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DE ACORDO COM EDITAL DE CONCURSO PÚBLICO Nº 001/2020

ITABORAÍ
PREFEITURA MUNICIPAL DE ITABORAÍ - RIO DE JANEIRO

PROFESSOR DOCENTE II
ENSINO FUNDAMENTAL I
(1º AO 5º ANO)

CONTEÚDO
- Língua Portuguesa GRÁTIS
- Estatuto dos Funcionários Públicos CONTEÚDO ONLINE
Municipais de Itaboraí
- História do Município de Itaboraí Português
- Fundamentos da Educação - Figuras de Linguagem
Conhecimentos Específicos
Interpretação de Texto
- Tipologia Textual
e Tipos de Discurso

Direitos Humanos
- Direitos e Garantias
Fundamentais na
Constituição Federal
Prefeitura de Itaboraí - Rio de Janeiro

ITABORAÍ-RJ
Professor Docente II - Ensino Fundamental I (1º ao 5º ano)

NV-078MR-20

Cód.: 9088121442993
Todos os direitos autorais desta obra são protegidos pela Lei nº 9.610, de 19/12/1998.
Proibida a reprodução, total ou parcialmente, sem autorização prévia expressa por escrito da editora e do autor. Se você
conhece algum caso de “pirataria” de nossos materiais, denuncie pelo sac@novaconcursos.com.br.

OBRA

Prefeitura Municipal De Itaboraí - RJ

Professor Docente II - Ensino Fundamental I (1º ao 5º ano)

Edital de Concurso Público Nº 001/2020

AUTORES
Língua Portuguesa - Profª Zenaide Auxiliadora Pachegas Branco
Estatuto dos Funcionários Públicos Municipais de Itaboraí - Elaboração Interna
História do Município de Itaboraí - Elaboração Interna
Fundamentos da Educação - Profª Ana Maria B. Quiqueto
Conhecimentos Especificos - Profª Ana Maria B. Quiqueto , Profª Natalia Noronha e Profª Marcia Eduvirges

PRODUÇÃO EDITORIAL/REVISÃO
Aline Mesquita
Josiane Sarto
Roberth Kairo

DIAGRAMAÇÃO
Dayverson Ramon
Higor Moreira
Rodrigo Bernardes

CAPA
Joel Ferreira dos Santos

Edição MAR/2020

www.novaconcursos.com.br

sac@novaconcursos.com.br
APRESENTAÇÃO

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SUMÁRIO

LÍNGUA PORTUGUESA

Interpretação de textos. Vocabulário em relação ao contexto...................................................................................................... 1


Ortografia............................................................................................................................................................................................................ 8
Vocabulário: sinônimos, antônimos, homônimos e parônimos. Denotação e conotação.................................................. 12
Classes de palavras e suas funções no texto. Verbos: conjugação, emprego dos tempos, modos, vozes verbais e
suas implicações para organização do texto........................................................................................................................................ 16
Concordância nominal e verbal e sua relação com as variedades linguísticas....................................................................... 53
Regência nominal e verbal, em conformidade com a variedade padrão da língua, em situações de uso.................. 60
Estrutura do período simples e do período composto. Funções sintáticas.............................................................................. 67

ESTATUTO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS MUNICIPAIS DE ITABORAÍ

Lei nº 502, de 04 de dezembro de 1979, que dispõe sobre o Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Município
de Itaboraí; Lei n. º 1.392, de 03 de julho de 1996, que dá nova redação à Lei Municipal n. º 502, de 04 de dezembro
de 1979....................................................................................................................................................................................................................... 1

HISTÓRIA DO MUNICÍPIO DE ITABORAÍ

A cidade............................................................................................................................................................................................................... 01
História................................................................................................................................................................................................................. 01
Prédios Históricos............................................................................................................................................................................................ 05
Região Metropolitana.................................................................................................................................................................................... 10

FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

Educação, sociedade e cultura................................................................................................................................................................... 01


Os Pilares da educação: Aprender a conhecer, Aprender a fazer, Aprender a viver e Aprender a ser.......................... 04
Psicologia da Educação: Teorias da aprendizagem............................................................................................................................ 11
Contribuições de Piaget e Vygotsky à Educação................................................................................................................................ 19
Currículo: concepções, elaboração, prática........................................................................................................................................... 24
Interdisciplinaridade, transdisciplinaridade e transversalidade..................................................................................................... 33
Políticas públicas: Políticas Públicas Inclusivas de educação.......................................................................................................... 34
Educação e cultura afro-brasileira............................................................................................................................................................. 41
Protagonismo infanto-juvenil..................................................................................................................................................................... 43
Diversidade e Sexualidade........................................................................................................................................................................... 48
O Jovem e o mundo do trabalho,Tecnologias na educação; Bullying........................................................................................ 49
Cotidiano escolar: Integração docente e discente.............................................................................................................................. 64
Modalidades de gestão. Conselho de classe, reuniões pedagógicas, formação continuada............................................ 67
SUMÁRIO

Planejamento, acompanhamento e avaliação; Projeto político-pedagógico.......................................................................... 68


Lei nº 9.394/96. Lei nº 12.796/2013 (que altera a Lei nº 9.394/96).............................................................................................. 81
Plano Nacional de Educação - Lei nº 13.005/2014............................................................................................................................. 101
Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei nº 8.069/1990 (ECA): Artigos 1º a 24 e 53 a 69; Parte Especial: Título
I; Título II; Título III; Título V – artigos 131 a 140................................................................................................................................. 105
Constituição Federal/88 – artigos 206 a 214........................................................................................................................................ 116
Emenda Constitucional nº 53, de 19/12/2006, publicada em 20/12/2006............................................................................... 119
Lei nº 11.494, de 20/6/2007, publicada em 21/6/2007..................................................................................................................... 120
Lei nº 11.645 de 10/03/2008....................................................................................................................................................................... 131
Lei Orgânica do Município de Itaboraí..................................................................................................................................................................... 131
Legislação para inclusão de pessoa com deficiência Lei n.° 13.146 de 06/07/2015.......................................................................... 131
Base Nacional Comum Curricular.............................................................................................................................................................. 131

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Jogos, Brincadeiras E Psicomotricidade.................................................................................................................................................. 01


A Arte Na Escola: Desenho, Teatro, Música, Pintura.......................................................................................................................... 08
Rotina E Gestão Em Sala De Aula: Questões Das Relações Do Grupo........................................................................................ 47
Relação Família X Escola................................................................................................................................................................................ 57
Ação Pedagógica. Objetivos Do Ensino Fundamental...................................................................................................................... 60
Brincar E Aprender........................................................................................................................................................................................... 84
Aprendendo A Aprender.............................................................................................................................................................................. 84
Identificação Da População A Ser Atendida, A Atividade Econômica, O Estilo De Vida, A Cultura E As Tradições.. 85
Interação Social. Resolução De Problemas............................................................................................................................................ 85
Organização Do Currículo............................................................................................................................................................................ 85
Língua Portuguesa: Letramento E Alfabetização, Processo De Aprendizagem Da Leitura E Da Escrita........................ 94
Trabalho Com Textos De Literatura Infantil........................................................................................................................................... 115
Funções Dos Termos Nos Textos. Gêneros Textuais E Seus Comunicativos. Tipologia Textual E Sua Predominância
Com Gêneros Específicos.............................................................................................................................................................................. 128
Matemática: A Construção Dos Conceitos Matemáticos................................................................................................................. 141
Sistema De Numeração Em Diferentes Bases....................................................................................................................................... 144
Resolução De Problemas Envolvendo As Quatro Operações......................................................................................................... 149
Ciências: Água, Ar E Solo. Transformações Dos Materiais Na Natureza..................................................................................... 172
Seres Vivos. Suas Relações E Interações Ambientais, Cadeia E Teia Alimentar....................................................................... 185
Corpo Humano: Higiene, Alimentação, Estrutura, Funções, Reprodução E Sexualidade.................................................... 192
Meio Ambiente. Impactos Ambientais. Manejo E Conservação. Lixo. Poluição. Experiências........................................... 216
História E Geografia: Brasil: Aspectos Sociais E Políticos. Desigualdades Regionais No Brasil De Hoje........................ 227
Município De Itaboraí: Aspectos Históricos, Geográficos E Econômicos................................................................................... 231
Espaço E Tempo: Localização, Organização, Representação.......................................................................................................... 231
ÍNDICE

LÍNGUA PORTUGUESA

Interpretação de textos. Vocabulário em relação ao contexto............................................................................................................. 1


Ortografia................................................................................................................................................................................................................... 8
Vocabulário: sinônimos, antônimos, homônimos e parônimos. Denotação e conotação......................................................... 12
Classes de palavras e suas funções no texto. Verbos: conjugação, emprego dos tempos, modos, vozes verbais e suas
implicações para organização do texto......................................................................................................................................................... 16
Concordância nominal e verbal e sua relação com as variedades linguísticas.............................................................................. 53
Regência nominal e verbal, em conformidade com a variedade padrão da língua, em situações de uso......................... 60
Estrutura do período simples e do período composto. Funções sintáticas..................................................................................... 67
Compreender significa
INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS. Entendimento, atenção ao que realmente está escrito.
VOCABULÁRIO EM RELAÇÃO AO O texto diz que...
CONTEXTO É sugerido pelo autor que...
De acordo com o texto, é correta ou errada a afirmação...
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL O narrador afirma...

Texto – é um conjunto de ideias organizadas e rela- Erros de interpretação


cionadas entre si, formando um todo significativo capaz
de produzir interação comunicativa (capacidade de codi- • Extrapolação (“viagem”) = ocorre quando se sai do
ficar e decodificar). contexto, acrescentando ideias que não estão no
texto, quer por conhecimento prévio do tema quer
Contexto – um texto é constituído por diversas frases. pela imaginação.
Em cada uma delas, há uma informação que se liga com • Redução = é o oposto da extrapolação. Dá-se aten-
a anterior e/ou com a posterior, criando condições para ção apenas a um aspecto (esquecendo que um tex-
a estruturação do conteúdo a ser transmitido. A essa in- to é um conjunto de ideias), o que pode ser insufi-
terligação dá-se o nome de contexto. O relacionamento ciente para o entendimento do tema desenvolvido.
entre as frases é tão grande que, se uma frase for retirada • Contradição = às vezes o texto apresenta ideias
de seu contexto original e analisada separadamente, po- contrárias às do candidato, fazendo-o tirar con-
derá ter um significado diferente daquele inicial. clusões equivocadas e, consequentemente, errar a
questão.
Intertexto - comumente, os textos apresentam refe-
rências diretas ou indiretas a outros autores através de Observação: Muitos pensam que existem a ótica do
citações. Esse tipo de recurso denomina-se intertexto. escritor e a ótica do leitor. Pode ser que existam, mas em
uma prova de concurso, o que deve ser levado em consi-
Interpretação de texto - o objetivo da interpretação deração é o que o autor diz e nada mais.
de um texto é a identificação de sua ideia principal. A
partir daí, localizam-se as ideias secundárias (ou fun- Os pronomes relativos são muito importantes na in-
damentações), as argumentações (ou explicações), que terpretação de texto, pois seu uso incorreto traz erros de
levam ao esclarecimento das questões apresentadas na coesão. Assim sendo, deve-se levar em consideração que
prova. existe um pronome relativo adequado a cada circunstân-
cia, a saber:
Normalmente, em uma prova, o candidato deve: que (neutro) - relaciona-se com qualquer anteceden-
• Identificar os elementos fundamentais de uma ar- te, mas depende das condições da frase.
gumentação, de um processo, de uma época (nes- qual (neutro) idem ao anterior.
te caso, procuram-se os verbos e os advérbios, os
quem (pessoa)
quais definem o tempo).
cujo (posse) - antes dele aparece o possuidor e depois
• Comparar as relações de semelhança ou de dife-
o objeto possuído.
renças entre as situações do texto.
como (modo)
• Comentar/relacionar o conteúdo apresentado com
onde (lugar)
uma realidade.
quando (tempo)
• Resumir as ideias centrais e/ou secundárias.
quanto (montante)
• Parafrasear = reescrever o texto com outras
palavras. Exemplo:
Falou tudo QUANTO queria (correto)
Condições básicas para interpretar Falou tudo QUE queria (errado - antes do QUE, deveria
aparecer o demonstrativo O).
Fazem-se necessários: conhecimento histórico-literá-
rio (escolas e gêneros literários, estrutura do texto), lei- Dicas para melhorar a interpretação de textos
tura e prática; conhecimento gramatical, estilístico (qua-
lidades do texto) e semântico; capacidade de observação • Leia todo o texto, procurando ter uma visão geral
e de síntese; capacidade de raciocínio. do assunto. Se ele for longo, não desista! Há muitos
candidatos na disputa, portanto, quanto mais infor-
LÍNGUA PORTUGUESA

Interpretar/Compreender mação você absorver com a leitura, mais chances


terá de resolver as questões.
Interpretar significa: • Se encontrar palavras desconhecidas, não interrom-
Explicar, comentar, julgar, tirar conclusões, deduzir. pa a leitura.
Através do texto, infere-se que... • Leia o texto, pelo menos, duas vezes – ou quantas
É possível deduzir que... forem necessárias.
O autor permite concluir que... • Procure fazer inferências, deduções (chegar a uma
Qual é a intenção do autor ao afirmar que... conclusão).

1
• Volte ao texto quantas vezes precisar. as mãos ao volante, ouvindo rock and roll no rádio. Pegar
• Não permita que prevaleçam suas ideias sobre a estrada com os filhos pequenos revelou-se uma delícia
as do autor. insuspeitada.
• Fragmente o texto (parágrafos, partes) para melhor Talvez porque eu tenha começado tarde, guiar me pare-
compreensão. ce, ainda hoje, uma experiência incomum. É um ato que,
• Verifique, com atenção e cuidado, o enunciado de mesmo repetido de forma diária, nunca se banalizou
cada questão. inteiramente.
• O autor defende ideias e você deve percebê-las. Na véspera do Ano Novo, em Ubatuba, eu fiz outra des-
• Observe as relações interparágrafos. Um parágra- coberta temporã.
fo geralmente mantém com outro uma relação de Depois de décadas de tentativas inúteis e frustrantes,
num final de tarde ensolarado eu conquistei o dom da
continuação, conclusão ou falsa oposição. Identifi-
flutuação. Nas águas cálidas e translúcidas da praia Bra-
que muito bem essas relações.
va, sob o olhar risonho da minha mulher, finalmente con-
• Sublinhe, em cada parágrafo, o tópico frasal, ou seja,
segui boiar.
a ideia mais importante.
Não riam, por favor. Vocês que fazem isso desde os oito
• Nos enunciados, grife palavras como “correto” ou anos, vocês que já enjoaram da ausência de peso e esfor-
“incorreto”, evitando, assim, uma confusão na ço, vocês que não mais se surpreendem com a sensação
hora da resposta – o que vale não somente para de balançar ao ritmo da água – sinto dizer, mas vocês se
Interpretação de Texto, mas para todas as demais esqueceram de como tudo isso é bom.
questões! Nadar é uma forma de sobrepujar a água e impor-se a
• Se o foco do enunciado for o tema ou a ideia ela. Boiar é fazer parte dela – assim como do sol e das
principal, leia com atenção a introdução e/ou a montanhas ao redor, dos sons que chegam filtrados ao
conclusão. ouvido submerso, do vento que ergue a onda e lança
• Olhe com especial atenção os pronomes relativos, água em nosso rosto. Boiar é ser feliz sem fazer força, e
pronomes pessoais, pronomes demonstrativos, isso, curiosamente, não é fácil.
etc., chamados vocábulos relatores, porque reme- Essa experiência me sugeriu algumas considerações so-
tem a outros vocábulos do texto. bre a vida em geral.
Uma delas, óbvia, é que a gente nunca para de aprender
SITES ou de avançar. Intelectualmente e emocionalmente, de
Disponível em: <http://www.tudosobreconcursos. um jeito prático ou subjetivo, estamos sempre incorpo-
com/materiais/portugues/como-interpretar-textos> rando novidades que nos transformam. Somos geneti-
Disponível em: <http://portuguesemfoco.com/pf/ camente elaborados para lidar com o novo, mas não só.
09-dicas-para-melhorar-a-interpretacao-de-textos-em- Também somos profundamente modificados por ele. A
-provas> cada momento da vida, quando achamos que tudo já
aconteceu, novas capacidades irrompem e fazem de nós
Disponível em: <http://www.portuguesnarede.
uma pessoa diferente do que éramos. Uma pessoa capaz
com/2014/03/dicas-para-voce-interpretar-melhor-um.
de boiar é diferente daquelas que afundam como pedras.
html>
Suspeito que isso tenha importância também para os
Disponível em: <http://vestibular.uol.com.br/cursi- relacionamentos.
nho/questoes/questao-117-portugues.htm> Se a gente não congela ou enferruja – e tem gente que já
está assim aos 30 anos – nosso repertório íntimo tende a
se ampliar, a cada ano que passa e a cada nova relação.
EXERCÍCIOS COMENTADOS Penso em aprender a escutar e a falar, em olhar o outro,
em tocar o corpo do outro com propriedade e deixar-se
1. (EBSERH – Analista Administrativo – Estatística tocar sem susto. Penso em conter a nossa própria frustra-
– AOCP-2015) ção e a nossa fúria, em permitir que o parceiro floresça,
em dar atenção aos detalhes dele. Penso, sobretudo, em
conquistar, aos poucos, a ansiedade e insegurança que
O verão em que aprendi a boiar
nos bloqueiam o caminho do prazer, não apenas no sen-
Quando achamos que tudo já aconteceu, novas ca-
tido sexual. Penso em estar mais tranquilo na companhia
pacidades fazem de nós pessoas diferentes do que
do outro e de si mesmo, no mundo.
éramos
Assim como boiar, essas coisas são simples, mas preci-
IVAN MARTINS sam ser aprendidas.
Estar no interior de uma relação verdadeira é como estar
LÍNGUA PORTUGUESA

Sei que a palavra da moda é precocidade, mas eu acre- na água do mar. Às vezes você nada, outras vezes você
dito em conquistas tardias. Elas têm na minha vida um boia, de vez em quando, morto de medo, sente que pode
gosto especial. afundar. É uma experiência que exige, ao mesmo tem-
Quando aprendi a guiar, aos 34 anos, tudo se transfor- po, relaxamento e atenção, e nem sempre essas coisas
mou. De repente, ganhei mobilidade e autonomia. A ci- se combinam. Se a gente se põe muito tenso e cerebral,
dade, minha cidade, mudou de tamanho e de fisionomia. a relação perde a espontaneidade. Afunda. Mas, largada
Descer a Avenida Rebouças num táxi, de madrugada, era apenas ao sabor das ondas, sem atenção ao equilíbrio, a
diferente – e pior – do que descer a mesma avenida com relação também naufraga. Há uma ciência sem cálculos

2
que tem de ser assimilada a cada novo amor, por cada Em “e”: ser necessário aprender nos relacionamentos,
um de nós. Ela fornece a combinação exata de atenção e porém sempre estando alerta para aquilo de ruim que
relaxamento que permite boiar. Quer dizer, viver de for- pode acontecer = incorreta – estar sempre cuidando,
ma relaxada e consciente um grande amor. não pensando em algo ruim.
Na minha experiência, esse aprendizado não se fez ra-
pidamente. Demorou anos e ainda se faz. Talvez porque 2. (TJ-SC – ANALISTA ADMINISTRATIVO – FGV-2018)
eu seja homem, talvez porque seja obtuso para as coi- Observe a charge a seguir:
sas do afeto. Provavelmente, porque sofro das limitações
emocionais que muitos sofrem e que tornam as relações
afetivas mais tensas e trabalhosas do que deveriam ser.
Sabemos nadar, mas nos custa relaxar e ser felizes nas
águas do amor e do sexo. Nos custa boiar.
A boa notícia, que eu redescobri na praia, é que tudo
se aprende, mesmo as coisas simples que pareciam
impossíveis.
Enquanto se está vivo e relação existe, há chance de me-
lhorar. Mesmo se ela acabou, é certo que haverá outra
no futuro, no qual faremos melhor: com mais calma, com
mais prazer, com mais intensidade e menos medo.
O verão, afinal, está apenas começando. Todos os dias se
pode tentar boiar.
http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ivan-martins/
A charge acima é uma homenagem a Stephen Hawking,
noticia/2014/01/overao-em-que-aprendi-boiar.html
destacando o fato de o cientista:
De acordo com o texto, quando o autor afirma que “To-
a) ter alcançado o céu após sua morte;
dos os dias se pode tentar boiar.”, ele refere-se ao fato de
b) mostrar determinação no combate à doença;
c) ser comparado a cientistas famosos;
a) haver sempre tempo para aprender, para tentar relaxar
d) ser reconhecido como uma mente brilhante;
e ser feliz nas águas do amor, agindo com mais cal-
e) localizar seus interesses nos estudos de Física.
ma, com mais prazer, com mais intensidade e menos
medo. Resposta: Letra D
b) ser necessário agir com mais cautela nos relaciona- Em “a”: ter alcançado o céu após sua morte; = incorreto
mentos amorosos para que eles não se desfaçam. Em “b”: mostrar determinação no combate à doença;
c) haver sempre tempo para aprender a ser mais criterio- = incorreto
so com seus relacionamentos, a fim de que eles sejam Em “c”: ser comparado a cientistas famosos; = incorreto
vividos intensamente. Em “d”: ser reconhecido como uma mente brilhante;
d) haver sempre tempo para aprender coisas novas, in- Em “e”: localizar seus interesses nos estudos de Física.
clusive agir com o raciocínio nas relações amorosas. = incorreto
e) ser necessário aprender nos relacionamentos, porém Usemos a fala de Einstein: “a mente brilhante que es-
sempre estando alerta para aquilo de ruim que pode távamos esperando”.
acontecer.
3. (BANPARÁ – ASSISTENTE SOCIAL – FADESP-2018)
Resposta: Letra A
Ao texto: (...) tudo se aprende, mesmo as coisas simples Lastro e o Sistema Bancário
que pareciam impossíveis. / Enquanto se está vivo e [...]
relação existe, há chance de melhorar = sempre há Até os anos 60, o papel-moeda e o dinheiro deposita-
tempo para boiar (aprender). do nos bancos deviam estar ligados a uma quantidade
Em “a”: haver sempre tempo para aprender, para ten- de ouro num sistema chamado lastro-ouro. Como esse
tar relaxar e ser feliz nas águas do amor, agindo com metal é limitado, isso garantia que a produção de dinhei-
mais calma, com mais prazer, com mais intensidade e ro fosse também limitada. Com o tempo, os banqueiros
menos medo = correta. se deram conta de que ninguém estava interessado em
Em “b”: ser necessário agir com mais cautela nos rela- trocar dinheiro por ouro e criaram manobras, como a re-
cionamentos amorosos para que eles não se desfaçam serva fracional, para emprestar muito mais dinheiro do
LÍNGUA PORTUGUESA

= incorreta – o autor propõe viver intensamente. que realmente tinham em ouro nos cofres. Nas crises,
Em “c”: haver sempre tempo para aprender a ser mais como em 1929, todos queriam sacar dinheiro para pagar
criterioso com seus relacionamentos, a fim de que eles suas contas e os bancos quebravam por falta de fundos,
sejam vividos intensamente = incorreta – ser menos deixando sem nada as pessoas que acreditavam ter suas
objetivo nos relacionamentos. economias seguramente guardadas.
Em “d”: haver sempre tempo para aprender coisas no- Em 1971, o presidente dos EUA acabou com o padrão-
vas, inclusive agir com o raciocínio nas relações amo- -ouro. Desde então, o dinheiro, na forma de cédulas e
rosas = incorreta – ser mais emoção. principalmente de valores em contas bancárias, já não

3
tendo nenhuma riqueza material para representar, é cria- 4. (BANPARÁ – ASSISTENTE SOCIAL – FADESP-2018)
do a partir de empréstimos. Quando alguém vai até o A leitura do texto permite a compreensão de que
banco e recebe um empréstimo, o valor colocado em sua
conta é gerado naquele instante, criado a partir de uma a) as dívidas dos clientes são o que sustenta os bancos.
decisão administrativa, e assim entra na economia. Essa b) todo o dinheiro que os bancos emprestam é imaginário.
explicação permaneceu controversa e escondida por c) quem pede um empréstimo deve a outros clientes.
muito tempo, mas hoje está clara em um relatório do d) o pagamento de dívidas depende do “livre-mercado”.
e) os bancos confiscam os bens dos clientes endividados.
Bank of England de 2014.
Praticamente todo o dinheiro que existe no mundo é
Resposta: Letra A
criado assim, inventado em canetaços a partir da conces- Em “a”, as dívidas dos clientes são o que sustenta os
são de empréstimos. O que torna tudo mais estranho e bancos = correta
perverso é que, sobre esse empréstimo, é cobrada uma Em “b”, todo o dinheiro que os bancos emprestam é
dívida. Então, se eu peço dinheiro ao banco, ele inventa imaginário = nem todo
números em uma tabela com meu nome e pede que eu Em “c”, quem pede um empréstimo deve a outros
devolva uma quantidade maior do que essa. Para pagar clientes = deve ao banco, este paga/empresta a ou-
a dívida, preciso ir até o dito “livre-mercado” e trabalhar, tros clientes
lutar, talvez trapacear, para conseguir o dinheiro que o Em “d”, o pagamento de dívidas depende do “livre-
banco inventou na conta de outras pessoas. Esse é o di- -mercado” = não só: (...) preciso ir até o dito “livre-
nheiro que vai ser usado para pagar a dívida, já que a -mercado” e trabalhar, lutar, talvez trapacear.
única fonte de moeda é o empréstimo bancário. No fim, Em “e”, os bancos confiscam os bens dos clientes endi-
os bancos acabam com todo o dinheiro que foi inventa- vidados = desde que não paguem a dívida
do e ainda confiscam os bens da pessoa endividada cujo
dinheiro tomei. 5. (BANESTES – ANALISTA ECONÔMICO FINANCEI-
RO GESTÃO CONTÁBIL – FGV-2018) Observe a charge
Assim, o sistema monetário atual funciona com uma
abaixo, publicada no momento da intervenção nas ati-
moeda que é ao mesmo tempo escassa e abundante. Es-
vidades de segurança do Rio de Janeiro, em março de
cassa porque só banqueiros podem criá-la, e abundante 2018.
porque é gerada pela simples manipulação de bancos de
dados. O resultado é uma acumulação de riqueza e po-
der sem precedentes: um mundo onde o patrimônio de
80 pessoas é maior do que o de 3,6 bilhões, e onde o 1%
mais rico tem mais do que os outros 99% juntos.
[...]
Disponível em https://fagulha.org/artigos/
inventando-dinheiro/
Acessado em 20/03/2018

De acordo com o autor do texto Lastro e o sistema bancá-


rio, a reserva fracional foi criada com o objetivo de
Há uma série de informações implícitas na charge; NÃO
a) tornar ilimitada a produção de dinheiro. pode, no entanto, ser inferida da imagem e das frases a
b) proteger os bens dos clientes de bancos. seguinte informação:
c) impedir que os bancos fossem à falência.
d) permitir o empréstimo de mais dinheiro a) a classe social mais alta está envolvida nos crimes co-
e) preservar as economias das pessoas. metidos no Rio;
b) a tarefa da investigação criminal não está sendo
Resposta: Letra D bem-feita;
Ao texto: (...) Com o tempo, os banqueiros se deram c) a linguagem do personagem mostra intimidade com
conta de que ninguém estava interessado em trocar o interlocutor;
dinheiro por ouro e criaram manobras, como a reserva d) a presença do orelhão indica o atraso do local da
fracional, para emprestar muito mais dinheiro do que charge;
realmente tinham em ouro nos cofres. e) as imagens dos tanques de guerra denunciam a pre-
sença do Exército.
Em “a”, tornar ilimitada a produção de dinheiro =
LÍNGUA PORTUGUESA

incorreta
Resposta: Letra D
Em “b”, proteger os bens dos clientes de bancos =
incorreta
Em “c”, impedir que os bancos fossem à falência =
incorreta
Em “d”, permitir o empréstimo de mais dinheiro =
correta
Em “e”, preservar as economias das pessoas = incorreta

4
NÃO pode ser inferida da imagem e das frases a se- Resposta: Letra C
guinte informação: Em “a”: Presa por mensagem racista na internet =
Em “a”, a classe social mais alta está envolvida nos cri- como a repressão política, familiar ou de gênero
mes cometidos no Rio = inferência correta Em “b”: Vinte pessoas são vítimas da ditadura vene-
Em “b”, a tarefa da investigação criminal não está sen- zuelana = como a repressão política, familiar ou de
do bem-feita = inferência correta gênero
Em “c”, a linguagem do personagem mostra intimida- Em “c”: Apanhou de policiais por destruir caixa eletrô-
de com o interlocutor = inferência correta nico = não consta na Manchete acima
Em “d”, a presença do orelhão indica o atraso do local Em “d”: Homossexuais são perseguidos e presos na
da charge = incorreta Rússia = como a repressão política, familiar ou de
Em “e”, as imagens dos tanques de guerra denunciam gênero
a presença do Exército = inferência correta Em “e”: Quatro funcionários ficaram livres do traba-
lho escravo = o desgaste causado pelas condições de
6. (TJ-AL – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FGV-2018) Observe trabalho
a charge abaixo.
8. (MPE-AL – ANALISTA DO MINISTÉRIO PÚBLICO –
ÁREA JURÍDICA – FGV-2018)

Oportunismo à Direita e à Esquerda


Numa democracia, é livre a expressão, estão garantidos
o direito de reunião e de greve, entre outros, obedecidas
leis e regras, lastreadas na Constituição. Em um regime
de liberdades, há sempre o risco de excessos, a serem
devidamente contidos e seus responsáveis, punidos,
conforme estabelecido na legislação.
É o que precisa acontecer no rescaldo da greve dos cami-
nhoneiros, concluídas as investigações, por exemplo, da
ajuda ilegal de patrões ao movimento, interessados em
No caso da charge, a crítica feita à internet é: se beneficiar do barateamento do combustível.
Sempre há, também, o oportunismo político-ideológico
a) a criação de uma dependência tecnológica excessiva; para se aproveitar da crise. Inclusive, neste ano de elei-
b) a falta de exercícios físicos nas crianças; ção, com o objetivo de obter apoio a candidatos. Não
c) o risco de contatos perigosos; faltam, também, os arautos do quanto pior, melhor, para
d) o abandono dos estudos regulares; desgastar governantes e reforçar seus projetos de po-
e) a falta de contato entre membros da família. der, por mais delirantes que sejam. Também aqui vale o
que está delimitado pelo estado democrático de direito,
Resposta: Letra A defendido pelos diversos instrumentos institucionais de
Em “a”: a criação de uma dependência tecnológica que conta o Estado – Polícia, Justiça, Ministério Público,
excessiva; Forças Armadas etc.
Em “b”: a falta de exercícios físicos nas crianças; =
A greve atravessou vários sinais ao estrangular as vias de
incorreto
suprimento que mantêm o sistema produtivo funcionan-
Em “c”: o risco de contatos perigosos; = incorreto
do, do qual depende a sobrevivência física da população.
Em “d”: o abandono dos estudos regulares; = incorreto
Isso não pode ser esquecido e serve de alerta para que as
Em “e”: a falta de contato entre membros da família. =
autoridades desenvolvam planos de contingência.
incorreto
Através da fala do garoto chegamos à resposta: de- O Globo, 31/05/2018.
pendência tecnológica - expressa em sua fala.
“É o que precisa acontecer no rescaldo da greve dos ca-
7. (Câmara de Salvador-BA – Assistente Legislativo minhoneiros, concluídas as investigações, por exemplo,
Municipal – FGV-2018-adaptada) “Hoje, esse termo da ajuda ilegal de patrões ao movimento, interessados
denota, além da agressão física, diversos tipos de impo- em se beneficiar do barateamento do combustível.” Se-
sição sobre a vida civil, como a repressão política, familiar gundo esse parágrafo do texto, o que “precisa acontecer”
ou de gênero, ou a censura da fala e do pensamento de é
determinados indivíduos e, ainda, o desgaste causado
pelas condições de trabalho e condições econômicas”. A a) manter-se o direito de livre expressão do pensamento.
LÍNGUA PORTUGUESA

manchete jornalística abaixo que NÃO se enquadra em b) garantir-se o direito de reunião e de greve.
nenhum tipo de violência citado nesse segmento é: c) lastrear leis e regras na Constituição.
d) punirem-se os responsáveis por excessos.
a) Presa por mensagem racista na internet; e) concluírem-se as investigações sobre a greve.
b) Vinte pessoas são vítimas da ditadura venezuelana;
c) Apanhou de policiais por destruir caixa eletrônico; Resposta: Letra D
d) Homossexuais são perseguidos e presos na Rússia; Em “a”: manter-se o direito de livre expressão do pensa-
e) Quatro funcionários ficaram livres do trabalho escravo. mento. = incorreto

5
Em “b”: garantir-se o direito de reunião e de greve. = estende-se às escolas, instituições públicas e outros lo-
incorreto cais de trabalho por todo o mundo, bem como aos par-
Em “c”: lastrear leis e regras na Constituição. = incorreto lamentos e centros de comunicação e associações.
Em “d”: punirem-se os responsáveis por excessos. Outro passo é tentar erradicar a pobreza e reduzir as de-
sigualdades, lutando para atingir um desenvolvimento
Em “e”: concluírem-se as investigações sobre a greve.
sustentado e o respeito pelos direitos humanos, refor-
= incorreto çando as instituições democráticas, promovendo a liber-
Ao texto: (...) há sempre o risco de excessos, a se- dade de expressão, preservando a diversidade cultural e
rem devidamente contidos e seus responsáveis, pu- o ambiente.
nidos, conforme estabelecido na legislação. / É o que É, então, no entrelaçamento “paz — desenvolvimento —
precisa acontecer... = precisa acontecer a punição dos direitos humanos — democracia” que podemos vislum-
excessos. brar a educação para a paz.
Leila Dupret. Cultura de paz e ações sócio-educati-
vas: desafios para a escola contemporânea. In: Psicol.
9. (PC-MA – DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL
Esc. Educ. (Impr.) v. 6, n.º 1. Campinas, jun./2002 (com
– CESPE-2018) adaptações).
Texto CG1A1AAA De acordo com o texto CG1A1AAA, os elementos “gestão
A paz não pode ser garantida apenas pelos acordos de conflitos” e “erradicar a pobreza” devem ser concebi-
políticos, econômicos ou militares. Cada um de nós, in- dos como
dependentemente de idade, sexo, estrato social, crença a) obstáculos para a construção da cultura da paz.
religiosa etc. é chamado à criação de um mundo pacifica- b) dispensáveis para a construção da cultura da paz.
c) irrelevantes na construção da cultura da paz.
do, um mundo sob a égide de uma cultura da paz.
d) etapas para a construção da cultura da paz.
Mas, o que significa “cultura da paz”? e) consequências da construção da cultura da paz.
Construir uma cultura da paz envolve dotar as crianças
e os adultos da compreensão de princípios como liber- Resposta: Letra D
dade, justiça, democracia, direitos humanos, tolerância, Em “a”: obstáculos para a construção da cultura da paz.
igualdade e solidariedade. Implica uma rejeição, indivi- = incorreto
dual e coletiva, da violência que tem sido percebida na Em “b”: dispensáveis para a construção da cultura da
sociedade, em seus mais variados contextos. A cultura da paz. = incorreto
paz tem de procurar soluções que advenham de dentro Em “c”: irrelevantes na construção da cultura da paz.
= incorreto
da(s) sociedade(s), que não sejam impostas do exterior. Em “d”: etapas para a construção da cultura da paz.
Cabe ressaltar que o conceito de paz pode ser abordado Em “e”: consequências da construção da cultura da paz.
em sentido negativo, quando se traduz em um estado = incorreto
de não guerra, em ausência de conflito, em passividade Ao texto: Um dos primeiros passos nesse sentido refe-
e permissividade, sem dinamismo próprio; em síntese, re-se à gestão de conflitos. (...) Outro passo é tentar er-
condenada a um vazio, a uma não existência palpável, radicar a pobreza e reduzir as desigualdades = etapas
difícil de se concretizar e de se precisar. Em sua concep- para construção da paz.
ção positiva, a paz não é o contrário da guerra, mas a
10. (TJ-AL – ANALISTA JUDICIÁRIO – OFICIAL DE JUS-
prática da não violência para resolver conflitos, a prática TIÇA AVALIADOR – FGV-2018)
do diálogo na relação entre pessoas, a postura democrá-
tica frente à vida, que pressupõe a dinâmica da coope-
ração planejada e o movimento constante da instalação
de justiça.
Uma cultura de paz exige esforço para modificar o pen-
samento e a ação das pessoas para que se promova a
paz. Falar de violência e de como ela nos assola deixa
de ser, então, a temática principal. Não que ela vá ser
esquecida ou abafada; ela pertence ao nosso dia a dia e
temos consciência disso. Porém, o sentido do discurso, a
ideologia que o alimenta, precisa impregná-lo de pala-
vras e conceitos que anunciem os valores humanos que
decantam a paz, que lhe proclamam e promovem. A vio-
lência já é bastante denunciada, e quanto mais falamos
LÍNGUA PORTUGUESA

dela, mais lembramos de sua existência em nosso meio


social. É hora de começarmos a convocar a presença da
paz em nós, entre nós, entre nações, entre povos.
Um dos primeiros passos nesse sentido refere-se à ges-
tão de conflitos. Ou seja, prevenir os conflitos potencial-
mente violentos e reconstruir a paz e a confiança en-
tre pessoas originárias de situação de guerra é um dos
exemplos mais comuns a serem considerados. Tal missão

6
O humor da tira é conseguido através de uma quebra de É correto associar o humor da charge ao fato de que
expectativa, que é:
a) os personagens têm uma autoestima elevada e são
a) o fato de um adulto colecionar figurinhas; otimistas, mesmo vivendo em uma situação de com-
b) as figurinhas serem de temas sociais e não esportivos; pleto confinamento.
c) a falta de muitas figurinhas no álbum; b) os dois personagens estão muito bem informados so-
d) a reclamação ser apresentada pelo pai e não pelo filho; bre a economia, o que não condiz com a imagem de
e) uma criança ajudar a um adulto e não o contrário.
criminosos.
Resposta: Letra B c) o valor dos cosméticos afetará diretamente a vida dos
Em “a”: o fato de um adulto colecionar figurinhas; = personagens, pois eles demonstram preocupação
incorreto com a aparência.
Em “b”: as figurinhas serem de temas sociais e não d) o aumento dos preços de cosméticos não surpreende
esportivos; os personagens, que estão acostumados a pagar caro
Em “c”: a falta de muitas figurinhas no álbum; = por eles nos presídios.
incorreto e) os preços de cosméticos não deveriam ser relevan-
Em “d”: a reclamação ser apresentada pelo pai e não tes para os personagens, dada a condição em que se
pelo filho; = incorreto encontram.
Em “e”: uma criança ajudar a um adulto e não o con-
trário. = incorreto Resposta: Letra E
O humor está no fato de o álbum ser sobre um tema Em “a”: os personagens têm uma autoestima elevada
incomum: assuntos sociais. e são otimistas, mesmo vivendo em uma situação de
11. (PM-SP - SARGENTO DA POLÍCIA MILITAR – VU- completo confinamento. = incorreto
NESP-2015) Leia a tira. Em “b”: os dois personagens estão muito bem infor-
mados sobre a economia, o que não condiz com a
imagem de criminosos. = incorreto
Em “c”: o valor dos cosméticos afetará diretamente a
vida dos personagens, pois eles demonstram preocu-
pação com a aparência. = incorreto
Em “d”: o aumento dos preços de cosméticos não sur-
preende os personagens, que estão acostumados a
pagar caro por eles nos presídios. = incorreto
Em “e”: os preços de cosméticos não deveriam ser
(Folha de S.Paulo, 02.10.2015. Adaptado) relevantes para os personagens, dada a condição em
que se encontram.
Com sua fala, a personagem revela que Pela condição em que as personagens se encontram, o
a) a violência era comum no passado. aumento no preço dos cosméticos não os afeta.
b) as pessoas lutam contra a violência.
c) a violência está banalizada. 13. (TJ-AL – ANALISTA JUDICIÁRIO – OFICIAL DE JUS-
d) o preço que pagou pela violência foi alto. TIÇA AVALIADOR – FGV-2018)
Resposta: Letra C Texto 1 – Além do celular e da carteira, cuidado com
Em “a”: a violência era comum no passado. = incorreto as figurinhas da Copa
Em “b”: as pessoas lutam contra a violência. = incorreto Gilberto Porcidônio – O Globo, 12/04/2018
Em “c”: a violência está banalizada.
Em “d”: o preço que pagou pela violência foi alto. =
incorreto A febre do troca-troca de figurinhas pode estar atingindo
Infelizmente, a personagem revela que a violên- uma temperatura muito alta. Preocupados que os mais
cia está banalizada, nem há mais “punições” para os afoitos pelos cromos possam até roubá-los, muitos jor-
agressivos. naleiros estão levando seus estoques para casa quando
termina o expediente. Pode parecer piada, mas há até
12. (PM-SP - ASPIRANTE DA POLÍCIA MILITAR [INTE- boatos sobre quadrilhas de roubo de figurinha espalha-
RIOR] – VUNESP-2017) Leia a charge. dos por mensagens de celular.

Sobre a estrutura do título dado ao texto 1, a afirmativa


adequada é:

a) as figurinhas da Copa passaram a ocupar o lugar do


celular e da carteira nos roubos urbanos;
LÍNGUA PORTUGUESA

b) as figurinhas da Copa se somaram ao celular e à cartei-


ra como alvo de desejo dos assaltantes;
c) o alerta dado no título se dirige aos jornaleiros que
vendem as figurinhas da Copa;
d) os ladrões passaram a roubar as figurinhas da Copa
nas bancas de jornais;
e) as figurinhas da Copa se transformaram no alvo prin-
(Pancho. www.gazetadopovo.com.br) cipal dos ladrões.

7
Resposta: Letra B • Vocábulos de origem tupi, africana ou exótica: cipó,
Em “a”: as figurinhas da Copa passaram a ocupar o Juçara, caçula, cachaça, cacique.
lugar do celular e da carteira nos roubos urbanos; = • Sufixos aça, aço, ação, çar, ecer, iça, nça, uça, uçu,
incorreto uço: barcaça, ricaço, aguçar, empalidecer, carniça,
Em “b”: as figurinhas da Copa se somaram ao celular e caniço, esperança, carapuça, dentuço.
à carteira como alvo de desejo dos assaltantes; • Nomes derivados do verbo ter: abster - abstenção /
Em “c”: o alerta dado no título se dirige aos jornaleiros deter - detenção / ater - atenção / reter – retenção.
que vendem as figurinhas da Copa; = incorreto • Após ditongos: foice, coice, traição.
Em “d”: os ladrões passaram a roubar as figurinhas da • Palavras derivadas de outras terminadas em -te,
Copa nas bancas de jornais; = incorreto to(r): marte - marciano / infrator - infração / ab-
Em “e”: as figurinhas da Copa se transformaram no sorto – absorção.
alvo principal dos ladrões. = incorreto
O título do texto já nos dá a resposta: além do celular B) O fonema z
e da carteira, ou seja, as figurinhas da Copa também
passaram a ser alvo dos assaltantes. São escritos com S e não Z
• Sufixos: ês, esa, esia, e isa, quando o radical é
substantivo, ou em gentílicos e títulos nobiliárqui-
cos: freguês, freguesa, freguesia, poetisa, baronesa,
ORTOGRAFIA
princesa.
• Sufixos gregos: ase, ese, ise e ose: catequese,
metamorfose.
A ortografia é a parte da Fonologia que trata da cor-
• Formas verbais pôr e querer: pôs, pus, quisera, quis,
reta grafia das palavras. É ela quem ordena qual som
quiseste.
devem ter as letras do alfabeto. Os vocábulos de uma
• Nomes derivados de verbos com radicais termina-
língua são grafados segundo acordos ortográficos.
A maneira mais simples, prática e objetiva de apren- dos em “d”: aludir - alusão / decidir - decisão / em-
der ortografia é realizar muitos exercícios, ver as palavras, preender - empresa / difundir – difusão.
familiarizando-se com elas. O conhecimento das regras • Diminutivos cujos radicais terminam com “s”: Luís -
é necessário, mas não basta, pois há inúmeras exceções Luisinho / Rosa - Rosinha / lápis – lapisinho.
e, em alguns casos, há necessidade de conhecimento de • Após ditongos: coisa, pausa, pouso, causa.
etimologia (origem da palavra). • Verbos derivados de nomes cujo radical termina
com “s”: anális(e) + ar - analisar / pesquis(a) + ar
Regras ortográficas – pesquisar.

A) O fonema S São escritos com Z e não S


• Sufixos “ez” e “eza” das palavras derivadas de adje-
São escritas com S e não C/Ç tivo: macio - maciez / rico – riqueza / belo – beleza.
• Palavras substantivadas derivadas de verbos com • Sufixos “izar” (desde que o radical da palavra de
radicais em nd, rg, rt, pel, corr e sent: pretender origem não termine com s): final - finalizar / con-
- pretensão / expandir - expansão / ascender - as- creto – concretizar.
censão / inverter - inversão / aspergir - aspersão / • Consoante de ligação se o radical não terminar com
submergir - submersão / divertir - diversão / im- “s”: pé + inho - pezinho / café + al - cafezal
pelir - impulsivo / compelir - compulsório / repelir Exceção: lápis + inho – lapisinho.
- repulsa / recorrer - recurso / discorrer - discurso /
sentir - sensível / consentir – consensual. C) O fonema j

São escritos com SS e não C e Ç São escritas com G e não J


• Nomes derivados dos verbos cujos radicais termi- • Palavras de origem grega ou árabe: tigela, girafa,
nem em gred, ced, prim ou com verbos termina- gesso.
dos por tir ou -meter: agredir - agressivo / imprimir • Estrangeirismo, cuja letra G é originária: sargento,
- impressão / admitir - admissão / ceder - cessão / gim.
exceder - excesso / percutir - percussão / regredir • Terminações: agem, igem, ugem, ege, oge (com
- regressão / oprimir - opressão / comprometer - poucas exceções): imagem, vertigem, penugem,
compromisso / submeter – submissão. bege, foge.
LÍNGUA PORTUGUESA

• Quando o prefixo termina com vogal que se junta Exceção: pajem.


com a palavra iniciada por “s”. Exemplos: a + simé-
trico - assimétrico / re + surgir – ressurgir. • Terminações: ágio, égio, ígio, ógio, ugio: sortilégio,
• No pretérito imperfeito simples do subjuntivo. litígio, relógio, refúgio.
Exemplos: ficasse, falasse. • Verbos terminados em ger/gir: emergir, eleger, fugir,
mugir.
São escritos com C ou Ç e não S e SS • Depois da letra “r” com poucas exceções: emergir,
• Vocábulos de origem árabe: cetim, açucena, açúcar. surgir.

8
• Depois da letra “a”, desde que não seja radical ter- Exceção para litro (L): 2 L, 150 L.
minado com j: ágil, agente.
Na indicação de horas, minutos e segundos, não
São escritas com J e não G deve haver espaço entre o algarismo e o símbolo: 14h,
• Palavras de origem latinas: jeito, majestade, hoje. 22h30min, 14h23’34’’(= quatorze horas, vinte e três mi-
• Palavras de origem árabe, africana ou exótica: jiboia, nutos e trinta e quatro segundos).
manjerona. O símbolo do real antecede o número sem espaço:
• Palavras terminadas com aje: ultraje. R$1.000,00. No cifrão deve ser utilizada apenas uma bar-
ra vertical ($).
D) O fonema ch
Alguns Usos Ortográficos Especiais
São escritas com X e não CH
• Palavras de origem tupi, africana ou exótica: abacaxi, POR QUE / POR QUÊ / PORQUÊ / PORQUE
xucro.
• Palavras de origem inglesa e espanhola: xampu, POR QUE (separado e sem acento)
lagartixa.
• Depois de ditongo: frouxo, feixe. É usado em:
• Depois de “en”: enxurrada, enxada, enxoval. 1. interrogações diretas (longe do ponto de interro-
Exceção: quando a palavra de origem não derive de gação) = Por que você não veio ontem?
outra iniciada com ch - Cheio - (enchente) 2. interrogações indiretas, nas quais o “que” equivale
a “qual razão” ou “qual motivo” = Perguntei-lhe por
São escritas com CH e não X que faltara à aula ontem.
3. equivalências a “pelo(a) qual” / “pelos(as) quais” =
 Palavras de origem estrangeira: chave, chumbo, Ignoro o motivo por que ele se demitiu.
chassi, mochila, espadachim, chope, sanduíche, salsicha.
POR QUÊ (separado e com acento)
E) As letras “e” e “i”
Usos:
1. como pronome interrogativo, quando colocado no
• Ditongos nasais são escritos com “e”: mãe, põem.
fim da frase (perto do ponto de interrogação) =
Com “i”, só o ditongo interno cãibra.
Você faltou. Por quê?
• Verbos que apresentam infinitivo em -oar, -uar são
2. quando isolado, em uma frase interrogativa = Por
escritos com “e”: caçoe, perdoe, tumultue. Escreve-
quê?
mos com “i”, os verbos com infinitivo em -air, -oer
e -uir: trai, dói, possui, contribui.
PORQUE (uma só palavra, sem acento gráfico)
Há palavras que mudam de sentido quando substituí- Usos:
mos a grafia “e” pela grafia “i”: área (superfície), ária (me- 1. como conjunção coordenativa explicativa (equivale
lodia) / delatar (denunciar), dilatar (expandir) / emergir a “pois”, “porquanto”), precedida de pausa na escri-
(vir à tona), imergir (mergulhar) / peão (de estância, que ta (pode ser vírgula, ponto-e-vírgula e até ponto
anda a pé), pião (brinquedo). final) = Compre agora, porque há poucas peças.
Se o dicionário ainda deixar dúvida quanto à orto- 2. como conjunção subordinativa causal, substituível
grafia de uma palavra, há a possibilidade de consultar por “pela causa”, “razão de que” = Você perdeu por-
o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), que se antecipou.
elaborado pela Academia Brasileira de Letras. É uma obra
de referência até mesmo para a criação de dicionários, PORQUÊ (uma só palavra, com acento gráfico)
pois traz a grafia atualizada das palavras (sem o signifi-
cado). Na Internet, o endereço é www.academia.org.br. Usos:
1. como substantivo, com o sentido de “causa”, “ra-
Informações importantes zão” ou “motivo”, admitindo pluralização (por-
quês). Geralmente é precedido por artigo = Não
Formas variantes são as que admitem grafias ou pro- sei o porquê da discussão. É uma pessoa cheia de
núncias diferentes para palavras com a mesma signifi- porquês.
LÍNGUA PORTUGUESA

cação: aluguel/aluguer, assobiar/assoviar, catorze/quator-


ze, dependurar/pendurar, flecha/frecha, germe/gérmen, ONDE / AONDE
infarto/enfarte, louro/loiro, percentagem/porcentagem,
relampejar/relampear/relampar/relampadar. Onde = empregado com verbos que não expressam
Os símbolos das unidades de medida são escritos a ideia de movimento = Onde você está?
sem ponto, com letra minúscula e sem “s” para indicar
plural, sem espaço entre o algarismo e o símbolo: 2kg, Aonde = equivale a “para onde”. É usado com verbos
20km, 120km/h. que expressam movimento = Aonde você vai?

9
MAU / MAL 5. Nos encadeamentos de vocábulos, como: ponte
Rio-Niterói, percurso Lisboa-Coimbra-Porto e nas
Mau = é um adjetivo, antônimo de “bom”. Usa-se combinações históricas ou ocasionais: Áustria-
como qualificação = O mau tempo passou. / Ele é um -Hungria, Angola-Brasil, etc.
mau elemento. 6. Nas formações com os prefixos hiper-, inter- e su-
per- quando associados com outro termo que é
Mal = pode ser usado como iniciado por “r”: hiper-resistente, inter-racial, super-
-racional, etc.
1. conjunção temporal, equivalente a “assim que”,
7. Nas formações com os prefixos ex-, vice-: ex-di-
“logo que”, “quando” = Mal se levantou, já saiu.
retor, ex-presidente, vice-governador, vice-prefeito.
2. advérbio de modo (antônimo de “bem”) = Você foi 8. Nas formações com os prefixos pós-, pré- e pró-:
mal na prova? pré-natal, pré-escolar, pró-europeu, pós-graduação,
3. substantivo, podendo estar precedido de artigo ou etc.
pronome = Há males que vêm pra bem! / O mal 9. Na ênclise e mesóclise: amá-lo, deixá-lo, dá-se,
não compensa. abraça-o, lança-o e amá-lo-ei, falar-lhe-ei, etc.
10. Nas formações em que o prefixo tem como se-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS gundo termo uma palavra iniciada por “h”: sub-he-
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa pático, geo-história, neo-helênico, extra-humano,
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. semi-hospitalar, super-homem.
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Co- 11. Nas formações em que o prefixo ou pseudopre-
char - Português linguagens: volume 1. – 7.ª ed. Reform. fixo termina com a mesma vogal do segundo ele-
– São Paulo: Saraiva, 2010. mento: micro-ondas, eletro-ótica, semi-interno, au-
AMARAL, Emília... [et al.] Português: novas palavras: li- to-observação, etc.
teratura, gramática, redação. – São Paulo: FTD, 2000.
O hífen é suprimido quando para formar outros ter-
CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Português – Literatura,
mos: reaver, inábil, desumano, lobisomem, reabilitar.
Produção de Textos & Gramática. Volume único / Samira
Yousseff, Jésus Barbosa Souza. – 3.ª edição – São Paulo:
Saraiva, 2002. #FicaDica
Ao separar palavras na translineação
SITE
(mudança de linha), caso a última palavra a
Disponível em: <http://www.pciconcursos.com.br/
ser escrita seja formada por hífen, repita-o
aulas/portugues/ortografia>
na próxima linha. Exemplo: escreverei anti-
inflamatório e, ao final, coube apenas “anti-”.
Hífen
Na próxima linha escreverei: “-inflamatório”
(hífen em ambas as linhas). Devido à
O hífen é um sinal diacrítico (que distingue) usado diagramação, pode ser que a repetição do
para ligar os elementos de palavras compostas (como hífen na translineação não ocorra em meus
ex-presidente, por exemplo) e para unir pronomes áto- conteúdos, mas saiba que a regra é esta!
nos a verbos (ofereceram-me; vê-lo-ei). Serve igualmente
para fazer a translineação de palavras, isto é, no fim de
uma linha, separar uma palavra em duas partes (ca-/sa; B) Não se emprega o hífen:
compa-/nheiro). 1. Nas formações em que o prefixo ou falso prefi-
xo termina em vogal e o segundo termo inicia-se
A) Uso do hífen que continua depois da Reforma em “r” ou “s”. Nesse caso, passa-se a duplicar estas
Ortográfica: consoantes: antirreligioso, contrarregra, infrassom,
1. Em palavras compostas por justaposição que for- microssistema, minissaia, microrradiografia, etc.
mam uma unidade semântica, ou seja, nos termos 2. Nas constituições em que o prefixo ou pseudopre-
que se unem para formam um novo significado: fixo termina em vogal e o segundo termo inicia-se
tio-avô, porto-alegrense, luso-brasileiro, tenente- com vogal diferente: antiaéreo, extraescolar, coedu-
-coronel, segunda-feira, conta-gotas, guarda-chuva, cação, autoestrada, autoaprendizagem, hidroelétri-
arco-íris, primeiro-ministro, azul-escuro. co, plurianual, autoescola, infraestrutura, etc.
2. Em palavras compostas por espécies botânicas e 3. Nas formações, em geral, que contêm os prefixos
“dês” e “in” e o segundo elemento perdeu o “h”
zoológicas: couve-flor, bem-te-vi, bem-me-quer,
inicial: desumano, inábil, desabilitar, etc.
abóbora-menina, erva-doce, feijão-verde.
4. Nas formações com o prefixo “co”, mesmo quando
LÍNGUA PORTUGUESA

3. Nos compostos com elementos além, aquém, re- o segundo elemento começar com “o”: coopera-
cém e sem: além-mar, recém-nascido, sem-núme- ção, coobrigação, coordenar, coocupante, coautor,
ro, recém-casado. coedição, coexistir, etc.
4. No geral, as locuções não possuem hífen, mas al- 5. Em certas palavras que, com o uso, adquiriram no-
gumas exceções continuam por já estarem con- ção de composição: pontapé, girassol, paraquedas,
sagradas pelo uso: cor-de-rosa, arco-da-velha, paraquedista, etc.
mais-que-perfeito, pé-de-meia, água-de-colônia, 6. Em alguns compostos com o advérbio “bem”: ben-
queima-roupa, deus-dará. feito, benquerer, benquerido, etc.

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Os prefixos pós, pré e pró, em suas formas correspon- Resposta: Letra A
dentes átonas, aglutinam-se com o elemento seguinte, Mal = advérbio (antônimo de “bem”) / mau = adjetivo
não havendo hífen: pospor, predeterminar, predetermina- (antônimo de “bom”). Para saber quando utilizar um
do, pressuposto, propor. ou outro, a dica é substituir por seu antônimo. Se a
Escreveremos com hífen: anti-horário, anti-infeccio- frase ficar coerente, saberemos qual dos dois deve ser
so, auto-observação, contra-ataque, semi-interno, sobre- utilizado. Por exemplo: Cigarro faz mal/mau à saúde
-humano, super-realista, alto-mar. = Cigarro faz bem à saúde. A frase ficou coerente –
Escreveremos sem hífen: pôr do sol, antirreforma, embora errada em termos de saúde! Então, a maneira
antisséptico, antissocial, contrarreforma, minirrestaurante, correta é “Cigarro faz mal à saúde”.
ultrassom, antiaderente, anteprojeto, anticaspa, antivírus, Vamos aos itens:
autoajuda, autoelogio, autoestima, radiotáxi. Em “a”: O estagiário foi mal (bem) treinado = correta
Em “b”: O time não jogou mau (bem)no último cam-
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA peonato = mal
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Em “c”: O menino não era mal (bom) aluno = mau
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. Em “d”: Os funcionários perceberam que o chefe esta-
va de mal (bom) humor = mau
SITE Em “e”: Os participantes compreendiam mau (bem) o
Disponível em: <http://www.pciconcursos.com.br/ que estava sendo discutido = mal
aulas/portugues/ortografia>
3. (TRANSPETRO – TÉCNICO AMBIENTAL JÚNIOR –
CESGRANRIO-2018) Obedecem às regras ortográficas
EXERCÍCIOS COMENTADOS da língua portuguesa as palavras

1. (EBSERH – TÉCNICO EM FARMÁCIA- AOCP-2015) a) admissão, paralisação, impasse


Assinale a alternativa em que as palavras estão grafadas b) bambusal, autorização, inspiração
corretamente. c) consessão, extresse, enxaqueca
d) banalisação, reexame, desenlace
a) Extrovertido – extroverção. e) desorganisação, abstração, cassação
b) Disponível – disponibilisar.
c) Determinado – determinassão. Resposta: Letra A
d) Existir – existência. Em “a”: admissão / paralisação / impasse = corretas
e) Característica – caracterizasão. Em “b”: bambusal = bambuzal / autorização /
inspiração
Resposta: Letra D Em “c”: consessão = concessão / extresse = estresse /
Em “a”: Extrovertido / extroverção = extroversão enxaqueca
Em “b”: Disponível / disponibilisar = disponibilizar Em “d”: banalisação = banalização / reexame /
Em “c”: Determinado / determinassão = determinação desenlace
Em “d”: Existir / existência = corretas Em “e”: desorganisação = desorganização / abstração
Em “e”: Característica / caracterizasão = caracterização / cassação

2. (LIQUIGÁS – MOTORISTA DE CAMINHÃO GRANEL 4. (MPU – ANALISTA – ÁREA ADMINISTRATIVA – ESA-


I – CESGRANRIO-2018) O termo destacado está grafado F-2004-ADAPTADA) Na questão abaixo, baseada em
de acordo com as exigências da norma-padrão da língua Manuel Bandeira, escolha o segmento do texto que não
portuguesa em: está isento de erros gramaticais e de ortografia, conside-
rando-se a ortodoxia gramatical.
a) O estagiário foi mal treinado, por isso não desempe-
nhava satisfatoriamente as tarefas solicitadas pelos a) Descoberta a conspiração, enquanto os outros não
seus superiores. procuravam outra coisa se não salvar-se, ele revelou
b) O time não jogou mau no último campeonato, ape- a mais heróica força de ânimo, chamando a si toda a
sar de enfrentar alguns problemas com jogadores culpa.
descontrolados. b) Antes de alistar-se na tropa paga, vivera da profissão
c) O menino não era mal aluno, somente tinha dificul- que lhe valera o apelido.
LÍNGUA PORTUGUESA

dade em assimilar conceitos mais complexos sobre os c) Não obstante, foi ele talvez o único a demonstrar fé,
temas expostos. entusiasmo e coragem na aventura de 89.
d) Os funcionários perceberam que o chefe estava de d) A verdade é que Gonzaga, Cláudio Manuel da Cos-
mal humor porque tinha sofrido um acidente de carro ta, Alvarenga eram homens requintados, letrados, a
na véspera. quem a vida corria fácil, ao passo que o alferes sempre
e) Os participantes compreendiam mau o que estava lutara pela subsistência.
sendo discutido, por isso não conseguiam formular e) Com coragem, serenidade e lucidez, até o fim, enfren-
perguntas. tou a pena última.

11
Resposta: Letra A Em “a”: empregar-se “o cercaram” em lugar de “lhe
Em “a”: Descoberta a conspiração, enquanto os outros cercaram”; = está correto, pois o “o” funciona como
não procuravam outra coisa se não salvar-se (senão se objeto direto (sem preposição)
salvar) , ele revelou a mais heróica (heroica) força de Em “b”: haver vírgula após a expressão “Um dia”; = está
ânimo, chamando a si toda a culpa. correto, pois separa o advérbio no início do período
Em “b”: Antes de alistar-se na tropa paga, vivera da Em “c”: usar-se “lhe perguntaram” em lugar de “o per-
profissão que lhe valera o apelido = correta guntaram”; = está correto (o “lhe” é objeto indireto
Em “c”: Não obstante, foi ele talvez o único a demons- – perguntaram o que a quem)
trar fé, entusiasmo e coragem na aventura de 89 = Em “d”: grafar-se “porque” em vez de “por que”;
Em “e”: escrever-se “só usava” em lugar de “usava só”.
correta
= correto, pois se invertermos haverá mudança de
Em “d”: A verdade é que Gonzaga, Cláudio Manuel da
sentido (ele usava só meias, nenhuma outra peça de
Costa, Alvarenga eram homens requintados, letrados, roupa).
a quem a vida corria fácil, ao passo que o alferes sem- A incorreção está no uso de “porque” no lugar de “por
pre lutara pela subsistência = correta que”, já que se trata de uma pergunta indireta.
Em “e”: Com coragem, serenidade e lucidez, até o fim,
enfrentou a pena última = correta
VOCABULÁRIO: SINÔNIMOS, ANTÔNIMOS,
5. (TJ-MG – OFICIAL JUDICIÁRIO – COMISSÁRIO DA
HOMÔNIMOS E PARÔNIMOS. DENOTAÇÃO
INFÂNCIA E DA JUVENTUDE – CONSULPLAN-2017)
Estabeleça a associação correta entre a 1.ª coluna e a 2.ª
E CONOTAÇÃO
considerando o emprego do por que / porque.
(1) “Muitas pessoas se perguntam por que há tão poucas SIGNIFICADO DAS PALAVRAS
mulheres [...].”
(2) “Misoginia é o ódio contra as mulheres apenas porque Semântica é o estudo da significação das palavras e
são mulheres.” das suas mudanças de significação através do tempo ou
( ) Faltei _____________ você estava doente. em determinada época. A maior importância está em dis-
( ) Todos sabem _____________ não poderei estar presente. tinguir sinônimos e antônimos (sinonímia / antonímia) e
( ) Não se sabe ____________realizou tal procedimento. homônimos e parônimos (homonímia / paronímia).
( ) Este ponto de vista é _________não há manifestação de
Sinônimos
outro pensamento.
São palavras de sentido igual ou aproximado: alfa-
beto - abecedário; brado, grito - clamor; extinguir, apagar
A sequência está correta em: - abolir.
a) 1, 1, 1, 2 Duas palavras são totalmente sinônimas quando são
b) 1, 2, 1, 2 substituíveis, uma pela outra, em qualquer contexto (cara
c) 2, 1, 1, 2 e rosto, por exemplo); são parcialmente sinônimas quan-
d) 2, 2, 2, 1 do, ocasionalmente, podem ser substituídas, uma pela
outra, em deteminado enunciado (aguadar e esperar).
Resposta: Letra C
Faltei porque você estava doente. = conjunção causal Observação:
Todos sabem por que não poderei estar presente. = dá A contribuição greco-latina é responsável pela exis-
para substituir por “a causa pela qual” tência de numerosos pares de sinônimos: adversário e
Não se sabe por que realizou tal procedimento. = antagonista; translúcido e diáfano; semicírculo e hemici-
substituir por “a causa” clo; contraveneno e antídoto; moral e ética; colóquio e diá-
Este ponto de vista é porque não há manifestação de logo; transformação e metamorfose; oposição e antítese.
outro pensamento. = conjunção causal
Teremos: 2, 1, 1, 2 Antônimos
São palavras que se opõem através de seu significa-
6. (TJ-SC – TÉCNICO JUDICIÁRIO AUXILIAR – FGV- do: ordem - anarquia; soberba - humildade; louvar - cen-
2018) “Um dia, o cercaram e lhe perguntaram porque ele surar; mal - bem.
só usava meias vermelhas”. Nesse segmento do texto 1
Observação:
há um erro gramatical, que é:
A antonímia pode se originar de um prefixo de sen-
tido oposto ou negativo: bendizer e maldizer; simpático
a) empregar-se “o cercaram” em lugar de “lhe cercaram”; e antipático; progredir e regredir; concórdia e discórdia;
LÍNGUA PORTUGUESA

b) haver vírgula após a expressão “Um dia”; ativo e inativo; esperar e desesperar; comunista e antico-
c) usar-se “lhe perguntaram” em lugar de “o perguntaram”; munista; simétrico e assimétrico.
d) grafar-se “porque” em vez de “por que”;
e) escrever-se “só usava” em lugar de “usava só”. Homônimos e Parônimos

Resposta: Letra D • Homônimos = palavras que possuem a mesma gra-


“Um dia, o cercaram e lhe perguntaram porque ele só fia ou a mesma pronúncia, mas significados dife-
usava meias vermelhas” rentes. Podem ser

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A) Homógrafas: são palavras iguais na escrita e dife- XIMENES, Sérgio. Minidicionário Ediouro da Lìngua
rentes na pronúncia: Portuguesa – 2.ª ed. reform. – São Paulo: Ediouro, 2000.
rego (subst.) e rego (verbo); colher (verbo) e colher
(subst.); jogo (subst.) e jogo (verbo); denúncia (subst.) e de- SITE
nuncia (verbo); providência (subst.) e providencia (verbo). Disponível em: <http://www.coladaweb.com/portu-
gues/sinonimos,-antonimos,-homonimos-e-paronimos>
B) Homófonas: são palavras iguais na pronúncia e
diferentes na escrita: Polissemia
acender (atear) e ascender (subir); concertar (harmoni- Polissemia é a propriedade de uma palavra adquirir
zar) e consertar (reparar); cela (compartimento) e sela (ar- multiplicidade de sentidos, que só se explicam dentro de
reio); censo (recenseamento) e senso ( juízo); paço (palácio) um contexto. Trata-se, realmente, de uma única palavra,
e passo (andar). mas que abarca um grande número de significados den-
tro de seu próprio campo semântico.
C) Homógrafas e homófonas simultaneamente Reportando-nos ao conceito de Polissemia, logo per-
(ou perfeitas): São palavras iguais na escrita e na cebemos que o prefixo “poli” significa multiplicidade de
pronúncia: algo. Possibilidades de várias interpretações levando-
caminho (subst.) e caminho (verbo); cedo (verbo) e -se em consideração as situações de aplicabilidade. Há
cedo (adv.); livre (adj.) e livre (verbo). uma infinidade de exemplos em que podemos verificar a
ocorrência da polissemia:
• Parônimos = palavras com sentidos diferentes, po- O rapaz é um tremendo gato.
rém de formas relativamente próximas. São pala- O gato do vizinho é peralta.
vras parecidas na escrita e na pronúncia: cesta (re- Precisei fazer um gato para que a energia voltasse.
ceptáculo de vime; cesta de basquete/esporte) e Pedro costuma fazer alguns “bicos” para garantir sua
sesta (descanso após o almoço), eminente (ilustre) sobrevivência
e iminente (que está para ocorrer), osso (substan- O passarinho foi atingido no bico.
tivo) e ouço (verbo), sede (substantivo e/ou verbo
Nas expressões polissêmicas rede de deitar, rede de
“ser” no imperativo) e cede (verbo), comprimen-
computadores e rede elétrica, por exemplo, temos em co-
to (medida) e cumprimento (saudação), autuar
mum a palavra “rede”, que dá às expressões o sentido de
(processar) e atuar (agir), infligir (aplicar pena) e
“entrelaçamento”. Outro exemplo é a palavra “xadrez”,
infringir (violar), deferir (atender a) e diferir (diver-
que pode ser utilizada representando “tecido”, “prisão”
gir), suar (transpirar) e soar (emitir som), aprender
ou “jogo” – o sentido comum entre todas as expressões
(conhecer) e apreender (assimilar; apropriar-se de),
é o formato quadriculado que têm.
tráfico (comércio ilegal) e tráfego (relativo a movi-
mento, trânsito), mandato (procuração) e mandado
Polissemia e homonímia
(ordem), emergir (subir à superfície) e imergir (mer-
A confusão entre polissemia e homonímia é bastante
gulhar, afundar). comum. Quando a mesma palavra apresenta vários sig-
nificados, estamos na presença da polissemia. Por outro
Hiperonímia e Hiponímia lado, quando duas ou mais palavras com origens e sig-
Hipônimos e hiperônimos são palavras que perten- nificados distintos têm a mesma grafia e fonologia, temos
cem a um mesmo campo semântico (de sentido), sendo uma homonímia.
o hipônimo uma palavra de sentido mais específico; o A palavra “manga” é um caso de homonímia. Ela pode
hiperônimo, mais abrangente. significar uma fruta ou uma parte de uma camisa. Não
O hiperônimo impõe as suas propriedades ao hipô- é polissemia porque os diferentes significados para a
nimo, criando, assim, uma relação de dependência se- palavra “manga” têm origens diferentes. “Letra” é uma
mântica. Por exemplo: Veículos está numa relação de hi- palavra polissêmica: pode significar o elemento básico
peronímia com carros, já que veículos é uma palavra de do alfabeto, o texto de uma canção ou a caligrafia de um
significado genérico, incluindo motos, ônibus, caminhões. determinado indivíduo. Neste caso, os diferentes signifi-
Veículos é um hiperônimo de carros. cados estão interligados porque remetem para o mesmo
Um hiperônimo pode substituir seus hipônimos em conceito, o da escrita.
quaisquer contextos, mas o oposto não é possível. A utili-
zação correta dos hiperônimos, ao redigir um texto, evita Polissemia e ambiguidade
a repetição desnecessária de termos. Polissemia e ambiguidade têm um grande impacto
na interpretação. Na língua portuguesa, um enunciado
LÍNGUA PORTUGUESA

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS pode ser ambíguo, ou seja, apresentar mais de uma in-
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa terpretação. Esta ambiguidade pode ocorrer devido à
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. colocação específica de uma palavra (por exemplo, um
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Co- advérbio) em uma frase. Vejamos a seguinte frase:
char - Português linguagens: volume 1 – 7.ª ed. Reform. Pessoas que têm uma alimentação equilibrada fre-
– São Paulo: Saraiva, 2010. quentemente são felizes.
AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras: Neste caso podem existir duas interpretações
literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000. diferentes:

13
As pessoas têm alimentação equilibrada porque reconhecido e muitas vezes associado ao primeiro signi-
são felizes ou são felizes porque têm uma alimentação ficado que aparece nos dicionários, sendo o significado
equilibrada. mais literal da palavra.
A denotação tem como finalidade informar o recep-
De igual forma, quando uma palavra é polissêmica, tor da mensagem de forma clara e objetiva, assumindo
ela pode induzir uma pessoa a fazer mais do que uma um caráter prático. É utilizada em textos informativos,
interpretação. Para fazer a interpretação correta é mui- como jornais, regulamentos, manuais de instrução, bu-
to importante saber qual o contexto em que a frase é las de medicamentos, textos científicos, entre outros. A
proferida. palavra “pau”, por exemplo, em seu sentido denotativo é
Muitas vezes, a disposição das palavras na construção apenas um pedaço de madeira. Outros exemplos:
do enunciado pode gerar ambiguidade ou, até mesmo,
O elefante é um mamífero.
comicidade. Repare na figura abaixo:
As estrelas deixam o céu mais bonito!

B) Conotação
Uma palavra é usada no sentido conotativo quando
apresenta diferentes significados, sujeitos a diferentes
interpretações, dependendo do contexto em que esteja
inserida, referindo-se a sentidos, associações e ideias que
vão além do sentido original da palavra, ampliando sua
significação mediante a circunstância em que a mesma
é utilizada, assumindo um sentido figurado e simbólico.
Como no exemplo da palavra “pau”: em seu sentido co-
notativo ela pode significar castigo (dar-lhe um pau), re-
provação (tomei pau no concurso).
(http://www.humorbabaca.com/fotos/diversas/corto-
A conotação tem como finalidade provocar sentimen-
-cabelo-e-pinto. Acesso em 15/9/2014).
tos no receptor da mensagem, através da expressividade
e afetividade que transmite. É utilizada principalmente
Poderíamos corrigir o cartaz de inúmeras maneiras,
mas duas seriam: numa linguagem poética e na literatura, mas também
ocorre em conversas cotidianas, em letras de música, em
Corte e coloração capilar anúncios publicitários, entre outros. Exemplos:
ou Você é o meu sol!
Faço corte e pintura capilar Minha vida é um mar de tristezas.
Você tem um coração de pedra!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Co-
char. Português linguagens: volume 1 – 7.ª ed. Reform.
#FicaDica
– São Paulo: Saraiva, 2010. Procure associar Denotação com Dicionário:
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa trata-se de definição literal, quando o termo
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. é utilizado com o sentido que consta no
dicionário.
SITE
Disponível em: <http://www.brasilescola.com/grama-
tica/polissemia.htm>
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Denotação e Conotação SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Exemplos de variação no significado das palavras: Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce-
Os domadores conseguiram enjaular a fera. (sentido reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
literal) Paulo: Saraiva, 2010.
Ele ficou uma fera quando soube da notícia. (sentido
figurado) SITE
Aquela aluna é fera na matemática. (sentido figurado) http://www.normaculta.com.br/conotacao-e-denota-
cao/
As variações nos significados das palavras ocasionam
LÍNGUA PORTUGUESA

o sentido denotativo (denotação) e o sentido conotativo


(conotação) das palavras.
EXERCÍCIOS COMENTADOS
A) Denotação
Uma palavra é usada no sentido denotativo quando 1. (BANESTES – TÉCNICO BANCÁRIO – FGV-2018) Um
apresenta seu significado original, independentemen- ex-governador do estado do Amazonas disse o seguin-
te do contexto em que aparece. Refere-se ao seu sig- te: “Defenda a ecologia, mas não encha o saco”. (Gil-
nificado mais objetivo e comum, aquele imediatamente berto Mestrinho) O vocábulo sublinhado, composto do

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radical-logia (“estudo”), se refere aos estudos de defesa Brasil. Enquanto, entre as nações ricas, o trabalho infan-
do meio ambiente; o vocábulo abaixo, com esse mesmo til foi minimizado, já que nunca se pode dizer erradica-
radical, que tem seu significado corretamente indicado é: do, ele continua sendo grave problema nos países mais
pobres.
a) Antropologia: estudo do homem como representante Jornal do Brasil, Editorial, 1.º/7/2010 (com
adaptações).
do sexo masculino;
b) Etimologia: estudo das raças humanas; A palavra “chaga”, empregada com o sentido de ferida
c) Meteorologia: estudo dos impactos de meteoros sobre social, refere-se, na estrutura sintática do parágrafo, a
a Terra; “pobreza”.
d) Ginecologia: estudo das doenças privativas das
mulheres; ( ) CERTO ( ) ERRADO
e) Fisiologia: estudo das forças atuantes na natureza.
Resposta: Errado
Resposta: Letra D (...) É o caso do trabalho infantil. A chaga encontra
Em “a”: Antropologia: Ciência que se dedica ao estudo terreno = refere-se a “trabalho infantil”.
do homem (espécie humana) em sua totalidade 4. (MPU – CONHECIMENTOS BÁSICOS PARA O CAR-
Em “b”: Etimologia: Ciência que investiga a origem das GO 33 – TÉCNICO ADMINISTRATIVO - Nível Médio
palavras procurando determinar as causas e circuns- – CESPE-2013)
tâncias de seu processo evolutivo Há um dispositivo no Código Civil que condiciona a edi-
Em “c”: Meteorologia: Estudo dos fenômenos atmosfé- ção de biografias à autorização do biografado ou des-
ricos e das suas leis, principalmente com a intenção de cendentes. As consequências da norma são negativas.
prever as variações do tempo. Uma delas é a impossibilidade de se registrar e deixar
Em “d”: Ginecologia: estudo das doenças privativas das para a posteridade a vida de personagens importantes
mulheres = correta na formação do país, em qualquer ramo de atividade.
Permite-se a interdição de registros de época, em prejuí-
Em “e”: Fisiologia: Ciência que trata das funções orgâ-
zo dos historiadores e pesquisadores do futuro.
nicas pelas quais a vida se manifesta Dessa forma, tem sido sonegado, por exemplo, o relato
da vida do poeta Manoel Bandeira e dos escritores Má-
2. (CÂMARA DE SALVADOR-BA – ASSISTENTE LEGIS- rio de Andrade e Guimarães Rosa. Tanto no jornalismo
LATIVO MUNICIPAL – FGV-2018) “Na verdade, todos os quanto na literatura não pode haver censura prévia. Pu-
anos a imprensa nacional destaca os inaceitáveis números blicada a reportagem (ou biografia), os que se sentirem
da violência no país”. O vocábulo “inaceitáveis” equivale atingidos que recorram à justiça. É preciso seguir o pa-
ao “que não se aceita”. A equivalência correta abaixo in- drão existente em muitos países, em que há biografias
dicada é: “autorizadas” e “não autorizadas”.
Reclamações posteriores, quando existem, são encami-
nhadas ao foro devido, os tribunais.
a) tinta indelével / que não se apaga;
O alegado “direito à privacidade” é argumento frágil para
b) ação impossível / que não se possui; justificar o veto a que a historiografia do país seja enri-
c) trabalho inexequível / que não se exemplifica; quecida, como se não bastasse o fato de o poder de cen-
d) carro invisível / que não tem vistoria; sura concedido a biografados e herdeiros ser um atenta-
e) voz inaudível / que não possui audiência. do à Constituição.
O Globo, 23/9/2013 (com adaptações).
Resposta: Letra A
Em “a”: tinta indelével / que não se apaga = correta A palavra “sonegado” está sendo empregada com o sen-
Em “b”: ação impossível = que não é possível tido de reduzido, diminuído.
Em “c”: trabalho inexequível = que não se executa
( ) CERTO ( ) ERRADO
Em “d”: carro invisível = que não se vê
Em “e”: voz inaudível = que não se ouve Resposta: Errado
(...) Permite-se a interdição de registros de época, em
3. (MPU – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CESPE-2010) prejuízo dos historiadores e pesquisadores do futuro.
A pobreza é um dos fatores mais comumente respon- Dessa forma, tem sido sonegado, por exemplo, o rela-
sáveis pelo baixo nível de desenvolvimento humano to da vida do poeta Manoel Bandeira e dos escritores
e pela origem de uma série de mazelas, algumas das Mário de Andrade e Guimarães Rosa = o sentido é o
de “impedido”.
LÍNGUA PORTUGUESA

quais proibidas por lei ou consideradas crimes. É o caso


do trabalho infantil. A chaga encontra terreno fértil nas
5. (PC-SP - ESCRIVÃO DE POLÍCIA – VUNESP-2014) O
sociedades subdesenvolvidas, mas também viceja onde
termo destacado na passagem do primeiro parágrafo –
o capitalismo, em seu ambiente mais selvagem, obriga Mesmo com tantas opções, ainda há resistência na hora
crianças e adolescentes a participarem do processo de da compra. – tem sentido equivalente a
produção. Foi assim na Revolução Industrial de ontem
e nas economias ditas avançadas. E ainda é, nos dias de a) impetuosidade.
hoje, nas manufaturas da Ásia ou em diversas regiões do b) empatia.

15
c) relutância. de criança pueril
d) consentimento.
e) segurança. de dedo digital
de estômago estomacal ou gástrico
Resposta: Letra C de falcão falconídeo
Mesmo com tantas opções, ainda há resistência na
hora da compra. de farinha farináceo
Em “a”: impetuosidade (força) = incorreto de fera ferino
Em “b”: empatia = incorreto de ferro férreo
Em “c”: relutância (resistência).
Em “d”: consentimento (aceitação) = incorreto de fogo ígneo
Em “e”: segurança = incorreto de garganta gutural
A substituição que manteria o sentido do período é de gelo glacial
“ainda há relutância”.
de guerra bélico
de homem viril ou humano
CLASSES DE PALAVRAS E SUAS de ilha insular
FUNÇÕES NO TEXTO. VERBOS: de inverno hibernal ou invernal
CONJUGAÇÃO, EMPREGO DOS
de lago lacustre
TEMPOS, MODOS, VOZES VERBAIS
E SUAS IMPLICAÇÕES PARA de leão leonino
ORGANIZAÇÃO DO TEXTO. de lebre leporino
de lua lunar ou selênico
CLASSES DE PALAVRAS de madeira lígneo
de mestre magistral
1. ADJETIVO
de ouro áureo
É a palavra que expressa uma qualidade ou caracte- de paixão passional
rística do ser e se relaciona com o substantivo, concor- de pâncreas pancreático
dando com este em gênero e número.
de porco suíno ou porcino
As praias brasileiras estão poluídas.
Praias = substantivo; brasileiras/poluídas = adjetivos dos quadris ciático
(plural e feminino, pois concordam com “praias”). de rio fluvial
de sonho onírico
Locução adjetiva
de velho senil
Locução = reunião de palavras. Sempre que são ne- de vento eólico
cessárias duas ou mais palavras para falar sobre a mes-
de vidro vítreo ou hialino
ma coisa, tem-se locução. Às vezes, uma preposição +
substantivo tem o mesmo valor de um adjetivo: é a Lo- de virilha inguinal
cução Adjetiva (expressão que equivale a um adjetivo). de visão óptico ou ótico
Por exemplo: aves da noite (aves noturnas), paixão sem
freio (paixão desenfreada). Observação:
Nem toda locução adjetiva possui um adjetivo corres-
Observe outros exemplos:
pondente, com o mesmo significado: Vi as alunas da 5ª
série. / O muro de tijolos caiu.
de águia aquilino
de aluno discente Morfossintaxe do Adjetivo (Função Sintática):
de anjo angelical
O adjetivo exerce sempre funções sintáticas (função
de ano anual
dentro de uma oração) relativas aos substantivos, atuan-
LÍNGUA PORTUGUESA

de aranha aracnídeo
do como adjunto adnominal ou como predicativo (do
de boi bovino sujeito ou do objeto).
de cabelo capilar
de cabra caprino Adjetivo Pátrio (ou gentílico)
de campo campestre ou rural
Indica a nacionalidade ou o lugar de origem do ser.
de chuva pluvial Observe alguns deles:

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Estados e cidades brasileiras: Exceção: surdo-mudo e surda-muda.
Alagoas alagoano
B) Uniformes - têm uma só forma tanto para o mas-
Amapá amapaense culino como para o feminino: homem feliz e mulher
Aracaju aracajuano ou aracajuense feliz.
Amazonas amazonense ou baré Se o adjetivo é composto e uniforme, fica inva-
riável no feminino: conflito político-social e desavença
Belo Horizonte belo-horizontino político-social.
Brasília brasiliense
Cabo Frio cabo-friense Número dos Adjetivos
Campinas campineiro ou campinense A) Plural dos adjetivos simples
Os adjetivos simples se flexionam no plural de acordo
Adjetivo Pátrio Composto com as regras estabelecidas para a flexão numérica dos
substantivos simples: mau e maus, feliz e felizes, ruim e
Na formação do adjetivo pátrio composto, o primei- ruins, boa e boas.
ro elemento aparece na forma reduzida e, normalmente, Caso o adjetivo seja uma palavra que também exerça
função de substantivo, ficará invariável, ou seja, se a pa-
erudita. Observe alguns exemplos:
lavra que estiver qualificando um elemento for, original-
mente, um substantivo, ela manterá sua forma primitiva.
África afro- / Cultura afro-americana Exemplo: a palavra cinza é, originalmente, um substanti-
vo; porém, se estiver qualificando um elemento, funcio-
germano- ou teuto-/Competições
Alemanha nará como adjetivo. Ficará, então, invariável. Logo: cami-
teuto-inglesas
sas cinza, ternos cinza.
américo- / Companhia américo- Motos vinho (mas: motos verdes)
América
africana Paredes musgo (mas: paredes brancas).
belgo- / Acampamentos belgo- Comícios monstro (mas: comícios grandiosos).
Bélgica
franceses
China sino- / Acordos sino-japoneses B) Adjetivo Composto
É aquele formado por dois ou mais elementos. Nor-
Espanha hispano- / Mercado hispano-português
malmente, esses elementos são ligados por hífen. Ape-
Europa euro- / Negociações euro-americanas nas o último elemento concorda com o substantivo a que
franco- ou galo- / Reuniões franco- se refere; os demais ficam na forma masculina, singular.
França Caso um dos elementos que formam o adjetivo com-
italianas
Grécia greco- / Filmes greco-romanos posto seja um substantivo adjetivado, todo o adjetivo
composto ficará invariável. Por exemplo: a palavra “rosa”
Inglaterra anglo- / Letras anglo-portuguesas é, originalmente, um substantivo, porém, se estiver qua-
Itália ítalo- / Sociedade ítalo-portuguesa lificando um elemento, funcionará como adjetivo. Caso
Japão nipo- / Associações nipo-brasileiras se ligue a outra palavra por hífen, formará um adjetivo
composto; como é um substantivo adjetivado, o adjetivo
Portugal luso- / Acordos luso-brasileiros composto inteiro ficará invariável. Veja:
Camisas rosa-claro.
Flexão dos adjetivos Ternos rosa-claro.
Olhos verde-claros.
O adjetivo varia em gênero, número e grau. Calças azul-escuras e camisas verde-mar.
Telhados marrom-café e paredes verde-claras.
Gênero dos Adjetivos
Observação:
Azul-marinho, azul-celeste, ultravioleta e qualquer
Os adjetivos concordam com o substantivo a que se adjetivo composto iniciado por “cor-de-...” são sempre
referem (masculino e feminino). De forma semelhante invariáveis: roupas azul-marinho, tecidos azul-celeste,
aos substantivos, classificam-se em: vestidos cor-de-rosa.
LÍNGUA PORTUGUESA

O adjetivo composto surdo-mudo tem os dois ele-


A) Biformes - têm duas formas, sendo uma para o mentos flexionados: crianças surdas-mudas.
masculino e outra para o feminino: ativo e ativa, mau
Grau do Adjetivo
e má.
Se o adjetivo é composto e biforme, ele flexiona no Os adjetivos se flexionam em grau para indicar a in-
feminino somente o último elemento: o moço norte-a- tensidade da qualidade do ser. São dois os graus do ad-
mericano, a moça norte-americana. jetivo: o comparativo e o superlativo.

17
A) Comparativo difícil dificílimo
Nesse grau, comparam-se a mesma característica
atribuída a dois ou mais seres ou duas ou mais caracte- doce dulcíssimo
rísticas atribuídas ao mesmo ser. O comparativo pode ser fácil facílimo
de igualdade, de superioridade ou de inferioridade. fiel fidelíssimo

Sou tão alto como você. = Comparativo de Igualdade B.2 Superlativo Relativo: ocorre quando a qualidade
No comparativo de igualdade, o segundo termo da de um ser é intensificada em relação a um conjunto de
comparação é introduzido pelas palavras como, quanto seres. Essa relação pode ser:
ou quão. • De Superioridade: Essa matéria é a mais fácil de
todas.
Sou mais alto (do) que você. = Comparativo de • De Inferioridade: Essa matéria é a menos fácil de
Superioridade todas.

Sílvia é menos alta que Tiago. = Comparativo de O superlativo absoluto analítico é expresso por meio
Inferioridade dos advérbios muito, extremamente, excepcionalmente,
antepostos ao adjetivo.
Alguns adjetivos possuem, para o comparativo de O superlativo absoluto sintético se apresenta sob
superioridade, formas sintéticas, herdadas do latim. São duas formas: uma erudita - de origem latina – e outra
eles: bom /melhor, pequeno/menor, mau/pior, alto/supe- popular - de origem vernácula. A forma erudita é cons-
rior, grande/maior, baixo/inferior. tituída pelo radical do adjetivo latino + um dos sufixos
-íssimo, -imo ou érrimo: fidelíssimo, facílimo, paupérrimo;
Observe que: a popular é constituída do radical do adjetivo português
• As formas menor e pior são comparativos de supe- + o sufixo -íssimo: pobríssimo, agilíssimo.
rioridade, pois equivalem a mais pequeno e mais Os adjetivos terminados em –io fazem o superlativo
mau, respectivamente. com dois “ii”: frio – friíssimo, sério – seriíssimo; os termi-
• Bom, mau, grande e pequeno têm formas sintéticas nados em –eio, com apenas um “i”: feio - feíssimo, cheio
(melhor, pior, maior e menor), porém, em compa- – cheíssimo.
rações feitas entre duas qualidades de um mesmo
elemento, deve-se usar as formas analíticas mais REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
bom, mais mau,mais grande e mais pequeno. Por CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Co-
exemplo: char - Português linguagens: volume 2 – 7.ª ed. Reform.
Pedro é maior do que Paulo - Comparação de dois – São Paulo: Saraiva, 2010.
elementos. SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Pedro é mais grande que pequeno - comparação de Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
duas qualidades de um mesmo elemento. Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
Sou menos alto (do) que você. = Comparativo de ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
Inferioridade
Sou menos passivo (do) que tolerante. SITE
Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/se-
B) Superlativo coes/morf/morf32.php>
O superlativo expressa qualidades num grau muito
elevado ou em grau máximo. Pode ser absoluto ou rela- 2. ADVÉRBIO
tivo e apresenta as seguintes modalidades:
Compare estes exemplos:
B.1 Superlativo Absoluto: ocorre quando a quali- O ônibus chegou.
dade de um ser é intensificada, sem relação com outros O ônibus chegou ontem.
seres. Apresenta-se nas formas:
• Analítica: a intensificação é feita com o auxílio de Advérbio é uma palavra invariável que modifica o
palavras que dão ideia de intensidade (advérbios). sentido do verbo (acrescentando-lhe circunstâncias de
Por exemplo: O concurseiro é muito esforçado. tempo, de modo, de lugar, de intensidade), do adjetivo e
• Sintética: nessa, há o acréscimo de sufixos. Por do próprio advérbio.
exemplo: O concurseiro é esforçadíssimo. Estudei bastante. = modificando o verbo estudei
Ele canta muito bem! = intensificando outro advérbio
LÍNGUA PORTUGUESA

Observe alguns superlativos sintéticos: (bem)


Ela tem os olhos muito claros. = relação com um ad-
jetivo (claros)
benéfico beneficentíssimo
bom boníssimo ou ótimo Quando modifica um verbo, o advérbio pode acres-
comum comuníssimo centar ideia de:
Tempo: Ela chegou tarde.
cruel crudelíssimo Lugar: Ele mora aqui.

18
Modo: Eles agiram mal. geral, frente a frente, lado a lado, a pé, de cor, em
Negação: Ela não saiu de casa. vão e a maior parte dos que terminam em “-men-
Dúvida: Talvez ele volte. te”: calmamente, tristemente, propositadamente,
pacientemente, amorosamente, docemente, escan-
Flexão do Advérbio dalosamente, bondosamente, generosamente.
D) Afirmação: sim, certamente, realmente, decer-
Os advérbios são palavras invariáveis, isto é, não apre- to, efetivamente, certo, decididamente, deveras,
sentam variação em gênero e número. Alguns advérbios, indubitavelmente.
porém, admitem a variação em grau. Observe: E) Negação: não, nem, nunca, jamais, de modo algum,
de forma nenhuma, tampouco, de jeito nenhum.
A) Grau Comparativo F) Dúvida: acaso, porventura, possivelmente, pro-
Forma-se o comparativo do advérbio do mesmo vavelmente, quiçá, talvez, casualmente, por certo,
modo que o comparativo do adjetivo: quem sabe.
• de igualdade: tão + advérbio + quanto (como): Re- G) Intensidade: muito, demais, pouco, tão, em ex-
nato fala tão alto quanto João. cesso, bastante, mais, menos, demasiado, quanto,
• de inferioridade: menos + advérbio + que (do quão, tanto, assaz, que (equivale a quão), tudo,
que): Renato fala menos alto do que João. nada, todo, quase, de todo, de muito, por completo,
• de superioridade: extremamente, intensamente, grandemente, bem
(quando aplicado a propriedades graduáveis).
A.1 Analítico: mais + advérbio + que (do que): Renato H) Exclusão: apenas, exclusivamente, salvo, senão, so-
fala mais alto do que João. mente, simplesmente, só, unicamente. Por exemplo:
A.2 Sintético: melhor ou pior que (do que): Renato Brando, o vento apenas move a copa das árvores.
fala melhor que João.
I) Inclusão: ainda, até, mesmo, inclusivamente, tam-
bém. Por exemplo: O indivíduo também amadurece
B) Grau Superlativo
durante a adolescência.
O superlativo pode ser analítico ou sintético:
J) Ordem: depois, primeiramente, ultimamente. Por
B.1 Analítico: acompanhado de outro advérbio: Re-
exemplo: Primeiramente, eu gostaria de agradecer
nato fala muito alto.
muito = advérbio de intensidade / alto = advérbio aos meus amigos por comparecerem à festa.
de modo
B.2 Sintético: formado com sufixos: Renato fala Saiba que:
altíssimo. Para se exprimir o limite de possibilidade, antepõe-se
ao advérbio “o mais” ou “o menos”. Por exemplo: Ficarei
Observação: o mais longe que puder daquele garoto. Voltarei o menos
As formas diminutivas (cedinho, pertinho, etc.) são tarde possível.
comuns na língua popular. Quando ocorrem dois ou mais advérbios em -mente,
Maria mora pertinho daqui. (muito perto) em geral sufixamos apenas o último: O aluno respondeu
A criança levantou cedinho. (muito cedo) calma e respeitosamente.

Classificação dos Advérbios Distinção entre Advérbio e Pronome Indefinido

De acordo com a circunstância que exprime, o advér- Há palavras como muito, bastante, que podem apare-
bio pode ser de: cer como advérbio e como pronome indefinido.
A) Lugar: aqui, antes, dentro, ali, adiante, fora, aco- Advérbio: refere-se a um verbo, adjetivo, ou a outro
lá, atrás, além, lá, detrás, aquém, cá, acima, onde, advérbio e não sofre flexões. Por exemplo: Eu corri muito.
perto, aí, abaixo, aonde, longe, debaixo, algures, de- Pronome Indefinido: relaciona-se a um substantivo
fronte, nenhures, adentro, afora, alhures, nenhures, e sofre flexões. Por exemplo: Eu corri muitos quilômetros.
aquém, embaixo, externamente, a distância, à dis-
tância de, de longe, de perto, em cima, à direita, à
esquerda, ao lado, em volta. #FicaDica
B) Tempo: hoje, logo, primeiro, ontem, tarde, outrora, Como saber se a palavra bastante é
amanhã, cedo, dantes, depois, ainda, antigamente,
advérbio (não varia, não se flexiona) ou
antes, doravante, nunca, então, ora, jamais, agora,
pronome indefinido (varia, sofre flexão)? Se
sempre, já, enfim, afinal, amiúde, breve, constan-
der, na frase, para substituir o “bastante” por
temente, entrementes, imediatamente, primeira-
“muito”, estamos diante de um advérbio; se
mente, provisoriamente, sucessivamente, às vezes,
LÍNGUA PORTUGUESA

der para substituir por “muitos” (ou muitas),


à tarde, à noite, de manhã, de repente, de vez em
quando, de quando em quando, a qualquer mo- é um pronome. Veja:
mento, de tempos em tempos, em breve, hoje em 1. Estudei bastante para o concurso. (estudei
dia. muito, pois “muitos” não dá!) = advérbio
C) Modo: bem, mal, assim, adrede, melhor, pior, de- 2. Estudei bastantes capítulos para o concurso.
pressa, acinte, debalde, devagar, às pressas, às cla- (estudei muitos capítulos) = pronome
ras, às cegas, à toa, à vontade, às escondidas, aos indefinido
poucos, desse jeito, desse modo, dessa maneira, em

19
Advérbios Interrogativos SITE
Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/se-
São as palavras: onde? aonde? donde? quando? como? coes/morf/morf75.php>
por quê? nas interrogações diretas ou indiretas, referen-
tes às circunstâncias de lugar, tempo, modo e causa. Veja: 3. ARTIGO

Interrogação Direta Interrogação Indireta O artigo integra as dez classes gramaticais, definindo-
-se como o termo variável que serve para individualizar
Como aprendeu? Perguntei como aprendeu ou generalizar o substantivo, indicando, também, o gê-
Onde mora? Indaguei onde morava nero (masculino/feminino) e o número (singular/plural).
Por que choras? Não sei por que choras Os artigos se subdividem em definidos (“o” e as va-
riações “a”[as] e [os]) e indefinidos (“um” e as variações
Aonde vai? Perguntei aonde ia “uma”[s] e “uns]).
Donde vens? Pergunto donde vens
Quando voltas? Pergunto quando voltas A) Artigos definidos – São usados para indicar seres
determinados, expressos de forma individual: O
Locução Adverbial concurseiro estuda muito. Os concurseiros estudam
muito.
Quando há duas ou mais palavras que exercem fun- B) Artigos indefinidos – usados para indicar seres de
ção de advérbio, temos a locução adverbial, que pode modo vago, impreciso: Uma candidata foi aprova-
expressar as mesmas noções dos advérbios. Iniciam ordi- da! Umas candidatas foram aprovadas!
nariamente por uma preposição. Veja:
A) lugar: à esquerda, à direita, de longe, de perto, Circunstâncias em que os artigos se manifestam:
para dentro, por aqui, etc.
B) afirmação: por certo, sem dúvida, etc. Considera-se obrigatório o uso do artigo depois
C) modo: às pressas, passo a passo, de cor, em vão, do numeral “ambos”: Ambos os concursos cobrarão tal
em geral, frente a frente, etc. conteúdo.
D) tempo: de noite, de dia, de vez em quando, à tarde, Nomes próprios indicativos de lugar (ou topônimos)
hoje em dia, nunca mais, etc. admitem o uso do artigo, outros não: São Paulo, O Rio de
Janeiro, Veneza, A Bahia...
A locução adverbial e o advérbio modificam o verbo, Quando indicado no singular, o artigo definido pode
o adjetivo e outro advérbio: indicar toda uma espécie: O trabalho dignifica o homem.
Chegou muito cedo. (advérbio) No caso de nomes próprios personativos, denotando
Joana é muito bela. (adjetivo) a ideia de familiaridade ou afetividade, é facultativo o uso
De repente correram para a rua. (verbo) do artigo: Marcela é a mais extrovertida das irmãs. / O
Pedro é o xodó da família.
Usam-se, de preferência, as formas mais bem e mais No caso de os nomes próprios personativos estarem
mal antes de adjetivos ou de verbos no particípio: no plural, são determinados pelo uso do artigo: Os Maias,
Essa matéria é mais bem interessante que aquela. os Incas, Os Astecas...
Nosso aluno foi o mais bem colocado no concurso!
O numeral “primeiro”, ao modificar o verbo, é advér- Usa-se o artigo depois do pronome indefinido todo(a)
bio: Cheguei primeiro. para conferir uma ideia de totalidade. Sem o uso dele (do
artigo), o pronome assume a noção de “qualquer”.
Quanto a sua função sintática: o advérbio e a locução Toda a classe parabenizou o professor. (a sala toda)
adverbial desempenham na oração a função de adjunto Toda classe possui alunos interessados e desinteressa-
adverbial, classificando-se de acordo com as circunstân- dos. (qualquer classe)
cias que acrescentam ao verbo, ao adjetivo ou ao advér-
bio. Exemplo: Antes de pronomes possessivos, o uso do artigo é fa-
Meio cansada, a candidata saiu da sala. = adjunto ad- cultativo: Preparei o meu curso. Preparei meu curso.
verbial de intensidade (ligado ao adjetivo “cansada”) A utilização do artigo indefinido pode indicar uma
Trovejou muito ontem. = adjunto adverbial de intensi- ideia de aproximação numérica: O máximo que ele deve
dade e de tempo, respectivamente. ter é uns vinte anos.
O artigo também é usado para substantivar palavras
LÍNGUA PORTUGUESA

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS pertencentes a outras classes gramaticais: Não sei o por-


CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Co- quê de tudo isso. / O bem vence o mal.
char - Português linguagens: volume 2 – 7.ª ed. Reform.
– São Paulo: Saraiva, 2010. Há casos em que o artigo definido não pode ser
AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras: usado:
literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Antes de nomes de cidade (topônimo) e de pessoas
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. conhecidas: O professor visitará Roma.

20
Mas, se o nome apresentar um caracterizador, a pre- Não conseguimos separar uma oração da outra, pois
sença do artigo será obrigatória: O professor visitará a a segunda “completa” o sentido da primeira (da oração
bela Roma. principal): Espero o quê? Ser aprovada. Nesse período te-
mos uma oração subordinada substantiva objetiva direta
Antes de pronomes de tratamento: Vossa Senhoria (ela exerce a função de objeto direto do verbo da oração
sairá agora? principal).
Exceção: O senhor vai à festa?
Conjunções Coordenativas
Após o pronome relativo “cujo” e suas variações: Esse
é o concurso cujas provas foram anuladas?/ Este é o can- São aquelas que ligam orações de sentido completo
didato cuja nota foi a mais alta. e independente ou termos da oração que têm a mesma
função gramatical. Subdividem-se em:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Co- A) Aditivas: ligam orações ou palavras, expressando
char - Português linguagens: volume 2 – 7.ª ed. Reform. ideia de acréscimo ou adição. São elas: e, nem (= e
– São Paulo: Saraiva, 2010. não), não só... mas também, não só... como também,
AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras: bem como, não só... mas ainda.
literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000. A sua pesquisa é clara e objetiva.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Não só dança, mas também canta.
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Co- B) Adversativas: ligam duas orações ou palavras,
char - Português linguagens: volume 1– 7.ª ed. Reform. expressando ideia de contraste ou compensação.
– São Paulo: Saraiva, 2010. São elas: mas, porém, contudo, todavia, entretanto,
no entanto, não obstante.
SITE Tentei chegar mais cedo, porém não consegui.
Disponível em: <http://www.brasilescola.com/grama-
tica/artigo.htm>
C) Alternativas: ligam orações ou palavras, expres-
sando ideia de alternância ou escolha, indicando
4. CONJUNÇÃO
fatos que se realizam separadamente. São elas: ou,
ou... ou, ora... ora, já... já, quer... quer, seja... seja, tal-
Além da preposição, há outra palavra também inva-
vez... talvez.
riável que, na frase, é usada como elemento de ligação:
Ou escolho agora, ou fico sem presente de aniversário.
a conjunção. Ela serve para ligar duas orações ou duas
palavras de mesma função em uma oração:
D) Conclusivas: ligam a oração anterior a uma oração
O concurso será realizado nas cidades de Campinas e
que expressa ideia de conclusão ou consequência.
São Paulo.
A prova não será fácil, por isso estou estudando muito. São elas: logo, pois (depois do verbo), portanto, por
conseguinte, por isso, assim.
Morfossintaxe da Conjunção Marta estava bem preparada para o teste, portanto
não ficou nervosa.
As conjunções, a exemplo das preposições, não exer- Você nos ajudou muito; terá, pois, nossa gratidão.
cem propriamente uma função sintática: são conectivos.
E) Explicativas: ligam a oração anterior a uma oração
Classificação da Conjunção que a explica, que justifica a ideia nela contida. São
elas: que, porque, pois (antes do verbo), porquanto.
De acordo com o tipo de relação que estabelecem, Não demore, que o filme já vai começar.
as conjunções podem ser classificadas em coordenati- Falei muito, pois não gosto do silêncio!
vas e subordinativas. No primeiro caso, os elementos
ligados pela conjunção podem ser isolados um do outro. Conjunções Subordinativas
Esse isolamento, no entanto, não acarreta perda da uni-
dade de sentido que cada um dos elementos possui. Já São aquelas que ligam duas orações, sendo uma de-
no segundo caso, cada um dos elementos ligados pela las dependente da outra. A oração dependente, intro-
conjunção depende da existência do outro. Veja: duzida pelas conjunções subordinativas, recebe o nome
LÍNGUA PORTUGUESA

Estudei muito, mas ainda não compreendi o conteúdo. de oração subordinada. Veja o exemplo: O baile já tinha
Podemos separá-las por ponto: começado quando ela chegou.
Estudei muito. Ainda não compreendi o conteúdo. O baile já tinha começado: oração principal
quando: conjunção subordinativa (adverbial temporal)
Temos acima um exemplo de conjunção (e, conse- ela chegou: oração subordinada
quentemente, orações coordenadas) coordenativa –
“mas”. Já em: As conjunções subordinativas subdividem-se em in-
Espero que eu seja aprovada no concurso! tegrantes e adverbiais:

21
Integrantes - Indicam que a oração subordinada por F) Proporcionais: introduzem uma oração que ex-
elas introduzida completa ou integra o sentido da prin- pressa um fato relacionado proporcionalmente à
cipal. Introduzem orações que equivalem a substantivos, ocorrência do expresso na principal. São elas: à
ou seja, as orações subordinadas substantivas. São elas: medida que, à proporção que, ao passo que e as
que, se. combinações quanto mais... (mais), quanto menos...
Quero que você volte. (Quero sua volta) (menos), quanto menos... (mais), quanto menos...
(menos), etc.
O preço fica mais caro à medida que os produtos
Adverbiais - Indicam que a oração subordinada exer-
escasseiam.
ce a função de adjunto adverbial da principal. De acordo
com a circunstância que expressam, classificam-se em: Observação:
São incorretas as locuções proporcionais à medida
A) Causais: introduzem uma oração que é causa da em que, na medida que e na medida em que.
ocorrência da oração principal. São elas: porque,
que, como (= porque, no início da frase), pois que, G) Temporais: introduzem uma oração que acrescen-
visto que, uma vez que, porquanto, já que, desde ta uma circunstância de tempo ao fato expresso na
que, etc. oração principal. São elas: quando, enquanto, antes
Ele não fez a pesquisa porque não dispunha de meios. que, depois que, logo que, todas as vezes que, desde
que, sempre que, assim que, agora que, mal (= as-
B) Concessivas: introduzem uma oração que expres- sim que), etc.
sa ideia contrária à da principal, sem, no entanto, A briga começou assim que saímos da festa.
impedir sua realização. São elas: embora, ainda
H) Comparativas: introduzem uma oração que ex-
que, apesar de que, se bem que, mesmo que, por
pressa ideia de comparação com referência à ora-
mais que, posto que, conquanto, etc. ção principal. São elas: como, assim como, tal como,
Embora fosse tarde, fomos visitá-lo. como se, (tão)... como, tanto como, tanto quanto, do
que, quanto, tal, qual, tal qual, que nem, que (com-
C) Condicionais: introduzem uma oração que indica binado com menos ou mais), etc.
a hipótese ou a condição para ocorrência da prin- O jogo de hoje será mais difícil que o de ontem.
cipal. São elas: se, caso, contanto que, salvo se, a
não ser que, desde que, a menos que, sem que, etc. I) Consecutivas: introduzem uma oração que expres-
Se precisar de minha ajuda, telefone-me. sa a consequência da principal. São elas: de sorte
que, de modo que, sem que (= que não), de forma
que, de jeito que, que (tendo como antecedente na
#FicaDica oração principal uma palavra como tal, tão, cada,
tanto, tamanho), etc.
Você deve ter percebido que a conjunção Estudou tanto durante a noite que dormiu na hora do
condicional “se” também é conjunção exame.
integrante. A diferença é clara ao ler as
orações que são introduzidas por ela. Acima,
ela nos dá a ideia da condição para que FIQUE ATENTO!
recebamos um telefonema (se for preciso Muitas conjunções não têm classificação
ajuda). Já na oração: Não sei se farei o única, imutável, devendo, portanto, ser
concurso. = Não há ideia de condição classificadas de acordo com o sentido que
alguma, há? Outra coisa: o verbo da oração apresentam no contexto (destaque da Zê!).
principal (sei) pede complemento (objeto
direto, já que “quem não sabe, não sabe
algo”). Portanto, a oração em destaque REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
exerce a função de objeto direto da oração SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
principal, sendo classificada como oração Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
subordinada substantiva objetiva direta. CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Co-
char - Português linguagens: volume 2 – 7.ª ed. Reform.
– São Paulo: Saraiva, 2010.
D) Conformativas: introduzem uma oração que ex- AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras:
prime a conformidade de um fato com outro. São literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000.
elas: conforme, como (= conforme), segundo, con-
SITE
LÍNGUA PORTUGUESA

soante, etc.
Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/se-
O passeio ocorreu como havíamos planejado. coes/morf/morf84.php>
E) Finais: introduzem uma oração que expressa a fi- 5. INTERJEIÇÃO
nalidade ou o objetivo com que se realiza a oração
principal. São elas: para que, a fim de que, que, por- Interjeição é a palavra invariável que exprime emo-
que (= para que), que, etc. ções, sensações, estados de espírito. É um recurso da lin-
Toque o sinal para que todos entrem no salão. guagem afetiva, em que não há uma ideia organizada de

22
maneira lógica, como são as sentenças da língua, mas L) Dúvida ou Incredulidade: Que nada! Qual o quê!
sim a manifestação de um suspiro, um estado da alma M) Espanto ou Admiração: Oh! Ah! Uai! Puxa! Céus!
decorrente de uma situação particular, um momento ou Quê! Caramba! Opa! Nossa! Hein? Cruz! Putz!
um contexto específico. Exemplos: N) Impaciência ou Contrariedade: Hum! Raios!
Ah, como eu queria voltar a ser criança! Puxa! Pô! Ora!
ah: expressão de um estado emotivo = interjeição O) Pedido de Auxílio: Socorro! Aqui! Piedade!
Hum! Esse pudim estava maravilhoso! P) Saudação, Chamamento ou Invocação: Salve!
hum: expressão de um pensamento súbito = Viva! Olá! Alô! Tchau! Psiu! Socorro! Valha-me,
interjeição Deus!
Q) Silêncio: Psiu! Silêncio!
O significado das interjeições está vinculado à ma-
R) Terror ou Medo: Credo! Cruzes! Minha nossa!
neira como elas são proferidas. O tom da fala é que dita
o sentido que a expressão vai adquirir em cada contexto
Saiba que:
em que for utilizada. Exemplos:
As interjeições são palavras invariáveis, isto é, não so-
Psiu! frem variação em gênero, número e grau como os no-
contexto: alguém pronunciando esta expressão na mes, nem de número, pessoa, tempo, modo, aspecto e
rua ; significado da interjeição (sugestão): “Estou te cha- voz como os verbos. No entanto, em uso específico, al-
mando! Ei, espere!” gumas interjeições sofrem variação em grau. Não se trata
de um processo natural desta classe de palavra, mas tão
Psiu! só uma variação que a linguagem afetiva permite. Exem-
contexto: alguém pronunciando em um hospital; plos: oizinho, bravíssimo, até loguinho.
significado da interjeição (sugestão): “Por favor, faça
silêncio!” Locução Interjetiva

Puxa! Ganhei o maior prêmio do sorteio! Ocorre quando duas ou mais palavras formam uma
puxa: interjeição; tom da fala: euforia expressão com sentido de interjeição: Ora bolas!, Virgem
Maria!, Meu Deus!, Ó de casa!, Ai de mim!, Graças a Deus!
Puxa! Hoje não foi meu dia de sorte! Toda frase mais ou menos breve dita em tom excla-
puxa: interjeição; tom da fala: decepção mativo torna-se uma locução interjetiva, dispensando
análise dos termos que a compõem: Macacos me mor-
As interjeições cumprem, normalmente, duas funções: dam!, Valha-me Deus!, Quem me dera!
A) Sintetizar uma frase exclamativa, exprimin- 1. As interjeições são como frases resumidas, sinté-
do alegria, tristeza, dor, etc.: Ah, deve ser muito ticas. Por exemplo: Ué! (= Eu não esperava por
interessante! essa!) / Perdão! (= Peço-lhe que me desculpe)
B) Sintetizar uma frase apelativa: Cuidado! Saia da 2. Além do contexto, o que caracteriza a interjeição é
minha frente. o seu tom exclamativo; por isso, palavras de outras
classes gramaticais podem aparecer como inter-
As interjeições podem ser formadas por: jeições. Por exemplo: Viva! Basta! (Verbos) / Fora!
• simples sons vocálicos: Oh!, Ah!, Ó, Ô Francamente! (Advérbios)
• palavras: Oba! Olá! Claro! 3. A interjeição pode ser considerada uma “palavra-
• grupos de palavras (locuções interjetivas): Meu -frase” porque sozinha pode constituir uma men-
Deus! Ora bolas!
sagem. Por exemplo: Socorro! Ajudem-me! Silêncio!
Fique quieto!
Classificação das Interjeições
4. Há, também, as interjeições onomatopaicas ou imi-
tativas, que exprimem ruídos e vozes. Por exemplo:
Comumente, as interjeições expressam sentido de:
Miau! Bumba! Zás! Plaft! Pof! Catapimba! Tique-ta-
A) Advertência: Cuidado! Devagar! Calma! Sentido!
Atenção! Olha! Alerta! que! Quá-quá-quá!, etc.
B) Afugentamento: Fora! Passa! Rua! 5. Não se deve confundir a interjeição de apelo «ó»
C) Alegria ou Satisfação: Oh! Ah! Eh! Oba! Viva! com a sua homônima «oh!», que exprime admira-
D) Alívio: Arre! Uf! Ufa! Ah! ção, alegria, tristeza, etc. Faz-se uma pausa depois
E) Animação ou Estímulo: Vamos! Força! Coragem! do «oh!» exclamativo e não a fazemos depois do
Ânimo! Adiante! «ó» vocativo. Por exemplo: “Ó natureza! ó mãe pie-
LÍNGUA PORTUGUESA

F) Aplauso ou Aprovação: Bravo! Bis! Apoiado! Viva! dosa e pura!” (Olavo Bilac)
G) Concordância: Claro! Sim! Pois não! Tá!
H) Repulsa ou Desaprovação: Credo! Ih! Francamen- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
te! Essa não! Chega! Basta! SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
I) Desejo ou Intenção: Pudera! Tomara! Oxalá! Quei- Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
ra Deus! CAMPEDELLI, Samira Yousseff, SOUZA, Jésus Barbosa
J) Desculpa: Perdão! - Português – Literatura, Produção de Textos & Gramática
K) Dor ou Tristeza: Ai! Ui! Ai de mim! Que pena! – volume único – 3.ª Ed. – São Paulo: Saraiva, 2002.

23
SITE Quando atuam em funções adjetivas, esses numerais
Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/se- flexionam-se em gênero e número: Teve de tomar doses
coes/morf/morf89.php> triplas do medicamento.
Os numerais fracionários flexionam-se em gênero e
6. NUMERAL número. Observe: um terço/dois terços, uma terça parte/
duas terças partes.
Numeral é a palavra variável que indica quantidade Os numerais coletivos flexionam-se em número: uma
numérica ou ordem; expressa a quantidade exata de pes- dúzia, um milheiro, duas dúzias, dois milheiros.
soas ou coisas ou o lugar que elas ocupam numa deter- É comum na linguagem coloquial a indicação de grau
minada sequência. nos numerais, traduzindo afetividade ou especialização
Os numerais traduzem, em palavras, o que os núme- de sentido. É o que ocorre em frases como:
ros indicam em relação aos seres. Assim, quando a ex- “Me empresta duzentinho...”
pressão é colocada em números (1, 1.º, 1/3, etc.) não se É artigo de primeiríssima qualidade!
trata de numerais, mas sim de algarismos. O time está arriscado por ter caído na segundona. (=
Além dos numerais mais conhecidos, já que refletem segunda divisão de futebol)
a ideia expressa pelos números, existem mais algumas
palavras consideradas numerais porque denotam quan- Emprego e Leitura dos Numerais
tidade, proporção ou ordenação. São alguns exemplos:
década, dúzia, par, ambos(as), novena. Os numerais são escritos em conjunto de três algaris-
mos, contados da direita para a esquerda, em forma de
Classificação dos Numerais centenas, dezenas e unidades, tendo cada conjunto uma
separação através de ponto ou espaço correspondente a
A) Cardinais: indicam quantidade exata ou determi- um ponto: 8.234.456 ou 8 234 456.
nada de seres: um, dois, cem mil, etc. Alguns car- Em sentido figurado, usa-se o numeral para indicar
dinais têm sentido coletivo, como por exemplo: exagero intencional, constituindo a figura de linguagem
século, par, dúzia, década, bimestre. conhecida como hipérbole: Já li esse texto mil vezes.
B) Ordinais: indicam a ordem, a posição que alguém No português contemporâneo, não se usa a conjun-
ou alguma coisa ocupa numa determinada se- ção “e” após “mil”, seguido de centena: Nasci em mil no-
quência: primeiro, segundo, centésimo, etc. vecentos e noventa e dois.
Seu salário será de mil quinhentos e cinquenta reais.
As palavras anterior, posterior, último, antepenúltimo,
final e penúltimo também indicam posição dos seres, Mas, se a centena começa por “zero” ou termina por
mas são classificadas como adjetivos, não ordinais. dois zeros, usa-se o “e”: Seu salário será de mil e quinhen-
tos reais. (R$1.500,00)
C) Fracionários: indicam parte de uma quantidade, Gastamos mil e quarenta reais. (R$1.040,00)
ou seja, uma divisão dos seres: meio, terço, dois
quintos, etc. Para designar papas, reis, imperadores, séculos e par-
D) Multiplicativos: expressam ideia de multiplicação tes em que se divide uma obra, utilizam-se os ordinais
dos seres, indicando quantas vezes a quantidade até décimo e, a partir daí, os cardinais, desde que o nume-
foi aumentada: dobro, triplo, quíntuplo, etc. ral venha depois do substantivo;

Flexão dos numerais Ordinais Cardinais


Os numerais cardinais que variam em gênero são um/ João Paulo II (segundo) Tomo XV (quinze)
uma, dois/duas e os que indicam centenas de duzentos/ D. Pedro II (segundo) Luís XVI (dezesseis)
duzentas em diante: trezentos/trezentas, quatrocentos/ Ato II (segundo) Capítulo XX (vinte)
quatrocentas, etc. Cardinais como milhão, bilhão, trilhão,
variam em número: milhões, bilhões, trilhões. Os demais Século VIII (oitavo) Século XX (vinte)
cardinais são invariáveis. Canto IX (nono) João XXIII ( vinte e três)

Os numerais ordinais variam em gênero e número: Se o numeral aparece antes do substantivo, será lido
como ordinal: XXX Feira do Bordado. (trigésima)
primeiro segundo milésimo
LÍNGUA PORTUGUESA

primeira segunda milésima #FicaDica


primeiros segundos milésimos Ordinal lembra ordem. Memorize assim, por
primeiras segundas milésimas associação. Ficará mais fácil!

Os numerais multiplicativos são invariáveis quando


atuam em funções substantivas: Fizeram o dobro do es- Para designar leis, decretos e portarias, utiliza-se o or-
forço e conseguiram o triplo de produção. dinal até nono e o cardinal de dez em diante:

24
Artigo 1.° (primeiro) Artigo 10 (dez)
Artigo 9.° (nono) Artigo 21 (vinte e um)

Ambos/ambas = numeral dual, porque sempre se refere a dois seres. Significam “um e outro”, “os dois” (ou “uma
e outra”, “as duas”) e são largamente empregados para retomar pares de seres aos quais já se fez referência. Sua uti-
lização exige a presença do artigo posposto: Ambos os concursos realizarão suas provas no mesmo dia. O artigo só é
dispensado caso haja um pronome demonstrativo: Ambos esses ministros falarão à imprensa.

Quadro de alguns numerais

Cardinais Ordinais Multiplicativos Fracionários


Um Primeiro -
Dois Segundo Dobro, Duplo Meio
Três Terceiro Triplo, Tríplice Terço
Quatro Quarto Quádruplo Quarto
Cinco Quinto Quíntuplo Quinto
Seis Sexto Sêxtuplo Sexto
Sete Sétimo Sétuplo Sétimo
Oito Oitavo Óctuplo Oitavo
Nove Nono Nônuplo Nono
Dez Décimo Décuplo Décimo
Onze Décimo Primeiro - Onze Avos
Doze Décimo Segundo - Doze Avos
Treze Décimo Terceiro - Treze Avos
Catorze Décimo Quarto - Catorze Avos
Quinze Décimo Quinto - Quinze Avos
Dezesseis Décimo Sexto - Dezesseis Avos
Dezessete Décimo Sétimo - Dezessete Avos
Dezoito Décimo Oitavo - Dezoito Avos
Dezenove Décimo Nono - Dezenove Avos
Vinte Vigésimo - Vinte Avos
Trinta Trigésimo - Trinta Avos
Quarenta Quadragésimo - Quarenta Avos
Cinqüenta Quinquagésimo - Cinquenta Avos
Sessenta Sexagésimo - Sessenta Avos
Setenta Septuagésimo - Setenta Avos
Oitenta Octogésimo - Oitenta Avos
Noventa Nonagésimo - Noventa Avos
Cem Centésimo Cêntuplo Centésimo
Duzentos Ducentésimo - Ducentésimo
Trezentos Trecentésimo - Trecentésimo
Quatrocentos Quadringentésimo - Quadringentésimo
LÍNGUA PORTUGUESA

Quinhentos Quingentésimo - Quingentésimo


Seiscentos Sexcentésimo - Sexcentésimo
Setecentos Septingentésimo Septingentésimo
Oitocentos Octingentésimo Octingentésimo
Nongentésimo ou
Novecentos Nongentésimo
Noningentésimo

25
Mil Milésimo Milésimo
Milhão Milionésimo Milionésimo
Milhão Bilionésimo Bilionésimo

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Cochar - Português linguagens: volume 2 – 7.ª ed. Reform. – São
Paulo: Saraiva, 2010.
AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras: literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000.

SITE
Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf40.php>

7. PREPOSIÇÃO

Preposição é uma palavra invariável que serve para ligar termos ou orações. Quando esta ligação acontece, nor-
malmente há uma subordinação do segundo termo em relação ao primeiro. As preposições são muito importantes na
estrutura da língua, pois estabelecem a coesão textual e possuem valores semânticos indispensáveis para a compreen-
são do texto.

Tipos de Preposição

A) Preposições essenciais: palavras que atuam exclusivamente como preposições: a, ante, perante, após, até, com,
contra, de, desde, em, entre, para, por, sem, sob, sobre, trás, atrás de, dentro de, para com.
B) Preposições acidentais: palavras de outras classes gramaticais que podem atuar como preposições, ou seja,
formadas por uma derivação imprópria: como, durante, exceto, fora, mediante, salvo, segundo, senão, visto.
C) Locuções prepositivas: duas ou mais palavras valendo como uma preposição, sendo que a última palavra é uma
(preposição): abaixo de, acerca de, acima de, ao lado de, a respeito de, de acordo com, em cima de, embaixo de, em
frente a, ao redor de, graças a, junto a, com, perto de, por causa de, por cima de, por trás de.

A preposição é invariável, no entanto pode unir-se a outras palavras e, assim, estabelecer concordância em gênero
ou em número. Exemplo: por + o = pelo / por + a = pela.
Essa concordância não é característica da preposição, mas das palavras às quais ela se une.
Esse processo de junção de uma preposição com outra palavra pode se dar a partir dos processos de:
 • Combinação: união da preposição “a” com o artigo “o”(s), ou com o advérbio “onde”: ao, aonde, aos. Os
vocábulos não sofrem alteração.
 • Contração: união de uma preposição com outra palavra, ocorrendo perda ou transformação de fonema: de
+ o = do, em + a = na, per + os = pelos, de + aquele = daquele, em + isso = nisso.
 • Crase: é a fusão de vogais idênticas: à (“a” preposição + “a” artigo), àquilo (“a” preposição + 1.ª vogal do
pronome “aquilo”).

O “a” pode funcionar como preposição, pronome pessoal oblíquo e artigo. Como distingui-los? Caso o “a” seja
um artigo, virá precedendo um substantivo, servindo para determiná-lo como um substantivo singular e feminino: A
matéria que estudei é fácil!

Quando é preposição, além de ser invariável, liga dois termos e estabelece relação de subordinação entre eles.
Irei à festa sozinha.
Entregamos a flor à professora! = o primeiro “a” é artigo; o segundo, preposição.

Se for pronome pessoal oblíquo estará ocupando o lugar e/ou a função de um substantivo: Nós trouxemos a apos-
tila. = Nós a trouxemos.

Relações semânticas (= de sentido) estabelecidas por meio das preposições:


LÍNGUA PORTUGUESA

Destino = Irei a Salvador.


Modo = Saiu aos prantos.
Lugar = Sempre a seu lado.
Assunto = Falemos sobre futebol.
Tempo = Chegarei em instantes.
Causa = Chorei de saudade.
Fim ou finalidade = Vim para ficar.

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Instrumento = Escreveu a lápis. Em termos morfológicos, os pronomes são palavras
Posse = Vi as roupas da mamãe. variáveis em gênero (masculino ou feminino) e em nú-
Autoria = livro de Machado de Assis mero (singular ou plural). Assim, espera-se que a refe-
Companhia = Estarei com ele amanhã. rência através do pronome seja coerente em termos de
Matéria = copo de cristal. gênero e número (fenômeno da concordância) com o
Meio = passeio de barco. seu objeto, mesmo quando este se apresenta ausente no
Origem = Nós somos do Nordeste. enunciado.
Conteúdo = frascos de perfume. Fala-se de Roberta. Ele quer participar do desfile da
Oposição = Esse movimento é contra o que eu penso. nossa escola neste ano.
Preço = Essa roupa sai por cinquenta reais. [nossa: pronome que qualifica “escola” = concordân-
cia adequada]
Quanto à preposição “trás”: não se usa senão nas [neste: pronome que determina “ano” = concordân-
locuções adverbiais (para trás ou por trás) e na locução cia adequada]
[ele: pronome que faz referência à “Roberta” = con-
prepositiva por trás de.
cordância inadequada]
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Existem seis tipos de pronomes: pessoais, possessivos,
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
demonstrativos, indefinidos, relativos e interrogativos.
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Co- Pronomes Pessoais
char - Português linguagens: volume 2 – 7.ª ed. Reform.
– São Paulo: Saraiva, 2010. São aqueles que substituem os substantivos, indican-
AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras: do diretamente as pessoas do discurso. Quem fala ou
literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000. escreve assume os pronomes “eu” ou “nós”; usa-se os
pronomes “tu”, “vós”, “você” ou “vocês” para designar a
SITE quem se dirige, e “ele”, “ela”, “eles” ou “elas” para fazer
Disponível em: <http://www.infoescola.com/ referência à pessoa ou às pessoas de quem se fala.
portugues/preposicao/> Os pronomes pessoais variam de acordo com as fun-
ções que exercem nas orações, podendo ser do caso reto
8. PRONOME ou do caso oblíquo.

Pronome é a palavra variável que substitui ou acom- A) Pronome Reto


panha um substantivo (nome), qualificando-o de alguma Pronome pessoal do caso reto é aquele que, na sen-
forma. tença, exerce a função de sujeito: Nós lhe ofertamos
O homem julga que é superior à natureza, por isso o flores.
homem destrói a natureza... Os pronomes retos apresentam flexão de número,
Utilizando pronomes, teremos: O homem julga que é gênero (apenas na 3.ª pessoa) e pessoa, sendo essa úl-
superior à natureza, por isso ele a destrói... tima a principal flexão, uma vez que marca a pessoa do
Ficou melhor, sem a repetição desnecessária de ter- discurso. Dessa forma, o quadro dos pronomes retos é
mos (homem e natureza). assim configurado:
1.ª pessoa do singular: eu
Grande parte dos pronomes não possuem significa- 2.ª pessoa do singular: tu
dos fixos, isto é, essas palavras só adquirem significação 3.ª pessoa do singular: ele, ela
1.ª pessoa do plural: nós
dentro de um contexto, o qual nos permite recuperar a
2.ª pessoa do plural: vós
referência exata daquilo que está sendo colocado por
3.ª pessoa do plural: eles, elas
meio dos pronomes no ato da comunicação. Com ex-
ceção dos pronomes interrogativos e indefinidos, os de-
Esses pronomes não costumam ser usados como
mais pronomes têm por função principal apontar para as complementos verbais na língua-padrão. Frases como
pessoas do discurso ou a elas se relacionar, indicando- “Vi ele na rua”, “Encontrei ela na praça”, “Trouxeram eu
-lhes sua situação no tempo ou no espaço. Em virtude até aqui”- comuns na língua oral cotidiana - devem ser
dessa característica, os pronomes apresentam uma for- evitadas na língua formal escrita ou falada. Na língua for-
ma específica para cada pessoa do discurso. mal, devem ser usados os pronomes oblíquos correspon-
LÍNGUA PORTUGUESA

Minha carteira estava vazia quando eu fui assaltada. dentes: “Vi-o na rua”, “Encontrei-a na praça”, “Trouxeram-
[minha/eu: pronomes de 1.ª pessoa = aquele que fala] -me até aqui”.
Tua carteira estava vazia quando tu foste assaltada?
[tua/tu: pronomes de 2.ª pessoa = aquele a quem se Frequentemente observamos a omissão do pronome
fala] reto em Língua Portuguesa. Isso se dá porque as próprias
A carteira dela estava vazia quando ela foi assaltada. formas verbais marcam, através de suas desinências, as
[dela/ela: pronomes de 3.ª pessoa = aquele de quem pessoas do verbo indicadas pelo pronome reto: Fizemos
se fala] boa viagem. (Nós)

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B) Pronome Oblíquo 2.ª pessoa do plural (vós): vós, convosco
Pronome pessoal do caso oblíquo é aquele que, na 3.ª pessoa do plural (eles, elas): si, consigo, eles, elas
sentença, exerce a função de complemento verbal
(objeto direto ou indireto): Ofertaram-nos flores. (ob- Observe que as únicas formas próprias do pronome
jeto indireto) tônico são a primeira pessoa (mim) e segunda pessoa
(ti). As demais repetem a forma do pronome pessoal do
Observação: caso reto.
O pronome oblíquo é uma forma variante do prono- As preposições essenciais introduzem sempre prono-
me pessoal do caso reto. Essa variação indica a função mes pessoais do caso oblíquo e nunca pronome do caso
diversa que eles desempenham na oração: pronome reto reto. Nos contextos interlocutivos que exigem o uso da
marca o sujeito da oração; pronome oblíquo marca o língua formal, os pronomes costumam ser usados desta
complemento da oração. Os pronomes oblíquos sofrem forma:
variação de acordo com a acentuação tônica que pos- Não há mais nada entre mim e ti.
suem, podendo ser átonos ou tônicos. Não se comprovou qualquer ligação entre ti e ela.
Não há nenhuma acusação contra mim.
B.1 Pronome Oblíquo Átono Não vá sem mim.
São chamados átonos os pronomes oblíquos que não
são precedidos de preposição. Possuem acentuação tô- Há construções em que a preposição, apesar de sur-
nica fraca: Ele me deu um presente. gir anteposta a um pronome, serve para introduzir uma
Lista dos pronomes oblíquos átonos oração cujo verbo está no infinitivo. Nesses casos, o ver-
1.ª pessoa do singular (eu): me bo pode ter sujeito expresso; se esse sujeito for um pro-
2.ª pessoa do singular (tu): te nome, deverá ser do caso reto.
3.ª pessoa do singular (ele, ela): o, a, lhe Trouxeram vários vestidos para eu experimentar.
1.ª pessoa do plural (nós): nos Não vá sem eu mandar.
2.ª pessoa do plural (vós): vos
3.ª pessoa do plural (eles, elas): os, as, lhes A frase: “Foi fácil para mim resolver aquela questão!”
está correta, já que “para mim” é complemento de “fá-
cil”. A ordem direta seria: Resolver aquela questão foi fácil
FIQUE ATENTO! para mim!
Os pronomes o, os, a, as assumem formas
A combinação da preposição “com” e alguns prono-
especiais depois de certas terminações
mes originou as formas especiais comigo, contigo, consi-
verbais:
go, conosco e convosco. Tais pronomes oblíquos tônicos
frequentemente exercem a função de adjunto adverbial
1. Quando o verbo termina em -z, -s ou
-r, o pronome assume a forma lo, los, la de companhia: Ele carregava o documento consigo.
ou las, ao mesmo tempo que a terminação
verbal é suprimida. Por exemplo: A preposição “até” exige as formas oblíquas tônicas:
fiz + o = fi-lo Ela veio até mim, mas nada falou.
fazeis + o = fazei-lo Mas, se “até” for palavra denotativa (com o sentido de
dizer + a = dizê-la inclusão), usaremos as formas retas: Todos foram bem na
prova, até eu! (= inclusive eu)
2. Quando o verbo termina em som nasal,
o pronome assume as formas no, nos, na, As formas “conosco” e “convosco” são substituídas
nas. Por exemplo: por “com nós” e “com vós” quando os pronomes pes-
viram + o: viram-no soais são reforçados por palavras como outros, mesmos,
repõe + os = repõe-nos próprios, todos, ambos ou algum numeral.
retém + a: retém-na Você terá de viajar com nós todos.
tem + as = tem-nas Estávamos com vós outros quando chegaram as más
notícias.
Ele disse que iria com nós três.
B.2 Pronome Oblíquo Tônico
Os pronomes oblíquos tônicos são sempre precedi- B.3 Pronome Reflexivo
dos por preposições, em geral as preposições a, para, de São pronomes pessoais oblíquos que, embora fun-
LÍNGUA PORTUGUESA

e com. Por esse motivo, os pronomes tônicos exercem a cionem como objetos direto ou indireto, referem-se ao
função de objeto indireto da oração. Possuem acentua- sujeito da oração. Indicam que o sujeito pratica e recebe
ção tônica forte. a ação expressa pelo verbo.
Lista dos pronomes oblíquos tônicos:
1.ª pessoa do singular (eu): mim, comigo Lista dos pronomes reflexivos:
2.ª pessoa do singular (tu): ti, contigo 1.ª pessoa do singular (eu): me, mim = Eu não me
3.ª pessoa do singular (ele, ela): si, consigo, ele, ela lembro disso.
1.ª pessoa do plural (nós): nós, conosco 2.ª pessoa do singular (tu): te, ti = Conhece a ti mesmo.

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3.ª pessoa do singular (ele, ela): se, si, consigo = Gui- Observações:
lherme já se preparou.
Ela deu a si um presente. 1. Vossa Excelência X Sua Excelência: os pronomes de
Antônio conversou consigo mesmo. tratamento que possuem “Vossa(s)” são emprega-
dos em relação à pessoa com quem falamos: Es-
pero que V. Ex.ª, Senhor Ministro, compareça a este
1.ª pessoa do plural (nós): nos = Lavamo-nos no rio.
encontro.
2.ª pessoa do plural (vós): vos = Vós vos beneficiastes
com esta conquista. 2. Emprega-se “Sua (s)” quando se fala a respeito
3.ª pessoa do plural (eles, elas): se, si, consigo = Eles se da pessoa: Todos os membros da C.P.I. afirmaram
conheceram. / Elas deram a si um dia de folga. que Sua Excelência, o Senhor Presidente da Repúbli-
ca, agiu com propriedade.
#FicaDica 3. Os pronomes de tratamento representam uma for-
ma indireta de nos dirigirmos aos nossos interlo-
O pronome é reflexivo quando se refere
cutores. Ao tratarmos um deputado por Vossa Ex-
à mesma pessoa do pronome subjetivo
celência, por exemplo, estamos nos endereçando à
(sujeito): Eu me arrumei e saí. excelência que esse deputado supostamente tem
É pronome recíproco quando indica para poder ocupar o cargo que ocupa.
reciprocidade de ação: Nós nos amamos. /
Olhamo-nos calados. 4. Embora os pronomes de tratamento dirijam-se à
O “se” pode ser usado como palavra 2.ª pessoa, toda a concordância deve ser feita
expletiva ou partícula de realce, sem ser com a 3.ª pessoa. Assim, os verbos, os pronomes
rigorosamente necessária e sem função possessivos e os pronomes oblíquos empregados
sintática: Os exploradores riam-se de suas em relação a eles devem ficar na 3.ª pessoa.
tentativas. / Será que eles se foram? Basta que V. Ex.ª cumpra a terça parte das suas pro-
messas, para que seus eleitores lhe fiquem reconhecidos.

C) Pronomes de Tratamento 5. Uniformidade de Tratamento: quando escrevemos


São pronomes utilizados no tratamento formal, ceri- ou nos dirigimos a alguém, não é permitido mudar,
monioso. Apesar de indicarem nosso interlocutor (por- ao longo do texto, a pessoa do tratamento esco-
lhida inicialmente. Assim, por exemplo, se começa-
tanto, a segunda pessoa), utilizam o verbo na terceira
mos a chamar alguém de “você”, não poderemos
pessoa. Alguns exemplos: usar “te” ou “teu”. O uso correto exigirá, ainda, ver-
Vossa Alteza (V. A.) = príncipes, duques bo na terceira pessoa.
Vossa Eminência (V. E.ma) = cardeais
Vossa Reverendíssima (V. Ver.ma) = sacerdotes e reli- Quando você vier, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos
giosos em geral teus cabelos. (errado)
Vossa Excelência (V. Ex.ª) = oficiais de patente supe-
rior à de coronel, senadores, deputados, embaixadores, Quando você vier, eu a abraçarei e enrolar-me-ei nos
professores de curso superior, ministros de Estado e de seus cabelos. (correto) = terceira pessoa do singular
Tribunais, governadores, secretários de Estado, presiden-
ou
te da República (sempre por extenso)
Vossa Magnificência (V. Mag.ª) = reitores de Quando tu vieres, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos
universidades teus cabelos. (correto) = segunda pessoa do singular
Vossa Majestade (V. M.) = reis, rainhas e imperadores
Vossa Senhoria (V. S.a) = comerciantes em geral, ofi- Pronomes Possessivos
ciais até a patente de coronel, chefes de seção e funcio-
nários de igual categoria São palavras que, ao indicarem a pessoa gramatical
Vossa Meretíssima (sempre por extenso) = para juízes (possuidor), acrescentam a ela a ideia de posse de algo
de direito (coisa possuída).
Vossa Santidade (sempre por extenso) = tratamento Este caderno é meu. (meu = possuidor: 1.ª pessoa do
singular)
cerimonioso
Vossa Onipotência (sempre por extenso) = Deus
Número Pessoa Pronome
LÍNGUA PORTUGUESA

Também são pronomes de tratamento o senhor, a se- Singular Primeira Meu(s), minha(s)
nhora e você, vocês. “O senhor” e “a senhora” são em-
Singular Segunda Teu(s), tua(s)
pregados no tratamento cerimonioso; “você” e “vocês”,
no tratamento familiar. Você e vocês são largamente em- Singular Terceira Seu(s), sua(s)
pregados no português do Brasil; em algumas regiões, a Plural Primeira Nosso(s), nossa(s)
forma tu é de uso frequente; em outras, pouco emprega- Plural Segunda Vosso(s), vossa(s)
da. Já a forma vós tem uso restrito à linguagem litúrgica,
ultraformal ou literária. Plural Terceira Seu(s), sua(s)

29
Note que: Esse(s), essa(s) e isso = indicam o tempo passado, po-
A forma do possessivo depende da pessoa gramatical rém relativamente próximo à época em que se situa a
a que se refere; o gênero e o número concordam com o pessoa que fala:
objeto possuído: Ele trouxe seu apoio e sua contribuição Essa noite dormi mal; só pensava no concurso!
naquele momento difícil.
Aquele(s), aquela(s) e aquilo = indicam um afastamen-
Observações: to no tempo, referido de modo vago ou como tempo
remoto:
1. A forma “seu” não é um possessivo quando resul- Naquele tempo, os professores eram valorizados.
tar da alteração fonética da palavra senhor: Muito
obrigado, seu José. C) Em relação ao falado ou escrito (ou ao que se falará
ou escreverá):
2. Os pronomes possessivos nem sempre indicam Este(s), esta(s) e isto = empregados quando se quer
posse. Podem ter outros empregos, como: fazer referência a alguma coisa sobre a qual ainda se
A) indicar afetividade: Não faça isso, minha filha. falará:
B) indicar cálculo aproximado: Ele já deve ter seus 40 Serão estes os conteúdos da prova: análise sintática,
anos. ortografia, concordância.
C) atribuir valor indefinido ao substantivo: Marisa tem
lá seus defeitos, mas eu gosto muito dela. Esse(s), essa(s) e isso = utilizados quando se pretende
fazer referência a alguma coisa sobre a qual já se falou:
3. Em frases onde se usam pronomes de tratamento, Sua aprovação no concurso, isso é o que mais
o pronome possessivo fica na 3.ª pessoa: Vossa Ex- desejamos!
celência trouxe sua mensagem?
Este e aquele são empregados quando se quer fazer
4. Referindo-se a mais de um substantivo, o possessi- referência a termos já mencionados; aquele se refere ao
vo concorda com o mais próximo: Trouxe-me seus termo referido em primeiro lugar e este para o referido
livros e anotações.
por último:
5. Em algumas construções, os pronomes pessoais
Domingo, no Pacaembu, jogarão Palmeiras e São Pau-
oblíquos átonos assumem valor de possessivo: Vou
lo; este está mais bem colocado que aquele. (= este [São
seguir-lhe os passos. (= Vou seguir seus passos)
Paulo], aquele [Palmeiras])
ou
6. O adjetivo “respectivo” equivale a “devido, seu, pró-
prio”, por isso não se deve usar “seus” ao utilizá-lo,
Domingo, no Pacaembu, jogarão Palmeiras e São Pau-
para que não ocorra redundância: Coloque tudo
lo; aquele está mais bem colocado que este. (= este [São
nos respectivos lugares.
Paulo], aquele [Palmeiras])
Pronomes Demonstrativos
Os pronomes demonstrativos podem ser variáveis ou
São utilizados para explicitar a posição de certa pa- invariáveis, observe:
lavra em relação a outras ou ao contexto. Essa relação Variáveis: este(s), esta(s), esse(s), essa(s), aquele(s),
pode ser de espaço, de tempo ou em relação ao discurso. aquela(s).
Invariáveis: isto, isso, aquilo.
A) Em relação ao espaço:
Este(s), esta(s) e isto = indicam o que está perto da Também aparecem como pronomes demonstrativos:
pessoa que fala:
Este material é meu. • o(s), a(s): quando estiverem antecedendo o “que” e
puderem ser substituídos por aquele(s), aquela(s),
Esse(s), essa(s) e isso = indicam o que está perto da aquilo.
pessoa com quem se fala: Não ouvi o que disseste. (Não ouvi aquilo que disseste.)
Esse material em sua carteira é seu? Essa rua não é a que te indiquei. (não é aquela que te
indiquei.)
Aquele(s), aquela(s) e aquilo = indicam o que está
distante tanto da pessoa que fala como da pessoa com • mesmo(s), mesma(s), próprio(s), própria(s): va-
LÍNGUA PORTUGUESA

quem se fala: riam em gênero quando têm caráter reforçativo:


Aquele material não é nosso. Estas são as mesmas pessoas que o procuraram ontem.
Vejam aquele prédio! Eu mesma refiz os exercícios.
Elas mesmas fizeram isso.
B) Em relação ao tempo: Eles próprios cozinharam.
Este(s), esta(s) e isto = indicam o tempo presente em Os próprios alunos resolveram o problema.
relação à pessoa que fala:
Esta manhã farei a prova do concurso! • semelhante(s): Não tenha semelhante atitude.

30
• tal, tais: Tal absurdo eu não cometeria. vários, tantos, outros, quantos, algumas, nenhu-
mas, todas, muitas, poucas, várias, tantas, outras,
1. Em frases como: O referido deputado e o Dr. Alcides quantas.
eram amigos íntimos; aquele casado, solteiro este. • Invariáveis = alguém, ninguém, outrem, tudo, nada,
(ou então: este solteiro, aquele casado) - este se re- algo, cada.
fere à pessoa mencionada em último lugar; aquele,
à mencionada em primeiro lugar. *Qualquer é composto de qual + quer (do verbo que-
2. O pronome demonstrativo tal pode ter conotação rer), por isso seu plural é quaisquer (única palavra cujo
irônica: A menina foi a tal que ameaçou o professor? plural é feito em seu interior).
3. Pode ocorrer a contração das preposições a, de,
em com pronome demonstrativo: àquele, àquela, Todo e toda no singular e junto de artigo significa in-
deste, desta, disso, nisso, no, etc: Não acreditei no teiro; sem artigo, equivale a qualquer ou a todas as:
que estava vendo. (no = naquilo) Toda a cidade está enfeitada. (= a cidade inteira)
Toda cidade está enfeitada. (= todas as cidades)
Pronomes Indefinidos Trabalho todo o dia. (= o dia inteiro)
Trabalho todo dia. (= todos os dias)
São palavras que se referem à 3.ª pessoa do discur-
so, dando-lhe sentido vago (impreciso) ou expressando São locuções pronominais indefinidas: cada qual,
quantidade indeterminada. cada um, qualquer um, quantos quer (que), quem quer
Alguém entrou no jardim e destruiu as mudas (que), seja quem for, seja qual for, todo aquele (que), tal
recém-plantadas. qual (= certo), tal e qual, tal ou qual, um ou outro, uma
ou outra, etc.
Não é difícil perceber que “alguém” indica uma pes- Cada um escolheu o vinho desejado.
soa de quem se fala (uma terceira pessoa, portanto) de
forma imprecisa, vaga. É uma palavra capaz de indicar Pronomes Relativos
um ser humano que seguramente existe, mas cuja iden- São aqueles que representam nomes já mencionados
anteriormente e com os quais se relacionam. Introduzem
tidade é desconhecida ou não se quer revelar. Classifi-
as orações subordinadas adjetivas.
cam-se em:
O racismo é um sistema que afirma a superioridade de
um grupo racial sobre outros.
A) Pronomes Indefinidos Substantivos: assumem o
(afirma a superioridade de um grupo racial sobre ou-
lugar do ser ou da quantidade aproximada de se-
tros = oração subordinada adjetiva).
res na frase. São eles: algo, alguém, fulano, sicrano,
beltrano, nada, ninguém, outrem, quem, tudo.
O pronome relativo “que” refere-se à palavra “sis-
Algo o incomoda?
tema” e introduz uma oração subordinada. Diz-se que
Quem avisa amigo é.
a palavra “sistema” é antecedente do pronome relativo
que.
B) Pronomes Indefinidos Adjetivos: qualificam um O antecedente do pronome relativo pode ser o pro-
ser expresso na frase, conferindo-lhe a noção de nome demonstrativo o, a, os, as.
quantidade aproximada. São eles: cada, certo(s), Não sei o que você está querendo dizer.
certa(s). Às vezes, o antecedente do pronome relativo não vem
Cada povo tem seus costumes. expresso.
Certas pessoas exercem várias profissões. Quem casa, quer casa.

Note que: Observe:


Ora são pronomes indefinidos substantivos, ora pro- Pronomes relativos variáveis = o qual, cujo, quanto, os
nomes indefinidos adjetivos: quais, cujos, quantos, a qual, cuja, quanta, as quais, cujas,
algum, alguns, alguma(s), bastante(s) (= muito, mui- quantas.
tos), demais, mais, menos, muito(s), muita(s), nenhum, ne- Pronomes relativos invariáveis = quem, que, onde.
nhuns, nenhuma(s), outro(s), outra(s), pouco(s), pouca(s),
qualquer, quaisquer, qual, que, quanto(s), quanta(s), tal, Note que:
tais, tanto(s), tanta(s), todo(s), toda(s), um, uns, uma(s), O pronome “que” é o relativo de mais largo empre-
vários, várias. go, sendo por isso chamado relativo universal. Pode ser
Menos palavras e mais ações. substituído por o qual, a qual, os quais, as quais, quando
LÍNGUA PORTUGUESA

Alguns se contentam pouco. seu antecedente for um substantivo.


O trabalho que eu fiz refere-se à corrupção. (= o qual)
Os pronomes indefinidos podem ser divididos em va- A cantora que acabou de se apresentar é péssima. (=
riáveis e invariáveis. Observe: a qual)
• Variáveis = algum, nenhum, todo, muito, pouco, vá- Os trabalhos que eu fiz referem-se à corrupção. (= os
rio, tanto, outro, quanto, alguma, nenhuma, toda, quais)
muita, pouca, vária, tanta, outra, quanta, qualquer, As cantoras que se apresentaram eram péssimas. (=
quaisquer*, alguns, nenhuns, todos, muitos, poucos, as quais)

31
O qual, os quais, a qual e as quais são exclusivamente • quando (= em que) – desde que tenha como ante-
pronomes relativos, por isso são utilizados didaticamen- cedente um nome que dê ideia de tempo:
te para verificar se palavras como “que”, “quem”, “onde” Bons eram os tempos quando podíamos jogar
(que podem ter várias classificações) são pronomes rela- videogame.
tivos. Todos eles são usados com referência à pessoa ou
coisa por motivo de clareza ou depois de determinadas Os pronomes relativos permitem reunir duas orações
preposições: Regressando de São Paulo, visitei o sítio de numa só frase.
minha tia, o qual me deixou encantado. O uso de “que”, O futebol é um esporte. / O povo gosta muito deste
neste caso, geraria ambiguidade. Veja: Regressando de esporte.
São Paulo, visitei o sítio de minha tia, que me deixou en- = O futebol é um esporte de que o povo gosta muito.
cantado (quem me deixou encantado: o sítio ou minha
tia?). Numa série de orações adjetivas coordenadas, pode
Essas são as conclusões sobre as quais pairam muitas ocorrer a elipse do relativo “que”: A sala estava cheia de
dúvidas? (com preposições de duas ou mais sílabas utili- gente que conversava, (que) ria, observava.
za-se o qual / a qual)
O relativo “que” às vezes equivale a o que, coisa que, Pronomes Interrogativos
e se refere a uma oração: Não chegou a ser padre, mas São usados na formulação de perguntas, sejam elas
deixou de ser poeta, que era a sua vocação natural. diretas ou indiretas. Assim como os pronomes indefini-
O pronome “cujo”: exprime posse; não concorda com dos, referem-se à 3.ª pessoa do discurso de modo im-
o seu antecedente (o ser possuidor), mas com o conse- preciso. São pronomes interrogativos: que, quem, qual (e
quente (o ser possuído, com o qual concorda em gêne- variações), quanto (e variações).
ro e número); não se usa artigo depois deste pronome; Com quem andas?
“cujo” equivale a do qual, da qual, dos quais, das quais. Qual seu nome?
Diz-me com quem andas, que te direi quem és.
Existem pessoas cujas ações são nobres.
(antecedente) (consequente) O pronome pessoal é do caso reto quando tem fun-
ção de sujeito na frase. O pronome pessoal é do caso
oblíquo quando desempenha função de complemento.
Se o verbo exigir preposição, esta virá antes do pro-
1. Eu não sei essa matéria, mas ele irá me ajudar.
nome: O autor, a cujo livro você se referiu, está aqui! (re-
2. Maria foi embora para casa, pois não sabia se devia
feriu-se a)
lhe ajudar.
“Quanto” é pronome relativo quando tem por ante-
Na primeira oração os pronomes pessoais “eu” e “ele”
cedente um pronome indefinido: tanto (ou variações) e
exercem função de sujeito, logo, são pertencentes ao
tudo:
caso reto. Já na segunda oração, o pronome “lhe” exerce
função de complemento (objeto), ou seja, caso oblíquo.
Emprestei tantos quantos foram necessários. Os pronomes pessoais indicam as pessoas do discur-
(antecedente) so. O pronome oblíquo “lhe”, da segunda oração, aponta
para a segunda pessoa do singular (tu/você): Maria não
Ele fez tudo quanto havia falado. sabia se devia ajudar... Ajudar quem? Você (lhe).
(antecedente)
Os pronomes pessoais oblíquos podem ser átonos ou
O pronome “quem” se refere a pessoas e vem sempre tônicos: os primeiros não são precedidos de preposição,
precedido de preposição. diferentemente dos segundos, que são sempre precedi-
É um professor a quem muito devemos. dos de preposição.
(preposição) A) Pronome oblíquo átono: Joana me perguntou o
que eu estava fazendo.
“Onde”, como pronome relativo, sempre possui ante- B) Pronome oblíquo tônico: Joana perguntou para
cedente e só pode ser utilizado na indicação de lugar: A mim o que eu estava fazendo.
casa onde morava foi assaltada.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Na indicação de tempo, deve-se empregar quando ou SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
em que: Sinto saudades da época em que (quando) morá- Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
vamos no exterior. CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Co-
LÍNGUA PORTUGUESA

char - Português linguagens: volume 2 – 7.ª ed. Reform.


Podem ser utilizadas como pronomes relativos as – São Paulo: Saraiva, 2010.
palavras: AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras:
literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000.
• como (= pelo qual) – desde que precedida das pa- CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Português – Literatura,
lavras modo, maneira ou forma: Produção de Texto & Gramática – Volume único / Samira
Não me parece correto o modo como você agiu sema- Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa Souza. – 3.ª edição –
na passada. São Paulo: Saraiva, 2002.

32
SITE Ênclise = É a colocação pronominal depois do verbo.
Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/se- A ênclise é usada quando a próclise e a mesóclise não
coes/morf/morf42.php> forem possíveis:
• Quando o verbo estiver no imperativo afirmativo:
Colocação Pronominal Quando eu avisar, silenciem-se todos.
• Quando o verbo estiver no infinitivo impessoal: Não
Colocação Pronominal trata da correta colocação dos era minha intenção machucá-la.
pronomes oblíquos átonos na frase. • Quando o verbo iniciar a oração. (até porque não se
inicia período com pronome oblíquo).
#FicaDica Vou-me embora agora mesmo.
Levanto-me às 6h.
Pronome Oblíquo é aquele que exerce a
função de complemento verbal (objeto). Por • Quando houver pausa antes do verbo: Se eu passo
isso, memorize: no concurso, mudo-me hoje mesmo!
OBlíquo = OBjeto! • Quando o verbo estiver no gerúndio: Recusou a pro-
posta fazendo-se de desentendida.

Embora na linguagem falada a colocação dos prono- Colocação pronominal nas locuções verbais
mes não seja rigorosamente seguida, algumas normas
devem ser observadas na linguagem escrita. • Após verbo no particípio = pronome depois do ver-
bo auxiliar (e não depois do particípio):
Próclise = É a colocação pronominal antes do verbo. Tenho me deliciado com a leitura!
A próclise é usada: Eu tenho me deliciado com a leitura!
Eu me tenho deliciado com a leitura!
• Quando o verbo estiver precedido de palavras que
atraem o pronome para antes do verbo. São elas: • Não convém usar hífen nos tempos compostos e
A) Palavras de sentido negativo: não, nunca, ninguém, nas locuções verbais:
jamais, etc.: Não se desespere! Vamos nos unir!
B) Advérbios: Agora se negam a depor. Iremos nos manifestar.
C) Conjunções subordinativas: Espero que me expli-
quem tudo!
• Quando há um fator para próclise nos tempos com-
D) Pronomes relativos: Venceu o concurseiro que se
postos ou locuções verbais: opção pelo uso do pro-
esforçou.
E) Pronomes indefinidos: Poucos te deram a nome oblíquo “solto” entre os verbos = Não vamos
oportunidade. nos preocupar (e não: “não nos vamos preocupar”).
F) Pronomes demonstrativos: Isso me magoa muito.
Emprego de o, a, os, as
• Orações iniciadas por palavras interrogativas: Quem
lhe disse isso? • Em verbos terminados em vogal ou ditongo oral, os
• Orações iniciadas por palavras exclamativas: Quanto pronomes: o, a, os, as não se alteram.
se ofendem! Chame-o agora.
• Orações que exprimem desejo (orações optativas): Deixei-a mais tranquila.
Que Deus o ajude.
• A próclise é obrigatória quando se utiliza o prono- • Em verbos terminados em r, s ou z, estas consoantes
me reto ou sujeito expresso: Eu lhe entregarei o finais alteram-se para lo, la, los, las. Exemplos:
material amanhã. / Tu sabes cantar? (Encontrar) Encontrá-lo é o meu maior sonho.
(Fiz) Fi-lo porque não tinha alternativa.
Mesóclise = É a colocação pronominal no meio do • Em verbos terminados em ditongos nasais (am, em,
verbo. A mesóclise é usada: ão, õe), os pronomes o, a, os, as alteram-se para
no, na, nos, nas.
Quando o verbo estiver no futuro do presente ou fu- Chamem-no agora.
turo do pretérito, contanto que esses verbos não estejam Põe-na sobre a mesa.
precedidos de palavras que exijam a próclise. Exemplos:
Realizar-se-á, na próxima semana, um grande evento em
prol da paz no mundo. #FicaDica
Repare que o pronome está “no meio” do verbo “rea-
LÍNGUA PORTUGUESA

lizará”: realizar – SE – á. Se houvesse na oração alguma Próclise – pró lembra pré; pré é prefixo que
palavra que justificasse o uso da próclise, esta prevalece- significa “antes”! Pronome antes do verbo!
ria. Veja: Não se realizará... Ênclise – “en” lembra, pelo “som”, /Ənd/
Não fossem os meus compromissos, acompanhar-te-ia (end, em Inglês – que significa “fim, final!).
nessa viagem. Pronome depois do verbo!
(com presença de palavra que justifique o uso de pró- Mesóclise – pronome oblíquo no Meio do
clise: Não fossem os meus compromissos, EU te acompa- verbo
nharia nessa viagem).

33
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS B) Substantivos Concretos e Abstratos
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa B.1 Substantivo Concreto: é aquele que designa
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. o ser que existe, independentemente de outros
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Co- seres.
char - Português linguagens: volume 3 – 7.ª ed. Reform.
– São Paulo: Saraiva, 2010. Observação:
Os substantivos concretos designam seres do mundo
SITE real e do mundo imaginário.
Disponível em: <http://www.portugues.com.br/gra- Seres do mundo real: homem, mulher, cadeira, cobra,
matica/colocacao-pronominal-.html> Brasília.
Seres do mundo imaginário: saci, mãe-d’água,
9. SUBSTANTIVO fantasma.

Substantivo é a classe gramatical de palavras variá- B.2 Substantivo Abstrato: é aquele que designa se-
veis, as quais denominam todos os seres que existem, res que dependem de outros para se manifestarem
sejam reais ou imaginários. Além de objetos, pessoas e ou existirem. Por exemplo: a beleza não existe por
fenômenos, os substantivos também nomeiam: si só, não pode ser observada. Só podemos obser-
• lugares: Alemanha, Portugal var a beleza numa pessoa ou coisa que seja bela.
• sentimentos: amor, saudade A beleza depende de outro ser para se manifes-
• estados: alegria, tristeza tar. Portanto, a palavra beleza é um substantivo
• qualidades: honestidade, sinceridade abstrato.
• ações: corrida, pescaria Os substantivos abstratos designam estados, quali-
dades, ações e sentimentos dos seres, dos quais podem
Morfossintaxe do substantivo ser abstraídos, e sem os quais não podem existir: vida
(estado), rapidez (qualidade), viagem (ação), saudade
Nas orações, geralmente o substantivo exerce fun- (sentimento).
ções diretamente relacionadas com o verbo: atua como
núcleo do sujeito, dos complementos verbais (objeto di- • Substantivos Coletivos
reto ou indireto) e do agente da passiva, podendo, ainda, Ele vinha pela estrada e foi picado por uma abelha,
funcionar como núcleo do complemento nominal ou do outra abelha, mais outra abelha.
aposto, como núcleo do predicativo do sujeito, do obje- Ele vinha pela estrada e foi picado por várias abelhas.
to ou como núcleo do vocativo. Também encontramos Ele vinha pela estrada e foi picado por um enxame.
substantivos como núcleos de adjuntos adnominais e de
adjuntos adverbiais - quando essas funções são desem- Note que, no primeiro caso, para indicar plural, foi ne-
penhadas por grupos de palavras. cessário repetir o substantivo: uma abelha, outra abelha,
mais outra abelha. No segundo caso, utilizaram-se duas
Classificação dos Substantivos palavras no plural. No terceiro, empregou-se um subs-
tantivo no singular (enxame) para designar um conjunto
A) Substantivos Comuns e Próprios de seres da mesma espécie (abelhas).
O substantivo enxame é um substantivo coletivo.
Observe a definição: Substantivo Coletivo: é o substantivo comum que,
mesmo estando no singular, designa um conjunto de se-
Cidade: s.f. 1. Povoação maior que vila, com muitas res da mesma espécie.
casas e edifícios, dispostos em ruas e avenidas (no Brasil,
toda a sede de município é cidade). 2. O centro de uma
Substantivo coletivo Conjunto de:
cidade (em oposição aos bairros).
assembleia pessoas reunidas
Qualquer “povoação maior que vila, com muitas casas alcateia lobos
e edifícios, dispostos em ruas e avenidas” será chamada acervo livros
cidade. Isso significa que a palavra cidade é um substan-
tivo comum. trechos literários
antologia
selecionados
Substantivo Comum é aquele que designa os seres arquipélago ilhas
LÍNGUA PORTUGUESA

de uma mesma espécie de forma genérica: cidade, meni- banda músicos


no, homem, mulher, país, cachorro.
Estamos voando para Barcelona. desordeiros ou
bando
malfeitores
O substantivo Barcelona designa apenas um ser da banca examinadores
espécie cidade. Barcelona é um substantivo próprio – batalhão soldados
aquele que designa os seres de uma mesma espécie de
forma particular: Londres, Paulinho, Pedro, Tietê, Brasil. cardume peixes

34
caravana viajantes peregrinos Formação dos Substantivos

cacho frutas A) Substantivos Simples e Compostos


cancioneiro canções, poesias líricas Chuva - subst. Fem. 1 - água caindo em gotas sobre a
colmeia abelhas terra.
O substantivo chuva é formado por um único ele-
concílio bispos
mento ou radical. É um substantivo simples.
congresso parlamentares, cientistas
atores de uma peça ou A.1 Substantivo Simples: é aquele formado por um
elenco único elemento.
filme
Outros substantivos simples: tempo, sol, sofá, etc.
esquadra navios de guerra
Veja agora: O substantivo guarda-chuva é formado por
enxoval roupas dois elementos (guarda + chuva). Esse substantivo é
falange soldados, anjos composto.
fauna animais de uma região
A.2 Substantivo Composto: é aquele formado por
feixe lenha, capim dois ou mais elementos. Outros exemplos: beija-
flora vegetais de uma região -flor, passatempo.
frota navios mercantes, ônibus
B) Substantivos Primitivos e Derivados
girândola fogos de artifício
B.1 Substantivo Primitivo: é aquele que não deriva
horda bandidos, invasores de nenhuma outra palavra da própria língua por-
médicos, bois, credores, tuguesa. O substantivo limoeiro, por exemplo, é
junta derivado, pois se originou a partir da palavra limão.
examinadores
B.2 Substantivo Derivado: é aquele que se origina
júri jurados
de outra palavra.
legião soldados, anjos, demônios
leva presos, recrutas Flexão dos substantivos
malfeitores ou
malta O substantivo é uma classe variável. A palavra é variá-
desordeiros
vel quando sofre flexão (variação). A palavra menino, por
manada búfalos, bois, elefantes, exemplo, pode sofrer variações para indicar:
matilha cães de raça Plural: meninos / Feminino: menina / Aumentativo:
molho chaves, verduras meninão / Diminutivo: menininho
multidão pessoas em geral
A) Flexão de Gênero
insetos (gafanhotos, Gênero é um princípio puramente linguístico, não de-
nuvem
mosquitos, etc.) vendo ser confundido com “sexo”. O gênero diz respeito
penca bananas, chaves a todos os substantivos de nossa língua, quer se refiram
pinacoteca pinturas, quadros a seres animais providos de sexo, quer designem apenas
“coisas”: o gato/a gata; o banco, a casa.
quadrilha ladrões, bandidos Na língua portuguesa, há dois gêneros: masculino e
ramalhete flores feminino. Pertencem ao gênero masculino os substanti-
rebanho ovelhas vos que podem vir precedidos dos artigos o, os, um, uns.
Veja estes títulos de filmes:
peças teatrais, obras
repertório O velho e o mar
musicais
Um Natal inesquecível
réstia alhos ou cebolas Os reis da praia
romanceiro poesias narrativas
Pertencem ao gênero feminino os substantivos que
revoada pássaros
podem vir precedidos dos artigos a, as, uma, umas:
sínodo párocos A história sem fim
LÍNGUA PORTUGUESA

talha lenha Uma cidade sem passado


tropa muares, soldados As tartarugas ninjas
turma estudantes, trabalhadores Substantivos Biformes e Substantivos Uniformes
vara porcos
1. Substantivos Biformes (= duas formas): apresen-
tam uma forma para cada gênero: gato – gata, ho-
mem – mulher, poeta – poetisa, prefeito - prefeita

35
2. Substantivos Uniformes: apresentam uma única Formação do Feminino dos Substantivos
forma, que serve tanto para o masculino quanto Uniformes
para o feminino. Classificam-se em:
Epicenos:
A) Epicenos: referentes a animais. A distinção de sexo Novo jacaré escapa de policiais no rio Pinheiros.
se faz mediante a utilização das palavras “macho”
e “fêmea”: a cobra macho e a cobra fêmea, o jacaré Não é possível saber o sexo do jacaré em questão.
macho e o jacaré fêmea. Isso ocorre porque o substantivo jacaré tem apenas uma
B) Sobrecomuns: substantivos uniformes referentes forma para indicar o masculino e o feminino.
a pessoas de ambos os sexos: a criança, a testemu- Alguns nomes de animais apresentam uma só for-
nha, a vítima, o cônjuge, o gênio, o ídolo, o indivíduo. ma para designar os dois sexos. Esses substantivos são
C) Comuns de Dois ou Comum de Dois Gêneros: chamados de epicenos. No caso dos epicenos, quando
indicam o sexo das pessoas por meio do artigo: o houver a necessidade de especificar o sexo, utilizam-se
colega e a colega, o doente e a doente, o artista e palavras macho e fêmea.
a artista. A cobra macho picou o marinheiro.
A cobra fêmea escondeu-se na bananeira.
Substantivos de origem grega terminados em ema
ou oma são masculinos: o fonema, o poema, o sistema, o Sobrecomuns:
sintoma, o teorema. Entregue as crianças à natureza.

• Existem certos substantivos que, variando de gêne- A palavra crianças se refere tanto a seres do sexo
ro, variam em seu significado: masculino, quanto a seres do sexo feminino. Nesse caso,
o águia (vigarista) e a águia (ave; perspicaz); o cabeça nem o artigo nem um possível adjetivo permitem identi-
(líder) e a cabeça (parte do corpo); o capital (dinheiro) e ficar o sexo dos seres a que se refere a palavra. Veja:
a capital (cidade); o coma (sono mórbido) e a coma (ca- A criança chorona chamava-se João.
A criança chorona chamava-se Maria.
beleira, juba); o lente (professor) e a lente (vidro de au-
mento); o moral (estado de espírito) e a moral (ética; con-
Outros substantivos sobrecomuns:
clusão); o praça (soldado raso) e a praça (área pública);
a criatura = João é uma boa criatura. Maria é uma
o rádio (aparelho receptor) e a rádio (estação emissora).
boa criatura.
o cônjuge = O cônjuge de João faleceu. O cônjuge de
Formação do Feminino dos Substantivos Biformes
Marcela faleceu
Regra geral: troca-se a terminação -o por –a: aluno
Comuns de Dois Gêneros:
- aluna.
Motorista tem acidente idêntico 23 anos depois.
• Substantivos terminados em -ês: acrescenta-se -a
ao masculino: freguês - freguesa Quem sofreu o acidente: um homem ou uma mulher?
• Substantivos terminados em -ão: fazem o feminino É impossível saber apenas pelo título da notícia, uma
de três formas: vez que a palavra motorista é um substantivo uniforme.
1. troca-se -ão por -oa. = patrão – patroa A distinção de gênero pode ser feita através da análi-
2. troca-se -ão por -ã. = campeão - campeã se do artigo ou adjetivo, quando acompanharem o subs-
3. troca-se -ão por ona. = solteirão - solteirona tantivo: o colega - a colega; o imigrante - a imigrante;
Exceções: barão – baronesa, ladrão - ladra, sultão um jovem - uma jovem; artista famoso - artista famosa;
- sultana repórter francês - repórter francesa

• Substantivos terminados em -or: A palavra personagem é usada indistintamente nos


acrescenta-se -a ao masculino = doutor – doutora dois gêneros. Entre os escritores modernos nota-se
troca-se -or por -triz: = imperador – imperatriz acentuada preferência pelo masculino: O menino desco-
briu nas nuvens os personagens dos contos de carochinha.
• Substantivos com feminino em -esa, -essa, -isa: côn- Com referência à mulher, deve-se preferir o feminino:
sul - consulesa / abade - abadessa / poeta - poeti- O problema está nas mulheres de mais idade, que não
sa / duque - duquesa / conde - condessa / profeta aceitam a personagem.
LÍNGUA PORTUGUESA

- profetisa
• Substantivos que formam o feminino trocando o -e Diz-se: o (ou a) manequim Marcela, o (ou a) modelo
final por -a: elefante - elefanta fotográfico Ana Belmonte.
• Substantivos que têm radicais diferentes no mascu-
lino e no feminino: bode – cabra / boi - vaca Masculinos: o tapa, o eclipse, o lança-perfume, o dó
• Substantivos que formam o feminino de maneira (pena), o sanduíche, o clarinete, o champanha, o sósia, o
especial, isto é, não seguem nenhuma das regras maracajá, o clã, o herpes, o pijama, o suéter, o soprano, o
anteriores: czar – czarina, réu - ré proclama, o pernoite, o púbis.

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Femininos: a dinamite, a derme, a hélice, a omoplata, Os substantivos terminados em “m” fazem o plural
a cataplasma, a pane, a mascote, a gênese, a entorse, a em “ns”: homem - homens.
libido, a cal, a faringe, a cólera (doença), a ubá (canoa). Os substantivos terminados em “r” e “z” fazem o plural
pelo acréscimo de “es”: revólver – revólveres; raiz - raízes.
São geralmente masculinos os substantivos de ori-
gem grega terminados em -ma: o grama (peso), o quilo- Atenção:
grama, o plasma, o apostema, o diagrama, o epigrama, o O plural de caráter é caracteres.
telefonema, o estratagema, o dilema, o teorema, o trema,
o eczema, o edema, o magma, o estigma, o axioma, o tra- Os substantivos terminados em al, el, ol, ul flexionam-
coma, o hematoma. -se no plural, trocando o “l” por “is”: quintal - quintais;
Exceções: a cataplasma, a celeuma, a fleuma, etc. caracol – caracóis; hotel - hotéis. Exceções: mal e males,
cônsul e cônsules.
Gênero dos Nomes de Cidades - Com raras exce- Os substantivos terminados em “il” fazem o plural de
ções, nomes de cidades são femininos: A histórica Ouro duas maneiras:
Preto. / A dinâmica São Paulo. / A acolhedora Porto Ale- 1. Quando oxítonos, em “is”: canil - canis
gre. / Uma Londres imensa e triste. 2. Quando paroxítonos, em “eis”: míssil - mísseis.
Exceções: o Rio de Janeiro, o Cairo, o Porto, o Havre.
Observação:
Gênero e Significação A palavra réptil pode formar seu plural de duas ma-
neiras: répteis ou reptis (pouco usada).
Muitos substantivos têm uma significação no mascu-
lino e outra no feminino. Observe: Os substantivos terminados em “s” fazem o plural de
o baliza (soldado que, que à frente da tropa, indica os duas maneiras:
movimentos que se deve realizar em conjunto; o que vai 1. Quando monossilábicos ou oxítonos, mediante o
à frente de um bloco carnavalesco, manejando um bas- acréscimo de “es”: ás – ases / retrós - retroses
tão), a baliza (marco, estaca; sinal que marca um limite ou 2. Quando paroxítonos ou proparoxítonos, ficam in-
variáveis: o lápis - os lápis / o ônibus - os ônibus.
proibição de trânsito), o cabeça (chefe), a cabeça (parte do
corpo), o cisma (separação religiosa, dissidência), a cisma
Os substantivos terminados em “ão” fazem o plural
(ato de cismar, desconfiança), o cinza (a cor cinzenta), a
de três maneiras.
cinza (resíduos de combustão), o capital (dinheiro), a ca-
1. substituindo o -ão por -ões: ação - ações
pital (cidade), o coma (perda dos sentidos), a coma (ca-
2. substituindo o -ão por -ães: cão - cães
beleira), o coral (pólipo, a cor vermelha, canto em coro),
3. substituindo o -ão por -ãos: grão - grãos
a coral (cobra venenosa), o crisma (óleo sagrado, usado
na administração da crisma e de outros sacramentos), a
Observação:
crisma (sacramento da confirmação), o cura (pároco), a
Muitos substantivos terminados em “ão” apresentam
cura (ato de curar), o estepe (pneu sobressalente), a estepe dois – e até três – plurais:
(vasta planície de vegetação), o guia (pessoa que guia ou- aldeão – aldeões/aldeães/aldeãos ancião
tras), a guia (documento, pena grande das asas das aves), – anciões/anciães/anciãos
o grama (unidade de peso), a grama (relva), o caixa (fun- charlatão – charlatões/charlatães corrimão
cionário da caixa), a caixa (recipiente, setor de pagamen- – corrimãos/corrimões
tos), o lente (professor), a lente (vidro de aumento), o mo- guardião – guardiões/guardiães vilão – vilãos/
ral (ânimo), a moral (honestidade, bons costumes, ética), vilões/vilães
o nascente (lado onde nasce o Sol), a nascente (a fonte),
o maria-fumaça (trem como locomotiva a vapor), maria- Os substantivos terminados em “x” ficam invariáveis:
-fumaça (locomotiva movida a vapor), o pala (poncho), a o látex - os látex.
pala (parte anterior do boné ou quepe, anteparo), o rádio
(aparelho receptor), a rádio (emissora), o voga (remador), Plural dos Substantivos Compostos
a voga (moda).
A formação do plural dos substantivos compostos
B) Flexão de Número do Substantivo depende da forma como são grafados, do tipo de pa-
Em português, há dois números gramaticais: o singu- lavras que formam o composto e da relação que esta-
lar, que indica um ser ou um grupo de seres, e o plural, belecem entre si. Aqueles que são grafados sem hífen
que indica mais de um ser ou grupo de seres. A caracte- comportam-se como os substantivos simples: aguar-
LÍNGUA PORTUGUESA

rística do plural é o “s” final. dente/aguardentes, girassol/girassóis, pontapé/pontapés,


malmequer/malmequeres.
Plural dos Substantivos Simples O plural dos substantivos compostos cujos elementos
são ligados por hífen costuma provocar muitas dúvidas
Os substantivos terminados em vogal, ditongo oral e e discussões. Algumas orientações são dadas a seguir:
“n” fazem o plural pelo acréscimo de “s”: pai – pais; ímã –
ímãs; hífen - hifens (sem acento, no plural). A) Flexionam-se os dois elementos, quando forma-
Exceção: cânon - cânones. dos de:

37
substantivo + substantivo = couve-flor e couves-flores pãe(s) + zinhos = pãezinhos
substantivo + adjetivo = amor-perfeito e
amores-perfeitos animai(s) + zinhos = animaizinhos
adjetivo + substantivo = gentil-homem e botõe(s) + zinhos = botõezinhos
gentis-homens chapéu(s) + zinhos = chapeuzinhos
numeral + substantivo = quinta-feira e quintas-feiras
farói(s) + zinhos = faroizinhos
B) Flexiona-se somente o segundo elemento, tren(s) + zinhos = trenzinhos
quando formados de: colhere(s) + zinhas = colherezinhas
verbo + substantivo = guarda-roupa e guarda-roupas flore(s) + zinhas = florezinhas
palavra invariável + palavra variável = alto-falante e
mão(s) + zinhas = mãozinhas
alto-falantes
palavras repetidas ou imitativas = reco-reco e papéi(s) + zinhos = papeizinhos
reco-recos nuven(s) + zinhas = nuvenzinhas
funi(s) + zinhos = funizinhos
C) Flexiona-se somente o primeiro elemento,
túnei(s) + zinhos = tuneizinhos
quando formados de:
substantivo + preposição clara + substantivo = água- pai(s) + zinhos = paizinhos
-de-colônia e águas-de-colônia pé(s) + zinhos = pezinhos
substantivo + preposição oculta + substantivo = ca- pé(s) + zitos = pezitos
valo-vapor e cavalos-vapor
substantivo + substantivo que funciona como deter- Plural dos Nomes Próprios Personativos
minante do primeiro, ou seja, especifica a função ou o
tipo do termo anterior: palavra-chave - palavras-chave, Devem-se pluralizar os nomes próprios de pessoas
bomba-relógio - bombas-relógio, homem-rã - homens-rã, sempre que a terminação preste-se à flexão.
peixe-espada - peixes-espada. Os Napoleões também são derrotados.
As Raquéis e Esteres.
D) Permanecem invariáveis, quando formados de:
verbo + advérbio = o bota-fora e os bota-fora Plural dos Substantivos Estrangeiros
verbo + substantivo no plural = o saca-rolhas e os
Substantivos ainda não aportuguesados devem ser
saca-rolhas
escritos como na língua original, acrescentando-se “s”
(exceto quando terminam em “s” ou “z”): os shows, os
Casos Especiais shorts, os jazz.
Substantivos já aportuguesados flexionam-se de
o louva-a-deus e os louva-a-deus acordo com as regras de nossa língua: os clubes, os cho-
pes, os jipes, os esportes, as toaletes, os bibelôs, os garçons,
o bem-te-vi e os bem-te-vis
os réquiens.
o bem-me-quer e os bem-me-queres Observe o exemplo: Este jogador faz gols toda vez que
o joão-ninguém e os joões-ninguém. joga.
O plural correto seria gois (ô), mas não se usa.
Plural das Palavras Substantivadas
Plural com Mudança de Timbre
As palavras substantivadas, isto é, palavras de outras
Certos substantivos formam o plural com mudança
classes gramaticais usadas como substantivo, apresen-
de timbre da vogal tônica (o fechado / o aberto). É um
tam, no plural, as flexões próprias dos substantivos. fato fonético chamado metafonia (plural metafônico).
Pese bem os prós e os contras.
O aluno errou na prova dos noves.
Singular Plural
Ouça com a mesma serenidade os sins e os nãos.
Corpo (ô) Corpos (ó)
Observação: Esforço Esforços
Numerais substantivados terminados em “s” ou “z”
LÍNGUA PORTUGUESA

Fogo Fogos
não variam no plural: Nas provas mensais consegui muitos
Forno Fornos
seis e alguns dez.
Fosso Fossos
Plural dos Diminutivos Imposto Impostos
Olho Olhos
Flexiona-se o substantivo no plural, retira-se o “s” fi-
nal e acrescenta-se o sufixo diminutivo. Osso (ô) Ossos (ó)

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Ovo Ovos SITE
Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/se-
Poço Poços coes/morf/morf12.php>
Porto Portos
Posto Postos 10. VERBO
Tijolo Tijolos
Verbo é a palavra que se flexiona em pessoa, número,
tempo e modo. A estes tipos de flexão verbal dá-se o
Têm a vogal tônica fechada (ô): adornos, almoços, bol-
nome de conjugação (por isso também se diz que verbo
sos, esposos, estojos, globos, gostos, polvos, rolos, soros,
é a palavra que pode ser conjugada). Pode indicar, entre
etc.
outros processos: ação (amarrar), estado (sou), fenôme-
no (choverá); ocorrência (nascer); desejo (querer).
Observação:
Distinga-se molho (ô) = caldo (molho de carne), de
Estrutura das Formas Verbais
molho (ó) = feixe (molho de lenha).

Há substantivos que só se usam no singular: o sul, o Do ponto de vista estrutural, o verbo pode apresentar
norte, o leste, o oeste, a fé, etc. os seguintes elementos:
Outros só no plural: as núpcias, os víveres, os pêsames,
as espadas/os paus (naipes de baralho), as fezes. A) Radical: é a parte invariável, que expressa o signi-
Outros, enfim, têm, no plural, sentido diferente do ficado essencial do verbo. Por exemplo: fal-ei; fal-
singular: bem (virtude) e bens (riquezas), honra (probida- -ava; fal-am. (radical fal-)
de, bom nome) e honras (homenagem, títulos).
Usamos, às vezes, os substantivos no singular, mas B) Tema: é o radical seguido da vogal temática que
com sentido de plural: Aqui morreu muito negro. indica a conjugação a que pertence o verbo. Por
Celebraram o sacrifício divino muitas vezes em capelas exemplo: fala-r. São três as conjugações:
improvisadas. 1.ª - Vogal Temática - A - (falar), 2.ª - Vogal Temática
- E - (vender), 3.ª - Vogal Temática - I - (partir).
C) Flexão de Grau do Substantivo
Grau é a propriedade que as palavras têm de exprimir C) Desinência modo-temporal: é o elemento que
as variações de tamanho dos seres. designa o tempo e o modo do verbo. Por exemplo:
falávamos ( indica o pretérito imperfeito do indicati-
Classifica-se em: vo) / falasse ( indica o pretérito imperfeito do subjuntivo)
1. Grau Normal - Indica um ser de tamanho conside-
rado normal. Por exemplo: casa D) Desinência número-pessoal: é o elemento que
2. Grau Aumentativo - Indica o aumento do tama- designa a pessoa do discurso (1.ª, 2.ª ou 3.ª) e o
nho do ser. Classifica-se em: número (singular ou plural):
Analítico = o substantivo é acompanhado de um ad- falamos (indica a 1.ª pessoa do plural.) / falavam
jetivo que indica grandeza. Por exemplo: casa grande. (indica a 3.ª pessoa do plural.)
Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo in-
dicador de aumento. Por exemplo: casarão. FIQUE ATENTO!
O verbo pôr, assim como seus derivados
3. Grau Diminutivo - Indica a diminuição do tama- (compor, repor, depor), pertencem à 2.ª
nho do ser. Pode ser: conjugação, pois a forma arcaica do verbo
Analítico = substantivo acompanhado de um adjeti- pôr era poer. A vogal “e”, apesar de haver
vo que indica pequenez. Por exemplo: casa pequena. desaparecido do infinitivo, revela-se em
Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo in- algumas formas do verbo: põe, pões,
dicador de diminuição. Por exemplo: casinha. põem, etc.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Formas Rizotônicas e Arrizotônicas
LÍNGUA PORTUGUESA

Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.


CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Co- Ao combinarmos os conhecimentos sobre a estrutura
char. Português linguagens: volume 1 – 7.ª ed. Reform. dos verbos com o conceito de acentuação tônica, perce-
– São Paulo: Saraiva, 2010. bemos com facilidade que nas formas rizotônicas o acen-
CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Português – Literatura, to tônico cai no radical do verbo: opino, aprendam, amo,
Produção de Texto & Gramática – Volume único / Samira por exemplo. Nas formas arrizotônicas, o acento tônico
Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa Souza. – 3.ª edição – não cai no radical, mas sim na terminação verbal (fora do
São Paulo: Saraiva, 2002. radical): opinei, aprenderão, amaríamos.

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Classificação dos Verbos
3. Todos os verbos que indicam fenômenos da natu-
Classificam-se em: reza são impessoais: chover, ventar, nevar, gear, tro-
vejar, amanhecer, escurecer, etc. Quando, porém,
A) Regulares: são aqueles que apresentam o radi- se constrói, “Amanheci cansado”, usa-se o verbo
cal inalterado durante a conjugação e desinências “amanhecer” em sentido figurado. Qualquer verbo
idênticas às de todos os verbos regulares da mes- impessoal, empregado em sentido figurado, dei-
ma conjugação. Por exemplo: comparemos os ver- xa de ser impessoal para ser pessoal, ou seja, terá
bos “cantar” e “falar”, conjugados no presente do conjugação completa.
Modo Indicativo: Amanheci cansado. (Sujeito desinencial: eu)
Choveram candidatos ao cargo. (Sujeito: candidatos)
Canto Falo Fiz quinze anos ontem. (Sujeito desinencial: eu)
Cantas Falas
4. O verbo passar (seguido de preposição), indicando
Canta Falas
tempo: Já passa das seis.
Cantamos Falamos
Cantais Falais 5. Os verbos bastar e chegar, seguidos da preposição
“de”, indicando suficiência:
Basta de tolices.
#FicaDica Chega de promessas.
Observe que, retirando os radicais, as
desinências modo-temporal e número- 6. Os verbos estar e ficar em orações como “Está bem,
pessoal mantiveram-se idênticas. Tente fazer Está muito bem assim, Não fica bem, Fica mal”, sem
com outro verbo e perceberá que se repetirá referência a sujeito expresso anteriormente (por
o fato (desde que o verbo seja da primeira exemplo: “ele está mal”). Podemos, nesse caso,
conjugação e regular!). Faça com o verbo classificar o sujeito como hipotético, tornando-se,
“andar”, por exemplo. Substitua o radical tais verbos, pessoais.
“cant” e coloque o “and” (radical do verbo
andar). Viu? Fácil! 7. O verbo dar + para da língua popular, equivalente
de “ser possível”. Por exemplo:
Não deu para chegar mais cedo.
B) Irregulares: são aqueles cuja flexão provoca alte- Dá para me arrumar uma apostila?
rações no radical ou nas desinências: faço, fiz, farei,
fizesse. E) Unipessoais: são aqueles que, tendo sujeito, con-
jugam-se apenas nas terceiras pessoas, do singu-
Observação: lar e do plural. São unipessoais os verbos constar,
Alguns verbos sofrem alteração no radical apenas convir, ser (= preciso, necessário) e todos os que
para que seja mantida a sonoridade. É o caso de: corrigir/ indicam vozes de animais (cacarejar, cricrilar, miar,
corrijo, fingir/finjo, tocar/toquei, por exemplo. Tais altera- latir, piar).
ções não caracterizam irregularidade, porque o fonema
permanece inalterado. Os verbos unipessoais podem ser usados como ver-
bos pessoais na linguagem figurada:
C) Defectivos: são aqueles que não apresentam con- Teu irmão amadureceu bastante.
jugação completa. Os principais são adequar, pre- O que é que aquela garota está cacarejando?
caver, computar, reaver, abolir, falir.
D) Impessoais: são os verbos que não têm sujeito Principais verbos unipessoais:
e, normalmente, são usados na terceira pessoa do
singular. Os principais verbos impessoais são:
• Cumprir, importar, convir, doer, aprazer, parecer,
ser (preciso, necessário):
1. Haver, quando sinônimo de existir, acontecer, reali-
zar-se ou fazer (em orações temporais). Cumpre estudarmos bastante. (Sujeito: estudarmos
Havia muitos candidatos no dia da prova. (Havia = bastante)
Existiam) Parece que vai chover. (Sujeito: que vai chover)
LÍNGUA PORTUGUESA

Houve duas guerras mundiais. (Houve = Aconteceram) É preciso que chova. (Sujeito: que chova)
Haverá debates hoje. (Haverá = Realizar-se-ão)
Viajei a Madri há muitos anos. (há = faz) • Fazer e ir, em orações que dão ideia de tempo, se-
guidos da conjunção que.
2. Fazer, ser e estar (quando indicam tempo) Faz dez anos que viajei à Europa. (Sujeito: que viajei
Faz invernos rigorosos na Europa. à Europa)
Era primavera quando o conheci. Vai para (ou Vai em ou Vai por) dez anos que não a
Estava frio naquele dia. vejo. (Sujeito: que não a vejo)

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F) Abundantes: são aqueles que possuem duas ou mais formas equivalentes, geralmente no particípio, em que,
além das formas regulares terminadas em -ado ou -ido, surgem as chamadas formas curtas (particípio irregular).
O particípio regular (terminado em “–do”) é utilizado na voz ativa, ou seja, com os verbos ter e haver; o irregular é
empregado na voz passiva, ou seja, com os verbos ser, ficar e estar. Observe:

Particípio Particípio
Infinitivo
Regular Irregular
Aceitar Aceitado Aceito
Acender Acendido Aceso
Anexar Anexado Anexo
Benzer Benzido Bento
Corrigir Corrigido Correto
Dispersar Dispersado Disperso
Eleger Elegido Eleito
Envolver Envolvido Envolto
Imprimir Imprimido Impresso
Inserir Inserido Inserto
Limpar Limpado Limpo
Matar Matado Morto
Misturar Misturado Misto
Morrer Morrido Morto
Murchar Murchado Murcho
Pegar Pegado Pego
Romper Rompido Roto
Soltar Soltado Solto
Suspender Suspendido Suspenso
Tingir Tingido Tinto
Vagar Vagado Vago

Estes verbos e seus derivados possuem, apenas, o particípio irregular: abrir/aberto, cobrir/coberto, dizer/dito, escre-
ver/escrito, pôr/posto, ver/visto, vir/vindo.

G) Anômalos: são aqueles que incluem mais de um radical em sua conjugação. Existem apenas dois: ser (sou, sois,
fui) e ir (fui, ia, vades).

H) Auxiliares: São aqueles que entram na formação dos tempos compostos e das locuções verbais. O verbo prin-
cipal (aquele que exprime a ideia fundamental, mais importante), quando acompanhado de verbo auxiliar, é
expresso numa das formas nominais: infinitivo, gerúndio ou particípio.

Vou espantar todos!


(verbo auxiliar) (verbo principal no infinitivo)

Está chegando a hora!


(verbo auxiliar) (verbo principal no gerúndio)

Observação:
Os verbos auxiliares mais usados são: ser, estar, ter e haver.
LÍNGUA PORTUGUESA

41
Conjugação dos Verbos Auxiliares

SER - Modo Indicativo

Pret. mais-que- Fut. do


Presente Pret. Perfeito Pret. Imp. Fut.do Pres.
perf. Pretérito
Sou Fui Era Fora Serei Seria
És Foste Eras Foras Serás Serias
É Foi Era Fora Será Seria
Somos Fomos Éramos Fôramos Seremos Seríamos
Sois Fostes Éreis Fôreis Sereis Seríeis
São Foram Eram Foram Serão Seriam

SER - Modo Subjuntivo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro


que eu seja se eu fosse quando eu for
que tu sejas se tu fosses quando tu fores
que ele seja se ele fosse quando ele for
que nós sejamos se nós fôssemos quando nós formos
que vós sejais se vós fôsseis quando vós fordes
que eles sejam se eles fossem quando eles forem

SER - Modo Imperativo

Afirmativo Negativo
sê tu não sejas tu
seja você não seja você
sejamos nós não sejamos nós
sede vós não sejais vós
sejam vocês não sejam vocês

SER - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


ser ser eu sendo sido
seres tu
ser ele
sermos nós
serdes vós
serem eles

ESTAR - Modo Indicativo



Presente Pret. perf. Pret. Imp. Pret.mais-q-perf. Fut.doPres Fut.do Preté
LÍNGUA PORTUGUESA

estou estive estava estivera estarei estaria


estás estiveste estavas estiveras estarás estarias
está esteve estava estivera estará estaria
estamos estivemos estávamos estivéramos estaremos estaríamos
estais estivestes estáveis estivéreis estareis estaríeis
estão estiveram estavam estiveram estarão estariam

42
ESTAR Modo Subjuntivo – Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


esteja estivesse estiver
estejas estivesses estiveres está estejas
esteja estivesse estiver esteja esteja
estejamos estivéssemos estivermos estejamos estejamos
estejais estivésseis estiverdes estai estejais
estejam estivessem estiverem estejam estejam

ESTAR - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


estar estar estando estado
estares
estar
estarmos
estardes
estarem

HAVER - Modo Indicativo

Presente Pret. Perf. Pret. Imp. Pret.Mais-Q-Perf. Fut.do Pres. Fut.doPreté.


hei houve havia houvera haverei haveria
hás houveste havias houveras haverás haverias
há houve havia houvera haverá haveria
havemos houvemos havíamos houvéramos haveremos haveríamos
haveis houvestes havíeis houvéreis havereis haveríeis
hão houveram haviam houveram haverão haveriam

HAVER - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


ja houvesse houver
hajas houvesses houveres há hajas
haja houvesse houver haja haja
hajamos houvéssemos houvermos hajamos hajamos
hajais houvésseis houverdes havei hajais
hajam houvessem houverem hajam hajam

HAVER - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


haver haver havendo havido
LÍNGUA PORTUGUESA

haveres
haver
havermos
haverdes
haverem

43
TER - Modo Indicativo

Presente Pret. Perf. Pret. Imp. Pret.Mais-Q-Perf. Fut.do Pres. Fut.doPreté.


tenho tive tinha tivera terei teria
tens tiveste tinhas tiveras terás terias
tem teve tinha tivera terá teria
temos tivemos tínhamos tivéramos teremos teríamos
tendes tivestes tínheis tivéreis tereis teríeis
têm tiveram tinham tiveram terão teriam

TER - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


tenha tivesse tiver
tenhas tivesses tiveres tem tenhas
tenha tivesse tiver tenha tenha
tenhamos tivéssemos tivermos tenhamos tenhamos
tenhais tivésseis tiverdes tende tenhais
tenham tivessem tiverem tenham tenham

I) Pronominais: São aqueles verbos que se conjugam com os pronomes oblíquos átonos me, te, se, nos, vos, se, na
mesma pessoa do sujeito, expressando reflexibilidade (pronominais acidentais) ou apenas reforçando a ideia já
implícita no próprio sentido do verbo (pronominais essenciais). Veja:

• Essenciais: são aqueles que sempre se conjugam com os pronomes oblíquos me, te, se, nos, vos, se. São poucos:
abster-se, ater-se, apiedar-se, atrever-se, dignar-se, arrepender-se, etc. Nos verbos pronominais essenciais a refle-
xibilidade já está implícita no radical do verbo. Por exemplo: Arrependi-me de ter estado lá.
A ideia é de que a pessoa representada pelo sujeito (eu) tem um sentimento (arrependimento) que recai sobre ela
mesma, pois não recebe ação transitiva nenhuma vinda do verbo; o pronome oblíquo átono é apenas uma partícula
integrante do verbo, já que, pelo uso, sempre é conjugada com o verbo. Diz-se que o pronome apenas serve de reforço
da ideia reflexiva expressa pelo radical do próprio verbo. Veja uma conjugação pronominal essencial (verbo e respec-
tivos pronomes):
Eu me arrependo, Tu te arrependes, Ele se arrepende, Nós nos arrependemos, Vós vos arrependeis, Eles se arrependem

• Acidentais: são aqueles verbos transitivos diretos em que a ação exercida pelo sujeito recai sobre o objeto repre-
sentado por pronome oblíquo da mesma pessoa do sujeito; assim, o sujeito faz uma ação que recai sobre ele
mesmo. Em geral, os verbos transitivos diretos ou transitivos diretos e indiretos podem ser conjugados com os
pronomes mencionados, formando o que se chama voz reflexiva. Por exemplo: A garota se penteava.
A reflexibilidade é acidental, pois a ação reflexiva pode ser exercida também sobre outra pessoa: A garota penteou-me.

Por fazerem parte integrante do verbo, os pronomes oblíquos átonos dos verbos pronominais não possuem função
sintática.
Há verbos que também são acompanhados de pronomes oblíquos átonos, mas que não são essencialmente prono-
minais - são os verbos reflexivos. Nos verbos reflexivos, os pronomes, apesar de se encontrarem na pessoa idêntica à
do sujeito, exercem funções sintáticas. Por exemplo:
Eu me feri. = Eu (sujeito) – 1.ª pessoa do singular; me (objeto direto) – 1.ª pessoa do singular
LÍNGUA PORTUGUESA

Modos Verbais

Dá-se o nome de modo às várias formas assumidas pelo verbo na expressão de um fato certo, real, verdadeiro.
Existem três modos:
A) Indicativo - indica uma certeza, uma realidade: Eu estudo para o concurso.
B) Subjuntivo - indica uma dúvida, uma possibilidade: Talvez eu estude amanhã.
C) Imperativo - indica uma ordem, um pedido: Estude, colega!

44
Formas Nominais Quando o particípio exprime somente estado, sem
nenhuma relação temporal, assume verdadeiramente a
Além desses três modos, o verbo apresenta ainda for- função de adjetivo. Por exemplo: Ela é a aluna escolhida
mas que podem exercer funções de nomes (substantivo, pela turma.
adjetivo, advérbio), sendo por isso denominadas formas
nominais. Observe:

A) Infinitivo
A.1 Impessoal: exprime a significação do verbo de
modo vago e indefinido, podendo ter valor e fun-
ção de substantivo. Por exemplo:
Viver é lutar. (= vida é luta)
É indispensável combater a corrupção. (= combate à) (Ziraldo)

Tempos Verbais
O infinitivo impessoal pode apresentar-se no presen-
te (forma simples) ou no passado (forma composta). Por
Tomando-se como referência o momento em que se
exemplo: fala, a ação expressa pelo verbo pode ocorrer em diver-
É preciso ler este livro. sos tempos.
Era preciso ter lido este livro.
A) Tempos do Modo Indicativo
A.2 Infinitivo Pessoal: é o infinitivo relacionado às Presente - Expressa um fato atual: Eu estudo neste
três pessoas do discurso. Na 1.ª e 3.ª pessoas do colégio.
singular, não apresenta desinências, assumindo a Pretérito Imperfeito - Expressa um fato ocorrido
mesma forma do impessoal; nas demais, flexiona- num momento anterior ao atual, mas que não foi com-
-se da seguinte maneira: pletamente terminado: Ele estudava as lições quando foi
2.ª pessoa do singular: Radical + ES = teres (tu) interrompido.
1.ª pessoa do plural: Radical + MOS = termos (nós) Pretérito Perfeito - Expressa um fato ocorrido num
2.ª pessoa do plural: Radical + DES = terdes (vós) momento anterior ao atual e que foi totalmente termina-
3.ª pessoa do plural: Radical + EM = terem (eles) do: Ele estudou as lições ontem à noite.
Foste elogiado por teres alcançado uma boa colocação. Pretérito-mais-que-perfeito - Expressa um fato
ocorrido antes de outro fato já terminado: Ele já estudara
as lições quando os amigos chegaram. (forma simples).
B) Gerúndio: o gerúndio pode funcionar como adje-
Futuro do Presente - Enuncia um fato que deve
tivo ou advérbio. Por exemplo: ocorrer num tempo vindouro com relação ao momento
Saindo de casa, encontrei alguns amigos. (função de atual: Ele estudará as lições amanhã.
advérbio) Futuro do Pretérito - Enuncia um fato que pode
Água fervendo, pele ardendo. (função de adjetivo) ocorrer posteriormente a um determinado fato passado:
Se ele pudesse, estudaria um pouco mais.
Na forma simples (1), o gerúndio expressa uma ação
em curso; na forma composta (2), uma ação concluída: B) Tempos do Modo Subjuntivo
Trabalhando (1), aprenderás o valor do dinheiro. Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer no mo-
Tendo trabalhado (2), aprendeu o valor do dinheiro. mento atual: É conveniente que estudes para o exame.
Pretérito Imperfeito - Expressa um fato passado,
Quando o gerúndio é vício de linguagem (gerundis- mas posterior a outro já ocorrido: Eu esperava que ele
mo), ou seja, uso exagerado e inadequado do gerúndio: vencesse o jogo.
1. Enquanto você vai ao mercado, vou estar jogando Futuro do Presente - Enuncia um fato que pode
futebol. ocorrer num momento futuro em relação ao atual: Quan-
do ele vier à loja, levará as encomendas.
2. – Sim, senhora! Vou estar verificando!

Em 1, a locução “vou estar” + gerúndio é adequa- FIQUE ATENTO!


da, pois transmite a ideia de uma ação que ocorre no Há casos em que formas verbais de um
momento da outra; em 2, essa ideia não ocorre, já que determinado tempo podem ser utilizadas
a locução verbal “vou estar verificando” refere-se a um para indicar outro.
LÍNGUA PORTUGUESA

futuro em andamento, exigindo, no caso, a construção Em 1500, Pedro Álvares Cabral descobre o
“verificarei” ou “vou verificar”. Brasil.
descobre = forma do presente indicando
C) Particípio: quando não é empregado na formação passado ( = descobrira/descobriu)
dos tempos compostos, o particípio indica, geral- No próximo final de semana, faço a prova!
mente, o resultado de uma ação terminada, flexio- faço = forma do presente indicando futuro
nando-se em gênero, número e grau. Por exemplo: ( = farei)
Terminados os exames, os candidatos saíram.

45
Tabelas das Conjugações Verbais

Modo Indicativo

Presente do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desinência pessoal


CANTAR VENDER PARTIR
cantO vendO partO O
cantaS vendeS parteS S
canta vende parte -
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaIS vendeIS partIS IS
cantaM vendeM parteM M

Pretérito Perfeito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desinência pessoal


CANTAR VENDER PARTIR
canteI vendI partI I
cantaSTE vendeSTE partISTE STE
cantoU vendeU partiU U
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaSTES vendeSTES partISTES STES
cantaRAM vendeRAM partiRAM RAM

Pretérito mais-que-perfeito

3.ª conjugação
1.ª conjugação 2.ª conjugação Des. temporal Desinência pessoal
1.ª/2.ª e 3.ª conj
CANTAR VENDER PARTIR
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantaRAS vendeRAS partiRAS RA S
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantáRAMOS vendêRAMOS partíRAMOS RA MOS
cantáREIS vendêREIS partíREIS RE IS
cantaRAM vendeRAM partiRAM RA M

Pretérito Imperfeito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
LÍNGUA PORTUGUESA

cantAVA vendIA partIA


cantAVAS vendIAS partAS
CantAVA vendIA partIA
cantÁVAMOS vendÍAMOS partÍAMOS
cantÁVEIS vendÍEIS partÍEIS
cantAVAM vendIAM partIAM

46
Futuro do Presente do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantar ei vender ei partir ei
cantar ás vender ás partir ás
cantar á vender á partir á
cantar emos vender emos partir emos
cantar eis vender eis partir eis
cantar ão vender ão partir ão

Futuro do Pretérito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantarIA venderIA partirIA
cantarIAS venderIAS partirIAS
cantarIA venderIA partirIA
cantarÍAMOS venderÍAMOS partirÍAMOS
cantarÍEIS venderÍEIS partirÍEIS
cantarIAM venderIAM partirIAM

Presente do Subjuntivo

Para se formar o presente do subjuntivo, substitui-se a desinência -o da primeira pessoa do singular do presente do
indicativo pela desinência -E (nos verbos de 1.ª conjugação) ou pela desinência -A (nos verbos de 2.ª e 3.ª conjugação).

Desinên. Pessoal Des. tem


1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des.temporal
1.ª conj. 2.ª/3.ª conj.poral
CANTAR VENDER PARTIR
cantE vendA partA E A Ø
cantES vendAS partAS E A S
cantE vendA partA E A Ø
cantEMOS vendAMOS partAMOS E A MOS
cantEIS vendAIS partAIS E A IS
cantEM vendAM partAM E A M

Pretérito Imperfeito do Subjuntivo

Para formar o imperfeito do subjuntivo, elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito,
obtendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -SSE mais a desinência de
número e pessoa correspondente.

Des.temporal
1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
LÍNGUA PORTUGUESA

cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø


cantaSSES vendeSSES partiSSES SSE S
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantáSSEMOS vendêSSEMOS partíSSEMOS SSE MOS
cantáSSEIS vendêSSEIS partíSSEIS SSE IS
cantaSSEM vendeSSEM partiSSEM SSE M

47
Futuro do Subjuntivo

Para formar o futuro do subjuntivo elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito,
obtendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -R mais a desinência de
número e pessoa correspondente.

Des.temporal
1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaR vendeR partiR Ø
cantaRES vendeRES partiRES R ES
cantaR vendeR partiR R Ø
cantaRMOS vendeRMOS partiRMOS R MOS
cantaRDES vendeRDES partiRDES R DES
cantaREM vendeREM partiREM R EM

C) Modo Imperativo

Imperativo Afirmativo

Para se formar o imperativo afirmativo, toma-se do presente do indicativo a 2.ª pessoa do singular (tu) e a segunda
pessoa do plural (vós) eliminando-se o “S” final. As demais pessoas vêm, sem alteração, do presente do subjuntivo. Veja:

Presente do Imperativo Presente do


Indicativo Afirmativo Subjuntivo
Eu canto - Que eu cante
Tu cantas CantA tu Que tu cantes
Ele canta Cante você Que ele cante
Nós cantamos Cantemos nós Que nós cantemos
Vós cantais CantAI vós Que vós canteis
Eles cantam Cantem vocês Que eles cantem

Imperativo Negativo

Para se formar o imperativo negativo, basta antecipar a negação às formas do presente do subjuntivo.

Presente do Subjuntivo Imperativo Negativo


Que eu cante -
Que tu cantes Não cantes tu
Que ele cante Não cante você
Que nós cantemos Não cantemos nós
Que vós canteis Não canteis vós
Que eles cantem Não cantem eles

• No modo imperativo não faz sentido usar na 3.ª pessoa (singular e plural) as formas ele/eles, pois uma ordem,
pedido ou conselho só se aplicam diretamente à pessoa com quem se fala. Por essa razão, utiliza-se você/vocês.
• O verbo SER, no imperativo, faz excepcionalmente: sê (tu), sede (vós).
LÍNGUA PORTUGUESA

Infinitivo Pessoal

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantar vender partir
cantarES venderES partirES

48
cantar vender partir Formação da Voz Passiva

cantarMOS venderMOS partirMOS A voz passiva pode ser formada por dois processos:
cantarDES venderDES partirDES analítico e sintético.
cantarEM venderEM partirEM
A) Voz Passiva Analítica = Constrói-se da seguinte
• O verbo parecer admite duas construções: maneira:
Elas parecem gostar de você. (forma uma locução Verbo SER + particípio do verbo principal. Por
verbal) exemplo:
Elas parece gostarem de você. (verbo com sujeito ora- A escola será pintada pelos alunos. (na ativa teríamos:
cional, correspondendo à construção: parece gostarem de os alunos pintarão a escola)
você). O trabalho é feito por ele. (na ativa: ele faz o trabalho)

• O verbo pegar possui dois particípios (regular e Observações:


irregular):
Elvis tinha pegado minhas apostilas. • O agente da passiva geralmente é acompanhado
Minhas apostilas foram pegas. da preposição por, mas pode ocorrer a construção
com a preposição de. Por exemplo: A casa ficou cer-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS cada de soldados.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. • Pode acontecer de o agente da passiva não estar
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Co- explícito na frase: A exposição será aberta amanhã.
char - Português linguagens: volume 2. – 7.ª ed. Reform.
– São Paulo: Saraiva, 2010. • A variação temporal é indicada pelo verbo auxi-
AMARAL, Emília... [et al.] - Português: novas palavras: liar (SER), pois o particípio é invariável. Observe a
literatura, gramática, redação. – São Paulo: FTD, 2000. transformação das frases seguintes:

SITE Ele fez o trabalho. (pretérito perfeito do Indicativo)


Disponível em: http://www.soportugues.com.br/se- O trabalho foi feito por ele. (verbo ser no pretérito per-
coes/morf/morf54.php feito do Indicativo, assim como o verbo principal da voz
ativa)
Vozes do Verbo
Ele faz o trabalho. (presente do indicativo)
Dá-se o nome de voz à maneira como se apresenta O trabalho é feito por ele. (ser no presente do
a ação expressa pelo verbo em relação ao sujeito, indi- indicativo)
cando se este é paciente ou agente da ação. Importante
lembrar que voz verbal não é flexão, mas aspecto verbal. Ele fará o trabalho. (futuro do presente)
São três as vozes verbais: O trabalho será feito por ele. (futuro do presente)

A) Ativa = quando o sujeito é agente, isto é, pratica a • Nas frases com locuções verbais, o verbo SER as-
ação expressa pelo verbo: sume o mesmo tempo e modo do verbo princi-
Ele fez o trabalho. pal da voz ativa. Observe a transformação da frase
sujeito agente ação objeto (paciente) seguinte:
O vento ia levando as folhas. (gerúndio)
B) Passiva = quando o sujeito é paciente, recebendo As folhas iam sendo levadas pelo vento. (gerúndio)
a ação expressa pelo verbo:
O trabalho foi feito por ele. B) Voz Passiva Sintética = A voz passiva sintética -
sujeito paciente ação agente da passiva ou pronominal - constrói-se com o verbo na 3.ª
pessoa, seguido do pronome apassivador “se”. Por
C) Reflexiva = quando o sujeito é, ao mesmo tempo, exemplo:
agente e paciente, isto é, pratica e recebe a ação: Abriram-se as inscrições para o concurso.
O menino feriu-se. Destruiu-se o velho prédio da escola.
LÍNGUA PORTUGUESA

Observação:
#FicaDica
O agente não costuma vir expresso na voz passiva
Não confundir o emprego reflexivo do verbo sintética.
com a noção de reciprocidade:
Os lutadores feriram-se. (um ao outro) Conversão da Voz Ativa na Voz Passiva
Nós nos amamos. (um ama o outro)
Pode-se mudar a voz ativa na passiva sem alterar
substancialmente o sentido da frase.

49
O concurseiro comprou a apostila. (Voz Ativa) no Rio de Janeiro. Ele aceitou tratar o caso gratuitamen-
Sujeito da Ativa objeto Direto te. Surpresa! O doente não aparecia para a consulta. Até
que o coloquei contra a parede. Ou se consultava ou eu
A apostila foi comprada pelo concurseiro. não ajudava mais.
(Voz Passiva) Cheio de saúde, ele foi ao consultório. Pediu uma receita
Sujeito da Passiva Agente da Passiva de suplementos para ficar com o corpo atlético. Nunca
conheci o sujeito, repito. Eu me senti um idiota por ter
Observe que o objeto direto será o sujeito da passiva; caído na história. Só que esse rapaz havia perdido o em-
o sujeito da ativa passará a agente da passiva, e o verbo prego após o suposto acidente. Foi por isso que me dei-
ativo assumirá a forma passiva, conservando o mesmo xei enganar. Mas, ao perder salário, muita gente perde
tempo. também a vergonha. Pior ainda. A violência aumenta. As
pessoas buscam vagas nos mercados em expansão. Se a
Os mestres têm constantemente aconselhado os
indústria automobilística vai bem, é lá que vão trabalhar.
alunos.
Podemos esperar por um futuro melhor ou o que nos
Os alunos têm sido constantemente aconselhados pe-
aguarda é mais descrédito? Novos candidatos vão sur-
los mestres. gir. Serão novos? Ou os antigos? Ou novos com cabeça
Eu o acompanharei. de velhos? Todos pedem que a gente tenha uma nova
Ele será acompanhado por mim. consciência para votar. Como? Num mundo em que as
notícias são plantadas pela internet, em que muitos sites
Quando o sujeito da voz ativa for indeterminado, não servem a qualquer mentira. Digo por mim. Já contaram
haverá complemento agente na passiva. Por exemplo: cada história a meu respeito que nem sei o que dizer. Já
Prejudicaram-me. / Fui prejudicado. inventaram casos de amor, tramas nas novelas que escre-
Com os verbos neutros (nascer, viver, morrer, dormir, vo. Pior. Depois todo mundo me pergunta por que isso
acordar, sonhar, etc.) não há voz ativa, passiva ou refle- ou aquilo não aconteceu na novela. Se mudei a trama.
xiva, porque o sujeito não pode ser visto como agente, Respondo: — Nunca foi para acontecer. Era mentira da
paciente ou agente paciente. internet.
Duvidam. Acham que estou mentindo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARRASCO, W. O ano da esperança. Época, 25 dez.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa 2017, p.97. Adaptado.
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Co- No trecho “perde-se o dinheiro e o amigo”, a colocação
char - Português linguagens: volume 2. – 7.ª ed. Reform. do pronome átono em destaque está de acordo com a
– São Paulo: Saraiva, 2010. norma-padrão da língua portuguesa. O mesmo ocorre
AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras: em:
literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000.
a) Não se perde nem o dinheiro nem o amigo.
b) Perderia-se o dinheiro e o amigo.
SITE
c) O dinheiro e o amigo tinham perdido-se.
Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/se-
d) Se perdeu o dinheiro, mas não o amigo.
coes/morf/morf54.php>
e) Se o amigo que perdeu-se voltasse, ficaria feliz.

Resposta: Letra A
EXERCÍCIOS COMENTADOS Em “a”: Não se perde = correta (advérbio atrai o pro-
nome = próclise)
1. (LIQUIGÁS – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO Em “b”: Perderia-se = verbo no futuro do pretérito:
– CESGRANRIO-2018) perder-se-ia (mesóclise)
Em “c”: O dinheiro e o amigo tinham perdido-se = ti-
O ano da esperança nham se perdido
Em “d”: Se perdeu = não se inicia período com prono-
me oblíquo/partícula apassivadora (Perdeu-se)
O ano de 2017 foi difícil. Avalio pelo número de amigos
Em “e”: Se o amigo que perdeu-se = o “que” atrai o
desempregados. E pedidos de empréstimos. Um atrás
pronome (próclise): que se perdeu
do outro. Nunca fui de botar dinheiro nas relações de
amizade. Como afirmou Shakespeare, perde-se o dinhei- 2. (PETROBRAS – ADMINISTRADOR JÚNIOR – CES-
ro e o amigo. Nos primeiros pedidos, eu ajudava, com a GRANRIO-2018) Segundo as exigências da norma-pa-
consciência de que era uma doação. A situação foi pio- drão da língua portuguesa, o pronome destacado foi
LÍNGUA PORTUGUESA

rando. Os argumentos também. No início era para pagar utilizado na posição correta em:
a escola do filho. Depois vieram as mães e avós doentes.
Lamentavelmente, aprendi a não ser generoso. Ajudava a) Os jornais noticiaram que alguns países mobilizam-se
um rapaz, que não conheço pessoalmente. Mas que so- para combater a disseminação de notícias falsas nas
freu um acidente e não tinha como pagar a fisioterapia. redes sociais.
Comecei pagando a físio. Vieram sucessivas internações, b) Para criar leis eficientes no combate aos boatos, sem-
remédios. A situação piorando, eu já estava encomen- pre deve-se ter em mente que o problema de divulga-
dando missa de sétimo dia. Falei com um amigo médico, ção de notícias falsas é grave e muito atual.

50
c) Entre os numerosos usuários da internet, constata-se Em “b”: que cercam-no = que o cercam (“no” está cor-
um sentimento generalizado de reprovação à prática reta – caso não tivéssemos o “que”, pois, devido a sua
de divulgação de inverdades. presença, teremos próclise, não ênclise)
d) Uma nova lei contra as fake news promulgada na Ale- Em “c”: que o cercam = correta
manha não aplica-se aos sites e redes sociais com me- Em “d”: que lhe cercam = a posição está correta, mas
nos de 2 milhões de membros. o pronome está errado (“lhe” é para objeto indireto =
e) Uma vultosa multa é, muitas vezes, o estímulo mais a ele/ela)
eficaz para que adote-se a conduta correta em relação Em “e”: que cercam-lhe = que o cercam
à reputação das celebridades.
5. (PC-SP - ESCRIVÃO DE POLÍCIA – VUNESP-2014)
Considerando apenas as regras de regência e de coloca-
Resposta: Letra C
ção pronominal da norma-padrão da língua portuguesa,
Em “a”: Os jornais noticiaram que alguns países mobi-
a expressão destacada em – Ainda assim, 60% afirmam
lizam-se = se mobilizam que raramente ou nunca têm informações sobre o im-
Em “b”: Para criar leis eficientes no combate aos boa- pacto ambiental do produto ou do comportamento da
tos, sempre deve-se = sempre se deve empresa. – pode ser corretamente substituída por
Em “c”: Entre os numerosos usuários da internet, cons-
tata-se um sentimento = correta a) ... nunca informam-se sob o impacto...
Em “d”: Uma nova lei contra as fake news promulgada b)... nunca se informam o impacto...
na Alemanha não aplica-se = não se aplica c) ... nunca informam-se ao impacto...
Em “e”: Uma vultosa multa é, muitas vezes, o estímulo d) ... nunca se informam do impacto...
mais eficaz para que adote-se = que se adote e)... nunca informam-se no impacto...

3. (ALERJ-RJ – ESPECIALISTA LEGISLATIVO – ARQUI- Resposta: Letra D


TETURA – FGV-2017-ADAPTADA) Se substituíssemos Por eliminação: o advérbio “nunca” atrai o pronome,
os complementos dos verbos abaixo por pronomes pes- teremos próclise (nunca se). Ficamos com B e D. Agora
soais oblíquos enclíticos, a única forma INADEQUADA vamos ao verbo: quem se informa, informa-se sobre
seria: algo = precisa de preposição. A alternativa que tem
preposição presente é a D (do = de+o). Teremos: nun-
a) impregna a vida cotidiana / impregna-a; ca se informam do impacto.
b) entender os debates / entendê-los;
6. (PC-SP - ATENDENTE DE NECROTÉRIO POLICIAL –
c) ganha destaque / ganha-o;
VUNESP-2013) Considerando a substituição da expres-
d) supõe um conhecimento / supõe-lo;
são em destaque por um pronome e as normas da co-
e) marcaram sua história / marcaram-na. locação pronominal, a oração – … que abrem a cabeça
… – equivale, na norma-padrão da língua, a:
Resposta: Letra D a) que abrem-a.
Em “a”: impregna a vida cotidiana / impregna-a = b) que abrem-na.
correta c) que a abrem.
Em “b”: entender os debates / entendê-los = correta d) que lhe abrem.
Em “c”: ganha destaque / ganha-o = correta e) que abrem-lhe.
Em “d”: supõe um conhecimento / supõe-lo =
supõe-no Resposta: Letra C
Em “e”: marcaram sua história / marcaram-na = correta Primeiramente: o “que” atrai o pronome oblíquo, en-
tão teremos que + pronome. Resta-nos identificar se
4. (PC-SP - ATENDENTE DE NECROTÉRIO POLICIAL – o pronome é objeto direto (a) ou indireto (lhe). Vol-
VUNESP-2014) Considerando-se o uso do pronome e temos ao verbo: abrir. Quem abre, abre algo... abre o
a colocação pronominal, a expressão em destaque no quê? Sem preposição! Portanto: objeto direto = que
trecho – ... que cercam o sentido da existência huma- a abrem.
na... – está corretamente substituída pelo pronome, de
acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, na 7. (TST - ANALISTA JUDICIÁRIO - ÁREA APOIO ESPE-
CIALIZADO - ESPECIALIDADE MEDICINA DO TRABA-
alternativa:
LHO – FCC/2012) Aos poucos, contudo, fui chegando à
constatação de que todo perfil de rede social é um retrato
a) ... que cercam-lo...
ideal de nós mesmos.
b) ... que cercam-no... Mantendo-se a correção e a lógica, sem que outra al-
LÍNGUA PORTUGUESA

c)... que o cercam... teração seja feita na frase, o elemento grifado pode ser
d) ... que lhe cercam... substituído por:
e) ... que cercam-lhe...
a) ademais.
Resposta: Letra C b) conquanto.
Correções à frente: c) porquanto.
Em “a”: que cercam-lo = o “que” atrai o pronome (que d) entretanto.
o cercam) e) apesar.

51
Resposta: Letra D 10. (TRT 23.ª REGIÃO-MT - Técnico Judiciário – FCC-
Contudo é uma conjunção adversativa (expressa opo- 2016) Empregam-se todas as formas verbais de acordo
sição). A substituição deve utilizar outra de mesma com a norma culta na seguinte frase:
classificação, para que se mantenha a ideia do perío-
do. A correta é entretanto. a) Para que se mantesse sua autenticidade, o documento
não poderia receber qualquer tipo de retificação.
8. (TRT 23.ª REGIÃO-MT - ANALISTA JUDICIÁRIO - b) Os documentos com assinatura digital disporam de
ÁREA ADMINISTRATIVA- FCC-2016) algoritmos de criptografia que os protegeram.
... para quem Manoel de Barros era comparável a São c) Arquivados eletronicamente, os documentos poderam
Francisco de Assis... contar com a proteção de uma assinatura digital.
d) Quem se propor a alterar um documento criptografa-
O verbo flexionado nos mesmos tempo e modo que o da do deve saber que comprometerá sua integridade.
frase acima está em: e) Não é possível fazer as alterações que convierem sem
comprometer a integridade dos documentos.
a) Dizia-se um “vedor de cinema”...
b) Porque não seria certo ficar pregando moscas no Resposta: Letra E
espaço... Em “a”, Para que se mantesse (mantivesse) sua auten-
c) Na juventude, apaixonou-se por Arthur Rimbaud e ticidade, o documento não poderia receber qualquer
Charles Baudelaire. tipo de retificação.
d) Quase meio século separa a estreia de Manoel de Bar- Em “b”, Os documentos com assinatura digital dispo-
ros na literatura... ram (dispuseram) de algoritmos de criptografia que os
e) ... para depois casá-las... protegeram.
Em “c”, Arquivados eletronicamente, os documentos
Resposta: Letra A poderam (puderam) contar com a proteção de uma
“Era” = verbo “ser” no pretérito imperfeito do Indicati- assinatura digital.
Em “d”, Quem se propor (propuser) a alterar um docu-
vo. Procuremos nos itens:
mento criptografado deve saber que comprometerá
Em “a”, Dizia-se = pretérito imperfeito do Indicativo
sua integridade.
Em “b”, Porque não seria = futuro do pretérito do
Em “e”, Não é possível fazer as alterações que convie-
Indicativo
rem sem comprometer a integridade dos documentos
Em “c”, Na juventude, apaixonou-se = pretérito perfei-
= correta
to do Indicativo
Em “d”, Quase meio século separa = presente do
11. (POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO -
Indicativo
SOLDADO PM 2.ª CLASSE – VUNESP/2017) Considere
Em “e”, para depois casá-las = Infinitivo pessoal (casar
as seguintes frases:
elas)
Primeiro, associe suas memórias com objetos físicos.
Segundo, não memorize apenas por repetição.
9. (TRT 20.ª REGIÃO-SE - TÉCNICO JUDICIÁRIO Terceiro, rabisque!
– FCC-2016)
Precisamos de um treinador que nos ajude a comer... Um verbo flexionado no mesmo modo que o dos verbos
O verbo flexionado nos mesmos tempo e modo que o empregados nessas frases está em destaque em:
sublinhado acima está também sublinhado em:
a) ... o acesso rápido e a quantidade de textos fazem
a) ... assim que conseguissem se virar sem as mães ou as com que o cérebro humano não considere útil gravar
amas... esses dados...
b) Não é por acaso que proliferaram os coaches. b) Na internet, basta um clique para vasculhar um sem-
c) ... país que transformou a infância numa bilionária in- -número de informações.
dústria de consumo... c) ... após discar e fazer a ligação, não precisamos mais
d) E, mesmo que se esforcem muito... dele...
e) Hoje há algo novo nesse cenário. d) Pense rápido: qual o número de telefone da casa em
que morou quando era criança?
Resposta: Letra D e) É o que mostra também uma pesquisa recente con-
que nos ajude = presente do Subjuntivo duzida pela empresa de segurança digital Kaspersky...
LÍNGUA PORTUGUESA

Em “a”, que conseguissem = pretérito do Subjuntivo


Em “b”, que proliferaram = pretérito perfeito (e tam- Resposta: Letra D
bém mais-que-perfeito) do Indicativo Os verbos das frases citadas estão no Modo Imperati-
Em “c”, que transformou = pretérito perfeito do vo (expressam ordem). Vamos aos itens:
Indicativo Em “a”, ... o acesso rápido e a quantidade de textos
Em “d”, que se esforcem = presente do Subjuntivo fazem = presente do Indicativo
Em “e”, há algo novo nesse cenário = presente do Em “b”, Na internet, basta um clique = presente do
Indicativo Indicativo

52
Em “c”, ... após discar e fazer a ligação, não precisamos Resposta: Letra B
= presente do Indicativo O termo “oposição” é classificado – morfologicamente
Em “d”, Pense rápido: = Imperativo – como substantivo abstrato, pois não existe por si só
Em “e”, É o que mostra também uma pesquisa = pre- – depende de outro ser para “se concretizar”.
sente do Indicativo

12. (PC-SP - ATENDENTE DE NECROTÉRIO POLICIAL CONCORDÂNCIA NOMINAL E VERBAL


– VUNESP-2014) Assinale a alternativa em que a pala- E SUA RELAÇÃO COM AS VARIEDADES
vra em destaque na frase pertence à classe dos adjetivos LINGUÍSTICAS
(palavra que qualifica um substantivo).

a) Existe grande confusão entre os diversos tipos de Os concurseiros estão apreensivos.


eutanásia... Concurseiros apreensivos.
b)... o médico ou alguém causa ativamente a morte...
c) prolonga o processo de morrer procurando distanciar No primeiro exemplo, o verbo estar se encontra na
a morte. terceira pessoa do plural, concordando com o seu su-
d) Ela é proibida por lei no Brasil,... jeito, os concurseiros. No segundo exemplo, o adjetivo
e) E como seria a verdadeira boa morte? “apreensivos” está concordando em gênero (masculino)
e número (plural) com o substantivo a que se refere: con-
Resposta: Letra E curseiros. Nesses dois exemplos, as flexões de pessoa,
Em “a”, Existe grande confusão = substantivo número e gênero se correspondem. A correspondência
Em “b”, o médico ou alguém causa ativamente a mor- de flexão entre dois termos é a concordância, que pode
te = pronome ser verbal ou nominal.
Em “c”, prolonga o processo de morrer procurando
distanciar a morte = substantivo Concordância Verbal
Em “d”, Ela é proibida por lei no Brasil = substantivo
Em “e”, E como seria a verdadeira boa morte? = É a flexão que se faz para que o verbo concorde com
adjetivo seu sujeito.

