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CÓD: SL-126JL-21

7908433208280

UBATUBA
PREFEITURA MUNICIPAL DE UBATUBA
ESTADO DE SÃO PAULO

Comum Professor de Educação Básica I e II


EDITAL N° 001/2021 – RETIFICADO
DICA

Como passar em um concurso público?


Todos nós sabemos que é um grande desafio ser aprovado em concurso público, dessa maneira é muito importante o concurseiro
estar focado e determinado em seus estudos e na sua preparação.
É verdade que não existe uma fórmula mágica ou uma regra de como estudar para concursos públicos, é importante cada pessoa
encontrar a melhor maneira para estar otimizando sua preparação.
Algumas dicas podem sempre ajudar a elevar o nível dos estudos, criando uma motivação para estudar. Pensando nisso, a Solução
preparou este artigo com algumas dicas que irão fazer toda a diferença na sua preparação.

Então mãos à obra!

• Esteja focado em seu objetivo: É de extrema importância você estar focado em seu objetivo: a aprovação no concurso. Você vai ter
que colocar em sua mente que sua prioridade é dedicar-se para a realização de seu sonho.
• Não saia atirando para todos os lados: Procure dar atenção a um concurso de cada vez, a dificuldade é muito maior quando você
tenta focar em vários certames, pois as matérias das diversas áreas são diferentes. Desta forma, é importante que você defina uma
área e especializando-se nela. Se for possível realize todos os concursos que saírem que englobe a mesma área.
• Defina um local, dias e horários para estudar: Uma maneira de organizar seus estudos é transformando isso em um hábito,
determinado um local, os horários e dias específicos para estudar cada disciplina que irá compor o concurso. O local de estudo não
pode ter uma distração com interrupções constantes, é preciso ter concentração total.
• Organização: Como dissemos anteriormente, é preciso evitar qualquer distração, suas horas de estudos são inegociáveis. É
praticamente impossível passar em um concurso público se você não for uma pessoa organizada, é importante ter uma planilha
contendo sua rotina diária de atividades definindo o melhor horário de estudo.
• Método de estudo: Um grande aliado para facilitar seus estudos, são os resumos. Isso irá te ajudar na hora da revisão sobre o assunto
estudado. É fundamental que você inicie seus estudos antes mesmo de sair o edital, buscando editais de concursos anteriores. Busque
refazer a provas dos concursos anteriores, isso irá te ajudar na preparação.
• Invista nos materiais: É essencial que você tenha um bom material voltado para concursos públicos, completo e atualizado. Esses
materiais devem trazer toda a teoria do edital de uma forma didática e esquematizada, contendo exercícios para praticar. Quanto mais
exercícios você realizar, melhor será sua preparação para realizar a prova do certame.
• Cuide de sua preparação: Não são só os estudos que são importantes na sua preparação, evite perder sono, isso te deixará com uma
menor energia e um cérebro cansado. É preciso que você tenha uma boa noite de sono. Outro fator importante na sua preparação, é
tirar ao menos 1 (um) dia na semana para descanso e lazer, renovando as energias e evitando o estresse.

Se prepare para o concurso público


O concurseiro preparado não é aquele que passa o dia todo estudando, mas está com a cabeça nas nuvens, e sim aquele que se
planeja pesquisando sobre o concurso de interesse, conferindo editais e provas anteriores, participando de grupos com enquetes sobre
seu interesse, conversando com pessoas que já foram aprovadas, absorvendo dicas e experiências, e analisando a banca examinadora do
certame.
O Plano de Estudos é essencial na otimização dos estudos, ele deve ser simples, com fácil compreensão e personalizado com sua
rotina, vai ser seu triunfo para aprovação, sendo responsável pelo seu crescimento contínuo.
Além do plano de estudos, é importante ter um Plano de Revisão, ele que irá te ajudar na memorização dos conteúdos estudados até
o dia da prova, evitando a correria para fazer uma revisão de última hora.
Está em dúvida por qual matéria começar a estudar? Vai mais uma dica: comece por Língua Portuguesa, é a matéria com maior
requisição nos concursos, a base para uma boa interpretação, indo bem aqui você estará com um passo dado para ir melhor nas outras
disciplinas.

Vida Social
Sabemos que faz parte algumas abdicações na vida de quem estuda para concursos públicos, mas sempre que possível é importante
conciliar os estudos com os momentos de lazer e bem-estar. A vida de concurseiro é temporária, quem determina o tempo é você,
através da sua dedicação e empenho. Você terá que fazer um esforço para deixar de lado um pouco a vida social intensa, é importante
compreender que quando for aprovado verá que todo o esforço valeu a pena para realização do seu sonho.
Uma boa dica, é fazer exercícios físicos, uma simples corrida por exemplo é capaz de melhorar o funcionamento do Sistema Nervoso
Central, um dos fatores que são chaves para produção de neurônios nas regiões associadas à aprendizagem e memória.
DICA

Motivação
A motivação é a chave do sucesso na vida dos concurseiros. Compreendemos que nem sempre é fácil, e às vezes bate aquele desânimo
com vários fatores ao nosso redor. Porém tenha garra ao focar na sua aprovação no concurso público dos seus sonhos.
Caso você não seja aprovado de primeira, é primordial que você PERSISTA, com o tempo você irá adquirir conhecimento e experiência.
Então é preciso se motivar diariamente para seguir a busca da aprovação, algumas orientações importantes para conseguir motivação:
• Procure ler frases motivacionais, são ótimas para lembrar dos seus propósitos;
• Leia sempre os depoimentos dos candidatos aprovados nos concursos públicos;
• Procure estar sempre entrando em contato com os aprovados;
• Escreva o porquê que você deseja ser aprovado no concurso. Quando você sabe seus motivos, isso te da um ânimo maior para seguir
focado, tornando o processo mais prazeroso;
• Saiba o que realmente te impulsiona, o que te motiva. Dessa maneira será mais fácil vencer as adversidades que irão aparecer.
• Procure imaginar você exercendo a função da vaga pleiteada, sentir a emoção da aprovação e ver as pessoas que você gosta felizes
com seu sucesso.

Como dissemos no começo, não existe uma fórmula mágica, um método infalível. O que realmente existe é a sua garra, sua dedicação
e motivação para realizar o seu grande sonho de ser aprovado no concurso público. Acredite em você e no seu potencial.
A Solução tem ajudado, há mais de 36 anos, quem quer vencer a batalha do concurso público. Se você quer aumentar as suas chances
de passar, conheça os nossos materiais, acessando o nosso site: www.apostilasolucao.com.br

Vamos juntos!
ÍNDICE

Língua Portuguesa
1. Questões que possibilitem avaliar a capacidade de Interpretação de texto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Conhecimento da norma culta na modalidade escrita do idioma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
3. Aplicação da Ortografia oficial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
4. Acentuação gráfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
5. Pontuação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
6. Classes gramaticais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
7. Concordância verbal e nominal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
8. Pronomes: emprego e colocação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
9. Regência nominal e verbal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

Matemática
1. Teoria dos Conjuntos; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Conjuntos dos números Reais e Fracionais: operações, propriedades e problemas; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 04
3. Regra de Três Simples e Composta; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09
4. Porcentagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
5. Juros Simples; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
6. Equação do Primeiro e Segundo Graus - problemas; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
7. Frações, . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
8. Sistema Decimal de Medidas (comprimento, superfície, volume, massa, capacidade e tempo) - transformação de unidades e resolução
de problemas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

Conhecimentos Pedagógicos e de Legislação


1. A construção do conhecimento: papel do educador, do educando e da sociedade; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Avaliação; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 02
3. Base Nacional Curricular Comum; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
4. Concepções de Educação e Escola; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
5. Currículo em ação: planejamento, seleção e organização dos conteúdos; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
6. Educação inclusiva; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
7. Ética no trabalho docente; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
8. Função social da escola e compromisso social do educador; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
9. Gestão participativa na escola; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
10. Organização da escola centrada no processo de desenvolvimento do educando; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
11. Parâmetros Nacionais da Qualidade da educação Infantil; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
12. Projeto político-pedagógico: fundamentos para a orientação, planejamento e implementação de ações voltadas ao desenvolvimento
humano pleno, tomando como foco o processo ensino-aprendizagem; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
13. Publicações do MEC para a educação básica e educação especial, disponível em: http://portal.mec.gov.br - . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
14. Tendências educacionais na sala de aula: correntes teóricas e alternativas metodológicas e - . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
15. Visão interdisciplinar e transversal do conhecimento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

Conhecimentos Gerais e Atualidades


1. Conhecimentos de assuntos atuais e relevantes nas áreas da política, economia, transporte, sociedade, meio ambiente, educação,
saúde, ciência, tecnologia, desenvolvimento sustentável, segurança pública, energia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
ÍNDICE
Conteúdo Digital Complementar e Exclusivo:

Legislação
1. BRASIL. Constituição Federal de 1988. Brasília: Senado Federal, 1988. art.5º; artigos 204 a 2014. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. BRASIL. Lei Federal nº 9394/96 que institui as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/l9394.htm Acesso em: 22 maio de 2021. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
3. BRASIL. Lei nº 8069, de 13 de junho de 1900 que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Dis-
ponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm Acesso em: 22 de maio de 2021. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
4. BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015 que institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com
Deficiência). Brasília: Congresso Nacional, 1990. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
5. BRASIL. Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000 que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade
das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
6. BRASIL. Lei Federal nº 13.005, de 25 de julho de 2014 que aprova o Plano Nacional de Educação - PNE e dá outras providências. Dis-
ponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011- 2014/2014/lei/l13005.htm Acesso em: 20 de maio d 2021. . . . . . . 80
7. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Conselho Nacional de Educação, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.
mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf Acesso em: 22 de maio de 2021. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
8. BRASIL. Parâmetros Nacionais da Qualidade da educação Infantil. Brasília: MEC, 2018. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/doc-
man/2020/141451-public-mec-web-isbn-2019-003/file Acesso em: 20 de maio 2021. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130

Prezado Candidato, para estudar o conteúdo digital complementar e exclusivo,


acesse: https://www.editorasolucao.com.br/retificacoes
LÍNGUA PORTUGUESA
1. Questões que possibilitem avaliar a capacidade de Interpretação de texto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Conhecimento da norma culta na modalidade escrita do idioma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
3. Aplicação da Ortografia oficial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
4. Acentuação gráfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
5. Pontuação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
6. Classes gramaticais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
7. Concordância verbal e nominal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
8. Pronomes: emprego e colocação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
9. Regência nominal e verbal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
LÍNGUA PORTUGUESA

QUESTÕES QUE POSSIBILITEM AVALIAR A CAPACIDA-


DE DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTO

Compreensão e interpretação de textos


Chegamos, agora, em um ponto muito importante para todo o
seu estudo: a interpretação de textos. Desenvolver essa habilidade
é essencial e pode ser um diferencial para a realização de uma boa
prova de qualquer área do conhecimento.
Mas você sabe a diferença entre compreensão e interpretação?
A compreensão é quando você entende o que o texto diz de
forma explícita, aquilo que está na superfície do texto.
Quando Jorge fumava, ele era infeliz.
Por meio dessa frase, podemos entender que houve um tempo
que Jorge era infeliz, devido ao cigarro.
A interpretação é quando você entende o que está implícito,
nas entrelinhas, aquilo que está de modo mais profundo no texto Além de saber desses conceitos, é importante sabermos
ou que faça com que você realize inferências. identificar quando um texto é baseado em outro. O nome que
Quando Jorge fumava, ele era infeliz. damos a este processo é intertextualidade.
Já compreendemos que Jorge era infeliz quando fumava, mas
podemos interpretar que Jorge parou de fumar e que agora é feliz. Interpretação de Texto
Percebeu a diferença? Interpretar um texto quer dizer dar sentido, inferir, chegar
a uma conclusão do que se lê. A interpretação é muito ligada ao
Tipos de Linguagem subentendido. Sendo assim, ela trabalha com o que se pode deduzir
Existem três tipos de linguagem que precisamos saber para que de um texto.
facilite a interpretação de textos. A interpretação implica a mobilização dos conhecimentos
• Linguagem Verbal é aquela que utiliza somente palavras. Ela prévios que cada pessoa possui antes da leitura de um determinado
pode ser escrita ou oral. texto, pressupõe que a aquisição do novo conteúdo lido estabeleça
uma relação com a informação já possuída, o que leva ao
crescimento do conhecimento do leitor, e espera que haja uma
apreciação pessoal e crítica sobre a análise do novo conteúdo lido,
afetando de alguma forma o leitor.
Sendo assim, podemos dizer que existem diferentes tipos de
leitura: uma leitura prévia, uma leitura seletiva, uma leitura analítica
e, por fim, uma leitura interpretativa.

É muito importante que você:


- Assista os mais diferenciados jornais sobre a sua cidade,
estado, país e mundo;
- Se possível, procure por jornais escritos para saber de notícias
(e também da estrutura das palavras para dar opiniões);
- Leia livros sobre diversos temas para sugar informações
ortográficas, gramaticais e interpretativas;
• Linguagem não-verbal é aquela que utiliza somente imagens, - Procure estar sempre informado sobre os assuntos mais
fotos, gestos... não há presença de nenhuma palavra. polêmicos;
- Procure debater ou conversar com diversas pessoas sobre
qualquer tema para presenciar opiniões diversas das suas.

Dicas para interpretar um texto:


– Leia lentamente o texto todo.
No primeiro contato com o texto, o mais importante é tentar
compreender o sentido global do texto e identificar o seu objetivo.

– Releia o texto quantas vezes forem necessárias.


Assim, será mais fácil identificar as ideias principais de cada
parágrafo e compreender o desenvolvimento do texto.

– Sublinhe as ideias mais importantes.


Sublinhar apenas quando já se tiver uma boa noção da ideia
principal e das ideias secundárias do texto.
• Linguagem Mista (ou híbrida) é aquele que utiliza tanto as – Separe fatos de opiniões.
palavras quanto as imagens. Ou seja, é a junção da linguagem O leitor precisa separar o que é um fato (verdadeiro, objetivo
verbal com a não-verbal. e comprovável) do que é uma opinião (pessoal, tendenciosa e
mutável).

1
LÍNGUA PORTUGUESA
– Retorne ao texto sempre que necessário. zade começou há uns 12 mil anos, no tempo em que as pessoas
Além disso, é importante entender com cuidado e atenção os precisavam caçar para se alimentar. Os cachorros perceberam que,
enunciados das questões. se não atacassem os humanos, podiam ficar perto deles e comer a
comida que sobrava. Já os homens descobriram que os cachorros
– Reescreva o conteúdo lido. podiam ajudar a caçar, a cuidar de rebanhos e a tomar conta da
Para uma melhor compreensão, podem ser feitos resumos, casa, além de serem ótimos companheiros. Um colaborava com o
tópicos ou esquemas. outro e a parceria deu certo.

Além dessas dicas importantes, você também pode grifar Ao ler apenas o título “Cachorros”, você deduziu sobre o pos-
palavras novas, e procurar seu significado para aumentar seu sível assunto abordado no texto. Embora você imagine que o tex-
vocabulário, fazer atividades como caça-palavras, ou cruzadinhas to vai falar sobre cães, você ainda não sabia exatamente o que ele
são uma distração, mas também um aprendizado. falaria sobre cães. Repare que temos várias informações ao longo
Não se esqueça, além da prática da leitura aprimorar a do texto: a hipótese dos zoólogos sobre a origem dos cães, a asso-
compreensão do texto e ajudar a aprovação, ela também estimula ciação entre eles e os seres humanos, a disseminação dos cães pelo
nossa imaginação, distrai, relaxa, informa, educa, atualiza, melhora mundo, as vantagens da convivência entre cães e homens.
nosso foco, cria perspectivas, nos torna reflexivos, pensantes, além As informações que se relacionam com o tema chamamos de
de melhorar nossa habilidade de fala, de escrita e de memória. subtemas (ou ideias secundárias). Essas informações se integram,
Um texto para ser compreendido deve apresentar ideias ou seja, todas elas caminham no sentido de estabelecer uma unida-
seletas e organizadas, através dos parágrafos que é composto pela de de sentido. Portanto, pense: sobre o que exatamente esse texto
ideia central, argumentação e/ou desenvolvimento e a conclusão fala? Qual seu assunto, qual seu tema? Certamente você chegou à
do texto. conclusão de que o texto fala sobre a relação entre homens e cães.
O primeiro objetivo de uma interpretação de um texto é Se foi isso que você pensou, parabéns! Isso significa que você foi
a identificação de sua ideia principal. A partir daí, localizam-se capaz de identificar o tema do texto!
as ideias secundárias, ou fundamentações, as argumentações,
ou explicações, que levem ao esclarecimento das questões Fonte: https://portuguesrapido.com/tema-ideia-central-e-ideias-se-
apresentadas na prova. cundarias/
Compreendido tudo isso, interpretar significa extrair um
significado. Ou seja, a ideia está lá, às vezes escondida, e por isso IDENTIFICAÇÃO DE EFEITOS DE IRONIA OU HUMOR EM
o candidato só precisa entendê-la – e não a complementar com TEXTOS VARIADOS
algum valor individual. Portanto, apegue-se tão somente ao texto, e
nunca extrapole a visão dele. Ironia
Ironia é o recurso pelo qual o emissor diz o contrário do que
IDENTIFICANDO O TEMA DE UM TEXTO está pensando ou sentindo (ou por pudor em relação a si próprio ou
O tema é a ideia principal do texto. É com base nessa ideia com intenção depreciativa e sarcástica em relação a outrem).
principal que o texto será desenvolvido. Para que você consiga A ironia consiste na utilização de determinada palavra ou ex-
identificar o tema de um texto, é necessário relacionar as diferen- pressão que, em um outro contexto diferente do usual, ganha um
tes informações de forma a construir o seu sentido global, ou seja, novo sentido, gerando um efeito de humor.
você precisa relacionar as múltiplas partes que compõem um todo Exemplo:
significativo, que é o texto.
Em muitas situações, por exemplo, você foi estimulado a ler um
texto por sentir-se atraído pela temática resumida no título. Pois o
título cumpre uma função importante: antecipar informações sobre
o assunto que será tratado no texto.
Em outras situações, você pode ter abandonado a leitura por-
que achou o título pouco atraente ou, ao contrário, sentiu-se atraí-
do pelo título de um livro ou de um filme, por exemplo. É muito
comum as pessoas se interessarem por temáticas diferentes, de-
pendendo do sexo, da idade, escolaridade, profissão, preferências
pessoais e experiência de mundo, entre outros fatores.
Mas, sobre que tema você gosta de ler? Esportes, namoro, se-
xualidade, tecnologia, ciências, jogos, novelas, moda, cuidados com
o corpo? Perceba, portanto, que as temáticas são praticamente in-
finitas e saber reconhecer o tema de um texto é condição essen-
cial para se tornar um leitor hábil. Vamos, então, começar nossos
estudos?
Propomos, inicialmente, que você acompanhe um exercício
bem simples, que, intuitivamente, todo leitor faz ao ler um texto:
reconhecer o seu tema. Vamos ler o texto a seguir?

CACHORROS

Os zoólogos acreditam que o cachorro se originou de uma


espécie de lobo que vivia na Ásia. Depois os cães se juntaram aos
seres humanos e se espalharam por quase todo o mundo. Essa ami-

2
LÍNGUA PORTUGUESA
Exemplo:

Na construção de um texto, ela pode aparecer em três modos:


ironia verbal, ironia de situação e ironia dramática (ou satírica).
ANÁLISE E A INTERPRETAÇÃO DO TEXTO SEGUNDO O GÊ-
Ironia verbal NERO EM QUE SE INSCREVE
Ocorre quando se diz algo pretendendo expressar outro sig- Compreender um texto trata da análise e decodificação do que
nificado, normalmente oposto ao sentido literal. A expressão e a de fato está escrito, seja das frases ou das ideias presentes. Inter-
intenção são diferentes. pretar um texto, está ligado às conclusões que se pode chegar ao
Exemplo: Você foi tão bem na prova! Tirou um zero incrível! conectar as ideias do texto com a realidade. Interpretação trabalha
com a subjetividade, com o que se entendeu sobre o texto.
Ironia de situação Interpretar um texto permite a compreensão de todo e qual-
A intenção e resultado da ação não estão alinhados, ou seja, o quer texto ou discurso e se amplia no entendimento da sua ideia
resultado é contrário ao que se espera ou que se planeja. principal. Compreender relações semânticas é uma competência
Exemplo: Quando num texto literário uma personagem planeja imprescindível no mercado de trabalho e nos estudos.
uma ação, mas os resultados não saem como o esperado. No li- Quando não se sabe interpretar corretamente um texto pode-
vro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, a -se criar vários problemas, afetando não só o desenvolvimento pro-
personagem título tem obsessão por ficar conhecida. Ao longo da fissional, mas também o desenvolvimento pessoal.
vida, tenta de muitas maneiras alcançar a notoriedade sem suces-
so. Após a morte, a personagem se torna conhecida. A ironia é que Busca de sentidos
planejou ficar famoso antes de morrer e se tornou famoso após a Para a busca de sentidos do texto, pode-se retirar do mesmo
morte. os tópicos frasais presentes em cada parágrafo. Isso auxiliará na
apreensão do conteúdo exposto.
Ironia dramática (ou satírica) Isso porque é ali que se fazem necessários, estabelecem uma
A ironia dramática é um dos efeitos de sentido que ocorre nos relação hierárquica do pensamento defendido, retomando ideias já
textos literários quando a personagem tem a consciência de que citadas ou apresentando novos conceitos.
suas ações não serão bem-sucedidas ou que está entrando por um Por fim, concentre-se nas ideias que realmente foram explici-
caminho ruim, mas o leitor já tem essa consciência. tadas pelo autor. Textos argumentativos não costumam conceder
Exemplo: Em livros com narrador onisciente, que sabe tudo o espaço para divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas
que se passa na história com todas as personagens, é mais fácil apa- entrelinhas. Deve-se ater às ideias do autor, o que não quer dizer
recer esse tipo de ironia. A peça como Romeu e Julieta, por exem- que o leitor precise ficar preso na superfície do texto, mas é fun-
plo, se inicia com a fala que relata que os protagonistas da história damental que não sejam criadas suposições vagas e inespecíficas.
irão morrer em decorrência do seu amor. As personagens agem ao
longo da peça esperando conseguir atingir seus objetivos, mas a Importância da interpretação
plateia já sabe que eles não serão bem-sucedidos. A prática da leitura, seja por prazer, para estudar ou para se
informar, aprimora o vocabulário e dinamiza o raciocínio e a inter-
Humor pretação. A leitura, além de favorecer o aprendizado de conteúdos
Nesse caso, é muito comum a utilização de situações que pare- específicos, aprimora a escrita.
çam cômicas ou surpreendentes para provocar o efeito de humor. Uma interpretação de texto assertiva depende de inúmeros fa-
Situações cômicas ou potencialmente humorísticas comparti- tores. Muitas vezes, apressados, descuidamo-nos dos detalhes pre-
lham da característica do efeito surpresa. O humor reside em ocor- sentes em um texto, achamos que apenas uma leitura já se faz sufi-
rer algo fora do esperado numa situação. ciente. Interpretar exige paciência e, por isso, sempre releia o texto,
Há diversas situações em que o humor pode aparecer. Há as ti- pois a segunda leitura pode apresentar aspectos surpreendentes
rinhas e charges, que aliam texto e imagem para criar efeito cômico; que não foram observados previamente. Para auxiliar na busca de
há anedotas ou pequenos contos; e há as crônicas, frequentemente sentidos do texto, pode-se também retirar dele os tópicos frasais
acessadas como forma de gerar o riso. presentes em cada parágrafo, isso certamente auxiliará na apreen-
Os textos com finalidade humorística podem ser divididos em são do conteúdo exposto. Lembre-se de que os parágrafos não es-
quatro categorias: anedotas, cartuns, tiras e charges. tão organizados, pelo menos em um bom texto, de maneira aleató-
ria, se estão no lugar que estão, é porque ali se fazem necessários,
estabelecendo uma relação hierárquica do pensamento defendido,
retomando ideias já citadas ou apresentando novos conceitos.

3
LÍNGUA PORTUGUESA
Concentre-se nas ideias que de fato foram explicitadas pelo au- Receita: texto instrucional e injuntivo que tem como objetivo
tor: os textos argumentativos não costumam conceder espaço para de informar, aconselhar, ou seja, recomendam dando uma certa li-
divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas entrelinhas. berdade para quem recebe a informação.
Devemos nos ater às ideias do autor, isso não quer dizer que você
precise ficar preso na superfície do texto, mas é fundamental que DISTINÇÃO DE FATO E OPINIÃO SOBRE ESSE FATO
não criemos, à revelia do autor, suposições vagas e inespecíficas.
Ler com atenção é um exercício que deve ser praticado à exaustão, Fato
assim como uma técnica, que fará de nós leitores proficientes. O fato é algo que aconteceu ou está acontecendo. A existência
do fato pode ser constatada de modo indiscutível. O fato pode é
Diferença entre compreensão e interpretação uma coisa que aconteceu e pode ser comprovado de alguma manei-
A compreensão de um texto é fazer uma análise objetiva do ra, através de algum documento, números, vídeo ou registro.
texto e verificar o que realmente está escrito nele. Já a interpreta- Exemplo de fato:
ção imagina o que as ideias do texto têm a ver com a realidade. O A mãe foi viajar.
leitor tira conclusões subjetivas do texto.
Interpretação
Gêneros Discursivos É o ato de dar sentido ao fato, de entendê-lo. Interpretamos
Romance: descrição longa de ações e sentimentos de perso- quando relacionamos fatos, os comparamos, buscamos suas cau-
nagens fictícios, podendo ser de comparação com a realidade ou sas, previmos suas consequências.
totalmente irreal. A diferença principal entre um romance e uma Entre o fato e sua interpretação há uma relação lógica: se apon-
novela é a extensão do texto, ou seja, o romance é mais longo. No tamos uma causa ou consequência, é necessário que seja plausível.
romance nós temos uma história central e várias histórias secun- Se comparamos fatos, é preciso que suas semelhanças ou diferen-
dárias. ças sejam detectáveis.

Conto: obra de ficção onde é criado seres e locais totalmente Exemplos de interpretação:
imaginário. Com linguagem linear e curta, envolve poucas perso- A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou-
nagens, que geralmente se movimentam em torno de uma única tro país.
ação, dada em um só espaço, eixo temático e conflito. Suas ações A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão
encaminham-se diretamente para um desfecho. do que com a filha.

Novela: muito parecida com o conto e o romance, diferencia- Opinião


do por sua extensão. Ela fica entre o conto e o romance, e tem a A opinião é a avaliação que se faz de um fato considerando um
juízo de valor. É um julgamento que tem como base a interpretação
história principal, mas também tem várias histórias secundárias. O
que fazemos do fato.
tempo na novela é baseada no calendário. O tempo e local são de-
Nossas opiniões costumam ser avaliadas pelo grau de coerên-
finidos pelas histórias dos personagens. A história (enredo) tem um
cia que mantêm com a interpretação do fato. É uma interpretação
ritmo mais acelerado do que a do romance por ter um texto mais
do fato, ou seja, um modo particular de olhar o fato. Esta opinião
curto.
pode alterar de pessoa para pessoa devido a fatores socioculturais.
Crônica: texto que narra o cotidiano das pessoas, situações que
Exemplos de opiniões que podem decorrer das interpretações
nós mesmos já vivemos e normalmente é utilizado a ironia para anteriores:
mostrar um outro lado da mesma história. Na crônica o tempo não A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou-
é relevante e quando é citado, geralmente são pequenos intervalos tro país. Ela tomou uma decisão acertada.
como horas ou mesmo minutos. A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão
do que com a filha. Ela foi egoísta.
Poesia: apresenta um trabalho voltado para o estudo da lin-
guagem, fazendo-o de maneira particular, refletindo o momento, Muitas vezes, a interpretação já traz implícita uma opinião.
a vida dos homens através de figuras que possibilitam a criação de Por exemplo, quando se mencionam com ênfase consequên-
imagens. cias negativas que podem advir de um fato, se enaltecem previsões
positivas ou se faz um comentário irônico na interpretação, já esta-
Editorial: texto dissertativo argumentativo onde expressa a mos expressando nosso julgamento.
opinião do editor através de argumentos e fatos sobre um assunto É muito importante saber a diferença entre o fato e opinião,
que está sendo muito comentado (polêmico). Sua intenção é con- principalmente quando debatemos um tema polêmico ou quando
vencer o leitor a concordar com ele. analisamos um texto dissertativo.

Entrevista: texto expositivo e é marcado pela conversa de um Exemplo:


entrevistador e um entrevistado para a obtenção de informações. A mãe viajou e deixou a filha só. Nem deve estar se importando
Tem como principal característica transmitir a opinião de pessoas com o sofrimento da filha.
de destaque sobre algum assunto de interesse.
ESTRUTURAÇÃO DO TEXTO E DOS PARÁGRAFOS
Cantiga de roda: gênero empírico, que na escola se materiali- Uma boa redação é dividida em ideias relacionadas entre si
za em uma concretude da realidade. A cantiga de roda permite as ajustadas a uma ideia central que norteia todo o pensamento do
crianças terem mais sentido em relação a leitura e escrita, ajudando texto. Um dos maiores problemas nas redações é estruturar as
os professores a identificar o nível de alfabetização delas. ideias para fazer com que o leitor entenda o que foi dito no texto.
Fazer uma estrutura no texto para poder guiar o seu pensamento
e o do leitor.

4
LÍNGUA PORTUGUESA
Parágrafo Língua escrita e língua falada
O parágrafo organizado em torno de uma ideia-núcleo, que é A língua escrita não é a simples reprodução gráfica da língua
desenvolvida por ideias secundárias. O parágrafo pode ser forma- falada, por que os sinais gráficos não conseguem registrar grande
do por uma ou mais frases, sendo seu tamanho variável. No texto parte dos elementos da fala, como o timbre da voz, a entonação, e
dissertativo-argumentativo, os parágrafos devem estar todos rela- ainda os gestos e a expressão facial. Na realidade a língua falada é
cionados com a tese ou ideia principal do texto, geralmente apre- mais descontraída, espontânea e informal, porque se manifesta na
sentada na introdução. conversação diária, na sensibilidade e na liberdade de expressão
do falante. Nessas situações informais, muitas regras determinadas
Embora existam diferentes formas de organização de parágra- pela língua padrão são quebradas em nome da naturalidade, da li-
fos, os textos dissertativo-argumentativos e alguns gêneros jornalís- berdade de expressão e da sensibilidade estilística do falante.
ticos apresentam uma estrutura-padrão. Essa estrutura consiste em
três partes: a ideia-núcleo, as ideias secundárias (que desenvolvem Linguagem popular e linguagem culta
a ideia-núcleo) e a conclusão (que reafirma a ideia-básica). Em pa- Podem valer-se tanto da linguagem popular quanto da lingua-
rágrafos curtos, é raro haver conclusão. gem culta. Obviamente a linguagem popular é mais usada na fala,
nas expressões orais cotidianas. Porém, nada impede que ela esteja
Introdução: faz uma rápida apresentação do assunto e já traz presente em poesias (o Movimento Modernista Brasileiro procurou
uma ideia da sua posição no texto, é normalmente aqui que você valorizar a linguagem popular), contos, crônicas e romances em que
irá identificar qual o problema do texto, o porque ele está sendo o diálogo é usado para representar a língua falada.
escrito. Normalmente o tema e o problema são dados pela própria
prova. Linguagem Popular ou Coloquial
Usada espontânea e fluentemente pelo povo. Mostra-se quase
Desenvolvimento: elabora melhor o tema com argumentos e sempre rebelde à norma gramatical e é carregada de vícios de lin-
ideias que apoiem o seu posicionamento sobre o assunto. É possí- guagem (solecismo – erros de regência e concordância; barbarismo
vel usar argumentos de várias formas, desde dados estatísticos até – erros de pronúncia, grafia e flexão; ambiguidade; cacofonia; pleo-
citações de pessoas que tenham autoridade no assunto. nasmo), expressões vulgares, gírias e preferência pela coordenação,
que ressalta o caráter oral e popular da língua. A linguagem popular
Conclusão: faz uma retomada breve de tudo que foi abordado está presente nas conversas familiares ou entre amigos, anedotas,
e conclui o texto. Esta última parte pode ser feita de várias maneiras irradiação de esportes, programas de TV e auditório, novelas, na
diferentes, é possível deixar o assunto ainda aberto criando uma expressão dos esta dos emocionais etc.
pergunta reflexiva, ou concluir o assunto com as suas próprias con-
clusões a partir das ideias e argumentos do desenvolvimento. A Linguagem Culta ou Padrão
É a ensinada nas escolas e serve de veículo às ciências em que
Outro aspecto que merece especial atenção são os conecto- se apresenta com terminologia especial. É usada pelas pessoas ins-
res. São responsáveis pela coesão do texto e tornam a leitura mais truídas das diferentes classes sociais e caracteriza-se pela obediên-
fluente, visando estabelecer um encadeamento lógico entre as cia às normas gramaticais. Mais comumente usada na linguagem
ideias e servem de ligação entre o parágrafo, ou no interior do pe- escrita e literária, reflete prestígio social e cultural. É mais artificial,
ríodo, e o tópico que o antecede. mais estável, menos sujeita a variações. Está presente nas aulas,
Saber usá-los com precisão, tanto no interior da frase, quanto conferências, sermões, discursos políticos, comunicações científi-
ao passar de um enunciado para outro, é uma exigência também cas, noticiários de TV, programas culturais etc.
para a clareza do texto.
Sem os conectores (pronomes relativos, conjunções, advér- Gíria
bios, preposições, palavras denotativas) as ideias não fluem, muitas A gíria relaciona-se ao cotidiano de certos grupos sociais como
vezes o pensamento não se completa, e o texto torna-se obscuro, arma de defesa contra as classes dominantes. Esses grupos utilizam
sem coerência. a gíria como meio de expressão do cotidiano, para que as mensa-
Esta estrutura é uma das mais utilizadas em textos argumenta- gens sejam decodificadas apenas por eles mesmos.
tivos, e por conta disso é mais fácil para os leitores. Assim a gíria é criada por determinados grupos que divulgam
Existem diversas formas de se estruturar cada etapa dessa es- o palavreado para outros grupos até chegar à mídia. Os meios de
trutura de texto, entretanto, apenas segui-la já leva ao pensamento comunicação de massa, como a televisão e o rádio, propagam os
mais direto. novos vocábulos, às vezes, também inventam alguns. A gíria pode
acabar incorporada pela língua oficial, permanecer no vocabulário
NÍVEIS DE LINGUAGEM de pequenos grupos ou cair em desuso.
Ex.: “chutar o pau da barraca”, “viajar na maionese”, “galera”,
“mina”, “tipo assim”.
Definição de linguagem
Linguagem é qualquer meio sistemático de comunicar ideias
Linguagem vulgar
ou sentimentos através de signos convencionais, sonoros, gráficos,
Existe uma linguagem vulgar relacionada aos que têm pouco
gestuais etc. A linguagem é individual e flexível e varia dependendo
ou nenhum contato com centros civilizados. Na linguagem vulgar
da idade, cultura, posição social, profissão etc. A maneira de arti-
há estruturas com “nóis vai, lá”, “eu di um beijo”, “Ponhei sal na
cular as palavras, organizá-las na frase, no texto, determina nossa
comida”.
linguagem, nosso estilo (forma de expressão pessoal).
As inovações linguísticas, criadas pelo falante, provocam, com
Linguagem regional
o decorrer do tempo, mudanças na estrutura da língua, que só as
Regionalismos são variações geográficas do uso da língua pa-
incorpora muito lentamente, depois de aceitas por todo o grupo
drão, quanto às construções gramaticais e empregos de certas pala-
social. Muitas novidades criadas na linguagem não vingam na língua
vras e expressões. Há, no Brasil, por exemplo, os falares amazônico,
e caem em desuso.
nordestino, baiano, fluminense, mineiro, sulino.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Tipos e genêros textuais Tipo textual expositivo
Os tipos textuais configuram-se como modelos fixos e abran- A dissertação é o ato de apresentar ideias, desenvolver racio-
gentes que objetivam a distinção e definição da estrutura, bem cínio, analisar contextos, dados e fatos, por meio de exposição,
como aspectos linguísticos de narração, dissertação, descrição e discussão, argumentação e defesa do que pensamos. A dissertação
explicação. Eles apresentam estrutura definida e tratam da forma pode ser expositiva ou argumentativa.
como um texto se apresenta e se organiza. Existem cinco tipos clás- A dissertação-expositiva é caracterizada por esclarecer um as-
sicos que aparecem em provas: descritivo, injuntivo, expositivo (ou sunto de maneira atemporal, com o objetivo de explicá-lo de ma-
dissertativo-expositivo) dissertativo e narrativo. Vejamos alguns neira clara, sem intenção de convencer o leitor ou criar debate.
exemplos e as principais características de cada um deles.
Características principais:
Tipo textual descritivo • Apresenta introdução, desenvolvimento e conclusão.
A descrição é uma modalidade de composição textual cujo • O objetivo não é persuadir, mas meramente explicar, infor-
objetivo é fazer um retrato por escrito (ou não) de um lugar, uma mar.
pessoa, um animal, um pensamento, um sentimento, um objeto, • Normalmente a marca da dissertação é o verbo no presente.
um movimento etc. • Amplia-se a ideia central, mas sem subjetividade ou defesa
Características principais: de ponto de vista.
• Os recursos formais mais encontrados são os de valor adje- • Apresenta linguagem clara e imparcial.
tivo (adjetivo, locução adjetiva e oração adjetiva), por sua função
caracterizadora. Exemplo:
• Há descrição objetiva e subjetiva, normalmente numa enu- O texto dissertativo consiste na ampliação, na discussão, no
meração. questionamento, na reflexão, na polemização, no debate, na ex-
• A noção temporal é normalmente estática. pressão de um ponto de vista, na explicação a respeito de um de-
• Normalmente usam-se verbos de ligação para abrir a defini- terminado tema.
ção. Existem dois tipos de dissertação bem conhecidos: a disserta-
• Normalmente aparece dentro de um texto narrativo. ção expositiva (ou informativa) e a argumentativa (ou opinativa).
• Os gêneros descritivos mais comuns são estes: manual, anún- Portanto, pode-se dissertar simplesmente explicando um as-
cio, propaganda, relatórios, biografia, tutorial. sunto, imparcialmente, ou discutindo-o, parcialmente.

Exemplo: Tipo textual dissertativo-argumentativo


Era uma casa muito engraçada Este tipo de texto — muito frequente nas provas de concur-
Não tinha teto, não tinha nada sos — apresenta posicionamentos pessoais e exposição de ideias
Ninguém podia entrar nela, não apresentadas de forma lógica. Com razoável grau de objetividade,
Porque na casa não tinha chão clareza, respeito pelo registro formal da língua e coerência, seu in-
Ninguém podia dormir na rede tuito é a defesa de um ponto de vista que convença o interlocutor
Porque na casa não tinha parede (leitor ou ouvinte).
Ninguém podia fazer pipi
Porque penico não tinha ali Características principais:
Mas era feita com muito esmero • Presença de estrutura básica (introdução, desenvolvimento
Na rua dos bobos, número zero e conclusão): ideia principal do texto (tese); argumentos (estraté-
(Vinícius de Moraes) gias argumentativas: causa-efeito, dados estatísticos, testemunho
de autoridade, citações, confronto, comparação, fato, exemplo,
TIPO TEXTUAL INJUNTIVO enumeração...); conclusão (síntese dos pontos principais com su-
A injunção indica como realizar uma ação, aconselha, impõe, gestão/solução).
instrui o interlocutor. Chamado também de texto instrucional, o • Utiliza verbos na 1ª pessoa (normalmente nas argumentações
tipo de texto injuntivo é utilizado para predizer acontecimentos e informais) e na 3ª pessoa do presente do indicativo (normalmente
comportamentos, nas leis jurídicas. nas argumentações formais) para imprimir uma atemporalidade e
um caráter de verdade ao que está sendo dito.
Características principais: • Privilegiam-se as estruturas impessoais, com certas modali-
• Normalmente apresenta frases curtas e objetivas, com ver- zações discursivas (indicando noções de possibilidade, certeza ou
bos de comando, com tom imperativo; há também o uso do futuro probabilidade) em vez de juízos de valor ou sentimentos exaltados.
do presente (10 mandamentos bíblicos e leis diversas). • Há um cuidado com a progressão temática, isto é, com o
• Marcas de interlocução: vocativo, verbos e pronomes de 2ª desenvolvimento coerente da ideia principal, evitando-se ro-
pessoa ou 1ª pessoa do plural, perguntas reflexivas etc. deios.
Exemplo: Exemplo:
Impedidos do Alistamento Eleitoral (art. 5º do Código Eleito- A maioria dos problemas existentes em um país em desenvol-
ral) – Não podem alistar-se eleitores: os que não saibam exprimir-se vimento, como o nosso, podem ser resolvidos com uma eficiente
na língua nacional, e os que estejam privados, temporária ou defi- administração política (tese), porque a força governamental certa-
nitivamente dos direitos políticos. Os militares são alistáveis, desde mente se sobrepõe a poderes paralelos, os quais – por negligência
que oficiais, aspirantes a oficiais, guardas-marinha, subtenentes ou de nossos representantes – vêm aterrorizando as grandes metró-
suboficiais, sargentos ou alunos das escolas militares de ensino su- poles. Isso ficou claro no confronto entre a força militar do RJ e os
perior para formação de oficiais. traficantes, o que comprovou uma verdade simples: se for do desejo
dos políticos uma mudança radical visando o bem-estar da popula-
ção, isso é plenamente possível (estratégia argumentativa: fato-

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LÍNGUA PORTUGUESA
-exemplo). É importante salientar, portanto, que não devemos ficar Dissertativo-argumentativo Editorial Jornalístico
de mãos atadas à espera de uma atitude do governo só quando o Carta de opinião
caos se estabelece; o povo tem e sempre terá de colaborar com uma Resenha
cobrança efetiva (conclusão). Artigo
Ensaio
Tipo textual narrativo Monografia, dissertação de
O texto narrativo é uma modalidade textual em que se conta mestrado e tese de doutorado
um fato, fictício ou não, que ocorreu num determinado tempo e lu-
gar, envolvendo certos personagens. Toda narração tem um enredo, Narrativo Romance
personagens, tempo, espaço e narrador (ou foco narrativo). Novela
Crônica
Características principais: Contos de Fada
• O tempo verbal predominante é o passado. Fábula
• Foco narrativo com narrador de 1ª pessoa (participa da his- Lendas
tória – onipresente) ou de 3ª pessoa (não participa da história –
onisciente). Sintetizando: os tipos textuais são fixos, finitos e tratam da for-
• Normalmente, nos concursos públicos, o texto aparece em ma como o texto se apresenta. Os gêneros textuais são fluidos, infi-
prosa, não em verso. nitos e mudam de acordo com a demanda social.

Exemplo: INTERTEXTUALIDADE
Solidão A intertextualidade é um recurso realizado entre textos, ou
João era solteiro, vivia só e era feliz. Na verdade, a solidão era seja, é a influência e relação que um estabelece sobre o outro. As-
o que o tornava assim. Conheceu Maria, também solteira, só e fe- sim, determina o fenômeno relacionado ao processo de produção
liz. Tão iguais, a afinidade logo se transforma em paixão. Casam-se. de textos que faz referência (explícita ou implícita) aos elementos
Dura poucas semanas. Não havia mesmo como dar certo: ao se uni- existentes em outro texto, seja a nível de conteúdo, forma ou de
rem, um tirou do outro a essência da felicidade. ambos: forma e conteúdo.
Nelson S. Oliveira Grosso modo, a intertextualidade é o diálogo entre textos, de
Fonte: https://www.recantodasletras.com.br/contossur- forma que essa relação pode ser estabelecida entre as produções
reais/4835684 textuais que apresentem diversas linguagens (visual, auditiva, escri-
ta), sendo expressa nas artes (literatura, pintura, escultura, música,
GÊNEROS TEXTUAIS dança, cinema), propagandas publicitárias, programas televisivos,
Já os gêneros textuais (ou discursivos) são formas diferentes provérbios, charges, dentre outros.
de expressão comunicativa. As muitas formas de elaboração de um
texto se tornam gêneros, de acordo com a intenção do seu pro- Tipos de Intertextualidade
dutor. Logo, os gêneros apresentam maior diversidade e exercem • Paródia: perversão do texto anterior que aparece geralmen-
funções sociais específicas, próprias do dia a dia. Ademais, são te, em forma de crítica irônica de caráter humorístico. Do grego (pa-
passíveis de modificações ao longo do tempo, mesmo que preser- rodès), a palavra “paródia” é formada pelos termos “para” (seme-
vando características preponderantes. Vejamos, agora, uma tabela lhante) e “odes” (canto), ou seja, “um canto (poesia) semelhante a
que apresenta alguns gêneros textuais classificados com os tipos outro”. Esse recurso é muito utilizado pelos programas humorísticos.
textuais que neles predominam. • Paráfrase: recriação de um texto já existente mantendo a
mesma ideia contida no texto original, entretanto, com a utilização
de outras palavras. O vocábulo “paráfrase”, do grego (paraphrasis),
Tipo Textual Predominante Gêneros Textuais
significa a “repetição de uma sentença”.
Descritivo Diário • Epígrafe: recurso bastante utilizado em obras e textos cientí-
Relatos (viagens, históricos, etc.) ficos. Consiste no acréscimo de uma frase ou parágrafo que tenha
Biografia e autobiografia alguma relação com o que será discutido no texto. Do grego, o ter-
Notícia mo “epígrafhe” é formado pelos vocábulos “epi” (posição superior)
Currículo e “graphé” (escrita).
Lista de compras • Citação: Acréscimo de partes de outras obras numa produção
Cardápio textual, de forma que dialoga com ele; geralmente vem expressa
Anúncios de classificados entre aspas e itálico, já que se trata da enunciação de outro autor.
Injuntivo Receita culinária Esse recurso é importante haja vista que sua apresentação sem re-
Bula de remédio lacionar a fonte utilizada é considerado “plágio”. Do Latim, o termo
Manual de instruções “citação” (citare) significa convocar.
Regulamento • Alusão: Faz referência aos elementos presentes em outros
Textos prescritivos textos. Do Latim, o vocábulo “alusão” (alludere) é formado por dois
termos: “ad” (a, para) e “ludere” (brincar).
Expositivo Seminários • Outras formas de intertextualidade menos discutidas são
Palestras o pastiche, o sample, a tradução e a bricolagem.
Conferências
Entrevistas ARGUMENTAÇÃO
Trabalhos acadêmicos O ato de comunicação não visa apenas transmitir uma informa-
Enciclopédia ção a alguém. Quem comunica pretende criar uma imagem positiva
Verbetes de dicionários de si mesmo (por exemplo, a de um sujeito educado, ou inteligente,

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LÍNGUA PORTUGUESA
ou culto), quer ser aceito, deseja que o que diz seja admitido como instituição bancária e sua antiguidade, esta tem peso argumentati-
verdadeiro. Em síntese, tem a intenção de convencer, ou seja, tem vo na afirmação da confiabilidade de um banco. Portanto é provável
o desejo de que o ouvinte creia no que o texto diz e faça o que ele que se creia que um banco mais antigo seja mais confiável do que
propõe. outro fundado há dois ou três anos.
Se essa é a finalidade última de todo ato de comunicação, todo Enumerar todos os tipos de argumentos é uma tarefa quase
texto contém um componente argumentativo. A argumentação é o impossível, tantas são as formas de que nos valemos para fazer as
conjunto de recursos de natureza linguística destinados a persuadir pessoas preferirem uma coisa a outra. Por isso, é importante enten-
a pessoa a quem a comunicação se destina. Está presente em todo der bem como eles funcionam.
tipo de texto e visa a promover adesão às teses e aos pontos de Já vimos diversas características dos argumentos. É preciso
vista defendidos. acrescentar mais uma: o convencimento do interlocutor, o auditó-
As pessoas costumam pensar que o argumento seja apenas rio, que pode ser individual ou coletivo, será tanto mais fácil quanto
uma prova de verdade ou uma razão indiscutível para comprovar a mais os argumentos estiverem de acordo com suas crenças, suas
veracidade de um fato. O argumento é mais que isso: como se disse expectativas, seus valores. Não se pode convencer um auditório
acima, é um recurso de linguagem utilizado para levar o interlocu- pertencente a uma dada cultura enfatizando coisas que ele abomi-
tor a crer naquilo que está sendo dito, a aceitar como verdadeiro o na. Será mais fácil convencê-lo valorizando coisas que ele considera
que está sendo transmitido. A argumentação pertence ao domínio positivas. No Brasil, a publicidade da cerveja vem com frequência
da retórica, arte de persuadir as pessoas mediante o uso de recur- associada ao futebol, ao gol, à paixão nacional. Nos Estados Unidos,
sos de linguagem. essa associação certamente não surtiria efeito, porque lá o futebol
Para compreender claramente o que é um argumento, é bom não é valorizado da mesma forma que no Brasil. O poder persuasivo
voltar ao que diz Aristóteles, filósofo grego do século IV a.C., numa de um argumento está vinculado ao que é valorizado ou desvalori-
obra intitulada “Tópicos: os argumentos são úteis quando se tem de zado numa dada cultura.
escolher entre duas ou mais coisas”.
Se tivermos de escolher entre uma coisa vantajosa e uma des- Tipos de Argumento
vantajosa, como a saúde e a doença, não precisamos argumentar. Já verificamos que qualquer recurso linguístico destinado a fa-
Suponhamos, no entanto, que tenhamos de escolher entre duas zer o interlocutor dar preferência à tese do enunciador é um argu-
coisas igualmente vantajosas, a riqueza e a saúde. Nesse caso, pre- mento. Exemplo:
cisamos argumentar sobre qual das duas é mais desejável. O argu-
mento pode então ser definido como qualquer recurso que torna Argumento de Autoridade
uma coisa mais desejável que outra. Isso significa que ele atua no É a citação, no texto, de afirmações de pessoas reconhecidas
domínio do preferível. Ele é utilizado para fazer o interlocutor crer pelo auditório como autoridades em certo domínio do saber, para
que, entre duas teses, uma é mais provável que a outra, mais pos- servir de apoio àquilo que o enunciador está propondo. Esse recur-
sível que a outra, mais desejável que a outra, é preferível à outra. so produz dois efeitos distintos: revela o conhecimento do produtor
O objetivo da argumentação não é demonstrar a verdade de do texto a respeito do assunto de que está tratando; dá ao texto a
um fato, mas levar o ouvinte a admitir como verdadeiro o que o garantia do autor citado. É preciso, no entanto, não fazer do texto
enunciador está propondo. um amontoado de citações. A citação precisa ser pertinente e ver-
Há uma diferença entre o raciocínio lógico e a argumentação. dadeira. Exemplo:
O primeiro opera no domínio do necessário, ou seja, pretende “A imaginação é mais importante do que o conhecimento.”
demonstrar que uma conclusão deriva necessariamente das pre-
missas propostas, que se deduz obrigatoriamente dos postulados Quem disse a frase aí de cima não fui eu... Foi Einstein. Para
admitidos. No raciocínio lógico, as conclusões não dependem de ele, uma coisa vem antes da outra: sem imaginação, não há conhe-
crenças, de uma maneira de ver o mundo, mas apenas do encadea- cimento. Nunca o inverso.
mento de premissas e conclusões. Alex José Periscinoto.
Por exemplo, um raciocínio lógico é o seguinte encadeamento: In: Folha de S. Paulo, 30/8/1993, p. 5-2
A é igual a B.
A é igual a C. A tese defendida nesse texto é que a imaginação é mais impor-
Então: C é igual a A. tante do que o conhecimento. Para levar o auditório a aderir a ela,
o enunciador cita um dos mais célebres cientistas do mundo. Se
Admitidos os dois postulados, a conclusão é, obrigatoriamente, um físico de renome mundial disse isso, então as pessoas devem
que C é igual a A. acreditar que é verdade.
Outro exemplo:
Todo ruminante é um mamífero. Argumento de Quantidade
A vaca é um ruminante. É aquele que valoriza mais o que é apreciado pelo maior nú-
Logo, a vaca é um mamífero. mero de pessoas, o que existe em maior número, o que tem maior
duração, o que tem maior número de adeptos, etc. O fundamento
Admitidas como verdadeiras as duas premissas, a conclusão desse tipo de argumento é que mais = melhor. A publicidade faz
também será verdadeira. largo uso do argumento de quantidade.
No domínio da argumentação, as coisas são diferentes. Nele,
a conclusão não é necessária, não é obrigatória. Por isso, deve-se Argumento do Consenso
mostrar que ela é a mais desejável, a mais provável, a mais plau- É uma variante do argumento de quantidade. Fundamenta-se
sível. Se o Banco do Brasil fizer uma propaganda dizendo-se mais em afirmações que, numa determinada época, são aceitas como
confiável do que os concorrentes porque existe desde a chegada verdadeiras e, portanto, dispensam comprovações, a menos que o
da família real portuguesa ao Brasil, ele estará dizendo-nos que um objetivo do texto seja comprovar alguma delas. Parte da ideia de
banco com quase dois séculos de existência é sólido e, por isso, con- que o consenso, mesmo que equivocado, corresponde ao indiscu-
fiável. Embora não haja relação necessária entre a solidez de uma tível, ao verdadeiro e, portanto, é melhor do que aquilo que não

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LÍNGUA PORTUGUESA
desfruta dele. Em nossa época, são consensuais, por exemplo, as - Para conseguir fazer exames com mais cuidado e porque al-
afirmações de que o meio ambiente precisa ser protegido e de que guns deles são barrapesada, a gente botou o governador no hospi-
as condições de vida são piores nos países subdesenvolvidos. Ao tal por três dias.
confiar no consenso, porém, corre-se o risco de passar dos argu-
mentos válidos para os lugares comuns, os preconceitos e as frases Como dissemos antes, todo texto tem uma função argumen-
carentes de qualquer base científica. tativa, porque ninguém fala para não ser levado a sério, para ser
ridicularizado, para ser desmentido: em todo ato de comunicação
Argumento de Existência deseja-se influenciar alguém. Por mais neutro que pretenda ser, um
É aquele que se fundamenta no fato de que é mais fácil aceitar texto tem sempre uma orientação argumentativa.
aquilo que comprovadamente existe do que aquilo que é apenas A orientação argumentativa é uma certa direção que o falante
provável, que é apenas possível. A sabedoria popular enuncia o ar- traça para seu texto. Por exemplo, um jornalista, ao falar de um
gumento de existência no provérbio “Mais vale um pássaro na mão homem público, pode ter a intenção de criticá-lo, de ridicularizá-lo
do que dois voando”. ou, ao contrário, de mostrar sua grandeza.
Nesse tipo de argumento, incluem-se as provas documentais O enunciador cria a orientação argumentativa de seu texto
(fotos, estatísticas, depoimentos, gravações, etc.) ou provas concre- dando destaque a uns fatos e não a outros, omitindo certos episó-
tas, que tornam mais aceitável uma afirmação genérica. Durante dios e revelando outros, escolhendo determinadas palavras e não
a invasão do Iraque, por exemplo, os jornais diziam que o exérci- outras, etc. Veja:
to americano era muito mais poderoso do que o iraquiano. Essa “O clima da festa era tão pacífico que até sogras e noras troca-
afirmação, sem ser acompanhada de provas concretas, poderia ser vam abraços afetuosos.”
vista como propagandística. No entanto, quando documentada pela
comparação do número de canhões, de carros de combate, de na- O enunciador aí pretende ressaltar a ideia geral de que noras
vios, etc., ganhava credibilidade. e sogras não se toleram. Não fosse assim, não teria escolhido esse
fato para ilustrar o clima da festa nem teria utilizado o termo até,
Argumento quase lógico que serve para incluir no argumento alguma coisa inesperada.
É aquele que opera com base nas relações lógicas, como causa Além dos defeitos de argumentação mencionados quando tra-
e efeito, analogia, implicação, identidade, etc. Esses raciocínios são tamos de alguns tipos de argumentação, vamos citar outros:
chamados quase lógicos porque, diversamente dos raciocínios lógi- - Uso sem delimitação adequada de palavra de sentido tão am-
cos, eles não pretendem estabelecer relações necessárias entre os plo, que serve de argumento para um ponto de vista e seu contrá-
elementos, mas sim instituir relações prováveis, possíveis, plausí- rio. São noções confusas, como paz, que, paradoxalmente, pode ser
veis. Por exemplo, quando se diz “A é igual a B”, “B é igual a C”, “en- usada pelo agressor e pelo agredido. Essas palavras podem ter valor
tão A é igual a C”, estabelece-se uma relação de identidade lógica. positivo (paz, justiça, honestidade, democracia) ou vir carregadas
Entretanto, quando se afirma “Amigo de amigo meu é meu amigo” de valor negativo (autoritarismo, degradação do meio ambiente,
não se institui uma identidade lógica, mas uma identidade provável. injustiça, corrupção).
Um texto coerente do ponto de vista lógico é mais facilmente - Uso de afirmações tão amplas, que podem ser derrubadas por
aceito do que um texto incoerente. Vários são os defeitos que con- um único contra exemplo. Quando se diz “Todos os políticos são
correm para desqualificar o texto do ponto de vista lógico: fugir do ladrões”, basta um único exemplo de político honesto para destruir
tema proposto, cair em contradição, tirar conclusões que não se o argumento.
fundamentam nos dados apresentados, ilustrar afirmações gerais - Emprego de noções científicas sem nenhum rigor, fora do con-
com fatos inadequados, narrar um fato e dele extrair generalizações texto adequado, sem o significado apropriado, vulgarizando-as e
indevidas. atribuindo-lhes uma significação subjetiva e grosseira. É o caso, por
exemplo, da frase “O imperialismo de certas indústrias não permite
Argumento do Atributo que outras crescam”, em que o termo imperialismo é descabido,
É aquele que considera melhor o que tem propriedades típi- uma vez que, a rigor, significa “ação de um Estado visando a reduzir
cas daquilo que é mais valorizado socialmente, por exemplo, o mais outros à sua dependência política e econômica”.
raro é melhor que o comum, o que é mais refinado é melhor que o
que é mais grosseiro, etc. A boa argumentação é aquela que está de acordo com a situa-
Por esse motivo, a publicidade usa, com muita frequência, ce- ção concreta do texto, que leva em conta os componentes envolvi-
lebridades recomendando prédios residenciais, produtos de beleza, dos na discussão (o tipo de pessoa a quem se dirige a comunicação,
alimentos estéticos, etc., com base no fato de que o consumidor tende o assunto, etc).
a associar o produto anunciado com atributos da celebridade.
Convém ainda alertar que não se convence ninguém com mani-
Uma variante do argumento de atributo é o argumento da
festações de sinceridade do autor (como eu, que não costumo men-
competência linguística. A utilização da variante culta e formal da
tir...) ou com declarações de certeza expressas em fórmulas feitas
língua que o produtor do texto conhece a norma linguística social-
(como estou certo, creio firmemente, é claro, é óbvio, é evidente,
mente mais valorizada e, por conseguinte, deve produzir um texto
afirmo com toda a certeza, etc). Em vez de prometer, em seu texto,
em que se pode confiar. Nesse sentido é que se diz que o modo de
sinceridade e certeza, autenticidade e verdade, o enunciador deve
dizer dá confiabilidade ao que se diz.
construir um texto que revele isso. Em outros termos, essas quali-
Imagine-se que um médico deva falar sobre o estado de saúde
de uma personalidade pública. Ele poderia fazê-lo das duas manei- dades não se prometem, manifestam-se na ação.
ras indicadas abaixo, mas a primeira seria infinitamente mais ade- A argumentação é a exploração de recursos para fazer parecer
quada para a persuasão do que a segunda, pois esta produziria certa verdadeiro aquilo que se diz num texto e, com isso, levar a pessoa a
estranheza e não criaria uma imagem de competência do médico: que texto é endereçado a crer naquilo que ele diz.
- Para aumentar a confiabilidade do diagnóstico e levando em Um texto dissertativo tem um assunto ou tema e expressa um
conta o caráter invasivo de alguns exames, a equipe médica houve ponto de vista, acompanhado de certa fundamentação, que inclui
por bem determinar o internamento do governador pelo período a argumentação, questionamento, com o objetivo de persuadir. Ar-
de três dias, a partir de hoje, 4 de fevereiro de 2001. gumentar é o processo pelo qual se estabelecem relações para che-

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LÍNGUA PORTUGUESA
gar à conclusão, com base em premissas. Persuadir é um processo - evidência;
de convencimento, por meio da argumentação, no qual procura-se - divisão ou análise;
convencer os outros, de modo a influenciar seu pensamento e seu - ordem ou dedução;
comportamento. - enumeração.
A persuasão pode ser válida e não válida. Na persuasão váli-
da, expõem-se com clareza os fundamentos de uma ideia ou pro- A enumeração pode apresentar dois tipos de falhas: a omissão
posição, e o interlocutor pode questionar cada passo do raciocínio e a incompreensão. Qualquer erro na enumeração pode quebrar o
empregado na argumentação. A persuasão não válida apoia-se em encadeamento das ideias, indispensável para o processo dedutivo.
argumentos subjetivos, apelos subliminares, chantagens sentimen- A forma de argumentação mais empregada na redação acadê-
tais, com o emprego de “apelações”, como a inflexão de voz, a mí- mica é o silogismo, raciocínio baseado nas regras cartesianas, que
mica e até o choro. contém três proposições: duas premissas, maior e menor, e a con-
Alguns autores classificam a dissertação em duas modalidades, clusão. As três proposições são encadeadas de tal forma, que a con-
expositiva e argumentativa. Esta, exige argumentação, razões a fa- clusão é deduzida da maior por intermédio da menor. A premissa
vor e contra uma ideia, ao passo que a outra é informativa, apresen- maior deve ser universal, emprega todo, nenhum, pois alguns não
ta dados sem a intenção de convencer. Na verdade, a escolha dos caracteriza a universalidade.
dados levantados, a maneira de expô-los no texto já revelam uma Há dois métodos fundamentais de raciocínio: a dedução (silo-
“tomada de posição”, a adoção de um ponto de vista na disserta- gística), que parte do geral para o particular, e a indução, que vai do
ção, ainda que sem a apresentação explícita de argumentos. Desse particular para o geral. A expressão formal do método dedutivo é o
ponto de vista, a dissertação pode ser definida como discussão, de- silogismo. A dedução é o caminho das consequências, baseia-se em
bate, questionamento, o que implica a liberdade de pensamento, a uma conexão descendente (do geral para o particular) que leva à
possibilidade de discordar ou concordar parcialmente. A liberdade conclusão. Segundo esse método, partindo-se de teorias gerais, de
de questionar é fundamental, mas não é suficiente para organizar verdades universais, pode-se chegar à previsão ou determinação de
um texto dissertativo. É necessária também a exposição dos fun- fenômenos particulares. O percurso do raciocínio vai da causa para
damentos, os motivos, os porquês da defesa de um ponto de vista. o efeito. Exemplo:
Pode-se dizer que o homem vive em permanente atitude argu-
mentativa. A argumentação está presente em qualquer tipo de dis- Todo homem é mortal (premissa maior = geral, universal)
curso, porém, é no texto dissertativo que ela melhor se evidencia. Fulano é homem (premissa menor = particular)
Para discutir um tema, para confrontar argumentos e posições, Logo, Fulano é mortal (conclusão)
é necessária a capacidade de conhecer outros pontos de vista e
seus respectivos argumentos. Uma discussão impõe, muitas ve- A indução percorre o caminho inverso ao da dedução, baseia-
zes, a análise de argumentos opostos, antagônicos. Como sempre, se em uma conexão ascendente, do particular para o geral. Nesse
essa capacidade aprende-se com a prática. Um bom exercício para caso, as constatações particulares levam às leis gerais, ou seja, par-
aprender a argumentar e contra-argumentar consiste em desenvol- te de fatos particulares conhecidos para os fatos gerais, desconheci-
ver as seguintes habilidades: dos. O percurso do raciocínio se faz do efeito para a causa. Exemplo:
- argumentação: anotar todos os argumentos a favor de uma O calor dilata o ferro (particular)
ideia ou fato; imaginar um interlocutor que adote a posição total- O calor dilata o bronze (particular)
mente contrária; O calor dilata o cobre (particular)
- contra-argumentação: imaginar um diálogo-debate e quais os O ferro, o bronze, o cobre são metais
argumentos que essa pessoa imaginária possivelmente apresenta- Logo, o calor dilata metais (geral, universal)
ria contra a argumentação proposta;
- refutação: argumentos e razões contra a argumentação opos- Quanto a seus aspectos formais, o silogismo pode ser válido
ta. e verdadeiro; a conclusão será verdadeira se as duas premissas
também o forem. Se há erro ou equívoco na apreciação dos fatos,
A argumentação tem a finalidade de persuadir, portanto, ar-
pode-se partir de premissas verdadeiras para chegar a uma conclu-
gumentar consiste em estabelecer relações para tirar conclusões
são falsa. Tem-se, desse modo, o sofisma. Uma definição inexata,
válidas, como se procede no método dialético. O método dialético
uma divisão incompleta, a ignorância da causa, a falsa analogia são
não envolve apenas questões ideológicas, geradoras de polêmicas.
algumas causas do sofisma. O sofisma pressupõe má fé, intenção
Trata-se de um método de investigação da realidade pelo estudo de
deliberada de enganar ou levar ao erro; quando o sofisma não tem
sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno em ques-
essas intenções propositais, costuma-se chamar esse processo de
tão e da mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade.
argumentação de paralogismo. Encontra-se um exemplo simples de
Descartes (1596-1650), filósofo e pensador francês, criou o mé-
todo de raciocínio silogístico, baseado na dedução, que parte do sofisma no seguinte diálogo:
simples para o complexo. Para ele, verdade e evidência são a mes- - Você concorda que possui uma coisa que não perdeu?
ma coisa, e pelo raciocínio torna-se possível chegar a conclusões - Lógico, concordo.
verdadeiras, desde que o assunto seja pesquisado em partes, co- - Você perdeu um brilhante de 40 quilates?
meçando-se pelas proposições mais simples até alcançar, por meio - Claro que não!
de deduções, a conclusão final. Para a linha de raciocínio cartesiana, - Então você possui um brilhante de 40 quilates...
é fundamental determinar o problema, dividi-lo em partes, ordenar
os conceitos, simplificando-os, enumerar todos os seus elementos Exemplos de sofismas:
e determinar o lugar de cada um no conjunto da dedução.
A lógica cartesiana, até os nossos dias, é fundamental para a Dedução
argumentação dos trabalhos acadêmicos. Descartes propôs quatro Todo professor tem um diploma (geral, universal)
regras básicas que constituem um conjunto de reflexos vitais, uma Fulano tem um diploma (particular)
série de movimentos sucessivos e contínuos do espírito em busca Logo, fulano é professor (geral – conclusão falsa)
da verdade:

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LÍNGUA PORTUGUESA
Indução nos arbitrário, em que os caracteres comuns e diferenciadores são
O Rio de Janeiro tem uma estátua do Cristo Redentor. (parti- empregados de modo mais ou menos convencional. A classificação,
cular) no reino animal, em ramos, classes, ordens, subordens, gêneros e
Taubaté (SP) tem uma estátua do Cristo Redentor. (particular) espécies, é um exemplo de classificação natural, pelas caracterís-
Rio de Janeiro e Taubaté são cidades. ticas comuns e diferenciadoras. A classificação dos variados itens
Logo, toda cidade tem uma estátua do Cristo Redentor. (geral integrantes de uma lista mais ou menos caótica é artificial.
– conclusão falsa)
Exemplo: aquecedor, automóvel, barbeador, batata, caminhão,
Nota-se que as premissas são verdadeiras, mas a conclusão canário, jipe, leite, ônibus, pão, pardal, pintassilgo, queijo, relógio,
pode ser falsa. Nem todas as pessoas que têm diploma são profes- sabiá, torradeira.
sores; nem todas as cidades têm uma estátua do Cristo Redentor. Aves: Canário, Pardal, Pintassilgo, Sabiá.
Comete-se erro quando se faz generalizações apressadas ou infun- Alimentos: Batata, Leite, Pão, Queijo.
dadas. A “simples inspeção” é a ausência de análise ou análise su- Mecanismos: Aquecedor, Barbeador, Relógio, Torradeira.
perficial dos fatos, que leva a pronunciamentos subjetivos, basea- Veículos: Automóvel, Caminhão, Jipe, Ônibus.
dos nos sentimentos não ditados pela razão.
Tem-se, ainda, outros métodos, subsidiários ou não fundamen- Os elementos desta lista foram classificados por ordem alfabé-
tais, que contribuem para a descoberta ou comprovação da verda- tica e pelas afinidades comuns entre eles. Estabelecer critérios de
de: análise, síntese, classificação e definição. Além desses, existem classificação das ideias e argumentos, pela ordem de importância, é
outros métodos particulares de algumas ciências, que adaptam os uma habilidade indispensável para elaborar o desenvolvimento de
processos de dedução e indução à natureza de uma realidade par- uma redação. Tanto faz que a ordem seja crescente, do fato mais
ticular. Pode-se afirmar que cada ciência tem seu método próprio importante para o menos importante, ou decrescente, primeiro
demonstrativo, comparativo, histórico etc. A análise, a síntese, a o menos importante e, no final, o impacto do mais importante; é
classificação a definição são chamadas métodos sistemáticos, por- indispensável que haja uma lógica na classificação. A elaboração
que pela organização e ordenação das ideias visam sistematizar a do plano compreende a classificação das partes e subdivisões, ou
pesquisa.
seja, os elementos do plano devem obedecer a uma hierarquização.
Análise e síntese são dois processos opostos, mas interligados;
(Garcia, 1973, p. 302304.)
a análise parte do todo para as partes, a síntese, das partes para o
Para a clareza da dissertação, é indispensável que, logo na in-
todo. A análise precede a síntese, porém, de certo modo, uma de-
trodução, os termos e conceitos sejam definidos, pois, para expres-
pende da outra. A análise decompõe o todo em partes, enquanto a
sar um questionamento, deve-se, de antemão, expor clara e racio-
síntese recompõe o todo pela reunião das partes. Sabe-se, porém,
nalmente as posições assumidas e os argumentos que as justificam.
que o todo não é uma simples justaposição das partes. Se alguém
É muito importante deixar claro o campo da discussão e a posição
reunisse todas as peças de um relógio, não significa que reconstruiu
adotada, isto é, esclarecer não só o assunto, mas também os pontos
o relógio, pois fez apenas um amontoado de partes. Só reconstruiria
todo se as partes estivessem organizadas, devidamente combina- de vista sobre ele.
das, seguida uma ordem de relações necessárias, funcionais, então, A definição tem por objetivo a exatidão no emprego da lingua-
o relógio estaria reconstruído. gem e consiste na enumeração das qualidades próprias de uma
Síntese, portanto, é o processo de reconstrução do todo por ideia, palavra ou objeto. Definir é classificar o elemento conforme a
meio da integração das partes, reunidas e relacionadas num con- espécie a que pertence, demonstra: a característica que o diferen-
junto. Toda síntese, por ser uma reconstrução, pressupõe a análise, cia dos outros elementos dessa mesma espécie.
que é a decomposição. A análise, no entanto, exige uma decompo- Entre os vários processos de exposição de ideias, a definição
sição organizada, é preciso saber como dividir o todo em partes. As é um dos mais importantes, sobretudo no âmbito das ciências. A
operações que se realizam na análise e na síntese podem ser assim definição científica ou didática é denotativa, ou seja, atribui às pa-
relacionadas: lavras seu sentido usual ou consensual, enquanto a conotativa ou
Análise: penetrar, decompor, separar, dividir. metafórica emprega palavras de sentido figurado. Segundo a lógica
Síntese: integrar, recompor, juntar, reunir. tradicional aristotélica, a definição consta de três elementos:
- o termo a ser definido;
A análise tem importância vital no processo de coleta de ideias - o gênero ou espécie;
a respeito do tema proposto, de seu desdobramento e da criação - a diferença específica.
de abordagens possíveis. A síntese também é importante na esco-
lha dos elementos que farão parte do texto. O que distingue o termo definido de outros elementos da mes-
Segundo Garcia (1973, p.300), a análise pode ser formal ou in- ma espécie. Exemplo:
formal. A análise formal pode ser científica ou experimental; é ca-
racterística das ciências matemáticas, físico-naturais e experimen- Na frase: O homem é um animal racional classifica-se:
tais. A análise informal é racional ou total, consiste em “discernir”
por vários atos distintos da atenção os elementos constitutivos de
um todo, os diferentes caracteres de um objeto ou fenômeno.
A análise decompõe o todo em partes, a classificação estabe- Elemento especie diferença
lece as necessárias relações de dependência e hierarquia entre as a ser definido específica
partes. Análise e classificação ligam-se intimamente, a ponto de se
confundir uma com a outra, contudo são procedimentos diversos: É muito comum formular definições de maneira defeituosa,
análise é decomposição e classificação é hierarquisação. por exemplo: Análise é quando a gente decompõe o todo em par-
Nas ciências naturais, classificam-se os seres, fatos e fenôme- tes. Esse tipo de definição é gramaticalmente incorreto; quando é
nos por suas diferenças e semelhanças; fora das ciências naturais, a advérbio de tempo, não representa o gênero, a espécie, a gente é
classificação pode-se efetuar por meio de um processo mais ou me- forma coloquial não adequada à redação acadêmica. Tão importan-

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LÍNGUA PORTUGUESA
te é saber formular uma definição, que se recorre a Garcia (1973, ou melhor; nos testemunhos são comuns as expressões: conforme,
p.306), para determinar os “requisitos da definição denotativa”. segundo, na opinião de, no parecer de, consoante as ideias de, no
Para ser exata, a definição deve apresentar os seguintes requisitos: entender de, no pensamento de. A explicitação se faz também pela
- o termo deve realmente pertencer ao gênero ou classe em interpretação, em que são comuns as seguintes expressões: parece,
que está incluído: “mesa é um móvel” (classe em que ‘mesa’ está assim, desse ponto de vista.
realmente incluída) e não “mesa é um instrumento ou ferramenta Enumeração: Faz-se pela apresentação de uma sequência de
ou instalação”; elementos que comprovam uma opinião, tais como a enumeração
- o gênero deve ser suficientemente amplo para incluir todos os de pormenores, de fatos, em uma sequência de tempo, em que são
exemplos específicos da coisa definida, e suficientemente restrito frequentes as expressões: primeiro, segundo, por último, antes, de-
para que a diferença possa ser percebida sem dificuldade; pois, ainda, em seguida, então, presentemente, antigamente, de-
- deve ser obrigatoriamente afirmativa: não há, em verdade, pois de, antes de, atualmente, hoje, no passado, sucessivamente,
definição, quando se diz que o “triângulo não é um prisma”; respectivamente. Na enumeração de fatos em uma sequência de
- deve ser recíproca: “O homem é um ser vivo” não constitui espaço, empregam-se as seguintes expressões: cá, lá, acolá, ali, aí,
definição exata, porque a recíproca, “Todo ser vivo é um homem” além, adiante, perto de, ao redor de, no Estado tal, na capital, no
não é verdadeira (o gato é ser vivo e não é homem); interior, nas grandes cidades, no sul, no leste...
- deve ser breve (contida num só período). Quando a definição, Comparação: Analogia e contraste são as duas maneiras de
ou o que se pretenda como tal, é muito longa (séries de períodos se estabelecer a comparação, com a finalidade de comprovar uma
ou de parágrafos), chama-se explicação, e também definição expan- ideia ou opinião. Na analogia, são comuns as expressões: da mesma
dida;d forma, tal como, tanto quanto, assim como, igualmente. Para esta-
- deve ter uma estrutura gramatical rígida: sujeito (o termo) + belecer contraste, empregam-se as expressões: mais que, menos
cópula (verbo de ligação ser) + predicativo (o gênero) + adjuntos (as que, melhor que, pior que.
diferenças). Entre outros tipos de argumentos empregados para aumentar
o poder de persuasão de um texto dissertativo encontram-se:
As definições dos dicionários de língua são feitas por meio de Argumento de autoridade: O saber notório de uma autoridade
paráfrases definitórias, ou seja, uma operação metalinguística que reconhecida em certa área do conhecimento dá apoio a uma afir-
consiste em estabelecer uma relação de equivalência entre a pala- mação. Dessa maneira, procura-se trazer para o enunciado a credi-
vra e seus significados. bilidade da autoridade citada. Lembre-se que as citações literais no
A força do texto dissertativo está em sua fundamentação. Sem- corpo de um texto constituem argumentos de autoridade. Ao fazer
pre é fundamental procurar um porquê, uma razão verdadeira e uma citação, o enunciador situa os enunciados nela contidos na li-
necessária. A verdade de um ponto de vista deve ser demonstrada nha de raciocínio que ele considera mais adequada para explicar ou
com argumentos válidos. O ponto de vista mais lógico e racional do justificar um fato ou fenômeno. Esse tipo de argumento tem mais
mundo não tem valor, se não estiver acompanhado de uma funda- caráter confirmatório que comprobatório.
mentação coerente e adequada. Apoio na consensualidade: Certas afirmações dispensam expli-
Os métodos fundamentais de raciocínio segundo a lógica clás- cação ou comprovação, pois seu conteúdo é aceito como válido por
sica, que foram abordados anteriormente, auxiliam o julgamento consenso, pelo menos em determinado espaço sociocultural. Nesse
da validade dos fatos. Às vezes, a argumentação é clara e pode reco- caso, incluem-se
nhecer-se facilmente seus elementos e suas relações; outras vezes, - A declaração que expressa uma verdade universal (o homem,
as premissas e as conclusões organizam-se de modo livre, mistu- mortal, aspira à imortalidade);
rando-se na estrutura do argumento. Por isso, é preciso aprender a - A declaração que é evidente por si mesma (caso dos postula-
reconhecer os elementos que constituem um argumento: premis- dos e axiomas);
sas/conclusões. Depois de reconhecer, verificar se tais elementos - Quando escapam ao domínio intelectual, ou seja, é de nature-
são verdadeiros ou falsos; em seguida, avaliar se o argumento está za subjetiva ou sentimental (o amor tem razões que a própria razão
expresso corretamente; se há coerência e adequação entre seus desconhece); implica apreciação de ordem estética (gosto não se
elementos, ou se há contradição. Para isso é que se aprende os pro- discute); diz respeito a fé religiosa, aos dogmas (creio, ainda que
cessos de raciocínio por dedução e por indução. Admitindo-se que parece absurdo).
raciocinar é relacionar, conclui-se que o argumento é um tipo espe-
cífico de relação entre as premissas e a conclusão. Comprovação pela experiência ou observação: A verdade de
Procedimentos Argumentativos: Constituem os procedimentos um fato ou afirmação pode ser comprovada por meio de dados con-
argumentativos mais empregados para comprovar uma afirmação: cretos, estatísticos ou documentais.
exemplificação, explicitação, enumeração, comparação. Comprovação pela fundamentação lógica: A comprovação se
Exemplificação: Procura justificar os pontos de vista por meio realiza por meio de argumentos racionais, baseados na lógica: cau-
de exemplos, hierarquizar afirmações. São expressões comuns nes- sa/efeito; consequência/causa; condição/ocorrência.
se tipo de procedimento: mais importante que, superior a, de maior Fatos não se discutem; discutem-se opiniões. As declarações,
relevância que. Empregam-se também dados estatísticos, acompa- julgamento, pronunciamentos, apreciações que expressam opi-
nhados de expressões: considerando os dados; conforme os dados niões pessoais (não subjetivas) devem ter sua validade comprova-
apresentados. Faz-se a exemplificação, ainda, pela apresentação de da, e só os fatos provam. Em resumo toda afirmação ou juízo que
causas e consequências, usando-se comumente as expressões: por- expresse uma opinião pessoal só terá validade se fundamentada na
que, porquanto, pois que, uma vez que, visto que, por causa de, em evidência dos fatos, ou seja, se acompanhada de provas, validade
virtude de, em vista de, por motivo de. dos argumentos, porém, pode ser contestada por meio da contra-
Explicitação: O objetivo desse recurso argumentativo é expli- -argumentação ou refutação. São vários os processos de contra-ar-
car ou esclarecer os pontos de vista apresentados. Pode-se alcançar gumentação:
esse objetivo pela definição, pelo testemunho e pela interpreta- Refutação pelo absurdo: refuta-se uma afirmação demonstran-
ção. Na explicitação por definição, empregamse expressões como: do o absurdo da consequência. Exemplo clássico é a contraargu-
quer dizer, denomina-se, chama-se, na verdade, isto é, haja vista, mentação do cordeiro, na conhecida fábula “O lobo e o cordeiro”;

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LÍNGUA PORTUGUESA
Refutação por exclusão: consiste em propor várias hipóteses - analisar as condições atuais de vida nos grandes centros ur-
para eliminá-las, apresentando-se, então, aquela que se julga ver- banos;
dadeira; - como se poderia usar a ciência e a tecnologia para humanizar
Desqualificação do argumento: atribui-se o argumento à opi- mais a sociedade.
nião pessoal subjetiva do enunciador, restringindo-se a universali-
dade da afirmação; Conclusão
Ataque ao argumento pelo testemunho de autoridade: consis- - a tecnologia pode libertar ou escravizar: benefícios/conse-
te em refutar um argumento empregando os testemunhos de auto- quências maléficas;
ridade que contrariam a afirmação apresentada; - síntese interpretativa dos argumentos e contra-argumentos
Desqualificar dados concretos apresentados: consiste em de- apresentados.
sautorizar dados reais, demonstrando que o enunciador baseou-se
em dados corretos, mas tirou conclusões falsas ou inconsequentes. Naturalmente esse não é o único, nem o melhor plano de reda-
Por exemplo, se na argumentação afirmou-se, por meio de dados ção: é um dos possíveis.
estatísticos, que “o controle demográfico produz o desenvolvimen-
to”, afirma-se que a conclusão é inconsequente, pois baseia-se em Coesão e coerência fazem parte importante da elaboração de
uma relação de causa-feito difícil de ser comprovada. Para con- um texto com clareza. Ela diz respeito à maneira como as ideias são
traargumentar, propõese uma relação inversa: “o desenvolvimento organizadas a fim de que o objetivo final seja alcançado: a com-
é que gera o controle demográfico”. preensão textual. Na redação espera-se do autor capacidade de
Apresentam-se aqui sugestões, um dos roteiros possíveis para mobilizar conhecimentos e opiniões, argumentar de modo coeren-
desenvolver um tema, que podem ser analisadas e adaptadas ao te, além de expressar-se com clareza, de forma correta e adequada.
desenvolvimento de outros temas. Elege-se um tema, e, em segui-
da, sugerem-se os procedimentos que devem ser adotados para a Coerência
elaboração de um Plano de Redação. É uma rede de sintonia entre as partes e o todo de um texto.
Conjunto de unidades sistematizadas numa adequada relação se-
Tema: O homem e a máquina: necessidade e riscos da evolução mântica, que se manifesta na compatibilidade entre as ideias. (Na
tecnológica linguagem popular: “dizer coisa com coisa” ou “uma coisa bate com
- Questionar o tema, transformá-lo em interrogação, responder outra”).
a interrogação (assumir um ponto de vista); dar o porquê da respos- Coerência é a unidade de sentido resultante da relação que se
ta, justificar, criando um argumento básico; estabelece entre as partes do texto. Uma ideia ajuda a compreen-
- Imaginar um ponto de vista oposto ao argumento básico e der a outra, produzindo um sentido global, à luz do qual cada uma
construir uma contra-argumentação; pensar a forma de refutação das partes ganha sentido. Coerência é a ligação em conjunto dos
que poderia ser feita ao argumento básico e tentar desqualificá-la elementos formativos de um texto.
(rever tipos de argumentação); A coerência não é apenas uma marca textual, mas diz respeito
- Refletir sobre o contexto, ou seja, fazer uma coleta de ideias aos conceitos e às relações semânticas que permitem a união dos
que estejam direta ou indiretamente ligadas ao tema (as ideias po- elementos textuais.
dem ser listadas livremente ou organizadas como causa e conse- A coerência de um texto é facilmente deduzida por um falante
quência); de uma língua, quando não encontra sentido lógico entre as propo-
- Analisar as ideias anotadas, sua relação com o tema e com o sições de um enunciado oral ou escrito. É a competência linguística,
argumento básico; tomada em sentido lato, que permite a esse falante reconhecer de
- Fazer uma seleção das ideias pertinentes, escolhendo as que imediato a coerência de um discurso.
poderão ser aproveitadas no texto; essas ideias transformam-se em
argumentos auxiliares, que explicam e corroboram a ideia do argu- A coerência:
mento básico; - assenta-se no plano cognitivo, da inteligibilidade do texto;
- Fazer um esboço do Plano de Redação, organizando uma se- - situa-se na subjacência do texto; estabelece conexão concei-
quência na apresentação das ideias selecionadas, obedecendo às tual;
partes principais da estrutura do texto, que poderia ser mais ou - relaciona-se com a macroestrutura; trabalha com o todo, com
menos a seguinte: o aspecto global do texto;
- estabelece relações de conteúdo entre palavras e frases.
Introdução
- função social da ciência e da tecnologia; Coesão
- definições de ciência e tecnologia; É um conjunto de elementos posicionados ao longo do texto,
- indivíduo e sociedade perante o avanço tecnológico. numa linha de sequência e com os quais se estabelece um vínculo
ou conexão sequencial. Se o vínculo coesivo se faz via gramática,
Desenvolvimento fala-se em coesão gramatical. Se se faz por meio do vocabulário,
- apresentação de aspectos positivos e negativos do desenvol- tem-se a coesão lexical.
vimento tecnológico; A coesão textual é a ligação, a relação, a conexão entre pala-
- como o desenvolvimento científico-tecnológico modificou as vras, expressões ou frases do texto. Ela manifesta-se por elementos
condições de vida no mundo atual; gramaticais, que servem para estabelecer vínculos entre os compo-
- a tecnocracia: oposição entre uma sociedade tecnologica- nentes do texto.
mente desenvolvida e a dependência tecnológica dos países sub- Existem, em Língua Portuguesa, dois tipos de coesão: a lexical,
desenvolvidos; que é obtida pelas relações de sinônimos, hiperônimos, nomes ge-
- enumerar e discutir os fatores de desenvolvimento social; néricos e formas elididas, e a gramatical, que é conseguida a partir
- comparar a vida de hoje com os diversos tipos de vida do pas- do emprego adequado de artigo, pronome, adjetivo, determinados
sado; apontar semelhanças e diferenças; advérbios e expressões adverbiais, conjunções e numerais.

