamento começa quando são finaliza-
cação da Portaria, e uma vez recebida pelo mesmo, dos todos os trabalhos de coleta de provas pela Comis-
deverá ser promovida a citação do acusado. Vejamos: são. Essa etapa é melhor tratada no art. 202:

Art. 196 Instaurado o Processo Administrativo Dis- Art. 202 Recebida a defesa será anexada aos autos,
ciplinar com o extrato da portaria de instauração, mediante termo, após o que a comissão elaborará
que conterá a acusação imputada ao servidor com relatório em que fará histórico dos trabalhos reali-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
todas as suas características, o presidente determi- zados e apreciará, isoladamente, em relação a cada
nará a citação do acusado para interrogatório acusado, as irregularidades imputadas e as provas
no prazo mínimo de 24 (vinte e quatro) horas. colhidas no processo, propondo então, justificada-
Art. 197 Em caso de recusa do acusado, em apor o mente, a isenção de responsabilidade ou a punição,
e indicando, neste último caso, a penalidade que
ciente na cópia da citação, o prazo para defesa pas-
couber ou as medidas que considerar adequadas.
sa a contar da data declarada em termo próprio,
§ 1º Deverá, ainda, a Comissão em seu relatório
pelo membro da comissão que fez a citação, do dia
sugerir quaisquer providências que lhe pareça de
em que esta se deu. interesse do serviço público.
Art. 198 O acusado que mudar de residência fica § 2º Na conclusão do relatório a comissão disci-
obrigado a comunicar à comissão, o lugar onde plinar reconhece a inocência ou a culpabilidade
poderá ser encontrado. do acusado, indicando no segundo caso, as dispo-
Art. 199 Superado o interrogatório, a citação será sições legais transgredidas e as comunicações a
para proporcionar o prazo de 5 (cinco) dias para serem impostas.
apresentação de defesa prévia, na qual o acusa- § 3º O Processo Administrativo Disciplinar e seu
do deverá requerer as provas a serem produzidas, relatório serão remetidos à autoridade que deter-
apresentando o rol de testemunhas até o máxi- minou sua instauração para aprovação ou justifi-
mo de 3 (três), as quais serão notificadas, se forem cativas, e posterior encaminhamento ao Secretário
diversas daquelas inquiridas na sindicância. de Estado da Administração para julgamento.

577
O relatório não é a sentença definitiva. Não é Apesar do Estatuto não dispor de forma clara, uma
a Comissão que julga o servidor indiciado, devendo vez que o PAD é considerado, na sua essência, um ato
constar, no relatório, que todas as etapas do proces- administrativo (ou uma sequência desses atos), ele é
so, até o momento, foram devidamente cumpridas, passível de recurso. Como vimos, o servidor inconfor-
podendo até concluir sobre a inocência ou culpabili- mado com a decisão poderá interpor requerimento,
dade do referido servidor (Art. 202, § 1º). pedido de reconsideração ou recurso hierárquico.
Esse relatório será anexado aos autos e, finalmen-
te, será remetido à autoridade que instaurou o PAD, Da Revisão do Processo Disciplinar
para aprovação ou apresentar justificativas, quando
constar algum erro e, posteriormente, será encami- A qualquer tempo, poderá ser requerida a revisão
nhado ao Secretário de Estado da Administração para do procedimento administrativo, na forma do art. 217,
julgamento. a pedido do próprio servidor, quando se aduzirem
fatos novos ou circunstâncias suscetíveis de justificar
Art. 203 Recebido o processo, o Secretário de Esta- a inocência do punido ou a inadequação da penalida-
do de Administração, julgar-lo-á no prazo de 5 (cin- de aplicada.
co) dias a contar de seu recebimento.
§ 1º A autoridade de que trata este artigo poderá Art. 217 O Processo Administrativo Disciplinar
solicitar parecer de qualquer órgão ou servidores pode ser revisto no prazo prescricional, a pedido,
sobre o processo, desde que o julgamento seja pro- quando se aduzirem fatos novos ou circunstâncias
ferido no prazo legal. suscetíveis de justificar a inocência do punido ou a
§ 2º O julgamento deverá ser fundamentado, pro- inadequação da penalidade aplicada
movendo, ainda, a autoridade a expedição dos atos
decorrentes e as providências necessárias à sua
A revisão se distingue dos recursos justamente no
execução, inclusive, a aplicação da penalidade.
que tange a sua fundamentação: deve surgir algum
fato novo que possa alterar a condenação (ou ino-
O Secretário de Estado possui prazo de 5 dias para
cência) do servidor acusado. Outro ponto caracterís-
julgar o processo, contados da data do recebimento
tico da revisão é que ela não precisa ser arguida pelo
dos autos, junto com o relatório. O § 2º do art. 203
próprio servidor. Porém, o art. 218 e 219 apresentam
determina que o julgamento deverá ser fundamenta-
exceções quanto a necessidade da revisão ser arguida
do, promovendo, ainda, a autoridade a expedição dos
pelo próprio servidor, são elas: em caso de falecimen-
atos decorrentes e as providências necessárias à sua
to, ausência ou desaparecimento do servidor punido
execução, inclusive, a aplicação da penalidade.
e quando o servidor se tornar incapaz. Nestes casos,
É importante o texto do art. 210 e 211. Vejamos:
para saber quem deve requerer a revisão, devemos
observar a literalidade dos artigos:
Art. 210 No prazo de 10 (dez) dias, contados do
recebimento do processo, a autoridade julgadora
Art. 218 Em caso de falecimento, ausência ou desa-
proferirá a sua decisão.
parecimento do servidor punido, qualquer pessoa
§ 1º Havendo mais de um acusado e diversidade de
pode requerer a revisão do processo.
sanções, o julgamento caberá à autoridade compe-
Art. 219 No caso de incapacidade mental do ser-
tente para a imposição da pena mais grave.
vidor, a revisão será requerida pelo respectivo
§ 2º Se a penalidade prevista for a demissão ou a
curador.
casacão de aposentadoria ou disponibilidade, o jul-
gamento caberá à autoridade de que trata o inciso
I do artigo 178. Vejamos agora outros pontos importantes no que
Art. 211 O julgamento acatará o relatório da comis- tange à revisão do processo disciplinar:
são, salvo quando este seja em contrário à prova dos
autos. Art. 220 Na petição revisional, o requerente pedi-
Parágrafo único. Quando o relatório da comissão rá dia e hora para a produção de provas e inquiri-
contrariar as provas dos autos, a autoridade julga- ção das testemunhas que arrolar. Parágrafo único.
dora poderá, motivadamente, agravar a penalida- No processo revisional, o ônus da prova cabe ao
de de proposta abrandá-la ou isentar o servidor de requerente.
responsabilidade. Art. 221 A simples alegação de injustiça da penali-
dade não constitui fundamento para a revisão, que
O relatório da Comissão não vincula a autoridade requer elementos ainda não apreciados no proces-
julgadora. Significa, de modo geral, que a autoridade jul- so originário. [...]
Art. 227 Julgada procedente a revisão, a penali-
gadora não é obrigada a decidir da mesma forma que
dade aplicada poderá ser atenuada, ou declarada
consta no relatório, podendo proferir decisão diversa,
sem efeito, restabelecendo-se todos os direitos do
quando o relatório contrariar as provas produzidas nos
servidor, exceto em relação à destituição de cargo
autos. Quando a infração estiver capitulada como cri- em comissão, hipótese em que essa penalidade será
me, uma cópia do Processo Administrativo Disciplinar convertida em exoneração.
será remetida ao Ministério Público para a instalação da
ação penal, de acordo com o que dispõe o art. 214. DA APOSENTADORIA DO SERVIDOR PÚBLICO
Art. 214 Quando a infração estiver capitulada
O texto referente à seguridade social, presente no
como crime, cópia do Processo Administrativo Dis-
Estatuto, foi todo revogado pela LC nº 228, de 10 de
ciplinar será remetida ao Ministério Público para a
instalação da ação penal, certificando-se no autos
janeiro de 2000 e, por isso, acreditamos que a matéria
a iniciativa, comunicando-o da eventual remessa tem poucas chances de ser abordada em sua prova.
da sindicância à autoridade policial, nos termos do
578 parágrafo único do artigo 190.
Todavia, é preciso mencionar alguns aspectos so- „ Aos 30 (trinta) anos de efetivo exercício em fun-
bre a aposentadoria, uma vez que ela é considerada ções de magistério, se professor e 25 (vinte e
uma forma de vacância de cargos públicos e, como cinco), se professora, com proventos integrais;
mencionado, houve alterações muito recentes na le- „ Aos 30 (trinta) anos de serviço, se homem e, aos
gislação sobre esse benefício previdenciário. 25 (vinte e cinco), se mulher, com proventos
A aposentadoria possui previsão tanto na Cons- proporcionais a esse tempo;
tituição Federal quanto na Lei Federal nº 8.112, de „ Aos 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se
1990. O Regime Próprio de Previdência dos Servidores homem e, aos 60 (sessenta), se mulher, com
(RPPS) também sofreu alterações na chamada “refor- proventos proporcionais ao tempo de serviço.
ma da previdência”, promulgada pela Emenda Cons-
titucional nº 103, de 2019. Com isso, temos dois textos
normativos que, até o presente momento, dispõem Importante!
sobre a aposentadoria.
À luz da Constituição Federal (Art. 40), o servidor Com a entrada em vigor da Emenda Constitucio-
será aposentado: nal nº 103, de 2019, as regras para a aposenta-
doria voluntária dos agentes públicos sofreram
z Por incapacidade permanente para o trabalho, algumas alterações. As chances de uma ques-
no cargo em que estiver investido, quando insus- tão sobre essas novas regras caírem em sua
cetível de readaptação; prova são pequenas, mas é importante se preve-
nir. Existem, também, regras de transição, mais
O Texto Constitucional explicita que será obrigató- específicas, as quais é importante o candidato
ria a realização de avaliações periódicas para verifi- conhecer ao menos um pouco. Por isso, uma lei-
cação da continuidade das condições que ensejaram tura da emenda constitucional 103, de 2019, na
a concessão da aposentadoria, na forma de lei do res- sua íntegra, é altamente recomendada.
pectivo ente federativo.

z Compulsoriamente, com proventos proporcio- O Estatuto dos Servidores Públicos de Rondônia,


nais ao tempo de contribuição, aos 70 (setenta) ou como já mencionamos, não apresenta mais nenhum
aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, na forma da dispositivo sobre a aposentadoria. Espera-se que,
Lei Complementar nº 152, de 2015; eventualmente, seja elaborada uma lei que estabeleça
a idade mínima e as demais regras pertinentes à nova
Essa Lei Complementar dispõe sobre a aposen- aposentadoria, para melhor se adequar à realidade
tadoria compulsória com proventos proporcionais, dos servidores de Rondônia.
sendo aplicável aos servidores ocupantes de cargos
públicos da União, Estados, Municípios, Distrito Fede-
ral e suas autarquias e fundações; aos membros do
Poder Judiciário; aos membros do Ministério Público; HORA DE PRATICAR!
aos membros da Defensoria Pública.
1. (CEBRASPE-CESPE — 2022) A respeito dos atos admi-
z Voluntariamente, no âmbito da União, aos 62 nistrativos, julgue o seguinte item.
(sessenta e dois) anos de idade, se mulher, e aos 65 No âmbito do direito administrativo, é possível pres-
(sessenta e cinco) anos de idade, se homem e, no cindir dos “vícios de vontade”, aplicáveis ao direito pri-
âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Muni- vado, para fins de invalidação do ato administrativo.
cípios, na idade mínima estabelecida mediante
emenda às respectivas Constituições e Leis Orgâ- ( ) CERTO  ( ) ERRADO
nicas, observados o tempo de contribuição e os
demais requisitos estabelecidos em lei comple- 2. (CEBRASPE-CESPE — 2022) No que diz respeito ao
mentar do respectivo ente federativo. direito administrativo, julgue o item a seguir.
A cobrança de multa administrativa imposta no exer-

NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO


Com base na Lei nº 8.112, de 1990 (Art. 186), ao cício do poder de polícia constitui hipótese de apli-
servidor federal poderá ser concedida: cação do atributo da autoexecutoriedade do ato
administrativo.
z Aposentadoria por invalidez permanente; sendo
os proventos integrais quando decorrente de aci- ( ) CERTO  ( ) ERRADO
dente em serviço, moléstia profissional ou doença
grave, contagiosa ou incurável, especificada em lei 3. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Acerca de atos adminis-
e proporcionais nos demais casos; trativos, julgue o item a seguir.
z Aposentadoria compulsória, aos 70 (setenta) Os atos administrativos complexos resultam da mani-
anos de idade, com proventos proporcionais ao festação de dois ou mais órgãos, em que a vontade de
tempo de serviço; um é instrumental em relação à do outro, que pratica
z Aposentadoria voluntária, de acordo com os um ato dito principal.
seguintes critérios de idade e de contribuições:
( ) CERTO  ( ) ERRADO
„ Aos 35 (trinta e cinco) anos de serviço, se
homem e, aos 30 (trinta), se mulher, com pro- 4. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Acerca da invalidação,
ventos integrais; revogação e convalidação dos atos administrativos,
julgue o item a seguir.
579
O Poder Judiciário e a administração pública podem Tendo como referência a situação hipotética apre-
revogar ato administrativo mesmo que seus efeitos já sentada, julgue o seguinte item, à luz do direito admi-
tenham sido produzidos. nistrativo e do entendimento do Superior Tribunal de
Justiça (STJ).
( ) CERTO  ( ) ERRADO Cabe à autoridade administrativa competente a aplicação
da pena de demissão ao servidor, com base no poder de
5. (CEBRASPE-CESPE — 2022) No que diz respeito ao polícia inerente à atividade administrativa em si.
direito administrativo, julgue o item a seguir.
Ato administrativo praticado com vício de competên- ( ) CERTO  ( ) ERRADO
cia deve ser anulado.
10. (CEBRASPE-CESPE — 2022) O poder disciplinar da
( ) CERTO  ( ) ERRADO administração pública federal decorre do poder hierár-
quico e pode alcançar tanto agentes públicos quanto
6. (CEBRASPE-CESPE — 2022) No que se refere aos outras entidades sujeitas à disciplina da administra-
ministérios e respectivas áreas de competência e aos ção pública, como, por exemplo, uma empresa privada
poderes e deveres do administrador público, julgue o que celebre contrato administrativo com órgão públi-
próximo item. co federal.
Ao fazer uso do poder discricionário, um administra-
dor público poderá agir com uma razoável liberdade de ( ) CERTO  ( ) ERRADO
escolha no que se refere ao conteúdo, à conveniência
e à finalidade do ato praticado. 11. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Considerados os pode-
res da administração pública, julgue o item a seguir, de
( ) CERTO  ( ) ERRADO acordo com a doutrina e a jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal (STF).
7. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Determinada autarquia Segundo a jurisprudência do STF, é válida a delegação
deflagrou de ofício um processo administrativo con- do poder de polícia a pessoa jurídica de direito privado
tra um servidor público comissionado, alegando que integrante da administração pública indireta, quando
a legislação determina a abertura de processo quan- prestadora de serviços públicos, desde que a estatal
do verificada irregularidade funcional praticada na não atue em regime concorrencial e que haja lei formal
repartição. específica para a delegação.

Tendo como referência essa situação hipotética, jul- ( ) CERTO  ( ) ERRADO
gue o próximo item.
A abertura de processo por determinação legal con- 12. (CEBRASPE-CESPE — 2022) A respeito dos atos admi-
figura atuação administrativa oriunda do poder admi- nistrativos, da servidão, da requisição, de licitação e
nistrativo vinculado. contratos e dos poderes da administração pública, jul-
gue o item subsequente.
( ) CERTO  ( ) ERRADO Embora não decorra de lei específica, o poder de polí-
cia é direito precípuo da administração pública, em
8. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Considerados os pode- razão do interesse público.
res da administração pública, julgue o item a seguir, de
acordo com a doutrina e a jurisprudência do Supremo ( ) CERTO  ( ) ERRADO
Tribunal Federal (STF).
Constitui exemplo do exercício do poder regulamentar 13. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Considerados os pode-
da administração pública a edição, pelo presidente da res da administração pública, julgue o item a seguir, de
República, de decretos de estado de defesa e de sítio. acordo com a doutrina e a jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal (STF).
( ) CERTO  ( ) ERRADO Considere-se que um agente público, ocupante de
cargo de chefia no âmbito da administração pública,
9. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Em decorrência de denún- determine, por meio de ato administrativo, em decor-
cia anônima encaminhada à administração pública e rência de desavenças pessoais, a remoção de servidor
ao Ministério Público, o gestor público adotou provi- público subordinado para outra localidade do território
dências preliminares e verificou a verossimilhança dos nacional. Nessa situação, fica caracterizado o abuso
fatos narrados. Em razão disso, foi instaurado proces- de poder na modalidade excesso de poder.
so administrativo disciplinar (PAD).
A comissão processante apurou a ocorrência de ( ) CERTO  ( ) ERRADO
alguns fatos ilícitos, entre os quais atos de improbi-
dade administrativa e prejuízo ao erário. Assim, a 14. (CEBRASPE-CESPE — 2022) A respeito de Estado,
comissão sugeriu aplicação da pena de demissão a governo e administração pública, da organização
determinado servidor público. Após a oitiva da Pro- administrativa do Estado e dos agentes públicos, jul-
curadoria do Estado, a autoridade competente tomou gue o item subsequente.
decisão. É dado ao Estado o poder de criar entidade sem definir
Paralelamente, o Ministério Público também realizou o objeto de sua atuação de forma precisa, desde que a
investigação preliminar e, depois, propôs ação de indicação genérica seja suficiente à compreensão do
improbidade administrativa pelos mesmos fatos, ain- serviço público a ser prestado.
da em curso.
( ) CERTO  ( ) ERRADO
580
15. (CEBRASPE-CESPE — 2022) A respeito das parcerias 9 GABARITO
formais estabelecidas entre o Poder Público e as pes-
soas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos,
inclusive para atuação na área da saúde pública, jul- 1 CERTO
gue o item que se seguem.
2 ERRADO
Conforme a Lei n.º 9.637/1998, as organizações
sociais, por integrarem o terceiro setor, não fazem 3 ERRADO
parte do conceito constitucional de administração
pública e estão legitimamente autorizadas a estabe- 4 ERRADO
lecer vínculos formais com o poder público a partir da
5 ERRADO
assinatura de termos de parceria e ampla submissão
aos princípios constitucionais relacionados ao escopo 6 ERRADO
de sua atuação.
7 CERTO
( ) CERTO  ( ) ERRADO
8 ERRADO
16. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Com base na Lei n.º 9 ERRADO
13.303/2016 e no Regulamento de Licitações e Con-
tratos da TELEBRAS (RELIC), julgue o item a seguir. 10 ERRADO
Nem sempre a celebração do contrato é necessária,
11 CERTO
podendo este ser substituído por autorização de com-
pra, ordem de compra e serviço ou carta contrato. 12 ERRADO

( ) CERTO  ( ) ERRADO 13 ERRADO

14 ERRADO
17. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Acerca da responsabili-
dade civil do Estado, dos serviços públicos e da orga- 15 ERRADO
nização administrativa, julgue o seguinte item.
A responsabilização civil do Estado pressupõe, con- 16 CERTO
junta e necessariamente, as implicações penais e
17 ERRADO
administrativas decorrentes do dano.
18 CERTO
( ) CERTO  ( ) ERRADO
19 CERTO
18. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Acerca da responsabili- 20 CERTO
dade civil do Estado, dos serviços públicos e da orga-
nização administrativa, julgue o seguinte item.
Os serviços públicos possuem finalidade precípua
de atendimento aos interesses da coletividade, razão
pela qual se verifica a incidência do regime de direi- ANOTAÇÕES
to público, ainda que em graus variados, conforme a
natureza do serviço prestado.

( ) CERTO  ( ) ERRADO

19. (CEBRASPE-CESPE — 2022) Com relação à administra-


ção pública e sua organização, julgue o item a seguir.
Os serviços econômicos são aqueles que, embora
classificados como serviços públicos, rendem ensejo
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
a que o prestador aufira lucros oriundos de sua execu-
ção, tendo esse tipo de atividade fisionomia similar à
daquelas de caráter tipicamente empresarial.

( ) CERTO  ( ) ERRADO

20. (CEBRASPE-CESPE — 2022) A prestação de serviço


público essencial por determinado ente público foi
interrompida em razão de greve dos servidores públi-
cos que prestam serviço na unidade, o que causou
transtornos à população local.
Tendo como referência essa situação hipotética, jul-
gue o item seguinte.
A prestação ininterrupta do serviço público decorre do
princípio da continuidade.

( ) CERTO  ( ) ERRADO

581
ANOTAÇÕES

582
gravidez, raça, parto, sexo, puerpério, altura; conjun-
ção carnal, sociopatias, doença e retardamento mental,
dentre várias outras. Nos cadáveres, além de identifi-
car o morto, a finalidade é determinar a causa jurídica

NOÇÕES DE MEDICINA
da morte e o respectivo tempo; discriminar as lesões
in vitam e post mortem; dentre outros. As perícias em
animais são raras, mas podem ser realizadas por terem
LEGAL sido alvos de disparos (recuperação de projétil).
Vamos destacar a perícia em dois momentos dis-
tintos, levando em consideração o modo de avalição,
podendo ser diretamente sobre fato a analisar (peri-
tia percipiendi) sob uma óptica quantitativa e quali-
PERÍCIA MÉDICO-LEGAL tativa ou sobre uma perícia já realizada (pericia
deducendi), sendo o documento mais comum desta
PERÍCIAS MÉDICO-LEGAIS, PERÍCIA, PERITOS perícia o parecer técnico.
Podemos dizer então que a pericia percipiendi é
Perícia é o conjunto de procedimentos técnicos com realizada sobre fatos concretos em que a avaliação é
base científica realizada por meio de exame sobre ele- feita considerando as diversas energias causadoras do
mentos materiais (vestígios). Consequentemente, a pes- dano. Em outras palavras, podemos dizer que a peri-
soa qualificada para tal avaliação é chamada de perito. cia percipiendi ocorre com levantamentos técnicos e
científicos sobre um fato. Já na pericia deducendi, a
CONCEITOS avaliação consagrada sobre fatos passados buscando
dirimir eventuais dúvidas, ou avaliando caso possam
Veremos a seguir algumas definições acerca do existir contestação ou discordância do trabalho reali-
tema por diversos autores. zado. Nesse caso, o perito é requisitado para analisar
De acordo com Genival Veloso: e emitir um parecer sobre uma perícia já realizada.

Define-se perícia médico-legal como um conjunto z Primeira perícia sobre o fato = perícia Percipiendi;
de procedimentos médicos e técnicos que tem como z Depois da perícia já realizada = perícia Duducendi.
finalidade o esclarecimento de um fato de interesse
da Justiça. Ou como um ato pelo qual a autoridade
Conforme o art. 159 do Código de Processo Penal,
procura conhecer, por meios técnicos e científicos,
o exame de corpo de delito e outras perícias poderão
a existência ou não de certos acontecimentos, capa-
zes de interferir na decisão de uma questão judiciá-
ser realizados por perito oficial, portador de diploma
ria ligada à vida ou à saúde do homem ou que com de curso superior, e na sua falta pode-se contar com
ele tenha relação duas pessoas idôneas, “portadoras de diploma de
curso superior preferencialmente na área específica,
Ambroise Paré, em 1575, já definia Medicina Legal dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada
como a “arte de fazer relatórios na Justiça”. com a natureza do exame”.
Nério Rojas define como “a aplicação dos conheci- Importante reforçar que a prova testemunhal
mentos médicos aos problemas judiciais”. somente será admitida quando não puder ser realiza-
Para Flamínio Fávero, o conceito que mais se da avaliação direta sobre os vestígios que apresentam
enquadra é “A aplicação dos conhecimentos médi- relação com fato delituoso. Ainda assim, o exame de
co-biológicos na elaboração e execução das leis que corpo de delito indireto também requer lavratura de
deles carecem”. auto.
Por fim, não podemos esquecer do conceituado A indicação de assistente técnico e formulação de
Deltan Croce, que usa o seguinte conceito: quesitos (questionamentos a serem esclarecidos) pode
ser feita pelo acusado, Ministério Público, assistente
Medicina Legal é ciência e arte extrajurídica auxi- de acusação, querelante ou pelo ofendido.
liar alicerçada em um conjunto de conhecimentos Somente após a conclusão dos exames e elabora-
médicos, paramédicos e biológicos destinados a ção do laudo técnico é que se admite a indicação de
defender os direitos e os interesses dos homens e assistente técnico. A admissão pelo juiz ocorrerá pos-
da sociedade. teriormente à conclusão dos exames. O prazo para a
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL

entrega do parecer técnico pelo referido assistente é


PERÍCIAS MÉDICAS de 10 a contar da entrega do laudo do perito.
É possível a atuação de mais de um perito oficial
A importância da perícia é demonstrar o fato por nos casos de perícia complexa multidisciplinar, ou
meio da análise técnica e científica e, com isso, cum- seja, que envolva conhecimentos de mais de 2 áreas
prir sua real finalidade que é a de produzir a prova. distintas. Conforme o § 7°, art. 159, do CPP:
Após a conclusão do trabalho pericial, a materializa-
ção ocorre por meio dos relatórios técnicos, pela escri- Art. 159 [...]
ta com descrição e discussão do material avaliado, os § 7° Tratando-se de perícia complexa que abranja
quais não são sigilosos em ações penais. mais de uma área de conhecimento especializado,
As perícias não estão restritas a serem realizadas poder-se-á designar a atuação de mais de um peri-
to oficial, e a parte indicar mais de um assistente
em vivos e cadáveres, podendo ocorrer também nos
técnico.
objetos, esqueletos e animais.
Nos vivos, as perícias buscam determinar a quan-
tificação do dano nos casos de lesão corporal, identi-
dade, acidentes de trabalho, a idade, diagnóstico de 583
IMPORTÂNCIA DA PROVA A convicção do magistrado depende muito da
confiabilidade das provas e dos meios obtidos, sen-
A prova é a apresentação da verdade ou da auten- do assim, o Código de Processo Penal em seu art. 158
ticidade de uma ocorrência e a perícia, para muitos, admite “Quando a infração deixar vestígios, será indis-
é considerada meio de prova, pois por meio desta, as pensável o exame de corpo de delito, direto ou indire-
provas seriam inseridas no processo penal. Chama-se: to, não podendo supri-lo a confissão do acusado”. Fica
muito claro que a confissão do acusado não irá dis-
z Prova proibida: adquirida por fontes contrárias à pensar o exame do corpo de delito, ou seja, sempre
norma; que a infração deixar vestígios deverá ser realizado o
exame de corpo de delito. A não ocorrência do exame
z Prova ilícita: sempre que atenta contra uma regra
de corpo de delito por motivos injustificáveis leva à
de direito material;
nulidade do processo.
z Prova ilegítima: sempre que é contrária aos prin- Muitas provas aplicadas podem confundir o candi-
cípios da legislação processual. dato usando o termo poderá, o que torna o item errado!
Ademais, o exame do corpo da vítima é uma etapa
O antigo visum et repertum, que significa “ver e rela- do exame de corpo de delito, mas não a única. Enqua-
tar”, já está obsoleto. Atualmente, exige-se muito mais dram ainda no corpo delito elenco de lesões, tanto no
do perito do que relatar aquilo que está enxergando, autor como na vítima, além de alterações ou perturba-
como: interpretar tecnicamente um fato, discutir, apre- ções, e dos elementos causadores desse dano.
sentar elementos de convicção e fundamentar, ainda
mais quando alguns vestígios são indicadores de deter- SEGUNDA PERÍCIA
minados fatos. Quanto maior o número de elementos
de convicção como meio de prova, mais fundamentada De acordo com o art. 182 do Código de Processo
será a sentença proferida pelo magistrado. Penal: “O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo
Não é adequado, nem indicado, utilizar termos aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte”. Dessa for-
como: “pode ser, talvez, pensou de tal forma”, dentre ma, o juiz pode determinar nova perícia ou decidir de
outros. Utilizar a ciência e meios técnicos para que acordo com sua convicção. A nova perícia pode ser
a prova tenha um maior grau de aceitabilidade das requisitada sempre que a primeira não tenha confe-
informações presentes é de suma importância e é do rido as informações necessárias para esclarecimento
que depende todo o processo de perícia. do ocorrido, ou com pouco valor probante, além de
incoerências e incertezas, sendo que uma não subs-
NOÇÕES DE CORPO DE DELITO titui a outra e o juiz avaliará o valor da primeira e
segunda perícia.
Definição Segundo o Código de Processo Civil:

Corpo de delito é o conjunto de vestígios, interco- Art. 480 [...]