13. (PROCESSO SELETIVO INTERNO DA SECRETARIA Sujeito Simples - Regra Geral


DE DEFESA SOCIAL DO ESTADO DE PERNAMBUCO-PE
– SARGENTO DA POLÍCIA MILITAR - FM-2010) O sujeito, sendo simples, com ele concordará o verbo
em número e pessoa. Veja os exemplos:

A prova para ambos os cargos será aplicada às 13h.


3.ª p. Singular 3.ª p. Singular

Os candidatos à vaga chegarão às 12h.


3.ª p. Plural 3.ª p. Plural

Casos Particulares

A) Quando o sujeito é formado por uma expressão


partitiva (parte de, uma porção de, o grosso de,
metade de, a maioria de, a maior parte de, grande
parte de...) seguida de um substantivo ou pronome
no plural, o verbo pode ficar no singular ou no
plural.
A maioria dos jornalistas aprovou / aprovaram a ideia.
Disponível em: http://www.acharge.com.br/index.htm Metade dos candidatos não apresentou / apresenta-
(acesso: 03/03/2010) ram proposta.
LÍNGUA PORTUGUESA

A palavra “oposição”, da charge, é classificada morfolo- Esse mesmo procedimento pode se aplicar aos casos
gicamente como: dos coletivos, quando especificados: Um bando de vân-
dalos destruiu / destruíram o monumento.
a) Substantivo concreto.
b) Substantivo abstrato. Observação:
c) Substantivo coletivo. Nesses casos, o uso do verbo no singular enfatiza a
d) Substantivo próprio. unidade do conjunto; já a forma plural confere destaque
e) Adjetivo. aos elementos que formam esse conjunto.

53
B) Quando o sujeito é formado por expressão que 25% querem a mudança.
indica quantidade aproximada (cerca de, mais de, 1% conhece o assunto.
menos de, perto de...) seguida de numeral e subs-
tantivo, o verbo concorda com o substantivo. • Se o número percentual estiver determinado por ar-
Cerca de mil pessoas participaram do concurso. tigo ou pronome adjetivo, a concordância far-se-á
Perto de quinhentos alunos compareceram à com eles:
solenidade. Os 30% da produção de soja serão exportados.
Mais de um atleta estabeleceu novo recorde nas últi- Esses 2% da prova serão questionados.
mas Olimpíadas.
F) O pronome “que” não interfere na concordância;
Observação: já o “quem” exige que o verbo fique na 3.ª pessoa
Quando a expressão “mais de um” se associar a ver- do singular.
bos que exprimem reciprocidade, o plural é obrigatório: Fui eu que paguei a conta.
Mais de um colega se ofenderam na discussão. (ofende- Fomos nós que pintamos o muro.
ram um ao outro) És tu que me fazes ver o sentido da vida.
Sou eu quem faz a prova.
C) Quando se trata de nomes que só existem no Não serão eles quem será aprovado.
plural, a concordância deve ser feita levando-se
em conta a ausência ou presença de artigo. Sem G) Com a expressão “um dos que”, o verbo deve as-
artigo, o verbo deve ficar no singular; com artigo sumir a forma plural.
no plural, o verbo deve ficar o plural. Ademir da Guia foi um dos jogadores que mais encan-
Os Estados Unidos possuem grandes universidades. taram os poetas.
Estados Unidos possui grandes universidades. Este candidato é um dos que mais estudaram!
Alagoas impressiona pela beleza das praias.
As Minas Gerais são inesquecíveis. • Se a expressão for de sentido contrário – nenhum
Minas Gerais produz queijo e poesia de primeira. dos que, nem um dos que -, não aceita o verbo no
singular:
D) Quando o sujeito é um pronome interrogativo ou Nenhum dos que foram aprovados assumirá a vaga.
indefinido plural (quais, quantos, alguns, poucos, Nem uma das que me escreveram mora aqui.
muitos, quaisquer, vários) seguido por “de nós” ou
“de vós”, o verbo pode concordar com o primeiro • Quando “um dos que” vem entremeada de substan-
pronome (na terceira pessoa do plural) ou com o tivo, o verbo pode:
pronome pessoal. 1. ficar no singular – O Tietê é um dos rios que atraves-
Quais de nós são / somos capazes? sa o Estado de São Paulo. (já que não há outro rio
Alguns de vós sabiam / sabíeis do caso? que faça o mesmo).
Vários de nós propuseram / propusemos sugestões 2. ir para o plural – O Tietê é um dos rios que estão po-
inovadoras. luídos (noção de que existem outros rios na mesma
condição).
Observação:
Veja que a opção por uma ou outra forma indica a H) Quando o sujeito é um pronome de tratamento, o
inclusão ou a exclusão do emissor. Quando alguém diz verbo fica na 3ª pessoa do singular ou plural.
ou escreve “Alguns de nós sabíamos de tudo e nada fize- Vossa Excelência está cansado?
mos”, ele está se incluindo no grupo dos omissos. Isso Vossas Excelências renunciarão?
não ocorre ao dizer ou escrever “Alguns de nós sabiam de
tudo e nada fizeram”, frase que soa como uma denúncia. I) A concordância dos verbos bater, dar e soar faz-se
Nos casos em que o interrogativo ou indefinido esti- de acordo com o numeral.
ver no singular, o verbo ficará no singular. Deu uma hora no relógio da sala.
Qual de nós é capaz? Deram cinco horas no relógio da sala.
Algum de vós fez isso. Soam dezenove horas no relógio da praça.
Baterão doze horas daqui a pouco.
E) Quando o sujeito é formado por uma expressão
que indica porcentagem seguida de substantivo, o Observação:
verbo deve concordar com o substantivo. Caso o sujeito da oração seja a palavra relógio, sino,
25% do orçamento do país será destinado à Educação. torre, etc., o verbo concordará com esse sujeito.
LÍNGUA PORTUGUESA

85% dos entrevistados não aprovam a administração O tradicional relógio da praça matriz dá nove horas.
do prefeito. Soa quinze horas o relógio da matriz.
1% do eleitorado aceita a mudança.
1% dos alunos faltaram à prova. J) Verbos Impessoais: por não se referirem a nenhum
sujeito, são usados sempre na 3.ª pessoa do sin-
• Quando a expressão que indica porcentagem não gular. São verbos impessoais: Haver no sentido de
é seguida de substantivo, o verbo deve concordar existir; Fazer indicando tempo; Aqueles que indi-
com o número. cam fenômenos da natureza. Exemplos:

54
Havia muitas garotas na festa. Com você, meu amor, uma hora, um minuto, um se-
Faz dois meses que não vejo meu pai. gundo me satisfaz.
Chovia ontem à tarde.
• Quando os núcleos do sujeito composto são unidos
Sujeito Composto por “ou” ou “nem”, o verbo deverá ficar no plural,
de acordo com o valor semântico das conjunções:
A) Quando o sujeito é composto e anteposto ao ver- Drummond ou Bandeira representam a essência da
bo, a concordância se faz no plural: poesia brasileira.
Nem o professor nem o aluno acertaram a resposta.
Pai e filho conversavam longamente.
Sujeito Em ambas as orações, as conjunções dão ideia de
“adição”. Já em:
Pais e filhos devem conversar com frequência. Juca ou Pedro será contratado.
Sujeito Roma ou Buenos Aires será a sede da próxima
Olimpíada.
B) Nos sujeitos compostos formados por pessoas
gramaticais diferentes, a concordância ocorre da Temos ideia de exclusão, por isso os verbos ficam
seguinte maneira: a primeira pessoa do plural (nós) no singular.
prevalece sobre a segunda pessoa (vós) que, por
sua vez, prevalece sobre a terceira (eles). Veja: • Com as expressões “um ou outro” e “nem um
Teus irmãos, tu e eu tomaremos a decisão. nem outro”, a concordância costuma ser feita no
Primeira Pessoa do Plural (Nós) singular.
Um ou outro compareceu à festa.
Tu e teus irmãos tomareis a decisão. Nem um nem outro saiu do colégio.
Segunda Pessoa do Plural (Vós)
• Com “um e outro”, o verbo pode ficar no plural ou
no singular: Um e outro farão/fará a prova.
Pais e filhos precisam respeitar-se.
Terceira Pessoa do Plural (Eles)
• Quando os núcleos do sujeito são unidos por “com”,
o verbo fica no plural. Nesse caso, os núcleos re-
Observação:
cebem um mesmo grau de importância e a palavra
Quando o sujeito é composto, formado por um ele-
“com” tem sentido muito próximo ao de “e”.
mento da segunda pessoa (tu) e um da terceira (ele), é
O pai com o filho montaram o brinquedo.
possível empregar o verbo na terceira pessoa do plural
O governador com o secretariado traçaram os planos
(eles): “Tu e teus irmãos tomarão a decisão.” – no lugar
para o próximo semestre.
de “tomaríeis”.
O professor com o aluno questionaram as regras.
C) No caso do sujeito composto posposto ao verbo, Nesse mesmo caso, o verbo pode ficar no singular, se
passa a existir uma nova possibilidade de concor- a ideia é enfatizar o primeiro elemento.
dância: em vez de concordar no plural com a tota- O pai com o filho montou o brinquedo.
lidade do sujeito, o verbo pode estabelecer con- O governador com o secretariado traçou os planos
cordância com o núcleo do sujeito mais próximo. para o próximo semestre.
Faltaram coragem e competência. O professor com o aluno questionou as regras.
Faltou coragem e competência.
Compareceram todos os candidatos e o banca. Com o verbo no singular, não se pode falar em sujeito
Compareceu o banca e todos os candidatos. composto. O sujeito é simples, uma vez que as expres-
sões “com o filho” e “com o secretariado” são adjuntos
D) Quando ocorre ideia de reciprocidade, a concor- adverbiais de companhia. Na verdade, é como se hou-
dância é feita no plural. Observe: vesse uma inversão da ordem. Veja:
Abraçaram-se vencedor e vencido. “O pai montou o brinquedo com o filho.”
Ofenderam-se o jogador e o árbitro. “O governador traçou os planos para o próximo semes-
tre com o secretariado.”
Casos Particulares “O professor questionou as regras com o aluno.”
LÍNGUA PORTUGUESA

• Quando o sujeito composto é formado por núcleos Casos em que se usa o verbo no singular:
sinônimos ou quase sinônimos, o verbo fica no
singular. Café com leite é uma delícia!
Descaso e desprezo marca seu comportamento. O frango com quiabo foi receita da vovó.
A coragem e o destemor fez dele um herói. Quando os núcleos do sujeito são unidos por ex-
pressões correlativas como: “não só... mas ainda”, “não
• Quando o sujeito composto é formado por núcleos somente”..., “não apenas... mas também”, “tanto...quanto”,
dispostos em gradação, verbo no singular: o verbo ficará no plural.

55
Não só a seca, mas também o pouco caso castigam o O Verbo “Ser”
Nordeste.
Tanto a mãe quanto o filho ficaram surpresos com a A concordância verbal dá-se sempre entre o verbo e o
notícia. sujeito da oração. No caso do verbo ser, essa concordân-
cia pode ocorrer também entre o verbo e o predicativo
Quando os elementos de um sujeito composto são do sujeito.
resumidos por um aposto recapitulativo, a concordância
é feita com esse termo resumidor.
Filmes, novelas, boas conversas, nada o tirava da Quando o sujeito ou o predicativo for:
apatia.
Trabalho, diversão, descanso, tudo é muito importante A) Nome de pessoa ou pronome pessoal – o verbo
na vida das pessoas. SER concorda com a pessoa gramatical:
Ele é forte, mas não é dois.
Outros Casos Fernando Pessoa era vários poetas.
A esperança dos pais são eles, os filhos.
O Verbo e a Palavra “SE”
B) nome de coisa e um estiver no singular e o outro
Dentre as diversas funções exercidas pelo “se”, há no plural, o verbo SER concordará, preferencial-
duas de particular interesse para a concordância verbal: mente, com o que estiver no plural:
A) quando é índice de indeterminação do sujeito;
Os livros são minha paixão!
B) quando é partícula apassivadora.
Minha paixão são os livros!
Quando índice de indeterminação do sujeito, o “se”
acompanha os verbos intransitivos, transitivos indiretos Quando o verbo SER indicar
e de ligação, que obrigatoriamente são conjugados na
terceira pessoa do singular: • horas e distâncias, concordará com a expressão
Precisa-se de funcionários. numérica:
Confia-se em teses absurdas. É uma hora.
São quatro horas.
Quando pronome apassivador, o “se” acompanha Daqui até a escola é um quilômetro / são dois
verbos transitivos diretos (VTD) e transitivos diretos e in- quilômetros.
diretos (VTDI) na formação da voz passiva sintética. Nes-
se caso, o verbo deve concordar com o sujeito da oração.
• datas, concordará com a palavra dia(s), que pode
Exemplos:
Construiu-se um posto de saúde. estar expressa ou subentendida:
Construíram-se novos postos de saúde. Hoje é dia 26 de agosto.
Aqui não se cometem equívocos Hoje são 26 de agosto.
Alugam-se casas.
• Quando o sujeito indicar peso, medida, quantida-
de e for seguido de palavras ou expressões como
#FicaDica pouco, muito, menos de, mais de, etc., o verbo SER
Para saber se o “se” é partícula apassivadora fica no singular:
ou índice de indeterminação do sujeito, ten- Cinco quilos de açúcar é mais do que preciso.
te transformar a frase para a voz passiva. Se Três metros de tecido é pouco para fazer seu vestido.
a frase construída for “compreensível”, esta- Duas semanas de férias é muito para mim.
remos diante de uma partícula apassivadora;
se não, o “se” será índice de indeterminação. • Quando um dos elementos (sujeito ou predicativo)
Veja: for pronome pessoal do caso reto, com este con-
Precisa-se de funcionários qualificados. cordará o verbo.
Tentemos a voz passiva: No meu setor, eu sou a única mulher.
Funcionários qualificados são precisados (ou Aqui os adultos somos nós.
precisos)? Não há lógica. Portanto, o “se”
destacado é índice de indeterminação do Observação:
sujeito. Sendo ambos os termos (sujeito e predicativo) repre-
Agora: sentados por pronomes pessoais, o verbo concorda com
Vendem-se casas. o pronome sujeito.
LÍNGUA PORTUGUESA

Voz passiva: Casas são vendidas. Constru- Eu não sou ela.


ção correta! Então, aqui, o “se” é partícula Ela não é eu.
apassivadora. (Dá para eu passar para a voz
passiva. Repare em meu destaque. Percebeu • Quando o sujeito for uma expressão de sentido par-
semelhança? Agora é só memorizar!). titivo ou coletivo e o predicativo estiver no plural, o
verbo SER concordará com o predicativo.
A grande maioria no protesto eram jovens.
O resto foram atitudes imaturas.

56
O Verbo “Parecer” Se os substantivos possuírem o mesmo gênero, o ad-
O verbo parecer, quando é auxiliar em uma lo- jetivo fica no singular ou plural.
cução verbal (é seguido de infinitivo), admite duas A beleza e a inteligência feminina(s).
concordâncias: O carro e o iate novo(s).

• Ocorre variação do verbo PARECER e não se flexiona C) Expressões formadas pelo verbo SER + adjetivo:
o infinitivo: As crianças parecem gostar do desenho. O adjetivo fica no masculino singular, se o substanti-
vo não for acompanhado de nenhum modificador: Água
• A variação do verbo parecer não ocorre e o infinitivo
sofre flexão: é bom para saúde.
As crianças parece gostarem do desenho. O adjetivo concorda com o substantivo, se este for
(essa frase equivale a: Parece gostarem do desenho modificado por um artigo ou qualquer outro determina-
aas crianças) tivo: Esta água é boa para saúde.

Com orações desenvolvidas, o verbo PARECER fica no D) O adjetivo concorda em gênero e número com os
singular. Por exemplo: As paredes parece que têm ouvidos. pronomes pessoais a que se refere: Juliana encon-
(Parece que as paredes têm ouvidos = oração subordina- trou-as muito felizes.
da substantiva subjetiva).
E) Nas expressões formadas por pronome indefinido
Concordância Nominal neutro (nada, algo, muito, tanto, etc.) + preposi-
ção DE + adjetivo, este último geralmente é usado
A concordância nominal se baseia na relação entre no masculino singular: Os jovens tinham algo de
nomes (substantivo, pronome) e as palavras que a eles
misterioso.
se ligam para caracterizá-los (artigos, adjetivos, prono-
mes adjetivos, numerais adjetivos e particípios). Lem-
bre-se: normalmente, o substantivo funciona como nú- F) A palavra “só”, quando equivale a “sozinho”, tem
cleo de um termo da oração, e o adjetivo, como adjunto função adjetiva e concorda normalmente com o
adnominal. nome a que se refere:
A concordância do adjetivo ocorre de acordo com as Cristina saiu só.
seguintes regras gerais: Cristina e Débora saíram sós.
A) O adjetivo concorda em gênero e número quando
se refere a um único substantivo: As mãos trêmulas Observação:
denunciavam o que sentia. Quando a palavra “só” equivale a “somente” ou “ape-
B) Quando o adjetivo refere-se a vários substantivos, nas”, tem função adverbial, ficando, portanto, invariável:
a concordância pode variar. Podemos sistematizar Eles só desejam ganhar presentes.
essa flexão nos seguintes casos:

• Adjetivo anteposto aos substantivos: #FicaDica


O adjetivo concorda em gênero e número com o
substantivo mais próximo. Substitua o “só” por “apenas” ou “sozinho”.
Encontramos caídas as roupas e os prendedores. Se a frase ficar coerente com o primeiro,
Encontramos caída a roupa e os prendedores. trata-se de advérbio, portanto, invariável; se
Encontramos caído o prendedor e a roupa. houver coerência com o segundo, função de
adjetivo, então varia:
Caso os substantivos sejam nomes próprios ou de Ela está só. (ela está sozinha) – adjetivo
parentesco, o adjetivo deve sempre concordar no plural. Ele está só descansando. (apenas
As adoráveis Fernanda e Cláudia vieram me visitar. descansando) - advérbio
Encontrei os divertidos primos e primas na festa.

• Adjetivo posposto aos substantivos: Mas cuidado! Se colocarmos uma vírgula depois de
O adjetivo concorda com o substantivo mais próximo “só”, haverá, novamente, um adjetivo:
ou com todos eles (assumindo a forma masculina plural Ele está só, descansando. (ele está sozinho e
se houver substantivo feminino e masculino). descansando)
A indústria oferece localização e atendimento perfeito.
A indústria oferece atendimento e localização perfeita. G) Quando um único substantivo é modificado por
A indústria oferece localização e atendimento perfeitos.
LÍNGUA PORTUGUESA

dois ou mais adjetivos no singular, podem ser usa-


A indústria oferece atendimento e localização perfeitos.
das as construções:
Observação: • O substantivo permanece no singular e coloca-se o
Os dois últimos exemplos apresentam maior clareza, artigo antes do último adjetivo: Admiro a cultura
pois indicam que o adjetivo efetivamente se refere aos espanhola e a portuguesa.
dois substantivos. Nesses casos, o adjetivo foi flexionado • O substantivo vai para o plural e omite-se o artigo
no plural masculino, que é o gênero predominante quan- antes do adjetivo: Admiro as culturas espanhola e
do há substantivos de gêneros diferentes. portuguesa.

57
Casos Particulares Os concurseiros estão sempre alerta.
Não queira menos matéria!
É proibido - É necessário - É bom - É preciso - É
permitido REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Co-
• Estas expressões, formadas por um verbo mais um char. Português linguagens: volume 3 – 7.ª ed. Reform.
adjetivo, ficam invariáveis se o substantivo a que se – São Paulo: Saraiva, 2010.
referem possuir sentido genérico (não vier prece- SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
dido de artigo). Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
É proibido entrada de crianças. AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras:
Em certos momentos, é necessário atenção. literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000.
No verão, melancia é bom.
É preciso cidadania. SITE
Não é permitido saída pelas portas laterais. Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/se-
coes/sint/sint49.php>
• Quando o sujeito destas expressões estiver determi-
nado por artigos, pronomes ou adjetivos, tanto o
verbo como o adjetivo concordam com ele. EXERCÍCIOS COMENTADOS
É proibida a entrada de crianças.
Esta salada é ótima. 1. (BANCO DA AMAZÔNIA – TÉCNICO BANCÁRIO –
A educação é necessária. CESGRANRIO-2018) A forma verbal em destaque está
São precisas várias medidas na educação. empregada de acordo com a norma-padrão em:
Anexo - Obrigado - Mesmo - Próprio - Incluso a) Atualmente, comercializa-se diferentes criptomoedas
- Quite mas a bitcoin é a mais conhecida de todas as moedas
Estas palavras adjetivas concordam em gênero e nú- virtuais.
mero com o substantivo ou pronome a que se referem. b) A especulação e o comércio ilegal, de acordo com al-
Seguem anexas as documentações requeridas. guns analistas, pode tornar as bitcoins inviáveis.
A menina agradeceu: - Muito obrigada. c) As notícias informam que até hoje, em nenhuma par-
Muito obrigadas, disseram as senhoras. te do mundo, se substituíram totalmente as moedas
Seguem inclusos os papéis solicitados. reais pelas virtuais.
Estamos quites com nossos credores. d) De acordo com as regras do mercado financeiro,
criou-se apenas 21 milhões de bitcoins nos últimos
Bastante - Caro - Barato - Longe anos.
Estas palavras são invariáveis quando funcionam e) O valor dos produtos comercializados seriam determi-
como advérbios. Concordam com o nome a que se refe- nados por uma moeda virtual se a real fosse abolida.
rem quando funcionam como adjetivos, pronomes adje-
tivos, ou numerais. Resposta: Letra C
As jogadoras estavam bastante cansadas. (advérbio) Em “a”: Atualmente, comercializam-se diferentes
Há bastantes pessoas insatisfeitas com o trabalho. criptomoedas mas a bitcoin é a mais conhecida de
(pronome adjetivo) todas as moedas virtuais.
Nunca pensei que o estudo fosse tão caro. (advérbio) Em “b”: A especulação e o comércio ilegal, de acor-
As casas estão caras. (adjetivo) do com alguns analistas, podem tornar as bitcoins
Achei barato este casaco. (advérbio) inviáveis.
Hoje as frutas estão baratas. (adjetivo) Em “c”: As notícias informam que até hoje, em nenhu-
ma parte do mundo, se substituíram totalmente as
Meio - Meia moedas reais pelas virtuais. = correta
A palavra “meio”, quando empregada como adjetivo, Em “d”: De acordo com as regras do mercado finan-
concorda normalmente com o nome a que se refere: Pedi ceiro, criaram-se apenas 21 milhões de bitcoins nos
meia porção de polentas. últimos anos.
Quando empregada como advérbio permanece inva- Em “e”: O valor dos produtos comercializados seria
riável: A candidata está meio nervosa. determinado por uma moeda virtual se a real fosse
abolida.

#FicaDica 2. (LIQUIGÁS – MOTORISTA DE CAMINHÃO GRANEL


I – CESGRANRIO-2018) A concordância da palavra des-
Dá para eu substituir por “um pouco”, assim tacada atende às exigências da norma-padrão da língua
LÍNGUA PORTUGUESA

saberei que se trata de um advérbio, não portuguesa em:


de adjetivo: “A candidata está um pouco
nervosa”. a) Alimentos saudáveis e prática constante de exercí-
cios são necessárias para uma vida longa e mais
equilibrada.
Alerta - Menos b) Inexistência de esgoto em muitas regiões e falta de
Essas palavras são advérbios, portanto, permanecem tratamento adequado da água são causadores de
sempre invariáveis. doenças.

58
c) Notícias falsas e boatos perigosos não deveriam ser Em “d”: É preciso educar as novas gerações para que
reproduzidas nas redes sociais da forma como acon- se reduza (reduzam) os comportamentos compulsivos
tece hoje. relacionados ao uso das novas tecnologias.
d) Plantas da caatinga e frutos pouco conhecidos da Re- Em “e”: Nos países mais industrializados, comprovou-
gião Nordeste foram elogiados por suas proprieda- -se (comprovaram-se) os danos psicológicos e o con-
des alimentares. sumismo exagerado causados pelo vício da tecnologia.
e) Profissionais dedicados e pesquisas constantes preci-
4. (IBGE – AGENTE CENSITÁRIO – ADMINISTRATIVO –
sam ser estimuladas para que se avance na cura de
FGV-2017) Observe os seguintes casos de concordância
algumas doenças.
nominal retirados do texto 1:
1. A democracia reclama um jornalismo vigoroso e
Resposta: Letra D independente.
Em “a”: Alimentos saudáveis e prática constante de 2. A agenda pública é determinada pela imprensa
exercícios são necessárias (necessários) para uma vida tradicional.
longa e mais equilibrada. 3. Mas o pontapé inicial é sempre das empresas de conteú-
Em “b”: Inexistência de esgoto em muitas regiões e fal- do independentes.
ta de tratamento adequado da água são causadores
(causadoras) de doenças. A afirmação correta sobre essas concordâncias é:
Em “c”: Notícias falsas e boatos perigosos não deve-
riam ser reproduzidas (reproduzidos) nas redes sociais a) os dois adjetivos da frase (1) referem-se, respectiva-
da forma como acontece hoje. mente a ‘democracia’ e ‘jornalismo’;
Em “d”: Plantas da caatinga e frutos pouco conhecidos b) os adjetivos da frase (1) deveriam estar no plural por
da Região Nordeste foram elogiados por suas pro- referirem-se a dois substantivos;
c) na frase (2), a forma de particípio ‘determinada’ se re-
priedades alimentares = correta
fere a ‘imprensa’;
Em “e”: Profissionais dedicados e pesquisas constantes d) na frase (3), o adjetivo ‘independentes’ está correta-
precisam ser estimuladas (estimulados) para que se mente no plural por referir-se a ‘empresas’;
avance na cura de algumas doenças. e) na frase (3), o adjetivo ‘independentes’ deveria estar
no singular por referir-se ao substantivo ‘conteúdo’.
3. (PETROBRAS – ADMINISTRADOR JÚNIOR – CES-
GRANRIO-2018) A concordância do verbo destacado foi Resposta: Letra D
realizada de acordo com as exigências da norma-padrão 1. A democracia reclama um jornalismo vigoroso e
da língua portuguesa em: independente.
2. A agenda pública é determinada pela imprensa
a) Com a corrida desenfreada pelas versões mais atuais tradicional.
dos smartphones, evidenciou-se atitudes agressivas e 3. Mas o pontapé inicial é sempre das empresas de con-
violentas por parte dos usuários. teúdo independentes.
b) Devido à utilização de estratégias de marketing, de- Em “a”: os dois adjetivos da frase (1) referem-se, res-
senvolveu-se, entre os jovens, a ideia de que a posse pectivamente a ‘democracia’ e ‘jornalismo’;
A democracia reclama um jornalismo vigoroso e in-
de novos aparelhos eletrônicos é garantia de sucesso.
dependente = apenas a “jornalismo”
c) É necessário que se envie a todas as escolas do país ví- Em “b”: os adjetivos da frase (1) deveriam estar no plu-
deos educacionais que permitam esclarecer os jovens ral por referirem-se a dois substantivos;
sobre o vício da tecnologia. A democracia reclama um jornalismo vigoroso e inde-
d) É preciso educar as novas gerações para que se redu- pendente = a um substantivo (jornalismo)
za os comportamentos compulsivos relacionados ao Em “c”: na frase (2), a forma de particípio ‘determina-
uso das novas tecnologias. da’ se refere a ‘imprensa’;
e) Nos países mais industrializados, comprovou-se os A agenda pública é determinada pela imprensa tra-
danos psicológicos e o consumismo exagerado causa- dicional = refere-se ao termo “agenda pública”
dos pelo vício da tecnologia. Em “d”: na frase (3), o adjetivo ‘independentes’ está
corretamente no plural por referir-se a ‘empresas’;
Resposta: Letra B Mas o pontapé inicial é sempre das empresas de con-
Em “a”: Com a corrida desenfreada pelas versões mais teúdo independentes = correta
atuais dos smartphones, evidenciou-se (evidencia- Em “e”: na frase (3), o adjetivo ‘independentes’ deveria
estar no singular por referir-se ao substantivo ‘conteú-
ram-se) atitudes agressivas e violentas por parte dos
do’ = incorreta (refere-se a “empresas”)
LÍNGUA PORTUGUESA

usuários.
Em “b”: Devido à utilização de estratégias de marke- 5. (MPU – ANALISTA DO MPU – CESPE-2015)
ting, desenvolveu-se, entre os jovens, a ideia de que
a posse de novos aparelhos eletrônicos é garantia de Texto I
sucesso = correta
Em “c”: É necessário que se envie (enviem) a todas as Na organização do poder político no Estado moderno,
escolas do país vídeos educacionais que permitam es- à luz da tradição iluminista, o direito tem por função a
clarecer os jovens sobre o vício da tecnologia. preservação da liberdade humana, de maneira a coibir

59
a desordem do estado de natureza, que, em virtude do Resposta: Letra C
risco da dominação dos mais fracos pelos mais fortes, Esses alunos que são usuários constantes de redes so-
exige a existência de um poder institucional. Mas a con- ciais têm um risco 27% maior de desenvolver depressão
quista da liberdade humana também reclama a distri- Em: ( ) Caso os termos ‘Esses alunos’ fosse passado
buição do poder em ramos diversos, com a disposição para o singular, outras quatro palavras deveriam sofrer
de meios que assegurem o controle recíproco entre eles ajustes para fins de concordância.
para o advento de um cenário de equilíbrio e harmonia
nas sociedades estatais. A concentração do poder em um Esse aluno que é usuário constante de redes sociais
só órgão ou pessoa viria sempre em detrimento do exer- tem um risco 27% maior de desenvolver depressão
cício da liberdade. É que, como observou Montesquieu, = (verdadeira = haveria quatro alterações)
“todo homem que tem poder tende a abusar dele; ele vai Em: ( ) Mais da metade dos alunos que usam redes
até onde encontra limites. Para que não se possa abusar sociais podem ficar deprimidos.
do poder, é preciso que, pela disposição das coisas, o = falsa (o período em análise não nos transmite tal in-
poder limite o poder”. formação, apenas afirma que usuários constantes têm
Até Montesquieu, não eram identificadas com clareza um risco 27% maior que os demais)
as esferas de abrangência dos poderes políticos: “só se Em: ( ) O risco de alunos usuários de redes sociais de-
concebia sua união nas mãos de um só ou, então, sua senvolverem depressão constante extrapola o índice
separação; ninguém se arriscava a apresentar, sob a for- dos 27%.
ma de sistema coerente, as consequências de conceitos = Falsa (“depressão constante” altera o sentido do
diversos”. Pensador francês do século XVIII, Montesquieu período)
situa-se entre o racionalismo cartesiano e o empirismo
de origem baconiana, não abandonando o rigor das
certezas matemáticas em suas certezas morais. Porém,
refugindo às especulações metafísicas que, no plano da REGÊNCIA NOMINAL E VERBAL, EM
idealidade, serviram aos filósofos do pacto social para a CONFORMIDADE COM A VARIEDADE
explicação dos fundamentos do Estado ou da sociedade PADRÃO DA LÍNGUA, EM SITUAÇÕES DE
civil, ele procurou ingressar no terreno dos fatos. USO
Fernanda Leão de Almeida. A garantia institucional do
Ministério Público em função da proteção dos direitos
humanos. Tese de doutorado. São Paulo: USP, 2010, p. Dá-se o nome de regência à relação de subordina-
18-9. Internet: <www.teses.usp.br> (com adaptações). ção que ocorre entre um verbo (regência verbal) ou um
nome (regência nominal) e seus complementos.
A flexão plural em “eram identificadas” decorre da con-
cordância com o sujeito dessa forma verbal: “as esferas Regência Verbal = Termo Regente: VERBO
de abrangência dos poderes políticos”.
A regência verbal estuda a relação que se estabele-
( ) CERTO ( ) ERRADO
ce entre os verbos e os termos que os complementam
Resposta: Certo (objetos diretos e objetos indiretos) ou caracterizam (ad-
(...) Até Montesquieu, não eram identificadas com cla- juntos adverbiais). Há verbos que admitem mais de uma
reza as esferas de abrangência dos poderes políticos regência, o que corresponde à diversidade de significa-
= passando o período para a ordem direta (sujeito + dos que estes verbos podem adquirir dependendo do
verbo), temos: Até Montesquieu, as esferas de abran- contexto em que forem empregados.
gência dos poderes políticos não eram identificadas
com clareza. A mãe agrada o filho = agradar significa acariciar,
contentar.
6. (PC-RS – ESCRIVÃO e Inspetor de Polícia – Funda- A mãe agrada ao filho = agradar significa “causar
tec-2018 - adaptada) Sobre a frase “Esses alunos que agrado ou prazer”, satisfazer.
são usuários constantes de redes sociais têm um risco 27%
maior de desenvolver depressão”, avalie as assertivas que Conclui-se que “agradar alguém” é diferente de
seguem, assinalando V, se verdadeiras, ou F, se falsas. “agradar a alguém”.
( ) Caso os termos ‘Esses alunos’ fosse passado para o
singular, outras quatro palavras deveriam sofrer ajustes O conhecimento do uso adequado das preposições
para fins de concordância. é um dos aspectos fundamentais do estudo da regência
( ) Mais da metade dos alunos que usam redes sociais
verbal (e também nominal). As preposições são capazes
podem ficar deprimidos.
de modificar completamente o sentido daquilo que está
( ) O risco de alunos usuários de redes sociais desenvol-
verem depressão constante extrapola o índice dos 27%. sendo dito.
LÍNGUA PORTUGUESA

A ordem correta de preenchimento dos parênteses, de Cheguei ao metrô.


cima para baixo, é: Cheguei no metrô.

a) V – V – V. No primeiro caso, o metrô é o lugar a que vou; no


b) F – V – F. segundo caso, é o meio de transporte por mim utilizado.
c) V – F – F.
d) F – F – V. A voluntária distribuía leite às crianças.
e) F – F – F. A voluntária distribuía leite com as crianças.

60
Na primeira frase, o verbo “distribuir” foi emprega- Prejudicaram-lhe a carreira. (= prejudicaram sua
do como transitivo direto (objeto direto: leite) e indireto carreira)
(objeto indireto: às crianças); na segunda, como transiti- Conheço-lhe o mau humor! (= conheço seu mau
vo direto (objeto direto: crianças; com as crianças: adjun- humor)
to adverbial).
Para estudar a regência verbal, agruparemos os ver- C) Verbos Transitivos Indiretos
bos de acordo com sua transitividade. Esta, porém, não é Os verbos transitivos indiretos são complementados
um fato absoluto: um mesmo verbo pode atuar de dife- por objetos indiretos. Isso significa que esses verbos exi-
rentes formas em frases distintas. gem uma preposição para o estabelecimento da relação
de regência. Os pronomes pessoais do caso oblíquo de
A) Verbos Intransitivos terceira pessoa que podem atuar como objetos indire-
Os verbos intransitivos não possuem complemento. É tos são o “lhe”, o “lhes”, para substituir pessoas. Não se
importante, no entanto, destacar alguns detalhes relativos utilizam os pronomes o, os, a, as como complementos
aos adjuntos adverbiais que costumam acompanhá-los. de verbos transitivos indiretos. Com os objetos indiretos
que não representam pessoas, usam-se pronomes oblí-
Chegar, Ir quos tônicos de terceira pessoa (ele, ela) em lugar dos
Normalmente vêm acompanhados de adjuntos ad- pronomes átonos lhe, lhes.
verbiais de lugar. Na língua culta, as preposições usadas
para indicar destino ou direção são: a, para. Os verbos transitivos indiretos são os seguintes:
Consistir - Tem complemento introduzido pela pre-
Fui ao teatro. posição “em”: A modernidade verdadeira consiste em di-
Adjunto Adverbial de Lugar reitos iguais para todos.

Ricardo foi para a Espanha. Obedecer e Desobedecer - Possuem seus comple-


Adjunto Adverbial de Lugar mentos introduzidos pela preposição “a”:
Devemos obedecer aos nossos princípios e ideais.
Comparecer Eles desobedeceram às leis do trânsito.
O adjunto adverbial de lugar pode ser introduzido
por em ou a. Responder - Tem complemento introduzido pela
Comparecemos ao estádio (ou no estádio) para ver o preposição “a”. Esse verbo pede objeto indireto para in-
último jogo. dicar “a quem” ou “ao que” se responde.
Respondi ao meu patrão.
B) Verbos Transitivos Diretos Respondemos às perguntas.
Os verbos transitivos diretos são complementados Respondeu-lhe à altura.
por objetos diretos. Isso significa que não exigem prepo-
sição para o estabelecimento da relação de regência. Ao Observação:
empregar esses verbos, lembre-se de que os pronomes O verbo responder, apesar de transitivo indireto quan-
oblíquos o, a, os, as atuam como objetos diretos. Esses do exprime aquilo a que se responde, admite voz passiva
pronomes podem assumir as formas lo, los, la, las (após analítica:
formas verbais terminadas em -r, -s ou -z) ou no, na, nos, O questionário foi respondido corretamente.
nas (após formas verbais terminadas em sons nasais), Todas as perguntas foram respondidas
enquanto lhe e lhes são, quando complementos verbais, satisfatoriamente.
objetos indiretos.
São verbos transitivos diretos, dentre outros: aban- Simpatizar e Antipatizar - Possuem seus comple-
donar, abençoar, aborrecer, abraçar, acompanhar, acusar, mentos introduzidos pela preposição “com”.
admirar, adorar, alegrar, ameaçar, amolar, amparar, au- Antipatizo com aquela apresentadora.
xiliar, castigar, condenar, conhecer, conservar, convidar, Simpatizo com os que condenam os políticos que go-
defender, eleger, estimar, humilhar, namorar, ouvir, pre- vernam para uma minoria privilegiada.
judicar, prezar, proteger, respeitar, socorrer, suportar, ver,
visitar. D) Verbos Transitivos Diretos e Indiretos
Na língua culta, esses verbos funcionam exatamente
como o verbo amar: Os verbos transitivos diretos e indiretos são acom-
Amo aquele rapaz. / Amo-o. panhados de um objeto direto e um indireto. Merecem
Amo aquela moça. / Amo-a. destaque, nesse grupo: agradecer, perdoar e pagar. São
LÍNGUA PORTUGUESA

Amam aquele rapaz. / Amam-no. verbos que apresentam objeto direto relacionado a coi-
Ele deve amar aquela mulher. / Ele deve amá-la. sas e objeto indireto relacionado a pessoas.

Observação: Agradeço aos ouvintes a audiência.


Os pronomes lhe, lhes só acompanham esses verbos Objeto Indireto Objeto Direto
para indicar posse (caso em que atuam como adjuntos
adnominais): Paguei o débito ao cobrador.
Quero beijar-lhe o rosto. (= beijar seu rosto) Objeto Direto Objeto Indireto

61
O uso dos pronomes oblíquos átonos deve ser feito Observação:
com particular cuidado: Na língua culta, o verbo “preferir” deve ser usado sem
Agradeci o presente. / Agradeci-o. termos intensificadores, tais como: muito, antes, mil ve-
Agradeço a você. / Agradeço-lhe. zes, um milhão de vezes, mais. A ênfase já é dada pelo
Perdoei a ofensa. / Perdoei-a. prefixo existente no próprio verbo (pre).
Perdoei ao agressor. / Perdoei-lhe.
Paguei minhas contas. / Paguei-as. Mudança de Transitividade - Mudança de
Paguei aos meus credores. / Paguei-lhes. Significado
Há verbos que, de acordo com a mudança de transi-
Informar tividade, apresentam mudança de significado. O conhe-
Apresenta objeto direto ao se referir a coisas e objeto cimento das diferentes regências desses verbos é um re-
indireto ao se referir a pessoas, ou vice-versa. curso linguístico muito importante, pois além de permitir
Informe os novos preços aos clientes. a correta interpretação de passagens escritas, oferece
Informe os clientes dos novos preços. (ou sobre os no- possibilidades expressivas a quem fala ou escreve. Den-
vos preços) tre os principais, estão:

Na utilização de pronomes como complementos, veja Agradar


as construções: Agradar é transitivo direto no sentido de fazer cari-
Informei-os aos clientes. / Informei-lhes os novos nhos, acariciar, fazer as vontades de.
preços. Sempre agrada o filho quando.
Informe-os dos novos preços. / Informe-os deles. (ou Aquele comerciante agrada os clientes.
sobre eles)
Agradar é transitivo indireto no sentido de causar
Observação: agrado a, satisfazer, ser agradável a. Rege complemento
A mesma regência do verbo informar é usada para os introduzido pela preposição “a”.
seguintes: avisar, certificar, notificar, cientificar, prevenir. O cantor não agradou aos presentes.
O cantor não lhes agradou.
Comparar
Quando seguido de dois objetos, esse verbo admite O antônimo “desagradar” é sempre transitivo indire-
as preposições “a” ou “com” para introduzir o comple- to: O cantor desagradou à plateia.
mento indireto: Comparei seu comportamento ao (ou com
o) de uma criança. Aspirar
Aspirar é transitivo direto no sentido de sorver, ins-
Pedir pirar (o ar), inalar: Aspirava o suave aroma. (Aspirava-o)
Esse verbo pede objeto direto de coisa (geralmente
na forma de oração subordinada substantiva) e indireto Aspirar é transitivo indireto no sentido de desejar, ter
de pessoa. como ambição: Aspirávamos a um emprego melhor. (As-
pirávamos a ele)
Pedi-lhe favores.
Objeto Indireto Objeto Direto Como o objeto direto do verbo “aspirar” não é pes-
soa, as formas pronominais átonas “lhe” e “lhes” não são
Pedi-lhe que se mantivesse em silêncio. utilizadas, mas, sim, as formas tônicas “a ele(s)”, “a ela(s)”.
Objeto Indireto Oração Subordinada Substan- Veja o exemplo: Aspiravam a uma existência melhor. (=
tiva Objetiva Direta Aspiravam a ela)

A construção “pedir para”, muito comum na lingua- Assistir


gem cotidiana, deve ter emprego muito limitado na lín- Assistir é transitivo direto no sentido de ajudar, pres-
gua culta. No entanto, é considerada correta quando a tar assistência a, auxiliar.
palavra licença estiver subentendida. As empresas de saúde negam-se a assistir os idosos.
Peço (licença) para ir entregar-lhe os catálogos em As empresas de saúde negam-se a assisti-los.
casa.
Assistir é transitivo indireto no sentido de ver, presen-
Observe que, nesse caso, a preposição “para” intro- ciar, estar presente, caber, pertencer.
LÍNGUA PORTUGUESA

duz uma oração subordinada adverbial final reduzida de Assistimos ao documentário.


infinitivo (para ir entregar-lhe os catálogos em casa). Não assisti às últimas sessões.
Essa lei assiste ao inquilino.
Preferir
Na língua culta, esse verbo deve apresentar objeto No sentido de morar, residir, o verbo “assistir” é in-
indireto introduzido pela preposição “a”: transitivo, sendo acompanhado de adjunto adverbial de
Prefiro qualquer coisa a abrir mão de meus ideais. lugar introduzido pela preposição “em”: Assistimos numa
Prefiro trem a ônibus. conturbada cidade.

62
Chamar Ninguém desobedece às leis.
Chamar é transitivo direto no sentido de convocar, so-
licitar a atenção ou a presença de. Quando o objeto é “coisa”, não se utiliza “lhe” nem
Por gentileza, vá chamar a polícia. / Por favor, vá “lhes”: As leis são essas, mas todos desobedecem a elas.
chamá-la.
Chamei você várias vezes. / Chamei-o várias vezes. Proceder
Proceder é intransitivo no sentido de ser decisivo, ter
Chamar no sentido de denominar, apelidar pode
cabimento, ter fundamento ou comportar-se, agir. Nessa
apresentar objeto direto e indireto, ao qual se refere pre-
segunda acepção, vem sempre acompanhado de adjunto
dicativo preposicionado ou não.
A torcida chamou o jogador mercenário. adverbial de modo.
A torcida chamou ao jogador mercenário. As afirmações da testemunha procediam, não havia
A torcida chamou o jogador de mercenário. como refutá-las.
A torcida chamou ao jogador de mercenário. Você procede muito mal.

Chamar com o sentido de ter por nome é pronominal: Nos sentidos de ter origem, derivar-se (rege a prepo-
Como você se chama? Eu me chamo Zenaide. sição “de”) e fazer, executar (rege complemento introdu-
zido pela preposição “a”) é transitivo indireto.
Custar O avião procede de Maceió.
Custar é intransitivo no sentido de ter determinado Procedeu-se aos exames.
valor ou preço, sendo acompanhado de adjunto adver- O delegado procederá ao inquérito.
bial: Frutas e verduras não deveriam custar muito.
Querer
No sentido de ser difícil, penoso, pode ser intransiti-
Querer é transitivo direto no sentido de desejar, ter
vo ou transitivo indireto, tendo como sujeito uma oração
reduzida de infinitivo. vontade de, cobiçar.
Querem melhor atendimento.
Muito custa viver tão longe da família. Queremos um país melhor.
Verbo Intransitivo Oração Subordinada
Substantiva Subjetiva Reduzida de Infinitivo Querer é transitivo indireto no sentido de ter afeição,
estimar, amar: Quero muito aos meus amigos.
Custou-me (a mim) crer nisso.
Objeto Indireto Oração Subordinada Subs- Visar
tantiva Subjetiva Reduzida de Infinitivo Como transitivo direto, apresenta os sentidos de mi-
rar, fazer pontaria e de pôr visto, rubricar.
A Gramática Normativa condena as construções que O homem visou o alvo.
atribuem ao verbo “custar” um sujeito representado por O gerente não quis visar o cheque.
pessoa: Custei para entender o problema.
= Forma correta: Custou-me entender o problema.
No sentido de ter em vista, ter como meta, ter como
Implicar objetivo é transitivo indireto e rege a preposição “a”.
Como transitivo direto, esse verbo tem dois sentidos: O ensino deve sempre visar ao progresso social.
A) dar a entender, fazer supor, pressupor: Suas atitudes Prometeram tomar medidas que visassem ao bem-es-
implicavam um firme propósito. tar público.
B) ter como consequência, trazer como consequência,
acarretar, provocar: Uma ação implica reação. Esquecer – Lembrar
Lembrar algo – esquecer algo
Como transitivo direto e indireto, significa compro- Lembrar-se de algo – esquecer-se de algo
meter, envolver: Implicaram aquele jornalista em questões (pronominal)
econômicas.
No 1.º caso, os verbos são transitivos diretos, ou seja,
No sentido de antipatizar, ter implicância, é transiti- exigem complemento sem preposição: Ele esqueceu o
vo indireto e rege com preposição “com”: Implicava com
livro.
quem não trabalhasse arduamente.
No 2.º caso, os verbos são pronominais (-se, -me, etc)
LÍNGUA PORTUGUESA

Namorar e exigem complemento com a preposição “de”. São, por-


Sempre tansitivo direto: Luísa namora Carlos há dois tanto, transitivos indiretos:
anos. Ele se esqueceu do caderno.
Eu me esqueci da chave.
Obedecer - Desobedecer Eles se esqueceram da prova.
Sempre transitivo indireto: Nós nos lembramos de tudo o que aconteceu.
Todos obedeceram às regras.

63
Há uma construção em que a coisa esquecida ou lembrada passa a funcionar como sujeito e o verbo sofre leve alte-
ração de sentido. É uma construção muito rara na língua contemporânea, porém, é fácil encontrá-la em textos clássicos
tanto brasileiros como portugueses. Machado de Assis, por exemplo, fez uso dessa construção várias vezes.
Esqueceu-me a tragédia. (cair no esquecimento)
Lembrou-me a festa. (vir à lembrança)
Não lhe lembram os bons momentos da infância? (= momentos é sujeito)

Simpatizar - Antipatizar
São transitivos indiretos e exigem a preposição “com”:
Não simpatizei com os jurados.
Simpatizei com os alunos.

Importante:
A norma culta exige que os verbos e expressões que dão ideia de movimento sejam usados com a preposição “a”:
Chegamos a São Paulo e fomos direto ao hotel.
Cláudia desceu ao segundo andar.
Hoje, com esta chuva, ninguém sairá à rua.

Regência Nominal

É o nome da relação existente entre um nome (substantivo, adjetivo ou advérbio) e os termos regidos por esse
nome. Essa relação é sempre intermediada por uma preposição. No estudo da regência nominal, é preciso levar em
conta que vários nomes apresentam exatamente o mesmo regime dos verbos de que derivam. Conhecer o regime de
um verbo significa, nesses casos, conhecer o regime dos nomes cognatos. Observe o exemplo: Verbo obedecer e os
nomes correspondentes: todos regem complementos introduzidos pela preposição a. Veja:
Obedecer a algo/ a alguém.
Obediente a algo/ a alguém.

Se uma oração completar o sentido de um nome, ou seja, exercer a função de complemento nominal, ela será com-
pletiva nominal (subordinada substantiva).

Regência de Alguns Nomes

Substantivos
Admiração a, por Devoção a, para, com, por Medo a, de
Aversão a, para, por Doutor em Obediência a
Atentado a, contra Dúvida acerca de, em, sobre Ojeriza a, por
Bacharel em Horror a Proeminência sobre
Capacidade de, para Impaciência com Respeito a, com, para com, por

Adjetivos
Acessível a Diferente de Necessário a
Acostumado a, com Entendido em Nocivo a
Afável com, para com Equivalente a Paralelo a
Agradável a Escasso de Parco em, de
Alheio a, de Essencial a, para Passível de
Análogo a Fácil de Preferível a
Ansioso de, para, por Fanático por Prejudicial a
Apto a, para Favorável a Prestes a
LÍNGUA PORTUGUESA

Ávido de Generoso com Propício a


Benéfico a Grato a, por Próximo a
Capaz de, para Hábil em Relacionado com
Compatível com Habituado a Relativo a
Contemporâneo a, de Idêntico a Satisfeito com, de, em, por
Contíguo a Impróprio para Semelhante a

64
Contrário a Indeciso em Sensível a
Curioso de, por Insensível a Sito em
Descontente com Liberal com Suspeito de
Desejoso de Natural de Vazio de

Advérbios
Longe de Perto de

Observação:
Os advérbios terminados em -mente tendem a seguir o regime dos adjetivos de que são formados: paralela a; pa-
ralelamente a; relativa a; relativamente a.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Cochar - Português linguagens: volume 3. – 7.ª ed. Reform. – São
Paulo: Saraiva, 2010.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras: literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000.

SITE
Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint61.php>

EXERCÍCIOS COMENTADOS

1. (LIQUIGÁS – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO – CESGRANRIO-2018)

O ano da esperança

O ano de 2017 foi difícil. Avalio pelo número de amigos desempregados. E pedidos de empréstimos. Um atrás do outro.
Nunca fui de botar dinheiro nas relações de amizade. Como afirmou Shakespeare, perde-se o dinheiro e o amigo. Nos
primeiros pedidos, eu ajudava, com a consciência de que era uma doação. A situação foi piorando. Os argumentos
também. No início era para pagar a escola do filho. Depois vieram as mães e avós doentes. Lamentavelmente, apren-
di a não ser generoso. Ajudava um rapaz, que não conheço pessoalmente. Mas que sofreu um acidente e não tinha
como pagar a fisioterapia. Comecei pagando a físio. Vieram sucessivas internações, remédios. A situação piorando, eu
já estava encomendando missa de sétimo dia. Falei com um amigo médico, no Rio de Janeiro. Ele aceitou tratar o caso
gratuitamente. Surpresa! O doente não aparecia para a consulta. Até que o coloquei contra a parede. Ou se consultava
ou eu não ajudava mais.
Cheio de saúde, ele foi ao consultório. Pediu uma receita de suplementos para ficar com o corpo atlético. Nunca conhe-
ci o sujeito, repito. Eu me senti um idiota por ter caído na história. Só que esse rapaz havia perdido o emprego após o
suposto acidente. Foi por isso que me deixei enganar. Mas, ao perder salário, muita gente perde também a vergonha.
Pior ainda. A violência aumenta. As pessoas buscam vagas nos mercados em expansão. Se a indústria automobilística
vai bem, é lá que vão trabalhar.
Podemos esperar por um futuro melhor ou o que nos aguarda é mais descrédito? Novos candidatos vão surgir. Serão
novos? Ou os antigos? Ou novos com cabeça de velhos? Todos pedem que a gente tenha uma nova consciência para
votar. Como? Num mundo em que as notícias são plantadas pela internet, em que muitos sites servem a qualquer
mentira. Digo por mim. Já contaram cada história a meu respeito que nem sei o que dizer. Já inventaram casos de
amor, tramas nas novelas que escrevo. Pior. Depois todo mundo me pergunta por que isso ou aquilo não aconteceu na
novela. Se mudei a trama. Respondo: — Nunca foi para acontecer. Era mentira da internet.
Duvidam. Acham que estou mentindo.
CARRASCO, W. O ano da esperança. Época, 25 dez. 2017, p.97. Adaptado.
LÍNGUA PORTUGUESA

Considere o trecho “Podemos esperar por um futuro melhor”. Respeitando-se as regras da norma-padrão e conservan-
do-se o conteúdo informacional, o trecho acima está corretamente reescrito em:

a) Podemos esperar para um futuro melhor


b) Podemos esperar com um futuro melhor
c) Podemos esperar um futuro melhor
d) Podemos esperar porquanto um futuro melhor
e) Podemos esperar todavia um futuro melhor

65
Resposta: Letra C 3. (MPU – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CESPE-2010)
Em “a”: Podemos esperar para um futuro melhor = po- A pobreza é um dos fatores mais comumente respon-
demos esperar o quê? sáveis pelo baixo nível de desenvolvimento humano
Em “b”: Podemos esperar com um futuro melhor = po- e pela origem de uma série de mazelas, algumas das
quais proibidas por lei ou consideradas crimes. É o caso
demos esperar o quê?
do trabalho infantil. A chaga encontra terreno fértil nas
Em “c”: Podemos esperar um futuro melhor = correta sociedades subdesenvolvidas, mas também viceja onde
Em “d”: Podemos esperar porquanto um futuro me- o capitalismo, em seu ambiente mais selvagem, obriga
lhor = sentido de “porque” crianças e adolescentes a participarem do processo de
Em “e”: Podemos esperar todavia um futuro melhor = produção. Foi assim na Revolução Industrial de ontem
conjunção adversativa (ideia contrária à apresentada e nas economias ditas avançadas. E ainda é, nos dias de
anteriormente) hoje, nas manufaturas da Ásia ou em diversas regiões do
A única frase correta – e coerente - é podemos esperar Brasil. Enquanto, entre as nações ricas, o trabalho infan-
til foi minimizado, já que nunca se pode dizer erradica-
um futuro melhor.
do, ele continua sendo grave problema nos países mais
pobres.
2. (PETROBRAS – ADMINISTRADOR JÚNIOR – CES- Jornal do Brasil, Editorial, 1.º/7/2010 (com adaptações).
GRANRIO-2018) Considere a seguinte frase: “Os lança-
mentos tecnológicos a que o autor se refere podem re- O emprego de preposição em “a participarem” é exigido
sultar em comportamentos impulsivos nos consumidores pela regência da forma verbal “obriga”.
desses produtos”. A utilização da preposição destacada
a é obrigatória para atender às exigências da regência ( ) CERTO ( ) ERRADO
do verbo “referir-se”, de acordo com a norma-padrão da
Resposta: Certo
língua portuguesa. É também obrigatório o uso de uma (...) o capitalismo, em seu ambiente mais selvagem,
preposição antecedendo o pronome que destacado em: obriga crianças e adolescentes a participarem =
quem obriga, obriga alguém (crianças e adolescentes –
a) Os consumidores, ao adquirirem um produto que qua- objeto direto) a algo (a participarem – objeto indireto:
se ninguém possui, recém-lançado no mercado, pas- com preposição – no caso, uma oração com a função
sam a ter uma sensação de superioridade. de objeto indireto).
b) Muitos aparelhos difundidos no mercado nem sempre
trazem novidades que justifiquem seu preço elevado 4. (PC-SP - ESCRIVÃO DE POLÍCIA – VUNESP-2013)
Considerando as regras de regência verbal, assinale a al-
em relação ao modelo anterior. ternativa correta.
c) O estudo de mapeamento cerebral que o pesquisador
realizou foi importante para mostrar que o vício em a) Ao ver a quantidade excessiva de prateleiras, o amigo
novidades tecnológicas cresce cada vez mais. comentou de que o livro estava acabando.
d) O hormônio chamado dopamina é responsável por b) Enquanto seu amigo continua encomendando livros
causar sensações de prazer que levam as pessoas a se de papel, o autor aderiu o livro digital.
sentirem recompensadas. c) Álvaro convenceu-se de que o melhor a fazer seria sair
e) As pessoas, na maioria das vezes, gastam muito mais para jantar.
d) As estantes que o autor aludiu foram projetadas para
do que o seu orçamento permite em aparelhos que
armazenar livros e CDs.
elas não necessitam. e) O único detalhe do apartamento que o amigo se ateve
foi o número de estantes.
Resposta: Letra E
Em “a”: Os consumidores, ao adquirirem um produ- Resposta: Letra C
to que (= o qual) quase ninguém possui, recém-lan- Em “a”: Ao ver a quantidade excessiva de prateleiras, o
çado no mercado, passam a ter uma sensação de amigo comentou de (X) que = comentou que
superioridade. Em “b”: Enquanto seu amigo continua encomendando
livros de papel, o autor aderiu o = aderiu ao
Em “b”: Muitos aparelhos difundidos no mercado nem
Em “c”: Álvaro convenceu-se de que o melhor a fazer
sempre trazem novidades que (= as quais) justifiquem seria sair para jantar = correta
seu preço elevado em relação ao modelo anterior. Em “d”: As estantes que o autor aludiu = às quais/a
Em “c”: O estudo de mapeamento cerebral que (= o que
qual) o pesquisador realizou foi importante para mos- Em “e”: O único detalhe do apartamento que o amigo
trar que o vício em novidades tecnológicas cresce se ateve = ao qual/ a que
LÍNGUA PORTUGUESA

cada vez mais.


Em “d”: O hormônio chamado dopamina é responsá- 5. (TJ-SP – ADVOGADO - VUNESP/2013 - ADAPTADA)
Na passagem – ... e ausência de candidatos para preen-
vel por causar sensações de prazer que (= as quais)
chê-las. –, substituindo-se o verbo preencher por concor-
levam as pessoas a se sentirem recompensadas. rer e atendendo-se à norma-padrão, obtém-se:
Em “e”: As pessoas, na maioria das vezes, gastam mui-
to mais do que o seu orçamento permite em apare- a) … e ausência de candidatos para concorrer a elas.
lhos de que (= das quais) elas não necessitam. b) … e ausência de candidatos para concorrer à elas.

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c) … e ausência de candidatos para concorrer-lhes. A prova foi fácil. – “foi” é verbo de ligação (ser); o nú-
d) … e ausência de candidatos para concorrê-las. cleo é “fácil” (predicado nominal)
e) … e ausência de candidatos para lhes concorrer.
Quanto ao período, ele denomina a frase constituída
Resposta: Letra A por uma ou mais orações, formando um todo, com sen-
Vamos por exclusão: “à elas” está errada, já que não tido completo. O período pode ser simples ou composto.
temos acento indicativo de crase antes de pronome
pessoal; quando temos um verbo no infinitivo, po- Período simples é aquele constituído por apenas
demos usar a construção: verbo + preposição + pro- uma oração, que recebe o nome de oração absoluta.
nome pessoal. Por exemplo: Dar a eles (ao invés de Chove.
“dar-lhes”). A existência é frágil.
Amanhã, à tarde, faremos a prova do concurso.

Período composto é aquele constituído por duas ou


ESTRUTURA DO PERÍODO SIMPLES E mais orações:
DO PERÍODO COMPOSTO. FUNÇÕES Cantei, dancei e depois dormi.
SINTÁTICAS Quero que você estude mais.
Termos da Oração

FRASE, ORAÇÃO E PERÍODO Termos essenciais


SINTAXE DA ORAÇÃO E DO PERÍODO
TERMOS DA ORAÇÃO O sujeito e o predicado são considerados termos
COORDENAÇÃO E SUBORDINAÇÃO essenciais da oração, ou seja, são termos indispensáveis
para a formação das orações. No entanto, existem ora-
Frase é todo enunciado suficiente por si mesmo para ções formadas exclusivamente pelo predicado. O que
estabelecer comunicação. Normalmente é composta por define a oração é a presença do verbo. O sujeito é o ter-
dois termos – o sujeito e o predicado – mas não obriga- mo que estabelece concordância com o verbo.
toriamente, pois há orações ou frases sem sujeito: Trove- O candidato está preparado.
jou muito ontem à noite. Os candidatos estão preparados.

Quanto aos tipos de frases, além da classificação em Na primeira frase, o sujeito é “o candidato”. “Candida-
verbais (possuem verbos, ou seja, são orações) e nomi- to” é a principal palavra do sujeito, sendo, por isso, deno-
nais (sem a presença de verbos), feita a partir de seus minada núcleo do sujeito. Este se relaciona com o verbo,
elementos constituintes, elas podem ser classificadas a estabelecendo a concordância (núcleo no singular, verbo
partir de seu sentido global: no singular: candidato = está).
A função do sujeito é basicamente desempenhada
A) frases interrogativas = o emissor da mensagem
por substantivos, o que a torna uma função substantiva
formula uma pergunta: Que dia é hoje?
da oração. Pronomes, substantivos, numerais e quais-
B) frases imperativas = o emissor dá uma ordem ou
quer outras palavras substantivadas (derivação impró-
faz um pedido: Dê-me uma luz! pria) também podem exercer a função de sujeito.
C) frases exclamativas = o emissor exterioriza um es- Os dois sumiram. (dois é numeral; no exemplo,
tado afetivo: Que dia abençoado! substantivo)
D) frases declarativas = o emissor constata um fato: A Um sim é suave e sugestivo. (sim é advérbio; no exem-
prova será amanhã. plo: substantivo)

Quanto à estrutura da frase, as que possuem verbo Os sujeitos são classificados a partir de dois elemen-
(oração) são estruturadas por dois elementos essenciais: tos: o de determinação ou indeterminação e o de núcleo
sujeito e predicado. do sujeito.
O sujeito é o termo da frase que concorda com o ver-
bo em número e pessoa. É o “ser de quem se declara Um sujeito é determinado quando é facilmente
algo”, “o tema do que se vai comunicar”; o predicado é a identificado pela concordância verbal. O sujeito determi-
parte da frase que contém “a informação nova para o ou- nado pode ser simples ou composto.
vinte”, é o que “se fala do sujeito”. Ele se refere ao tema, A indeterminação do sujeito ocorre quando não é
constituindo a declaração do que se atribui ao sujeito. possível identificar claramente a que se refere a concor-
Quando o núcleo da declaração está no verbo (que dância verbal. Isso ocorre quando não se pode ou não
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indique ação ou fenômeno da natureza, seja um verbo interessa indicar precisamente o sujeito de uma oração.
significativo), temos o predicado verbal. Mas, se o núcleo Estão gritando seu nome lá fora.
estiver em um nome (geralmente um adjetivo), teremos Trabalha-se demais neste lugar.
um predicado nominal (os verbos deste tipo de predica-
O sujeito simples é o sujeito determinado que apre-
do são os que indicam estado, conhecidos como verbos
senta um único núcleo, que pode estar no singular ou no
de ligação):
plural; pode também ser um pronome indefinido. Abai-
O menino limpou a sala. = “limpou” é verbo de ação
xo, sublinhei os núcleos dos sujeitos:
(predicado verbal)

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Nós estudaremso juntos. O pronome “se”, nestes casos, funciona como índice
A humanidade é frágil. de indeterminação do sujeito.
Ninguém se move.
O amar faz bem. (“amar” é verbo, mas aqui houve uma As orações sem sujeito, formadas apenas pelo pre-
derivação imprópria, tranformando-o em substantivo) dicado, articulam-se a partir de um verbo impessoal. A
As crianças precisam de alimentos saudáveis. mensagem está centrada no processo verbal. Os princi-
pais casos de orações sem sujeito com:
O sujeito composto é o sujeito determinado que
apresenta mais de um núcleo.
• os verbos que indicam fenômenos da natureza:
Alimentos e roupas custam caro.
Amanheceu.
Ela e eu sabemos o conteúdo.
Está trovejando.
O amar e o odiar são duas faces da mesma moeda.

Além desses dois sujeitos determinados, é comum a • os verbos estar, fazer, haver e ser, quando indicam
referência ao sujeito implícito na desinência verbal (o fenômenos meteorológicos ou se relacionam ao
“antigo” sujeito oculto [ou elíptico]), isto é, ao núcleo tempo em geral:
do sujeito que está implícito e que pode ser reconhecido Está tarde.
pela desinência verbal ou pelo contexto. Já são dez horas.
Abolimos todas as regras. = (nós) Faz frio nesta época do ano.
Falaste o recado à sala? = (tu) Há muitos concursos com inscrições abertas.

Os verbos deste tipo de sujeito estão sempre na pri- Predicado é o conjunto de enunciados que contém a
meira pessoa do singular (eu) ou plural (nós) ou na se- informação sobre o sujeito – ou nova para o ouvinte. Nas
gunda do singular (tu) ou do plural (vós), desde que os orações sem sujeito, o predicado simplesmente enuncia
pronomes não estejam explícitos. um fato qualquer. Nas orações com sujeito, o predicado
Iremos à feira juntos? (= nós iremos) – sujeito implíci- é aquilo que se declara a respeito deste sujeito. Com ex-
to na desinência verbal “-mos” ceção do vocativo - que é um termo à parte - tudo o que
Cantais bem! (= vós cantais) - sujeito implícito na de- difere do sujeito numa oração é o seu predicado.
sinência verbal “-ais”
Chove muito nesta época do ano.
Houve problemas na reunião.
Mas:
Nós iremos à festa juntos? = sujeito simples: nós
Vós cantais bem! = sujeito simples: vós Em ambas as orações não há sujeito, apenas predi-
cado. Na segunda oração, “problemas” funciona como
O sujeito indeterminado surge quando não se quer - objeto direto.
ou não se pode - identificar a que o predicado da oração
refere-se. Existe uma referência imprecisa ao sujeito, caso As questões estavam fáceis!
contrário, teríamos uma oração sem sujeito. Sujeito simples = as questões
Na língua portuguesa, o sujeito pode ser indetermi- Predicado = estavam fáceis
nado de duas maneiras:
Passou-me uma ideia estranha pelo pensamento.
A) com verbo na terceira pessoa do plural, desde que Sujeito = uma ideia estranha
o sujeito não tenha sido identificado anteriormente: Predicado = passou-me pelo pensamento
Bateram à porta;
Andam espalhando boatos a respeito da queda do Para o estudo do predicado, é necessário verificar
ministro. se seu núcleo é um nome (então teremos um predicado
nominal) ou um verbo (predicado verbal). Deve-se con-
Se o sujeito estiver identificado, poderá ser simples siderar também se as palavras que formam o predicado
ou composto:
referem-se apenas ao verbo ou também ao sujeito da
Os meninos bateram à porta. (simples)
oração.
Os meninos e as meninas bateram à porta. (composto)
Os homens sensíveis pedem amor sincero às mulheres
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B) com o verbo na terceira pessoa do singular, acres-


cido do pronome “se”. Esta é uma construção típi- de opinião.
ca dos verbos que não apresentam complemento Predicado
direto:
Precisa-se de mentes criativas. O predicado acima apresenta apenas uma palavra
Vivia-se bem naqueles tempos. que se refere ao sujeito: pedem. As demais palavras se
Trata-se de casos delicados. ligam direta ou indiretamente ao verbo.
Sempre se está sujeito a erros. A cidade está deserta.

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O nome “deserta”, por intermédio do verbo, refere- Os complementos verbais integram o sentido dos
-se ao sujeito da oração (cidade). O verbo atua como verbos transitivos, com eles formando unidades signifi-
elemento de ligação (por isso verbo de ligação) entre o cativas. Estes verbos podem se relacionar com seus com-
sujeito e a palavra a ele relacionada (no caso: deserta = plementos diretamente, sem a presença de preposição,
predicativo do sujeito). ou indiretamente, por intermédio de preposição.

O predicado verbal é aquele que tem como núcleo O objeto direto é o complemento que se liga direta-
significativo um verbo: mente ao verbo.
Chove muito nesta época do ano.
Houve muita confusão na partida final.
Estudei muito hoje!
Queremos sua ajuda.
Compraste a apostila?

Os verbos acima são significativos, isto é, não servem O objeto direto preposicionado ocorre
apenas para indicar o estado do sujeito, mas indicam principalmente:
processos.
A) com nomes próprios de pessoas ou nomes co-
O predicado nominal é aquele que tem como nú- muns referentes a pessoas:
cleo significativo um nome; este atribui uma qualidade Amar a Deus; Adorar a Xangô; Estimar aos pais.
ou estado ao sujeito, por isso é chamado de predicativo (o objeto é direto, mas como há preposição, denomi-
do sujeito. O predicativo é um nome que se liga a ou- na-se: objeto direto preposicionado)
tro nome da oração por meio de um verbo (o verbo de
ligação). B) com pronomes indefinidos de pessoa e pronomes
Nos predicados nominais, o verbo não é significativo, de tratamento: Não excluo a ninguém; Não quero
isto é, não indica um processo, mas une o sujeito ao pre- cansar a Vossa Senhoria.
dicativo, indicando circunstâncias referentes ao estado
do sujeito: Os dados parecem corretos. C) para evitar ambiguidade: Ao povo prejudica a cri-
O verbo parecer poderia ser substituído por estar, se. (sem preposição, o sentido seria outro: O povo
andar, ficar, ser, permanecer ou continuar, atuando como
prejudica a crise)
elemento de ligação entre o sujeito e as palavras a ele
relacionadas.
O objeto indireto é o complemento que se liga indi-
retamente ao verbo, ou seja, através de uma preposição.
A função de predicativo é exercida, normalmente, por
um adjetivo ou substantivo. Gosto de música popular brasileira.
Necessito de ajuda.
O predicado verbo-nominal é aquele que apresen-
ta dois núcleos significativos: um verbo e um nome. No Objeto Pleonástico
predicado verbo-nominal, o predicativo pode se referir
ao sujeito ou ao complemento verbal (objeto). É a repetição de objetos, tanto diretos como indiretos.
O verbo do predicado verbo-nominal é sempre sig- Normalmente, as frases em que ocorrem objetos
nificativo, indicando processos. É também sempre por pleonásticos obedecem à estrutura: primeiro aparece o
intermédio do verbo que o predicativo se relaciona com objeto, antecipado para o início da oração; em seguida,
o termo a que se refere. ele é repetido através de um pronome oblíquo. É à repe-
O dia amanheceu ensolarado; tição que se dá o nome de objeto pleonástico.
As mulheres julgam os homens inconstantes.
“Aos fracos, não os posso proteger, jamais.” (Gonçal-
No primeiro exemplo, o verbo amanheceu apresenta ves Dias)
duas funções: a de verbo significativo e a de verbo de
ligação. Este predicado poderia ser desdobrado em dois:
objeto pleonástico
um verbal e outro nominal.
O dia amanheceu. / O dia estava ensolarado.

Ao traidor, nada lhe devemos.
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No segundo exemplo, é o verbo julgar que relaciona o


complemento homens com o predicativo “inconstantes”.
O termo que integra o sentido de um nome chama-se
Termos integrantes da oração complemento nominal, que se liga ao nome que com-
pleta por intermédio de preposição:
Os complementos verbais (objeto direto e indireto) e o A arte é necessária à vida. = relaciona-se com a pala-
complemento nominal são chamados termos integrantes vra “necessária”
da oração. Temos medo de barata. = ligada à palavra “medo”

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Termos acessórios da oração e vocativo O vocativo é um termo que serve para chamar, in-
vocar ou interpelar um ouvinte real ou hipotético, não
Os termos acessórios recebem este nome por serem mantendo relação sintática com outro termo da oração.
explicativos, circunstanciais. São termos acessórios o ad- A função de vocativo é substantiva, cabendo a substan-
junto adverbial, o adjunto adnominal, o aposto e o voca- tivos, pronomes substantivos, numerais e palavras subs-
tivo – este, sem relação sintática com outros temos da tantivadas esse papel na linguagem.
oração. João, venha comigo!
Traga-me doces, minha menina!
O adjunto adverbial é o termo da oração que indi-
ca uma circunstância do processo verbal ou intensifica o Períodos Compostos
sentido de um adjetivo, verbo ou advérbio. É uma função
adverbial, pois cabe ao advérbio e às locuções adverbiais Período Composto por Coordenação
exercerem o papel de adjunto adverbial: Amanhã voltarei
a pé àquela velha praça. O período composto se caracteriza por possuir mais
de uma oração em sua composição. Sendo assim:
O adjunto adnominal é o termo acessório que de- Eu irei à praia. (Período Simples = um verbo, uma
termina, especifica ou explica um substantivo. É uma fun- oração)
ção adjetiva, pois são os adjetivos e as locuções adjetivas Estou comprando um protetor solar, depois irei à
que exercem o papel de adjunto adnominal na oração. praia. (Período Composto =locução verbal + verbo, duas
Também atuam como adjuntos adnominais os artigos, os orações)
numerais e os pronomes adjetivos. Já me decidi: só irei à praia, se antes eu comprar
O poeta inovador enviou dois longos trabalhos ao seu um protetor solar. (Período Composto = três verbos, três
amigo de infância. orações).

O adjunto adnominal se liga diretamente ao subs- Há dois tipos de relações que podem se estabelecer
tantivo a que se refere, sem participação do verbo. Já o entre as orações de um período composto: uma relação
predicativo do objeto se liga ao objeto por meio de um de coordenação ou uma relação de subordinação.
Duas orações são coordenadas quando estão juntas
verbo.
em um mesmo período, (ou seja, em um mesmo bloco
O poeta português deixou uma obra originalíssima.
de informações, marcado pela pontuação final), mas têm,
O poeta deixou-a.
ambas, estruturas individuais, como é o exemplo de:
(originalíssima não precisou ser repetida, portanto:
Estou comprando um protetor solar, depois irei à praia.
adjunto adnominal)
(Período Composto)
Podemos dizer:
O poeta português deixou uma obra inacabada.
1. Estou comprando um protetor solar.
O poeta deixou-a inacabada.
2. Irei à praia.
(inacabada precisou ser repetida, então: predicativo
do objeto) Separando as duas, vemos que elas são independen-
tes. Tal período é classificado como Período Composto
Enquanto o complemento nominal se relaciona a um por Coordenação.
substantivo, adjetivo ou advérbio, o adjunto nominal se Quanto à classificação das orações coordenadas, te-
relaciona apenas ao substantivo. mos dois tipos: Coordenadas Assindéticas e Coordenadas
Sindéticas.
O aposto é um termo acessório que permite ampliar,
explicar, desenvolver ou resumir a ideia contida em um A) Coordenadas Assindéticas
termo que exerça qualquer função sintática: Ontem, se- São orações coordenadas entre si e que não são li-
gunda-feira, passei o dia mal-humorado. gadas através de nenhum conectivo. Estão apenas
Segunda-feira é aposto do adjunto adverbial de tem- justapostas.
po “ontem”. O aposto é sintaticamente equivalente ao Entrei na sala, deitei-me no sofá, adormeci.
termo que se relaciona porque poderia substituí-lo: Se-
gunda-feira passei o dia mal-humorado. B) Coordenadas Sindéticas
O aposto pode ser classificado, de acordo com seu Ao contrário da anterior, são orações coordenadas
valor na oração, em: entre si, mas que são ligadas através de uma conjunção
A) explicativo: A linguística, ciência das línguas huma- coordenativa, que dará à oração uma classificação. As
nas, permite-nos interpretar melhor nossa relação orações coordenadas sindéticas são classificadas em cin-
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com o mundo. co tipos: aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas e


B) enumerativo: A vida humana compõe-se de muitas explicativas.
coisas: amor, arte, ação.
C) resumidor ou recapitulativo: Fantasias, suor e so- Dica: Memorize SINdética = SIM, tem conjunção!
nho, tudo forma o carnaval.
D) comparativo: Seus olhos, indagadores holofotes, fi- • Orações Coordenadas Sindéticas Aditivas: suas
xaram-se por muito tempo na baía anoitecida. principais conjunções são: e, nem, não só... mas
também, não só... como, assim... como.

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Nem comprei o protetor solar nem fui à praia. A) Orações Subordinadas Substantivas
Comprei o protetor solar e fui à praia. A oração subordinada substantiva tem valor de subs-
tantivo e vem introduzida, geralmente, por conjunção in-
• Orações Coordenadas Sindéticas Adversativas: tegrante (que, se).
suas principais conjunções são: mas, contudo, to-
davia, entretanto, porém, no entanto, ainda, assim, Não sei se sairemos hoje.
senão. Oração Subordinada Substantiva
Fiquei muito cansada, contudo me diverti bastante.
Li tudo, porém não entendi! Temos medo de que não sejamos aprovados.
Oração Subordinada Substantiva
• Orações Coordenadas Sindéticas Alternativas:
suas principais conjunções são: ou... ou; ora...ora; Os pronomes interrogativos (que, quem, qual) tam-
quer...quer; seja...seja. bém introduzem as orações subordinadas substantivas,
Ou uso o protetor solar, ou uso o óleo bronzeador. bem como os advérbios interrogativos (por que, quando,
onde, como).
• Orações Coordenadas Sindéticas Conclusivas:
suas principais conjunções são: logo, portanto, por O garoto perguntou qual seu nome.
fim, por conseguinte, consequentemente, pois (pos- Oração Subordinada Substantiva
posto ao verbo).
Passei no concurso, portanto comemorarei! Não sabemos quando ele virá.
A situação é delicada; devemos, pois, agir. Oração Subordinada Substantiva

• Orações Coordenadas Sindéticas Explicativas: Classificação das Orações Subordinadas


suas principais conjunções são: isto é, ou seja, a sa- Substantivas
ber, na verdade, pois (anteposto ao verbo).
Não fui à praia, pois queria descansar durante o Conforme a função que exerce no período, a oração
Domingo. subordinada substantiva pode ser:
Maria chorou porque seus olhos estão vermelhos.
1. Subjetiva - exerce a função sintática de sujeito do
Período Composto Por Subordinação verbo da oração principal:

Quero que você seja aprovado! É fundamental o seu comparecimento à reunião.


Oração principal oração subordinada Sujeito

Observe que na oração subordinada temos o verbo É fundamental que você compareça à reunião.
“seja”, que está conjugado na terceira pessoa do singu- Oração Principal Oração Subordinada Substan-
lar do presente do subjuntivo, além de ser introduzida tiva Subjetiva
por conjunção. As orações subordinadas que apresentam
verbo em qualquer dos tempos finitos (tempos do modo
do indicativo, subjuntivo e imperativo) e são iniciadas FIQUE ATENTO!
por conjunção, chamam-se orações desenvolvidas ou Observe que a oração subordinada
explícitas. substantiva pode ser substituída pelo
pronome “isso”. Assim, temos um período
Podemos modificar o período acima. Veja: simples:
É fundamental isso ou Isso é
Quero ser aprovado. fundamental.
Oração Principal Oração Subordinada
Desta forma, a oração correspondente a
A análise das orações continua sendo a mesma: “Que- “isso” exercerá a função de sujeito.
ro” é a oração principal, cujo objeto direto é a oração
subordinada “ser aprovado”. Observe que a oração su-
bordinada apresenta agora verbo no infinitivo (ser). Além Veja algumas estruturas típicas que ocorrem na ora-
disso, a conjunção “que”, conectivo que unia as duas ora- ção principal:
ções, desapareceu. As orações subordinadas cujo verbo
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surge numa das formas nominais (infinitivo, gerúndio ou • Verbos de ligação + predicativo, em construções
particípio) são chamadas de orações reduzidas ou implí- do tipo: É bom - É útil - É conveniente - É certo - Parece
citas (como no exemplo acima). certo - É claro - Está evidente - Está comprovado
É bom que você compareça à minha festa.
Observação:
As orações reduzidas não são introduzidas por con- • Expressões na voz passiva, como: Sabe-se, Sou-
junções nem pronomes relativos. Podem ser, eventual- be-se, Conta-se, Diz-se, Comenta-se, É sabido, Foi
mente, introduzidas por preposição. anunciado, Ficou provado.

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Sabe-se que Aline não gosta de Pedro. As orações subordinadas substantivas objetivas in-
diretas integram o sentido de um verbo, enquanto que
• Verbos como: convir - cumprir - constar - admirar - orações subordinadas substantivas completivas nominais
importar - ocorrer - acontecer integram o sentido de um nome. Para distinguir uma da
Convém que não se atrase na entrevista. outra, é necessário levar em conta o termo complemen-
tado. Esta é a diferença entre o objeto indireto e o com-
Observação:
Quando a oração subordinada substantiva é subjeti- plemento nominal: o primeiro complementa um verbo; o
va, o verbo da oração principal está sempre na 3.ª pessoa segundo, um nome.
do singular.

2. Objetiva Direta = exerce função de objeto direto 5. Predicativa = exerce papel de predicativo do su-
do verbo da oração principal: jeito do verbo da oração principal e vem sempre
depois do verbo ser.
Todos querem sua aprovação no concurso. Nosso desejo era sua desistência.
Objeto Direto
Predicativo do Sujeito
Todos querem que você seja aprovado. (Todos
querem isso) Nosso desejo era que ele desistisse. (= Nosso de-
Oração Principal Oração Subordinada Substan- sejo era isso)
tiva Objetiva Direta Oração Subordinada Substan-
tiva Predicativa
As orações subordinadas substantivas objetivas dire-
tas (desenvolvidas) são iniciadas por: 6. Apositiva = exerce função de aposto de algum ter-
• Conjunções integrantes “que” (às vezes elíptica) e mo da oração principal.
“se”: A professora verificou se os alunos estavam Fernanda tinha um grande sonho: a felicidade!
presentes.
Aposto
• Pronomes indefinidos que, quem, qual, quanto (às
vezes regidos de preposição), nas interrogações
indiretas: O pessoal queria saber quem era o dono Fernanda tinha um grande sonho: ser feliz!
do carro importado. Oração subordinada
• Advérbios como, quando, onde, por que, quão (às substantiva apositiva reduzida de infinitivo
vezes regidos de preposição), nas interrogações
indiretas: Eu não sei por que ela fez isso. (Fernanda tinha um grande sonho: isso)

3. Objetiva Indireta = atua como objeto indireto Dica: geralmente há a presença dos dois pontos! ( : )
do verbo da oração principal. Vem precedida de
preposição.
B) Orações Subordinadas Adjetivas
Meu pai insiste em meu estudo. Uma oração subordinada adjetiva é aquela que pos-
Objeto Indireto sui valor e função de adjetivo, ou seja, que a ele equiva-
le. As orações vêm introduzidas por pronome relativo e
Meu pai insiste em que eu estude. (= Meu pai insiste exercem a função de adjunto adnominal do antecedente.
nisso)
Oração Subordinada Substantiva Ob- Esta foi uma redação bem-sucedida.
jetiva Indireta Substantivo Adjetivo (Adjunto Adnominal)
Observação:
O substantivo “redação” foi caracterizado pelo adje-
Em alguns casos, a preposição pode estar elíptica na
oração. tivo “bem-sucedida”. Neste caso, é possível formarmos
Marta não gosta (de) que a chamem de senhora. outra construção, a qual exerce exatamente o mesmo
Oração Subordinada Substan- papel:
tiva Objetiva Indireta
Esta foi uma redação que fez sucesso.
4. Completiva Nominal = completa um nome que Oração Principal Oração Subordinada Adjetiva
pertence à oração principal e também vem marca-
da por preposição.
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Perceba que a conexão entre a oração subordinada


adjetiva e o termo da oração principal que ela modifica é
Sentimos orgulho de seu comportamento.
feita pelo pronome relativo “que”. Além de conectar (ou
Complemento Nominal
relacionar) duas orações, o pronome relativo desempe-
Sentimos orgulho de que você se comportou. (= nha uma função sintática na oração subordinada: ocupa
Sentimos orgulho disso.) o papel que seria exercido pelo termo que o antecede
Oração Subordinada Substan- (no caso, “redação” é sujeito, então o “que” também fun-
tiva Completiva Nominal ciona como sujeito).

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Agora, a oração em destaque não tem sentido restri-
FIQUE ATENTO! tivo em relação à palavra “homem”; na verdade, apenas
Vale lembrar um recurso didático para explicita uma ideia que já sabemos estar contida no con-
reconhecer o pronome relativo “que”: ele ceito de “homem”.
sempre pode ser substituído por: o qual -
a qual - os quais - as quais Saiba que:
Refiro-me ao aluno que é estudioso. = Esta A oração subordinada adjetiva explicativa é separa-
oração é equivalente a: Refiro-me ao aluno da da oração principal por uma pausa que, na escrita,
o qual estuda. é representada pela vírgula. É comum, por isso, que a
pontuação seja indicada como forma de diferenciar as
orações explicativas das restritivas; de fato, as explicati-
Forma das Orações Subordinadas Adjetivas vas vêm sempre isoladas por vírgulas; as restritivas, não.

Quando são introduzidas por um pronome relativo e C) Orações Subordinadas Adverbiais


apresentam verbo no modo indicativo ou subjuntivo, as Uma oração subordinada adverbial é aquela que
orações subordinadas adjetivas são chamadas desenvol- exerce a função de adjunto adverbial do verbo da ora-
vidas. Além delas, existem as orações subordinadas ad- ção principal. Assim, pode exprimir circunstância de tem-
jetivas reduzidas, que não são introduzidas por pronome po, modo, fim, causa, condição, hipótese, etc. Quando
relativo (podem ser introduzidas por preposição) e apre- desenvolvida, vem introduzida por uma das conjunções
sentam o verbo numa das formas nominais (infinitivo, subordinativas (com exclusão das integrantes, que intro-
gerúndio ou particípio). duzem orações subordinadas substantivas). Classifica-se
Ele foi o primeiro aluno que se apresentou. de acordo com a conjunção ou locução conjuntiva que
Ele foi o primeiro aluno a se apresentar. a introduz (assim como acontece com as coordenadas
sindéticas).
No primeiro período, há uma oração subordinada ad-
jetiva desenvolvida, já que é introduzida pelo pronome Durante a madrugada, eu olhei você dormindo.
relativo “que” e apresenta verbo conjugado no pretérito Oração Subordinada Adverbial
perfeito do indicativo. No segundo, há uma oração su-
bordinada adjetiva reduzida de infinitivo: não há prono- A oração em destaque agrega uma circunstância de
me relativo e seu verbo está no infinitivo. tempo. É, portanto, chamada de oração subordinada
adverbial temporal. Os adjuntos adverbiais são termos
Classificação das Orações Subordinadas Adjetivas acessórios que indicam uma circunstância referente, via
de regra, a um verbo. A classificação do adjunto adver-
Na relação que estabelecem com o termo que carac- bial depende da exata compreensão da circunstância que
terizam, as orações subordinadas adjetivas podem atuar exprime.
de duas maneiras diferentes. Há aquelas que restringem Naquele momento, senti uma das maiores emoções de
ou especificam o sentido do termo a que se referem, in- minha vida.
dividualizando-o. Nestas orações não há marcação de Quando vi o mar, senti uma das maiores emoções de
pausa, sendo chamadas subordinadas adjetivas restriti- minha vida.
vas. Existem também orações que realçam um detalhe ou
amplificam dados sobre o antecedente, que já se encon- No primeiro período, “naquele momento” é um ad-
tra suficientemente definido. Estas orações denominam- junto adverbial de tempo, que modifica a forma verbal
-se subordinadas adjetivas explicativas. “senti”. No segundo período, este papel é exercido pela
oração “Quando vi o mar”, que é, portanto, uma oração
Exemplo 1: subordinada adverbial temporal. Esta oração é desenvol-
vida, pois é introduzida por uma conjunção subordina-
Jamais teria chegado aqui, não fosse um homem que tiva (quando) e apresenta uma forma verbal do modo
passava naquele momento. indicativo (“vi”, do pretérito perfeito do indicativo). Seria
Oração Subordinada Adjetiva Restritiva possível reduzi-la, obtendo-se:
Ao ver o mar, senti uma das maiores emoções de mi-
No período acima, observe que a oração em desta- nha vida.
que restringe e particulariza o sentido da palavra “ho-
mem”: trata-se de um homem específico, único. A oração A oração em destaque é reduzida, apresentando uma
limita o universo de homens, isto é, não se refere a todos das formas nominais do verbo (“ver” no infinitivo) e não
LÍNGUA PORTUGUESA

os homens, mas sim àquele que estava passando naque- é introduzida por conjunção subordinativa, mas sim por
le momento. uma preposição (“a”, combinada com o artigo “o”).

Exemplo 2: Observação:
A classificação das orações subordinadas adverbiais
O homem, que se considera racional, muitas vezes é feita do mesmo modo que a classificação dos adjun-
age animalescamente. tos adverbiais. Baseia-se na circunstância expressa pela
Oração Subordinada Adjetiva Explicativa oração.

73
Classificação das Orações Subordinadas Adverbiais concessiva: embora. Utiliza-se também a con-
junção: conquanto e as locuções ainda que, ainda
A) Causal = A ideia de causa está diretamente ligada quando, mesmo que, se bem que, posto que, apesar
àquilo que provoca um determinado fato, ao moti- de que.
vo do que se declara na oração principal. Principal Só irei se ele for.
conjunção subordinativa causal: porque. Outras A oração acima expressa uma condição: o fato de
conjunções e locuções causais: como (sempre in- “eu” ir só se realizará caso essa condição seja satisfeita.
troduzido na oração anteposta à oração principal), Compare agora com:
pois, pois que, já que, uma vez que, visto que. Irei mesmo que ele não vá.
As ruas ficaram alagadas porque a chuva foi muito
forte. A distinção fica nítida; temos agora uma concessão:
Já que você não vai, eu também não vou. irei de qualquer maneira, independentemente de sua ida.
A oração destacada é, portanto, subordinada adverbial
concessiva.
A diferença entre a subordinada adverbial causal e a
Observe outros exemplos:
sindética explicativa é que esta “explica” o fato que acon-
Embora fizesse calor, levei agasalho.
teceu na oração com a qual ela se relaciona; aquela apre-
Foi aprovado sem estudar (= sem que estudasse / em-
senta a “causa” do acontecimento expresso na oração à
bora não estudasse). (reduzida de infinitivo)
qual ela se subordina. Repare:
1. Faltei à aula porque estava doente. E) Comparativa= As orações subordinadas adver-
2. Melissa chorou, porque seus olhos estão vermelhos. biais comparativas estabelecem uma comparação
com a ação indicada pelo verbo da oração princi-
Em 1, a oração destacada aconteceu primeiro (causa) pal. Principal conjunção subordinativa comparati-
que o fato expresso na oração anterior, ou seja, o fato de va: como.
estar doente impediu-me de ir à aula. No exemplo 2, a Ele dorme como um urso. (como um urso dorme)
oração sublinhada relata um fato que aconteceu depois, Você age como criança. (age como uma criança age)
já que primeiro ela chorou, depois seus olhos ficaram
vermelhos. • geralmente há omissão do verbo.

B) Consecutiva = exprime um fato que é consequên- F) Conformativa = indica ideia de conformidade, ou


cia, é efeito do que se declara na oração principal. seja, apresenta uma regra, um modelo adotado
São introduzidas pelas conjunções e locuções: que, para a execução do que se declara na oração prin-
de forma que, de sorte que, tanto que, etc., e pelas cipal. Principal conjunção subordinativa conforma-
estruturas tão...que, tanto...que, tamanho...que. tiva: conforme. Outras conjunções conformativas:
Principal conjunção subordinativa consecutiva: que como, consoante e segundo (todas com o mesmo
(precedido de tal, tanto, tão, tamanho) valor de conforme).
Nunca abandonou seus ideais, de sorte que acabou Fiz o bolo conforme ensina a receita.
concretizando-os. Consoante reza a Constituição, todos os cidadãos têm
Não consigo ver televisão sem bocejar. (Oração Redu- direitos iguais.
zida de Infinitivo)
G) Final = indica a intenção, a finalidade daquilo que
C) Condicional = Condição é aquilo que se impõe se declara na oração principal. Principal conjunção
como necessário para a realização ou não de um subordinativa final: a fim de. Outras conjunções
finais: que, porque (= para que) e a locução con-
fato. As orações subordinadas adverbiais condicio-
juntiva para que.
nais exprimem o que deve ou não ocorrer para que
Aproximei-me dela a fim de que ficássemos amigas.
se realize - ou deixe de se realizar - o fato expresso
Estudarei muito para que eu me saia bem na prova.
na oração principal.
Principal conjunção subordinativa condicional: se. H) Proporcional = exprime ideia de proporção, ou
Outras conjunções condicionais: caso, contanto que, des- seja, um fato simultâneo ao expresso na oração
de que, salvo se, exceto se, a não ser que, a menos que, principal. Principal locução conjuntiva subordinati-
sem que, uma vez que (seguida de verbo no subjuntivo). va proporcional: à proporção que. Outras locuções
Se o regulamento do campeonato for bem elaborado, conjuntivas proporcionais: à medida que, ao passo
LÍNGUA PORTUGUESA

certamente o melhor time será campeão. que. Há ainda as estruturas: quanto maior...(maior),
Caso você saia, convide-me. quanto maior...(menor), quanto menor...(maior),
quanto menor...(menor), quanto mais...(mais), quan-
D) Concessiva = indica concessão às ações do verbo to mais...(menos), quanto menos...(mais), quanto
da oração principal, isto é, admitem uma contra- menos...(menos).
dição ou um fato inesperado. A ideia de conces- À proporção que estudávamos mais questões
são está diretamente ligada ao contraste, à quebra acertávamos.
de expectativa. Principal conjunção subordinativa À medida que lia mais culto ficava.

74
I) Temporal = acrescenta uma ideia de tempo ao fato Resposta: Letra C
expresso na oração principal, podendo exprimir Em “c”: que relembremos este dia;
noções de simultaneidade, anterioridade ou poste- Em “d”: que relembrássemos este dia;
rioridade. Principal conjunção subordinativa tem- Em uma oração desenvolvida há a presença de con-
poral: quando. Outras conjunções subordinativas junção. Ambos os itens têm, mas temos que fazer a
temporais: enquanto, mal e locuções conjuntivas: correlação verbal com o período da oração reduzida
assim que, logo que, todas as vezes que, antes que, (o verbo nos dá uma hipótese – talvez seja bom relem-
depois que, sempre que, desde que, etc. brar). Portanto, a forma correta é: Talvez um dia seja
Assim que Paulo chegou, a reunião acabou. bom que relembremos este dia.
Terminada a festa, todos se retiraram. (= Quando ter-
minou a festa) (Oração Reduzida de Particípio) 2. (CÂMARA DE SALVADOR-BA – ASSISTENTE LEGIS-
LATIVO MUNICIPAL – FGV-2018) “Ou seja, foi usada
Orações Reduzidas para criar uma desigualdade social...”; se modificarmos a
oração reduzida de infinitivo por uma oração desenvolvi-
As orações subordinadas podem vir expressas como da, a forma adequada seria:
reduzidas, ou seja, com o verbo em uma de suas formas
nominais (infinitivo, gerúndio ou particípio) e sem conec- a) para a criação de uma desigualdade social;
tivo subordinativo que as introduza. b) para que se criasse uma desigualdade social;
É preciso estudar! = reduzida de infinitivo c) para que se crie uma desigualdade social;
É preciso que se estude = oração desenvolvida (pre- d) para a criatividade de uma desigualdade social;
e) para criarem uma desigualdade social.
sença do conectivo)
Resposta: Letra B
Para classificá-las, precisamos imaginar como seriam
Em “b”: para que se criasse uma desigualdade social;
“desenvolvidas” – como no exemplo acima.
Em “c”: para que se crie uma desigualdade social;
É preciso estudar = oração subordinada substantiva Desenvolvida = tem conjunção. Ambas têm. A dife-
subjetiva reduzida de infinitivo rença é o tempo verbal. A ação aconteceu (foi usada
É preciso que se estude = oração subordinada subs- para criar): Ou seja, foi usada para que se criasse uma
tantiva subjetiva desigualdade social.
Orações Intercaladas 3. (IBGE – AGENTE CENSITÁRIO – ADMINISTRATIVO
– FGV-2017) Uma manchete do Estado de São Paulo,
São orações independentes encaixadas na sequên- 10/04/2017, dizia o seguinte: “Atentados contra cristãos
cia do período, utilizadas para um esclarecimento, um matam 44 no Egito e país decreta emergência”. As duas
aparte, uma citação. Elas vêm separadas por vírgulas ou orações desse período mantêm entre si a seguinte rela-
travessões. ção lógica:
Nós – continuava o relator – já abordamos este
assunto. a) causa e consequência;
b) informação e comprovação;
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA c) fato e exemplificação;
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa d) afirmação e explicação;
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. e) tese e argumentação.
CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Português – Literatura,
Produção de Texto & Gramática – Volume único / Samira Resposta: Letra A
Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa Souza. – 3.ª edição – Atentados contra cristãos matam 44 no Egito e país de-
São Paulo: Saraiva, 2002. creta emergência = devido aos atentados (causa), o
país decretou emergência (consequência).
SITE
Disponível em: <http://www.pciconcursos.com.br/ 4. (IBGE – AGENTE CENSITÁRIO – ADMINISTRATI-
aulas/portugues/frase-periodo-e-oracao> VO – FGV-2017) “Com as novas medidas para evitar a
abstenção, o governo espera uma economia vultosa no
Enem”. A oração reduzida “para evitar a abstenção” pode
EXERCÍCIOS COMENTADOS ser adequadamente substituída pela seguinte oração
desenvolvida:
1. (BANESTES – TÉCNICO BANCÁRIO – FGV-2018) a) para que se evitasse a abstenção;
“Talvez um dia seja bom relembrar este dia”. (Virgílio) A b) a fim de que a abstenção fosse evitada;
LÍNGUA PORTUGUESA

forma de oração desenvolvida adequada corresponden- c) para que se evite a abstenção;


te à oração sublinhada acima é: d) a fim de evitar-se a abstenção;
e) evitando-se a abstenção.
a) relembrarmos este dia;
b) a relembrança deste dia; Resposta: Letra C
c) que relembremos este dia; Em “a”: para que se evitasse a abstenção;
d) que relembrássemos este dia; Em “b”: a fim de que a abstenção fosse evitada;
e) uma nova lembrança deste dia. Em “c”: para que se evite a abstenção;

75
Desenvolvida tem conjunção. O período traz “para evi- e) exerce função de adjunto adverbial, portanto é um ter-
tar a abstenção” = hipótese. A forma correta é: “com as mo acessório.
novas medidas para que se evite a abstenção”.
Resposta: Letra B
5. (MPE-AL – ANALISTA DO MINISTÉRIO PÚBLICO – A expressão destacada exerce a função de aposto –
ÁREA JURÍDICA – FGV-2018) Assinale a opção em que uma informação a mais sobre o termo citado anterior-
o termo sublinhado funciona como sujeito. mente (no caso, Minas Gerais). É um termo acessório,
podendo ser retirado do período sem prejudicar a
a) “Em um regime de liberdades, há sempre o risco de coerência.
excessos”.
b) “Sempre há, também, o oportunismo político-ideoló- 8. (TRF-1.ª REGIÃO – TÉCNICO JUDICIÁRIO – INFOR-
gico para se aproveitar da crise”. MÁTICA – FCC-2014)
c) “Não faltam, também, os arautos do quanto pior, me- Em 1980, um gigabyte de dados armazenados ocupava
lhor, ...”.
uma sala...
d) “A greve atravessou vários sinais ao estrangular as
O verbo que exige complemento tal como o sublinhado
vias de suprimento que mantêm o sistema produtivo
acima está em:
funcionando”.
e) “Numa democracia, é livre a expressão”.
a) A capacidade de computação duplicou a cada 18 me-
Resposta: Letra C ses nos últimos 20 anos ...
Em “a”: há sempre o risco de excessos = objeto direto b) ... que deriva da informação.
Em “b”: “Sempre há, também, o oportunismo político- c) ... que reduz as barreiras ao acesso.
-ideológico = objeto direto d) ... do que era nos anos 70.
Em “c”: “Não faltam, também, os arautos do quanto e) ... atualmente, 200 gigabytes cabem no bolso de uma
pior, melhor = sujeito camisa.
Em “d”: que mantêm o sistema produtivo funcionando
= objeto direto Resposta: Letra C
Em “e”: é livre a expressão = predicativo do sujeito “Ocupava uma sala” = transitivo direto
Em “a”: A capacidade de computação duplicou = ver-
6. (TJ-PE – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FUNÇÃO JUDI- bo intransitivo
CIÁRIA – IBFC-2017 - ADAPTADA) “A resposta que lhe Em “b”: que deriva da informação = transitivo indireto
daria seria: ‘Essa estória não aconteceu nunca para que Em “c”: que reduz as barreiras = transitivo direto
aconteça sempre... ’” O pronome destacado cumpre papel Em “d”: do que era nos anos 70 = verbo de ligação
coesivo, mas também sintático na oração. Assim, sintati- Em “e”: atualmente, 200 gigabytes cabem = verbo
camente, ele deve ser classificado como: intransitivo

a) adjunto adnominal. 9. (TJ-AL – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FGV-2018) “Tenho


b) objeto direto. comentado aqui na Folha em diversas crônicas, os usos da
c) complemento nominal. internet, que se ressente ainda da falta de uma legislação
d) objeto indireto. específica que coíba não somente os usos mas os abusos
e) predicativo. deste importante e eficaz veículo de comunicação”. Sobre
as ocorrências do vocábulo que, nesse segmento do tex-
Resposta: Letra D to, é correto afirmar que:
O verbo “dar” é bitransitivo (transitivo direto e indire-
to): Quem dá, dá algo (direto) a alguém (indireto). No
a) são pronomes relativos com o mesmo antecedente;
caso: resposta (objeto direto) / lhe (objeto indireto =
b) exemplificam classes gramaticais diferentes;
a ele[a])
c) mostram diferentes funções sintáticas;
GABARITO OFICIAL: D
d) são da mesma classe gramatical e da mesma função
7. (TRE-AC – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ÁREA ADMINIS- sintática;
TRATIVA – AOCP-2015) Em “Ele diz que vota desde os e) iniciam o mesmo tipo de oração subordinada.
18, quando ainda era jovem e morava em Minas Gerais,
sua terra natal...”, a expressão em destaque Resposta: Letra D
“Tenho comentado aqui na Folha em diversas crônicas,
LÍNGUA PORTUGUESA

a) exerce função de vocativo e não pode ser excluída da os usos da internet, que (= a qual) se ressente ainda da
oração por tratar-se de um termo essencial. falta de uma legislação específica que (= a qual) coíba
b) exerce função de aposto e pode ser excluída da oração não somente os usos mas os abusos deste importante
por tratar-se de um termo acessório. e eficaz veículo de comunicação” = ambos podem ser
c) exerce função de aposto e não pode ser excluída da substituídos por “a qual”, portanto são pronomes re-
oração por tratar-se de um termo essencial. lativos (pertencem à mesma classe gramatical); o 1.º
d) exerce função de adjunto adnominal, portanto é um inicia uma oração subordinada adjetiva explicativa; o
termo acessório. 2.º, adjetiva restritiva.

76
10. (TRE-RJ – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ÁREA ADMINIS-
TRATIVA – CONSULPLAN-2017) Analise as afirmações
apresentadas a seguir. HORA DE PRATICAR!
I. Em “Existe alguma hora que não seja de relógio?”, a
oração sublinhada é uma oração subordinada adjetiva 1. (CAMAR - CURSO DE ADAPTAÇÃO DE MÉDICOS DA
explicativa. AERONÁUTICA PARA O ANO DE 2016) “Os astrônomos
II. Em “[...] tem surgido, cada vez mais frequente, o dimi- eram formidáveis. Eu, pobre de mim, não desvendaria os
nutivo do gerúndio.”, a expressão destacada atua como segredos do céu. Preso à terra, sensibilizar-me-ia com his-
tórias tristes [...]”. Nas alternativas a seguir, os vocábulos
sujeito da locução verbal “ter surgido”.
acentuados do trecho anterior foram colocados em pares
III. “Não pense que para por aí [...]”, a oração sublinhada
com palavras também acentuadas graficamente. Dentre
é uma oração subordinada substantiva objetiva direta. os pares formados, indique o que apresenta igual justifi-
IV. Em “[...] se te chamarem de ‘queridinho’, querem é cativa para tal evento.
que você exploda.”, a oração destacada é uma oração
subordinada adverbial causal. a) céu / avô
b) astrônomos / álibi
Estão corretas apenas as afirmativas c) histórias / balaústre
d) formidáveis / ínterim
a) I e II.
b) II e III. 2. (MINISTÉRIO DA DEFESA COMANDO DA AERO-
c) III e IV. NÁUTICA ESCOLA DE ESPECIALISTAS DE AERONÁU-
d) I, II e IV. TICA EXAME DE ADMISSÃO AO CFS-B 1-2/2014) Rela-
cione as colunas quanto às regras de acentuação gráfica,
Resposta: Letra B sabendo que haverá repetição de números. Em seguida,
Em “I” - “Existe alguma hora que não seja de reló- assinale a alternativa com a sequência correta.
gio?”, a oração sublinhada é uma oração subordinada
adjetiva explicativa = substituindo “que” por “a qual”, (1) Põe-se acento agudo no i e no u tônicos que formam
hiato com a vogal anterior.
continua com sentido, então é pronome relativo – pre-
(2) Acentua-se paroxítona terminada em i ou u seguidos
sente nas adjetivas, mas no período em questão te- ou não de s.
mos uma restritiva = incorreta (3) Todas as proparoxítonas devem ser acentuadas.
Em “II” - tem surgido, cada vez mais frequente, o di- (4) Oxítona terminada em e ou o, seguidos ou não de s,
minutivo do gerúndio.”, a expressão destacada atua é acentuada.
como sujeito da locução verbal “ter surgido” = correta
Em “III” - “Não pense que para por aí [...]”, a oração ( ) íris
sublinhada é uma oração subordinada substantiva ob- ( ) saída
jetiva direta = correta ( ) compraríamos
Em “IV” - se te chamarem de ‘queridinho’, a oração ( ) vendê-lo
destacada é uma oração subordinada adverbial causal ( ) bônus
= adverbial condicional (“se”) = incorreta ( ) viúvo
( ) bisavôs

a) 2 – 1 – 3 – 4 – 2 – 1 – 4
b) 1 – 2 – 3 – 4 – 1 – 1 – 4
c) 4 – 1 – 1 – 2 – 2 – 3 – 2
d) 2 – 2 – 3 – 4 – 2 – 1 – 3

3. (TRANSPETRO – TÉCNICO AMBIENTAL JÚNIOR –


CESGRANRIO-2018) Em conformidade com o Acordo
Ortográfico da Língua Portuguesa vigente, atendem às
regras de acentuação todas as palavras em:

a) andróide, odisseia, residência


b) arguição, refém, mausoléu
c) desbloqueio, pêlo, escarcéu
d) feiúra, enjoo, maniqueísmo
e) sutil, assembléia, arremesso
LÍNGUA PORTUGUESA

4. (ALERJ-RJ – ESPECIALISTA LEGISLATIVO – ARQUI-


TETURA – FGV-2017-ADAPTADA) Entre as palavras
abaixo, retiradas dos textos 1 e 2, aquela que só existe
com acento gráfico é:

a) história;
b) evidência;

77
c) até; redes sociais para reverberar, multiplicar e cumprem as-
d) país; sim relevante papel mobilizador. Mas o pontapé inicial é
e) humanitárias. sempre das empresas de conteúdo independentes”.
(O Estado de São Paulo, 10/04/2017)
5. (CAMAR - CURSO DE ADAPTAÇÃO DE MÉDICOS
O texto 1, do Estado de São Paulo, mostra um conjunto
DA AERONÁUTICA PARA O ANO DE 2016) De acordo
de adjetivos sublinhados que poderiam ser substituídos
com seu significado, o conjunto de características for- por locuções; a substituição abaixo que está adequada é:
mais e sua posição estrutural no interior da oração, as
palavras podem pertencer à mesma classe de palavras a) independente = com dependência;
ou não. Estabeleça a relação correta entre as colunas a b) pública = de publicidade;
seguir considerando tais aspectos (considere as palavras c) relevante = de relevância;
em destaque). d) sociais = de associados;
e) mobilizador = de motivação.
(1) advérbio
(2) pronome 9. (PC-SP - AUXILIAR DE NECROPSIA – VUNESP-2014)
Considerando que o adjetivo é uma palavra que modifica
(3) conjunção
o substantivo, com ele concordando em gênero e núme-
(4) substantivo ro, assinale a alternativa em que a palavra destacada é
um adjetivo.
( ) “Não há prisão pior [...]”
( ) “O lugar de estudo era isso.” a) ... um câncer de boca horroroso, ...
( ) “E o olho sem se mexer [...]” b) Ele tem dezesseis anos...
( ) “Ora, se eles enxergavam coisas tão distantes, [...]” c) Eu queria que ele morresse logo, ...
( ) “Emília respondeu com uma pergunta que me d) ... com a crueldade adicional de dar esperança às
espantou.” famílias.
e) E o inferno não atinge só os terminais.
10. (TRE-AC – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ÁREA ADMI-
A sequência está correta em
NISTRATIVA – AOCP-2015) Assinale a alternativa cujo
“que” em destaque funciona como pronome relativo.
a) 1 – 4 – 2 – 3 – 2
b) 2 – 1 – 3 – 3 – 4 a) «É uma maneira de expressar a vontade que a gente
c) 3 – 4 – 1 – 3 – 2 tem. Acho que um voto pode fazer a diferença”.
d) 4 – 2 – 4 – 1 – 3 b) “Ele diz que vota desde os 18...”.
c) “Acho que um voto pode fazer a diferença”.
6. (EBSERH – TÉCNICO EM FARMÁCIA- AOCP-2015) d) “... e acreditam que um voto consciente agora pode
Assinale a alternativa em que o termo destacado é um influenciar futuramente na vida de seus filhos e netos”.
e) “O idoso afirma que sempre incentivou sua família a
pronome indefinido.
votar”.
a) “Ele não exige fatos...”. 11. (TRF-1.ª Região – ANALISTA JUDICIÁRIO – INFOR-
b) “Era um ídolo para mim.”. MÁTICA – FCC- 2014-ADAPTADA) No período O livro
c) “Discordo dele.”. explica os espíritos chamados ‘xapiris’, que os ianomâmis
d) “... espécie de carinho consigo mesmo.”. creem serem os únicos capazes de cuidar das pessoas e
e) “O bom humor está disponível a todos...”. das coisas, a palavra grifada tem a função de pronome
relativo, retomando um termo anterior. Do mesmo modo
7. (EBSERH – TÉCNICO EM FARMÁCIA- AOCP-2015) como ocorre em:
Em “Mas o bom humor de ambos os tornava parecidos.”,
a) Os ianomâmis acreditam que os xamãs recebem dos
os termos destacados são, respectivamente,
espíritos chamados “xapiris” a capacidade de cura.
b) Eu queria escrever para os não indígenas não acharem
a) artigo e pronome. que índio não sabe nada.
b) artigo e preposição.
c) preposição e artigo. c) O branco está preocupado que não chove mais em
d) pronome e artigo. alguns lugares.
e) preposição e pronome. d) Gravou 15 fitas em que narrou também sua própria
trajetória.
e) Não sabia o que me atrapalhava o sono.
LÍNGUA PORTUGUESA

8. (IBGE – AGENTE CENSITÁRIO – ADMINISTRATIVO


– FGV-2017)
12. (CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – NÍ-
VEL SUPERIOR – CONHECIMENTOS BÁSICOS
Texto 1 - “A democracia reclama um jornalismo vigo- – CESPE-2014-ADAPTADA)
roso e independente. A agenda pública é determinada
pela imprensa tradicional. Não há um único assunto rele- A busca de uma convenção para medir riquezas e trocar
vante que não tenha nascido numa pauta do jornalismo mercadorias é quase tão antiga quanto a vida em so-
de qualidade. Alguns formadores de opinião utilizam as ciedade. Ao longo da história, os mais diversos artigos

78
foram usados com essa finalidade, como o chocolate, d) Em centros com grandes aglomerações populacionais,
entre os astecas, e o bacalhau seco, entre os noruegue- realiza-se negócios nacionais e internacionais, além
ses, tendo cabido aos gregos do século VII a.C. a criação de um atendimento bastante diversificado, como jor-
de uma moeda metálica com um valor padronizado pelo nais, teatros, cinemas, entre outros.
Estado. “Foi uma invenção revolucionária. Ela facilitou o e) Em todos os estudos geopolíticos, considera-se as ci-
acesso das camadas mais pobres às riquezas, o acúmulo dades globais como verdadeiros polos de influência
de dinheiro e a coleta de impostos – coisas muito difíceis internacional, devido à presença de sedes de grandes
de fazer quando os valores eram contados em bois ou empresas transnacionais e importantes centros de
imóveis”, afirma a arqueóloga Maria Beatriz Florenzano,
pesquisas.
da Universidade de São Paulo. A segunda grande revo-
lução na história do dinheiro, o papel-moeda, teve uma
origem mais confusa. Existiam cédulas na China do ano 15. (LIQUIGÁS – MOTORISTA DE CAMINHÃO GRANEL
960, mas elas não se espalharam para outros lugares e I – CESGRANRIO-2018) A palavra destacada atende às
caíram em desuso no fim do século XIV. exigências de concordância da norma-padrão da língua
As notas só apareceram na Europa – e daí para o mundo portuguesa em:
– em 1661, na Suécia. Há quem acredite que cartões de
crédito e caixas eletrônicos em rede já representam uma a) Atualmente, causa impacto nas eleições de vários paí-
terceira revolução monetária. “Com a informática, o di- ses as notícias falsas.
nheiro se transformou em impulsos eletrônicos invisíveis, b) A recomendação de testar a veracidade das notícias
livres do espaço, do tempo e do controle de governos e precisam ser seguidas, para não prejudicar as pessoas.
corporações”, afirma o antropólogo Jack Weatherford, da c) O propósito de conferir grandes volumes de dados re-
Faculdade Macalester, nos Estados Unidos da América. sultaram na criação de serviços especializados.
Internet: <http://super.abril.com.br> (com adaptações). d) Os boatos causam efeito mais forte do que as notícias
A expressão “essa finalidade” refere-se ao trecho “para reais porque vem acompanhados de títulos chamativos.
medir riquezas e trocar mercadorias”. e) Os resultados de pesquisas recentes mostram que
67% das pessoas consultam os jornais diariamente.
( ) CERTO ( ) ERRADO
16. (PETROBRAS – ENGENHEIRO(A) DE MEIO AM-
13. (CÂMARA DE SALVADOR-BA – ASSISTENTE LE- BIENTE JÚNIOR – CESGRANRIO-2018)
GISLATIVO MUNICIPAL – FGV-2018) “Por outro lado,
nas sociedades complexas, a violência deixou de ser uma Texto I
ferramenta de sobrevivência e passou a ser um instrumen-
to da organização da vida comunitária. Ou seja, foi usada Portugueses no Rio de Janeiro
para criar uma desigualdade social sem a qual, acreditam
alguns teóricos, a sociedade não se desenvolveria nem se O Rio de Janeiro é o grande centro da imigração portu-
complexificaria”. A utilização do termo “ou seja” introduz: guesa até meados dos anos cinquenta do século passa-
do, quando chega a ser a “terceira cidade portuguesa do
a) uma informação sobre o significado de um termo an- mundo”, possuindo 196 mil portugueses — um décimo
teriormente empregado; de sua população urbana. Ali, os portugueses dedicam-se
b) a explicação de uma expressão de difícil entendimento; ao comércio, sobretudo na área dos comestíveis, como os
c) uma outra maneira de dizer-se rigorosamente a mes- cafés, as panificações, as leitarias, os talhos, além de ou-
ma coisa; tros ramos, como os das papelarias e lojas de vestuários.
d) acréscimo de um esclarecimento sobre o que foi dito Fora do comércio, podem exercer as mais variadas pro-
antes; fissões, como atividades domésticas ou as de barbeiros
e) a ênfase de algo que parece importante para o texto. e alfaiates. Há, de igual forma, entre os mais afortunados,
aqueles ligados à indústria, voltados para construção civil,
14. (BANCO DO BRASIL – ESCRITURÁRIO – CESGRAN- o mobiliário, a ourivesaria e o fabrico de bebidas.
RIO-2018) De acordo com as exigências da norma-pa- A sua distribuição pela cidade, apesar da não formação
drão da língua portuguesa, o verbo destacado está cor- de guetos, denota uma tendência para a sua concentra-
retamente empregado em: ção em determinados bairros, escolhidos, muitas das ve-
zes, pela proximidade da zona de trabalho. No Centro da
a) No mundo moderno, conferem-se às grandes metró- cidade, próximo ao grande comércio, temos um grupo
poles importante papel no desenvolvimento da eco- significativo de patrícios e algumas associações de por-
nomia e da geopolítica mundiais, por estarem no topo te, como o Real Gabinete Português de Leitura e o Liceu
LÍNGUA PORTUGUESA

da hierarquia urbana. Literário Português. Nos bairros da Cidade Nova, Estácio


b) Conforme o grau de influência e importância interna- de Sá, Catumbi e Tijuca, outro ponto de concentração
cional, classificou-se as 50 maiores cidades em três da colônia, se localizam outras associações portugue-
diferentes classes, a maior parte delas na Europa. sas, como a Casa de Portugal e um grande número de
c) Há quase duzentos anos, atribuem-se às cidades a casas regionais. Há, ainda, pequenas concentrações nos
responsabilidade de motor propulsor do desenvolvi- bairros periféricos da cidade, como Jacarepaguá, origi-
mento e a condição de lugar privilegiado para os ne- nalmente formado por quintas de pequenos lavradores;
gócios e a cultura. nos subúrbios, como Méier e Engenho Novo; e nas zonas

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mais privilegiadas, como Botafogo e restante da zona sul 19. (PC-BA – DELEGADO DE POLÍCIA – VUNESP-2018)
carioca, área nobre da cidade a partir da década de cin- A concordância está em conformidade com a norma-pa-
quenta, preferida pelos mais abastados. drão na seguinte frase:
PAULO, Heloísa. Portugueses no Rio de Janeiro: salaza-
ristas e opositores em manifestação na cidade. In: ALVES, a) São comuns que a adaptação de livros para o cinema
Ida et alii. 450 Anos de Portugueses no Rio de Janeiro. Rio suscitem reações negativas nos fãs do texto escrito.
de Janeiro: Ofi cina Raquel, 2017, pp. 260-1. Adaptado. b) Cabem aos leitores completar, com a imaginação, as
lacunas que fazem parte da estrutura significativa do
O texto emprega duas vezes o verbo “haver”. Ambos es- texto literário.
tão na 3.ª pessoa do singular, pois são impessoais. Esse
c) Aos esforços envolvidos na leitura soma-se a imagina-
papel gramatical está repetido corretamente em:
ção, a que a linguagem literária apela constantemente.
d) Algumas pessoas mantém o hábito de só assistirem à
a) Ninguém disse que os portugueses havia de saírem
da cidade. adaptação de uma obra depois de as terem lido, para
b) Se houvessem mais oportunidades, os imigrantes fi- não ser influenciadas.
cariam ricos. e) Há livros que dispõe de uma infinidade de adaptações
c) Haveriam de haver imigrantes de outras procedências para o cinema, as quais tende a compor seu repertório
na cidade. de leituras.
d) Os imigrantes vieram de Lisboa porque lá não haviam
empregos. 20. (FUNDASUS-MG – ANALISTA EM SERVIÇO PÚBLI-
e) Os portugueses gostariam de que houvesse mais ofer- CO DE SAÚDE - ANALISTA DE SISTEMA – AOCP-2015)
tas de trabalho. Observe o excerto: “Entre os fatores ligados à relação do
17. (TRANSPETRO – TÉCNICO AMBIENTAL JÚNIOR aluno com a instituição e com os colegas, gostar de ir à
– CESGRANRIO-2018) A concordância da forma verbal escola (...)” e assinale a alternativa correta com relação
destacada foi realizada de acordo com as exigências da ao emprego do acento utilizado nos termos destacados.
norma-padrão da língua portuguesa em:
a) Trata-se do acento grave, empregado para indicar a su-
a) Com o crescimento da espionagem virtual, é necessá- pressão do advérbio “a” com o pronome feminino “a”
rio que se promova novos estudos sobre mecanismos que acompanha os substantivos “relação” e “escola”.
de proteção mais eficazes. b) Trata-se do acento agudo, empregado para indicar a
b) O rastreamento permanente das invasões cibernéticas
nasalidade da vogal “a” que acompanha os substanti-
de grande porte permite que se suspeitem dos hac-
vos “relação” e “escola”.
kers responsáveis.
c) Para atender às demandas dos usuários de celulares, é c) Trata-se do acento circunflexo, empregado para assi-
preciso que se destinem à pesquisa tecnológica mui- nalar a vogal aberta “a” que acompanha os substanti-
tos milhões de dólares. vos “relação” e “escola”.
d) Para detectar as consequências mais prejudiciais da d) Trata-se do acento agudo, empregado para indicar a
guerra virtual pela informação, necessitam-se de es- supressão da preposição “a” com o artigo feminino “a”
tudos mais aprofundados. que acompanha os substantivos “relação” e “escola”.
e) Se o crescimento das redes sociais assumir uma pro- e) Trata-se do acento grave, empregado para indicar a
porção incontrolável, é aconselhável que se estabele- junção da preposição “a” com o artigo feminino “a”
ça novas restrições de utilização pelos jovens. que acompanha os substantivos “relação” e “escola”.

18. (PC-AP – DELEGADO DE POLÍCIA – FCC-2017) As 21. (BADESC – ANALISTA DE SISTEMA – BANCO DE
normas de concordância e a adequada articulação entre DADOS – FGV-2010) Na frase “é ingênuo creditar a pos-
tempos e modos verbais estão plenamente observadas tura brasileira apenas à ausência de educação adequa-
na frase: da” foi corretamente empregado o acento indicativo de
crase.
a) É comum que se assinale numa crônica os aspectos do
cotidiano que o escritor resolvesse analisar e interpre- Assinale a alternativa em que o acento indicativo de cra-
tar, apesar das dificuldades que encerram tal desafio.
se está corretamente empregado.
b) Se às crônicas de Rubem Braga viessem a faltar sua
marca autoral inconfundível, elas terão deixado de
a) O memorando refere-se à documentos enviados na
constituir textos clássicos desse gênero.
c) Caso um dia venham a surgir, simultaneamente, ta- semana passada.
LÍNGUA PORTUGUESA

lentos à altura de um Rubem Braga, esse gênero terá b) Dirijo-me à Vossa Senhoria para solicitar uma audiên-
alcançado uma relevância jamais vista. cia urgente.
d) Não seria fácil, de fato, que venha a se equilibrar, na c) Prefiro montar uma equipe de novatos à trabalhar com
cabeça de um jovem cronista de hoje, os valores de pessoas já desestimuladas.
sua experiência pessoal com os de sua comunidade. d) O antropólogo falará apenas àquele aluno cujo nome
e) Tanto uma padaria como um banheiro poderiam ofe- consta na lista.
recer matéria para uma boa crônica, desde que não e) Quanto à meus funcionários, afirmo que têm horário
falte ao cronista recursos de grande imaginação. flexível e são responsáveis.

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22. (BADESC – TÉCNICO DE FOMENTO A – FGV-2010) d) Os consumidores compulsivos sujeitam-se a ficar ho-
De acordo com as regras gramaticais, no trecho “a exor- ras na fila para serem os primeiros que comprarão os
bitante carga tributária a que estão submetidas as empre- novos lançamentos.
sas”, não se deve empregar acento indicativo de crase, e) As pessoas precisam ficar atentas a fatura do cartão
devendo ocorrer o mesmo na frase: de crédito para não serem surpreendidas com valores
muito altos.
a) Entregue o currículo as assistentes do diretor.
b) Recorra a esta empresa sempre que precisar. 26. (PC-SP - INVESTIGADOR DE POLÍCIA
c) Avise aquela colega que chegou sua correspondência. – VUNESP-2014)
d) Refira-se positivamente a proposta filosófica da A cada ano, ocorrem cerca de 40 mil mortes; segundo
companhia. especialistas, quase metade delas está associada _____
e) Transmita confiança aqueles que observam seu bebidas alcoólicas. Isso revela a necessidade de um com-
desempenho. bate efetivo _____ embriaguez ao volante.
As lacunas do trecho devem ser preenchidas, correta e
23. (BANCO DA AMAZÔNIA – TÉCNICO BANCÁRIO – respectivamente, com:
CESGRANRIO-2018) De acordo com a norma-padrão da
língua portuguesa, o sinal grave indicativo da crase deve a) às … a
ser empregado na palavra destacada em: b) as … à
a) A intenção da entrevista com o diretor estava rela- c) à … à
cionada a programação que a empresa pretende d) às … à
desenvolver. e) à … a
b) As ações destinadas a atrair um número maior de
clientes são importantes para garantir a saúde finan- 27. (PC-SP - AGENTE DE POLÍCIA – VUNESP-2013) De
ceira das instituições. acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, o
c) As instituições financeiras deveriam oferecer condi- acento indicativo de crase está corretamente empregado
ções mais favoráveis de empréstimo a quem está fora em:
do mercado formal de trabalho.
d) As pessoas interessadas em ampliar suas reservas fi- a) A população, de um modo geral, está à espera de que,
nanceiras consideram que vale a pena investir na nova com o novo texto, a lei seca possa coibir os acidentes.
moeda virtual. b) A nova lei chega para obrigar os motoristas à repensa-
e) Os participantes do seminário sobre mercado financei- rem a sua postura.
ro foram convidados a comparar as importações e as c) A partir de agora os motoristas estarão sujeitos à puni-
exportações em 2017. ções muito mais severas.
d) À ninguém é dado o direito de colocar em risco a vida
24. (LIQUIGÁS – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO – dos demais motoristas e de pedestres.
CESGRANRIO-2018) O emprego do acento indicativo e) Cabe à todos na sociedade zelar pelo cumprimento da
de crase está de acordo com a norma-padrão em: nova lei para que ela possa funcionar.

a) O escritor de novelas não escolhe seus personagens 28. (CÂMARA DE SALVADOR-BA – ASSISTENTE LE-
à esmo. GISLATIVO MUNICIPAL – FGV-2018)
b) A audiência de uma novela se constrói no dia à dia.
c) Uma boa história pode ser escrita imediatamente ou Texto 1 – Guerra civil
à prazo. Renato Casagrande, O Globo, 23/11/2017
d) Devido à interferências do público, pode haver mu-
danças na trama. O 11.º Relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pú-
e) O novelista ficou aliviado quando entregou a sinopse blica, mostrando o crescimento das mortes violentas no
à emissora. Brasil em 2016, mais uma vez assustou a todos. Foram
61.619 pessoas que perderam a vida devido à violência.
25. (PETROBRAS – ADMINISTRADOR JÚNIOR – CES- Outro dado relevante é o crescimento da violência em
GRANRIO-2018) De acordo com a norma- -padrão da alguns estados do Sul e do Sudeste.
língua portuguesa, o acento grave indicativo da crase Na verdade, todos os anos a imprensa nacional destaca
deve ser empregado na palavra destacada em: os inaceitáveis números da violência no país. Todos se
assustam, o tempo passa, e pouca ação ocorre de fato.
a) Os novos lançamentos de smartphones apresentam, Tem sido assim com o governo federal e boa parte das
LÍNGUA PORTUGUESA

em geral, pequena variação de funções quando com- demais unidades da Federação. Agora, com a crise, o ar-
parados a versões anteriores. gumento é a incapacidade de investimento, mas, mesmo
b) Estudantes do ensino médio fizeram uma pesquisa em períodos de economia mais forte, pouco se viu da im-
junto a crianças do ensino fundamental para ver como plementação de programas estruturantes com o objetivo
elas se comportam no ambiente virtual. de enfrentar o crime. Contratação de policiais, aquisição
c) O acesso dos jovens a redes sociais tem causado enor- de equipamentos, viaturas e novas tecnologias são medi-
mes prejuízos ao seu desempenho escolar, conforme das essenciais, mas é preciso ir muito além. Definir metas
o depoimento de professores. e alcançá-las, utilizando um bom método de trabalho,

81
deve ser parte de um programa bem articulado, que per- vedações de seus membros. Isso deu evidência à institui-
mita o acompanhamento das ações e que incentive o ção, tornando-a uma espécie de ouvidoria da sociedade
trabalho integrado entre as forças policiais do estado, da brasileira.
União e das guardas municipais. Internet: <www.mpu.mp.br> (com adaptações).

O segmento do texto 1 em que a conjunção E tem valor No período “A sua história é marcada por processos que
adversativo (oposição) e NÃO aditivo (adição) é: culminaram”, o termo “que” introduz oração de natureza
restritiva.
a) “...crescimento da violência em alguns estados do Sul
e do Sudeste”; ( ) CERTO  ( ) ERRADO
b) “Todos se assustam, o tempo passa, e pouca ação de-
corre de fato”; (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉDIO
c) “Tem sido assim com o governo federal e boa parte - VUNESP – 2017 - ADAPTADA) Leia o texto, para res-
das demais unidades da Federação”; ponder às questões a seguir:
d) “...viaturas e novas tecnologias”;
e) “Definir metas e alcançá-las...”. Há quatro anos, Chris Nagele fez o que muitos execu-
tivos no setor de tecnologia já tinham feito – ele transfe-
29. (ALERJ-RJ – ESPECIALISTA LEGISLATIVO – AR- riu sua equipe para um chamado escritório aberto, sem
QUITETURA – FGV-2017) “... implica poder decifrar as paredes e divisórias.
referências cristãs...”; a forma reduzida sublinhada fica Os funcionários, até então, trabalhavam de casa, mas
convenientemente substituída por uma oração em forma ele queria que todos estivessem juntos, para se conec-
desenvolvida na seguinte opção: tarem e colaborarem mais facilmente. Mas em pouco
tempo ficou claro que Nagele tinha cometido um grande
a) a possibilidade de decifrar as referências cristãs; erro. Todos estavam distraídos, a produtividade caiu, e
b) a possibilidade de decifração das referências cristãs; os nove empregados estavam insatisfeitos, sem falar do
c) que se pudessem decifrar as referências cristãs; próprio chefe.
d) que possamos decifrar as referências cristãs; Em abril de 2015, quase três anos após a mudança
e) a possibilidade de que decifrássemos as referências para o escritório aberto, Nagele transferiu a empresa
cristãs. para um espaço de 900 m² onde hoje todos têm seu pró-
prio espaço, com portas e tudo.
30. (COMPESA-PE – ANALISTA DE GESTÃO – ADMI- Inúmeras empresas adotaram o conceito de escritório
NISTRADOR – FGV-2018) “... mas já conhecem a brutal aberto – cerca de 70% dos escritórios nos Estados Unidos
realidade dos desaventurados cuja sina é cruzar fronteiras são assim – e até onde se sabe poucos retornaram ao
para sobreviver.” A forma reduzida de “para sobreviver” modelo de espaços tradicionais com salas e portas.
pode ser nominalizada de forma conveniente na seguin- Pesquisas, contudo, mostram que podemos perder
te alternativa: até 15% da produtividade, desenvolver problemas graves
de concentração e até ter o dobro de chances de ficar
a) para que sobrevivam. doentes em espaços de trabalho abertos – fatores que
b) a fim de que sobrevivessem. estão contribuindo para uma reação contra esse tipo de
c) para sua sobrevida. organização.
d) no intuito de sobreviverem. Desde que se mudou para o formato tradicional, Na-
e) para sua sobrevivência. gele já ouviu colegas do setor de tecnologia dizerem
sentir falta do estilo de trabalho do escritório fechado.
31. (MPU – CONHECIMENTOS BÁSICOS PARA O CAR- “Muita gente concorda – simplesmente não aguentam o
GO 33 – TÉCNICO ÁREA ADMINISTRATIVA - NÍVEL escritório aberto. Nunca se consegue terminar as coisas e
MÉDIO – CESPE-2013) é preciso levar mais trabalho para casa”, diz ele.
O Ministério Público é fruto do desenvolvimento do es- É improvável que o conceito de escritório aberto caia
tado brasileiro e da democracia. A sua história é marcada em desuso, mas algumas firmas estão seguindo o exem-
por processos que culminaram na sua formalização insti- plo de Nagele e voltando aos espaços privados.
tucional e na ampliação de sua área de atuação. Há uma boa razão que explica por que todos ado-
No período colonial, o Brasil foi orientado pelo direito ram um espaço com quatro paredes e uma porta: foco.
lusitano. Não havia o Ministério Público como instituição. A verdade é que não conseguimos cumprir várias tarefas
Mas as Ordenações Manuelinas de 1521 e as Ordena- ao mesmo tempo, e pequenas distrações podem desviar
LÍNGUA PORTUGUESA

ções Filipinas de 1603 já faziam menção aos promotores nosso foco por até 20 minutos.
de justiça, atribuindo a eles o papel de fiscalizar a lei e Retemos mais informações quando nos sentamos em
de promover a acusação criminal. Existiam os cargos de um local fixo, afirma Sally Augustin, psicóloga ambiental
procurador dos feitos da Coroa (defensor da Coroa) e de e design de interiores.
procurador da Fazenda (defensor do fisco). (Bryan Borzykowski, “Por que escritórios aber-
A Constituição de 1988 faz referência expressa ao Mi- tos podem ser ruins para funcionários.” Disponível
nistério Público no capítulo Das Funções Essenciais à em:<www1.folha.uol.com.br>. Acesso em: 04.04.2017.
Justiça. Define as funções institucionais, as garantias e as Adaptado)

82
32. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – c) anterior, atestando a eficiência do modelo aberto com
MÉDIO - VUNESP – 2017) Segundo o texto, são as- base em resultados de pesquisas.
pectos desfavoráveis ao trabalho em espaços abertos d) anterior, introduzindo informações que se contra-
compartilhados põem à visão positiva acerca dos escritórios abertos.
e) posterior, contestando com dados estatísticos o for-
a) a impossibilidade de cumprir várias tarefas e a restri- mato tradicional de escritório fechado.
ção à criatividade.
b) a dificuldade de propor soluções tecnológicas e a
36. (EBSERH – ANALISTA ADMINISTRATIVO – ESTA-
transferência de atividades para o lar.
TÍSTICA – AOCP-2015) Assinale a alternativa correta em
c) a dispersão e a menor capacidade de conservar
conteúdos. relação à ortografia dos pares.
d) a distração e a possibilidade de haver colaboração de
colegas e chefes. a) Atenção – atenciozo.
e) o isolamento na realização das tarefas e a vigilância b) Aprender – aprendizajem.
constante dos chefes. c) Simples – simplissidade.
d) Fúria – furiozo.
33. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉ- e) Sensação – sensacional.
DIO - VUNESP – 2017) Assinale a alternativa em que a
nova redação dada ao seguinte trecho do primeiro pará- 37. (BADESC – TÉCNICO DE FOMENTO A – FGV-2010)
grafo apresenta concordância de acordo com a norma- As palavras jeitinho, pesquisa e intrínseco apresentam
-padrão: Há quatro anos, Chris Nagele fez o que muitos diferentes graus de dificuldade ortográfica e estão corre-
executivos no setor de tecnologia já tinham feito. tamente grafadas. Assinale a alternativa em que a grafia
da palavra sublinhada está igualmente correta.
a) Muitos executivos já havia transferido suas equipes
para o chamado escritório aberto, como feito por Ch-
a) Talvez ele seje um caso de sucesso empresarial.
ris Nagele.
b) Mais de um executivo já tinham transferido suas equi- b) A paralização da equipe técnica demorou bastante.
pes para escritórios abertos, o que só aconteceu com c) O funcionário reinvindicou suas horas extras.
Chris Nagele fazem mais de quatro anos. d) Deve-se expor com clareza a pretenção salarial.
c) O que muitos executivos fizeram, transferindo suas e) O assessor de imprensa recebeu o jornalista.
equipes para escritórios abertos, também foi feito por
Chris Nagele, faz cerca de quatro anos. 38. (LIQUIGÁS – MOTORISTA DE CAMINHÃO GRANEL
d) Devem fazer uns quatro anos que Chris Nagele trans- I – CESGRANRIO-2018) O grupo em que todas as pala-
feriu sua equipe para escritórios abertos, tais como foi vras estão grafadas de acordo com a norma-padrão da
transferido por muitos executivos. língua portuguesa é:
e) Faz exatamente quatro anos que Chris Nagele fez o que
já tinham sido feitos por outros executivos do setor. a) admissão, infração, renovação
b) diversão, excessão, sucessão
34. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉ- c) extenção, eleição, informação
DIO - VUNESP – 2017) É correto afirmar que a expressão d) introdução, repreção, intenção
– até então –, em destaque no início do segundo pará-
e) transmissão, conceção, omissão
grafo, expressa um limite, com referência

a) temporal ao momento em que se deu a transferência 39. (MPE-AL - TÉCNICO DO MINISTÉRIO PÚBLICO –
da equipe de Nagele para o escritório aberto. FGV-2018) “A crise não trouxe apenas danos sociais e
b) espacial aos escritórios fechados onde trabalhava econômicos”; se juntarmos os adjetivos sublinhados em
a equipe de Nagele antes da mudança para locais um só vocábulo, a forma adequada será
abertos.
c) temporal ao dia em que Nagele decidiu seguir o exem- a) sociais-econômicos.
plo de outros executivos, e espacial ao tipo de escri- b) social-econômicos.
tório que adotou. c) sociais-econômico.
d) espacial ao caso de sucesso de outros executivos do d) socioeconômicos.
setor de tecnologia que aboliram paredes e divisórias. e) socioseconômicos.
e) espacial ao novo tipo de ambiente de trabalho, e tem-
poral às mudanças favoráveis à integração. 40. (LIQUIGÁS – MOTORISTA DE CAMINHÃO GRANEL
I – CESGRANRIO-2018) O sinal de dois-pontos (:) está
35. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉ-
empregado de acordo com a norma-padrão da língua
DIO - VUNESP – 2017) É correto afirmar que a expressão
LÍNGUA PORTUGUESA

portuguesa em:
– contudo –, destacada no quinto parágrafo, estabelece
uma relação de sentido com o parágrafo
a) A diferença entre notícias falsas e verdadeiras é maior
a) anterior, confirmando com estatísticas o sucesso das no campo da política: é menor nas publicações rela-
empresas que adotaram o modelo de escritórios cionadas às catástrofes naturais.
abertos. b) A explicação para a difusão de notícias falsas é que
b) posterior, expondo argumentos favoráveis à adoção os usuários compartilham informações com as quais
do modelo de escritórios abertos. concordam: pois não verificam as fontes antes.

83
c) As informações enganosas são mais difundidas do que pela indústria do asbesto (amianto), dos perigos repre-
as verdadeiras: de acordo com estudo recente feito sentados por seus produtos provavelmente custou tan-
por um instituto de pesquisa. tas vidas quanto as destruídas por todos os assassinatos
d) As notícias falsas podem ser desmascaradas com o ocorridos nos Estados Unidos da América durante uma
uso do bom senso: mas esperar isso de todo mundo é década inteira; e outros produtos perigosos, como o ci-
quase impossível. garro, também provocam, a cada ano, mais mortes do
e) As revistas especializadas dão alguns conselhos: não que essas.
entre em sites desconhecidos e não compartilhe notí- James William Coleman. A elite do crime. 5.ª ed., São
cias sem fonte confiável. Paulo: Manole, 2005, p. 1 (com adaptações).
41. (LIQUIGÁS – MOTORISTA DE CAMINHÃO GRANEL Não haveria prejuízo para o sentido original do texto
I – CESGRANRIO-2018) A vírgula está empregada cor- nem para a correção gramatical caso a expressão “a cada
retamente em: ano” fosse deslocada, com as vírgulas que a isolam, para
imediatamente depois de “e”.
a) A divulgação de histórias falsas pode ter consequên-
cias reais desastrosas: prejuízos, financeiros e cons- ( ) CERTO ( ) ERRADO
trangimentos às empresas.
b) As novas tecnologias, criaram um abismo ao separar
44. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉ-
quem está conectado de quem não faz parte do mun-
do digital. DIO - VUNESP – 2017) Assinale a alternativa em que
c) As pessoas tendem a aceitar apenas as declarações que a substituição dos trechos destacados na passagem – O
confirmam aquilo que corresponde, às suas crenças. paulistano, contudo, não é de jogar a toalha – prefere es-
d) Os jornalistas devem verificar as fontes citadas, cruzar tendê-la e se deitar em cima, caso lhe concedam dois
dados e checar se as informações refletem a realidade. metros quadrados de chão. – está de acordo com a nor-
e) Os consumidores de notícias não agem como cientis- ma-padrão de crase, regência e conjugação verbal.
tas porque não estão preocupados em conferir, pon-
tos de vista alternativos. a) prefere mais estendê-la do que desistir – põe à
disposição.
42. (PETROBRAS – ADMINISTRADOR JÚNIOR – CES- b) prefere estendê-la à desistir – ponham a disposição.
GRANRIO-2018) A vírgula foi plenamente empregada c) prefere estendê-la a desistir – põe a disposição.
de acordo com as exigências da norma-padrão da língua d) prefere estendê-la do que desistir – põem a disposição.
portuguesa em: e) prefere estendê-la a desistir – ponham à disposição.

a) A conexão é feita por meio de uma plataforma especí- 45. (PREFEITURA DE SERTÃOZINHO - SP – FARMA-
fica, e os conteúdos, podem ser acessados pelos dis- CÊUTICO - SUPERIOR - VUNESP – 2017 - adaptada)
positivos móveis dos passageiros. Leia as frases.
b) O mercado brasileiro de automóveis, ainda é muito As previsões alusivas ............. aumento da depressão são
grande, porém não é capaz de absorver uma presença alarmantes.
maior de produtos vindos do exterior. Os sentimentos de tédio ou de tristeza são inadequada-
c) Depois de chegarem às telas dos computadores e mente convertidos .......... estados depressivos.
celulares, as notícias estarão disponíveis em voos Qualquer situação que possa ser um obstáculo ............ feli-
internacionais. cidade é considerada doença.
d) Os últimos dados mostram que, muitas economias
apresentam crescimento e inflação baixa, fazendo Para que haja coerência com a regência nominal estabe-
com que os juros cresçam pouco. lecida pela norma-padrão, as lacunas das frases devem
e) Pode ser que haja uma grande procura de carros im-
ser preenchidas, respectivamente, por:
portados, mas as montadoras vão fazer os cálculos e
ver, se a importação vale a pena.
a) ao … com … na
b) ao … em … à
43. (MPU – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CESPE-2010)
Para a maioria das pessoas, os assaltantes, assassinos e c) do … com … na
traficantes que possam ser encontrados em uma rua es- d) com o … em … para
cura da cidade são o cerne do problema criminal. Mas os e) com o … para … à
danos que tais criminosos causam são minúsculos quan-
do comparados com os de criminosos respeitáveis, que 46. (TRE/MS - ESTÁGIO – JORNALISMO - TRE/MS
LÍNGUA PORTUGUESA

vestem colarinho branco e trabalham para as organiza- – 2014) Assinale a assertiva cuja regência verbal está
ções mais poderosas. Estima-se que as perdas provoca- correta:
das por violações das leis antitrust — apenas um item
de uma longa lista dos principais crimes do colarinho a) Ela queria namorar com ele.
branco — sejam maiores que todas as perdas causadas b) Já assisti a esse filme.
pelos crimes notificados à polícia em mais de uma déca- c) O caminhoneiro dormiu no volante.
da, e as relativas a danos e mortes provocadas por esse d) Quando eles chegam em Campo Grande?
crime apresentam índices ainda maiores. A ocultação, e) A moça que ele gosta é aquela ali.

84
47. (TRE/MS - ESTÁGIO – JORNALISMO - TRE/MS – 49. (BANESTES – TÉCNICO BANCÁRIO – FGV-2018) O
2014) A regência nominal está correta em: período abaixo em que os dois termos sublinhados NÃO
podem trocar de posição é:
a) É preferível um inimigo declarado do que um amigo
falso. a) A arte é a mais bela das mentiras;
b) O importante na obra de arte é o espanto;
b) As meninas têm aversão de verduras.
c) A forma segue a emoção;
c) Aquele cachorro é hostil para com desconhecidos. d) A obra de arte: uma interrupção do tempo;
d) O sentimento de liberdade é inerente do ser humano. e) Na arte não existe passado nem futuro.
e) Construiremos portos acessíveis de qualquer navio.
48. (LIQUIGÁS – MOTORISTA DE CAMINHÃO GRANEL 50. (MPU – TÉCNICO – SEGURANÇA INSTITUCIONAL
I – CESGRANRIO-2018) E TRANSPORTE – CESPE-2015)

Na internet, mentiras têm pernas longas TEXTO II

Diz o velho ditado que “a mentira tem pernas curtas”, A partir de uma ação do Ministério Público Federal
(MPF), o Tribunal Regional Federal da 2.ª Região (TRF2)
mas nestes tempos de internet parece que a situação se
determinou que a Google Brasil retirasse, em até 72 ho-
inverteu, pelo menos no mundo digital. Pesquisadores ras, 15 vídeos do YouTube que disseminam o preconcei-
mostram que rumores falsos “viajam” mais rápido e mais to, a intolerância e a discriminação a religiões de matriz
“longe”, com mais compartilhamentos e alcançando um africana, e fixou multa diária de R$ 50.000,00 em caso de
maior número de pessoas, nas redes sociais, do que in- descumprimento da ordem judicial. Na ação civil pública,
formações verdadeiras. a Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão (PRDC/
Foram reunidos todos os rumores nas redes sociais RJ) alegou que a Constituição garante aos cidadãos não
- falsos, verdadeiros ou “mistos”. Esses rumores foram apenas a obrigação do Estado em respeitar as liberdades,
acompanhados, chegando a um total de mais de 4,5 mi- mas também a obrigação de zelar para que elas sejam
lhões de postagens feitas por cerca de 3 milhões de pes- respeitadas pelas pessoas em suas relações recíprocas.
Para a PRDC/RJ, somente a imediata exclusão dos ví-
soas, formando “cascatas” de compartilhamento.
deos da Internet restauraria a dignidade de tratamento,
Ao compararem os padrões de compartilhamento que, nesse caso, foi negada às religiões de matrizes afri-
dessas milhares de “cascatas”, os pesquisadores obser- canas. Corroborando a visão do MPF, o TRF2 entendeu
varam que os rumores “falsos” se espalharam com mais que a veiculação de vídeos potencialmente ofensivos e
rapidez, aumentando o número de “degraus” da casca- fomentadores do ódio, da discriminação e da intolerância
ta - e com maior abrangência do que os considerados contra religiões de matrizes africanas não corresponde
verdadeiros. ao legítimo exercício do direito à liberdade de expressão.
A tendência também se manteve, independentemen- O tribunal considerou que a liberdade de expressão não
te do tema geral que os rumores abordassem, mas foi se pode traduzir em desrespeito às diferentes manifesta-
mais forte quando versavam sobre política do que os de- ções dessa mesma liberdade, pois ela encontra limites no
próprio exercício de outros direitos fundamentais.
mais, na ordem de frequência: lendas urbanas; negócios; Internet: <http://ibde.org.br> (com adaptações).
terrorismo e guerras; ciência e tecnologia; entretenimen-
to; e desastres naturais. No trecho “adulterar ou destruir dados”, a palavra “adul-
Uma surpresa provocada pelo estudo revelou o perfil terar” está sendo empregada com o sentido de alterar
de quem mais compartilha rumores falsos: usuários com prejudicando.
poucos seguidores e novatos nas redes.
— Vivemos inundados por notícias e muitas vezes ( ) CERTO ( ) ERRADO
as pessoas não têm tempo nem condições para verificar
se elas são verdadeiras — afirma um dos pesquisado- 51. (ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR DO BARRO
BRANCO-SP – TECNÓLOGO DE ADMINISTRAÇÃO PO-
res. Isso não quer dizer que as pessoas são estúpidas. As
LICIAL MILITAR – VUNESP-2010) Analise a charge.
redes sociais colocam todas as informações no mesmo
nível, o que torna difícil diferenciar o verdadeiro do falso,
uma fonte confiável de uma não confiável.
BAIMA, Cesar. Na internet, mentiras têm pernas lon-
gas. O Globo. Sociedade. 09 mar. 2018. Adaptado.

No trecho “independentemente do tema geral que os ru-


LÍNGUA PORTUGUESA

mores abordassem”, a palavra que pode substituir rumo-


res, por ter sentido equivalente, é:

a) assuntos
b) boatos
c) debates
d) diálogos
e) temas (www.arionaurocartuns.com.br)

85
A palavra só, presente na fala do personagem, tem o
mesmo sentido em:
GABARITO
a) Só vence quem concorre.
b) Mariana veio só, infelizmente. 1 B
c) Pedro estava só, quando cheguei. 2 A
d) A mulher, por estar só, sentiu-se amedrontada. 3 B
e) O marujo, só, resolveu passear pela praia.
4 E
5 A
6 E
7 A
8 C
9 A
10 A
11 D
12 CERTO
13 D
14 C
15 E
16 E
17 C
18 C
19 C
20 E
21 D
22 B
23 A
24 E
25 E
26 D
27 A
28 B
29 D
30 E
31 CERTO
32 C
33 C
34 A
35 D
36 E
LÍNGUA PORTUGUESA

37 E
38 A
39 D
40 E
41 D
42 C

86
43 CERTO ANOTAÇÕES
44 E
45 B
_________________________________________________
46 B
47 C _________________________________________________
48 B _________________________________________________
49 C _________________________________________________
50 CERTO
_________________________________________________
51 A
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LÍNGUA PORTUGUESA

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87
ANOTAÇÕES

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LÍNGUA PORTUGUESA

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88
ÍNDICE
ESTATUTO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS MUNICIPAIS DE ITABORAÍ

Lei nº 502, de 04 de dezembro de 1979, que dispõe sobre o Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Município
de Itaboraí; Lei n. º 1.392, de 03 de julho de 1996, que dá nova redação à Lei Municipal n. º 502, de 04 de dezembro
de 1979....................................................................................................................................................................................................................... 1
Art. 6 - É obrigatória a aprovação prévia em concurso
LEI Nº 502, DE 04 DE DEZEMBRO público de provas ou de provas e
DE 1979, QUE DISPÕE SOBRE O
ESTATUTO DOS FUNCIONÁRIOS Títulos para o primeiro provimento efetivo em cargo
PÚBLICOS CIVIS DO MUNICÍPIO público. Vencimento
DE ITABORAÍ; LEI N. º 1.392, DE 03
DE JULHO DE 1996, QUE DÁ NOVA Art. 7 - O vencimento dos cargos públicos obedecerá à
REDAÇÃO À LEI MUNICIPAL N. º padrões fixados em lei.
502, DE 04 DE DEZEMBRO DE 1979 § 1º - É vedada qualquer vinculação ou equiparação
para efeito de vencimento dos funcionários públicos
municipais.
1 Estatuto dos Funcionários Públicos do Município de § 2º - Nenhum funcionário municipal, ativo ou inativo
Itaboraí perceberá vencimento ou provento menor que o salá-
LEI N. º 1392 DE 03 DE JULHO DE 1996. Dá nova re- rio mínimo.
dação à Lei Municipal n. º 502, de 04 de dezembro de
1979. O Povo do Município de Itaboraí, por seus repre- TÍTULO II DOS CARGOS PÚBLICOS E DA FUNÇÃO
sentantes na Câmara de Vereadores aprovou e eu Pre- GRATIFICADA
feito do Município, em seu nome sanciono a seguinte.
CAPÍTULO I DOS CARGOS DE PROVIMENTO
Art. 1º - A Lei Municipal nº 502, de 04 de dezembro de EFETIVO CARGO DE PROVIMENTO EFETIVO
1979, que cria o Estatuto dos Funcionários Públicos do
Município de Itaboraí, passa a vigorar com a seguinte Art. 8 - os cargos de provimento efetivo são de carreira
redação: LEI Nº 502, DE 04 DE DEZEMBRO DE 1979. ou isolados, podendo haver funções gratificadas. Car-
Dispõe sobre o Estatuto dos Funcionários Públicos Ci- go de Carreira
vis do Município de Itaboraí. O Povo do Município de
Art. 9 - Os cargos de carreiras são agrupados em séries
Itaboraí, por seus representantes na Câmara de Ve-
de classes semelhantes, do mesmo grupo de ativida-
readores aprovou e eu Prefeito do Município em seu
des, hierarquizado segundo a natureza do trabalho e o
nome sanciono a seguinte Lei: grau de dificuldade para seu desempenho. Nível
TÍTULO I Art. 10 - Nível é o símbolo atribuído ao conjunto de
classes equivalentes quanto ao grau de dificuldade
CAPÍTULO ÚNICO DISPOSIÇÕES PRELIMINARES e responsabilidade para seu exercício, visando a de-
ABRANGÊNCIAS: terminar a sua faixa de vencimento correspondente.
Carreira
Art. 1 - Esta lei estabelece o regime jurídico dos Ser-
vidores Públicos do Município de Itaboraí de Itaboraí. Art. 11 - Carreira é a série e de classe semelhantes, do
Parágrafo Único - Aos Funcionários regidos por lei mesmo grupo de atividades, hierarquizadas segundo a
especial serão aplicados, subsidiariamente, as dispo- natureza do trabalho.

ESTATUTO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS MUNICIPAIS DE ITABORAÍ


sições desta lei. SERVIDOR PÚBLICO
Art. 12 - Cargo isolado é aquele, que pela natureza da
Art. 2 - Para os efeitos desta lei, o Servidor público função e exigência do serviço, constitui o único em sua
é o cidadão, legalmente investido em cargo público categoria. Atribuições dos Cargos
de provimento efetivo ou em comissão, que percebe
vencimento ou remuneração dos cofres municipais. Art. 13 - As atribuições de cada cargo são definidas no
CARGOS PÚBLICOS Plano de Cargos e Carreiras da Prefeitura Municipal
de Itaboraí.
Art. 3 - Cargo Público é o conjunto autônomo de atri-
Capítulo II DOS CARGOS EM COMISSÃO Cargo de
buições, deveres responsabilidades cometidas ao ser-
Provimento em Comissão
vidor público, criado por lei, em número, com deno-
minação própria e vencimento específico, a cargo dos
Art. 14 - Os cargos de provimento em comissão são
cofres municipais. PROVIMENTO cargos isolados que se destinam a atender à encargos
de direção, de consulta ou de assessoramento, provi-
Art. 4 - Os cargos públicos pode ser de provimento dos através de livre escolha do Prefeito, por pessoas
efetivo ou de provimento em comissão. 2 ACESSIBILI- que possuam competência profissional e reúnam as
DADE AOS CARGOS PÚBLICOS condições necessárias à investidura no serviço público.
Na estrutura da Secretaria municipal de Educação e
Art. 5 - Os cargos públicos são acessíveis a todos os Cultura, o número de Cargos em Comissão , e Função
brasileiros observadas as condições legais e regula- Gratificada, não deverá ultrapassar 10% (dez por cen-
mentares assim como as disposições estabelecidas por to) do número de funcionários efetivos.
ocasiões de concursos. CONCURSO PÚBLICO § 1º - Prescindirá de concurso de nomeação para car-

1
gos em comissão, de livre nomeação e exoneração. preende: I - parte permanente - composta de cargos
§ 2º - O número de Cargos Comissionados e Funções efetivos, em comissão e função gratificada. II - parte
Gratificadas deverá ser ocupado por no mínimo por suplementar - composta pelos empregos que devem
50% (cinqüenta por cento) por funcionários efetivos de ser extintos á medida em que vagarem. 5
quadro. Designação
TÍTULO III DE PROVIMENTO DE CARGOS
Art. 15 - A designação dos ocupantes de cargos em
comissão, recairá preferencialmente sobre funcioná- CAPÍTULO I PROVIMENTO
rios do município. Parágrafo Único - Quando a es-
colha recair sobre funcionário municipal, este poderá Art. 25 - Entende-se por provimento o ato pelo qual se
optar entre a remuneração fixada para o cargo em efetua o preenchimento do cargo público, com desig-
comissão que vier a ocupar, ou o vencimento do cargo nação de seu titular. Formas de Provimento
efetivo que estiver ocupando, acrescido este de mais
60% (sessenta por cento), calculado sobre o valor da Art. 26 - os cargos públicos serão providos por: I- no-
remuneração atribuída ao cargo comissionado, a meação II - promoção III - transferência IV - readapta-
ção V - reversão VI - aproveitamento VII - reintegração
TÍTULO DE GRATIFICAÇÃO. AFASTAMENTO VIII - recondução Requisitos para o Ato de Provimento

Art. 16 - A posse em cargos em comissão acarreta o Art. 27 - O ato de provimento, que é de competência
afastamento do funcionário do cargo efetivo de que exclusiva do Prefeito, deverá indicar a existência de
for titular, ressalvados os casos de acumulação legal. vaga com os elementos capazes de identificá-la.
Requisição
CAPÍTULO II DA NOMEAÇÃO NOMEAÇÃO
Art. 17 - No caso de recair a escolha em servidor de
órgão público não subordinado à administração mu- Art. 28 - A nomeação é o ato de designação do fun-
nicipal, o ato de nomeação será precedido de requisi- cionário no cargo, a qual se completa com a posse e o
ção e consumado após a concessão. 3 4 Funcionário exercício. Tipos de Nomeação
Aposentado
Art. 29 - A nomeação será feita: I - em caráter efetivo,
Art. 18 - Salvo o caso de aposentadoria por invalidez, quando se tratar de cargo isolado ou cargo de carreira;
é permitido ao funcionário aposentado, exercer cargo II - em comissão, quando se tratar de cargo isolado,
em comissão, desde que seja julgado apto em inspe- em virtude de lei, assim deva ser provido. Ordem de
ção de saúde que precederá a sua posse. Servidor Re- Nomeação
gido pela CLT
Art. 30 - A nomeação obedecerá a ordem de classifica-
Art. 19 - no caso de recair a escolha em servidor da ção de candidatos habilitados em concursos. 6 Prazos
Prefeitura regido pela consolidação das Leis do Traba-
lho, o contrato trabalhista será suspenso. Art. 31 - Será tornada sem efeito a nomeação, se a
posse não se verificar nos prazos estabelecidos nesta
CAPÍTULO III DAS FUNÇÕES GRATIFICADAS lei. (
ESTATUTO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS MUNICIPAIS DE ITABORAÍ

CARGO ISOLADO
SEÇÃO II -
Art. 20 - Função gratificada é o cargo de chefia, asses-
soramento, secretariado e de outras julgadas necessá- CAPÍTULO II,
rias, concedidas vantagem acessória ao vencimento.
Competência para designação e Dispensa TÍTULO III). EXERCÍCIO INTERNO

Art. 21 – A competência para designar e dispensar Art. 32 - Será admitida a contratação de pessoa que
livremente os funcionários fica sempre condicionada não pertence ao quadro permanente, nas condições
ao interesse da administração. Competência para dar definidas em lei, por prazo determinado, não exceden-
Exercício te ao final do exercício para financeiro, sob o regime da
Consolidação das Leis do Trabalho, para ocupar cargo
Art. 22 - Compete á autoridade a que ficar subordi- efetivo vago, enquanto não houver candidato habili-
nado o funcionário designado para função gratificada tado em concurso público. Parágrafo Único - Vencido
dar-lhe exercício imediato, no prazo de 30 dias inde- o prazo do contrato, não será permitido novo preen-
pendentemente de posse. chimento do cargo efetivo por pessoa não habilitada
em concurso público. Dispensa de Servidor Interno
CAPÍTULO IV QUADRO QUADRO
Art. 33 - No caso de artigo precedente, homologado
Art. 23 - Quadro é o conjunto de cargos de carreira, o resultado do concurso público, durante o prazo do
cargos isolados e funções gratificadas do poder Execu- contrato trabalhista o ocupante interino do cargo será
tivo Municipal. Partes obrigatoriamente dispensado.
Art. 24 - O Quadro de funcionários Públicos com- SEÇÃO I DO CONCURSO OBRIGATORIAMENTE DO

2
CONCURSO mencionados no art. 38: I - ter completado a idade mí-
nima para a função; II - ter-se habilitado previamente
Art. 34 - O ingresso em cargo público de provimen- em concurso, salvo nos casos em que a lei não exigir;
to efetivo e outros que a lei determina, dependerá de III - ter atendido as condições especiais prescritas em
prévia habilitação em concurso público de provas, ou lei ou regulamentos do concurso para determinados
de provas e cargos e carreiras. 8 DECLARAÇÃO DE BENS
Títulos, dele se dando ampla e prévia publicidade de
abertura de inscrições, bem como de suas instruções, Art. 43 - No ato de posse o funcionário apresenta-
assegurando as mesmas oportunidades para todos, rá a declaração de bens e valores que constituem o
atendidas as exigências de habilitação profissional na seu patrimônio, para que ali figure obrigatoriamente.
conformidade das leis e regulamentos municipais. Parágrafo Único - Do termo de posse, assinado pela
§1º - Ninguém poderá ser efetivado ou adquirir es- autoridade competente e pelo funcionário, constará
tabilidade como funcionário senão prestar concurso ainda o compromisso do cumprimento dos deveres e
público. atribuições do cargo. DECLARAÇÃO DE EXERCÍCIO DE
§2º - O concurso será realizado para o provimento de CARGO OU FUNÇÃO PÚBLICA
cargos vagos iniciais de carreiras ou isolados. Objeto
da Avaliação Art. 44 - ninguém poderá ser provido em cargo pú-
blico, ainda que em comissão, sem apresentar previa-
mente declaração de que não exerce qualquer cargo,
Art. 35 - O concurso objetivará avaliar: a) conheci-
emprego ou função no Poder Público municipal, es-
mento e qualificação profissionais; b) condições de
tadual ou federal na administração centralizada ou
sanidade físico mental;
autárquica, inclusive fundações, sociedades de econo-
mia mista ou empresas públicas. EXONERAÇÃO DO
Art. 36 - As atribuições inerentes ao cargo servirão de OUTRO CARGO
base para o estabelecimento dos requisitos a serem
exigidos para a inscrição do concurso. 7 Vagas e Vali- Art. 45 - Na hipótese de acumulação não permissí-
dades do Concurso vel, a posse dependerá da prova haver o interessado
solicitado exoneração de outro cargo, condicionado o
Art. 37 - O número de vagas a serem preenchidas, o início de pagamento á publicação oficial do ato que o
grau de instrução exigível mediante apresentação do exonera. Parágrafo Único - Em qualquer caso, o pa-
respectivo certificado, e o prazo de validade das provas gamento será devido a partir da data em que cessar a
será fixado nas instruções reguladoras do concurso, percepção pecuniária relativa ao cargo anterior. Com-
não devendo exceder a 24 ( vinte quatro ) meses após petência
a sua homologação, prorrogável por uma só vez, por
igual período. Requisitos Indispensáveis para Inscrição Art. 46 - São competentes para dar posse: I - o Prefei-
to, aos dirigentes dos órgãos diretamente a ele subor-
Art. 38 - Além dos requisitos determinados nos regu- dinados; II - o Secretário municipal de Administração,
lamentos ou instruções do concurso público, é exigido nos demais casos. Verificação de Requisitos
ainda, para a inscrição: I - nacionalidade brasileira; II -
ser eleitor e estar em dia com as obrigações eleitorais; Art. 47 - A autoridade que der posse, sob pena de

ESTATUTO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS MUNICIPAIS DE ITABORAÍ


III - quitação das obrigações militares; IV - gozar de responsabilidade, verificará: I - se foram satisfeitas
boa saúde, comprovado por atestado médico; V - gozo condições legais; II - se do ato de provimento consta
dos direitos políticos; VI - idade mínima de 18 anos; a existência de vagas com os elementos capazes de
VII - o nível de escolaridade exigido para o cargo; Ho- identificá-la; III - se consta referência ao ato ou pro-
mologação do Concurso cesso em que for autorizado a posse, quando se tratar
da acumulação de cargos. Prazos
Art. 39 - Uma vez realizado o concurso deverá ser ho-
mologado no prazo de 12 meses. Encerramento das Art. 48 - A posse terá lugar no prazo de 30 (trinta)
Inscrições dias, a contar da publicação no órgão oficial do ato de
provimento, ou nas épocas assinaladas no
Art. 40 - Encerradas as inscrições para o concurso de
investidura de qualquer cargo, não se abrirão novas Art. 49 e seus parágrafos. Parágrafo Único - O prazo
inscrições antes da sua realização. poderá ser prorrogado, ou revalidado até ao máximo
de 120 (cento e vinte) dias, 30 (trinta) dias a contar do
SEÇÃO II DA POSSE POSSE término do prazo que trata este artigo, á requerimen-
to do interessado, ou do seu representante, Justifica-
Art. 41 - posse é o ato que completa o provimento em damente. * (Nova redação dada pela Lei Complemen-
cargo público ou função gratificada. tar 168 de 2013) 9 Funcionário em férias ou licenciado
§1º - Não haverá provimento de cargo ou o exercício
Art. 49 - Em se tratando de funcionário em férias, ou
deste antes da posse, ressalvado o disposto no art. 22.
licenciado, o prazo será contado da data em que voltar
§2º - Independerá de posse o provimento de cargo por
ao serviço, exceto no caso de licença para tratar de
provimento ou reintegração. REQUISITOS
interesse particular.
Art. 42 - São requisitos para a posse, além daqueles
§1º - Os candidatos aprovados em concurso e que

3
estiverem diplomados para exercer mandato eletivo, mente do seu cargo, esse prazo será contado a partir
quando da publicação dos atos de provimento, terão o do término das férias, da licença ou do afastamento.
prazo de posse contado da data do término do man- §2º - O prazo referido no “caput” desse artigo é com-
dato. putado como de efetivo exercício para todos os efeitos.
§2º - Os candidatos aprovados em concurso e que, Inobservância de Prazos
quando da publicação dos respectivos atos de pro-
vimento estiverem incorporados às Forças Armadas Art. 57 - O funcionário que não entrar em exercício
para prestação de serviço militar de qualquer natu- dentro do prazo estabelecido será exonerado do car-
reza, terão prazo para posse contado da data de seu
go; se designado para ocupar função gratificada, terá
desligamento.
o respectivo ato de provimento tornado sem efeito.
Art. 50 - O Servidores com vínculo de emprego em ou- Apresentação de Documentos
tro órgão de Administração Pública Municipal, Esta-
dual ou Federal que vier a servir o Município de Itabo- Art. 58 - O funcionário deverá apresentar a Secreta-
raí, ocupando cargo em comissão por mais de 10 (dez) ria Municipal de Administração, antes de entrar em
anos, ainda que alternados, poderá optar por vínculo exercício, os elementos necessários à abertura do seu
efetivo neste Município, ocupando cargo compatível assentamento individual. Exercício Fora da Lotação
com sua escolaridade, desde que haja vaga. Ineficácia
do Ato Art. 59 - poderá haver exercícios fora da lotação do
funcionário, com a prévia autorização do Prefeito. Au-
Art. 51 - O funcionário entrará em exercício dentro de sência da Unidade Administrativa
30 (trinta) dias contados: I - da publicação oficial do
ato de promoção ou reintegração; II - da posse, nos Art. 60 - O funcionário só poderá ausentar-se de sua
demais casos de provimento. unidade administrativa com prévia autorização ou de-
§1º - No caso de entrada em exercício em função gra- signação expressa do Prefeito, para estudo ou missão
tificada, esta se verificará conforme estabelecido no
de qualquer natureza, com ou sem prejuízo de venci-
art. 22 desta lei.
mentos, direitos e vantagens do seu cargo. Prazo de
§2º - Somente com exercício o funcionário passa a a
Afastamento
efetuar legalmente suas funções e adquire direito ás
vantagens do cargo e ao vencimento devido pelo Po-
der Público. Registro no Assentamento Art. 61 - Nos casos previstos no artigo anterior, o afas-
tamento não se prolongará por mais de 04 (quatro)
Art. 52 - O início, a interrupção e o reinício do exer- anos consecutivos. Parágrafo Único - O afastamento
cício serão registrados no assentamento individual do só se prolongará por mais de 04 (quatro) anos conse-
funcionário. Parágrafo Único - O início do exercício e cutivos: 11 a) Quando para exercer cargo de direção
as alterações que nele ocorrem serão comunicados á ou em comissão nos governos da União, dos Estados,
Secretaria Municipal de Administração, pela autorida- Distrito Federal ou dos Municípios; b) Quando a dis-
de competente. Lotação posição da Presidência da República; c) Quando para
exercer mandato eletivo no âmbito federal, estadual
ESTATUTO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS MUNICIPAIS DE ITABORAÍ

Art. 53 - O funcionário provido, integrará a lotação na ou municipal; d) Quando convocado para serviço mi-
qual houver vaga. Parágrafo Único - Para efeitos desta litar obrigatório; e) Quando se tratar de funcionária
lei considera-se lotação o número de vagas estabeleci- licenciada nos termos do artigo 187 e seguintes. Obri-
das no Quadro Permanente de Funcionários Públicos, gatoriedade de Prestação de Serviços à Prefeitura
a serem preenchidas por funcionários na categoria
funcional respectiva. 10 Competência
Art. 62 - O funcionário que se afasta para estudo por
Art. 54 - São competentes para dar exercício os dire- mais de 01 (um) ano, ficará obrigado a prestar pelo
tores de departamento onde for localizado o funcio- menos 02 (dois) anos de serviços à Prefeitura.
nário. Parágrafo Único - Os dirigentes de órgãos di- §1º - Novo afastamento ficará a critério do Prefeito,
retamente subordinados ao Prefeito farão sua própria sempre observada a conveniência e o interesse da ad-
afirmação de exercício. Contagem do Exercício para ministração.
Promoção §2º - No caso de funcionário pedir dispensa antes do
prazo referido no “caput” deste artigo, ficará obrigado
Art. 55 - A promoção não interrompe o exercício, que é a pagar uma indenização ao Município no valor glo-
contado na nova classe a partir da data de publicação bal dos vencimentos que perceberia até completar 02
do ato que promoveu o funcionário. Apresentação de (dois) anos de atividade. Afastamento do Exercício
Funcionário Removido
Art. 63 - O funcionário suspenso ou preso preventi-
Art. 56 - o funcionário removido, deverá apresentar- vamente, pronunciado por crime comum, denuncia-
-se na sede de seus serviços no prazo de 02 (dois) dias do por crime funcional ou por crime de reclusão será
contados da data da publicação do respectivo ato. afastado do exercício, até decisão final, passada em
§1º - Quando em férias, licenciado ou afastado legal-
julgado, (vide

4
SEÇÃO IX, mente confirmado no cargo.
Art. 71 - Não ficará sujeito a estágio o funcionário
CAPÍTULO VII). OUTROS CASOS DE AFASTAMENTO que for provido em outro cargo público por promoção,
transferência, readaptação, reversão, aproveitamento,
Art. 64 - O funcionário será ainda afastado do exercí- reintegração e recondução. 13
cio de seu cargo ou função: I - enquanto durar o man-
dato legislativo estadual ou federal; II - quando estiver CAPÍTULO III DA PROMOÇÃO PROMOÇÃO
em efetivo exercício do seu mandato legislativo mu-
nicipal, nos períodos de sessão legislativa, correspon- Art. 72 - Promoção é a elevação do funcionário ao
dente; III - enquanto durar o mandato executivo mu- nível imediatamente superior àquele a que pertence,
nicipal, estadual ou municipal. Parágrafo Único - No entro da mesma carreira. Requisitos
caso de inciso II deste artigo, havendo compatibilidade
de horários, perceberá as vantagens do deu cargo ou Art. 73 - Todo funcionários com 03 (três) ou mais anos
função, sem prejuízo dos subsídios a que faz jus. Não de serviço no mesmo cargo poderá ser promovido,
havendo compatibilidade, ficará afastado do exercício mediante avaliação de seu desempenho por uma co-
de seu cargo ou função. missão de recursos humanos. Prazo

SEÇÃO IV DO ESTAGIO PROBATÓRIO ESTAGIO Art. 74 - As promoções de cada cargo serão realizadas
PROBATÓRIO obrigatoriamente de 12 (doze) em 12 (doze) meses,
desde que verificada a existência de vagas. Instrumen-
Art. 65 - O funcionário nomeado por força de con- to de Avaliação
curso público, em caráter efetivo, adquirirá estabilida-
de após 02 (dois) 03 (três) anos de efetivo exercício. Art. 75 - Servirá como instrumento de avaliação, o bo-
• (Nova redação dada pela Lei Compl.160 de 2012) letim individual distribuído pela Secretaria de Admi-
Parágrafo Único - Durante o estágio probatório será nistração ao superior imediato de cada funcionário a
apurada eficiência necessária à confirmação do fun- ser avaliado (art. 74). Avaliação de Desempenho
cionário no cargo efetivo que tenha sido aprovado,
na forma definida em lei ou regulamento. 12 Reque- Art. 76 - Do boletim individual constarão itens para a
rimentos avaliação do desempenho do funcionário no exercício
do seu cargo.
Art. 66 - Os requisitos para confirmação do funcioná- §1º - Os itens de que trata este artigo são, entre ou-
rio no cargo são os seguintes: I - idoneidade moral; II - tros: a) assiduidade; b) pontualidade; c) disciplina; d)
assiduidade; III - disciplina; IV - eficiência; V - aptidão; eficiência; e) aptidão; f) dedicação ao serviço.
VI - dedicação ao serviço. Processo de Exoneração §2º - A cada item será atribuída uma nota, variável, de
01 (um) a 05 (cinco). Seleção de Funcionário
Art. 67 - Quando o funcionário estagiário não preen-
cher as condições exigidas no artigo anterior, caberá Art. 77 - As notas atribuídas a cada item constante do
ao dirigente da respectiva repartição ou serviço onde boletim serão somadas pela Secretaria de Administra-
estiver lotado iniciar, 3 (três) meses antes do térmi- ção que selecionará, por vaga existente, 03 (três) dos

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no do estágio probatório, o processo de exoneração boletins dos funcionários avaliados que obtiveram as
competente, dando ciência do fato ao interessado e maiores notas globais, enviando-os ao Prefeito, que
remetendo o expediente, em seguida, á Secretaria Mu- escolherá os funcionários de maior nota. 14 Desem-
nicipal de Administração, que processará a exonera- pate
ção. Parágrafo Único - A exoneração em tal hipótese,
só caberá quando se comprove administrativamente a Art. 78 - Ocorrendo empate terá preferência o fun-
incapacidade ou inequação ao serviço público. cionário de maior tempo de serviço no nível, persis-
tindo o empate terá preferência sucessivamente, o de
Art. 68 - O Prefeito examinará pelo prazo de 05 (cin- maior tempo de serviço na administração municipal,
co) dias, as informações as informações contidas no o de maior prole e o mais idoso. Parágrafo Único - A
processo contrárias a continuação do funcionário es- antigüidade será determinada pelo tempo de efetivo
tagiário no cargo. Parágrafo Único - Em face desta in- exercício prestado ao Município, apurado em dias.
formação o Prefeito decidirá, sobre a conveniência de Contagem de Antigüidade
efetivar ou dispensar o funcionário estagiário.
Art. 79 - A antigüidade de nível nos casos de reversão,
Art. 69 - Somente comprovada a administrativamente aproveitamento, transferência, readaptação, promo-
a incapacidade ou inadequação ao serviço público po- ção ou acesso, se contará: I - na transferência, na rea-
derá o funcionário estagiário ser exonerado antes do daptação e na reversão a pedidos, a partir da data em
término do estágio. Confirmação no cargo que o funcionário entrar no exercício do cargo; II - na
reversão ex-ofício e no aproveitamento, incluindo-se:
Art. 70 - Na ausência da autoridade a que se refere o
1 - o tempo da antigüidade na classe no momento da
artigo 67 desta lei, com o simples transcurso do prazo
passagem à inatividade se ocupante de cargo de car-
ali citado, o funcionário estagiário será automatica-
reira; 2 - o tempo de serviço prestado no cargo ante-

5
rior se isolado. III - na promoção e no acesso, a contar Art. 90 - Caberá transferência: I - de uma carreira para
da data da vivência do respectivo ato. Desempate em outra do mesmo nível; II - de um cargo de carreira
Nível Inicial de Carreira para outro isolado, de provimento efetivo e igual ní-
vel; III - de um cargo isolado, de provimento efetivo,
Art. 80 - Na promoção dos ocupantes de cargos de ní- para outro da mesma natureza e igual nível; Modo de
vel inicial de carreira, que tenham feito o mesmo con- Transferência
curso, o primeiro desempate se dará pela classificação
obtida no concurso. Ineficácia no Ato da Promoção Art. 91 - A transferência será feita a pedido do funcio-
nário ou “ex-ofício”, sempre atendido o interesse e a
Art. 81 - Será declarado sem efeito o ato que houver
conveniência da administração. Limite
decretado promoção indevidamente.
§1º - O funcionário promovido indevidamente não fi-
Art. 92 - As transferências não poderão exceder de um
cará obrigado a restituir o que mais houver recebido.
§2º - O funcionário a quem cabia promoção será in- terço das vagas de cada nível. Intervalo para Transfe-
denizada diferença de vencimento e vantagens a que rências
tiver direito, comprovada essa após apuração em de-
vido processo legal. Art. 93 - Será de 3 (três) anos de efetivo exercício o
interstício para a transferência. 16 Transferência de
Art. 82 - A fim de que possa preencher adequadamen- Funcionário
te o boletim de avaliação, o superior imediato deverá
observar seu funcionário durante o período mínimo de Art. 94 - Salvo se o consentir expressamente, o funcio-
06 (seis) meses. nário público eleito vereador, não poderá ser transferi-
do ou removido durante o período de mandato, ainda
Art. 83 - no caso de não existência do período mínimo que por promoção.
a que se refere o artigo antecedente, o boletim será
preenchido pelo superior imediato anterior, sob cuja CAPÍTULO V DA READAPTAÇÃO READAPTAÇÃO
observação tenha estado o funcionário durante 03
(três) meses pelo menos. Parágrafo Único - No caso de Art. 95 - Readaptação é a reinvestidura em função
não mais estar em atividade o último superior imedia- mais compatível com a capacidade física ou intelec-
to, o funcionário será avaliado pelo superior hierárqui- tual do funcionário e ocorrerá sempre que, em virtude
co mais próximo. 15
de doença contraída pelo funcionário, modificarem-se
as aptidões para o exercício do cargo anteriormente
Art. 84 - Quando decreta em prazo excedente ao legal,
a promoção produzirá seus efeitos a partir da data em ocupado. Formas de Provimento por Readaptação
que deveria Ter sido efetivada.
Art. 96 - A readaptação, que dependerá sempre da
Art. 85 - Quando o funcionário vier a falecer ou for inspeção médica, não acarretará nem aumento nem
aposentado sem que tenha sido decretada, no prazo diminuição do vencimento ou remuneração e será fei-
legal, a promoção que lhe cabia será considerado pro- ta mediante transferência.
movido, para todos os efeitos segundo o critério esta-
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belecido no artigo anterior. CAPÍTULO VI DA REINTEGRAÇÃO

Art. 86 - O funcionário submetido a processo discipli- Art. 97 - A reintegração que decorrerá de decisão ad-
nar ou penal poderá ser promovido; a promoção ficará ministrativa ou judicial que invalidará o ato de demis-
sem efeito no caso de o processo resultar em penalida- são, é o reingresso do funcionário no serviço público,
de, com sentença transitada em julgado. com ressarcimento dos vencimentos e vantagens liga-
dos ao cargo. Oportunidade de Reintegração
Art. 87 - Desde que verificada a conveniência e o inte-
resse da Administração em ampliar o Quadro Perma- Art. 98 - A decisão administrativa que determinar a
nente de Funcionários Públicos da Prefeitura, o Poder reintegração será proferida em pedido de reconside-
Executivo poderá propor lei visando transformar car- ração ou em recurso, e, quando a demissão tiver sido
gos isolados em cargos de carreira. Competência de
precedida de inquérito, ficará condicionado a revisão
Processamento
do processo administrativo. Cabimento
Art. 88 - Compete a Secretaria Municipal de Adminis-
tração processar as promoções. Art. 99 - A reintegração será feita no cargo anterior-
mente ocupado pelo funcionário ou no resultante de
CAPÍTULO IV DA TRANSFERÊNCIA transformação. Prova de Habilitação Profissional
TRANSFERÊNCIA
Art. 100 - Extinto o cargo anteriormente ocupado, a
Art. 89 - Transferência é a passagem do funcionário reintegração se fará em outro cargo de natureza e
estável para outro de igual nível de vencimento, me- vencimentos compatíveis, respeitada a exigência de
diante habilitação em concurso público. Cabimento habilitação profissional, quando for o caso. Situação
do Provimento por Transferência do Funcionário Estável

6
Art. 101 - O funcionário que houver ocupado o lugar teresse e a conveniência da Administração. Parágrafo
reintegrado será obrigatoriamente provido em igual Único - A remoção não implicará em mudança de car-
cargo ainda que necessária a sua criação, como ex- go. Competência
cedente ou não. 17 DO APROVEITAMENTO Aprovei-
tamento Art. 112 - A remoção respeitará a lotação dos órgãos
ou unidades administrativas interessadas e será de
Art. 102 - Aproveitamento é o retorno ao serviço pú- competência do Prefeito determiná-la. Membros do
blico do funcionário em disponibilidade. Cabimento Magistério
do Provimento por Aproveitamento
Art. 113 - A remoção por permuta será processada a
Art. 103 - Será obrigatório o aproveitamento do fun- pedido de ambos os interessados e de acordo com as
cionário em disponibilidade em cargo de natureza e disposições deste
vencimento ou remuneração compatível com o do an-
teriormente ocupado. Obrigatoriedade da Existência CAPÍTULO.
da Vaga
CAPÍTULO II DA SUBSTITUIÇÃO SUBSTITUIÇÃO
Art. 104 - O aproveitamento só será realizado, no caso
de ocorrência de vaga, no Quadro de Funcionários Pú- Art. 114 - Haverá substituição nos casos de impedi-
blicos do Município. Desempate mento legal ou afastamento de titular em cargo de
comissão ou função gratificada.
Art. 105 - Havendo mais de um concorrente á mesma
vaga, terá preferência o de maior tempo em disponi- Art. 115 - A substituição automática é estabelecida
bilidade e em caso de empate e de maior tempo de em regulamento e processar-se-á independente de
serviço municipal. Ineficácia do Ato ato. 19 Competência
Art. 106 - Será tornado sem efeito o aproveitamen- Art. 116 - Quando depender de ato da administração,
to e cassada a disponibilidade do funcionário se este, o substituto será designado pela autoridade imediata-
cientificado expressamente do ato de aproveitamento, mente superior aquela a ser substituída. Funcionário
não tomar posse no prazo de 30 (trinta) dias, salvo
Interno
em caso de doença comprovado em inspeção médica.
Decretação de aposentadoria
Art. 117 - Em nenhuma hipótese o funcionário que
ocupe cargo precariamente poderá adquirir estabili-
Art. 107 - Provada em inspeção médica a incapacida-
dade. Será reconhecida apenas a efetividade no servi-
de definitiva, será decretada aposentadoria.
ço público. Hipótese de Remuneração
CAPÍTULO VII DA REVERSÃO REVERSÃO
Art. 118 - A substituição nos termos dos artigos ante-
Art. 108 - Reversão é o reingresso no serviço públi- riores, será gratuita, salvo se exceder 30 (trinta) dias,
co do funcionário aposentado, por invalidez quando quando então será remunerada por todo o período.
insubsistente os motivos da aposentadoria. Modo de Parágrafo Único - Pelo tempo de substituição remune-
Reversão rada o substituto perceberá o vencimento ou remune-

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ração do cargo ou função ocupado de fato, ressalvado
Art. 109 - A reversão far-se-á ex-ofício ou a pedidos, caso de opção, vedada, porém, a percepção cumulati-
de preferência no mesmo cargo ou naquele que se va de vencimentos, gratificações e vantagens.
tenha transformado, ou em cargo de vencimento ou
remuneração e atribuições equivalente ao do cargo CAPÍTULO V DA VACÂNCIA CASOS DE VACÂNCIA
anteriormente ocupado, sempre observados o interes-
se e a conveniência da administração. 18 Requisitos Art. 119 - A vacância dos cargos decorrerá de: I - exo-
neração; II - demissão; III - promoção; IV - transferên-
Art. 110 - para que a reversão possa efetivar-se é ne- cia; V - readaptação; VI - aposentadoria; VII - faleci-
cessário que o funcionário: I - não conte com mais de mento; VII - determinação em lei.
35 (trinta e cinco) anos de tempo de serviço e inati-
vidade, contados em conjunto; II - seja julgado apto Art. 120 - A vaga ocorrerá na data: I - da publicação:
em inspeção de saúde; III - tenha a seu reingresso na a) da lei que criar o cargo; b) do ato que promover,
atividade considerado como de interesse do serviço exonerar, demitir ou aposentar o ocupante do cargo;
público, á juízo da Administração. II - da posse em outro cargo no caso de provimento
por nomeação, transferência ou readaptação; III - do
TÍTULO IV DO REMANEJAMENTO DE PESSOAL falecimento do ocupante do cargo; 20

CAPÍTULO I DA REMOÇÃO REMOÇÃO Art. 121 - Verificada a vaga, serão consideradas aber-
tas, na mesma data, todas as que decorrerem do seu
Art. 111 - Remoção é o deslocamento de um para ou- preenchimento. Parágrafo Único - Quando se tratar
tro órgão ou unidade administrativa e processar-se-á, de função gratificada, dar-se-á vacância por dispensa,
“ex-ofício” ou a pedido do funcionário, atendidos o in- a pedido ou “ex-ofício”, ou por destituição. Exoneração

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Art. 122 - dar-se-á exoneração: I - a pedido de qual- o afastamento houver sido expressamente autorizado
quer caso; II - ex-ofício: a) quando se tratar se cargo pelo Prefeito Municipal; XIII - período de afastamento
em comissão; b) quando não satisfeitas as condições compulsório, determinado pela legislação sanitária;
para a conclusão do estágio probatório. Exoneração XIV - exercício de cargo ou função, de direção, chefia e
assessoramento de em órgãos de administração fede-
Art. 123 - Exoneração é a dispensa a pedido de qual- ral, estaduais e municipais, com prévia autorização do
quer caso, ou por conveniência da Administração. De- Prefeito Municipal; XV - participação em programa de
missão treinamento regularmente instituído; XVI - desempe-
nho de mandato eletivo Federal, Estadual, Municipal
Art. 124 - Demissão é a forma de punição ao funcio- ou do Distrito Federal, exceto para promoção por me-
nário e que depende de sentença judicial ou processo recimento; XVII - por desempenho de mandato classis-
administrativo, assegurada ampla defesa. ta, exceto para efeito de promoção por merecimento;
XVIII - licença para tratamento de saúde, até 02 (dois)
TÍTULO VI DOS DIREITOS E VANTAGENS anos.
§1º - Para efeitos desta lei, entende-se por acidente
CAPÍTULO I DO TEMPO DE SERVIÇO APURAÇÃO no trabalho o evento que cause dano físico ou mental
DO TEMPO DE SERVIÇO ao funcionário, na ocasião ou por efeito do serviço ou
quando do seu deslocamento para o trabalho ou deste
Art. 125 - Será feita em dias a apuração do tempo de para seu domicílio, conforme dispuser o regulamento.
serviço. §2º - Equipara-se ao acidente no trabalho a agres-
§1º - O número em dias será convertido em anos, con- são, não provocada, porém sofrida pelo funcionário
siderando o ano como de trezentos e sessenta e cinco no serviço ou em razão dele, comprovado por decisão
dias. judicial.
§2º - Feita à conversão, os dias restantes, até cento e §3º - Por doença profissional, para os efeitos desta lei,
oitenta e dois não serão computados; quando a con- entende-se aquela peculiar ou derivada diretamente
tagem exceder esse número será arredondado para 1 do trabalho, comprovada, em qualquer hipótese, a re-
(um) ano, para efeito de calculo de aposentadoria. lação causa e efeito.
§3º - Serão computados os dias de efetivo exercício
e os descansos renumerados, á vista do registro de Art. 128 - Nos casos previstos nos parágrafos 1º e 3º
freqüência, da folha de pagamento ou das certidões do artigo antecedente, o laudo resultante de inspeção
extraídas dessas fontes, controladas pela Secretaria médica deverá estabelecer rigorosamente a caracteri-
Municipal de Administração. 21 Inexistência de Docu- zação do acidente no trabalho ou da doença profissio-
mentos para Contagem do Tempo de Serviço nal. 22 Contagem do Tempo de Serviço

Art. 126 - Sempre que se verifiquem não existirem, em Art. 129 - Para efeito de aposentadoria ou disponibili-
virtude de extravio, incêndio ou destruição, total ou dade será computado também: I - o tempo de serviço,
parcial, os livros e documentos necessários ao levan- público, federal, estadual, ou em outros municípios; II -
tamento de certidões probatórias de tempo de serviço, o período de serviço ativo nas Forças Armadas, presta-
a repartição competente certificará este fato, cabendo dos durante a paz, computado pelo dobro o tempo em
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ao funcionário interessado suprir a falta através de operações de guerra; III - o desempenho de função le-
processo administrativo ou judicial. Afastamento do gislativa federal, estadual ou municipal; IV - o período
funcionário de licença para tratamento de saúde, inclusive de pes-
soa de família conforme dispuser o regulamento; V - o
Art. 127 – Será considerado de efetivo exercício o afas- tempo em que o funcionário esteve em disponibilida-
tamento em virtude de: * de ou aposentado, desde que ocorra o aproveitamento
ou reversão respectivamente; VI - o tempo de serviço
Art. 127 - Será considerado como tempo de serviço prestado em autarquia, empresa pública, sociedade de
o afastamento em virtude de: * (Nova redação dada economia mista; VII - o tempo de serviço prestado em
pela Lei 1610 de 1999) I - férias; II - casamento, até 8 instituição de caráter privado que tiver sido transfor-
(oito) dias; III - luto pelo falecimento do cônjuge, filho, mada em estabelecimento de serviço público, quando
pai, mãe e irmão até 8 (oito) dias; IV - convocação o servidor estiver em exercício, quando o servidor esti-
para o serviço militar; V - júri e outros obrigatórios ver em exercício, no ato da transformação, por tempo
por lei; VI - exercício de qualquer cargo ou função pú- nunca inferior a dois anos, exceto servidores da antiga
blica municipal desde que remunerada pelos cofres guarda incorporados à guarda municipal ou aqueles
públicos; VII - exercício do cargo de Prefeito e outros em exercício na Clínica Itaboraí, quando de sua incor-
de Governo da administração em qualquer parte do poração no serviço municipal; VIII - o tempo de servi-
território nacional; VIII - licença especial; IX - licença ço gratuito prestado no município, quando o servidor
a funcionária gestante; X - licença ao funcionário aci- vier a se tornar funcionário do Quadro Municipal; IX
dentado em serviço ou atacado por doença profissio- - em dobro, o de licença especial não gozada e o de
nal; XI - doença devidamente comprovada na forma férias não utilizado; X - o tempo de serviço de ativi-
regulamentar, até 03 (três) dias; XII - missão ou es- dade vinculada ao regime da Consolidação das Leis
tudo em outros pontos do território nacional quando do Trabalho desde que o funcionário haja completado

8
05 (cinco) anos de efetivo exercício na administração proventos integrais; b) aos 30 (trinta) anos de efetivo
municipal, computados na forma do artigo seguinte. exercício em funções de magistério, se professo, e 25
Contagem de Tempo de Serviço Privado (vinte e cinco) se professora, com proventos integrais;
c) aos 30 (trinta) anos de serviço, se homem, e aos 25
Art. 130 - No caso do inciso X do último artigo, serão (vinte e cinco) se mulher, com proventos proporcionais
observadas as seguintes normas para contagem de a esse tempo; aos 65 (sessenta e cinco) anos de idade,
tempo de serviço: I - não será admitida a contagem se for homem, e aos 60 (sessenta) se for mulher, com
de tempo de serviço em dobro ou em outras condições proventos integrais ao tempo de serviço. 24 Licença
especiais; II - é vedada a acumulação de tempo de Anterior a Aposentadoria por Invalidez
serviço público com o da atividade privada, quando
concomitantes; III - não será contado o tempo de ser- Art. 135 - A aposentadoria por invalidez será sempre
viço que já tenha servido de base para aposentado- precedida de licença por período contínuo não inferior
ria por qualquer outro sistema; IV - a aposentadoria a 24 (vinte e quatro) meses após o que o funcioná-
somente será concedida a funcionário que contar ou
rio será submetido a um exame definitivo por junta
venha completar 35 (trinta e cinco) anos de serviço,
se do sexo masculino, 30 (trinta) se do sexo feminino, médica, salvo se a junta médica concluir desde logo,
salvo os ocupantes de cargo do magistério na forma pela incapacidade definitiva do funcionário. Final do
que dispuser a Constituição Federal; V - se a soma do Exercício na Aposentadoria Voluntária
tempo de serviço ultrapassar os limites previstos no
inciso anterior, o excesso não será considerado para Art. 136 - No caso de aposentadoria compulsória o
qualquer efeito; VI - o ônus financeiro decorrente, funcionário aguardará em exercício a publicação do
caberá ao Instituto de Previdência e Assistência dos respectivo ato, salvo se estiver legalmente afastado
Servidores Municipais (ITAPREVI) Criado através de Lei cargo.
Complementar n.º 01 de 27/06/90 em seus artigos 19
e 20 , com a redação dada pela Lei Complementar n.º Art. 137 - no caso de aposentadoria compulsória o
04 de 10/11/92; VII - não se aplica estas disposições às funcionário é dispensado do comparecimento ao ser-
aposentadorias concedidas. 23 Acumulação de Tempo viço, a partir da data em que completar a idade limite.
de Serviço Público Simultâneo Proventos
Art. 131 - É vedada a contagem de tempo de servi-
ço municipal concorrente ou simultaneamente pres- Art. 138 - Os proventos da aposentadoria serão: I - in-
tado com um ou mais cargos ou funções da União, tegrais quando o funcionário: a) contar trinta e cinco
do próprio município, de outro município, de Estados, anos de serviço, se do sexo masculino, trinta anos se o
Territórios, Autarquias, Empresas Públicas, Sociedades sexo feminino; b) invalidar-se por acidente em serviço,
de Economia Mista, Fundações instituídas pelo Poder moléstia profissional ou for acometido de tuberculose
Público e entidades de caráter privado que hajam sido ativa, alienação mental neoplasia maligna, cegueira
transformadas em estabelecimentos do serviço públi- posterior ao ingresso no serviço público, hanseníase,
co. lepra, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopa-
tia grave, estado adiantado do mal de Peget ( osteite
CAPÍTULO II DA ESTABILIDADE deformante), espondiloartrose anquilosante, doença
de Parkinson, nefropatia grave, esclerose múltipla,

ESTATUTO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS MUNICIPAIS DE ITABORAÍ


Art. 132 - A estabilidade é a garantia de permanência Síndrome de Imunodeficiência Adquirida - AIDS. II -
no serviço público, outorgada ao funcionário que, no-
proporcionais, quando o funcionário contar menos de
meado em caráter efetivo, mediante concurso, tenha
transposto o estágio probatório. 35 (trinta e cinco) anos de serviço, se homem, e 30
§ 1º - Da estabilidade decorre o direito do funcionário (trinta) anos se mulher observado o disposto no pará-
efetivo de não ser exonerado ou demitido, senão em grafo único do
sentença judicial ou processo administrativo que lhe
haja assegurado ampla defesa. Artigo 143. Parágrafo Único - O servidor aposenta-
§ 2º - A estabilidade se refere ao serviço público e não do com provento proporcional ao tempo de serviço,
ao cargo ou função. Perda do Cargo se acometido de qualquer das moléstias na alínea “b”
do Inciso I deste artigo, passará a receber provento in-
Art. 133 - O funcionário perderá o cargo: I - em vir- tegral. Prorrogação do Exercício Revisão de Provento
tude de sentença judicial ou processo administrativo
que haja concluído pela sua demissão depois de lhe Art. 139 - Os proventos de inatividade serão revistos,
haver sido assegurada ampla defesa; II - quando, por sempre que, por motivo de alteração do poder aqui-
desnecessário, for extinto, ficando o seu ocupante, se sitivo da moeda, se modificarem os vencimentos dos
estável, em disponibilidade; III - quando for exonerado
funcionários em atividade.
no período de estágio probatório.
§ 1º - Ressalvado o disposto neste artigo, em nenhuma
CAPÍTULO III DA APOSENTADORIA hipótese os proventos da inatividade poderão exceder
a retribuição percebida na atividade, e o funcionário
Art. 134 - O funcionário será aposentado: I - por inva- não poderá receber menos que o vencimento atribu-
lidez; II - compulsoriamente, aos 70 (setenta) anos de ído ao cargo efetivo ao cargo efetivo que exercia na
idade; III - voluntário: a) aos 35 (trinta e cinco) anos de data de sua aposentadoria.
serviço, se homem, e aos 30 (trinta) se for mulher, com § 2º - No caso de não mais existir o cargo que o fun-

9
cionário aposentado exercia na data de sua aposen- imperiosa necessidade de serviço. Aquisição de Direito
tadoria, os proventos serão atualizados com base nos a Férias
vencimentos atribuídos ao cargo que existia na data e
cujo vencimento fosse igual. 25 Art. 147 - O funcionário somente adquirirá direito a
§ 3º - O Servidor ativo ou inativo, não poderá perceber férias após o primeiro ano de exercício. Acumulação
remuneração superior à aquela atribuída ao cargo de de Período de Férias
Secretário , ressalvada as vantagens pessoais. Vanta-
gens e Direitos já Adquiridos Art. 148 - A acumulação de férias será permitida ape-
nas por uma vez por imperiosa necessidade de serviço,
Art. 140 - As vantagens já deferidas aos atuais inati- comprovada por informação do superior hierárquico
vos, bem como os direitos já conquistados por força imediato do funcionário, à Secretaria Municipal de
da legislação anterior, não sofrerão restrições com a Administração.
vigência das disposições constantes desta lei.
Art. 149 - Durante as férias do funcionário terá direito,
CAPÍTULO IV DA DISPONIBILIDADE
além do vencimento, todas as vantagens que possuía
DISPONIBILIDADE
no momento em que se passou a usufruí-la.
Art. 141 - Disponibilidade é o afastamento do funcio-
nário estável, com vencimentos proporcionais ao tem- Art. 150 - As férias não utilizadas serão contadas em
po de serviço, em virtude da extinção do cargo que dobro para efeito de aposentadoria. Interrupção do
ocupava. Proventos Período de Férias

Art. 142 - Para efeitos de fixação de proventos de dis- Art. 151 - O funcionário em gozo de férias não será
ponibilidade, aplica-se a essa regra contida no art. não será obrigado a interrompê-las, por motivo de
138 , no Inciso II, desta lei. Revisão de Proventos promoção, transferência, readaptação ou remoção.

Art. 143 - Aplica-se ao funcionário em disponibilidade Art. 152 - Ao entrar em férias, o funcionário comuni-
a revisão de proventos de que trata o art. 140 desta cará ao chefe da repartição o seu endereço eventual.
Lei. Aposentadoria Adicional de Férias

Art. 144 - O funcionário em disponibilidade poderá ser Art. 153 - Independente de solicitação será pago ao
aposentado nas condições estabelecidas no art. 147, servidor, por ocasião das férias, um adicional corres-
desta Lei. pondente a um terço da remuneração do período de
férias.
CAPÍTULO V DAS FÉRIAS PERÍODO DE FÉRIAS
Art. 154 - É facultado ao servidor converter 1/3 das
Art. 145 - O funcionário gozará obrigatóriamente30 férias em abono pecuniário, desde que o requeira com
(trinta) dias de férias corridos por ano, de acordo com pelo menos, pelo menos 30 (trinta) dias de antecedên-
a escala organizada por seu chefe imediato que en- cia.
ESTATUTO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS MUNICIPAIS DE ITABORAÍ

caminhará à Secretaria Municipal de Administração.


Parágrafo Único - As férias poderão ser gozadas em Art. 155 – No cálculo do abono pecuniário será consi-
parcelas mínimas de 10 (dez) dias, sendo proibido le- derado o valor do adicional de férias. 27
var à conta das férias qualquer falta de trabalho.
CAPÍTULO VI DAS LICENÇAS
Art. 146 - O funcionário que opera direta e perma-
nentemente Raio X ou substancias radioativas goza-
SEÇÃO I DISPOSIÇÕES PRELIMINARES HIPÓTESE
rá 20 (vinte) dias de férias, por semestre de atividade
PARA CONCESSÃO DE LICENÇAS
proporcional, proibido em qualquer hipótese de acu-
mulação.
§ 1º - O funcionário referido neste artigo não fará jus Art. 156 - Conceder-se-á licença: I - para tratamento
ao abono pecuniário que trata o artigo 154 desta lei; de saúde; II - por motivo de doença em pessoas da
26 família; III - para as gestantes; IV - para serviço militar
§ 2º - As férias dos membros do magistério poderão obrigatório; V - para o trato de interesse particular; VI
ser reguladas por normas específicas; - ao funcionário casado, para acompanhar o cônjuge
§ 3º - No caso de funcionário que exerce função grati- servidor público, em viagem a serviço; VII - em caráter
ficada ou ocupa cargo em comissão, as vantagens cor- especial; VIII - paternidade, em virtude de nascimento
respondentes serão consideradas no cálculo adicional de filho do funcionário; Concessão de Licenças
de que trata o artigo;
§ 4º - O funcionário em regime de acumulação lícita, Art. 157 - as licenças referidas nos Incisos I, II e III do
perceberá o calculado sobre a remuneração de cargos, artigo anterior serão concedidos pelo órgão médico
cujo período aquisitivo lhe garanta o gozo das férias; oficial competente, pelo prazo por ele indicado. Licen-
§ 5º - As férias somente poderão ser interrompidas por ças Médicas até 90 dias

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Art. 158 – Para licença médica de até 90 (noventa) § 1º - Em todos os casos, é indispensável a inspeção
dias, a inspeção será feita por médico do órgão do Po- médica, que será realizada pelo órgão médico oficial
der Executivo. Parágrafo Único – Quando assim não competente, e quando necessário no local onde se en-
for possível, serão admitidos laudos de outros médicos contrar o funcionário.
oficiais ou ainda, excepcionalmente, atestado passa- § 2º - No curso da licença o funcionário se absterá
do por médico particular, com firma reconhecida, sem de atividade, remunerada, sob pena de interrupção
prejuízo do posterior exame por médico designado imediata da mesma, com perda total do vencimento e
pela municipalidade. demais vantagens.
§ 3º - O funcionário não poderá recusar-se à inspeção
Art. 159 – Todas as licenças concedidas serão encami- médica sob suspensão do pagamento do vencimento e
nhadas à Secretaria Municipal de Administração, que das vantagens até que a mesma se realize. Suspensão
as processará, dando obrigatória ciência, ao Prefeito de Licença
Municipal.
Art. 167 – Considerado apto em inspeção médica, o
Art. 160 – Ocorrendo à hipótese de laudo ou ates- funcionário reassumirá o cargo ou função, apurando-
tado gracioso ou de má-fé, serão responsabilizados -se como faltas, a partir da data da inspeção médica,
na esfera administrativa, o médico e o funcionário, e os dias de ausência ao serviço. Parágrafo Único – no
considerado como de faltas ao serviço o período de curso da licença poderá o funcionário requerer inspe-
afastamento, devendo a autoridade que adotar a me- ção médica, caso se considere em condições de reassu-
dida administrativa cientificar à autoridade jurídica mir o exercício. Despesa com Tratamento de Acidente
ou policial, para medidas cabíveis. 28 Prorrogação de no trabalho ou Doença Profissional
Licenças
Art. 168 – Nos casos de acidente no trabalho e de
Art. 161 – A licença pode ser prorrogada a pedido. doença profissional, correrão por conta do Município
Parágrafo Único – O pedido de prorrogação deverá
as despesas com tratamento médico e hospitalar do
ser apresentado antes de findo o prazo de licença;
funcionário, que será realizado, sempre que possível,
se indeferido, contar-se-á como de licença o período
ou profissional ou estabelecimento conveniados ao
compreendido entre a data do término e a do conheci-
ITAPREVI.
mento oficial do despacho denegatório. Prazo Máximo
de Licenças
SEÇÃO III DA LICENÇA PARA TRATAMENTO DE
Art. 162 – O funcionário não poderá permanecer em DOENÇA EM PESSOA DA FAMÍLIA CABIMENTO
licença por prazo superior a 24 (vinte e quatro) meses
consecutivos, salvo nos casos previstos nos Incisos IV e Art. 169 – Desde que atestado ser indispensável a sua
VI do artigo 166 desta Lei. Parágrafo Único – Excetua- assistência pessoal e esta não possa ser prestada si-
-se ainda do prazo estabelecido neste artigo a licença multaneamente com o exercício do cargo, ao funcio-
para tratamento de saúde quando o funcionário for nário será concedida licença com vencimento.
considerado recuperável para o exercício da função § 1º - Consideram-se pessoas da família para efeitos
pública, a juízo da junta médica. Aposentadoria da licença que trata o caput desse artigo, os ascen-
dentes, os descendentes, cônjuge, ou qualquer pessoa
Art. 163 – Nas licenças dependentes de inspeção mé- que viva às expensas do funcionário ou em sua com-
dica, expirando o prazo do artigo anterior, e ressalva- panhia, e conste do seu assentamento individual, com

ESTATUTO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS MUNICIPAIS DE ITABORAÍ


da a hipótese referida no seu parágrafo, o funcionário seu dependente.
será submetido à nova inspeção e será aposentado, se § 2º - A licença será concedida sem prejuízo da remu-
for julgado inválido para o serviço público em geral, neração do cargo efetivo, até 90 (noventa) dias, po-
após verificada a impossibilidade de sua readaptação. dendo daí em diante, mediante parecer de junta mé-
Parágrafo Único – Na hipótese desse artigo, o tempo dica, ser prorrogada com os seguintes descontos: 30
decorrido entre o término da licença e a publicação do a) com 2/3 (dois terços) do salário quando excedente
ato de aposentadoria será considerada como de licen- a 90 (noventa) dias e não ultrapassar 365 (trezentos
ça prorrogada. Comunicação de Licença e sessenta e cinco) dias; b) sem remuneração a partir
dos 365 (trezentos e sessenta e cinco) dias;
Art. 164 – O funcionário em gozo de licença, comuni- § 3º - A licença prevista neste artigo só será conce-
cará ao chefe imediato o local onde poderá ser encon- dida se não houver prejuízo ao serviço público, não
trado. Proibição de Licença podendo em sua totalidade ser superior a 24 (vinte e
quatro) meses.
Art. 165 – Ao funcionário ocupante do cargo em co-
missão ou função gratificada, não serão concedidos, Art. 170 – Provar-se-á a doença e a necessidade de as-
nessa qualidade, as licenças de que tratam os Incisos sistência do funcionário a pessoa da família, mediante
V e VII do art. 166 desta Lei. 29 inspeção médica.

SEÇÃO II DA LICENÇA PARA TRATAMENTO DE SEÇÃO IV LICENÇA A FUNCIONÁRIA GESTANTE


SAÚDE CABIMENTO PERÍODO DE LICENÇA
Art. 166 – A licença com vencimento remuneração Art. 171 – À funcionária gestante será concedida, me-
integral para tratamento de saúde será concedida a diante inspeção médica, licença por 4 (quatro) meses,
pedido do funcionário ou do seu representante legal. com vencimento integral. - À servidora gestante será
* (Nova redação dada pela Lei Compl. 160 de 2012) concedida, mediante inspeção médica, licença por 06

11
(seis) meses, com remuneração integral, prorrogá- SEÇÃO VI DA LICENÇA PARA O TRATAMENTO DE
vel, no caso de aleitamento materna, por no mínimo INTERESSES PARTICULARES CABIMENTO
30(trinta) e no máximo 90 (noventa) dias, mediante a
apresentação de laudo médico circunstanciado emiti- Art. 179 – Depois de estável, o funcionário poderá
do ou ratificado pelo serviço de perícia médica oficial requerer licença sem vencimento, para tratar de in-
do Município. * (Nova redação dada pela Lei Comple- teresses particulares. Parágrafo Único – O requerente
mentar 160 de 2012) aguardará em exercício a concessão da licença. Perí-
§ 1º - Salvo prescrição médica ao contrário, a licença odo de Licença
será concedida a partir do oitavo mês de gestação.
§ 2º - No caso de natimorto, decorrido 30 (trinta) dias Art. 180 – A licença não perdurará por tempo superior
do evento, a servidora será submetida a exame médi-
a 2 (dois) anos contínuos, e outra só poderá lhe ser
co e, se julgada apta, reassumirá o exercício.
concedida depois de 2 (dois) anos do término da ante-
§ 3º - No caso de aborto, atestado por médico oficial,
rior. Descabimento da Licença
a servidora terá direito à 30 (trinta) dias de repouso
remunerado.
Art. 181 – Não se concedera licença quando inconve-
niente para o serviço a critério da administração, nem
Art. 172 – A servidora que adotar ou obtiver a guarda
a funcionário nomeado, removido, transferido ou rea-
judicial de criança de até 1 (um) ano de idade, serão
daptado, antes de assumir o exercício. 32 Desistência
concedidos 90 (noventa) dias de licença remunerada.
Parágrafo Único – No caso de adoção ou guarda ju-
Art. 182 – O funcionário poderá, a qualquer tempo,
dicial de criança de mais de 1 (um) ano de idade, o
desistir da licença, sem vencimento.
prazo de que trata este artigo será de 30 (trinta) dias.
Prorrogação de Licença
SEÇÃO VII DA LICENÇA AO FUNCIONÁRIO
Art. 173 – Quando a saúde do recém-nascido exigir CASADO CABIMENTO
assistência especial, será concedida prorrogação da
licença à funcionária, a critério médico, pelo prazo ne- Art. 183 – A funcionária casada com funcionário civil,
cessário, não excedente à 2 (dois) meses. militar, federal, estadual ou municipal, ou servidor de
autarquia, de empresa pública, de sociedade de eco-
Art. 174 – Para amamentar o próprio filho, até a idade nomia mista ou fundação instituída pelo Poder Pú-
de 6 (seis) meses, a servidora lactante terá direito, du- blico, terá licença sem vencimento para acompanhar
rante a jornada de trabalho, a uma hora de descanso, o cônjuge que for servir em outro lugar do território
que poderá ser parcelada em 2 (dois) períodos de 30 nacional ou no estrangeiro.
(trinta) minutos. * (Revogação dada pela Lei Comple- § 1º - A licença dependerá de pedido previamente ins-
mentar 160 de 2012) 31 truído que deverá ser renovado de 2 (dois) em 2 (dois)
anos.
SEÇÃO V DA LICENÇA PARA SERVIÇO MILITAR § 2º - Finda a causa da licença, o funcionário deve-
OBRIGATÓRIO CABIMENTO rá reassumir o exercício dentro de 30 (trinta) dias, a
partir dos quais a sua ausência será computada como
Art. 175 – Ao funcionário que for convocado para o falta ao serviço. Nova Licença
ESTATUTO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS MUNICIPAIS DE ITABORAÍ

serviço militar e outros encargos de segurança nacio-


nal será concedida licença com vencimento integral. Art. 184 – Independente do regresso do cônjuge, o
§ 1º - A licença será concedida á vista de documento funcionário poderá reassumir o exercício a qualquer
oficial que prove a incorporação. tempo, não podendo nesse caso, renovar o pedido de
§ 2º - Do vencimento descontar-se-á a importância licença senão depois de 2 (dois) anos da data de reas-
que o funcionário perceber na incorporação. Reassun- sunção, salvo se o cônjuge for novamente transferido
ção do Exercício para outro lugar.

Art. 176 – Ao funcionário desincorporado conceder- SEÇÃO VIII DA LICENÇA ESPECIAL PERÍODO PARA
-se-á prazo não excedente a 30 (trinta) dias, para que CONCESSÃO DE LICENÇA
assuma o exercício, sem perda de vencimento. Estágio
de Serviço Militar Obrigatório Art. 185 – Após cada qüinqüênio de efetivo exercício
ao funcionário que requerer, conceder-se-á licença es-
Art. 177 – Ao funcionário, oficial da reserva das For- pecial de 3 (três) meses com todos os vencimentos e
ças Armadas, será concedida licença com vencimento demais vantagens inerentes ao seu cargo ou função.
integral durante os estágios de serviço militar obriga- § 1º - Para a concessão da licença que trata este arti-
tório e não remunerados. Parágrafo Único – Quando o go, serão observadas as seguintes normas: a) somente
estágio for remunerado, assegurar-se-á ao funcioná- será contado o tempo de serviço público municipal; b)
rio o direito de opção. Licença Paternidade o tempo de serviço será apurado em dias e convertido
em anos, sem qualquer arredondamento.
Art. 178 – Pelo nascimento ou adoção de filho, o ser- § 2º - No computo do qüinqüênio será deduzido o
vidor terá direito a LicençaPaternidade de 05 (cinco) ano em que o funcionário: a) houver sofrido pena de
dias consecutivos. suspensão, ainda que convertida em multa; b) houver

12
tido mais de 5 (cinco) faltas, não justificadas; c) houver por decisão definitiva a pena que não resulte em de-
gozado qualquer das licenças a que se refere o artigo missão. Vencimento ou Remuneração do Funcionário
156 Incisos V e VI desta Lei. 33 Contagem em Dobro Vereador

Art. 186 – o período de licença especial não gozada Art. 194 – O funcionário investido em mandato de
contar-se-á em dobro para efeitos de aposentadoria Vereador, havendo compatibilidade de horários, fará
e concessão, na oportunidade, de adicional por tempo jus à percepção de Vencimento do Cargo, juntamente
de serviço. Licença em 2 Cargos com seus subsídios, desde que permaneça no exercício
co cargo. Arresto, Seqüestro e Penhora sob o Venci-
Art. 187 – Em se tratando de acumulação permitida, mento
se o exercício de cargo for ininterrupto até completar-
-se o qüinqüênio, o funcionário poderá ser licenciado Art. 195 – O vencimento, o provento ou qualquer van-
nos dois cargos, simultaneamente ou isoladamente. tagem pecuniária atribuída ao funcionário não será
Reassunção do Exercício do Cargo objeto de arresto, seqüestro ou penhora, salvo quando
se tratar de: I – prestação de alimentos determinada
Art. 188 – o funcionário em gozo de licença especial, judicialmente; II – reposição ou indenização à Fazenda
poderá, a qualquer momento, reassumir o exercício do Pública; III – divida à Fazenda Pública.
cargo. Prazo § 1º - As reposições e indenizações à Fazenda Pública
serão descontadas em parcelas mensais não exceden-
do a décima parte do vencimento.
Art. 189 – O direito para licença especial não tem pra-
§ 2º - Se o funcionário for exonerado ou demitido,
zo para ser exercitado. Parágrafo Único – Para gozo
a quantia devida será inscrita como divida, cobrável
da Licença Especial o servidor ocupante de Cargo Co-
executivamente.
missionado ou Função Gratificada deverá ser exonera-
do de suas funções. CAPÍTULO VIII DA PROGRESSÃO HORIZONTAL
PROGRESSÃO HORIZONTAL
Art. 190 – O funcionário que, necessitado, requerer por
menos de 90 (noventa) dias, licença para tratamento Art. 196 – Progressão Horizontal é o percentual calcu-
de saúde, por motivo de doença em pessoa da família lado sobre o vencimento, a que fará jus o funcionário,
ou por motivo de afastamento do cônjuge, durante o a cada três anos de efetivo exercício no Serviço Público
qüinqüênio anterior ao direito de aquisição da licença Municipal. Limite de Graus
especial, fará jus a mais 15 (quinze) dias de gozo de
licença especial. Art. 197 – A cada tres anos de efetivo exercício corres-
ponderá um de progressão horizontal, até o limite de
CAPÍTULO VII DO VENCIMENTO E DA 12 (doze) graus.
REMUNERAÇÃO VENCIMENTO § 1º - O percentual correspondente a cada grau é de
3% (três por cento).
Art. 191 – Vencimento é a retribuição paga ao funcio- § 2º - O valor do triênio adere ao vencimento para fins
nário pelo efetivo exercício do cargo, correspondente de calculo de outros adicionais ou gratificações. 35
ao padrão fixado em lei. Remuneração

ESTATUTO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS MUNICIPAIS DE ITABORAÍ


CAPÍTULO IX DAS VANTAGENS
Art.192 – Remuneração é a retribuição pelo efetivo
exercício do cargo, mais vantagens a que o funcioná- SEÇÃO I DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
rio fizer jus. Perda de Vencimento ou Remuneração VANTAGENS

Art. 193 – O funcionário perderá: I – o vencimento ou Art. 198 – Além do vencimento, poderá o funcionário
remuneração quando designado para servir à autar- perceber as seguintes vantagens ou benefícios: I – in-
quia, sociedade economia mista, fundação ou outro denizações; II – gratificações; III – adicionais.
estabelecimento de serviço público; II – o vencimento § 1º - As indenizações não se incorporam ao venci-
ou remuneração do dia em que não comparecer ao mento ou provento para qualquer efeito.
serviço, salvo motivo legal ou moléstia devidamente § 2º - As gratificações e os adicionais incorporam-se
comprovados nos termos da lei; 34 III – o vencimento ao vencimento ou provento, nos casos e condições in-
ou remuneração quando exercício de mandado ele- dicados em lei.
tivo remunerado, federal ou estadual, ou no caso do
mandato municipal, quando este for incompatível Art. 199 – As vantagens pecuniárias não serão con-
com suas atividades funcionais; IV – um terço do ven- tadas, nem acumuladas para efeito de concessão de
cimento ou remuneração durante o afastamento por quaisquer outros acréscimos pecuniários ulteriores,
motivo de pronúncia por crime comum, denúncia por sob o mesmo
crime funcional ou por crime de reclusão com direito
a diferença com correção monetária segundo os ín- TÍTULO OU IDÊNTICO FUNDAMENTO.
dices da unidade fiscal do município, se absolvido; V
SEÇÃO I DAS INDENIZAÇÕES
– dois terços do vencimento ou remuneração, durante
o período de afastamento em virtude de condenação,
Art. 200 – Constituem indenizações ao servidor: I –

13
ajuda de custo; II – diárias; III – transporte. companheiro com idade superior a 60 (sessenta) anos
Art. 201 – Os valores das indenizações, assim como as ou que possua filhos menores, desde que, em ambos
condições para sua concessão serão estabelecidas em os casos, não exerça atividade remunerada; II – pelo
regulamento. Sub cônjuge ou companheiro que não exerça atividade re-
munerada, por motivo de invalidez permanente; III -
SEÇÃO I DA AJUDA DE CUSTO por filho menor de 21 (vinte e um) anos; IV – por filho
inválido, em qualquer idade; V – por filho estudante,
Art. 202 – A ajuda de custo destina-se a compensar que freqüente curso superior até a idade de 24 (vinte
as despesas de instalação do servidor que no interesse e quatro) anos, desde que não exerça atividade remu-
do serviço, realizar despesas miúdas, de pronto pa- nerada; VI – pelo pai ou mãe sem rendimento próprio
gamento, devidamente comprovadas, no interesse da que viva às expensas do funcionário.
Administração. 36 Sub § 1º - No caso do item I e II deste artigo, a situação do
companheiro será provada mediante apresentação de
SEÇÃO II DAS DIÁRIAS CABIMENTO
justificação judicial.
Art. 203 - O servidor que, a serviço se afastar, em ca- § 2º - Compreende-se por filhos, aqueles de qualquer
ráter eventual ou transitório, da sede do município condição, os enteados, os adotivos e menor que, com-
conceder-se-á passagem e uma diária a provadamente, viver sob a guarda e sustento do fun-
cionário. Unicidade do Salário Família
Título de compensação das despesas de alimentação,
pousada e locomoção urbana. I – quando o desloca- Art. 209 – Quando pai e mãe forem funcionários ati-
mento constituir exigência permanente do exercício vos ou inativos de qualquer órgão público, federal, es-
do cargo ou função; II – quando o local para o qual tadual ou municipal e viverem em comum, o salário
se deslocar o funcionário seja contíguo ao da sede da família será concedido a apenas um deles. Parágrafo
repartição e em relação a este constitua unidade ur- Único – Se os pais não viverem em comum, será con-
bana. cedido àquele que tiver o dependente sob sua guarda.
§ 1º - A diária será concedida por dia de afastamento,
sendo devida pela metade quando o afastamento não Art. 210 – Ao pai e mãe, equiparam-se o padrasto, a
exigir pernoite fora da sede. * madrasta e, na falta destes, os representantes legais
dos incapazes ou quem por qualquer forma, tenha sob
Art. 204 – Regulamento estabelecerá os valores a se- guarda e sustento os dependentes a que se refere o
rem concedidos a art. 219 * o art. 208 desta Lei. * (Alteração feita pela
Lei 1610 de 1999) Isenção de Taxas
Título de diária conforme dispõe o artigo 203 desta
Lei. O Prefeito é competente para conceder a diária
Art. 211 – O salário-família não será sujeito à qual-
que equivalerá ao valor de um dia de trabalho do fun-
quer imposto ou taxa, nem servirá de base para qual-
cionário, calculada sobre sua remuneração. * (Nova
redação dada pela Lei 1610 de 1999) quer contribuição ainda que de finalidade assistencial.
Valor
Art. 205 – O servidor que receber diárias e não se afas-
tar da sede, ficará obrigado a restituí-las integralmen- Art. 212 – O valor do salário-família será correspon-
ESTATUTO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS MUNICIPAIS DE ITABORAÍ

te, no prazo de 5 (cinco) dias. Parágrafo Único – Na dente à 8% (oito por cento) do salário base pago pela
hipótese do servidor retornar à sede num prazo menor Prefeitura. Parágrafo Único – O valor do salário-famí-
que o previsto para o seu afastamento, restituirá as di- lia por dependente inválido corresponderá ao triplo do
árias recebidas em excesso, no prazo previsto no caput valor normal. 38 Caracterização do Inválido
deste artigo. Sub
Art. 213 – A invalidez que caracteriza que caracteriza
SEÇÃO DA INDENIZAÇÃO DE TRANSPORTE a dependência é a comprovada incapacidade total e
permanente para o trabalho, , ou presumida, no caso
Art. 206 – Conceder-se-á indenização de transporte de ancianidade. Acumulação de Cargos
a servidor que realizar despesas com meio próprio de
locomoção para a execução de serviços externos das Art. 214 – Nos casos de acumulação legal de cargo,
atribuições próprias ao cargo, conforme se dispuser o salário família será pago somente em relação a um
em regulamento. deles.
Art. 207 – Conceder-se-á igualmente, na forma de Lei SEÇÃO III DO EXERCÍCIO DE CARGO EM TEMPO
específica, auxílio-transporte, que poderá ser regula-
INTEGRAL CABIMENTO
mentado no que couber por ato do Prefeito do Muni-
cípio. 37
Art. 215 – O funcionário em exercício de cargo em
SEÇÃO III DO SALÁRIO FAMÍLIA CABIMENTO tempo integral terá remuneração equivalente a mais
40% (quarenta por cento) do valor do vencimento. Pa-
Art. 208 – O salário família será concedido ao funcio- rágrafo Único – O exercício da função gratificada ou
nário ativo, inativo ou pensionista: I – pelo cônjuge ou cargo em comissão, exclui o percebimento da vanta-
gem em tempo integral.