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LÍNGUA PORTUGUESA
A coesão: movimento entusiasta que está empolgando centenas de moças,
- assenta-se no plano gramatical e no nível frasal; atraindo-as para se transformarem em jogadoras de futebol, sem
- situa-se na superfície do texto, estabele conexão sequencial; se levar em conta que a mulher não poderá praticar este esporte
- relaciona-se com a microestrutura, trabalha com as partes violento sem afetar, seriamente, o equilíbrio fisiológico de suas fun-
componentes do texto; ções orgânicas, devido à natureza que dispôs a ser mãe.
- Estabelece relações entre os vocábulos no interior das frases.
A Linguagem Popular ou Coloquial
É aquela usada espontânea e fluentemente pelo povo. Mostra-
se quase sempre rebelde à norma gramatical e é carregada de
CONHECIMENTO DA NORMA CULTA NA MODALIDADE vícios de linguagem (solecismo – erros de regência e concordância;
ESCRITA DO IDIOMA barbarismo – erros de pronúncia, grafia e flexão; ambiguidade;
cacofonia; pleonasmo), expressões vulgares, gírias e preferência
A Linguagem Culta ou Padrão pela coordenação, que ressalta o caráter oral e popular da língua.
É aquela ensinada nas escolas e serve de veículo às ciências A linguagem popular está presente nas conversas familiares ou
em que se apresenta com terminologia especial. É usada pelas entre amigos, anedotas, irradiação de esportes, programas de TV e
pessoas instruídas das diferentes classes sociais e caracteriza-se auditório, novelas, na expressão dos esta dos emocionais etc.
pela obediência às normas gramaticais. Mais comumente usada
na linguagem escrita e literária, reflete prestígio social e cultural. É Dúvidas mais comuns da norma culta
mais artificial, mais estável, menos sujeita a variações. Está presente
nas aulas, conferências, sermões, discursos políticos, comunicações Perca ou perda
científicas, noticiários de TV, programas culturais etc. Isto é uma perda de tempo ou uma perca de tempo? Tomara
Ouvindo e lendo é que você aprenderá a falar e a escrever bem. que ele não perca o ônibus ou não perda o ônibus? Quais são as fra-
Procure ler muito, ler bons autores, para redigir bem. ses corretas com perda e perca? Certo: Isto é uma perda de tempo.
A aprendizagem da língua inicia-se em casa, no contexto fa-
miliar, que é o primeiro círculo social para uma criança. A criança Embaixo ou em baixo
imita o que ouve e aprende, aos poucos, o vocabulário e as leis O gato está embaixo da mesa ou em baixo da mesa? Continu-
combinatórias da língua. Um falante ao entrar em contato com ou- arei falando em baixo tom de voz ou embaixo tom de voz? Quais
tras pessoas em diferentes ambientes sociais como a rua, a escola são as frases corretas com embaixo e em baixo? Certo: O gato está
e etc., começa a perceber que nem todos falam da mesma forma. embaixo da cama
Há pessoas que falam de forma diferente por pertencerem a outras
cidades ou regiões do país, ou por fazerem parte de outro grupo Ver ou vir
ou classe social. Essas diferenças no uso da língua constituem as A dúvida no uso de ver e vir ocorre nas seguintes construções:
variedades linguísticas. Se eu ver ou se eu vir? Quando eu ver ou quando eu vir? Qual das
Certas palavras e construções que empregamos acabam de- frases com ver ou vir está correta? Se eu vir você lá fora, você vai
nunciando quem somos socialmente, ou seja, em que região do ficar de castigo!
país nascemos, qual nosso nível social e escolar, nossa formação e,
às vezes, até nossos valores, círculo de amizades e hobbies. O uso Onde ou aonde
da língua também pode informar nossa timidez, sobre nossa capa- Os advérbios onde e aonde indicam lugar: Onde você está?
cidade de nos adaptarmos às situações novas e nossa insegurança. Aonde você vai? Qual é a diferença entre onde e aonde? Onde indi-
A norma culta é a variedade linguística ensinada nas escolas, ca permanência. É sinônimo de em que lugar. Onde, Em que lugar
contida na maior parte dos livros, registros escritos, nas mídias te- Fica?
levisivas, entre outros. Como variantes da norma padrão aparecem:
a linguagem regional, a gíria, a linguagem específica de grupos ou Como escrever o dinheiro por extenso?
profissões. O ensino da língua culta na escola não tem a finalidade Os valores monetários, regra geral, devem ser escritos com al-
de condenar ou eliminar a língua que falamos em nossa família ou garismos: R$ 1,00 ou R$ 1 R$ 15,00 ou R$ 15 R$ 100,00 ou R$ 100
em nossa comunidade. O domínio da língua culta, somado ao do- R$ 1400,00 ou R$ 1400.
mínio de outras variedades linguísticas, torna-nos mais preparados
para nos comunicarmos nos diferentes contextos lingísticos, já que Obrigado ou obrigada
a linguagem utilizada em reuniões de trabalho não deve ser a mes- Segundo a gramática tradicional e a norma culta, o homem ao
ma utilizada em uma reunião de amigos no final de semana. agradecer deve dizer obrigado. A mulher ao agradecer deve dizer
Portanto, saber usar bem uma língua equivale a saber empre- obrigada.
gá-la de modo adequado às mais diferentes situações sociais de que
participamos. Mal ou mau
A norma culta é responsável por representar as práticas lin- Como essas duas palavras são, maioritariamente, pronunciadas
guísticas embasadas nos modelos de uso encontrados em textos da mesma forma, são facilmente confundidas pelos falantes. Qual a
formais. É o modelo que deve ser utilizado na escrita, sobretudo diferença entre mal e mau? Mal é um advérbio, antônimo de bem.
nos textos não literários, pois segue rigidamente as regras gramati- Mau é o adjetivo contrário de bom.
cais. A norma culta conta com maior prestígio social e normalmente
é associada ao nível cultural do falante: quanto maior a escolariza- “Vir”, “Ver” e “Vier”
ção, maior a adequação com a língua padrão. A conjugação desses verbos pode causar confusão em algumas
Exemplo: situações, como por exemplo no futuro do subjuntivo. O correto é,
Venho solicitar a atenção de Vossa Excelência para que seja por exemplo, “quando você o vir”, e não “quando você o ver”.
conjurada uma calamidade que está prestes a desabar em cima Já no caso do verbo “ir”, a conjugação correta deste tempo ver-
da juventude feminina do Brasil. Refiro-me, senhor presidente, ao bal é “quando eu vier”, e não “quando eu vir”.

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LÍNGUA PORTUGUESA
“Ao invés de” ou “em vez de”
Como era Como fica
“Ao invés de” significa “ao contrário” e deve ser usado apenas
para expressar oposição. baiúca baiuca
Por exemplo: Ao invés de virar à direita, virei à esquerda. bocaiúva bocaiuva
Já “em vez de” tem um significado mais abrangente e é usado
principalmente como a expressão “no lugar de”. Mas ele também Atenção: se a palavra for oxítona e o i ou o u estiverem em
pode ser usado para exprimir oposição. Por isso, os linguistas reco- posição final (ou seguidos de s), o acento permanece. Exemplos:
mendam usar “em vez de” caso esteja na dúvida. tuiuiú, tuiuiús, Piauí.
Por exemplo: Em vez de ir de ônibus para a escola, fui de bici- – Não se usa mais o acento das palavras terminadas em êem
cleta. e ôo(s).
“Para mim” ou “para eu”
Os dois podem estar certos, mas, se você vai continuar a frase Como era Como fica
com um verbo, deve usar “para eu”. abençôo abençoo
Por exemplo: Mariana trouxe bolo para mim; Caio pediu para
eu curtir as fotos dele. crêem creem

“Tem” ou “têm” – Não se usa mais o acento que diferenciava os pares pára/
Tanto “tem” como “têm” fazem parte da conjugação do verbo para, péla(s)/ pela(s), pêlo(s)/pelo(s), pólo(s)/polo(s) e pêra/pera.
“ter” no presente. Mas o primeiro é usado no singular, e o segundo
no plural. Atenção:
Por exemplo: Você tem medo de mudança; Eles têm medo de • Permanece o acento diferencial em pôde/pode.
mudança. • Permanece o acento diferencial em pôr/por.
• Permanecem os acentos que diferenciam o singular do plural
“Há muitos anos”, “muitos anos atrás” ou “há muitos anos dos verbos ter e vir, assim como de seus derivados (manter, deter,
atrás” reter, conter, convir, intervir, advir etc.).
Usar “Há” e “atrás” na mesma frase é uma redundância, já que • É facultativo o uso do acento circunflexo para diferenciar as
ambas indicam passado. O correto é usar um ou outro. palavras forma/fôrma.
Por exemplo: A erosão da encosta começou há muito tempo; O
romance começou muito tempo atrás. Uso de hífen
Sim, isso quer dizer que a música Eu nasci há dez mil anos atrás, Regra básica:
de Raul Seixas, está incorreta. Sempre se usa o hífen diante de h: anti-higiênico, super-ho-
mem.

Outros casos
APLICAÇÃO DA ORTOGRAFIA OFICIAL 1. Prefixo terminado em vogal:
– Sem hífen diante de vogal diferente: autoescola, antiaéreo.
ORTOGRAFIA OFICIAL – Sem hífen diante de consoante diferente de r e s: anteprojeto,
• Mudanças no alfabeto: O alfabeto tem 26 letras. Foram rein- semicírculo.
troduzidas as letras k, w e y. – Sem hífen diante de r e s. Dobram-se essas letras: antirracis-
O alfabeto completo é o seguinte: A B C D E F G H I J K L M N O mo, antissocial, ultrassom.
PQRSTUVWXYZ – Com hífen diante de mesma vogal: contra-ataque, micro-on-
• Trema: Não se usa mais o trema (¨), sinal colocado sobre a das.
letra u para indicar que ela deve ser pronunciada nos grupos gue,
gui, que, qui. 2. Prefixo terminado em consoante:
– Com hífen diante de mesma consoante: inter-regional, sub-
Regras de acentuação -bibliotecário.
– Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das – Sem hífen diante de consoante diferente: intermunicipal, su-
palavras paroxítonas (palavras que têm acento tônico na penúltima persônico.
sílaba) – Sem hífen diante de vogal: interestadual, superinteressante.

Observações:
Como era Como fica • Com o prefixo sub, usa-se o hífen também diante de palavra
alcatéia alcateia iniciada por r: sub-região, sub-raça. Palavras iniciadas por h perdem
essa letra e juntam-se sem hífen: subumano, subumanidade.
apóia apoia • Com os prefixos circum e pan, usa-se o hífen diante de pala-
apóio apoio vra iniciada por m, n e vogal: circum-navegação, pan-americano.
• O prefixo co aglutina-se, em geral, com o segundo elemento,
Atenção: essa regra só vale para as paroxítonas. As oxítonas mesmo quando este se inicia por o: coobrigação, coordenar, coope-
continuam com acento: Ex.: papéis, herói, heróis, troféu, troféus. rar, cooperação, cooptar, coocupante.
• Com o prefixo vice, usa-se sempre o hífen: vice-rei, vice-al-
– Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no i e no mirante.
u tônicos quando vierem depois de um ditongo.

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LÍNGUA PORTUGUESA
• Não se deve usar o hífen em certas palavras que perderam A partir da definição citada por Bechara podemos perceber a
a noção de composição, como girassol, madressilva, mandachuva, importância dos sinais de pontuação, que é constituída por alguns
pontapé, paraquedas, paraquedista. sinais gráficos assim distribuídos: os separadores (vírgula [ , ], pon-
• Com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró, to e vírgula [ ; ], ponto final [ . ], ponto de exclamação [ ! ], reti-
usa-se sempre o hífen: ex-aluno, sem-terra, além-mar, aquém-mar, cências [ ... ]), e os de comunicação ou “mensagem” (dois pontos
recém-casado, pós-graduação, pré-vestibular, pró-europeu. [ : ], aspas simples [‘ ’], aspas duplas [ “ ” ], travessão simples [ – ],
travessão duplo [ — ], parênteses [ ( ) ], colchetes ou parênteses
Viu? Tudo muito tranquilo. Certeza que você já está dominando retos [ [ ] ], chave aberta [ { ], e chave fechada [ } ]).
muita coisa. Mas não podemos parar, não é mesmo?!?! Por isso
vamos passar para mais um ponto importante. Ponto ( . )
O ponto simples final, que é dos sinais o que denota maior pau-
sa, serve para encerrar períodos que terminem por qualquer tipo
de oração que não seja a interrogativa direta, a exclamativa e as
ACENTUAÇÃO GRÁFICA reticências.
Estaremos presentes na festa.
Acentuação é o modo de proferir um som ou grupo de sons
com mais relevo do que outros. Os sinais diacríticos servem para Ponto de interrogação ( ? )
indicar, dentre outros aspectos, a pronúncia correta das palavras. Põe-se no fim da oração enunciada com entonação interrogati-
Vejamos um por um: va ou de incerteza, real ou fingida, também chamada retórica.
Você vai à festa?
Acento agudo: marca a posição da sílaba tônica e o timbre
aberto. Ponto de exclamação ( ! )
Já cursei a Faculdade de História. Põe-se no fim da oração enunciada com entonação exclama-
Acento circunflexo: marca a posição da sílaba tônica e o timbre tiva.
fechado. Ex: Que bela festa!
Meu avô e meus três tios ainda são vivos.
Acento grave: marca o fenômeno da crase (estudaremos este Reticências ( ... )
caso afundo mais à frente). Denotam interrupção ou incompletude do pensamento (ou
Sou leal à mulher da minha vida. porque se quer deixar em suspenso, ou porque os fatos se dão com
breve espaço de tempo intervalar, ou porque o nosso interlocutor
As palavras podem ser: nos toma a palavra), ou hesitação em enunciá-lo.
– Oxítonas: quando a sílaba tônica é a última (ca-fé, ma-ra-cu- Ex: Essa festa... não sei não, viu.
-já, ra-paz, u-ru-bu...)
– Paroxítonas: quando a sílaba tônica é a penúltima (me-sa, Dois-pontos ( : )
sa-bo-ne-te, ré-gua...) Marcam uma supressão de voz em frase ainda não concluída.
– Proparoxítonas: quando a sílaba tônica é a antepenúltima Em termos práticos, este sinal é usado para: Introduzir uma citação
(sá-ba-do, tô-ni-ca, his-tó-ri-co…) (discurso direto) e introduzir um aposto explicativo, enumerativo,
distributivo ou uma oração subordinada substantiva apositiva.
As regras de acentuação das palavras são simples. Vejamos: Ex: Uma bela festa: cheia de alegria e comida boa.
• São acentuadas todas as palavras proparoxítonas (médico,
íamos, Ângela, sânscrito, fôssemos...) Ponto e vírgula ( ; )
• São acentuadas as palavras paroxítonas terminadas em L, N, Representa uma pausa mais forte que a vírgula e menos que o
R, X, I(S), US, UM, UNS, OS, ÃO(S), Ã(S), EI(S) (amável, elétron, éter, ponto, e é empregado num trecho longo, onde já existam vírgulas,
fênix, júri, oásis, ônus, fórum, órfão...) para enunciar pausa mais forte, separar vários itens de uma enume-
• São acentuadas as palavras oxítonas terminadas em A(S), ração (frequente em leis), etc.
E(S), O(S), EM, ENS, ÉU(S), ÉI(S), ÓI(S) (xarás, convéns, robô, Jô, céu, Ex: Vi na festa os deputados, senadores e governador; vi tam-
dói, coronéis...) bém uma linda decoração e bebidas caras.

• São acentuados os hiatos I e U, quando precedidos de vogais Travessão ( — )


(aí, faísca, baú, juízo, Luísa...) Não confundir o travessão com o traço de união ou hífen e com
o traço de divisão empregado na partição de sílabas (ab-so-lu-ta-
Viu que não é nenhum bicho de sete cabeças? Agora é só trei- -men-te) e de palavras no fim de linha. O travessão pode substituir
nar e fixar as regras. vírgulas, parênteses, colchetes, para assinalar uma expressão inter-
calada e pode indicar a mudança de interlocutor, na transcrição de
um diálogo, com ou sem aspas.
Ex: Estamos — eu e meu esposo — repletos de gratidão.
PONTUAÇÃO
Parênteses e colchetes ( ) – [ ]
Pontuação Os parênteses assinalam um isolamento sintático e semântico
Com Nina Catach, entendemos por pontuação um “sistema mais completo dentro do enunciado, além de estabelecer maior in-
de reforço da escrita, constituído de sinais sintáticos, destinados a timidade entre o autor e o seu leitor. Em geral, a inserção do parên-
organizar as relações e a proporção das partes do discurso e das tese é assinalada por uma entonação especial. Intimamente ligados
pausas orais e escritas. Estes sinais também participam de todas as aos parênteses pela sua função discursiva, os colchetes são utiliza-
funções da sintaxe, gramaticais, entonacionais e semânticas”. (BE- dos quando já se acham empregados os parênteses, para introduzi-
CHARA, 2009, p. 514) rem uma nova inserção.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Ex: Vamos estar presentes na festa (aquela organizada pelo go- • Marca a elipse de um verbo (às vezes, de seus complemen-
vernador) tos).
O decreto regulamenta os casos gerais; a portaria, os particula-
Aspas ( “ ” ) res. (= ... a portaria regulamenta os casos particulares)
As aspas são empregadas para dar a certa expressão sentido
particular (na linguagem falada é em geral proferida com entoação • Separa orações coordenadas assindéticas.
especial) para ressaltar uma expressão dentro do contexto ou para Levantava-me de manhã, entrava no chuveiro, organizava as
apontar uma palavra como estrangeirismo ou gíria. É utilizada, ain- ideias na cabeça...
da, para marcar o discurso direto e a citação breve.
Ex: O “coffe break” da festa estava ótimo. • Isola o nome do lugar nas datas.
Rio de Janeiro, 21 de julho de 2006.
Vírgula
São várias as regras que norteiam o uso das vírgulas. Eviden- • Isolar conectivos, tais como: portanto, contudo, assim, dessa
ciaremos, aqui, os principais usos desse sinal de pontuação. Antes forma, entretanto, entre outras. E para isolar, também, expressões
disso, vamos desmistificar três coisas que ouvimos em relação à conectivas, como: em primeiro lugar, como supracitado, essas infor-
vírgula: mações comprovam, etc.
1º – A vírgula não é usada por inferência. Ou seja: não “senti- Fica claro, portanto, que ações devem ser tomadas para ame-
mos” o momento certo de fazer uso dela. nizar o problema.
2º – A vírgula não é usada quando paramos para respirar. Em
alguns contextos, quando, na leitura de um texto, há uma vírgula, o
leitor pode, sim, fazer uma pausa, mas isso não é uma regra. Afinal,
cada um tem seu tempo de respiração, não é mesmo?!?! CLASSES GRAMATICAIS
3º – A vírgula tem sim grande importância na produção de tex-
tos escritos. Não caia na conversa de algumas pessoas de que ela é CLASSES DE PALAVRAS
menos importante e que pode ser colocada depois.
Agora, precisamos saber que a língua portuguesa tem uma or- Substantivo
dem comum de construção de suas frases, que é Sujeito > Verbo > São as palavras que atribuem nomes aos seres reais ou imagi-
Objeto > Adjunto, ou seja, (SVOAdj). nários (pessoas, animais, objetos), lugares, qualidades, ações e sen-
Maria foi à padaria ontem. timentos, ou seja, que tem existência concreta ou abstrata. 
Sujeito Verbo Objeto Adjunto
Classificação dos substantivos
Perceba que, na frase acima, não há o uso de vírgula. Isso ocor-
re por alguns motivos:
1) NÃO se separa com vírgula o sujeito de seu predicado. SUBSTANTIVO SIMPLES: Olhos/água/
2) NÃO se separa com vírgula o verbo e seus complementos. apresentam um só radical em muro/quintal/caderno/
3) Não é aconselhável usar vírgula entre o complemento do sua estrutura. macaco/João/sabão
verbo e o adjunto. SUBSTANTIVOS COMPOSTOS: Macacos-prego/
são formados por mais de um porta-voz/
Podemos estabelecer, então, que se a frase estiver na ordem radical em sua estrutura. pé-de-moleque
comum (SVOAdj), não usaremos vírgula. Caso contrário, a vírgula
SUBSTANTIVOS PRIMITIVOS: Casa/
é necessária:
são os que dão origem a mundo/
Ontem, Maria foi à padaria.
outras palavras, ou seja, ela é população
Maria, ontem, foi à padaria.
a primeira. /formiga
À padaria, Maria foi ontem.
SUBSTANTIVOS DERIVADOS: Caseiro/mundano/
Além disso, há outros casos em que o uso de vírgulas é neces- são formados por outros populacional/formigueiro
sário: radicais da língua.
• Separa termos de mesma função sintática, numa enumera- SUBSTANTIVOS PRÓPRIOS: Rodrigo
ção. designa determinado ser /Brasil
Simplicidade, clareza, objetividade, concisão são qualidades a entre outros da mesma /Belo Horizonte/Estátua da
serem observadas na redação oficial. espécie. São sempre iniciados Liberdade
• Separa aposto. por letra maiúscula.
Aristóteles, o grande filósofo, foi o criador da Lógica.
• Separa vocativo. SUBSTANTIVOS COMUNS: biscoitos/ruídos/estrelas/
Brasileiros, é chegada a hora de votar. referem-se qualquer ser de cachorro/prima
• Separa termos repetidos. uma mesma espécie.
Aquele aluno era esforçado, esforçado. SUBSTANTIVOS CONCRETOS: Leão/corrente
nomeiam seres com existência /estrelas/fadas
• Separa certas expressões explicativas, retificativas, exempli- própria. Esses seres podem /lobisomem
ficativas, como: isto é, ou seja, ademais, a saber, melhor dizendo, ser animadoso ou inanimados, /saci-pererê
ou melhor, quer dizer, por exemplo, além disso, aliás, antes, com reais ou imaginários.
efeito, digo.
O político, a meu ver, deve sempre usar uma linguagem clara,
ou seja, de fácil compreensão.

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LÍNGUA PORTUGUESA
SUBSTANTIVOS ABSTRATOS: Mistério/
nomeiam ações, estados, bondade/
qualidades e sentimentos que confiança/
não tem existência própria, ou lembrança/
seja, só existem em função de amor/
um ser. alegria
SUBSTANTIVOS COLETIVOS: Elenco (de atores)/
referem-se a um conjunto acervo (de obras artísticas)/
de seres da mesma espécie, buquê (de flores)
mesmo quando empregado
no singular e constituem um
substantivo comum.
NÃO DEIXE DE PESQUISAR A REGÊNCIA DE OUTRAS PALAVRAS
QUE NÃO ESTÃO AQUI!

Flexão dos Substantivos


• Gênero: Os gêneros em português podem ser dois: masculino e feminino. E no caso dos substantivos podem ser biformes ou uni-
formes
– Biformes: as palavras tem duas formas, ou seja, apresenta uma forma para o masculino e uma para o feminino: tigre/tigresa, o pre-
sidente/a presidenta, o maestro/a maestrina
– Uniformes: as palavras tem uma só forma, ou seja, uma única forma para o masculino e o feminino. Os uniformes dividem-se em
epicenos, sobrecomuns e comuns de dois gêneros.
a) Epicenos: designam alguns animais e plantas e são invariáveis: onça macho/onça fêmea, pulga macho/pulga fêmea, palmeira ma-
cho/palmeira fêmea.
b) Sobrecomuns: referem-se a seres humanos; é pelo contexto que aparecem que se determina o gênero: a criança (o criança), a tes-
temunha (o testemunha), o individuo (a individua).
c) Comuns de dois gêneros: a palavra tem a mesma forma tanto para o masculino quanto para o feminino: o/a turista, o/a agente, o/a
estudante, o/a colega.
• Número: Podem flexionar em singular (1) e plural (mais de 1).
– Singular: anzol, tórax, próton, casa.
– Plural: anzóis, os tórax, prótons, casas.

• Grau: Podem apresentar-se no grau aumentativo e no grau diminutivo.


– Grau aumentativo sintético: casarão, bocarra.
– Grau aumentativo analítico: casa grande, boca enorme.
– Grau diminutivo sintético: casinha, boquinha
– Grau diminutivo analítico: casa pequena, boca minúscula. 

Adjetivo
É a palavra invariável que especifica e caracteriza o substantivo: imprensa livre, favela ocupada. Locução adjetiva é expressão compos-
ta por substantivo (ou advérbio) ligado a outro substantivo por preposição com o mesmo valor e a mesma função que um adjetivo: golpe
de mestre (golpe magistral), jornal da tarde (jornal vespertino).

Flexão do Adjetivos
• Gênero:
– Uniformes: apresentam uma só para o masculino e o feminino: homem feliz, mulher feliz.
– Biformes: apresentam uma forma para o masculino e outra para o feminino: juiz sábio/ juíza sábia, bairro japonês/ indústria japo-
nesa, aluno chorão/ aluna chorona. 

• Número:
– Os adjetivos simples seguem as mesmas regras de flexão de número que os substantivos: sábio/ sábios, namorador/ namoradores,
japonês/ japoneses.
– Os adjetivos compostos têm algumas peculiaridades: luvas branco-gelo, garrafas amarelo-claras, cintos da cor de chumbo.

• Grau:
– Grau Comparativo de Superioridade: Meu time é mais vitorioso (do) que o seu.
– Grau Comparativo de Inferioridade: Meu time é menos vitorioso (do) que o seu.
– Grau Comparativo de Igualdade: Meu time é tão vitorioso quanto o seu.
– Grau Superlativo Absoluto Sintético: Meu time é famosíssimo.
– Grau Superlativo Absoluto Analítico: Meu time é muito famoso.
– Grau Superlativo Relativo de Superioridade: Meu time é o mais famoso de todos.
– Grau Superlativo Relativo de Inferioridade; Meu time é menos famoso de todos.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Artigo
É uma palavra variável em gênero e número que antecede o substantivo, determinando de modo particular ou genérico.
• Classificação e Flexão do Artigos
– Artigos Definidos: o, a, os, as.
O menino carregava o brinquedo em suas costas.
As meninas brincavam com as bonecas.
– Artigos Indefinidos: um, uma, uns, umas.
Um menino carregava um brinquedo.
Umas meninas brincavam com umas bonecas.

Numeral
É a palavra que indica uma quantidade definida de pessoas ou coisas, ou o lugar (posição) que elas ocupam numa série.
• Classificação dos Numerais
– Cardinais: indicam número ou quantidade:
Trezentos e vinte moradores.
– Ordinais: indicam ordem ou posição numa sequência:
Quinto ano. Primeiro lugar.
– Multiplicativos: indicam o número de vezes pelo qual uma quantidade é multiplicada:
O quíntuplo do preço.
– Fracionários: indicam a parte de um todo:
Dois terços dos alunos foram embora.

Pronome
É a palavra que substitui os substantivos ou os determinam, indicando a pessoa do discurso.
• Pronomes pessoais vão designar diretamente as pessoas em uma conversa. Eles indicam as três pessoas do discurso.

Pronomes Retos Pronomes Oblíquos


Pessoas do Discurso
Função Subjetiva Função Objetiva
1º pessoa do singular Eu Me, mim, comigo
2º pessoa do singular Tu Te, ti, contigo
3º pessoa do singular Ele, ela,  Se, si, consigo, lhe, o, a
1º pessoa do plural Nós Nos, conosco
2º pessoa do plural Vós Vos, convosco
3º pessoa do plural Eles, elas Se, si, consigo, lhes, os, as

• Pronomes de Tratamento são usados no trato com as pessoas, normalmente, em situações formais de comunicação.

Pronomes de Tratamento Emprego


Você Utilizado em situações informais.
Senhor (es) e Senhora (s) Tratamento para pessoas mais velhas.
Vossa Excelência Usados para pessoas com alta autoridade
Vossa Magnificência Usados para os reitores das Universidades.
Vossa Senhoria Empregado nas correspondências e textos escritos.
Vossa Majestade Utilizado para Reis e Rainhas
Vossa Alteza Utilizado para príncipes, princesas, duques.
Vossa Santidade Utilizado para o Papa
Vossa Eminência Usado para Cardeais.
Vossa Reverendíssima Utilizado para sacerdotes e religiosos em geral.

• Pronomes Possessivos referem-se às pessoas do discurso, atribuindo-lhes a posse de alguma coisa.

Pessoa do Discurso Pronome Possessivo


1º pessoa do singular Meu, minha, meus, minhas
2º pessoa do singular teu, tua, teus, tuas

19
LÍNGUA PORTUGUESA
3º pessoa do singular seu, sua, seus, suas – Modo: É a maneira, a forma como o verbo se apresenta na
frase para indicar uma atitude da pessoa que o usou. O modo é
1º pessoa do plural Nosso, nossa, nossos, nossas dividido em três: indicativo (certeza, fato), subjuntivo (incerteza,
2º pessoa do plural Vosso, vossa, vossos, vossas subjetividade) e imperativo (ordem, pedido).
– Tempo: O tempo indica o momento em que se dá o fato ex-
3º pessoa do plural Seu, sua, seus, suas presso pelo verbo. Existem três tempos no modo indicativo: pre-
sente, passado (pretérito perfeito, imperfeito e mais-que-perfeito)
• Pronomes Demonstrativos são utilizados para indicar a posi- e futuro (do presente e do pretérito). No subjuntivo, são três: pre-
ção de algum elemento em relação à pessoa seja no discurso, no sente, pretérito imperfeito e futuro.
tempo ou no espaço. – Número: Este é fácil: singular e plural.
– Pessoa: Fácil também: 1ª pessoa (eu amei, nós amamos); 2º pes-
Pronomes soa (tu amaste, vós amastes); 3ª pessoa (ele amou, eles amaram).
Singular Plural
Demonstrativos
• Formas nominais do verbo
Feminino esta, essa, aquela estas, essas, aquelas
Os verbos têm três formas nominais, ou seja, formas que exer-
Masculino este, esse, aquele estes, esses, aqueles cem a função de nomes (normalmente, substantivos). São elas infi-
nitivo (terminado em -R), gerúndio (terminado em –NDO) e particí-
• Pronomes Indefinidos referem-se à 3º pessoa do discurso, pio (terminado em –DA/DO).
designando-a de modo vago, impreciso, indeterminado. Os prono-
mes indefinidos podem ser variáveis (varia em gênero e número) e • Voz verbal
invariáveis (não variam em gênero e número). É a forma como o verbo se encontra para indicar sua relação
com o sujeito. Ela pode ser ativa, passiva ou reflexiva.
– Voz ativa: Segundo a gramática tradicional, ocorre voz ativa
Classificação Pronomes Indefinidos
quando o verbo (ou locução verbal) indica uma ação praticada pelo
algum, alguma, alguns, algumas, nenhum, sujeito. Veja:
nenhuma, nenhuns, nenhumas, muito, mui- João pulou da cama atrasado
ta, muitos, muitas, pouco, pouca, poucos, – Voz passiva: O sujeito é paciente e, assim, não pratica, mas
poucas, todo, toda, todos, todas, outro, ou- recebe a ação. A voz passiva pode ser analítica ou sintética. A voz
Variáveis tra, outros, outras, certo, certa, certos, cer- passiva analítica é formada por:
tas, vário, vária, vários, várias, tanto, tanta, Sujeito paciente + verbo auxiliar (ser, estar, ficar, entre outros)
tantos, tantas, quanto, quanta, quantos, +  verbo principal da ação conjugado no particípio  + preposição
quantas, qualquer, quaisquer, qual, quais, por/pelo/de + agente da passiva.
um, uma, uns, umas. A casa foi aspirada pelos rapazes
quem, alguém, ninguém, tudo, nada, ou-
Invariáveis A voz passiva sintética, também chamada de voz passiva prono-
trem, algo, cada.
minal (devido ao uso do pronome se) é formada por:
• Pronomes Interrogativos são palavras variáveis e invariáveis Verbo conjugado na 3.ª pessoa (no singular ou no plu-
utilizadas para formular perguntas diretas e indiretas. ral) + pronome apassivador «se» + sujeito paciente.
Aluga-se apartamento.

Classificação Pronomes Interrogativos Advérbio


qual, quais, quanto, quantos, É a palavra invariável que modifica o verbo, adjetivo, outro ad-
Variáveis vérbio ou a oração inteira, expressando uma determinada circuns-
quanta, quantas.
tância. As circunstâncias dos advérbios podem ser:
Invariáveis quem, que. – Tempo: ainda, cedo, hoje, agora, antes, depois, logo, já, ama-
nhã, tarde, sempre, nunca, quando, jamais, ontem, anteontem,
• Pronomes Relativos referem-se a um termo já dito anterior- brevemente, atualmente, à noite, no meio da noite, antes do meio-
mente na oração, evitando sua repetição. Eles também podem ser -dia, à tarde, de manhã, às vezes, de repente, hoje em dia, de vez
variáveis e invariáveis. em quando, em nenhum momento, etc.
– Lugar: Aí, aqui, acima, abaixo, ali, cá, lá, acolá, além, aquém,
Classificação Pronomes Relativos perto, longe, dentro, fora, adiante, defronte, detrás, de cima, em
cima, à direita, à esquerda, de fora, de dentro, por fora, etc.
o qual, a qual, os quais, as quais, cujo, cuja,
– Modo: assim, melhor, pior, bem, mal, devagar, depressa, rapi-
Variáveis cujos, cujas, quanto, quanta, quantos, quan-
damente, lentamente, apressadamente, felizmente, às pressas, às
tas.
ocultas, frente a frente, com calma, em silêncio, etc.
Invariáveis quem, que, onde. – Afirmação: sim, deveras, decerto, certamente, seguramente,
efetivamente, realmente, sem dúvida, com certeza, por certo, etc. 
Verbos – Negação: não, absolutamente, tampouco, nem, de modo al-
São as palavras que exprimem ação, estado, fenômenos mete- gum, de jeito nenhum, de forma alguma, etc.
orológicos, sempre em relação ao um determinado tempo. – Intensidade: muito, pouco, mais, menos, meio, bastante, as-
saz, demais, bem, mal, tanto, tão, quase, apenas, quanto, de pouco,
• Flexão verbal de todo, etc.
Os verbos podem ser flexionados de algumas formas. – Dúvida: talvez, acaso, possivelmente, eventualmente, por-
ventura, etc.

20
LÍNGUA PORTUGUESA
Preposição Que (precedido de tão, tal, tanto), de
É a palavra que liga dois termos, de modo que o segundo com- Consecutivas
modo que, De maneira que, etc.
plete o sentido do primeiro. As preposições são as seguintes:
Integrantes Que, se.

Interjeição
É a palavra invariável que exprime ações, sensações, emoções,
apelos, sentimentos e estados de espírito, traduzindo as reações
das pessoas.
• Principais Interjeições
Oh! Caramba! Viva! Oba! Alô! Psiu! Droga! Tomara! Hum!

Dez classes de palavras foram estudadas agora. O estudo delas


é muito importante, pois se você tem bem construído o que é e a
função de cada classe de palavras, não terá dificuldades para enten-
der o estudo da Sintaxe.

Conjunção
CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL
É palavra que liga dois elementos da mesma natureza ou uma
oração a outra. As conjunções podem ser coordenativas (que ligam
orações sintaticamente independentes) ou subordinativas (que li- Concordância Nominal
gam orações com uma relação hierárquica, na qual um elemento é Os adjetivos, os pronomes adjetivos, os numerais e os artigos
determinante e o outro é determinado). concordam em gênero e número com os substantivos aos quais se
referem.
• Conjunções Coordenativas Os nossos primeiros contatos começaram de maneira amisto-
sa.
Tipos Conjunções Coordenativas
Casos Especiais de Concordância Nominal
Aditivas e, mas ainda, mas também, nem... • Menos e alerta são invariáveis na função de advérbio:
contudo, entretanto, mas, não obstante, no en- Colocou menos roupas na mala./ Os seguranças continuam
Adversativas alerta.
tanto, porém, todavia...
já…, já…, ou, ou…, ou…, ora…, ora…, quer…, • Pseudo e todo são invariáveis quando empregados na forma-
Alternativas
quer… ção de palavras compostas:
assim, então, logo, pois (depois do verbo), por Cuidado com os pseudoamigos./ Ele é o chefe todo-poderoso.
Conclusivas
conseguinte, por isso, portanto...
• Mesmo, próprio, anexo, incluso, quite e obrigado variam de
pois (antes do verbo), porquanto, porque, acordo com o substantivo a que se referem:
Explicativas
que... Elas mesmas cozinhavam./ Guardou as cópias anexas.
• Conjunções Subordinativas • Muito, pouco, bastante, meio, caro e barato variam quando
pronomes indefinidos adjetivos e numerais e são invariáveis quan-
Tipos Conjunções Subordinativas do advérbios:
Muitas vezes comemos muito./ Chegou meio atrasada./
Causais Porque, pois, porquanto, como, etc.
Usou meia dúzia de ovos.
Embora, conquanto, ainda que, mes-
Concessivas
mo que, posto que, etc. • Só varia quando adjetivo e não varia quando advérbio:
Se, caso, quando, conquanto que, Os dois andavam sós./ A respostas só eles sabem.
Condicionais
salvo se, sem que, etc.
• É bom, é necessário, é preciso, é proibido variam quando o
Conforme, como (no sentido de con- substantivo estiver determinado por artigo:
Conformativas
forme), segundo, consoante, etc. É permitida a coleta de dados./ É permitido coleta de dados.
Para que, a fim de que, porque (no
Finais Concordância Verbal
sentido de que), que, etc.
O verbo concorda com seu sujeito em número e pessoa:
À medida que, ao passo que, à O público aplaudiu o ator de pé./ A sala e quarto eram enor-
Proporcionais
proporção que, etc. mes.
Quando, antes que, depois que, até
Temporais
que, logo que, etc. Concordância ideológica ou silepse
• Silepse de gênero trata-se da concordância feita com o gêne-
Que, do que (usado depois de mais,
Comparativas ro gramatical (masculino ou feminino) que está subentendido no
menos, maior, menor, melhor, etc.
contexto.
Vossa Excelência parece satisfeito com as pesquisas.

21
LÍNGUA PORTUGUESA
Blumenau estava repleta de turistas. É obrigatória somente com verbos no futuro do presente ou no
• Silepse de número trata-se da concordância feita com o nú- futuro do pretérito que iniciam a oração.
mero gramatical (singular ou plural) que está subentendido no con- Dir-lhe-ei toda a verdade.
texto. Far-me-ias um favor?
O elenco voltou ao palco e [os atores] agradeceram os aplau-
sos. Se o verbo no futuro vier precedido de pronome reto ou de
• Silepse de pessoa trata-se da concordância feita com a pes- qualquer outro fator de atração, ocorrerá a próclise.
soa gramatical que está subentendida no contexto. Eu lhe direi toda a verdade.
O povo temos memória curta em relação às promessas dos po- Tu me farias um favor?
líticos.
Colocação do pronome átono nas locuções verbais
Verbo principal no infinitivo ou gerúndio: Se a locução verbal
não vier precedida de um fator de próclise, o pronome átono deve-
PRONOMES: EMPREGO E COLOCAÇÃO rá ficar depois do auxiliar ou depois do verbo principal.
Exemplos:
A colocação do pronome átono está relacionada à harmonia da Devo-lhe dizer a verdade.
frase. A tendência do português falado no Brasil é o uso do prono- Devo dizer-lhe a verdade.
me antes do verbo – próclise. No entanto, há casos em que a norma
culta prescreve o emprego do pronome no meio – mesóclise – ou Havendo fator de próclise, o pronome átono deverá ficar antes
após o verbo – ênclise. do auxiliar ou depois do principal.
De acordo com a norma culta, no português escrito não se ini- Exemplos:
cia um período com pronome oblíquo átono. Assim, se na lingua- Não lhe devo dizer a verdade.
gem falada diz-se “Me encontrei com ele”, já na linguagem escrita, Não devo dizer-lhe a verdade.
formal, usa-se “Encontrei-me’’ com ele.
Sendo a próclise a tendência, é aconselhável que se fixem bem Verbo principal no particípio: Se não houver fator de próclise,
as poucas regras de mesóclise e ênclise. Assim, sempre que estas o pronome átono ficará depois do auxiliar.
não forem obrigatórias, deve-se usar a próclise, a menos que preju- Exemplo: Havia-lhe dito a verdade.
dique a eufonia da frase.
Se houver fator de próclise, o pronome átono ficará antes do
Próclise auxiliar.
Na próclise, o pronome é colocado antes do verbo. Exemplo: Não lhe havia dito a verdade.

Palavra de sentido negativo: Não me falou a verdade. Haver de e ter de + infinitivo: Pronome átono deve ficar depois
Advérbios sem pausa em relação ao verbo: Aqui te espero pa- do infinitivo.
cientemente. Exemplos:
Havendo pausa indicada por vírgula, recomenda-se a ênclise: Hei de dizer-lhe a verdade.
Ontem, encontrei-o no ponto do ônibus. Tenho de dizer-lhe a verdade.
Pronomes indefinidos: Ninguém o chamou aqui.
Pronomes demonstrativos: Aquilo lhe desagrada. Observação
Orações interrogativas: Quem lhe disse tal coisa? Não se deve omitir o hífen nas seguintes construções:
Orações optativas (que exprimem desejo), com sujeito ante- Devo-lhe dizer tudo.
posto ao verbo: Deus lhe pague, Senhor! Estava-lhe dizendo tudo.
Orações exclamativas: Quanta honra nos dá sua visita! Havia-lhe dito tudo.
Orações substantivas, adjetivas e adverbiais, desde que não se-
jam reduzidas: Percebia que o observavam.
Verbo no gerúndio, regido de preposição em: Em se plantando,
tudo dá. REGÊNCIA NOMINAL E VERBAL
Verbo no infinitivo pessoal precedido de preposição: Seus in-
tentos são para nos prejudicarem. • Regência Nominal 
A regência nominal estuda os casos em que nomes (substan-
Ênclise tivos, adjetivos e advérbios) exigem outra palavra para completar-
Na ênclise, o pronome é colocado depois do verbo. -lhes o sentido. Em geral a relação entre um nome e o seu comple-
mento é estabelecida por uma preposição.
Verbo no início da oração, desde que não esteja no futuro do
indicativo: Trago-te flores. • Regência Verbal
Verbo no imperativo afirmativo: Amigos, digam-me a verdade! A regência verbal estuda a relação que se estabelece entre o
Verbo no gerúndio, desde que não esteja precedido pela pre- verbo (termo regente) e seu complemento (termo regido). 
posição em: Saí, deixando-a aflita. Isto pertence a todos.
Verbo no infinitivo impessoal regido da preposição a. Com
outras preposições é facultativo o emprego de ênclise ou próclise:
Apressei-me a convidá-los.

Mesóclise
Na mesóclise, o pronome é colocado no meio do verbo.

22
LÍNGUA PORTUGUESA
Regência de algumas palavras Os empecilhos vão desde o acesso físico à escola, como o en-
frentado por cadeirantes, a problemas de aprendizado criados por
Esta palavra combina com Esta preposição limitações sensoriais – surdez, por exemplo – e intelectuais.
Bastaram alguns anos de convívio em sala, entretanto, para
Acessível a minorar preconceitos. A maioria dos entrevistados (59%), hoje, dis-
Apto a, para corda de que crianças com deficiência devam aprender só na com-
panhia de colegas na mesma condição.
Atencioso com, para com Tal receptividade decerto não elimina o imperativo de contar
Coerente com com pessoal capacitado, em cada estabelecimento, para lidar com
necessidades específicas de cada aluno. O censo escolar indica 1,2
Conforme a, com
milhão de alunos assim categorizados. Embora tenha triplicado o
Dúvida acerca de, de, em, sobre número de professores com alguma formação em educação espe-
Empenho de, em, por cial inclusiva, contam-se não muito mais que 100 mil deles no país.
Não se concebe que possa haver um especialista em cada sala de
Fácil a, de, para, aula.
Junto a, de As experiências mais bem-sucedidas criaram na escola uma es-
trutura para o atendimento inclusivo, as salas de recursos. Aí, ao
Pendente de menos um profissional preparado se encarrega de receber o aluno
Preferível a e sua família para definir atividades e de auxiliar os docentes do
período regular nas técnicas pedagógicas.
Próximo a, de
Não faltam casos exemplares na rede oficial de ensino. Compe-
Respeito a, com, de, para com, por te ao Estado disseminar essas iniciativas exitosas por seus estabele-
Situado a, em, entre cimentos. Assim se combate a tendência ainda existente a segregar
em salas especiais os estudantes com deficiência – que não se con-
Ajudar (a fazer algo) a funde com incapacidade, como felizmente já vamos aprendendo.
Aludir (referir-se) a (Editorial. Folha de S.Paulo, 16.10.2019. Adaptado)
Aspirar (desejar, pretender) a Assinale a alternativa em que, com a mudança da posição do
Assistir (dar assistência) Não usa preposição pronome em relação ao verbo, conforme indicado nos parênteses,
Deparar (encontrar) com a redação permanece em conformidade com a norma-padrão de
colocação dos pronomes.
Implicar (consequência) Não usa preposição (A) ... há melhora nas escolas quando se incluem alunos com
Lembrar Não usa preposição deficiência. (incluem-se)
(B) ... em educação especial inclusiva, contam-se não muito
Pagar (pagar a alguém) a mais que 100 mil deles no país. (se contam)
Precisar (necessitar) de (C) Não se concebe que possa haver um especialista em cada
sala de aula. (concebe-se)
Proceder (realizar) a
(D) Aí, ao menos um profissional preparado  se encarrega de
Responder a receber o aluno... (encarrega-se)
Visar ( ter como objetivo a (E) ... que não se confunde com incapacidade, como felizmente
pretender) já vamos aprendendo. (confunde-se)

NÃO DEIXE DE PESQUISAR A REGÊNCIA DE OUTRAS PALAVRAS 2. (PREFEITURA DE CARANAÍBA - MG - AGENTE COMUNITÁ-
QUE NÃO ESTÃO AQUI! RIO DE SAÚDE - FCM - 2019)

Dieta salvadora
EXERCÍCIOS A ciência descobre um micróbio adepto de um
alimento abundante: o lixo plástico no mar.
1. (PREFEITURA DE PIRACICABA - SP - PROFESSOR - EDUCA- O ser humano revelou-se capaz de dividir o átomo, derrotar o
ÇÃO INFANTIL - VUNESP - 2020) câncer e produzir um “Dom Quixote”. Só não consegue dar um des-
tino razoável ao lixo que produz. E não se contenta em brindar os
Escola inclusiva
mares, rios e lagoas com seus próprios dejetos. Intoxica-os também
com garrafas plásticas, pneus, computadores, sofás e até carcaças
É alvissareira a constatação de que 86% dos brasileiros
concordam que há melhora nas escolas quando se incluem alunos de automóveis. Tudo que perde o uso é atirado num curso d’água,
com deficiência. subterrâneo ou a céu aberto, que se encaminha inevitavelmente
Uma década atrás, quando o país aderiu à Convenção sobre para o mar. O resultado está nas ilhas de lixo que se formam, da
os Direitos das Pessoas com Deficiência e assumiu o dever de uma Guanabara ao Pacífico.
educação inclusiva, era comum ouvir previsões negativas para tal De repente, uma boa notícia. Cientistas da Grécia, Suíça, Itália,
perspectiva generosa. Apesar das dificuldades óbvias, ela se tornou China e dos Emirados Árabes descobriram em duas ilhas gregas um
lei em 2015 e criou raízes no tecido social. micróbio marinho que se alimenta do carbono contido no plástico
A rede pública carece de profissionais satisfatoriamente qualifi- jogado ao mar. Parece que, depois de algum tempo ao sol e atacado
cados até para o mais básico, como o ensino de ciências; o que dizer pelo sal, o plástico, seja mole, como o das sacolas, ou duro, como o
então de alunos com gama tão variada de dificuldades. das embalagens, fica quebradiço – no ponto para que os micróbios,

23
LÍNGUA PORTUGUESA
de guardanapo ao pescoço, o decomponham e façam a festa. Os O problema, no entanto, é substancialmente econômico. O
cientistas estão agora criando réplicas desses micróbios, para que dilema ambiental só se revela como tal quando o meio ambiente
eles ajudem os micróbios nativos a devorar o lixo. Haja estômago. passa a ser limite para o avanço da atividade econômica. É nesse
Em “A Guerra das Salamandras”, romance de 1936 do tcheco sentido que a chamada internalização da externalidade negativa
Karel Čapek (pronuncia-se tchá-pek), um explorador descobre na exige justificativa para uma atuação contra-fática.
costa de Sumatra uma raça de lagartos gigantes, hábeis em colher Uma nuvem de problematização supostamente filosófica tam-
pérolas e construir diques submarinos. Em troca das pérolas que as bém rondaria a discussão. Antropocêntricos acreditam que a prote-
salamandras lhe entregam, ele lhes fornece facas para se defende- ção ambiental seria narcisística, centrada e referenciada no próprio
rem dos tubarões. O resto, você adivinhou: as salamandras se re- homem. Os geocêntricos piamente entendem que a natureza deva
produzem, tornam-se milhões, ocupam os litorais, aprendem a falar ser protegida por próprios e intrínsecos fundamentos e característi-
e inundam os continentes. São agora bilhões e tomam o mundo. cas. Posições se radicalizam.
Não quero dizer que os micróbios comedores de lixo podem A linha de argumento do ambientalista ingênuo lembra-nos o “salto do
se tornar as salamandras de Čapek. É que, no livro, as salamandras tigre” enunciado pelo filósofo da cultura Walter Benjamin, em uma de
aprendem a gerir o mundo melhor do que nós. Com os micróbios suas teses sobre a filosofia da história. Qual um tigre mergulhamos no
no comando, nossos mares, pelo menos, estarão a salvo. passado, e apenas apreendemos o que interessa para nossa argumen-
Ruy Castro, jornalista, biógrafo e escritor brasileiro. Folha de S. Paulo. tação. É o que se faz, a todo tempo.
Caderno Opinião, p. A2, 20 mai. 2019. (Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy. Disponível em: https://www.
conjur.com.br/2011. Acesso em: 10.08.2019. Adaptado)
Os pronomes pessoais oblíquos átonos, em relação ao verbo,
possuem três posições: próclise (antes do verbo), mesóclise (no (*) Referência ao personagem Bambi, filhote de cervo conhe-
meio do verbo) e ênclise (depois do verbo). cido como “Príncipe da Floresta”, em sua saga pela sobrevivência
Avalie as afirmações sobre o emprego dos pronomes oblíquos na natureza. 
nos trechos a seguir.
I – A próclise se justifica pela presença da palavra negativa: “E Assinale a alternativa que reescreve os trechos destacados em-
não se contenta em brindar os mares, rios e lagoas com seus pró- pregando pronomes, de acordo com a norma-padrão de regência e
prios dejetos.” colocação.
II – A ênclise ocorre por se tratar de oração iniciada por verbo: Uma nuvem de problematização supostamente filosófica tam-
“Intoxica-os também com garrafas plásticas, pneus, computadores, bém rondaria a discussão. / Alguma ingenuidade conceitual pode-
sofás e até carcaças de automóveis.” ria marcar o ambientalismo apologético.
III – A próclise é sempre empregada quando há locução verbal: (A) ... lhe rondaria ... o poderia marcar
“Não quero dizer que os micróbios comedores de lixo podem se (B) ... rondá-la-ia ... poderia marcar ele
tornar as salamandras de Čapek.” (C) ... rondaria-a ... podê-lo-ia marcar
IV – O sujeito expresso exige o emprego da ênclise: “O ser hu- (D) ... rondaria-lhe ... poderia o marcar
mano revelou-se capaz de dividir o átomo, derrotar o câncer e pro- (E) ... a rondaria ... poderia marcá-lo
duzir um ‘Dom Quixote’”.
4. (PREFEITURA DE CABO DE SANTO AGOSTINHO - PE - TÉC-
Está correto apenas o que se afirma em NICO EM SANEAMENTO - IBFC - 2019)
(A) I e II.
(B) I e III. Vou-me embora pra Pasárgada,
(C) II e IV. lá sou amigo do Rei”.
(D) III e IV. (M.Bandeira)

3. (PREFEITURA DE BIRIGUI - SP - EDUCADOR DE CRECHE - Quanto à regra de colocação pronominal utilizada, assinale a
VUNESP - 2019) alternativa correta.
Certo discurso ambientalista tradicional recorrentemente bus- (A) Ênclise: em orações iniciadas com verbos no presente ou
ca indícios de que o problema ambiental seja universal (e de fato pretérito afirmativo, o pronome oblíquo deve ser usado pos-
é), atemporal (nem tanto) e generalizado (o que é desejável). Algu- posto ao verbo.
ma ingenuidade conceitual poderia marcar o ambientalismo apo- (B) Próclise: em orações iniciadas com verbos no presente ou
logético; haveria dilemas ambientais em todos os lugares, tempos, pretérito afirmativo, o pronome oblíquo deve ser usado pos-
culturas. É a bambificação(*) da natureza. Necessária, no entanto, posto ao verbo.
como condição de sobrevivência. Há quem tenha encontrado nor- (C) Mesóclise: em orações iniciadas com verbos no presente ou
mas ambientais na Bíblia, no Direito grego, e até no Direito romano. pretérito afirmativo, o pronome oblíquo deve ser usado pos-
São Francisco de Assis, nessa linha, prosaica, seria o santo padroeiro posto ao verbo.
das causas ambientais; falava com plantas e animais. (E) Próclise: em orações iniciadas com verbos no imperativo
A proteção do meio ambiente seria, nesse contexto, instintiva, afirmativo, o pronome oblíquo deve ser usado posposto ao
predeterminando objeto e objetivo. Por outro lado, e este é o meu verbo.
argumento, quando muito, e agora utilizo uma categoria freudiana,
a pretensão de proteção ambiental seria pulsional, dado que resiste
a uma pressão contínua, variável na intensidade. Assim, numa di-
mensão qualitativa, e não quantitativa, é que se deveria enfrentar
a questão, que também é cultural. E que culturalmente pode ser
abordada.

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LÍNGUA PORTUGUESA
5. (PREFEITURA DE PERUÍBE - SP - INSPETOR DE ALUNOS - (C) impô-las ... lhes garantam
VUNESP - 2019) (D) impô-las ... as garantam
(E) impor-lhes ... lhes garantam
Pelo fim das fronteiras
7. (PREFEITURA DE BLUMENAU - SC - PROFESSOR - GEO-
Imigração é um fenômeno estranho. Do ponto de vista pura- GRAFIA – MATUTINO - FURB – 2019)
mente racional, ela é a solução para vários problemas globais. Mas,
como o mundo é um lugar menos racional do que deveria, pessoas O tradicional desfile do aniversário de Blumenau, que completa
que buscam refúgio em outros países costumam ser recebidas com 169 anos de fundação nesta segunda-feira, teve outra data especial
desconfiança quando não com violência, o que diminui o valor da para comemorar: os 200 anos de nascimento do Doutor Hermann
imigração como remédio multiuso. Blumenau. __________ 15 mil pessoas que estiveram na Rua XV de
No plano econômico, a plena mobilidade da mão de obra se- Novembro nesta manhã acompanhando o desfile, de acordo com
ria muito bem-vinda. Segundo algumas estimativas, ela faria o PIB estimativa da Fundação Cultural, conheceram um pouco mais da
mundial aumentar em até 50%. Mesmo que esses cálculos estejam vida do fundador do município. [...] O desfile também apresentou
inflados, só uma fração de 10% já significaria um incremento da or- aspectos da colonização alemã no Vale do Itajaí. Dessa forma, as
dem de US$ 10 trilhões (uns cinco Brasis). bandeiras e moradores das 42 cidades do território original de Blu-
Uma das principais razões para o mundo ser mais pobre do menau, que foi fundado por Hermann, também estiveram repre-
que poderia é que enormes contingentes de humanos vivem sob sentadas na Rua XV de Novembro. [...]
sistemas que os impedem de ser produtivos. Um estudo de 2016 Disponível em: <https://www.nsctotal.com.br/noticias/desfile-em-blu-
de Clemens, Montenegro e Pritchett estimou que só tirar um tra- menau-comemora-o-aniversario-da-cidade-e-os-200-anos-do-funda-
balhador macho sem qualificação de seu país pobre de origem e dor>.Acesso em: 02 set. 2019.[adaptado]
transportá-lo para os EUA elevaria sua renda anual em US$ 14 mil.
A imigração se torna ainda mais tentadora quando se considera No mesmo excerto “Dessa forma, as bandeiras e moradores
que é a resposta perfeita para países desenvolvidos que enfrentam das 42 cidades do território original de Blumenau, que foi fundado
o problema do envelhecimento populacional. por Hermann, também estiveram representadas na Rua XV de No-
Não obstante tantas virtudes, imigrantes podem ser maltrata- vembro.”, a palavra destacada pertence à classe gramatical:
dos e até perseguidos quando cruzam a fronteira, especialmente (A) conjunção
se vêm em grandes números. Isso está acontecendo até no Brasil, (B) pronome
que não tinha histórico de xenofobia. Desconfio de que estão em (C) preposição
operação aqui vieses da Idade da Pedra, tempo em que membros (D) advérbio
de outras tribos eram muito mais uma ameaça do que uma solução. (E) substantivo
De todo modo, caberia às autoridades incentivar a imigração,
tomando cuidado para evitar que a chegada dos estrangeiros dê 8. (PREFEITURA DE BLUMENAU - SC - PROFESSOR - PORTU-
pretexto para cenas de barbárie. Isso exigiria recebê-los com inte- GUÊS – MATUTINO - FURB – 2019)
ligência, minimizando choques culturais e distribuindo as famílias
por regiões e cidades em que podem ser mais úteis. É tudo o que Determinado, batalhador, estudioso, dedicado e inquieto. Mui-
não estamos fazendo. tos são os adjetivos que encontramos nos livros de história para
(Hélio Schwartsman. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ definir Hermann Blumenau. Desde os primeiros anos da colônia, es-
colunas/.28.08.2018. Adaptado) teve determinado a construir uma casa melhor para viver com sua
Considere as frases: família, talvez em um terreno que lhe pertencia no morro do aipim.
• países desenvolvidos que enfrentam o problema do envelhe- Infelizmente, nunca concretizou este sonho, porém, nunca deixou
cimento populacional. (4º parágrafo) de zelar por tudo aquilo que lhe dizia respeito.[...]
• ... minimizando choques culturais e distribuindo as famí- Disponível em: <https://www.blumenau.sc.gov.br/secretarias/funda-
lias por regiões e cidades em que podem ser mais úteis. (6º pará- cao-cultural/fcblu/memaoria-digital-ao-comemoraacaao-200-anos-dr-
grafo) -blumenau85>. Acesso em: 05 set. 2019. [adaptado]

A substituição das expressões em destaque por pronomes está Sobre a colocação dos pronomes átonos nos excertos: “...talvez
de acordo com a norma-padrão de emprego e colocação em: em um terreno que lhe pertencia no morro do aipim.” e “...zelar por
(A) enfrentam-no; distribuindo-lhes. tudo aquilo que lhe  dizia respeito.”, podemos afirmar que ambas
(B) o enfrentam; lhes distribuindo. as próclises estão corretas, pois o verbo está precedido de palavras
(C) o enfrentam; distribuindo-as. que atraem o pronome para antes do verbo. Assinale a alternativa
(D) enfrentam-no; lhes distribuindo. que identifica essas palavras atrativas dos excertos:
(E) lhe enfrentam; distribuindo-as. (A) palavras de sentido negativo
(B) advérbios
6. (PREFEITURA DE PERUÍBE - SP – SECRETÁRIO DE ESCOLA (C) conjunções subordinativas
- VUNESP - 2019) (D) pronomes demonstrativos
Considere a frase a seguir. Como as crianças são naturalmen- (E) pronomes relativos
te agitadas, cabe aos adultos impor às crianças limites que ga-
rantam às crianças um desenvolvimento saudável. Para eliminar 9. (VUNESP – TJ/SP – ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – 2011)
as repetições da frase, as expressões destacadas devem ser Assinale a alternativa em que a concordância verbal está correta.
substituídas, em conformidade com a norma-padrão da língua, (A) Haviam cooperativas de catadores na cidade de São Paulo.
respectivamente, por (B) O lixo de casas e condomínios vão para aterros.
(A) impor-nas ... lhes garantam (C) O tratamento e a destinação corretos do lixo evitaria que
(B) impor-lhes ... as garantam 35% deles fosse despejado em aterros.

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LÍNGUA PORTUGUESA
(D) Fazem dois anos que a prefeitura adia a questão do lixo. 13. (CESGRANRIO – BNDES – ADVOGADO – 2004) No título do
(E) Somos nós quem paga a conta pelo descaso com a coleta artigo “A tal da demanda social”, a classe de palavra de “tal” é:
de lixo. (A) pronome;
(B) adjetivo;
10. (ESAF – CGU – ANALISTA DE FINANÇAS E CONTROLE – 2012) (C) advérbio;
Assinale a opção que fornece a correta justificativa para as relações (D) substantivo;
de concordância no texto abaixo. (E) preposição.
O bom desempenho do lado real da economia proporcionou
um período de vigoroso crescimento da arrecadação. A maior lucra- 14. Assinale a alternativa que apresenta a correta classificação
tividade das empresas foi decisiva para os resultados fiscais favo- morfológica do pronome “alguém” (l. 44).
ráveis. Elevaram-se, de forma significativa e em valores reais, de- (A) Pronome demonstrativo.
flacionados pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), as (B) Pronome relativo.
receitas do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), a Contribuição (C) Pronome possessivo.
Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), e a Contribuição para o Finan- (D) Pronome pessoal.
ciamento da Seguridade Social (Cofins). O crescimento da massa de (E) Pronome indefinido.
salários fez aumentar a arrecadação do Imposto de Renda Pessoa
Física (IRPF) e a receita de tributação sobre a folha da previdência 15. Em relação à classe e ao emprego de palavras no texto, na
social. Não menos relevantes foram os elevados ganhos de capital, oração “A abordagem social constitui-se em um processo de traba-
responsáveis pelo aumento da arrecadação do IRPF. lho planejado de aproximação” (linhas 1 e 2), os vocábulos subli-
(A) O uso do plural em “valores” é responsável pela flexão de nhados classificam-se, respectivamente, em
plural em “deflacionados”. (A) preposição, pronome, artigo, adjetivo e substantivo.
(B) O plural em “resultados” é responsável pela flexão de (B) pronome, preposição, artigo, substantivo e adjetivo.
plural em “Elevaram-se”. (C) conjunção, preposição, numeral, substantivo e pronome.
(C) Emprega-se o singular em “proporcionou” para respeitar (D) pronome, conjunção, artigo, adjetivo e adjetivo.
as regras de concordância com “economia”. (E) conjunção, conjunção, numeral, substantivo e advérbio.
(D) O singular em “a arrecadação” é responsável pela flexão
de singular em “fez aumentar”. 16. (CESGRANRIO – FINEP – TÉCNICO – 2011) A vírgula pode
(E) A flexão de plural em “foram” justifica-se pela concordân- ser retirada sem prejuízo para o significado e mantendo a norma
cia com “relevantes”. padrão na seguinte sentença:
(A) Mário, vem falar comigo depois do expediente.
11. (FCC – TRE/MG – TÉCNICO JUDICIÁRIO – 2005) As liberda- (B) Amanhã, apresentaremos a proposta de trabalho.
des ...... se refere o autor dizem respeito a direitos ...... se ocupa a (C) Telefonei para o Tavares, meu antigo chefe.
nossa Constituição. Preenchem de modo correto as lacunas da frase (D) Encomendei canetas, blocos e crachás para a reunião.
acima, na ordem dada, as expressões: (E) Entrou na sala, cumprimentou a todos e iniciou o discurso.
(A) a que – de que;
(B) de que – com que; 17. (CESGRANRIO – PETROBRAS – TÉCNICO DE ENFERMAGEM
(C) a cujas – de cujos; DO TRABALHO – 2011) Há ERRO quanto ao emprego dos sinais de
(D) à que – em que; pontuação em:
(E) em que – aos quais. (A) Ao dizer tais palavras, levantou-se, despediu-se dos convi-
dados e retirou-se da sala: era o final da reunião.
12. (ESAF – CGU – ANALISTA DE FINANÇAS E CONTROLE – 2008) (B) Quem disse que, hoje, enquanto eu dormia, ela saiu sorra-
Assinale o trecho que apresenta erro de regência. teiramente pela porta?
(A) Depois de um longo período em que apresentou taxas de (C) Na infância, era levada e teimosa; na juventude, tornou-se
crescimento econômico que não iam além dos 3%, o Brasil tímida e arredia; na velhice, estava sempre alheia a tudo.
fecha o ano de 2007 com uma expansão de 5,3%, certamente (D) Perdida no tempo, vinham-lhe à lembrança a imagem
a maior taxa registrada na última década. muito branca da mãe, as brincadeiras no quintal, à tarde, com
(B) Os dados ainda não são definitivos, mas tudo sugere os irmãos e o mundo mágico dos brinquedos.
que serão confirmados. A entidade responsável pelo estudo (E) Estava sempre dizendo coisas de que mais tarde se arre-
foi a conhecida Comissão Econômica para a América Latina penderia. Prometia a si própria que da próxima vez, tomaria
(CEPAL). cuidado com as palavras, o que entretanto, não acontecia.
(C) Não há dúvida de que os números são bons, num momen-
to em que atingimos um bom superávit em conta-corrente, 18. (FCC – INFRAERO – ADMINISTRADOR – 2011) Está inteira-
em que se revela queda no desemprego e até se anuncia a mente correta a pontuação do seguinte período:
ampliação de nossas reservas monetárias, além da descoberta (A) Os personagens principais de uma história, responsáveis
de novas fontes de petróleo. pelo sentido maior dela, dependem, muitas vezes, de peque-
(D) Mesmo assim, olhando-se para os vizinhos de continente, nas providências que, tomadas por figurantes aparentemente
percebe-se que nossa performance é inferior a que foi atribu- sem importância, ditam o rumo de toda a história.
ída a Argentina (8,6%) e a alguns outros países com partici- (B) Os personagens principais, de uma história, responsáveis
pação menor no conjunto dos bens produzidos pela América pelo sentido maior dela, dependem muitas vezes, de peque-
Latina. nas providências que tomadas por figurantes, aparentemente
(E) Nem é preciso olhar os exemplos da China, Índia e Rússia, sem importância, ditam o rumo de toda a história.
com crescimento acima desses patamares. Ao conjunto inteiro (C) Os personagens principais de uma história, responsáveis
da América Latina, o organismo internacional está atribuindo pelo sentido maior dela dependem muitas vezes de pequenas
um crescimento médio, em 2007, de 5,6%, um pouco maior providências, que, tomadas por figurantes aparentemente,
do que o do Brasil. sem importância, ditam o rumo de toda a história.

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LÍNGUA PORTUGUESA
(D) Os personagens principais, de uma história, responsáveis 23. (FCC – METRÔ/SP – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO JÚNIOR
pelo sentido maior dela, dependem, muitas vezes de peque- – 2012) A frase que apresenta INCORREÇÕES quanto à ortografia é:
nas providências, que tomadas por figurantes aparentemente (A) Quando jovem, o compositor demonstrava uma capacida-
sem importância, ditam o rumo de toda a história. de extraordinária de imitar vários estilos musicais.
(E) Os personagens principais de uma história, responsáveis, (B) Dizem que o músico era avesso à ideia de expressar senti-
pelo sentido maior dela, dependem muitas vezes de pequenas mentos pessoais por meio de sua música.
providências, que tomadas por figurantes, aparentemente, (C) Poucos estudiosos se despõem a discutir o empacto das
sem importância, ditam o rumo de toda a história. composições do músico na cultura ocidental.
(D) Salvo algumas exceções, a maioria das óperas do compo-
19. (FUNIVERSA – CEB – ADVOGADO – 2010) Assinale a alter- sitor termina em uma cena de reconciliação entre os persona-
nativa em que todas as palavras são acentuadas pela mesma razão. gens.
(A) “Brasília”, “prêmios”, “vitória”. (E) Alguns acreditam que o valor da obra do compositor se
(B) “elétrica”, “hidráulica”, “responsáveis”. deve mais à árdua dedicação do que a arroubos de inspiração.
(C) “sérios”, “potência”, “após”.
(D) “Goiás”, “já”, “vários”. 24. (FEMPERJ – VALEC – JORNALISTA – 2012) Intertextualidade
(E) “solidária”, “área”, “após”. é a presença de um texto em outro; o pensamento abaixo que NÃO
se fundamenta em intertextualidade é:
20. (CESGRANRIO – CMB – ASSISTENTE TÉCNICO ADMINISTRA- (A) “Se tudo o que é bom dura pouco, eu já deveria ter morri-
TIVO – 2012) Algumas palavras são acentuadas com o objetivo ex- do há muito tempo.”
clusivo de distingui-las de outras. Uma palavra acentuada com esse (B) “Nariz é essa parte do corpo que brilha, espirra, coça e se
objetivo é a seguinte: mete onde não é chamada.”
(A) pôr. (C) “Une-te aos bons e será um deles. Ou fica aqui com a
(B) ilhéu. gente mesmo!”
(C) sábio. (D) “Vamos fazer o feijão com arroz. Se puder botar um ovo,
(D) também. tudo bem.”
(E) lâmpada. (E) “O Neymar é invendável, inegociável e imprestável.”

21. (FDC – PROFESSOR DE PORTUGUÊS II – 2005) Marque a Leia o texto abaixo para responder a questão.
série em que o hífen está corretamente empregado nas cinco pa- A lama que ainda suja o Brasil
lavras: Fabíola Perez(fabiola.perez@istoe.com.br)
(A) pré-nupcial, ante-diluviano, anti-Cristo, ultra-violeta, infra-
-vermelho. A maior tragédia ambiental da história do País escancarou um
(B) vice-almirante, ex-diretor, super-intendente, extrafino, dos principais gargalos da conjuntura política e econômica brasilei-
infra-assinado. ra: a negligência do setor privado e dos órgãos públicos diante de
(C) anti-alérgico, anti-rábico, ab-rupto, sub-rogar, antihigiêni- um desastre de repercussão mundial. Confirmada a morte do Rio
co. Doce, o governo federal ainda não apresentou um plano de recu-
(D) extraoficial, antessala, contrassenso, ultrarrealismo, con- peração efetivo para a área (apenas uma carta de intenções). Tam-
trarregra. pouco a mineradora Samarco, controlada pela brasileira Vale e pela
(E) co-seno, contra-cenar, sobre-comum, sub-humano, infra- anglo-australiana BHP Billiton. A única medida concreta foi a aplica-
-mencionado. ção da multa de R$ 250 milhões – sendo que não há garantias de
que ela será usada no local. “O leito do rio se perdeu e a calha pro-
22. (ESAF – SRF – AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL – funda e larga se transformou num córrego raso”, diz Malu Ribeiro,
2003) Indique o item em que todas as palavras estão corretamente coordenadora da rede de águas da Fundação SOS Mata Atlântica,
empregadas e grafadas. sobre o desastre em Mariana, Minas Gerais. “O volume de rejeitos
(A) A pirâmide carcerária assegura um contexto em que o se tornou uma bomba relógio na região.”
poder de infringir punições legais a cidadãos aparece livre de Para agravar a tragédia, a empresa declarou que existem ris-
qualquer excesso e violência. cos de rompimento nas barragens de Germano e de Santarém. Se-
(B) Nos presídios, os chefes e subchefes não devem ser exata- gundo o Departamento Nacional de Produção Mineral, pelo menos
mente nem juízes, nem professores, nem contramestres, nem 16 barragens de mineração em todo o País apresentam condições
suboficiais, nem “pais”, porém avocam a si um pouco de tudo de insegurança. “O governo perdeu sua capacidade de aparelhar
isso, num modo de intervenção específico. órgãos técnicos para fiscalização”, diz Malu. Na direção oposta
(C) O carcerário, ao homogeinizar o poder legal de punir e o Ao caminho da segurança, está o projeto de lei 654/2015,
poder técnico de disciplinar, ilide o que possa haver de violen- do senador Romero Jucá (PMDB-RR) que prevê licença única em um
to em um e de arbitrário no outro, atenuando os efeitos de tempo exíguo para obras consideradas estratégicas. O novo marco
revolta que ambos possam suscitar. regulatório da mineração, por sua vez, também concede priorida-
(D) No singular poder de punir, nada mais lembra o antigo po- de à ação de mineradoras. “Ocorrerá um aumento dos conflitos ju-
der do soberano iminente que vingava sua autoridade sobre o diciais, o que não será interessante para o setor empresarial”, diz
corpo dos supliciados. Maurício Guetta, advogado do Instituto Sócio Ambiental (ISA). Com
(E) A existência de uma proibição legal cria em torno dela um o avanço dessa legislação outros danos irreversíveis podem ocorrer.
campo de práticas ilegais, sob o qual se chega a exercer con- FONTE: http://www.istoe.com.br/reportagens/441106_A+LA MA+-
trole e aferir lucro ilícito, mas que se torna manejável por sua QUE+AINDA+SUJA+O+BRASIL
organização em delinqüência.

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LÍNGUA PORTUGUESA
25. Observe as assertivas relacionadas ao texto lido: — Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel su-
I. O texto é predominantemente narrativo, já que narra um balterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o
fato. trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto…
II. O texto é predominantemente expositivo, já que pertence ao Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa.
gênero textual editorial. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que
III. O texto é apresenta partes narrativas e partes expositivas, já tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a
que se trata de uma reportagem. costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, en-
IV. O texto apresenta partes narrativas e partes expositivas, já fiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando
se trata de um editorial. orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre
os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a
Analise as assertivas e responda: isto uma cor poética. E dizia a agulha:
(A) Somente a I é correta. — Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?
(B) Somente a II é incorreta. Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é
(C) Somente a III é correta que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo
(D) A III e IV são corretas. e acima…
A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela
26. Observe as assertivas relacionadas ao texto “A lama que agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe
ainda suja o Brasil”: o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha vendo que
I- O texto é coeso, mas não é coerente, já que tem problemas ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era
no desenvolvimento do assunto. tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-pli-
II- O texto é coerente, mas não é coeso, já que apresenta pro- c-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a
blemas no uso de conjunções e preposições. costura, para o dia seguinte; continuou ainda nesse e no outro, até
III- O texto é coeso e coerente, graças ao bom uso das classes que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.
de palavras e da ordem sintática. Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que
IV- O texto é coeso e coerente, já que apresenta progressão a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para
temática e bom uso dos recursos coesivos. dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da
bela dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali,
Analise as assertivas e responda: alisando, abotoando, acolchetando, a linha, para mofar da agulha,
(A) Somente a I é correta. perguntou-lhe:
(B) Somente a II é incorreta. — Ora agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da
(C) Somente a III é correta. baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que
(D) Somente a IV é correta. vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para
a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas?
Leia o texto abaixo para responder as questões. Vamos, diga lá.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de ca-
UM APÓLOGO beça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:
Machado de Assis. — Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é
que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze
Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha: como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam,
— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrola- fico.
da, para fingir que vale alguma coisa neste mundo? Contei esta história a um professor de melancolia, que me dis-
— Deixe-me, senhora. se, abanando a cabeça: — Também eu tenho servido de agulha a
— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está muita linha ordinária!
com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me
der na cabeça. 27. De acordo com o texto “Um Apólogo” de Machado de Assis
— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. e com a ilustração abaixo, e levando em consideração as persona-
Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem gens presentes nas narrativas tanto verbal quanto visual, indique
o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos a opção em que a fala não é compatível com a associação entre os
outros. elementos dos textos:
— Mas você é orgulhosa.
— Decerto que sou.
— Mas por quê?
— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa
ama, quem é que os cose, senão eu?
— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora
que quem os cose sou eu, e muito eu?
— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pe-
daço ao outro, dou feição aos babados…
— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante,
puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e
mando…
— Também os batedores vão adiante do imperador.
— Você é imperador?

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LÍNGUA PORTUGUESA
(A) “- Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda en-
rolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?” (L.02) GABARITO
(B) “- Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é
agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar?”
(L.06) 1 D
(C) “- Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adian- 2 A
te, puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu
faço e mando...” (L.14-15) 3 E
(D) “- Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há 4 A
pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa
5 C
comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a
eles, furando abaixo e acima.” (L.25-26) 6 E
(E) “- Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para 7 B
ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha
de costura. Faze como eu, que não abro caminho para nin- 8 E
guém. Onde me espetam, fico.” (L.40-41) 9 E

28. O diminutivo, em Língua Portuguesa, pode expressar outros 10 A


valores semânticos além da noção de dimensão, como afetividade, 11 A
pejoratividade e intensidade. Nesse sentido, pode-se afirmar que
12 D
os valores semânticos utilizados nas formas diminutivas “unidi-
nha”(L.26) e “corpinho”(L.32), são, respectivamente, de: 13 A
(A) dimensão e pejoratividade; 14 E
(B) afetividade e intensidade;
(C) afetividade e dimensão; 15 B
(D) intensidade e dimensão; 16 B
(E) pejoratividade e afetividade.
17 E
29. Em um texto narrativo como “Um Apólogo”, é muito co- 18 A
mum uso de linguagem denotativa e conotativa. Assinale a alterna- 19 A
tiva cujo trecho retirado do texto é uma demonstração da expressi-
vidade dos termos “linha” e “agulha” em sentido figurado. 20 A
(A) “- É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa 21 D
ama, quem é que os cose, senão eu?” (L.11)
(B) “- Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. 22 B
Agulha não tem cabeça.” (L.06) 23 C
(C) “- Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um
24 E
pedaço ao outro, dou feição aos babados...” (L.13)
(D) “- Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordi- 25 C
nária!” (L.43) 26 D
(E) “- Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?”
(L.25) 27 E
28 D
30. De acordo com a temática geral tratada no texto e, de modo
metafórico, considerando as relações existentes em um ambiente 29 D
de trabalho, aponte a opção que NÃO corresponde a uma ideia pre- 30 D
sente no texto:
(A) O texto sinaliza que, normalmente, não há uma relação
equânime em ambientes coletivos de trabalho;
(B) O texto sinaliza que, normalmente, não há uma relação
equânime em ambientes coletivos de trabalho;
(C) O texto indica que, em um ambiente coletivo de trabalho,
cada sujeito possui atribuições próprias.
(D) O texto sugere que o reconhecimento no ambiente cole-
tivo de trabalho parte efetivamente das próprias atitudes do
sujeito.
(E) O texto revela que, em um ambiente coletivo de trabalho,
frequentemente é difícil lidar com as vaidades individuais.

29
LÍNGUA PORTUGUESA

ANOTAÇÕES ANOTAÇÕES

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30
MATEMÁTICA
1. Teoria dos Conjuntos; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Conjuntos dos números Reais e Fracionais: operações, propriedades e problemas; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 04
3. Regra de Três Simples e Composta; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09
4. Porcentagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
5. Juros Simples; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
6. Equação do Primeiro e Segundo Graus - problemas; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
7. Frações, . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
8. Sistema Decimal de Medidas (comprimento, superfície, volume, massa, capacidade e tempo) - transformação de unidades e resolução
de problemas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
MATEMÁTICA
Igualdade
TEORIA DOS CONJUNTOS Propriedades básicas da igualdade
Para todos os conjuntos A, B e C,para todos os objetos x ∈ U,
Conjunto está presente em muitos aspectos da vida, sejam eles temos que:
cotidianos, culturais ou científicos. Por exemplo, formamos conjun- (1) A = A.
tos ao organizar a lista de amigos para uma festa agrupar os dias da (2) Se A = B, então B = A.
semana ou simplesmente fazer grupos. (3) Se A = B e B = C, então A = C.
Os componentes de um conjunto são chamados de elementos. (4) Se A = B e x ∈ A, então x∈ B.
Para enumerar um conjunto usamos geralmente uma letra Se A = B e A ∈ C, então B ∈ C.
maiúscula.
Dois conjuntos são iguais se, e somente se, possuem exata-
Representações mente os mesmos elementos. Em símbolo:
Pode ser definido por: Para saber se dois conjuntos A e B são iguais, precisamos saber
-Enumerando todos os elementos do conjunto: S={1, 3, 5, 7, 9} apenas quais são os elementos.
-Simbolicamente: B={x>N|x<8}, enumerando esses elementos Não importa ordem:
temos: A={1,2,3} e B={2,1,3}
B={0,1,2,3,4,5,6,7}
Não importa se há repetição:
– Diagrama de Venn A={1,2,2,3} e B={1,2,3}

Classificação
Definição
Chama-se cardinal de um conjunto, e representa-se por #, ao
número de elementos que ele possui.

Exemplo
Por exemplo, se A ={45,65,85,95} então #A = 4.

Definições
Dois conjuntos dizem-se equipotentes se têm o mesmo cardi-
nal.
Um conjunto diz-se
a) infinito quando não é possível enumerar todos os seus ele-
Há também um conjunto que não contém elemento e é repre- mentos
sentado da seguinte forma: S = c ou S = { }. b) finito quando é possível enumerar todos os seus elementos
Quando todos os elementos de um conjunto A pertencem tam- c) singular quando é formado por um único elemento
bém a outro conjunto B, dizemos que: d) vazio quando não tem elementos
A é subconjunto de B
Ou A é parte de B Exemplos
A está contido em B escrevemos: A ⊂ B N é um conjunto infinito (O cardinal do conjunto N (#N) é infi-
nito (∞));
Se existir pelo menos um elemento de A que não pertence a A = {½, 1} é um conjunto finito (#A = 2);
B: A ⊄ B B = {Lua} é um conjunto singular (#B = 1)
{ } ou ∅ é o conjunto vazio (#∅ = 0)
Símbolos
∈: pertence Pertinência
∉: não pertence O conceito básico da teoria dos conjuntos é a relação de per-
⊂: está contido tinência representada pelo símbolo ∈. As letras minúsculas desig-
⊄: não está contido nam os elementos de um conjunto e as maiúsculas, os conjuntos.
⊃: contém Assim, o conjunto das vogais (V) é:
⊅: não contém V={a,e,i,o,u}
/: tal que A relação de pertinência é expressa por: a∈V
⟹: implica que A relação de não-pertinência é expressa por:b∉V, pois o ele-
⇔: se,e somente se mento b não pertence ao conjunto V.
∃: existe
∄: não existe Inclusão
∀: para todo(ou qualquer que seja) A Relação de inclusão possui 3 propriedades:
∅: conjunto vazio Propriedade reflexiva: A⊂A, isto é, um conjunto sempre é sub-
N: conjunto dos números naturais conjunto dele mesmo.
Z: conjunto dos números inteiros Propriedade antissimétrica: se A⊂B e B⊂A, então A=B
Q: conjunto dos números racionais Propriedade transitiva: se A⊂B e B⊂C, então, A⊂C.
Q’=I: conjunto dos números irracionais
R: conjunto dos números reais

1
MATEMÁTICA
Operações Complementar
União Sejam A e B dois conjuntos tais que A⊂B. Chama-se comple-
Dados dois conjuntos A e B, existe sempre um terceiro formado mentar de A em relação a B, que indicamos por CBA, o conjunto
pelos elementos que pertencem pelo menos um dos conjuntos a cujos elementos são todos aqueles que pertencem a B e não per-
que chamamos conjunto união e representamos por: A∪B. tencem a A.
Formalmente temos: A∪B={x|x ∈ A ou x ∈ B} A⊂B⇔ CBA={x|x∈B e x∉A}=B-A
Exemplo:
A={1,2,3,4} e B={5,6} Exemplo
A∪B={1,2,3,4,5,6} A={1,2,3} B={1,2,3,4,5}
CBA={4,5}
Interseção
A interseção dos conjuntos A e B é o conjunto formado pelos Representação
elementos que são ao mesmo tempo de A e de B, e é representada -Enumerando todos os elementos do conjunto: S={1, 2, 3, 4, 5}
por : A∩B. Simbolicamente: A∩B={x|x∈A e x∈B} -Simbolicamente: B={x∈ N|2<x<8}, enumerando esses ele-
mentos temos:
B={3,4,5,6,7}

- por meio de diagrama:

Exemplo:
A={a,b,c,d,e} e B={d,e,f,g}
A∩B={d,e}

Diferença
Uma outra operação entre conjuntos é a diferença, que a cada Quando um conjunto não possuir elementos chama-se de con-
par A, B de conjuntos faz corresponder o conjunto definido por: junto vazio: S=∅ ou S={ }.
A – B ou A\B que se diz a diferença entre A e B ou o comple-
mentar de B em relação a A. Igualdade
A este conjunto pertencem os elementos de A que não perten- Dois conjuntos são iguais se, e somente se, possuem exata-
cem a B. mente os mesmos elementos. Em símbolo:
A\B = {x : x∈A e x∉B}.

Para saber se dois conjuntos A e B são iguais, precisamos saber


apenas quais são os elementos.
Não importa ordem:
A={1,2,3} e B={2,1,3}

Não importa se há repetição:


A={1,2,2,3} e B={1,2,3}

Relação de Pertinência
Relacionam um elemento com conjunto. E a indicação que o
elemento pertence (∈) ou não pertence (∉)
Exemplo: Dado o conjunto A={-3, 0, 1, 5}
Exemplo: 0∈A
A = {0, 1, 2, 3, 4, 5} e B = {5, 6, 7} 2∉A
Então os elementos de A – B serão os elementos do conjunto A
menos os elementos que pertencerem ao conjunto B. Relações de Inclusão
Portanto A – B = {0, 1, 2, 3, 4}. Relacionam um conjunto com outro conjunto.
Simbologia: ⊂(está contido), ⊄(não está contido), ⊃(con-
tém),⊅ (não contém)

A Relação de inclusão possui 3 propriedades:


Exemplo:
{1, 3,5}⊂{0, 1, 2, 3, 4, 5}
{0, 1, 2, 3, 4, 5}⊃{1, 3,5}

2
MATEMÁTICA
Aqui vale a famosa regrinha que o professor ensina,
boca aberta para o maior conjunto.

Subconjunto
O conjunto A é subconjunto de B se todo elemento de
A é também elemento de B.
Exemplo: {2,4} é subconjunto de {x∈N|x é par}
Operações
União
Dados dois conjuntos A e B, existe sempre um terceiro formado Exemplo:
pelos elementos que pertencem pelo menos um dos conjuntos a A = {0, 1, 2, 3, 4, 5} e B = {5, 6, 7}
que chamamos conjunto união e representamos por: A∪B. Então os elementos de A – B serão os elementos do conjunto A
Formalmente temos: A∪B={x|x ∈A ou x∈B} menos os elementos que pertencerem ao conjunto B.
Exemplo: Portanto A – B = {0, 1, 2, 3, 4}.
A={1,2,3,4} e B={5,6}
A∪B={1,2,3,4,5,6} Complementar
O complementar do conjunto A( ) é o conjunto formado pelos
elementos do conjunto universo que não pertencem a A.

Interseção
A interseção dos conjuntos A e B é o conjunto formado pelos
elementos que são ao mesmo tempo de A e de B, e é representada
por : A∩B.
Simbolicamente: A∩B={x|x ∈A e x ∈B}
Fórmulas da união
n(A ∪B)=n(A)+n(B)-n(A∩B)
n(A ∪B∪C)=n(A)+n(B)+n(C)+n(A∩B∩C)-n(A∩B)-n(A∩C)-n(B
C)

Essas fórmulas muitas vezes nos ajudam, pois ao invés de fazer


todo o diagrama, se colocarmos nessa fórmula, o resultado é mais
rápido, o que na prova de concurso é interessante devido ao tempo.
Mas, faremos exercícios dos dois modos para você entender
Exemplo: melhor e perceber que, dependendo do exercício é melhor fazer de
A={a,b,c,d,e} e B={d,e,f,g} uma forma ou outra.
A∩B={d,e}
Exemplo
(MANAUSPREV – Analista Previdenciário – FCC/2015) Em um
Diferença grupo de 32 homens, 18 são altos, 22 são barbados e 16 são care-
Uma outra operação entre conjuntos é a diferença, que a cada cas. Homens altos e barbados que não são carecas são seis. Todos
par A, B de conjuntos faz corresponder o conjunto definido por: homens altos que são carecas, são também barbados. Sabe-se que
A – B ou A\B que se diz a diferença entre A e B ou o comple- existem 5 homens que são altos e não são barbados nem carecas.
mentar de B em relação a A. Sabe-se que existem 5 homens que são barbados e não são altos
A este conjunto pertencem os elementos de A que não perten- nem carecas. Sabe-se que existem 5 homens que são carecas e não
cem a B. são altos e nem barbados. Dentre todos esses homens, o número
de barbados que não são altos, mas são carecas é igual a
A\B = {x : x ∈A e x∉B}. (A) 4.
(B) 7.
(C) 13.
(D) 5.
(E) 8.

B-A = {x : x ∈B e x∉A}.

3
MATEMÁTICA
Primeiro, quando temos 3 diagramas, sempre começamos pela Carecas são 16
interseção dos 3, depois interseção a cada 2 e por fim, cada um

7+y+5=16
Y=16-12
Y=4

Se todo homem careca é barbado, não teremos apenas ho- Então o número de barbados que não são altos, mas são care-
mens carecas e altos. cas são 4.
Homens altos e barbados são 6 Nesse exercício ficará difícil se pensarmos na fórmula, ficou
grande devido as explicações, mas se você fizer tudo no mesmo dia-
grama, mas seguindo os passos, o resultado sairá fácil.