§ 1º A segunda perícia tem por objeto os mesmos
nectados entre si, que auxiliam na materialização da
fatos sobre o que recaiu a primeira e destina-
infração. O cadáver é um dos elementos do corpo de
-se a corrigir eventual omissão ou inexatidão
delito, mas longe de ser o único.
dos resultados a que esta conduziu.
A definição de corpo de delito aqui considerada
tem o sentido somático ou psíquico, composto de ele-
CADEIA DE CUSTÓDIA DE EVIDÊNCIAS
mentos percebidos pelos sentidos ou pela intuição
humana. Sendo assim, não representa apenas os ele-
Conforme alteração recente advinda do Pacote
mentos físicos, mas todos os elementos acessórios que
Anticrime, que alterou o Código de Processo Penal, em
estão conectados a um determinado fato delituoso
seu art. 158-A:
característico de infração penal (FRANÇA, 2017).
Podemos classificar seu caráter como:
Art. 158-A Considera-se cadeia de custódia o con-
junto de todos os procedimentos utilizados para
z Permanente (delicta factis permanentis); manter e documentar a história cronológica do ves-
z Passageiro (delicta factis transeuntis). tígio coletado em locais ou em vítimas de crimes,
para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu
Tudo aquilo que pode ser percebido por meio dos reconhecimento até o descarte.
sentidos, como audição, gustação, tato, olfato e visão são
denominados elementos sensíveis. Por isso, quem não Logo, a cadeia de custódia traz a documentação
sabe o que procura não sabe quando encontra, assim, cronológica dos vestígios coletados, possibilitando o
tais elementos sensíveis estarão presentes naquilo que seu rastreio em qualquer tempo e ainda possibilitan-
foi atingido pelo evento criminoso. do vincular uma falha a um setor ou a uma pessoa.
A ausência de vestígios do fato criminoso, de obje- Este documento deve apresentar a nominação da
tos relacionados e do nexo causal, indica corpo de amostra, sua hora e data, pessoas que a entregam e rece-
delito inexistente. bem, sua descrição e fotografia. Deve constar também a
Chama-se: identificação desde o local de armazenamento até sua
entrega no laboratório, o tempo transcorrido e o tipo de
z Corpo de delito direto: quando realizado pelos substância conservadora, se esta for utilizada. Além disso,
peritos diretamente sobre vestígios produzidos ou deve demonstrar o tipo, as condições e a data do traslado.
que tenham concorrido para a infração; Deve-se inserir, durante a análise, a hora e data de
z Corpo de delito indireto: se os vestígios materiais seu início, a descrição da amostra e sua identificação
são inexistentes ou se perderam, a prova é suprida contendo as fotos, o registro das metodologias realiza-
584 pela informação testemunhal. das e nome das pessoas que fizeram parte da análise.
Em seguida, deve ser registrada a hora e da data Em casos de não comparecimento, sem justa cau-
de conclusão, onde ficará a amostra até o momento sa, a autoridade pode determinar a condução do peri-
de pós-análise e a forma e data de sua destruição ou to. E, ainda, a falsa perícia constitui crime contra a
devolução. administração da Justiça.
O juiz, que é o peritus peritorum, pode aceitar
a perícia por inteiro ou em parte, ou não a aceitará
PERITOS
em todo, conforme determina o Código de Proces-
so Penal, facultando-lhe nomear outros peritos para
Conceito novo exame.
Cabe ainda sabermos os casos em que será vedada
O perito oficial não tem papel arbitrário de julgar, a execução da tarefa pericial, de acordo com o CPP:
acusar ou defender, senão de buscar elementos técni-
cos presentes no local de crime que serão apresenta- Art. 279 Não poderão ser peritos:
dos às autoridades competentes. Em outras palavras, I – os que estiverem sujeitos à interdição de direito
o perito não deve concluir sempre que apresentar os (arts. 47, I e II e 92, I e II, do CP);
fatos, mas sim buscar vestígios que indiquem a dinâ- II – os que tiverem prestado depoimento no pro-
mica do ocorrido, tais como: elementos nas armas, cesso ou opinado anteriormente sobre o objeto da
perícia;
definir trajetos, avaliar instrumentos presentes, ele-
III – os analfabetos e menores de 21 anos.
mentos nas lesões, no exame do cadáver e muito mais.
É extensível aos peritos, no que lhe for aplicável, o
No que diz respeito à esfera criminal, a autoridade disposto sobre a suspeição dos juízes presente no
policial que presidir o inquérito também é apto para art. 254:
nomear os peritos, sem intervenção alguma das par- I – se for amigo ou inimigo capital de qualquer das
tes (art. 276 e 277 do CPP). partes;
De acordo com o art. 159 do Código de Processo II – se ele, seu cônjuge ou descendente estiver res-
Penal: pondendo a processo análogo, sobre cujo caráter
criminoso haja controvérsia;
Art. 159 O exame de corpo de delito e outras perí- III – se ele, seu cônjuge, ou parente consanguíneo,
cias serão realizados por perito oficial, portador ou afim, até o terceiro grau, inclusive, sustentar
de diploma de curso superior. demanda ou responder a processo que tenha de ser
julgado por qualquer das partes;
IV – se tiver aconselhado qualquer das partes;
Ainda diz: na falta de perito oficial, o exame será
V – se for credor ou devedor, tutor ou curador, de
realizado por duas pessoas idôneas, portadoras de
qualquer das partes;
diploma de curso superior preferencialmente na VI – se for sócio, acionista, ou administrador de
área específica, dentre as que tiverem habilitação sociedade interessada no processo.
técnica relacionada com a natureza do exame. Estes
prestarão o compromisso de bem e fielmente desem-
RESPONSABILIDADE PENAL
penhar o encargo.
Durante o curso de processo judicial, é permiti-
Em se tratando de responsabilidade penal, o interes-
do às partes, quanto à perícia: requerer a oitiva dos
peritos para esclarecerem a prova ou para responde- se não é mais patrimonial ou pecuniário, mas coletivo.
rem a quesitos, desde que o mandado de intimação O interessado é a sociedade, o ato infrator alcança uma
e os quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam norma de direito público que possui uma pena como
encaminhados com antecedência mínima de 10 (dez) consequência. São tipos penais:
dias, podendo apresentar as respostas em laudo
complementar. z Falso-testemunho ou falsa perícia;
A atuação do perito far-se-á em qualquer fase do z Corrupção ativa;
processo ou mesmo após a sentença, em situações z Exploração de prestígio;
especiais. z Extravio de documento;
O que difere o perito e a testemunha é que esta z Prevaricação;
é solicitada por já possuir conhecimento do fato e z Violação do segredo na prática da perícia.
aquele para que possa conhecer e explicar os funda-
mentos da questão discutida, por meio de uma análise
técnico-científica.
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL

Como vimos anteriormente, a autoridade que pre-


side o inquérito poderá nomear, nas causas criminais DOCUMENTOS LEGAIS
complexas, mais de um perito.
CONTEÚDO E IMPORTÂNCIA
Peritos Ad Hoc
Documento é o registro por escrito que objetiva
São peritos nomeados, não oficiais, que deverão inserir dados ou informações do pensamento, ou seja,
assinar um termo de compromisso como um “com- é a junção de um suporte mais informações ou dados.
promisso formal de bem e fielmente desempenha- Com o objetivo de informar às autoridades, o médico
rem a sua missão, declarando como verdadeiro o que produz documentos com uma configuração que varia
encontrarem e descobrirem e o que em suas consciên- de acordo com a situação e seu objetivo.
cias entenderem” (FRANÇA, 2017). Estes terão, confor- Os documentos importantes para Justiça, são: as
me o Código de Processo Penal, um prazo de 5 dias notificações, os atestados, os prontuários, os rela-
prorrogável razoavelmente. Só poderão ser isentados tórios e os pareceres; e também os esclarecimentos
se houver suspeição ou impedimento previstos em lei. não escritos no âmbito dos tribunais, constituídos
pelos depoimentos orais. 585
Exposição verbal e os instrumentos escritos por se sinta capacitado para tanto. Assim se manifesta o
médicos visam elucidar questões de relevância poli- Parecer-Consulta CFM no 28, de 1987.
cial ou judicial, servindo como meio de prova. No pro- É elaborado de forma simplista, em papel timbra-
cesso penal, o laudo pericial deverá ser elaborado no do, podendo servir até mesmo o que é usado em recei-
prazo máximo de 10 dias, podendo este ser prorroga- tuário ou, para os que atuam em entidades públicas
do, em casos excepcionais, a requerimento dos peritos ou privadas, em formulários da respectiva instituição,
(CROCE, 2012). como recomenda Arbenz. É quase sempre a pedido do
Vejamos cada um dos documentos de interesse paciente ou de seus responsáveis legais.
médico e judicial: Apesar de não ter uma forma definida, o atestado
deve conter as seguintes partes constitutivas:
Notificações
z Cabeçalho: onde deve constar a qualificação do
São comunicações compulsórias realizadas pelos médico;
médicos às autoridades competentes de uma ocor- z Qualificação do interessado: que é sempre o
rência profissional, por necessidade social ou sanitária, paciente;
como acidentes de trabalho, doenças infectocontagiosas z Referência à solicitação do interessado;
e a morte encefálica à autoridade pública (FRANÇA, z Finalidade a que se destina;
2017). z O fato médico quando solicitado pelo paciente ou
seus familiares;
z Suas consequências, como tempo de repouso ou de
Importante! afastamento do trabalho;
z E local, data e assinatura com o respectivo carimbo
A notificação compulsória no passado foi aplica- profissional, que contenha nome do médico, CGC
da aos viciados em substâncias ilícitas que cau- (cadastro geral de contribuintes) e número de ins-
sam dependência física ou psíquica; no entanto, crição no Conselho Regional de Medicina da juris-
não se enquadram mais. dição sede de sua atividade.

Quanto à sua procedência ou finalidade, o ates-


O Código Penal tipifica como crime próprio a omis- tado pode ser:
são de notificar doenças compulsórias ao médico, pois,
apesar de atribuir a toda a sociedade a responsabili- z Administrativo: É interesse do serviço ou do ser-
dade de notificar doenças infectocontagiosas de que vidor público;
obtenha conhecimento para proteger o corpo social, z Judiciário: Solicitado pela administração da justiça;
somente o médico se omite, conforme art. 269 do Códi- z Oficioso: É do interesse da pessoa física ou jurídica
go Penal: “Deixar o médico de denunciar à autoridade de direito privado para justificar situações menos
pública doença cuja notificação é compulsória”. formais em ausência das aulas ou para desobrigar
São situações que resultam em notificação compulsória:
alunos da prática da educação física.
z Acidentes de trabalho;
É importante saber que atestados oficioso e adminis-
z Ocorrência de morte encefálica;
trativo não são considerados documentos médico-legais.
z Óbitos e lesões ou danos à saúde induzidos ou cau-
Há de se notar que existe diferença entre decla-
sados por alguém no médico;
ração e atestado. Na declaração, um relato de teste-
z Violência contra a mulher e maus-tratos contra
munho apenas é suficiente. Já no atestado, por ter fé
criança, adolescente ou idoso;
de ofício, quem afirma prova, reprova ou comprova,
z Tortura;
z Crime de ação penal pública incondicionada. dentro da área da saúde, profissionais encarregados
da construção de diagnóstico são os únicos aptos a
produzir atestado. O restante dos profissionais podem
Atestados
realizar a coadjuvação do tratamento ou o acompa-
nhamento, ação que, ainda assim, não perde seu valor
Documento simples que visa apresentar a verdade
sobre um estado de saúde ou sobre uma ocorrência, e para o processo.
suas possíveis consequências. Hermes Rodrigues de Alcântara1 (1979) classifica o
Tem como objetivo resumir, de forma simples e atestado médico, quanto ao seu conteúdo ou veracida-
objetiva, o resultado do exame feito em um paciente: de, em: idôneo, gracioso, imprudente e falso.
sua doença ou sua sanidade, além das consequências Apesar de ter a característica de ser documento
que tais constatações implicam. É um documento par- simples e informativo, nele devem ser observados
ticular, elaborado sem compromisso prévio e indepen- todos os requisitos para não restar dúvidas quanto à
dente de compromisso legal, fornecido por qualquer idoneidade. Caso o médico não cumpra com seu dever
médico que esteja no exercício regular de sua profis- de dizer a verdade, irá infringir o Código de Ética
são (FRANÇA, 2017). Sendo assim, possui unicamente Médica e o art. 302 do diploma penal.
a finalidade de propor um estado de sanidade ou de
doença, anterior ou atual, para fins de licença, dispen- z Atestado Gracioso/Favor: Bastante reprovado pelo
sa ou justificativa de faltas ao serviço etc. Código de Ética Médica, este atestado possui a finali-
O atestado médico permite, estando o médico ins- dade de satisfazer as vontades do cliente, agradando
crito regularmente no Conselho Regional de Medicina de forma irresponsável, para aumentar o núme-
competente, que este tenha competência para ates- ro de clientes. Também, pode ser denominado de
tar, qualquer que seja sua especialidade, desde que complacente;
586 1  In Deontologia e diceologia – normas éticas e legais para o exercício da medicina. São Paulo: Organização Andrei Editora, 1979.
z Atestado Imprudente: Neste atestado o médico z Morte natural, porém, em decorrência de doen-
não realiza exames adicionais para atestar a vera- ça ou circunstância indefinida: a autópsia será
cidade do fato contado pela vítima, apenas consi- realizada pelo Serviço de Verificação de Óbito
dera a versão de quem requer esse atestado, de (SVO), no entanto, os profissionais da saúde podem
forma insensata e inconsequente; solicitar a realização de necropsia pelo IML;
z Atestado Falso: Este é considerado doloso, pois o z Morte violenta (acidente, suicídio e delito) e
médico sabe que sua emissão é criminosa. Muitas suspeita (imprevista, sem causa mortis clara):
vezes emitido para manter amizades ou agradar o cadáver será transferido ao Instituto Médico
familiares. O profissional será penalizado pelo Legal para averiguar à causa do óbito.
Código Penal (proteção da verdade) e pelo Código
de Ética Médica. Podemos considerar como um Art. 77 Nenhum sepultamento será feito sem cer-
subtipo de atestado falso: o atestado piedoso. O tidão do oficial de registro do lugar do falecimen-
profissional busca confortar o paciente ameni- to ou do lugar de residência do de cujus, quando o
zando diagnósticos graves e, em muitos casos, os falecimento ocorrer em local diverso do seu domi-
pacientes são portadores de doenças sem cura. cílio, extraída após a lavratura do assento de óbito,
Embora com boas intenções, tal emissão é repro- em vista do atestado de médico, se houver no lugar,
vável, pois atenta contra a verdade. ou em caso contrário, de duas pessoas qualificadas
que tiverem presenciado ou verificado a morte.
Na falsidade material o atestado é elaborado por
uma pessoa que não tem habilitação profissional nem Prontuários
legal, já na falsificação ideológica o profissional é um
médico e altera o seu conteúdo, cometendo fraude no Trata-se do registro do diagnóstico preciso do
exercício regular de sua função. paciente e todo o conjunto de documentos organiza-
Nem sempre pode ser considerada como elemento dos e padronizados indicando os procedimentos rea-
probante de consistência técnica e científica, a afir- lizados pelos médicos. Além de ser interesse no meio
mação simples e por escrito presente em um atestado, médico, também é de grande valia no meio jurídico.
sem que haja uma descrição judiciosa das estruturas
comprometidas, de suas causas e de seus nexos cau- Podem ser úteis para:
sais, aptos a justificar aquela afirmação.
O atestado é um documento unilateral e simplista, z Principalmente para avaliar a evolução cronológi-
não podendo se justapor ao laudo médico. Diante ca da doença;
disso, em casos mais importantes, em que se discute z Para fins estatísticos;
questões de maior sublimidade sobre diagnóstico, prog- z Proteção jurídica do profissional, evitando que seja
nóstico e agente causal, o médico e o perito têm o dever incriminado por ato inesperado ou indesejado.
de citar no relatório em que elementos estruturais ou
funcionais ou em que resultados laboratoriais ou radio- Não se pode conceber que o prontuário seja uma
lógicos se embasaram para fazer tal ou qual afirmativa. peça apenas burocrática para fins da contabilização
Resumindo, é preciso ficar bem claro em quais elemen- da cobrança dos procedimentos ou das despesas hos-
tos se fundamentaram para suas conclusões. pitalares. É necessário sempre prever possíveis con-
Não é incomum o médico lavrar o atestado em tratempos de ordem técnica, ética ou jurídica que
papel timbrado de receituário próprio ou de institui- possam por ventura ocorrer, quando o prontuário
ção e entidades médico-sociais, porque só os atestados seria um elemento de valor probante essencial nas
de óbito têm forma especial. contestações sobre possíveis irregularidades. Em
determinados momentos pode ter relevante contri-
Atestado de Óbito buição na elaboração de relatórios ou pareceres médi-
co-legais sobre a assistência ao paciente ou, ainda,
Tem as funções de: parte dele servir como subsídios informativos como
peças dos autos processuais.
z Marcar o fim da pessoa natural (função legal); O médico e a instituição não possuem direito per-
z Conhecer a situação da saúde da população por manente sobre o prontuário do paciente, senão de
meio de dados de óbitos; guarda. O paciente é o proprietário deste documento
e pode, inclusive, levá-lo a outro profissional em virtu-
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL

z Gerar ações, com base nesses dados, visando a


melhoria das condições de saúde; de das informações contidas.
z Fornecer dados para as estatísticas de mortalidade.
Relatórios
A família recebe a Certidão de Óbito, necessária ao
sepultamento ou cremação. O relatório médico-legal é a descrição/narração
As certidões de óbito, também chamadas de atesta- mais detalhada de uma perícia, com emissão de juí-
dos, afirmam a morte de um indivíduo. Duas pessoas, zo de valor com a finalidade de apresentar respos-
que presenciaram ou verificaram o ocorrido podem tas do Delegado de Polícia ou judiciário na fase de
atestar o óbito caso não haja médico na localidade do investigação.
ocorrido. Existem três situações para sua emissão: Precisamos diferenciar inicialmente auto de laudo:

z Morte natural: não é necessário o exame de z Auto: se esse relato for ditado a um escrivão, peran-
necropsia no IML, assim, o médico que tenha te testemunhas;
acompanhado o paciente pode emitir o certificado z Laudo: se firmado posteriormente às diligências
de óbito; necessárias e redigido pelo Perito. 587
O relatório médico-legal possui sete partes: preâm- É preciso afirmar justificando, mencionar inter-
bulo, quesitos, comemorativo ou histórico, descri- pretando, descrever valorizando e relatar esmiuçan-
ção, discussão, conclusões e respostas aos quesitos. do. Não se usa “é porque deve ser”, nem tampouco
Veremos a seguir cada uma delas: se pode permitir que alguém venha se esconder por
trás de uma autoridade que pode lhe dar condições de
z Preâmbulo: parte em que os peritos expõem suas se fazer sempre acreditar. Dessa forma, a descrição
identificações, títulos e residências, qualificam deve ser completa, minuciosa, metódica e objetiva,
a autoridade que requereu e a autoridade que não estando no terreno de hipóteses.
determinou a perícia, e o examinando; o local, Então, em um caso de morte por projétil de arma
hora e data em que a perícia é realizada e a sua de fogo transfixante do tórax, por exemplo, a simples
alegação de que a entrada foi pela frente e a saída pelo
finalidade;
dorso não é suficiente. Se, posteriormente, for levan-
z Quesitos: nas ações penais já se encontram formu-
tada a hipótese de erro diagnóstico, o perito não terá
lados os chamados quesitos oficiais. Ainda assim,
elementos para firmar a sua conclusão anterior.
podem, se for da vontade da autoridade competen-
O laudo médico-legal objetiva entregar à autorida-
te, existir quesitos acessórios; de competente os elementos de convicção. Desse modo,
z Histórico: é o histórico que reúne todas as infor- para que um ferimento tenha força elucidativa, é pre-
mações coletadas do interessado ou de terceiros, ciso que todos os seus elementos de convicção estejam
relacionados ao caso, e sob responsabilidade dos bem definidos em forma, direção, número, idade, situa-
declarantes, a respeito de detalhes e circunstân- ção, extensão, largura, disposição e profundidade.
cias aptas a esclarecer a perícia. Essa parte deve A descrição não deve ficar restrita somente à lesão.
ser creditada ao periciado, não devendo impor É importante que se registre também com precisão a
ao perito nenhuma responsabilidade sobre seu distância entre ela e os pontos anatômicos mais pró-
conteúdo. ximos, e, se possível, se anexem esquemas ou foto-
grafias das ofensas físicas, pois só assim dúvidas ou
O histórico tem-se revelado, na experiência peri- interpretações de má-fé poderão ser evitadas.
cial, por vezes, como uma fase imprescindível, ainda
que não seja o momento de maior expressividade do z Discussão: fase em que serão colocadas em discus-
documento médico-legal. são as várias hipóteses, afastando-se o máximo das
E mesmo que a prática médico-legal não tenha conjecturas pessoais, podendo-se até citar autori-
caráter de ato investigativo ou de instrutivo, mas de dades recomendadas sobre o assunto. É a discus-
prova, o histórico inclui-se, atualmente, na moderna são que assegura o correto deduzir das conclusões;
concepção pericial, como um instante primordial. z Conclusão: nesta parte consta a síntese diagnósti-
Para atingir seu verdadeiro sentido, o de apre- ca redigida objetivamente, disposta ordenadamen-
sentar uma imagem bem viva, pelo menos a mais te, deduzida pela descrição e pela discussão. É a
aproximada possível da dinâmica do evento, do qual análise sumária do que os peritos puderam con-
a agressão foi a consequência, o laudo deve apontar cluir após o exame minucioso. O que for concluído
uma ideia real não só da lesão, mas, da maneira pela será resumido em poucas palavras, de modo a tor-
qual ela foi produzida. nar a informação concisa e clara para a autorida-
Impedir um indivíduo principalmente se este é de que pediu a perícia. Não há mais espaço para
vítima de relatar o acontecido ao perito no momen- dúvidas, para avaliações e comparações, que já
to do exame, não só prejudica os seus direitos, mas foram feitas na discussão. Até mesmo impossibi-
atenta contra as conquistas fundamentais da pessoa lidade de concluir é uma conclusão. É o que acon-
humana, asseguradas na Declaração Universal dos tece, por exemplo, nos casos em que um hímen é
Direitos do Cidadão e do Homem, e na Constituição complacente e não se rompe com a cópula vaginal.
Federal, que preserva a livre prerrogativa de prestar O perito dirá que não há elementos para afirmar
informações, ou até mesmo, aos detentos presidiários, ou negar ter havido conjunção carnal;
a obrigação de dispensar toda autoridade a sua inte- z Respostas aos quesitos: ao finalizar o relatório,
gridade física e moral. os peritos respondem de forma sintética e convin-
Sendo assim, os peritos devem continuar adicio- cente, afirmando ou negando, sem deixar escapar
nando o histórico em seus laudos, principalmente o nenhum quesito sem resposta. É certo que, na
que acharem importante, sempre de forma singela e Medicina Legal, a certeza é às vezes relativa, ou
objetiva, de modo que tragam subsídios à perícia, sem seja, nem sempre podem os peritos concluir afir-
a preocupação de agradar ou desagradar quem quer mativa ou negativamente. Não há nenhum demé-
que seja, autoridade ou não. rito se, em certas ocasiões, eles responderem “sem
elementos de convicção”, se, por motivo justo, não
z Descrição: é a parte mais importante do relatório puderem ser categóricos.
médico-legal. Por isso, é preciso que se exponha
todas as particularidades da lesão, não devendo Pareceres
ser citada apenas de forma nominal, como, por
exemplo, ferida contusa, ferida de corte, queimadu- Quando uma consulta médico-legal envolve diver-
ra, marca elétrica, entre outras. A última parte do gências importantes no que diz respeito à inter-
documento deve ser: respostas aos quesitos, a refe- pretação dos achados de uma perícia, de maneira
rência ao meio ou o tipo de ação que levou à ofensa. a impossibilitar uma orientação correta dos julgado-
res, estes, ou qualquer parte interessada no processo,
Expor nominalmente uma lesão é o mesmo que podem solicitar esclarecimentos mais profundos a
diagnosticá-la. Omitir suas características é uma for- uma instituição cujo corpo técnico tem competência
ma de desapropriar uma ideia pessoal de quem vai inquestionável, ou a um perito ou professor de reco-
analisar o laudo e suprir-lhe a oportunidade de se nhecida autoridade no assunto. Este documento rece-
588 convencer do real aspecto e da natureza da lesão. be o nome de parecer.
Quando há dúvidas em um processo, ou quando as Os peritos trabalham em regime especial de traba-
partes se contradizem e se radicalizam nas suas posi- lho, podendo ser acionados de dia, de noite, de madru-
ções mais obstinadas, é o momento de ouvir uma voz gada, em qualquer momento, inclusive realizando suas
mais experiente, a autoridade mais respeitada, apta a funções além do horário de término da escala, em vir-
iluminar o julgador. tude da natureza do exame realizado. É necessária for-
Isto posto, o juiz, para se dotar dos subsídios de mação superior específica para exercer o cargo.
convicção, necessita de informações específicas e não São peritos de natureza criminal: Peritos Crimi-
somente de meros exames clínicos, técnicos, frios, nais, Peritos Médico-legistas e Peritos Odonto-legistas.
simples, pois, da realidade que se quer configurar. Vejamos na íntegra a referida legislação abaixo:

Dica O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o


Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguin-
O parecer médico-legal se constitui de todas as
te Lei:
partes do relatório, exceto a descrição. A discus- Art. 1° Esta Lei estabelece normas gerais para as
são e a conclusão passam a ser os pontos de perícias oficiais de natureza criminal.
maior relevância desse documento. Art. 2° No exercício da atividade de perícia oficial
de natureza criminal, é assegurado autonomia téc-
Depoimento Oral/Esclarecimento nica, científica e funcional, exigido concurso públi-
co, com formação acadêmica específica, para o
A resposta aos quesitos de um relatório médico-le- provimento do cargo de perito oficial.
gal não significa o fim do trabalho pericial. Não é raro Art. 3° Em razão do exercício das atividades de
o perito ser convocado pelo juiz para prestar esclare- perícia oficial de natureza criminal, os peritos de
cimentos em audiência de fatos que não ficaram claro natureza criminal estão sujeitos a regime especial
ou não foram devidamente esclarecidos. O depoimen- de trabalho, observada a legislação específica de
to oral é realizado para esclarecer fatos obscuros ou cada ente a que se encontrem vinculados.
conflitantes. Art. 4° (VETADO)
Art. 5° Observado o disposto na legislação especí-
fica de cada ente a que o perito se encontra vincu-
QUESITOS OFICIAIS
lado, são peritos de natureza criminal os peritos
criminais, peritos médico-legistas e peritos odonto-
Ainda que haja quesitos oficiais, a autoridade legistas com formação superior específica detalha-
competente pode apresentar quesitos que julgar da em regulamento, de acordo com a necessidade
necessário para o bom entendimento acerca do fato e de cada órgão e por área de atuação profissional.
esclarecimento dos fatos. Art. 6° Esta Lei entra em vigor 90 (noventa) dias
Os quesitos devem ser respondidos de maneira após a data de sua publicação.
clara, concisa e convincente, não deixando quesitos
sem respostas. Não há penalização ou qualquer crí-
tica ao profissional que responder “não há elementos
de convicção”, desde que tenha esgotado os recursos
disponíveis. TRAUMATOLOGIA FORENSE
Tanto na ação cível como na Psiquiatria Médico-
-Legal não existem quesitos oficiais. ENERGIA DE ORDEM FÍSICA
Vamos mostrar abaixo um exemplo de quesitos
oficiais para lesões corporais (FRANÇA, 2017): As energias de ordem física mais comuns são:

z Primeiro: se há ofensa à integridade corporal ou à z Temperatura;


saúde do paciente; z Pressão Atmosférica;
z Segundo: qual o instrumento ou meio que produ- z Eletricidade;
ziu a ofensa?; z Radioatividade, luz e som.
z Terceiro: se resultou incapacidade para as ocupa-
ções habituais por mais de trinta dias; TEMPERATURA
z Quarto: se resultou perigo de vida;
z Quinto: se resultou debilidade permanente de Suas modalidades são: o frio, o calor e a oscilação
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL

membro, sentido ou função; de temperatura.