14
SEÇÃO IV DAS GRATIFICAÇÕES E ADICIONAIS nesse artigo, salvo complementação, quando for o
CABIMENTO caso. *

Art. 216 – Além do vencimento e das vantagens pre- Art. 218 - O servidor que, a partir de 01 de janeiro
vistas desta Lei, serão deferidos aos servidores as se- de 2012, vier a ocupar cargo em comissão ou função
guintes gratificações e adicionais: I – gratificação pelo gratificada, quando da sua exoneração ou destituição
exercício de função de direção, chefia e assessoramen- de função, receberá, a
to; II – gratificação natalina; III – adicional por tempo
de serviço; IV – adicional pelo exercício de atividades Título em Vantagem Pessoal Nominalmente Identi-
insalubres, perigosas ou penosas; V – adicional pela ficada - VPNI, ao equivalente a 50% (cinquenta por
prestação de serviço extraordinário; VI – adicional no- cento) da remuneração do cargo em comissão ou
turno; VII – adicional de férias; VIII – pela participação função gratificada, observados os seguintes requisi-
em órgão de deliberação coletiva; IX – pela execução tos, concomitantemente: I - ter exercido o cargo em
de trabalho técnico ou científico; X – gratificação de comissão ou função gratificada por período mínimo
produtividade; XI – outros, relativos ao local ou natu- de 60 (sessenta) meses; II - ter ocupado cargo efetivo,
reza do trabalho. exclusivamente no Município de Itaboraí, por período
§ 1º - Ao funcionário não será concedida não será mínimo de 10 (dez) anos; III - ter optado, junto a Se-
concedido mais de uma gratificação, ressalvados os cretaria Municipal de Administração, pela incidência
casos expressos nesta lei. da contribuição previdenciária ao Regime Próprio de
§ 2º - O exercício do cargo em comissão ou de função Previdência Social, sobre as parcelas remuneratórias
gratificada exclui o percebimento de quaisquer outras referentes ao exercício do cargo em comissão ou fun-
gratificações. 39 Sub ção gratificada;
§ 1º – Para fixação do valor da VPNI de que trata o ca-
SEÇÃO I DA GRATIFICAÇÃO PELO EXERCÍCIO put deste artigo, será considerada a média aritmética
DE FUNÇÃO DE DIREÇÃO, CHEFIA OU das parcelas mais vantajosas recebidas pelo servidor,
ASSESSORAMENTO no período apurado, pelo exercício de cargo em co-
missão ou função gratificada em que houver incidido
Art. 217 – Ao servidor investido em função de direção, a contribuição previdenciária.
chefia ou assessoramento é devida uma gratificação § 2º – Será computado o tempo do cargo em comissão
pelo exercício e seu valor estabelecido em Lei Muni- ou da função gratificada ocupada anteriormente a 01
cipal. de janeiro de 2012, para apuração do requisito previs-
to no 40 inciso I deste artigo, desde que tenha havido
Art. 218 – O funcionário que tenha exercido ou venha contribuição previdenciária das parcelas do cargo em
exercer função gratificada ou cargo em comissão, terá comissão ou função gratificada;
seu provento acrescido dos percentuais das gratifica- §3º - O servidor que contribuir por no mínimo 05(cin-
ções ou remuneração do cargo no ato da sua aposen- co) anos sobre o valor da VPNI, terá a mesma incorpo-
tadoria, nos termos dos parágrafos seguintes: rada aos seus vencimentos.
§ 1º - O funcionário que tenha ocupado ou venha ocu- §4º - Não incidirá o período previsto no parágrafo an-
par cargo em comissão ou função gratificada por 4 terior deste artigo, nos casos de aposentaria compul-

ESTATUTO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS MUNICIPAIS DE ITABORAÍ


(quatro) anos ininterruptos ou 8 (oito) anos em perío- sória ou por invalidez permanente ou, ainda, no caso
dos diversos, fará jus a incorporação de 50% (cinqüen- do servidor que já tenha contribuído para o regime
ta por cento) da remuneração do cargo ou da gratifi- próprio de previdência municipal, por no mínimo 10
cação da função; (dez) anos, sobre o valor do cargo em comissão ou
§ 2º - O funcionário que tenha ocupado ou venha ocu- da função gratificada. * (Nova redação dada pela Lei
par cargo em comissão ou função gratificada por 3 Complementar 134 de 2011)
(três) anos ininterruptos ou 6 (seis) anos em períodos
diversos, fará jus a incorporação de 40% (quarenta por Art. 219 – A incorporação de que trata os parágrafos
cento) da remuneração do cargo ou da gratificação anteriores se dará quando o funcionário completar, no
da função; mínimo 10 (dez) anos de serviço exclusivo ao municí-
§ 3º - O funcionário que tenha ocupado ou venha ocu- pio. * (
par cargo em comissão ou função gratificada por 2
(dois) anos ininterruptos ou 4 (quatro) anos em perío- Artigo revogado pela Lei Complementar 134 de 2011)
dos diversos, fará jus a incorporação de 20% (vinte por
cento) da remuneração do cargo ou da gratificação Art. 220 – Depois de assegurada a vantagem de que
da função; tratar o art. 219 e seus parágrafos, manter-se-á inal-
§ 4º - A base do cálculo para efeito dos parágrafos 1º terada a retribuição pecuniária que se faz jus, sendo
considerada direito pessoal, incidindo sobre a mesma
ao 3º será a remuneração do cargo do símbolo mais
os aumentos gerais dos vencimentos. Parágrafo Único
elevado, entre os cargos ocupados, desde que exercido
– A vantagem a que se refere este artigo, poderá ser
por um prazo mínimo de 12 (doze) meses;
revisto a cada 4 (quatro) anos, se o servidor ocupar
§ 5º - A incorporação de que tratam estes parágrafos
funções gratificadas ou cargos de nível mais alto, que
não será superior a 50% (cinqüenta por cento), veda-
possam gerar aumento no valor da vantagem ante-
da a percepção cumulativa das vantagens instituídas

15
riormente concedida. * nosas, de insalubridade e de periculosidade serão
observadas as situações estabelecidas em legislação
Art. 220 – Depois de assegurada a VPNI que tratam os específica.
artigos 218 e 349A, desta lei, manter-se-á inalterada
a retribuição pecuniária a que faz jus o servidor, sendo Art. 227 - O adicional de atividade penosa será devi-
considerada direito pessoal, exceto nos casos previstos do aos servidores em exercício em localidades cujas
nos condições de vida ou acesso o justifiquem, nos termos,
§º 3º do art. 218 desta lei. condições e limites fixados em regulamento.
§1º - A VPNI de que trata o caput deste artigo somen-
te será reajustada quando dos reajustes gerais de re- Art. 228 - Os locais de trabalho e servidores que ope-
muneração dos servidores públicos municipais e pelo ram com Raio X ou substancias radioativas serão
mesmo percentual; mantidos sobre controle permanente, de modo que as
§2º – Em nenhuma hipótese haverá a vinculação do doses de radiação ionizante não ultrapassem o nível
valor da VPNI com a remuneração do cargo em co- máximo previsto na legislação própria. Parágrafo Úni-
missão ou função gratificada em que se der a incorpo- co - Os servidores a que se referem este artigo serão
ração. * (Nova redação dada pela Lei Complementar submetidos a exames médicos a cada 06 (seis) meses.
134 de 2011) Sub
Art. 229 - Os adicionais de periculosidade, insalubri-
SEÇÃO I DA GRATIFICAÇÃO NATALINA dade e pela execução de atividades penosas serão cal-
culados e pagos à razão de 10 (dez), 20 (vinte) ou 40%
Art. 221 – A gratificação natalina corresponde a (quarenta por cento) sobre o vencimento do cargo efe-
1/12(um doze avos) da remuneração a que o servidor tivo, conforme dispuser sua regulamentação. Sub
fizer jus no mês de dezembro, por mês de exercício
no respectivo ano. Parágrafo Único - A fração igual SEÇÃO V DO ADICIONAL PELA PRESTAÇÃO DE
ou superior a 15 (quinze) dias será considerada como SERVIÇO EXTRAORDINÁRIOS
mês integral.
Art. 230 - O serviço extraordinário será remunerado
Art. 222 - A gratificação será paga até 20 (vinte) do com acréscimo de 50% (cinqüenta por cento) em re-
mês de dezembro de cada ano. lação à hora normal de trabalho. Parágrafo Único - A
gratificação pelo serviço de serviço extraordinário será
Art. 223 - O servidor exonerado perceberá sua gra- concedida pelo chefe da
tificação natalina proporcionalmente aos meses de
exercício, calculada sobre a remuneração do mês da Seção de Pessoal, com autorização expressa do res-
exoneração. 41 pectivo Secretário, e paga por hora de trabalho ante-
cipado ou prorrogado. 42
Art. 224 - A gratificação natalina não será considerada
para cálculos de qualquer vantagem pecuniária. Sub Art. 231 - Somente será permitido serviço extraordiná-
rio para atender situações excepcionais e temporárias,
SEÇÃO III DO ADICIONAL POR TEMPO DE respeitado o limite de 2 (duas) horas por jornada.
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SERVIÇO § 1º - Nenhum funcionário poderá ter seus expediente


antecipado ou prorrogado por mais de 90 (noventa)
Art. 225 - O adicional por tempo de serviço é devido à dias em cada ano.
razão de 1% (um por cento) por ano de serviço público § 2º - A gratificação pela prestação de serviços extra-
efetivo, incidente sobre o vencimento base do servidor. ordinários é acumulável com outras gratificações. Sub
Parágrafo Único - O servidor fará jus ao adicional a
partir do mês em que completar o anuênio. Sub SEÇÃO VI DO ADICIONAL NOTURNO

SEÇÃO IV DOS ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE, Art. 232 - O serviço noturno prestado em horário com-
PERICULOSIDADE OU ATIVIDADES PENOSAS preendido entre as 22 (vinte e duas) horas de um dia
e 52 (cinqüenta e dois) minutos e 30 (trinta) segundos
Art. 226 - Os servidores que trabalham com habituali- do dia seguinte, terá o valor hora acrescido de 25%
dade em locais insalubres ou em contato permanente (vinte e cinco por cento) computando-se cada hora
com substancias tóxicas, radioativas ou com risco de como cinqüenta minutos. Parágrafo Único - Em se
vida, fazem jus a um adicional sobre o vencimento do tratando de serviço extraordinário o acréscimo de que
cargo efetivo. trata este artigo incidirá sobre a remuneração prevista
§ 1º - O servidor que fizer jus aos adicionais de in- no artigo 232 * artigo 230. * (Alteração feita pela Lei
salubridade e de periculosidade deverá optar por um 1610 de 1999) Sub
deles. SEÇÃO VII DO ADICIONAL DE FÉRIAS
§ 2º - O direito ao adicional de insalubridade ou peri-
culosidade cessa com a eliminação das condições ou Art. 233 - Independente de solicitação, será pago ao
dos riscos que deram causa a sua concessão. servidor, por ocasião de férias, um adicional corres-
§ 3º - Na concessão dos adicionais de atividades pe- pondente a 1/3 (um terço) da remuneração do perí-

16
odo de férias. Parágrafo Único - No caso do servidor tarefa e melhorar o padrão de produtividade.
exceder função de direito, chefia ou assessoramento, § 1º - A Gratificação de Produtividade será concedida
ou ocupar cargo em comissão a respectiva vantagem por solicitação dos Secretários e seu valor poderá al-
será considerada no cálculo do adicional de que trata cançar 100% (cem por cento) do vencimento do ser-
este artigo. Sub vidor. *
§ 2º - O servidor que perceber Gratificação de Produ-
SEÇÃO VIII DA GRATIFICAÇÃO PELA
tividade durante 36 (trinta e seis) meses ininterruptos,
PARTICIPAÇÃO EM ÓRGÃO DE DELIBERAÇÃO
COLETIVA ou contados em períodos diversos, terá o valor desta
gratificação incorporado a seu vencimento, no mo-
Art. 234 - A gratificação pela participação em órgão mento em que for suspensa esta vantagem, ou quan-
de deliberação coletiva visa a remunerar o funcioná- do completar tempo para aposentadoria. *
rio designado a ocupar órgão colegiado, regularmente § 3º - O valor a ser incorporado será correspondente
instituído, se, para tanto, não se afastar de suas fun- ao percentual da última concessão, quando recebido
ções. Parágrafo Único - A gratificação de que trata o em período não inferior a 06 (seis) meses. * (Parágra-
“caput” deste artigo, será calculada no valor de 8 (oito) fos revogados pela Lei Complementar 134 de 2011)
UFITAs, e paga por dia de presenças às sessões do ór- 44 Sub
gão colegiado.
SEÇÃO XI AUXÍLIO PARA DIFERENÇA DE CAIXA
Art. 235 - É vedada a participação do funcionário em
mais de um órgão de deliberação coletiva. 43
Art. 239 - O funcionário que no exercício do seu car-
Art. 236 - A gratificação pela participação em órgão go, pagar ou receber em moeda corrente, perceberá
de deliberação coletiva é acumulável com quaisquer um auxílio de 30% (trinta por cento) do vencimento
outras vantagens pecuniárias atribuíveis ao funcioná- básico, para compensar possíveis diferenças de caixa.
rio. Sub Parágrafo Único – O auxílio para diferença de caixa,
será concedido ao funcionário que estiver efetivamen-
SEÇÃO IX GRATIFICAÇÃO PELA REALIZAÇÃO DE te executando o serviço de pagamento ou recebimen-
TRABALHO TÉCNICO CIENTÍFICO to. * Gratificação de Encargos Especiais
Art. 237 - A gratificação pela realização de trabalho
Art. 239 - A Gratificação de Encargos Especiais des-
técnico científico se destina a remunerar trabalhos
técnicos e/ou científico pertinentes às atividades da tina-se a remunerar trabalhos executados por servi-
Prefeitura, elaborados por funcionários que, em ra- dores ocupantes de cargos efetivos, que, em razão do
zão da função que ocupam, não estariam obrigados cargo que ocupam, não estariam obrigados a executá-
a executá-los. -los.
§ 1º - Para efeito do que dispõe este artigo, conside- § 1º - A Gratificação dos Encargos Especiais será con-
ram-se: a) Funções eminente técnicas: os servidores cedida por solicitação dos Secretários e seu valor po-
médico-cirúrgico, jurídico, de contabilidade, compu- derá alcançar o limite de 100% (cem por cento) do

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tação eletrônica, desenho técnico, topografia, urba- vencimento do servidor.
nismo, edificações, administração, economia e ma- § 2º - A Gratificação dos Encargos Especiais poderá,
gistério; b) Funções eminente científicas: os serviços ainda, ser concedida à professores em regência de
de pesquisa em geral, análise de sistema ambiental;
classe e médicos quando em substituição temporária
c) Funções técnico-científicas: serviços cuja execução
aos titulares do cargo por motivo de licenças ou afas-
ou desempenho exijam a aplicação de conhecimentos
adquiridos em cursos de especialização em nível uni- tamentos expressamente concedidos.
versitário ou pós-graduação. § 3º - Os valores recebidos na forma do parágrafo an-
§ 2º - O valor da gratificação mencionada no “caput” terior não poderão ser incorporados aos vencimentos
deste artigo, será de 30% (trinta por cento) sobre o e não se incluem no que prevê o art. 238 e seus pa-
valor do vencimento do funcionário, exceto para ti- rágrafos.
tulares de cargo de direção superior, cuja gratificação § 4º - As gratificações a que se referem os artigos 237,
será calculada com base em lei específica. 238 e 239 não poderão ser percebidas concomitante-
§ 3º - É competente o Prefeito para autorizar a exe- mente, excetuando-se o caso em que a mesma já haja
cução de tais serviços técnico científicos, bem como sido incorporada pelo servidor em seus vencimentos. *
para conceder a gratificação mencionada no “caput”
(Nova redação dada pela Lei 1610 de 1999)
deste artigo, após verificação de efetiva contribuição
do trabalho efetuado, para o serviço da Prefeitura. Sub
SEÇÃO X GRATIFICAÇÃO DE PRODUTIVIDADE SEÇÃO VI AUXÍLIO FUNERAL CABIMENTO

Art. 238 - A Gratificação de Produtividade se destina Art. 240 - Será concedido auxilio funeral correspon-
a remunerar o servidor que por sua dedicação e de- dente a um mês de vencimento, ou provento do fun-
sempenho, consiga reduzir os custos de determinada cionário, a sua família, contra a apresentação à

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SEÇÃO PESSOAL, DA CERTIDÃO DE ÓBITO DO SEÇÃO VIII DO DIREITO DE PETIÇÃO
FUNCIONÁRIO.
Art. 248 - É assegurado ao funcionário o direito de
§ 1º - Aquele que requerer a concessão do auxilio fu- requerer ou representar. Parágrafo Único - o reque-
neral deverá constar como dependente do funcionário rimento será dirigido à autoridade competente para
em sua folha de assentamentos. decidi-lo e encaminhado por intermédio do superior
§ 2º - No caso do funcionário falecido não possuir de- hierárquico imediato ao funcionário.
pendentes, aquele que lhe promoveu o enterramento
deverá apresentar o comprovante das despesas efetu- Art. 249 - O pedido de reconsideração será dirigido à
adas, que serão reembolsadas até o limite que caberia autoridade que expedir o ato ou proferir a primeira
aos dependentes se esses existirem. 45 Base de Cálculo decisão, não podendo ser renovado. Prazos

Art. 250 - O requerimento e o pedido de reconsidera-


Art. 241 - O vencimento ou provento, será aquele que
ção de que tratam os artigos anteriores deverão ser
o funcionário estiver percebendo no momento do óbi-
despachados no prazo de 05 (cinco) dias e decidido
to. Parágrafo Único - Em caso de acumulação legal dentro de 30 (trinta) dias, improrrogável. Recurso
de cargos ou funções no Município, o auxilio funeral
correspondera ao pagamento do maior vencimento Art. 251 - Caberá recurso: I - do indeferimento do pe-
do funcionário falecido. Prazo dido de reconsideração; II - das decisões sobre os re-
cursos sucessivamente interpostos.
Art. 242 - A concessão do auxilio funeral deverá ser § 1º - O recurso será dirigido à autoridade imediata-
feita em 15 (quinze dias após apresentação da cópia mente superior à que tiver expedido o ato ou proferido
autenticada da certidão de óbito, incorrendo em pena a decisão, e, sucessivamente, em escala ascendente, às
de suspensão, o funcionário responsável pelo retarda- demais autoridades.
mento, a § 2º - No encaminhamento do recurso observar-se-á
o disposto no Parágrafo Único do artigo 249. Efeitos
TÍTULO DE DOLO OU CULPA.
Art. 252 - O pedido de reconstituição e os recursos não
SEÇÃO VII DA PENSÃO POR FALECIMENTO DO tem efeito suspensivo; o que for provido retroagirá nos
FUNCIONÁRIO VALOR efeitos à data do ato impugnado. Prescrição

Art. 243 - Será concedido ao dependente do funcioná- Art. 253 - O direito de pleitear na esfera administrati-
rio falecido, pensão equivalente ao valor do vencimen- va prescreverá: I - em cinco anos quanto aos atos que
to ou provento do funcionário, à época de seu óbito. decorrerem de demissão, cassação de aposentadoria,
disponibilidade, ou que afetem interesse patrimonial
Art. 244 - No caso de acumulação legal, o cálculo da e créditos resultantes das relações de trabalho; II - em
120 dias, nos demais casos, salvo quando outro prazo
pensão será feito como disposto no parágrafo único
for fixado em Lei.
do art. 241.
§ 1º - O prazo de prescrição contar-se-á da publica-
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ção oficial do ato impugnado ou quando este for de


Art. 245 - A pensão será devida: I - A esposa do funcio- natureza reservada, da data da ciência do interessado.
nário falecido ou a companheira a mais de 05 (cinco) § 2º - O pedido de reconsideração e o recurso, quando
anos, desde que declarada como tal pelo funcionário, cabíveis, interrompem a prescrição até duas vezes. 47
em seu assentamento individual, as quais concorrerão
com: a) filhos civilmente menores; b) filhos compro- Art. 254 - O funcionário que se dirigir ao Poder Judici-
vadamente inválidos, por exame médico em órgão ário ficará obrigado a comunicar essa iniciativa a seu
oficial; c) menores tutelados pelo funcionário. II - a chefe imediato, para que este providencie a remessa
esposa judicialmente separada ou desquitada na base do processo administrativo, se houver, ao juiz compe-
do percentual da pensão judicial de alimentos. tente como peça instrutiva da ação judicial.

Art. 246 - Não fará jus à pensão, a esposa separada Art. 255 - Se fatais e improrrogáveis os prazos estabe-
judicialmente, desquitada ou companheira sem direito lecidos nesta
a alimentos e a que tenha abandonado o lar, desde
que esta situação tenha sido reconhecida por sentença SEÇÃO.
judicial, transitada em julgado. Parágrafo Único - A
viúva que contrair novo matrimônio, perderá o direito TÍTULO VII DO REGIME DISCIPLINAR
a pensão. Companheira
CAPÍTULO I DA ACUMULAÇÃO ACUMULAÇÃO
Art. 247 - Quando a companheira não for declarada
pelo funcionário com tal, só poderá ser reconhecida o Art. 256 - As vedações de acumulações de cargos ou
funções, são as estabelecidas na Constituição Federal
seu estado “post morten” através de apresentação de
e estadual.
justificação judicial. 46

18
Art. 257 - Não se compreende na proibição de acu- civil; VIII - exigir, solicitar ou receber, para si ou para
mular nem esta sujeita a qualquer limite a percepção outrem propinas, comissões, presentes ou vantagens
conjunta de: I - pensões civis ou militares; II - pensões, de qualquer espécie, em razão do cargo ou função, ou
com provento de disponibilidade, aposentadoria, ju- aceitar promessa de tais vantagens; IX - revelar fatos
bilação ou reforma; III - de proventos resultantes de ou informações de natureza sigilosa de que tenha ci-
cargos legalmente acumuláveis. ência em razão do cargo ou função, salvo quando se
trata de depoimento em processo judicial, policial ou
Art. 258 - O servidor vinculado ao regime desta lei, administrativa; 49 X - cometer a pessoas estranhas ao
que acumular licitamente dois cargos efetivos, quando serviço, salvo nos casos previstos em lei, o desempe-
investido em cargo de provimento em comissão, ficará nho de encargos que lhe competir ou a seus subor-
afastado de ambos os cargos efetivos. Verificação de dinados; XI - deixar de comparecer ao trabalho sem
Acumulação Proibida causa justificada; XII - empregar material e bens do
município em serviço particular ou, sem ordem da
Art. 259 - Verificada em processo administrativo, acu- autoridade competente, retirar objetos da repartição;
mulação proibida, e provada a boa-fé, o funcionário XIII - incitar ou aderir a greves no serviço público con-
optará por um dos cargos, sem obrigação de restituir. siderados essenciais, ou praticar atos de sabotagem
§ 1º - Provada a má-fé, o funcionário perderá os dois contra o regime ou o serviço; XIV - promover a venda
cargos, se forem ambos municipais, ou aquele que for de tômbolas, rifas e mercadorias de qualquer espé-
municipal. cie, dentro do recinto da repartição; XV - acumular
§ 2º - O funcionário restituirá ainda, o que tiver perce- cargos públicos, salvo as exceções previstas nesta lei;
bido indevidamente pelo exercício do cargo que gerou XVI - negligenciar ou omitir-se na prática do ato de
a acumulação. 48 ofício ou praticá-la em desconformidade com expres-
sa determinação legal, visando satisfazer interesse ou
CAPÍTULO II DOS DEVERES DEVERES sentimento pessoal; XVII - deixar de prestar declara-
ção em processo administrativo quando regularmente
Art. 260 - São deveres do funcionário: I - assiduida- intimado; XVIII - exerce cargo ou função pública antes
de; II - discrição; III - pontualidade; IV - urbanidade; de atendidos os requisitos, ou continuar a exercê-lo
V - lealdade às instituições constitucionais e admi- sabendo-o indevidamente; XIX - proceder de forma
nistrativas a que servir; VI - observância das normas desidiosa; XX - recusar fé a documento público.
legais e regulamentares; VII - obediência às ordens
superiores, exceto quando manifestadamente ilegais; CAPÍTULO IV DA RESPONSABILIDADE
VIII - zelo pela economia e conservação do material RESPONSABILIDADE
que lhe for confiado; IX - manutenção em ordem, no
assentamento individual, de sua declaração de famí- Art. 262 - Pelo exercício irregular de suas atribuições
lia; X - freqüência a cursos regulares instituídos, para o funcionário responde administrativamente, sem
aperfeiçoamento e especialização; XI - informação a prejuízo da responsabilidade penal e civil, cabíveis na
autoridade superior de irregularidades de que tiver ci- espécie. Parágrafo Único - A responsabilidade civil de-
ência em razão do cargo. corre de procedimento doloso ou culposo que importe
em prejuízo da Fazenda Municipal ou de terceiros. In-

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CAPÍTULO III DAS PROIBIÇÕES PROIBIÇÕES denização à Fazenda Municipal

Art. 261 - Ao funcionário é proibido: I - referir-se de Art. 263 - A indenização de prejuízos causados à fa-
modo depreciativo, em informação, despacho ou pa- zenda Municipal poderá ser liquidada mediante des-
recer, às autoridades e a atos da Administração públi- conto em prestações mensais não excedentes da dé-
ca, ou censurá-los pela imprensa ou qualquer outro cima parte do vencimento, a falta de outros bens que
órgão de divulgação pública podendo, porém em tra- respondam pela indenização.
tado assinado, criticá-los do ponto de vista doutrinário
ou da organização do serviço, com ânimo construtivo; Art. 264 - O município responderá pelo dano causa-
II - retirar, modificar ou substituir qualquer documen- do a terceiros, cabendo-lhe ação regressiva contra o
to do órgão municipal, com o fim de criar direitos ou funcionário responsável, em ação proposta depois de
obrigações ou de alterar a verdade dos fatos; III - va- transitar em julgado a decisão de última instância que
ler-se do cargo para lograr proveito pessoal em detri- houver condenado a fazenda Municipal a indenizar o
mento da dignidade da função; IV - coagir ou aliciar terceiro prejudicado. Responsabilidade Penal
subordinados com objetivos de natureza partidária;
V - exercer comércio ou participar da sociedade co- Art. 265 - A responsabilidade penal abrange os crimes
mercial e industrial, exceto como acionista, cotista ou e contravenções imputados ao funcionário nessa qua-
comanditário; VI - praticar a usura em qualquer das lidade. 50 Responsabilidade Administrativa
suas formas; VII - pleitear como procurador, respon-
sável ou intermediário, junto aos órgãos municipais, Art. 266 - A responsabilidade civil administrativa re-
salvo quando se tratar de percepção de vencimentos, sulta de atos praticados ou omissões ocorridas no de-
remuneração, provento ou remuneração de qualquer sempenho do cargo ou função. Comissões Civil Penal
espécie, de consangüíneo ou afim até o segundo grau e administrativa

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Art. 267 - As comissões civis, penais e disciplinares Art. 276 - Além da pena judicial que couber, serão
poderão acumular-se, sendo umas e outras indepen- considerados como de suspensão os dias em que o
dentes entre si, bem assim as instâncias civil, penal e funcionário deixar de atender as convocações para
administrativa. Ação disciplinar júri e outros serviços obrigatórios por lei, sem motivo
justificado.
Art. 268 - Só é admissível à ação disciplinar ulterior
à absolvição no juízo penal quando, embora afasta- Art. 277 - As penas de advertência, repreensão e sus-
da a qualificação do fato como crime, persiste, resi- pensão terão seus registros cancelados após o decurso
dualmente, a falta administrativa. Motivos para Ação de 3 (três) anos ( advertência e repreensão) e 5 (cinco)
Disciplinar anos (suspensão) de efetivo exercício, se o funcioná-
rio não houver praticado nova infração funcional no
decurso desses períodos. Parágrafo Único - O cance-
Art. 269 - Constitui motivo de ação disciplinar toda
lamento da penalidade não surtirá efeito retroativo.
aquela ação ou omissão do funcionário capaz de com-
Destituição de Função
prometer a dignidade e o decoro da função pública,
ferir a disciplina e a hierarquia, prejudicar a eficiência Art. 278 - A destituição de função dar-se-á quando
do serviço ou causar dano à administração pública. verificada falta de exação no cumprimento do dever.
Parágrafo Único - O disposto neste artigo não impe-
CAPÍTULO V DAS PENALIDADES PENAS de a aplicação da pena disciplinar cabível quando o
DISCIPLINARES destituído for também ocupante de cargo efetivo. 52
Pena de demissão
Art. 270 - São penas disciplinares: I - Advertência; II -
Repreensão; III - Multa; IV - Suspensão; V - Destituição Art. 279 - Será aplicada pena de demissão nos casos
de função; VI - Demissão; VII - Cassação de aposenta- de: I - Falta relacionada ao artigo 268,
doria, jubilação ou cassação de disponibilidade. Apli- § 1º desta lei, quando de natureza grave, a juízo do
cação das Penas Disciplinares Prefeito, ao comprovada má-fé; II - Incontinência
pública e escandalosa, vício de jogos proibidos, em-
Art. 271 - Na aplicação das penas disciplinares serão briaguez habitual ou uso de transporte de tóxico e
considerados os motivos e circunstancias da falta, sua entorpecente; III - Ofensa física em serviço, salvo em
natureza a gravidade e os danos que dela provierem legítima defesa; IV - Procedimento irregular incompa-
para o serviço público e os antecedentes funcionais do tível com o decoro e a dignidade do serviço público; V
servidor. 51 Anotações do Assentamento Individual - Ausência ao serviço, sem causa justificada por mais
de 60 (sessenta) dias intercaladamente, durante o pe-
Art. 272 - Deverão constar do respectivo assentamen- ríodo de 12 (doze) meses, ou 30 (trinta) dias corridos;
VI - Lesão aos cofres públicos e dilapidação do Patri-
to individual as penas impostas ao funcionário. Pena
mônio Público; VII - Insubordinação ao serviço; VIII -
de Advertência
Aplicação irregular do dinheiro público.
§ 1º - Entender-se-á por ausência ao serviço com justa
Art. 273 - A pena de advertência será aplicada por causa a que assim for considerada após a devida com-
escrito, em caso de negligência, e comunicada por ofí- provação em processo administrativo, caso em que a
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cio ao órgão de pessoal. Parágrafo Único - Na reinci- falta será justificada apenas para fins disciplinares.
dência específica será aplicada a pena de repreensão. § 2º - Será ainda demitido o funcionário que, em pro-
Pena de Repreensão cesso criminal sofrer pena assessória de perda da fun-
ção pública. Ato de Demissão
Art. 274 - A pena de repreensão será ainda aplicada
por escrito, em caso de desobediência ou falta de cum- Art. 280 - O ato de demissão mencionará sempre a
primento dos deveres. Pena de Suspensão causa da penalidade.
§ 1º - Atenta à gravidade da falta, a demissão poderá
Art. 275 - havendo dolo ou má-fé a falta de cumpri- ser aplicada com a nota “ abem do serviço público”.
mento dos deveres será punida com pena de suspen- § 2º - Quando a demissão tiver sido aplicada com a
são. nota “a bem do serviço público”, o funcionário não po-
§ 1º - A pena de suspensão será aplicada em caso de: derá retornar antes de cancelada a nota desabonado-
a) falta grave; b) desrespeito às obrigações consigna- ra. Prazo de Retorno ao Serviço Público
das na presente lei, dada a sua natureza, não ense-
jarem pena de demissão; c) Reincidência em falta já Art. 281 - O funcionário estável demitido por processo
punida com repreensão. administrativo ou por sentença judicial, não poderá
§ 2º - A pena de suspensão não poderá exceder 90 retornar ao serviço público municipal antes de decor-
(noventa) dias. ridos 10 (dez) anos, ainda que preste concurso. Cassa-
ção da Aposentadoria
§ 3º - Quando houver conveniência para o serviço, a
pena de suspensão poderá ser convertida em multa,
Art. 282 - Será cassada a aposentadoria ou disponi-
na base de 50% (cinqüenta por cento) sobre o venci-
bilidade se ficar provado em processo administrativo
mento de cada dia em que estiver suspenso, obrigado que o inativo: I - praticou, quando ainda no exercício
neste caso, o funcionário a permanecer em serviço.

20
do cargo, falta grave suscetível de determinar demis- tivo ao afastamento desde que reconhecida a sua ino-
são; II - aceitou, ilegalmente, cargo ou função pública, cência, ou se do processo resultar pena disciplinar de
provada a má-fé; III - perdeu a nacionalidade brasi- advertência ou repreensão; II - à contagem do período
leira. 53 Parágrafo Único - Será igualmente cassada a de afastamento que exceder ao prazo de suspensão
aposentadoria ou disponibilidade do inativo que não disciplinar aplicada; III - à contagem do período de
assumir no prazo legal o exercício do cargo no qual suspensão preventiva e ao pagamento do vencimento
reverter ou for aproveitado. Competência ou remuneração de todas as vantagens do exercício,
desde que reconhecida a sua inocência.
Art. 283 - É competente para aplicação e suspensão
das penas disciplinares, o Prefeito. Prescrição
Art. 291 - Será computado, na duração da pena de
suspensão disciplinar imposta o período de afasta-
Art. 284 - Prescreverá: I - em dois anos, a falta sujeita
às penas de advertência, repreensão, multa ou sus- mento decorrente da medida acautelatória.
pensão; II - em cinco anos, a falta sujeita: a) à pena de
demissão ou destituição de função; b) à cassação da CAPÍTULO VII DO PROCESSO ADMINISTRATIVO
aposentadoria ou disponibilidade. DISPOSIÇÕES GERAIS
§ 1º - A falta prevista na lei penal, prescreverá junta-
mente com o crime; Art. 292 - A autoridade que tiver ciência da irregulari-
§ 2º - O curso da prescrição começa a fluir da data do dade no serviço público é obrigado a promover a sua
evento punível disciplinarmente e se interrompe pela apuração imediata, mediante sindicância ou processo
abertura de inquérito administrativo. administrativo disciplinar, assegurada ao caso de am-
pla defesa.
CAPÍTULO VI DO INQUÉRITO
Art. 293 - As denúncias sobre irregularidades serão
Art. 285 - Cabe ao Prefeito ordenar fundamentalmen- objeto de apuração, desde que contenham a identifi-
te e por escrito a instauração de inquérito contra o cação e o endereço do denunciante e sejam formula-
funcionário ou o responsável pelo alcance, desvio ou das por escrito, confirmada a autenticidade. Parágrafo
omissão em efetuar as entradas nos devidos prazos, de Único - Quando o fato narrado não configurar eviden-
dinheiros e valores pertencentes à Fazenda Municipal te infração disciplinar ou ilícito penal, a denuncia será
ou que se acharem sob a guarda deste. Comunicação arquivada, por falta de objeto.
à Autoridade Judiciária
Art. 294 - Da sindicância pode resultar: I - arquiva-
Art. 286 - O Prefeito comunicará imediatamente o mento do processo; II - aplicação de penalidade de
fato ao Ministério Público e providenciará no sentido
advertência ou suspensão de até 30 (trinta) dias; III
de ser realizado, com urgência, o processo de tomada
- instauração de processo administrativo. Parágrafo
de contas. Oferecimento de Garantias de Indenização
Único - O prazo para conclusão da sindicância não
Art. 287 - O inquérito deverá ser ordenado ainda que excederá 30 9trinta) dias, podendo ser prorrogado por
o responsável pela malversação, alcance ou desfalque igual período a critério do Prefeito. 55

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haja garantido as necessárias garantias de indeniza-
ção. Suspensão Preventiva Art. 295 - Sempre que o ilícito praticado pelo servi-
dor ensejar a imposição de penalidade de suspensão
Art. 288 - A suspensão preventiva, será ordenado pelo por mais de 30 (trinta) dias, de demissão, cassação de
Prefeito desde que o afastamento do funcionário seja aposentadoria ou de disponibilidade, ou destituição de
necessário para que este não venha na apuração da cargo em comissão, será obrigatório a instauração de
falta. cargo em comissão, será obrigatório à instauração de
§ 1º - A suspensão preventiva não excederá de 90 (no- processo disciplinar. DO AFASTAMENTO PREVENTIVO
venta) dias e quando ordenada por prazo inferior, sua
prorrogação caberá à iniciativa do Prefeito. 54 Art. 296 - Como medida cautelar e a fim de que o
§ 2º - Findo o prazo máximo previsto no parágrafo servidor não venha a influir na apuração da irregula-
anterior, cessarão automaticamente os efeitos de sus- ridade, o Prefeito poderá autorizar o afastamento do
pensão ainda que a apuração da irregularidade, por exercício do cargo, pelo prazo de 90 (noventa) dias,
meios sumários ou mediante processo administrativo, sem prejuízo de remuneração. Parágrafo Único - O
não esteja concluída. afastamento poderá ser prorrogado por igual prazo,
findo o qual cessarão seus efeitos, ainda que não con-
Art. 289 - A suspensão preventiva é medida acaute- cluído o processo. DO PROCESSO ADMINISTRATIVO
latória e não constitui pena. Direitos do Funcionário
Afastado Art. 297 - O processo administrativo é o instrumento
destinado a apurar responsabilidade de servidor por
Art. 290 - O funcionário afastado em decorrência das
infração praticada no exercício de suas atribuições, ou
medidas acautelatórias referidas no artigo anterior,
que tenha relação com as atribuições do cargo em que
terá direito: I - à contagem do tempo de serviço rela-
se encontrar investido.

21
Art. 298 - O processo será conduzido pela Comissão Art. 306 - As testemunhas serão intimadas a depor
Permanente de Processo Administrativo, que se com- mediante mandato expedido pelo presidente da co-
põe de 3 (três) servidores estáveis, designados pelo missão, devendo a Segunda via, com o ciente de in-
Prefeito, que indicará, entre eles, o seu presidente. Pa- teressado, ser anexada aos autos. Parágrafo Único -
rágrafo Único - A comissão terá como secretário servi- Se a testemunha for servidor público, a expedição do
dor designado pelo presidente. mandato será imediatamente comunicada ao chefe
da repartição onde serve, com a indicação do dia e da
Art. 299 - A Comissão exercerá suas atividades com hora marcados para a inquisição.
independência e imparcialidade, assegurado o sigilo
necessário à elucidação do fato ou exigido pelo inte- Art. 307 - O depoimento será prestado oralmente e
resse da administração. Parágrafo Único - As reuniões reduzido a termo, não sendo lícito a testemunha fazê-
e as audiências da comissão terão caráter reservado. -lo por escrito.
§ 1º - As testemunhas serão inquiridas separadamen-
Art. 300 - O processo administrativo se desenvolve te;
nas seguintes fases: I - instauração, coma denúncia, § 2º - Na hipótese de comportamentos contraditórios
se devidamente autorizado pelo Prefeito; II - inquéri- ou que se infirmem, proceder-se-á a acareação entre
to administrativo, que compreende instrução defesa e os depoentes.
relatório; III - julgamento.
Art. 308 - Concluída a inquisição das testemunhas, a
Art. 301 - O prazo para conclusão do processo ad- comissão promoverá o interrogatório do acusado, ob-
ministrativo não excederá 90 (noventa) dias, contados servados os procedimentos previstos nos artigos.
da data de instauração, admitida sua prorrogação por § 1º - No caso de mais de um acusado, cada um deles
igual prazo, quando as circunstâncias exigirem. será ouvido separadamente e, sempre que divergirem
§ 1º - Sempre que necessário, a comissão dedica- em suas declarações sobre fatos ou circunstâncias,
rá tempo integrá-la os seus trabalhos, ficando seus será promovida a acareação entre eles.
membros dispensados do ponto, até a entrega do re- § 2º - O procurador do acusado poderá assistir ao in-
latório final. terrogatório, bem como a inquirição de testemunhas,
§ 2º - As reuniões da comissão serão registradas em sendo-lhe vedado interferir nas perguntas e respostas,
atas que deverão detalhar as deliberações adotadas. facultando-se-lhe , porém, reinquiri-las por intermé-
DO INQUÉRITO dio do presidente da comissão. 57

Art. 302 - O inquérito administrativo obedecerá ao Art. 309 - Tipificada a infração disciplinar, se formu-
princípio do contraditório, assegurada ao acusado lada a indicação do servidor, com a especificação dos
ampla defesa, com utilização de meios e recursos ad- fatos a ele imputados e das respectivas provas.
mitidos em direito. 56 § 1º - O indicado será citado por mandado expedido
pelo presidente da comissão para apresentar defesa
Art. 303 - Os autos da sindicância integrarão o pro- escrita, no prazo de 10 (dez) dias, assegurando-se-lhe
cesso administrativo, como peça informativa da ins- vista do processo na repartição.
trução. Parágrafo Único - Na hipótese de o relatório § 2º - Havendo dois ou mais indicados, o prazo será
ESTATUTO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS MUNICIPAIS DE ITABORAÍ

da sindicância concluir que a infração esta capitulada comum e de 20 (vinte) dias.


como ilícito penal, o Prefeito encaminhará cópia dos § 3º - O prazo de defesa poderá ser prorrogado pelo
autos ao ministério Público, independente do anda- dobro, para diligências reputadas indispensáveis.
mento do processo administrativo.
Art. 310 - O indiciado que mudar de residência, du-
Art. 304 - Na fase do inquérito, a comissão promoverá rante o curso do processo fica obrigado a comunicar à
a tomada de depoimentos, acareações, investigações comissão o lugar em que poderá ser encontrado.
cabíveis, objetivando a coleta de prova, recorrendo,
quando necessário, a técnicos e peritos, de modo a Art. 311 - achando-se o indiciado em lugar incerto ou
permitir a completa elucidação dos fatos. não sabido, será citado por edital, publicado em jornal
de circulação do município, para apresentar defesa.
Art. 305 - É assegurado ao servidor o direito de acom- Parágrafo Único - na hipótese deste artigo, o prazo
panhar o processo pessoalmente ou por intermédio para defesa será de 15 (quinze) dias e partir da última
de procurador, arrolar e reinquirir testemunhas, pro- publicação edital.
duzindo provas e contraprovas e formular quesitos,
quando se tratar de prova pericial. Art. 312 - Considerar-se-á revel o indiciado que regu-
§ 1º - O Presidente da Comissão poderá denegar pe- larmente citado, não apresentar defesa no prazo legal
didos considerados impeditivos, meramente protelató- § 1º - A revelia será declarada, por termo, nos autos do
rios, ou de nenhum interesse para esclarecimento dos processo e devolverá o prazo para a defesa.
fatos. § 2º - Para defender o indiciado revel, a autoridade
§ 2º - Será indeferido o pedido de prova pericial, quan- instauradora do processo designará um servidor como
do a comprovação independente do conhecimento es- defensor dativo, ocupante de cargo igual ou superior
pecial do perito. ao indiciado. * (Revogação dada pela Lei Complemen-

22
tar 160 de 2012) minhará o pedido à comissão para proceder a revisão.
Art. 313 - Apreciada a defesa, a comissão elaborará Art. 323 - O requerimento de revisão do processo será
relatório minucioso, onde reassumirá as peças prin- dirigido ao Prefeito, que se autorizar a revisão, enca-
cipais dos autos e mencionará as provas em que se minhará o pedido à comissão para proceder a revisão.
baseou para formar a sua convicção.
§ 1º - O relatório será sempre conclusivo quanto a ino- Art. 324 - A revisão correrá em apenso ao processo
cência ou a responsabilidade do servidor. originário.
§ 2º - Reconhecida a responsabilidade do servidor, a
comissão indicará o dispositivo legal ou regulamento Art. 325 - A comissão terá 60 (sessenta) dias para con-
transgredido, bem como as circunstâncias agravantes cluir os trabalhos de revisão.
ou atenuantes.
Art. 326 - Aplicam-se aos trabalhos de revisão, no que
Art. 314 - O processo disciplinar, com o relatório da couber, as normas e procedimentos do processo admi-
comissão, será remetido ao Prefeito, para julgamento. nistrativo.
DO JULGAMENTO
Art. 327 - O prazo para julgamento será de 20 (vinte)
Art. 315 - No prazo de 20 (vinte) dias, contados do dias a contar da data do recebimento do processo re-
recebimento do processo, o Prefeito fará proferir sua visionário concluído pela comissão. 59
decisão. 58
Art. 328 - Julgada procedente a revisão, será declara-
Art. 316 - O julgamento acatará o relatório da co- da sem efeito a penalidade aplicada, restabelecendo-
missão, salvo quando este for contrário à prova dos -se todos os direitos do servidor, exceto a destituição
autos. Parágrafo Único - Quando o relatório da Co- do cargo em comissão, que será convertida em exone-
missão contrariar as provas dos autos, o Prefeito po- ração. Parágrafo Único - da revisão do processo não
derá, motivadamente, aprovar a penalidade proposta, poderá resultar agravamento da pena.
abrandá-la ou isentar o servidor da responsabilidade.
CAPÍTULO IX DO PROCESSO POR DE CARGO
Art. 317 - Verificada a existência de vício insanável, CABIMENTO
o Prefeito declarará a invalidade total ou parcial do
processo e ordenará a instituição de outra comissão Art. 329 - Caracterizado o abandono de cargo ou fun-
para a instauração de novo processo ou reabertura do ção, o chefe da repartição ou serviço onde tenha exer-
mesmo, conforme for o caso. Parágrafo Único - O jul- cício o funcionário, comunicará o fato ao Prefeito para
gamento fora do prazo legal não implica em nulidade a instauração do processo administrativo. Citação por
do processo. Edital

Art. 318 - Quando a infração estiver capitulada como Art. 330 - Instaurado o processo a comissão de proces-
crime, o processo disciplinar será remetido ao Ministé- so administrativo providenciará a citação do faltoso
rio Público para a instauração da ação penal, ficando por edital de chamamento, com prazo de 30 (trinta)
translado na repartição. dias, publicado pelo menos três vezes no órgão ofi-

ESTATUTO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS MUNICIPAIS DE ITABORAÍ


cial ou jornal de circulação local. Parágrafo Único - O
Art. 319 - O servidor que responder o processo disci- prazo do edital, a que se refere este artigo, começa a
plinar só poderá ser exonerado a pedido, ou aposen- correr desde a sua primeira publicação. Designação
tado voluntariamente, após a conclusão do processo do Defensor
e cumprimento da penalidade, se aplicada. DA REVI-
SÃO DE PROCESSO Art. 331 - Findo o prazo do artigo anterior e não ha-
vendo manifestação do faltoso, serlhe-á designado
Art. 320 - O processo disciplinar poderá ser visto a defensor, pelo Prefeito. Parágrafo Único - O defensor
qualquer tempo, a pedido ou de ofício, quando se diligenciará na apuração das causas determinantes da
aduzirem fatos novos ou circunstâncias suscetíveis de ausência do serviço, tomando as providencias neces-
justificar a inocência do punido ou a inadequação da sárias à defesa sob seu encargo, tendo 15 (quinze) dias
penalidade aplicada. para apresentá-la, contados da data da ciência de sua
§ 1º - Em caso de falecimento, ausência ou desapare- designação.
cimento do servidor, qualquer pessoa da família pode-
rá requerer a revisão do processo. Art. 332 - A comissão de processo administrativo, re-
§ 2º - No caso de incapacidade mental do servidor, a cebida a defesa, fará a sua apreciação e encaminhará
revisão será requerida pelo respectivo curador. o relatório ao Prefeito, propondo, conforme o caso, a
expedição do ato de demissão ou arquivamento do
Art. 321 - No processo revisional o ônus da prova cabe
processo, o que constará da folha de assentamento do
ao requerente.
funcionário.
Art. 322 - A simples alegação de injustiça da penali-
Art. 333 - Recebido o processo, o Prefeito proferirá a
dade não constitui fundamento para a revisão, enca-
decisão no prazo de 15 (quinze) dias. 60

23
TÍTULO VIII DISPOSIÇÕES GERAIS E Art. 347 - As disposições de natureza estatutária que
TRANSITÓRIAS se contiverem no Plano de Classificação de Cargos e
Carreiras do Município e que vier a lhe corresponder,
Art. 334 - O Poder Executivo expedirá os atos com- integrar-se-ão, para todos os efeitos, neste diploma le-
plementares necessárias à plena execução da presente gal. Parágrafo Único - O fiscal de tributos para fazer
Lei. jus aos benefícios constantes das leis mencionadas no
caput deste artigo, deverá estar no efetivo exercício de
Art. 335 - O dia 28 (vinte e oito) de outubro será con- funções que envolvam especificamente tarefas ligadas
sagrado ao Servidor Público Municipal, ficando o Pre- a assuntos tributários.
feito a autorizar ponto facultativo.
Art. 348 - Ficam revogadas todas as leis, decretos,
Art. 336 - Contar-se-ão por dias corridos os prazos deliberações que concedam qualquer tipo de vanta-
previstos nesta lei. gem ao servidor público municipal, respeitando-se tão
somente as leis de nº 1016/90, 1039/91 e 1186/93.
Art. 337 - Não se computará, no prazo, o dia inicial, Parágrafo Único - Ficam assegurados todas as Leis,
prorrogando-se o vencimento que incidir em sábado, Decretos e Resoluções, Deliberações do Poder Legisla-
Domingo ou feriado para o primeiro dia útil que se tivo, obedecendo à independência dos Três Poderes. *
seguir.
Art. 349 - As gratificações ou benefícios de insalubri-
Art. 338 - É vedado ao funcionário prestar serviço sob dade e periculosidade dos servidores em função de
a direção imediata do cônjuge ou parente até o se- Gari, Coveiro e Servente deverão ter incorporados na
gundo grau, salvo em função de confiança ou de livre sua aposentadoria, se percebida por 36 meses. * (Ar-
escolha, não podendo, nesse caso, exceder de 2 (dois) tigo revogado pela Lei Complementar 134 de 2011) *
o seu número.
Art. 349A – O servidor, em atividade até 31 de dezem-
Art. 339 - Aos servidores do Município regidos por bro de 2011, que tenha exercido função gratificada ou
legislação trabalhista não se reconhecerá os direitos, cargo em comissão, terá sua remuneração acrescida
nem se deferirá quaisquer vantagens pecuniárias pre- dos percentuais das gratificações ou remuneração, a
vistas neste Estatuto quando, por força do seu regime,
fizerem jus a direitos e vantagens com a mesma fina- Título de Vantagem Pessoal Nominalmente Identifica-
lidade, ressalvado o caso de acumulação legal. da - VPNI, desde que tenha havido contribuição para
o Regime Próprio de Previdência Social, sobre a fun-
Art. 340 - O Município, mediante convênio com o ITA- ção gratificada ou cargo em comissão e observados os
PREVI, estabelecerá a proteção de seus funcionários seguintes requisitos: I - O servidor que tenha ocupado
assegurando-lhes assistência na aposentadoria. cargo em comissão ou função gratificada por 8 (oito)
anos em períodos diversos, fará jus a incorporação de
Art. 341 - Com a finalidade de elevar a produtividade 50% (cinqüenta por cento) da remuneração do cargo
dos servidores e ajudá-los às suas tarefas e a seu meio ou da gratificação da função; II - O servidor que tenha
de trabalho o Município promoverá o treinamento ne- ocupado cargo em comissão ou função gratificada por
cessário, na forma de regulamentação própria. 6 (seis) anos em períodos diversos, fará jus a incor-
ESTATUTO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS MUNICIPAIS DE ITABORAÍ

poração de 40% (quarenta por cento) da remunera-


Art. 342 - Salvos nos casos de atos de provimento, de ção do cargo ou da gratificação da função; III – Para
exoneração ou de punição, poderá haver delegação de fazer jus aos benefícios dos incisos I e II deste artigo,
competência. o servidor deverá ter ocupado cargo efetivo, exclusiva-
mente no Município de Itaboraí, por período mínimo
Art. 343 - Mediante seleção e concursos adequados de 10 (dez) anos; IV- Para fixação do valor da VPNI
poderão ser admitidos funcionários de capacidade fí- de que trata os incisos I e II deste artigo, será consi-
sica reduzida, para cargos especificados em lei e re- derada a média aritmética das 60 (sessenta) parcelas
gulamento. mais vantajosas, recebidas pelo servidor, no período
apurado, pelo exercício de cargo em comissão ou fun-
Art. 344 - São isentos de taxas os requerimentos, cer- ção gratificada em que houver incidido a contribuição
tidões e outros papéis que, na ordem administrativa, previdenciária. V - O servidor que preencher os requi-
interessarem à qualidade do servidor público, ativo ou sitos previstos nos incisos anteriores deverá requerer
inativo. a incorporação, após a exoneração do Cargo em Co-
missão ou à destituição da Função Gratificada, junto
Art. 345 - Por motivo de convicção filosófica, religio- a Secretaria Municipal de Administração, por meio de
sa ou política, nenhum servidor poderá ser privado de procedimento administrativo. 62 *
qualquer de seus direitos nem sofrer alteração em sua
atividade funcional. Art. 349B - A Vantagem Pessoal Nominalmente Iden-
tificada - VPNI prevista no artigo 349A e na nova re-
Art. 346 - Nos dias úteis, só por determinação do Pre- dação do artigo 218 desta Lei, não será superior a 50%
feito poderão deixar de funcionar as repartições mu- (cinquenta por cento) da média apurada nos respecti-
nicipais ou ser suspenso o expediente. 61 vos artigos, sendo vedada a incorporação cumulativa
de valores ou parcelas, ainda que a

24
Título de produtividade, correspondentes a mais de
um cargo em comissão ou função gratificada, sendo ANOTAÇÕES
resguardado ao servidor, a qualquer tempo, o direito
de optar pela incorporação mais vantajosa. *
_________________________________________________
Art. 349C – Para fins do cálculo da fixação do valor da
VPNI, que tratam o _________________________________________________
§1º do art. 218 e o inciso IV do art. 349-A desta lei, se-
_________________________________________________
rão utilizados como referência os símbolos dos cargos
em comissão ou da função gratificada ocupados pelo _________________________________________________
servidor, com os valores vigentes na época da solicita-
ção da incorporação. * _________________________________________________

Art. 349D – A remuneração do servidor do quadro _________________________________________________


efetivo, em nenhuma hipótese, poderá ser superior do _________________________________________________
Prefeito Municipal, conforme determina o artigo 37,
inciso XI, alterado pela emenda 41 de 19 de dezembro _________________________________________________
de 2003 da Constituição Federal. * (Artigos acrescidos
pela Lei Complementar 134 de 2011) _________________________________________________

Art. 350 - Os Fiscais de Tributos, Obras, Postura, Sani- _________________________________________________


tário e Transportes terão garantias iguais e benefícios _________________________________________________
iguais. Parágrafo Único - O fiscal de tributos para fa-
zer jus aos benefícios constantes das leis mencionadas _________________________________________________
no caput deste artigo, deverá estar no efetivo exercício
de funções que envolvam especificamente tarefas li- _________________________________________________
gadas a assuntos tributários.
_________________________________________________
Art. 351 - esta lei entrará em vigor na data de sua _________________________________________________
publicação, revogadas as disposições em contrário.
Itaboraí, 03 de julho de 1995 JOÃO CÉSAR DA SILVA _________________________________________________
CAFFARO Prefeito Municipal
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ESTATUTO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS MUNICIPAIS DE ITABORAÍ


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ANOTAÇÕES

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26
ÍNDICE

HISTÓRIA DO MUNICÍPIO DE ITABORAÍ

A cidade...................................................................................................................................................................................................................... 1
História........................................................................................................................................................................................................................ 1
Prédios Históricos................................................................................................................................................................................................... 5
Região Metropolitana........................................................................................................................................................................................... 10
Os moradores de Itaboraí se orgulham de sua his-
A CIDADE tória, dos patrimônios culturais e artísticos e do poder
de suas comunidades, pois as associações de moradores
locais são atuantes e têm grande poder de mobilização.
“Itaboraí fica na região metropolitana do Rio de Ja-
neiro, em área de baixada litorânea, às margens da Baía
de Guanabara, a 45 km de distância da capital. O municí- HISTÓRIA
pio faz divisa com Guapimirim, São Gonçalo, Cachoeiras
de Macacu, Tanguá e Maricá.
“É por isto e por muito mais, é porque foi meu berço,
A economia do município gira em torno da manu-
e berço daqueles a quem mais amei e amo, é porque no
fatura cerâmica (decorativa e utilitária), fruticultura, api-
seu seio tenho sepulturas queridas, é porque me guarda
cultura, pecuária extensiva, comércio e serviços. Itaboraí
em seus lares amigos dedicados, é porque desejo ter em
apresenta um relevo variado. Suas maiores altitudes são
seus campos um abrigo na minha velhice que começa, e
encontradas nas serras do Barbosão, à leste, na divisa
no seu cemitério um leito para dormir o último sono, é
com Tanguá, e do Lagarto e de Cassorotiba do Sul, na enfim por todos esses laços da vida e da morte que a Vila
fronteira com Maricá. Nas demais localidades predomi- de Itaboraí me é tão querida.”
nam as planícies, onde se concentram os rios que con-
vergem para a Baía de Guanabara. Entre as planícies e Joaquim Manoel de Macedo
as serras, observa-se um relevo suavemente ondulado, O Rio do Quarto, 1869 _ Cap 01: Para se ler ou não ler.
com morros que raramente ultrapassam 50 metros de Escritor Itaboraiense, maior romancista do século XIX
altitude. Autor do clássico “A Moreninha”
Parte de seu território é voltada para a Baía de Guana- Itaboraí, cidade histórica do Estado do Rio de Janei-
bara, compondo, com os municípios de Magé e Guapimi- ro, localizada na região metropolitana, é o resultado da
rim, a APA de Guapimirim, uma Unidade de Conservação união de três importantes vilas do passado colonial e
de uso sustentável voltada para a preservação e conser- imperial do Brasil: Santo Antônio de Sá, São João de Ita-
vação de remanescentes dos manguezais. boraí e São José Del Rey. A maior delas, a Vila de Santo
A vegetação do município é composta principalmen- Antônio de Sá, segunda formação do Rio de Janeiro no
te por pastagens, mata de encosta, mangues e brejos. recôncavo da Guanabara; A Vila de São João de Itaboraí,
Os remanescentes de matas são observados nos setores inicialmente uma parada de tropeiros, que mais tarde se
mais íngremes e elevados nas serras do Barbosão e do tornaria o maior produtor açucareiro da região e princi-
Lagarto. pal entreposto comercial ligando o norte fluminense a
São matas tipicamente secundárias, resultantes da capital da província; e a Vila de São José Del Rey (conhe-
regeneração natural após muita exploração de madeira cida como São Barnabé, ou Itambi), cuja região fora uma
para a obtenção de carvão e lenha no passado. No res- importante Missão Jesuítica entre os índios Maromomis
tante do município, as matas se encontram muito frag- e Tamoios que por aqui habitavam.
mentadas e aparecem em locais isolados. Para conhecer a história de Itaboraí, é importante
Em Itaboraí encontra-se o mais antigo e importante compreender como se deu o povoamento de toda a re-
sítio paleontológico do Brasil, às margens do Lago São gião, e que a ocupação territorial foi condicionada a di-
José, onde foram encontrados, em 1986, os fósseis de versas variáveis, como a proximidade de rios navegáveis,
uma preguiça gigante pré-histórica – um autêntico te- situação do sertão do Macacu, ou de fins catequistas,
souro da arqueologia brasileira. A preguiça, que pesava caso dos Jesuítas na região de Cabuçú e Itambi, ou mes-
várias toneladas e media cerca de 7 metros de compri- mo de localizações estratégicas em rotas de tropeiros, si-
mento, viveu há cerca de 5 milhões de anos, sendo con- tuação de Itaboraí, o que também acabou beneficiando o
temporânea do homem primitivo. Outras preciosidades desenvolvimento econômico com os grandes engenhos,
arqueológicas da região são os cemitérios indígenas de dentre outras razões.
Itambi e Visconde, e os sambaquis de Sambaetiba.
Itaboraí tem rico patrimônio histórico e acervo arqui- A antiga Vila de Santo Antônio de Sá
tetônico, em que se destaca o conjunto das ruínas do
HISTÓRIA DO MUNICÍPIO DE ITABORAÍ

Convento de São Boa Ventura – tombado pelo Iphan –, É no século XVI que se dá a ocupação dos “sertões
do Rio Macacu” pelos colonizadores portugueses, pois
que começou a ser construído em 1660. Suas ruínas são
em 1567 o fidalgo português Miguel de Moura recebeu
consideradas um dos mais belos e impor tantes conjun-
uma sesmaria (grande extensão de terras) na planície do
tos arquitetônicos religiosos do período colonial. O con-
Rio Macacu (José Matoso Maia Forte – 1937). Entretanto,
vento foi a quinta construção da Ordem Franciscana no
apesar da abertura de fazendas e engenhos de cana-de-
Brasil.
-açúcar na região*, o primeiro povoamento no Recôn-
A manufatura cerâmica é uma importante atividade cavo da Guanabara foi a Vila de Santo Antônio de Sá,
econômica e foco de conf litos ambientais. É a maior fon- fundada em 1697, às margens do Rio Macacu (Na mesma
te de arrecadação e de geração de empregos locais e, região que hoje abriga o Comperj).
ao mesmo tempo, responsável por um passivo ambiental *O ato de criação da vila de Santo Antônio de Sá se-
ligado à degradação dos solos onde existem jazidas de ria uma mera curiosidade histórica não fosse o fato de
argila, ao assoreamento dos rios e à poluição atmosférica que a descrição da solenidade constitui uma fonte rica
provocada pela fumaça lançada das chaminés.

1
de informações sobre a estrutura social que estava sen- pertencente ao recôncavo do Rio de Janeiro, mantendo
do criada no sertão do Macacu. Não só a maior parte o topônimo indígena de origem tupi que, segundo Teo-
das terras pertencia a um grupo muito pequeno de in- doro Sampaio, significa Ita = pedra, e Mbi = alto, erguida,
divíduos, como os laços familiares entre eles garantiam alçada, ou seja, “Pedra em Pé”, denominação esta, dada
o controle das terras, fosse por casamento ou herança. a toda área que hoje compreende o município de Itabo-
Assim estavam presentes naquela solenidade membros raí, e que guarda ainda, em suas origens, as mais belas
das famílias dos Duque Estrada, dos Sardinha, dos Silva, raízes da história do município, com ascendência em to-
dos Costa Soares, dos Pacheco e dos Azevedo Coutinho dos os antigos povoados do Brasil. Seus colonizadores,
(às vezes escrito Azeredo Coutinho). Cada família era principalmente os Jesuítas que tinham a função sagrada
associada a uma parcela do território: por exemplo, os de ensinar a língua e a religião Católica aos nativos, não
Azevedo Coutinho e os Sardinha eram donos de terras e desprezavam os nomes indígenas.
engenhos em Itapacorá; os Sardinha também eram pro- O aldeamento de São Barnabé fazia parte de uma
prietários em Macacu e Guaxindiba, e assim por diante estratégia de segurança dos colonizadores portugueses
(Forte,1984). que junto com os aldeamentos de Itaguaí, São Lourenço
A Vila de Santo Antônio de Sá, com suas freguesias (Niterói), São Pedro (São Pedro D’aldeia) e Macaé contra
e povoados, experimentou um grande desenvolvimen- possíveis invasões de nações inimigas (Franceses, Holan-
to econômico, parte disto em razão de sua localização, deses) estes povoamentos serviam para guardar a costa
tendo em toda a região entrepostos comerciais que re- em torno do Rio de Janeiro e também como locais de
cebiam, via escoamento fluvial, a sua produção e a da produção de mão de obra, principalmente no período
região serrana e interior fluminense, através de seus rios da União Ibérica, quando o controle do mercado escravo
como o Macacu, Casseribu e Aldeia. Porém, anos de des- ficou um bom tempo com a Holanda.
matamento desordenado, tornaram as áreas aráveis em Assim como aconteceu em outras vilas, há registros
charcos, e o consequente assoreamento dos rios não só de que os índios que ali existiam foram levados a par-
foi destruindo o potencial produtivo, mas também coo- ticipar do processo de desmatamento das áreas circun-
perou na proliferação de mosquitos, vetores de doenças vizinhas a Baía da Guanabara, para que se realizasse o
como a febre amarela e a malária, o que resultou, a partir plantio da cana de açúcar e a construção de engenhos.
de 1829 no início da extinção da Vila (então a mais atin- Estes teriam sucumbido diante do trabalho pesado, uma
gida pelas doenças). As chamadas “Febres do Macacu” das razões pelas quais podem ser encontrados inúmeros
foram tão marcantes que nos anos que se seguiram as enterramentos indígenas na região, sendo imediatamen-
pessoas evitavam retornar ao lugar devido ao medo que te substituídos pelos escravos provenientes do continen-
se instalou (Num ofício ao Marquês de Caravelas, que era te africano.
Ministro e Secretário dos Negócios do Império, em 25 de
agosto de 1830, Francisco José Alves Carneiro, Juiz de “Em determinado momento do processo de coloni-
Fora da Vila de Sto Antônio de Sá, fazia saber sobre a Vila zação no séc. XVII, mais ou menos em 1628, por causa
já se encontrar quase deserta, contando talvez, com meia da presença dos franceses e holandeses, o colonizador
dúzia de homens, levando-se em conta que a Vila che- português usou a mão-de-obra indígena que era nume-
gou a ter uma população de aproximadamente 19.000 rosíssima em Itambi – era a maior população indígena,
“almas”. 3500 selvagens, segundo Fernão Candim – utilizou essa
Seu maior destaque foi o Convento Franciscano de mão-de-obra para construir fortificações no Rio de Janei-
São Boaventura, inaugurado em 04 de fevereiro de 1670, ro, na Baía de Guanabara.”
após dez anos de construção. Hoje, são as suas ruínas
que ostentam a outrora história de importância da antiga Adamastor Camará Ribeiro – Historiador,
Vila no desbravamento do que os antigos chamavam de na primeira jornada de cultura local, realizada em Ita-
os “Sertões do Macacu”. boraí, em 1984

A Vila de São José Del Rey “É essa força de trabalho de São Barnabé, juntamen-
te com o escravo negro, que fez o vigor canavieiro de
A Freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Itamby, Itaboraí.”
cujo território foi desmembrado da Vila de Sto. Antônio
HISTÓRIA DO MUNICÍPIO DE ITABORAÍ

de Sá, é nomeada Vila de São José Del Rey por força de Complementa Adamastor Camará Ribeiro
Alvará em 1772, sendo assim denominada para solenizar
o aniversário do Príncipe Dom José de Portugal, pelo en- O Marquês do Lavradio relata em carta datada de
tão Vice-Rei e Governador do Brasil Dom Luiz de Vascon- 1773 a seu tio, Reverendo Principal de Almeida, que ha-
celos e Souza, o Marquês do Lavradio. Contudo, somente via retirado da Aldeia de São Barnabé da Vila de São José
onze anos depois houve a instalação da Justiça e da Câ- Del Rei “muitas índias que estavam em perigo”, na faixa
mara naquela que seria uma das mais importantes vilas etária de oito a doze anos, para o Rio de Janeiro, a fim de
do recôncavo da Guanabara, por estar situada a pouco que se educassem e pudessem ter sentimento, tornando
mais de dois quilômetros da foz do rio Macacu, próximo famílias com homens brancos, já que os indígenas desta
de Itambi, hoje 3º distrito de Itaboraí. então vila tiveram suas terras roubadas e eles, escravi-
Inicialmente, a região de Itambí era apenas uma ter- zados. Querendo dar encaminhamento diverso ao dos
ra de índígenas, até a chegada dos colonizadores, que jesuítas em relação à população local, o Marquês toma
lá se estabeleceram e deram o nome àquela região decisões muito definitivas, destinando os homens que

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podem trabalhar as fazendas e aos cinco engenhos, que português usou a mão-de-obra indígena que era nume-
produziam por safra 60 toneladas de açúcar e 140 mil rosíssima em Itambi – era a maior população indígena,
litros de aguardente, e os jovens da mesma idade das 3500 selvagens, segundo Fernão Candim – utilizou essa
meninas, eram destinados ao aprendizado de ofícios me- mão-de-obra para construir fortificações no Rio de Janei-
cânicos no Rio de Janeiro. Diante de sua política, pouco ro, na Baía de Guanabara.”
sobrou do aldeamento considerado por ele como sendo
um dos mais civilizados. Adamastor Camará Ribeiro – Historiador,
A Vila de São José Del Rey teve uma curta vida de na primeira jornada de cultura local, realizada em Ita-
autonomia administrativa, pois já em 1833 foi anexada a boraí, em 1984
então Vila de São João de Itaboraí.
“É essa força de trabalho de São Barnabé, juntamen-
Milagres de Anchieta te com o escravo negro, que fez o vigor canavieiro de
Itaboraí.”
A Freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Itamby,
cujo território foi desmembrado da Vila de Sto. Antônio Complementa Adamastor Camará Ribeiro
de Sá, é nomeada Vila de São José Del Rey por força de
Alvará em 1772, sendo assim denominada para solenizar O Marquês do Lavradio relata em carta datada de
o aniversário do Príncipe Dom José de Portugal, pelo en- 1773 a seu tio, Reverendo Principal de Almeida, que ha-
tão Vice-Rei e Governador do Brasil Dom Luiz de Vascon- via retirado da Aldeia de São Barnabé da Vila de São José
Del Rei “muitas índias que estavam em perigo”, na faixa
celos e Souza, o Marquês do Lavradio. Contudo, somente
etária de oito a doze anos, para o Rio de Janeiro, a fim de
onze anos depois houve a instalação da Justiça e da Câ-
que se educassem e pudessem ter sentimento, tornando
mara naquela que seria uma das mais importantes vilas
famílias com homens brancos, já que os indígenas desta
do recôncavo da Guanabara, por estar situada a pouco
então vila tiveram suas terras roubadas e eles, escravi-
mais de dois quilômetros da foz do rio Macacu, próximo zados. Querendo dar encaminhamento diverso ao dos
de Itambi, hoje 3º distrito de Itaboraí. jesuítas em relação à população local, o Marquês toma
Inicialmente, a região de Itambí era apenas uma ter- decisões muito definitivas, destinando os homens que
ra de índígenas, até a chegada dos colonizadores, que podem trabalhar as fazendas e aos cinco engenhos, que
lá se estabeleceram e deram o nome àquela região per- produziam por safra 60 toneladas de açúcar e 140 mil
tencente ao recôncavo do Rio de Janeiro, mantendo o litros de aguardente, e os jovens da mesma idade das
topônimo indígena de origem tupi que, segundo Teodo- meninas, eram destinados ao aprendizado de ofícios me-
ro Sampaio, significa Ita = pedra, e Mbi = alto, erguida, cânicos no Rio de Janeiro. Diante de sua política, pouco
alçada, ou seja, “Pedra em Pé”, denominação esta, dada sobrou do aldeamento considerado por ele como sendo
a toda área que hoje compreende o município de Itabo- um dos mais civilizados.
raí, e que guarda ainda, em suas origens, as mais belas
raízes da história do município, com ascendência em to- A Vila de São José Del Rey teve uma curta vida de
dos os antigos povoados do Brasil. Seus colonizadores, autonomia administrativa, pois já em 1833 foi anexada a
principalmente os Jesuítas que tinham a função sagrada então Vila de São João de Itaboraí.
de ensinar a língua e a religião Católica aos nativos, não
desprezavam os nomes indígenas. Milagres de Anchieta
O aldeamento de São Barnabé fazia parte de uma
estratégia de segurança dos colonizadores portugueses A ação evangelizadora dos jesuítas no Brasil iniciou-se
que junto com os aldeamentos de Itaguaí, São Lourenço em 1549, por determinação de D. João III, rei de Portugal.
(Niterói), São Pedro (São Pedro D’aldeia) e Macaé contra Na Capitania do Rio de Janeiro, os jesuítas organiza-
possíveis invasões de nações inimigas (Franceses, Holan- ram cinco aldeias indígenas: São Lourenço (Niterói), Itin-
deses) estes povoamentos serviam para guardar a costa gá (Itaguaí), São Pedro (Cabo Frio), São Barnabé (Itambi)
em torno do Rio de Janeiro e também como locais de e Guaratiba (Ilha do Governador)
produção de mão de obra, principalmente no período O apóstolo do Brasil, Padre José de Anchieta, que
da União Ibérica, quando o controle do mercado escravo chegou na Bahia no dia 13/07/1553, e que prestou rele-
ficou um bom tempo com a Holanda. vantes serviços a Mem de Sá, na conquista e na funda-
Assim como aconteceu em outras vilas, há registros ção do Rio de Janeiro, diversas vezes, esteve na aldeia de
HISTÓRIA DO MUNICÍPIO DE ITABORAÍ

de que os índios que ali existiam foram levados a par- São Barnabé, onde, de acordo com o historiador jesuíta
ticipar do processo de desmatamento das áreas circun- Simão de Vasconcelos, realizou dois pequenos milagres:
vizinhas a Baía da Guanabara, para que se realizasse o Fez “deslizar para o mar pesadíssima canoa, com que os
plantio da cana de açúcar e a construção de engenhos. índios não podiam, e, dias depois, abrigou um bando de
Estes teriam sucumbido diante do trabalho pesado, uma guarazes a dar sombra a ele e aos índios que conduziam
das razões pelas quais podem ser encontrados inúmeros a canoa sob um sol muito forte”.
enterramentos indígenas na região, sendo imediatamen-
te substituídos pelos escravos provenientes do continen- A Vila de São João de Itaboraí.
te africano.
Com relação ao povoamento de Itaboraí, ou Itapaco-
“Em determinado momento do processo de coloni- rá, como a região era conhecida nas crônicas “Reminis-
zação no séc. XVII, mais ou menos em 1628, por causa cências de Itaboraí”, do escritor e acadêmico Salvador de
da presença dos franceses e holandeses, o colonizador Mendonça, e publicadas no jornal “O Brasil, de 1907”, o
autor fala o seguinte sobre Itaboraí:

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“No século XVII, o governador Salvador Corrêa de das Caixas da Vila de São João de Itaboraí entrou em
Sá mandou abrir a estrada de Campos dos Goytacases declínio. Outro fator preponderante foi a decadência do
a Niterói. Essa estrada passava pela colina de Itaboraí, transporte fluvial.
caminho de Vila Nova e São Gonçalo. No alto da colina,
à beira dessa estrada, havia uma fonte sob um bosque “Ao entrar na pequena vila, senti pedras sob a relva
frondoso. Tornou-se esse lugar um ponto de parada para brava da estrada, onde meu passo incerto contou com
as tropas que por ali transitavam. Levantaram-se ranchos o ritmo de geração e aquelas Lages contaram-me que
ao lado oposto da fonte, esses ranchos foram as primei- aquilo fora uma rua onde faiscaram cascos, de cavalo de
ras casas itaboraienses. A fonte dera o nome ao lugar estirpe, conduzindo grandes senhores, de numerosa es-
– ITABORAÍ, que quer dizer “Pedra Bonita escondida na cravatura e barcos…”
água”, e essa denominação nascera de haver, no fundo
Guilherme de Almeida – Cronista, descrevendo uma
da fonte, metido na pedra, um pedaço de quartzo que
visita a Porto das Caixas em 1927.
despertara a atenção dos índios do lugar.”
Por outro lado, enquanto os portos fluviais entravam
Defende-se que o altar-mor da igreja Matriz de São em decadência, a chegada da estrada de ferro à então
João Batista fica exatamente sobre essa fonte, cujas vila de Itaboraí deu um certo alento ao comercio e à in-
águas foram canalizadas pelo subterrâneo, colina abaixo, dustria das olarias e cerâmica, permitindo o crescimento
até desembocar na “Fonte da Carioca”. urbano e sua transformação de vila em cidade.
O surgimento do povoado se dá em razão da existên- No século XX, depois de um período de declínio, sur-
cia da parada de tropeiros na colina de Itaboraí, junto à ge uma nova economia agrícola, a laranja, perdurando
fonte, e é pela iniciativa destes e de João Vaz Pereira que, dos anos 20 até a década de 80. Cabe ressaltar que Ita-
em 1670, realizou-se a construção de uma nova capela, boraí se tornou o maior produtor dessa cultura no Rio de
em substituição a antiga que era utilizada como “curato” Janeiro, e o segundo no Brasil, chegando a ser conhecida
na fazenda do Iguá, erguida por João Pereira da Silva em como “Terra da Laranja”. Já a arte em cerâmica esteve
1627, tendo, inclusive, recebido dela parte dos seus re- sempre presente na cultura e na economia do município,
tábulos. Em alvará de 18 de janeiro de 1696 é elevada a sendo encontrados registros entre os nossos índios, e
categoria de paróquia coletiva com o título de São João nos próprios engenhos, que possuíam pequenas olarias
de Itaboraí, tornando-se S. João, o orago da freguesia. para confecção em argila dos invólucros para transpor-
Os engenhos de açúcar que já existiam pela região, te de açúcar, cuja tradição se perpetuou pelo século XX,
conforme descrito anteriormente sobre a fundação da ampliada pela indústria ceramista, primeiramente com
Vila de Santo Antônio de Sá. Foram os responsáveis pelo a chegada de novos colonos portugueses entre 1897 e
desenvolvimento econômico de Itaboraí, sendo a prin- 1912 e na chegada de novas tecnologias na década de
cipal atividade econômica do vale do Macacu-Caceribu 40, mecanizando a produção.
durante todo o período colonial, perpetuando até o séc. Após experimentar um período de destaque na pro-
XX. dução de laranja durante boa parte do século XX, Itaboraí
vê-se mais uma vez numa situação de declínio, pois as
É preciso lembrar que o açúcar foi durante séculos
terras já não mais produziam frutos de boa qualidade (O
um dos produtos tropicais mais valorizados no merca-
motivo não era o fato das terras estarem cansadas e sim
do estrangeiro. Por isso tornou-se o principal produto de
os erros na técnica de plantio, no transporte e na colheita
exportação das pequenas colônias luso-brasileiras que e na falta de adubação, mostrando o caráter especulati-
foram sendo implantadas na costa atlântica, logo que os vo do empreendimento), e a indústria ceramista, antes
primeiros colonizadores verificaram a aptidão de algu- aquecida, não buscou novas tecnologias que fossem
mas terras ao seu plantio. mais eficazes, ou menos poluentes, perdendo mercado
Outra região que se destacou muito foi o povoado de para outras regiões e estados do Brasil. Porém, ao con-
Porto das Caixas, surgido no início do século XVIII e que trário da laranja, a produção cerâmica não se extinguiu,
estava então ligado a Santo Antônio de Sá. Seu nome mas, de grande empregador em meados do século XX,
vem do fato de ter se tornado um importante entreposto resume-se hoje a umas poucas unidades, sendo que al-
comercial, responsável por todo o escoamento da produ- gumas buscaram se aprimorar nos últimos anos.
HISTÓRIA DO MUNICÍPIO DE ITABORAÍ

ção agrícola de nossa região e do interior fluminense que O fato que ora descrevemos e a construção da pon-
chegava pelo rio Aldeia ao seu porto, tendo a produção te Rio-Niterói aceleraram o processo de urbanização em
encaixotada para transporte até a Bahia da Guanabara e Itaboraí, que se tornara uma “cidade-dormitório”, a partir
de lá seguir rumo à Europa. Com o seu crescimento, o da década de 70, estimulando uma especulação imobiliá-
povoado chegou a ter uma ativa vida cultural, contando ria que criou novos problemas ambientais na região, pois
com dois teatros e um comércio muito bem estabele- as antigas áreas de plantações de laranja foram converti-
cido. Contudo, com a decadência do transporte fluvial das em loteamentos, sem nenhuma infraestrutura urba-
e a posterior inauguração da Estrada de Ferro ligando na, em praticamente todos os distritos (cabe lembrar que
P. Caixas a Cantagalo em 1860, e a da Carril Niteroien- não haviam políticas públicas organizadas, ou definidas
se, em 1874, ligando Niterói (então capital da Província de zoneamento urbano, e nem leis muito claras, à época),
do Rio de Janeiro) diretamente ao interior fluminense, e isso trouxe sérios problemas para o município, que hoje
assume todo o ônus daquele processo, inclusive chegan-
viabilizando o escoamento mais vantajoso da produção
do a ser considerado uma região de baixo IDH – Índice
cafeeira da região serrana, o antigo entreposto de Porto

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de Desenvolvimento Humano – como um dos municí- mesmo fundador constrói outro templo em 1684, o qual
pios mais pobres do estado. Ainda hoje, Itaboraí tem boa torna-se independente da jurisdição Vigário Paroquial de
parte de sua população empregada na capital, na região Santo Antônio de Sá.
metropolitana e em alguns municípios da Baixada Flumi- Em 1725, são iniciadas as obras de reconstrução da
nense, mas vivemos uma inversão econômica com novos Igreja, sendo concluídas somente em 1742, quando são
empreendimentos, transformando Itaboraí de satélite inaugurados o altar-mor e a nave principal. De acordo
(quando da implantação da primeira Estação Terrena da com o inventário da FUNDREM, no período de 1767 a
Embratel, no Brasil, em Tanguá – na época 5º distrito do 1782, foram à sacristia, o consistório e o evangelho.
município), ou de dormitório, numa cidade polo para, Em 1955, foram feitas reformas no telhado, substi-
pelo menos 12 municípios circunvizinhos, constituindo tuindo as telhas originais (feita nas coxas dos escravos)
uma nova geografia socioeconômica na região. por telhas canal industrializadas. Também o forro de ma-
deira foi substituído por uma laje de concreto. Em 1969,
Prof. Cláudio Rogério S. Dutra as diversas sepulturas que ocupam o piso da nave e da
Secretário Presidente capela, originalmente cobertas de madeira, são substituí-
FCI – Fundação cultural de Itaboraí das por marmorite.
Recentemente foram restauradas as imagens sacras
e iniciada a restauração dos seis belos altares laterais,
PRÉDIOS HISTÓRICOS cujas talhas representam importante exemplo do mais
puro barroco brasileiro. No entanto, a restauração não
foi concluída.
Construída no ponto mais alto do outeiro onde foi Tombadas como Patrimônio Nacional em 18 de mar-
implantada a Vila de Itaboraí, a igreja Matriz de São João ço de 1970, a igreja de São João Batista, que impressiona
batista tinha sua torre como principal destaque. À época por sua beleza arquitetônica, necessita urgentes refor-
de sua construção a sua parte mais alta podia ser ob- mas, a fim de que se acabe com as infiltrações que amea-
servada de longe, marcando sua presença na região. O çam todo a acervo iconográfico da igreja.
tipo de construção era próprio do Brasil colônia, sendo a
organização espacial das obras nesta época caracteriza- Palacete (Visconde de Itaboraí)
das por um grande terreiro onde se destaca a construção
da igreja e o desenvolvimento em seu entorno de um A casa antiga mais expressiva de Itaboraí é um solar
casario baixo, deixando ainda mais imponente a edifica- assobradado, de arquitetura neoclássica com feições co-
ção sacra, principal característica das construções nesse loniais, dotado de mirante e erguida na atual Praça Mare-
momento histórico. chal Floriano Peixoto, à época Largo da Matriz, para servir
Sua constituição é feita em pedra cal de grossos mu- de residência da família Rodrigues Torres.
ros e os elementos externos são de cantaria com telhas Em sua fachada principal pode-se observar maior pre-
capa e canal e equilibrada concepção arquitetônica oito- sença de vazios em detrimento de cheios, apresentando
centista de uma só porta de entrada e suas duas janelas simetria bem marcada principalmente pelo sótão que se
do coro. Os vãos laterais são requadrados em cantaria de torna um elemento da fachada substituindo o frontão.
granito arrematados por arco abatido e a sua torre (úni- O prédio conserva, apesar das alterações sofridas, ca-
ca) mantém ainda o corpo totalmente maciço. Dos seus racterísticas de um sobrado típico de final do séc XVIII
suis altares laterais, três conservam restos de retábulos e inicio do XIX. Sua presença no conjunto da praça é
setecentistas (anteriores a construção da igreja) que pro- marcada pelo resultado de uma arquitetura harmoniosa
vavelmente pertenciam à capela de N. S da Conceição. e bem proporcionada, comuns às residências apalaceta-
De acordo com o cronista Monsenhor Pizarro e Araú- das deste período. Numa apreciação mais cuidadosa do
jo, estando a Capela de N.S da Conceição localizada na prédio, são nítidas as intervenções realizadas, desde um
fazenda de João Correia da Silva em Iguá já em ruínas o novo programa de planta à aberturas de vão de janelas,
pequeno templo foi mudado para Itaboraí com a mesma escadas, acabamentos e cobertura.
invocação no ano de 1627. O histórico da propriedade descrito no inventário do
Os três da direita conjugam formas barrocas com ele- INEPAC tem seu primeiro registro em 1803. O período de
mentos do neoclássico. Todos os altares laterais apresen- 1803/10 é a época provável de sua construção.
HISTÓRIA DO MUNICÍPIO DE ITABORAÍ

tam belas talhas de madeira. Com a decadência econômica e o declínio como lo-
De acordo com as informações contidas no inventário calização estratégica (inauguração da estrada de ferro
do INEPAC, no histórico arquitetônico da igreja consta o Niterói-Cantagalo e conseqüente abandono do Porto
início das obras em 1725, sendo inaugurados altar-mor e das Caixas como entreposto comercial – interior/capital)
nave principal em 1742. Período de 1767-1782 foi man- somados a isso o fim da monarquia e do trabalho escra-
dado construir a sacristia, o consistório e o evangelho. vo – questões que marcavam a administração do próprio
Essa nova intervenção propiciou uma solução arquitetô- visconde de Itaboraí – e queda na produção agrícola da
nica pouco comum à sua cobertura que resultou numa região, diminuiu a importância do palacete.
volumetria singular ao conjunto. Já em declínio, torna-se, em fins do século XIX sede
De acordo com João Matoso Maia Fortes, em Vilas da casa de Caridade São João Batista, e só após a segun-
Fluminenses Desaparecidas, a origem da Igreja Matriz de da metade do século XX tem reconhecida a sua impor-
Itaboraí data de 1672, ano em que João de Vaz Pereira tância histórica e, em 1964, o sobrado é tombado pelo
funda uma capela sob a invocação de São João Batista. O IPHAN e já em 1966, desapropriado e considerado de

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utilidade pública pela prefeitura; em 1968 ocorre o in- de sua época, morreu a 24 de agosto de 1863, no Rio de
cêndio que quase destrói totalmente o prédio; em 1969 Janeiro, deixando um grande legado ao teatro brasileiro.
é doado ao Governo do Estado do Rio de Janeiro, que E mesmo hoje, podemos encontrar diversas homenagens
resolve então reconstruí-la, respeitando as formas e a por todo o Brasil, inclusive a sua titularidade a vários ou-
arquitetura original para abrigar o Fórum de Itaboraí a tros teatros.
partir de 1974. Com a transferência das funções jurídicas Quanto ao teatro Municipal João Caetano de Itaboraí
para o novo Fórum no bairro de Nancilandia, em 2000 o , depois de uso nobre, com o recebimento de grandes
solar passou a abrigar a Prefeitura Municipal de Itaboraí, artistas, visitantes ilustres, e membros da família imperial
quando merecidamente recebeu o título de palacete Vis- durante o seu período áureo (séc XIX), sofreu algumas
conde de Itaboraí, em homenagem ao grande estadista, mudanças e adaptações, primeiramente em 1924, no seu
Joaquim José Rodrigues Torres, que foi o primeiro presi- interior, e de fachada em diversas outras ocasiões pas-
dente da província do Rio de Janeiro e um dos compo-
sando, também, a ser palco de grandes eventos de gala,
nentes do gabinete imperial (Trindade Saquarema), e um
como os concursos de misses e os célebres bailes de car-
dos grandes dirigentes do partido conservador durante
naval, em uma época em que a economia de Itaboraí se
o segundo reinado.
O palacete original era na verdade um conjunto, pois, baseava na cultura da laranja. Porém, em 1974, após pe-
além do prédio reconstruído existiam casas baixas ao seu ríodos de abandono e descaso ao seu inestimável valor
redor que faziam parte do complexo, o visconde de Ita- histórico, e já em ruínas, teve o restante de suas paredes
boraí morador do palacete era um político importante demolidas, ao invés de promoção de sua salvaguarda.
durante o segundo Império. Em 1985 o então prefeito João Baptista Caffaro pro-
Joaquim José Rodrigues Torres, o visconde de Itabo- move a sua reconstrução com uma nova fachada, que
raí, foi uma personalidade tão importante no Segundo permanece em nossos dias. O senão fica pelo fato de que
Império que transformou-se num dos maiores nomes nunca teve sua conclusão definitiva, pois ainda faltam os
da política do país nessa época principal líder do partido equipamentos adequados, tratamento acústico, climati-
conservador, que dava sustentação ao governo de D Pe- zação, além de alguns aspectos arquitetônicos até hoje
dro II, foi ministro de Estado por uma dezena de vezes, indefinidos. E mesmo com toda a precariedade, e sem
além de ter sido o primeiro presidente de província do grandes investimentos, o Teatro João Caetano recebe
Rio de Janeiro. Com certeza, constituiu-se no itaboraien- pequenas turnês, apresentações de grupos locais, alguns
se de maior destaque na política nacional de todos os shows de humor, dança e de música, e esporadicamente
tempos.[1] oferece oficinas de teatro amador e de dança, o que já
O solar era local onde o visconde recebia políticos e justificaria a sua conclusão.
personalidades importantes, a constituição original do Mesmo assim, já recebeu grandes artistas como Chico
palacete tinha condição de receber seus convidados e Anysio e Giulia Gam, dentre outros, mas nada que lembre
toda a sua comitiva que provavelmente se acomodavam a beleza, valor e orgulho que representava para o povo
nas casas baixas a volta do palacete, ficando assim o so- itaboraiense no séc. XIX.
lar e seus aposentos para as personalidades, provavel- O Teatro Municipal João Caetano de Itaboraí é parte
mente local onde a família real pousava quando passava
do conjunto memorial arquitetônico do Centro Histórico
por aqui.
de Itaboraí que é reconhecido pelo IPHAN – Instituto do
O palacete tem a sua história ligada diretamente a
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, como um dos
história do Brasil Império, em seus aposentos grandes
decisões políticas foram tomadas. A conservação deste mais importantes do Brasil por sua importância histórica
maravilhoso patrimônio histórico é importantíssima para e pela relevância de seus principais personagens além do
a preservação da história de Itaboraí e para a história do dramaturgo, como Joaquim José Rodrigues Torres – O
Brasil. Visconde de Itaboraí; o escritor Romancista Joaquim M.
de Macedo, autor de “A Moreninha”, o sociólogo e polí-
Teatro João Caetano de Itaboraí tico Alberto Torres e Salvador de Mendonça que fundou
a ABL – Academia Brasileira de Letras com Machado de
Construído pelo Cel João Hilário de Menezes Drum- Assis.
mond em 1827 o teatro de Itaboraí foi o primeiro a rece-
HISTÓRIA DO MUNICÍPIO DE ITABORAÍ

ber, em 1863, o nome do dramaturgo João Caetano dos Prof. Cláudio Rogério S. Dutra
Santos, célebre itaboraiense (nascido em 1808). E isso Texto e Pesquisas
não foi ao acaso, pois foi nesse local, com apresentação
de Caetano da peça “O Carpinteiro da Livônia”, em 24 Casa Heloisa Alberto Torres
de abril, que se iniciou, o que se tornaria o marco para
a fundação da Arte dramática no Brasil, e da autonomi- A Casa de Cultura Heloísa Alberto Torres está locali-
zação de um teatro verdadeiramente brasileiro, com re- zada na Praça Marechal Floriano Peixoto, 303 – Centro
percussão até fora da colônia. Dentre várias ações, ele – Itaboraí/RJ, e tem em seus arquivos, exemplares do-
fundou a Companhia Nacional João Caetano e, além de cumentais da memória de Itaboraí, do Brasil, além dos
atuar em muitas peças, tanto no Rio como nas provín- acervos pessoais da antropóloga e diretora do Museu
cias, João Caetano publicou dois livros sobre a arte de Nacional, Heloísa A. Torres e de seu pai, o político, es-
representar: “Reflexões Dramáticas”, de 1837 e “Lições
critor e jornalista Alberto Torres, que foi presidente da
Dramáticas”, de 1862. Dono absoluto da cena brasileira
província do Rio de janeiro.

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Criada através de uma ação visionária da antropóloga exposições nos moldes dos melhores espaços do país, e
Heloísa Alberto Torres, que, com sua irmã, Maria “Marie- um atendimento mais adequado a pesquisadores, artis-
ta” Alberto Torres buscavam em 1963, em Itaboraí, um tas, turistas e toda a sociedade.
repouso às memórias do pai, Alberto Torres, percebeu Outra importante obra para a Casa de Cultura foi a
que o município, à época, já havia esquecido o seu pas- reforma dos Jardins da Casa de Cultura, proporcionada
sado de prosperidade e importância histórica, e até mes- pelo Ministério do Meio Ambiente, atendendo um pedi-
mo – além de seu pai – os seus cidadãos mais ilustres do da presidência da FAC – Fundação de Arte e Cultura
como o maior dramaturgo do século XIX, João Caetano de Itaboraí, cujo projeto e execução ficou a cargo da Fun-
dos Santos, o escritor Joaquim Manoel de Macedo (o dação Jardim Botânico, em parceria com a prefeitura de
mais lido de sua época), de Salvador de Mendonça, que Itaboraí. Esse projeto foi especial, pois proporcionou o
fundou a Academia Brasileira de Letras com Machado de retorno da beleza do jardim pertencente às irmãs Torres.
Assis; do pintor José Leandro – retratista real, e de um Para o futuro, já apresentamos na Superintendência
dos políticos mais importantes de seu tempo: Joaquim de Museus do Estado do RJ, um projeto para a criação
José Rodrigues Torres – O Visconde de Itaboraí. E é em do Museu da Vila de Santo Antônio de Sá, que prestigia-
razão da realidade encontrada, que resolve procurar o rá não só Itaboraí, mas toda a região que forma hoje o
poder público local e propor diversas ações de resgate CONLESTE. Outra proposta que temos atenção especial,
histórico, salvaguarda do patrimônio material, e valoriza- trata-se da revitalização do Centro Histórico de Itambi
ção da Cultura local, incentivando, inclusive, a criação de – projeto S. José Del Rey, e do Ecomuseu, que ligará to-
uma academia de Artes, ciências e letras na região, além dos os equipamentos culturais, históricos e ambientais
de projetos para o Teatro Municipal, biblioteca, instala- e, com a criação do Centro de Memória de Arte Popular,
ção de um hotel, e revitalização do Centro Histórico. proporcionar intercâmbios de nossos artistas com outras
Iniciam, então, uma ampla reforma de restauro e ade- regiões.
quação do imóvel, para servir como sua residência e es-
paço museal. Casa de Câmara e Cadeia
Após o falecimento de Heloísa em 1977 e de sua irmã,
Marieta, em 1985, conforme desejo em testamento, o A Freguesia de São João de Itaborahy foi elevada a
sobrado é doado ao IPHAN, com objetivo de instalação categoria de vila pelo decreto regencial de 15 de janei-
de um museu. E isso ocorre em 1995 com a instalação ro de 1833. A Câmara de Vereadores da referida vila foi
da casa de Cultura Heloísa Alberto Torres com apoio do instalada em 22 de maio do mesmo ano, e não se sabe
IPHAN, através de um Termo de Cooperação Técnica com em qual local, mas há três possibilidades: a primeira se-
a prefeitura de Itaboraí. ria o Teatro da nova vila que era dirigido pelo grande
Hoje, a parceria com o IPHAN, continua sendo im- teatrólogo João Caetano dos Santos; a segunda seria a
portante. O apoio do Superintendente Carlos Fernando, Igreja Matriz de São João Batista; e a última, ao contrário
do IPHAN RJ, e do presidente do IPHAN, Luiz Fernan- das outras, que eram lugares públicos, seria uma casa
do, conforme vislumbra o presidente da FAC – Funda- alugada[2], mais isso, como eu mesmo já mencionei não
ção de Arte e Cultura de Itaboraí, Sergio Espírito Santo, passam de possibilidades, pois a Ata de instalação da
foi um dos fatores que permitiu a inclusão de Itaboraí câmara e seu arquivo não existem mais, foram perdidos
no circuito cultural e histórico nacional. Esse apoio tem com o tempo.
colaborado em diversas de nossas ações. E Cabe lem- O prédio da casa da Câmara só começaria a ser cons-
brar, que em 2009, recebemos do IPHAN RJ, um contrato truído em 1836, por solicitação do ano anterior, da refe-
para tratamento de acervo com trabalho técnico de uma rida casa legislativa ao presidente da Província do Rio de
museóloga; custeio para obras emergências na Casa de Janeiro, o Sr Joaquim Rodrigues Torres, também nativo
Cultura,no valor de R$ 62.500,00 e na Igreja Matriz de S. da região de “Itaborahy” e futuro Visconde, como gran-
João Batista, num valor de R$ 87.000,00, para o telhado e deza de Itaborahy.
descupinização, que será complementado em 2010 com “A vista das representações das Câmaras Municipaes
nova verba no valor de R$ 400.000,00. E só o PAC- Histó- das Villas de São João de Itaborahy e Marica, tenho de-
rico, exclusivo para cidades históricas, tem previsto para terminado mandar-lhes prestar para edificar as respecti-
os próximos anos no Plano de Ação para Itaboraí, uma vas casas da câmara e cadeia e de jurados, consignações
proposta de investimentos em R$ 14.790.000,00 para mensais sejam suficientes para concluírem as obras até o
HISTÓRIA DO MUNICÍPIO DE ITABORAÍ

projetos como a criação da casa do Oleiro, do Centro fim do anno seguinte”[3]


de Memória de Arte Popular; estudos de tombamento Conforme Ornellas Ramos[4] o projeto da câmara foi
pelo município; revitalização da praça Marechal Floriano elaborado pelo engenheiro militar alemão Major Júlio
Peixoto; urbanização do entorno do Centro Histórico e a Frederico Koller, que também foi autor do plano urbanís-
criação do Museu Ferroviário e de um centro cultural no tico de Petrópolis em 1843 e o projeto do Paço Imperial
distrito de Visconde de Itaboraí. da Concórdia. A obra só seria concluída em 1840, abri-
Porém, a principal notícia para a Casa de Cultura no gando assim, no pavimento térreo a cadeia pública e no
ano de seu bicentenário é o início das obras de restauro, pavimento superior o plenário e demais salas para fins
reforma e revitalização do sobrado, em verba do Minis- legislativos.
tério da Cultura, com início previsto para Nov/2010, num Forma eleitos para o cargo de vereadores: O barão
custeio de mais de R$ 500.000,00, que dará as condi- de Itapacorá, Manoel Antônio Álvares de Azevedo como
ções necessárias para manutenção do acervo, abertura presidente da Casa; Severino de Macedo Carvalho, pai
do andar superior para visitação, adequação do salão de do ilustríssimo literário e historiador Joaquim Manoel de

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Macedo; Padre Manoel de Freitas Carvalho Magalhães, sistema monárquico parlamentar constitucional e a Ma-
vigário da Matriz de São João Batista; José Augusto Cé- çonaria francesa o sistema republicano. Funda Lojas em
sar de Menezes e José Barbosa Velho, possuindo assim a Vila Rica e Tijuco com propósitos políticos, organizando
câmara cinco vereadores. a revolução emancipacionista, que se chamou Inconfi-
Pelo mesmo decreto de 15 de janeiro de 1833, criava dência. É possível que o articulista tenha tomado conhe-
também seis comarcas na Província do Rio de Janeiro, cimento das informações dadas por Joaquim Felício dos
dentre elas a de Itaborahy. Santos que, sem aduzir quaisquer provas, afirmou que a
Art. 1.º Haverá na Província do Rio de Janeiro, seis Inconfidência houvera sido dirigida por Maçons. Felício
comarcas, a saber: a da Ilha Grande, a de Rezende, a de dos Santos, ainda sem apontar onde buscara tal afirmati-
Catagallo, a de Campos, a de S. João de Itaborahy, e a de va, afirmou que Tiradentes e quase todos os conjurados
Rio de Janeiro. eram pedreiros livres. Esta é a informação que nos é for-
Art. 2.º (…) a de S. João de Itaborahy compreenderá necida pelo historiador maçônico Frederico Guilherme
os termos das villas de S. João de Itaborahy, de Magé, de Costa em “Questões Controvertidas da Arte Real”, vol. 3:
Santo Antônio de Sá de Macacu, de Marica (…) Ao que tudo indica, o responsável por uma extravagante
idéia de uma conjuração maçônica com a conseqüente
A PRIMEIRA LOJA MAÇÔNICA NO BRASIL liderança do Maçom (sic) Tiradentes foi Joaquim Felício
do Santos… Rigoroso na pesquisa do documento pos-
Um fato histórico sem documentos que comprovem suía, porém, o gosto pelo romântico, que o levou ao de-
sua veracidade, deixa de ser um fato para ser uma possi- vaneio de suas declarações sobre a Maçonaria na obra
bilidade ou, o que é pior, uma invencionice que, de histó- intitulada Memórias do Distrito Diamantino, infelizmente
rica, não tem nada. Não se faz História por ouvir dizer ou tão copiada e repetida pelos apaixonados pela tese alta-
imaginando fatos. “A História”, segundo Langlois e Seig- mente suspeita da Maçonaria que não houve na vida do
nobos, “nos ensina a relatividade de todas as coisas e a protomártir da Nação brasileira. Não faz muito tempo,
transformação incessante das crenças, das formas, das ouvimos um Irm:. de Loja afirmar que a primeira Loja bra-
instituições”. Por aí se vê quão difícil é a missão daqueles sileira era o Areópago de Itambé, sem que aduzisse coisa
que se debruçam sobre os mapas da vida para narrar o que lhe atestasse a verdade da afirmação. Bons historia-
que para trás ficou. Ouve-se amiúde a expressão “a His- dores maçônicos, nos dias que correm, negam tal asser-
tória é a mestra da vida”. Esta expressão está incompleta. tiva, apesar da existência de outros que confirmam a opi-
A definição de História é ampla e abarca um círculo bem nião do meu Irmão de Loja. Mário Name, em artigo
maior de verdades, ei-la: História vero testis temporum, inserto no Caderno de Pesquisas Maçônicas 11, edição
lux veritatis, vita memorae, magistra vitae, nuntia vetus- da “A TROLHA”, março de 1996, às páginas 18, escreve:
tatis est (A História é verdadeiramente a testemunha dos Todos nós sabemos que ao apagar das luzes do século
tempos, a luz da verdade, a vida da memória, a mestra da XVIII, mais precisamente em 1796, o frade carmelita Arru-
vida, a mensageira dos tempos antigos). A História de da Câmara fundou em Pernambuco, na divisa com o Es-
nossa Instituição merece respeito. Deixemos, portanto, tado da Paraíba, o famoso Areópago de Itambé cuja fina-
aos verdadeiros historiadores a missão de relatá-la. Nós lidade, até hoje um pouco nebulosa, deu margem a muita
outros, que historiadores não somos, devemos ter sem- especulação, especialmente entre os ufanistas escritores
pre diante dos olhos que a História é, antes de mais nada, brasileiros. Marcelo Linhares, no seu livro História da Ma-
a luz da verdade. Há muito tempo se discute qual teria çonaria, Ed. “A TROLHA”, Londrina 1992, transcreve ex-
sido a primeira Loja Maçônica instalada em nossa Pátria. certo de Mário Melo, tirado da obra “Livro do Centenário
As opiniões divergem, deixando aqueles que não são li- Maçônico”, capítulo “A Maçonaria no Brasil” e que diz o
gados às coisas da História em palpos de aranha. Em seguinte: Desprezando a tradição, podemos afirmar, ba-
quem acreditar? Hoje, mercê da criação das Lojas de Pes- seados em documentos, que a primeira Loja Maçônica
quisas, das Academias, dos jornais, boletins e das revistas associação secreta, movida pela liturgia, com fins políti-
maçônicas, algumas de altíssimo quilate, já se pode vis- co-sociais, fundada no Brasil, foi o Areópago de Itambé
lumbrar nos longes do horizonte maçônico uma luz que (Pernambuco). Instalou-o o botânico Arruda Câmara, ex-
se torna cada vez mais forte. Alguns escritores, talvez por -frade carmelita, médico pela Faculdade de Montpellier,
ufanismo, apontam brasileiros ilustres como tendo sido no último quartel do século XVIII, em 1796. Linhares não
Maçons, sem que haja a mais mínima prova que estabe- aceita o que afirma Mário Melo: Apesar das opiniões
HISTÓRIA DO MUNICÍPIO DE ITABORAÍ

leça a veracidade da afirmativa. Outros, por ouvir dizer, mais que abalizadas de Mário Melo e Oliveira Lima, este
ensinam coisas que absolutamente não podem provar. considerando uma sociedade secreta, política e maçôni-
Só para exemplificar e sem citar nomes, temos debaixo ca no seu espírito, senão no Rito que lhe teria sido pos-
dos olhos um publicação que, a par de belos artigos, traz terior, o Areópago de Itambé se nos parece mais uma
um, naturalmente baseado em alguma coisa que o autor, entidade cultural, onde se podia conspirar, que propria-
talvez até bem intencionado, tenha tido conhecimento e mente um Organismo Maçônico. Entretanto, foi lá onde
tenha dado crédito à informação: Segundo os mais anti- se abeberaram os líderes dos futuros movimentos eman-
gos registros, 1786 foi o ano do surgimento da Maçona- cipacionistas republicanos, salientando-se dentre eles
ria no Brasil, com a volta do Irmão José Alves Maciel da Antônio Carlos Ribeiro de Andrade e Francisco de Paula
Europa, formado em Coimbra onde Iniciou-se (sic), indo Cavalcanti de Albuquerque, Cavalheiro da Ordem de
depois para a Inglaterra e França e lá freqüentava as Lo- Cristo e pois Barão de Suassuma. O saudoso Irm:. Marcos
jas Maçônicas. De volta ao Brasil, traz a mensagem da Santiago, no seu livro Maçonaria, História e Atualidade
Maçonaria francesa, a Maçonaria inglesa defendia o refere-se ao Areópago da seguinte maneira: Em 1796 foi

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fundado o Areópago de Itambé em Pernambuco, uma Anais do Arquivo Público da Bahia, intitulado Primórdios
sociedade política secreta, que objetivava fazer de Per- das Sociedades Secretas da Bahia, onde se afirma que
nambuco uma república, e da qual faziam parte Maçons tendo aportado a Salvador a fragata francesa “La Preneu-
e padres da igreja católica. Frederico Guilherme Costa, se”, comandada pelo Capitão Larcher, logo se tornou
em uma de suas obras, assinala: Sabemos que antes da alvo de visitas dos homens mais esclarecidos da terra e
Cavaleiros da Luz, foi o Areópago de ltambé instalado que dessas visitas, que se converteram em reuniões, sur-
pelo botânico Arruda Câmara, ex-frade carmelita, médico giu a 14 de julho de 1797 a Loja Maçônica “Cavaleiros da
pela faculdade de Montpellier em 1796. M. L. Machado Luz”. O escrito de Borges de Barros é de 1928. José Cas-
(Introdução à Historia da Revolução de 1817, 2ª Ed.). Ci- tellani, em artigo publicado na Revista Acácia, nº 33, de
tado por Mário Melo, descreve o Areópago: Era o Areó- Porto Alegre, diz das razões por que a fonte de informa-
pago uma sociedade política, secreta, intencionalmente ção era respeitável: Borges de Barros, que era Diretor do
colocada na raia das províncias de Pernambuco e Paraí- Arquivo Público da Bahia e Grão-Mestre da Grande Loja
ba, freqüentada por pessoas salientes de uma e outra da Bahia – a primeira a ser fundada no Brasil, quando da
parte e donde saíam, como de um centro para a periferia, cisão de 1927 – publicou, em 1928, no volume XV dos
sem assaltos nem arruídos, as doutrinas ensinadas. Tinha Anais do Arquivo, às paginas 44 e 45, a história da “Cava-
por fim tornar conhecidos o estado geral da Europa, os leiros da Luz”, informando que as reuniões preparatórias
estremecimentos e destroços dos governos absolutos, teriam sido realizadas a bordo da fragata “La Preneuse”,
sob o influxo das idéias democráticas (Breves Ensaios so- sob liderança do comandante Larcher. A posição de Bor-
bre a História da Maçonaria Brasileira, Ed. “A TROLHA”, ges de Barros e sua intimidade com os arquivos torna-
Londrina, 1993). José Castellani, na excelente obra “Do Pó vam fidedigna essa informação. E mesmo com contesta-
dos Arquivos”, Ed. “A TROLHA”, Londrina, 1995, ao fazer ções, não pode ser descartada a existência da “Cavaleiros
um estudo sobre a primeira Loja fundada no Brasil, pre- da Luz”, sem profundo exame da questão. Tinha-se, pois,
ceitua: O Areópago, embora considerado o marco inicial como certo que a primeira Loja Maçônica fundada no
das organizações maçônicas no Brasil, não era uma ver- Brasil fora a “Cavaleiros da Luz”, fato que teria ocorrido
dadeira Loja, tanto que o Padre João Ribeiro, que perten- na povoação da Barra aos 14 de julho de 1797. Essas ob-
cera a ele, teve que ser Iniciado em Lisboa, o que, eviden- servações de Castellani eram necessárias, porque surgi-
temente, leva a crer que, na época, não existia Loja ram sérias dúvidas sobre a veracidade das informações
regular naquela região. Contudo, é bom observar que dadas por Borges de Barros, depois que apareceram do-
Castellani, com o peso de sua autoridade de historiador cumentos que negavam a presença da fragata “La Pre-
de primeira água, afirma que o Areópago é considerado neuse” em águas territoriais baianas. Quando exercíamos
o marco inicial das organizações maçônicas no Brasil. Se o Veneralato de nossa Loja “Ponto no Espaço 279″
há os que negam tenha sido o Areópago uma Loja Ma- (94/95), convidamos nosso Irm:. e historiador, professor
çônica, há os que afirmam o contrário. Além de Mário da USP, Ricardo Mário Gonçalves para uma palestra so-
Melo, como já vimos antes, o Irm:. Antônio do Carmo bre a primeira Loja Maçônica do Brasil e fomos surpreen-
Ferreira, atual Grão-Mestre do GOIPE, Maçom de invejá- didos ao ouvirmos daquele nosso ilustre Irm:. que a fra-
vel cultura e grande estudioso das coisas da Maçonaria, gata “La Preneuse” jamais estivera no Brasil. O palestrante
não aceita que o Areópago não tenha sido Loja. É o que dizia que fazia tal afirmação escudado em trabalho publi-
se deduz ao ler um artigo de sua lavra, publicado em fe- cado pelo historiador Luiz Henrique Dias Tavares que, por
vereiro de 1994, in Cadernos de Pesquisas Maçônicas 6, sua vez, fundamentava sua assertiva, baseado em pes-
Ed. “A TROLHA”, Londrina. Após discorrer sobre a funda- quisa feita pela historiadora Kátia de Queirós Mattoso
ção do Areópago e citar vários nomes de participantes nos arquivos Nacional e da Marinha, em Paris. Além de
da instituição, informa que a casa onde funcionou o “La Preneuse” jamais ter estado no Brasil, Larcher, quan-
Areópago, na Rua Videira de Melo (Itambé), foi derruba- do esteve em Salvador, desembarcou do navio “Boa Via-
da na década dos anos 40 e, no seu lugar, em 1951, foi gem”, em novembro de 1796, tendo embarcado de re-
levantado um obelisco, perpetuando o fato. Ao terminar gresso à França em 2 de janeiro de 1797. E o ilustre
o artigo, aliás muito bem lançado, Antônio do Carmo palestrante argumentou: Se a “Cavaleiros da Luz” foi
afirma, com todos os rr e ss que o Areópago de Itambé inaugurada em julho de 1797 e Larcher havia embarcado
foi uma Loja Maçônica, senão vejamos: Em 30 de agosto em janeiro daquele ano, como poderia aquele oficial da
de 1980, o Grande Oriente Independente de Pernambu- marinha francesa ter participado da fundação da Loja,
HISTÓRIA DO MUNICÍPIO DE ITABORAÍ

co retomava o curso da História, ao reinstalar (o grifo é conforme se apregoa? Por aí se vê que é necessário mui-
nosso) o Areópago de Itambé, inaugurando uma Loja to estudo, pesquisas e mais pesquisas para que, com
Maçônica Simbólica com aquele nome distintivo. Real- base em fontes fidedignas, se possa afirmar que isto ou
mente, o ato consistiu em grave responsabilidade, não aquilo é realmente um fato histórico digno de fé. Nós,
somente para os Maçons daquele Oriente, mas também que não somos historiadores e que dependemos das in-
e sobretudo para a Potência que passou a ter em seu seio formações que eles nos fornecem, precisamos meditar e
a Oficina Berço da Maçonaria Brasileira (o grifo é nosso). meditar fundo nas palavras do historiador maçônico Fre-
E é preciso ser digno disto. Já alguns historiadores de derico Guilherme Costa, autor de “Questões Controverti-
renome no mundo maçônico – José Castellani, Frederico das da Arte Real”, vol. 3, Ed. “A TROLHA”, Londrina, 1997,
Guilherme Costa, Ricardo Mário Gonçalves, entre outros que depois de fazer um estudo sobre a temática que aca-
– escreveram que a primeira Loja fundada no Brasil foi a bamos de expor, afirma: De tudo o que foi exposto con-
“Cavaleiros da Luz”. Para tanto, eles se baseavam em es- clui-se que a verdadeira função do historiador, que tem
crito de F. Borges de Barros, publicado no Volume XV dos vida curta, consiste em rever permanentemente as

9
informações que possui e que estão sendo sempre enri-
quecidas com novas fontes, partam elas de pesquisas de REGIÃO METROPOLITANA
terceiros ou da sua própria, mas sempre tendo em mira a
boa forma e o bom conteúdo, jamais a ironia. A questão
da nossa historiografia é uma disputa do significante, A Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro,
pois a escrita só cumpre o seu papel quanto mais se da qual Itaboraí faz parte, reúne 19 municípios fluminen-
aproxima da palavra. Ela é sempre relativa. É da ordem ses. A área geográfica, também conhecida como Gran-
do corpo e não do sentido, da cultura e não da natureza. de Rio, foi instituída pela Lei Complementar nº20, de 1º
Mas, afinal, qual a primeira Loja Maçônica Regular funda- de julho de 1974, após a fusão dos antigos estados do
da no Brasil? Mário Name, no artigo retro citado, diz que Rio de Janeiro e da Guanabara, unindo as então regiões
a primeira Loja Maçônica fundada no Brasil, na cidade do metropolitanas do Grande Rio Fluminense e da Grande
Rio de Janeiro, no ano de 1800, recebeu o nome de Niterói. Com 11.812.482 habitantes, segundo o Senso de
“União”, e que um ano depois, devido ao grande número 2008, é a segunda maior área metropolitana do Brasil, a
de Irmãos que a ela aderiram, sofreu restruturação e pas- terceira da América do Sul e a 20ª maior do mundo.
sou a denominar-se “Reunião”. José Castellani informa A Região Metropolitana do Rio de Janeiro, segundo o
que é possível tenha existido a “União”, porém como não IBGE, ostenta um PIB de mais de R$ 170 bilhões, consti-
existe documento algum que comprove a sua fundação, tuindo o segundo maior pólo de riqueza nacional. Con-
acredita que a primeira Loja Maçônica fundada no Brasil centra 70% da força econômica do estado e 8,04% de
foi a “Reunião”, em 1801, isto se ficar provado que a “Ca- todos os bens e serviços produzidos no país. Há muitos
valeiros da Luz” não existiu. Sobre o assunto vejamos o anos, congrega o segundo maior pólo industrial do Bra-
que escreve Frederico Guilherme Costa em “Breves En- sil, contando com refinarias de petróleo, indústrias naval,
saios sobre a História da Maçonaria Brasileira, Ed. “A metalúrgicas, petroquímicas, gás-químicas, siderúrgicas,
TROLHA”, Londrina, 1993, após ter discorrido sobre o têxteis, gráficas, editoriais, farmacêuticas, de bebidas, ci-
Areópago e sobre a “Cavaleiros da Luz”: Mas segundo o menteiras e moveleiras. No entanto, as últimas décadas
manifesto de José Bonifácio publicado em 1832, a pri- atestaram uma nítida transformação em seu perfil eco-
meira Loja Simbólica regular no Brasil foi instalada em nômico, que vem adquirindo, cada vez mais, matizes de
1801, debaixo do título de REUNIÃO, filiada ao Oriente um grande pólo nacional de serviços e negócios.
da Ilha de França, e nomeado para seu representante o A área reúne os principais grupos nacionais e interna-
cavaleiro Laurent, que a fortuna fez aportar às formosas cionais do setor naval e os maiores estaleiros do país e
praias da Bahia de Niterói e que presidira a sua instala- do estado, com cerca de 90% da produção de navios e de
ção. Na mesma página, o autor informa: Em 1801 a Loja equipamentos offshore no Brasil. No setor de petróleo,
“Reunião” é regulamentada instalada sob o reconheci- verifica-se um arranjo de mais de 700 empresas, dentre
mento do Oriente da Ilha de França, seguindo-se as Lojas as quais as maiores do Brasil. A maioria mantém cen-
“Constância” e “Filantropia”, subordinadas ao Grande tros de pesquisa espalhados por todo o estado e, juntas,
Oriente Lusitano. Se a Cavaleiros da Luz foi a primeira produzem mais de 4/5 do petróleo e dos combustíveis
Loja Maçônica no Brasil e o Areópago o primeiro núcleo distribuídos nos postos de serviço do território nacional.”
secreto revolucionário, a Loja “Reunião”, à luz dos docu-
mentos, respeitadas as leis e tradições maçônicas foi a Fonte: <https://www.itaborai.rj.gov.
PRIMEIRA LOJA MAÇÔNICA REGULAR NO BRASIL. Mário br/a-regiao-metropolitana/>
Verçosa, past Grão-Mestre da Grande Loja do Estado do
Amazonas, relaciona as 16 primeiras Lojas do Brasil,
como vem exposto por Marcelo Linhares, na obra citada:
1. “Cavaleiros da Luz”, em Salvador, BA – 1797 2. “Reu-
nião”, no Rio de Janeiro, RJ – 1801 3. “Virtude e Razão”,
em Salvador, BA – 1802 4. “Constância”, no Rio de Janei-
ro, RJ – 1803 5. “Filantropia”, no Rio de Janeiro, RJ – 1803
6. “Emancipação”, no Rio de Janeiro, RJ – 1803 7. “Bene-
ficência”, no Rio de Janeiro, RJ – 1803 8. “Distintiva”, em Porto Alegre, 1995. 5. COSTA, Frederico Guilherme. “Breves Ensaios
sobre a História da Maçonaria no Brasil”. “A TROLHA”: Londrina,
Niterói, RJ – 1812 9. “Comércio e Artes”, no Rio de Janei-
HISTÓRIA DO MUNICÍPIO DE ITABORAÍ

1993. 6. “Questões Controvertidas da Arte Real”, vol. 3. “A TROL-


ro, RJ – 1815 10. “Pernambuco Oriente”, em Recife, PE – HA”: Londrina, 1997. 7. DONIDA, Odilon Carlos Nunes. “Datas e Fa-
1817 11. “Pernambuco Ocidente”, em Recife, PE – 1817 tos que Fizeram a História da Maçonaria no Rio Grande do Norte
12. “Revolução Pernambucana”, em Recife, PE – 1817 13. e no G.O.L.E.R.N”, in Cadernos de Pesquisas Maçônicas, nº 10. “A
“União e Tranqüilidade”, no Rio de Janeiro, RJ – 1817 14. TROLHA”: Londrina, 1995. 8. FERREIRA, Antônio do Carmo. “Nos-
“Esperança de Niterói”, em Niterói, RJ – 1821 15. “Conci- sa Gente”, in Cadernos de Pesquisas Maçônicas, nº 6. “A TROLHA”:
Londrina, 1994. 9. LINHARES, Marcelo. “História da Maçonaria”. “A
liação de Pernambuco”, em Recife, PE – 1822 16. “Nove
TROLHA”: Londrina, 1994. 10. NAME, Mário. “Tiradentes em Lisboa”
de Janeiro”, no Rio de Janeiro, RJ – 1822.1 – in Cadernos de Pesquisas Maçônicas, nº 11. “A TROLHA”: Londrina,
1 BIBLIOGRAFIA 1. BANDECCHI, Brasil. “A Bucha, a Maçonar- 1996. 11. SANTIAGO, Marcos. Maçonaria – história e atualidade”. “A
ia e o Espírito Liberal”, Parma: São Paulo, 1982. 2. CASTELLANI, José. TROLHA”: Londrina, 1992. 12. VIEIRA, Júlio Doin. “Maçonaria, um
“Do Pó dos Arquivos”, “A TROLHA”: Londrina, 1995. 3. ___________. Estudo Completo”. “A TROLHA”: Londrina, 1997.
“Conjuração Mineira e a Maçonaria que não Houve” (co-autoria [1] Personalidades históricas de Itaboraí III, Visconde de Itaboraí:
com Frederico Guilherme Costa) Gazeta Maçônica: São Paulo, 1992. Série Patrimônio cultural
4. ____________. “A Polêmica em Torno da Primeira Loja Maçônica do [2] RAMOS, César Augusto Ornellas. História da Câmara Municipal
Brasil – uma Novidade Bastante Antiga”, in Revista Acácia, nº 33, de Itaboraí.Disponível em: www.itaborai.rj.gov.br

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ÍNDICE

FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

Educação, sociedade e cultura.............................................................................................................................................. 01


Os Pilares da educação: Aprender a conhecer, Aprender a fazer, Aprender a viver e Aprender a ser..... 04
Psicologia da Educação: Teorias da aprendizagem....................................................................................................... 11
Contribuições de Piaget e Vygotsky à Educação........................................................................................................... 19
Currículo: concepções, elaboração, prática...................................................................................................................... 24
Interdisciplinaridade, transdisciplinaridade e transversalidade................................................................................ 33
Políticas públicas: Políticas Públicas Inclusivas de educação..................................................................................... 34
Educação e cultura afro-brasileira........................................................................................................................................ 41
Protagonismo infanto-juvenil................................................................................................................................................ 43
Diversidade e Sexualidade...................................................................................................................................................... 48
O Jovem e o mundo do trabalho,Tecnologias na educação; Bullying................................................................... 49
Cotidiano escolar: Integração docente e discente......................................................................................................... 64
Modalidades de gestão. Conselho de classe, reuniões pedagógicas, formação continuada....................... 67
Planejamento, acompanhamento e avaliação; Projeto político-pedagógico..................................................... 68
Lei nº 9.394/96. Lei nº 12.796/2013 (que altera a Lei nº 9.394/96)......................................................................... 81
Plano Nacional de Educação - Lei nº 13.005/2014........................................................................................................ 101
Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei nº 8.069/1990 (ECA): Artigos 1º a 24 e 53 a 69; Parte
Especial: Título I; Título II; Título III; Título V – artigos 131 a 140............................................................................. 105
Constituição Federal/88 – artigos 206 a 214................................................................................................................... 116
Emenda Constitucional nº 53, de 19/12/2006, publicada em 20/12/2006.......................................................... 119
Lei nº 11.494, de 20/6/2007, publicada em 21/6/2007................................................................................................ 120
Lei nº 11.645 de 10/03/2008.................................................................................................................................................. 131
Lei Orgânica do Município de Itaboraí................................................................................................................................................ 131
Legislação para inclusão de pessoa com deficiência Lei n.° 13.146 de 06/07/2015..................................................... 131
Base Nacional Comum Curricular......................................................................................................................................... 131
finalidades da educação, no Brasil, é a Lei nº 9.394, de 20
de dezembro de 1996, que trata das Diretrizes e Bases
EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E CULTURA
da Educação Nacional, mais conhecida como LDB. Em
seus primeiros artigos há a seguinte notação: “a educa-
ção, direito de todos e dever do Estado e da família, será
EDUCAÇÃO E SOCIEDADE promovida e incentivada com a colaboração da socieda-
de, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, de seu
A autora deste texto, Galvão, pontua que de acordo preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação
com Silva (2001), a educação tem como finalidade for- para o trabalho” (Lei nº 9.394/96).
mar o ser humano desejável para um determinado tipo Como vimos, qualquer que seja o ângulo pelo qual
de sociedade. Dessa forma, ela visa promover mudanças observamos a educação, encontrar-se-ão fundamentos
relativamente permanentes nos indivíduos, de modo a para o desenvolvimento do ser humano, de acordo com
favorecer o desenvolvimento integral do homem na so- a concepção de vida e com a estrutura da sociedade.
ciedade. Portanto, é fundamental que a educação atinja a As concepções atuais da educação apontam para o
vida das pessoas e da coletividade em todos os âmbitos, desenvolvimento do ser humano como um todo, reafir-
visando à expansão dos horizontes pessoais e, conse- mando seu papel nas transformações pelas quais vêm
quentemente, sociais. Além disso, ela pode favorecer o passando as sociedades contemporâneas e assumindo
desenvolvimento de uma visão mais participativa, críti- um compromisso cada vez maior com a formação para
ca e reflexiva dos grupos nas decisões dos assuntos que a cidadania.
lhes dizem respeito, se essa for a sua finalidade. Torna-se imprescindível, portanto, que façamos uma
A concepção de educação está diretamente relacio- conexão entre educação e desenvolvimento, pensando
nada à concepção de sociedade. Assim, cada época irá no desenvolvimento que educa e em educação que de-
enunciar as suas finalidades, adotando determinada ten- senvolve, a fim de vislumbrarmos uma sociedade mais
dência pedagógica. democrática e justa. Uma educação que carrega, em seu
Na história da educação brasileira, podem-se identificar bojo, a utopia de construir essa sociedade como forma
várias concepções, tendo em vista os ideais da formação do de vida tem como tema constitutivo o desenvolvimento
homem para a sociedade de cada época. Silva (ibidem) afir- integral do ser humano.
ma que as principais correntes pedagógicas identificadas
no Brasil são: a tradicional, a crítica e a pós-crítica. Pesquisa e Prática Profissional-Relação Escola-Co-
A concepção tradicional enfatiza o ensino e a apren- munidade
dizagem de conteúdos a partir de uma metodologia ri-
gorosamente planejada, com foco na eficiência. Conforme Berg, a comunidade é a forma de viver
A concepção crítica aborda questões ideológicas, co- junto, de modo íntimo, privado e exclusivo. É a forma
locando em pauta temas relacionados ao poder, a rela- de se estabelecer relações de troca, necessárias para o
ções e classes sociais, ao capitalismo, à participação etc., ser humano, de uma maneira mais íntima e marcada por
de forma a conscientizar o educando acerca das desi- contatos primários. Sociedade é uma grande união de
gualdades e injustiças sociais. grupos sociais marcadas pelas relações de troca, porém
A partir do desenvolvimento da consciência crítica e de forma não pessoal, racional e com contatos sociais
participativa, o educando será capaz de emancipar-se, secundários e impessoais.
libertar-se das opressões sociais e culturais e atuar no As comunidades geralmente são grupos formados
desenvolvimento de uma sociedade justa e igualitária. por familiares, amigos e vizinhos que possuem um ele-
A concepção pós-crítica foca temas relacionados à vado grau de proximidade uns com os outros. Na socie-
identidade, diferenças, alteridade, subjetividade, cultura, dade esse contato não existe, prevalecendo os acordos
gênero, raça, etnia, multiculturalismo, saber e poder, de racionais de interesses. Uma diferenciação clara entre
forma a acolher a diversidade do mundo contemporâ- comunidade e sociedade é quando uma pessoa nego-
neo, visando respeito, tolerância e convivência pacífica cia a venda de uma casa, por exemplo, com um familiar
entre as diferentes culturas. A ideia central é a de que (comunidade) e com um desconhecido (sociedade). Lo-
por meio da educação o indivíduo acolha e respeite as gicamente, as relações irão ser bastante distintas entre os
diferenças, pois “sob a aparente diferença há uma mes- dois negócios: no negócio com um familiar irão preva-
ma humanidade” lecer as relações emotivas e de exclusividade; enquanto
Assim, por meio de um conjunto de relações esta- que na negociação com um desconhecido, que irá valer
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

belecidas nas diferentes formas de se adquirir, transmi- é o uso da razão.


tir e produzir conhecimentos busca-se a construção de Nas comunidades, as normas de convivência e de
uma sociedade. Isso envolve questões filosóficas como conduta de seus membros estão interligadas à tradição,
valores, questões histórico-sociais, questões econômicas, religião, consenso e respeito mútuo. Na sociedade, é to-
teóricas e pedagógicas que estão na base do processo talmente diferente. Não há o estabelecimento de relações
educativo. pessoais e na maioria das vezes, não há tamanha preocu-
Vejamos como exemplo o Inciso III do art. 1º da Cons- pação com o outro indivíduo, fato que marca a comuni-
tituição Federal de 1988 que, ao tratar de seus funda- dade. Por isso, é fundamental haver um aparato de leis e
mentos essenciais, privilegia a educação, apontando-a normas para regular a conduta dos indivíduos que vivem
como uma das alternativas para a formação da dignidade em sociedade, tendo no Estado, um forte aparato buro-
da pessoa humana. Outro texto jurídico que analisa as crático, decisivo e central nesse sentido. Comunidade e

1
sociedade são as uniões de grupos sociais mais comuns EDUCAÇÃO E ESCOLA
dentro da Sociologia. Sabemos que ninguém consegue
viver sozinho e que todas as pessoas precisam umas das
outras para viver. Essa convivência caracteriza os grupos FIQUE ATENTO!
sociais, e dependendo do tipo de relações estabelecidas Segundo Gadotti, a escola não é um simples
entre as pessoas, esses grupos poderão se distinguir. Co- lugar pelo qual o indivíduo é convidado, mas
munidade e Escola, a parceria entre escola e comunidade a mesma faz parte da vida do homem e por
é indispensável para uma Educação de qualidade e de- mais que o tempo passe não será esquecida,
pendem de uma boa relação entre familiares, gestores, pelo contrário verá o quanto foi importante
professores, funcionários e estudantes. estar nela. Como afirma Gadotti:
Pensar em educação hoje de qualidade é preciso ter
em mente que a família esteja presente na vida escolar
Mas é na escola que passamos os melhores anos de
de todos os alunos e em todos os sentidos. Ou seja, é
nossas vidas, quando crianças e jovens. A escola é um
preciso uma interação entre escola e família. Nesse sen-
lugar bonito, um lugar cheio de vida, seja ela uma escola
tido, escola e família possuem uma grande tarefa, pois
com todas as condições de trabalho, seja ela uma escola
nelas é que se formam os primeiros grupos sociais de
onde falta tudo. Mesmo faltando tudo nela existe o es-
uma criança. Envolver os familiares na elaboração da pro-
sencial: gente, professores e alunos, funcionários, direto-
posta pedagógica pode ser meta da escola que pretende
res. Todos tentando fazer o que lhes parece melhor. Nem
ter um equilíbrio no que diz respeito à disciplina de seus
sempre eles têm êxito, mas estão sempre tentando. Por
educandos. A sociedade moderna vive uma crise nos va-
isso, precisamos falar mais e melhor das nossas escolas,
lores éticos e morais sem precedentes. Essa escola deve
de nossa educação. (GADOTTI, 2008)
utilizar todas as oportunidades de contatos com os pais,
Sendo que cada escola tem sua própria história, uma
para passar informações relevantes sobre seus objetivos,
não é igual à outra, devido à comunidade a qual está
recursos, problemas e também sobre as questões peda-
inserida e a cultura que cada uma vivencia.
gógicas. Só assim a família irá se sentir comprometida
A interação não está somente dentro da escola, está
com a melhoria da qualidade escolar e com o desenvol-
ligada também a relação que mantém com outras es-
vimento escolar e com o desenvolvimento como ser hu-
colas, sociedade e família, sendo essa o primeiro grupo
mano do seu filho.
social no qual a criança faz parte.
Quando se fala em vida escolar e sociedade, não há
Tendo cada particularidade diferente em relação aos
como não falar em Paulo Freire (1999), quando diz que “
projetos e agentes conduzindo na produção da identidade
a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela
individual e social dos educandos, para se tornarem críti-
tampouco a sociedade muda.
cos e criativos prontos a exercerem a cidadania consciente
Se opção é progressista, se não está a favor da vida e
de seus direitos e deveres. Desta forma a escola forma o
não da morte, da equidade e não da injustiça, do direito
sujeito cidadão para viver na comunidade de maneira de-
e não do arbítrio, da convivência como diferente e não
mocrática e política, sendo uma escola cidadã. No livro Pe-
de sua negação, não se tem outro caminho se não viver
dagogia da práxis Gadotti (2001) esclarece o seu conceito
a opção que se escolheu. “Encarná-la, diminuindo, assim,
sobre “Decálogo da Escola Cidadã” no qual apresenta dez
a distância entre o que diz e o que faz.”
aspectos indispensáveis para o desenho dessa escola.
Essa visão certamente, contribui para que tenha uma
O primeiro aspecto apresentado por Gadotti a escola
maior clareza do que se pode fazer no enfrentamento
acima de tudo tem que ser democrática, ou seja, a de-
das questões sócio educativas no conjunto do movimen-
mocracia permite que o estudante tenha acesso e per-
to social.
manência no contexto escolar. Desta forma oportuniza a
Nesse sentido importante que o projeto inicial se faça
elaboração de cultura no processo educativo.
levando em conta os grandes e sérios problemas sociais
O segundo aspecto a escola tem que ser autônoma.
tanto da escola como da família.
“Para ser autônoma, não pode ser dependente de órgãos
No parágrafo IV do Eca (BRASIL,1990), encontramos
intermediários que elaboram políticos dos quais ela é
que é direito dos pais ou responsáveis ter ciência do pro-
mera executora”.
cesso pedagógico, bem como participar das definições
O terceiro aspecto “A escola cidadã deve valorizar o
das propostas educacionais, ou seja trazer as famílias
contrato de dedicação exclusivo do professor”. Segun-
para o ambiente escolar.
do Gadotti a escola deve oferecer condições de trabalho
Promover a família nas ações dos projetos pedagógi-
de forma adequada para o docente e não permitir que o
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

cos significa enfatizar ações em seu favor e lutar para que


mesmo leve para casa atividades extraclasse, se isso ocor-
possa dar vida as leis.
rer deve-se considerar com carga horária de trabalho.
O quarto aspecto é chamado de “Ação direta”, pois
visa à valorização dos projetos escolares e propostas dos
responsáveis que compõem o contexto escolar.
Gadotti afirma no quinto aspecto “A escola autônoma
cultiva a curiosidade, a paixão pelo estudo, o gosto pela
leitura e pela produção de textos escritos ou não”. Esta
escola em foca princípios de cidadania, possibilitando
um aprendizado criativo e questionador.

2
No sexto aspecto Gadotti afirma que uma escola ci- dos alunos poderá ocorrer o fracasso educacional.
dadã “É uma escola disciplinar”. Neste aspecto mostra a Segundo Gadotti (2000) “O educador é um medidor
necessidade da disciplina para que haja andamento pro- do conhecimento, diante do aluno que é o sujeito da sua
gressivo no contexto escolar. própria formação”. Ele precisa construir conhecimento
No sétimo aspecto “A escola não é mais um espaço de sua experiência para isso, também precisa ser curioso,
fechado. Sua ligação com o mundo se dá com trabalho”. buscar sentido para o que faz e apontar novos sentido
Neste aspecto a visão da escola cidadã está envolvida para o que fazer dos alunos.
com a classe trabalhadora, possibilitando ao educando O ensino e a pesquisa são fatos indissociáveis, um
adquirir experiências com o mundo exterior. não acontece sem o outro o aluno aprende quando o
No oitavo aspecto “A transformação da escola não se professor aprende, no entanto tal ensino o acompanha-
dá sem conflitos”. O termo conflito é usado por Gadotti rá não só na sua formação como cidadão, mas também
para demonstrar que a transformação da escola se dá profissionalmente.
com ato político e democrático. Na trajetória escolar o aluno se depara com diferen-
No nono aspecto “Não há duas escolas iguais”. Isto tes conteúdos sem entender o porquê e pra que, sobre
quer dizer que cada instituição tem as identidade e plu- isso a escola precisa conscientizar os alunos de sua fun-
ralidade de saberes, ou seja, as escolas são diferentes. damental importância que será utilizada na construção
No décimo aspecto Gadotti destaca que “Cada es- do seu projeto de vida, tanto individual quanto coletiva
cola deveria ser suficientemente autônoma para poder para viver bem numa sociedade.
organizar o seu trabalho de forma que quisesse, inclusive Sendo uma escola de maior autonomia ela será tam-
controlando e exonerando a critério do conselho da es- bém, de maior capacidade para chegar a um padrão na-
cola”. Nesse aspecto demonstra que a escola tem que cional de qualidade de ensino.
ter autonomia e democracia, a fim de buscar a origem Normalmente o professor tem que saber de muitas
do problema para conduzir a solução capaz de manter a coisas para ensinar, mas isso não é o mais importante,
organização do âmbito escolar. sobretudo é preciso ter sua própria identidade, não es-
Para Gadotti a escola do século 21 precisa proporcionar quecendo que um dia foram crianças, e que por isso de-
aos educandos, professores não só preparados, mas moti- vem se colocar no lugar dos seus alunos, compreenden-
vados com formação continuada devendo ser concebida do-os, pesquisando e valorizando seus sonhos para que
pelos mesmos como: reflexão, pesquisa, ação, descoberta, tenham um projeto de vida.
organização, fundamentação, revisão e construção teórica Educar é sempre impregnar de sentidos, ou seja, atra-
e não como mera aprendizagem de novas técnicas, atua- vés das experiências vivenciadas no âmbito escolar como
lização em novas receitas pedagógicas ou aprendizagem na vida cotidiana o indivíduo passa a entender e trans-
das últimas inovações tecnológicas recursos necessários formar o mundo e a si mesmo. Educar é não se omitir
para realização dos trabalhos e uma boa remuneração. A e mostrar a realidade, é conduzir o educando a tomar
instituição deve também dar subsídios para que os edu- decisões, a lutar, duvidar, desequilibrar enfim educar é
cadores possam refletir sobre sua metodologia de ensino, buscar melhorias para auxiliar seus alunos em prol do co-
seus projetos de vida, e sobre tudo desenvolver os pro- nhecimento. Como declara Gadotti: “Para que ocorra um
jetos políticos pedagógicos, sendo essencial no processo bom desenvolvimento no processo de ensino aprendiza-
ensino-aprendizagem. gem requer que o educador se empenhe e esteja sempre
pesquisando, buscando melhorias e ideias inovadoras.”
Para que ocorra uma boa aprendizagem, o professor Quanto à aprendizagem o professor tem uma res-
precisa ensinar com alegria, sem esquecer o que ele é, ponsabilidade muito grande, pois no âmbito escolar ele
ainda que seu trabalho não seja reconhecido como de- é um aprendiz permanente, construindo sentidos, coo-
veria, precisa se empenhar, estar sempre pesquisando, perando e tornando-se um organizador da aprendiza-
buscando melhoras para auxiliar seus educandos em prol gem que usará de estratégias para que o aluno adquira o
do conhecimento. Como declara Gadotti: conhecimento, sem esquecer que tanto um como outro
Espera-se do professor do século XXI que tenha pai- serão sempre aprendizes.
xão de ensinar, que esteja aberto para sempre aprender, A todo o momento o ser humano está aprendendo
aberto ao novo, que tenha domínio técnico-pedagógico, algo, e melhor ainda quando entende-se o porquê e
que saiba contar estórias, isto é, que construa narrativas para que aprender, como é o caso dos conteúdos que
sedutoras para seus alunos. Espera-se que saiba pes- são ensinados na escola. Aprender não é acumular co-
quisar, que saiba gerenciar uma sala de aula, significar a nhecimento. Aprendemos história não para acumular co-
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

aprendizagem dele e de seus alunos. Espera-se que saiba nhecimento, datas, informações, mas para saber como os
trabalhar em equipe, que seja solidário. (GADOTTI, 2008) seres humanos fizeram a história para fazermos história.
Outro fator importante é a conscientização pela bus- O importante é aprender a pensar (a realidade, não pen-
ca de métodos tecnológicos para se tornar uma institui- samentos), aprender a aprender. (GADOTTI, 2008)
ção de qualidade na sociedade atual, fazendo uso da TIC O projeto social e político é um forte aliado neste as-
(Tecnologia de Informação e Comunicação). pecto através dele podemos construir ideias favoráveis
No entanto para que o ensino se torne de qualida- para um aprendizado que transforme o ambiente escolar
de é preciso à interação e maior participação de pais ou num local que envolva gestão escolar, o corpo docente, e
responsável no processo ensino-aprendizagem, favore- a comunidade a comprometerem-se como agentes par-
cendo assim ambas as partes envolvidas nesse processo. ticipativos nesse processo.
Caso não haja essa interação e, sobretudo a participação Dessa forma, a educação se depara com grandes

3
desafios com isso vivemos numa sociedade de múltiplas BERG, G. D. A. O Estudo dos Fundamentos da Edu-
oportunidades que envolvem aprendizagem chamada de cação e sua Influência na Relação entre Comunidade
“sociedade aprendente”, aprender a desenvolver auto- e Escola.
nomia, ser bom pesquisador, compartilhar e desenvolver GALVÃO, A. S. C. Fundamentos da Educação. In:
o raciocínio lógico, ser disciplinado, organizado, saber Concepções da Educação no Mundo Contemporâneo.
articular o conhecimento com a prática e com uso de sa- Cap. I, 2010.
beres, conhecer as fontes de informação, com outros e
através da socialização construir saberes se posicionando
como aprendiz permanente.
OS PILARES DA EDUCAÇÃO: APRENDER A
Impregnados de informações o professor deve ser
curioso, buscar sentido para o que faz e apontar novos CONHECER, APRENDER A FAZER, APREN-
sentidos para o que fazer dos seus alunos dando-lhes DER A VIVER E APRENDER A SER
condições de construir e reconstruir seus conhecimentos
a partir do que faz.
A escola do século 21 só vai sobreviver se conseguir A didática, o processo de aprendizagem e a orga-
unir o ensino adaptado a sociedade em rede que se en- nização do processo didático.
contra em movimento constante.
“A beleza existe em todo lugar. Dependendo do nos- A didática é uma disciplina técnica e que tem como
so olhar, da nossa sensibilidade; depende da nossa cons- objeto específico a técnica de ensino (direção técnica da
ciência, do nosso trabalho e do nosso cuidado. A beleza aprendizagem). A Didática, portanto, estuda a técnica de
existe porque o ser humano é capaz de sonhar.” ensino em todos os aspectos práticos e operacionais, po-
dendo ser definida como:
Fonte “A técnica de estimular, dirigir e encaminhar, no
Disponível em decurso da aprendizagem, a formação do homem”.
http://pesquisaepraticapedagogicas.blogspot.com. (AGUAYO)
br/2012/06/moacir-gadotti.html
Didática Geral e Especial
A Didática Geral estuda os princípios, as normas e
as técnicas que devem regular qualquer tipo de ensino,
EXERCÍCIO COMENTADO para qualquer tipo de aluno.
A Didática Geral nos dar uma visão geral da atividade
1. (SEE-DF – Professor de Educação Básica – Supe- docente.
rior – CESPE/2017) Devido ao fato de a escola ser uma A Didática Especial estuda aspectos científicos de
instituição social, são os princípios e valores da socieda- uma determinada disciplina ou faixa de escolaridade. A
de que determinam seu projeto político-pedagógico Didática Especial analisa os problemas e as dificuldades
que o ensino de cada disciplina apresenta e organiza os
( ) CERTO ( ) ERRADO meios e as sugestões para resolve-los. Assim, temos as
didáticas especiais das línguas (francês, inglês, etc.); as
Resposta: Errado. A escola é considerada uma didáticas especiais das ciências (Física, Química, etc.).
instituição social e deve ter um projeto político-peda- Didática e Metodologia
gógico determinado pelos princípios e valores da so- Tanto a Didática como a metodologia estudam os
ciedade. A informação pode ser ratificada nos escritos métodos de ensino. Há, no entanto, diferença quanto ao
de José Carlos Libâneo, como Organização e gestão ponto de vista de cada uma. A Metodologia estuda os
Escolar, em que explica “As instituições escolares vêm métodos de ensino, classificando-os e descrevendo-os
sendo pressionadas a repensar seu papel diante das sem fazer juízo de valor.
transformações que caracterizam o acelerado proces- A Didática, por sua vez, faz um julgamento ou uma
so de integração e reestruturação capitalista mundial. crítica do valor dos métodos de ensino. Podemos dizer
De fato, o novo paradigma econômico, os avanços que a metodologia nos dá juízos de realidades, e a Didá-
científicos e tecnológicos, a reestruturação do siste- tica nos dá juízos de valor.
ma de produção e as mudanças no mundo do conhe-
cimento afetam a organização do trabalho e o perfil Juízos de realidade são juízos descritivos e cons-
tatativos.
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

dos trabalhadores, repercutindo na qualificação pro-


fissional e, por consequência, nos sistemas de ensino Exemplos:
e nas escolas”. O mesmo entendimento pode ser con-  Dois mais dois são quatro.
firmado, na obra de Ilma Passos Alencastro Veiga, em  Acham-se presentes na sala 50 alunos
Projeto Político-Pedagógico: uma construção coletiva,
quando ressalta que “A escola nessa perspectiva é vis- Juízos de valor são juízos que estabelecem valores
ta como uma instituição social, inserida na sociedade ou normas.
capitalista, que reflete no seu interior as determina-
ções e contradições dessa sociedade.”. Exemplo:
 A democracia é a melhor forma de governo.
Referência:  Os velhos merecem nosso respeito.

4
A partir dessa diferenciação, concluímos que pode- Sociologia da Educação, Psicologia da Educação, Biologia
mos ser metodologistas sem ser didáticos, mas não po- da Educação, Economia da educação e outras.
demos ser didáticos sem ser metodologistas, pois não A Didática é o principal ramo de estudos da Pedago-
podemos julgar sem conhecer. Por isso, o estudo da gia. Ela investiga os fundamentos, condições e modos de
metodologia é importante por uma razão muito simples: realização da instrução e do ensino. A ela cabe conver-
para escolher o método mais adequado de ensino preci- ter objetivos sócio-políticos e pedagógicos em objetivos
samos conhecer os métodos existentes. de ensino, selecionar conteúdos e métodos em função
desses objetivos, estabelecer os vínculos entre ensino e
Educação escolar, pedagogia e Didática aprendizagem, tendo em vista o desenvolvimento das
capacidades mentais dos alunos. A Didática está intima-
A educação escolar constitui-se num sistema de ins- mente ligada à Teoria da Educação e à Teoria da Orga-
trução e ensino com propósitos intencionais, práticas nização Escolar e, de modo muito especial, vincula-se
sistematizadas e alto grau de organização, ligado intima- a Teoria do Conhecimento e à Psicologia da Educação.
mente as demais práticas sociais. Pela educação escolar A Didática e as metodologias específicas das maté-
democratizam-se os conhecimentos, sendo na escola rias de ensino formam uma unidade, mantendo entre si
que os trabalhadores continuam tendo a oportunidade relações recíprocas. A Didática trata da teoria geral do
de prover escolarização formal aos seus filhos, adquirin- ensino. As metodologias específicas, integrando o cam-
do conhecimentos científicos e formando capacidades po da Didática, ocupam-se dos conteúdos e métodos
de pensar criticamente os problemas e desafios postos próprios de cada matéria na sua relação com fins edu-
pela realidade social. cacionais. A Didática, com base em seus vínculos com a
A Pedagogia é um campo de conhecimentos que in- Pedagogia , generaliza processos e procedimentos ob-
vestiga a natureza das finalidades da educação numa de- tidos na investigação das matérias específicas, das ciên-
terminada sociedade, bem como os meios apropriados cias que dão embasamento ao ensino e a aprendizagem
para a formação dos indivíduos, tendo em vista prepará- e das situações concretas da prática docente. Com isso,
-los para as tarefas da vida social. pode generalizar para todas as matérias, sem prejuízo
Uma vez que a prática educativa é o processo pelo das peculiaridades metodológicas de cada uma, o que
qual são assimilados conhecimentos e experiências acu- é comum e fundamental no processo educativo escolar.
mulados pela prática social da humanidade, cabe à Peda- Há uma estreita ligação da Didática com os de-
gogia assegura-lo, orientando-o para finalidades sociais mais campo do conhecimento pedagógico. A Filosofia
e políticas, e criando um conjunto de condições metodo- e a História da Educação ajudam a reflexão em torno
lógicas e organizativas para viabiliza-lo. das teorias educacionais, indagando em que consiste o
O caráter pedagógico da prática educativa se verifica ato educativo, seus condicionantes externos e internos,
como ação consciente, intencional e planejada no pro- seus fins e objetivos; busca os fundamentos da prática
cesso de formação humana, através de objetivos e meios docente.
estabelecidos por critérios socialmente determinados e A Sociologia da Educação estuda a educação com
que indicam o tipo de homem a formar, para qual so- processo social e ajuda os professores a reconhecerem
ciedade, com que propósitos. Vincula-se pois a opções as relações entre o trabalho docente e a sociedade. En-
sociais. A partir daí a Pedagogia pode dirigir e orientar a sina a ver a realidade social no seu movimento, a partir
formulação de objetivos e meios do processo educativo. da dependência mútua entre seus elementos constituti-
Podemos, agora, explicar as relações entre educação vos, para determinar os nexos constitutivos da realidade
escolar. Pedagogia e ensino: a educação escolar, mani- educacional. A partir disso estuda a escola como “fenô-
festação peculiar do processo educativo global: a Peda- meno sociológico”, isto é, uma organização social que
gogia como determinação do rumo desse processo em tem a sua estrutura interna de funcionamento interliga-
suas finalidades e meios de ação; o ensino como campo da ao mesmo tempo com outras organizações sociais(-
específico da instrução e educação escolar. Podemos di- conselhos de pais, associações de bairros, sindicatos,
zer que o processo de ensino-aprendizagem é, funda- partidos políticos). A própria sala de aula é um ambiente
mentalmente, um trabalho pedagógico no qual se con- social que forma, junto com a escola como um todo, o
jugam fatores externos e internos. De um lado, atuam na ambiente global da atividade docente organizado para
formação humana como direção consciente e planejada, cumprir os objetivos de ensino.
através de objetivos/conteúdos/métodos e formas de or- A Psicologia da Educação estuda importantes aspec-
ganização propostos pela escola e pelos professores; de tos do processo de ensino e da aprendizagem, como as
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

outro, essa influência externa depende de fatores inter- implicações das fases de desenvolvimento dos alunos
nos, tais como as condições físicas, psíquicas e sócio-cul- conforme idades e os mecanismos psicológicos presen-
turais do alunos. tes na assimilação ativa de conhecimentos e habilidades.
A Pedagogia sendo ciência da e para a educação, es- A psicologia aborda questões como: o funcionamento
tuda a educação, a instrução e o ensino. Para tanto com- da atividade mental, a influência do ensino no desen-
põe-se de ramos de estudo próprios como a Teoria da volvimento intelectual, a ativação das potencialidades
Educação, a Didática, a Organização Escolar e a História mentais para a aprendizagem, organização das relações
da Educação e da Pedagogia. Ao mesmo tempo, busca professor-alunos e dos alunos entre si, a estimulação e o
em outras ciências os conhecimentos teóricos e práticos despertamento do gosto pelo estudo etc.
que concorrem para o esclarecimento do seu objeto, o A Estrutura e Funcionamento do Ensino inclui ques-
fenômeno educativo. São elas a Filosofia da Educação, tões da organização do sistema escolar nos seus aspectos

5
políticos e legais, administrativos, e aspectos do funcio- específica do ensino (LIBÂNEO, 1994. Pág. 82).
namento interno da escola como a estrutura organiza- Esses tipos de aprendizagem tem grande relevância
cional e administrativa, planos e programas, organização na assimilação ativa dos indivíduos, favorecendo um co-
do trabalho pedagógico e das atividades discentes etc.1 nhecimento a partir das circunstâncias vivenciadas pelo
mesmo.
O Processo Didático Pedagógico de Ensinar e O processo de assimilação de determinados conhe-
Aprender cimentos, habilidades, percepção e reflexão é desenvol-
vido por meios atitudinais, motivacionais e intelectuais
Didática é considerada como arte e ciência do ensi- do aluno, sendo o professor o principal orientador des-
no, o objetivo deste artigo é analisar o processo didá- se processo de assimilação ativa, é através disso que se
tico educativo e suas contribuições positivas para um pode adquirir um melhor entendimento, favorecendo
melhor desempenho no processo de ensino-aprendiza- um desenvolvimento cognitivo.
gem. Como arte a didática não objetiva apenas o conhe- Através do ensino podemos compreender o ato de
cimento por conhecimento, mas procura aplicar os seus aprender que é o ato no qual assimilamos mentalmente
próprios princípios com a finalidade de desenvolver no os fatos e as relações da natureza e da sociedade. Esse
individuo as habilidades cognoscitivas, tornando-os crí- processo de assimilação de conhecimentos é resultado
ticos e reflexivos, desenvolvendo assim um pensamento da reflexão proporcionada pela percepção prático-sen-
independente. sorial e pelas ações mentais que caracterizam o pensa-
Nesse Artigo abordamos esse assunto acerca das mento (Libâneo, 1994). Entendida como fundamental no
visões de Libâneo (1994), destacando as relações e os processo de ensino a assimilação ativa desenvolve no in-
processos didáticos de ensino e aprendizagem, o caráter dividuo a capacidade de lógica e raciocínio, facilitando o
educativo e crítico desse processo de ensino, levando em processo de aprendizagem do aluno.
consideração o trabalho docente além da organização da Sempre estamos aprendendo, seja de maneira siste-
aula e seus componentes didáticos do processo educa- mática ou de forma espontânea, teoricamente podemos
cional tais como objetivos, conteúdos, métodos, meios dizer que há dois níveis de aprendizagem humana: o re-
de ensino e avaliação. Concluímos o nosso trabalho res- flexo e o cognitivo. O nível reflexo refere-se às nossas
saltando a importância da didática no processo educati- sensações pelas quais desenvolvemos processos de ob-
vo de ensino e aprendizagem. servação e percepção das coisas e nossas ações físicas no
ambiente. Este tipo de aprendizagem é responsável pela
Processos Didáticos Básicos, Ensino e Aprendiza- formação de hábitos sensório motor (Libâneo, 1994).
gem. O nível cognitivo refere-se à aprendizagem de de-
terminados conhecimentos e operações mentais, ca-
A Didática é o principal ramo de estudo da pedago- racterizada pela apreensão consciente, compreensão e
gia, pois ela situa-se num conjunto de conhecimentos generalização das propriedades e relações essenciais da
pedagógicos, investiga os fundamentos, as condições e realidade, bem como pela aquisição de modos de ação
os modos de realização da instrução e do ensino, portan- e aplicação referentes a essas propriedades e relações
to é considerada a ciência de ensinar. Nesse contexto, o (Libâneo, 1994). De acordo com esse contexto podemos
professor tem como papel principal garantir uma relação despertar uma aprendizagem autônoma, seja no meio
didática entre ensino e aprendizagem através da arte de escolar ou no ambiente em que estamos.
ensinar, pois ambos fazem parte de um mesmo proces- Pelo meio cognitivo, os indivíduos aprendem tanto
so. Segundo Libâneo (1994), o professor tem o dever de pelo contato com as coisas no ambiente, como pelas
planejar, dirigir e controlar esse processo de ensino, bem palavras que designam das coisas e dos fenômenos do
como estimular as atividades e competências próprias do ambiente. Portanto as palavras são importantes condi-
aluno para a sua aprendizagem. ções de aprendizagem, pois através delas são formados
A condição do processo de ensino requer uma clara conceitos pelos quais podemos pensar.
e segura compreensão do processo de aprendizagem, O ensino é o principal meio de progresso intelectual
ou seja, deseja entender como as pessoas aprendem e dos alunos, através dele é possível adquirir conhecimen-
quais as condições que influenciam para esse aprendi- tos e habilidades individuais e coletivas. Por meio do en-
zado. Sendo assim Libâneo (1994) ressalta que podemos sino, o professor transmite os conteúdos de forma que
distinguir a aprendizagem em dois tipos: aprendizagem os alunos assimilem esse conhecimento, auxiliando no
casual e a aprendizagem organizada. desenvolvimento intelectual, reflexivo e crítico.
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

a. Aprendizagem casual: É quase sempre espontânea, Por meio do processo de ensino o professor pode al-
surge naturalmente da interação entre as pessoas com o cançar seu objetivo de aprendizagem, essa atividade de
ambiente em que vivem, ou seja, através da convivência ensino está ligada à vida social mais ampla, chamada de
social, observação de objetos e acontecimentos. prática social, portanto o papel fundamental do ensino
b. Aprendizagem organizada: É aquela que tem por é mediar à relação entre indivíduos, escola e sociedade.
finalidade específica aprender determinados conheci-
mentos, habilidades e normas de convivência social. Este O Caráter Educativo do Processo de Ensino e o En-
tipo de aprendizagem é transmitido pela escola, que é sino Crítico.
uma organização intencional, planejada e sistemática, as
finalidades e condições da aprendizagem escolar é tarefa De acordo com Libâneo (1994), o processo de ensino,
ao mesmo tempo em que realiza as tarefas da instrução
1 Fonte: www.pedagogiadidatica.blogspot.com.br

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de crianças e jovens, também é um processo educacional. educador busca melhor transmitir os conteúdos, ensina-
No desempenho de sua profissão, o professor deve mentos e conhecimentos de uma disciplina, utilizando-
ter em mente a formação da personalidade dos alunos, -se dos recursos disponíveis e das habilidades que possui
não apenas no aspecto intelectual, como também nos para infundir no aluno o desejo pelo saber.
aspectos morais, afetivos e físicos. Como resultado do Deve-se ainda compreender a aula como um conjun-
trabalho escolar, os alunos vão formando o senso de ob- to de meios e condições por meio das quais o professor
servação, a capacidade de exame objetivo e crítico de orienta, guia e fornece estímulos ao processo de ensino
fatos e fenômenos da natureza e das relações sociais, em função da atividade própria dos alunos, ou seja, da
habilidades de expressão verbal e escrita. A unidade ins- assimilação e desenvolvimento de habilidades naturais
trução-educação se reflete, assim, na formação de ati- do aluno na aprendizagem educacional. Sendo a aula
tudes e convicções frente à realidade, no transcorrer do um lugar privilegiado da vida pedagógica refere-se às di-
processo de ensino. mensões do processo didático preparado pelo professor
O processo de ensino deve estimular o desejo e o e por seus alunos.
gosto pelo estudo, mostrando assim a importância do Aula é toda situação didática na qual se põem obje-
conhecimento para a vida e o trabalho, (LIBÂNEO, 1994). tivos, conhecimentos, problemas, desafios com fins ins-
Nesse processo o professor deve criar situações que trutivos e formativos, que incitam as crianças e jovens a
estimule o indivíduo a pensar, analisar e relacionar os as- aprender (LIBÂNEO, 1994- Pág.178). Cada aula é única,
pectos estudados com a realidade que vive. Essa reali- pois ela possui seus próprios objetivos e métodos que
zação consciente das tarefas de ensino e aprendizagem devem ir de acordo com a necessidade observada no
é uma fonte de convicções, princípios e ações que irão educando.
relacionar as práticas educativas dos alunos, propondo A aula é norteada por uma série de componentes,
situações reais que faça com que os individuo reflita e que vão conduzir o processo didático facilitando tanto o
analise de acordo com sua realidade (TAVARES, 2011). desenvolvimento das atividades educacionais pelo edu-
Entretanto o caráter educativo está relacionado aos cador como a compreensão e entendimento pelos indiví-
objetivos do ensino crítico e é realizado dentro do pro- duos em formação; ela deve, pois, ter uma estruturação e
cesso de ensino. È através desse processo que acontece a organização, afim de que sejam alcançados os objetivos
formação da consciência crítica dos indivíduos, fazendo- do ensino.
-os pensar independentemente, por isso o ensino crítico, Ao preparar uma aula o professor deve estar atento
chamado assim por implicar diretamente nos objetivos às quais interesses e necessidades almeja atender, o que
sócio-políticos e pedagógicos, também os conteúdos, pretende com a aula, quais seus objetivos e o que é de
métodos escolhidos e organizados mediante determina- caráter urgente naquele momento. A organização e es-
da postura frente ao contexto das relações sociais vigen- truturação didática da aula têm por finalidade proporcio-
tes da prática social, (LIBÂNEO, 1994). nar um trabalho mais significativo e bem elaborado para
È através desse ensino crítico que os processos men- a transmissão dos conteúdos. O estabelecimento desses
tais são desenvolvidos, formando assim uma atitude in- caminhos proporciona ao professor um maior controle
telectual. Nesse contexto os conteúdos deixam de serem do processo e aos alunos uma orientação mais eficaz,
apenas matérias, e passam então a ser transmitidos pelo que vá de acordo com previsto.
professor aos seus alunos formando assim um pensa- As indicações das etapas para o desenvolvimento
mento independente, para que esses indivíduos bus- da aula, não significa que todas elas devam seguir um
quem resolver os problemas postos pela sociedade de cronograma rígido (LIBÂNEO, 1994-Pág. 179), pois isso
uma maneira criativa e reflexiva. depende dos objetivos, conteúdos da disciplina, recur-
sos disponíveis e das características dos alunos e de cada
A Organização da Aula e seus Componentes Didá- aluno e situações didáticas especificas.
ticos do Processo Educacional Dentro da organização da aula destacaremos agora
seus Componentes Didáticos, que são também aborda-
A aula é a forma predominante pela qual é organiza- dos em alguns trabalhos como elementos estruturan-
do o processo de ensino e aprendizagem. É o meio pelo tes do ensino didático. São eles: os objetivos (gerais e
qual o professor transmite aos seus alunos conhecimen- específicos), os conteúdos, os métodos, os meios e as
tos adquirido no seu processo de formação, experiên- avaliações.
cias de vida, conteúdos específicos para a superação de
dificuldades e meios para a construção de seu próprio Objetivos
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

conhecimento, nesse sentido sendo protagonista de sua


formação humana e escolar. São metas que se deseja alcançar, para isso usa-se
É ainda o espaço de interação entre o professor e o de diversos meios para se chegar ao esperado. Os ob-
indivíduo em formação constituindo um espaço de troca jetivos educacionais expressam propósitos definidos,
mútua. A aula é o ambiente propício para se pensar, criar, pois o professor quando vai ministrar a aula já vai com
desenvolver e aprimorar conhecimentos, habilidades, ati- os objetivos definidos. Eles têm por finalidade, preparar
tudes e conceitos, é também onde surgem os questio- o docente para determinar o que se requer com o pro-
namentos, indagações e respostas, em uma busca ativa cesso de ensino, isto é prepará-lo para estabelecer quais
pelo esclarecimento e entendimento acerca desses ques- as metas a serem alcançadas, eles constituem uma ação
tionamentos e investigações. intencional e sistemática.
Por intermédio de um conjunto de métodos, o Os objetivos são exigências que requerem do

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professor um posicionamento reflexivo, que o leve a perceber as propriedades e características do objeto de
questionamentos sobre a sua própria prática, sobre os estudo, estabelecer relações entre um conhecimento e
conteúdos os materiais e os métodos pelos quais as prá- outro, adquirir métodos de raciocínio, capacidade de
ticas educativas se concretizam. Ao elaborar um plano pensar por si próprios, fazer comparações entre fatos e
de aula, por exemplo, o professor deve levar em conta acontecimentos, formar conceitos para lidar com eles no
muitos questionamentos acerca dos objetivos que aspira, dia-a-dia de modo que sejam instrumentos mentais para
como O que? Para que? Como? E Para quem ensinar?, e aplicá-los em situações da vida prática (LIBÂNEO 2001,
isso só irá melhorar didaticamente as suas ações no pla- pág. 09). Neste contexto pretende-se que os conteúdos
nejamento da aula.  aplicados pelo professor tenham como fundamento não
Não há prática educativa sem objetivos; uma vez que só a transmissão das informações de uma disciplina, mas
estes integram o ponto de partida, as premissas gerais que esses conteúdos apresentem relação com a realida-
para o processo pedagógico (LIBÂNEO, 1994- pág.122). de dos discentes e que sirvam para que os mesmos pos-
Os objetivos são um guia para orientar a prática educa- sam enfrentar os desafios impostos pela vida cotidiana.
tiva sem os quais não haveria uma lógica para orientar o Estes devem também proporcionar o desenvolvimento
processo educativo. das capacidades intelectuais e cognitivas do aluno, que
Para que o processo de ensino-aprendizagem acon- o levem ao desenvolvimento critico e reflexivo acerca da
teça de modo mais organizado faz-se necessário, clas- sociedade que integram.
sificar os objetivos de acordo com os seus propósitos e Os conteúdos de ensino devem ser vistos como uma
abrangência, se são mais amplos, denominados objeti- relação entre os seus componentes, matéria, ensino e o
vos gerais e se são destinados a determinados fins com conhecimento que cada aluno já traz consigo. Pois não
relação aos alunos, chamados de objetivos específicos. basta apenas a seleção e organização lógica dos conteú-
a. Objetivos Gerais: exprimem propósitos mais am- dos para transmiti-los. Antes os conteúdos devem incluir
plos acerca do papel da escola e do ensino diante elementos da vivência prática dos alunos para torná-los
das exigências postas pela realidade social e diante mais significativos, mais vivos, mais vitais, de modo que
do desenvolvimento da personalidade dos alunos eles possam assimilá-los de forma ativa e consciente
(LIBANÊO, 1994- pág. 121). Por isso ele também (LIBÂNEO, 1994 pág. 128). Ao proferir estas palavras,
afirma que os objetivos educacionais transcendem o autor aponta para um elemento de fundamental im-
o espaço da sala de aula atuando na capacitação portância na preparação da aula, a contextualização dos
do indivíduo para as lutas sociais de transformação conteúdos.
da sociedade, e isso fica claro, uma vez que os ob-
jetivos têm por fim formar cidadãos que venham a a. Contextualização dos conteúdos
atender os anseios da coletividade. A contextualização consiste em trazer para dentro da
b. Objetivos Específicos: compreendem as intencio- sala de aula questões presentes no dia a dia do aluno e
nalidades específicas para a disciplina, os cami- que vão contribuir para melhorar o processo de ensino
nhos traçados para que se possa alcançar o maior e aprendizagem do mesmo. Valorizando desta forma o
entendimento, desenvolvimento de habilidades contexto social em que ele está inserido e proporcionan-
por parte dos alunos que só se concretizam no de- do a reflexão sobre o meio em que se encontra, levando-
correr do processo de transmissão e assimilação -o a agir como construtor e transformador deste. Então,
dos estudos propostos pelas disciplinas de ensi- pois, ao selecionar e organizar os conteúdos de ensino
no e aprendizagem. Expressam as expectativas do de uma aula o professor deve levar em consideração a
professor sobre o que deseja obter dos alunos no realidade vivenciada pelos alunos.
decorrer do processo de ensino. Têm sempre um
caráter pedagógico, porque explicitam a direção a b. A relação professor-aluno no processo de ensi-
ser estabelecida ao trabalho escolar, em torno de no e aprendizagem:
um programa de formação. (TAVARES, 2001- Pág. O professor no processo de ensino é o mediador en-
66). tre o indivíduo em formação e os conhecimentos prévios
de uma matéria. Tem como função planejar, orientar a
Conteúdos direção dos conteúdos, visando à assimilação constante
pelos alunos e o desenvolvimento de suas capacidades
Os conteúdos de ensino são constituídos por um con- e habilidades. É uma ação conjunta em que o educador
junto de conhecimentos. É a forma pela qual, o professor é o promotor, que faz questionamentos, propõem pro-
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

expõem os saberes de uma disciplina para ser trabalhado blemas, instiga, faz desafios nas atividades e o educando
por ele e pelos seus alunos. Esses saberes são advindos é o receptor ativo e atuante, que através de suas ações
do conjunto social formado pela cultura, a ciência, a téc- responde ao proposto produzindo assim conhecimentos.
nica e a arte. Constituem ainda o elemento de mediação O papel do professor é levar o aluno a desenvolver sua
no processo de ensino, pois permitem ao discente atra- autonomia de pensamento.     
vés da assimilação o conhecimento  histórico, cientifico,
cultural acerca do mundo e possibilitam ainda a constru- Métodos de Ensino
ção de convicções e conceitos.
O professor, na sala de aula, utiliza-se dos conteú- Métodos de ensino são as formas que o professor or-
dos da matéria para ajudar os alunos a desenvolverem ganiza as suas atividades de ensino e de seus alunos com
competências e habilidades de observar a realidade, a finalidade de atingir objetivos do trabalho docente em

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relação aos conteúdos específicos que serão aplicados. cíficos da educação escolar. Ao comprovar os resultados
Os métodos de ensino regulam as formas de interação do processo de ensino, evidencia ou não o atendimen-
entre ensino e aprendizagem, professor e os alunos, na to das finalidades sociais do ensino, de preparação dos
qual os resultados obtidos é assimilação consciente de alunos para enfrentar as exigências da sociedade e in-
conhecimentos e desenvolvimento das capacidades cog- seri-los ao meio social. Ao mesmo tempo, favorece uma
noscitivas e operativas dos alunos. atitude mais responsável do aluno em relação ao estudo,
Segundo Libâneo (1994) a escolha e organização assumindo-o como um dever social. Já a função de diag-
os métodos de ensino devem corresponder à necessá- nóstico permite identificar progressos e dificuldades dos
ria unidade objetivos-conteúdos-métodos e formas de alunos e a atuação do professor que, por sua vez, deter-
organização do ensino e as condições concretas das si- minam modificações do processo de ensino para melhor
tuações didáticas. Os métodos de ensino dependem das cumprir as exigências dos objetivos. A função do controle
ações imediatas em sala de aula, dos conteúdos específi- se refere aos meios e a frequência das verificações e de
cos, de métodos peculiares de cada disciplina e assimila- qualificação dos resultados escolares, possibilitando o
ção, além disso, esses métodos implica o conhecimento diagnóstico das situações didáticas (LIBÂNEO, 1994).
das características dos alunos quanto à capacidade de No entanto a avaliação na pratica escolar nas esco-
assimilação de conteúdos conforme a idade e o nível de las tem sido bastante criticada sobre tudo por reduzir-se
desenvolvimento mental e físico e suas características so- à sua função de controle, mediante a qual se faz uma
cioculturais e individuais. classificação quantitativa dos alunos relativa às notas que
A relação objetivo-conteúdo-método procuram mos- obtiveram nas provas. Os professores não tem consegui-
trar que essas unidades constituem a linhagem funda- do usar os procedimentos de avaliação que sem dúvida,
mental de compreensão do processo didático: os objeti- implicam o levantamento de dados por meio de testes,
vos, explicitando os propósitos pedagógicos intencionais trabalhos escritos etc. Em relação aos objetivos, funções
e planejados de instrução e educação dos alunos, para a e papel da avaliação na melhoria das atividades escolares
participação na vida social; os conteúdos, constituindo e educativas, tem-se verificado na pratica escolar alguns
a base informativa concreta para alcançar os objetivos e equívocos. (LIBÂNEO, Pág. 198- 1994).
determinar os métodos; os métodos, formando a totali- O mais comum é tomar a avaliação unicamente como
dade dos passos, formas didáticas e meios organizativos o ato de aplicar provas, atribuir notas e classificar os alu-
do ensino que viabilizam a assimilação dos conteúdos, e nos. O professor reduz a avaliação à cobrança daquilo
assim, o atingimento dos objetivos. que o aluno memorizou e usa a nota somente como
No trabalho docente, os professores selecionam e instrumento de controle. Tal ideia é descabida, primei-
organizam seus métodos e procedimentos didáticos de ro porque a atribuição de notas visa apenas o controle
acordo com cada matéria. Dessa forma destacamos os formal, com objetivo classificatório e não educativo; se-
principais métodos de ensino utilizado pelo professor gundo porque o que importa é o veredito do professor
em sala de aula: método de exposição pelo professor, sobre o grau de adequação e conformidade do aluno ao
método de trabalho independente, método de elabo- conteúdo que transmite. Outro equívoco é utilizar a ava-
ração conjunta, método de trabalho em grupo. Nestes liação como recompensa aos bons alunos e punição para
métodos, os conhecimentos, habilidades e tarefas são os desinteressados, além disso, os professores confiam
apresentados, explicadas e demonstradas pelo professor, demais em seu olho clínico, dispensam verificações par-
além dos trabalhos planejados individuais, a elaboração ciais no decorrer das aulas e aqueles que rejeitam as me-
conjunta de atividades entre professores e alunos visan- didas quantitativas de aprendizagem em favor de dados
do à obtenção de novos conhecimentos e os trabalhos qualitativos (LIBÂNEO, 1994).
em grupo. Dessa maneira designamos todos os meios e O entendimento correto da avaliação consiste em
recursos matérias utilizados pelo professor e pelos alu- considerar a relação mútua entre os aspectos quantita-
nos para organização e condução metódica do processo tivos e qualitativos. A escola cumpre uma função deter-
de ensino e aprendizagem (LIBÂNEO, 1994 Pág. 173). minada socialmente, a de introduzir as crianças, jovens e
adultos no mundo da cultura e do trabalho, tal objetivo
Avaliação Escolar não surge espontaneamente na experiência das crianças,
jovens e adultos, mas supõe as perspectivas traçadas pela
A avaliação escolar é uma tarefa didática necessária sociedade e controle por parte do professor. Por outro
para o trabalho docente, que deve ser acompanhado lado, a relação pedagógica requer a independência entre
passo a passo no processo de ensino e aprendizagem. influências externas e condições internas do aluno, pois
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

Através da mesma, os resultados vão sendo obtidos no nesse contexto o professor deve organizar o ensino ob-
decorrer do trabalho em conjunto entre professores jetivando o desenvolvimento autônomo e independente
e alunos, a fim de constatar progressos, dificuldades e do aluno (LIBÂNEO, 1994).2
orientá-los em seus trabalhos para as correções necessá-
rias. Libâneo (1994). Didática e Organização Do Ensino
A avaliação escolar é uma tarefa complexa que não se
resume à realização de provas e atribuição de notas, ela Um breve resgate histórico da Didática no Brasil é
cumpre funções pedagógico-didáticas, de diagnóstico e de fundamental importância para compreender o lugar
de controle em relação ao rendimento escolar. que essa área do conhecimento ocupa na formação do
A função pedagógico-didática refere-se ao papel da
2 Fonte: www.meuartigo.brasilescola.uol.com.br - Elieide Pereira dos
avaliação no cumprimento dos objetivos gerais e espe-
Santos/Isleide Carvalho Batista/Mayane Leite da Silva Souza

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professor hoje. Isso porque entendemos que a organiza- Pedagogia Crítico-social dos Conteúdos, sistematizada
ção curricular dos cursos de licenciatura nas novas pro- por José Carlos Libâneo (1985), caminham nessa direção.
postas para os cursos de licenciaturas expressa a relação Do ponto de vista didático, o ensino orienta-se pelo eixo
social básica do sistema nesse momento histórico. Data da transmissão-assimilação ativa de conhecimentos. Dirá
de 1972 o I Encontro Nacional de Professores de Didáti- Libâneo (1985 p. 127-128):
ca realizado na Universidade de Brasília, período pós-64, A pedagogia crítico-social dos conteúdos valoriza
momento histórico em que o planejamento educacio- a instrução enquanto domínio do saber sistematizado
nal é considerado “área prioritária”, integrado ao Plano e os meios de ensino, enquanto processo de desenvolvi-
Nacional de Desenvolvimento, e a educação passa a ser mento das capacidades cognitivas dos alunos e viabili-
vista como fator de desenvolvimento, investimento indi- zação da atividade de transmissão/assimilação ativa de
vidual e social. Nesse momento discute-se a necessidade conhecimentos.
de formar um novo professor tecnicamente competen- Nessa proposta, o elemento central está calcado na
te e comprometido com o programa político-econômi- concepção segundo a qual a aprendizagem se faz fun-
co do país. E a formação do professor passa a se fazer damentalmente a partir do domínio da teoria. A prática
por meio de treinamentos, em que são transmitidos os decorre da teoria. Daí a importância do racional, do cog-
instrumentos técnicos necessários à aplicação do conhe- nitivo, do pensamento. Nessa concepção, a ação prática
cimento científico, fundado na qualidade dos produtos, é guiada pela teoria. Valoriza-se o pensamento sobre a
eficiência e eficácia. A racionalização do processo apare- ação.
ce como necessidade básica para o alcance dos objetivos Por outro lado, grupos mais radicais se voltam para a
do ensino e o planejamento tem papel central na sua alteração dos próprios processos de produção do conhe-
organização. cimento; das relações sociais. A Pedagogia dos Conflitos
Dez anos depois, em 1982, realiza-se no Rio de Ja- Sociais, de Oder José dos Santos (1992), base teórica da
neiro o I Seminário A Didática em Questão num período Sistematização coletiva do conhecimento, proposta por
marcado pela abertura política do regime militar insta- Martins (1998), caminha nessa direção.
lado em 1964 e pelo acirramento das lutas de classe no Passa-se a discutir a importância de se romper com
país. o eixo da transmissão-assimilação dos conteúdos, ainda
Nesse momento histórico, enfatiza-se a necessidade que críticos, buscando um processo de ensino que altere,
de formar educadores críticos e conscientes do papel na prática, suas relações básicas na direção da sistema-
da educação na sociedade, e mais, comprometidos com tização coletiva do conhecimento. Dirá Martins, (2009,
as necessidades das camadas populares cada vez mais p.175)
presentes na escola e cedo dela excluídos. A dimensão Um dos pontos-chave da nova proposta pedagógica
política do ato pedagógico torna-se objeto de discussão encontra-se na alteração do processo de ensino e não
e análise, e a contextualização da prática pedagógica, apenas na alteração do discurso a respeito dele. (...) não
buscando compreender a íntima relação entre a prática basta transmitir ao futuro professor um conteúdo mais
escolar e a estrutura social mais ampla, passa a ser fun- crítico; (...) é preciso romper com o eixo da transmissão-
damental. Esses desafios marcaram a década de oitenta -assimilação em que se distribui um saber sistematizado
como um período de intenso movimento de revisão crí- falando sobre ele. .
tica e reconstrução da Didática no Brasil. Desse movimento resultaram alterações na organiza-
Ao longo da década de oitenta, as produções teóricas ção das escolas, nos cursos de formação de professores,
dos educadores expressam tentativas de dar conta des- nas produções acadêmicas dos estudiosos da área e fun-
sa nova situação. Tomando como parâmetro a questão damentalmente na prática pedagógica dos professores
da relação teoria-prática, podemos identificar processos de todos os níveis de ensino. Nesse período, os profes-
distintos que procuram ampliar a discussão da Didática, sores intensificaram suas iniciativas para fazer frente às
iniciada por Candau (1984), em reação ao modelo peda- contradições do sistema e produziram saberes pedagó-
gógico centrado no campo da instrumentalidade. gicos nas suas próprias práticas.
A autora propõe uma Didática Fundamental, que, nas Nesse contexto, uma pesquisa-ensino longitudinal
palavras de Freitas (1995, p.22), “(...) mais do que um en- realizada por Martins (1998) acompanhando durante dez
foque propriamente dito, foi um amplo movimento de anos as iniciativas dos professores de todos os níveis de
reação a um tipo de didática baseada na neutralidade”. ensino, além da produção da área, resultou na sistemati-
Desta forma, o movimento que inicialmente incluiu zação de três momentos fundamentais, com ênfases es-
uma crítica e uma denúncia ao caráter meramente instru- pecíficas, nas discussões e práticas da didática na forma-
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

mental da Didática avançou em seguida para a busca de ção de professores. Esses momentos, que não se anulam,
alternativas e reconstrução do conhecimento da área. E, mas se interpenetram, devem ser entendidos como uma
em oposição ao modelo pedagógico centrado no campo parte de um todo, quais sejam: (i) a Dimensão política do
da instrumentalidade, grupos de educadores passam a ato pedagógico (1985/88); (ii) a organização do trabalho
discutir a importância de formar uma consciência crítica na escola (1989/93); (iii) a produção e sistematização co-
nos professores para que estes coloquem em prática as letivas de conhecimento (1994/2000).
formas mais críticas de ensino, articuladas aos interesses O primeiro momento a Dimensão política do ato pe-
e necessidades práticas das camadas populares, tendo dagógico é marcado por intensa movimentação social no
em vista garantir sua permanência na escola pública. Brasil, que consolida novas formas de organização e mo-
Propostas expressivas como a Pedagogia Históri- bilização quando os grupos sociais se definem como clas-
cocrítica, de Dermeval Saviani (1983), base teórica da se. Passa-se, então, a dar ênfase à problemática política.

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Os professores, no seu dia-a-dia, na sala de aula e na es- tópicos, incluindo habilidades motoras, habilidades em
cola reclamam da predeterminação do seu trabalho por solução de problemas, entendimento conceitual, aquisi-
instâncias superiores, estão querendo participar e essa ção de linguagem, entendimento da moral e formação
participação tem um caráter eminentemente político. A da identidade.
centralidade do planejamento passa a ser questionada. Psicólogos desenvolvimentistas investigaram ques-
Já no final da década de oitenta e início dos anos no- tões fundamentais, tais como saber se as crianças são
venta, avança-se para as discussões em torno da orga- qualitativamente diferentes dos adultos ou simplesmen-
nização do trabalho na escola (1989/93), segundo mo- te falta a experiência que em adultos têm.
mento. Ocorre uma intensificação da quebra do sistema Questões importantes para o desenvolvimento
organizacional da escola. Os professores já se compreen- Três questões importantes que dizem respeito à natu-
dem e se posicionam como trabalhadores, assalariados; reza do desenvolvimento.
organizam-se em sindicatos, participam de movimen- Uma delas diz que o desenvolvimento ocorre através
tos reivindicatórios. Na escola, vão quebrando normas, da acumulação gradual de conhecimento ou por turnos
tomando iniciativas que consolidem novas formas de a partir de uma fase de reflexão para o outro.
organização da escola e da relação professor, aluno e A outra questão tenta saber se as crianças nascem
conhecimento. com conhecimento inato ou se o adquirem a partir da
À medida que se verificam alterações no interior da experiência.
organização escolar, por iniciativa de seus agentes, in- Uma terceira área significativa da investigação analisa
tensifica-se a busca da produção e sistematização co- contextos sociais que afetam o desenvolvimento.
letivas de conhecimento e a ênfase na problemática do
aluno como sujeito vai se aprofundando. No período Fatores que influenciam o desenvolvimento hu-
1994/2000, o aluno passa a ser concebido como um ser mano
historicamente situado, pertencente a uma determinada
classe, portador de uma prática social com interesses Vários fatores indissociados e em constante interação
próprios e um conhecimento que adquire nessa prática, afetam todos os aspectos do desenvolvimento humano,
os quais não podem mais ser ignorados pela escola. são eles:
Esse período se relaciona com os anteriores através • Hereditariedade:
da problemática da interdisciplinaridade, que passa a ser A carga genética estabelece o potencial do indivíduo,
uma questão importante. que pode ou não se desenvolver.
Com efeito, o movimento histórico do final do século
passado provocou uma alteração na concepção de co- • Crescimento orgânico:
nhecimento que deu um passo à frente em relação aos Refere-se ao aspecto físico.
modelos anteriores. Trata-se de um processo didático • Maturação neurofisiológica:
pautado numa concepção de conhecimento que tem a É o que torna possível determinado padrão de
prática como elemento básico, fazendo a mediação entre comportamento.
a realidade e o pensamento. Nessa concepção a teoria
não é entendida como verdade que vai guiar a ação prá- • Meio:
tica, mas como expressão de uma relação, de uma ação O conjunto de influências e estimulações ambientais
sobre a realidade, que pode indicar caminhos para no- altera os padrões de comportamento do indivíduo.
vas práticas; nunca guiá-la. Desse princípio básico, deli-
neia-se um modelo aberto de Didática que vai além de Aspectos do desenvolvimento humano
compreender o processo de ensino em suas múltiplas
determinações para intervir nele e reorientá-lo na dire- O desenvolvimento humano deve ser entendido
ção política pretendida (MARTINS, 2008, p.176); ela vai como uma globalidade, mas para efeito de estudo, tem
expressara ação prática dos professores, sendo uma for- sido abordado a partir de quatro aspectos básicos (todos
ma de abrir caminhos possíveis para novas ações. os aspectos relacionam-se permanentemente):
Acompanhando esse movimento, nesse momento • Aspecto físico-motor: refere-se ao crescimento
histórico, algumas questões se colocam: quais são as orgânico, à maturação neurofisiológica, à capaci-
prioridades estabelecidas pelos cursos de licenciatu- dade de manipulação de objetos e de exercício do
ras para a formação de professores nesse início de sé- próprio corpo. EX: a criança leva a chupeta à boca
culo? Que espaço da didática ocupa nesse processo de ou consegue tomar a mamadeira sozinha, por vol-
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

formação? ta dos 7 meses, porque já coordena os movimen-


tos das mãos.
• Aspecto intelectual: é a capacidade de pensa-
PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO: TEORIAS DA mento, raciocínio.
APRENDIZAGEM Ex.: a criança de 2 anos que usa um cabo de vassoura
para puxar um brinquedo que está embaixo de um
móvel.
A Psicologia do desenvolvimento é o estudo • Aspecto afetivo-emocional: é o modo particular
científico das mudanças progressivas psicológicas que de o indivíduo integrar suas experiências. É o sen-
ocorrem nos seres humanos com a idade. Este campo tir. A sexualidade faz parte desse aspecto.
examina mudanças através de uma ampla variedade de Ex.: a vergonha em algumas situações, o medo em

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outras, a alegria de rever um amigo. enquanto ideal; normal como processo dinâmico, que
• Aspecto Social: é a maneira como o indivíduo pressupõe certo equilíbrio.
reage diante das situações que envolvem outras A noção estática de saúde e doença é difícil de ser
pessoas. sustentada hoje, já que, no sentido da ausência de sin-
Ex: em um grupo de crianças no parque, é possível tomas, todos seriam normais até o ponto crucial em que
observar algumas que espontaneamente buscam surge a patologia. Além disso, sabe-se que, todo o ser
outras para brincar, e algumas que permanecem humano possui uma grande suscetibilidade a adquirir
sozinhas.3 doenças mais ou menos graves ao longo da vida. Mes-
mo considerando apenas aquelas doenças incuráveis e
Ao longo da história, a noção de normalidade e pato- que, consequentemente, acompanharão o indivíduo até
logia vem sendo amplamente discutida. Na antiga Gré- o fim de sua vida, cabe questionar o que o define como
cia, influenciada pelos pensamentos hipocráticos, tinha- anormal, já que muitas vezes é possível prosseguir a vida
-se uma concepção dinâmica acerca da doença. A saúde mantendo as atividades anteriores à doença. O normal
seria a harmonia e o equilíbrio, enquanto a doença seria enquanto média não leva em conta a pressão cultural, já
a perturbação deste último. que condutas desviantes de tal cultura seriam considera-
Este desequilíbrio, no entanto, não é considerado de das, neste modelo, anormais.
todo disfuncional, mas sim como uma tentativa da pró- Todos os que, de alguma forma, transcendessem os
pria natureza de restaurar a saúde e o equilíbrio ante- limites do conformismo social ou da capacidade inte-
riores. A doença é, assim, uma reação generalizada com lectual, por exemplo, seriam anormais (AJURIAGUERRA;
intenção de cura (CANGUILHEM, 1904). MARCELLI, 1986). Além disso, já dizia Canguilhem (1904)
Já na visão de Comte, apoiado nos pensamentos de que, definindo normal e anormal em termos de frequên-
Broussais, a doença consiste no excesso ou na falta de cia estatística relativa, o patológico poderia ser conside-
excitação corporal. Assim, a doença se constituiria a par- rado normal, enquanto que um estado de saúde perfeita,
tir de mudanças da intensidade de estmulação, à qual pela baixa frequência, seria anormal.
é indispensável para a manutenção da saúde (CANGUI- O normal como ideal pressupõe, primeiramente, um
LHEM, 1904). Claude Bernard, por sua vez, considera determinado sistema de valores. Cabe questionar, pri-
que as doenças possuem, em sua totalidade, uma fun- meiramente, como seria escolhido um sistema de valores
ção normal subjacente. Assim, a doença é uma função padrão para o estabelecimento da normalidade. Caso o
normal perturbada, sendo necessário para a sua cura o ideal fosse um grupo social, voltaríamos à noção da nor-
conhecimento acerca da fisiologia das funções normais ma estatística, já que todos teriam de enquadrar-se no
(BERNARD, s.d.apud CANGUILHEM, 1904). Já de acordo modelo de tal grupo; caso o sistema de valores ideal fos-
com Leriche, a saúde é a vida no silêncio dos órgãos, en- se pessoal, cada indivíduo possuiria sua própria definição
quanto a doença é a perturbação (CANGUILHEM, 1904, de normalidade, o que torna inútil o conceito (AJURIA-
p. 67). GUERRA; MARCELLI, 1986).
Percebe-se que estas concepções de saúde e doença, Por fim, o conceito dinâmico diz respeito à capacida-
apesar de distintas, centram-se em mudanças fisiológi- de de retorno a um equilíbrio anterior. Isto sugere que
cas corporais. Quando se adentra no campo da psico- haja um processo de adaptação a certa condição, na qual
patologia, no entanto, não é mais possível esta forma de se corre o risco de promover a submissão e conformismo
distinção, tanto pelo desconhecimento da fisiologia dos diante das situações sociais (AJURIAGUERRA; MARCELLI,
processos mentais, quanto pelo tênue limite entre o que 1986).
é considerado normal e o que não é. Isto é representa- Bergeret (1996), por sua vez, faz uma tentativa de
do na afirmação de Legache, de que a desorganização definir o normal em relação à flexibilidade que o sujei-
mórbida não é necessariamente o inverso da normal, já to possui em atender suas necessidades pulsionais e de
que podem existir estados patológicos sem correspon- seus processos primários e secundários tanto no plano
dências no estado normal (CANGUILHEM, 1904). pessoal quanto social. O normal, para ele, não seria uma
Canguilhem (1904) ainda traz uma distinção impor- pessoa que se declara como tal ou um doente que ignora
tante a respeito da terminologia, afirmando que o pa- sua doença, mas uma pessoa que tenha conseguido su-
tológico é anormal, mas nem todo o anormal, que pode perar suas dificuldades internas e externas, mesmo que
ser adaptativo, é patológico. Este implica em pathos, sen- em alguma situação excêntrica tenha se comportado de
timento de sofrimento e impotência. Assim, percebe-se maneira aparentemente “anormal”.
a complexidade da tarefa de demarcar fronteiras entre Outra forma de compreender o normal é, conforme
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

normalidade, anormalidade, e patologia. postula Winnicott (1967), a da grande maioria dos psi-
canalistas, os quais possuem a tendência de “pensar na
O conceito de normalidade saúde como a ausência de distúrbios psiconeuróticos”
(WINNICOTT, 1967, p. 9). No entanto, segundo o autor,
A partir da dificuldade de se sustentar o simples dua- isso não é verdade, necessitando a emergência de crité-
lismo saúde-doença no campo da psicopatologia, sur- rios mais sutis. Para ele, deve-se pensar na normalidade
giram diversas formas de pensar o conceito de normal. em termos de liberdade dentro da personalidade, de ca-
Ajuriaguerra e Marcelli (1986) sustentam que todas as pacidade para ter confiança e fé, de questões de cons-
definições estão baseadas em algum dos quatro pon- tância e confiabilidade objetal, de liberdade em relação à
tos de vista: saúde-doença; média estatística; normal auto-ilusão, e também de algo que tem mais a ver com
a pobreza enquanto qualidade da realidade psíquica
3 Por Thiago de Almeida

12
pessoal (WINNICOTT, 1967, p. 9). custosos e alienantes” (BERGERET, 1996, p. 42). A estru-
Dessa forma, a saúde estaria diretamente relacionada tura psicótica (não descompensada), segundo o autor,
com a passagem da dependência para a independência seria muito mais verdadeira do que tais organizações e
ou autonomia, sendo que a vida de um individuo saudá- mais rica em potencial de criatividade.
vel é caracterizada tanto por sentimentos positivos quan- Dessa forma, a noção de normalidade deve ser pen-
to por sentimentos negativos gerados por medo, dúvidas sada independentemente da noção de estrutura (DIATKI-
e frustrações (WINNICOTT, 1967). NE, 1967 apud BERGERET, 1996). Ajuriaguerra e Marcelli
A concepção freudiana difere das demais pela ênfase (1986) sustentam a mesma posição, lembrando que, para
ao desenvolvimento psíquico sobre a classificação noso- Freud o sujeito normal e o neurótico atravessam os mes-
lógica. Neste sentido, Bergeret (1996) considera que o mos estágios maturativos durante a infância. Além dis-
grande mérito de Freud foi demonstrar que não existe so, Melanie Klein utiliza termos próprios à psicopatolo-
uma solução de continuidade entre o “normal” e o “neu- gia, como fase esquizo-paranóide e posição depressiva,
rótico”. O que pode ser diferenciado entre eles é apenas para designar estados normais da criança, durante seu
o uso e a flexibilidade de mecanismos que parecem ser desenvolvimento.
os mesmos em ambos os casos. Isto vai ao encontro à observação de que, a qualquer
Percebe-se que nenhuma das classificações é capaz momento, um sujeito pode, independente de sua es-
de explicar exaustivamente os fenômenos envolvidos trutura, entrar na patologia mental; por outro lado, um
nos diferentes estados psicológicos. Assim, considera- doente mental bem tratado pode retornar ao estado de
-se indispensável levar em conta conjuntamente os as- “normalidade”. Segundo Bergeret (1996), esta possibili-
pectos fisiológicos, psicológicos e dinâmicos do sujeito. dade de adoecimento ou recuperação está condicionada
Qualquer tentativa de definição apoiada em apenas um à estruturação, de modo que sujeitos de organizações
desses aspectos torna-se simplista, ignorando a comple- analíticas não possuem tal capacidade.
xidade do ser humano. Evidentemente, o tipo de estruturação psíquica exer-
ce grande influencia sobre o funcionamento do sujeito.
A QUESTÃO ESTRUTURAL No entanto, concordamos com a afirmação dos autores
citados de que esta estruturação não é, por si só, sufi-
Normal X Patológico ciente para classificá-lo como normal ou anormal. Neste
sentido, questiona-se a afirmação de Bergeret, segundo a
No que diz respeito à estrutura, é importante diferen- qual sujeitos de organização analítica não seriam capazes
ciá-las das organizações. Em psicopatologia, a estrutura de restabelecimento ante a doença mental. Tal afirmação
pode ser conceituada como “aquilo que, em um estado pressupõe uma generalização, deixando de considerar os
psíquico mórbido ou não, é constituído por elementos possíveis contextos em que foi estabelecida esta organi-
metapsicológicos profundos e fundamentais da perso- zação, bem como os diferentes tipos de tratamento que
nalidade, fixados em um conjunto estável e definitivo” poderiam ser oferecidos ao sujeito.4
(BERGERET, 1996, p. 51).
A estrutura, neurótica ou psicótica, com ou sem esta- Psicologia do Desenvolvimento - Contribuições
do psicopatológico, é sólida e, conforme há a existência Teóricas
ou não de rupturas patológicas, pode levar a estados su-
cessivos de adaptação, desadaptação, readaptação, en- Sigmund Freud (1856-1939)
tre outros. As organizações, por outro lado, são menos Propõe, à data, um novo e radical modelo da mente
sólidas e, em caso de trauma mais ou menos agudo, po- humana, que alterou a forma como pensamos sobre nós
dem sucumbir à depressão ou evoluir para uma estrutura próprios, a nossa linguagem e a nossa cultura. A sua des-
mais sólida e definitiva (BERGERET, 1996). crição da mente enfatiza o papel fundamental do incons-
Assim, Bergeret (1996) levanta a hipótese da defini- ciente na psique humana e apresenta o comportamento
ção de normalidade como uma adaptação à respectiva humano como resultado de um jogo e de uma interação
estrutura do sujeito. No entanto, isto levanta uma im- de energias.
portante questão: considerando esta adaptação, toma- Freud contribuiu para a eliminação da tradicional
mos como normais os comportamentos mais originais e oposição básica entre sanidade e loucura ao colocar a
adaptados de cada estrutura, seja neurótica ou psicótica, normalidade num continuum e procurou compreender o
ao passo que se consideram anormais o grupo de or- funcionamento do psiquismo normal através da génesis
ganizações antidepressivas, como, por exemplo, o “falso e da evolução das doenças psíquicas.
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

self”, de Winnicott. Estudo do desenvolvimento psíquico da pessoa a


Esta concepção de normalidade acaba por causar es- partir do estádio indiferenciado do recém-nascido até à
tranheza, já que estruturas psicóticas, usualmente, não formação da personalidade do adulto.
são consideradas normais. Em primeiro lugar porque não Muitos dos problemas psicopatológicos da ida-
passaram pela estruturação edípica; em segundo lugar de adulta de que trata a Psicanálise têm as suas raí-
porque estas organizações analíticas parecem ser mais zes, as suas causas, nas primeiras fases ou estádios do
bem adaptadas à realidade. desenvolvimento.
O autor explica, porém, que estas organizações narci- Na perspectiva freudiana, a “construção” do sujei-
sistas intermediárias são frágeis, e sua estabilidade “con- to, da sua personalidade, não se processa em termos
tenta-se em imitar às custas de ardis psicopatológicos
4 Marina Zanella Delatorre/Anelise Schaurich dos Santos/Hericka
variados, incessantemente renovados e profundamente
Zogbi Jorge Dias

13
objetivos (de conhecimento), mas em termos objetais. ambiente em que está. (equilibração). Assim, estabele-
O objeto, em Freud, é um objeto libidinal, de prazer cer um desequilíbrio é a motivação primária para alte-
ou desprazer, “bom ou mau”, gratificante ou não gratifi- rar as estruturas mentais do indivíduo. Piaget descreveu
cante, positivo ou negativo. dois processos utilizados pelo sujeito na sua tentativa de
A formação dos diferentes estádios é determinada, adaptação: assimilação e acomodação. Estes dois pro-
precisamente, por essa relação objetal. (Estádios: Oral, cessos são utilizados ao longo da vida à medida que a
Anal, Fálico, Latência, Genital) pessoa se vai progressivamente adaptando ao ambiente
A sua teoria sobre o desenvolvimento da personali- de uma forma mais complexa.
dade atribui uma nova importância às necessidades da  
criança em diversas fases do desenvolvimento e sobre as Lev Vygotsky (1896-1934)
consequências da negligência dessas necessidades para
a formação da personalidade. Lev Vygotsky desenvolveu a teoria sociocultural do
  desenvolvimento cognitivo. A sua teoria tem raízes na
Erik Erikson (1904-1994) teoria marxista do materialismo dialético, ou seja, que as
mudanças históricas na sociedade e a vida material pro-
A teoria que desenvolveu nos anos 50 partiu do apro- duzem mudanças na natureza humana.
fundamento da teoria psicossexual de Freud e respecti- Vygotsky abordou o desenvolvimento cognitivo por
vos estádios, mas rejeita que se explique a personalidade um processo de orientação. Em vez de olhar para o final
apenas com base na sexualidade. do processo de desenvolvimento, ele debruçou-se sobre
Acredita na importância da infância para o desenvol- o processo em si e analisou a participação do sujeito nas
vimento da personalidade mas, ao contrário de Freud, atividades sociais  → Ele propôs que o  desenvolvimento
acredita que a personalidade se continua a desenvolver não precede a socialização. Ao invés, as estruturas sociais
para além dos 5 anos de idade. e as relações sociais levam ao desenvolvimento das fun-
No seu trabalho mais conhecido, Erikson propõe  8 ções mentais.
estágios do desenvolvimento psicossocial  através dos Ele acreditava que a aprendizagem na criança po-
quais um ser humano em desenvolvimento saudável dia ocorrer através do jogo, da brincadeira, da instrução
deveria passar da infância para a idade adulta. Em cada formal ou do trabalho entre um aprendiz e um aprendiz
estágio cada sujeito confronta-se, e de preferência su- mais experiente.
pera, novos desafios ou conflitos. Cada estágio/fase do O processo básico pelo qual isto ocorre é a media-
desenvolvimento da criança é importante e deve ser bem ção  (a ligação entre duas estruturas, uma social e uma
resolvida para que a próxima fase possa ser superada pessoalmente construída, através de instrumentos ou
sem problemas. sinais). Quando os signos culturais vão sendo interna-
Tal como Piaget, concluiu que não se deve apressar lizados pelo sujeito é quando os humanos adquirem a
o desenvolvimento das crianças, que se deve dar o tem- capacidade de uma ordem de pensamento mais elevada.
po necessário a cada fase de desenvolvimento, pois cada Ao contrário da imagem de Piaget em que o indiví-
uma delas é muito importante. Sublinhou que apressar duo constrói a compreensão do mundo, o conhecimento
o desenvolvimento pode ter consequências emocionais sozinho, Vygostky via o desenvolvimento cognitivo como
e minar as competências das crianças para a sua vida dependendo mais das interações com as pessoas e com
futura. os instrumentos do mundo da criança.
Esses instrumentos são reais: canetas, papel, compu-
 Jean Piaget (1896-1980) tadores; ou símbolos: linguagem, sistemas matemáticos,
signos.
Jean Piaget (1896-1980) foi um dos investigadores
mais influentes do séc. XX na área da psicologia do de-  Teoria de Vygotsky do Desenvolvimento Cognitivo
senvolvimento. Piaget acreditava que o que distingue o
ser humano dos outros animais é a sua capacidade de ter Vygostsky sublinhou as  influências socioculturais no
um pensamento simbólico e abstrato. Piaget acreditava desenvolvimento cognitivo da criança:
que a maturação biológica estabelece as pré-condições -  O desenvolvimento não pode ser separado do con-
para o desenvolvimento cognitivo. As mudanças mais texto social
significativas são mudanças qualitativas (em género) e - A cultura afeta a forma como pensamos e o que
não qualitativas (em quantidade). pensamos
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

Existem dois aspectos principais nesta teoria: o pro- - Cada cultura tem o seu próprio impacto
cesso de conhecer e os estágios/etapas pelos quais nós - O conhecimento depende da experiência social
passamos à medida que adquirimos essa habilidade.
Como biólogo, Piaget estava interessado em como é A criança desenvolve representações mentais do
que um organismo se adapta ao seu ambiente (ele des- mundo através da cultura e da linguagem.
creveu esta capacidade como inteligência) - O compor- Os adultos têm um importante papel no desenvolvi-
tamento é controlado através de organizações mentais mento através da orientação que dão e por ensinarem
denominadas  “esquemas”,  que o indivíduo utiliza para (“guidance and teaching”).
representar o mundo e para designar as ações.
Essa  adaptação  é guiada por uma orientação bio- Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) – interva-
lógica para obter o balanço entre esses esquemas e o lo entre a resolução de problemas assistida e individual.

14
Uma vez adquirida a linguagem nas crianças, elas utili-
zam a linguagem/discurso interior, falando alto para elas #FicaDica
próprias de forma a direcionarem o seu próprio compor-
tamento, linguagem essa que mais tarde será internaliza- Para ele não é possível dissociar o biológico
da e silenciosa – Desenvolvimento da Linguagem. do social no homem. Esta é uma das carac-
  terísticas básicas da sua Teoria do Desenvol-
Konrad Lorenz (1903-1989) vimento.

Zoólogo  austríaco, ornitólogo e um dos fundado-


res da Etologia moderna (estudo do comportamento Burrhus F. Skinner (1904 – 1990)
animal).
Desenvolveu a ideia de um mecanismo inato que Psicólogo  Americano, conduziu trabalhos pionei-
desencadeia os comportamentos instintivos (padrões ros em Psicologia Experimental e defendia o comporta-
de ação fixos) → modelo para a motivação para o mentalismo / behaviorismo (estudo do comportamento
comportamento. observável).
Considera-se hoje que o sistema nervoso e de con- Tinha uma abordagem sistemática para compreender
trolo do comportamento envolvem transmissão de infor- o comportamento humano, uma abordagem de efeito
mação e não transmissão de energias. considerável nas crenças e práticas culturais correntes.
O  seu  trabalho empírico é uma das grandes contri- Fez investigação na área da modelação do compor-
buições, sobretudo no que se refere ao  IMPRINTING  e tamento pelo reforço positivo ou negativo (condiciona-
aos PERÍODOS CRÍTICOS mento). O condicionamento operante explica que um
O imprinting é um excelente exemplo da  interação determinado comportamento tem uma maior probabi-
de fatores genéticos e ambientais no comportamento – o lidade de se repetir caso, após a manifestação do com-
que é inato e específico na espécie e as propriedades portamento for apresentado um  reforço (agradável). É
específicas da aprendizagem; uma forma de condicionamento onde o comportamento
O trabalho de Lorenz forneceu uma evidência muito acabará por ocorrer antes da resposta.
importante de que existem períodos críticos na vida onde A aprendizagem, pode definir-se como uma mudança
um determinado tipo definido de estímulo é necessário relativamente estável no potencial de comportamento,
para o desenvolvimento normal. Como é necessária a ex- atribuível a uma experiência - Importância dos estímulos
posição repetitiva a um estímulo ambiental (provocando ambientais na aprendizagem
uma associação com ele), podemos dizer que o imprin-  
ting é um tipo de aprendizagem, ainda que contendo um Albert Bandura (1925-presente)
elemento inato muito forte.
  É, tal como Skinner, da linha behaviorista da Psi-
Henri Wallon (1879 – 1962) cologia. No entanto, nessa enfatiza-se a  modificação
do  comportamento do indivíduo durante a sua intera-
Wallon procura explicar os fundamentos da psicolo- ção. Ao contrário da linha behaviorista radical  de Skin-
gia como ciência, os seus aspectos epistemológicos, ob- ner, acredita-se que o ser humano é capaz de aprender
jetivos e metodológicos. comportamentos sem sofrer qualquer tipo de reforço.
Considera que o homem é determinado fisiológica e Para ele, o indivíduo é capaz de aprender também atra-
socialmente, sujeito às disposições internas e às situa- vés de reforço vicariante, ou seja, através da observação
ções exteriores. do comportamento dos outros e de suas consequências,
Wallon  propõe  a psicogénese da pessoa comple- com contato indireto com o reforço. Entre o estímulo
ta (psicologia genética), ou seja, o estudo integrado do e a resposta,  há também o espaço cognitivo de cada
desenvolvimento.   indivíduo.
Para ele o estudo do desenvolvimento humano deve É  um  dos autores associado ao Cognitivismo-So-
considerar o sujeito como “geneticamente social” e estu- cial,  uma teoria da aprendizagem baseada na ideia de
dar a criança contextualizada, nas relações com o meio. que as pessoas aprendem através da observação dos
Wallon recorreu a outros campos de conhecimento para outros e que os processos do pensamento humano são
aprofundar a explicação dos fatores de desenvolvimen- centrais para se compreender a personalidade:
to (neurologia, psicopatologia, antropologia, psicologia – As pessoas aprendem pela observação dos outros.
– A aprendizagem é um processo interno que pode
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

animal).
Considera que não é possível selecionar um único as- ou não alterar o comportamento.
pecto do ser humano e vê o desenvolvimento nos vários – As pessoas comportam-se de determinadas ma-
campos funcionais nos quais se distribui a atividade in- neiras para atingir os seus objetivos.
fantil (afetivo, motor e cognitivo).   – O comportamento é auto dirigido (por oposição a
algo determinado pelo ambiente)
– O reforço e a punição têm efeitos indiretos e im-
predizíveis tanto no comportamento como na
aprendizagem.
– Os adultos (pais, educadores, professores) têm um
papel importante como modelos no processo de

15
aprendizagem da criança. adolescente, adulto e velhice. Ciclo este que não muda, a
única situação que pode impedir o funcionamento e con-
Urie Bronfenbrenner (1917 – presente) clusão do ciclo é a própria morte, principalmente quando
ocorre precocemente ou quando surge um defeito con-
Um dos grandes autores que desenvolveu a Aborda- gênito que afeta o Sistema Nervoso Central e/ou Perifé-
gem Ecológica do Desenvolvimento Humano: o sujeito rico (MOREIRA,2011). O desenvolvimento humano sofre
desenvolve-se em contexto, em 4 níveis dinâmicos – as algumas influências, sendo elas: a hereditariedade (que é
pessoas, o processo, o contexto, o tempo. sua carga genética), o crescimento orgânico (trata-se do
A sua proposta difere da da Psicologia Científica até aspecto físico), maturação neurofisiológica (é o que torna
então (70’s): privilegia os aspectos saudáveis do desen- possível o desenvolvimento comportamental) e o meio
volvimento, os estudos realizados em ambientes natu- (são todos os ambientes que o indivíduo está inserido)
rais e a análise da participação da pessoa focalizada no (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2009).
maior nº possível de ambientes e em contato com dife-
rentes pessoas. Criança
Bronfenbrenner  explicita a necessidade dos pesqui-
sadores estarem atentos à diversidade que caracteriza o A infância é uma fase na qual se faz grandes aprendi-
homem – os seus processos psicológicos, a sua participa- zados e se adquire diversas experiências, na relação com
ção dinâmica nos ambientes, as suas características pes- os outros e com o mundo. Esta é uma fase importante
soais e a sua construção histórico-sócio-cultural. do desenvolvimento, mas também muito sensível. Com
Define o desenvolvimento humano como “o conjun- isto há alguns teóricos da psicologia que descrevem as
to de processos através dos quais as particularidades da fases da infância, como por exemplo Piaget. Este autor
pessoa e do ambiente interagem para produzir constân- relata que o raciocínio se desenvolve em quatro estágio
cia e mudança nas características da pessoa no curso de universais e em cada estágio a criança desenvolve um
sua vida” (Bronfenbrenner, 1989, p.191). esquema, no entanto sendo elas: 
A Abordagem Ecológica do Desenvolvimento privile-
gia estudos longitudinais, com destaque para instrumen- • Período sensório-motor (nascimento aos dois
tos que viabilizem a descrição e compreensão dos siste- anos) a criança explora seu ambiente através de
mas da maneira mais contextualizada possível. suas capacidades sensoriais e motoras (PAPALIA;
FELDMAN, 2013). 
 Arnold Gesell (1880-1961) • Período pré-operacional (dois aos sete anos) a
criança usa simbolismo para entender seu ambien-
Psicólogo Americano que se especializou na área do te através de imagens e linguagem, também sendo
desenvolvimento infantil. Os seus primeiros trabalhos vi- o início do egocentrismo (o pensamento da crian-
saram o estudo do atraso mental nas crianças, mas cedo ça é somente nela).
percebeu que é necessária a compreensão do desenvol- • Período operacional-concreto (sete aos doze
vimento normal para se compreender um desenvolvi- anos) já se inicia o pensamento lógico, não são
mento anormal. mais enganadas pela aparência, já entende o com-
Foi pioneiro na sua metodologia de observação e me- portamento da outra pessoa, e por fim:
dição do comportamento e, portanto, foi dos primeiros a • Período operações-formais (doze anos em dian-
implementar o estudo quantitativo do desenvolvimento te) o pensamento é abstrato e sistemático (PAPA-
humano, do nascimento até à adolescência. LIA; FELDMAN, 2013).
Realizou uma descrição detalhada e total do desen-
volvimento da criança; realça, com base em pesquisas Vygotsky (1978) é outro autor importantíssimo quan-
rigorosas e sistemáticas, o papel do processo de matura- to ao desenvolvimento infantil, pois enfatiza a linguagem
ção no desenvolvimento. como um meio essencial para aprender a pensar sobre
Gesell e colaboradores caracterizaram o desenvolvi- realidade, sendo que a criança para realizar alguma ativi-
mento segundo quatro dimensões da conduta: motora, dade precisa de um mediador para apoia-la em alguma
verbal, adaptativa e social. Nesta perspectiva cabe um tarefa até que ela consiga realiza-la sozinha. Bem como,
papel decisivo às maturações nervosa, muscular e hor- pode-se dizer que alguém mais experiente pode ajudar
monal no processo de desenvolvimento. a atravessar a zona de desenvolvimento proximal (ZDP)
Desenvolveu, a partir dos seus resultados, escalas como colegas, professores, familiares entre outros, as-
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

para avaliação do desenvolvimento e inteligência. sim a criança apresenta um desenvolvimento cognitivo


Inaugurou o uso da fotografia e da observação atra- e uma atividade socialmente mediada (BEE; BOKD, 2011).
vés de espelhos de um só sentido como ferramentas de Além disso, surgem quatro estágios do desenvolvimen-
investigação5 to que acontecem do nascimento até os sete anos (BEE;
BOKD, 2011), sendo eles: 
O ciclo vital compreende o período da fecundação
até a velhice, seguindo um desenvolvimento contí- • Estágio Primitivo -do nascimento até os dois anos 
nuo que termina com a morte do indivíduo, esse ciclo • Estágio de psicologia ingênua - dois aos três
está presente em todos os seres vivos. Com o ser hu- anos 
mano acontece no seguinte ritmo: feto, bebê, criança, • Estágio da fala egocêntrica - também conhecido
como discurso egocêntrico, vai dos três aos sete
5 Texto adaptado de Ana Almada

16
anos  Conforme Erikson (1998) o adolescente precisa de
• Estágio de crescimento interior  - a partir dos uma segurança para todas as mudanças que estão acon-
sete anos) tecendo. O modo que o adolescente encontra uma se-
gurança é em sua identidade, que foi formada pelos es-
No ponto de vista de Erikson (1998) a criança passa tágios anteriores (confiança vs. desconfiança, autonomia
por diversas etapas até os nove anos conhecida como vs. vergonha e dúvida, iniciativa vs. culpa, produtividade
produtividade vs. inferioridade esta é a fase em que a vs.  Inferioridade). Essa identidade se expressa na forma
criança tem o maior desenvolvimento cognitivo e social, de questionamento pra entender o que está mudando,
é quando ela inicia sua vida escolar e social com seus por exemplo, “quem sou?”, “vou ficar igual meus pais?”,
colegas. Começa a ter interação com seu gênero sexual, “o que devo fazer no futuro?”. Com o resultado dessas
esse é o momento em que se divide meninas para um perguntas o adolescente se encaixa em algum grupo da
lado e meninos para outro, formando grupos. O orgulho sociedade. Esta fase é conhecida como “Identidade vs.
é o sentimento que se desenvolve nessa etapa após ativi- Confusão de Identidade” (ERIKSON; ERIKSON, 1998).
dades realizadas com sucesso, quando seus responsáveis
e professores elogiam após uma atividade realizada ad- Adulto
quirem um sentimento de competência e crença em suas
habilidades, quando isso não acontece então a criança Após a adolescência então tem início a fase adulta,
sente o sentimento de inferioridade (ERIKSON; ERIKSON, conhecida também como jovem adulto que é dos vinte
1998). aos quarenta e depois é chamando de meia idade que é
dos quarenta até os sessenta, todas as fases do desen-
Adolescente volvimento têm sua complexidade, mas esta em especial
tem muitos altos e baixos que interferem em todo seu
O comportamento do adolescente muda conforme a ciclo de vida, principalmente nas saúdes mental e física
criação, não tem como classificar uma adolescência em (LIDZ, 1983).
suas atitudes, mas em geral pode-se indicar alguns pontos O jovem adulto passa por diversas preocupações com
como mudanças cognitivas, os pensamentos de criança o futuro, sendo a profissão que escolheu, a pessoa que
passando para um adulto assumindo responsabilidades, iniciou o relacionamento para constituir uma família, se
deveres, normas que antes não tinha conhecimento, os os amigos são os certos para levar para a vida toda entre
hormônios ficam a “flor da pele” e iniciam a vida sexual, outras questões que aparecem. Quando consegue en-
também ocorrem mudanças no físico, comportamental, tender qual seu lugar na sociedade e no âmbito familiar
emocional e social que se apresenta em maior evidência e profissional começam outros questionamentos, estou
nessa fase (CAMPOS, 1987). Esta fase inicia-se em torno criando meu filho bem, meu cônjuge está feliz, estou fe-
dos doze anos juntamente com as transformações de seu liz com essa vida, vou conseguir me aposentar, quantas
corpo, começa a crescer pelos, a primeira menstruação dividas ainda tem, esses problemas sempre estão pre-
(feminino), aumento de testosterona (masculino), cresci- sentes conforme o desenvolvimento da pessoa (PAPALIA;
mento corporal. entre outras mudanças que a puberdade OLDS, 2000).
traz com ela. Com isto, o corpo em seu todo entra em Quando chega na meia idade surge outros desafios,
conflito, por estar deixando de ser uma criança e sendo principalmente a angustia sobre os filhos, que é conheci-
encaminhado para uma vida na qual é necessário fazer da como “síndrome do ninho vazio”. Todos os indivíduos
muitas escolhas e os pais não podem decidir por eles, com desenvolvimento típico passaram por esse momen-
quando esse indivíduo consegue resolver suas dúvidas, to, até o momento em que percebem que não se en-
conflitos e compreende o meio que está sendo inserido contram sozinhos, que seus filhos estão lá para qualquer
vai formando sua personalidade, assim tornando-se um coisa mesmo estando em outro local, assim passa para
adulto (OUTEIRAL, 2008). O emocional fica perturbado a última fase da vida a velhice (SARTORI; ZILBERMAN,
por não poder se expressar com choro, raiva, tristeza, 2008).
medo entre outras, devido a cobrança da sociedade, pelo Tornar-se adulto é um processo que envolve o desen-
crescimento emocional e isso acaba criando dúvidas so- volvimento de identidade, consolidação da estrutura da
bre o meio aonde está inserido, no qual os pais tem que personalidade e a auto-realização, a fase adulta repre-
auxiliar para seguirem em frente, denominada de zona senta novas responsabilidades, novas conquistas. Acerca
de desenvolvimento proximal (ZDP), que é o auxílio de das mudança da personalidade na vida adulta, o teóri-
um mediador para conseguir passar por algum problema co Erik Erikson (1963) descreve algumas pistas sobre as
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

que tem dificuldade (VYGOTSKY, 1978). mudanças que uma pessoa pode esperar, diante de oito
De acordo com Wallon (2003) as mudanças que es- estágios desenvolvidos por ele, dividiu a vida adulta em
tão ocorrendo no adolescente são expressadas com seu duas (WEITEN, 2011).
corpo, demonstrando as dificuldades que tem com seu Intimidade vs. isolamento: este estágio acontece no
novo corpo, a expressão afetiva está em alta tendo então começo da vida adulta, tendo a preocupação se a pes-
comportamentos que podem surpreender os adultos. soa tem capacidade de partilhar sua intimidade com os
Podendo ser mais centrados em suas atividades profis- outros, nesta fase devem requerer empatia e abertura,
sionais ou até mesmo amorosas, saídas para festas, no- e fortalecer seu ego o suficiente para aceitar o convívio
vas amizades e viagens, misturando afetividade e imagi- com outro ego sem se sentir anulado ou ameaçado. Ou-
nação, criando alguns conflitos internos e atitudes novas tro estágio seria:
(MAHONEY; ALMEIDA, 2003). Generatividade vs. estagnação, esta seria a fase média

17
da idade adulta, o principal desafio é a preocupação com da criança, adolescente, adulto e idoso e, conseguem,
o bem-estar das gerações futuras (os filhos, jovens), fase com essas colocações esclarecer as etapas básicas que
em que o ser humano sente sua personalidade de forma passam para se desenvolver a parte cognitiva, emocional,
enriquecida e não modificada, pois ele ensinara os mais motora, a formação sua personalidade, dúvidas, diferen-
novos (WEITEN, 2011). ças, conflitos, etc.
No pensamento de Piaget (1970) diferente de Erikson Os estudos mostram por exemplo que, o idoso pas-
o adulto já tem toda a parte cognitiva formada pelas fa- sou por todas as fases fazendo com que tenhamos uma
ses anteriores, sendo assim quando chega nessa etapa visão diferente da criança que está iniciando sua vida,
deve estar totalmente formado e não adquire nenhuma mas ainda existem semelhanças entre elas, como pode-
outra evolução (INHELDER; PIAGET, 1976). Conforme a mos citar que em todas as etapas estão presentes os so-
Teoria Psicogenética de Wallon traz a etapa do adulto nhos, todos têm medos e todos têm família, mostrando
como “O equilíbrio entre o afetivo e o cognitivo”. Esta que independente da etapa existem esses pontos que
teoria fala que nesta etapa a pessoa está preparada afe- ligam o desenvolvimento de todas as fases.
tivamente e cognitivamente para tomar decisões, sabe Outro ponto que os estudos mostram é que, quan-
seu limite e entende como funciona seu corpo (NADEL- do falamos em diferenças e semelhanças do desenvol-
-BRULFERT, 1986). vimento das pessoas, compreendemos que mesmo em
ambientes diferentes, famílias diferentes, existe uma li-
Idoso gação pela cultura existente.
O ciclo vital tem um início e um fim, e todos vão
O envelhecimento da população é um fenômeno que passar por esse ciclo, iniciado com a vida e terminado
está acontecendo em todo o mundo, com os progressos com a morte. Podendo entender que toda vida existente
da medicina e melhoria das condições de vida, as pes- tem um desenvolvimento até chegar o seu fim, e nes-
soas estão vivendo mais. Estudos realizados mostram se desenvolvimento encontra-se dificuldades, conflitos,
que em 2025, o Brasil ocupara o sexto lugar com cerca decisões, arrependimentos, angustias entre outros, que
de trinta e dois milhões de pessoas com sessenta anos mostra que o ser humano não é perfeito.
ou mais (ROSSATO; PILETTI, 2014). A velhice é a última Em entrevistas realizadas em alguns estudos, perce-
etapa da vida, onde existem várias dúvidas e certezas, be-se que, a criança mostra que com ela vem o conhe-
uma certeza que existe é que a próxima fase é a morte, cimento de um novo mundo, o qual nem todo mundo
com isso os conflitos sobre o que deve fazer até chegar à lembra de ter passado, e que existem muitos conflitos
fase final e os arrependimentos sobre o que não foi feito internos pelas mudanças que estão passando e rápido.
antigamente (SCHNEIDER, R. H.; IRIGARA, 2008). Já o adolescente mostra que já iniciou a resolução de
Erikson (1976) elaborou modelos sobre a evolução da seus conflitos internos, mas ainda não conhece comple-
estrutura da personalidade ao longo de toda a vida. O tamente o mundo real, embora ele esteja conhecendo
indivíduo passa por oito estágios, cada qual com suas novas experiências de lugares, sociais, amorosos, profis-
crises, os quais necessitam de resolução para ultrapassá- sionais e familiares. Esse é o momento em que eles per-
-los. O primeiro estágio é denominado de confiança vs. cebem que os pais podem ser inimigos ou aliados.
desconfiança (nascimento até um ano), segundo estágio Quanto ao adulto, segundo mostram as teorias, ele
autonomia vs. vergonha e dúvida (um ano a três anos), ainda tem conflitos, mas já está conseguindo resolver
terceiro estágio incentivo vs. culpa (três anos a seis anos), uma parte deles, sem que isso afete tão fortemente sua
quarto estágio produtividade vs. inferioridade (seis anos estrutura emocional e psicológica em função dos confli-
aos doze anos), quinto estágio identidade vs. confusão tos ainda não resolvidos.6
papéis (doze anos aos vinte anos), sexto estágio intimi-
dade vs. isolamento (vinte anos aos quarenta anos, jo-
vem adulto), sétimo estágio generatividade vs. estagna-
ção (quarenta anos a sessenta e cinco anos, meia idade), EXERCÍCIOS COMENTADOS
oitavo estágio integridade do ego vs. desespero (velhice)
(ERIKSON, 1976). 1. (PUC/PR – TJ/PR – 2017) Sobre as Teorias do Desen-
E se tratando da velhice, o estágio que corresponde volvimento apresentadas nas proposições a seguir.  
a integridade do ego x desespero, onde o indivíduo revê
seu passado e o identifica como produtivo ou não, po- I. Psicogenética (Piaget).
dendo se sentir satisfeito com o que realizou ou se sentir II. Psicossocial (Erikson).
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

frustrado, decepcionado, pensando no que poderia ter III. Histórico-cultural (Vygostky).  


realizado. Alguns idosos podem se sentir desesperados
por perceberem que a morte está se aproximando, e que É CORRETO apenas o que se afirma em:
não há mais tempo suficiente para refazer ou reviver toda
a existência. Por outro lado, existem aqueles idosos que a) As teorias apontadas nas proposições I e III compreen-
possuem a sensação de dever cumprido e, experimentam dem o desenvolvimento como estágios e/ou períodos
o sentimento de integridade e dignidade, acolhendo a que se sucedem. 
velhice como algo positivo (FONTAINE, 2010). b) Segundo a teoria apontada na proposição III, o nível
Os estudos, que usam como base as teorias de Jean de desenvolvimento real de uma criança define fun-
Piaget, Lev Vygotsky, Erik Erikson e Henry Wallon, as ções que já amadureceram, ou seja, os produtos finais
quais abordam suas ideias diante do desenvolvimento
6 www.psicologado.com.br/ pt.wikipedia.org

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do desenvolvimento.  medida que a pessoa se vai progressivamente adaptan-
c) As teorias apontadas nas proposições I e II apresentam do ao ambiente de uma forma mais complexa.
como foco de estudo e pesquisa o desenvolvimento
sócio-cognitivo. 
d) Para a teoria apontada na proposição III, o adulto ex- CONTRIBUIÇÕES DE PIAGET E VYGOTSKY À
periente atua como um mediador do conhecimento, EDUCAÇÃO
enquanto que para a teoria apontada na proposição
II, o adulto deve ser uma figura de afeto. 
e) Para a teoria apontada na proposição I, o ponto crítico O DESENVOLVIMENTO HUMANO EM PROCES-
do desenvolvimento é a relação entre as bases bioló- SO DE CONSTRUÇÃO – PIAGET, VYGOSTKY E
gicas do comportamento e os acontecimentos sociais, WALLON.
sendo o conceito fundamental o de sistema funcional
do aprendizado.   Segundo Silva, as principais interpretações das ques-
tões relativas à natureza da aprendizagem remetem a um
RESPOSTA: Letra B. passado histórico da filosofia e da psicologia. Diversas
Em “a”, Errado – Vygostky tem uma abordagem sócio- correntes de pensamento se desenvolveram, definindo
-interacionista que buscava caracterizar os aspectos paradigmas educacionais como o empirismo, o inatismo
tipicamente humanos do comportamento e elaborar ou nativismo, os associacionistas, os teóricos de campo
hipóteses de como as características humanas se for- e os teóricos do processamento da informação ou psico-
mam ao longo da história do indivíduo. Sua teoria não logia cognitiva.
defendia o desenvolvimento em estágios. A corrente do empirismo tem como princípio funda-
Em “c”, Errado – Piaget acreditava que a maturação mental considerar que o ser humano, ao nascer, é como
biológica estabelece as pré-condições para o desenvol- uma “tábula rasa” e tudo deve aprender, desde as ca-
vimento cognitivo. pacidades sensoriais mais elementares aos comporta-
Em “d”, Errado – Segundo Erickson, cada estágio/ fase mentos adaptativos mas complexos. A mente é conside-
do desenvolvimento da criança é importante e deve ser rada inerte, e as ideias vão sendo gravadas a partir das
bem resolvida para que a próxima fase possa ser supe- percepções. Baseado neste pressuposto, a inteligência é
rada sem problemas. concebida como uma faculdade capaz de armazenar e
Em “e” Errado - Alexander Romanovich Luria foi quem acumular conhecimento.
apresentou a Teoria do Sistema Funcional do Apren- O inatismo ou nativismo argumenta que a maioria
dizaddo. Segundo ele, a função cerebral não pode ser dos traços característicos de um indivíduo é fixado desde
entendida como a função de uma área em particular e, o nascimento e que a hereditariedade permite explicar
com isso, a função passa a ser entendida como um sis- uma grande parte das diferenças individuais físicas e psi-
tema funcional completo e complexo, sem reduzir uma cológicas. As formas de conhecimento estão pré-deter-
atividade cognitiva complexa a uma ou poucos agrupa- minadas no sujeito que aprende.
mentos neuronais específicos. Para os associacionistas, o principal pressuposto con-
siste em explicar que o comportamento complexo é a
2. (UFRN – COMPERVE – 2017) Para Piaget, o cresci- combinação de uma série de condutas simples. Como
mento cognitivo é um processo que ocorre em duas eta- precursores desta corrente são de pensamento pode-se
pas: pela assimilação e pela acomodação. Tal processo citar Edward L. Thorndike e B.F. Skinner e suas respectivas
é acompanhado de três princípios inter-relacionados, teorias do comportamento reflexo ou estímulo-resposta.
quais sejam:  Para Thorndike apud Pettenger e Gooding, o padrão
básico da aprendizagem é uma resposta mecanicista às
a) assimilação, esquema e acomodação.  forças externas. Um estímulo provoca uma resposta. Se a
b) esquema, organização e acomodação.  resposta é recompensada, é aprendida.
c) organização, adaptação e equilíbrio.  Já para Skinner, a ênfase é dada à questão do contro-
d) equilíbrio, organização e esquema.  le do comportamento pelos reforços que ocorrem com
a resposta ou após a mesma com o propósito de atingir
RESPOSTA: Letra C. Piaget estudava como é que um metas específicas ou definir comportamentos manifestos.
organismo se adapta ao seu ambiente (ele descreveu As grandes escolas da corrente dos Teóricos de Cam-
esta capacidade como inteligência). Segundo ele, o po, são representadas, na Gestalt pelos alemães Werthei-
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

comportamento é controlado através de organizações mer, Koffka e Köhler, e na Fenomenologia, por Combs e
mentais denominadas “esquemas”, que o indivíduo Snygg (Pettenger e Gooding). Nestas escolas prevalece
utiliza para representar o mundo e para designar as a concepção de que as pessoas são capazes de pensar,
ações. Essa adaptação é guiada por uma orientação perceber e de responder a uma dada situação, de acordo
biológica para obter o balanço entre esses esquemas com as suas percepções e interpretações desta situação.
e o ambiente em que está. (equilibração). Assim, es- Diferentemente das primeiras, em que o comportamento
tabelecer um desequilíbrio é a motivação primária para é sequencial, do mais simples ao mais complexo, nesta
alterar as estruturas mentais do indivíduo. Piaget des- corrente, o todo ou total é mais que a soma das partes.
creveu dois processos utilizados pelo sujeito na sua Na Gestalt, o paradigma de aprendizagem é a solu-
tentativa de adaptação: assimilação e acomodação. ção de problemas e ocorre do total para as partes. Con-
Estes dois processos são utilizados ao longo da vida à siste também na organização dos padrões de percepção.