Exemplo
(SEGPLAN/GO – Perito Criminal – FUNIVERSA/2015) Suponha
que, dos 250 candidatos selecionados ao cargo de perito criminal:

1) 80 sejam formados em Física;


2) 90 sejam formados em Biologia;
3) 55 sejam formados em Química;
4) 32 sejam formados em Biologia e Física;
5) 23 sejam formados em Química e Física;
6) 16 sejam formados em Biologia e Química;
Sabe-se que existem 5 homens que são barbados e não são 7) 8 sejam formados em Física, em Química e em Biologia.
altos nem carecas. Sabe-se que existem 5 homens que são carecas
e não são altos e nem barbados Considerando essa situação, assinale a alternativa correta.
(A) Mais de 80 dos candidatos selecionados não são físicos
nem biólogos nem químicos.
(B) Mais de 40 dos candidatos selecionados são formados ape-
nas em Física.
(C) Menos de 20 dos candidatos selecionados são formados
apenas em Física e em Biologia.
(D) Mais de 30 dos candidatos selecionados são formados
apenas em Química.
(E) Escolhendo-se ao acaso um dos candidatos selecionados,
a probabilidade de ele ter apenas as duas formações, Física e
Química, é inferior a 0,05.
Resolução
Sabemos que 18 são altos A nossa primeira conta, deve ser achar o número de candidatos
que não são físicos, biólogos e nem químicos.
n (F ∪B∪Q)=n(F)+n(B)+n(Q)+n(F∩B∩Q)-n(F∩B)-n(F∩Q)-
-n(B∩Q)
n(F ∪B∪Q)=80+90+55+8-32-23-16=162
Temos um total de 250 candidatos
250-162=88
Resposta: A.

CONJUNTOS DOS NÚMEROS REAIS E FRACIONAIS:


OPERAÇÕES, PROPRIEDADES E PROBLEMAS

Números Naturais
Quando somarmos 5+x+6=18 Os números naturais são o modelo matemático necessário
X=18-11=7 para efetuar uma contagem.

4
MATEMÁTICA
Começando por zero e acrescentando sempre uma unidade, 2) Conjuntos dos números inteiros não negativos
obtemos o conjunto infinito dos números naturais
{0, 1, 2, ...}

3) Conjunto dos números inteiros não positivos

- Todo número natural dado tem um sucessor {...-3, -2, -1}


a) O sucessor de 0 é 1.
b) O sucessor de 1000 é 1001. Números Racionais
c) O sucessor de 19 é 20. Chama-se de número racional a todo número que pode ser ex-
presso na forma , onde a e b são inteiros quaisquer, com b≠0
Usamos o * para indicar o conjunto sem o zero. São exemplos de números racionais:

-12/51
{1,2,3,4,5,6... . } -3

- Todo número natural dado N, exceto o zero, tem um anteces- -(-3)


sor (número que vem antes do número dado). -2,333...
Exemplos: Se m é um número natural finito diferente de zero.
a) O antecessor do número m é m-1. As dízimas periódicas podem ser representadas por fração,
b) O antecessor de 2 é 1. portanto são consideradas números racionais.
c) O antecessor de 56 é 55. Como representar esses números?
d) O antecessor de 10 é 9.
Representação Decimal das Frações
Expressões Numéricas Temos 2 possíveis casos para transformar frações em decimais
Nas expressões numéricas aparecem adições, subtrações, mul-
tiplicações e divisões. Todas as operações podem acontecer em 1º) Decimais exatos: quando dividirmos a fração, o número de-
uma única expressão. Para resolver as expressões numéricas utili- cimal terá um número finito de algarismos após a vírgula.
zamos alguns procedimentos:

Se em uma expressão numérica aparecer as quatro operações,


devemos resolver a multiplicação ou a divisão primeiramente, na
ordem em que elas aparecerem e somente depois a adição e a sub-
tração, também na ordem em que aparecerem e os parênteses são
resolvidos primeiro.

Exemplo 1
10 + 12 – 6 + 7
22 – 6 + 7 2º) Terá um número infinito de algarismos após a vírgula, mas
16 + 7 lembrando que a dízima deve ser periódica para ser número racio-
23 nal
OBS: período da dízima são os números que se repetem, se
Exemplo 2 não repetir não é dízima periódica e assim números irracionais, que
40 – 9 x 4 + 23 trataremos mais a frente.
40 – 36 + 23
4 + 23
27

Exemplo 3
25-(50-30)+4x5
25-20+20=25

Números Inteiros
Podemos dizer que este conjunto é composto pelos números
naturais, o conjunto dos opostos dos números naturais e o zero.
Este conjunto pode ser representado por: Representação Fracionária dos Números Decimais
1ºcaso) Se for exato, conseguimos sempre transformar com o
denominador seguido de zeros.
O número de zeros depende da casa decimal. Para uma casa,
um zero (10) para duas casas, dois zeros(100) e assim por diante.
Subconjuntos do conjunto :
1)Conjunto dos números inteiros excluindo o zero

{...-2, -1, 1, 2, ...}

5
MATEMÁTICA
Exemplo: . = = 7 é um número racional.

Exemplo: radicais( a raiz quadrada de um número na-


tural, se não inteira, é irracional.

Números Reais

2ºcaso) Se dízima periódica é um número racional, então como


podemos transformar em fração?

Exemplo 1
Transforme a dízima 0, 333... .em fração
Sempre que precisar transformar, vamos chamar a dízima dada
de x, ou seja
X=0,333...

Se o período da dízima é de um algarismo, multiplicamos por


10.
10x=3,333...
Fonte: www.estudokids.com.br
E então subtraímos:
10x-x=3,333...-0,333... Representação na reta
9x=3
X=3/9
X=1/3

Agora, vamos fazer um exemplo com 2 algarismos de período.

Exemplo 2
Seja a dízima 1,1212...
Façamos x = 1,1212... Intervalos limitados
100x = 112,1212... . Intervalo fechado – Números reais maiores do que a ou iguais a
e menores do que b ou iguais a b.
Subtraindo:
100x-x=112,1212...-1,1212...
99x=111
X=111/99
Intervalo:[a,b]
Números Irracionais Conjunto: {x ϵ R|a≤x≤b}
Identificação de números irracionais
– Todas as dízimas periódicas são números racionais. Intervalo aberto – números reais maiores que a e menores que
– Todos os números inteiros são racionais. b.
– Todas as frações ordinárias são números racionais.
– Todas as dízimas não periódicas são números irracionais.
– Todas as raízes inexatas são números irracionais.
– A soma de um número racional com um número irracional é
sempre um número irracional. Intervalo:]a,b[
– A diferença de dois números irracionais, pode ser um número Conjunto:{xϵR|a<x<b}
racional.
– Os números irracionais não podem ser expressos na forma , Intervalo fechado à esquerda – números reais maiores que a ou
com a e b inteiros e b≠0. iguais a A e menores do que B.

Exemplo: - = 0 e 0 é um número racional.

– O quociente de dois números irracionais, pode ser um núme-


ro racional.
Intervalo:{a,b[
Exemplo: : = = 2 e 2 é um número racional. Conjunto {x ϵ R|a≤x<b}

– O produto de dois números irracionais, pode ser um número Intervalo fechado à direita – números reais maiores que a e
racional. menores ou iguais a b.

6
MATEMÁTICA
3) Todo número negativo, elevado ao expoente par, resulta em
um número positivo.

Intervalo:]a,b]
Conjunto:{x ϵ R|a<x≤b}

Intervalos Ilimitados 4) Todo número negativo, elevado ao expoente ímpar, resulta


Semirreta esquerda, fechada de origem b- números reais me- em um número negativo.
nores ou iguais a b.

Intervalo:]-∞,b] 5) Se o sinal do expoente for negativo, devemos passar o sinal


Conjunto:{x ϵ R|x≤b} para positivo e inverter o número que está na base.

Semirreta esquerda, aberta de origem b – números reais me-


nores que b.

Intervalo:]-∞,b[ 6) Toda vez que a base for igual a zero, não importa o valor do
Conjunto:{x ϵ R|x<b} expoente, o resultado será igual a zero.

Semirreta direita, fechada de origem a – números reais maiores


ou iguais a A.

Propriedades
1) (am . an = am+n) Em uma multiplicação de potências de mesma
Intervalo:[a,+ ∞[ base, repete-se a base e soma os expoentes.
Conjunto:{x ϵ R|x≥a}
Exemplos:
Semirreta direita, aberta, de origem a – números reais maiores 24 . 23 = 24+3= 27
que a. (2.2.2.2) .( 2.2.2)= 2.2.2. 2.2.2.2= 27

Intervalo:]a,+ ∞[ 2) (am: an = am-n). Em uma divisão de potência de mesma base.


Conjunto:{x ϵ R|x>a} Conserva-se a base e subtraem os expoentes.

Potenciação Exemplos:
Multiplicação de fatores iguais 96 : 92 = 96-2 = 94

2³=2.2.2=8

Casos
1) Todo número elevado ao expoente 0 resulta em 1. 3) (am)n Potência de potência. Repete-se a base e multiplica-se
os expoentes.

Exemplos:
(52)3 = 52.3 = 56

2) Todo número elevado ao expoente 1 é o próprio número.

7
MATEMÁTICA
4) E uma multiplicação de dois ou mais fatores elevados a um O radical de índice inteiro e positivo de um produto indicado é
expoente, podemos elevar cada um a esse mesmo expoente. igual ao produto dos radicais de mesmo índice dos fatores do radi-
(4.3)²=4².3² cando.

5) Na divisão de dois fatores elevados a um expoente, podemos Raiz quadrada de frações ordinárias
elevar separados.
1 1
2 2 2 2 2
2
Observe: =  = 1 =
3 3 3
32
Radiciação a na
Radiciação é a operação inversa a potenciação
* *
De modo geral, se a ∈ R+ , b ∈ R , n ∈ N , então: n =
+
b nb
O radical de índice inteiro e positivo de um quociente indicado
é igual ao quociente dos radicais de mesmo índice dos termos do
radicando.

Raiz quadrada números decimais

Técnica de Cálculo
A determinação da raiz quadrada de um número torna-se mais
fácil quando o algarismo se encontra fatorado em números primos.
Veja:
Operações
64 2
32 2
16 2
8 2
4 2 Operações
2 2
1 Multiplicação

64=2.2.2.2.2.2=26 Exemplo
Como é raiz quadrada a cada dois números iguais “tira-se” um
e multiplica.
Divisão

Observe:
Exemplo
1 1 1
3.5 = (3.5) 2 = 3 2 .5 2 = 3. 5
Adição e subtração
De modo geral, se
Para fazer esse cálculo, devemos fatorar o 8 e o 20.
a ∈ R+ , b ∈ R+ , n ∈ N * ,
8 2 20 2
Então: 4 2 10 2
2 2 5 5
n
a.b = n a .n b 1 1

8
MATEMÁTICA
Obs.: como as setas estão invertidas temos que inverter os nú-
Caso tenha: meros mantendo a primeira coluna e invertendo a segunda coluna
ou seja o que está em cima vai para baixo e o que está em baixo na
Não dá para somar, as raízes devem ficar desse modo. segunda coluna vai para cima

Racionalização de Denominadores VELOCIDADE Tempo


Normalmente não se apresentam números irracionais com
radicais no denominador. Ao processo que leva à eliminação dos 400 ↓ ----- 3↓
radicais do denominador chama-se racionalização do denominador. 480 ↓ ----- X↓
1º Caso: Denominador composto por uma só parcela
480x=1200
X=25

Regra de três composta


Regra de três composta é utilizada em problemas com mais de
duas grandezas, direta ou inversamente proporcionais.

Exemplos:
2º Caso: Denominador composto por duas parcelas. 1) Em 8 horas, 20 caminhões descarregam 160m³ de areia. Em
5 horas, quantos caminhões serão necessários para descarregar
125m³?

Solução: montando a tabela, colocando em cada coluna as


grandezas de mesma espécie e, em cada linha, as grandezas de es-
Devemos multiplicar de forma que obtenha uma diferença de pécies diferentes que se correspondem:
quadrados no denominador:
HORAS CAMINHÕES VOLUME
8↑ ----- 20 ↓ ----- 160 ↑
5↑ ----- X↓ ----- 125 ↑
REGRA DE TRÊS SIMPLES E COMPOSTA
A seguir, devemos comparar cada grandeza com aquela onde
está o x.
Regra de três simples
Regra de três simples é um processo prático para resolver pro- Observe que:
blemas que envolvam quatro valores dos quais conhecemos três Aumentando o número de horas de trabalho, podemos dimi-
deles. Devemos, portanto, determinar um valor a partir dos três já nuir o número de caminhões. Portanto a relação é inversamente
conhecidos. proporcional (seta para cima na 1ª coluna).
Aumentando o volume de areia, devemos aumentar o número
Passos utilizados numa regra de três simples: de caminhões. Portanto a relação é diretamente proporcional (seta
1º) Construir uma tabela, agrupando as grandezas da mesma para baixo na 3ª coluna). Devemos igualar a razão que contém o
espécie em colunas e mantendo na mesma linha as grandezas de termo x com o produto das outras razões de acordo com o sentido
espécies diferentes em correspondência. das setas.
2º) Identificar se as grandezas são diretamente ou inversamen- Montando a proporção e resolvendo a equação temos:
te proporcionais.
3º) Montar a proporção e resolver a equação.
Um trem, deslocando-se a uma velocidade média de 400Km/h, HORAS CAMINHÕES VOLUME
faz um determinado percurso em 3 horas. Em quanto tempo faria 8↑ ----- 20 ↓ ----- 160 ↓
esse mesmo percurso, se a velocidade utilizada fosse de 480km/h? 5↑ ----- X↓ ----- 125 ↓
Solução: montando a tabela: Obs.: Assim devemos inverter a primeira coluna ficando:
1) Velocidade (Km/h) Tempo (h)
HORAS CAMINHÕES VOLUME
400 ----- 3 8 ----- 20 ----- 160
480 ----- X 5 ----- X ----- 125

2) Identificação do tipo de relação:

VELOCIDADE Tempo
400 ↓ ----- 3↑ ogo, serão necessários 25 caminhões
480 ↓ ----- X↑

9
MATEMÁTICA
Exemplo
PORCENTAGEM (DPE/RR – Analista de Sistemas – FCC/2015) Em sala de aula
com 25 alunos e 20 alunas, 60% desse total está com gripe. Se x%
Porcentagem é uma fração cujo denominador é 100, seu sím- das meninas dessa sala estão com gripe, o menor valor possível
bolo é (%). Sua utilização está tão disseminada que a encontramos para x é igual a
nos meios de comunicação, nas estatísticas, em máquinas de cal- (A) 8.
cular, etc. (B) 15.
(C) 10.
Os acréscimos e os descontos é importante saber porque ajuda (D) 6.
muito na resolução do exercício. (E) 12.

Acréscimo Resolução
Se, por exemplo, há um acréscimo de 10% a um determina- 45------100%
do valor, podemos calcular o novo valor apenas multiplicando esse X-------60%
valor por 1,10, que é o fator de multiplicação. Se o acréscimo for X=27
de 20%, multiplicamos por 1,20, e assim por diante. Veja a tabela
abaixo: O menor número de meninas possíveis para ter gripe é se to-
dos os meninos estiverem gripados, assim apenas 2 meninas estão.
ACRÉSCIMO OU LUCRO FATOR DE MULTIPLICAÇÃO
10% 1,10
15% 1,15
20% 1,20 Resposta: C.
47% 1,47
67% 1,67
JUROS SIMPLES
Exemplo: Aumentando 10% no valor de R$10,00 temos:
Matemática Financeira
10 x 1,10 = R$ 11,00 A Matemática Financeira possui diversas aplicações no atual
sistema econômico. Algumas situações estão presentes no cotidia-
Desconto no das pessoas, como financiamentos de casa e carros, realizações
No caso de haver um decréscimo, o fator de multiplicação será: de empréstimos, compras a crediário ou com cartão de crédito,
Fator de Multiplicação =1 - taxa de desconto (na forma decimal) aplicações financeiras, investimentos em bolsas de valores, entre
Veja a tabela abaixo: outras situações. Todas as movimentações financeiras são baseadas
na estipulação prévia de taxas de juros. Ao realizarmos um emprés-
DESCONTO FATOR DE MULTIPLICAÇÃO timo a forma de pagamento é feita através de prestações mensais
acrescidas de juros, isto é, o valor de quitação do empréstimo é
10% 0,90
superior ao valor inicial do empréstimo. A essa diferença damos o
25% 0,75 nome de juros.
34% 0,66
Capital
60% 0,40 O Capital é o valor aplicado através de alguma operação finan-
90% 0,10 ceira. Também conhecido como: Principal, Valor Atual, Valor Pre-
sente ou Valor Aplicado. Em inglês usa-se Present Value (indicado
Exemplo: Descontando 10% no valor de R$10,00 temos: pela tecla PV nas calculadoras financeiras).

10 X 0,90 = R$ 9,00 Taxa de juros e Tempo


A taxa de juros indica qual remuneração será paga ao dinheiro
Chamamos de lucro em uma transação comercial de compra e emprestado, para um determinado período. Ela vem normalmente
venda a diferença entre o preço de venda e o preço de custo. expressa da forma percentual, em seguida da especificação do perí-
Lucro=preço de venda -preço de custo odo de tempo a que se refere:
8 % a.a. - (a.a. significa ao ano).
Podemos expressar o lucro na forma de porcentagem de duas 10 % a.t. - (a.t. significa ao trimestre).
formas:
Outra forma de apresentação da taxa de juros é a unitária, que
é igual a taxa percentual dividida por 100, sem o símbolo %:
0,15 a.m. - (a.m. significa ao mês).
0,10 a.q. - (a.q. significa ao quadrimestre)

Montante
Também conhecido como valor acumulado é a soma do Capi-
tal Inicial com o juro produzido em determinado tempo.

10
MATEMÁTICA
Essa fórmula também será amplamente utilizada para resolver Juros Compostos
questões. o juro de cada intervalo de tempo é calculado a partir do saldo
M=C+J no início de correspondente intervalo. Ou seja: o juro de cada in-
M = montante tervalo de tempo é incorporado ao capital inicial e passa a render
C = capital inicial juros também.
J = juros
M=C+C.i.n Quando usamos juros simples e juros compostos?
M=C(1+i.n) A maioria das operações envolvendo dinheiro utilizajuros com-
postos. Estão incluídas: compras a médio e longo prazo, compras
Juros Simples com cartão de crédito, empréstimos bancários, as aplicações finan-
Chama-se juros simples a compensação em dinheiro pelo em- ceiras usuais como Caderneta de Poupança e aplicações em fundos
préstimo de um capital financeiro, a uma taxa combinada, por um de renda fixa, etc. Raramente encontramos uso para o regime de
prazo determinado, produzida exclusivamente pelo capital inicial. juros simples: é o caso das operações de curtíssimo prazo, e do pro-
Em Juros Simples a remuneração pelo capital inicial aplicado cesso de desconto simples de duplicatas.
é diretamente proporcional ao seu valor e ao tempo de aplicação.
A expressão matemática utilizada para o cálculo das situações O cálculo do montante é dado por:
envolvendo juros simples é a seguinte:
J = C i n, onde: M = C (1 + i)t
J = juros
C = capital inicial Exemplo
i = taxa de juros Calcule o juro composto que será obtido na aplicação de
n = tempo de aplicação (mês, bimestre, trimestre, semestre, R$25000,00 a 25% ao ano, durante 72 meses
ano...) C = 25000
i = 25%aa = 0,25
Observação importante: a taxa de juros e o tempo de aplica- i = 72 meses = 6 anos
ção devem ser referentes a um mesmo período. Ou seja, os dois
devem estar em meses, bimestres, trimestres, semestres, anos... O M = C (1 + i)t
que não pode ocorrer é um estar em meses e outro em anos, ou M = 25000 (1 + 0,25)6
qualquer outra combinação de períodos. M = 25000 (1,25)6
Dica: Essa fórmula J = C i n, lembra as letras das palavras “JU- M = 95367,50
ROS SIMPLES” e facilita a sua memorização.
Outro ponto importante é saber que essa fórmula pode ser tra- M=C+J
balhada de várias maneiras para se obter cada um de seus valores, J = 95367,50 - 25000 = 70367,50
ou seja, se você souber três valores, poderá conseguir o quarto, ou
seja, como exemplo se você souber o Juros (J), o Capital Inicial (C)
e a Taxa (i), poderá obter o Tempo de aplicação (n). E isso vale para EQUAÇÃO DO PRIMEIRO E SEGUNDO GRAUS -
qualquer combinação. PROBLEMAS

Exemplo Equação 1º grau


Maria quer comprar uma bolsa que custa R$ 85,00 à vista. Equação é toda sentença matemática aberta representada por
Como não tinha essa quantia no momento e não queria perder a uma igualdade, em que exista uma ou mais letras que representam
oportunidade, aceitou a oferta da loja de pagar duas prestações de números desconhecidos.
R$ 45,00, uma no ato da compra e outra um mês depois. A taxa de Equação do 1º grau, na incógnita x, é toda equação redutível
juros mensal que a loja estava cobrando nessa operação era de: à forma ax+b=0, em que a e b são números reais, chamados coefi-
(A) 5,0% cientes, com a≠0.
(B) 5,9%
(C) 7,5% Uma raiz da equação ax+b =0(a≠0) é um valor numérico de x
(D) 10,0% que, substituindo no 1º membro da equação, torna-se igual ao 2º
(E) 12,5% membro.
Resposta Letra “e”.
Nada mais é que pensarmos em uma balança.
O juros incidiu somente sobre a segunda parcela, pois a pri-
meira foi à vista. Sendo assim, o valor devido seria R$40 (85-45) e a
parcela a ser paga de R$45.
Aplicando a fórmula M = C + J:
45 = 40 + J
J=5
Aplicando a outra fórmula J = C i n:
5 = 40 X i X 1
i = 0,125 = 12,5%

11
MATEMÁTICA
A balança deixa os dois lados iguais para equilibrar, a equação Equação 2º grau
também.
No exemplo temos: A equação do segundo grau é representada pela fórmula geral:
3x+300
Outro lado: x+1000+500 ax2+bx+c=0
E o equilíbrio?
3x+300=x+1500 Onde a, b e c são números reais, a≠0.

Quando passamos de um lado para o outro invertemos o sinal Discussão das Raízes
3x-x=1500-300
2x=1200
X=600

Exemplo
(PREF. DE NITERÓI/RJ – Fiscal de Posturas – FGV/2015) A idade
de Pedro hoje, em anos, é igual ao dobro da soma das idades de
seus dois filhos, Paulo e Pierre. Pierre é três anos mais velho do que Se for negativo, não há solução no conjunto dos números
Paulo. Daqui a dez anos, a idade de Pierre será a metade da idade reais.
que Pedro tem hoje.
A soma das idades que Pedro, Paulo e Pierre têm hoje é: Se for positivo, a equação tem duas soluções:
(A) 72;
(B) 69;
(C) 66;
(D) 63;
(E) 60.
Exemplo
Resolução
A ideia de resolver as equações é literalmente colocar na lin-
guagem matemática o que está no texto.
“Pierre é três anos mais velho do que Paulo”
Pi=Pa+3

“Daqui a dez anos, a idade de Pierre será a metade da idade


que Pedro tem hoje.” , portanto não há solução real.

A idade de Pedro hoje, em anos, é igual ao dobro da soma das ida-


des de seus dois filhos,
Pe=2(Pi+Pa)
Pe=2Pi+2Pa

Lembrando que:
Pi=Pa+3

Substituindo em Pe
Pe=2(Pa+3)+2Pa
Pe=2Pa+6+2Pa
Pe=4Pa+6

Pa+3+10=2Pa+3
Pa=10 Se ∆ < 0 não há solução, pois não existe raiz quadrada real de
Pi=Pa+3 um número negativo.
Pi=10+3=13
Pe=40+6=46 Se ∆ = 0, há duas soluções iguais:
Soma das idades: 10+13+46=69
Resposta: B.

Se ∆ > 0, há soluções reais diferentes:

12
MATEMÁTICA

Relações entre Coeficientes e Raízes Substituindo em A


A=44-26=18
Dada as duas raízes: Ou A=44-18=26
Resposta: B.

Inequação
Uma inequação é uma sentença matemática expressa por uma
ou mais incógnitas, que ao contrário da equação que utiliza um sinal
Soma das Raízes de igualdade, apresenta sinais de desigualdade. Veja os sinais de
desigualdade:
>: maior
<: menor
≥: maior ou igual
Produto das Raízes ≤: menor ou igual

O princípio resolutivo de uma inequação é o mesmo da equa-


ção, onde temos que organizar os termos semelhantes em cada
membro, realizando as operações indicadas. No caso das inequa-
Composição de uma equação do 2ºgrau, conhecidas as raízes ções, ao realizarmos uma multiplicação de seus elementos por
–1com o intuito de deixar a parte da incógnita positiva, invertemos
Podemos escrever a equação da seguinte maneira: o sinal representativo da desigualdade.

x²-Sx+P=0 Exemplo 1
4x + 12 > 2x – 2
Exemplo 4x – 2x > – 2 – 12
Dada as raízes -2 e 7. Componha a equação do 2º grau. 2x > – 14
x > –14/2
Solução x>–7
S=x1+x2=-2+7=5
P=x1.x2=-2.7=-14 Inequação - Produto
Então a equação é: x²-5x-14=0 Quando se trata de inequações - produto, teremos uma desi-
gualdade que envolve o produto de duas ou mais funções. Portanto,
Exemplo surge a necessidade de realizar o estudo da desigualdade em cada
(IMA – Analista Administrativo Jr – SHDIAS/2015) A soma das função e obter a resposta final realizando a intersecção do conjunto
idades de Ana e Júlia é igual a 44 anos, e, quando somamos os qua- resposta das funções.
drados dessas idades, obtemos 1000. A mais velha das duas tem:
(A) 24 anos Exemplo
(B) 26 anos
(C) 31 anos a)(-x+2)(2x-3)<0
(D) 33 anos

Resolução
A+J=44
A²+J²=1000
A=44-J
(44-J)²+J²=1000
1936-88J+J²+J²=1000
2J²-88J+936=0

Dividindo por2:
J²-44J+468=0
∆=(-44)²-4.1.468
∆=1936-1872=64 Inequação -Quociente
Na inequação- quociente, tem-se uma desigualdade de funções
fracionárias, ou ainda, de duas funções na qual uma está dividindo
a outra. Diante disso, deveremos nos atentar ao domínio da função
que se encontra no denominador, pois não existe divisão por zero.
Com isso, a função que estiver no denominador da inequação deve-
rá ser diferente de zero.

13
MATEMÁTICA
O método de resolução se assemelha muito à resolução de Calculando agora o CONJUNTO SOLUÇÃO da inequação
uma inequação - produto, de modo que devemos analisar o sinal Temos:
das funções e realizar a intersecção do sinal dessas funções. S = S1 ∩ S2

Exemplo
Resolva a inequação a seguir:

x-2≠0
x≠2
Portanto:

S = { x ϵ R | x ≤ - 1} ou S = ] - ∞ ; -1]

Inequação 2º grau
Chama-se inequação do 2º grau, toda inequação que pode ser
escrita numa das seguintes formas:
ax²+bx+c>0
ax²+bx+c≥0
ax²+bx+c<0
ax²+bx+c<0
ax²+bx+c≤0
ax²+bx+c≠0
Sistema de Inequação do 1º Grau
Um sistema de inequação do 1º grau é formado por duas ou Exemplo
mais inequações, cada uma delas tem apenas uma variável sendo Vamos resolver a inequação3x² + 10x + 7 < 0.
que essa deve ser a mesma em todas as outras inequações envol-
vidas. Resolvendo Inequações
Veja alguns exemplos de sistema de inequação do 1º grau: Resolver uma inequação significa determinar os valores reais
de x que satisfazem a inequação dada.
Assim, no exemplo, devemos obter os valores reais de x que
tornem a expressão 3x² + 10x +7negativa.

Vamos achar a solução de cada inequação.


4x + 4 ≤ 0
4x ≤ - 4
x≤-4:4
x≤-1

S1 = {x ϵ R | x ≤ - 1}

Fazendo o cálculo da segunda inequação temos:


x+1≤0
x≤-1

A “bolinha” é fechada, pois o sinal da inequação é igual.

S2 = { x ϵ R | x ≤ - 1}

S = {x ϵ R / –7/3 < x < –1}

14
MATEMÁTICA
Multiplicação
FRAÇÕES
Exemplo 4
Números Fracionários 2
De uma caixa de frutas, 5 são bananas. Do total de bananas,
estão estragadas. Qual é a fração de frutas da caixa que estão
3
Adição e Subtração estragadas?

Frações com denominadores iguais:


Representa 4/5 do conteúdo da caixa
Exemplo 3 2
Jorge comeu 8 de um tablete de chocolate e Miguel 8 desse
mesmo tablete. Qual a fração do tablete de chocolate que Jorge e
Miguel comeram juntos?
A figura abaixo representa o tablete de chocolate. Nela tam-
bém estão representadas as frações do tablete que Jorge e Miguel
comeram:
Representa 2/3 de 4/5 do conteúdo da caixa.

Repare que o problema proposto consiste em calcular o valor


2/8 2
3/8 de 3 de 4 que, de acordo com a figura, equivale a 8 do total de fru-
5 15
tas. De acordo com a tabela acima, 2 de 4 equivale a 2 . 4 . Assim
5/8 sendo: 3 5 3 5

3 2 5 2. 4= 8
Observe que + =
8 8 8 3 5 15
Portanto, Jorge e Miguel comeram juntos 5 do tablete de cho-
colate. 8 Ou seja:
Na adição e subtração de duas ou mais frações que têm deno-
2 2 4 8
minadores iguais, conservamos o denominador comum e somamos de 4 = . = 2.4 =
ou subtraímos os numeradores. 3 5 3 5 3.5 15

O produto de duas ou mais frações é uma fração cujo numera-


dor é o produto dos numeradores e cujo denominador é o produto
Outro Exemplo: dos denominadores das frações dadas.
3 5 7 3+5−7 1 Outro exemplo: 2 . 4 . 7 2.4.7 56
+ − = =
2 2 2 2 2 = =
3 5 9 3.5.9 135
Frações com denominadores diferentes: Observação: Sempre que possível, antes de efetuar a multipli-
3 5 cação, podemos simplificar as frações entre si, dividindo os nume-
Calcular o valor de 8 + 6 . Inicialmente, devemos reduzir as fra- radores e os denominadores por um fator comum. Esse processo de
ções ao mesmo denominador comum: simplificação recebe o nome de cancelamento.

mmc (8,6) = 24 3 + 5 = 9 + 20
3
21 . 4 . 9 12
8 6 24 24 =
31 5 10 5 25
24 : 8 . 3 = 9
24 : 6 . 5 = 20 Divisão
Devemos proceder, agora, como no primeiro caso, simplifican- Duas frações são inversas ou recíprocas quando o numerador
do o resultado, quando possível: de uma é o denominador da outra e vice-versa.
9 20 = 9 + 20 29 Exemplo
+ =
24 24 24 24
2 3
3 5 9 20 9 + 20 29 é a fração inversa de
+ 3 2
Portanto: + = = =
8 6 24 24 24 24 1
5 ou 5 é a fração inversa de
1 5
Na adição e subtração de duas ou mais frações que têm os
denominadores diferentes, reduzimos inicialmente as frações ao
menor denominador comum, após o que procedemos como no pri- Considere a seguinte situação:
meiro caso. 4
Lúcia recebeu de seu pai os dos chocolates contidos em uma
5
caixa. Do total de chocolates recebidos, Lúcia deu a terça parte para
o seu namorado. Que fração dos chocolates contidos na caixa rece-
beu o namorado de Lúcia?

15
MATEMÁTICA
A solução do problema consiste em dividir o total de chocolates Exemplo
4
que Lúcia recebeu de seu pai por 3, ou seja, 5 : 3. 2,35 + 14,3 + 0, 0075 + 5
1
Por outro lado, dividir algo por 3 significa calcular desse algo.
3
Disposição prática:
4 1 4
Portanto: : 3 = de 2,3500
5 3 5
14,3000
0,0075
1 4 1 4 4 1 4 5,0000
Como de = . = . , resulta que 4 : 3 = 21,6575
3 5 3 5 5
3 5 5

: 3= 4 . 1
1 5 3

São frações inversas


Multiplicação
Observando que as frações 3 e 1 são frações inversas, pode- Vamos calcular o valor do seguinte produto: 2,58 x 3,4.
mos afirmar que: 1 3 Transformaremos, inicialmente, os números decimais em fra-
Para dividir uma fração por outra, multiplicamos a primeira ções decimais:
pelo inverso da segunda.
258 34 8772
2,58 x 3,4 = . = = 8,772
4 4 3 4 1 4 100 10 1000
Portanto : 3 = : = . =
5 5 1 5 3 15
Portanto 2,58 x 3,4 = 8,772
4
Ou seja, o namorado de Lúcia recebeu do total de chocola-
tes contidos na caixa. 15 Na prática, a multiplicação de números decimais é obtida de
1 acordo com as seguintes regras:
4 8 4 5 5
Outro exemplo: : = . =
3 5 3 82 6 - Multiplicamos os números decimais como se eles fossem nú-
Observação: meros naturais.
3 - No resultado, colocamos tantas casas decimais quantas forem
3 1
Note a expressão: 2 . Ela é equivalente à expressão : . as do primeiro fator somadas às do segundo fator.
1 2 5
3 5
Exemplo: 652,2 x 2,03
2 3 1 3 5 15
Portanto 1 = : = . =
2 5 2 1 2
5 Disposição prática:
Números Decimais 652,2 → 1 casa decimal
x 2,03 → 2 casas decimais
Adição e Subtração 19 566
Vamos calcular o valor da seguinte soma: 1 304 4
1 323,966 → 1 + 2 = 3 casas decimais
5,32 + 12,5 + 0, 034
Transformaremos, inicialmente, os números decimais em fra-
ções decimais:

5,32 + 12,5 + 0, 034 = 352 + 125 + 34 =


100 10 1000 DIVISÃO
5320 12500 34 17854
= + + = = 17, 854 Numa divisão em que:
1000 1000 1000 1000
D é o dividendo
Portanto: 5,32 + 12,5 + 0, 034 = 17, 854 d é o divisor temos: D d D=q.d+r
q é o quociente r q
Na prática, a adição e a subtração de números decimais são r é o resto
obtidas de acordo com a seguinte regra:
Numa divisão, o resto é sempre menor que o divisor
- Igualamos o número de casas decimais, acrescentando zeros.
- Colocamos os números um abaixo do outro, deixando vírgula
embaixo de vírgula. Vamos, por exemplo, efetuar a seguinte divisão: 24 : 0,5.
- Somamos ou subtraímos os números decimais como se eles
fossem números naturais.
- Na resposta colocamos a vírgula alinhada com a vírgula dos
números dados.

16
MATEMÁTICA
Inicialmente, multiplicaremos o dividendo e o divisor da divisão dada por 10.

24 : 0,5 = (24 . 10) : (0,5 . 10) = 240 : 5


A vantagem de tal procedimento foi a de transformarmos em número natural o número decimal que aparecia na divisão. Com isso, a
divisão entre números decimais se transforma numa equivalente com números naturais.

Portanto: 24 : 0,5 = 240 : 5 = 48


Na prática, a divisão entre números decimais é obtida de acordo com as seguintes regras:
- Igualamos o número de casas decimais do dividendo e do divisor.
- Cortamos as vírgulas e efetuamos a divisão como se os números fossem naturais.

Exemplo 1
24 : 0,5
Disposição prática: 24,0 0,5
40 48
0

Nesse caso, o resto da divisão é igual à zero. Assim sendo, a divisão é chamada de divisão exata e o quociente é exato.

Exemplo 2
9,775 : 4,25
Disposição prática: 9,775 4,250
1 275 2

Nesse caso, o resto da divisão é diferente de zero. Assim sendo, a divisão é chamada de divisão aproximada e o quociente é aproxi-
mado.

Se quisermos continuar uma divisão aproximada, devemos acrescentar zeros aos restos e prosseguir dividindo cada número obtido
pelo divisor. Ao mesmo tempo em que colocamos o primeiro zero no primeiro resto, colocamos uma vírgula no quociente.

9,775 4,250 9,775 4,250


1 2750 2, 1 2750 2,3
0000

Acrescentamos um zero Colocamos uma


ao primeiro resto. vírgula no quociente.

Exemplo 3
0,14 : 28

0,14000 28,00
0000 0,005

17
MATEMÁTICA
Exemplo 4
2 : 16

20 16
40 0,125
80
0

SISTEMA DECIMAL DE MEDIDAS (COMPRIMENTO, SUPERFÍCIE, VOLUME, MASSA, CAPACIDADE E TEMPO) - TRANS-
FORMAÇÃO DE UNIDADES E RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS

UNIDADES DE COMPRIMENTO
km hm dam m dm cm mm
Quilômetro Hectômetro Decâmetro Metro Decímetro Centímetro Milímetro
1000m 100m 10m 1m 0,1m 0,01m 0,001m

Os múltiplos do metro são utilizados para medir grandes distâncias, enquanto os submúltiplos, para pequenas distâncias. Para medi-
das milimétricas, em que se exige precisão, utilizamos:

mícron (µ) = 10-6 m angströn (Å) = 10-10 m

Para distâncias astronômicas utilizamos o Ano-luz (distância percorrida pela luz em um ano):
Ano-luz = 9,5 · 1012 km

Exemplos de Transformação
1m=10dm=100cm=1000mm=0,1dam=0,01hm=0,001km
1km=10hm=100dam=1000m

Ou seja, para transformar as unidades, quando “ andamos” para direita multiplica por 10 e para a esquerda divide por 10.

Superfície
A medida de superfície é sua área e a unidade fundamental é o metro quadrado(m²).

Para transformar de uma unidade para outra inferior, devemos observar que cada unidade é cem vezes maior que a unidade imedia-
tamente inferior. Assim, multiplicamos por cem para cada deslocamento de uma unidade até a desejada.

UNIDADES DE ÁREA
km 2
hm 2
dam 2
m2 dm2 cm2 mm2
Quilômetro Hectômetro Decâmetro Metro Decímetro Centímetro Milímetro
Quadrado Quadrado Quadrado Quadrado Quadrado Quadrado Quadrado
1000000m2 10000m2 100m2 1m2 0,01m2 0,0001m2 0,000001m2

Exemplos de Transformação
1m²=100dm²=10000cm²=1000000mm²
1km²=100hm²=10000dam²=1000000m²

Ou seja, para transformar as unidades, quando “ andamos” para direita multiplica por 100 e para a esquerda divide por 100.

18
MATEMÁTICA
Volume
Os sólidos geométricos são objetos tridimensionais que ocupam lugar no espaço. Por isso, eles possuem volume. Podemos encontrar
sólidos de inúmeras formas, retangulares, circulares, quadrangulares, entre outras, mas todos irão possuir volume e capacidade.

UNIDADES DE VOLUME
km 3
hm 3
dam3 m3 dm3 cm3 mm3
Quilômetro Hectômetro Decâmetro Metro Decímetro Centímetro Milímetro
Cúbico Cúbico Cúbico Cúbico Cúbico Cúbico Cúbico
1000000000m3 1000000m3 1000m3 1m3 0,001m3 0,000001m3 0,000000001m3

Capacidade
Para medirmos a quantidade de leite, sucos, água, óleo, gasolina, álcool entre outros utilizamos o litro e seus múltiplos e submúltiplos,
unidade de medidas de produtos líquidos.
Se um recipiente tem 1L de capacidade, então seu volume interno é de 1dm³

1L=1dm³

UNIDADES DE CAPACIDADE
kl hl dal l dl cl ml
Quilolitro Hectolitro Decalitro Litro Decilitro Centilitro Mililitro
1000l 100l 10l 1l 0,1l 0,01l 0,001l

Massa

Unidades de Capacidade
kg hg dag g g dg cg mg
Quilograma Hectograma Decagrama Grama Grama Decigrama Centigrama Miligrama
1000g 100g 10g 1g 0,1g 0,1g 0,01g 0,001

Toda vez que andar 1 casa para direita, multiplica por 10 e quando anda para esquerda divide por 10.
E uma outra unidade de massa muito importante é a tonelada
1 tonelada=1000kg

Tempo
A unidade fundamental do tempo é o segundo(s).
É usual a medição do tempo em várias unidades, por exemplo: dias, horas, minutos

Transformação de unidades
Deve-se saber:
1 dia=24horas
1hora=60minutos
1 minuto=60segundos
1hora=3600s

Adição de tempo
Exemplo: Estela chegou ao 15h 35minutos. Lá, bateu seu recorde de nado livre e fez 1 minuto e 25 segundos. Demorou 30 minutos
para chegar em casa. Que horas ela chegou?

15h 35 minutos
1 minutos 25 segundos
30 minutos
--------------------------------------------------
15h 66 minutos 25 segundos

Não podemos ter 66 minutos, então temos que transferir para as horas, sempre que passamos de um para o outro tem que ser na
mesma unidade, temos que passar 1 hora=60 minutos
Então fica: 16h6 minutos 25segundos

19
MATEMÁTICA
Vamos utilizar o mesmo exemplo para fazer a operação inversa.
EXERCÍCIOS
Subtração
Vamos dizer que sabemos que ela chegou em casa as 16h6 mi-
nutos 25 segundos e saiu de casa às 15h 35 minutos. Quanto tempo 1. (CRF/MT - AGENTE ADMINISTRATIVO – QUADRIX/2017)
ficou fora? Num grupo de 150 jovens, 32 gostam de música, esporte e leitu-
ra; 48 gostam de música e esporte; 60 gostam de música e leitura;
11h 60 minutos 44 gostam de esporte e leitura; 12 gostam somente de música; 18
gostam somente de esporte; e 10 gostam somente de leitura. Ao
16h 6 minutos 25 segundos escolher ao acaso um desses jovens, qual é a probabilidade de ele
-15h 35 min não gostar de nenhuma dessas atividades?
(A) 1/75
-------------------------------------------------- (B) 39/75
(C) 11/75
Não podemos tirar 6 de 35, então emprestamos, da mesma for- (D) 40/75
ma que conta de subtração. (E) 76/75
1hora=60 minutos
2. (CRMV/SC – RECEPCIONISTA – IESES/2017) Sabe-se que
15h 66 minutos 25 segundos 17% dos moradores de um condomínio tem gatos, 22% tem cachor-
ros e 8% tem ambos (gatos e cachorros). Qual é o percentual de
15h 35 minutos
condôminos que não tem nem gatos e nem cachorros?
-------------------------------------------------- (A) 53
0h 31 minutos 25 segundos (B) 69
(C) 72
Multiplicação (D) 47
Pedro pensou em estudar durante 2h 40 minutos, mas demo-
rou o dobro disso. Quanto tempo durou o estudo? 3. (SAP/SP - AGENTE DE SEGURANÇA PENITENCIÁRIA - MS-
CONCURSOS/2017) O valor de √0,444... é:
(A) 0,2222...
2h 40 minutos (B) 0,6666...
x2 (C) 0,1616...
---------------------------- (D) 0,8888...
4h 80 minutos OU 4. (CÂMARA DE SUMARÉ – ESCRITURÁRIO - VUNESP/2017)
5h 20 minutos Se, numa divisão, o divisor e o quociente são iguais, e o resto é 10,
sendo esse resto o maior possível, então o dividendo é
Divisão (A) 131.
5h 20 minutos : 2 (B) 121.
(C) 120.
(D) 110.
5h 20 minutos 2 (E) 101.
1h 20 minutos 2h 40 minutos
5. (CÂMARA DE SUMARÉ – ESCRITURÁRIO – VUNESP/2017 )
80 minutos Um carregamento de areia foi totalmente embalado em 240 sacos,
0 com 40 kg em cada saco. Se fossem colocados apenas 30 kg em
cada saco, o número de sacos necessários para embalar todo o car-
1h 20 minutos, transformamos para minutos :60+20=80minu- regamento seria igual a
tos (A) 420.
(B) 375.
(C) 370.
(D) 345.
(E) 320.

6. (UNIRV/GO – AUXILIAR DE LABORATÓRIO – UNIRV-


GO/2017) Quarenta e oito funcionários de uma certa empresa,
trabalhando 12 horas por dia, produzem 480 bolsas por semana.
Quantos funcionários a mais, trabalhando 15 horas por dia, podem
assegurar uma produção de 1200 bolsas por semana?
(A) 48
(B) 96
(C) 102
(D) 144

20
MATEMÁTICA
7. (UFES – ASSISTENTE EM ADMINISTRAÇÃO – UFES/2017) 12. (CÂMARA DE SUMARÉ – ESCRITURÁRIO – VU-
No regime de juros simples, os juros em cada período de tempo são NESP/2017) Renata foi realizar exames médicos em uma clínica. Ela
calculados sobre o capital inicial. Um capital inicial C0 foi aplicado a saiu de sua casa às 14h 45 min e voltou às 17h 15 min. Se ela ficou
juros simples de 3% ao mês. Se Cn é o montante quando decorridos durante uma hora e meia na clínica, então o tempo gasto no trânsi-
n meses, o menor valor inteiro para n, tal que Cn seja maior que o to, no trajeto de ida e volta, foi igual a
dobro de C0, é (A) 1/2h.
(A) 30 (B) 3/4h.
(B) 32 (C) 1h.
(C) 34 (D) 1h 15min.
(D) 36 (E) 1 1/2h.
(E) 38
13. (CÂMARA DE SUMARÉ – ESCRITURÁRIO – VU-
8. (PREF. DE NITERÓI/RJ – AGENTE FAZENDÁRIO – NESP/2017) Uma indústria produz regularmente 4500 litros de
FGV/2016) Para pagamento de boleto com atraso em período in- suco por dia. Sabe-se que a terça parte da produção diária é dis-
ferior a um mês, certa instituição financeira cobra, sobre o valor do tribuída em caixinhas P, que recebem 300 mililitros de suco cada
boleto, multa de 2% mais 0,4% de juros de mora por dia de atraso uma. Nessas condições, é correto afirmar que a cada cinco dias a
no regime de juros simples. Um boleto com valor de R$ 500,00 foi indústria utiliza uma quantidade de caixinhas P igual a
pago com 18 dias de atraso. (A) 25000.
O valor total do pagamento foi: (B) 24500.
(A) R$ 542,00; (C) 23000.
(B) R$ 546,00; (D) 22000.
(C) R$ 548,00; (E) 20500.
(D) R$ 552,00;
(E) R$ 554,00. 14. (UNIRV/GO – AUXILIAR DE LABORATÓRIO – UNIRV-
GO/2017) Uma empresa farmacêutica distribuiu 14400 litros de
9. (PREF. DE FAZENDA RIO GRANDE/PR – PROFESSOR – uma substância líquida em recipientes de 72 cm3 cada um. Sabe-se
PUC/2017) A equação 8x² – 28x + 12 = 0 possui raízes iguais a x1 e que cada recipiente, depois de cheio, tem 80 gramas. A quantidade
x2. Qual o valor do produto x1 . x2? de toneladas que representa todos os recipientes cheios com essa
(A) 1/2 . substância é de
(B) 3. (A) 16
(C) 3/2 . (B) 160
(D) 12. (C) 1600
(E) 28. (D) 16000

10 (PREF. DO RIO DE JANEIRO – AGENTE DE ADMINISTRA- 15. (MPE/GO – OFICIAL DE PROMOTORIA – MPEGO/2017)
ÇÃO – PREF. DO RIO DE JANEIRO/2016) Ao perguntar para João João estuda à noite e sua aula começa às 18h40min. Cada aula tem
qual era a sua idade atual, recebi a seguinte resposta: duração de 45 minutos, e o intervalo dura 15 minutos. Sabendo-se
- O quíntuplo da minha idade daqui a oito anos, diminuída do que nessa escola há 5 aulas e 1 intervalo diariamente, pode-se afir-
quíntuplo da minha idade há três anos atrás representa a minha mar que o término das aulas de João se dá às:
idade atual. A soma dos algarismos do número que representa, em (A) 22h30min
anos, a idade atual de João, corresponde a: (B) 22h40min
(A) 6 (C) 22h50min
(B) 7 (D) 23h
(C) 10 (E) Nenhuma das anteriores
(D) 14

11. (IPRESB/SP - ANALISTA DE PROCESSOS PREVIDEN-


CIÁRIOS- VUNESP/2017) Uma gráfica precisa imprimir um lote
de 100000 folhetos e, para isso, utiliza a máquina A, que imprime
5000 folhetos em 40 minutos. Após 3 horas e 20 minutos de fun-
cionamento, a máquina A quebra e o serviço restante passa a ser
feito pela máquina B, que imprime 4500 folhetos em 48 minutos.
O tempo que a máquina B levará para imprimir o restante do lote
de folhetos é
(A) 14 horas e 10 minutos.
(B) 14 horas e 05 minutos.
(C) 13 horas e 45 minutos.
(D) 13 horas e 30 minutos.
(E) 13 horas e 20 minutos.

21
MATEMÁTICA
4. Resposta: A.
GABARITO Como o maior resto possível é 10, o divisor é o número 11 que
é igua o quociente.
11x11=121+10=131
1. Resposta: C
5. Resposta: E

SACOS kg
240 ----- 40
X ----- 30

Quanto mais sacos, menos areia foi colocada(inversamente)

30x=9600
X=320

6. Resposta: A

↑ FUNCIONÁRIOS ↑ HORAS BOLSAS ↓


32+10+12+18+16+28+12+x=150 48 ----- 12 ----- 480
X=22 que não gostam de nenhuma dessas atividades X ----- 15 ----- 1200
P=22/150=11/75
Quanto mais funcionários, menos horas precisam
2. Resposta: B Quanto mais funcionários, mais bolsas feitas

X=96 funcionários
Precisam de mais 48 funcionários

7. Resposta: C
M=C(1+in)
Cn=Co(1+0,03n)
2Co=Co(1+0,03n)
2=1+0,03n
1=0,03n
N=33,33
Ou seja, maior que 34

9+8+14+x=100 8. Resposta: C
X=100-31 M=C(1+in)
X=69% C=500+500x0,02=500+10=510
M=510(1+0,004x18)
3. Resposta: B. M=510(1+0,072)=546,72
Primeiramente, vamos transformar a dízima em fração
X=0,4444.... 9. Resposta: C.
10x=4,444... ∆=(-28)²-4.8.12
9x=4 ∆=784-384
∆=400

22
MATEMÁTICA
ANOTAÇÕES

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

10. Resposta: C. ______________________________________________________


Atual: x
______________________________________________________
5(x+8)-5(x-3)=x
5x+40-5x+15=x ______________________________________________________
X=55
Soma: 5+5=10 ______________________________________________________

11. Resposta: E. ______________________________________________________


3h 20 minutos-200 minutos
5000-----40 ______________________________________________________
x----------200
______________________________________________________
x=1000000/40=25000
______________________________________________________
Já foram impressos 25000, portanto faltam ainda 75000
4500-------48 ______________________________________________________
75000------x
X=3600000/4500=800 minutos ______________________________________________________
800/60=13,33h
13 horas e 1/3 hora ______________________________________________________
13h e 20 minutos
______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

12. Resposta: C. ______________________________________________________


Como ela ficou 1hora e meia na clínica o trajeto de ida e volta
demorou 1 hora. ______________________________________________________

______________________________________________________
13. Resposta: A.
4500/3=1500 litros para as caixinhas ______________________________________________________
1500litros=1500000ml
1500000/300=5000 caixinhas por dia _____________________________________________________
5000.5=25000 caixinhas em 5 dias
_____________________________________________________
14. Resposta: A.
14400litros=14400000 ml ______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________
200000⋅80=16000000 gramas=16 toneladas
______________________________________________________
15. Resposta: B.
5⋅45=225 minutos de aula ______________________________________________________
225/60=3 horas 45 minutos nas aulas mais 15 minutos de in-
tervalo=4horas ______________________________________________________
18:40+4h=22h:40
______________________________________________________

______________________________________________________

23
MATEMÁTICA
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24
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
1. A construção do conhecimento: papel do educador, do educando e da sociedade; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Avaliação; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 02
3. Base Nacional Curricular Comum; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
4. Concepções de Educação e Escola; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
5. Currículo em ação: planejamento, seleção e organização dos conteúdos; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
6. Educação inclusiva; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
7. Ética no trabalho docente; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
8. Função social da escola e compromisso social do educador; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
9. Gestão participativa na escola; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
10. Organização da escola centrada no processo de desenvolvimento do educando; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
11. Parâmetros Nacionais da Qualidade da educação Infantil; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
12. Projeto político-pedagógico: fundamentos para a orientação, planejamento e implementação de ações voltadas ao desenvolvimento
humano pleno, tomando como foco o processo ensino-aprendizagem; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
13. Publicações do MEC para a educação básica e educação especial, disponível em: http://portal.mec.gov.br - . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
14. Tendências educacionais na sala de aula: correntes teóricas e alternativas metodológicas e - . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
15. Visão interdisciplinar e transversal do conhecimento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
Saviani (2008) ressalta o que ele denomina de escola nova ao
A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO: PAPEL DO EDU- retratar a pedagogia inovadora em sua obra “Escola e democracia”.
CADOR, DO EDUCANDO E DA SOCIEDADE Para o autor “O professor agiria como um estimulador e orienta-
dor da aprendizagem cuja iniciativa principal caberia aos próprios
Há muito o ato de ensinar; repassar o conhecimento ao ou- alunos. Tal aprendizagem seria uma decorrência espontânea de o
tro se tornou um tema de reflexão, de pesquisas e, especialmente, ambiente estimulante e da relação viva que se estabeleceria entre
a base para a construção de uma educação mais participativa, em os alunos e entre estes e o professor.” (2008, p.8).
que professor seja antes de “detentor absoluto do saber”, o me- Com isso, fica evidente que o professor precisa preparar-se
diador deste. Como enfatiza Saviani (1995) ao enaltecer o caráter cada vez mais para lidar com esse novo olhar sobre o ato de educar.
humanístico da relação ensino aprendizagem: Freire dá ênfase a esse fator quando sugere em sua obra “Pedago-
O trabalho educativo é o ato de produzir, direta e intencional- gia da autonomia: saberes necessários à prática da educação”, que
mente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzi- a prática do ensino exige a reciclagem constante do professor:
da histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens. Assim, o [...] Um educador precisa sempre, a cada dia, renovar sua for-
objeto da educação diz respeito, de um lado, à identificação dos ma pedagógica para, da melhor maneira, atender a seus alunos,
elementos culturais que precisam ser assimilados pelos indivíduos pois é por meio do comprometimento e da “paixão” pela profissão
da espécie humana para que eles se tornem humanos e, de outro e pela educação que o educador pode, verdadeiramente, assumir o
lado e concomitantemente, à descoberta das formas mais adequa- seu papel e se interessar em realmente aprender a ensinar. (FREIRE,
das para atingir esse objetivo. (SAVIANI, 1995, p.17) 1996, p.31)
Observamos a partir dessa visão que ser educador é, portan-
to, entendido como o ato de colocar-se enquanto humano como O papel do professor na construção do conhecimento
instrumento da educação, imbuído de instruir outros humanos, os Os direitos dos quais usufruímos hoje é resultado da luta de
quais deverão repassar de alguma forma aquilo que absorveram pessoas que se dispuseram e brigaram pela transformação da so-
para a sociedade, de modo que a relação entre professor e aluno ciedade. Para que através da educação tivéssemos um país melhor.
deixa de ser tomada no sentido hierárquico, da imposição, e passa Historicamente, a educação era uma bandeira levantada pela
a ser tratada mais em seu caráter interpessoal, em que todos sejam sociedade, pelo povo, por líderes que não deixaram sua voz calar.
autores de uma educação participativa e humanizada.
Hoje essa bandeira é erguida não só pelo povo, pela sociedade
Freire (1979) nos diz que “a ação docente é a base de uma boa
e estudiosos da área, como também no âmbito político.
formação escolar e contribui para a construção de uma sociedade
Porém, a penosa tarefa de educar é atribuída aos professores,
pensante”. Este renomado estudioso da educação no Brasil nos leva
tanto no ensino básico, no ensino médio, como no ensino superior.
à reflexão de como as relações no ambiente escolar são complexas
e devem ser entendidas como tal para que o fazer educacional se Nunca se discutiu sobre o papel do professor.
torne melhor e com mais qualidade entre os agentes envolvidos, Mas até que ponto ensinar é obrigação desse profissional tão
focando-se principalmente na formação do docente, a prática de cobrado e muitas vezes até explorado? O que cabe realmente ao
aprender a ensinar. professor na tarefa de educar, de ensinar? E o conhecimento, como
Tendo como foco a aquisição do conhecimento pela media- administrar, como lidar com essa questão tão importante e delica-
ção do professor, a escola também ganha uma importância para a da? O conhecimento científico, bem como a produção e a constru-
análise do papel do docente, pois é onde de fato essa transmissão ção do conhecimento? Essas questões são tão importantes que são
do saber ocorre com mais veemência, embora haja consenso en- discutidas por vários pesquisadores da área da educação.
tre autores sobre a educação para além do ambiente escolar. Içami Os professores não podem mais ser aqueles profissionais que
Tiba (1996) corrobora a dificuldade encontrada pelos educadores só se preocupam em repassar a seus alunos os conteúdos dos livros
em aplicar o ensino onde não lhes é oferecida condição para tanto: didáticos, não podem mais ser apenas transmissores de conheci-
[...] Nesses estabelecimentos, os professores não são orienta- mento pronto, não há mais espaço para o estático, uma vez que
dos de maneira adequada para explorar suas capacidades e aper- tudo e todos estão em constante transformação.‘‘Os professores
feiçoar a qualidade de seu trabalho. Desconhecem sua importân- devem abandonar o vício de transmitir conhecimento pronto como
cia decisiva na educação dos alunos, que muitas vezes só têm a si se fossem verdades absolutas.” (CURY,2008, p. 93). Ensinar não é
mesmos como elementos de confiança, uma vez que a crise socio- transmitir conhecimento, mais criar oportunidades para a sua pro-
econômica também consome seus pais. Tais professores passam a dução ou construção.
ser material de comércio e, portanto, facilmente descartáveis [...] A observação que fazemos é que o professor deve ter hoje uma
(TIBA, 1996, p.134) visão global do ser humano e da sociedade que o rodeia. As mu-
Na chamada pedagogia inovadora, o aluno é visto como funda- danças pelas quais as pessoas e a sociedade estão passando hoje
mental para a construção do conhecimento que ele próprio absor- são cada vez mais velozes, e não é permitido ao professor parar no
ve. Como propõe Masetto (2010), o professor, nessa perspectiva, tempo. O ensinar, o educar, vem tornando-se cada vez mais difícil, e
deve ao invés de apenas repassar o conteúdo ao discente, incitá-lo exige cada vez mais do professor. Exige que ele esteja aberto ao di-
a ir à busca das informações:
álogo, que seja flexível no sentido de compreender que a educação
Atualmente o professor assume um papel muito importante e
é capaz de transformar o mundo.
duradouro juntos aos seus alunos no que diz respeito ao conheci-
O professor deve estar apto a atender às necessidades dos alu-
mento: colaborar para que o aluno aprenda a buscar informações,
nos, de entender que ser humano em sua complexidade é encan-
detectar as fontes atuais dessas informações, dominar o caminho
para acessá-las, aprender a selecioná-las, compará-las, criticá-las, tador, é um mundo a ser descoberto. A tarefa mais importante da
integrá-las ao seu mundo intelectual. (MASETTO, 2010, p.68) educação é possibilitar ao ser humano desenvolver sua capacidade
cognitiva e possibilitar sua autonomia para que este possa tomar
conta da sua vida e do seu ser. “A tarefa mais importante da edu-
cação é transformar o ser humano em líder de si mesmo, líder dos
seus pensamentos e emoções.”(CURY, 2008,p.93) .

1
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
Mas se são atribuídas ao professor tantas responsabilidades, A perspectiva política e a natureza pública da educação são re-
por que tanto descaso, tanta negligência por parte dos estados para alçadas na Constituição Federal de 1988, não só pela expressa de-
com nossos mestres? E os alunos, principalmente os jove s, valori- finição de seus objetivos, como também pela própria estruturação
zam os professores, conseguem entender a importância desse pro- de todo o sistema educacional. Ela enuncia o direito à educação
fissional para o desenvolvimento da sociedade e para seu próprio como um direito social no artigo 6º; especifica a competência legis-
desenvolvimento? lativa, nos artigos 22, XXIV e 24, IX; dedica toda uma parte do título
Freire (2008)destaca o papel do educador da seguinte manei- da Ordem Social para responsabilizar o Estado e a família, tratar do
ra: “Percebe-se assim a importância do papel do educador com a acesso e da qualidade, organizar o sistema educacional, vincular o
certeza de que faz parte da sua tarefa docente não apenas ensinar financiamento e distribuir encargos e competências para os entes
os conteúdos mas também ensinar a pensar certo – um professor da federação.
desafiador, crítico.” No seu âmbito mais amplo, são questões que buscam apreen-
Diante de tantos questionamentos, tantas cobranças, faz-se der a função social dos diversos processos educativos na produção
necessário que reflitamos sobre os rumos para onde caminha a e reprodução das relações sociais. No plano mais específico, tratam
educação no Brasil e principalmente sobre a importância do pro- das relações entre a estrutura econômicosocial, o processo de pro-
fessor como o maior agente transformador da sociedade e do ser dução, as mudanças tecnológicas, o processo e a divisão do traba-
humano. lho, a produção e a reprodução da força de trabalho e os processos
educativos ou de formação humana. De acordo com Mészáros:
Aluno como produtor do conhecimento Além da reprodução, numa escala ampliada, das múltiplas
A metodologia ativa é um contraponto às metodologias tradi- habilidades se nas quais a atividade produtiva não poderia ser re-
cionais e coloca o professor em posição não mais de detentor do alizada, o complexo sistema educacional da sociedade é também
conhecimento e sim de mediador entre o objeto de estudo e os alu- responsável pela produção e reprodução da estrutura de valores
nos. Da mesma forma, o aluno não é um receptor passivo dos co- dentro da qual os indivíduos definem seus próprios objetivos e fins
nhecimentos repassados pelo professor. Com essas metodologias, específicos. As relações sociais de produção capitalistas não se per-
ele é o produtor do conhecimento, responsável por ressignificar os petuam automaticamente. (MÉSZÁROS, 1981, p. 260)
conteúdos e utilizá-los em sua vida. Nesta nova realidade mundial denominada por estudiosos
Segundo Bastos (2006, p.10), o conceito de metodologias ati- como sociedade do conhecimento não se aprende como antes, no
vas se define como um “processo interativo de conhecimento, aná- modelo de pedagogia do trabalho taylorista / fordista fundadas na
lise, estudos, pesquisas e decisões individuais ou coletivas, com a divisão entre o pensamento e ação, na fragmentação de conteú-
finalidade de encontrar soluções para um problema.” dos e na memorização, em que o livro didático era responsável pela
Ainda de acordo com ele, o professor deve ser um facilitador, qualidade do trabalho escolar. Hoje se aprende na rua, na televisão,
para que o estudante seja o construtor de seu próprio conhecimen- no computador em qualquer lugar. Ou seja, ampliaram-se os espa-
to por meio da pesquisa, da reflexão e das decisões que irá tomar ços educativos, o que não significa o fim da escola, mas que esta
para alcançar suas metas. deve se reestruturar de forma a atender as demandas das transfor-
mações do mundo do trabalho e seus impactos sobre a vida social.
Metodologias Ativas Conforme Frigotto.
Existem diversos tipos de metodologias ativas: Na perspectiva das classes dominantes, historicamente, a edu-
– Na aprendizagem baseada em problemas (PBL), a aprendi- cação dos diferentes grupos sociais de trabalhadores deve dar-se a
zagem é iniciada com a necessidade de se resolver um problema; fim de habilitá-los técnica, social e ideologicamente para o traba-
– Na ThinkPairShare (TPS), o educador coloca uma questão lho. Trata-se de subordinar a função social da educação de forma
para os alunos. Eles têm tempo para trabalhar com o problema controlada para responder às demandas do capital. (FRIGOTTO,
individualmente e depois trabalham em pares para resolver para, 1999, p.26).
então, compartilhar com a turma suas ideias; Segundo Álvaro Vieira Pinto (1989, p.29), “a educação é o pro-
– Na PeerInstruction (PI) o objetivo é fazer os alunos apren- cesso pelo qual a sociedade forma seus membros à sua imagem e
derem por meio de debates ocasionados por perguntas feitas pelo em função de seus interesses”. É dentro do contexto educacional,
professor; que se encontram diferentes sujeitos, que pertencem a diferentes
– Na Aprendizagem Baseada em Projetos (PrjBL), é utilizado um contextos sociais, que trazem sua historicidade construída a partir
projeto interdisciplinar ou não como um recurso pedagógico para de diferentes vivências, assim é possível e faz-se necessário buscar
construir um conhecimento. Assim, ao invés de aulas tradicionais, saídas para uma democratização do ensino.
os alunos são estimulados a refletir sobre um determinado proble-
ma e trabalhar em grupos para apresentar um produto final, resul-
tado de seu trabalho. AVALIAÇÃO

Relação Educação, Conhecimento e Sociedade Avaliação


Diante das transformações econômicas, políticas, sociais e cul- A história da avaliação é longa e tem uma trajetória de mais
turais do mundo contemporâneo, a escola vem sendo questionada de 100 anos de muitos estudos, mudanças e transformações, tudo
acerca do seu papel nesta sociedade, a qual exige um novo tipo de para que haja uma melhor maneira de avaliar sem que os avaliados
trabalhador, mais flexível e polivalente, capaz de pensar e aprender sejam prejudicados.
constantemente, que atenda as demandas dinâmicas que se diver- O primeiro passo da avaliação segundo Ristow (2008) se dá na
sificam em quantidade e qualidade. A escola deve também desen- década de 1920 e na década de 1930, e foi considerado, como um
volver conhecimentos, capacidades e qualidades para o exercício período de mensuração. Neste primeiro momento a avaliação ba-
autônomo, consciente e crítico da cidadania. Para isso ela deve ar- seava-se na quantidade e não na qualidade, era feita de forma a
ticular o saber para o mundo do trabalho e o saber para o mundo verificar apenas pontos de erros e acertos.
das relações sociais.

2
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
Isso durou 10 anos, pois trouxe muitas dúvidas e inquietações Pedro Demo deixa claro que é necessário:
de como realmente estava havendo a aprendizagem ou esse méto- Defender critérios transparentes e abertos nos processos ava-
do era apenas uma “decoreba” do conteúdo dado, que depois da liativos; a avaliação precisa ser conduzida de tal sorte que o avalia-
avaliação era esquecido. do possa se manifestar e reagir; são inaceitáveis avaliações sigilosas
Então surge o segundo passo da avaliação, sendo que recorren- ou feitas pelos chefes exclusivamente, bem como são inaceitáveis
do a Ristow (2008), vai da década de 1940 a 1950, e é voltada para meras auto-avaliações. (DEMO, 1997, p. 50)
a verificação de objetivos e para isso acontecer era necessário uma É preciso que o professor deixe o aluno questionar, argumen-
investigação dos objetivos. Feito isso a avaliação poderia respon- tar, reagir a algo que o educador argumentou, assim como é de ex-
der as dúvidas vistas anteriormente, para assim saber se existiram trema importância que o professor tenha clareza acerca do modo
mudanças e crescimentos na aprendizagem, pois era descrito o que de avaliar. Mostre o que quer de fato, sem «pegadinhas» somente
acontecia com o aluno. Neste período a avaliação foi vista como para deixar o educando confuso. Essas formas avaliativas devem ser
descritiva. elaboradas por professores e alunos para não haver surpresas na
Houve, porém um grande problema, essa descrição não era hora das avaliações.
totalmente suficiente para sanar as dúvidas e para saber se estava A legislação atual representou um grande salto qualitativo para
cumprindo o papel que era proposto. Existia quase tudo, o educan- toda a comunidade escolar no que se refere ao processo de avalia-
do, a descrição e os objetivos, porém muitas vezes não havia expli- ção. Cabe a estes compreendê-la e desta forma usá-la a seu favor.
cações para várias respostas dadas pelos educandos e os professo- Vários educadores falam uma coisa, mas fazem outra, quer di-
res não podiam julgar e talvez nem soubessem. Se o professor não zer a teoria e a prática não caminham juntas. Há escolas que dizem
soubesse julgar o método, com certeza o julgamento seria errado, adotar uma abordagem qualitativa ao processo avaliativo, que não
e prejudicaria o aluno, pois como diz Werneck (2001, p. 68): “Che- “somam” nem “medem” os alunos, porém isso só acontece no pa-
gou-se, no mundo à visão de que avaliar estava intimamente ligado pel, para tentar atender as exigências da lei.
ao ato de avaliar”. Vive-se no século XXI, e cabe ao educador ser crítico, criativo e
Para os educadores o julgamento não poderia levar em conta saber que a avaliação é um meio de conseguir novas informações
os seus valores ou os da instituição que trabalhavam. Era neces- sobre a aprendizagem e desta forma avaliar melhor o educando.
sário ter padrões e critérios definidos para julgar sem prejudicar o Quando se avalia, o educador deve aproveitar os resultados
educando porque só assim haveria uma desmistificação da idéia obtidos e mostrar para os alunos como a avaliação pode ser impor-
de que quando se avalia o aluno, ele é prejudicado. Mas para que tante e que pode trazer para todos novas possibilidades, e se bem
esse julgamento não fosse errôneo, houve a necessidade de alguns trabalhada, novos conhecimentos.
professores reavaliarem sua prática e mudar quando preciso. Ainda O professor não deve buscar uma receita pronta, pois cada alu-
existem professores que consideram seu modo de avaliar, o melhor no tem seu tempo, seu desenvolvimento, então deve-se buscar sua
e que não falham jamais e é esse o tipo de profissional que fazem forma de avaliar.
com que os professores adquiram “fama” de injustos, carrascos e Hoffmann (1996, p. 186), diz algo muito significativo, ou seja,
incompetentes. Não basta apenas observar e descrever é necessá- para ela “estudar avaliação não significa estudar teorias de medidas
rio o julgamento, e para isso, o professor tem que ter uma visão educacionais”. Com isso, pode-se dizer que não adianta só saber
mais humana e real dos alunos e da escola. todas as teorias, tem que haver uma junção de teoria, prática, ex-
Neste momento, Ristow (2008), diz que a avaliação dá o ter- periência, negociação etc.
ceiro passo, que vai da década de 1960 a década de 1980 e aqui
eles trabalhavam o juízo do valor. Neste momento do juízo do valor, Concepções de aprendizagem frente avaliação escolar
aparecem dois novos fatores que são: mérito e relevância. O mérito
trata da qualificação, capacitação e merecimento a uma melhora Existem várias concepções de aprendizagem e é de extrema
em tudo que acontecia ao redor da avaliação. Já a relevância, que importância conhecê-las, pois se deve deixar claro que o educador
trata das modificações e transformações que acontece a partir do segue o que determinará os mecanismos de avaliação utilizados em
merecido. sala de aula.
Segundo Ristow (2008), ela afirma que na década de 1990 o Vale lembrar que as concepções de aprendizagem dependem
quarto passo da avaliação, foi tido como o processo de negociação. muito do momento histórico que se está vivendo. Desta forma cabe
Assim, para isso se materializar era necessário o diálogo, negociar ao educador não apenas saber a teoria referente às concepções,
com os pais, professores, mercado trabalhista e principalmente mas utilizá-las na prática do dia-a-dia. Assim sendo, faz-se neces-
com os alunos, afinal eles que serão capacitados, pois dialogando sário falar das principais correntes de aprendizagem, porém breve-
com todos, é possível saber o que é necessário ensinar e o que é mente, pois este não é o enfoque principal deste conteúdo.
importante avaliar.
Esse momento oportunizou aos professores estarem sempre - Concepção Inatista
abertos a conversar, a saber a opinião dos alunos e poder mudar se Nesta concepção a pessoa tem dons e aptidões que se amadu-
fosse preciso. Percebeu-se que o professor não era o dono da ver- recem com o passar do tempo (biológico). Segundo Chauí (1997) a
dade e sempre terá o que aprender com o aluno, por isso a negocia- criança trás em si todas suas potencialidades. É necessário apenas
ção foi considerado um grande momento, o passo da qualidade na esperar, uma vez que as capacidades já estão no sujeito no ato do
avaliação, pois não segue um método determinado. nascimento.
Estamos no século XXI e ainda hoje, após tantas mudanças para Cabe ao educador apenas ajudá-lo a despertar o que já existe
melhorar a avaliação, tem professores que classificam seus alunos dentro dele. Se o educando não consegue chegar ao conhecimento
apenas por números. Infelizmente nem a lei conseguiu mostrar aos que o educador passa, é porque este ainda não teve o amadureci-
professores que a qualidade é importante, pois muitos têm medo mento biológico ou não possui esta capacidade que é inata.
da mudança e preferem só a quantidade e não deixam os alunos
questionarem.

3
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
- Concepção Ambientalista. Mecanismos de avaliação
A criança ou sujeito é visto como uma “folha em branco”. É a
partir dos contatos com o ambiente que ele construirá o conheci- Existem muitos instrumentos para avaliar o aluno, e várias for-
mento que necessita. Assim sendo o educador transmite o que sabe mas de todos se integrarem no processo de aprendizagem, basta
e o aluno apenas recebe. O educando não constrói o conhecimento, o professor conseguir detectar a necessidade de cada um. Sendo
apenas adquire. assim é fundamental que o professor utilize todos os métodos ne-
Nesta concepção tudo é planejado segundo Parra (2002), não cessários para o aluno alcançar o sucesso.
há criatividade apenas acontece o que já foi previsto. O educador deve tentar saber em que nível de conhecimento
o estudante está, para assim dar a verdadeira oportunidade dele se
- Concepção Piagetiana aprofundar, uma vez que segundo Sarubbi:
Para Piaget o principal ponto de sua teoria está ligado ao fato A avaliação educativa é um processo complexo que começa
que o sujeito e o meio se interagem mutuamente, mas os fatores com a formação de objetivos e requer a elaboração de meios para
biológicos têm preponderância. Para Piaget o desenvolvimento cog- obter evidências de resultados para saber em que medida foram os
nitivo do sujeito se dá através de estágios. Deixa claro que os sujei- objetivos alcançados e formulação de um juízo de valor. (SARUBBI:
tos passam durante toda a vida por situações desequilibrantes. Para 1971, p. 34)
entrar na zona de conforto e superar algo que está o deixando em Sendo a avaliação um processo, cabe ao educador operacio-
conflito é possível acionar dois mecanismos que são a assimilação ná-la da melhor forma possível, mostrando ao aluno as funções da
e a acomodação. mesma e que ela serve para facilitar o diagnóstico, ajudar na apren-
dizagem, entre outras. Mostrar que a avaliação é um meio e não o
- Concepção Vygotskyana fim do processo.
Para Vygotsky um dos pontos mais importantes são a lingua- Vale lembrar que há várias formas de avaliar o educando, pois
gem e o pensamento. Rego (1986) aponta que quando a criança a mesma encontra-se no processo educativo, ou seja, faz parte do
nasce ela modifica o ambiente e essas modificações vão refletir no processo ensino-aprendizagem, onde todos os sujeitos estão envol-
comportamento dela no futuro, acontece também a aquisição psí- vidos.
quicas decorrente do meio, existe a base biológica, que é o poder Recorrendo as autoras Gentile e Andrade (2001), há diversas
que o cérebro tem de assumir funções atingidas, mas para isso tem formas de avaliar, pois não existe um método mais eficaz que o
que haver a influência do meio. Outro fator é a mediação com o outro, cabe ao professor usar os que forem melhores para o bom
meio através dos instrumentos e os signos e a última tese fala das andamento da aprendizagem do aluno. Desta forma Gentile e An-
funções psicológicas superiores, que depende da interação do su- drade (2001), abordam nove formas avaliativas mais comuns nos
jeito e não só do desenvolvimento. ambientes escolares, que são:
Outro ponto importante é a zona de desenvolvimento proxi- - Prova objetiva: É o método mais antigo e com certeza o mais
mal, que é aquilo que a criança sabe fazer sozinha e a zona do de- usado. O aluno responde a uma série de perguntas diretas, com
senvolvimento potencial que é o que ela ainda não faz sozinha, mas apenas uma resposta possível. Pode ser respondida pela “decore-
pode fazer com a ajuda de alguém. ba” não mostrando o que de fato o aluno aprendeu.
Vygotsky leva em conta a história do indivíduo por basear-se no - Prova dissertativa: Caracteriza-se por várias perguntas, que
materialismo histórico e dialético. exige do aluno a capacidade de resumir, analisar e julgar. Tem como
função ver se o aluno tem a capacidade de interpretar o proble-
- Concepção Walloniana ma central, abstrair acontecimentos, formular e redigir ideias. Não
Para Wallon o ser humano passa por vários momentos em sua mede o domínio dos conhecimentos e não permite amostragem.
vida desde o afetivo até motores e intelectuais. E estes momentos - Exposição Oral ou Seminário: Destaca-se pela exposição oral
Wallon classificou como estágios: para os colegas, utilizando a fala e as matérias de apoio apropriado
O primeiro foi impulsivo emocional, que esta relacionada ao ao assunto. Tem como função transmitir verbalmente as informa-
primeiro ano de vida da criança onde a afetividade é fortíssima. ções colhidas de forma eficaz. O aluno adquire mais facilidade de se
O segundo é o sensório-motor que vai dos 2 a 3 anos, aqui expor em público. Faz com que aprenda a ouvir e falar. Oportuniza
destacam-se a fase motora e mental, além da criança conseguir ao aluno mais responsabilidade e organização, o tornando mais crí-
manipular objetos, os pensamentos já estão mais fortes, a função tico e criativo. O professor deve ter o cuidado de conhecer cada alu-
simbólica e a linguagem também. no para não comparar a explicação de um tímido e um desinibido.
No terceiro estágio que é o personalismo dos 3 aos 6 anos, - Trabalhos em grupos: É muito usado atualmente por causa do
acontece a formação da personalidade. tempo reduzido a cada professor em sala de aula. São feitas ativi-
O quarto estágio é o categorial dos 6 aos 11 , a criança já con- dades diversas, desenvolve o espírito colaborativo e a socialização.
segue dividir, classificar em fim já tem mais autonomia pois já cate- Tem a vantagem de o aluno escolher como vai expor o trabalho para
goriza o mundo. a classe e possibilita o trabalho organizado, porém o professor deve
No quinto e último é o da adolescência começando nos 11 ou buscar informações para passar ao grupo e não deve substituir os
12 anos, há a construção do eu, neste estágio há muitos conflitos momentos individuais.
morais e existenciais, e volta o campo afetivo. - Debates: Muito interessantes, pois o aluno expõe sua opinião
Estes estágios bem trabalhados a criança alcançará a aprendi- a respeito de temas polêmicos. Ensina o aluno a defender sua opi-
zagem facilmente. Enfim, estes breves comentários sobre as con- nião com argumentos que convençam. Faz o educando aprender a
cepções de aprendizagem têm um único propósito de esclarecer a escutar, pois tem um propósito, a saber, desenvolver a oralidade e a
forte relação entre a avaliação e as concepções de aprendizagem argumentação. O professor deve dar oportunidade para todos falar.
para assim melhorar o entendimento diante da escolha dos meca-
nismos de avaliação usados em sala de aula. - Relatório individual: É observada a produção de texto feito
pelo aluno e ajuda a ver se há uma ligação no que se ensinou e no
que está escrito. Pode-se avaliar o verdadeiro nível de compreen-
são. Deve-se evitar o julgamento.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
- Auto-Avaliação: O aluno faz uma análise oral ou escrita do Cabe ao professor mostrar aos educandos, que eles necessitam
seu próprio processo de aprendizagem. Levando a refletir sobre os é adquirir conhecimento, pois só assim o processo de aprendiza-
pontos fortes e fracos. Através da auto avaliação o aluno aprende a gem vai acontecer.
enfrentar e superar suas limitações. Os alunos precisam aprender e desta forma enxergar a realida-
- Avaliação formativa ou Observação: O professor observa e de e a verdadeira sociedade para conseguir inserir-se no contexto
anota o desempenho do aluno. Tem como função, obter informa- global.
ções acerca das capacidades afetivas e cognitivas etc... Descobrir O professor também tem uma tarefa que é redimensionar a sua
como cada educando constrói o conhecimento seguindo passo a prática, pois só assim conseguiremos a formação de pessoas críti-
passo. O professor deve fazer as anotações sempre no momento do cas, não só alunos, mas professores que são capazes de conseguir
acontecimento e evitar generalizações. distinguir a diferença entre recuperar o conhecimento e recuperar
- Conselho de classe: Reuniões organizadas por determinada a nota.
equipe. Tem como objetivo compartilhar informações sobre a classe Quando o professor entrega uma prova e dá explicações ou
e aluno, para argumentar nas decisões. O ponto positivo é a integra- corrige apenas para fazer que está recuperando, sem dar significa-
ção entre os professores e a facilitação na compreensão dos fatos, do para aquilo, seu trabalho torna-se desnecessário. Se quiser recu-
com os vários pontos de vistas. O professor deve cuidar para não perar, deve pegar a prova e explicar as questões levantadas, corrigir
rotular os educandos. Fazer observações concretas não deixando para todos verem onde erraram, mas esses conceitos deverão ser
a reunião se tornar uma confirmação de aprovação ou reprovação. cobrados novamente. Se isso não acontecer com certeza o aluno
não vai querer ver o que errou ou querer apropriar-se do que não
Todas essas formas de avaliar podem ser usadas no cotidiano aprendeu.
escolar, segundo Demo (1997, p. 50), “nunca é suficiente apenas Se o docente quer recuperar o conhecimento, que faça com
um método avaliativo”. qualidade e competência, para poder lançar o educando em um
Por isso o professor tem que tentar ser e fazer o melhor. Deve processo de aprendizagem contínua, onde a nota não seja para me-
insistir em uma educação capaz de mudar os pensamentos de que a dir, e sim para qualificar.
avaliação não serve para nada, ao contrário, deve-se apenas encon- Outro ponto importante quando se fala em recuperação é sa-
trar a forma mais adequada para que o aluno mostre o que apren- ber quem deve ser recuperado. Muitos educadores recuperam ou
deu, assim com certeza alcançará o sucesso. tentam recuperar aquele aluno que tem nota abaixo da média, po-
É relevante lembrar Hoffmann apud Bochniak (1992, p. 74), rém, deve-se recuperar quem não alcançou o cem por cento, pois
quando afirma que “é através das pequenas iniciativas, dos peque- se o aluno tem sete, ainda estaria faltando trinta por cento de sua
nos passos, das pequenas descobertas que se chega à construção aprendizagem. Talvez essa maneira de recuperar apenas quem pre-
do conhecimento”. cisa muito, esteja fazendo a educação ter tantas falhas e esteja con-
Com isso fica claro a necessidade de fazer o melhor, por me- tribuindo para professores e alunos se conformarem com metade
nor que seja, não importando se o que foi feito é para a satisfação do que tem direito, e não a totalidade.
pessoal ou coletiva. Se cada professor fizer a sua parte tudo pode Segundo Vasconcellos (1995, p. 86), “O compromisso do pro-
mudar, mas é preciso não deixar de questionar o sistema atual de fessor é com a aprendizagem de todos. Sendo um especialista no
avaliação, pois é isto que faz os educadores se aperfeiçoar cada vez ensino, tem que saber lidar com os desafios da aprendizagem, pois
mais e conseqüentemente melhorar o seu fazer pedagógico. é um profissional da educação”. Quando todos lutarem pelo mesmo
ideal dentro da educação é provável que contribuiremos para dar
Recuperação de nota ou de conhecimento um novo rumo ao nosso País, no sentido de criar uma outra ordem
social.
Quando o aluno for avaliado e o resultado não for satisfató-
rio, deve-se reavaliá-lo, porém, antes de tomar essa decisão é ne- O erro construtivo e o castigo na escola
cessário estar consciente de que essa avaliação é para recuperar o
conhecimento e jamais a nota. Existe grande diferença entre essas O erro na avaliação ou no dia-a-dia não deve ser levado pelos
duas ações. professores como uma ofensa pessoal, como se quem não apren-
Quando o educador avalia com data marcada, apenas para deu é porque não prestou atenção na matéria ou na explicação.
justificar aos pais e professores e provar que fez recuperação, este Na verdade alguma coisa deve ter acontecido, uma vez que essa
educador está preocupado não com o aluno e sim na recuperação questão (avaliação e o erro) é muito complexa. Se o erro for bem
da nota, ou seja, o professor avalia novamente apenas para satisfa- trabalhado será muito importante e servirá como fonte de virtude.
ções externas e burocráticas. Ele está fugindo do seu verdadeiro pa- Luckesi (1994, p. 56), diz que tanto “o ?sucesso/insucesso? como o
pel de educador. Porém, se ele avalia para o crescimento do aluno e ?acerto/erro? podem ser utilizados como fonte de virtude em geral
seu próprio crescimento de forma significativa, estará recuperando e como fonte de ?virtude? na aprendizagem”.
o conhecimento. Este não terá que dar satisfações a ninguém, pois O erro e o insucesso em qualquer momento da vida de uma
o resultado aparecerá no aluno, no professor e no próprio cotidiano criança pode ser suporte para o crescimento e para o rendimento
na sala de aula. escolar. Isso não significa que o erro e o insucesso são indispensá-
Por isso é importante lembrar o que diz Nunes (2000, p. 14), veis para o crescimento e que a criança só vai aprender se errar, se
“É preciso modificar a avaliação na escola a nota somente, não ex- não obter sucesso na aula ou na escola, ao contrário, é necessário
pressa nada em relação ao aluno. Ela classifica, mas não tem um deixar bem claro que a criança não precisa passar por erro e o insu-
significado. As provas devem ser um momento de aprendizagem”. cesso, mais que se ela passar por essa etapa os educadores devem
Deve-se ter bem claro que nota não é conhecimento. Os alu- tornar esses erros os mais significativos benefícios.
nos poderão obtê-las através de “decoreba” memorização, que na
verdade é aprendizagem de curta duração. Eles devem saber que
somente o número, a nota, sem o conhecimento não é nada, não
terá utilidade nenhuma à vida.