z Sexto: se resultou aceleração do parto;
z Sétimo: se resultou perda ou inutilização do mem- FRIO
bro, sentido ou função;
z Oitavo: se resultou incapacidade permanente O diagnóstico de morte pela ação do frio nem sem-
para o trabalho, ou enfermidade incurável; pre é tão claro. Têm-se alguns elementos, como:
z Nono: se resultou deformidade permanente;
z Décimo: se resultou aborto. z Hipóstase vermelho-clara;
z Rigidez cadavérica precoce, intensa e extrema-
LEGISLAÇÃO SOBRE PERÍCIAS MÉDICO-LEGAIS mente demorada;
z Sangue de tonalidade menos escura;
A Lei n° 12.030 de 2009 dispõe sobre perícias ofi- z Em alguns casos, flictenas similares às das
ciais. Quando falamos de peritos oficiais, estamos tra- queimaduras.
tando de peritos aprovados em concurso público de
natureza criminal. 589
As lesões são muito parecidas com as queimadu- z Sinal de Montalti: constatação de fuligem nas
ras, vejamos a classificação em graus (FRANÇA, 2017): vias respiratórias indicando que a pessoa respirou
durante o incêndio;
z Primeiro grau: palidez ou rubefação (“vermelhi- z Sinal de Janesie-Jeliac: as flictenas podem apa-
dão) e aspecto anserino da pele; recer no cadáver, mas ausentes de líquido seroso
z Segundo grau: eritema e formação de bolhas ou com exsudato leucocitário.
flictenas de conteúdo claro e hemorrágico;
z Terceiro grau: necrose dos tecidos moles com for- ENERGIA DE ORDEM MECÂNICA
mação de crostas enegrecidas, aderentes e espessas;
z Quarto grau: pela gangrena ou desarticulação. São consideradas energias de ordem mecânica aque-
las que ao atuarem sobre o corpo, modificam com-
Pés de trincheira: São lesões muito observadas na pleta ou parcialmente, o seu estado de repouso ou
1° Guerra Mundial pela presença de gangrena nos pés, de movimento.
pela ausência de proteção, por período prolongado. Fonte: JusBrasil.com.br

CALOR Os instrumentos ou meios mecânicos provocado-


res do dano são apresentados abaixo:
O calor pode atuar de forma difusa ou direta.
z Armas reais (punhais, revólveres, soqueiras);
Calor Difuso z Armas brancas impróprias (faca, navalha, foice,
facão, machado);
Ocorre de duas maneiras: a insolação e a intermação. z Armas naturais (punhos, cabeça, pés, dentes);
A insolação apresenta três características claras: z Até os mais impróprios (máquinas, animais, veícu-
los, quedas, explosões, precipitações).
z Locais abertos ou raramente em espaços confinados;
z Elevada temperatura e forte incidência de raios São exemplos de como atuam essas formas de ener-
solares; gia mecânica: por pressão, percussão, torção, compres-
z A ausência da renovação do ar, a fadiga, o excesso são, explosão, deslizamento e contrachoque.
de vapor d’água. De conformidade com as características que impri-
mem às lesões, os meios mecânicos classificam-se em:
A intermação apresenta:
z erfurantes: feridas puntiformes;
P
z Excesso de calor ambiental;
z Cortantes: feridas cortantes;
z Quase sempre confinados e mal arejados ou pouco
z Contundentes: feridas contusas;
abertos;
z Perfurocortantes: feridas perfurocortantes;
z Baixa ventilação.
z Perfurocontundentes: feridas perfuro contusas;
z Cortocontundentes: feridas cortocontusas.
Calor Direto

Dupuytren classificou as queimaduras em seus


Importante!
graus:
Não é aceitável usar os termos feridas dilace-
z Primeiro grau: eritema; rantes, cortodilacerantes, perfurodilacerantes e
z Segundo grau: flictena; contusodilacerantes, pois não existem os res-
z Terceiro grau: desorganização da epiderme com pectivos instrumentos compatíveis que pode-
comprometimento da camada de Malpighi; riam dar origem a esses nomes (FRANÇA, 2016).
z Quarto grau: destruição total da pele;
z Quinto grau: formação de escaras negras;
z Sexto grau: carbonização. Fique atento que iremos apresentar as lesões inse-
ridas dentro das Energias Mecânicas, que são muito
A melhor classificação é a de Hoffmann que divide cobradas em prova.
essa lesão em quatro graus:
LESÕES PRODUZIDAS POR AÇÃO PERFURANTE
z Primeiro grau: eritema simples. Não afeta a der-
me nem produzem cicatrizes; As lesões são causadas por instrumentos do tipo:
z Segundo grau: Presença de vesículas ou flictenas, sovelas, agulhas, floretes e o furadores de gelo.
contendo líquido amarelo rico em albuminas e clo- Atuam na maioria das vezes por percussão ou pres-
retos (sinal de Chambert); são, separando as fibras do tecido e, quase nunca, sec-
z Terceiro grau: coagulação necrótica dos tecidos cionando-as. As principais características são: orifício
moles. Chega a atingir planos musculares; de entrada estreito e diâmetro menor que o instrumen-
z Quarto grau: Carbonização do plano ósseo. to perfurante, devido à elasticidade e retratilidade dos
tecidos cutâneos. Raro sangramento e maiores danos
Atenção: Existem sinais na medicina legal que em virtude da profundidade, em face de órgão atingido.
indicam se o indivíduo já estava morto quando foi As lesões mudam de aspecto quando o objeto per-
carbonizado ou se foi morto em virtude da carboniza- furante é de médio calibre. Vamos ver a respeito das
590 ção ou seus efeitos, como mostrado abaixo: Leis de Filhos e Lei de Langer, que abordam o tema.
z 1ª Lei de Filhos: as soluções de continuidade des- z Degola: ferida na região posterior do pescoço.
sas lesões são similares às produzidas por instru-
mento de dois gumes ou tomam a aparência de LESÕES PRODUZIDAS POR AÇÃO CONTUNDENTE
botoeira “casa de botão”, devido à direção das
linhas da força da pele (lei da semelhança); Os instrumentos contundentes são os que mais
z 2ª Lei de Filhos: quando há feridas presentes causam danos e sua ação é quase sempre produzida
na mesma região onde as linhas de força da pele por um corpo de superfície.
tenham um só sentido, os eixos maiores das lesões Podem ser identificadas em casos envolvendo
terão o mesmo sentido (lei do paralelismo); pressão, explosão, deslizamento, percussão, compres-
z Lei de Langer: no encontro de regiões de linhas de são, descompressão, distensão, torção, fricção, por
forças com sentidos diferentes, a extremidade da contragolpe ou de forma mista.
lesão tem aparência de ponta de seta, triângulo, ou Veremos as lesões a seguir:
mesmo de quadrilátero.

No cadáver esses ferimentos não tomam tais dire- z Rubefação ou Eritema Traumático: famosa “ver-
ções, em virtude da ausência de elasticidade e da melhidão” decorrente de um tapa ou outra agres-
retratilidade dos tecidos. são, aparece de forma repentina e momentânea,
Feridas em acordeão ocorrem quando a profun- no entanto, desaparece em alguns minutos (é a
didade de penetração pode ser maior que o próprio mais transitória lesão contusa), podendo não ter
comprimento do objeto (região onde existe depressi- valor médico-legal ao desaparecer. Ex.: Vermelhi-
bilidade dos tecidos superficiais). dão decorrente de um tapa com impressão dos
dedos e mão do agressor;
LESÕES PRODUZIDAS POR AÇÃO CORTANTE z Escoriação: desprendimento da epiderme e o des-
nudamento da derme sem deixar cicatrizes, de
Ocorre por deslizamento de objeto afiado com um onde fluem serosidade e sangue. Quando apenas
gume ou mais, como navalha e bisturi, sobre os teci- a derme é atingida, denomina-se escoriação típica,
dos e, quase sempre, em sentido linear. se a derme foi danificada, denomina-se ferida. A
É comum encontrar “cauda de escoriação” indi- regeneração da região lesada é por reepitelização.
cando o sentido da lesão (lado onde terminou a ação
do instrumento), pois o início da lesão é mais profun- No estado post mortem não há formação de cros-
do e brusco. Vejamos as seguintes características: ta nas escoriações e a derme apresenta coloração
branca.
z Forma linear e regular das bordas;
z Ausência de vestígios traumáticos nas extremida- z Equimose: é prova indiscutível de reação no vivo.
des da ferida; Tem como principais características a infiltração
z Hemorragia quase sempre abundante; hemorrágica nas malhas dos tecidos e a ruptura
z Predominância do comprimento sobre a profundi- capilar. Ocorre quando há um plano mais resisten-
dade (ação deslizante); te sob a região traumatizada. Algumas formas de
z Afastamento das bordas da ferida; equimose são:
z Vertentes cortadas obliquamente;
z Centro da ferida mais profundo que as extremidades.
„ Sugilação: forma de pequenos grãos;
„ Víbice: forma de estrias. Pode apresentar a for-
Quase sempre a hemorragia é abundante, devido
ma do objeto usado na agressão. Ex.: cassetete;
ao fácil rompimento dos vasos.
„ Petéquias: pequenas equimoses pontilhadas e
A extensão da ferida é geralmente menor do que a
agrupadas.
que ferida real produzida, devido à elasticidade e da
retratilidade dos tecidos (somente nos vivos).
Se as feridas cortantes apresentam aspecto de V, A mudança de tonalidade da equimose foi avalia-
devido à separação das bordas e ângulo agudo em seu da por Legrand du Saulle, veja a seguir:
término, têm forma de bisel. Para que isso aconteça, o
objeto cortante deve atuar obliquamente. 1º dia Vermelho
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL

z Sinal de Chavigny: usado para determinar a ordem 2º ao 3º dia Violáceo


das lesões que se cruzam, sendo que a segunda feri-
da não segue trajeto em linha reta devido à separa- 4º ao 6º dia Azul
ção anterior das bordas causada pela primeira lesão. 7º ao 10º dia Esverdeada

Dentro do conjunto das lesões produzidas por ação 11º ao 14º dia Amarelada
cortante, vamos apresentar a seguir:
15º ao 20º dia Desaparecendo
z Esquartejamento: ato de dividir o corpo em par-
tes (quartos), por amputação ou desarticulação; Mas cuidado, o valor cronológico é relativo, pois
z Castração - Lesão: geralmente causadas por vingança. pode variar em função da quantidade e profundidade
z Decapitação: separação da cabeça do corpo; do sangue extravasado e elasticidade do tecido.
z Esgorjamento: longa ferida transversal do pes- A exceção a esta regra ocorre na conjuntiva ocular,
coço, de significativa profundidade, na região devido à porosidade e oxigenação elevada na região,
anterior, lateral, anterolateral ou laterolateral do mantendo sua cor vermelha até sua total reabsorção.
pescoço; 591
Nos idosos a absorção da equimose é mais lenta z Fraturas: ocorrem por compressão, flexão ou tor-
que nas crianças. No cadáver, a equimose some ape- ção e caracterizam-se pela solução de continuida-
nas quando surgirem os fenômenos transformativos de dos ossos.
putrefativos que lhe alteram as características.
Os pigmentos absorvidos por atividade fagocitá- É comum nas crianças ocorrer a deformação do
ria podem ser vistos, mesmo após o desaparecimento osso sem apresentar qualquer fratura, pois o esquele-
da equimose, podendo ser usado para comprovar a to tem maiores índices de cartilagem, conhecido tam-
região lesionada (sinal de Kunckel). bém como fratura em galho verde.

z Equimose: z Luxações: articulação deslocada da posição de


origem. Se a perda de contato for parcial, denomi-
„ Sangue coagulado; na-se luxação incompleta;
„ Presença de malhas de fibrina; z Entorses: similar à luxação, no entanto, incide
„ Infiltração hemorrágica; somente sobre os ligamentos;
„ Presença em qualquer lugar do corpo; � Lesões produzidas por artefatos explosivos:
„ Sangue fora dos vasos; pode ser mecânica ou por onda explosiva:
„ Rupturas de vasos e mais particularmente de
„ Mecânica: decorrente dos artefatos;
capilares;
„ Onda explosiva (blast injury): ondas de pressão
„ Sinais de transformação de hemoglobina e
e sucção, causado pela expansão gasosa de uma
ausência de meta-hemoglobina.
explosão potente.
z Livor hipostático:
A lesão mais comum é a ruptura do tímpano (“blast”
auditiva) e o que melhor suporta as ondas Blast Injury
„ Sangue não coagulado;
é o coração.
„ Ausência de malhas de fibrina;
„ Ausência de infiltração hemorrágica;
„ Presença em locais específicos (é visível nas Importante!
zonas de decúbito);
„ Integridade de vasos capilares, sangue dentro Atente-se para o conteúdo a seguir, pois foi
dos vasos; matéria de prova.
„ Ausência de transformação hemoglobínica; Lesões por martelo:
„ Presença de meta-hemoglobina neutra e sulfí- � “Fratura em sacabocados” de Strassmann: Lesão
drica vista através da espectroscopia. perpendicular;
� Mapa-múndi de Carrara: presença de fissuras
z Edema: presença de saliência em algumas regiões (arcos e meridianos) e afundamento parcial;
do corpo por solução aquosa de sais e proteínas do � “Terraza” de Hoffmann: Lesão provocada tangen-
plasma na região danificada; cialmente e formato triangular.
z Hematoma: diferencia da equimose pelos motivos
seguintes:
z Encravamento: penetração de objeto afiado e rígi-
„ O maior extravasamento de sangue; do, em qualquer região do corpo;
z Empalamento: penetração de objeto na região
„ Vaso mais calibroso;
perineal ou do ânus;
„ Não ocorre difusão nas malhas dos tecidos moles;
z Lesões por arrancamento: desprendimento de
„ Comumente apresenta relevo na pele;
parte do corpo;
„ Absorção mais demorada que a equimose.
z Escalpo: desprendimento do couro cabeludo;
z Espostejamento: é a divisão do corpo em partes
z Bossa Sanguínea: sempre presente sobre um pla-
irregulares e menores.
no ósseo (elevada saliência). Popularmente conhe-
cido por “galo”;
Lesões por Precipitação
z Ferida Contusa: abertura de lesão por superar a
resistência e a elasticidade dos planos moles. São Uma das informações mais importantes para
produzidas por compressão, pressão, percussão, determinar a causa jurídica da morte é a distância
arrastamento, explosão e tração. Características: entre o local do impacto do corpo e a base do local de
precipitação. Ela pode ser:
„ Forma estrelada, sinuosa ou retilínea;
„ Bordas irregulares, escoriadas e equimosadas; z Acidental: mais próximo do local da precipitação,
„ Fundo irregular; por simples efeito gravitacional sem impulso;
„ Vertentes irregulares; z Homicídio: distância maior que no acidente devi-
„ Pontes de tecido íntegro ligando as vertentes; do a impulso provocado por terceiro;
„ Retração das bordas da ferida; z Suicídio: é a maior distância devido ao maior salto
„ Pouco sangrantes; provocado de forma proposital pela vítima.
„ Integridade de vasos, nervos e tendões no fun-
do da lesão;
592 „ Ângulo tendendo à obtusidade.
LESÕES PRODUZIDAS POR AÇÃO Nos tiros a curta distância estão presentes além
PERFUROCORTANTE dos efeitos primários, também os efeitos secundários
decorrente da elevada temperatura dos gases e do lan-
Ação por pressão e por secção. Pode ser de apenas çamento de pólvora combusta completa ou incompleta.
um gume (canivete), a qual dá origem a um formato
de botoeira, com um ângulo agudo e outro circular, z Projéteis comuns: forma arredondada ou elíptica
os de dois gumes (punhal) com as duas extremidades e diâmetro da lesão menor que do projétil;
similares e os de três gumes ou triangulares (lima). z Projéteis de alta energia: ferimentos maior que o
Nas lesões causadas por instrumento perfurocor- diâmetro do projétil.
tante há predomínio da profundidade sobre a exten-
são, sendo que esta última é maior que a espessura da Já os projéteis, ao penetrar na vítima, causam
lâmina do objeto usado. diversas lesões, que demonstraremos a seguir, seja a
Sobre o comprimento, vai depender se a entrada partir dos efeitos primários relacionados diretamente
ocorreu de forma perpendicular (lesão menor que a pelo embate do projétil, ou por efeitos secundários,
largura da lâmina) ou de forma oblíqua (lesão maior originados por meio do lançamento da pólvora com-
que a largura da lâmina). busta e incombusta. A saber:

LESÕES PRODUZIDAS POR AÇÃO PERFURO z A orla de escoriação ou de contusão: arranca-


CONTUNDENTE mento da epiderme devido ao embate do projétil
em movimento de giro;
Ação mista perfurante e contundente. Maior exem- z As bordas invertidas: sentido do projétil de fora
plo são as lesões decorrentes de projéteis de arma de para dentro;
fogo. z O halo de enxugo ou orla de Chavigny: passagem
do projétil através dos tecidos, deixando neles suas
z Rosa de tiro: disparos de cartuchos com projéteis impurezas;
múltiplos com área de projeção elevada devido à z O halo ou zona de tatuagem: impregnação de
dispersão e separação. grãos de pólvora incombustos que atingem o cor-
po. Não sai com a lavagem;
FERIMENTO DE ENTRADA z A zona ou orla de esfumaçamento: formado pelos
resíduos finos da pólvora combusta. Sai com a
Podem ser resultantes de tiro encostado, a curta lavagem;
distância ou a distância. z A zona de queimadura; ação superaquecida dos
gases que atingem e queimam o alvo;
Ferimento de Entrada nos Tiros Encostados z A aréola equimótica ruptura de pequenos vasos
nas adjacências do ferimento;
z A zona de compressão de gases: depressão da
Vamos mostrar alguns sinais importantes e suas
pele instantânea devido à pressão de gases (somen-
características:
te nos vivos).
z Câmara de mina de Hoffmann: forma irregular
pela presença de camada óssea na região inferior.
Ocorre pela expansão de gases na região interna e C
resistência do plano ósseo causando os desprendi- B
mento e dilaceração dos tecidos;
z Sinal de Benassi: halo fuliginoso na lâmina exter-
na do osso referente ao orifício de entrada;
z Sinal de Werkgaertner: desenho da boca e da
massa de mira do cano sobre a pele devido à eleva- A
D
da temperatura;
z Sinal do Schusskanol: esfumaçamento encontra-
do no túnel do tiro.
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL

Quanto ao diâmetro dessas lesões, pelo efeito lace- Orifício de entrada; A – orla de contusão; B – orla de
rante é comum que seja maior que o próprio diâmetro enxugo; C - Zona de tatuagem; D – Zona de esfumaçamento.
do projétil. As bordas geralmente são evertidas.
(Fonte: CROCE, D. Manual de Medicina Legal. 8. ed. São Paulo:
Saraiva, 2012).
Ferimentos de Entrada nos Tiros a Curta Distância
Tiro à Queima-roupa
Estes ferimentos podem mostrar zonas primárias
e secundárias: O tiro à queima-roupa ou curta distância é dispa-
rado a menos de 40 ou de 50 centímetros da vítima,
z Zonas primárias: forma arredondada ou elípti- mas não está o cano da arma encostado na pessoa.
ca, orla de escoriação, bordas invertidas, halo de fonte:unoeste.br
enxugo, aréola equimótica;
z Zonas secundárias: halo ou zona de tatuagem, Algumas características são crestação de pelos e
orla ou zona de esfumaçamento, zona de queima- cabelos, presença de sinais de queimadura sobre a
dura, e zona de compressão de gases. pele e zona de compressão de gases (no vivo). 593
Não há um valor absoluto para determinar a distância z O fenômeno da cavitação: ocorre formação de
de um disparo à curta distância, mas com a realização de cavidades temporárias e permanentes em virtude
testes práticos com a mesma arma de fogo, mesmas con- da aceleração brusca dos tecidos.
dições e cartucho, os efeitos secundários podem ser usa-
dos para determinar a distância que o tiro foi efetuado. Na cavidade temporária ocorre diversas expan-
sões e, no final do processo, é registrada a cavidade
Ferimentos de Entrada nos Tiros a Distância permanente, que costuma apresentar dimensões
equivalentes à do projétil.
Nessas lesões, o diâmetro da ferida é menor que
o do projétil devido à elasticidade e retratibilidade LESÕES PRODUZIDAS POR AÇÃO
da pele. Segue uma forma arredondada ou elíptica CORTO-CONTUNDENTE
(dependendo do ângulo de entrada), orla de contusão,
halo de enxugo (limpeza das impurezas), aréola equi- Muito importa o peso do objeto e a força usada
mótica e bordas reviradas para dentro. Tiro a distân- nele por quem o está utilizando. Sua ação mista se
cia não apresentam os efeitos secundários do tiro. dá pelo deslizamento e pela percussão, mas também
Não se deve indicar o calibre da arma pelo diâme- como pela pressão. São exemplos: a foice, o facão, o
tro das lesões. machado e as mordidas (destaque por já ter sido
questão de prova). Muito comum ser encontrada no
z Sinal de funil de Bonnet ou do cone truncado de espostejamento.
Pousold: sinal usado para mostrar o ferimento de Não estão presentes: cauda de escoriação e pontes
entrada (arredondado) e saída no plano ósseo. A de tecidos íntegros entre as vertentes da ferida.
região de saída forma um tronco de cone com a Podem-se dividir essas lesões em quatro graus:
base voltada para fora;
z Buraco de fechadura: ferimento de entrada com z 1° grau: equimoses e escoriações, é possível nas
incidência tangencial, no entanto, penetra na cavi- mordeduras chegar até o autor por comparação;
dade craniana. z 2° grau: equimoses e escoriações mais intensas;
z 3° grau: compromete a pele até à musculatura,
Ferimentos de Saída porém sem arrancamento de tecidos;
z 4° grau: lesões com desprendimento de tecidos e
Veremos as características: possíveis modificações estéticas.

z Forma irregular; LESÕES CORPORAIS: LEVE, GRAVE E GRAVÍSSIMA


z Bordas reviradas para fora; E SEGUIDA DE MORTE
z Maior sangramento e;
z Não apresenta orla de escoriação nem halo de enxu- Por lesão corporal, entende-se todos os danos cau-
go e nem a presença dos elementos químicos resul- sados à normalidade do corpo humano, tanto do pon-
tantes da decomposição da pólvora; to de vista anatômico quanto do fisiológico ou mental.
z Diâmetro maior que o diâmetro do orifício de entrada. As lesões corporais são tratadas no art. 129, do
z Ausência de orla de escoriação. Exceção: Código Penal, dentro do Título I (Crimes contra a
pessoa), Capítulo II (Lesões corporais). O menciona-
„ Sinal de Romanese: ocorre quando o indiví- do artigo, logo em seu caput, define o delito de lesão
duo que foi alvejado encontra-se encostado em corporal como a ofensa à integridade corporal ou à
um anteparo, como uma parede, e o projétil, ao saúde de terceiro, seja pela existência de dano somá-
sair, encontre resistência; tico, funcional ou psíquico.
„ “Trajeto em chuleio” ou “trajeto em alinha-
vo”: quando um mesmo projétil transfixa mais Dica
de uma região do corpo, com presença de outros
Vale lembrar que a autolesão, via de regra, não
orifícios de entrada e saída. Exemplo: mesmo
projétil transfixou a região torácica e antebraço.
é punível, exceto se utilizada para ofender outro
bem jurídico, como, por exemplo, a autolesão
Pode ser realizado o exame histoquímico com uso do para fraudar recebimento de indenização ou
reagente rodizonato de sódio para buscar chumbo em valor de seguro (inc. V, §2º, art. 171, do CP) ou
feridas cicatrizadas, com o intuito de averiguar se a lesão para criar incapacidade física que inabilite o con-
foi produzida por disparo de arma de fogo. Esse mesmo vocado para o serviço militar (art. 184, do Código
reagente é usado para buscar chumbo na mão de suspei- Penal Militar).
tos, a fim de encontrar que realizou os disparos.
A lesão corporal é crime material, ou seja, é um
Lesões Produzidas por Projéteis de Alta Energia delito que se consuma com a modificação do mundo
exterior, perceptível aos sentidos humanos. Para tan-
Apresentam poder de destruição e explosão enor- to, a prova de sua materialidade depende, em regra,
mes, principalmente se tiver tecido ósseo no plano de perícia (exame de corpo de delito), conforme deter-
inferior. Os orifícios tendem a ser muito maiores que mina o art. 158, do Código de Processo Penal (sendo
o diâmetro dos projéteis e, na maioria das vezes, a leve a lesão, o exame de corpo de delito é dispensá-
orla de escoriação está imperceptível. vel, nos termos do § 1º, art.; 77, da Lei nº 9.099, de
O trajeto da lesão é formado pela ampla laceração 1995, sempre que a materialidade do delito puder ser
de tecidos, apresentando, em alguns casos, material comprovada por outros meios, tal como o prontuário
médico).
594 aspirado do meio e de estruturas vizinhas.
Da análise do art. 129, do CP, é possível elaborar a z Queimadura de 1º grau (eritema simples - sinal de
seguinte sistematização quanto às espécies de lesões: Christinson), caso em que a pele fica avermelhada
por conta da dilatação dos vasos sanguíneos da der-
me, recuperando-se completamente após a desca-
ESPÉCIE DE LESÃO
PREVISÃO LEGAL mação, também não é considerada lesão corporal.
CORPORAL
Lesão corporal simples (leve) Art. 129, caput, do CP Lesão Corporal Grave
Lesão corporal qualificada
§§ 1º, 2º, 3º, 9º, e 13, art.
(grave, gravíssima e seguida A lesão corporal grave consiste na primeira espé-
129, do CP
de morte) cie qualificada de lesão corporal (caso em que a pena
Lesão corporal “privilegiada” §§ 4º, e 5º, art. 129, do passa a ser de reclusão de 1 a 5 anos), e encontra-se
(causa de diminuição de pena) CP prevista no §1º, do art. 129. Observemos as quatro
hipóteses que a caracterizam:
Lesão corporal culposa § 6º, art. 129, do CP
Lesão corporal culposa Art. 129 […]
§ 7º, art. 129, do CP
majorada § 1º Se resulta:
I - Incapacidade para as ocupações habituais,
§§ 7º, 10º, 11º e 12, art.
Lesão corporal majorada por mais de trinta dias;
129, do CP
II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido
No entanto, sob o aspecto médico-legal, interessa ou função;
distinguir as lesões entre leves, graves, gravíssimas IV - aceleração de parto:
e a seguida de morte. Pena - reclusão, de um a cinco anos.