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Segundo Fialho, na Gestalt há duas maneiras de se pensamento, os comportamentos relativos à tomada de
aprender a resolver problemas: pelo aprendizado condu- decisões e resolução de problemas são alguns dos “pro-
zido ou pelo aprendizado pelo entendimento. Isto signi- cessos centrais” dos indivíduos dificilmente observáveis e
fica que conforme a organização da situação de aprendi- que são investigados.
zagem, dirigida (instrucionista) ou autodirigida (ativa), o
indivíduo aprende, entretanto, deve-se promover situa- As abordagens cognitivistas clássicas: o construti-
ções de aprendizagem que sejam suficientemente ricas vismo de Piaget, o sóciointeracionismo de Vygotsky e
para que o aprendiz possa fazer escolhas e estabelecer Wallon
relações entre os elementos de uma situação. Escolher
entre as quais para ele, aprendiz, conduza a uma estrutu- Dentre as teorias mais contemporâneas de aprendi-
ração eficaz de suas percepções e significados. zagem, em especial as cognitivistas, destacamos a teoria
Na Fenomenologia, o todo é compreendido de modo construtivista de Jean Piaget e as teorias sociointeracio-
mais detalhado, sem realmente fragmentar as partes. nistas de Lev Vygotsky e Henri Wallon devido à perti-
Considera, ainda, entre outras premissas, que a procura nência com que suas preocupações epistemológicas, cul-
de adequação ou auto atualização do indivíduo é a for- turais, linguísticas, biológicas e lógico-matemáticas têm
ça que motiva todo o comportamento. A aprendizagem, sido difundidas e aplicadas para o ambiente educacional,
como processo de diferenciação, move-se do grosseiro em especial na didática e em alguns dos programas de
para o refinado. ensino auxiliado por computador, bem como sua in-
Os teóricos do Processamento da Informação ou Psi- fluencia no desenvolvimento de novas pesquisas na área
cologia Cognitiva, de origem mais recente, reúnem di- da cognição e educação.
versas abordagens. Estes teóricos estudam a mente e a
inteligência em termos de representações mentais e pro- A abordagem construtivista de Jean Piaget
cessos subjacentes ao comportamento observável. Con-
sideram o conhecimento como sistema de tratamento da As respostas às questões sobre a natureza da apren-
informação. dizagem de Piaget são dadas à luz de sua epistemologia
Segundo Misukami, uma abordagem cognitivista im- genética, na qual o conhecimento se constrói pouco a
plica em estudar cientificamente a aprendizagem como pouco, à medida em que as estruturas mentais e cogniti-
um produto resultante do ambiente, das pessoas ou de vas se organizam, de acordo com os estágios de desen-
fatores externos a ela. Como as pessoas lidam com estí- volvimento da inteligência.
mulos ambientais, organizam dados, sentem e resolvem A inteligência é antes de tudo adaptação. Esta ca-
problemas, adquirem conceitos e empregam símbolos racterística se refere ao equilíbrio entre o organismo e o
constituem, pois, o centro da investigação. meio ambiente, que resulta de uma interação entre assi-
Em essência, na psicologia cognitiva, as atividades milação e acomodação.
mentais são o motor dos comportamentos. A assimilação e a acomodação são, pois, os motores
Opondo-se à concepção behavorista, os teóricos da aprendizagem. A adaptação intelectual ocorre quan-
cognitivos preocupam-se em desvendar a “caixa preta” do há o equilíbrio de ambas.
da mente humana. A noção de representação é central Segundo discorre Ulbritch, a aquisição do conhe-
nestas pesquisas. A representação é definida como toda cimento cognitivo ocorre sempre que um novo dado é
e qualquer construção mental efetuada a um dado mo- assimilado à estrutura mental existente que, ao fazer esta
mento e em um certo contexto. acomodação modifica-se, permitindo um processo con-
Portanto, memória, percepção, aprendizagem, resolu- tínuo de renovação interna. Na organização cognitiva,
ção de problemas, raciocínio e compreensão, esquemas são assimiladas o que as assimilações passadas prepa-
e arquiteturas mentais são alguns dos principais objetos ram, para assimilar, sem que haja ruptura entre o novo
de investigação da área, cujas aplicações vêm sendo uti- e o velho.
lizadas na construção de modelos explícitos em formas Pela assimilação, justificam-se as mudanças quantita-
de programas de computador (softwares), gráficos, ar- tivas do indivíduo, seu crescimento intelectual mediante
quiteturas ou outras esquematizações do processamento a incorporação de elementos do meio a si próprio.
mental, em especial nos sistemas de Inteligência Artificial. Pela acomodação, as mudanças qualitativas de de-
Como afirma Sternberg, os psicólogos do processa- senvolvimento modificam os esquemas existentes em
mento da informação estudam as capacidades intelec- função das características da nova situação; juntas jus-
tuais humanas, analisando a maneira como as pessoas tificam a adaptação intelectual e o desenvolvimento das
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

solucionam as difíceis tarefas mentais para construir estruturas cognitivas.


modelos artificiais onde estes modelos tem por objetivo As estruturas de conhecimento, designadas por Piaget
compreender os processos, estratégias e representações (Gaonach’h e Golder) como esquemas, se complexificam
mentais utilizadas pelas pessoas no desempenho destas sobre o efeito combinado dos mecanismos de assimilação e
tarefas. acomodação. Ao nascer, o indivíduo ainda não possui estas
Complementando esta classificação, Fialho destaca estruturas, mas reflexos (sucção, por exemplo) e um modo de
que os psicólogos cognitivistas procuram compreender emprego destes reflexos para elaboração dos esquemas que
a “mente” e sua capacidade (realização) na percepção, na irão se desenvolver.
aprendizagem, no pensamento e no uso da linguagem. As obras de Piaget e de seus interpretantes discorrem
Assim, a organização do conhecimento, o processamen- sobre os estágios de desenvolvimento da inteligência,
to de informações, a aquisição de conceitos, os estilos de que se efetua de modo sucessivo, segundo a lógica das

20
construções mentais - da inteligência sensório-motora à inteligência operatório formal, conforme se ilustra sintetica-
mente no quadro:

Quadro – Estágios do desenvolvimento da inteligência segundo Piaget

ESTÁGIO EQUILÍBRIO LÓGICA ORGANIZADORA


Sensório-motor 18 meses até 2 anos Não há lógica
Operatório concreto - Preparação: entre 2 e 7 anos Lógica das relaçãoes e das transformações sobre
- Equilíbrio: entre 7 e 11 anos o material visível (objetos presentes)
Operatório formal Cerca de 16 anos Lógica desarticulada do concreto

A primeira forma de inteligência é uma estrutura sensório motora, que permite a coordenação das informações
sensoriais e motoras. Surge aos cerca de 18 meses. Consuma-se e equilibra-se entre os 18 meses e 2 anos.
No estágio das operações concretas, esta estrutura (equilibrada) se acha aperfeiçoada: o que a criança teria adqui-
rido no nível da ação, ela vai aprender a fazer em pensamento. Precede de uma fase de preparação entre 2 e 7 anos e
se equilibra entre 7 e 11 anos.
No estágio das operações formais, operam-se novas modificações e deve se equilibrar para poder se aplicar, não
mais aos objetos presentes, mas aos objetos ausentes, hipotéticos.
O desenvolvimento das estruturas mentais segue uma lógica de construção semelhante aos estudos da lógica, ou
seja, que o desenvolvimento da inteligência em seus sucessivos estágios segue uma lógica coerente, tal que pode ser
descrita em suas estruturas.
Segundo levantou Ulbritch, a equilibração, enfatizada no quadro 2.1, é um mecanismo autorregulador, necessário
para garantir uma eficiente integração com o meio. Quando um indivíduo sofre um desequilíbrio, de qualquer natureza,
o organismo vai buscar o equilíbrio, assimilando ou acomodando um novo esquema.

A autora relaciona quatro fatores determinantes do desenvolvimento cognitivo: A equilibração é o primeiro e cons-
titui-se no nível de processamento das reestruturações internas, ao longo da construção sequencial dos estágios.
O segundo é a maturação, relacionado à complexificação biológica da maturação do sistema nervoso.
Já o terceiro fator é a interação social, relacionado com a imposição do nível operatório das regras, valores e signos
da sociedade em que o indivíduo se desenvolve e com as interações que compõem o grupo social.
O quarto é referente à experiência ativa do indivíduo. Sobre este fator Misukami afirma que podem ocorrer de três
formas:
- devido ao exercício, resultando na consolidação e coordenação de reflexos hereditários e exercício de operações
intelectuais aplicadas ao objeto;
- devido à experiência física, referente à ação sobre o objeto para descobrir as propriedades que são abstraídas
destes, sendo que o resultado da ação está vinculado ao objeto;
- devido à experiência lógico - matemática, resultantes da ação sobre os objetos, de forma a descobrir propriedades
que são abstraídas destas pelo sujeito. Consistem em conhecimentos retirados das ações sobre os objetos, típi-
cas do estágio operatório formal, que é resultado da equilibração. A condição para que seja obtida é a interação
do sujeito com o meio.

Piaget não desenvolveu uma teoria da aprendizagem, mas sua teoria epistemológica de como, quando e por que
o conhecimento se constrói obteve grande repercussão na área educacional. Predominantemente interacionistas, seus
postulados sobre desenvolvimento da autonomia, cooperação, criatividade e atividade centrados no sujeito influen-
ciaram práticas pedagógicas ativas, centradas nas tarefas individuais, na solução de problemas, na valorização do erro
e demais orientações pedagógicas.
No plano da informática, o trabalho de Piaget tem contribuído para modelagens computacionais na área de IA em
educação, desenvolvimento de linguagens de programação e outras modalidades de ensino auxiliado por computador
com orientação construtivista.
Dentre os vários programas existentes, o mais popular é o LOGO, caracterizado como ambiente informático emba-
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

sado no construtivismo. Neste ambiente o indivíduo constrói, ele próprio, os mecanismos do pensamento e os conhe-
cimentos a partir das interações que tem com seu ambiente psíquico e social.

A abordagem sociointeracionista do desenvolvimento cognitivo de Lev Vygotsky

Os trabalhos de Vygotsky centram-se principalmente na origem social da inteligência e no estudo dos processos
sóciocognitivo.
Segundo Gilli e Gaonach’h, Vygotsky distingue duas formas de funcionamento mental: os processos mentais ele-
mentares e os superiores.
Os processos mentais elementares correspondem ao estágio de inteligência sensório-motora de Piaget e são

21
resultantes do capital genético da espécie, da maturação vida. A predominância da afetividade orienta as primeiras
biológica e da experiência da criança com seu ambiente reações do bebê às pessoas, às quais intermediam sua
físico. relação com o mundo físico;
Já as funções psicológicas superiores, ressalta Olivei- Sensório-motor e projetivo, que vai até os três anos.
ra, são construídas ao longo da história social do homem. A aquisição da marcha e da prensão, dão à criança maior
Como? Na sua relação com o mundo, mediada pelos ins- autonomia na manipulação de objetos e na exploração
trumentos e símbolos desenvolvidos culturalmente, fa- dos espaços. Também, nesse estágio, ocorre o desenvol-
zendo com que o homem se distinga dos outros animais vimento da função simbólica e da linguagem. O termo
nas suas formas de agir no e com o mundo. projetivo refere-se ao fato da ação do pensamento pre-
Fialho destaca que, para Vygotsky, o desenvolvimento cisar dos gestos para se exteriorizar. O ato mental “proje-
humano compreende um processo dialético, caracteriza- ta-se” em atos motores. Como diz Dantas, para Wallon, o
do pela periodicidade, irregularidade no desenvolvimen- ato mental se desenvolve a partir do ato motor;
to das diferentes funções, metamorfose ou transforma- - Personalismo, ocorre dos três aos seis anos.
ção qualitativa de uma forma em outra, entrelaçando Nesse estágio desenvolve-se a construção da cons-
fatores internos e externos e processos adaptativos. ciência de si mediante as interações sociais, reo-
A maturação biológica e o desenvolvimento das rientando o interesse das crianças pelas pessoas;
funções psicológicas superiores dependem, conforme - Categorial. Os progressos intelectuais dirigem
Fialho, do meio social, que é essencialmente semiótico. o interesse da criança para as coisas, para o conhe-
Aprendizado e desenvolvimento interagem entrelaçados cimento e conquista do mundo exterior;
nessa dialética de forma que um acelere ou complete o - Predominância funcional. Ocorre nova defini-
outro. ção dos contornos da personalidade, desestrutura-
Gilli diz que a relação entre educação, aprendizagem dos devido às modificações corporais resultantes
e desenvolvimento vem em primeiro lugar. Já o papel da ação hormonal. Questões pessoais, morais e
da mediação social nas relações entre o indivíduo e seu existenciais são trazidas à tona.
ambiente (mediado pelas ferramentas) e nas atividades
psíquicas intraindividuais (mediadas pelos signos) em O referido autor ressalta ainda que na sucessão de es-
segundo lugar, e, a passagem entre o interpsíquico e o tágios há uma alternância entre as formas de atividades
intrapsíquico nas situações de comunicação social, em e de interesses da criança, denominada de “alternância
terceiro lugar. Estes são os três princípios fundamentais, funcional”, onde cada fase predominante (de dominân-
totalmente interdependentes nos quais Vygotsky susten- cia, afetividade, cognição), incorpora as conquistas rea-
ta a teoria do desenvolvimento dos processos mentais lizadas pela outra fase, construindo-se reciprocamente,
superiores. num permanente processo de integração e diferenciação.

A abordagem de Henri Wallon Outras abordagens sobre aprendizagem

A gênese da inteligência para Wallon é genética e or- Outras correntes teóricas buscaram aprofundar e/ou
ganicamente social, ou seja, “o ser humano é organica- explicar as teorias mais representativas, propondo inclu-
mente social e sua estrutura orgânica supõe a interven- sive novas abordagens para compreensão dos processos
ção da cultura para se atualizar”. de desenvolvimento cognitivo e aprendizagem. Dentre
Nesse sentido, a teoria do desenvolvimento cog- elas destacam-se:
nitivo de Wallon é centrada na psicogênese da pessoa - Albert Bandura, que levanta uma abordagem de
completa. aprendizagem social e o papel das influências so-
Para Galvão, o estudo de Wallon é centrado na crian- ciais na aprendizagem.
ça contextualizada, onde o ritmo no qual se sucedem as - J. S. Bruner e a teoria de que o desenvolvimento
etapas do desenvolvimento é descontínuo, marcado por cognitivo se dá numa perspectiva de tratamento
rupturas, retrocessos e reviravoltas, provocando em cada da informação, que ocorre de três modos: inativo,
etapa profundas mudanças nas anteriores. onde a informação é representada em termos de
Nesse sentido, a passagem dos estágios de desenvol- ações especificadas e habituais (caminhar, andar
vimento não se dá linearmente, por ampliação, mas por de bicicleta); o modo icônico, onde a informação é
reformulação, instalando-se no momento da passagem representada em termos de imagens, e, simbólica,
de uma etapa a outra, crises que afetam a conduta da onde a informação é apresentada sobre a forma de
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

criança. um esquema arbitrário e abstrato.


Conflitos se instalam nesse processo e são de origem - Maturana e Varela, que não desenvolveram um es-
exógena quando resultantes dos desencontros entre as tudo sobre a cognição especificamente, mas sua
ações da criança e o ambiente exterior, estruturado pelos teoria sobre o homem como um sistema autopoi-
adultos e pela cultura e endógenos e quando gerados ético tem influenciado bastante a construção de
pelos efeitos da maturação nervosa. Esses conflitos são modelos computadorizados. Os autores entendem
propulsores do desenvolvimento. que os seres vivos são um tipo particular de máqui-
Os cinco estágios de desenvolvimento do ser huma- nas homeostáticas. A ideia de autopoiesis é uma
no apresentados por Galvão sucedem-se em fases com expansão da ideia de homeostase, no sentido em
predominância afetiva e cognitiva: que ela transforma todas as referências da home-
Impulsivo-emocional, que ocorre no primeiro ano de ostase em internas ao sistema e, afirma ou produz

22
a identidade do sistema. O sistema autopoiético é didática utilizada.
organizado como uma rede de processos de pro- Os programas educacionais informatizados, dos di-
dução de componentes que se regeneram conti- versos tipos, igualmente contém implícito ou explicita-
nuamente, pela sua transformação e interação, a mente (ou no uso educacional que se faz deles) os pres-
rede que os produziu e que constituem o sistema supostos teórico metodológicos desses condicionantes).
enquanto uma unidade concreta no espaço onde
ele existe, especificando o domínio topológico Fonte
onde ele se realiza como rede. SILVA, C. R. O.
- Robert M. Gagné, que compartilha dos enfoques
behavioristas e cognitivistas em sua teoria. Para ele,
as fases da aprendizagem se apresentam associadas
aos processos internos que, por sua vez, podem ser EXERCÍCIO COMENTADO
influenciados por processos externos. Para Gagné, a
aprendizagem é um processo de mudança nas ca- 1. (Prefeitura de Maria Helena/PR- Professor Educa-
pacidades do indivíduo, no qual se produz estados ção Infantil- FAFIPA/2017) No volume “Formação Pes-
persistentes e é diferente da maturação ou desen- soal e Social” do Referencial Curricular Nacional para a
volvimento orgânico. A aprendizagem se produz Educação Infantil, há orientações sobre os cuidados que
usualmente mediante interação do indivíduo com o professor deve ter com as crianças das creches e pré-
seu meio (físico, social, psicológico). As oito fases que -escolas. Sobre esse aspecto, é CORRETO afirmar:
constituem o ato de aprendizagem de Gagné.
- Paulo Freire não desenvolveu uma teoria da apren- a) Recomenda-se que seja sempre o mesmo adulto que
dizagem, mas seus postulados sobre a pedagogia alimente e cuide dos bebês com menos de seis meses,
problematizadora e transformadora enfatizam pois nesta fase o vínculo é fundamental.
uma visão de mundo e de homem não neutro. As- b) As aquisições de aprender a usar talheres, tomar líqui-
sim. o homem é um ser no mundo e com o mundo. dos na caneca, diminuir o uso da mamadeira, partilhar
A inspiração de seu trabalho nasce de dois con- das refeições à mesa com os companheiros, não são
ceitos básicos: a noção de consciência dominada tarefas para serem aprendidas na escola.
mais dois elementos subjetivos que a compõem c) É importante que o horário de sono e repouso seja
e a ideia de que há determinadas estruturas que padronizado para todas as crianças, permitindo que
conformam o modo de pensar e agir das pesso- todas tenham o mesmo ritmo em todas as atividades.
as. Essas estruturas impregnam o comportamento d) Os professores não necessitam saber os procedimen-
subjetivo à percepção e à consciência que cada in- tos diante de crianças com sinais de mal-estar, como
divíduo ou grupo tem dos fenômenos sociais. febre, vômito, convulsão ou sangramento nasal, pois
- Howard Gardner muito tem contribuído para o pro- sua tarefa é exclusivamente educacional.
cesso educacional. Ele defende que o ser huma-
no possui múltiplas inteligências, ou um espectro Resposta: Letra A. Quanto menor a criança, mais as ati-
de competências manifestadas pela inteligência. tudes e procedimentos de cuidados do adulto tem im-
Todas essas competências estão presentes no in- portância fundamental para o trabalho educativo que
divíduo, sendo `que se manifestam com maior ou realiza com ela. Na faixa de zero a seis anos os cuidados
menor intensidade, tornando o indivíduo mais ou essenciais assumem um caráter prioritário na educação
menos deficiente, mais ou menos competente institucional das crianças.
dentro de uma ou várias dessas competências. Em Sendo assim, no ato de alimentar ou trocar uma criança
sua teoria, defende que os indivíduos aprendem de pequena não é só o cuidado com a alimentação e higiene
maneiras diferentes e apresentam diferentes confi- que estão em jogo, mas a interação afetiva que envolve a
gurações e inclinações intelectuais. Destaca, ainda, situação. Ser carregado ao colo e, ao mesmo tempo, ter o
veementemente, o papel da educação no desen- seio ou mamadeira para mamar é uma experiência funda-
volvimento global e aplicação das inteligências. mental para o ser humano. Na relação estabelecida, por
As inteligências múltiplas a que se refere Garder exemplo, no momento de tomar a mamadeira, seja com a
são: a lógico-matemática, a linguística, a espacial, mãe ou com o professor de educação infantil, o binômio
a musical, a corporal- sinestésica, a interpessoal e dar e receber possibilita às crianças aprenderem sobre si
a intrapessoal. mesmas e estabelecerem uma confiança básica no outro e
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

em suas próprias competências. Elas começam a perceber


Na prática escolar convencional, a concretização das que sabem lidar com a realidade, que conseguem respos-
condições de aprendizagem que asseguram a realização tas positivas, fato que lhes dá segurança e que contribui
do trabalho docente, estão pautadas nas teorias deter- para a construção de sua identidade. Desta forma, é im-
minando as tendências pedagógicas. Estas práticas pos- portante que no início a criança seja alimentada sempre
suem condicionantes psico sociopolíticos que configu- pelo mesmo adulto pois essa situação irá possibilitar o
ram concepções inteligência e conhecimento, de homem desenvolvimento da segurança de modo que ela irá aos
e de sociedade. Com base nesses condicionantes, dife- poucos se sentir acolhida e atendida no novo ambiente.
rentes pressupostos sobre o papel da escola, a aprendi-
zagem, a relações professor-aluno, a recursos de ensi-
no e o método pedagógico .... Influenciam e orientam a

23
que abrange as séries que vão desde o primeiro ao quin-
CURRÍCULO: CONCEPÇÕES, ELABORAÇÃO, to ano e depois em Ensino Fundamental II, abrangendo
PRÁTICA as séries do sexto ano ao nono ano.
No primeiro volume direcionado ao Ensino Fun-
damental I as temáticas estão distribuídas da seguinte
Considerar que o mundo passou e passa por diver- forma: Volume 01 - Introdução aos PCNs, Volume 02 -
sas transformações é uma afirmativa muito presente em Língua Portuguesa ;Volume 03 – Matemática; Volume
nossos dias, essas transformações acontecem a cada dia. 04 - Ciências Naturais; Volume 05 - História e Geografia
Quando se descobre mais uma inovação tecnológica ou ;Volume 05.2 - História e Geografia; Volume 06 - Arte Vo-
quando pesquisas em saúde, educação e outras áreas lume ;07 - Educação Física; Volume 08.1 - Temas Trans-
são feitas e com isso mudam o nosso modo de vida e versais – Apresentação; Volume 08.2 - Temas Transver-
de pensar. É fundamental que a escola compreenda e sais – Ética; Volume 09.1 - Meio Ambiente; Volume 09.2
acompanhe essas transformações e para isso se adequar - Saúde ;Volume 10.1 - Pluralidade Cultural; Volume 10.2
e descobrir estratégias que siga essas mudanças. - Orientação Sexual. Os temas e volumes para o Ensino
Para isso a forma como se faz e se pensa a educação Fundamental II também são os mesmos que o do Funda-
deve passar por uma reformulação. A educação em nossa mental I somente são acrescentados outros conteúdos.
contemporaneidade deve ser aquela que prepare a criança Sobre os Temas Transversais que são responsáveis
e o jovem tanto para o mercado de trabalho tanto para o por projetos escolares deve se compreender o que signi-
mundo acadêmico. Mas como isso acontece? Quais são os fica: a transversalidade pode ser definida como sendo a
meios que se pode pensar para que a educação consiga al- possibilidade do estabelecimento na prática da educação
cançar esses objetivos com seus educandos? As respostas de se estabelecer uma relação entre a realidade a qual o
para essas perguntas não são prontas, são respostas que indivíduo está inserido juntamente com a realidade que
devem ser pensadas conjuntamente com as esferas gover- naquele momento ele está aprendendo. Sendo assim se
namentais (poder público), comunidade escolar (gestores, aprende a realidade na realidade, para que isso ocorra
diretores, supervisores, professores, auxiliares), alunos e a deve se ter uma mudança de pensamento em vista como
comunidade na qual a escola está inserida. certos conteúdos são trabalhados dentro da sala de aula.
Entretanto, um primeiro passo para se pensar essa O conteúdo não deve ser visto mais como isolado da rea-
mudança se dá através da reformulação do currículo, lidade do aluno e a sua realidade passa a ser valorizada
já é sabido que o currículo se constitui como um docu- e integrada no estudo de tais conteúdo. O conceito de
mento importante que estabelece as propostas a serem transversalidade surgiu a partir das demandas levanta-
alcançadas pelas escolas com seus alunos, o currículo é das ao longo do século XX por teóricos da educação que
também um espelho da sociedade a qual o governo tem já naquele tempo já pensavam em uma nova forma de
interesse em formar, por isso também é revestido de in- pensar a educação e está atrelada a didática de ensino.
teresses políticos e nacionais pensados de uma maneira Já o conceito de interdisciplinaridade pode ser com-
ampla para todo o país. É importante salientar que com preendido basicamente como sendo o estudo de um
as mudanças apresentadas logo no início do texto o cur- tema não somente em uma área, mas em outras áreas
rículo que se é pensado para os dias atuais deve garantir diferentes.
ao aluno a formação de um cidadão crítico e que seja Como exemplo da interdisciplinaridade pode dar o
capaz de compreender o mundo ao seu redor. caso de uma receita de bolo de Mandioca, dentro recei-
No caso da educação brasileira temos documentos ta de bolo de Mandioca podemos trabalhar em muitas
que são norteadores para a comunidade escolar pensar áreas do ensino. A primeira seria o ensino da Matemáti-
a reformulação de seus currículos, esses documentos fo- ca, quais são as medidas que utilizo para se ter o prepa-
ram criados no mesmo momento em que surge a LDB/96 ro do bolo? Quanto tempo gasta para ele ficar pronto?
que marca uma nova configuração sobre a educação Além da Matemática dá para se trabalhar Geografia e
brasileira pensada anteriormente, são chamados de Pa- Português pois, em determinadas regiões do Brasil não
râmetros Curriculares Nacionais. se usa o termo mandioca, mas sim macaxeira e além de
A discussão acerca da elaboração dos parâmetros trabalhar essas três matérias pode se trabalhar História
surgiu no início da década de 1990 e sobre ela tinha-se a partir do questionamento quando se deu o apareci-
os pensamentos neoliberais que circulavam no mundo mento dessa receita? Ela é uma receita que incorpora a
e que no Brasil foi colocado em prática a partir dos go- culinária de festas juninas, qual a sua importância para
vernos eleitos após o fim da ditadura. Juntamente com o essa tradição e assim o levantamento de vários ques-
pensamento neoliberal havia uma pressão internacional
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

tionamentos a partir de um único tema, esse o conceito


para que os países que se encontravam em desigualdade central da interdisciplinaridade.
pudessem se alinhar com a ordem econômica vigente, O que ocorre com a aplicação dos Parâmetros Cur-
no caso, o capitalismo, além disto durante o processo de riculares Nacionais dentro da sala de aula é que haja
elaboração dos parâmetros percebemos a pressão inter- a junção destes dois conceitos para que com isso seja
nacional, mas a pressão interna que valorizava e alme- trabalhado conceitos que até então não poderiam ser
java uma educação de qualidade e o acesso a todos ao trabalhados, entre esses conceitos podemos apresentar
ensino. Dessa forma o Parâmetros Curriculares Nacionais os conceitos de: Ética, saúde, meio ambiente, pluralida-
foram tomando forma e surgindo no fim da década de de cultural e orientação sexual que são temas presentes
1990 e hoje são referências para estados e munícipios. no cotidiano de jovens e crianças e serem questões que
Encontram-se divididos em: Ensino Fundamental 1 atualmente precisam ser discutidas cada dia mais, essas

24
propostas do governo para melhorar o sistema de ensino consolida-se o caráter classista da ideia de cultura, evi-
deve estar implantada no currículo escolar. dente na ideia de que somente as classes privilegiadas
O desenvolvimento de projetos que abrangem es- da sociedade europeia atingiriam o nível de refinamento
ses dois conceitos deve ser bem elaborados e discutidos que as caracterizaria como cultas. O sentido de cultura,
com os responsáveis pela sua aplicação, tais como super- que ainda hoje a associa às artes, tem suas origens nes-
visores, coordenadores pedagógicos e professores. sa segunda concepção: cultura, tal como as elites a con-
A sua elaboração deve ser planejada e isso causa as cebem, corresponde ao bem apreciar música, literatura,
vezes um desafio, pois em grande parte depende da boa cinema, teatro, pintura, escultura, filosofia. Será que não
vontade e motivação dos professores para sua realiza- encontramos vestígios dessa concepção tanto em alguns
ção, pelo fato de que o professor deve sair da sua área de nossos atuais currículos como em textos que se es-
de conforto e desenvolver um projeto com outro profes- crevem sobre currículo? Para alguns docentes, o estudo
sor. Descobrir e pesquisar são palavras importantes para da literatura, por exemplo, ainda tende a se restringir a
se trabalhar esses dois conceitos, pois, se trabalhado de escritores e livros vistos como clássicos.
modo errado pode tornar-se desconexo com a realidade Para alguns estudiosos da cultura e da educação, os
em que o aluno se encontra, preservando e respeitando grandes autores, as grandes obras e as grandes ideias
o currículo de cada escola. deveriam constituir o núcleo central dos currículos de
A aplicação destes conceitos bem trabalhados faz nossas escolas. Já no século XX, a noção de cultura passa
com que tantos professores quanto os alunos tenham a incluir a cultura popular, hoje penetrada pelos conteú-
ganham positivos. Os professores com uma boa coorde- dos dos meios de comunicação de massa. Diferenças e
nação e tutoria saberem aproveitar cada vez mais aquilo tensões entre os significados de cultura elevada e de cul-
que uma disciplina tem a oferecer, aprenderão também tura popular acentuam-se, levando a um uso do termo
a conviver em equipe. Os alunos também saberão traba- cultura que se marca por valorizações e avaliações. Será
lhar em equipe, desenvolver o espírito de cooperação e que algumas de nossas escolas não continuam a fechar
de trabalho em equipe. suas portas para as manifestações culturais associadas à
A utilização destes dois conceitos em sala de aula é cultura popular, contribuindo, assim, para que saberes e
nova para os professores que muitas vezes estão a bas- valores familiares a muitos(as) estudantes sejam desvalo-
tante tempo em sala e também para os alunos, dessa rizados e abandonados na entrada da sala de aula? Pode-
forma, medidas que podem ser tomadas já durante os ria ser diferente? Como? Um terceiro sentido da palavra
cursos de licenciatura que promovam a discussão com cultura, originado no Iluminismo, a associa a um proces-
os estudantes e trabalhos com eles permitem que estes so secular geral de desenvolvimento social. Esse signifi-
quando chegarem nas salas de aula saibam como utilizá- cado é comum nas ciências sociais, sugerindo a crença
-los na sala de aula produzindo e desenvolvendo o pro- em um processo harmônico de desenvolvimento da hu-
cesso de ensino aprendizagem instigante e envolvente manidade, constituído por etapas claramente definidas,
para seus alunos. pelo qual todas as sociedades inevitavelmente passam.
Esses parâmetros deixam claro que a luta por uma Tal processo acaba equivalendo, por “coincidência”, aos
educação de qualidade que valorize o indivíduo e que rumos seguidos pelas sociedades europeias, as únicas
acima tenha como objetivo maior a diminuição da desi- a atingirem o grau mais elevado de desenvolvimento.
gualdade faz com que ações, cursos, tutorias para pro- Há ainda reflexos dessa visão no currículo? Parece-nos
fessores sejam desenvolvidas a cada dia mais, promo- que sim. Em alguns cursos de História, por exemplo, as
vendo assim uma educação de qualidade e igualitária. referências se fazem, dominantemente, às histórias dos
povos “desenvolvidos”, o que nos aliena dos esforços e
1. Cultura, diversidade cultural e currículo dos rumos seguidos na maioria dos países que formam
o chamado Terceiro Mundo Em um quarto sentido, a
Que entendemos pela palavra cultura? Talvez seja palavra “culturas” (no plural) corresponde aos diversos
útil esclarecermos, inicialmente, como a estamos conce- modos de vida, valores e significados compartilhados
bendo, já que seus sentidos têm variado ao longo dos por diferentes grupos (nações, classes sociais, grupos
tempos, particularmente no período da transição de for- étnicos, culturas regionais, geracionais, de gênero etc) e
mações sociais tradicionais para a modernidade (Bocock, períodos históricos. Trata-se de uma visão antropológica
1995; Canen e Moreira, 2001). Acreditamos que tal escla- de cultura, em que se enfatizam os significados que os
recimento pode subsidiar a discussão das relações entre grupos compartilham, ou seja, os conteúdos culturais.
currículo e cultura. O primeiro e mais antigo significado Cultura identifica-se, assim, com a forma geral de vida
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

de cultura encontra-se na literatura do século XV, em que de um dado grupo social, com as representações da rea-
a palavra se refere a cultivo da terra, de plantações e de lidade e as visões de mundo adotadas por esse grupo. A
animais. É nesse sentido que entendemos palavras como expressão dessa concepção, no currículo, poderá eviden-
agricultura, floricultura, suinocultura. O segundo signifi- ciar-se no respeito e no acolhimento das manifestações
cado emerge no início do século XVI, ampliando a ideia culturais dos(as) estudantes, por mais desprestigiadas
de cultivo da terra e de animais para a mente humana. que sejam. Finalmente, um quinto significado tem tido
Ou seja, passa-se a falar em mente humana cultivada, considerável impacto nas ciências sociais e nas humani-
afirmando-se mesmo que somente alguns indivíduos, dades em geral. Deriva da antropologia social e também
grupos ou classes sociais apresentam mentes e maneiras se refere a significados compartilhados. Diferentemente
cultivadas e que somente algumas nações apresentam da concepção anterior, porém, ressalta a dimensão sim-
elevado padrão de cultura ou civilização. No século XVIII, bólica, o que a cultura faz, em vez de acentuar o que

25
a cultura é. Nessa mudança, efetua- se um movimento que essas situações se sustentam. Isso se torna claro ao
do que para o como. Concebe-se, assim, a cultura como nos lembrarmos dos inúmeros e expressivos relatos de
prática social, não como coisa (artes) ou estado de ser práticas, em salas de aulas, que contribuem para crista-
(civilização). Nesse enfoque, coisas e eventos do mundo lizar preconceitos e discriminações, representações este-
natural existem, mas não apresentam sentidos intrínse- reotipadas e desrespeitosas de certos comportamentos,
cos: os significados são atribuídos a partir da linguagem. certos estudantes e certos grupos sociais. Em Conselhos
Quando um grupo compartilha uma cultura, comparti- de Classe, algumas dessas visões, lamentavelmente, se
lha um conjunto de significados, construídos, ensinados refletem em frases como: “vindo de onde vem, ele não
e aprendidos nas práticas de utilização da linguagem. A podia mesmo dar certo na escola!”. Ao mesmo tempo,
palavra cultura implica, portanto, o conjunto de práticas há inúmeros e expressivos relatos de práticas alternativas
por meio das quais significados são produzidos e com- em que professores(as) desafiam as relações de poder
partilhados em um grupo. São os arranjos e as relações que têm justificado e preservado privilégios e margina-
envolvidas em um evento que passam, dominantemente, lizações, procurando contribuir para elevar a autoestima
a despertar a atenção dos que analisam a cultura com de estudantes associados a grupos subalternizados. O
base nessa quinta perspectiva, passível de ser resumida currículo é um campo em que se tenta impor tanto a
na ideia de que cultura representa um conjunto de prá- definição particular de cultura de um dado grupo quan-
ticas significantes. Não será pertinente considerarmos to o conteúdo dessa cultura. O currículo é um território
também o currículo como um conjunto de práticas em em que se travam ferozes competições em torno dos
que significados são construídos, disputados, rejeitados, significados.
compartilhados? Como entender, então, as relações en- Ou seja, no processo curricular, distintas e complexas
tre currículo e cultura? Quando um grupo compartilha têm sido as respostas dadas à diversidade e à pluralidade
uma cultura, compartilha um conjunto de significados, que marcam de modo tão agudo o panorama cultural
construídos, ensinados e aprendidos nas práticas de uti- contemporâneo. Cabe também ressaltar a significativa
lização da linguagem. A palavra cultura implica, portanto, influência exercida, junto às crianças e aos adolescentes
o conjunto de práticas por meio das quais significados que povoam nossas salas de aula, pelos “currículos” por
são produzidos e compartilhados em um grupo. eles “vividos” em outros espaços socioeducativos (sho-
Se entendermos o currículo, como propõe Williams, ppings, clubes, associações, igrejas, meios de comuni-
como escolhas que se fazem em vasto leque de possibi- cação, grupos informais de convivência etc), nos quais
lidades, ou seja, como uma seleção da cultura, podemos se fazem sentir com intensidade muitos dos complexos
concebê-lo, também, como conjunto de práticas que fenômenos associáveis ao processo de globalização que
produzem significados. Nesse sentido, considerações hoje vivenciamos. Nesses outros espaços extraescolares,
de Silva podem ser úteis. Segundo o autor, o currículo os currículos tendem a se organizar com objetivos distin-
é o espaço em que se concentram e se desdobram as tos dos currículos escolares, o que faz com que valores
lutas em torno dos diferentes significados sobre o social como padronização, consumismo, individualismo, sexis-
e sobre o político. É por meio do currículo que certos mo e etnocentrismo possam entrar em acirrada compe-
grupos sociais, especialmente os dominantes, expressam tição com outras metas, visadas por escolas e famílias.
sua visão de mundo, seu projeto social, sua “verdade”. Vale perguntar: como temos, nas salas de aula, reagido
O currículo representa, assim, um conjunto de práticas a esse “confuso” panorama em que a diversidade se faz
que propiciam a produção, a circulação e o consumo de tão presente? Como temos nos esforçado para deses-
significados no espaço social e que contribuem, intensa- tabilizar privilégios e discriminações? Como temos bus-
mente, para a construção de identidades sociais e cultu- cado neutralizar influências “indesejáveis”? Como temos,
rais. O currículo é, por consequência, um dispositivo de na escola, dialogado com os “currículos” desses outros
grande efeito no processo de construção da identidade espaços? Em resumo, o complexo, variado e conflituo-
do(a) estudante. Não se mostra, então, evidente a íntima so cenário cultural em que estamos imersos se reflete
relação entre currículo e cultura? Se, em uma sociedade no que ocorre em nossas salas de aula, afetando sen-
cindida, a cultura é um terreno no qual se processam dis- sivelmente o trabalho pedagógico que nelas se proces-
putas pela preservação ou pela superação das divisões sa. Voltamos a perguntar: como as diferenças derivadas
sociais, o currículo é um espaço em que esse mesmo de dinâmicas sociais como classe social, gênero, etnia,
conflito se manifesta. O currículo é um campo em que se sexualidade, cultura e religião têm “contaminado” nos-
tenta impor tanto a definição particular de cultura de um so currículo, tanto o currículo formal quanto o currículo
dado grupo quanto o conteúdo dessa cultura. O currícu- oculto? Como temos considerado, no currículo, essa plu-
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

lo é um território em que se travam ferozes competições ralidade, esse caráter multicultural de nossa sociedade?
em torno dos significados. O currículo não é um veículo Como articular currículo e multiculturalismo? Que es-
que transporta algo a ser transmitido e absorvido, mas tratégias pedagógicas podem ser selecionadas? Temos,
sim um lugar em que, ativamente, em meio a tensões, professores e gestores, reservado tempo e espaço su-
se produz e se reproduz a cultura. Currículo refere-se, ficientes para que essas discussões aconteçam nas es-
portanto, a criação, recriação, contestação e transgres- colas? Como nossos projetos político-pedagógicos têm
são. Como todos esses processos se “concretizam” no incorporado tais preocupações? Como temos atendido
currículo? Pode-se dizer que no currículo se evidenciam ao que determina a Lei nº 10639/2003, que torna obri-
esforços tanto por consolidar as situações de opressão e gatório, nos estabelecimentos de ensino fundamental e
discriminação a que certos grupos sociais têm sido sub- médio, o ensino sobre História e Cultura afro-brasileira?
metidos, quanto por questionar os arranjos sociais em De que modo os professores se têm inteirado das lutas

26
e conquistas dos negros, das mulheres, dos homosse- marca esse panorama. É aquele que vê todos os estudan-
xuais e de outros grupos minoritários oprimidos? Sem tes como idênticos, não levando em conta a necessida-
pretender oferecer respostas prontas a serem aplicadas de de estabelecer diferenças nas atividades pedagógicas
em quaisquer situações, move-nos a intenção de apre- que promove. O daltonismo cultural a que nos referimos
sentar alguns princípios que possam nortear a constru- expressa-se, por exemplo, na visão da professora de uma
ção coletiva, em cada escola, de currículos que visem a escola normal que desencoraja uma pesquisadora inte-
enfrentar alguns dos desafios que a diversidade cultural ressada em compreender o tratamento dado, na escola,
nos tem trazido. Fundamentamo-nos, nesse propósito, a questões referentes a racismo na formação docente.
em estudos, pesquisas, práticas e depoimentos de do- “Lamento, mas aqui você não terá material para seu es-
centes comprometidos com uma escola cada vez mais tudo. Não temos problema nenhum de racismo aqui.
democrática. Nossa intenção é convidar o profissional da Eu, por exemplo, ao entrar em sala, trato todos os meus
educação a engajar- se no instigante processo de pensar alunos como se fossem brancos”. O daltonismo é tão in-
e desenvolver currículos para essa escola. tenso que chega a impedir que a professora reconheça a
Desejamos, com os princípios que vamos sugerir, in- presença da diversidade (e de suas consequências) na es-
tensificar a sensibilidade do(a) docente e do gestor para cola. Em casos como esse, pode ser útil, em um primeiro
a pluralidade de valores e universos culturais, para a ne- momento, buscarmos sensibilizar o corpo docente para
cessidade de um maior intercâmbio cultural no interior a pluralidade e para a diversidade. Como fazê-lo? Que
de cada sociedade e entre diferentes sociedades, para estratégias empregar nessa tarefa, para que se possa
a conveniência de resgatar manifestações culturais de ter a maior adesão possível dos que ainda não percebe-
determinados grupos cujas identidades se encontram ram a importância de tais aspectos? Nessa perspectiva,
ameaçadas, para a importância da participação de todos é importante articular o aprofundamento teórico com
no esforço por tornar o mundo menos opressivo e in- vivências de experiências em que os/as profissionais da
justo, para a urgência de se reduzirem discriminações e educação são convidados/as a se colocar “em situação”
preconceitos. O objetivo maior concentra-se, cabe desta- e analisar as suas próprias reações. Como se sentiriam e
car, na contextualização e na compreensão do processo reagiriam, por exemplo, se, como algumas pessoas ne-
de construção das diferenças e das desigualdades. Nosso gras ainda têm sido, fossem impedidos(as) de entrar pela
propósito é que os currículos desenvolvidos tornem evi- “porta da frente” em um edifício residencial ou em um
dente que elas não são naturais; são, ao contrário, “in- hotel de luxo?
venções/construções” históricas de homens e mulheres, Outra estratégia possível diz respeito ao resgate
sendo, portanto, passíveis de serem desestabilizadas e de histórias de vida e análise de estudos de caso reais,
mesmo transformadas. Ou seja, o existente nem pode ser trazidos pelos próprios educadores ou registrados em
aceito sem questionamento nem é imutável; constitui-se, pesquisas realizadas sobre tal temática. Talvez alguns
sim, em estímulo para resistências, para críticas e para a docentes se estimulem a apresentar e a discutir situa-
formulação e a promoção de novas situações pedagógi- ções em que se viram, eles próprios, discriminados, ou
cas e novas relações sociais. em que presenciaram pessoas sendo depreciadas e des-
respeitadas. Como se comportaram nesses momentos?
2. Princípios para a construção de currículos mul- Em resumo, a ruptura do daltonismo cultural e da visão
ticulturalmente orientados monocultural da dinâmica escolar é um processo pes-
soal e coletivo que exige desconstruir e desnaturalizar
Passemos aos nossos princípios. Insistimos, inicial- estereótipos e “verdades” que impregnam e configuram
mente, na necessidade de uma nova postura, por parte a cultura escolar e a cultura da escola. Após a adoção de
do professorado e dos gestores, no esforço por construir uma nova postura frente à pluralidade, outros princípios
currículos culturalmente orientados. Propomos, a seguir, e propósitos podem mostrar-se úteis na formulação dos
que se reescrevam os conhecimentos escolares, que se currículos. Vejamos alguns deles.
evidencie a ancoragem social desses conhecimentos,
bem como que se transforme a escola e o currículo em 4. O currículo com um espaço em que se reescreve
espaços de crítica cultural, de diálogo e de desenvolvi- o conhecimento escolar
mento de pesquisas. Esperamos que nossos princípios
possam nortear a escolha de novos conteúdos, a adoção Sugerimos que se procure, no currículo, reescrever o
de novos procedimentos e o estabelecimento de novas conhecimento escolar usual, tendo-se em mente as dife-
relações na escola e na sala de aula. rentes raízes étnicas e os diferentes pontos de vista en-
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

volvidos em sua produção. No processo de construção


3. A necessidade de uma nova postura do conhecimento escolar, que já abordamos, se “retiram”
os interesses e os objetivos usualmente envolvidos na
Elaborar currículos culturalmente orientados deman- pesquisa e na produção do conhecimento de origem.
da uma nova postura, por parte da comunidade escolar, O conhecimento escolar tende a ficar, em decorrência
de abertura às distintas manifestações culturais. Faz-se desse processo, “asséptico”, “neutro”, despido de qual-
indispensável superar o “daltonismo cultural”, ainda bas- quer “cor” ou “sabor”. O que estamos desejando, em vez
tante presente nas escolas. O professor “daltônico cul- disso, é que os interesses ocultados sejam identificados,
tural” é aquele que não valoriza o “arco-íris de culturas” evidenciados e subvertidos, para que possamos, então,
que encontra nas salas de aulas e com que precisa tra- reescrever os conhecimentos. Desejamos que o alu-
balhar, não tirando, portanto, proveito da riqueza que no perceba o quanto, em Geografia, os conhecimentos

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referentes aos diversos continentes foram construídos implicados em muitas medidas de nossos políticos e go-
em íntima associação com o interesse, de certos países, vernantes. Certamente a análise atenta e a discussão crí-
em aumentar suas riquezas pela conquista e colonização tica de notícias referentes à decisão de invadir o Iraque,
de outros povos. Em conformidade com essa proposta, tomada pelo presidente George Bush, após os ataques
encontram-se já numerosos(as) professores(as) de His- terroristas de 11 de setembro de 2001, poderão ajudar
tória que não mais se contentam em ensinar aos(às) es- o(a) aluno(a) a contrapor à versão oficial norte-america-
tudantes apenas a visão do dominante, do vencedor. Já na uma outra versão dos acontecimentos em pauta.
se fazem frequentes, em suas aulas na escola fundamen- A leitura crítica de jornais permite também verificar
tal, discussões como: o Brasil foi descoberto ou invadido como, na França, se tenta impedir que meninas muçul-
pelos portugueses? A Lei Áurea, assinada pela Princesa manas frequentem as salas de aula usando seus véus.
Isabel, pretendeu de fato beneficiar os escravos? Domin- A justificativa é que as escolas francesas são seculares
gos Fernandes Calabar deve ser mesmo considerado um e que os símbolos religiosos, portanto, devem ser bani-
traidor? Em 1964 houve uma revolução ou um golpe? dos de suas práticas. Proibições similares têm ocorrido
Esses e outros inúmeros pontos controversos de nossa também na Alemanha, vetando-se às professoras o uso
História são discutidos por docentes e alunos(as), o que do véu. O que não se divulga é como tal medida acaba
faz brotar uma análise bem mais lúcida dos diferentes e por solapar importante elemento da identidade dessas
conflitantes motivos implicados nos fatos históricos, an- jovens, desrespeitando o direito à diferença que deve
tes vistos como “objetivos” e tratados com base em uma pautar toda sociedade que se quer democrática, plural e
única versão, aceita sem questionamento. inclusiva. Ou seja, a compreensão dos diferentes pontos
A consequência é que a análise se amplia e se en- de vista envolvidos na contenda permite que o(a) alu-
riquece pelo confronto de pontos de vista. Além dessa no(a) desconstrua o olhar do poder hegemônico e infira
ampliação da análise, muitos docentes têm também pro- que outros olhares descortinam outros ângulos, outras
curado incluir no currículo outras Histórias: a das mulhe- razões, outros interesses. Leva-o(a) a compreender me-
res, a dos povos indígenas, a dos negros, por exemplo. lhor alguns dos elementos que promovem a persistência,
Tais inclusões preenchem algumas das lacunas mais en- no mundo de hoje, do ódio, da violência, do racismo, da
contradas nas propostas curriculares oficiais, trazendo à xenofobia, do fundamentalismo. Não será indispensável
cena vozes e culturas negadas e silenciadas no currículo. que a escola procure denunciar e colocar em xeque essa
Segundo Torres Santomé, as culturas ou vozes dos gru- persistência? Professores dos primeiros anos do ensino
pos sociais minoritários e/ ou marginalizados que não fundamental podem também estimular o(a) aluno(a) a
dispõem de estruturas de poder costumam ser excluídas reescrever conhecimentos, saberes, mitos, costumes, len-
das salas de aula, chegando mesmo a ser deformadas ou das, contos. Inúmeras histórias infantis, por exemplo, têm
estereotipadas, para que se dificultem (ou de fato se anu- sido reescritas com base no emprego de pontos de vista
lem) suas possibilidades de reação, de luta e de afirmação distintos dos usuais. O caso dos Três Porquinhos pode
de direitos. Cabe evitar atribuir qualquer caráter exótico surpreender se a figura do Lobo representar o especula-
às manifestações culturais de grupos minoritários. Ade- dor imobiliário que tão bem conhecemos.
mais, sua presença no currículo não deve assumir o tom As atitudes da Cigarra e da Formiga podem ser rea-
fortuito, “turístico”, tão criticado por Torres Santomé. É valiadas, tendo-se em mente a forma como se concebem
preciso que os estudos desenvolvidos venham a catalisar, e se organizam trabalho e lazer na sociedade contempo-
junto aos membros das culturas negadas e silenciadas, a rânea. O desfecho do passeio de Chapeuzinho Vermelho
formação de uma auto-imagem positiva. Para esse mes- à casa da avó pode ser outro, caso imaginemos novos
mo propósito, pode ser útil a discussão, em diferentes perfis e novas relações para os personagens da história.
disciplinas, dos rumos de diferentes movimentos sociais Ou seja, de novos patamares podemos perceber novos
(negros, mulheres, indígenas, homossexuais), para que horizontes, novas trajetórias, novas possibilidades. O que
se compreendam e se acentuem avanços, dificuldades estamos sugerindo é que nos situemos, na prática peda-
e desafios. Líderes desses grupos podem ser convida- gógica culturalmente orientada, além da visão das cultu-
dos a participar das atividades. Exposições e cartazes ras como inter-relacionadas, como mutuamente geradas
podem ilustrar trajetórias e conquistas. Cabe esclarecer e influenciadas, e procuremos facilitar a compreensão do
que não estamos argumentando a favor do efeito Robin mundo pelo olhar do subalternizado. No currículo, trata-
Hood, segundo o qual se tira de um para dar ao outro, -se de desestabilizar o modo como o outro é mobilizado
ou seja, não estamos recomendando que simplesmente e representado. “O olhar do poder, suas normas e pres-
se substitua um conhecimento por outro. O que estamos supostos, precisa ser desconstruído”. Ou seja, trata-se de
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sugerindo é que se explorem e se confrontem perspec- desafiar a ótica do dominante e de promover o atrito de
tivas, enfoques e intenções, para que possam vir à tona diferentes abordagens, diferentes obras literárias, dife-
propósitos, escolhas, disputas, relações de poder, repres- rentes interpretações de eventos históricos, para que se
sões, silenciamentos, exclusões. O trabalho com notícias favoreça ao(à) aluno(a) entender como o conhecimen-
difundidas pela mídia, frequentemente derivadas de to socialmente valorizado tem sido escrito de uma dada
leituras distintas e até mesmo contraditórias dos fatos, forma e como pode, então, ser reescrito. Não se espe-
assim como com músicas, vídeos e outras produções ra, cabe reiterar, substituir um conhecimento por outro,
culturais, permite ilustrar com clareza os confrontos que mas sim propiciar aos(às) estudantes a compreensão
pretendemos ver explicitados. Examinando diferentes in- das relações de poder envolvidas na hierarquização das
terpretações, os(as) alunos(as) poderão melhor perceber, manifestações culturais e dos saberes, assim como nas
por exemplo, os objetivos e os jogos, por vezes escusos, diversas imagens e leituras que resultam quando certos

28
olhares são privilegiados em detrimento de outros. Nes- nas lutas travadas em torno da aceitação do modelo he-
sa perspectiva, é importante que consideremos a escola liocêntrico do universo? Não seria enriquecedor acom-
como um espaço de cruzamento de culturas e saberes. panharmos e situarmos na história o surgimento e as
A escola deve ser concebida como um espaço ecológico transformações dos modelos de átomo, discutindo suas
de cruzamento de culturas. A responsabilidade específica contribuições para o avanço da ciência e da tecnologia?
que a distingue de outros espaços de socialização e lhe O que estamos propondo é que se evidenciem, no cur-
confere identidade e relativa autonomia é exatamente a rículo, a construção social e os rumos subsequentes dos
possibilidade de promover análises e interações das in- conhecimentos, cujas raízes históricas e culturais tendem
fluências plurais que as diferentes culturas exercem, de a ser usualmente “esquecidas”, o que faz com que cos-
forma permanente, sobre as novas gerações. tumem ser vistos como indiscutíveis, neutros, universais,
O responsável definitivo da natureza, do sentido e intemporais.
da consistência do que os alunos e as alunas aprendem Trata- se de questionar a pretensa estabilidade e o
em sua vida escolar é este vivo, fluido e complexo cru- caráter aistórico do conhecimento produzido no mun-
zamento de culturas que se produz na escola, entre as do ocidental, cuja hegemonia tem sido incontestável.
propostas da cultura crítica, alojada nas disciplinas cien- Trata- se, mais uma vez, de caminhar na contramão do
tíficas, artísticas e filosóficas; as determinações da cultura processo de transposição didática, durante o qual usual-
acadêmica, refletidas nas definições que constituem o mente se costumam eliminar os vestígios da construção
currículo; os influxos da cultura social, constituída pelos histórica dos saberes. Procurando ilustrar nosso ponto de
valores hegemônicos do cenário social; as pressões do vista com outros exemplos, sugerimos perguntas que, no
cotidiano da cultura institucional, presente nos papéis, ensino das Ciências Naturais, podem se revelar bastante
nas normas, nas rotinas e nos ritos próprios da escola pertinentes. Eis algumas delas:
como instituição específica; e as características da cultura (a) onde situar as origens da ciência: em culturas eu-
experiencial, adquirida individualmente pelo aluno atra- ropeias ou culturas não europeias?
vés da experiência nos intercâmbios espontâneos com (b) em que medida a ciência moderna pode ser con-
seu meio. siderada ocidental?
Conceber a dinâmica escolar nesse enfoque supõe (c) existem ou podem vir a existir ciências, elaboradas
repensar seus diferentes componentes e romper com a em outras culturas, que também “funcionem”, que
tendência homogeneizadora e padronizadora que im- também expliquem a realidade?
pregna suas práticas. Para Moreira e Candau, a escola (d) por que a escola insiste em apresentar a ciência
sempre teve dificuldade em lidar com a pluralidade e a ocidental como a única possibilidade?
diferença. Tende a silenciá-las e neutralizá-las. Sente-se (e) que conflitos se encontram subjacentes aos pro-
mais confortável com a homogeneização e a padroniza- cessos de construção e de difusão do conhecimen-
ção. No entanto, abrir espaços para a diversidade, a dife- to científico?
rença e para o cruzamento de culturas constitui o grande (f) que debates têm sido gerados pela introdução, na
desafio que está chamada a enfrentar. comunidade científica, de novas teorias?
A escola precisa, assim, acolher, criticar e colocar em (g) por que a escola insiste em apresentar uma teoria
contato diferentes saberes, diferentes manifestações cul- consensual da ciência, subestimando as divergên-
turais e diferentes óticas. A contemporaneidade requer cias referentes a temáticas priorizadas, metodolo-
culturas que se misturem e ressoem mutuamente, que gias, fundamentos teóricos, objetivos?
convivam e se modifiquem. Que se modifiquem modifi-
cando outras culturas pela convivência ressonante. Ou Acreditamos que a exploração de questões como es-
seja, um processo contínuo, que não pare nunca, por não sas, em um curso de Ciências Naturais, tanto ajuda a de-
se limitar a um dar ou receber, mas por ser contaminação, safiar a suposta neutralidade cultural da ciência quanto a
ressonância. iluminar perspectivas e possibilidades insuspeitadas de
desenvolvimento científico.
5. O currículo como um espaço em que se explicita O princípio que estamos defendendo nos instiga
a ancoragem social dos conteúdos também a relacionar os conteúdos curriculares às expe-
riências culturais dos(as) estudantes e ao mundo concre-
Sugerimos, como outra estratégia (intimamente rela- to, o que permite analisar quem lucra e quem perde com
cionada à anterior), que se desenvolva nos(as) estudan- as formas de emprego desses conhecimentos. Experiên-
tes a capacidade de perceber o que tem sido denomi- cia desenvolvida por um pesquisador canadense, John
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

nado de ancoragem social dos conteúdos. Pretendemos Willinsky, pode ser associada a esse enfoque. Bastante
que se propicie uma maior compreensão de como e em crítico da forma como habitualmente se analisam obras
que contexto social um dado conhecimento surge e se poéticas nas salas de aula, despindo-as de seus propósi-
difunde. Nesse sentido, vale examinar como um deter- tos culturais e estéticos, o autor, ao ser desafiado por um
minado conceito foi proposto historicamente, por que se estudante para dar uma unidade de Literatura em uma
tornou ou não aceito, por que permaneceu ou foi subs- turma de ensino médio, abandonou a antologia tradicio-
tituído, que tipos de discussões provocou, de que forma nalmente empregada. Optou, então, por formular, com
promoveu o avanço do conhecimento na área em pauta os(as) alunos(as), uma antologia alternativa que abrigasse
e, ainda, como esse avanço propiciou benefícios (ou não) as diferentes vozes e identidades que hoje povoam o Ca-
à humanidade (ou a certos grupos da humanidade). Não nadá e que pudesse trazer à cena cultura, vida, dor, san-
seria estimulante envolvermos nossos(as) estudantes gue, paixão, sensibilidade, assim como desafiar relações

29
de poder que garantem a continuidade de diferenças e consciência da construção da identidade cultural de cada
desigualdades no mundo contemporâneo. O que os(as) um de nós, docentes e gestores, relacionando-a aos pro-
estudantes escolheram para compor a nova antologia cessos socioculturais do contexto em que vivemos e à
abriu as portas da sala de aula para suas posições histó- história de nosso país. O que temos constatado é a pou-
ricas, experiências, visões de mundo. Ainda: denunciou ca consciência que, em geral, temos desses processos
a persistente hegemonia da cultura de origem europeia, e do cruzamento de culturas neles presente. Tendemos
claramente expressa na herança colonial que continua a a uma visão homogeneizadora e estereotipada de nós
se infiltrar no currículo. Não se está diante de uma con- mesmos e de nossos alunos e alunas, em que a identi-
firmação de que visões da cultura como mente cultivada dade cultural é muitas vezes vista como um dado, como
ou como desenvolvimento social atrelado aos padrões algo que nos é impresso e que perdura ao longo de toda
europeus continuam presentes nos currículos escolares? nossa vida. Desvelar essa realidade e favorecer uma vi-
O mesmo autor nos oferece outro exemplo que também são dinâmica, contextualizada e plural das identidades
se harmoniza com o princípio que estamos defendendo. culturais é fundamental, articulando- se as dimensões
Pergunta- nos se é possível dividirmos a realidade hu- pessoal e coletiva desses processos. Constitui um exer-
mana em culturas, raças, histórias, tradições e socieda- cício fundamental tornarmo-nos conscientes de nossos
des claramente diferentes e conseguirmos suportar, com enraizamentos culturais, dos processos em que misturam
dignidade, as consequências dessas classificações. Insis- ou se silenciam determinados pertencimentos culturais,
te, então, no questionamento do caráter aparentemen- bem como sermos capazes de reconhecê-los, nomeá-los
te natural, científico mesmo, dessas divisões. Para isso, e trabalhá-los. Constitui um exercício fundamental tor-
acrescenta, há que se compreender a dinâmica histórica narmo-nos conscientes de nossos enraizamentos cultu-
das categorias por meio das quais temos sido rotulados, rais, dos processos em que misturam ou se silenciam de-
identificados, definidos e situados na estrutura social. terminados pertencimentos culturais, bem como sermos
Para isso, há que se focalizar, no currículo, a construção capazes de reconhecê-los, nomeá-los e trabalhá-los.
dessas categorias. Somente assim iremos desafiar seus Como favorecer essa tomada de consciência? Alguns
significados e abrir espaço, na escola e na sala de aula, exercícios podem ser propostos, buscando-se criar opor-
para a diversidade. Ou seja, Willinsky rejeita a ideia de tunidades em que o profissional da educação se esti-
que existe uma verdade, uma essência ou um núcleo em mule a falar sobre como percebe a construção de sua
qualquer categoria. Incentiva-nos, nas diferentes disci- identidade. Como vêm sendo criadas nossas identidades
plinas curriculares, a tornar evidente e a desestabilizar a de gênero, raça, sexualidade, classe social, idade, profis-
construção histórica de categorias que nos têm marcado, são? Como temos aprendido a ser quem somos, como
tais como raça, nação, sexualidade, masculinidade, femi- profissionais da educação, brasileiros(as), homens, mu-
nilidade, idade, religião etc. Com essa estratégia, preten- lheres, casados(as), solteiros(as), negros(as), brancos(as),
de explicitar como o mundo tem sido dividido. jovens ou idosos(as)? Nesses momentos, tem sido bas-
Aceitando e seguindo a orientação de Willinsky, po- tante frequente a afirmação “nunca pensei na formação
deríamos planejar coletivamente, na escola, nas distintas da minha identidade cultural”, ou então “me considero
disciplinas, a análise, durante determinado período de uma órfã do ponto de vista cultural”, expressão usada
tempo, de como a ideia de raça, por exemplo, vem sen- por uma professora jovem, querendo se referir à dificul-
do empregada para garantir privilégios e legitimar atos dade de nomear os referentes culturais configuradores
de opressão. Exemplifiquemos. Em Ciências, poderíamos de sua trajetória de vida. A socialização em pequenos
problematizar o caráter supostamente científico da ca- grupos, entre os(as) educadores(as), dos relatos sobre a
tegoria, até hoje evocado em muitos textos. Em História, construção de suas identidades culturais pode se reve-
poderíamos examinar como a categoria tem justificado lar uma experiência profundamente vivida, muitas vezes
processos de colonização, de rotulação, de hierarquiza- carregada de emoção, que dilata tanto a consciência dos
ção de grupos e culturas, de escravidão, de restrição a próprios processos de formação identitária do ponto de
migrações. Em Geografia, poderíamos explicitar como vista cultural, quanto a sensibilidade para favorecer esse
a categoria raça se tem acrescentado, de modo har- mesmo dinamismo nas práticas educativas que organiza-
mônico, às razões apresentadas para conquistas, novas mos. Nesses processos, podemos nos dar conta da com-
distribuições de espaços, novos mapas. Em Literatura, a plexidade envolvida na configuração dos distintos traços
discussão de representações das raças em diferentes tex- identitários que coexistem, por vezes contraditoriamen-
tos literários propiciaria verificar o que essas represen- te, na construção das diferenças de que somos feitos.
tações têm valorizado, distinguido, incluído e excluído.
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Em Educação Física, poderíamos desmistificar a imagem 7. O currículo como espaço de questionamento de


do negro como o “atleta perfeito”, como o corpo que nossas representações sobre os “outros”
melhor se presta para o salto, a corrida, o jogo, a dança,
o movimento. Junto ao reconhecimento da própria identidade cul-
tural, outro elemento a ser ressaltado relaciona-se às
6. O currículo como espaço de reconhecimento de representações que construímos dos outros, daqueles
nossas identidades culturais que consideramos diferentes. As relações entre nós e os
outros estão carregadas de dramaticidade e ambiguida-
Um aspecto a ser trabalhado, que consideramos de de. Em sociedades nas quais a consciência das diferenças
especial relevância, diz respeito a se procurar, na es- se faz cada vez mais forte, reveste-se de especial impor-
cola, promover ocasiões que favoreçam a tomada de tância aprofundarmos questões como: quem incluímos

30
na categoria nós? Quem são os outros? Quais as impli- Já a expressão o outro como alguém a tolerar convida
cações dessas questões para o currículo? Como nossas tanto a admitir a existência de diferenças quanto a acei-
representações dos outros se refletem nos currículos? tá-las. Nessa admissão, contudo, reside um paradoxo. Se
Esses são temas fundamentais que estamos desafiados a aceitamos, por princípio, todo e qualquer diferente, de-
trabalhar nas relações sociais e, particularmente, na edu- veríamos aceitar os grupos cujas marcas são comporta-
cação. Nossa maneira de nos situarmos em relação aos mentos anti-sociais ou opressivos, como os racistas. Que
outros tende a construir-se em uma perspectiva etno- consequências a adoção dessa perspectiva pode ter para
cêntrica. Quem são os nós? Tendemos a incluir na cate- a prática pedagógica? Julgamos que a simples tolerância
goria nós todas aquelas pessoas e aqueles grupos sociais pode nos situar em uma posição débil, evitando que to-
que têm referenciais semelhantes aos nossos, que têm memos posição em relação aos valores que dominam a
hábitos de vida, valores, estilos e visões de mundo que se cultura contemporânea. Pode impedir que polemizemos,
aproximam dos nossos e os reforçam. Quem são os ou- levando-nos a assumir a conciliação como valor último.
tros? Tendem a ser os que entram em choque com nos- Pode incentivar-nos a não questionar a “ordem”, vendo-a
sas maneiras de nos situarmos no mundo, por sua classe como comportamentos a serem inevitavelmente cultiva-
social, etnia, religião, valores, tradições, sexualidade etc. dos. Poderíamos acrescentar outras formas de nos situar
Como temos entendido esse outro? Para Skliar e Dus- diante dos outros. No entanto, acreditamos que a tipolo-
chatzky, principalmente de três formas distintas: o outro gia proposta por Skliar e Duschatzky expressa as posições
como fonte de todo mal, o outro como sujeito pleno de mais presentes na nossa sociedade hoje, evidenciando a
um grupo cultural, o outro como alguém a tolerar. A pri- complexidade das questões relacionadas à alteridade e
meira perspectiva, segundo os autores, marcou predo- à diferença. O que desejamos destacar é que o modo
minantemente as relações sociais durante o século XX como concebemos a condição humana pode bloquear
e pode se revestir de diferentes formas, desde a elimi- nossa compreensão dos outros. Portanto, é importante
nação física do outro, até a coação interna, mediante a promovermos processos educacionais nos quais identi-
regulação de costumes e moralidades. Nesse modo de fiquemos e desconstruamos nossas suposições, em ge-
nos situarmos diante do outro, assumimos uma visão ral implícitas, que não nos permitem uma aproximação
binária e dicotômica. Em um lado separamos os bons, aberta e empática à realidade dos outros.
os verdadeiros, os autênticos, os civilizados, cultos, de-
fensores da liberdade e da paz. Em outro, deixamos os 8. O currículo como um espaço de crítica cultural
outros: os maus, os falsos, os bárbaros, os ignorantes e
os terroristas. Se nos identificamos com os primeiros, Apresentamos agora outro princípio, fortemente re-
o que temos a fazer é eliminar, neutralizar, dominar ou lacionado aos anteriores: sugerimos que se expandam os
subjugar os outros. Caso nos sintamos representados conteúdos curriculares usuais, de modo a neles incluir al-
como integrantes do pólo oposto, ou internalizamos a guns dos artefatos culturais que circundam o(a) aluno(a).
nossa maldade e nos deixamos salvar, passando para o A ideia é tornar o currículo um espaço de crítica cultural.
lado dos bons, ou nos confrontamos violentamente com Como fazê-lo? Um dos caminhos é abrir as portas, na es-
eles. Como essa primeira perspectiva se traduz na esco- cola, a diferentes manifestações da cultura popular, além
la? Mostra-se presente quando: (a) atribuímos o fracasso das que compõem a chamada cultura erudita. Músicas
escolar dos(as) alunos(as) às suas características sociais populares, danças, filmes, programas de televisão, festas
ou étnicas; (b) diferenciamos os tipos de escolas segun- populares, anúncios, brincadeiras, jogos, peças de teatro,
do a origem social dos(as) estudantes, considerando que poemas, revistas e romances precisam fazer-se presentes
alguns têm maior potencial que outros e, para desen- nas salas de aula. Da mesma forma, levando-se em conta
volvermos uma educação de qualidade, não podemos a importância de ampliar os horizontes culturais dos(as)
misturar estudantes de diferentes potenciais; (c) nos si- estudantes, bem como de promover interações entre di-
tuamos, como professores(as), diante dos(as) alunos(as), ferentes culturas, outras manifestações, mais associadas
com base em estereótipos e expectativas diferenciadas aos grupos dominantes, precisam ser incluídas no cur-
segundo a origem social e as características culturais dos rículo. A intenção é que a cultura dos estudantes e da
grupos de referência; (d) valorizamos exclusivamente o comunidade possa interagir com outras manifestações e
racional e desvalorizamos os aspectos afetivos presentes outros espaços culturais como museus, exposições, cen-
nos processos educacionais; (e) privilegiamos somente a tros culturais, música erudita, clássicos da literatura. Se
comunicação verbal, desconsiderando outras formas de aceitarmos a inexistência, no mundo contemporâneo, de
comunicação humana, como a corporal, a artística etc. qualquer “pureza cultural”, se pretendermos abrir espaço
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Ao considerarmos o outro como sujeito pleno de na escola para a complexa interpenetração das culturas
uma marca cultural, estamos concebendo-o como mem- e para a pluralidade cultural, tanto as manifestações cul-
bro de uma dada cultura, vista como uma comunidade turais hegemônicas como as subalternizadas precisam
homogênea de crenças e estilos de vida. O outro, ainda integrar o currículo e ser objeto de apreciação e crítica.
que não seja a fonte de todo mal, é diferente de nós, tem Talvez fosse útil, para o desenvolvimento do que sugeri-
uma essência claramente definida, distinta da que nos mos, que discutíssemos, na escola, com que recursos po-
caracteriza. Na área da educação, essa visão se expressa, demos contar em nossa comunidade e como fazer para
por exemplo, quando nos limitamos a abordar o outro que outros recursos venham, de alguma forma, a tornar-
de forma genérica e “folclórica”, apenas em dias espe- -se familiares a nossos(as) alunos(as). ... Abrir as portas,
ciais, usualmente incluídos na lista dos festejos escolares, na escola, a diferentes manifestações da cultura popular,
tais como o Dia do Índio ou Dia da Consciência Negra. além das que compõem a chamada cultura erudita.

31
Nessa perspectiva, há um ponto que desejamos des- investigações cuidadosas e rigorosas. Daí a necessidade
tacar. Ao intentarmos transformar a escola em um espa- de um posicionamento claro e de um comprometimento
ço cultural, estamos convidando cada professor(a), como com a pesquisa. Será possível e desejável que nós, pro-
intelectual que é, a desempenhar o papel de crítico(a) fissionais da educação infantil e do ensino fundamental,
cultural. Estamos considerando que a atividade intelec- venhamos a nos envolver com pesquisa? Julgamos que
tual implica o questionamento do que parece inscrito na sim. Propomos que todo(a) profissional da educação ve-
natureza das coisas, do que nos é apresentado como na- nha, de algum modo, a participar de pesquisas sobre sua
tural, questionamento esse que visa, fundamentalmente, prática pedagógica ou administrativa, sobre a disciplina
a mostrar que as coisas não são inevitáveis. A atividade que ensina, sobre os saberes docentes, sobre o currículo,
intelectual centra-se, assim, na crítica da cultura em que sobre a avaliação, sobre a educação em geral, sobre a
estamos imersos. Como se expressa essa atividade na sociedade em que vivemos ou sobre temas diversificados
prática curricular? Julgamos que cabe à escola, por meio (não incluídos no currículo). Consideramos que gestores
de suas atividades pedagógicas, mostrar ao aluno que as e docentes precisam organizar os tempos e os espaços
coisas não são inevitáveis e que tudo que passa por natu- escolares para abranger as atividades de pesquisa aqui
ral precisa ser questionado e pode, consequentemente, propostas. É fundamental que, nesse esforço, se veri-
ser modificado. Cabe à escola levá-lo a compreender que fiquem os recursos necessários e os recursos com que
a ordem social em que está inserido define-se por ações se pode contar. A comunidade em que a escola se situa
sociais cujo poder não é absoluto. O que existe precisa pode e deve participar tanto do planejamento como da
ser visto como a condição de uma ação futura, não como implementação dos estudos.
seu limite. Nossos questionamentos devem, então, pro- A Secretaria de Educação deve ser chamada a colabo-
vocar tensões e desafiar o existente. Podem não mudar o rar. A pesquisa do(a) professor(a) da escola básica certa-
mundo, mas podem permitir que o aluno o compreenda mente difere da pesquisa levada a cabo na universidade
melhor. Como nos diz Bauman, “para operar no mundo e nos centros de pesquisa, o que, entretanto, não a torna
(por contraste a ser ‘operado’ por ele) é preciso entender inferior. A participação em pesquisa pode mesmo con-
como o mundo opera”. A crítica de diferentes artefatos tribuir para que o trabalho do profissional da educação
culturais na escola pode, por exemplo, levar-nos a identi- venha a ser mais valorizado. Estamos defendendo, em
ficar e a desafiar visões estereotipadas da mulher propa- resumo, que se torne o currículo, em cada escola, um es-
gadas em anúncios; imagens desrespeitosas de homos- paço de pesquisa. A pesquisa, concebida em um sentido
sexuais difundidas em programas cômicos de televisão; mais amplo, reiteramos, não está restrita à universidade.
preconceitos contra povos não ocidentais evidentes em Como professores(as)/ intelectuais que atuamos na esco-
desenhos animados; mensagens encontradas em revistas la, precisamos enfrentar esse desafio, tornando-nos pes-
para adolescentes do sexo feminino (e da classe média) quisadores(as) dos saberes, valores e práticas que ensi-
que incentivam o uso de drogas, o consumismo e o indi- namos e/ou desenvolvemos, centrando nosso ensino na
vidualismo; estímulos à erotização precoce das meninas, pesquisa. Nesse processo, poderemos aperfeiçoar nosso
visíveis em brinquedos e programas infantis; presença desempenho profissional, poderemos nos situar melhor
e aceitação da violência em filmes, jogos e brinquedos. no mundo, poderemos, ainda, nos engajar na luta por
Outros exemplos poderiam ser citados, reforçando-nos o melhorá-lo. Nesse processo, poderemos despertar nos
ponto de vista de que os produtos culturais à nossa volta alunos e nas alunas o espírito de pesquisa, de busca, de
nada têm de ingênuos ou puros; ao contrário, incorpo- ter prazer no aprender, no conhecer coisas novas. Não
ram intenções de apoiar, preservar ou produzir situações deveríamos, então, começar, já na próxima reunião de
que favorecem certos grupos e outros não. Tais artefatos, professores(as) de nossa escola, a refletir sobre como
como se tem insistentemente acentuado, desempenham, tornar o currículo um espaço de estudos e de pesquisas?
junto com o currículo escolar, importante papel no pro- Estamos certos de que essa discussão pode ser extrema-
cesso de formação das identidades de nossas crianças mente estimulante e proveitosa.
e nossos adolescentes, devendo constituir- se, portanto,
em elementos centrais de crítica em processos curricula- REFERÊNCIA:
res culturalmente orientados. BRASIL: Ministério da Educação. Indagações sobre
currículo: currículo, conhecimento e cultura / [Antônio
9. O currículo como um espaço de desenvolvimen- Flávio Barbosa Moreira, Vera Maria Candau; organização
to de pesquisas do documento Jeanete Beauchamp, Sandra Denise Pa-
gel, Aricélia Ribeiro do Nascimento. – Brasília, 2007.
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

Como intelectual que é, todo(a) profissional da edu-


cação precisa comprometer-se com o estudo e com a
pesquisa, bem como posicionar-se politicamente. Pre-
cisa, assim, situar-se frente aos problemas econômicos,
sócio-políticos, culturais e ambientais que hoje nos de-
safiam e que desconhecem as fronteiras entre as nações
ou entre as classes sociais. Sem esse esforço, será impos-
sível propiciar ao(à) aluno(a) uma compreensão maior
do mundo em que vive, para que nele possa atuar auto-
nomamente. Sem esse esforço, será impossível a propo-
sição de alternativas viáveis, decorrentes de reflexões e

32
conhecimentos sobre o corpo humano, matéria da área
INTERDISCIPLINARIDADE, TRANSDISCI- de Ciências. É também preciso ter conhecimentos so-
PLINARIDADE E TRANSVERSALIDADE bre Meio Ambiente, uma vez que a saúde das pessoas
depende da qualidade do meio em que vivem. Conhe-
cimentos de Língua Portuguesa e Matemática também
A transversalidade comparecem: questões de saúde são temas de debates
na imprensa, informações importantes são veiculadas
Por tratarem de questões sociais, os Temas Transver- por meio de folhetos; a leitura e a compreensão de ta-
sais têm natureza diferente das áreas convencionais. Sua belas e dados estatísticos são essenciais na percepção da
complexidade faz com que nenhuma das áreas, isolada- situação da saúde pública. Portanto, o tema Saúde tem
mente, seja suficiente para abordá-los. Ao contrário, a como especificidade o fato de, além de conhecimentos
problemática dos Temas Transversais atravessa os dife- inerentes a ele, nele convergirem conhecimentos de
rentes campos do conhecimento. Por exemplo, a ques- áreas distintas. Ao invés de se isolar ou de compartimen-
tão ambiental não é compreensível apenas a partir das tar o ensino e a aprendizagem, a relação entre os Temas
contribuições da Geografia. Necessita de conhecimen- Transversais e as áreas deve se dar de forma que:
tos históricos, das Ciências Naturais, da Sociologia, da - As diferentes áreas contemplem os objetivos e os
Demografia, da Economia, entre outros. Por outro lado, conteúdos (fatos, conceitos e princípios; procedi-
nas várias áreas do currículo escolar existem, implícita mentos e valores; normas e atitudes) que os temas
ou explicitamente, ensinamentos a respeito dos temas da convivência social propõem;
transversais, isto é, todas educam em relação a questões - Haja momentos em que as questões relativas aos
sociais por meio de suas concepções e dos valores que temas sejam explicitamente trabalhadas e conteú-
veiculam. No mesmo exemplo, ainda que a programa- dos de campos e origens diferentes sejam coloca-
ção desenvolvida não se refira diretamente à questão dos na perspectiva de respondê-las.
ambiental e a escola não tenha nenhum trabalho nesse
sentido, Geografia, História e Ciências Naturais sempre Caberá ao professor mobilizar tais conteúdos em
veiculam alguma concepção de ambiente e, nesse senti- torno de temáticas escolhidas, de forma que as diversas
do, efetivam uma certa educação ambiental. áreas não representem continentes isolados, mas digam
Considerando esses fatos, experiências pedagógicas respeito aos diversos aspectos que compõem o exercício
brasileiras e internacionais de trabalho com educação da cidadania.
ambiental, orientação sexual e saúde têm apontado a Indo além do que se refere à organização dos con-
necessidade de que tais questões sejam trabalhadas de teúdos, o trabalho com a proposta da transversalidade
forma contínua e integrada, uma vez que seu estudo re- se define em torno de quatro pontos:
mete à necessidade de se recorrer a conjuntos de conhe- - os temas não constituem novas áreas, pressupondo
cimentos relativos a diferentes áreas do saber. um tratamento integrado nas diferentes áreas;
Diante disso optou-se por integrá-las no currículo por - a proposta de transversalidade traz a necessidade
meio do que se chama de transversalidade: pretende-se de a escola refletir e atuar conscientemente na
que esses temas integrem as áreas convencionais de for- educação de valores e atitudes em todas as áreas,
ma a estarem presentes em todas elas, relacionando-as garantindo que a perspectiva político-social se ex-
às questões da atualidade. presse no direcionamento do trabalho pedagógi-
As áreas convencionais devem acolher as questões co; influencia a definição de objetivos educacionais
dos Temas Transversais de forma que seus conteúdos e orienta eticamente as questões epistemológicas
as explicitem e seus objetivos sejam contemplados. Por mais gerais das áreas, seus conteúdos e, mesmo, as
exemplo, na área de Ciências Naturais, ao ensinar sobre orientações didáticas;
o corpo humano, incluem-se os principais órgãos e fun- - a perspectiva transversal aponta uma transforma-
ções do aparelho reprodutor masculino e do feminino, ção da prática pedagógica, pois rompe a limitação
relacionando seu amadurecimento às mudanças no cor- da atuação dos professores às atividades formais e
po e no comportamento de meninos e meninas durante amplia a sua responsabilidade com a sua formação
a puberdade e respeitando as diferenças individuais. dos alunos. Os Temas Transversais permeiam ne-
Dessa forma o estudo do corpo humano não se res- cessariamente toda a prática educativa que abarca
tringe à dimensão biológica, mas coloca esse conheci- relações entre os alunos, entre professores e alu-
mento a serviço da compreensão da diferença de gênero nos e entre diferentes membros da comunidade
(conteúdo de Orientação Sexual) e do respeito à diferen-
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

escolar;
ça (conteúdo de Ética). - a inclusão dos temas implica a necessidade de um
A integração, a extensão e a profundidade do traba- trabalho sistemático e contínuo no decorrer de toda
lho podem se dar em diferentes níveis, segundo o domí- a escolaridade, o que possibilitará um tratamento
nio do tema e/ou a prioridade que se eleja nas diferentes cada vez mais aprofundado das questões eleitas.
realidades locais. Isso se efetiva mediante a organização Por exemplo, se é desejável que os alunos desen-
didática eleita pela escola. É possível e desejável que co- volvam uma postura de respeito às diferenças, é
nhecimentos apreendidos em vários momentos sejam fundamental que isso seja tratado desde o início
articulados em torno de um tema em questão de modo da escolaridade e continue sendo tratado cada vez
a explicitá-lo e dar-lhe relevância. Para se saber o que com maiores possibilidades de reflexão, compre-
é saúde e como esta se preserva, é preciso ter alguns ensão e autonomia. Muitas vezes essas questões

33
são vistas como sendo da “natureza” dos alunos Como a transversalidade se apresenta nos parâ-
(eles são ou não são respeitosos), ou atribuídas ao metros curriculares
fato de terem tido ou não essa educação em casa.
Outras vezes são vistas como aprendizados possí- A problemática trazida pelos temas transversais está
veis somente quando jovens (maiores) ou quando contemplada nas diferentes áreas curriculares. Está pre-
adultos. Sabe-se, entretanto, que é um processo sente em seus fundamentos, nos objetivos gerais, nos
de aprendizagem que precisa de atenção durante objetivos de ciclo, nos conteúdos e nos critérios de ava-
toda a escolaridade e a contribuição da educação liação das áreas. Dessa forma, em todos os elementos do
escolar é de natureza complementar à familiar: não currículo há itens selecionados a partir de um ou mais
se excluem nem se dispensam mutuamente. temas. Com a transversalidade, os temas passam a ser
partes integrantes das áreas e não externos e/ou aco-
Transversalidade e interdisciplinaridade plados a elas, definindo uma perspectiva para o trabalho
educativo que se faz a partir delas.
A proposta de transversalidade pode acarretar algu- É preciso atentar para o fato de que a possibilidade
mas discussões do ponto de vista conceitual, como, por de inserção dos Temas Transversais nas diferentes áreas
exemplo, a da sua relação com a concepção de interdisci- (Língua Portuguesa, Matemática, Ciências Naturais, His-
plinaridade, bastante difundida no campo da pedagogia. tória, Geografia, Arte e Educação Física) não é uniforme,
Essa discussão é pertinente e cabe analisar como estão uma vez que é preciso respeitar as singularidades tanto
sendo consideradas nos Parâmetros Curriculares Nacio- dos diferentes temas quanto das áreas.
nais as diferenças entre os dois conceitos, bem como Existem afinidades maiores entre determinadas áreas
suas implicações mútuas. e determinados temas, como é o caso de Ciências Na-
Ambas - transversalidade e interdisciplinaridade - se turais e Saúde ou entre História, Geografia e Pluralidade
fundamentam na crítica de uma concepção de conhe- Cultural, em que a transversalidade é fácil e claramente
cimento que toma a realidade como um conjunto de identificável. Não considerar essas especificidades seria
dados estáveis, sujeitos a um ato de conhecer isento e cair num formalismo mecânico. 
distanciado. Ambas apontam a complexidade do real e a
necessidade de se considerar a teia de relações entre os REFERÊNCIA:
seus diferentes e contraditórios aspectos. Mas diferem PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS (1ª. A 4ª.
uma da outra, uma vez que a interdisciplinaridade refe- SÉRIE) Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília:
re-se a uma abordagem epistemológica dos objetos de MEC/SEF. 1997.
conhecimento, enquanto a transversalidade diz respeito
principalmente à dimensão da didática.
A interdisciplinaridade questiona a segmentação en- POLÍTICAS PÚBLICAS: POLÍTICAS PÚBLICAS
tre os diferentes campos de conhecimento produzida por INCLUSIVAS DE EDUCAÇÃO
uma abordagem que não leva em conta a inter-relação e
a influência entre eles - questiona a visão compartimen-
tada (disciplinar) da realidade sobre a qual a escola, tal Abaixo, segue o teor da Política Nacional da Edu-
como é conhecida, historicamente se constituiu. Refere- cação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva –
-se, portanto, a uma relação entre disciplinas. MEC/2008, disponível também no seguinte link:
A transversalidade diz respeito à possibilidade de http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaedu-
se estabelecer, na prática educativa, uma relação entre cespecial.pdf
aprender na realidade e da realidade de conhecimentos
teoricamente sistematizados (aprender sobre a realida- I – APRESENTAÇÃO
de) e as questões da vida real (aprender na realidade e
da realidade).Na prática pedagógica, interdisciplinarida- O movimento mundial pela inclusão é uma ação po-
de e transversalidade alimentam-se mutuamente, pois o lítica, cultural, social e pedagógica, desencadeada em
tratamento das questões trazidas pelos Temas Transver- defesa do direito de todos os alunos de estarem juntos,
sais expõe as inter-relações entre os objetos de conhe- aprendendo e participando, sem nenhum tipo de discri-
cimento, de forma que não é possível fazer um trabalho minação. A educação inclusiva constitui um paradigma
pautado na transversalidade tomando-se uma perspec- educacional fundamentado na concepção de direitos hu-
tiva disciplinar rígida. A transversalidade promove uma manos, que conjuga igualdade e diferença como valores
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

compreensão abrangente dos diferentes objetos de co- indissociáveis, e que avança em relação à idéia de eqüi-
nhecimento, bem como a percepção da implicação do dade formal ao contextualizar as circunstâncias históricas
sujeito de conhecimento na sua produção, superando a da produção da exclusão dentro e fora da escola.
dicotomia entre ambos. Por essa mesma via, a transver- Ao reconhecer que as dificuldades enfrentadas nos
salidade abre espaço para a inclusão de saberes extraes- sistemas de ensino evidenciam a necessidade de con-
colares, possibilitando a referência a sistemas de signifi- frontar as práticas discriminatórias e criar alternativas
cado construídos na realidade dos alunos. para superá-las, a educação inclusiva assume espaço
Os Temas Transversais, portanto, dão sentido social a central no debate acerca da sociedade contemporânea
procedimentos e conceitos próprios das áreas conven- e do papel da escola na superação da lógica da exclu-
cionais, superando assim o aprender apenas pela neces- são. A partir dos referenciais para a construção de siste-
sidade escolar. mas educacionais inclusivos, a organização de escolas e

34
classes especiais passa a ser repensada, implicando uma educação, preferencialmente dentro do sistema geral de
mudança estrutural e cultural da escola para que todos ensino.
os alunos tenham suas especificidades atendidas. A Lei nº 5.692/71, que altera a LDBEN de 1961, ao
Nesta perspectiva, o Ministério da Educação/Secreta- definir ‘tratamento especial’ para os alunos com “defi-
ria de Educação Especial apresenta a Política Nacional de ciências físicas, mentais, os que se encontrem em atraso
Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, considerável quanto à idade regular de matrícula e os
que acompanha os avanços do conhecimento e das lutas superdotados”, não promove a organização de um siste-
sociais, visando constituir políticas públicas promotoras ma de ensino capaz de atender as necessidades educa-
de uma educação de qualidade para todos os alunos. cionais especiais e acaba reforçando o encaminhamento
dos alunos para as classes e escolas especiais.
II - MARCOS HISTÓRICOS E NORMATIVOS Em 1973, é criado no MEC, o Centro Nacional de
Educação Especial – CENESP, responsável pela gerência
A escola historicamente se caracterizou pela visão da da educação especial no Brasil, que, sob a égide inte-
educação que delimita a escolarização como privilégio gracionista, impulsionou ações educacionais voltadas às
de um grupo, uma exclusão que foi legitimada nas políti- pessoas com deficiência e às pessoas com superdota-
cas e práticas educacionais reprodutoras da ordem social. ção; ainda configuradas por campanhas assistenciais e
A partir do processo de democratização da educação se ações isoladas do Estado.
evidencia o paradoxo inclusão/exclusão, quando os sis- Nesse período, não se efetiva uma política pública
temas de ensino universalizam o acesso, mas continuam de acesso universal à educação, permanecendo a con-
excluindo indivíduos e grupos considerados fora dos pa- cepção de ‘políticas especiais’ para tratar da temática da
drões homogeneizadores da escola. Assim, sob formas educação de alunos com deficiência e, no que se refere
distintas, a exclusão tem apresentado características aos alunos com superdotação, apesar do acesso ao ensino
comuns nos processos de segregação e integração que regular, não é organizado um atendimento especializado
pressupõem a seleção, naturalizando o fracasso escolar. que considere as singularidades de aprendizagem desses
A partir da visão dos direitos humanos e do concei- alunos.
to de cidadania fundamentado no reconhecimento das A Constituição Federal de 1988 traz como um dos seus
diferenças e na participação dos sujeitos, decorre uma objetivos fundamentais, “promover o bem de todos, sem
identificação dos mecanismos e processos de hierarqui- preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
zação que operam na regulação e produção das desi- outras formas de discriminação” (art.3º inciso IV). Define,
gualdades. Essa problematização explicita os processos no artigo 205, a educação como um direito de todos, ga-
normativos de distinção dos alunos em razão de carac- rantindo o pleno desenvolvimento da pessoa, o exercício
terísticas intelectuais, físicas, culturais, sociais e lingüís- da cidadania e a qualificação para o trabalho. No seu artigo
ticas, entre outras, estruturantes do modelo tradicional 206, inciso I, estabelece a “igualdade de condições de aces-
de educação escolar. so e permanência na escola” , como um dos princípios para
A educação especial se organizou tradicionalmente o ensino e, garante, como dever do Estado, a oferta do
como atendimento educacional especializado substitu- atendimento educacional especializado, preferencialmente
tivo ao ensino comum, evidenciando diferentes com- na rede regular de ensino (art. 208).
preensões, terminologias e modalidades que levaram a O Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº
criação de instituições especializadas, escolas especiais 8.069/90, artigo 55, reforça os dispositivos legais supra-
e classes especiais. Essa organização, fundamentada no citados, ao determinar que “os pais ou responsáveis têm
conceito de normalidade/anormalidade, determina for- a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede
mas de atendimento clínico terapêuticos fortemente regular de ensino”. Também, nessa década, documen-
ancorados nos testes psicométricos que definem, por tos como a Declaração Mundial de Educação para Todos
meio de diagnósticos, as práticas escolares para os alu- (1990) e a Declaração de Salamanca (1994), passam a in-
nos com deficiência. fluenciar a formulação das políticas públicas da educação
No Brasil, o atendimento às pessoas com deficiência inclusiva.
teve início na época do Império com a criação de duas Em 1994, é publicada a Política Nacional de Educação
instituições: o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, em Especial, orientando o processo de ‘integração instrucio-
1854, atual Instituto Benjamin Constant – IBC, e o Institu- nal’ que condiciona o acesso às classes comuns do ensino
to dos Surdos Mudos, em 1857, atual Instituto Nacional regular àqueles que “(...) possuem condições de acompa-
da Educação dos Surdos – INES, ambos no Rio de Janei- nhar e desenvolver as atividades curriculares programadas
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

ro. No início do século XX é fundado o Instituto Pes- do ensino comum, no mesmo ritmo que os alunos ditos
talozzi - 1926, instituição especializada no atendimento normais”.
às pessoas com deficiência mental; em 1954 é fundada Ao reafirmar os pressupostos construídos a partir de
a primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcio- padrões homogêneos de participação e aprendizagem, a
nais – APAE e; em 1945, é criado o primeiro atendimento Política não provoca uma reformulação das práticas edu-
educacional especializado às pessoas com superdotação cacionais de maneira que sejam valorizados os diferentes
na Sociedade Pestalozzi, por Helena Antipoff. potenciais de aprendizagem no ensino comum, mantendo
Em 1961, o atendimento educacional às pessoas com a responsabilidade da educação desses alunos exclusiva-
deficiência passa ser fundamentado pelas disposições mente no âmbito da educação especial.
da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
nº 4.024/61, que aponta o direito dos “excepcionais” à - Lei nº 9.394/96, no artigo 59, preconiza que os sistemas

35
de ensino devem assegurar aos alunos currículo, métodos, devem prever em sua organização curricular formação
recursos e organização específicos para atender às suas docente voltada para a atenção à diversidade e que con-
necessidades; assegura a terminalidade específica àque- temple conhecimentos sobre as especificidades dos alu-
les que não atingiram o nível exigido para a conclusão do nos com necessidades educacionais especiais.
ensino fundamental, em virtude de suas deficiências e; a A Lei nº 10.436/02 reconhece a Língua Brasileira de
aceleração de estudos aos superdotados para conclusão Sinais como meio legal de comunicação e expressão,
do programa escolar. Também define, dentre as normas determinando que sejam garantidas formas institucio-
para a organização da educação básica, a “possibilidade nalizadas de apoiar seu uso e difusão, bem como a in-
de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do clusão da disciplina de Libras como parte integrante do
aprendizado” (art. 24, inciso V) e “[...] oportunidades edu- currículo nos cursos de formação de professores e de
cacionais apropriadas, consideradas as características do fonoaudiologia.
alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, A Portaria nº 2.678/02 aprova diretriz e normas para
mediante cursos e exames” (art. 37). o uso, o ensino, a produção e a difusão do Sistema Brail-
Em 1999, o Decreto nº 3.298 que regulamenta a Lei nº le em todas as modalidades de ensino, compreenden-
7.853/89, ao dispor sobre a Política Nacional para a Inte- do o projeto da Grafia Braile para a Língua Portuguesa
gração da Pessoa Portadora de Deficiência, define a educa- e a recomendação para o seu uso em todo o território
ção especial como uma modalidade transversal a todos nacional.
os níveis e modalidades de ensino, enfatizando a atuação Em 2003, o Ministério da Educação cria o Programa
complementar da educação especial ao ensino regular. Educação Inclusiva: direito à diversidade, visando trans-
Acompanhando o processo de mudanças, as Dire- formar os sistemas de ensino em sistemas educacionais
trizes Nacionais para a Educação Especial na Educação inclusivos, que promove um amplo processo de forma-
Básica, Resolução CNE/CEB nº 2/2001, no artigo 2º, de- ção de gestores e educadores nos municípios brasileiros
terminam que: “Os sistemas de ensino devem matricular para a garantia do direito de acesso de todos à escolari-
todos os alunos, cabendo às escolas organizar-se para zação, a organização do atendimento educacional espe-
o atendimento aos educandos com necessidades edu- cializado e a promoção da acessibilidade.
cacionais especiais, assegurando as condições necessá- Em 2004, o Ministério Público Federal divulga o docu-
rias para uma educação de qualidade para todos”. (MEC/ mento O Acesso de Alunos com Deficiência às Escolas e
SEESP, 2001). Classes Comuns da Rede Regular, com o objetivo de dis-
As Diretrizes ampliam o caráter da educação especial seminar os conceitos e diretrizes mundiais para a inclu-
para realizar o atendimento educacional especializado são, reafirmando o direito e os benefícios da escolariza-
complementar ou suplementar a escolarização, porém, ção de alunos com e sem deficiência nas turmas comuns
ao admitir a possibilidade de substituir o ensino regular, do ensino regular.
não potencializa a adoção de uma política de educação Impulsionando a inclusão educacional e social, o De-
inclusiva na rede pública de ensino prevista no seu artigo creto nº 5.296/04 regulamentou as leis nº 10.048/00 e nº
2º. 10.098/00, estabelecendo normas e critérios para a pro-
O Plano Nacional de Educação - PNE, Lei nº moção da acessibilidade às pessoas com deficiência ou
10.172/2001, destaca que “o grande avanço que a déca- com mobilidade reduzida. Nesse contexto, o Programa
da da educação deveria produzir seria a construção de Brasil Acessível é implementado com o objetivo de pro-
uma escola inclusiva que garanta o atendimento à diver- mover e apoiar o desenvolvimento de ações que garan-
sidade humana”. Ao estabelecer objetivos e metas para tam a acessibilidade.
que os sistemas de ensino favoreçam o atendimento às O Decreto nº 5.626/05, que regulamenta a Lei nº
necessidades educacionais especiais dos alunos, aponta 10.436/2002, visando a inclusão dos alunos surdos, dis-
um déficit referente à oferta de matrículas para alunos põe sobre a inclusão da Libras como disciplina curricular,
com deficiência nas classes comuns do ensino regular, a formação e a certificação de professor, instrutor e tra-
à formação docente, à acessibilidade física e ao atendi- dutor/intérprete de Libras, o ensino da Língua Portugue-
mento educacional especializado. sa como segunda língua para alunos surdos e a organiza-
A Convenção da Guatemala (1999), promulgada no ção da educação bilíngüe no ensino regular.
Brasil pelo Decreto nº 3.956/2001, afirma que as pes- Em 2005, com a implantação dos Núcleos de Ativi-
soas com deficiência têm os mesmos direitos humanos dade das Altas Habilidades/Superdotação – NAAH/S em
e liberdades fundamentais que as demais pessoas, defi- todos os estados e no Distrito Federal, são formados
nindo como discriminação com base na deficiência, toda centros de referência para o atendimento educacional
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

diferenciação ou exclusão que possa impedir ou anular especializado aos alunos com altas habilidades/superdo-
o exercício dos direitos humanos e de suas liberdades tação, a orientação às famílias e a formação continuada
fundamentais. Esse Decreto tem importante repercussão aos professores. Nacionalmente, são disseminados re-
na educação, exigindo uma reinterpretação da educação ferenciais e orientações para organização da política de
especial, compreendida no contexto da diferenciação educação inclusiva nesta área, de forma a garantir esse
adotada para promover a eliminação das barreiras que atendimento aos alunos da rede pública de ensino.
impedem o acesso à escolarização. A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com De-
Na perspectiva da educação inclusiva, a Resolução ficiência, aprovada pela ONU em 2006, da qual o Bra-
CNE/CP nº1/2002, que estabelece as Diretrizes Curricula- sil é signatário, estabelece que os Estados Parte devem
res Nacionais para a Formação de Professores da Educa- assegurar um sistema de educação inclusiva em todos
ção Básica, define que as instituições de ensino superior os níveis de ensino, em ambientes que maximizem o

36
desenvolvimento acadêmico e social compatível com a meta de inclusão plena, adotando medidas para garantir que:
“a) As pessoas com deficiência não sejam excluídas do sistema educacional geral sob alegação de deficiência e que as
crianças com deficiência não sejam excluídas do ensino fundamental gratuito e compulsório, sob alegação de deficiência;
b) As pessoas com deficiência possam ter acesso ao ensino fundamental inclusivo, de qualidade e gratuito, em igualdade
de condições com as demais pessoas na comunidade em que vivem (Art. 24)”.
Em 2006, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, o Ministério da Educação, o Ministério da Justiça e a UNESCO
lançam o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos que objetiva, dentre as suas ações, fomentar, no currículo
da educação básica, as temáticas relativas às pessoas com deficiência e desenvolver ações afirmativas que possibilitem
inclusão, acesso e permanência na educação superior.
Em 2007, no contexto com o Plano de Aceleração do Crescimento - PAC, é lançado o Plano de Desenvolvimento da
Educação – PDE, reafirmado pela Agenda Social de Inclusão das Pessoas com Deficiência, tendo como eixos a acessibili-
dade arquitetônica dos prédios escolares, a implantação de salas de recursos e a formação docente para o atendimento
educacional especializado.
No documento Plano de Desenvolvimento da Educação: razões, princípios e programas, publicado pelo Ministério
da Educação, é reafirmada a visão sistêmica da educação que busca superar a oposição entre educação regular e edu-
cação especial.
“Contrariando a concepção sistêmica da transversalidade da educação especial nos diferentes níveis, etapas e mo-
dalidades de ensino, a educação não se estruturou na perspectiva da inclusão e do atendimento às necessidades edu-
cacionais especiais, limitando, o cumprimento do princípio constitucional que prevê a igualdade de condições para o
acesso e permanência na escola e a continuidade nos níveis mais elevados de ensino” (2007, p. 09).
O Decreto nº 6.094/2007 estabelece dentre as diretrizes do Compromisso Todos pela Educação, a garantia do aces-
so e permanência no ensino regular e o atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos, fortalecendo
a inclusão educacional nas escolas públicas.

III - DIAGNÓSTICO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL

O Censo Escolar/MEC/INEP, realizado anualmente em todas as escolas de educação básica, acompanha, na educa-
ção especial, indicadores de acesso à educação básica, matrícula na rede pública, inclusão nas classes comuns, oferta
do atendimento educacional especializado, acessibilidade nos prédios escolares e o número de municípios e de escolas
com matrícula de alunos com necessidades educacionais especiais.
A partir de 2004, com a atualização dos conceitos e terminologias, são efetivadas mudanças no Censo Escolar, que
passa a coletar dados sobre a série ou ciclo escolar dos alunos atendidos pela educação especial, possibilitando, a par-
tir destas informações que registram a progressão escolar, criar novos indicadores acerca da qualidade da educação.
Os dados do Censo Escolar/2006, na educação especial, registram a evolução de 337.326 matrículas em 1998 para
700.624 em 2006, expressando um crescimento de 107%. No que se refere à inclusão em classes comuns do ensino
regular, o crescimento é de 640%, passando de 43.923 alunos incluídos em 1998, para 325.316 alunos incluídos em
2006, conforme demonstra o gráfico a seguir:

FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

37
Quanto à distribuição das matrículas nas esferas pública e privada, em 1998, registra-se 157.962 (46,8%) alunos com
necessidades educacionais especiais nas escolas privadas, principalmente em instituições especializadas filantrópicas.
Com o desenvolvimento de políticas de educação inclusiva, evidencia-se um crescimento de 146% das matrículas nas
escolas públicas, que passaram de 179.364 (53,2%) em 1998, para 441.155 (63%) em 2006, conforme demonstra o
gráfico a seguir:

Com relação à distribuição das matrículas por etapa e nível de ensino, em 2006: 112.988 (16%) são na educação
infantil, 466.155 (66,5%) no ensino fundamental, 14.150 (2%) no ensino médio, 58.420 (8,3%) na educação de jovens e
adultos, 46.949 (6,7%) na educação profissional (básico) e 1.962 (0,28%) na educação profissional (técnico).
No âmbito da educação infantil, as matrículas concentram-se nas escolas/classes especiais que registram 89.083
alunos, enquanto apenas 24.005 estão matriculados em turmas comuns, contrariando os estudos nesta área que afir-
mam os benefícios da convivência e aprendizagem entre crianças com e sem deficiência desde os primeiros anos de
vida para o seu desenvolvimento.
O Censo das matrículas de alunos com necessidades educacionais especiais na educação superior registra que,
entre 2003 e 2005, o número de alunos passou de 5.078 para 11.999 alunos. Este indicador, apesar do crescimento de
136% das matrículas, reflete a exclusão educacional e social, principalmente das pessoas com deficiência, salientando
a necessidade de promover a inclusão e o fortalecimento das políticas de acessibilidade nas instituições de educação
superior.
A evolução das ações da educação especial nos últimos anos se expressa no crescimento do número de municípios
com matrículas, que em 1998 registra 2.738 municípios (49,7%) e, em 2006 alcança 4.953 municípios (89%), um cresci-
mento de 81%. Essa evolução também revela o aumento do número de escolas com matrícula, que em 1998 registra
apenas 6.557 escolas e chega a 54.412 escolas em 2006, representando um crescimento de 730%. Destas escolas com
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

matrícula em 2006, 2.724 são escolas especiais, 4.325 são escolas comuns com classe especial e 50.259 são escolas
comuns com inclusão nas turmas de ensino regular.
O indicador de acessibilidade arquitetônica em prédios escolares, em 1998, aponta que 14% dos 6.557 estabeleci-
mentos de ensino com matrícula de alunos com necessidades educacionais especiais possuíam sanitários com acessi-
bilidade. Em 2006, das 54.412 escolas com matrículas de alunos atendidos pela educação especial, 23,3% possuíam sa-
nitários com acessibilidade e 16,3% registraram ter dependências e vias adequadas (indicador não coletado em 1998).
Em relação à formação dos professores com atuação na educação especial, em 1998, 3,2% possuíam ensino funda-
mental; 51% possuíam ensino médio e 45,7% ensino superior. Em 2006, dos 54.625 professores que atuam na educa-
ção especial, 0,62% registraram somente ensino fundamental, 24% registraram ensino médio e 75,2% ensino superior.
Nesse mesmo ano, 77,8% destes professores, declararam ter curso específico nessa área de conhecimento.

38
IV - OBJETIVO DA POLÍTICA NACIONAL DE comum, orientando para o atendimento às necessidades
EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA educacionais especiais desses alunos.
EDUCAÇÃO INCLUSIVA Consideram-se alunos com deficiência àqueles que
têm impedimentos de longo prazo, de natureza física,
A Política Nacional de Educação Especial na Perspec- mental, intelectual ou sensorial, que em interação com
tiva da Educação Inclusiva tem como objetivo assegurar diversas barreiras podem ter restringida sua participação
a inclusão escolar de alunos com deficiência, transtornos plena e efetiva na escola e na sociedade. Os alunos com
globais do desenvolvimento e altas habilidades/super- transtornos globais do desenvolvimento são aqueles que
dotação, orientando os sistemas de ensino para garantir: apresentam alterações qualitativas das interações sociais
acesso ao ensino regular, com participação, aprendiza- recíprocas e na comunicação, um repertório de interes-
gem e continuidade nos níveis mais elevados do ensino; ses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. In-
transversalidade da modalidade de educação especial cluem-se nesse grupo alunos com autismo, síndromes do
desde a educação infantil até a educação superior; oferta espectro do autismo e psicose infantil. Alunos com altas
do atendimento educacional especializado; formação de habilidades/superdotação demonstram potencial elevado
professores para o atendimento educacional especializa- em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combi-
do e demais profissionais da educação para a inclusão; nadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade
participação da família e da comunidade; acessibilidade e artes. Também apresentam elevada criatividade, grande
arquitetônica, nos transportes, nos mobiliários, nas co- envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em
municações e informação; e articulação intersetorial na áreas de seu interesse. Dentre os transtornos funcionais es-
implementação das políticas públicas. pecíficos estão: dislexia, disortografia, disgrafia, discalculia,
transtorno de atenção e hiperatividade, entre outros.
V - ALUNOS ATENDIDOS PELA EDUCAÇÃO ES- As definições do público alvo devem ser contextuali-
PECIAL zadas e não se esgotam na mera categorização e especifi-
cações atribuídas a um quadro de deficiência, transtornos,
Por muito tempo perdurou o entendimento de que a distúrbios e aptidões. Considera-se que as pessoas se mo-
educação especial organizada de forma paralela à educa- dificam continuamente transformando o contexto no qual
ção comum seria mais apropriada para a aprendizagem se inserem. Esse dinamismo exige uma atuação pedagógi-
dos alunos que apresentavam deficiência, problemas de ca voltada para alterar a situação de exclusão, enfatizando
saúde, ou qualquer inadequação com relação à estrutu- a importância de ambientes heterogêneos que promovam
ra organizada pelos sistemas de ensino. Essa concepção a aprendizagem de todos os alunos.
exerceu impacto duradouro na história da educação es-
pecial, resultando em práticas que enfatizavam os as- VI - DIRETRIZES DA POLÍTICA NACIONAL DE
pectos relacionados à deficiência, em contraposição à EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA
dimensão pedagógica. EDUCAÇÃO INCLUSIVA
O desenvolvimento de estudos no campo da educa-
ção e a defesa dos direitos humanos vêm modificando os A educação especial é uma modalidade de ensino que
conceitos, as legislações e as práticas pedagógicas e de perpassa todos os níveis, etapas e modalidades, realiza o
gestão, promovendo a reestruturação do ensino regu- atendimento educacional especializado, disponibiliza os
lar e especial. Em 1994, com a Declaração de Salamanca serviços e recursos próprios desse atendimento e orienta
se estabelece como princípio que as escolas do ensino os alunos e seus professores quanto a sua utilização nas
regular devem educar todos os alunos, enfrentando a si- turmas comuns do ensino regular.
tuação de exclusão escolar das crianças com deficiência, O atendimento educacional especializado identifica,
das que vivem nas ruas ou que trabalham, das super- elabora e organiza recursos pedagógicos e de acessibilida-
dotadas, em desvantagem social e das que apresentam de que eliminem as barreiras para a plena participação dos
diferenças lingüísticas, étnicas ou culturais. alunos, considerando as suas necessidades específicas. As
O conceito de necessidades educacionais especiais, atividades desenvolvidas no atendimento educacional es-
que passa a ser amplamente disseminado, a partir dessa pecializado diferenciam-se daquelas realizadas na sala de
Declaração, ressalta a interação das características indi- aula comum, não sendo substitutivas à escolarização. Esse
viduais dos alunos com o ambiente educacional e social, atendimento complementa e/ou suplementa a formação
chamando a atenção do ensino regular para o desafio dos alunos com vistas à autonomia e independência na es-
de atender as diferenças. No entanto, mesmo com essa cola e fora dela.
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

perspectiva conceitual transformadora, as políticas edu- O atendimento educacional especializado disponibiliza


cacionais implementadas não alcançaram o objetivo de programas de enriquecimento curricular, o ensino de lin-
levar a escola comum a assumir o desafio de atender as guagens e códigos específicos de comunicação e sinaliza-
necessidades educacionais de todos os alunos. ção, ajudas técnicas e tecnologia assistiva, dentre outros.
Na perspectiva da educação inclusiva, a educação Ao longo de todo processo de escolarização, esse atendi-
especial passa a constituir a proposta pedagógica da mento deve estar articulado com a proposta pedagógica
escola, definindo como seu público-alvo os alunos com do ensino comum.
deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e al- A inclusão escolar tem início na educação infantil, onde
tas habilidades/superdotação. Nestes casos e outros, que se desenvolvem as bases necessárias para a construção do
implicam em transtornos funcionais específicos, a edu- conhecimento e seu desenvolvimento global. Nessa etapa,
cação especial atua de forma articulada com o ensino o lúdico, o acesso às formas diferenciadas de comunicação,

39
a riqueza de estímulos nos aspectos físicos, emocionais, alunos com necessidade de apoio nas atividades de higie-
cognitivos, psicomotores e sociais e a convivência com as ne, alimentação, locomoção, entre outras que exijam auxí-
diferenças favorecem as relações interpessoais, o respeito lio constante no cotidiano escolar.
e a valorização da criança. Do nascimento aos três anos, Para atuar na educação especial, o professor deve ter
o atendimento educacional especializado se expressa por como base da sua formação, inicial e continuada, conhe-
meio de serviços de intervenção precoce que objetivam cimentos gerais para o exercício da docência e conheci-
otimizar o processo de desenvolvimento e aprendizagem mentos específicos da área. Essa formação possibilita a
em interface com os serviços de saúde e assistência social. sua atuação no atendimento educacional especializado e
Em todas as etapas e modalidades da educação bási- deve aprofundar o caráter interativo e interdisciplinar da
ca, o atendimento educacional especializado é organizado atuação nas salas comuns do ensino regular, nas salas de
para apoiar o desenvolvimento dos alunos, constituindo recursos, nos centros de atendimento educacional espe-
oferta obrigatória dos sistemas de ensino e deve ser rea- cializado, nos núcleos de acessibilidade das instituições de
lizado no turno inverso ao da classe comum, na própria educação superior, nas classes hospitalares e nos ambien-
escola ou centro especializado que realize esse serviço tes domiciliares, para a oferta dos serviços e recursos de
educacional. educação especial.
Desse modo, na modalidade de educação de jovens e Esta formação deve contemplar conhecimentos de ges-
adultos e educação profissional, as ações da educação es- tão de sistema educacional inclusivo, tendo em vista o de-
pecial possibilitam a ampliação de oportunidades de esco- senvolvimento de projetos em parceria com outras áreas,
larização, formação para a inserção no mundo do trabalho visando à acessibilidade arquitetônica, os atendimentos de
e efetiva participação social. saúde, a promoção de ações de assistência social, trabalho
A interface da educação especial na educação indígena, e justiça.
do campo e quilombola deve assegurar que os recursos,
serviços e atendimento educacional especializado estejam REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
presentes nos projetos pedagógicos construídos com base
nas diferenças socioculturais desses grupos. BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Ba-
Na educação superior, a transversalidade da educação ses da Educação Nacional, LDB 4.024, de 20 de dezembro
especial se efetiva por meio de ações que promovam o de 1961.
acesso, a permanência e a participação dos alunos. Estas BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Ba-
ações envolvem o planejamento e a organização de recur- ses da Educação Nacional, LDB 5.692, de 11 de agosto de
sos e serviços para a promoção da acessibilidade arquite- 1971.
tônica, nas comunicações, nos sistemas de informação, nos BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil.
materiais didáticos e pedagógicos, que devem ser dispo- Brasília: Imprensa Oficial, 1988.
nibilizados nos processos seletivos e no desenvolvimento BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação
de todas as atividades que envolvem o ensino, a pesquisa Especial. Lei Nº. 7.853, de 24 de outubro de 1989.
e a extensão. BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente no Brasil.
Para a inclusão dos alunos surdos, nas escolas comuns, Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990.
a educação bilíngüe - Língua Portuguesa/LIBRAS, desen- BRASIL. Declaração Mundial sobre Educação para To-
volve o ensino escolar na Língua Portuguesa e na língua dos: plano de ação para satisfazer as necessidades básicas
de sinais, o ensino da Língua Portuguesa como segunda de aprendizagem. UNESCO, Jomtiem/Tailândia, 1990.
língua na modalidade escrita para alunos surdos, os servi- BRASIL. Declaração de Salamanca e linha de ação sobre
ços de tradutor/intérprete de Libras e Língua Portuguesa necessidades educativas especiais. Brasília: UNESCO, 1994.
e o ensino da Libras para os demais alunos da escola. O BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação
atendimento educacional especializado é ofertado, tanto Especial. Política Nacional de Educação Especial. Brasília:
na modalidade oral e escrita, quanto na língua de sinais. MEC/SEESP, 1994.
Devido à diferença lingüística, na medida do possível, o BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases
aluno surdo deve estar com outros pares surdos em tur- da Educação Nacional, LDB 9.394, de 20 de dezembro de
mas comuns na escola regular. 1996.
O atendimento educacional especializado é realizado BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação
mediante a atuação de profissionais com conhecimentos Especial. Decreto Nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999.
específicos no ensino da Língua Brasileira de Sinais, da Lín- BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação
gua Portuguesa na modalidade escrita como segunda lín- Especial. Lei Nº 10.048, de 08 de novembro de 2000.
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

gua, do sistema Braille, do soroban, da orientação e mobi- BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação
lidade, das atividades de vida autônoma, da comunicação Especial. Lei Nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000.
alternativa, do desenvolvimento dos processos mentais BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação
superiores, dos programas de enriquecimento curricular, Especial. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na
da adequação e produção de materiais didáticos e peda- Educação Básica. Secretaria de Educação Especial - MEC/
gógicos, da utilização de recursos ópticos e não ópticos, da SEESP, 2001.
tecnologia assistiva e outros. BRASIL. Ministério da Educação. Lei Nº 10.172, de 09
Cabe aos sistemas de ensino, ao organizar a educação de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educa-
especial na perspectiva da educação inclusiva, disponibi- ção e dá outras providências.
lizar as funções de instrutor, tradutor/intérprete de Libras BRASIL. Decreto Nº 3.956, de 8 de outubro de 2001.
e guia intérprete, bem como de monitor ou cuidador aos Promulga a Convenção Interamericana para a Eliminação

40
de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas enquadrar-se no sistema geral de educação, a fim de
Portadoras de Deficiência. Guatemala: 2001. integrar os alunos com deficiência na comunidade.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Edu- c) uma modalidade de ensino que perpassa todos os
cação Especial. Lei Nº. 10.436, de 24 de abril de 2002. níveis, etapas e modalidades, realiza o atendimento
Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS e dá educacional especializado, disponibiliza os serviços
outras providências. e recursos próprios desse atendimento e orienta os
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educa- alunos e seus professores quanto a sua utilização nas
ção Especial. Decreto Nº 5.296 de 02 de dezembro de turmas comuns do ensino regular.
2004. d) específica para atender crianças e jovens que apresen-
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educa- tem deficiências físicas ou mentais, os que se encon-
ção Especial. Decreto Nº 5.626, de 22 de dezembro de trem em atraso considerável quanto à idade regular
2005. Regulamenta a Lei Nº 10.436, de 24 de abril de de matrícula e os superdotados.
2002. e) específica para crianças e jovens com deficiência que
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educa- possuem condições de acompanhar e desenvolver as
ção Especial. Direito à educação: subsídios para a gestão atividades curriculares programadas do ensino co-
dos sistemas educacionais – orientações gerais e marcos mum, no mesmo ritmo que os alunos ditos normais.
legais. Brasília: MEC/SEESP, 2006.
BRASIL. IBGE. Censo Demográfico, 2000. Disponível Resposta: Letra D. Consta na Política Nacional de
em: <http://www.ibge.gov.br/ home/estatistica/popu- Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusi-
lacao/censo2000/default.shtm>. Acesso em: 20 de jan. va: “a educação especial é uma modalidade de ensino
2007. que perpassa todos os níveis, etapas e modalidades,
BRASIL. INEP. Censo Escolar, 2006. Disponível em: realiza o atendimento educacional especializado, dis-
<http:// http://www.inep.gov.br/basica/censo/default. ponibiliza os serviços e recursos próprios desse aten-
asp >. Acesso em: 20 de jan. 2007. dimento e orienta os alunos e seus professores quanto
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Convenção a sua utilização nas turmas comuns do ensino regular”.
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, 2006. A, B, D e E. Incorretas, não correspondendo ao concei-
BRASIL. Ministério da Educação. Plano de Desenvol- to colacionado na Política Nacional de Educação Espe-
vimento da Educação: razões, princípios e programas. cial na Perspectiva da Educação Inclusiva.
Brasília: MEC, 2007.

#FicaDica
EDUCAÇÃO E CULTURA AFRO-BRASILEIRA
A Política Nacional de Educação Especial
de 2008 mudou a visão da educação especial
no sistema de ensino brasileiro. Uma das suas DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL E
principais vertentes é garantir o acesso de CULTURA AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA7
todos os alunos ao ensino regular, forman-
do professores para a inclusão e melhoran- O que nos faz semelhantes ou mais humanos, são as
do o acesso físico, transporte e mobiliário. A diferenças.
Política também eliminou a possibilidade de
exclusão total ou parcial das turmas comuns, Somos uma sociedade sem preconceitos?
que na prática gerava exclusão social. Assim,
o ensino daqueles que possuem necessida- Há igualdade de direitos entre negros e brancos em
des especiais deve ser complementado ou nossa sociedade?
suplementado por meio de atendimento es- Presenciamos situações de preconceito em nosso
pecializado. dia-a-dia, evidenciadas em frases como estas: “pessoa
de cor “, “a coisa tá preta”, “olha o cabelo dela”, “olha a
cor do fulano”, “tem o pezinho na senzala”, “serviço de
preto”, etc?
A escola é responsável por trabalhar no sentido de
EXERCÍCIO COMENTADO promover a inclusão e a cidadania de todos os alunos,
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

visando a eliminar todo tipo de injustiça e discriminação,


1. (UFSC - Pedagogo - Educação Especial - COPERVE- enxergando os seres humanos dotados de capacidades e
-UFSC/2018) Na Política Nacional de Educação Especial valorizando-os como pessoas, principalmente dos afro-
na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008), a educação descendentes, marcados por um histórico triste na edu-
especial é: cação e na sociedade brasileira de discriminação, racismo
e preconceito.
a) uma modalidade de educação escolar oferecida, pre- A escola tem o importante papel de transformação da
ferencialmente, na rede regular de ensino, para edu- humanidade e precisa desenvolver seu trabalho de forma
candos portadores de necessidades especiais. 7 Texto adaptado de Nilma Lino Gomes, disponível em http://www.
b) uma modalidade que deve, no que for possível, diaadiaeducacao.pr.gov.br/

41
democrática, comprometendo-se com o ser humano em com a criação de representações positivas sobre o negro,
sua totalidade e respeitando-o em suas diferenças. De possibilitando uma inserção social do negro em alguns
acordo com Ribeiro (2004, p. 7) “[...] a educação é es- setores da sociedade, mudando aos poucos a situação
sencial no processo de formação de qualquer sociedade do negro. Um exemplo real e recente disso é a Presi-
e abre caminhos para a ampliação da cidadania de um dência dos Estados Unidos, sendo conquistada por um
povo.” negro: Barako Obama. O próprio estabelecimento da Lei
Os afrodescendentes devem ser reconhecidos em nº 10.639/03 que altera a LDB 9394/96 já retrata a preo-
nossa sociedade com as mesmas igualdades de opor- cupação na reflexão acerca do preconceito e da discrimi-
tunidades que são concedidas a outras etnias e grupos nação, buscando democratizar e universalizar o ensino,
sociais, buscando eliminar todas as formas de desigual- garantindo a todos os alunos o reconhecimento e valori-
dades raciais e resgatar a contribuição dos negros na for- zação de sua cultura, de sua história, de sua identidade,
mação da sociedade brasileira e, assim, valorizar a histó- e, assim, combater o racismo e as discriminações, edu-
ria e cultura dos afro-brasileiros e africanos. cando cidadãos orgulhosos de seu pertencimento étni-
Segundo as DCN para a Educação das Relações Ét- co-racial tendo seus direitos garantidos e sua identidade
nicos-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro- valorizada.
-Brasileira e Africana (2003, p. 5) Sugestões de filmes que abordam a temática: Men-
“Reconhecimento implica justiça e iguais direitos so- tes que brilham; Hotel Ruanda; Encontrando Forrester;
ciais, civis, culturais e econômicos, bem como valorização Quanto vale ou é por quilo: Escritores da Liberdade; Ca-
da diversidade daquilo que distingue os negros dos ou- randiru; A cor púrpura; Separados mas iguais; Homens de
tros grupos que compõem a população brasileira. E isto Honra; Amistad;
requer mudança nos discursos, raciocínios, lógicas, ges-
tos, posturas, modo de tratar as pessoas negras. Requer Diversidade socioeconômica e cultural
também que se conheça a sua história e cultura apre-
sentadas, explicadas, buscando-se especificamente des- A escola pública possui em sua grande maioria alu-
construir o mito da democracia racial na sociedade brasi- nos provenientes de uma classe socioeconômica cultural
leira; mito este que difunde crença de que, se os negros desfavorecida, de famílias que possuem uma condição
não atingem os mesmos patamares que os não negros, é de vida desfavorável e que, na maioria, possuem dificul-
por falta de competência ou interesse, desconsiderando dades de aprendizagem. São alunos filhos da classe tra-
as desigualdades seculares que a estrutura social hierár- balhadora, cujo pais permanecem a maior parte do dia
quica cria com prejuízos para o negro.” fora de casa trabalhando como empregados em indús-
Para que haja realmente a construção de um país de- trias, lojas, casas de família, em trabalhos sazonais como
mocrático, faz-se necessário que todos tenham seus di- boias-frias na zona rural, cortadores de cana, pedreiros,
reitos garantidos e sua identidade valorizada, a começar garis, empregadas domésticas, etc. Muitos pais encon-
pela escola que, infelizmente, continua desenvolvendo tram-se até desempregados, realizando um “bico” aqui
práticas preconceituosas detectadas no currículo, no ma- ou ali. Esses compõem a maioria dos alunos que a escola
terial didático, nas relações entre os alunos, nas relações pública atende e que precisa dar conta, oportunizando
entre alunos, e não poucas vezes até professores. Segun- condições de aprendizagem, num processo de qualidade.
do Pinto (1993, apud Rosemberg, 1998, p. 84) “[...] ao que Eles são alunos que estão à margem da sociedade, e
tudo indica, a escola, que poderia e deveria contribuir que muitas vezes passam por diversas circunstâncias per-
para modificar as mentalidades antidiscriminatórias ou versas, como a fome, situações de violência, problemas
pelo menos para inibir as ações discriminatórias, acaba com alcoolismo e drogas, situações de abandono, entre
contribuindo para a perpetuação das discriminações, seja outros. Esses são os verdadeiros excluídos da sociedade
por atuação direta de seus agentes, seja por sua omissão que estão na escola clamando por ajuda. E as condições
perante os conteúdos didáticos que veicula, ou pelo que socioeconômicas e culturais é um dos fatores que podem
ocorre no dia-a-dia da sal de aula.” interferir, e muito, no desempenho escolar dos alunos.
Corroborando o que diz Pinto, Silva (2002, p. 140) O desafio da escola é este: possibilitar a essa grande
afirma que: maioria o acesso à escola, mas garantindo-lhes perma-
“Os dados mostram claramente que o sistema edu- necer e ter sucesso no processo de ensino e aprendi-
cacional brasileiro é seletivo e discriminatório, porque zagem, pois o acesso ao conhecimento historicamente
seleciona em especial os pobres, os negros, os mulatos elaborado é que poderá dar a esses alunos, muitas ve-
os nordestinos.” zes excluídos do sistema e da sociedade, condições para
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

“[...] Assim sendo, a marginalização cultural e o ra- transformar suas vidas e possibilitar uma maior inserção
cismo estão entre as principais razões que explicam as na comunidade, podendo atuar como cidadãos, capazes
grandes taxas de evasão e repetência na escola básica.” de transformá-la.
A educação é o fato de maior eficácia para contribuir O sistema, a escola, os professores, precisam reco-
para a promoção dos excluídos. Por isso, muitas ações nhecer nesses alunos os seres humanos que ali estão e
têm sido desencadeadas no sentido de reconhecimen- clamam por uma oportunidade, que sonham com uma
to e valorização do negro, garantindo a eles as mesmas perspectiva de vida melhor e que querem ter seus direi-
condições, numa constante luta contra o racismo e o tos de cidadãos garantidos. É preciso destruir o histórico
preconceito. Luta esta que deve ser de todos, todos que de exclusão e desigualdade do sistema escolar público,
acreditam num país democrático, justo e igualitário. reconhecendo em cada aluno suas potencialidades.
Atualmente, a escola e a sociedade têm se preocupado A escola precisa se preocupar em oferecer um ensino

42
público de maior qualidade, que possa compensar, pelo suas tradições locais, o seu ponto de vista ecológico,
menos parcialmente, as dificuldades de aprendizagem. É a sustentabilidade e as suas formas de produção do
preciso que se fique claro que as crianças que vivem em trabalho e de vida;
ambientes desfavoráveis também podem ter um nível de XI - superação do racismo – institucional, ambiental,
aprendizagem satisfatória. Cabe à escola oportunizar es- alimentar, entre outros – e a eliminação de toda e
sas condições, oferecendo o apoio necessário aos alunos qualquer forma de preconceito e discriminação racial;
em condições socioeconômicas e culturais desfavoráveis, XII - respeito à diversidade religiosa, ambiental e se-
ajudando-os a superar as dificuldades e carências do xual;
contexto onde vivem, procurando destruir o histórico de XV - superação de toda e qualquer prática de sexismo,
exclusão e desigualdade do sistema escolar público. machismo, homofobia, lesbofobia e transfobia;
XVI - reconhecimento e respeito da história dos qui-
lombos, dos espaços e dos tempos nos quais as crian-
ças, adolescentes, jovens, adultos e idosos quilombolas
EXERCÍCIO COMENTADO aprendem e se educam;
XVII - direito dos estudantes, dos profissionais da edu-
01. (Colégio Pedro II - Técnico em Assuntos Educacio- cação e da comunidade de se apropriarem dos conhe-
nais - Acesso Público/2015) Considerando a diversida- cimentos tradicionais e das formas de produção das
de sociocultural do país e com o objetivo de promover comunidades quilombolas de modo a contribuir para
a igualdade de acesso e permanência dos indivíduos no o seu reconhecimento, valorização e continuidade;
sistema regular de ensino e, simultaneamente, comba- XVIII - trabalho como princípio educativo das ações
ter desigualdades sociais e regionais, assim como pre- didáticopedagógicas da escola;
conceitos de qualquer ordem, relacionam-se às políticas XIX - valorização das ações de cooperação e de soli-
educacionais de ação afirmativa e inclusiva: dariedade presentes na história das comunidades qui-
lombolas, a fim de contribuir para o fortalecimento
(A) Educação para jovens e adultos em situação de pri- das redes de colaboração solidária por elas constru-
vação de liberdade nos estabelecimentos penais, edu- ídas;
cação escolar quilombola, educação escolar indígena, XX - reconhecimento do lugar social, cultural, políti-
educação do campo e dos povos das águas e das co, econômico, educativo e ecológico ocupado pelas
florestas. mulheres no processo histórico de organização das
(B) Educação mista, integral e participativa. comunidades quilombolas e construção de práticas
(C) Educação para a cidadania e ensino profissionalizante. educativas que visem à superação de todas as formas
(D) Educação infantil, ensino fundamental e ensino de violência racial e de gênero.
médio.
(E) Educação ambiental e educação laica.

Resposta Certa:A
PROTAGONISMO INFANTO-JUVENIL
Art. 7º A Educação Escolar Quilombola rege-se nas
suas práticas e ações políticopedagógicas pelos se-
guintes princípios:
I - direito à igualdade, liberdade, diversidade e plura- Fazenda constatou, através de uma ampla revisão
lidade; histórico-crítica dos estudos sobre interdisciplinaridade,
II - direito à educação pública, gratuita e de qualidade; que nos anos 70 as principais preocupações em educa-
III - respeito e reconhecimento da história e da cultura ção eram de natureza filosófica; nos anos 80, a diretriz
afro-brasileira como elementos estruturantes do pro- foi a sociológica e, nos anos 90, buscou-se um projeto
cesso civilizatório nacional; antropológico para a educação.
IV - proteção das manifestações da cultura afro-bra- Centros de referência sobre essa temática, nos Esta-
sileira; dos Unidos, no Canadá, na Europa e no Brasil ressigni-
V - valorização da diversidade étnico-racial; ficaram conceitos, metodologias e práticas, passaram a
VI - promoção do bem de todos, sem preconceitos de formar professores e fazer pesquisas com base no coti-
origem, raça, sexo, cor, credo, idade e quaisquer outras diano de suas práticas e rotinas.
formas de discriminação; Passam a ser explorados na educação, conceitos
como ética, estética, memória e temporalidade. Busca-se
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

VII - garantia dos direitos humanos, econômicos, so-


ciais, culturais, ambientais e do controle social das co- a conservação das boas rotinas, a lógica de base passa a
munidades quilombolas; ser a da invenção, da descoberta da pesquisa, da vontade
VIII - reconhecimento dos quilombolas como povos ou planejada e construída.
comunidades tradicionais; Ivani Catarina Arantes Fazenda, em seu texto, A aqui-
XIX - conhecimento dos processos históricos de luta sição de uma formação interdisciplinar de professores,
pela regularização dos territórios tradicionais dos po- trabalha questões para o aprofundamento do concei-
vos quilombolas; to de ambiguidade e o sentido que tem numa didática
X - direito ao etnodesenvolvimento entendido como interdisciplinar.
modelo de desenvolvimento alternativo que conside- Parte da compreensão do sentido da educação
ra a participação das comunidades quilombolas, as que prevê um cuidado anatômico, técnico, genético,

43
ecológico, etológico, mitológico e estético, como tam- na linguagem metafórica, exercício ambíguo, geradora
bém o sentido de uma educação que ainda se encaixa nos de hipóteses que têm garantido a conquista de novos
moldes das teorias disciplinares. Nesse momento foca o parceiros.
perfil de Formação Interdisciplinar e foca que é preciso A metáfora nos leva à elasticidade da linguagem ima-
abandonar as posições acadêmicas que impedem novas gética, que propicia ressignificar conceitos da educação
aberturas e o caráter intuitivo das práticas ditas interdis- como didática e dialética.
ciplinares. Busca a construção conceitual interdisciplinar, Fazenda esclarece que esses trabalhos merecem no-
ressaltando a importância da ambiguidade. vas análises. Partem do exercício da ambiguidade, por
Nas pesquisas, orientador e orientando voltam o isso constituem uma produção polêmica, mas indicadora
olhar, comprometido e atento, às práticas pedagógicas de caminhos, com vistas à construção de uma teoria in-
rotineiras menos pretensiosas, exercidas com compe- terdisciplinar da educação.
tência, para recuperar sua magia e a essência dos seus Isabel Alarcão escreve sobre O outro lado da compe-
movimentos. Em seu sentido maior, o exercício da ambi- tência comunicativa: a do Professor e nos revela que o
guidade impele-nos ao mesmo tempo a enfrentar o caos paralelismo entre o aprender e o ensinar a língua, rela-
e a buscar a matriz de uma ordem, uma nova ordem, uma cionado à sua didática e à da formação de professores de
ideia básica de organização. línguas, tem sido o seu desafio.
Tendo como parceiros teóricos, Gusdorf e Pereira, que Esse professor é o mediador entre o aluno e a língua
consideram que a ambiguidade nasce de uma virtude estrangeira com vistas ao desenvolvimento, pelo sujeito
ética, guerreira, que se apresenta naturalmente, de um que aprende, da competência comunicativa com todas
sujeito individual ou coletivo, Fazenda não admite a pro- as implicações que esse processo envolve no desenvolvi-
dução de professor em série, considera o que é próprio a mento pessoal e social do aluno. O âmbito de referência
cada um e teve e tem como desafio entender como sua inclui ainda ligações às áreas epistemológicas como as
competência se expressa ao exercer sua profissão e qual das ciências da linguagem, da sociedade e da educação,
a base teórica da sua formação. que podem auxiliá-lo nas situações que exigem a toma-
A competência, onde ela aparece, foi e é ainda outro da de decisões e que se operacionalizam em estratégias
foco de pesquisas. A percepção dos professores partici- de comunicação, de caráter prático e específico.
pantes da pesquisa é estimulada recorrendo à memória. A competência metacomunicativa refere-se à reflexão
Este trabalho revela que uma formação interdisciplinar sobre a comunicação pedagógica num ambiente social,
se evidencia na prática e mais, na intensidade das bus- que caracteriza a situação de ensino e aprendizagem.
cas que empreendemos enquanto nos formamos, nas A autora propõe vários desafios aos professores so-
dúvidas que nos acompanham e na relação delas com bre a formação contínua hoje institucionalizada, valoriza
o projeto de existência. Salientaram-se quatro tipos de sua dimensão individual e social. São possibilidades de
competências do professor: intuitiva, intelectiva, prática e saberes enriquecidos com a vantagem do aprenderem
emocional. Baseou-se, em grande parte, em Jung e seus por si, numa atitude de crescente autonomia e valoriza-
seguidores nos estudos da psicologia analítica. ção profissional.
Também foi essa a parceria teórica em outra pesquisa Antônio Joaquim Severino, autor do texto: O conhe-
que trilhou o caminho dos sonhos para ser realizada e cimento pedagógico e a interdisciplinaridade: o saber
ampliou a importância da dimensão simbólica na forma- como intencionalização da prática, valoriza-a conside-
ção interdisciplinar. rando-a como a principal referência da existência hu-
Seus orientandos, para elucidação de conceitos na mana. A função do conhecimento é intencionalizá-la e o
área da educação optaram pela sua construção e recons- campo pedagógico; deve recorrer à abordagem filosófi-
trução. Buscaram reconceituar ética e estética. ca para delinear finalidades, diretrizes, referências e ação.
O trabalho sobre ética, iniciou com a revisão clássica Sobre o trabalho do homem explica que está inserido
do conceito. Também contou com o recurso da memória em três esferas: do fazer, do poder e do saber, sendo
em suas múltiplas possibilidades, feito através da tenta- pela mediação desse tríplice universo, do trabalho, da
tiva de traçar a autocartografia de um autor/professor; sociedade e da cultura, que se compreende a existência
teve como parceiro teórico Kenski. Foram revelados sen- humana em sua inteireza.
tidos peculiares de uma ética, identificados como bom A educação nesse contexto deve ser entendida ao
senso, tolerância, subserviência, engodo, difamação, co- mesmo tempo como prática técnica e política para que
nivência, autoritarismo, dentre outros. Ainda ficou evi- se torne mediação. Deve ser equacionada em relação às
denciado, através da elasticidade das possibilidades de suas modalidades e não em relação ao ser do homem.
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

análise, o movimento espiralado com que os traços re- Como todas as mediações são ambivalentes, possibilitam
correntes aparecem o que reforçou a presença e a força tanto a humanização quanto a desumanização, indivi-
da ambiguidade dual e/ou coletiva. O ensino nesse contexto é entendido
O conceito de estética foi buscado através da revisão como processo mediador da educação e se legitima atra-
bibliográfica da área e pelo jogo da contradição concei- vés da sua eficácia educativa.
tual de micro e macroestética. Este recurso ampliou a O autor complementa o texto ao refletir sobre a
compreensão da diversidade e beleza nele contidas. educação em seu contexto histórico, identifica os seus
Esses desvelamentos despertaram novos desafios problemas de caráter fragmentário e para a sua supe-
como o da desconstrução de conceitos como hetero- ração propõe o projeto educacional como um conjun-
gênese, identidade, diferença, metáfora, memória e a to articulado de propostas e planos de ação para bus-
descrição do cotidiano de práticas docentes apoiados car valores explicitados e assumidos, que tenham uma

44
intencionalidade, entendida como força norteadora da complementaridade entre didática e interdisciplinarida-
organização e do funcionamento da escola. O projeto de que são intrínsecas à especificidade da didática e ex-
pedagógico possibilita a prática da interdisciplinaridade, trínsecas, segundo a ordem de necessidade o que requer
na perspectiva da totalidade. O fundamental do conheci- uma equipe de trabalho interdisciplinar, que colabore na
mento é o seu processo de construção histórica, realiza- pesquisa e no ensino.
da por um sujeito coletivo. Vicenç Benedito Antolí, o autor em A Didática como
O autor ainda salienta a importância da pesquisa, Espaço e Área do Conhecimento: Fundamentação Teóri-
entendida como processo de construção de objetos do ca e Pesquisa Didática, inicialmente aborda que todo o
conhecimento, numa sociedade que valoriza a ciência. campo pedagógico está em construção. Volta às origens
A educação necessita da atitude interdisciplinar, tanto da palavra “didática” e informa-nos que ela provém do
como objeto de conhecimento e de pesquisa, quanto grego, deriva do verbo didasko, que significa “ensinar,
como espaço e mediação de intervenção sociocultural. instruir, expor claramente, demonstrar”. É um termo in-
Ela compreende ainda a formação do profissional, dos troduzido na Espanha, no final do século XVIII. O termo
agentes sociais. Formação enquanto homem e cidadão. “ensino” parece ser o elemento-chave que identifica seu
Para além da interdisciplinaridade, o autor lança o de- conteúdo.
safio da transdisciplinaridade, com alguns comentários. A definição (1987) que melhor a descreve é que “a
Yves Lenoir em Didática e Interdisciplinaridade: uma didática é, está a caminho de ser, uma ciência e uma tec-
complementaridade necessária e incontornável, ressalta nologia que se constrói com base na teoria e na prática,
as ligações entre esses conceitos, segundo o seu sentido em ambientes organizados de relação e comunicação in-
e a sua existência, porque ligam as disciplinas escolares. tencional, nos quais se desenvolvem processos de ensino
Em primeiro lugar, a interdisciplinaridade exige a relação e aprendizagem para a formação do aluno”.
entre pelo menos duas disciplinas, não sendo contrária à Ressalta a importância da revolução copernicana com
disciplinaridade. a ruptura dos esquemas clássicos, predominantes nos
Faz uma distinção entre “disciplina” científica e esco- anos 70, na concepção científica do conhecimento edu-
lar, mostra-nos que ambas têm elementos de conteúdos, cativo. Reconhece a importância de Pérez Gómes, Fér-
finalidades, referenciais, lógica de estruturação interna e nandez López e Gimeno Sacristán que se caracterizam
modalidades de aplicação diferentes. A interdisciplinari- por um denominador comum: a abertura para o progres-
dade escolar trata das “matérias escolares”, não de disci- so da nova concepção fundamentada na necessidade
plinas científicas. Têm em comum o fato de que compar- da reflexão epistemológica, a introdução do paradig-
tilham uma lógica científica. ma qualitativo, a busca da utilidade social da pesquisa
Esclarece as duas finalidades da Interdisciplinaridade: educativa e o caráter de intervenção, às emergências do
uma perspectiva de pesquisa de uma superciência, de campo do currículo e da pedagogia.
uma síntese conceitual na busca da unidade do saber, A análise epistemológica implica uma reflexão sobre
com preocupações de ordem fundamentalmente filo- a ciência que deve ser crítica e buscar a racionalidade em
sófica e epistemológica e uma perspectiva instrumental cada âmbito científico do conhecimento. Uma proposta
que busca a resolução de problemas da existência coti- epistemológica para a didática deverá estar relacionada
diana com base em práticas particulares, para responder aos problemas do conhecimento científico nos eixos:
às questões sociais contemporâneas. São tendências que descobrimento, justificação e tecnológico ou de aplica-
não se excluem, e convém que se mantenham intima- ção, por meio de uma reflexão baseada na teoria quando
mente ligadas. esta estiver pronta para a aplicação na prática, para a ve-
Seus campos de operacionalização são quatro: a in- rificação das suas afirmações.
terdisciplinaridade científica, a escolar, a prática e a pro- As perspectivas das novas propostas de pesquisa
fissional. De acordo com os problemas e preocupações baseiam-se na didática como processo social, com a in-
são três os ângulos de acesso, segundo Hermerén: as tenção de conceituá-la desde o interesse prático até o
questões organizacionais, a pesquisa e o ensino. Lenoir sociocrítico. Tem um fundamento humanista para enten-
acrescenta um ângulo: o da prática. Enquanto a Inter- der a realidade social, mutável e dinâmica. Os indivíduos
disciplinaridade Científica tem por finalidade a produção são conceituados como agentes ativos na construção das
de novos conhecimentos e a resposta às necessidades realidades. Busca mais o descobrimento da teoria do que
sociais, a Interdisciplinaridade Escolar busca a difusão do da sua comprovação. A pesquisa didática, nesse enfoque,
conhecimento, para favorecer a integração de aprendi- engloba os fenômenos e processos que caracterizam a
zagens e conhecimentos e a formação dos atores sociais. vida da sala de aula, buscando os significados subjetivos,
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

A Interdisciplinaridade Escolar se constitui o conjunto as percepções e as interpretações de professores e alu-


de três planos a saber: a interdisciplinaridade curricular, nos. Aceita a pluralidade de métodos para compreender
a interdisciplinaridade didática e a interdisciplinaridade a realidade.
pedagógica. São três as concepções epistemológicas da O paradigma sociocrítico estuda o ensino em con-
função da interdisciplinaridade: a abordagem relacional, textos sociopolíticos, de interesses e valores. A realidade
que tem como característica estabelecer ligações, com- social é o ponto de partida dos fenômenos educativos, a
plementaridade, convergências, interconexões; a abor- pesquisa deve estar comprometida diante dos conflitos
dagem ampliativa, caracterizada por preencher o vazio para conseguir a liberação da opressão. Seu melhor pre-
entre duas ciências existentes e a abordagem radical que cedente foi Freire. A pesquisa é qualitativa e etnográfica,
busca outra estruturação, em substituição à disciplinar. sua manifestação mais atual é a pesquisa-ação. É um pa-
Em segundo lugar, trata da necessidade da radigma de pesquisa de grande potência e atrativo para

45
uma transformação do sistema educativo por meio da pesquisas, aos seminários temáticos, aos workshops,
formação de professores como agentes ativos e críticos minicursos, cursos externos e também realizaram estu-
do ensino. dos individuais de acordo com suas teses, monografias,
A preocupação maior é com análises profundas e relatórios de pesquisa, etc. Houve o desdobramento de
contextuais do ensino, para averiguar o que está por temáticas como as “novas tecnologias de informação e
trás da atuação de cada professor e para conhecer as comunicação” e a “reflexão sobre a sociedade contem-
estruturas cognitivas implícitas nos processos de ensino porânea”. Compreenderam ensino como uma atividade
e aprendizagem, com o comprometimento do professor essencialmente comunicativa e pesquisa como a necessi-
e do pesquisado em uma combinação de papéis para dade de observar, investigar e entender a realidade para
a transformação da escola. A criação do conhecimento comunicá-la melhor, para comunicar-se com ela.
científico geral passa a um segundo plano. É um proces- Cita ainda um dos grandes desafios do Ment, ocor-
so educativo por natureza. rido em 1995, quando assumiram coletivamente a dis-
Julie Thompson Klein, autora de Ensino Interdiscipli- ciplina eletiva “Comunicação e educação”, no Curso de
nar: Didática e Teoria, tem sua pesquisa direcionada para Pedagogia da mesma Faculdade, que superou todas as
as práticas e a teoria do conhecimento interdisciplinar. Con- expectativas.
sidera que cinco questões formam a base para uma teoria Conclui, citando Fazenda (1991), que “o desejo de criar,
do ensino interdisciplinar: pedagogia apropriada, processo de inovar, de ir além [...]” que permeia todas as práticas
integrador, ensino em equipe, mudança institucional e rela- interdisciplinares surge como superação de barreiras e
ção entre disciplinaridade e interdisciplinaridade dificuldades institucionais e pessoais, para construir ou-
O aumento de interesse pelo ensino interdisciplinar tras histórias, outra memória, uma nova prática, dialética
nos Estados Unidos aconteceu, devido à mudança de e interdisciplinar de formar professores-pesquisadores.
concepção de ensino e aprendizagem. Em contraposi- Ana Gracinda Queluz, em O Tempo, o Espaço e o Mo-
ção a produto, controle, performance, domínio e espe- vimento do Grupo de Pesquisa da UNIP - Universidade
cialização proclamam: processo, diálogo, transformação, Paulista na Estrutura de Pós-Graduação, enquanto orien-
questionamento e interação. A teoria da pedagogia mu- tadora no mestrado em educação dessa Universidade,
dou, de estratégias universais para situacionais e para as na disciplina “Formação e desenvolvimento de educado-
necessidades dos alunos. O papel do professor mudou, res”, relata os movimentos do grupo em formação para
antes bedel e fonte de sentido, agora guia e facilitador. a realização da sua pesquisa e o preparo da dissertação.
Sua premissa central é que o conhecimento, a compe- Aborda como a vivência do tempo é trans-formada e
tência e o talento artístico estão incorporados na prática trans-formadora na formação do pesquisador.
hábil, que denomina de “reflexão-em-ação”. Trabalham Considera que o impulso pessoal é marcado por um
em contexto de complexidade, incerteza, singularida- sentimento de tensão – pois há algo sempre que se dese-
de, instabilidade e conflito de valores. Precisam de uma ja alcançar, que orienta nossa vida para o futuro. Afirma
epistemologia da prática marcada pela união reflexiva de que existem fenômenos vitais suscetíveis de dar resposta
pensar e fazer em que a capacidade interdisciplinar não ao futuro vivido, na medida em que formam o funda-
é periférica, mas central. mento e a consistência desse futuro. São: a atividade e a
Vani Moreira Kenski, escreve sobre A Formação do espera; o desejo e a esperança; a prece e a busca da ação
Professor-Pesquisador: Experiências no Grupo de Pes- ética. Desenvolve-os no texto.
quisa “Memória, Ensino e Novas Tecnologias (Ment)”, Ainda aborda a questão do espaço nas dimensões
aborda que o cientista-pesquisador além da busca do psicológica, filosófica e sociológica, espaço onde se
conhecimento e da reflexão original, apresenta um com- constrói coletivamente o conhecimento sobre pesquisa
portamento individual e um comportamento em parce- e sua formação, onde é criada uma zona de interseção
ria e comunicação, para o enriquecimento e avanço que entre o subjetivo e o que é objetivamente percebido, o
essas trocas e diálogos possibilitam aos seus estudos na que aumenta também as possibilidades de quebrar o
produção e divulgação do conhecimento. isolamento do pesquisador, na busca de ampliar a inter-
O novo papel do professor de professores é participar locução orientador-orientando.
desse processo de formar iguais, ou seja, formar profes- O movimento do grupo e de cada um como parceiros
sores-pesquisadores de igual competência, para criar um se faz presente, num tipo de existência grupal capaz de
quadro de qualidade para o ensino superior. Essa reunião romper com amarras institucionais e apenas colocar al-
de pessoas com base no interesse teórico pelo mesmo gumas regras de funcionamento, para que todos saibam
tema altera o próprio conceito de “disciplina”, sobretudo sobre o próximo encontro, um novo início.
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em cursos de pós-graduação. Selma Garrido Pimenta, em Formação de Professores:


A autora cita as atividades do grupo “Memória, Ensi- Saberes da Docência e Identidade do Professor, posicio-
no e Novas Tecnologias” (Ment) como exemplo. As ati- na-se quanto à importância do trabalho do professor,
vidades foram iniciadas em 1992 com alunos que par- entendido como mediação nos processos constitutivos
ticipavam da disciplina por ela ministrada no curso de da cidadania dos alunos, que contém a superação do fra-
pós-graduação da Faculdade de Educação da Unicamp, casso e das desigualdades escolares.
“Memória e Ensino”. Estudavam como o tema memória Delineia novos caminhos para a formação docente
vinha sendo abordado nas áreas do conhecimento e, que se referem à identidade profissional do professor
como as “memórias” dos professores se refletem em suas e aos saberes que configuram à docência. Compreende
práticas pedagógicas. um projeto humano emancipatório que projeta os pro-
Os objetivos do Ment se prenderam à realização das fessores como autores na prática social.

46
“Mobilizar os saberes da experiência” e “O contexto Mazetto tem como desafio descobrir caminhos para
da contemporaneidade” constituem seus passos. A pro- as aulas nos cursos de ciências exatas e humanas e de
posta metodológica numa perspectiva crítica – reflexiva formação de professores.
(Nóvoa), configura-se na articulação possível entre pes- Ao exporem seus trabalhos nessa obra, realizada a
quisa e política de formação. “muitas mãos”, os parceiros conceituam didática e inter-
A escola se constitui num espaço de trabalho e de disciplinaridade, retratam os aportes teóricos construí-
formação o que implica em gestão democrática, práticas dos para a transformação da educação, num tempo de
curriculares participativas e redes de formação contínuas. mudanças constantes e desafiadoras. Os argumentos so-
As escolas de formação de professores precisam ser re- bre o projeto curricular e a mudança institucional envol-
concebidas como esferas contrapúblicas, para educá-los vem diferentes atitudes sociais, psicológicas e políticas.
como intelectuais críticos, capazes, com consciência e É um tempo de soltar as amarras, mas, ora parecem já
sensibilidade social, de ratificar e praticar o discurso da soltas, em outras horas nos prendem. O olhar interdisci-
liberdade e da democracia. plinar detém-se nesse tempo e nesses espaços. Quanto
A formação de professores na tendência crítico-refle- ao tempo, nos fortalece para ousarmos, enquanto de-
xiva prevê uma política de valorização do desenvolvimen- satamos os nós em movimentos de descontinuidade do
to pessoal-profissional dos professores e das instituições já construído, um tempo presente que nos remete ao
escolares, porque pressupõe a possibilidade dessa for- passado e ao futuro, mas, que contém esse momento
mação ser realizada no local de trabalho, em redes de do agora. Os espaços são muitos e múltiplos e neles es-
autoformação e em parceria com outras instituições. tão as escolas, presentes no encontro entre pessoas. A
A permanente formação é entendida como ressigni- mudança na Educação começa nessa presença da e na
ficação identitária dos professores e valoriza a docência escola, nos movimentos reflexivos sobre a sua história,
como mediação para a superação do fracasso escolar. nas buscas de novas palavras e múltiplos enfoques, para
Marcos T. Masetto, em Aula na Universidade, con- que seja humanizadora.
sidera que, na aula estão presentes todos os grandes
problemas, concretizados na interação educativa de pro- Protagonismo
fessores e alunos que desenvolvem um programa de for- A tradicional ideia de que o conhecimento em sala de
mação, de profissionalização e de aprendizagem. aula está centrado no professor ou no aluno tem dado
Através de uma pesquisa realizada, 250 alunos do espaço para uma outra forma de pensar a educação.
curso de licenciatura, sujeitos da pesquisa, deram infor- Agora vemos o aluno como protagonista de seu pro-
mações sobre como as aulas poderiam ser mais interes- cesso de aprendizagem, em uma relação de troca com
santes e motivadoras para aprender. Identificou como o professor, em uma via de mão dupla em que ambos
característica importante a “aula como espaço de con-vi- aprendem e se desenvolvem.
vência humana e de relações pedagógicas”. Explica essa No entanto, trata-se de um modelo ainda muito sutil,
concepção. pois estamos em um processo transitório, caminhando
A aula modifica a postura do professor de “ensinante” em direção à mudança.
para “estar com”, de transmissor para parceiro de tro- Temos ainda enraizado em nossa cultura escolar o
ca, por meio de uma ação conjunta de grupo, que visa modelo antigo, mas é importante dizer que a mudan-
a formação do cidadão, do profissional, do pesquisador ça começa a partir do que fazemos de nossa prática
e favorece a iniciativa, a criatividade e a participação no cotidiana.
processo. Pensando nisso, a seguir elencamos alguns pontos
Analisa experiências em conjunto e observa seus importantes sobre o assunto que podem nos ajudar a
pontos comuns em relação à atividade aula. São eles: repensar nas práticas de sala de aula.

1. Os alunos desenvolvem atividades de pesquisa e  1. Desenvolver a capacidade autônoma do aluno


estudo individual e buscam informações e dados
novos para os debates em aula. Ver um aluno como protagonista de seu aprendizado
2. Aprendizagem ativa e um processo de descobertas significa, entre outras coisas, oferecer a ele  autonomia,
dirigidas. estimulando-o a buscar informação e a construir conhe-
3. Aprendizagem interativa em pequenos grupos. cimento caminhando com as próprias pernas.
4. Discussão de temas e assuntos atuais, de forma Isso não significa deixá-lo a própria sorte, mas
abrangente, integram-se os seus diversos aspec- sim mediar o processo de aprendizagem acompanhando
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

tos, inclusive teoria e prática, conhecimento e rea- os seus projetos desde o início até a finalização.
lidade, supera-se a dicotomia. Nesse novo formato, o professor abre os caminhos
5. Desde o início os alunos são colocados em situa- para que o estudante pesquise os conteúdos e descubra
ções concretas e são orientados para aprender na a melhor maneira de absorvê-los.
ação.
6. A aprendizagem é avaliada quanto ao conheci- 2. DINAMIZAR AS AULAS
mento, às habilidades e atitudes e por diversos
avaliadores, desde o próprio aluno, os professores, Incluir novas  tecnologias  e as ferramentas trazidas
elementos externos à universidade, com os quais por elas durante as aulas poderá contribuir com o prota-
os alunos interagem no período de sua formação. gonismo em sala de aula.
Mas é importante ressaltar que aluno precisa se sentir

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parte do processo, interagindo em sala, sugerindo ati- (1998). v. 1. 192 p. Disponível em: http://www.pucsp.br/
vidades e compartilhando experiências com os outros gepi/page51/page53/page76/page76.html
alunos, pois do contrário corre-se o risco de ser uma fer- https://escoladainteligencia.com.br/aluno-como-
ramenta de uso aleatório. -protagonista-e-os-beneficios-para-a-aprendizagem/

3. ESTIMULAR A CRIATIVIDADE
DIVERSIDADE E SEXUALIDADE
Outra vantagem considerável de transmitir o prota-
gonismo para os alunos é estimular a capacidade criati-
va de cada um.
Fazer isso é essencial ao protagonismo estudantil, Expressão da sexualidade
pois a criatividade é uma função nobre da inteligência
que motiva o aluno a desenvolver o olhar multifocal, A sexualidade tem grande importância no desenvol-
pensar fora da caixa e sair do lugar comum. vimento e na vida psíquica das pessoas, pois indepen-
Assim, desenvolve-se a capacidade de analisar as si- dentemente da potencialidade reprodutiva, relaciona-se
tuações, fazer escolhas, corrigir rotas, estabelecer metas, com o prazer, necessidade fundamental dos seres huma-
administrar as emoções e gerenciar os pensamentos. nos. Nesse sentido, é entendida como algo inerente, que
Se o ambiente não é favorável, eles se tornam enges- está presente desde o momento do nascimento, mani-
sados, desinteressados e perdem a curiosidade natural festando-se de formas distintas segundo as fases da vida.
pelas coisas. Seu desenvolvimento é fortemente marcado pela cultura
e pela história, dado que cada sociedade cria regras que
4. INCENTIVAR O PENSAMENTO COMPLEXO constituem parâmetros fundamentais para o comporta-
mento sexual dos indivíduos. A marca da cultura faz-se
Perceber que uma situação pode ser vista de dife- presente desde cedo no desenvolvimento da sexualida-
rentes formas, por diversos pontos de vista é importante de infantil, por exemplo, na maneira como os adultos
para uma educação que visa ao protagonismo. reagem aos primeiros movimentos exploratórios que as
Pois o aluno que é capaz de perceber a realidade sob crianças fazem em seu corpo.
diferentes pontos de vista, desenvolvendo o pensamento A relação das crianças com o prazer se manifesta de
crítico, fazendo relações entre os assuntos, compreende forma diferente da do adulto. Em momentos diferentes
que não há uma única forma de enxergar a realidade e de sua vida, elas podem se concentrar em determinadas
aprende a expor ideias e opiniões sobre diversos assun- partes do corpo mais do que em outras. A boca é uma
tos sem imposição. das regiões pela qual as crianças vivenciam de modo pri-
vilegiado sensações de prazer, ao mesmo tempo em que
5. MELHORAR A COOPERAÇÃO NA SALA DE AULA se constitui em recurso de ação sobre o mundo exterior.
Para um bebê, o sugar está presente tanto nos momen-
O resultado de ter o aluno como protagonista no pro- tos em que mama ou é alimentado, como quando leva à
cesso de aprendizado é positivo e contribui muito para a boca objetos que estão ao seu alcance ou partes de seu
cooperação na sala de aula. corpo. Nesse contexto, a mordida pode ser entendida,
É claro que pode ser necessário estabelecer algu- também, como uma ação sobre o meio. Também nessa
mas regras para que essa dinâmica funcione, mas o obje- fase, as crianças descobrem o poder que têm por meio
tivo é aproveitar o que cada pessoa tem de melhor para de suas reações de recusa ou aceitação do alimento que
um aprender partilhado. lhe oferecem.
Essa forma de aprendizado permite explorar me- Na fase do controle esfincteriano, tudo o que diz
lhor as dificuldades e facilidades de cada aluno, favore- respeito às eliminações ganha uma importância enorme
cendo a criação de um ambiente mais compreensivo e para as crianças e para os adultos com quem convivem.
colaborativo. Logo elas percebem o efeito que suas eliminações pro-
vocam nos adultos, os quais tendem a reagir conforme
6. DEMONSTRAR AO ALUNO QUE ELE TAMBÉM É hábitos e concepções muito arraigados acerca do que
FONTE DE CONTEÚDO é limpo, sujo, “feio” ou “bonito”, podendo usá-las como
recurso para manipular o adulto, contrapondo o seu pró-
Oferecer um espaço em sala de aula para cada pessoa prio desejo às expectativas dele.
Outra consequência que decorre do controle esfinc-
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possa partilhar suas experiências e adquirir novos conhe-


cimentos é a essência de um trabalho voltado ao prota- teriano é o favorecimento da exploração dos órgãos ge-
gonismo na educação. Todos nós temos algo a ensinar e nitais, antes escondidos pelas fraldas. Aumenta a curio-
muito a aprender. sidade por seus próprios órgãos, podendo entregar-se
Esse trabalho significa dar voz a todos, enxergando a manipulações por meio das quais pesquisam as sen-
cada um em sua particularidade uma capacidade de sações e o prazer que produzem. Paralelamente, cresce
construir. também o interesse pelos órgãos das outras crianças que
também podem se tornar objeto de manipulação e de
REFERÊNCIA: exploração, em interações sociais dos mais diversos ti-
FAZENDA, Ivani, Catarina Arantes. (Org.). Didática e pos: na hora do banho, em brincadeiras de médico etc.
Interdisciplinaridade. 9ª. ed. Campinas, SP: Papirus, 2005. A reação dos adultos às explorações da criança de seu

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próprio corpo e aos jogos sexuais com outras crianças entre os sexos, por volta dos cinco e seis anos, a questão
lhe fornecem parâmetros sobre o modo como é vista a do gênero ocupa papel central no processo de constru-
sua busca de prazer. Esse contexto influencia seus com- ção da identidade. Isso se reflete nas ações e interações
portamentos atuais e a composição de sua vida psíquica. entre as crianças, que tendem a uma separação espontâ-
A recepção dos adultos a suas explorações ou perguntas nea entre meninos e meninas.
ligadas à sexualidade podem suscitar diferentes reações, A estrutura familiar na qual se insere a criança for-
desde atitudes de provocação e exibicionismo até atitu- nece-lhe importantes referências para sua representação
des de extremo retraimento e culpa. quanto aos papéis de homem e mulher. Em um mesmo
Tanto nas famílias como na instituição, as explora- grupo de creche ou pré-escola, as crianças podem per-
ções sexuais das crianças mobilizam valores, crenças e tencer a estruturas familiares distintas, como uma que
conteúdos dos adultos, num processo que nem sempre é criada pelo pai e pela mãe, outra que é criada só pela
é fácil de ser vivido. Sobretudo se virem na curiosidade mãe, ou só pelo pai, ou ainda outra criada só por homens
e exploração das crianças uma conotação de promiscui- ou só por mulheres.
dade ou manifestação de algo “anormal”. A tendência é Além do modelo familiar, as crianças podem consta-
que, quanto mais tranquila for a experiência do adulto no tar, por exemplo, que nas novelas ou desenhos veicula-
plano de sua própria sexualidade, mais natural será sua dos pela televisão, homem e mulher são representados
reação às explorações espontâneas infantis. conforme visões presentes na sociedade. Essas visões
No cotidiano, as crianças recebem, com frequência, podem influenciar a sua percepção quanto aos papéis
mensagens contraditórias. Veem o sexo ser alardeado desempenhados pelos sujeitos dos diferentes gêneros
nas propagandas, ou abertamente representado nas no-
velas, por exemplo. Esse tema pode aparecer em suas
brincadeiras de faz-de-conta.
Vale lembrar que, do ponto de vista da criança, po- O JOVEM E O MUNDO DO TRABALHO
rém, não é necessário que ela tenha presenciado a ce- TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO; BULLYING
nas ou a representação de cenas de sexo nos meios de
comunicação para que se envolvam em explorações ou
jogos sexuais. A motivação para essas brincadeiras pode
vir exclusivamente de curiosidades e desejos, integrantes TEMAS CONTEMPORÂNEOS: BULLYING, O PAPEL
de um processo normal de desenvolvimento. DA ESCOLA, A ESCOLHA DA PROFISSÃO, TRANS-
A compreensão da sexualidade como um processo TORNOS ALIMENTARES NA ADOLESCÊNCIA,
amplo, cultural e inerente ao desenvolvimento das crian- FAMÍLIA, ESCOLHAS SEXUAIS.
ças pode auxiliar o professor diante das ações explorató-
rias das crianças ou das perguntas que fazem a respeito 1. Bullying
do tema.
Dentre as questões relacionadas à sexualidade, as re- Bullying é uma situação que se caracteriza por agres-
lações de gênero ocupam um lugar central. Há um víncu- sões intencionais, verbais ou físicas, feitas de maneira
lo básico entre o gênero de uma pessoa e suas caracte- repetitiva, por um ou mais alunos contra um ou mais co-
rísticas biológicas, que a definem como do sexo feminino legas. O termo bullying tem origem na palavra inglesa
ou masculino. Perceber-se e ser percebido como homem bully, que significa valentão, brigão. Mesmo sem uma
ou mulher, pertencendo ao grupo dos homens ou das denominação em português, é entendido como ameaça,
mulheres, dos meninos ou das meninas, se dá nas inte- tirania, opressão, intimidação, humilhação e maltrato. 
rações estabelecidas, principalmente nos primeiros anos “É uma das formas de violência que mais cresce no
de vida e durante a adolescência. mundo”, afirma Cléo Fante, educadora e autora do livro
Antes mesmo do nascimento, os familiares mani- Fenômeno Bullying: Como Prevenir a Violência nas Escolas
festam curiosidade em saber se o bebê será menino ou e Educar para a Paz(224 págs., Ed. Verus, tel. (19) 4009-
menina. Já nesse momento começam a construir expec- 6868 ). Segundo a especialista, o bullying pode ocorrer
tativas diferentes quanto ao futuro da criança, conforme em qualquer contexto social, como escolas, universida-
a representação que é feita do papel do homem e da des, famílias, vizinhança e locais de trabalho. O que, à pri-
mulher em seu grupo social. Com o nascimento, as ex- meira vista, pode parecer um simples apelido inofensivo
pectativas e os planos tendem a se intensificar e se fazem pode afetar emocional e fisicamente o alvo da ofensa.
presentes nas interações cotidianas com a criança, desde Além de um possível isolamento ou queda do ren-
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

a escolha da cor da roupa, passando pelos brinquedos a dimento escolar, crianças e adolescentes que passam
serem oferecidos, até as atividades e brincadeiras per- por humilhações racistas, difamatórias ou separatistas
mitidas. Assim, ser homem ou mulher varia conforme a podesm apresentar doenças psicossomáticas e sofrer de
cultura e o momento histórico, pois supõe, mais do que algum tipo de trauma que influencie traços da personali-
as características biológicas de um ou outro sexo, o de- dade. Em alguns casos extremos, o bullying chega a afe-
sempenho de papéis atribuídos socialmente. tar o estado emocional do jovem de tal maneira que ele
Ao se perceber como menino ou como menina, as opte por soluções trágicas, como o suicídio.
preocupações das crianças não residem mais unicamente
nas diferenças anatômicas, mas nas características asso- Nem tudo é bullying.
ciadas ao ser homem ou mulher. Discussões ou brigas pontuais não são bullying. Con-
Após uma fase de curiosidade quanto às diferenças flitos entre professor e aluno ou aluno e gestor também

49
não são considerados bullying. Para que seja bullying, é a agressão, rindo ou dizendo palavras de incentivo. Eles
necessário que a agressão ocorra entre pares (colegas de retransmitem imagens ou fofocas. Geralmente, estão
classe ou de trabalho, por exemplo). Todo bullying é uma acostumados com a prática, encarando-a como natural
agressão, mas nem toda a agressão é classificada como dentro do ambiente escolar. ‘’O espectador se fecha aos
bullying relacionamentos, se exclui porque acha que pode sofrer
Para Telma Vinha, doutora em Psicologia Educacional também no futuro.
e professora da Faculdade de Educação da Universidade Se for pela internet, por exemplo, ele ?apenas? repas-
Estadual de Campinas (Unicamp), para ser dada como sa a informação. Mas isso o torna um coautor’’, explica
bullying, a agressão física ou moral deve apresentar qua- a pesquisadora Cléo Fante, educadora e autora do livro
tro características: a intenção do autor em ferir o alvo, a Fenômeno Bullying: Como Prevenir a Violência nas Esco-
repetição da agressão, a presença de um público espec- las e Educar para a Paz (224 págs., Ed. Verus, tel. (19)
tador e a concordância do alvo com relação à ofensa. 4009-6868).
‘’Quando o alvo supera o motivo da agressão, ele rea-  Como identificar o alvo do bullying.
ge ou ignora, desmotivando a ação do autor’’, explica a O alvo costuma ser uma criança ou um jovem com
especialista. baixa autoestima e retraído tanto na escola quanto no
lar. ‘’Por essas características, dificilmente consegue rea-
O bullying não é um fenômeno recente. gir’’, afirma o pediatra Lauro Monteiro Filho, fundador da
O bullying sempre existiu. No entanto, o primeiro a Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à In-
relacionar a palavra a um fenômeno foi Dan Olweus, pro- fância e Adolescência (Abrapia). Aí é que entra a questão
fessor da Universidade da Noruega, no fim da década de da repetição no bullying, pois se o aluno procura ajuda, a
1970. Ao estudar as tendências suicidas entre adolescen- tendência é que a provocação cesse.
tes, o pesquisador descobriu que a maioria desses jovens
tinha sofrido algum tipo de ameaça e que, portanto, o Além dos traços psicológicos, os alvos desse tipo de
bullying era um mal a combater. violência costumam apresentar particularidades físicas.
A popularidade do fenômeno cresceu com a influên- As agressões podem ainda abordar aspectos culturais,
cia dos meios eletrônicos, como a internet e as reporta- étnicos e religiosos.
gens na televisão, pois os apelidos pejorativos e as brin- “Também pode ocorrer com um novato ou com uma
cadeiras ofensivas foram tomando proporções maiores. menina bonita, que acaba sendo perseguida pelas cole-
“O fato de ter consequências trágicas - como mortes e gas”, exemplifica Guilherme Schelb, procurador da Repú-
suicídios - e a impunidade proporcionaram a necessida- blica e autor do livro Violência e Criminalidade Infanto-Ju-
de de se discutir de forma mais séria o tema”, aponta venil (164 págs., Thesaurus Editora tel. (61) 3344-3738).
Guilherme Schelb, procurador da República e autor do Consequências para o aluno que é alvo de bullying.
livro Violência e Criminalidade Infanto-Juvenil (164 págs., O aluno que sofre bullying, principalmente quando
Thesaurus Editora tel. (61) 3344-3738). não pede ajuda, enfrenta medo e vergonha de ir à escola.
Sozinha, a escola não consegue resolver o problema, Pode querer abandonar os estudos, não se achar bom
mas é normalmente nesse ambiente que se demonstram para integrar o grupo e apresentar baixo rendimento.
os primeiros sinais de um praticante de bullying. “A ten- Uma pesquisa da Associação Brasileira Multiprofis-
dência é que ele seja assim por toda a vida, a menos que sional de Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia)
seja tratado”, diz revela que 41,6% das vítimas nunca procuraram ajuda ou
 O que leva o autor do bullying a praticá-lo. falaram sobre o problema, nem mesmo com os colegas.
Querer ser mais popular, sentir-se poderoso e obter As vítimas chegam a concordar com a agressão, de
uma boa imagem de si mesmo. Isso tudo leva o autor do acordo com Luciene Tognetta, doutora em Psicologia Es-
bullying a atingir o colega com repetidas humilhações ou colar e pesquisadora da Faculdade de Educação da Uni-
depreciações. É uma pessoa que não aprendeu a trans- versidade Estadual de Campinhas (Unicamp). O discurso
formar sua raiva em diálogo e para quem o sofrimen- deles segue no seguinte sentido: “Se sou gorda, por que
to do outro não é motivo para ele deixar de agir. Pelo vou dizer o contrário?”
contrário, sente-se satisfeito com a opressão do agredi- Aqueles que conseguem reagir podem alternar mo-
do, supondo ou antecipando quão dolorosa será aquela mentos de ansiedade e agressividade. Para mostrar que
crueldade vivida pela vítima. não são covardes ou quando percebem que seus agres-
sores ficaram impunes, os alvos podem escolher outras
O espectador também participa do bullying. pessoas mais indefesas e passam a provocá-las, tornan-
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

É comum pensar que há apenas dois envolvidos no do-se alvo e agressor ao mesmo tempo.
conflito: o autor e o alvo. Mas os especialistas alertam
para esse terceiro personagem responsável pela conti- Bullying com agressão física e o bullying com
nuidade do conflito. agressão moral.
O espectador típico é uma testemunha dos fatos, pois Ambas as agressões são graves e causam danos ao
não sai em defesa da vítima nem se junta aos autores. alvo do bullying. Por ter consequências imediatas e facil-
Quando recebe uma mensagem, não repassa. Essa atitu- mente visíveis, a violência física muitas vezes é conside-
de passiva pode ocorrer por medo de também ser alvo rada mais grave do que um xingamento ou uma fofoca.
de ataques ou por falta de iniciativa para tomar partido. ‘’A dificuldade que a escola encontra é justamente
Também são considerados espectadores os que porque o professor também vê uma blusa rasgada ou
atuam como plateia ativa ou como torcida, reforçando um material furtado como algo concreto. Não percebe

50
que uma exclusão, por exemplo, é tão dolorida quanto  O papel do professor em conflitos fora da sala de
ou até mais’’, explica Telma Vinha, doutora em Psicologia aula.
Educacional e professora da Faculdade de Educação da O professor é um exemplo fundamental de pessoa
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). que não resolve conflitos com a violência. Não adianta,
Os jovens também podem repetir esse mesmo racio- porém, pensar que o bullying só é problema dos edu-
cínio e a escola deve permanecer alerta aos comporta- cadores quando ocorre do portão para dentro. É papel
mentos moralmente abusivos. da escola construir uma comunidade na qual todas as
relações são respeitosas.
Existe diferença entre o bullying praticado por me- ‘’Deve-se conscientizar os pais e os alunos sobre os
ninos e por meninas? efeitos das agressões fora do ambiente escolar, como na
De modo geral, sim. As ações dos meninos são mais internet, por exemplo’’, explica Adriana Ramos, pesqui-
expansivas e agressivas, portanto, mais fáceis de identifi- sadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
car. Eles chutam, gritam, empurram, batem. e coordenadora do curso de pós-graduação ‘’As relações
Já no universo feminino o problema se apresenta de interpessoais na escola e a construção da autonomia mo-
forma mais velada. As manifestações entre elas podem ral’’, da Universidade de Franca (Unifran).
ser fofocas, boatos, olhares, sussurros, exclusão. “As ga- ‘’A intervenção da escola também precisa chegar ao
rotas raramente dizem por que fazem isso. Quem sofre espectador, o agente que aplaude a ação do autor é fun-
não sabe o motivo e se sente culpada”, explica a pes- damental para a ocorrência da agressão’’, complementa
quisadora norte-americana Rachel Simmons, especialista a especialista.
em bullying feminino.  
Ela conta que as meninas agem dessa maneira porque O professor também é alvo de bullying?
a expectativa da sociedade é de que sejam boazinhas,
dóceis e sempre passivas. Para demonstrar qualquer Conceitualmente, não, pois, para ser considerada
sentimento contrário, elas utilizam meios mais discretos, bullying, é necessário que a violência ocorra entre pa-
mas não menos prejudiciais. “É preciso reconhecer que res, como colegas de classe ou de trabalho. O professor
as garotas também sentem raiva. A agressividade é na- pode, então, sofrer outros tipos de agressão, como injú-
tural no ser humano, mas elas são forçadas a encontrar ria ou difamação ou até física, por parte de um ou mais
outros meios - além dos físicos - para se expressar”, diz alunos.
Rachel. Mesmo não sendo entendida como bullying, trata-
 O que fazer em sala de aula quando se identifica um -se de uma situação que exige a reflexão sobre o con-
caso de bullying? vívio entre membros da comunidade escolar. Quando as
Ao surgir uma situação em sala, a intervenção deve agressões ocorrem, o problema está na escola como um
ser imediata. “Se algo ocorre e o professor se omite ou todo. Em uma reunião com os educadores, pode-se des-
até mesmo dá uma risadinha por causa de uma piada ou cobrir se a violência está acontecendo com outras pes-
de um comentário, vai pelo caminho errado. Ele deve ser soas da equipe para intervir e restabelecer as noções de
o primeiro a mostrar respeito e dar o exemplo”, diz Ara- respeito.
mis Lopes Neto, presidente do Departamento Científico Se for uma questão pontual, com um professor ape-
de Segurança da Criança e do Adolescente da Sociedade nas, é necessário refletir sobre a relação entre o docente
Brasileira de Pediatria. e o aluno ou a classe. ‘’O jovem que faz esse tipo de coisa
O professor pode identificar os atores do bullying: normalmente quer expor uma relação com o professor
autores, espectadores e alvos. Claro que existem as brin- que não está bem. Existem comunidades na internet, por
cadeiras entre colegas no ambiente escolar. Mas é neces- exemplo, que homenageiam os docentes. Então, se o
sário distinguir o limiar entre uma piada aceitável e uma aluno se sente respeitado pelo professor, qual o motivo
agressão. “Isso não é tão difícil como parece. Basta que de agredi-lo?’’, questiona Adriana Ramos, pesquisadora
o professor se coloque no lugar da vítima. O apelido é da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coor-
engraçado? Mas como eu me sentiria se fosse chamado denadora do curso de pós-graduação “As relações inter-
assim?”, orienta o pediatra Lauro Monteiro Filho. pessoais na escola e a construção da autonomia moral”,
da Universidade de Franca (Unifran).
Veja os conselhos dos especialistas Cléo Fante e José O professor é uma autoridade na sala de aula, mas
Augusto Pedra, autores do livro Bullying Escolar (132 essa autoridade só é legitimada com o reconhecimento
págs., Ed. Artmed, tel; 0800 703 3444): dos alunos em uma relação de respeito mútua. ‘’O jovem
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

• Incentivar a solidariedade, a generosidade e o res- está em processo de formação e o educador é o adulto


peito às diferenças por meio de conversas, cam- do conflito e precisa reagir com dignidade’’, afirma Telma
panhas de incentivo à paz e à tolerância, trabalhos Vinha, doutora em Psicologia Educacional e professora
didáticos, como atividades de cooperação e inter- da Faculdade de Educação da Unicamp.
pretação de diferentes papéis em um conflito;  O que fazer para evitar o bullying?
• Desenvolver em sala de aula um ambiente favorá- A Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção
vel à comunicação entre alunos; à Infância e Adolescência (Abrapia) sugere as seguintes
• Quando um estudante reclamar de algo ou denun- atitudes para um ambiente saudável na escola:
ciar o bullying, procurar imediatamente a direção • Conversar com os alunos e escutar atentamente
da escola. reclamações ou sugestões;
• Estimular os estudantes a informar os casos;

51
• Reconhecer e valorizar as atitudes da garotada no intelectuais, e, em boa parte, pelo preconceito trazido de
combate ao problema; casa. 
• Criar com os estudantes regras de disciplina para a De acordo com a psicóloga Sônia Casarin, diretora
classe em coerência com o regimento escolar; do S.O.S. Down - Serviço de Orientação sobre Síndrome
• Estimular lideranças positivas entre os alunos, pre- de Down, em São Paulo, é normal os alunos reagirem
venindo futuros casos; negativamente diante de uma situação desconhecida.
• Interferir diretamente nos grupos, o quanto antes, Cabe ao educador estabelecer limites para essas reações
para quebrar a dinâmica do bullying. e buscar erradicá-las não pela imposição, mas por meio
da conscientização e do esclarecimento.
Todo ambiente escolar pode apresentar esse proble- Não se trata de estabelecer vítimas e culpados quan-
ma. “A escola que afirma não ter bullying ou não sabe do o assunto é o bullying. Isso só reforça uma situação
o que é ou está negando sua existência”, diz o pediatra polarizada e não ajuda em nada a resolução dos confli-
Lauro Monteiro Filho, fundador da Associação Brasileira tos. Melhor do que apenas culpar um aluno e vitimar o
Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência outro é desatar os nós da tensão por meio do diálogo.
(Abrapia). O primeiro passo é admitir que a escola é um A violência começa em tirar do aluno com deficiência o
local passível de bullying. É necessário também informar direito de ser um participante do processo de aprendi-
professores e alunos sobre o que é o problema e deixar zagem. É tarefa dos educadores oferecer um ambiente
claro que o estabelecimento não admitirá a prática. propício para que todos, especialmente os que têm defi-
ciência, se desenvolvam. Com respeito e harmonia.
“A escola não deve ser apenas um local de ensino  Como deve ser uma conversa com os pais dos alunos
formal, mas também de formação cidadã, de direitos e envolvidos no bullying?
deveres, amizade, cooperação e solidariedade. Agir con- É preciso mediar a conversa e evitar o tom de acu-
tra o bullying é uma forma barata e eficiente de diminuir sação de ambos os lados. Esse tipo de abordagem não
a violência entre estudantes e na sociedade”, afirma o mostra como o outro se sente ao sofrer bullying. Deve
pediatra. ser sinalizado aos pais que alguns comentários simples,
 Como agir com os alunos envolvidos em um caso de que julgam inofensivos e divertidos, são carregados de
bullying? ideias preconceituosas.
O foco deve se voltar para a recuperação de valores ‘’O ideal é que a questão da reparação da violência
essenciais, como o respeito pelo que o alvo sentiu ao so- passe por um acordo conjunto entre os envolvidos, no
frer a violência. A escola não pode legitimar a atuação do qual todos consigam enxergar em que ponto o alvo foi
autor da agressão nem humilhá-lo ou puni-lo com medi- agredido para, assim, restaurar a relação de respeito’’ ex-
das não relacionadas ao mal causado, como proibi-lo de plica Telma Vinha, professora do Departamento de Psico-
frequentar o intervalo. logia Educacional da Faculdade de Educação da Universi-
Já o alvo precisa ter a autoestima fortalecida e sentir dade Estadual de Campinas (Unicamp).
que está em um lugar seguro para falar sobre o ocorrido. Muitas vezes, a escola trata de forma inadequada os
“Às vezes, quando o aluno resolve conversar, não recebe casos relatados por pais e alunos, responsabilizando a
a atenção necessária, pois a escola não acha o problema família pelo problema. É papel dos educadores sempre
grave e deixa passar”, alerta Aramis Lopes, presidente do dialogar com os pais sobre os conflitos - seja o filho alvo
Departamento Científico de Segurança da Criança e do ou autor do bullying, pois ambos precisam de ajuda e
Adolescente da Sociedade Brasileira de Pediatria. apoio psicológico.
Ainda é preciso conscientizar o espectador do  O que fazer em casos extremos de bullying?
bullying, que endossa a ação do autor. ‘’Trazer para a A primeira ação deve ser mostrar aos envolvidos que
aula situações hipotéticas, como realizar atividades com a escola não tolera determinado tipo de conduta e por
trocas de papéis,  são ações que ajudam a conscientizar quê. Nesse encontro, deve-se abordar a questão da tole-
toda a turma. rância ao diferente e do respeito por todos, inclusive com
A exibição de filmes que retratam o bullying, como os pais dos alunos envolvidos.
‘’As melhores coisas do mundo’’ (Brasil, 2010), da cineas- Mais agressões ou ações impulsivas entre os envolvi-
ta Laís Bodanzky, também ajudam no trabalho. A partir dos podem ser evitadas com espaços para diálogo. Uma
do momento em que a escola fala com quem assiste à conversa individual com cada um funciona como um
violência, ele para de aplaudir e o autor perde sua fama’’, desabafo e é função do educador mostrar que ninguém
explica Adriana Ramos, pesquisadora da Universidade está desamparado.
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenadora do cur- ‘’Os alunos e os pais têm a sensação de impotência
so de pós-graduação ‘’As relações interpessoais na esco- e a escola não pode deixá-los abandonados. É mais fácil
la e a construção da autonomia moral’’, da Universidade responsabilizar a família, mas isso não contribui para a
de Franca (Unifran). resolução de um conflito’’, diz Telma Vinha, doutora em
Psicologia Educacional e professora da Faculdade de Edu-
Bullying contra alunos com deficiência cação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
A especialista também aponta que a conversa em
Conversar abertamente sobre a deficiência é uma conjunto, com todos os envolvidos, não pode ser feita
ação que deve ser cotidiana na escola. O bullying contra em tom de acusação. ‘’Deve-se pensar em maneiras de
esse público costuma ser estimulado pela falta de co- mostrar como o alvo do bullying se sente com a agressão
nhecimento sobre as deficiências, sejam elas físicas ou e chegar a um acordo em conjunto. E, depois de alguns

52
dias, vale perguntar novamente como está a relação en- mais seguros em lugar algum, em momento algum. Mar-
tre os envolvidos’’, explica Telma. celo Coutinho, especialista no tema e professor da Fun-
É também essencial que o trabalho de conscientiza- dação Getulio Vargas (FGV), diz que esses estudantes não
ção seja feito também com os espectadores do bullying, percebem as armadilhas dos relacionamentos digitais.
aqueles que endossam a agressão e os que a assistem “Para eles, é tudo real, como se fosse do jeito tradicional,
passivamente. Sem que a plateia entenda quão nociva tanto para fazer amigos como para comprar, aprender ou
a violência pode ser, ela se repetirá em outras ocasiões. combinar um passeio.”
   
Bullying na Educação Infantil. Como lidar com o cyberbullying?

Se houver a intenção de ferir ou humilhar o colega re- Trabalhar com a ideia de que nem sempre se con-
petidas vezes caracteriza-se o bullying. Entre as crianças segue apagar aquilo que foi para a rede dá à turma a
menores, é comum que as brigas estejam relacionadas noção de como as piadas ou as provocações não são ino-
às disputas de território, de posse ou de atenção - o que fensivas. ‘’O que chamam de brincadeira pode destruir
não caracteriza o bullying. No entanto, por exemplo, se a vida do outro. É também responsabilidade da escola
uma criança apresentar alguma particularidade, como abrir espaço para discutir o fenômeno’’, afirma Telma
não conseguir segurar o xixi, e os colegas a segregarem Vinha, doutora em Psicologia Educacional e professora
por isso ou darem apelidos para ofendê-la constante- da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de
mente, trata-se de um caso de bullying. Campinas (Unicamp).
“Estudos na Psicologia afirmam que, por volta dos Caso o bullying ocorra, é preciso deixar evidente para
dois anos de idade, há uma primeira tomada de cons- crianças e adolescentes que eles podem confiar nos adul-
ciência de ‘quem eu sou’, separada de outros objetos, tos que os cercam para contar sobre os casos sem medo
como a mãe. de represálias, como a proibição de redes sociais ou ce-
E perto dos três anos, as crianças começam a se iden- lulares, uma vez que terão a certeza de que vão encontrar
tificar como um indivíduo diferente do outro, sendo pos- ajuda. ‘’Mas, muitas vezes, as crianças não recorrem aos
sível que uma criança seja alvo ou vítima de bullying. Essa adultos porque acham que o problema só vai piorar com
conduta, porém, será mais frequentes num momento em a intervenção punitiva’’, explica a especialista.8
que houver uma maior relação entre pares, mais cotidia-
na’’, explica Adriana Ramos, pesquisadora da Universi- PAPEL DA ESCOLA
dade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenadora
do curso de pós-graduação As relações interpessoais na Desde sua criação a Escola tem um papel fundamen-
escola e a construção da autonomia moral”, da Universi- tal na sociedade, o qual seu objetivo era doutrinar o pro-
dade de Franca (Unifran). cesso de desenvolvimento educacional das crianças até a
 Quais são as especificidades para lidar com o bullying fase adulta, a fim de se criar uma rotina regrada, alienada
na Educação Infantil? e submissa aos padrões estabelecidos por entidades pri-
Para evitar o bullying, é preciso que a  escola  valide vadas. E com isso, se adequar facilmente ao ambiente
os princípios de respeito desde cedo. É comum que as industrial.
crianças menores briguem com o argumento de não Ao longo desse tempo, foram usado diversos mode-
gostar uma das outras, mas o educador precisa apontar los de ensino, desde a inserção de matérias específicas à
que todos devem ser respeitados, independentemente manifestações e reformas constitucional até chegar aos
de se dar bem ou não com uma pessoa, para que essa moldes usados hoje, tanto de Escolas publicas como em
ideia não persista durante o desenvolvimento da criança. instituições privadas, de ensino fundamental I e II, médio
e técnico. O que parece ser um processo de evolução é
 Bullying virtual ou cyberbullying na verdade um declínio da formação intelectual da so-
ciedade estamos regredindo ao ponto de uma criança da
É o bullying que ocorre em meios eletrônicos, com  4º série não saber ler e escrever, contribuindo para o alto
mensagens difamatórias ou ameaçadoras circulando por índice de analfabetos no Brasil. Jovens estão concluin-
e-mails, sites, blogs (os diários virtuais), redes sociais e do o ciclo de aprendizagem sem ter uma identidade, ou
celulares. É quase uma extensão do que os alunos dizem seja, são engolidos pela sociedade capitalista que exige
e fazem na escola, mas com o agravante de que as pes- cada vez mais qualificação para preencher uma vaga de
soas envolvidas não estão cara a cara. trabalho.
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

Dessa forma, o anonimato pode aumentar a cruelda- O mundo atual, com tantas mudanças e novas de-
de dos comentários e das ameaças e os efeitos podem mandas, exige, dos indivíduos, habilidades e atitudes di-
ser tão graves ou piores. “O autor, assim como o alvo, ferentes das observadas em épocas anteriores. Surgem
tem dificuldade de sair de seu papel e retomar valores alguns questionamentos, de qual seria o papel da Esco-
esquecidos ou formar novos”, explica Luciene Tognet- la hoje, como instrumento de Ensino e de que forma a
ta, doutora em Psicologia Escolar e pesquisadora do mesma utiliza métodos para levar este conhecimento aos
Departamento de Psicologia Educacional da Faculdade alunos. Saber equilibrar a aceleração global, o aprender
de Educação da Universidade Estadual de Campinhas dos alunos e a satisfação dos professores é uma tarefa
(Unicamp). que nasce neste contexto novo. 
Esse tormento que é a agressão pela internet faz com
que a criança e o adolescente humilhados não se sintam
8 Fonte: www.novaescola.org.br

53
1. A Função da Escola nas instituições, às adaptações aos ritos de passagem.
Portanto, as Escolas contribuem para que as sociedades
A Escola é um dos lugares socialmente instituídos se perpetuem, pois transmitem valores morais que inte-
para a criança se inserir na cultura urbana, para que se gram as sociedades. Mas elas também podem exercer
relacione com o outro e com o conhecimento. É parte um papel decisivo nas mudanças sociais.
de uma dinâmica, onde o sujeito organiza e interpreta
suas relações com o mundo interno e externo. É nela 2 - A formação do aluno
que aprendemos, a ler e a escrever, dois objetos socio-
culturais fundamentais numa sociedade letrada. Não ler A educação contemporânea não deve se limitar a for-
e escrever, hoje, significa não dispor dos instrumentos mar alunos para dominar determinados conteúdos, mas
básicos para inserção e participação social, para a cons- sim que saibam pensar, refletir, propor soluções sobre
tituição da cidadania. problemas e questões atuais, trabalhar e cooperar uns
A Escola tem um papel realmente importante na vida com os outros. A escola deve favorecer a formação de se-
de uma pessoa porque é na Escola começa a ter uma res críticos e participativos, conscientes de seu papel nas
Educação profissional de qualidade e também é por ela mudanças sociais.
que todo mundo começa a formar a sua própria opinião A Escola deve passar aos alunos uma visão panorâmi-
e assim poder tomar decisões por contar própria sem ca sobre o mundo em que vivemos, devemos aprender na
contar que a Escola é responsável por formar profissio- Escola uma visão global de todas as ciências que envolve
nais para o mercado de trabalho. Por meio dela os jo- o conhecimento do universo com astronomia, geografia,
vens podem decidir qual vai ser o seu futuro. botânica, zoologia, química, física, línguas, matemática.
Ela se situa de forma cada vez mais evidente em meio A Escola também deve preparar o aluno para o con-
a um interesse de classes distintas com necessidades vívio com outros humanos, ensinando-os a arte da tole-
distintas. É vista com vários olhos, tanto como objeto rância, dos limites sociais, do direito, das regras sociais
educacional quanto um refúgio. Muitos pais pensam de convivência, do princípio da hierarquia.
que a Escola se torna um meio de estar se livrando dos O conhecimento produzido pela humanidade tradu-
seus filhos e querem a Escola dêem a Educação adequa- z-se, na Escola, nas diferentes disciplinas (História, Geo-
da para eles. A incoerência social da Escola é fruto da grafia, Ciências, Línguas) e deve receber um tratamento
Incoerência social da Sociedade, frutos da ganância e didático adequado para que possa ser assimilado, enten-
ambição de muitos. dido e recriado pelos alunos.
Como função social a Escola é um local onde visa a Educar uma pessoa que já é educada torna-se uma
inserção do cidadão na sociedade, através da interela- tarefa árdua, porque, no momento em que uma criança
ção pessoal e da capacitação para atuar no grupo que chega à sala de aula, já é portadora de certos conheci-
convive. Forma cidadãos críticos e bem informados, em mentos que adquiriu junto a sua comunidade. Transfor-
condições de compreender e atuar no mundo em que mar e/ou acrescentar mais conhecimentos é a tarefa do
vive. profissional da Educação que trabalha com esse indiví-
“É na Escola que se constrói parte da identidade de duo. Isso se torna difícil, pois apenas se faz o papel de
ser e pertencer ao mundo; nela adquirem-se os modelos mediador, não de transformador de conhecimentos. A
de aprendizagem, a aquisição de princípios éticos e mo- criança apenas irá complementar sua sabedoria.
rais que permeiam a sociedade; na Escola depositam- Uma escola deve favorecer a formação de cidadãos
-se expectativas, bem como as dúvidas, inseguranças conscientes e atuantes, possibilitar o desenvolvimento
e perspectivas em relação ao futuro e às suas próprias da capacidade de pensar, raciocinar, descobrir e resolver
potencialidades”. (BORSA, 2007, pª 02). problemas, de forma envolvente e que possibilite a satis-
A Escola tem um compromisso com a Educação, fação interna de seus alunos.
devendo atuar forma abrangente, não só tendo como Alunos e professores ao pesquisarem em conjunto
objetivo a instrução. Deve manter uma visão holística, aprendem a criticar, a ver mais claramente, a pensarem
procurando avaliar, para melhorar, todos os aspetos dos em um nível mais elevado. O aluno pode desenvolver
quais o ser humano é constituído. Deve prover os indi- uma consciência critica e cidadã, capaz de identificar as
víduos não só, nem principalmente, de conhecimentos, forças de opressão que estão ao seu redor. O professor
idéias, habilidades e capacidades formais, mas também, desenvolve maior autoridade sobre o seu próprio traba-
de disposições, atitudes, interesses e pautas de compor- lho e pensamento.
tamento. Assim,  tem como objetivo básico a socializa-
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

ção dos alunos para prepará-los para sua incorporação 2.1 – A Educação segundo os Grandes Pensadores. 
no mundo do trabalho e que se incorporem à vida adul-
ta e pública. Platão (427 – 347 a.C.). O objetivo final da Educação
A Escola não foi inventada nem para o aluno, nem era a formação do homem moral, vivendo em um Estado
para o professor, nem para o político, nem para o peda- justo.
gogo, nem para o sociólogo. A Escola foi inventada para Aristóteles (384 – 322 a.C.). Cabe a Educação a forma-
que os que não sabem possam aprender com os que ção do caráter do aluno.
sabem. Ou seja, para o Ensino. Jean – Jacques Rousseau (1712 – 1778). A reforma da
A possibilidade de formar o cidadão para o merca- educação é que possibilitaria uma reforma do sistema
do de trabalho e para a vida está diretamente ligada à político e social. A educação não somente mudaria as
freqüência Escolar, à superação das exigências impostas pessoas particulares, mas também a toda a sociedade,

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pois trata-se de educar o cidadão para que ele ajude a conceitos espontâneos, informais, que as crianças ad-
forjar uma nova sociedade. quirem na convivência social, evoluam para o nível dos
Johann Heinrich Pestalozzi (1746 – 1827). A escola conceitos científicos, sistemáticos e formais, adquiridos
idealizada por Pestalozzi deveria ser não só uma exten- pelo ensino.
são do lar, como inspirar-se no ambiente familiar, para Anísio Teixeira (1900 – 1971). A escola é local propício
oferecer uma atmosfera de segurança e afeto. para a construção desta consciência social. Nela o indi-
Johann Friedrich Herbart (1776 – 1841). Em Herbart, o víduo adquire valores; nela há condições para formar o
processo educativo se baseia, em seus objetivos e meios, ser social.
na Ética e na Psicologia, respectivamente. A principal Paulo freire (1921 – 1997). Propõe uma pratica de
função da educação em uma sociedade é a aquisição de sala de aula que pudesse desenvolver a criticidade dos
idéias por parte dos alunos. alunos.
Karl Marx (1818-1883). Via na função da Escola a ta- Edgar Morin (1921 -). O papel da Escola passa pela
refa de preparar os alunos para a vida política e social porta do conhecimento. É ajudar o ser que está em for-
do seu país. É um ideal revolucionário que contribuiu mação a viver, a encarar a vida. O papel da educação é de
para formação de “monstros” sociais como o comunismo ensinar a enfrentar a incerteza da vida; é de ensinar o que
soviético. é o conhecimento, instruir o espírito a viver e a enfrentar
Émile Durkheim (1858-1917). Ensinar o aluno a cultu- as dificuldades do mundo.
ra daquela sociedade em que ele vive, educando-o para Emília Ferreiro (1936 -). Implantou os mecanismos
o trabalho e pregar a moral daquele grupo. A Escola deve cognitivos relacionado à leitura e à escrita. Segunda ela
disciplinar o homem para a vida. o desenvolvimento da leitura e da escrita começa muito
Karl Mannheim (1893-1947). A Escola existe em uma antes da escolarização.
visão conservadora para ensinar sobre temas importan- A escola precisa ser escola, e assim se tornar um lugar
tes, preparar o aluno para a vida e para uma carreira de desenvolvimento humano, de humanização. A escola
profissional, estimulando-o no desempenho das suas deve ser uma referência de esperança. A violência no am-
tarefas. biente escolar ganhou evidência. Falta de limites, agres-
John Dewey (1859 – 1952). A Escola é um espaço onde são, falta de valores humanos, omissão com os estudos,
as pessoas se encontram para educar e ser educadas. O ausência de interesse em saber. A escola tem uma gran-
objetivo da Escola deveria ser ensinar a criança a viver no de importância na vida do aluno, levando-o a desvendar
mundo. A Escola deve proporcionar práticas conjuntas que têm direitos e deveres a exercer.
promover situações de cooperação, em vez de lidar com Quase todos os alunos reclamam porque são obriga-
as crianças de forma isolada. dos a vir à escola, desconhecendo ou rompendo com o
Maria Montessori (1870 – 1952). Os princípios funda- reconhecimento de sua importância. Nela o aluno tem o
mentais do sistema Montessori são: a atividade, a indivi- tempo de brincar, escrever, desenvolver aptidões e ha-
dualidade e a liberdade. Enfatizando os aspectos bioló- bilidades que um dia servirão para uma futura profissão.
gicos, pois, considerando que a vida é desenvolvimento, Escola e aluno são ligados uns ao outro; só existe escola
achava que era função de educação favorecer esse de- se houver alunos. Se os alunos são parte do problema,
senvolvimento.  Os estímulos externos formariam o es- devem ser parte da solução.
pírito da criança, precisando, portanto ser determinados.  Os novos desafios, os paradoxos do progresso, as no-
Alexander Neill (1883 – 1973). A criança tinha a pos- vas formas de trabalho, de organização social, as drogas,
sibilidade de escolher e decidir o que aprender e como a violência, a exclusão, as diferenças sociais, a preserva-
aprender, respeitando seu ritmo e interesse. ção do meio ambiente, são problemas que exigem novas
Célestin Freinet (1896 – 1966): Por acreditar que o in- soluções e muito mais empenho da educação.
teresse da criança não estava na Escola e sim fora dela, É preciso ser revisto nas escolas, é a falta condição
Freinet idealizou uma atividade (aula – passeio) com o necessária para um ambiente harmonioso, condições
objetivo de trazer motivação, ação e vida para a Escola. necessárias para o desenvolvimento de um projeto pe-
Jean Piaget (1896 – 1980). A Escola deve partir dos es- dagógico capaz de lidar com os novos desafios da edu-
quemas de assimilação da criança, propondo atividades cação, da globalização e tecnologia.
desafiadoras que provoquem desequilíbrios e reequili- O aluno deve sair da sala de aula com alguma baga-
brações sucessivas, promovendo a descoberta e a cons- gem para a sua vida, a contribuição do educador é mos-
trução do conhecimento. A Escola tem um papel essen- trar o caminho, pois tudo o que o ser humano é na vida
cial na construção desse ser; ela deveria dirigir o ensino tem a ver com que aprende na escola que não é apenas
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

não para etapas intelectuais já alcançadas, mas sim, para de transmitir conhecimentos numerosos ao aluno, mas
etapas ainda não alcançadas pelos alunos, funcionando principalmente de criar nele um estado interior e profun-
como incentivadora de novas conquistas, do desenvolvi- do, uma espécie de polaridade de espírito que oriente
mento potencial do aluno. em sentido definido, não apenas durante a infância, mas
Lev Vygotsky (1896 – 1934). A Escola é o lugar onde por toda a vida. 9
a intervenção pedagógica intencional desencadeia o
processo ensino-aprendizagem. É preciso que a Escola 3. Escolha da profissão
e seus educadores atentem que não tem como função
ensinar aquilo que o aluno pode aprender por si mes- Ao longo da vida escolar, principalmente no ensino
mo e sim, potencializar o processo de aprendizagem médio, os alunos têm um único objetivo: a escolha de
do estudante. A função da Escola é fazer com que os
9 Fonte: www.webartigos.com – Por Jaime Roberto Thomaz

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uma profissão. com a escolha da profissão, não está levando em consi-
Alguns estudantes crescem determinados desde a in- deração apenas seus interesses e aptidões, mas também
fância, sabendo em que irão trabalhar, mas muitos, em a maneira como percebe o mundo, como ela própria se
razão da pouca idade e experiência de vida, não conse- vê, as informações que possui sobre as profissões, as in-
guem definir o caminho a seguir. fluências externas do meio social e principalmente, da
Realmente não é uma decisão fácil, mas algumas ati- família. Toda escolha por mais banal que pareça ser, en-
tudes podem ajudar, o fundamental é conhecer as di- volve alguns conflitos que são basicamente estimulados
versas profissões existentes no mercado, bem como es- pelas emoções, interesses, desejos e valores. E escolher
pecializações, ou seja, as diferentes opções que existem. uma profissão de forma satisfatória leva em conta não
Para isso, buscar informações sobre uma profissão, só os desejos, capacidades, aptidões e aspirações desse
não só no que diz respeito ao exercício da mesma, mas jovem como também a compreensão das limitações e di-
como está o mercado de trabalho, a faixa salarial para o ficuldades que ele possui.
profissional que a exerce, o campo de atuação profissio- Infelizmente, muitas vezes o jovem é levado ou por
nal, como a mesma é aceita e inserida na sociedade, é que não dizer “obrigado” a tomar uma decisão precipita-
fundamental. da em relação a sua escolha profissional devido a pres-
Cada escolha até mesmo aquelas que parecem não são da família (normalmente, os pais dão muitos palpites
ter importância, implica em consequências na existência e criam expectativas que muitas vezes até contrariam a
de qualquer pessoa. Por isso, é fundamental que toda es- decisão/ expectativa dessa pessoa), conveniências so-
colha seja realizada conscientemente porque ela irá defi- ciais, estrutura inadequada do sistema e da estrutura
nir o futuro. Cada vez que uma escolha é feita, o caminho educacional porque não está suficientemente maduro
está sendo redefinido. para tal escolha. Falta à esse jovem conhecimentos rea-
Cada decisão tomada é capaz de te aproximar ou te listas sobre si próprio e em outros casos também, falta
afastar do que você deseja. O futuro é consequência das tempo útil para decidir com calma e mesmo diante desse
escolhas realizadas no presente e por essa razão, é fun- cenário turbulento, essa pessoa terá que decidir o rumo
damental refletir quais são os aspectos que motivam a que irá seguir profissionalmente. Sem dúvida, trata-se de
sua escolha. Qualquer decisão envolve uma certa dificul- um momento muito desafiador. Por que? Porque sim-
dade e escolher uma profissão é um tanto complicado plesmente, lhe faltam informações básicas para escolher
no contexto atual, já que nos deparamos com diversas adequadamente sua profissão e qualquer passo errado
opções e um mercado de trabalho tão dinâmico. pode implicar em perda de: tempo, dinheiro, esforços
 A profissão é um aspecto de grande importância na oportunidades e causar uma grande frustração. É óbvio
vida de qualquer pessoa, visto o tempo e energia que são que não se pode garantir o sucesso, mas a pessoa pre-
investidos ao exercê-la, influenciar no desenvolvimento cisa ao menos se assegurar das melhores chances para
social e pessoal, como também está diretamente relacio- alcançá-lo.
nado ao desempenho e satisfação no trabalho. A escolha Compreendendo o mega desafio que é escolher uma
da profissão supera em importância qualquer outra deci- profissão, selecionamos algumas ações que podem te
são que a pessoa faz durante a vida, porque essa escolha ajudar a tomar essa decisão:
impacta o ambiente de vida, as possibilidades internas e
externas de desenvolvimento e crescimento, posição so- 4.  Invista em autoconhecimento
cial, nível cultural, futuros ganhos materiais e até mesmo
a duração de sua saúde. É uma decisão que vai afetar a Quais são suas habilidades, seus valores, sua missão,
vida de uma pessoa em todos os aspectos. Escolher a seus interesses, suas características pessoais, seus pontos
profissão faz parte de um projeto de vida, que de certo fortes e fracos?   É por meio do autoconhecimento que
modo vai determinar o estilo de vida, a educação e até você pode desenvolver aspirações profissionais realistas
mesmo as pessoas que ele terá que conviver no trabalho e compatíveis com o seu perfil e ter satisfação na sua
e na sociedade. atuação profissional. Vamos aos exemplos: se você é uma
 De acordo com Mello (2003) no livro “O Desafio da pessoa muito comunicativa é pouco provável que você
Escolha Profissional”, geralmente, a pessoa que faz a es- goste de atuar numa profissão que não tenha interação
colha da profissão é quase sempre um adolescente ou com outras pessoas ou ainda, se você não é uma pessoa
um adulto jovem, ou seja, alguém que ainda não está detalhista vai gostar de trabalhar analisando dados.
consciente e  maduro  – psicológica, emocional e social-
mente – para uma decisão responsável e criteriosa que 4.1. Pesquise sobre o mercado de trabalho
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

não diz respeito só a escolha da profissão, mas também


a sua vida futura e as consequências das decisões toma- Quais as áreas mais promissoras? Um estudo recente
das. Ou seja, escolher uma profissão se trata de uma ár- da Fundação for Young Australians FYA divulgou o rela-
dua tarefa da juventude, onde o jovem além de lidar com tório The New Work Order, no qual aponta que: “mais de
as angústias pessoais vivenciadas durante essa fase, se 60% estudantes Australianos estão aprendendo profis-
depara com uma sociedade globalizada que impõe um sões que deixarão de existir devido aos avanços tecno-
mercado de trabalho em mudança constante, aumen- lógicos e automação, a probabilidade é que esses jovens
tando ainda mais a dificuldade da definição profissional. serão afetados radicalmente pela automação nos próxi-
Durante esse processo, o jovem está muito inseguro não mos 10 a 15 anos.” Tenha certeza que aqui no Brasil não
só por temer o futuro tão incerto, lidar com tantas pres- será muito diferente.
sões, mas com medo de fracassar. O jovem ao se deparar

56
Busque informações sobre as profissões comuns, entre eles a preocupação com o peso e a ima-
O que é? O que faz? Como faz? Quais competências gem corporal, bem como o medo de engordar. Essa ideia
são exigidas para exercer a profissão? Quais as áreas de leva os pacientes a se engajarem em dietas restritivas e a
atuação? utilizarem métodos inapropriados para alcançar um cor-
Converse com  profissionais da (s) área (s) que des- po idealizado. Logo, os pacientes têm um controle consi-
pertaram interesse para entender os desafios atrelados a derado patológico do peso corporal, associado a distúr-
profissão bios da percepção do formato de seus corpos, induzindo
É válido ressaltar que toda profissão tem seus aspec- a um comportamento alimentar seriamente perturbado
tos positivos e negativos, seus encantos e desafios. Cami- (CLAUDINO, 2002; SAIKALI, 2004).
nhos perfeitos não existem! Dos transtornos alimentares estudados, a Anorexia
Escolha a profissão que você mais se identifica Nervosa foi a primeira a ser descrita já no século XIX e,
Depois de fazer algumas reflexões sobre si mesmo e igualmente, a pioneira a ser adequadamente classificada
ter conhecimento das profissões e mercado de trabalho, e ter critérios operacionais reconhecidos já na década de
analise que profissões mais se adaptam as suas carac- 1970. Historicamente os Transtornos Alimentares causa-
terísticas pessoais e faça a sua escolha. É muito comum vam curiosidade tanto nos médicos como na população
ouvirmos das pessoas mais próximas: isso dá dinheiro? por não conseguirem ter um entendimento maior do que
Exceto o trabalho voluntário que te dá outras recompen- aconteciam com essas jovens mulheres (CORDAS, 2002).
sas, toda profissão tem remuneração, portanto TODA Atualmente, tem-se discutido a grande influência dos
profissão dá dinheiro (pode ser pouco, mas te dá). En- fatores socioculturais que impõem um ideal de beleza
tão, considerando que você tem que dedicar uma parte associado ao culto às dietas com restrição de energia e
significativa da sua vida trabalhando é recompensador ao corpo esquálido, como gatilhos no desenvolvimento
fazer aquilo que se gosta e/ou se identifica e entender o dos transtornos alimentares, porém apesar de ainda des-
retorno financeiro como consequência do seu trabalho. conhecida, sabe-se que a etiologia dos transtornos ali-
“Os dois dias mais importantes da sua vida são: o dia mentares traz em sua gênese uma associação de fatores
em que você nasceu e o dia em que você descobre o sociais, psicológicos e biológicos.
porquê.” (Mark Twai)10 A prevalência dos TA está entre mulheres jovens,
afetando 3,2% daquelas entre 18 e 30 anos. As taxas de
5. Transtornos alimentares na adolescência prevalência de TA, dependendo do quadro – síndromes
completas ou parciais –, variam de 0,5% a 5%. A prevalên-
Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), en- cia da anorexia e bulimia nervosas têm aumentado nos
tende-se por distúrbio ou transtorno alimentar qualquer últimos anos 13, não existindo dados estatísticos para o
alteração do comportamento alimentar que pode provo- Brasil. A bulimia nervosa é mais comum, com prevalência
car prejuízos à saúde de um indivíduo. Estas alterações entre 1 e 2% entre meninas jovens, sendo que em relação
podem dever-se a fatores metabólicos ou psicológicos. ao sexo ocorre em uma proporção de 10:1 em favor do
Transtornos alimentares (TA) constituem quadros sexo feminino (CROW, 2009; AALTO-SETALA et al., 2001;
psiquiátricos que se caracterizam por alterações de WALDMAN, 1998).
comportamento alimentar e podem estar associados à No Brasil, os estudos que avaliaram comportamento
morbimortalidade, podendo ocasionar desde prejuízos de risco também acharam prevalências preocupantes. O
emocionais e sociais até consequências fisiopatológicas único estudo nacional de base populacional é o de Nu-
relacionadas aos sistemas metabólico e endócrino. Den- nes et al. (2003), que avaliou uma amostra representativa
tre os transtornos alimentares mais conhecidos, desta- de mulheres de Porto Alegre por meio do Teste de Ati-
cam-se a Anorexia e a Bulimia Nervosa (SALZANO et al., tudes Alimentares (EAT-26) e do Teste de Investigação
2011). Bulímica de Edinburgo (BITE), encontrando 16,5% da po-
A anorexia nervosa é conceituada como inanição de- pulação com sintomas de TA, segundo o EAT-26, e 2,9%,
liberada e auto-imposta e atitude psicopatológica dis- segundo o BITE. Avaliando 1.807 crianças e adolescentes
torcida em relação à imagem, à alimentação e ao peso, de 7 a 19 anos, em Minas Gerais, Vilela et al. encontraram
caracterizada de uma implacável busca de magreza e por 13,3% com sintomas de TA, segundo o EAT-26, e 1,1%,
um medo mórbido de engordar, levando a sérios graus segundo o BITE (VILELLA et al., 2004; NUNES et al., 2003).
de emagrecimento (MANUAL DIAGNÓSTICO E ESTA- O DSM-IV (Diagnostic and Statistical Manual, IV edi-
TÍSTICO DE TRANSTORNOS MENTAIS, 2002; CASTRO et tion) define que a idade média para o início da Anorexia
al.,1995). nervosa é de 17 anos, com alguns picos aos 14 e aos 18
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

Já na Bulimia Nervosa, as características essenciais anos. O inicio do transtorno raramente ocorre em mulhe-
consistem em eventos recorrentes de ingestão compulsi- res com mais de 40 anos. Já a Bulimia Nervosa, também
va de grande quantidade de alimentos, seguidas do uso segundo o DSM-IV começa no final da adolescência ou
de métodos compensatórios inadequados para evitar o inicio da vida adulta (TASSIANA et al., 2010).
ganho de peso como condutas purgativas (autoindução Os adolescentes são o principal alvo para o desen-
de vômitos ou uso indiscriminado de laxantes, diuréti- volvimento dos Transtornos Alimentares. A adolescên-
cos, inibidores de apetite ou enemas) ou não purgativas cia é uma fase de transição entre criança e idade adulta,
(jejuns e exercícios físicos excessivos) (HUSE et al., 2003). extremamente conturbada onde o mesmo irá lidar com
Os transtornos alimentares Anorexia Nervosa e Bu- conflitos de identidade e adaptações até mesmo com-
limia Nervosa compartilham aspectos psicopatológicos portamentais, nesse momento pode-se começar ou in-
tensificar a preocupação com a estética corporal, medo
10 Fonte: www.inspirandojovens.com.br

57
de engordar ou o desejo de emagrecer. Por esse episódio hipercalóricos) são acumulados e consumidos mais
ser bastante sensível ao surgimento da desordem, pode- tarde, de forma desmedida. Na obesidade também
-se tornar um desequilíbrio exacerbado resultando em se verifica esta situação de esconder alimentos ou
um transtorno influenciado por vários fatores biopsicos- mentir/omitir o que realmente se consome ao lon-
sociais. O tratamento é muito impreciso, pois os trans- go do dia.
tornos envolvem o emocional do indivíduo e abrange
os agravos decorrentes da doença, necessitando da in- 5.1. Tratamento
tervenção multiprofissional, que são fundamentais para
a reestruturação psicológica do indivíduo, levando-o a O tratamento deve ser individualizado, de acordo com
superar fatores sociais, culturais, biológicos que levaram as características e necessidades de cada paciente. A pri-
à origem da desordem. meira prioridade é melhorar o estado clínico e diminuir
O elevado número de adolescentes realizando práti- os riscos para a saúde física. A reabilitação nutricional é
cas alimentares inadequadas ressalta a atenção que este um objetivo primário, porém, devido à relação alterada
tema requer da comunidade acadêmica, reafirmando-o com a comida, normalmente esses pacientes dizem que
como questão emergente no cenário sanitário brasilei- não precisam de nutricionista. O objetivo do profissional
ro. Por ser um tema relevante, o presente estudo tem é ajudar a voltar a um peso normal, através de hábitos
o objetivo identificar através da literatura os principais saudáveis, suspender o uso de laxantes e diuréticos, tra-
transtornos da alimentação na adolescência. çar metas realistas e saudáveis em relação à alimentação
e exercícios e ajudar a reconhecer pensamentos em re-
Alguns sinais e sintomas de um distúrbio alimen- lação à comida e peso, além de mostrar o risco que tais
tar podem ser: comportamentos podem trazer para a saúde.
• Recusa constante em comer  Devido aos complexos aspectos biopsicológicos que
• Esta negação perante certos alimentos pode in- envolvem os transtornos alimentares em adolescentes,
diciar uma possível alteração do comportamento a abordagem e o acompanhamento dessas condições
alimentar, podendo chegar a consequências mais produzem melhores resultados quando conduzidos por
graves. Observe o seu filho e repare se essas recu- equipe multidisciplinar, que conte com médico, nutricio-
sas são cada vez mais frequentes. nista, enfermeira, psicólogo e psiquiatra com experiência
• Preocupação/obsessão pelo corpo e imagem na avaliação e tratamento de adolescentes com distúr-
corporal  bios alimentares, incluindo dinâmica familiar. Educado-
• Repare se o seu filho começa subtilmente a mu- res físicos e terapeutas ocupacionais podem ser bastante
dar a forma de vestir (optar por vestuário cada vez úteis para complementar o tratamento.
mais largo, por exemplo) ou se de repente começa Devem ser avaliados vários níveis de tratamento,
a não querer olhar-se ao espelho por não gostar dependendo das características clínicas e da gravidade
do que vê. É importante entender como e quando do caso (ambulatorial, intensivo, internado em hospital,
começaram estas atitudes de rejeição do próprio parcialmente internado ou tratamento residencial). Os
corpo, normalmente associadas a fatores sociais e fatores que justificam internação de adolescentes com
emocionais. transtornos alimentares estão listados na Tabela 1.
• Episódios recorrentes de compulsão alimentar  Devido às taxas de recaída, recorrências, “crossover”
• Normalmente estas situações de voracidade ali- (mudanças de anorexia nervosa para bulimia nervosa ou
mentar são seguidas de atitudes de indução de vice-versa) e comorbidades, o tratamento deve ter fre-
vómito e/ou uso de fármacos como laxantes e diu- quência, intensidade e duração suficientes para prover
réticos, de forma a tentar “compensar” a ingestão intervenção efetiva.
exagerada de tantas calorias. Tenha atenção se o Avaliação da saúde mental é fundamental para o tra-
seu filho começa a passar muito tempo na casa de tamento de adolescentes com transtornos alimentares.
banho, fechado e imediatamente após as refeições. O tratamento pode ser necessário durante anos segui-
• Dores de garganta ou problemas de dentição  dos. Estudos publicados suportam evidências de que
• No caso da bulimia nervosa é recorrente relatarem- o tratamento baseado na relação familiar é eficaz para
-se casos de problemas graves do trato esofágico adolescentes e foi publicado um manual que descreve
devido à constante indução de vómito. Os dentes tal método. A terapia cognitivo comportamental é usada
também são drasticamente afetados devido à ero- em adultos com AN, porém há escassez de estudos em
são provocada pelo suco gástrico dos vómitos. adolescentes. Existem, ainda, evidências de que alguns
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

• Lesão da pele do dorso da mão ou calos nas mãos  antidepressivos, como o cloridrato de fluoxetina, podem
• A indução frequente do vómito (levar a mão à ser úteis para reduzir o risco de recaídas dos sintomas em
boca) provoca o aparecimento de calosidades e ul- adolescentes mais velhos, portadores de AN, nos quais o
ceração, denominado de “Sinal de Russel”. peso foi restabelecido.
• Esconder comida  O tratamento mais eficaz para adolescentes mais ve-
• Um adolescente com um distúrbio alimentar, seja lhos com BN é a terapia cognitivo comportamental fo-
ele qual for, tem a necessidade de esconder ali- cada na mudança de atitudes alimentares específicas e
mentos por variadas razões. No caso da anorexia comportamentos que perpetuam o distúrbio alimentar.
nervosa ocorre esconderem alimentos e, simples- Antidepressivos mostraram ser efetivos na redução do
mente, nunca os ingerir. Enquanto na bulimia ner- comer compulsivo e de comportamentos purgativos em
vosa esses alimentos escondidos (maioritariamente 50% a 75% dos casos. Além disso, psicoterapia individual,

58
assim como terapia comportamental têm mostrado al- melhoria, pois constata-se quase que um divórcio entre
guns benefícios em adolescentes bulímicos. O uso de elas. As escolas, muitas vezes, não fomentam nem faci-
medicação também pode ser útil em adolescentes mais litam o intercâmbio de experiências com outras escolas
velhos, com sintomas de depressão ou TOC. e com o meio em que estão inseridas, não promovem a
O tratamento da osteopenia associado à anorexia procura de soluções inovadoras, nem proporcionam uma
ainda não está resolvido, mas a conduta atual recomen- participação efetiva dos pais e encarregados de educação
da incluir recuperação do peso corporal e volta dos ciclos na gestão escolar.
menstruais, cálcio (1300 a 1.500 mg/dia), vitamina D (400 Escola é a principal instituição para a transmissão e
Ul/dia) e exercícios cuidadosos de musculação. Apesar aquisição de conhecimentos, valores e habilidades, por
de se prescrever reposição hormonal, frequentemente, isso deve ser tida
para tratar a osteopenia, não há estudos prospectivos como o bem mais importante de qualquer sociedade.
suficientes que demonstrem sua eficácia, além de poder Escola – instituição social que tem o encargo de edu-
acelerar o fechamento de cartilagem de crescimento e car, segundo planos sistemáticos, os indivíduos nas dife-
comprometer a estatura final. rentes idades da sua formação, casa ou estabelecimento
O uso de drogas antipsicóticas atípicas, devido à sua onde se ministra o ensino.
propensão a levar a ganho de peso, assim como suas Escola é uma instituição educativa fundamental onde
propriedades ansiolíticas, tem sido considerado poten- são organizadas, sistematicamente, atividades práticas
cialmente útil. Dados publicados a partir de pequenos de carácter pedagógico.
estudos feitos em adultos com AN tomando olanzapina Para Gary Marx, (in Azevedo, 1994,p.147) a escola é
ainda são inconsistentes. Estudo recente examinando a verdadeiramente uma instituição de último recurso, após
risperidona (dose média de 3 mg durante média de três a família, comunidade e a igreja terem fracassado.
semanas) em 41 adolescentes com AN não mostrou be- Comunidade é um conjunto de pessoas que vive
nefício. O uso de medicações para tratar comorbidades num determinado lugar e ligado por um ideal e objetivos
(ansiedade, depressão) parece útil em alguns casos. comuns.
Vale ressaltar as comobidades entre os transtornos Participação – de acordo com a etimologia da palavra,
do comportamento no adolescente. Por exemplo, ano- participação origina-se do latim “participatio” (pars + in +
rexia nervosa e bulimia estão frequentemente associadas actio) que ignifica ter parte na ação. Para ter parte na ação
a depressão, abuso de substâncias e transtornos do défi- é necessário ter acesso ao agir e às decisões que orientam
cit de atenção/ hiperatividade. o agir. “
Além disso, com o crescente aumento da prevalência Executar uma ação não significa ter parte, ou seja,
de obesidade entre crianças e adolescentes aumentou o responsabilidade sobre a ação. E só será sujeito da ação
número de indicações de cirurgia bariátrica como opção quem puder decidir sobre ela”
terapêutica. Os episódios de compulsão e purgação au- A participação é «um modo de vida» que permi-
toinduzida ocorrem em 5% a 30% dos adolescentes obe- te resolver favoravelmente a tensão sempre existente
sos que procuram cirurgia, o que reforça a necessidade entre o individual e o coletivo, a pessoa e o grupo, na
de seguimento próximo e com equipe multidisciplinar, já organização.
que esta não é uma contraindicação absoluta. A participação deve ser vista como um processo per-
Reverter um quadro de transtorno alimentar geral- manente de estabelecer um equilíbrio dinâmico entre: a
mente requer tratamento físico e psicológico. Algumas autoridade delegada do poder central ou local na escola;
vezes, uma internação é necessária para estabilizar o pa- as competências profissionais dos professores (enquanto
ciente antes que o tratamento comece. especialistas do ensino) e de outros trabalhadores não
Herpertz-Dahlmann (2009) afirma que o primei- docentes; os direitos dos alunos enquanto «autores» do
ro passo é o reconhecimento pelo adolescente de seu seu próprio crescimento; e a responsabilidade dos pais
transtorno alimentar e os problemas psicológicos que o na educação dos seus filhos.12
permeiam. Tanto ele como a família devem ser informa- Considerando que toda criança faz parte de uma fa-
dos sobre as consequências e riscos à saúde, e as opções mília e que toda família, além de possuir características
terapêuticas devem ser discutidas em detalhe. Uma rela- próprias, está inserida em uma comunidade, hoje, ambas,
ção de confiança, sem julgamentos, entre todos os pro- família e comunidade, estão incumbidas, juntamente com
fissionais da equipe de saúde e o paciente é necessária a escola, da formação de um mesmo cidadão, portanto são
para o sucesso do tratamento.11 peças fundamentais no processo educativo e, porque não,
na elaboração do projeto pedagógico da escola e na ges-
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

6. Família tão da mesma.


Quando a escola recebe os educandos, de onde eles
Sendo a escola uma instituição organizada e integra- vêm? Quem os encaminha? Eles vêm de uma sociedade,
da na comunidade, ela deve desempenhar uma função de uma  família, e os pais e responsáveis realizam seu
pró-ativa de súbita importância na formação, transfor- encaminhamento.
mação e desenvolvimento do capital social. Não são os educandos seres viventes em um núcleo
Pensar a escola de hoje é refletir a sociedade nas ver- familiar e social, onde recebem orientação moral, viven-
tentes social, económico e pessoal. ciam experiências e reforçam seus conhecimentos? Tudo
A relação escola, família e comunidade carece de isso é educação. Para estabelecer uma educação moral,
crítica e comprometida com o meio social, é primordial
11 Fonte: www.portaleducacao.com.br/www.moreirajr.com.br/www.
portoeditora.pt/Joana Nogueira 12 http://www.portaldoconhecimento.gov.cv

59
a integração entre escola, família e sociedade. Pois, o ser uma criança.
humano é um ser social por excelência. Podemos pensar Envolver os familiares na elaboração da proposta pe-
na responsabilidade da escola na vida de uma pessoa. E dagógica pode ser a meta da escola que pretende ter um
ainda, partindo desse princípio, é um equívoco desvincular equilíbrio no que diz respeito à disciplina de seus edu-
a família no processo da educação escolar. A escola vem candos. A sociedade moderna vive uma crise de valores
reforçar os valores recebidos em casa, além de transmitir éticos e morais sem precedentes. Essa é uma constatação
conhecimentos. Age também na formação humana, sa- que norteia os arredores dos setores educacionais, pois
lientando a autonomia, o equilíbrio e a liberdade - que é na escola que essa crise pode aflorar mais, ficando em
está condicionada a limites e respeito mútuo. Por que não, maior evidência.
a escola trabalhar com a família e a sociedade em prol de Nesse sentido, A LDB – Lei de Diretrizes e Bases da
um bem comum? Educação ( lei 9394, de dezembro de 1996) formaliza e
A parceria entre família, sociedade e escola só tem a institui a gestão democrática nas escolas e vai além. Den-
contribuir para o desenvolvimento do educando. Assim, a tre algumas conquistas destacam-se:
escola passa a ser um espaço que se relaciona com a vida e A concepção de educação, concepção ampla, esten-
não uma ilha, que se isola da sociedade. Com a participa- dendo a educação para além da educação escolar, ou
ção da família no meio escolar, cria-se espaços de escuta, seja, comprometimento com a formação do caráter do
voz e acesso às informações que dizem respeito a seus fi- educando.
lhos, responsáveis tanto pela materialidade da escola, bem Nunca na escola se discutiu tanto quanto hoje as-
como pelo ambiente no qual seus filhos estão inseridos. É suntos como falta de limites, desrespeito na sala de aula
preciso que os pais se impliquem nos processos educativos e desmotivação dos alunos. Nunca se observou tantos
de seus filhos no sentido de motivá-los afetivamente ao professores cansados e muitas vezes, doentes física e
aprendizado. O aprendizado formal ou a educação escolar, mentalmente. Nunca os sentimentos de impotência e
para ser bem sucedida não depende apenas de uma boa frustração estiveram tão marcantemente presentes na
escola, de bons professores e bons programas, mas prin- vida escolar.
cipalmente de como o educando é tratado na sociedade Por essa razão, dentro das escolas as discussões que
e em casa e dos estímulos que recebe para aprender. É procuram compreender esse quadro tão complexo e,
preciso entender que o aprender é um processo contínuo muitas vezes, caótico, no qual a educação se encontra
que não cessa quando ele está em casa. Qualquer gesto, mergulhada, são cada vez mais frequentes. Professores
palavra ou ação positiva de qualquer membro da socieda- debatem formas de tentar superar todas essas dificulda-
de ou da  família pode motivá-la, porém, qualquer palavra des e conflitos, pois percebem que se nada for feito em
ou ação que tenha uma conotação negativa pode gerar breve não se conseguirá mais ensinar e educar.
um bloqueio no aprendizado. É claro que, como qualquer Entretanto, observa-se que, até o momento, essas
ser humano, ele precisa de limites, e que não pode fazer discussões vêm sendo realizadas apenas dentro do âm-
tudo que quiser, porém os limites devem ser dados de ma- bito da escola, basicamente envolvendo direções, coor-
neira clara, sem o uso de palavras rudes, que agridam ou denações e grupos de professores. Em outras palavras,
desqualifiquem-no. a escola vem, gradativamente, assumindo a maior parte
Uma pessoa agredida, com palavras ou ações, além de da responsabilidade pelas situações de conflito que nela
aprender a agredir, perde uma boa parte da motivação são observadas.
para aprender, pois seus sentimentos em relação a si mes- Assim, procuram-se novas metodologias de traba-
ma e aos outros ficam confusos, tornando-a insegura com lho, muitos projetos são lançados e inúmeros recursos
relação às suas capacidades, e consequentemente gerando também lançados pelo governo no sentido de não deixar
uma baixa autoestima. Outro aspecto que merece ser lem- que o aluno deixe de estudar. Porém, observa-se que se
brado é o que se refere à comparação com outros irmãos não houver um comprometimento maior dos responsá-
que foram bem sucedidos; os pais ou responsáveis devem veis e das instituições escolares isso pouco adiantará.
evitar a comparação, pois cada um é único e tem seu pró-
prio ritmo de aprendizado e sua maneira singular de ver o 7. Escolhas sexuais
mundo e a sociedade em que esta inserido.
É preciso ainda ressaltar que o conhecimento e o Em nossa cultura a informação relativa à sexualidade
aprendizado não são adquiridos somente nos bancos es- e sua valorização são frequentemente recebidas distor-
colares, mas é construído pelo contato com o social, dentro cidas durante o processo de socialização. Muitas vezes as
da família, e no mundo ao seu redor. Fazer do aprendizado normas neste campo são contraditórias e confusas e, no
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

um prazer é tarefa não só dos professores, mas também, ser humano, a sexualidade se combina com outros fatores
de pais, da sociedade e de qualquer profissional interessa- psicológicos não estritamente sexuais, como a visão que
do no bem-estar de quem aprende.13 alguém tem de si mesmo, a valoração de outros neste ter-
Pensar em educação de qualidade hoje, é preciso ter reno, etc.
em mente que a família esteja presente na vida esco- Compreende-se, portanto, que o comportamento
lar de todos os alunos em todos os sentidos. Ou seja, é sexual humano vem determinado tanto por fatores bio-
preciso uma interação entre escola e família. Nesse sen- lógicos como culturais. Daí que, “para ser completa e efi-
tido, escola e família possuem uma grande tarefa, pois caz, principalmente quando faz parte de um programa
nelas é que se formam os primeiros grupos sociais de educacional, a educação sexual deve abranger tanto o
componente informativo quanto o formativo” (FIGUEI-
13 Texto adaptado de Claudia Puget Ferreira / Fabiola Carmanhanes
RÓ, 2006).
Anequim / Valéria Cristina P.Alves Bino

60
É clara em nossa sociedade a existência de uma di- A complexidade do tema fez com que muitos estu-
visão de atitudes segundo o sexo. A sexualidade, assim diosos (NUNES, 1987; CABRAL (1999); FOUCAULT (1990);
entendida, não é apenas um componente a mais da CHAUÍ (1985), entre inúmeros outros, se debruçassem
personalidade, mas a forma geral em que o indivíduo sobre o assunto sugerindo, cada qual, um conceito pró-
se manifesta perante si mesmo e perante outros, o que prio, ora único, ora semelhante aos demais, sobre o sexo
mostra a existência de um perigo real de transtornar o e a sexualidade humana.
desenvolvimento e maturação normal da sexualidade de
um indivíduo. Durante o processo de socialização podem 7.1. Definindo Sexo e Sexualidade
gerar-se atividades inadequadas, temores, insatisfações
e desconcerto que alterem o desenvolvimento e ama- Sexo é coisa muito simples. Eu explico os essenciais em
durecimento integral e sadio da pessoa, dando lugar a poucas linhas. [...]. Pra se entender o sexo há de se enten-
condutas sexuais desajustadas. der a música que ele toca. [...] A música que o corpo quer
É exatamente este aspecto da educação sexual que, tocar se chama prazer. [...]. Os instrumentos da orquestra-
conforme Egypto (2003, p. 9), ainda assusta principal- -corpo são os seus órgãos [...] todos têm uma utilidade.
mente os profissionais da educação, pois trabalhar a Além disso, esses mesmos órgãos e membros são lugares
sexualidade com os alunos exige “revisão de conceitos, de prazer. [...] Entre os órgãos da orquestra-corpo estão os
superação de preconceitos e estereótipos, um olhar órgãos sexuais. Não há nada de especial que os distinga
reflexivo sobre a própria sexualidade, lidar com tabus, dos outros. Como os demais órgãos eles são fontes de pra-
medos, vergonha [...]”. zer. Os prazeres do sexo são variados. Vão desde uma sen-
O sexo, dentro do contexto biológico, tem por fina- sação muito suave que mais parece uma coceira de bicho-
lidade a perpetuação das espécies. É por isso que o im- -de-pé e que chega a provocar riso, até um prazer enorme,
pulso sexual é algo tão forte. Conforme a citação cons- explosão vulcânica, que tem o nome de orgasmo, e que
tante no Livro de Gênesis (Bíblia Sagrada, Gn. 1.22,28), a deixa aqueles que por ele passaram semimortos. [...]. Mas
energia sexual é a energia biológica mais poderosa que eles anunciam o fim da brincadeira. [...] Complicados são
existe, pois é a única energia natural capaz de gerar Vida. os pensamentos dos seres humanos sobre ele (o sexo). Os
Conforme coloca Focault (1990), a espécie humana é homens por razões que não entendo, passaram a conside-
a única que usa o sexo não só para procriar, mas como rar o sexo uma coisa vergonhosa (ALVES, 1999, p. 91-6).
fonte de prazer, expressão de amor e, até, como uma for- Nunes (1987) afirma que, enquanto aquisição evolu-
ma de poder. Comumente, na sociedade ocidental ele (o tiva do ser humano – pertencente ao Reino Animal - o
sexo) aparece coberto por tabus, como algo vergonhoso, sexo limita-se às características genitais. Porém, a espécie
impuro, feio, proibidos, e vários outros sinônimos total- humana apresenta a sexualidade, uma qualidade cultural
mente opostos ao sentido de brincadeira que lhe atribui e significativa do sexo, construída desde a infância, sendo
Alves (1999). o sexo genital um parâmetro para a formação pessoal e
Porém, por ser inerente ao ser humano, sua interdição social da criança, muito além da manifestação instintiva.
nada mais faz além de instigar a curiosidade sobre tudo o Por se tratar de uma construção socio-histórica,
que diz respeito à sexualidade. abordar a questão da sexualidade exige uma reflexão
A sociedade capitalista usa este desejo de saber como sobre a forma como os desejos, sentimentos, sensa-
uma estratégia que lhe garante um controle social sem ções, concepções de variadas instâncias sociais mol-
precedentes. Foucault em suas teses elucida esta estra- dam os relacionamentos.
tégia afirmando que a sociedade capitalista não obriga o Sendo assim, refletir sobre sexualidade implica pri-
sexo a silenciar-se; contrariamente, incita sua manifesta- meiro, refletir sobre si mesmo, para buscar entender o
ção, abrindo espaço para a exposição de opiniões, pen- outro em suas dimensões diversificadas. Sendo assim, “a
samentos e atitudes (REIS, 1992). sexualidade supõe mais do que corpos, nela estão en-
Nas relações de poder, a sexualidade não é o elemento volvidos fantasias, valores, linguagens, rituais, comporta-
mais rígido, mas um dos dotados da maior instrumentali- mentos, representações mobilizados ou postos em ação
dade; utilizável no maior número de manobras, e podendo para expressar desejos e prazeres” (LOURO, 2007, p.209).
servir de ponto de apoio, de articulação às mais variadas Dessa forma, por se tratar de algo cultural e social-
estratégias (FOUCAULT, 1990, p. 98). mente construído, não é estática e definida, mas mutável
Foucault (1990) salienta que a vontade de saber so- e plural (LOURO 1997; FIGUEIRÓ, 2009). A sexualidade
bre a própria sexualidade se torna artifício básico de humana, assim, compreende um conjunto de fenôme-
controle disciplinar da população, pois os dispositivos nos biológicos, psicológicos e sociológicos de grande
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

saber-poder são exercidos de forma ampla. O poder es- importância para a pessoa e para a sociedade, estando
tando em tudo, principalmente no próprio homem, faz vinculada à afetividade e aos valores, sua esfera vai além
com que o mesmo busque o autocontrole para conter da função reprodutora e da mera genitalidade ficando
sua sexualidade e a dos seus. englobada no âmbito mais amplo do erotismo.
Para o autor, o conceito de sexualidade, diante de Assim entendido, é relevante esclarecer que numa
tal realidade, não pode se limitar à racionalidade, ou a concepção biológica, o sexo constitui apenas um dos
explicações mecânicas, simplistas, inadequadas à com- aspectos que permeiam a sexualidade humana, e sendo
preensão da realidade. Tal concepção requer reflexões assim configura-se um reducionismo a abordagem em
que transpassem os aspectos biológicos que, ainda nos determinismos biológicos para justificar preconceitos,
tempos atuais, constituem-se como fundamento das in- mitos e tabus que foram criados histórica e socialmente
formações exaustivamente fornecidas aos sujeitos. em torno desse tema.