5
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
É importante ressaltar que não se deve fazer do erro um cami- As escolas e professores, com certeza são os maiores causa-
nho onde todos devem passar. O erro e o insucesso devem servir dores desses sentimentos (culpa) principalmente com alunos das
para levar o sujeito a crescer, para evoluir, sobretudo deve buscar séries iniciais. Esse clima de medo, tensão, ansiedade, fobias e cas-
este caminho como significado de sucesso. É necessário que o erro, tigos quando o aluno fracassa é o maior responsável pela escola
principalmente na aprendizagem não seja fonte de castigo jamais. O não ser considerada por uma grande maioria, um lugar de alegrias,
erro deve ser visto e compreendido como conseqüência do acerto. prazer e satisfação. Desta forma a escola não é eleita como um lugar
O castigo não é uma prática recente, ao contrário é muito an- para ser feliz.
tiga, onde os docentes castigavam fisicamente os seus alunos, nas Os professores devem se conscientizar que quando o aluno
mais variadas formas, fazendo os alunos se ajoelharem no feijão ou erra em uma avaliação ou em sala de aula, o educador deve auxiliar
milho, batendo com régua e palmatória, entre outras. Atualmente na construção do conhecimento.
quase não existe o castigo físico, mais isso não significa que a “era” Psicologicamente a avaliação é inútil, pois desenvolve a perso-
dos castigos acabou, ao contrário, continua de forma sutil, uma vez nalidade da submissão, e os padrões internalizados em função dela
que não deixam marcas no corpo, mas marcas profundas na alma. têm sido quase todos negativos. É utilizada de modo fetichizado,
Nos tempos atuais, os castigos se tornaram psicológicos e mo- sendo útil ao desenvolvimento da autocensura.
rais. As crianças são ridicularizadas, humilhadas pelos educadores, Sociologicamente, sendo utilizada de forma fetichizada é bas-
com frases, palavras e até pelas notas que muitas vezes os professo- tante útil para os processos de seletividade “social”. No caso está
res fazem questão de anunciar a todos em alto e bom som. muito mais articulada para a reprovação do que para a aprovação,
O professor cria em sala de aula um clima de tensão, medo e contribuindo para a seletividade social.
ansiedade. Faz perguntas a um e vai passando por todos os outros, Para a avaliação se tornar algo significativo de verdade deve-se
na verdade quer achar na sala aquele que não aprendeu para ex-
transformar os mecanismos de avaliação. Isso só acontecerá atra-
por o aluno e indiretamente avisar aos colegas que aprendam se
vés da ação e como somos parte deste processo de transformação,
não serão os próximos a ser ridicularizados. Ele pode não falar mais
também somos responsáveis pelo processo de ressignificação da
mostra isso ao aluno.
avaliação utilizada no interior da sala de aula.
Com essa postura, além do professor culpar o aluno, o próprio
aluno começa a se auto punir. Culpar-se por não saber isso ou aqui-
lo, por erros que nem sabe se cometeu. Não há nada que mostre A prática avaliativa na aprendizagem na escola
que o castigo físico, psicológico ou moral auxilie ou facilite a apren-
dizagem escolar ou o desenvolvimento em sala de aula, na verdade A importância da avaliação escolar: retrocessos e avanços
alguma coisa está acontecendo de forma errada. É chegada a hora
de fazer algo de maneira justa, pois corrigir o erro não significa hu- No século XIX até a década de 1950 era unânime a forma de
milhar ou castigar o aluno. O educador deve verificar onde o aluno ensinar e tinha como estratégia de ensino a repetição de atividades,
errou e reorientá-lo, não esquecendo de mostrar ao aluno a origem cópias de modelos e memorização. O professor adotava a postura
do seu erro, de seu insucesso. de transmissão do conhecimento, e o aluno só bastava absorver o
Recorrendo a Luckesi (1997), deve-se esclarecer que o erro só que era ensinado sem espaço para contestação. A turma era bem
existe, pois, já foi construído um padrão, idéias de como agir, pensar avaliada quando conseguia reproduzir com rigor os conteúdos re-
e falar, preceitos já estabelecidos por uma sociedade. Se os profes- passados pelo professor, essa metodologia foi contestada por Lu-
sores se comportarem de forma arbitrária, sem escutar os educan- ckesi (2005, p. 37), da seguinte forma:
dos estará se direcionando para o passado, onde a única solução (...) O papel disciplinador, com o uso do poder, via a avaliação
para o erro ou para o insucesso eram os castigos, daí com certeza a classificatória, o professor representando o sistema, enquadra os
escola seria a única responsável pelo fracasso de uma criança. alunos -educando-os dentro da normatividade socialmente esta-
Muitas vezes, os docentes não querem enxergar o que está em belecida. Daí decorre manifestações constantes de autoritarismo,
sua frente, que o erro que a criança comete muitas vezes é culpa chegando mesmo a sua exacerbação.
dos professores e da escola e então enxergam a realidade não como Quem acha que o papel do professor é só “passar” conheci-
ela é, mas como querem enxergá-la, de acordo com seus interesses mentos talvez veja a aprendizagem ativa e interativa como um
e conveniência. capricho da imaginação teórica ou simplesmente como ilusões de
Enfim, o professor deve estar consciente de suas obrigações e certas propostas pedagógicas. Isso, na prática, reduz o ensino à ins-
lembrar que segundo Luckesi (1997), a pedagogia de exames, testes trução individual em massa, quando sabemos que ainda existem
ou avaliações em que vivemos pode causar muitas conseqüências educadores usando juízos de valores, para marcar seu lugar e mos-
na vida do aluno.
trar aos alunos que eles têm de ocupar outra posição. Essa prática
Pedagogicamente, a escola centraliza a atenção nas avaliações
educativa perdurou por muitos anos, alunos chegavam a ser estig-
e não cumpre sua verdadeira função cognitiva. Luckesi (1997, p. 51)
matizados e sem confiança de si mesmo, eram avaliados por ex-
afirma que “nem sempre a escola é a responsável por todo proces-
pressões que amedrontavam, utilizando-se das provas como fator
so culposo que cada um de nós carrega, mas reforça (e muito) esse
processo”. Sabe-se que com medo e angústia as crianças adquirem negativo de motivação.
fobias e ansiedades que com certeza prejudicam o seu desenvolvi- Quando um aluno vai mal numa prova, isso pode ter sido pro-
mento. vocado por muitos motivos, inclusive uma falha na metodologia de
Quando Luckesi (1997, p. 52) diz, “que nem sempre a escola é a ensino do professor em sala de aula. Mas é sempre mais cômodo
única responsável”, é porque muitas vezes, os próprios pais ou res- culpar a criança do que se avaliar.
ponsáveis não aceitam os erros ou insucesso de seus filhos. Então Com o surgimento da burguesia, a pedagogia tradicional emer-
a escola não é totalmente culpada, mas também se o pai, mãe ou giu e se cristalizou, porém é certo que aperfeiçoou seu mecanismo
responsável fazem os filhos se sentirem culpados, talvez, fazem isso de controle, destacando a seletividade escolar e seus processos de
por falta de conhecimento. formação das personalidades dos educandos. O medo e o fetiche
são mecanismos imprescindíveis, assim aponta Luckesi (2005, p. 23)
que:

6
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
Ao longo da história da educação moderna e de nossa prática Neste contexto, hoje a educação é uma obrigação do Estado e
pedagógica, a avaliação da aprendizagem escolar, por meio de exa- das famílias. A escola pública teve e tem de se adaptar para receber
mes e provas, foi se tornando um fetiche. “Por fetiche entendemos a parcela da população antes excluída e com padrões culturais dife-
uma entidade” criada pelo ser humano para atender a uma neces- rentes daqueles aos quais ela estava acostumada.
sidade, mas que se torna independente dele e o domina, universali- Podemos constatar que a educação no Brasil discutida hoje,
zando-se. (LUCKESI, 2005, p. 23) como um direito foi o resultado de muitas lutas anteriores, como
A reprodução desse modelo fez com que as crianças oriun- já vimos, essas garantias são anos de lutas, isso significa o marco
das de famílias carentes, quando matriculadas, simplesmente não na trajetória democrático do Brasil. O Estatuto da Criança e do Ado-
aprendessem, elas não dispunham de repertório para acompanhar lescente (ECA), que assegura a criança e adolescentes o direito à
o ensino que privilegiava a transmissão do conhecimento. educação formal, como podemos ver em seu capítulo IV - Do Direito
A gestão, a organização do espaço e a expectativa em relação à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer, artigo 53, diz que:
ao comportamento não levaram em consideração as diferenças, A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao
esperava-se que todas estivessem educadas de acordo com os pa- pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da
drões das classes privilegiadas. cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:
O direito a educação passa a constar de fato na lei a partir da I - igualdade de condições para o acesso e permanência na es-
segunda constituição republicana, em 1934. Isso depois de os in- cola;
telectuais brasileiros, comandados pelo educador Anísio Teixeira II - direito de ser respeitado por seus educadores;
(1900-1971), terem produzido o manifesto dos pioneiros da Edu- III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer
cação Nova, primeiro movimento intelectual no país a lutar aberta- às instâncias escolares superiores;
mente pelo acesso amplo à Educação como uma forma de reduzir IV - direito de organização e participação em entidades estu-
as desigualdades culturais e econômicas. Desta forma podemos dantis;
acompanhar estas mudanças significativas na educação brasileira V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.
através da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) nº 9. 394 de 1996 no tí-
tulo II do artigo 3, diz que o ensino será ministrado com base nos As crianças e os adolescentes têm, pois, garantido, no Brasil,
seguintes princípios: o direito ao ensino, a educação. A constituição delega ao Estado
I - Igualdade e condições para o acesso e permanência na es- o dever para com esses cidadãos, mais cabe a cada um reivindicar
cola; a efetivação desse direito, que nem sempre é efetivado de forma
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultu- eficiente.
ra, o pensamento, arte e o saber; Portanto, como observamos os municípios tem o dever de prio-
III- Pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas; rizar a educação infantil e principalmente o ensino fundamental,
IV - Respeito à liberdade e apreço a tolerância; para que haja uma melhor educação e, haja a aquisição e constru-
V - Coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; ção do conhecimento do aluno e o mesmo possa contribuir com a
VI - Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; sociedade.
VII - Valorização do profissional da educação escolar;
VIII - Gestão democrática do ensino público, na forma desta lei Modalidades e funções da avaliação escolar
e da legislação dos sistemas de ensino;
IX - Garantia de padrão de qualidade; O ensino no Brasil que antecedeu o período republicano tinha
X - Valorização da experiência extra-escolar; como base a educação jesuítica em 1549, segundo Pinto (2002), os
XI - Vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práti- conteúdos tinham um papel de domesticação e adestramento, com
cas sociais; (LDB, 1996) visões bíblicas somente para ensinar a ler e a escrever. A metodo-
logia utilizada era a tradicional, que tinha como princípio levar os
Este movimento nasceu por volta de 1960 sob a influência das alunos, a saber, dados e fatos na ponta da língua, o saber do profes-
idéias do movimento da Escola Nova que tinha como foco principal sor deveria se manter neutro diante dos alunos e se ater a passar os
a aprendizagem do aluno como um ser social, que dizia não se im- conhecimentos sem discuti-los, usando para isso a exposição cro-
portar com o resultado, mas com o processo e, principalmente a nológica. Na hora de avaliar, provas orais e escritas eram inspiradas
experiência. Havia a valorização do desenvolvimento criador e da no livro de catequese, com perguntas objetivas e respostas diretas.
iniciativa do aluno durante as atividades em classe, as estratégias Essa postura em sala de aula só seria questionada no início do sé-
de ensino não apontavam o certo ou errado na maneira de fazer culo XX.
de cada estudante. Ao professor, não cabe corrigir ou orientar os Novas fontes de aprendizagem como, visitas a museus e expo-
trabalhos nem mesmo utilizar outras produções culturais para in- sições, foram incorporadas com o objetivo de fazer o aluno pensar
fluenciar a turma. A idéia é que o estudante exponha suas inspira- e não apenas decorar o conteúdo. Os conteúdos de Piaget (1896
ções internas. - 1980) e de Vygotsky (1896 - 1934), contudo começaram a ser di-
O Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Cultu- vulgadas, trazendo teorias que influenciaram mais e a idéia de que
rais de 1992, assinado pelo Brasil, afirma que: “A Educação é di- aprender é decorar, começou a mostrar sinais de fragilidade, como
reito de toda pessoa. Ela deve visar o pleno desenvolvimento da ressalta Luckesi (2005, p. 28):
personalidade humana e capacitar todos a participar efetivamente Estando a atual prática da avaliação educacional escolar a ser-
de uma sociedade livre”. viço de um entendimento teórico conservador da sociedade e da
No que diz respeito à LDB nº 9. 394, de 20 de novembro de educação, para propor o rompimento dos seus limites, que é o que
1996, no artigo 2 diz que: procuramos fazer, temos de necessariamente situá-Ia num outro
A educação é um dever da família e do Estado, inspirada nos contexto pedagógico, ou seja, temos de, opostamente. Colocar a
princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem avaliação escolar a serviço de uma pedagogia que entenda e esteja
por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo preocupada com a educação como mecanismo de transformação
para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. social.

7
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
Neste contexto, em qualquer nível de ensino em que ocorra, a sagem da condição natural do homem e da mulher para a cultural
avaliação não existe e não opera por si mesma, está sempre a servi- toma como principal caminho a dinâmica educativa, sendo a escola
ço de um projeto ou de um conceito teórico, ou seja, é determinada a principal instituição responsável por orientar a construção identi-
pelas concepções que fundamentam a proposta de ensino. Numa tária dos sujeitos.
época em que os modelos de avaliação contínua ganham forças nas Neste contexto, a avaliação considera que o aluno aprende ao
escolas e nos livros de formação, avaliar o aluno conforme as teo- longo do processo, que vai reestruturando o seu conhecimento por
rias da avaliação é incentivá-lo rumo ao processo de ensino apren- meios das atividades que executa, para isso, é preciso propor ações
dizagem, neste sentido abordaremos as avaliações: diagnóstica, transformadoras por meios das quais sejam mobilizados novos sa-
formativa e somativa, dentro de seus conceitos, como seus avanços beres.
e a arma do aluno e do professor avançar em todas as etapas e, A informação procurada na avaliação se refere às representa-
contudo para garantir a eficácia e eficiência do processo avaliativo. ções mentais do aluno e as estratégias utilizadas para chegar a um
determinado resultado. É através da avaliação formativa que o alu-
Avaliação Diagnóstica no toma conhecimento dos seus erros e acertos e encontra estímu-
los para um estudo sistemático.
A avaliação diagnóstica é aquela que ao iniciar um curso ou um Ela permite ao professor detectar e identificar deficiências na
período letivo, dado a diversidade de saberes, o professor deve ve- forma de ensinar, orientando-o na formulação do seu trabalho didá-
rificar o conhecimento prévio dos alunos com a finalidade de cons- tico, visando aperfeiçoá-lo. Desse modo o docente continuará seu
tatar os pré-requisitos necessários de conhecimentos ou habilida- trabalho ou irá direcioná-lo, de modo que a maioria dos alunos al-
des imprescindíveis de que os educandos possuem para o preparo cance. Desta maneira Freire (1989, p. 03) relaciona que:
de novas aprendizagens. A observação é o que me possibilita o exercício do aprendizado
O diagnóstico deverá ser feito diariamente durante as aulas do olhar. Olhar é como sair de dentro de mim para ver o outro. É a
com a retomada de objetivos não atingidos e a elaboração de dife- partir da hipótese do momento de educação que o outro está para
rentes estratégias de reforço (feedback), assim declara Sant?anna colher dados da realidade, para trazer de volta para dentro de mim
(2009, p. 33): e repensar as hipóteses. É uma leitura da realidade para que eu
O diagnóstico se constitui por uma sondagem, projeção e re- possa me ler.
trospecção da situação de desenvolvimento do aluno, dando-Ihe Essa observação vem informar ao professor e ao aluno sobre o
elementos para verificar o que aprendeu e como aprendeu. É uma rendimento da aprendizagem durante o desenvolvimento das ati-
etapa do processo educacional que tem por objetivo verificar em vidades escolares. A avaliação que procede à ação de informação
que medidas os conhecimentos anteriores ocorreram e o que se faz e formação possui como objetivo ajustar o conteúdo programático
necessário planejar para selecionar dificuldades encontradas. com as reais aprendizagens, por ser uma avaliação informativa e re-
Este é um momento recíproco, em que o aluno e o professor guladora, justifica-se pelo fato de que, ao oferecer informação aos
de forma integrada reajustarão seus planos de ação, que poderá professores e alunos, permite que estes lêem suas ações. Assim o
auxiliar o professor em outras avaliações. E tem como objetivo de- professor faz regulações, no âmbito do desenvolvimento das ações
terminar a forma para qual o educador deverá encaminhar, através pedagógicas, e o aluno conscientiza-se de suas dificuldades e busca
do planejamento, sua ação educativa. novas estratégias de aprendizagens.
Pode ser considerado como o ponto de partida para todo traba- Um dos pontos fundamentais para este processo é o diálogo,
lho a ser desenvolvido pelo educador, em favor a esta educação Ho- ele perpassa por uma proposta construtivista de ensino, garantindo
ffmann (2008, p. 59), tece a idéia de que, “os alunos não aprendem um processo de intervenção eficaz e uma relação de afetividade,
sem bons professores”, é estar presente em todos os momentos que passa contribuir para a construção do conhecimento. Perre-
que favorece o diagnóstico do aluno. A avaliação só será eficiente e noud (2002, p. 143) esboçou o seguinte pensamento:
eficaz se ocorrer de forma interativa entre professor e aluno, ambos A aprendizagem é um processo complexo e caprichoso. Por ve-
caminhando em mesma direção, em busca dos mesmos objetivos. zes, alimenta-se da interação, da comunicação, quando nada pode
ocorrer na ausência de solicitações ou de feedback exteriores. Em
Avaliação Formativa outros momentos, são do silêncio e da tranqüilidade que o aluno
necessita para reorganizar suas idéias e assimilar novos conheci-
A avaliação formativa enfoca o papel do aluno, a aprendizagem mentos.
e a necessidade de o educador repensar o trabalho para melhorá- É preciso ressaltar que, numa avaliação formativa, professor e
-lo, cuja função controladora sendo realizada durante todo o ano aluno precisam ter uma participação ativa, ela torna-se um meio ou
letivo. Localiza deficiências na organização do ensino-aprendiza- um instrumento de controle da qualidade objetivando um ensino
gem, de modo a possibilitar reformulações no mesmo e assegurar de excelência em todos os níveis de todos os cursos e estará a ser-
o alcance aos objetivos. viço da qualidade educativa, dentre outros, cumprirem o seu papel
Essa modalidade de avaliação é orientadora, porque orienta o de promoção do ensino, o qual irá guiar os passos do educador. Ela
estudo do aluno ao trabalho do professor, prevê que os estudantes precisa possuir o caráter de contribuição para a formação do aluno
possuem processos e ritmos de aprendizagem diferentes, sendo e, não apenas, classificar e medir a aprendizagem.
que cada professor está comprometido com sua ação recíproca de
conhecimento. Avaliação Somativa
Segundo Cool (1996), apud Silva (2004, p. 31) referencia que:
A escola é a instituição escolhida pela população para desen- A avaliação somática tem por função básica a classificação dos
volver práticas educativas sistematizadas no intuito de possibilitar a alunos, sendo realizada ao final de um curso ou unidade de ensino,
construção das identidades pessoais e coletivas. Processo pelo qual classificando o aluno de acordo com os níveis de aproveitamento
nos encontramos e nos transformamos em cidadãos para vivemos previamente estabelecidos: acesso como ingresso, por oferta de va-
na floresta de pedra, complexa e conflituosa da sociedade. A pas- gas no ensino público; acesso a outras séries e graus de ensino, por

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
permanência de aluno em sala de aula, através de um processo de Muitos ousam falar que quando se avalia o aluno é para ver
aprendizagem contínuo e que lhe possibilite, de fato, o acesso a ou- se ele aprendeu, se assimilou, se cresceu. Então o ideal é que se os
tros níveis de saber ignorando a evasão escolar, portanto Hoffmann educadores forem avaliados também terão a chance de melhorar e
(1993, p. 13), enfatiza que: serem capazes de distinguir o significado de ser avaliado e não levar
É preciso saber que o acesso (a outros níveis) passa a ser obs- isso para o lado pessoal, pois muitas vezes o aluno não tem nada
taculizado pela definição de critérios rígidos de aprovação ao final contra seu modo de agir profissionalmente.
dessas séries, estabelecidos à revelia de uma análise séria sobre Não se deve esquecer que às vezes é muito mais fácil avaliar,
seu significado e com uma variabilidade enorme de parâmetros por que ser avaliado, pois quando avaliamos vimos apenas o fracasso e
parte dos educadores, entre eles os alfabetizadores. Pretendendo erros dos alunos e quando somos avaliados corremos o risco de ter
alertar, pois, que os professores são muitas vezes coniventes com que enxergar como somos frágeis em alguns aspectos e como às
uma política de elitização do ensino público e justificam-se através vezes, somos injustos e incoerentes com a própria prática.
de exigências necessárias à manutenção de um ensino de qualida- Ensina-se sempre o que é ser bom e ruim, justo e injusto, então
de. se deve usar isso na prática, pois desta forma mostra-se aos alunos
O que queremos enfatizar é que o professor não deixe de usar que todos têm os mesmos direitos e deveres, assim verão que não
instrumentos de testagem como provas, exercícios escritos, produ- há distinção entre educadores e educandos.
ção textual, trabalhos individuais, mas que estes sejam acompanha-
Pois segundo Vasconcellos (1995, p. 78) “a avaliação deve atin-
dos pelo mediador com a intenção de observar e investigar sobre o
gir todo o processo educacional e social, se quisermos efetivamen-
momento de aprendizagem em que o aluno se encontra, ou seja,
te superar os problemas”. Para assim podermos mudar a realidade
problematizar as situações de modo a fazer o aluno ele próprio,
educacional de nosso país e quando se fala atingir todo o processo,
construir o conhecimento sobre o tema abordado de acordo com
o contexto histórico e social e político o qual está inserido, buscan- deve valer de fato a todos os profissionais e não apenas alguns, para
do a igualdade entre educador - educando, onde ambos aprendem, dessa forma haver uma melhoria na educação.
trocam experiências e aprendizagens no processo educativo. Con-
forme a idéia de Sant?anna (2009, p.36): A avaliação escolar como fator preponderante
Nossa opinião é de que não apenas os objetivos individuais de- para uma educação de qualidade
viam servir de base, mas também o rendimento apresentado pelo
grupo. Por exemplo, se em número x de questões a classe toda ou Até o século XIX, o ensino ficava a cargo da família ou de pe-
uma porcentagem significativa de alunos não corresponde aos re- quenos grupos, sendo que cada ensino de seu jeito. Depois a es-
sultados desejados, esta habilidade, atitude ou informação deveria cola assumiu o papel de formalizar os conhecimentos, ampliá-los
ser desconsiderada e retomada no novo planejamento, pois ficou sistematizá-los comuns a todos, conforme a constituição federal de
constatado que a aprendizagem não ocorreu. 1988, no capítulo III, do artigo 205, rege que:
Concluímos que, a avaliação somativa deva se processar con- A educação, direito de todos e dever do Estado e da família,
forme os parâmetros individuais e grupais, pois este processo, ob- será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,
jetiva melhorar a aprendizagem. visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Boa parte
Avaliação como instrumento para analisar o processo da educação oferecida pela família foi deslegitimizada.
Agora a situação é diferente, a família antes afastada, está sen-
Nos dias atuais, muitos professores ainda medem a capacidade do convocada a participar da escola, com isso possibilitando a famí-
do educando e não os qualificam, porém existe um problema que lia a participar do que acontece dentro da escola. Hoffmann (2008,
desencadeia muitas inquietações para quase todos os professores, p.41 e 42) diz que:
uma vez que avaliam os alunos, mas não permitem que sejam ava- [...] a qualidade do ensino nas escolas não depende dos pais ou
liados. Talvez isso aconteça porque muitos educadores se acham os de sua “cobrança”, mas da atuação competente dos profissionais
“donos” da verdade, acham que não erram e por este motivo não que ali atuam, somada à adequada infra-estrutura das instituições;
precisam ser avaliados. Os professores precisam se conscientizar quaisquer reformulações pedagógicas devem ser decisões de pro-
que a avaliação será ótimo para seu rendimento como profissional,
fissionais da educação, embasadas em fundamentos teóricos con-
como pessoa e será muito importante para escola e alunos.
sistentes.
Se o professor avalia terá que dar oportunidades para que seu
Outro fator observado na fala de alguns professores, em reuni-
aluno ou quem for necessário (colegas, diretores, coordenadores,
ões de pais, é a questão de notas referenciando o aluno A, B ou C,
pais etc...) possam avaliá-lo, como diz Demo (1995, p. 34), “Se ava-
lio não posso impedir que me avaliem, pois avaliar e ser avaliado com baixo ou péssimo rendimento escolar focando o aluno como
fazem parte da mesma lógica. Quem foge da avaliação perde a único culpado. É evidente que nós, educadores temos que comuni-
oportunidade de avaliar”. car aos pais as notas do seu aluno, mas será que é só mostrar as no-
São exatamente estas palavras de Demo (1994), que expres- tas? É claro que os pais precisam entender o que seus filhos sabem
sam os verdadeiros significados de “dar” e “receber”, pois quando e o que não sabem (se aprenderam ou não, o que foi ensinado na
o professor dá a nota, o aluno, também deve avaliar. Assim, todos escola), e essa função está nas mãos do educador em explicar qual
receberão uma nota e isso poderá ser de grande importância para é a estratégia de ensino ou conteúdos atuais, a forma que ele (o
ambos, servindo para mudar seu método se necessário ou para ver aluno) foi avaliado e como foi desenvolvido o conteúdo. Hoffmann
onde é possível melhorar ou continuar, para alcançar os objetivos (2008, p. 42) interpreta a ação do professor diante da sociedade:
previstos. “Nesse sentido, resgatar a credibilidade da sociedade quanto à
Não se pode e nem se deve, ter uma prática que só é válida competência dos professores é uma das condições necessárias para
para os alunos, isso não tem lógica. Os professores também devem qualquer avanço”. Sabemos que vários fatores influenciam o apro-
ser avaliados. Quando isso não acontece, impede-se o aluno de dar veitamento do aluno, se a escola e a família buscam ações coorde-
sua opinião, expressar o que sente sobre a prática do professor e nadas, os problemas são enfrentados e resolvidos.
ainda o reprime, pois ele tem opinião.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
O comportamento do aluno vem sendo motivo para muitos Esses registros do passo a passo, servem para o professor pen-
professores, como fator principal do desrespeito com sua pessoa, sar sobre as escolhas didáticas e perceber onde estão os nós do
embora não esteja ligado diretamente ao aprendizado, mas é vis- próprio trabalho, tendo como base o diagnóstico sobre os pontos
to e julgado como obstáculo da sala de aula por educadores, que em que os alunos têm dificuldades e o que os faz avançar e pode-se
chegam a dar nota ao comportamento de cada aluno, como forma pensar em modificações e intervenções necessárias.
de punição. O planejamento diário é essencial para uma boa avaliação, pois
É neste contexto que o professor precisa conscientizar-se que sem ele torna-se impossível fazê-lo. Não há avaliação sem planeja-
a socialização também é um conteúdo escolar, especialmente nas mento e este deve ser anterior de toda ação e tão importante quan-
séries iniciais do Ensino Fundamental, porém precisa ser trabalhada to o encadeamento da seqüência é observar a evolução da classe
sem estigmatizar o aluno, avaliando diariamente, oferecendo estra- e atentar para as adaptações que podem ser necessárias no meio
tégias de ensino com o objetivo de chamar a atenção do aluno. do processo. Todos os passos de uma sequência didática devem ser
Tendo como objetivo, observar mudanças tanto no comporta- complementares, e precisam propor um aumento gradual de difi-
mento como no desenvolvimento aos objetivos propostos. Neste culdade, quando Vasconcellos (2008, p. 68), debate este procedi-
sentido faz-se importante refletir o que Hoffmann (2008, p. 55) es- mentos usados por professores em sala de aula:
tabelece: Alguns professores cobram “criatividade” na hora da avaliação,
Não tenho a pretensão de dizer que se conhece verdadeira- quando todo o trabalho em sala de aula está baseado na repetição,
mente a pessoa do aluno apenas convivendo com ele algumas na reprodução, na passividade, na aplicação mecânica de passos
horas semanais. Por vezes, um educador, por mais que tente, não que devem ser seguidos de acordo com modelos apresentados.
Ora a criatividade é fundamental na formação do educando e do
consegue conhecer os estudantes em um mês, em um semestre,
cidadão, mas ela precisa de uma base material: ensino significativo,
em um ano. O desenvolvimento, como processo de significação de
oportunidade e condições para participação e expressão das idéias
mundo, é sempre dinâmico e, portanto, as reações individuais são
e alternativas, compreensão crítica para o erro, pesquisa, diálogo.
inesperadas, inusitadas. Mas, conviver e sensibilizar é o compro-
(VASCONCELLOS 2008, p. 68)
misso do educador, por um lado, e, por outro, a grande magia da Nesta direção, ensinar e garantir que os conhecimentos façam
tarefa. Pressupõe manter-se permanentemente atento a cada alu- um sentido amplo para todos os estudantes em sua vida e para
no, olhando para traz e o agora, ou seja, procurando captar-lhe as além da sala de aula, ou seja, para que possam efetivamente, cons-
experiências vividas para poder cuidar mais de quem precisa mais. truir e promover uma educação de qualidade. Sabemos que, nin-
É normal que se tenha essa situação como desafiadora para a guém duvida que ensinar é o principal papel da escola, e o diálogo
escola e em especial ao professor. Como mediador ele pode recor- faz parte dessa conquista.1
rer ao serviço pedagógico para auxiliá-lo no que for possível (é bom
lembrar que ele precisa usar estratégias durante a aula como forma
de chamar atenção, ou mesmo de envolver o educando durante o BASE NACIONAL CURRICULAR COMUM
processo). O serviço pedagógico é um recurso que ajuda o profes-
sor caso suas tentativas tenham se esgotado. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento
Sabemos que os diferentes graus de desenvolvimento dentro com caráter normativo que serve de referência para a elaboração
de uma turma não podem servir de desculpa para que só alguns dos currículos de todas as escolas que ofertam educação básica no
alunos aprendam. Acompanhar estudante é prever intervenções País.
personalizadas e atividades diferenciadas para que cada um ou to- Traremos nesse artigo um breve histórico da BNCC, um resumo
dos possam avançar. das mudanças que ocorrerão a partir de 2019, e seus principais im-
Segundo Luckesi (2005, p. 88 a 89) relata a respeito da avalia- pactos e desafios para a educação no Brasil.
ção escolar: Mas antes disso é importante entender que a base orienta não
Para coletar os dados e proceder à medida da aprendizagem apenas na construção dos currículos, mas na elaboração e revisão
dos educandos, os professores, em sala de aula, utilizam-se de ins- das propostas pedagógicas, nas políticas para formação de profes-
trumentos que variam desde a simples e ingênua observação até os sores, nos materiais didáticos e avaliações.
sofisticados testes, produzidos segundo normas e critérios técnicos Foi criada com o objetivo de promover a equidade por meio de
de elaboração e padronização. uma formação integral do cidadão. Quando se fala de uma educa-
Essa operação com resultados da aprendizagem é o processo ção completa, trata-se não apenas do desenvolvimento intelectual,
mas também social, físico, emocional e cultural, compreendidos
de medir, que muito ainda se vê em sala de aula, sabemos que se
como fundamentais para uma total construção do saber.
torna um ato necessário por conta da sistematização do ensino bra-
Através da BNCC, e com base nas aprendizagens essenciais para
sileiro que descreve no seu artigo 21, do capítulo V, do parágrafo 1
garantir uma formação integral, foram estabelecidas dez competên-
estabelece que; A unidade escolar deverá ainda, em seu regimento
cias gerais que nortearão o trabalho das escolas e dos professores
estabelecer o conceito percentual ou nota mínima para a promoção em todos os anos e componentes curriculares.
do aluno. Além dos pontos citados acima, vale destacar que a base nacio-
O que se alerta, de fato, é quanto à prática avaliativa de ma- nal fará com que todo o País fale a mesma língua por meio de uma
neira ainda tradicional, que vem com a intenção exclusivamente de estrutura única baseada em habilidades e competências.
“verificar” ou “registrar” se o aluno aprendeu ou não aprendeu o A ideia, de forma geral, é que o aluno passe a aprender priori-
que se pretendia. Luckesi (2005, p. 89), define está prática como tariamente para exclusivamente para a prova.
ponto de partida:
Importa-nos ter clareza que, no momento real da operação Um breve histórico da BNCC
com resultados da aprendizagem, o primeiro ato do professor tem A BNCC vem sendo motivo de pautas há muitos anos. Sobrevi-
sido, e necessita ser, a medida, porque é a partir dela, como pon- veu a seis ou sete ministros e dois presidentes da república, e ape-
to de partida, que se pode dar os passos seguintes da aferição da nas em 2018 passou a ser implementada.
aprendizagem.
1Fonte: www.webartigos.com

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
Na Constituição Federal de 88 já era prevista a criação de uma Base Nacional Comum Curricular para o ensino fundamental. Na Lei de
Diretrizes e Bases (LDB) de 96 foi determinada a adoção de uma base comum para toda a educação básica.
Em 1997 são elaborados os Parâmetros Curriculares Nacionais referenciando cada disciplina do currículo escolar. A BNCC é contem-
plada no Plano Nacional de Educação (PNE) em 2014.
O MEC, Consed e Undime definem o grupo de redação e, em setembro de 2015, a primeira versão da BNCC é publicada e submetida
à consulta pública.
A terceira versão do documento é elaborada em 2017 e sua aprovação passa por audiências públicas através do Conselho Nacional de
Educação (CNE), sendo que no final desse processo a BNCC é finalmente concebida pelo MEC.
Por fim, a implementação da base comum em todas as escolas é prevista para ocorrer de 2018 a 2020, passando por etapas, como por
exemplo, (re)elaboração dos currículos, revisão de materiais didáticos e formação de professores.
É importante destacar que a construção da BNCC foi toda elaborada de forma democrática, envolvendo educadores e membros da
sociedade.

Resumo das mudanças trazidas pela BNCC


A BNCC define dez competências gerais que englobam aspectos como:
1. Conhecimento
2. Pensamento científico, crítico e criativo
3. Repertório cultural
4. Comunicação
5. Argumentação
6. Cultura digital
7. Autogestão
8. Autoconhecimento e autocuidado
9. Empatia e cooperação
10. Autonomia e responsabilidade

São contemplados elementos cognitivos, sociais e pessoais a serem desenvolvidos pelos alunos. Se aplicam a toda a área do conheci-
mento, independente do componente curricular.
A ideia não é planejar uma aula específica sobre as competências contempladas na base comum curricular, mas articular a sua apren-
dizagem à de outras habilidades relacionadas às áreas do conhecimento.
A priorização do desenvolvimento de competências é muito mais moderno e efetivo do que olhar para o desenvolvimento de um
conteúdo específico.
Vale ressaltar que, a BNCC diz aonde se quer chegar com a educação, mas os responsáveis pelos caminhos para chegar até lá são os
currículos.

Na imagem abaixo, você compreenderá como a estrutura ficou organizada:

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
Perceba que toda a estrutura da educação básica se inicia pelas
competências gerais, sendo que cada etapa é pensada em um for- CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO E ESCOLA
mato diferente.
O ensino infantil é pensado sob a perspectiva de campos de No contexto da história da cultura ocidental, é fácil observar
experiências. O ensino fundamental é dividido por áreas de conhe- que educação e filosofia sempre estiveram juntas e próximas. Po-
cimento, competências específicas para cada área, componentes de-se constatar, com efeito, que desde seu surgimento na Grécia
curriculares, e competências exclusivas de cada componente. O clássica, a filosofia se constituiu unida a uma intenção pedagógica,
ensino médio não está estruturado no desenho pois ainda está em formativa do humano. Para não citar senão o exemplo de Platão,
discussão. em momento algum o esforço dialético de esclarecimento que pro-
Para que tenhamos um processo de re(elaboração) dos currícu- põe ao candidato a filósofo deixa de ser simultaneamente um es-
los de forma articulada, e para que não existam inúmeros modelos forço pedagógico de aprendizagem. Praticamente todos os textos
do documento no País, foi criado um padrão de currículo através de fundamentais da filosofia clássica implicam, na explicitação de seus
um regime de colaboração. conteúdos, uma preocupação com a educação.
A ideia é que os Estados junto com seus Municípios padroni- Além desse dado intrínseco do conteúdo de seu pensamento, a
zem um modelo, porém agregando as especificidades de cada ci- própria prática dos filósofos, de acordo com os registros históricos
dade. O regime colaborativo acaba abrindo portas para que outros disponíveis, eslava intimamente vinculada a uma tarefa educativa,
assuntos possam ser trabalhados de forma articulada, e não apenas fossem eles sofistas ou não, a uma convivência escolar já com carac-
na elaboração do currículo. terísticas de institucionalização.
A verdade é que, em que pese o ainda restrito alcance social da
Principais impactos e desafios educação a filosofia surge intrinsecamente ligada a ela, autorizan-
O impacto se dará não apenas na re(elaboração) dos currícu- do-nos a considerar, sem nenhuma figuração, que o filósofo clássico
los, mas nos processos de ensino e aprendizagem, gestão, formação sempre foi um grande educador.
de professores, avaliações e no próprio Projeto Político-Pedagógico Desde então, no desenvolvimento histórico-cultural da filosofia
(PPP). ocidental, essa relação foi se estreitando cada vez mais. A filosofia
Nesse momento, nos encontramos na etapa 3 do processo de escolástica na Idade Média foi literalmente o suporte fundamental
implementação da BNCC, e a partir de 2019 a etapa 4 deverá ser de um método pedagógico responsável pela formação cultural e re-
executada: ligiosa das gerações europeias que estavam constituindo a nova ci-
1. Estruturação da governança da implementação vilização que nascia sobre os escombros do Império Romano. E que
2. Estudo das referências curriculares falar então do Renascimento com seu projeto humanista de cultura,
3. Re(elaboração) curricular e da Modernidade, com seu projeto iluminista de civilização?
4. Formação continuada Não foi senão nesta última metade do século vinte que essa
5. Revisão dos projetos pedagógicos relação tendeu a se esmaecer! Parece ser a primeira vez que uma
6. Materiais didáticos forte tendência da filosofia considera-se desvinculada de qualquer
7. Avaliação e acompanhamento de aprendizagem preocupação de natureza pedagógica, vendo-se tão-somente como
um exercício puramente lógico Essa tendência desprendeu-se de
Muitos Estados e Municípios já terminaram a primeira revisão suas próprias raízes, que se encontravam no positivismo, trans-
do currículo e disponibilizaram para consulta pública. Com a cola- formando-se numa concepção abrangente. Denominada neoposi-
boração de toda a comunidade escolar, será possível chegar a uma tivismo, que passa a considerar a filosofia como tarefa subsidiária
versão final do documento que atenda a expectativa de todos os da ciência, só podendo legitimar-se em situação de dependência
envolvidos no processo, e da maneira mais transparente e demo- frente ao conhecimento cientifico, o único conhecimento capaz de
crática possível. verdade e o único plausível fundamento da ação. Desde então qual-
quer critério do agir humano só pode ser técnico, nunca mais ético
Algumas das práticas previstas na base comum curricular são ou político. Fica assim rompida a unidade do saber.
aplicadas de forma intuitiva em várias escolas, mas com a sistema- Mas, na verdade, esse enviesamento da tradição filosófica na
tização e o planejamento do processo educacional, essas práticas contempo-raneidade é ainda parcial, restando válido para as outras
serão aplicadas de maneira intencional e impactarão muito mais tendências igualmente significativas da filosofia atual que os esfor-
alunos em todo o território nacional. ços de reflexão filosófica estão profunda e intimamente envolvidos
Sabemos que a BNCC ainda possui inúmeras oportunidades de com a tarefa educa-cional. E este envolvimento decorre de uma trí-
melhorias, mas é verdade que trará um grande avanço para a edu- plice vinculação que delineia três frentes em que se faz presente a
cação no País. contribuição da filosofia para a educação.
O documento normativo, com certeza, passará por mais revi-
sões ao longo dos anos. A Austrália é um exemplo disso, sua base A Educação como Projeto, a Reflexão e a Práxis
passou por oito revisões até que chegasse ao ponto que gostariam.
As mudanças projetadas através da BNCC, em resumo, trazem A cultura contemporânea, fruto dessa longa trajetória do es-
uma grande expectativa para garantirmos a questão do aprendiza- pirito humano em busca de algum esclarecimento sobre o sentido
do e a constante melhoria do ensino, temas centrais quando fala- do mundo, é particularmente sensível a sua significativa conquista
mos da construção do saber. que é a forma cientifica do conhecimento. Coroamento do projeto
iluminista da modernidade, a ciência dominou todos os setores da
existência humana nos dias atuais.
Impondo-se não só pela sua fecundidade explicativa enquanto
teoria, como também pela sua operacionalidade técnica, possibili-
tando aos homens o domínio e a manipulação do próprio mundo.
Assim, também no âmbito da educação, seu impacto foi profundo.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
Como qualquer outro setor da fenomenalidade humana, O que se quer dizer com isso é que o ser dos homens só pode
também a educação pode ser reequacionada pelas ciências, par- ser apreendido em suas mediações históricas e sociais concretas de
ticularmente pelas ciências humanas que, graças a seus recursos existência. Só com base nessas condições reais de existência é que
metodológicos, possibilitam uma nova aproximação do fenôme- se pode legitimar o esforço sistemático da filosofia em construir
no educacional. O desenvolvimento das ciências da educação, no uma imagem consistente do humano.
rastro das ciências humanas, demonstra o quanto foi profunda a Podemos usar a própria imagem do tempo e do espaço em
contribuição das mesmas para a elucidação desse fenômeno, bem nossa percepção para um melhor esclarecimento da questão. As-
como para o planejamento da prática pedagógica. É por isso mesmo sim como, formal mente o espaço e o tempo são as coordenadas da
que muitos se perguntam se além daquilo que nos informam a Bio- realidade do mundo natural, tal qual é dado em nossa percepção,
logia, a Psicologia, a Economia, a Sociologia e a História, é cabível pode-se dizer, por analogia que o social e o histórico são as coorde-
esperar contribuições de alguma outra fonte, de algum outro saber nadas da existência humana. Por sua vez. o educacional, como aliás
que se situe fora desse patamar científico, de um saber de natureza o politico, constitui uma tentativa de intencionalização do existir
filosófica. Não estariam essas ciências, ao explicitar as leis que re- social no tempo histórico. A educação é com efeito, instauração
gem o fenômeno educacional, viabilizando técnicas bastantes para de um projeto, ou seja, prática concreta com vista a uma finalidade
a condução mais eficaz da prática educacional? Já vimos a resposta que dá sentido ã existência cultural da sociedade histórica. ‘,
que fica implícita nas tendências epistemológicas inspiradas numa Os homens envolvidos na esfera do educacional — sujeitos
perspectiva neopositivista!... que se educam e que buscam educar — não podem ser reduzidos
No entanto, é preciso dar-se conta de que, por mais imprescin- a modelos abstratamente concebidos de uma natureza humana”,
dível e valiosa que seja a contribuição da ciência para o entendimen- modelo universal idealizado como também não se reduzem a uma
to e para a condução da educação, ela não dispensa a contribuição “máquina natural”, prolongamento orgânico da natureza biológica.
da filosofia. Alguns aspectos da problemática educacional exigem Seres de carências múltiplas, como que se desdobram num projeto,
uma abordagem especificamente filosófica que condiciona inclusi- pré-definem-se como exigência de um devir em vista de um “ser-
ve o adequado aproveitamento da própria contribuição científica. -mais”, de uma intencionalidade a ser realizada: não pela efetivação
Esses aspectos se relacionam com a própria condição da existência mecânica de determinismos objetivos nem pela atuação energéti-
dos sujeitos concernidos pela educação com o caráter práxico do ca de finalidades impositivas. O projeto humano se dá nas coor-
processo educacional e com a própria produção do conhecimento denadas históricas, sendo obra dos sujeitos aluando socialmente,
em sua relação com a educação. Daí as três frentes em que pode- num processo em que sua encarnação se defronta, a cada instante,
mos identificar a presença marcante da contribuição da filosofia. com uma exigência de superação. É só nesse processo que se pode
conceber uma ressignificação da “essência humana”, pois é nele
1. O Sujeito da Educação também, na frustração desse processo, que o homem perde sua es-
sencialidade. A educação pode, pois ser definida como esforço para
Assim, de um ponto de vista mais fundante, pode-se dizer que se conferir ao social, no desdobramento do histórico, um sentido
cabe à filosofia da educação a construção de uma imagem do ho- intencionalizado, como esforço para a instauração de um projeto de
mem, enquanto sujeito fundamental da educação. Trata-se do es- efetiva humanização, feita através da consolidação das mediações
forço com vista ao delineamento do sentido mais concreto da exis- da existência real dos homens.
tência humana. Como tal, a filosofia da educação constitui-se como Assim, só uma antropologia filosófica pode lastrear a filosofia
antropologia filosófica, como tentativa de integração dos conteúdos da educação. Mas uma antropologia filosófica capaz de apreender
das ciências humanas, na busca de uma visão integrada do homem. o homem existindo sob mediações histórico-sociais, sendo visto
Nessa tarefa ela é, pois, reflexão eminentemente antropológica então como ser eminentemente histórico e social. Tal antropologia
e como tal, põe-se como alicerce fundante de todas as demais tare- tem de se desenvolver, então, como uma reflexão sobre a história
fas que lhe cabem. Mas não basta enunciar as coisas desta maneira, e sobre a sociedade, sobre o sentido da existência humana nessas
reiteirando a fórmula universal de que não se pode tratar da educa- coordenadas. Mas. caberia perguntar, a construção dessa imagem
ção a não ser a partir de uma imagem do homem e da sociedade. A do homem não seria exatamente a tarefa das ciências humanas?
dificuldade está justamente no modo de elaboração dessa imagem. Isto coloca a questão das relações da filosofia com as ciências hu-
A tradição filosófica ocidental, tanto através de sua perspectiva manas, cabendo esclarecer então que, embora indispensáveis, os
essencialista como através de sua perspectiva naturalista, não con- resultados obtidos pelas diversas ciências humanas não são sufi-
seguiu dar conta das especificidades das condições do existir huma- cientes para assegurar uma visão da totalidade dialeticamente ar-
no e acabou por construir. de um lado, uma antropologia metafísica ticulada da imagem do homem que se impõe construir. As ciências
fundamentalmente idealista. com uma imagem universal e abstrata humanas investigam e buscam explicar mediante a aplicação de seu
da natureza humana, incapaz de dar conta da imergência do ho- categorial teórico, os diversos aspectos da fenomenalidade humana
mem no mundo natural e social: de outro lado, uma antropologia e, graças a isso, tornam-se aptas a concretizar as coordenadas his-
de fundo cientificista que insere o homem no fluxo vital da nature- tórico-sociais da existência real dos homens. Mas em decorrência
za orgânica, fazendo dele um simples prolongamento da mesma, e de sua própria metodologia, a visão teórica que elaboram é neces-
que se revela incapaz de dar conta da especificidade humana nesse sariamente aspectual. Justamente em função de sua menor rigidez
universo de determinismos. metodológica, é que a filosofia pode elaborar hipóteses mais abran-
Nos dois casos, como retomaremos mais adiante, a filosofia gentes, capazes de alcançarem uma visão integrada do ser humano,
da educação perde qualquer solidez de seus pontos de apoio Com envolvendo nessa compreensão o conjunto desses aspectos, consti-
efeito, tanto na perspectiva essencialista quanto na perspectiva na- tuindo uma totalidade que não se resume na mera soma das partes,
turalista, não fica adequadamente sustentada a condição básica da parles estas que se articulam então dialeticamente entre si e com
existencialidade humana. que é a sua profunda e radical historici- o todo, sem perderem sua especificidade, formando ao mesmo
dade, a ser entendida como a intersecção da espacialidade com a tempo, uma unidade. A perspectiva filosófica integra ao totalizar,
temporalidade do existir real dos seres humanos, ou seja, a inter- ao unir e ao relacionar.
secção do social com o histórico.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
Não se trata, no entanto, de elaborar como que uma teoria ge- Agora a filosofia da educação busca desenvolver sua reflexão
ral das ciências humanas, pois não se atendo aos requisitos da me- levando em conta os fundamentos antropológicos da existência
todologia científica, a filosofia pode colocar hipóteses em íde maior humana, tais como se manifestam em mediações histórico-sociais,
alcance epistemológico. Assim, o que se pode concluir deste ponto dimensão esta que qualifica e especifica a condição humana. Tal
de vista é que a filosofia da educação, em sua tarefa antropológica, perspectiva nega, retoma e supera aqueles aspectos enfatizados
trabalha em intima colaboração com as ciências humanas no campo pelas abordagens essencialista e naturalista, buscando dar à filoso-
da teoria educacional, incorporando subsídios produzidos median- fia da educação uma configuração mais assente às condições reais
te investigação histórico-antropológica por elas desenvolvida. da existência dos sujeitos humanos.

2. O Agir, os Fins e os Valores 3. A Força e a Fraqueza da Consciência

De um segundo ponto de vista e considerando que a educa- A filosofia da educação tem ainda uma terceira tarefa: a epis-
ção é fundamentalmente uma prática social, a filosofia vai ainda temológica cabendo-lhe instaurar uma discussão sobre questões
contribuir significativamente para sua efetivação mediante uma re- envolvidas pelo processo de produção, de sistematização e de
flexão voltada para os fins que a norteiam. A reflexão filosófica se transmissão do conhecimento presente no processo especifico da
faz então reflexão axiológica, perquirindo a dimensão valorativa da educação. Também deste ponto de vista é significativa a contribui-
consciência e a expressão do agir humano enquanto relacionado ção da filosofia para a educação.
com valores. Fundamentalmente, esta questão se coloca porque a educação
A questão diretriz desta perspectiva axiológica é aquela dos fins também pressupõe mediações subjetivas, ou seja, ela pressupõe a
da educação, a questão do para quê educar. Não há dúvida, entre- intervenção da subjetividade de todos aqueles que se encontram
tanto, que, também nesse sentido, a tradição filosófica no campo envolvidos por ela.
educacional, o mais das vezes, deixou-se levar pela tendência a es- Em cada um dos momentos da atividade educativa está neces-
tipular valores, fins e normas, fundando-os apressadamente numa sariamente presente uma ineludível dimensão de subjetividade,
determinação arbitrária, quando não apriorística, de uma natureza que impregna assim o conjunto do processo como um todo. Desta
ideal do indivíduo ou da sociedade Foi o que ocorreu com a orien- forma, tanto no plano de suas expressões teóricas como naquele de
tação metafísica da filosofia ocidental que fazia decorrer, quase suas realizações práticas, a educação envolve a própria subjetivida-
que por um procedimento dedutivo, as normas do agir humano da de e suas produções, impondo ao educador uma atenção especifica
essência do homem, concebida, como já vimos, como um modelo para tal situação. A atividade da consciência é assim mediação ne-
ideal, delineado com base numa ontologia abstrata. cessária das atividades da educação.
Assim, os valores do agir humano se fundariam na própria es- É por isso que a reflexão sobre a existência histórica e social dos
sência humana, essência esta concebida de modo ideal, abstrato homens enquanto elaboração de uma antropologia filosófica fun-
e universal. A ética se tornava então uma ética essencialista, des- dante, só se torna possível, na sua radicalidade, em decorrência da
vinculada de qualquer referência sócio-histórica. O agir deve assim, própria condição de ser o homem capaz de experimentar a vivência
seguir critérios éticos que se refeririam tão-somente à essência subjetiva da consciência. A questão do sentido de existir do homem
ontológica dos homens. E a ética se transformava num sistema de e do mundo só se coloca graças a essa experiência. A grande di-
critérios e normas puramente deduzidos dessa essência. ficuldade que surge é que essa experiência da consciência é tam-
Mas por outro lado ao tentar superar essa visão essencialis- bém uma riquíssima experiência de ilusões. A consciência é o lugar
ta, a tradição cientifica ocidental vai ainda vincular o agir a valores privilegiado das ilusões, dos erros e do falseamento da realidade,
agora relacionados apenas com a determinação natural do existir ameaçando constantemente comprometer sua própria atividade.
do homem O homem é um prolongamento da natureza física, um Diante de tal situação, cabe à filosofia da educação desenvolver
organismo vivo, cuja perfeição maior não é obviamente, a reali- uma reflexão propriamente epistemológica sobre a natureza dessa
zação de uma essência, mas sim o desenvolvimento pleno de sua experiência na sua manisfestação na área do educacional. Cabe-lhe,
vida. O objetivo maior da vida, por sinal, é sempre viver mais e viver tanto de uma perspectiva de totalidade como da perspectiva da
bem! E esta finalidade fundamental passa a ser o critério básico particularidade das várias ciências, descrever e debater a constru-
na delimitação de Iodos os valores que presidem o agir. Devem ser ção, pelo sujeito humano, do objeto “educação”. É nesse momento
buscados aqueles objetivos que assegurem ao homem sua melhor que a filosofia da educação, por assim dizer, tem de se justificar, ao
vida natural. Ora como a ciência dá conta das condições naturais mesmo tempo que rearticula os esforços da própria ciência, para
da existência humana, ao mesmo tempo que domina e manipula o também se justificar, avaliando e legitimando a atividade do conhe-
mundo, ela tende a lazer o mesmo com relação ao homem Tende cimento enquanto processo tecido no texto/contexto da realidade
não só a conhecê-lo mas ainda a manipulá-lo, a controlá-lo e a do- histórico-social da humanidade. Com efeito e coerentemente com o
miná-lo, transpondo para seu âmbito a técnica decorrente desses que já se viu acima, a análise do conhecimento não pode ser sepa-
conhecimentos. A “naturalização do homem acaba transformando- rada da análise dos demais componentes dessa realidade.
-o num objeto facilmente manipulável e a prática humana conside- No seu momento epistemológico, a filosofia da educação in-
rada adequada, acaba sendo aquela dirigida por critérios puramen- veste, pois, no esclarecimento das relações entre a produção do
te técnicos, seja no plano individual, seja no plano social essa ética conhecimento e o processo da educação. É assim que muitas ques-
naturalista apoiando-se apenas nos valores de uma funcionalidade tões vão se colocando à necessária consideração por parte dos que
técnica. se envolvem com a educação, também nesse plano da produção do
Em consequência desses rumos que a reflexão filosófica en- saber, desde aquelas relacionadas com a natureza da própria subje-
quanto reflexão axiológica, tomou na tradição da cultura ocidental, tividade até aquelas que se encontram implicadas no mais modesto
a filosofia da educação não se afastou da mesma orientação. De um ato de ensino ou de aprendizagem, passando pela questão da pos-
lado, tendei a ver, como fim último da educação, a realização de sibilidade e da efetividade das ciências da educação.
uma perfeição dos indivíduos enquanto plena atualização de uma
essência modelar; de outro, entendeu-se essa perfeição como ple-
nitude de expansão e desenvolvimento de sua natureza biológica.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
Com efeito, aqui estão em pauta os esforços que vêm sendo Ocorre que a consciência humana é extremamente frágil e fa-
desenvolvidos com vista à criação de um sistema de saber no cam- cilmente dominável pelo poder que atravessa as relações sociais.
po da educação, de tal modo que se possa dispor de um corpo de Eis então o funcionamento ideológico da atividade subjetiva: o pró-
conhecimentos fundados numa episteme, num saber verdadeiro e prio conhecimento passa a ser mais um instrumento de dominação
consistente. Trata-se, sem dúvida, de um projeto de cientificidade que alguns homens exercem sobre outros. A consciência, alienada
para a área educacional. em relação à realidade objetiva, constrói conteúdos representati-
No desenvolvimento desse projeto, logo se percebeu que o vos e avaliativos que são apresentados como verdadeiros e válidos
campo educacional do ponto de vista epistemológico, é extrema- quando, de falo são puramente ideológicos, ou seja, estão escamo-
mente complexo. Não é possível proceder com ele da mesma ma- teando as condições reais com vista a fazer passar por verdadeira
neira que se procedeu no âmbito das demais ciências humanas. uma concepção falsa, mas apta a sustentar determinadas relações
Para se aproximar do fenômeno educacional foi preciso uma abor- de dominação presentes na sociedade. Com efeito, é para legitimar
dagem multidisciplinar, já que não se dispunha de um único acervo determinadas relações de poder que a consciência elabora como
categorial para a construção apreensão desse objeto; além disso, a objetivas, como universais e como necessárias, algumas represen-
abordagem exigia ainda uma perspectiva transdisciplinar, na medi- tações que na realidade social efetiva, referem-se apenas a interes-
da em que o conjunto categorial de cada disciplina lançava esse ob- ses particulares de determinados grupos sociais.
jeto para além de seus próprios limites, enganchando-o em outros Ora todas as atividades ligadas à educação, sejam elas teóricas
conjuntos, indo além de uma mera soma de elementos: no final das ou praticas, podem se envolver, e historicamente se envolveram,
contas, viu-se ainda que se trata de um trabalho necessariamen- nesse processo ideológico De um lado enquanto derivadas da atua-
te interdisciplinar, as categorias de todos os conjuntos entrando ção da consciência, podem estar incorporando suas representações
numa relação recíproca para a constituição desse corpo epistêmico. falseadas e falseadoras; de outro lado, enquanto vinculadas à prá-
Esta situação peculiar tem a ver com o caráter predominantemen- tica social, podem estar ocultando relações de dominação e situa-
te praxio-lógico da educação: a educação é fundamentalmente de ções de alienação. A educação não é mais vista hoje como o lugar
natureza prática uma totalidade de ação, não só se deixando redu- da neutralidade e da inocência: ao contrário, ela é um dos lugares
zir e decompor como se fosse um simples objeto. Assim, quer seja mais privilegiados da ideologia e da inculcação ideológica, refletin-
considerada sob um enfoque epistemológico, quer sob um enfoque do sua íntima vinculação ao processo social em suas relações de
praxiológico, enquanto práxis concreta, a educação implica esta in- dominação política e de exploração econômica.
terdisciplinaridade, ou seja o sentido essencial do processo da edu- Assim, qualquer tentativa de intencionalização do social atra-
cação, a sua verdade completa não decorre dos produtos de uma vés da educação pressupõe necessariamente um trabalho continuo
ciência isolada e nem dos produtos somados de várias ciências: ele de denúncia, de crítica e de superação do “discurso” ideológico que
só se constitui mediante o esforço de uma concorrência solidária e se incorpora ao discurso” pedagógico. É então tarefa da filosofia da
qualitativa de várias disciplinas. educação desvelar criticamente a “repercussão” ideológica da edu-
Esta malha de interdisciplinaridade na construção do sentido cação: só assim a educação poderá se constituir em projeto que es-
do educacional é tecida fundamentalmente pela reflexão filosófica. teja em condições de contribuir para a transformação da sociedade.
A filosofia da educação não substitui os conteúdos significadores Deste ponto de vista, a consciência filosófica é a mediação para
elaborados pelas ciências: ela, por assim dizer, os articula, instau- uma continua e alenta vigilância contra as artimanhas do saber e do
rando uma comunidade construtiva de sentido, gerando uma atitu- poder, montadas no íntimo do processo educacional .
de de abertura e de predisposição à intersubjetividade.
Esta visão interdisciplinar que se dá enquanto articulação in- A contribuição que a filosofia dá à educação se traduz e se
tegradora do sentido da educação no plano teórico, é igualmente concretiza nessas três frentes que. na realidade, se integram e se
expressão autêntica da prática totalizadora onde ocorre a educa- complementam Entendo que apesar dos desvios e tropeços pelos
ção. Enquanto ação social, atravessada pela análise cientifica e pela quais passou na história da cultura ocidental, a filosofia, enquanto
reflexão filosófica, a educação se torna uma práxis e, portanto, im- filosofia da educação, sempre procurou efetivar essa contribuição,
plica as exigências de eficácia do agir tanto quanto aquelas de elu- na medida em que sempre se propôs como esforço de exploração
cidação do pensar. e de busca dos fundamentos. Mesmo quando acreditou tê-los en-
Portanto tanto no plano teórico como no plano prático, refe- contrados nas essências idealizadas ou nas regularidades da natu-
rindo-se seja aos processos de conhecimento, seja aos critérios da reza! E ela poderá continuar contribuindo se entender que esses
ação, e seja ainda ao próprio modo de existir dos sujeitos envolvi- fundamentos têm a ver com o sentido do existir do homem em sua
dos na educação, a filosofia esta necessariamente presente, sendo totalidade trançada na realidade histórico-social.2
mesmo indispensável. E neste primeiro momento, como contínua
gestora da interdisciplinaridade. Concepções de escola
Mas não termina aqui a tarefa epistemológica da filosofia da
educação. Com efeito, vimos há pouco que a experiência da subje- Em suas obras, Dermeval Saviani apresenta a escola como o
tividade é também o lugar privilegiado da ilusão e do falseamento local que deve servir aos interesses populares garantindo a todos
da realidade. Sem dúvida, a consciência emergiu como equipamen- um bom ensino e saberes básicos que se reflitam na vida dos alunos
to mais refinado que instrumentalizou o homem para prover, com preparando-os para a vida adulta. Em sua obra Escola e Democracia
maior flexibilidade, os meios de sua existência material Mas ao se (1987), o autor trata das teorias da educação e seus problemas, ex-
voltar para a realidade no desempenho concreto dessa finalidade, planando que a marginalização da criança pela escola se dá porque
ela pode projetar uma objetividade não-real. E o processo de alie- ela não tem acesso a esta, enquanto que a marginalidade é a condi-
nação que a espreita a cada instante na sua relação com o mundo ção da criança excluída.
objetivo. Este é o outro lado da subjetividade, o reverso da meda-
lha. Em sua atividade subjetiva, a consciência acaba criando uma
objetividade apenas projetada, imaginada, ideada e não-real.
2 Fonte: www.emaberto.inep.gov.br - Texto adaptado de Antônio Joa-
quim Severino

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
Saviani avalia esses processos, explicando que ambos são pre- 9. PROCEDIMENTOS PEDAGÓGICOS - O conteúdo é apresenta-
judiciais ao desenvolvimento da sociedade, trazendo inúmeros pro- do de forma acabada, há ênfase na quantidade de informação dada
blemas, muitas vezes de difícil solução, e conclui que a harmonia e memorizada. O aluno ouve informações gerais nas situações par-
e a integração entre os envolvidos na educação – esferas política, ticulares.
social e administração da escola podem evitar a marginalidade, in-
tensificando os esforços educativos em prol da melhoria de vida no Concepção Liberalista Da Educação
âmbito individual e coletivo.
Através da interação do professor e da participação ativa do 1. ORIGEM HISTÓRICA - A concepção liberalista da Educação
aluno a escola deve possibilitar a aquisição de conteúdos – traba- foi se constituindo ao longo da História em reação à concepção Tra-
lhar a realidade do aluno em sala de aula, para que ele tenha discer- dicionalista, seus primeiros indícios podem se reportar ao Renas-
nimento e poder de analisar sua realidade de uma maneira crítica -, cimento( séc. XV - XVI); prosseguindo com a instalação do poder
e a socialização do educando para que tenha uma participação or- burguês liberalista (séc. XVIII) e culminando com a emergência da
ganizada na democratização da sociedade, mas Saviani alerta para chamada Escola Nova”(início do séc. XX) e com a divulgação dos
a responsabilidade do poder público, representante da política na pressupostos da Psicologia Humanista (1950).
localidade, que é a responsável pela criação e avaliação de projetos 2. PRESSUPOSTO BÁSICO . da concepção liberalista da Educa-
no âmbito das escolas do estado e município, uma vez que este é ção. Referências para vida do homem não podem ser os valores
o responsável pelas políticas públicas para melhoria do ensino, vi- pré-dados por fontes supra-humanas, exteriores ao homem. A Edu-
sando a integração entre o aluno e a escola. A escola é valorizada cação (como toda a vida social) deve se basear nos próprios ho-
como instrumento de apropriação do saber e pode contribuir para mens, como eles são concretamente. O homem pode buscar em si
eliminar a seletividade e exclusão social, e é este fator que deve ser próprio o sentido da sua vida e as normas para a sua vida.
levado em consideração, a fim de erradicar as gritantes disparida- 3. CONCEPÇÃO DE HOMEM - O homem é naturalmente bom,
des de níveis escolares, evasão escolar e marginalização. mas ele pode ser corrompido na vida social. O homem é um ser
De fato, a escola é o local que prepara a criança, futuro cidadão, livre, capaz de decidir, escolher com responsabilidade e buscar seu
para a vida, e deve transmitir valores éticos e morais aos estudan-
crescimento pessoal.
tes, e para que cumpra com seu papel deve acolher os alunos com
4. CONCEITO DE INFÂNCIA - A criança é inocente. A criança está
empenho para, verdadeiramente transformar suas vidas.
mais perto da verdadeira humanidade. É preciso protegê-la, isolá-
-la, do contato com a sociedade adulta e não ter pressa de transfor-
Concepções de Educação
Concepção Tradicionalista da Educação mar a criança em adulto. O importante não é preparar para a vida
futura apenas, mas vivenciar intensamente a infância.
1. ORIGEM HISTÓRICA - Desde o poder aristocrático antigo e 5. IDEAL DE HOMEM . É a pessoa livre, espontânea, de iniciati-
feudal. Buscou inspiração nas tradições pedagógicas antigas e cris- va, criativa, auto-determinada e responsável. Enfim, auto-realizada.
tãs. Predominou até fins do século XIX. Foi elitista, pois apenas o 6. A FUNÇÃO DA EDUCAÇÃO - A função da Educação é possi-
clero e a nobreza tinham acesso aos estudos. bilitar condições para a atualização e uso pleno das potencialida-
2. CONCEITO DE HOMEM - O homem é um ser originalmente des pessoais em direção ao auto-conhecimento e auto-realização
corrompido (pecado original). O homem deve submeter-se aos va- pessoal. A Educação não deve destruir o homem concreto e sim
lores e aos dogmas universais e eternos. As regras de vida para o apoiar-se neste ser concreto. Não deve ir contra o homem para for-
homem já forma estabelecidas definitivamente(num mundo “supe- mar o homem. A Educação deve realizar-se a partir da própria vida
rior”, externo ao homem). e experiência do educando, apoiar-se nas necessidades e interesses
3. IDEAL DE HOMEM - É o homem sábio (= instruído, que de- naturais, expectativas do educando, e contribuir para seu desenvol-
tém o saber, o conhecimento geral, apresenta correção no falar e vimento pessoal. Os três princípios básicos da Educação liberalista:
escrever, e fluência na oratória) e o homem virtuoso (= disciplina- liberdade, subjetividade, atividade.
do). A Educação Tradicionalista supervaloriza a formação intelectu- 7. EDUCADOR - Deve abster-se de intervir no processo do de-
al, a organização lógica do pensamento e a formação moral. senvolvimento do educando. Deve ser elemento facilitador desse
4. EDUCAÇÃO - Tem como função: corrigir a natureza corrom- desenvolvimento. Essa concepção enfatiza as atividades do mestre:
pida do homem, exigindo dele o esforço, disciplina rigorosa, através compreensão , empatia (perceber o ponto de referência interno
de vigilância constante. A Educação deve ligar o homem ao “mundo do outro), carinho, atenção, aceitação, permissividade, autentici-
superior”que é o seu destino final, e destruir o que prende o ho- dade, confiança no ser humano.
mem à sua existência terrestre. 8. DISCIPLINA - As regras disciplinares são discutidas por todos
5. DISCIPLINA - Significa domínio de si mesmo, controle emo- os educandos e assumidas por eles com liberdade e responsabili-
cional e corporal. Predominam os incentivos extrínsecos: prêmios dade. Essas regras são o limite real para o clima de permissividade.
e castigos. A Escola é um meio fechado que prepara o educando. O trabalho ativo e interessado substitui a disciplina rígida.
6. EDUCADOR - É aquele que já se disciplinou, conseguiu cor-
9. RELACIONAMENTO INTER-PESSOAL - A relação privilegiada
rigir sua natureza corrompida e já detém o saber. Tem seu saber
é do grupo de educandos que cooperam, decidem, se expressam.
reconhecido e sua autoridade garantida. Ele é o centro da decisão
Enfatiza as relações inter-pessoais, busca dar espaço para as emo-
do processo educativo.
ções, sentimentos, afetos, fatos imprevistos emergentes no aqui-
7. RELACIONAMENTO INTER-PESSOAL. - A disposição na sala
de aula, um atrás do outro, reduz ao mínimo as possibilidades de -agora do encontro grupal. Permite o pensamento divergente, a
comunicação direta entre as pessoas. É cada um só com o mestre. pluralidade de opções, respostas mais personalizadas. É centrada
A relação professor-aluno é de obediência ao mestre. Incentiva a no estudante.
competição. É preciso ser o melhor. O outro é um concorrente. 10. ESCOLA - É um meio fechado, se possível especialmente
8. O CONTEÚDO - Ênfase no passado, ao já feito, aos conteúdos distanciado da vida social para proteger o educando. A escola tor-
prontos, ao saber já instituido. O futuro é reprodução do passado. O na-se uma mini-sociedade ideal onde o educando pode agir com
saber é enciclopédico e é preciso conhecer e praticar as leis morais. liberdade, espontaneidade, alegria.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
11. CONTEÚDO - As crianças podem ordenar o conhecimento 5. ESCOLA - Deve ser uma comunidade harmoniosa. Todo pro-
conforme os seus interesses. Evita-se mostrar o mundo “mau”aos blema deve ser resolvido administrativamente. O administrativo e o
educandos. O mundo é apresentado de modo idealizado, bonito, pedagógico são departamentos separados.
“colorido”. 6. EDUCADOR - É um especialista, já possui o saber. Quem pos-
12. PROCEDIMENTO PEDAGÓGICO - Enfatiza a técnica de des- sui saber são os cientistas, os especialistas. Esses produzem a cultu-
coberta, o método indutivo (do particular ao geral). Defende téc- ra. Esses é que deverão comandar os demais homens. Eles produzi-
nicas globalizantes que garantam o sentido, a compreensão, a in- ram a teoria e é esta que vai dirigir a prática. Os especialistas é que
ter-relação e sequenciação do conteúdo. Utiliza técnicas variadas: devem planejar, decidir e levar os demais a cumprirem as ordens,
música, dança, expressão corporal, dramatização, pesquisa, solu- e executar o fazer pedagógico. A equipe de comando técnico deve
ção de problemas, discussões grupais, dinâmica grupais, trabalho fiscalizar o cumprimento das ordens.
prático. Muito som, luz, cor e movimento, supõe a aprendizagem 7. RELAÇÃO INTER-PESSOAL - Valoriza a hierarquia, ordem, a
como processo intrínseco que requer elaboração interna do apren- impessoalidade, as normas fixas e precisas, o pensamento conver-
diz. Aprender a aprender é mais fundamental do que acumular gente, a uniformidade, a harmonia.
grandes quantidades de conteúdos, permite a variedade e mani- 8. CONTEÚDO - Supervaloriza o conhecimento técnico-profis-
pulação efetiva de materiais didáticos pelos educandos. Ênfase no sional, enfatiza o saber pronto provindo das fontes culturais es-
jogo, descontração, prazer. Enfatiza avaliação qualitativa, a auto- trangeiros, super desenvolvidas.
-avaliação, a discussão de critérios e avaliação com os educandos. 9. PROCEDIMENTO PEDAGÓGICO - Enfatiza a técnica, o saber-
13. RELAÇÃO EDUCACÃO-SOCIEDADE - A concepção liberalista -fazer sem discutir a questão dos valores envolvidos. Privilegia o
de Educação é coerente com o moderno capitalismo que propõe a saber técnico, os métodos individualizantes na obtenção do co-
livre iniciativa individual, adaptação dos trabalhadores a situações nhecimento. Enfatiza a objetividade, mensuração rigorosa dos
mutáveis, concepção de Educação é conivente com o sistema capi- resultados, a eficiência dos meios para alcançar o resultado final
talista de sociedade porque: previsto. Tudo é previsto, organizado, controlado pela equipe de
1. Contribui com a manutenção da estrutura de classes sociais , comando.
quando realiza a elitização do saber, de dois modos: a) organizando 10. DISCIPLINA - A indisciplina deve ser corrigida utilizando re-
o ensino de modo a desfavorecer o prosseguimento da escolariza- forçamentos de preferência positivos (recompensas, prêmios, pro-
ção dos mais pobres: o mundo da escola é o mundo burguês no moções profissionais).
visual, na linguagem, nos meios, nos fins. A escola vai selecionando 11. RELAÇÃO EDUCAÇÃO-SOCIEDADE - Nesta concepção de
os mais “capazes”. Os outros vão sutilmente se mantendo nas bai- Educação predomina a função reprodutiva do modelo social. As re-
lações capitalistas se manifestam no trabalho pedagógico de modos
xas camadas de escolaridade. A pirâmide escolar também contribui,
diversos e complementares: a) pela expropriação do saber do pro-
portanto, com a reprodução contínua da pirâmide social . b)
fessor pelos “planejadores” ou pelo programas e máquinas impor-
2. Inculca a concepção burguesa de mundo, de modo predo-
tadas. b) pela crescente proletarização do professor arrocho salarial
minante, divulgando sua ideologia através do discurso explícito e
para manutenção dos lucros. c) pela contenção de despesas e de
implícito (na fala das autoridades, nos textos de leitura, nas atitudes
investimento na qualidade de ensino e na formação do educador,
manifestas). Veicula conteúdos idealizadores da realidade, omitin-
buscando mínimos gastos e máximos lucros para os proprietários
do questionamentos críticos desveladores do social real.
da instituição. d) pela preocupação exclusiva com a formação técni-
3. Seu projeto de mudança social é reformista e acredita na
co-profissional necessária à preparação da mão-de-obra coerente
mudança social sem conflito, não levando em consideração as con- com as exigências do mercado de trabalho. e) pelo uso da tecno-
tradições reais geradas pelo poder burguês. Quando fala em mu- logia à serviço do capital : redução da mão-de-obra remunerada.
dança social, acredita que esta se processa das partes para o todo: 12. CONTRADIÇÃO BÁSICA . Há bases materiais, concretas que
mudam as pessoas - as instituições - a sociedade. sustentam a concepção tecnoburocrática de Educação. Mas a pró-
14. CONTRADIÇÃO BÁSICA - da concepção liberalista de Edu- pria dominação gera o seu contrário: a resistência, a luta. A prole-
cação: Ao contestar o autoritarismo, a opressão e ressaltar a livre tarização do professor tem sido a base material que tem levado a
expressão e os direitos do ser humano, a Educação Liberalista abre categoria dos docentes a sair de seus movimentos reivindicatórios
espaço para que seja possível inclusive a ultrapassagem de si pró- corporativistas para unir suas forças à dos proletários. A luta do
pria em sua nova pedagogia que rejeita os seus pressupostos ide- educador é mais ampla: do nível da luta interna na instituição esco-
ológicos e construa outros pressupostos com nova concepção de lar e junto à categoria profissional à luta social contra o sistema que
mundo, de sociedade, de homem. O liberalismo pedagógico torna tem gerado esta Educação.
possível esta ultrapassagem, mas não a realiza.
Concepção Dialética De Educação
Concepção Técnico-Burocrática Da Educação
1. CONCEITO DE DIALÉTICA. A dialética é uma Filosofia porque
1. ORIGEM HISTÓRICA - Esta concepção é também conhecida implica uma concepção do homem, da sociedade e da relação ho-
como concepção TECNICISTA. . Penetrou nos meios educacionais a mem-mundo. É também um método de conhecimento. Na Grécia
partir dos meados do séc. XX (1950) com o avanço dos modelos antiga a dialética signficava “arte do diálogo”. Desde suas origens
de organização EMPRESARIAL .Representa a introdução do modelo mais antigas a dialética estava relacionada com as discussões sobre
capitalista empresarial na escola. a questão do movimento, da transformação das coisas. A dialética
2. CONCEPÇÃO DE HOMEM - É um ser condicionado pelo meio percebe o mundo como uma realidade em contínua transformação.
físico-social. Em tudo o que existe há uma contradição interna. (Por exemplo,
3. IDEAL DE HOMEM - É o homem produtivo e adaptado à so- numa sociedade há forças conservadoras interessadas em manter o
ciedade. sistema social vigente, e há forças emancipadoras). Essas forças são
4. FUNÇÃO DA EDUCAÇÃO - É modeladora, modificadora do inter-dependentes e estão em luta. Essa luta força o movimento,
comportamento humano previsto. Educação é adaptação do indi- a transformação de ambos os termos contrários em um terceiro
víduo à sociedade. termo. No terceiro termo ha superação do estar-sendo anterior.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
2. CONDIÇÕES HISTÓRICAS. A dialética é muito antigo poden- 6. CONCEPÇÃO METODOLÓGICA BÁSICA:
do ser reportada a sete séculos antes de Cristo. Sócrates (469-399 Prática - Teoria - Prática
A.C.) é considerado o maior dialético grego. No séc. XIX, Hegel e
Karl Marx revivem a dialética e a partir deles novos autores têm 1o. Partir da prática concreta: Perguntar, problematizar a prá-
retomado e ampliado a questão da dialética. A dialética como fun- tica. São as necessidades práticas que motivam a busca do conhe-
damentação filosófica e metodológica da Educação existiu desde os cimento elaborado. Essas necessidades constituem o problema:
tempos antigos, mas não como concepção dominante. Prevaleceu aquilo que é necessário solucionar. É preciso, pois, identificar fatos
ao longo da História uma concepção tradicionalista e metafísica de e situações significativas da realidade imediata.
Educação. (Metafísica: teoria abstrata, desvinculada da realidade 2o. Teorizar sobre a prática: ir além das aparências imediatas.
concreta, com uma visão estática de mundo). Essa concepção tra- Refletir, discutir, buscar conhecer melhor o tem problematizado, es-
dicional correspondia ao interesse das classes dominantes, clero e tudar criativamente.
nobreza, de impedir transformações Como as transformações ra- 3o. Voltar à prática para transformá-la: voltar à prática com
dicais da sociedade só interessam às classes desprivilegiadas com- referenciais teóricos mais elaborados e agir de modo mais compe-
pete a essas a retomada da dialética. Assim é que o projeto peda- tente. A prática é o critério de avaliação da teoria. Ao colocar em
gógico da classe trabalhadora foi elaborado por ocasião de revolta prática o conhecimento mais elaborado surgem novas perguntas
dos trabalhadores na França (“Comuna de Paris”, 1871), assumida que requerem novo processo de teorização abrindo-nos ao movi-
rapidamente pelo poder burguês. O projeto pedagógico da classe mento espiralado da busca contínua do conhecimento.
trabalhadora é hoje revivido na luta dos trabalhadores em vários 7. CONTEÚDO E PROCEDIMENTO PEDAGÓGICO : A educação
pontos do mundo. A concepção dialética de Educação supõe, pois, dialética luta pela escola pública e gratuita. Uma escola de qualida-
a luta pelo direito da classe trabalhadora à Educação, e exige ainda, de para o povo. Para assumir a hegemonia, a classe trabalhadora
a participação na luta pela mudança radical das suas condições de precisa munir-se de instrumentais: apropriação de conhecimentos,
existência. A concepção dialética sempre foi reprimida pelo poder métodos e técnicas, hoje restritos à classe dominante. Implica a
dominante, mas resistindo aos obstáculos, ela vai conquistando es- apropriação crítica e sistemática de teorias, tecnicas profissionais,
paço. Ainda não está estruturada, está se fazendo. A todo educador o ler, escrever e contar com eficiência e mais ainda, apropriar-se
progresista-dialético uma tarefa se coloca: a de contribuir com essa de métodos de aquisição, produção e divulgação do conhecimen-
construção: sistematizar a teoria e a prática dialética de educação. to: pesquisar, discutir, debater com argumentações precisas, uti-
3. CONCEITO DE HOMEM - O homem é sujeito, agente do pro- lizar os mais variados meios de expressão, comunicação e arte. A
cesso histórico. “A História nos faz, refaz e é feito por nós continua- Educação dialética enfatiza técnicas que propiciem o fazer coleti-
mente”. (Paulo Freire). vo, a capacidade de organização grupal, que permitem a reflexão
4. IDEAL DE HOMEM. A educação dialética visa a construção crítica, que permitem ao educando posicionar-se como sujeito do
do homem histórico, compromissado com as tarefas do seu tempo: conhecimento. Busca partir da realidade dos educandos, suas con-
participar do projeto de construção de uma nova realidade social. dições de “partida”e interferir para superar esse momento inicial.
Busca a realização plena de todos os homens e acredita que isto Avalia continuamente a prática global, não apenas os conteúdos
não será possível dentro do modelo capitalista de sociedade. Sendo memorizados. O aluno é também sujeito da avaliação. A avaliação
assim se coloca numa perspectiva transformadora da realidade. serve para diagnosticar, evidenciar o que deve ser mudado.
O homem dessa outra realidade não será mais o homem unilate- 8. A ESCOLA - É lugar de contradição numa sociedade de clas-
ral, excluído dos bens sociais, explorado no trabalho, mas será um ses. Há forças contrárias em luta. Para a educação dialética a escola
homem novo, o homem total”: “É o chegar histórico do homem a não deve ser uma sociedade ideal em miniatura. Ela não esconde
uma totalidade de capacidade, a uma totalidade de possibilidade o conflito social. O conflito deve ser pedagogicamente codificado
de consumo e gozo, podendo usufruir bens espirituais e materiais” (não cair nas “leis da selva”), deve ser evidenciado para ser enfren-
(Moacir Gadotti). tado e superado. A escola deve preparar, ao mesmo tempo, para a
5. EDUCAÇÃO - Numa sociedade de classes, a educação tem cooperação e para a luta.
uma função política de criar as condições necessárias à hegemonia 9. O EDUCADOR - O professor dialético assume a diretividade,
da classe trabalhadora. Hegemonia implica o direito de todos par- a intervenção. O professor deve ser mediador do diálogo do aluno
ticiparem efetivamente da condução da sociedade, poder decidir com o conhecimento e não o seu obstáculo. O professor não se faz
sobre sua vida social; supõe direção cultural, política ideológica. um igual ao aluno, assume a diferença, a assimetria inicial. O tra-
As condições para hegemonia dos trabalhadores passam pela apro- balho educativo caminha na direção da diminuição gradativa dessa
priação da capacidade de direção. A Educação é projeto e processo. diferença. Dirigir é ter uma proposta clara do trabalho pedagógico.
Seu projeto histórico é explícito: criação de uma nova hegemonia, É propor, não impor.
a da classe trabalhadora. O ato educativo, cotidiano não é um ato 10. RELACIONAMENTO INTER-PESSOAL E DISCIPLINA. A educa-
isolado mas integrado num projeto social e global de luta da classe ção dialética valoriza a seriedade na busca do conhecimento, a dis-
trabalhadora. A educação dialética é processo de formação e ca- ciplina intelectual, o esforço. Questiona reduzir a aprendizagem ao
pacitação: apropriação das capacidades de organização e direção, que é apenas “gostoso”, prazeroso em si mesmo. Busca resgatar o
fortalecimento da consciência de classe para intervir de modo cria- lúdico: trabalho com prazer, momento de plenitude. Valoriza o rigor
tivo, de modo organizado, na transformação estrutural da socieda- científico que não é incompatível com os procedimentos democrá-
de.”Essa educação é libertadora na medida em que tiver como ob- ticos. Um não exclui o outro. Nega o autoritarismo e espontaneis-
jetivo a ação e reflexão consciente e criadora das classes oprimidas mo. Reconhece que o uso legítimo da autoridade do educador se
sobre seu próprio processo de libertação.”(Paulo Freire). faz em sintonia com a expressividade e espontaneidade. A discipli-
na (regras de comportamento) é algo que se constrói coletivamen-
te. Valoriza a afetividade no encontro inter-pessoal, sem a chanta-
gem ou exploração do afetivo. Mas não basta amar, compreender e
querer bem o educando. O amor deve aliar-se à competência pro-
fissional, iluminada por um compromisso político claro.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
A sequência das atividades garante que as ações de aprendiza-
CURRÍCULO EM AÇÃO: PLANEJAMENTO, SELEÇÃO E gem sejam contínuas, ou seja, que partam consecutivamente umas
ORGANIZAÇÃO DOS CONTEÚDOS das outras, permitindo o aprofundamento e a ampliação do conhe-
cimento dos alunos. A integração diz respeito ao relacionamento
Na busca da constituição do conhecimento, outro termo a ser entre as ações pedagógicas, visando dar unidade às temáticas abor-
levado em consideração é o currículo, palavra de origem latina cur- dadas em sala de aula e à exploração de determinados recursos pe-
rere, que se refere à carreira, a um percurso, que deve ser realizado. dagógicos e materiais escritos.
A escola está e não está em crise, ela reproduz a ideologia do O planejamento escolar é uma tarefa docente que inclui tanto
capital, e ao mesmo tempo oferece condições de emancipação hu- a previsão das atividades em termos de organização e coordenação
mana. Podendo assim, conservar ou reproduzir, e é nesta contra- em face dos objetivos propostos, quanto a sua revisão e adequa-
dição que é preciso analisar o currículo da escola, pois, ele deve ção no decorrer do processo de ensino. O planejamento é um meio
refletir as mais diversas formas de cultura. para programar as ações docentes, mas é também um momento de
Segundo Saviani (1984) “o currículo deve expressar um cami- pesquisa e reflexão intimamente ligado à avaliação. Há três moda-
nho pelo qual teoricamente todos deveriam percorrer rumo ao pro- lidades de planejamento, articulados entre si o plano da escola, o
jeto social, passando a ser entendido como forma de contestação plano de ensino e o plano de aulas.
do poder”.
Um sistema escolar é complexo, frequentado por muitos alu- A importância do planejamento escolar
nos e, portanto, deve organizar-se. O que se deve então ensinar já O planejamento é um processo de racionalização, organização
que o currículo também é uma seleção limitada da cultura? Com e coordenação da ação docente, articulando a atividade escolar e a
certeza um currículo que compreenda um projeto de vida, socia- problemática do contexto social. A escola, os professores e alunos
lizado e cultural, com um conjunto de objetivos de aprendizagem são integrantes da dinâmica das relações sociais; tudo o que acon-
selecionados que possam dar lugar à criação de experiências, para tece no meio escolar está atravessado por influências econômicas,
que nele se operem as oportunidades, que se privilegiem conheci- políticas e culturais que caracterizam a sociedade de classe. Isso sig-
mentos necessários para entender o mundo e os problemas reais nifica que os elementos do planejamento escolar - objetivos-conte-
e que mobilize o aluno para o entendimento e a participação na údos-métodos – estão recheados de implicações sociais, têm um
vida social. Sendo pertinente formar um aluno crítico, reflexivo e significado genuinamente político. Por essa razão o planejamento,
participativo das tomadas de decisões da sociedade, que não sejam é uma atividade de reflexão a cerca das nossas opções e ações; se
apenas cidadãos, mas que saibam praticar e exercer sua cidadania não pensarmos didaticamente sobre o rumo que devemos dar ao
ativa conectada com seus direitos e deveres. nosso trabalho, ficaremos entregues aos rumos estabelecidos pelos
A produção do conhecimento deve ser o resultado da relação interesses dominantes da sociedade.
entre o homem e as relações sociais, através da atividade humana, O planejamento tem assim as seguintes funções:
ou seja, o trabalho como práxis humana e produtiva. a) Explicar os princípios, diretrizes e procedimentos do trabalho
Para Saviani (1981) “é preciso privilegiar a relação entre o que docente que as segurem a articulação entre as tarefas da escola
precisa ser conhecido e o caminho que precisa ser trilhado para co- e as exigências do contexto social e do processo de participação
nhecer, ou seja, entre conteúdo e método, na perspectiva da cons- democrática.
trução da autonomia intelectual e ética”. b) Expressar os vínculos entre o posicionamento filosófico, po-
Hoje, há um consenso entre educadores de que o “aprender” lítico-pedagógico e profissional e as ações efetivas que o professor
é o papel mais importante de toda e qualquer instituição educacio- irá realizar na sala de aula, através de objetivos, conteúdos, méto-
nal. E que nesta linha, o compromisso político do professor apoiada dos e formas organizativas de ensino.
pela equipe e direção se exigem mutuamente e se interpenetram, c) Assegurar a racionalização, organização e coordenação do
não sendo mais possível dissociar uma da outra. trabalho docente, de modo que a previsão das ações docentes pos-
Para Sacristán (2.000): organizar currículo e programas de con- sibilite ao professor a realização de um ensino de qualidade e evite
teúdo é contribuir na formação das novas gerações da humanidade a improvisação e a rotina.
com possibilidades de traçar caminhos possíveis para superar di- d) Prever objetivos, conteúdos e métodos a partir de considera-
ficuldades. E, que nós cidadãos participantes deste processo, pro- ção das exigências postas pela realidade social, do nível de preparo
fessores pedagogos e gestores, consigamos construir outra escola, e das condições sócio-culturais e individuais dos alunos.
onde todos possam ser sujeitos de suas próprias histórias e par- e) Assegurar a unidade e a coerência do trabalho docente, uma
ceiros na construção de uma sociedade mais democrática e mais vez que torna possível inter-relacionar, num plano, os elementos
humana. que compõem o processo de ensino: os objetivos (para que ensi-
Sob este ponto de vista o currículo caracteriza-se por uma es- nar), os conteúdos (o que ensinar), os alunos e suas possibilidades
tratégia de abordagem do objeto, que é o aluno. Estratégia esta que (a quem ensinar), os métodos e técnicas (como ensinar) e avaliação
significa um modo de observar, de pensar e de agir do educador que intimamente relacionada aos demais.
sobre o alunado, construindo a partir das teorias que suportam a f) Atualizar os conteúdos do plano sempre que for preciso,
formação profissional do educador como sobre a sua experiência, aperfeiçoando-o em relação aos progressos feitos no campo dos
sistema de valores, ideologia e estilo pessoa. conhecimentos, adequando-os às condições de aprendizagens dos
As atividades didáticas devem ser planejadas de acordo com alunos, aos métodos, técnicas e recursos de ensino que vão sendo
os níveis de ensino da língua escrita: sistema de escrita, leitura e incorporados nas experiências do cotidiano.
produção de textos escritos e uso social da língua escrita. A diversi- g) Facilitar a preparação das aulas: selecionar o material didá-
dade de atividades pedagógicas propostas em sala de aula precisa tico em tempo hábil, saber que tarefas professor e alunos devem
se apresentar para as crianças de modo organizado e coeso. Isso executar. Replanejar o trabalho frente a novas situações que apare-
pode ser garantido se forem observados dois critérios didáticos: a cem no decorrer das aulas.
sequência das atividades e a integração entre elas. Para que os planos sejam efetivamente instrumentos para a
ação, devem ser como guia de orientação e devem apresentar or-
dem sequencial, objetividade, coerência, flexibilidade.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
O plano é um guia para orientar o professor em suas ações questão. Ao mesmo tempo em que são listadas as noções, concei-
educativas tos, ideias e problemas, é feita a previsão do tempo necessário. A
O plano é um guia de orientação, pois nele são estabelecidas as previsão do tempo, nesta fase, ainda não é definitiva, pois poderá
diretrizes e os meios de realização do trabalho docente. Sua função ser alterada no momento de detalhar o desenvolvimento metodo-
é orientar a prática partindo da exigência da própria prática. lógico da aula.
O plano deve ter uma ordem sequencial, progressiva. Para al- Em relação a cada tópico, o professor redigirá um ou mais ob-
cançar os objetivos, são necessários vários passos, de modo que a jetivos específicos, tendo em conta os resultados esperados na as-
ação docente obedeça a uma sequência lógica. similação de conhecimentos e habilidades (fatos, conceitos, ideias,
Por objetividade entendemos a correspondência do plano com relações, métodos e técnicas de estudo, princípios e atitudes etc.)
a realidade que se vai aplicar. Não adianta fazer previsões fora das estabelecer os objetivos é uma tarefa tão importante que deles vão
possibilidades humanas e materiais da escola, fora das possibilida- depender os métodos e procedimentos de transmissão e assimila-
des dos alunos. ção dos conteúdos e as várias formas de avaliação (parciais e finais).
Deve haver coerência entre os objetivos gerais, objetivos espe- O desenvolvimento metodológico será desdobrado nos seguin-
cíficos, os conteúdos, métodos e avaliação. Coerência é relação que tes itens, para cada assunto novo: preparação e introdução do as-
deve existir entre as ideias e a prática. sunto; desenvolvimento e estudo ativo do assunto; sistematização
O plano deve ter flexibilidade no decorrer do ano letivo, o pro- e aplicação; tarefas de casa. Em cada um desses itens são indicados
fessor está sempre organizando e reorganizando o seu trabalho. os métodos, procedimentos e materiais didáticos, isto é, o que o
Como já dissemos o plano é um guia e não uma decisão inflexível. professor e alunos farão para alcançar os objetivos.
Existem pelo menos três níveis de planos: o plano da escola, o Em cada um dos itens mencionados, o professor deve prever
plano de ensino, o plano de aula. formas de verificação do rendimento dos alunos. Precisa lembrar
O plano da escola é um documento mais global; expressa que a avaliação é feita no início (o que o aluno sabe antes do de-
orientações gerais que sintetizam, de um lado, as ligações da escola senvolvimento da matéria nova), durante e no final de uma unida-
com o sistema escolar mais amplo e, de outro, as ligações do pro- de didática. A avaliação deve conjugar várias formas de verificação,
jeto pedagógico da escola com os planos de ensino propriamente podendo ser informal, para fins de diagnóstico e acompanhamento
ditos. do progresso dos alunos, formal para fins de atribuição de notas ou
O plano de ensino (ou plano de unidade) é a previsão dos ob- conceitos.
jetivos e tarefas do trabalho docente para o ano ou semestre; é um Os momentos didáticos do desenvolvimento metodológico não
documento mais elaborado, dividido por unidades sequenciais, no são rígidos. Cada momento terá duração de tempo de acordo com
qual aparecem objetivos específicos, conteúdos e desenvolvimento o conteúdo, com o nível de assimilação dos alunos. Às vezes ocu-
metodológicos. par-se-á mais tempo com a exposição oral da matéria, em outras,
O plano de aula é a previsão do desenvolvimento do conteúdo com o estudo da matéria. Outras vezes, ainda, tempo maior pode
para uma aula ou conjunto de aulas e tem um caráter específico. ser dedicado a exercício de fixação e consolidação. Por exemplo,
O plano de aula é um detalhamento do plano de ensino. As uni- pode acontecer que os alunos dominem perfeitamente os conhe-
dades e subunidades (tópicos) que foram previstas em linhas gerais cimentos e habilidades necessárias para enfrentar a matéria nova;
são agora especificadas e sistematizadas para uma situação didáti- nesse caso, a preparação e introdução do tema pode ser mais bre-
ca real. A preparação de aulas é uma tarefa indispensável e, assim ve. Entretanto, se os alunos não dispõem de pré-requisitos bem
como o plano de ensino, deve resultar em um documento escrito consolidados, a decisão do professor deve ser outra, gastando-se
que servirá não só para orientar ações do professor como também mais tempo para garantir uma base inicial de preparo através da
para possibilitar constantes revisões e aprimoramentos de ano para recapitulação, pré-testes de sondagem e exercícios.
ano. Em todas as profissões o aprimoramento profissional depen- O desenvolvimento metodológico pode se destacar aulas com
de da acumulação de experiências conjugando a prática e reflexão finalidades específicas: aula de exposição oral da matéria, aula de
criteriosa sobre ela, tendo em vista uma prática constantemente discussão ou trabalho em grupo, aula de estudo dirigido individual,
transformada para melhor. aula de demonstração prática ou estudo do meio, aula de exercí-
Na elaboração de um plano de aula, deve-se levar em conside- cios, aula de recapitulação, aula de verificação para avaliação.
ração, em primeiro lugar, que a aula é um período de tempo variá- O professor consciencioso deverá fazer uma avaliação da pró-
vel. Dificilmente completamos em uma só aula o desenvolvimento pria aula. Sabemos que o êxito dos alunos não depende unicamente
de uma unidade ou tópico de unidade, pois o processo de ensino do professor e do seu método de trabalho, pois a situação docente
e aprendizagem se compõe de uma sequência articulada de fases: envolve muitos fatores de natureza social, psicológica, o clima geral
preparação e apresentação de objetivos, conteúdos e tarefas; de- da dinâmica da escola etc. Entretanto, o trabalho docente tem um
senvolvimento da mataria nova; consolidação (fixação, exercícios, peso significativo ao proporcionar condições efetivas para o êxito
recapitulação, sistematização); aplicação, avaliação. Isso significa escolar dos alunos. Ao fazer a avaliação das aulas, convém ainda
que devemos planejar não uma aula, mas um conjunto de aulas. levantar questões como estas: Os objetivos e conteúdos foram ade-
Na preparação de aulas, o professor deve reler os objetivos ge- quados à turma? O tempo de duração da aula foi adequado? Os
rais da matéria e a sequência de conteúdos do plano de ensino. Não métodos e técnicas de ensino foram variados e oportunos em sus-
pode esquecer que cada tópico novo é uma continuidade do ante- citar a atividade mental e prática dos alunos? Foram feitas verifica-
rior; é necessário assim, considerar o nível de preparação inicial dos ções de aprendizagem no decorrer das aulas (informais e formais)?
alunos para a matéria nova. O relacionamento professor-aluno foi satisfatório? Houve uma or-
Deve, também, tomar o tópico da unidade a ser desenvolvido ganização segura das atividades, de modo ter garantido um clima
e desdobrá-lo numa sequência lógica, na forma de conceitos, pro- de trabalho favorável? Os alunos realmente consolidaram a apren-
blemas, ideias. Trata-se de organizar um conjunto de noções básicas dizagem da matéria, num grau suficiente para introduzir matéria
em torno de uma ideia central, formando um todo significativo que nova? Foram propiciadas tarefas de estudo ativo e independente
possibilite ao aluno percepção clara e coordenada do assunto em dos alunos?