Lesão Corporal Simples (Leve) A primeira hipótese de ocorrência de lesão corporal


grave é a incapacidade para as ocupações habituais
A lesão corporal na modalidade simples encontra- por mais de 30 dias, que consiste na impossibilida-
-se prevista no art. 129, caput, do CP: de real de se executar as atividades do dia a dia, não
necessariamente ligadas ao trabalho, tais como pra-
Art. 129 Ofender a integridade corporal ou a ticar um esporte, por exemplo. Para tal, não se exige
saúde de outrem: a incapacidade absoluta e, passados 30 dias, é neces-
Pena – dentenção, de três meses a um ano. sária a realização de exame pericial complementar, a
fim de que se comprove o prazo exigido em lei para a
Ademais, esta somente tem aplicação de forma constatação da lesão grave (é o que se chama de crime
residual, ou seja, quando não houver a ocorrência de a prazo, ou seja, o delito que requer a realização de
nenhuma das hipóteses que qualificam a lesão (grave, exame complementar para sua comprovação).
gravíssima ou seguida de morte). Também, pode-se A segunda hipótese de lesão corporal grave é a
dizer que a lesão corporal simples, consumada como ocorrência de perigo de vida. Por perigo de vida,
uma lesão leve, relaciona-se à conduta dolosa de cau- entende-se as situações nas quais a lesão gerou, com-
sar dano a terceiros. provadamente, probabilidade real de morte. Dentre
Por lesão leve, no que lhe diz respeito, entende-se outras, são ocorrências que indicam a possibilida-
a ofensa à integridade corporal ou à saúde de outrem, de iminente de morte: hemorragias agudas, grandes
materializada em danos superficiais à pele, à tela sub- lesões viscerais, fratura do crânio ou da coluna verte-
cutânea, aos músculos superficiais, aos vasos arteriais bral, queimaduras em mais de 60% de área, perda de
consciência e de reflexo, entre outras.
e venosos de pequeno calibre.
A terceira hipótese, por sua vez, consiste na debili-
Lesões leves, portanto, são as equimoses, esco-
dade permanente de membro, sentido ou função. O
riações, hematomas, feridas contusas, alguns tipos de
vocábulo debilidade, no que lhe concerne, tem signi-
entorses, edemas, torcicolos traumáticos e boa parte
ficado de enfraquecimento, diminuição permanente
das luxações que, de modo geral, não levam a compli-
da vitalidade. A debilidade permanente, assim, atinge
cações significativas de ordem fisiológica.
os:
Do ponto de vista médico-legal, no que diz respeito
às lesões leves, vale mencionar que:
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL

z membros superiores (braços, antebraço e mãos)


ou os inferiores (pernas, coxas e pés);
z Convulsões, choques nervosos ou outros tipos de z sentidos (olfato, audição, visão, tato e paladar);
alterações patológicas originadas por ameaças rei- z funções (atividades dos órgãos, como a circulató-
teradas são consideradas lesões corporais leves; ria, reprodutora, respiratória etc.).
z Dores, crises nervosas simples ou desmaios que
não configurem comprometimento das saúde físi- Note que a hipótese, prevista no inc. III, §1º, do art.
ca ou fisiopsicológica da pessoa não são conside- 129, não se trata de perda total, mas de redução fun-
radas lesões corporais leves; cional. Nesse sentido, valem as seguintes observações:
z Rubefação simples (vermelhidão local que decor-
re da dilatação de capilares e vênulas, originada, z A perda de um órgão duplo, como um olho, um
por exemplo, por um tapa), desde que não com- rim, um pulmão ou uma mão configura lesão cor-
prometa o normal funcionamento do organismo, poral grave, caso o outro esteja funcionando. Da
não é considerada lesão corporal leve (neste caso, mesma forma ocorre com o baço que, ainda que
pode haver a incidência da contravenção penal de único, tem as funções assumidas pelo fígado. Nesse
vias de fato, prevista no art. 21, da LCP); sentido é farta a jurisprudência, analisemos: 595
[...] Conforme entendimento jurisprudencial, a abla- A segunda hipótese de lesão corporal gravíssima, pre-
ção ou inutilização de apenas um dos elementos vista no inciso II, do § 2º, é a enfermidade incurável.
componentes de determinada função ou sentido, Trata-se de um estado patológico que, no estágio atual da
como acontece em relação àqueles que se apoiam medicina, é incurável, e que tende a evoluir para a morte,
em órgãos duplos, caracteriza lesão corporal de ou permanece na indefinidade, sem que haja cura.
natureza grave, e não gravíssima, visto que acarreta Durante certo tempo, a transmissão dolosa do
tão só a diminuição funcional do organismo, e não a vírus HIV (que causa a AIDS) era entendida como
sua perda. (TJMG - REL. DES. HERCULANO RODRI-
tentativa de homicídio. No entanto, com o avanço
GUES – APCRIM Nº 1.0000.00.309769-8/000, JULGA-
da medicina, atualmente, entende-se que se trata de
DA PELO TJMG E PUBLICADA EM 17 DE SETEMBRO
DE 2003) lesão corporal gravíssima, uma vez que gera uma
enfermidade permanente e incurável que ataca o sis-
tema imunológico da vítima.
Ainda conforme a jurisprudência, a perda de den-
A terceira hipótese de lesão corporal gravíssima
tes configura lesão corporal grave, tendo em vista a
(inc. III) consiste na perda ou inutilização de mem-
debilidade da função mastigatória (RESP 1.620.158/RJ,
bro, sentido ou função. A perda, ou inutilidade, é o
JULGADO PELA 6ª TURMA DO STJ, EM 13 DE SETEM-
grau máximo de dano ao membro, ao sentido ou à
BRO DE 2016, PUBLICADA NO INFO 590).
função. A perda resulta da amputação, que ocorre pos-
Por fim, a quarta hipótese de lesão corporal grave,
teriormente à agressão, e visa a preservação da vida
prevista no inc. IV, §1º, art. 129, consiste na aceleração
ou danos mais graves à saúde da vítima. A mutilação,
do parto. Note que a lei menciona aceleração, ou seja,
por sua vez, ocorre no momento do crime. A Inutiliza-
antecipação do parto, causada por traumas físicos, ou
psíquicos, na qual não ocorre a morte do feto. ção, por último, consiste na perda das funções de um
membro que ainda subsiste anatomicamente. A perda
pode ser total ou parcial, desde que leve à inutilização
Lesão Corporal Gravíssima
(uma mutilação parcial, por exemplo).
A quarta qualificadora é a deformidade perma-
As lesões corporais gravíssimas são aquelas que
nente (inc. IV), que consiste em um dano estético visí-
geram as consequências previstas no § 2º, art. 129, vel, irreversível e permanente, capaz de interferir, de
do CP. forma negativa, na vida social da vítima (causando
Atenção: Veja que, no texto do art. 129, não exis- vergonha, desgosto ou qualquer tipo de sentimento
te a expressão “gravíssima” para qualificar as lesões negativo no ofendido e, também, em terceiros). Nesses
corporais previstas em seu § 2º. No entanto, tendo em casos, não importa se a pessoa realizou procedimento
vista o fato de que a pena destinada a essas (reclusão médico para reduzir ou fazer desaparecer as marcas,
de 2 a 8 anos) é maior do que a destinada às hipóte- pois a qualificadora ainda persiste. (HC 391771/RJ,
ses previstas no § 1º, a doutrina e jurisprudência clas- JULGADO EM 2017 PELA QUINTA TURMA DO STJ).
sificam, como lesões corporais gravíssimas, todas as
situações do § 2º, do art. 129. Observemos:
Importante!
Art. 129 Ofender a integridade corporal ou a saúde
de outrem:
Recentemente, em 2022, a Sexta Turma do STJ
[...] firmou o entendimento de que a qualificadora
§ 2° Se resulta: de deformidade permanente, prevista no inc. IV,
I - Incapacidade permanente para o trabalho; não abrange o dano psicológico, exigindo, pois,
II - enfermidade incurável; que o delito tenha causado danos estéticos à
III perda ou inutilização do membro, sentido vítima. No mesmo julgamento, a relatora do
ou função; caso, Ministra Laurita Vaz, afirmou, no entanto,
IV - deformidade permanente; que o dano psicológico (no caso, a vítima sofreu
V - aborto:
estresse pós-traumático, o que lhe gerou altera-
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
ção permanente da personalidade) pode incidir
São 5 as hipóteses de lesões corporais gravíssimas. em outra qualificadora do art. 129, ou mesmo ser
A primeira delas se configura na incapacidade per- reconhecida como circunstância jurídica desfa-
manente para o trabalho. Trata-se da incapacidade vorável. (HC 689.921, JULGADO EM 8 DE MARÇO
que atinge, de maneira duradoura, a capacidade de DE 2022, PELA SEXTA TURMA DO STJ)
exercer atividades remuneradas.
Importante se lembrar que: em relação à qualifi-
A quinta e última hipótese de lesão corporal gra-
cadora do inciso I, § 2º, art. 129, existem duas posições:
víssima (inc. V) refere-se ao aborto. O aborto significa
a interrupção da gravidez normal e não patológica,
z somente configura, a qualificadora, a incapaci- em qualquer das fases da gestação, provocada por
dade permanente de exercer qualquer forma de uma ofensa corporal ou violência psíquica, que impli-
trabalho; ca na expulsão, ou não, do concepto morto, ou na sua
z basta que a vítima fique incapaz de exercer sua morte logo após. Veja que a expulsão do feto morto
atividade remunerada anterior para que haja a não é necessária para configurar o aborto.
incidência da qualificadora (por exemplo, o médi- Importante: assim como ocorre na qualificadora de
co que não pode mais exercer sua profissão, mas adiantamento do parto (inc. IV, § 1º, art. 129), o sujeito
é capaz de trabalhar em outra atividade laboral). ativo deve ter conhecimento de que a vítima está grá-
Esta última posição, apesar de não ser majoritária, vida, mas não pode dirigir sua conduta para o fim de
parece ser a mais acertada, uma vez que a pessoa causar o aborto, pois, se assim o fizer, vai responder
não pode ser obrigada a mudar de profissão por pelo crime de lesão corporal em concurso com crime de
596 conta da lesão sofrida. aborto.
Utiliza-se o Mnemônico “PIDA/PEIDA” para gravar z Morte violenta: via de regra ocorre por ação
a diferença entre as lesões corporais graves e gravíssi- externa (homicídio, suicídio e acidente) e, mais
mas. Veja a tabela a seguir: raramente, interna;
z Morte de causa suspeita: é aquela que ocorre de for-
ma duvidosa entre causa natural ou de causa violenta.
LESÃO CORPORAL LESÃO CORPORAL
GRAVE (PIDA) GRAVÍSSIMA (PEIDA)
A morte natural ou de causas violentas externas
Perda ou inutilização podem ser de ocorrência súbita, fulminante, media-
Perigo de vida de membro, sentido ou ta ou agônica.
função
z Morte súbita: É aquela de efeito imediato e instan-
Incapacidade para ocu- tâneo em indivíduos com aparente bom estado de
pações habituais, por Enfermidade incurável saúde (ausentes de patologias prévias, mas ocorre
mais de 30 dias em virtude de causa interna ou patológica). O lapso
Debilidade permanente temporal entre seu início e fim são de poucos minu-
Incapacidade permanen- tos, não sendo possível ocorrer um socorro eficaz;
de membro, sentido ou
te para o trabalho z Morte fulminante: Quando uma doença surge
função
subitamente e com muita gravidade;
Deformidade z Morte mediata: Não é instantânea como a morte
Aceleração de parto Permanente súbita, pois nesse caso é observada sobrevivência
por algumas horas, ensejando previdências de
Aborto
atendimento. No CID-10, essa morte é conceituada
como a que ocorre em menos de um dia desde o
Lesão Corporal Seguida de Morte início dos sintomas;
z Morte agônica ou tardia: Pode-se arrastar por
A lesão corporal seguida de morte encontra-se pre- semanas com sofrimento após o início de sua causa.
vista no § 3º, art. 129, do CP:
Cerca de 90% das mortes súbitas em adultos são
Art. 129 […] de origem cardíaca e ocorrem nas primeiras horas.
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias eviden- Os peritos geralmente encontram coágulos brancos
ciam que o agente não quís o resultado, nem (fibrinosos) nos vasos da base do coração. Pode ser
assumiu o risco de produzí-lo: realizada a docimasia hepática ou suprarrenal:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
z Hepática: verifica o nível de glicogênio e glicose
Pela observação do artigo, percebe-se que esta é no fígado. Em níveis baixos, indica morte agônica;
uma forma qualificada de lesão corporal, cuja pena em níveis normais, indica morte rápida;
é de reclusão, variando de 4 a 12 anos. Além disso, z Suprarrenal: verifica os níveis de adrenalina. Se
a mesma trata-se de hipótese preterdolosa, isto é, o houve repleção, indica morte rápida; se houve
depleção, ocorreu morte agônica.
agente quer provocar lesão corporal na vítima (dolo
de lesionar) mas acaba, por culpa, provocando o
Perícia do Tempo de Sobrevivência
resultado morte. O exemplo mais comum, trazido pela
doutrina, é o do agente que desfere um soco no rosto
Além de apresentar relevância nos casos de morte
da vítima que, ao cair no chão, acaba morrendo por violenta e morte suspeita, é importante para determi-
conta de um traumatismo crânio encefálico (TCE). nar comoriência ou primoriência.
Comoriência, segundo a definição da lei civil: “Se dois
ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não
podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu
TANATOLOGIA FORENSE aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos”.
Portanto, comoriência reconhece a morte simultânea de
CAUSAS JURÍDICAS DA MORTE duas ou mais pessoas no mesmo instante, quando não é
possível provar quem veio a óbito primeiro.
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL

Um dos principais aspectos que devem ser levan- Primoriência é o instituto que determina quem
morreu primeiro em um mesmo fato ocorrido. É
tados pela Tanatologia Forense é o diagnóstico da
importante determinar o tempo de sobrevivência na
causa jurídica da morte e o mecanismo usado. Em
área cível, principalmente por questões de herança.
outras palavras, corresponde ao homicídio, suicídio
ou acidente. Lesões In Vitam e Post Mortem

Morte Súbita, Agônica e Sobrevivência A cronologia dos ferimentos segue as etapas seguintes:

Antes de tudo, é necessário distinguir morte natu- z Lesões produzidas bem antes da morte;
ral, morte violenta e morte de causa suspeita. z Lesões produzidas imediatamente antes da morte;
z Lesões produzidas logo após a morte;
z Morte natural: ocorre em decorrência de anteceden- z Lesões produzidas certo tempo depois da morte.
tes patológicos; é justificada por um estado mórbido
adquirido ou até mesmo perturbação congênita; 597
Meios Tradicionais (Macroscópicos) A morte por inibição ocorre mesmo que a vítima não
apresente qualquer antecedente ou alteração patológicos.
As lesões que se verificam após a morte não apre-
sentam reações vitais, como: DIAGNÓSTICO DE REALIDADE DA MORTE

z Infiltração hemorrágica, quanto maior é a sobrevi- Tanatologia médico-legal é a parte da Medicina Legal
vência, maior essa infiltração; que estuda a morte e o morto, e as suas repercussões
z Coagulação do sangue; na esfera jurídico-social (FRANÇA, 2017). Os pontos mais
z Retratibilidade dos tecidos; relevantes que iremos estudar nesse tópico são:
z Presença e tonalidade das equimoses;
z Aspecto das escoriações; z Definição de morte;
z Reações inflamatórias, embolias, evolução dos z Causas jurídicas da morte (homicídio, suicídio ou
calos de fratura, entre outras. acidente);
z Diagnóstico da realidade de morte pelos sinais
Outros meios de lesões:
tradicionais;
z Estimativa do tempo de morte (cronotanatognose);
z Lesões brancas: são sinal de lesão provocada após
z A morte súbita, agônica e sobrevivência;
a morte;
z Distinção entre morte natural, morte violenta e
z Hemorragia: é a lesão produzida em vida;
morte de causa suspeita e em quais situações os
z Incoagulação do sangue: sinal de morte (sinal de
corpos serão atestados pelo IML, SVO ou pelo pró-
Donné);
prio médico particular da família.
z Formação de crosta: sinal claro de reação vital.
Critérios para Diagnóstico da Morte
As escoriações produzidas in vitam apresentam
desprendimento da epiderme, desnudamento de der-
Nos dias atuais, surge um novo conceito de diag-
me, coagulação da linfa e formação da crosta.
nóstico de morte: a morte encefálica. A constatação
O eritema e as flictenas com conteúdo, principal-
da morte encefálica é a condição necessária para a
mente compostos por leucócitos, cloreto de sódio e
captação de múltiplos órgãos para transplante. Em
albuminas (sinal de Chambert), e o retículo vasculo-
um caso dessa natureza, a data e a hora do óbito
cutâneo, afirmam queimaduras intra vitam.
deverão ser as mesmas em que for declarada a morte
O cogumelo de espuma para os afogados é sinal de
encefálica.
reação vital, desde retirados do meio líquido em curto
espaço de tempo.
Modalidades da Morte
Meios Subsidiários
Delton Croce e Genival Veloso França definem as
Os métodos mais usados para determinar ocorrên- modalidades da morte com conceitos diferenciados
cia de lesões in vitam e post mortem são a prova de como veremos abaixo:
Verderau, a prova histológica, a microscopia eletrôni- De acordo com Delton Croce, as modalidades de
ca, a histoquímica e os métodos bioquímicos. morte são:

z Prova de Verderau: relação entre as hemácias e leu- z Anatômica: cessamento total e permanente de
cócitos da lesão, comparando com elementos figura- todas as grandes funções do organismo entre si e
dos do sangue de outra região qualquer do corpo; com o meio ambiente, como, por exemplo, a respi-
z Prova histológica: nas lesões em vida, observa-se ração e a circulação;
congestão vascular, elementos histiocitários da z Histológica: tecidos, células dos órgãos e sistemas
reação, dentre outros; morrem em um período mais prolongado;
z Uso da microscopia eletrônica: determina feridas z Aparente: o indivíduo aparenta estar morto, mas
vitais e as produzidas depois da morte, principal- ainda apresenta reações vitais por persistência
mente através da hemóstase e dos seus componen- da circulação. Se o socorro for rápido, é possível
tes celulares e plasmáticos; a recuperação do indivíduo em estado de morte
z Prova histoquímica: baseada em técnicas enzi- aparente. É caracterizada pela tríada de Thoinot:
mo-histoquímicas percebidas nos tecidos cutâneos imobilidade, ausência aparente da respiração e da
da periferia das lesões em vida. circulação;
� Relativa: o indivíduo jaz como morto vitimado
Morte por Inibição/Reflexa por parada cardíaca diagnosticada pela ausência
de pulso em artéria calibrosa. Se for feita uma rea-
Suspensão súbita e inesperada das funções vitais. nimação a tempo, o quadro pode ser reversível;
Morte de difícil diagnóstico antes ou depois de tal fato. z Morte intermédia: aceita por alguns autores e
Segundo Genival Veloso França, é a morte rápida e contestada por outros. Essa morte antecede a abso-
brusca de um indivíduo aparentemente sadio, vitima- luta e sucede a relativa e pode ser considerada o
do por pequeno traumatismo ou simples manipulação início da morte definitiva;
de certos órgãos ou regiões do corpo, tão insignifican- z Morte real: acaba a conexão orgânica, por inibi-
tes que deixam mínimos vestígios ou nenhum, ou não ção da força de coesão intermolecular, dando iní-
deixam qualquer lesão capaz de explicar tal resultado. cio aos fenômenos transformativos até à completa
598 esqueletização.
Para Genival Veloso França, a morte pode ser clas- Puerpério
sificada de quatro formas:
O puerpério é o “espaço de tempo que vai da expul-
z Morte aparente: apresenta-se pela suspensão são da placenta até a involução total das alterações
aparente de algumas funções vitais; da gravidez pela volta do organismo materno às suas
z Morte relativa: caracterizada pela cessão efetiva condições pré-gravídicas. Seu tempo varia, segundo
e duradoura de algumas funções vitais, sendo pos- estudiosos, de 8 dias a 8 semanas”.
sível a recuperação de algumas delas;
z Morte intermediária: similar à anterior, no entan- REPRODUÇÃO ASSISTIDA
to, não havendo possibilidade de recuperação;
z Morte absoluta: suspensão total e permanente de A reprodução assistida engloba procedimentos
qualquer atividade vital. realizados que auxiliarão na resolução de conflitos da
infertilidade humana, permitindo o processo de pro-
Formas de morte aparente: criação. Segundo Genival Veloso França, a reprodução
assistida, tecnicamente, pode ser realizada por:
z Sincopal: (a mais comum): por perturbações car-
diovasculares centrais e/ou periféricas e encefáli- z Métodos de fecundação interna;
cas e/ou metabólicas; z Por transferência transabdominal, intrauterina e
z Histérica: (letárgica e catalepsia): a segunda causa intra-abdominal de gametos;
mais frequente, ausente de respostas de movimentos, z Fecundação in vitro com transferência uterina de
sensibilidade e consciência por longo período; ovo fecundado, com doação de óvulo, com doação
z Asfíxica: mecânica (com obstrução ou não das vias de embrião e transferência de embriões congela-
respiratórias) e não mecânica, asfixia de absorção ou dos, podendo essas técnicas serem efetivadas de
histotóxica (respiração de gás carbônico e cianuretos); forma homóloga (material do marido ou compa-
z Tóxica: compreende a anestesia e a utilização alca- nheiro) ou heteróloga (material de doador).
loides em doses inadequadas, causando danos ao
indivíduo; São métodos de reprodução assistida:
z Apopléctica: presente em pessoas hipertensas pela
congestão e hemorragia de uma artéria cerebral. z A inseminação:

Na inseminação artificial, o sêmen do homem é


introduzido na vagina, útero ou trompas da mulher,
SEXOLOGIA FORENSE após estimulação da ovulação e capacitação dos
espermatozoides.
Parte da Medicina Legal que discute as questões A estimulação dos ovários com hormônio tem por
médico-biológicas e periciais relacionadas aos crimes objetivo o amadurecimento de vários óvulos no ciclo em
contra a dignidade e a liberdade sexual. que será feita a inseminação, aumentando as chances de
A violência sexual é, antes de qualquer coisa, uma fertilização. Da mesma forma, a capacitação dos esper-
agressão à própria cidadania, não se tratando apenas matozoides visa a torná-los mais aptos à fecundação.
de uma agressão ao corpo, à sexualidade e à liberdade Na inseminação, o encontro dos gametas ocorre no
do homem ou da mulher. É um fenômeno universal lugar natural, mas é o médico que introduz o sêmen.
que abrange as diversas classes sociais, culturas, reli- Havendo fecundação, o ovo ou zigoto formado nas
giões e etnias ,possuindo significados muito próximos trompas caminha em direção ao útero e aí nida (ani-
dos demais delitos em seus aspectos etiológicos e esta- nha-se, fixa-se) a partir do sétimo dia, completando-se
tísticos, prevalecendo os fatores socioeconômicos em a fixação ao redor do 14º dia.
meio a suas causas. Observe-se que, após a introdução do sêmen, o
Dessa forma, faz-se essencial que se amplie e restante do processo desenvolve-se de forma natu-
melhore a qualidade das perícias médico-legais para ral. Entretanto, havendo obstáculo na trajetória (por
que os vestígios presentes possam oferecer subsídios exemplo, uma obstrução das trompas), o encontro
concretos ao interesse da justiça, vez que não há outra tem de ser realizado no laboratório, onde os vários
maneira de avaliar um fato criminoso que não seja óvulos colhidos são colocados em contato com os
por meio da análise da prova. espermatozoides capacitados, podendo dar origem a
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL

vários embriões.
GRAVIDEZ, PARTO E PUERPÉRIO
z Fertilização in vitro:
Gravidez

Gravidez é o estágio fisiológico da mulher devido A união dos gametas ocorre espontaneamente em
ambiente que reproduz o das trompas, mas fora do orga-
a um produto da concepção. Ocorrendo a morte fetal
nismo da mulher. Quando se dispõe de poucos esperma-
após o 5º mês, a retenção provoca o fenômeno da
tozoides, insuficientes para uma fecundação espontânea,
maceração de forma progressiva.
estes são injetados diretamente dentro dos óvulos, com
Parto utilização de técnicas de engenharia genética (ICSI).
Os embriões resultantes que apresentam melhor
Parto é a expulsão do feto viável e anexos. O par- aspecto morfológico são transferidos para o útero da
to empelicado ocorre quando não há rompimento da mulher, em número de quatro, no máximo, e os que
bolsa ou saco amniótico, entretanto, não ocorre risco conseguirem nidar dão origem à gestação, única ou
de vida, pois o recém-nascido continua recebendo oxi- múltipla. Os que não foram transferidos, chamados
gênio por meio do cordão umbilical. embriões excedentes, são congelados, desde que viáveis. 599
Óvulos e espermatozoides criopreservados são z As técnicas de RA não devem ser aplicadas com a
apenas células germinativas, podendo ser descarta- intenção de selecionar o sexo ou qualquer outra
dos conforme vontade do doador. característica biológica do futuro filho, exceto
Nas diferentes técnicas de RA, além da dispensa quando se trate de evitar doenças ligadas ao sexo
do ato sexual e participação do médico na procriação, do filho que venha a nascer;
na fertilização in vitro pode haver um hiato de tempo z É proibido a fecundação de oócitos humanos, com
variável entre a fecundação e a nidação. qualquer outra finalidade que não seja a procria-
Havendo união dos gametas, houve concepção. A ção humana;
nidação no útero, condição indispensável à evolução do z O número ideal de oócitos e pré-embriões a serem
embrião, marca apenas o início da gestação. Dessa for- transferidos para a receptora não deve ser supe-
ma, o novo ser, mesmo que criopreservado, é concebido. rior a quatro, com o intuito de não aumentar os
A fertilização in vitro é homóloga se os gametas uti- riscos já existentes de multiparidade;
lizados forem do casal, e heteróloga se um ou ambos z Em caso de gravidez múltipla, decorrente do uso
os gametas forem de doadores, desde que a gestação de técnicas de RA, é proibida a utilização de proce-
se desenvolva no útero da esposa ou companheira. dimentos que visem a redução embrionária.
A mulher pode realmente não ter condições de
gerar, por exemplo, quando os ovários não produ- TRANSTORNOS DA SEXUALIDADE E DA
zem óvulos, mas pode ter útero normal para gestar o IDENTIDADE SEXUAL
embrião resultante da fecundação de óvulo doado por
espermatozoide do marido ou de doador. Genival Veloso França define como “distúrbios
As técnicas de reprodução assistida não devem qualitativos ou quantitativos do instinto sexual, fan-
ser aplicadas com a intenção de sexagem ou qualquer tasias ou comportamento recorrente e intenso que
outra característica biológica do futuro filho, exceto ocorrem de forma inabitual”. Vamos estudar algumas
quando se trate de evitar doenças ligadas ao sexo do parafilias:
filho que venha a nascer.
z Anafrodisia: diminuição do desejo sexual no
homem;
Importante! z Frigidez: diminuição do desejo sexual na mulher;
z Anorgasmia: Homem não consegue alcançar o
A reprodução assistida resolve o efeito da este- orgasmo;
rilidade propiciando a gestação, sem corrigir as z Erotismo ou afrodisia: aumento do apetite sexual;
causas do distúrbio. z Satiríase: ereção quase contínua, com ejaculações
repetidas;
z Priapismo: ereção sem desejo;
Conforme as normas éticas de reprodução huma- z Erotomania: desejo exaltado sem ereção, com
na, o consentimento informado será obrigatório ideia fixa de sexo;
para todos os pacientes submetidos às técnicas de z Ninfomania ou uteromania: desejo exaltado na
reprodução assistida (RA). Não constitui ilícito ético mulher (furor uterino);
a reprodução assistida post mortem, desde que haja z Autoerotismo: erotismo sem parceiro;
autorização prévia específica do falecido para o uso z Exibicionismo: prazer em exibir os órgãos sexuais
do material biológico criopreservado, de acordo com em público;
a legislação vigente. z Swapping: troca de casais de forma consentida
Conforme resolução CFM 1358, de 1992, os princí- (heterossexual);
pios gerais são: z Narcisismo: admiração pelo próprio corpo, sendo
indiferente ao sexo oposto;
z As técnicas de Reprodução Assistida (RA) têm o z Fetichismo: desejo ou satisfação sexual desperta-
papel de auxiliar na resolução dos problemas de do por objeto (calcinha, meia) ou parte da pessoa
infertilidade humana, facilitando o processo de (pés, nuca), que absorve todo o desejo sexual;
procriação quando outras terapêuticas tenham z Lubricidade senil: atração de velhos, muitas vezes
sido ineficazes ou ineficientes para a solução da impotentes, por pessoas muito mais jovens, princi-
situação atual de infertilidade; palmente crianças, levando-os a atos libidinosos;
z As técnicas de RA podem ser utilizadas, desde que z Mixoscopia: prazer sexual em assistir à relação
exista probabilidade efetiva de sucesso e não se sexual dos outros;
incorra em risco grave de saúde para a paciente ou z Cronoinversão: amor pelo sexo oposto com gran-
o possível descendente; de diferença de idade;
z O consentimento informado será obrigatório e z Cromoinversão: propensão erótica de certos indi-
extensivo aos pacientes inférteis e doadores. Os víduos por outros de cor diferentes;
aspectos médicos envolvendo todas as circunstân- z Gerontofilia: atração sexual de jovens por pessoas
cias da aplicação de uma técnica de RA serão deta- idosas;
lhadamente expostos, assim como os resultados z Pigmalionismo, iconolagnia ou iconomania: o
já obtidos naquela unidade de tratamento com a indivíduo se enamora pela sua criação (desenhos,
técnica proposta. As informações devem também estátuas). Também chamados de estupradores de
atingir dados de caráter biológico, jurídico, ético e estátuas, pois elas os excitam a ponto de induzi-los
econômico. O documento de consentimento infor- à masturbação;
mado será em formulário especial, e estará com- z Voyeurismo: excitação sexual ao observar os
pleto com a concordância, por escrito, da paciente outros em cenas íntimas (tomando banho, trocan-
600 ou do casal infértil; do de roupa);
z Coprofilia: perversão em que o ato sexual se prende Quesitação
ao ato da defecação ou contato das próprias fezes;
z Dolismo: atração que o indivíduo tem por bonecas Alguns conceitos, como o de estupro, foram altera-
e manequins, mirando-as ou exibindo-as, ou até dos pela Lei n° 12.015, de 2009. Por isso, os modelos
mesmo chegando à relação sexual com elas; de laudos referentes aos crimes sexuais tiveram de
z Coprolalia: necessidade em proferir ou ouvir ser alterados, passando a ser mais simples e objetivos.
palavras obscenas a fim de excitar; Nota-se que a lei considera o ato como gênero, do qual
z Edipismo: atração sexual específica do filho pela a conjunção carnal faz parte, seguindo:
mãe;
z Eletrismo: atração sexual específica da filha pelo z Se há vestígios de ato libidinoso (em caso positivo,
pai; especificar);
z Erotofobia: temor mórbido em realizar o ato z Se há vestígios de violência e, no caso afirmativo,
sexual; qual o meio empregado;
z Frotteurismo: consiste em esfregar os órgãos z Se da violência resultou para a vítima incapaci-
sexuais em outra pessoa, sem o consentimento dela; dade para as ocupações habituais por mais de 30
z Pedofilia: atividade sexual com criança pré-púbe- (trinta) dias, perigo de vida, debilidade permanen-
re (menor de 13 anos). Para sua caracterização, o te de membro, sentido ou função, aceleração de
indivíduo deve ter mais de 16 anos e, no mínimo, parto, incapacidade permanente para o trabalho,
cinco anos a mais do que a vítima; enfermidade incurável, perda ou inutilização de
z Sadismo: excitação e satisfação sexual ao causar membro, sentido ou função, deformidade perma-
maus-tratos e humilhação; nente e/ou aborto (em caso positivo, especificar);
z Masoquismo: satisfação sexual ao sofrer dor e z Se a vítima é alienada ou possui transtornos mentais;
humilhação (contrário do sadismo); z Se houve outro meio que tenha impedido ou difi-
z Necrofilia: relação sexual com cadáveres; cultado a livre manifestação de vontade da vítima
z Bestialismo ou zoofilia: satisfação sexual com (em caso positivo, especificar).
animais;
z Triolismo: excitação na presença de terceira pes- Tendo como exemplo as sugestões do Grupo de
soa ou de um grupo (swing); Trabalho “Tortura e Perícia Forense”, criado pela
z Riparofilia: atração por mulheres grávidas, mens- Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presi-
truadas ou desasseadas. dência da República, podemos concordar com a inclu-
são dos seus quesitos nos exames de casos em que há
Na maior parte dos casos, os transtornos decor- suspeitas de ato libidinoso:
rem de tendência inata, de causa desconhecida, mas z Há achados médico-legais que caracterizem a prá-
podem ser uma prática escolhida por fatores culturais tica de ato libidinoso?
e econômicos. z Há evidências médico-legais que sejam indicadoras
A homossexualidade não é mais considerada doen- ou sugestivas de ocorrência de ato libidinoso contra
ça ou desvio de conduta. o examinado que, no entanto, poderiam excepcio-
nalmente ser produzidas por outra causa?”
Identidade de Gênero
Estupro
z Transexualidade: quando a identidade de gênero
é diferente da que foi nomeada no nascimento; As alterações da Lei nº 12.015, de 7 de agosto de
z Travestismo: interesse em exibir-se com roupas 2009, ampliaram a definição de estupro no seu art.
do sexo oposto; 213, que passou a apresentar a seguinte redação:
z Intersexualismo: transtorno de desenvolvimento “Constranger alguém, mediante violência ou grave
sexual em que existem elementos dos dois sexos, ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou per-
sendo assumido um deles na vida social. mitir que com ele se pratique outro ato libidinoso.” A
pena se manteve de 6 a 10 anos de reclusão.
CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL E PROVAS Também passou por mudança o nome do Título
PERICIAIS VI do Código Penal de “Crimes contra a dignidade
sexual”, que antes era “Crimes contra os costumes”.
A perícia que envolve a Sexologia Criminal tem um A denominação Crime Contra os Costumes passou por
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL

significado muito particular e grave pelos fatos e cir- diversas críticas por parte dos estudiosos da matéria,
cunstâncias que ela engloba, seja pela complexidade já que o que se quer defender não é necessariamente
das estruturas estudadas, seja em face da fragilidade os costumes, as preferências aceitas ou não pela socie-
do momento. Sendo assim, é necessária muita cautela dade, mas sim a dignidade da pessoa humana, sem-
nos procedimentos periciais, assim como para afirmar pre amparada pela norma constitucional. Além disso,
ou negar se houve práticas contra a liberdade sexual. para compor um único conceito legal do crime de
Ademais, o laudo deve ser escrito em uma lin- estupro, foi englobado o conceito de atentado violento
guagem clara, objetiva, compreensível e simplista, ao pudor, que era anteriormente elencado no art. 214
sem supor ou sugerir tipificações penais, mas que dê e agora está revogado, sendo agregado ao texto do art.
condições para um fácil atendimento do fato aque- 213, caput e dos dois parágrafos do Código Penal.
les que vão analisá-lo. Assim, o laudo deverá descre- Sendo assim, agora, tanto o homem como a mulher
ver minuciosamente as lesões e as particularidades poderão ser sujeitos ativos ou passivos do crime de
encontradas, possibilitando a compreensão do que de estupro, já que se defende que qualquer ato libidino-
profundo e misterioso há nelas, tanto no que diz res- so cometido de forma violenta ou de grave ameaça a
peito à quantidade e à qualidade do dano, mas tam- alguém é dado como o delito em estudo. Agora vere-
bém no modo ou a ação pelo qual foram produzidos. mos algumas extensões do Estupro: 601
z Ato libidinoso é toda e qualquer prática com o Exame Objetivo Genérico
fim de satisfazer completa ou incompletamente
Diz respeito ao aspecto geral da vítima como peso,
o apetite sexual, o qual pode traduzir-se, algumas
estatura, estado geral, lesões e mudanças corporais
vezes, em transtorno da preferência sexual. O ato
que indiquem violência física. É importante também
libidinoso, além da conjunção carnal, manifesta-se pesquisar traços de presunção e de possibilidade de
nas mais variadas situações: no coito ectópico, na gravidez na esfera genital e extragenital da vítima em
masturbação, nos toques e apalpadelas de mamas, casos sugestivos.
coxas e vagina, na palpação de nádegas, na con- Também deve-se buscar por provas de violência
templação lasciva e nos contatos voluptuosos de ou de luta em diversas áreas do corpo da vítima, como
forma constrangedora (FRANÇA, 2017); equimoses e escoriações, principalmente nas faces
z A conjunção carnal é caracterizada pela introdu- externas das coxas, nos antebraços, na face, em vol-
ção completa ou incompleta do pênis na cavidade ta do nariz e da boca (como tentativa de calar os gri-
vaginal, ocorrendo ou não ejaculação, não se ten- tos da vítima) e, ainda, escoriações na face anterior
do como tal a cópula vestibular ou vulvar nem o do pescoço, quando há a tentativa de esganadura ou
coito oral ou anal (FRANÇA, 2017). como meio de atemorizá-la.

Passa-se, então, a levar em consideração no estu- Exame Objetivo Específico


pro tanto a conjunção carnal quanto os outros atos
libidinosos, contanto que alguém seja constrangido Realizado com a paciente em posição ginecológica,
ou ameaçado a fazê-los. examinando-se zelosamente o aspecto e a condição
dos elementos da genitália externa.
z Estupro de vulnerável: Outra mudança foi que Na vítima que não teve relação sexual, o exame
se respalda no estudo da integridade himenal e, nos
o estupro mediante violência presumida passa a
casos de himens complacentes e de mulheres de vida
se chamar “estupro de vulnerável”, que englo-
sexual pregressa, a perícia se louva na eventual pre-
ba as vítimas menores de 14 anos e os portado-
sença de gravidez, de esperma na cavidade vaginal,
res de enfermidade ou deficiência mental sem o
na constatação da presença de fosfatase ácida ou de
devido discernimento para a prática do ato, ou
glicoproteína P30 (de procedência do líquido prostáti-
que, por qualquer outra causa, não possam ofe- co) ou na contaminação venérea profunda.
recer resistência.
Ruptura Himenal
Esse tipo de estupro foi também acrescentado
entre os crimes hediondos. Via de regra é o elemento mais importante para
A violência poderá ser definida como efetiva ou constatar se houve ou não conjunção carnal. Por isso,
presumida: a necessidade de minuciar as rupturas de forma sim-
ples e objetiva, demonstrando todas as características
z Efetiva: Quando há uso de força física ou de meios de idade dessa lesão, sua localização, o número delas
capazes de privar ou perturbar o entendimento e outras peculiaridades que possam vir a ser úteis
da vítima, impedindo-a de reagir ou defender-se. (FRANÇA, 2017). Também é preciso registrar, na des-
Assim sendo, a violência efetiva caracteriza-se em crição das bordas das rupturas, se há sangramento,
duas modalidades: a violência efetiva física e a sufusão hemorrágica ou orvalhamento sanguíneo, de
violência efetiva psíquica: edema, de reação inflamatória ou de tecido de granula-
ção, ou as características de seu estágio de cicatrização,
„ Na violência efetiva física, é preciso apenas ressaltando se as bordas dessa ruptura são espessas,
que o agressor tenha agido com violência, anu- delgadas, regulares, irregulares, arredondadas qual
lando ou enfraquecendo a oposição da vítima; sua coloração. Todas essas características são funda-
„ A violência efetiva psíquica acontece quan- mentais para a certeza de um diagnóstico de ruptura
recente ou antiga do hímen. Assim, o perito não deve
do o agente conduz sua vítima a não resis-
apenas dizer que a ruptura é antiga ou recente, ele pre-
tência por inibição ou enfraquecimento das
cisa fundamentar e justificar essa afirmação.
faculdades mentais, como por embriaguez
completa, por anestesia, por estados hipnóti-
Outros Sinais
cos (induzidos ou provocados) ou pela ação
das drogas alucinógenas.
Existem alguns outros sinais, além da ruptura do
hímen, que podem auxiliar no diagnóstico da conjun-
z Presumida: A legislação penal estabelece as con- ção carnal nos casos de himens complacentes e em
dições, que são: menores de 14 anos, alienados mulheres de vida sexual pregressa, como:
ou com transtornos mentais ou qualquer outra
causa que impeça a vítima de resistir. Deno- z Presença de gravidez;
mina-se estupro de vulnerável quando ocorre z Contaminação de doença sexualmente transmissí-
quaisquer dessas situações. vel profunda;
z Esperma na cavidade vaginal;
DA PERÍCIA DO COITO VAGINAL z Constatação da presença de fosfatase ácida ou de
glicoproteína P30 (de procedência do líquido pros-
Neste exame, duas partes devem ser levadas em tático). Por exemplo, se a vítima estiver grávida,
consideração: uma genérica e outra específica. em momento compatível com um alegado estupro,
há meios hemogenéticos de vinculação de filiação,
602 principalmente pelo DNA;
Outro exemplo é o caso de contágio por doenças ou PSA (prostate specific antigen) presente na secre-
sexualmente transmissíveis no interior da cavida- ção vaginal, atestada pelo método enzima-imunoen-
de vaginal, abrindo possibilidade de uma conjunção saio (ELISA) ou em manchas na pele e vestes, mesmo
carnal. Para tanto, é necessário um exame no suposto em diluições mínimas. Essa glicoproteína é sempre
autor da violência sexual para investigar se ele possui encontrada no fluido seminal e na urina do homem.
a mesma doença.
A presença de esperma na cavidade vaginal é Hímen
outro exemplo de muito valor na comprovação da
conjunção carnal e do seu autor. Ao realizar o exame, O hímen é uma membrana mucosa que fecha par-
retira-se do interior desta e/ou do canal do colo ute- cialmente o orifício externo da vagina, separando-a
rino material que será colocado entre lâmina e lamí- da vulva. Possui duas faces:
nula. Se positiva essa reação, aparecerão, no campo
microscópico, vários cristais castanho-avermelhados z Vaginal e profunda;
de formato rômbico. z Vestibular ou superficial.
O reativo de Florence constitui-se de iodo metaloi-
de, iodeto de potássio e água destilada. Barbério usa Denota ainda duas bordas, uma aderente ou de
como reagente uma solução saturada de ácido pícrico inserção e outra livre, que limita o óstio. Quando a
em glicerina e, quando positiva, a reação apresenta mulher está de pé, o hímen fica na horizontal, e quan-
cristais em forma de agulhas ou alpistes, corados de do ela está em deitada, na vertical.
amarelo, isolados ou em grupos. A borda livre pode ser regular, irregular ou recor-
A reação de Baecchi é realizada após reação de Flo- tada, apresentando reentrâncias conhecidas como
rence, depois de 20 a 30 minutos e, então, começam a entalhes ou chanfraduras. Quando avançam a pique,
surgir, da periferia para o centro da lâmina, outros chegando próximo à borda de inserção, e se são simé-
microcristais arredondados e de coloração mais car-
tricas, são chamados entalhes. Se são superficiais e
regada que os de Florence.
correm em extensão, normalmente de 2 a 3 mm, são
O sêmen também pode ser notado por meio da
denominadas de chanfraduras.
lâmpada de Wood, quando identificado por sua
Por vezes, têm sido confundidas com as rupturas,
ação fluorescente até 72 horas depois da violência. É
principalmente os entalhes. Mas a diferença entre
preciso ter cuidado com a falsa positividade de algu-
elas não é tão difícil de se ver, pois apresentam carac-
mas substâncias, como leite, vaselina líquida, loções
terísticas bem distintas, como será mostrado mais à
suavizantes de pele, entre outras. Atualmente, tem
frente. Quando há muitos entalhos, entre um e outro,
sido muito utilizada a dosagem da fosfatase ácida e
aparecem limitações de membrana, conhecidas por
da glicoproteína P30, que aparece em forma de tra-
lobos, que dão ao hímen uma forma franjada.
ços na secreção vaginal, mesmo quando os autores
A altura do hímen é dada pela distância entre a
são vasectomizados.
borda livre e a borda de inserção. Quanto maior a
Todavia, o diagnóstico que apresenta maior cer-
altura, menor o óstio, e vice-versa.
teza é a presença do elemento figurado do esperma.
As classificações mais usadas são as de Afrânio
Para tal, pode-se valer do exame microscópico do
espermatozoide em material espermático usando a Peixoto e de Oscar Freire. Afrânio Peixoto demons-
técnica de Kernechtrol-Picro índigo carmin (KPIC) ou tra uma classificação baseada na presença ou não
“árvore de natal”, que pode identificar estas células. de linhas de junção formando ângulos na inserção
Para comprovação de espermatozoides, usa-se a téc- vaginal, que se divide em três grupos: acomissurados,
nica de coloração Christimas Tree. comissurados e atípicos.

Situações Especiais Himens Acomissurados

Nessas situações, podem acontecer as seguintes z Imperfurados: sem abertura;


ocorrências: z Anulares: orifício circular, ovalar ou elíptico;
z Semilunares: abertura em forma de crescente;
z Intromissão do pênis, não seguida de ejaculação; z Helicoidais: a membrana descreve curvas em hélice;
z O agente ter sido vasectomizado. z Septados: com septos transversal, longitudinal ou
oblíquo, delimitando dois orifícios;
z Cribriformes: membrana crivada por várias aber-
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL

Na primeira situação, células epiteliais (epidérmi-


cas) masculinas, oriundas do pênis, no lavado vagi- turas regulares ou irregulares.
nal, podem ser constatadas. Estas são descobertas no
esfregaço realizado a partir do centrifugado, corado Himens Comissurados
pelo amarelo ou laranja de acridina, sob microscopia
de luz ultravioleta. z Bilabiados: transversais ou longitudinais;
Na segunda situação, a “ejaculação” é detectada no z Trilabiados: três valvas ou três comissuras;
fluido vaginal por meio da dosagem de fosfatase ácida z Quadrilabiados: quatro valvas e quatro comissuras;
(acima de 200 UI) ou pela presença de glicoproteína z Multilabiados ou coroliformes: a membrana toma
P30. Ambas só poderiam ser encontradas na forma a forma de flor.
de traços, e nunca de forma francamente positiva na
secreção vaginal. Himens Atípicos
No entanto, a fosfatase ácida para determinação
da presença do sêmen tem sido contestada por alguns z Fenestrados:
autores, que a consideraram de sensibilidade e espe-
cificidade duvidosas, diferente da glicoproteína P30 „ Com um orifício grande e outro pequeno; 603
„ Com apêndices salientes; A ruptura pode ir da borda livre até a borda de
„ Com apêndices pendentes. inserção (ruptura completa) ou partir da borda livre,
estagnando-se em plena membrana (ruptura incom-
Elasticidade e Permeabilidade do Hímen pleta). Incomumente, podem ser achadas lesões
somente na face vestibular e que não ultrapassam a
O hímen tem a habilidade de elastecer-se, resultando face vaginal, chamadas rupturas parciais.
em uma maior ou menor dilatabilidade. Sua flexibilida-
de pode até mesmo permitir que corpos mais robustos
penetrem sem que ela se rompa. Esses himens são cha-
mados de complacentes por excesso de membrana.
Para diagnosticar o hímen complacente, nos casos
IMPUTABILIDADE PENAL
de exiguidade de membrana (orla), baseia-se na exis-
Imputabilidade significa atribuir algo a alguém, ou
tência dessa orla estreita e de um orifício himenal
seja, é a condição de quem é capaz de realizar um ato
(óstio) amplo, que permite a penetração peniana sem
com plena capacidade de discernimento à época do
produzir rupturas.
fato, podendo ser responsabilizado penalmente.
Muito se discute sobre o conceito de hímen com-
É um fato subjetivo, psíquico e abstrato. Ao cometer
placente na prática da sexologia médico-legal, seja
um delito, o indivíduo transforma essa capacidade em
pelo seu caráter subjetivo, seja pela falta de outros
um fato concreto, o que se denomina de imputação.
métodos propedêuticos, além da apreciação visual.
A complacência himenal não acontece somente Nesse caso, responsabilidade é uma consequência
devido à exiguidade da membrana, o que deixa o óstio de quem tinha pleno entendimento e deverá pagar
bem amplo. Acontece também com aquele hímen que por isso. A capacidade da imputação jurídica é uma
possibilita a conjunção carnal sem se romper por ser capacidade psicológica que faz parte do indivíduo, o
dilatável, distensível ou elástico, não se rompendo, qual pode apresentá-la, ou não; a imputabilidade do
também no ato sexual. ato não faz parte do indivíduo, mas do ato.
Não é raro encontrar mulheres que já iniciaram a O Código Penal em vigor não exclui a responsabili-
vida sexual com hímen íntegro. Muitas vezes, o rom- dade por delito cometido sob o domínio da paixão ou
pimento do hímen só ocorre com o parto normal, da violenta emoção, quando há injusta provocação da
dando origem às “carúnculas mitriformes”, que são vítima, sendo causa de diminuição da pena. A influên-
conceituadas por muitos como “restos” insignificantes cia de violenta emoção é atenuante ao delito previsto
de hímen. no art. 65.
Carúnculas mirtiformes ou mitriformes: São Verificada imputabilidade penal plena, o perito
retalhos de hímen roto pelo coito ou mais propria- deve fazer constar no laudo pericial a conclusão de
mente pelo parto, que se retraem, formando certos que o periciado era, à época da ação ou da omissão,
trabéculos. plenamente capaz de entender o caráter ilícito do fato
Também há himens tão delgados que se rompem e de determinar-se de acordo com esse entendimento.
sem sangramento ou com sangramento que passa A inimputabilidade jamais pode ser presumi-
desapercebido. São os “hímen em pele de ovo”. da; para que seja considerado inimputável, além do
O número de rupturas pode variar entre uma e comprometimento total da razão e do livre arbítrio
cinco. Lacassagne e Capraro, para localizar as rup- (capacidade de imputação jurídica nula), o ato deve
turas, fazem uma associação com um relógio, deter- ter relação com doença mental constatada. Assim, a
minando-se, por exemplo, em 3, 6 ou 9 horas etc., ou inimputabilidade deve ser necessariamente provada.
recomendam o processo de Oscar Freire, que divide Capacidade civil, segundo Nerio Rojas, é “a situa-
a região em quadrantes: dois superiores (direito e ção que permite à pessoa adquirir direitos e contrair
esquerdo) e dois inferiores (direito e esquerdo, con- obrigações por conta própria, por si mesma, sem
forme o desenho a seguir: necessidade de um representante legal”.

Limites e Modificadores

z Raça: A raça não é um fator modificador;


z Idade: Tem um valor significativo tanto no que
se refere à imputabilidade, como no que tange à
capacidade civil, pelas suas múltiplas implicações
psicológicas e, diga-se, pedagógicas e biológicas;
z Sexo: É modificador tanto da responsabilidade
penal quanto da capacidade civil.

A Lei Penal brasileira rotula os menores de 18 anos


como totalmente imunes à sanção penal, ficando ape-
nas sujeitos às considerações do Estatuto da Criança e
do Adolescente. Esse Estatuto diz que nenhum adoles-
cente (maior de 12 e menor de 18 anos) será privado
de liberdade, senão quando pego em flagrante ou por
ordem escrita e fundamentada da autoridade públi-
ca. Na Legislação Civil, os menores de 16 anos são
totalmente incapazes e, assim, não podem exercer,
independentemente, atos da vida civil, como testar ou
604 testemunhar em testamento.
A própria limitação física e o desgaste biológico ou da omissão, a plena capacidade de entender o
tornam o senil mais distante de determinadas infra- caráter criminoso do fato ou de determinar-se de
ções, como, por exemplo, os delitos de sangue e os acordo com esse entendimento.
delitos sexuais mais graves. Por outro lado, surgem,
em alguns, a avareza ou a prodigalidade, a teimosia z O Menor - Menores de 18 anos:
ou a indiferença, a apatia ou o impulso às manifesta-
ções libidinosas de menor monta. Art. 27 Os menores de dezoito anos são penalmente
Alguns autores admitem que certos estados fisioló- irresponsáveis, ficando sujeitos às normas estabe-
gicos, como a gravidez, a menstruação e a menopau- lecidas na legislação especial.
sa possam influir decididamente na capacidade de
entendimento e, por isso, interferem como modifica- Não Excluem da Responsabilidade Penal
dores da responsabilidade penal.
De acordo com Silveira (2015), a emoção ou a pai-
z Agonia: Interessa quase exclusivamente ao pris- xão, a embriaguez voluntária ou culposa, seja pelo
ma civil. É um estado que pode prolongar-se por álcool ou quaisquer substâncias de efeitos análogos,
muito tempo, com interrupção da agonia e perío- não excluem a responsabilidade penal.
dos de plena lucidez; A emoção ou a paixão, como dito, não excluem a
z Surdimutismo: O surdo e o mudo congênitos, imputabilidade penal, o que quer dizer que não exi-
especialmente, destituídos dessas duas importan- mirá o agente da culpa e, consequentemente, da pena
tes funções, ficam parcialmente limitados de per- corresponde a esta.
ceber o mundo de relação. Pela Lei Civil, os que
sofrem dessa deficiência são considerados incapa- Art. 28 [...]
zes, desde que não possam expressar sua vonta- I - a emoção ou a paixão;
de (FRANÇA, 2017). Nossa codificação processual
penal admite a presença de intérpretes na tradu- Acerca da embriaguez, voluntária ou culposa, pelo
ção da linguagem de sinais do surdo-mudo; álcool ou substância de efeitos análogos, tem-se que
z Hipnotismo: Estado de sugestão provocado por também haverá a exclusão da culpabilidade. Todavia,
manobras especiais, fazendo com que os detento- é necessário analisar outro ponto, qual seja: se o agen-
res desse transtorno obedeçam passivamente às te será culpado, mas isento de pena ou não.
ordens recebidas; Nesse sentido, veja o que dispõem os §§ 1º e 2º, do
z Cegueira: Entendemos ser inconcebível a ceguei- art. 28, do Código Penal:
ra, por si só, um modificador da responsabilidade
penal e da capacidade civil, a menos que ela este- Art.28 [...]
ja associada à outra perturbação, privando assim § 1º É isento de pena o agente que, por embria-
o indivíduo de sua capacidade de entendimento. guez completa, proveniente de caso fortuito ou
A Lei Civil não permite que os cegos sejam teste- força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão,
munhas, quando o conhecimento dos fatos que inteiramente incapaz de entender o caráter ilíci-
necessitam de provas dependa do sentido visual; to do fato ou de determinar-se de acordo com esse
o mesmo em relação aos testamentos, em que eles entendimento.
não podem testemunhar; § 2° A pena pode ser reduzida de 1 a 2/3 se o
z Prodigalidade: Pródigo, na doutrina civil, é aque- agente, por embriaguez, provavelmente de caso for-
tuito ou força maior, não possuía, ao tempo da
le que dilapida seu patrimônio com gastos injusti-
ação omissão, a plena capacidade de entender
ficáveis ou fúteis. O Código Civil em vigor, em seu
o caráter criminoso do fato ou de determinar-se de
art. 4º, estatui: São incapazes, relativamente a cer-
acordo com esse entendimento.
tos atos, ou à maneira de os exercer: (…); IV – os
pródigos. E, por isso, no artigo 1.767, diz que eles
Como se observa, se a embriaguez, voluntária ou
estão sujeitos à curatela;
culposa, decorrente de caso fortuito (evento imprevi-
z Civilização: o conceito biopsicossocial da impu-
sível e inevitável, que não há como driblar) ou força
tabilidade leva a crer, no caso dos silvícolas, que
maior (evento previsível, mas inevitável, geralmente
exista uma moderação da responsabilidade, devi-
relacionado à força da natureza), for completa e dei-
do à ignorância ou à falsa compreensão da ilicitu-
xar o agente inteiramente incapaz de entender o
de ou ao caráter criminoso de certas infrações.
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL

caráter ilícito do crime ou de determinar-se de acordo


esse entendimento, este será isento de pena. Contudo,
Excluem da Responsabilidade Penal
se for parcial e deixar o agente apenas sem a plena
capacidade, o agente poderá receber uma redução de
z O Irresponsável:
pena de 1 a 2/3, a depender do grau de discernimento
que possuía no momento da ação ou da omissão.
Art. 26 É isento de pena o agente que, por doença
mental ou desenvolvimento mental incompleto, é
incapaz de entender o caráter criminoso do fato ou Circunstâncias Pessoais que Excluem ou Modificam
de determinar-se de acordo com esse entendimento. a Responsabilidade Penal

z Redução Facultativa da Pena: Capaz e responsável é todo homem mentalmente


são e mentalmente desenvolvido (SILVEIRA, 2015).
Parágrafo único. A pena pode ser reduzida de 1 a Nos atos cometidos, pode haver variação acerca do
2/3, se o agente, em virtude de perturbação da saú- caráter ilícito do ato por parte do doente mental ou
de mental ou por desenvolvimento mental incom- do indivíduo sob efeito de substâncias psicotrópi-
pleto ou retardado, não possuía, ao tempo da ação cas ou entorpecentes. Assim, cabe ao perito buscar, 605
determinar e assinalar no laudo pericial o estado Consequência da Incapacidade Civil: Curatela e
mental no momento do delito. Tutela
De acordo com Adolf Lutz, são sete as circuns-
tâncias pessoais que excluem (isentam de pena) ou z Curatela: Instituto jurídico que visa entregar a
modificam a responsabilidade criminal (por exemplo: alguém o direito de gerir e defender uma pessoa
reduzir a pena) (SILVEIRA, 2015): e administrar os bens de maiores incapazes, que,
por si só, não estão em condições de fazê-los, em
z A idade menor a de 18 anos; razão de enfermidades ou deficiência mental.
z O desenvolvimento completo ou retardado, diri-
mente ou limitante da responsabilidade; Sujeitos à curatela:
z A doença mental (dirimente);
z A perturbação da saúde mental (limitante da „ Os que, por enfermidade ou deficiência mental,
responsabilidade); não tiverem o necessário discernimento para a
z A embriaguez (dirimente, limitante ou sem efeito);
prática desses atos;
z O nexo entre o estado psíquico e entendimento do
„ Os que, mesmo por causa transitória, não pude-
caráter criminoso do fato ou ainda da incapacidade
rem exprimir a sua vontade;
de determinar-se de acordo com esse entendimento;
z A emoção ou paixão. „ Os ébrios habituais, os viciados em tóxico, e os
que, por deficiência mental, tenham o discerni-
Capacidade de Imputação ou Imputabilidade e mento reduzido;
Responsabilidade „ Os excepcionais, sem desenvolvimento mental
completo;
De acordo com Silveira (2015), capacidade de „ Os pródigos.
imputação ou imputabilidade é a condição de quem
tem aptidão para realizar com pleno discernimento z Tutela: menores de 18 e maiores de 16 anos
um ato. A capacidade de imputação é, assim, um fato
psíquico, mas considerado em abstrato. Inimputáveis
Por sua vez, a responsabilidade: Não se trata de
uma qualidade, mas de uma consequência. Ortolan A avaliação pericial da inimputabilidade penal
diz que, processualmente, a responsabilidade penal se envolve a verificação da existência ou não de trans-
traduz na declaração de que um indivíduo é, em con- torno mental, nexo ou relação de causalidade e a
creto, imputável e efetivamente idôneo para sofrer avaliação da capacidade de entendimento e da capa-
as consequências jurídicas penais do delito, como
cidade de autodeterminação.
autor ou participante dele, declaração pronunciada
pelos órgãos de jurisdição competentes.
Art. 26 do Código Penal – É isento de pena o agen-
A imputabilidade é a atribuição pericial pelo
te que, por doença mental ou desenvolvimento men-
diagnóstico, ou do prognóstico de uma conclusão
tal incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação
médico-legal; e é a responsabilidade de um fato da
ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o
competência judicial, que será analisado juntamente
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acor-
com outros dados processuais.
do com esse entendimento. (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984).
Capacidade Civil