61
Daí que segundo Nunes (1987) tratar de sexualida- humanas que se relacionam ao ramo que a estuda, daí a
de na escola requer domínio prévio de uma concepção importância de um resgate histórico da sexualidade, em
científica e humanista da mesma, sobrepujando o sen- especial no mundo ocidental.
so comum - estágio elementar da cognição social - com
abordagem histórica e cultural da sexualidade humana, 7.2. A escola, o professor e a educação sexual
abalizada por uma minuciosa compreensão científica do
desenvolvimento psicológico e sexual do sujeito. Nesta produção alinha-se ao pensamento de Figueiró
Na mesma ótica Cabral (1999), ao manifestar-se so- (1996, apud FIGUEIRÓ, 2009), que a orientação sexual,
bre sexo, expõe a visão sócio-construtivista de que o conforme proposto nos Parâmetros Curriculares Nacio-
indivíduo, por nunca estar pronto ou acabado, inclusive nais/PCN (BRASIL, 1999), refere-se mais especificamente
biologicamente, sofre constantes influências dos costu- sobre a sexualidade do indivíduo em relação à sua identi-
mes do meio em que vive, sendo, portanto, produto do dade sexual, que vai sendo construída ao longo da infân-
ambiente e da cultura. cia, e como a pessoa se comporta ao longo de sua vida e,
Também Chauí (1985) reitera que a sexualidade é uma sendo assim, deve ser trabalhada pautada na pluralidade,
elaboração histórica, que tem sua manifestação social de que deve ser desenvolvida nas escolas. Daí ser relevan-
acordo com o ambiente em que se formaram suas raízes. te esclarecer que aqui, com base em diversos autores/
Nesse sentido Foucault (1990) conceitua o sexo como as (VITIELLO, 1994; SUPLICY et al, 2004; FIGUEIRÓ, 2009,
uma manifestação física ligada ao uso do sistema repro- entre outros), adota-se o termo Educação Sexual ao in-
dutor, com fim único de procriação. As demais manifes- vés de Orientação Sexual devido ao sentido mais amplo
tações, tais como: o beijo, a carícia, o olhar, o pensamen- e para não haver confusão com a orientação do desejo
to, o sonho, o desejo, estariam na área da sexualidade, afetivo-sexual.
uma qualidade global do homem. [...] o próprio termo educação sexual é mais adequa-
Acrescenta, ainda: do, na medida em que se abre espaço para que a pessoa
O sexo, esta instância que parece dominar-nos, esse que aprende seja considerada sujeito ativo do processo de
segredo que nos parece subjacente a tudo o que somos, aprendizagem e não mero receptor de conhecimentos e/
esse ponto que nos fascina pelo poder que manifesta e ou de orientações, como sugerem as outras terminolo-
pelo sentido que oculta, ao qual pedimos revelar o que gias: orientação, informação , instrução. [...] A educação
somos e liberar-nos o que nos define, o sexo nada mais é sexual refere-se a toda ação ensinoaprendizagem sobre
do que um ponto ideal tornado necessário pelo dispositi- a sexualidade humana, seja no nível do conhecimento de
vo de sexualidade e por seu funcionamento. (...) O sexo é, informações básicas, seja no nível do conhecimento e/ou
ao contrário, o elemento mais especulativo, mais ideal e discussões e reflexões sobre valores, normas, sentimentos,
igualmente mais interior, num dispositivo de sexualidade emoções e atitudes relacionadas à vida sexual (FIGUEIRÓ,
que o poder organiza em suas captações dos corpos, de 2001, apud FIGUEIRÓ, 2009, p. 37).
sua materialidade, de suas forças, suas energias, suas sen- Relevante do contexto que a adolescência é uma eta-
sações, seus prazeres. (FOUCAULT, 1990, p. 145). pa fundamental no processo de crescimento e desen-
Para Bernardi (1985), a sexualidade é analisada, psico- volvimento humano, marcada por modificações físicas e
logicamente, como sendo multiforme polivalente e sím- comportamentais influenciadas por fatores socioculturais
bolo do desejo. O deleite sexual pode ser atingido sem o e familiares (SOARES et al., 2008). A sexualidade, por seu
contato genital, uma vez que qualquer região do corpo é lado, é elemento constitutivo do sujeito adolescente, já
suscetível ao prazer sexual. A sexualidade difere do ins- que é um atributo inerente ao ser humano, que se ma-
tinto, não objetivando o parceiro ou o coito. nifesta independentemente de qualquer ensinamento.
Louro (1999), diz que a sexualidade não se restrin- Sendo assim ela representa a forma como o indivíduo
ge ao corpo, mas envolve o aspecto psíquico da pessoa, se comporta, pensa ou age. Faz parte da sua construção
através de suas crenças, ideologias e imaginações, dei- e expressão da personalidade, resultado da integração
xando de ser preocupação individual, devendo passar dos componentes biológico, psicológico, social e cultural
por uma investigação e a uma análise histórica e socio- (SOUSA; CAMURÇA, 2009).
lógica cuidadosa, a fim de atingir uma atmosfera crítica Assim, segundo Osório (1992) na adolescência, por
e política. se tratar de um período onde está sendo finalizada a
Conceito interessante que ilustra adequadamente a personalidade do individuo aparece a maioria das dú-
diferença entre os dois termos: vidas sobre sexualidade e é também nesse momento
Sexo – é uma energia positiva que impulsiona a vida. que a sexualidade se encaixa principalmente como fator
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

É como a pessoa se percebe. Não é safadeza, sacanagem, estruturador da sua identidade.


órgão genital, nem atividade coital (transa). Sexualidade – Nesse sentido, as modificações no comportamento
é uma conduta adquirida, de base biológica, com sua fon- que ocorrem no adolescente podem interferir no pro-
te instintiva expressa de acordo com o desenvolvimento e cesso natural do seu desenvolvimento, fazendo com que
normalidade psicossexual, com parâmetros socioculturais ele sinta necessidade de experimentar comportamentos
do lugar e época em que vivemos. Tem caráter modificável, que os deixam mais vulneráveis a riscos para a sua saúde,
plástico, permutante. Envolve personalidade, maturidade inclusive no aspecto da sexualidade (SOUZA et al, 2007).
física e psicológica e a formação (SOUZA, 2007, p. 415-6). Esse é um período que exige muita atenção por parte
Destaca-se, do exposto que, as concepções sobre dos pais, profissionais de saúde e da escola, pois mui-
sexo e sexualidade podem variar de acordo com a so- tas vezes, os jovens não têm consciência dos problemas
ciedade, a história, o grupo social e as diversas ciências que uma relação sexual „inconsequente‟ pode acarretar.

62
Assim, é clara a necessidade de abordar esse tema com sexualidade, da igualdade de direito entre os sexos, pro-
os adolescentes, buscando assegurar a a vivência res- movem uma ação sígnica considerável, no desmonte de
ponsável da sexualidade (VITIELLO, 1995) . mitos, na destruição de tabus, na ressignificação das práti-
Segundo Vitiello (1995) educar significa formar al- cas, na formatação de novas condutas, enfim na formação
guém, proporcionando condições para que este cresça de uma consciência crítica da sexualidade como dimensão
consciente e responsável pelos seus atos. A Educação significativa da sociabilidade e, por extensão, da prática
para a sexualidade, nesse sentido, é ferramenta fun- pedagógica[...] A sexualidade, como fenômeno educativo,
damental para subsidiar discussões sobre as práticas e implica não apenas um esforço de mudança pedagógica,
comportamentos dos jovens em relação aos riscos que mas um esforço de mudança cultural. E essa mudança
envolvem a sexualidade, além de promover a prevenção nem o professor, nem sua formação dão conta dela ex-
de problemas futuros e proporcionar o conhecimento clusivamente, pois envolve um processo social e cultural
sobre o próprio corpo. Entretanto, a educação sexual não em nível societário, em nível organizacional (CARVALHO,
tem como finalidade apenas informar, mas, também, de- 2004, p. 7).
senvolver as habilidades necessárias à utilização dessas Se a invisibilidade é a forma dominante da sexuali-
informações para o exercício saudável de tudo que se dade na escola, é importante buscar a visibilidade, ali-
relaciona ao corpo (FIGUEIRÓ, 2009). mentar a fogueira das discussões, num clima mais aber-
Entende-se do exposto, portanto, que educar vai to, franco, respeitoso e contínuo. Entendendo assim, a
além do informar, especialmente quando se trata de partir do estudo, da pesquisa, do debate democrático da
educação sexual. Educar é modificar atitudes, e para isso sexualidade humana, o professor será capaz de elaborar
necessita-se muito mais que apenas interar-se de tópicos respostas às suas próprias dúvidas, questionamentos e
sobre sexualidade. Todos os educadores consideram que angústias.
a formação do indivíduo é o principal objetivo da educa- Os Adultos encontram sempre certa dificuldade na
ção. Quando se fala em formar, não se deseja que o edu- abordagem deste assunto, pois acabam por reproduzir
cando seja uma cópia fiel de seu mestre ou de qualquer padrões e concepções cristalizadas no seu convívio so-
outro molde, almeja-se dar condições e meios para que cial, ao mesmo tempo, por ser um assunto tão fascinante
cresça interiormente. e íntimo, encontramos muita dificuldade de determinar o
Quando se fala em educação sexual se faz para um quê, quando, onde e como conversar sobre ele.
fim determinado, existem objetivos a serem atingidos. Quando se abrem as portas para as discussões, vários
É uma preparação para a vida, e deverá ser responsável temas polêmicos podem fazer parte dos assuntos esco-
pela transmissão de conhecimentos que formem valores, lhidos pelos jovens, entre eles as drogas, a sexualidade e
atitudes, e que o indivíduo possa expressar seus senti- a mídia, a virgindade, a AIDS, DST, o assédio sexual, gra-
mentos e a sua sexualidade de maneira livre, mas com videz precoce e outros tópicos de interesse que pode-
responsabilidade, respeitando a individualidade de cada rão emergir. Tudo vai depender da postura do educador
um. Como em outras áreas do conhecimento humano a diante dessas indagações e é isto que fará a diferença.
sexualidade é um processo de aprendizagem contínua. A partir do momento em que o professor evolui em
Diante das reflexões efetivadas o papel da escola na sua conduta, são frequentemente tomados por senti-
questão da sexualidade passa a ser fundamental na me- mento de culpa que faz com que se mantenham os mo-
dida em que grande parte do tempo do adolescente é delos existentes onde são propostas referências ideais de
concentrado dentro dos „muros da educação‟. Os dis- comportamentos e costumes.
cursos sobre sexualidade, aliados às transformações físi- Então como trabalhar este tema na escola? Segundo
cas que ocorrem principalmente na puberdade, geram Egypto (2003, p. 9) [...] Trabalhar com a questão da sexua-
dúvidas e angústias que podem ser respondidas e ame- lidade com crianças e adolescentes exige revisão de con-
nizadas com a discussão da sexualidade humana e suas ceitos, superação de preconceitos e estereótipos, um olhar
múltiplas influências nas diferentes fases da vida. reflexivo sobre a própria sexualidade, lidar com tabus, me-
As tradicionais funções dos pais de iniciação à edu- dos, vergonhas. Exige dedicação e estudo. Há também as
cação de hábitos de higiene, alimentação, socialização, dúvidas: e se me perguntarem coisas que eu não souber?
orientação sexual e desenvolvimento da personalidade O que vou dizer sobre o sexo na adolescência? O aborto? A
das crianças e dos jovens passam a ser responsabilidade, homossexualidade? E o que os pais vão pensar? Como eles
também, dos educadores. vão receber esse trabalho.
A pergunta que nos vem à mente neste momento é: A importância da escola não está relacionada apenas
a escola e os educadores estão preparados para desem- no conteúdo pedagógico que transmite; vai muito além
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

penhar tais funções? Em um mundo cheio de transforma- de outros aprendizados que não estão escritos nas pro-
ções, nos questionamos se nossas funções, tais como as postas pedagógicas de cada escola e que são requisita-
conhecemos (como pais e educadores), estão de acordo dos pelo adolescente em sua vida escolar.
com a realidade social. Parece-nos fundamental a reava- Ainda segundo CARVALHO (2004, p.8):
liação desses conceitos e promover ações práticas que É nesse sentido que este trabalho se orienta, colocan-
possam suprir as necessidades educacionais e de orien- do-se como subsídio para a discussão da sexualidade na
tação nas escolas, pois, escola, para trocas, colaborando - quem sabe - para avan-
[...] Como parte da sociedade, reflete as suas trans- ços no entendimento e compreensão dessa problemática
formações. Nesse sentido, os movimentos sociais são um pedagógica. Fundamental, portanto, é a conscientização
importante vetor de abertura. Movimentos organizados dos professores no sentido do trabalhar com o inesperado,
em torno de demandas da liberdade sexual, do direito à com o desconhecido [...].

63
A adolescência é uma fase bastante peculiar e de
preparação para a aquisição de um novo papel peran- COTIDIANO ESCOLAR: INTEGRAÇÃO DOCEN-
te a família e a sociedade ficando apta para usufruir sua TE E DISCENTE
sexualidade, firmando sua identidade sexual e buscando
um par, já com a possibilidade de gerar filhos.
A sexualidade cerceia a vida de todas as pessoas des- A INTERAÇÃO PROFESSOR – ALUNO NO PROCES-
de o nascimento até a morte, através de inúmeras infor- SO EDUCATIVO
mações que recebemos a todo instante. Dessa forma es-
tamos sempre sendo educados sexualmente, seja na rua, A relação professor-aluno é uma condição do pro-
em casa, com os amigos, em programas de televisão, em cesso de aprendizagem, pois essa relação dinamiza e dá
revistas, navegando na internet. Todas essas informações sentido ao processo educativo. Apesar de estar sujeita a
trazem também uma série de ideias e valores a respeito um programa, normas da instituição de ensino, a intera-
da sexualidade, o que nos permite considerá-la como um ção do professor e do aluno forma o centro do processo
processo de aprendizagem contínua, e que a educação educativo.
sexual se refere a todas as formas de transmissão de va-
lores e informações sobre sexualidade, nas múltiplas e
variadas dimensões. FIQUE ATENTO!
O que se percebe é que as informações veiculadas nos A relação professor- aluno pode se mos-
diversos meios de comunicação são por vezes contraditó- trar conflituosa, pois se baseia no convívio
rias, transmitindo ideias e mostrando modelos de compor- de classes sociais, culturas, valores e ob-
tamentos masculino e feminino confusos em termos sexuais jetivos diferentes. Podemos observar dois
e sociais. aspectos da interação professor-aluno: o
Como lembra Egypto (2003, p.13): aspecto da transmissão de conhecimento
Sempre fomos educados sexualmente, ainda que não e a própria relação pessoal entre professor
pareça. E quando não falamos sobre sexo também esta- e aluno e as normas disciplinares impostas.
mos dizendo que sexo é uma coisa proibida, que não se
fala disso abertamente, que não é um assunto que caiba
a escola. Estamos reprimindo, omitindo, mas, de alguma
forma, estamos educando as pessoas sexualmente. Essa relação deve estar baseada na confiança, afetivi-
Na perspectiva apresentada entende-se que a elabo- dade e respeito, cabendo ao professor orientar o aluno
ração de cursos, eventos, palestras e seminários sobre a para seu crescimento interno, isto é, fortalecer-lhe as ba-
sexualidade e seus diferentes enfoques devem ser plane- ses morais e críticas, não deixando sua atenção voltada
jados com a participação dos profissionais, de pais, edu- apenas para o conteúdo a ser dado.
cadores e representantes estudantis. Pelo que foi observado durante o estágio e na pes-
O enfoque deve ser dado de acordo com o contexto quisa bibliográfica, a relação professor-aluno, por melhor
social de cada região, respeitando-se as tradições locais e que seja trabalhada, é relativamente conflitante, pois os
a idade do público alvo. Por exemplo, não adianta discu- conflitos surgem durante o desenrolar de toda relação
tir inicialmente a anticoncepção com crianças que ainda humana. Os alunos do ensino médio, em sua quase to-
não sabem o básico da atividade sexual. Deve-se ter em talidade, são adolescentes, e estão por este motivo em
mente uma atividade progressiva, didática, não agressiva uma fase de grandes conflitos interiores e de autoafir-
e não preconceituosa. Usar material audiovisual, ativi- mação, tornando necessário que o professor se desdobre
dades criativas e técnicas mais ativas como psicodrama para poder manter a disciplina, manter o aluno atento ao
(dramatização - mostrar assuntos através do teatro) para conteúdo e também despertar o seu interesse.
manter a atenção dos jovens e levá-los a pensar e discutir A aula não pode ser considerada apenas uma mera
os assuntos também fora da escola. transferência de conhecimento, devemos também nos
Falar de educação sexual implica necessariamente falar preocupar com o conteúdo emocional e afetivo, que faz
de sexualidade. Além disso, qualquer trabalho de educação parte da facilitação da aprendizagem. De acordo com LI-
deve levar em consideração a perspectiva histórica sobre a BÂNEO, o professor não transmitem apenas informações
questão. ou faz perguntas, ele também deve ouvir os alunos:
Neste sentido, no Brasil a educação sexual escolar surge “Não estamos falando da afetividade do professor
marcadamente por práticas médico-higienistas influencia- para com determinados alunos, nem de amor pelas
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das pela medicina social surgida na Europa do século XVIII. crianças. A relação maternal ou paternal deve ser evitada,
Sem dúvida que a força destas concepções não é a porque a escola não é um lar. Os alunos não são nossos
mesma daquele século XIX, porém elas estão ainda pre- sobrinhos e muito menos filhos. Na sala de aula, o pro-
sentes na escola, de uma forma ou de outra nos dias fessor se relaciona com o grupo de alunos. Ainda que o
atuais. A escola ainda reforça os papéis sociais/sexuais, professor necessite atender um aluno especial ou que os
pune os “delitos”, ensina e prescreve os preceitos da alunos trabalhem individualmente, a interação deve estar
higiene de forma científica, entendendo que com esta voltada para a atividade de todos os alunos em torno dos
atitude educativa resolverá os “problemas de higiene” objetivos e do conteúdo da aula.”
(sexual) individual dos alunos, sem discutir as questões A escola, como um todo, passa por uma crise de sen-
sócio-político-econômicas que os provocaram.14 tido; os alunos não sabem porque vão a ela, a falta de
14 Fonte: www.diaadiaeducacao.pr.gov.br significação do que é estudar, a evasão, a reprovação e a

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violência que existem nas mais diferentes formas acabam diversos temas trazendo-os para os dias de hoje, para os
por transformar esta relação professor-aluno ainda mais problemas atuais, tornando o ensino e a relação profes-
conflitante e difícil de ser trabalhada. O professor pode sor aluno proveitosos.
abrandar este conflito preocupando-se com o relaciona- O professor cria uma situação de comunicação entre
mento emocional e afetivo. os alunos com um propósito educativo, buscando meios
O aspecto afetividade influi no processo de aprendi- e caminhos, de acordo com o que a situação e a classe
zagem e o facilita, pois nos momentos informais, os alu- pedem; ele intervém pouco, muito ou nada, colocando
nos aproximam-se do professor, trocando ideias e expe- os alunos como sujeitos de sua própria reflexão, utilizan-
riências várias, expressando opiniões e criando situações do-se da curiosidade natural.
para, posteriormente, serem utilizadas em sala de aula. Atentemos então ao que TIBA, diz em relação a esta
O relacionamento baseado na afetividade é, portanto, busca de meios e caminhos:
um relacionamento produtivo auxiliando professores e “Ao perceber que não sabe, o ser humano tem a ten-
alunos na construção do conhecimento e tornando a re- dência natural de buscar meios de aprender, já que é do-
lação entre os dois menos conflitante, pois permite que tado de inteligência e, em consequência, de curiosidade.
ambos se conheçam, se entendam e se descubram como Associando estes dois atributos, pode surgir a criativida-
seres humanos e possam crescer. de, que fornece a base para as grandes invenções da hu-
Educar, do latim educare, é conduzir de um estado a manidade. O espírito aventureiro instiga às descobertas”.
outro, é modificar numa certa direção o que é suscetível Incentivar as crianças e adolescentes a pensarem fi-
de educação, conforme é explicado por LIBÂNEO: “o ato losoficamente não é uma tarefa fácil para os professo-
pedagógico pode ser, então definido como uma ativi- res desempenharem e, de certo modo, é mais uma arte
dade sistemática de interação entre seres sociais tanto do que uma técnica, é uma arte que requer a prática.
no nível do intrapessoal como no nível de influência do O professor deve possuir habilidades para passar o con-
meio, interação esta que se configura numa ação exerci- teúdo da matéria, incentivando-os ao estudo, fazendo-
da sobre os sujeitos ou grupos de sujeitos visando pro- -os levantar temas sobre o texto dado, discutindo e es-
vocar neles mudanças tão eficazes que os tornem ele- crevendo, de acordo com o explicado por LIPMAN: “À
mentos ativos desta própria ação exercida. Presume-se medida que se passa por um dos currículos de Filosofia
aí, a interligação de três elementos: um agente (alguém, para Crianças, aprende-se como é importante, para que
um grupo, etc.), uma mensagem transmitida (conteúdos, se obtenha sucesso, que os materiais sejam introduzidos
métodos, habilidades) e um educando (aluno, grupo de oportunamente e na sequência adequada. Ensinar filo-
alunos, uma geração) (...)”. sofia implica fazer com que os estudantes levantem te-
Podemos também pensar na ideia kantiana de au- mas e, então, voltar a eles repetidamente, elaborando-os
fklärung (esclarecimento), pela qual o homem deve nas discussões dos estudantes à medida que as aulas se
aprender a pensar, o que significa a saída do homem de sucedam.”
sua menoridade pela qual o homem se torna autônomo, Podemos sugerir, como exemplo, uma aula em que o
uma vez que, na sua filosofia, a via de conhecimento do professor aborde o Mito da Caverna, ao falar a respeito
belo é a conduta ética exigida aos homens que se que- de Platão. E pode tentar mostrar, sob o signo da uni-
rem autônomos, isto é, não facilmente governáveis por versalidade, a condição do filósofo. Ele levanta o tema e
outrem. elabora discussões em que a classe possa chegar à con-
O homem fica na menoridade à medida que se recusa clusão de que é necessária a fuga do mundo sensível, das
a pensar por conta própria, se recusa a viver autonoma- sombras e dos fantasmas, para encontrar fora da caverna
mente, pois é mais cômodo, de fato, viver sob a tutela o verdadeiro mundo dos objetos e o sol que ilumina o
natural da família, do Estado, etc. A menoridade significa seu verdadeiro e autêntico ser. Aquele que aprende a se
depender do outro para pensar, é mais fácil ser menor voltar das sombras para a fonte de luz buscará esta fonte
em nossa sociedade quando, para viver, não se depen- como finalidade última do trajeto do pensamento.
de do próprio pensar, quando o outro pode fazê-lo. Ao Além da explicitação dos objetivos, da escolha de
professor, cabe, então, propiciar ao aluno a possibilida- conteúdos e da orientação metodológica o trabalho
de de utilizar seu pensamento para crescer, se libertar e do professor na sala de aula dependerá da procura de
sair da menoridade, da submissão do seu pensamento procedimentos que viabilizem a prática docente. Nesse
ao pensar de outra pessoa. Na relação professor-aluno, sentido, de nada adianta propor no planejamento a in-
o professor, usando da afetividade, poderá entender me- tenção de estimular a consciência crítica se o professor se
lhor seus alunos e conseguir elementos para atingir seus restringir à aula expositiva sempre e se, ao avaliar, apenas
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objetivos. verificar a reprodução do que foi transmitido. O profes-


Uma forma de o professor interferir, melhorar e con- sor deve sempre estar atento aos alunos, às vezes a pró-
solidar a relação professor-aluno no sentido de explorar pria expressão dos alunos indica que é necessário fazer
as possibilidades da filosofia, é discutir e compreender alguma pergunta, não apenas com o intuito de verificar
os pressupostos e as concepções de filosofia que estão se o exposto foi compreendido, mas também de dar in-
presentes na sua prática, pois, sem isso, vamos continuar formações aos alunos, para que corrijam seus erros, e ver
apenas a estudar história da filosofia ou alguns temas se entenderam o conteúdo, se há ainda pontos obscuros,
isolados, sem uma postura filosófica, atendendo apenas se é necessário passar mais exercícios ou dar mais exem-
a necessidades imediatas e curriculares. plos antes de ir para um novo tema.
O professor deve constantemente esforçar-se em Quando o professor pergunta, ele não está simples-
buscar estas possibilidades e tentar uma discussão dos mente querendo obter respostas que já conhece, pois

65
incentivar o pensamento filosófico é querer que o edu- de ensino, o professor e o aluno interagindo chegam à fi-
cando reflita de maneira nova, considere métodos alter- nalidade do ensino, que é a aprendizagem do educando.
nativos de pensar e agir. Neste ponto, devemos observar A tendência do professor, por causa de sua carga de
o que foi escrito por LIBÂNEO: conhecimento e experiência, é pensar que o aluno não
“O professor não apenas transmite uma informação sabe nada, o que acaba por complicar a relação profes-
ou faz perguntas, mas também ouve os alunos. Deve sor-aluno, pois o ensino é ato comum do professor e do
dar-lhes atenção e cuidar para que aprendam a ex- aluno; o professor, enquanto ensina, está continuando a
pressar-se, a expor opiniões e dar respostas. O trabalho aprender.
docente nunca é unidirecional. As respostas e opiniões O professor pode utilizar a liderança10 controlando-a
mostram como eles estão reagindo à atuação do profes- para não inibir a criatividade do aluno, criar uma relação
sor, às dificuldades que encontram na assimilação dos de respeito mútuo e organizar o seu método de trabalho.
conhecimentos. O professor deve facilitar ao aluno o entendimento do
Servem, também, para diagnosticar as causas que que é fazer parte de um grupo ou de uma comunidade,
dão origem a essas dificuldades.” ajudando-o a conhecer as normas que regem a conduta
No entanto, vemos que, apesar dos esforços, o ob- aceita nos mais variados âmbitos, como o social, o cultu-
jetivo principal, que é dar possibilidade ao educando de ral e o político. O respeito mútuo é a valorização de cada
construir seu conhecimento, fica muitas vezes prejudica- pessoa, independentemente de sua origem social, etnia,
do pela falta da capacidade de ouvir o aluno e, assim, religião, sexo, opinião, é poder revelar seus conhecimen-
descobrir as suas dificuldades, como foi exposto acima. tos, expressar sentimentos e emoções, admitir dúvidas
Outro ponto que devemos ter em mente é o de que o sem ter medo de ser ridicularizado, exigir seus direitos.
professor não pode ter dúvidas sobre o que seja de fato Ele, também, precisa mostrar ao aluno que, se, num
a autoridade do professor, para que ela não se pareça, primeiro momento a justiça é a obediência às leis, ela vai
como às vezes acontece, com autoritarismo e também, muito além disso como conceito, pois é a busca de direi-
em contrapartida, não propicie a total ausência de lei, tos e de oportunidades, o que pressupõe o julgamento
impedindo a disciplina, que é necessária ao aprendizado, do que é justo e injusto.
e a organização de qualquer trabalho. Podemos fundamentar o exposto pelo que foi dito
O professor não pode ser autoritário a ponto de achar por SEVERINO:
que sua palavra é a lei, pois, quando há uma falha na “O educador não pode realizar sua tarefa e dar sua
comunicação entre professor–aluno, aluno-professor, contribuição histórica se o seu projeto de trabalho não
poderá ocorrer o distanciamento das duas partes, o que estiver lastreado nesta visão da totalidade humana. À fi-
poderá prejudicar a relação; uma vez que o diálogo é losofia da educação cabe então colaborar para que esta
um elemento fundamental da aprendizagem, fato que é visão seja construída durante o processo de sua forma-
reforçado por HAYDT, sobre a importância do estabele- ção. O desafio radical que se impõe aos educadores é o
cimento do diálogo: “Na relação professor-aluno, o diá- de um inteligente esforço para a articulação de um proje-
logo é fundamental. A atitude dialógica no processo en- to histórico-civilizatório para a sociedade brasileira como
sino-aprendizagem é aquela que parte de uma questão um todo, mas isto pressupõe que se discutam, com rigor
problematizada, para desencadear o diálogo, no qual o e profundidade, questões fundamentais concernentes à
professor transmite o que sabe, aproveitando os conhe- condição humana.”
cimentos prévios e as experiências, anteriores do aluno. O docente estará favorecendo a relação professor
Assim, ambos chegam a uma síntese que elucida, expli- aluno seguindo uma série de regras: utilizar as aulas
ca ou resolve a situação-problema que desencadeou a expositivas quando sentir que com este método estará
discussão.” atingindo o objetivo do ensino da unidade, demonstrar
Para exercer a autoridade, o docente deve saber da a variedade de explicações para um mesmo fenômeno,
importância do seu trabalho e mesclar com a afetivida- ser flexível e capaz de adaptar o programa para cada si-
de a sua autoridade, recorrendo, então, ao diálogo como tuação que se apresente, relacionar o conteúdo da uni-
forma de chegar ao resultado pretendido: uma classe in- dade a ser ensinada com a experiência do aluno, ajudar o
tegrada, compenetrada e interessada. Podemos também aluno a descobrir a interdisciplinaridade, não deixar que
reforçar a importância do diálogo usando FREIRE: esti- assuntos menores influam na discussão em classe sobre
mular a pergunta, a reflexão crítica sobre a própria per- a disciplina que está sendo enfocada, criar situações em
gunta, o que se pretende com essa ou aquela pergunta que o aluno possa expressar seus sentimentos, variar a
(...) o fundamental é que professor e alunos saibam que composição dos grupos de estudo, tentar evitar o mo-
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

a postura deles é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e nopólio da discussão, respeitar e fazer respeitar as dife-
não apassivada, enquanto falam ou enquanto ouvem. O rentes opiniões e usar vocabulário que seja claramente
professor deve usar do diálogo, pois o diálogo pode ser compreendido.
uma fonte de riquezas e alegrias, é uma arte a ser culti- O professor como facilitador do aprendizado deverá
vada e ensinada. O professor deve ensinar que o diálogo buscar a motivação de seus alunos. Não é uma tarefa fá-
só acontece quando os interlocutores têm voz ativa, e cil, pois a falta de motivação pode ter origem em proble-
que se os interlocutores se limitarem a impor visões do mas particulares do aluno como cansaço, necessidades
mundo sem considerar o que o outro tem a dizer, não afetivas não satisfeitas e, até mesmo, a fome.
estarão praticando um diálogo. O docente deverá centrar os seus esforços na apren-
Embora estejam limitados por um programa, um con- dizagem e, ao trabalhar com ela, tornar o ensinamento
teúdo, um tempo determinado e normas da instituição significativo para o aluno, fazendo-o sentir que a matéria

66
tem significância para sua vida.
No que foi exposto, vemos, portanto, que o relacio- MODALIDADES DE GESTÃO. CONSELHO DE
namento professor-aluno é dinâmico, cabendo ao pro- CLASSE, REUNIÕES PEDAGÓGICAS, FOR-
fessor ter sabedoria para lidar com cada situação que se MAÇÃO CONTINUADA
apresente e ter em mente que deverá estar ligado no fato
de que o ensinar não é apenas transmissão de conheci-
mentos, mas também um total envolvimento com situa- O conselho de classe
ções e a formação de seus alunos como seres pensantes
e atuantes, capazes de construir o seu conhecimento. Outro aspecto diretamente relacionado à avaliação
Devemos pensar de uma maneira construtivista e re- diz respeito ao conselho de classe. Esse espaço precisa
pensar o papel do professor, pelo qual ele, na sua relação ser ressignificado e a sua real função resgatada. Existiria
com os alunos, buscará formas de facilitar o aprendizado espaço mais rico para a discussão dos avanços, progres-
e fazer seus alunos se interessarem, buscarem e construir sos, necessidades dos estudantes e dos grupos? Existi-
o seu conhecimento. Poderemos buscar, nas palavras de ria espaço mais privilegiado de troca entre professores
CHAUÍ, uma confirmação do exposto: “Ao professor não que trabalham com os mesmos estudantes para traçar
cabe dizer “faça como eu”, mas:” faça comigo”. O pro- estratégias de atuação em conjunto que favoreçam os
fessor de natação não pode ensinar o aluno a nadar na processos de aprender? Não seria o conselho de classe,
areia fazendo-o imitar seus gestos, mas leva-o a lançar- o momento no qual deveríamos estudar os desafios de-
-se n’água em sua companhia para que aprenda a na- correntes da prática? Por fim, o conselho de classe tam-
dar lutando contra as ondas, fazendo seu corpo coexistir bém ajudaria a resgatar a dimensão coletiva do trabalho
com o corpo ondulante que o acolhe e repele, revelando docente. No entanto, o conselho de classe, em boa parte
que o diálogo do aluno não se trava com seu professor das escolas, ou tornou-se uma récita de notas e concei-
de natação, mas com a água.” tos, palco de lamúrias e reclamações ou, simplesmente,
Na visão construtivista, o aluno é o centro, devendo inexiste. Acontecendo dessa forma, o conselho de classe
estar sempre mobilizado para pensar e construir o seu coaduna-se com a perspectiva da avaliação classificatória
conhecimento, no entanto esse enfoque construtivista e seletiva, perdendo seu potencial.
não coloca o professor em segundo plano; pelo contrá- O espaço do conselho de classe poderia estar desti-
rio, o seu papel é de máxima importância no processo nado a traçar estratégias para as intervenções pedagógi-
de ensino, não sendo aluno e professor considerados cas com os estudantes, com os grupos. Poderia também
iguais, pois, aos professores, cabe a direção, a definição se constituir em espaço de estudo e discussão acerca de
de objetivos e o controle dos rumos da ação pedagógi- questões teóricas que ajudariam na reflexão docente so-
ca, não se utilizando da autoridade arbitrariamente, mas bre os desafios que o cotidiano escolar nos impõe: vio-
exercendo uma autoridade própria de quem tem zelo lência escolar, estudantes com necessidades educativas
profissional e se responsabiliza pela qualidade do seu especiais, as formas e procedimentos de avaliação dos
trabalho, não deixando os alunos à deriva, sem diretivi- professores, construção coletiva de ações que levariam a
dade e organização. uma maior qualidade do trabalho pedagógico, avaliação
A disciplina e o equilíbrio devem ser mantidos em das metas e princípios estabelecidos no projeto político
classe, para que o aprendizado não seja prejudicado, e pedagógico da escola e sua concretização junto aos es-
para que se desenvolva, no aluno, o autorrespeito, o au- tudantes e às turmas, formas de relacionamento da esco-
tocontrole e o respeito, ficando o professor atento para la com as famílias etc.
que certas situações não fujam do limite. O professor Como transformar o conselho de classe em um mo-
deve se utilizar da liderança controlando-a, no entanto, mento de integração e discussão do processo pedagó-
para não inibir a criatividade do aluno, criando uma rela- gico? É importante lembrar que para ser um espaço de
ção de respeito mútuo e organizando sua metodologia discussão coletiva, é importante que os professores pla-
de trabalho. nejem suas ações e práticas de forma coletiva, desde o
A linha mestra de toda ação educativa é libertadora início. Como traçar estratégias de encaminhamento con-
por excelência, portanto a meta prioritária da filosofia no juntas se as ações não são planejadas em conjunto?
Ensino Médio seria estimular no aluno aquelas capacida- Para isso, o conselho de classe, no ensino funda-
des intelectuais que possibilitem a autonomia em suas mental, deve ser convocado periodicamente, visto como
análises, tentando desenvolver a capacidade crítica de momento de interação entre professores, planejamento,
aprender a refletir, de ser agente de seu próprio destino, estudo e decisões acerca de como trabalhar com as di-
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

ampliando horizontes culturais, transformando a própria ficuldades e as possibilidades apresentadas pelos estu-
realidade. dantes. O conselho não deve mais ser entendido como
momento de fechamento de notas e decisões acerca da
FONTE: aprovação ou reprovação de alunos. É também um espa-
Texto adaptado de Luiza de Souza Müller, disponível ço privilegiado para o resgate da dimensão coletiva do
em http://www.usjt.br/ trabalho docente.
O conselho existe para que as decisões sejam compar-
tilhadas. Mas como compartilhar decisões, se não estiver-
mos a par de todo o processo, desde seu planejamento?

67
Outros espaços de avaliação E por fim, temos os sistemas de avaliações nacionais
como SAEB, Prova Brasil, Enem, Enade, que passaram a
Embora tenhamos privilegiado o tratamento das ser implementados no Brasil ainda nos anos 90 e que
questões relativas à avaliação da aprendizagem do es- cumprem a função de traçar para professores, pesqui-
tudante, portanto, com foco na relação professor-estu- sadores e para a sociedade, em geral, um panorama da
dante, a sala de aula não é o único espaço em que os situação da educação no país, em seus diversos níveis de
processos devem ser avaliados. Muito do que o professor ensino. Tais sistemas cumprem um papel social impor-
consegue ou não em seu local de trabalho depende de tante, na medida em que têm como propósito dar sub-
fatores que estão presentes no âmbito da escola e do sídios para a construção de uma escola de melhor quali-
sistema de ensino. Tais fatores ou facilitadores precisam dade. Os resultados dessas grandes avaliações devem ser
igualmente ser avaliados como parte integrante da expli- amplamente divulgados e debatidos nas escolas, redes,
cação das conquistas e fracassos que possam ocorrer no meios de comunicação para que, de fato, se tornem um
âmbito da sala de aula. Esses outros espaços possuem instrumento de democratização do sistema educacional
seus próprios procedimentos de avaliação. brasileiro.
O espaço mais próximo da sala de aula é o espaço
da escola como um todo. A escola é uma organização REFERÊNCIA:
complexa com múltiplos atores e interesses. BRASIL: Ministério da Educação. Indagações sobre
A avaliação da escola é chamada de avaliação insti- currículo: currículo e avaliação / [Cláudia de Oliveira Fer-
tucional. Nesta, o ponto de apoio é o projeto político- nandes, Luiz Carlos de Freitas]; organização do docu-
-pedagógico da escola construído coletivamente e que mento Jeanete Beauchamp, Sandra Denise Pagel, Aricélia
deve orientar o conjunto dos profissionais envolvidos no Ribeiro do Nascimento. – Brasília: Ministério da Educa-
processo de formação dos estudantes. ção, Secretaria de Educação Básica, 2007.
O projeto político-pedagógico deve fixar indicadores
a serem alcançados pelo coletivo da escola. Indicadores
não são padrões a serem obedecidos cegamente, mas
PLANEJAMENTO, ACOMPANHAMENTO E
marcas que o coletivo da escola espera atingir e para
as quais se organiza. Pode envolver a fixação de índices AVALIAÇÃO; PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓ-
menores de reprovação, índices maiores de domínio de GICO
leitura ou outro conteúdo específico, expectativas de
melhoria do clima organizativo da escola etc. Pode en- PLANEJAMENTO E PROPOSTA PEDAGÓGICA.
volver ainda a obtenção de uma melhor articulação com
a comunidade local, ou a luta por demandas a serem fei- Planejar para construir o ensino
tas ao poder público e que sejam vitais para o melhor
funcionamento da escola.
A avaliação institucional é também uma forma de FIQUE ATENTO!
permitir a melhor organização do coletivo da escola com
vistas a uma gestão mais democrática e participativa que Em uma sala de aula, durante a fala do pro-
permita à coletividade entender quais os pontos fortes e fessor, um aluno formula uma pergunta. O
fracos daquela organização escolar, bem como mobilizar, professor ouve atentamente e se vê diante
criar e propor alternativas aos problemas. de um dilema: O que fazer? Responder a per-
Finalmente, ainda existe o espaço do próprio sistema gunta objetivamente e continuar a exposi-
ou rede escolar, enquanto o conjunto das escolas per- ção? Anotar a questão no quadro e dizer que
tencentes a este. Dentre as várias formas de avaliação responderá ao terminar o que está expondo?
que esta instância comporta, destacamos a avaliação de Anotar a pergunta e pedir a toda classe que
rendimento do conjunto dos estudantes pertencentes a pense na resposta? Solicitar ao aluno que
uma rede de ensino ou a chamada avaliação de sistema. anote a pergunta e a repita ao final da expo-
Aqui, além do rendimento dos alunos, são feitas avalia- sição? Qual a conduta mais correta?
ções de fatores associados a tais rendimentos e pesqui-
sadas as características das escolas que podem facilitar
ou dificultar o trabalho do professor e a obtenção dos Escolher uma resposta adequada depende de vários
resultados esperados pelos alunos. fatores que devem ser considerados pelo professor. En-
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

Essa avaliação, apesar de ser externa à escola, não tre eles, se a pergunta contribui para o desenvolvimento
necessariamente tem que ser externa à rede, ou seja, da atividade de ensino e aprendizagem naquele momen-
preparada fora da rede avaliada. Ela pode ser construí- to, ou ainda se existe pertinência em relação ao conteú-
da pelas secretarias de educação de forma a envolver as do em jogo na atividade.
escolas e os professores no próprio processo de elabora- A pergunta pode evidenciar um nível de compreen-
ção da avaliação, de maneira que esta seja realizada com são conceitual mais elaborado de um aluno se compara-
legitimidade técnica e política. do à maioria da classe. Respondê-la naquele momento
Os resultados obtidos na avaliação de sistema devem transformaria a aula em uma conversa entre o professor
ser enviados às escolas para serem usados, tanto na sua e aquele aluno, que dificilmente seria acompanhada pe-
avaliação institucional, como pelo professor na avaliação los demais. Pode também revelar uma criança ou jovem
da aprendizagem dos alunos. com dificuldade de compreender o conceito em questão,

68
o que sugere algum tipo de atenção mais individualiza- leitura em voz alta é contraditória com uma leitura volta-
da. É possível concluir ainda que a questão seria uma da ao estudo, à confecção de um resumo do texto. A ati-
ótima atividade de aprendizagem em um momento pos- vidade proposta pelo professor fica comprometida por
terior, quando certos aspectos do conteúdo já estiverem essa contradição.
esclarecidos.
Quem faz o planejamento
Planejar: coerência para as ações educativas
“O planejamento é um trabalho individual e de equipe”.
O professor tem um papel fundamental de coordenar
o processo de ensino e aprendizagem da sua classe. “É A elaboração do Planejamento do Ensino é uma tare-
preciso organizar todas as suas ações em torno da edu- fa que cada professor deve realizar tendo em vista o con-
cação de seus alunos. Ou seja, promover o crescimento junto de alunos de uma determinada classe, sendo, por
de todos eles em relação à compreensão do mundo e à isso, intransferível. O ideal é desenvolver esse Planeja-
participação na sociedade”. Para isso, ele precisa ter claro mento em cooperação com os demais professores, com
quais são as intenções educativas que presidem esta ou a ajuda da coordenação pedagógica e mesmo da direção
aquela atividade proposta. Na verdade, ele precisa saber da escola, mas cada professor deve ser o autor de seu
que atitudes, habilidades, conceitos, espera que seus alu- Planejamento do Ensino. Quantas vezes nós, professores,
nos desenvolvam ao final de um período letivo. ouvimos um aluno perguntar: - Professor, por que a gen-
Certamente isso significa fazer opções quanto aos te precisa saber isso? Quantas vezes, no tempo em que
conteúdos, às atividades, ao modo como elas serão de- éramos alunos, fizemos essa mesma pergunta a nossos
senvolvidas, distribuir o tempo adequadamente, assim professores, sem nunca obter uma resposta satisfatória?
como fazer escolhas a respeito da avaliação pretendida.
Se essas intenções estiverem claras, as respostas a esta Flexibilidade
ou àquela pergunta ou a diferentes situações do coti-
diano de uma sala de aula serão mais coerentes com os Vale lembrar que nenhum Planejamento deve ser
objetivos e propósitos definidos. uma camisa-de-força para o professor. Existem situações
O Planejamento do Ensino tem como principal função da vida dos alunos, da escola, do município, do país e
garantir a coerência entre as atividades que o professor do mundo que não podem ser desprezadas no cotidiano
faz com seus alunos e as aprendizagens que pretende escolar e, por vezes, elas têm tamanha importância que
proporcionar a eles. justificam por si adequações no Planejamento do Ensino.
No processo de desenvolvimento do ensino e da
Planejamento de Ensino aprendizagem, novos conteúdos e objetivos podem en-
trar em jogo; outros, escolhidos na elaboração do plano,
Em muitos casos, quando o professor atua junto à sua podem ser retirados ou adiados. É aconselhável que o
classe sem ter refletido sobre a atividade que está em professor reflita sobre suas decisões durante e após as
desenvolvimento, sem ter registrado de alguma forma atividades, registrando suas ideias, que serão uma das
suas intenções educativas, a atividade pode se revelar fontes de informação para melhor avaliar as aprendiza-
contraditória com os objetivos educativos que levaram o gens dos alunos e decidir sobre que caminhos tomar.
professor a selecioná-la. Além disso, as pessoas aprendem o mesmo conteúdo
Esse tipo de contradição é muito mais comum do que de formas diferentes; portanto, o Planejamento do En-
parece. No ensino da leitura, por exemplo, é frequente sino é um orientador da prática pedagógica e não um
o professor exigir de um aluno uma leitura em voz alta “ditador de ritmo”, no qual todos os alunos devem seguir
de um texto que o próprio aluno lerá pela primeira vez. uniformemente. Ao longo do ano letivo e a partir das
Logo após essa leitura, o professor pede que ele comen- avaliações, algumas atividades podem se mostrar inade-
te o que leu, ou faça um resumo. Faz perguntas sobre as quadas, e será necessário redirecionar e diversificá-las,
informações contidas no texto e pede-lhe que relacione rever os conteúdos, fazer ajustes.
ideias com outras anteriormente tratadas em classe. Ge-
ralmente, os professores que propõem essa atividade a Registro
seus alunos dizem que ela tem o objetivo de desenvol-
ver a capacidade de ler e interpretar um texto. Mas esses “Registrar ajuda a avaliação”.
professores se esquecem de que, para ler em voz alta,
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principalmente um texto que está sendo lido pela primei- Vale destacar que a forma de organizar o Planejamen-
ra vez, a atenção do leitor volta-se para a emissão da voz, to do Ensino aqui apresentado é uma escolha. O impor-
a entonação, os cuidados com a pontuação. tante é o professor ter alguma forma de registro de suas
Ou seja, o leitor, nessas ocasiões, preocupa-se em ga- intenções, procurando agir pedagogicamente de forma
rantir a audição de sua leitura, não a compreensão lógica coerente com os objetivos específicos e gerais traçados
e conceitual do que está lendo. Já uma leitura voltada à no Projeto de Escola e em seu Planejamento do Ensino.
compreensão de um texto deve ser silenciosa, visando A forma como cada professor registra seu Planejamento
o entendimento dos raciocínios e, por isso, com idas e não deve ser fixa, para que cada profissional possa fazê-
vindas constantes. Se um parágrafo apresenta uma ideia -lo da forma como se sente melhor. Mas, se um educa-
mais difícil, pode-se lê-lo várias vezes. Se uma palavra dor deseja ser um profissional reflexivo, que pensa criti-
tem significado desconhecido, usa-se o dicionário. A camente sobre sua prática pedagógica e se desenvolve

69
profissionalmente com esse processo, ele precisa regis- gostam do desafio de aprender, e que identificam na ati-
trar seu Planejamento do Ensino. vidade problemas interessantes que aguçam seu pensa-
Redigir o projeto não é uma simples formalidade ad- mento lógico.
ministrativa. É a tradução do processo coletivo de sua Para resolver uma questão de História ou de Geo-
elaboração [...]. Deve resultar em um documento simples, grafia, o aluno precisa mobilizar seus conhecimentos de
completo, claro, preciso, que constituirá um recurso im- leitura, lembrar dados e relações que ele já aprendeu e
portante para seu acompanhamento e avaliação. que lhe permitam compreender a questão feita e pen-
sar em possíveis respostas, ou em possíveis fontes para
Componentes do planejamento do ensino obter informações ou esclarecer conceitos. Por fim, terá
que mobilizar seus conhecimentos de escrita para redigir
O Planejamento do Ensino, chamado também de pla- a resposta.
nejamento da ação pedagógica ou planejamento didáti- Durante uma atividade, alunos interagem com outros
co, deve explicitar: alunos e com o educador, e nessas relações inúmeros
- as intenções educativas – por meio dos conteúdos valores e atitudes entram em jogo. Quando o professor,
e dos objetivos educativos, ou das expectativas de ao iniciar um debate, relembra as regras de participação
aprendizagem; com sua classe, está trabalhando conteúdos atitudinais
- como esse ensino será orientado pelo professor – as ainda que o debate seja sobre reprodução celular.
atividades de ensino e aprendizagem que o pro- É preciso lembrar, ainda, que existem conteúdos,
fessor seleciona para coordenar em sala de aula, geralmente, valores ou atitudes, que são eleitos no
com o propósito de cumprir suas intenções educa- Projeto de Escola, e que devem ser trabalhados em todas
tivas, o tempo necessário para desenvolvê-las; as atividades de sala de aula, bem como em todas as
- como será a avaliação desse processo. relações pessoais ocorridas no espaço escolar. Respeito
mútuo e intolerância com qualquer tipo de discriminação
Conteúdos e objetivos étnica, de gênero ou classe social são dois exemplos
desses conteúdos.
Conteúdo é uma forma cultural, um tipo de conheci-
mento que a escola seleciona para ensinar a seus alunos. Objetivos
Informações, conceitos, métodos, técnicas, procedimen-
tos, valores, atitudes e normas são tipos diferentes de Os objetivos educativos do Planejamento do Ensino,
conteúdos. Informações, por exemplo, podem ser apren- também chamados objetivos didáticos ou específicos,
didas em uma atividade, já o algoritmo da multiplicação ou ainda de expectativas de aprendizagem, definem o
de números inteiros, que é um procedimento, não. Esse que os professores desejam que seus alunos aprendam
é um tipo de conteúdo cuja aprendizagem envolve gran- sobre os conteúdos selecionados. A forma tradicional
des intervalos de tempo e que necessita de atividades de redigir um objetivo é utilizar a frase “ao final do con-
planejadas ao longo de meses, pelo menos. junto de atividades, cada aluno deverá ser capaz de...”.
Valores são conteúdos aprendidos nas relações hu- Não há problema em definir dessa forma os objetivos
manas, ocorram elas no espaço escolar ou não. Muitas no Planejamento do Ensino, desde que os alunos não
vezes, aprender um valor pode significar também mudar sejam obrigados a atingi-los todos ao mesmo tempo. É
de valor, o que torna o ensino e a aprendizagem de va- possível definir esses objetivos descrevendo as expec-
lores, e de atitudes também, um processo complexo, que tativas de aprendizagem da forma que for mais fácil de
não se resolve apenas com a preparação de atividades compreendê-las.
localizadas. Em uma escola onde o respeito mútuo e o Os objetivos educativos do Planejamento do Ensino
combate a qualquer tipo de preconceito de gênero, de são importantes porque muitos conteúdos, os conceitos
etnia ou de classe social estejam ausentes no dia-a-dia, científicos entre eles, são aprendidos em processos que
não há como ensinar valores e atitudes por meio de ati- se complementam ao longo da escolaridade. Por exem-
vidades ou “sérias conversas” sobre esses temas. plo, se um aluno das séries iniciais do Ensino Fundamen-
Os conteúdos do Planejamento do Ensino são aque- tal afirmar que célula é uma “coisa” muito pequena que
les que guiaram a escolha das atividades na elaboração forma o corpo dos seres vivos, pode-se considerar que
do plano e são os conteúdos em relação aos quais o pro- seu conhecimento sobre o conceito de célula está em
fessor tentará observar, e avaliar, como se desenvolvem bom andamento. Mas, se esse for um aluno de 1a série
as aprendizagens, pois isso não seria possível fazer com do Ensino Médio, então, ele está precisando aprender
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

relação a “todos” os conteúdos presentes na atividade. mais sobre esse conceito.


Os objetivos educativos do Planejamento do Ensino
Conteúdo do planejamento X Conteúdo das ativi- definem o grau de aprendizagem a que se quer che-
dades gar com o trabalho pedagógico. São faróis, guias para
os professores, mas não devem se tornar “trilhos fixos”,
Em uma atividade de ensino e aprendizagem, os alu- em sequências que se repetem independentemente da
nos trabalham com vários tipos de conteúdos ao mes- aprendizagem de cada aluno.
mo tempo. Pensando sobre um conceito de Matemáti-
ca, os alunos podem estar mais ou menos mobilizados
para essa ação, e a mobilização necessária pode ser fruto
de um valor anteriormente aprendido: são alunos que

70
Organização das atividades segmentos e setores que constituem essa instituição e
participam da mesma.
Organizar as atividades: A preocupação com o planejamento se desenvolveu,
principalmente, no mundo do trabalho, no contexto das
A principal função do conjunto articulado de ativi- teorias administrativas do campo empresarial.
dades de ensino e aprendizagem que devem compor Essas teorias foram se constituindo nas chamadas es-
o Planejamento do Ensino é provocar nos alunos uma colas de administração, que têm influenciado o campo
atividade mental construtiva em torno de conteúdo(s) da administração escolar. Para muitos teóricos e profis-
previamente selecionado(s), no Projeto de Escola, no Pla- sionais, os princípios por elas defendidos seriam apli-
nejamento do Ensino ou durante sua realização. cáveis em qualquer campo da vida social e ou do setor
Ao escolher uma atividade de ensino e aprendizagem produtivo, inclusive na gestão da educação e da escola.
para desenvolver com seus alunos, o professor precisa Essa influência deixa suas marcas também no que se
considerar principalmente a coerência entre suas inten- refere ao planejamento, à medida que o mesmo assumiu
ções – explicitadas pelos conteúdos e objetivos – e as uma centralidade cada vez maior, a partir dos princípios
ações que vai propor a eles. Precisa também pensar em e métodos definidos por Taylor e os demais teóricos que
como aquela atividade irá se articular com a(s) anterior o seguiram. Isso porque, a partir do taylorismo, assim
(es) e com a(s) seguinte(s). Uma atividade que está ini- como das teorias administrativas que o tomaram como
ciando o trabalho sobre um ou mais conteúdos é muito referência, uma das principais tarefas atribuídas à gerên-
diferente de uma atividade na qual os alunos estão dis- cia foram o planejamento e o controle do processo de
cutindo um problema real, visto no jornal, por exemplo, trabalho.
baseados em seus estudos anteriores sobre conceitos Na verdade, o formalismo e a burocratização do pro-
que estão em jogo no problema. cesso de planejamento no campo educacional decorrem,
As atividades devem ser de acordo com aquilo que em boa medida, das marcas deixadas pelos modelos de
se quer ensinar, seja a curto, médio ou longo prazo. A organização do trabalho voltados, essencialmente, para
diversidade é uma de suas características principais: as- a busca de uma maior produtividade, eficiência e eficácia
sistir a um filme, a uma peça teatral ou a um programa de da gestão e do funcionamento da escola. Isso secundari-
TV; realizar produções em equipe; participar de debates za os processos participativos, de trabalho coletivo e do
e praticar argumentação e contra argumentação; fazer compromisso social, requeridos pela perspectiva da ges-
leituras compartilhadas (em voz alta); práticas de labo- tão democrática da educação. É o caso, por exemplo, dos
ratório; observações em matas, campos, mangues, áreas modelos e das concepções de planejamento orientadas
urbanas e agrícolas; observações do céu; acompanha- pelo horizonte do planejamento tradicional ou normati-
mento de processos de médio e longo prazo em Biologia vo e do planejamento estratégico.
e Astronomia. Idas a museus, bibliotecas públicas, expo- Mas, em contraposição a esses modelos, se construiu
sições de arte. Pesquisa em livros e revistas, com ou sem a perspectiva do planejamento participativo.
uso de informática e Internet. Assistir a uma exposição
por parte do professor. O planejamento tradicional ou normativo
Novamente, deve-se insistir no fato de que a sequên-
cia de atividades que compõe o Planejamento do Ensino O planejamento tradicional ou normativo trabalha
deve levar em conta as experiências dos próprios alunos em uma perspectiva em que o planejamento é definido
no decorrer de cada atividade escolhida. Existem planos como mecanismo por meio do qual se obteria o controle
que se realizam quase integralmente, os que se reali- dos fatores e das variáveis que interferem no alcance dos
zam em grande parte, ou aqueles que, simplesmente, objetivos e resultados almejados. Nesse sentido, ele as-
precisam ser refeitos tendo como critério a avaliação da sume um caráter determinista em que o objeto do plano,
aprendizagem dos alunos. a realidade, é tomada de forma estática, passiva, pois, em
tese, tende a se submeter às mudanças planejadas.
Fonte: Ao lado dessas características, outros elementos mar-
Adaptação do texto EducaRede: cam o planejamento normativo:
http://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/banco_ - Há uma ênfase nos procedimentos, nos modelos já
objetos_crv/%7B51A88620-8258-48E2-92A4-92B3F1C- estruturados, na estrutura organizacional da insti-
74F6C%7D_planejamento_encontro.pdf tuição, no preenchimento de fichas e formulários,
o que reduz o processo de planejamento a um
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

FUNDAMENTOS E FORMAS DOS DIFERENTES NÍ- mero formalismo.


VEIS DE PLANEJAMENTO; - O planejador é visto como o principal agente de
mudança, desconsiderando-se os fatores sociais,
Planejamento: concepções políticos, culturais que engendram a ação, o que
se traduz numa visão messiânica daquele que pla-
O planejamento não deve ser tomado apenas como neja. Essa visão do planejador geralmente conduz
mais um procedimento administrativo de natureza bu- a certo voluntarismo utópico.
rocrática, decorrente de alguma exigência superior ou - Ao mesmo tempo em que, por um lado, há uma
mesmo de alguma instância externa à instituição. Ao secundarização das dimensões social, política, cul-
contrário, ele deve ser compreendido como mecanis- tural da realidade, por outro lado, prevalece a ten-
mo de mobilização e articulação dos diferentes sujeitos, dência de se explicar essa realidade e as mudanças

71
que nela acontecem como resultantes, basicamen- trabalho coletivo e o compromisso com a transformação
te, da dimensão econômica que a permeia. social.
O trabalho coletivo implica uma compreensão mais
O planejamento estratégico ampla da escola. É preciso que os diferentes segmentos
e atores que constroem e reconstroem a escola apreen-
O planejamento estratégico, por sua vez, se desenvol- dam suas várias dimensões e significados. Isso porque o
veu dentro de uma concepção de administração estraté- caráter educativo da escola não reside apenas no espaço
gica que se articula aos modelos e padrões de organiza- da sala de aula, nos processos de ensino e aprendizagem,
ção da produção, construídos no contexto das mudanças mas se realiza, também, nas práticas e relações que aí se
do mundo do trabalho e da acumulação flexível, a partir desenvolvem. A escola educa não apenas nos conteú-
da segunda metade do século XX. Essa concepção de ad- dos que transmite, à medida que o processo de forma-
ministração e de planejamento procura definir a direção ção humana que ali se desenvolve acontece também nos
a ser seguida por determinada organização, especial- momentos e espaços de diálogo, de lazer, nas reuniões
mente no que se refere ao âmbito de atuação, às macro- pedagógicas, na postura de seus atores, nas práticas e
políticas e às políticas funcionais, à filosofia de atuação, modelos de gestão vivenciados.
aos macroobjetivos e aos objetivos funcionais, sempre De outra parte, o compromisso com a transforma-
com vistas a um maior grau de interação dessa organiza- ção social coloca como horizonte a construção de uma
ção com o ambiente. sociedade mais justa, solidária e igualitária, e uma das
Essa interação com o ambiente, no entanto, é com- tarefas da educação e da escola é contribuir para essa
preendida como a análise das oportunidades e ameaças transformação.
do meio ambiente, de forma a estabelecer objetivos, es- Por certo, como já analisamos em outros momentos
tratégias e ações que possibilitem um aumento da com- neste curso, a escola pode desempenhar o papel de ins-
petitividade da empresa ou da organização. trumento de reprodução do modelo de sociedade do-
Em síntese, o planejamento estratégico concebe e minante, à medida que reproduz no seu interior o indi-
realiza o planejamento dentro um modelo de decisão vidualismo, a fragmentação social e uma compreensão
unificado e homogeneizador, que pressupõe os seguin- ingênua e pragmática da realidade, do conhecimento e
tes elementos básicos: do próprio homem.
- determinação do propósito organizacional em ter- Em contrapartida, a educação e a escola articuladas
mos de valores, missão, objetivos, estratégias, me- com a transformação social implicam uma nova com-
tas e ações, com foco em priorizar a alocação de preensão do conhecimento, tomado agora como saber
recursos social, construção histórica, instrumento para compreen-
- análise sistemática dos pontos fortes e fracos da or- são e intervenção crítica na realidade. Concebem o ho-
ganização, inclusive com a descrição das condições mem na sua totalidade e, portanto, visam a sua formação
internas de resposta ao ambiente externo e à for- integral: biológica, material, social, afetiva, lúdica, estéti-
ma de modificá-las, com vistas ao fortalecimento ca, cultural, política, entre outras.
dessa organização A partir dos aspectos aqui destacados, é possível defi-
- delimitação dos campos de atuação da organização nir os seguintes elementos básicos que definem e carac-
- engajamento de todos os níveis da organização terizam o planejamento participativo:
para a consecução dos fins maiores. - Distanciam-se daqueles modelos de organização do
trabalho que separa, no tempo e no espaço, quem
Em contraposição a esses modelos de planejamen- toma as decisões de quem as executa,
to, a perspectiva da gestão democrática da educação e - Conduzem à práxis (ver conceito na Sala Ambiente
da escola pressupõe o planejamento participativo como Projeto Vivencial) enquanto ação de forma refleti-
concepção e modelo de planejamento. O planejamento da, pensada,
participativo deve, pois, enquanto metodologia de traba- - Pressupõem a unidade entre pensamento e ação,
lho, constituir a base para a construção e para a realiza- - O poder é exercido de forma coletiva,
ção do Projeto Políticopedagógico da escola. - Implicam a atuação permanente e organizada de
O planejamento participativo não possui um caráter todos os segmentos envolvidos com o trabalho
meramente técnico e instrumental, à medida que parte educativo,
de uma leitura de mundo crítica, que apreende e de- - Constituem-se num avanço, na perspectiva da su-
nuncia o caráter excludente e de injustiça presente em peração da organização burocrática do trabalho
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

nossa realidade. As características de tal realidade, por pedagógico escolar, assentado na separação entre
sua vez, decorrem, dentre outros fatores, da falta ou da teoria e prática.
impossibilidade de participação e do fato de a atividade O trabalho coletivo e o compromisso com a transfor-
humana acontecer em todos os níveis e aspectos. Nes- mação social colocam, pois, o planejamento participativo
sa perspectiva, a participação se coloca como requisito como perspectiva fundamental quando se pretende pen-
fundamental para uma nova educação, uma nova escola, sar e realizar a gestão democrática da escola. Ao mesmo
uma nova ordem social, uma participação que pressupõe tempo, essa concepção e esse modelo de planejamento
e aponta para a construção coletiva da escola e da pró- se constituem como a base para a construção do Projeto
pria sociedade. Políticopedagógico da escola.
O planejamento participativo na educação e na esco-
la traz consigo, ainda, duas dimensões fundamentais: o

72
O planejamento participativo implica, ainda, o apro- - Na análise (diagnóstico da realidade);
fundamento crescente, a discussão e a reflexão sobre o - Na decisão (definição de prioridades);
tema da participação. Sobre essa temática, na Sala Am- - Na execução de ações (acompanhamento e controle
biente Projeto Vivencial, importantes elementos são des- social das ações planejadas); e
tacados também. - Na avaliação (análise dos resultados), que servirá de
ponto de partida para o (re) planejamento.
REFERÊNCIA: Por ser uma prática social, o Planejamento Participati-
SILVA, M. S. P. Planejamento e Práticas da Gestão vo deve “articular em seu bojo duas práticas: uma
Escolar. Planejamento: concepções. Escola de gestores. prática científica de produção de conhecimento, e
MEC. por isso se baseia em pesquisa e deve, na medida
do possível, se impregnar de rigor, de sistemática
PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO E ORGANIZA- e disciplina e uma prática pedagógica”.
ÇÃO DO TRABALHO DOCENTE. A articulação da prática científica, da produção de
conhecimentos com a prática pedagógica cotidiana é
O que é o planejamento? importante e necessária para a transformação das per-
cepções, das práticas e do agir individual.
O Planejamento é um processo de tomada de deci- Não basta conhecer a realidade a partir das leituras e
sões e, como tal, é um instrumento capaz de intervir na representações individuais. É necessário construir cole-
realidade concreta, seja para mantê-la, qualificá-la ou tivamente a síntese crítica destas representações, como
transformá-la. investigar, pesquisar as causas e as consequências (se
Planejar é preciso para organizar e dar transparência nada for feito).
ao trabalho; articular ações administrativas e pedagógi- A construção desse conhecimento culminará numa
cas com a política educacional; superar a fragmentação nova visão da realidade, - uma visão mais próxima à rea-
de ações, o ativismo, o imediatismo e o espontaneísmo; lidade -, o que permitirá a transformação das condutas
rever concepções arraigadas, em que persiste a dicoto- individuais em condutas coletivas.
mia entre as dimensões políticas, pedagógicas e organi- Assim, ”toda prática traz uma teoria da realidade. Não
zacionais do processo educacional. há separação entre teoria e prática. Qualquer ação tem
Com o planejamento é possível prever as possibilida- implícita, consciente ou não, uma teoria da realidade,
des do amanhã. Portanto, possibilita que se tomem ini- uma teoria do social e uma teoria da própria consciência”.
ciativas no presente, quer para evitar como para viabilizar Na gestão da escola, como podemos transformar es-
um “estado futuro”. ses conhecimentos produzidos (pesquisa da realidade e
Há várias definições de Planejamento; entretanto, to- das representações) num instrumento de transformação:
das apontam que o Planejamento é um processo e, como - Das visões, leituras e representações individuais da
processo, não é algo estático, mas em permanente mo- realidade em condutas coletivas? Ou,
vimento. Isso quer dizer que, sistematicamente, é pre- - Num plano de ação que supere os índices de repro-
ciso projetar, prever e decidir ações para o alcance de vação e abandono?
determinados fins (político-administrativo pedagógicos), - Numa gestão compartilhada, democrática e
tendo em vista a realidade global, ou seja, o objeto do humanista?
Planejamento como um todo. - Num instrumento de superação das avaliações sele-
A forma de se planejar, a maneira de se construir o tivas em processos investigativos, emancipatórios
processo (para o alcance dos fins almejados), caracteriza e participativos?
o tipo de Planejamento a ser adotado. As produções do conhecimento, através do Planeja-
mento Participativo, bem como a utilização desse conhe-
O que é o planejamento participativo? cimento para a transformação da realidade e das práti-
cas, devem acontecer em todas as instâncias da escola, e
O Planejamento Participativo é uma prática social; ser objeto de uma reflexão crítica permanente.
portanto, não possui receita. Trata-se de uma prática É importante lembrar que a escola não é uma ilha.
participativa, de um processo social dinâmico, dialético, Ela está inserida numa realidade sóciohistórica, econô-
umas práxis não prescritas, pré-construída, e sim cons- mica e cultural concreta. Portanto, ela sofre as influências
truída, reconstruída e recriada sistematicamente pela externas, bem como pode agir e se construir como uma
ação coletiva, a partir da reflexão crítica da realidade, da dimensão social de superação das desigualdades e das
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

tomada de decisões, ações e avaliações coletivas. injustiças sociais.

A escola pode praticar e se construir como um espaço


#FicaDica de vivência da democracia participativa, criando meca-
nismos e canais que garantem a participação como um
O Planejamento Participativo requer a par- direito e não como concessão.
ticipação de todos os sujeitos sociais da co- Nesse sentido, o Planejamento Participativo é um
munidade escolar em todo o processo instrumento através do qual podemos construir a esco-
la que todos queremos – de qualidade social, com de-
mocracia participativa – como espaço de inclusão social,
de respeito às diferenças e aos diferentes saberes; um

73
espaço em que as decisões são tomadas coletivamente caso contrário, não há planejamento.
(professores, alunos, pais e funcionários); um espaço pe- Como o Planejamento é Participativo, deve haver
dagógico que propicie a aprendizagem para todos, onde um Diagnóstico Participativo, ou melhor, uma Pesquisa
a organização curricular está preocupada com a quali- Diagnóstico-Participativa. Todos devem investigar, pes-
dade social do conhecimento; com a provisoriedade do quisar, buscar informações necessárias à visão global de
mesmo; com a contextualização da realidade em que a sua realidade (informações quantitativas e qualitativas da
escola está inserida, para que os alunos conheçam criti- totalidade); conhecer suas representações (seus valores
camente esta realidade, como os fatos e os fenômenos socioculturais), suas potencialidades, os avanços, proble-
se interrelacionam e como é possível, pela ação coletiva, mas, dificuldades e carências; devem investigar as causas
transformá-la; uma escola onde todas as ações são frutos e identificar as consequências, em busca de soluções.
de um Planejamento Participativo, onde toda comunida- “Só existe saber na invenção, na reinvenção, na busca
de escolar é protagonista do Projeto Político Pedagógico. inquieta, impaciente, permanente, que os homens fazem
O Planejamento Participativo permite recuperar a to- no mundo, com o mundo e com os outros. Busca espe-
talidade de um sistema fragmentado, invertendo a ten- rançosa também. ”
dência tradicional do Planejamento de cima para baixo,
do ápice, centralizando decisões e descentralizando a - Análise/Reflexão Crítica
execução. É o momento de aprofundamento das investigações
É preciso descentralizar o poder de decisão, a sobre as causas, as origens dos problemas. Esta análise
participação em todas as etapas do Planejamento. O não pode ser pontual. E preciso contextualizá-la e
poder deve ser compartilhado. A base deve participar da relacioná-la com realidades mais amplas, em busca de
tomada de decisões. soluções. Assim, os problemas não são enfrentados
A escola está na base do sistema; portanto, é a pri- somente nas suas consequências, mas nas suas origens,
meira instância de deliberação. A escola é a instância nas suas causas.
onde a totalidade do sistema se manifesta. Esta análise instrumentalizará os partícipes do proces-
Segundo Paulo Freire, escola é o lugar onde o diverso so, para que ultrapassem a percepção empírica da reali-
se torna uno, e, ao mesmo tempo, o que é uno se revela dade e avancem na construção de novos conhecimentos,
sob diversas formas. o que lhes permitirá tomarem decisões pertinentes sobre
A participação é um processo inerente a toda ação as prioridades definidas coletivamente.
humana e o Planejamento Participativo é um processo Ao se estabelecer uma análise entre as causas que
inerente ao exercício de cidadania. condicionaram o surgimento da situação-problema e
Este exercício de cidadania deve ser garantido como suas consequências, concomitantemente levantaremos
um direito do cidadão e cidadã. Por isso se torna neces- as necessidades e alternativas de solução.
sário que todos participem em condições de igualdade. Como não existem recursos suficientes para todas, as
Para que esta igualdade seja assegurada, é preciso bus- necessidades devem ser priorizadas. Para priorizá-las é
car formas de auxiliar a comunidade escolar – no Planeja- preciso estabelecer critérios de seleção. Esse é um mo-
mento Participativo da Escola – a ultrapassar a percepção mento muito importante do planejamento, uma vez que
empírica da realidade escolar, avançando no sentido de os mesmos poderão ser os responsáveis pela qualidade
deter o conhecimento global das carências, das poten- das propostas no amanhã (futuro).
cialidades da escola, do sistema estadual de ensino, para “Não é no silêncio que os seres humanos se fazem,
tomar decisões sobre as dimensões, indicadores e des- mas na palavra, no trabalho, na ação reflexão”.
critores escolares, sobre as prioridades estratégicas e os
investimentos a serem feitos com os recursos públicos de - Programação de ações
forma mais pertinente. Com a priorização das necessidades é importante
Nessa visão, o Planejamento é mais que um instru- elencar as alternativas, ou seja, as ações estratégicas pos-
mento de participação; é um instrumento de mobilização síveis para superar os problemas detectados ou qualificar
social, pois estimula e alimenta a participação. as ações em execução, a partir dos resultados do diag-
Nessa concepção, o Planejamento deixa de ser uma nóstico da realidade global da escola, considerando as
questão tecnocrática, passando a ser um processo de dimensões, os indicadores e descritores e demais dados.
Planejamento Participativo. As ações priorizadas pelo conjunto da comunidade
Como processo, tem momentos interligados, os quais escolar devem estar interrelacionadas e considerar a via-
não são estanques. Reflexão, decisão, ação e avaliação, bilidade técnica e financeira e o tempo histórico/ crono-
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no processo de planejamento, não acontecem de for- lógico de sua execução.


ma linear, mecânica ou sequencial. Os momentos se No Planejamento é preciso considerar os recursos
“perpassam”. existentes, as condições operacionais, as possibilidades
Para fins de sistematização, estes momentos são: reais de execução das ações; portanto, é o momento de
confrontar necessidades, condições e recursos para o
- Diagnóstico participativo da realidade atendimento das prioridades selecionadas pelo coletivo,
O diagnóstico pode ser o marco inicial do planeja- assim como o tempo, o momento de sua execução.
mento; entretanto, ele perpassa todo o processo, assim Este é o momento privilegiado de democratizar o pla-
como os demais momentos ou etapas. nejamento, tornando público as potencialidades, as boas
Para haver planejamento, deve haver uma realidade, práticas e os problemas existentes para se construir, de
deve haver um profundo conhecimento desta realidade, forma dialógica e participativa, as condições possíveis

74
para a execução das ações estratégicas com a participa- fornece dados que permitem diagnosticar os conteúdos
ção de todos os envolvidos. aprendidos ou não pelos alunos, que se forma-se atra-
vés da soldagem, projeção e retrospecção do desenvol-
- Execução, acompanhamento e avaliação vimento dos alunos. Esta avaliação almeja verificar as
participativa aprendizagens anteriores, para posterior planejamento e
Na execução das ações, como nos demais momentos superação dos obstáculos encontrados.
do planejamento, a direção da escola e a presidência do Segundo Leite (2009), a concepção da avaliação diag-
Conselho Escolar (como órgão máximo da escola), têm nóstica sugere atitudes a favor do aluno, proporcionando
papel fundamental na coordenação do processo de pla- momentos de reflexões, o que possibilita a aprendizagem
nejamento, no acompanhamento da execução e na ava- das crianças.
liação sistemática ao longo do processo. De acordo com Santos e Varela (2007) os planos de
O acompanhamento e a avaliação devem ser de ação dos professores e alunos são reajustados, a partir da
caráter processual e não só ao final da execução. A avaliação diagnóstica. Esta concepção de avaliação deve
avaliação deve iniciar já no momento do diagnóstico, realizar-se no início de cada ciclo de estudo, para que
na definição de critérios, na priorização das necessi- ocorra uma reflexão constante, crítica e participativa.
dades/ações e na execução das mesmas. A referida função diagnóstica da avaliação obriga a
Sistematicamente, a comunidade escolar deve uma tomada de decisão posterior em favor do ensino,
comparar os resultados da execução com as finalida- estando a serviço de uma pedagogia que visa à trans-
des, com os objetivos finais do Planejamento Partici- formação social. A avaliação deve estar comprometida,
pativo, afim de que as ações sejam redimensionadas, assim com uma proposta histórico-crítica.
repensadas ou até excluídas se for comprovado que Muitas vezes verificamos que a avaliação diagnóstica
não são viáveis, pertinentes ou necessárias. é aplicada apenas no início do ano. Percebemos também
O acompanhamento e a avaliação devem preocu- que a avaliação diagnóstica não acontece realmente,
par-se com os aspectos qualitativos/quantitativos – muitos a utilizam como forma de “conhecer” e “repensar”
ou seja, com as transformações, as mudanças e os re- o trabalho desenvolvido na escola.
sultados sociais, educativo, as práticas pedagógicas, Outro tipo de avaliação é a formativa. De acordo com
a democratização da gestão, a construção de sujeitos Fernandes (2006), este tipo de avaliação deve realizar-se
plenos e os conhecimentos formais necessários à in- ao término de um tópico do currículo proposto, antece-
serção crítica e transformadora da realidade. dendo a avaliação somativa.
De acordo com Gonçalves (2010) a avaliação forma-
REFERÊNCIA: tiva tem como princípio contemplar a diversidade dos
OCAMPOS, D. T. G. de. O PLANEJAMENTO NA EDU- estudantes. Ela admite que os recursos da aprendizagem
CAÇÃO: elementos para uma fundamentação teórica. In: tenham extensão, diversificação e pluralização. Permite
Reflexões e orientações sobre o processo de planejamen- que o professor tenha mobilidade em suas aulas, pois
to participativo à luz do SEAP-RS. – Porto Alegre, 2014. pode alterar suas práticas pedagógicas em relação à ava-
liação e ao ensino, de acordo com as necessidades dos
alunos.
A avaliação formativa é uma estratégia pedagógica
EXERCÍCIO COMENTADO
de luta contra fracassos educacionais e diferenças de
aprendizagem. Para isso, é importante o docente, de-
01. (ABIN - Oficial Técnico de Inteligência - Superior tectar o caminho já percorrido pelo aluno em relação à
– CESPE/2018) A respeito do planejamento na ação do- aprendizagem e ao gênero e o que ele ainda falta percor-
cente, julgue o item a seguir. rer, para fazer intervenções didáticas acertadas.
O planejamento de ensino deve ser rígido e absoluto. Podemos concluir então que a avaliação formativa
é um excelente instrumento para que tanto os alunos
( ) CERTO ( ) ERRADO como os professores, possam superar os obstáculos en-
contrados ao longo da trajetória escolar, ou seja, estabe-
Resposta:O Planejamento escolar é flexível. Organizar lece uma relação de cooperação.
e reorganizar faz parte da vida do professor que deve Outro importante tipo de avaliação intitula-se soma-
buscar continuamente novas experiências e estraté- tiva. No dizer de (2007), esta se refere a um juízo global e
gias didáticas. A realidade está sempre em movimento de síntese, permitindo decidir a progressão ou retenção
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e o planejamento deve acompanha-la. do estudante, baseado em resultados globais, possibili-


GABARITO OFICIAL: ERRADO tando assim constatar a progressão do aluno de acordo
com objetivos definidos.
AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA, FORMATIVA E SO- A avaliação somativa, pode ser facilmente utilizada
MATIVA: DISCUTINDO CONCEITOS como um instrumento de certificação social na medida
em que permite seriar os alunos de acordo com seu mé-
Alguns estudos como os realizados por Fernan- rito social, constituindo a função social da avaliação.
des (2006), Leite (2009), Mendes (2005), Santos e Varela Acreditamos que a prática de avaliação que predo-
(2007), classificam a avaliação em três tipos: diagnóstica, mina nas instituições escolares é a somativa, na qual o
formativa e somativa. sistema escolar estabelece uma “média” que os alunos
Segundo Santo e Varela (2007) a avaliação diagnóstica devem atingir.

75
Para Horta Neto (2010), as avaliações somativas não De acordo Leal (2006), para que o educador alcance
avaliam os processos utilizados para que a aprendizagem cada vez mais conquistas é necessário repensar se os ins-
ocorra, apenas analisam os resultados desta. Portanto trumentos utilizados estão corretos, se as decisões toma-
este tipo de avaliação tem como princípio que todos os das tanto no planejamento quanto em relação as ações
estudantes possuem o mesmo nível de aprendizagem, tomadas em sala estão adequadas. É importante também
ou seja, todos aprendem o mesmo conteúdo ao mesmo que o professor sempre se autoavalie e repense em suas
tempo. estratégias e recursos utilizados.
De acordo com Tavares (2008), para que se ocorra Vasconcellos (2000) destaca que as provas da forma
uma aprendizagem significativa, é necessário que o alu- como são muitas vezes aplicadas prejudicam o processo
no utilize o conhecimento aprendido em situações con- de aprendizagem, pois colocam a nota como principal
cretas do seu dia-a-dia. objetivo de todo processo, funcionando como um instru-
Segundo Mendes (2005) para que a avaliação forma- mento classificatório.
tiva possa acontecer é necessário que ela ocorra duran- Vale destacar que para Vasconcellos (2000), quando
te todo o processo ensino-aprendizagem, e não apenas a apreensão com a avaliação durante as aulas torna-se
como uma verificação no final de um conteúdo. maior que o interesse pela aprendizagem, os alunos co-
Para Fernandes (2006), a avaliação formativa se trata meçam a sofrer pressões que desencadeiam distúrbios
de uma avaliação que tem como objetivo regular e me- como: mal-estar, medo, angústia, perda do sono, ver-
lhorar as aprendizagens. O autor afirma que, a avaliação gonha, enjoo, ansiedade, diurese, nervoso, o famoso
formativa, deve estabelecer um paralelo entre suas fun- “branco”, esquecimento, decepção com sua nota, criação
ções, pois ao mesmo tempo que deve permitir ao pro- de imagem negativa de si mesmo. Para o autor muitas
fessor informações sobre seus alunos, tais como estágio escolas afirmam que, todo este clima é necessário para
de desenvolvimento, capacidades desenvolvidas ou não, que os alunos se preparem para o vestibular, por tanto
também devem indicar caminhos que professor deve se- eles devem habituarem-se as tensões, “frios na barriga”,
guir para alcançar os objetivos. Desta forma os educa- esquecendo-se que a melhor preparação para o vesti-
dores e alunos precisam compartilhar as experiências e bular que a escola poderia oferecer seria uma excelente
ideias para que o objetivo seja realmente concretizado, aprendizagem dos conteúdos ao estudante, de forma
ou seja, deve ocorrer a aprendizagem dos alunos. qualitativa e não quantitativa.
A partir dessas discussões sobre os diferentes tipos de Diante desta situação, pode-se dizer que esses “ri-
avaliação, podemos afirmar que também encontramos tuais” do dia de prova, muitas vezes conduz os alunos a
diversos instrumentos que, ser utilizados para avaliar os colarem por não terem confiança em si mesmo, pois sua
alunos, entre eles podemos citar o portfólio, conselho de única preocupação é atingir a média ou tirar uma boa
classe, trabalhos, autoavaliação, provas entre outros. Po- nota. Percebe-se então que a escola deve estar atenta e
rém percebemos que o instrumento mais utilizado ainda tentar acabar com este “instrumento maléfico” que po-
são as provas com suas tradicionais rotinas e calendários. dem impedir que o processo ensino aprendizagem seja
No dizer de Mendes (2005), os alunos podem ser ava- concretizado.
liados em diversos momentos na sala de aula, entre eles, No dizer de Leite (2009), da mesma maneira que a
na solicitação deste para resolver uma questão; correção avaliação é utilizada na escola como um instrumento de
de exercícios; dúvidas que surgiram em atividades reali- poder, ameaça e controle, o aluno cria táticas para sua
zadas em ambientes diferentes da sala de aula; desenvol- sobrevivência. Ou seja, o aluno quer a nota independente
vimento de experiências; organização e apresentação de da maneira que utiliza para conseguir, estando correta
trabalhos; comportamento; e por fim com aplicação de ou não, sendo que na maioria das vezes o “instrumen-
provas com questões discursivas ou objetivas. to” utilizado é a cola, ou então a memorização mecânica
Segundo Leal (2006), a variação dos instrumentos ava- sem aprendizagem. Por tanto pode-se concluir que nota
liativos permite que se obtenham informações importantes não significa aprendizagem, o estudante deduz o jogo da
sobre a prática do professor e também os níveis de apren- escola e se adapta através de várias atitudes, sendo elas
dizagem dos alunos, além de permitir que se faça uma re- positivas ou não.
flexão sobre o processo de ensino e aprendizagem. Um instrumento que tem sido bastante discutido no
Ainda segundo Leal (2006), podemos avaliar de diver- meio educacional são os portfólios. De acordo com Boas
sas formas, porém todos os instrumentos devem diag- (2005), por meio do portfólio todas as atividades que fo-
nosticar e também contribuir para que o educador reveja ram realizadas em um determinado período de tempo,
suas práticas. Para que o professor consiga diagnosticar são avaliadas tanto pelo professor como pelo aluno. Suas
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

se os alunos realmente aprenderam de forma significati- características não são classificatórias nem punitivas. Po-
va determinados conteúdos, pode-se utilizar produções demos ao final do trabalho fazer uma comparação das
diárias dos estudantes sejam elas escritas ou orais como, atividades iniciais e finais, para acompanhar a progressão
textos que escrevem, comentários e participação durante ou dificuldades dos alunos.
as aulas, ou então instrumentos específicos entre eles, Segundo Silva (2009), o portfólio permite que os pro-
tarefas, provas, trabalhos, que fornecem resultados mais fessores e alunos possam avaliar, autoavaliar, ler e reler
concretos sobre os conhecimentos aprendidos. todo o seu aprendizado sobre determinado conteúdo.
Sabemos que muitos professores ainda encontram-se Diante disto o professor poderia relembrar ou reforçar
resistentes a aplicar outros tipos de instrumentos para alguns conteúdos com os alunos para aumentar o desen-
avaliar a aprendizagem dos alunos. Muitos profissionais volvimento dos estudantes.
ainda consideram que a prova é o melhor instrumento. Para Leal (2006), os portfólios permitem que outras

76
pessoas inseridas no contexto escolar como, pais, alu- na veracidade das palavras dos alunos. Segundo Vascon-
nos, outros professores, diretores e supervisores, avaliem cellos (2000) esta prática não deve produzir nota, pois
o processo de ensino-aprendizagem. Ou seja, este ins- caso contrário acaba com seu caráter formativo, pois so-
trumento não é utilizado em uma escola com a prática frerá alteração com a correção do professor.
tradicional, onde o objetivo da avaliação é única e ex- No dizer de Mendes (2005), a autoavaliação tem
clusivamente classificar e selecionar os alunos entre os como objetivo desenvolver intelectualmente nos alunos
“bons” e os “ruins”, pois neste caso apenas o professor através da autocrítica e corresponsabilidade, além de
avalia e é tido como o “dono da razão”. promover o amadurecimento e socialização destes. Ne-
Leal (2006) afirma ainda que de nada adianta sele- cessita de ser aplicada por meio de roteiros que avaliem
cionar, ordenar e colocar em uma pasta confirmações diferentes aspectos.
do processo ensino-aprendizagem, mas é necessário a Em linhas gerais percebemos que muitos professores
partir da análise organizar momentos de reflexão sobre o não se preocupam com o que fazer perante os resultados
que realmente se aprendeu e quais foram as dúvidas que das avaliações, com o intuito de garantir a aprendizagem
surgiram, além de refletir as estratégias que precisam de dos alunos, mas preocupam-se apenas em entregar as
alteração e as que devem permanecer. notas para a secretaria, estudantes e pais.
Outra função do portfólio, segundo Mendes (2005) Concordamos assim com Mendes (2005) quando
é proporcionar ao aluno um registro de seus conheci- afirma que, alguns professores podem até modificar os
mentos durante o semestre, mostrando todo seu desen- instrumentos para avaliação, porém a atitude diante dos
volvimento, além de permitir que este reflita sobre suas resultados obtidos sempre são as mesmas. Os professo-
práticas e acompanhe toda sua evolução ao longo do res cumprem o conteúdo proposto, em seguida aplicam
processo ensino-aprendizagem. seminários, trabalhos, pesquisas e exercícios, mas não
Outro instrumento avaliativo é o conselho de classe. diversificam suas atitudes diante dos resultados, apenas
De acordo com Mendes (2005), este tipo de avaliação corrigem as atividades e entregam as notas. Esse é nosso
ocorre de forma coletiva, onde professores e alunos dis- desafio.
cutem as dificuldades que foram percebidas no processo
ensino-aprendizagem, e em seguida sugerem alterna- AVALIAÇÃO NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO
tivas para tentar solucioná-las. Ressalta que o conselho E LETRAMENTO
deve reunir-se não apenas no final do semestre, mas ao
longo do desenvolvimento de todo o semestre. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
Concluímos que este instrumento é de grande impor- nº 9394 de 1996, descreve no artigo 23, inciso V: a ve-
tância, pois permite também que os professores compar- rificação do rendimento escolar observará os seguintes
tilhem experiências como, por exemplo, dificuldades en- critérios:
frentadas com alguns alunos, com determinadas classes a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho
entre outros problemas. Desta forma as conversas seriam do aluno, com prevalência dos aspectos qualitati-
construtivas e positivas. vos sobre os quantitativos e dos resultados ao lon-
Para Mendes (2005) a aplicação deste instrumento pe- go do período sobre os de eventuais provas finais;
los professores deve permitir que o professor discuta sua b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos
prática na preparação das aulas e seu desenvolvimento, com atraso escolar;
relação professor-aluno, elaboração das avaliações. c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries
No dizer de Vasconcellos (2000), os conselhos de clas- mediante verificação do aprendizado.
se não deveriam ocorrer apenas no final do ano quando A avaliação é uma questão política inserida no pro-
já não se pode tomar muitas atitudes com os alunos, mas cesso educacional e neste percurso também está o pla-
sim de uma forma contínua; é necessário a participação nejar, ensinar e aprender, intimamente ligados ao pro-
de vários membros da comunidade como professores, cesso avaliativo que devem ser considerados, levando
auxiliares da escola, direção, pais, alunos ou ao menos em conta os estudantes que se deseja formar.
os representantes de cada sala para que assim diferentes A escola, por si só, não é capaz de superar práticas
opiniões sejam expressas e o enfoque principal deve ser que advêm de um projeto hegemônico de estado. Certas
o processo ensino aprendizagem. práticas alfabetizadoras permanecem ainda arraigadas
A aplicação de trabalhos também pode ser com- em práticas tradicionais do ensino, que, por vezes são
preendida como um instrumento avaliativo, porém estes expressas nos processos avaliativos. A avaliação no pro-
na maioria das vezes não produzem resultados positivos, cesso da alfabetização chama a atenção para a necessi-
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pois o seu único objetivo para muitos professores é a dade de articular teoria à prática, superando estratégias
nota. De acordo com Vasconcellos (2000), o professor em que o professor é o centro do processo educativo;
aplica um trabalho extra quando a maioria dos alunos analisando o quanto estamos, por vezes, presos às práti-
não atingiram as notas esperadas na avaliação. No en- cas demasiadamente verbais
tanto esta não deveria ser atitude do professor, mas sim A educação não é teórica, porque lhe falta esse gosto
refletir qual é o problema, se a avaliação não foi bem da comprovação, da invenção e da pesquisa. Não comu-
elaborada ou se os alunos não aprenderam determinado nica, seria uma educação desvinculada da vida e cen-
conteúdo e precisam passar por uma recuperação. trada na palavra. Nada ou quase nada existe em nossa
Outro instrumento avaliativo é a autoavaliação que educação que desenvolva em nosso estudante o gosto
não ocorre com grande frequência nas escolas, na maio- da pesquisa, da constatação, da revisão dos “achados”.
ria das vezes pelo fato dos professores não “acreditarem” Os conceitos apropriados por meio da leitura e da

77
escrita geram formas de analisar o mundo, criando pers- Não devemos perder de vista que o processo é, sim,
pectivas de ações. De tal forma, tomando como ponto de mais importante que o produto. É necessário que os do-
partida a oralidade, pois da competência e do traquejo centes estajam cada vez mais preparados e subsidiados
com a língua falada é que resultará maior desenvoltura e teoricamente quanto às suas ações. Ainda, construirão,
intimidade com a escrita. A criança que fala pouco apre- efetivamente uma concepção de alfabetização, e, mu-
senta mais dificuldades em organizar seus pensamentos nidos de planejamentos rigorosos, acreditarão que não
e, para aprender a ler e a escrever, é necessário o uso há nenhuma dúvida sobre a natureza, quase perfeita, do
da palavra enquanto ação. Portanto, na busca da ava- sistema de aprendizagem infantil, pois a criança pode ser
liação formativa, diagnóstica e processual, destacamos o considerada um ser nascido para a aprendizagem.
valor do planejamento, como alicerce para esta constru- A magia do avaliar está na descoberta da complexi-
ção. Urge um planejamento que valorize a oralidade das dade do ato de aprender. Portanto, avaliar é um aprendi-
crianças e que leve em consideração que também é pre- zado, e, assim como a alfabetização, exige o olhar curioso
ciso ler para aprender, pois a leitura promove o enrique- e constante do professor. Esse olhar sobre a avaliação
cimento dos estudantes nas mais diferentes dimensões. deve fortalecer a percepção que a escola é uma orga-
A compreensão do valor da oralidade e a sua incor- nização de ensino, que contribui para a formação da
poração à leitura e à escrita, sem investir mais em um cidadania, trazendo para dentro de si a vida, saberes e
destes elementos em detrimento do outro, certamente fazeres, como oportunizando aos estudantes experiên-
permitirão aprimorar a prática alfabetizadora e avaliativa, cias significativas. Também nos alerta para o fato de que
de tal forma que se estabeleçam relações mais consisten- a avaliação da aprendizagem não é um ato pedagógico
tes com as teorias que norteiam o processo do ensino da isolado, mas sim, integrado a todas as outras atividades
língua escrita da escola.
No Brasil, desde a implantação da última lei de dire- O Brasil não possui testes padronizados para avaliar a
trizes e bases da educação nacional, foram promovidas alfabetização. Isso se aplica tanto às etapas mais básicas
políticas para avaliação dos sistemas de ensino, entre quanto mais avançadas da aquisição da leitura e escrita.
elas destacam-se políticas avaliativas como Prova Bra- Diversas Secretarias Municipais de Educação utilizam tes-
sil, Provinha Brasil, Avaliação Nacional da Alfabetização tes para avaliar competências de alfabetização em suas
(ANA), entre outras. Para redes de ensino.
O INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Geralmente os testes não respeitam os princípios
Educacionais Anísio Teixeira), autarquia vinculada ao Mi- psicométricos mais elementares, portanto geram pouco
nistério da Educação, realizou uma avaliação específica conhecimento útil ou generalizável. A elaboração de um
no terceiro ano do ensino fundamental. Essa avaliação teste adequado depende da definição de alfabetização.
denomina-se ANA (Avaliação Nacional de Alfabetização) Diferentes definições levam a diferentes indicadores, di-
e tem como objetivo levantar os níveis de alfabetização ferentes matrizes e, consequentemente, diferentes itens.
e letramento, tanto na língua portuguesa, como na ma- O primeiro problema a ser abordado, portanto, é o
temática. Para tanto, o Instituto lança mão de provas que da definição do que seja alfabetizar. As definições de al-
denomina como testes cognitivos. Além dos testes, o fabetização mais correntes no Brasil diferem do que se
INEP aplica questionários, que tem como objetivo a aná- encontra nos periódicos científicos de maior circulação
lise do contexto em que a escola trabalha. internacional. A referência usual no Brasil são os PCNs2 -
Os testes são pautados em uma escala de proficiên- Parâmetros e Referenciais Curriculares Nacionais. Na ver-
cia, que, segundo o INEP (2014), “é a capacidade para dade, os PCNs evitam definir alfabetização, mas quando
realizar algo, dominar certo assunto e ter aptidão em de- o tentam fazer, confundem leitura com compreensão, es-
terminada área do conhecimento”. Aos municípios é apre- crita com produção de textos. Em consequência, os tes-
sentada uma escala de proficiência composta por cinco ní- tes baseados nessa concepção refletem esse erro concei-
veis progressivos. Vale ressaltar que quando um percentual tual e consequentemente não medem nem leitura nem
de estudantes está “posicionado em determinado nível de compreensão.
escala, pressupõe que, além de terem desenvolvido as habi- Trata-se de um problema elementar de lógica: um
lidades referentes a este nível, provavelmente também de- aluno que não sabe ler pode não responder a uma
senvolveram as habilidades referentes aos níveis anteriores”. pergunta de compreensão porque não sabe ler, e não
O professor, articulador da alfabetização, na perspec- porque não a compreenda. Da mesma forma, um aluno
tiva do letramento, é aquele que constrói sua prática pe- pode não produzir um texto simplesmente porque não
dagógica na relação dialética entre conhecimento e ação, consegue escrever as palavras de forma legível ou orto-
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

entre o saber fazer e o saber sobre o fazer, com o obje- gráfica, e não porque não possua as competências inte-
tivo de conseguir um fim, buscando uma transformação lectuais para produzir um texto.
cuja capacidade de mudar o mundo reside na possibili- Avaliar compreensão e produção de texto sem saber
dade de transformar os outros. se o aluno domina as competências que lhes precedem
A construção da língua escrita exige do professor cla- resulta em testes que nem medem se o aluno está alfa-
reza quanto aos métodos de ensino, assim como a aná- betizado nem se é capaz de compreender ou produzir
lise do ponto de partida e de onde se pretende chegar. textos. Obviamente essa afirmação decorre da definição
Imprescindível é ter-se presente a constante e funda- de alfabetização corrente na literatura científica – e não
mental avaliação da evolução das crianças na aquisição da definição de alfabetização baseada nos ambíguos
do sistema da escrita. Para tanto, pesquisas, preparo, es- conceitos de alfabetização apresentados nos PCNs.
tudos são fundamentais. Ler significa, basicamente, a capacidade de identificar

78
automaticamente as palavras. Escrever consiste em trans- discriminar sons;
crever os sons da fala. Ambos envolvem a capacidade de - a familiaridade com a metalinguagem da aprendi-
decodificar fonemas em grafemas e vice-versa. Dado que zagem e da escola, incluindo capacidades relativas
o objetivo de ler é compreender, e o objetivo de escrever ao entendimento de comandos e instruções usuais
é comunicar, aprender a ler e escrever envolvem três ní- no ambiente escolar.
veis de competência: Ensinar essas competências em ní-
veis progressivamente mais elaborados constitui o cerne 2. Competências centrais ao processo de alfabe-
do programa de ensino e do “processo” de alfabetização tização:
de praticamente todos os países do mundo que possuem
um sistema alfabético de escrita. O processo de alfabeti- 2.1. Na leitura - a consciência fonológica - a ideia
zação, como definido ao final do parágrafo anterior, não de que diferentes letras produzem diferentes sons;
se confunde com letramento, educação permanente ou
outros objetivos meritórios da educação: ele tem princí- - o princípio alfabético - a ideia de que há uma rela-
pio, meio e fim, e seu fim ocorre quando o aluno adquire ção entre a presença e posição de um grafema e o
o nível de fluência necessário para ter um mínimo de som que ela tem na palavra;
autonomia na leitura e escrita. - a decodificação – a capacidade de pronunciar o som
O ensino antecede, acompanha e sucede o processo de uma palavra escrita ou transformar em escrita
de alfabetização, mas é independente delas. As pessoas uma palavra ouvida;
compreendem antes de saber ler e são capazes de con- - a fluência – que inclui a correção e ritmo de leitura
tar histórias, fazer descrições ou relatar notícias antes de textos.
de saber escrever. Tanto do ponto de vista conceitual
quanto metodológico são independentes do processo 3. Na escrita - capacidade de escrever de forma
da alfabetização. Embora sejam ensinadas durante a al- legível e com fluência (caligrafia);
fabetização (e em pré-escolas, onde existem), elas não
se constituem no objeto próprio da alfabetização, e sim, - capacidade de escrever de forma ortográfica;
no seu objetivo de longo prazo. - capacidade de escrever frases sintática e semantica-
A confusão entre o objetivo e o processo de alfabe- mente corretas.
tização precisa ser superada para que o conceito possa
emergir. Competências que precedem, acompanham e suce-
O grau de correção ortográfica deve ser graduado dem o processo de alfabetização – mas são Avaliação em
ao longo dos primeiros anos da escolaridade. Na lín- Alfabetização. Esse mero fato demonstra que o proces-
gua portuguesa a maioria das convenções ortográficas so de alfabetizar é independente do processo de com-
são muito regulares e podem ser aprendidas ao final do preensão. E, naturalmente, são essas as competências
processo de alfabetização. que constituem a matriz de referência para o desenvolvi-
Da mesma forma a fluência na escrita e leitura de- mento de instrumentos de avaliação.
vem ser graduadas ao longo do ensino fundamental. Definida a alfabetização e as competências que a pos-
No caso da leitura, é necessária uma fluência mínima de sibilitam, cabe identificar os instrumentos mais adequa-
60 a 80 palavras para que haja compreensão. No caso dos para avaliar se o aluno está alfabetizado. Nas escolas
da escrita, a fluência mínima para o aluno enfrentar os tradicionais a avaliação se dá quando o diretor toma a
desafios da 2a. série é próxima ao ritmo da fala pausada leitura dos alunos para verificar se estão alfabetizados.
do professor que dita, por exemplo, uma tarefa de casa. O ditado continua sendo um instrumento prático efi-
Ou ao tempo considerado razoável para copiar um tex- caz para verificar a capacidade de transcrição escrita do
to ou tarefa. código alfabético. Professores da série seguinte à alfa-
O aluno que não possui essa fluência na 2a. série betização são os melhores juízes para avaliar se o aluno
pode ser considerado um analfabeto funcional, pois seu está ou não alfabetizado: o aluno que não lê o texto do
nível de alfabetização não lhe permite funcionar ade- livro, não copia o que precisa copiar no tempo adequado
quadamente nesse série. Testes adequados de alfabeti- e se não toma notas de forma defina, não tem funciona-
zação devem levar em conta a mensuração da fluência lidade. Portanto, é um analfabeto funcional escolarizado.
de leitura e escrita de textos, e não apenas de palavras. Embora não sejam tecnicamente robustas, essas prá-
Definida a natureza da alfabetização, cabe especifi- ticas contém os elementos essenciais de uma boa avalia-
car as competências que permitem ao aluno tornar-se ção das competências centrais da avaliação.
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

alfabetizado.
Os avanços da Psicologia Cognitiva da Leitura vêm 4. Para avaliar a fluência de leitura, instrumentos
permitindo um mapeamento bastante detalhado das mais robustos e sofisticados devem incluir:
competências que precedem, acompanham e se tornam
possíveis com a alfabetização. • um texto que o aluno não tenha lido, de estrutura
morfo-sintática compatível com a idade e nível de
1. Competências que viabilizam, e portanto ante- desenvolvimento do aluno;
cedem a alfabetização: • uma leitura cronometrada;
• contagem de erros (gaguejar, parar, silabar,
- a capacidade de lidar com livros e textos impressos; decodificar).
- a consciência fonológica, isto é a capacidade de

79
5. Para avaliar a capacidade de escrita o ditado é a compreensão. Mas isso não significa que essa criança
um instrumento que apresenta um elevado grau de tenha uma dificuldade de compreensão. Daí a necessida-
validade de face, e normalmente é avaliado levando de de cuidados e técnicas próprias que permitam avaliar
em conta: a capacidade de leitura e escrita de forma independente
da mensuração das capacidades de compreensão e pro-
• a fluência, ou seja, o tempo necessário para escrever; dução de textos, no caso de alunos recém-alfabetizados.
• a legibilidade; De outra forma a medida fica contaminada, e ficamos
• o nível de correção ortográfica; sem saber se o aluno não compreendeu porque não sabe
• o atendimento a regras básicas de pontuação e uso ler ou porque apenas não soube compreender. Os testes
de maiúsculas; mencionados no primeiro parágrafo deste artigo come-
• a disposição da escrita no papel de acordo com a tem essa confusão. O mesmo ocorre na escrita. O aluno
natureza da mensagem. pode ser capaz de pensar e ditar um texto razoavelmen-
te estruturado e elaborado. Mas se não souber escrever
Um aluno pode ser considerado alfabetizado quando com legibilidade e fluência, pode não produzir um texto,
domina essas competências. Nas séries seguintes a ênfase muito menos dentro de um tempo funcionalmente ade-
do ensino da língua passa para outros aspectos, tais como quado. Portanto, se o avaliador não se assegurar, de for-
o desenvolvimento do léxico, a correção ortográfica, o do- ma independente, que o aluno possui competências de
mínio da sintaxe e a compreensão e produção de textos. caligrafia e ortografia, não tem como avaliar se o aluno
Nada impede que essas habilidades sejam ensinadas e deixou de produzir um texto porque não possui as com-
avaliadas antes e durante o processo de alfabetização. No petências de produção de texto, embora saiba escrever
entanto são necessários cuidados especiais para que essas no sentido próprio da palavra, ou porque não possui as
competências sejam avaliadas de forma independente da competências básicas da escrita.
avaliação das competências específicas da alfabetização. Nesse caso o teste foi inútil, pois não avaliou nem
Os termos transparente e opaco são usados na litera- uma coisa nem outra.
tura especializada para indicar o grau de maior ou menor É provável que se fossem submetidos a um teste oral,
proximidade entre os sons da fala e sua representação esses alunos tivessem um resultado muito melhor em
gráfica. Essa propriedade da língua faz com que a alfabe- compreensão. Eles não compreendem porque não sa-
tização se realize em 1 ano em países como a Finlândia bem ler, não porque não sabem compreender.
ou Itália, mas leve cerca de dois anos em países francó- Diante de um texto, ou de um teste, seu esforço cog-
fonos e cerca de 3 nos países de língua inglesa. Trata se nitivo concentra-se no nível mais elementar porque não
de mais uma evidência de que alfabetizar, no seu sentido foram devidamente alfabetizados, e não aprenderam
próprio, nada tem a ver com compreensão de textos. a identificar automaticamente palavras nem a ler com
O Programa Alfa e Beto de Alfabetização, utiliza ins- fluência. Cabe deixar claro que um aluno devidamente
trumentos dessa natureza para acompanhar o aluno ao alfabetizado, ainda que com fluência limitada de leitura e
longo e avaliá-lo ao término do processo de alfabetiza- escrita, deve ser capaz de compreender textos simples e
ção. Um aluno alfabetizado deve ser capaz de ler pelo compatíveis com seu nível de leitura.
menos 60 a 80 palavras por minuto, com um máximo de Bem como deve ser capaz de redigir frases com uma
5% de erros, compreendendo o que leu de primeira vez. estrutura sintática simples. Esta não é a questão em pau-
O aluno, mesmo depois de ser considerado alfabetiza- ta. A questão é que quando a criança não adquiriu a base,
do, ainda precisa e pode desenvolver fluência de leitura e usar testes com textos complexos e exigir produção de
escrita. Também precisará desenvolver sua capacidade or- textos também complexos não permite saber nem se a
tográfica, que são competências próprias da alfabetização. criança está alfabetizada nem se consegue compreender
Mas já alcançou um nível básico que lhe permite funcionar ou produzir textos.
numa segunda série, ou seja, usar a leitura e escrita para A qualidade de um teste depende, entre outros fatores, da
aprender, ao invés de aprender a ler e escrever. consistência entre a definição, os indicadores, os instrumentos
O processo da alfabetização, como tal tem princípio, e os itens utilizados, e sua pertinência à clientela avaliada.
meio e fim: não é um processo permanente. E, portanto, As concepções equivocadas de alfabetização preva-
pode ser avaliado de forma precisa. Já a compreensão e a lentes no Brasil impossibilitam não apenas a alfabetiza-
capacidade de produção de texto são competências que ção adequada das crianças, mas a elaboração de testes
nem começam nem terminam na escola. adequados de alfabetização.
Antes da escola e ao longo da vida aumentamos
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

nossa capacidade de compreender e escrever em fun-


ção do desenvolvimento de nossa capacidade mental e EXERCÍCIO COMENTADO
dos conhecimentos que adquirimos sobre os vários as-
suntos sobre os quais lemos ou escrevemos. A criança 1. Universidade Federal de Goiás – GO – Técnico em
compreende textos bastante complexos antes de ser al- Assunto Educacionais – Superior – UFG (Centro de Se-
fabetizada, e também é capaz de produzir textos orais. leção – Universidade Federal de Goiás) 2018
Mas a mesma criança recém-alfabetizada carece de com- Leia o texto.
petências que lhe permitam compreender esses mesmos
textos se ela própria tiver de lê-los. Os critérios de avaliação do saber dos meninos e meni-
A razão é que ela não possui a fluência adequada: ela nas que a escola usa, intelectualistas, formais, livrescos,
tem uma dificuldade de leitura que, por sua vez, impede necessariamente ajudam as crianças das classes sociais

80
chamadas favorecidas, enquanto desajudam os meninos § 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo
e meninas populares. E na avaliação do saber das crian- do trabalho e à prática social.
ças, quer quando recém chegam a escola, quer durante
o tempo em que nela estão, a escola, de modo geral, O primeiro artigo da LDB estabelece que a educação
não considera o saber de experiência feito que as crian- é um processo que não se dá exclusivamente nas esco-
ças trazem consigo. Mais uma vez, a desvantagem é das las. Trata-se da clássica distinção entre educação formal
crianças populares. e não formal ou informal: “A educação formal é aquela
FREIRE, P. A educação na cidade, 7, Ed, São Paulo: Cortez, desenvolvida nas escolas, com conteúdos previamente
2006 demarcados; a informal como aquela que os indivíduos
aprendem durante seu processo de socialização - na fa-
Nessa reflexão sobre a avaliação escolar, Freire deixa im- mília, bairro, clube, amigos, etc., carregada de valores e
plícita em sua análise cultura própria, de pertencimento e sentimentos herda-
dos; e a educação não formal é aquela que se apren-
a) a compreensão de que as crianças que carecem de de ‘no mundo da vida’, via os processos de comparti-
contato com o mundo letrado têm uma natureza dife- lhamento de experiências, principalmente em espaços e
rente das demais. ações coletivas cotidianas” . A LDB disciplina apenas a
b) a ideia de que o saber de experiência feito das crianças é mais educação escolar, ou seja, a educação formal, que não
importante, por exemplo, que a competência linguística. exclui o papel das famílias e das comunidades na educa-
c) o entendimento de que a avaliação escolar deve justa- ção informal.
mente apontar as lacunas de conhecimento das crianças.
d) a defesa pela democratização dos critérios de avalia- #FicaDica
ção do saber que a escola deveria implementar.
Educação formal – escolar
Resposta: Letra D. A escola, por si só, não é capaz Educação informal – comunitária, fami-
de superar práticas que advêm de um projeto hege- liar, religiosa.
mônico de estado. Certas práticas alfabetizadoras per-
manecem ainda arraigadas em práticas tradicionais do
ensino, que, por vezes são expressas nos processos ava- TÍTULO II
liativos. A avaliação no processo da alfabetização chama DOS PRINCÍPIOS E FINS DA EDUCAÇÃO
a atenção para a necessidade de articular teoria à prática, NACIONAL
superando estratégias em que o professor é o centro do
processo educativo; analisando o quanto estamos, por Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, ins-
vezes, presos às práticas demasiadamente verbais. pirada nos princípios de liberdade e nos ideais de soli-
dariedade humana, tem por finalidade o pleno desen-
REFERÊNCIA: volvimento do educando, seu preparo para o exercício
FUZARO, K.; SILVA, F. D. A. Algumas reflexões sobre da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
tipos de avaliação e instrumentos avaliativos. Revista Par-
tes, 2013. Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguin-
tes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanên-
LEI Nº 9.394/96. LEI Nº 12.796/2013 (QUE cia na escola;
ALTERA A LEI Nº 9.394/96) II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar
a cultura, o pensamento, a arte e o saber;
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas;
A lei estudada neste tópico “estabelece as diretrizes IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância;
e bases da educação nacional”. Data de 20 de dezembro V - coexistência de instituições públicas e privadas de
de 1996, tendo sido promulgada pelo ex-presidente Fer- ensino;
nando Henrique Cardoso, mas já passou por inúmeras
alterações desde então. Partamos para o comentário em VI - gratuidade do ensino público em estabelecimen-
bloco de seus dispositivos: tos oficiais;
VII - valorização do profissional da educação escolar;
TÍTULO I
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

VIII - gestão democrática do ensino público, na forma


DA EDUCAÇÃO desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino;
IX - garantia de padrão de qualidade;
Art. 1º A educação abrange os processos formativos X - valorização da experiência extraescolar;
que se desenvolvem na vida familiar, na convivência XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e
humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pes- as práticas sociais;
quisa, nos movimentos sociais e organizações da so- XII - consideração com a diversidade étnico-racial;
ciedade civil e nas manifestações culturais. XIII - garantia do direito à educação e à aprendizagem
§ 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se de- ao longo da vida.
senvolve, predominantemente, por meio do ensino,
em instituições próprias. A educação escolar deve permitir a formação do

81
cidadão e do trabalhador: uma pessoa que consiga se (quatro) anos de idade.
inserir no mercado de trabalho e ter noções adequadas
de cidadania e solidariedade no convívio social. Entre os Art. 4º-A. É assegurado atendimento educacional, du-
princípios, trabalha-se com o direito de acesso à educa- rante o período de internação, ao aluno da educação
ção de qualidade (gratuita nos estabelecimentos públi- básica internado para tratamento de saúde em regi-
cos), a liberdade nas atividades de ensino em geral (tanto me hospitalar ou domiciliar por tempo prolongado,
para o educador quanto para o educado), a valorização conforme dispuser o Poder Público em regulamento,
do professor, o incentivo à educação informal e o respei- na esfera de sua competência federativa.
to às diversidades de ideias, gêneros, raça e cor.
Art. 5º O acesso à educação básica obrigatória é di-
reito público subjetivo, podendo qualquer cidadão,
#FicaDica grupo de cidadãos, associação comunitária, organi-
zação sindical, entidade de classe ou outra legalmen-
A educação é dever da família e do Es- te constituída e, ainda, o Ministério Público, acionar o
tado. poder público para exigi-lo.
§ 1º O poder público, na esfera de sua competência
federativa, deverá:
TÍTULO III I - recensear anualmente as crianças e adolescentes
DO DIREITO À EDUCAÇÃO E DO DEVER DE em idade escolar, bem como os jovens e adultos que
EDUCAR não concluíram a educação básica;
II - fazer-lhes a chamada pública;
Art. 4º O dever do Estado com educação escolar públi- III - zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequ-
ca será efetivado mediante a garantia de: ência à escola.
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (qua- § 2º Em todas as esferas administrativas, o Poder Pú-
tro) aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada da blico assegurará em primeiro lugar o acesso ao ensino
seguinte forma: obrigatório, nos termos deste artigo, contemplando
a) pré-escola; em seguida os demais níveis e modalidades de ensi-
b) ensino fundamental; no, conforme as prioridades constitucionais e legais.
c) ensino médio; § 3º Qualquer das partes mencionadas no caput deste
II - educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cin- artigo tem legitimidade para peticionar no Poder Ju-
co) anos de idade; diciário, na hipótese do § 2º do art. 208 da Constitui-
III - atendimento educacional especializado gratuito ção Federal, sendo gratuita e de rito sumário a ação
aos educandos com deficiência, transtornos globais do judicial correspondente.
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, § 4º Comprovada a negligência da autoridade com-
transversal a todos os níveis, etapas e modalidades, petente para garantir o oferecimento do ensino
preferencialmente na rede regular de ensino; obrigatório, poderá ela ser imputada por crime de
IV - acesso público e gratuito aos ensinos fundamental responsabilidade.
e médio para todos os que não os concluíram na idade § 5º Para garantir o cumprimento da obrigatoriedade
própria; de ensino, o Poder Público criará formas alternativas
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pes- de acesso aos diferentes níveis de ensino, indepen-
quisa e da criação artística, segundo a capacidade de dentemente da escolarização anterior.
cada um; Art. 6º É dever dos pais ou responsáveis efetuar a ma-
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às trícula das crianças na educação básica a partir dos 4
condições do educando; (quatro) anos de idade.

Art. 7º O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas


VII - oferta de educação escolar regular para jovens e as seguintes condições:
adultos, com características e modalidades adequadas I - cumprimento das normas gerais da educação na-
às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se cional e do respectivo sistema de ensino;
aos que forem trabalhadores as condições de acesso e II - autorização de funcionamento e avaliação de
permanência na escola; qualidade pelo Poder Público;
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

VIII - atendimento ao educando, em todas as etapas III - capacidade de autofinanciamento, ressalvado o


da educação básica, por meio de programas suple- previsto no art. 213 da Constituição Federal.
mentares de material didático-escolar, transporte, ali-
mentação e assistência à saúde; Art. 7º-A Ao aluno regularmente matriculado em
IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, defi- instituição de ensino pública ou privada, de qualquer
nidos como a variedade e quantidade mínimas, por nível, é assegurado, no exercício da liberdade de cons-
aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento ciência e de crença, o direito de, mediante prévio e
do processo de ensino-aprendizagem. motivado requerimento, ausentar-se de prova ou de
X - vaga na escola pública de educação infantil ou de aula marcada para dia em que, segundo os preceitos
ensino fundamental mais próxima de sua residência de sua religião, seja vedado o exercício de tais ativida-
a toda criança a partir do dia em que completar 4 des, devendo-se-lhe atribuir, a critério da instituição

82
e sem custos para o aluno, uma das seguintes presta-
ções alternativas, nos termos do inciso VIII do caput #FicaDica
do art. 5º da Constituição Federal:
I - prova ou aula de reposição, conforme o caso, a ser A LDB amplia o conteúdo da própria CF,
realizada em data alternativa, no turno de estudo do ao garantir não apenas o ensino fundamen-
aluno ou em outro horário agendado com sua anu- tal, mas todo o ensino básico (pré-escola,
ência expressa; fundamental e médio) como obrigatório e
II - trabalho escrito ou outra modalidade de atividade gratuito, também prevendo de forma ex-
de pesquisa, com tema, objetivo e data de entrega pressa a gratuidade do ensino infantil (cre-
definidos pela instituição de ensino. ches).
§ 1º A prestação alternativa deverá observar os pa-
TÍTULO IV
râmetros curriculares e o plano de aula do dia da au-
DA ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO NACIONAL
sência do aluno.
§ 2º O cumprimento das formas de prestação alter-
Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
nativa de que trata este artigo substituirá a obrigação
nicípios organizarão, em regime de colaboração, os
original para todos os efeitos, inclusive regularização
respectivos sistemas de ensino.
do registro de frequência.
§ 1º Caberá à União a coordenação da política na-
§ 3º As instituições de ensino implementarão pro-
cional de educação, articulando os diferentes níveis
gressivamente, no prazo de 2 (dois) anos, as provi-
e sistemas e exercendo função normativa, redistri-
dências e adaptações necessárias à adequação de seu
butiva e supletiva em relação às demais instâncias
funcionamento às medidas previstas neste artigo.
educacionais.
§ 4º O disposto neste artigo não se aplica ao ensino
§ 2º Os sistemas de ensino terão liberdade de organi-
militar a que se refere o art. 83 desta Lei.
zação nos termos desta Lei.
Conforme se percebe pelo artigo 4º, divide-se em
Art. 9º A União incumbir-se-á de:
etapas a formação escolar, nos seguintes termos:
I - elaborar o Plano Nacional de Educação, em co-
- A educação básica é obrigatória e gratuita. Envolve
laboração com os Estados, o Distrito Federal e os
a pré-escola, o ensino fundamental e o ensino mé-
Municípios;
dio. A educação infantil deve ser garantida próxima
II - organizar, manter e desenvolver os órgãos e ins-
à residência. Com efeito, existe a garantia do direito
tituições oficiais do sistema federal de ensino e o dos
à creche gratuita. No mais, pessoas fora da idade es-
Territórios;
colar que queiram completar seus estudos têm direito
ao ensino fundamental e médio.
- A educação superior envolve os níveis mais elevados
III - prestar assistência técnica e financeira aos Esta-
do ensino, da pesquisa e da criação artística, devendo
dos, ao Distrito Federal e aos Municípios para o desen-
ser acessível conforme a capacidade de cada um.
volvimento de seus sistemas de ensino e o atendimen-
- Neste contexto, devem ser assegurados programas
to prioritário à escolaridade obrigatória, exercendo
suplementares de material didático-escolar, transpor-
sua função redistributiva e supletiva;
te, alimentação e assistência à saúde.
IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios, competências e dire-
O artigo 5º reitera a gratuidade e obrigatoriedade do
trizes para a educação infantil, o ensino fundamental
ensino básico e assegura a possibilidade de se buscar ju-
e o ensino médio, que nortearão os currículos e seus
dicialmente a garantia deste direito em caso de negati-
conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação
va pelo poder público. Será possível fazê-lo por meio de
básica comum;
mandado de segurança ou ação civil pública. Além da ju-
IV-A - estabelecer, em colaboração com os Estados, o
dicialização para fazer valer o direito na esfera cível, cabe
Distrito Federal e os Municípios, diretrizes e procedi-
em caso de negligência o acionamento na esfera penal,
mentos para identificação, cadastramento e atendi-
buscando-se a punição por crime de responsabilidade.
mento, na educação básica e na educação superior, de
Adiante, coloca-se o dever dos pais ou responsáveis
alunos com altas habilidades ou superdotação;
efetuar a matrícula da criança.
V - coletar, analisar e disseminar informações sobre a
Por fim, o artigo 7º estabelece a possibilidade do en-
educação;
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

sino particular, desde que sejam respeitadas as normas


VI - assegurar processo nacional de avaliação do rendi-
da educação nacional, autorizado o funcionamento pelo
mento escolar no ensino fundamental, médio e superior,
poder público e que tenha possibilidade de se manter
em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando
independentemente de auxílio estatal, embora exista
a definição de prioridades e a melhoria da qualidade do
previsão de tais auxílios em circunstâncias determinadas
ensino;
descritas no artigo 213, CF.
VII - baixar normas gerais sobre cursos de graduação
Já o artigo 7o-A, passando a valer em 03 de março de
e pós-graduação;
2019, disciplina o direito do aluno de, por motivo religio-
VIII - assegurar processo nacional de avaliação das
so, faltar à aula ou à prova, devendo ser aplicada ativida-
instituições de educação superior, com a cooperação
de ou aula substitutiva para eventual reposição.
dos sistemas que tiverem responsabilidade sobre este

83
nível de ensino; Parágrafo único. Os Municípios poderão optar, ainda,
IX - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e por se integrar ao sistema estadual de ensino ou com-
avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de por com ele um sistema único de educação básica.
educação superior e os estabelecimentos do seu siste-
ma de ensino. Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as
§ 1º Na estrutura educacional, haverá um Conselho normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão
Nacional de Educação, com funções normativas e de a incumbência de:
supervisão e atividade permanente, criado por lei. I - elaborar e executar sua proposta pedagógica;
§ 2° Para o cumprimento do disposto nos incisos V a II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais
IX, a União terá acesso a todos os dados e informa- e financeiros;
ções necessários de todos os estabelecimentos e ór- III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-
gãos educacionais. -aula estabelecidas;
§ 3º As atribuições constantes do inciso IX poderão ser IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de
delegadas aos Estados e ao Distrito Federal, desde que cada docente;
mantenham instituições de educação superior. V - prover meios para a recuperação dos alunos de me-
nor rendimento;
Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de: VI - articular-se com as famílias e a comunidade, crian-
I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e insti- do processos de integração da sociedade com a escola;
tuições oficiais dos seus sistemas de ensino; VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus
II - definir, com os Municípios, formas de colaboração filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a
na oferta do ensino fundamental, as quais devem as- frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre a
segurar a distribuição proporcional das responsabili- execução da proposta pedagógica da escola;
dades, de acordo com a população a ser atendida e os VIII - notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz
recursos financeiros disponíveis em cada uma dessas competente da Comarca e ao respectivo representante
esferas do Poder Público; do Ministério Público a relação dos alunos que apresen-
III - elaborar e executar políticas e planos educacio- tem quantidade de faltas acima de cinquenta por cento
nais, em consonância com as diretrizes e planos na- do percentual permitido em lei;
cionais de educação, integrando e coordenando as IX - promover medidas de conscientização, de preven-
suas ações e as dos seus Municípios; ção e de combate a todos os tipos de violência, espe-
IV - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e cialmente a intimidação sistemática (bullying), no âm-
avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de bito das escolas;
educação superior e os estabelecimentos do seu siste- X - estabelecer ações destinadas a promover a cultura
ma de ensino; de paz nas escolas.
V - baixar normas complementares para o seu sistema Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de:
de ensino; I - participar da elaboração da proposta pedagógica
VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com do estabelecimento de ensino;
prioridade, o ensino médio a todos que o demanda- II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a
rem, respeitado o disposto no art. 38 desta Lei; proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;
VII - assumir o transporte escolar dos alunos da rede III - zelar pela aprendizagem dos alunos;
estadual. IV - estabelecer estratégias de recuperação para os
Parágrafo único. Ao Distrito Federal aplicar-se-ão as alunos de menor rendimento;
competências referentes aos Estados e aos Municípios. V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabeleci-
dos, além de participar integralmente dos períodos
Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de: dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desen-
I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e institui- volvimento profissional;
ções oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando- VI - colaborar com as atividades de articulação da es-
-os às políticas e planos educacionais da União e dos cola com as famílias e a comunidade.
Estados;
II - exercer ação redistributiva em relação às suas escolas; Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da
III - baixar normas complementares para o seu sistema gestão democrática do ensino público na educação
de ensino; básica, de acordo com as suas peculiaridades e con-
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

IV - autorizar, credenciar e supervisionar os estabeleci- forme os seguintes princípios:


mentos do seu sistema de ensino; I - participação dos profissionais da educação na ela-
V - oferecer a educação infantil em creches e pré-esco- boração do projeto pedagógico da escola;
las, e, com prioridade, o ensino fundamental, permitida II - participação das comunidades escolar e local em
a atuação em outros níveis de ensino somente quando conselhos escolares ou equivalentes.
estiverem atendidas plenamente as necessidades de
sua área de competência e com recursos acima dos per- Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unida-
centuais mínimos vinculados pela Constituição Federal des escolares públicas de educação básica que os in-
à manutenção e desenvolvimento do ensino. tegram progressivos graus de autonomia pedagógica
VI - assumir o transporte escolar dos alunos da rede e administrativa e de gestão financeira, observadas as
municipal. normas gerais de direito financeiro público.

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Art. 16. O sistema federal de ensino compreende: Uma nota interessante é reparar que o artigo 10 es-
I - as instituições de ensino mantidas pela União; tabelece o dever dos Estados de garantir a educação no
II - as instituições de educação superior criadas e ensino fundamental e priorizar a educação no ensino
mantidas pela iniciativa privada; médio, ao passo que o artigo 11 coloca o dever dos mu-
III - os órgãos federais de educação. nicípios de garantir a educação infantil e priorizar a edu-
cação fundamental. É possível, ainda, integrar educação
Art. 17. Os sistemas de ensino dos Estados e do Distrito municipal e estadual em um sistema único.
Federal compreendem: Quanto às questões pedagógicas e de gestão dos
I - as instituições de ensino mantidas, respectivamen- estabelecimentos de ensino, incumbe a eles próprios,
te, pelo Poder Público estadual e pelo Distrito Federal; em integração com seus docentes. Este processo de
II - as instituições de educação superior mantidas pelo interação entre instituição e docente, bem como des-
Poder Público municipal; tes com a comunidade local, é conhecido como gestão
III - as instituições de ensino fundamental e médio democrática.
criadas e mantidas pela iniciativa privada;
IV - os órgãos de educação estaduais e do Distrito Fe-
deral, respectivamente. #FicaDica
Parágrafo único. No Distrito Federal, as instituições de O regime de colaboração impõe que
educação infantil, criadas e mantidas pela iniciativa a União, os Estados, o DF e os Municípios
privada, integram seu sistema de ensino. partilhem do dever de fornecer educação
à população, cada um em sua esfera de
Art. 18. Os sistemas municipais de ensino competência, mas de forma colaborativa,
compreendem: compartilhando vivência e redistribuindo
I - as instituições do ensino fundamental, médio e recursos humanos e materiais.
de educação infantil mantidas pelo Poder Público
municipal;
II - as instituições de educação infantil criadas e man- TÍTULO V
tidas pela iniciativa privada; DOS NÍVEIS E DAS MODALIDADES DE EDUCAÇÃO
III - os órgãos municipais de educação. E ENSINO
Art. 19. As instituições de ensino dos diferen-
tes níveis classificam-se nas seguintes categorias CAPÍTULO I
administrativas: DA COMPOSIÇÃO DOS NÍVEIS ESCOLARES
I - públicas, assim entendidas as criadas ou incorpo-
radas, mantidas e administradas pelo Poder Público; Art. 21. A educação escolar compõe-se de:
II - privadas, assim entendidas as mantidas e adminis- I - educação básica, formada pela educação infantil,
tradas por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado. ensino fundamental e ensino médio;
II - educação superior.
Art. 20. As instituições privadas de ensino se enqua-
drarão nas seguintes categorias: CAPÍTULO II
I - particulares em sentido estrito, assim entendidas DA EDUCAÇÃO BÁSICA
as que são instituídas e mantidas por uma ou mais SEÇÃO I
pessoas físicas ou jurídicas de direito privado que não DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
apresentem as características dos incisos abaixo;
II - comunitárias, assim entendidas as que são institu- Art. 22. A educação básica tem por finalidades de-
ídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais senvolver o educando, assegurar-lhe a formação co-
pessoas jurídicas, inclusive cooperativas educacionais, mum indispensável para o exercício da cidadania e
sem fins lucrativos, que incluam na sua entidade man- fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em
tenedora representantes da comunidade; estudos posteriores.
III - confessionais, assim entendidas as que são ins-
tituídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em
mais pessoas jurídicas que atendem a orientação con- séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância
fessional e ideologia específicas e ao disposto no inciso regular de períodos de estudos, grupos não-seriados,
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

anterior; com base na idade, na competência e em outros cri-


IV - filantrópicas, na forma da lei. térios, ou por forma diversa de organização, sempre
que o interesse do processo de aprendizagem assim o
A LDB estabelece um regime de colaboração entre recomendar.
as entidades de ensino nas esferas federativas diversas, § 1º A escola poderá reclassificar os alunos, inclusive
no entanto, coloca competência à União de encabeçar e quando se tratar de transferências entre estabeleci-
coordenar os sistemas de ensino. Tal papel de liderança, mentos situados no País e no exterior, tendo como
descrito no artigo 9º, envolve poderes de regulação e de base as normas curriculares gerais.
controle, autorizando funcionamento ou suspendendo- § 2º O calendário escolar deverá adequar-se às pecu-
-o, realizando avaliação constante de desempenho, entre liaridades locais, inclusive climáticas e econômicas, a
outros deveres. critério do respectivo sistema de ensino, sem com isso

85
reduzir o número de horas letivas previsto nesta Lei. § 2º Os sistemas de ensino disporão sobre a oferta de
educação de jovens e adultos e de ensino noturno re-
Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e gular, adequado às condições do educando, conforme
médio, será organizada de acordo com as seguintes o inciso VI do art. 4º.
regras comuns:
I - a carga horária mínima anual será de oitocentas Art. 25. Será objetivo permanente das autoridades res-
horas para o ensino fundamental e para o ensino mé- ponsáveis alcançar relação adequada entre o número
dio, distribuídas por um mínimo de duzentos dias de de alunos e o professor, a carga horária e as condições
efetivo trabalho escolar, excluído o tempo reservado materiais do estabelecimento.
aos exames finais, quando houver; ; Parágrafo único. Cabe ao respectivo sistema de en-
II - a classificação em qualquer série ou etapa, exceto sino, à vista das condições disponíveis e das caracte-
a primeira do ensino fundamental, pode ser feita: rísticas regionais e locais, estabelecer parâmetro para
a) por promoção, para alunos que cursaram, com atendimento do disposto neste artigo.
aproveitamento, a série ou fase anterior, na própria
escola; Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino
b) por transferência, para candidatos procedentes de fundamental e do ensino médio devem ter base nacio-
outras escolas; nal comum, a ser complementada, em cada sistema
c) independentemente de escolarização anterior, me- de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma
diante avaliação feita pela escola, que defina o grau parte diversificada, exigida pelas características regio-
de desenvolvimento e experiência do candidato e nais e locais da sociedade, da cultura, da economia e
permita sua inscrição na série ou etapa adequada, dos educandos.
conforme regulamentação do respectivo sistema de § 1º Os currículos a que se refere o caput devem
ensino; abranger, obrigatoriamente, o estudo da língua por-
III - nos estabelecimentos que adotam a progressão tuguesa e da matemática, o conhecimento do mundo
regular por série, o regimento escolar pode admitir físico e natural e da realidade social e política, es-
formas de progressão parcial, desde que preservada a pecialmente da República Federativa do Brasil, ob-
sequência do currículo, observadas as normas do res- servado, na educação infantil, o disposto no art. 31,
pectivo sistema de ensino; no ensino fundamental, o disposto no art. 32, e no
IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com ensino médio, o disposto no art. 36.
alunos de séries distintas, com níveis equivalentes de § 2º O ensino da arte, especialmente em suas ex-
adiantamento na matéria, para o ensino de línguas es- pressões regionais, constituirá componente curricular
trangeiras, artes, ou outros componentes curriculares; obrigatório da educação básica.
V - a verificação do rendimento escolar observará os § 3º A educação física, integrada à proposta pedagó-
seguintes critérios: gica da escola, é componente curricular obrigatório
a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho da educação infantil e do ensino fundamental, sendo
do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sua prática facultativa ao aluno:
sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do I - que cumpra jornada de trabalho igual ou superior
período sobre os de eventuais provas finais; a seis horas;
b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos II - maior de trinta anos de idade;
com atraso escolar; III - que estiver prestando serviço militar inicial ou
c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries me- que, em situação similar, estiver obrigado à prática
diante verificação do aprendizado; da educação física;
d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito; IV - amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de
e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de pre- outubro de 1969;
ferência paralelos ao período letivo, para os casos de V - (VETADO);
baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas VI - que tenha prole.
instituições de ensino em seus regimentos; § 4º O ensino da História do Brasil levará em conta
VI - o controle de frequência fica a cargo da escola, as contribuições das diferentes culturas e etnias para
conforme o disposto no seu regimento e nas normas a formação do povo brasileiro, especialmente das
do respectivo sistema de ensino, exigida a frequência matrizes indígena, africana e europeia.
mínima de setenta e cinco por cento do total de horas § 5o No currículo do ensino fundamental, a partir do
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

letivas para aprovação; sexto ano, será ofertada a língua inglesa.


VII - cabe a cada instituição de ensino expedir his- § 6o As artes visuais, a dança, a música e o teatro são
tóricos escolares, declarações de conclusão de série e as linguagens que constituirão o componente curri-
diplomas ou certificados de conclusão de cursos, com cular de que trata o § 2o deste artigo.
as especificações cabíveis. § 7º A integralização curricular poderá incluir, a cri-
§ 1º A carga horária mínima anual de que trata o in- tério dos sistemas de ensino, projetos e pesquisas en-
ciso I do caput deverá ser ampliada de forma progres- volvendo os temas transversais de que trata o caput.
siva, no ensino médio, para mil e quatrocentas horas, § 8º A exibição de filmes de produção nacional cons-
devendo os sistemas de ensino oferecer, no prazo má- tituirá componente curricular complementar inte-
ximo de cinco anos, pelo menos mil horas anuais de grado à proposta pedagógica da escola, sendo a sua
carga horária, a partir de 2 de março de 2017. exibição obrigatória por, no mínimo, 2 (duas) horas

86
mensais. manifestação do órgão normativo do respectivo sis-
§ 9o Conteúdos relativos aos direitos humanos e à tema de ensino, que considerará a justificativa apre-
prevenção de todas as formas de violência contra a sentada pela Secretaria de Educação, a análise do
criança e o adolescente serão incluídos, como temas diagnóstico do impacto da ação e a manifestação da
transversais, nos currículos escolares de que trata comunidade escolar.
o caput deste artigo, tendo como diretriz a Lei no
8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e A educação básica tem por papel a formação da base
do Adolescente), observada a produção e distribuição do educado.
de material didático adequado. Os critérios para mudança de série podem ser pro-
§ 9º-A. A educação alimentar e nutricional será inclu- moção (aprovação em etapa anterior), transferência
ída entre os temas transversais de que trata o caput. (candidatos de outras escolas) e avaliação (análise da
§ 10. A inclusão de novos componentes curricula- experiência e desenvolvimento do candidato). O ensino
res de caráter obrigatório na Base Nacional Comum poderá ser acelerado caso necessário. Nas situações de
Curricular dependerá de aprovação do Conselho Na- alunos que não acompanhem seu ritmo, deverá ser ga-
cional de Educação e de homologação pelo Ministro rantida recuperação.
de Estado da Educação. Exige-se, além do desempenho, a frequência de 75%,
no mínimo, para aprovação.
O currículo da educação básica segue uma base na-
Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino funda- cional comum. Devem abranger língua portuguesa e da
mental e de ensino médio, públicos e privados, tor- matemática, o conhecimento do mundo físico e natural
na-se obrigatório o estudo da história e cultura afro- e da realidade social e política. A educação física deve
-brasileira e indígena. ser oferecida obrigatoriamente, mas é facultativa ao alu-
§ 1o O conteúdo programático a que se refere este ar- no em certas situações, como de trabalho, serviço militar,
tigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura idade superior a 30 anos. Em respeito ao pluralismo, deve
que caracterizam a formação da população brasileira, considerar as matrizes indígena, africana e europeia como
a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo temas transversais. Ainda em tal condição, cabe o apren-
da história da África e dos africanos, a luta dos negros dizado de Conteúdos relativos aos direitos humanos e à
e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e in- prevenção de todas as formas de violência contra a crian-
dígena brasileira e o negro e o índio na formação da ça e o adolescente. É obrigatório o estudo da história e
sociedade nacional, resgatando as suas contribuições cultura afro-brasileira e indígena. Ainda, a educação deve
nas áreas social, econômica e política, pertinentes à considerar as peculiaridades da zona rural quando nela
história do Brasil. for ministrada.
§ 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-
-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão mi- SEÇÃO II
nistrados no âmbito de todo o currículo escolar, em DA EDUCAÇÃO INFANTIL
especial nas áreas de educação artística e de literatura
e história brasileiras. Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da edu-
cação básica, tem como finalidade o desenvolvimento
Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus as-
observarão, ainda, as seguintes diretrizes: pectos físico, psicológico, intelectual e social, comple-
I - a difusão de valores fundamentais ao interesse so- mentando a ação da família e da comunidade.
cial, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao
bem comum e à ordem democrática; Art. 30. A educação infantil será oferecida em:
II - consideração das condições de escolaridade dos I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de
alunos em cada estabelecimento; até três anos de idade;
III - orientação para o trabalho; II - pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cin-
IV - promoção do desporto educacional e apoio às co) anos de idade.
práticas desportivas não-formais.
Art. 31. A educação infantil será organizada de acordo
Art. 28. Na oferta de educação básica para a popula- com as seguintes regras comuns:
ção rural, os sistemas de ensino promoverão as adap- I - avaliação mediante acompanhamento e registro do
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

tações necessárias à sua adequação às peculiaridades desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de pro-
da vida rural e de cada região, especialmente: moção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental;
I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas)
às reais necessidades e interesses dos alunos da zona horas, distribuída por um mínimo de 200 (duzentos)
rural; dias de trabalho educacional;
II - organização escolar própria, incluindo adequação III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro)
do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às horas diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas
condições climáticas; para a jornada integral;
III - adequação à natureza do trabalho na zona rural. IV - controle de frequência pela instituição de educa-
Parágrafo único. O fechamento de escolas do cam- ção pré-escolar, exigida a frequência mínima de 60%
po, indígenas e quilombolas será precedido de (sessenta por cento) do total de horas;

87
V - expedição de documentação que permita atestar os
processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança. Art. 34. A jornada escolar no ensino fundamental in-
cluirá pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em
A educação infantil é ministrada em creches até os 3 sala de aula, sendo progressivamente ampliado o pe-
anos de idade e em pré-escolas dos 3 aos 5 anos de idade. ríodo de permanência na escola.
§ 1º São ressalvados os casos do ensino noturno e das
SEÇÃO III formas alternativas de organização autorizadas nesta
DO ENSINO FUNDAMENTAL Lei.
§ 2º O ensino fundamental será ministrado progres-
Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com dura- sivamente em tempo integral, a critério dos sistemas
ção de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, ini- de ensino.
ciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a
formação básica do cidadão, mediante: O ensino fundamental inicia-se aos 6 anos de idade e
I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, ten- tem duração de 9 anos. Além de objetivar a alfabetização,
do como meios básicos o pleno domínio da leitura, da também incentiva a formação do cidadão, da pessoa em
escrita e do cálculo; contato com o mundo que o cerca estabelecendo víncu-
II - a compreensão do ambiente natural e social, do los de solidariedade e amizade. O ensino fundamental
sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores deve ser presencial, em regra. O ensino religioso é fa-
em que se fundamenta a sociedade; cultativo. A carga horária diária é de no mínimo 4 horas.
III - o desenvolvimento da capacidade de aprendiza-
gem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e SEÇÃO IV
habilidades e a formação de atitudes e valores; DO ENSINO MÉDIO
IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços
de solidariedade humana e de tolerância recíproca em Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação bá-
que se assenta a vida social. sica, com duração mínima de três anos, terá como
§ 1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o finalidades:
ensino fundamental em ciclos. I - a consolidação e o aprofundamento dos conheci-
§ 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão re- mentos adquiridos no ensino fundamental, possibili-
gular por série podem adotar no ensino fundamental tando o prosseguimento de estudos;
o regime de progressão continuada, sem prejuízo da II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania
avaliação do processo de ensino-aprendizagem, ob- do educando, para continuar aprendendo, de modo a
servadas as normas do respectivo sistema de ensino. ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas con-
§ 3º O ensino fundamental regular será ministrado em dições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores;
língua portuguesa, assegurada às comunidades indí- III - o aprimoramento do educando como pessoa hu-
genas a utilização de suas línguas maternas e proces- mana, incluindo a formação ética e o desenvolvimen-
sos próprios de aprendizagem. to da autonomia intelectual e do pensamento crítico;
§ 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecno-
ensino a distância utilizado como complementação da lógicos dos processos produtivos, relacionando a teo-
aprendizagem ou em situações emergenciais. ria com a prática, no ensino de cada disciplina.
§ 5º O currículo do ensino fundamental incluirá, obri-
gatoriamente, conteúdo que trate dos direitos das Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular defi-
crianças e dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei nirá direitos e objetivos de aprendizagem do ensino
nº 8.069, de 13 de julho de 1990, que institui o Estatu- médio, conforme diretrizes do Conselho Nacional de
to da Criança e do Adolescente, observada a produção Educação, nas seguintes áreas do conhecimento:
e distribuição de material didático adequado. I - linguagens e suas tecnologias;
§ 6º O estudo sobre os símbolos nacionais será inclu- II - matemática e suas tecnologias;
ído como tema transversal nos currículos do ensino III - ciências da natureza e suas tecnologias;
fundamental. IV - ciências humanas e sociais aplicadas.
§ 1º A parte diversificada dos currículos de que trata
Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, o caput do art. 26, definida em cada sistema de en-
é parte integrante da formação básica do cidadão e sino, deverá estar harmonizada à Base Nacional Co-
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

constitui disciplina dos horários normais das escolas mum Curricular e ser articulada a partir do contexto
públicas de ensino fundamental, assegurado o respei- histórico, econômico, social, ambiental e cultural.
to à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas § 2º A Base Nacional Comum Curricular referente ao
quaisquer formas de proselitismo. ensino médio incluirá obrigatoriamente estudos e prá-
§ 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os proce- ticas de educação física, arte, sociologia e filosofia.
dimentos para a definição dos conteúdos do ensino § 3º O ensino da língua portuguesa e da matemática
religioso e estabelecerão as normas para a habilitação será obrigatório nos três anos do ensino médio, asse-
e admissão dos professores. gurada às comunidades indígenas, também, a utiliza-
§ 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, ção das respectivas línguas maternas.
constituída pelas diferentes denominações religiosas, § 4º Os currículos do ensino médio incluirão, obri-
para a definição dos conteúdos do ensino religioso. gatoriamente, o estudo da língua inglesa e poderão

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ofertar outras línguas estrangeiras, em caráter opta- II - a possibilidade de concessão de certificados in-
tivo, preferencialmente o espanhol, de acordo com a termediários de qualificação para o trabalho, quando
disponibilidade de oferta, locais e horários definidos a formação for estruturada e organizada em etapas
pelos sistemas de ensino. com terminalidade.
§ 5º A carga horária destinada ao cumprimento da § 7º A oferta de formações experimentais relaciona-
Base Nacional Comum Curricular não poderá ser su- das ao inciso V do caput, em áreas que não constem
perior a mil e oitocentas horas do total da carga ho- do Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos, depende-
rária do ensino médio, de acordo com a definição dos rá, para sua continuidade, do reconhecimento pelo
sistemas de ensino. respectivo Conselho Estadual de Educação, no prazo
§ 6º A União estabelecerá os padrões de desempenho de três anos, e da inserção no Catálogo Nacional dos
esperados para o ensino médio, que serão referência Cursos Técnicos, no prazo de cinco anos, contados da
nos processos nacionais de avaliação, a partir da Base data de oferta inicial da formação.
Nacional Comum Curricular. § 8º A oferta de formação técnica e profissional a que
§ 7º Os currículos do ensino médio deverão consi- se refere o inciso V do caput, realizada na própria ins-
derar a formação integral do aluno, de maneira a tituição ou em parceria com outras instituições, deve-
adotar um trabalho voltado para a construção de seu rá ser aprovada previamente pelo Conselho Estadual
projeto de vida e para sua formação nos aspectos físi- de Educação, homologada pelo Secretário Estadual de
cos, cognitivos e socioemocionais. Educação e certificada pelos sistemas de ensino.
§ 8º Os conteúdos, as metodologias e as formas de § 9º As instituições de ensino emitirão certificado com
avaliação processual e formativa serão organizados validade nacional, que habilitará o concluinte do ensi-
nas redes de ensino por meio de atividades teóricas e no médio ao prosseguimento dos estudos em nível su-
práticas, provas orais e escritas, seminários, projetos e perior ou em outros cursos ou formações para os quais
atividades on-line, de tal forma que ao final do ensino a conclusão do ensino médio seja etapa obrigatória.
médio o educando demonstre: § 10. Além das formas de organização previstas no art.
I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos 23, o ensino médio poderá ser organizado em módu-
que presidem a produção moderna; los e adotar o sistema de créditos com terminalidade
II - conhecimento das formas contemporâneas de específica.
linguagem. § 11. Para efeito de cumprimento das exigências cur-
riculares do ensino médio, os sistemas de ensino po-
Art. 36. O currículo do ensino médio será compos- derão reconhecer competências e firmar convênios
to pela Base Nacional Comum Curricular e por iti- com instituições de educação a distância com notó-
nerários formativos, que deverão ser organizados por rio reconhecimento, mediante as seguintes formas de
meio da oferta de diferentes arranjos curriculares, comprovação:
conforme a relevância para o contexto local e a possi- I - demonstração prática;
bilidade dos sistemas de ensino, a saber: II - experiência de trabalho supervisionado ou outra
I - linguagens e suas tecnologias; experiência adquirida fora do ambiente escolar;
II - matemática e suas tecnologias; III - atividades de educação técnica oferecidas em ou-
III - ciências da natureza e suas tecnologias; tras instituições de ensino credenciadas;
IV - ciências humanas e sociais aplicadas; IV - cursos oferecidos por centros ou programas
V - formação técnica e profissional. ocupacionais;
§ 1º A organização das áreas de que trata o caput e V - estudos realizados em instituições de ensino nacio-
das respectivas competências e habilidades será feita nais ou estrangeiras;
de acordo com critérios estabelecidos em cada siste- VI - cursos realizados por meio de educação a distân-
ma de ensino. cia ou educação presencial mediada por tecnologias.
§ 2º (Revogado) § 12. As escolas deverão orientar os alunos no processo
§ 3º A critério dos sistemas de ensino, poderá ser com- de escolha das áreas de conhecimento ou de atuação
posto itinerário formativo integrado, que se traduz profissional previstas no caput.
na composição de componentes curriculares da Base
Nacional Comum Curricular - BNCC e dos itinerários A etapa final do ensino médio tem a duração de três
formativos, considerando os incisos I a V do caput. anos e busca fornecer a consolidação e o aprofunda-
§ 4º (Revogado) mento dos conhecimentos transmitidos no ensino fun-
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

§ 5º Os sistemas de ensino, mediante disponibilidade damental, com a devida atenção a conhecimentos que
de vagas na rede, possibilitarão ao aluno concluinte permitam o ingresso do aluno no ensino universitário e
do ensino médio cursar mais um itinerário formativo na carreira de trabalho. Neste ponto, a LDB sofreu al-
de que trata o caput. terações recentes pela Medida Provisória nº 746/2016,
§ 6º A critério dos sistemas de ensino, a oferta de for- convertida na Lei nº 13.415, de 2017, que foi alvo de inú-
mação com ênfase técnica e profissional considerará: meras críticas, notadamente por estabelecer como facul-
I - a inclusão de vivências práticas de trabalho no se- tativos conhecimentos que antes eram tidos como obri-
tor produtivo ou em ambientes de simulação, esta- gatórios. Para entender melhor esta questão, percebe-se
belecendo parcerias e fazendo uso, quando aplicável, que na verdade a proposta é a especificação de matrizes
de instrumentos estabelecidos pela legislação sobre ainda durante o ensino médio: o aluno poderá escolher
aprendizagem profissional; em quais áreas de conhecimento pretende se concentrar.

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Por exemplo, um aluno que não queira se especializar em b) em instituições de ensino distintas, aproveitando-
ciências humanas, não teria a obrigação de cursar maté- -se as oportunidades educacionais disponíveis;
rias como história e geografia. Um aluno que não tenha c) em instituições de ensino distintas, mediante con-
interesse em ir para a universidade e já queira ingres- vênios de intercomplementaridade, visando ao plane-
sar no mercado de trabalho, terá aulas concentradas em jamento e ao desenvolvimento de projeto pedagógico
formação técnica e profissional, aprendendo marcenaria, unificado.
mecânica, administração, entre outras questões. As áreas
que podem ser optadas são as seguintes: linguagens e Art. 36-D. Os diplomas de cursos de educação pro-
suas tecnologias; matemática e suas tecnologias; ciên- fissional técnica de nível médio, quando registrados,
cias da natureza e suas tecnologias; ciências humanas terão validade nacional e habilitarão ao prossegui-
e sociais aplicadas; formação técnica e profissional. As mento de estudos na educação superior.
únicas matérias estabelecidas como obrigatórias são: Parágrafo único. Os cursos de educação profissional
português, matemática, artes, educação física, filosofia e técnica de nível médio, nas formas articulada con-
sociologia – estas quatro últimas inicialmente seriam fa- comitante e subsequente, quando estruturados e or-
cultativas, mas devido a pressões sociais foram colocadas ganizados em etapas com terminalidade, possibilita-
como obrigatórias. Ainda é cedo para dizer se realmente rão a obtenção de certificados de qualificação para o
este será o rumo conferido pela reforma, eis que a Base trabalho após a conclusão, com aproveitamento, de
Nacional Comum Curricular que detalhará estas ques- cada etapa que caracterize uma qualificação para o
tões ainda está em discussão. trabalho.

SEÇÃO IV-A A educação profissional e técnica pode se dar du-


DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL TÉCNICA DE NÍVEL rante o Ensino Médio, notadamente se o estudante fizer
MÉDIO a opção por esta categoria de ensino (o ensino médio
pode ser voltado à formação técnico-profissional, pre-
Art. 36-A. Sem prejuízo do disposto na Seção IV deste parando o jovem para o ingresso no mercado de traba-
Capítulo, o ensino médio, atendida a formação geral lho independentemente de ensino universitário), quanto
do educando, poderá prepará-lo para o exercício de após o Ensino Médio, em instituições próprias de ensino
profissões técnicas. técnico-profissionalizante (neste sentido, há cursos téc-
Parágrafo único. A preparação geral para o trabalho nicos-profissionais com menor duração que os cursos
e, facultativamente, a habilitação profissional pode- de ensino superior e que são equiparados a este).
rão ser desenvolvidas nos próprios estabelecimentos
de ensino médio ou em cooperação com instituições SEÇÃO V
especializadas em educação profissional. DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Art. 36-B. A educação profissional técnica de nível Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada
médio será desenvolvida nas seguintes formas: àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de
I - articulada com o ensino médio; estudos nos ensinos fundamental e médio na idade
II - subsequente, em cursos destinados a quem já te- própria e constituirá instrumento para a educação e a
nha concluído o ensino médio. aprendizagem ao longo da vida.
Parágrafo único. A educação profissional técnica de § 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamen-
nível médio deverá observar: te aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar
I - os objetivos e definições contidos nas diretrizes cur- os estudos na idade regular, oportunidades educacio-
riculares nacionais estabelecidas pelo Conselho Na- nais apropriadas, consideradas as características do
cional de Educação; alunado, seus interesses, condições de vida e de tra-
II - as normas complementares dos respectivos siste- balho, mediante cursos e exames.
mas de ensino; § 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso
III - as exigências de cada instituição de ensino, nos e a permanência do trabalhador na escola, mediante
termos de seu projeto pedagógico. ações integradas e complementares entre si.
§ 3º A educação de jovens e adultos deverá articular-
Art. 36-C. A educação profissional técnica de nível -se, preferencialmente, com a educação profissional,
médio articulada, prevista no inciso I do caput do art. na forma do regulamento.
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

36-B desta Lei, será desenvolvida de forma:


I - integrada, oferecida somente a quem já tenha con- Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exa-
cluído o ensino fundamental, sendo o curso planejado mes supletivos, que compreenderão a base nacional
de modo a conduzir o aluno à habilitação profissional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento
técnica de nível médio, na mesma instituição de en- de estudos em caráter regular.
sino, efetuando-se matrícula única para cada aluno; § 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão:
II - concomitante, oferecida a quem ingresse no ensino I - no nível de conclusão do ensino fundamental, para
médio ou já o esteja cursando, efetuando-se matrícu- os maiores de quinze anos;
las distintas para cada curso, e podendo ocorrer: II - no nível de conclusão do ensino médio, para os
a) na mesma instituição de ensino, aproveitando-se maiores de dezoito anos.
as oportunidades educacionais disponíveis; § 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos

90
educandos por meios informais serão aferidos e reco- próprias, que podem conferir inclusive diploma de for-
nhecidos mediante exames. mação em nível superior. Exemplos: FATEC, SENAI, entre
outros. O acesso a este tipo de ensino não necessaria-
A educação de jovens e adultos objetiva permitir a con- mente exige conclusão dos níveis prévios de educação,
clusão do ensino fundamental e médio para aqueles que eis que seu principal objetivo não é o ensino de conteú-
já ultrapassaram a idade regular em que isso deveria ter dos típicos, mas sim a capacitação profissional.
acontecido.
CAPÍTULO IV
DA EDUCAÇÃO SUPERIOR
#FicaDica
Art. 43. A educação superior tem por finalidade:
Educação básica: I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do
- Ensino infantil – creche e pré-escola; espírito científico e do pensamento reflexivo;
- Ensino fundamental; II - formar diplomados nas diferentes áreas de co-
- Ensino médio (colegial) – pode também nhecimento, aptos para a inserção em setores pro-
abranger o ensino técnico. fissionais e para a participação no desenvolvimento
Educação básica tardia – EJA – educação da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação
de jovens e adultos. contínua;
III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação
CAPÍTULO III científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tec-
DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA nologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo,
desenvolver o entendimento do homem e do meio em
Art. 39. A educação profissional e tecnológica, no que vive;
cumprimento dos objetivos da educação nacional, IV - promover a divulgação de conhecimentos cultu-
integra-se aos diferentes níveis e modalidades de rais, científicos e técnicos que constituem patrimônio
educação e às dimensões do trabalho, da ciência e da da humanidade e comunicar o saber através do ensino,
tecnologia. de publicações ou de outras formas de comunicação;
§ 1º Os cursos de educação profissional e tecnológica V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento
poderão ser organizados por eixos tecnológicos, possibi- cultural e profissional e possibilitar a correspondente
litando a construção de diferentes itinerários formativos, concretização, integrando os conhecimentos que vão
observadas as normas do respectivo sistema e nível de sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistema-
ensino. tizadora do conhecimento de cada geração;
§ 2º A educação profissional e tecnológica abrangerá VI - estimular o conhecimento dos problemas do mun-
os seguintes cursos: do presente, em particular os nacionais e regionais,
I – de formação inicial e continuada ou qualificação prestar serviços especializados à comunidade e esta-
profissional; belecer com esta uma relação de reciprocidade;
II – de educação profissional técnica de nível médio; VII - promover a extensão, aberta à participação da
III – de educação profissional tecnológica de gradua- população, visando à difusão das conquistas e benefí-
ção e pós-graduação. cios resultantes da criação cultural e da pesquisa cien-
§ 3º Os cursos de educação profissional tecnológica tífica e tecnológica geradas na instituição.
de graduação e pós-graduação organizar-se-ão, no VIII - atuar em favor da universalização e do aprimo-
que concerne a objetivos, características e duração, de ramento da educação básica, mediante a formação e
acordo com as diretrizes curriculares nacionais esta- a capacitação de profissionais, a realização de pesqui-
belecidas pelo Conselho Nacional de Educação. sas pedagógicas e o desenvolvimento de atividades de
extensão que aproximem os dois níveis escolares.
Art. 40. A educação profissional será desenvolvida em
articulação com o ensino regular ou por diferentes Art. 44. A educação superior abrangerá os seguintes
estratégias de educação continuada, em instituições cursos e programas:
especializadas ou no ambiente de trabalho. I - cursos sequenciais por campo de saber, de diferen-
tes níveis de abrangência, abertos a candidatos que
Art. 41. O conhecimento adquirido na educação pro- atendam aos requisitos estabelecidos pelas institui-
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

fissional e tecnológica, inclusive no trabalho, poderá ções de ensino, desde que tenham concluído o ensino
ser objeto de avaliação, reconhecimento e certificação médio ou equivalente;
para prosseguimento ou conclusão de estudos. II - de graduação, abertos a candidatos que tenham
concluído o ensino médio ou equivalente e tenham
Art. 42. As instituições de educação profissional e tec- sido classificados em processo seletivo;
nológica, além dos seus cursos regulares, oferecerão III - de pós-graduação, compreendendo programas
cursos especiais, abertos à comunidade, condicionada de mestrado e doutorado, cursos de especialização,
a matrícula à capacidade de aproveitamento e não aperfeiçoamento e outros, abertos a candidatos di-
necessariamente ao nível de escolaridade. plomados em cursos de graduação e que atendam às
A educação profissional e tecnológica pode se dar não exigências das instituições de ensino;
apenas no ensino médio, mas também em instituições IV - de extensão, abertos a candidatos que atendam aos

91
requisitos estabelecidos em cada caso pelas instituições de demais componentes curriculares, sua duração, requi-
ensino. sitos, qualificação dos professores, recursos disponíveis
§ 1º. Os resultados do processo seletivo referido no in- e critérios de avaliação, obrigando-se a cumprir as res-
ciso II do caput deste artigo serão tornados públicos pectivas condições, e a publicação deve ser feita, sen-
pelas instituições de ensino superior, sendo obrigatória do as 3 (três) primeiras formas concomitantemente:
a divulgação da relação nominal dos classificados, a I - em página específica na internet no sítio eletrônico
respectiva ordem de classificação, bem como do cro- oficial da instituição de ensino superior, obedecido o
nograma das chamadas para matrícula, de acordo seguinte:
com os critérios para preenchimento das vagas cons- a) toda publicação a que se refere esta Lei deve ter
tantes do respectivo edital. como título “Grade e Corpo Docente”;
§ 2º No caso de empate no processo seletivo, as ins- b) a página principal da instituição de ensino supe-
tituições públicas de ensino superior darão prioridade rior, bem como a página da oferta de seus cursos aos
de matrícula ao candidato que comprove ter renda fa- ingressantes sob a forma de vestibulares, processo se-
miliar inferior a dez salários mínimos, ou ao de menor letivo e outras com a mesma finalidade, deve conter
renda familiar, quando mais de um candidato preen- a ligação desta com a página específica prevista neste
cher o critério inicial. inciso;
§ 3º O processo seletivo referido no inciso II considera- c) caso a instituição de ensino superior não possua sí-
rá as competências e as habilidades definidas na Base tio eletrônico, deve criar página específica para divul-
Nacional Comum Curricular. gação das informações de que trata esta Lei;
d) a página específica deve conter a data completa de
Art. 45. A educação superior será ministrada em insti- sua última atualização;
tuições de ensino superior, públicas ou privadas, com II - em toda propaganda eletrônica da instituição de
variados graus de abrangência ou especialização. ensino superior, por meio de ligação para a página
referida no inciso I;
Art. 46. A autorização e o reconhecimento de cursos, III - em local visível da instituição de ensino superior e
bem como o credenciamento de instituições de educa- de fácil acesso ao público;
ção superior, terão prazos limitados, sendo renovados, IV - deve ser atualizada semestralmente ou anual-
periodicamente, após processo regular de avaliação. mente, de acordo com a duração das disciplinas de
§ 1º Após um prazo para saneamento de deficiências cada curso oferecido, observando o seguinte:
eventualmente identificadas pela avaliação a que se a) caso o curso mantenha disciplinas com duração di-
refere este artigo, haverá reavaliação, que poderá re- ferenciada, a publicação deve ser semestral;
sultar, conforme o caso, em desativação de cursos e b) a publicação deve ser feita até 1 (um) mês antes do
habilitações, em intervenção na instituição, em sus- início das aulas;
pensão temporária de prerrogativas da autonomia, ou c) caso haja mudança na grade do curso ou no corpo
em descredenciamento. docente até o início das aulas, os alunos devem ser
§ 2º No caso de instituição pública, o Poder Executivo comunicados sobre as alterações;
responsável por sua manutenção acompanhará o pro- V - deve conter as seguintes informações:
cesso de saneamento e fornecerá recursos adicionais, a) a lista de todos os cursos oferecidos pela instituição
se necessários, para a superação das deficiências. de ensino superior;
§ 3o No caso de instituição privada, além das sanções b) a lista das disciplinas que compõem a grade curri-
previstas no § 1o deste artigo, o processo de reavaliação cular de cada curso e as respectivas cargas horárias;
poderá resultar em redução de vagas autorizadas e em c) a identificação dos docentes que ministrarão as
suspensão temporária de novos ingressos e de oferta de aulas em cada curso, as disciplinas que efetivamen-
cursos. te ministrará naquele curso ou cursos, sua titulação,
§ 4o É facultado ao Ministério da Educação, mediante abrangendo a qualificação profissional do docente e
procedimento específico e com aquiescência da insti- o tempo de casa do docente, de forma total, contínua
tuição de ensino, com vistas a resguardar os interesses ou intermitente.
dos estudantes, comutar as penalidades previstas nos § 2º Os alunos que tenham extraordinário aproveita-
§§ 1o e 3o deste artigo por outras medidas, desde que mento nos estudos, demonstrado por meio de provas
adequadas para superação das deficiências e irregula- e outros instrumentos de avaliação específicos, apli-
ridades constatadas. cados por banca examinadora especial, poderão ter
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

§ 5o Para fins de regulação, os Estados e o Distrito Fe- abreviada a duração dos seus cursos, de acordo com
deral deverão adotar os critérios definidos pela União as normas dos sistemas de ensino.
para autorização de funcionamento de curso de gra- § 3º É obrigatória a frequência de alunos e professores,
duação em Medicina. salvo nos programas de educação a distância.
§ 4º As instituições de educação superior oferecerão,
Art. 47. Na educação superior, o ano letivo regular, no período noturno, cursos de graduação nos mesmos
independente do ano civil, tem, no mínimo, duzentos padrões de qualidade mantidos no período diurno,
dias de trabalho acadêmico efetivo, excluído o tempo sendo obrigatória a oferta noturna nas instituições pú-
reservado aos exames finais, quando houver. blicas, garantida a necessária previsão orçamentária.
§ 1º As instituições informarão aos interessados, an- Art. 48. Os diplomas de cursos superiores reconhe-
tes de cada período letivo, os programas dos cursos e cidos, quando registrados, terão validade nacional

92
como prova da formação recebida por seu titular. observadas as diretrizes gerais pertinentes;
§ 1º Os diplomas expedidos pelas universidades serão III - estabelecer planos, programas e projetos de pes-
por elas próprias registrados, e aqueles conferidos por quisa científica, produção artística e atividades de
instituições não-universitárias serão registrados em extensão;
universidades indicadas pelo Conselho Nacional de IV - fixar o número de vagas de acordo com a capaci-
Educação. dade institucional e as exigências do seu meio;
§ 2º Os diplomas de graduação expedidos por univer- V - elaborar e reformar os seus estatutos e regimentos
sidades estrangeiras serão revalidados por universida- em consonância com as normas gerais atinentes;
des públicas que tenham curso do mesmo nível e área VI - conferir graus, diplomas e outros títulos;
ou equivalente, respeitando-se os acordos internacio- VII - firmar contratos, acordos e convênios;
nais de reciprocidade ou equiparação. VIII - aprovar e executar planos, programas e projetos
§ 3º Os diplomas de Mestrado e de Doutorado expe- de investimentos referentes a obras, serviços e aqui-
didos por universidades estrangeiras só poderão ser sições em geral, bem como administrar rendimentos
reconhecidos por universidades que possuam cursos conforme dispositivos institucionais;
de pós-graduação reconhecidos e avaliados, na mes- IX - administrar os rendimentos e deles dispor na for-
ma área de conhecimento e em nível equivalente ou ma prevista no ato de constituição, nas leis e nos res-
superior. pectivos estatutos;
X - receber subvenções, doações, heranças, legados e
Art. 49. As instituições de educação superior aceitarão cooperação financeira resultante de convênios com
a transferência de alunos regulares, para cursos afins, entidades públicas e privadas.
na hipótese de existência de vagas, e mediante pro- § 1º Para garantir a autonomia didático-científica das
cesso seletivo. universidades, caberá aos seus colegiados de ensino
Parágrafo único. As transferências ex officio dar-se-ão e pesquisa decidir, dentro dos recursos orçamentários
na forma da lei. disponíveis, sobre:
I - criação, expansão, modificação e extinção de cursos;
Art. 50. As instituições de educação superior, quando II - ampliação e diminuição de vagas;
da ocorrência de vagas, abrirão matrícula nas disci- III - elaboração da programação dos cursos;
plinas de seus cursos a alunos não regulares que de- IV - programação das pesquisas e das atividades de
monstrarem capacidade de cursá-las com proveito, extensão;
mediante processo seletivo prévio. V - contratação e dispensa de professores;
VI - planos de carreira docente.
Art. 51. As instituições de educação superior creden- § 2o As doações, inclusive monetárias, podem ser diri-
ciadas como universidades, ao deliberar sobre critérios gidas a setores ou projetos específicos, conforme acor-
e normas de seleção e admissão de estudantes, leva- do entre doadores e universidades.
rão em conta os efeitos desses critérios sobre a orien- § 3o No caso das universidades públicas, os recursos
tação do ensino médio, articulando-se com os órgãos das doações devem ser dirigidos ao caixa único da
normativos dos sistemas de ensino. instituição, com destinação garantida às unidades a
serem beneficiadas.
Art. 52. As universidades são instituições pluridiscipli-
nares de formação dos quadros profissionais de nível Art. 54. As universidades mantidas pelo Poder Público
superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cul- gozarão, na forma da lei, de estatuto jurídico especial
tivo do saber humano, que se caracterizam por: para atender às peculiaridades de sua estrutura, or-
I - produção intelectual institucionalizada mediante o ganização e financiamento pelo Poder Público, assim
estudo sistemático dos temas e problemas mais rele- como dos seus planos de carreira e do regime jurídico
vantes, tanto do ponto de vista científico e cultural, do seu pessoal.
quanto regional e nacional; § 1º No exercício da sua autonomia, além das atribui-
II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titula- ções asseguradas pelo artigo anterior, as universida-
ção acadêmica de mestrado ou doutorado; des públicas poderão:
III - um terço do corpo docente em regime de tempo I - propor o seu quadro de pessoal docente, técnico
integral. e administrativo, assim como um plano de cargos e
Parágrafo único. É facultada a criação de universida- salários, atendidas as normas gerais pertinentes e os
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

des especializadas por campo do saber. recursos disponíveis;


II - elaborar o regulamento de seu pessoal em confor-
Art. 53. No exercício de sua autonomia, são assegu- midade com as normas gerais concernentes;
radas às universidades, sem prejuízo de outras, as se- III - aprovar e executar planos, programas e projetos
guintes atribuições: de investimentos referentes a obras, serviços e aqui-
sições em geral, de acordo com os recursos alocados
I - criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e pelo respectivo Poder mantenedor;
programas de educação superior previstos nesta Lei, IV - elaborar seus orçamentos anuais e plurianuais;
obedecendo às normas gerais da União e, quando for V - adotar regime financeiro e contábil que atenda às
o caso, do respectivo sistema de ensino; suas peculiaridades de organização e funcionamento;
II - fixar os currículos dos seus cursos e programas, VI - realizar operações de crédito ou de financiamento,

93
com aprovação do Poder competente, para aquisição instituições públicas independentemente de vínculo com
de bens imóveis, instalações e equipamentos; o curso, desde que haja vagas disponíveis.
VII - efetuar transferências, quitações e tomar outras Para propiciar o desenvolvimento institucional, exige-
providências de ordem orçamentária, financeira e pa- -se que pelo menos 1/3 do corpo docente da instituição
trimonial necessárias ao seu bom desempenho. possua mestrado ou doutorado, bem como que 1/3 do
§ 2º Atribuições de autonomia universitária pode- corpo docente se dedique exclusivamente à docência.
rão ser estendidas a instituições que comprovem alta Em que pesem as regras mínimas acerca do ensino
qualificação para o ensino ou para a pesquisa, com superior, as instituições de ensino superior são dotadas
base em avaliação realizada pelo Poder Público. de autonomia para se organizarem.
As universidades públicas gozam de estatuto jurídico
Art. 55. Caberá à União assegurar, anualmente, em especial.
seu Orçamento Geral, recursos suficientes para ma- As instituições públicas devem obedecer ao princípio
nutenção e desenvolvimento das instituições de edu- da gestão democrática, assegurado pela existência de
cação superior por ela mantidas. órgãos colegiados deliberativos que mesclem membros
da comunidade, do corpo docente e do corpo discente.
Art. 56. As instituições públicas de educação superior
obedecerão ao princípio da gestão democrática, asse-
gurada a existência de órgãos colegiados deliberati- #FicaDica
vos, de que participarão os segmentos da comunida- Educação superior – nível universitário
de institucional, local e regional. – em instituições públicas ou privadas – o
Parágrafo único. Em qualquer caso, os docentes ocu- ingresso deve se dar conforme mérito (ves-
parão setenta por cento dos assentos em cada órgão tibulares).
colegiado e comissão, inclusive nos que tratarem da
elaboração e modificações estatutárias e regimentais,
bem como da escolha de dirigentes. CAPÍTULO V
DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
Art. 57. Nas instituições públicas de educação supe-
rior, o professor ficará obrigado ao mínimo de oito Art. 58. Entende-se por educação especial, para os
horas semanais de aulas. efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar
oferecida preferencialmente na rede regular de ensino,
A educação superior se funda no tripé: ensino, pes- para educandos com deficiência, transtornos globais do
quisa e extensão. No viés do ensino, objetiva-se propi- desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação.
ciar o acesso ao conhecimento técnico e científico, tanto § 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio es-
dentro do ambiente acadêmico quanto fora dele; no as- pecializado, na escola regular, para atender às peculia-
pecto pesquisa, busca-se desenvolver os conhecimentos ridades da clientela de educação especial.
já existentes; no aspecto extensão, pretende-se atingir a § 2º O atendimento educacional será feito em classes,
comunidade por meio de atividades que possam ir além escolas ou serviços especializados, sempre que, em fun-
dos ambientes acadêmicos, inserindo-se no cotidiano da ção das condições específicas dos alunos, não for pos-
vida social. sível a sua integração nas classes comuns de ensino
Classicamente, a educação superior se dá nos níveis regular.
de graduação, cujo acesso se dá por meio dos vestibu- § 3º A oferta de educação especial, nos termos do caput
lares, e pós-graduação, cujo acesso também se dá por deste artigo, tem início na educação infantil e estende-
processos seletivos próprios, funcionando como comple- -se ao longo da vida, observados o inciso III do art. 4º e
mentação ao ensino superior. Entretanto, o ensino su- o parágrafo único do art. 60 desta Lei.
perior também pode se dar em cursos sequenciais e em
cursos de extensão, de menor duração e complexidade. Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educan-
O ensino superior pode ser ministrado em institui- dos com deficiência, transtornos globais do desenvolvi-
ções públicas ou privadas. Independentemente da natu- mento e altas habilidades ou superdotação:
reza da instituição, é necessário respeitar as regras míni- I - currículos, métodos, técnicas, recursos educati-
mas sobre duração do ano letivo, programas de curso, vos e organização específicos, para atender às suas
componentes curriculares, etc. necessidades;
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

O diploma faz prova da formação. II - terminalidade específica para aqueles que não pude-
É possível a transferência entre instituições. A trans- rem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino
ferência a pedido está condicionada a número de vagas fundamental, em virtude de suas deficiências, e acelera-
e a processo seletivo. As transferências de ofício se sujei- ção para concluir em menor tempo o programa escolar
tam a critérios próprios. Um exemplo de transferência de para os superdotados;
ofício se dá no caso de remoção de servidor público de III - professores com especialização adequada em ní-
ofício no interesse da Administração (caso o servidor ou vel médio ou superior, para atendimento especializado,
seu dependente estude em instituição pública na cidade bem como professores do ensino regular capacitados
onde estava lotado, tem o direito de ser transferido para para a integração desses educandos nas classes comuns;
a instituição pública da nova lotação). IV - educação especial para o trabalho, visando a sua
É possível que uma pessoa assista aulas nas efetiva integração na vida em sociedade, inclusive

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condições adequadas para os que não revelarem capa- conteúdos de áreas afins à sua formação para atender
cidade de inserção no trabalho competitivo, mediante o disposto no inciso V do caput do art. 36.
articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para Parágrafo único. A formação dos profissionais da
aqueles que apresentam uma habilidade superior nas educação, de modo a atender às especificidades do
áreas artística, intelectual ou psicomotora; exercício de suas atividades, bem como aos objetivos
V - acesso igualitário aos benefícios dos programas so- das diferentes etapas e modalidades da educação bá-
ciais suplementares disponíveis para o respectivo nível sica, terá como fundamentos:
do ensino regular. I – a presença de sólida formação básica, que propicie
o conhecimento dos fundamentos científicos e sociais
Art. 59-A. O poder público deverá instituir cadastro na- de suas competências de trabalho;
cional de alunos com altas habilidades ou superdotação II – a associação entre teorias e práticas, mediante es-
matriculados na educação básica e na educação supe- tágios supervisionados e capacitação em serviço;
rior, a fim de fomentar a execução de políticas públicas III – o aproveitamento da formação e experiências
destinadas ao desenvolvimento pleno das potencialida- anteriores, em instituições de ensino e em outras
des desse alunado. atividades.
Parágrafo único. A identificação precoce de alunos com IV - profissionais com notório saber reconhecido pelos
altas habilidades ou superdotação, os critérios e proce- respectivos sistemas de ensino, para ministrar conteú-
dimentos para inclusão no cadastro referido no caput dos de áreas afins à sua formação ou experiência pro-
deste artigo, as entidades responsáveis pelo cadastra- fissional, atestados por titulação específica ou prática
mento, os mecanismos de acesso aos dados do cadastro de ensino em unidades educacionais da rede pública
e as políticas de desenvolvimento das potencialidades ou privada ou das corporações privadas em que te-
do alunado de que trata o caput serão definidos em nham atuado, exclusivamente para atender ao inciso
regulamento. V do caput do art. 36;
V - profissionais graduados que tenham feito comple-
Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino mentação pedagógica, conforme disposto pelo Conse-
estabelecerão critérios de caracterização das instituições lho Nacional de Educação.
privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atua-
ção exclusiva em educação especial, para fins de apoio Art. 62. A formação de docentes para atuar na edu-
técnico e financeiro pelo Poder Público. cação básica far-se-á em nível superior, em curso de
Parágrafo único. O poder público adotará, como al- licenciatura plena, admitida, como formação mínima
ternativa preferencial, a ampliação do atendimento para o exercício do magistério na educação infantil
aos educandos com deficiência, transtornos globais do e nos cinco primeiros anos do ensino fundamental, a
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação oferecida em nível médio, na modalidade normal.
na própria rede pública regular de ensino, indepen- § 1º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Muni-
dentemente do apoio às instituições previstas neste cípios, em regime de colaboração, deverão promover
artigo. a formação inicial, a continuada e a capacitação dos
profissionais de magistério.
A educação especial volta-se a educandos com defi- § 2º A formação continuada e a capacitação dos pro-
ciência, transtornos globais do desenvolvimento e altas fissionais de magistério poderão utilizar recursos e
habilidades ou superdotação. Para que ela seja efetivada, tecnologias de educação a distância.
exige-se a especialização das instituições de ensino e de § 3º A formação inicial de profissionais de magisté-
seus profissionais. rio dará preferência ao ensino presencial, subsidiaria-
mente fazendo uso de recursos e tecnologias de edu-
TÍTULO VI cação a distância.
DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO § 4º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Muni-
cípios adotarão mecanismos facilitadores de acesso e
Art. 61. Consideram-se profissionais da educação es- permanência em cursos de formação de docentes em
colar básica os que, nela estando em efetivo exercício nível superior para atuar na educação básica pública.
e tendo sido formados em cursos reconhecidos, são: § 5º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu-
I – professores habilitados em nível médio ou superior nicípios incentivarão a formação de profissionais do
para a docência na educação infantil e nos ensinos magistério para atuar na educação básica pública
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

fundamental e médio; mediante programa institucional de bolsa de inicia-


II – trabalhadores em educação portadores de diplo- ção à docência a estudantes matriculados em cursos
ma de pedagogia, com habilitação em administração, de licenciatura, de graduação plena, nas instituições
planejamento, supervisão, inspeção e orientação edu- de educação superior.
cacional, bem como com títulos de mestrado ou dou- § 6º O Ministério da Educação poderá estabelecer nota
torado nas mesmas áreas; mínima em exame nacional aplicado aos concluintes
III - trabalhadores em educação, portadores de diplo- do ensino médio como pré-requisito para o ingresso
ma de curso técnico ou superior em área pedagógica em cursos de graduação para formação de docentes,
ou afim; e ouvido o Conselho Nacional de Educação - CNE.
IV - profissionais com notório saber reconhecido pe- § 7º (VETADO).
los respectivos sistemas de ensino para ministrar § 8º Os currículos dos cursos de formação de docentes

95
terão por referência a Base Nacional Comum Curri- universidade com curso de doutorado em área afim,
cular. poderá suprir a exigência de título acadêmico.

Art. 62-A. A formação dos profissionais a que se re- Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valoriza-
fere o inciso III do art. 61 far-se-á por meio de cursos ção dos profissionais da educação, assegurando-lhes,
de conteúdo técnico-pedagógico, em nível médio ou inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de car-
superior, incluindo habilitações tecnológicas. reira do magistério público:
Parágrafo único. Garantir-se-á formação continuada I - ingresso exclusivamente por concurso público de
para os profissionais a que se refere o caput, no local provas e títulos;
de trabalho ou em instituições de educação básica e II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive
superior, incluindo cursos de educação profissional, com licenciamento periódico remunerado para esse
cursos superiores de graduação plena ou tecnológicos fim;
e de pós-graduação. III - piso salarial profissional;
IV - progressão funcional baseada na titulação ou habi-
Art. 62-B. O acesso de professores das redes públicas litação, e na avaliação do desempenho;
de educação básica a cursos superiores de pedagogia V - período reservado a estudos, planejamento e ava-
e licenciatura será efetivado por meio de processo se- liação, incluído na carga de trabalho;
letivo diferenciado. VI - condições adequadas de trabalho.
§ 1º Terão direito de pleitear o acesso previsto no § 1º A experiência docente é pré-requisito para o exer-
caput deste artigo os professores das redes públicas cício profissional de quaisquer outras funções de ma-
municipais, estaduais e federal que ingressaram por gistério, nos termos das normas de cada sistema de
concurso público, tenham pelo menos três anos de ensino.
exercício da profissão e não sejam portadores de di- § 2º Para os efeitos do disposto no § 5º do art. 40 e no
ploma de graduação. § 8º do art. 201 da Constituição Federal, são conside-
§ 2o As instituições de ensino responsáveis pela oferta radas funções de magistério as exercidas por profes-
de cursos de pedagogia e outras licenciaturas defini- sores e especialistas em educação no desempenho de
rão critérios adicionais de seleção sempre que acorre- atividades educativas, quando exercidas em estabele-
rem aos certames interessados em número superior ao cimento de educação básica em seus diversos níveis e
de vagas disponíveis para os respectivos cursos. modalidades, incluídas, além do exercício da docência,
§ 3o Sem prejuízo dos concursos seletivos a serem de- as de direção de unidade escolar e as de coordenação
finidos em regulamento pelas universidades, terão e assessoramento pedagógico.
prioridade de ingresso os professores que optarem por § 3º A União prestará assistência técnica aos Estados,
cursos de licenciatura em matemática, física, química, ao Distrito Federal e aos Municípios na elaboração
biologia e língua portuguesa. de concursos públicos para provimento de cargos dos
profissionais da educação.
Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão: Os profissionais da educação devem possuir forma-
ção específica, notadamente possuir habilitação para a
I - cursos formadores de profissionais para a educação docência, que pode se dar pelas licenciaturas e magisté-
básica, inclusive o curso normal superior, destinado à rios em geral, bem como pela pedagogia, ou ainda por
formação de docentes para a educação infantil e para formação e área afim que habilite para o ensino de ma-
as primeiras séries do ensino fundamental; térias específicas (ex.: profissional do Direito pode lecio-
II - programas de formação pedagógica para portado- nar português, filosofia e sociologia). Além disso, devem
res de diplomas de educação superior que queiram se possuir experiência em atividades de ensino. Quanto ao
dedicar à educação básica; ensino superior, exige-se pós-graduação, que pode ser
III - programas de educação continuada para os profis- uma simples especialização, embora deva preferencial-
sionais de educação dos diversos níveis. mente se possuir mestrado ou doutorado. No âmbito
do ensino público, exige-se valorização do profissional,
Art. 64. A formação de profissionais de educação para criando-se plano de carreira e aperfeiçoando-se as con-
administração, planejamento, inspeção, supervisão e dições de trabalho.
orientação educacional para a educação básica, será
feita em cursos de graduação em pedagogia ou em ní- TÍTULO VII
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

vel de pós-graduação, a critério da instituição de ensi- DOS RECURSOS FINANCEIROS


no, garantida, nesta formação, a base comum nacional.
Art. 68. Serão recursos públicos destinados à educação
Art. 65. A formação docente, exceto para a educação su- os originários de:
perior, incluirá prática de ensino de, no mínimo, trezentas I - receita de impostos próprios da União, dos Estados,
horas. do Distrito Federal e dos Municípios;
II - receita de transferências constitucionais e outras
Art. 66. A preparação para o exercício do magistério transferências;
superior far-se-á em nível de pós-graduação, priorita- III - receita do salário-educação e de outras contribui-
riamente em programas de mestrado e doutorado. ções sociais;
Parágrafo único. O notório saber, reconhecido por IV - receita de incentivos fiscais;

96
V - outros recursos previstos em lei. VII - amortização e custeio de operações de crédito
destinadas a atender ao disposto nos incisos deste
Art. 69. A União aplicará, anualmente, nunca menos artigo;
de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Mu- VIII - aquisição de material didático-escolar e manu-
nicípios, vinte e cinco por cento, ou o que consta nas tenção de programas de transporte escolar.
respectivas Constituições ou Leis Orgânicas, da receita
resultante de impostos, compreendidas as transferên- Art. 71. Não constituirão despesas de manutenção e
cias constitucionais, na manutenção e desenvolvimen- desenvolvimento do ensino aquelas realizadas com:
to do ensino público. I - pesquisa, quando não vinculada às instituições de
§ 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida ensino, ou, quando efetivada fora dos sistemas de en-
pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Mu- sino, que não vise, precipuamente, ao aprimoramento
nicípios, ou pelos Estados aos respectivos Municípios, de sua qualidade ou à sua expansão;
não será considerada, para efeito do cálculo previsto II - subvenção a instituições públicas ou privadas de
neste artigo, receita do governo que a transferir. caráter assistencial, desportivo ou cultural;
§ 2º Serão consideradas excluídas das receitas de III - formação de quadros especiais para a administração
impostos mencionadas neste artigo as operações de pública, sejam militares ou civis, inclusive diplomáticos;
crédito por antecipação de receita orçamentária de IV - programas suplementares de alimentação, assis-
impostos. tência médico-odontológica, farmacêutica e psicológi-
§ 3º Para fixação inicial dos valores correspondentes ca, e outras formas de assistência social;
aos mínimos estatuídos neste artigo, será considerada V - obras de infraestrutura, ainda que realizadas para
a receita estimada na lei do orçamento anual, ajusta- beneficiar direta ou indiretamente a rede escolar;
da, quando for o caso, por lei que autorizar a abertura VI - pessoal docente e demais trabalhadores da edu-
de créditos adicionais, com base no eventual excesso cação, quando em desvio de função ou em atividade
de arrecadação. alheia à manutenção e desenvolvimento do ensino.
§ 4º As diferenças entre a receita e a despesa previs-
tas e as efetivamente realizadas, que resultem no não Art. 72. As receitas e despesas com manutenção e de-
atendimento dos percentuais mínimos obrigatórios, senvolvimento do ensino serão apuradas e publicadas
serão apuradas e corrigidas a cada trimestre do exer- nos balanços do Poder Público, assim como nos rela-
cício financeiro. tórios a que se refere o § 3º do art. 165 da Constituição
§ 5º O repasse dos valores referidos neste artigo do Federal.
caixa da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios ocorrerá imediatamente ao órgão respon- Art. 73. Os órgãos fiscalizadores examinarão, priorita-
sável pela educação, observados os seguintes prazos: riamente, na prestação de contas de recursos públicos,
I - recursos arrecadados do primeiro ao décimo dia de o cumprimento do disposto no art. 212 da Constitui-
cada mês, até o vigésimo dia; ção Federal, no art. 60 do Ato das Disposições Consti-
II - recursos arrecadados do décimo primeiro ao vigé- tucionais Transitórias e na legislação concernente.
simo dia de cada mês, até o trigésimo dia;
III - recursos arrecadados do vigésimo primeiro Art. 74. A União, em colaboração com os Estados, o
dia ao final de cada mês, até o décimo dia do mês Distrito Federal e os Municípios, estabelecerá padrão
subsequente. mínimo de oportunidades educacionais para o ensino
§ 6º O atraso da liberação sujeitará os recursos a cor- fundamental, baseado no cálculo do custo mínimo por
reção monetária e à responsabilização civil e criminal aluno, capaz de assegurar ensino de qualidade.
das autoridades competentes. Parágrafo único. O custo mínimo de que trata este ar-
tigo será calculado pela União ao final de cada ano,
Art. 70. Considerar-se-ão como de manutenção e de- com validade para o ano subsequente, considerando
senvolvimento do ensino as despesas realizadas com variações regionais no custo dos insumos e as diversas
vistas à consecução dos objetivos básicos das institui- modalidades de ensino.
ções educacionais de todos os níveis, compreendendo
as que se destinam a: Art. 75. A ação supletiva e redistributiva da União e
I - remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docen- dos Estados será exercida de modo a corrigir, progres-
te e demais profissionais da educação; sivamente, as disparidades de acesso e garantir o pa-
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

II - aquisição, manutenção, construção e conservação drão mínimo de qualidade de ensino.


de instalações e equipamentos necessários ao ensino; § 1º A ação a que se refere este artigo obedecerá a
III – uso e manutenção de bens e serviços vinculados fórmula de domínio público que inclua a capacidade
ao ensino; de atendimento e a medida do esforço fiscal do res-
IV - levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas pectivo Estado, do Distrito Federal ou do Município em
visando precipuamente ao aprimoramento da quali- favor da manutenção e do desenvolvimento do ensino.
dade e à expansão do ensino; § 2º A capacidade de atendimento de cada governo
V - realização de atividades-meio necessárias ao fun- será definida pela razão entre os recursos de uso cons-
cionamento dos sistemas de ensino; titucionalmente obrigatório na manutenção e desen-
VI - concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas volvimento do ensino e o custo anual do aluno, relati-
públicas e privadas; vo ao padrão mínimo de qualidade.

97
§ 3º Com base nos critérios estabelecidos nos §§ 1º e com os seguintes objetivos:
2º, a União poderá fazer a transferência direta de re- I - proporcionar aos índios, suas comunidades e povos,
cursos a cada estabelecimento de ensino, considerado a recuperação de suas memórias históricas; a reafir-
o número de alunos que efetivamente frequentam a mação de suas identidades étnicas; a valorização de
escola. suas línguas e ciências;
§ 4º A ação supletiva e redistributiva não poderá ser II - garantir aos índios, suas comunidades e povos, o
exercida em favor do Distrito Federal, dos Estados e acesso às informações, conhecimentos técnicos e cien-
dos Municípios se estes oferecerem vagas, na área de tíficos da sociedade nacional e demais sociedades in-
ensino de sua responsabilidade, conforme o inciso VI dígenas e não-índias.
do art. 10 e o inciso V do art. 11 desta Lei, em número
inferior à sua capacidade de atendimento. Art. 79. A União apoiará técnica e financeiramente
Art. 76. A ação supletiva e redistributiva prevista no os sistemas de ensino no provimento da educação in-
artigo anterior ficará condicionada ao efetivo cumpri- tercultural às comunidades indígenas, desenvolvendo
mento pelos Estados, Distrito Federal e Municípios do programas integrados de ensino e pesquisa.
disposto nesta Lei, sem prejuízo de outras prescrições § 1º Os programas serão planejados com audiência
legais. das comunidades indígenas.
§ 2º Os programas a que se refere este artigo, inclu-
Art. 77. Os recursos públicos serão destinados às esco- ídos nos Planos Nacionais de Educação, terão os se-
las públicas, podendo ser dirigidos a escolas comuni- guintes objetivos:
tárias, confessionais ou filantrópicas que: I - fortalecer as práticas socioculturais e a língua ma-
I - comprovem finalidade não-lucrativa e não distribu- terna de cada comunidade indígena;
am resultados, dividendos, bonificações, participações II - manter programas de formação de pessoal espe-
ou parcela de seu patrimônio sob nenhuma forma ou cializado, destinado à educação escolar nas comuni-
pretexto; dades indígenas;
II - apliquem seus excedentes financeiros em educação; III - desenvolver currículos e programas específicos,
III - assegurem a destinação de seu patrimônio a ou- neles incluindo os conteúdos culturais corresponden-
tra escola comunitária, filantrópica ou confessional, tes às respectivas comunidades;
ou ao Poder Público, no caso de encerramento de suas IV - elaborar e publicar sistematicamente material di-
atividades; dático específico e diferenciado.
§ 3º No que se refere à educação superior, sem pre-
IV - prestem contas ao Poder Público dos recursos juízo de outras ações, o atendimento aos povos indí-
recebidos. genas efetivar-se-á, nas universidades públicas e pri-
§ 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser vadas, mediante a oferta de ensino e de assistência
destinados a bolsas de estudo para a educação básica, estudantil, assim como de estímulo à pesquisa e de-
na forma da lei, para os que demonstrarem insuficiên- senvolvimento de programas especiais.
cia de recursos, quando houver falta de vagas e cursos
regulares da rede pública de domicílio do educando, Art. 79-A. (VETADO).
ficando o Poder Público obrigado a investir priorita-
riamente na expansão da sua rede local. Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de
§ 2º As atividades universitárias de pesquisa e exten- novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’.
são poderão receber apoio financeiro do Poder Públi-
co, inclusive mediante bolsas de estudo. Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvimen-
to e a veiculação de programas de ensino a distância,
No aspecto orçamentário, merece destaque a exi- em todos os níveis e modalidades de ensino, e de edu-
gência de dedicação de parcela mínima dos impostos cação continuada.
da União (18%) e dos Estados e Distrito Federal (25%) § 1º A educação a distância, organizada com abertura
voltada à educação. Ainda, coloca-se o papel de suple- e regime especiais, será oferecida por instituições es-
mentação e redistribuição da União em relação aos Es- pecificamente credenciadas pela União.
tados e Municípios e dos Estados com relação aos Mu- § 2º A União regulamentará os requisitos para a re-
nicípios, repassando-se verbas para permitir que estas alização de exames e registro de diploma relativos a
unidades federativas consigam lograr êxito em oferecer cursos de educação a distância.
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

parâmetro mínimo de qualidade no ensino que é de sua § 3º As normas para produção, controle e avaliação
incumbência. de programas de educação a distância e a autoriza-
ção para sua implementação, caberão aos respectivos
TÍTULO VIII sistemas de ensino, podendo haver cooperação e inte-
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS gração entre os diferentes sistemas.
§ 4º A educação a distância gozará de tratamento di-
Art. 78. O Sistema de Ensino da União, com a colabo- ferenciado, que incluirá:
ração das agências federais de fomento à cultura e de I - custos de transmissão reduzidos em canais comer-
assistência aos índios, desenvolverá programas inte- ciais de radiodifusão sonora e de sons e imagens e em
grados de ensino e pesquisa, para oferta de educação outros meios de comunicação que sejam explorados
escolar bilíngue e intercultural aos povos indígenas, mediante autorização, concessão ou permissão do

98
poder público; § 4º (Revogado).
II - concessão de canais com finalidades exclusiva- § 5º Serão conjugados todos os esforços objetivando
mente educativas; a progressão das redes escolares públicas urbanas de
III - reserva de tempo mínimo, sem ônus para o Poder ensino fundamental para o regime de escolas de tem-
Público, pelos concessionários de canais comerciais. po integral.
§ 6º A assistência financeira da União aos Estados,
Art. 81. É permitida a organização de cursos ou insti- ao Distrito Federal e aos Municípios, bem como a
tuições de ensino experimentais, desde que obedeci- dos Estados aos seus Municípios, ficam condiciona-
das as disposições desta Lei. das ao cumprimento do art. 212 da Constituição Fe-
deral e dispositivos legais pertinentes pelos governos
Art. 82. Os sistemas de ensino estabelecerão as nor- beneficiados.
mas de realização de estágio em sua jurisdição, obser-
vada a lei federal sobre a matéria. Art. 87-A. (VETADO).

Art. 83. O ensino militar é regulado em lei específica, Art. 88. A União, os Estados, o Distrito Federal e os
admitida a equivalência de estudos, de acordo com as Municípios adaptarão sua legislação educacional e de
normas fixadas pelos sistemas de ensino. ensino às disposições desta Lei no prazo máximo de
um ano, a partir da data de sua publicação.
Art. 84. Os discentes da educação superior poderão § 1º As instituições educacionais adaptarão seus es-
ser aproveitados em tarefas de ensino e pesquisa pelas tatutos e regimentos aos dispositivos desta Lei e às
respectivas instituições, exercendo funções de moni- normas dos respectivos sistemas de ensino, nos prazos
toria, de acordo com seu rendimento e seu plano de por estes estabelecidos.
estudos.
§ 2º O prazo para que as universidades cumpram o
disposto nos incisos II e III do art. 52 é de oito anos.
Art. 85. Qualquer cidadão habilitado com a titulação
própria poderá exigir a abertura de concurso públi- Art. 89. As creches e pré-escolas existentes ou que ve-
co de provas e títulos para cargo de docente de ins- nham a ser criadas deverão, no prazo de três anos, a
tituição pública de ensino que estiver sendo ocupado contar da publicação desta Lei, integrar-se ao respec-
por professor não concursado, por mais de seis anos, tivo sistema de ensino.
ressalvados os direitos assegurados pelos arts. 41
da Constituição Federal e 19 do Ato das Disposições Art. 90. As questões suscitadas na transição entre o re-
Constitucionais Transitórias. gime anterior e o que se institui nesta Lei serão resolvi-
das pelo Conselho Nacional de Educação ou, mediante
Art. 86. As instituições de educação superior constitu- delegação deste, pelos órgãos normativos dos siste-
ídas como universidades integrar-se-ão, também, na mas de ensino, preservada a autonomia universitária.
sua condição de instituições de pesquisa, ao Sistema
Nacional de Ciência e Tecnologia, nos termos da le- Art. 91. Esta Lei entra em vigor na data de sua
gislação específica. publicação.

TÍTULO IX Art. 92. Revogam-se as disposições das Leis nºs 4.024,


DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS de 20 de dezembro de 1961, e 5.540, de 28 de novem-
bro de 1968, não alteradas pelas Leis nºs 9.131, de 24
Art. 87. É instituída a Década da Educação, a iniciar-se de novembro de 1995 e 9.192, de 21 de dezembro de
um ano a partir da publicação desta Lei. 1995 e, ainda, as Leis nºs 5.692, de 11 de agosto de
§ 1º A União, no prazo de um ano a partir da publi- 1971 e 7.044, de 18 de outubro de 1982, e as demais
cação desta Lei, encaminhará, ao Congresso Nacional, leis e decretos-lei que as modificaram e quaisquer ou-
o Plano Nacional de Educação, com diretrizes e metas tras disposições em contrário.
para os dez anos seguintes, em sintonia com a Decla-
ração Mundial sobre Educação para Todos.
§ 2º (Revogado).
EXERCÍCIO COMENTADO
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

§ 3º O Distrito Federal, cada Estado e Município, e,


supletivamente, a União, devem:
I - (Revogado). 1. (UFPA - Assistente de Aluno - CEPS-UFPA/2015) A
II - prover cursos presenciais ou a distância aos jovens Lei nº 9.394/1996 estabelece que:
e adultos insuficientemente escolarizados;
III - realizar programas de capacitação para todos a) a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios
os professores em exercício, utilizando também, para organizarão, em regime de colaboração, os respecti-
isto, os recursos da educação a distância; vos sistemas de esportes nacionais.
IV - integrar todos os estabelecimentos de ensino b) a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios
fundamental do seu território ao sistema nacional de organizarão, em regime de colaboração, a meren-
avaliação do rendimento escolar. da escolar, o transporte escolar, os livros didáticos, a

99
manutenção de veículos públicos e particulares. 3. (Prefeitura de Alto Piquiri - Cuidador Social -
c) os municípios devem garantir a todos os alunos KLC/2012) A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
o ensino médio primeiramente e depois o ensino estabelece:
fundamental.
d) os Estados devem assegurar primeiramente o ensino a) os parâmetros curriculares nacionais.
médio, a educação de jovens e adultos, a educação b) as diretrizes e bases da educação nacional.
quilombola e a educação especial. c) exclusivamente as normas da educação básica.
e) a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios d) as leis e diretrizes somente para a educação superior
organizarão, em regime de colaboração, os respecti- e) unicamente o funcionamento do sistema de avaliação.
vos sistemas de ensino.
Resposta: Letra B.Conforme consta na própria Lei nº
Resposta: Letra E. É o teor do artigo 8º da Lei nº 9.394, ela “estabelece as diretrizes e bases da educação
9.394/1996: “A União, os Estados, o Distrito Federal e nacional”.
os Municípios organizarão, em regime de colabora- A, C, D e E. Incorretas, são abrangidas as diretrizes e
ção, os respectivos sistemas de ensino”. bases da educação nacional, em todos os níveis.
A, B, C, D. Incorretas, por exclusão, devido ao teor do
artigo 8o, Lei nº 9.394/1996. LEI Nº 12.796, DE 4 DE ABRIL DE 2013.

2. (CREF - 3ª Região - Assistente Administrativo - A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Con-


Quadrix/2013 - adaptada) Assinale a alternativa con- gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
trária ao disposto pela Lei Federal n° 9.394:
Art. 1º A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996,  pas-
a) A educação, dever da família e do Estado, inspirada sa a vigorar com as seguintes alterações:
nos princípios de liberdade e nos ideais de solidarie- “Art. 3º  .
dade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvi- XII - consideração com a diversidade étnico-racial.”
mento do educando, seu preparo para o exercício da (NR)
cidadania e sua qualificação para o trabalho. “Art. 4º 
b) O acesso ao ensino fundamental é direito público sub- I -  educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (qua-
jetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, tro) aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada da
associação comunitária, organização sindical, entida- seguinte forma:
de de classe ou outra legalmente constituída, e, ain- a) pré-escola;
da, o Ministério Público, acionar o Poder Público para b) ensino fundamental;
exigi-lo. c) ensino médio;
c) Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escola- II - educação infantil gratuita às crianças de até 5
res públicas de educação básica que os integram pro- (cinco) anos de idade;
gressivos graus de autonomia pedagógica e adminis- III - atendimento educacional especializado gratuito
trativa e de gestão financeira, observadas as normas aos educandos com deficiência, transtornos globais do
gerais de direito financeiro público. desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação,
d) A educação física, integrada à proposta pedagógica da transversal a todos os níveis, etapas e modalidades,
escola, é componente curricular da Educação Básica, preferencialmente na rede regular de ensino;
ajustando-se às faixas etárias e às condições da popu- IV -  acesso público e gratuito aos ensinos fundamen-
lação escolar, sendo obrigatória nos cursos noturnos. tal e médio para todos os que não os concluíram na
idade própria;
Resposta: Letra D. Eis o teor da Lei nº 9.394: “artigo
26, § 3º A educação física, integrada à proposta peda- VIII -  atendimento ao educando, em todas as etapas
gógica da escola, é componente curricular obrigatório da educação básica, por meio de programas suple-
da educação infantil e do ensino fundamental, sendo mentares de material didático-escolar, transporte, ali-
sua prática facultativa ao aluno: I - que cumpra jorna- mentação e assistência à saúde;(NR)
da de trabalho igual ou superior a seis horas; II - maior “Art. 5º O acesso à educação básica obrigatória é
de trinta anos de idade; III - que estiver prestando ser- direito público subjetivo, podendo qualquer cidadão,
viço militar inicial ou que, em situação similar, estiver grupo de cidadãos, associação comunitária, organi-
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

obrigado à prática da educação física; IV - amparado zação sindical, entidade de classe ou outra legalmente
pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de outubro de 1969; constituída e, ainda, o Ministério Público, acionar o
V - (VETADO); VI - que tenha prole”. poder público para exigi-lo.
A. Correta, conforme artigo 2o, LDB. § 1º O poder público, na esfera de sua competência
B. Correta, conforme artigo 5o, LDB. federativa, deverá:
C. Correta, conforme artigo 15, LDB. I - recensear anualmente as crianças e adolescentes
em idade escolar, bem como os jovens e adultos que
não concluíram a educação básica; (NR)
“Art. 6º É dever dos pais ou responsáveis efetuar a
matrícula das crianças na educação básica a partir
dos 4 (quatro) anos de idade.” (NR)

100
“Art. 26.  Os currículos da educação infantil, do ensino § 5º A União, o Distrito Federal, os Estados e os
fundamental e do ensino médio devem ter base na- Municípios incentivarão a formação de profissionais
cional comum, a ser complementada, em cada siste- do magistério para atuar na educação básica pública
ma de ensino e em cada estabelecimento escolar, por mediante programa institucional de bolsa de iniciação
uma parte diversificada, exigida pelas características à docência a estudantes matriculados em cursos de
regionais e locais da sociedade, da cultura, da econo- licenciatura, de graduação plena, nas instituições de
mia e dos educandos. educação superior.
“Art. 29.  A educação infantil, primeira etapa da edu- § 6º O Ministério da Educação poderá estabelecer nota
cação básica, tem como finalidade o desenvolvimento mínima em exame nacional aplicado aos concluintes
integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus as- do ensino médio como pré-requisito para o ingresso
pectos físico, psicológico, intelectual e social, comple- em cursos de graduação para formação de docentes,
mentando a ação da família e da comunidade.” (NR) ouvido o Conselho Nacional de Educação - CNE.
“Art. 30. § 7º (VETADO).” (NR)
II - pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 “Art. 62-A.  A formação dos profissionais a que se ref-
(cinco) anos de idade.” (NR) ere o inciso III do art. 61 far-se-á por meio de cursos
“Art. 31.  A educação infantil será organizada de acor- de conteúdo técnico-pedagógico, em nível médio ou
do com as seguintes regras comuns: superior, incluindo habilitações tecnológicas.
I - avaliação mediante acompanhamento e registro do Parágrafo único. Garantir-se-á formação continuada
desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de pro- para os profissionais a que se refere o caput , no lo-
moção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental; cal de trabalho ou em instituições de educação básica
II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) e superior, incluindo cursos de educação profissional,
horas, distribuída por um mínimo de 200 (duzentos) cursos superiores de graduação plena ou tecnológicos
dias de trabalho educacional; e de pós-graduação.”
III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro) “Art. 67. .
horas diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas § 3º  A União prestará assistência técnica aos Estados,
para a jornada integral; ao Distrito Federal e aos Municípios na elaboração
IV - controle de frequência pela instituição de educa- de concursos públicos para provimento de cargos dos
ção pré-escolar, exigida a frequência mínima de 60% profissionais da educação.” (NR)
(sessenta por cento) do total de horas; “Art. 87.
V - expedição de documentação que permita atestar § 2º  (Revogado).
os processos de desenvolvimento e aprendizagem da § 3º  .....
criança.” (NR) I -  (revogado);
“Art. 58. Entende-se por educação especial, para os
efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar § 4º  (Revogado). (NR)
oferecida preferencialmente na rede regular de ensi- “Art. 87-A.  (VETADO).”
no, para educandos com deficiência, transtornos glo- Art. 2º Revogam-se o § 2º ,  o inciso I do § 3º  e o § 4º
bais do desenvolvimento e altas habilidades ou super- do art. 87 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
dotação.(NR) Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publi-
“Art. 59.  Os sistemas de ensino assegurarão aos edu- cação.
candos com deficiência, transtornos globais do desen-
volvimento e altas habilidades ou superdotação:(NR) Brasília, 4 de abril de 2013; 192º da Independência e
“Art. 60. 125º da República.
Parágrafo único.  O poder público adotará, como al- DILMA ROUSSEFF
ternativa preferencial, a ampliação do atendimento Aloizio Mercadante
aos educandos com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação
na própria rede pública regular de ensino, indepen-
dentemente do apoio às instituições previstas neste PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO - LEI Nº
artigo.” (NR) 13.005/2014
“Art. 62.  A formação de docentes para atuar na edu-
cação básica far-se-á em nível superior, em curso de
Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com De-
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

licenciatura, de graduação plena, em universidades


e institutos superiores de educação, admitida, como ficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência).
formação mínima para o exercício do magistério na
educação infantil e nos 5 (cinco) primeiros anos do A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Con-
ensino fundamental, a oferecida em nível médio na gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
modalidade normal.
É possível dividir em quatro fases a história da cons-
§ 4º  A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu- trução da dignidade das pessoas com deficiência, fase
nicípios adotarão mecanismos facilitadores de acesso da Intolerância em que a pessoa com deficiência era
e permanência em cursos de formação de docentes em considerada símbolo de impureza e castigo divino; fase
nível superior para atuar na educação básica pública. da Invisibilidade em que o indivíduo era tolerado, mas

101
excluído da sociedade, fase assistencialista em que há nos 3 (três) primeiros artigos. O artigo 1º do Estatuto ga-
cuidados para com a vida do deficiente, mas apenas nas rante que a lei foi introduzida no ordenamento jurídico
casas de misericórdia e a fase atual a humanista em que brasileiro com o intuito de assegurar e promover os di-
se trabalha para inserção e a igualdade pela dessas pes- reitos já em vigência no país, reconhecendo a igualdade
soas no convívio social15. A fase humanista é orientada entre as pessoas, proporcionando o exercício dos direi-
pelo paradigma dos direitos humanos, na qual emergi- tos e das liberdades fundamentais pelas pessoas com
ram os direitos à inclusão social, com ênfase na relação deficiência, buscando a inclusão social e cidadania. Os
da pessoa com deficiência e do meio em que ela se inse- artigos 2º e 3º traz a definição de Pessoa com Deficiên-
re, além da necessidade de eliminar obstáculos e barrei- cia, acessibilidade, desenho universal, barreiras, dentre
ras (culturais, físicos ou sociais) que possam ser supera- outros conceitos que estão presentes no dia a dia do
dos. Destaca-se a inovação promovida pela Convenção indivíduo com deficiência.
da ONU, que reconhece a deficiência como resultado da O capítulo II (artigos 4º a 8º), trata da questão da
interação entre indivíduos e seu meio ambiente, não re- igualdade e da não discriminação, são propósitos já de-
sidindo apenas intrinsecamente no indivíduo16. A Lei nº fendidos pela Convenção sobre os Direitos da Pessoa
13.146/2015 é o estopim nacional da fase humanista da com Deficiência e seu Protocolo facultativo, devendo os
proteção da pessoa com deficiência, vindo elaborada em Estados Partes criarem normas internas para diminuir ou
consonância com a Constituição Federal de 1988 e com mesmo eliminar a discriminação entre as pessoas, além
a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas de proporcionar a plena igualdade de condições peran-
com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados te a sociedade, possibilitando a essas pessoas uma con-
em Nova York, em 30 de março de 2007, e promulgados vivência social digna. Devendo a sociedade denunciar
pelo Decreto nº 6.949 de 25 de agosto de 2009, os quais a autoridade qualquer forma de ameaça ou mesmo de
são dotados de força de normativa constitucional. violação de direitos da pessoa com deficiência. A seção
Com efeito, veda-se a discriminação das pessoas única (artigo 9º) garante ao deficiente o atendimento
portadoras de deficiência, o que não significa que é im- prioritário em todos os campos da sua vida.
pedido que a lei garantia distinções que permitam um O título II (artigos 10 a 52) dispõe sobre os direitos
tratamento igualitário destas pessoas na vida em socie- fundamentais como direito à vida, à saúde, à educação,
dade – pois não basta garantir a igualdade formal na à moradia, declarados pela Constituição Federal de 1988,
lei sem a criação de instrumentos e políticas voltados que garante a todas as pessoas não só aos deficientes.
aos grupos vulneráveis como o das pessoas portadoras Dispõe ainda sobre direitos fundamentais de extrema
de deficiência. Na tentativa de propiciar esta igualdade importância para que o deficiente esteja em igualdade
material surge o Estatuto da Proteção da Pessoa com com os demais como à habilitação e a reabilitação, ca-
Deficiência. pacitando-o para uma disputa inclusive para o mercado
Em 6 de julho de 2015 foi assinada a lei 13.146/2015, de trabalho.
Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, O título III (artigos 53 a 76) traz um dos temas mais
podendo ser também chamado de Estatuto da Pessoa importantes e discutidos da atualidade, a questão da
com Deficiência. Entrou em vigor em janeiro deste ano. acessibilidade. Visto que garante a pessoa com deficiên-
Devendo sempre preservar o princípio da dignidade cia ou com mobilidade reduzida viver da forma mais in-
humana. dependente possível para exercer seus direitos de cida-
O princípio da dignidade humana foi positivado, em dania, podendo ter participação ativa na sociedade.
várias Constituições do pós-guerra, assim como a Decla- O título IV (artigos 77 e 78) aborda as questões da
ração das Nações Unidas, que em seu artigo 1º garante ciência e tecnologia, deve o poder público investir no de-
a liberdade e igualdade com relação a dignidade e os senvolvimento científico e tecnológico com o intuito de
direitos. Constituição Federal Brasileira de 1988 garan- melhorar a qualidade de vida das pessoas com deficiên-
te que todos são iguais perante a lei, podendo garantir cia tanto profissional, quanto pessoal.
uma verdadeira tutela da pessoa humana (LOUSADA, O título I (artigos 79 a 87) da segunda parte dispõe
2015). sobre o acesso a justiça, deve o poder público garantir a
O Estatuto da Pessoa com Deficiência (2015) foi divi- pessoa com deficiência o seu pleno acesso à justiça, em
do em 2 (dois) livros, sendo eles I e II. O livro I (parte ge- igualdade de oportunidades com as demais pessoas da
ral) subdivide-se em 4 (quatro) títulos, já o livro II (parte sociedade, além de garantir a pessoa deficiente o exercí-
especial) subdivide-se em 3 (três) títulos. cio de sua capacidade legal.
O título I traz os 9 (nove) primeiros artigos, divididos O título II (artigos 88 a 90) trata dos crimes e das in-
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

em 2 (dois) capítulos, incluindo ainda uma seção única. frações administrativas, punindo quem por algum mo-
O capítulo I apresenta as disposições gerais distribuídos tivo praticar, induzir ou mesmo incitar discriminação de
pessoa com deficiência, aquele que desviar bens, pro-
15 TISESCU, Alessandra Devulsky da Silva; SAN-
ventos, benefícios, abandonar pessoa com deficiência, ou
TOS, Jackson Passos. Apontamentos históricos sobre
mesmo utilizar cartão magnético ou outros mecanismos
as fases de construção dos Direitos Humanos das Pes-
para tentar prejudicar e obter vantagem indevida para si
soas com Deficiência. Disponível em:<http://www.publi-
ou para outrem.
cadireito.com.br/artigos/?cod=24f984f75f37a519>. Acesso
em: 20 fev. 2016.
O título III (artigos 92 a 125) trata das disposições fi-
nais e transitórias, é criado pelo estado um cadastro na-
16 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito
cional de inclusão da pessoa com deficiência (cadastro-
constitucional internacional. 9. ed. São Paulo: Saraiva,
-inclusão), para que haja por parte do Estado um maior
2008.