20
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
A escola sendo lugar propício para trabalhar com o conheci- Ao adotar o “formulário” de 1970, importado de fora, assumia-
mento, tem em suas funções levar o aluno à compreensão da re- -se a ideia implícita de produtividade, de eficiência e de eficácia do
alidade para através do conhecimento atuar de forma a contribuir ensino para dar conta da necessidade da produção da sociedade.
para que haja mudança. Aí surge uma questão a ser respondida. Porém, o que se percebia inclusive os próprios especialistas, é que
Que realidade se defende na escola? Como afirma Kuenzer “Toda o que constava na teoria do plano não representava a realidade
forma de conhecer uma realidade, para nela intervir, pressupõe prática do professor. O aluno acabava sendo privado do conteúdo,
uma determinada concepção desta realidade”. Para conhecer a pois as metodologias ativas de ensino acabavam impedindo que o
realidade faz-se necessário planejamento. De uma maneira geral, professor tivesse segurança em dar o conteúdo. O fato é que numa
pode-se dizer que o ato de planejar suas ações acompanha o ho- sociedade o planejamento da educação é estabelecido a partir das
mem desde o início de sua existência, pois a história dele é resul- regras e relações, herdando as formas, os fins, as capacidades e os
tado do presente e do passado, ou seja, ao procurar satisfazer suas domínios do modelo do capital monopolista do Estado.
necessidades o homem produziu diferentes relações, dentre elas, O Estado assumindo o papel de agente interventor, normali-
as educativas. zador da ordem, em suas políticas educacionais tenta mascarar os
De uma maneira simplificada pode-se dizer que o planeja- sistemas de relações sociais que dividem a sociedade, por isso a
mento educacional possui dois aspectos. O primeiro refere-se ao centralidade da educação traz consigo que o planejamento deve ser
planejamento estrutural. Ele é burocrático e explica as ações que a proposto pelo Estado. Desta maneira, pode-se dizer que há certa
educação faz. É produzido em gabinetes, pelas secretarias: federal, confusão no que diz respeito à explicação das formas de planejar. Na
estadual e municipal. Trata principalmente dos recursos financei- realidade o que os professores desenvolvem como “planejamento”
ros. Com relação ao porquê dessa característica do planejamento acaba seguindo certo “ritual”. Inicialmente o professor recebe os
Calazans afirma que, nas últimas décadas ele possui um caráter au- conteúdos para desenvolver o planejamento. Tais conteúdos fazem
parte dos documentos onde consta o plano de curso contendo as
toritário e manipulador. O outro caráter explica o pedagógico, ou
propostas de educação que o Estado necessita e impõe. Como por
seja, planeja as ações que vão “desembocar” na sala de aula, na
exemplo, pode-se citar os Parâmetros Curriculares Nacionais que
prática do professor e do aluno. Tendo como pressuposto que só
são tidos como um referencial e mesmo não tendo força de Lei,
ocorre a mudança de uma determinada situação quando ao pla-
constituem um currículo que é seguido pelos professores.
nejar se tem certeza de onde quer chegar, deve-se se ter claro que
Ao aprofundar sobre o conceito do que significa planejar na
o ato do planejamento educacional é muito sério e exige compro-
escola encontra-se que o planejamento é “um conjunto de ações
misso, é um ato de intervenção técnica e política, não podendo ser
coordenadas visando atingir os resultados previstos de forma mais
visto como uma simples rotina. Planejar, também, implica conhecer
eficiente e econômica” (LUCKESI, 1992). Este conceito, porém, está
limitações e possibilidades.
articulado à teoria da Administração Científica representada por
É possível visualizar na atual realidade do professor do Ensi- Taylor e Fayol. Essa teoria é decorrente da necessidade de organi-
no Fundamental que as denominadas semanas de planejamento zação do trabalho na sociedade capitalista, com a intenção de ra-
escolar que ocorrem no início de cada ano letivo, nada mais têm cionalizar o trabalho, aumentando então a produção de excedente.
sido além de um momento de preencher formulários para serem Taylor (americano) desenvolveu a chamada escola da administração
arquivados na gaveta do diretor ou de um intermediário do proces- científica preocupada em aumentar a eficiência da indústria, por
so pedagógico, como coordenador ou o supervisor. Além do mais meio, inicialmente da racionalização do trabalho operário, ou seja,
sendo realizado antes do início das aulas essa atitude traz algumas quanto mais repetida fosse a tarefa do operário, mais eficaz seria o
reflexões: se uma boa prática implica um grau de conhecimento da seu resultado.
realidade que ela vai transformar e também das exigências às quais Fayol (europeu) desenvolveu a chamada teoria clássica, preo-
ela precisa responder, como planejar antes de conhecer a turma cupada em aumentar a eficiência da aplicação de princípios gerais
em que se vai atuar? Até que ponto o planejamento deve «amar- da administração em bases científicas. Essas teorias influenciaram
rar» o fazer em sala de aula? Como deve ser: diário, semanário, também a educação já que na sociedade capitalista o objetivo da
mensal, bimestral ou anual? Quando e como deve ser feito? Quais escola é reparar o indivíduo para atuar e adaptar-se a ela, contri-
as possibilidades e os limites de sua realização? Inúmeras questões buindo para sua consolidação, como bem explica Zanardini: sob
como estas permeiam o dia-a-dia do professor e o coloca em dúvida este ponto de vista “administrativo Capitalista”, a escola é conce-
sobre como deve realmente ocorrer o planejamento na escola. Infe- bida como uma organização formal como outra qualquer, desvin-
lizmente, entre outros motivos, a sua formação não permite refletir culada do contexto social e de sua especificidade, isto porque os
sobre tais indagações e por isso acaba fazendo uso do tão famoso eficientes princípios, métodos e técnicas que promovem a evolução
«formulário», argumentando resumidamente que está cumprindo e produtividade na empresa devem estar presentes também na es-
com seu dever. cola. A organização do trabalho escolar a partir da ótica capitalista
A partir de Fusari, é preciso dizer que o “formulário” utilizado enfatiza aspectos burocráticos, e como tal, prioriza a formalidade, o
pelos professores para registro do planejamento foi criado pela Di- profissionalismo, a impessoalidade, a hierarquia e a especialização
visão de Assistência Pedagógica, em julho de 1970, no Estado de (1998).
São Paulo, à luz do behaviorismo americano, onde em um programa Percebe-se que ainda mesmo hoje essa teoria acompanha a
de treinamento de professores criam-se os elementos objetivos, intenção do Estado. A maneira através da qual as secretarias pro-
conteúdo, estratégias e avaliação para garantir um ensino eficiente põem o planejamento na escola, está articulada com os interesses
e eficaz. Para Fusari, a competência em sala é algo muito mais im- da classe dominante, mesmo que o Estado afirme o caráter de neu-
portante do que apenas saber fazer um bom plano, pois quando se tralidade na continuidade do trabalho, esses interesses estão claros.
fala em plano de ensino, automaticamente vem em mente a estru- Lukesi conceitua o planejamento como “a atividade intencio-
tura do documento da Divisão de Assistência Pedagógica. “Este foi nal pela qual se projetam fins e se estabelecem meios para atingi-
o modelo elaborado e implantado em todas as escolas brasileiras -los. É uma ação ideologicamente comprometida não possui caráter
e é este modelo que os professores rejeitam e que os técnicos de de neutralidade” (1992). Por isso o planejamento será um ato ao
supervisão, na maioria dos casos, valorizam” (1984). mesmo tempo político-social, científico e técnico.

21
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
Ao realizar o planejamento na escola não basta que o professor Na história do planejamento de ensino é possível ver que o pro-
apenas esteja atento aos meios, faz-se necessário também os fins, cesso da educação se condiciona por suas contradições objetivas e
os objetivos da educação. Uma das formas de estar atento é perce- subjetivas. Esse condicionamento representa o vetor principal do
bido no plano de aula. Fusari afirma que o preparo das aulas é um processo de ensino de aprendizagem que conduz à unidade da teo-
encontro curricular, no qual, ano a ano, vai-se tecendo a rede do ria e da prática pedagógica. A contradição é, sem dúvida, o elemen-
currículo escolar proposto para determinada faixa etária, modalida- to gerador que leva a ação didática a proporcionar a assimilação
de ou grau de ensino (1992). Nessa visão, a aula deve ser concebida crítica e criativa do conhecimento e a produção de conhecimentos
como um momento curricular importante, no qual o educador faz em situações didáticas específicas e às manifestações de fenôme-
a mediação competente e crítica entre os alunos e os conteúdos do nos de natureza diversa.
ensino, sempre procurando direcionar a ação docente para a apren- Um aspecto importante a ser lembrado é que o professor não
dizagem do aluno. pode perder de vista que a escolha das metodologias está articu-
Fusari apresenta uma distinção entre plano e planejamento. lada aos princípios e finalidades da educação por ele preconizada.
Para ele planejamento - é o processo que envolve a atuação concre- Tal procedimento é importante, visto que as metodologias possuem
ta dos educadores no cotidiano do seu trabalho pedagógico, envol- fundamentação político filosófica, portanto não se constitui um ele-
vendo todas as suas ações e situações, o tempo todo, envolvendo mento neutro.
a permanente interação entre os educadores e entre os próprios Enfim, não se pode esquecer que a escola necessita desen-
educandos (1989 p. 10). Enquanto que o plano de ensino é um mo- volver o seu trabalho pedagógico, em longo prazo, com objetivos
mento de documentação do processo educacional escolar como a serem atingidos no bimestre, semestre ou no ano letivo. Mesmo
que isto seja difícil num país em que não se tem clareza política e
um todo. É, pois, um documento elaborado pelo docente, contendo
econômica do que vai ocorrer amanhã, este argumento não pode
suas propostas de trabalho, numa área e/ou disciplina específica.
ser utilizado para que a escola planeje somente para o dia seguinte.
O plano de ensino é mais abrangente do que aquilo que está
Para compreender como ocorre o plano de ensino faz-se necessário
registrado no planejamento do professor. Nesse entendimento,
entendê-lo desde o momento em que é determinado pelas políticas
planejamento e plano se complementam e se interpenetram no educacionais até chegar à sala de aula.
processo da prática docente. Um profissional da Educação bem pre- O caminho que se desenvolve na ação do planejamento come-
parado supera eventuais limites do seu plano, a partir das reflexões ça no plano de curso (planejamento macro), advindo na maioria das
vivenciadas. Um bom plano não transforma, em si, a realidade da vezes pronto dos próprios órgãos que coordenam o trabalho nos
sala de aula, pois ele depende da competência e do compromis- estados, municípios e chega a escola onde são elaborados os planos
so social do docente. Se um bom plano necessita de compromisso de ensino. A partir dele o professor conclui e organiza seu plano de
técnico e político, como é possível medir como tais aspectos ocor- aula sem uma maior pesquisa sobre os conteúdos necessários para
rem? Que caminho pode levar a essa percepção? Partindo do pres- a série que irá atuar. Pode-se perceber que o planejamento é um
suposto que a metodologia deve ser entendida enquanto caminho elemento que necessita de muita discussão, pois, sendo iniciado
ou meio que professores e alunos devem percorrer para atingir o de maneira para não dar certo, o ato do planejamento já começa
objetivo colocado no processo de ensino - aprendizagem e que as de forma inadequada. Como superação dessas dicotomias alguns
realidades em sala de aula são dinâmicas, pode-se afirmar que ela teóricos apontam o planejamento coletivo ou participativo. Enten-
não deve ser um conjunto sequencial de procedimentos engessa- de-se que existe na escola o Projeto Político - Pedagógico e que este
dos. Mas, sim enquanto uma prática dinâmica flexível que pode sendo construído de forma coletiva, todas as ações da escola tam-
ser revista e reorientada de forma que garanta a qualidade do en- bém deveriam ser, por isso, o planejamento do trabalho deve fazer
sino. Neste sentido Rays afirma que “a atividade metódica - se em parte da concepção da escola. Diante da pesquisa sobre o que é
correspondência com o objetivo almejado - faz com que o homem planejar surge uma pergunta que precisa ser respondida: Afinal se o
se relacione de forma mais adequada com o mundo da natureza e planejamento é necessário como deve ocorrer? É preciso conhecer
com o mundo da cultura” (1991). Dessa maneira, é possível afirmar a realidade do aluno, ou seja, não deve acontecer uma semana pe-
que “um método de ensino torna-se concreto quando o mesmo se dagógica de planejamento e sim de estudo e de avaliação do Proje-
converte em método de aprendizagem”. Desta forma, não se pode to Político - Pedagógico da escola, para que todos os envolvidos no
esquecer que o método de ensino tem que considerar em seus de- processo escolar possam participar. Veiga (1995), afirma que o Pro-
terminantes não só a realidade vital da escola (representada princi- jeto Político - Pedagógico (PPP) não pode ser visto como um mero
palmente pelas figuras do educador e do educando), mas, também documento que é exigido pelas secretarias, uma burocracia. Tem
que ser construído coletivamente. É uma necessidade e ao mesmo
a realidade sócio-cultural em que está inserida.
tempo um desafio para a escola. Enquanto coletivo, o PPP pressu-
Pode-se dizer que sendo o ensino um processo dialético, seu
põe superar a fragmentação, buscar o trabalho articulado, exigindo
movimento essência estará no ideário político - pedagógico que se
assim um esforço político do conjunto da comunidade escolar. É um
operará em suas contradições internas e externas. Como afirma Fri-
planejamento que busca unificar a direção dos envolvidos na es-
gotto, no processo dialético de conhecimento da realidade, o que cola. É político, porque nele está inserida uma intencionalidade e
importa fundamentalmente não é a crítica pela crítica, o conheci- é pedagógico porque estabelece caminho para que a escola atinja
mento pelo conhecimento, mas a crítica e o conhecimento crítico seu objetivo para garantir o compromisso com a democratização
para uma prática que altere e transforme a realidade anterior no da mesma.
plano do conhecimento e no plano histórico-social (1987). Desta Ao planejar o PPP a escola deveria expressar o método que
maneira, o conhecimento deve ser o instrumento que contribuirá realiza suas ações. Na prática, é possível perceber que a questão
para que o indivíduo possa se inserir na sociedade e ao mesmo do método é algo que traz muita discussão, pois ainda se acredita
tempo interferir nela para que tenha melhores condições de sobre- ou se proclama que para resolver adequadamente os problemas de
vivência. sala de aula, é necessário detectar a ausência do método de ensino
no trabalho do professor. Visto desta maneira o método não repre-
senta a concepção de Educação do professor, mas, apenas o rol de
atividades que o mesmo desenvolve. Propõe-se que o método orga-

22
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
nizatório pode encaminhar satisfatoriamente a “montagem” da es- objetivo alcançado quando o planejamento participativo torna-se
cola como local de transmissão do saber. Para esclarecer a diferença instrumento teórico-prático capaz de facilitar a convergência entre
entre as concepções sobre o método Veiga afirma: a metodologia o refletir e o agir, no espaço escolar (1995).
que se faz coletiva e solidariamente é diferente daquela que é de- As grandes perguntas que se deve responder ao discutir o pla-
terminada a priori, de cima para baixo, a respeito de como devem nejamento é o quê, para quê, para quem e o como deve ocorrer o
ser realizadas as atividades em sala de aula (1995). trabalho pedagógico na escola? Se hoje o caráter redentor da escola
A pergunta que muitos professores ainda fazem é qual méto- não é mais visto como único e verdadeiro é porque se acredita que
do seguir ao se propor à prática o planejamento? Há um discur- deva existir uma forma de planejar o ensino sem que seja reprodu-
so preconizado entre os professores de que “o melhor método é zida a situação imposta pelo poder dominante. Nessa perspectiva
não seguir nenhum ou analisar todos e extrair deles o que é mais apontada, um grupo de professores do qual faço parte, procurou
interessante” afirma-se que a “receita correta” é a experiência do encontrar um meio concreto para que os objetivos propostos pela
professor. Na verdade esse pensamento traz como pano de fundo escola fossem alcançados. Uma maneira de realizar o planejamen-
uma desculpa para não se explicar qual concepção de educação que to de forma mais coerente com a realidade dos professores. Não
embasa o trabalho pedagógico. se trata de mais um ecletismo pedagógico, mas, uma tentativa de
A insegurança acaba dando margem para que o ensino ocorra se desenvolver o coletivo na escola. Cabe lembrar que a “quebra”
na forma tradicional. Será que o tradicional garante a aprendiza- de paradigmas causa um certo desconforto entre os professores. É
gem? Que tipo de aprendizagem atinge-se? Nessa visão é comum mais fácil desacreditar do novo do que desconstruir a imagem do
se ouvir que “professor é aquele que ensina e não aquele que se velho, do tradicional. Esse está sendo um dos desafios a ser enfren-
preocupa com o método”. Tais atitudes expressam que há certa tado na prática que se propõe a fazer.
confusão do que seja ensinar. O método enquanto concepção vai Até o momento descobriu-se que há a certeza de que a forma
caracterizar a prática pedagógica, pois, não é o conteúdo do conhe- que orientava a elaboração do planejamento não condizia com a
cimento que fará isso, mas o meio pelo qual este conhecimento é concepção que se tinha da educação e este foi o motivo que levou
transmitido, que vai reelaborá-lo, transformando-o em saber con- o grupo a estudar uma maneira diferente de expressar seu planeja-
servador ou progressista. mento. Durante a nova prática surgiram questionamentos sobre o
Neste sentido, Fusari chama a prática do planejamento de objetivo do trabalho, onde se queria chegar com tal prática. Entre as
“ecletismo pedagógico” porque é possível identificar num profes- respostas está a mais importante: o resgate do conteúdo na escola.
Temos procurado perceber quais são efetivamente os conteúdos
sor cujo discurso é marcadamente progressista, comportamentos
necessários a cada série, pesquisado bibliografias que abordam os
bastante conservadores no trato com os conteúdos do ensino e na
conteúdos, para que os mesmos ficassem claros para os professores
própria interação com os alunos. Não há, assim uma correspondên-
sistematizado num documento o que foi planejado.
cia necessária entre discurso e prática pedagógica (1993).
O diálogo, análise e estudo constante embasam a prática e
Há autores que afirmam ter uma diferença entre o método
muitos entraves já foram enfrentados: a resistência ao novo, a falta
científico da apreensão da realidade e o método de ensino pelo
de formação sobre qual a concepção de educação que se procu-
qual a população escolar se apropria do conhecimento então pro-
ra defender na escola e a dificuldade no registro escrito, enquanto
duzido. Por outro lado, esses autores complementam que em am-
instrumento que expressa o pensamento e a realidade humana. As
bos os métodos, há uma base comum, porque tratam do método conquistas aos poucos estão aparecendo, porém este trabalho ain-
do pensamento. Na maneira pela qual ocorre a obtenção do saber da não foi concluído, seus resultados poderão ser sistematizados
enquanto objeto de apropriação por parte da população escolar e futuramente, já que ao desenvolvê-lo está sendo questionada e
da não transmissão por parte dos professores, levanta por sua vez a reelaborada a especificidade da escola enquanto local privilegiado
questão educacional, de como se realiza sua apropriação na escola. de obtenção do conhecimento. Para que os objetivos sejam alcan-
O “como” tido como a questão do método. Segundo Álvaro Vieira çados Fusari afirma que a relação da especificidade da escola com
Pinto “as regras do método indicam ainda o modo segundo o qual competência técnica e o compromisso político do educador poderá
se deve operar experimentalmente sobre o mundo com o propósi- contribuir para que o planejamento participativo ocorra. As ques-
to de investigá-lo e desentranhar dele seus conteúdos inteligíveis” tões que permeiam o planejamento de ensino não se esgotam aqui,
(1985). já que a escola está diretamente ligada com a própria história do ser
O espaço onde ocorre o desenrolar dos conteúdos sistematiza- humano e este faz parte do movimento da realidade que é dinâmica
dos é a sala de aula, Wachowicz faz uma reflexão sobre esse espaço e sofre constantes transformações.
e diz que mesmo sendo o lugar ao qual jamais chegou o interes- As relações educativas, que ocorrem no ambiente escolar, são
se efetivo da maioria dos políticos e administradores, é ao mesmo diversas e ao mesmo tempo com permanente construção e recons-
tempo o suporte para que ocorra a educação. Por isso a sala de trução. Por isso, um relato de uma experiência é limitado, tendo
aula, apesar das interferências da política administrativa e educa- em vista a dinâmica do processo histórico. No entanto, as certezas
cional, bem como da situação histórico- social do país, ainda pode construídas no trabalho coletivo, o comprometimento, a clareza da
ser um espaço que possui “a fascinação das coisas vitais” (1995). concepção da escola poderão fazer uma prática estar voltada ao
Por isso, para dar conta de tornar o conhecimento socializado, o compromisso político e a competência técnica dos envolvidos nes-
método didático tem que se tornar necessário, como aquele capaz sa realidade. Esta última entendida não como um “dom” e muito
de fazer o aluno ler criticamente a prática social na qual vive. Não menos como neutra, mas construída e inserida num tempo e num
se pode esquecer que esse processo não se realiza individualmente, espaço. É necessário questionar não só “o que” do saber a ser en-
nem mesmo numa relação a dois, entre professor e aluno, mas é sinado na escola, mas também “o como” se pretende ensinar, pois,
um processo coletivo pelo qual um grupo de pessoas se depara com a pergunta que deve ser respondida é como se ensina bem? Quem
o conhecimento e no qual não se perde a perspectiva individual. pode afirmar sobre as prioridades de uma escola no que se refere
Com relação ao trabalho coletivo Fusari esclarece que o traba- à aprendizagem dos alunos? Planejar implica preocupar-se com a
lho coletivo exige educadores que tenham pontos de partida (prin- aprendizagem, com a obtenção do conhecimento e como ninguém
cípios) e pontos de chegada (objetivos) comuns (1993). Neste sen- pode dar o que não tem, como ajudar alguém para “conhecer” sem
tido, Falkembach, demonstra a possibilidade do coletivo chegar ao se ter o conhecimento?

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
O domínio do conteúdo é a base sólida que vai determinar se 5º. São quatro fontes que sustentarão o projeto didático: cul-
o trabalho é coletivo ou não. Desta maneira, o planejamento im- tura, crescimento pessoal, natureza e estrutura dos conteúdos de
plica discutir a questão como diz Pinto, 1984, “sobre o conteúdo e aprendizagem.
a forma” da educação. O conteúdo entendido como o conjunto de 6º. A estrutura do projeto adota um modelo aberto a partir da
conhecimentos que são transmitidos pelo professor ao aluno, ou sua submissão às revisões, deixando que os professores se articu-
seja, os conhecimentos organizados e distribuídos em forma de dis- lem a cada situação de aprendizagem.
ciplina curricular. A forma insere os procedimentos ou técnicas de 7º. O projeto é facilitador a partir da concepção construtivista
ensino, é ela que define a concepção que um determinado trabalho da aprendizagem. O aluno constrói o conhecimento a partir da con-
pedagógico assume. É através da forma que se percebe na postura cepção educativa construtivista. São três aspectos-chaves: aprendi-
de um professor em que é fundamentada a concepção de homem, zagem significativa, memorização compreensiva e aplicação funcio-
de educação e de sociedade que se pretende trabalhar. A forma e o nal do que se aprendeu.
conteúdo estão inter-relacionados, um depende do outro, por isso 8º. A atividade construtiva da criança é primordial na efetiva-
na relação conteúdo forma, ao conteúdo cabe o papel determinan- ção do projeto. A finalidade é aprender a aprender;
te, porém essa determinação não é absoluta. 9º. O projeto é composto pelas intenções educativas propos-
Apesar de alguns teóricos como Fusari afirmarem que o pro- tas pela equipe docente em conjunto. Ele guarda a proposta de um
fessor possui domínio do conteúdo que ensina e que mesmo pau- aprendizado realístico com relação ao que o aluno deve construir.
tado em técnicas e métodos através da metodologia do professor é 10º. As intenções educativas têm um quando, um como e um
possível perceber qual é o conteúdo ensinado, na prática dos pro- por que de acontecer. Para isso, elas devem ser ordenadas em sequ-
fessores é possível detectar que é justamente aí que está o grande ência de atividades, do mais simples ao complexo.
problema. 11º. A ação pedagógica também constitui um plano de cumpri-
A sociedade mudou, as condições econômicas mudaram e es- mento, caracterizando o projeto, as intenções educativas, as ativi-
tão mudando constantemente, porém, os conteúdos que o profes- dades no plano concreto de ensino, contextualizando-os.
sor domina continuam sendo os mesmos que foram determinados 12º. A globalização inscreve-se na estrutura do projeto, pois faz
há uma década, ligados ao Currículo. Os PCNs contribuíram para parte da sequência elaborada de atividades do ensino e da aprendi-
que a confusão ficasse ainda pior e em consequência o professor zagem. Essa concepção construtivista traduz o trabalho dos mode-
continua sem saber o que e como planejar sua ação pedagógica. los didáticos de ensino.
Embora com limites, tenha conseguido desvelar a forma como vem 13º. A concepção construtivista consiste em colocar em primei-
sendo elaborado o planejamento nas séries iniciais do Ensino Fun- ro lugar as individualidades de cada aluno.
damental, nota-se ainda que a construção de um planejamento 14º. O modelo do projeto prevê um conjunto de ações que con-
que garanta o conhecimento acumulado ao longo da história da hu- templam a avaliação inicial, formativa e somatória.
manidade depende, entre outros, também do nosso compromisso www.portaleducacao.com.br
político e de nossa competência técnica. O que se pretende dizer
é que a educação de um povo é determinada pelas necessidades A organização do currículo por projetos de trabalho
decorrentes da forma pela qual ele está organizado para produzir Esse tema surge quando percebe-se na educação atual, pro-
os meios de vida de que necessita. Por isso, pode - se afirmar que postas de abordagem menos parcelada do conhecimento, no de-
o que se ensina, o como se ensina, o espaço onde se ensina e os sejo de uma integração de conteúdos e de ampliação do trabalho
objetivos do ensino são determinados historicamente nas relações escolar na direção da educação matemática, buscando uma apren-
sociais e econômicas. dizagem mais significativa.
Participar da sociedade hoje, exige dos indivíduos um número
O Modelo Curricular no Trabalho com Projetos muito mais elevado e complexo de capacidades: operar terminais
Sobre as duas vertentes do projeto: o curricular e o circunstan- bancários, transitar pelo sistema de transportes, utilizar meios de
cial. O primeiro é a base que constituirá a sequência de atividades comunicação como fax, celulares e internet, lidar com um número
e de conteúdo do projeto circunstancial. Quando falamos de um cada vez maior de pessoas, de diferentes origens sociais e culturais,
projeto curricular, abstraímos um modelo de projeto no qual se conhecer as cada vez mais complexas estruturas administrativas da
formula uma análise para uma visão conjunta e interdisciplinar. Na vida social por onde transitam seus direitos e deveres e saber como
construção do projeto curricular vigoram alguns princípios a serem utilizá-las, são algumas das exigências diárias da vida moderna.
relatados: “Falar sobre futuro em educação é algo fundamental. Não po-
1º. O princípio educacional indica um conjunto de práticas e demos desempenhar nossa missão de educadores sem estarmos
modelos que incidirão sobre um grupo educacional. Com isso, pro- permanentemente atentos ao futuro, pois é nele que se notarão os
moverá o crescimento dos membros ao auxiliar na assimilação de reflexos de nossa ação”.(D’Ambrósio, 1993, 48).
uma cultura organizacional. Ainda segundo o autor que acabamos de citar, teríamos neces-
2º. A finalidade dessa educação é promover o crescimento pes- sidade de uma revisão curricular com a introdução de novas dis-
soal como marco dessa cultura organizacional. Com isso, planejam- ciplinas e novos enfoques visando valores utilitários, cultural, for-
-se atividades interdisciplinares que respondem a um planejamento mativo (do raciocínio), sociológico (pela universalidade) e estético.
prévio, que ampliará a educação escolar. Nessa perspectiva, a reorganização dos sistemas escolares, em
3º. O Projeto Curricular guiará o aluno pelas atividades esco- sua opinião, deverá visar a instrumentalização do aluno, a facilita-
lares com base naquele planejamento, proporcionando momentos ção de sua socialização e dar-lhe conhecimento. Sua proposta impli-
de concretização. Esse projeto instituirá o que, quando e como en- ca numa profunda revisão do próprio conceito de currículo e busca
sinar e avaliar. um futuro com uma nova educação matemática sem as obsolências
4º. O Projeto curricular pode e dever submeter-se sempre às que a caracteriza hoje em dia.
revisões e replanejamentos, potencializando – e atualizando – o en-
riquecimento progressivo do projeto didático.

24
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
Dewey afirma que a educação é um processo que ocorre ao Podemos identificar quatro fases distintas na realização de um
longo da vida. Não se trata de preparar para uma vida futura, mas projeto de aprendizagem:
de construir o presente. A escola deve propiciar um espaço tão real 1. Intenção – Nessa fase, o professor deve pensar os seus ob-
e vital para o aluno como o de sua casa. Os tempos mudaram, pou- jetivos educacionais e as necessidades de aprendizagem da sua tur-
co mais de um século se passou e a preocupação da relação entre ma, se instrumentalizando para canalizar a curiosidade e os interes-
a escola e a realidade sociocultural continua ainda cada vez mais ses dos alunos para a montagem do projeto. A partir daí, todas as
atual. A discussão da função social da escola, do significado das ex- atividades serão socializadas:
periências escolares para os que dela participam foi e continua a • Escolha do tema .
ser um dos assuntos mais polêmicos entre nós educadores. A nossa • Identificação do nível de conhecimento dos alunos – conheci-
era é marcada pela globalização e por transformações tecnológicas mentos prévios - que possibilita a problematização do conteúdo, o
acentuadas. Essas recentes mudanças têm trazido uma série de re- levantamento de hipóteses, a listagem do que os alunos querem sa-
flexões sobre o papel da escola dentro desse novo modelo de so- ber e identificação de possíveis estratégias para o desenvolvimento
ciedade. É nesse contexto e dentro dessa polêmica que a discussão do trabalho.
sobre a Pedagogia de Projetos, hoje se coloca, percebendo-a como
uma determinada concepção e postura pedagógica e não como 2. Preparação – É quando acontecem:
uma técnica de ensino mais atrativa para os alunos. • A coleta e a seleção do material bibliográfico ( revistas, jor-
Reorganizar o currículo por projetos, em vez das tradicionais nais, panfletos, livros didáticos, paradidáticos e literários,...), filmes,
disciplinas, é a principal proposta do educador espanhol Fernando cd’s, internet, etc.
Hernández. Ele se baseia nas idéias de John Dewey (1859-1952), fi- • A organização dos grupos e/ou duplas de trabalho e suas res-
lósofo e pedagogo norte-americano que defendia a relação da vida pectivas tarefas.
com a sociedade, dos meios com os fins e da teoria com a prática. • A montagem dos textos para as atividades de pesquisa e es-
A Pedagogia de Projetos visa à re-significação desse espaço es- tudos dos alunos.
colar, transformando-o em um espaço vivo de interações, aberto • A busca de outros meios necessários para a solução dos pro-
ao real e às suas múltiplas dimensões. O trabalho com projetos traz blemas levantados na primeira fase.
uma nova perspectiva para entendermos o processo ensinoapren-
dizagem. 3. Execução – Momento em que ocorre o desenvolvimento
Aprender deixa de ser um simples ato de memorização e ensi- das atividades, a realização das estratégias para buscar respostas às
nar não significa mais repassar conteúdos prontos. Nessa postura, questões e hipóteses levantadas na problematização.
todo conhecimento é construído em estreita relação com os con- • O confronto, a coordenação de pontos de vistas diferentes,
textos em que são utilizados, sendo por isso impossível separar os a revisão a participação ativa e comprometida são condições para
aspectos cognitivos, emocionais e sociais presentes nesse processo. a construção do conhecimento. O papel do professor em suas in-
A formação do aluno é um processo global e complexo, onde o co- tervenções nesse aspecto é fundamental. O aluno precisa se sentir
nhecer e intervir no real não se encontram dissociados. desafiado a cada atividade.
A organização de projetos se constitui como a construção de
uma prática pedagógica centrada na formação global dos alunos.
4. Apreciação – Avaliação do trabalho realizado em relação aos
O projeto é uma atitude intencional, um plano de trabalho, um
objetivos finais:
conjunto de tarefas que tendem a um progressivo envolvimento
• As informações novas.
individual e social do aluno nas atividades empreendidas volunta-
• As questões esclarecidas.
riamente, por ele e pelo grupo, sob a coordenação de um professor.
• As conclusões construídas e o crescimento evidenciado pelos
Portanto, um projeto situa-se como uma proposta de intervenção
alunos durante a realização do projeto.
pedagógica que dá à atividade de aprender um sentido novo, no
qual as necessidades de aprendizagem afloram na tentativa de se
Ao organizar um projeto é essencial destacar:
resolver situações problemáticas. Um projeto gera situações de
aprendizagem, ao mesmo tempo reais e diversificadas. Favorece 1. Atividade dirigida para uma meta bem definida, materializar
assim a construção da autonomia e da autodisciplina por meio de algo concreto, como por exemplo: a construção de um jogo, um re-
situações criadas em sala de aula para a reflexão, discussão, tomada latório que analise intimamente uma situação. Em um bom projeto,
de decisão, observância de combinados e críticas em torno do tra- os problemas surgem naturalmente e são trabalhados e resolvidos
balho em andamento proporcionado ao aluno, ainda, a implemen- como caminho para chegar-se à realização final.
tação do seu compromisso com o social, tornando-o sujeito do seu
próprio conhecimento. 2. O projeto não deve visar a solução de um problema amplo (
Um aluno terá iniciativa e autonomia, se tiver tido anterior- composto de vários problemas) que, de preferência, sirva de título
mente a oportunidade de decidir, escolher, opinar, criticar, dizer o ao projeto.
que pensa e sente.
O desenvolvimento de projetos, tem como objetivo, resolver 3. O projeto não é uma tarefa necessariamente determinada
questões relevantes para o grupo, gerar necessidades de aprendiza- pelo professor. Ele deve ser escolhido, discutido e planejado pela
gem, ou seja, tornar a aprendizagem ativa, interessante, significati- turma toda: professor e alunos.
va, real e atrativa para o aluno, englobando a educação em um pla-
no de trabalho agradável, sem impor os conteúdos programáticos 4. O fixo, no projeto, é a meta. Os meios, planejados de início,
de forma autoritária. Assim o aluno lê, conversa faz investigações, vão sendo reestruturados conforme seja necessário e de acordo
formula hipóteses, anota dados, calcula, reúne o necessário e, por com as novas ideias que surjam. Assim, acostumam-se os alunos a
fim, converte tudo isso em pontos de partida para a construção e enfrentar com criatividade situações que, por serem reais, são fre-
ampliação do conhecimento. quentemente inesperadas.

25
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
5. O que caracteriza um trabalho com projetos não é a origem Existem vários tipos de projetos, desde os mais simples aos
do tema, mas, o tratamento dado a esse tema, no sentido de tor- mais complexos, dos puramente manuais aos que levam os alunos
ná-lo uma questão do grupo como um todo e não apenas de alguns a uma atividade intelectual intensa, à pesquisa, etc.
alunos ou do professor, de maneira a garantir um envolvimento efe-
tivo na definição dos objetivos e etapas na participação das ativida- A Pedagogia de Projetos pode ser aplicada a todas as discipli-
des vivenciadas e no processo qualitativo de educação. nas do programa escolar, podendo realizar-se sistemática ou ocasio-
nalmente. Suas vantagens são incontestáveis:
6. Durante o desenvolvimento de um projeto, o trabalho dos • Proporciona contextualização e significação ao conteúdo;
alunos é variado. • Segue o princípio de ação organizada em torno de um fim, em
Pode-se constar de: vez de impor aos alunos lições cujo objetivo e utilidade não com-
• Experimentos na sala de aula ou no laboratório; preendem.
• Coleta e observação de material; • Possibilita melhorar a compreensão;
• Entrevistas com especialistas e autoridades; • Das necessidades de contexto social;
• Coleta de dados em livros, revistas, jornais,vídeos, internet; • Do planejamento cooperativo;
• Montagem de glossários, livros, maquetes, boletins informa- • Dos processos de grupo e da importância da participação de
tivos, cartazes; cada um no grupo;
• Escrita de cartas, bilhetes, convites; • Da importância dos serviços prestados aos outros;
• Excursões relacionadas ao tema; • Possibilita aprendizagem real, significativa, ativa, interessante
• Dramatização, etc. e atrativa;
• Há sempre um propósito para a ação do aluno;
Algumas diretivas para a realização de um projeto são: • Sabe o que faz e para o que faz;
• O primeiro passo é a escolha do problema. É aconselhável • Propõe ou encaminha soluções aos problemas levantados;
que a turma considere várias possibilidades antes de fixar-se numa. • É prática e funcional;
O tipo da escola e sua localização, bem como as características e • É integradora;
preferências da turma devem influir na escolha. • Concentra a atividade do aluno obrigando-o a realizar os tra-
• Escolhido o projeto, esboçar apenas as atividades principais balhos de pesquisa e concentração;
para que se possa iniciar o trabalho. • Possibilita uma relação de todas as ciências, dando-lhe unida-
• Podem-se organizar grupos com tarefas específicas: redigir de interdisciplinaridade;
cartas ou petições, colher informações em livros ou na internet, en- • Desenvolve o pensamento divergente e a descoberta das ap-
trevistar especialistas, aprender certas técnicas, abordar autorida- tidões;
des para conseguir permissão de executar o estudo, colher dados, • Desperta o desejo de conquista, iniciativa, investigação, cria-
analisar resultados, escrever relatórios. ção e responsabilidade;
• Cada grupo planeja e executa sua tarefa, trazendo com fre- • Estimula o planejar e executar com os próprios recursos;
quência à apreciação da turma o que está fazendo, as dificuldades • Habitua ao esforço, perseverança, ordenação de energias;
que encontra e os resultados que obtém. Cada aluno tem, assim, • Proporciona confiança e segurança no trato com problemas
oportunidade de seguir o trabalho de diversos grupos, cooperar reais;
com eles. • Ativa e socializa o ensino, levando os alunos a se inserirem
• O tempo de duração do projeto pode variar de acordo com o conscientemente na vida social e cultural;
tema, interesse e envolvimento dos alunos. Ao trabalhar o projeto, o professor tem a oportunidade de re-
• É interessante realizar relatórios parciais orais ou escritos a formular a concepção de “programa a ser cumprido” na sua visão
fim de acompanhar o desenvolvimento do tema e implementar a tradicional, tornando-o mais flexível e abrangente.
participação e o envolvimento dos alunos. Partindo do nível de conhecimento dos alunos (conhecimentos
• No fechamento das atividades, o professor poderá planejar a prévios), durante o planejamento e na execução do projeto surgem
divulgação do projeto, com apresentação em outras turmas, expo- novos interesses e oportunidades para realizara integração de ou-
sição dos trabalhos, etc. tros conteúdos, que se fazem necessários para atender às indaga-
Essas atividades se prestam a valorizar o esforço do aluno, con- ções dos alunos. É por isso que a Pedagogia de Projetos se constitui
tribuir para a formação do auto-conceito positivo e são bem recebi- recurso muito valioso na prática da interdisciplinaridade, motivo
das pelos pais e pelos alunos. pelo qual o educador não deve abrir mão da sua aplicação.
• Apreciação final – oportunizam ao aluno a liberdade de ver- A Pedagogia de Projetos se apresenta numa relação espontâ-
balizar seus sentimentos sobre o projeto: nea com os naturais interesses da vida. O projeto pretende ser prá-
_ O que foi mais importante? tico, concreto e ativo. É necessário, porém, cuidado, pois pode dar
_ O que foi novidade? lugar a possíveis absurdos:
_ Vocês acham que conseguimos aprender tudo o que quería- • Uma iniciativa ingênua e superficial dos alunos, que não aten-
mos saber? deria aos objetivos da aprendizagem e poderia terminar em certa
_ Como foi sua participação nas atividades do projeto? desordem;
_ Como você percebeu o envolvimento dos seus colegas nos • Perigo de uma excessiva interferência do professor, que,
trabalhos que realizamos? preocupado com um programa previamente estabelecido, chega
_ O que poderíamos melhorar para os próximos projetos? a transformar o projeto em uma coordenação estereotipada de li-
Muitas vezes nessa apreciação final, surgem interesses que po- ções em torno de um tema determinado, de pouco interesse para
dem dar origem a novos temas para projetos posteriores. os alunos;
O professor, em seus aspectos humanos, seu potencial, idéias,
possibilidades, limitações, deve desenvolver uma inesgotável dis-
ponibilidade profissional e afetiva. O respeito e o afeto ao aluno
propiciam uma aprendizagem mais duradoura e significativa.

26
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
Os projetos são processos contínuos que não podem ser reduzidos a uma lista de objetivos e etapas. Refletem uma concepção de
conhecimento como produção coletiva, onde a experiência vivida e a produção cultural sistematizada se entrelaçam, dando significado
às aprendizagens construídas. O trabalho deve ser considerado mais como uma ajuda, uma técnica complementar, destinada a dar vida
ao programa, a variar a sua apresentação no momento oportuno, a tornar mais atraente a apresentação e assimilação de muitas noções
práticas.
Devemos ter em mente que a educação não se esgota só na aprendizagem cognitiva e instrumental, mas envolve as aprendizagens
sociais, tão necessárias quanto as primeiras.
Outra ideia de grande relevância, é a observância na retomada constante dos quatro pilares sobre os quais repousa a educação: apren-
der a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a viver em conjunto. (PCN, 1998)3

EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Os movimentos a favor da educação inclusiva tiveram como meta a reestruturação das escolas de modo que atendessem às necessi-
dades de todas as crianças, ampliando as oportunidades de acesso ao ensino e participação social (Ainscow, Porter, & Wang, 1997).
Foi assinalada por esses autores a relevância da participação em equipe, dos professores e dos gestores, para a organização da pro-
gramação cultural e estrutural da instituição e dos papéis dos especialistas na reconceptualização das necessidades educativas especiais.
Três fatores chave foram apontados para a viabilização da inclusão educacional: o aproveitamento da energia dos alunos; a organização de
classes que encorajassem o processo social de aprendizagem e da capacidade de respostas do professor ao feedback dado pelos alunos: a
capacidade do professor e da instituição de modificar planos e atividades.
O que difere uma educação inclusiva de uma não inclusiva

Abordagem da educação não inclusiva Focalização no


Abordagem da educação inclusiva Focalização na classe
aluno
Avaliação das condições de ensino-aprendizagem
Avaliação do aluno por especialistas Resultados das
Resolução cooperativa de problemas
avaliações traduzidos em diagnóstico/ prescrição
Estratégias para os professores Adaptação e apoio na
Programa para os alunos
classe regular
Colocação em um programa apropriado

O sistema educacional brasileiro passou por grandes mudanças nos últimos anos e tem conseguido cada vez mais respeitar a diversi-
dade, garantindo a convivência e a aprendizagem de todos os alunos.
As práticas educacionais desenvolvidas nesse período e que promovem a inclusão na escola regular dos alunos com deficiência (física,
intelectual, visual, auditiva e múltipla), com transtorno global do desenvolvimento e com altas habilidades, revelam a mudança de paradig-
ma incorporada pelas equipes pedagógicas. Essas ações evidenciam os esforços dos educadores em ensinar a turma toda e representam
um conjunto valioso de experiências.
A educação especial como modalidade de ensino ainda está se difundindo no contexto escolar. Para que se torne efetiva, precisarão
dispor de redes de apoio que complementem o trabalho do professor. Atualmente, as redes de apoio existentes são compostas:
- pelo Atendimento Educacional Especializado (AEE) e
-pelos profissionais da educação especial (intérprete, professor de Braille, etc.) da saúde e da família.

De acordo com o Mini-dicionário Aurélio (2004), incluir (inclusão) significa: 1Conter ou trazer em si; compreender, abranger. 2Fazer
tomar parte; inserir, introduzir. 3Fazer constar de lista, de série, etc; relacionar.”
Para Monteiro (2001): “[...] A inclusão é a garantia, a todos, do acesso contínuo ao espaço comum da vida em sociedade, uma socieda-
de mais justa, mais igualitária, e respeitosa, orientada para o acolhimento a diversidade humana e pautada em ações coletivas que visem
a equiparação das oportunidades de desenvolvimento das dimensões humanas (MONTEIRO, 2001, p. 1).”
De acordo com Mantoan (2005), inclusão:
“É a nossa capacidade de entender e reconhecer o outro e, assim, ter o privilégio de conviver e compartilhar com pessoas diferentes
de nós. A educação inclusiva acolhe todas as pessoas, sem exceção. É para o estudante com deficiência física, para os que têm comprome-
timento mental, para os superdotados, para todas as minorias e para a criança que é discriminada por qualquer outro motivo. Costumo
dizer que estar junto é se aglomerar no cinema, no ônibus e até na sala de aula com pessoas que não conhecemos. Já inclusão é estar com,
é interagir com o outro.”
Em se tratando de educação partimos do pressuposto de que inclusão é a idéia de que todas as crianças têm o direto de se educar
juntos em uma mesma escola, sem que esta escola exija requisitos para ingresso e não selecione os alunos, mas, sim, uma escola que
garanta o acesso e a permanência com sucesso, dando condições de aprendizagem a todos os seus alunos.

Tudo isso é possível na medida em que a escola promova mudanças no seu processo de ensinar e aprender, reconhecendo o valor de
cada criança e o seu estilo de aprendizagem, reconhecendo que todos possuem potencialidades e que estas potencialidades devem ser
desenvolvidas.
Quando pensamos em uma escola inclusiva, é necessário pensar em uma modificação da estrutura, do funcionamento e da resposta
educativa, fazendo com que a escola dê lugar para todas as diferenças e não somente aos alunos com necessidades especiais.
A fim de mudar a sua prática educativa, a escola deverá desenvolver estratégias de ensino diferenciadas que possibilitem o aluno a
aprender e se desenvolver adequadamente.

3 Por Kátia Aparecida Campos Portes (www.ufjf.br)

27
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
De acordo com Carvalho (2000, p. 111) “A proposta inclusiva “Temos de combater a descrença e o pessimismo dos acomo-
pressupõe uma ‘nova’ sociedade e, nela, uma escola diferente e dados e mostrar que a inclusão é uma grande oportunidade para
melhor do que a que temos.” E diz ainda, que alunos, pais e educadores demonstrem as suas competências,
“Mas aceitar o ideário da inclusão, não garante ao bem inten- poderes e responsabilidades educacionais. As ferramentas estão
cionado mudar o que existe, num passe de mágica. A escola inclusi- aí, para que as mudanças aconteçam, urgentemente, e para que
va, isto é, a escola para todos deve estar inserida num mundo inclu- reinventemos a escola, desconstruindo a máquina obsoleta que a
sivo onde as desigualdades não atinjam os níveis abomináveis com dinamiza, os conceitos sobre os quais ela se fundamenta os pilares
os quais temos convivido.” teórico-metodológicos em que ela se sustenta.”
A escola é o espaço primordial para se oportunizar a integração Em busca de uma escola de qualidade, objetivando uma edu-
e melhor convivência entre os alunos, os professores e possibilita o cação voltada para a emancipação e humanização do aluno, é fun-
acesso aos bens culturais.Portanto é preciso que a escola busque damental que o sistema educacional prime por uma educação para
trabalhar de forma democrática, oferecendo oportunidades de uma todos, onde o enfoque seja dado às diferenças existentes dentro da
vida melhor para todos independente de condição social, econômi- escola. Uma tarefa nada fácil, que exige transformações acerca do
ca, raça, religião, sexo, etc. Todos os alunos têm direito de estarem sistema como um todo e mudanças significativas no olhar da escola,
na escola, aprendendo e participando, sem ser discriminado ou ter pensando a adaptação do contexto escolar ao aluno.
que enfrentar algum tipo de preconceito por motivo algum. Com o objetivo de construir uma proposta educacional inclusi-
Segundo Haddad (2008) “[...] o benefício da inclusão não é va e responsável é fundamental que a equipe escolar tenha muito
apenas para crianças com deficiência, é efetivamente para toda claro os princípios norteadores desta proposta que devem estar cal-
a comunidade, porque o ambiente escolar sofre um impacto no cados no desenvolvimento da democracia. De acordo com o docu-
sentido da cidadania, da diversidade e do aprendizado.” Na Consti- mento Diretrizes Nacionais para a Educação Especial (2001, p. 23)
tuição Federal (1988) a educação já era garantida como um direito os princípios norteadores de uma educação inclusiva são:
de todos e um dos seus objetivos fundamentais era, “promover o - Preservação da dignidade humana;
bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e - Busca de identidade;
quaisquer outras formas de discriminação.” - Exercício de cidadania.
No (artigo 3º, inciso IV) da Constituição Federal (1988), como
também no artigo 205, a educação é declarada como um direito de ALGUMAS DIVERSIDADES NO CONTEXTO DA ESCOLA PÚBLICA
todos, devendo ela garantir o pleno desenvolvimento da pessoa, o
seu exercício de cidadania e a qualificação para o trabalho. A educa- A realidade que permeia as escolas públicas apresenta desafios
ção inclusiva é reconhecida como uma ação política, cultural, social a serem enfrentados, ou pelo menos, a serem colocados como re-
e pedagógica a favor do direito de todos a uma educação de quali- flexão aos professores e a toda a comunidade escolar, preocupada
dade e de um sistema educacional organizado e inclusivo. com os novos rumos e um novo caminhar do processo de ensino e
À escola cabe a responsabilidade em atender as diferenças, aprendizagem.
considerando que para haver qualidade na educação é necessário A seguir, o presente texto apresentará as diversidades normal-
assegurar uma educação que se preocupe em atender a diversida- mente encontradas na escola e que hoje despontam como desafios
de. para a ação docente do educador.
Segundo Mantoan (2005, p.18), se o que pretendemos é que a
escola seja inclusiva, é urgente que seus planos se redefinam para DIVERSIDADES RELIGIOSAS
uma educação voltada para a cidadania global, plena, livre de pre-
conceitos e que reconhece e valoriza as diferenças. Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por
A educação inclusiva visa desenvolver valores educacionais e sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender; e se podem
metodologias que permitam desenvolver as diferenças através do aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar. Nelson Mandela
aprender em conjunto, buscando a remoção de barreiras na apren- O respeito à diversidade é um dos valores de cidadania mais
dizagem e promovendo a aprendizagem de todos, principalmente importantes, sendo fundamental valorizar cada pessoa, indepen-
dos que se encontram mais vulneráveis, em contraposição com a dente de qual religião pertença, tendo consciência de que cada uma
escola tradicional, que sempre foi seletiva, considerando as diferen- teve e tem sua contribuição ao longo da história.
ças como uma anormalidade e, desenvolvendo um ensino homoge- Assim, as diferentes expressões religiosas devem ser considera-
neizado Carvalho (2000). Corroborando a afirmação de Carvalho, das na escola, especialmente na escola pública.
Araújo (1988, p. 44) diz: Para melhor entender este novo universo conceitual e de con-
“[...] a escola precisa abandonar o modelo no qual se esperam teúdo, Silva (2004, p. 140) esclarece dizendo, “Ensino de religiões,
alunos homogêneos, tratando como iguais os diferentes, e incor- estudo de diversidades, exercícios de alteridade: estes sim podem
porar uma concepção que considere a diversidade tanto no âmbito ser conteúdos trabalhados na escola pública. Da mesma forma que
do trabalho com os conteúdos escolares quanto no das relações in- o professor de literatura faz referência a diversas escolas literárias;
terpessoais. É preciso que a escola trabalhe no sentido de mudar da mesma forma que o professor de História enfatiza diversos po-
suas práticas de ensino visando o sucesso de todos os alunos, pois o vos, assim o ensino de religiões deve enfatizar diversas expressões
fracasso e o insucesso escolar acabam por levar os alunos ao aban- religiosas, considerando que as religiões fazem parte da aventura
dono, contribuindo assim com um ensino excludente.” humana.“
A educação inclusiva, dentro de um processo responsável, pre- A escola precisa valorizar os fenômenos religiosos como patri-
cisa garantir a aprendizagem a todas as pessoas, dando condições mônio cultural e histórico, buscando discutir princípios, valores, di-
para que desenvolvam sentimentos de respeito à diferença, que se- ferenças, tendo em vista a compreensão do outro.
jam solidários e cooperativos. De acordo com Mantoan, (2008, p.2):

28
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
Por isso é importantíssimo que o professor trabalhe com os alu- Segundo Gomes (1998, p.116), “Entre preconceitos e discrimi-
nos atitudes de tolerância e respeito às diferenças desenvolvendo nações, cabe à escola pública o importante papel de proporcionar a
um trabalho com a diversidade religiosa. E ele pode estar utilizan- seus alunos um modelo de tolerância a ser aplicado na sociedade.”
do-se das aulas de Ensino Religioso para estar fazendo este trabalho Ao se abordar a questão de gênero, logo vem a idéia de gênero
ou de quaisquer outras situações em suas áreas de conhecimen- ligada aos sexos masculino e feminino, enfatizando a questão da
to, tomando o cuidado em refletir com os alunos o maior número exclusão da mulher, sempre desprivilegiada na sociedade ao lon-
possível de expressões religiosas existentes na sociedade, buscando go da história. Essa exclusão é marcada na sociedade em diversas
garantir o direito de livre expressão de culto, evitando-se o proseli- situações, como mercado de trabalho, política etc, privilegiando o
tismo ou intolerância religiosa. homem, e enxergando-o com capacidade de liderança, força física,
Ao estar abordando estas questões religiosas, especialmente virilidade, capaz de garantir o sustento da família e atender ao mer-
nas aulas de Ensino Religioso, é preciso que se tome o cuidado para cado de trabalho, etc, em contraposição a mulher vista como repro-
não realizar catequese dentro da escola, pois a escola pública não é dutora, com a responsabilidade por cuidar dos filhos, da família, das
confessional e, portanto, não pode se reduzir a nenhum tipo especí- atividades domésticas, etc.
fico de religião, o que pode causar crime de discriminação. Segundo Muitas transformações vêm ocorrendo nas relações de sexo na
a LDB 9394/96, em seu artigo 33º podemos encontrar o seguinte sociedade, fazendo com que essa visão sobre a mulher seja des-
esclarecimento, mistificada e dando oportunidades às mulheres para dividirem os
“O Ensino Religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante mesmos espaços profissionais e pessoais com os homens, apesar
da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários de ainda haver uma grande desproporção e divisão de poderes que
normais das escolas públicas do ensino fundamental, assegurando favorecem mais aos homens, discriminando, por sua vez, o sexo fe-
o respeito a diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quais- minino.
quer formas de proselitismo.” (BRASIL, 1996) Mas quando se trata a questão de gênero na sociedade não
A liberdade religiosa é um dos direitos fundamentais da huma- podemos relacionar somente ao sexo feminino ou masculino, pois
nidade, como afirma a Declaração Universal dos Direitos Humanos atualmente abrange também outras formas culturais de construção
(1948) em seu art. XVIII: de sexualidade humana, vistos muitas vezes com desprezo e com
Toda pessoa tem o direito à liberdade de pensamento, consci- atitudes discriminatórias na sociedade e, mesmo, na escola, como
ência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião os homossexuais, um grupo que, assim como as mulheres, sofreram
ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo e continuam sofrendo discriminações ao longo dos séculos e, tem
ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coleti- sofrido com os estigmas, estereótipos e preconceitos.
vamente, em público ou particular.(NACÕES UNIDAS, 1948.) É preciso desconstruir os preconceitos e estereótipos em ter-
A própria Constituição Brasileira (1988) em seu art. 5º, inciso mos de diferença sexual, possibilitando a inclusão de todas as pes-
VI diz: soas, sejam elas do sexo feminino ou masculino e, considerando as
“É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo as- múltiplas formas em que estes podem se desdobrar, pois a diferen-
segurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma ça na orientação sexual e nas formas como as diferenças de gêne-
da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias.” (BRASIL, ro se estabelecem, não justificam a exclusão. É preciso enxergar o
1998, p. 5). mundo presente nas relações humanas e aceitar que a diversidade
É preciso cuidar para que não seja realizado dentro da escola baseada na igualdade e na diferença é possível.
discriminação quanto as diversidades religiosas existentes man- A escola precisa levar a reflexão sobre as diferenças e precon-
tendo equilíbrio e imparcialidade, em busca de uma educação de ceitos de gênero, buscando sensibilizar a todos os envolvidos na
qualidade. É um grande desafio para a escola pública levar os alu- educação para as situações que produzem preconceitos e resultam
nos a reflexão sobre a diversidade de nossa cultura, marcada pela em desigualdades, muito presentes no cotidiano escolar, onde mui-
religiosidade. tas vezes preponderam falas ou situações diversas de distinção de
Segundo Heerdt, (2003, p. 34) sexo entre os alunos. É preciso ter consciência que o enaltecimento
“É fundamental que as escolas incentivem os educandos a co- da diferença de gênero traz aspectos negativos, desconsiderando
nhecer a sua própria religião, a ter interesse por outras formas de muitas vezes o direito, a habilidade e a capacidade de cada pessoa.
religiosidade, valorizando cada uma e respeitando a diversidade re- De acordo com Vianna e Ridenti (1998, p. 102)
ligiosa, sem nenhum tipo de preconceito.” “O ambiente escolar pode reproduzir imagens negativas e
A escola pública deve trabalhar no sentido de ampliar os limi- preconceituosas, por exemplo, quando professores relacionam o
tes quanto aos vários tipos de culturas religiosas, desmontando os rendimento de suas alunas ao bom comportamento, ou quando as
preconceitos, fazendo com que todos sejam ouvidos e respeitados, tratam como esforçadas e quase nunca como potencialmente bri-
pois intolerância religiosa é desrespeito aos direitos humanos. De lhantes, capazes de ousadia e lideranças. O mesmo pode ocorrer
acordo com o Código Penal Brasileiro constitui crime (punível com com os alunos quando estes não correspondem a um modelo mas-
multa e até detenção), zombar publicamente de alguém por moti- culino predeterminado.”
vo de crença religiosa, impedir ou perturbar cerimônia ou culto, e A escola, como bem aponta o material pedagógico “Educar
ofender publicamente imagens e outros objetos de culto religioso. para a diversidade – um guia para professores sobre orientação se-
Assim, cada cidadão precisa assumir a postura do respeito pelo ser xual e identidade de gênero”, tem a função de contribuir para o
humano, independente de religião ou crença, tendo consciência de fortalecimento da autoestima dos alunos, independente do gêne-
que cada pessoa pode fazer sua opção religiosa e manifestar-se li- ro, buscando afirmar o respeito pelo outro, bem como o interesse
vremente de acordo com os princípios de cada cultura. pelos sentimentos dos outros, independente das suas diferenças, É
preciso que cada um reconheça no outro: homem, mulher, homos-
Diversidades de gênero sexual, etc, pessoas com necessidades, interesses, sentimentos... e
que estas possuem seu valor na sociedade e precisam ser valori-
Vivemos em uma sociedade pluralista, onde o respeito à indivi- zados e terem os mesmos direitos garantidos a qualquer cidadão.
dualidade e o direito de expressão devem ser considerados.
A escola pública deve ser o espaço das liberdades democráticas.

29
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
Diversidades do campo Alunos com necessidades educacionais especiais

A escola atende em seu cotidiano, muitos alunos advindos de Aos alunos com necessidades educacionais especiais devem
diversos grupos, entre eles, possui os alunos do campo com sua ser garantidos os mesmos direitos e as mesmas oportunidades dos
cultura e seus valores que precisam ser reconhecidos e valorizados, alunos ditos “normais”, pois a escola é o espaço de formação para
pois são muitas as influências e contribuições trazidas por eles, todos. Segundo Carvalho (2000, p. 106) “Enquanto espaço de for-
principalmente em relação ao trabalho, a história, o jeito de ser, os mação, diz respeito ao desenvolvimento, nos educandos, de sua
conhecimentos e experiências, etc. capacidade crítica e reflexiva, do sentimento de solidariedade e de
A LDB 9394/96 (1996), reconhece a diversidade do campo e as respeito às diferenças, dentre outros valores democráticos.”
suas especificidades, estabelecendo as normas para a educação do O movimento pela inclusão oportuniza o direito de todos os
campo em seu artigo 28. alunos de estarem juntos aprendendo, tendo suas especificidades
A escola precisa refletir sobre a educação para as pessoas do atendidas.
campo, que muitas vezes são obrigados a aceitar e desenvolver seu Assim, a Lei abre espaço também aos alunos com necessidades
processo educativo dentro de um currículo totalmente urbano, que educacionais especiais a serem atendidos em escolas especiais ou
desconhece a realidade e as necessidades do campo. escolas regulares, de acordo com suas especificidades.
As pessoas que vivem no campo têm sua cultura, seus saberes A Constituição Federal de 1988 define, em seu artigo 205, a
de experiência, seu cotidiano, que acabam sendo esquecidos, fa- educação como um direito de todos, garantindo o pleno desenvol-
zendo com que percam sua identidade, supervalorizando somente vimento da pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para o
o espaço urbano, quando eles têm muitos conhecimentos a serem trabalho.
considerados e aproveitados pela escola. No artigo 206, inciso 1, estabelece a “igualdade de condições
Na maioria das vezes esses alunos advindos do campo preci- de acesso e permanência na escola”, como um dos princípios para
sam deixar seu habitat para irem estudar nas cidades. Seria muito o ensino e, garante, como dever do Estado, a oferta do atendimen-
importante que a educação desses alunos fosse realizada no e do to educacional, preferencialmente na rede regular do ensino (art.
campo, privilegiando a cultura ali no seu espaço, de acordo com 208).
sua realidade. Porém esses alunos são retirados do seu espaço e A atual LDB 9394/96 (1996) também assegura aos alunos com
trazidos para os centros urbanos para que o seu processo de esco- necessidades educacionais especiais o atendimento, em seu arti-
larização aconteça, o que acaba colocando em risco suas vidas em go 4, inciso 3 “atendimento educacional especializado gratuito aos
meios de transportes precários e estradas rurais ruins. O povo do educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede
campo quer ver garantido o seu direito à educação, mas que este regular de ensino.”
seja assegurado ali no ambiente em que vivem, atendendo as suas A escola é a responsável em oportunizar aos alunos o acesso
especificidades. aos conhecimentos historicamente produzidos, principalmente a
De acordo com Caldart (2002, apud DCE Educação do Campo, escola pública regular, considerada o local preferencial para a es-
2006, p. 27) “[...] o povo tem o direito de ser educado no lugar onde colarização formal dos alunos com necessidades especiais, tendo
vive; o povo tem o direito a uma educação pensada desde o seu como forma de complementação curricular os apoios e serviços
lugar e com sua participação, vinculada à sua cultura e às suas ne- especializados.
cessidades humanas e sociais.” É chegada a hora de a escola oferecer oportunidades a todos
Já que este direito de ter a educação ali onde vive deixou de os alunos indiscriminadamente, como um direito essencial na vida
existir e, enquanto essa realidade permanece, é necessário que se de cada cidadão, inclusive os com necessidades especiais. Assim,
promovam reflexões e discussões acerca da vida no campo, valori- a escola regular precisa se preocupar em refletir com seus alunos
zando os alunos do campo que frequentam a escola urbana, que o conceito de diferença e de especial, salientando que não são so-
não podem ser marginalizados ou discriminados por sua condição mente os alunos com necessidades especiais que são diferentes e
geográfica. especiais, mas todos nós e que, as mesmas oportunidades devem
Muitos assuntos relacionados à vida no campo podem ser ser dadas a todos, para que possam obter sucesso em sua vida es-
abordados pelos professores em seu dia-a-dia da sala de aula como colar e pessoal e assim, exercer a cidadania.
reforma agrária, MST, desenvolvimento sustentável, cultura, produ- Há a necessidade de criar dentro da escola espaços para diá-
ção agrícola, entre outros, primando por fazer com que estes alunos logos, trocas de idéias e experiências, a fim de reconhecer os alu-
sintam-se valorizados dentro da escola e que tenham sua cultura, nos considerados como especiais e valorizá-los dentro do ensino
forma e estilo de vida valorizados . regular, visando remover barreiras frente à diferença e reconhecer
Segundo Caldart (2005, apud DCE Educação do Campo, 2006) que cada aluno possui as suas potencialidades e, a eles, devem ser
“[...] A escola precisa cumprir sua vocação universal de ajudar no oportunizadas, condições de acesso, permanência e sucesso na es-
processo de humanização, com as tarefas específicas que pode cola regular.
assumir nesta perspectiva.” Ao mesmo tempo, é chamada a estar Carvalho (2006) afirma que é necessário desmontar o mito de
atenta às particularidades dos processos sociais do seu tempo his- que os professores do ensino regular não estão preparados para
tórico e ajudar na formação das novas gerações trabalhadoras e de trabalhar com esses alunos e que não são alunos do ensino regular
militantes sociais. e sim da educação especial, onde terão os chamados especialistas
Os alunos advindos do campo precisam se sentir parte do pro- para atendê-los. A escola, enquanto instituição aberta a todos, pre-
cesso e terem o seu valor reconhecido pela sociedade, a começar cisa superar o sentimento de rejeição que os alunos com neces-
pela escola, que trabalha no sentido de desenvolver a humanização sidades especiais enfrentam e, lutar para que tenham as mesmas
e a emancipação dos cidadãos. oportunidades que são oferecidas aos outros alunos assegurando-
-lhes o desenvolvimento da aprendizagem. Assim é preciso algumas
modificações no sistema e na escola como:
- no currículo e nas adaptações curriculares;
- na avaliação contínua do trabalho;
- na intervenção psicopedagógica;

30
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
- em recursos materiais; Assim sendo, a marginalização cultural e o racismo estão entre
- numa nova concepção de especial em educação, etc. as principais razões que explicam as grandes taxas de evasão e re-
petência na escola básica.”
Diversidade etnico-racial e cultura afro-brasileira e africana A educação é o fato de maior eficácia para contribuir para a
promoção dos excluídos. Por isso, muitas ações têm sido desenca-
Somos uma sociedade sem preconceitos? Há igualdade de di- deadas no sentido de reconhecimento e valorização do negro, ga-
reitos entre negros e brancos em nossa sociedade? Presenciamos rantindo a eles as mesmas condições, numa constante luta contra o
situações de preconceito em nosso dia-a- -dia, evidenciadas em fra- racismo e o preconceito. Luta esta que deve ser de todos, todos que
ses como estas: “pessoa de cor “, “a coisa tá preta”, “olha o cabelo acreditam num país democrático, justo e igualitário.
dela”, “olha a cor do fulano”, “tem o pezinho na senzala”, “serviço Atualmente, a escola e a sociedade têm se preocupado com a
de preto”, etc? criação de representações positivas sobre o negro, possibilitando
A escola é responsável por trabalhar no sentido de promover a uma inserção social do negro em alguns setores da sociedade, mu-
inclusão e a cidadania de todos os alunos, visando a eliminar todo dando aos poucos a situação do negro.
tipo de injustiça e discriminação, enxergando os seres humanos Um exemplo real e recente disso é a Presidência dos Estados
dotados de capacidades e valorizando-os como pessoas, principal- Unidos, sendo conquistada por um negro: Barako Obama. O próprio
mente dos afro-descendentes, marcados por um histórico triste na estabelecimento da Lei nº 10.639/03 que altera a LDB 9394/96 já
educação e na sociedade brasileira de discriminação, racismo e pre- retrata a preocupação na reflexão acerca do preconceito e da discri-
conceito. minação, buscando democratizar e universalizar o ensino, garantin-
A escola tem o importante papel de transformação da huma- do a todos os alunos o reconhecimento e valorização de sua cultura,
nidade e precisa desenvolver seu trabalho de forma democrática, de sua história, de sua identidade, e, assim, combater o racismo e
comprometendo-se com o ser humano em sua totalidade e res- as discriminações, educando cidadãos orgulhosos de seu pertenci-
peitando-o em suas diferenças. De acordo com Ribeiro (2004, p. 7) mento étnico-racial tendo seus direitos garantidos e sua identidade
“[...] a educação é essencial no processo de formação de qualquer valorizada.
sociedade e abre caminhos para a ampliação da cidadania de um
povo.” Diversidade sócio-econômica e cultural
Os afrodescendentes devem ser reconhecidos em nossa socie-
dade com as mesmas igualdades de oportunidades que são con- A escola pública possui em sua grande maioria alunos prove-
cedidas a outras etnias e grupos sociais, buscando eliminar todas nientes de uma classe sócio-econômica cultural desfavorecida, de
as formas de desigualdades raciais e resgatar a contribuição dos famílias que possuem uma condição de vida desfavorável e que, na
negros na formação da sociedade brasileira e, assim, valorizar a his- maioria, possuem dificuldades de aprendizagem.
tória e cultura dos afro-brasileiros e africanos. São alunos filhos da classe trabalhadora, cujo pais permane-
Segundo as DCN para a Educação das Relações Étnicos- Ra- cem a maior parte do dia fora de casa trabalhando como empre-
ciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana gados em indústrias, lojas, casas de família, em trabalhos sazonais
(2003, p. 5) como bóias-frias na zona rural, cortadores de cana, pedreiros, garis,
“Reconhecimento implica justiça e iguais direitos sociais, civis, empregadas domésticas, etc. Muitos pais encontram- se até de-
culturais e econômicos, bem como valorização da diversidade da- sempregados, realizando um “bico” aqui ou ali. Esses compõem a
quilo que distingue os negros dos outros grupos que compõem a maioria dos alunos que a escola pública atende e que precisa dar
população brasileira. E isto requer mudança nos discursos, racio- conta, oportunizando condições de aprendizagem, num processo
cínios, lógicas, gestos, posturas, modo de tratar as pessoas negras. de qualidade.
Requer também que se conheça a sua história e cultura apresenta- Eles são alunos que estão à margem da sociedade, e que mui-
das, explicadas, buscando-se especificamente desconstruir o mito tas vezes passam por diversas circunstâncias perversas, como a
da democracia racial na sociedade brasileira; mito este que difunde fome, situações de violência, problemas com alcoolismo e drogas,
crença de que, se os negros não atingem os mesmos patamares que situações de abandono, entre outros. Esses são os verdadeiros ex-
os não negros, é por falta de competência ou interesse, desconside- cluídos da sociedade que estão na escola clamando por ajuda. E as
rando as desigualdades seculares que a estrutura social hierárquica condições sócioeconômicas e culturais é um dos fatores que podem
cria com prejuízos para o negro.” interferir, e muito, no desempenho escolar dos alunos.
Para que haja realmente a construção de um país democráti- O desafio da escola é este: possibilitar a essa grande maioria
co, faz-se necessário que todos tenham seus direitos garantidos e o acesso à escola, mas garantindo-lhes permanecer e ter sucesso
sua identidade valorizada, a começar pela escola que, infelizmente, no processo de ensino e aprendizagem, pois o acesso ao conheci-
continua desenvolvendo práticas preconceituosas detectadas no mento historicamente elaborado é que poderá dar a esses alunos,
currículo, no material didático, nas relações entre os alunos, nas muitas vezes excluídos do sistema e da sociedade, condições para
relações entre alunos, e não poucas vezes até professores. Segun- transformar suas vidas e possibilitar uma maior inserção na comu-
do Pinto (1993, apud Rosemberg, 1998, p. 84) “[...] “ao que tudo nidade, podendo atuar como cidadãos, capazes de transformá-la.
indica, a escola, que poderia e deveria contribuir para modificar O sistema, a escola, os professores, precisam reconhecer nes-
as mentalidades antidiscriminatórias ou pelo menos para inibir as ses alunos os seres humanos que ali estão e clamam por uma opor-
ações discriminatórias, acaba contribuindo para a perpetuação das tunidade, que sonham com uma perspectiva de vida melhor e que
discriminações, seja por atuação direta de seus agentes, seja por querem ter seus direitos de cidadãos garantidos.
sua omissão perante os conteúdos didáticos que veicula, ou pelo É preciso destruir o histórico de exclusão e desigualdade do
que ocorre no dia-a-dia da sal de aula.” sistema escolar público, reconhecendo em cada aluno suas poten-
Corroborando o que diz Pinto, Silva (2002, p. 140) afirma que: cialidades.
“Os dados mostram claramente que o sistema educacional bra-
sileiro é seletivo e discriminatório, porque seleciona em especial os
pobres, os negros, os mulatos os nordestinos.” “[...]