Flamínio Fávero diz que “É a aptidão que o indiví- Redução de Pena


duo tem para gerir sua pessoa e bens” (SILVEIRA, 2015).
Parágrafo único. A pena pode ser reduzida de um
Incapacidade Civil a dois terços, se o agente, em virtude de perturba-
ção de saúde mental ou por desenvolvimento men-
tal incompleto ou retardado não era inteiramente
z Absolutamente incapazes:
capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer determinar-se de acordo com esse entendimento.
pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984).
(dezesseis) anos. (Redação dada pela Lei nº 13.146,
de 2015) (Vigência); Menores de Dezoito Anos

z Relativamente incapazes: Art. 27 do Código Penal - Os menores de 18 (dezoito)


anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos
Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos às normas estabelecidas na legislação especial.
ou à maneira de os exercer (Redação dada pela Lei (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984).
nº 13.146, de 2015) (Vigência):
I - Os maiores de dezesseis e menores de dezoito No grau de dependência grave ou severa às drogas,
anos; cabe, juspsiquiatricamente, a inimputabilidade posto
II - Os ébrios habituais e os viciados em tóxico (Reda-
que, embora entenda o dependente parcialmente o
ção dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência);
III - Aqueles que, por causa transitória ou perma- caráter ilícito do fato, é totalmente incapaz de deter-
nente, não puderem exprimir sua vontade (Redação minar-se de acordo com esse entendimento.
dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência);
606 IV - Os pródigos.
PSICOPATOLOGIA FORENSE Importante!
O psiquiatra forense vai se basear não apenas na Para a doutrina majoritária, a epilepsia é doença
capacidade de imputação jurídica (capacidade psi- neurológica. Portanto, as ocorrências de convul-
cológica de entender o caráter ilícito do fato e de se sões não estão ligadas à doença psiquiátrica,
comportar de acordo com esse entendimento), mas logo, não configuram inimputabilidade penal.
também na imputação do fato. Automatismos e estados crepusculares podem
Segundo Elias Adballa Filho, a psicopatologia ocorrer em casos de crises epiléticas.
forense é “condição clínica caracterizada por uma
lentidão do desenvolvimento psíquico do indivíduo,
retardando o processo de desenvolvimento, amadure- z Quadro clínico:
cimento e aprendizagem”.
Psiquiatria forense é o ramo da medicina legal „ Perturbação senil: arteriosclerose cerebral
que trata de questões relacionadas ao funcionamen- (60 anos); demência senil (70 anos); formas pré-
to da mente e sua interface com a área jurídica. O -senis (Alzheimer 40 a 50 anos);
estabelecimento do estado psíquico no momento do „ Trauma craniano: demência pós-trauma;
cometimento do delito e a capacidade de entendi- hematoma subdural; síndromes neurológicas.
mento desse ato são dependentes das condições de
sanidade psíquica e desenvolvimento mental, que z Interesse jurídico:
também influenciam na forma de percepção e no
relato do evento, com importância direta para o ope- „ Direito penal: comprometimento da capacida-
rador do direito, na tomada a termo e na análise dos de de imputação;
depoimentos. „ Direito civil: invalidação específica do ato pra-
ticado ou, para fins gerais, interdição.
Transtorno Comum
Transtorno do Humor
Acomete de 1 a 2% da população mundial, sendo
uma 1,5 vez mais comum no sexo masculino. (KAPLAN z Transtornos depressivos:
E COLS., 1997).
„ Transtorno depressivo maior;
z Etiologia „ Transtorno distímico.

„ Causas pré-natais: hereditárias (fenilcetonú- z Transtornos bipolares:


ria, galactosemia) e cromossômicas (síndrome
de Down); „ Transtorno bipolar I
„ Intoxicação crônica dos pais (alcoolismo e
„ Transtorno bipolar II
substâncias ilícitas);
„ Prematuridade;
z Depressão Maior e Distimia
„ Asfixia do recém-nascido;
„ Sequelas cerebrais de doenças exantemáticas;
Sintomas psíquicos:
„ Trauma cranioencefálico (TCE);
„ Insuficiências endócrinas (hipotireoidismo,
„ Humor depressivo (sentimento de tristeza, auto-
cretinismo).
desvalorização, sentimento de culpa e ideação
z Critério diagnóstico: suicida);
„ Anedonia.
„ Critério psicométrico: testes psicológicos;
„ Critério escolar: idade cronológica X idade escolar; Sintomas fisiológicos:
„ Critério social: autonomia econômica;
„ Critério clínico: multidisciplinar. „ Redução da energia;
„ Alterações do sono, apetite e interesse sexual.
z Interesse jurídico
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL

Alterações comportamentais:
„ Estado deficitário da atividade psíquica
total: incapazes e inimputáveis; „ Retraimento social;
„ Deficientes mentais: relativamente capazes e „ Crise de choro;
semi-imputáveis. „ Retardo psicomotor.

Estados Demenciais z Transtornos Bipolares:

Deterioração global e progressiva do funciona- Formas:


mento psíquico, em alguns aspectos intelectivos, emo-
cionais e cognitivos. Classificação: „ Fase maníaca: paciente eufórico, verborrei-
co, agitação psicomotora, hipotenacidade com
z Formas precoces: podem advir da esquizofrenia; hipervigilância, perda das inibições sociais,
z Formas secundárias: alcoolismo, epilepsia, convulsões; ideias de grandeza e irritabilidade. Pode ocor-
z Formas senis e traumáticas: lesões cerebrais. rer com sintomas psicóticos; 607
„ Fase depressiva ou melancólica: paciente Transtorno Obsessivo-compulsivo (TOC)
apático, fatigalidade constante, perda do inte-
resse geral, lentificado e baixa estima. z Obsessão: pensamentos estressantes e despraze-
rosos ou imagens que surgem de forma repetida,
Aspectos Médico-legais apesar da tentativa de controle;
z Compulsão: extrema necessidade de agir de acor-
do com as ideias repetidas, a fim de evitar ou pre-
z Estados maníacos;
venir supostas ameaças;
z Estados depressivos.
z Cleptomania: vontade/necessidade de furtar obje-
tos em lugares não preestabelecidos, na maioria
Para o Direito Penal, são inimputáveis; para o
dos casos, de baixo valor monetário e sem utilida-
Direito Civil, são absolutamente incapazes.
de para si, não conseguindo conter seus impulsos e
furtando para aliviar o desconforto que sente. No
Psicoses nosso ordenamento, os cleptomaníacos são consi-
derados imputáveis;
Alterações profundas da cognição, afetividade, z Principais compulsões: lavar as mãos; rituais de
motricidade, consciência, memória, orientação ou checagem (dá atenção aos detalhes); atitudes per-
de alguns desses resultados, de maneira duradoura feccionistas e altos padrões de desempenho; somar
por causas exógenas ou endógenas, redundando em números de placas etc.
mudança da personalidade. Causas:
Paranoias
z Fatores predisponentes;
z Fatores ambientais; z Concepções delirantes ou ilusórias;
z Causas indeterminadas. z Autofilia e egocentrismo;
z Conservam-se as ações, o pensamento e a vontade;
Tipos: z Alto conceito de si próprio;
z Doença mental em que há egofilia, egocentrismo e
z Psicoses endógenas ou funcionais – PMD, esquizo- ausência regular de alucinação, permanecendo a
frenia, paranoia; conduta regular e lucidez perfeita.
z Psicoses exógenas;
z Psicoses organocerebrais: paralisia geral, psico- Alguns tipos:
se arteriosclerótica, pós-traumática, psicoses em
decorrência de tumores (irreversíveis); z Paranoia de ciúmes;
z Psicoses sintomáticas, funcionais, sem comprome- z Paranoia erótica;
timento das estruturas cerebrais: autointoxicações z Paranoia genealógica;
(toxemia gravítica, uremia), intoxicações por agen- z Paranoia de perseguição;
tes externos (alcoolismo, barbiturismo, cocainis- z Paranoia de reformas.
mo), distúrbios endócrinos;
z Psicoses psicogênicas: provocadas por abalos Aplicações médico-legais:
emocionais
z Podem praticar assassinatos, agressões, sevícias,
Esquizofrenia injúrias, denúncias falsas, atentados ao pudor,
desacato as autoridades;
É uma psicose endógena, de forma episódica ou pro- z A pessoa ciumenta pode matar o(a) companhei-
ro(a) e o(a) rival imaginário(a);
gressiva, de manifestações polimorfas e variadas, com-
z É irresponsável penal e incapaz para todos os atos
prometendo o psiquismo na esfera afetivo-instintiva e
da vida civil.
intelectiva, sobrevindo, quase sempre, na adolescência e
sendo de etiologia desconhecida (FRANÇA, 2017).
Classificação dos Transtornos Mentais
Alucinações e delírios podem ser produtos de um
transtorno mental primário como a esquizofrenia ou
Dentre os principais sintomas e transtornos men-
algumas formas de transtorno afetivo bipolar. Se não
tais mais frequentemente simulados, encontram-se o
for o caso, podem ser devidos a uma condição médica
estado maníaco, a simulação de formas esquizofrêni-
geral (epilepsia, quadros infecciosos, traumatismo) e/
cas, a demência, o delírio sistematizado, o histerismo, o
ou à ação de substâncias químicas que atuem no siste- estado melancólico, o mutismo, a epilepsia, a amnésia
ma nervoso (medicamentos ou drogas). e o delírio ciumento (Altavilla, 2007).
Em psiquiatria forense, é maior a probabilidade de
z Aplicações Médico-legais simulação de síndrome do pânico, de transtorno obses-
sivo compulsivo e de transtorno de personalidade.
„ O esquizofrênico é inimputável e absolutamen-
te incapaz; ao autor do crime, impõe-se uma z Doença mental: transtornos psicóticos (compro-
medida de segurança; metem o discernimento crítico da realidade);
„ Se tratado com cura completa: capaz e imputável z Desenvolvimento mental incompleto: apesar
„ Se tratado e melhora do quadro clínico: relativa- de potencial intelectivo, não tiveram condições de
mente capaz e, caso cometa crime, terá redução desenvolvê-lo (crianças, adolescentes, silvícolas);
de pena e imposição de medida de segurança. z Desenvolvimento mental retardado: falta de
potencial intelectivo (retardo mental), não conse-
608 guirão atingir a maturidade psíquica;
z Perturbação da saúde mental: transtorno de per- z Simulação: apresentação de sinais e sintomas fal-
sonalidade e transtornos neuróticos. sos. O avaliado tem consciência dos sintomas e da
causa que o conduz a agir de forma enganosa;
Classificação z Metassimulação: consiste em aumentar os efeitos
da lesão de modo a conseguir aumento dos benefí-
z Retardo Mental Leve: Q.I. 50-70 (semi-imputável cios. Comum nas previdenciárias;
e relativamente capaz); z Dissimulação: ocorre quando o acidentado, que-
z Retardo Mental Moderado: Q.I. 35-49 (inimputá- rendo voltar logo ao trabalho, esconde as lesões ou
vel e incapacidade absoluta); minimiza seus efeitos;
z Retardo Mental Grave: Q.I. 20-34 (inimputável e z Supersimulação: simulação de múltiplas patolo-
incapacidade absoluta); gias orgânicas.
z Retardo Mental Profundo: Q.I. menor que 20
(inimputável e incapacidade absoluta);
z Retardo Mental Não-Especificado: inimputável e
incapacidade absoluta. ENERGIA DE ORDEM QUÍMICA
Desenvolvimento Mental Incompleto
(VITRIOLAGEM, CÁUSTICOS, VENENO)
E ENERGIA DE ORDEM FÍSICO-QUÍMICA
Podemos dizer que o cérebro é normal, mas o (ASFIXIAS)
desenvolvimento mental não está completo. Inclui as
seguintes situações: ENERGIAS DE ORDEM QUÍMICA

z Menoridade: O cérebro não está totalmente As energias de ordem químicas podem agir exter-
desenvolvido e, consequentemente, o psiquismo na (cáusticos) ou internamente (venenos).
também não está. Guido Palomba defende uma
graduação na atribuição da imputabilidade que Cáusticos
respeite os momentos biopsicológicos:
Os cáusticos podem resultar em efeitos coagulan-
„ Nascimento até 12 anos: Período de aquisi- tes (desidratam os tecidos, criando escaras endureci-
ções mentais que corresponde à menoridade e das e coloração) ou liquefacientes (escaras úmidas e
à inimputabilidade; moles) que podem ir além de lesões cutâneas.
„ Treze aos 18 anos: É o período em que o São exemplos de reagentes coagulantes o nitrato
cérebro já apresenta condições para que, no de prata e o cloridrato de zinco. Podemos citar como
meio social, a pessoa forme seus valores éti- exemplos de liquefaciente a soda e a amônia.
cos, morais, e tenha seus próprios interesses Os ácidos produzem escaras secas e de cor variável:
(semi-imputabilidade);
„ A partir dos 18 anos. Já existe desenvolvimen- z As do ácido sulfúrico são esbranquiçadas;
to biológico e mental suficientes, com aptidão z As do ácido nítrico: amareladas;
para a vida, sendo a imputabilidade plena. z As do ácido clorídrico, cinza-escuras;
z As do ácido fênico, esbranquiçadas.
z Surdo-mudo: A ausência de sensações auditivas
afeta o contato com o meio exterior e a aquisição As escaras resultantes da ação dos álcalis são úmi-
de noções que dependem de linguagem falada, das, moles e untosas. As escaras produzidas pelos sais
mesmo com educação especializada, comprome- geralmente são brancas e secas.
tendo o discernimento, principalmente quando a Um termo muito cobrado em prova é a lesão deno-
deficiência for de nascença; minada vitriolagem, que é causada pelo uso crimi-
z Silvícola não aculturado: Conceito originário da noso dos reagentes supracitados para causar lesões
criminologia, como sendo uma pessoa com concei- propositais, muitas vezes por vingança. A origem do
tos próprios de comunidade que, por não estarem termo vem porque, antigamente, se usou criminosa-
inseridos em nosso meio social, segundo essa ciên- mente o óleo de vitríolo (ácido sulfúrico).
cia, podem apresentar certa apatia, insensibilida-
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL

de e frieza; Venenos
z Apedeutismo: A criminologia conceitua como
apedeuta aqueles que não têm conhecimentos de Os venenos se classificam de acordo com:
leitura e escritura, sendo as vezes comparados ao
conceito anterior. z O estado físico: líquidos, sólidos e gasosos;
z A origem: animal, vegetal, mineral e sintético;
Simulação, Metassimulação, Dissimulação e z As funções químicas: óxidos, ácidos, bases e sais
Supersimulação (funções inorgânicas): hidrocarbonetos, alcoóis,
acetonas e aldeídos, ácidos orgânicos, ésteres, ami-
É natural que algumas pessoas queiram exagerar nas, aminoácidos, carboidratos e alcaloides (fun-
seus padecimentos e outros procurem minorá-los de ções orgânicas);
modo a voltarem mais rapidamente ao exercício pro- z O uso: doméstico, agrícola, industrial, medicinal,
fissional. Os peritos têm que estar atentos para ambas cosmético e venenos propriamente ditos.
atitudes, que geram simulações e dissimulações, res-
pectivamente. Vamos às definições: 609
O percurso do veneno dentro do organismo tem as seguintes fases: penetração (via oral, retal etc.), absorção
(quando chega nos tecidos), distribuição (na circulação e espalha para os tecidos), fixação (por afinidade, fixa em
certos órgãos), transformação (defesa da ação tóxica buscando sua eliminação) e eliminação (expelido por vias
naturais).
Há algumas situações ou fenômenos que podem ocorrer após a penetração do veneno, tais como: mitridatiza-
ção, toxicidade, intolerância, sinergismo e equivalente tóxico. Vejamos:

z Mitridatização: o fenômeno caracterizado pela elevada resistência orgânica aos efeitos tóxicos dos venenos,
conseguida por meio da ingestão repetida e progressiva de substâncias de alto teor venenoso, até alcançar um
estágio de resistência não encontrado nas outras pessoas;
z Toxicidade: refere-se ao dano interno causado por uma substância devido à sensibilidade causada por peque-
nas doses de veneno;
z Sinergismo: é o aumento da potência tóxica quando da ingestão de mais de uma substância comparada à
soma do efeito tóxico de cada substância;
z Equivalente tóxico: a quantidade mínima de veneno capaz de, por via intravenosa, matar o equivalente a 1
kg do animal.

ENERGIAS DE ORDEM FÍSICO-QUÍMICA

Estas energias envolvem o impedimento da passagem do ar às vias respiratórias e, consequentemente, modi-


ficam a composição bioquímica do sangue.
As manifestações nas asfixias seguem a seguinte ordem:

z 1ª Fase: “fase cerebral” (enjoos e sensação de angústia);


z 2ª Fase: “fase de excitação cortical e medular” (convulsões generalizadas);
z 3ª Fase: “fase respiratória” (quase imperceptível a ação dos movimentos respiratórios pela baixa velocidade);
z 4ª Fase: “fase cardíaca” (batimentos lentos do coração).

ASPECTOS MÉDICO‐LEGAIS DAS TOXICOMANIAS E DA EMBRIAGUEZ


As toxicomanias e a embriaguez são tratadas tanto pela Toxicologia Forense quando pela Psicologia Forense.

TOXICOMANIA

Existem diferentes formas de se fazer menção ao consumo abusivo de substâncias psicoativas: toxicomania,
dependência química, farmacodependência e drogadição.
O termo toxicomania, de forma simples, relaciona-se ao estado de intoxicação crônica ou periódica, nociva ao
indivíduo e prejudicial à sociedade, gerada pelo consumo repetido de uma droga sintética ou natural.
O conceito de droga, por sua vez, para fins penais, é encontrado no parágrafo único, do art. 1º, da Lei nº 11.343,
de 2006 (Lei de Drogas), e se relaciona às substâncias ou produtos capazes de causar dependência, desde que este-
jam especificados em lei ou elencados em listas emitidas pelo Poder Executivo da União.
É interessante saber que: no Brasil, as substâncias ou produtos sujeitos a controle especial estão elencadas na
Portaria SVS/MS 344, 1998, do Ministério da Saúde. O anexo da Portaria, no qual constam as substâncias controla-
das, é atualizado, periodicamente, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
No entanto, nem todas as drogas psicotrópicas constam na Portaria nº 344, de 1998: algumas são lícitas, como
o álcool, e outras, ilícitas (o consumo, produção, distribuição e comercialização são proibidos) como a maconha e
a cocaína; e outras, ainda, são prescritas (a compra e o uso se dá mediante receita médica), tais como os remédios
de tarja preta.
Drogas psicotrópicas, pois, são aquelas que agem sobre o cérebro e alteram o psiquismo de diferentes formas.
As drogas psicotrópicas, ou psicoativas, podem ser classificadas de diversas maneiras, de acordo com diferen-
tes critérios:

z Quanto ao tipo de alteração que geram no sistema nervoso central (SNC) e no comportamento do usuário;
z Quanto a origem, se naturais ou sintéticas;
z Quanto ao estatuto jurídico, se lícitas ou ilícitas.

A classificação conforme os efeitos farmacológicos, isto é, dependendo da forma como essas drogas agem
610 no sistema nervoso central, se dá em três grupos:
DEPRESSORAS DO SNC OU
Barbitúricos, opiáceos, álcool, soníferos, solventes ou inalantes
PSICOLÉPTICAS

ESTIMULANTES (OU EXCITANTES)


Anfetaminas, cocaína (e derivados), tabaco
DO SNC OU PSICOANALÉPTICAS

PERTURBADORAS DO SNC OU Maconha, LSD, MDMA (Ecstasy), mescalina, ayahuasca (chá do Santo
PSICODISLÉPTICAS Daime)

Por sua vez, a classificação das substâncias, conforme a origem, é feita da seguinte forma:

Psicolépticas (álcool e opiáceos)


NATURAIS Psicoanalépticas (cocaína, nicotina, cafeína)
Psicodislépticas (maconha e ayahuasca)

Psicolépticas (ansiolíticos, sedativos, inalantes)


SINTÉTICAS Psicoanalépticas (anfetaminas)
Psicodislépticas (LSD e Ecstasy)

Por fim, as substâncias também podem ser classificadas de acordo com o tratamento dispensado pela legislação:

LÍCITAS Álcool, cafeína, tabaco, solventes

ILÍCICAS Cocaína, maconha, LSD, Ecstasy etc.

Para os fins do nosso estudo em medicina legal, será dado destaque aos os efeitos farmacológicos das drogas.

Drogas Depressoras do SNC ou Psicolépticas

As drogas psicolépticas diminuem a atividade do sistema nervoso central, deprimindo ou inibindo sua ati-
vidade. São drogas que produzem relaxamento, lentidão, causam sonolência, diminuem a atividade intelectual,
reduzem a ansiedade etc.

Importante!
As principais drogas psicolépticas são dividas em 4 grupos, que podem ser recordados pelo mnemônico
“BOBA” — barbitúricos, opiáceos, benzodiazepínicos e álcool.

Os barbitúricos, tais como o fenobarbital (gardenal), barbital e pentobarbital, são, normalmente, utilizados
como sedativos e antiepiléticos. A principal ação do barbitúrico sobre o SNC é causar depressão. Ademais, esse
tipo de substâncias pode causar, também, desde um efeito sedativo, anestésico cirúrgico, até o coma ou a morte.
Seu uso pode ser oral, intramuscular, endovenoso ou retal. Dependendo do tipo, os efeitos do barbitúrico apare-
cem entre 30 segundos e 15 minutos.
Os opiáceos, por sua vez, têm origem na resina que é extraída do fruto da papoula. Por isso, eles têm como
característica um forte poder analgésico, que deprime o sistema nervoso central e o respiratório. Num primeiro
momento, produzem breve e intensa hiperatividade (denominada rush) que é seguida por um estado de tranqui-
lidade e posterior sonolência. Pertencem, ao grupo dos opiáceos, o ópio (pouco comum no Brasil), a morfina (de
grande potência e ação sonífera) e a heroína (produzida a partir da morfina, mas muito mais potente e viciante,
sendo de uso, normalmente, intravenoso).
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL

Já os benzodiazepínicos constroem um grupo de psicotrópicos bem conhecido por seu uso, na prática clínica,
como ansiolíticos, hipnóticos, anticonvulsivantes e relaxantes musculares. São exemplos: o bromazepam (Lexo-
tan), diazepam (Valium), alprazolam (Frontal), clonazepam (Rivotril), entre outros. O uso abusivo dessas substân-
cias leva à dependência (rápida) e as intoxicações podem levar à perda de consciência, depressão respiratória
leve e hipotensão arterial.
Os inalantes constituem algumas das drogas mais utilizadas no Brasil, principalmente por jovens margina-
lizados social e economicamente. Tratam-se, em sua maioria, de derivados de petróleo, como gasolina, cola de
sapateiro, benzeno, fluidos de isqueiro e aerossóis. O uso de tais substâncias causa dependência e tolerância, o
que aumenta o uso com o tempo. Dentre as alterações que causam, encontram-se a tontura, a falta de coordenação
motora, a letargia, tremores e visão dupla, podendo levar o usuário ao coma.
O álcool é um depressor do sistema nervoso central, apesar de parecer, na primeira fase da embriaguez, ser
uma droga estimulante.
Por fim, vale mencionar o GHB (Gama-hidroxibutirato), conhecido por nomes como ecstasy líquido, “droga do
estupro” e “boa noite Cinderela”, um potente anestésico e sedativo, que começa a atuar em cerca de 10 minutos e
cujos efeitos podem se estender por até 1 dia. É facilmente misturado em bebidas, por ser um líquido sem cheiro,
sem cor e bastante salgado. Além disso, causa amnésia e perda de consciência. 611
Drogas Estimulantes/Excitantes do SNC ou O LSD (Dietilamida do Ácido Lisérgico), também
Psicoanalépticas conhecido como “doce” ou “ácido”, é uma droga pro-
duzida em laboratório, resultante de reações meta-
As drogas psicoanalépticas caracterizam-se por bólicas obtidas com o fungo Claviceps Purpurea. É
aumentar a atividade do SNC (ou seja, modificam, considerado o mais potente alucinógeno que existe,
quantitativamente, a atividade cerebral). Ademais, pois poucos microgramas são capazes de gerar efeitos
elas afastam a sensação de fome e de cansaço, aumen- significativos, como alucinações, alterações na per-
tam a energia e a disposição. cepção da realidade, alterações no humor e sinestesia
As anfetaminas (“bolinhas”, “rebites”, “moderado- (condição neurológica em que os sentidos se mistu-
res de apetite”) são exemplos de drogas psicoanalép- ram ou se confundem como, por exemplo, ver sons ou
ticas. Inicialmente utilizadas como medicamentos, sentir cheiro pelo tato), entre outros. Os efeitos apa-
certas substâncias constam na Portaria nº 344, de recem entre 30 e 90 minutos e perduram por até 12
1998, como proibidas, tendo em vista gerarem efeitos horas.
colaterais como arritmias, crises hipertensivas, sudo- Seu uso regular cria tolerância à droga, fazendo
reses, dilatação das pupilas e hipertermia. É proibi- com que os usuários recorram, cada vez mais, a doses
do, por exemplo, a metilenodioxianfetamina (MDA). maiores ou a outros tipos de drogas. O consumo exa-
Essas substâncias, em caso de superdosagem, podem gerado faz com que a pessoa tenha comportamentos
levar à insuficiência renal, hepatite tóxica grave e até violentos ou imagine ter habilidades sobrenaturais,
à morte por arritmia cardíaca. tais como voar ou caminhar sobre a água.
A cocaína é um alcaloide presente nas folhas de Atenção: tolerância a uma substância consiste na
coca. Consumido em pó, ou na forma de seus subpro- capacidade de metabolizá-la com maior rapidez, ou
dutos (crack, merla ou óxi), causa euforia, hiperativi- seja, os efeitos da intoxicação demoram mais para
dade, sensação de bem-estar, aumento da autoestima aparecer, o que faz com que a pessoa aumente, grada-
e onipotência (poder). Seu uso pode gerar hemorra- tivamente, a quantidade ingerida.
gia cerebral, infarto do miocárdio, crise hipertensiva Ainda em relação ao LSD, vale mencionar o que
fatal e parada cardíaca por arritmia. A cocaína pode se denomina, comumente, como flashback, que é um
ser cheirada (forma mais usual), injetada ou fumada efeito capaz de fazer com que o usuário reviva algu-
(quando em pasta base, crack ou merla, de efeitos mas das experiências da droga alguns dias, semanas
muito mais rápidos — até 10 segundos). ou até meses após o último uso.
A mescalina, no que lhe concerne, é uma dro-
Dica ga extraída do Cacto Peiote (Lophophora williamsii),
natural do México, e tem como princípio ativo a tri-
Apesar de desaparecer do sangue em cerca de metoxifeniletilamina. Os botões do cacto são masca-
45 a 90 minutos, a cocaína deixa vestígios, por dos, fazendo com que o usuário experimente intensa
até 3 dias na urina e por 2 a 3 meses no cabelo. excitação cerebral ou mesmo um estado de transe,
marcado por alucinações em forma de caleidoscópio.
Drogas Perturbadoras/Psicodislépticas Já a ayahuasca, conhecida popularmente como
chá do Santo Daime, é uma bebida produzida com
São drogas que agem modificando, qualitativa- Cipó Mariri e folhas de Chacrona, de potencial aluci-
mente, o sistema nervoso central, e causam altera- nógeno, que gera alterações no sistema nervoso cen-
ções da percepção (percepções irreais), tais como: tral por até 10 horas.
Por fim, o MDMA (Ecstasy) é uma substância alu-
z Confusão mental (alucinações, delírios); cinógena muito próxima da mescalina, que combina
z Despersonalização; efeitos euforizantes e alucinógenos. O MDMA é admi-
z Distorção do tempo e do espaço. nistrado, normalmente, por via oral, mais frequen-
temente em cápsulas, de diversos tamanhos e cores
São exemplos de drogas psicodislépticas a maco- (uma dose efetiva varia entre 75 a 150 miligramas,
nha, o LSD, a mescalina e a ayahuasca. sendo que os sintomas aparecem entre 30 e 60 minu-
A maconha é uma erva cujo nome científico é tos após a ingestão). O Ecstasy, tendo em vista a gran-
Cannabis Sativa L. Além disso, essa planta tem como de variedade de componentes vendidos sob tal nome,
princípio ativo o delta-9-tatrahidrocanabinol (THC). possui diferentes efeitos, podendo incluir tanto a
Trata-se de uma droga que, ao mesmo tempo que traz sensação de intimidade e aumento da capacidade de
sensação de bem-estar, de relaxamento e vontade de comunicação com outras pessoas, euforia, diminuição
rir, pode causar angústia. Com o uso, os olhos ficam da agressividade, aumento da resistência física (todos
avermelhados, a boca seca e o coração disparado. São estes chamados de efeitos “esperados” pelo usuário)
seus efeitos, também, a perda de noção de tempo e quanto efeitos denominados “tóxicos”, como a eleva-
espaço. Além disso, o uso demasiado dessa substância ção da temperatura corpórea acima de 42ºC e dificul-
pode trazer prejuízos para a memória e atenção, cau- dade de eliminação de líquidos.
sar bronquite e infertilidade em homens.
A maconha é normalmente fumada em forma de EMBRIAGUEZ ALCOÓLICA
cigarro (pode ser também consumida em cachimbos,
vaporizadores etc) e seus rastros podem ser encontra- Conforme dito anteriormente, o álcool age como
dos na urina, de 2 a 6 dias após o uso eventual, ou de um potente depressor do sistema nervoso central.
20 a 50 dias, no caso de usuários crônicos. Uma vez ingerido, o álcool afeta praticamente
São subprodutos da maconha o skunk (ou skank), todos os órgãos do corpo, tendo em vista que, ao ser
que é uma variação produzida em estufas e com alta absorvido pelo estômago e intestinos, penetra na cir-
concentração de THC, e o haxixe, que é resina extraí- culação sanguínea e atinge todas as células (sendo
612 da das flores e das inflorescências da Cannabis. as mais afetadas as que se encontram no fígado, no
pâncreas, nas glândulas em geral, no coração, no tubo caso fortuito ou força maior, não possuía, ao
digestivo e nos vasos sanguíneos). tempo da ação ou da omissão, a plena capacida-
No cérebro, ao contrário de outras substâncias de de entender o caráter ilícito do fato ou de deter-
psicoativas que atingem determinados receptores, o minar-se de acordo com esse entendimento.
álcool interfere em todas as interações químicas dos
neurônios, afetando, significativamente, as capaci- Conforme consta no art. 28, do CP, a embriaguez
dades cognitivas e as ordens que o cérebro envia aos alcoólica, voluntária ou culposa, não exclui a respon-
músculos. sabilidade penal do agente. Pode, no entanto, resultar
Embriaguez é o conjunto de manifestações resul- na exclusão da culpabilidade, caso seja embriaguez
tantes de intoxicação etílica aguda (passageira e completa e proveniente de caso fortuito ou força
episódica). maior, de forma que o agente, ao tempo da conduta,
Importante: é possível a embriaguez por outras seja inteiramente incapaz de entender o caráter ilíci-
substâncias que alterem a capacidade motora e sen- to do fato, ou de se determinar de acordo com esse
sorial da pessoa. entendimento.
A primeira fase da embriaguez é chamada de Já a embriaguez preordenada, ou seja, aquela
excitação/subaguda/fase do macaco, e se caracteri- em que a pessoa consome álcool com a finalidade de
za pela excitação, desinibição e extroversão. “tomar coragem” para o cometimento do crime, con-
A segunda fase, denominada de fase de confusão/ siste em circunstância agravante, nos termos da alí-
leão/período médico-legal/aguda, é aquela em que nea “l”, inciso II, art. 61, do CP:
não há embriaguez completa e em que, normalmente,
ocorrem os crimes violentos, tendo em vista o com- Art. 61 São circunstâncias que sempre agravam a
prometimento do autocontrole e a redução das capa- pena, quando não constituem ou qualificam o crime
[...]
cidades mentais.
II - ter o agente cometido o crime:
Por fim, a terceira fase é chamada de comatosa/
[...]
porco/superaguda/sono e se caracteriza pela ausên-
l) em estado de embriaguez preordenada.
cia de reflexos, pressão baixa, falta de tônus muscu-
lar, vômitos e até mesmo parada respiratória. Para
O alcoolismo crônico (toxicomania), por sua vez,
fins médico-legais, é nesta fase em que ocorrem cri-
pode ser considerado doença mental e, portanto, leva
mes omissivos.
à inimputabilidade do agente, nos termos do art. 26,
Clinicamente, a embriaguez se manifesta sob três
do CP, ou na diminuição de pena, nos termos do pará-
aspectos:
grafo único, art. 26.
z Físicos/somáticos: deve haver a conjunção dos
seguintes indícios — respiração acelerada (taquip-
neia), taquicardia, hálito alcoólico-acético e con-
gestão das conjuntivas; ASPECTOS MÉDICO-LEGAIS DOS
z Psíquicos: alteração do humor e atenção (sinais CRIMES CONTRA A LIBERDADE
progressivos);
z Neurológicos: com destaque, o sinal de Romberg
SEXUAL
(dificuldade de, em pé, fazer o número 4 com as
A Lei nº 12.015, de 7 de agosto de 2009, alterou pro-
pernas).
fundamente a redação do título VI, da Parte Especial do
Código Penal, que trata dos tipos penais que, até então,
Os meios de constatação da embriaguez são, basi-
eram chamados de “Crimes contra os costumes”.
camente, três:
A partir da mudança promovida pela Lei nº 12.015,
de 2009, o título VI, do CP, passou a ser denominado
z Exame clínico (é o melhor critério);
“Dos crimes contra a dignidade sexual”.
z Alcoolemia, isto é, a taxa de álcool na circulação
sanguínea (0,6g/l ou 6dg/L); A mudança não é somente de nomenclatura, mas de
z Etilômetro (bafômetro) — 0,3 mg/L de ar alveolar ( bem jurídico protegido. Tutelar a dignidade sexual é garan-
por resultar em falsos positivos). tir a liberdade da pessoa de decidir sobre sua sexualidade:
como, quando ou com quem ela mantém relações sexuais.
A embriaguez tem necessária relevância para os
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL

Os crimes contra a dignidade sexual estão dis-


fins do inciso II, §§ 1º e 2º, art. 28, do Código Penal, que postos da seguinte forma no título VI, do Código Penal:
trata da imputabilidade penal:
z Capítulo I: Dos crimes contra a liberdade sexual —
Art. 28 Não excluem a imputabilidade penal:
estupro (art. 213); violação sexual mediante fraude
I - a emoção ou a paixão;
(art. 215); importunação sexual (art. 215-A); assé-
Embriaguez
dio sexual (art. 216-A);
II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo
álcool ou substância de efeitos análogos
z Capítulo I-A: Da exposição da intimidade sexual
§ 1º É isento de pena o agente que, por embria- — registro não autorizado da intimidade sexual
guez completa, proveniente de caso fortuito ou (art. 216-B);
força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, z Capítulo II: Dos crimes sexuais contra vulnerá-
inteiramente incapaz de entender o caráter ilíci- vel — sedução (que era previsto no art. 217 foi
to do fato ou de determinar-se de acordo com esse revogado pela Lei nº 11.106, de 2005); estupro de
entendimento. vulnerável (art. 217-A); corrupção de menores (art.
§ 2º A pena pode ser reduzida de um a dois terços, 218); satisfação da lascívia mediante presença de
se o agente, por embriaguez, proveniente de criança ou adolescente (art. 218-A); favorecimento 613
da prostituição ou de outra forma de exploração Com as alterações feitas pela Lei nº 12.015, de 2009,
sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável o crime de estupro (art. 213) passou a englobar as con-
(art. 218-B); divulgação de cena de estupro ou de dutas que antes eram previstas de formas distintas.
cena de estupro de vulnerável, de cena de sexo ou Assim, esse crime se tornou a junção das antigas reda-
de pornografia (art. 218-C); ções dos arts. 213 e 214:
z Capítulo III: Do rapto — que continha os crimes de
rapto violento (art. 219) e de rapto consensual (art. z Constranger alguém (homem ou mulher com sujei-
220), ambos revogados pela Lei nº 11.106, de 2005; tos ativos ou passivos);
z Capítulo IV: Trata de disposições gerais (arts. 225 z Mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou
e 226) aplicáveis aos crimes previstos nos Capítu- permitir que se pratique com ele conjunção carnal
los I e II; ou outro ato libidinoso. Percebe-se que o atenta-
z Capítulo V: Do lenocínio e do tráfico de pessoa do violento ao pudor — outro ato libidinoso — se
para fim de prostituição ou outra forma de explo- transformou em uma forma de estupro.
ração sexual — mediação para servir a lascívia de
outrem (art. 227); favorecimento da prostituição O estupro, assim como os crimes dos arts. 215,
ou outra forma de exploração sexual (art. 228); 215-A, 217-A, 218-A, 218-B, apresenta como elemen-
casa de prostituição (art. 229); rufianismo (art. tares dois conceitos de grande interesse para a área
da medicina legal e que são tratados pela sexologia
230); e promoção de migração ilegal (art. 232-A);
forense:
z Capítulo VI: Do ultraje público ao pudor — ato obs-
ceno (art. 233) e escrito ou objeto obsceno (art. 234);
z A conjunção carnal;
z Capítulo VII: Traz disposições gerais (art. 234-A e
z O ato libidinoso.
234-B) aplicáveis a todos os crimes do título VI.
z Conjunção Carnal
O crime de estupro foi um dos que sofreu as maio-
res mudanças sob influência da Lei nº 12.015, de 2009.
A conjunção carnal, que pode ser chamada de coi-
O quadro a seguir aponta como era e como ficou a
to vagínico ou cópula vagínica, consiste na introdu-
redação do crime depois da alteração legislativa. Note ção, parcial ou completa, do pênis na vagina, sendo
que o art. 214 foi revogado, e a conduta prevista por indiferente a ocorrência ou não de ejaculação.
ele foi incorporada ao novo tipo do art. 213. Na perícia de conjunção carnal, tratando-se de
perícia em mulher virgem, o estudo do hímen
(himenologia) é de grande importância.
Mulher virgem é aquela que nunca copulou ou
REDAÇÃO ANTERIOR À LEI aquela em que não se pode demonstrar que tenha
REDAÇÃO ATUAL
Nº 12.015, DE 2009 praticado conjunção carnal.
Estupro Estupro Antes de se estudar a perícia da conjunção carnal,
Art. 213 Constranger mulher Art. 213 Constranger al- é necessário o conhecimento de noções básicas de
à conjunção carnal, mediante guém, mediante violência himenologia, conforme será exposto a seguir.
violência ou grave ameaça ou grave ameaça, a ter
Pena – reclusão, de 6 (seis) a conjunção carnal ou a pra- „ Himenologia
10 (dez) anos ticar ou permitir que com
ele se pratique outro ato
Atentado violento ao pudor libidinoso: Himenologia é o estudo do hímen. Hímen é a
Art. 214 Constranger alguém, Pena – reclusão, de 6 (seis) membrana mucosa, de forma variada, que separa a
mediante violência ou grave a 10 (dez) anos vulva da vagina, atrás dos pequenos lábios. Ou seja, é
ameaça, a praticar ou permi- a membrana que limita a entrada da vagina. Embora
tir que com ele se pratique presente na maioria dos mamíferos, não existe uma
ato libidinoso diverso da função orgânica conhecida.
conjunção carnal.
A ausência de hímen, chamada de agenesia hime-
Pena – reclusão, de 6 (seis) a
10 (dez) anos nal, embora rara, é possível.
Quanto à sua anatomia, o hímen apresenta o óstio,
que consiste no orifício natural. A orla é a membrana
Pode ser observado o seguinte, de acordo com a em si, a borda livre é a borda do óstio, e a borda de inser-
redação anterior do Código Penal: ção é a que fica adjacente à parede da cavidade vaginal.

z O estupro (art. 213, do CP) só poderia ter a mulher como Na figura a seguir, é possível identificar os seguin-
vítima e o homem como sujeito ativo, uma vez que o tes tipos de hímen:
crime se consumava pela conjunção carnal (ou seja,
exclusivamente, pela introdução do pênis na vagina); 1. Hímen semilunar;
z Todos os demais atos libidinosos (sexo oral, sexo 2. Hímen fimbriatus;
anal, toques íntimos ou sobre a roupa, masturba- 3. Hímen bilabiado;
ção, beijo lascivo etc.) eram tratados pelo art. 214 4. Hímen circular;
como atentado violento ao pudor, que podia ter 5. Hímen ovalado;
como sujeitos ativo e passivo tanto o homem quanto 6. Hímen tetralabiado;
a mulher (note que a lei mencionava “alguém”, ou 7. Hímen complacente;
seja, ser humano, independentemente de seu sexo). 8. Hímen cordiforme;
9. Hímen septado longitudinal.
614 10. Hímen septado transverso;
11. Hímen cribriforme;
12. Hímen roto.

Figura 1: Tipos de hímen.

Fonte: CROCE, D. Manual de Medicina Legal. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 1248.

Desses, merece especial atenção o chamado hímen complacente, que ocorre quando o óstio é amplo (conse-
quentemente a membrana é pequena) ou se é muito elástica, de forma que é possível a penetração sem que ocorra
o rompimento do hímen. Quando o hímen é complacente, o perito não é capaz de afirmar que a presença de
uma membrana íntegra descarta a ocorrência de conjunção carnal.

„ Perícia da Conjunção Carnal

O laudo de exame pericial na ofendida (vítima) é obrigatório para a comprovação da conjunção carnal.
No caso de mulher virgem, a perícia da conjunção carnal deve focar na integridade do hímen. Conforme exposto ante-
riormente, exceto no caso de hímen complacente, a constatação pelo perito de que houve o rompimento da membrana
garante que ocorreu conjunção carnal.
Na figura2 a seguir, é possível observar diferentes aspectos do hímen: mulher virgem (A); mulher que já teve rela-
ções sexuais (B) e mulher multípara (C). Mulher multípara é a que já teve parto de bebê com mais de 500g ou parto com
mais de 22 de semanas de gestação.
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL

2 SNELL, R. S. Anatomia. 2. ed. Rio de Janeiro: Medsi, 1984, s/p. 615


No exame do hímen, para se constatar o defloramen- Atenção! Não se deve confundir as roturas, que
to (desvirginamento), a mulher é colocada sobre a mesa são traumáticas, com os entalhes congênitos no hímen.
de exame, deitada em posição ginecológica, sob luz natu- Alguns sinais apontam as diferenças entre eles:
ral. Após inspeção vulvovaginal, o médico legista puxa
os lábios para si e para fora, esticando a pele da vulva, de „ As roturas dão-se em áreas mais delgadas;
modo que se exponha completamente o hímen. apresentam disposição assimétrica, geralmen-
te até a borda de inserção; têm ângulo de rup-
tura agudo; bordas irregulares; justaposição
Importante! nas bordas; e apresentam bordas com sangra-
mento ou tecido cicatricial (esbranquiçado);
No exame médico-legal do hímen, é vedado ao „ Os entalhes apresentam-se em áreas delgadas
perito realizar o toque bidigital (palpação intrava- e espessas; têm disposição simétrica; ângulo
ginal), sendo permitida somente a visualização. de clivagem (separação) arredondado; bordas
regulares; impossível justaposição nas bordas;
e são revestidos por mucosas.
Caso constatado o defloramento, empregam-se
dois processos para indicar a localização das rupturas
Agora, tratando-se de mulher com vida sexual ati-
(roturas) do hímen:
va ou no caso de mulher que possui hímen compla-
cente, a perícia analisa outros vestígios, que podem
„ Processo goniométrico (Oscar Freire): a vul-
ser classificados em:
va é dividida em dois quadrantes superoinfe-
riores (direito e esquerdo); esses quadrantes
„ Sinais de certeza de conjunção carnal: pre-
podem ser subdivididos, ainda, em terços;
sença de esperma, fosfatase acída prostática
„ Processo cronométrico (Lacassagne e Capra-
em grande quantidade, espermatozoides, glico-
ro): é feita uma analogia da vulva a um relógio;
proteína P30 ou PSA no canal vaginal, gravidez
uma ruptura, por exemplo, às seis horas, indica
e doenças sexualmente transmissíveis;
uma ruptura na região mediana inferior, próxi-
„ Sinais de possibilidade: lesões nos lábios meno-
ma à fúrcula (fusão dos grandes lábio na região
res e maiores, esquimoses (estravasamento de
mediana posterior).
sangue dos vasos sanguíneos que se rompem e
formam uma área arroxeada), pontos hemorrá-
Para melhor compreender o assunto, observe a
gicos, escoriações (lesões na camada mais super-
figura3 a seguir, que representa a determinação dos
ficial da pele, ralados na pele), relato de dor,
pontos de ruptura do hímen.
presença de pelos e sêmen nas vestes.

Esperma ou sêmen é o líquido no qual se encon-


tram contidos os espermatozoides. É composto pelo
líquido prostático e líquido seminal. No líquido pros-
tático, encontra-se o antígeno prostático específico
(PSA), também chamado de glicoproteína P30; sua
presença indica que existe líquido prostático e, con-
sequentemente, esperma. Na composição do líquido
prostático, encontra-se, ainda, a fosfatase ácida (pros-
tática), que é uma enzima; sua presença não basta
para confirmar a presença de esperma, uma vez que a
fosfatase ácida pode ser encontrada em vários órgãos,
como o fígado e rins; apenas se encontrada a fosfata-
se ácida em muita quantidade é que se pode confir-
mar a presença de esperma, uma vez que a próstata
é muito rica nessa enzima (a certeza dá-se apenas se
for encontrada no canal vaginal a quantidade de 300
unidades internacionais por milímetro cúbico de fos-
fatase ácida no material colhido). Vale lembrar que,
em muitos casos, não há presença de sêmen, pois o
sujeito pode ter utilizado preservativo.
Existem, ainda, alguns outros exames que indicam
a presença de esperma. Dentre eles, destaca-se o da
Lâmpada de Woods (comumente chamado de exa-
me da luz negra) e que pode ser realizado até 72-96h
após a suposta conjunção carnal. O exame consiste na
emissão de raios ultravioletas que, quando em conta-
to com fluídos biológicos, como no caso do esperma,
apresenta luminosidade verde-azulada. Trata-se de
um sinal de probabilidade, uma vez que outros líqui-
dos biológicos além do sêmen também geram a mes-
ma luminosidade. Uma vez localizado o material por
meio do exame da Lâmpada, este deve ser recolhido
e submetido ao exame de Reação de Corin-Stocks,

616 3 CROCE, D. Manual de Medicina Legal. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 1257.
que consiste em um exame microscópico que empre-
ga reagentes com a finalidade de encontrar esperma- ASPECTOS MÉDICO-LEGAIS DO
tozoides. O exame positivo à Reação de Corin-Stocls ABORTO, INFANTICÍDIO E ABANDONO
consiste em um sinal de certeza (o perito deve aten-
tar-se, no entanto, ao fato de um homem poder ejacu-
DE RECÉM-NASCIDO
lar sem espermatozoides, como, por exemplo, no caso
do sujeito que se submeteu a uma vasectomia). ABORTO

z Ato Libidinoso O Direito protege a vida humana a partir do


momento da concepção, pois, com a formação do
Conforme exposto anteriormente, nos tipos dos embrião e do feto, dá-se início à tutela, à proteção e às
crimes sexuais, dois pontos elementares são recor- penas, já que, dali para frente, se caracteriza um novo
rentes: a conjunção carnal e o ato libidinoso. A con- ser com uma expectativa de personalidade que não
junção carnal e sua perícia já foram tratadas e, agora, pode ser deixada de lado.
cabe conceituar o ato libidinoso, bem como estudar os Assim, o crime de aborto engloba o fim de uma
aspectos de sua perícia médico-legal vida intrauterina até instantes antes do parto. Então,
Ato libidinoso consiste em atos diversos da con- aborto criminoso é a morte provocada do ovo, pro-
junção carnal, ou seja: duto normal da concepção até o momento do parto.
Obviamente, esse conceito é diferente do conceito da
„ Cópulas ectópicas (cópulas fora da vagina): coito Obstetrícia, que define parto prematuro aquele em
anal, vulvar ou vestibular (pressão do pênis contra gestações que tenham mais de 22 semanas e menos
órgãos externos), inter femora (entre as coxas); de 37 semanas e que, antes desse período, classifica o
„ Atos orais: felação, cunilíngua e anilíngua; aborto em ovular, embrionário e fetal.
„ Masturbação; Assim, o código penal não difere ovo, embrião
„ Exibição ou contemplação lasciva (constran- ou feto. Quando houver morte intencional do concep-
ger a vítima, sem tocá-la, a satisfazer a libido
to ou expulsão violenta seguida de morte, será crime
com a nudez alheia);
de aborto:

Importante! ABORTO

Somente a mulher pode ser constrangida à prá-


tica de conjunção carnal; no entanto, no caso Espontâneo Acidental Provocado
de atos libidinosos, o ofendido pode ser tanto
mulher quanto homem, isto é, o homem também
pode ser vítima de estupro. Criminoso Legal

Eugênico Necessário ou
„ Perícia do Ato Libidinoso. terapêutico
Social
Vale ressaltar que os atos libidinosos, tendo em
vista suas variadas formas de prática, nem sempre Sentimental
Motivo de honra
deixam vestígios. humanitário ou
moral
Em relação às perícias no caso de atos libidinoso, desta- Estético
cam-se a perícia no sexo oral e no coito anal (ou sexo anal).
O sexo oral consiste na prática sexual que utiliza
boca, lábios e língua para entrar em contato com os O aborto realizado pelo médico para salvar a vida
órgãos sexuais de outra pessoa. Tendo em vista que, da gestante é resguardado pelo estado de necessidade,
normalmente, a prática de sexo oral não causa lesões, já que, para salvar a vida da mãe, cujo valor é mais
é importante que o perito realize a busca por material relevante, é necessário o procedimento. Dessa forma,
biológico, tal como esperma, PSA ou a glicoproteína P30. busca-se proteger um bem maior, convalidado pela
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL

Por sua vez, o coito anal configura-se com a intro- fundamental importância sobre outras vidas e consta-
dução, total ou parcial, do pênis no ânus. Nos casos tada no direito como o sacrifício do bem menor.
de coito anal violento, é possível encontrar: equimose O estado de necessidade de terceiro, outorgado
e escoriação no entorno do ânus; dilatação e rágades pelo médico para praticar o aborto terapêutico, deve
(fissuras anais). ser mencionado quando:
Em casos em que houve maior emprego de violên-
cia, pode haver, ainda, laceração (rasgo) da muscula- z A mãe apresenta perigo vital;
tura esfincteriana ou rotura completa do reto (com z Esse perigo esteja sob a dependência direta da
hemorragia séria). O perito deve atentar-se, também, gravidez;
para o fato de que as lesões decorrentes de coito anal z A interrupção da gravidez faça cessar esse perigo
recente se apresentam de forma radiada (as mais para a vida da mãe;
antigas apresentam forma triangular). Outro sinal z Esse procedimento seja o único meio capaz de sal-
que pode ser encontrado pelo perito é a presença de var a vida da gestante. Sempre que possível, deve
fístula retovaginal, que é o rompimento dos tecidos da ser feito com a confirmação ou concordância de
região entre o reto e a vagina. outros dois colegas. 617
O médico poderá realizar o aborto terapêutico, Seria uma demonstração de insensibilidade e de
em determinadas condições, independentemente do não valorização da vida, admitindo que problemas
consentimento da gestante ou de terceiros, pois essas como esses não podem ser resolvidos com medidas de
condições podem ser de tal gravidade que já tem o ordem social que assegurem à mulher condições de
amparo da lei no parágrafo 3º do art. 146: criar seus filhos.