102
controle sobre a real situação do deficiente seja ele físico, curatelados.
mental ou intelectual no Brasil. Art. 13. A pessoa com deficiência somente será aten-
Dentro do título III existe um “Título IV em que trata dida sem seu consentimento prévio, livre e esclarecido
da alteração na redação do Código Civil de 2002, com em casos de risco de morte e de emergência em saúde,
relação a capacidade civil das pessoas com deficiência, resguardado seu superior interesse e adotadas as sal-
após a vigência do Estatuto da Pessoa com deficiência, o vaguardas legais cabíveis.
indivíduo não será mais caracterizado como pessoa ab-
solutamente incapaz e sim plenamente capaz. [...]
O Estatuto foi criado sob forte influência da Conven-
ção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu CAPÍTULO IV
Protocolo Facultativo, seguido pelo Brasil desde 2009. DO DIREITO À EDUCAÇÃO
Sendo sua criação necessária para que o protocolo seja
de fato regularizado internamente, já que o Estado Parte Art. 27. A educação constitui direito da pessoa com
deve criar normas internas que possibilitem colocar em deficiência, assegurados sistema educacional inclusi-
prática aquilo estabelecido no tratado. vo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda
a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvi-
mento possível de seus talentos e habilidades físicas,
#FicaDica sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas carac-
terísticas, interesses e necessidades de aprendizagem.
O Estatuto da Pessoa com Deficiência con-
Parágrafo único. É dever do Estado, da família, da co-
solida a perspectiva humanista acerca da
munidade escolar e da sociedade assegurar educação
pessoa com deficiência, corroborando a
de qualidade à pessoa com deficiência, colocando-
Convenção sobre os Direitos das Pessoas
-a a salvo de toda forma de violência, negligência e
com Deficiência e seu Protocolo Facultativo.
discriminação.
Art. 28. Incumbe ao poder público assegurar, criar,
desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar e
Prezado candidato, não tendo sido indicado diretamen- avaliar:
te o Título da lei a que se refere o edital, separamos o mate- I - sistema educacional inclusivo em todos os níveis e
rial relevante para completar seus estudos sobre Educação. modalidades, bem como o aprendizado ao longo de
toda a vida;
TÍTULO II II - aprimoramento dos sistemas educacionais, vi-
DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS sando a garantir condições de acesso, permanência,
participação e aprendizagem, por meio da oferta de
CAPÍTULO I serviços e de recursos de acessibilidade que eliminem
DO DIREITO À VIDA as barreiras e promovam a inclusão plena;
III - projeto pedagógico que institucionalize o aten-
Art. 10. Compete ao poder público garantir a dignida- dimento educacional especializado, assim como os
de da pessoa com deficiência ao longo de toda a vida. demais serviços e adaptações razoáveis, para atender
Parágrafo único. Em situações de risco, emergência ou às características dos estudantes com deficiência e
estado de calamidade pública, a pessoa com deficiên- garantir o seu pleno acesso ao currículo em condições
cia será considerada vulnerável, devendo o poder pú- de igualdade, promovendo a conquista e o exercício
blico adotar medidas para sua proteção e segurança. de sua autonomia;
Art. 11. A pessoa com deficiência não poderá ser obri- IV - oferta de educação bilíngue, em Libras como pri-
gada a se submeter a intervenção clínica ou cirúrgica, meira língua e na modalidade escrita da língua por-
a tratamento ou a institucionalização forçada. tuguesa como segunda língua, em escolas e classes
Parágrafo único. O consentimento da pessoa com de- bilíngues e em escolas inclusivas;
ficiência em situação de curatela poderá ser suprido, V - adoção de medidas individualizadas e coletivas
na forma da lei. em ambientes que maximizem o desenvolvimento
Art. 12. O consentimento prévio, livre e esclarecido da acadêmico e social dos estudantes com deficiência,
pessoa com deficiência é indispensável para a reali- favorecendo o acesso, a permanência, a participação
zação de tratamento, procedimento, hospitalização e e a aprendizagem em instituições de ensino;
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

pesquisa científica. VI - pesquisas voltadas para o desenvolvimento de


§ 1º Em caso de pessoa com deficiência em situação novos métodos e técnicas pedagógicas, de materiais
de curatela, deve ser assegurada sua participação, no didáticos, de equipamentos e de recursos de tecnolo-
maior grau possível, para a obtenção de consentimento. gia assistiva;
§ 2º A pesquisa científica envolvendo pessoa com de- VII - planejamento de estudo de caso, de elaboração
ficiência em situação de tutela ou de curatela deve de plano de atendimento educacional especializado,
ser realizada, em caráter excepcional, apenas quan- de organização de recursos e serviços de acessibilida-
do houver indícios de benefício direto para sua saúde de e de disponibilização e usabilidade pedagógica de
ou para a saúde de outras pessoas com deficiência e recursos de tecnologia assistiva;
desde que não haja outra opção de pesquisa de efi- VIII - participação dos estudantes com deficiência e
cácia comparável com participantes não tutelados ou de suas famílias nas diversas instâncias de atuação

103
da comunidade escolar; (IES) e nos serviços;
IX - adoção de medidas de apoio que favoreçam o II - disponibilização de formulário de inscrição de exa-
desenvolvimento dos aspectos linguísticos, culturais, mes com campos específicos para que o candidato com
vocacionais e profissionais, levando-se em conta o ta- deficiência informe os recursos de acessibilidade e de
lento, a criatividade, as habilidades e os interesses do tecnologia assistiva necessários para sua participação;
estudante com deficiência; III - disponibilização de provas em formatos acessíveis
X - adoção de práticas pedagógicas inclusivas pelos para atendimento às necessidades específicas do can-
programas de formação inicial e continuada de pro- didato com deficiência;
fessores e oferta de formação continuada para o aten- IV - disponibilização de recursos de acessibilidade e de
dimento educacional especializado; tecnologia assistiva adequados, previamente solicita-
XI - formação e disponibilização de professores para o dos e escolhidos pelo candidato com deficiência;
atendimento educacional especializado, de tradutores V - dilação de tempo, conforme demanda apresentada
e intérpretes da Libras, de guias intérpretes e de pro- pelo candidato com deficiência, tanto na realização
fissionais de apoio; de exame para seleção quanto nas atividades acadê-
XII - oferta de ensino da Libras, do Sistema Braille e micas, mediante prévia solicitação e comprovação da
de uso de recursos de tecnologia assistiva, de forma necessidade;
a ampliar habilidades funcionais dos estudantes, pro- VI - adoção de critérios de avaliação das provas escri-
movendo sua autonomia e participação; tas, discursivas ou de redação que considerem a sin-
XIII - acesso à educação superior e à educação profis- gularidade linguística da pessoa com deficiência, no
sional e tecnológica em igualdade de oportunidades e domínio da modalidade escrita da língua portuguesa;
condições com as demais pessoas; VII - tradução completa do edital e de suas retificações
XIV - inclusão em conteúdos curriculares, em cursos em Libras.
de nível superior e de educação profissional técnica e
tecnológica, de temas relacionados à pessoa com defi- A pessoa com deficiência deve ser educada por méto-
ciência nos respectivos campos de conhecimento; dos que respeitem as suas necessidades especiais, não
XV - acesso da pessoa com deficiência, em igualdade devendo ter um acesso inferior à educação em razão
de condições, a jogos e a atividades recreativas, espor- de limitações motoras, sensoriais ou afins.
tivas e de lazer, no sistema escolar; [...]
XVI - acessibilidade para todos os estudantes, traba-
lhadores da educação e demais integrantes da comu-
nidade escolar às edificações, aos ambientes e às ati-
#FicaDica
vidades concernentes a todas as modalidades, etapas
e níveis de ensino; A acessibilidade é direito que garante à pessoa
XVII - oferta de profissionais de apoio escolar; com deficiência ou com mobilidade reduzida
XVIII - articulação intersetorial na implementação de viver de forma independente e exercer seus
políticas públicas. direitos de cidadania e de participação social.
§ 1º Às instituições privadas, de qualquer nível e mo- Inclui direito à inclusão por meio do acesso à
dalidade de ensino, aplica-se obrigatoriamente o dis- informação, tecnologias assistivas e participa-
posto nos incisos I, II, III, V, VII, VIII, IX, X, XI, XII, XIII, ção política.
XIV, XV, XVI, XVII e XVIII do caput deste artigo, sendo
vedada a cobrança de valores adicionais de qualquer
natureza em suas mensalidades, anuidades e matrícu-
las no cumprimento dessas determinações. EXERCÍCIOS COMENTADOS
§ 2º Na disponibilização de tradutores e intérpretes da
Libras a que se refere o inciso XI do caput deste artigo, 1) (CESPE/2018 - EBSERH - Conhecimentos Básicos -
deve-se observar o seguinte: Cargos de Nível Superior - Área Médica) Com base no
I - os tradutores e intérpretes da Libras atuantes na disposto no Estatuto da Pessoa com Deficiência, julgue o
educação básica devem, no mínimo, possuir ensino item a seguir.
médio completo e certificado de proficiência na Libras; A pessoa com deficiência não poderá sofrer nenhuma es-
II - os tradutores e intérpretes da Libras, quando dire- pécie de discriminação pela sua condição, mas não será
cionados à tarefa de interpretar nas salas de aula dos obrigada à fruição de benefícios decorrentes de ação
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

cursos de graduação e pós-graduação, devem possuir afirmativa.


nível superior, com habilitação, prioritariamente, em
Tradução e Interpretação em Libras. ( ) CERTO ( ) ERRADO
Art. 29. (VETADO).
Art. 30. Nos processos seletivos para ingresso e per- Resposta: Certo. Disciplina o artigo 4o, caput e § 2o:
manência nos cursos oferecidos pelas instituições de “Toda pessoa com deficiência tem direito à igualda-
ensino superior e de educação profissional e tecnoló- de de oportunidades com as demais pessoas e não
gica, públicas e privadas, devem ser adotadas as se- sofrerá nenhuma espécie de discriminação. [...] § 2º A
guintes medidas: pessoa com deficiência não está obrigada à fruição de
I - atendimento preferencial à pessoa com deficiência benefícios decorrentes de ação afirmativa”.
nas dependências das Instituições de Ensino Superior

104
2) (CESPE/2018 - EBSERH - Conhecimentos Básicos -
Cargos de Nível Superior - Área Médica) Com base no ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCEN-
disposto no Estatuto da Pessoa com Deficiência, julgue o TE - LEI Nº 8.069/1990 (ECA): ARTIGOS 1º
item a seguir. A 24 E 53 A 69; PARTE ESPECIAL: TÍTULO I;
Em processos seletivos para ingresso nos cursos ofere- TÍTULO II; TÍTULO III; TÍTULO V – ARTIGOS
cidos pelas instituições de ensino superior, o candidato 131 A 140
com deficiência terá direito à disponibilização de provas
em formatos acessíveis à sua necessidade, sendo vedada
a concessão de dilatação de tempo para a realização de COMENTÁRIOS À LEI
tais provas.
PARTE GERAL
( ) CERTO ( ) ERRADO
TÍTULO I
Resposta: Errado. Disciplina o artigo 30, IV e V: “Nos DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
processos seletivos para ingresso e permanência nos
cursos oferecidos pelas instituições de ensino superior Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à
e de educação profissional e tecnológica, públicas e criança e ao adolescente.
privadas, devem ser adotadas as seguintes medidas:
[...] IV - disponibilização de recursos de acessibilidade O princípio da proteção integral se associa ao princí-
e de tecnologia assistiva adequados, previamente so- pio da prioridade absoluta, colacionado no artigo 4º do
licitados e escolhidos pelo candidato com deficiência; ECA e no artigo 227, CF. “Com a positivação desse prin-
V - dilação de tempo, conforme demanda apresenta- cípio tem-se também a positivação da proteção integral,
da pelo candidato com deficiência, tanto na realização que se opõe à antiga e superada doutrina da situação
de exame para seleção quanto nas atividades acadê- irregular, que era prevista no antigo Código de Menores
micas, mediante prévia solicitação e comprovação da e especificava que sua incidência se restringia aos me-
necessidade; [...]”. nores em situação irregular, apresentando um conjunto
de normas destinadas ao tratamento e prevenção dessas
3) (CESPE/2018 - EBSERH - Conhecimentos Básicos - situações”17.
Cargos de Nível Médio - Área Assistencial) Acerca do Basicamente, tinha-se na doutrina da situação irregu-
Estatuto da Pessoa com Deficiência, julgue o item que se lar que era necessário disciplinar um estatuto jurídico da
segue. criança e do adolescente que apenas abordasse situa-
A avaliação da deficiência de uma pessoa deverá ser ções em que ele estivesse irregular, seja por uma despro-
biopsicossocial, com equipe multiprofissional e interdis- teção, como no caso de abandono, ou pela violação da
ciplinar, considerando seus fatores socioambientais, psi- lei, como nos casos de atos infracionais.
cológicos e pessoais. Entretanto, o direito evoluiu e passou a contemplar
uma noção de proteção mais ampla da criança e do ado-
( ) CERTO ( ) ERRADO lescente, que não apenas abordasse situações de irre-
gularidade (embora ainda o fizesse), mas que abranges-
Resposta: Errado. Preconiza o artigo 2o, § 1o: “A ava- se todo o arcabouço jurídico protetivo da criança e do
liação da deficiência, quando necessária, será biopsi- adolescente.
cossocial, realizada por equipe multiprofissional e in-
terdisciplinar e considerará: I - os impedimentos nas Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei,
funções e nas estruturas do corpo; II - os fatores so- a pessoa até doze anos de idade incompletos, e ado-
cioambientais, psicológicos e pessoais; III - a limitação lescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.
no desempenho de atividades; e IV - a restrição de Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-
participação”. -se excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre
dezoito e vinte e um anos de idade.

O Estatuto da Criança e do Adolescente opta por ca-


tegorizar separadamente estas duas categorias de me-
nores. Criança é aquele que tem até 12 anos de idade (na
data de aniversário de 12 anos, passa a ser adolescente),
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

adolescente é aquele que tem entre 12 e 18 anos (na


data de aniversário de 18 anos, passa a ser maior). Em
situações excepcionais o ECA se aplica ao maior de 18
anos, até os 21 anos de idade, por exemplo, no caso do
menor infrator sujeito a internação em fundação CASA
que tenha 17 anos e 11 meses na data do ato infracional

17 DEZEM, Guilherme Madeira; AGUIRRE, João Ricardo


Brandão; FULLER, Paulo Henrique Aranda. Estatuto da Criança e
do Adolescente. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. (Coleção
Elementos do Direito)

105
poderá ficar detido até o limite de seus 20 anos e 11 categorias de direitos fundamentais assegurados à crian-
meses (eis que 3 anos é o tempo máximo de internação). ça e ao adolescente.
Deste artigo 3º do ECA é possível, ainda, extrair o des-
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os di- taque ao princípio da igualdade, no sentido de que há
reitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem plena igualdade na garantia de direitos entre todas as
prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, as- crianças e adolescentes, não sendo permitido qualquer
segurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas tipo de discriminação.
as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar A leitura dos artigos 4º e 5º, em conjunto com outros
o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e dispositivos do ECA, por sua vez, permite detectar a pre-
social, em condições de liberdade e de dignidade. sença de um tríplice sistema de garantias.
Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei Assim, o Estatuto da Criança e do Adolescente adota
aplicam-se a todas as crianças e adolescentes, sem uma estrutura que contempla três sistemas de garantia –
discriminação de nascimento, situação familiar, idade, primário, secundário e terciário.
sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência,
condição pessoal de desenvolvimento e aprendiza- a) Sistema primário – artigos 4º e 87, ECA – abor-
gem, condição econômica, ambiente social, região e da políticas públicas de atendimento de crianças e
local de moradia ou outra condição que diferencie as adolescentes.
pessoas, as famílias ou a comunidade em que vivem.
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da socieda-
O artigo 3º volta-se à concretização dos direitos da de em geral e do poder público assegurar, com abso-
criança e do adolescente. Concretização significa viabili- luta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à
zação prática, consecução real dos fins que a lei descreve. vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte,
Como se percebe pela leitura até o momento, o legisla- ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
dor brasileiro preocupou-se em elaborar uma legislação ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
cujo objetivo é concretizar estes direitos da criança e do comunitária.
adolescente. Entretanto, a lei é apenas uma carta de in- Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
tenções. É necessário colocar seu conteúdo em prática, a) primazia de receber proteção e socorro em quais-
porque sozinha ela nada faz. quer circunstâncias;
A implementação na prática dos direitos da criança e b) precedência de atendimento nos serviços públicos
do adolescente depende da adoção de posturas por par- ou de relevância pública;
te de todos aqueles colocados como responsáveis para c) preferência na formulação e na execução das políti-
tanto: Estado, sociedade, comunidade e família. Especifi- cas sociais públicas;
camente no que se refere ao Estado, mostra-se essencial d) destinação privilegiada de recursos públicos nas
que ele desenvolve políticas públicas adequadas em res- áreas relacionadas com a proteção à infância e à
peito à peculiar condição do infante. juventude.
“O Direito da Criança e do Adolescente deve ter con-
dições suficientemente próprias de promoção e concre-
tização de direitos. Para isso deve-se desvencilhar do O artigo 4º do ECA colaciona em seu caput teor idên-
dogmatismo e do mero positivismo jurídico acrítico. O tico ao do caput do artigo 227, CF, onde se encontra
Direito da Criança e do Adolescente enquanto ramo au- uma das principais diretrizes do direito da criança e do
tônomo do direito é responsável por ressignificar a atua- adolescente que é o princípio da prioridade absoluta.
ção estatal, principalmente no campo das políticas públi- Significa que cada criança e adolescente deve receber
cas e impõe corresponsabilidades compartilhadas”18. tratamento especial do Estado e ser priorizado em suas
Vale ressaltar que às crianças e aos adolescentes são políticas públicas, pois são o futuro do país e as bases de
garantidos os mesmos direitos fundamentais que aos construção da sociedade.
adultos, entretanto, o ECA aprofunda alguns direitos Explica Liberati19: “Por absoluta prioridade, devemos
fundamentais em espécie, abordando-os na vertente da entender que a criança e o adolescente deverão estar em
condição especial dos que pertencem a este grupo. primeiro lugar na escala de preocupação dos governan-
As crianças e adolescentes gozam de igualdade de tes; devemos entender que, primeiro, devem ser atendi-
direitos em relação às demais pessoas, podendo usufruir das todas as necessidades das crianças e adolescentes
de todos eles. O próprio estatuto contempla em seu título [...]. Por absoluta prioridade, entende-se que, na área
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

II os direitos fundamentais da criança e do adolescente, administrativa, enquanto não existirem creches, escolas,
entre eles incluindo-se: vida, saúde, liberdade, respeito, postos de saúde, atendimento preventivo e emergencial
dignidade, convivência familiar e comunitária, educação, às gestantes dignas moradias e trabalho, não se deveria
cultura, esporte, lazer, profissionalização e proteção no asfaltar ruas, construir praças, sambódromos monumen-
trabalho. Não se trata de rol taxativo de direitos funda- tos artísticos etc., porque a vida, a saúde, o lar, a preven-
mentais garantidos à criança e ao adolescente, eis que ção de doenças são importantes que as obras de concre-
ele possui todos os direitos humanos e fundamentais to que ficam par a demonstrar o poder do governante”.
que as demais pessoas. O título II do ECA tem por ob- O parágrafo único do artigo 4º especifica a abrangên-
jetivo aprofundar especificidades acerca de algumas das cia da absoluta prioridade, esclarecendo que é necessário
18 http://t.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.as- 19 LIBERATI, Wilson Donizeti. O Estatuto da Criança e do
p?id=2236 Adolescente: Comentários. São Paulo: IBPS.

106
conferir atendimento prioritário às crianças e aos adoles- Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto
centes diante de situações de perigo e risco (como no de qualquer forma de negligência, discriminação, ex-
salvamento em incêndios e enchentes, etc.), bem como ploração, violência, crueldade e opressão, punido na
nos serviços públicos em geral (chegada aos hospitais, forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão,
por exemplo). Além disso, devem ser priorizadas políti- aos seus direitos fundamentais.
cas públicas que favoreçam a criança e o adolescente e
também devem ser reservados recursos próprios priori- O artigo 5º ressalta o verdadeiro objetivo geral do
tariamente a eles. ECA: proteger a criança de qualquer forma de negli-
gência, discriminação, exploração, violência, crueldade
Art. 87. São linhas de ação da política de atendimento: e opressão. Neste sentido, coloca-se a possibilidade de
I - políticas sociais básicas; responsabilização de todos que atentarem contra esse
II - serviços, programas, projetos e benefícios de assis- propósito. A responsabilização poderá se dar em qual-
tência social de garantia de proteção social e de pre- quer uma das três esferas, isolada ou cumulativamente:
venção e redução de violações de direitos, seus agra- penal, respondendo por crimes e contravenções penais
vamentos ou reincidências; todo aquele que praticá-lo contra criança e adolescente,
III - serviços especiais de prevenção e atendimento bem como respondendo por atos infracionais as crianças
médico e psicossocial às vítimas de negligência, maus- e adolescentes que atentarem um contra o outro; civil,
-tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão; estabelecendo-se o dever de indenizar por danos cau-
IV - serviço de identificação e localização de pais, res- sados a crianças e a adolescentes, que se estende a toda
ponsável, crianças e adolescentes desaparecidos; e qualquer pessoa física ou jurídica que o faça, inclusive
V - proteção jurídico-social por entidades de defesa o próprio Estado; e administrativa, impondo-se penas
dos direitos da criança e do adolescente. disciplinares a funcionários sujeitos a regime jurídico ad-
VI - políticas e programas destinados a prevenir ou ministrativo em trabalhos privados ou em cargos, empre-
abreviar o período de afastamento do convívio fami- gos e funções públicos.
liar e a garantir o efetivo exercício do direito à convi-
vência familiar de crianças e adolescentes; Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em con-
VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob for- ta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do
ma de guarda de crianças e adolescentes afastados bem comum, os direitos e deveres individuais e coleti-
do convívio familiar e à adoção, especificamente inter- vos, e a condição peculiar da criança e do adolescente
-racial, de crianças maiores ou de adolescentes, com como pessoas em desenvolvimento.
necessidades específicas de saúde ou com deficiências
e de grupos de irmãos.  É pacífico que o processo de interpretação hoje faz
parte do Direito, principalmente se considerada a cons-
O artigo 87 descreve linhas de ação na política de tante evolução da sociedade, demandando diariamente
atendimento, que compõem a delimitação do princípio por novos modos de aplicação das normas. Como a so-
da prioridade absoluta na vertente da priorização na ciedade é dinâmica e o Direito existe para servi-la, cabe a
adoção de políticas públicas e na delimitação de recursos ele adequar-se às novas exigências sociais, aplicando-se
financeiros para execução de tais políticas. da maneira mais justa à vasta gama de casos concretos.
Sobre a interpretação, explica Gonçalves20: “Quando o
b) Sistema secundário – artigos 98 e 101, ECA – fato é típico e se enquadra perfeitamente no conceito
aborda as medidas de proteção destinadas à crian- abstrato da norma, dá-se o fenômeno da subsunção. Há
ça e ao adolescente em situação de risco pessoal casos, no entanto, em que tal enquadramento não ocor-
ou social. re, não encontrando o juiz nenhuma norma aplicável à
Obs.: as medidas de proteção são estudadas adiante hipótese sub judice. Deve, então, proceder à integração
neste material. normativa, mediante o emprego da analogia, dos costu-
mes e dos princípios gerais do direito. [...] Para verificar
c) Sistema terciário – artigo 112, ECA – aborda as se a norma é aplicável ao caso em julgamento (subsun-
medidas socioeducativas, destinadas à responsabi- ção) ou se deve proceder à integração normativa, o juiz
lização penal do adolescente infrator, isto é, àquele procura descobrir o sentido da norma, interpretando-a.
entre 12 e 18 anos que comete atos infracionais. Interpretar é descobrir o sentido e o alcance da norma
Obs.: as medidas socioeducativas são estudadas jurídica”.
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

adiante neste material. A hermenêutica possui 3 categorias de métodos.


O sistema tríplice deve operar de forma harmônica, Quanto às fontes ou origem, a interpretação pode ser
com o acionamento gradual de cada um deles. Nas situa- autêntica ou legislativa, jurisprudencial ou judicial e dou-
ções em que a criança ou adolescente escape ao sistema trinária. Quanto aos meios, pode ser gramatical ou literal,
primário de prevenção, ou seja, nos casos de ineficácia examinando o texto normativo linguísticamente; lógica
das políticas públicas específicas, deve ser acionado o ou racional, apurando o sentido e a finalidade da nor-
sistema secundário, operado predominantemente pelo ma; sistemática, analisando a lei de maneira compara-
Conselho Tutelas. Por sua vez, em casos extremos, é ne- tiva com outras leis pertencentes à mesma província do
cessário partir para a adoção de medidas socioeducati- Direito (livro, título, capítulo, seção, parágrafo); histórica,
vas, operadas predominantemente pelo Ministério Públi-
co e pelo Judiciário. 20 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 9.
ed. São Paulo: Saraiva, 2011, v. 1.

107
baseando-se na verificação dos antecedentes do pro- § 7º A gestante deverá receber orientação sobre alei-
cesso legislativo; sociológica, adaptando o sentido ou tamento materno, alimentação complementar sau-
finalidade da norma às novas exigências sociais (artigo dável e crescimento e desenvolvimento infantil, bem
5°, LINDB). Quanto aos resultados pode ser declarativa, como sobre formas de favorecer a criação de vínculos
quando o texto legal corresponde ao pensamento do le- afetivos e de estimular o desenvolvimento integral da
gislador; extensiva ou ampliativa, quando o alcance da lei criança.
é mais amplo que o indicado pelo seu texto; e restritiva, § 8º A gestante tem direito a acompanhamento sau-
na qual se limita o campo de aplicação da lei. Nenhum dável durante toda a gestação e a parto natural cui-
destes métodos se opera isoladamente21. dadoso, estabelecendo-se a aplicação de cesariana e
O artigo 6º do ECA, tal como o artigo 5º da LINDB, outras intervenções cirúrgicas por motivos médicos.
expressa o método de interpretação sociológico, cha- § 9º A atenção primária à saúde fará a busca ativa
mando atenção à interpretação da lei levando em conta da gestante que não iniciar ou que abandonar as con-
os seus fins sociais, as exigências do bem comum, os di- sultas de pré-natal, bem como da puérpera que não
reitos e deveres individuais e coletivos, e vai além: exige comparecer às consultas pós-parto.
que se leve em conta a condição peculiar da criança e do § 10. Incumbe ao poder público garantir, à gestan-
adolescente. Logo, ao se interpretar o ECA não se pode te e à mulher com filho na primeira infância que se
nunca perder de vista que o seu objeto material, a crian- encontrem sob custódia em unidade de privação de
ça e o adolescente, é extremamente peculiar, dotado de liberdade, ambiência que atenda às normas sanitá-
especificidades as quais sempre se deve atentar. rias e assistenciais do Sistema Único de Saúde para o
acolhimento do filho, em articulação com o sistema
TÍTULO II de ensino competente, visando ao desenvolvimento
DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS integral da criança.

CAPÍTULO I Art. 8º-A. Fica instituída a Semana Nacional de Pre-


DO DIREITO À VIDA E À SAÚDE venção da Gravidez na Adolescência, a ser realizada
anualmente na semana que incluir o dia 1º de feve-
Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a prote- reiro, com o objetivo de disseminar informações so-
ção à vida e à saúde, mediante a efetivação de polí- bre medidas preventivas e educativas que contribuam
ticas sociais públicas que permitam o nascimento e para a redução da incidência da gravidez na adoles-
o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições cência. (Incluído pela Lei nº 13.798, de 2019)
dignas de existência.
Art. 8º É assegurado a todas as mulheres o acesso aos Parágrafo único. As ações destinadas a efetivar o dis-
programas e às políticas de saúde da mulher e de pla- posto no caput deste artigo ficarão a cargo do poder
nejamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição ade- público, em conjunto com organizações da socieda-
quada, atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao de civil, e serão dirigidas prioritariamente ao público
puerpério e atendimento pré-natal, perinatal e pós- adolescente.
-natal integral no âmbito do Sistema Único de Saúde.
§ 1º O atendimento pré-natal será realizado por pro- Art. 9º O poder público, as instituições e os emprega-
fissionais da atenção primária. dores propiciarão condições adequadas ao aleitamen-
§ 2º Os profissionais de saúde de referência da ges- to materno, inclusive aos filhos de mães submetidas a
tante garantirão sua vinculação, no último trimestre medida privativa de liberdade.
da gestação, ao estabelecimento em que será reali- § 1º Os profissionais das unidades primárias de saúde
zado o parto, garantido o direito de opção da mulher. desenvolverão ações sistemáticas, individuais ou cole-
§ 3º Os serviços de saúde onde o parto for realizado tivas, visando ao planejamento, à implementação e à
assegurarão às mulheres e aos seus filhos recém-nas- avaliação de ações de promoção, proteção e apoio ao
cidos alta hospitalar responsável e contrarreferência aleitamento materno e à alimentação complementar
na atenção primária, bem como o acesso a outros ser- saudável, de forma contínua.
viços e a grupos de apoio à amamentação. § 2º Os serviços de unidades de terapia intensiva ne-
§ 4º Incumbe ao poder público proporcionar assistên- onatal deverão dispor de banco de leite humano ou
cia psicológica à gestante e à mãe, no período pré e unidade de coleta de leite humano.
pós-natal, inclusive como forma de prevenir ou mino-
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

rar as consequências do estado puerperal. Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de


§ 5º A assistência referida no § 4º deste artigo deverá atenção à saúde de gestantes, públicos e particulares,
ser prestada também a gestantes e mães que mani- são obrigados a:
festem interesse em entregar seus filhos para adoção, I - manter registro das atividades desenvolvidas, atra-
bem como a gestantes e mães que se encontrem em vés de prontuários individuais, pelo prazo de dezoito
situação de privação de liberdade. anos;
§ 6º A gestante e a parturiente têm direito a 1 (um) II - identificar o recém-nascido mediante o registro de
acompanhante de sua preferência durante o perío- sua impressão plantar e digital e da impressão digital
do do pré-natal, do trabalho de parto e do pós-parto da mãe, sem prejuízo de outras formas normatizadas
imediato. pela autoridade administrativa competente;
III - proceder a exames visando ao diagnóstico e
21 Ibid.

108
terapêutica de anormalidades no metabolismo do prevenção das enfermidades que ordinariamente afe-
recém-nascido, bem como prestar orientação aos pais; tam a população infantil, e campanhas de educação
IV - fornecer declaração de nascimento onde constem sanitária para pais, educadores e alunos.
necessariamente as intercorrências do parto e do de- § 1º É obrigatória a vacinação das crianças nos casos
senvolvimento do neonato; recomendados pelas autoridades sanitárias.
V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao ne- § 2º O Sistema Único de Saúde promoverá a atenção
onato a permanência junto à mãe. à saúde bucal das crianças e das gestantes, de forma
VI - acompanhar a prática do processo de amamenta- transversal, integral e intersetorial com as demais li-
ção, prestando orientações quanto à técnica adequa- nhas de cuidado direcionadas à mulher e à criança.
da, enquanto a mãe permanecer na unidade hospita- § 3º A atenção odontológica à criança terá função edu-
lar, utilizando o corpo técnico já existente. cativa protetiva e será prestada, inicialmente, antes de
o bebê nascer, por meio de aconselhamento pré-natal,
Art. 11. É assegurado acesso integral às linhas de cui- e, posteriormente, no sexto e no décimo segundo anos
dado voltadas à saúde da criança e do adolescente, de vida, com orientações sobre saúde bucal.
por intermédio do Sistema Único de Saúde, observado § 4º A criança com necessidade de cuidados odonto-
o princípio da equidade no acesso a ações e serviços lógicos especiais será atendida pelo Sistema Único de
para promoção, proteção e recuperação da saúde. Saúde.
§ 1º A criança e o adolescente com deficiência serão § 5º É obrigatória a aplicação a todas as crianças, nos
atendidos, sem discriminação ou segregação, em suas seus primeiros dezoito meses de vida, de protocolo ou
necessidades gerais de saúde e específicas de habilita- outro instrumento construído com a finalidade de fa-
ção e reabilitação. cilitar a detecção, em consulta pediátrica de acompa-
§ 2º Incumbe ao poder público fornecer gratuitamen- nhamento da criança, de risco para o seu desenvolvi-
te, àqueles que necessitarem, medicamentos, órteses, mento psíquico.
próteses e outras tecnologias assistivas relativas ao
tratamento, habilitação ou reabilitação para crianças CAPÍTULO II
e adolescentes, de acordo com as linhas de cuidado DO DIREITO À LIBERDADE, AO RESPEITO E À
voltadas às suas necessidades específicas. DIGNIDADE
§ 3º Os profissionais que atuam no cuidado diário ou
frequente de crianças na primeira infância receberão Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liber-
formação específica e permanente para a detecção de dade, ao respeito e à dignidade como pessoas huma-
sinais de risco para o desenvolvimento psíquico, bem nas em processo de desenvolvimento e como sujeitos
como para o acompanhamento que se fizer necessário. de direitos civis, humanos e sociais garantidos na
Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde, Constituição e nas leis.
inclusive as unidades neonatais, de terapia intensiva Entre os direitos fundamentais garantidos à criança e
e de cuidados intermediários, deverão proporcionar ao adolescente que são especificados e aprofundados
condições para a permanência em tempo integral de no ECA estão os direitos à liberdade, ao respeito e à
um dos pais ou responsável, nos casos de internação dignidade.
de criança ou adolescente.
Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes
Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de cas- aspectos:
tigo físico, de tratamento cruel ou degradante e de I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços
maus-tratos contra criança ou adolescente serão obri- comunitários, ressalvadas as restrições legais;
gatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da II - opinião e expressão;
respectiva localidade, sem prejuízo de outras provi- III - crença e culto religioso;
dências legais. IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;
§ 1º As gestantes ou mães que manifestem interesse V - participar da vida familiar e comunitária, sem
em entregar seus filhos para adoção serão obrigato- discriminação;
riamente encaminhadas, sem constrangimento, à Jus- VI - participar da vida política, na forma da lei;
tiça da Infância e da Juventude. VII - buscar refúgio, auxílio e orientação.
§ 2º Os serviços de saúde em suas diferentes portas O artigo 16 aborda diversas facetas do direito de liber-
de entrada, os serviços de assistência social em seu dade: locomoção, opinião e expressão, religiosa e polí-
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

componente especializado, o Centro de Referência Es- tica. Cria, ainda, duas facetes específicas deste direito:
pecializado de Assistência Social (Creas) e os demais liberdade para brincar e divertir-se e liberdade para
órgãos do Sistema de Garantia de Direitos da Criança buscar refúgio, auxílio e orientação, processos estes
e do Adolescente deverão conferir máxima prioridade essenciais para o desenvolvimento do infante.
ao atendimento das crianças na faixa etária da pri-
meira infância com suspeita ou confirmação de vio- Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilida-
lência de qualquer natureza, formulando projeto tera- de da integridade física, psíquica e moral da criança
pêutico singular que inclua intervenção em rede e, se e do adolescente, abrangendo a preservação da ima-
necessário, acompanhamento domiciliar. gem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias
Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá pro- e crenças, dos espaços e objetos pessoais.
gramas de assistência médica e odontológica para a

109
Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da crian- Em que pesem as aparentes boas intenções da lei no
ça e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tra- sentido de evitar situações extremas como a do menino
tamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório Bernardo, assassinado após incontáveis ameaças e agres-
ou constrangedor. sões físicas por parte de seus responsáveis, seu conteúdo
Os direitos ao respeito e à dignidade abrangem a pro- é bastante criticado. Afinal, é claro que a lei coloca todo
teção da criança e do adolescente em todas facetas de e qualquer tipo de agressão física no mesmo patamar.
sua integridade: física, psíquica e moral. Considerado o teor da lei, mesmo uma palmada numa
criança é proibida.
Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de Os críticos da “Lei da Palmada” apontam que ela adota
ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico uma posição extrema e impõe uma indevida intervenção
ou de tratamento cruel ou degradante, como formas do Estado nos ambientes familiares, retirando o poder
de correção, disciplina, educação ou qualquer outro disciplinar garantido aos pais na educação de seus filhos.
pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família am- Os defensores da “Lei da Palmada” utilizam estudos
pliada, pelos responsáveis, pelos agentes públicos exe- de psicólogos e educadores para argumentar que não é
cutores de medidas socioeducativas ou por qualquer necessário utilizar qualquer tipo de agressão física, mes-
pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá- mo a mais leve, para educar uma criança.
-los ou protegê-los.
Parágrafo único.  Para os fins desta Lei, considera-se: CAPÍTULO III
I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou puni- DO DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E
tiva aplicada com o uso da força física sobre a criança COMUNITÁRIA
ou o adolescente que resulte em: 
a) sofrimento físico; ou SEÇÃO I
b) lesão; DISPOSIÇÕES GERAIS
II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma
cruel de tratamento em relação à criança ou ao ado- Quando se aborda o direito à convivência familiar e
lescente que: comunitária no ECA confere-se destaque à distinção en-
a) humilhe; ou tre família natural e substituta e aos procedimentos que
b) ameace gravemente; ou caracterizam a inserção e a retirada da criança e do ado-
c) ridicularize. lescente destes ambientes.

Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família amplia-


da, os responsáveis, os agentes públicos executores de Art. 19. É direito da criança e do adolescente ser criado
medidas socioeducativas ou qualquer pessoa encarre- e educado no seio de sua família e, excepcionalmente,
gada de cuidar de crianças e de adolescentes, tratá- em família substituta, assegurada a convivência fa-
-los, educá-los ou protegê-los que utilizarem castigo miliar e comunitária, em ambiente que garanta seu
físico ou tratamento cruel ou degradante como formas desenvolvimento integral.
de correção, disciplina, educação ou qualquer outro § 1o Toda criança ou adolescente que estiver inserido
pretexto estarão sujeitos, sem prejuízo de outras san- em programa de acolhimento familiar ou institucio-
ções cabíveis, às seguintes medidas, que serão aplica- nal terá sua situação reavaliada, no máximo, a cada
das de acordo com a gravidade do caso: 3 (três) meses, devendo a autoridade judiciária com-
I - encaminhamento a programa oficial ou comunitá- petente, com base em relatório elaborado por equipe
rio de proteção à família; interprofissional ou multidisciplinar, decidir de forma
II - encaminhamento a tratamento psicológico ou fundamentada pela possibilidade de reintegração fa-
psiquiátrico; miliar ou pela colocação em família substituta, em
III - encaminhamento a cursos ou programas de quaisquer das modalidades previstas no art. 28 desta
orientação; Lei.
IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamento § 2o A permanência da criança e do adolescente em
especializado; programa de acolhimento institucional não se pro-
V - advertência. longará por mais de 18 (dezoito meses), salvo com-
Parágrafo único.  As medidas previstas neste artigo provada necessidade que atenda ao seu superior in-
serão aplicadas pelo Conselho Tutelar, sem prejuízo de teresse, devidamente fundamentada pela autoridade
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

outras providências legais.  judiciária.


§ 3º A manutenção ou a reintegração de criança ou
Os artigos 18-A e 18-B foram incluídos no ECA pela adolescente à sua família terá preferência em relação
Lei nº 13.010, de 26 de junho de 2014, que estabelece o a qualquer outra providência, caso em que será esta
direito da criança e do adolescente de serem educados e incluída em serviços e programas de proteção, apoio e
cuidados sem o uso de castigos físicos ou de tratamento promoção, nos termos do § 1o do art. 23, dos incisos I
cruel ou degradante. Também ficou conhecida como “Lei e IV do caput do art. 101 e dos incisos I a IV do caput
do Menino Bernardo”22 e “Lei da Palmada”. do art. 129 desta Lei. 
§ 4º Será garantida a convivência da criança e do
22 O nome da lei é uma homenagem ao menino Bernardo
Boldrini, morto em abril de 2014, aos 11 anos, em Três Passos (RS). amiga e do irmão dela. Segundo as investigações, Bernardo procu-
Os acusados são o pai e a madrasta do menino, com ajuda de uma rou ajuda para denunciar as ameaças que sofria.

110
adolescente com a mãe ou o pai privado de liberdade, determinado pela Justiça da Infância e da Juventude
por meio de visitas periódicas promovidas pelo res- o acompanhamento familiar pelo prazo de 180 (cento
ponsável ou, nas hipóteses de acolhimento institucio- e oitenta) dias.
nal, pela entidade responsável, independentemente de § 9o É garantido à mãe o direito ao sigilo sobre o nasci-
autorização judicial. mento, respeitado o disposto no art. 48 desta Lei.
§ 5o Será garantida a convivência integral da criança § 10. (VETADO).
com a mãe adolescente que estiver em acolhimento O artigo 19-A trata do procedimento aplicável nos
institucional. casos em que a família biológica pretenda entregar
§ 6o A mãe adolescente será assistida por equipe espe- recém-nascido para adoção, assegurando-se o acom-
cializada multidisciplinar. panhamento por equipe multidisciplinar e também a
tomada de providências de busca de pessoa da família
Como se depreende do artigo 19, a família natural é extensa apta a assumir o encargo.
a regra e a família substituta é a exceção. A criança e o
adolescente podem ser inseridos em programa de aco- Art. 19-B. A criança e o adolescente em programa de
lhimento familiar ou institucional, pelo limite temporal acolhimento institucional ou familiar poderão partici-
de 18 meses, cujo caráter é o de permitir a sua retirada par de programa de apadrinhamento.
de potencial ou efetiva situação de risco. Durante este § 1o O apadrinhamento consiste em estabelecer e pro-
programa, reavaliado a cada 3 meses, se verificará se é porcionar à criança e ao adolescente vínculos externos
possível a reinserção no ambiente da família natural (o à instituição para fins de convivência familiar e comu-
que é preferencial) ou se é o caso de colocação definitiva nitária e colaboração com o seu desenvolvimento nos
em família substituta. aspectos social, moral, físico, cognitivo, educacional e
financeiro.
Art. 19-A. A gestante ou mãe que manifeste interesse § 2o (VETADO).
em entregar seu filho para adoção, antes ou logo após § 3o Pessoas jurídicas podem apadrinhar crian-
o nascimento, será encaminhada à Justiça da Infância ça ou adolescente a fim de colaborar para o seu
e da Juventude. desenvolvimento.
§ 1o A gestante ou mãe será ouvida pela equipe inter- § 4o O perfil da criança ou do adolescente a ser apa-
profissional da Justiça da Infância e da Juventude, que drinhado será definido no âmbito de cada programa
apresentará relatório à autoridade judiciária, conside- de apadrinhamento, com prioridade para crianças ou
rando inclusive os eventuais efeitos do estado gesta- adolescentes com remota possibilidade de reinserção
cional e puerperal. familiar ou colocação em família adotiva.
§ 2o De posse do relatório, a autoridade judiciária po- § 5o Os programas ou serviços de apadrinhamento
derá determinar o encaminhamento da gestante ou apoiados pela Justiça da Infância e da Juventude po-
mãe, mediante sua expressa concordância, à rede pú- derão ser executados por órgãos públicos ou por orga-
blica de saúde e assistência social para atendimento nizações da sociedade civil.
especializado. § 6o Se ocorrer violação das regras de apadrinhamen-
§ 3o A busca à família extensa, conforme definida nos to, os responsáveis pelo programa e pelos serviços de
termos do parágrafo único do art. 25 desta Lei, respei- acolhimento deverão imediatamente notificar a auto-
tará o prazo máximo de 90 (noventa) dias, prorrogável ridade judiciária competente.
por igual período. Os programas de apadrinhamento visam permitir a
§ 4o Na hipótese de não haver a indicação do genitor convivência comunitária da criança e do adolescente
e de não existir outro representante da família exten- que estão no sistema de adoção, especialmente com
sa apto a receber a guarda, a autoridade judiciária relação àqueles que dificilmente sairão dele.
competente deverá decretar a extinção do poder fami-
liar e determinar a colocação da criança sob a guarda Art. 20. Os filhos, havidos ou não da relação do ca-
provisória de quem estiver habilitado a adotá-la ou samento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e
de entidade que desenvolva programa de acolhimento qualificações, proibidas quaisquer designações discri-
familiar ou institucional. minatórias relativas à filiação.
§ 5o Após o nascimento da criança, a vontade da mãe O artigo 20 destaca a igualdade entre todos os filhos,
ou de ambos os genitores, se houver pai registral ou sejam eles havidos dentro ou fora do casamento, se-
pai indicado, deve ser manifestada na audiência a que jam eles inseridos em família natural ou substituta.
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

se refere o § 1o do art. 166 desta Lei, garantido o sigilo


sobre a entrega. A disciplina sobre a perda e suspensão do poder de
§ 6o (VETADO). família no ECA se encontra em dois blocos, o primeiro
§ 7o Os detentores da guarda possuem o prazo de 15 do artigo 21 ao 24, que aborda questões materiais, e
(quinze) dias para propor a ação de adoção, conta- o segundo do artigo 155 a 163, que foca em questões
do do dia seguinte à data do término do estágio de procedimentais:
convivência.
§ 8o Na hipótese de desistência pelos genitores - ma- Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualdade
nifestada em audiência ou perante a equipe interpro- de condições, pelo pai e pela mãe, na forma do que
fissional - da entrega da criança após o nascimen- dispuser a legislação civil, assegurado a qualquer de-
to, a criança será mantida com os genitores, e será les o direito de, em caso de discordância, recorrer à

111
autoridade judiciária competente para a solução da de forma igualitária o poder sobre os filhos menores,
divergência.  equilibrando dessa forma a relação familiar.
O artigo 1.630 do atual Código Civil, sem definir o po-
Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda der familiar, dispõe que “os filhos estão sujeitos ao poder
e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, familiar enquanto menores”, ou seja, enquanto não com-
no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer pletarem dezoito anos ou não alcançarem a maioridade
cumprir as determinações judiciais. civil por meio de uma das formas previstas no artigo 5º,
Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, parágrafo único e seus incisos, do mesmo diploma legal.
têm direitos iguais e deveres e responsabilidades com- No mesmo sentido, o citado artigo 21, ECA.
partilhados no cuidado e na educação da criança, de- O poder familiar, conhecido também como autorida-
vendo ser resguardado o direito de transmissão fami- de parental, é um conjunto de direitos e deveres que são
liar de suas crenças e culturas, assegurados os direitos atribuídos aos pais para que esses administrem de forma
da criança estabelecidos nesta Lei. legal a pessoa dos filhos e também de seus bens.
“O poder familiar pode ser definido como um con-
Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não junto de direitos e obrigações, quanto às pessoas e bens
constitui motivo suficiente para a perda ou a suspen- do filho menor não emancipado, exercido, em igualdade
são do poder familiar.  de condições, por ambos os pais, para que possam de-
§ 1º Não existindo outro motivo que por si só autorize sempenhar os encargos que a norma jurídica lhes impõe,
a decretação da medida, a criança ou o adolescente tendo em vista o interesse e a proteção do filho”25.
será mantido em sua família de origem, a qual deverá
obrigatoriamente ser incluída em serviços e progra- Artigo 1.634, CC. Compete aos pais, quanto à pessoa
mas oficiais de proteção, apoio e promoção. dos filhos menores:
§ 2º  A condenação criminal do pai ou da mãe não I – dirigir-lhes a criação e educação;
implicará a destituição do poder familiar, exceto na II – tê-los em sua companhia e guarda;
hipótese de condenação por crime doloso sujeito à III – conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para
pena de reclusão contra outrem igualmente titular do casarem;
mesmo poder familiar ou contra filho, filha ou outro IV – nomear-lhes tutor por testamento ou documento
descendente.  autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o
sobrevivo não puder exercer o poder familiar;
Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão V – representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos da
decretadas judicialmente, em procedimento contradi- vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em
tório, nos casos previstos na legislação civil, bem como que forem partes, suprindo-lhes o consentimento;
na hipótese de descumprimento injustificado dos de- VI – reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;
veres e obrigações a que alude o art. 22.  VII – exigir que lhes prestem obediência, respeito e os
serviços próprios de sua idade e condição.
O instituto do poder familiar surgiu no direito roma-
no e era conhecido naquela época como pátrio poder, Em relação às suas características, o poder familiar é
pois o pai exercia mais poderes sobre os filhos do que a indisponível e decorre da paternidade natural ou legal,
mãe, o que vinha a representar um poder absoluto por por isso, não há a possibilidade de seu titular o transferir
parte do genitor, inclusive sobre a vida e a morte dos a terceiros por iniciativa própria, tampouco existindo a
próprios filhos23. viabilidade de ocorrer a sua prescrição pelo desuso. O
O Código Civil de 1916 atribuiu o poder familiar ao poder familiar é indelegável, sendo, em regra, irrenunciá-
pai, que era considerado o chefe da sociedade conjugal, vel e sempre intransferível. Logo, não sendo possível ao
e a mãe possuía um papel secundário, conforme apon- titular do poder familiar abrir mão de seu dever, a renún-
tava o artigo 380 do Código Civil de 1916 que dizia que cia é inviável, existindo apenas uma exceção, qual seja, a
“durante o casamento compete o pátrio poder aos pais, decorrente da adoção.
exercendo-o o marido com a colaboração da mulher [...]”. Existe apenas uma exceção, que é o caso do pedido
De acordo com Santos Neto24: “[...] o exercício da de colocação do menor em família substituta, disponi-
autoridade parental pela mãe era admitido apenas em bilizando o filho para a adoção, caso em que os direitos
caráter excepcional. Ao homem era dada, em condições e deveres decorrentes do poder familiar serão exercidos
normais, a titularidade exclusiva do direito em pauta. Sua por novos titulares, ou seja, pelos pais adotivos.
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

vontade prevalecia e contra ela não havia remédio pre- A esse respeito, os direitos e deveres dos pais dispos-
visto, salvo, é claro, no caso de comportamento abusivo tos nos artigos 1.630 a 1.638 do Código Civil regulam,
e contrário aos interesses dos menores”. dentre os deveres e poderes decorrentes do poder fa-
O Código Civil de 2002, por seu turno, seguindo a miliar, também os de ordem pessoal, ou seja, o cuida-
toada da Constituição Federal de 1988, trouxe significati- do existencial do menor, a educação, a correição, e os
vas modificações ao instituto em análise, surgindo então de ordem material, que envolvem a administração dos
o chamado poder familiar, onde ambos os pais exercem bens dos filhos. Os principais atributos do poder familiar
são a guarda, a criação e a educação, que se refletem
23 AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda Compartilhada: um nos deveres dos pais para com os filhos; tanto que, não
Avanço para a Família. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
24 SANTOS NETO, José Antônio de Paula. Do Pátrio Poder. 25 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro:
São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994. Direito de Família. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. v. 5.

112
cumprindo algum desses atributos, o detentor do poder pessoas delinquentes e usuárias de drogas, que não vão
poderá sofrer sanções cíveis e até criminais. colaborar em nada com seu desenvolvimento e cresci-
O poder familiar, conforme disposição do próprio or- mento. Nessas situações, os detentores do poder familiar
denamento civil, não é um instituto irrevogável e pode podem sofrer a perda do poder familiar.
ser extinto, suspenso ou destituído a qualquer tempo. Cabe aqui consignar que, no caso da perda do poder
Basicamente, as formas de extinção se aplicam quando familiar, se no decorrer do tempo o menor não vier a
o exercício do poder familiar não é mais necessário; ao ser adotado por outra família e as causas que levaram
passo que as regras de perda e suspensão constituem a perda do poder desaparecerem, os genitores poderão
casos de privação do exercício do poder familiar pelo requerer judicialmente a reintegração do poder familiar,
descumprimento de seus deveres. desde que comprovem realmente que o motivo que os
Sendo assim, o Estado poderá interferir na relação levou a perder esse poder já não existe mais.
familiar, com o objetivo de resguardar os interesses do Por seu turno, pelo que se verifica na análise da legis-
menor, sendo que a lei disciplina os casos em que o titu- lação, quando o legislador estabeleceu as hipóteses de
lar do poder familiar ficará privado de exercê-lo, seja de extinção do poder familiar, em regra, o fez por perceber
forma temporária ou até mesmo definitiva. que a pessoa que a ele se encontrava sujeita adquiriu
maturidade o suficiente para guiar a sua vida, não haven-
Artigo 1.637, CC. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua do razão para que permaneça tal vínculo. Há casos, en-
autoridade, faltando aos deveres a eles inerentes ou tretanto, que a violação aos direitos inerentes ao poder
arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requeren- familiar tornou irreversível o seu restabelecimento, como
do algum parente, ou o Ministério Público, adotar a ocorre na adoção.
medida que lhe pareça reclamada pela segurança do
menor e seus haveres, até suspendendo o poder fami- Artigo 1.635, CC. Extingue-se o poder familiar: I – pela
liar, quando convenha. morte dos pais ou do filho; II – pela emancipação, nos
Parágrafo único. Suspende-se igualmente o exercício termos do artigo 5º, parágrafo único; III – pela maio-
do poder familiar ao pai ou à mãe condenados por ridade; IV – pela adoção; V – por decisão judicial, na
sentença irrecorrível, em virtude de crime cuja pena forma do artigo 1.638.
exceda a dois anos de prisão. A extinção do poder familiar é mais complexa, pois
Nestes casos, a suspensão não será definitiva, é ape- nesta situação os pais, extintos do poder, não poderão
nas uma sanção imposta pelo Poder Judiciário visando requerer a reintegração do poder familiar se houve inter-
preservar os interesses dos filhos, assim, diante da com- ferência deles para sua extinção. Na maioria dos casos,
provação de que os problemas que levaram à suspen- é possível identificar facilmente a existência da extinção
são desapareceram, o poder familiar poderá retornar aos do poder familiar, por se tratarem de hipóteses objetivas.
genitores.
Assim sendo, os pais podem ser suspensos de exer- CAPÍTULO IV
cer os direitos e deveres decorrentes do poder familiar DO DIREITO À EDUCAÇÃO, À CULTURA, AO ES-
quando ficar evidenciado perante a autoridade compe- PORTE E AO LAZER
tente o abuso. Como visto, existe, também, a probabili-
dade de se decretar a suspensão do poder familiar, caso Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educa-
um dos pais seja condenado por crime cuja pena exceda ção, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa,
a dois anos de prisão. preparo para o exercício da cidadania e qualificação
Há, ainda, as hipóteses de perda ou destituição do para o trabalho, assegurando-se-lhes:
poder familiar, que é a sanção mais grave imposta aos I - igualdade de condições para o acesso e permanên-
pais que faltarem com os deveres em relação aos filhos: cia na escola;
II - direito de ser respeitado por seus educadores;
Artigo 1.638, CC. Perderá por ato judicial o poder fa- III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo
miliar o pai ou a mãe que: recorrer às instâncias escolares superiores;
I – castigar imoderadamente o filho; IV - direito de organização e participação em entida-
II – deixar o filho em abandono; des estudantis;
III – praticar atos contrários à moral e aos bons V - acesso à escola pública e gratuita, próxima de sua
costumes; residência, garantindo-se vagas no mesmo estabele-
IV – incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no ar- cimento a irmãos que frequentem a mesma etapa ou
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

tigo antecedente. ciclo de ensino da educação básica.

Nessa linha de pensamento, os artigos 24 e 22 do Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter
Estatuto da Criança e do Adolescente, citados anterior- ciência do processo pedagógico, bem como participar
mente, além de preverem a suspensão e destituição do da definição das propostas educacionais.
poder familiar, trazem também os motivos que poderão
acarretá-las. Art. 53-A. É dever da instituição de ensino, clubes e
São bastante frequentes nos casos de pais que per- agremiações recreativas e de estabelecimentos con-
dem o poder familiar os atos de violência e espancamen- gêneres assegurar medidas de conscientização, pre-
to; assim como o de abandono, no qual os menores, ao venção e enfrentamento ao uso ou dependência de
se verem abandonados, começam a relacionar-se com drogas ilícitas. (Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019)

113
Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao CAPÍTULO V
adolescente: DO DIREITO À PROFISSIONALIZAÇÃO E À PROTE-
I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclu- ÇÃO NO TRABALHO
sive para os que a ele não tiveram acesso na idade
própria; Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratui- quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz. 
dade ao ensino médio;
III - atendimento educacional especializado aos por- Preconiza o artigo 7º, XXXIII, CF a “proibição de traba-
tadores de deficiência, preferencialmente na rede re- lho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito
gular de ensino; e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, sal-
IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças vo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos”.
de zero a cinco anos de idade; Portanto, em decorrência da própria norma constitu-
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pes- cional, nenhuma criança ou adolescente pode trabalhar
quisa e da criação artística, segundo a capacidade de antes dos 14 anos de idade. Evidentemente que há algu-
cada um; mas exceções a esta regra, devidamente fiscalizadas pelo
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às Conselho Tutelar, como é o caso dos artistas mirins.
condições do adolescente trabalhador; Entre 14 anos e 16 anos de idade somente será pos-
VII - atendimento no ensino fundamental, através de sível o trabalho na condição de menor aprendiz, cuja
programas suplementares de material didático-esco- natureza é de ensino técnico-profissional, viabilizando a
lar, transporte, alimentação e assistência à saúde. futura inserção do adolescente no mercado de trabalho.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito A partir dos 16 anos, o menor pode trabalhar, mas
público subjetivo. não no período noturno ou em condições de periculosi-
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo dade e insalubridade.
poder público ou sua oferta irregular importa respon-
sabilidade da autoridade competente. Art. 61. A proteção ao trabalho dos adolescentes é re-
§ 3º Compete ao poder público recensear os educan- gulada por legislação especial, sem prejuízo do dis-
dos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e posto nesta Lei.
zelar, junto aos pais ou responsável, pela frequência
à escola. Art. 62. Considera-se aprendizagem a formação téc-
nico-profissional ministrada segundo as diretrizes e
Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de bases da legislação de educação em vigor.
matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de
ensino. Art. 63. A formação técnico-profissional obedecerá aos
seguintes princípios:
Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino I - garantia de acesso e frequência obrigatória ao en-
fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os ca- sino regular;
sos de: II - atividade compatível com o desenvolvimento do
I - maus-tratos envolvendo seus alunos; adolescente;
II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão esco- III - horário especial para o exercício das atividades.
lar, esgotados os recursos escolares;
III - elevados níveis de repetência. Aquele que trabalha na condição de menor apren-
diz é obrigado a frequentar a escola, devendo ser faci-
Art. 57. O poder público estimulará pesquisas, experi- litadas as condições para que o faça, notadamente pelo
ências e novas propostas relativas a calendário, seria- estabelecimento de horário especial de trabalho. Além
ção, currículo, metodologia, didática e avaliação, com disso, a atividade laboral deve ser compatível com as ati-
vistas à inserção de crianças e adolescentes excluídos vidades de ensino, até mesmo por se tratar de ensino
do ensino fundamental obrigatório. técnico-profissionalizante.
Ex.: um jovem pode trabalhar no período matutino,
Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os frequentar o SENAI na parte da tarde e ir ao colégio no
valores culturais, artísticos e históricos próprios do ensino médio noturno.
contexto social da criança e do adolescente, garan-
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

tindo-se a estes a liberdade da criação e o acesso às Art. 64. Ao adolescente até quatorze anos de idade é
fontes de cultura. assegurada bolsa de aprendizagem.
Toda criança e adolescente que necessitar recebe-
Art. 59. Os municípios, com apoio dos estados e da rá fomento para que não se desvincule das ativida-
União, estimularão e facilitarão a destinação de recur- des de ensino. Trata-se de incentivo àquele que sem
sos e espaços para programações culturais, esportivas auxílio acabaria entrando em situação irregular e
e de lazer voltadas para a infância e a juventude. trabalhando.

Art. 65. Ao adolescente aprendiz, maior de quator-


ze anos, são assegurados os direitos trabalhistas e
previdenciários.

114
Uma vez que o adolescente está autorizado a traba- TÍTULO IV
lhar, mesmo que na condição de menor aprendiz, pos- DAS MEDIDAS PERTINENTES AOS PAIS OU
sui direitos trabalhistas e previdenciários. RESPONSÁVEL
Art. 66. Ao adolescente portador de deficiência é asse-
gurado trabalho protegido. Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou
O adolescente que possui deficiência não pode ser responsável:
exposto a uma situação de risco em decorrência da I - encaminhamento a serviços e programas oficiais
atividade laboral. ou comunitários de proteção, apoio e promoção da
família;
Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em re- II - inclusão em programa oficial ou comunitário
gime familiar de trabalho, aluno de escola técnica, de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e
assistido em entidade governamental ou não-gover- toxicômanos;
namental, é vedado trabalho: III - encaminhamento a tratamento psicológico ou
I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de psiquiátrico;
um dia e as cinco horas do dia seguinte; IV - encaminhamento a cursos ou programas de
II - perigoso, insalubre ou penoso; orientação;
III - realizado em locais prejudiciais à sua formação e V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acom-
ao seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social; panhar sua frequência e aproveitamento escolar;
IV - realizado em horários e locais que não permitam VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescen-
a frequência à escola. te a tratamento especializado;
O menor aprendiz está proibido de trabalhar no pe- VII - advertência;
ríodo noturno, em trabalho que o coloque exposto a VIII - perda da guarda;
periculosidade (ex.: em andaimes, em áreas com risco IX - destituição da tutela;
de incêndio ou choques), insalubridade (ex.: em free- X - suspensão ou destituição do poder familiar.
zers de frigoríficos, expostos a radiação) ou penosida- Parágrafo único. Na aplicação das medidas previstas
de (ex.: excesso de força física exigida). nos incisos IX e X deste artigo, observar-se-á o dispos-
to nos arts. 23 e 24.
Art. 68. O programa social que tenha por base o tra-
balho educativo, sob responsabilidade de entidade Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opres-
governamental ou não-governamental sem fins lu- são ou abuso sexual impostos pelos pais ou responsá-
crativos, deverá assegurar ao adolescente que dele vel, a autoridade judiciária poderá determinar, como
participe condições de capacitação para o exercício de medida cautelar, o afastamento do agressor da mo-
atividade regular remunerada. radia comum.
§ 1º Entende-se por trabalho educativo a atividade la- Parágrafo único.  Da medida cautelar constará, ainda,
boral em que as exigências pedagógicas relativas ao a fixação provisória dos alimentos de que necessitem
desenvolvimento pessoal e social do educando preva- a criança ou o adolescente dependentes do agressor.
lecem sobre o aspecto produtivo.
§ 2º A remuneração que o adolescente recebe pelo tra- CAPÍTULO I
balho efetuado ou a participação na venda dos produ- DISPOSIÇÕES GERAIS
tos de seu trabalho não desfigura o caráter educativo.
Os programas sociais voltados à capacitação dos ado- Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e
lescentes devem sempre ter por objetivo educá-lo para autônomo, não jurisdicional, encarregado pela socie-
que ele adquira condições de inserir-se no mercado dade de zelar pelo cumprimento dos direitos da crian-
de trabalho. Deve ser ensinado, logo, dele não se deve ça e do adolescente, definidos nesta Lei.
cobrar tanta produtividade, mas sim deve ser avaliado
pelo seu aprendizado. O fato do trabalho ser remune- Art. 132. Em cada Município e em cada Região Ad-
rado não desvirtua este propósito. ministrativa do Distrito Federal haverá, no mínimo,
1 (um) Conselho Tutelar como órgão integrante da
Art. 69. O adolescente tem direito à profissionalização administração pública local, composto de 5 (cinco)
e à proteção no trabalho, observados os seguintes as- membros, escolhidos pela população local para man-
pectos, entre outros: dato de 4 (quatro) anos, permitida recondução por
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

I - respeito à condição peculiar de pessoa em novos processos de escolha. (Redação dada pela Lei nº
desenvolvimento; 13.824, de 2019)
II - capacitação profissional adequada ao mercado de
trabalho. Art. 133. Para a candidatura a membro do Conselho
Tutelar, serão exigidos os seguintes requisitos:
Com efeito, profissionalização e proteção no traba- I - reconhecida idoneidade moral;
lho são direitos fundamentais garantidos ao adolescente, II - idade superior a vinte e um anos;
exigindo-se neste campo que sua condição peculiar ine- III - residir no município.
rente ao processo de aprendizado seja respeitada e que
o trabalho sirva para permitir a sua inserção no mercado Art. 134.  Lei municipal ou distrital disporá sobre o
de trabalho. local, dia e horário de funcionamento do Conselho

115
Tutelar, inclusive quanto à remuneração dos respecti- sobre os motivos de tal entendimento e as providên-
vos membros, aos quais é assegurado o direito a: cias tomadas para a orientação, o apoio e a promoção
I - cobertura previdenciária;  social da família. 
II - gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas de Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente po-
1/3 (um terço) do valor da remuneração mensal; derão ser revistas pela autoridade judiciária a pedido
III - licença-maternidade; de quem tenha legítimo interesse.
IV - licença-paternidade; 
V - gratificação natalina.  CAPÍTULO III
Parágrafo único.  Constará da lei orçamentária mu- DA COMPETÊNCIA
nicipal e da do Distrito Federal previsão dos recursos
necessários ao funcionamento do Conselho Tutelar e à Art. 138. Aplica-se ao Conselho Tutelar a regra de
remuneração e formação continuada dos conselheiros competência constante do art. 147.
tutelares.
Art. 135.  O exercício efetivo da função de conselhei- CAPÍTULO IV
ro constituirá serviço público relevante e estabelecerá DA ESCOLHA DOS CONSELHEIROS
presunção de idoneidade moral. 
Art. 139. O processo para a escolha dos membros do
CAPÍTULO II Conselho Tutelar será estabelecido em lei municipal
DAS ATRIBUIÇÕES DO CONSELHO e realizado sob a responsabilidade do Conselho Mu-
nicipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, e a
Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar: fiscalização do Ministério Público. 
I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses § 1o  O processo de escolha dos membros do Conselho
previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas pre- Tutelar ocorrerá em data unificada em todo o territó-
vistas no art. 101, I a VII; rio nacional a cada 4 (quatro) anos, no primeiro do-
II - atender e aconselhar os pais ou responsável, apli- mingo do mês de outubro do ano subsequente ao da
cando as medidas previstas no art. 129, I a VII; eleição presidencial. 
III - promover a execução de suas decisões, podendo § 2o  A posse dos conselheiros tutelares ocorrerá no
para tanto: dia 10 de janeiro do ano subsequente ao processo de
a) requisitar serviços públicos nas áreas de saú- escolha. 
de, educação, serviço social, previdência, trabalho e § 3o  No processo de escolha dos membros do Con-
segurança; selho Tutelar, é vedado ao candidato doar, oferecer,
b) representar junto à autoridade judiciária nos casos prometer ou entregar ao eleitor bem ou vantagem
de descumprimento injustificado de suas deliberações. pessoal de qualquer natureza, inclusive brindes de pe-
IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato queno valor. 
que constitua infração administrativa ou penal contra
os direitos da criança ou adolescente; CAPÍTULO V
V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de DOS IMPEDIMENTOS
sua competência;
VI - providenciar a medida estabelecida pela autorida- Art. 140. São impedidos de servir no mesmo Conselho
de judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI, marido e mulher, ascendentes e descendentes, sogro e
para o adolescente autor de ato infracional; genro ou nora, irmãos, cunhados, durante o cunhadio,
VII - expedir notificações; tio e sobrinho, padrasto ou madrasta e enteado.
VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de Parágrafo único. Estende-se o impedimento do conse-
criança ou adolescente quando necessário; lheiro, na forma deste artigo, em relação à autorida-
IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração de judiciária e ao representante do Ministério Público
da proposta orçamentária para planos e programas de com atuação na Justiça da Infância e da Juventude,
atendimento dos direitos da criança e do adolescente; em exercício na comarca, foro regional ou distrital.
X - representar, em nome da pessoa e da família, con-
tra a violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º,
inciso II, da Constituição Federal; CONSTITUIÇÃO FEDERAL/88 – ARTIGOS
XI - representar ao Ministério Público para efeito das 206 A 214
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

ações de perda ou suspensão do poder familiar, após


esgotadas as possibilidades de manutenção da crian-
ça ou do adolescente junto à família natural; #FicaDica
XII - promover e incentivar, na comunidade e nos gru-
pos profissionais, ações de divulgação e treinamento No capítulo III da seção I (Da Educação), no
para o reconhecimento de sintomas de maus-tratos artigo 206 da Constituição Federal de 1988,
em crianças e adolescentes. são enumerados os princípios a partir dos
Parágrafo único.  Se, no exercício de suas atribuições, quais o ensino deverá ser ministrado no
o Conselho Tutelar entender necessário o afastamento Brasil.
do convívio familiar, comunicará incontinenti o fato
ao Ministério Público, prestando-lhe informações

116
CONSTITUIÇÃO FEDERAL portadores de deficiência, preferencialmente na rede
regular de ensino;
CAPÍTULO III IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às
DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO DESPORTO crianças até 5 (cinco) anos de idade; (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
SEÇÃO I V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pes-
DA EDUCAÇÃO quisa e da criação artística, segundo a capacidade de
cada um;
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Es- VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às
tado e da família, será promovida e incentivada com condições do educando;
a colaboração da sociedade, visando ao pleno desen- VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da
volvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da educação básica, por meio de programas suplementa-
cidadania e sua qualificação para o trabalho. res de material didáticoescolar, transporte, alimenta-
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos se- ção e assistência à saúde. (Redação dada pela Emenda
guintes princípios: Constitucional nº 59, de 2009)
I - igualdade de condições para o acesso e permanên- § 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito
cia na escola; público subjetivo.
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar § 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo
o pensamento, a arte e o saber; Poder Público, ou sua oferta irregular, importa respon-
III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, sabilidade da autoridade competente.
e coexistência de instituições públicas e privadas de § 3º Compete ao Poder Público recensear os educan-
ensino; dos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e
IV - gratuidade do ensino público em estabelecimen- zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência
tos oficiais; à escola.
V - valorização dos profissionais da educação escolar,
garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com Art. 209. O ensino é livre à iniciativa privada, atendi-
ingresso exclusivamente por concurso público de pro- das as seguintes condições:
vas e títulos, aos das redes públicas; I - cumprimento das normas gerais da educação
VI - gestão democrática do ensino público, na forma nacional;
da lei; II - autorização e avaliação de qualidade pelo Poder
VII - garantia de padrão de qualidade. Público.
VIII - piso salarial profissional nacional para os pro-
fissionais da educação escolar pública, nos termos de Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o en-
lei federal. sino fundamental, de maneira a assegurar formação
Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de básica comum e respeito aos valores culturais e artís-
trabalhadores considerados profissionais da educação ticos, nacionais e regionais.
básica e sobre a fixação de prazo para a elaboração § 1º O ensino religioso, de matrícula facultativa, cons-
ou adequação de seus planos de carreira, no âmbi- tituirá disciplina dos horários normais das escolas pú-
to da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos blicas de ensino fundamental.
Municípios. § 2º O ensino fundamental regular será ministrado em
língua portuguesa, assegurada às comunidades indí-
Art. 207. As universidades gozam de autonomia didá- genas também a utilização de suas línguas maternas
tico-científica, administrativa e de gestão financeira e e processos próprios de aprendizagem.
patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissocia-
bilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios organizarão em regime de colaboração
§ 1º É facultado às universidades admitir professores, seus sistemas de ensino.
técnicos e cientistas estrangeiros, na forma da lei. § 1º A União organizará o sistema federal de ensino
§ 2º O disposto neste artigo aplica-se às instituições e o dos Territórios, financiará as instituições de ensino
de pesquisa científica e tecnológica. públicas federais e exercerá, em matéria educacional,
função redistributiva e supletiva, de forma a garantir
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efe- equalização de oportunidades educacionais e padrão
tivado mediante a garantia de: mínimo de qualidade do ensino mediante assistência
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (qua- técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e
tro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada in- aos Municípios;
clusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não § 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino
tiveram acesso na idade própria; (Redação dada pela fundamental e na educação infantil.
Emenda Constitucional nº 59, de 2009) § 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão priorita-
II - progressiva universalização do ensino médio gra- riamente no ensino fundamental e médio.
tuito; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº § 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a
14, de 1996) União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
III - atendimento educacional especializado aos definirão formas de colaboração, de modo a assegurar

117
a universalização do ensino obrigatório. Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de edu-
§ 5º A educação básica pública atenderá prioritaria- cação, de duração decenal, com o objetivo de articular
mente ao ensino regular.) o sistema nacional de educação em regime de cola-
boração e definir diretrizes, objetivos, metas e estraté-
Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos gias de implementação para assegurar a manutenção
de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Muni- e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis,
cípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita etapas e modalidades por meio de ações integradas
resultante de impostos, compreendida a proveniente dos poderes públicos das diferentes esferas federativas
de transferências, na manutenção e desenvolvimento que conduzam a:
do ensino. I - erradicação do analfabetismo;
§ 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida II - universalização do atendimento escolar;
pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Mu- III - melhoria da qualidade do ensino;
nicípios, ou pelos Estados aos respectivos Municípios, IV - formação para o trabalho;
não é considerada, para efeito do cálculo previsto nes- V - promoção humanística, científica e tecnológica do
te artigo, receita do governo que a transferir. País.
§ 2º Para efeito do cumprimento do disposto no VI - estabelecimento de meta de aplicação de recur-
«caput» deste artigo, serão considerados os sistemas sos públicos em educação como proporção do produto
de ensino federal, estadual e municipal e os recursos interno bruto.
aplicados na forma do art. 213.
§ 3º A distribuição dos recursos públicos assegurará Fonte
prioridade ao atendimento das necessidades do ensi- Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
no obrigatório, no que se refere a universalização, ga- constituicao/constituicao.htm
rantia de padrão de qualidade e equidade, nos termos
do plano nacional de educação.
§ 4º Os programas suplementares de alimentação e
assistência à saúde previstos no art. 208, VII, serão fi- EXERCÍCIOS COMENTADOS
nanciados com recursos provenientes de contribuições
sociais e outros recursos orçamentários. 1. (IF-SP – Pedagogo – Superior - IF-SP/2018) O Ca-
§ 5º A educação básica pública terá como fonte adi- pítulo III, da Seção I, do Título VIII, da Constituição da
cional de financiamento a contribuição social do salá- República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988,
rio-educação, recolhida pelas empresas na forma da trata, entre outras questões, da Educação em nosso país.
lei. Um dos princípios prevê que o ensino será ministrado
§ 6º As cotas estaduais e municipais da arrecadação com base no (a):
da contribuição social do salário-educação serão dis-
tribuídas proporcionalmente ao número de alunos a) Pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas ex-
matriculados na educação básica nas respectivas re- clusivamente na rede pública de ensino.
des públicas de ensino. b) Gratuidade do ensino público em estabelecimentos
oficiais e em instituições educacionais mantidas por
Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às es- organizações sem fins lucrativos.
colas públicas, podendo ser dirigidos a escolas comu- c) Valorização dos profissionais da educação escolar,
nitárias, confessionais ou filantrópicas, definidas em garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com
lei, que: ingresso preferencialmente por concurso público de
I - comprovem finalidade não-lucrativa e apliquem provas e títulos, aos das redes públicas.
seus excedentes financeiros em educação; d) Gestão democrática do ensino público, na forma da
II - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra lei.
escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou
ao Poder Público, no caso de encerramento de suas Resposta; Letra D. Conforme o Art. 14. da Constitui-
atividades. ção Federal: “ Os sistemas de ensino definirão as nor-
§ 1º - Os recursos de que trata este artigo poderão mas da gestão democrática do ensino público na edu-
ser destinados a bolsas de estudo para o ensino fun- cação básica, de acordo com as suas peculiaridades e
damental e médio, na forma da lei, para os que de- conforme os seguintes princípios:
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

monstrarem insuficiência de recursos, quando houver I - participação dos profissionais da educação na elabo-
falta de vagas e cursos regulares da rede pública na ração do projeto pedagógico da escola;
localidade da residência do educando, ficando o Poder II - participação das comunidades escolar e local em
Público obrigado a investir prioritariamente na expan- conselhos escolares ou equivalentes”.
são de sua rede na localidade.
§ 2º As atividades de pesquisa, de extensão e de estí- 2. (IF-BAS – Assistente de Alunos – nível médio - FUN-
mulo e fomento à inovação realizadas por universi- RIO /2017) Segundo a Constituição da República Fede-
dades e/ou por instituições de educação profissional rativa do Brasil (1988), a educação visa ao pleno desen-
e tecnológica poderão receber apoio financeiro do Po- volvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da
der Público. (Redação dada pela Emenda Constitucio- cidadania e sua qualificação para o trabalho, sendo ela
nal nº 85, de 2015)

118
a) um direito de todos e dever do Estado e da família. “Art. 211. .
b) somente direito das minorias e dever da sociedade. § 5º  A educação básica pública atenderá prioritaria-
c) direito exclusivo a brasileiros natos e dever de todos. mente ao ensino regular.”(NR)
d) apenas direito de habitantes das áreas urbanas e dever “Art. 212.
do Estado. § 5º A educação básica pública terá como fonte
e) somente direito das crianças e dever das escolas adicional de financiamento a contribuição social do
públicas. salário-educação, recolhida pelas empresas na forma
da lei.
Resposta; Letra A. De acordo com o Art. 205. “A edu- § 6º As cotas estaduais e municipais da arrecadação
cação, direito de todos e dever do Estado e da família, da contribuição social do salário-educação serão
será promovida e incentivada com a colaboração da distribuídas proporcionalmente ao número de alunos
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pes- matriculados na educação básica nas respectivas
soa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua redes públicas de ensino.”(NR)
qualificação para o trabalho”. Art. 2º O art. 60 do Ato das Disposições Constitucio-
nais Transitórias passa a vigorar com a seguinte re-
dação: (Vigência)
EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 53, DE “Art. 60. Até o 14º (décimo quarto) ano a partir da
19/12/2006, PUBLICADA EM 20/12/2006 promulgação desta Emenda Constitucional, os Estados,
o Distrito Federal e os Municípios destinarão parte
dos recursos a que se refere o caput do art. 212 da
EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 53, DE 19 DE Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento
DEZEMBRO DE 2006 da educação básica e à remuneração condigna dos
trabalhadores da educação, respeitadas as seguintes
AS MESAS DA CÂMARA DOS DEPUTADOS E DO disposições:
SENADO FEDERAL, nos termos do § 3º do art. 60 da Con- I - a distribuição dos recursos e de responsabilidades
stituição Federal, promulgam a seguinte Emenda ao tex- entre o Distrito Federal, os Estados e seus Municípios
to constitucional: é assegurada mediante a criação, no âmbito de cada
Art. 1º A Constituição Federal passa a vigorar com as Estado e do Distrito Federal, de um Fundo de Ma-
seguintes alterações: nutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de
“Art. 7º Valorização dos Profissionais da Educação - FUNDEB,
XXV  - assistência gratuita aos filhos e dependentes de natureza contábil;
desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em II - os Fundos referidos no inciso I do caput deste ar-
creches e pré-escolas; tigo serão constituídos por 20% (vinte por cento) dos
“Art. 23. recursos a que se referem os incisos I, II e III do art. 155;
Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas o inciso II do caput do art. 157; os incisos II, III e IV do
para a cooperação entre a União e os Estados, o Distri- caput do art. 158; e as alíneas a e b do inciso I e o inci-
to Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio so II do caput do art. 159, todos da Constituição Feder-
do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacio- al, e distribuídos entre cada Estado e seus Municípios,
nal.”(NR) proporcionalmente ao número de alunos das diversas
“Art. 30. . etapas e modalidades da educação básica presencial,
VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da matriculados nas respectivas redes, nos respectivos
União e do Estado, programas de educação infantil e âmbitos de atuação prioritária estabelecidos nos §§ 2º
de ensino fundamental; e 3º do art. 211 da Constituição Federal;
.....”(NR) III - observadas as garantias estabelecidas nos incisos
“Art. 206. I, II, III e IV do caput do art. 208 da Constituição Fed-
V - valorização dos profissionais da educação escolar, eral e as metas de universalização da educação básica
garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com estabelecidas no Plano Nacional de Educação, a lei
ingresso exclusivamente por concurso público de disporá sobre:
provas e títulos, aos das redes públicas; a) a organização dos Fundos, a distribuição proporcio-
VIII -  piso salarial profissional nacional para os nal de seus recursos, as diferenças e as ponderações
profissionais da educação escolar pública, nos termos quanto ao valor anual por aluno entre etapas e mo-
de lei federal.
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

dalidades da educação básica e tipos de estabeleci-


Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de mento de ensino;
trabalhadores considerados profissionais da educação b) a forma de cálculo do valor anual mínimo por alu-
básica e sobre a fixação de prazo para a elaboração no;
ou adequação de seus planos de carreira, no âmbito c) os percentuais máximos de apropriação dos recur-
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu- sos dos Fundos pelas diversas etapas e modalidades
nicípios.”(NR) da educação básica, observados os arts. 208 e 214 da
“Art. 208. . Constituição Federal, bem como as metas do Plano
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às Nacional de Educação;
crianças até 5 (cinco) anos de idade; d) a fiscalização e o controle dos Fundos;
.....”(NR) e) prazo para fixar, em lei específica, piso salarial

119
profissional nacional para os profissionais do mag- não poderá ser inferior ao praticado no âmbito
istério público da educação básica; do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do
IV - os recursos recebidos à conta dos Fundos instituí- Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério
dos nos termos do inciso I do caput deste artigo serão - FUNDEF, no ano anterior à vigência desta Emenda
aplicados pelos Estados e Municípios exclusivamente Constitucional.
nos respectivos âmbitos de atuação prioritária, con- § 3º O valor anual mínimo por aluno do ensino
forme estabelecido nos §§ 2º e 3º do art. 211 da Con- fundamental, no âmbito do Fundo de Manutenção e
stituição Federal; Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização
V - a União complementará os recursos dos Fundos a dos Profissionais da Educação - FUNDEB, não poderá
que se refere o inciso II do caput deste artigo sempre ser inferior ao valor mínimo fixado nacionalmente
que, no Distrito Federal e em cada Estado, o valor por no ano anterior ao da vigência desta Emenda
aluno não alcançar o mínimo definido nacionalmente, Constitucional.
fixado em observância ao disposto no inciso VII do ca- § 4º Para efeito de distribuição de recursos dos Fundos
put deste artigo, vedada a utilização dos recursos a a que se refere o inciso I do caput deste artigo, levar-
que se refere o § 5º do art. 212 da Constituição Fed- se-á em conta a totalidade das matrículas no ensino
eral; fundamental e considerar-se-á para a educação
VI - até 10% (dez por cento) da complementação infantil, para o ensino médio e para a educação de
da União prevista no inciso V do caput deste artigo jovens e adultos 1/3 (um terço) das matrículas no
poderá ser distribuída para os Fundos por meio de primeiro ano, 2/3 (dois terços) no segundo ano e sua
programas direcionados para a melhoria da quali- totalidade a partir do terceiro ano.
dade da educação, na forma da lei a que se refere o § 5º A porcentagem dos recursos de constituição dos
inciso III do caput deste artigo; Fundos, conforme o inciso II do caput deste artigo, será
VII - a complementação da União de que trata o inciso alcançada gradativamente nos primeiros 3 (três) anos
V do caput deste artigo será de, no mínimo: de vigência dos Fundos, da seguinte forma:
a) R$ 2.000.000.000,00 (dois bilhões de reais), no pri- I - no caso dos impostos e transferências constantes do
meiro ano de vigência dos Fundos; inciso II do caput do art. 155; do inciso IV do caput do
b) R$ 3.000.000.000,00 (três bilhões de reais), no se- art. 158; e das alíneas a e b do inciso I e do inciso II do
gundo ano de vigência dos Fundos; caput do art. 159 da Constituição Federal:
c) R$ 4.500.000.000,00 (quatro bilhões e quinhentos a) 16,66% (dezesseis inteiros e sessenta e seis centési-
milhões de reais), no terceiro ano de vigência dos Fun- mos por cento), no primeiro ano;
dos; b) 18,33% (dezoito inteiros e trinta e três centésimos
d) 10% (dez por cento) do total dos recursos a que por cento), no segundo ano;
se refere o inciso II do caput deste artigo, a partir do c) 20% (vinte por cento), a partir do terceiro ano;
quarto ano de vigência dos Fundos; II - no caso dos impostos e transferências constantes
VIII - a vinculação de recursos à manutenção e desen- dos incisos I e III do caput do art. 155; do inciso II do
volvimento do ensino estabelecida no art. 212 da Con- caput do art. 157; e dos incisos II e III do caput do art.
stituição Federal suportará, no máximo, 30% (trinta 158 da Constituição Federal:
por cento) da complementação da União, consideran- a) 6,66% (seis inteiros e sessenta e seis centésimos por
do-se para os fins deste inciso os valores previstos no cento), no primeiro ano;
inciso VII do caput deste artigo; b) 13,33% (treze inteiros e trinta e três centésimos por
IX - os valores a que se referem as alíneas a, b, e c do cento), no segundo ano;
inciso c) 20% (vinte por cento), a partir do terceiro ano.”(NR)
VII do caput deste artigo serão atualizados, anual- § 6º (Revogado).
mente, a partir da promulgação desta Emenda Con- § 7º (Revogado).”(NR)
stitucional, de forma a preservar, em caráter perma-  Art. 3º Esta Emenda Constitucional entra em vigor na
nente, o valor real da complementação da União; data de sua publicação, mantidos os efeitos do art. 60
X - aplica-se à complementação da União o disposto do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias,
no art. 160 da Constituição Federal; conforme estabelecido pela Emenda Constitucional nº
XI - o não-cumprimento do disposto nos incisos V e VII 14, de 12 de setembro de 1996, até o início da vigência
do caput deste artigo importará crime de responsabili- dos Fundos, nos termos desta Emenda Constitucional.
dade da autoridade competente; Brasília, em 19 de dezembro de 2006.
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

XII - proporção não inferior a 60% (sessenta por cento)


de cada Fundo referido no inciso I do caput deste arti-
go será destinada ao pagamento dos profissionais do LEI Nº 11.494, DE 20/6/2007, PUBLICADA
magistério da educação básica em efetivo exercício. EM 21/6/2007
§ 1º A União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios deverão assegurar, no financiamento
da educação básica, a melhoria da qualidade de Regulamenta o Fundo  de Manutenção e Desenvolvi-
ensino, de forma a garantir padrão mínimo definido mento da Educação Básica e de Valorização dos Profis-
nacionalmente. sionais da Educação - FUNDEB, de que trata o art. 60
§ 2º O valor por aluno do ensino fundamental, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias; al-
no Fundo de cada Estado e do Distrito Federal, tera a Lei n o 10.195, de 14 de fevereiro de 2001; revoga

120
dispositivos das Leis n os 9.424, de 24 de dezembro de 155  combinado com o inciso III do caput do art. 158
1996, 10.880, de 9 de junho de 2004, e 10.845, de 5 de da Constituição Federal;
março de 2004; e dá outras providências. IV - parcela do produto da arrecadação do imposto
que a União eventualmente instituir no exercício da
O presidente da república faço saber que o congresso competência que lhe é atribuída pelo inciso I do caput
nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei: do art. 154 da Constituição Federal  prevista no inciso
II do caput do art. 157 da Constituição Federal;
CAPÍTULO I V - parcela do produto da arrecadação do imposto
DISPOSIÇÕES GERAIS sobre a propriedade territorial rural, relativamente a
imóveis situados nos Municípios,  prevista no inciso II
Art. 1 o  É instituído, no âmbito de cada Estado e do do caput do art. 158 da Constituição Federal;
Distrito Federal, um Fundo de Manutenção e Desen- VI - parcela do produto da arrecadação do imposto
volvimento da Educação Básica e de Valorização dos sobre renda e proventos de qualquer natureza e do
Profissionais da Educação - FUNDEB, de natureza imposto sobre produtos industrializados devida ao
contábil, nos termos do art. 60 do Ato das  Disposi- Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Fed-
ções  Constitucionais Transitórias - ADCT. eral – FPE e prevista na alínea a do inciso I do ca-
Parágrafo único. A instituição dos Fundos previstos put do art. 159 da Constituição Federal  e no Sistema
no caput deste artigo e a aplicação de seus recur- Tributário Nacional de que trata a Lei n  o  5.172, de 25
sos não isentam os Estados, o Distrito Federal e os de outubro de 1966;
Municípios da obrigatoriedade da aplicação na ma- VII - parcela do produto da arrecadação do imposto
nutenção e no desenvolvimento do ensino, na forma sobre renda e proventos de qualquer natureza e do
prevista no art. 212 da Constituição Federal  e no in- imposto sobre produtos industrializados devida ao
ciso VI do caput e parágrafo único do art. 10  e no in- Fundo de Participação dos Municípios – FPM e previs-
ciso I do caput do art. 11 da Lei nº 9.394, de 20 de ta na alínea b do inciso I do caput do art. 159 da Con-
dezembro de 1996  , de: stituição Federal  e no Sistema Tributário Nacional de
I - pelo menos 5% (cinco por cento) do montante dos que trata a Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966;
impostos e transferências que compõem a cesta de re- VIII - parcela do produto da arrecadação do impos-
cursos do Fundeb, a que se referem os incisos I a IX to sobre produtos industrializados devida aos Estados
do caput e o § 1 o  do art. 3 o  desta Lei, de modo que e ao Distrito Federal e prevista no inciso II do caput
os recursos previstos no art. 3 o desta Lei somados aos do art. 159 da Constituição Federal  e na Lei Comple-
referidos neste inciso garantam a aplicação do míni- mentar n  o  61, de 26 de dezembro de 1989  ; e
mo de 25% (vinte e cinco por cento) desses impostos e IX - receitas da dívida ativa tributária relativa aos im-
transferências em favor da manutenção e desenvolvi- postos previstos neste artigo, bem como juros e multas
mento do ensino; eventualmente incidentes.
II - pelo menos 25% (vinte e cinco por cento) dos de- § 1 o Inclui-se na base de cálculo dos recursos referidos
mais impostos e transferências. nos incisos do caput deste artigo o montante de recur-
Art. 2 o  Os Fundos destinam-se à manutenção e ao sos financeiros transferidos pela União aos Estados, ao
desenvolvimento da educação básica pública e à valo- Distrito Federal e aos Municípios, conforme disposto
rização dos trabalhadores em educação, incluindo sua na Lei Complementar nº 87, de 13 de setembro de
condigna remuneração, observado o disposto nesta 1996.
Lei. § 2 o Além dos recursos mencionados nos incisos do ca-
put e no § 1 o  deste artigo, os Fundos contarão com
CAPÍTULO II a complementação da União, nos termos da Seção II
DA COMPOSIÇÃO FINANCEIRA deste Capítulo.
Seção II
SEÇÃO I Da Complementação da União
DAS FONTES DE RECEITA DOS FUNDOS
Art. 4 o  A União complementará os recursos dos Fun-
dos sempre que, no âmbito de cada Estado e no Dis-
Art. 3 o Os Fundos, no âmbito de cada Estado e do Dis-
trito Federal, o valor médio ponderado por aluno,
trito Federal, são compostos por 20% (vinte por cento)
calculado na forma do Anexo desta Lei, não alcançar
das seguintes fontes de receita:
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

o mínimo definido nacionalmente, fixado de forma a


I - imposto sobre transmissão causa mortis e doação
que a complementação da União não seja inferior aos
de quaisquer bens ou direitos previsto no inciso I do
valores previstos no inciso VII do caput do art. 60 do
caput do art. 155 da Constituição Federal;
ADCT.
II - imposto sobre operações relativas à circulação de
§ 1 o O valor anual mínimo por aluno definido nacio-
mercadorias e sobre prestações de serviços de trans-
nalmente constitui-se em valor de referência relativo
portes interestadual e intermunicipal e de comunica-
aos anos iniciais do ensino fundamental urbano e será
ção previsto no inciso II do caput do art. 155  com-
determinado contabilmente em função da comple-
binado com o inciso IV do caput do art. 158 da
mentação da União.
Constituição Federal;
§ 2 o O valor anual mínimo por aluno será definido na-
III - imposto sobre a propriedade de veículos au-
cionalmente, considerando-se a complementação da
tomotores previsto no inciso III do caput do art.

121
União após a dedução da parcela de que trata o art. CAPÍTULO III
7 o desta Lei, relativa a programas direcionados para a DA DISTRIBUIÇÃO DOS RECURSOS
melhoria da qualidade da educação básica.
Art. 5 o A complementação da União destina-se exclu- SEÇÃO I
sivamente a assegurar recursos financeiros aos Fun- DISPOSIÇÕES GERAIS
dos, aplicando-se o disposto no caput do art. 160 da
Constituição Federal.
Art. 8 o  A distribuição de recursos que compõem os
§ 1 o É vedada a utilização dos recursos oriundos da ar-
Fundos, no âmbito de cada Estado e do Distrito Fe-
recadação da contribuição social do salário-educação
deral, dar-se-á, entre o governo estadual e os de seus
a que se refere o § 5º do art. 212 da Constituição Fe-
Municípios, na proporção do número de alunos ma-
deral  na complementação da União aos Fundos.
triculados nas respectivas redes de educação básica
§ 2 o  A vinculação de recursos para manutenção e
pública presencial, na forma do Anexo desta Lei.
desenvolvimento do ensino estabelecida no art. 212
§ 1 o  Será admitido, para efeito da distribuição dos
da Constituição Federal  suportará, no máximo, 30%
recursos previstos no inciso II do caput do art. 60 do
(trinta por cento) da complementação da União.
ADCT, em relação às instituições comunitárias, con-
fessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos e conve-
Art. 6 o A complementação da União será de, no míni-
niadas com o poder público, o cômputo das matrícu-
mo, 10% (dez por cento) do total dos recursos a que se
las efetivadas: (Redação dada pela Lei nº 12.695, de
refere o inciso II do caput do art. 60 do ADCT.
2012)
§ 1 o A complementação da União observará o crono-
I - na educação infantil oferecida em creches para cri-
grama da programação financeira do Tesouro Nacio-
anças de até 3 (três) anos; (Incluído pela Lei nº 12.695,
nal e contemplará pagamentos mensais de, no míni-
de 2012)
mo, 5% (cinco por cento) da complementação anual,
II - na educação do campo oferecida em instituições
a serem realizados até o último dia útil de cada mês,
credenciadas que tenham como proposta pedagógica
assegurados os repasses de, no mínimo, 45% (quaren-
a formação por alternância, observado o disposto em
ta e cinco por cento) até 31 de julho, de 85% (oitenta
regulamento. (Incluído pela Lei nº 12.695, de 2012)
e cinco por cento) até 31 de dezembro de cada ano, e
§ 2 o As instituições a que se refere o § 1 o deste artigo
de 100% (cem por cento) até 31 de janeiro do exercício
deverão obrigatória e cumulativamente:
imediatamente subseqüente.
I - oferecer igualdade de condições para o acesso e
§ 2 o A complementação da União a maior ou a menor
permanência na escola e atendimento educacional
em função da diferença entre a receita utilizada para
gratuito a todos os seus alunos;
o cálculo e a receita realizada do exercício de referên-
II - comprovar finalidade não lucrativa e aplicar seus
cia será ajustada no 1 o  (primeiro) quadrimestre do
excedentes financeiros em educação na etapa ou mo-
exercício imediatamente subseqüente e debitada ou
dalidade previstas nos §§ 1 o , 3 o e 4 o deste artigo;
creditada à conta específica dos Fundos, conforme o
caso.
III - assegurar a destinação de seu patrimônio a outra
§ 3 o  O não-cumprimento do disposto no caput deste
escola comunitária, filantrópica ou confessional com
artigo importará em crime de responsabilidade da au-
atuação na etapa ou modalidade previstas nos §§ 1 o ,
toridade competente.
3  o  e 4 o  deste artigo ou ao poder público no caso do
encerramento de suas atividades;
Art. 7 o  Parcela da complementação da União, a ser
IV - atender a padrões mínimos de qualidade defini-
fixada anualmente pela Comissão Intergovernamental
dos pelo órgão normativo do sistema de ensino, in-
de Financiamento para a Educação Básica de Quali-
clusive, obrigatoriamente, ter aprovados seus projetos
dade instituída na forma da Seção II do Capítulo III de-
pedagógicos;
sta Lei, limitada a até 10% (dez por cento) de seu valor
V - ter certificado do Conselho Nacional de Assistência
anual, poderá ser distribuída para os Fundos por meio
Social ou órgão equivalente, na forma do regulamento.
de programas direcionados para a melhoria da qual-
§ 3 o  Será admitido, até a universalização da pré-es-
idade da educação básica, na forma do regulamento.
cola prevista na Lei n  o  13.005, de 25 de junho de
Parágrafo único.  Para a distribuição da parcela de
2014  , o cômputo das matrículas das pré-escolas, co-
recursos da complementação a que se refere o ca-
munitárias, confessionais ou filantrópicas, sem fins lu-
put deste artigo aos Fundos de âmbito estadual ben-
crativos, conveniadas com o poder público e que aten-
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

eficiários da complementação nos termos do art.


dam a crianças de  quatro a  cinco anos, observadas
4 o desta Lei, levar-se-á em consideração:
as condições previstas nos incisos I a V do § 2 o  , efe-
I - a apresentação de projetos em regime de colabo-
tivadas, conforme o censo escolar mais atualizado, re-
ração por Estado e respectivos Municípios ou por con-
alizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
sórcios municipais;
Educacionais Anísio Teixeira - INEP. (Redação dada
II - o desempenho do sistema de ensino no que se re-
pela Lei nº 13.348, de 2016)
fere ao esforço de habilitação dos professores e apren-
§ 4 o Observado o disposto no parágrafo único do art.
dizagem dos educandos e melhoria do fluxo escolar;
60 da Lei n  o  9.394, de 20 de dezembro de 1996  ,
III - o esforço fiscal dos entes federados;
e no § 2 o  deste artigo, admitir-se-á o cômputo das
IV - a vigência de plano estadual ou municipal de edu-
matrículas efetivadas, conforme o censo escolar mais
cação aprovado por lei.

122
atualizado, na educação especial oferecida em institu- XVI - educação de jovens e adultos com avaliação no
ições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem processo;
fins lucrativos, conveniadas com o poder público, com XVII - educação de jovens e adultos integrada à edu-
atuação exclusiva na modalidade. cação profissional de nível médio, com avaliação no
§ 5 o Eventuais diferenças do valor anual por aluno en- processo.
tre as instituições públicas da etapa e da modalidade XVIII - formação técnica e profissional prevista no in-
referidas neste artigo e as instituições a que se refere ciso V do  caput  do art. 36 da Lei n  o  9.394, de 20 de
o § 1 o  deste artigo serão aplicadas na criação de in- dezembro de 1996  . (Incluído pela lei nº 13.415, de
fra-estrutura da rede escolar pública. 2017)
§ 6 o Os recursos destinados às instituições de que trat- § 1 o  A ponderação entre diferentes etapas, modali-
am os §§ 1 o , 3 o e 4 o deste artigo somente poderão ser dades e tipos de estabelecimento de ensino adotará
destinados às categorias de despesa previstas no art. como referência o fator 1 (um) para os anos iniciais do
70 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. ensino fundamental urbano, observado o disposto no
§ 1 o do art. 32 desta Lei.
Art. 9 o  Para os fins da distribuição dos recursos de § 2 o A ponderação entre demais etapas, modalidades
que trata esta Lei, serão consideradas exclusivamente e tipos de estabelecimento será resultado da multipli-
as matrículas presenciais efetivas, conforme os dados cação do fator de referência por um fator específico
apurados no censo escolar mais atualizado, realiza- fixado entre 0,70 (setenta centésimos) e 1,30 (um in-
do anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e teiro e trinta centésimos), observando-se, em qualquer
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP, consid- hipótese, o limite previsto no art. 11 desta Lei.
erando as ponderações aplicáveis. § 3 o Para os fins do disposto neste artigo, o regulamen-
§ 1 o  Os recursos serão distribuídos entre o Distrito to disporá sobre a educação básica em tempo integral
Federal, os Estados e seus Municípios, considerando-se e sobre os anos iniciais e finais do ensino fundamental.
exclusivamente as matrículas nos respectivos âmbitos § 4 o O direito à educação infantil será assegurado às
de atuação prioritária, conforme os §§ 2º e 3º do art. crianças até o término do ano letivo em que comple-
211 da Constituição Federal , observado o disposto tarem 6 (seis) anos de idade.
no § 1 o do art. 21 desta Lei.
§ 2 o  Serão consideradas, para  a  educação especial, Art. 11.  A apropriação dos recursos em função das
as matrículas na rede regular de ensino, em classes matrículas na modalidade de educação de jovens e
comuns ou em classes especiais de escolas regulares, e adultos, nos termos da alínea c do inciso III do ca-
em escolas especiais ou especializadas. put do art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais
§ 3 o Os profissionais do magistério da educação bási- Transitórias - ADCT, observará, em cada Estado e no
ca da rede pública de ensino cedidos para as institu- Distrito Federal, percentual de até 15% (quinze por
ições a que se referem os §§ 1 o , 3 o e 4 o do art. 8 o desta cento) dos recursos do Fundo respectivo.
Lei serão considerados como em efetivo exercício na Seção II
educação básica pública para fins do disposto no art. Da Comissão Intergovernamental de Financiamento
22 desta Lei. para a Educação Básica de Qualidade
§ 4 o  Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios Art. 12.  Fica instituída, no âmbito do Ministério da
poderão, no prazo de 30 (trinta) dias da publicação Educação, a Comissão Intergovernamental de Finan-
dos dados do censo escolar no Diário Oficial da ciamento para a Educação Básica de Qualidade, com
União, apresentar recursos para retificação dos dados a seguinte composição:
publicados. I - 1 (um) representante do Ministério da Educação;
II - 1 (um) representante dos secretários  estaduais de
Art. 10.  A distribuição proporcional de recursos dos educação de cada uma das 5 (cinco) regiões políti-
Fundos levará em conta as seguintes diferenças entre co-administrativas do Brasil  indicado  pelas  seções
etapas, modalidades e tipos de estabelecimento de en- regionais do Conselho Nacional de Secretários de Es-
sino da educação básica: tado da Educação - CONSED;
I - creche em tempo integral; III - 1 (um) representante dos secretários municipais
II - pré-escola em tempo integral; de educação de cada uma das 5 (cinco) regiões políti-
III - creche em tempo parcial; co-administrativas do Brasil indicado pelas  seções re-
IV - pré-escola em tempo parcial; gionais da União Nacional dos Dirigentes Municipais
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

V - anos iniciais do ensino fundamental urbano; de Educação - UNDIME.


VI - anos iniciais do ensino fundamental no campo ; § 1 o As deliberações da Comissão Intergovernamental
VII - anos finais do ensino fundamental urbano; de Financiamento para a Educação Básica de Quali-
VIII - anos finais do ensino fundamental no campo ; dade serão registradas em ata circunstanciada, lavra-
IX- ensino fundamental em tempo integral; da conforme seu regimento interno.
X - ensino médio urbano; § 2 o As deliberações relativas à especificação das pon-
XI - ensino médio no campo; derações serão baixadas em resolução publicada no
XII - ensino médio em tempo integral; Diário Oficial da União até o dia 31 de julho de cada
XIII - ensino médio integrado à educação profissional; exercício, para vigência no exercício seguinte.
XIV - educação especial; § 3 o  A participação na Comissão Intergovernamen-
XV - educação indígena e quilombola; tal de Financiamento para a Educação Básica de

123
Qualidade é função não remunerada de relevante in- âmbito do Distrito Federal e de cada Estado;
teresse público, e seus membros, quando convocados, IV - o valor anual mínimo por aluno definido
farão jus a transporte e diárias. nacionalmente.
Parágrafo único.  Para o ajuste da complementação
Art. 13.  No exercício de suas atribuições, compete à da União de que trata o § 2 o  do art. 6 o  desta Lei, os
Comissão Intergovernamental de Financiamento para Estados e o Distrito Federal deverão publicar na im-
a Educação Básica de Qualidade: prensa oficial e encaminhar à Secretaria do Tesouro
I - especificar anualmente as ponderações aplicáveis Nacional do Ministério da Fazenda, até o dia 31 de
entre diferentes etapas, modalidades e tipos de esta- janeiro, os valores da arrecadação efetiva dos impos-
belecimento de ensino da educação básica, observado tos e das transferências de que trata o art. 3 o desta Lei
o disposto no art. 10 desta Lei, levando em consid- referentes ao exercício imediatamente anterior.
eração a correspondência ao custo real da respectiva
etapa e modalidade e tipo de estabelecimento de ed- Art. 16.  Os recursos dos Fundos serão disponibilizados
ucação básica, segundo estudos de custo realizados e pelas unidades transferidoras ao Banco do Brasil S.A.
publicados pelo Inep; ou Caixa Econômica Federal, que realizará a distribui-
II - fixar anualmente o limite proporcional de apro- ção dos valores devidos aos Estados, ao Distrito Fede-
priação de recursos pelas diferentes etapas, modali- ral e aos Municípios.
dades e tipos de estabelecimento de ensino da edu- Parágrafo único. São unidades transferidoras a União,
cação básica, observado o disposto no art. 11 desta os Estados e o Distrito Federal em relação às respecti-
Lei; vas parcelas do Fundo cuja arrecadação e disponibili-
III - fixar anualmente a parcela da complementação zação para distribuição sejam de sua responsabilidade.
da União a ser distribuída para os Fundos por meio de
programas direcionados para a melhoria da qualidade Art. 17.  Os recursos dos Fundos, provenientes da
da educação básica, bem como respectivos critérios de União, dos Estados e do Distrito Federal, serão repas-
distribuição, observado o disposto no art. 7 o desta Lei; sados automaticamente para contas únicas e específi-
IV - elaborar, requisitar ou orientar a elaboração de cas dos Governos Estaduais, do Distrito Federal e dos
estudos técnicos pertinentes, sempre que necessário; Municípios, vinculadas ao respectivo Fundo, instituí-
V - elaborar seu regimento interno, baixado em por- das para esse fim e mantidas na instituição financeira
taria do Ministro de Estado da Educação. de que trata o art. 16 desta Lei.
VI - fixar percentual mínimo de recursos a ser repas- § 1 o Os repasses aos Fundos provenientes das partic-
sado às instituições de que tratam os incisos I e II do § ipações a que se refere o inciso II do caput do art.
1 o e os §§ 3 o e 4 o do art. 8 o , de acordo com o número 158  e as alíneas a e b do inciso I do caput  e inciso II
de matrículas efetivadas. (Incluído pela Lei nº 12.695, do caput do art. 159 da Constituição Federal  , bem
de 2012) como os repasses aos Fundos à conta das compen-
§ 1 o  Serão adotados como base para a decisão da sações financeiras aos Estados, Distrito Federal e Mu-
Comissão Intergovernamental de Financiamento para nicípios a que se refere a Lei Complementar n  o  87,
a Educação Básica de Qualidade os dados do censo de 13 de setembro de 1996  , constarão dos orçamen-
escolar anual mais atualizado realizado pelo Inep. tos da União, dos Estados e do Distrito Federal e serão
§ 2 o A Comissão Intergovernamental de Financiamen- creditados pela União em favor dos Governos Estad-
to para a Educação Básica de Qualidade exercerá suas uais, do Distrito Federal e dos Municípios nas contas
competências em observância às garantias estabele- específicas a que se refere este artigo, respeitados os
cidas nos incisos I, II, III e IV do  caput  do art. 208 da critérios e as finalidades estabelecidas nesta Lei, ob-
Constituição Federal e às metas de universalização servados os mesmos prazos, procedimentos e forma
da educação básica estabelecidas no plano nacional de divulgação adotados para o repasse do restante
de educação. dessas transferências constitucionais em favor desses
governos.
Art. 14.  As despesas da Comissão Intergovernamental § 2 o  Os repasses aos Fundos provenientes dos im-
de Financiamento para a Educação Básica de Qual- postos previstos nos incisos I, II e III do caput do art.
idade correrão à conta das dotações orçamentárias 155  combinados com os incisos III e IV do caput do
anualmente consignadas ao Ministério da Educação. art. 158 da Constituição  Federal constarão dos orça-
mentos dos Governos Estaduais e do Distrito Feder-
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

CAPÍTULO IV al e serão depositados pelo estabelecimento oficial


DA TRANSFERÊNCIA E DA GESTÃO DOS de crédito previsto no art. 4  o  da Lei Complementar
RECURSOS n  o  63, de 11 de janeiro de 1990  , no momento em
que a arrecadação estiver sendo realizada nas contas
Art. 15. O Poder Executivo federal publicará, até 31 de do Fundo abertas na instituição financeira de que tra-
dezembro de cada exercício, para vigência no exercí- ta o caput deste artigo.
cio subseqüente: § 3 o A instituição financeira de que trata o caput deste
I - a estimativa da receita total dos Fundos; artigo, no que se refere aos recursos dos impostos e
II - a estimativa do valor da complementação da participações mencionados no § 2 o deste artigo, cred-
União; itará imediatamente as parcelas devidas ao  Gover-
III - a estimativa dos valores anuais por aluno no no Estadual, ao Distrito Federal e aos Municípios nas

124
contas específicas referidas neste artigo, observados artigo deverão ser utilizados na mesma finalidade e
os critérios e as finalidades estabelecidas nesta Lei, de acordo com os mesmos critérios e condições esta-
procedendo à divulgação dos valores creditados de belecidas para utilização do valor principal do Fundo.
forma similar e com a mesma periodicidade utilizada
pelos Estados em relação ao restante da transferência CAPÍTULO V
do referido imposto. DA UTILIZAÇÃO DOS RECURSOS
§ 4 o  Os recursos dos Fundos provenientes da parce-
la do imposto sobre produtos industrializados, de que Art. 21.  Os recursos dos Fundos, inclusive aqueles ori-
trata o inciso II do caput do art. 159 da Constituição undos de complementação da União, serão utilizados
Federal  , serão creditados pela União em favor dos pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios,
Governos Estaduais e do Distrito Federal nas contas no exercício financeiro em que lhes forem creditados,
específicas, segundo os critérios e respeitadas as final- em ações consideradas como de manutenção e desen-
idades estabelecidas nesta Lei, observados os mesmos volvimento do ensino para a educação básica pública,
prazos, procedimentos e forma de divulgação previs- conforme disposto no art. 70 da Lei nº 9.394, de 20 de
tos na Lei Complementar nº 61, de 26 de dezembro dezembro de 1996.
de 1989. § 1 o Os recursos poderão ser aplicados pelos Estados e
§ 5 o Do montante dos recursos do imposto sobre pro- Municípios indistintamente entre etapas, modalidades
dutos industrializados de que trata o inciso II do caput e tipos de estabelecimento de ensino da educação
do art. 159 da Constituição Federal  a parcela devida básica nos seus respectivos âmbitos de atuação pri-
aos Municípios, na forma do disposto no art. 5º da Lei oritária, conforme estabelecido nos §§ 2º e 3º do art.
Complementar nº 61, de 26 de dezembro de 1989  , 211 da Constituição Federal.
será repassada pelo Governo Estadual ao respectivo § 2 o  Até 5% (cinco por cento) dos recursos recebidos
Fundo e os recursos serão creditados na conta espe- à conta dos Fundos, inclusive relativos à complemen-
cífica a que se refere este artigo, observados os mes- tação da União recebidos nos termos do § 1 o  do art.
mos prazos, procedimentos e forma de divulgação do 6  o  desta Lei, poderão ser utilizados no 1 o  (primeiro)
restante dessa transferência aos Municípios. trimestre do exercício imediatamente subseqüente,
§ 6 o  A instituição financeira disponibilizará, perma- mediante abertura de crédito adicional.
nentemente, aos conselhos referidos nos incisos II, III e
IV do § 1 o do  art. 24 desta Lei os extratos  bancários Art. 22.  Pelo menos 60% (sessenta por cento) dos
referentes à conta do fundo. recursos anuais totais dos Fundos serão destinados
§ 7 o Os recursos depositados na conta específica a que ao pagamento da remuneração dos profissionais do
se refere o caput deste artigo serão depositados pela magistério da educação básica em efetivo exercício na
União, Distrito Federal, Estados e Municípios na forma rede pública.
prevista no § 5  o  do art. 69 da Lei n  o  9.394, de 20 de Parágrafo único.  Para os fins do disposto no  ca-
dezembro de 1996. put deste artigo, considera-se:
I - remuneração: o total de pagamentos devidos aos
profissionais do magistério da educação, em decorrên-
Art. 18.  Nos termos do § 4º do art. 211 da Consti- cia do efetivo exercício em cargo, emprego ou função,
tuição Federal, os Estados e os Municípios poderão integrantes da estrutura, quadro ou tabela de servido-
celebrar convênios para a transferência de alunos, res do Estado, Distrito Federal ou Município, conforme
recursos humanos, materiais e encargos financeiros, o caso, inclusive os encargos sociais incidentes;
assim como de transporte escolar, acompanhados da II - profissionais do magistério da educação: docentes,
transferência imediata de recursos financeiros corre- profissionais que oferecem suporte pedagógico direto
spondentes ao número de matrículas assumido pelo ao exercício da docência: direção ou administração es-
ente federado. colar, planejamento, inspeção, supervisão, orientação
Parágrafo único. (VETADO) educacional e coordenação pedagógica;
III - efetivo exercício: atuação efetiva no desempenho
Art. 19.  Os recursos disponibilizados aos Fundos pela das atividades de magistério previstas no inciso II deste
União, pelos Estados e pelo Distrito Federal deverão parágrafo associada à sua regular vinculação contra-
ser registrados de forma detalhada a fim de evidenciar tual, temporária ou estatutária, com o ente governa-
as respectivas transferências. mental que o remunera, não sendo descaracterizado 
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

por  eventuais afastamentos temporários previstos em


Art. 20.  Os eventuais saldos de recursos financeiros lei, com ônus para o empregador, que não impliquem
disponíveis nas contas específicas dos Fundos cuja rompimento da relação jurídica existente.
perspectiva de utilização seja superior a 15 (quinze)
dias deverão ser aplicados em operações financeiras Art. 23.  É vedada a utilização dos recursos dos Fundos:
de curto prazo ou de mercado aberto, lastreadas em I - no financiamento das despesas não consideradas
títulos da dívida pública, na instituição financeira re- como de manutenção e desenvolvimento da educação
sponsável pela movimentação dos recursos, de modo básica, conforme o art. 71 da Lei nº 9.394, de 20 de
a preservar seu poder de compra. dezembro de 1996  ;
Parágrafo único.  Os ganhos financeiros auferidos em II - como garantia ou contrapartida de operações de
decorrência das aplicações previstas no caput deste crédito, internas ou externas, contraídas pelos Estados,

125
pelo Distrito Federal ou pelos Municípios que não se membros, sendo:
destinem ao financiamento de projetos, ações ou pro- a) 2 (dois) representantes do Poder Executivo Munici-
gramas considerados como ação de manutenção e pal, dos quais pelo menos 1 (um) da Secretaria Munic-
desenvolvimento do ensino para a educação básica. ipal de Educação ou órgão educacional equivalente;
b) 1 (um) representante dos professores da educação
CAPÍTULO VI básica pública;
DO ACOMPANHAMENTO, CONTROLE SOCIAL, c) 1 (um) representante dos diretores das escolas bási-
COMPROVAÇÃO E cas públicas;
FISCALIZAÇÃO DOS RECURSOS d) 1 (um) representante dos servidores técnico-admin-
istrativos das escolas básicas públicas;
Art. 24.  O acompanhamento e o controle social sobre e) 2 (dois) representantes dos pais de alunos da edu-
a distribuição, a transferência e a aplicação dos recur- cação básica pública;
sos dos Fundos serão exercidos, junto aos respectivos f) 2 (dois) representantes dos estudantes da educação
governos, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito básica pública, um dos quais indicado pela entidade
Federal e dos Municípios, por conselhos instituídos es- de estudantes secundaristas.
pecificamente para esse fim. § 2 o  Integrarão ainda os conselhos municipais dos
§ 1 o  Os conselhos serão criados por legislação espe- Fundos, quando houver, 1 (um) representante do re-
cífica, editada no pertinente âmbito governamental, spectivo Conselho Municipal de Educação e 1 (um)
observados os seguintes critérios de composição: representante do Conselho Tutelar a que se refere
I - em âmbito federal, por no mínimo 14 (quatorze) a  Lei n  o  8.069, de 13 de julho de 1990  , indicados
membros, sendo: por seus pares.
a) até 4 (quatro) representantes do Ministério da § 3 o  Os membros dos conselhos previstos no ca-
Educação; put deste artigo serão indicados até 20 (vinte) dias
b) 1 (um) representante do Ministério da Fazenda; antes do término do mandato dos conselheiros
c) 1 (um) representante do Ministério do Planejamen- anteriores:
to, Orçamento e Gestão; I - pelos dirigentes dos órgãos  federais, estaduais, mu-
d) 1 (um) representante do Conselho Nacional de nicipais e do Distrito Federal e das entidades de class-
Educação; es organizadas, nos casos das representações dessas
e) 1 (um) representante do Conselho Nacional de instâncias;
Secretários de Estado da Educação - CONSED; II - nos casos dos representantes dos diretores, pais
f) 1 (um) representante da Confederação Nacional dos de alunos e estudantes, pelo conjunto dos estabeleci-
Trabalhadores em Educação - CNTE; mentos ou entidades de âmbito nacional, estadual ou
g) 1 (um) representante da União Nacional dos Diri- municipal, conforme o caso, em processo eletivo orga-
gentes Municipais de Educação - UNDIME; nizado para esse fim, pelos respectivos pares;
h) 2 (dois) representantes dos pais de alunos da edu- III - nos casos de representantes de professores e
cação básica pública; servidores, pelas entidades sindicais da respectiva
i) 2 (dois) representantes dos estudantes da educação categoria.
básica pública, um dos quais indicado pela União Bra- § 4 o Indicados os conselheiros, na forma dos incisos I
sileira de Estudantes Secundaristas - UBES; e II do § 3 o deste artigo, o Ministério da Educação des-
II - em âmbito estadual, por no mínimo 12 (doze) ignará os integrantes do conselho previsto no inciso I
membros, sendo: do § 1 o deste artigo, e o Poder Executivo  competente 
a) 3 (três) representantes do Poder Executivo estadual, designará os integrantes dos conselhos previstos nos
dos quais pelo menos 1 (um) do órgão estadual re- incisos II, III e IV do § 1 o deste artigo.
sponsável pela educação básica; § 5 o São impedidos de integrar os conselhos a que se
b) 2 (dois) representantes dos Poderes Executivos refere o caput deste artigo:
Municipais; I - cônjuge e parentes consangüíneos ou afins, até
c) 1 (um) representante do Conselho Estadual de 3  o (terceiro) grau, do Presidente e do Vice-Presidente
Educação; da República, dos Ministros de Estado, do Governador
d) 1 (um) representante da seccional da União Nacio- e do Vice-Governador, do Prefeito e do Vice-Prefeito,
nal dos Dirigentes Municipais de Educação - UNDIME; e dos Secretários Estaduais, Distritais ou Municipais;
e) 1 (um) representante da seccional da Confederação II - tesoureiro, contador ou funcionário de empre-
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

Nacional dos Trabalhadores em Educação - CNTE; sa de assessoria ou consultoria que prestem serviços
f) 2 (dois) representantes dos pais de alunos da edu- relacionados à administração ou controle interno
cação básica pública; dos recursos do Fundo, bem como cônjuges, parentes
g) 2 (dois) representantes dos estudantes da educação consangüíneos ou afins, até 3  o (terceiro) grau, desses
básica pública, 1 (um) dos quais indicado pela enti- profissionais;
dade estadual de estudantes secundaristas; III - estudantes que não sejam emancipados;
III - no Distrito Federal, por no mínimo 9 (nove) mem- IV - pais de alunos que:
bros, sendo a composição determinada pelo dispos- a) exerçam cargos ou funções públicas de livre no-
to no inciso II deste parágrafo, excluídos os membros meação e exoneração no âmbito dos órgãos do re-
mencionados nas suas alíneas b e d ; spectivo Poder Executivo gestor dos recursos; ou
IV - em âmbito municipal, por no mínimo 9 (nove) b) prestem serviços terceirizados, no âmbito dos

126
Poderes Executivos em que atuam os respectivos Adultos e, ainda, receber e analisar as prestações de
conselhos. contas referentes a esses Programas, formulando pa-
§ 6 o  O presidente dos conselhos previstos no ca- receres conclusivos acerca da aplicação desses recur-
put deste artigo será eleito por seus pares em reunião sos e encaminhando-os ao Fundo Nacional de Desen-
do colegiado, sendo impedido de ocupar a função o volvimento da Educação - FNDE.
representante do governo gestor dos recursos do Fun-
do no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Fed- Art. 25.  Os registros contábeis e os demonstrativos
eral e dos Municípios. gerenciais mensais, atualizados, relativos aos recursos
§ 7 o  Os conselhos dos Fundos atuarão com autono- repassados e recebidos à conta dos Fundos assim como
mia, sem vinculação ou subordinação institucional os referentes às despesas realizadas ficarão perma-
ao Poder Executivo local e serão renovados periodica- nentemente à disposição dos conselhos responsáveis,
mente ao final de cada mandato dos seus membros. bem como dos órgãos federais, estaduais e municipais
§ 8 o A atuação dos membros dos conselhos dos Fundos: de controle interno e externo, e ser-lhes-á dada ampla
I - não será remunerada; publicidade, inclusive por meio eletrônico.
II - é considerada atividade de relevante interesse Parágrafo único.  Os conselhos referidos nos incisos II,
social; III e IV do § 1 o do art. 24 desta Lei poderão, sempre que
III - assegura isenção da obrigatoriedade de testemu- julgarem conveniente:
nhar sobre informações recebidas ou prestadas em I - apresentar ao Poder Legislativo local e aos órgãos
razão do exercício de suas atividades de conselheiro e de controle interno e externo manifestação formal
sobre as pessoas que lhes confiarem ou deles receber- acerca dos registros contábeis e dos demonstrativos
em informações; gerenciais do Fundo;
IV - veda, quando os conselheiros forem represen- II - por decisão da maioria de seus membros, convo-
tantes de professores e diretores ou de servidores das car o Secretário de Educação competente ou servidor
escolas públicas, no curso do mandato: equivalente para prestar esclarecimentos acerca do
a) exoneração ou demissão do cargo ou emprego sem fluxo de recursos e a execução das despesas do Fundo,
justa causa ou transferência involuntária do estabe- devendo a autoridade convocada apresentar-se em
lecimento de ensino em que atuam; prazo não superior a 30 (trinta) dias;
b) atribuição de falta injustificada ao serviço em III - requisitar ao Poder Executivo cópia de documen-
função das atividades do conselho; tos referentes a:
c) afastamento involuntário e injustificado da condição a) licitação, empenho, liquidação e pagamento de
de conselheiro antes do término do mandato para o obras e serviços custeados com recursos do Fundo;
qual tenha sido designado; b) folhas de pagamento dos profissionais da educação,
V - veda, quando os conselheiros forem representantes as quais deverão discriminar aqueles em efetivo exer-
de estudantes em atividades do conselho, no curso do cício na educação básica e indicar o respectivo nível,
mandato, atribuição de falta injustificada nas ativi- modalidade ou tipo de estabelecimento a que estejam
dades escolares. vinculados;
§ 9 o  Aos conselhos incumbe, ainda, supervisionar o c) documentos referentes aos convênios com as insti-
censo escolar anual e a elaboração da proposta orça- tuições a que se refere o art. 8 o desta Lei;
mentária anual, no âmbito de suas respectivas es- d) outros documentos necessários ao desempenho de
feras governamentais de atuação, com o objetivo de suas funções;
concorrer para o regular e tempestivo tratamento e IV - realizar visitas e inspetorias in loco para verificar:
encaminhamento dos dados estatísticos e financeiros a) o desenvolvimento regular de obras e serviços efetu-
que alicerçam a operacionalização dos Fundos. ados nas instituições escolares com recursos do Fundo;
§ 10.  Os conselhos dos Fundos não contarão com es- b) a adequação do serviço de transporte escolar;
trutura administrativa própria, incumbindo à União, c) a utilização em benefício do sistema de ensino de
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios ga- bens adquiridos com recursos do Fundo.
rantir infra-estrutura e condições materiais adequa-
das à execução plena das competências dos conselhos Art. 26.  A fiscalização e o controle referentes ao cum-
e oferecer ao Ministério da Educação os dados cadas- primento do disposto no art. 212 da Constituição Fed-
trais relativos à criação e composição dos respectivos eral  e do disposto nesta Lei, especialmente em relação
conselhos. à aplicação da totalidade dos recursos dos Fundos,
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

§ 11.  Os membros dos conselhos de acompanhamen- serão exercidos:


to e controle terão mandato de, no máximo, 2 (dois) I - pelo órgão de controle interno no âmbito da União
anos, permitida 1 (uma) recondução por igual período. e pelos órgãos de controle interno no âmbito dos Esta-
§ 12.  Na hipótese da inexistência de estudantes eman- dos, do Distrito Federal e dos Municípios;
cipados, representação estudantil poderá acompanhar II - pelos Tribunais de Contas dos Estados, do Distrito
as reuniões do conselho com direito a voz. Federal e dos Municípios, junto aos respectivos entes
§ 13.  Aos conselhos incumbe, também, acompanhar governamentais sob suas jurisdições;
a aplicação dos recursos federais transferidos à conta III - pelo Tribunal de Contas da União, no que tange às
do Programa Nacional de Apoio ao Transporte  do Es- atribuições a cargo dos órgãos federais, especialmente
colar - PNATE e do Programa de Apoio aos Sistemas em relação à complementação da União.
de Ensino para Atendimento à Educação de Jovens e

127
Art. 27.  Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios aplicação desta Lei, com vistas na adoção de medidas
prestarão contas dos recursos dos Fundos conforme operacionais e de natureza político-educacional cor-
os procedimentos adotados pelos Tribunais de Contas retivas, devendo a primeira dessas medidas se realizar
competentes, observada a regulamentação aplicável. em até 2 (dois) anos após a implantação do Fundo.
Parágrafo único.  As prestações de contas serão in-
struídas com parecer do conselho responsável, que CAPÍTULO VII
deverá ser apresentado ao Poder Executivo respectivo DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
em até 30 (trinta) dias antes do vencimento do prazo Seção I
para a apresentação da prestação de contas prevista Disposições Transitórias
no caput deste artigo.
Art. 31.  Os Fundos serão implantados progressiva-
Art. 28.  O descumprimento do disposto no art. 212 da mente nos primeiros 3 (três) anos de vigência, con-
Constituição Federal  e do disposto nesta Lei sujeitará forme o disposto neste artigo.
os Estados e o Distrito Federal à intervenção da União, § 1 o  A porcentagem de recursos de que trata o art.
e os Municípios à intervenção dos respectivos Estados 3  o  desta Lei será alcançada conforme a seguinte
a que pertencem, nos termos da alínea e do inciso VII progressão:
do caput  do  art. 34  e do inciso III do caput  do art. I - para os impostos e transferências constantes do in-
35 da Constituição Federal. ciso II do caput do art. 155 , do inciso IV do ca-
put  do art. 158  , das alíneas a e b do inciso I  e do in-
Art. 29.  A defesa da ordem jurídica, do regime ciso II do caput  do art. 159 da Constituição Federal  ,
democrático, dos interesses sociais e individuais indi- bem como para a receita a que se refere o § 1 o do art.
sponíveis, relacionada ao pleno cumprimento desta 3 o desta Lei:
Lei, compete ao Ministério Público dos Estados e do a) 16,66% (dezesseis inteiros e sessenta e seis centési-
Distrito Federal e Territórios e ao Ministério Público mos por cento), no 1 o (primeiro) ano;
Federal, especialmente quanto às transferências de b) 18,33% (dezoito inteiros e trinta e três centésimos
recursos federais. por cento), no 2 o (segundo) ano; e
§ 1 o  A legitimidade do Ministério Público prevista c) 20% (vinte por cento), a partir do 3 o (terceiro) ano,
no caput deste artigo não exclui a de terceiros para a inclusive;
propositura de ações a que se referem o inciso LXXIII II - para os impostos e transferências constantes
do caput  do art. 5º  e o § 1º do art. 129 da Consti- dos incisos I e III do caput  do art. 155  , inciso II do
tuição Federal  , sendo-lhes assegurado o acesso gra- caput do art. 157 ,  incisos II e III do caput do art.
tuito aos documentos mencionados nos arts. 25 e 27 158 da Constituição Federal:
desta Lei. a) 6,66% (seis inteiros e sessenta e seis centésimos por
§ 2 o  Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os cento), no 1 o (primeiro) ano;
Ministérios Públicos da União, do Distrito Federal e b) 13,33% (treze inteiros e trinta e três centésimos por
dos Estados para a fiscalização da aplicação dos re- cento), no 2 o (segundo) ano; e
cursos dos Fundos que receberem complementação da c) 20% (vinte por cento), a partir do 3 o (terceiro) ano,
União. inclusive.
§ 2 o As matrículas de que trata o art. 9 o desta Lei serão
consideradas conforme a seguinte progressão:
Art. 30.  O Ministério da Educação atuará: I - para o ensino fundamental regular e especial públi-
I - no apoio técnico relacionado aos procedimentos e co: a totalidade das matrículas imediatamente a partir
critérios de aplicação dos recursos dos Fundos, junto do 1 o (primeiro) ano de vigência do Fundo;
aos Estados, Distrito Federal e Municípios e às instân- II - para a educação infantil, o ensino médio e a edu-
cias responsáveis pelo acompanhamento, fiscalização cação de jovens e adultos:
e controle interno e externo; a) 1/3 (um terço) das matrículas no 1 o (primeiro) ano
II - na capacitação dos membros dos conselhos; de vigência do Fundo;
III - na divulgação de orientações sobre a operacio- b) 2/3 (dois terços) das matrículas no 2 o (segundo) ano
nalização do Fundo e de dados sobre a previsão, a de vigência do Fundo;
realização e a utilização dos valores financeiros re- c) a totalidade das matrículas a partir do 3 o (terceiro)
passados, por meio de publicação e distribuição de ano de vigência do Fundo, inclusive.
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

documentos informativos e em meio eletrônico de § 3 o A complementação da União será de, no mínimo:
livre acesso público; I - R$ 2.000.000.000,00 (dois bilhões de reais), no
IV - na realização de estudos técnicos com vistas na 1 o (primeiro) ano de vigência dos Fundos;
definição do valor referencial anual por aluno que as- II - R$ 3.000.000.000,00 (três bilhões de reais), no
segure padrão mínimo de qualidade do ensino; 2 o (segundo) ano de vigência dos Fundos; e
V - no monitoramento da aplicação dos recursos dos III - R$ 4.500.000.000,00 (quatro bilhões e quinhentos
Fundos, por meio de sistema de informações  orça- milhões de reais), no 3 o (terceiro) ano de vigência dos
mentárias e financeiras e de cooperação com os Tribu- Fundos.
nais de Contas dos Estados e Municípios e do Distrito § 4 o  Os valores a que se referem os incisos I, II e III
Federal; do § 3 o  deste artigo serão atualizados, anualmente,
VI - na realização de avaliações dos resultados da nos primeiros 3 (três) anos de vigência dos Fundos, de

128
forma a preservar em caráter permanente o valor real prazo de 60 (sessenta) dias contados da vigência dos
da complementação da União. Fundos, inclusive mediante adaptações dos  conselhos
§ 5 o Os valores a que se referem os incisos I, II e III do do Fundef existentes na data de publicação desta Lei.
§ 3 o  deste artigo serão corrigidos, anualmente, pela
variação acumulada do Índice Nacional de Preços ao Art. 35.  O Ministério da Educação deverá realizar, em
Consumidor – INPC, apurado pela Fundação Instituto 5 (cinco) anos contados da vigência dos Fundos, fórum
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, ou índice nacional com o objetivo de avaliar o financiamento
equivalente que lhe venha a suceder, no período com- da educação básica nacional, contando com represen-
preendido entre o mês da promulgação da Emenda tantes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos
Constitucional n  o  53, de 19 de dezembro de 2006  , Municípios, dos trabalhadores da educação e de pais
e 1 o de janeiro de cada um dos 3 (três) primeiros anos e alunos.
de vigência dos Fundos.
§ 6 o  Até o 3 o  (terceiro) ano de vigência dos Fundos, Art. 36.  No 1 o (primeiro) ano de vigência do  Fundeb,
o cronograma de complementação da União obser- as ponderações seguirão as seguintes especificações:
vará a programação financeira do Tesouro Nacional e I - creche - 0,80 (oitenta centésimos);
contemplará pagamentos mensais de, no mínimo, 5% II - pré-escola - 0,90 (noventa centésimos);
(cinco por cento) da complementação anual, a serem III - anos iniciais do ensino fundamental urbano - 1,00
realizados até o último dia útil de cada mês, assegura- (um inteiro);
dos os repasses de, no mínimo, 45% (quarenta e cinco IV - anos iniciais do ensino fundamental no campo -
por cento) até 31 de julho e de 100% (cem por cento) 1,05 (um inteiro e cinco centésimos);
até 31 de dezembro de cada ano. V - anos finais do ensino fundamental urbano - 1,10
§ 7 o Até o 3 o (terceiro) ano de vigência dos Fundos, a (um inteiro e dez centésimos);
complementação da União não sofrerá ajuste quanto VI - anos finais do ensino fundamental no campo -
a seu montante em função da diferença entre a receita 1,15 (um inteiro e quinze centésimos);
utilizada para o cálculo e a receita realizada do exer- VII - ensino fundamental em tempo integral - 1,25
cício de referência, observado o disposto no § 2 o  do (um inteiro e vinte e cinco centésimos);
art. 6 o desta Lei quanto à distribuição entre os fundos VIII - ensino médio urbano - 1,20 (um inteiro e vinte
instituídos no âmbito de cada Estado. centésimos);
IX - ensino médio no campo - 1,25 (um inteiro e vinte
Art. 32.  O valor por aluno do ensino fundamental, e cinco centésimos);
no Fundo de cada Estado e do Distrito Federal, não X - ensino médio em tempo integral - 1,30 (um inteiro
poderá ser inferior ao efetivamente praticado em e trinta centésimos);
2006, no âmbito do Fundo de Manutenção e Desen- XI - ensino médio integrado à educação profissional -
volvimento do Ensino Fundamental e de Valorização 1,30 (um inteiro e trinta centésimos);
do Magistério - FUNDEF, estabelecido pela Emenda XII - educação especial - 1,20 (um inteiro e vinte
Constitucional nº 14, de 12 de setembro de 1996  . centésimos);
§ 1 o  Caso o valor por aluno do ensino fundamental, XIII - educação indígena e quilombola - 1,20 (um in-
no Fundo de cada Estado e do Distrito Federal, no âm- teiro e vinte centésimos);
bito do Fundeb, resulte inferior ao valor por aluno do XIV - educação de jovens e adultos com avaliação no
ensino fundamental, no Fundo de cada Estado e do processo - 0,70 (setenta centésimos);
Distrito Federal, no âmbito do Fundef, adotar-se-á este XV - educação de jovens e adultos integrada à edu-
último exclusivamente para a distribuição dos recur- cação profissional de nível médio, com avaliação no
sos do ensino fundamental, mantendo-se as demais processo - 0,70 (setenta centésimos).
ponderações para as restantes etapas, modalidades e § 1 o  A Comissão Intergovernamental de Financia-
tipos de estabelecimento de ensino da educação bási- mento para a Educação Básica de Qualidade fixará 
ca, na forma do regulamento. as ponderações referentes à creche e pré-escola em
§ 2 o  O valor por aluno do ensino fundamental a que tempo integral.
se refere o caput deste artigo terá como parâmetro § 2 o  Na fixação dos valores a partir do 2  o  (segundo)
aquele efetivamente praticado em 2006, que será cor- ano de vigência do Fundeb, as ponderações entre as
rigido, anualmente, com base no Índice Nacional de matrículas da educação infantil seguirão, no mínimo,
Preços ao Consumidor - INPC, apurado pela Fundação as seguintes pontuações:
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE ou I - creche pública em tempo integral - 1,10 (um inteiro
índice equivalente que lhe venha a suceder, no período e dez centésimos);
de 12 (doze) meses encerrados em junho do ano ime- II - creche pública em tempo parcial - 0,80 (oitenta
diatamente anterior. centésimos);
III - creche conveniada em tempo integral - 0,95 (no-
Art. 33.  O valor anual mínimo por aluno definido na- venta e cinco centésimos);
cionalmente para o ensino fundamental no âmbito do IV - creche conveniada em tempo parcial - 0,80 (oiten-
Fundeb não poderá ser inferior ao mínimo fixado na- ta centésimos);
cionalmente em 2006 no âmbito do Fundef. V - pré-escola em tempo integral - 1,15 (um inteiro e
quinze centésimos);
Art. 34.  Os conselhos dos Fundos serão instituídos no VI - pré-escola em tempo parcial - 0,90 (noventa

129
centésimos).
Seção II Art. 41.  O poder público deverá fixar, em lei específica,
Disposições Finais até 31 de agosto de 2007,  piso salarial profissional
nacional para os profissionais do magistério público
Art. 37.  Os Municípios poderão integrar, nos termos da educação básica.
da legislação local específica e desta Lei, o Conselho Parágrafo único. (VETADO)
do Fundo ao Conselho Municipal de Educação, institu-
indo câmara específica para o acompanhamento e o Art. 42. (VETADO)
controle social sobre a distribuição, a transferência e a
aplicação dos recursos do Fundo, observado o disposto Art. 43.  Nos meses de janeiro e fevereiro de 2007, fica
no inciso IV do § 1 o  e nos §§ 2 o  , 3 o  , 4 o  e 5 o  do art. mantida a sistemática de repartição de recursos pre-
24 desta Lei. vista na Lei n  o  9.424, de 24 de  dezembro de 1996  , 
§ 1 o A câmara específica de acompanhamento e con- mediante a utilização dos coeficientes de participação
trole social sobre a distribuição, a transferência e a do Distrito Federal, de cada Estado e dos Municípios,
aplicação dos recursos do Fundeb terá competência referentes ao exercício de 2006, sem o pagamento de
deliberativa e terminativa. complementação da União.
§ 2 o  Aplicar-se-ão para a constituição dos Conselhos
Municipais de Educação as regras previstas no § 5 o do Art. 44.  A partir de 1 o de março de 2007, a distribuição
art. 24 desta Lei. dos recursos dos Fundos é realizada na forma prevista
nesta Lei.
Art. 38.  A União, os Estados, o Distrito Federal e os Parágrafo único.  A complementação da União pre-
Municípios deverão assegurar no financiamento da vista no inciso I do § 3 o do art. 31 desta Lei, referente
educação básica, previsto no art. 212 da Constituição ao ano de 2007, será integralmente distribuída entre
Federal, a melhoria da qualidade do ensino, de for- março e dezembro.
ma a garantir padrão mínimo de qualidade definido
nacionalmente. Art. 45.  O ajuste da distribuição dos recursos refer-
Parágrafo único. É assegurada a participação pop- entes ao primeiro trimestre de 2007 será realizado no
ular e da comunidade educacional no processo de mês de abril de 2007, conforme a sistemática estabe-
definição do padrão nacional de qualidade referido lecida nesta Lei.
no caput deste artigo. Parágrafo único.  O ajuste referente à diferença en-
tre o total dos recursos da alínea a do inciso I e da
Art. 39.  A União desenvolverá e apoiará políticas de alínea a do inciso II do § 1 o  do art. 31 desta Lei e os
estímulo às iniciativas de melhoria de qualidade do aportes referentes a janeiro e fevereiro de 2007, real-
ensino, acesso e permanência na escola, promovidas izados na forma do disposto neste artigo, será pago no
pelas unidades federadas, em especial aquelas vol- mês de abril de 2007.
tadas para a inclusão de crianças e adolescentes em
situação de risco social. Art. 46.  Ficam revogados, a partir de 1 o  de janeiro
Parágrafo único. A União, os Estados e o Distrito Fed- de 2007, os arts. 1º a 8º  e 13 da Lei nº 9.424, de 24
eral desenvolverão, em regime de colaboração, pro- de dezembro de 1996  , e o art. 12 da Lei n  o  10.880,
gramas de apoio ao esforço para conclusão da edu- de 9 de junho de 2004  , e o § 3º do art. 2º da Lei nº
cação básica dos alunos regularmente matriculados 10.845, de 5 de março de 2004.
no sistema público de educação: Art. 47.  Nos 2 (dois) primeiros anos de vigência do
I - que cumpram pena no sistema penitenciário, ainda Fundeb, a União alocará, além dos destinados à com-
que na condição de presos provisórios; plementação ao Fundeb, recursos orçamentários para
II - aos quais tenham sido aplicadas  medidas socioed- a promoção de programa emergencial de apoio ao
ucativas nos termos da Lei n  o  8.069, de 13 de julho ensino médio e para reforço do programa nacional de
de 1990  . apoio ao transporte escolar.

Art. 40. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios Art. 48.  Os Fundos terão vigência até 31 de dezembro
deverão implantar Planos de Carreira e remuner- de 2020.
ação dos profissionais da educação básica, de modo
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

a assegurar: Art. 49.  Esta Lei entra em vigor na data da sua


I - a remuneração condigna dos profissionais  na edu- publicação.
cação básica da rede pública; Brasília,  20  de junho de 2007; 186 o da Independência
II - integração entre o trabalho individual e a proposta e 119 o da República.
pedagógica da escola;
III - a melhoria da qualidade do ensino e da LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
aprendizagem. Tarso Genro
Parágrafo único.  Os Planos de Carreira deverão con- Guido Mantega
templar capacitação profissional especialmente volta- Fernando Haddad
da à formação continuada com vistas na melhoria da José Antonio Dias Toffoli.
qualidade do ensino.

130
A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR
LEI Nº 11.645 DE 10/03/2008
FIQUE ATENTO!
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC)
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con- é um documento de caráter normativo que
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: define o conjunto orgânico e progressivo de
aprendizagens essenciais que todos os alunos
Art. 1º O art. 26-A da Lei no 9.394, de 20 de dezembro devem desenvolver ao longo das etapas e mo-
de 1996, passa a vigorar com a seguinte redação: dalidades da Educação Básica, de modo a que
tenham assegurados seus direitos de apren-
“Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino funda- dizagem e desenvolvimento, em conformida-
mental e de ensino médio, públicos e privados, torna- de com o que preceitua o Plano Nacional de
-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-bra- Educação (PNE). Este documento normativo
sileira e indígena. aplica-se exclusivamente à educação escolar,
§ 1º O conteúdo programático a que se refere este ar- tal como a define o § 1º do Artigo 1º da Lei de
tigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB,
que caracterizam a formação da população brasileira, Lei nº 9.394/1996), e está orientado pelos prin-
a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo cípios éticos, políticos e estéticos que visam à
da história da África e dos africanos, a luta dos negros formação humana integral e à construção de
e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e in- uma sociedade justa, democrática e inclusiva,
dígena brasileira e o negro e o índio na formação da como fundamentado nas Diretrizes Curricula-
sociedade nacional, resgatando as suas contribuições res Nacionais da Educação Básica (DCN).
nas áreas social, econômica e política, pertinentes à
história do Brasil.
§ 2º Os conteúdos referentes à história e cultura afro- Referência nacional para a formulação dos currículos
-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão mi- dos sistemas e das redes escolares dos Estados, do Dis-
nistrados no âmbito de todo o currículo escolar, em trito Federal e dos Municípios e das propostas pedagó-
especial nas áreas de educação artística e de literatura gicas das instituições escolares, a BNCC integra a política
e história brasileiras.” (NR) nacional da Educação Básica e vai contribuir para o alinha-
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua mento de outras políticas e ações, em âmbito federal, es-
publicação. tadual e municipal, referentes à formação de professores,
Brasília, 10 de março de 2008; 187º da Independên- à avaliação, à elaboração de conteúdos educacionais e aos
cia e 120º da República. critérios para a oferta de infraestrutura adequada para o
pleno desenvolvimento da educação.
Nesse sentido, espera-se que a BNCC ajude a supe-
LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO DE ITABORAÍ rar a fragmentação das políticas educacionais, enseje o
fortalecimento do regime de colaboração entre as três
esferas de governo e seja balizadora da qualidade da
Prezado candidato, visto a extensão do material educação. Assim, para além da garantia de acesso e per-
solicitado pelo edital este tópico foi disponibilizado manência na escola, é necessário que sistemas, redes e
para consulta em nosso site www.novaconcursos. escolas garantam um patamar comum de aprendiza-
com.br/retificacoes gens a todos os estudantes, tarefa para a qual a BNCC é
instrumento fundamental. Ao longo da Educação Básica,
as aprendizagens essenciais definidas na BNCC devem
concorrer para assegurar aos estudantes o desenvol-
LEGISLAÇÃO PARA INCLUSÃO DE PESSOA COM
vimento de dez competências gerais, que consubstan-
DEFICIÊNCIA LEI N.° 13.146 DE 06/07/2015 ciam, no âmbito pedagógico, os direitos de aprendiza-
gem e desenvolvimento.
Na BNCC, competência é definida como a mobili-
Prezado candidato, o tópico acima já foi abordado zação de conhecimentos (conceitos e procedimentos),
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

anteriormente!! habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais),


atitudes e valores para resolver demandas complexas
da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do
BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR mundo do trabalho. Ao definir essas competências, a
BNCC reconhece que a “educação deve afirmar valores
e estimular ações que contribuam para a transformação
da sociedade, tornando-a mais humana, socialmente
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) foi homo-
justa e, também, voltada para a preservação da natu-
logada pelo ministro da Educação, Mendonça Filho, quar- reza” (BRASIL, 2013), mostrando-se também alinhada à
ta-feira, 20 de dezembro de 201726. Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU).
26 Confira o documento na íntegra no link:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_20dez_site. pdf.

131
É imprescindível destacar que as competências gerais dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar
da BNCC, apresentadas a seguir, inter-relacionam-se e des- com elas.
dobram-se no tratamento didático proposto para as três 9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de con-
etapas da Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fun- flitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e pro-
damental e Ensino Médio), articulando-se na construção de movendo o respeito ao outro e aos direitos huma-
conhecimentos, no desenvolvimento de habilidades e na nos, com acolhimento e valorização da diversidade
formação de atitudes e valores, nos termos da LDB. de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes,
identidades, culturas e potencialidades, sem pre-
COMPETÊNCIAS GERAIS DA BASE NACIONAL CO- conceitos de qualquer natureza.
MUM CURRICULAR 10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia,
responsabilidade, flexibilidade, resiliência e deter-
1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historica- minação, tomando decisões com base em princí-
mente construídos sobre o mundo físico, social, pios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis
cultural e digital para entender e explicar a rea- e solidários.
lidade, continuar aprendendo e colaborar para a
construção de uma sociedade justa, democrática Os marcos legais que embasam a BNCC
e inclusiva.
2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à A Constituição Federal de 19885, em seu Artigo 205,
abordagem própria das ciências, incluindo a inves- reconhece a educação como direito fundamental com-
tigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação partilhado entre Estado, família e sociedade ao determi-
e a criatividade, para investigar causas, elaborar e nar que a educação, direito de todos e dever do Estado e
testar hipóteses, formular e resolver problemas e da família, será promovida e incentivada com a colabora-
criar soluções (inclusive tecnológicas) com base ção da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da
nos conhecimentos das diferentes áreas. pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988). Para atender
3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísti- a tais finalidades no âmbito da educação escolar, a Car-
cas e culturais, das locais às mundiais, e também ta Constitucional, no Artigo 210, já reconhece a necessi-
participar de práticas diversificadas da produção dade de que sejam “fixados conteúdos mínimos para o
artístico-cultural. ensino fundamental, de maneira a assegurar formação
4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou vi- básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos,
sual-motora, como Libras, e escrita), corporal, vi- nacionais e regionais” (BRASIL, 1988). Com base nesses
sual, sonora e digital –, bem como conhecimentos marcos constitucionais, a LDB, no Inciso IV de seu Artigo
das linguagens artística, matemática e científica, 9º, afirma que cabe à União estabelecer, em colaboração
para se expressar e partilhar informações, expe- com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, com-
riências, ideias e sentimentos em diferentes con- petências e diretrizes para a Educação Infantil, o Ensino
textos e produzir sentidos que levem ao entendi- Fundamental e o Ensino Médio, que nortearão os currícu-
mento mútuo. los e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar for-
5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de mação básica comum (BRASIL, 1996; ênfase adicionada).
informação e comunicação de forma crítica, signifi- Nesse artigo, a LDB deixa claros dois conceitos deci-
cativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais sivos para todo o desenvolvimento da questão curricular
(incluindo as escolares) para se comunicar, acessar no Brasil. O primeiro, já antecipado pela Constituição, es-
e disseminar informações, produzir conhecimen- tabelece a relação entre o que é básico-comum e o que
tos, resolver problemas e exercer protagonismo e é diverso em matéria curricular: as competências e dire-
autoria na vida pessoal e coletiva. trizes são comuns, os currículos são diversos. O segundo
6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências cul- se refere ao foco do currículo. Ao dizer que os conteúdos
turais e apropriar-se de conhecimentos e expe- curriculares estão a serviço do desenvolvimento de com-
riências que lhe possibilitem entender as relações petências, a LDB orienta a definição das aprendizagens
próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas essenciais, e não apenas dos conteúdos mínimos a ser en-
alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu proje- sinados. Essas são duas noções fundantes da BNCC.
to de vida, com liberdade, autonomia, consciência A relação entre o que é básico-comum e o que é di-
crítica e responsabilidade. verso é retomada no Artigo 26 da LDB, que determina que
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

7. Argumentar com base em fatos, dados e informa- os currículos da Educação Infantil, do Ensino Fundamental
ções confiáveis, para formular, negociar e defender e do Ensino Médio devem ter base nacional comum, a ser
ideias, pontos de vista e decisões comuns que res- complementada, em cada sistema de ensino e em cada
peitem e promovam os direitos humanos, a cons- estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exi-
ciência socioambiental e o consumo responsável gida pelas características regionais e locais da sociedade,
em âmbito local, regional e global, com posiciona- da cultura, da economia e dos educandos (BRASIL, 1996;
mento ético em relação ao cuidado de si mesmo, ênfase adicionada).
dos outros e do planeta. Essa orientação induziu à concepção do conhecimen-
8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde to curricular contextualizado pela realidade local, social e
física e emocional, compreendendo-se na diversi- individual da escola e do seu alunado, que foi o norte das
dade humana e reconhecendo suas emoções e as diretrizes curriculares traçadas pelo Conselho Nacional de

132
Educação (CNE) ao longo da década de 1990, bem como Latina (LLECE, na sigla em espanhol). Ao adotar esse en-
de sua revisão nos anos 2000. Em 2010, o CNE promul- foque, a BNCC indica que as decisões pedagógicas de-
gou novas DCN, ampliando e organizando o conceito de vem estar orientadas para o desenvolvimento de com-
contextualização como “a inclusão, a valorização das di- petências. Por meio da indicação clara do que os alunos
ferenças e o atendimento à pluralidade e à diversidade devem “saber” (considerando a constituição de conhe-
cultural resgatando e respeitando as várias manifestações cimentos, habilidades, atitudes e valores) e, sobretudo,
de cada comunidade”, conforme destaca o Parecer CNE/ do que devem “saber fazer” (considerando a mobilização
CEB nº 7/20106. Em 2014, a Lei nº 13.005/20147 promul- desses conhecimentos, habilidades, atitudes e valores
gou o Plano Nacional de Educação (PNE), que reitera a para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do
necessidade de estabelecer e implantar, mediante pac- pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho), a
tuação interfederativa [União, Estados, Distrito Federal e explicitação das competências oferece referências para
Municípios], diretrizes pedagógicas para a educação bá- o fortalecimento de ações que assegurem as aprendiza-
sica e a base nacional comum dos currículos, com direitos gens essenciais definidas na BNCC.
e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento dos(as) O compromisso com a educação integral A sociedade
alunos(as) para cada ano do Ensino Fundamental e Mé- contemporânea impõe um olhar inovador e inclusivo a
dio, respeitadas as diversidades regional, estadual e local questões centrais do processo educativo: o que apren-
(BRASIL, 2014). der, para que aprender, como ensinar, como promover
Nesse sentido, consoante aos marcos legais anterio- redes de aprendizagem colaborativa e como avaliar o
res, o PNE afirma a importância de uma base nacional aprendizado. No novo cenário mundial, reconhecer-se
comum curricular para o Brasil, com o foco na aprendi- em seu contexto histórico e cultural, comunicar-se, ser
zagem como estratégia para fomentar a qualidade da criativo, analítico-crítico, participativo, aberto ao novo,
Educação Básica em todas as etapas e modalidades (meta colaborativo, resiliente, produtivo e responsável requer
7), referindo-se a direitos e objetivos de aprendizagem e muito mais do que o acúmulo de informações. Requer
desenvolvimento. Em 2017, com a alteração da LDB por o desenvolvimento de competências para aprender a
força da Lei nº 13.415/2017, a legislação brasileira passa aprender, saber lidar com a informação cada vez mais
a utilizar, concomitantemente, duas nomenclaturas para disponível, atuar com discernimento e responsabilidade
se referir às finalidades da educação: Art. 35-A. A Base nos contextos das culturas digitais, aplicar conhecimen-
Nacional Comum Curricular definirá direitos e objetivos tos para resolver problemas, ter autonomia para tomar
de aprendizagem do ensino médio, conforme diretrizes decisões, ser proativo para identificar os dados de uma
do Conselho Nacional de Educação, nas seguintes áreas situação e buscar soluções, conviver e aprender com as
do conhecimento [...] diferenças e as diversidades.
Art. 36. § 1º A organização das áreas de que trata o Nesse contexto, a BNCC afirma, de maneira explícita,
caput e das respectivas competências e habilidades será o seu compromisso com a educação integral. Reconhe-
feita de acordo com critérios estabelecidos em cada sis- ce, assim, que a Educação Básica deve visar à formação
tema de ensino (BRASIL, 20178; ênfases adicionadas). Tra- e ao desenvolvimento humano global, o que implica
ta-se, portanto, de maneiras diferentes e intercambiáveis compreender a complexidade e a não linearidade desse
para designar algo comum, ou seja, aquilo que os estu- desenvolvimento, rompendo com visões reducionistas
dantes devem aprender na Educação Básica, o que inclui que privilegiam ou a dimensão intelectual (cognitiva) ou
tanto os saberes quanto a capacidade de mobilizá-los e a dimensão afetiva. Significa, ainda, assumir uma visão
aplicá-los. plural, singular e integral da criança, do adolescente, do
jovem e do adulto – considerando-os como sujeitos de
Os fundamentos pedagógicos da BNCC aprendizagem – e promover uma educação voltada ao
seu acolhimento, reconhecimento e desenvolvimento
Foco no desenvolvimento de competências pleno, nas suas singularidades e diversidades.
Além disso, a escola, como espaço de aprendizagem
O conceito de competência, adotado pela BNCC, mar- e de democracia inclusiva, deve se fortalecer na prática
ca a discussão pedagógica e social das últimas décadas e coercitiva de não discriminação, não preconceito e res-
pode ser inferido no texto da LDB, especialmente quan- peito às diferenças e diversidades. Independentemente
do se estabelecem as finalidades gerais do Ensino Funda- da duração da jornada escolar, o conceito de educação
mental e do Ensino Médio (Artigos 32 e 35). Além disso, integral com o qual a BNCC está comprometida se refe-
desde as décadas finais do século XX e ao longo deste re à construção intencional de processos educativos que
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

início do século XXI, o foco no desenvolvimento de com- promovam aprendizagens sintonizadas com as necessi-
petências tem orientado a maioria dos Estados e Municí- dades, as possibilidades e os interesses dos estudantes e,
pios brasileiros e diferentes países na construção de seus também, com os desafios da sociedade contemporânea.
currículos. É esse também o enfoque adotado nas avalia- Isso supõe considerar as diferentes infâncias e juventu-
ções internacionais da Organização para a Cooperação des, as diversas culturas juvenis e seu potencial de criar
e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que coordena o novas formas de existir.
Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na Assim, a BNCC propõe a superação da fragmentação
sigla em inglês), e da Organização das Nações Unidas radicalmente disciplinar do conhecimento, o estímulo
para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco, na sigla à sua aplicação na vida real, a importância do contexto
em inglês), que instituiu o Laboratório Latino-americano para dar sentido ao que se aprende e o protagonismo do
de Avaliação da Qualidade da Educação para a América estudante em sua aprendizagem e na construção de seu

133
projeto de vida. aprendizagens só se materializam mediante o conjunto
de decisões que caracterizam o currículo em ação. São
O PACTO INTERFEDERATIVO E A IMPLEMENTA- essas decisões que vão adequar as proposições da BNCC
ÇÃO DA BNCC à realidade local, considerando a autonomia dos siste-
mas ou das redes de ensino e das instituições escolares,
BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR: IGUAL- como também o contexto e as características dos alunos.
DADE, DIVERSIDADE E EQUIDADE Essas decisões, que resultam de um processo de en-
volvimento e participação das famílias e da comunidade,
No Brasil, um país caracterizado pela autonomia dos referem-se, entre outras ações, a:
entes federados, acentuada diversidade cultural e pro- • contextualizar os conteúdos dos componentes cur-
fundas desigualdades sociais, os sistemas e redes de riculares, identificando estratégias para apresen-
ensino devem construir currículos, e as escolas precisam tá-los, representá-los, exemplificá-los, conectá-los
elaborar propostas pedagógicas que considerem as ne- e torná-los significativos, com base na realidade
cessidades, as possibilidades e os interesses dos estu- do lugar e do tempo nos quais as aprendizagens
dantes, assim como suas identidades linguísticas, étnicas estão situadas;
e culturais. Nesse processo, a BNCC desempenha papel • decidir sobre formas de organização interdiscipli-
fundamental, pois explicita as aprendizagens essenciais nar dos componentes curriculares e fortalecer a
que todos os estudantes devem desenvolver e expressa, competência pedagógica das equipes escolares
portanto, a igualdade educacional sobre a qual as sin- para adotar estratégias mais dinâmicas, interativas
gularidades devem ser consideradas e atendidas. Essa e colaborativas em relação à gestão do ensino e
igualdade deve valer também para as oportunidades de da aprendizagem;
ingresso e permanência em uma escola de Educação Bá- • selecionar e aplicar metodologias e estratégias di-
sica, sem o que o direito de aprender não se concretiza. dático-pedagógicas diversificadas, recorrendo a
O Brasil, ao longo de sua história, naturalizou desi- ritmos diferenciados e a conteúdos complementa-
gualdades educacionais em relação ao acesso à escola, à res, se necessário, para trabalhar com as necessi-
permanência dos estudantes e ao seu aprendizado. São dades de diferentes grupos de alunos, suas famí-
amplamente conhecidas as enormes desigualdades en- lias e cultura de origem, suas comunidades, seus
tre os grupos de estudantes definidos por raça, sexo e grupos de socialização etc.;
condição socioeconômica de suas famílias. Diante desse • conceber e pôr em prática situações e procedi-
quadro, as decisões curriculares e didático-pedagógicas mentos para motivar e engajar os alunos nas
das Secretarias de Educação, o planejamento do tra- aprendizagens;
balho anual das instituições escolares e as rotinas e os • construir e aplicar procedimentos de avaliação for-
eventos do cotidiano escolar devem levar em considera- mativa de processo ou de resultado que levem em
ção a necessidade de superação dessas desigualdades. conta os contextos e as condições de aprendiza-
Para isso, os sistemas e redes de ensino e as instituições gem, tomando tais registros como referência para
escolares devem se planejar com um claro foco na equi- melhorar o desempenho da escola, dos professo-
dade, que pressupõe reconhecer que as necessidades res e dos alunos;
dos estudantes são diferentes. • selecionar, produzir, aplicar e avaliar recursos didá-
De forma particular, um planejamento com foco na ticos e tecnológicos para apoiar o processo de en-
equidade também exige um claro compromisso de re- sinar e aprender;
verter a situação de exclusão histórica que marginaliza • criar e disponibilizar materiais de orientação para os
grupos – como os povos indígenas originários e as po- professores, bem como manter processos perma-
pulações das comunidades remanescentes de quilom- nentes de formação docente que possibilitem con-
bos e demais afrodescendentes – e as pessoas que não tínuo aperfeiçoamento dos processos de ensino e
puderam estudar ou completar sua escolaridade na ida- aprendizagem;
de própria. Igualmente, requer o compromisso com os • manter processos contínuos de aprendizagem so-
alunos com deficiência, reconhecendo a necessidade de bre gestão pedagógica e curricular para os demais
práticas pedagógicas inclusivas e de diferenciação cur- educadores, no âmbito das escolas e sistemas de
ricular, conforme estabelecido na Lei Brasileira de Inclu- ensino.
são da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015).
Essas decisões precisam, igualmente, ser considera-
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

Base Nacional Comum Curricular e currículos das na organização de currículos e propostas adequados
às diferentes modalidades de ensino (Educação Especial,
A BNCC e os currículos se identificam na comunhão Educação de Jovens e Adultos, Educação do Campo,
de princípios e valores que, como já mencionado, orien- Educação Escolar Indígena, Educação Escolar Quilombo-
tam a LDB e as DCN. Dessa maneira, reconhecem que la, Educação a Distância), atendendo-se às orientações
a educação tem um compromisso com a formação e o das Diretrizes Curriculares Nacionais.
desenvolvimento humano global, em suas dimensões No caso da Educação Escolar Indígena, por exemplo,
intelectual, física, afetiva, social, ética, moral e simbólica. isso significa assegurar competências específicas com
Além disso, BNCC e currículos têm papéis complementa- base nos princípios da coletividade, reciprocidade, in-
res para assegurar as aprendizagens essenciais definidas tegralidade, espiritualidade e alteridade indígena, a se-
para cada etapa da Educação Básica, uma vez que tais rem desenvolvidas a partir de suas culturas tradicionais

134
reconhecidas nos currículos dos sistemas de ensino e depende do adequado funcionamento do regime de co-
propostas pedagógicas das instituições escolares. Sig- laboração para alcançar seus objetivos. Sua formulação,
nifica também, em uma perspectiva intercultural, consi- sob coordenação do MEC, contou com a participação
derar seus projetos educativos, suas cosmologias, suas dos Estados do Distrito Federal e dos Municípios, depois
lógicas, seus valores e princípios pedagógicos próprios de ampla consulta à comunidade educacional e à so-
(em consonância com a Constituição Federal, com as Di- ciedade, conforme consta da apresentação do presente
retrizes Internacionais da OIT – Convenção 169 e com documento. Com a homologação da BNCC, as redes de
documentos da ONU e Unesco sobre os direitos indíge- ensino e escolas particulares terão diante de si a tare-
nas) e suas referências específicas, tais como: construir fa de construir currículos, com base nas aprendizagens
currículos interculturais, diferenciados e bilíngues, seus essenciais estabelecidas na BNCC, passando, assim, do
sistemas próprios de ensino e aprendizagem, tanto dos plano normativo propositivo para o plano da ação e da
conteúdos universais quanto dos conhecimentos indíge- gestão curricular que envolve todo o conjunto de deci-
nas, bem como o ensino da língua indígena como pri- sões e ações definidoras do currículo e de sua dinâmica.
meira língua. Embora a implementação seja prerrogativa dos siste-
É também da alçada dos entes federados responsá- mas e das redes de ensino, a dimensão e a complexidade
veis pela implementação da BNCC o reconhecimento da tarefa vão exigir que União, Estados, Distrito Federal e
da experiência curricular existente em seu âmbito de Municípios somem esforços. Nesse regime de colabora-
atuação. Nas duas últimas décadas, mais da metade dos ção, as responsabilidades dos entes federados serão di-
Estados e muitos Municípios vêm elaborando currículos ferentes e complementares, e a União continuará a exer-
para seus respectivos sistemas de ensino, inclusive para cer seu papel de coordenação do processo e de correção
atender às especificidades das diferentes modalidades. das desigualdades. A primeira tarefa de responsabilidade
Muitas escolas públicas e particulares também acumu- direta da União será a revisão da formação inicial e conti-
laram experiências de desenvolvimento curricular e de nuada dos professores para alinhá-las à BNCC.
criação de materiais de apoio ao currículo, assim como A ação nacional será crucial nessa iniciativa, já que se
instituições de ensino superior construíram experiências trata da esfera que responde pela regulação do ensino
de consultoria e de apoio técnico ao desenvolvimen- superior, nível no qual se prepara grande parte desses
to curricular. Inventariar e avaliar toda essa experiência profissionais. Diante das evidências sobre a relevância
pode contribuir para aprender com acertos e erros e in- dos professores e demais membros da equipe escolar
corporar práticas que propiciaram bons resultados. para o sucesso dos alunos, essa é uma ação fundamental
Por fim, cabe aos sistemas e redes de ensino, assim para a implementação eficaz da BNCC. Compete ainda
como às escolas, em suas respectivas esferas de auto- à União, como anteriormente anunciado, promover e
nomia e competência, incorporar aos currículos e às coordenar ações e políticas em âmbito federal, estadual
propostas pedagógicas a abordagem de temas contem- e municipal, referentes à avaliação, à elaboração de ma-
porâneos que afetam a vida humana em escala local, re- teriais pedagógicos e aos critérios para a oferta de in-
gional e global, preferencialmente de forma transversal e fraestrutura adequada para o pleno desenvolvimento da
integradora. Entre esses temas, destacam-se: direitos da educação. Por se constituir em uma política nacional, a
criança e do adolescente (Lei nº 8.069/199016), educa- implementação da BNCC requer, ainda, o monitoramen-
ção para o trânsito (Lei nº 9.503/199717), educação am- to pelo MEC em colaboração com os organismos nacio-
biental (Lei nº 9.795/1999, Parecer CNE/CP nº 14/2012 nais da área – CNE, Consed e Undime.
e Resolução CNE/CP nº 2/201218), educação alimentar Em um país com a dimensão e a desigualdade do
e nutricional (Lei nº 11.947/200919), processo de en- Brasil, a permanência e a sustentabilidade de um projeto
velhecimento, respeito e valorização do idoso (Lei nº como a BNCC dependem da criação e do fortalecimento
10.741/200320), educação em direitos humanos (Decre- de instâncias técnico-pedagógicas nas redes de ensino,
to nº 7.037/2009, Parecer CNE/CP nº 8/2012 e Resolução priorizando aqueles com menores recursos, tanto téc-
CNE/CP nº 1/201221), educação das relações étnico-ra- nicos quanto financeiros. Essa função deverá ser exerci-
ciais e ensino de história e cultura afro-brasileira, africana da pelo MEC, em parceria com o Consed e a Undime,
e indígena (Leis nº 10.639/2003 e 11.645/2008, Parecer respeitada a autonomia dos entes federados. A atuação
CNE/CP nº 3/2004 e Resolução CNE/CP nº 1/200422), do MEC, além do apoio técnico e financeiro, deve in-
bem como saúde, vida familiar e social, educação para o cluir também o fomento a inovações e a disseminação
consumo, educação financeira e fiscal, trabalho, ciência de casos de sucesso; o apoio a experiências curriculares
e tecnologia e diversidade cultural (Parecer CNE/CEB nº inovadoras; a criação de oportunidades de acesso a co-
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

11/2010 e Resolução CNE/CEB nº 7/201023). Na BNCC, nhecimentos e experiências de outros países; e, ainda, o
essas temáticas são contempladas em habilidades dos fomento de estudos e pesquisas sobre currículos e temas
componentes curriculares, cabendo aos sistemas de en- afins.
sino e escolas, de acordo com suas especificidades, tra-
tá-las de forma contextualizada. ESTRUTURA DA BNCC

BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR E REGIME Em conformidade com os fundamentos pedagógicos


DE COLABORAÇÃO apresentados na Introdução deste documento, a BNCC
está estruturada de modo a explicitar as competências
Legitimada pelo pacto interfederativo, nos termos que os alunos devem desenvolver ao longo de toda a
da Lei nº 13.005/ 2014, que promulgou o PNE, a BNCC Educação Básica e em cada etapa da escolaridade, como

135
expressão dos direitos de aprendizagem e desenvolvimento de todos os estudantes.
Na próxima página, apresenta-se a estrutura geral da BNCC para as três etapas da Educação Básica (Educação
Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio), já com o detalhamento referente às etapas da Educação Infantil e do
Ensino Fundamental, cujos documentos são ora apresentados. O detalhamento relativo ao Ensino Médio comporá essa
estrutura posteriormente, quando da aprovação do documento referente a essa etapa.
Também se esclarece como as aprendizagens estão organizadas em cada uma dessas etapas e se explica a compo-
sição dos códigos alfanuméricos criados para identificar tais aprendizagens.
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

136
COMPETÊNCIAS GERAIS DA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR

Ao longo da Educação Básica – na Educação Infantil, no Ensino Fundamental e no Ensino Médio –, os alunos devem
desenvolver as dez competências gerais que pretendem assegurar, como resultado do seu processo de aprendizagem e
desenvolvimento, uma formação humana integral que visa à construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.

Portanto, na Educação Infantil, o quadro de cada campo de experiências se organiza em três colunas – relativas aos
grupos por faixa etária –, nas quais estão detalhados os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento. Em cada linha
da coluna, os objetivos definidos para os diferentes grupos referem-se a um mesmo aspecto do campo de experiências,
conforme ilustrado a seguir.

CAMPO DE EXPERIÊNCIAS “TRAÇOS, SONS, CORES E FORMAS”


FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

137
Como é possível observar no exemplo apresentado, cada objetivo de aprendizagem e desenvolvimento é identifi-
cado por um código alfanumérico cuja composição é explicada a seguir:

Segundo esse critério, o código EI02TS01 refere-se ao primeiro objetivo de aprendizagem e desenvolvimento pro-
posto no campo de experiências “Traços, sons, cores e formas” para as crianças bem pequenas (de 1 ano e 7 meses a
3 anos e 11 meses). Cumpre destacar que a numeração sequencial dos códigos alfanuméricos não sugere ordem ou
hierarquia entre os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento.
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

138
Respeitando as muitas possibilidades de organização do conhecimento escolar, as unidades temáticas definem um
arranjo dos objetos de conhecimento ao longo do Ensino Fundamental adequado às especificidades dos diferentes
componentes curriculares. Cada unidade temática contempla uma gama maior ou menor de objetos de conhecimen-
to, assim como cada objeto de conhecimento se relaciona a um número variável de habilidades, conforme ilustrado a
seguir:

CIÊNCIAS – 1º ANO
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

139
As habilidades expressam as aprendizagens essenciais que devem ser asseguradas aos alunos nos diferentes con-
textos escolares. Para tanto, elas são descritas de acordo com uma determinada estrutura, conforme ilustrado no exem-
plo a seguir, de História (EF06HI14).

Os modificadores devem ser entendidos como a explicitação da situação ou condição em que a habilidade deve ser
desenvolvida, considerando a faixa etária dos alunos. Ainda assim, as habilidades não descrevem ações ou condutas
esperadas do professor, nem induzem à opção por abordagens ou metodologias.
Essas escolhas estão no âmbito dos currículos e dos projetos pedagógicos, que, como já mencionado, devem ser
adequados à realidade de cada sistema ou rede de ensino e a cada instituição escolar, considerando o contexto e as
características dos seus alunos.
Nos quadros que apresentam as unidades temáticas, os objetos de conhecimento e as habilidades definidas para
cada ano (ou bloco de anos), cada habilidade é identificada por um código alfanumérico cuja composição é a seguinte:

Segundo esse critério, o código EF67EF01, por exemplo, refere-se à primeira habilidade proposta em Educação Física
no bloco relativo ao 6º e 7º anos, enquanto o código EF04MA10 indica a décima habilidade do 4º ano de Matemática.
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

Vale destacar que o uso de numeração sequencial para identificar as habilidades de cada ano ou bloco de anos não
representa uma ordem ou hierarquia esperada das aprendizagens. A progressão das aprendizagens, que se explicita
na comparação entre os quadros relativos a cada ano (ou bloco de anos), pode tanto estar relacionada aos processos
cognitivos em jogo – sendo expressa por verbos que indicam processos cada vez mais ativos ou exigentes – quanto
aos objetos de conhecimento – que podem apresentar crescente sofisticação ou complexidade –, ou, ainda, aos modi-
ficadores – que, por exemplo, podem fazer referência a contextos mais familiares aos alunos e, aos poucos, expandir-se
para contextos mais amplos.
Também é preciso enfatizar que os critérios de organização das habilidades descritos na BNCC (com a explicitação
dos objetos de conhecimento aos quais se relacionam e do agrupamento desses objetos em unidades temáticas) ex-
pressam um arranjo possível (dentre outros). Portanto, os agrupamentos propostos não devem ser tomados como mo-
delo obrigatório para o desenho dos currículos. A forma de apresentação adotada na BNCC tem por objetivo assegurar

140
a clareza, a precisão e a explicitação do que se espera - Instrumentos relevantes;
que todos os alunos aprendam na Educação Básica, for- - Observação e Registros;
necendo orientações para a elaboração de currículos em - Provas operatórias; - Autoavaliação;
todo o País, adequados aos diferentes contextos. - Portifólio (Trajetória).

Base Nacional Comum Curricular como norteado- Caderno 5 - “Apresentação”:


ra dos currículos e suas competências Gerais - Matriz de referência para avaliação diagnóstica;
- Instrumento de Avaliação Diagnóstica;
A seguir apresentamos uma síntese das principais - Sugestão para uso do instrumento.
questões pertinentes a este campo de ação, lembrando
da necessidade de se aprofundarem os estudos sobre os Caderno 6 - “Reafirmar a importância do planeja-
temas abordados para o desempenho competente do mento na organização do trabalho em sala de aula”:
Especialista na Escola. - Articula as ações de planejamento às ações avalia-
Cadernos se Orientações para a Organização do Ciclo tivas, tendo como ponto de partida o diagnóstico
da Alfabetização-SEE, organizados pelo Centro de Alfa- das capacidades linguísticas dos alunos;
betização, Leitura e Escrita/ CEALE/UFMG. Esta síntese - Define propostas de intervenção.
foi elaborada com o objetivo de antecipar o conteúdo
destes seis cadernos fundamentais para o processo de Os Conteúdos Básicos Comuns-CBC
alfabetização e letramento dos alunos. Eles contêm as di-
retrizes teórico-metodológicas deste processo e devem Os CBC estão fundamentados nas Diretrizes Curricu-
ser estudados na íntegra e utilizados nas práticas peda- lares Nacionais e nos Parâmetros Curriculares Nacionais
gógicas nos primeiros anos do Ensino Fundamental. e se destinam aos Anos Finais do Ensino Fundamental e
ao Ensino Médio das Escolas Estaduais de Minas Gerais.
Caderno 1 – “Ciclo Inicial de Alfabetização” (hoje Ci- Estes cadernos, distribuídos em todas as Escolas, contêm
clo da Alfabetização): a reorganização do Ensino Funda- as diretrizes curriculares a serem desenvolvidas pelos
mental no Estado; a ênfase na alfabetização; por que e professores nas respectivas turmas a partir do planeja-
para que ciclos de alfabetização. mento anual de ensino. Os CBC estão assim organizados:
Eixos Temáticos (Temas e Subtemas, Tópicos e Subtó-
Caderno 2 – “Alfabetização”: o que ensinar no Ciclo picos de Estudo, Habilidades Básicas e seu detalhamento):
Inicial de Alfabetização; que habilidades ou capacidades • Eixos Temáticos – São os conteúdos de ensino que
devem ser desenvolvidas; qual sua distribuição ao longo estruturam e identificam a área do conhecimento como
do Ciclo. componente curricular. São as unidades estruturadas e
os tópicos que irão constituir o Conteúdo Básico Comum
Caderno 3 – “Preparando a Escola e a sala de aula”: a (CBC) para todas as propostas curriculares das Escolas
organização da Escola para o trabalho de alfabetização; Estaduais de Minas Gerais.
critérios e instrumentos para seleção de alfabetizadores;
o planejamento da rotina e das atividades; a seleção de Temas Complementares:
métodos e livros didáticos. • Temas Complementares – Além dos Conteúdos Bá-
Destacamos, nesse caderno, itens de fundamental re- sicos Comuns (CBC), foram sugeridos também os
levância, como: Temas Complementares, com o objetivo de intro-
- Planejamento; duzir novos tópicos, dentro do Projeto Pedagógi-
- O perfil dos professores; co da Escola, de acordo com as potencialidades e
- Quadro de atividades pedagógicas; interesses das turmas. Esse projeto pode prever
- O ambiente alfabetizador; também atividades curriculares que busquem a
- Estabelecimento das rotinas semanais e diárias; supressão de possíveis deficiências de conteúdos
- Lugar da discussão metodológica nas decisões per- específicos (por exemplo, aulas de revisão).
tinentes à alfabetização (Métodos);
- O Construtivismo, Teoria Construtivista; Orientações Pedagógicas:
- A escolha e a utilização de livros didáticos de • Orientações Pedagógicas – (O. P.) As Orientações
alfabetização; Pedagógicas compreendem sugestões de recursos
- Integração das famílias com o trabalho desenvolvi- didáticos e estratégias adequadas de ensino. São
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

do pelas Escolas na alfabetização. parte integrante e fundamental da proposta dos


CBC. Sugerem que as metodologias utilizadas nas
Caderno 4 – “Acompanhando e avaliando”: diagnós- salas de aula, pelos professores, devem priorizar
tico e avaliação dos alunos; avaliação da escola; respostas papel ativo do aluno, estimulando-o à leitura, à
para os problemas de ensino e de aprendizagem detec- análise crítica e à reflexão.
tados; instrumentos para responder a essas perguntas.
- Revisão do núcleo conceitual da avaliação; A implantação e a implementação dos CBC nas Es-
- Ênfase em procedimentos de diagnóstico e avaliação; colas incluem um sistema de apoio aos professores que,
- Ênfase na aprendizagem dos alunos; além do Curso de Formação Continuada, contam ainda
- Ênfase no trabalho desenvolvido nas Escolas; com o Centro de Referência Virtual do Professor (CRV)
- Organização de reagrupamentos de alunos; o qual pode ser acessado a partir do sítio da Secretaria

141
de Estado de Educação (http:/www.educacao.mg.gov.br). Fonte
No CRV, encontram-se orientações didáticas, su- SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO DE MINAS
gestões de planejamentos de aula, roteiros de ativida- GERAIS. GUIA DO ESPECIALISTA EM EDUCAÇÃO BÁSICA.
des, fórum de discussões, textos didáticos, experiências Subsecretaria de Desenvolvimento da Educação Básica.
simuladas, vídeos educacionais, além de um banco de Superintendência de Educação Infantil e Fundamental
itens para as avaliações da aprendizagem dos alunos. Diretoria de Ensino Fundamental
Acessando o sítio do CRV, os professores das Escolas
mineiras terão mais recursos para sua prática docente,
o que possibilita melhor ensino e mais aprendizagem
aos alunos, contribuindo para a redução das diferenças
EXERCÍCIO COMENTADO
educacionais existentes entre as várias regiões de Minas
Gerais. 1. (SEE-MG - Professor de Educação Básica -Educação
física – Superior – FUMARC/2018
Projetos da Subsecretaria de Desenvolvimento da Sobre a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), homo-
Educação Básica logada em dezembro de 2017 pelo Ministério da Educa-
ção, NÃO é correto afirmar:
Conhecer os projetos desenvolvidos pela Secretaria
de Estado de Educação, especialmente os da área pe- a) A contribuição mais significativa da BNCC é o de subs-
dagógica e os que estão sendo implementados em sua tituir os currículos das disciplinas escolares das redes
Escola é de fundamental importância para o trabalho do públicas federal, estaduais e municipais, na medida
Especialista. Você está acompanhando qual ou quais? em que determina o que deve ser ensinado em cada
Em que turmas? Como a execução destes projetos está escola.
ajudando a melhorar o desempenho dos alunos? Estas b) Determina os conhecimentos e as competências que
e outras questões devem ser sempre objeto de reflexão os estudantes devem desenvolver ao longo da escola-
do Especialista que tem como foco a aprendizagem dos ridade, sendo orientada por princípios éticos, políticos
alunos. e estéticos.
a) Programas e Projetos da Superintendência de Edu- c) Fruto de amplo debate com diferentes atores do cam-
cação Infantil e Fundamental po educacional e com a sociedade brasileira, a BNCC
- Programa de Intervenção Pedagógica – Alfabetiza- tem o propósito de contribuir com construção de uma
ção no Tempo Certo; sociedade justa, democrática e inclusiva.
- Aceleração da Aprendizagem no Norte de Minas, d) Trata-se de um documento de referência, de caráter
Jequitinhonha, Mucuri, Rio Doce e Região Metro- normativo, que define o conjunto de aprendizagens
politana de Belo Horizonte – Projeto “Acelerar para essenciais que todos os alunos brasileiros devem de-
Vencer” (PAV); senvolver ao longo das etapas e modalidades da Edu-
- Projeto Escola de Tempo Integral; cação Básica.
- Projeto Desempenho e Qualificação dos Professores e) Uma das finalidades da BNCC é contribuir com a su-
- Pró-Fundamental – Projeto “Mão na peração da fragmentação das políticas educacionais,
Massa” – Ciências e Matemática – Anos Iniciais; - Pro- com o fortalecimento do regime de colaboração entre
jeto Escola Viva, Comunidade Ativa. as três esferas de governo.

b) Programas e Projetos da Superintendência de Ensi- Resposta; Letra A. Conforme a BNCC, os currículos se


no Médio e Profissional identificam na comunhão de princípios e valores que
- Programa de Educação Profissional – PEP - Amplia- orientam a LDB e as DCN. Dessa maneira, reconhecem
ção de oferta de Educação Profissional; que a educação tem um compromisso com a forma-
- Melhoria da Qualidade e Eficiência do Ensino Médio ção e o desenvolvimento humano global, em suas di-
- Universalização e Melhoria do Ensino mensões intelectual, física, afetiva, social, ética, moral
Médio – PROMÉDIO; e simbólica. Além disso, BNCC e currículos têm papéis
- Desenvolvimento Profissional dos Professores – PDP complementares para assegurar as aprendizagens es-
– Grupo de Desenvolvimento senciais definidas para cada etapa da Educação Bási-
Profissional; ca, uma vez que tais aprendizagens só se materializam
- Formação Inicial para o Trabalho – FIT; mediante o conjunto de decisões que caracterizam o
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

- Escolas-referência; - PEAS. currículo em ação. São essas decisões que vão ade-
quar as proposições da BNCC à realidade local, con-
c) Projetos da Superintendência de Modalidades e Te- siderando a autonomia dos sistemas ou das redes de
máticas Especiais de Ensino ensino e das instituições escolares, como também o
- Incluir contexto e as características dos alunos. Desta forma,
- Manuelzão vai à Escola. fica claro que o objetivo da BNCC não é o de substituir
Compete ao Especialista assistir, orientar, articular, os currículos das disciplinas escolares das redes públi-
coordenar, acompanhar e avaliar os projetos desenvol- cas federal, estaduais e municipais, na medida em que
vidos nas turmas sob sua responsabilidade. determina o que deve ser ensinado em cada escola,
mas sim, explicitar as aprendizagens essenciais que
todos os estudantes devem desenvolver.

142
4. (UFG/CS/2016) Segundo Gómez (1998), existem al-
gumas perspectivas que dominaram, na teoria e na prá-
HORA DE PRATICAR! tica, o campo do ensino. Essas perspectivas identificam
os principais problemas do ensino e oferecem propos-
1. (UFG/CS/2016) O desenvolvimento filogenético e on- tas de interpretação e intervenção compatíveis com suas
togenético do ser humano está mediado pela cultura e diferentes concepções. O autor recorre a Scardamalia e
somente a impregnação social e cultural do psiquismo Bereiter para distinguir modelos e perspectivas que con-
provocou a diferenciação humana ao longo da história. A cebem o ensino e orientam a prática de modo bem dife-
humanidade é o que é porque cria, assimila e reconstrói rente entre si. O enfoque que se apoia no fato comprova-
a cultura formada por elementos materiais e simbólicos. do de que o homem, ao longo da história, foi produzindo
Essa é uma afirmação congruente com o pensamento de conhecimento eficaz, que pode ser transmitido de gera-
ção em geração, conservar-se e acumular-se, considera
a) Skinner e Thordike. o ensino como
b) Lippit e White.
c) Pavlov e Piaget. a) treinamento de habilidades.
d) Bruner e Vygotsky. b) transmissão cultural.
c) fomento do desenvolvimento natural.
2 (UFG/CS/2016) Segundo Gimeno Sacristán (1998), d) produção de mudanças conceituais.
uma pergunta fundamental é quem deve avaliar os alu-
nos, considerando as diversas funções que esse processo 5. (UFG/CS/2017) “O Projeto de Ensino-Aprendizagem
exige. Em uma das várias formas de avaliação, “Pode-se é o planejamento mais próximo da prática do professor e
preconizar que os alunos se avaliem entre eles no traba- da sala de aula. Diz respeito mais estritamente ao aspec-
lho em grupo ou em experiências de cogestão na aula. to didático” (VASCONCELLOS, 2006, p. 96). O Projeto de
Certas qualidades sociais, o esforço ou a colaboração Ensino-Aprendizagem está atrelado a uma concepção de
prestada a um trabalho conjunto são conhecidos melhor educação e será tanto melhor quanto mais estiver articu-
por eles do que pelos professores” lado à realidade dos educandos, à essência significativa
(SACRISTÁN, 1998, p. 318). da área de saber, aos outros educadores e à realidade
social mais geral. A parte do Projeto de Ensino-Aprendi-
Essa forma de avaliação é denominada zagem que contém a formulação dos objetivos, segundo
Vasconcellos (2006), é chamada de
a) avaliação externa.
b) autoavaliação. a) projeção de finalidades.
c) heteroavaliação. b) análise da realidade.
d) avaliação classificatória. c) forma de mediação.
d) análise dos recursos.
3. (UFG/CS/2016) “A avaliação seleciona e limita a re-
alidade valorizada; tenha-se ou não consciência dessa 6. (SEE/DF – Professor de Ed. Básica – Superior –
decisão, explicitem-se ou não os critérios da redução CESPE/2017) As relações pessoais estabelecidas en-
realizada. Um teste chamado de inteligência não mede tre o educador e a turma relacionam-se ao aspecto
esta em termos absolutos, mas alguns comportamentos socioemocional.
e processos que a priori foram selecionados e admitidos
como representativos da mesma” ( ) CERTO ( ) ERRADO
(SACRISTÁN, 1998, p. 305).
7. (SEE/DF – Professor de Ed. Básica – Superior – CES-
De acordo com o autor, PE/2017) A interação humana possui valor pedagógico
fundamental, pois é por intermédio das relações profes-
a) os testes são alheios à cultura sobre a qual se defini- sor/aluno e aluno/aluno que o conhecimento se constrói
ram os conceitos e conteúdos abordados na avaliação coletivamente
escolar.
b) a avaliação de um aluno sobre o seu rendimento em ( ) CERTO ( ) ERRADO
uma disciplina ou área expressa um julgamento refe-
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

rente a uma forma de entender o que o professor con- 8. (SEE/DF – Professor de Ed. Básica – Superior – CES-
cebe como exigência inevitável. PE/2017) A exigência de que o professor trace os obje-
c) o professor julga em abstrato e de forma direta a capa- tivos, organize o planejamento da aula e busque formas
cidade adquirida pelo aluno na matéria ou disciplina de estabelecer uma comunicação que garanta a aprendi-
que é o objeto da avaliação. zagem efetiva está diretamente relacionada ao aspecto
d) o êxito e o fracasso escolar são realidades ou aprecia- socioemocional.
ções objetivas de competências do estudante e não o
resultado de como se entende e como se apreciam o ( ) CERTO ( ) ERRADO
processo e os resultados da aprendizagem.

143
9. (SEE/DF – Professor de Ed. Básica – Superior – CES- Afro-Brasileira e Africana na educação básica, especi-
PE/2017) Conforme a teoria da aprendizagem por des- ficamente como conteúdo do componente curricular
coberta, o crescimento cognitivo da criança se dá por as- de História do Brasil.
similação e acomodação e, para isso, o indivíduo constrói d) definem que os estabelecimentos de ensino estabe-
esquemas mentais de assimilação para abordar a realida- leçam canais de comunicação com grupos do Movi-
de. Essa teoria baseia-se nos pressupostos de que todo mento Negro, para que estes forneçam as bases do
esquema de assimilação é construído e toda abordagem projeto pedagógico da escola.
da realidade supõe um esquema de assimilação. e) alertam os órgãos colegiados dos estabelecimentos
de ensino para evitar o exame dos casos de discrimi-
( ) CERTO ( ) ERRADO nação, pois caracterizados como racismo, devem ser
tratados como crimes, conforme prevê a Constituição
10. (SEE/DF – Professor de Ed. Básica – Superior – CES- Federal em vigor.
PE/2017) O objetivo geral expressa de forma exclusiva
as expectativas do professor sobre o que ele deseja obter 15. (CONSULPLAN/2014) O currículo tem um papel
dos alunos no processo de ensino. Ao iniciar o planeja- tanto de conservação quanto de transformação e cons-
mento, o professor deve analisar e prever quais resulta- trução dos conhecimentos historicamente acumulados. A
dos ele pretende obter com relação à aprendizagem dos perspectiva teórica que trata o currículo como um campo
alunos. de disputa e tensões, pois o vê implicado com questões
ideológicos e de poder, denomina-se
( ) CERTO ( ) ERRADO
a) tecnicista.
11. (MOURA MELO/2015) Com relação à Educação para b) crítica.
a Cidadania, podemos afirmar, exceto: c) tradicional.
d) pós-crítica.
a) Estimula o desenvolvimento de competência.
b) Não se atém à abordagem de temas transversais. 16. (SEDUC-AM/2014) A respeito da formação de pro-
c) Valoriza o desenvolvimento do espírito crítico. fessores para a Educação Especial, assinale a afirmativa
d) Preocupa-se com o apreço pelos valores democráticos. incorreta.

12. (MOURA MELO/2015) Para que o conhecimento a) A proposta inclusiva envolve uma escola cujos profes-
seja pertinente, a educação deverá tornar certos fatores sores tenham um perfil compatível com os princípios
evidentes. São eles, exceto: educacionais humanistas.
b) Os professores estão continuamente atualizando-se,
a) O global. para conhecer cada vez mais de perto os seus alunos,
b) O complexo. promover a interação entre as disciplinas escolares,
c) O contexto. reunir os pais, a comunidade, a escola em que exer-
d) O unidimensional. cem suas funções, em torno de um projeto educacio-
nal que estabeleceram juntos.
13. (MOURA MELO/2015) O acesso ao ensino funda- c) A formação continuada dos professores é, antes de
mental é direito: tudo, uma auto formação, pois acontece no interior
das escolas e a partir do que eles estão buscando para
a) Privado objetivo. aprimorar suas práticas.
b) Privado subjetivo. d) As habilitações dos cursos de Pedagogia para forma-
c) Público objetivo. ção de professores de alunos com deficiência ainda
d) Público subjetivo. existem em diversos estados brasileiros.
e) A inclusão diz respeito a uma escola cujos professores
14. (CETRO - 2014) As Diretrizes Curriculares Nacionais tenham uma formação que se esgota na graduação ou
para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o nos cursos de pós-graduação em que se diplomaram.
Ensino de História e Culturas Afro-Brasileira e Africana
constituem-se de orientações, princípios e fundamentos 17. (ESAF/2016) Considerando a Política Nacional de
para o planejamento, execução e avaliação da Educação Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva,
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

assinale a opção correta.


a) têm por meta promover a educação de cidadãos atu-
antes e conscientes no seio da sociedade multicultu- a) A transversalidade da educação especial é uma exi-
ral e pluriétnica do Brasil, buscando relações étnico- gência da educação básica.
-sociais positivas, rumo à construção de uma nação b) Não requer atendimento educacional especializado,
democrática. pois o aluno deve inserir-se no contexto regular de
b) devem ser observadas pelas instituições de ensino ensino.
que atuam na educação básica, ficando a critério das c) Não tem condições de garantir a continuidade da es-
instituições de Ensino Superior incluí-las, ou não, nos colarização nos níveis mais elevados do ensino.
conteúdos das disciplinas dos cursos que ministram. c) Requer a formação de professores para o atendimento
c) preveem o ensino sistemático de História e Culturas educacional especializado e demais profissionais da

144
educação para a inclusão escolar. regular para a oferta dos serviços e recursos de edu-
e) Restringe a participação da família e da comunidade, cação especial.
pois não possuem formação apropriada para lidar d) A formação não precisa contemplar conhecimentos de
com as demandas do aluno. gestão de sistema educacional inclusivo.
e) A formação deve favorecer conhecimentos de gestão
18. (IBFC/2015) A Educação Inclusiva não deve ser con- de sistema educacional inclusivo, mas sem precisar
fundida como Educação Especial, porém, a segunda esta considerar o desenvolvimento de projetos em parceria
inclusa na primeira. Em outras palavras, a Educação Inclu- com outras áreas.
siva é a forma de:
21. (SEDUC/AM-FGV/2014) A respeito da Política Na-
a) Promover a aprendizagem e o desenvolvimento de cional de Educação Especial na Perspectiva da Educação
todos. Inclusiva, assinale V para a afirmativa verdadeira e F para
b) Inclusão de jovens e adultos no ensino médio. a falsa.
c) Promover a aprendizagem de crianças somente na
educação infantil. ( ) Na perspectiva da educação inclusiva, a educação es-
d) Inclusão de crianças no ensino fundamental. pecial passa a integrar a proposta pedagógica da esco-
la regular, promovendo o atendimento às necessidades
19. (AOCP/2016) De acordo com a Política Nacional de educacionais especiais de alunos com deficiência, trans-
Educação Especial, na Perspectiva da Educação Inclusiva, tornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/
NÃO podemos afirmar que superdotação.
( ) A educação especial direciona suas ações para o aten-
a) na perspectiva da educação inclusiva, a educação dimento às especificidades desses alunos no processo
especial passa a integrar a proposta pedagógica da educacional e, no âmbito de uma atuação mais ampla na
escola regular, promovendo o atendimento às neces- escola, orienta a organização de redes de apoio, a forma-
sidades educacionais especiais de alunos com defici- ção continuada, a identificação de recursos, serviços e o
ência, transtornos globais de desenvolvimento e altas desenvolvimento de práticas colaborativas.
habilidades/superdotação. ( ) A atuação pedagógica deve ser direcionada a manter a
b) constitui um paradigma educacional fundamenta- situação de exclusão, reforçando a importância dos am-
do na concepção de direitos humanos, que conjuga bientes homogêneos para a promoção da aprendizagem
igualdade e diferença como valores indissociáveis, e de todos os alunos.
que avança em relação à ideia de equidade formal ao
contextualizar as circunstâncias históricas da produ- As afirmativas são, respectivamente,
ção da exclusão dentro e fora da escola.
c) o atendimento educacional especializado tem como a) V, V e V.
função identificar, elaborar e organizar recursos peda- b) V, V e F.
gógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras c) V, F e V.
para a plena participação dos alunos, considerando d) F, F e V.
suas necessidades específicas. e) F, V e F.
d) tem como objetivo o acesso, a participação e a apren-
dizagem dos alunos com deficiência, transtornos glo- 22. (FCC/2016) Se praticado no contexto de violência
bais do desenvolvimento e altas habilidades/superdo- doméstica, a ação será pública incondicionada no caso
tação nas escolas regulares, orientando os sistemas de crime de
de ensino para promover respostas às necessidades
educacionais especiais. a) lesão corporal contra a mulher, mas apenas se grave.
e) para atuar na educação especial, o professor deve ter b) ameaça, independentemente da condição da vítima.
como base da sua formação, inicial e continuada, co- c) lesão corporal leve contra pai.
nhecimentos gerais para o exercício da docência, bem d) ameaça contra mulher.
como conhecimentos gerais da área. e) lesão corporal contra mulher, independentemente da
extensão.
20. (SEDUC-AM- FGV/2014) De acordo com o docu-
mento “Política Nacional de Educação Especial na pers- 23. (VUNESP/2016) O conceito de currículo está asso-
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

pectiva da Educação Inclusiva”, a respeito da formação ciado às diferentes concepções, que derivam dos diver-
do professor para atuar na Educação Especial, assinale a sos modos como a educação é concebida historicamen-
afirmativa correta. te, e pode ser entendido como as experiências escolares
que se desdobram em torno do conhecimento, em meio
a) O professor deve ter, como base da sua formação, co- a relações sociais, e que contribuem para a construção
nhecimentos gerais para o exercício da docência, sem das identidades dos alunos. Assim, um currículo precisa
necessidade de conhecimentos específicos da área. contemplar
b) A formação não deve possibilitar a sua atuação no
atendimento educacional especializado. a) um rol de conteúdos a serem transmitidos para os
c) A formação deve aprofundar o caráter interativo e in- alunos.
terdisciplinar da atuação nas salas comuns do ensino b) o plano de atividades de ensino dos professores.

145
c) o uso de textos escolares, efeitos derivados das práti- 26. (IFRO/ 2014) O Projeto Políticopedagógico é por si
cas de avaliação. a própria organização do espaço escolar. Ele organiza as
d) uma série de estudos do meio que contemplem as atividades administrativas, pedagógicas, curriculares e
relações sociais. os propósitos democráticos. Dizer que o Projeto Políti-
e) conhecimentos, valores, costumes, crenças e hábitos. copedagógico abrange a organização do espaço escolar
significa dizer que o ambiente escolar é normatizado por
24. (VUNESP/2016) O sentido social que se atribui à ideais comuns a todos que constitui esse espaço, visto
profissão docente está diretamente relacionado à com- que o Projeto Político Pedagógico deve ser resultado
preensão política da finalidade do trabalho pedagógico, dos atributos participativos. Dessa forma, Libâneo (2001)
ou seja, da concepção que se tem sobre a relação entre elenca quatro áreas de ação em que a organização do
sociedade e escola. Assim, a escola é o cenário onde alu- espaço escolar deve abranger.
nos e professores, juntos, vão construindo uma história Qual das alternativas não se refere às áreas elencadas
que se modifica, amplia, transforma e interfere em dife- pelo autor?
rentes âmbitos: o da pessoa, o da comunidade na qual
está inserida e o da sociedade, numa perspectiva mais a) A organização da vida escolar, relacionado à organiza-
ampla. É correto afirmar que a escola ção do trabalho escolar em função de sua especifici-
dade de seus objetivos.
a) é suprassocial, não está ligada a nenhuma classe social b) Organização do processo de ensino e aprendizagem
específica e serve, indistintamente, a todas. – refere-se basicamente aos aspectos de organização
b) não é capaz de funcionar como instrumento para mu- do trabalho do professor e dos alunos na sala de aula.
danças, serve apenas para reproduzir as injustiças. c) Organização das atividades de apoio técnico adminis-
c) não tem, de forma alguma, autonomia, é determina- trativo – tem a função de fornecer o apoio necessário
da, de maneira absoluta, pela classe dominante da ao trabalho docente.
sociedade. d) Orientação de atividades que vinculam escola e famí-
d) é o lugar especialmente estruturado para potencializar lia – refere-se às relações entre a escola e o ambiente
a aprendizagem dos alunos. interno: com os alunos, professores e famílias.
e) tem a tarefa primordial de servir ao poder e não a de e) Organização de atividades que vinculam escola e co-
atuar no âmbito global da sociedade. munidade – refere-se às relações entre a escola e o
ambiente externo: com os níveis superiores da gestão
25. (IFRO/ 2014) O Projeto Políticopedagógico é por si de sistemas escolar, com as organizações políticas e
a própria organização do espaço escolar. Ele organiza as comunitárias.
atividades administrativas, pedagógicas, curriculares e
os propósitos democráticos. Dizer que o Projeto Políti- 27. (FCC/2017) Dentre as formas de violência doméstica
copedagógico abrange a organização do espaço escolar e familiar contra a mulher, expressamente previstas na
significa dizer que o ambiente escolar é normatizado por Lei nº 11.340/06, NÃO figura a violência
ideais comuns a todos que constitui esse espaço, visto
que o Projeto Político Pedagógico deve ser resultado A) psicológica.
dos atributos participativos. Dessa forma, Libâneo (2001) B) patrimonial.
elenca quatro áreas de ação em que a organização do C) moral.
espaço escolar deve abranger. D) endêmica.
Qual das alternativas não se refere às áreas elencadas E) sexual.
pelo autor?
28. (UPENET/2016) Os órgãos públicos devem oferecer
a) A organização da vida escolar, relacionado à organiza- à criança e ao adolescente
ção do trabalho escolar em função de sua especifici-
dade de seus objetivos. a) o acesso à rede particular de ensino.
b) Organização do processo de ensino e aprendizagem b) oferta de ensino noturno regular, adequada às condi-
– refere-se basicamente aos aspectos de organização ções do aprendiz.
do trabalho do professor e dos alunos na sala de aula. c) o acesso e a manutenção do indivíduo ao ensino
c) Organização das atividades de apoio técnico adminis- superior.
trativo – tem a função de fornecer o apoio necessário d) oportunidade de trabalho, mesmo que este retire o
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

ao trabalho docente. adolescente do ensino regular.


d) Orientação de atividades que vinculam escola e famí- e) formação técnica-profissional em instituições privadas
lia – refere-se às relações entre a escola e o ambiente que ofereçam o curso desejado.
interno: com os alunos, professores e famílias.
e) Organização de atividades que vinculam escola e co- 29. O trabalho educativo descrito no ECA é
munidade – refere-se às relações entre a escola e o
ambiente externo: com os níveis superiores da gestão a) atividade laboral em que as exigências pedagógicas
de sistemas escolar, com as organizações políticas e referentes ao desenvolvimento pessoal e social das
comunitárias. crianças e adolescentes prevalecem sobre o aspecto
produtivo.

146
b) atividade laboral desenvolvida em parceria com as assim, pode-se afirmar que a participação:
instituições de ensino superior que propiciam acesso
ao ensino superior aos adolescentes entre dezesseis I. se constitui em uma expressão de responsabilidade so-
e dezoito anos de idade com renda familiar inferior a cial e valores compartilhados;
três salários mínimos. II. se constitui em uma forma significativa de, ao promo-
c) trabalho de monitoria de crianças carentes realizado ver maior aproximação entre os membros da escola,
por adolescentes já formados nos cursos de capacita- reduzir desigualdades entre eles;
ção das escolas técnicas federais. III. pressupõe que haja a necessária preparação e organi-
d) trabalho executado pelos licenciados em pedagogia zação da comunidade;
ou ciência da educação na capacitação de professores IV. envolve capacidade de tomar decisões de forma com-
da rede pública de ensino. partilhada e o comprometimento com a implementa-
e) o trabalho prestado por bolsistas do PROUNI nas ção das decisões tomadas.
comunidades carentes destinado a capacitar crian-
ças e adolescentes em atividades extracurriculares e São verdadeiras as afirmações contidas em
profissionalizantes.
a) I e II, apenas.
30. (Acesso Público/2016) Considerando a diversidade b) II e IV, apenas.
sociocultural do país e com o objetivo de promover a c) III e IV, apenas.
igualdade de acesso e permanência dos indivíduos no d) I, II, III e IV.
sistema regular de ensino e, simultaneamente, comba-
ter desigualdades sociais e regionais, assim como pre-
conceitos de qualquer ordem, relacionam-se às políticas
educacionais de ação afirmativa e inclusiva:

a) Educação para jovens e adultos em situação de priva-


ção de liberdade nos estabelecimentos penais, edu-
cação escolar quilombola, educação escolar indígena,
educação do campo e dos povos das águas e das
florestas.
b) Educação mista, integral e participativa.
c) Educação para a cidadania e ensino profissionalizante.
d) Educação infantil, ensino fundamental e ensino médio.
e) Educação ambiental e educação laica.

31. (VUNESP/2016) A noção de cidadania normalmen-


te está associada, de maneira incorreta ou insuficiente,
à ideia de ter direitos, entretanto, em termos legais, os
direitos não são privilégios de determinadas classes so-
ciais, grupos sociais ou dos indivíduos. Portanto, a con-
cepção de cidadania ultrapassa a postulação de direitos
humanos, correspondendo a:

I. prover os indivíduos de instrumentos para a plena rea-


lização da participação motivada e competente;
II. garantir a associação entre interesses pessoais e sociais;
III. ter convicção de seus direitos sociais estabelecidos
pela Constituição Federal;
IV. relacionar-se com a disseminação de valores e a sua
articulação entre os projetos individuais e coletivos.

São verdadeiras apenas as afirmações contidas em


FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

a) I e II.
b) III e IV.
c) I, II e III.
d) I, II e IV.

32. (VUNESP/2016) A democracia constitui-se em ca-


racterística fundamental de sociedades e grupos centra-
dos na prática dos direitos humanos. Direito e dever são
conceitos que se desdobram e se transformam de forma
contínua e recíproca pela própria prática democrática,

147
ANOTAÇÕES
GABARITO

1 D ___________________________________________________________
2 C ___________________________________________________________
3 B
___________________________________________________________
4 B
___________________________________________________________
5 A
6 CERTO ___________________________________________________________
7 CERTO ___________________________________________________________
8 ERRADO
___________________________________________________________
9 ERRADO
10 ERRADO ___________________________________________________________

11 B ___________________________________________________________
12 D ___________________________________________________________
13 D
___________________________________________________________
14 A
15 B ___________________________________________________________
16 E ___________________________________________________________
17 D
___________________________________________________________
18 A
___________________________________________________________
19 E
20 C ___________________________________________________________
21 B ___________________________________________________________
22 E
___________________________________________________________
23 E
24 D ___________________________________________________________

25 D ___________________________________________________________
26 E ___________________________________________________________
27 D
___________________________________________________________
28 B
29 A ___________________________________________________________
30 A ___________________________________________________________
31 D
___________________________________________________________
32 D
___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

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148
ÍNDICE

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Jogos, Brincadeiras E Psicomotricidade............................................................................................................................................................ 1


A Arte Na Escola: Desenho, Teatro, Música, Pintura.................................................................................................................................... 8
Rotina E Gestão Em Sala De Aula: Questões Das Relações Do Grupo.................................................................................................. 47
Relação Família X Escola.......................................................................................................................................................................................... 57
Ação Pedagógica. Objetivos Do Ensino Fundamental................................................................................................................................ 60
Brincar E Aprender..................................................................................................................................................................................................... 84
Aprendendo A Aprender........................................................................................................................................................................................ 84
Identificação Da População A Ser Atendida, A Atividade Econômica, O Estilo De Vida, A Cultura E As Tradições............ 85
Interação Social. Resolução De Problemas...................................................................................................................................................... 85
Organização Do Currículo...................................................................................................................................................................................... 85
Língua Portuguesa: Letramento E Alfabetização, Processo De Aprendizagem Da Leitura E Da Escrita.................................. 94
Trabalho Com Textos De Literatura Infantil..................................................................................................................................................... 115
Funções Dos Termos Nos Textos. Gêneros Textuais E Seus Comunicativos. Tipologia Textual E Sua Predominância
Com Gêneros Específicos........................................................................................................................................................................................ 128
Matemática: A Construção Dos Conceitos Matemáticos........................................................................................................................... 141
Sistema De Numeração Em Diferentes Bases................................................................................................................................................. 144
Resolução De Problemas Envolvendo As Quatro Operações................................................................................................................... 149
Ciências: Água, Ar E Solo. Transformações Dos Materiais Na Natureza............................................................................................... 172
Seres Vivos. Suas Relações E Interações Ambientais, Cadeia E Teia Alimentar................................................................................. 185
Corpo Humano: Higiene, Alimentação, Estrutura, Funções, Reprodução E Sexualidade.............................................................. 192
Meio Ambiente. Impactos Ambientais. Manejo E Conservação. Lixo. Poluição. Experiências..................................................... 216
História E Geografia: Brasil: Aspectos Sociais E Políticos. Desigualdades Regionais No Brasil De Hoje.................................. 227
Município De Itaboraí: Aspectos Históricos, Geográficos E Econômicos............................................................................................. 231
Espaço E Tempo: Localização, Organização, Representação.................................................................................................................... 231
No ato de brincar, os sinais, os gestos, os objetos e os
espaços valem e significam outra coisa daquilo que apa-
JOGOS, BRINCADEIRAS E PSICOMOTRICIDADE rentam ser. Ao brincar as crianças recriam e repensam
os acontecimentos que lhes deram origem, sabendo que
estão brincando.
O principal indicador da brincadeira, entre as crianças,
JOGOS E BRINCADEIRAS.
é o papel que assumem enquanto brincam. Ao adotar
De acordo com o documento Critérios para um Aten- outros papéis na brincadeira, as crianças agem frente à
dimento em Creches que Respeite os Direitos Fundamen- realidade de maneira não-literal, transferindo e substi-
tais das Crianças, a brincadeira consta como direito ga- tuindo suas ações cotidianas pelas ações e características
rantido e, assim se coloca abaixo: do papel assumido, utilizando-se de objetos substitutos.
A brincadeira favorece a autoestima das crianças, au-
Têm direito à brincadeira xiliando-as a superar progressivamente suas aquisições
de forma criativa. Brincar contribui, assim, para a interio-
- O orçamento para creches prevê a compra e reposi- rização de determinados modelos de adulto, no âmbito
ção de brinquedos, material para expressão artísti- de grupos sociais diversos.
ca e livros em quantidade e qualidade satisfatórias Essas significações atribuídas ao brincar transfor-
para o número de crianças e as faixas etárias mam-no em um espaço singular de constituição infantil.
- Os brinquedos, os materiais e os livros são conside- Nas brincadeiras, as crianças transformam os conhe-
rados como instrumento do direito à brincadeira e cimentos que já possuíam anteriormente em conceitos
não como um presente excepcional gerais com os quais brinca. Por exemplo, para assumir
- A construção das creches prevê a possibilidade de um determinado papel numa brincadeira, a criança deve
brincadeiras em espaço interno e externo conhecer alguma de suas características.
- As creches dispõem de número de educadores com- Seus conhecimentos provêm da imitação de alguém
patível com a promoção de brincadeiras interativas ou de algo conhecido, de uma experiência vivida na fa-
- Os prédios das creches dispõem de mobiliário que mília ou em outros ambientes, do relato de um colega ou
facilite o uso, a organização e conservação dos de um adulto, de cenas assistidas na televisão, no cinema
brinquedos ou narradas em livros etc. A fonte de seus conhecimen-
- A formação prévia e em serviço reconhece a impor- tos é múltipla, mas estes encontram-se, ainda, fragmen-
tância da brincadeira e da literatura infantil para o tados. É no ato de brincar que a criança estabelece os
desenvolvimento da criança diferentes vínculos entre as características do papel assu-
- A programação para as creches reconhece e incor- mido, suas competências e as relações que possuem com
pora o direito das crianças à brincadeira outros papéis, tomando consciência disto e generalizan-
do para outras situações.
Critérios para um atendimento em creches que Para brincar é preciso que as crianças tenham certa
respeite os direitos fundamentais das crianças. independência para escolher seus companheiros e os
papéis que irão assumir no interior de um determinado
Para que as crianças possam exercer sua capacidade tema e enredo, cujos desenvolvimentos dependem uni-
de criar é imprescindível que haja riqueza e diversidade camente da vontade de quem brinca.
nas experiências que lhes são oferecidas nas instituições, Pela oportunidade de vivenciar brincadeiras imagi-
sejam elas mais voltadas às brincadeiras ou às aprendi- nativas e criadas por elas mesmas, as crianças podem
zagens que ocorrem por meio de uma intervenção direta. acionar seus pensamentos para a resolução de proble-
A brincadeira é uma linguagem infantil que mantém mas que lhe são importantes e significativos. Propician-
um vínculo essencial com aquilo que é o “não-brincar”. do a brincadeira, portanto, cria-se um espaço no qual
Se a brincadeira é uma ação que ocorre no plano da as crianças podem experimentar o mundo e internalizar
imaginação isto implica que aquele que brinca tenha o uma compreensão particular sobre as pessoas, os senti-
domínio da linguagem simbólica. Isto quer dizer que é mentos e os diversos conhecimentos.
preciso haver consciência da diferença existente entre O brincar apresenta-se por meio de várias categorias
a brincadeira e a realidade imediata que lhe forneceu de experiências que são diferenciadas pelo uso do mate-
conteúdo para realizar-se. Nesse sentido, para brincar é rial ou dos recursos predominantemente implicados. Es-
preciso apropriar-se de elementos da realidade imediata sas categorias incluem: o movimento e as mudanças da
de tal forma a atribuir-lhes novos significados. Essa pe-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

percepção resultantes essencialmente da mobilidade físi-


culiaridade da brincadeira ocorre por meio da articula- ca das crianças; a relação com os objetos e suas proprie-
ção entre a imaginação e a imitação da realidade. Toda dades físicas assim como a combinação e associação en-
brincadeira é uma imitação transformada, no plano das tre eles; a linguagem oral e gestual que oferecem vários
emoções e das ideias, de uma realidade anteriormente níveis de organização a serem utilizados para brincar; os
vivenciada. conteúdos sociais, como papéis, situações, valores e ati-
Isso significa que uma criança que, por exemplo, bate
tudes que se referem à forma como o universo social se
ritmicamente com os pés no chão e imagina-se caval-
constrói; e, finalmente, os limites definidos pelas regras,
gando um cavalo, está orientando sua ação pelo signi-
constituindo-se em um recurso fundamental para brin-
ficado da situação e por uma atitude mental e não so-
car. Estas categorias de experiências podem ser agrupa-
mente pela percepção imediata dos objetos e situações.
das em três modalidades básicas, quais sejam, brincar de

1
faz-de-conta ou com papéis, considerada como atividade possibilidade pode ser aprofundada, se forem pesquisa-
fundamental da qual se originam todas as outras; brincar das também obras de arte em que partes do corpo foram
com materiais de construção e brincar com regras. retratadas ou esculpidas. É importante lembrar que neste
As brincadeiras de faz-de-conta, os jogos de cons- tipo de trabalho não há necessidade de se estabelecer
trução e aqueles que possuem regras, como os jogos de uma hierarquia prévia entre as partes do corpo que se-
sociedade (também chamados de jogos de tabuleiro), rão trabalhadas. Pensar que para a criança “é mais fácil”
jogos tradicionais, didáticos, corporais etc., propiciam a começar a perceber o próprio corpo pela cabeça, depois
ampliação dos conhecimentos infantis por meio da ati- pelo tronco e por fim pelos membros, por exemplo, pode
vidade lúdica. não corresponder à sua experiência real. Nesse sentido,
o professor precisa estar bastante atento aos conheci-
É o adulto, na figura do professor, portanto, que,
mentos prévios das crianças acerca de si mesmas e de
na instituição infantil, ajuda a estruturar o campo das
sua corporeidade.
brincadeiras na vida das crianças. Consequentemente é Outra orientação de atividades tem a ver com o re-
ele que organiza sua base estrutural, por meio da oferta conhecimento dos sinais vitais e de sua alteração, como
de determinados objetos, fantasias, brinquedos ou jogos, a respiração, os batimentos cardíacos, como também de
da delimitação e arranjo dos espaços e do tempo para sensações de prazer ou desprazer que qualquer ativida-
brincar. de física pode proporcionar. Ouvir esses sinais, refletir,
Por meio das brincadeiras os professores podem ob- conversar sobre o que acontece quando se corre, ou se
servar e constituir uma visão dos processos de desen- rola, ou se massageia um ao outro; pedir às crianças que
volvimento das crianças em conjunto e de cada uma em registrem essas ideias utilizando desenhos ou outras lin-
particular, registrando suas capacidades de uso das lin- guagens pode garantir que continuem a entender e se
guagens, assim como de suas capacidades sociais e dos expressar pelo movimento de forma harmoniosa.
recursos afetivos e emocionais que dispõem.
A intervenção intencional baseada na observação das Jogos e brincadeiras – Papel do professor
brincadeiras das crianças, oferecendo-lhes material ade-
quado, assim como um espaço estruturado para brincar Responder como e quando o professor deve inter-
permite o enriquecimento das competências imaginati- vir nas brincadeiras de faz-de-conta é, aparentemente,
vas, criativas e organizacionais infantis. Cabe ao profes- contraditório com o caráter imaginativo e de linguagem
independente que o brincar compreende. Porém, há al-
sor organizar situações para que as brincadeiras ocor-
guns meios a que o professor pode recorrer para promo-
ram de maneira diversificada para propiciar às crianças a
ver e enriquecer as condições oferecidas para as crianças
possibilidade de escolherem os temas, papéis, objetos e brincarem que podem ser observadas.
companheiros com quem brincar ou os jogos de regras Para que o faz-de-conta torne-se, de fato, uma práti-
e de construção, e assim elaborarem de forma pessoal e ca cotidiana entre as crianças é preciso que se organize
independente suas emoções, sentimentos, conhecimen- na sala um espaço para essa atividade, separado por uma
tos e regras sociais. cortina, biombo ou outro recurso qualquer, no qual as
É preciso que o professor tenha consciência que na crianças poderão se esconder, fantasiar-se, brincar, sozi-
brincadeira as crianças recriam e estabilizam aquilo que nhas ou em grupos, de casinha, construir uma nave es-
sabem sobre as mais diversas esferas do conhecimento, pacial ou um trem etc.
em uma atividade espontânea e imaginativa. Nessa Nesse espaço, pode-se deixar à disposição das crian-
perspectiva não se deve confundir situações nas quais ças panos coloridos, grandes e pequenos, grossos e fi-
se objetiva determinadas aprendizagens relativas a nos, opacos e transparentes; cordas; caixas de papelão
conceitos, procedimentos ou atitudes explícitas com para que as crianças modifiquem e atualizem suas brin-
aquelas nas quais os conhecimentos são experimentados cadeiras em função das necessidades de cada enredo.
de uma maneira espontânea e destituída de objetivos Nesse espaço pode ser afixado um espelho de corpo
imediatos pelas crianças. Pode-se, entretanto, utilizar os inteiro, de maneira a que as crianças possam reconhe-
cer-se, imitar-se, olhar-se, admirar-se. Pode-se, ainda,
jogos, especialmente aqueles que possuem regras, como
agregar um pequeno baú de objetos e brinquedos úteis
atividades didáticas. É preciso, porém, que o professor
para o faz-de-conta, que pode ser complementado por
tenha consciência que as crianças não estarão brincando um cabideiro contendo roupas velhas de adultos ou fan-
livremente nestas situações, pois há objetivos didáticos tasias. Fundamentais, também, são os materiais e aces-
em questão. sórios para a casinha, tais como uma pequena cama, um
fogão confeccionado com uma velha caixa de papelão,
Jogos e brincadeiras louças, utensílios variados etc. É importante, porém, que
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

esses materiais estejam organizados segundo uma lógi-


Alguns jogos e brincadeiras de parque ou quintal, en- ca; por exemplo, que as maquiagens estejam perto do
volvendo o reconhecimento do próprio corpo, o do ou- espelho e não dentro do fogão, de maneira a facilitar as
tro e a imitação, podem se transformar em atividades da ações simbólicas das crianças.
rotina. Bons exemplos são “Siga o Mestre” e “Seu Lobo”, No entanto, esse espaço poderá transformar-se em
porque propõem a percepção e identificação de partes um “elefante branco” na sala, caso não seja utilizado,
do corpo e a imitação de movimentos. arrumado e mantido diariamente por crianças e pro-
Podem ser planejadas articulações com outros eixos fessores. Não se pode esquecer, porém, que apesar da
de trabalho, como, por exemplo, pedir que as crian- existência do espaço, ao brincar, as crianças se espalham
ças modelem parte do corpo em massa ou argila, ten- e espalham brinquedos e objetos pela sala, usam mobi-
do o próprio corpo ou o do outro como modelo. Essa liário e o espaço externo.