31
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
A escola precisa se preocupar em oferecer um ensino público A questão da educação escolar indígena é uma grande evolu-
de maior qualidade, que possa compensar, pelo menos parcialmen- ção e conquista. Muitas reflexões e muitas ações ainda precisam ser
te, as dificuldades de aprendizagem. É preciso que se fique claro desencadeadas com o objetivo de valorização e preservação da cul-
que as crianças que vivem em ambientes desfavoráveis também tura indígena, propiciando o reconhecimento dos indígenas como
podem ter um nível de aprendizagem satisfatória. sujeitos da história e que a eles devem ser garantidos o acesso aos
Cabe à escola oportunizar essas condições, oferecendo o apoio direitos de qualquer cidadão.
necessário aos alunos em condições sócioeconômicas e culturais A lei preconiza a universalização da educação para todos, ga-
desfavoráveis, ajudando-os a superar as dificuldades e carências do rantindo o direito ao acesso, a permanência e ao sucesso dos alu-
contexto onde vivem, procurando destruir o histórico de exclusão e nos. No entanto, a realidade educacional contemporânea coloca a
desigualdade do sistema escolar público. escola pública como o palco da diversidade, pois ali se encontram
alunos de diferentes grupos. A diferença entre os grupos é visível e
Diversidade indígena o trabalho pedagógico precisa voltar-se à diferença, oportunizando
o direito de educação para todos.
Uma outra diversidade verificada no interior da escola pública, Vale destacar que o trabalho com a diversidade está ligado à
que vem sendo muito valorizada atualmente é com relação à edu- proposta de inclusão, que emerge como um grande desafio para a
cação escolar indígena. Os indígenas também clamam por proces- educação, pois, pensar em inclusão pressupõe uma série de fatores,
sos educacionais que lhes permitam o acesso aos conhecimentos principalmente os que dizem respeito aos alunos.
universais, mas que valorize também suas línguas e saberes tradi- Assim, pensar em inclusão, não é só dirigir o olhar para os
cionais. alunos com necessidades especiais, mas sim, para todos aqueles
A Constituição de 1988 reconheceu o direito dos índios (autóc- alunos que estão nas salas de aula, que muitas vezes sofrendo pre-
tones) de permanecerem índios e de terem suas tradições e modos conceitos e discriminações por pertencer a este ou aquele grupo.
de vida respeitados. Em seu art. 210 fica assegurado aos povos in- Trabalhar com uma proposta de diversidade, propiciando opor-
dígenas o direito de utilizarem suas línguas maternas e processos tunidades de inclusão a todos os alunos na escola, não é uma tarefa
próprios de aprendizagem buscando transformar a instituição es- fácil, uma vez que não se resume apenas na garantia do direito de
colar em um instrumento de valorização e sistematização de sabe- acesso. É preciso que lhes sejam garantidas as condições de perma-
res e práticas tradicionais, ao mesmo tempo em que possibilita aos nência e sucesso na escola.
índios o acesso aos conhecimentos universais e a valorização dos Para que o processo de inclusão ocorra satisfatoriamente é pre-
conhecimentos étnicos. ciso que haja investimento em educação, senão é um projeto fada-
A partir da Constituição de 1988 e mais fortemente na LBB do ao insucesso, pois a escola precisa oferecer estrutura adequada
9394/96 os indígenas passaram a ser reconhecidos legalmente em para que ele ocorra. A dura realidade das condições de trabalho e
suas diferenças e peculiaridades. A LDB 9394/96 (1996) estabele- os limites da formação profissional, o número elevado de alunos
ce em seu artigo 78, que aos índios devem ser proporcionadas a por turma, a rede física inadequada, o despreparo para ensinar
recuperação de suas memórias históricas, a reafirmação de suas “alunos especiais” ou diferentes são fatores a ser considerados no
identidades étnicas e a valorização de suas línguas e ciências. Aos processo de inclusão que garanta a participação de todos os alunos
índios, suas comunidades e povos devem ser garantidos o acesso e o sucesso, evitando- se assim o alto número de alunos evadidos e
às informações, conhecimentos técnicos e científicos da sociedade até os retidos no ano letivo.
nacional e das demais sociedades indígenas e não-índias. O Plano É de extrema relevância que a escola, especialmente a pública,
Nacional de Educação (2001) estabelece objetivos e metas para o reconheça as diferenças, valorizando as especificidades e potencia-
desenvolvimento da educação escolar indígena diferenciada, inter- lidades de cada um, reconhecendo a importância do ser humano,
cultural, bilíngüe e de qualidade. Muitas ações em relação à edu- lutando contra os estereótipos, as atitudes de preconceito e discri-
cação escolar dos indígenas já foram realizadas, porém ainda se minação em relação aos que são considerados diferentes dentro da
percebe um quadro desigual, fragmentado e pouco estruturado de escola.
oferta e atendimento educacional aos índios. É preciso que todos tenham clareza de que sempre vai haver
A diversidade dos povos indígenas precisa ser considerada de diferenças, mas é possível minimizá-las, desde que haja interesse
fato, exigindo iniciativas diferenciadas por serem portadores de tra- em propiciar uma educação de qualidade a todos.
dições culturais específicas. A escolarização dos indígenas precisa Portanto é preciso haver uma transformação da realidade com
acontecer a partir do paradigma da especificidade, da diferença, da o objetivo de diminuir a exclusão dos alunos, especiais ou não do
interculturalidade e da valorização da diversidade lingüística desen- sistema educacional. É necessário que se proponha ações e medi-
volvendo assim, ações culturais, históricas e lingüísticas. das que visem assegurar os direitos conquistados, a melhoria da
Os indígenas precisam ser respeitados e incluídos nos sistemas qualidade da educação, o investimento em uma ampla formação
de ensino do país, tendo a sua diversidade étnica valorizada e que dos educadores, a remoção de barreiras físicas e atitudinais, a pre-
entre os indígenas e não indígenas haja um diálogo tolerante e ver- visão e provisão de recursos materiais e humanos entre outras pos-
dadeiro. sibilidades.
A proposta é por uma educação escolar indígena diferencia- Como diz Mantoan (2008, p. 20)
da, que possibilite a inclusão deste grupo no sistema educacional, “O essencial, na nossa opinião, é que todos os investimen-
tendo respeitadas as suas peculiaridades. Por isto, muitos inves- tos atuais e futuros da educação brasileira não repitam o passado
timentos têm sido realizados com relação a educação escolar dos e reconheçam e valorizam as diferenças na escola. Temos de ter
indígenas, principalmente em relação aos professores, capacitando sempre presente que o nosso problema se concentra em tudo o
professores indígenas que conhecem a realidade, a história e a cul- que torna nossas escolas injustas, discriminadoras e excludentes,
tura do seu grupo ao longo de todo o processo histórico brasileiro. e que, sem solucioná-lo, não conseguiremos o nível de qualidade
de ensino escolar, que é exigido para se ter uma escola mais que
especial, onde os alunos tenham o direito de ser (alunos), sendo di-
ferentes.” (grifo nosso). Precisamos ser otimistas e transformar em
realidade o sonho de uma educação para todos, nos convencendo

32
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
das potencialidades e capacidades dos seres humanos, acreditando Na mesma direção das propostas escolares inclusivas, o referi-
que, somando nossas diferenças, poderemos provocar mudanças do autor defende que a distribuição natural de talentos ou a posi-
significativas na educação e na sociedade, diminuindo preconceitos ção social de cada indivíduo ocupa não são justas nem injustas. O
e estereótipos e tornando nosso país mais humano, fraterno, justo que as torna justas ou não são as maneiras pelas quais as institui-
e solidário. ções fazem uso delas.
A esse propósito é fundamental a contribuição de Joseph Jaco-
INCLUSÃO tot. Ele nos trouxe um olhar original sobre a igualdade. Ele afirmava
que a igualdade não seria alcançada a partir da desigualdade, como
Nos debates atuais sobre inclusão, o ensino escolar brasileiro se espera atingi-la, até hoje, nas escolas; acreditava em uma outra
tem diante de si o desafio de encontrar soluções que respondam à igualdade, a igualdade de inteligências.
questão do acesso e da permanência dos alunos nas suas institui- Em outras palavras, a emancipação da inteligência proviria des-
ções educacionais. Algumas escolas públicas e particulares já ado- sa igualdade da capacidade de aprender, que vem antes de tudo e
taram ações nesse sentido, ao proporem mudanças na sua organi- é ponto de partida para qualquer tipo ou nível de aprendizagem.
zação pedagógica, de modo a reconhecer e valorizar as diferenças, Segundo Jacotot, a igualdade não é um objetivo a atingir, mas
sem discriminar os alunos nem segregá-los. um ponto de partida, uma suposição a ser mantida em qualquer
Com a intenção de explorar esse debate sobre inclusão e esco- circunstância.
laridade, mais do que avaliar os argumentos contrários e favoráveis A escola insiste em afirmar que os alunos são diferentes quan-
às políticas educacionais inclusivas, é abordada nesta obra, a com- do se matriculam em uma série escolar, mas o objetivo escolar, no
plexa relação de igualdade- diferenças, que envolve o entendimen- final desse período letivo, é que eles se igualem em conhecimentos
to e a elaboração de tais políticas e de todas as iniciativas visando à a um padrão que é estabelecido para aquela série, caso contrário
transformação das escolas, para se ajustarem aos princípios inclu- serão excluídos por repetência ou passarão a frequentar os grupos
sivos da educação. de reforço e de aceleração da aprendizagem e outros programas
embrutecedores da inteligência. A indiferença às diferenças está
A Questão Igualdade – Diferenças acabando, passando da moda. Nada mais desfocado da realidade
atual do que ignorá-las. Mas é preciso estar atento, pois combinar
A inclusão escolar está articulada a movimentos sociais mais igualdade e diferenças no processo escolar é andar no fio da nava-
amplos, que exigem maior igualdade e mecanismos mais equitati- lha. O certo, porém, é que os alunos jamais deverão ser desvaloriza-
vos no acesso a bens e serviços. A inclusão propõe a desigualdade dos e inferiorizados pelas suas diferenças, seja nas escolas comuns,
de tratamento como forma de restituir uma igualdade que foi rom- seja nas especiais.
pida por formas segregadoras de ensino especial regular.
Quando entendemos que não é a universalidade da espécie Fazer valer o direito à educação no caso de pessoas com defi-
que define um sujeito, mas suas peculiaridades, ligadas a sexo, ciência
etnia, origem, crenças, tratar as pessoas diferentemente pode en-
fatizar suas diferenças, assim como tratar igualmente os diferen- O ensino escolar brasileiro continua aberto a poucos. A inclu-
tes pode esconder as suas especificidades e excluí-los do mesmo são escolar tem sido mal compreendida, principalmente no seu
modo; portanto, ser gente é correr sempre o risco de ser diferente. apelo a mudanças nas escolas comuns e especiais.Artigos, livros,
Para instaurar uma condição de igualdade nas escolas não se palestras que tratam devidamente do tema insistem na transforma-
concebe que todos os alunos sejam iguais em tudo, como é o caso ção das práticas de ensino comum e especial para a garantia da in-
do modelo escolar mais reconhecido ainda hoje. Temos de consi- clusão. Há apoio legal suficiente para mudar, mas só temos tido até
derar as suas desigualdades naturais e sociais, e só estas últimas agora, muitos entraves nesse sentido: a resistência das instituições
podem e devem ser eliminadas. Se a igualdade trás problemas, as especializadas a mudanças de qualquer tipo; a neutralização do de-
diferenças podem trazer muito mais. safio à inclusão por meio de políticas públicas que impedem que as
As políticas educacionais atuais confirmam em muitos momen- escolas se mobilizem para rever suas práticas homogeneizadoras,
tos o projeto igualitarista e universalista da Modernidade. meritocráticas, condutistas, subordinadoras e, em consequência,
O discurso da Modernidade estendeu suas precauções contra o excludentes; o preconceito, o paternalismo em relação aos grupos
imprevisível, à ambiguidade e demais riscos à ordem e a unicidade, socialmente fragilizados, como o das pessoas com deficiência.A lei
repetindo que todos são iguais, todos são livres, mas um “todo” de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 96) deixa claro que
padronizado, dentro de seus pressupostos disciplinadores. o ensino especial é uma modalidade e, como tal, deve perpassar o
Esse discurso sustenta a organização pedagógica escolar e, ensino comum em todos os seus níveis, da escola básica ao ensino
por seus parâmetros, o aluno diferente desestabiliza o pensamen- superior.
to moderno da escola, na sua ânsia pelo lógico, pela negação das Se ainda não é do conhecimento geral, é importante que se
condições que produzem diferenças, que são as, atrizes da nossa saiba que as escolas especiais complementam e não substituem a
identidade. escola comum. As escolas especiais se destinam ao ensino do que
A diferença propõe o conflito, o dissenso e a imprevisibilidade, é diferente da base curricular nacional, mas que garante e possi-
a impossibilidade do cálculo, da definição, a multiplicidade incon- bilita ao aluno com deficiência a aprendizagem desses conteúdos
trolável e infinita. Se ela é recusada, negada, desvalorizada, há que quando incluídos nas turmas comuns de ensino regular; oferecem
assimilá-la ao igualitarismo essencialista e, se aceita e valorizada, há atendimento educacional especializado, que não tem níveis seria-
que mudar de lado e romper com os pilares nos quais a escola tem ções, certificações.
se firmado até agora. Nossa obrigação é fazer valer o direito de todos à educação
Em Uma teoria da justiça (2002), Rawls opõe-se às declarações e não precisamos ser corajosos para defender a inclusão, porque
de direito do mundo moderno, que igualaram os homens em seu estamos certos de que não corremos nenhum risco ao propor que
instante de nascimento e estabeleceram o mérito e o esforço de alunos com e sem deficiência deixem de frequentar ambientes edu-
cada um como medida de acesso e uso dos bens, recursos disponí- cacionais à parte, que segregam, discriminam, diferenciam pela de-
veis e mobilidade social. ficiência, excluem – como é próprio das escolas especiais.

33
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
O que falta às escolas especiais é o ambiente apropriado de No Brasil, nas décadas de 1960 e 1970, foram estruturadas pro-
formação do cidadão. Se a inclusão for uma das razões fortes de postas de atendimento educacional para pessoas com deficiência. A
mudanças, temos condições de romper com os modelos conser- integração escolar tinha como objetivo “ajudar pessoas com defici-
vadores da escola comum brasileira e iniciar um processo gradual, ência a obter uma existência tão próxima ao normal possível, a elas
porém firme, de redirecionamento de suas práticas para melhor disponibilizando padrões e condições de vida cotidiana próximas as
qualidade de ensino para todos. normas e padrões da sociedade”.
Muitas escolas, tanto comuns como especiais, já estão assegu- Com o objetivo de contrapor este modelo, a meta na inclu-
rando aos alunos com deficiência o atendimento educacional espe- são escolar é tornar reconhecida e valorizada a diversidade como
cializado, em horário diferente do da escola comum. condição humana favorecedora da aprendizagem. Nesse caso, as
O processo de transformação da escola comum é lento, para limitações dos sujeitos devem ser consideradas apenas como uma
que haja um processo de mudança. Cujo movimento ruma para no- informação sobre eles que, assim, não pode ser desprezada na ela-
vas possibilidades para o ensino comum e especial, há que existir boração dos planejamentos de ensino. A ênfase deve recair sobre a
uma ruptura com o modelo antigo da escola. identificação de suas possibilidades, culminando com a construção
Em resumo, a inclusão não pode mais ser ignorada. Ela está de alternativas para garantir condições favoráveis à sua autonomia
tão presente que motiva pressões descabidas, que pretendem nos escolar e social, enfim, para que se tornem cidadãos de iguais di-
desestabilizar a qualquer custo. reitos.
A educação inclusiva tem sido caracterizada como um “novo
Atendimento Escolar de alunos com necessidades educacionais paradigma”, que se constitui pelo apreço à diversidade como con-
especiais: um olhar sobre as políticas públicas de educação no Bra- dição a ser valorizada, pois é benéfica à escolarização de todas as
sil. pessoas, pelo respeito aos diferentes ritmos de aprendizagem e
pela proposição de outras práticas pedagógicas, o que exige uma
As instituições escolares, ao reproduzirem constantemente o ruptura com o instituído na sociedade e, consequentemente, nos
modelo tradicional, não têm demonstrado condições de responder sistemas de ensino.
aos desafios da inclusão social e do acolhimento às diferenças nem Sem desprezar os embates atuais sobre educação inclusiva a
de promover aprendizagens necessárias à vida em sociedade, par- proposta de atender a alunos com necessidades educacionais espe-
ticularmente nas sociedades complexas do século XXI. Assim, nes- ciais nessas classes implica atentar para mudanças no âmbito dos
te século em que o próprio conhecimento e nossa relação com ele sistemas de ensino, das unidades escolares, da prática de casa pro-
mudaram radicalmente, não se justifica que por parte expressiva fissional da educação em suas diferentes dimensões e respeitando
da sociedade continue apegada à representação da escola trans- suas particularidades.
missora de conhecimentos e de valores fixos e inquestionáveis. A Para a implantação do referido atendimento educacional espe-
partir de meados da década de 1990, a escolarização de pessoas cializados, a LDB prevê serviços especializados e serviços de apoio
com necessidades educacionais especiais em classes comuns está especializados e assegura “recursos e serviços educacionais espe-
na pauta da legislação brasileira sobre educação, nos debates e nas ciais, organizados institucionalmente para apoiar, complementar,
publicações acadêmicas. No plano ético e político, a defesa de sua suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços educacionais
igualdade de direitos, com destaque para o direito à educação, pa- comuns...”
rece constituir-se um consenso. Se as imagens da educação inclusiva, da educação especial,
Atualmente coexistem pelo menos duas propostas para a edu- bem como a população elegível para o atendimento educacional
cação especial: uma, em que os conhecimentos acumulados sobre especializado, os tipos de recursos educacionais especiais e locais
educação especial, teóricos e práticos, devem estar a serviço dos de atendimento escolar do referido alunado ainda levante questio-
sistemas de ensino e, portanto, das escolas, e disponíveis a todos os namento conceitual para que não restem dúvidas quanto às diretri-
professores, alunos e demais membros da comunidade escolar; ou- zes da política educacional brasileira a serem seguidas, é inegável
tra, em que se deve configurar um conjunto de recursos e serviços que o atendimento escolar de alunos com necessidades educacio-
educacionais especializados, dirigidos apenas à população escolar nais especiais deve ser universalizado, que os sistemas de ensino
que apresente solicitações que o ensino comum não tem consegui- precisam responder melhor às demandas de aprendizagem desses
do contemplar. alunos, que aos professores deve ser garantida a formação continu-
O planejamento e a implantação de políticas educacionais para ada, entre outras ações.
atender a alunos com necessidades educacionais especiais reque-
rem domínio conceitual sobre inclusão escolar e sobre as solicita- As condições de atendimento escolar para os estudantes com
ções decorrentes de sua adoção enquanto princípio ético político, necessidades educacionais especiais no Brasil
bem como a clara definição dos princípios e diretrizes nos planos e
programas elaborados, permitindo a (re) definição dos papéis da A política educacional brasileira tem deslocado progressiva-
educação especial e do lugar do atendimento deste alunado. mente para os municípios parte da responsabilidade administrativa,
financeira e pedagógica pelo acesso e permanência de alunos com
Princípios, concepções e relações entre inclusão e integração necessidades educacionais especiais, em decorrência do processo
escolar. de municipalização do ensino fundamental. Com isso, em alguns
estudos, tem indicado que a tendência dos municípios brasileiros
É importante salientar que mudanças na educação brasileira, é pela organização de auxílios especiais, sob diferentes denomina-
nessa perspectiva, dependem de um conjunto de ações em nível ções e com estrutura e funcionamento distintos. Cabe registrar que
de sistema de ensino que tem que se movimentar a fim de garantir há ausência de dados sobre quantas pessoas no Brasil apresentam
que todas as unidades que o compõem ultrapassem o patamar em de fato necessidades educacionais especiais. Quanto ao apoio pe-
que se encontram. dagógico oferecido a alguns desses alunos matriculados nas classes
comuns, não há declaração sobre o tipo de apoio, sua frequência,
que profissionais prestam esse atendimento e qual sua formação,
divulgados em publicações oficiais atuais.

34
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
Uma ação que deve marcar as políticas públicas de educação
é a formação dos profissionais da educação. Nesse sentido Xavier ÉTICA NO TRABALHO DOCENTE
(2002) considera que: a construção da competência para respon-
der com qualidade as necessidades educacionais especiais de seus DESENVOLVIMENTO
alunos em uma escola inclusiva, pela mediação da ética, responde
a necessidade social e histórica de superação das práticas pedagó- Falar de ética nos dias atuais tornou-se comum, faz parte do
gicas que discriminam, segregam e excluem, e, ao mesmo tempo, nosso vocabulário. Logo nos vem à mente o relacionamento, como
configura, na ação educativa, o vetor da transformação social para viver com o outro que é diferente, porém, não um estranho, mas
a equidade, a solidariedade, a cidadania. um ser humano como nós que, de certa forma, anda conosco, como
Todo plano de formação deve servir para que os professores se diz Cortella: “ser humano é ser junto” (2010, pg.117).
tornem aptos ao ensino de toda a demanda escolar. Dessa forma,
seu conhecimento deve ultrapassar a aceitação de que a classe co- A ética não olha apenas para o interesse de uma pessoa, ela
mum é, para os alunos com necessidades educacionais especiais, olha para o interesse de um grupo. Cortella (2010, pg.106) fala que
um mero espaço de socialização. a ética, no seu sentido de conjunto de princípios e valores, é usada
“... O primeiro equívoco que pode estar associado a essa idéia para “responder as três grandes perguntas da vida humana: QUE-
é o de que alguns vão para a escola para aprender e outros uni- RO? DEVO? POSSO?”. A ética na educação também está no auge,
camente para se socializar. Escola é espaço de aprendizagem para mas será que realmente se entende o que isso significa?
todos...”.
Cabe ressaltar que o conjunto de questionamentos e ideias Quando se fala de ética na educação logo se pensa na conduta
apresentadas nesta obra reflete algumas das inquietações que do professor em relação a seus educandos. A ética gira em todos
podem resultar da análise das normatizações em vigência para a os princípios e valores que norteiam a ação estabelecendo regras
educação brasileira. Essas normatizações, por permitirem, tal como para o bem comum, tanto no individual como no coletivo, assim
estão elaboradas, diferentes desdobramentos na sua implantação, estabelece princípios gerais. Boff aponta que “Ético significa, por-
indicam a necessidade de ampliarmos o debate e investirmos em tanto, tudo aquilo que ajuda a tornar melhor o ambiente para que
produções de registros que avaliem o atual perfil das políticas pú- seja uma moradia saudável: materialmente sustentável psicologica-
blicas de atendimentos a alunos com necessidades educacionais mente integrada e espiritualmente fecundada” (1997). No caso da
especiais. Precisamos de mais estudos sobre os impactos das ações educação gira em torno dos educandos.
no âmbito dos sistemas de ensino, e que estes orientem também os
programas de formação continuada de professores. O Estatuto da Criança e do Adolescente, LEI Nº 8.069, de 13 de
julho de 1990, Art. 53 fala que a criança e o adolescente têm direito
Considerações Finais: à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, pre-
Uma das constatações possíveis neste momento da reflexão paro para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho.
é que nossas tarefas ainda são inúmeras, mas devemos identificar Sendo assim, o professor precisa trabalhar e empenhar-se para que
prioridades, denunciar ações reprodutoras de iguais atitudes so- isso ocorra. Seja em suas atitudes docentes, nas relações com os
ciais para com essas pessoas, acompanhar ações do poder público educandos, na postura do professor em sala, no chamar a atenção
em educação, cobrar compromissos firmados pelos governantes nas conversas, no relacionamento com os profissionais da escola ou
em suas campanhas eleitorais e em seus planos de governo, além na forma como se comporta na sociedade, a ética se faz presente
de ampliar e sedimentar espaços de participação coletiva e juntar como algo muito fundamental. O que é ética afinal?
forças para resistir e avançar na construção de uma sociedade justa,
cujos valores humanos predominem sobre os de mercado. Cortella (2010, pg.106) nos apresenta a seguinte definição:
O que se deve evitar é “...o descompromisso do poder públi-
co com a educação e que a inclusão escolar acabe sendo traduzida “A ética é o conjunto de princípios e valores da nossa conduta
como mero ingresso de alunos com necessidades educacionais es- na vida junta. Portanto, ética é o que faz a fronteira entre o que a
peciais nas classes comuns...”. natureza manda e o que nós decidimos. A ética é aquilo que orienta
Dois grandes desafios de imediato estão colocados para os sis- a sua capacidade de decidir, julgar,avaliar.”
temas de ensino e para a sociedade brasileira:
1- Fazer que os direitos ultrapassem o plano do meramente ins- As Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil (DCMsEI) fala
tituído legalmente e sobre três princípios: éticos, estéticos e políticos. Sobre os princí-
2- Construir respostas educacionais que atendam às necessi- pios éticos comenta-se: “Princípios éticos: valorização da autono-
dades dos alunos. As mudanças a serem implantadas devem ser mia, da responsabilidade e do respeito ao bem comum, ao meio
assumidas como parte da responsabilidade tanto da sociedade ci- ambiente e às diferentes culturas, identidades e singularidades”.
vil quanto dos representantes do poder público, já que a educação Torna-se necessário que o professor em todo tempo aja com res-
escolar pode propiciar meios que possibilitem transformações na ponsabilidade e forme em seus educandos uma atitude ética diante
busca da melhoria da qualidade de vida da população. da vida. Dentro da ética estão contidas posturas bem definidas, pois
os professores tornam-se modelo para seus educandos. O professor
Fonte: MANTOAN, M. T. Egler, PRIETO, R. Gavioli, ARANTES V. não pode pensar no educando apenas em sala de aula visando so-
Amorim (Org.). Inclusão escolar: pontos e contrapontos, 1ed., São mente às notas para serem aprovados em sua matéria. Sendo um
Paulo: Summus, 2006. ser que vive em sociedade, cabe a ele com responsabilidade ajudar
seu educando a se integrar na sociedade de forma ativa e partici-
pativa.

35
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
Para a atuação do professor, seja com os educandos ou com o “É estimular o aluno a pensar antes de reagir, a não ter medo
corpo docente, é necessário possuir um estilo de vida equilibrado, do medo, a ser líder de si mesmo, autor da sua própria história, a
desapegado de vícios que prejudiquem a si mesmo e aos outros. saber filtrar os estímulos estressantes e a trabalhar não apenas com
Suas ações precisam conter: afeto, alegria, sobriedade, moderação fatos lógicos e problemas concretos, mas também com as contradi-
e em seu modelo de fala deve usar palavras cultas e não chulas ou ções da vida”.
gírias. Diante disso, não se pode deixar de pensar na importância Vamos fazer um cálculo: um educando na educação infantil,
das vestimentas, que não devem ser inconvenientes como: rasga- fica 5 dias por semana, em média 5 anos, se contarmos berçário,
das, transparentes, curtas ou apertadas. É propício o uso de algo maternal I, maternal II, jardim I e jardim II, mais ou menos 8h por
que lhe caia bem, seja descente e que combine com ele/ela, ou dia, lembrando que essa é a primeira fase do ensino fundamental.
seja, usar algo que mostre seu estilo, lembrando que até nisso será Dez anos na segunda fase do ensino fundamental contando com a
copiado. A ética está presente em tudo. Cortella (2010, pg.107) diz pré-escola. Aqui ele fica apenas 4h por dia. Ao todo são 15 anos.
que: “A ética é uma plantinha frágil que deve ser regada diariamen- O ano letivo tem 220 dias, então, vamos aos números. Nosso edu-
te.” Isso acontece no nosso cotidiano. cando ficará 3.300 dias, 110 meses em média. Na educação infantil
Com o corpo docente ou a gestão, seu relacionamento deve o educando ficou em média 8.800h e na segunda fase do ensino
acontecer de forma singela e colaborativa, pois ambos estão tra- fundamental 8.800h, no total: 17.600 horas. Com tantas horas no
çando objetivos para caminhos que os levarão a um só objetivo, a centro de educação infantil e no fundamental é inadmissível que ele
uma educação de qualidade, a uma aprendizagem significativa e ao saia apenas com conceitos científicos. Durante todo esse tempo e
crescimento de seus educandos. Ainda precisamos observar que é passando por tantos professores que têm o dever de lhe proporcio-
preciso tomar certos cuidados, principalmente, na sala dos profes- nar uma educação de qualidade, precisa sair com suas potencialida-
sores nos intervalos, nos momentos de estudos e, é claro, na sua des físicas, cognitivas, sociais, afetivas e psicomotoras desenvolvi-
vida individual, dentre, os quais se podem relacionar: das. Assim será capaz de intervir e provocar mudanças onde estiver.

- Comentário de ordem pessoal ou profissional negativa de ou- CONCLUSÃO


tro docente ou de um educando;
Com certeza, os professores comprometidos com a ética, in-
- Falar mal da instituição fora do espaço de trabalho deprecian- fluenciam eticamente seus educandos, dando sua contribuição na
do a direção, coordenação e outros; transformação da sociedade. Sabemos que isso se constata em
longo prazo, mas com certeza no tempo presente influenciam a
- Se isolar em sua sala não permitindo que alguém lhe forneça mudança de pensamento, de atitude, ou seja, a vida de seus edu-
sugestões para melhorar sua prática e não preste auxílio a um cole- candos. Dessa forma, constrói-se uma escola compromissada com
ga quando este necessita; saberes profundos, onde as experiências são dinamizadas coletiva-
mente entre cidadãos vindos do seu próprio processo de constru-
- Ano após ano em sala, adquirindo experiência, se autoavalia ção, que assumam sua postura diante da vida, e que escolham sem-
como o “super professor”, pensando que sabe tudo, fechando-se, pre o melhor para sua vida e para a sociedade. Uma escola capaz
assim, para o aprendizado que acontece do educando para ele. de olhar o educando em um todo, acolhê-los, propondo assim um
crescimento e desenvolvimento em todas suas dimensões, permite
Como é possível um professor permanecer na educação, no que se tenha uma educação com tempero, preocupada com o de-
trato com os educandos quando se está nesse cargo porque não senvolvimento completo de crianças e jovens, provocando, desse
tem outra profissão ou simplesmente esperando a aposentadoria? modo, uma grande mudança no futuro da sociedade.
O professor precisa acreditar na educação e ter convicção de que Fonte: https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/educacao/
ela pode mudar a sociedade. Tem papel fundamental, ele influencia etica-na-educacao-faz-toda-diferenca.htm#:~:text=Torna%2D-
na maneira de pensar e agir dos educandos. se%20necess%C3%A1rio%20que%20o,se%20modelo%20para%20
seus%20educandos.
No livro “O tosco” o psicólogo Gilberto nos conta, de forma di-
reta e simples, fatos da própria vida e nos mostra como a vida de
um educando pode ser mudada com a ação positiva do professor. FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA E COMPROMISSO SOCIAL
No decorrer da história é relatado (2009, pg. 75): DO EDUCADOR

“- Me da um abraço? Pediu o professor. – O que? Não deu nem A escola tem como função criar uma forte ligação entre o for-
tempo. O professor me abraçou. Não lembrava de um abraço. Cons- mal e teórico, ao cotidiano e prático. Reúne os conhecimentos com-
trangido, bem desajeitado, dei um abraço. Ou melhor recebi um provados pela ciência ao conhecimento que o aluno adquire em sua
abraço.” rotina, o chamado senso comum. Já o professor, é o agente que
possibilita o intermédio entre escola e vida, e o seu papel principal
Os educandos têm direito a ter uma educação prazerosa e de é ministrar a vivência do aluno ao meio em que vive.
qualidade. É fundamental que o professor cumpra as regras e nor-
mas da nossa educação. Para que a educação se torne com sabor Função social da escola
e alcance seus objetivos, não dá para se pensar em apenas ensinar A escola, principalmente a pública, é espaço democrático den-
o conteúdo de determinada matéria, mas é necessário investir no tro da sociedade contemporânea. Servindo para discutir suas ques-
educando para que ele se desenvolva, tornando-se crítico diante do tões, possibilitar o desenvolvimento do pensamento crítico, trazer
que vê e lê, um questionador, sendo autor da sua própria história, as informações, contextualizá-las e dar caminhos para o aluno bus-
saindo da plateia e indo ao palco. Cury (2003, pg. 66) em suas sábias car mais conhecimento. Além disso, é o lugar de sociabilidade de
palavras afirma que: jovens, adolescentes e também de difusão sóciocultural. Mas é pre-
ciso considerar alguns aspectos no que se refere a sua função social
e a realidade vivida por grande parte dos estudantes brasileiros.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
Na atualidade alguns discursos tenham ganhado força na teoria A alienação toma as diretrizes do mundo do trabalho no seio
da educação. Estes discursos e teorias, centrados na problemática da sociedade capitalista e no modo como esse modelo de produção
educacional e na contradição existente entre teoria e prática pro- nega o homem enquanto ser, pois a maioria das pessoas vive ape-
duzem certas conformações e acomodações entre os educadores. nas para o trabalho alienado, não se completa enquanto ser, tem
Muitos atribuem a problemática da educação às situações as- como objetivo atingir a classe mais alta da sociedade ou, ao menos,
sociadas aos valores humanos, como a ausência e/ou ruptura de sair do estado de oprimido, de miserável. Perde-se em valores e
valores essenciais ao convívio humano. Assim, como alegam des- valorações, não consegue discernir situações e atitudes, vive para
preparo profissional dos educadores, salas de aula superlotadas, o trabalho e trabalha para sobreviver. Sendo levado a esquecer de
cursos de formação acelerados, salários baixos, falta de recursos, que é um ser humano, um integrante do meio social em que vive,
currículos e programas pré-elaborados pelo governo, dentre tantos um cidadão capaz de transformar a realidade que o aliena, o exclui.
outros fatores, tudo em busca da redução de custos. Há uma contribuição de Saviani (2000, p.36) que a respeito do
Todas essas questões contribuem de fato para a crise educa- homem considera “(...) existindo num meio que se define pelas co-
cional, mas é preciso ir além e buscar compreender o núcleo dessa ordenadas de espaço e tempo. Este meio condiciona-o, determina-
problemática, encontrar a raiz desses fatores, entendendo de onde -o em todas as suas manifestações.” Vê-se a relação da escola na
eles surgem. A grande questão é: qual a origem desses fatores que formação do homem e na forma como ela reproduz o sistema de
impedem a qualidade na educação? classes.
Certamente a resposta para uma discussão tão atual como essa Para Duarte (2003) assim como para Saviani (1997) o trabalho
surja com o estudo sobre as bases que compõem a sociedade atual. educativo produz nos indivíduos a humanidade, alcançando sua fi-
Pois, ao analisar o sistema capitalista nas suas mais amplas esferas, nalidade quando os indivíduos se apropriam dos elementos cultu-
descobre-se que todas essas problemáticas surgem da forma como rais necessários a sua humanização.
a sociedade está organizada com bases na propriedade privada, lu- O essencial do trabalho educativo é garantir a possibilidade do
cro, exploração do ser humano e da natureza e se manifestam na homem tornar-se livre, consciente, responsável a fim de concretizar
ideologia do sistema. sua humanização. E para issotanto a escola como as demais esfe-
Um sistema que prega a acumulação privada de bens de pro- ras sociaisdevem proporcionar a procura, a investigação, a reflexão,
dução, formando uma concepção de mundo e de poder baseada buscando razões para a explicação da realidade, uma vez que é atra-
no acumular sempre para consumir mais, onde quanto mais bens vés da reflexão e do diálogo que surgem respostas aos problemas.
possuir, maior será o poder que exercerá sobre a sociedade, acaba Saviani (2000, p.35) questiona “(...) a educação visa o homem;
por provocar diversos problemas para a população, principalmen- na verdade, que sentido terá a educação se ela não estiver voltada
te para as classes menos favorecidas, como: falta de qualidade na para a promoção do homem?” E continua sua indagação ao refle-
educação, ineficiência na saúde, aumento da violência, tornando os tir “(...) uma visão histórica da educação mostra como esta esteve
sistemas públicos, muitas vezes, caóticos. sempre preocupada em formar determinado tipo de homem. Os
Independentemente do discurso sobre a educação, ele sempre tipos variam de acordo com as diferentes exigências das diferentes
terá uma base numa determinada visão de homem, dentro e em épocas. Mas a preocupação com o homem é uma constante.”
função de uma realidade histórica e social específica. Acredita-se Os espaços educativos, principalmente aqueles de formação de
que a educação baseia-se em significações políticas, de classe. Frei- educadores devem orientar para a necessidade da relação subjeti-
tag (1980) ressalta a frequente aceitação por parte de muitos estu- vidade-objetividade, buscando compreender as relações, uma vez
diosos de que toda doutrina pedagógica, de um modo ou de outro, que, os homens se constroem na convivência, na troca de experi-
sempre terá como base uma filosofia de vida, uma concepção de ências. É função daqueles que educam levar os alunos a romperem
homem e, portanto, de sociedade. com a superficialidade de uma relação onde muitos se relacionam
Ainda segundo Freitag (1980, p.17) a educação é responsável protegidos por máscaras sociais, rótulos.
pela manutenção, integração, preservação da ordem e do equilí- A educação, vista de um outro paradigma, enquanto mecanis-
brio, e conservação dos limites do sistema social. E reforça “para mo de socialização e de inserção social aponta-se como o caminho
que o sistema sobreviva, os novos indivíduos que nele ingressam para construção da ética. Não usando-a para cumprir funções ou
precisam assimilar e internalizar os valores e as normas que regem realizar papéis sociais, mas para difundir e exercitar a capacidade de
o seu funcionamento.” reflexão, de criticidade e de trabalho não-alienado.
A educação em geral, designa-se com esse termo a transmissão (...) sem ingenuidade, cabe reconhecer os limites impostos pela
e o aprendizado das técnicas culturais, que são as técnicas de uso, exploração, pela exclusão social e pela renovada força da violência,
produção e comportamento, mediante as quais um grupo de ho- da competição e do individualismo. Assim, se a educação e a ética
mens é capaz de satisfazer suas necessidades, proteger-se contra a não são as únicas instâncias fundamentais, é inegável reconhecer
hostilidade do ambiente físico e biológico e trabalhar em conjunto, que, sem a palavra, a participação, a criatividade e apolítica, muito
de modo mais ou menos ordenado e pacífico. Como o conjunto des- pouco, ou quase nada, podemos fazer para interferir nos contextos
sas técnicas se chama cultura, uma sociedade humana não pode so- complexos do mundo contemporâneo. Esse é o desafio que diz res-
breviver se sua cultura não é transmitida de geração para geração; peito a todos nós. (RIBEIRO; MARQUES; RIBEIRO 2003, p.93)
as modalidades ou formas de realizar ou garantir essa transmissão A escola não pode continuar a desenvolver o papel de agência
chama-se educação. (ABBAGNANO, 2000, p. 305-306) produtora de mão de obra. Seu objetivo principal deve ser formar o
Assim a educação não alienada deve ter como finalidade a for- educando como homem humanizado e não apenas prepará-lo para
mação do homem para que este possa realizar as transformações o exercício de funções produtivas, para ser consumidor de produ-
sociais necessárias à sua humanização, buscando romper com o os tos, logo, esvaziados, alienados, deprimidos, fetichizados.4
sistemas que impedem seu livre desenvolvimento.

4 Fonte: www.webartigos.com

37
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
Função social do educador [...] Nesta perspectiva, os mecanismos básicos da aquisição
Quando se fala na função social do professor, observa-se que são a imitação e o esforço. As crianças pequenas vão imitando os
existe um conjunto de situações relacionadas como atitudes, valo- comportamentos que observam a sua volta e, desta forma, esses
res, éticas, que formam itens fundamentais para o seu desenvolvi- comportamentos vão se fixando ou desaparecendo, como conse-
mento no papel da educação. No primeiro momento ira se fazer um quência do reforço positivo ou negativo que recebem (em forma de
análise sobre as atitudes e valores de ensino, e em seguida sobre o aprovação e reconhecimento dos outros ou em forma de autograti-
papel da educação no desenvolvimento de competências éticas e ficação: sentir-se bem, reforçar a própria autoestima, etc [...]
de valores. Um ponto importante no processo de construção das atitudes
Percebe-se que existe uma série de fatores que se relacionam esta o papel do professor. Ele tem a função de criar um processo de
com o processo de aprendizagem, que envolvem professor, aluno aprendizagem dinâmico entendendo a necessidade e diversidade
e escola. Esses fatores são: Atitudes e valores vão se formando ao do aluno, mostrando os caminhos corretos para o desenvolvimento
longo da vida, através de influências sociais; A escola tem papel das atitudes.
fundamental no desenvolvimento das atitudes e valores através de Segundo Trillo ( 2000, p.44) o professor tem que ter a habili-
um modelo pedagógico eficiente; O ensino e a aprendizagem estão dade de estimular os alunos através de trabalhos dinâmicos de ex-
relacionados num processo de desenvolvimento das atitudes e va- pressão pessoal, em meio a diversidade e perspectivas diferentes,
lores de acordo com a diversidade cultural; O Professor como ponte acompanhando e valorizando os pontos dos trabalhos, de modo a
de ligação entre a escola e o aluno, proporcionando o desenvolvi- enriquecer as atitudes dos aluno.
mento das atitudes no processo de aprendizagem. [...] O professor /a que procura nos trabalhos a expressão pes-
Quando se fala em atitude, é comum escutar frases como: ela soal dos seus estudantes, e que os adverte valorará a originalidade
é uma pessoa de atitude, ou não vejo que ela tenha atitude. Mas como um dos pontos importantes dos seus trabalhos, esta a estabe-
afinal o que é atitude. lecer as bases de uma atitude de expressão livre. E se isto ampliar,
De acordo com Trilo (2000, p.26) atitude é algo interno que se no sentido em que, numa fase posterior do processo, cada um de-
manifesta através de um estado mental e emocional, e que não tem verá ir expondo e justificando as suas conclusões pessoais, parece
como ser realizadas medições para avaliação de desempenho e não provável que a atitude de trabalho pessoal será enriquecida com
esta exposto de forma que possam ser visualizados de maneira cla- a componente de reflexão e a que diz respeito a diversidade e as
ra. diferentes perspectivas sobre as coisas [...]
[...] Que se trata de uma dimensão ou de um processo inte- As atitudes de valores de ensino é um processo dinâmico e
rior das pessoas, uma espécie de substrato que orienta e predispõe construtivo, e cada vez mais necessita da presença da escola, pro-
atuar de uma determinada maneira. Caso se trate de um estado fessor, aluno e demais ambientes sociais, visto que o processo de
mental e emocional interior, não estará acessível diretamente (não aprendizagem se torna eficiente e eficaz, quando todos os envolvi-
será visível de fora e nem se poderá medir) se não através de suas dos tenham discernimento de trabalhar o conhecimento tomando
manifestações internas. [...] atitudes corretas de acordo com os valores éticos, morais e sociais.
A atitude é um processo dinâmico que vai se desenvolvendo no
decorrer da vida mediante situações que estão em sua volta como
escola, família, trabalho. Trillo(2000) relata que “atitude é mas uma GESTÃO PARTICIPATIVA NA ESCOLA
condição adaptável as circunstâncias: surgem e mantém-se intera-
ção que individuo tem com os que o rodeiam”. Gestão e Aprendizagem são duas palavras que instauram co-
A escola é fator importante no desenvolvimento da atitude, nexões interessantes estabelecendo diálogos entre elas e abrindo
pois no decorrer de nossa vida se passa boa parte do tempo numa possibilidades com interlocutores diversos no contexto da educa-
unidade de ensino, o que proporciona uma inserção de conheci- ção brasileira.
mento. O denominador comum a ambas é com certeza, a vida humana
Segundo Trillo (2000, p.28) a escola através ações educativas, processo vivo, dinâmico, concreto e não uma abstração metafórica.
proporciona os estímulos necessários na natureza para a constru- Vida de cada pessoa e de pessoas em interação, em contínuo exer-
ção de valores. cício de múltiplas aprendizagens e “ensinagens”, vida de pessoa e
[...] Do ponto de vista da teoria das atitudes, pelo nos casos em pessoas que precisam ser gestadas em muitas dimensões e à luz de
que se acedeu ao seu estudo a partir de casos de delineamentos valores que conferem significado.
vinculados a educação, não surgem controvérsias importantes no “Todo ser humano é inconcluso e é aí que se funda a educação
que se refere ao facto de se tratar ou não natureza humana suscep- como processo permanente”, diz Paulo Freire e é nesta perspectiva
tíveis de serem estimulados através da ação educativa. Ou seja, pa- que Gestão e Aprendizagem inauguram contornos para que a vida
rece existir um acordo geral segundo o qual as atitudes e os valores aconteça.
poderiam se ensinados na escola [...] Aprendizagem entendida como processo ativo e interativo con-
As ações das atitudes começam a se desenvolver logo na templando o ensino como dimensão implícita ao conceito. “Mestre,
criança quando ela esta rodeada de exemplos de família, amigos e não é aquele que ensina, mas o que de repente, aprende” já anun-
principalmente pelos ensinamentos da escola. É interessante que ciava Guimarães Rosa em Grandes Sertões/Veredas.
quando se tem um ambiente favorável e principalmente dos pais, Gestão como processo igualmente dinâmico: planeja, organiza
acompanhando e orientando a criança, percebe-se a construção de e avalia o processo de educação e de vida, oportunizando tempos e
boas atitudes. espaços, imprimindo rumo e operacionalizando intenções.
De acordo com Trillo (200, p.35) as crianças imitam os compor- Gestão e Aprendizagem no cenário concreto da educação bra-
tamentos em sua volta, de maneira que são estimuladas através de sileira: Possibilidade? Desafio?
exemplos de atitudes positivas, o que proporciona a autoestima.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
A educação brasileira nos dias atuais tem sido contemplada Com esta ênfase, não se minimiza e nem mesmo se descarta a
com uma avalanche de reportagens trazidas à tona pela mídia em participação de todos os demais segmentos da escola, mas sinali-
suas múltiplas manifestações, tais como jornais, revistas, rádio e za-se a necessidade de gestão do processo escolar como um todo,
televisão, equacionando informações que de um lado, enfatizam que não se restringe ao bom andamento de cada uma das salas de
a importância da escola, do professor e do processo de educação aula.
como alavanca de desenvolvimento social e econômico e de outro No coletivo escolar, as diferentes salas de aula precisam estar
lado, questionam a qualidade, a eficiência do que está acontecendo atreladas a um projeto pedagógico consequente que se refere à es-
nas salas de aula pelo Brasil afora, atingindo diretamente a todos os cola como um todo e serem oportunizadas e viabilizadas enquanto
que batalham nesta área. tempos e espaços em movimento.
Todo professor/gestor tem sido atingido por estas inquietações O diretor para alavancar de forma positiva o projeto pedagó-
e as informações trazidas pelos diferentes meios de comunicação gico da escola, precisa em primeiro lugar, acreditar na educação,
apresentam indicadores comuns referendados por estudos, pesqui- nas pessoas enquanto processos de vida, e na escola enquanto um
sas e experiências de sucesso nos diferentes países do mundo, com espaço fundamental de vida humana.
ênfase nas nações que nos últimos anos deram saltos significativos Como líder, ele clareia possibilidades, articula atividades, age
na educação. e interage de forma proativa no coletivo, sabendo delegar tarefas
Essas análises indicam prioridades a serem adotadas pela edu- possíveis mas, principalmente, não abrindo mão de ser o condutor
cação brasileira em duas dimensões:- políticas públicas em nível do projeto político pedagógico da escola e da interlocução com a
macro e sistêmico e a outra em nível micro de atuação local e de comunidade e com os órgãos do governo.
compromisso de cada cidadão. Há que se destacar aqui, estas duas dimensões da gestão es-
Do ponto de vista macro e sistêmico, são enfatizados: - necessi- colar:
dade de investimentos financeiros bem administrados; - elaboração -a dimensão interna: - relativa à organização dos espaços e
de um currículo nacional como referência de conteúdos e de apren- tempos das atividades escolares, de modo que se oportunizem
dizagens; - ênfase na meritocracia como forma de incentivo ao tra- condições de planejamento, trabalho, participação, tomada de de-
balho de professores e gestores; - importância do monitoramento e cisões e de monitoramento e avaliação do processo;
avaliação em todos os níveis do processo de educação. - dimensão externa: diz respeito à função social da escola
Na perspectiva micro de cada professor/gestor, os estudos e quanto à produção e reprodução do conhecimento da humanidade,
pesquisas divulgados têm indicado como ações que mais otimizam bem como das demandas que a sociedade trazem para a escola e a
a educação: - o compromisso e a crença em cada aluno, dissemi- necessária interação.
nando uma cultura do sucesso e não do fracasso escolar; a melhor
qualificação do professor como um grande impacto na sala de aula; Com isto, o diretor está garantindo a razão de ser da escola
- a sábia utilização de material e metodologia adequados; - o moni- que não pode ser descaracterizada e nem mesmo minimizada. Por
toramento e a avaliação constantes e sistemáticos das ações esco- exemplo, é saudável que ele delegue atividades como organização
lares; o envolvimento e a cobrança contínua dos pais e de toda so- do almoxarifado da escola, ou ainda a confecção do horário de pro-
ciedade civil em favor da qualidade da educação ofertada por cada fessores, desde que existam critérios e um monitoramento a serem
escola e a importância da direção/gestão para oportunizar espaços respeitados nesta execução alinhada aos rumos da escola. Em hi-
e tempos de aprendizagens. pótese alguma, ele pode delegar a questão da aprendizagem, dos
Estes dados de contexto deixam clara a margem de possibilida- métodos, das formas de avaliação, que devem ser conduzidas no
des para ações conseqüentes e delineiam prioridades para o saber/ coletivo com os responsáveis em questão.
fazer educação. Ao contemplar a essência do ethos escolar, o diretor está garan-
tindo a excelência ou o fracasso que sua instituição está promoven-
Ensino/Aprendizagem/Gestão do, articulando a equipe escolar, como um time ou uma orquestra
O processo de educação entendido na perspectiva do humano na condução dos seus objetivos. A todo momento, ele traz à tona,
inconcluso e a ser construído está pautado na concepção de pes- o significado da educação nos espaços e nos tempos desenvolvidos
soa como ser ativo, interativo, crítico que se posiciona como sujeito na escola, para que não perca o rumo, a vibração, as crenças e os
concreto em suas múltiplas relações. valores vivenciados nos eixos da ação escolar.
Nesta perspectiva, alguns eixos operacionais devem ser con- A preocupação com o processo de construção do conhecimen-
templados possibilitando a dialética do saber fazer articulado onde to e a qualidade em que ele está ocorrendo deve pontuar a sistema-
as pessoas ensinam/aprendem e devem gerir processos no nível da tização de seu trabalho.
vida pessoal, em projetos e instituições.
Em se tratando do diretor escolar existem muitos estudos e Eixos de trabalho
pesquisas que indicam a importância desta função como articula-
dora e responsável pelo processo de educação em curso. - Planejar
O diretor, enquanto elemento agregador e catalisador poten- Em qualquer nível de gestão, a preocupação com o planeja-
cializa a relação de forças existentes nas dimensões internas e ex- mento é indicador de um conceito de pessoa, de aprendizagem e
ternas de uma escola, oportunizando inovações, mudanças que se de educação pautados na perspectiva dinâmica e que conferem à
fazem ou não necessárias no enfrentamento dos desafios. ação educativa, possibilidades de mudança, alteração de rumos e
A existência de uma gestão colegiada personificada por uma busca de resultados.
equipe diretiva não anula de forma alguma o papel fundante da Para qualquer pessoa que se veja em processo, o ato de plane-
atuação e da responsabilidade de um diretor. jar é uma prerrogativa inteligente e não apenas um exercício buro-
Há uma afirmação muito interessante de que “a escola tem crático de preenchimento de formulários e entregas obrigatórias.
a cara do diretor”. Esta é uma expressão popular que reitera esta Significa que o gestor tem claro que a realidade não funciona sem
importância reconhecendo o verdadeiro papel de liderança por ele intervenções, ou ainda, se ela for sempre igual, como exigir resul-
desempenhado. tados diferentes e neste sentido, não pode abrir mão do próprio
pensar em detrimento de que outros pensem por ele.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
Exercer de forma consciente a atividade de planejamento apre- Novas estruturas sociais são configuradas e possibilidades de
senta significados altamente positivos, porque ele oportuniza o ambientes diversificados são abertas sempre com a participação de
registro de diagnósticos e demandas, equaciona respostas, organi- todos.
zando, sequenciando e dosando atividades a serem feitas que cons- Nas atividades escolares propostas há que se contemplar o tra-
tituem a sinalização de direções a seguir e das pontes necessárias balho individual e coletivo com uso de tecnologias assistivas que
entre o que se tem e o que se quer. Os planos permitem ainda, permitam a remoção de barreiras para todo e qualquer tipo de
monitorar e acompanhar a realidade e ajudam a sistematizar ex- aluno, reiterando a construção do conhecimento e não apenas as
periências. relações lineares de mera transmissão de informações.
Mas é importante ainda destacar que a atividade do planeja- O diretor escolar precisa estar atento para que cada professor
mento tem como requisito fundamental, a participação coletiva, trabalhe os tempos e os espaços educacionais, oportunizando situ-
pois os desafios da realidade atual pedem interdisciplinaridade, e ações de aprendizagem e não eliminando as diferenças em favor de
as Ciências hoje, assumem com tranquilidade a impossibilidade de uma suposta homogeneização dos alunos. Cada educador deve in-
um pensar isolado na construção dos conhecimentos. vestir nas diferenças e na riqueza de um ambiente de aprendizagem
Em se tratando de escola, o caráter do coletivo assume ainda que tem significados, experiências e conhecimentos para oportuni-
uma importância maior, porque educação para a Cidadania só pode zar situações para o aluno aprender a partir do que sabe e chegar
ser feita na Cidadania, que acontece no respeito à identidades e até onde for capaz de progredir.
alteridades mutantes.
Na gestão, o Planejar como um dos eixos de trabalho, alerta - Avaliar
para que esta atividade esteja acontecendo em todos os níveis da O trabalho de gestão escolar em qualquer dos níveis da escola
escola e o diretor precisa acompanhar também a ação docente. deve contemplar a necessidade de acompanhamento do processo
Afinal de contas, os professores estão estudando e planejando de em termos de monitoramento e de avaliação.
forma individual e também coletiva? Envolvem os alunos nas pro- O diretor escolar com sua equipe precisam explicitar a com-
postas de planejamento? Desenvolvem metodologias ativas evi- preensão de avaliação que perpassa o cotidiano da escola. Neste
denciando clareza no que é Ensino e no que é Aprendizagem? Estão sentido, para ser coerente com os fundamentos de educação, a ava-
afinados com a proposta da escola? liação deve ser entendida como processo que inclui produtos, com
certeza, mas que não se limita a eles.
- Organizar Tempos e Espaços O diretor escolar deve estar atento para os diagnósticos de ne-
No cotidiano da escola, a organização das atividades de ensino cessidades a serem trabalhadas, monitorando com toda sua equipe
e de aprendizagem precisam estar alinhadas com a proposta da es- as atividades de ensino e de aprendizagem. Quando se exercita a
cola e neste sentido, a metodologia adotada deve ser coerente com avaliação como processo, alteram-se significativamente os rituais
o processo de construção de conhecimento. engessados porventura existentes no ambiente escolar. O tipo de
Os ambientes devem ser colaborativos e ativos, com ênfase aula do professor, a forma como ele divide o tempo, o jeito de orga-
na aprendizagem e com atividades que trabalhem as diferenças, os nizar os espaços, enfim toda relação com o aluno ganha significado.
ritmos, utilizando diferentes linguagens na construção do conheci- O diretor e todos os professores percebem que a avaliação
mento. como processo vai reconfigurar a interação com a família, o plane-
A aprendizagem torna-se o centro das atividades escolares e o jamento dos conteúdos, a forma de organizar as turmas, e só assim
sucesso dos alunos, a meta da escola, independentemente do nível a proposta da escola vai se desenhando de forma coerente com os
de desempenho a que cada um seja capaz de chegar são essenciais valores explicitados no seu Projeto Político Pedagógico.
para que se adotem práticas escolares acolhedoras e inclusivas. O A avaliação de caráter meramente classificatório, por meio de
sentido desse acolhimento não é o da aceitação passiva das possi- notas, provas e outros instrumentos similares, tem mantido a repe-
bilidades de cada aluno, mas o de ser receptivo a todos eles, pois tência e a exclusão nas escolas. A avaliação contínua e qualitativa
as escolas existem, para formar gerações, e não apenas alguns de da aprendizagem com a participação do aluno e tendo, inclusive, a
seus futuros membros, os que mais se encaixam em seus modelos. intenção de aprimorar o ensino e torná-lo cada vez mais adequado
A organização dos tempos evidencia os conceitos de pessoa à aprendizagem de todos os alunos diminuiria substancialmente
humana e educação em que a escola se pauta e deve ser coerente o número dos que são indevidamente avaliados e categorizados
com a proposta de uma educação para todos. Os tempos escolares como deficientes, nas escolas comuns.
precisam ser pensados como meios de construção do conhecimen-
to. Eles precisam ser planejados com flexibilidade nos horários de Gestão escolar e escola de qualidade
aula, nos calendários, na organização de módulos, enquanto traba- No mundo atual, repleto de incertezas e desafios, o diretor
lho significativo com os ritmos de aprendizagem. escolar, os professores, pais e toda comunidade demandam uma
Módulos diferenciados, aulas geminadas, novas composições escola de qualidade. Essa escola precisa ser de “qualidade”, não
de horas e de ritmos mostram a preocupação que a escola deve apenas para o presente, mas que prepare para o futuro.
ter para que todos efetivamente aprendam. Este planejamento dos Estudos e pesquisas têm sinalizado que o perfil do cidadão do
tempos deve ser feito com a participação de todos, inclusive dos século 21, deve atender a algumas características básicas tais como,
alunos que aprendem a administrar agendas e organizar a própria a criatividade, o relacionamento e a interatividade com outras pes-
vida. soas, a capacidade de liderança, a vontade de estudar e pesquisar
Na questão relativa aos Espaços, a escola organizada demons- sempre, entre outros requisitos. Esta configuração não pode ser
tra uma forma de ser e de estar consubstanciada nos fundamentos outorgada e nem mesmo gestada em uma escola autoritária, mas
de educação. A organização espacial de uma sala de aula de for- sim construída em espaços de conhecimento, de socialização e de
ma rígida, “encarteirada” por exemplo, identifica relações sociais cidadania.
nas quais a única voz autorizada de conhecimento é a do professor.
Quando se repensam os espaços para alterá-los, as relações huma-
nas são modificadas e novas fontes de conhecimento se abrem para
todos.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
Esta escola de qualidade, precisa ser equacionada de forma Os trabalhos sobre inovação mostram que a organização bu-
concreta, porque não existe a escola de “qualidade” de forma gené- rocrática e hierárquica do trabalho, não é o único freio a mudança.
rica, universal. Há que se “referenciar” a qualidade e os indicadores Nenhuma organização é tributária de uma só lógica, e a escola se
ainda presentes na sociedade atual estão fortemente relacionados situa na confluência da lógica burocrática e da lógica profissional.
à cultura escolar tradicional, que enfatiza crenças de que aprendi- Existem organizações do trabalho mais abertas que outras à
zagem equivale a conteúdos prontos transmitidos pelo professor e mudança? Como conseguem encontrar um meio termo entre a ne-
absorvidos pela memorização. cessidade de abertura e a tendência natural dos atores em querer
No entanto, essas crenças já foram derrubadas pelo desenvol- preservar equilíbrios estáveis?
vimento da neurociência e outras contribuições. As pesquisas de Há lógicas organizacionais que favorecem a mudança, não
ponta indicam que aprendizagem é um processo complexo, que en- como resposta a uma situação excepcional, nem porque seriam
volve aspectos intelectuais, afetivos, sociais, entre outros, e deve mais permeáveis do que outras às injunções das autoridades, mas
ser ativa e interativa na construção de conhecimentos. Nesse pro- por integrarem-na sem crise e sem pressa?
cesso, cada ser humano é um ser em movimento, sempre inconclu- Os novos paradigmas organizacionais convidam a ultrapassar
so, e a escola precisa ter clareza dessa visão de pessoa, de educação o pensamento científico clássico. À visão de um universo como um
e de sociedade. mecanismo de relojoaria opõe-se àquela de um sistema vivo, instá-
Por isso, uma escola de qualidade é, também, uma escola vel e imprevisível, mais aberto e criador. Vistos sob esse ângulo, os
atenta às diferenças, ou seja, uma escola que enxerga cada aluno processos de mudança correspondem, inversamente, a uma dinâ-
em sua identidade, promovendo a interação e garantindo a efetiva mica instável, expressão de uma multiplicidade de forças em intera-
aprendizagem. É nesse contexto que a compreensão e a defesa de ção que ora convergem, ora se defrontam. Essa imagem está mais
uma escola para todos, alunos com deficiência ou não, se tornam próxima da realidade do que os modelos clássicos. Este primeiro ca-
tão necessárias sinalizando que inclusão é o privilégio de conviver pítulo tenta descrever tal evolução, confrontará lógica burocrática e
com as diferenças e a intolerância é uma das principais causas de lógica profissional, apresentará os novos princípios organizadores.
desumanidade. A lógica burocrática constrói a organização do trabalho sobre
Uma escola para todos não significa o barateamento de conte- uma regulamentação bastante estrita dos papéis e das funções a
údos porque a sua função não é a de ministrar conteúdos prontos serem preenchidas. O organograma estabelece relações de autori-
de alto nível para alguns alunos, mas, sim, desenvolver cidadania dade e cadeias hierárquicas explícitas, os membros da organização
para se viver em um mundo plural e existem dimensões cognitivas, sabem quem concebe e quem executa. A ideia do estabelecimento
afetivas, sociais a serem contempladas. escolar como estrutura local-padrão, é uma resposta burocrática à
O professor da escola comum, quando começa a trabalhar com questão da educação escolar; em um sistema unificado apenas va-
as diferenças, abandona a postura tradicional de educação que riam o tamanho e, o modo de direção dos estabelecimentos. A lógi-
acredita que todos os alunos são iguais. ca burocrática é interiorizada pelos atores, eles percebem seu papel
O professor da escola comum só melhora, proporcionando um e seu estatuto, sua zona de autonomia, a divisão do trabalho, as
ensino de qualidade quando descobre que todos os alunos são es- relações de poder, a gestão dos processos da mudança, os mecanis-
peciais, ou seja, quando reconhece o trabalho com as diferenças mos de controle, os atores não imaginam poder funcionar de outro
nas turmas escolares. modo. Os conteúdos das lições são definidos, não de acordo com as
A escola de qualidade é uma escola inclusiva e o diretor, jun- necessidades dos alunos, mas em função de um número global de
tamente com os professores e os pais não podem abrir mão desse horas disponíveis. Tais parâmetros gestionários representam uma
projeto, pois a atenção às diferenças vai contribuir para a constru- matriz organizacional que condiciona a vida escolar, reduz forte-
ção de uma sociedade mais justa, exigindo a transformação de prá- mente o desenvolvimento das competências correspondentes, que
ticas excludentes que estão presentes na maioria das escolas co- se incumbem da elaboração e da introdução dos novos programas.
muns da sociedade, impedindo a construção de uma cidadania por Esse modelo permitiu ajustar as modalidades de gestão e con-
inteiro e a construção de uma sociedade mais justa. trole das escolas, assegurando uma certa coerência e uma igual-
Gestão, Aprendizagem e Ensino: possibilidades e desafios, com dade formal de tratamento. Ele somente provocará mudanças das
certeza!5 práticas se a prescrição for traduzida de forma clara, for imposta de
cima, for compatível com as práticas já em vigor, etc.
Enquanto a lógica burocrática define e impõe procedimentos
ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA CENTRADA NO PROCESSO de trabalho em vista dos objetivos fixados, a lógica profissional li-
DE DESENVOLVIMENTO DO EDUCANDO mita o trabalho prescrito em função da complexidade de situações
singulares. A lógica profissional na escola permaneceu por muito
INOVAR NO INTERIOR DA ESCOLA tempo limitada ao relacionamento professores/alunos. Os profes-
TRURLER, M. G sores inventam, menos do que pensam, seus gestos profissionais,
muito mais se apropriam da trama fornecida pela cultura profissio-
Organização do trabalho, lógicas de ação e autonomia nal e pela organização escolar. O impacto de tais fatores é diferente
segundo o grau escolar: na escola de ensino fundamental, os do-
Os estabelecimentos escolares constituem formas organiza- centes desempenham um papel importante, ao passo que a partir
cionais que sobrevivem a muitas mudanças em sua missão, seu do ensino médio a ideologia própria de cada disciplina dita as regras
meio, seus recursos e, na renovação permanente dos alunos, dos de funcionamento.
professores e dirigentes. Quando a busca de estabilidade passa a A lógica profissional representa a via menos explícita e forma-
ser a lógica de uma organização, suas características positivas têm lizada da mudança, é um lento processo de adaptação durante o
um custo elevado em rigidez, protecionismo territorial e medo da qual as novas práticas se instauram conforme as necessidades. As
desordem. novas políticas educacionais levam a uma ampliação da lógica pro-
fissional, quando os professores são convidados a participar mais
em todo o processo de inovação.
5 Fonte: www.pmf.sc.gov.br/Maria Terezinha Teixeira dos Santos

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
Entretanto, há o risco de, através da maior autonomia, se refor- As regras de organização são definidas em função da natureza
çar o isolamento e o individualismo dos diversos atores envolvidos das questões a resolver, a destinação de tarefas é variável e modu-
no processo de inovação. Uma lógica profissional não harmonizada lável conforme a quantidade e a natureza dos problemas, a capa-
com um bom nível técnico leva os atores a confiarem mais em suas cidade e a vontade dos atores de mobilizarem-se para um projeto.
experiências pessoais do que nas informações que derivam da pes- Isso também significa que as escolas variarão no plano de seu nível
quisa em educação. Alguns sistemas percebem os laços dos novos de desempenho, enquanto se adaptarem a seu meio e explorarem
princípios da gestão pública e os integram em seu discurso oficial, novas vias para melhorar seu processo pedagógico.
nem por isso passando ao ato no plano das práticas. Tais configurações são novas, algumas equipes de professo-
Em alguns sistemas, essa orientação torna-se progressivamen- res tentam, há anos, romper com a forma escolar tradicional, tais
te da ordem do possível. A organização profissional valoriza o fun- tentativas isoladas estiveram, na maioria das vezes, destinadas ao
cionamento colegial e participativo, os processos de decisão são fracasso, pois permaneceram confinadas em um espaço muito li-
pesados, lentos e ineficientes só o que se busca é um amplo con- mitado de flexibilidade para “irem ao fim de sua lógica”. Por con-
senso. Daí o número limitado de decisões inovadoras. Em nome da seguinte, é lícito esperar que os estabelecimentos escolares que
colegiatura os atores estabelecem a lógica da confiança. se voltam para esse tipo de nova configuração desenvolvam uma
Priva-se então de um motor essencial da mudança: a análise série de características que modifica favoravelmente a construção
lúcida dos funcionamentos, dos êxitos e fracassos de uns e de ou- do sentido de mudança.
tros. A lógica profissional aplica-se para apagar as hierarquias. É Quando as escolas funcionam de acordo com uma lógica flexí-
mais agradável confessar que todos são pares, graças a esse iguali- vel, os professores são levados a desenvolver uma série de compe-
tarismo, o clima de trabalho é mais agradável, mas é possível haver tências que lhes permitem transformar a pedagogia. Em termos de
inovação na negação da heterogeneidade das competências e na organização do trabalho, significa que os professores se libertem
recusa de reconhecer uma liderança? Uma organização dominada das coações internas, que eles se concedem o direito de se organi-
pela lógica profissional é tão conservadora quanto o conjunto de zarem de outro modo. Uma organização flexível introduz uma visão
seus membros. diferente da divisão do trabalho, as tarefas são analisadas e desig-
As duas lógicas estruturam o sistema escolar e as escolas. Elas nadas de modo flexível, e não de acordo com regras e prerrogativas
influenciam tanto com a ordem quanto com a complexidade e ga- estabelecidas pela tradição.
rantem a estabilidade. Ao reunir as duas lógicas organizacionais, a A gestão por redes oferece um meio não apenas de assegurar a
escola dotou-se de um funcionamento irreversível que a encerra informação e o confronto entre os diversos grupos de atores, mas,
em um círculo vicioso difícil de romper. de permitir-lhes uma compreensão sistêmica das dinâmicas impli-
Este círculo vicioso leva tanto as autoridades escolares quanto cadas; o sentido é construído por intermédio desta compreensão,
os diversos atores a uma estranha dança que só pode resultar no ao sabor das controvérsias empreendidas e das experiências feitas
fechamento e no contrassenso. por uns e outros.
É preciso, voltar-se para uma lógica mais flexível e adaptativa, Isso pode permitir que se veja mais longe e que se conscienti-
capaz de ultrapassar o saber prático, tácito e artesanal de cada um, ze que, outros colegas, trabalhando em outras escolas, encontram
que é da ordem da consciência prática. problemas semelhantes, mas os percebem e resolvem de maneiras
Atualmente, concebemos o excesso das lógicas organizacionais distintas, o que pode gerar novas idéias.
existentes como uma evolução incerta e local. Os atores devem in- Nenhuma pessoa ou instituição é completamente autônoma,
ventar novas formas de organização sem poder referirem-se a um é importante, particularizar com muita clareza o terreno de auto-
modelo claramente estabelecido. É preciso considerar estruturas nomia buscado pelas escolas. Diante da grande diversidade das
flexíveis onde tudo se atenue e se adapte à evolução, cada um toma realidades e das necessidades do campo, a atitude predominante
iniciativas que permitem garantir a qualidade. Tanto a coordenação consiste em não mais investir energia para produzir uma aparência
e a codificação estrita das atividades quanto o isolamento e o “con- de homogeneidade, ao contrário, aceitar que possam existir mo-
senso frouxo” deixam o campo livre a uma lógica de arranjo, que dalidades organizacionais diferentes dentro de um quadro comum
permite a realização de acordos locais não previstos. Existe, pois, aceito pelos parceiros. As escolas assumem a responsabilidade de
uma relação entre a organização do trabalho e a mudança. Quanto desenvolver os dispositivos de ensino-aprendizagem apropriados
mais a escola esteja submetida a injunções de inovação, menos ela em função das necessidades locais. Trata-se, da vontade explícita
poderá regulamentar sua atividade. de uma flexibilização em favor de uma maior liberdade de ação e
Os atores do sistema escolar tentam satisfazer duas necessida- decisão concedida aos indivíduos e/ou escolas. Alguns esperam que
des: estabilidade e mudança. A mudança os levará a valorizar a fle- a descentralização leve os atores a resolverem os problemas com
xibilidade e a negociação, não poderão, entretanto, renunciar a um mais criatividade e responsabilidade, assim como a desenvolverem
mínimo de estabilidade. Todo sistema escolar à procura de estabi- soluções menos caras. Imaginam que a diversidade de soluções in-
lidade proporcionar-se á uma organização de trabalho que lhe per- troduzirá uma certa competição e, aumentará a busca de qualidade
mita limitar os riscos. Nossa experiência mostra que a mudança se nas escolas. Outros temem que a competição acarrete consequên-
desenvolve nos espaços ainda não programados, a partir de novas cias nefastas, em função de egoísmos e disputas de poder
combinações entre os diferentes recursos existentes, em um con- A escola é um lugar de exercício do poder, estruturado pelas
texto que reconhece a divergência da maneira de pensar e fazer. Es- estratégias de atores e seus jogos de poder. Dessas relações de po-
sas combinações organizam-se a partir da intuição, do engajamento der depende, a autonomia da qual cada um dispõe. As relações de
e da “ousadia”, dos atores do sistema escolar. A maneira pela qual poder nunca se estabilizam, qualquer novo acontecimento pode
eles construirão o - sentido da mudança – depende da flexibilidade ameaçar os equilíbrios estabelecidos.
organizacional que lhes permitirá ou impedirá de integrar os novos A inovação é sempre suspeita de provocar uma ruptura nesta
conceitos. Transposto ao sistema escolar e à escola, isso leva a um relação de poder pré-existente. Portanto a questão de saber quem
modelo de organização do trabalho que fica menos burocrático e se beneficia com a mu dança é sempre pertinente.
mais centrado nos funcionamentos informais. As relações sociais são arranjos que permitem viver em paz re-
lativa com os outros, a mudança pode ameaçar esse arranjo, divi-
dindo grupos, marginalizando professores, etc.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
A inovação modifica os dados do problema e os arranjos que A avaliação interna constitui uma condição básica da transpa-
permitam o modus vivendi, que deve às vezes ser reconstruído in- rência e da avaliação externa.
tegralmente. É nesse sentido que os problemas produzidos devem
levar os atores a se empenharem na busca constante de coerência, Não se trata de distribuir boas ou más notas, nem de ceder
é uma questão de justiça e de justeza. A construção do sentido de à última moda, mas sim a construção de um sistema escolar que
mudança é fortemente influenciada por esse mecanismo. permita a reflexão permanente sobre a eficácia das práticas, este é
Diante dos problemas de poder, de princípios de justiça e de o objetivo principal de uma avaliação externa.
território, a inovação leva os atores a empenharem- -se na negocia- O sistema educativo só confiará na autoavaliação dos professo-
ção e no regateio, a fim de construir novos acordos e convenções. res, se a sua lucidez estiver acima de qualquer suspeita, tendo sido
Autonomia parcial significa: projeto coletivo original, explícito feita com total profissionalismo.
e negociado entre os parceiros no âmbito de um conjunto de direi- A mudança bem-sucedida não é consequência da simples subs-
tos e obrigações, relativamente ao Estado e suas leis. A autonomia tituição de um modelo de gestão antigo por um novo. Trata-se sim
das escolas deve ser concedida com um equilíbrio entre regulamen- do resultado de um processo de construção coletiva que tem senti-
tos centralizadores e iniciativas locais. do quando os atores se mobilizam, conseguem ultrapassar os jogos
O sistema limita-se a prescrever os eixos de orientação e os estratégicos e as relações de poder habituais para criarem e desen-
regulamentos, e pede às escolas para explicarem como trabalham volverem novos recursos e capacidades que permitirão ao sistema
nos campos que acabam de ser evocados, se estabelece um sistema guiar-se ou tornar a se orientar como um conjunto humano e não
de acompanhamento e de avaliação externo que permite controlar como uma máquina.
a qualidade e a coerência da aplicação nos diversos estabelecimen-
tos. A cooperação profissional
A autonomia parcial levará, professores e diretores de escolas,
a afinarem os meios de autorregulação para alcançar os objetivos A cooperação profissional não corresponde ao funcionamento
fixados, não só para eles mesmos como também para prestarem da maior parte dos professores e dos estabelecimentos escolares,
contas a seus parceiros externo. o individualismo permanece no âmago da identidade profissional.
Após a primeira fase de concepção e de elaboração do projeto, Entretanto, na maioria das escolas, já se verificam mudanças.
o exame da realidade obriga, a redimensionar as exigências de uns Na busca de dispositivos de ensino – aprendizagem, os professores
e outros, o que exigirá negociações para clarificarem as representa- trabalham mais em equipe, por outro lado a maioria dos sistemas
ções, e as novas responsabilidades que estas acarretam. educacionais aplica-se em reformas que incitam uma maior coope-
Uma gestão que conceda mais autonomia às escolas faz emer- ração entre os professores.
gir um novo problema: como se vai, como se pode administrar a O modo de cooperação profissional inscrito na cultura de um
diversidade? Tais questões, tornam-se centrais quando a ação de estabelecimento escolar influencia na maneira como os professores
projeto confronta os diversos parceiros com o indispensável con- reagem em face de uma mudança. Os modos de cooperação profis-
trole de qualidade. sional seguem algumas tendências mais ou menos comuns, a saber:
No contexto de uma organização do trabalho, a avaliação ba- Individualismo – oferece aos professores uma esfera quase
seia-se na maneira como os atores obedecem às regras. Um dos “privada” contra os julgamentos e as intervenções externas. O pro-
grandes equívocos que espreitam as escolas consiste em crer que fessor operando sozinho introduz mudanças eficazes em suas clas-
a autonomia concedida lhes permitirá fugir de toda obrigação de ses.
prestar contas, no entanto, mais autonomia implica também em Balcanização: em algumas escolas os professores têm a ten-
mais responsabilidade e transparência. Para que o sistema escolar dência de associarem-se, mais, a determinados colegas criando gru-
permaneça administrável ele é levado a estabelecer anteparos ca- pos, cada grupo defende suas posições em detrimento das idéias de
pazes de garantir a coerência da ação pedagógica, visando a: definir outros, o consenso é praticamente impossível.
a qualidade dos serviços realizados; observar e avaliar os processos Grande família: um modo dentro do qual os membros do corpo
e condições básicas que determinam esses serviços realizados; co- docente chegam a uma forma de coexistência pacífica, que garante
locar o resultado desse processo de avaliação a serviço dos desen- o respeito e o reconhecimento do outro, conquanto que cada qual
volvimentos ulteriores. se submeta a um determinado conjunto de regras explícitas ou im-
A avaliação interna começa com um diagnóstico empreendi- plícitas.
do, pelos professores e a direção da escola, a forma mais simples Colegiatura forçada: este modo de relacionamento ocorre
consiste em conduzir uma análise do funcionamento do estabeleci- onde a direção impõe procedimentos, cuja finalidade é levar os
mento escolar, consegue-se assim recolher um conjunto de dados professores a concederem mais tempo e atenção à planificação e a
que permitirão compreender melhor como a escola reage em face execução de uma inovação, tende a provocar desconfiança e estra-
da mudança, antecipar problemas, compilar as estratégias de reso- tégias defensivas.
lução, definir prioridades e os critérios de êxito para avaliar a efi- Cooperação profissional: pode ser conceituada como um certo
cácia dos procedimentos, prestando contas de seu funcionamento, número de atitudes que devem ser construídas a fim de criar: o há-
uma equipe de professores, se conscientiza de suas forças e fraque- bito da ajuda e do apoio mútuo; um capital de confiança e franque-
zas. Esse passo não é fácil. Exige uma capacidade de descentração e za mútuas; a participação de cada um nas decisões coletivas. Essas
vontade de mudança que não prosperam por si. Eis porque a avalia- atitudes representam uma clara evolução em relação aos funcio-
ção interna só é realizável quando é acompanhada pelo desenvol- namentos mais individualistas. Convém lembrar que a cooperação
vimento de um clima de confiança dentro da escola sua construção profissional só se torna possível pela vontade obstinada de voltar o
deve preceder o estabelecimento de uma avaliação interna. essencial do processo para a perseguição de um objetivo comum
que vise à ampliação das competências individuais e coletivas que
garantam o bom resultado dos alunos.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
A relação com a mudança na O projeto é a imagem de uma situação, de um estado pensa-
cultura do estabelecimento escolar do que se tem a intenção de alcançar. Nas sociedades modernas, a
ideia de projeto tornou-se inseparável de nossa visão da ação e do
Cada escola tem sua própria atmosfera, como reflexo de cultu- sentido da ação seja ela individual ou coletiva.
ra, exerce uma forte influência sobre aqueles que ali trabalham. A As novas modalidades de gestão transformam necessidade em
cultura de uma escola é construída pelos atores, mesmo que essa virtude; já que não se pode impedir os indivíduos e os grupos de
construção permaneça, em grande parte, inconsciente. Ela é a soma terem uma identidade, um projeto e estratégias é melhor reconhe-
das soluções que funcionaram bem para acabarem prosperando e cê-lo e integrar, transformando-o em vantagem gestionária, propi-
serem transmitidas aos recém-chegados. A mudança é uma catego- ciando maior controle. Essa abordagem constitui os membros de
ria básica do pensamento, até os professores mais conservadores um mesmo estabelecimento escolar como ator coletivo, o que os
formam projetos de mudança. A maneira como cada um pensa a obriga a se colocarem em busca de um projeto comum. Quem pen-
mudança, funda-se em uma história pessoal e na integração a diver- sa são indivíduos que converterão o processo de projeto em ilusão
sos grupamentos sociais, a cultura inerente a cada escola contribui ou ferramenta para a ação. Sobre essa base, parece- -nos possível
também para influenciar cada um, ela é um código comum, que apostar no processo de projeto na escala dos estabelecimentos es-
permite ficar no mesmo comprimento de onda quando sobrevém colares, visto que ele contribui para a construção cooperativa da
uma reforma. mudança.
De acordo com a situação do estabelecimento escolar e de suas O projeto educativo corresponde ao projeto visada simbólica,
culturas, pode-se prever que algumas reformas estariam destinadas como orientação global. Se ele existe e os professores a ele aderem,
ao fracasso antes mesmo de terem começado, a cultura local deter- embasa o projeto de estabelecimento.
minará as necessidades sentidas, a maneira como os professores O projeto de estabelecimento escolar está mais próximo de um
irão julgar o valor da mudança, interagir, tentar e confrontar suas programa de ação que envolve o ator coletivo, constituído pelos
experiências. professores que trabalham naquele estabelecimento escolar e que,
A cultura não tem chefe, mas os dirigentes e os professores se tornou pessoa moral. É importante que a maioria dos professo-
que exercem liderança podem modificá-la progressivamente. Fren- res se associe a um projeto de estabelecimento escolar para que ele
te a uma inovação prescrita pelo sistema, a cultura da escola sugere seja digno desse nome.
prioridades que influenciam a interpretação do programa. A preocupação de clarificar o projeto educativo comum leva
Quanto à eficácia, é objeto de diferentes percepções, uma vez uma comunidade pedagógica a indagar-se sobre sua identidade.
que, nem todos têm a mesma ideia do que torna a escola eficaz. Isso leva a enunciar valores que vão inspirar a ação.
A evolução da cultura depende da maneira como o corpo do- Um projeto educativo ao qual os professores aderem convoca-
cente consegue manter uma reflexão e comunicação em torno dos rá, uma mudança organizada que chamaremos aqui de projeto de
problemas profissionais. Cria-se uma dinâmica pela qual os atores estabelecimento escolar como programa de ação, cujas componen-
conciliam seus objetivos, negociando em relação aos objetivos visa- tes definiremos do seguinte modo: uma fixação na história da orga-
dos, construindo o sentido da mudança. nização e seu meio; um objetivo ambicioso a médio e longo prazo;
um código de valores; cenários para realizar o objetivo principal;
Um estabelecimento escolar em projeto um plano a médio prazo e um plano de ação; dimensões econômi-
cas, sociais, culturais e pedagógicas; uma intenção de comunicar-se
As escolas que produzem efeitos notáveis sobre as aprendiza- e de avaliar; uma vontade explícita de capitalizar e teorizar a expe-
gens dos alunos se apoiam nas mudanças que o sistema educati- riência.
vo introduz, aproveitam-se das reformas do sistema educativo, a Um projeto de estabelecimento pode fixar-se em um projeto
não ser que as orientações de fora estejam em forte contradição educativo explícito ou implícito. A ação inovadora corre o risco de
com sua cultura. Tal atitude supõe que as escolas desenvolvam as esvaziar-se de seu sentido se o projeto não se transformar em um
competências e posturas necessárias para definirem seus objetivos processo. O processo de projeto não é um fim em si, mas, um dos
e construírem um projeto comum. A existência de um projeto lo- componentes do estabelecimento escolar que contribui para tornar
cal poderia constituir um fator favorável às reformas de conjunto, os professores atores da construção do sentido da mudança.
substituídas pelo projeto de estabelecimento escolar, aumentando O projeto de estabelecimento escolar é levado a funcionar com
a oportunidade de uma aplicação das reformas. Essa visão da mu- três dimensões: capacidade individual e coletiva de se projetar (lan-
dança dos sistemas escolares oferece uma perspectiva dinâmica. çar) em um futuro incerto, identidade dos signatários do projeto
Nessa perspectiva, o desenvolvimento escolar é percebido como representação coletiva, já que se trata de um processo de explora-
um processo que permite às escolas assimilarem as mudanças ex- ção cooperativa. Quando o projeto de estabelecimento escolar leva
teriores a seus próprios objetivos. em conta essas três dimensões, ele passa a ser uma ferramenta de
Nos interrogaremos, aqui, mais sobre o estabelecimento esco- mudança, de aprendizagem organizacional.
lar em projeto, do que sobre o “projeto de estabelecimento escolar” Evocamos várias vezes a importância decisiva da coerência
desenvolvido por administrações centrais que de tanto normatiza- interna entre valores e ações, quando é o caso, é visível, para os
rem a ação de projeto correm o risco de esvaziá-la de seu sentido. alunos, que seus professores perseguem os mesmos objetivos e os
A realidade da escola é feita de urgências, e muitas decisões acompanham em um percurso de aprendizagem cuja meta é parti-
são tomadas na incerteza. Diante de tal realidade, uma parte dos lhada por todos. Não se deve confundir projeto com plano de ação,
atores investe em um processo de projeto para lutar contra a des- um projeto deve evitar a definição de um plano de estudos dema-
motivação e a avareza mental, fixando-se metas coletivas. Muitos siado estreito e rígido, deve permitir ajustes tanto nas estruturas
sistemas escolares incentivam os estabelecimentos a colocarem o quanto nas práticas. O importante é que subsista um quadro está-
seu projeto por escrito, os estabelecimentos veem-se, assim, leva- vel, que protegerá da dispersão e de um ativismo extenuante, mais
dos a explicitar o que, habitualmente, permanece implícito. Mas, ainda, não seja utilizado por alguns para fins de tomada de poder.
afinal, o que é exatamente um processo de projeto? O essencial consiste em estabelecer alguns princípios organizadores
do pensamento e da ação. Um projeto de estabelecimento escolar
terá maiores chances de êxito quando os objetivos visados forem

44
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
realistas. Para que um projeto possa fazer a diferença, é necessário Liderança e modos de exercício do poder
que ele se inscreva na “zona de desenvolvimento proximal” dos ato-
res e seja capaz de penetrar em seus campos de consciência, é in- Os processos de mudança não se desenvolvem por si mesmos.
dispensável determinar tal “zona” a fim de saber a quais desafios é Necessitam de uma orquestração ativa, a mudança choca-se com
possível se exporem, para chegarem a transformações da identida- ações igualmente deliberadas para bloqueá-las. As influências não
de coletiva que permitam a utilização dos novos saberes de forma provêm unicamente daqueles que detêm uma autoridade formal.
duradoura. Os projetos garantem um desenvolvimento das compe- As noções de líder e de liderança referem-se mais a uma influ-
tências profissionais que baste para produzir efeitos duráveis? Os ência real sobre o curso das coisas do que ao estatuto dos que a
projetos estão fundados em uma avaliação suficientemente sutil exercem. Qualquer membro de uma comunidade exerce, de vez em
da pertinência das práticas em curso e garantem um acréscimo de quando, alguma influência.
valor? Se essas possibilidades forem mal avaliadas é provável que Alguns com mais frequência do que outros, o que caracterizará
o aluno não obtenha o benefício esperado da situação com que se uma liderança se esta se mostrar regularmente sobre as decisões
acha confrontado. Para que a situação seja portadora de sentido, a de um grupo. A noção de liderança como influência regular define o
mudança prevista deve estar próxima de suas preocupações, ofere- líder, como “aquele que exerce uma liderança em um determinado
cendo, uma impressão de ruptura com as rotinas. contexto”.
Entre investimentos a longo prazo, e resultados imediatos, a Os estabelecimentos escolares que se engajam em um proces-
ação educativa muitas vezes hesita. A lógica “asseguradora” pode so de mudança deverão construir uma nova visão da gestão das re-
assim, parecer a única em condições de criar a calma para encarar lações de força e, se possível, substituir a liderança autoritária por
ações inovadoras. uma liderança cooperativa. A ideia de liderança cooperativa designa
A multiplicação dos projetos de estabelecimento escolar fez uma liderança assumida de modo cooperativo por um conjunto de
evoluir a maneira de trabalhar em conjunto. Ao projeto como forma atores, nenhum dos quais é líder formal ou informal o tempo todo,
social, associam-se diversas práticas, reconhecidas como caracterís- mas está abertamente voltado para a ação comum. A liderança
ticas. Não é pequeno o risco de ver a adoção dessas práticas fazer cooperativa rompe com a organização clássica do trabalho dentro
as vezes de projeto de estabelecimento escolar. de um estabelecimento escolar, os membros do grupo acham-se
É importante associar os processos de projeto a uma avaliação investidos de tarefas ou de funções que eles assumem sem mono-
interna que verifique a coerência entre os objetivos visados e as polizá-las duradouramente. A liderança cooperativa não reconhece
ações empreendidas. hierarquias estáveis nem líder permanente. A liderança é entendida
Estando a cultura de cooperação e a do projeto desabrochan- como uma força de transformação cultural e de desenvolvimento.
do, grande parte dos projetos nasce na mente de algumas pessoas Ela não suprime a função de diretor de escola, mas redefine, o pa-
conquistadas pela ideia, é verdadeiro para os projetos “espontâ- pel consistiria em tornar-se aquele que faz as competências emer-
neos” e também para os projetos “solicitados” pelas autoridades girem, facilita a concepção e a aplicação de novas modalidades
escolares. Em ambos os casos, a questão é saber como passar da organizacionais, ele orquestra a ação coletiva para que esta possa
iniciativa de alguns a um consenso tão amplo quanto possível sobre tender para a transformação das práticas.
o princípio, o conteúdo, e as orientações de um projeto de estabe- A liderança cooperativa produz para cada pessoa uma sobre-
lecimento escolar. Durante o período em que a maioria vai aderin- carga de trabalho, daí a necessidade de estabelecer uma instância
do a um “projeto de projeto”, manifestam-se oposições, agravos, de coordenação responsável por: acompanhar os esforços de colo-
tomadas de poder, alianças e clivagens sem grande relação com o cação em prática; informar todas as partes envolvidas sobre o pro-
conteúdo. Procurar obter a adesão entusiasta de 99% dos professo- cesso em curso; aproximar e ligar os diferentes grupos de trabalho;
res da escola condenaria, qualquer projeto a ser rapidamente aban- organizar e animar as sessões; instituir instâncias de conversa; criar
donado, em geral dá-se a partida com uma minoria ativa. Quais os lugares de decisão e de regulação. O papel dos líderes leva-os a ve-
fatores que determinam a adesão? rificar constantemente se os diferentes membros do grupo conse-
A adesão só ocorrerá se os interlocutores puderem entrever guem aderir aos objetivos visados, se estão convencidos de que as
a manutenção de suas experiências ou a abertura de demais ca- apostas valem a pena e pensam que eles têm mais a ganhar do que
minhos de acesso a vantagens simbólicas ou materiais é durante a perder.
esta delicada passagem, da concepção por uma minoria à adesão
coletiva, que se executa uma das etapas decisivas do projeto. Ad- O estabelecimento escolar como organização aprendente
ministrar essa etapa com atenção garante uma saída melhor para
o projeto, baseada em confiança relativa, garantindo sua razão de Um estabelecimento escolar pode ou não favorecer a mudan-
ser, tanto no presente quanto na continuidade. A mobilização geral ça. É sua capacidade de adquirir experiência que o torna uma or-
da maioria, o consenso na análise prévia das necessidades e a iden- ganização aprendente; adota uma abordagem mais positiva e pro-
tificação coletiva dão lugar às divergências e à dispersão das forças fissionalizante, centrada na obrigação de competências, visando à
nos momentos difíceis e precipitam os atores em uma fase de tur- evolução tanto das representações da profissão quanto das práticas
bulências que pode representar um simples vazio do processo de pedagógicas e à transformação da dinâmica do estabelecimento
implementação. Nume- rosas equipes desistem diante da ausência escolar, em uma coesão essencialmente pedagógica, constituindo
de efeitos a curto ou médio prazo, ou mesmo diante da resistência este último em organização aprendente.
dos principais interessados: os alunos. Mesmo um projeto de es- O estabelecimento escolar é definido como um grupo de pro-
tabelecimento escolar que obtenha a concordância e o apoio de fessores que assumem a responsabilidade de desenvolver os dispo-
grande maioria dos parceiros não tem garantia de sua longevida- sitivos de ensino e aprendizagem mais eficazes.
de. Um projeto de longa duração nunca será totalmente aplicado No desenvolvimento organizacional, os projetos de formação
por aqueles que o elaboraram. É necessário concebe-lo de maneira comum se limitam a alguns seminários durante os quais os profes-
que seja possível fazê- -lo durar, e utilizá-lo como instrumento de sores têm a ilusão de construir uma cultura comum em relação a
integração de recém-chegados. O projeto como explicação de uma um tema que lhes parece central, eles imaginam que realmente
identidade coletiva não significa fechamento sobre si mesmo, mas conseguirão modificar suas práticas, enquanto observadores exter-
sim, abertura para o futuro e para fora. nos notam apenas mudanças insignificantes.