Código Penal: Quesitos na Perícia de Aborto Criminoso


A medicina diz ser indispensável a intervenção des-
de que justificada por iminente perigo de vida.
De acordo com França, são quesitos a serem verifi-
Antecipação Terapêutica do Parto em Casos de cados na perícia de um aborto criminoso:
Anencefalia
z Em pessoa viva:
A anencefalia é, segundo França, “uma grave alte-
ração fetal caracterizada por um defeito no fechamen- „ Se há vestígio de provocação de aborto: Se
to do tubo neural, estrutura que dá origem ao cérebro, ele é recente, a perícia deve fundamentar-se
cerebelo, bulbo e à medula espinal”, podendo aconte- nas modificações deixadas pela gravidez, pelas
cer entre o 21º e o 26º dia de gestação. Pode ser detec- lesões do colo e dilatação do canal cervical. Des-
tada a partir das 12 semanas de gestação, por meio de crição do material que flui dos órgãos genitais e
ultrassonografia e ressonância magnética. Nota-se a
envio desse material ao laboratório;
falta da maior parte do cérebro e da calota craniana e,
„ Qual o meio empregado: A identificação do
na maioria das vezes, dos demais órgãos do encéfalo e
meio utilizado no aborto tem um valor inesti-
medula espinhal também. Caso o bebê seja anencéfa-
mável a fim de caracterizar o ato doloso;
lo, o Supremo Tribunal Federal permite que a mãe
„ Possíveis consequências da ação: Se, em con-
interrompa a gravidez, o que se dá o nome de anteci-
sequência do aborto ou do meio empregado
pação terapêutica do parto.
O aborto sentimental, também conhecido como para provocá-lo, sofreu a gestante incapaci-
piedoso ou moral, é indicado em casos de estupro. dade para as ocupações habituais por mais de
A questão veio à tona quando houveram, nos paí- 30 dias, perigo de vida, debilidade permanen-
ses da Europa, durante a Primeira Guerra Mundial, te, perda, inutilização de membro, sentido ou
mulheres violentadas pelos invasores. Assim, surgiu função, incapacidade permanente para o tra-
um movimento patriótico que repercutiu em todo o balho, enfermidade incurável, ou deformidade
mundo contra a maternidade forçada pela violência, permanente. Esse quesito procura caracterizar
defendendo que a mulher não precisava carregar no a lesão de natureza grave ou gravíssima que
ventre o fruto de um ato que não teve seu consenti- poderá ter sofrido a gestante em consequên-
mento, relembrando-a para sempre daqueles momen- cia do aborto ou do meio empregado para
tos de dor e sofrimento. provocá-lo;
Nesses casos, apoia-se o princípio do estado de „ Se não havia outro meio de salvar a vida da
necessidade contra as consequências de um sério gestante: Neste caso, só o médico pode intervir
dano à pessoa. O legislador considerou unicamente para interromper a gravidez (aborto terapêutico);
razões de ética e emocional, evitando a vergonha e „ Se a gestante é alienada, portadora de trans-
revolta da vítima, que espelharia no filho sua ofensa tornos mentais ou menor de 14 anos: Este
e humilhação. tipo de gestante não tem capacidade legal de
Antes do médico executar o aborto, recomenda-se consentir o aborto e por isso a pena aplicada ao
obter a autorização do juiz ou dos representantes do autor é mais grave.
Ministério Público sempre que houver processo cri-
minal em andamento. Sua permissão deixará o profis- z Em Pessoa Morta (Após a necropsia):
sional livre de qualquer responsabilidade no futuro.
„ Se houve morte;
Aborto Eugênico
„ Se a morte foi precedida de provocação de aborto;
„ Qual o meio empregado para a provocação do
O aborto eugênico é aquele que interrompe a gravi-
aborto;
dez em casos de fetos defeituosos ou com muitas chances
de o serem, e não é isento de pena na nossa legislação. „ Qual a causa da morte;
Mesmo considerando que toda criança tem o direi- „ Se a morte da gestante sobreveio em conse-
to de nascer saudável e perfeita, não se pode retirar quência do aborto ou do meio empregado para
dos deficientes o direito de viver. A vida destes exige provocá-lo. (França, 2017)
muita proteção e amparo, e jamais repressão.
Até o momento, a rubéola é a alegação mais comum Infanticídio
do aborto por motivo eugênico, pois, por menor que
seja a possibilidade, pode deixar o feto defeituoso. Segundo o Código Penal de 1940, infanticídio é
“matar, sob a influência do estado puerperal, o pró-
Aborto Social prio filho, durante o parto ou logo após”.
A atual legislação tem como atenuante a condi-
Outro tipo de aborto não permitido é o aborto ção biopsicossocial do estado puerperal no crime de
social, que se define como a interrupção de uma gra- infanticídio. Isso se deve ao:
videz por motivos econômicos ou sociais. Não há justi-
ficativas para tal, já que o Estado não pode ameaçar a z Trauma psicológico;
618 existência de alguém por razões como essa. z À pressão social e;
z Às condições do processo fisiológico do parto esses motivos, essa perícia é chamada de crucis peri-
desassistido da autoria como: torum (a cruz dos peritos).
O exame pericial deve buscar elementos consti-
„ Angústia; tuintes do delito a fim de caracterizar:
„ Aflição;
„ Dores; sangramento; z Os estados de natimorto;
„ Extenuação, que provoca um estado de confu- z O de feto nascente;
são mental, que pode levar ao ato criminoso. z O de infante nascido ou o do recém-nascido (diag-
nóstico do tempo de vida);
A exposição de motivos do Código Penal de 1940 qua- z A vida extrauterina (diagnóstico do nascimento
lifica o infanticídio como delictum exceptum, afirmando: com vida);
“Essa cláusula, como é óbvio, não quer significar que o z A causa jurídica de morte do infante (diagnóstico
puerpério acarrete sempre uma perturbação psíquica: é do mecanismo de morte);
preciso que fique averiguado ter esta realmente sobre- z O estado psíquico da mulher (diagnóstico do cha-
vindo em consequência daquele, de modo a diminuir mado “estado puerperal”) e;
a capacidade de entendimento ou de autoinibição da z A comprovação do parto pregresso (diagnóstico do
parturiente. Fora daí, não há por que distinguir entre puerpério ou do parto recente ou antigo da autora)
infanticídio e homicídio. Ainda, quando ocorra a hono- (FRANÇA, 2017).
ris causa, a pena aplicável é de homicídio.”
Sabemos que podem surgir mudanças psicológi- São definições apresentadas por França:
cas durante o puerpério, logo em seguida ao parto e
também após algum tempo. A alteração psíquica mais z Natimorto: denomina-se como tal o feto morto
comum é a psicose pós-parto; entretanto, o parto em durante o período perinatal que, de acordo com a
si não causa muitos transtornos. CID-10, inicia-se a partir da 22ª semana de gesta-
Sendo assim, não existe uma duração definida do ção, quando o peso fetal é de 500g.
estado puerperal. Infelizmente esse conceito pode A mortalidade perinatal pode ter causa natural
beneficiar as parturientes que, por motivos egoístas ou violenta. As causas naturais mais comuns são:
ou de vingança, matam o próprio filho. anoxia anteparto, prematuridade, anomalias con-
Diferentemente, o puerpério é o espaço de tempo gênitas e doença hemolítica congênita. As cau-
variável que vai do desprendimento da placenta até sas violentas foram vistas no estudo do aborto
a involução total do organismo materno às suas con- criminoso;
dições anteriores ao processo gestacional. Dura em z Feto Nascente: como o infanticídio também se
média, seis a oito semanas. (FRANÇA, 2001, p. 225). verifica “durante o parto”, é necessário estabele-
Percebe-se, portanto, que puerpério não é o mes- cer nessa circunstância o estado de feto nascente.
mo que estado puerperal. Este jamais acontece em Em outras legislações, a modalidade de crime nes-
partos assistidos, aceitos e desejados, mas sim naque- se estágio denomina-se feticídio.
les de forma clandestina e de gravidez indesejada. O feto nascente apresenta todas as características
Durante o parto, o espaço de tempo que vai des- do infante nascido, menos a faculdade de ter res-
de a ruptura das membranas até a expulsão do feto e pirado. No infanticídio de feto nascente, as lesões
da placenta é o tempo que leva o feto para passar do causadoras de morte estão situadas nas regiões
canal vaginal e despontar no meio exterior. onde o feto começa a se expor e têm as caracterís-
O conceito obstetrício de início de parto é aquele ticas das feridas produzidas in vitam;
que possui como características uma união de fenô- z Infante Nascido: é aquele que acabou de nascer,
menos fisiológicos e mecânicos capazes de expulsar respirou, mas não recebeu nenhum cuidado espe-
o feto e seus anexos, ou aquele em que a ruptura da cial. Apresenta proporcionalidade de suas partes,
bolsa já evidencia o início do parto. Então, o concei- peso e estatura habitual, desenvolvimento dos
to médico-legal teria que ser, obrigatoriamente, o da órgãos genitais e núcleos de ossificação fêmur-epi-
ruptura da bolsa por um critério objetivo determina- fisária. Oferecem interesse pericial os seguintes
do pela perícia. É como se as membranas separassem elementos: estado sanguinolento, indulto sebáceo,
o feto de vida intrauterina da vida extrauterina. tumor do parto, cordão umbilical, presença de
“Logo após o parto” significa “imediatamente após mecônio e respiração autônoma;
o parto”, ou seja, o período que vai da expulsão do feto z Recém-nascido: o estado de recém-nascido é
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL

e de seus anexos até os primeiros cuidados ao infante caracterizado pelos vestígios comprobatórios da
nascido. Por exemplo, se uma mãe tem o bebê, ves- vida intrauterina. Tem o recém-nascido um estágio
te-lhe uma roupa, alimenta-o e depois o mata. Esse que vai desde os primeiros cuidados após o parto
intervalo lúcido descaracterizaria o infanticídio e con- até aproximadamente o 7o dia de nascimento.
figuraria o homicídio. Mas, se a mulher, logo após o
parto, perde os sentidos e os recobra depois, e ao ver o Embora atenuadas, pode o recém-nascido apre-
filho, mata-o, não há como deixar de considerar como sentar as características do infante nascido, menos o
infanticídio. Assim, pode-se dizer que o “logo após” é estado sanguinolento e o não tratamento do cordão
um estado e não um período definido. umbilical.

Objetivos Periciais Provas de Vida Extrauterina

A determinação do infanticídio é um grande desa- A vida extrauterina pode ser caracterizada, essen-
fio para a medicina legal, por ser um tanto quanto cialmente, pela respiração autônoma do bebê nascido
complexo e por suas dificuldades em tipificá-lo. Por ou recém-nascido, apresentando mudanças capazes 619
de proporcionar ao perito condições para um diagnós- Dica
tico de vida independente. A prova só constitui valor até 24 horas após a
O diagnóstico é comprovado por meio da respira- morte do infante, pois, após esse tempo, come-
ção pelas docimasias e pelas provas ocasionais. As çam a aparecer gases oriundos do fenômeno
docimasias (do grego dokimos, “eu provo”) são provas transformativo da putrefação, oferecendo um
baseadas na possível respiração ou nos seus efeitos, e resultado falso-positivo.
podem ser classificadas em docimasias pulmonares e
extrapulmonares. „ Docimasia diafragmática de Ploquet: Diz
que, se houve respiração, ao abrir a cavidade
z Docimasias Pulmonares toracoabdominal do examinado, se notará uma
horizontalidade diafragmática e uma conve-
„ Docimasia hidrostática pulmonar de Gale- xidade exagerada das hemicúpulas do diafrag-
no: É a mais utilizada na perícia médico-legal, ma quando a respiração autônoma nunca
além de ser a mais prática, mais simples e mais existiu. Isso é explicado pela pressão provoca-
antiga. É também uma das mais seguras, con- da pelas vísceras abdominais;
siderando os devidos cuidados e seus limites. „ Docimasia óptica ou visual de Bouchut: É o
simples exame do pulmão. O que respirou apre-
Baseia-se na densidade do pulmão que respi-
sentará, como característica, o desenho de mosai-
rou e do que não respirou.
co alveolar, e o que não respirou terá aspecto
O pulmão que não respirou não flutuará, já compacto, liso e uniforme;
que é mais pesado que a água, cuja densidade „ Docimasia tátil de Nerio Rojas: Salienta que
é em torno de 1,0, diferentemente daquele que é possível sentir, pela palpação, no pulmão que
respirou, pois este sobrenadará. Essa prova, de respirou, um crepitar característico e a sensa-
acordo com França, compõe-se de quatro fases ção esponjosa, além de uma consistência car-
distintas, assim distribuídas: nosa no que não respirou.
„ Docimasia óptica de Icard: Opera por meio
1ª fase: põe-se no líquido o bloco constituído de pequenos cortes de fragmento de pulmão,
de todo o sistema respiratório (pulmões, tra- de dimensão reduzida, esmagados entre duas
queia e laringe) e mais língua, timo e coração. lâminas para transformá-los em esfregaço.
Se esses órgãos flutuam por inteiro ou à meia-á- Aparecerão, nos casos em que houve respira-
ção, inúmeras bolhas de ar no esfregaço. Não
gua, diz-se que a fase é positiva, dispensando as
tem valor em pulmões putrefeitos, já que os
demais. Caso contrário, ela é negativa, impon-
gases da putrefação dariam um resultado fal-
do-se a fase seguinte. samente positivo;
2ª fase: mantendo-se o bloco no fundo do vaso, „ Docimasia histológica de Balthazard: Por
separam-se os pulmões pelo hilo das demais poder ser usada mesmo nos pulmões putre-
vísceras. Se estas permanecem no fundo e os feitos, é considerada a prova mais perfeita.
pulmões flutuarem por inteiro ou à meia-água, “Consiste no estudo microscópico do tecido pul-
diz-se que a segunda fase é positiva, não sendo monar por meio da técnica histológica comum.
necessário ir adiante. Se os pulmões permane- Denominada por alguns de docimasia histoló-
cem no fundo, essa fase é negativa e procede-se gica de Bouchut-Tamassia. O pulmão que res-
à fase seguinte. pirou apresenta-se estruturalmente igual ao
3ª fase: com os pulmões no fundo do reserva- pulmão do adulto, com a dilatação uniforme
dos alvéolos, achatamento das células epiteliais,
tório, corta-se, no interior do líquido, vários
desdobramento das ramificações brônquicas e
fragmentos de pulmão e observa-se seus com-
aumento do volume dos capilares pelo afluxo
portamentos. Se todos esses fragmentos per- sanguíneo. O pulmão que não respirou tem
manecem no fundo, a terceira fase é negativa, as cavidades alveolares colabadas. E, quando
impondo-se a fase seguinte. Se alguns fragmen- putrefeito, o tecido pulmonar apresenta bolhas
tos flutuam, a fase é considerada positiva. gasosas irregulares no tecido intersticial e cavi-
4ª fase: tomam-se alguns desses fragmentos que dades alveolares fechadas” (FRANÇA, 2017).
permaneceram no fundo do recipiente, compri-
mindo-os entre os dedos e de encontro à parede z Docimasias Extrapulmonares
do vaso. Se há desprendimento de finas bolhas
gasosas misturadas com sangue, essa fase é con- „ Docimasia gastrintestinal de Breslau: Consiste
siderada positiva. Caso contrário, ela é negativa. em retirar o aparelho gastrintestinal, desde o esô-
fago abdominal até o reto, com duplas ligaduras
Então, se houver flutuação na primeira fase, pre- prévias ao nível dessas extremidades na porção
terminal do delgado e do piloro, uma vez que o
sume-se que o infante respirou bastante. Se a segunda
ar penetra no tubo digestivo com as primeiras
e a terceira fases são positivas, conclui-se que houve
incursões respiratórias. Em seguida, colocam-se
uma respiração precária. Se somente a quarta fase é essas vísceras em um recipiente com água, obser-
positiva, a prova é duvidosa ou presume-se que hou- vando se elas sobrenadam ou afundam. Logo
veram raras incursões respiratórias. Por fim, se as após, cortam-se entre as duplas ligaduras, segui-
quatro fases são negativas, presume-se a inexistência damente, as várias porções do tubo digestivo. Se
de vida autônoma, isso é, não houve respiração. esses segmentos flutuam, significa que a prova é
620 positiva. Mas, esse resultado deve ser visto com
cautela, e a prova só deve ser feita quando se con- álveo materno, do qual se encontra completamente
segue apenas o abdome do infante; separado, não sendo imprescindível a secção do cor-
„ Docimasia auricular de Vreden, Wendt e dão umbilical, para que não se transforme um ato
Gelé: Só é recomendada quando chega à perí- fisiológico — a parturição — em um ato mecânico.
cia apenas a cabeça fetal. Com a respiração e Em relação às lesões corporais, no caso específico
os primeiros movimentos de deglutição, o ar do abandono de recém-nascido, cabe ao perito avaliar
penetra na cavidade timpânica (ouvido médio) se está presente algum dos elementos que tornam a
por meio da tuba auditiva; lesão grave (ou gravíssima) e que constam nos §§1º e
„ Docimasia siálica de Souza-Dinitz: Constitui- 2º, do art. 129, do CP, tal como a debilidade permanen-
-se na comprovação de saliva no estômago por te de membro, sentido ou função. Em caso de consta-
meio da reação de sulfocianetos e demais téc- tação de lesão grave, o agente passa a responder pela
nicas equivalentes. A presença de saliva pela forma qualificada do abandono de recém-nascido,
deglutição fala em favor da respiração; tipificada no § 1º, do art. 134, do CP.
„ Docimasia hematopneumo-hepática de Seve-
ri: Baseia-se na determinação das taxas de oxi-
-hemoglobina do sangue do pulmão e do sangue
do fígado. Se as taxas forem iguais, significa que HORA DE PRATICAR!
não houve hematose, isto é, não houve respira-
ção. Se a taxa de oxihemoglobina é mais alta no 1. (CEBRASPE-CESPE — 2020) Maria, de vinte e seis
sangue do pulmão, conclui-se pela respiração anos de idade, saiu da faculdade onde estudava por
independente. volta das 23 h e, sozinha, dirigiu-se a pé rumo a sua
residência. No trajeto, foi abordada por trás, tomou
Idade Fetal um golpe “mata leão” de seu algoz, que exalava for-
te hálito etílico, e, em seguida, foi arrastada para um
Quando o corpo do feto está parcialmente carbo- matagal ermo. A vítima tentou se libertar, arranhando
nizado, a idade fetal pode ser dada pela estatura do os braços do autor. Ao chegar ao matagal, ainda se
cadáver quase inteiro, pelos núcleos de ossificação, mantendo por trás da vítima, o autor mandou que ela
pelo comprimento e pela relação dos ossos do crânio cobrisse o rosto com o próprio vestido. Ele abaixou
com a mandíbula. a calcinha dela e manteve, com violência, coito anal
Basta dividir esse resultado por cinco para deter- e vaginal, até ejacular. Após a violência, o criminoso
minar sua idade aproximada. Por exemplo, se o feto determinou que a vítima se mantivesse deitada, com
mede 30 cm, sua idade é de 6 meses lunares. o rosto voltado para o chão, e que contasse até cem,
Quanto aos pontos radiológicos de ossificação, os quando, então, poderia sair correndo. A vítima cumpriu
mais importantes são: a ordem e, após a contagem, levantou-se. Verificou a
presença de uma garrafa de cachaça quase vazia no
z Clavícula: meados do 2o mês; local e percebeu que sangrava e que sua região geni-
z Rádio: começo do 2o mês; tal, coxas e calcinha estavam molhadas de esperma.
z Ulna: começo do 2o mês; Ela avistou de longe uma casa e correu até lá, pedindo
z Úmero: final do 2o mês; ajuda. Na residência, a moradora prestou-lhe socorro,
z Fêmur: meados do 2o mês; permitindo que Maria tomasse banho, e lhe emprestou
z Falanges das mãos: final do 3o mês; roupas limpas para vestir. Em seguida, Maria dirigiu-se
z Temporal: meados do 4o mês; à delegacia de polícia, levando consigo, em um saco
z Púbis: começo do 5o mês; plástico, a garrafa de cachaça encontrada no local e
z Calcâneo: começo do 6o mês; as suas vestes sujas.
z Tálus: meados do 7o mês;
z Cuboide: feto a termo; A partir dessa situação hipotética, julgue o item a seguir.
z Epífise distal do fêmur (ponto de Béclard): feto
a termo. Como a vítima tomou banho, a autoridade policial
deverá encaminhá-la apenas para exame de corpo de
ASPECTOS MÉDICO-LEGAIS DO ABANDONO DE delito — lesões corporais.
RECÉM-NASCIDO
( ) CERTO  ( ) ERRADO
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL

O crime de abandono de recém-nascido encontra-


-se previsto no art. 134, do CP: 2. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Após sequestrarem a
esposa de um gerente de determinado banco, os
Art. 134 Expor ou abandonar recém-nascido, sequestradores fizeram três ligações para o gerente,
para ocultar desonra própria: de um celular não identificado, exigindo um resgate.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. As ligações foram gravadas, e a polícia realizou uma
§ 1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza análise das gravações. Na primeira e na segunda gra-
grave: vação, falava um sequestrador do sexo masculino. Ele
Pena - detenção, de um a três anos. disfarçava a voz com um tipo de fonação conhecida
como crepitação (ou creaky voice, caracterizada por
Em relação a esse crime, são duas as questões que uma baixa frequência fundamental e pulsos irregula-
requerem a medicina legal para sua resposta: o concei- res de vibração das pregas vocais. Porém, sobretudo
to de recém-nascido e, na forma qualificada prevista quando gritava — abrindo mais a boca e aumentando
no § 1º, se houve lesão corporal de natureza grave. a amplitude e a frequência fundamental da voz —, o
Recém-nascido ou neonato é o ser humano a ter- sequestrador não conseguia sustentar esse tipo de
mo, ou já viável, expulso, com ou sem seus anexos, do fonação em algumas palavras, deixando transparecer 621
traços de fonação modal e, consequentemente, traços A respeito da situação hipotética apresentada e de
mais característicos de sua voz normal. Também se aspectos a ela relacionados, julgue o item a seguir, com
notou que o sequestrador empregava fricativa alveo- base nas técnicas e nos conceitos de documentoscopia.
lopalatal surda [ ∫ ] nos sons sublinhados em palavras O perito deve observar determinadas características
como “poste” e “mais”; e usava fricativa alveolopalatal de segurança para verificar a autenticidade de uma
sonora [ ] nos sons sublinhados em palavras como carteira de identidade, entre elas: tarja em talho doce
“mesmo” e “desde”. na cor verde, fundo numismático, perfuração mecâni-
Na terceira gravação, era apenas a mulher do gerente ca da sigla do órgão de identificação sobre a fotogra-
quem falava. Os sequestradores a haviam amordaça- fia do titular e numeração tipográfica, sequencial, no
do, tendo colocado uma vareta entre seus caninos, verso, para controle do órgão expedidor.
o que a forçava a movimentar parcialmente a língua,
sem conseguir elevá-la para além dos caninos, e a ( ) CERTO  ( ) ERRADO
impedia de realizar qualquer tipo de obstrução usando
os lábios. 6 (CEBRASPE-CESPE — 2018) A respeito de tortura e
de exames periciais para diagnóstico de vítimas sub-
A esposa do gerente conseguiu fugir do cativeiro, e metidas a tortura, tratamentos cruéis, desumanos ou
três suspeitos foram presos. Os investigadores os degradantes, julgue o item subsequente.
interrogaram, e, posteriormente, as gravações do A tortura por eletricidade com o uso de toalha molha-
áudio dos interrogatórios foram comparadas com as da interposta entre a pele e o condutor energizado
falas dos sequestradores durante as ligações, grava- aumenta a superfície de passagem da eletricidade e
das pelo celular do gerente. nem sempre deixa a marca típica de Jellinek.

A partir do texto apresentado, julgue o item a seguir. ( ) CERTO  ( ) ERRADO

Ao alterar a fonte de produção acústica do aparelho 7. (CEBRASPE-CESPE — 2018) A respeito de identifica-


fonador, o sequestrador necessariamente alterava os ção médico-legal, de aspectos médico-legais das toxi-
pontos e modos de articulação das consoantes, uma comanias e lesões por ação elétrica, de modificadores
vez que os parâmetros articulatórios do filtro depen- da capacidade civil e de imputabilidade penal, julgue o
dem dos parâmetros da fonte na produção acústica. item que se segue.
O termo eletroplessão é utilizado para se referir a
( ) CERTO  ( ) ERRADO lesões produzidas por eletricidade industrial, enquan-
to o termo fulguração é empregado para se referir a
3. (CEBRASPE-CESPE — 2020) Mário foi preso em esta- lesões produzidas por eletricidade natural.
belecimento comercial ao utilizar carteira de identida-
de falsa e cédulas de moeda nacional com aparência ( ) CERTO  ( ) ERRADO
suspeita. A autoridade policial, diante dos fatos, solici-
tou exames periciais para a materialização do delito. 8. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Julgue o seguintes item,
A respeito da situação hipotética apresentada e a respeito de lesões produzidas por projéteis de arma
de aspectos a ela relacionados, julgue o item a de fogo.
seguir, com base nas técnicas e nos conceitos de A excentricidade da orla de escoriação presente em
documentoscopia. uma lesão de entrada de projétil de arma de fogo único
As carteiras de identidade são documentos de segu- não encamisado é indicativa de que este terá entrado
rança cujas características de fabricação são regula- no corpo de lado, o que poderia ter sido causado, entre
mentadas em normativos específicos. outros aspectos, por um ricochete ou por transfixação
ocorridos antes de o projétil atingir a vítima.
( ) CERTO  ( ) ERRADO
( ) CERTO  ( ) ERRADO
4. (CEBRASPE-CESPE — 2020) Mário foi preso em esta-
belecimento comercial ao utilizar carteira de identida- 9. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Acerca de medicina legal,
de falsa e cédulas de moeda nacional com aparência julgue o item a seguir.
suspeita. A autoridade policial, diante dos fatos, solici- Denomina-se hematoma a lesão contusa cutânea na
tou exames periciais para a materialização do delito. qual ocorra rotura de capilares e a infiltração dos teci-
A respeito da situação hipotética apresentada e de dos por sangue.
aspectos a ela relacionados, julgue o item a seguir,
com base nas técnicas e nos conceitos de documen- ( ) CERTO  ( ) ERRADO
tos copia.
A carteira de identidade apreendida não poderá ser 10. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Dois motoristas, Pedro e
periciada enquanto não estiver presente o documento José, foram levados à central de flagrantes da polícia
original correspondente, para ser confrontado com o civil após terem sido parados em uma blitz no trânsito.
utilizado por Mário. Segundo a polícia civil, Pedro, de trinta e dois anos de
idade, foi submetido ao teste do bafômetro, durante a
( ) CERTO  ( ) ERRADO blitz, e o resultado mostrou 0,68 miligramas de álcool
por litro de ar expelido.
5. (CEBRASPE-CESPE — 2020) Mário foi preso em esta- Ele pagou fiança e deverá responder em liberdade
belecimento comercial ao utilizar carteira de identida- por crime de trânsito. Conforme os policiais, José, de
de falsa e cédulas de moeda nacional com aparência vinte e dois anos de idade, se recusou a submeter-se
suspeita. A autoridade policial, diante dos fatos, solici- ao teste do bafômetro, mas o médico legista do Insti-
622 tou exames periciais para a materialização do delito. tuto Médico Legal (IML) que o examinou comprovou
alteração da capacidade psicomotora em razão do 16. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Julgue o item que se
consumo de substância psicoativa que determina segue, relativo a fenômenos cadavéricos.
dependência. José também pagou fiança para ser Os livores cadavéricos se formam devido à ação da
liberado. gravidade.

Com relação a essa situação hipotética, julgue o item ( ) CERTO  ( ) ERRADO
a seguir.
17. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Julgue o item que se
Caso fosse feito um segundo teste do bafômetro em segue, relativo a fenômenos cadavéricos.
Pedro, cinco minutos após a realização do primeiro A circulação póstuma de Brouardel aparece, em geral,
teste, o resultado seria necessariamente inferior a oito horas após o óbito.
0,68 miligramas de álcool por litro de ar expelido, des-
de que ele não tivesse ingerido bebida alcoólica duran- ( ) CERTO  ( ) ERRADO
te o intervalo entre os testes.
18. (CEBRASPE-CESPE — 2020) Uma mulher foi encon-
( ) CERTO  ( ) ERRADO trada morta com indícios de ter sido estuprada antes
da morte: suas vestes estavam rasgadas, as mamas
11. (CEBRASPE-CESPE — 2018) A respeito de identifica- apresentavam marcas de mordida e havia substância
ção médico-legal, de aspectos médico-legais das toxi- similar a sêmen na região genital.
comanias e lesões por ação elétrica, de modificadores Considerando a situação hipotética apresentada, jul-
da capacidade civil e de imputabilidade penal, julgue o gue o item que se segue.
item que se segue. Amostras para exame genético colhidas nas vestes
O ácido lisérgico pode causar no usuário distúrbios de da vítima que serão armazenadas sem refrigeração
percepção e aguçamento dos sentidos: seus efeitos devem ser acondicionadas secas.
atingem o pico no prazo de duas a quatro horas do uso
e podem durar até doze horas. ( ) CERTO  ( ) ERRADO

( ) CERTO  ( ) ERRADO 19. (CEBRASPE-CESPE — 2018) A respeito de tortura e


de exames periciais para diagnóstico de vítimas sub-
12. (CEBRASPE-CESPE — 2018) No que se refere à medi- metidas a tortura, tratamentos cruéis, desumanos ou
cina legal, julgue o item que se segue. degradantes, julgue o item subsequente. O exame da
O sinal de Amussat, que corresponde a lesão na túnica região genital, caso necessário, deverá ser realizado
íntima da artéria carótida, é mais comum no enforca- por médico do mesmo sexo do periciando, exceto nos
mento do que na esganadura. casos de transexuais e assemelhados.

( ) CERTO  ( ) ERRADO ( ) CERTO  ( ) ERRADO

13. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Acerca de medicina legal, 20. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Uma mulher de vinte
julgue o item a seguir. e oito anos de idade foi presa acusada do crime de
A presença de sulco cervical confirma a ocorrência de infanticídio, após ter jogado em uma centrífuga o bebê
enforcamento. que ela havia dado à luz. Segundo a ocorrência poli-
cial, um familiar da suspeita disse que ela havia escon-
( ) CERTO  ( ) ERRADO dido a gravidez e que negava que houvesse praticado
aborto.
14. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Acerca de medicina legal,
julgue o item a seguir. A partir dessa situação hipotética, julgue o item a
A presença de cogumelo de espuma saindo dos orifícios seguir.
respiratórios sugere que tenha ocorrido afogamento.
Caso, em exame no IML após a prisão, seja encontra-
( ) CERTO  ( ) ERRADO do tablete de misoprostol na cavidade vaginal da sus-
peita, o perito deverá responder “sim” ao quesito “há
15. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Um homem de cinquenta vestígios de provocação de aborto?”.
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL

anos de idade assassinou a tiros a esposa de trinta


e oito anos de idade, na manhã de uma quarta-feira. ( ) CERTO  ( ) ERRADO
De acordo com a polícia, o homem chegou à casa do
casal em uma motocicleta, chamou a mulher ao por- 9 GABARITO
tão e, quando ela saiu de casa, atirou nela com uma
arma de fogo, matando-a imediatamente. Em segui-
da, ele se matou no mesmo local, com um disparo da 1 ERRADO
arma encostada na própria têmpora.
Considerando a situação hipotética apresentada e os 2 ERRADO
diversos aspectos a ela relacionados, julgue o item a 3 CERTO
seguir.
O evento caracteriza um episódio de comoriência. 4 ERRADO

( ) CERTO  ( ) ERRADO 5 CERTO

6 CERTO
623
7 CERTO

8 ERRADO

9 ERRADO

10 ERRADO

11 CERTO

12 CERTO

13 ERRADO

14 CERTO

15 ERRADO

16 CERTO

17 ERRADO

18 CERTO

19 ERRADO

20 CERTO

ANOTAÇÕES

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