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É recomendável que isso ocorra, e, na medida em Nas últimas décadas, os debates em nível nacional
que crescem, as crianças poderão organizar de forma e internacional apontam para a necessidade de que as
mais independente seu espaço de brincar. Sempre instituições de educação infantil incorporem de maneira
auxiliadas pelo professor e rearrumando o material integrada as funções de educar e cuidar, não mais dife-
depois de brincar, as crianças podem transformar a sala renciando nem hierarquizando os profissionais e institui-
e o significado dos objetos cotidianos enriquecendo sua ções que atuam com as crianças pequenas e/ou aqueles
imaginação. que trabalham com as maiores. As novas funções para
Nesse sentido, brincar deve se constituir em atividade a educação infantil devem estar associadas a padrões
permanente e sua constância dependerá dos interesses de qualidade. Essa qualidade advém de concepções de
que as crianças apresentam nas diferentes faixas etárias. desenvolvimento que consideram as crianças nos seus
Ainda com relação ao faz-de-conta, o professor po- contextos sociais, ambientais, culturais e, mais concreta-
derá organizar situações nas quais as crianças conversem mente, nas interações e práticas sociais que lhes forne-
sobre suas brincadeiras, lembrem-se dos papéis assumi- cem elementos relacionados às mais diversas linguagens
dos por si e pelos colegas, dos materiais e brinquedos e ao contato com os mais variados conhecimentos para a
usados, assim como do enredo e da sequência de ações. construção de uma identidade autônoma.
Nesses momentos, lembrar-se sobre o que, com quem Sendo assim, há necessidade de discussões sobre te-
e com o que brincaram poderá ajudar as crianças a or- máticas que estejam presentes no cotidiano das práticas
ganizarem seu pensamento e emoções, criando condi- dos professores, pois estas se tornam cada vez mais im-
ções para o enriquecimento do brincar. Nessas situações, portantes, visto a real necessidade sobre o conhecimento
podem-se explicitar, também, as dificuldades que cada do desenvolvimento infantil.
criança tem com relação a brincar, caso desejem, e a ne- Percebe-se ainda há uma grande preocupação com
cessidade que tem da ajuda do adulto. o desenvolvimento cognitivo na Educação Infantil, preva-
lecendo à ideia, muitas vezes, de que este nível da edu-
Referências: cação básica é uma etapa preparatória para o ingresso
Critérios para um atendimento em creches que res- da criança no ensino fundamental. Desta forma algumas
peite os direitos fundamentais das crianças. Disponível práticas pedagógicas de aprendizagem têm maior des-
em: http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/direitosfun- taque e são mais desenvolvidas, assim muitas vezes são
damentais.pdf deixados de lado aspectos primordiais no desenvolvi-
REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDU- mento da criança como o movimento e a expressividade,
CAÇÃO INFANTIL /Ministério da Educação e do Des- aspectos estes que envolvem o corpo que se move se ex-
porto, Secretaria de Educação Fundamental. — Brasília: pressa e se relaciona. Segundo Garanhani (2008, p. 128):
MEC/SEF, 1998. A escola da pequena infância, ao proporcionar um
meio favorável ao desenvolvimento infantil nos seus di-
versos domínios - a afetividade, a cognição e o movimen-
Pontuam Santa Clara e Finck, que segundo o Referen- to, realiza a mediação entre a criança e o conhecimento
cial Curricular Nacional para a Educação Infantil – RCNEI culturalmente construído e traduzido em diferentes lin-
(BRASIL, 1998), a expansão da educação infantil no Brasil guagens: oral, corporal, musical, gráfico-pictórica e plás-
e no mundo tem ocorrido de forma crescente nas últimas tica. Ao mesmo tempo, desenvolve na criança habilida-
décadas, acompanhando a intensificação da urbanização, a des para a expressão e comunicação.
participação da mulher no mercado de trabalho e as mu- Ainda dentro desse contexto, Garanhani (2008, p. 129)
danças na organização e estrutura das famílias. Por outro afirma que: Para que o conhecimento e o desenvolvimento
lado, a sociedade está mais consciente da importância das de diferentes linguagens estejam presentes na educação da
experiências na primeira infância, o que motiva demandas pequena infância, é necessário estar atento ao fazer peda-
por uma educação institucional para educação infantil. gógico da Educação Infantil, que deverá contemplar ações
Desta forma a Educação Infantil tem obtido certa va- pedagógicas que privilegiem diversas formas de interação e
lorização, sendo objeto de discussões realizadas pelos comunicação da criança com o meio e com seu grupo. Essa
professores e demais profissionais interessados no de- condição está diretamente atrelada à formação da educado-
senvolvimento infantil. Nesse sentido o RCNEI (BRASIL, ra responsável pela escolarização dessa idade.
1998) se manifesta dizendo: A psicomotricidade como ciência que estuda o movi-
A conjunção desses fatores ensejou um movimento mento humano, considerando o ser em sua totalidade é
da sociedade civil e de órgãos governamentais para que um meio que auxilia para um melhor desenvolvimento.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

o atendimento às crianças – na idade da educação infan- Wallon (2005) pioneiro nos estudos da psicomotricida-
til - fosse reconhecido na Constituição Federal de 1988. A de ressalta sua importância e relaciona o movimento ao
partir de então, a educação infantil em creches e pré-es- afeto e a emoção. Segundo Fonseca (2008), para Wallon,
colas passou a ser, ao menos do ponto de vista legal, um a evolução da criança processa-se em uma dialética de
dever do Estado e um direito da criança (artigo 208, inci- desenvolvimento na qual entram em jogo inúmeros fato-
so IV). O Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990, res: metabólicos, morfológicos, psicotônicos, psicoemo-
destaca também o direito da criança a este atendimento. cionais, psicomotores e psicossociais.
A Educação Infantil tem obtido certa valorização e A falta do desenvolvimento dos esquemas psico-
aparece com discussões e nova identidade com uma motores vem se destacando de forma recorrente como
preocupação de qualidade. Segundo o RCNEI (BRASIL, uma das causas das dificuldades de aprendizagem das
1998), afirma: crianças. Estudos de vários pesquisadores, indicam que

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os aspectos psicomotores interferem na aprendizagem Walloniano, exatamente porque ambos se tornam dialeti-
escolar dos alunos, embora poucos professores saibam camente necessários e complementares ao surgimento de
realmente a verdadeira importância sobre o desenvolvi- sistemas funcionais fundamentais para o desenvolvimento
mento desses pressupostos psicomotores, principalmen- psicomotor. Ao manipular objetos, a criança atinge efeitos
te na Educação Infantil. que a excitam emocionalmente e a encantam como au-
Uma proposta de educação psicomotora na Educa- todescoberta, fazendo com que os mesmos gestos se repi-
ção Infantil desenvolve uma postura adequada para a tam e se automatizem, porque geram sensações viscerais
aprendizagem da criança com caráter preventivo em re- e musculares agradáveis e arrebatadoras. Explora objetos
lação ao seu desenvolvimento integral nas várias etapas ao mesmo tempo em que se explora corporalmente a si
de crescimento. própria, autoconhecendo-se.
Assim, surge a necessidade de que os professores Nesta etapa a criança descobre o mundo de objetos,
que atuam na Educação Infantil tenham a formação e o evoluindo a preensão e começa a manipulá-los, adquirin-
conhecimento sobre as práticas psicomotoras na escola. do a posição de sentada, onde passa um objeto de uma
O educador deve estar atento a qualquer alteração no mão para a outra. A evolução da locomoção também
desenvolvimento motor da criança, para que assim ocor- acontece multiplicando as possibilidades de exploração
ra um bom desenvolvimento cognitivo e integral. Dar iní- no ambiente, sobretudo em relação ao objeto novo. Se-
cio nos primeiros anos de vida às práticas psicomotoras é gundo Le Boulch (1988): [...] no fim do período sensório
fundamental para o desenvolvimento infantil. motor, que Piaget situa entre 15 a 18 meses, é adquirida
Para Garanhani (2008): Wallon (1979) ressalta que, a permanência do objeto. Depois da experiência tônica
na pequena infância, o ato mental se desenvolve no ato emocional frente às pessoas, vai desenvolver-se a expe-
motor, ou seja, a criança pensa quando está realizando a riência motora intencional frente ao objeto. É através da
ação e isso faz com que o movimento do corpo ganhe um atividade práxica que a criança vai descobrir sua existên-
papel de destaque nas fases iniciais do desenvolvimento cia e como pessoa ela vai conquistar a sua unidade atra-
infantil. vés da experiência vivenciada com o corpo eficazmente.
A criança ao ingressar na escola, independentemente Dessa forma a criança descobre e conquista o seu
da idade em que se encontra, traz consigo saberes sobre meio a cada dia. Estímulos externos organizam o com-
os movimentos que realiza com o seu corpo, os quais portamento, principalmente na relação mãe e filho. Nesta
são apropriados e construídos nos diferentes espaços e fase a criança faz descobertas através de suas experiên-
relações em que vive (GARANHANI, 2008). Desse modo, cias da diversidade de pessoas que vivem em seu meio.
a escola poderá sistematizar e ampliar o conhecimento A etapa do corpo vivido termina na primeira imagem do
da criança sobre o seu movimentar. corpo identificado pela criança como seu próprio EU.
Segundo Costa (2007): [...] até o fim do século XVIII o Na segunda etapa que engloba a idade entre os três
corpo foi visto sob a ótica filosófica. Só a partir do século aos sete anos, inicia-se a etapa do corpo percebido ou
XIX passou a ser considerado como objeto, sujeito a estu- descoberto. Segundo Le Bouch, (1988): A emergência
dos sistemáticos e profundos no âmbito da experimenta- da função de interiorização, contemporânea do reconhe-
ção. Como objeto de estudo, o corpo despertava interesse cimento de seu próprio Eu, vai permitir-lhe deslocar sua
nos diversos seguimentos da ciência. A neuropsicologia e atenção sobre seu “próprio corpo” e descobrir suas pró-
a neurologia foram as primeiras a estudá-lo de forma sis- prias características corporais. Começa o período de estru-
temática e experimental, na tentativa de compreender a turação do esquema corporal, etapa importante na evo-
estrutura e funcionamento cerebral, bem como suas pa- lução da imagem do corpo, sendo este o instrumento de
tologias. Mais tarde, o corpo passou a ser estudado pela inserção na realidade.
Psicologia e pela Psicanálise a fim de compreender a evo- Nesta fase a criança passa a ter uma maior coordena-
lução da inteligência e suas perturbações. ção, desta forma obtém consciência do seu corpo como
Os aspectos do movimento começam ainda no útero, referência e inicia o conhecimento de conceitos relacio-
mesmo antes de qualquer outra forma de comunicação, nados a espaço e tempo tais como em cima, em baixo,
logo após o nascimento e mesmo antes da criança ad- adiante e atrás. Segundo Oliveira (2008) a criança: [...]
quirir a linguagem propriamente dita, ela já se comunica percebe as tomadas de posições e associa seu corpo aos
tendo o movimento como uma resposta às suas neces- objetos da vida quotidiana. Ela chega à representação
sidades diárias, pois através destes consegue manifestar mental dos elementos do espaço e isto é possível graças
sentimentos e anseios, e se relacionar com o meio em à primeira fase de descoberta e experiências vividas pela
que vive. criança. Ela descobre sua dominância e com ela seu eixo
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Na concepção de Le Boulch (1988), a evolução psi- corporal. Passa a ver seu corpo como um ponto de refe-
comotora se divide em três estágios: corpo vivido, corpo rência para se situar e situar os objetos em seu espaço e
percebido ou descoberto e corpo representado. tempo. Este é o primeiro passo para que ela possa, mais
A primeira etapa é a do corpo vivido que compreende tarde, chegar à estruturação espaciotemporal.
ao período sensório motor descrito por Piaget, seria a Segundo Le Boulch, (1988), o período de três a sete
fase dos primeiros anos de vida (0 a 3 anos), nela a criança anos corresponde ao estágio da “estruturação percep-
não tem consciência do eu confundindo-se com o espa- tiva”, o qual deve responder a dois grandes objetivos:
ço que vive. Com seu amadurecimento e suas experiên- [...] permitir a criança alcançar seu desabrochamento
cias do cotidiano a criança passa aos poucos diferenciar- no plano da vivência corporal alcançando com bem es-
-se de seu ambiente. Segundo Fonseca (2008): A relação tar o exercício da motricidade espontânea, prolongada
sujeito-objeto assume um papel oriundo no pensamento pela expressão verbal e gráfica; assegurar a passagem à

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escola elementar tendo o papel de prevenção, a fim de estimulação, assim sendo não é uma tarefa específica do
evitar que a criança se depare, nessa época, com dificul- professor de Educação Física, e sim de todos profissio-
dades na aquisição das primeiras tarefas escolares. nais envolvidos no processo ensino-aprendizagem.
A terceira etapa refere-se a do corpo representado, a Fonseca (1995) define que a psicomotricidade pode
qual engloba a idade da criança entre sete a doze anos, ser estudada através de sete fatores como necessidades
Oliveira, G. (2008) menciona que: Nesta etapa observa-se psicomotoras, são elas: tonicidade, equilíbrio, lateralida-
a estruturação do esquema corporal, até este momento, a de, noção corporal, estruturação espaço-temporal, coor-
criança já adquiriu as noções do todo e das partes do seu denação global e fina e óculo manual.
corpo (que é percebido através da verbalização e do dese- Conhecimento corporal: O corpo é considerado a pri-
nho da figura humana), já conhece as posições e consegue meira forma de linguagem para a criança, já que com
movimentar-se corretamente no meio ambiente com um ele, a mesma introduz sua comunicação com o meio. O
controle e domínio corporal maior. A partir daí, ela amplia conhecimento corporal é um componente fundamental
e organiza seu esquema corporal. e imprescindível para a formação da personalidade da
Nesta fase de desenvolvimento da criança seus pon- criança.
tos de referências não ficam mais centrados no corpo O corpo é uma forma de expressão da individualida-
próprio, desta forma ela cria os pontos que podem orien- de. A criança percebe-se e percebe as coisas que a cer-
tá-las. Neste momento a criança realiza por si as suas cam em função de seu próprio corpo. Isto significa que,
ações, com aperfeiçoamento dos seus movimentos e conhecendo-o, terá maior habilidade para se diferenciar,
coordenação. para sentir diferenças. Ela passa a distingui-lo em relação
Desta forma o conhecimento por parte dos profes- aos objetos circundantes, observando-os, manejando-os.
sores sobre o desenvolvimento psicomotor se torna pri- Ainda segundo Oliveira, “O esquema corporal não é
mordial no desenvolvimento das práticas pedagógicas um conceito aprendido, que se possa ensinar, pois não
cotidianas dentro da escola. depende de treinamento. Ele se organiza pela experien-
Segundo Garanhani (2008): Assim, ao ingressar na es- ciação do corpo da criança.” A autora diz ainda que essa
cola, independentemente da idade em que se encontra, constituição do esquema corporal é feita pela criança aos
a criança traz consigo saberes sobre os movimentos que poucos, quando ela nasce tem diversas sensações e per-
realiza com seu corpo, apropriados e construídos nos di- cepções proprioceptivas, mas ainda não consegue orga-
ferentes espaços e relações em que vive. Desse modo, a nizá-las, logo que ela vai crescendo, vai se reconhecendo
escola poderá sistematizar e ampliar o conhecimento da e se adaptando a elas, essas sensações e percepções vão
criança sobre o seu movimentar. ganhando significações a partir da influência mútua da
Assim é fundamental e necessário que o professor criança com o mundo cultural que a cerca, por meio das
tenha conhecimentos sobre psicomotricidade e desen- intermediações dos adultos que vão nomeando para a
volvimento infantil, bem como da importância do desen- criança todas essas percepções e sensações que ocorrem
volvimento de uma educação psicomotora na Educação com a mesma.
Infantil. Na educação das crianças, é preciso associar os movi-
mentos aos objetivos educacionais, criando relações e si-
Referências: tuações apropriadas ao favorecimento da aprendizagem,
SANTA CLARA, C. A. W.; FINCK, S. C. M. A educação salientando a importância do profissional da educação
psicomotora e a prática pedagógica dos professores da em trabalhar essa ciência em sala de aula.
educação infantil: interlocuções e discussões necessárias. A Psicomotricidade pode auxiliar de forma eficaz
UEPG, 2012. no rendimento da criança, levando em conta a perso-
BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Se- nalidade e a vontade da mesma, favorecendo o desen-
cretaria de Educação e do desporto. Secretaria de Edu- volvimento dos gestos e movimentos, desenvolvendo
cação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para o equilíbrio e a capacidade da percepção. Todo conhe-
a Educação Infantil. Vol 1. Ministério da Educação e do cimento e toda relação estão baseados nas vivências, a
Desporto. Secretaria de Educação fundamental. Brasília: construção do esquema corporal, por exemplo, junto à
MEC-SEF, 1998. consciência e o conhecimento, a organização dinâmica,
FONSECA, V. Desenvolvimento psicomotor e aprendi- e o uso do próprio corpo, devem ser a chave de toda a
zagem. Porto Alegre: Artmed, 2008. educação da criança.
Tônus e Equilíbrio: A tonicidade, que indica o tônus
A PSICOMOTRICIDADE NO DESENVOLVIMENTO muscular é a tensão fisiológica dos músculos que garante
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

INTEGRAL DA CRIANÇA equilíbrio estático e dinâmico, coordenação e postura em


qualquer posição adotada pelo corpo, esteja ele parado
O procedimento de aprendizagem é um processo ou em movimento e tem um papel primordial no desen-
complexo que abrange preceitos e capacidades diver- volvimento psicomotor é ela que garante as atitudes e as
sas, inclusive as motoras. É de suma importância que a emoções através das quais emergem todas as atividades
criança adquira determinadas habilidades durante a fase motoras humanas. Para Le Boulch, “O tônus muscular é
pré-escolar, permitindo e facilitando sua aprendizagem. o alicerce das atividades práticas”. Através desses emba-
Essas habilidades são condições básicas e necessárias samentos teóricos podemos compreender que o tônus
para uma boa aprendizagem, e constituem a estrutura da muscular está presente em todas as funções motrizes,
educação psicomotora. O desenvolvimento psicomotor como o movimento, o equilibro e a coordenação.
demanda subsídio constante do docente pelo meio da

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Lateralidade: Para Oliveira, “A lateralidade é a propen- O desenvolvimento da imaginação é fundamental
são que o ser humano possui de utilizar preferencialmente para a criatividade, é resultado da observação, de vivên-
mais um lado do corpo do que o outro em três níveis: mão, cias e experiências. Freire (1997) explica que:
olho e pé, significando que o indivíduo utiliza um lado do
corpo com maior predominância, com mais precisão, é ele A criança faz uso da imaginação, vive e encarna um
quem executa a ação principal, ficando para o outro lado a sem número de relações. Saltar um rio largo, atravessar
função de auxiliar nessa ação, entretanto, os dois não fun- uma ponte estreita, repartir a comida feita, são atividades
cionam isoladamente, mas de forma complementar. que materializam, na prática, a fantasia imaginada, e que
Estruturação espaço-temporal: É de fundamental retornarão depois da prática em forma de ação interio-
importância para que se viva em sociedade. É por meio rizada, produzindo e modificando conceitos, incorporan-
do espaço e das relações espaciais que se situa no meio do-se às estruturas de pensamento. Ou seja, no brinque-
em que vive, em que se instituem semelhanças entre as do simbólico a ação vai e vem incessantemente, da ação
coisas, em que se fazem observações, comparando-as,
ao pensamento, modificando-se em cada trajeto, até que
combinando-as, vendo as semelhanças e diferenças en-
as representações do indivíduo possam se expressar de
tre elas.
forma cada vez mais compreensível no universo social.
Coordenação motora global: Diz respeito à ativida-
de dos grandes músculos. Depende da capacidade de A prática social não interrompe, contudo, esse jogo de
equilíbrio postural do indivíduo A coordenação global idas e vindas da ação e da representação, pelo contrário,
leva a criança a adquirir a dissociação de movimentos. sofistica cada vez mais as representações que o sujeito
Isto significa que ela terá condições de realizar diversos faz do mundo.
movimentos ao mesmo tempo, cada membro realizando Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Educação
uma atividade diferente, havendo uma conservação de Física (1998) enfatizam a importância de respeitar o uni-
unidade do gesto. verso cultural dos alunos e de se explorar a gama múltipla
Coordenação motora fina e óculo-manual: diz res- de possibilidades educativas de sua atividade lúdica e, gra-
peito à habilidade e o exercício manual e institui uma dativamente, desafiá-los através de tarefas cada vez mais
aparência particular da coordenação global. É necessário complexas com vista à construção do conhecimento.
ter condições de desenvolver formas diversas de pegar Quando a criança transforma as regras do jogo ou cria
os diferentes objetos. Não é suficiente possuir somente uma brincadeira na escola, sai daquele espaço tradicio-
a coordenação fina, é imprescindível que haja também nal de ensino, coloca-se como autor de um jogo, criando
controle ocular, isto é, a visão acompanhando os gestos uma experiência lúdica que proporciona momentos de
da mão. Chama-se a isto de coordenação óculo-manual alegria, criatividade, prazer, enfim, fruição corporal. Esse
A coordenação óculo-manual se efetua com precisão so- jogo, segundo Callois“ é uma atividade livre em que o
bre a base de um domínio visual previamente estabele- homem se encontra liberto de qualquer apreensão a res-
cido, ligados aos gestos executados, facilitando, assim, peito de seus gestos. Ele define o alcance. Define igual-
uma maior harmonia do movimento. mente as condições e as finalidades”.
De acordo com o Coletivo de Autores (1992), quan-
Fonte do a criança joga, ela opera com o significado das suas
SOUSA, J. M. de.; SILVA, J. B. L. da. A Psicomotricidade ações, o que a faz desenvolver sua vontade e ao mesmo
na Educação Infantil. v.4, n.2, p. 128 - 135, ago. – dez. tempo tornar-se consciente das suas escolhas e decisões.
2013 Por isso, o jogo apresenta-se como elemento básico para
a mudança das necessidades e da consciência. Nesse
O LÚDICO
contexto de jogos e brincadeiras, é importante refletir-
mos sobre duas possibilidades de entendimento do fe-
A ludicidade na educação possibilita situações de
aprendizagem que contribuem para o desenvolvimento nômeno lúdico: o instrumental e o essencial.
integral da criança, mas deve haver uma dosagem entre Edmir Perroti (1995) apud Leão (2000) explica a di-
a utilização do lúdico instrumental, isto é, a brincadeira ferença entre o que chama de lúdico instrumental e o
com a finalidade de atingir objetivos escolares, e também essencial. No primeiro, o jogo é compreendido enquanto
a forma de brincar espontaneamente, envolvendo o pra- um recurso motivador, simples instrumento para a reali-
zer e o entretenimento, neste último, o lúdico essencial. zação de objetivos que podem ser educativos, publicitá-
Santin (1996) apud Júnior (2005) nos diz que o signifi- rios ou de inúmeras naturezas. No segundo, por sua vez,
cado de ludicidade surge da própria palavra relacionada à o jogo é visto como uma atitude essencial, como uma
liberdade, criatividade, imaginação, participação, interação, categoria que não necessita de uma justificativa exter-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

autonomia além de outras qualificações que podem ser na, alheia a ela mesma para se validar. No primeiro caso,
atribuídas a uma infinita riqueza que há nela mesma. o jogo está centralizado na produtividade, tem caráter
Na fantasia lúdica, a criança faz uso da imaginação, utilitário; no segundo, a produtividade é o próprio pro-
redimensionando significados e sentidos presentes no cesso de brincar, uma vez que nessa concepção, jogar é
seu mundo real, como afirma Castoriadis (1992): intrinsecamente educativo, é essencial enquanto forma
A imaginação não é apenas a capacidade de combi- de humanização.
nar elementos já dados para produzir um outro. A ima- Fonseca; Muniz (2000) apud Júnior (2005) acredi-
ginação é o que nos permite criar um mundo, ou seja, tam que é possível encontrarmos escolas que têm o
apresentamos uma coisa, da qual sem imaginação não processo pedagógico de ensino emancipatório onde o
poderíamos nada dizer e, sem a qual não poderíamos lúdico essencial é um fundamento. Em sua essência, é
nada saber. tido como sério e indispensável na formação do aluno,

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possibilitando-o transitar dentro e fora do seu eu, trocan- processo de aprendizagem. Nessa perspectiva, é funda-
do papéis e até vivenciá-los como próprio de sua pessoa, mental que o professor crie situações de aprendizagem
estimulando o afloramento de sua cultura, espontanei- significativas, pois estas farão com que o educando asso-
dade, interação, imaginação, criatividade, prazer. cie o aprendizado ao prazer.
Infelizmente ainda há muitas escolas que tratam a
Embora promovam a interação social, as situações lú- criança como adulto em miniatura. Não valorizam a fan-
dicas podem gerar momentos de competitividade entre tasia e as atividades motoras próprias dessa etapa da
os educandos. Entretanto, nas palavras de Leão (1995) vida que é a infância. A ideia de ludicidade nessas esco-
apud Brancher; Chenet; Oliveira (2005): las está intimamente ligada à instrumentalização apenas,
Somos o produto de uma interação permanente com pois o processo ensino e aprendizagem baseado numa
o meio. A pulsão rebate sempre no meio e retorna à fon- metodologia tradicional contribui para o desenvolvimen-
te. É nessa dinâmica que o sujeito do inconsciente é re- to da “consciência bancária”, assim denominada por Pau-
levado. O jogo implica sempre numa parceria. O outro lo Freire (1983) que consiste em:
está sempre implícito no brincar. O outro é cena básica O educando recebe passivamente os conhecimentos,
da fantasia. tornando-se um depósito do educador. Educa-se para
Nesse sentido, conforme apresentam os PCN´s (1997), arquivar o que se deposita. Mas o curioso é que o arqui-
os jogos e as brincadeiras, competitivas ou não, são con- vado é o próprio homem, que perde assim seu poder de
textos de socialização significativa em que o aluno preci- criar, se faz menos homem, é uma peça.
sa respeitar o outro enquanto parceiro e não adversário. O educador consciente de seu compromisso social
É a oportunidade de ter diferentes problemas para resol- e que trabalha numa escola cuja concepção de ensino
ver no coletivo por meio da comunicação e cooperação, priorizada é a emancipatória, planejará situações lúdicas
aprendendo a respeitar a diversidade de opiniões surgi- em que a criança vivenciará experiências de construção
das num momento lúdico. e reconstrução de saberes existentes no seu mundo real,
Nos últimos anos, a área da medicina que estuda o além de significativas interações sociais. Desse modo, a
sistema nervoso, chamada de neurociência, tem contri- criança aprende brincando, de forma prazerosa. Pode-se
buído no que se referem às pesquisas científicas sobre dizer que o lúdico, na sua essência, faz toda diferença
o que acontece quando o cérebro está em contato com no planejamento de ensino, possibilitando momentos de
novas informações. Segundo Gentile (2005): problematização e reflexão crítica do conhecimento.
Situações emocionantes, como jogos e brincadeiras,
ativam o sistema límbico, parte do cérebro responsável Referência:
pelas emoções. Ocorre então a liberação de neurotrans- MORAES, V.; ALMEIDA, M. S.; SILVA, A. X. da; ALMEI-
missores. Com isso, os circuitos cerebrais ficam mais DA, B. C. de; FURTADO, J. L.; BARBOSA, R. V. C. A ludicida-
rápidos, facilitando a armazenagem de informações e o de no processo ensino-aprendizagem. Corpus et Scien-
resgate das que estão guardadas. tia, vol. 5, n. 2, p.5-17, setembro 2009.
Nesse processo, essas atividades facilitam a aquisição
do conhecimento formal, pois de acordo com Jean Piaget
(1978) apud Spigolon (2006), os jogos não são apenas
uma forma de entretenimento para gastar as energias
EXERCÍCIO COMENTADO
das crianças, mas meios que enriquecem e contribuem
para o desenvolvimento intelectual. Enfocar a brincadeira
é permitir esse desenvolvimento, e o jogo é um método 1. (SESC/PE- Professor I- Educação Infantil- UPE-
lúdico que favorece a assimilação de realidades intelec- NET/2017) No Referencial Curricular Nacional para a
tuais exteriores à inteligência infantil. Educação Infantil (1998) - Formação Pessoal e Social,
Piaget apud Freire (1997) analisando o jogo a partir além da imitação e do faz-de-conta, qual é o outro recur-
de suas estruturas classificou-o em: de exercício, de sím- so fundamental no processo de construção do sujeito?
bolo, de construção e de regra. O de exercício é caracte-
rístico das crianças do período sensoriomotor, isto é, as a) A oposição.
que ainda não estruturaram as representações mentais b) A obediência.
que caracterizam o pensamento. A atividade lúdica re- c) A sujeição.
fere-se ao movimento corporal sem verbalização e não d) A heteronomia.
tem outra finalidade que não o próprio prazer do fun- e) A dedicação.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

cionamento; o de símbolo exerce papel semelhante ao


do jogo de exercício, acrescentando um espaço onde Resposta: Letra A. Opor-se, significa, em certo sen-
se podem resolver conflitos e realizar desejos que não tido, diferenciar-se do outro, afirmar o seu ponto de
foram possíveis em situações não-lúdicas. Ou seja, é o vista, os seus desejos. Vários são os contextos em que
faz-de-conta, a fantasia; o jogo de construção estabelece tal conduta pode ocorrer, sua intensidade depende de
uma espécie de transição entre o jogo simbólico e o jogo vários fatores, tais como características pessoais, grau
social. Por fim, o jogo social é marcado pela atividade co- de liberdade oferecido pelo meio, momento específi-
letiva de intensificar trocas e a consideração pelas regras. co do desenvolvimento pessoal em que se encontra.
A ação educativa numa abordagem lúdica pode tra- É comum haver fases em que a oposição é mais in-
balhar a busca do êxito em múltiplas tentativas-erro, a tensa, ocorrendo de forma sistemática e concentrada.
persistência e a segurança de que o erro faz parte do A observação das interações infantis sugere que são

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diversos os temas de oposição, os quais tendem a mu- Essas significações atribuídas ao brincar transfor-
dar com a idade — por exemplo, disputa por um mesmo mam-no em um espaço singular de constituição infantil.
brinquedo, briga por causa de um lugar específico, de- Nas brincadeiras, as crianças transformam os conhe-
sentendimento por causa de uma ideia ou sugestão etc. cimentos que já possuíam anteriormente em conceitos
Embora seja de difícil administração por parte do adulto, gerais com os quais brinca. Por exemplo, para assumir
é bom ter em vista que esses momentos desempenham um determinado papel numa brincadeira, a criança deve
um papel importante na diferenciação e afirmação do eu. conhecer alguma de suas características.
Seus conhecimentos provêm da imitação de alguém
ou de algo conhecido, de uma experiência vivida na fa-
mília ou em outros ambientes, do relato de um colega ou
de um adulto, de cenas assistidas na televisão, no cinema
ou narradas em livros etc. A fonte de seus conhecimen-
A ARTE NA ESCOLA: DESENHO, TEATRO, MÚ-
tos é múltipla, mas estes encontram-se, ainda, fragmen-
SICA, PINTURA tados. É no ato de brincar que a criança estabelece os
diferentes vínculos entre as características do papel assu-
mido, suas competências e as relações que possuem com
A BRINCADEIRA E O DESENVOLVIMENTO DA IMA- outros papéis, tomando consciência disto e generalizan-
GINAÇÃO E DA CRIATIVIDADE do para outras situações.
Para brincar é preciso que as crianças tenham certa
A brincadeira na educação infantil nas perspecti- independência para escolher seus companheiros e os
vas psicossociais, educacionais e lúdicas; papéis que irão assumir no interior de um determinado
tema e enredo, cujos desenvolvimentos dependem uni-
Para que as crianças possam exercer sua capacidade camente da vontade de quem brinca.
de criar é imprescindível que haja riqueza e diversidade Pela oportunidade de vivenciar brincadeiras imagi-
nas experiências que lhes são oferecidas nas instituições, nativas e criadas por elas mesmas, as crianças podem
sejam elas mais voltadas às brincadeiras ou às aprendi- acionar seus pensamentos para a resolução de proble-
zagens que ocorrem por meio de uma intervenção direta. mas que lhe são importantes e significativos. Propician-
A brincadeira é uma linguagem infantil que mantém do a brincadeira, portanto, cria-se um espaço no qual
um vínculo essencial com aquilo que é o “não-brincar”. as crianças podem experimentar o mundo e internalizar
Se a brincadeira é uma ação que ocorre no plano da uma compreensão particular sobre as pessoas, os senti-
imaginação isto implica que aquele que brinca tenha o mentos e os diversos conhecimentos.
domínio da linguagem simbólica. Isto quer dizer que é O brincar apresenta-se por meio de várias categorias
preciso haver consciência da diferença existente entre de experiências que são diferenciadas pelo uso do mate-
a brincadeira e a realidade imediata que lhe forneceu rial ou dos recursos predominantemente implicados. Es-
conteúdo para realizar-se. Nesse sentido, para brincar é sas categorias incluem: o movimento e as mudanças da
preciso apropriar-se de elementos da realidade imediata percepção resultantes essencialmente da mobilidade físi-
de tal forma a atribuir-lhes novos significados. Essa pe- ca das crianças; a relação com os objetos e suas proprie-
culiaridade da brincadeira ocorre por meio da articula- dades físicas assim como a combinação e associação en-
ção entre a imaginação e a imitação da realidade. Toda tre eles; a linguagem oral e gestual que oferecem vários
brincadeira é uma imitação transformada, no plano das níveis de organização a serem utilizados para brincar; os
emoções e das ideias, de uma realidade anteriormente conteúdos sociais, como papéis, situações, valores e ati-
vivenciada. tudes que se referem à forma como o universo social se
Isso significa que uma criança que, por exemplo, bate
constrói; e, finalmente, os limites definidos pelas regras,
ritmicamente com os pés no chão e imagina-se caval-
constituindo-se em um recurso fundamental para brin-
gando um cavalo, está orientando sua ação pelo signi-
car. Estas categorias de experiências podem ser agrupa-
ficado da situação e por uma atitude mental e não so-
das em três modalidades básicas, quais sejam, brincar de
mente pela percepção imediata dos objetos e situações.
faz-de-conta ou com papéis, considerada como atividade
No ato de brincar, os sinais, os gestos, os objetos e os
fundamental da qual se originam todas as outras; brincar
espaços valem e significam outra coisa daquilo que apa-
com materiais de construção e brincar com regras.
rentam ser. Ao brincar as crianças recriam e repensam
os acontecimentos que lhes deram origem, sabendo que As brincadeiras de faz-de-conta, os jogos de cons-
estão brincando. trução e aqueles que possuem regras, como os jogos de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O principal indicador da brincadeira, entre as crianças, sociedade (também chamados de jogos de tabuleiro),
é o papel que assumem enquanto brincam. Ao adotar jogos tradicionais, didáticos, corporais etc., propiciam a
outros papéis na brincadeira, as crianças agem frente à ampliação dos conhecimentos infantis por meio da ati-
realidade de maneira não-literal, transferindo e substi- vidade lúdica.
tuindo suas ações cotidianas pelas ações e características É o adulto, na figura do professor, portanto, que, na
do papel assumido, utilizando-se de objetos substitutos. instituição infantil, ajuda a estruturar o campo das brinca-
A brincadeira favorece a autoestima das crianças, au- deiras na vida das crianças. Consequentemente é ele que
xiliando-as a superar progressivamente suas aquisições organiza sua base estrutural, por meio da oferta de deter-
de forma criativa. Brincar contribui, assim, para a interio- minados objetos, fantasias, brinquedos ou jogos, da deli-
rização de determinados modelos de adulto, no âmbito mitação e arranjo dos espaços e do tempo para brincar.
de grupos sociais diversos.

8
Por meio das brincadeiras os professores podem ob- Imitação
servar e constituir uma visão dos processos de desen-
volvimento das crianças em conjunto e de cada uma em A percepção e a compreensão da complementarida-
particular, registrando suas capacidades de uso das lin- de presente nos atos e papéis envolvidos nas interações
guagens, assim como de suas capacidades sociais e dos sociais é um aspecto importante do processo de diferen-
recursos afetivos e emocionais que dispõem. ciação entre o eu e o outro. O exercício da complementa-
A intervenção intencional baseada na observação das ridade está presente, por exemplo, nos jogos de imitação
brincadeiras das crianças, oferecendo-lhes material ade- típico das crianças.
quado, assim como um espaço estruturado para brincar É visível o esforço das crianças, desde muito peque-
permite o enriquecimento das competências imaginati- nas, em reproduzir gestos, expressões faciais e sons pro-
vas, criativas e organizacionais infantis. Cabe ao profes- duzidos pelas pessoas com as quais convivem. Imitam
sor organizar situações para que as brincadeiras ocor- também animais domésticos, objetos em movimento etc.
ram de maneira diversificada para propiciar às crianças a Na fase dos dois aos três anos a imitação entre crianças
possibilidade de escolherem os temas, papéis, objetos e pode ser uma forma privilegiada de comunicação e para
companheiros com quem brincar ou os jogos de regras brincar com outras crianças. A oferta de múltiplos brin-
e de construção, e assim elaborarem de forma pessoal e quedos do mesmo tipo facilita essa interação.
independente suas emoções, sentimentos, conhecimen- A imitação é resultado da capacidade de a criança ob-
tos e regras sociais. servar e aprender com os outros e de seu desejo de se
É preciso que o professor tenha consciência que na identificar com eles, ser aceita e de diferenciar-se. É en-
brincadeira as crianças recriam e estabilizam aquilo que tendida aqui como reconstrução interna e não meramen-
sabem sobre as mais diversas esferas do conhecimen- te uma cópia ou repetição mecânica. As crianças tendem
to, em uma atividade espontânea e imaginativa. Nessa a observar, de início, as ações mais simples e mais pró-
perspectiva não se deve confundir situações nas quais ximas à sua compreensão, especialmente aquelas apre-
se objetiva determinadas aprendizagens relativas a con- sentadas por gestos ou cenas atrativas ou por pessoas de
seu círculo afetivo. A observação é uma das capacidades
ceitos, procedimentos ou atitudes explícitas com aquelas
humanas que auxiliam as crianças a construírem um pro-
nas quais os conhecimentos são experimentados de uma
cesso de diferenciação dos outros e consequentemente
maneira espontânea e destituída de objetivos imediatos
sua identidade.
pelas crianças. Pode-se, entretanto, utilizar os jogos, espe-
cialmente aqueles que possuem regras, como atividades
Brincar
didáticas. É preciso, porém, que o professor tenha cons-
ciência que as crianças não estarão brincando livremente
Brincar é uma das atividades fundamentais para o
nestas situações, pois há objetivos didáticos em questão. desenvolvimento da identidade e da autonomia. O fato
de a criança, desde muito cedo, poder se comunicar por
Referência: meio de gestos, sons e mais tarde representar determi-
Brasil. Ministério da Educação e do Desporto. Secre- nado papel na brincadeira faz com que ela desenvolva
taria de Educação Fundamental. Referencial curricular sua imaginação. Nas brincadeiras as crianças podem de-
nacional para a educação infantil/Ministério da Educação senvolver algumas capacidades importantes, tais como a
e do Desporto, Vol. 1. Secretaria de Educação Fundamen- atenção, a imitação, a memória, a imaginação.
tal. — Brasília: MEC/SEF, 1998. Amadurecem também algumas capacidades de so-
cialização, por meio da interação e da utilização e experi-
APRENDIZAGEM DURANTE O BRINCAR mentação de regras e papéis sociais.
A diferenciação de papéis se faz presente, sobretudo
A criança é um ser social que nasce com capacidades no faz-de-conta, quando as crianças brincam como se
afetivas, emocionais e cognitivas. Tem desejo de estar fossem o pai, a mãe, o filhinho, o médico, o paciente,
próxima às pessoas e é capaz de interagir e aprender com heróis e vilões etc., imitando e recriando personagens
elas de forma que possa compreender e influenciar seu observados ou imaginados nas suas vivências.
ambiente. Ampliando suas relações sociais, interações e A fantasia e a imaginação são elementos fundamen-
formas de comunicação, as crianças sentem-se cada vez tais para que a criança aprenda mais sobre a relação en-
mais seguras para se expressar, podendo aprender, nas tre as pessoas, sobre o eu e sobre o outro.
trocas sociais, com diferentes crianças e adultos cujas No faz-de-conta, as crianças aprendem a agir em fun-
percepções e compreensões da realidade também são ção da imagem de uma pessoa, de uma personagem, de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

diversas. um objeto e de situações que não estão imediatamente


Para se desenvolver, portanto, as crianças precisam presentes e perceptíveis para elas no momento e que
aprender com os outros, por meio dos vínculos que es- evocam emoções, sentimentos e significados vivencia-
tabelece. Se as aprendizagens acontecem na interação dos em outras circunstâncias. Brincar funciona como um
com as outras pessoas, sejam elas adultos ou crianças, cenário no qual as crianças tornam-se capazes não só de
elas também dependem dos recursos de cada criança. imitar a vida como também de transformá-la. Os heróis,
Dentre os recursos que as crianças utilizam, desta- por exemplo, lutam contra seus inimigos, mas também
cam-se a imitação, o faz-de-conta, a oposição, a lingua- podem ter filhos, cozinhar e ir ao circo.
gem e a apropriação da imagem corporal. Ao brincar de faz-de-conta, as crianças buscam imi-
tar, imaginar, representar e comunicar de uma forma es-
pecífica que uma coisa pode ser outra, que uma pessoa

9
pode ser uma personagem, que uma criança pode ser Linguagem
um objeto ou um animal, que um lugar “faz-de-con-
ta” que é outro. Brincar é, assim, um espaço no qual se O uso que a criança faz da linguagem fornece vários
pode observar a coordenação das experiências prévias indícios quanto ao processo de diferenciação entre o eu
das crianças e aquilo que os objetos manipulados suge- e o outro. Por exemplo, a estabilização no uso do prono-
rem ou provocam no momento presente. Pela repetição me “eu” em substituição à forma usada pelos menores
daquilo que já conhecem, utilizando a ativação da me- que costumam referir-se a si mesmos pelo próprio nome,
mória, atualizam seus conhecimentos prévios, amplian- conjugando o verbo na terceira pessoa — “fulano quer
do-os e transformando-os por meio da criação de uma isso ou aquilo” — sugere a identificação da sua pessoa
situação imaginária nova. Brincar constitui-se, dessa for- como uma perspectiva particular e única. Por outro lado,
ma, em uma atividade interna das crianças, baseada no a própria linguagem favorece o processo de diferencia-
desenvolvimento da imaginação e na interpretação da ção, ao possibilitar formas mais objetivas e diversas de
realidade, sem ser ilusão ou mentira. Também se tornam compreender o real.
autoras de seus papéis, escolhendo, elaborando e colo- Ao mesmo tempo que enriquece as possibilidades de
cando em prática suas fantasias e conhecimentos, sem a comunicação e expressão, a linguagem representa um
intervenção direta do adulto, podendo pensar e solucio- potente veículo de socialização.
nar problemas de forma livre das pressões situacionais É na interação social que as crianças são inseridas na
da realidade imediata. linguagem, partilhando significados e sendo significadas
Quando utilizam a linguagem do faz-de-conta, as pelo outro. Cada língua carrega, em sua estrutura, um
crianças enriquecem sua identidade, porque podem ex- jeito próprio de ver e compreender o mundo, o qual se
perimentar outras formas de ser e pensar, ampliando relaciona a características de culturas e grupos sociais
suas concepções sobre as coisas e pessoas ao desempe- singulares. Ao aprender a língua materna, a criança toma
nhar vários papéis sociais ou personagens. Na brincadei- contato com esses conteúdos e concepções, construindo
ra, vivenciam concretamente a elaboração e negociação um sentido de pertinência social.
de regras de convivência, assim como a elaboração de Por meio da linguagem, o ser humano pode ter aces-
um sistema de representação dos diversos sentimentos, so a outras realidades sem passar, necessariamente, pela
das emoções e das construções humanas. Isso ocorre experiência concreta. Por exemplo, alguém que more no
porque a motivação da brincadeira é sempre individual sul do Brasil pode saber coisas sobre a floresta ou povos
e depende dos recursos emocionais de cada criança que da Amazônia sem que nunca tenha ido ao Amazonas,
são compartilhados em situações de interação social. simplesmente se baseando em relatos de viajantes, ou
Por meio da repetição de determinadas ações imagi- em livros. Com esse recurso, a criança tem acesso a mun-
nadas que se baseiam nas polaridades presença/ausên- dos distantes e imaginários. As histórias que compõem
cia, bom/mau, prazer/desprazer, passividade/ atividade, o repertório infantil tradicional são inesgotável fonte de
dentro/fora, grande/pequeno, feio/bonito etc., as crian- informações culturais, as quais somam-se a sua vivência
ças também podem internalizar e elaborar suas emoções concreta. O Saci Pererê pode ser, por exemplo, uma per-
e sentimentos, desenvolvendo um sentido próprio de sonagem cujas aventuras façam parte da vida da criança
moral e de justiça. sem que exista concretamente na realidade.

Oposição Apropriação da imagem corporal

Além da imitação e do faz-de-conta, a oposição é Conforme já estudamos no tópico anterior, a aqui-


outro recurso fundamental no processo de construção sição da consciência dos limites do próprio corpo é um
do sujeito. Opor-se, significa, em certo sentido, diferen- aspecto importante do processo de diferenciação do eu
ciar-se do outro, afirmar o seu ponto de vista, os seus e do outro e da construção da identidade.
desejos. Por meio das explorações que faz, do contato físico
Vários são os contextos em que tal conduta pode com outras pessoas, da observação daqueles com quem
ocorrer, sua intensidade depende de vários fatores, tais convive, a criança aprende sobre o mundo, sobre si mes-
como características pessoais, grau de liberdade ofereci- ma e comunica-se pela linguagem corporal.
do pelo meio, momento específico do desenvolvimento
pessoal em que se encontra. Referências:
É comum haver fases em que a oposição é mais inten- Brasil. Ministério da Educação e do Desporto. Secre-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

sa, ocorrendo de forma sistemática e concentrada. taria de Educação Fundamental. Referencial curricular
A observação das interações infantis sugere que são nacional para a educação infantil / Ministério da Educa-
diversos os temas de oposição, os quais tendem a mu- ção e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental.
dar com a idade — por exemplo, disputa por um mesmo — Brasília: MEC/SEF, 1998.
brinquedo, briga por causa de um lugar específico, de- ALFABETIZAÇÃO
sentendimento por causa de uma ideia ou sugestão etc.
Embora seja de difícil administração por parte do adulto, O processo de alfabetização tem sido um grande
é bom ter em vista que esses momentos desempenham desafio a ser enfrentado pelo professor-alfabetizador e
um papel importante na diferenciação e afirmação do eu. pela sociedade que almeja uma educação de qualidade
em nossas escolas. Uma grande quantidade de nossos
alunos tem demonstrado muita deficiência na leitura,

10
interpretação e redação de textos. Apesar da importância pesquisadores, muitas publicações importantes sobre
dos movimentos de renovação da educação, as avalia- esse assunto não conseguiram uma entrada mais efe-
ções nacionais e regionais noticiadas para todos nós evi- tiva nas ações escolares, mas tiveram algumas de suas
denciam um quadro não muito diferente do que já existia versões tomadas como referências fundamentais na
nas décadas passadas. Se antes a grande preocupação elaboração de programas nacionais e regionais, como
era a evasão escolar, hoje são as imensas dificuldades o Programa Nacional do Livro Didático e os Parâmetros
de leitura e o baixo índice de competências nas séries Curriculares Nacionais. Necessitamos compreender o
iniciais e até mesmo no ensino fundamental e médio. que está acontecendo com o processo de alfabetização
As crianças necessitam do professor-alfabetizador expe- de nossos alunos das séries iniciais. Sabe-se que eles ne-
riente e competente, que venha contribuir para a prática cessitam de mediadores do conhecimento que venham
de um ensino interativo, contextualizado e muito bem contribuir para a prática de um ensino interativo, contex-
planejado.’ tualizado e muito bem planejado. Por isso, precisamos
Assim, de posse dos conhecimentos e conteúdos ne- conhecer os métodos de alfabetização e suas respectivas
cessários, ele incentiva a compreensão e produção de características, comparar e avaliar o desempenho dos
novos conhecimentos, contribuindo na formação de se- alunos alfabetizados com métodos diferentes e analisar
res humanos capazes de gerar a construção dos saberes, a maneira que se processa a alfabetização no processo
a partir de suas reflexões e ações e da realidade que os ensino-aprendizagem.
cerca. Diante dos problemas que se enfrenta no processo Para Emília Ferreiro, “os saberes que o aluno traz
educacional, especialmente na alfabetização das séries para a escola e como eles devem ser trabalhados pelos
iniciais, depara-se com a urgência de soluções que con- professores, fazem parte da linguagem no processo de
tribuam na construção do saber. Competir e estar aber- alfabetização”. Diante disso, podemos observar que os
to a todas as possibilidades que fazem parte do apren- processos de aquisição da leitura e da língua escrita no
dizado para a vida é um direito de todos e dever dos contexto escolar devem considerar o desenvolvimento
educadores na escola e na sociedade, pois uma criança das crianças, pois este começa muito antes da escolari-
aprende por meio das relações que estabelece com seu zação. É útil se perguntar através de que tipo de práticas
ambiente. Assim acontece no processo de alfabetização a criança é introduzida na língua escrita, e como se apre-
e aquisição de novos conhecimentos. É tarefa primordial senta este objeto no contexto escolar. Há práticas que le-
do professor como mediador do conhecimento refletir vam a criança à convicção de que o conhecimento é algo
sobre a metodologia ideal que leva as crianças a com- que os outros possuem e que só se pode obter da boca
preenderem o funcionamento da língua e saber utilizá-la dos outros, sem nunca ser participante na construção do
cada vez melhor. conhecimento.
Para quem pretende assumir os riscos dessa perma- Nos dias de hoje, em que a sociedade do mundo
nente revisão sobre o processo de alfabetização, é funda- inteiro está cada vez mais centrada na escrita, ser al-
mental que não deixe de ser sensível, e também criativo e fabetizado, isto é, saber ler e escrever tem se revelado
crítico, pois há muitos aspectos específicos a considerar e condição insuficiente para responder adequadamente
não se deve supor que todas as informações necessárias às demandas da sociedade contemporânea. É preciso ir
à prática docente já estejam catalogadas e analisadas. É além da simples aquisição do código escrito e fazer uso
essencial que se continue a pesquisar e experimentar no- da leitura e da escrita no cotidiano apropriando-se da
vos caminhos. O interesse despertado pelo tema da alfa- função social dessas duas práticas.
betização vem produzindo um aumento significativo de Enfim, é preciso letrar-se, isto é, buscar por meio de
pesquisas, seminários, livros, artigos e teses. Isso mostra pesquisas e cursos de formação, as ações pedagógicas
que é preciso renunciar à ideia de que já sabemos tudo de reorganização do ensino e reformulação dos modos
e podemos fazer tudo, ou não sabemos nada e nada po- de ensinar e fazê-las acontecer na prática em sala de
demos fazer. De acordo com as valiosas experiências de aula. Segundo a professora Magda Becker Soares, “letrar
educadores que fizeram diferença é mais que alfabetizar”. Portanto, competir e estar aberto
Em nossa sociedade, entende-se que se faz neces- a todas as possibilidades que fazem parte do aprendiza-
sário aceitar a frustração e deve-se perder o medo do do para a vida são quesitos essenciais na formação esco-
fracasso e do desconhecido. Conhecendo de perto os lar, pois uma criança aprende por meio das relações que
métodos de alfabetização e suas respectivas característi- estabelece com seu ambiente.
cas, comparando e avaliando o desempenho dos alunos Assim acontece no processo de alfabetização e aqui-
alfabetizados com métodos diferentes, e também ana- sição de novos conhecimentos. A cada momento, multi-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

lisando a maneira que se processa a alfabetização nas plicam-se as demandas por práticas de leitura e de es-
séries iniciais, pode-se definir com mais clareza porque crita, não só no papel, mas também através dos meios
acontece a defasagem na leitura, na escrita e na inter- eletrônicos. Se uma criança sabe ler, mas não é capaz de
pretação textual que estão presentes em muitos alunos. ler um livro, uma revista ou um jornal e se sabe escrever
Alfabetização em processo palavras e frases, mas não é capaz de escrever uma carta,
ela é alfabetizada, mas não é letrada. Desde os tempos
Muito se tem falado a respeito do fracasso da alfabe- do Brasil Colônia, e até muito recentemente, o proble-
tização em grande parte das nossas escolas. Verificando ma que enfrentávamos em relação à cultura escrita era o
o resultado das avaliações nacionais podemos compro- analfabetismo. Esse problema foi relativamente superado
var os sérios problemas de aprendizagem existentes em nas últimas décadas, ou seja, foi vencido de forma pelo
grande parte das escolas de nosso país. Segundo alguns menos razoável. É necessário, portanto, não desmerecer

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a importância de ensinar a ler e a escrever, reconhecendo que se aprende lendo. O professor lê textos para
que isso não basta. Mas isso não quer dizer que os dois os alunos que o acompanham, assim se familia-
processos, alfabetização e letramento sejam processos rizando com a linguagem escrita, para posterior-
distintos; na verdade, não se distinguem, deve-se alfabe- mente aprender palavras, em seguida as sílabas e
tizar letrando. Alfabetização e letramento se somam. Ou depois as letras.
melhor, a alfabetização é um componente do letramento. - O Método Alfabético faz com que os alunos primei-
Analisando as experiências de Eglê Pontes Franchi, pro- ro identifiquem as letras pelos nomes, depois so-
fessora e pesquisadora, autora recomendada pelo Pro- letrem as sílabas e, em seguida, as palavras antes
fessor Paulo Freire, conhecida por sua experiência com a de lerem sentenças curtas e, finalmente, histórias.
alfabetização de crianças e também com a formação de Quando os alunos encontram palavras desconhe-
professores, compreendemos melhor o processo de al- cidas, as soletram até decodificá-las. O Analítico
fabetizar. Como muitos educadores, ela verificou na prá- parte de uma visão global para depois deter-se
tica, como age na sociedade acriança que é alfabetizada nos detalhes, e o Sintético começa a ensinar por
com a utilização de tudo o que ela já conhece e como partes ou elementos das palavras, tais como letras,
isso se reflete na vida familiar e social na qual ela convive. sons ou sílabas, para depois combiná-los em pala-
Os alfabetizandos, enquanto operam sobre a desco- vras. A ênfase é a correspondência som-símbolo. A
berta das letras, das sílabas e das palavras iniciais de seu orientação dos Parâmetros Curriculares Nacionais
vocabulário escrito, já dominam amplamente a lingua- enfatiza que é necessário se fazer um diagnóstico
gem rica e variada de que se servem na conversação e prévio do aluno antes de optar por qualquer mé-
no diálogo. Por isso é que a alfabetização deve anco- todo. Algumas crianças entram na primeira série
rar-se na linguagem que as crianças dominam e nascer sabendo ler. O professor lê textos em voz alta e é
com fortes marcas da oralidade. “Trata-se de considerar acompanhado pela classe. Os alunos são estimu-
a prática oral das crianças como o contexto em que as lados a copiar textos com base em uma situação
primeiras palavras e as primeiras frases escritas ganham social pré-existente. A leitura em voz alta por parte
naturalidade”. dos estudantes é substituída por encenações de si-
tuações que foram lidas ou desenhos que ilustram
Métodos e técnicas de alfabetização os trechos lidos.

Nas últimas décadas assistiu-se a um abandono na As crianças aprendem a escrever em letra de forma
discussão sobre a eficácia de processos e métodos de e a consciência fônica é uma consequência. Com base
alfabetização, que passaram a ser identificados como nas pesquisas e experiências de Emília Ferreiro, podemos
propostas tradicionais, e passou-se a discutir e analisar discutir e analisar que a prática alfabetizadora tem se
uma abordagem construtivista de grande impacto con- centrado na polêmica sobre os métodos utilizados. Po-
ceitual nessa área. Assim, valorizar o diagnóstico dos co- rém, nenhuma dessas discussões levou em conta o co-
nhecimentos prévios dos alunos e a análise de seus erros nhecimento que as crianças já apresentam antes mesmo
como indicadores construtivos do processo de aprendi- do início da escolarização. Se aceitarmos que a criança
zagem, como também inserir a criança em práticas so- não é uma tábua rasa onde se inscrevem as letras e as
ciais que envolvem a escrita e a leitura, é a realização efe- palavras segundo determinado método; se aceitarmos
tiva de práticas docentes que defendem uma educação que o “fácil” e o “difícil” não podem ser definidos a partir
de qualidade e que preparam o ser humano para a vida. da perspectiva do adulto, mas da de quem aprende; se
Para Sanz “método é a palavra grega para perseguição e aceitarmos que qualquer informação deve ser assimilada,
prosseguimento, com o sentido de esforço para alcançar e portanto transformada, para ser operante, então deve-
um fim, investigação. O que nos permite compreendê-lo ríamos também aceitar que os métodos (como conse-
como caminho para atingir um resultado”. Ele ainda diz quência de passos ordenados para chegar a um fim) não
que “o método, como estratégia, e a técnica, como tática, oferecem mais do que sugestões, incitações, quando não
formam um par nobre”. Desta forma, é essencial que se práticas rituais ou conjunto de proibições.
conheça um pouco mais sobre os métodos utilizados pe- O método não pode criar conhecimento. Tendo em
los alfabetizadores, como também as pesquisas e expe- conta a complexidade da realidade brasileira, pode-se
riências de quem já têm uma larga trajetória nessa área, observar que já aconteceram muitas coisas para viabili-
a fim de analisar com cuidado o que se deve buscar para zar melhorias em todos os setores do processo ensino-
alfabetizar nossas crianças. -aprendizagem, principalmente nas escolas públicas, que
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

- O Método Fônico enfatiza as relações símbolo-som, necessitam de maior atenção na alfabetização das séries
sendo que na linha sintética o aluno conhece os iniciais. Muitas mudanças em relação à escolarização
sons representados pelas letras e combina esses vêm ocorrendo e mais crianças em idade escolar estão
sons para pronunciar palavras e, na linha analíti- nas salas de aula. Esse é o primeiro passo. Em seguida
ca o aluno antes aprende uma série de palavras e vem o desafio da qualidade da aprendizagem. As mu-
depois parte para a associação entre o som e as danças têm se revelado muito lentas, pois convivemos
partes das palavras. Principalmente com sistemas educativos municipais
- O Método da Linguagem Total defende que os siste- e estaduais que tornam ainda mais difícil a ocorrência
mas linguísticos estão interligados e que a relação de evoluções e transformações no processo educacio-
entre imagens e sons deve ser evitada. Neste, são nal. Dentre as várias mudanças que ocorreram estão o
apresentados textos inteiros, porque acredita-se incentivo à formação continuada dos profissionais da

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educação e a implantação do Ensino Fundamental de linguagem é significativa para elas, da mesma forma o
nove anos. Este, aprovado em fevereiro de 2006, com uso constante e significativo da linguagem escrita possi-
base na Lei 11.274/2006, que incentiva nove anos de es- bilita e enriquece o seu processo de alfabetização.
colaridade obrigatória, com a inclusão das crianças de
seis anos. Ressalte-se que o ingresso da criança de seis A linguagem oral no processo de alfabetização
anos no ensino fundamental não pode constituir uma
medida meramente administrativa. A linguagem oral que abrange a fala, a escuta e a
É preciso atenção ao processo de desenvolvimento e compreensão acompanha todas as interações estabele-
aprendizagem das crianças, o que implica conhecimento cidas pelas crianças em suas práticas sociais. É assim que
e respeito às suas características etárias, sociais, psico- meninos e meninas se apropriam da cultura escolar, des-
lógicas e cognitivas. Não foi de um momento para ou- de o ingresso na instituição. É também por meio da fala
tro que essas transformações ocorreram, e nem foi pela que as crianças adentram na escola, levando consigo as
vontade de um único legislador ou de um determinado marcas de sua classe social, de sua origem e identidade
governo que as mudanças se processaram. Todo esse cultural, constituída por conhecimentos, crenças e valo-
processo vem acontecendo com base em muita pesqui- res. Trazem, portanto, a variedade linguística do grupo
sa e dedicação de profissionais que convivem nessa so- social a que pertencem.
ciedade tão carente de educação. Tanto as crianças das Nesse sentido, é importante lembrar que a popula-
camadas favorecidas quanto as das camadas populares ção brasileira fala de diferentes formas, em função dos
convivem diariamente com práticas de leitura e escrita, espaços geográficos que ocupa, da classe social, da ida-
ou seja, vivem em ambientes de letramento. A diferença de e do gênero a que pertence. Analisadas do ponto de
é que as crianças das classes mais favorecidas têm um vista linguístico, todas essas variedades são legítimas e
convívio frequente e mais intenso com material escrito corretas, já que não temos uma gramática normativa da
e com práticas de leitura e de escrita. Diante dessa rea- linguagem oral como a que existe para a linguagem es-
lidade é necessário propiciar igualmente, a todas elas, o crita. A escola, incorporando esse comportamento pre-
acesso ao letramento num processo que prossiga por conceituoso da sociedade em geral, também rotula seus
toda a vida. A formação continuada do professor vai alunos pelos modos diferentes de falar. (...) Em outras
muito além dos saberes teóricos em sala de aula. O co- palavras, um se torna o aluno “certinho” porque é falan-
nhecimento das questões históricas, sociais e culturais te do dialeto de prestígio, o outro é um aluno carente
que envolvem a prática educacional, o desenvolvimento (“burro”) porque é falante de um dialeto estigmatizado
dos alunos nos aspectos afetivo, cognitivo e social, bem pela sociedade.
como a reflexão crítica sobre o seu papel diante dos alu- Para que a escola possa efetivamente contribuir para
nos e da sociedade, são elementos indispensáveis no a continuidade do processo de aprendizagem das crian-
processo de alfabetização. ças e, ao mesmo tempo, considerar alguns paradigmas da
educação brasileira, como a inclusão e o reconhecimento à
A linguagem escrita no processo de alfabetização diversidade, é necessário livrar-se de preconceitos relativos
à fala das camadas populares e acolher as crianças com
Por tudo o que foi analisado e refletido até aqui deve toda a bagagem cultural que trazem para a escola.
ter ficado claro que o trabalho do professor-alfabeti-
zador no primeiro ano de escolaridade obrigatória não Fonte
deve significar a antecipação da aprendizagem da leitura FASSBINDER, I., FASSBINDER, P., LEITE, R. C. e LOVI-
e da escrita pelas crianças, e muito menos a aceleração SON, C. C..
desse processo. Mesmo sabendo que elas estão cons-
truindo a linguagem da escrita O CURRÍCULO E A PEDAGOGIA DA BRINCADEIRA;
Entre as suas múltiplas linguagens, essa não é a única
maneira de a criança partilhar significados e se inserir na De acordo com o documento Critérios para um Aten-
cultura e deve ser ensinada no contexto das demais lin- dimento em Creches que Respeite os Direitos Fundamen-
guagens. Muito antes de serem capazes de ler, no senti- tais das Crianças, a brincadeira consta como direito ga-
do convencional do termo, as crianças tentam interpretar rantido e, assim se coloca abaixo:
os diversos textos que encontram ao seu redor (livros,
embalagens comerciais, cartazes de rua), títulos (anún- Têm direito à brincadeira
cios de televisão, estórias em quadrinhos, etc.).
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Letramento seria é o estado ou a condição de quem - O orçamento para creches prevê a compra e reposi-
não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva as práticas ção de brinquedos, material para expressão artísti-
sociais que usam a escrita. Seria, portanto, o uso compe- ca e livros em quantidade e qualidade satisfatórias
tente da tecnologia da escrita nas situações de leitura e para o número de crianças e as faixas etárias
produção de textos reais, com sentido e significado para - Os brinquedos, os materiais e os livros são conside-
quem lê e escreve. As crianças descobrem sobre a língua rados como instrumento do direito à brincadeira e
escrita antes de aprender a ler. Essa afirmativa se baseia não como um presente excepcional
em estudos nos quais estabelece comparação entre a - A construção das creches prevê a possibilidade de
aquisição da linguagem oral e da linguagem escrita. As- brincadeiras em espaço interno e externo
sim como as crianças adquirem a linguagem oral quan- - As creches dispõem de número de educadores com-
do envolvida sem contextos comunicativos em que essa patível com a promoção de brincadeiras interativas

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- Os prédios das creches dispõem de mobiliário que facili- para que as crianças modifiquem e atualizem suas brin-
te o uso, a organização e conservação dos brinquedos cadeiras em função das necessidades de cada enredo.
- A formação prévia e em serviço reconhece a impor- Nesse espaço pode ser afixado um espelho de corpo
tância da brincadeira e da literatura infantil para o inteiro, de maneira a que as crianças possam reconhe-
desenvolvimento da criança cer-se, imitar-se, olhar-se, admirar-se. Pode-se, ainda,
- A programação para as creches reconhece e incor- agregar um pequeno baú de objetos e brinquedos úteis
pora o direito das crianças à brincadeira para o faz-de-conta, que pode ser complementado por
um cabideiro contendo roupas velhas de adultos ou fan-
Jogos e brincadeiras tasias. Fundamentais, também, são os materiais e aces-
sórios para a casinha, tais como uma pequena cama, um
Alguns jogos e brincadeiras de parque ou quintal, en- fogão confeccionado com uma velha caixa de papelão,
volvendo o reconhecimento do próprio corpo, o do ou- louças, utensílios variados etc. É importante, porém, que
tro e a imitação, podem se transformar em atividades da esses materiais estejam organizados segundo uma lógi-
rotina. Bons exemplos são “Siga o Mestre” e “Seu Lobo”, ca; por exemplo, que as maquiagens estejam perto do
porque propõem a percepção e identificação de partes espelho e não dentro do fogão, de maneira a facilitar as
do corpo e a imitação de movimentos. ações simbólicas das crianças.
Podem ser planejadas articulações com outros eixos No entanto, esse espaço poderá transformar-se em
de trabalho, como, por exemplo, pedir que as crianças um “elefante branco” na sala, caso não seja utilizado,
modelem parte do corpo em massa ou argila, tendo o arrumado e mantido diariamente por crianças e pro-
próprio corpo ou o do outro como modelo. Essa pos- fessores. Não se pode esquecer, porém, que apesar da
sibilidade pode ser aprofundada, se forem pesquisadas existência do espaço, ao brincar, as crianças se espalham
também obras de arte em que partes do corpo foram e espalham brinquedos e objetos pela sala, usam mobi-
retratadas ou esculpidas. É importante lembrar que neste liário e o espaço externo.
tipo de trabalho não há necessidade de se estabelecer É recomendável que isso ocorra, e, na medida em que
uma hierarquia prévia entre as partes do corpo que se- crescem, as crianças poderão organizar de forma mais
rão trabalhadas. Pensar que para a criança “é mais fácil” independente seu espaço de brincar. Sempre auxiliadas
começar a perceber o próprio corpo pela cabeça, depois pelo professor e rearrumando o material depois de brin-
pelo tronco e por fim pelos membros, por exemplo, pode car, as crianças podem transformar a sala e o significado
não corresponder à sua experiência real. Nesse sentido, dos objetos cotidianos enriquecendo sua imaginação.
o professor precisa estar bastante atento aos conheci- Nesse sentido, brincar deve se constituir em atividade
mentos prévios das crianças acerca de si mesmas e de permanente e sua constância dependerá dos interesses
sua corporeidade. que as crianças apresentam nas diferentes faixas etárias.
Outra orientação de atividades tem a ver com o re- Ainda com relação ao faz-de-conta, o professor po-
conhecimento dos sinais vitais e de sua alteração, como derá organizar situações nas quais as crianças conversem
a respiração, os batimentos cardíacos, como também de sobre suas brincadeiras, lembrem-se dos papéis assumi-
sensações de prazer ou desprazer que qualquer ativida- dos por si e pelos colegas, dos materiais e brinquedos
de física pode proporcionar. Ouvir esses sinais, refletir, usados, assim como do enredo e da sequência de ações.
conversar sobre o que acontece quando se corre, ou se Nesses momentos, lembrar-se sobre o que, com quem
rola, ou se massageia um ao outro; pedir às crianças que e com o que brincaram poderá ajudar as crianças a or-
registrem essas ideias utilizando desenhos ou outras lin- ganizarem seu pensamento e emoções, criando condi-
guagens pode garantir que continuem a entender e se ções para o enriquecimento do brincar. Nessas situações,
expressar pelo movimento de forma harmoniosa. podem-se explicitar, também, as dificuldades que cada
criança tem com relação a brincar, caso desejem, e a ne-
Jogos e brincadeiras – Papel do professor cessidade que tem da ajuda do adulto.

Responder como e quando o professor deve inter- Referências:


vir nas brincadeiras de faz-de-conta é, aparentemente, Critérios para um atendimento em creches que res-
contraditório com o caráter imaginativo e de linguagem peite os direitos fundamentais das crianças. Disponível
independente que o brincar compreende. Porém, há al- em: http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/direitosfun-
guns meios a que o professor pode recorrer para promo- damentais.pdf
ver e enriquecer as condições oferecidas para as crianças REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDU-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

brincarem que podem ser observadas. CAÇÃO INFANTIL /Ministério da Educação e do Des-
Para que o faz-de-conta torne-se, de fato, uma práti- porto, Secretaria de Educação Fundamental. — Brasília:
ca cotidiana entre as crianças é preciso que se organize MEC/SEF, 1998.
na sala um espaço para essa atividade, separado por uma
cortina, biombo ou outro recurso qualquer, no qual as O DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM ORAL
crianças poderão se esconder, fantasiar-se, brincar, sozi-
nhas ou em grupos, de casinha, construir uma nave es- O domínio da linguagem surge do seu uso em múl-
pacial ou um trem etc. tiplas circunstâncias, nas quais as crianças podem perce-
Nesse espaço, pode-se deixar à disposição das crian- ber a função social que ela exerce e assim desenvolver
ças panos coloridos, grandes e pequenos, grossos e fi- diferentes capacidades.
nos, opacos e transparentes; cordas; caixas de papelão

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Por muito tempo prevaleceu, nos meios educacionais, O ato de leitura é um ato cultural e social. Quando o
a ideia de que o professor teria de planejar, diariamente, professor faz uma seleção prévia da história que irá con-
novas atividades, não sendo necessário estabelecer uma tar para as crianças, independentemente da idade delas,
relação e continuidade entre elas. No entanto, a apren- dando atenção para a inteligibilidade e riqueza do tex-
dizagem pressupõe uma combinação entre atividades to, para a nitidez e beleza das ilustrações, ele permite às
inéditas e outras que se repetem. Dessa forma, a organi- crianças construírem um sentimento de curiosidade pelo
zação dos conteúdos de Linguagem Oral e Escrita deve livro (ou revista, gibi etc.) e pela escrita. A importância
se subordinar a critérios que possibilitem, ao mesmo dos livros e demais portadores de textos é incorporada
tempo, a continuidade em relação às propostas didáticas pelas crianças, também, quando o professor organiza o
e ao trabalho desenvolvido nas diferentes faixas etárias, ambiente de tal forma que haja um local especial para
e a diversidade de situações didáticas em um nível cres- livros, gibis, revistas etc. que seja aconchegante e no
cente de desafios. qual as crianças possam manipulá-los e “lê-los” seja em
A oralidade, a leitura e a escrita devem ser trabalhadas momentos organizados ou espontaneamente. Deixar as
de forma integrada e complementar, potencializando-se crianças levarem um livro para casa, para ser lido junto
os diferentes aspectos que cada uma dessas linguagens com seus familiares, é um fato que deve ser considera-
solicita das crianças. Neste documento, os conteúdos do. As crianças, desde muito pequenas, podem construir
são apresentados em um único bloco para as crianças uma relação prazerosa com a leitura. Compartilhar essas
de zero a três anos, considerando-se a especificidade da descobertas com seus familiares é um fator positivo nas
faixa etária. Para as crianças de quatro a seis anos, os aprendizagens das crianças, dando um sentido mais am-
conteúdos são apresentados em três blocos: “Falar e es- plo para a leitura.
cutar”, “Práticas de leitura” e “Práticas de escrita”. Considerando-se que o contato com o maior número
possível de situações comunicativas e expressivas resul-
Crianças de zero a três anos ta no desenvolvimento das capacidades linguísticas das
crianças, uma das tarefas da educação infantil é ampliar,
integrar e ser continente da fala das crianças em con-
Orientações didáticas
textos comunicativos para que ela se torne competente
como falante. Isso significa que o professor deve ampliar
A aprendizagem da fala se dá de forma privilegiada
as condições da criança de manter-se no próprio texto
por meio das interações que a criança estabelece desde
falado. Para tanto, deve escutar a fala da criança, deixan-
que nasce. As diversas situações cotidianas nas quais os
do-se envolver por ela, ressignificando-a e resgatando-a
adultos falam com a criança ou perto dela configuram
sempre que necessário.
uma situação rica que permite à criança conhecer e apro-
Em uma roda de conversa, por exemplo, a professora
priar-se do universo discursivo e dos diversos contextos pediu que uma criança relatasse o motivo de suas faltas,
nos quais a linguagem oral é produzida. As conversas explicitada pelo seguinte diálogo:
com o bebê nos momentos de banho, de alimentação, Criança: Porque sim.
de troca de fraldas são exemplos dessas situações. Nes- Professor: Porque sim não é resposta. (Ri.)
ses momentos, o significado que o adulto atribui ao seu Criança: Eu “tava” doente.
esforço de comunicação fornece elementos para que ele Professor: Você faltou então porque estava doente? E
possa, aos poucos, perceber a função comunicativa da que doença você teve? Você sabe?
fala e desenvolver sua capacidade de falar. (Criança faz que não com a cabeça.)
É importante que o professor converse com bebês e Professor: Não? Você não consegue falar pra gente
crianças, ajudando-os a se expressarem, apresentando- como era sua doença?
-lhes diversas formas de comunicar o que desejam, sen- Criança: Deu umas... era vermelho... que coçava.
tem, necessitam etc. Nessas interações, é importante que Professor: Você teve catapora, que dá umas bolinhas
o adulto utilize a sua fala de forma clara, sem infantiliza- que se coçar viram feridas, né? Alguém já ouviu falar des-
ções e sem imitar o jeito de a criança falar. sa doença? Cabe ao professor, atento e interessado, au-
A ampliação da capacidade das crianças de utilizar a xiliar na construção conjunta das falas das crianças para
fala de forma cada vez mais competente em diferentes torná-las mais completas e complexas. Ouvir atentamen-
contextos se dá na medida em que elas vivenciam ex- te o que a criança diz para ter certeza de que entendeu
periências diversificadas e ricas envolvendo os diversos o que ela falou, podendo checar com ela, por meio de
usos possíveis da linguagem oral. Portanto, eleger a lin- perguntas ou repetições, se entendeu mesmo o que ela
guagem oral como conteúdo exige o planejamento da quis dizer, ajudará a continuidade da conversa. Para as
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ação pedagógica de forma a criar situações de fala, escu- crianças muito pequenas uma palavra, como “água”,
ta e compreensão da linguagem. pode ser significada pelo adulto, dependendo da situa-
Além da conversa constante, o canto, a música e a es- ção, como: “Ah! Você quer água?”, ou “Você derrubou
cuta de histórias também propiciam o desenvolvimento água no chão”. Os professores podem funcionar como
da oralidade. A leitura pelo professor de textos escritos, apoio ao desenvolvimento verbal das crianças, sempre
em voz alta, em situações que permitem a atenção e a buscando trabalhar com a interlocução e a comunicação
escuta das crianças, seja na sala, no parque debaixo de efetiva entre os participantes da conversa.
uma árvore, antes de dormir, numa atividade específica O professor tem, também, o importante papel de
para tal fim etc., fornece às crianças um repertório rico “evocador” de lembranças. Objetos e figuras podem ser
em oralidade e em sua relação com a escrita. desencadeadores das lembranças das crianças e seu uso
pode ajudar a enriquecer a narrativa delas.

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Crianças de quatro a cinco anos A ampliação do universo discursivo das crianças tam-
bém se dá por meio do conhecimento da variedade de
Orientações didáticas textos e de manifestações culturais que expressam mo-
dos e formas próprias de ver o mundo, de viver e pen-
O trabalho com as crianças exige do professor uma sar. Músicas, poemas, histórias, bem como diferentes
escuta e atenção real às suas falas, aos seus movimentos, situações comunicativas, constituem-se num rico mate-
gestos e demais ações expressivas. A fala das crianças rial para isso. Além de propiciar a ampliação do universo
traduz seus modos próprios e particulares de pensar e cultural, o contato com a diversidade permite conhecer e
não pode ser confundida com um falar aleatório. Ao con- aprender a respeitar o diferente.
trário, cabe ao professor ajudar as crianças a explicita- Algumas crianças, porém, por diversas razões, não
rem, para si e para os demais, as relações e associações chegam a desenvolver habilidades comunicativas por
contidas em suas falas, valorizando a intenção comunica- meio da fala, como, por exemplo, crianças com deficiên-
tiva para dar continuidade aos diálogos. cia auditiva, algumas portadoras de paralisia cerebral,
A criação de um clima de confiança, respeito e afeto autistas etc. Nesses casos, a inclusão das crianças nas ati-
em que as crianças experimentam o prazer e a neces- vidades regulares favorece o desenvolvimento de várias
sidade de se comunicar apoiadas na parceria do adul- capacidades, como a sociabilidade, a comunicação, entre
to, é fundamental. Nessa perspectiva, o professor deve outras. Convém salientar que existem certos procedi-
permitir e compreender que o frequente burburinho que mentos que favorecem a aquisição de sistemas alternati-
impera entre as crianças, mais do que sinal de confusão, vos de linguagem, como a que é feita por meio de sinais,
é sinal de que estão se comunicando. Esse burburinho por exemplo, mas que requerem um conhecimento es-
cotidiano é revelador de que dialogam, perguntam e res- pecializado. Cabe ao professor da educação infantil uma
pondem sobre assuntos relativos às atividades que estão ação no cotidiano visando a integrar todas as crianças no
desenvolvendo — um desenho, a leitura de um livro etc. grupo. As crianças com problemas auditivos criam recur-
— ou apenas de que têm intenção de se comunicar. sos variados para se fazerem entender. O professor deve
Ao organizar situações de participação nas quais as também buscar diferentes possibilidades para entender
crianças possam buscar materiais, pedir informações ou e falar com elas, valorizando várias formas de expressão.
fazer solicitações a outros professores ou crianças, elabo- Além da inclusão em creches e pré-escolas regulares, as
rar avisos, pedidos ou recados a outras classes ou setores crianças portadoras de necessidades especiais deverão
da instituição etc., o professor possibilita às crianças o ter paralelamente um atendimento especializado.
uso contextualizado dos pedidos, perguntas, expressões A narrativa pode e deve ser a porta de entrada de
de cortesia e formas de iniciar conversação. Deve-se cui- toda criança para os mundos criados pela literatura. A
dar que todos tenham oportunidades de participação. criança aprende a narrar por meio de jogos de contar e
É importante planejar situações de comunicação que de histórias. Como jogos de contar entendem-se as si-
exijam diferentes graus de formalidade, como conversas, tuações em parceria com o adulto, os jogos de pergun-
exposições orais, entrevistas e não só a reprodução de tar e responder, em que o adulto, inicialmente, assume
contextos comunicativos informais. a condução dos relatos sobre acontecimentos, fatos e
Uma das formas de ampliar o universo discursivo das experiências da vida pessoal da criança. Estimulando as
crianças é propiciar que conversem bastante, em situa- perguntas e respostas, o professor propicia o estabele-
ções organizadas para tal fim, como na roda de conversa cimento da alternância dos sujeitos falantes, ajudando
ou em brincadeiras de faz-de-conta. Podem-se organizar as crianças a detalharem suas narrativas. As histórias, di-
rodas de conversa nas quais alguns assuntos sejam dis- ferentemente dos relatos, são textos previamente cons-
cutidos intencionalmente, como um projeto de constru- truídos, estão completos. As histórias estão associadas a
ção de um cenário para brincar, um passeio, a ilustração convenções, como “Era uma vez”, frase de abertura for-
de um livro etc. Pode-se, também, conversar sobre as- mal, “e foram felizes para sempre”, fecho formal. Distin-
suntos diversos, como a discussão sobre um filme visto guem-se dos relatos por se configurarem como ficção e
na TV, sobre a leitura de um livro, um acontecimento re- não como fato, como realidade; relacionam-se, portanto,
cente com uma das crianças etc. com o construído e não com o real.
A roda de conversa é o momento privilegiado de diá- Uma atividade bastante interessante para se fazer
logo e intercâmbio de ideias. Por meio desse exercício com as crianças é a elaboração de entrevistas. A entrevis-
cotidiano as crianças podem ampliar suas capacidades ta, além de possibilitar que se ressalte a transmissão oral
comunicativas, como a fluência para falar, perguntar, ex- como uma fonte de informações, propicia às crianças
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

por suas ideias, dúvidas e descobertas, ampliar seu vo- pensarem no assunto que desejam conhecer, nas pes-
cabulário e aprender a valorizar o grupo como instância soas que podem ter as informações de que necessitam
de troca e aprendizagem. A participação na roda permite e nas perguntas que deverão fazer. Para tanto, deve-se
que as crianças aprendam a olhar e a ouvir os amigos, partir dos conhecimentos prévios das crianças sobre en-
trocando experiências. Pode-se, na roda, contar fatos às trevistas para preparar um roteiro de perguntas. É preci-
crianças, descrever ações e promover uma aproximação so, também, pensar sobre a melhor forma de registrar a
com aspectos mais formais da linguagem por meio de fala dos entrevistados. Pode-se incluir essa atividade em
situações como ler e contar histórias, cantar ou entoar projetos que envolvam, por exemplo, o levantamento de
canções, declamar poesias, dizer parlendas, textos de informações junto aos pais sobre a história do nome de
brincadeiras infantis etc. cada um, sobre as histórias da comunidade etc.

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Outra atividade a ser realizada refere-se às apresen- escrito, podem localizar uma palavra ou um trecho que
tações orais ao vivo, de textos memorizados, nas quais as até o momento não sabem como se escreve convencio-
crianças reproduzem os mais diferentes gêneros, como nalmente. Podem procurar no livro a fala de alguma per-
histórias, poesias, parlendas etc., em situações que en- sonagem. Para isso, devem recordar a história para situar
volvem público (seu grupo, outras crianças da instituição, o momento no qual a personagem fala e consultar o tex-
os pais etc.), como sarau de poesias, recital de parlendas. to, procurando indícios que permitam localizar a palavra
Outra possibilidade é a preparação de fitas de áudio ou ou trecho procurado.
vídeo para a gravação de poesias, músicas, histórias etc. A leitura de histórias é um momento em que a criança
pode conhecer a forma de viver, pensar, agir e o universo
Práticas de leitura de valores, costumes e comportamentos de outras cul-
turas situadas em outros tempos e lugares que não o
Orientações didáticas seu. A partir daí ela pode estabelecer relações com a sua
forma de pensar e o modo de ser do grupo social ao qual
Práticas de leitura para as crianças têm um grande va- pertence. As instituições de educação infantil podem res-
lor em si mesmas, não sendo sempre necessárias ativida- gatar o repertório de histórias que as crianças ouvem em
des subsequentes, como o desenho dos personagens, a casa e nos ambientes que frequentam, uma vez que essas
resposta de perguntas sobre a leitura, dramatização das histórias se constituem em rica fonte de informação so-
histórias etc. Tais atividades só devem se realizar quando bre as diversas formas culturais de lidar com as emoções
fizerem sentido e como parte de um projeto mais amplo. e com as questões éticas, contribuindo na construção da
Caso contrário, pode-se oferecer uma ideia distorcida do subjetividade e da sensibilidade das crianças.
que é ler. Ter acesso à boa literatura é dispor de uma informa-
A criança que ainda não sabe ler convencionalmente ção cultural que alimenta a imaginação e desperta o pra-
pode fazê-lo por meio da escuta da leitura do professor, zer pela leitura. A intenção de fazer com que as crianças,
ainda que não possa decifrar todas e cada uma das pala- desde cedo, apreciem o momento de sentar para ouvir
vras. Ouvir um texto já é uma forma de leitura. histórias exige que o professor, como leitor, preocupe-se
É de grande importância o acesso, por meio da leitu- em lê-la com interesse, criando um ambiente agradável
ra pelo professor, a diversos tipos de materiais escritos, e convidativo à escuta atenta, mobilizando a expectativa
uma vez que isso possibilita às crianças o contato com das crianças, permitindo que elas olhem o texto e as ilus-
práticas culturais mediadas pela escrita. trações enquanto a história é lida.
Comunicar práticas de leitura permite colocar as Quem convive com crianças sabe o quanto elas gos-
crianças no papel de “leitoras”, que podem relacionar a tam de escutar a mesma história várias vezes, pelo prazer
linguagem com os textos, os gêneros e os portadores so- de reconhecê-la, de apreendê-la em seus detalhes, de
bre os quais eles se apresentam: livros, bilhetes, revistas, cobrar a mesma sequência e de antecipar as emoções
cartas, jornais etc. que teve da primeira vez. Isso evidencia que a criança
As poesias, parlendas, trava-línguas, os jogos de pa- que escuta muitas histórias pode construir um saber so-
lavras, memorizados e repetidos, possibilitam às crianças bre a linguagem escrita. Sabe que na escrita as coisas
atentarem não só aos conteúdos, mas também à forma, permanecem, que se pode voltar a elas e encontrá-las tal
aos aspectos sonoros da linguagem, como ritmo e rimas, qual estavam da primeira vez.
além das questões culturais e afetivas envolvidas. Muitas vezes a leitura do professor tem a participa-
Quando o professor realiza com frequência leituras ção das crianças, principalmente naqueles elementos da
de um mesmo gênero está propiciando às crianças opor- história que se repetem (estribilhos, discursos diretos, al-
tunidades para que conheçam as características próprias guns episódios etc.) e que por isso são facilmente memo-
de cada gênero, isto é, identificar se o texto lido é, por rizados por elas, que aguardam com expectativa a hora
exemplo, uma história, um anúncio etc. de adiantar-se à leitura do professor, dizendo determina-
São inúmeras as estratégias das quais o professor das partes da história. Diferenciam também a leitura de
pode lançar mão para enriquecer as atividades de leitu- uma história do relato oral. No primeiro caso, a criança
ra, como comentar previamente o assunto do qual trata espera que o leitor leia literalmente o que o texto diz.
o texto; fazer com que as crianças levantem hipóteses Recontar histórias é outra atividade que pode ser de-
sobre o tema a partir do título; oferecer informações que senvolvida pelas crianças. Elas podem contar histórias
situem a leitura; criar um certo suspense, quando for o conhecidas com a ajuda do professor, reconstruindo o
caso; lembrar de outros textos conhecidos a partir do texto original à sua maneira. Para isso podem apoiar-se
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

texto lido; favorecer a conversa entre as crianças para nas ilustrações e na versão lida. Nessas condições, cabe
que possam compartilhar o efeito que a leitura produziu, ao professor promover situações para que as crianças
trocar opiniões e comentários etc. compreendam as relações entre o que se fala, o texto
Nesses casos, os textos mais adequados são as emba- escrito e a imagem. O professor lê a história, as crianças
lagens comerciais, os folhetos de propaganda, as histórias escutam, observam as gravuras e, frequentemente, de-
em quadrinhos e demais portadores que possibilitam às pois de algumas leituras, já conseguem recontar a his-
crianças deduzir o sentido a partir do conteúdo, da ima- tória, utilizando algumas expressões e palavras ouvidas
gem ou foto, do conhecimento da marca ou do logotipo. na voz do professor. Nesse sentido, é importante ler as
Os textos de histórias já conhecidos possibilitam ati- histórias tal qual estão escritas, imprimindo ritmo à nar-
vidades de buscar “onde está escrito tal coisa”. As crian- rativa e dando à criança a ideia de que ler significa atri-
ças, levando em conta algumas pistas contidas no texto buir significado ao texto e compreendê-lo.

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Uma prática constante de leitura deve considerar a papéis de produtor e leitor a partir da intervenção do
qualidade literária dos textos. A oferta de textos suposta- professor ou da parceria com outra criança durante o
mente mais fáceis e curtos, para crianças pequenas, pode processo de produção.
resultar em um empobrecimento de possibilidades de As crianças e o professor podem tentar melhorar o
acesso à boa literatura. texto, acrescentando, retirando, deslocando ou transfor-
Ler não é decifrar palavras. A leitura é um processo mando alguns trechos com o objetivo de torná-lo mais
em que o leitor realiza um trabalho ativo de constru- legível para o leitor, mais claro ou agradável de ler.
ção do significado do texto, apoiando-se em diferentes No caso das crianças maiores, o ditado entre pares
estratégias, como seu conhecimento sobre o assunto, favorece muito a aprendizagem, pois elas se ajudam
sobre o autor e de tudo o que sabe sobre a linguagem mutuamente. Quando uma criança dita e outra escreve,
escrita e o gênero em questão. O professor não precisa aquela que dita atua como revisora para a que escreve,
omitir, simplificar ou substituir por um sinônimo familiar por meio de diversas ações, como ler o que já foi escrito
as palavras que considera difíceis, pois, se o fizer, correrá para não correr o risco de escrever duas vezes a mesma
o risco de empobrecer o texto. A leitura de histórias é palavra, diferenciar o que “já está escrito” do que “ainda
uma rica fonte de aprendizagem de novos vocabulários. não está escrito” quando a outra se perde, observar a
Um bom texto deve admitir várias interpretações, supe- conexão entre os enunciados, ajudar a pensar em quais
rando-se, assim, o mito de que ler é somente extrair in- letras colocar e pesquisar, em caso de dúvida, buscando
formação da escrita. palavras ou parte de palavras conhecidas em outro con-
texto etc.
Práticas de escrita Saber escrever o próprio nome é um valioso conhe-
cimento que fornece às crianças um repertório básico de
Orientações didáticas letras que lhes servirá de fonte de informação para pro-
duzir outras escritas. A instituição de educação infantil
Na instituição de educação infantil, as crianças po- deve preocupar-se em marcar os pertences, os objetos
dem aprender a escrever produzindo oralmente textos pessoais e as produções das crianças com seus nomes.
com destino escrito. Nessas situações o professor é o es- É importante realizar um trabalho intencional que leve
criba. A criança também aprende a escrever, fazendo-o ao reconhecimento e reprodução do próprio nome para
da forma como sabe, escrevendo de próprio punho. Em que elas se apropriem progressivamente da sua escrita
ambos os casos, é necessário ter acesso à diversidade convencional. A coleção dos nomes das crianças de um
de textos escritos, testemunhar a utilização que se faz mesmo grupo, registrados em pequenas tiras de papel,
da escrita em diferentes circunstâncias, considerando as pode estar afixada em lugar visível da sala. Os nomes po-
condições nas quais é produzida: para que, para quem, dem estar escritos em letra maiúscula, tipo de imprensa
onde e como. (conhecida também como letra de fôrma), pois, para a
criança, inicialmente, é mais fácil imitar esse tipo de le-
O trabalho com produção de textos deve se cons- tra. Trata-se de uma letra mais simples do ponto de vista
tituir em uma prática continuada, na qual se reproduz gráfico que possibilita perceber cada caractere, não dei-
contextos cotidianos em que escrever tem sentido. Deve- xando dúvidas sobre onde começa e onde termina cada
-se buscar a maior similaridade possível com as práticas letra.
de uso social, como escrever para não esquecer alguma As atividades de reescrita de textos diversos devem
informação, escrever para enviar uma mensagem a um se constituir em situações favoráveis à apropriação das
destinatário ausente, escrever para que a mensagem características da linguagem escrita, dos gêneros, con-
atinja um grande número de pessoas, escrever para iden- venções e formas. Essas situações são planejadas com
tificar um objeto ou uma produção etc. o objetivo de eliminar algumas dificuldades inerentes à
O tratamento que se dá à escrita na instituição de produção de textos, pois consistem em recriar algo a par-
educação infantil pode ter como base a oralidade para tir do que já existe.
ensinar a linguagem que se usa para escrever. Ditar um Essas situações são aquelas nas quais as crianças
texto para o professor, para outra criança ou para ser reescrevem um texto que já está escrito por alguém e
gravado em fita cassete é uma forma de viabilizar a pro- que não é reprodução literal, mas uma versão própria de
dução de textos antes de as crianças saberem grafá-los. um texto já existente.
É em atividades desse tipo que elas começam a participar Podem reescrever textos já escritos e para tal pre-
de um processo de produção de texto escrito, construin- cisam retirar ou acrescentar elementos com relação ao
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

do conhecimento sobre essa linguagem, antes mesmo texto original. Pode-se propor às crianças que reescre-
que saibam escrever autonomamente. vam notícias da atualidade que saíram no jornal que lhes
O professor pode chamar a atenção sobre a estrutura interessou, ou uma lenda, uma história etc.
do texto, negociar significados e propor a substituição Nas atividades de escrita, parte-se do pressuposto que
do uso excessivo de “e”, “aí”, “daí” por conectivos mais as crianças se apropriam dos conteúdos, transformando-
adequados à linguagem escrita e de expressões que mar- -os em conhecimento próprio em situações de uso, quan-
cam temporalidade, causalidade etc., como “de repente”, do têm problemas a resolver e precisam colocar em jogo
“um dia”, “muitos anos depois” etc. A reelaboração dos tudo o que sabem para fazer o melhor que podem.
textos produzidos, realizada coletivamente com o apoio As crianças que não sabem escrever de forma con-
do professor, faz com que a criança aprenda a conce- vencional, ao receberem um convite para fazê-lo, estão
ber a escrita como processo, começando a coordenar os diante de uma verdadeira situação-problema, na qual se

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pode observar o desenvolvimento do seu processo de participar. Se os adultos com quem as crianças convivem
aprendizagem. Tal prática deve favorecer a construção utilizam a escrita no seu cotidiano e oferecem a elas a
de escritas de acordo com as ideias construídas pelas oportunidade de presenciar e participar de diversos atos
crianças e promover a busca de informações específicas de leitura e de escrita, elas podem, desde cedo, pensar
de que necessitem, tanto nos textos disponíveis como re- sobre a língua e seus usos, construindo ideias sobre
correndo a informantes (outras crianças e o professor). O como se lê e como se escreve.
fato de as escritas não convencionais serem aceitas não Na instituição de educação infantil, são variadas as
significa ausência de intervenção pedagógica. O conhe- situações de comunicação que necessitam da media-
cimento sobre a natureza e o funcionamento do sistema ção pela escrita. Isso acontece, por exemplo, quando se
de escrita precisa ser construído pelas crianças com a recorre a uma instrução escrita de uma regra de jogo,
ajuda do professor. Para que isso aconteça é preciso que quando se lê uma notícia de jornal de interesse das crian-
ele considere as ideias das crianças ao planejar e orientar ças, quando se informa sobre o dia e o horário de uma
as atividades didáticas com o objetivo de desencadear festa em um convite de aniversário, quando se anota
e apoiar as suas ações, estabelecendo um diálogo com uma idéia para não esquecê-la ou quando o professor
elas e fazendo-as avançar nos seus conhecimentos. As envia um bilhete para os pais e tem a preocupação de
crianças podem saber de cor os textos que serão escritos, lê-lo para as crianças, permitindo que elas se informem
como, por exemplo, uma parlenda, uma poesia ou uma sobre o seu conteúdo e intenção.
letra de música. Todas as tarefas que tradicionalmente o professor
Nessas atividades, as crianças precisam pensar sobre realizava fora da sala e na ausência das crianças, como
quantas e quais letras colocar para escrever o texto, usar preparar convites para as reuniões de pais, escrever uma
o conhecimento disponível sobre o sistema de escrita, carta para uma criança que está se ausentando, ler um
buscar material escrito que possa ajudar a decidir como bilhete deixado pelo professor do outro período etc., po-
grafar etc. dem ser partilhadas com as crianças ou integrarem ati-
As crianças de um grupo encontram-se, em geral, vidades de exploração dos diversos usos da escrita e da
em momentos diferentes no processo de construção leitura.
da escrita. Essa diversidade pode resultar em ganhos A participação ativa das crianças nesses eventos de
no desenvolvimento do trabalho. Daí a importância de letramento configura um ambiente alfabetizador na
uma prática educativa que aceita e valoriza as diferenças instituição. Isso é especialmente importante quando as
individuais e fomenta a troca de experiências e conhe- crianças provêm de comunidades pouco letradas, em
cimentos entre as crianças. As atividades de escrita e de que têm pouca oportunidade de presenciar atos de lei-
produção de textos são muito mais interessantes, por- tura e escrita junto com parceiros mais experientes. Nes-
tanto, quando se realizam num contexto de interação. se caso, o professor torna-se uma referência bastante
No processo de aprendizagem, o que num dado mo- importante. Se a educação infantil trouxer os diversos
mento uma criança consegue realizar apenas com ajuda, textos utilizados nas práticas sociais para dentro da ins-
posteriormente poderá ser feito com relativa autonomia. tituição, estará ampliando o acesso ao mundo letrado,
A criação de um clima favorável para o trabalho cumprindo um papel importante na busca da igualdade
em grupo possibilita ricos intercâmbios comunicativos de oportunidades.
de enorme valor social e educativo. Para que a intera- Algumas vezes, o termo “ambiente alfabetizador” tem
ção grupal cumpra seu papel, é preciso que as crianças sido confundido com a imagem de uma sala com pare-
aprendam a trabalhar juntas. Para que desenvolvam essa des cobertas de textos expostos e, às vezes, até com eti-
capacidade, é necessário um trabalho intencional e sis- quetas nomeando móveis e objetos, como se esta fosse
temático do professor para organizar as situações de uma forma eficiente de expor as crianças à escrita. É ne-
interação considerando a heterogeneidade dos conhe- cessário considerar que expor as crianças às práticas de
cimentos das crianças. Além disso, é importante que o leitura e escrita está relacionada com a oferta de oportu-
professor escolha as crianças que possam se informar nidades de participação em situações nas quais a escrita
mutuamente, favoreça os intercâmbios, pontue as difi- e a leitura se façam necessárias, isto é, nas quais tenham
culdades de entendimento, ajude a percepção de deta- uma função real de expressão e comunicação.
lhes do texto etc. Deixando de ser o único informante, o A experiência com textos variados e de diferentes gê-
professor pode organizar grupos, ou duplas de crianças neros é fundamental para a constituição do ambiente de
que possuam hipóteses diferentes (porém próximas) so- letramento. A seleção do material escrito, portanto, deve
bre a língua escrita, o que favorece intercâmbios mais fe- estar guiada pela necessidade de iniciar as crianças no
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

cundos. As crianças podem utilizar a lousa ou letras mó- contato com os diversos textos e de facilitar a observa-
veis e, ao confrontar suas produções, podem comparar ção de práticas sociais de leitura e escrita nas quais suas
suas escritas, consultarem-se, corrigirem-se, socializarem diferentes funções e características sejam consideradas.
ideias e informações etc. Nesse sentido, os textos de literatura geral e infantil, jor-
Orientações gerais para o professor nais, revistas, textos publicitários etc. são os modelos que
se pode oferecer às crianças para que aprendam sobre a
Ambiente alfabetizador linguagem que se usa para escrever.
O professor, de acordo com seus projetos e objetivos,
Diz-se que um ambiente é alfabetizador quando pro- pode escolher com que gêneros vai trabalhar de forma
move um conjunto de situações de usos reais de leitura mais contínua e sistemática, para que as crianças os co-
e escrita nas quais as crianças têm a oportunidade de nheçam bem. Por exemplo, conhecer o que é uma receita

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culinária, seu aspecto gráfico, formato em lista, combi- na busca de uma identidade ainda desconhecida. Segun-
nação de palavras e números que indicam a quantidade do Ana Mae Barbosa, a Escolinha de Arte, em parceria
dos ingredientes etc., assim como as características de com o governo, promoveu vários cursos de formação de
uma poesia, histórias em quadrinhos, notícias de jornal professores, com “uma enorme influência multiplicado-
etc. ra, chegando a haver 32 Escolinhas no país” (BARBOSA,
Alguns textos são adequados para o trabalho com a 2003). Nos anos 70, a apresentação dos programas re-
linguagem escrita nessa faixa etária, como, por exemplo, flete influência da tendência tecnicista. O ensino de arte
receitas culinárias; regras de jogos; textos impressos em é fortemente influenciado pelas ideias de Lowenfeld e
embalagens, rótulos, anúncios, slogans, cartazes, folhe- Herbert Read, o que levará ao espontaneismo, ao laisse-
tos; cartas, bilhetes, postais, cartões (de aniversário, de z-faire, na maioria das escolas.
Natal etc.); convites; diários (pessoais, das crianças da sala A Lei de Diretrizes e Bases nº 5.692/71 é tecnicista e
etc.); histórias em quadrinhos, textos de jornais, revistas e incita à profissionalização; o trabalho pedagógico frag-
suplementos infantis; parlendas, canções, poemas, qua- mentou-se para tornar o sistema educacional efetivo e
drinhas, adivinhas e trava-línguas; contos (de fadas, de produtivo. Através dessa lei, foi instituída no currículo a
assombração etc.); mitos, lendas, “causos” populares e Educação Artística, reunindo todos os tipos de lingua-
fábulas; relatos históricos; textos de enciclopédia etc. gem tornando o ensino de artes polivalente. A promul-
gação da lei, sem prever anteriormente a formação dos
Referências: professores e sua qualificação, enfraqueceu a qualidade
Referencial Curricular para Educação Infantil. Vl. 3. de ensino, ao invés de promover melhorias nas condi-
ções já existentes. (BEMVENUTI, 1997, p. 44). Em 1973,
O DESENVOLVIMENTO DAS ARTES VISUAIS E DO criaram os cursos superiores em Educação Artística, uma
MOVIMENTO formação com duas opções, a licenciatura curta em dois
anos e a licenciatura plena em quatro anos. Com cursos
A importância das artes visuais no ato educativo de curta duração e um currículo abrangente que propu-
nha conhecimentos de música, artes plásticas e teatro, os
Trajeto das artes visuais até a escola: Uma abor- professores conheciam superficialmente as linguagens e
dagem teórica conduziam o ensino sem uma concepção filosófica ade-
quada, sem a essência do ensino de arte. Com ausência
A arte, numa perspectiva histórica, pode ser identifi- de formação continuada consistente, conhecimentos bá-
cada como uma ciência que vem percorrendo um longo sicos de arte, os professores sentem-se despreparados,
caminho para ter seu reconhecimento institucional. inseguros e sem capacidade e disposição de tempo para
O ensino de Arte no Brasil, ao longo do tempo, passou aprofundar seus conhecimentos, nem para explicitar,
por diversos métodos, na maioria das vezes importados discutir e praticar um planejamento mais consistente de
sem a devida adaptação, desde a colonização com os je- educação e arte, e passam a apoiar-se nos livros didáti-
suítas, impondo a separação entre a retórica e a manufa- cos de Educação Artística produzidos desde o final da
tura e negando a cultura indígena, passando pelo século década de 70. Nas escolas, a arte ocupa apenas o lugar
XIX com a negação do barroco em favor do neoclássico. de relaxamento, lazer, sendo ignorada como área de co-
Já no século XX, havia uma grande preocupação com nhecimento. Com a nova LDB (lei nº 9.394/96), é extinta
o ensino de Arte que até então se resumia ao ensino do a Educação Artística e entra em campo a disciplina Arte,
desenho, este visto como um importante meio para for- reconhecida oficialmente como área de conhecimento.
mação técnica. A disciplina Desenho, apresentada sob a O artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na-
forma de Desenho Geométrico, Desenho do Natural e cional, em seu § 2º, dispõe que:
Desenho Pedagógico, era considerada mais por seu as- § 2º. O ensino da arte constituirá componente curri-
pecto funcional do que uma experiência em arte. (BRASIL, cular obrigatório, nos diversos níveis da educação bási-
2000, p. 25). Em meados da segunda metade do século ca, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos
XX, a pedagogia experimental sinalizava um novo lugar alunos.
para arte na educação. No momento em que a criança Essa mudança não foi apenas nominal, mas de toda
conquista seu lugar como sujeito, com características a estruturação que envolve o tratamento de uma área
próprias, deixando de ser apenas um projeto de adulto, de conhecimento. De atividades esporádicas de cunho
o desenho infantil passa ser objeto de estudo cognitivo. mais próprio de relaxamento e recreação, passa-se ao
Com a Semana da Arte Moderna em 1922, os mo- compromisso de construir conhecimentos significativos
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

delos de educação técnica voltada para o trabalho, com em arte.


forte identificação ao estudo do desenho clássico e do Artes visuais, como um conjunto de manifestações
desenho geométrico, começaram a ser contestados, pas- artísticas, compreendem todo o campo de linguagem e
sando a valorizar a expressão infantil. pensamento sobre olhar e sentido do ser humano. As Ar-
No início dos anos 30, também começaram a ganhar tes que normalmente lidam com a visão como seu meio
espaço no Brasil escolas especializadas em artes para principal de apreciação costumam ser chamadas de Artes
crianças e adolescentes. No final dos anos 40, o ensino Visuais. Porém as artes visuais não devem ficar restringi-
de arte conquista mais espaços fora dos muros da escola das apenas ao visual, pois, através dessas manifestações
com as “Escolinhas de Arte” implantadas em vários pon- artísticas (desenho, pintura, modelagem, recorte cola-
tos do país. Este movimento visava a um ensino de arte gem entre outros), há vários significados que o artista
pautado na livre expressão, como um rumo alternativo deseja passar.

20
Segundo Panofsky (1989), uma obra de arte deve ser Além de utilizar as artes visuais para trabalhar o afe-
definida como um “objeto feito pelo homem que exige tivo e a interação social da criança, o professor pode uti-
ser esteticamente experenciado”. lizá-las no auxílio da motricidade infantil que deve ser
As Artes Visuais são linguagens, por isso são uma for- bem trabalhada desde a infância para que, futuramente,
ma muito importante de expressão e comunicação hu- ela possa sentir a diferença desse recurso na sua vida
manas, isto justifica sua presença na educação infantil. pessoal, escolar e profissional.
O ensino de Arte aborda uma série de significações, tais Sendo assim, o presente artigo destaca cinco tipos
como: o senso estético, a sensibilidade e a criatividade. de linguagens nas artes visuais que são utilizadas com as
Atualmente, algumas ações estão interferindo quali- crianças no cotidiano escolar. São elas: desenho, pintura,
tativamente no processo de melhoria do ensino e apren- modelagem, recorte/colagem e mídia ( informática ).
dizagem de Arte. Os Parâmetros Curriculares Nacionais
de Arte destacam que: Desenho
Dentre as várias propostas que estão sendo difundi-
das no Brasil na transição para o século XXI, destacam- O desenho é uma das manifestações semióticas, isto
-se aquelas que têm se afirmado pela abrangência e por é, uma das formas através das quais a função de atribui-
envolver ações que, sem dúvida, estão interferindo na ção da significação se expressa e se constrói. Desenvol-
melhoria do ensino e da aprendizagem de arte. Trata-se ve-se concomitantemente às outras manifestações, entre
de estudos sobre a educação estética, a estética do coti- as quais o brinquedo e a linguagem verbal (PIAGET).
diano, complementando a formação artística dos alunos.
Ressalta-se ainda o encaminhamento pedagógico- artís-
tico que tem por premissa básica a integração do fazer
artístico, a apreciação da obra de arte e sua contextuali-
zação histórica. (PCN, 2000, p. 31).
Podemos destacar a “Proposta ou Metodologia Trian-
gular” difundida e orientada por Ana Mae Barbosa, que
vem se afirmando por sua maior abrangência cultural.
Essa proposta pedagógica integradora tem por base
trabalhar três vertentes do conhecimento em arte: o fa-
zer artístico, a leitura da imagem e a contextualização
histórica.
Outra ação que está interferindo na melhoria do en-
sino e da aprendizagem de Arte se refere a estudos so- Figura 1
bre a educação estética do cotidiano, complementando Fonte: Simone Villani
a formação estético-artística dos alunos.
A criança, inicialmente, vê o desenho como simples-
Caracterização das diferentes linguagens nas ar- mente uma ação sobre uma superfície, sentindo prazer
tes visuais no processo de aprendizagem em “rabiscar”, explorar e descobrir as cores e novas su-
perfícies. Essa é a chamada fase da garatuja.
A criança, desde bebê, se interessa pelo mundo de Com as novas experiências de mundo que a criança
forma peculiar. Emitindo sons, movimentando o corpo, adquire, as garatujas vão evoluindo, ganhando formas
“rabiscando” as paredes da casa e desenvolvendo ativi- definidas com maior ordenação. O papel não é mais ape-
dades rítmicas, ela interage com o mundo sem precisar nas uma superfície para os rabiscos infantis. Ele passa a
ser estimulada para tal. ser uma superfície na qual a criança expressará o que
Fazer arte reúne processos complexos em que a vive diariamente, ou seja, expressará a alegria, a tristeza,
criança sintetiza diversos elementos de sua experiência. os passeios que mais interessaram, a dinâmica familiar
No processo de selecionar, interpretar e reformar, mos- (inclusive os conflitos vividos dentro de casa). Segundo
tra como pensa, como sente e como vê. A criança repre- Cunha, “devemos lembrar que os registros resultam de
senta na criação artística o que lhe interessa e o que ela olhares sobre o mundo. Se o olhar é desinteressado e
domina, de acordo com seus estágios evolutivos. Uma vago, as representações serão opacas e uniformes. (Re-
obra de arte não é a representação de uma coisa, mas ferencial Curricular Nacional)”.
a representação da relação do artista com aquela coisa. [...] a criança desde bebê mantém contato com as
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

[...] Quanto mais se avança na arte, mais se conhece e cores visando explorar os sentidos e a curiosidade dos
demonstra autoconfiança, independência, comunicação bebês em relação ao mundo físico, tendo em vista que,
e adaptação social. (ALBINATI, 2009, p. 4). nesse período, descobrem o mundo através do conheci-
Assim sendo, a arte propicia à criança expressar seus mento do seu próprio corpo e dos objetos com que eles
sentimentos e ideias, colocar a criatividade em prática, têm possibilidade de interagir. (CUNHA).
fazendo com que seu lado afetivo seja realçado. Tendo Desenhar, além de ser algo prazeroso para a crian-
essa observação voltada para o âmbito escolar, vemos ça, é extremamente importante no cotidiano escolar. De
claramente como as artes visuais são essenciais na in- acordo com o Referencial Curricular Nacional de Educa-
teração social da criança e como os professores podem ção Infantil:
desfrutar desse recurso para isso.

21
Por meio de diferentes gestos em um plano vertical
(ou pelo menos inclinado), a criança aprende a segurar
corretamente o giz e o lápis. Para que a criança adquira
um traço regular, precisará trabalhar com certa rapidez,
sobre uma grande superfície colocada a sua altura. A
criança que não domina bem seu gesto será solicitada
a trabalhar, sobretudo, com o ombro e o cotovelo: fará
então desenhos grandes. Somente mais tarde, quando
os movimentos altura do ombro e do cotovelo tornarem-
-se desenvolvidos, faremos diminuir as proporções dos
desenhos, exigindo assim da criança um trabalho mais Figura 2
específico do punho e dos dedos.” (1998, p. 106). Fonte: Simone Villani
O professor pode explorar superfícies diferentes
como lixa, papelão, papel branco, madeira, chão, entre A relação que a criança estabelece com os diferentes
outros, para ajudar no desenvolvimento motor da criança. materiais se dá, no início, por meio da exploração sen-
No ato de desenhar, a criança expressa seu lado afe- sorial e da utilização em diversas brincadeiras. Tudo isso
tivo com a manifestação orgânica da emoção, a criança influenciará na sua criatividade e imaginação.
usa o papel e o lápis para expressar os seus sentimentos Uma característica essencial da pintura é o que se
no desenho, a sua relação com a família, os amigos, a pode ou não fazer com ela através do jogo de cores. A
escola. Através dos traços feitos pela criança, até mesmo criança não constitui um conceito de cor olhando sim-
pelas cores usadas, o professor consegue perceber o que plesmente algo colorido, mas durante repetidas ações de
comparar, nomear, transformar, enfim, falar das relações
está acontecendo com ela, e que pode estar levando-a
entre as cores que são apenas três básicas (azul, verme-
ao fracasso escolar.
lho, amarelo), que formam todas as outras. Percebendo
Com o avançar do desenho infantil, a criança também
isso, o lado sensível e imaginário da criança pode ser
desenvolve melhor o seu cognitivo, já que ela, primeiro, aguçado, ajudando-a a se formar como um ser completo,
representa o que vê para depois representar o que está criativo, concentrado.
gravado (fotografado) na memória, ou seja, ela aprende
a sair do plano palpável para o plano abstrato. O que aju- Arte Tridimensional
dará muito na iniciação matemática, futuramente, com
as tão “temidas continhas” que são trabalhadas de forma Durante sua vida, a criança procura explorar aquilo
tátil para depois ser retratadas de forma abstrata. Des- que a rodeia através do tato, da manipulação dos objetos
sa forma, o desenho passa a ter uma significação muito aguçando sua curiosidade. Cabe ao professor explorar
mais ampla na educação infantil e, assim, merece ser tra- essa curiosidade, buscando desenvolver atividades que
tado como mais que simples rabiscos, sendo valorizado instiguem essas caracteristicas. Um bom aliado são as
como um auxiliador importante no desenvolvimento da atividades artísticas que envolvem a modelagem ou, na
criança. atualidade, a arte tridimensional (por apresentar altura,
largura e profundidade). Segundo Cunha:
Pintura [...] ao invés do professor simplesmente disponibilizar
materiais, as crianças devem ser desafiadas a explorar os
A pintura pode ser definida com a arte da cor. Se no materiais em todas as suas possibilidades, como numa
desenho o que mais se utiliza é o traço, na pintura o mais atividade banal com o lápis de cor e papel. Podemos
importante é a mancha da cor. Ao pintar, vamos colo- transformar essas propostas simplistas e comuns em
cando sobre o papel, a tela ou a parede cores que re- uma proposta instigadora e fonte de descobertas, além
presentam seres e objetos, ou que criam formas. (COLL; de conhecermos as hipóteses das crianças sobre o que
TEBEROSKY, 2004, p. 30). vamos trabalhar.
A pintura trabalhada com as crianças tem objetivos A Arte tridimensional, ou modelagem, é uma ativida-
que vão além do simples prazer em manipular mãos e de basicamente sensorial. Podemos trabalhá-la usando
pincéis. Através do contato com diversos materiais dis- massas de biscuit caseiras, argila em barro, jornal, terra,
massinha, gesso e até mesmo massa comestível. Através
poníveis para a manipulação com as tintas, cola, álcool,
da modelagem, a criança tem a possibilidade de melho-
entre outros, as crianças podem expressar sentimentos
rar sua motricidade e ampliar sua capacidade de criati-
diversos na superfície trabalhada, além de desenvolver,
vidade, pois a modelagem pode ser usada em vários as-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

assim como o desenho, sua habilidade motora que, futu- pectos da aula ou em qualquer outro ambiente em que
ramente, na sua alfabetização, será fundamental no de- a criança esteja.
senvolver das letras. As diferentes formas de expressão permitem ainda
Pintar é, antes de tudo, uma arte que deve ser usada à criança comunicar com os pares e os adultos as expe-
também na Educação Infantil como fator de desenvol- riências vividas e os conhecimentos adquiridos. Elas têm
vimento motor, afetivo e social da criança. Interpretar o privilégio de aprender através das suas comunicações
obras, recriar imagens, pintar por observação são ativida- e experiências concretas. Promove-se o desenvolvimento
des que mostram possibilidades de transformações, de intelectual da criança através de uma focalização siste-
reconstrução, de reutilização e de construção de novos mática na representação simbólica. Arte significa ter mais
elementos, formas, texturas, etc. linguagens significativas, diferentes formas de ver e re-
presentar o mundo.

22
A modelagem propicia para a criança o ato de se ex- Recorte e colagem
pressar livremente, promovendo a habilidade na coorde-
nação motora. O recorte e a colagem são um processo usado há
As Artes Visuais, em geral, podem ser usadas também muitos anos para decorar igrejas, praças, casas, quadros,
como interdisciplinaridade, ou seja, com outros conteú- usando diferentes materiais como, por exemplo, ladri-
dos de outras disciplinas como, por exemplo, o jornal lhos, pedras, papéis e outros. A junção desses materiais
que, depois de lido, pode ser reciclado, transformado em formava uma figura, denominada mosaico.
um novo papel que será reutilizado na escola. Com as crianças, esse processo também é muito
Trabalha-se, então, a sustentabilidade. utilizado:
Pela modelagem também conseguimos perceber o Uma maneira interessante de trabalhar com colagem
quanto é importante a criança expressar os seus senti- consiste em cortar ou rasgar formas de figuras de cores
mentos, fazendo com que os educadores reflitam sobre e texturas variadas. Começa-se recolhendo papéis, pape-
a utilização da modelagem para o desenvolvimento cog- lões e tecidos de texturas e cores diferentes. Podem ser
nitivo, afetivo e motor da criança. empregados muitos tipos de papel: lisos, rugosos, bri-
lhantes, grossos, finos... As fotografias das revistas são
Mídia, arte e educação muito úteis, porque têm uma grande quantidade de co-
res diferentes. (COLL; TEBEROSKY).
Dizer que estamos no mundo da informação e na era Tendo uma folha de papel à sua frente, a criança pode
da informática já virou clichê. Na verdade, o que vemos explorar vários aspectos dela. Surgem ideias sobre o que se
é que os meios de comunicação garantiram uma forma pode fazer com ela; experimentam-se sensações passando
de que o acesso à informação fosse possível a todas as a mão sobre ela. Toda exploração leva à aquisição de co-
camadas sociais. Aqui não entraremos na discussão so- nhecimentos sobre suas características: se a folha é lisa ou
bre a qualidade e veracidade da informação, o que nos áspera; se pode ser dobrada ou amarrotada; como ela fica
interessa realmente é entender minimamente qual a in- se submetida a amassos, rasgões e picagem; se ela pode
fluência da mídia como veículo de divulgação e de pro-
ficar de um jeito que expresse alegria ou tristeza...
dução artística.
Os trabalhos de recorte, colagem e aplicação propi-
Com alguns cliques em um teclado, somos capazes
ciam à criança dos primeiros anos escolares o aperfei-
de ver por uma tela de computador obras de Da Vinci,
çoamento de conteúdos de coordenação motora, cria-
Picasso, Monet. Sem sequer sairmos de casa, entramos
tividade e desenvolvimento da sensibilidade, noções de
em contato com séculos de história e culturas, desde as
espaços e superfície. O primeiro interesse da criança, ain-
manifestações artísticas mais clássicas até as contempo-
da pequena, é no recorte puro, sem a intenção de formar
râneas. Um universo de possibilidades se abre. A imagem
na tela do computador ou da televisão, os impressos, os figuras. À medida que ganha segurança no domínio da
jornais, as revistas e os catálogos são hoje os grandes tesoura sobre o papel, surge a ideia de transformar pe-
divulgadores da arte. daços de papel em figuras significativas e de utilizá-las a
As novas formas de produção artística que brotam fim de compor cenas. A partir daí, ela vai manifestando
das novas tecnologias impressionam com suas cores, preferências dentro da atividade, distinguindo papéis e
formas e movimento. São editorações gráficas, web de- possibilidades de recortes, colagens e aplicações. Revis-
signs, montagens de fotografias, vídeos. É a arte visual se tas, jornais, papéis de diferentes texturas e pequenos ob-
atualizando e se modificando, sem, contudo, abandonar jetos passam a ser vistos como fonte de pesquisa.
a grande razão da existência da arte que é a expressão de
ideias e sentimentos.
A tecnologia não veio para nos afastar dos ideais ar-
tísticos, embora seja o que aconteça em alguns casos. É
possível e necessário ver nos avanços tecnológicos uma
forma segura de produção e resgate do fazer artístico
aliado às novas exigências sociais.
No processo de educação realizam-se, ainda, dois
movimentos: um primeiro, em que é feita a mediação
entre o social, a prática construída e o indivíduo, no qual
se forma a base dos pensamentos individual e coletivo e
é quem possibilita a continuidade do processo histórico
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

da cultura; e em segundo, que se caracteriza pela media-


ção que a palavra e a imagem fazem entre o pensamento
individual e o social e pela possibilidade que cada um Figura 4
tem de ser sujeito, de reelaborar produzindo o novo, re- Fonte: Simone Villani
velando como a educação se envolve na tensão entre o A justaposição e a sobreposição de figuras levam a
individual e o social (MELO; TOSTA, 2008 , p. 55). criança a aprimorar suas noções de orientação espacial,
Como mediadora desse processo de interação, entra a partir da percepção das partes em relação ao todo. O
a escola, local privilegiado da construção e reprodução trabalho pode evoluir para a aplicação sobre objetos de
cultural, cumprindo o papel de tecer as relações necessá- uso, como a intervenção em capas de caderno ou caixas,
rias entre o conhecimento do clássico e do novo, como e o trabalho final também pode ser posto em moldura,
uma ponte entre os sujeitos e o mundo artístico. valorizado como objeto de exposição.

23
A criança deve ter liberdade para exercer sua criati- Fonte
vidade, executando ideias criativas e o capricho com o Elizangela Aparecida da Silva, Fernanda Rodrigues
acabamento final das produções artísticas. Picando com Oliveira, Letícia Scarabelli, Maria Lorena de Oliveira Costa
as mãos, com o auxílio de uma tesoura ou simplesmente e Sâmyla Barbosa Oliveira, disponível em http://periodi-
da forma como encontra o material desejado para a co- cos.pucminas.br/
lagem, a criança trabalha o seu cognitivo ao perceber o
tamanho, a espessura e o modo como encaixar a matéria O MOVIMENTO
no local desejado.
Como mediador do conhecimento, o professor é es- A diversidade de práticas pedagógicas que caracte-
sencial para incentivar o aluno pelo caminho da arte ou rizam o universo da educação infantil reflete diferentes
por outra área do conhecimento, oferecendo os melho- concepções quanto ao sentido e funções atribuídas ao
res suportes, de forma que venha a somar no seu cresci- movimento no cotidiano das creches, pré-escolas e ins-
mento e na sua formação. tituições afins.
Pode-se abordar na atividade de recorte e colagem É muito comum que, visando garantir uma atmosfe-
a manipulação e a exploração de diferentes materiais, in- ra de ordem e de harmonia, algumas práticas educativas
dependentemente de sua utilização na realização de um procurem simplesmente suprimir o movimento, impondo
produto final. A mistura de materiais propicia trabalhos às crianças de diferentes idades rígidas restrições postu-
muito interessantes, como a colagem de tecidos rústicos rais. Isso se traduz, por exemplo, na imposição de longos
com beiradas desfiadas sobre cartões cortados em papel momentos de espera — em fila ou sentada — em que a
reciclado. criança deve ficar quieta, sem se mover; ou na realização
de atividades mais sistematizadas, como de desenho, es-
Considerações Finais crita ou leitura, em que qualquer deslocamento, gesto
ou mudança de posição pode ser visto como desordem
As Artes Visuais são uma forma que a criança tem de ou indisciplina. Até junto aos bebês essa prática pode se
expressar-se com sua visão de mundo e com isso desenvol- fazer presente, quando, por exemplo, são mantidos no
ver-se nas dimensões afetiva, motora e cognitiva, utilizando berço ou em espaços cujas limitações os impedem de
as diferentes linguagens artísticas que compõem as artes expressar-se ou explorar seus recursos motores.
visuais, tendo a oportunidade de construir, criar, recriar e in- Além do objetivo disciplinar apontado, a permanente
ventar, tornando-se um sujeito ativo e crítico na sociedade. exigência de contenção motora pode estar baseada na
As Artes Visuais, em uma perspectiva histórica, per- ideia de que o movimento impede a concentração e a
correram um longo caminho para serem reconhecidas atenção da criança, ou seja, que as manifestações mo-
institucionalmente. Na medida em que a criança con- toras atrapalham a aprendizagem. Todavia, a julgar pelo
quistou seu lugar na sociedade como participante ativa papel que os gestos e as posturas desempenham junto
da construção do seu conhecimento, as diferentes lin- à percepção e à representação, conclui-se que, ao con-
guagens das Artes Visuais passaram a ser objeto de es- trário, é a impossibilidade de mover-se ou de gesticular
tudo por muitos teóricos, que perceberam a necessidade que pode dificultar o pensamento e a manutenção da
de elas serem trabalhadas principalmente na Educação atenção.
Infantil (crianças de zero a cinco anos), uma vez que são Em linhas gerais, as consequências dessa rigidez po-
o principal auxílio no desenvolvimento cognitivo, afetivo dem apontar tanto para o desenvolvimento de uma ati-
e motor. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da tude de passividade nas crianças como para a instalação
Educação Nacional, o ensino das artes passou a ser um de um clima de hostilidade, em que o professor tenta, a
componente curricular obrigatório, nos diversos níveis todo custo, conter e controlar as manifestações motoras
da educação básica, de forma a promover o desenvolvi- infantis. No caso em que as crianças, apesar das restri-
mento cultural dos alunos. ções, mantêm o vigor de sua gestualidade, podem ser
Além das Artes Visuais trabalharem o afetivo e a inte- frequentes situações em que elas percam completamen-
ração social da criança, elas contribuem para o desenvol- te o controle sobre o corpo, devido ao cansaço provoca-
vimento da motricidade infantil e de outros conteúdos do pelo esforço de contenção que lhes é exigido.
trabalhados em sala de aula que irão refletir, futuramen- Outras práticas, apesar de também visarem ao si-
te, na vida pessoal, escolar e profissional do indivíduo. lêncio e à contenção de que dependeriam a ordem e
Cada movimento, expressão ou recorte de papel a disciplina, lançam mão de outros recursos didáticos,
constitui-se num direito que a criança tem de conhecer o propondo, por exemplo, sequências de exercícios ou de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

mundo, expressar seus sentimentos sem a fala. deslocamentos em que a criança deve mexer seu corpo,
Muitas escolas utilizam esses recursos para a forma- mas desde que em estrita conformidade a determinadas
ção da criança como um ser completo, trabalhando-os orientações. Ou ainda reservando curtos intervalos em
não como passatempo ou um recurso decorativo, mas que a criança é solicitada a se mexer, para dispender sua
sim como uma forma de aprendizagem lúdica, repleta energia física. Essas práticas, ao permitirem certa mobi-
de objetivos importantes no desenvolvimento da criança. lidade às crianças, podem até ser eficazes do ponto de
Expressando-se no papel, com argila, na tela, fazen- vista da manutenção da “ordem”, mas limitam as possi-
do colagem, a criança faz arte naturalmente. bilidades de expressão da criança e tolhem suas iniciati-
A arte proporciona um contato direto com nossos vas próprias, ao enquadrar os gestos e deslocamentos a
sentimentos, despertando no indivíduo maior atenção ao modelos predeterminados ou a momentos específicos.
seu processo de sentir.

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No berçário, um exemplo típico dessas práticas são Cada cultura possui seu jeito próprio de preservar es-
as sessões de estimulação individual de bebês, que com ses recursos expressivos do movimento, havendo varia-
frequência são precedidas por longos períodos de con- ções na importância dada às expressões faciais, aos ges-
finamento ao berço. Nessas atividades, o professor ma- tos e às posturas corporais, bem como nos significados
nipula o corpo do bebê, esticando e encolhendo seus atribuídos a eles.
membros, fazendo-os descer ou subir de colchonetes É muito grande a influência que a cultura tem sobre
ou almofadas, ou fazendo-os sentar durante um tempo o desenvolvimento da motricidade infantil, não só pelos
determinado. A forma mecânica pela qual são feitas as diferentes significados que cada grupo atribui a gestos e
manipulações, além de desperdiçarem o rico potencial expressões faciais, como também pelos diferentes movi-
de troca afetiva que trazem esses momentos de intera- mentos aprendidos no manuseio de objetos específicos
ção corporal, deixam a criança numa atitude de passivi- presentes na atividade cotidiana, como pás, lápis, bolas
dade, desvalorizando as descobertas e os desafios que de gude, corda, estilingue etc.
ela poderia encontrar de forma mais natural, em outras Os jogos, as brincadeiras, a dança e as práticas espor-
situações. tivas revelam, por seu lado, a cultura corporal de cada
O movimento para a criança pequena significa muito grupo social, constituindo-se em atividades privilegiadas
mais do que mexer partes do corpo ou deslocar-se no es- nas quais o movimento é aprendido e significado.
paço. A criança se expressa e se comunica por meio dos Dado o alcance que a questão motora assume na
gestos e das mímicas faciais e interage utilizando forte- atividade da criança, é muito importante que, ao lado
mente o apoio do corpo. A dimensão corporal integra-se das situações planejadas especialmente para trabalhar o
ao conjunto da atividade da criança. O ato motor faz-se movimento em suas várias dimensões, a instituição re-
presente em suas funções expressiva, instrumental ou de flita sobre o espaço dado ao movimento em todos os
sustentação às posturas e aos gestos. Quanto menor a momentos da rotina diária, incorporando os diferentes
criança, mais ela precisa de adultos que interpretem o significados que lhe são atribuídos pelos familiares e pela
significado de seus movimentos e expressões, auxilian- comunidade.
do-a na satisfação de suas necessidades. À medida que a
Nesse sentido, é importante que o trabalho incor-
criança cresce, o desenvolvimento de novas capacidades
pore a expressividade e a mobilidade próprias às crian-
possibilita que ela atue de maneira cada vez mais inde-
ças. Assim, um grupo disciplinado não é aquele em que
pendente sobre o mundo à sua volta, ganhando maior
todos se mantêm quietos e calados, mas sim um grupo
autonomia em relação aos adultos.
em que os vários elementos se encontram envolvidos e
Pode-se dizer que no início do desenvolvimento pre-
mobilizados pelas atividades propostas. Os deslocamen-
domina a dimensão subjetiva da motricidade, que en-
contra sua eficácia e sentido principalmente na interação tos, as conversas e as brincadeiras resultantes desse en-
com o meio social, junto às pessoas com quem a criança volvimento não podem ser entendidos como dispersão
interage diretamente. É somente aos poucos que se de- ou desordem, e sim como uma manifestação natural das
senvolve a dimensão objetiva do movimento, que corres- crianças. Compreender o caráter lúdico e expressivo das
ponde às competências instrumentais para agir sobre o manifestações da motricidade infantil poderá ajudar o
espaço e meio físico. professor a organizar melhor a sua prática, levando em
O bebê que se mexe descontroladamente ou que faz conta as necessidades das crianças.
caretas provocadas por desconfortos terá na mãe e nos
adultos responsáveis por seu cuidado e educação par- Referencias
ceiros fundamentais para a descoberta dos significados Referencial Curricular Nacional para a Educação In-
desses movimentos. Aos poucos, esses adultos saberão fantil volume 3: Conhecimento de Mundo
que determinado torcer de corpo significa que o bebê
está, por exemplo, com cólica, ou que determinado cho- O TRABALHO COM AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS
ro pode ser de fome. Assim, a primeira função do ato
motor está ligada à expressão, permitindo que desejos, Este texto tem como propósito refletir sobre as múl-
estados íntimos e necessidades se manifestem. tiplas linguagens e sua importância na educação infantil.
Mas é importante lembrar que a função expressiva Considera-se que a prática pedagógica nesta etapa da
não é exclusiva do bebê. Ela continua presente mesmo educação deve ser significativa para as crianças de zero a
com o desenvolvimento das possibilidades instrumentais cinco anos e pautar-se na Perspectiva Histórico-Cultural.
do ato motor. É frequente, por exemplo, a brincadeira de Na atualidade a educação infantil está adquirindo
luta entre crianças de cinco ou seis anos, situação em que uma crescente importância perante os teóricos e tam-
se pode constatar o papel expressivo dos movimentos, já bém profissionais dessa área, os mesmos buscam pos-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

que essa brincadeira envolve intensa troca afetiva. sibilitar desenvolvimento integral das crianças, de forma
A externalização de sentimentos, emoções e estados significativa e para isso levam em consideração as contri-
íntimos poderão encontrar na expressividade do corpo buições e benefícios das múltiplas linguagens. De acordo
um recurso privilegiado. Mesmo entre adultos isso apa- com Oliveira (2002) o conceito de múltiplas linguagens se
rece frequentemente em conversas, em que a expressão refere às diferentes linguagens presentes nas atividades
facial pode deixar transparecer sentimentos como des- pedagógicas que “possibilitam às crianças trocar obser-
confiança, medo ou ansiedade, indicando muitas vezes vações, idéias e planos”. Ou seja, as múltiplas linguagens
algo oposto ao que se está falando. Outro exemplo é representam “[...] sistemas de representação”, essas lin-
como os gestos podem ser utilizados intensamente para guagens estabelecem novos recursos de aprendizagem,
pontuar a fala, por meio de movimentos das mãos e do pois se integram às funções psicológicas superiores e as
corpo. transformam.

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Para compreender tal questão proposta neste texto, de utilização, e nas atividades que irá desenvolver. Para
faz-se necessário uma análise dos documentos relacio- tanto, o espaço interno como o externo da educação in-
nados ao direito das crianças e seu atendimento na edu- fantil, deve permitir o fortalecimento da independência
cação infantil, que garantem a qualidade de atendimento da criança, favorecendo o autoconhecimento e desen-
e educação para as crianças, por meio das múltiplas lin- volvimento de habilidades afetivas, cognitiva e social.
guagens, de forma que estes são sempre revistos e reno-
vados, de acordo com as necessidades sociais, que estão De acordo com o Referencial Curricular da Educação
sempre em mudança e obtendo novos conhecimentos à Infantil (BRASIL, 1998), a estruturação do espaço, a forma
respeito das crianças, bem como seu desenvolvimento como estão organizados os materiais, a qualidade e ade-
da educação infantil e ainda as várias formas de expres- quação dos mesmos são elementos essenciais para um
sões dos mesmos. projeto educativo.
Estes documentos são o Referencial Curricular Nacio- Nesse aspecto, é fundamental que ao promover es-
paços para o convívio social, o educador deve pensar em
nal para a Educação Infantil (1998) que é um documento
todos esses aspectos, bem como na privacidade do alu-
oficial do MEC no qual propicia subsídios para a prática
no. Isso implica ter como referencial as crianças institu-
pedagógica desta etapa e estabelece metas que visam
cionalizadas o dia todo.
a qualidade garantindo o desenvolvimento integral da
criança, além de ser o primeiro documento oficial que Sabe-se que a rotina na educação infantil pode ser fa-
serve de subsídios para o trabalho pedagógico com as cilitadora, ou um processo que limite o desenvolvimento
múltiplas linguagens. e aprendizagem da criança. De acordo com o RCNEI,
Outro documento que deve ser analisado é o mais
recente documento elaborado para a educação infan- [...] rotinas rígidas e inflexíveis desconsideram a crian-
til, denominado de Parâmetros Nacionais de Qualidade ça, que precisa se adaptar a uma nova realidade, ou seja,
para a Educação Infantil (2006). O intuito é perceber que longe do convívio com seus familiares, de sua casa, de seus
existem políticas estabelecidas em leis que priorizam um brinquedos. Como deve ser, a criança precisa sentir-se
atendimento educativo às crianças de zero a cinco anos, bem na escola de educação infantil, pois, como já foi dito,
com destaque às múltiplas linguagens da aprendizagem. lá é o local onde permanece o dia todo, com um adulto,
Os indivíduos, com seus atos e ações, modificam o que no primeiro momento é um estranho para ela. Se não
ambiente em que vivem e isso se dá a partir da intera- houver mudanças na rotina, a mesma também desconsi-
ção e convivência com outras pessoas, por meio da ca- dera o adulto, tornando seu trabalho monótono, repetitivo
pacidade que os mesmos adquirem no que diz respeito e pouco participativo.
a observar, manipular objetos, refletir sobre suas ações,
entre outras. O RCNEI relata que no ato de brincar, as crianças são
O desenvolvimento humano ocorre a partir do con- favorecidas nos diversos aspectos: afetivos, cognitivos e
tato com outras pessoas e com o meio em que vive. A sociais. Dessa forma, ao brincar as crianças recriam e re-
escola, nesse sentido, pode ser um espaço privilegiado pensam os acontecimentos que lhes deram origem, sa-
para que tal interação aconteça. Por ser o Centro de Edu- bendo que estão brincando. Para brincar é preciso apro-
cação Infantil um espaço educativo e social, é fundamen- priar-se de elementos da realidade imediata, e para tal,
tal que nele haja um espaço adequado e planejado para o educador deve organizar o tempo/espaço, que possi-
o desenvolvimento de atividades diversas, que promo- bilite esse ato, bem como, uma rotina que oriente suas
ações e as das crianças.
vam e favoreçam o desenvolvimento de crianças, que ali
A peculiaridade do brincar e da brincadeira ocorre
são educadas e cuidadas em período integral.
por meio da articulação entre a imaginação e imitação
da realidade e, para brincar é preciso que a criança tenha
A sala de aula da educação infantil deve ser um espa- certa independência para escolher com quem e quais os
ço visualmente limpo, claro, permitindo que as crianças papéis que irão assumir no interior de um determinado
sintam-se à vontade para desenvolver suas capacidades tema e enredo, cujo desenvolvimento depende somente
de criar e imaginar, bem como, interagir e serem capazes da vontade de quem brinca (RCNEI, 1998).
de exercer uma série de atividades. Verifica-se no RCNEI (BRASIL, 1998) que o brincar
A idéia central na forma de organizar o espaço para apresenta-se por meio de várias categorias de experiên-
a realização de atividades é que as mesmas sejam plane- cia que são diferenciadas pelo uso do material ou dos
jadas de acordo com a faixa etária das crianças, envol- recursos predominantemente implicados.
vendo atividades lúdicas, que levem em conta as diver- Dentre essas categorias, o RCNEI (1998) destaca o
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

sas formas de linguagem: música, faz-de-conta, teatro, movimento e as mudanças da percepção, resultantes da
imitação, dança, desenhos, literatura, etc. Ao organizar mobilidade física das crianças, a relação com os objetos
o espaço, o educador deve levar em consideração todas as e suas propriedades físicas, bem como a combinação e
dimensões humanas potencializadoras nas crianças: o imagi- associação entre eles, os conteúdos sociais, os limites
nário, o artístico, o lúdico, o afetivo e o cognitivo. Este espaço definidos pelas regras, entre outros. Essas categorias de
não pode ser visto como um mero lugar da sala de aula. experiências podem ser agrupadas em três modalidades
A medida que o educador pensa em sua ação peda- básicas, quais sejam, brincar de faz-de-conta ou com pa-
gógica, há uma preocupação também com os materiais a péis, considerada como atividade fundamental da qual
serem utilizados, bem como a realidade pela qual a ins- se originam todas as outras, brincar com materiais de
tituição está inserida. Faz-se necessário que ao definir o construção e brincar com regras.
espaço a ser utilizado, o educador pense na estratégia

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Nesse sentido, o brincar deve se constituir em ativida- Nacionais para a Educação Infantil (Parecer CEB 22/98),
de permanente no cotidiano da educação infantil e a or- visando a postura adotada pelos profissionais da edu-
ganização do espaço/tempo para o desenvolvimento das cação infantil relacionado ao que foi dito na proposta
atividades se faz necessário e fundamental para desper- pedagógica.
tar o interesse das crianças, nas diferentes faixas etárias. No que diz respeito à gestão da educação infantil,
Quando proporcionamos o brincar, criamos um espaço estas instituições devem funcionar no período diurno
para que as crianças experimentem e descubram o mundo, (parcial 4 horas e integral 10 horas no máximo), sem
de maneira alegre, divertida, dinâmica, criativa. Oportuniza- ultrapassar o tempo que a criança passa com a família.
mos que a criança seja feliz, seja humanizada (RCNEI, 1998). Essas instituições por sua vez organizam de sua maneira
De acordo com o RCNEI (1998) é válido lembrar que a proposta pedagógica, o tempo, os espaços, materiais,
esta organização do espaço deve ser feita em cooperação conforme o período que atendem as crianças, além do
com a criança que brinca, pois na organização dos brin- calendário não ser elaborado igual os das escolas de en-
quedos e espaços a criança já está imprimindo a sua per- sino fundamental (DCNEI, 1998).
sonalidade, seus desejos e sonhos, mas também recons-
truindo em pequena escala sua representação de mundo. Ao organizar os grupos ou turmas, essas instituições
De acordo com os Parâmetros Nacionais de Qua- têm autonomia para fazer essa ação da maneira que me-
lidade para a Educação Infantil (2006), a qualidade da lhor lhe convém, desde que a mesma esteja explícita em
educação infantil se dá pela definição de papéis e ações sua proposta pedagógica, o que pode ser por faixa etária
delimitadas, tanto na parte financeira, administrativa e (1, 2, 3 anos) ou envolvendo mais de uma faixa etária (0
pedagógica que respeitem a legislação. a 2, 1 a 3 anos, etc), considerando sempre o equilíbrio de
ambos os sexos, nunca ficando sozinhos, sendo sempre
Este documento ressalta o artigo 20 da LDB, que dis- observados pelo professor, visando que para cada pro-
põe que a finalidade da educação infantil é “[...] o de- fessor deve haver na idade de 0 a 2 anos, de 6 à no máxi-
senvolvimento integral da criança até 6 anos de idade mo 8 alunos, 3 anos, 1 professor para cada 15 crianças e,
em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, acima de 4 anos, 1 professor para cada 20 crianças, a sala
complementando a ação da família e da comunidade”. deve comportar esse número de alunos (DCNEI, 1998).
Os PNQEI (2006), são organizados em seções distin-
tas, na qual a primeira seção relaciona-se com as pro- Faz parte da gestão da educação infantil os profis-
postas pedagógicas das instituições de educação infantil, sionais que atuam na área de direção, administração,
visam os princípios éticos relacionados com responsabi- coordenação pedagógica ou geral, estes devem ter no
lidade, solidariedade, respeito, bem como ainda os prin- mínimo o diploma de nível médio, modalidade normal,
cípios políticos referentes a cidadania – direitos e deveres mas preferencialmente curso superior (Pedagogia).
-, criticidade e respeito à ordem democrática e, por fim, E ainda, devem garantir a realização de um trabalho
os princípios estéticos que colaboram com a criticidade, de qualidade com as crianças que frequentam a institui-
ludicidade e diversidade artística e cultural. ção, encaminhando casos de maus tratos e violências
aos órgãos específicos, organizam junto com os demais
As propostas pedagógicas da educação infantil de- profissionais da escola, família e comunidade o registro
vem organizar as atividades das crianças, sendo estas e avaliação da proposta pedagógica, divulgam normas e
estruturadas, espontâneas e livres, interagem com as di- regras da instituição, incentivam a formação continuada
versas áreas do conhecimento, tanto básicos e conheci- dos profissionais, respeitam os direitos e asseguram os
mentos e valores, e que os professores devem atender as deveres de todos os funcionários, respeitando as deci-
necessidades e características das crianças (PNQEI, 2006). sões coletivas, para que aconteça uma educação com
Esta ainda prevê que o trabalho da educação infantil qualidade realizam reuniões entre família e profissionais
deve ter complemento da ação familiar, havendo intera- da educação infantil (DCNEI, 1998).
ção entre as duas. A proposta deve ressaltar a importân- No que diz respeito aos professores da educação
cia de se trabalhar atividades relacionadas à diversidade infantil exige-se dos mesmos a habilitação em nível su-
contra a discriminação de gênero, religião, etnia, neces- perior, Pedagogia ou modalidade Normal, e a formação
sidades especiais, composição familiar e diversos estilos mínima em nível médio, valorizando sempre seu conhe-
de vida, bem como, o respeito e valores dos costumes, cimento no que diz respeito aos direitos e deveres, éti-
cultura local e regional. (PNQEI, 2006). ca profissional, aperfeiçoamento (profissional e pessoal)
Deve visar ainda a inclusão das crianças com necessi- (DCNEI, 1998).
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

dades especiais, sendo que a educação infantil deve ela- Esses professores devem ainda estar cientes de suas
borar estratégias, orientações e materiais que atendam funções relacionadas a garantir o bem-estar, assegurar o
às necessidades especificas da criança, evidenciando a crescimento e promover o desenvolvimento e habilida-
formação continuada da equipe para atender esses alu- des, visando suas necessidades de saúde (nutrição, hi-
nos, bem como, a adaptação do espaço e equipamentos. giene, descanso e movimentação), bem como proteção,
(PNQEI, 2006). a fim de possibilitar o desenvolvimento de autonomia
permitida ao seu estágio, auxílio nas atividades. Devem
As propostas pedagógicas de educação infantil são realizar atividades ao ar livre, em sala, individual e em
desenvolvidas baseadas nas leis; isso acontece na escolha grupo, sendo estas de escolhas das crianças e do pro-
das concepções, metodologias e estratégias pedagógi- fessor, visando desenvolver a imaginação, curiosidade,
cas, respeitando o que ressalta as Diretrizes Curriculares capacidade de expressão em suas múltiplas linguagens

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(gestos, corpo, plástica verbal, musical, escrita, virtual), Os gestos são uma representação visual, uma forma
possibilitando que a criança expresse seus sentimentos e de comunicação que a criança utiliza nos primeiros anos
pensamentos (DCNEI, 1998). de vida. Os rabiscos que as crianças costumam fazer
Segundo as DCNEI, 1998, o desenvolvimento de tais tendem a ser mais gestos do que desenhamos, pois “[...]
habilidades visa ampliar o conhecimento a respeito do Quando ela tem de desenhar o ato de pular, sua mão
mundo, natureza e cultura, criam condições favoráveis começa a fazer os movimentos indicados do pular; o que
de construção do autoconceito e identidade, valorizando acaba aparecendo no papel [...]”.
a diversidade estética e cultural brasileira, realização de Vygotsky (1998, p. 143) afirma que “A segunda esfera
brincadeiras correspondentes as faixas etárias, valorizam de atividades que une os gestos e a linguagem escrita é a
as atitudes de cooperação, respeito à diversidade, orien- dos jogos das crianças”. Para o autor, os jogos fazem um
tando a discriminação de gênero, etnia, religião e crian- elo entre os gestos e a linguagem escrita. É através dos ob-
ças com necessidades especiais. jetos que a criança consegue estabelecer símbolos e assim
chegar aos signos. De fato, “O mais importante é a utiliza-
Existem outros profissionais que trabalham na equi- ção de alguns objetos como brinquedos e a possibilidade
pe da instituição de educação infantil, caracterizada de executar, com eles, um gesto representativo. Essa é a
como equipe de apoio (cozinha, limpeza, secretaria) e chave para a função simbólica do brinquedo das crianças”.
especialistas que auxiliam na formação continuada dos
professores. Para a criança qualquer objeto pode ser usado para
brincar, até mesmo um pedaço de pau pode ser uma
Os professores, gestores, profissionais de apoio e es- boneca, uma brincadeira simbólica como esta cheia de
pecialistas das instituições de educação infantil devem significados, pois a criança usa de gestos para brincar.
ter atitudes de confiança, respeito, garantir condições de Logo, “[...] o brinquedo simbólico das crianças pode
ser entendido como um sistema muito complexo de ‘fala’
trabalho necessárias ao desempenho de suas funções:
através de gestos que comunicam e indicam os significa-
tempo, espaço, equipamentos e materiais. (DCNEI, 1998).
dos dos objetos usados para brincar”.
A infraestrutura das instituições infantis, devem aten-
Vygostky ressalta que não se pode negar o papel que
der às necessidades de saúde, proteção, alimentação,
a brincadeira possui para o desenvolvimento da criança,
descanso, interação, conforto, higiene, além de propiciar
pois a mesma contribui para a expansão da linguagem
a interação das crianças com as crianças e crianças com
escrita “[...] consideramos a brincadeira de faz-de-conta
adultos, devem aguçar a imaginação e aprendizagem das como um dos grandes contribuidores para o desenvolvi-
crianças. (DCNEI, 1998). mento da linguagem escrita – que é um sistema simbo-
Nas paredes sugere-se que devem ser expostas as lismo da segunda ordem”.
produções das crianças, as atividades realizadas, visan-
do ampliar seus conhecimentos. As cores de paredes H. Hetzer (apud VYGOSTKY, 1998), realizou vários es-
e mobílias têm a finalidade de deixar o ambiente mais tudos sobre a representação simbólica dos objetos, fator
aconchegante. Os mobiliários, materiais e equipamentos de extrema importância que a criança de três a seis anos
devem ser organizados deixando o ambiente confortá- são capazes de desenvolver. Concluiu que,
vel. Brinquedos, equipamentos e materiais pedagógicos
devem ser escolhidos para não trazer problemas à saúde [...] mais importante desse estudo do desenvolvimen-
da criança (DCNEI, 1998). to é que, na atividade de brinquedo, a diferença entre
Todos os espaços, materiais e equipamentos presen- uma criança de três e outra de seis anos de idade não
tes na instituição infantil, destinam-se não só às crianças, está na percepção do símbolo, mas sim, no modo pelo
mas também à família e profissionais da mesma, aten- qual são usadas as várias formas de representação. Na
dendo também as necessidades de saúde, segurança, in- nossa opinião, essa é uma conclusão extraordinariamen-
teração, conforto dos profissionais e da família. Na mes- te importante; ela indica que a representação simbólica
ma deve conter um quadro de avisos visível na entrada e no brinquedo é, essencialmente, uma forma particular de
nas salas. Deve haver espaços diferentes para atividades linguagem num estágio precoce, atividade essa que leva,
das crianças, dos profissionais, serviço de apoio e acolhi- diretamente, à linguagem escrita.
mento da família. Por isso, devemos tomar cuidado ao inserir o brin-
car e a brincadeira no projeto pedagógico, para não tra-
Ao considerar a importância da organização do tem- balharmos com estes de forma tradicional, que de certa
po e do espaço na educação infantil, destaca-se a im- forma desvalorizam o brincar (CARVALHO; GUIMARÃES,
portância de uma ação educativa pautada nas múltiplas 2002).
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

linguagens. Priorizamos refletir sobre: os gestos e o ato


de brincar; o desenho; a dança e a música; manipulação Sendo assim, os autores acrescentam que
de objetos e materiais artísticos e, a escrita.
[...] nas brincadeiras se aprendem e são incorporados
Os gestos e o ato de brincar conceitos, preconceitos e valores. Nelas se expressam
nossas múltiplas belezas, como também as mais sutis
Conforme Vygostky, a escrita tem início com os ges- e grotescas molezas humanas e sociais. Expressões hu-
tos, é o signo visual inicial que contém a futura escrita da manas como a competição, a cooperação, a violência,
criança. Para Vygostky (1988), “[...] os gestos são a escrita a brutalidade, a delicadeza, o sentimento de exclusão e
no ar, e os signos escritos são, freqüentemente, simples inclusão [...] os combinados coletivos, o respeito e o des-
gestos que formam fixados [...]”. respeito, aparecem de forma contraditória.

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Ao brincar a criança participa das construções de re- No que tange a dança, quando inserida no âmbito da
gras, sendo assim, “[...] as crianças constroem conheci- educação infantil, propicia o autoconhecimento, estimu-
mentos e vivem relações sociais específicas, repletas de lando a corporeidade na escola, além de proporcionar
valores e significados”. aos educandos relacionamentos estéticos com as outras
Vygostky “[...] apresenta a criança como sujeito mar- pessoas e com o mundo, incentivando a expressividade
cado pela história e pela sua cultura, que interage com dos indivíduos por meio de comunicação não verbal e
a realidade a partir das suas relações com o mundo e diálogos corporais.
revela uma singularidade própria de suas experiências
culturais e sociais [...]”. Portanto, para Vygotsky (1998), as Barreto (2005) identifica dentre os sentidos estimula-
brincadeiras são consideradas atividades importantes na dos pela dança a expressão artística, a expressão huma-
educação da criança, uma vez que permite o desenvolvi- na, possibilitando também a expressão dos sentimentos,
mento afetivo, motor, cognitivo, social e moral. Promove além de representar uma forma de conhecimento, co-
a aprendizagem de conceitos e a aproximação entre as municação e sensibilização na educação, promovendo o
crianças e delas com os adultos, além de colocá-las em desenvolvimento da criatividade e a liberação da imagi-
contato com si mesma e com o mundo. nação na criança.
A dança pode ser expressa por meio de atividades
Desenho lúdicas, tais como: “jogos, brincadeiras, mímicas, inter-
pretações de músicas”, ou atividades técnicas, como
Existe uma grande relação entre o ato de desenhar “exercícios técnicos de dança, improvisação, atividades
com a linguagem falada e escrita, que esta por sua vez é de conscientização corporal”. Outras formas são as ati-
uma etapa próxima da criança no processo de apropria- vidades inspiradas no cotidiano, como a exploração de
ção do conhecimento. De acordo com K. Buhler, a criança danças e movimentos cotidianos e temas geradores da
consegue desenhar quando a linguagem falada já está cultura brasileira.
bem formada. Seus desenhos são de memória e eles Marques (2005) considera que “[...] a escola, inicial-
não tem nada em comum com o objeto original. Existem mente, estaria mais engajada com as danças criadas com
também os “desenhos de raios-X”, expressão usada por finalidades e intenções artísticas, já que os outros tipos
Buhler na qual a criança desenha partes que na verdade de dança estão disponíveis e mais acessíveis aos alunos
não se pode ver, como por exemplo, o dinheiro dentro no meio em que vivem [...]”. Contudo, Marques (2005)
da carteira. E o desenho que exclui partes do corpo como considera que o professor engajado aos contextos dos
pernas e braços. alunos se torna um propositor e um articulador, entre
estes contextos e o conhecimento em dança a ser desen-
Segundo Sully, “[...] as crianças não se preocupam volvido na escola. Da mesma forma, cabe ao professor,
muito com a representação; elas são muito simbólicas do conectado ao universo sócio-político-cultural dos alunos,
que naturalistas e não estão, de maneira alguma, preocu- escolher e mediar relações entre a dança dos alunos “[...]
padas com a similaridade completa e exata, contentan- seus repertórios pessoais e culturais [...] suas escolhas
do-se com as indicações apenas superficiais”. pessoais de movimento [...]”, a dança dos artistas, tais
como a capoeira, o passista de escola de samba ou um
O desenho é uma simples identificação, sem se preocu- coreógrafo e, o conhecimento em sala de aula, com a
par com detalhes de uma representação. Desta forma, po- intenção de não tornar as experiências vazias, repetitivas
demos dizer que “[...] o desenho das crianças como um es- e enfadonhas.
tágio preliminar no desenvolvimento da linguagem escrita”.
Vygostky afirma ainda a dificuldade de transição, Com relação à música, esta representa uma energia
mas, esclarece que é através do desenho das coisas que que eleva e amplia a percepção infantil. Uma boa mú-
a criança desloca-se para o desenho das palavras. Ele fri- sica multiplica suas ações e auxilia no desenvolvimento
sa que esta transição deve ser feita de maneira natural e da flexibilidade, energia, fluência verbal, além de de-
após este entendimento aperfeiçoar o método da escrita. senvolvimento mental, emocional e espiritual. Além de
Ainda quanto ao desenhar, Vygostky explica que a motivante, a música é um referencial para o ajuste dos
criança tende a desenhar da mesma forma com que rea- movimentos e, portanto, é estimulante tornando-se este
liza o movimento a ser desenhado, pois, “[...] Quando ela um dos objetivos da utilização da mesma.
tem de desenhar o ato de pular, sua mão começa a fazer Por meio da música o professor trabalhará o esque-
movimentos indicativos do pular, que acaba aparecendo ma corporal, uma vez que a criança aponta as partes do
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

no papel, no entanto é a mesma coisa: traços e pontos corpo enquanto canta determinadas músicas. Passa a
[...]” ter noção de tamanho, além de outras experiências cor-
porais que a música lhe proporciona. Conforme Craidy;
A Dança e a Música Kaercher (2001) “[…] A criança precisa de vivências mais
ricas para construir uma imagem de si mesma e a partir
No indivíduo, a dança e a música estimulam áreas de sua identidade corporal, suas possibilidades físicas,
do cérebro que aguçam a percepção, desenvolvendo a suas singularidades”.
sensibilidade, o raciocínio, a concentração, memória e
coordenação motora. Também ajudam na expressão das Além do aspecto envolvendo o esquema corporal, a
emoções, facilitam as relações sociais, o enriquecimento música engloba noções básicas de orientação espacial,
cultural, e auxilia na construção da cidadania. tais como: em cima, embaixo, frente e atrás. Da mesma

29
forma, a expressividade da criança se desenvolve, con- Para elas, alguns objetos podem, de pronto, denotar
tudo, as crianças não devem somente imitar os gestos outros, substituindo-os e tornando-se seus signos [...] O
de um modelo, no caso o professor, pois essa atitude mais importante é a utilização de alguns objetos como
limitaria a criatividade infantil. brinquedo e a possibilidade de executar, com eles, um ges-
Craidy; Kaercher (2001) evidenciam que, atualmente, to representativo. Essa é a chave para toda a função sim-
existe uma infinidade de produções musicais de qualidade bólica do brinquedo nas crianças [...].
para crianças, nas quais os autores se preocupam com a
letra, os arranjos e o ritmo das músicas, além de contar com Craidy; Kaercher (2001) apontam que as atividades
intérpretes que expressam emoções diferentes nas canções. artísticas realizadas pelas crianças devem ter a mediação
O professor deve estimular as crianças a cantarem e do professor:
se expressarem sem a preocupação com a afinação, pois O professor deve apresentar os mais variados tipos de
trata-se de uma área de conhecimento que muitas vezes suportes planos para os trabalhos bidimensionais: papéis
é negligenciada no processo formativo das crianças. e folhas de plástico, pedaços de lixas, tecidos, etc. Mesmo
A criança que desafina não teve a sorte, ou não teve que o trabalho seja desenho ou pintura, podemos explo-
a oportunidade, de conviver num ambiente em que a rar superfícies de objetos tridimensionais como: balões,
confiança e as interações fossem incentivadas. Contudo, caixas de ovos, caixas diversas, objetos industriais [...].
ela não será uma pessoa desafinada para sempre, tudo
vai depender do tipo de interação que vai realizar com a Para uma utilização adequada por parte dos alunos,
música, das oportunidades que terá para cantar e utilizar o professor deve fazer um bom uso dos materiais dispo-
sua voz como forma de expressão. níveis, variando os objetos que serão utilizados para que
suas atividades não se tornem cansativas, tanto para si
A música permite a criança aprender a combinação próprio, quanto para os alunos. Deve começar a explorar
de sons, bem como atribuir significado a estes sons. “[...] variações de todos os tipos, não apenas em relação ao
É isso que fará dela um ser humano capaz de compreen- material, mas principalmente ao espaço.
der os sons de sua cultura e de se fazer entender pelo A aprendizagem com significado para a criança, deve
uso deliberado dessas aprendizagens nas trocas sociais”. ser alicerçada na mediação pedagógica do professor.
Além do aspecto cultural envolvendo a música, ela
Dessa forma, a criança desenvolve sua criatividade atra-
também se revela como instrumento de socialização e
vés da mediação do educador que estimula o aluno a
criação de vínculos entre as crianças e professores. A
realizar suas próprias produções artísticas. O professor
música torna-se uma forma de desenvolvimento da lin-
deve estar em constante aperfeiçoamento e realizando
guagem oral, pois remete à interação do adulto com a
escolha dos recursos didáticos de forma condizente com
criança, da interação entre as próprias crianças e também
a faixa etária das crianças, bem como com os objetivos
dos momentos em que as crianças somente ouvem ou
quando cantam suas músicas. que pretende alcançar.
Contudo, Craidy; Kaercher evidenciam que música A criança ao ser colocada em contato com materiais
não é somente o cantar, mas também a manipulação dos diferentes tem a oportunidade de perceber sua verdadei-
instrumentos musicais ou objetos sonoros que são ofer- ra utilidade, ampliando seu conhecimento. Craidy; Kaer-
tados às crianças. “As crianças precisam ter experiências cher evidenciam a importância da mediação pedagógica
concretas com objetos que emitem sons, instrumentos do professor para que a criança realize suas atividades:
musicais ou outros e formar um vocabulário especifico “[...] é necessária a intervenção do professor para que os
para se referir a eventos sonoros [...]”. elementos fiquem onde a criança colocou na segunda ou
terceira vez, antes que rasguem o papel [...]”.
Ainda de acordo com Craidy; Kaercher (2001), o tra-
balho com a música não pode ser mera repetição das O contato com diversos materiais provoca novas expe-
palavras e gestos do professor, sendo importante que riências nas crianças. O uso de materiais é como um de-
as crianças tenham em mãos objetos musicais para que safio que deve ser estabelecido com as crianças, aumen-
possam manipular e criar sons diversos. tando o grau de dificuldade gradativamente. As crianças
Manipulação de objetos e materiais artísticos devem ter a oportunidade de experimentar coisas novas,
novas texturas. O professor deve acompanhar, mas não
Segundo Craidy; Kaercher (2001), a criança deve ma- fazer pelo aluno, interferindo na sua criatividade.
nipular os materiais, livremente, pois experimentar no-
vas sensações é importante para a criança. No entanto, Ao fazer uso frequente das ferramentas, o aluno de-
é preciso delimitar locais apropriados para desenvolver senvolve sua coordenação motora, a criatividade, a sen-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

suas pinturas. sibilidade. Esse é um trabalho que acontece de forma


É através da manipulação de diferentes objetos que a gradual, de acordo com o nível de desenvolvimento da
criança consegue estabelecer símbolos e, assim, chegar criança.
aos signos, de fato os jogos fazem elo entre os gestos e a Muitos são os materiais que podem ser explorados
linguagem escrita. Sempre que observamos uma criança pelas crianças, tais como: pedaços de estopa, chumaços
brincar podemos notar que em meio a sua brincadeira o de algodão, pazinhas de sorvete, talheres, tesouras sem
faz-de-conta está sempre presente, uma colher pode ser pontas, dentre outros. As tesouras servem para cortar e
uma boneca, a vassoura pode ser um avião. As brincadei- também para a criança desenhar no papel e são indica-
ras ajudam no desenvolvimento da criança contribuin- das para as crianças a partir dos três anos, pois é o mo-
do para sua vida e na construção da linguagem escrita. mento em que conseguem manuseá-la com apenas uma
Como afirma Vygotsky: mão.

30
As crianças, segundo Craidy; Kaercher (2001) tam- processo, e não abrir mão disso, sendo preciso compe-
bém podem brincar de esculturas com materiais diversos tência e responsabilidade. Enfim, é a própria criança que
como mistura de água com terra e as massinhas de mo- abre a porta para a alfabetização e para que isto aconte-
delar, sendo que estas devem ser comestíveis, pois com ça é fundamental que a mesma perceba sua utilização no
frequência as crianças as levam à boca devido as suas seu cotidiano. No entanto, o professor deve ser o media-
cores chamativas. Quanto aos pigmentos encontramos dor desse processo.
na natureza cores variadas e com um custo acessível, Vygostky (1998) afirma que “A linguagem escrita
servindo de estímulo para que a criança busque a sua é constituída por um sistema de signos que designam
volta cores diferentes em plantas, materiais como terra, os sons e as palavras da linguagem falada, os quais, por
sementes e outros. sua vez, são signos das relações e entidades reais [...]”.
O espaço onde serão realizadas estas atividades deve Assim, o domínio de um complexo sistema de símbolo
ser organizado e os materiais dispostos em locais de fácil não pode ser alcançado de forma externa e mecânica. Ele
acesso para as crianças, com exceção daqueles objetos ainda ressalta que esse domínio é o maior ponto do pro-
que as crianças não poderão manusear sozinhas. Ao tra- cesso de desenvolvimento das funções comportamentais
balhar a organização espacial o professor também estará complexas.
trabalhando com temas como socialização, utilização co-
letiva de materiais, respeito, cuidados com os materiais A apropriação da linguagem escrita não segue uma
escolares. linha contínua, pois ocorrem transformações. No que diz
O RCNEI (2001) aponta como orientações didáticas respeito a esse assunto, Vygostky afirma que,
que o professor oportunize às crianças momentos para
que se familiarizem com os procedimentos ligados aos [...] a história do desenvolvimento da linguagem escri-
materiais utilizados, bem como possibilite aos alunos a ta nas crianças é plena dessas descontinuidades [...] Mas
reflexão com relação ao resultado obtido. somente a visão ingênua de que o desenvolvimento é um
processo puramente evolutivo, envolvendo nada mais do
Escrita que acúmulos graduais de pequenas mudanças e uma
conversão gradual de uma forma em outra, pode-se es-
No item anterior, destacamos a importância do desen- condermos a verdadeira natureza desses processos. Esse
volvimento intelectual na criança, porém neste, ressalta- tipo revolucionário de desenvolvimento, no entanto, de
remos a forma com que a mesma se apropria da escrita. maneira nenhuma é novo para a ciência em geral; é novo
Luria (1929), fez várias pesquisas quanto ao processo de somente para a psicologia da criança. Portanto, apesar
simbolização na escrita, desenvolveu experiências com as de algumas tentativas ousadas, a psicologia infantil não
crianças e fez várias comparações. Baseado nos estudos possui uma visão convincente do desenvolvimento da lin-
de Luria, Vygostky acredita que, “[...] Gradualmente, as guagem da escrita como um processo histórico, como um
crianças transformam esses traços indiferenciados. Sim- processo unificado de desenvolvimento.
ples sinais indicativos e traços e rabiscos simbolizadores
são substituídos por pequenas figuras e desenhos, e es- Vygostky (1998) afirma ainda que o segredo está em
tes, por sua vez, são substituídos por signos”. a criança sentir a necessidade de ler e escrever, no dia-
-a-dia, por isso não se deve ensinar a criança somente as
escritas das letras, mas, a linguagem da escrita.
Tendo em vista que o RCNEI (1998), DCNEI (1998) e
Para Vygostky (1998, p. 153), os PCNEI (2006) ressaltam a importância da organização
do tempo e espaço na educação infantil, destacou-se
[...] a criança precisa fazer uma descoberta básica – a neste capítulo algumas reflexões que priorizam uma prá-
de que se pode desenhar, além de coisas também fala. Foi tica pedagógica pautada nas múltiplas linguagens.
essa descoberta, e somente ela, que levou a humanidade
ao brilhante método da escrita por letras e frases; a mes- Evidenciou-se que os gestos e o brincar proporcio-
ma descoberta conduz as crianças à escrita literal. Do pon- nam a criança o início do que será sua escrita futura-
to de vista pedagógico, essa transição deve ser propiciada mente, uma vez que trata-se de uma primeira forma de
pelo deslocamento da atividade da criança do desenhar comunicação infantil. Quando a criança brinca ela está
coisas para o desenhar a fala. socializando-se com as demais crianças e estimulando
sua comunicação. Com o desenho a criança se expressa
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O desenvolvimento da linguagem escrita, segundo e estimula o desenvolvimento da escrita que será uma
Vygotsky (1998) se dá pelo deslocamento do desenho fase futura.
de coisas, para o desenho de palavras. Na verdade, o se- A dança e a música representam grande estímulo a
gredo do ensino da linguagem escrita é preparar para criança, aguçando sua sensibilidade, criatividade e de-
organizar adequadamente essa transição de maneira na- senvolvendo, ao mesmo tempo, a coordenação motora
tural. Após ser alcançado esse processo, a criança passa a e suas emoções. Por meio da manipulação de objetos e
dominar o princípio da linguagem escrita, desta forma, é materiais artísticos a criança também tem a possibilidade
necessário aperfeiçoá-la. de desenvolver sua criatividade e sua expressividade. Da
Portanto, para ser alfabetizada, a criança precisa que- mesma forma, as brincadeiras de manipulação propiciam
rer aprender a ler e escrever, no entanto, é indispensá- a criança a construção da linguagem escrita, bem como
vel ressaltar que é o professor quem deve mediar esse ampliar seu conhecimento.

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Enfim, a escrita é o resultado das diversas experiên- Quando a criança manipula objetos livremente a
cias que a criança realiza durante sua infância, ou seja por criança desenvolve a criatividade, pois a variação des-
meio dos gestos, brincadeiras, manipulações e pelo mo- ses objetos devem ser constantes, pois são muitos esses
vimento do seu corpo, proporcionado pelas atividades materiais.
envolvendo a dança e a música. Dessa forma, compreen- O professor da educação infantil deve ter uma ação
demos que a escrita forma-se nas mais diversas relações pedagógica que articule as múltiplas linguagens ine-
estabelecidas pela criança no decorrer das atividades que rentes no processo de aquisição do conhecimento, co-
realiza. locando as mesmas em prática para atingir suas metas
Ao finalizar essas reflexões, ressaltamos que a criança educativas. Este professor deve estabelecer regras, desde
não aprende somente por meio da repetição, ou da lei- que estas deem condições para que ele possa realizar um
tura e escrita, mas pelas múltiplas linguagens inerentes excelente trabalho com os alunos. Todavia, se a criança
no processo de apropriação do conhecimento. A infância for reprimida e obrigada a seguir um caminho comum,
é uma fase onde ocorre o desenvolvimento intelectual, igual à de todos, ela não terá como desenvolver sua cria-
emocional, motor e social do ser humano. A criança vive tividade e a capacidade intelectual.
a infância como um momento próprio dela, tendo um
tempo que possibilite diversas linguagens, na qual desta- Fonte: NUNES, C. D. O.; SILVA, J. A. da. As Múltiplas
camos o gesto e o ato de brincar, que a criança ao brincar Linguagens e a Apropriação do Conhecimento pela
utiliza um objeto e o transforma em outro objeto, o que Criança na Educação Infantil.
acaba sendo uma brincadeira simbólica cheia de signifi-
cados, onde a criança usa os gestos para brincar.
Os gestos, neste aspecto, são a primeira forma de co-
municação utilizada pela criança. E, as brincadeiras, por
sua vez determinam regras e desenvolvem nas crianças EXERCÍCIO COMENTADO
os aspectos afetivos, motor, social, moral e cognitivo.
1. (Prefeitura de Piraquara/PR- Professor- CEC/2017)
A criança desenha quando sua linguagem falada está
O Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil
bem formada. O desenho é considerado por Vygotsky
é um documento que “se constitui em um conjunto de
como uma fase que antecede à escrita, pois é pelo dese-
referências e orientações pedagógicas que visam a con-
nho das coisas que a criança transita para o desenho das
tribuir com a implantação ou implementação de práticas
palavras, essa transição deve se dar naturalmente para só
educativas de qualidade que possam promover e ampliar
então depois haver o aperfeiçoamento da escrita.
as condições necessárias para o exercício da cidadania
A dança no ambiente da educação infantil contri-
bui para que a criança expresse suas emoções, tenham das crianças brasileiras”. Considerando as especificidades
mais facilidade de relacionamento, enriquecendo-a cul- cognitivas, afetivas, emocionais e sociais das crianças de
turalmente, bem como auxiliando-a na construção da zero a cinco anos, o RCNEI (p. 13, 1998) descreve 5 (cin-
cidadania e a mesma vivenciar cada momento em seu co) princípios norteadores para a prática educativa, que
significado. visam promover o exercício da cidadania. De acordo com
Portanto, a aprendizagem na educação infantil ocorre esses princípios, selecione a alternativa que contempla
quando existe a participação da criança, pois desde o seu de forma correta as expressões que designam essas ca-
nascimento ela interage com o meio e com as próprias tegorias, na sequência em que estão colocadas a seguir.
pessoas destes, o que acaba assim resultando no seu
próprio desenvolvimento. I. O respeito à dignidade e aos ________das crianças, con-
Quando dizemos que a criança da educação infan- sideradas nas suas diferenças individuais, sociais, econô-
til tem direitos como ser humano, não podemos deixar micas, culturais, étnicas, religiosas etc.;
de ressaltar os documentos que estão relacionados ao II. O direito das crianças a ______, como forma particular de
direito da criança e ao seu atendimento na educação in- expressão, pensamento, interação e comunicação infantil;
fantil que é o RCNEI, DCNEI e os PNQEI, que demonstram III. O acesso das crianças aos __________ disponíveis, am-
as políticas estabelecidas em leis que dão prioridade ao pliando o desenvolvimento das capacidades relativas à
atendimento educativo, na qual garantem o desenvolvi- expressão, à comunicação, à interação social, ao pensa-
mento integral da criança, servindo como base para de- mento, à ética e à estética;
senvolver um trabalho com as múltiplas linguagens nesta IV. A socialização das crianças por meio de sua partici-
etapa da educação básica. pação e inserção nas mais diversificadas __________, sem
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

discriminação de espécie alguma;


Cabe ressaltar ainda que dentre essas a dança por sua V. O atendimento aos cuidados essenciais associados à
vez pode ser expressa em várias atividades lúdicas, por sobrevivência e ao desenvolvimento de sua __________.
meio dos jogos, brincadeiras, interpretações de músicas,
mímica. A música quando bem trabalhada na educação a) direitos, brincar, bens socioculturais, atividades cultu-
infantil auxilia no desenvolvimento de flexibilidade, ener- rais, cidadania.
gia, no desenvolvimento mental, emocional e espiritual. b) deveres, estudar, livros, atividades culturais, identidade.
Assim, o trabalho com a música não deve ser apenas c) cuidados, interagir, livros, práticas sociais, cidadania.
repetitivo, mas sim que as crianças devem cantar e se d) direitos, brincar, bens socioculturais, práticas sociais,
expressar, além de manipular objetos musicais e criar di- identidade.
versos sons. e) deveres, brincar, livros, atividades culturais, cidadania.

32
Resposta: Letra D. De acordo com o RCNEI os direitos • DENSIDADE - Refere-se a um grupo de sons, onde o
da criança sempre devem ser preservados nas institui- adensamento ou rarefação, maior ou menor agru-
ções de ensino considerando a pluralidade social em pamento de sons é ouvido.
que vivemos, além disse o direto de brincar e expres- Brito, aborda com vários exemplos a importância da
sar seus pensamentos e comunicar-se através dessas audição para um maior entendimento do meio e sua in-
brincadeiras, bem como o acesso dessas crianças aos teração com os sons que o cercam, sons portadores de
bens socioculturais no contexto em que está inserido informações e significados.
e a inserção das crianças às práticas sociais mais diver- A autora toca, ao final do capítulo, num assunto im-
sas além de promover cuidados de higiene e alimenta- portante, mas pouco falado, a “ecologia acústica”, a imen-
ção e sobrevivência essências para o desenvolvimento sa variedade e volume de sons aos quais estamos expos-
da identidade. tos nos grandes centros urbanos, e como esta poluição
sonora afeta nossa qualidade de vida. Neste sentido, a
autora destaca R Murray Schafer (1933-), compositor e
POR QUE EXISTE MÚSICA? educador que desenvolveu pesquisas acerca do som am-
biente, suas modificações (com o passar dos tempos), vi-
sando a conscientização. Esta pesquisa teria seu ápice no
FIQUE ATENTO! “projeto acústico mundial”, onde o ambiente teria seu som
É com esta pergunta feita por um aluno seu produzido conscientemente pelos músicos, indivíduos in-
que a autora inicia este capítulo, relatando um tegrantes do meio.
diálogo ocorrido durante uma aula.
Neste diálogo, primeiramente os alunos A MÚSICA
mostram os tipos de música segundo sua visão,
depois se inicia outro trecho da conversa, que Neste capítulo, a autora apresenta “A música”:
parte da pergunta “Por que existe som?”, sobre Origens;
a qual o tema é expandido. Definições (a dificuldade de definir, como esta é in-
fluenciada por aspectos culturais e históricos);
As muitas músicas da música (apresenta alguns estilos
SOBRE O SOM E O SILÊNCIO musicais e referências, destaca como os materiais sonoros
influenciam na produção sonora de determinada época);
Teca de Brito chama a atenção para a percepção do A música como jogo (apresenta análise de F. Delalan-
som, o ouvir como parte da integração entre o Homem de, que considera a música como jogo).
e o meio no qual este vive. Os sons que nos cercam são
expressões da vida, do movimento, e indicam situações, SOBRE AS ORIGENS
ambientes, paisagens sonoras, que representam o meio
e a presença do Homem neste. A música teve principalmente no seu início uma cono-
Som é tudo o que soa! Tudo o que o ouvido percebe tação mágica. Iniciou-se pela tentativa de o homem repro-
sob a forma de movimentos vibratórios... duzir os sons da natureza, e possui uma série de lendas a
Silêncio não é simplesmente a ausência de som, mas respeito de seu início.
sim a ausência de sons audíveis. Já que tudo vibra, o tem- É importante perceber que a música representa a so-
po todo há movimento gerador de som, sendo este audí- ciedade e cultura de sua época, sofrendo grandes trans-
vel ou não. formações durante o tempo e comportando novas fun-
Temos ainda de considerar que a cultura na qual o ções em local diferentes.
indivíduo está inserido influencia na sua escuta, exemplo
disso é a dificuldade, de nós ocidentais, de distinguir e re- SOBRE A QUESTÃO DA DEFINIÇÃO
produzir os microtons presentes na música indiana.
É assim que a autora explora o universo sonoro antes A principal ideia desta sessão do texto é que “defi-
de apresentar os parâmetros/qualidades do som (conjunto nição expressa concepção”, e em defesa desta opinião
de características do som, ou de agrupamentos sonoros, a autora apresenta os fatos que a levaram a tal afirma-
física e objetivamente definíveis, H.-J. Koellreutter, 1990).
ção. “A música é uma linguagem, posto que é um siste-
ma de signos”, afirma HanzJoachim koellreutter, música
O SOM TEM QUALIDADES (ou parâmetros)
é linguagem que organiza, intencionalmente, os signos
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

sonoros no continuum espaço-tempo. Koellreutter con-


• ALTURA - Um som pode ser grave ou agudo, depen-
sidera a música como linguagem, destacando a sua ca-
dendo de sua frequência (número de vibrações por
racterística transmissora de informação.
segundo). Quanto menor for a frequência, mais
A música é aceita como tal se inserida no contexto do
grave será o som, e quanto maior, mais agudo será;
• INTENSIDADE - Um som pode ser forte ou fraco, ouvinte, se o ouvinte compartilhar da mesma concepção
dependendo da amplitude de sua onda; do produtor/compositor sonoro. Por ex.: para Koellreut-
• TIMBRE - É a característica que personaliza o som, ter, a música é organizada intencionalmente, portanto
por exemplo, uma mesma nota pode ser tocada quem faz a música impõe sua intenção...já a concepção
no piano e no violão, com a mesma intensidade, de John Cage expande e altera a de Koellreutter, pois
e você poderá distinguir de qual instrumento é o considera que o ouvinte é quem dá sentido à música,
som pelo timbre; aos sons ao seu redor, então quem (ou o que) produz

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os sons, não precisa ser consciente ou ter uma intenção CONDUTAS DA PRODUÇÃO SONORA INFANTIL
na organização dos elementos. Portanto o que é música SEGUNDO FRANÇOIS DELALANDE
para Cage, Koellreutter pode não considerar como tal.
A música (como já falado anteriormente) carrega in- Delalande em sua pesquisa, afirma que o melhor ca-
formações, através das quais pode-se identificar a região minho na educação infantil é observar como estas ex-
ou o período que foi composta. O séc. XX trouxe novas ploram o universo sonoro e musical, e utilizar-se destas
fontes sonoras, apontando muito fortemente para um informações para maximizar a experiência sonora da
tipo de som que antes não era considerado “usável” em criança, direcionando e ampliando suas possibilidades (o
música: o Ruído. A manipulação de ondas sonoras e pro- termo direção aqui indica não certo ou errado, mas sim a
dução de sons a partir de fontes eletrônicas expandiram orientação do trabalho), sempre respeitando o ritmo e a
o universo sonoro. Portanto, o universo sonoro no qual maneira da criança realizar suas descobertas.
vivemos integra todos os tipos de sons: TOM, RUÍDO E O autor indicado, em sua pesquisa subdivide a ex-
MESCLA. ploração sonora infantil em três partes, aqui melhor
Achei muito importante a observação sobre alguns delimitada:
povos e culturas que desconhecem ou não adotam o - EXPLORAÇÃO: desde bebês, as crianças em seu de-
conceito de melodia com começo, meio e fim. A visão senvolvimento sensório motor, já podem utilizar objetos
que temos do mundo é em grande parte baseada em nós que provocam ruídos. Primeiramente com o simples to-
mesmos, ocidentais lógicos e organizadores, em busca car (refiro-me toque como sensação) e depois exploran-
de uma beleza cíclica que possua a sensação de repouso do o objeto com modificações no “como” toca, com que
e unidade. “força”, e “aonde” toca, provocando variações no resul-
tado sonoro;
A MÚSICA COMO JOGO - EXPRESSÃO: a representação da expressão pela
criança, se dá pela representação do real através do som,
François Delalande relaciona a música às formas de como por exemplo quando imita a dificuldade ou facili-
atividade lúdica propostas por Jean Piaget da seguinte dade de subir ou descer uma escada. A criança liga o som
forma: à sua fonte e o que ele representa para ela, sempre rea-
Jogo sensório-motor – vinculado à exploração do lizando os dois juntos, som e gestual, como por exemplo
som e do gesto; quanto imita o som de um carro, o faz juntamente com o
Jogo simbólico – vinculado ao valor expressivo e à gesto de dirigir o carro.
significação mesma do discurso musical; - CONSTRUÇÃO: a organização das ideias musicais
Jogo com regras – vinculado à organização e à cons- pela criança se dá por volta dos seis ou sete anos de ida-
trução da linguagem musical; de, já que antes disso a criança se expressa pela música
como fonte de exploração ou representação de cenas.
Delalande em sua pesquisa agrupa os vários tipos de Quando esta passa pelo período do jogo com regras, co-
música de acordo com sua função lúdica, ao contrário meça a organizar o conteúdo de sua produção seguindo
da tradicional classificação cronológica. Essa maneira de regras dadas ou criadas por elas.
organizar o repertório com certeza é mais interessante Cada criança é única, portanto deve-se levar em
para o educador, pois ajuda muito no que realmente se conta que o trabalho pode e deve variar de grupo para
espera de um exercício, tornando o trabalho do profes- grupo.
sor mais simples. Ao pensar uma atividade, se este utili-
zar esta proposta, já tem seu repertório organizado de DO IMPRECISO AO PRECISO - UMA LEITURA DA
acordo com sua necessidade. Outro ponto interessante TRAJETÓRIA DA EXPRESSÃO MUSICAL INFANTIL
é que a organização se dá de forma mais natural, mais
próxima de como o homem se relaciona com a música. Neste capítulo, a autora explana sobre como se dá o
desenvolvimento da criança na música. A partir de suas
CRIANÇAS, SONS E MÚSICA observações e pesquisas, ela utiliza-se de exemplos para
ilustrar a visão das crianças sobre o fazer musical, sua
As crianças se relacionam de forma natural e intuitiva relação com a música e os sons.
com a música, já que os sons e a música como forma de Os bebês, quando fazem diversas formas de sons, es-
comunicação que representam, são algumas das princi- tão explorando, aprendendo e ampliando as formas de
pais formas de relacionamento humano. usar o equipamento vocal que têm, além é claro de se
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Quando canta, bate, ou qualquer forma que a criança comunicar (por exemplo, quando está com fome ou com
utiliza para produzir som, a criança “se transforma em sono).
som”, representa a si através do som. E é por isso que Para as crianças, fazer ou ouvir música não significa
brincar é a melhor forma da criança aprender, porque seguir regras ou observar características, mas sim viven-
quando brinca, se diverte, e concentra maior atenção ciar o momento, aprender. Quando faz um som ou um
para aquilo que faz. movimento sonoro, a criança não está consciente de que
está fazendo música, mas quer apenas interagir com os
objetos ou com si mesma. Ela não quer fazer música no
sentido que conhecemos, o da música intencional, orga-
nizada, mas o faz através da ausência de intenção, para
ela não importa como o outro toca o seu instrumento

34
ou se está fazendo corretamente, ela simplesmente toca. - Elaboração e execução de arranjos (vocal e
É possível estabelecer relativos entre a expressão grá- instrumental);
fica e a linguagem da criança com a música. Ao fazer um - Invenções musicais (vocal e instrumental);
desenho que ocupa todo o espaço do papel, por exem- - Construção de instrumentos e objetos sonoros;
plo, ela explora suas capacidades motoras, ou quando - Registro e notação;
ela está no processo de aquisição da linguagem, tem de - Escuta sonora e musical: escuta atenta, apreciação
organizar, filtrar e reproduzir o que ouve de forma signi- musical; Reflexões sobre a produção e a escuta.
ficativa, para que ela absorva o conhecimento, esse pro-
cesso ocorre de forma parecida na música. FONTES SONORAS PARA O FAZER MUSICAL
“A finalidade última da intervenção pedagógica é
contribuir para que o aluno desenvolva as capacidades A autora define fonte sonora como “todo e qualquer
de realizar aprendizagens significativas por si mesmo...e material produtor ou propagador de sons”. Para ela os
que aprenda a aprender.” (C. Coll, 1990 p. 179) instrumentos são como extensões do corpo humano,
ampliando as possibilidades de expressão corporal.
CONCLUSÃO Ressalta que a criação de instrumentos musicais se-
guiu uma trajetória de acordo com as possibilidades e
O importante na educação musical das crianças é o necessidades do ser humano em sua época.
desenvolvimento do ser, a música vem como ferramenta
de construção de um indivíduo, e não deve ser voltada OS INSTRUMENTOS MUSICAIS
exclusivamente à formação de futuros músicos. Deve ser
usada como uma experiência significativa para a criança, A autora apresenta duas formas de classificação dos
para que seja realmente retida, transformada em infor- instrumentos musicais, uma delas é a divisão clássica,
mação útil, e não somente um aprendizado mecanizado. onde cada instrumento é classificado entre cordas, so-
pro ou percussão, e a outra é a partir de pesquisas de
A MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Sachs e Hornsboestel, onde o é classificado de acordo
com os princípios acústicos no qual este está baseado,
A música no Brasil sofreu (e sofre) com certos con- e as divisões são:
ceitos errôneos, como por exemplo, a prática de utilizar Idiofones, onde o som é produzido pelo corpo dos
a canção de forma condicionadora, adestradora, para a instrumentos;
hora do lanche ou a hora de ir embora, tornam a expe- Membranofones, onde o som é produzido por
riência musical vazia e sem significado para a criança, já uma membrana que produz o som em uma caixa de
que ela somente reproduz o que lhe foi ensinado sem ressonância;
nenhuma reflexão ou possibilidade de experimentação. Aerofones, que produzem o som através da passagem
A concepção de música como algo pronto prejudicou da deslocação do ar através do corpo do instrumento;
por muito tempo o aprendizado de todos, já que o aluno Cordofones, o som é produzido por uma ou vá-
não era estimulado a criar e até mesmo refletir sobre o rias cordas tencionadas; Eletrofones, produção do som
trabalho não era habitual. eletronicamente.
Promover o ser humano é a principal função da músi-
ca. Portanto devemos acolher a todos mesmo que sejam MATERIAIS MUSICAIS ADEQUADOS AO TRABA-
(estejam) desafinados, pois é através da prática que po- LHO NA ETAPA DA EDUCAÇÃO INFANTIL
demos desenvolver o aprendiz.
Brito neste trecho do texto destaca as qualidades e
FAZENDO MÚSICA possibilidades de cada instrumento ou família de acor-
do com a idade ideal em que podem ser usados com as
“Consideramos fazer musical como o contato entre crianças. Um aspecto importante ressaltado pela auto-
a realização acústica de um enunciado musical e seu re- ra é a qualidade do som produzido pelo instrumento e
ceptor, seja este alguém que cante, componha, dance a segurança que tem de oferecer para o manuseio das
ou simplesmente ouça.” (Ferraz, S. “elementos para uma crianças.
análise do dinamismo musical”, in Cadernos de estudo/ Indica alguns materiais relacionando-os com a idade
análise musical, nº. 6/7. São Paulo: Atrevez, 1994 p.18.) onde pode ser usado:
- O fazer musical acontece quando há interação entre Pequenos idiofones: ideais para crianças pequenas,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

a música e o ser. por produzirem sons a partir de movimentos que se pode


- A criação musical ocorre através de dois grandes fazer desde cedo;
grupos: interpretação, improvisação e composição. Xilofones e metalofones: indicados para crianças
- Atividades que devem estar presentes em creches e maiores por necessitarem de maior coordenação motora,
pré-escolas: mas são muito interessantes por estimularem a criança a
- Trabalho vocal; criar e improvisar;
- Interpretação e criação de canções; Tambores: indicados a todas as idades, podem ser
- Brinquedos cantados e rítmicos; facilmente construídos permitem o trabalho com os
- Jogos que reúnem som, movimento e dança; menores.
- Jogos de improvisação; É importante ressaltar que o instrumental não precisa
- Sonorização de histórias; ser industrializado, e pode ser feito a partir de qualquer

35
material que produza um som interessante. As crianças e a exploração de suas possibilidades motoras deve ser
devem ser estimuladas a pesquisar em casa e com os sempre utilizada para promover a percepção musical, já
materiais que tiver disponível. Além destes pontos, há o que ela não distingue ainda as sensações e ações como
aspecto cultural, os instrumentos locais ou de sua cultura dados diferentes.
devem ser valorizados, já que normalmente as crianças já
tomaram contado com eles. DESCOBRINDO A VOZ

CONSTRUÇÃO DE INSTRUMENTOS MUSICAIS E Na fase dos bebês e crianças, a exploração vocal deve
OBJETOS SONOROS ser um dos objetivos do trabalho.
“O educador deve considerar que, ao falar e cantar
É importante notar que a autora põe a expressão com as crianças, atuará como modelo e um dos bons há-
objetos sonoros logo no título do trecho, já explicitan- bitos, tais como não gritar, não forçar a voz, inteirar-se
do a necessidade de explorar objetos, não necessaria- da região (tessitura) mais adequada para que as crianças
mente confeccionados pelo educador ou pelas crianças, cantem, respirar tranquilamente, manter-se relaxado e
que podem ou não ter a aparência de um instrumento com boa postura.”
tradicional. O educador deve observar se há crianças com proble-
mas vocais para encaminhamento ao médico especialista.
CONSTRUINDO SEUS PRÓPRIOS INSTRUMENTOS
A CANÇÃO
A construção de instrumentos é uma atividade que
desperta a curiosidade e estimula a experimentação de A canção é uma forma de música que une música e
sons, faz com que a criança realmente se envolva com letra, e o faz assim como a criança que entende a vida
seu projeto, uma ouvinte atenta. Outro fato importante como algo integrado (não a seccionando em letra, som,
é a proximidade dela com o que fez, além de ser seu, é ação, etc., mas como momentos que fazem sentido como
exclusivo, foi ela quem fez. um todo), podendo com maior facilidade e profundidade
O material deve primeiro ser organizado e seleciona- o conteúdo.
do, para excluir aqueles que possam ferir as crianças. Deve-se prestar atenção em como se está cantando.
O educador deve ter muita atenção para as chances Se o educador grita, as crianças hão de acompanhá-lo, e
que aparecem durante esta atividade, ampliando a ex- este deve ter o cuidado de adaptar as peças à suas pos-
periência das crianças com a história dos instrumentos e sibilidades vocais.
como estes eram usados.
A ESCOLHA DO REPERTÓRIO
QUE MATERIAIS PODEMOS CONSTRUIR COM AS
CRIANÇAS PRÉ-ESCOLARES? O repertório deve conter músicas de diversas in-
fluências, trabalhando para ampliar as experiências das
O estimulo à pesquisa de novas fontes sonoras deve crianças. A utilização do repertório trazido por elas deve
fazer parte do dia-a-dia das crianças, portanto a cons- existir, assim como a experimentação e criação de músi-
trução de instrumentos é fundamental para o trabalho cas pelas crianças deve ser estimulada.
com ela, já que é uma das melhores formas de explora-
ção sonora. A MÚSICA DA CULTURA INFANTIL
Ao construir seu instrumental, as crianças devem ser
orientadas pelo professor para a atenção à riqueza sono- A criança por natureza gosta de música, brinque-
ra de seu projeto. A personalização da à criança a opor- do, poesia, por isso é importante levar até ela o que lhe
tunidade de tornar o instrumento mais próprio, aproxi- interessa e o que já conhece, e está presente nas suas
mando esta do trabalho. brincadeiras, no canto de ninar (acalanto), e em diversas
atividades realizadas pelas crianças.
PARA CONSTRUIR
ACALANTOS
Nesta seção, a autora mostra como construir uma
série de instrumentos com facilidade, apresenta dicas e Os acalantos são as cantigas de ninar que são canta-
sugestões de instrumentos passo-a-passo, apresentando das para tranquilizar e relaxar o bebê.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

vários conceitos do funcionamento acústico do instru- A autora relaciona uma série de acalantos que se
mental e preparando o professor para expandir os expe- apresentam de formas diferentes pelo Brasil:
rimentos apresentados. Dorme nenê;
Nana nenê;
TRABALHANDO COM A VOZ Boi da cara preta;
Tutu-marambá; Senhora Santana.
A música vocal é uma das maiores fontes de expres-
são musical do bebê, pois representa sua forte comunica- No fim deste trecho (assim como nos outros) a autora
ção com os pais ou responsáveis. Este absorve qualquer tem recomendações e perguntas que auxiliam o leitor-e-
som a sua volta e aos poucos vai organizando-os para ducando a refletir e lembrar-se de como estas músicas e
sua futura comunicação. Para a criança, a movimentação atividades foram significativas a ele.

36
BRINCOS E PARLENDAS A autora chama a atenção para as características de
duas músicas (além de sugestões de trabalho para várias
Juntamente com os acalantos, são das primeiras mú- delas). Havia um pastorzinho e Minha Canção, por am-
sicas que normalmente chegam à percepção das crianças. bas possuírem os nomes de notas combinando com sua
Os Brincos são geralmente cantados, enquanto as par- melodia.
lendas têm somente ritmo em conjunto com as palavras.
Brincos apresentados pela autora: INVENTANDO CANÇÕES
A casinha da vovó;
Serra, serra, serrador; Partindo do já exposto no capítulo anterior (sobre ser
Palminhas de guiné; possível cantar qualquer texto), a autora sugere algumas
Bambalalão; formas de facilitar para que as crianças inventem can-
Dem, dem; ções. Brito utiliza muitos relatos para mostrar a reação
Toque pra São Roque; Peneirinha; Dedo mindinho. das crianças às atividades, principalmente sobre a diver-
Parlendas apresentadas pela autora: sidade como estas respondem.
Amanhã é domingo; A primeira sugestão é a de música de nome, onde a
Um, dois, feijão com arroz; criança ou o grupo compõe uma melodia para a pessoa
Uma, duna, tena, catena; utilizando o seu nome, sendo que esta poderá represen-
Rei, capitão; tar a criança ou o dono da música. Esta canção, tem gran-
Lá em cima do piano; Barra-manteiga A-do-le-tá. de importância no trabalho, pois além de unir o grupo e
das uma identidade a eles, aproxima a criança da paixão
BRINQUEDOS DE RODA à música.
Relata três casos:
O brinquedo de roda difere dos “estilos” apresen- O Ratinho - caso de uma música composta durante
tados anteriormente pela forma característica que se uma aula, sobre um ratinho que a turma conheceu, e por
brinca, e também por uma melodia normalmente mais sugestão do próprio aluno. A música que no início foi um
elaborada que as anteriores. Aqui, ela mostra além da
improviso, teve opinião do grupo para definição e após
música, a forma de se brincar.
aprovação do grupo, foi escrita;
Brinquedos propostos pela autora:
O burro barnabé - partiu da sonorização de uma his-
Lagarta pintada;
tória com efeitos sonoros, e passou à criação de uma
Passa, passa, gavião;
música. Esta experiência se mostrou diferente da ante-
Sur lê pont d’Avignon;
rior, pois já ficou pronta na mesma aula, sem preocupa-
Sambe-lelê;
ção de muitos detalhes;
O trem de ferro;
Bambu; Gasparzinho - neste caso, a turma inventou a le-
Sai, sai, piaba; tra para uma canção que já faziam, usando como tema
A linda rosa juvenil; a porta que se abria sozinha (elas achavam que era o
A pombinha voou; gasparzinho).
Escravos de Jô; Canção de Ghana. Estas experiências são utilizadas pela autora para ilus-
Neste capítulo, a autora utiliza a música Samba-Le- trar as características do pensamento musical das crian-
lê para analisar a frase musical, explicando-a através de ças. Ambas as músicas (no Ratinho e o Burro Barnabé)
uma música conhecida, abordando um aspecto específi- utilizavam-se de melodias repetitivas, muito semelhan-
co do estudo musical de forma acessível a todos (o texto tes às presentes no repertório infantil, modificava-se a
foi realmente pensado para que qualquer um, mesmo letra e poucas vezes o ritmo.
não tendo estudado música, pudesse entender). E sugere
que o mesmo seja feito com as crianças. INTEGRANDO SOM E MOVIMENTO
As músicas devem ser aproveitadas para desenvolver
outros assuntos, integrando a música as necessidades de Neste capítulo, a autora traz sugestões de ativida-
outras disciplinas. des usando som e movimento, aqui são expostas formas
de relacionar o movimento e som de forma mais livre,
CANÇÕES DE NOSSA MPB usando atividades que a criança não conhece, para que
possa se libertar das regras das brincadeiras tradicionais.
A nossa música deve ser mostrada também às crian- São elas:
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ças, para enriquecer seu conhecimento. O repertório po- Mover-se de acordo com o som – as crianças ao ouvir
pular brasileiro contém diversas músicas que podem ser o estimulo sonoro, transforma-se no som, representa-o
trabalhadas com as crianças, e até algumas compostas através de seus movimentos (o educador deve utilizar
por grandes compositores especialmente para elas. grande variedade de sons e timbres diferentes);
Canções propostas por Teca: Maracangalha – Dorival O jogo de Estátua – apesar de já conhecido das crian-
Caymmi; ças, este jogo é importante para que elas possam valori-
Pra mó de chateá – Tom Jobim; zar o silêncio e centrar a atenção no que faz;
A noite no castelo – Hélio Ziskind; A loja de brinquedos de corda – cada criança define
Minha Canção – Enriquez / Bardotti / Chico Buarque; qual instrumento quer ser, a partir daí um comandante
Havia um pastorzinho – desconhecido / cultura “dá corda” nos brinquedos através do som, que come-
popular; çam a funcionar;

37
Jogo dos animais – a criança representa o som do SONORIZAÇÃO DE HISTÓRIAS
respectivo animal juntamente com o som produzido por
ele (este som pode ser feito pelas mesmas, ou tocada O faz-de-conta é um recurso que deve sempre ser
uma obra para que elas se transformem, de acordo com utilizado, seja sonorizando-as ou usando como efeitos
suas ideias, no animal); especiais para alguma história, as crianças têm grande
Movimentos de locomoção – associando movimen- atenção ao som quando este tem relação direta com
tos a sons ou músicas específicas. algo, especialmente se a história for criada por elas.
É importante que ao contar a história para as crianças,
JOGOS DE IMPROVISAÇÃO a voz seja expressiva e clara, representando cada parte
através de uma mudança na entonação ou do volume
A improvisação na música (e na vida em geral) está (etc.).Esta postura é importante pois o professor como
modelo deve mostrar que não é importante só o con-
ligada a uma conotação ruim, onde o improvisado é tido
teúdo, mas sim o contexto, como se conta (especialmen-
como pobre e desinteressante. É especialmente impor-
te para as crianças que relacionam o que entendemos
tante às crianças (aos adultos também) que possam se
como partes como um todo, então a expressão pode fa-
expressar livremente, e para isso têm de exercitar sua zer a diferença entre entender o que se passa ou não), e
imaginação e capacidade de criação, criando uma fluên- que há várias formas de interpretar o mesmo fato.
cia na criação expressiva.
Além de ampliar as capacidades da criança de criar, a O educador deve estar atento às sugestões das crian-
improvisação pode ser feita utilizando-se regras (o que ças, já que se forem participantes ativas na história ab-
acontece no jazz e no blues por exemplo), importante sorverão mais desta. As crianças podem ser questionas
para que esta se acostume a conseguir criar dentro de quanto a qual instrumento fez qual som, qual persona-
regras, se expressar mesmo que limitada (e não é assim gem representava.
na vida?).
A improvisação deve ocorrer durante todo o proces- CONTAR HISTÓRIAS USANDO A VOZ, O CORPO E/
so educacional, já que a música depende da expressão, OU OBJETOS
seja na interpretação de uma partitura ou na compo-
sição. Tão importante esta relação, que Hanz-Joachim Para enriquecer as estórias contadas, podemos e de-
Koellreutter a considera como principal condutora das vemos utilizar a voz, o corpo e objetos de forma criativa
atividades musicais. para melhor envolver a criança na estória.
É preciso tomar cuidado com a atenção. Quando se É importante experimentar o que funciona para re-
improvisa existe um objetivo nisso, e a criança deve estar presentar uma ação. As radio novelas utilizavam-se da
atenta a ele, a música produzida deve ser resultado real sonoplastia, que representa da forma mais fiel possível
de suas vontades e ela deve fazer o possível para trans- o som.
formar em som aquilo que imagina, que deseja.
CONTAR HISTÓRIAS USANDO INSTRUMENTOS
RELATOS DE EXPERIÊNCIAS MUSICAIS

Sinal verde, sinal vermelho – Aqui as crianças expe- Podemos usar os instrumentos para sonorizar a his-
rimentavam as possibilidades dos instrumentos quando tória (assim como a sonoplastia) ou para representar
um deles anunciou que pilotava sua moto. A partir daí cada personagem, não tentando imitar o som real que
cada um decidiu qual seu transporte e então começa- este emite, mas sua expressão.
ram a explorar. A brincadeira ganhou maior elaboração
ELABORANDO ARRANJOS
quando o sinal foi inserido, as crianças assumiram essa
liderança depois;
Um arranjo musical é a forma com que são organi-
Brincadeira do rio – Nesta atividade um líder leva o
zadas as partes e seções para formarem uma unidade, o
grupo ao rio. O grupo segue as indicações do líder, re- arranjo conseguir representar a peça.
presentando o caminhar, as paradas, velocidade da ca- Da parte do educador, é importante que utilize estru-
minhada, etc.; turas simples e que possibilite a intervenção da criança,
Estouro da pipoca – Aqui o grupo inspirou-se ao ou- estimulando a participação na atividade (pode criar ati-
vir a pipoca estourando. Representaram os sons e de- vidades onde o objetivo seria que as crianças realizarem
pois ouviram a gravação; o arranjo).
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Sol e chuva, casamento de viúva – Um jogo de im-


provisação onde o contraste é o principal elemento tra- O REGISTRO ou a NOTAÇÃO MUSICAL
balhado (densidade), tema que possibilitou a inclusão
de parlendas e músicas para o grupo cantar. Durante o tempo a notação se transformou, no iní-
É importante salientar que os relatos não são como cio era imprecisa e usada principalmente como auxiliar
aqui resumidos. Representam especialmente a forma de da memória, depois ganhou uma forte precisão, onde
pensar das crianças e a criatividade delas, sua vontade tudo deveria (ao menos) poderia ser notado, mas esta
de realizar e explorar. notação era própria limitada, apesar de servir para a mú-
sica da época, não atende ás necessidades da música
moderna, que adotou novamente formas imprecisas de
notação.

38
A notação ou registro musical tem o objetivo de preservar a ideia musical, e pressupõe o conhecimento da lingua-
gem daquele que a lê.
“A notação deve ser o resultado de uma necessidade musical e pedagógica, e não o ponto de partida da iniciação
musical,” (C. Renard, 1982, p 128)
Brito considera que a notação musical pode ser trabalhada a partir dos três anos de idade, através do desenho do
som (assim como a representação corporal do som, “fazer o que a mão ficou com vontade de fazer”).
É interessante perceber que a forma como a criança representa graficamente o som é muito próxima de como ela
o percebe e executa, e este pode ser uma ótima forma de entender um pouco mais da percepção delas.
“O professor Koellreutter afirma ainda que o poder de abstração das crianças é muito grande, levando em conta
que elas percebem primeiro o todo e depois o particular, os detalhes. Por isso, ele aconselha que se parta de uma
imagem sonora globalizante, e não de alturas definidas. Para as crianças, especialmente na educação infantil, o espaço
sonoro é global (silêncio e som), aberto e também multidirecional (em todas as direções, e não apenas da esquerda
para a direita).”

DESENHANDO SONS (A PARTIR DE TRÊS ANOS)

Para realizar esta atividade, é importante que o instrumental possibilite a execução de diversas características do
som, que se possa ter vários exemplos. É importante ressaltar às crianças que não desenhem o instrumento.

CONSTRUINDO PARTITURAS GRÁFICAS (A PARTIR DE QUATRO ANOS)

É uma extensão da atividade anterior, onde o grupo define quais sinais gráficos utilizar para que todos possam ler
a partitura.

REGISTRANDO A FORMA (A PARTIR DE SEIS ANOS)

Nesta proposta, as crianças não mais se notam o som, mas agora a sua estrutura, como a música se organiza.

ESCUTA SONORA E MUSICAL

Aqui a autora trata da escuta, delimitando o que é escutar musicalmente ou simplesmente ouvir (a diferença está
na consciência, na atenção).

“As relações entre ouvir e escutar salientam a importância das mudanças e resultados esperados no quadro da
educação auditiva” (Abbadie-Gillie, apud Akoschky, 2000, p.20)
A apresentação de obras musicais que tenham algo em comum com suas composições é uma boa maneira de
aguçar a percepção das crianças, já que um dos elementos de comparação elas já conhecem e tem uma relação mais
forte. O material utilizado deve representar o maior número possível de gêneros e estilos musicais, deve ser curto e
apresentar claramente as características desejadas durante o trabalho.
São sugeridas pela autora algumas peças, que tem elementos interessantes, sendo que muitas foram compostas
para este fim:
Pedro e o lobo – Sergei Prokkofiev;
O carnaval dos animais – Camille Saint-Saens;
O aprendiz de Feiticeiro – Paul Dukas;
Sinfonia dos brinquedos – Leopold Mozart;

OBSERVAÇÃO, REGISTRO E AVALIAÇÃO

Após apresentar a legislação sobre o assunto, a autora propõe sua posição sobre o assunto. Para ela, o que deve
ser avaliado não é o estágio em que se encontra o aluno, mas sim sua evolução, o aluno deve ser comparado a ele
mesmo, e não com a média da turma. A avaliação em música deve ter em vista o envolvimento, a disposição do aluno
para aprender e discutir, o respeito ao silêncio.
É importante que o educador não queira avaliar a criança pelas suas habilidades de percepção ou expressão isola-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

damente, já que as habilidades não valem se não estiverem integradas a um contexto representativo.
A autoavaliação é um método que deve ser implementado desde a infância, pois traz grandes benefícios ao desen-
volvimento da criança, preparando-a melhor para a vida.

PARA UMA REFLEXÃO FINAL

“Fazendo referências a conteúdos, metodologias e estratégias que revelam, de um lado, posturas pedagógicas
próprias à concepção tradicionalista do ensino de música na educação infantil e, de outro, posturas consideradas
adequadas a uma concepção que entende a música como linguagem e área cujo conhecimento a criança constrói, o
quadro comparativo apresentado a seguir tem a intenção de auxiliar a reflexão do educador ou educadora, fornecendo
subsídios que possibilitam identificar aproximações e afastamentos entre as duas concepções.”

39
Eis o quadro integral:

Ao fim do livro, é oferecido um glossário para que os professores não especialistas em música possam entender e
aprofundar-se nos conceitos musicais apresentados durante a obra.

Resenha de : LOPES, Carlos Roberto Prestes.

Fonte
BRITO, Teca Alencar de. Música na Educação infantil. São Paulo: Peirópolis, 2003. (204 p.)

EXERCÍCIO COMENTADO
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

1. (PREF. PIRAPOZINHO-SP – PROFESSOR AUXILIAR DE EDUCAÇÃO INFANTIL – INSTITUTO EXCELÊNCIA


– 2016) Do primeiro ao terceiro ano de vida, os bebês ampliam os modos de expressão musical pelas conquistas
vocais e corporais. Podem articular e entoar um maior número de sons, inclusive os da língua materna, reproduzindo
letras simples, refrães, onomatopeias etc., explorando gestos sonoros, como bater palmas, pernas, pés, especialmente
depois de conquistada a marcha, a capacidade de correr, pular e movimentar-se acompanhando uma música. Sobre
as relações de linguagem entre a criança e a música, assinale a alternativa INCORRETA de acordo com o Referencial
Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI):

a) O que caracteriza a produção musical das crianças nesse estágio é a exploração do som e de suas qualidades que
são altura, duração, intensidade e timbre.

40
b) A expressão musical das crianças nessa fase é carac- se desenvolvendo de maneira acelerada; o mercado dos
terizada pela ênfase nos aspectos intuitivo e afetivo produtos e serviços voltados para o corpo vai se expan-
e pela exploração (sensório-motora) dos materiais dindo; a higiene que fundamentava esses cuidados vai
sonoros. sendo substituída pelos prazeres do “corpo”; a implica-
c) Nessa fase, as crianças integram a música às demais ção lógica do processo de secularização com a identifica-
brincadeiras e jogos: cantam enquanto brincam, dan- ção da personalidade dos indivíduos com sua aparência.
çam e dramatizam situações sonoras diversas etc. Por todas essas circunstâncias, o cuidado com o corpo
d) Nenhuma das alternativas. transforma-se numa ditadura do corpo, um corpo que
corresponde à expectativa desse tempo, um corpo que
RESPOSTA: Letra D. seja trabalhado arduamente e do qual, os vestígios de
Em “d”: Certo – A afirmativa não está correta como naturalidade sejam eliminados.
segue: Estes fatores podem acarretar problemas de ordem
De acordo com o Referencial Curricular Nacional para psicológica levando o indivíduo a comportamentos que
Educação Infantil (1998): podem ser prejudiciais à sua saúde. Dentre esses com-
A linguagem musical tem estrutura e características portamentos estão os de desordem psicológica como a
próprias, devendo ser considerada em três eixos: Pro- baixa autoestima, a não aceitação de si mesmo, a vergo-
dução — centrada na experimentação e na imitação, nha ou a exposição exagerada do corpo, o medo da apa-
tendo como produtos musicais a interpretação, a im- rência, a discriminação e até mesmo uma postura cifótica
provisação e a composição; Apreciação — percepção pelo fato de não se aceitar.
tanto dos sons e silêncios quanto das estruturas e or- A relação do indivíduo com seu corpo ocorre sob
ganizações musicais, buscando desenvolver, por meio a égide do domínio de si. O homem contemporâneo é
do prazer da escuta, a capacidade de observação, convidado a construir o corpo, conservar a forma, moldar
análise e reconhecimento; Reflexão — sobre questões sua aparência, ocultar o envelhecimento ou a fragilidade,
referentes à organização, criação, produtos e produto- mas manter sua “saúde potencial”.
Nesta perspectiva, perguntamos: Qual a concep-
res musicais. (BRASIL, 1998, p.48).
ção que os alunos têm sobre o corpo? Eles conhecem
Assim, apresentam-se os objetivos para crianças de
seu próprio corpo? Sabem qual é o papel do corpo na
zero a três anos: “ouvir, perceber e discriminar eventos
sociedade?
sonoros diversos, fontes sonoras e produções musi-
Partindo destas questões iniciais buscamos fazer
cais; brincar com a música, imitar, inventar e reprodu-
uma intervenção significativa para orientar os alunos e
zir criações musicais” (BRASIL, 1998, p. 55).
ampliar seu olhar e conhecimento a respeito do corpo
Segundo RCNEI (1998), a linguagem musical encon-
sob um ponto de vista histórico, social e cultural. Geor-
tra-se de maneira geral presente no contexto da Edu- ges Vigarrelo afirma que:
cação e de uma forma particular na Educação Infantil, O corpo é o primeiro lugar onde a mão do adulto
integrando aspectos sensíveis, afetivos, estéticos e marca a criança, ele é o primeiro espaço onde se expõe
cognitivos diretamente relacionados à integração e os limites sociais e psicológicos que foram dados à sua
comunicação social, destacando uma das formas da conduta, ele é o emblema onde a cultura vem inscrever
expressão humana. seus signos como também seus brasões.
Segundo este autor as crianças e os jovens conti-
A IMPORTÂNCIA DA CORPORALIDADE NO CON- nuam sendo moldados pela sociedade que os cercam e
TEXTO EDUCACIONAL pela sua cultura demonstrando na maioria das vezes não
conhecer seu corpo e o pior o que fazer dele. Refletindo
As questões que orbitam em torno da corporalida- sobre este problema surgiu a necessidade de desenvol-
de carregam consigo diversos paradigmas que ao longo ver um programa de atividades que enfrente esta ques-
da história foram desmistificados, mas é possível iden- tão do corpo.
tificar na contemporaneidade algumas permanências. A Sendo a “Cultura Corporal e corpo” elementos arti-
dualidade corpo e alma, as crenças que fazem do cor- culadores que compõe a disciplina de Educação Física,
po objeto de sacrifícios para a redenção de pecados, a nos sentimos estimulados em contribuir de maneira
compreensão do corpo como máquina, a manutenção significativa através da nossa prática pedagógica para
de padrões rígidos de beleza pré-estabelecidos pela mí- a compreensão do ser humano como um todo, para a
dia e até mesmo moldados pela tecnologia. Estas reco- aquisição de conhecimentos e sobretudo analisar a con-
mendações vêm gerando nos indivíduos uma ansiedade cepção e o conhecimento que os alunos possuem em re-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

exagerada levando-o cada vez mais a gostar menos de lação a corporalidade na sociedade contemporânea, seus
seu próprio corpo, ou seja, de si mesmo. Na sociedade aspectos culturais, históricos e sociais. Podemos também
contemporânea a discriminação é um fator de peso, le- incentivar a reflexão sobre diferentes maneiras de des-
vando o indivíduo ou a uma isenção total de si mesmo, cobrir o corpo, suas formas de se expressar e se portar
tornando-o introvertido e excluído, ou a uma exposição perante a sociedade.
desmedida fazendo uso de meios que podem tornar seu Todas as preocupações e inquietações em relação ao
corpo cada vez mais forte, esteticamente belo e molda- corpo precisam ser trabalhadas nas aulas de Educação
do. Sendo assim Silva relata que: Física para romper com o paradigma de que o corpo está
Os cuidados com o corpo vão se tornando uma exi- separado da mente e da alma. Romper com essa duali-
gência na modernidade e implicam a convergência de dade é uma tarefa desafiadora para o professor e para o
uma série de elementos: as tecnologias para tanto vão aluno. Sobre esse desafio Silva nos relata que:

41
Os cuidados com o corpo vão se tornando uma exi- de toda uma história, uma cultura, uma sociedade e que é
gência na modernidade e implicam a convergência de através desse corpo que somos constituídos enquanto seres
uma série de elementos: as tecnologias para tanto vão humanos.
se desenvolvendo de maneira acelerada; o mercado dos
produtos e serviços voltados para o corpo vai se expan- Fonte:
dindo; a higiene que fundamentava esses cuidados vai LIMA, D. C. C. de.; PELEGRINI, T. Corpo e corporalida-
sendo substituída pelos prazeres do “corpo”; a implica- de: um debate sobre o conceito e a vivência dos alunos
ção lógica do processo de secularização com a identifica- sobre estética corporal.
ção da personalidade dos indivíduos com sua aparência.
Por todas essas circunstâncias, o cuidado com o corpo MOVIMENTO
transforma-se numa ditadura do corpo, um corpo que
corresponde à expectativa desse tempo, um corpo que O movimento é uma importante dimensão do de-
seja trabalhado arduamente e do qual, os vestígios de senvolvimento e da cultura humana. As crianças se mo-
naturalidade sejam eliminados. vimentam desde que nascem adquirindo cada vez maior
Segundo a autora podemos perceber como que os controle sobre seu próprio corpo e se apropriando cada
cuidados com o corpo vêm tomando uma proporção vez mais das possibilidades de interação com o mundo.
desmedida. Isso revela que esses cuidados exagerados, Engatinham, caminham, manuseiam objetos, correm,
podem levar o indivíduo a perder a sua identidade cor- saltam, brincam sozinhas ou em grupo, com objetos ou
poral por conta de uma cobrança social e cultural. Po- brinquedos, experimentando sempre novas maneiras
dem ser perigosos e causar ao indivíduo alguns transtor- de utilizar seu corpo e seu movimento. Ao movimenta-
nos psíquicos como a Bulimia, a Anorexia, a Vigorexia, rem-se, as crianças expressam sentimentos, emoções e
o Transtorno Disfórmico Corporal (TDC), entre outros pensamentos, ampliando as possibilidades do uso sig-
transtornos que levam o indivíduo a ter uma insatisfação nificativo de gestos e posturas corporais. O movimento
com a própria imagem e a não ser saudável. humano, portanto, é mais do que simples deslocamento
Para Le Breton esses distúrbios são motivados pela: do corpo no espaço: constitui-se em uma linguagem que
Preocupação de modificar o olhar sobre si e o olhar permite às crianças agirem sobre o meio físico e atuarem
dos outros a fim de sentir-se existir plenamente. Ao mu- sobre o ambiente humano, mobilizando as pessoas por
dar o corpo, o indivíduo pretende mudar sua vida, modi- meio de seu teor expressivo.
ficar seu sentimento de identidade (2003, p. 30). As maneiras de andar, correr, arremessar, saltar re-
Nesta perspectiva, a preocupação com os conceitos sultam das interações sociais e da relação dos homens
sobre o corpo e as discussões sobre estética corporal le- com o meio; são movimentos cujos significados têm sido
va-nos a suscitar uma reflexão aprofundada sobre o as- construídos em função das diferentes necessidades, inte-
sunto e a aplicação de atividades que revelam a ideia e os resses e possibilidades corporais humanas presentes nas
conceitos de cada aluno sobre si mesmo e sobre o outro. diferentes culturas em diversas épocas da história. Esses
movimentos incorporam-se aos comportamentos dos
Cultura Corporal e Corpo homens, constituindo-se assim numa cultura corporal.
Dessa forma, diferentes manifestações dessa linguagem
A Cultura Corporal é o objeto de estudo e interven- foram surgindo, como a dança, o jogo, as brincadeiras,
ção eleito pela proposta pedagógica inserida nas Diretrizes as práticas esportivas etc., nas quais se faz uso de di-
Curriculares Estaduais para a disciplina de Educação Física. ferentes gestos, posturas e expressões corporais com
Sua fundamentação foi originada das críticas ao ideário de intencionalidade.
aptidão física e esportiva que continua sendo hegemôni- Ao brincar, jogar, imitar e criar ritmos e movimen-
co na escola e muitas vezes desqualifica sua compreensão tos, as crianças também se apropriam do repertório da
como disciplina curricular responsável por uma intervenção cultura corporal na qual estão inseridas. Nesse sentido,
pedagógica. as instituições de educação infantil devem favorecer um
Neste caso, tratamos da Cultura corporal e corpo ambiente físico e social onde as crianças se sintam pro-
que é um elemento articulador contido nessa proposta tegidas e acolhidas, e ao mesmo tempo seguras para se
curricular. Partimos de uma perspectiva histórica e so- arriscar e vencer desafios. Quanto mais rico e desafiador
cial que tem como objeto de estudo o corpo e suas rela- for esse ambiente, mais ele lhes possibilitará a ampliação
ções. Dessa forma, a “Cultura Corporal e Corpo” também é de conhecimentos acerca de si mesmas, dos outros e do
um elemento articulador dos conteúdos estruturantes da meio em que vivem.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Educação Física por isso é um tema que veicula a impor- O trabalho com movimento contempla a multipli-
tância de realizar trabalhos com os alunos sobre este seja cidade de funções e manifestações do ato motor, pro-
em qualquer conteúdo a ser aplicado nas aulas. O corpo é piciando um amplo desenvolvimento de aspectos es-
entendido em sua totalidade, ou seja, o ser humano é o seu pecíficos da motricidade das crianças, abrangendo uma
corpo que sente, pensa e age. reflexão acerca das posturas corporais implicadas nas ati-
É nesta expectativa que a unidade didática construída vidades cotidianas, bem como atividades voltadas para a
para a intervenção pedagógica com os adolescentes alunos ampliação da cultura corporal de cada criança.
do terceiro ano do Ensino Médio visou um trabalho direcio-
nado às questões corporais construídas historicamente que
foram aplicadas e discutidas de maneira que os alunos en-
tendam que seu corpo é si próprio, que seu corpo faz parte

42
Presença do movimento na educação infantil: manipula o corpo do bebê, esticando e encolhendo
ideias e práticas correntes seus membros, fazendo-os descer ou subir de colcho-
netes ou almofadas, ou fazendo-os sentar durante um
A diversidade de práticas pedagógicas que caracte- tempo determinado. A forma mecânica pela qual são
rizam o universo da educação infantil reflete diferentes feitas as manipulações, além de desperdiçarem o rico
concepções quanto ao sentido e funções atribuídas ao potencial de troca afetiva que trazem esses momentos
movimento no cotidiano das creches, pré-escolas e ins- de interação corporal, deixam a criança numa atitu-
tituições afins. de de passividade, desvalorizando as descobertas e os
É muito comum que, visando garantir uma atmosfe- desafios que ela poderia encontrar de forma mais na-
ra de ordem e de harmonia, algumas práticas educativas tural, em outras situações.
procurem simplesmente suprimir o movimento, impondo O movimento para a criança pequena significa
às crianças de diferentes idades rígidas restrições postu- muito mais do que mexer partes do corpo ou deslo-
rais. Isso se traduz, por exemplo, na imposição de longos car-se no espaço. A criança se expressa e se comunica
momentos de espera — em fila ou sentada — em que a por meio dos gestos e das mímicas faciais e interage
criança deve ficar quieta, sem se mover; ou na realização utilizando fortemente o apoio do corpo. A dimensão
de atividades mais sistematizadas, como de desenho, es- corporal integra-se ao conjunto da atividade da crian-
crita ou leitura, em que qualquer deslocamento, gesto ça. O ato motor faz-se presente em suas funções ex-
ou mudança de posição pode ser visto como desordem pressiva, instrumental ou de sustentação às posturas e
ou indisciplina. Até junto aos bebês essa prática pode se aos gestos. Quanto menor a criança, mais ela precisa
fazer presente, quando, por exemplo, são mantidos no de adultos que interpretem o significado de seus mo-
berço ou em espaços cujas limitações os impedem de vimentos e expressões, auxiliando-a na satisfação de
expressar-se ou explorar seus recursos motores. suas necessidades. À medida que a criança cresce, o
Além do objetivo disciplinar apontado, a permanen- desenvolvimento de novas capacidades possibilita que
te exigência de contenção motora pode estar baseada ela atue de maneira cada vez mais independente sobre
na ideia de que o movimento impede a concentração e o mundo à sua volta, ganhando maior autonomia em
a atenção da criança, ou seja, que as manifestações mo- relação aos adultos.
toras atrapalham a aprendizagem. Todavia, a julgar pelo Pode-se dizer que no início do desenvolvimento
papel que os gestos e as posturas desempenham junto predomina a dimensão subjetiva da motricidade, que
à percepção e à representação, conclui-se que, ao con- encontra sua eficácia e sentido principalmente na inte-
trário, é a impossibilidade de mover-se ou de gesticular ração com o meio social, junto às pessoas com quem
que pode dificultar o pensamento e a manutenção da a criança interage diretamente. É somente aos poucos
atenção. que se desenvolve a dimensão objetiva do movimento,
Em linhas gerais, as consequências dessa rigidez po- que corresponde às competências instrumentais para
dem apontar tanto para o desenvolvimento de uma ati- agir sobre o espaço e meio físico.
tude de passividade nas crianças como para a instalação O bebê que se mexe descontroladamente ou que
de um clima de hostilidade, em que o professor tenta, a faz caretas provocadas por desconfortos terá na mãe e
todo custo, conter e controlar as manifestações motoras nos adultos responsáveis por seu cuidado e educação
infantis. No caso em que as crianças, apesar das restri- parceiros fundamentais para a descoberta dos signi-
ções, mantêm o vigor de sua gestualidade, podem ser ficados desses movimentos. Aos poucos, esses adul-
frequentes situações em que elas percam completamen- tos saberão que determinado torcer de corpo significa
te o controle sobre o corpo, devido ao cansaço provoca- que o bebê está, por exemplo, com cólica, ou que de-
terminado choro pode ser de fome. Assim, a primeira
do pelo esforço de contenção que lhes é exigido.
função do ato motor está ligada à expressão, permi-
Outras práticas, apesar de também visarem ao si-
tindo que desejos, estados íntimos e necessidades se
lêncio e à contenção de que dependeriam a ordem e
manifestem.
a disciplina, lançam mão de outros recursos didáticos,
Mas é importante lembrar que a função expressiva
propondo, por exemplo, sequências de exercícios ou de
não é exclusiva do bebê. Ela continua presente mesmo
deslocamentos em que a criança deve mexer seu corpo,
com o desenvolvimento das possibilidades instrumen-
mas desde que em estrita conformidade a determina-
tais do ato motor. É frequente, por exemplo, a brin-
das orientações. Ou ainda reservando curtos intervalos cadeira de luta entre crianças de cinco ou seis anos,
em que a criança é solicitada a se mexer, para dispen- situação em que se pode constatar o papel expressivo
der sua energia física. Essas práticas, ao permitirem certa dos movimentos, já que essa brincadeira envolve in-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

mobilidade às crianças, podem até ser eficazes do pon- tensa troca afetiva.
to de vista da manutenção da “ordem”, mas limitam as A externalização de sentimentos, emoções e estados
possibilidades de expressão da criança e tolhem suas íntimos poderão encontrar na expressividade do corpo
iniciativas próprias, ao enquadrar os gestos e desloca- um recurso privilegiado. Mesmo entre adultos isso apa-
mentos a modelos predeterminados ou a momentos rece frequentemente em conversas, em que a expressão
específicos. facial pode deixar transparecer sentimentos como des-
confiança, medo ou ansiedade, indicando muitas vezes
No berçário, um exemplo típico dessas práticas algo oposto ao que se está falando. Outro exemplo é
são as sessões de estimulação individual de bebês, que como os gestos podem ser utilizados intensamente para
com frequência são precedidas por longos períodos de pontuar a fala, por meio de movimentos das mãos e do
confinamento ao berço. Nessas atividades, o professor corpo.