45
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
Já, o desenvolvimento profissional ressalta as necessidades e
apostas das pessoas que coexistem e cooperam dentro de um esta- PARÂMETROS NACIONAIS DA QUALIDADE
belecimento escolar, esboçando e realizando um projeto coletivo. DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Tal interpretação da formação contínua coloca os atores do es-
tabelecimento escolar no centro do processo de desenvolvimento PARÂMETROS NACIONAIS DE QUALIDADE PARA A EDUCAÇÃO
e o liga à mudança. INFANTIL- VOLUME 1
De acordo com esse modelo, os professores são percebidos
como membros de uma organização social, corresponsáveis por seu Introdução
desenvolvimento ulterior. Visto que são responsáveis de seu desen-
volvimento profissional, os atores transformam suas necessidades, O documento Parâmetros Nacionais de Qualidade para a
formulando projetos coletivos e investindo-se em sua aplicação. Educação Infantil (volumes 1 e 2) busca responder com uma ação
Para aumentar a eficácia da ação organizada dentro de uma efetiva aos anseios da área, da mesma forma que cumpre com a
instituição, é necessário compreender sua cultura, é indispensável determinação legal do Plano Nacional de Educação, que exige a co-
que os atores meçam a dinâmica e a complexidade do funciona- laboração da União para atingir o objetivo de “Estabelecer parâme-
mento coletivo para depois decidirem e colocarem em prática no- tros de qualidade dos serviços de Educação Infantil, como referên-
vos funcionamentos. cia para a supervisão, o controle e a avaliação, e como instrumento
A ação organizada não é redutível às aprendizagens individuais, para a adoção das medidas de melhoria da qualidade” (Brasil, 2001,
trata-se de um sistema de aprendizagens coordenadas, sendo sufi- cap. II, item 19 do tópico Objetivos e Metas da Educação Infantil).
ciente para fazer funcionar o conjunto, porque é de sua capacidade Assegurar a qualidade na educação infantil por meio do estabeleci-
de transformar-se em organização aprendente que depende o re- mento desses parâmetros é uma das diretrizes da Política Nacional
sultado de uma maior eficácia da ação coletiva. de Educação Infantil (Brasil).
Entendendo que em uma perspectiva de gestão democrática
Conclusão e participativa, tal definição deve emergir de amplo debate entre
os segmentos envolvidos no trabalho educativo com crianças de
O estabelecimento escolar é um nível determinante do destino 0 até 6 anos, o Ministério coordenou um processo de discussão
reservado aos projetos de mudança, porque é ali que os professo- desses parâmetros em diferentes regiões do país, incorporando a
res trabalham e constroem o sentido de suas práticas profissionais, contribuição que muitas secretarias de educação, entidades e gru-
bem como as transformações que lhes são propostas, venham elas pos desenvolvem no sentido de aprimorar a qualidade da Educação
de dentro ou de fora. Infantil.
Seu resultado será coerente relativamente à cultura e às rela- Para que fosse instaurada uma discussão qualificada que con-
ções sociais instituídas, nas quais as conversações se estabelecerão tribuísse efetivamente para o avanço da Educação Infantil no Brasil,
em torno desse novo objeto, a partir das tentativas e das reposições realizou-se um processo de trabalho em etapas, durante as quais fo-
em discussão que uns e outros devam ou queiram permitir. ram discutidas versões preliminares deste texto. A primeira versão
Na verdade, a mudança leva tempo e só se realiza por etapas, foi apresentada e debatida em seminários regionais, promovidos
conforme as quais os profissionais criam vínculos entre seus sabe- pela SEB/DPE/Coedi (Brasil, MEC,SEIF) em julho e agosto de 2004,
res de experiência e as novas idéias. O processo de mudança é, pois, com a participação de representantes de secretarias e conselhos
um assunto de evolução conjunta dos valores, crenças, conceitos e municipais e estaduais de educação e outras entidades que atuam
práticas. direta ou indiretamente com a criança de 0 até 6 anos de idade. A
Ao começar este trabalho, já estávamos convencidos de que o segunda foi enviada a especialistas na área de Educação Infantil de
sentido da mudança não é imposto, não é dado de antemão nem todo o país e, posteriormente, debatida em seminário técnico reali-
é imutável. A mudança é construída na regulação interativa entre zado em maio de 2005, em Brasília. Após a incorporação de grande
atores. parte das sugestões enviadas, uma versão, ainda preliminar do 2º
Se a hipótese construtivista é válida não apenas para os indiví- volume, foi apresentada no Seminário Nacional Política de Educa-
duos, mas para as coletividades, como conseguir comprometê-las ção Infantil, realizado também em Brasília, em julho do mesmo ano.
em um processo de construção coletiva de longa duração? Espera-se que esta versão final, ao incorporar as contribuições
Numerosos fóruns, publicações e debates são dedicados a essa e sugestões recebidas, contribua para solidificar consensos presen-
problemática. Apesar dos debates, parece-nos que, nos encontra- tes na área e superar desafios antigos, esclarecendo questões que
mos atualmente, bem no início de um longo processo de “profis- ainda suscitam dúvidas nos dias atuais.
sionalização” das práticas de inovação, seja na escala do sistema, Sendo o objetivo deste documento o de estabelecer padrões
do estabelecimento escolar ou da classe. Tal processo levará todos de referência orientadores para o sistema educacional no que se
os atores a conduzirem a escola na aventura de uma “organização refere à organização e funcionamento das instituições de Educação
aprendente”. Nessa aventura, o estabelecimento escolar pode e Infantil, cabe apontar, inicialmente, para uma distinção conceitu-
deve representar um nó estratégico. al que deve ser feita entre parâmetros de qualidade e indicadores
de qualidade. Entende-se por parâmetros a norma, o padrão, ou
Referência a variável capaz de modificar, regular, ajustar o sistema (Houaiss e
TRURLER, M. G. Inovar no interior da escola. THURLER, Mônica Villar). Parâmetros podem ser definidos como referência, ponto de
Gather e MAULINI, Olivier (org.). A organização do trabalho esco- partida, ponto de chegada ou linha de fronteira. Indicadores, por
lar: uma oportunidade para repensar a escola. Porto Alegre: Penso, sua vez, presumem a possibilidade de quantificação, servindo, por-
2012. tanto, como instrumento para aferir o nível de aplicabilidade do pa-
râmetro. Parâmetros são mais amplos e genéricos, indicadores mais
específicos e precisos. Um parâmetro de qualidade inquestionável,
por exemplo, é a formação específica das professoras e dos profes-
sores de Educação Infantil.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
Nesse caso, o indicador seria a série e o nível propriamente dito No segundo, explicitam-se, inicialmente, as competências dos
de formação dos profissionais que atuam nas instituições de Educa- sistemas de ensino e a caracterização das instituições de educação
ção Infantil. A qualidade seria considerada ótima em um determina- infantil a partir de definições legais, entendendo que um sistema
do município se o parâmetro definido neste caso fosse a formação educacional de qualidade é aquele em que as instâncias respon-
exigida por lei, e todos os profissionais que atuam nas instituições sáveis pela gestão respeitam a legislação vigente. Finalmente, são
de Educação Infantil tivessem essa formação em nível superior. apresentados os parâmetros de qualidade para os sistemas educa-
Assim, um desdobramento necessário e esperado do docu- cionais e para as instituições de educação infantil no Brasil, com o
mento que está sendo apresentado seria a definição dos indica- intuito de estabelecer uma referência nacional que subsidie os sis-
dores de qualidade. Estes permitirão a criação de instrumentos temas na discussão e implementação de parâmetros de qualidade
para credenciamento de instituições, elaboração de diagnósticos, locais.
e mesmo a implementação propriamente dita dos parâmetros de É importante reafirmar que a história da construção de uma
qualidade nas instituições de Educação Infantil e nos sistemas edu- Educação Infantil de qualidade no Brasil já percorreu muitos cami-
cacionais. Os indicadores de qualidade deverão ser definidos em nhos, já contou com muitos protagonistas, já alcançou resultados
níveis progressivos de exigência no sentido vertical e, em âmbitos significativos e já identificou obstáculos a serem superados. Apren-
também progressivos de abrangência (local, regional, nacional), no der com essa história e retomá-la, nesse momento, é a tarefa que
sentido horizontal, permitindo, ainda, que cada instituição ou mu- nos aguarda em mais essa etapa de um processo dinâmico e cole-
nicípio incorpore indicadores de qualidade construídos pela comu- tivo. Para tanto, faz-se necessário obter consensos a serem sempre
nidade que representam. revistos e renovados, de forma democrática, contemplando as ne-
Feita a distinção entre parâmetros e indicadores, sublinhamos cessidades sociais em constante mudança e incorporando os novos
que a finalidade de definir os parâmetros de qualidade se realiza conhecimentos que estão sendo produzidos sobre as crianças pe-
neste documento de modo a estabelecer não um padrão mínimo, quenas, seu desenvolvimento em instituições de Educação Infantil,
nem um padrão máximo, mas os requisitos necessários para uma seus diversos ambientes familiares e sociais e suas variadas formas
Educação Infantil que possibilite o desenvolvimento integral da de expressão.
criança até os cinco anos de idade, em seus aspectos físico, psicoló- Espera-se que este documento se constitua em mais um passo
gico, intelectual e social. na direção de transformar em práticas reais, adotadas no cotidiano
Para subsidiar a tomada de decisões sobre conteúdo, estrutu- das instituições, parâmetros de qualidade que garantam o direito
ra, formato e estilo de apresentação deste documento, foi realizada das crianças de zero até seis anos à Educação Infantil de qualidade.
uma análise de experiências semelhantes desenvolvidas em outros
países, revelando que as propostas enfocam e enfatizam aspectos Qualidade na Educação Infantil- Fundamentos
bastante variados. Umas são muito detalhadas, outras mais gené-
ricas, algumas centram-se exclusivamente na escola ou na apren- O debate sobre a qualidade da educação da criança até 6 anos
dizagem da criança, outras abordam políticas e sistemas como um no Brasil tem uma história. Para situar o atual momento, é neces-
todo, e a linguagem utilizada ora é mais formal, ora mais informal. sário rever concepções e recuperar os principais fios dessa história
Pretende-se, por meio deste documento, delimitar parâmetros para que a discussão atual possa dialogar com os avanços e as difi-
de qualidade suficientemente amplos para abarcar diferenças re- culdades anteriores, alcançando um novo patamar nesse processo
gionais, flexíveis para permitir que as manifestações culturais locais de múltiplas autorias.
tenham espaço para se desenvolver, específicos para favorecer a Essa contextualização busca contemplar:
criação de uma base nacional, de fácil aplicação e monitoramento 1) a concepção de criança e de pedagogia da Educação Infantil;
a fim de possibilitar sua adoção e, consequentemente, consolidar 2) o debate sobre a qualidade da educação em geral e o debate
essa base comum. Utilizou-se um tom afirmativo que incentivas- específico no campo da educação da criança de 0 até 6 anos;
se as participações críticas, que tornasse as proposições objetivas, 3) os resultados de pesquisas recentes;
permitindo a identificação ou contraposição clara de leitores. Op- 4) a qualidade na perspectiva da legislação e da atuação dos
tou-se, deliberadamente, por abordar parâmetros de qualidade órgãos oficiais do país.
tanto para as instituições de Educação Infantil quanto para os sis-
temas educacionais, dadas as possibilidades que essa perspectiva 1. Concepção de criança e de pedagogia da Educação Infantil
oferece de controle social recíproco das instâncias envolvidas no
cuidado e na educação da criança de 0 até 6 anos de idade. A criança é um sujeito social e histórico que está inserido em
Colocaram-se em relevo questões específicas e polêmicas da uma sociedade na qual partilha de uma determinada cultura. É
realidade brasileira tais como, período de funcionamento das insti- profundamente marcada pelo meio social em que se desenvolve,
tuições, respeito à diversidade, regime de colaboração, autonomia mas também contribui com ele (Brasil). A criança, assim, não é uma
federativa e responsabilidade dos sistemas estaduais com a Educa- abstração, mas um ser produtor e produto da história e da cultura
ção Infantil nos municípios onde não existe sistema de ensino. (Faria).
A apresentação deste documento – organizado em dois volu- Olhar a criança como ser que já nasce pronto, ou que nasce
mes - visa facilitar seu manuseio pelos leitores. O primeiro aborda vazio e carente dos elementos entendidos como necessários à vida
aspectos relevantes para a definição de parâmetros de qualidade adulta ou, ainda, a criança como sujeito conhecedor, cujo desen-
para a Educação Infantil no país. Apresenta uma concepção de volvimento se dá por sua própria iniciativa e capacidade de ação,
criança, de pedagogia da Educação foram, durante muito tempo, concepções amplamente aceitas na
Infantil, a trajetória histórica do debate da qualidade na Edu- Educação Infantil até o surgimento das bases epistemológicas que
cação Infantil, as principais tendências identificadas em pesquisas fundamentam, atualmente, uma pedagogia para a infância. Os no-
recentes dentro e fora do país, os desdobramentos previstos na le- vos paradigmas englobam e transcendem a história, a antropologia,
gislação nacional para a área e consensos e polêmicas no campo. a sociologia e a própria psicologia resultando em uma perspectiva
que define a criança como ser competente para interagir e produzir
cultura no meio em que se encontra.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
Essa perspectiva é hoje um consenso entre estudiosos da Edu- Captar necessidades que bebês evidenciam antes que consi-
cação Infantil (Bondioli e Mantovani; Souza; Kramer; Myers; Cam- gam falar, observar suas reações e iniciativas, interpretar desejos e
pos Et Al.; Oliveira; Rossetti-Ferreira; Machado; Oliveira). motivações são habilidades que profissionais de Educação Infantil
A interação a que se referem os autores citados não é uma in- precisam desenvolver, ao lado do estudo das diferentes áreas de co-
teração genérica. Trata-se de interação social, um processo que se nhecimento que incidem sobre essa faixa etária, a fim de subsidiar
dá a partir e por meio de indivíduos com modos histórica e cul- de modo consistente as decisões sobre as atividades desenvolvidas,
turalmente determinados de agir, pensar e sentir, sendo inviável o formato de organização do espaço, do tempo, dos materiais e dos
dissociar as dimensões cognitivas e afetivas dessas interações e os agrupamentos de crianças.
planos psíquico e fisiológico do desenvolvimento decorrente (Vy- Pesquisas realizadas desde a década de 1970 (Hardy; Platone;
gotsky). Nessa perspectiva, a interação social torna-se o espaço de Stamback) enfatizam que todas as crianças podem aprender, mas
constituição e desenvolvimento da consciência do ser humano des- não sob qualquer condição. Antes mesmo de se expressarem por
de que nasce (Vygotsky). meio da linguagem verbal, bebês e crianças são capazes de interagir
Muitas vezes vista apenas como um ser que ainda não é adulto, a partir de outras linguagens (corporal, gestual, musical, plástica,
ou é um adulto em miniatura, a criança é um ser humano único, faz-de-conta, entre outras) desde que acompanhadas por parceiros
completo e, ao mesmo tempo, em crescimento e em desenvolvi- mais experientes. Apoiar a organização em pequenos grupos, esti-
mento. É um ser humano completo porque tem características ne- mulando as trocas entre os parceiros; incentivar a brincadeira; dar-
cessárias para ser considerado como tal: constituição física, formas -lhes tempo para desenvolver temas de trabalho a partir de propos-
de agir, pensar e sentir. É um ser em crescimento porque seu corpo tas prévias; oferecer diferentes tipos de materiais em função dos
está continuamente aumentando em peso e altura. É um ser em de- objetivos que se tem em mente; organizar o tempo e o espaço de
senvolvimento porque essas características estão em permanente modo flexível são algumas formas de intervenção que contribuem
transformação. As mudanças que vão acontecendo são qualitativas para o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças. As inicia-
e quantitativas- o recém-nascido é diferente do bebê que engati- tivas dos adultos favorecem a intenção comunicativa das crianças
nha, que é diferente daquele que já anda, já fala, já tirou as fraldas. pequenas e o interesse de umas pelas outras, o que faz com que
O crescimento e o desenvolvimento da criança pequena ocorrem aprendam a perceber-se e a levar em conta os pontos de vista dos
tanto no plano físico quanto no psicológico, pois um depende do outros, permitindo a circulação das ideias, a complementação ou a
outro. resistência às iniciativas dos parceiros. A oposição entre parceiros,
Embora dependente do adulto para sobreviver, a criança é por exemplo, incita a própria argumentação, a objetivação do pen-
um ser capaz de interagir num meio natural, social e cultural des- samento e o recuo reflexivo das crianças. (Machado, 1998).
de bebê. A partir de seu nascimento, o bebê reage ao entorno, ao Ao se levar em conta esses aspectos, não se pode perder de vis-
mesmo tempo em que provoca reações naqueles que se encontram ta a especificidade da pedagogia da Educação Infantil, como afirma
por perto, marcando a história daquela família. Os elementos de Rocha: Enquanto a escola tem como sujeito o aluno, e como objeto
seu entorno que compõem o meio natural (o clima, por exemplo), fundamental o ensino nas diferentes áreas através da aula; a cre-
social (os pais, por exemplo) e cultural (os valores, por exemplo) che e a pré-escola têm como objeto as relações educativas travadas
irão configurar formas de conduta e modificações recíprocas dos num espaço de convívio coletivo que tem como sujeito a criança de
envolvidos. 0 até 6 anos de idade.
No que diz respeito às interações sociais, ressalta-se que a É importante destacar que essas relações educativas, às quais
diversidade de parceiros e experiências potencializa o desenvolvi- a autora se refere, na instituição de Educação Infantil são perpassa-
mento infantil. das pela função indissociável do cuidar/educar, tendo em vista os
Crianças expostas a uma gama ampliada de possibilidades in- direitos e as necessidades próprios das crianças no que se refere à
terativas têm seu universo pessoal de significados ampliado, desde alimentação, à saúde, à higiene, à proteção e ao acesso ao conhe-
que se encontrem em contextos coletivos de qualidade. Essa afir- cimento sistematizado. Este último aspecto torna-se especialmente
mativa é considerada válida para todas as crianças, independente- relevante no caso das creches no Brasil, onde em muitas delas ainda
mente de sua origem social, pertinência étnico-racial, credo político predomina um modelo de atendimento voltado principalmente à
ou religioso, desde que nascem. alimentação, à higiene e ao controle das crianças, como demons-
Por sua vez, a visão da criança como ser que é também parte da tra a maioria dos diagnósticos e dos estudos de caso realizados
natureza e do cosmo merece igualmente destaque, especialmente em creches brasileiras (Campos; Fullgraf; Wiggers). Essa afirmação
se considerarmos as ameaças de esgotamento de recursos em nos- evidencia a não-superação do caráter compensatório da Educação
so planeta e as alterações climáticas evidentes nos últimos anos. Infantil denunciado por Kramer que ainda se manifesta nos dias
Conforme alerta Tiriba, os seres humanos partilham a vida na Terra atuais, como também a polarização assistência versus educação,
com inúmeras espécies animais, vegetais e minerais, sem as quais apontada insistentemente por Kuhlmann Jr. Sabemos que não bas-
a vida no planeta não pode existir. Essas espécies, por sua vez, inte- ta apenas transferir as creches para os sistemas de ensino, pois “na
ragem permanentemente, estabelecendo-se um equilíbrio frágil e sua história, as instituições pré-escolares destinaram uma educação
instável entre todos os seres que habitam o ar, a água dos rios, dos de baixa qualidade para as crianças pobres, e isso é que precisa ser
lagos e dos mares, os campos, as florestas e as cidades, em nosso superado”.
sistema solar e em todo o universo. Assim, a ênfase na apropriação de significados pelas crianças,
A intenção de aliar uma concepção de criança à qualidade dos na ampliação progressiva de conhecimentos de modo contextuali-
serviços educacionais a ela oferecidos implica atribuir um papel es- zado, com estratégias apropriadas às diferentes fases do desenvol-
pecífico à pedagogia desenvolvida nas instituições pelos profissio- vimento infantil, parece bastante justificada.
nais de Educação Infantil. Da mesma forma que defendemos uma perspectiva educacio-
nal que respeite a diversidade cultural e promova o enriquecimen-
to permanente do universo de conhecimentos, atentamos para a
necessidade de adoção de estratégias educacionais que permitam
às crianças, desde bebês, usufruírem da natureza, observarem e
sentirem o vento, brincarem com água e areia, atividades que se

48
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
tornam especialmente relevantes se considerarmos que as crian- - a espaços, tempos e materiais específicos.
ças ficam em espaços internos às construções na maior parte do
tempo em que se encontram nas instituições de Educação Infantil. 2. O debate sobre a qualidade da educação e da Educação In-
Criando condições para que as crianças desfrutem da vida ao ar li- fantil
vre, aprendam a conhecer o mundo da natureza em que vivemos,
compreendam as repercussões das ações humanas nesse mundo e Na última década do século XX, o discurso sobre a qualidade
sejam incentivadas em atitudes de preservação e respeito à biodi- da educação ocupou um espaço significativo no debate educacional
versidade, estaremos difundindo uma concepção de educação em e direcionou políticas implantadas no quadro das reformas educa-
que o ser humano é parte da natureza e não seu dono e senhor cionais nos diversos países. Sucedendo a um período de significa-
absoluto (Tiriba). tiva expansão de matrículas na Educação Básica, com a crescente
Os aspectos anteriormente abordados devem ser considerados presença de alunos das classes populares nas escolas, houve um
no processo de discussão e elaboração de diretrizes pedagógicas deslocamento das preocupações com a democratização do acesso
dos sistemas de ensino e das propostas pedagógicas das institui- para a ênfase nas questões de permanência.
ções de Educação Infantil. Vale ressaltar a relevância da participa- A educação submeteu-se a uma crescente preocupação com
ção dos professores, dos demais profissionais da instituição e da medidas de eficiência na gestão dos recursos disponíveis marcadas
comunidade nesse processo, não só para que os aspectos citados pela influência dos órgãos de cooperação internacional. Concep-
sejam efetivamente considerados no desenvolvimento da proposta ções originadas do mundo empresarial foram adotadas, tais como
como também para cumprir a legislação. os chamados programas de qualidade total, que procuram substi-
Em síntese, para propor parâmetros de qualidade para a Educa- tuir os controles externos do trabalho por uma adesão do trabalha-
ção Infantil, é imprescindível levar em conta que as crianças desde dor às metas de qualidade das empresas. No lugar de uma estrutura
que nascem são: hierarquizada de administração dos sistemas de educação, buscou-
- cidadãos de direitos; -se descentralizar responsabilidades e tarefas, ao mesmo tempo em
- indivíduos únicos, singulares;
que se montou um sofisticado aparato de avaliação dos resultados
- seres sociais e históricos;
de aprendizagem dos alunos, resultados estes considerados produ-
- seres competentes, produtores de cultura;
to da educação.
- indivíduos humanos, parte da natureza animal, vegetal e mi-
Muitos estudiosos têm analisado criticamente essas tendên-
neral.
Por sua vez, as crianças encontram-se em uma fase de vida cias, o que vem permitindo uma evolução do debate nos anos mais
em que dependem intensamente do adulto para sua sobrevivên- recentes. Casassus e Enguita chamam a atenção para o risco pre-
cia (Machado). Precisam, portanto, ser cuidadas e educadas, o que sente nesse deslocamento do discurso que substitui a preocupação
implica: com a igualdade pelo foco na qualidade, principalmente em con-
- ser auxiliadas nas atividades que não puderem realizar sozi- textos de desigualdade social, nos quais os processos de exclusão
nhas; acontecem tanto dentro como fora da escola. Nesse sentido, recu-
- ser atendidas em suas necessidades básicas físicas e psicoló- peram um debate desenvolvido em décadas passadas, que opunha
gicas; a preocupação com qualidade à exigência da “quantidade”, ou seja,
- ter atenção especial por parte do adulto em momentos pecu- à democratização do acesso à educação (Beisiegel). Apple, mostra
liares de sua vida. como a importação de critérios de qualidade baseados na lógica do
Além disso, para que sua sobrevivência esteja garantida e seu mercado— que incentivam a competição entre escolas, premiam os
crescimento e desenvolvimento sejam favorecidos, para que o cui- professores de acordo com os resultados dos alunos e equiparam as
dar/educar sejam efetivados, é necessário que sejam oferecidas às famílias a consumidores de produtos e serviços— tende a ampliar
crianças dessa faixa etária condições de usufruírem plenamente as desigualdades nas escolas. Outros autores argumentam que a
suas possibilidades de apropriação e de produção de significados qualidade da educação não se mede somente pelos resultados ob-
no mundo da natureza e da cultura. As crianças precisam ser apoia- tidos pelos alunos nos testes de aprendizagem, mas também pelo
das em suas iniciativas espontâneas e incentivadas a: processo educativo vivido na escola, que envolve aspectos mais am-
- brincar; plos de formação para a cidadania, o trabalho e o desenvolvimento
- movimentar-se em espaços amplos e ao ar livre; da pessoa.
- expressar sentimentos e pensamentos; Por sua vez, o respeito à diversidade cultural e étnica e a consi-
- desenvolver a imaginação, a curiosidade e a capacidade de deração das realidades locais, reivindicados por diversos movimen-
expressão; tos sociais, no bojo de um questionamento sobre a imposição de
- ampliar permanentemente conhecimentos a respeito do critérios estabelecidos unilateralmente a partir da lógica dos grupos
mundo da natureza e da cultura apoiadas por estratégias pedagó- dominantes, reforçam a demanda por processos mais participativos
gicas apropriadas;
de definição e aferição da qualidade da educação.
- diversificar atividades, escolhas e companheiros de interação
No Brasil, iniciativas nesse sentido têm sido realizadas por
em creches, pré-escolas e centros de Educação Infantil.
administrações municipais que adotaram a concepção de “qua-
A criança, parte de uma sociedade, vivendo em nosso país, tem
lidade social” e por grupos que militam na área educacional. Um
direito:
- à dignidade e ao respeito; dos exemplos é a Consulta sobre qualidade da educação na escola
- autonomia e participação; (2002), pesquisa realizada em dois estados brasileiros com apoio da
- à felicidade, ao prazer e à alegria; Campanha Nacional pelo Direito à Educação, que procurou ouvir o
- à individualidade, ao tempo livre e ao convívio social; que diretores, professores, funcionários, alunos, pais e pessoas da
- à diferença e à semelhança; comunidade pensam sobre qualidade da escola. Outro exemplo é o
- à igualdade de oportunidades; projeto Indicadores da Qualidade na Educação (2004), realizado por
- ao conhecimento e à educação; Ação Educativa, Unicef, PNUD e Inep, com participação ampla, que
- a profissionais com formação específica; buscou desenvolver um instrumento flexível para ajudar a comuni-

49
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
dade escolar a avaliar e a melhorar a qualidade da escola. Em recen- 2) definir qualidade é um processo importante por si mesmo,
te seminário na Bolívia, promovido pelo Conselho de Educação de oferecendo oportunidades para compartilhar, discutir e entender
Adultos da América Latina (Ceaal), foram apresentadas e debatidas valores, ideias, conhecimentos e experiências;
diversas abordagens desse tema, entre as quais essa experiência 3) o pro- cesso deve ser participativo e democrático, envolven-
brasileira e documentos de outros países com critérios de qualida- do grupos diferentes, que incluem alunos, famílias e profissionais;
de elaborados por centrais sindicais, movimentos populares e orga- 4) as necessidades, as perspectivas e os valores desses grupos
nizações não governamentais. podem divergir;
No que se refere à Educação Infantil, a origem do debate sobre 5) portanto, definir qualidade é um processo dinâmico, contí-
a qualidade foi marcada pela abordagem psicológica. No início, a nuo, requer revisões e nunca chega a um enunciado definitivo.
preocupação com os supostos efeitos negativos da separação en- Na mesma linha de reflexão, Anna Bondioli sintetiza a natureza
tre mãe e criança pequena levou a um questionamento da creche da qualidade nos serviços para a “primeiríssima” infância, na pers-
centrado principalmente nos aspectos afetivos do desenvolvimento pectiva dos educadores da região da Emília Romanha, na Itália:
infantil. Em um segundo momento, sob efeito das teorias da priva- - a qualidade tem uma natureza transacional;
ção cultural a partir da década de 1960, houve um deslocamento - a qualidade tem uma natureza participativa;
do foco para o desenvolvimento cognitivo da criança, visando ao - a qualidade tem uma natureza auto reflexiva;
seu aproveitamento futuro na escola primária. O uso de testes psi- - a qualidade tem uma natureza contextual e plural;
cológicos foi incentivado, e os resultados considerados positivos de - a qualidade é um processo;
algumas experiências, principalmente nos Estados Unidos, reforça- - a qualidade tem uma natureza transformadora.
ram os argumentos em defesa da expansão da oferta de educação No caso brasileiro, a desigualdade apresenta diversas faces,
pré-escolar para as crianças menores de 6 anos. como há tempos aponta Rosemberg, não se resumindo às diferen-
A continuidade do debate levou a um amadurecimento das ças sociais e econômicas, mas expressando-se também nas discri-
abordagens no campo da psicologia do desenvolvimento. Em diver- minações de etnia e gênero, nos contrastes entre a cidade e o cam-
sos países ocorreram mudanças de ênfase que contribuíram para
po e entre as regiões do país.
novas concepções direcionadas para a melhoria da qualidade. A
Em um país marcado por tantas diferenças, o equilíbrio entre
crítica ao foco exclusivo na separação mãe–criança, a valorização
a preocupação com a igualdade e a preocupação com o respeito
do papel da mulher na sociedade, a mudança de uma preocupação
às diferenças nem sempre é fácil de alcançar. O desigual acesso à
voltada principalmente à escolaridade futura para a valorização das
experiências vividas no cotidiano das instituições de Educação In- renda e aos programas sociais está marcado por esses diversos per-
fantil foram fatores importantes nesse processo. As abordagens de tencimentos de classe, de etnia e de gênero, heranças históricas e
avaliação da qualidade também passaram a conferir maior atenção culturais que também se expressam no acesso à Educação Infantil
aos contextos familiares e locais, emergindo desses trabalhos um e na qualidade dos programas oferecidos. Assim, no contexto bra-
consenso a respeito da importância da formação em serviço e da sileiro, discutir a qualidade da educação na perspectiva do respeito
participação das famílias. Foram consideradas também nesse de- à diversidade implica necessariamente enfrentar e encontrar cami-
bate as diferenças de tradição e as várias modalidades nacionais de nhos para superar as desigualdades no acesso a programas de boa
oferta de atendimento educacional, as questões das desigualdades qualidade, que respeitem os direitos básicos das crianças e de suas
sociais e o respeito à diversidade cultural. famílias, seja qual for sua origem ou condição social, sem esquecer
Na Comunidade Européia, em 1991, foi publicado o docu- que, entre esses direitos básicos, se inclui o direito ao respeito às
mento Quality in services for young children: a discussion paper suas diversas identidades culturais, étnicas e de gênero.
(Qualidade dos serviços para a criança pequena: um texto para Ademais, é preciso considerar que não existe ainda um pata-
discussão) (Balageur; Mestres; Penn), elaborado por integrantes mar mínimo de qualidade que caracterize a maior parte dos esta-
da Rede Europeia de Atendimento Infantil, coordenada por Peter belecimentos de Educação Infantil. Assim, o respeito à diversidade
Moss, pesquisador ligado à Universidade de Londres. O contexto e a consideração ao contexto local devem ser relativizados quando
europeu, caracterizado por uma enorme diversidade de culturas, condições adversas, presentes nas creches ou nas pré-escolas, afe-
línguas, identidades nacionais e regionais, exigiu a adoção de uma tam os direitos básicos da criança pequena, chegando a significar
perspectiva sensível às diferenças de tradição e às várias modalida- riscos a seu desenvolvimento físico, psicológico e como ser social.
des nacionais de oferta de atendimento educacional. Por sua vez, as A partir do debate mais geral sobre a qualidade na educação
experiências consolidadas e reconhecidas por sua qualidade, como, e mais especificamente em relação ao atendimento na Educação
por exemplo, aquelas desenvolvidas nas regiões do norte da Itália e Infantil, é possível extrair algumas conclusões:
na Escandinávia, inspiraram e ajudaram a formulação de uma con- 1) a qualidade é um conceito socialmente construído, sujeito a
cepção de qualidade mais avançada, atenta para as questões das constantes negociações;
desigualdades sociais e ao mesmo tempo voltada para o respeito à 2) depende do contexto;
diversidade cultural.
3) baseia-se em direitos, necessidades, demandas, conheci-
Mais recentemente, foi feita uma revisão dessa experiência,
mentos e possibilidades;
a qual evidencia a crescente inquietação com os grupos sociais
4) a definição de critérios de qualidade está constantemente
de origem étnica, cultural e religiosa diversa dos povos europeus,
tensionada por essas diferentes perspectivas.
representados ali principalmente pelos imigrantes dos países em
desenvolvimento. Assim, os problemas decorrentes do confronto
entre identidades diferentes contribuem para a ênfase maior na 3. Resultados de pesquisas recentes
necessidade de uma relativização de perspectivas na definição de Já existe um conhecimento acumulado, a partir de pesquisas
padrões de atendimento educacional. empíricas, sobre os fatores associados a resultados obtidos por
Peter Moss fez uma síntese interessante desse debate durante crianças em seu desempenho cognitivo e sócio emocional que es-
o II COPEDI Congresso Paulista de Educação Infantil, realizado em tão ligados a características dos estabelecimentos de Educação In-
2000. Segundo ele: fantil frequentados. Essas pesquisas procuram controlar os demais
1) a qualidade é um conceito relativo, baseado em valores; fatores ligados às condições e às características das famílias e do

50
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
meio social e cultural das crianças e suas características individuais, O EPPE The Effective Provision of Pre-School Education Project
no sentido de identificar o peso dos fatores escolares na avaliação (Projeto sobre a Oferta Efetiva de Educação Pré-Escolar), coorde-
dos resultados obtidos pelas crianças em diversos momentos, des- nado pelo Instituto de Educação da Universidade de Londres, con-
de o final da etapa pré-escolar até as primeiras séries do Ensino tou com financiamento governamental e foi iniciado em 1997, com
Fundamental. duração prevista de cinco anos (Sylvia et al). No Reino Unido, as
Esses resultados são importantes no sentido de sugerir quais crianças iniciam a primeira série do ensino primário no ano em que
seriam as dimensões de qualidade estratégicas a serem priorizadas completam 5 anos de idade. Assim, o estudo seguiu uma amostra
para se obter os resultados mais positivos no desempenho presente de 3 mil crianças de 3 a 7 anos de idade que estavam matriculadas
e futuro das crianças. Em décadas passadas, foram realizados vários em 140 centros de Educação Infantil, de diversas modalidades, du-
estudos desse tipo, um dos quais bastante divulgado, que acompa- rante dois anos da etapa pré-escolar e três anos de escola primária.
nhou um grupo de crianças até a fase adulta, realizado nos Estados Para fins de comparação, na amostra também foram incluídas mais
Unidos, o Perry School Project. Apesar de polêmico, esse estudo até duzentas crianças que não haviam frequentado pré-escola no mo-
hoje é citado para reforçar o argumento de que investimentos em mento do seu ingresso na escola primária.
Educação Infantil de boa qualidade produzem resultados positivos Foi coletada uma série de dados sobre as crianças, seus pais, o
a longo prazo, inclusive do ponto de vista econômico. ambiente doméstico e as modalidades de pré-escola frequentadas,
No Brasil, um estudo promovido pelo Banco Mundial e pelo que cobriram os diversos tipos de serviços existentes naquele país,
inclusive o chamado playgroup (grupo de brincadeira), um tipo de
Ipea utilizou dados do IBGE para calcular os efeitos da frequência
Educação Infantil informal que utiliza adultos e espaços da comu-
à pré-escola. A pesquisa baseou-se em dados sobre a situação es-
nidade, mas nem sempre oferece atividades em todos os dias da
colar passada de uma amostra da população entre 25 e 64 anos
semana.
de idade para avaliar retrospectivamente os efeitos dessa variável
Em relação ao impacto da frequência à pré-escola, a pesquisa
sobre a escolaridade, o emprego e o estado nutricional dos sujeitos. aponta que ela favorece o desenvolvimento da criança, a duração
As conclusões apontam para um efeito significativo da frequência à da frequência é importante, e o início antes dos 3 anos de idade
pré-escola sobre a escolaridade dos indivíduos (série completada e pode ser relacionado com maior desenvolvimento intelectual. To-
repetências), controlando-se as variáveis de origem socioeconômi- davia, a frequência em tempo integral não pode ser correlacionada
ca. Foram constatadas também taxas de retorno econômicas positi- a melhores resultados para as crianças em comparação com o meio
vas para o investimento em pré-escola. período. Por sua vez, crianças mais pobres podem se beneficiar sig-
A maior parte dessas pesquisas investigou os efeitos de pro- nificativamente de uma experiência pré-escolar de qualidade, espe-
gramas pré-escolares, sendo menor o número de estudos sobre a cialmente quando frequentam centros que recebem população he-
creche. Como já foi comentado em artigo publicado em 1997, que terogênea do ponto de vista da origem social. Quanto à qualidade
realizou uma ampla revisão sobre investigações realizadas no Brasil das práticas nas pré-escolas, foi evidenciado que está diretamente
e no exterior, inclusive em outros países da América Latina, sobre os relacionada a melhores resultados no desenvolvimento intelectual
efeitos da Educação Infantil, os resultados desses estudos reforçam e sócio comportamental das crianças e esses efeitos persistem nas
o fato de que as crianças que frequentam uma Educação Infantil avaliações realizadas aos 6 anos e mais. Isso foi constatado, sobre-
de boa qualidade obtêm melhores resultados em testes de desen- tudo, no início da escolaridade formal naquelas crianças que fre-
volvimento e em seu desempenho na escola primária, sendo esses quentaram, por um longo período, pré-escolas de qualidade.
efeitos mais significativos justamente para as crianças mais pobres. Quanto ao ambiente familiar, a pesquisa confirma dados de
Resumindo as principais conclusões desses estudos, o artigo aponta outros estudos no sentido de que a educação e a classe social dos
para três fatores de qualidade identificados em diferentes países e pais são importantes preditores do desenvolvimento intelectual e
contextos: a formação dos professores, o currículo e a relação da social, mas observa que a qualidade do ambiente de aprendizagem
escola com a família (Campos). no lar pode promover o desenvolvimento intelectual e social em
Alguns levantamentos recentes de grande escala estão pro- todas as crianças, superando a influência da classe social e do nível
curando esmiuçar melhor esses fatores analisando de perto ca- educacional dos pais.
racterísticas dos diferentes tipos de serviços frequentados pelas No que diz respeito às características dos centros de educação
crianças, por meio de estudos longitudinais, em que também são pré-escolar investigados, o estudo encontrou evidências adicio-
nais de que a qualidade pode ser encontrada em todos os tipos de
investigados os diversos efeitos constatados no desempenho das
pré-escola, entretanto as de melhor qualidade são aquelas mais
crianças em determinadas fases de seu desenvolvimento. São assim
formais, que contam com pessoal qualificado e currículo mais sis-
comparadas as diferentes trajetórias de coortes de crianças: aque-
tematizado, combinando educação e cuidado, com um máximo de
las que não frequentam nenhum tipo de creche ou pré-escola, as
13 crianças por adulto e geralmente duas professoras por classe.
que são cuidadas apenas pelos pais, as que ficam sob cuidados de Outros fatores que contribuem para a qualidade são as relações
outros adultos, e assim por diante, tentando cobrir as várias situa- interativas calorosas com as crianças e o entendimento de que o
ções possíveis e testando estatisticamente as associações observa- desenvolvimento educacional e o desenvolvimento social são as-
das entre as diferentes experiências e os resultados das crianças, pectos complementares. Outros fatores são a oferta de ambientes
medidos com auxílio de diversas técnicas. instrutivos de aprendizagem, que contem com recursos pedagógi-
Dois grandes projetos de pesquisa, um na Inglaterra e outro cos adequados e uma formação continuada em serviço. (Sylvia et
nos EUA, investigam atualmente essas questões. Os resultados pos- al). A pesquisa constatou também que os centros com maior tra-
síveis de serem acessados, em publicações e pela Internet, são ain- dição de vinculação com a área educacional foram os que alcança-
da parciais, pelo fato de serem estudos longitudinais com muitos ram melhor pontuação de qualidade, contando com pessoal mais
dados ainda em análise. O projeto britânico incluiu crianças somen- qualificado e melhor supervisão. Aqueles com uma tradição mais
te a partir dos 3 anos de idade, e o norte-americano selecionou ligada à área de bem-estar social foram os que apresentaram piores
sua amostra desde o momento do nascimento das crianças, apre- resultados, mas são justamente os que contam com pessoal com
sentando resultados principalmente sobre a frequência a creches e pior qualificação, pior remuneração, com pouca supervisão e alta
outras modalidades de cuidado a crianças de até 3 anos. rotatividade.

51
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
Apesar de obtidos em contextos bem diversos dos encontrados deduzida desses resultados seria que, especialmente nesses três
no Brasil, esses resultados constituem importantes subsídios para primeiros anos de vida, a complementaridade entre os cuidados e
a definição de parâmetros de qualidade, pois muitas de suas con- a educação na família e na creche deve ser buscada, o que mostra a
clusões são também confirmadas por estudos realizados em outros importância de uma boa comunicação entre os adultos que atuam
países. Por exemplo, verificou-se uma associação entre condições nesses dois espaços.
de vida das famílias e acesso à pré-escola na população estudada, Estudos anteriores realizados nos Estados Unidos já haviam
sendo encontrada uma maior proporção de crianças de famílias identificado alguns fatores de qualidade de creches associados
com piores condições de vida no grupo daquelas que nunca fre- a bons resultados de desempenho das crianças, confirmados por
quentaram pré-escola do que na amostra de alunos de pré-escolas, esses dados mais recentes. O tamanho dos grupos de crianças, a
fato também constatado no Brasil. intensidade das interações entre adultos e crianças e o conheci-
Outro estudo que vem sendo desenvolvido sobre a qualidade, mento dos educadores sobre a educação de crianças pequenas são
que constitui um amplo programa que envolve diversas pesquisas fatores significativamente associados aos progressos das crianças
sobre o cuidado de crianças até 3 anos de idade e o desenvolvimen- (Campos).
to juvenil é o SECC (Study of Early Child Care and Youth Develop-
ment). Sendo coordenado pelo The NICHD - National Institute of 4. A qualidade na perspectiva da legislação e da atuação dos
Child Health & Human Development (Instituto Nacional de Saúde órgãos oficiais no Brasil
Infantil e Desenvolvimento Humano) do Ministério da Saúde dos
No Brasil, a partir da década de 1980, no bojo do processo de
Estados Unidos, conta com a participação de equipes de diversas
redemocratização do país, o campo da Educação Infantil ganhou um
universidades daquele país.
grande impulso, tanto no plano das pesquisas e do debate teórico
Os resultados disponíveis na Internet desse amplo programa
quanto no plano legal, propositivo e de intervenção na realidade.
de pesquisas em andamento em dez localidades dos EUA ainda
Em 1988, a Constituição Federal reconhece o dever do Estado e o
são preliminares, parciais e contraditórios em alguns aspectos. A direito da criança a ser atendida em creches e pré-escolas e vin-
pesquisa foi iniciada em 1989 para investigar as relações entre as cula esse atendimento à área educacional. Ressalta-se também a
experiências de cuidado das crianças pequenas e os resultados em presença no texto constitucional do princípio da igualdade de con-
seu desenvolvimento. A primeira fase do estudo acompanhou uma dições para o acesso e a permanência na escola, avanços funda-
coorte de 1.364 crianças escolhidas de acordo com uma amostra- mentais na perspectiva da qualidade e da ampliação dos direitos da
gem estratificada, desde seu nascimento, em 1991, até os 3 anos criança independentemente de sua origem, raça, sexo, cor, gênero
de idade; uma segunda fase seguiu um grupo de 1.226 delas, dos 3 ou necessidades educacionais especiais.
anos até a segunda série primária; a terceira fase acompanha 1.100 Em 1990 o Estatuto da Criança e do Adolescente ratifica os
crianças até a sétima série, em 2005. O estudo utiliza uma gran- dispositivos enunciados na constituição. O MEC também teve um
de variedade de estratégias, buscando avaliar a qualidade dos am- importante papel, inicialmente na coordenação do Movimento
bientes nos quais as crianças convivem, tanto no âmbito doméstico Criança Constituinte, em seguida nos compromissos assumidos
como no institucional, no caso daquelas que frequentaram creches. internacionalmente na Conferência de Jomtien, e na realização
De modo geral, na faixa de idade considerada, foi constatado dos debates no âmbito do I Simpósio Nacional de Educação Infan-
que as variáveis familiares têm um peso significativo sobre o de- til (1994), preparatório à Conferência Nacional de Educação para
senvolvimento das crianças. Os efeitos da frequência a creches, Todos. Nesse encontro, realizado no marco do Plano Decenal de
quando positivos, mostraram-se complementares às condições do Educação para Todos, ao lado de outros temas, foi realizada uma
ambiente familiar. mesa-redonda sobre experiências internacionais de melhoria da
A maior parte das pesquisas teve dificuldade em separar os qualidade na Educação Infantil (Rosemberg; Jensen; Peralta).
efeitos das experiências na família daqueles ligados às caracterís- Entre 1994 e 1996, o MEC realizou vários seminários e debates,
ticas do tipo de cuidado oferecido à criança fora da família. Assim com a participação de diferentes segmentos e organizações sociais,
mesmo, algumas características dos serviços observados, como, por buscando contribuir para a construção de uma nova concepção
exemplo, a razão adulto–criança, o tamanho dos grupos, a forma- para a educação das crianças de 0 até 6 anos. As discussões rea-
ção e a qualificação do educador, revelaram-se significativamente lizadas nesses eventos deram origem a uma série de publicações.
associados ao desempenho das crianças em diversos aspectos. Ou- São elas: Política Nacional de Educação Infantil (Brasil); Educação
Infantil no Brasil: situação atual (Brasil); Por uma política de forma-
tro estudo confirmou essas conclusões, indicando que existe fun-
ção do profissional de Educação Infantil (Brasil)Critérios para um
damento empírico para políticas de melhoria nas regulamentações
atendimento em creches que respeite os direitos fundamentais das
oficiais sobre formação dos educadores e proporção de crianças por
crianças (Brasil); Educação Infantil: bibliografia anotada (Brasil) e
pessoal.
Propostas pedagógicas e currículo em Educação Infantil (Brasil). Es-
Uma das pesquisas examinou de perto grupos de crianças de sas publicações contaram com a colaboração de muitos professores
famílias de baixa renda em três níveis diferentes de pobreza. Como e pesquisadores, configurando uma produção intensa e rara entre
era de se esperar, as piores condições de vida das famílias estavam profissionais ligados à universidade e profissionais com responsabi-
associadas a desempenhos mais baixos das crianças. Esse estudo lidades executivas.
conclui que a oferta de creches é essencial para aquelas famílias Dois desses trabalhos merecem destaque por enfocarem dire-
que tentam permanecer fora do limite de pobreza. Nos grupos mais tamente a questão da qualidade na Educação Infantil. O primeiro
pobres, uma melhor qualidade da creche se mostrou associada a foi o documento sobre critérios de qualidade, que compunha um
melhores resultados quanto ao desenvolvimento das crianças. conjunto formado também por um cartaz contendo os 12 crité-
Apesar de muitos desses resultados não serem ainda conclu- rios para a unidade creche e por um vídeo – Nossa creche respeita
sivos, a maioria deles aponta para a importância da qualidade do criança – acompanhado de um folheto com sugestões para discus-
ambiente sobre o desenvolvimento das crianças nessa fase de vida são em grupos de formação. Seu conteúdo baseou-se em uma ex-
em todas as situações observadas: na família, na creche, em espa- periência de assessoria e intervenção em creches conveniadas do
ços domésticos fora da família. Uma recomendação que poderia ser município de Belo Horizonte, que contou com a parceria de diversas

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
instituições e de órgãos da prefeitura. Reflete, assim, a realidade qualidade do atendimento, na medida em que visavam garantir que
encontrada nessas instituições, que pela primeira vez contavam as creches e as pré-escolas tivessem espaço físico e materiais ade-
com uma supervisão sistemática da prefeitura. Procurou abordar os quados, formação do profissional de acordo com a exigência legal e
problemas concretos observados nessas creches e as dificuldades proposta pedagógica, entre outros aspectos.
que as equipes de educadoras sem formação enfrentavam em seu Assim sendo, após a aprovação da LDB, o MEC promoveu uma
cotidiano, comum à maioria das instituições que atendem crianças discussão no âmbito do Conselho Nacional e dos Conselhos Esta-
pequenas das classes populares pelo país afora (Brasil). O segundo duais e Municipais de Educação que culminou com a publicação do
foi um estudo sobre propostas pedagógicas e currículo que realizou documento Subsídios para credenciamento e funcionamento de
um levantamento nacional dos documentos elaborados por secre- instituições de Educação Infantil (BRASIL). Os textos dessa publica-
tarias estaduais e de municípios de capital, desenvolvendo uma me- ção contêm sugestões de critérios de qualidade que servem como
todologia de análise e avaliação desses documentos e fornecendo referência para a elaboração das regulamentações específicas para
um modelo orientador para a elaboração e a implementação de a Educação Infantil pelos Conselhos Estaduais e Municipais. Ainda
propostas pedagógicas ou curriculares para unidades ou sistemas no final da década de 1990, o MEC elaborou e distribuiu às escolas
de educação infantil, (Brasil). de todo o país o documento Referencial Curricular Nacional para a
Em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei Educação Infantil (BRASIL). Em seguida, desenvolveu um programa
nº 9.394/96) foi promulgada, contribuindo de forma decisiva para a de formação continuada nos sistemas de ensino que tinha como
instalação no país de uma concepção de Educação Infantil vinculada objetivo principal divulgar e discutir esse documento. O Referencial
e articulada ao sistema educacional como um todo. Na condição de visa auxiliar o professor na realização de seu trabalho educativo di-
primeira etapa da Educação Básica, imprime-se uma outra dimen- ário com as crianças de 0 a 6 anos. Aponta metas de qualidade para
são à Educação Infantil, na medida em que passa a ter uma função garantir o desenvolvimento integral das crianças, reconhecendo seu
específica no sistema educacional: a de iniciar a formação necessá- direito à infância como parte de seus direitos de cidadania. Sendo
ria a todas as pessoas para que possam exercer sua cidadania. Por composto por três volumes, o primeiro apresenta uma reflexão ge-
sua vez, a definição da finalidade da Educação Infantil como sendo o ral sobre o atendimento no Brasil, sobre as concepções de criança,
“desenvolvimento integral da criança até 6 anos de idade, em seus de educação e do profissional; o segundo trata da Formação pesso-
aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a al e social e o terceiro volume ocupa-se dos diferentes conteúdos
ação da família e da comunidade” evidencia a necessidade de se to- incluídos em Conhecimento do mundo. Sua primeira versão foi co-
mar a criança como um todo para promover seu desenvolvimento mentada por um significativo número de pareceristas individuais,
e implica compartilhamento da responsabilidade familiar, comuni- evidenciando críticas e polêmica em alguns meios. Contudo, vale
tária e do poder público. A avaliação na Educação Infantil é definida ressaltar a importância desse documento, que se constitui na pri-
a partir dessa concepção de desenvolvimento integrado, e assim meira proposta curricular oficial destinada igualmente à creche e
deve ser processual acontecendo de forma sistemática e contínua. à pré-escola.
Seu acompanhamento e registro têm objetivos de diagnóstico e não
O Referencial havia sido antecedido por um trabalho desenvol-
de promoção ou retenção, exigindo a redefinição das estratégias
vido pelo próprio MEC na década de 1990, os dois volumes de Pro-
metodológicas utilizadas com as crianças de 0 até 6 anos de idade.
fessor da pré-escola (Brasil), os quais continham textos que acom-
Em decorrência da inserção da Educação Infantil na Educação
panhavam vinte vídeos com o título geral de Menino, quem foi teu
Básica, a formação exigida para o profissional que atua com essa
mestre? e apresentavam uma abordagem bastante aberta e pouco
faixa etária passa a ser a mesma daquele que trabalha nas primeiras
estruturada de um currículo para a pré-escola.
séries do Ensino Fundamental: nível superior em curso de licencia-
No âmbito da Câmara de Educação Básica (CEB) do Conselho
tura, admitindo-se, como formação mínima, a oferecida em nível
Nacional de Educação (CNE), de acordo com as atribuições que lhe
médio na modalidade normal. Considerando que o professor tem
um papel extremamente importante na garantia da qualidade do foram conferidas pela nova legislação6, foram aprovadas as Diretri-
trabalho realizado na educação, além de tratar da formação inicial zes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, como Resolução
dos profissionais de Educação Infantil, a LDB estabelece que os sis- CNE/CEB n° 1 de 07/04/1999 (Brasil). Essas diretrizes têm caráter
temas promoverão a valorização desses profissionais, asseguran- mandatório para todos os sistemas municipais e/ou estaduais de
do-lhes nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do ma- educação, diferentemente do Referencial, que se constitui apenas
gistério público, ingresso exclusivamente por concurso de provas e em um documento orientador do trabalho pedagógico. A resolu-
títulos, formação continuada, piso salarial profissional, progressão ção que instituiu essas diretrizes foi precedida por um parecer que
funcional, período reservado a estudos, planejamento e avaliação, trata de várias questões relativas à qualidade (Parecer CNE/CEB nº
incluído na carga horária, e condições adequadas de trabalho. 22/98, de 17/12/98). Por exemplo, na relação adulto — criança, in-
De acordo com os dispositivos constitucionais e com a LDB, dica a seguinte proporção:
cabe aos municípios a responsabilidade pela Educação Infantil. Mas - 1 professor para 6 a 8 bebês de 0 a 2 anos;
para que o reconhecimento legal do dever do Estado e do direito da - 1 professor para cada 15 crianças de 3 anos;
criança a ser atendida em creches e pré-escolas possa ser efetivado - 1 professor para cada 20 crianças de 4 a 5 anos.
e para que esse atendimento se vincule efetivamente à área educa- Tanto o Parecer quanto a Resolução são muito claros ao englo-
cional, é necessária uma ação conjunta dos governos, nas instâncias barem na nomenclatura instituições de Educação Infantil creches,
federal, estadual e municipal, e a parceria com a sociedade. pré-escolas, classes e centros de Educação Infantil. Reforçam tam-
Nas disposições transitórias dessa lei, foi estabelecido um pra- bém a faixa etária de 0 até 6 anos como um todo íntegro e delimi-
zo de três anos, a contar da data de sua publicação, para que as tador das matrículas nas instituições de Educação Infantil. Em am-
creches e as pré-escolas existentes ou que viessem a ser criadas bos, a criança ocupa um lugar central como sujeito de direitos. As
se integrassem ao respectivo sistema de ensino. Para que a inte- Diretrizes definem em seu art. 3º os fundamentos norteadores que
gração se efetivasse, era necessário que os Conselhos de Educação devem orientar os projetos pedagógicos desenvolvidos nas institui-
elaborassem regulamentações para o credenciamento e o funcio- ções de Educação Infantil:
namento das instituições de Educação Infantil. A definição e o cum- a) “Princípios Éticos da Autonomia, da Responsabilidade, da
primento dessas normas teriam, certamente, impacto direto na Solidariedade e do Respeito ao Bem Comum;

53
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
b) Princípios Políticos dos Direitos e Deveres de Cidadania, do Ao lado da valorização dessas culturas, a LDB também atribui
Exercício da Criticidade e do Respeito à Ordem Democrática; às escolas indígenas o objetivo de “possibilitar o acesso às infor-
c) Princípios Estéticos da Sensibilidade, da Criatividade, da Lu- mações e aos conhecimentos valorizados pela sociedade nacional”
dicidade e da Diversidade de Manifestações Artísticas e Culturais.” (artigo 78). Considerando-se que a professora ou o professor que
O CNE também se ocupou da questão da formação dos profes- atua nas escolas dessas comunidades devem ter conhecimentos es-
sores que atuam com às crianças de 0 até 6 anos. Em 1999, foram pecíficos, essas diretrizes também contemplam a formação desses
instituídas as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de professores.
docentes da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Funda- As Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de profes-
mental, em nível médio, na modalidade Normal (Resolução CNE/ sores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura,
CEB nº 2, de 19/04/1999), que se aplicam aos professores de Edu- de graduação plena, foram instituídas em fevereiro de 2002 (Reso-
cação Infantil, das quatro primeiras séries do Ensino Fundamental, lução CNE/ CP nº 1, de 18/02/02a). Caracterizam-se por princípios,
da Educação de Jovens e Adultos, da Educação nas Comunidades fundamentos e procedimentos a serem observados na organização
Indígenas e de Educação Especial. Em que pese a dificuldade de institucional e curricular de cada estabelecimento de ensino. Abor-
contemplar, no mesmo documento, uma orientação para os cursos dam aspectos que tornam essa formação bastante abrangente no
de formação de professores que trabalham com alunos tão dife- que diz respeito àquilo que se espera de um professor de Educação
rentes quanto à faixa etária, contextos sociais e modalidades de Básica, ao mesmo tempo em que buscam garantir a especificidade
ensino que frequentam, o relatório que introduz esse documento da educação que acontece nas várias etapas e modalidades desse
traz uma concepção de formação atualizada no que diz respeito aos nível educacional. É ressaltado, por exemplo, que na construção do
fundamentos teóricos, abrangente quanto à visão de educação e projeto pedagógico dos cursos de formação dos docentes as com-
coerente com os princípios de cidadania definidos nas Diretrizes petências gerais a serem consideradas sejam contextualizadas e
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. complementadas por outras específicas de cada etapa e modalida-
No ano seguinte, foram aprovadas as Diretrizes Operacionais de de Educação Básica. Além disso, orienta-se para que a prática
para a Educação Infantil (Parecer CNE/CEB nº 04/00, de 16/02/00), não fique desarticulada do restante do curso, devendo permear
as quais deliberam sobre a vinculação das instituições de Educação toda a formação do professor. Daí a necessidade de que se fortale-
Infantil aos sistemas de ensino e sobre vários aspectos que afetam çam os vínculos entre as instituições formadoras e os sistemas de
a qualidade do atendimento: proposta pedagógica, regimento esco- ensino possibilitando que estas trabalhem em constante interação
lar, formação de professores e outros profissionais, espaços físicos com as escolas de Educação Básica.
e recursos materiais. Essas diretrizes definem também a responsa- Em 2002, o CNE aprovou a Resolução nº 1 (Brasil), contendo
bilidade de autorizar com validade limitada, avaliar e supervisionar as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas escolas do
as instituições de Educação Infantil. campo, que visam orientar a adequação do projeto institucional das
Paralelamente a esses esforços, o debate sobre o Plano Nacio- escolas do campo às várias diretrizes elaboradas no âmbito da edu-
nal de Educação (PNE) desenvolvia-se nas organizações da socie- cação básica. Essas diretrizes expressam uma concepção de respei-
dade civil e no Congresso Nacional. Antigo sonho dos Pioneiros da to às diferenças e consequente garantia do princípio da igualdade,
Educação de 1932, a definição de um plano que seja compromisso na medida em que visam ao acesso da população do campo à Edu-
de Estado, e não apenas de um governo, atende à necessidade de cação Básica e, por consequência à Educação Infantil. Reforçam a
conferir prioridade à educação, reconhecendo que os progressos qualificação mínima para a docência na Educação Infantil (curso de
nesse campo necessitam de esforços continuados e coordenados formação de professores em nível médio, na modalidade normal), o
que não alcançam seus resultados em prazo curto. detalhamento de tópicos específicos na formação dos professores
Para definir parâmetros de qualidade para a Educação Infantil, que atuam nas escolas do campo, a responsabilidade dos sistemas
não é suficiente consultar a legislação específica para essa etapa de referente à habilitação dos professores sem formação e o aperfei-
ensino, especialmente quando se trata de contemplar temas relati- çoamento permanente dos docentes, sua remuneração adequada e
vos à diversidade étnica, racial, de gênero ou as disparidades entre inclusão nos planos de carreira. Trata-se, portanto, de garantir uma
cidade e campo. As resoluções e os pareceres do CNE adquirem im- qualidade de atendimento escolar no campo equivalente à das ou-
portância relevante ao tocarem em matérias ainda não suficiente- tras localidades: diferente, porém não inferior.
mente esclarecidas pela legislação anterior aplicáveis à educação No que se refere à cultura afro-brasileira, mais recentemente
das crianças de 0 até 6 anos. a Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, modificou o texto da LDB
No que se refere às escolas indígenas, em 1999 o CNE elaborou para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatorieda-
o Parecer n.º 14/99 (Brasil) sobre Diretrizes Curriculares Nacionais de da temática História e Cultura Afro-Brasileira. O parágrafo 1º do
da Educação Escolar Indígena. Levando em consideração a neces- novo artigo 26-A define que a inclusão dessa temática visa resgatar
sidade de superar a longa história de imposição de modelos edu- “a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e polí-
cacionais estranhos à cultura dos povos indígenas e as aspirações tica pertinentes à história do Brasil”. O parágrafo seguinte explica
desses povos por uma educação que respeite e valorize suas iden- que os conteúdos “serão ministrados no âmbito de todo o currículo
tidades étnicas, essas diretrizes partem do artigo 210 § 2º da Cons- escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura
tituição, que diz: O ensino regular será ministrado em língua portu- e história brasileiras”.
guesa, assegurada às comunidades indígenas também a utilização Posteriormente, em março de 2004, o CNE aprovou as Diretri-
de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem. zes Curriculares Nacionais para a educação das relações étnico-ra-
A LDB reforça esse direito, definindo em seu artigo 78 que O ciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana
sistema de ensino da União, com a colaboração das agências fede- (Brasil). Em sua fundamentação, esse documento propõe que se
rais de fomento à cultura e de assistência aos índios, desenvolverá construam pedagogias de combate ao racismo e a discriminações.
programas integrantes de ensino e pesquisa para a oferta de educa- Suas recomendações estão organizadas nos seguintes princípios:
ção bilíngue intercultural aos povos indígenas. consciência política e histórica da diversidade; fortalecimento de
identidades e de direitos; ações educativas de combate ao racismo

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
e a discriminações. Essas diretrizes são especialmente importantes níveis da Federação. Tanto em relação ao acesso quanto em rela-
para os currículos dos cursos de formação de professores, mas tam- ção à qualidade do atendimento existente, a distância entre o que
bém apontam para questões que devem ser contempladas nas pro- a lei prescreve e as demandas sociais, de um lado, e a realidade
gramações e nas práticas educativas das instituições de Educação das redes e das instituições de educação infantil, de outro, ainda é
Infantil (Brasil). grande, especialmente para a faixa de 0 a 3 anos.
No que toca ao tema da igualdade de gênero, o documento Pla- Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
no Nacional de Políticas para as Mulheres (Brasil), elaborado pela e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aní-
Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, propõe em seu sio Teixeira (INEP) evidenciam o crescimento das matrículas nos
capítulo 2 a educação inclusiva e não sexista e como seu primeiro últimos anos no país, porém ainda longe de atingir a maioria das
objetivo “Incorporar a perspectiva de gênero, raça, etnia e orien- crianças entre 0 e 6 anos de idade. De acordo com o censo escolar,
tação sexual no processo educacional formal e informal”. Note-se no período de 2001 a 2003, a média anual de crescimento foi de
que, entre suas prioridades, o plano inclui a ampliação do acesso à 6,4% na creche e de 3,5% na pré-escola. Entretanto, de acordo com
Educação Infantil, pois a política de inclusão educacional deve tam- dados da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD) do Insti-
bém possibilitar melhores oportunidades de inserção igualitária no tuto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizada em 2003,
mercado de trabalho para mães e pais. apenas 37,7% do total de crianças com idade entre 0 até 6 anos fre-
No que diz respeito às ações mais recentes do MEC na perspec- quentam uma instituição de Educação Infantil ou de Ensino Funda-
tiva da qualidade na Educação Infantil, faz-se necessário citar não só mental. Esse percentual diminui para 11,7% quando consideramos
a realização dos seminários regionais Política Nacional de Educação apenas as crianças de 0 a 3 anos e aumenta para 68,44% quando
Infantil em Debate como os documentos reformulados a partir das
são consideradas as crianças de 4 a 6 anos de idade. Um estudo re-
discussões realizadas nesses eventos. Além do presente tema, fo-
alizado por Kappel, com os dados de 2001, mostra, no entanto, que
ram debatidos os seguintes documentos: Política Nacional de Edu-
quando essas porcentagens são examinadas por faixas de renda da
cação Infantil: pelo direito das crianças de 0 até 6 anos à educação
população, o acesso é tão maior quanto mais alta a renda familiar
(Brasil), Parâmetros Nacionais de infraestrutura para instituições
de Educação Infantil (Brasil) e Parâmetros Básicos de infraestrutura per capita; assim, enquanto 94,5% das crianças entre 4 e 6 anos de
para instituições de Educação Infantil (Brasil). O primeiro contém famílias com mais de três salários mínimos per capita frequentavam
diretrizes, objetivos, metas e estratégias para a área, o segundo e pré-escola, essa taxa era de apenas 57,4% dentre famílias de até
o terceiro apresentam alguns parâmetros básicos de infraestrutura meio salário mínimo per capita; na faixa de 0 a 3 anos, a diferença
para as instituições de Educação Infantil na perspectiva de subsi- encontrada foi de uma taxa de atendimento de 32,6% para o grupo
diar os sistemas de ensino em adaptações, reformas e construções de renda mais alta e apenas 7,3% para os mais pobres (Kappel).
de espaços de Educação Infantil. As sugestões apontadas não são Os dados examinados por essa autora também revelam outro
mandatórias, cabendo a cada sistema de ensino adequá-las à sua tipo de problema nas trajetórias educacionais das crianças: o da re-
realidade, respeitando as características da comunidade na qual a tenção de crianças em idade superior aos 6 anos em instituições de
instituição está ou será inserida. Essas ações inserem-se em um pro- Educação Infantil. Em 2001, o IBGE registrava um total de 627 mil
cesso coordenado pelo MEC de discussão das políticas educacionais crianças entre 7 e 9 anos de idade permanecendo na pré-escola
em parceria com os sistemas de ensino e a sociedade civil organiza- ou em classes de alfabetização e um total de 38 mil crianças com
da. Essas citações evidenciam o esforço que vem sendo realizado, mais de 9 anos na mesma situação. Ou seja, essas crianças encon-
no âmbito federal, desde a promulgação da Constituição, no senti- travam-se impedidas de iniciar sua escolaridade regular obrigatória,
do de definir uma nova legalidade para a educação da criança de 0 completamente fora dos parâmetros legais e, pode-se argumentar,
até 6 anos, no mesmo plano da importância conferida aos demais ocupando as vagas que poderiam estar sendo abertas para a faixa
níveis de ensino, o que tem sido especialmente inovador para a ins- etária adequada. Rosemberg já havia mostrado que 67,7% dessas
tituição creche, até então completamente à margem das análises crianças eram negras, segundo dados de 1995.
e das intervenções da área educacional. Importante também é o A questão inversa é a absorção das crianças com idade inferior
reconhecimento de que esses avanços não teriam ocorrido não fos- aos 6 anos no Ensino Fundamental. Embora a LDB permita a ma-
se a ampla mobilização social, desde os movimentos populares nos trícula das crianças a partir dos 6 anos na primeira série do Ensino
bairros, até as organizações de âmbito nacional, não só no campo Fundamental, dados de 2001 acusam a presença de 103 mil crian-
educacional, mas também nos movimentos pelos direitos das mu- ças de 6 anos matriculadas no Ensino Fundamental no Brasil, o que
lheres, dos negros e nos movimentos em defesa dos direitos das correspondia respectivamente a 25,4% e a 4,8% do total em cada
crianças e dos adolescentes.
faixa etária (Kappel).
Desde a década de 1990, os Fóruns de Educação Infantil es-
No que diz respeito à qualidade do atendimento existente, ao
palhados por diferentes estados brasileiros e, desde 1999 o Movi-
lado da preocupação do MEC e de grupos específicos ligados a uni-
mento Inter fóruns de Educação Infantil do Brasil (MIEIB) são movi-
versidades, a centros de pesquisa ou aos Fóruns de Educação Infan-
mentos da sociedade civil que promovem a mobilização da área da
Educação Infantil por todo o país, configurando-se como importan- til em melhorar os serviços oferecidos às crianças de 0 até 6 anos,
tes espaços de troca de experiências, debate, amadurecimento de temos ainda uma quantidade indefinida de instituições funcionan-
propostas e de vigilância democrática em defesa dos direitos adqui- do à margem dos sistemas educacionais, alheias aos mecanismos
ridos pelas crianças brasileiras. de supervisão e sequer identificadas nas estatísticas oficiais. Os da-
dos dos últimos censos escolares revelam que uma parte expressiva
Considerações Finais das instituições não conta com as condições mínimas de funciona-
mento definidas na legislação.
É importante destacar que se a Educação Infantil agora cons- As informações disponíveis mostram que a qualificação e a
titui a primeira etapa da Educação Básica, a ela se aplicam todos escolaridade dos professores são diferenciadas quando se trata
os princípios e diretrizes voltados para a educação de forma geral. de creches ou de pré-escolas. Enquanto na pré-escola tínhamos,
Traduzir os princípios legais em transformações na realidade da no ano de 2004, 62,6% das funções docentes no Brasil com nível
educação no país torna-se um desafio a ser superado por todos os médio e 35% com nível superior, na creche, tínhamos 68,9% com

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
nível médio e 23,8% com nível superior (Brasil). Se considerarmos Todo projeto supõe rupturas com o presente e promessas para
que dentre essas instituições que funcionam à margem dos siste- o futuro.
mas educacionais há algumas que sequer participam dos dados es- Nessa perspectiva, o projeto político-pedagógico vai além de
tatísticos, não respondendo ao Censo Escolar, concluiremos que o um simples agrupamento de planos de ensino e de atividades di-
contingente de funções preenchidas por pessoal não habilitado é versas. Ele é construído e vivenciado em todos os momentos, por
bem maior. todos os envolvidos com o processo educativo da escola.
O presente texto pretendeu abordar alguns aspectos relevan- O projeto busca um rumo, uma direção. É uma ação intencional,
tes para a definição de parâmetros de qualidade para a Educação com um sentido explícito, com um compromisso definido coletiva-
Infantil no Brasil. A análise da concepção de criança, de pedagogia mente. Por isso, todo projeto pedagógico da escola é, também, um
da Educação Infantil e da trajetória histórica do debate da qualidade projeto político por estar intimamente articulado ao compromisso
da Educação Infantil, a consideração de alguns dados de pesquisas sociopolítico com os interesses reais e coletivos da população ma-
recentes realizadas dentro e fora de nosso país, os desdobramen- joritária. É político no sentido de compromisso com a formação do
tos previstos na legislação nacional para a área e o evidenciar de cidadão para um tipo de sociedade. “A dimensão política se cumpre
contradições a serem superadas subsidiam a definição desses parâ- na medida em que ela se realiza enquanto prática especificamente
metros. Apresentados no volume II da presente publicação e parte pedagógica” (Saviani 1983, p. 93). Na dimensão pedagógica reside
integrante dele, os Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Edu- a possibilidade da efetivação da intencionalidade da escola, que é
cação Infantil para os sistemas educacionais deverão contemplar a formação do cidadão participativo, responsável, compromissado,
aspectos unanimemente apontados como relevantes para a melho- crítico e criativo. Pedagógico, no sentido de definir as ações educa-
ria permanente da qualidade do atendimento às crianças, a saber: tivas e as características necessárias às escolas de cumprirem seus
- as políticas para a Educação Infantil, sua implementação e propósitos e sua intencionalidade.
acompanhamento;
- as propostas pedagógicas das instituições de Educação Infan- Político e pedagógico têm assim uma significação indissociável.
til;
- a relação estabelecida com as famílias das crianças; O projeto político-pedagógico, ao se constituir em processo
- a formação regular e continuada dos professores e demais democrático de decisões, preocupa-se em instaurar uma forma de
profissionais;
organização do trabalho pedagógico que supere os conflitos, bus-
- a infraestrutura necessária ao funcionamento dessas institui-
cando eliminar as relações competitivas, corporativas e autoritá-
ções.
rias, rompendo com a rotina do mando impessoal e racionalizado
da burocracia que permeia as relações no interior da escola, dimi-
nuindo os efeitos fragmentários da divisão do trabalho que reforça
PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO: FUNDAMENTOS as diferenças e hierarquiza os poderes de decisão. Desse modo, o
PARA A ORIENTAÇÃO, PLANEJAMENTO E IMPLEMEN- projeto político-pedagógico tem a ver com a organização do traba-
TAÇÃO DE AÇÕES VOLTADAS AO DESENVOLVIMENTO
lho pedagógico em dois níveis: como organização da escola como
HUMANO PLENO, TOMANDO COMO FOCO O PROCES-
um todo e como organização da sala de aula, incluindo sua relação
SO ENSINO-APRENDIZAGEM
com o contexto social imediato, procurando preservar a visão de
Projeto político-pedagógico totalidade.
A principal possibilidade de construção do projeto político-pe-
O projeto político-pedagógico tem sido objeto de estudos para dagógico passa pela relativa autonomia da escola, de sua capaci-
professores, pesquisadores e instituições educacionais em nível na- dade de delinear sua própria identidade. Isto significa resgatar a
cional, estadual e municipal, em busca da melhoria da qualidade escola como espaço público, lugar de debate, do diálogo, fundado
do ensino. na reflexão coletiva. Portanto, é preciso entender que o projeto po-
O presente estudo tem a intenção de refletir acerca da cons- lítico-pedagógico da escola dará indicações necessárias à organiza-
trução do projeto político -pedagógico, entendido como a própria ção do trabalho pedagógico, que inclui o trabalho do professor na
organização do trabalho pedagógico da escola como um todo. dinâmica interna da sala de aula, ressaltado anteriormente.
A escola é o lugar de concepção, realização e avaliação de seu Buscar uma nova organização para a escola constitui uma ousa-
projeto educativo, uma vez que necessita organizar seu trabalho dia para os educadores, pais, alunos e funcionários.
pedagógico com base em seus alunos. Nessa perspectiva, é funda- E para enfrentarmos essa ousadia, necessitamos de um refe-
mental que ela assuma suas responsabilidades, sem esperar que as rencial que fundamente a construção do projeto político-pedagó-
esferas administrativas superiores tomem essa iniciativa, mas que gico. A questão é, pois, saber a qual referencial temos que recorrer
lhe dêem as condições necessárias para levá-la adiante. Para tanto, para a compreensão de nossa prática pedagógica. Nesse sentido,
é importante que se fortaleçam as relações entre escola e sistema temos que nos alicerçar nos pressupostos de uma teoria pedagógi-
de ensino. ca crítica viável, que parta da prática social e esteja compromissada
Para isso, começaremos, na primeira parte, conceituando pro- em solucionar os problemas da educação e do ensino de nossa es-
jeto político-pedagógico. Em seguida, na segunda parte, trataremos cola. Uma teoria que subsidie o projeto político-pedagógico e, por
de trazer nossas reflexões para a análise dos princípios norteadores. sua vez, a prática pedagógica que ali se processa deve estar ligada
Finalizaremos discutindo os elementos básicos, da Organização do aos interesses da maioria da população.
trabalho pedagógico, necessários à construção do projeto político- Faz-se necessário, também, o domínio das bases teórico-meto-
-pedagógico. dológicas indispensáveis à concretização das concepções assumidas
Ao construirmos os projetos de nossas escolas, planejamos o coletivamente. Mais do que isso, afirma Freitas que: As novas for-
que temos intenção de fazer, de realizar. Lançamo-nos para diante, mas têm que ser pensadas em um contexto de luta, de correlações
com base no que temos, buscando o possível. É antever um futuro de força – às vezes favoráveis, às vezes desfavoráveis.
diferente do presente. Nas palavras de Gadotti:

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
Em outras palavras, as escolas necessitam receber assistência c) Gestão democrática um princípio consagrado pela Consti-
técnica e financeira decidida em conjunto com as instâncias supe- tuição vigente e abrange as dimensões pedagógica, administrativa
riores do sistema de ensino. Isso pode exigir, também, mudanças na e financeira.
própria lógica de organização das instâncias superiores, implicando Ela exige uma ruptura histórica na prática administrativa da es-
uma mudança substancial na sua prática. cola, com o enfrentamento das questões de exclusão e reprovação
Para que a construção do projeto político-pedagógico seja pos- e da não - permanência do aluno na sala de aula, o que vem provo-
sível não é necessário convencer os professores, a equipe escolar e cando a marginalização das classes populares.
os funcionários a trabalhar mais, ou mobilizá-los de forma espontâ- Esse compromisso implica a construção coletiva de um pro-
nea, mas propiciar situações que lhes permitam aprender a pensar jeto político-pedagógico ligado à educação das classes populares.
e a realizar o fazer pedagógico de forma coerente. A gestão democrática exige a compreensão em profundidade dos
O ponto que nos interessa reforçar é que a escola não tem mais problemas postos pela prática pedagógica. Ela visa romper com a
possibilidade de ser dirigida de cima para baixo e na ótica do poder separação entre concepção e execução, entre o pensar e o fazer,
centralizador que dita as normas e exerce o controle técnico buro- entre teoria e prática. Busca resgatar o controle do processo e do
crático. produto do trabalho pelos educadores.
A luta da escola é para a descentralização em busca de sua A gestão democrática implica principalmente o repensar da
autonomia e qualidade. Do exposto, o projeto político-pedagógico estrutura de poder da escola, tendo em vista sua socialização. A
não visa simplesmente a um rearranjo formal da escola, mas a uma socialização do poder propicia a prática da participação coletiva,
que atenua o individualismo; da reciprocidade, que elimina a ex-
qualidade em todo o processo vivido. Vale acrescentar, ainda, que
ploração; da solidariedade, que supera a opressão; da autonomia,
a organização do trabalho pedagógico da escola tem a ver com a
que anula a dependência de órgãos intermediários que elaboram
organização da sociedade. A escola nessa perspectiva é vista como
políticas educacionais das quais a escola é mera executora.
uma instituição social, inserida na sociedade capitalista, que reflete
d) Liberdade é outro princípio constitucional. O princípio da
no seu interior as determinações e contradições dessa sociedade. liberdade está sempre associado à ideia de autonomia. O que é ne-
cessário, portanto, como ponto de partida, é o resgate do sentido
Princípios norteadores do projeto político pedagógico dos conceitos de autonomia e liberdade. A autonomia e a liberdade
fazem parte da própria natureza do ato pedagógico. O significado
A abordagem do projeto político-pedagógico, como organiza- de autonomia remete-nos para regras e orientações criadas pelos
ção do trabalho da escola como um todo, está fundada nos princí- próprios sujeitos da ação educativa, sem imposições externas. Para
pios que deverão nortear a escola democrática, pública e gratuita: Rios (1982, p. 77), a escola tem uma autonomia relativa e a liberda-
de é algo que se experimenta em situação e esta é uma articulação
a) Igualdade de condições para acesso e permanência na es- de limites e possibilidades. Para a autora, a liberdade é uma experi-
cola. Saviani alerta-nos para o fato de que há uma desigualdade no ência de educadores e constrói-se na vivência coletiva, interpesso-
ponto de partida, mas a igualdade no ponto de chegada deve ser al. Portanto, “somos livres com os outros, não, apesar dos outros”
garantida pela mediação da escola. O autor destaca: Portanto, só (grifos da autora) (1982, p. 77). Se pensamos na liberdade na esco-
é possível considerar o processo educativo em seu conjunto sob a la, devemos pensá-la na relação entre administradores, professo-
condição de se distinguir a democracia como possibilidade no pon- res, funcionários e alunos que aí assumem sua parte de responsa-
to de partida e democracia como realidade no ponto de chegada. bilidade na construção do projeto político-pedagógico e na relação
(1982, p. 63) destes com o contexto social mais amplo.
Igualdade de oportunidades requer, portanto, mais que a ex- e) Valorização do magistério é um princípio central na discus-
pansão quantitativa de ofertas; requer ampliação do atendimento são do projeto político-pedagógico. A qualidade do ensino minis-
com simultânea manutenção de qualidade. trado na escola e seu sucesso na tarefa de formar cidadãos capazes
b) Qualidade que não pode ser privilégio de minorias econômi- de participar da vida socioeconômica, política e cultural do país re-
cas e sociais. O desafio que se coloca ao projeto político-pedagógico lacionam-se estreitamente a formação (inicial e continuada), con-
da escola é o de propiciar uma qualidade para todos. dições de trabalho (recursos didáticos, recursos físicos e materiais,
A qualidade que se busca implica duas dimensões indissociá- dedicação integral à escola, redução do número de alunos na sala
veis: a formal ou técnica e a política. Uma não está subordinada à de aula etc.), remuneração, elementos esses indispensáveis à pro-
fissionalização do magistério.
outra; cada uma delas tem perspectivas próprias.
A melhoria da qualidade da formação profissional e a valori-
A primeira enfatiza os instrumentos e os métodos, a técnica.
zação do trabalho pedagógico requerem a articulação entre insti-
A qualidade formal não está afeita, necessariamente, a conteúdos
tuições formadoras, no caso as instituições de ensino superior e a
determinados. Demo afirma que a qualidade formal: “(...) significa a
Escola Normal, e as agências empregadoras, ou seja, a própria rede
habilidade de manejar meios, instrumentos, formas, técnicas, pro- de ensino. A formação profissional implica, também, a indissociabi-
cedimentos diante dos desafios do desenvolvimento” (1994, p. 14). lidade entre a formação inicial e a formação continuada.
A qualidade política é condição imprescindível da participação. O reforço à valorização dos profissionais da educação, garan-
Está voltada para os fins, valores e conteúdos. Quer dizer “a compe- tindo-lhes o direito ao aperfeiçoamento profissional permanente,
tência humana do sujeito em termos de se fazer e de fazer história, significa “valorizar a experiência e o conhecimento que os professo-
diante dos fins históricos da sociedade humana” (Demo 1994, p. res têm a partir de sua prática pedagógica” (Veiga e Carvalho 1994,
14). p. 51).
A formação continuada é um direito de todos os profissionais
Competência dos meios. que trabalham na escola, uma vez que não só ela possibilita a pro-
gressão funcional baseada na titulação, na qualificação e na compe-
A escola de qualidade tem obrigação de evitar de todas as ma- tência dos profissionais, mas também propicia, fundamentalmente,
neiras possíveis a repetência e a evasão. Tem que garantir a meta o desenvolvimento profissional dos professores articulado com as
qualitativa do desempenho satisfatório de todos. escolas e seus projetos.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
Construindo o projeto político pedagógico Os professores são os intelectuais e mediadores, interpretes
ativos da cultura, dos valores e do saber em transformação. Se não
O projeto político-pedagógico é entendido, neste estudo, como se perceberem como depositários da tradição ou percursos do fu-
a própria organização do trabalho pedagógico da escola. A cons- turo, não serão desempenhar esse papel por si mesmos. O currículo
trução do projeto político-pedagógico parte dos princípios de igual- deve ser orientado para se designar competências, a capacidade
dade, qualidade, liberdade, gestão democrática e valorização do de mobilizar diversos recursos cognitivos (saberes, capacidades, in-
magistério. A escola é concebida como espaço social marcado pela formações, etc.) para enfrentar, solucionar uma serie de situações.
manifestação de práticas contraditórias, que apontam para a luta e/ Dez domínios de competências reconhecidas como prioritárias na
ou acomodação de todos os envolvidos na organização do trabalho formação contínua das professoras e dos professores do ensino fun-
pedagógico. damental.
O que pretendemos enfatizar é que devemos analisar e com-
preender a organização do trabalho pedagógico, no sentido de se 1. Organizar e dirigir situações de aprendizagem.
gestar uma nova organização que reduza os efeitos de sua divisão - Conhecer, para determinada disciplina, os conteúdos a serem
do trabalho, de sua fragmentação e do controle hierárquico. Nessa ensinados e sua tradução em objetivos de aprendizagem: nos está-
perspectiva, a construção do projeto político-pedagógico é um ins- gios de planejamento didático, da analise posterior e da avaliação.
trumento de luta, é uma forma de contrapor-se à fragmentação do - Trabalhar a partir das representações dos alunos: consideran-
trabalho pedagógico e sua rotinização, à dependência e aos efeitos do o conhecimento do aluno, colocando-se no lugar do aprendiz,
negativos do poder autoritário e centralizador dos órgãos da admi- utilizando se de uma competência didática para dialogar com ele
nistração central.
e fazer com que suas concepções se aproxime dos conhecimentos
Pelo menos sete elementos básicos podem ser apontados como
científicos;
eixos norteadores desse projeto: as finalidades da escola, a estrutu-
- Trabalhar a partir dos erros e dos obstáculos à aprendizagem:
ra organizacional, o currículo, o tempo escolar, o processo de deci-
usando de uma situação-problema ara transposição didática, consi-
são, as relações de trabalho, a avaliação.
derando o erro, como ferramenta para o ensino.
Finalidades - Construir e planejar dispositivos e sequências didáticas;
- Envolver os alunos em atividades de pesquisa, em projetos de
A escola persegue finalidades. É importante ressaltar que os conhecimento.
educadores precisam ter clareza das finalidades de sua escola. Para
tanto, há necessidade de se refletir sobre a ação educativa que a 2. Administrar a progressão das aprendizagens.
escola desenvolve com base nas finalidades e nos objetivos que ela - Conceber e administrar situações-problema ajustadas ao ní-
define. As finalidades da escola referem-se aos efeitos intencional- vel e as possibilidades dos alunos: em torno da resolução de um
mente pretendidos e almejados (Alves 1992, p. 19). obstáculo pela classe, propiciando reflexões, desafios, intelectuais,
conflitos sociocognitivos;
- Adquirir uma visão longitudinal dos objetivos do ensino: do-
PUBLICAÇÕES DO MEC PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA E minar a formação do ciclo de aprendizagem, as fases do conheci-
EDUCAÇÃO ESPECIAL, DISPONÍVEL EM: HTTP://POR- mento e do desenvolvimento intelectual da criança e do adoles-
TAL.MEC.GOV.BR cente, além do sentimento de responsabilidade do professor pleno
conjunto da formação do ensino fundamental;
Prezado Candidato, devido ao formato do material, disponibili- - Estabelecer laços com as teorias subjacentes às atividades de
zaremos o conteúdo para consulta em no site eletrônico, conforme aprendizagens;
segue: http://portal.mec.gov.br - Observar e avaliar os alunos em situações de aprendizagens;
- Fazer balanços periódicos de competências e tomar decisões
TENDÊNCIAS EDUCACIONAIS NA SALA DE AULA: COR- de progressão;
RENTES TEÓRICAS E ALTERNATIVAS METODOLÓGICAS - Rumar a ciclos de aprendizagem: interagir grupos de alunos e
E dispositivos de ensino-aprendizagem.

3. Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação.


Tendências pedagógicas e o
- Administrar a heterogeneidade no âmbito de uma turma, com
pensamento pedagógico brasileiro
o propósito de grupos de necessidades, de projetos e não de homo-
geneidade;
O ofício de professor deve consagrar temas como a prática
- Abrir, ampliar a gestão de classe para um espaço mais vasto,
educativa, a profissionalização docente, o trabalho em equipe, pro-
jetos, autonomia e responsabilidades crescentes, pedagogias dife- organizar para facilitar a cooperação e a geração de grupos utilida-
renciadas, e propostas concretas. O autor toma como referencial des;
de competência adotado em Genebra, 1996, para uma formação - Fornecer apoio integrado, trabalhar com alunos portadores
continua. O professor deve dominar saberes a ser ensinado, ser ca- de grandes dificuldades, sem todavia, transforma-se num psicote-
paz de dar aulas, de administrar uma turma e de avaliar. Ressalta a rapeuta;
urgência de novas competências, devido às transformações sociais - Desenvolver a cooperação entre os alunos e certas formas
existentes. As tecnologias mudam o trabalho, a comunicação, a vida simples de ensino mútuo, provocando aprendizagens através de
cotidiana e mesmo o pensamento. A prática docência tem que re- ações coletivas, criando uma cultura de cooperação através de ati-
fletir sobre o mundo. tudes e da reflexão sobre a experiência.

58
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
4. Envolver os alunos em sua aprendizagem e em seu traba- - Desenvolver o senso de responsabilidade, a solidariedade e o
lho. sentimento de justiça.
- Suscitar o desejo de aprender, explicitar a relação com o sa-
ber, o sentido do trabalho escolar e desenvolver na criança a capa- 10. Administrar sua própria formação contínua.
cidade de auto avaliação. O professor deve ter em mente o que é - Saber explicitar as próprias práticas;
ensinar, reforçar a decisão de aprender, estimular o desejo de saber, - Estabelecer seu próprio balanço de competência e seu pro-
instituindo um conselho de alunos e negociar regras e contratos; grama pessoa de formação contínua;
- Oferecer atividades opcionais de formação, à la carte; - Negociar um projeto de formação comum com os colegas
- Favorecer a definição de um projeto pessoal do aluno, valori- (equipe, escola, rede);
zando-os e reforçando-os a incitar o aluno a realizar projetos pesso- - Envolver-se em tarefas em escala de uma ordem de ensino ou
ais, sem retornar isso um pré-requisito. do sistema educativo;
- Acolher a formação dos colegas e participar dela.
5. Trabalhar em equipe.
- Elaborar um projeto de equipe, representações comuns; Conclusão: Contribuir para o debate sobe a sua profissionaliza-
- Dirigir um grupo de trabalho, conduzir reuniões; ção, com responsabilidade numa formação continua.6
- Formar e renovar uma equipe pedagógica;
- Enfrentar e analisar em conjunto situações complexas, práti- Sabe-se que a prática escolar está sujeita a condicionantes de
cas e problemas profissionais. ordem sociopolítica que implicam diferentes concepções de ho-
- Administrar crises ou conflitos interpessoais. mem e de sociedade e, consequentemente, diferentes pressupos-
tos sobre o papel da escola e da aprendizagem, inter alia. Assim,
6. Participar da administração da escola. justifica-se o presente estudo, tendo em vista que o modo como os
- Elaborar, negociar um projeto da instituição; professores realizam o seu trabalho na escola tem a ver com esses
- Administrar os recursos da escola; pressupostos teóricos, explícita ou implicitamente.
- Coordenar, dirigir uma escola com todos os seus parceiros
(serviços para escolares, bairro, associações de pais, professores de O objetivo deste artigo é verificar os pressupostos de apren-
línguas e cultura de origem); dizagem empregados pelas diferentes tendências pedagógicas na
- Organizar e fazer evoluir, no âmbito da escola, a participação prática escolar brasileira, numa tentativa de contribuir, teoricamen-
dos alunos. te, para a formação continuada de professores.
Sabe-se que a prática escolar está sujeita a condicionantes de
7. Informar e envolver os pais. ordem sociopolítica que implicam diferentes concepções de ho-
- Dirigir reuniões de informação e de debate; mem e de sociedade e, consequentemente, diferentes pressupos-
- Fazer entrevistas; tos sobre o papel da escola e da aprendizagem, inter alia. Assim,
- Envolver os pais na construção dos saberes. justifica-se o presente estudo, tendo em vista que o modo como os
professores realizam o seu trabalho na escola tem a ver com esses
8. Utilizar novas tecnologias. pressupostos teóricos, explícita ou implicitamente.
As novas tecnologias da informação e da comunicação trans-
formam as maneiras de se comunicar, de trabalhar, de decidir e de Tendências Pedagógicas Liberais
pensar. O professor predica usar editores de textos, explorando di-
dáticas e programas com objetivos educacionais. Segundo LIBÂNEO (1990), a pedagogia liberal sustenta a ideia
- Discutir a questão da informática na escola; de que a escola tem por função preparar os indivíduos para o de-
- Utilizar editores de texto; sempenho de papéis sociais, de acordo com as aptidões individuais.
- Explorar as potencialidades didáticas dos programas em rela- Isso pressupõe que o indivíduo precisa adaptar-se aos valores e nor-
ção aos objetivos do ensino; mas vigentes na sociedade de classe, através do desenvolvimento
- Comunicar-se à distância por meio da telemática; da cultura individual. Devido a essa ênfase no aspecto cultural, as
- Utilizar as ferramentas multimídia no ensino. diferenças entre as classes sociais não são consideradas, pois, em-
bora a escola passe a difundir a ideia de igualdade de oportunida-
Assim, quanto à oitava competência de Perrenoud, que traba- des, não leva em conta a desigualdade de condições.
lhos nessa pesquisa, a Informática na Educação, nos fez perceber
que cada vez mais precisamos do computador, porque estamos na Tendência Liberal Tradicional
era da informatização e por isso é primordial que nós profissionais
da educação estejamos modernizados e acompanhando essa ten- Segundo esse quadro teórico, a tendência liberal tradicional se
dência, visto que assim como um simples pagamento no banco, caracteriza por acentuar o ensino humanístico, de cultura geral. De
utilizamos o computador , para estarmos atualizados necessitamos acordo com essa escola tradicional, o aluno é educado para atingir
obter mais esta competência para se fazer uma docência de quali- sua plena realização através de seu próprio esforço. Sendo assim,
dade. as diferenças de classe social não são consideradas e toda a prática
escolar não tem nenhuma relação com o cotidiano do aluno.
9. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão. Quanto aos pressupostos de aprendizagem, a ideia de que o
- Prevenir a violência na escola e fora dela; ensino consiste em repassar os conhecimentos para o espírito da
- Lutar contra os preconceitos e as discriminações sexuais, ét- criança é acompanhada de outra: a de que a capacidade de assimi-
nicas e sociais; lação da criança é idêntica à do adulto, sem levar em conta as carac-
- Participar da criação de regras de vida comum referente á dis- terísticas próprias de cada idade. A criança é vista, assim, como um
ciplina na escola, às sanções e à apreciação da conduta; adulto em miniatura, apenas menos desenvolvida.
- Analisar a relação pedagógica, a autoridade, a comunicação 6 Fonte: Perrenoud, Philippe. 10 Novas Competências para Ensinar.
em aula; Porto Alegre: ARTMED, 2000. Reimpressão 2008

59
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
No ensino da língua portuguesa, parte-se da concepção que Tendência Liberal Tecnicista
considera a linguagem como expressão do pensamento. Os segui-
dores dessa corrente linguística, em razão disso, preocupam-se com A escola liberal tecnicista atua no aperfeiçoamento da ordem
a organização lógica do pensamento, o que presume a necessidade social vigente (o sistema capitalista), articulando-se diretamente
de regras do bem falar e do bem escrever. Segundo essa concepção com o sistema produtivo; para tanto, emprega a ciência da mudan-
de linguagem, a Gramática Tradicional ou Normativa se constitui ça de comportamento, ou seja, a tecnologia comportamental. Seu
no núcleo dessa visão do ensino da língua, pois vê nessa gramática interesse principal é, portanto, produzir indivíduos “competentes”
uma perspectiva de normatização linguística, tomando como mo- para o mercado de trabalho, não se preocupando com as mudanças
delo de norma culta as obras dos nossos grandes escritores clássi- sociais.
cos. Portanto, saber gramática, teoria gramatical, é a garantia de se Conforme MATUI (1988), a escola tecnicista, baseada na teo-
chegar ao domínio da língua oral ou escrita. ria de aprendizagem S-R, vê o aluno como depositário passivo dos
Assim, predomina, nessa tendência tradicional, o ensino da conhecimentos, que devem ser acumulados na mente através de
gramática pela gramática, com ênfase nos exercícios repetitivos associações. Skinner foi o expoente principal dessa corrente psico-
e de recapitulação da matéria, exigindo uma atitude receptiva e lógica, também conhecida como behaviorista. Segundo RICHTER
mecânica do aluno. Os conteúdos são organizados pelo professor, (2000), a visão behaviorista acredita que adquirimos uma língua por
numa sequencia lógica, e a avaliação é realizada através de provas meio de imitação e formação de hábitos, por isso a ênfase na repe-
escritas e exercícios de casa. tição, nos drills, na instrução programada, para que o aluno forme
“hábitos” do uso correto da linguagem.
Tendência Liberal Renovada Progressivista A partir da Reforma do Ensino, com a Lei 5.692/71, que implan-
tou a escola tecnicista no Brasil, preponderaram as influências do
Segundo essa perspectiva teórica de Libâneo, a tendência libe- estruturalismo linguístico e a concepção de linguagem como ins-
ral renovada (ou pragmatista) acentua o sentido da cultura como trumento de comunicação. A língua – como diz TRAVAGLIA (1998)
desenvolvimento das aptidões individuais. – é vista como um código, ou seja, um conjunto de signos que se
A escola continua, dessa forma, a preparar o aluno para assu- combinam segundo regras e que é capaz de transmitir uma mensa-
mir seu papel na sociedade, adaptando as necessidades do edu- gem, informações de um emissor a um receptor. Portanto, para os
cando ao meio social, por isso ela deve imitar a vida. Se, na ten- estruturalistas, saber a língua é, sobretudo, dominar o código.
dência liberal tradicional, a atividade pedagógica estava centrada No ensino da Língua Portuguesa, segundo essa concepção de
no professor, na escola renovada progressivista, defende-se a ideia linguagem, o trabalho com as estruturas linguísticas, separadas do
de “aprender fazendo”, portanto centrada no aluno, valorizando homem no seu contexto social, é visto como possibilidade de de-
as tentativas experimentais, a pesquisa, a descoberta, o estudo do senvolver a expressão oral e escrita. A tendência tecnicista é, de
meio natural e social, etc, levando em conta os interesses do aluno. certa forma, uma modernização da escola tradicional e, apesar das
contribuições teóricas do estruturalismo, não conseguiu superar os
equívocos apresentados pelo ensino da língua centrado na gramá-
Como pressupostos de aprendizagem, aprender se torna uma
tica normativa. Em parte, esses problemas ocorreram devido às di-
atividade de descoberta, é uma autoaprendizagem, sendo o am-
ficuldades de o professor assimilar as novas teorias sobre o ensino
biente apenas um meio estimulador. Só é retido aquilo que se in-
da língua materna.
corpora à atividade do aluno, através da descoberta pessoal; o que
é incorporado passa a compor a estrutura cognitiva para ser em-
Tendências Pedagógicas Progressistas
pregado em novas situações. É a tomada de consciência, segundo
Piaget.
Segundo Libâneo, a pedagogia progressista designa as tendên-
No ensino da língua, essas ideias escolanovistas não trouxeram cias que, partindo de uma análise crítica das realidades sociais, sus-
maiores consequências, pois esbarraram na prática da tendência tentam implicitamente as finalidades sociopolíticas da educação.
liberal tradicional.
Tendência Progressista Libertadora
Tendência Liberal Renovada Não-Diretiva
As tendências progressistas libertadoras e libertárias têm, em
Acentua-se, nessa tendência, o papel da escola na formação comum, a defesa da autogestão pedagógica e o antiautoritarismo.
de atitudes, razão pela qual deve estar mais preocupada com os A escola libertadora, também conhecida como a pedagogia de Pau-
problemas psicológicos do que com os pedagógicos ou sociais. Todo lo Freire, vincula a educação à luta e organização de classe do opri-
o esforço deve visar a uma mudança dentro do indivíduo, ou seja, a mido. Segundo GADOTTI (1988), Paulo Freire não considera o papel
uma adequação pessoal às solicitações do ambiente. informativo, o ato de conhecimento na relação educativa, mas in-
Aprender é modificar suas próprias percepções. Apenas se siste que o conhecimento não é suficiente se, ao lado e junto deste,
aprende o que estiver significativamente relacionado com essas não se elabora uma nova teoria do conhecimento e se os oprimi-
percepções. A retenção se dá pela relevância do aprendido em re- dos não podem adquirir uma nova estrutura do conhecimento que
lação ao “eu”, o que torna a avaliação escolar sem sentido, privile- lhes permita reelaborar e reordenar seus próprios conhecimentos e
giando-se a auto-avaliação. Trata-se de um ensino centrado no alu- apropriar-se de outros.
no, sendo o professor apenas um facilitador. No ensino da língua,
tal como ocorreu com a corrente pragmatista, as ideias da escola Assim, para Paulo Freire, no contexto da luta de classes, o saber
renovada não-diretiva, embora muito difundidas, encontraram, mais importante para o oprimido é a descoberta da sua situação de
também, uma barreira na prática da tendência liberal tradicional. oprimido, a condição para se libertar da exploração política e eco-
nômica, através da elaboração da consciência crítica passo a passo
com sua organização de classe. Por isso, a pedagogia libertadora
ultrapassa os limites da pedagogia, situando-se também no campo
da economia, da política e das ciências sociais, conforme Gadotti.

60
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
Como pressuposto de aprendizagem, a força motivadora deve Será mesmo importante que nós, profissionais da educação,
decorrer da codificação de uma situação-problema que será anali- acompanhemos toda essa discussão e nela nos envolvamos? Não
sada criticamente, envolvendo o exercício da abstração, pelo qual será suficiente deixarmos que as autoridades competentes tomem
se procura alcançar, por meio de representações da realidade con- as devidas decisões sobre o que deve ser ensinado nas salas de
creta, a razão de ser dos fatos. Assim, como afirma Libâneo, apren- aula?
der é um ato de conhecimento da realidade concreta, isto é, da Para examinarmos possíveis respostas a essas perguntas, tal-
situação real vivida pelo educando, e só tem sentido se resulta de vez seja necessário esclarecer o que estamos entendendo pela pa-
uma aproximação crítica dessa realidade. Portanto o conhecimento lavra currículo, tão familiar a todos que trabalhamos nas escolas
que o educando transfere representa uma resposta à situação de e nos sistemas educacionais. Por causa dessa familiaridade, talvez
opressão a que se chega pelo processo de compreensão, reflexão não dediquemos muito tempo a refletir sobre o sentido do termo,
e crítica. bastante freqüente em conversas nas escolas, palestras a que assis-
timos, textos acadêmicos, notícias em jornais, discursos de nossas
No ensino da Leitura, Paulo Freire, numa entrevista, sinteti- autoridades e propostas curriculares oficiais.
za sua ideia de dialogismo: “Eu vou ao texto carinhosamente. De À palavra currículo associam-se distintas concepções, que deri-
modo geral, simbolicamente, eu puxo uma cadeira e convido o au- vam dos diversos modos de como a educação é concebida historica-
tor, não importa qual, a travar um diálogo comigo”. mente, bem como das influências teóricas que a afetam e se fazem
hegemônicas em um dado momento. Diferentes fatores sócio-eco-
Tendência Progressista Libertária nômicos, políticos e culturais contribuem, assim, para que currículo
venha a ser entendido como:
A escola progressista libertária parte do pressuposto de que (a) os conteúdos a serem ensinados e aprendidos;
somente o vivido pelo educando é incorporado e utilizado em si- (b) as experiências de aprendizagem escolares a serem vividas
tuações novas, por isso o saber sistematizado só terá relevância se pelos alunos;
for possível seu uso prático. A ênfase na aprendizagem informal via (c) os planos pedagógicos elaborados por professores, escolas
grupo, e a negação de toda forma de repressão, visam a favorecer o e sistemas educacionais;
desenvolvimento de pessoas mais livres. No ensino da língua, pro- (d) os objetivos a serem alcançados por meio do processo de
cura valorizar o texto produzido pelo aluno, além da negociação de ensino;
sentidos na leitura. (e) os processos de avaliação que terminam por influir nos con-
teúdos e nos procedimentos selecionados nos diferentes graus da
Tendência Progressista Crítico-Social Dos Conteúdos escolarização.
Sem pretender considerar qualquer uma dessas ou de outras
Conforme Libâneo, a tendência progressista crítico-social dos concepções como certa ou como errada, já que elas refletem varia-
conteúdos, diferentemente da libertadora e libertária, acentua a dos posicionamentos, compromissos e pontos de vista teóricos, po-
primazia dos conteúdos no seu confronto com as realidades sociais. demos afirmar que as discussões sobre o currículo incorporam, com
A atuação da escola consiste na preparação do aluno para o mundo maior ou menor ênfase, discussões sobre os conhecimentos esco-
adulto e suas contradições, fornecendo-lhe um instrumental, por lares, sobre os procedimentos e as relações sociais que conformam
meio da aquisição de conteúdos e da socialização, para uma partici- o cenário em que os conhecimentos se ensinam e se aprendem, so-
pação organizada e ativa na democratização da sociedade. bre as transformações que desejamos efetuar nos alunos e alunas,
Na visão da pedagogia dos conteúdos, admite-se o princípio sobre os valores que desejamos inculcar e sobre as identidades que
da aprendizagem significativa, partindo do que o aluno já sabe. A pretendemos construir. Discussões sobre conhecimento, verdade,
transferência da aprendizagem só se realiza no momento da sín- poder e identidade marcam, invariavelmente, as discussões sobre
tese, isto é, quando o aluno supera sua visão parcial e confusa e questões curriculares (Silva, 1999a).
adquire uma visão mais clara e unificadora. Como estamos concebendo, então, a palavra currículo neste
Tendências Pedagógicas Pós-LDB 9.394/96 texto? Procurando resumir os aspectos acima mencionados, esta-
mos entendendo currículo como as experiências escolares que se
Após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de n.º desdobram em torno do conhecimento, em meio a relações sociais,
9.394/96, revalorizam-se as ideias de Piaget, Vygotsky e Wallon. Um e que contribuem para a construção das identidades de nossos/as
dos pontos em comum entre esses psicólogos é o fato de serem estudantes. Currículo associa-se, assim, ao conjunto de esforços pe-
interacionistas, porque concebem o conhecimento como resultado dagógicos desenvolvidos com intenções educativas.
da ação que se passa entre o sujeito e um objeto. De acordo com Por esse motivo, a palavra tem sido usada para todo e qualquer
Aranha (1998), o conhecimento não está, então, no sujeito, como espaço organizado para afetar e educar pessoas, o que explica o uso
queriam os inatistas, nem no objeto, como diziam os empiristas, de expressões como o currículo da mídia, o currículo da prisão etc.
mas resulta da interação entre ambos. Nós, contudo, estamos empregando a palavra currículo apenas para
nos referirmos às atividades organizadas por instituições escolares.
Ou seja, para nos referirmos à escola.
VISÃO INTERDISCIPLINAR E TRANSVERSAL Cabe destacar que a palavra currículo tem sido também utiliza-
DO CONHECIMENTO da para indicar efeitos alcançados na escola, que não estão explici-
tados nos planos e nas propostas, não sendo sempre, por isso, cla-
Questões referentes ao currículo têm-se constituído em fre- ramente percebidos pela comunidade escolar. Trata-se do chamado
quente alvo da atenção de autoridades, professores, gestores, pais, currículo oculto, que envolve, dominantemente, atitudes e valores
estudantes, membros da comunidade. Quais as razões dessa preo- transmitidos, subliminarmente, pelas relações sociais e pelas roti-
cupação tão nítida e tão persistente? nas do cotidiano escolar. Fazem parte do currículo oculto, assim,
rituais e práticas, relações hierárquicas, regras e procedimentos,

61
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
modos de organizar o espaço e o tempo na escola, modos de dis- A transversalidade já pertencia aos ideais pedagógicos do início
tribuir os alunos por grupamentos e turmas, mensagens implícitas do século, quando se falava em ensino global sendo objeto de es-
nas falas dos(as) professores(as) e nos livros didáticos. São exem- tudos de ilustres educadores, como os franceses Decroly e Freinet,
plos de currículo oculto: a forma como a escola incentiva a criança os norte-americanos Dewey e Kilpatrick. Atualmente a transversali-
a chamar a professora (tia, Fulana, Professora etc); a maneira como dade surge como um princípio inovador nos sistemas de ensino de
arrumamos as carteiras na sala de aula (em círculo ou alinhadas); as vários países.
visões de família que ainda se encontram em certos livros didáticos A interdisciplinaridade admitiu uma grande melhoria na ideia
(restritas ou não à família tradicional de classe média). de integração curricular e os interesses de cada disciplina são con-
Que consequências tais aspectos, sobre os quais muitas vezes servados. O princípio da transversalidade e de transdisciplinaridade
não pensamos, podem estar provocando nos alunos? Não seria im- busca ir além da concepção de disciplina, buscando-se uma inter-
portante identificá-los e verificar como, nas práticas de nossa esco- comunicação entre elas. Piaget sustentava que: “a interdisciplina-
la, poderíamos estar contribuindo para um currículo oculto capaz ridade seria uma forma de se chegar à transdisciplinaridade, etapa
de oprimir alguns de nossos(as) estudantes (por razões ligadas a que não ficaria na interação e reciprocidade entre as ciências, mas
classe social, gênero, raça, sexualidade)? alcançaria um estágio onde não haveria mais fronteiras entre as dis-
Julgamos importante ressaltar que, qualquer que seja a con- ciplinas”.
cepção de currículo que adotamos, não parece haver dúvidas quan- Os temas transversais são campos férteis para a interdiscipli-
to à sua importância no processo educativo escolar. Como essa naridade e transdisciplinaridade em concordância com as áreas do
importância se evidencia? Pode-se afirmar que é por intermédio conhecimento, pois ao usar a criatividade de maneira a preservar
do currículo que as “coisas” acontecem na escola. No currículo se os conteúdos programáticos vinculam-se aos contextos, que podem
sistematizam nossos esforços pedagógicos. ter evidência prática na vida real, social e comunitária do aluno.
O currículo é, em outras palavras, o coração da escola, o espa- Convém ressaltar que a ética e a cidadania são temas que devem
ço central em que todos atuamos, o que nos torna, nos diferentes ser inseridos em todas as disciplinas, de maneira interdisciplinar e
níveis do processo educacional, responsáveis por sua elaboração. transdisciplinar contribuindo para a qualidade da construção de sa-
O papel do educador no processo curricular é, assim, fundamen- beres e valores cognitivos, afetivos e sociais.7
tal. Ele é um dos grandes artífices, queira ou não, da construção
dos currículos que se materializam nas escolas e nas salas de aula. Cultura, diversidade cultural e currículo
Daí a necessidade de constantes discussões e reflexões, na escola, Que entendemos pela palavra cultura? Talvez seja útil escla-
sobre o currículo, tanto o currículo formalmente planejado e de- recermos, inicialmente, como a estamos concebendo, já que seus
senvolvido quanto o currículo oculto. Daí nossa obrigação, como sentidos têm variado ao longo dos tempos, particularmente no pe-
profissionais da educação, de participar crítica e criativamente na ríodo da transição de formações sociais tradicionais para a moder-
elaboração de currículos mais atraentes, mais democráticos, mais nidade (Bocock, 1995; Canen e Moreira, 2001).
fecundos. Acreditamos que tal esclarecimento pode subsidiar a discussão
das relações entre currículo e cultura.
Visão interdisciplinar e transversal O primeiro e mais antigo significado de cultura encontra-se na
A transversalidade diz respeito à possibilidade de se instituir, na literatura do século XV, em que a palavra se refere a cultivo da terra,
prática educativa, uma analogia entre aprender conhecimentos te- de plantações e de animais. É nesse sentido que entendemos pala-
oricamente sistematizados (aprender sobre a realidade) e as ques- vras como agricultura, floricultura, suinocultura.
tões da vida real (aprender na realidade e da realidade). A escola O segundo significado emerge no início do século XVI, amplian-
vista por esse enfoque, deve possuir uma visão mais ampla, aca- do a ideia de cultivo da terra e de animais para a mente humana.
bando com a fragmentação do conhecimento, pois somente assim Ou seja, passa-se a falar em mente humana cultivada, afirmando-se
se apossará de uma cultura interdisciplinar. A transversalidade e a mesmo que somente alguns indivíduos, grupos ou classes sociais
interdisciplinaridade são modos de trabalhar o conhecimento que apresentam mentes e maneiras cultivadas e que somente algumas
buscam reintegração de procedimentos acadêmicos, que ficaram nações apresentam elevado padrão de cultura ou civilização. No
isolados uns dos outros pelo método disciplinar. Necessário se tor- século XVIII, consolida-se o caráter classista da ideia de cultura, evi-
na uma visão mais adequada e abrangente da realidade, que muitas dente na ideia de que somente as classes privilegiadas da socieda-
vezes se nos apresenta de maneira fragmentada. Através dessa ên- de europeia atingiriam o nível de refinamento que as caracterizaria
fase poderemos intervir na realidade para transformá-la. como cultas.
Quando nos referimos aos temas transversais nos os coloca- O sentido de cultura, que ainda hoje a associa às artes, tem
mos como um eixo unificador da ação educativa, em torno do qual suas origens nessa segunda concepção: cultura, tal como as elites
organizam-se as disciplinas. a concebem, corresponde ao bem apreciar música, literatura, ci-
A abordagem dos temas transversais deve se orientar pelos nema, teatro, pintura, escultura, filosofia. Será que não encontra-
processos de vivência da sociedade, pelas comunidades, alunos e mos vestígios dessa concepção tanto em alguns de nossos atuais
educadores em seu dia-a-dia. Os objetivos e conteúdos dos temas currículos como em textos que se escrevem sobre currículo? Para
transversais devem estar inseridos em diferentes cenários de cada alguns docentes, o estudo da literatura, por exemplo, ainda tende a
uma das disciplinas. Considera-se a transversalidade como o modo se restringir a escritores e livros vistos como clássicos. Para alguns
apropriado para a ação pedagógica destes temas. A transversalida- estudiosos da cultura e da educação, os grandes autores, as grandes
de só tem significado dentro de uma compreensão interdisciplinar obras e as grandes ideias deveriam constituir o núcleo central dos
do conhecimento, sendo uma proposta didática que possibilita o currículos de nossas escolas.
tratamento de conteúdos de forma integrada em todas as áreas do Já no século XX, a noção de cultura passa a incluir a cultura po-
conhecimento. A transversalidade e interdisciplinaridade têm como pular, hoje penetrada pelos conteúdos dos meios de comunicação
eixo educativo a proposta de uma educação comprometida com a de massa.
cidadania, conforme defendem os Parâmetros Curriculares.
7 Texto adaptado de Amélia Hamze

62
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
Diferenças e tensões entre os significados de cultura elevada e mente os dominantes, expressam sua visão de mundo, seu projeto
de cultura popular acentuam-se, levando a um uso do termo cultu- social, sua “verdade”. O currículo representa, assim, um conjunto
ra que se marca por valorizações e avaliações. Será que algumas de de práticas que propiciam a produção, a circulação e o consumo
nossas escolas não continuam a fechar suas portas para as manifes- de significados no espaço social e que contribuem, intensamente,
tações culturais associadas à cultura popular, contribuindo, assim, para a construção de identidades sociais e culturais. O currículo é,
para que saberes e valores familiares a muitos(as) estudantes sejam por consequência, um dispositivo de grande efeito no processo de
desvalorizados e abandonados na entrada da sala de aula? Poderia construção da identidade do(a) estudante.
ser diferente? Como? Um terceiro sentido da palavra cultura, origi- Não se mostra, então, evidente a íntima relação entre currículo
nado no Iluminismo, a associa a um processo secular geral de de- e cultura? Se, em uma sociedade cindida, a cultura é um terreno no
senvolvimento social. Esse significado é comum nas ciências sociais, qual se processam disputas pela preservação ou pela superação das
sugerindo a crença em um processo harmônico de desenvolvimen- divisões sociais, o currículo é um espaço em que esse mesmo con-
to da humanidade, constituído por etapas claramente definidas, flito se manifesta. O currículo é um campo em que se tenta impor
pelo qual todas as sociedades inevitavelmente passam. Tal proces- tanto a definição particular de cultura de um dado grupo quanto o
so acaba equivalendo, por “coincidência”, aos rumos seguidos pelas conteúdo dessa cultura.
sociedades europeias, as únicas a atingirem o grau mais elevado de O currículo é um território em que se travam ferozes compe-
desenvolvimento. tições em torno dos significados. O currículo não é um veículo que
Há ainda reflexos dessa visão no currículo? Parece-nos que sim. transporta algo a ser transmitido e absorvido, mas sim um lugar em
Em alguns cursos de História, por exemplo, as referências se fazem, que, ativamente, em meio a tensões, se produz e se reproduz a cul-
dominantemente, às histórias dos povos “desenvolvidos”, o que tura. Currículo refere-se, portanto, a criação, recriação, contestação
nos aliena dos esforços e dos rumos seguidos na maioria dos países
e transgressão (Moreira e Silva, 1994).
que formam o chamado Terceiro Mundo Em um quarto sentido, a
Como todos esses processos se “concretizam” no currículo?
palavra “culturas” (no plural) corresponde aos diversos modos de
Pode-se dizer que no currículo se evidenciam esforços tanto por
vida, valores e significados compartilhados por diferentes grupos
consolidar as situações de opressão e discriminação a que certos
(nações, classes sociais, grupos étnicos, culturas regionais, geracio-
nais, de gênero etc) e períodos históricos. Trata-se de uma visão an- grupos sociais têm sido submetidos, quanto por questionar os ar-
tropológica de cultura, em que se enfatizam os significados que os ranjos sociais em que essas situações se sustentam.
grupos compartilham, ou seja, os conteúdos culturais. Cultura iden- Isso se torna claro ao nos lembrarmos dos inúmeros e expres-
tifica-se, assim, com a forma geral de vida de um dado grupo social, sivos relatos de práticas, em salas de aulas, que contribuem para
com as representações da realidade e as visões de mundo adotadas cristalizar preconceitos e discriminações, representações estereoti-
por esse grupo. A expressão dessa concepção, no currículo, pode- padas e desrespeitosas de certos comportamentos, certos estudan-
rá evidenciar-se no respeito e no acolhimento das manifestações tes e certos grupos sociais. Em Conselhos de Classe, algumas dessas
culturais dos(as) estudantes, por mais desprestigiadas que sejam. visões, lamentavelmente, se refletem em frases como: “vindo de
Finalmente, um quinto significado tem tido considerável im- onde vem, ele não podia mesmo dar certo na escola!”. Ao mesmo
pacto nas ciências sociais e nas humanidades em geral. Deriva da tempo, há inúmeros e expressivos relatos de práticas alternativas
antropologia social e também se refere a significados compartilha- em que professores(as) desafiam as relações de poder que têm jus-
dos. tificado e preservado privilégios e marginalizações, procurando con-
Diferentemente da concepção anterior, porém, ressalta a di- tribuir para elevar a autoestima de estudantes associados a grupos
mensão simbólica, o que a cultura faz, em vez de acentuar o que a subalternizados. Ou seja, no processo curricular, distintas e comple-
cultura é. Nessa mudança, efetua-se um movimento do que para o xas têm sido as respostas dadas à diversidade e à pluralidade que
como. Concebe-se, assim, a cultura como prática social, não como marcam de modo tão agudo o panorama cultural contemporâneo.
coisa (artes) ou estado de ser (civilização). Cabe também ressaltar a significativa influência exercida, junto
Nesse enfoque, coisas e eventos do mundo natural existem, às crianças e aos adolescentes que povoam nossas salas de aula,
mas não apresentam sentidos intrínsecos: os significados são atri- pelos “currículos” por eles “vividos” em outros espaços sócio-edu-
buídos a partir da linguagem. Quando um grupo compartilha uma cativos (shoppings, clubes, associações, igrejas, meios de comunica-
cultura, compartilha um conjunto de significados, construídos, en- ção, grupos informais de convivência, etc), nos quais se fazem sentir
sinados e aprendidos nas práticas de utilização da linguagem. A pa- com intensidade muitos dos complexos fenômenos associáveis ao
lavra cultura implica, portanto, o conjunto de práticas por meio das processo de globalização que hoje vivenciamos.
quais significados são produzidos e compartilhados em um grupo. Nesses outros espaços extraescolares, os currículos tendem
São os arranjos e as relações envolvidas em um evento que passam,
a se organizar com objetivos distintos dos currículos escolares, o
dominantemente, a despertar a atenção dos que analisam a cul-
que faz com que valores como padronização, consumismo, indi-
tura com base nessa quinta perspectiva, passível de ser resumida
vidualismo, sexismo e etnocentrismo possam entrar em acirrada
na ideia de que cultura representa um conjunto de práticas signi-
competição com outras metas, visadas por escolas e famílias. Vale
ficantes. Não será pertinente considerarmos também o currículo
como um conjunto de práticas em que significados são construídos, perguntar: como temos, nas salas de aula, reagido a esse “confu-
disputados, rejeitados, compartilhados? Como entender, então, as so” panorama em que a diversidade se faz tão presente? Como te-
relações entre currículo e cultura? mos nos esforçado para desestabilizar privilégios e discriminações?
Se entendermos o currículo, como propõe Williams (1984), Como temos buscado neutralizar influências “indesejáveis”? Como
como escolhas que se fazem em vasto leque de possibilidades, ou temos, na escola, dialogado com os “currículos” desses outros es-
seja, como uma seleção da cultura, podemos concebê-lo, também, paços?
como conjunto de práticas que produzem significados. Nesse senti- Em resumo, o complexo, variado e conflituoso cenário cultural
do, considerações de Silva (1999b) podem ser úteis. Segundo o au- em que estamos imersos se reflete no que ocorre em nossas salas
tor, o currículo é o espaço em que se concentram e se desdobram as de aula, afetando sensivelmente o trabalho pedagógico que nelas
lutas em torno dos diferentes significados sobre o social e sobre o se processa. Voltamos a perguntar: como as diferenças derivadas
político. É por meio do currículo que certos grupos sociais, especial- de dinâmicas sociais como classe social, gênero, etnia, sexualidade,

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
cultura e religião têm “contaminado” nosso currículo, tanto o cur- “daltônico cultural” é aquele que não valoriza o “arco-íris de cultu-
rículo formal quanto o currículo oculto? Como temos considerado, ras” que encontra nas salas de aulas e com que precisa trabalhar,
no currículo, essa pluralidade, esse caráter multicultural de nossa não tirando, portanto, proveito da riqueza que marca esse panora-
sociedade? Como articular currículo e multiculturalismo? Que es- ma. É aquele que vê todos os estudantes como idênticos, não levan-
tratégias pedagógicas podem ser selecionadas? Temos, professores do em conta a necessidade de estabelecer diferenças nas atividades
e gestores, reservado tempo e espaço suficientes para que essas pedagógicas que promove (Stoer e Cortesão, 1999).
discussões aconteçam nas escolas? Como nossos projetos políti- O daltonismo cultural a que nos referimos expressa-se, por
co-pedagógicos têm incorporado tais preocupações? Como temos exemplo, na visão da professora de uma escola normal que desen-
atendido ao que determina a Lei nº 10639/2003, que torna obri- coraja uma pesquisadora interessada em compreender o tratamen-
gatório, nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, o to dado, na escola, a questões referentes a racismo na formação
ensino sobre História e Cultura afro-brasileira? De que modo os docente. “Lamento, mas aqui você não terá material para seu estu-
professores se têm inteirado das lutas e conquistas dos negros, das do. Não temos problema nenhum de racismo aqui. Eu, por exem-
mulheres, dos homossexuais e de outros grupos minoritários opri- plo, ao entrar em sala, trato todos os meus alunos como se fossem
midos? Sem pretender oferecer respostas prontas a serem aplica- brancos” (Paraíso, 1997). O daltonismo é tão intenso que chega a
das em quaisquer situações, move-nos a intenção de apresentar al- impedir que a professora reconheça a presença da diversidade (e
guns princípios que possam nortear a construção coletiva, em cada de suas consequências) na escola.
escola, de currículos que visem a enfrentar alguns dos desafios que Em casos como esse, pode ser útil, em um primeiro momento,
a diversidade cultural nos tem trazido. Fundamentamo-nos, nesse buscarmos sensibilizar o corpo docente para a pluralidade e para a
propósito, em estudos, pesquisas, práticas e depoimentos de do- diversidade. Como fazê-lo? Que estratégias empregar nessa tarefa,
centes comprometidos com uma escola cada vez mais democrática. para que se possa ter a maior adesão possível dos que ainda não
Nossa intenção é convidar o profissional da educação a engaja-se perceberam a importância de tais aspectos? Nessa perspectiva, é
no instigante processo de pensar e desenvolver currículos para essa importante articular o aprofundamento teórico com vivências de
escola. experiências em que os/as profissionais da educação são convida-
Desejamos, com os princípios que vamos sugerir, intensificar a dos/as a se colocar “em situação” e analisar as suas próprias rea-
sensibilidade do(a) docente e do gestor para a pluralidade de valo- ções.
res e universos culturais, para a necessidade de um maior intercâm- Como se sentiriam e reagiriam, por exemplo, se, como algu-
bio cultural no interior de cada sociedade e entre diferentes socie- mas pessoas negras ainda têm sido, fossem impedidos(as) de en-
dades, para a conveniência de resgatar manifestações culturais de trar pela “porta da frente” em um edifício residencial ou em um
determinados grupos cujas identidades se encontram ameaçadas, hotel de luxo? Outra estratégia possível diz respeito ao resgate de
para a importância da participação de todos no esforço por tornar o histórias de vida e análise de estudos de caso reais, trazidos pelos
mundo menos opressivo e injusto, para a urgência de se reduzirem próprios educadores ou registrados em pesquisas realizadas sobre
discriminações e preconceitos. tal temática. Talvez alguns docentes se estimulem a apresentar e a
O objetivo maior concentra-se, cabe destacar, na contextuali- discutir situações em que se viram, eles próprios, discriminados, ou
zação e na compreensão do processo de construção das diferenças em que presenciaram pessoas sendo depreciadas e desrespeitadas.
e das desigualdades. Como se comportaram nesses momentos? Em resumo, a ruptura
Nosso propósito é que os currículos desenvolvidos tornem do daltonismo cultural e da visão monocultural dinâmica escolar é
evidente que elas não são naturais; são, ao contrário, “invenções/ um processo pessoal e coletivo que exige desconstruir e desnatu-
construções” históricas de homens e mulheres, sendo, portanto, ralizar estereótipos e “verdades” que impregnam e configuram a
passíveis de serem desestabilizadas e mesmo transformadas. Ou cultura escolar e a cultura da escola.
seja, o existente nem pode ser aceito sem questionamento nem é Após a adoção de uma nova postura frente à pluralidade, ou-
imutável; constitui-se, sim, em estímulo para resistências, para crí- tros princípios e propósitos podem mostrar-se úteis na formulação
ticas e para a formulação e a promoção de novas situações pedagó- dos currículos.
gicas e novas relações sociais. Vejamos alguns deles.

Princípios para a construção de currículos multiculturalmente O currículo com um espaço em que se reescreve o conhecimen-
orientados to escolar
Passemos aos nossos princípios. Insistimos, inicialmente, na Sugerimos que se procure, no currículo, reescrever o conheci-
necessidade de uma nova postura, por parte do professorado e dos mento escolar usual, tendo-se em mente as diferentes raízes étni-
gestores, no esforço por construir currículos culturalmente orien- cas e os diferentes pontos de vista envolvidos em sua produção. No
tados. Propomos, a seguir, que se reescrevam os conhecimentos processo de construção do conhecimento escolar, que já aborda-
escolares, que se evidencie a ancoragem social desses conhecimen- mos, se “retiram” os interesses e os objetivos usualmente envolvi-
tos, bem como que se transforme a escola e o currículo em espaços dos na pesquisa e na produção do conhecimento de origem (Terigi,
de crítica cultural, de diálogo e de desenvolvimento de pesquisas. 1999). O conhecimento escolar tende a ficar, em decorrência desse
Esperamos que nossos princípios possam nortear a escolha de no- processo, “asséptico”, “neutro”, despido de qualquer “cor” ou “sa-
vos conteúdos, a adoção de novos procedimentos e o estabeleci- bor”.
mento de novas relações na escola e na sala de aula. O que estamos desejando, em vez disso, é que os interesses
ocultados sejam identificados, evidenciados e subvertidos, para
A necessidade de uma nova postura que possamos, então, reescrever os conhecimentos. Desejamos
Elaborar currículos culturalmente orientados demanda uma que o aluno perceba o quanto, em Geografia, os conhecimentos
nova postura, por parte da comunidade escolar, de abertura às dis- referentes aos diversos continentes foram construídos em íntima
tintas manifestações culturais. Faz-se indispensável superar o “dal- associação com o interesse, de certos países, em aumentar suas ri-
tonismo cultural”, ainda bastante presente nas escolas. O professor quezas pela conquista e colonização de outros povos.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
Em conformidade com essa proposta, encontram-se já nume- também na Alemanha, vetando-se às professoras o uso do véu. O
rosos(as) professores(as) de História que não mais se contentam que não se divulga é como tal medida acaba por solapar importante
em ensinar aos(às) estudantes apenas a visão do dominante, do elemento da identidade dessas jovens, desrespeitando o direito à
vencedor. Já se fazem frequentes, em suas aulas na escola funda- diferença que deve pautar toda sociedade que se quer democráti-
mental, discussões como: o Brasil foi descoberto ou invadido pelos ca, plural e inclusiva.
portugueses? A Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel, pretendeu Ou seja, a compreensão dos diferentes pontos de vista envolvi-
de fato beneficiar os escravos? Domingos Fernandes Calabar deve dos na contenda permite que o(a) aluno(a) desconstrua o olhar do
ser mesmo considerado um traidor? Em 1964 houve uma revolu- poder hegemônico e infira que outros olhares descortinam outros
ção ou um golpe? Esses e outros inúmeros pontos controversos de ângulos, outras razões, outros interesses.
nossa História são discutidos por docentes e alunos(as), o que faz Leva-o(a) a compreender melhor alguns dos elementos que
brotar uma análise bem mais lúcida dos diferentes e conflitantes promovem a persistência, no mundo de hoje, do ódio, da violên-
motivos implicados nos fatos históricos, antes vistos como “objeti- cia, do racismo, da xenofobia, do fundamentalismo. Não será indis-
vos” e tratados com base em uma única versão, aceita sem questio- pensável que a escola procure denunciar e colocar em xeque essa
namento. A consequência é que a análise se amplia e se enriquece persistência?
pelo confronto de pontos de vista. Professores dos primeiros anos do ensino fundamental podem
Além dessa ampliação da análise, muitos docentes têm tam- também estimular o(a) aluno(a) a reescrever conhecimentos, sa-
bém procurado incluir no currículo outras Histórias: a das mulheres, beres, mitos, costumes, lendas, contos. Inúmeras histórias infantis,
a dos povos indígenas, a dos negros, por exemplo. Tais inclusões por exemplo, têm sido reescritas com base no emprego de pontos
preenchem algumas das lacunas mais encontradas nas propostas de vista distintos dos usuais. O caso dos Três Porquinhos pode sur-
curriculares oficiais, trazendo à cena vozes e culturas negadas e si- preender se a figura do Lobo representar o especulador imobiliário
lenciadas no currículo. Segundo Torres Santomé (1995), as culturas que tão bem conhecemos. As atitudes da Cigarra e da Formiga po-
ou vozes dos grupos sociais minoritários e/ou marginalizados que dem ser reavaliadas, tendo-se em mente a forma como se conce-
não dispõem de estruturas de poder costumam ser excluídas das bem e se organizam trabalho e lazer na sociedade contemporânea.
salas de aula, chegando mesmo a ser deformadas ou estereotipa- O desfecho do passeio de Chapeuzinho Vermelho à casa da avó
das, para que se dificultem (ou de fato se anulem) suas possibilida- pode ser outro, caso imaginemos novos perfis e novas relações para
des de reação, de luta e de afirmação de direitos. os personagens da história (Garner, 1996, 1999). Ou seja, de novos
Cabe evitar atribuir qualquer caráter exótico às manifestações patamares podemos perceber novos horizontes, novas trajetórias,
culturais de grupos minoritários. Ademais, sua presença no currí- novas possibilidades.
culo não deve assumir o tom fortuito, “turístico”, tão criticado por O que estamos sugerindo é que nos situemos, na prática peda-
Torres Santomé (1995). É preciso que os estudos desenvolvidos ve- gógica culturalmente orientada, além da visão das culturas como
nham a catalisar, junto aos membros das culturas negadas e silen- inter-relacionadas, como mutuamente geradas e influenciadas, e
ciadas, a formação de uma autoimagem positiva. Para esse mesmo procuremos facilitar a compreensão do mundo pelo olhar do su-
propósito, pode ser útil a discussão, em diferentes disciplinas, dos balternizado. No currículo, trata-se de desestabilizar o modo como
rumos de diferentes movimentos sociais (negros, mulheres, indí- o outro é mobilizado e representado. “O olhar do poder, suas nor-
genas, homossexuais), para que se compreendam e se acentuem mas e pressupostos, precisa ser desconstruído” (McCarthy, 1998,
avanços, dificuldades e desafios. Líderes desses grupos podem ser p. 156).
convidados a participar das atividades. Exposições e cartazes po- Ou seja, trata-se de desafiar a ótica do dominante e de promo-
dem ilustrar trajetórias e conquistas. ver o atrito de diferentes abordagens, diferentes obras literárias, di-
Cabe esclarecer que não estamos argumentando a favor do ferentes interpretações de eventos históricos, para que se favoreça
efeito Robin Hood (McCarthy, 1998), segundo o qual se tira de um ao(à) aluno(a) entender como o conhecimento socialmente valori-
para dar ao outro, ou seja, não estamos recomendando que sim- zado tem sido escrito de uma dada forma e como pode, então, ser
plesmente se substitua um conhecimento por outro. O que estamos reescrito. Não se espera, cabe reiterar, substituir um conhecimento
sugerindo é que se explorem e se confrontem perspectivas, enfo- por outro, mas sim propiciar aos(às) estudantes a compreensão das
ques e intenções, para que possam vir à tona propósitos, escolhas, relações de poder envolvidas na hierarquização das manifestações
disputas, relações de poder, repressões, silenciamentos, exclusões. culturais e dos saberes, assim como nas diversas imagens e leituras
O trabalho com notícias difundidas pela mídia, frequentemen- que resultam quando certos olhares são privilegiados em detrimen-
te derivadas de leituras distintas e até mesmo contraditórias dos fa- to de outros.
tos, assim como com músicas, vídeos e outras produções culturais, Nessa perspectiva, é importante que consideremos a escola
permite ilustrar com clareza os confrontos que pretendemos ver ex- como um espaço de cruzamento de culturas e saberes. A escola
plicitados. Examinando diferentes interpretações, os(as) alunos(as) deve ser concebida como um espaço ecológico de cruzamento de
poderão melhor perceber, por exemplo, os objetivos e os jogos, por culturas (Pérez Gómez, 1998). A responsabilidade específica que a
vezes escusos, implicados em muitas medidas de nossos políticos e distingue de outros espaços de socialização e lhe confere identida-
governantes. Certamente a análise atenta e a discussão crítica de de e relativa autonomia é exatamente a possibilidade de promover
notícias referentes à decisão de invadir o Iraque, tomada pelo presi- análises e interações das influências plurais que as diferentes cultu-
dente George Bush, após os ataques terroristas de 11 de setembro ras exercem, de forma permanente, sobre as novas gerações.
de 2001, poderão ajudar o(a) aluno(a) a contrapor à versão oficial O responsável definitivo da natureza, do sentido e da consis-
norte-americana uma outra versão dos acontecimentos em pauta. tência do que os alunos e as alunas aprendem em sua vida escolar
A leitura crítica de jornais permite também verificar como, na é este vivo, fluido e complexo cruzamento de culturas que se produz
França, se tenta impedir que meninas muçulmanas frequentem na escola, entre as propostas da cultura crítica, alojada nas discipli-
as salas de aula usando seus véus. A justificativa é que as escolas nas científicas, artísticas e filosóficas; as determinações da cultura
francesas são seculares e que os símbolos religiosos, portanto, de- acadêmica, refletidas nas definições que constituem o currículo; os
vem ser banidos de suas práticas. Proibições similares têm ocorrido influxos da cultura social, constituída pelos valores hegemônicos

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
do cenário social; as pressões do cotidiano da cultura institucional, do conhecimento científico?; (f) que debates têm sido gerados pela
presente nos papéis, nas normas, nas rotinas e nos ritos próprios da introdução, na comunidade científica, de novas teorias?; (g) por
escola como instituição específica; e as características da cultura que a escola insiste em apresentar uma teoria consensual da ciên-
experiencial, adquirida individualmente pelo aluno através da expe- cia, subestimando as divergências referentes a temáticas prioriza-
riência nos intercâmbios espontâneos om seu meio (Pérez Gómez, das, metodologias, fundamentos teóricos, objetivos? (Apple, 1982;
1998, p.17). Harding, 1996). Acreditamos que a exploração de questões como
Conceber a dinâmica escolar nesse enfoque supõe repensar essas, em um curso de Ciências Naturais, tanto ajuda a desafiar a
seus diferentes componentes e romper com a tendência homoge- suposta neutralidade cultural da ciência quanto a iluminar perspec-
neizadora e padronizadora que impregna suas práticas. Para Mo- tivas e possibilidades insuspeitadas de desenvolvimento científico.
reira e Candau (2003, p.161), a escola sempre teve dificuldade em O princípio que estamos defendendo nos instiga também a re-
lidar com a pluralidade e a diferença. Tende a silenciá-las e neutrali- lacionar os conteúdos curriculares às experiências culturais dos(as)
zá-las. Sente-se mais confortável com a homogeneização e a padro- estudantes e ao mundo concreto, o que permite analisar quem lu-
cra e quem perde com as formas de emprego desses conhecimen-
nização. No entanto, abrir espaços para a diversidade, a diferença e
tos. Experiência desenvolvida por um pesquisador canadense, John
para o cruzamento de culturas constitui o grande desafio que está
Willinsky (2004), pode ser associada a esse enfoque. Bastante crí-
chamada a enfrentar.
tico da forma como habitualmente se analisam obras poéticas nas
A escola precisa, assim, acolher, criticar e colocar em contato
salas de aula, despindo-as de seus propósitos culturais e estéticos, o
diferentes saberes, diferentes manifestações culturais e diferentes autor, ao ser desafiado por um estudante para dar uma unidade de
óticas. A contemporaneidade requer culturas que se misturem e Literatura em uma turma de ensino médio, abandonou a antologia
ressoem mutuamente, que convivam e se modifiquem. Que se mo- tradicionalmente empregada.
difiquem modificando outras culturas pela convivência ressonante. Optou, então, por formular, com os(as) alunos(as), uma antolo-
Ou seja, um processo contínuo, que não pare nunca, por não se gia alternativa que abrigasse as diferentes vozes e identidades que
limitar a um dar ou receber, mas por ser contaminação, ressonância hoje povoam o Canadá e que pudesse trazer à cena cultura, vida,
(Pretto, 2005). dor, sangue, paixão, sensibilidade, assim como desafiar relações de
poder que garantem a continuidade de diferenças e desigualdades
O currículo como um espaço em que se explicita a ancoragem no mundo contemporâneo (Moreira, 2004). O que os(as) estudan-
social dos conteúdos tes escolheram para compor a nova antologia abriu as portas da
Sugerimos, como outra estratégia (intimamente relacionada à sala de aula para suas posições históricas, experiências, visões de
anterior), que se desenvolva nos(as) estudantes a capacidade de mundo. Ainda: denunciou a persistente hegemonia da cultura de
perceber o que tem sido denominado de ancoragem social dos con- origem europeia, claramente expressa na herança colonial que
teúdos (Moreira, 2002b). Pretendemos que se propicie uma maior continua a se infiltrar no currículo. Não se está diante de uma con-
compreensão de como e em que contexto social um dado conhe- firmação de que visões da cultura como mente cultivada ou como
cimento surge e se difunde. Nesse sentido, vale examinar como desenvolvimento social atrelado aos padrões europeus continuam
um determinado conceito foi proposto historicamente, por que se presentes nos currículos escolares?
tornou ou não aceito, por que permaneceu ou foi substituído, que O mesmo autor (Willinsky, 2002) nos oferece outro exemplo
tipos de discussões provocou, de que forma promoveu o avanço que também se harmoniza com o princípio que estamos defenden-
do conhecimento na área em pauta e, ainda, como esse avanço do. Perguntamos se é possível dividirmos a realidade humana em
propiciou benefícios (ou não) à humanidade (ou a certos grupos da culturas, raças, histórias, tradições e sociedades claramente dife-
humanidade). Não seria estimulante envolvermos nossos(as) estu- rentes e conseguirmos suportar, com dignidade, as consequências
dantes nas lutas travadas em torno da aceitação do modelo helio- dessas classificações. Insiste, então, no questionamento do caráter
cêntrico do universo? Não seria enriquecedor acompanharmos e si- aparentemente natural, científico mesmo, dessas divisões. Para
isso, acrescenta, há que se compreender a dinâmica histórica das
tuarmos na história o surgimento e as transformações dos modelos
categorias por meio das quais temos sido rotulados, identificados,
de átomo, discutindo suas contribuições para o avanço da ciência e
definidos e situados na estrutura social. Para isso, há que se foca-
da tecnologia? O que estamos propondo é que se evidenciem, no
lizar, no currículo, a construção dessas categorias. Somente assim
currículo, a construção social e os rumos subsequentes dos conhe-
iremos desafiar seus significados e abrir espaço, na escola e na sala
cimentos, cujas raízes históricas e culturais tendem a ser usualmen- de aula, para a diversidade.
te “esquecidas”, o que faz com que costumem ser vistos como indis- Ou seja, Willinsky rejeita a ideia de que existe uma verdade,
cutíveis, neutros, universais, intemporais. Trata-se de questionar a uma essência ou um núcleo em qualquer categoria. Incentiva-nos,
pretensa estabilidade e o caráter histórico do conhecimento produ- nas diferentes disciplinas curriculares, a tornar evidente e a deses-
zido no mundo ocidental, cuja hegemonia tem sido incontestável. tabilizar a construção histórica de categorias que nos têm marcado,
Trata-se, mais uma vez, de caminhar na contramão do processo de tais como raça, nação, sexualidade, masculinidade, feminilidade,
transposição didática, durante o qual usualmente se costumam eli- idade, religião etc. Com essa estratégia, pretende explicitar como o
minar os vestígios da construção histórica dos saberes. mundo tem sido dividido.
Procurando ilustrar nosso ponto de vista com outros exemplos, Aceitando e seguindo a orientação de Willinsky, poderíamos
sugerimos perguntas que, no ensino das Ciências Naturais, podem planejar coletivamente, na escola, nas distintas disciplinas, a aná-
se revelar bastante pertinentes. Eis algumas delas: (a) onde situar lise, durante determinado período de tempo, de como a ideia de
as origens da ciência: em culturas europeias ou culturas não euro- raça, por exemplo, vem sendo empregada para garantir privilégios
peias?; (b) em que medida a ciência moderna pode ser considerada e legitimar atos de opressão.
ocidental?; (c) existem ou podem vir a existir ciências, elaboradas Exemplifiquemos. Em Ciências, poderíamos problematizar o
em outras culturas, que também “funcionem”, que também expli- caráter supostamente científico da categoria, até hoje evocado em
quem a realidade?; (d) por que a escola insiste em apresentar a muitos textos. Em História, poderíamos examinar como a categoria
ciência ocidental como a única possibilidade?; (e) que conflitos se tem justificado processos de colonização, de rotulação, de hierar-
encontram subjacentes aos processos de construção e de difusão quização de grupos e culturas, de escravidão, de restrição a migra-

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
ções. Em Geografia, poderíamos explicitar como a categoria raça aprofundarmos questões como: quem incluímos na categoria nós?
se tem acrescentado, de modo harmônico, às razões apresentadas Quem são os outros? Quais as implicações dessas questões para o
para conquistas, novas distribuições de espaços, novos mapas. currículo? Como nossas representações dos outros se refletem nos
Em Literatura, a discussão de representações das raças em dife- currículos? Esses são temas fundamentais que estamos desafiados
rentes textos literários propiciaria verificar o que essas representa- a trabalhar nas relações sociais e, particularmente, na educação.
ções têm valorizado, distinguido, incluído e excluído. Em Educação Nossa maneira de nos situarmos em relação aos outros tende a
Física, poderíamos desmistificar a imagem do negro como o “atleta construir-se em uma perspectiva etnocêntrica. Quem são os nós?
perfeito”, como o corpo que melhor se presta para o salto, a corrida, Tendemos a incluir na categoria nós todas aquelas pessoas e aque-
o jogo, a dança, o movimento. les grupos sociais que têm referenciais semelhantes aos nossos,
que têm hábitos de vida, valores, estilos e visões de mundo que se
O currículo como espaço de reconhecimento de nossas identi- aproximam dos nossos e os reforçam. Quem são os outros? Ten-
dades culturais dem a ser os que entram em choque com nossas maneiras de nos
Um aspecto a ser trabalhado, que consideramos de especial situarmos no mundo, por sua classe social, etnia, religião, valores,
relevância, diz respeito a se procurar, na escola, promover ocasiões tradições, sexualidade etc.
que favoreçam a tomada de consciência da construção da identida- Como temos entendido esse outro? Para Skliar e Duschatzky
de cultural de cada um de nós, docentes e gestores, relacionando-a (2001), principalmente de três formas distintas: o outro como fonte
aos processos sócio-culturais do contexto em que vivemos e à his- de todo mal, o outro como sujeito pleno de um grupo cultural, o
tória de nosso país. O que temos constatado é a pouca consciência outro como alguém a tolerar.
que, em geral, temos desses processos e do cruzamento de culturas A primeira perspectiva, segundo os autores, marcou predo-
neles presente. Tendemos a uma visão homogeneizadora e estere- minantemente as relações sociais durante o século XX e pode se
otipada e nós mesmos e de nossos alunos e alunas, em que a iden- revestir de diferentes formas, desde a eliminação física do outro,
tidade cultural é muitas vezes vista como um dado, como algo que até a coação interna, mediante a regulação de costumes e morali-
nos é impresso e que perdura ao longo de toda nossa vida. Desvelar dades. Nesse modo de nos situarmos diante do outro, assumimos
essa realidade e favorecer uma visão dinâmica, contextualizada e uma visão binária e dicotômica. Em um lado separamos os bons,
plural das identidades culturais é fundamental, articulando-se as os verdadeiros, os autênticos, os civilizados, cultos, defensores da
dimensões pessoal e coletiva desses processos. Constitui um exer- liberdade e da paz. Em outro, deixamos os outros: os maus, os fal-
cício fundamental tornarmo-nos conscientes de nossos enraiza- sos, os bárbaros, os ignorantes e os terroristas. Se nos identificamos
mentos culturais, dos processos em que misturam ou se silenciam com os primeiros, o que temos a fazer é eliminar, neutralizar, domi-
determinados pertencimentos culturais, bem como sermos capazes nar ou subjugar os outros. Caso nos sintamos representados como
de reconhecê-los, nomeá-los e trabalhá-los. integrantes do pólo oposto, ou internalizamos a nossa maldade e
Como favorecer essa tomada de consciência? Alguns exercícios nos deixamos salvar, passando para o lado dos bons, ou nos con-
podem ser propostos, buscando-se criar oportunidades em que o frontamos violentamente com eles.
profissional da educação se estimule a falar sobre como percebe Como essa primeira perspectiva se traduz na escola? Mostra-
a construção de sua identidade. Como vêm sendo criadas nossas -se presente quando: (a) atribuímos o fracasso escolar dos(as) alu-
identidades de gênero, raça, sexualidade, classe social, idade, pro- nos(as) às suas características sociais ou étnicas; (b) diferenciamos
fissão? Como temos aprendido a ser quem somos, como profissio- os tipos de escolas segundo a origem social dos(as) estudantes,
nais da educação, brasileiros(as), homens, mulheres, casados(as), considerando que alguns têm maior potencial que outros e, para
solteiros(as), negros(as), brancos(as), jovens ou idosos(as)? desenvolvermos uma educação de qualidade, não podemos mis-
Nesses momentos, tem sido bastante frequente a afirmação turar estudantes de diferentes potenciais; (c) nos situamos, como
“nunca pensei na formação da minha identidade cultural”, ou en- professores(as), diante dos(as) alunos(as), com base em estere-
tão “me considero uma órfã do ponto de vista cultural”, expressão ótipos e expectativas diferenciadas segundo a origem social e as
usada por uma professora jovem, querendo se referir à dificuldade características culturais dos grupos de referência; (d) valorizamos
de nomear os referentes culturais configuradores de sua trajetória exclusivamente o racional e desvalorizamos os aspectos afetivos
de vida. presentes nos processos educacionais; (e) privilegiamos somente a
A socialização em pequenos grupos, entre os(as) educado- comunicação verbal, desconsiderando outras formas de comunica-
res(as), dos relatos sobre a construção de suas identidades culturais ção humana, como a corporal, a artística etc.
pode se revelar uma experiência profundamente vivida, muitas ve- Ao considerarmos o outro como sujeito pleno de uma marca
zes carregada de emoção, que dilata tanto a consciência dos pró- cultural, estamos concebendo-o como membro de uma dada cultu-
prios processos de formação identitária do ponto de vista cultural, ra, vista como uma comunidade homogênea de crenças e estilos de
quanto a sensibilidade para favorecer esse mesmo dinamismo nas vida. O outro, ainda que não seja a fonte de todo mal, é diferente
práticas educativas que organizamos. Nesses processos, podemos de nós, tem uma essência claramente definida, distinta da que nos
nos dar conta da complexidade envolvida na configuração dos dis- caracteriza. Na área da educação, essa visão se expressa, por exem-
tintos traços identitários que coexistem, por vezes contraditoria- plo, quando nos limitamos a abordar o outro de forma genérica e
mente, na construção das diferenças de que somos feitos (Moita “folclórica”, apenas em dias especiais, usualmente incluídos na lista
Lopes, 2003). dos festejos escolares, tais como o Dia do Índio ou Dia da Consci-
ência Negra.
O currículo como espaço de questionamento de nossas repre- Já a expressão o outro como alguém a tolerar convida tanto a
sentações sobre os “outros” admitir a existência de diferenças quanto a aceitá-las. Nessa admis-
Junto ao reconhecimento da própria identidade cultural, ou- são, contudo, reside um paradoxo. Se aceitamos, por princípio, todo
tro elemento a ser ressaltado relaciona-se às representações que e qualquer diferente, deveríamos aceitar os grupos cujas marcas
construímos dos outros, daqueles que consideramos diferentes. As são comportamentos anti-sociais ou opressivos, como os racistas.
relações entre nós e os outros estão carregadas de dramaticidade Que consequências a adoção dessa perspectiva pode ter para a prá-
e ambiguidade. Em sociedades nas quais a consciência das diferen- tica pedagógica? Julgamos que a simples tolerância pode nos situar
ças se faz cada vez mais forte, reveste-se de especial importância em uma posição débil, evitando que tomemos posição em relação

67
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
aos valores que dominam a cultura contemporânea. Pode impedir tionamentos devem, então, provocar tensões e desafiar o existente
que polemizemos, levando-nos a assumir a conciliação como valor (Moreira, 1999). Podem não mudar o mundo, mas podem permitir
último. Pode incentivar-nos a não questionar a “ordem”, vendo-a que o aluno o compreenda melhor.
como comportamentos a serem inevitavelmente cultivados. Como nos diz Bauman (2000), “para operar no mundo (por
Poderíamos acrescentar outras formas de nos situar diante dos contraste a ser ‘operado’ por ele) é preciso entender como o mun-
outros. do opera” (p. 242).
No entanto, acreditamos que a tipologia proposta por Skliar e A crítica de diferentes artefatos culturais na escola pode, por
Duschatzky (2000) expressa as posições mais presentes na nossa exemplo, levar-nos a identificar e a desafiar visões estereotipadas
sociedade hoje, evidenciando a complexidade das questões relacio- da mulher propagadas em anúncios; imagens desrespeitosas de
nadas à alteridade e à diferença. homossexuais difundidas em programas cômicos de televisão; pre-
O que desejamos destacar é que o modo como concebemos a conceitos contra povos não ocidentais evidentes em desenhos ani-
condição humana pode bloquear nossa compreensão dos outros. mados; mensagens encontradas em revistas para adolescentes do
Portanto, é importante promovermos processos educacionais nos sexo feminino (e da classe média) que incentivam o uso de drogas,
quais identifiquemos e desconstruamos nossas suposições, em ge- o consumismo e o individualismo; estímulos à erotização precoce
ral implícitas, que não nos permitem uma aproximação aberta e das meninas, visíveis em brinquedos e programas infantis; presen-
empática à realidade dos outros (Taylor, 2001). ça e aceitação da violência em filmes, jogos e brinquedos. Outros
exemplos poderiam ser citados, reforçando-nos o ponto de vista de
O currículo como um espaço de crítica cultural que os produtos culturais à nossa volta nada têm de ingênuos ou
Apresentamos agora outro princípio, fortemente relacionado puros; ao contrário, incorporam intenções de apoiar, preservar ou
aos anteriores: sugerimos que se expandam os conteúdos curricu- produzir situações que favorecem certos grupos e outros não. Tais
lares usuais, de modo a neles incluir alguns dos artefatos culturais artefatos, como se tem insistentemente acentuado, desempenham,
que circundam o(a) aluno(a). A ideia é tornar o currículo um espaço junto com o currículo escolar, importante papel no processo de for-
de crítica cultural. Como fazê-lo? Um dos caminhos é abrir as por- mação das identidades de nossas crianças e nossos adolescentes,
tas, na escola, a diferentes manifestações da cultura popular, além devendo constituir-se, portanto, em elementos centrais de crítica
das que compõem a chamada cultura erudita. Músicas populares, em processos curriculares culturalmente orientados.
danças, filmes, programas de televisão, festas populares, anúncios,
brincadeiras, jogos, peças de teatro, poemas, revistas e romances O currículo como um espaço de desenvolvimento de pesquisas
precisam fazer-se presentes nas salas de aula. Da mesma forma, le- Como intelectual que é, todo(a) profissional da educação pre-
vando-se em conta a importância de ampliar os horizontes culturais cisa comprometer-se com o estudo e com a pesquisa, bem como
dos(as) estudantes, bem como de promover interações entre dife- posicionar-se politicamente. Precisa, assim, situar-se frente aos
rentes culturas, outras manifestações, mais associadas aos grupos problemas econômicos, sócio-políticos, culturais e ambientais que
dominantes, precisam ser incluídas no currículo. hoje nos desafiam e que desconhecem as fronteiras entre as nações
A intenção é que a cultura dos estudantes e da comunidade ou entre as classes sociais. Sem esse esforço, será impossível pro-
possa interagir com outras manifestações e outros espaços cultu- piciar ao(à) aluno(a) uma compreensão maior do mundo em que
rais como museus, exposições, centros culturais, música erudita, vive, para que nele possa atuar autonomamente. Sem esse esforço,
clássicos da literatura. Se aceitarmos a inexistência, no mundo con- será impossível a proposição de alternativas viáveis, decorrentes de
temporâneo, de qualquer “pureza cultural” (McCarthy, 1998), se reflexões e investigações cuidadosas e rigorosas. Daí a necessida-
pretendermos abrir espaço na escola para a complexa interpene- de de um posicionamento claro e de um comprometimento com a
tração das culturas e para a pluralidade cultural, tanto as manifesta- pesquisa.
ções culturais hegemônicas como as subalternizadas precisam inte- Será possível e desejável que nós, profissionais da educação
grar o currículo e ser objeto de apreciação e crítica. Talvez fosse útil, infantil e do ensino fundamental, venhamos a nos envolver com
para o desenvolvimento do que sugerimos, que discutíssemos, na pesquisa? Julgamos que sim. Propomos que todo (a) profissional
escola, com que recursos podemos contar em nossa comunidade e da educação venha, de algum modo, a participar de pesquisas so-
como fazer para que outros recursos venham, de alguma forma, a bre sua prática pedagógica ou administrativa, sobre a disciplina
tornar-se familiares a nossos(as) alunos(as). que ensina, sobre os saberes docentes, sobre o currículo, sobre a
Nessa perspectiva, há um ponto que desejamos destacar. Ao avaliação, sobre a educação em geral, sobre a sociedade em que
intentarmos transformar a escola em um espaço cultural, estamos vivemos ou sobre temas diversificados (não incluídos no currículo).
convidando cada professor(a), como intelectual que é, a desempe- Consideramos que gestores e docentes precisam organizar os tem-
nhar o papel de crítico(a) cultural. Estamos considerando que a ati- pos e os espaços escolares para abranger as atividades de pesquisa
vidade intelectual implica o questionamento do que parece inscrito aqui propostas. É fundamental que, nesse esforço, se verifiquem os
na natureza das coisas, do que nos é apresentado como natural, recursos necessários e os recursos com que se pode contar. A co-
questionamento esse que visa, fundamentalmente, a mostrar que munidade em que a escola se situa pode e deve participar tanto do
as coisas não são inevitáveis. A atividade intelectual centra-se, as- planejamento como da implementação dos estudos. A Secretaria
sim, na crítica da cultura em que estamos imersos. Como se expres- de Educação deve ser chamada a colaborar.
sa essa atividade na prática curricular? A pesquisa do(a) professor(a) da escola básica certamente di-
Julgamos que cabe à escola, por meio de suas atividades peda- fere da pesquisa levada a cabo na universidade e nos centros de
gógicas, mostrar ao aluno que as coisas não são inevitáveis e que pesquisa, o que, entretanto, não a torna inferior. A participação em
tudo que passa por natural precisa ser questionado e pode, conse- pesquisa pode mesmo contribuir para que o trabalho do profissio-
quentemente, ser modificado. Cabe à escola levá-lo a compreender nal da educação venha a ser mais valorizado.
que a ordem social em que está inserido define-se por ações sociais Estamos defendendo, em resumo, que se torne o currículo, em
cujo poder não é absoluto. O que existe precisa ser visto como a cada escola, um espaço de pesquisa. A pesquisa, concebida em um
condição de uma ação futura, não como seu limite. Nossos ques- sentido mais amplo, reiteramos, não está restrita à universidade.

68
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
Como professores(as)/ intelectuais que atuamos na escola, preci- 3. (Prefeitura Municipal de Patos-MG) Vygotsky foi um dos te-
samos enfrentar esse desafio, tornando-nos pesquisadores(as) dos óricos interacionistas na área da Psicologia que tem influenciado
saberes, valores e práticas que ensinamos e/ou desenvolvemos, pesquisas e práticas pedagógicas. Sobre suas concepções em rela-
centrando nosso ensino na pesquisa. Nesse processo, poderemos ção ao desenvolvimento da criança, analise as alternativas abaixo e
aperfeiçoar nosso desempenho profissional, poderemos nos situar marque a alternativa INCORRETA:
melhor no mundo, poderemos, ainda, nos engajar na luta por me- (A) Para Vygotsky a construção do pensamento e da subjeti-
lhorá-lo. vidade é um processo cultural e não uma formação natural e
Nesse processo, poderemos despertar nos alunos e nas alu- universal da espécie humana.
nas o espírito de pesquisa, de busca, de ter prazer no aprender, (B) A construção do pensamento, de acordo com Vygotsky,
no conhecer coisas novas. Não deveríamos, então, começar, já na ocorre por meio do uso de signos e do emprego de instrumen-
próxima reunião de professores(as) de nossa escola, a refletir so- tos elaborados na história humana.
bre como tornar o currículo um espaço de estudos e de pesquisas? (C) Segundo a perspectiva vigotskiana, os signos não são cria-
Estamos certos de que essa discussão pode ser extremamente esti- dos nem descobertos pelos sujeitos, mas construídos e apro-
mulante e proveitosa.8 priados com base na relação com parceiros mais experientes
que emprestam significações a suas ações em tarefas realiza-
das conjuntamente.
(D) Entre outros signos, a apropriação pela pessoa da lingua-
EXERCÍCIOS
gem de seu grupo social constitui o processo mais importante
no seu desenvolvimento.
(E) De acordo com Vygotsky, o pensamento humano é formado
1. (FSADU/Prefeitura Municipal de São José de Ribamar) A Fi-
losofia e o exercício do filosofar sempre tiveram, (e vão continuar primordialmente pelas aptidões geneticamente determinadas
tendo) consequências para a praxis educativa. São muitas as con- e amadurecidas com base na estimulação ambiental.
cepções teórico-filosóficas que ao longo da História vêm produzin-
do encaminhamentos para a educação sistemática, de modo que 4. (IMPARH/Prefeitura de Fortaleza – CE) A escola contemporâ-
torna-se imprescindível uma abordagem filosófica em todos os as- nea, caracterizada por ser democrática, está sempre em defesa da
pectos da realidade educacional. humanização, baseada nos princípios de respeito e solidariedade
Tomando por base essa assertiva, assinale a alternativa COR- humana, busca assegurar uma aprendizagem significativa. Na pers-
RETA: pectiva de atender aos desafios impostos pela sociedade atual, a
(A) As abordagens filosóficas estão presentes em todos os as- escola vem se organizando internamente reconhecendo e respei-
pectos da realidade educacional de tal modo que é uma cons- tando as(os):
tante a postura reflexivo-crítica dos professores. (A) políticas públicas, analfabetismos, fisiologias.
(B) O saber filosófico possibilita o explicitar criticamente os (B) diferenças, gêneros, diferentes tipos de gestão.
conceitos e valores que sustentam as ações educativas, sem, (C) diversidades, diferenças sociais, potencialidades.
contudo, encaminhar para novas posições. (D) intervenções governamentais, participações, articulações.
(C) Os pressupostos teórico-filosóficos promovem um fecundo
intercurso com as abordagens científicas da educação, cons- 5. (CESPE/SAEB-BA) A história da educação no Brasil foi marca-
truindo uma fonte permanente e crítica de significação e dire- da por duas grandes correntes pedagógicas: a liberal e a progres-
cionamento para o alcance de metas. sista. Assinale a opção correspondente às tendências identificadas
(D) O pensar filosófico, enquanto forma especial de conheci- com a corrente pedagógica liberal.
mento da prática existencial sob os mais diversos prismas, con- (A) histórico-crítica, tecnicista, renovada não diretiva e libertá-
tribui em toda a extensão para as formas especiais de conhecer ria
da prática educativa. (B) tradicional, renovada progressivista, renovada não diretiva
(E) A compreensão filosófica do educar revela sempre o papel e tecnicista
do campo epistêmico e axiológico da Filosofia, podendo a edu- (C) tradicional, tecnicista, libertadora e renovada não diretiva
cação dispensar a contribuição das Ciências Humanas.
(D) renovada progressivista, tradicional, libertária e renovada
não diretiva
2. (FSADU/Prefeitura Municipal de São José de Ribamar) A Car-
ta Magna do nosso país (1988) elenca direitos civis, políticos e so-
6. (NUCEPE/SEDUC-PI) Entre os princípios que fundamentam a
ciais dos cidadãos, de modo que, dentre os fundamentos do Estado
Democrático de Direito, está a cidadania. Com base no texto Cons- organização e gestão do currículo da escola brasileira e pelos quais
titucional, a educação brasileira, por meio dos Parâmetros Curricu- se revelam a visão de mundo que orienta as práticas pedagógicas
lares Nacionais (PCNs,) propõe uma educação comprometida com dos educadores e organizam o trabalho do estudante, está a abor-
a cidadania e elege princípios, segundo os quais, deve-se orientar dagem interdisciplinar.
a educação formal. Assinale a alternativa que contém esses princí- A definição que melhor expressa o conceito desta abordagem
pios. é:
(A) Diálogo; confiança; promoção de valores humanos. (A) A expressão das frações do conhecimento hierarquizadas
(B) Pluralidade cultural, convívio social; direitos e deveres. conforme critérios de importância do conhecimento.
(C) Solidariedade; justiça; coparticipação sociopolítica. (B) O estudo de um objeto de uma disciplina pelo ângulo de vá-
(D) Dignidade; igualdade de direitos; participação; correspon- rias outras ao mesmo tempo, restringindo-se a uma disciplina.
sabilidade pela vida social. (C) O conhecimento próprio da disciplina, mas está para além
(E) Responsabilidade; respeito às diferenças; direito à saúde. dela, na relação entre o todo e a parte e entre a parte e o todo.
(D) Estudo das características regionais e locais da sociedade,
8 Fonte: www.portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/indag3.
pdf
da cultura, da economia e da comunidade escolar.

69
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
(E) Trabalho de integração das diferentes áreas do conhecimen- IV. Na transversalidade que constitui o currículo escolar.
to, em um trabalho de cooperação e troca, aberto ao diálogo e Estão corretas as alternativas:
ao planejamento. (A) I e II.
(B) II e IV
7. (ICAP). Um projeto pedagógico poderá ser orientado por três (C) I, II e III
grandes diretrizes: (D) I, II e IV
I. Posicionar-se em relação às questões sociais e interpretar a (E) II, III e IV
tarefa educativa como uma intervenção na realidade no momento
presente; 11.(FESAG/TJ-MA) O projeto político pedagógico é um instru-
II. Não tratar os valores apenas como conceitos ideais; mento que deve ser implementado na perspectiva de uma educa-
III. Incluir essa perspectiva no ensino dos conteúdos das áreas ção para a cidadania. Com esta compreensão é correto afirmar que:
de conhecimento escolar. (A) O projeto político pedagógico precisa ser construído inclu-
Assinale a alternativa correta: sive por interferência política partidária. Um processo sempre
(A) Apenas o item I está correto. inconcluso e se possível parcial
(B) Apenas o item II está correto. (B) O projeto político pedagógico não nega o instituído coleti-
(C) Apenas o item III está correto. vamente, que é a sua história, seus atores. O projeto político
(D) Apenas os itens I e III estão corretos. pedagógico não deve confrontar o instituído com o instituinte.
(E) Todos os itens estão corretos. (C) O projeto político pedagógico precisa ser construído sem
8. (CONSULPLAN/Órgão: TSE) Numa relação professor-aluno
interferência política. Um processo sempre inconcluso e se
cujo contrato didático seja construído a partir de laços de confian-
possível imparcial.
ça, são atributos imprescindíveis
(D) O projeto político pedagógico não nega o instituído coleti-
I. contar com os conhecimentos e as contribuições dos alunos,
vamente, que é a sua história, seus atores. O projeto político
tanto no início das atividades quanto durante sua realização.
II. ajudar os estudantes a encontrar sentido no que estão pes- pedagógico sempre confronta o instituído com o instituinte.
quisando e estudando. (E) N.R.A
III. promover um clima, no qual a autoestima e o autoconceito
fiquem minimizados. 12. (CONSULPLAN/ TSE) Um projeto pedagógico, na perspecti-
IV. potencializar progressivamente a autonomia e a dependên- va de Freire, deve tomar o “homem como um ser de relações, tem-
cia dos estudantes na definição de objetivos para o trabalho. poralizado e situado”. Isso significa que o projeto pedagógico deve
Assinale (A) considerar os contextos sociais e culturais em que vivem os
(A) se apenas as afirmativas I e II estiverem corretas. sujeitos que irão fazer parte dele.
(B) se apenas as afirmativas I, II e III estiverem corretas. (B) desenvolver uma série de ações que permitam a ocultação
(C) se apenas as afirmativas II e III estiverem corretas. de saberes ingênuos e depositários de não-saberes.
(D) se apenas as afirmativas I, II e IV estiverem corretas. (C) sobrelevar a realidade dos sujeitos envolvidos no projeto.
(D) prescindir de uma reflexão sobre o homem e de suas con-
9. “Qual é o papel da avaliação no processo de ensino aprendi- dições culturais.
zagem? É certo que podermos separar o fato de ensinar do fato de
ensinar e avaliar? Antes de ensinar, sempre fazemos uma avaliação 13. (VUNESP/Prefeitura de São José dos Campos – SP) A prá-
inicial?” BASSEDAS, HUGUETE, SOLE, 1999. São muitos os questio- tica pedagógica nas diversas áreas do conhecimento tem sofrido
namentos sobre avaliação. Analise as afirmativas a seguir e marque influências de teorias de desenvolvimento e de aprendizagem de-
a alternativa INCORRETA: senvolvidas pela Psicologia. Atualmente, têm ganhado destaque as
(A) A avaliação é utilizada para ajustar ou modificar as ativida- posturas críticas, transformadoras e emancipadoras que, segundo
des em função dos conhecimentos e as dificuldades no início Loureiro et alii (2009),
de uma sequência de ensino e de aprendizagem. (A) defendem o ideário de que a educação deve objetivar a
(B) Uma prática de avaliação formativa supõe um domínio do adaptação e o ajustamento social do indivíduo.
currículo e dos processos de ensino e de aprendizagem. (B) rompem com a ideia de que o desenvolvimento é sempre
(C) Ao elaborar uma avaliação, o educador deve observar a um pré-requisito para a aprendizagem.
contextualização, a interdisciplinaridade e a parametrização.
(C) propõem a classificação e a rotulação de sujeitos com difi-
(D) A avaliação se restringe ao julgamento sobre sucesso ou
culdades escolares, sobressaltando-se a dimensão patológica.
fracasso do aluno e pode ser compreendida como um conjunto
(D) incentivam a utilização de métodos, técnicas e testes es-
de ações que orientam a intervenção pedagógica.
colares com padrões de normalidade instituídos e legitimados
10. (IF-SE) O Observatório da Diversidade Cultural, ao tratar pela sociedade.
das relações entre educação e diversidade, assume que, “uma edu- (E) rejeitam a tese de que aprendizagem e desenvolvimento
cação para a diversidade cultural, deixaria de ser pensada no limite estão inter-relacionados ao longo de todo o processo educa-
de uma educação para a tolerância, transformando-se na educa- cional.
ção para uma convivência/sociedade pluralista, uma sociedade
da equidade das diferenças”. Neste entendimento, uma educação 14. (IBADE/SEDUC-RO) Sobre rotina e gestão da sala de aula,
pautada na diversidade cultural seria uma educação que se funda: leia as afirmativas a seguir.
I. Nas diferenças, que constituem patrimônio antropológico da I. No trabalho pedagógico diário, o professor precisa gerir o uso
humanidade; do tempo em sala de aula direcionado para aprendizagem.
II. Nos processos de interação entre essas diferenças, que II. As situações no relacionamento com seus alunos, ou mesmo
constituem nossa diversidade; entre eles, podem comprometer o ambiente ou o empenho coleti-
III. No projeto político de sociedades pluralistas; vo no processo de ensino-aprendizagem.

70
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
III. Os saberes experienciais surgem como núcleo vital do saber
docente, núcleo a partir do qual os professores tentam transformar
ANOTAÇÕES
suas relações de exterioridade com os saberes em relações de inte-
rioridade com sua própria prática. ______________________________________________________
IV. A existência de uma pluralidade de saberes docentes pos-
sibilita a formação ou a existência de um único padrão de práticas ______________________________________________________
docentes que viabilizem o sucesso na aprendizagem.
Está correto apenas o que se afirma em: ______________________________________________________
(A) I e IV.
(B)II, III e IV. ______________________________________________________
(C) I e III. ______________________________________________________
(D) I, II e III.
(E)II e III. ______________________________________________________

15. (Quadrix/2019 - Prefeitura de Jataí/GO) As transforma- ______________________________________________________


ções sociais e educacionais decorrentes dos avanços tecnológicos
exigem do professor o desenvolvimento de novas habilidades, so- ______________________________________________________
bretudo para atuar na mediação do conhecimento, rompendo com
uma lógica tradicionalista, em que o seu papel basicamente se res- ______________________________________________________
tringe à transmissão de conteúdos.
______________________________________________________
Nesse sentido, a respeito da mediação pedagógica, julgue os
itens a seguir. ______________________________________________________
I A mediação pedagógica fica impossibilitada quando a situa-
ção de aprendizagem é orientada por estratégias didático‐pedagó- ______________________________________________________
gicas tradicionais.
II A mediação pedagógica depende fundamentalmente das ______________________________________________________
tecnologias da informação e da comunicação, sem as quais os pro-
cessos interativos não são possíveis. ______________________________________________________
III A mediação envolve a interação entre professor e estudante,
dos estudantes entre si e do estudante consigo mesmo. ______________________________________________________
IV O uso das tecnologias, por si só, não garante uma prática ______________________________________________________
mediadora, podendo ser, inclusive, um obstáculo à mediação.
______________________________________________________
A quantidade de itens certos é igual a
(A) 0. ______________________________________________________
(B) 1.
(C) 2. ______________________________________________________
(D) 3.
(E) 4. ______________________________________________________

GABARITO ______________________________________________________

______________________________________________________

1 C ______________________________________________________
2 D _____________________________________________________
3 E
_____________________________________________________
4 C
5 B ______________________________________________________
6 E ______________________________________________________
7 E
______________________________________________________
8 A
9 D ______________________________________________________

10 C ______________________________________________________
11 D
______________________________________________________
12 A
13 B ______________________________________________________

14 D ______________________________________________________
15 C
______________________________________________________

71
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE LEGISLAÇÃO
______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

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______________________________________________________ ______________________________________________________

72
CONHECIMENTOS GERAIS E ATUALIDADES
1. Conhecimentos de assuntos atuais e relevantes nas áreas da política, economia, transporte, sociedade, meio ambiente, educação,
saúde, ciência, tecnologia, desenvolvimento sustentável, segurança pública, energia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
CONHECIMENTOS GERAIS E ATUALIDADES
fontes de imediato através dos veículos de comunicação virtuais,
CONHECIMENTOS DE ASSUNTOS ATUAIS E RELEVAN- tornando a ponte entre o estudo desta disciplina tão fluida e a vera-
TES NAS ÁREAS DA POLÍTICA, ECONOMIA, TRANSPOR- cidade das informações um caminho certeiro.
TE, SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE, EDUCAÇÃO, SAÚDE,
CIÊNCIA, TECNOLOGIA, DESENVOLVIMENTO SUSTEN- Acesse: Área do Concurseiro www.editorasolucao.com.br/ma-
TÁVEL, SEGURANÇA PÚBLICA, ENERGIA teriais
Bons estudos!
A importância do estudo de atualidades
Dentre todas as disciplinas com as quais concurseiros e estu-
dantes de todo o país se preocupam, a de atualidades tem se tor-
nado cada vez mais relevante. Quando pensamos em matemática,
ANOTAÇÕES
língua portuguesa, biologia, entre outras disciplinas, inevitavelmen-
te as colocamos em um patamar mais elevado que outras que nos ______________________________________________________
parecem menos importantes, pois de algum modo nos é ensinado a
hierarquizar a relevância de certos conhecimentos desde os tempos ______________________________________________________
de escola.
No, entanto, atualidades é o único tema que insere o indivíduo ______________________________________________________
no estudo do momento presente, seus acontecimentos, eventos
e transformações. O conhecimento do mundo em que se vive de ______________________________________________________
modo algum deve ser visto como irrelevante no estudo para concur-
______________________________________________________
sos, pois permite que o indivíduo vá além do conhecimento técnico
e explore novas perspectivas quanto à conhecimento de mundo. ______________________________________________________
Em sua grande maioria, as questões de atualidades em con-
cursos são sobre fatos e acontecimentos de interesse público, mas ______________________________________________________
podem também apresentar conhecimentos específicos do meio po-
lítico, social ou econômico, sejam eles sobre música, arte, política, ______________________________________________________
economia, figuras públicas, leis etc. Seja qual for a área, as questões
de atualidades auxiliam as bancas a peneirarem os candidatos e se- ______________________________________________________
lecionarem os melhores preparados não apenas de modo técnico. ______________________________________________________
Sendo assim, estudar atualidades é o ato de se manter cons-
tantemente informado. Os temas de atualidades em concursos são ______________________________________________________
sempre relevantes. É certo que nem todas as notícias que você vê
na televisão ou ouve no rádio aparecem nas questões, manter-se ______________________________________________________
informado, porém, sobre as principais notícias de relevância nacio-
nal e internacional em pauta é o caminho, pois são debates de ex- ______________________________________________________
trema recorrência na mídia.
______________________________________________________
O grande desafio, nos tempos atuais, é separar o joio do trigo.
Com o grande fluxo de informações que recebemos diariamente, é ______________________________________________________
preciso filtrar com sabedoria o que de fato se está consumindo. Por
diversas vezes, os meios de comunicação (TV, internet, rádio etc.) ______________________________________________________
adaptam o formato jornalístico ou informacional para transmitirem
outros tipos de informação, como fofocas, vidas de celebridades, ______________________________________________________
futebol, acontecimentos de novelas, que não devem de modo al-
gum serem inseridos como parte do estudo de atualidades. Os in- ______________________________________________________
teresses pessoais em assuntos deste cunho não são condenáveis de
______________________________________________________
modo algum, mas são triviais quanto ao estudo.
Ainda assim, mesmo que tentemos nos manter atualizados ______________________________________________________
através de revistas e telejornais, o fluxo interminável e ininterrupto
de informações veiculados impede que saibamos de fato como es- ______________________________________________________
tudar. Apostilas e livros de concursos impressos também se tornam
rapidamente desatualizados e obsoletos, pois atualidades é uma ______________________________________________________
disciplina que se renova a cada instante.
O mundo da informação está cada vez mais virtual e tecnoló- ______________________________________________________
gico, as sociedades se informam pela internet e as compartilham _____________________________________________________
em velocidades incalculáveis. Pensando nisso, a editora prepara
mensalmente o material de atualidades de mais diversos campos _____________________________________________________
do conhecimento (tecnologia, Brasil, política, ética, meio ambiente,
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CONHECIMENTOS GERAIS E ATUALIDADES
ANOTAÇÕES ANOTAÇÕES

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