43
Cada cultura possui seu jeito próprio de preservar diante dos olhos, pega os pés e diverte-se em mantê-
esses recursos expressivos do movimento, havendo varia- -los sob o controle das mãos — como que descobrindo
ções na importância dada às expressões faciais, aos gestos aquilo que faz parte do seu corpo e o que vem do mun-
e às posturas corporais, bem como nos significados atri- do exterior. Pode-se também notar o interesse com que
buídos a eles. investiga os efeitos dos próprios gestos sobre os objetos
É muito grande a influência que a cultura tem sobre do mundo exterior, por exemplo, puxando várias vezes
o desenvolvimento da motricidade infantil, não só pelos a corda de um brinquedo que emite um som, ou ten-
diferentes significados que cada grupo atribui a gestos e tando alcançar com as mãos o móbile pendurado sobre
expressões faciais, como também pelos diferentes movi- o berço, ou seja, repetindo seus atos buscando testar o
mentos aprendidos no manuseio de objetos específicos resultado que produzem.
presentes na atividade cotidiana, como pás, lápis, bolas Essas ações exploratórias permitem que o bebê des-
de gude, corda, estilingue etc. cubra os limites e a unidade do próprio corpo, conquistas
Os jogos, as brincadeiras, a dança e as práticas es- importantes no plano da consciência corporal. As ações
portivas revelam, por seu lado, a cultura corporal de cada em que procura descobrir o efeito de seus gestos sobre
grupo social, constituindo-se em atividades privilegiadas os objetos propiciam a coordenação sensório motora,
nas quais o movimento é aprendido e significado. a partir de quando seus atos se tornam instrumentos
Dado o alcance que a questão motora assume na para atingir fins situados no mundo exterior. Do ponto
atividade da criança, é muito importante que, ao lado de vista das relações com o objeto, a grande conquista
das situações planejadas especialmente para trabalhar o do primeiro ano de vida é o gesto de preensão, o qual
movimento em suas várias dimensões, a instituição re- se constitui em recurso com múltiplas possibilidades de
flita sobre o espaço dado ao movimento em todos os aplicação.
momentos da rotina diária, incorporando os diferentes Aquisições como a preensão e a locomoção repre-
significados que lhe são atribuídos pelos familiares e pela sentam importantes conquistas no plano da motricidade
comunidade. objetiva. Consolidando-se como instrumentos de ação
Nesse sentido, é importante que o trabalho incor- sobre o mundo, aprimoram-se conforme as oportuni-
pore a expressividade e a mobilidade próprias às crian- dades que se oferecem à criança de explorar o espaço,
ças. Assim, um grupo disciplinado não é aquele em que manipular objetos, realizar atividades diversificadas e
todos se mantêm quietos e calados, mas sim um grupo desafiadoras.
em que os vários elementos se encontram envolvidos e É curioso lembrar que a aceitação da importância da
mobilizados pelas atividades propostas. Os deslocamen- corporeidade para o bebê é relativamente recente, pois
tos, as conversas e as brincadeiras resultantes desse en- até bem pouco tempo prescrevia-se que ele fosse con-
volvimento não podem ser entendidos como dispersão servado numa espécie de estado de “crisálida” durante
ou desordem, e sim como uma manifestação natural das vários meses, envolvido em cueiros e faixas que o con-
crianças. Compreender o caráter lúdico e expressivo das finavam a uma única posição, tolhendo completamente
manifestações da motricidade infantil poderá ajudar o seus movimentos espontâneos. Certamente esse hábito
professor a organizar melhor a sua prática, levando em traduzia um cuidado, uma preocupação com a possibili-
conta as necessidades das crianças. dade de o bebê se machucar ao fazer movimentos para
os quais sua ossatura e musculatura não estivessem,
A criança e o movimento ainda, preparadas. Por outro lado, ao proteger o bebê
O primeiro ano de vida dessa forma, se estava impedindo sua movimentação.
Não tendo como interagir com o mundo físico e tendo
Nessa fase, predomina a dimensão subjetiva do mo- menos possibilidades de interagir com o mundo social,
vimento, pois são as emoções o canal privilegiado de era mais difícil expressar-se e desenvolver as habilidades
interação do bebê com o adulto e mesmo com outras necessárias para uma relação mais independente com o
crianças. O diálogo afetivo que se estabelece com o adul- ambiente.
to, caracterizado pelo toque corporal, pelas modulações
da voz, por expressões cada vez mais cheias de sentido, Crianças de um a três anos
constitui-se em espaço privilegiado de aprendizagem. A
criança imita o parceiro e cria suas próprias reações: ba- Logo que aprende a andar, a criança parece tão en-
lança o corpo, bate palmas, vira ou levanta a cabeça etc. cantada com sua nova capacidade que se diverte em lo-
Ao lado dessas capacidades expressivas, o bebê rea- comover-se de um lado para outro, sem uma finalidade
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

liza importantes conquistas no plano da sustentação do específica. O exercício dessa capacidade, somado ao pro-
próprio corpo, representadas em ações como virar-se, gressivo amadurecimento do sistema nervoso, propicia o
rolar, sentar-se etc. Essas conquistas antecedem e prepa- aperfeiçoamento do andar, que se torna cada vez mais se-
ram o aprendizado da locomoção, o que amplia muito a guro e estável, desdobrando-se nos atos de correr, pular e
possibilidade de ação independente. É bom lembrar que, suas variantes.
antes de aprender a andar, as crianças podem desenvol- A grande independência que andar propicia na ex-
ver formas alternativas de locomoção, como arrastar-se ploração do espaço é acompanhada também por uma
ou engatinhar. maior disponibilidade das mãos: a criança dessa idade é
Ao observar um bebê, pode-se constatar que é gran- aquela que não pára, mexe em tudo, explora, pesquisa.
de o tempo que ele dedica à explorações do próprio Ao mesmo tempo em que explora, aprende gra-
corpo — fica olhando as mãos paradas ou mexendo-as dualmente a adequar seus gestos e movimentos às suas

44
intenções e às demandas da realidade. Gestos como o de É grande o volume de jogos e brincadeiras encon-
segurar uma colher para comer ou uma xícara para beber tradas nas diversas culturas que envolvem complexas
e o de pegar um lápis para marcar um papel, embora ain- sequências motoras para serem reproduzidas, propician-
da não muito seguros, são exemplos dos progressos no do conquistas no plano da coordenação e precisão do
plano da gestualidade instrumental. O fato de manipular movimento.
objetos que tenham um uso cultural bem definido não As práticas culturais predominantes e as possibilidades
significa que a manipulação se restrinja a esse uso, já que de exploração oferecidas pelo meio no qual a criança vive
o caráter expressivo do movimento ainda predomina. As- permitem que ela desenvolva capacidades e construa reper-
sim, se a criança dessa idade pode pegar uma xícara para tórios próprios. Por exemplo, uma criança criada num bairro
beber água, pode também pegá-la simplesmente para em que o futebol é uma prática comum poderá interessar-
brincar, explorando as várias possibilidades de seu gesto. -se pelo esporte e aprender a jogar desde cedo. Uma crian-
Outro aspecto da dimensão expressiva do ato motor ça que vive à beira de um rio utilizado, por exemplo, como
é o desenvolvimento dos gestos simbólicos, tanto aque- forma de lazer pela comunidade provavelmente aprenderá
les ligados ao faz-de-conta quanto os que possuem uma a nadar sem que seja preciso entrar numa escola de natação,
função indicativa, como apontar, dar tchau etc. No faz-de- como pode ser o caso de uma criança de ambiente urbano.
-conta pode-se observar situações em que as crianças re- Habilidades de subir em árvores, escalar alturas, pular dis-
vivem uma cena recorrendo somente aos seus gestos, por tâncias, certamente serão mais fáceis para crianças criadas
exemplo, quando, colocando os braços na posição de ninar, em locais próximos à natureza, ou que tenham acesso a par-
os balançam, fazendo de conta que estão embalando uma ques ou praças.
boneca. Nesse tipo de situação, a imitação desempenha um As brincadeiras que compõem o repertório infantil
importante papel. e que variam conforme a cultura regional apresentam-
No plano da consciência corporal, nessa idade a -se como oportunidades privilegiadas para desenvolver
criança começa a reconhecer a imagem de seu corpo, o habilidades no plano motor, como empinar pipas, jogar
que ocorre principalmente por meio das interações so- bolinhas de gude, atirar com estilingue, pular amarelinha
ciais que estabelece e das brincadeiras que faz diante do etc.
espelho. Nessas situações, ela aprende a reconhecer as
características físicas que integram a sua pessoa, o que é
REFERÊNCIAS
fundamental para a construção de sua identidade.
Referencial Curricular Nacional para a Educação In-
fantil volume 3.
Crianças de quatro a seis anos
O brincar heurístico na creche
Nessa faixa etária constata-se uma ampliação do re-
pertório de gestos instrumentais, os quais contam com
progressiva precisão. Atos que exigem coordenação de Basta observar uma criança brincando para entender-
vários segmentos motores e o ajuste a objetos específi- mos que a variação do brincar é praticamente infinita.
cos, como recortar, colar, encaixar pequenas peças etc., São muitas as possibilidades desses momentos aconte-
sofisticam-se. Ao lado disso, permanece a tendência lúdi- cerem no espaço: variam de tempo, de objetos, de forma
ca da motricidade, sendo muito comum que as crianças, de se relacionar com outros, de proposta e por aí vai.
durante a realização de uma atividade, desviem a direção O chamado brincar heurístico é uma entre essas muitas
de seu gesto; é o caso, por exemplo, da criança que está opções.
recortando e que de repente põe-se a brincar com a te-
soura, transformando-a num avião, numa espada etc. FIQUE ATENTO!
Gradativamente, o movimento começa a submeter-
-se ao controle voluntário, o que se reflete na capacidade A abordagem foi desenvolvida pela edu-
de planejar e antecipar ações — ou seja, de pensar antes cadora britânica Elinor Goldschmied. A
de agir — e no desenvolvimento crescente de recursos partir de observações do comportamento
de contenção motora. A possibilidade de planejar seu de crianças de até dois anos, ela criou a
próprio movimento mostra-se presente, por exemplo, proposta que combina a curiosidade ca-
nas conversas entre crianças em que uma narra para a racterística dessa faixa etária com a explo-
outra o que e como fará para realizar determinada ação: ração de objetos previamente pensados
“Eu vou lá, vou pular assim e vou pegar tal coisa...”. para serem fornecidos às crianças.
Os recursos de contenção motora, por sua vez, se
traduzem no aumento do tempo que a criança consegue
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

manter-se numa mesma posição. Vale destacar o enor- Vamos compreender do que se trata o conceito.
me esforço que tal aprendizado exige da criança, já que,
quando o corpo está parado, ocorre intensa atividade LIVRE EXPLORAÇÃO: O QUE É O BRINCAR
muscular para mantê-lo na mesma postura. Do ponto de HEURÍSTICO
vista da atividade muscular, os recursos de expressivida-
de correspondem a variações do tônus (grau de tensão Derivado da palavra grega eureca, que significa des-
do músculo), que respondem também pelo equilíbrio e coberta, o brincar heurístico pode ser definido como
sustentação das posturas corporais. ‘uma brincadeira de descobrir e explorar’. No brincar
O maior controle sobre a própria ação resulta em di- heurístico o adulto observa as maneiras utilizadas pelas
minuição da impulsividade motora que predominava nos crianças para explorar, interagir, escolher e tomar posse
bebês. de objetos e suas propriedades e possibilidades.

45
A livre exploração permite o desenvolvimento e ex- ao máximo o uso do plástico. O Jogo Heurístico, por sua
pressão da criatividade e curiosidade inata à faixa etária. vez, é para crianças que já engatinham e caminham. Pau-
É o interesse pela forma com que os objetos por ela ma- lo explica que é possível o uso de tapetes que circuns-
nipulados se comportam no espaço e suas descobertas crevem a área de investigação de cada criança, devido à
consequentes, que incentivam as crianças a continuar importância de cada uma se concentrar em suas próprias
explorando. investigações, sem grandes interferências externas.
Os materiais não estruturados e a polimaterialidade
O que não é brincar heurístico que aparecem no Jogo Heurístico também marcam pre-
sença na última modalidade, a Bandeja de Experimenta-
Por ainda não ser um conceito muito difundido e es- ções, destinada a crianças maiores, que já começam a se
tudado no Brasil, interpretações incorretas são comuns movimentar, ficar em pé e a verbalizar.
quando se trata de brincar heurístico. Paulo argumenta “Nós costumamos dizer que, no Cesto, a pergunta
que a prática não deve ser compreendida como simples- que as crianças fazem é ‘O que é isso?’. No Jogo, elas
mente fornecer materiais não estruturados ou sucatas às começam a não só explorar o objeto em si, mas a fazer
crianças, uma vez que o brincar heurístico demanda uma coisas com esse objeto, colocando a pergunta ‘O que
organização que pode acontecer em três modalidades: eu faço com isso?’. E na Bandeja há uma situação que
o Cesto de Tesouros, o Jogo Heurístico e a Bandeja de se alarga mais, quando as crianças começam a querer
Experimentações. imaginar um futuro e uma hipótese para as coisas. Então
Em comum, as três têm o objetivo de que a criança uma possibilidade de pergunta que se fazem é ‘Como eu
tome posse, explore o material e possa se concentrar e verbalizo isso?’. Essas perguntas são o nosso modo adul-
sentir prazer com sua própria brincadeira. to de olhar para a experiência das crianças e imaginar
perguntas macro que estão ali postas na vivência com o
Organização da proposta: as atribuições dos material não estruturado”, explica Paulo.
adultos
Os benefícios do brincar heurístico
Para que o brincar heurístico aconteça da forma cor-
reta, as três modalidades requerem intervenções pon- Estudioso da prática, Paulo destaca alguns pontos
tuais dos adultos. Muitos autores concordam ao afirmar positivos da metodologia. Em primeiro, o especialista
que as crianças devem aprender a sentir prazer em suas reforça que ainda sabe-se pouco sobre como deve ser
próprias atividades, sem depender de um gesto ou estí- um professor de crianças pequenas e bebês, reforçan-
mulo externo para isso. do a necessidade de usar estratégias para qualificar esse
Segundo Paulo, entre as atribuições dos responsá- tempo e interação.
veis está a fazer uma seleção e manutenção de mate- Em seguida, a realidade brasileira é um ponto a fa-
riais, saber preparar um espaço com os materiais, fazer a vor do brincar heurístico, uma vez que ele não demanda
iniciação e o encerramento da proposta, saber observar grandes investimentos em termos de espaço, materiais e
e documentar, interpretar e compreender o modo com estrutura. Uma terceira possibilidade da prática é alterar
que as crianças estão explorando e entender em que me- a lógica atual das interações infantis. Segundo Paulo, é
dida sua intervenção é necessária, além de, ao final da possível vivenciar situações silenciosas com envolvimen-
atividade, entender como é possível dar continuidade às to da criança.
investigações iniciadas pelas crianças. “As pessoas sempre têm a mesma reação de cho-
“O trabalho do adulto no brincar heurístico não se que ao assistir um vídeo do Cesto, Jogo ou Bandeja, que
reduz a escolha dos materiais. É uma atividade muito so- é a percepção do silêncio. É um silêncio de estado de
fisticada, sendo um grande equívoco as pessoas acredi- interesse das crianças na sua investigação, num ambien-
tarem que selecionar um conjunto de materiais e ofere- te muito bem pensado e com um adulto que entende
cer para as crianças se trata de brincar heurístico. Envolve seu papel na relação. Além disso, a questão do tempo
um adulto muito disponível para aprender e estar com também é importante. Uma sessão de brincar heurístico
as crianças.” pode durar 35 minutos ou uma hora, e as pessoas falam
‘uma criança de dois anos envolvida numa situação por
Mais natureza e menos plástico uma hora?’. Isso é um contradiscurso a toda uma ideia de
que criança pequena tem baixa concentração. Nós trata-
Para que o brincar heurístico aconteça, é necessário mos concentração como se fosse uma coisa dada, e não
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

um espaço tranquilo e uma seleção de objetos para que como uma questão construída pelas próprias oportuni-
as crianças possam explorar. A ideia é que os materiais dades que oferecemos.”
não sejam estruturados, uma vez que objetos estrutura-
dos e com uma proposta pronta podem limitar as pos- Fonte
sibilidades que oferecem às crianças. Além disso, é ne- FOCHI, Paulo (org.). O brincar heurístico na creche –
cessário que sejam o mais próximo do natural, indo em percursos pedagógicos no observatório da cultura infan-
direção contrária à artificialidade e uso do plástico. til. 1ª ed. OBECI, 2018.
A modalidade Cesto de Tesouros é destinada a be- http://aliancapelainfancia.org.br/inspiracoes/mate-
bês que já ficam sentados, mas que não fazem grandes riais-naturais-e-nao-estruturados-e-pouca-intervencao-
deslocamentos. Cada cesto deve servir de três a quatro -externa-conheca-o-brincar-heuristico/
bebês, ter cerca de 60 objetos, todos naturais, evitando

46
Aprendemos também de muitas maneiras, com di-
EXERCÍCIO COMENTADO versas técnicas, procedimentos, mais ou menos eficazes
para conseguir os objetivos desejados.
As metodologias precisam acompanhar os objetivos
1. (URI - 2018 - Prefeitura de Nova Candelária - RS - pretendidos. Se queremos que os alunos sejam proati-
Professor - Educação Infantil – Médio) O brincar livre vos, precisamos adotar metodologias em que os alunos
e o brincar dirigido são aspectos essenciais da interação se envolvam em atividades cada vez mais complexas, em
professor/criança. Nessa perspectiva o professor é consi- que tenham que tomar decisões e avaliar os resultados,
derado conforme a descrição da alternativa: com apoio de materiais relevantes. Se queremos que se-
jam criativos, eles precisam experimentar inúmeras novas
a) Instrutor ou doador de conhecimentos. possibilidades de mostrar sua iniciativa.
b) Socializador e instrutor. As metodologias ativas são caminhos para avançar
c) Mediador e socializador. mais no conhecimento profundo, nas competências so-
d) Mediador e iniciador de aprendizagem. cioemocionais e em novas práticas.
As escolas que nos mostram novos caminhos estão
Resposta: Letra D mudando para modelos mais centrados em aprender ati-
Em “d”: Certo - Emerique (2003, p.23), muito oportu- vamente com problemas reais, desafios relevantes, jogos,
namente, observa a existência de três tipos de pro- atividades e leituras, valores fundamentais, combinando
fessoras: (...)por fim, encontro ainda as que entram no tempos individuais e tempos coletivos; projetos pessoais
jogo, vendo o lúdico como mediador do ensino e da de vida e de aprendizagem e projetos em grupo. Isso exi-
aprendizagem e também como oportunidade para ge uma mudança de configuração do currículo, da par-
aproximar-se, interagir, escutar, conhecer melhor seus ticipação dos professores, da organização das atividades
alunos. didáticas, da organização dos espaços e tempos.
Quanto mais aprendamos próximos da vida, me-
lhor. Teóricos como Dewey (1950), Freire (2009), Rogers
(1973), Novack (1999), entre outros, enfatizam, há muito
tempo, a importância de superar a educação bancária,
tradicional e focar a aprendizagem no aluno, envolven-
ROTINA E GESTÃO EM SALA DE AULA: QUES- do-o, motivando-o e dialogando com ele.
A aprendizagem é mais significativa quando motiva-
TÕES DAS RELAÇÕES DO GRUPO
mos os alunos intimamente, quando eles acham sentido
nas atividades que propomos, quando consultamos suas
motivações profundas, quando se engajam em projetos
Metodologias ativas valorizam a participação efetiva em que trazem contribuições, quando há diálogo sobre
dos alunos na construção do conhecimento e no desen- as atividades e a forma de realizá-las.
volvimento de competências, possibilitando que apren- Além da mobilidade, há avanços nas ciências cogni-
dam em seu próprio ritmo, tempo e estilo, por meio de tivas: aprendemos de formas diferentes e em ritmos di-
diferentes formas de experimentação e compartilha- ferentes e temos ferramentas mais adequadas para mo-
mento, dentro e fora da sala de aula, com mediação de nitorar esses avanços. Podemos oferecer propostas mais
docentes inspiradores e incorporação de todas as pos- personalizadas, monitorando-as, avaliando-as em tempo
sibilidades do mundo digital. O livro apresenta práticas real, o que não era possível na educação mais massiva ou
pedagógicas, na educação básica e superior, que valori- convencional.
zam o protagonismo dos estudantes e que estão relacio- A tecnologia em rede e móvel e as competências di-
nadas com as teorias que lhes servem como suporte. Li- gitais são componentes fundamentais de uma educação
lian Bacich e José Moran reúnem nesta obra capítulos de plena. Um aluno não conectado e sem o domínio digital
autores brasileiros que analisam por que e para que usar perde importantes chances de informar-se, de acessar
metodologias ativas na educação de forma inovadora. materiais muito ricos disponíveis, de comunicar-se, de
tornar-se visível para os demais, de publicar suas ideias e
METODOLOGIAS ATIVAS PARA UMA APRENDIZA- de aumentar sua empregabilidade futura.
GEM MAIS PROFUNDA A convergência digital exige mudanças muito mais
José Moran profundas que afetam a escola em todas as suas dimen-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

sões: infraestrutura, projeto pedagógico, formação do-


cente, mobilidade. A chegada das tecnologias móveis à
FIQUE ATENTO! sala de aula traz tensões, novas possibilidades e grandes
Num sentido amplo, toda a aprendizagem é desafios. São cada vez mais fáceis de usar, permitem
ativa em algum grau, porque exige do apren- a colaboração entre pessoas próximas e distantes, am-
diz e do docente formas diferentes de mo- pliam a noção de espaço escolar, integrando os alunos e
vimentação interna e externa, de motivação, professores de países, línguas e culturas diferentes. E to-
seleção, Interpretação, comparação, avalia- dos, além da aprendizagem formal, têm a oportunidade
ção, aplicação. de se engajar, aprender e desenvolver relações duradou-
ras para suas vidas.

47
Os bons materiais (interessantes e estimulantes, im- - Aprendizagem personalizada
pressos e digitais) são fundamentais para o sucesso da A personalização (aprendizagem adaptada aos ritmos
aprendizagem. Precisam ser acompanhados de desafios, e necessidades de cada pessoa) é cada vez mais impor-
atividades, histórias, jogos que realmente mobilizem os tante e viável. Cada estudante, de forma mais direta ou
alunos, em cada etapa, que lhes permitam caminhar em indireta, procura respostas para suas inquietações mais
grupo (colaborativamente) e sozinhos (aprendizagem profundas e as pode relacionar com seu projeto de vida
personalizada) utilizando as tecnologias mais adequadas e sua visão de futuro. É importante aprender a relacionar
(e possíveis) em cada momento. melhor o que está disperso, a aprofundar as informações
O papel do professor é ajudar os alunos a ir além de relevantes, a tecer costuras mais complexas, a navegar
onde conseguiriam fazê-lo sozinhos. Até alguns anos entre as muitas redes, grupos e ideias com as quais con-
atrás, ainda fazia sentido que o professor explicasse tudo vivemos. Num mundo tão agitado, de múltiplas lingua-
e o aluno anotasse, pesquisasse e mostrasse o quanto gens, telas e efervescências aprender a desenvolver ro-
aprendeu.
teiros individualizados de acordo com as necessidades e
Hoje a forma de fazer isso mudou bastante. Sobre
expectativas é cada vez mais importante e viável.
qualquer tema, há textos, vídeos e animações muito ri-
Na escola podemos oferecer propostas mais indivi-
cos, variados, que transmitem as informações básicas de
forma adequada. O professor seleciona os mais relevan- dualizadas, para cada estilo predominante de aprendi-
tes e elabora um roteiro orientador para os alunos no zagem, monitorando-as, avaliando-as em tempo real, o
ambiente virtual. Os alunos leem, veem e fazem algumas que não era possível na educação mais massiva ou con-
atividades previstas e em classe o professor ajuda os alu- vencional. Alunos mais pragmáticos preferirão ativida-
nos na ampliação do conhecimento prévio que eles tra- des diferentes às dos alunos mais teóricos ou conceituais
zem e adapta as atividades aos grupos e à cada aluno, e a ênfase nas atividades será também distinta.
sempre que possível. Trabalhar com desafios hoje é mais complexo, porque
O papel do professor é o de ajudar na escolha e vali- cada um dos alunos envolvidos tem expectativas diferen-
dação dos materiais mais interessantes, (impressos e di- tes, motivações diferentes, atitudes diferentes diante da
gitais), roteirizar a sequência de ações prevista e mediar a vida. O educador precisa descobrir quais são as motiva-
interação com o grande grupo, com os pequenos grupos ções profundas de cada um, o que o mobiliza mais para
e com cada um dos alunos. É um papel mais comple- aprender, os percursos mais adequados para sua situa-
xo, flexível e dinâmico. Antes podia preparar uma mes- ção e combinar atividades grupais e pessoais de apren-
ma aula para todos, a mesma atividade para todos. Hoje dizagem cooperativa e competitiva, de aprendizagem
precisa ir além e concentrar-se no essencial, que é apro- tutorada e autônoma, com tecnologias próximas da vida
fundar o que os alunos não percebem, ajudar a cada um dos alunos. E isso exige mediadores muito experientes e
de acordo com o seu ritmo e necessidades e isso é muito preparados.
mais difícil e exige maior preparação em todos os sen- Quanto mais tecnologias móveis, maior é a necessi-
tidos: preparação em competências mais amplas, além dade de que o professor planeje quais atividades fazem
do conhecimento do conteúdo, como saber adaptar-se sentido para a classe, para cada grupo e para cada aluno.
ao grupo e à cada aluno; planejar, acompanhar e avaliar As atividades exigem o apoio de materiais bem elabora-
atividades significativas e diferentes. dos. Os conteúdos educacionais - atualizados e atraentes
– podem ser muito úteis para que os professores possam
Aprendizagem personalizada, colaborativa e orien- selecionar materiais textuais, audiovisuais – impressos e/
tada com apoio de tecnologias digitais avançadas
ou digitais – que sirvam para momentos diferentes do
processo educativo: para motivar, para ilustrar, para con-
A aprendizagem se constrói num processo equilibra-
tar histórias, para orientar atividades, organizar roteiros
do entre três movimentos principais: a construção indi-
vidual – em que cada aluno percorre seu caminho -; a de aprendizagem, para a avaliação formativa.
grupal – em que aprendemos com os semelhantes, os Os professores podem utilizar as tecnologias em suas
pares e a orientada, em que aprendemos com alguém disciplinas ou áreas de atuação, incentivando os alunos
mais experiente, com um especialista um professor. a serem produtores e não só receptores. Podem dispo-
A aprendizagem acontece nas múltiplas buscas que nibilizar os conteúdos (ao menos, uma parte deles) em
cada um faz a partir dos interesses, curiosidade, necessi- ambientes virtuais de aprendizagem, para sentirem-se
dades. Ela vai muito além da sala de aula. livres da tarefa monótona, repetitiva, cansativa e pouco
As tecnologias “propiciam a reconfiguração da prá- produtiva de falar e escrever os mesmos assuntos para
tica pedagógica, a abertura e plasticidade do currículo diversas turmas e concentrar-se em atividades mais cria-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

e o exercício da coautoria de professores e alunos. Por tivas e estimulantes, como as de orientação, tirar dúvidas,
meio da midiatização das tecnologias de informação e aprofundar as informações básicas adquiridas e contex-
comunicação, o desenvolvimento do currículo se expan- tualizá-las. As tecnologias nos libertam das tarefas mais
de para além das fronteiras espaço-temporais da sala de penosas – as repetitivas – e nos permitem concentrar-nos
aula e das instituições educativas; supera a prescrição de nas atividades mais criativas, produtivas e fascinantes.
conteúdos apresentados em livros, portais e outros ma- As plataformas adaptativas monitoram os avanços de
teriais; estabelece ligações com os diferentes espaços do cada aluno em tempo real, sugerem alternativas e per-
saber e acontecimentos do cotidiano; e torna públicas as mitem que cada um estude sem professor no seu pró-
experiências, os valores e os conhecimentos, antes restri- prio ritmo, até um determinado ponto. Cada aluno conta
tos ao grupo presente nos espaços físicos, onde se rea- com um dashboard, um quadro em que visualiza o per-
lizava o ato pedagógico”. (ALMEIDA & VALENTE, 2012) centual de conclusão de cada tema ou atividade e mais

48
estatísticas do seu desenvolvimento. Ele consegue perce- isoladamente. O compartilhamento dentro e fora da sala
ber que temas domina mais, onde tem mais dificuldades de aula é riquíssimo. Nesses momentos e espaços nos
e precisa de mais ajuda. Em paralelo, o professor visualiza sentimos mais sujeitos ativos, entre iguais, sem as bar-
esses mesmos avanços e dificuldades dos seus alunos em reiras que podem existir diante de profissionais com um
um quadro em tempo real. grau de conhecimento maior.
Sozinhos vamos até um certo ponto que se amplia A aprendizagem acontece num ambiente social cada
com a interação com os demais, com grupos. Para os lei- vez mais complexo, dinâmico e imprevisível. A colabora-
tores que não experimentaram uma plataforma adapta- ção nos ajuda a desenvolver nossas competências, mas
tiva, podem entrar em https://pt.khanacademy.org e ins- também pode provocar-nos muitas tensões, desencon-
crever-se como aluno e realizar os exercícios que achar tros, ruídos e decepções. A colaboração na aprendiza-
convenientes. Logo visualizará seu progresso, através de gem se realiza em um espaço fluido de acolhimento e de
pontos e medalhas. Se for professor, entre como profes- rejeição, que nos induz a repensar as estratégias traçadas
sor e cadastre alguns alunos e conseguirá ver o percurso previamente, dada a diversidade, riqueza e complexida-
de cada um, onde tem mais domínio e mais dificuldades de de conviver em uma sociedade multicultural em rápi-
em matemática. O movimento de aprendizagem indivi- da transformação.
dual ultrapassa a escola e o que é exigido no ensino for- A rapidez com que interagimos nos ajuda e nos com-
plica. Nos ajuda a situar-nos, a atualizar-nos, a circular
mal. Hoje há inúmeras possibilidades de pesquisa, acesso
digitalmente, a visibilizar-nos em inúmeras possibilida-
a materiais, cursos, vídeos para que cada um escolha os
des de expressão; mas também facilita a dispersão e a
que mais lhe motivam.
dependência. É muito difícil concentrar-se, focar-se num
- A aprendizagem colaborativa, entre pares tema específico por muito tempo. O acesso contínuo a
Um segundo movimento é o da aprendizagem em redes sociais traz informações interessantes, mas tende a
diversos grupos de interesse, presenciais ou virtuais, que desviar-nos do objetivo inicial de um trabalho ou projeto,
compartilham o que sabem, que nos ajudam nas nossas se não estivermos muito atentos e pode manter-nos num
dúvidas, que iluminam ângulos que não percebíamos, nível de conhecimento superficial.
que ampliam nosso potencial e oferecem alternativas
novas profissionais e sociais. A aprendizagem por orientação com profissionais
As múltiplas formas de colaboração, hoje, entre pes- mais experientes
soas próximas e conectadas, com dispositivos móveis, O terceiro movimento na aprendizagem acontece no
possibilitam a aceleração da aprendizagem individual, contato com profissionais mais experientes (professores,
grupal e social, pelas múltiplas articulações, interliga- tutores, mentores). Eles podem ajudar-nos a ir além de
ções, narrativas, projetos, desdobramentos, em todos os onde sozinhos e em grupos de pares conseguimos che-
campos, atividades e situações em que nos envolvemos, gar. Eles desempenham o papel de curadores para que
discutimos, atuamos e compartilhamos. O compartilha- cada estudante avance mais na aprendizagem individua-
mento gera aprendizagens e produtos muito mais rápi- lizada; desenham algumas estratégias para que a apren-
da, barata e inovadora do que até agora. dizagem entre pares seja bem-sucedida e conseguem
O professor desempenha hoje um papel importante ajudar os aprendizes a que ampliem a visão de mundo
de curador de conteúdos, de seleção de materiais rele- que conseguiram nos percursos individuais e grupais, le-
vantes entre tantas possibilidades. Os jogos e as aulas vando-os a novos questionamentos, investigações, prá-
roteirizadas com a linguagem de jogos cada vez estão ticas e sínteses.
mais presentes no cotidiano escolar. Para gerações acos- Os bons professores e orientadores sempre foram e
tumadas a jogar, a linguagem de desafios, recompensas, serão fundamentais para avançarmos na aprendizagem.
de competição e cooperação é atraente e fácil de perce- Ajudam a desenhar roteiros interessantes, problemati-
ber. Os jogos colaborativos e individuais; de competição zam, orientam, ampliam os cenários, as questões, os ca-
minhos a serem percorridos. O diferente hoje é que eles
e colaboração; de estratégia, com etapas e habilidades
não precisam estar o tempo todo juntos com os alunos,
bem definidas se tornam cada vez mais presentes nas
nem precisam estar explicando as informações para to-
diversas áreas de conhecimento e níveis de ensino.
dos. A combinação no projeto pedagógico de aprendiza-
É na síntese dinâmica da aprendizagem personalizada gens personalizadas, grupais e tutoriais é poderosa para
e colaborativa que desenvolvemos todo o nosso potencial obter os resultados desejados.
como pessoas e como grupos sociais, ao enriquecer-nos O que a educação formal hoje precisa levar em conta
mutuamente com as múltiplas interfaces do diálogo den- é que a aprendizagem individual, grupal e tutorial avança
tro de cada um, alimentando e alimentados pelos diálo- no cotidiano fora das escolas, pelas muitas ofertas infor-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

gos com os diversos grupos nos quais participamos, com mais na rede. Temos inúmeras oportunidades de apren-
a intensa troca de ideias, sentimentos e competências der sozinhos, em grupo e em coaching ou orientação de
em múltiplos desafios que a vida nos oferece. diversos tutores. Há inúmeros cursos massivos abertos,
Há inúmeros grupos interessantes nas redes sociais – grupos de colaboração acessíveis e pessoas mais expe-
Facebook, LinkedIn, WhatsApp – em que nos tornamos rientes que podem ajudar-nos (de forma gratuita ou re-
coautores, coparticipantes, coaprendentes. O comparti- munerada) fora das instituições formais. De outro lado,
lhamento de visões, olhares diferentes, materiais abertos se a educação formal quer continuar sendo relevante
amplia nossos horizontes e nos motiva a sermos proati- precisa incorporar todas estas possibilidades do cotidia-
vos, corresponsáveis por múltiplas aprendizagens. no aos seus projetos pedagógicos. Incorporar os cami-
No ensino formal, a aprendizagem em grupos nos nhos individuais de aprender, os colaborativos e os de
permite ir além de onde cada um consegue chegar orientação.

49
A comunicação através da colaboração se comple- para cada etapa, que solicitam informações pertinentes,
menta com a comunicação um a um, com a personali- que oferecem recompensas estimulantes, que combi-
zação, através do diálogo do professor com cada aluno nam percursos pessoais com participação significativa
e seu projeto, com a orientação e acompanhamento do em grupos, que se inserem em plataformas adaptativas,
seu ritmo. Podemos oferecer sequências didáticas mais que reconhecem cada aluno e ao mesmo tempo apren-
personalizadas, monitorando-as, avaliando-as em tempo dem com a interação, tudo isso utilizando as tecnologias
real, com o apoio de plataformas adaptativas, o que não adequadas.
era possível na educação mais massiva ou convencional. Contar, criar e compartilhar histórias é muito mais fá-
Com isso o professor conversa, orienta seus alunos de cil hoje. Podemos fazê-lo a partir de livros, da Internet,
uma forma mais direta, no momento que precisam e da de qualquer dispositivo móvel. Crianças e jovens gostam
forma mais conveniente. e conseguem produzir vídeos e animações e postá-los
Sozinhos vamos até um certo ponto; juntos, vamos imediatamente na rede. Existem aplicativos fáceis de edi-
além. Essa interconexão entre a aprendizagem pessoal e ção nos smartphones. As narrativas são elementos pode-
a colaborativa, num movimento contínuo e ritmado, nos rosos de motivação e produção de conhecimento.
ajuda a avançar muito além do que o faríamos sozinhos Os jogos e as aulas roteirizadas com a linguagem de
ou só em grupo. Os projetos pedagógicos inovadores jogos (gameficação) estão cada vez estão mais presentes
conciliam, na organização curricular, espaços, tempos e na escola e são estratégias importantes de encantamen-
projetos que equilibram a comunicação pessoal e a co- to e motivação para uma aprendizagem mais rápida e
laborativa, presencial e online e que, sob orientação de próxima da vida real. Cursos gratuitos como o Duolingo
um orientador, nos levam a um patamar mais elevado de (duolingo.com) são atraentes porque utilizam todos os
síntese e de novas habilidades. recursos de atratividade para quem quer aprender: cada
As tecnologias facilitam a aprendizagem colabora- um escolhe o ritmo, vê o avanço dos seus colegas, ga-
tiva, entre colegas, próximos e distantes. Cada vez ad- nha recompensas. Para gerações acostumadas a jogar,
quire mais importância a comunicação entre pares, entre a linguagem de desafios, recompensas, de competição e
iguais, dos alunos entre si, trocando informações, parti- cooperação é atraente e fácil de perceber. Os jogos co-
cipando de atividades em conjunto, resolvendo desafios, laborativos e individuais; de competição e colaboração;
realizando projetos, avaliando-se mutuamente. Fora da de estratégia, com etapas e habilidades bem definidas
escola acontece o mesmo, a comunicação entre grupos, se tornam cada vez mais presentes nas diversas áreas de
nas redes sociais, que compartilham interesses, vivências, conhecimento e níveis de ensino.
pesquisas, aprendizagens. Cada vez mais a educação se É importante misturar técnicas, estratégias, recursos,
horizontaliza e se expressa em múltiplas interações gru- aplicativos. Misturar e diversificar. Surpreender os alunos,
pais e personalizadas. mudar a rotina. Deixar os processos menos previsíveis
O papel ativo do professor como design de caminhos, para os alunos.
de atividades individuais e de grupo é decisivo e o faz de A diversidade de técnicas pode ser útil, se bem equi-
forma diferente. O professor se torna cada vez mais um librada e adaptada entre o individual e o coletivo. Cada
gestor e orientador de caminhos coletivos e individuais, abordagem - problemas, projetos, design, jogos, narra-
previsíveis e imprevisíveis, em uma construção mais tivas... - tem importância, mas não pode ser superdi-
aberta, criativa e empreendedora. mensionada como a única. A analogia de um cardápio
A maior parte do tempo - na educação presencial e a alimentar pode ser ilustrativa. Uma alimentação saudável
distância - ensinamos com materiais e comunicações es- pode ser conseguida com uma receita básica única. Mas
critos, orais e audiovisuais, previamente selecionados ou se todos os dias repetimos o mesmo menu, torna-se in-
elaborados. São extremamente importantes, mas a me- suportável. A variedade e combinação dos ingredientes
lhor forma de aprender é combinando equilibradamente são componentes fundamentais do sucesso de um bom
atividades, desafios e informação contextualizada. Para projeto alimentar assim como do educacional.
aprender a dirigir um carro, não basta ler muito sobre
esse tema; tem que experimentar, rodar com o ele em Dentre as diversas estratégias que podem ser usadas
diversas situações com supervisão, para depois poder as- para se conseguir ambientes de aprendizagem ativa em
sumir o comando do veículo sem riscos. sala de aula, destacamos as seguintes:

Metodologias ativas com estratégias e técnicas – Discussão de temas e tópicos de interesse para a
diferentes formação profissional.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

– Trabalho em equipe com tarefas que exigem cola-


Metodologias são grandes diretrizes que orientam os boração de todos.
processos de ensino e aprendizagem e que se concre- – Estudo de casos relacionados com áreas de forma-
tizam em estratégias, abordagens e técnicas concretas, ção profissional específica.
específicas, diferenciadas. – Debates sobre temas da atualidade.
As metodologias ativas num mundo conectado e di- – Geração de ideias (brainstorming) para buscar a
gital se expressam através de modelos de ensino híbri- solução de um problema.
dos, blended, com muitas possíveis combinações. – Produção de mapas conceituais para esclarecer e
Alguns componentes são fundamentais para o suces- aprofundar conceitos e ideias.
so da aprendizagem: a criação de desafios, atividades, – Modelagem e simulação de processos e sistemas
jogos que realmente trazem as competências necessárias típicos da área de formação.

50
– Criação de sites ou redes sociais visando aprendi- – gameficação - cada vez estão mais presentes no coti-
zagem cooperativa. diano escolar e são importantes caminhos de aprendiza-
– Elaboração de questões de pesquisa na área cien- gens para gerações acostumadas a jogar.
tífica e tecnológica. Há muitas formas de inverter esse processo. Pode-se
começar por projetos, pesquisa, leituras prévias, produ-
- Inverter o foco e as estratégias ções dos alunos e depois aprofundamentos em classe
No ensino convencional os professores procuram ga- com a orientação do professor. O curso Ensino Híbrido,
rantir que todos os alunos aprendam o mínimo esperado Personalização e Tecnologia oferece vídeos e materiais
e para isso explicam os conceitos básicos e pedem que feitos por professores brasileiros e norte-americanos so-
os alunos depois os estudem e aprofundem através de bre os diversos aspectos do ensino híbrido, na visão do
leituras e atividades. professor, do aluno, do currículo, da tecnologia, da ava-
Hoje, depois que os estudantes desenvolvem o domí- liação, da gestão, da mudança de cultura. Vale a pena ler
nio básico de leitura e escrita, podemos inverter o pro- o livro sobre o mesmo tema (BACICH, TANZI & TREVISA-
cesso. As informações básicas, iniciais sobre um tema ou NI, 2015).
problema são acessadas por cada aluno de forma flexível O articulador das etapas individuais e grupais é o do-
e as mais avançadas, com o apoio direto do professor e cente, com sua capacidade de acompanhar, mediar, de
dos colegas. Esse é um conceito amplo de aula inverti- analisar os processos, resultados, lacunas e necessidades,
da. Há materiais disponíveis sobre qualquer assunto que a partir dos percursos realizados pelos alunos individual
o aluno pode percorrer por ele mesmo, no ritmo mais e grupalmente. Esse novo papel do professor é mais
adequado. complexo do que o anterior de transmitir informações.
O passo seguinte é fazer uma avaliação pedindo que Precisa de uma preparação em competências mais am-
a turma responda a três ou quatro questões sobre o as- plas, além do conhecimento do conteúdo, como saber
sunto, para diagnosticar o que foi aprendido e os pontos adaptar-se ao grupo e à cada aluno; planejar, acompa-
que necessitam de ajuda. Em sala de aula, o professor nhar e avaliar atividades significativas e diferentes.
orienta aqueles que ainda não adquiriram o básico para Ele pode fazer isso com tecnologias simples, incen-
que possam avançar. Ao mesmo tempo, oferece pro- tivando que os alunos contem histórias, trabalhem com
blemas mais complexos a quem já domina o essencial, situações reais, que integrem alguns dos jogos do coti-
assim os estudantes vão aplicando os conhecimentos e diano. Se mudarmos a mentalidade dos docentes para
relacionando-os com a realidade. Um modelo um pouco serem mediadores, poderão utilizar os recursos próxi-
mais complexo é partir direto de desafios, o que pode mos, os que estão no celular, uma câmera para ilustrar,
ocorrer dentro de uma só disciplina ou juntando-se vá- um programa gratuito para juntar as imagens e contar
rias. Três ou quatro professores que trabalhem com a com elas histórias interessantes.
mesma turma podem propor um problema interessante Um dos caminhos mais interessantes de aprendi-
cuja resolução envolva diversas áreas do conhecimento. zagem ativa é pela investigação (ABIn - Aprendizagem
É importante que os projetos estejam ligados à vida dos baseada na Investigação). Os estudantes, sob orientação
alunos, às suas motivações profundas, que o professor dos professores desenvolvem a habilidade de levantar
saiba gerenciar essas atividades, envolvendo-os, nego- questões e problemas e buscam - individual e grupal-
ciando com eles as melhores formas de realizar o projeto, mente, utilizando métodos indutivos e dedutivos - inter-
valorizando cada etapa e principalmente a apresentação pretações coerentes e soluções possíveis.
e a publicação em um lugar virtual visível do ambiente Isso envolvem pesquisar, avaliar situações, pontos
virtual para além do grupo e da classe. de vista diferentes, fazer escolhas, assumir alguns riscos,
As regras básicas para inverter a sala de aula, segun- aprender pela descoberta, caminhar do simples para
do o relatório Flipped Classroom Field Guide são: o complexo. Os desafios bem planejados contribuem
1) as atividades em sala de aula envolvem uma quan- para mobilizar as competências desejadas, intelectuais,
tidade significativa de questionamento, resolução emocionais, pessoais e comunicacionais. Nas etapas de
de problemas e de outras atividades de aprendiza- formação, os alunos precisam de acompanhamento de
gem ativa, obrigando o aluno a recuperar, aplicar e profissionais mais experientes para ajudá-los a tornar
ampliar o material aprendido on-line; conscientes alguns processos, a estabelecer conexões
2) Os alunos recebem feedback imediatamente após não percebidas, a superar etapas mais rapidamente, a
a realização das atividades presenciais; confrontá-los com novas possibilidades.
3) Os alunos são incentivados a participar das ativida-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

des on-line e das presenciais, sendo que elas são Aprendizagem baseada em problemas
computadas na avaliação formal do aluno, ou seja,
valem nota; A aprendizagem baseada em problemas (PBL, em in-
4) tanto o material a ser utilizado on-line quanto os glês ou ABProb, como é conhecida hoje) surgiu na dé-
ambientes de aprendizagem em sala de aula são cada de 1960 na Universidade McMaster, Canadá, e em
altamente estruturados e bem planejados. Maastricht, na Holanda, em Escolas de Medicina, inicial-
A combinação de aprendizagem por desafios, pro- mente. A ABProb/PBL tem sido utilizada em várias outras
blemas reais, jogos, com a aula invertida é muito impor- áreas do conhecimento - Administração, Arquitetura, En-
tante para que os alunos aprendam fazendo, aprendam genharias, Computação - também com a denominação
juntos e aprendam, também, no seu próprio ritmo. Os de Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP ou PBL).
jogos e as aulas roteirizadas com a linguagem de jogos

51
A PBL tem como base de inspiração os princípios da g) utilizam avaliações baseadas em desempenho; e
escola ativa, do método científico, de um ensino integra- h) estimulam alguma forma de cooperação.
do e integrador dos conteúdos, dos ciclos de estudo e
das diferentes áreas envolvidas, em que os alunos apren- São vários os modelos de implementação da metodo-
dem a aprender e se preparam para resolver problemas logia de projetos, que variam de projetos de curta dura-
relativos às suas futuras profissões. A Aprendizagem Ba- ção (uma ou duas semanas) - restritos ao âmbito da sala
seada em Problemas PBL mais ampla propõe uma matriz de aula e baseados em um assunto específico - até pro-
não disciplinar ou transdisciplinar, organizada por temas, jetos de soluções mais complexas, que envolvem temas
competências e problemas diferentes, em níveis de com- transversais e demandam a colaboração interdisciplinar,
plexidade crescentes, que os estudantes aluno deverão com uma duração mais longa (semestral ou anual).
compreender e equacionar com atividades em grupo e
individuais. Cada um dos temas de estudo é transforma- Os principais modelos são:
do em um problema a ser discutido em um grupo tuto- a) Exercício projeto, quando o projeto é aplicado no
rial que funciona como apoio para os estudos âmbito de uma única disciplina;
b) Componente projeto, quando o projeto é desen-
Estas são as fases da PBL na Harvard Medical School: volvido de modo independente das disciplinas,
- Fase I: - Identificação do(s) problema(s) - Formula- apresentando-se como uma atividade acadêmica
ção de hipóteses - Solicitação de dados adicionais não articulada com nenhuma disciplina específica;
- Identificação de temas de aprendizagem - Elabo- c) Abordagem projeto, quando o projeto se apresenta
ração do cronograma de aprendizagem - Estudo como uma atividade interdisciplinar, ou seja, como
independente elo entre duas ou mais disciplinas; e
- Fase II: - Retorno ao problema - Crítica e aplica- d) Currículo projeto, quando não mais é possível
ção das novas informações - Solicitação de dados identificar uma estrutura formada por disciplinas,
adicionais - Redefinição do problema - Reformula- pois todas elas se dissolvem e seus conteúdos pas-
ção de hipóteses - Identificação de novos temas de sam a estar a serviço do projeto e vice-versa.
aprendizagem - Anotação das fontes
- Fase III: - Retorno ao processo - Síntese da apren- Outra classificação de projetos:
dizagem – Avaliação – Projeto construtivo: a finalidade é construir algo
novo, criativo, no processo e/ou no resultado.
Aprendizagem baseada em projetos – Projeto investigativo: o foco é pesquisar uma ques-
tão ou situação, utilizando técnicas de pesquisa
É uma metodologia de aprendizagem em que os alu- científica.
nos se envolvem com tarefas e desafios para resolver um – Projeto explicativo: procura responder questões
problema ou desenvolver um projeto que também tenha do tipo: “Como funciona? Para que serve? Como
ligação com sua vida fora da sala de aula. No proces- foi construído?” Busca explicar, ilustrar, revelar os
so, eles lidam com questões interdisciplinares, tomam princípios científicos de funcionamento de objetos,
decisões e agem sozinhos e em equipe. Por meio dos mecanismos, sistemas etc.
projetos, são trabalhadas também suas habilidades de
pensamento crítico, criativo e a percepção de que exis- Exemplos de atividades básicas para desenvolver um
tem várias maneiras para a realização de uma tarefa, ti- projeto:
das como competências necessárias para o século XXI.
Os alunos são avaliados de acordo com o desempenho - Atividades para motivação e contextualização (os
durante e na entrega dos projetos. alunos precisam querer fazer o projeto, se envolver
Essa abordagem adota o princípio da aprendizagem emocionalmente, achar que dão conta do recado
colaborativa, baseada no trabalho coletivo. Buscam-se se se esforçarem, etc.)
problemas extraídos da realidade pela observação rea- - Atividades de brainstorm (o espaço para a criati-
lizada pelos alunos dentro de uma comunidade. Os alu- vidade, para dar ideias, ouvir os outros, escolher
nos identificam os problemas e buscam soluções para o que e como vão produzir saber argumentar,
resolvê-los. convencer...)
De acordo com o Buck Institute for Education (2008, - Atividades de organização (divisão de tarefas, res-
p.18), os projetos que se apresentam como efetivos pos- ponsabilidades, escolha de recursos que serão uti-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

suem os seguintes atributos: lizados na produção e nos registros, elaboração de


a) reconhecem o impulso para aprender, intrínseco planejamento, etc.)
dos alunos; - Atividades de registro e reflexão (auto avaliação,
b) envolvem os alunos nos conceitos e princípios cen- avaliação dos colegas, reflexão sobre qualidade
trais de uma disciplina; dos produtos e processos, identificação de neces-
c) destacam questões provocativas; sidade de mudanças de rota)
d) requerem a utilização de ferramentas e habilidades - Atividades de melhoria de ideias (pesquisa, ideias
essenciais, incluindo tecnologia para aprendiza- de outros grupos, incorporação de boas ideias e
gem, autogestão e gestão do projeto; práticas)
e) especificam produtos que resolvem problemas; - Atividades de produção (aplicação do que estão
f) incluem múltiplos produtos que permitem feedback; aprendendo para gerar os produtos) ·

52
- Atividades de apresentação e/ ou publicação do com apoio de recursos digitais, é um caminho fantástico
que foi gerado (com celebração e avaliação final) para engajar os estudantes no conhecimento, vivência
e transformação de um mundo complexo e em rápida
Diferentes níveis de desenvolvimento de Projetos transformação.
Uma outra dimensão dos projetos está voltada para
Todas as organizações estão revendo seus métodos que cada estudante se conheça mais como pessoa (au-
tradicionais de ensinar e de aprender. Algumas estão toconhecimento), desenvolva um projeto de futuro
ainda muito ancoradas em métodos convencionais, mais (possibilidades a curto e médio prazo) e construa uma
centrados na transmissão e informações pelo professor. vida com significado (valores, competências amplas). É o
Metodologias ativas com projetos são caminhos para projeto de vida, que organizações mais atentas incluem
iniciar um processo de mudança, desenvolvendo as ati- no currículo como um eixo transversal importante, com
vidades possíveis para sensibilizar mais os estudantes e alguns momentos fortes ao longo do curso e alguma for-
engajá-los mais profundamente. ma de mentoria, de orientação pessoal dos estudantes.

Projetos dentro de cada disciplina Projetos transdisciplinares


Os projetos podem ser desenvolvidos inicialmen- A aprendizagem supera o modelo disciplinar e parte
te dentro de cada disciplina, com várias possibilidades de problemas e projetos mais simples até os mais com-
(dentro e fora da sala de aula; no início, meio ou fim de plexos, projetos individuais e grupais. O PBL é o cami-
um tema específico; como aula invertida ou aprofunda- nho mais consolidado de aprendizagem por problemas
mento após atividades de ensino-pesquisa ou aula dia- na área de saúde. Há um movimento forte e consistente,
logada. Podem ser desenvolvidos projetos a partir de na educação básica, superior e de adultos no mundo in-
jogos, principalmente jogos de construção, de roteiros teiro e também no Brasil de desenvolver currículos mais
abertos, como o Minecraft. Projetos podem ser construí- transdisciplinares, a partir de problemas, projetos, jogos
dos através de narrativas, de histórias (individuais e de e desafios. Esse é o caminho mais interessante, promissor
grupo) contadas pelos próprios estudantes, utilizando a e inevitável de aprender num mundo complexo, impre-
facilidade dos aplicativos e tecnologias digitais, combi- visível e criativo.
nadas também com histórias dramatizadas ao vivo (tea-
tro) de grande impacto. Os estudantes podem produzir Conclusão
projetos reais, da ideia ao produto nos fab-lab, nos la-
boratórios digitais, conhecendo programação de forma As metodologias ativas são caminhos para avançar
lúdica como o Scratch. mais no conhecimento profundo, nas competências so-
cioemocionais e em novas práticas.
• Projetos integradores (interdisciplinares) O papel do professor hoje é muito mais amplo e
Um nível mais avançado de realização de proje- avançado: não está centrado só em transmitir informa-
tos acontece quando integram mais de uma disciplina, ções de uma área específica; ele é principalmente design
professores e áreas de conhecimento. A iniciativa pode de roteiros personalizados e grupais de aprendizagem
partir da iniciativa de alguns professores ou fazer parte e orientador/mentor de projetos profissionais e de vida
do projeto pedagógico da instituição. São projetos que dos alunos.
articulam vários pontos de vista, saberes, áreas de co-
nhecimento, trazendo questões complexas, do dia a dia e Algumas consequências desses princípios:
que fazem perceber aos estudantes que o conhecimento - Desenvolver uma integração maior entre diferen-
segmentado (disciplinar) é composto de olhares pon- tes áreas de conhecimento, dos temas, materiais,
tuais para conseguir encontrar significados mais amplos. metodologias e da sua abrangência (intelectual,
Os problemas e projetos interdisciplinares ajudam muito emocional, comportamental).
a perceber as conexões entre as disciplinas. Podem ser - Caminhar para modelos curriculares inter e trans-
realizados utilizando todas as técnicas apontadas antes disciplinares mais flexíveis, com acompanhamento
(dentro e fora da sala de aula, em vários espaços, onde o e avaliação contínua.
digital pode ser muito importante, assim como o desen- - Importância maior do aluno ser mais protagonista,
volvimento de jogos, histórias, produtos). participante, através de situações práticas, produ-
Projetos interdisciplinares importantes hoje são os ções individuais e de grupo e sistematizações pro-
que estão próximos da vida e do entorno dos estudantes, gressivas. Inversão da forma tradicional de ensinar,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

que partem de necessidades concretas e que expressam (depois que o aluno tem as competências básicas
uma dimensão importante da aprendizagem hoje que é mínimas de ler, escrever, contar): o básico o aluno
a da aprendizagem-serviço: Estudantes e professores, em aprende sozinho, no seu ritmo e o mais avança-
contato com diferentes grupos e problemas reais, apren- do, com atividades em grupo e a supervisão de
dendo com eles e contribuindo com soluções concretas professores.
para a comunidade. Os estudantes não só conhecem a - Formação inicial e continuada de professores em
realidade: simultaneamente contribuem para melhorá-la metodologias ativas, em orientação/ mentoria e
e isso dá um sentido muito mais profundo ao aprender: em tecnologias presenciais e online. Importância
aprendendo não só para mim, mas também para melho- do compartilhamento de experiências, da orien-
rar a vida dos demais. A combinação de projetos inter- tação dos mais experientes, da aprendizagem por
disciplinares com o conceito de aprendizagem-serviço, imersão e por “clínicas” com supervisão.

53
- Planejamento do ritmo das mudanças de forma d) listar os conteúdos que deverão ser ministrados du-
mais progressiva ou profunda (currículos mais fle- rante o semestre, considerando a sequência apresen-
xíveis, mais integradores, menos disciplinares). tada no livro didático e os programas disponíveis nos
computadores do laboratório.
Podemos combinar tempos e espaços individuais e e) propor o estudo dos projetos que foram desenvolvi-
grupais, presenciais e digitais, com maior ou menor su- dos pelo governo quanto ao uso de laboratórios de
pervisão. Aprendemos melhor quando conseguimos informática, relacionando o que consta no livro didáti-
combinar três processos de forma equilibrada: a apren- co com as tecnologias existentes no laboratório.
dizagem personalizada (em que cada um pode aprender
o básico por si mesmo - aprendizagem prévia, aula inver- Resposta: Letra A.
tida); a aprendizagem com diferentes grupos (aprendiza- É importante, para que se possa argumentar a análise
gem entre pares, em redes) e a aprendizagem mediada dessa questão, em sua proposta alternativa de respostas,
por pessoas mais experientes (professores, orientadores, esclarecer as compreensões do papel de um Laboratório
mentores). de Informática, em termos de sua integração na escola,
As escolas que nos mostram novos caminhos estão e do favorecimento dos processos de ensino e de apren-
mudando para modelos mais centrados em aprender ati- dizagem numa perspectiva de uma abordagem da Peda-
vamente com problemas reais, desafios relevantes, jogos, gogia de Projetos.
atividades e leituras, valores fundamentais, combinando Entende-se Laboratório de Informática em uma es-
tempos individuais e tempos coletivos; projetos pessoais cola, não como uma possibilidade oferecida aos alunos
de vida e de aprendizagem e projetos em grupo. Isso exi- para que, por meio dele, se apropriem dos mais diferen-
ge uma mudança de configuração do currículo, da par- tes aspectos do Currículo, rompendo com a visão limita-
ticipação dos professores, da organização das atividades da de ser visto como especialidade/atividade extracurri-
didáticas, da organização dos espaços e tempos. cular ou de uso eventual em determinadas disciplinas e
Cada escola, universidade, organização se encontra de específicas aplicações didáticas, mas um espaço de
mais ou menos avançada na inserção de projetos na sua uso cotidiano, de busca, de criação, de pesquisa, visan-
proposta pedagógica. O importante é, a partir de um do à construção de conhecimento e favorecimento dos
diagnóstico realista, propor caminhos que viabilizem processos de ensino e de aprendizagem. Trata-se de um
mudanças de curto e longo prazo com metodologias ati- ambiente diversificado de aprendizagem que valoriza as
vas e projetos cada vez mais integradores. informações disponíveis no processo de construção do
conhecimento.
Fonte A Pedagogia de Projetos pressupõe uma abordagem
MORAN, J. Metodologias ativas para uma aprendiza- que tem como incentivo a capacidade do aluno de ad-
gem mais profunda. Pesquisador e gestor de projetos de quirir sua própria educação, investindo em sua autono-
inovação em educação. Blog www2.eca.usp.br/moran mia para gerenciar a aprendizagem e, assim, aprender
BACICH, L.; MORAN. J. (Org.). Metodologias ativas questionando, respondendo, buscando desafios educati-
para uma educação inovadora: uma abordagem teórico- vos e formativos exigidos pela sociedade atual.
-prática. Porto Alegre: Penso, 2018. Tem seu foco em uma investigação problemática, si-
tuação-problema, significativa para os alunos, com o ob-
jetivo de oportunizar a construção e a reconstrução de
EXERCÍCIOS COMENTADOS seus conhecimentos. Necessárias se fazem, para tanto, a
abertura e a flexibilidade do professor em relativizar suas
1. Na escola em que João é professor, existe um labora- práticas, repensar as potencialidades de aprendizagem
tório de informática, que é utilizado para os estudantes de seus alunos e o seu papel de professor nessa pers-
trabalharem conteúdos em diferentes disciplinas. Consi- pectiva pedagógica, oportunizando a integração entre
dere que João quer utilizar o laboratório para favorecer conteúdos de várias áreas do conhecimento, bem como
o processo ensino-aprendizagem, fazendo uso da abor- entre diferentes mídias disponíveis (computador, inter-
dagem da Pedagogia de Projetos. Nesse caso, seu plane- net, livros, televisão) e entre outros recursos existentes
jamento deve no contexto da instituição de ensino em que está inseri-
do. “É ter coragem de romper com as limitações do co-
a) ter como eixo temático uma problemática significati- tidiano, muitas vezes autoimpostas” e “delinear um per-
va para os estudantes, considerando as possibilidades curso possível que pode levar a outros, não imaginados
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tecnológicas existentes no laboratório. a priori”.


b) relacionar os conteúdos previamente instituídos no Feitas essas considerações, justifica-se estar correta a
início do período letivo e os que estão no banco de assertiva A. As alternativas B, C, D e E não estão corretas
dados disponível nos computadores do laboratório de por apresentarem, respectivamente, um planejamento
informática. que se propõe a relacionar conteúdos previamente ins-
c) definir os conteúdos a serem trabalhados, utilizando a tituídos no início do período letivo e os constantes em
relação dos temas instituídos no Projeto Pedagógico bancos de dados; definir conteúdos a serem trabalha-
da escola e o banco de dados disponível nos compu- dos utilizando a relação dos temas instituídos no pro-
tadores do laboratório. jeto pedagógico das escolas e, também, no banco de
dados disponível; listar conteúdos que deverão ser mi-
nistrados durante o semestre considerando a sequência

54
apresentada no livro didático e os programas disponíveis ensino-aprendizagem, principalmente à aprendizagem
nos computadores dos laboratórios e estudo de projetos desenvolvida nas escolas. Sendo uma teoria cognitiva,
desenvolvidos pelo governo quanto ao uso de laborató- apresenta a preocupação com os processos centrais
rios de informática, relacionando o que consta no livro do pensamento, como organização do conhecimento,
didático com as tecnologias existentes no laboratório. processamento de informação, raciocínio e tomada de
Se for levado em consideração que nem todos os decisão. Considera a aprendizagem como um processo
conteúdos curriculares previstos para serem estudados interno, mediado cognitivamente, mais do que como
numa determinada série/nível de escolaridade podem um produto direto do ambiente, de fatores externos ao
ser abordados no contexto de um projeto, é possível aprendiz. Apresenta-se como o principal defensor do
pensar que um projeto não pode ser concebido, como método de aprendizagem por descoberta (insight).
apresentado nas alternativas B, C, D e E, uma “camisa de A teoria de Bruner apresenta muitos pontos seme-
força”, pois existem momentos em que outras estratégias lhantes às teorias de Gestalt e de Piaget. Bruner consi-
pedagógicas precisam ser colocadas em ação para que dera a existência de estágios durante o desenvolvimento
os alunos possam aprender determinados conceitos. cognitivo e propõe explicações similares às de Piaget,
Importante se faz compreender que no trabalho por quanto ao processo de aprendizagem. Atribui importân-
projetos, as pessoas se envolvem para descobrir ou pro- cia ao modo como o material a ser aprendido é disposto,
duzir algo novo, procurando respostas para questões ou assim como Gestalt, valorizando o conceito de estrutura
problemas reais. “Não se faz projeto quando se têm cer- e arranjos de ideias. “Aproveitar o potencial que o indiví-
tezas, ou quando se está imobilizado por dúvidas”. duo traz e valorizar a curiosidade natural da criança são
Projeto não pode ser confundido com um conjunto princípios que devem ser observados pelo educador”.
de atividades que o professor propõe para que os alunos A escola não deve perder de vista que a aprendiza-
realizem, a partir de um tema dado, predeterminado, res- gem de um novo conceito envolve a interação com o já
trito a determinadas fontes também indicadas, resultan- aprendido. Portanto, as experiências e vivências que o
do numa mera apresentação de trabalho. Portanto, uma aluno traz consigo favorecem novas aprendizagens. Bru-
vez que a Pedagogia de ner chama a atenção para o fato de que as matérias ou
Projetos não pressupõe a definição prévia de con- disciplinas tais como estão organizadas nos currículos,
teúdos, mas a resolução de questão-problema integra- constituem-se muitas vezes divisões artificiais do saber.
da a situações vividas, as alternativas B, C, D e E estão Por isso, várias disciplinas possuem princípios co-
incorretas. muns sem que os alunos – e algumas vezes os próprios
professores – analisem tal fato, tornando o ensino uma
ENSINO E APRENDIZAGEM repetição sem sentido, em que apenas respondem a co-
mandos arbitrários, Bruner propõe o ensino pela desco-
A aprendizagem é um processo contínuo que ocor- berta. O método da descoberta não só ensina a criança a
re durante toda a vida do indivíduo, desde a mais tenra
resolver problemas da vida prática, como também garan-
infância até a mais avançada velhice. Normalmente uma
te a ela uma compreensão da estrutura fundamental do
criança deve aprender a andar e a falar; depois a ler e es-
conhecimento, possibilitando assim economia no uso da
crever, aprendizagens básicas para atingir a cidadania e
memória, e a transferência da aprendizagem no sentido
a participação ativa na sociedade. Já os adultos precisam
mais amplo e total.
aprender habilidades ligadas a algum tipo de trabalho
Segundo Bock (2001), a preocupação de Bruner é
que lhes forneça a satisfação das suas necessidades bási-
que a criança aprenda a aprender corretamente, ainda
cas, algo que lhes garanta o sustento.
que “corretamente” assuma, na prática, sentidos diferen-
As pessoas idosas embora nossa sociedade seja reti- tes para as diferentes faixas etárias. Para que se garanta
cente quanto às suas capacidades de aprendizagem po- uma aprendizagem correta, o ensino deverá assegurar a
dem continuar aprendendo coisas complexas como um aquisição e permanência do aprendido (memorização),
novo idioma ou ainda cursar uma faculdade e virem a de forma a facilitar a aprendizagem subsequente (trans-
exercer uma nova profissão. ferência). Este é um método não estruturado, portanto o
O desenvolvimento geral do indivíduo será resulta- professor deve estar preparado para lidar com perguntas
do de suas potencialidades genéticas e, sobretudo, das e situações diversas. O professor deve conhecer a fundo
habilidades aprendidas durante as várias fases da vida. A os conteúdos a serem tratados. Deve estar apto a conhe-
aprendizagem está diretamente relacionada com o de- cer respostas corretas e reconhecer quando e porque as
senvolvimento cognitivo. respostas alternativas estão erradas. Também necessita
saber esperar que os alunos cheguem à descoberta, sem
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

As passagens pelos estágios da vida são marcadas


por constante aprendizagem. “Vivendo e aprendendo”, apressa-los, mas garantindo a execução de um programa
diz a sabedoria popular. Assim, os indivíduos tendem mínimo. Deve também ter cuidado para não promover
a melhorar suas realizações nas tarefas que a vida lhes um clima competitivo que gere, ansiedade e impeça al-
impõe. A aprendizagem permite ao sujeito compreender guns alunos de aprender.
melhor as coisas que estão à sua volta, seus companhei- O modelo de ensino e aprendizagem de David P. Au-
ros, a natureza e a si mesmo, capacitando-o a ajustar-se subel (1980) caracteriza-se como um modelo cognitivo
ao seu ambiente físico e social. que apresenta peculiaridades bastante interessantes para
A teoria da instrução de Jerome Bruner (1991), os professores, pois centraliza-se, primordialmente, no
um autêntico representante da abordagem cogni- processo de aprendizagem tal como ocorre em sala de
tiva, traz contribuições significativas ao processo aula. Para Ausubel, aprendizagem significa organização e

55
integração do material aprendido na estrutura cognitiva, razão, pensamos que é de fundamental importância que
estrutura esta na qual essa organização e integração se os professores saibam que tipo de ser humano preten-
processam. dem formar para esta sociedade, pois disto depende, em
Psicólogos e educadores têm demonstrado uma cres- grande parte, as escolhas que fazemos pelos conteúdos
cente preocupação com o modo como o indivíduo apren- que ensinamos, pela metodologia que optamos e pe-
de e, desde Piaget, questões do tipo: “Como surge o co- las atitudes que assumimos diante dos alunos. De certo
nhecer no ser humano? Como o ser humano aprende? O modo esta visão limitada ou potencializada o processo
conhecimento na escola é diferente do conhecimento da ensino-aprendizagem não depende das políticas públi-
vida diária? O que é mais fácil esquecer?” atravessaram as cas em curso, mas do projeto de formação cultural que
investigações científicas. Assim, deve interessar à escola possui o corpo docente e seu compromisso com objeto
saber como criança, adolescentes e adultos elaboram seu de estudo.
conhecer, haja vista que a aquisição do conhecimento é a Como o ato pedagógico de ensino-aprendizagem
questão fundamental da educação formal. constitui-se, ao longo prazo, num projeto de formação
A psicologia cognitiva preocupa responder estas humana, propomos que esta formação seja orientada
questões estudando o dinamismo da consciência. A por um processo de autonomia que ocorra pela produ-
aprendizagem é, portanto, a mudança que se preocupa ção autônoma do conhecimento, como forma de pro-
com o eu interior ao passar de um estado inicial a um es- mover a democratização dos saberes e como modo de
tado final. Implica normalmente uma interação do indi- elaborar a crítica da realidade existente.
víduo com o meio, captando e processando os estímulos Isto quer dizer que só há crítica se houver produção
selecionados. autônoma do conhecimento elaborado através de uma
O ato de ensinar envolve sempre uma compreensão prática efetiva da pesquisa. Entendemos que é pela prá-
bem mais abrangente do que o espaço restrito do pro- tica da pesquisa que exercitamos a reflexão sobre a rea-
fessor na sala de aula ou às atividades desenvolvidas pe- lidade como forma de sistematizar metodologicamente
los alunos. Tanto o professor quanto o aluno e a escola nosso olhar sobre o mundo para podermos agir sobre
encontram-se em contextos mais globais que interferem os problemas. Isto quer dizer que não pesquisamos por
no processo educativo e precisam ser levados em consi- pesquisar e nem refletimos por refletir.
deração na elaboração e execução do ensino. Tanto a reflexão quanto à pesquisa são meios pelos
Ensinar algo a alguém requer, sempre, duas coisas: quais podemos agir como sujeitos transformadores da
uma visão de mundo (incluídos aqui os conteúdos da realidade social. Isto indica que nosso trabalho, como
aprendizagem) e planejamento das ações (entendido professores, é o de ensinar a aprender para que o conhe-
como um processo de racionalização do ensino). A prá- cimento construído pela aprendizagem seja um podero-
tica de planejamento do ensino tem sido questionada so instrumento de combate às formas de injustiças que
quanto a sua validade como instrumento de melhoria se reproduzem no interior da sociedade.
qualitativa no processo de ensino como o trabalho do Piaget (1969), foi quem mais contribuiu para com-
professor: preendermos melhor o processo em que se vivencia a
[...] a vivência do cotidiano escolar nos tem eviden- construção do conhecimento no indivíduo.
ciado situações bastante questionáveis neste sentido. Apresentamos as ideias básicas de Piaget sobre o
Percebe-se, de início, que os objetivos educacionais pro- desenvolvimento mental e sobre o processo de constru-
postos nos currículos dos cursos apresentam confusos e ção do conhecimento, que são adaptação, assimilação e
desvinculados da realidade social. Os conteúdos a serem acomodação.
trabalhados, por sua vez, são definidos de forma auto- Piaget diz que o indivíduo está constantemente inte-
ritária, pois os professores, via re regra, não participam ragindo com o meio ambiente. Dessa interação resulta
dessa tarefa. Nessas condições, tendem a mostrar-se uma mudança contínua, que chamamos de adaptação.
sem elos significativos com as experiências de vida dos Com sentido análogo ao da Biologia, emprega a palavra
alunos, seus interesses e necessidades. adaptação para designar o processo que ocasiona uma
De modo geral, no meio escolar, quando se faz refe- mudança contínua no indivíduo, decorrente de sua cons-
rência a planejamento do ensino – aprendizagem, este se tante interação com o meio.
reduz ao processo através do qual são definidos os ob- Esse ciclo adaptativo é constituído por dois subpro-
jetivos, o conteúdo programático, os procedimentos de cessos: assimilação e acomodação. A assimilação está
ensino, os recursos didáticos, a sistemática de avaliação relacionada à apropriação de conhecimentos e habi-
da aprendizagem, bem como a bibliografia básica a ser lidade. O processo de assimilação é um dos conceitos
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

consultada no decorrer de um curso, série ou disciplina fundamentais da teoria da instrução e do ensino. Per-
de estudo. Com efeito, este é o padrão de planejamento mite-nos entender que o ato de aprender é um ato de
adotado pela maioria dos professores e que passou a ser conhecimento pelo qual assimilamos mentalmente os
valorizado apenas em sua dimensão técnica. fatos, fenômenos e relações do mundo, da natureza e
Em nosso entendimento a escola faz parte de um da sociedade, através do estudo das matérias de ensi-
contexto que engloba a sociedade, sua organização, sua no. Nesse sentido, podemos dizer que a aprendizagem
estrutura, sua cultura e sua história. Desse modo, qual- é uma relação cognitiva entre o sujeito e os objetos de
quer projeto de ensino – aprendizagem está ligado a conhecimento.
este contexto e ao modo de cultura que orienta um mo- A acomodação é que ajuda na reorganização e na
delo de homem e de mulher que pretendemos formar, modificação dos esquemas assimilatórios anteriores
para responder aos desafios desta sociedade. Por esta do indivíduo para ajustá-los a cada nova experiência,

56
acomodando-as às estruturas mentais já existentes. Por-
tanto, a adaptação é o equilíbrio entre assimilação e aco- RELAÇÃO FAMÍLIA X ESCOLA
modação, e acarreta uma mudança no indivíduo.
A inteligência desempenha uma função adaptativa,
pois é através dela que o indivíduo coleta as informa-
ções do meio e as reorganiza, de forma a compreender O ambiente familiar, bem como suas relações com o
melhor a realidade em que vive, nela agi, transformando. aprendizado escolar revelam um campo pouco estuda-
Para Piaget (1969), a inteligência é adaptação na sua for- do, apesar de muito importante para o desenvolvimento
ma mais elevada, isto é, o desenvolvimento mental, em e aprendizagem das crianças.
sua organização progressiva, é uma forma de adaptação A legislação estabelece que a família deve desempe-
sempre mais precisa à realidade. É preciso ter sempre em nhar papel educacional e não incumbir apenas à escola
mente que Piaget usa a palavra adaptação no sentido a função de educar. O artigo 205 da Constituição Federal
em que é usado pela Biologia, ou seja, uma modificação afirma: A educação direito de todos e dever do Estado e da
que ocorre no indivíduo em decorrência de sua interação família, será promovida e incentivada com a colaboração
com o meio. da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da
Portanto, é no processo de construção do conheci- pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
mento e na aquisição de saberes que devemos fazer com qualificação para o trabalho.
que o aluno seja motivado a desenvolver sua aprendi- Sendo assim, pode-se afirmar que a família é funda-
zagem e ao mesmo tempo superar as dificuldades que mental na formação cultural e social de qualquer indiví-
sentem em assimilar o conhecimento adquirido. duo visto que, todos fazem parte da mais velha das insti-
tuições, que é a FAMÍLIA. Porém, ao tratarmos da família
REFERÊNCIA em sua relação com a escola faz-se necessário um estudo
sobre o panorama familiar atual, não esquecendo que a
MOTA, M. S. G.; PEREIRA, F. E. L. Desenvolvimento família através dos tempos vem passando por um pro-
e Aprendizagem: Processo de construção do conheci- fundo processo de transformação.
mento e desenvolvimento mental do indivíduo. Dispo- A família não é um simples fenômeno natural. Ela é
nível em: http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf3/ uma instituição social variando através da história e apre-
tcc_desenvolvimento.pdf senta formas e finalidades diversas numa mesma época e
lugar, conforme o grupo social que esteja.
Entretanto, ao analisar a história, pode-se perceber,
EXERCÍCIO COMENTADO que ao contrário de uma família ideal, o que se encontra
em nosso passado são famílias que se constituíram atra-
1. (TCE-PI – PEDAGOGO – FCC – 2017) Com base na vés das circunstâncias econômicas, culturais e políticas
concepção piagetiana de aprendizagem, conclui-se que sob as mais variadas formas. A família é a base da socie-
cabe ao professor dade, porém diante das mudanças pelas quais passou,
vê-se a instituição familiar estruturada de forma total-
a) planejar as atividades intelectivas em conformidade mente diferente de anos atrás. O antigo padrão familiar,
com o ano escolar dos alunos. antes constituído por pai, mãe, filhos e outros membros,
b) criar situações que estimulem o aluno a pensar, pes- cujo comando centrava no patriarca e/ou matriarca, dei-
quisar, estudar e analisar a questão a ele apresentada. xou de existir. Em seu lugar surgem novas composições
c) escolher os conteúdos e organizar materiais didáticos familiares, ou seja, famílias constituídas de diversos mo-
de acordo com os diversos interesses dos alunos. dos, desde as mais simples, formadas apenas por pais e
d) elaborar uma rotina de estudo para que o aluno con- filhos, outras formadas por casais vindos de outros rela-
quiste sua autonomia de pensamento. cionamentos, além de famílias compostas por homosse-
e) ensinar primeiramente os conteúdos mais simples xuais, por avós e netos etc.
para gradativamente chegar aos mais complexos. O século XX foi cenário de grandes transformações
na estrutura da família. Ainda hoje, porém, observamos
Resposta: Letra B. De acordo com Jean Piaget a algumas marcas deixadas pelas suas origens. Da famí-
escola deve criar situações que estimulem o alu- lia romana, por exemplo, temos a autoridade do chefe
no a pensar, pesquisar, estudar, e analisar a questão da família, onde a submissão da esposa e dos filhos ao
apresentada. Visando desta maneira a construção do pai confere ao homem o papel de chefe. Da família me-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

conhecimento. dieval perpetua-se o caráter sacramental do casamento


originado no século XVI. Da cultura portuguesa, temos a
solidariedade, o sentimento de sensível ligação afetiva,
abnegação e desprendimento.
O aumento da expectativa de vida, a diminuição do
índice de natalidade, o aumento de mulheres abarcando
o mundo do trabalho, além do aumento de divórcios e
separações forma algumas das mudanças deixadas pelo
século XX. Em consequência disso, a família contemporâ-
nea, assim como a instituição do casamento, parece estar
vivenciando uma grande crise.

57
Percebe-se em consequência dessa crise um aumen- Portanto, é indispensável que a família esteja em har-
to considerável de pequenas famílias chefiadas por jo- monia com a instituição escolar, uma vez que uma rela-
vens esposas tentando se firmar financeiramente. ção harmoniosa só pode enriquecer e facilitar o desem-
Ao comentar as mudanças ocorridas na estrutura fa- penho educacional das crianças.
miliar Romanelli, diz: Uma das transformações mais signi- Esteve (1999), assegura que a família abdicou de
ficativas na vida doméstica e que redunda em mudanças suas responsabilidades no âmbito educativo, passando
na dinâmica é a crescente participação do sexo feminino a exigir que a escola ocupe o vazio que eles não podem
na força de trabalho, em consequência das dificuldades preencher. Sendo assim, o que se vê hoje são crianças
enfrentadas pelas famílias. chegando à escola e desenvolvendo suas atividades es-
Cabe aqui ressaltar que a Constituição Federal de colares sem qualquer apoio familiar.
1988, em seu artigo 5º, caput e inciso I, declara a igualda- Essa erosão do apoio familiar não se expressa só na
de entre o homem e a mulher; no artigo 226, parágrafos falta de tempo para ajudar as crianças nos trabalhos es-
3º e 4º reconhecem na família a relação proveniente da colares ou para acompanhar sua trajetória escolar. Num
união estável e da monoparentalidade formada por qual- sentido mais geral e mais profundo, produziu-se uma
quer dos pais e seus descendentes e, ainda no artigo 227, nova dissolução entre família e escola, pela qual as crian-
parágrafo 5º, as relações ligadas pela afinidade e pela ças chegam à escola com um núcleo básico de desen-
adoção. O código civil brasileiro, em vigor desde 11 de volvimento da personalidade caracterizado seja pela de-
janeiro de 2003, considera qualquer união estável entre bilidade dos quadros de referência, seja por quadros de
pessoas que se gostam e se respeitam, ampliando assim referência que diferem dos que a escola supõe e para os
o conceito de família e ainda segundo Genofre, 1997: [...] quais se preparou.
o traço dominante da evolução da família é sua tendência Diante da colocação acima, entende-se que a famí-
a se tornar um grupo cada vez menos organizado e hierar- lia deve, portanto, se esforçar para estar mais presente
quizado e que cada vez mais se funda na afeição mútua. em todos os momentos da vida de seus filhos, inclusive,
Como já foi dito, as mudanças sócio-políticas-econô- da vida escolar. No entanto, esta presença implica en-
micas das últimas décadas vêm influenciando na dinâ- volvimento, comprometimento e colaboração. O papel
mica e na estrutura familiar, acarretando mudanças em
dos responsáveis, portanto, é dar continuidade ao tra-
seu padrão tradicional de organização. Diante disso, não
balho da escola, criando condições para que seus filhos
se pode falar em família, mas sim de famílias, devido à
tenham sucesso na sala de aula, assim como na vida fora
diversidade de relações existentes em nossa sociedade.
da escola.
Apesar dos diferentes arranjos familiares que se su-
Diante dos autores revisados, percebe-se que a fa-
cederam e conviveram simultaneamente ao longo da
mília, apesar de ser um tema relevante, também é bas-
história, as famílias ainda se constituem com a mesma
tante complexa e requer ainda muito estudo e pesqui-
finalidade: preservar a união monogâmica baseada em
princípios éticos, pois o respeito ao outro é uma con- sa para que se possa entender melhor sua natureza e
dição indispensável. Por outro lado, mudanças são con- especificidade.
sideradas sempre bem-vindas, principalmente quando
surgem para fortalecer ainda mais a instituição familiar, A ESCOLA E SUA FUNÇÃO
independentemente da forma como está constituída.
A família se modifica através da história, mas continua As mudanças pelas quais a sociedade tem passado
sendo um sistema de vínculos afetivos onde se dá todo atualmente em decorrência de grande carga de infor-
o processo de humanização do indivíduo. Esse vínculo mação, dos avanços tecnológicos e tantos outros fato-
afetivo parece contribuir de forma positiva para o bom res, têm repercutido na estruturação da família e con-
desempenho escolar da criança. sequentemente na estrutura da escola. Portanto, faz-se
Por falta de um contato mais próximo e afetuoso, sur- necessário voltar atenção para a escola que, apesar das
gem as condutas caóticas e desordenadas, que se reflete mudanças, continua exercendo a função de transmitir
em casa e quase sempre, também na escola em termo de conhecimentos científicos.
indisciplina e de baixo rendimento escolar. A escola tem encontrado dificuldades em assimilar
Percebe-se dessa maneira que a família possui papel as mudanças sociais e familiares e incorporar as novas
decisivo na educação formal e informal e, além de refletir tarefas que a ela tem sido delegada, embora isso não
os problemas da sociedade, absorve valores éticos e hu- seja um processo recente. Entretanto, a escola precisa ser
manitários aprofundando os laços de solidariedade. Por- pensada como um caminho entre a família e a socieda-
tanto, é indispensável a participação da família na vida de, pois, tanto a família quanto à sociedade voltam seus
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

escolar dos filhos, pois, crianças que percebem que seus olhares exigentes sobre ela. A escola é para a sociedade
responsáveis estão acompanhando de perto o que está uma extensão da família, pois é através dela (a escola)
acontecendo, que estão verificando o rendimento esco- que se consegue desenvolver indivíduos críticos e cons-
lar, perguntando como foram as aulas, questionando as cientes de seus direitos e deveres. Na verdade, encontrar
tarefas, etc. tendem a se sentir mais seguras e em conse- formas de modo a favorecer um ambiente conveniente e
quência apresentam um melhor desempenho nas ativi- favorável a todos, constitui-se num grande desafio para
dades escolares. “... a família também é responsável pela escola. Diante dessas premissas, percebe-se que o papel
aprendizagem da criança, já que os pais são os primeiros da escola supera a simples condição de mera transmisso-
ensinantes e as atitudes destes frente às emergências de ra de conhecimento.
autoria, se repetidas constantemente, irão determinar a
modalidade de aprendizagem dos filhos.”

58
A escola tem um papel preponderante na contribui- Colaborando com a discussão sobre o tema de nosso
ção do sujeito, tanto do ponto de vista de seu desenvol- trabalho, Dermeval Saviani tece algumas considerações.
vimento pessoal e emocional, quanto da constituição da “Claro que, de modo geral, pode-se entender que
identidade, além de sua inscrição futura na sociedade. uma boa relação entre a família e a escola tenderá a re-
Sendo assim, faz-se necessário que a escola repense percutir favoravelmente no desempenho dos alunos. No
sua prática pedagógica para melhor atender a singulari- entanto, considerada essa questão específica, é necessá-
dade de seus alunos, o que a obriga a uma parceria com rio verificar que podemos nos defrontar com situações
a família, de forma a atingir seus objetivos educativos. É distintas que requerem, portanto, tratamentos distintos.
importante que a escola busque estreitar suas relações Suponhamos, por exemplo, o padrão tradicional de fun-
com a família em nome do bem-estar do aluno. Para cionamento das escolas na forma de externatos em que
maior fluência de seus objetivos, a escola necessita da os alunos ficam na escola uma parte do dia, frequentan-
participação da família e que essa participação seja de do as aulas, devendo estudar em casa na outra parte do
efetivas contribuições para o bom desempenho esco- dia ou à noite. A escola, então, ministraria ensinamentos
lar dos alunos. As responsabilidades da escola hoje vão e passaria “lições de casa” que seriam corrigidas no re-
além de mera transmissora de conhecimento científico. torno a sala de aula, dando sequência ao processo en-
Sua função é muito mais ampla e profunda. Tem como sinoaprendizagem. Bem, numa situação como essa se
tarefa árdua educar a criança para que ela aprenda a torna fundamental a cooperação da família. Essa coope-
conviver em sociedade, para que tenha uma vida plena ração implica um ambiente minimamente favorável para
e realizada, além de formar o profissional contribuindo que as crianças possam estudar em casa, preferencial-
assim, para a melhoria da sociedade. De acordo com Tor- mente com o estímulo e a eventual ajuda dos pais ou
res (2006), uma das funções sociais da escola é preparar responsáveis. No entanto, nós podemos nos defrontar
o cidadão para o exercício da cidadania vivendo como com sérios obstáculos a esse modelo, pois há muitas fa-
profissional e cidadão. O que quer dizer que a escola tem mílias que não dispõe sequer de um espaço no qual as
como função social democratizar conhecimentos e for- crianças possam estudar, não havendo uma mesa com
uma cadeira onde a criança possa sentar e ficar em silên-
mar cidadãos participativos e atuantes.
cio manuseando o livro didático e escrevendo sem seu
caderno; famílias em que os pais passam o dia todo fora
A IMPORTÂNCIA DA RELAÇÃO FAMÍIA/ESCOLA/
de casa, trabalhando; em que os pais e mesmo os irmãos
COMUNIDADE
mais velhos não tiveram acesso à escola e, portanto, não
têm condições de acompanhar o desenvolvimento esco-
Vida familiar e vida escolar perpassam por caminhos
lar dos filhos ou irmãos mais novos. Para esses casos a
concomitantes. É quase impossível separar aluno/filho,
solução poderia ser a escola de tempo integral.
por isto, quanto maior o fortalecimento da relação fa- Essa proposta está na pauta tendo sido, inclusive,
mília/escola, tanto melhor será o desempenho escolar contemplada na nova LDB ao prescrever, no § segundo
desses filhos/alunos. Nesse sentido, é importante que do Art. 34, que “o ensino fundamental será ministrado
família e a escola saibam aproveitar os benefícios desse progressivamente em tempo integral, a critério dos sis-
estreitamento de relações, pois, isto irá resultar em prin- temas de ensino”. E essa proposta também aparece com
cípios facilitadores da aprendizagem e formação social frequência nas plataformas políticas dos diversos candi-
da criança. datos nas sucessivas eleições. No entanto, geralmente
Tanto a família quanto a escola desejam a mesma quando se fala em escola de tempo integral se pensa
coisa: preparar as crianças para o mundo; no entanto, a num turno de aulas e em um outro em que as crianças
família tem suas particularidades que a diferenciam da estariam na escola desenvolvendo atividades culturais e
escola, e suas necessidades que a aproximam des- desportivas. Ora, sendo assim, o problema do desempe-
sa instituição. A escola tem sua metodologia filosofia, no nho dos alunos não seria devidamente equacionado. Ao
entanto ela necessita da família para concretizar seu pro- contrário, tenderia a ser dificultado porque, após passar
jeto educativo. o dia inteiro na escola, as crianças teriam que estudar
Em vista disso, é que destacamos a necessidade de fazer as lições de casa e se preparar para as aulas do
uma parceria entre a família e a escola visto que, cada dia seguinte em casa, à noite. Na verdade, uma escola
qual com seus valores e objetivos específicos em relação de tempo integral implicaria que, no contra turno, as
à educação de uma criança, se sobrepõe, onde quan- crianças estariam estudando com a orientação dos pro-
to mais diferentes são, mais necessitam uma da outra. fessores que poderiam ministrar atividades de reforço
Entretanto, escola e família não podem e não devem para aqueles que apresentassem maiores dificuldades de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

modificar-se em suas formas de se desenvolverem e se aprendizagem. Logo, também os professores deveriam


organizarem – a escola em função da família e a famí- ser contratados em jornada de tempo integral numa úni-
lia em função da escola, porém, podem e devem estar ca escola. Isso permitiria que eles se fixassem em deter-
abertas às trocas de experiências mediante uma parceria minada escola, se identificassem com ela podendo, em
significativa. consequência, participar mais diretamente na vida da
Diante dos autores revisados, percebe-se a clareza comunidade em que a escola está inserida. Assim, seria
da importância de compartilhar responsabilidades e não possível manter certo grau de diálogo com as famílias
transferi-las. A escola não funciona isoladamente, é pre- dos alunos o que contribuiria para estabelecer algum
ciso que cada um, dentro da sua função, trabalhe bus- tipo de colaboração entre a ação da escola e a ação da
cando atingir uma construção coletiva, contribuindo as- família tendo em vista o objetivo de assegurar às crianças
sim para a melhoria do desempenho escolar das crianças. um satisfatório desempenho escolar”.

59
Contudo, percebe-se a importância da relação Famí- REFERÊNCIA:
lia/Escola no processo educativo da criança. Ambas são Material didático. Ester. Disponível em: http://www.
referenciais que dão sustentação ao bom desenvolvi- diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1764-6
mento da criança, portanto, quanto melhor for a parceria
entre elas, mais positiva e significativa será o desempe-
nho escolar dos filhos/alunos. Porém, a participação da
família na educação formal dos filhos precisa ser cons- AÇÃO PEDAGÓGICA; OBJETIVOS DO
tante e consciente, pois vida familiar e vida escolar se ENSINO FUNDAMENTAL.
complementam.
As famílias, em parceria com a escola e vice-versa, são
peças fundamentais ao desenvolvimento pleno da crian-
ça e consequentemente são pilares imprescindíveis para Princípios e Fundamentos dos Parâmetros Curri-
o bom desempenho escolar. Entretanto, para conhecer culares Nacionais
a família é necessário que a escola abra suas portas, in-
tensificando e garantindo sua permanência através de Na sociedade democrática, ao contrário do que ocor-
reuniões mais interessantes e motivadoras. À medida re nos regimes autoritários, o processo educacional não
que a escola abrir espaços e criar mecanismos para atrair pode ser instrumento para a imposição, por parte do go-
a família para o ambiente escolar, novas oportunidades verno, de um projeto de sociedade e de nação. Tal pro-
com certeza irão surgir para que seja desenvolvida uma jeto deve resultar do próprio processo democrático, nas
educação de qualidade, sustentada justamente por esta suas dimensões mais amplas, envolvendo a contraposi-
relação FAMÍLIA/ESCOLA. Essa parceria deve ter como ção de diferentes interesses e a negociação política ne-
ponto de partida a escola, visto que, os professores são cessária para encontrar soluções para os conflitos sociais.
vistos como “especialistas em educação”. Portanto, cabe Não se pode deixar de levar em conta que, na atual
a eles dar início a construção desse relacionamento. Os realidade brasileira, a profunda estratificação social e a
pais não conhecem o funcionamento da escola, tampou- injusta distribuição de renda têm funcionado como um
co tem conhecimento sobre as características do desen- entrave para que uma parte considerável da população
volvimento cognitivo, afetivo, moral e social ou conhe- possa fazer valer os seus direitos e interesses fundamen-
cem o processo ensinoaprendizagem. Porém, não existe tais. Cabe ao governo o papel de assegurar que o pro-
uma fórmula mágica para se efetivar a relação família/ cesso democrático se desenvolva de modo a que esses
escola, pois, cada família, cada escola, vive uma realidade entraves diminuam cada vez mais. É papel do Estado
diferente. Nesse sentido, esta interação se faz necessário democrático investir na escola, para que ela prepare e
para que ambas conheçam suas realidades e construam instrumentalize crianças e jovens para o processo demo-
coletivamente uma relação de diálogo mútuo, procuran- crático, forçando o acesso à educação de qualidade para
do meios para que se concretize essa parceria, apesar das todos e às possibilidades de participação social.
dificuldades e diversidades que as envolvem. O diálogo Para isso faz-se necessária uma proposta educacional
entre ambas, tende a colaborar para um equilíbrio no de- que tenha em vista a qualidade da formação a ser ofere-
sempenho escolar dos alunos. cida a todos os estudantes. O ensino de qualidade que a
Sendo assim, percebe-se a importância de a escola sociedade demanda atualmente expressa-se aqui como
encontrar formas que sejam eficientes para se comunicar a possibilidade de o sistema educacional vir a propor
com as famílias, buscando auxiliá-las a encontrar manei- uma prática educativa adequada às necessidades sociais,
ras apropriadas para orientar seus filhos nas tarefas esco- políticas, econômicas e culturais da realidade brasileira,
lares que levam para casa, levando em consideração o ní- que considere os interesses e as motivações dos alunos e
vel cultural, o tempo disponível, entre outros problemas garanta as aprendizagens essenciais para a formação de
enfrentados pela família. Assim, é possível estabelecer cidadãos autônomos, críticos e participativos, capazes de
uma condição de parceria e confiança mútua - condições atuar com competência, dignidade e responsabilidade na
essenciais para o sucesso do processo educacional. Po- sociedade em que vivem.
rém, esta parceria deve ser fortalecida a cada dia, com re- O exercício da cidadania exige o acesso de todos à
uniões de pais e professores e toda comunidade escolar. totalidade dos recursos culturais relevantes para a in-
Faz-se necessário, que a escola vá de encontro à família tervenção e a participação responsável na vida social. O
quando sentir que esta permanece distante. Portanto, a domínio da língua falada e escrita, os princípios da refle-
escola necessita dessa relação de parceria com a família, xão matemática, as coordenadas espaciais e temporais
que organizam a percepção do mundo, os princípios da
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

para que juntas, possam compartilhar os aspectos que


envolvem a criança, no que diz respeito ao aproveita- explicação científica, as condições de fruição da arte e
mento escolar, qualidade na realização das tarefas, rela- das mensagens estéticas, domínios de saber tradicional-
cionamento com professores e colegas, atitudes, valores mente presentes nas diferentes concepções do papel da
e respeito às regras. Enfim, a relação familiar e escolar educação no mundo democrático, até outras tantas exi-
é fundamental para o processo educativo, pois os dois gências que se impõem no mundo contemporâneo.
contextos possuem o papel de desenvolver a sociabili- Essas exigências apontam a relevância de discussões
dade, a afetividade e o bem-estar físico e intelectual os sobre a dignidade do ser humano, a igualdade de di-
indivíduos, ou seja, o ideal é que família e escola se en- reitos, a recusa categórica de formas de discriminação,
volvam numa relação recíproca, pois as influências dos a importância da solidariedade e do respeito. Cabe ao
dois meios são importantes para a formação de sujeitos. campo educacional propiciar aos alunos as capacidades

60
de vivenciar as diferentes formas de inserção sociopolí- Natureza e função dos Parâmetros Curriculares
tica e cultural. Apresenta-se para a escola, hoje mais do Nacionais
que nunca, a necessidade de assumir-se como espaço
social de construção dos significados éticos necessários e Cada criança ou jovem brasileiro, mesmo de locais
constitutivos de toda e qualquer ação de cidadania. com pouca infraestrutura e condições socioeconômi-
No contexto atual, a inserção no mundo do trabalho cas desfavoráveis, deve ter acesso ao conjunto de co-
e do consumo, o cuidado com o próprio corpo e com nhecimentos socialmente elaborados e reconhecidos
a saúde, passando pela educação sexual, e a preserva- como necessários para o exercício da cidadania para
ção do meio ambiente são temas que ganham um novo deles poder usufruir. Se existem diferenças sociocultu-
estatuto, num universo em que os referenciais tradicio- rais marcantes, que determinam diferentes necessidades
nais, a partir dos quais eram vistos como questões locais de aprendizagem, existe também aquilo que é comum
ou individuais, já não dão conta da dimensão nacional e a todos, que um aluno de qualquer lugar do Brasil, do
até mesmo internacional que tais temas assumem, jus- interior ou do litoral, de uma grande cidade ou da zona
tificando, portanto, sua consideração. Nesse sentido, é rural, deve ter o direito de aprender e esse direito deve
papel preponderante da escola propiciar o domínio dos ser garantido pelo Estado.
recursos capazes de levar à discussão dessas formas e Mas, na medida em que o princípio da equidade
sua utilização crítica na perspectiva da participação social reconhece a diferença e a necessidade de haver condi-
e política. ções diferenciadas para o processo educacional, tendo
Desde a construção dos primeiros computadores, na em vista a garantia de uma formação de qualidade para
metade deste século, novas relações entre conhecimen- todos, o que se apresenta é a necessidade de um refe-
to e trabalho começaram a ser delineadas. Um de seus rencial comum para a formação escolar no Brasil, capaz
efeitos é a exigência de um reequacionamento do pa- de indicar aquilo que deve ser garantido a todos, numa
pel da educação no mundo contemporâneo, que coloca realidade com características tão diferenciadas, sem
para a escola um horizonte mais amplo e diversificado promover uma uniformização que descaracterize e des-
do que aquele que, até poucas décadas atrás, orienta- valorize peculiaridades culturais e regionais.
va a concepção e construção dos projetos educacionais. É nesse sentido que o estabelecimento de uma re-
Não basta visar à capacitação dos estudantes para futu- ferência curricular comum para todo o País, ao mesmo
ras habilitações em termos das especializações tradicio- tempo que fortalece a unidade nacional e a responsa-
nais, mas antes trata-se de ter em vista a formação dos bilidade do Governo Federal com a educação, busca
estudantes em termos de sua capacitação para a aqui- garantir, também, o respeito à diversidade que é marca
sição e o desenvolvimento de novas competências, em cultural do País, mediante a possibilidade de adapta-
função de novos saberes que se produzem e demandam ções que integrem as diferentes dimensões da prática
um novo tipo de profissional, preparado para poder lidar educacional.
com novas tecnologias e linguagens, capaz de responder Para compreender a natureza dos Parâmetros Cur-
a novos ritmos e processos. Essas novas relações entre riculares Nacionais, é necessário situá-los em relação a
conhecimento e trabalho exigem capacidade de iniciati- quatro níveis de concretização curricular considerando
va e inovação e, mais do que nunca, “aprender a apren- a estrutura do sistema educacional brasileiro. Tais níveis
der”. Isso coloca novas demandas para a escola. A educa- não representam etapas sequenciais, mas sim amplitu-
ção básica tem assim a função de garantir condições para des distintas da elaboração de propostas curriculares,
que o aluno construa instrumentos que o capacitem para com responsabilidades diferentes, que devem buscar
um processo de educação permanente. uma integração e, ao mesmo tempo, autonomia.
Para tanto, é necessário que, no processo de ensino
e aprendizagem, sejam exploradas: a aprendizagem de Os Parâmetros Curriculares Nacionais constituem
metodologias capazes de priorizar a construção de es- o primeiro nível de concretização curricular.
tratégias de verificação e comprovação de hipóteses na
construção do conhecimento, a construção de argumen- São uma referência nacional para o ensino fundamen-
tação capaz de controlar os resultados desse processo, o tal; estabelecem uma meta educacional para a qual devem
desenvolvimento do espírito crítico capaz de favorecer a convergir as ações políticas do Ministério da Educação e
criatividade, a compreensão dos limites e alcances lógi- do Desporto, tais como os projetos ligados à sua compe-
cos das explicações propostas. Além disso, é necessário tência na formação inicial e continuada de professores, à
ter em conta uma dinâmica de ensino que favoreça não análise e compra de livros e outros materiais didáticos e
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

só o descobrimento das potencialidades do trabalho à avaliação nacional. Têm como função subsidiar a ela-
individual, mas também, e sobretudo, do trabalho co- boração ou a revisão curricular dos Estados e Municípios,
letivo. Isso implica o estímulo à autonomia do sujeito, dialogando com as propostas e experiências já existentes,
desenvolvendo o sentimento de segurança em relação incentivando a discussão pedagógica interna das escolas
às suas próprias capacidades, interagindo de modo or- e a elaboração de projetos educativos, assim como servir
gânico e integrado num trabalho de equipe e, portanto, de material de reflexão para a prática de professores.
sendo capaz de atuar em níveis de interlocução mais Todos os documentos aqui apresentados configuram
complexos e diferenciados. uma referência nacional em que são apontados conteú-
dos e objetivos articulados, critérios de eleição dos pri-
meiros, questões de ensino e aprendizagem das áreas,
que permeiam a prática educativa de forma explícita ou

61
implícita, propostas sobre a avaliação em cada momento definição das orientações didáticas prioritárias, seleção
da escolaridade e em cada área, envolvendo questões re- do material a ser utilizado, planejamento de projetos e
lativas a o que e como avaliar. Assim, além de conter uma sua execução. Apesar de a responsabilidade ser essen-
exposição sobre seus fundamentos, contém os diferentes cialmente de cada professor, é fundamental que esta seja
elementos curriculares — tais como Caracterização das compartilhada com a equipe da escola por meio da cor-
Áreas, Objetivos, Organização dos Conteúdos, Critérios responsabilidade estabelecida no projeto educativo.
de Avaliação e Orientações Didáticas —, efetivando uma Tal proposta, no entanto, exige uma política educa-
proposta articuladora dos propósitos mais gerais de for- cional que contemple a formação inicial e continuada
mação de cidadania, com sua operacionalização no pro- dos professores, uma decisiva revisão das condições sa-
cesso de aprendizagem. lariais, além da organização de uma estrutura de apoio
Apesar de apresentar uma estrutura curricular com- que favoreça o desenvolvimento do trabalho (acervo de
pleta, os Parâmetros Curriculares Nacionais são abertos e livros e obras de referência, equipe técnica para super-
flexíveis, uma vez que, por sua natureza, exigem adapta- visão, materiais didáticos, instalações adequadas para a
ções para a construção do currículo de uma Secretaria ou realização de trabalho de qualidade), aspectos que, sem
mesmo de uma escola. Também pela sua natureza, eles dúvida, implicam a valorização da atividade do professor.
não se impõem como uma diretriz obrigatória: o que se
pretende é que ocorram adaptações, por meio do diá- FUNDAMENTOS DOS PARÂMETROS CURRICU-
logo, entre estes documentos e as práticas já existentes, LARES NACIONAIS
desde as definições dos objetivos até as orientações di-
dáticas para a manutenção de um todo coerente. A tradição pedagógica brasileira
Os Parâmetros Curriculares Nacionais estão situados
historicamente — não são princípios atemporais. Sua A prática de todo professor, mesmo de forma incons-
validade depende de estarem em consonância com a ciente, sempre pressupõe uma concepção de ensino e
realidade social, necessitando, portanto, de um proces- aprendizagem que determina sua compreensão dos pa-
so periódico de avaliação e revisão, a ser coordenado péis de professor e aluno, da metodologia, da função
pelo MEC. social da escola e dos conteúdos a serem trabalhados.
O segundo nível de concretização diz respeito às pro- A discussão dessas questões é importante para que se
postas curriculares dos Estados e Municípios. Os Parâme- explicitem os pressupostos pedagógicos que subjazem à
tros Curriculares Nacionais poderão ser utilizados como atividade de ensino, na busca de coerência entre o que
recurso para adaptações ou elaborações curriculares rea- se pensa estar fazendo e o que realmente se faz. Tais prá-
lizadas pelas Secretarias de Educação, em um processo ticas se constituem a partir das concepções educativas
definido pelos responsáveis em cada local. e metodologias de ensino que permearam a formação
O terceiro nível de concretização refere-se à elabo- educacional e o percurso profissional do professor, aí
ração da proposta curricular de cada instituição escolar, incluídas suas próprias experiências escolares, suas ex-
contextualizada na discussão de seu projeto educativo. periências de vida, a ideologia compartilhada com seu
Entende-se por projeto educativo a expressão da iden- grupo social e as tendências pedagógicas que lhe são
tidade de cada escola em um processo dinâmico de dis- contemporâneas.
cussão, reflexão e elaboração contínua. Esse processo As tendências pedagógicas que se firmam nas escolas
deve contar com a participação de toda equipe pedagó- brasileiras, públicas e privadas, na maioria dos casos não
gica, buscando um comprometimento de todos com o aparecem em forma pura, mas com características par-
trabalho realizado, com os propósitos discutidos e com ticulares, muitas vezes mesclando aspectos de mais de
a adequação de tal projeto às características sociais e uma linha pedagógica.
culturais da realidade em que a escola está inserida. É no A análise das tendências pedagógicas no Brasil deixa
âmbito do projeto educativo que professores e equipe evidente a influência dos grandes movimentos educacio-
pedagógica discutem e organizam os objetivos, conteú- nais internacionais, da mesma forma que expressam as
dos e critérios de avaliação para cada ciclo. especificidades de nossa história política, social e cultural,
Os Parâmetros Curriculares Nacionais e as propostas a cada período em que são consideradas. Pode-se identifi-
das Secretarias devem ser vistos como materiais que sub- car, na tradição pedagógica brasileira, a presença de quatro
sidiarão a escola na constituição de sua proposta educa- grandes tendências: a tradicional, a renovada, a tecnicista e
cional mais geral, num processo de interlocução em que aquelas marcadas centralmente por preocupações sociais
se compartilham e explicitam os valores e propósitos que e políticas. Tais tendências serão sintetizadas em grandes
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

orientam o trabalho educacional que se quer desenvol- traços que tentam recuperar os pontos mais significativos
ver e o estabelecimento do currículo capaz de atender às de cada uma das propostas. Este documento não ignora
reais necessidades dos alunos. o risco de uma certa redução das concepções, tendo em
O quarto nível de concretização curricular é o mo- vista a própria síntese e os limites desta apresentação.
mento da realização da programação das atividades de A “pedagogia tradicional” é uma proposta de educação
ensino e aprendizagem na sala de aula. É quando o pro- centrada no professor, cuja função se define como a de
fessor, segundo as metas estabelecidas na fase de con- vigiar e aconselhar os alunos, corrigir e ensinar a matéria.
cretização anterior, faz sua programação, adequando-a A metodologia decorrente de tal concepção baseia-se
àquele grupo específico de alunos. A programação deve na exposição oral dos conteúdos, numa sequência prede-
garantir uma distribuição planejada de aulas, distribui- terminada e fixa, independentemente do contexto esco-
ção dos conteúdos segundo um cronograma referencial, lar; enfatiza-se a necessidade de exercícios repetidos para

62
garantir a memorização dos conteúdos. A função primor- perspectiva não é o professor, mas a tecnologia; o pro-
dial da escola, nesse modelo, é transmitir conhecimentos fessor passa a ser um mero especialista na aplicação de
disciplinares para a formação geral do aluno, formação manuais e sua criatividade fica restrita aos limites possíveis
esta que o levará, ao inserir-se futuramente na sociedade, e estreitos da técnica utilizada. A função do aluno é redu-
a optar por uma profissão valorizada. Os conteúdos do zida a um indivíduo que reage aos estímulos de forma a
ensino correspondem aos conhecimentos e valores sociais corresponder às respostas esperadas pela escola, para ter
acumulados pelas gerações passadas como verdades aca- êxito e avançar. Seus interesses e seu processo particular
badas, e, embora a escola vise à preparação para a vida, não são considerados e a atenção que recebe é para ajus-
não busca estabelecer relação entre os conteúdos que se tar seu ritmo de aprendizagem ao programa que o pro-
ensinam e os interesses dos alunos, tampouco entre esses fessor deve implementar. Essa orientação foi dada para as
e os problemas reais que afetam a sociedade. Na maioria escolas pelos organismos oficiais durante os anos 60, e
das escolas essa prática pedagógica se caracteriza por so- até hoje está presente em muitos materiais didáticos com
brecarga de informações que são veiculadas aos alunos, caráter estritamente técnico e instrumental.
o que torna o processo de aquisição de conhecimento, No final dos anos 70 e início dos 80, a abertura polí-
para os alunos, muitas vezes burocratizado e destituído de tica decorrente do final do regime militar coincidiu com
significação. No ensino dos conteúdos, o que orienta é a a intensa mobilização dos educadores para buscar uma
organização lógica das disciplinas, o aprendizado moral, educação crítica a serviço das transformações sociais,
disciplinado e esforçado. econômicas e políticas, tendo em vista a superação das
Nesse modelo, a escola se caracteriza pela postura con- desigualdades existentes no interior da sociedade. Ao
servadora. O professor é visto como a autoridade máxima, lado das denominadas teorias crítico-reprodutivistas, fir-
um organizador dos conteúdos e estratégias de ensino e, ma-se no meio educacional a presença da “pedagogia
portanto, o guia exclusivo do processo educativo. libertadora” e da “pedagogia crítico-social dos conteú-
A “pedagogia renovada” é uma concepção que inclui dos”, assumida por educadores de orientação marxista.
várias correntes que, de uma forma ou de outra, estão li- A “pedagogia libertadora” tem suas origens nos mo-
gadas ao movimento da Escola Nova ou Escola Ativa. Tais vimentos de educação popular que ocorreram no final
correntes, embora admitam divergências, assumem um dos anos 50 e início dos anos 60, quando foram inter-
mesmo princípio norteador de valorização do indivíduo rompidos pelo golpe militar de 1964; teve seu desen-
como ser livre, ativo e social. O centro da atividade escolar volvimento retomado no final dos anos 70 e início dos
não é o professor nem os conteúdos disciplinares, mas sim anos 80. Nessa proposta, a atividade escolar pauta-se em
o aluno, como ser ativo e curioso. O mais importante não discussões de temas sociais e políticos e em ações sobre
é o ensino, mas o processo de aprendizagem. Em oposição a realidade social imediata; analisam-se os problemas,
à Escola Tradicional, a Escola Nova destaca o princípio da seus fatores determinantes e organiza-se uma forma de
aprendizagem por descoberta e estabelece que a atitude atuação para que se possa transformar a realidade social
de aprendizagem parte do interesse dos alunos, que, por e política. O professor é um coordenador de atividades
sua vez, aprendem fundamentalmente pela experiência, que organiza e atua conjuntamente com os alunos.
pelo que descobrem por si mesmos. A “pedagogia crítico-social dos conteúdos” que surge
O professor é visto, então, como facilitador no proces- no final dos anos 70 e início dos 80 se põe como uma
so de busca de conhecimento que deve partir do aluno. reação de alguns educadores que não aceitam a pouca
Cabe ao professor organizar e coordenar as situações de relevância que a “pedagogia libertadora” dá ao apren-
aprendizagem, adaptando suas ações às características in- dizado do chamado “saber elaborado”, historicamente
dividuais dos alunos, para desenvolver suas capacidades e acumulado, que constitui parte do acervo cultural da
habilidades intelectuais. humanidade.
A ideia de um ensino guiado pelo interesse dos alu- A “pedagogia crítico-social dos conteúdos” assegura
nos acabou, em muitos casos, por desconsiderar a neces- a função social e política da escola mediante o trabalho
sidade de um trabalho planejado, perdendo-se de vista o com conhecimentos sistematizados, a fim de colocar as
que deve ser ensinado e aprendido. Essa tendência, que classes populares em condições de uma efetiva partici-
teve grande penetração no Brasil na década de 30, no pação nas lutas sociais. Entende que não basta ter como
âmbito do ensino pré-escolar (jardim de infância), até conteúdo escolar as questões sociais atuais, mas que é
hoje influencia muitas práticas pedagógicas. necessário que se tenha domínio de conhecimentos, ha-
Nos anos 70 proliferou o que se chamou de “tecni- bilidades e capacidades mais amplas para que os alunos
cismo educacional”, inspirado nas teorias behavioristas da possam interpretar suas experiências de vida e defender
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

aprendizagem e da abordagem sistêmica do ensino, que seus interesses de classe.


definiu uma prática pedagógica altamente controlada e As tendências pedagógicas que marcam a tradição
dirigida pelo professor, com atividades mecânicas inseri- educacional brasileira e aqui foram expostas sinteticamen-
das numa proposta educacional rígida e passível de ser te trazem, de maneira diferente, contribuições para uma
totalmente programada em detalhes. A supervalorização proposta atual que busque recuperar aspectos positivos
da tecnologia programada de ensino trouxe consequên- das práticas anteriores em relação ao desenvolvimento e
cias: a escola se revestiu de uma grande autossuficiência, à aprendizagem, realizando uma releitura dessas práticas
reconhecida por ela e por toda a comunidade atingida, à luz dos avanços ocorridos nas produções teóricas, nas
criando assim a falsa ideia de que aprender não é algo investigações e em fatos que se tornaram observáveis nas
natural do ser humano, mas que depende exclusivamente experiências educativas mais recentes realizadas em dife-
de especialistas e de técnicas. O que é valorizado nessa rentes Estados e Municípios do Brasil.

63
No final dos anos 70, pode-se dizer que havia no Bra- necessárias à formação do indivíduo. Ao contrário de
sil, entre as tendências didáticas de vanguarda, aquelas uma concepção de ensino e aprendizagem como um
que tinham um viés mais psicológico e outras cujo viés processo que se desenvolve por etapas, em que a cada
era mais sociológico e político; a partir dos anos 80 sur- uma delas o conhecimento é “acabado”, o que se propõe
ge com maior evidência um movimento que pretende a é uma visão da complexidade e da provisoriedade do co-
integração entre essas abordagens. Se por um lado não é nhecimento. De um lado, porque o objeto de conheci-
mais possível deixar de se ter preocupações com o domí- mento é “complexo” de fato e reduzi-lo seria falsificá-lo;
nio de conhecimentos formais para a participação crítica de outro, porque o processo cognitivo não acontece por
na sociedade, considera-se também que é necessária uma justaposição, senão por reorganização do conhecimen-
adequação pedagógica às características de um aluno que to. É também “provisório”, uma vez que não é possível
pensa, de um professor que sabe e aos conteúdos de valor chegar de imediato ao conhecimento correto, mas so-
social e formativo. mente por aproximações sucessivas que permitem sua
Esse momento se caracteriza pelo enfoque centrado reconstrução.
no caráter social do processo de ensino e aprendizagem e Os Parâmetros Curriculares Nacionais, tanto nos ob-
é marcado pela influência da psicologia genética. jetivos educacionais que propõem quanto na conceitua-
O enfoque social dado aos processos de ensino e lização do significado das áreas de ensino e dos temas
aprendizagem traz para a discussão pedagógica aspectos da vida social contemporânea que devem permeá-las,
de extrema relevância, em particular no que se refere à adotam como eixo o desenvolvimento de capacidades
maneira como se devem entender as relações entre de- do aluno, processo em que os conteúdos curriculares
senvolvimento e aprendizagem, à importância da rela- atuam não como fins em si mesmos, mas como meios
ção interpessoal nesse processo, à relação entre cultura para a aquisição e desenvolvimento dessas capacidades.
e educação e ao papel da ação educativa ajustada às si- Nesse sentido, o que se tem em vista é que o aluno possa
tuações de aprendizagem e às características da atividade ser sujeito de sua própria formação, em um complexo
mental construtiva do aluno em cada momento de sua processo interativo em que também o professor se veja
escolaridade. como sujeito de conhecimento.
A psicologia genética propiciou aprofundar a com-
preensão sobre o processo de desenvolvimento na cons- Escola e constituição da cidadania
trução do conhecimento. Compreender os mecanismos
pelos quais as crianças constroem representações internas A importância dada aos conteúdos revela um com-
de conhecimentos construídos socialmente, em uma pers- promisso da instituição escolar em garantir o acesso aos
pectiva psicogenética, traz uma contribuição para além saberes elaborados socialmente, pois estes se constituem
das descrições dos grandes estágios de desenvolvimento. como instrumentos para o desenvolvimento, a socializa-
A pesquisa sobre a psicogênese da língua escrita che- ção, o exercício da cidadania democrática e a atuação
gou ao Brasil em meados dos anos 80 e causou grande no sentido de refutar ou reformular as deformações dos
impacto, revolucionando o ensino da língua nas séries conhecimentos, as imposições de crenças dogmáticas e
iniciais e, ao mesmo tempo, provocando uma revisão do a petrificação de valores. Os conteúdos escolares que são
tratamento dado ao ensino e à aprendizagem em outras ensinados devem, portanto, estar em consonância com
áreas do conhecimento. Essa investigação evidencia a ati- as questões sociais que marcam cada momento histórico.
vidade construtiva do aluno sobre a língua escrita, objeto Isso requer que a escola seja um espaço de forma-
de conhecimento reconhecidamente escolar, mostrando a ção e informação, em que a aprendizagem de conteúdos
presença importante dos conhecimentos específicos so- deve necessariamente favorecer a inserção do aluno no
bre a escrita que a criança já tem, os quais, embora não dia-a-dia das questões sociais marcantes e em um uni-
coincidam com os dos adultos, têm sentido para ela. verso cultural maior. A formação escolar deve propiciar o
A metodologia utilizada nessas pesquisas foi muitas desenvolvimento de capacidades, de modo a favorecer
vezes interpretada como uma proposta de pedagogia a compreensão e a intervenção nos fenômenos sociais e
construtivista para alfabetização, o que expressa um du- culturais, assim como possibilitar aos alunos usufruir das
plo equívoco: redução do construtivismo a uma teoria manifestações culturais nacionais e universais.
psicogenética de aquisição de língua escrita e transfor- No contexto da proposta dos Parâmetros Curriculares
mação de uma investigação acadêmica em método de Nacionais se concebe a educação escolar como uma prá-
ensino. Com esses equívocos, difundiram-se, sob o rótulo tica que tem a possibilidade de criar condições para que
de pedagogia construtivista, as ideias de que não se de- todos os alunos desenvolvam suas capacidades e apren-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

vem corrigir os erros e de que as crianças aprendem fa- dam os conteúdos necessários para construir instrumen-
zendo “do seu jeito”. Essa pedagogia, dita construtivista, tos de compreensão da realidade e de participação em
trouxe sérios problemas ao processo de ensino e apren- relações sociais, políticas e culturais diversificadas e cada
dizagem, pois desconsidera a função primordial da escola vez mais amplas, condições estas fundamentais para o
que é ensinar, intervindo para que os alunos aprendam o exercício da cidadania na construção de uma sociedade
que, sozinhos, não têm condições de aprender. democrática e não excludente.
A orientação proposta nos Parâmetros Curriculares A prática escolar distingue-se de outras práticas edu-
Nacionais reconhece a importância da participação cons- cativas, como as que acontecem na família, no trabalho,
trutiva do aluno e, ao mesmo tempo, da intervenção do na mídia, no lazer e nas demais formas de convívio social,
professor para a aprendizagem de conteúdos específi- por constituir-se uma ação intencional, sistemática, pla-
cos que favoreçam o desenvolvimento das capacidades nejada e continuada para crianças e jovens durante um

64
período contínuo e extenso de tempo. A escola, ao tomar Um ensino de qualidade, que busca formar cida-
para si o objetivo de formar cidadãos capazes de atuar dãos capazes de interferir criticamente na realidade para
com competência e dignidade na sociedade, buscará ele- transformá-la, deve também contemplar o desenvolvi-
ger, como objeto de ensino, conteúdos que estejam em mento de capacidades que possibilitem adaptações às
consonância com as questões sociais que marcam cada complexas condições e alternativas de trabalho que te-
momento histórico, cuja aprendizagem e assimilação são mos hoje e a lidar com a rapidez na produção e na circu-
as consideradas essenciais para que os alunos possam lação de novos conhecimentos e informações, que têm
exercer seus direitos e deveres. Para tanto ainda é neces- sido avassaladores e crescentes. A formação escolar deve
sário que a instituição escolar garanta um conjunto de possibilitar aos alunos condições para desenvolver com-
práticas planejadas com o propósito de contribuir para petência e consciência profissional, mas não restringir-se
que os alunos se apropriem dos conteúdos de manei- ao ensino de habilidades imediatamente demandadas
ra crítica e construtiva. A escola, por ser uma instituição pelo mercado de trabalho.
social com propósito explicitamente educativo, tem o A discussão sobre a função da escola não pode igno-
compromisso de intervir efetivamente para promover o rar as reais condições em que esta se encontra. A situa-
desenvolvimento e a socialização de seus alunos. ção de precariedade vivida pelos educadores, expressa
Essa função socializadora remete a dois aspectos: o nos baixos salários, na falta de condições de trabalho, de
desenvolvimento individual e o contexto social e cultural. metas a serem alcançadas, de prestígio social, na inér-
É nessa dupla determinação que os indivíduos se cons- cia de grande parte dos órgãos responsáveis por alterar
troem como pessoas iguais, mas, ao mesmo tempo, di- esse quadro, provoca, na maioria das pessoas, um des-
ferentes de todas as outras. Iguais por compartilhar com crédito na transformação da situação. Essa desvaloriza-
outras pessoas um conjunto de saberes e formas de co- ção objetiva do magistério acaba por ser interiorizada,
nhecimento que, por sua vez, só é possível graças ao que bloqueando as motivações. Outro fator de desmotivação
individualmente se puder incorporar. Não há desenvol- dos profissionais da rede pública é a mudança de rumo
vimento individual possível à margem da sociedade, da da educação diante da orientação política de cada gover-
cultura. Os processos de diferenciação na construção de nante. Às vezes as transformações propostas reafirmam
uma identidade pessoal e os processos de socialização certas posições, às vezes outras. Esse movimento de vai e
que conduzem a padrões de identidade coletiva consti- volta gera, para a maioria dos professores, um desânimo
tuem, na verdade, as duas faces de um mesmo processo. para se engajar nos projetos de trabalho propostos, mes-
A escola, na perspectiva de construção de cidadania, mo que lhes pareçam interessantes, pois eles dificilmente
precisa assumir a valorização da cultura de sua própria terão continuidade.
comunidade e, ao mesmo tempo, buscar ultrapassar seus Em síntese, as escolas brasileiras, para exercerem a
limites, propiciando às crianças pertencentes aos diferen-
função social aqui proposta, precisam possibilitar o cul-
tes grupos sociais o acesso ao saber, tanto no que diz
tivo dos bens culturais e sociais, considerando as ex-
respeito aos conhecimentos socialmente relevantes da
pectativas e as necessidades dos alunos, dos pais, dos
cultura brasileira no âmbito nacional e regional como no
membros da comunidade, dos professores, enfim, dos
que faz parte do patrimônio universal da humanidade.
envolvidos diretamente no processo educativo. É nesse
O desenvolvimento de capacidades, como as de re-
universo que o aluno vivencia situações diversificadas
lação interpessoal, as cognitivas, as afetivas, as motoras,
que favorecem o aprendizado, para dialogar de manei-
as éticas, as estéticas de inserção social, torna-se possí-
vel mediante o processo de construção e reconstrução ra competente com a comunidade, aprender a respeitar
de conhecimentos. Essa aprendizagem é exercida com o e a ser respeitado, a ouvir e a ser ouvido, a reivindicar
aporte pessoal de cada um, o que explica por que, a par- direitos e a cumprir obrigações, a participar ativamente
tir dos mesmos saberes, há sempre lugar para a constru- da vida científica, cultural, social e política do País e do
ção de uma infinidade de significados, e não a uniformi- mundo.
dade destes. Os conhecimentos que se transmitem e se
recriam na escola ganham sentido quando são produtos Escola: uma construção coletiva e permanente
de uma construção dinâmica que se opera na interação
constante entre o saber escolar e os demais saberes, en- Nessa perspectiva, é essencial a vinculação da escola
tre o que o aluno aprende na escola e o que ele traz com as questões sociais e com os valores democráticos,
para a escola, num processo contínuo e permanente de não só do ponto de vista da seleção e tratamento dos
aquisição, no qual interferem fatores políticos, sociais, conteúdos, como também da própria organização esco-
culturais e psicológicos. lar. As normas de funcionamento e os valores, implícitos
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

As questões relativas à globalização, as transforma- e explícitos, que regem a atuação das pessoas na escola
ções científicas e tecnológicas e a necessária discussão são determinantes da qualidade do ensino, interferindo
ético-valorativa da sociedade apresentam para a escola de maneira significativa sobre a formação dos alunos.
a imensa tarefa de instrumentalizar os jovens para parti- Com a degradação do sistema educacional brasi-
cipar da cultura, das relações sociais e políticas. A esco- leiro, pode-se dizer que a maioria das escolas tende a
la, ao posicionar-se dessa maneira, abre a oportunidade ser apenas um local de trabalho individualizado e não
para que os alunos aprendam sobre temas normalmente uma organização com objetivos próprios, elaborados e
excluídos e atua propositalmente na formação de valores manifestados pela ação coordenada de seus diversos
e atitudes do sujeito em relação ao outro, à política, à profissionais.
economia, ao sexo, à droga, à saúde, ao meio ambiente,
à tecnologia, etc.

65
Para ser uma organização eficaz no cumprimento de relegado a segundo plano. Hoje sabe-se que é necessá-
propósitos estabelecidos em conjunto por professores, rio ressignificar a unidade entre aprendizagem e ensino,
coordenadores e diretor, e garantir a formação coeren- uma vez que, em última instância, sem aprendizagem o
te de seus alunos ao longo da escolaridade obrigatória, ensino não se realiza.
é imprescindível que cada escola discuta e construa seu A busca de um marco explicativo que permita essa
projeto educativo. ressignificação, além da criação de novos instrumentos de
Esse projeto deve ser entendido como um processo análise, planejamento e condução da ação educativa na
que inclui a formulação de metas e meios, segundo a escola, tem se situado, atualmente, para muitos dos teóri-
particularidade de cada escola, por meio da criação e da cos da educação, dentro da perspectiva construtivista.
valorização de rotinas de trabalho pedagógico em grupo A perspectiva construtivista na educação é configurada
e da corresponsabilidade de todos os membros da co- por uma série de princípios explicativos do desenvolvimen-
munidade escolar, para além do planejamento de início to e da aprendizagem humana que se complementam, in-
de ano ou dos períodos de “reciclagem”. tegrando um conjunto orientado a analisar, compreender e
A experiência acumulada por seus profissionais é explicar os processos escolares de ensino e aprendizagem.
naturalmente a base para a reflexão e a elaboração do A configuração do marco explicativo construtivista
projeto educativo de uma escola. Além desse repertório, para os processos de educação escolar deu-se, entre ou-
outras fontes importantes para a definição de um proje- tras influências, a partir da psicologia genética, da teoria
to educativo são os currículos locais, a bibliografia espe- sociointeracionista e das explicações da atividade signi-
cializada, o contato com outras experiências educacio- ficativa. Vários autores partiram dessas ideias para de-
nais, assim como os Parâmetros Curriculares Nacionais, senvolver e conceitualizar as várias dimensões envolvidas
que formulam questões essenciais sobre o que, como e na educação escolar, trazendo inegáveis contribuições à
quando ensinar, constituindo um referencial significativo teoria e à prática educativa.
e atualizado sobre a função da escola, a importância dos O núcleo central da integração de todas essas contri-
conteúdos e o tratamento a ser dado a eles. buições refere-se ao reconhecimento da importância da
Ao elaborar seu projeto educativo, a escola discute e atividade mental construtiva nos processos de aquisição
explicita de forma clara os valores coletivos assumidos. de conhecimento. Daí o termo construtivismo, denomi-
Delimita suas prioridades, define os resultados desejados nando essa convergência. Assim, o conhecimento não é
e incorpora a auto avaliação ao trabalho do professor. visto como algo situado fora do indivíduo, a ser adquiri-
Assim, organiza-se o planejamento, reúne-se a equipe do por meio de cópia do real, tampouco como algo que
de trabalho, provoca-se o estudo e a reflexão contínuos, o indivíduo constrói independentemente da realidade
dando sentido às ações cotidianas, reduzindo a impro- exterior, dos demais indivíduos e de suas próprias capa-
visação e as condutas estereotipadas e rotineiras que, cidades pessoais. É, antes de mais nada, uma construção
muitas vezes, são contraditórias com os objetivos educa- histórica e social, na qual interferem fatores de ordem
cionais compartilhados. cultural e psicológica.
A contínua realização do projeto educativo possibi- A atividade construtiva, física ou mental, permite in-
lita o conhecimento das ações desenvolvidas pelos di- terpretar a realidade e construir significados, ao mesmo
ferentes professores, sendo base de diálogo e reflexão tempo que permite construir novas possibilidades de
para toda a equipe escolar. Nesse processo evidencia-se ação e de conhecimento.
a necessidade da participação da comunidade, em espe- Nesse processo de interação com o objeto a ser
cial dos pais, tomando conhecimento e interferindo nas conhecido, o sujeito constrói representações, que fun-
propostas da escola e em suas estratégias. O resultado cionam como verdadeiras explicações e se orientam
que se espera é a possibilidade de os alunos terem uma por uma lógica interna que, por mais que possa pare-
experiência escolar coerente e bem-sucedida. cer incoerente aos olhos de um outro, faz sentido para
Deve ser ressaltado que uma prática de reflexão co- o sujeito. As ideias “equivocadas”, ou seja, construídas
letiva não é algo que se atinge de uma hora para outra e e transformadas ao longo do desenvolvimento, fruto de
a escola é uma realidade complexa, não sendo possível aproximações sucessivas, são expressão de uma constru-
tratar as questões como se fossem simples de serem re- ção inteligente por parte do sujeito e, portanto, interpre-
solvidas. Cada escola encontra uma realidade, uma tra- tadas como erros construtivos.
ma, um conjunto de circunstâncias e de pessoas. É pre- A tradição escolar — que não faz diferença entre er-
ciso que haja incentivo do poder público local, pois o ros integrantes do processo de aprendizagem e simples
desenvolvimento do projeto requer tempo para análise, enganos ou desconhecimentos — trabalha com a ideia
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

discussão e reelaboração contínua, o que só é possível de que a ausência de erros na tarefa escolar é a mani-
em um clima institucional favorável e com condições ob- festação da aprendizagem. Hoje, graças ao avanço da in-
jetivas de realização. vestigação científica na área da aprendizagem, tornou-se
possível interpretar o erro como algo inerente ao proces-
Aprender e ensinar, construir e interagir so de aprendizagem e ajustar a intervenção pedagógica
para ajudar a superá-lo. A superação do erro é resulta-
Por muito tempo a pedagogia focou o processo de do do processo de incorporação de novas ideias e de
ensino no professor, supondo que, como decorrência, transformação das anteriores, de maneira a dar conta das
estaria valorizando o conhecimento. O ensino, então, ga- contradições que se apresentarem ao sujeito para, assim,
nhou autonomia em relação à aprendizagem, criou seus alcançar níveis superiores de conhecimento.
próprios métodos e o processo de aprendizagem ficou

66
O que o aluno pode aprender em determinado mo- A aprendizagem significativa implica sempre algu-
mento da escolaridade depende das possibilidades de- ma ousadia: diante do problema posto, o aluno precisa
lineadas pelas formas de pensamento de que dispõe elaborar hipóteses e experimentá-las. Fatores e proces-
naquela fase de desenvolvimento, dos conhecimentos sos afetivos, motivacionais e relacionais são importantes
que já construiu anteriormente e do ensino que recebe. nesse momento. Os conhecimentos gerados na histó-
Isto é, a intervenção pedagógica deve-se ajustar ao que ria pessoal e educativa têm um papel determinante na
os alunos conseguem realizar em cada momento de sua expectativa que o aluno tem da escola, do professor e
aprendizagem, para se constituir verdadeira ajuda edu- de si mesmo, nas suas motivações e interesses, em seu
cativa. O conhecimento é resultado de um complexo e autoconceito e em sua autoestima. Assim como os sig-
intrincado processo de modificação, reorganização e nificados construídos pelo aluno estão destinados a ser
construção, utilizado pelos alunos para assimilar e inter- substituídos por outros no transcurso das atividades, as
pretar os conteúdos escolares. representações que o aluno tem de si e de seu processo
Por mais que o professor, os companheiros de classe
de aprendizagem também. É fundamental, portanto, que
e os materiais didáticos possam, e devam, contribuir para
a intervenção educativa escolar propicie um desenvolvi-
que a aprendizagem se realize, nada pode substituir a
mento em direção à disponibilidade exigida pela apren-
atuação do próprio aluno na tarefa de construir signifi-
cados sobre os conteúdos da aprendizagem. É ele quem dizagem significativa.
modifica, enriquece e, portanto, constrói novos e mais Se a aprendizagem for uma experiência de sucesso,
potentes instrumentos de ação e interpretação. o aluno constrói uma representação de si mesmo como
Mas o desencadeamento da atividade mental cons- alguém capaz. Se, ao contrário, for uma experiência de
trutiva não é suficiente para que a educação escolar al- fracasso, o ato de aprender tenderá a se transformar
cance os objetivos a que se propõe: que as aprendizagens em ameaça, e a ousadia necessária se transformará em
estejam compatíveis com o que significam socialmente. medo, para o qual a defesa possível é a manifestação de
O processo de atribuição de sentido aos conteúdos desinteresse.
escolares é, portanto, individual; porém, é também cultu- A aprendizagem é condicionada, de um lado, pelas
ral na medida em que os significados construídos reme- possibilidades do aluno, que englobam tanto os níveis de
tem a formas e saberes socialmente estruturados. organização do pensamento como os conhecimentos e
Conceber o processo de aprendizagem como pro- experiências prévias, e, de outro, pela interação com os
priedade do sujeito não implica desvalorizar o papel de- outros agentes.
terminante da interação com o meio social e, particular- Para a estruturação da intervenção educativa é fun-
mente, com a escola. Ao contrário, situações escolares de damental distinguir o nível de desenvolvimento real do
ensino e aprendizagem são situações comunicativas, nas potencial. O nível de desenvolvimento real se determina
quais os alunos e professores atuam como corresponsá- como aquilo que o aluno pode fazer sozinho em uma si-
veis, ambos com uma influência decisiva para o êxito do tuação determinada, sem ajuda de ninguém. O nível de
processo. desenvolvimento potencial é determinado pelo que o
A abordagem construtivista integra, num único es- aluno pode fazer ou aprender mediante a interação com
quema explicativo, questões relativas ao desenvolvimen- outras pessoas, conforme as observa, imitando, trocan-
to individual e à pertinência cultural, à construção de co- do ideias com elas, ouvindo suas explicações, sendo de-
nhecimentos e à interação social. safiado por elas ou contrapondo-se a elas, sejam essas
Considera o desenvolvimento pessoal como o pro- pessoas o professor ou seus colegas. Existe uma zona de
cesso mediante o qual o ser humano assume a cultura
desenvolvimento próximo, dada pela diferença existente
do grupo social a que pertence. Processo no qual o de-
entre o que um aluno pode fazer sozinho e o que pode
senvolvimento pessoal e a aprendizagem da experiência
fazer ou aprender com a ajuda dos outros. De acordo
humana culturalmente organizada, ou seja, socialmente
produzida e historicamente acumulada, não se excluem com essa concepção, falar dos mecanismos de interven-
nem se confundem, mas interagem. Daí a importância ção educativa equivale a falar dos mecanismos interativos
das interações entre crianças e destas com parceiros ex- pelos quais professores e colegas conseguem ajustar sua
perientes, dentre os quais destacam-se professores e ou- ajuda aos processos de construção de significados reali-
tros agentes educativos. zados pelos alunos no decorrer das atividades escolares
O conceito de aprendizagem significativa, central na de ensino e aprendizagem.
perspectiva construtivista, implica, necessariamente, o Existem ainda, dentro do contexto escolar, outros
trabalho simbólico de “significar” a parcela da realidade mecanismos de influência educativa, cuja natureza e fun-
que se conhece. As aprendizagens que os alunos realizam cionamento em grande medida são desconhecidos, mas
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

na escola serão significativas à medida que conseguirem que têm incidência considerável sobre a aprendizagem
estabelecer relações substantivas e não-arbitrárias entre dos alunos. Dentre eles destacam-se a organização e o
os conteúdos escolares e os conhecimentos previamente funcionamento da instituição escolar e os valores im-
construídos por eles, num processo de articulação de no- plícitos e explícitos que permeiam as relações entre os
vos significados. membros da escola; são fatores determinantes da qua-
Cabe ao educador, por meio da intervenção pedagógi- lidade de ensino e podem chegar a influir de maneira
ca, promover a realização de aprendizagens com o maior significativa sobre o que e como os alunos aprendem. Os
grau de significado possível, uma vez que esta nunca é alunos não contam exclusivamente com o contexto es-
absoluta — sempre é possível estabelecer alguma relação colar para a construção de conhecimento sobre conteú-
entre o que se pretende conhecer e as possibilidades de dos considerados escolares. A mídia, a família, a igreja, os
observação, reflexão e informação que o sujeito já possui. amigos, são também fontes de influência educativa que

67
incidem sobre o processo de construção de significado Para que se possa discutir uma prática escolar que
desses conteúdos. Essas influências sociais normalmente realmente atinja seus objetivos, os Parâmetros Curricula-
somam-se ao processo de aprendizagem escolar, con- res Nacionais apontam questões de tratamento didático
tribuindo para consolidá-lo; por isso é importante que por área e por ciclo, procurando garantir coerência entre
a escola as considere e as integre ao trabalho. Porém, os pressupostos teóricos, os objetivos e os conteúdos,
algumas vezes, essa mesma influência pode apresentar mediante sua operacionalização em orientações didáti-
obstáculos à aprendizagem escolar, ao indicar uma di- cas e critérios de avaliação. Em outras palavras, apontam
reção diferente, ou mesmo oposta, daquela presente no o que e como se pode trabalhar, desde as séries iniciais,
encaminhamento escolar. É necessário que a escola con- para que se alcancem os objetivos pretendidos.
sidere tais direções e forneça uma interpretação dessas As propostas curriculares oficiais dos Estados estão
diferenças, para que a intervenção pedagógica favoreça organizadas em disciplinas e/ou áreas. Apenas alguns
a ultrapassagem desses obstáculos num processo articu- Municípios optam por princípios norteadores, eixos ou
lado de interação e integração. Se o projeto educacional temas, que visam tratar os conteúdos de modo interdis-
exige ressignificar o processo de ensino e aprendizagem, ciplinar, buscando integrar o cotidiano social com o sa-
este precisa se preocupar em preservar o desejo de co- ber escolar.
nhecer e de saber com que todas as crianças chegam à Nos Parâmetros Curriculares Nacionais, optou-se por
escola. Precisa manter a boa qualidade do vínculo com o um tratamento específico das áreas, em função da im-
conhecimento e não destruí-lo pelo fracasso reiterado. portância instrumental de cada uma, mas contemplou-se
Mas garantir experiências de sucesso não significa omitir também a integração entre elas. Quanto às questões so-
ou disfarçar o fracasso; ao contrário, significa conseguir ciais relevantes, reafirma-se a necessidade de sua proble-
realizar a tarefa a que se propôs. Relaciona-se, portanto, matização e análise, incorporando-as como temas trans-
com propostas e intervenções pedagógicas adequadas. versais. As questões sociais abordadas são: ética, saúde,
O professor deve ter propostas claras sobre o que, meio ambiente, orientação sexual e pluralidade cultural.
quando e como ensinar e avaliar, a fim de possibilitar o Quanto ao modo de incorporação desses temas no
planejamento de atividades de ensino para a aprendi- currículo, propõe-se um tratamento transversal, tendên-
zagem de maneira adequada e coerente com seus ob- cia que se manifesta em algumas experiências nacionais
jetivos. É a partir dessas determinações que o professor e internacionais, em que as questões sociais se integram
elabora a programação diária de sala de aula e organiza na própria concepção teórica das áreas e de seus com-
sua intervenção de maneira a propor situações de apren- ponentes curriculares.
dizagem ajustadas às capacidades cognitivas dos alunos. De acordo com os princípios já apontados, os conteú-
Em síntese, não é a aprendizagem que deve se ajus- dos são considerados como um meio para o desenvolvi-
tar ao ensino, mas sim o ensino que deve potencializar a mento amplo do aluno e para a sua formação como ci-
aprendizagem. dadão. Portanto, cabe à escola o propósito de possibilitar
aos alunos o domínio de instrumentos que os capacitem
Organização dos parâmetros curriculares nacionais a relacionar conhecimentos de modo significativo, bem
como a utilizar esses conhecimentos na transformação e
A análise das propostas curriculares oficiais para o construção de novas relações sociais.
ensino fundamental, elaborada pela Fundação Carlos Os Parâmetros Curriculares Nacionais apresentam os
Chagas, aponta dados relevantes que auxiliam a reflexão conteúdos de tal forma que se possa determinar, no mo-
sobre a organização curricular e a forma como seus com- mento de sua adequação às particularidades de Estados
ponentes são abordados. e Municípios, o grau de profundidade apropriado e a sua
Segundo essa análise, as propostas, de forma geral, melhor forma de distribuição no decorrer da escolarida-
apontam como grandes diretrizes uma perspectiva de- de, de modo a constituir um corpo de conteúdos consis-
mocrática e participativa, e que o ensino fundamental tentes e coerentes com os objetivos.
deve se comprometer com a educação necessária para A avaliação é considerada como elemento favorece-
a formação de cidadãos críticos, autônomos e atuantes. dor da melhoria de qualidade da aprendizagem, deixan-
No entanto, a maioria delas apresenta um descompasso do de funcionar como arma contra o aluno. É assumida
entre os objetivos anunciados e o que é proposto para como parte integrante e instrumento de auto-regulação
alcançá-los, entre os pressupostos teóricos e a definição do processo de ensino e aprendizagem, para que os ob-
de conteúdos e aspectos metodológicos. jetivos propostos sejam atingidos. A avaliação diz res-
A estrutura dos Parâmetros Curriculares Nacionais peito não só ao aluno, mas também ao professor e ao
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

buscou contribuir para a superação dessa contradição. A próprio sistema escolar.


integração curricular assume as especificidades de cada A opção de organização da escolaridade em ciclos,
componente e delineia a operacionalização do proces- tendência predominante nas propostas mais atuais, é
so educativo desde os objetivos gerais do ensino fun- referendada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais. A
damental, passando por sua especificação nos objetivos organização em ciclos é uma tentativa de superar a seg-
gerais de cada área e de cada tema transversal, deduzin- mentação excessiva produzida pelo regime seriado e de
do desses objetivos os conteúdos apropriados para con- buscar princípios de ordenação que possibilitem maior
figurar as reais intenções educativas. Assim, os objetivos, integração do conhecimento.
que definem capacidades, e os conteúdos, que estarão a
serviço do desenvolvimento dessas capacidades, formam
uma unidade orientadora da proposta curricular.

68
Os componentes curriculares foram formulados a nasceram? E, no caso desta última hipótese, por mais rá-
partir da análise da experiência educacional acumulada pidos que possam ser, será que poderão em alguns dias
em todo o território nacional. Pautaram-se, também, percorrer o caminho que outros realizaram em anos?
pela análise das tendências mais atuais de investigação Outras vezes, o que se interpreta como “lentidão” é a
científica, a fim de poderem expressar um avanço na expressão de dificuldades relacionadas a um sentimento
discussão em torno da busca de qualidade de ensino e de incapacidade para a aprendizagem que chega a cau-
aprendizagem. sar bloqueios nesse processo.
É fundamental que se considerem esses aspectos e é
A organização da escolaridade em ciclos necessário que o professor possa intervir para alterar as
situações desfavoráveis ao aluno.
Na década de 80, vários Estados e Municípios reestru- Em suma, o que acontece é que cada aluno tem, ha-
turaram o ensino fundamental a partir das séries iniciais. bitualmente, desempenhos muito diferentes na relação
Esse processo de reorganização, que tinha como objetivo com objetos de conhecimento diferentes e a prática es-
político minimizar o problema da repetência e da evasão colar tem buscado incorporar essa diversidade de modo
escolar, adotou como princípio norteador a flexibilização a garantir respeito aos alunos e a criar condições para
da seriação, o que abriria a possibilidade de o currículo que possam progredir nas suas aprendizagens.
ser trabalhado ao longo de um período de tempo maior A adoção de ciclos, pela flexibilidade que permite,
e permitiria respeitar os diferentes ritmos de aprendiza- possibilita trabalhar melhor com as diferenças e está ple-
gem que os alunos apresentam. namente coerente com os fundamentos psicopedagógi-
Desse modo, a seriação inicial deu lugar ao ciclo bá- cos, com a concepção de conhecimento e da função da
sico com a duração de dois anos, tendo como objetivo escola que estão explicitados no item Fundamentos dos
propiciar maiores oportunidades de escolarização vol- Parâmetros Curriculares Nacionais.
tada para a alfabetização efetiva das crianças. As expe- Os conhecimentos adquiridos na escola passam por
riências, ainda que tenham apresentado problemas es- um processo de construção e reconstrução contínua e
truturais e necessidades de ajustes da prática, acabaram não por etapas fixadas e definidas no tempo. As apren-
por mostrar que a organização por ciclos contribui efeti- dizagens não se processam como a subida de degraus
vamente para a superação dos problemas do desenvol- regulares, mas como avanços de diferentes magnitudes.
vimento escolar. Tanto isso é verdade que, onde foram Embora a organização da escola seja estruturada em
implantados, os ciclos se mantiveram, mesmo com mu- anos letivos, é importante uma perspectiva pedagógica
danças de governantes. em que a vida escolar e o currículo possam ser assumi-
Os Parâmetros Curriculares Nacionais adotam a pro- dos e trabalhados em dimensões de tempo mais flexíveis.
posta de estruturação por ciclos, pelo reconhecimento de Vale ressaltar que para o processo de ensino e aprendi-
que tal proposta permite compensar a pressão do tem- zagem se desenvolver com sucesso não basta flexibilizar
po que é inerente à instituição escolar, tornando possível o tempo: dispor de mais tempo sem uma intervenção
distribuir os conteúdos de forma mais adequada à natu- efetiva para garantir melhores condições de aprendiza-
reza do processo de aprendizagem. Além disso, favorece gem pode apenas adiar o problema e perpetuar o sen-
uma apresentação menos parcelada do conhecimento e timento negativo de autoestima do aluno, consagrando,
possibilita as aproximações sucessivas necessárias para da mesma forma, o fracasso da escola.
que os alunos se apropriem dos complexos saberes que A lógica da opção por ciclos consiste em evitar que
se intenciona transmitir. o processo de aprendizagem tenha obstáculos inúteis,
Sabe-se que, fora da escola, os alunos não têm as mes- desnecessários e nocivos. Portanto, é preciso que a equi-
mas oportunidades de acesso a certos objetos de conhe- pe pedagógica das escolas se co-responsabilize com o
cimento que fazem parte do repertório escolar. Sabe-se processo de ensino e aprendizagem de seus alunos. Para
também que isso influencia o modo e o processo como a concretização dos ciclos como modalidade organiza-
atribuirão significados aos objetos de conhecimento na tiva, é necessário que se criem condições institucionais
situação escolar: alguns alunos poderão estar mais avan- que permitam destinar espaço e tempo à realização de
çados na reconstrução de significados do que outros. reuniões de professores, para discutir os diferentes as-
Ao se falar em ritmos diferentes de aprendizagem, é pectos do processo educacional.
preciso cuidado para não incorrer em mal-entendidos Ao se considerar que dois ou três anos de escolari-
perigosos. Uma vez que não há uma definição precisa e dade pertencem a um único ciclo de ensino e aprendi-
clara de quais seriam esses ritmos, os educadores podem zagem, podem-se definir objetivos e práticas educativas
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ser levados a rotular alguns alunos como mais lentos que que permitam aos alunos avançar continuadamente na
outros, estigmatizando aqueles que estão se iniciando na concretização das metas do ciclo. A organização por ci-
interação com os objetos de conhecimento escolar. clos tende a evitar as frequentes rupturas e a excessiva
No caso da aprendizagem da língua escrita, por fragmentação do percurso escolar, assegurando a conti-
exemplo, se um aluno ingressa na primeira série sabendo nuidade do processo educativo, dentro do ciclo e na pas-
escrever alfabeticamente, isso se explica porque seu rit- sagem de um ciclo ao outro, ao permitir que os professo-
mo é mais rápido ou porque teve múltiplas oportunida- res realizem adaptações sucessivas da ação pedagógica
des de atuar como leitor e escritor? Se outros ingressam às diferentes necessidades dos alunos, sem que deixem
sem saber sequer como se pega um livro, é porque são de orientar sua prática pelas expectativas de aprendiza-
lentos ou porque estão interatuando pela primeira vez gem referentes ao período em questão.
com os objetos com que os outros interatuam desde que

69
Os Parâmetros Curriculares Nacionais estão organi- orientação técnica da prática pedagógica, foi considera-
zados em ciclos de dois anos, mais pela limitação con- da a fundamentação das opções teóricas e metodológi-
juntural em que estão inseridos do que por justificativas cas da área para que, a partir destas, seja possível instau-
pedagógicas. Da forma como estão aqui organizados, rar reflexões sobre a proposta educacional indicada. Na
os ciclos não trazem incompatibilidade com a atual es- apresentação de cada área são abordados os seguintes
trutura do ensino fundamental. Assim, o primeiro ciclo aspectos: descrição da problemática específica da área
se refere às primeira e segunda séries; o segundo ciclo, por meio de um breve histórico no contexto educacional
à terceira e à quarta séries; e assim subsequentemente brasileiro; justificativa de sua presença no ensino funda-
para as outras quatro séries. mental; fundamentação epistemológica da área; sua re-
Essa estruturação não contempla os principais pro- levância na sociedade atual; fundamentação psicopeda-
blemas da escolaridade no ensino fundamental: não une gógica da proposta de ensino e aprendizagem da área;
as quarta e quinta séries para eliminar a ruptura desas- critérios para organização e seleção de conteúdos e ob-
trosa que aí se dá e tem causado muita repetência e eva- jetivos gerais da área para o ensino fundamental.
são, como também não define uma etapa maior para o A partir da Concepção de Área assim fundamentada,
início da escolaridade, que deveria (a exemplo da imensa segue-se o detalhamento da estrutura dos Parâmetros
maioria dos países) incorporar à escolaridade obrigató- Curriculares para cada ciclo (primeiro e segundo), espe-
cificando Objetivos e Conteúdos, bem como Critérios
ria as crianças desde os seis anos. Portanto, o critério de
de Avaliação, Orientações para Avaliação e Orientações
dois anos para a organização dos ciclos, nos Parâmetros
Didáticas.
Curriculares Nacionais, não deve ser considerado como
Se a escola pretende estar em consonância com as
decorrência de seus princípios e fundamentações, nem demandas atuais da sociedade, é necessário que trate
como a única estratégia de intervenção no contexto atual de questões que interferem na vida dos alunos e com
da problemática educacional. as quais se veem confrontados no seu dia-a-dia. As te-
máticas sociais, por essa importância inegável que têm
A organização do conhecimento escolar: Áreas e na formação dos alunos, já há muito têm sido discutidas
Temas Transversais e frequentemente incorporadas aos currículos das áreas
ligadas às Ciências Naturais e Sociais, chegando até mes-
As diferentes áreas, os conteúdos selecionados em mo, em algumas propostas, a constituir novas áreas.
cada uma delas e o tratamento transversal de questões Mais recentemente, algumas propostas indicaram
sociais constituem uma representação ampla e plural dos a necessidade do tratamento transversal de temáticas
campos de conhecimento e de cultura de nosso tempo, sociais na escola, como forma de contemplá-las na sua
cuja aquisição contribui para o desenvolvimento das ca- complexidade, sem restringi-las à abordagem de uma
pacidades expressas nos objetivos gerais. única área.
O tratamento da área e de seus conteúdos integra Adotando essa perspectiva, as problemáticas sociais
uma série de conhecimentos de diferentes disciplinas, são integradas na proposta educacional dos Parâmetros
que contribuem para a construção de instrumentos de Curriculares Nacionais como Temas Transversais. Não
compreensão e intervenção na realidade em que vivem constituem novas áreas, mas antes um conjunto de temas
os alunos. A concepção da área evidencia a natureza dos que aparecem transversalizados nas áreas definidas, isto
conteúdos tratados, definindo claramente o corpo de co- é, permeando a concepção, os objetivos, os conteúdos
nhecimentos e o objeto de aprendizagem, favorecendo e as orientações didáticas de cada área, no decorrer de
aos alunos a construção de representações sobre o que toda a escolaridade obrigatória. A transversalidade pres-
estudam. Essa caracterização da área é importante tam- supõe um tratamento integrado das áreas e um compro-
bém para que os professores possam se situar dentro de misso das relações interpessoais e sociais escolares com
um conjunto definido e conceitualizado de conhecimen- as questões que estão envolvidas nos temas, a fim de
que haja uma coerência entre os valores experimentados
tos que pretendam que seus alunos aprendam, condição
na vivência que a escola propicia aos alunos e o contato
necessária para proceder a encaminhamentos que auxi-
intelectual com tais valores.
liem as aprendizagens com sucesso.
As aprendizagens relativas a esses temas se expli-
Se é importante definir os contornos das áreas, é citam na organização dos conteúdos das áreas, mas a
também essencial que estes se fundamentem em uma discussão da conceitualização e da forma de tratamento
concepção que os integre conceitualmente, e essa inte- que devem receber no todo da ação educativa escolar
gração seja efetivada na prática didática. Por exemplo, está especificada em textos de fundamentação por tema.
ao trabalhar conteúdos de Ciências Naturais, os alunos O conjunto de documentos dos Temas Transversais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

buscam informações em suas pesquisas, registram ob- comporta uma primeira parte em que se discute a sua
servações, anotam e quantificam dados. Portanto, utili- necessidade para que a escola possa cumprir sua função
zam-se de conhecimentos relacionados à área de Língua social, os valores mais gerais e unificadores que definem
Portuguesa, à de Matemática, além de outras, dependen- todo o posicionamento relativo às questões que são trata-
do do estudo em questão. O professor, considerando a das nos temas, a justificativa e a conceitualização do trata-
multiplicidade de conhecimentos em jogo nas diferentes mento transversal para os temas sociais e um documento
situações, pode tomar decisões a respeito de suas inter- específico para cada tema: Ética, Saúde, Meio Ambiente,
venções e da maneira como tratará os temas, de forma a Pluralidade Cultural e Orientação Sexual, eleitos por en-
propiciar aos alunos uma abordagem mais significativa e volverem problemáticas sociais atuais e urgentes, consi-
contextualizada. deradas de abrangência nacional e até mesmo de caráter
Para que estes parâmetros não se limitassem a uma universal.

70
A grande abrangência dos temas não significa que de- sobre seus próprios pensamentos. No trabalho escolar
vam ser tratados igualmente; ao contrário, exigem adapta- o desenvolvimento dessa capacidade é propiciado pela
ções para que possam corresponder às reais necessidades realização de trabalhos em grupo, por práticas de coo-
de cada região ou mesmo de cada escola. As característi- peração que incorporam formas participativas e possibi-
cas das questões ambientais, por exemplo, ganham espe- litam a tomada de posição em conjunto com os outros.
cificidades diferentes nos campos de seringa no interior A capacidade estética permite produzir arte e apreciar as
da Amazônia e na periferia de uma grande cidade. diferentes produções artísticas produzidas em diferentes
Além das adaptações dos temas apresentados, é im- culturas e em diferentes momentos históricos. A capaci-
portante que sejam eleitos temas locais para integrar o dade ética é a possibilidade de reger as próprias ações
componente Temas Transversais; por exemplo, muitas ci- e tomadas de decisão por um sistema de princípios se-
dades têm elevadíssimos índices de acidentes com vítimas gundo o qual se analisam, nas diferentes situações da
no trânsito, o que faz com que suas escolas necessitem vida, os valores e opções que envolvem. A construção
incorporar a educação para o trânsito em seu currículo. interna, pessoal, de princípios considerados válidos para
Além deste, outros temas relativos, por exemplo, à paz ou si e para os demais implica considerar-se um sujeito em
ao uso de drogas podem constituir subtemas dos temas meio a outros sujeitos. O desenvolvimento dessa capaci-
gerais; outras vezes, no entanto, podem exigir um trata- dade permite considerar e buscar compreender razões,
mento específico e intenso, dependendo da realidade de nuanças, condicionantes, consequências e intenções,
cada contexto social, político, econômico e cultural. Nesse isto é, permite a superação da rigidez moral, no julga-
caso, devem ser incluídos como temas básicos. mento e na atuação pessoal, na relação interpessoal e
na compreensão das relações sociais. A ação pedagógica
Objetivos contribui com tal desenvolvimento, entre outras formas
afirmando claramente seus princípios éticos, incenti-
Os objetivos propostos nos Parâmetros Curriculares vando a reflexão e a análise crítica de valores, atitudes
Nacionais concretizam as intenções educativas em termos e tomadas de decisão e possibilitando o conhecimento
de capacidades que devem ser desenvolvidas pelos alunos de que a formulação de tais sistemas é fruto de relações
ao longo da escolaridade. humanas, historicamente situadas. Quanto à capacidade
A decisão de definir os objetivos educacionais em de inserção social, refere-se à possibilidade de o aluno
termos de capacidades é crucial nesta proposta, pois as perceber-se como parte de uma comunidade, de uma
capacidades, uma vez desenvolvidas, podem se expressar classe, de um ou vários grupos sociais e de comprome-
numa variedade de comportamentos. O professor, cons- ter-se pessoalmente com questões que considere rele-
ciente de que condutas diversas podem estar vinculadas vantes para a vida coletiva. Essa capacidade é nuclear
ao desenvolvimento de uma mesma capacidade, tem ao exercício da cidadania, pois seu desenvolvimento é
diante de si maiores possibilidades de atender à diversi- necessário para que se possa superar o individualismo e
dade de seus alunos. atuar (no cotidiano ou na vida política) levando em conta
Assim, os objetivos se definem em termos de capaci- a dimensão coletiva. O aprendizado de diferentes formas
dades de ordem cognitiva, física, afetiva, de relação inter- e possibilidades de participação social é essencial ao de-
pessoal e inserção social, ética e estética, tendo em vista senvolvimento dessa capacidade.
uma formação ampla. Para garantir o desenvolvimento dessas capacidades
A capacidade cognitiva tem grande influência na pos- é preciso uma disponibilidade para a aprendizagem de
tura do indivíduo em relação às metas que quer atingir nas modo geral. Esta, por sua vez, depende em boa parte da
mais diversas situações da vida, vinculando-se diretamen- história de êxitos ou fracassos escolares que o aluno traz
te ao uso de formas de representação e de comunicação, e vão determinar o grau de motivação que apresentará
envolvendo a resolução de problemas, de maneira cons- em relação às aprendizagens atualmente propostas. Mas
ciente ou não. A aquisição progressiva de códigos de re- depende também de que os conteúdos de aprendizagem
presentação e a possibilidade de operar com eles interfere tenham sentido para ele e sejam funcionais. O papel do
diretamente na aprendizagem da língua, da matemática, professor nesse processo é, portanto, crucial, pois a ele
da representação espacial, temporal e gráfica e na leitura cabe apresentar os conteúdos e atividades de aprendiza-
de imagens. A capacidade física engloba o autoconheci- gem de forma que os alunos compreendam o porquê e o
mento e o uso do corpo na expressão de emoções, na para que do que aprendem, e assim desenvolvam expec-
superação de estereotipias de movimentos, nos jogos, tativas positivas em relação à aprendizagem e sintam-se
no deslocamento com segurança. A afetiva refere-se às motivados para o trabalho escolar.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

motivações, à autoestima, à sensibilidade e à adequação Para tanto, é preciso considerar que nem todas as
de atitudes no convívio social, estando vinculada à va- pessoas têm os mesmos interesses ou habilidades, nem
lorização do resultado dos trabalhos produzidos e das aprendem da mesma maneira, o que muitas vezes exi-
atividades realizadas. Esses fatores levam o aluno a com- ge uma atenção especial por parte do professor a um
preender a si mesmo e aos outros. A capacidade afetiva ou outro aluno, para que todos possam se integrar no
está estreitamente ligada à capacidade de relação inter- processo de aprender. A partir do reconhecimento das
pessoal, que envolve compreender, conviver e produzir diferenças existentes entre pessoas, fruto do processo de
com os outros, percebendo distinções entre as pessoas, socialização e do desenvolvimento individual, será pos-
contrastes de temperamento, de intenções e de estados sível conduzir um ensino pautado em aprendizados que
de ânimo. O desenvolvimento da inter-relação permite sirvam a novos aprendizados.
ao aluno se colocar do ponto de vista do outro e a refletir

71
A escola preocupada em fazer com que os alunos de- Conteúdos
senvolvam capacidades ajusta sua maneira de ensinar e
seleciona os conteúdos de modo a auxiliá-los a se ade- Os Parâmetros Curriculares Nacionais propõem uma
quarem às várias vivências a que são expostos em seu mudança de enfoque em relação aos conteúdos curri-
universo cultural; considera as capacidades que os alu- culares: ao invés de um ensino em que o conteúdo seja
nos já têm e as potencializa; preocupa-se com aqueles visto como fim em si mesmo, o que se propõe é um
alunos que encontram dificuldade no desenvolvimento ensino em que o conteúdo seja visto como meio para
das capacidades básicas. que os alunos desenvolvam as capacidades que lhes
Embora os indivíduos tendam, em função de sua permitam produzir e usufruir dos bens culturais, sociais
natureza, a desenvolver capacidades de maneira hete- e econômicos.
rogênea, é importante salientar que a escola tem como A tendência predominante na abordagem de conteú-
função potencializar o desenvolvimento de todas as dos na educação escolar se assenta no binômio trans-
capacidades, de modo a tornar o ensino mais humano, missão-incorporação, considerando a incorporação de
mais ético. conteúdos pelo aluno como a finalidade essencial do
Os Parâmetros Curriculares Nacionais, na explicitação ensino. Existem, no entanto, outros posicionamentos: há
das mencionadas capacidades, apresentam inicialmente quem defenda a posição de indiferença em relação aos
os Objetivos Gerais do ensino fundamental, que são as conteúdos por considerá-los somente como suporte ao
grandes metas educacionais que orientam a estrutura- desenvolvimento cognitivo dos alunos e há ainda quem
ção curricular. A partir deles são definidos os Objetivos acuse a determinação prévia de conteúdos como uma
Gerais de Área, os dos Temas Transversais, bem como o afronta às questões sociais e políticas vivenciadas pelos
desdobramento que estes devem receber no primeiro e diversos grupos.
no segundo ciclos, como forma de conduzir às conquis- No entanto, qualquer que seja a linha pedagógica,
tas intermediárias necessárias ao alcance dos objetivos professores e alunos trabalham, necessariamente, com
gerais. Um exemplo de desdobramento dos objetivos é o conteúdos. O que diferencia radicalmente as propostas é
que se apresenta a seguir. a função que se atribui aos conteúdos no contexto escolar
- Objetivo Geral do Ensino Fundamental: utilizar dife- e, em decorrência disso, as diferentes concepções quanto
rentes linguagens — verbal, matemática, gráfica, plástica, à maneira como devem ser selecionados e tratados.
corporal — como meio para expressar e comunicar suas Nesta proposta, os conteúdos e o tratamento que
ideias, interpretar e usufruir das produções da cultura. a eles deve ser dado assumem papel central, uma vez
- Objetivo Geral do Ensino de Matemática: analisar que é por meio deles que os propósitos da escola são
informações relevantes do ponto de vista do conheci- operacionalizados, ou seja, manifestados em ações pe-
mento e estabelecer o maior número de relações entre dagógicas. No entanto, não se trata de compreendê-los
elas, fazendo uso do conhecimento matemático para in- da forma como são comumente aceitos pela tradição
terpretá-las e avaliá-las criticamente. escolar. O projeto educacional expresso nos Parâmetros
- Objetivo do Ensino de Matemática para o Primeiro Curriculares Nacionais demanda uma reflexão sobre a
Ciclo: identificar, em situações práticas, que muitas infor- seleção de conteúdos, como também exige uma ressig-
mações são organizadas em tabelas e gráficos para facili- nificação, em que a noção de conteúdo escolar se amplia
tar a leitura e a interpretação, e construir formas pessoais para além de fatos e conceitos, passando a incluir pro-
de registro para comunicar informações coletadas. cedimentos, valores, normas e atitudes. Ao tomar como
Os objetivos constituem o ponto de partida para se objeto de aprendizagem escolar conteúdos de diferentes
refletir sobre qual é a formação que se pretende que naturezas, reafirma-se a responsabilidade da escola com
os alunos obtenham, que a escola deseja proporcionar a formação ampla do aluno e a necessidade de interven-
e tem possibilidades de realizar, sendo, nesse senti- ções conscientes e planejadas nessa direção.
do, pontos de referência que devem orientar a atuação Neste documento, os conteúdos são abordados em
educativa em todas as áreas, ao longo da escolaridade três grandes categorias: conteúdos conceituais, que en-
obrigatória. Devem, portanto, orientar a seleção de con- volvem fatos e princípios; conteúdos procedimentais e
teúdos a serem aprendidos como meio para o desenvol- conteúdos atitudinais, que envolvem a abordagem de
vimento das capacidades e indicar os encaminhamentos valores, normas e atitudes.
didáticos apropriados para que os conteúdos estudados Conteúdos conceituais referem-se à construção ativa
façam sentido para os alunos. Finalmente, devem cons- das capacidades intelectuais para operar com símbolos,
tituir-se uma referência indireta da avaliação da atuação ideias, imagens e representações que permitem organi-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

pedagógica da escola. zar a realidade. A aprendizagem de conceitos se dá por


As capacidades expressas nos Objetivos dos Parâme- aproximações sucessivas. Para aprender sobre digestão,
tros Curriculares Nacionais são propostas como referen- subtração ou qualquer outro objeto de conhecimento,
ciais gerais e demandam adequações a serem realizadas o aluno precisa adquirir informações, vivenciar situações
nos níveis de concretização curricular das secretarias es- em que esses conceitos estejam em jogo, para poder
taduais e municipais, bem como das escolas, a fim de construir generalizações parciais que, ao longo de suas
atender às demandas específicas de cada localidade. Essa experiências, possibilitarão atingir conceitualizações cada
adequação pode ser feita mediante a redefinição de gra- vez mais abrangentes; estas o levarão à compreensão de
duações e o reequacionamento de prioridades, desen- princípios, ou seja, conceitos de maior nível de abstração,
volvendo alguns aspectos e acrescentando outros que como o princípio da igualdade na matemática, o princí-
não estejam explícitos. pio da conservação nas ciências, etc. A aprendizagem de

72
conceitos permite organizar a realidade, mas só é possí- produzir um texto de pesquisa. Dependendo do assunto
vel a partir da aprendizagem de conteúdos referentes a a ser pesquisado, é possível orientá-lo para fazer entre-
fatos (nomes, imagens, representações), que ocorre, num vistas e organizar os dados obtidos, procurar referências
primeiro momento, de maneira eminentemente mne- em diferentes jornais, em filmes, comparar as informa-
mônica. A memorização não deve ser entendida como ções obtidas para apresentá-las num seminário, produzir
processo mecânico, mas antes como recurso que torna um texto. Ao exercer um determinado procedimento, é
o aluno capaz de representar informações de maneira possível ao aluno, com ajuda ou não do professor, ana-
genérica — memória significativa — para poder relacio- lisar cada etapa realizada para adequá-la ou corrigi-la,
ná-las com outros conteúdos. a fim de atingir a meta proposta. A consideração dos
Dependendo da diversidade presente nas atividades conteúdos procedimentais no processo de ensino é de
realizadas, os alunos buscam informações (fatos), notam fundamental importância, pois permite incluir conheci-
regularidades, realizam produtos e generalizações que, mentos que têm sido tradicionalmente excluídos do en-
mesmo sendo sínteses ou análises parciais, permitem ve- sino, como a revisão do texto escrito, a argumentação
rificar se o conceito está sendo aprendido. Exemplo 1: construída, a comparação dos dados, a verificação, a do-
para compreender o que vem a ser um texto jornalístico cumentação e a organização, entre outros.
é necessário que o aluno tenha contato com esse texto, Ao ensinar procedimentos também se ensina um cer-
use-o para obter informações, conheça seu vocabulário, to modo de pensar e produzir conhecimento. Exemplo:
conheça sua estrutura e sua função social. Exemplo 2: a uma das questões centrais do trabalho em matemática
solidariedade só pode ser compreendida quando o alu- refere-se à validação.
no passa por situações em que atitudes que a suscitem Trata-se de o aluno saber por seus próprios meios se
estejam em jogo, de modo que, ao longo de suas ex- o resultado que obteve é razoável ou absurdo, se o pro-
periências, adquira informações que contribuam para a cedimento utilizado é correto ou não, se o argumento de
construção de tal conceito. Aprender conceitos permite seu colega é consistente ou contraditório.
atribuir significados aos conteúdos aprendidos e relacio- Já os conteúdos atitudinais permeiam todo o conhe-
ná-los a outros. cimento escolar. A escola é um contexto socializador,
Tal aprendizado está diretamente relacionado à se- gerador de atitudes relativas ao conhecimento, ao pro-
gunda categoria de conteúdos: a procedimental. Os fessor, aos colegas, às disciplinas, às tarefas e à socie-
procedimentos expressam um saber fazer, que envolve dade. A não-compreensão de atitudes, valores e normas
tomar decisões e realizar uma série de ações, de forma como conteúdos escolares faz com estes sejam comu-
ordenada e não aleatória, para atingir uma meta. Assim, nicados sobretudo de forma inadvertida — acabam por
os conteúdos procedimentais sempre estão presentes ser aprendidos sem que haja uma deliberação clara so-
nos projetos de ensino, pois uma pesquisa, um experi- bre esse ensinamento. Por isso, é imprescindível adotar
mento, um resumo, uma maquete, são proposições de uma posição crítica em relação aos valores que a escola
ações presentes nas salas de aula. transmite explícita e implicitamente mediante atitudes
No entanto, conteúdos procedimentais são abor- cotidianas. A consideração positiva de certos fatos ou
dados muitas vezes de maneira equivocada, não sendo personagens históricos em detrimento de outros é um
tratados como objeto de ensino, que necessitam de in- posicionamento de valor, o que contradiz a pretensa
tervenção direta do professor para serem de fato apren- neutralidade que caracteriza a apresentação escolar do
didos. O aprendizado de procedimentos é, por vezes, saber científico.
considerado como algo espontâneo, dependente das Ensinar e aprender atitudes requer um posicionamen-
habilidades individuais. Ensinam-se procedimentos acre- to claro e consciente sobre o que e como se ensina na
ditando estar-se ensinando conceitos; a realização de um escola. Esse posicionamento só pode ocorrer a partir do
procedimento adequado passa, então, a ser interpretada estabelecimento das intenções do projeto educativo da
como o aprendizado do conceito. O exemplo mais evi- escola, para que se possam adequar e selecionar conteú-
dente dessa abordagem ocorre no ensino das operações: dos básicos, necessários e recorrentes.
o fato de uma criança saber resolver contas de adição É sabido que a aprendizagem de valores e atitudes é
não necessariamente corresponde à compreensão do de natureza complexa e pouco explorada do ponto de
conceito de adição. vista pedagógico. Muitas pesquisas apontam para a im-
É preciso analisar os conteúdos referentes a pro- portância da informação como fator de transformação
cedimentos não do ponto de vista de uma aprendiza- de valores e atitudes; sem dúvida, a informação é ne-
gem mecânica, mas a partir do propósito fundamental cessária, mas não é suficiente. Para a aprendizagem de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

da educação, que é fazer com que os alunos construam atitudes é necessária uma prática constante, coerente e
instrumentos para analisar, por si mesmos, os resultados sistemática, em que valores e atitudes almejados sejam
que obtêm e os processos que colocam em ação para expressos no relacionamento entre as pessoas e na es-
atingir as metas a que se propõem. Por exemplo: para colha dos assuntos a serem tratados. Além das questões
realizar uma pesquisa, o aluno pode copiar um trecho de ordem emocional, tem relevância no aprendizado dos
da enciclopédia, embora esse não seja o procedimento conteúdos atitudinais o fato de cada aluno pertencer a
mais adequado. É preciso auxiliá-lo, ensinando os pro- um grupo social, com seus próprios valores e atitudes.
cedimentos apropriados, para que possa responder com Embora esteja sempre presente nos conteúdos espe-
êxito à tarefa que lhe foi proposta. É preciso que o aluno cíficos que são ensinados, os conteúdos atitudinais não
aprenda a pesquisar em mais de uma fonte, registrar o têm sido formalmente reconhecidos como tal. A análise
que for relevante, relacionar as informações obtidas para dos conteúdos, à luz dessa dimensão, exige uma tomada

73
de decisão consciente e eticamente comprometida, in- apontar também que situações aparentemente fáceis e
terferindo diretamente no esclarecimento do papel da simples são complexas tanto do ponto de vista do objeto
escola na formação do cidadão. Ao enfocar os conteúdos como da aprendizagem. No problema 2 a variação no
escolares sob essa dimensão, questões de convívio social local da incógnita solicita um tipo de raciocínio diferente
assumem um outro status no rol dos conteúdos a serem do problema 1. A complexidade dos próprios conteúdos
abordados. e as necessidades das aprendizagens compõem um todo
Considerar conteúdos procedimentais e atitudinais dinâmico, sendo impossível esgotar a aprendizagem em
como conteúdos do mesmo nível que os conceituais não um curto espaço de tempo. O conhecimento não é um
implica aumento na quantidade de conteúdos a serem tra- bem passível de acumulação, como uma espécie de doa-
balhados, porque eles já estão presentes no dia-a-dia da ção da fonte de informações para o aprendiz.
sala de aula; o que acontece é que, na maioria das vezes, Para o tratamento didático dos conteúdos é preciso
não estão explicitados nem são tratados de maneira cons- considerar também o estabelecimento de relações inter-
ciente. A diferente natureza dos conteúdos escolares deve nas ao bloco e entre blocos. Exemplificando: os blocos
ser contemplada de maneira integrada no processo de en- de conteúdos de Língua Portuguesa são língua oral, lín-
sino e aprendizagem e não em atividades específicas. gua escrita, análise e reflexão sobre a língua; é possível
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais, os conteúdos aprender sobre a língua escrita sem necessariamente es-
referentes a conceitos, procedimentos, valores, normas e tabelecer uma relação direta com a língua oral; por outro
atitudes estão presentes nos documentos tanto de áreas lado, não é possível aprender a analisar e a refletir sobre
quanto de Temas Transversais, por contribuírem para a a língua sem o apoio da língua oral, ou da escrita. Dessa
aquisição das capacidades definidas nos Objetivos Gerais forma, a inter-relação dos elementos de um bloco, ou
do Ensino Fundamental. A consciência da importância entre blocos, é determinada pelo objeto da aprendiza-
desses conteúdos é essencial para garantir-lhes trata- gem, configurado pela proposta didática realizada pelo
mento apropriado, em que se vise um desenvolvimento professor.
amplo, harmônico e equilibrado dos alunos, tendo em Dada a diversidade existente no País, é natural e de-
vista sua vinculação à função social da escola. Eles são sejável que ocorram alterações no quadro proposto. A
apresentados nos blocos de conteúdos e/ou organiza- definição dos conteúdos a serem tratados deve consi-
ções temáticas. derar o desenvolvimento de capacidades adequadas às
Os blocos de conteúdos e/ou organizações temáticas características sociais, culturais e econômicas particulares
são agrupamentos que representam recortes internos de cada localidade.
à área e visam explicitar objetos de estudo essenciais à Assim, a definição de conteúdos nos Parâmetros
aprendizagem. Distinguem as especificidades dos con- Curriculares Nacionais é uma referência suficientemente
teúdos, para que haja clareza sobre qual é o objeto do aberta para técnicos e professores analisarem, refletirem
trabalho, tanto para o aluno como para o professor — é e tomarem decisões, resultando em ampliações ou redu-
importante ter consciência do que se está ensinando e ções de certos aspectos, em função das necessidades de
do que se está aprendendo. Os conteúdos são organi- aprendizagem de seus alunos.
zados em função da necessidade de receberem um tra-
tamento didático que propicie um avanço contínuo na Avaliação
ampliação de conhecimentos, tanto em extensão quanto
em profundidade, pois o processo de aprendizagem dos A concepção de avaliação dos Parâmetros Curricula-
alunos requer que os mesmos conteúdos sejam tratados res Nacionais vai além da visão tradicional, que focaliza o
de diferentes maneiras e em diferentes momentos da controle externo do aluno mediante notas ou conceitos,
escolaridade, de forma a serem “revisitados”, em função para ser compreendida como parte integrante e intrínse-
das possibilidades de compreensão que se alteram pela ca ao processo educacional.
contínua construção de conhecimentos e em função da A avaliação, ao não se restringir ao julgamento sobre
complexidade conceitual de determinados conteúdos. sucessos ou fracassos do aluno, é compreendida como
Por exemplo, ao apresentar problemas referentes às um conjunto de atuações que tem a função de alimentar,
operações de adição e subtração. sustentar e orientar a intervenção pedagógica. Aconte-
Exemplo 1: Pedro tinha 8 bolinhas de gude, jogou ce contínua e sistematicamente por meio da interpreta-
uma partida e perdeu 3. Com quantas bolinhas ficou? (8 ção qualitativa do conhecimento construído pelo aluno.
- 3 = 5 ou 3 + ? = 8). Exemplo 2: Pedro jogou uma par- Possibilita conhecer o quanto ele se aproxima ou não da
tida de bolinha de gude. Na segunda partida, perdeu 3 expectativa de aprendizagem que o professor tem em
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

bolinhas, ficando com 5 no final. Quantas bolinhas Pedro determinados momentos da escolaridade, em função da
ganhou na primeira partida? (? - 3 = 5 ou 8 - 3 = 5 ou intervenção pedagógica realizada. Portanto, a avaliação
3 + ? = 8). O problema 1 é resolvido pela maioria das das aprendizagens só pode acontecer se forem relacio-
crianças no início da escolaridade obrigatória em função nadas com as oportunidades oferecidas, isto é, analisan-
do conhecimento matemático que já têm; no entanto, do a adequação das situações didáticas propostas aos
o problema 2 para ser resolvido necessita que o aluno conhecimentos prévios dos alunos e aos desafios que
tenha tido diferentes oportunidades para operar com os estão em condições de enfrentar.
conceitos envolvidos, caso contrário não o resolverá. O A avaliação subsidia o professor com elementos
mesmo conteúdo — adição e subtração — para ser com- para uma reflexão contínua sobre a sua prática, sobre
preendido requer uma abordagem mais ampla dos con- a criação de novos instrumentos de trabalho e a reto-
ceitos que o envolvem. Com esses exemplos buscou-se mada de aspectos que devem ser revistos, ajustados

74
ou reconhecidos como adequados para o processo de pode saber, em determinados momentos, o que o aluno
aprendizagem individual ou de todo grupo. Para o aluno, já aprendeu sobre os conteúdos trabalhados. Esses mo-
é o instrumento de tomada de consciência de suas con- mentos, por outro lado, são importantes por se constituí-
quistas, dificuldades e possibilidades para reorganização rem boas situações para que alunos e professores forma-
de seu investimento na tarefa de aprender. Para a escola, lizem o que foi e o que não foi aprendido. Esta avaliação,
possibilita definir prioridades e localizar quais aspectos que intenciona averiguar a relação entre a construção do
das ações educacionais demandam maior apoio. conhecimento por parte dos alunos e os objetivos a que
Tomar a avaliação nessa perspectiva e em todas es- o professor se propôs, é indispensável para se saber se
sas dimensões requer que esta ocorra sistematicamente todos os alunos estão aprendendo e quais condições es-
durante todo o processo de ensino e aprendizagem e tão sendo ou não favoráveis para isso, o que diz respeito
não somente após o fechamento de etapas do trabalho, às responsabilidades do sistema educacional.
como é o habitual. Isso possibilita ajustes constantes, Um sistema educacional comprometido com o de-
num mecanismo de regulação do processo de ensino e senvolvimento das capacidades dos alunos, que se ex-
aprendizagem, que contribui efetivamente para que a ta- pressam pela qualidade das relações que estabelecem e
refa educativa tenha sucesso. pela profundidade dos saberes constituídos, encontra, na
O acompanhamento e a reorganização do processo de avaliação, uma referência à análise de seus propósitos,
ensino e aprendizagem na escola inclui, necessariamente, que lhe permite redimensionar investimentos, a fim de
uma avaliação inicial, para o planejamento do professor, e que os alunos aprendam cada vez mais e melhor e atin-
uma avaliação ao final de uma etapa de trabalho. jam os objetivos propostos.
A avaliação investigativa inicial instrumentalizará o Esse uso da avaliação, numa perspectiva democráti-
professor para que possa pôr em prática seu planejamen- ca, só poderá acontecer se forem superados o caráter
to de forma adequada às características de seus alunos. de terminalidade e de medição de conteúdos aprendidos
Esse é o momento em que o professor vai se informar — tão arraigados nas práticas escolares — a fim de que
sobre o que o aluno já sabe sobre determinado conteúdo os resultados da avaliação possam ser concebidos como
para, a partir daí, estruturar sua programação, definindo indicadores para a reorientação da prática educacional e
os conteúdos e o nível de profundidade em que devem nunca como um meio de estigmatizar os alunos.
ser abordados. A avaliação inicial serve para o professor Utilizar a avaliação como instrumento para o desen-
obter informações necessárias para propor atividades e volvimento das atividades didáticas requer que ela não
gerar novos conhecimentos, assim como para o aluno seja interpretada como um momento estático, mas antes
tomar consciência do que já sabe e do que pode ainda como um momento de observação de um processo dinâ-
aprender sobre um determinado conjunto de conteúdos. mico e não-linear de construção de conhecimento.
É importante que ocorra uma avaliação no início do ano; Em suma, a avaliação contemplada nos Parâmetros
o fato de o aluno estar iniciando uma série não é infor- Curriculares Nacionais é compreendida como: elemento
mação suficiente para que o professor saiba sobre suas integrador entre a aprendizagem e o ensino; conjunto
necessidades de aprendizagem. Mesmo que o professor de ações cujo objetivo é o ajuste e a orientação da inter-
acompanhe a classe de um ano para o outro, e tenha venção pedagógica para que o aluno aprenda da melhor
registros detalhados sobre o desempenho dos alunos no forma; conjunto de ações que busca obter informações
ano anterior, não se exclui essa investigação inicial, pois sobre o que foi aprendido e como; elemento de reflexão
os alunos não deixam de aprender durante as férias e contínua para o professor sobre sua prática educativa;
muita coisa pode ser alterada no intervalo dos períodos instrumento que possibilita ao aluno tomar consciência
letivos. Mas essas avaliações não devem ser aplicadas de seus avanços, dificuldades e possibilidades; ação que
exclusivamente nos inícios de ano ou de semestre; são ocorre durante todo o processo de ensino e aprendiza-
pertinentes sempre que o professor propuser novos con- gem e não apenas em momentos específicos caracteri-
teúdos ou novas sequências de situações didáticas. zados como fechamento de grandes etapas de trabalho.
É importante ter claro que a avaliação inicial não im- Uma concepção desse tipo pressupõe considerar tanto
plica a instauração de um longo período de diagnóstico, o processo que o aluno desenvolve ao aprender como o
que acabe por se destacar do processo de aprendizagem produto alcançado. Pressupõe também que a avaliação
que está em curso, no qual o professor não avança em se aplique não apenas ao aluno, considerando as expec-
suas propostas, perdendo o escasso e precioso tempo tativas de aprendizagem, mas às condições oferecidas
escolar de que dispõe. Ela pode se realizar no interior para que isso ocorra. Avaliar a aprendizagem, portanto,
mesmo de um processo de ensino e aprendizagem, já implica avaliar o ensino oferecido — se, por exemplo,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

que os alunos põem inevitavelmente em jogo seus co- não há a aprendizagem esperada significa que o ensino
nhecimentos prévios ao enfrentar qualquer situação não cumpriu com sua finalidade: a de fazer aprender.
didática.
O processo também contempla a observação dos Orientações para avaliação
avanços e da qualidade da aprendizagem alcançada pe-
los alunos ao final de um período de trabalho, seja este Como avaliar se define a partir da concepção de ensi-
determinado pelo fim de um bimestre, ou de um ano, seja no e aprendizagem, da função da avaliação no processo
pelo encerramento de um projeto ou sequência didática. educativo e das orientações didáticas postas em prática.
Na verdade, a avaliação contínua do processo acaba por Embora a avaliação, na perspectiva aqui apontada, acon-
subsidiar a avaliação final, isto é, se o professor acom- teça sistematicamente durante as atividades de ensino
panha o aluno sistematicamente ao longo do processo e aprendizagem, é preciso que a perspectiva de cada

75
momento da avaliação seja definida claramente, para a objetividade desejada na avaliação, uma vez que esta só
que se possa alcançar o máximo de objetividade possível. poderá ser construída com a coordenação dos diferentes
Para obter informações em relação aos processos de pontos de vista tanto do aluno quanto do professor.
aprendizagem, é necessário considerar a importância de
uma diversidade de instrumentos e situações, para pos- Critérios de avaliação
sibilitar, por um lado, avaliar as diferentes capacidades e
conteúdos curriculares em jogo e, por outro lado, con- Avaliar significa emitir um juízo de valor sobre a reali-
trastar os dados obtidos e observar a transferência das dade que se questiona, seja a propósito das exigências de
aprendizagens em contextos diferentes. uma ação que se projetou realizar sobre ela, seja a propó-
É fundamental a utilização de diferentes códigos, sito das suas consequências.
como o verbal, o oral, o escrito, o gráfico, o numérico, Portanto, a atividade de avaliação exige critérios claros
o pictórico, de forma a se considerar as diferentes apti- que orientem a leitura dos aspectos a serem avaliados.
dões dos alunos. Por exemplo, muitas vezes o aluno não No caso da avaliação escolar, é necessário que se es-
domina a escrita suficientemente para expor um racio- tabeleçam expectativas de aprendizagem dos alunos em
cínio mais complexo sobre como compreende um fato consequência do ensino, que devem se expressar nos
histórico, mas pode fazê-lo perfeitamente bem em uma objetivos, nos critérios de avaliação propostos e na de-
situação de intercâmbio oral, como em diálogos, entre- finição do que será considerado como testemunho das
vistas ou debates. Considerando essas preocupações, o aprendizagens.
professor pode realizar a avaliação por meio de: Do contraste entre os critérios de avaliação e os indica-
- observação sistemática: acompanhamento do pro- dores expressos na produção dos alunos surgirá o juízo de
cesso de aprendizagem dos alunos, utilizando al- valor, que se constitui a essência da avaliação.
guns instrumentos, como registro em tabelas, lis- Os critérios de avaliação têm um papel importante,
tas de controle, diário de classe e outros; pois explicitam as expectativas de aprendizagem, consi-
- análise das produções dos alunos: considerar a va- derando objetivos e conteúdos propostos para a área e
riedade de produções realizadas pelos alunos, para para o ciclo, a organização lógica e interna dos conteúdos,
que se possa ter um quadro real das aprendiza- as particularidades de cada momento da escolaridade e
gens conquistadas. Por exemplo: se a avaliação se as possibilidades de aprendizagem decorrentes de cada
dá sobre a competência dos alunos na produção etapa do desenvolvimento cognitivo, afetivo e social em
de textos, deve-se considerar a totalidade dessa uma determinada situação, na qual os alunos tenham
produção, que envolve desde os primeiros regis- boas condições de desenvolvimento do ponto de vista
tros escritos, no caderno de lição, até os registros pessoal e social. Os critérios de avaliação apontam as ex-
das atividades de outras áreas e das atividades re- periências educativas a que os alunos devem ter acesso e
alizadas especificamente para esse aprendizado, são consideradas essenciais para o seu desenvolvimento
além do texto produzido pelo aluno para os fins e socialização. Nesse sentido, os critérios de avaliação de-
específicos desta avaliação; vem refletir de forma equilibrada os diferentes tipos de
- atividades específicas para a avaliação: nestas, os capacidades e as três dimensões de conteúdos, e servir
alunos devem ter objetividade ao expor sobre um para encaminhar a programação e as atividades de ensino
tema, ao responder um questionário. Para isso é e aprendizagem.
importante, em primeiro lugar, garantir que se- É importante assinalar que os critérios de avaliação re-
jam semelhantes às situações de aprendizagem presentam as aprendizagens imprescindíveis ao final do
comumente estruturadas em sala de aula, isto é, ciclo e possíveis à maioria dos alunos submetidos às con-
que não se diferenciem, em sua estrutura, das ati- dições de aprendizagem propostas; não podem, no en-
vidades que já foram realizadas; em segundo lugar, tanto, ser tomados como objetivos, pois isso significaria
deixar claro para os alunos o que se pretende ava- um injustificável rebaixamento da oferta de ensino e, con-
liar, pois, inevitavelmente, os alunos estarão mais sequentemente, o impedimento a priori da possibilidade
atentos a esses aspectos. de realização de aprendizagens consideradas essenciais.
Quanto mais os alunos tenham clareza dos conteú- Os critérios não expressam todos os conteúdos que
dos e do grau de expectativa da aprendizagem que se foram trabalhados no ciclo, mas apenas aqueles que são
espera, mais terão condições de desenvolver, com a fundamentais para que se possa considerar que um aluno
ajuda do professor, estratégias pessoais e recursos para adquiriu as capacidades previstas de modo a poder conti-
vencer dificuldades. nuar aprendendo no ciclo seguinte, sem que seu aprovei-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A avaliação, apesar de ser responsabilidade do pro- tamento seja comprometido.


fessor, não deve ser considerada função exclusiva dele. Os Critérios de Avaliação por Área e por Ciclo, defini-
Delegá-la aos alunos, em determinados momentos, é dos nestes Parâmetros Curriculares Nacionais, ainda que
uma condição didática necessária para que construam indiquem o tipo e o grau de aprendizagem que se espera
instrumentos de auto regulação para as diferentes apren- que os alunos tenham realizado a respeito dos diferen-
dizagens. A auto avaliação é uma situação de aprendiza- tes conteúdos, apresentam formulação suficientemente
gem em que o aluno desenvolve estratégias de análise ampla para ser referência para as adaptações necessá-
e interpretação de suas produções e dos diferentes pro- rias em cada escola, de modo a poderem se constituir
cedimentos para se avaliar. Além desse aprendizado ser, critérios reais para a avaliação e, portanto, contribuírem
em si, importante, porque é central para a construção da para efetivar a concretização das intenções educativas no
autonomia dos alunos, cumpre o papel de contribuir com decorrer do trabalho nos ciclos. Os critérios de avaliação

76
devem permitir concretizações diversas por meio de di- próxima série ou ciclo. Se a avaliação está a serviço do
ferentes indicadores; assim, além do enunciado que os processo de ensino e aprendizagem, a decisão de apro-
define, deverá haver um breve comentário explicativo var ou reprovar não deve ser a expressão de um “castigo”
que contribua para a identificação de indicadores nas nem ser unicamente pautada no quanto se aprendeu ou
produções a serem avaliadas, facilitando a interpretação se deixou de aprender dos conteúdos propostos. Para tal
e a flexibilização desses critérios, em função das caracte- decisão é importante considerar, simultaneamente aos
rísticas do aluno e dos objetivos e conteúdos definidos. critérios de avaliação, os aspectos de sociabilidade e de
Exemplo de um critério de avaliação de Língua Portu- ordem emocional, para que a decisão seja a melhor pos-
guesa para o primeiro ciclo: “Escrever utilizando tanto o sível, tendo em vista a continuidade da escolaridade sem
conhecimento sobre a correspondência fonográfica como fracassos. No caso de reprovação, a discussão nos conse-
sobre a segmentação do texto em palavras e frases. lhos de classe, assim como a consideração das questões
Com este critério espera-se que o aluno escreva tex- trazidas pelos pais nesse processo decisório, podem sub-
tos alfabeticamente. Isso significa utilizar corretamente sidiar o professor para a tomada de decisão amadurecida
a letra (o grafema) que corresponda ao som (o fonema), e compartilhada pela equipe da escola.
ainda que a convenção ortográfica não esteja sendo Os altos índices de repetência em nosso país têm
respeitada. Espera-se, também, que o aluno utilize seu sido objeto de muita discussão, uma vez que explicitam
conhecimento sobre a segmentação das palavras e de o fracasso do sistema público de ensino, incomodando
frases, ainda que a convenção não esteja sendo respeita- demais tanto educadores como políticos. No entanto,
da (no caso da palavra, podem tanto ocorrer uma escri- muitas vezes se cria uma falsa questão, em que a repe-
ta sem segmentação, como em ‘derepente’, como uma tência é vista como um problema em si e não como um
segmentação indevida, como em ‘de pois’; no caso da sintoma da má qualidade do ensino e, consequentemen-
frase, o aluno pode separar frases sem utilizar o siste- te, da aprendizagem, que, de forma geral, o sistema edu-
ma de pontuação, fazendo uso de recursos como ‘e’, ‘aí’, cacional não tem conseguido resolver.
‘daí’, por exemplo)”. Como resultado, ao reprovar os alunos que não rea-
A definição dos critérios de avaliação deve conside- lizam as aprendizagens esperadas, cristaliza-se uma si-
rar aspectos estruturais de cada realidade; por exemplo, tuação em que o problema é do aluno e não do sistema
muitas vezes, seja por conta das repetências ou de um educacional.
ingresso tardio na escola, a faixa etária dos alunos de A repetência deve ser um recurso extremo; deve ser
primeiro ciclo não corresponde aos sete ou oito anos. estudada caso a caso, no momento que mais se adequar
Sabe-se, também, que as condições de escolaridade em a cada aluno, para que esteja de fato a serviço da escola-
uma escola rural e multisseriada são bastante singulares, ridade com sucesso.
o que determinará expectativas de aprendizagem e, por- A permanência em um ano ou mais no ciclo deve ser
tanto, de critérios de avaliação bastante diferenciados. compreendida como uma medida educativa para que
A adequação dos critérios estabelecidos nestes parâ- o aluno tenha oportunidade e expectativa de sucesso e
metros e dos indicadores especificados ao trabalho que motivação, para garantir a melhoria de condições para
cada escola se propõe a realizar não deve perder de vista a aprendizagem. Quer a decisão seja de reprovar ou
a busca de uma meta de qualidade de ensino e aprendi- aprovar um aluno com dificuldades, esta deve sempre
zagem explicitada na presente proposta. ser acompanhada de encaminhamentos de apoio e ajuda
para garantir a qualidade das aprendizagens e o desen-
Decisões associadas aos resultados da avaliação volvimento das capacidades esperadas.

Tão importante quanto o que e como avaliar são as As avaliações oficiais: boletins e diplomas
decisões pedagógicas decorrentes dos resultados da
avaliação, que não devem se restringir à reorganização Um outro lado na questão da avaliação é o aspecto
da prática educativa encaminhada pelo professor no dia- normativo do sistema de ensino que diz respeito ao con-
-a-dia; devem se referir, também, a uma série de medi- trole social. À escola é socialmente delegada a tarefa de
das didáticas complementares que necessitem de apoio promover o ensino e a aprendizagem de determinados
institucional, como o acompanhamento individualizado conteúdos e contribuir de maneira efetiva na formação
feito pelo professor fora da classe, o grupo de apoio, as de seus cidadãos; por isso, a escola deve responder à so-
lições extras e outras que cada escola pode criar, ou até ciedade por essa responsabilidade. Para tal, estabelece
mesmo a solicitação de profissionais externos à escola uma série de instrumentos para registro e documentação
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

para debate sobre questões emergentes ao trabalho. A da avaliação e cria os atestados oficiais de aproveitamen-
dificuldade de contar com o apoio institucional para es- to. Assim, as notas, conceitos, boletins, recuperações,
ses encaminhamentos é uma realidade que precisa ser aprovações, reprovações, diplomas, etc., fazem parte
alterada gradativamente, para que se possam oferecer das decisões que o professor deve tomar em seu dia-a-
condições de desenvolvimento para os alunos com ne- -dia para responder à necessidade de um testemunho
cessidades diferentes de aprendizagem. oficial e social do aproveitamento do aluno. O profes-
A aprovação ou a reprovação é uma decisão pedagó- sor pode aproveitar os momentos de avaliação bimes-
gica que visa garantir as melhores condições de apren- tral ou semestral, quando precisa dar notas ou conceitos,
dizagem para os alunos. Para tal, requer-se uma análise para sistematizar os procedimentos que selecionou para
dos professores a respeito das diferentes capacidades o processo de avaliação, em função das necessidades
do aluno, que permitirão o aproveitamento do ensino na psicopedagógicas.

77
É importante ressaltar a diferença que existe entre a manifestações de afeto ou desafeto e diversas outras va-
comunicação da avaliação e a qualificação. riáveis interferem diretamente na dinâmica prevista. No
Uma coisa é a necessidade de comunicar o que se texto que se segue, são apontados alguns tópicos sobre
observou na avaliação, isto é, o retorno que o professor didática considerados essenciais pela maioria dos profis-
dá aos alunos e aos pais do que pôde observar sobre sionais em educação: autonomia; diversidade; interação
o processo de aprendizagem, incluindo também o diá- e cooperação; disponibilidade para a aprendizagem; or-
logo entre a sua avaliação e a auto avaliação realizada ganização do tempo; organização do espaço; e seleção
pelo aluno. Outra coisa é a qualificação que se extrai de material.
dela, e se expressa em notas ou conceitos, histórico es-
colar, boletins, diplomas, e cumprem uma função social. Autonomia
Se a comunicação da avaliação estiver pautada apenas
em qualificações, pouco poderá contribuir para o avan- Nos Parâmetros Curriculares Nacionais a autonomia
ço significativo das aprendizagens; mas, se as notas não é tomada ao mesmo tempo como capacidade a ser de-
forem o único canal que o professor oferece de comu- senvolvida pelos alunos e como princípio didático geral,
nicação sobre a avaliação, podem constituir-se uma re- orientador das práticas pedagógicas.
ferência importante, uma vez que já se instituem como A realização dos objetivos propostos implica necessa-
representação social do aproveitamento escolar. riamente que sejam desde sempre praticados, pois não
se desenvolve uma capacidade sem exercê-la. Por isso
Orientações didáticas didática é um instrumento de fundamental importância,
na medida em que possibilita e conforma as relações que
A conquista dos objetivos propostos para o ensino alunos e educadores estabelecem entre si, com o conhe-
fundamental depende de uma prática educativa que te- cimento que constroem, com a tarefa que realizam e com
nha como eixo a formação de um cidadão autônomo e a instituição escolar. Por exemplo, para que possa refletir,
participativo. Nessa medida, os Parâmetros Curriculares participar e assumir responsabilidades, o aluno necessi-
Nacionais incluem orientações didáticas, que são subsí- ta estar inserido em um processo educativo que valorize
dios à reflexão sobre como ensinar. tais ações.
Na visão aqui assumida, os alunos constroem signifi- Este é o sentido da autonomia como princípio didáti-
cados a partir de múltiplas e complexas interações. Cada co geral proposto nos Parâmetros Curriculares Nacionais:
aluno é sujeito de seu processo de aprendizagem, en- uma opção metodológica que considera a atuação do
quanto o professor é o mediador na interação dos alunos aluno na construção de seus próprios conhecimentos,
com os objetos de conhecimento; o processo de apren- valoriza suas experiências, seus conhecimentos prévios
dizagem compreende também a interação dos alunos e a interação professor-aluno e aluno-aluno, buscando
entre si, essencial à socialização. Assim sendo, as orienta- essencialmente a passagem progressiva de situações em
ções didáticas apresentadas enfocam fundamentalmente que o aluno é dirigido por outrem a situações dirigidas
a intervenção do professor na criação de situações de pelo próprio aluno.
aprendizagem coerentes com essa concepção. A autonomia refere-se à capacidade de posicionar-se,
Para cada tema e área de conhecimento correspon- elaborar projetos pessoais e participar enunciativa e coo-
de um conjunto de orientações didáticas de caráter mais perativamente de projetos coletivos, ter discernimento,
abrangente — orientações didáticas gerais — que indi- organizar-se em função de metas eleitas, governar-se,
cam como a concepção de ensino proposta se estabe- participar da gestão de ações coletivas, estabelecer crité-
lece no tratamento da área. Para cada bloco de conteú- rios e eleger princípios éticos, etc. Isto é, a autonomia fala
do correspondem orientações didáticas específicas, que de uma relação emancipada, íntegra com as diferentes
expressam como determinados conteúdos podem ser dimensões da vida, o que envolve aspectos intelectuais,
tratados. morais, afetivos e sociopolíticos. Ainda que na escola se
Assim, as orientações didáticas permeiam as explici- destaque a autonomia na relação com o conhecimento
tações sobre o ensinar e o aprender, bem como as ex- — saber o que se quer saber, como fazer para buscar
plicações dos blocos de conteúdos ou temas, uma vez informações e possibilidades de desenvolvimento de tal
que a opção de recorte de conteúdos para uma situação conhecimento, manter uma postura crítica comparando
de ensino e aprendizagem é também determinada pelo diferentes visões e reservando para si o direito de con-
enfoque didático da área. clusão, por exemplo —, ela não ocorre sem o desen-
No entanto, há determinadas considerações a fazer a volvimento da autonomia moral (capacidade ética) e
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

respeito do trabalho em sala de aula, que extravasam as emocional que envolvem auto respeito, respeito mútuo,
fronteiras de um tema ou área de conhecimento. Estas segurança, sensibilidade, etc.
considerações evidenciam que o ensino não pode estar Como no desenvolvimento de outras capacidades,
limitado ao estabelecimento de um padrão de inter- a aprendizagem de determinados procedimentos e ati-
venção homogêneo e idêntico para todos os alunos. A tudes — tais como planejar a realização de uma tare-
prática educativa é bastante complexa, pois o contexto fa, identificar formas de resolver um problema, formular
de sala de aula traz questões de ordem afetiva, emocio- boas perguntas e boas respostas, levantar hipóteses e
nal, cognitiva, física e de relação pessoal. A dinâmica dos buscar meios de verificá-las, validar raciocínios, resolver
acontecimentos em uma sala de aula é tal que mesmo conflitos, cuidar da própria saúde e da de outros, colo-
uma aula planejada, detalhada e consistente dificilmen- car-se no lugar do outro para melhor refletir sobre uma
te ocorre conforme o imaginado: olhares, tons de voz, determinada situação, considerar as regras estabelecidas

78
— é o instrumento para a construção da autonomia. Para corresponder aos propósitos explicitados nestes
Procedimentos e atitudes dessa natureza são objeto de parâmetros, a educação escolar deve considerar a diver-
aprendizagem escolar, ou seja, a escola pode ensiná-los sidade dos alunos como elemento essencial a ser tratado
planejada e sistematicamente criando situações que au- para a melhoria da qualidade de ensino e aprendizagem.
xiliem os alunos a se tornarem progressivamente mais Atender necessidades singulares de determinados
autônomos. Por isso é importante que desde as séries alunos é estar atento à diversidade: é atribuição do pro-
iniciais as propostas didáticas busquem, em aproxima- fessor considerar a especificidade do indivíduo, analisar
ções sucessivas, cada vez mais essa meta. suas possibilidades de aprendizagem e avaliar a eficácia
O desenvolvimento da autonomia depende de supor- das medidas adotadas.
tes materiais, intelectuais e emocionais. A atenção à diversidade deve se concretizar em me-
No início da escolaridade, a intervenção do professor didas que levem em conta não só as capacidades inte-
é mais intensa na definição desses suportes: tempo e for- lectuais e os conhecimentos de que o aluno dispõe, mas
ma de realização das atividades, organização dos grupos, também seus interesses e motivações. Esse conjunto
materiais a serem utilizados, resolução de conflitos, cui- constitui a capacidade geral do aluno para aprendizagem
dados físicos, estabelecimentos de etapas para a realiza- em um determinado momento.
ção das atividades. Desta forma, a atuação do professor em sala de aula
Também é preciso considerar tanto o trabalho indivi- deve levar em conta fatores sociais, culturais e a história
dual como o coletivo-cooperativo. O individual é poten- educativa de cada aluno, como também características
cializado pelas exigências feitas aos alunos para se res- pessoais de déficit sensorial, motor ou psíquico, ou de
ponsabilizarem por suas ações, suas ideias, suas tarefas, superdotação intelectual. Deve-se dar especial atenção
pela organização pessoal e coletiva, pelo envolvimento ao aluno que demonstrar a necessidade de resgatar a
com o objeto de estudo. autoestima. Trata-se de garantir condições de aprendiza-
O trabalho em grupo, ao valorizar a interação como gem a todos os alunos, seja por meio de incrementos na
instrumento de desenvolvimento pessoal, exige que os intervenção pedagógica ou de medidas extras que aten-
alunos considerem diferenças individuais, tragam contri- dam às necessidades individuais.
buições, respeitem as regras estabelecidas, proponham A escola, ao considerar a diversidade, tem como valor
outras, atitudes que propiciam o desenvolvimento da au- máximo o respeito às diferenças — não o elogio à desi-
gualdade. As diferenças não são obstáculos para o cum-
tonomia na dimensão grupal.
primento da ação educativa; podem e devem, portanto,
É importante salientar que a autonomia não é um es-
ser fator de enriquecimento.
tado psicológico geral que, uma vez atingido, esteja ga-
Concluindo, a atenção à diversidade é um princípio
rantido para qualquer situação. Por um lado, por envolver
comprometido com a equidade, ou seja, com o direito de
a necessidade de conhecimentos e condições específicas,
todos os alunos realizarem as aprendizagens fundamen-
uma pessoa pode ter autonomia para atuar em determi-
tais para seu desenvolvimento e socialização.
nados campos e não em outros; por outro, por implicar
o estabelecimento de relações democráticas de poder e Interação e cooperação
autoridade é possível que alguém exerça a capacidade
de agir com autonomia em algumas situações e não nou- Um dos objetivos da educação escolar é que os alu-
tras, nas quais não pode interferir. É portanto necessário nos aprendam a assumir a palavra enunciada e a convi-
que a escola busque sua extensão aos diferentes campos ver em grupo de maneira produtiva e cooperativa. Dessa
de atuação. Para tanto, é necessário que as decisões as- forma, são fundamentais as situações em que possam
sumidas pelo professor auxiliem os alunos a desenvolver aprender a dialogar, a ouvir o outro e ajudá-lo, a pe-
essas atitudes e a aprender os procedimentos adequa- dir ajuda, aproveitar críticas, explicar um ponto de vis-
dos a uma postura autônoma, que só será efetivamente ta, coordenar ações para obter sucesso em uma tarefa
alcançada mediante investimentos sistemáticos ao longo conjunta, etc. É essencial aprender procedimentos dessa
de toda a escolaridade. natureza e valorizá-los como forma de convívio escolar
É importante ressaltar que a construção da autono- e social. Trabalhar em grupo de maneira cooperativa é
mia não se confunde com atitudes de independência. sempre uma tarefa difícil, mesmo para adultos convenci-
O aluno pode ser independente para realizar uma série dos de sua necessidade.
de atividades, enquanto seus recursos internos para se A criação de um clima favorável a esse aprendizado
governar são ainda incipientes. A independência é uma depende do compromisso do professor em aceitar con-
manifestação importante para o desenvolvimento, mas tribuições dos alunos (respeitando-as, mesmo quando
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

não deve ser confundida com autonomia. apresentadas de forma confusa ou incorreta) e em fa-
vorecer o respeito, por parte do grupo, assegurando a
Diversidade participação de todos os alunos.
Assim, a organização de atividades que favoreçam a
As adaptações curriculares previstas nos níveis de fala e a escrita como meios de reorganização e reconstru-
concretização apontam a necessidade de adequar ob- ção das experiências compartilhadas pelos alunos ocupa
jetivos, conteúdos e critérios de avaliação, de forma a papel de destaque no trabalho em sala de aula. A co-
atender a diversidade existente no País. Essas adapta- municação propiciada nas atividades em grupo levará os
ções, porém, não dão conta da diversidade no plano dos alunos a perceberem a necessidade de dialogar, resolver
indivíduos em uma sala de aula. mal-entendidos, ressaltar diferenças e semelhanças, ex-
plicar e exemplificar, apropriando-se de conhecimentos.

79
O estabelecimento de condições adequadas para a A aprendizagem significativa depende de uma mo-
interação não pode estar pautado somente em questões tivação intrínseca, isto é, o aluno precisa tomar para si a
cognitivas. Os aspectos emocionais e afetivos são tão necessidade e a vontade de aprender. Aquele que estuda
relevantes quanto os cognitivos, principalmente para os apenas para passar de ano, ou para tirar notas, não terá
alunos prejudicados por fracassos escolares ou que não motivos suficientes para empenhar-se em profundidade
estejam interessados no que a escola pode oferecer. A na aprendizagem.
afetividade, o grau de aceitação ou rejeição, a compe- A disposição para a aprendizagem não depende ex-
titividade e o ritmo de produção estabelecidos em um clusivamente do aluno, demanda que a prática didática
grupo interferem diretamente na produção do trabalho. garanta condições para que essa atitude favorável se
A participação de um aluno muitas vezes varia em manifeste e prevaleça. Primeiramente, a expectativa que
função do grupo em que está inserido. o professor tem do tipo de aprendizagem de seus alu-
Em síntese, a disponibilidade cognitiva e emocional nos fica definida no contrato didático estabelecido. Se
dos alunos para a aprendizagem é fator essencial para o professor espera uma atitude curiosa e investigativa,
que haja uma interação cooperativa, sem depreciação deve propor prioritariamente atividades que exijam essa
do colega por sua eventual falta de informação ou in- postura, e não a passividade. Deve valorizar o processo e
compreensão. Aprender a conviver em grupo supõe um a qualidade, e não apenas a rapidez na realização. Deve
domínio progressivo de procedimentos, valores, normas esperar estratégias criativas e originais e não a mesma
e atitudes. resposta de todos.
A organização dos alunos em grupos de trabalho in- A intervenção do professor precisa, então, garantir
fluencia o processo de ensino e aprendizagem, e pode que o aluno conheça o objetivo da atividade, situe-se
ser otimizada quando o professor interfere na organiza- em relação à tarefa, reconheça os problemas que a si-
ção dos grupos. Organizar por ordem alfabética ou por tuação apresenta, e seja capaz de resolvê-los. Para tal, é
idade não é a mesma coisa que organizar por gênero ou necessário que o professor proponha situações didáticas
por capacidades específicas; por isso é importante que o com objetivos e determinações claros, para que os alu-
professor discuta e decida os critérios de agrupamento nos possam tomar decisões pensadas sobre o encami-
dos alunos. Por exemplo: desempenho diferenciado ou
nhamento de seu trabalho, além de selecionar e tratar
próximo, equilíbrio entre meninos e meninas, afinidades
ajustadamente os conteúdos. A complexidade da ativi-
para o trabalho e afetividade, possibilidade de coopera-
dade também interfere no envolvimento do aluno. Um
ção, ritmo de trabalho, etc.
nível de complexidade muito elevado, ou muito baixo,
Não existe critério melhor ou pior de organização de
não contribui para a reflexão e o debate, situação que
grupos para uma atividade. É necessário que o professor
indica a participação ativa e compromissada do aluno
decida a forma de organização social em cada tipo de
no processo de aprendizagem. As atividades propostas
atividade, em cada momento do processo de ensino e
aprendizagem, em função daqueles alunos específicos. precisam garantir organização e ajuste às reais possibili-
Agrupamentos adequados, que levem em conta a diver- dades dos alunos, de forma que cada uma não seja nem
sidade dos alunos, tornam-se eficazes na individualiza- muito difícil nem demasiado fácil. Os alunos devem po-
ção do ensino. der realizá-la numa situação desafiadora.
Nas escolas multisseriadas, as decisões sobre agru- Nesse enfoque de abordagem profunda da aprendi-
pamentos adquirem especial relevância. É possível reunir zagem, o tempo reservado para a atuação dos alunos é
grupos que não sejam estruturados por série e sim por determinante. Se a exigência é de rapidez, a saída mais
objetivos, em que a diferenciação se dê pela exigência comum é estudar de forma superficial. O professor preci-
adequada ao desempenho de cada um. sa buscar um equilíbrio entre as necessidades da apren-
O convívio escolar pretendido depende do estabe- dizagem e o exíguo tempo escolar, coordenando-o para
lecimento de regras e normas de funcionamento e de cada proposta que encaminha.
comportamento que sejam coerentes com os objetivos Outro fator que interfere na disponibilidade do aluno
definidos no projeto educativo. A comunicação clara para a aprendizagem é a unidade entre escola, socieda-
dessas normas possibilita a compreensão pelos alunos de e cultura, o que exige trabalho com objetos socio-
das atitudes de disciplina demonstradas pelos professo- culturais do cotidiano extraescolar, como, por exemplo,
res dentro e fora da classe. jornais, revistas, filmes, instrumentos de medida, etc.,
sem esvaziá-los de significado, ou seja, sem que percam
Disponibilidade para a aprendizagem sua função social real, contribuindo, assim, para imprimir
sentido às atividades escolares.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Para que uma aprendizagem significativa possa acon- Mas isso tudo não basta. Mesmo garantindo todas
tecer, é necessária a disponibilidade para o envolvimento essas condições, pode acontecer que a ansiedade pre-
do aluno na aprendizagem, o empenho em estabelecer sente na situação de aprendizagem se torne muito in-
relações entre o que já sabe e o que está aprendendo, tensa e impeça uma atitude favorável. A ansiedade pode
em usar os instrumentos adequados que conhece e dis- estar ligada ao medo de fracasso, desencadeado pelo
põe para alcançar a maior compreensão possível. Essa sentimento de incapacidade para realização da tarefa ou
aprendizagem exige uma ousadia para se colocar proble- de insegurança em relação à ajuda que pode ou não re-
mas, buscar soluções e experimentar novos caminhos, de ceber de seu professor, ou de seus colegas, e consolidar
maneira totalmente diferente da aprendizagem mecâni- um bloqueio para aprender.
ca, na qual o aluno limita seu esforço apenas em memo-
rizar ou estabelecer relações diretas e superficiais.

80
Quando o sujeito está aprendendo, se envolve intei- Assim, é preciso que o professor defina claramente as
ramente. O processo, assim como seu resultado, repercu- atividades, estabeleça a organização em grupos, disponi-
tem de forma global. Assim, o aluno, ao desenvolver as bilize recursos materiais adequados e defina o período de
atividades escolares, aprende não só sobre o conteúdo execução previsto, dentro do qual os alunos serão livres
em questão mas também sobre o modo como aprende, para tomar suas decisões. Caso contrário, a prática de sala
construindo uma imagem de si como estudante. Essa au- de aula torna-se insustentável pela indisciplina que gera.
toimagem é também influenciada pelas representações Outra questão relevante é o horário escolar, que deve
que o professor e seus colegas fazem dele e, de uma for- obedecer ao tempo mínimo estabelecido pela legislação
ma ou outra, são explicitadas nas relações interpessoais vigente para cada uma das áreas de aprendizagem do cur-
do convívio escolar. Falta de respeito e forte competitivi- rículo. A partir desse critério, e em função das opções do
dade, se estabelecidas na classe, podem reforçar os sen- projeto educativo da escola, é que se poderá fazer a distri-
timentos de incompetência de certos alunos e contribuir buição horária mais adequada.
de forma efetiva para consolidar o seu fracasso. No terceiro e no quarto ciclos, nos quais as aulas se or-
O aluno com um autoconceito negativo, que se con- ganizam por áreas com professores específicos e tempo
sidera fracassado na escola, ou admite que a culpa é sua previamente estabelecido, é interessante pensar que uma
e se convence de que é um incapaz, ou vai buscar ao das maneiras de otimizar o tempo escolar é organizar au-
seu redor outros culpados: o professor é chato, as lições las duplas, pois assim o professor tem condições de propor
não servem para nada. Acaba por desenvolver compor- atividades em grupo que demandam maior tempo (aulas
tamentos problemáticos e de indisciplina. curtas tendem a ser expositivas).
Aprender é uma tarefa árdua, na qual se convive o
tempo inteiro com o que ainda não é conhecido. Para o Organização do espaço
sucesso da empreitada, é fundamental que exista uma
relação de confiança e respeito mútuo entre profes- Uma sala de aula com carteiras fixas dificulta o trabalho
sor e aluno, de maneira que a situação escolar possa em grupo, o diálogo e a cooperação; armários trancados
não ajudam a desenvolver a autonomia do aluno, como
dar conta de todas as questões de ordem afetiva. Mas
também não favorecem o aprendizado da preservação do
isso não fica garantido apenas e exclusivamente pelas
bem coletivo. A organização do espaço reflete a concepção
ações do professor, embora sejam fundamentais dada
metodológica adotada pelo professor e pela escola.
a autoridade que ele representa, mas também deve ser
Em um espaço que expresse o trabalho proposto nos
conseguido nas relações entre os alunos. O trabalho
Parâmetros Curriculares Nacionais é preciso que as carteiras
educacional inclui as intervenções para que os alunos
sejam móveis, que as crianças tenham acesso aos materiais
aprendam a respeitar diferenças, a estabelecer vínculos
de uso frequente, as paredes sejam utilizadas para exposi-
de confiança e uma prática cooperativa e solidária. ção de trabalhos individuais ou coletivos, desenhos, murais.
Em geral, os alunos buscam corresponder às expec- Nessa organização é preciso considerar a possibilidade
tativas de aprendizagem significativa, desde que haja de os alunos assumirem a responsabilidade pela decoração,
um clima favorável de trabalho, no qual a avaliação e ordem e limpeza da classe. Quando o espaço é tratado des-
a observação do caminho por eles percorrido seja, de sa maneira, passa a ser objeto de aprendizagem e respeito,
fato, instrumento de auto-regulação do processo de o que somente ocorrerá por meio de investimentos siste-
ensino e aprendizagem. máticos ao longo da escolaridade.
Quando não se instaura na classe um clima favorá- É importante salientar que o espaço de aprendizagem
vel de confiança, compromisso e responsabilidade, os não se restringe à escola, sendo necessário propor ativi-
encaminhamentos do professor ficam comprometidos. dades que ocorram fora dela. A programação deve contar
com passeios, excursões, teatro, cinema, visitas a fábricas,
Organização do tempo marcenarias, padarias, enfim, com as possibilidades existen-
tes em cada local e as necessidades de realização do traba-
A consideração do tempo como variável que inter- lho escolar.
fere na construção da autonomia permite ao professor No dia-a-dia devem-se aproveitar os espaços externos
criar situações em que o aluno possa progressivamente para realizar atividades cotidianas, como ler, contar histó-
controlar a realização de suas atividades. Por meio de rias, fazer desenho de observação, buscar materiais para
erros e acertos, o aluno toma consciência de suas possi- coleções. Dada a pouca infraestrutura de muitas escolas, é
bilidades e constrói mecanismos de auto-regulação que preciso contar com a improvisação de espaços para o de-
possibilitam decidir como alocar seu tempo. senvolvimento de atividades específicas de laboratório, tea-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Por essa razão, são importantes as atividades em tro, artes plásticas, música, esportes, etc.
que o professor seja somente um orientador do traba- Concluindo, a utilização e a organização do espaço e
lho, cabendo aos alunos o planejamento e a execução, o do tempo refletem a concepção pedagógica e interferem
que os levará a decidir e a vivenciar o resultado de suas diretamente na construção da autonomia.
decisões sobre o uso do tempo.
Delegar esse controle não quer dizer, de modo algum, Seleção de material
que os alunos devam arbitrar livremente a respeito de como
e quando atuar na escola. A vivência do controle do tem- Todo material é fonte de informação, mas nenhum
po pelos alunos se insere dentro de limites criteriosamente deve ser utilizado com exclusividade. É importante haver
estabelecidos pelo professor, que se tornarão menos res- diversidade de materiais para que os conteúdos possam
tritivos à medida que o grupo desenvolva sua autonomia. ser tratados da maneira mais ampla possível.

81
O livro didático é um material de forte influência na Objetivos gerais do ensino fundamental
prática de ensino brasileira. É preciso que os professores
estejam atentos à qualidade, à coerência e a eventuais Os Parâmetros Curriculares Nacionais indicam como
restrições que apresentem em relação aos objetivos edu- objetivos do ensino fundamental que os alunos sejam ca-
cacionais propostos. Além disso, é importante conside- pazes de:
rar que o livro didático não deve ser o único material a - compreender a cidadania como participação social
ser utilizado, pois a variedade de fontes de informação e política, assim como exercício de direitos e deve-
é que contribuirá para o aluno ter uma visão ampla do res políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia,
conhecimento. atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às
Materiais de uso social frequente são ótimos recursos injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o
de trabalho, pois os alunos aprendem sobre algo que tem mesmo respeito;
função social real e se mantêm atualizados sobre o que - posicionar-se de maneira crítica, responsável e
acontece no mundo, estabelecendo o vínculo necessá- construtiva nas diferentes situações sociais, utili-
rio entre o que é aprendido na escola e o conhecimento zando o diálogo como forma de mediar conflitos e
extraescolar. de tomar decisões coletivas;
A utilização de materiais diversificados como jornais, - conhecer características fundamentais do Brasil nas
revistas, folhetos, propagandas, computadores, calcula- dimensões sociais, materiais e culturais como meio
doras, filmes, faz o aluno sentir-se inserido no mundo à para construir progressivamente a noção de iden-
sua volta. tidade nacional e pessoal e o sentimento de perti-
É indiscutível a necessidade crescente do uso de com- nência ao País;
putadores pelos alunos como instrumento de aprendi- - conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio
zagem escolar, para que possam estar atualizados em sociocultural brasileiro, bem como aspectos socio-
relação às novas tecnologias da informação e se ins- culturais de outros povos e nações, posicionando-
trumentalizarem para as demandas sociais presentes e -se contra qualquer discriminação baseada em di-
futuras. ferenças culturais, de classe social, de crenças, de
A menção ao uso de computadores, dentro de um sexo, de etnia ou outras características individuais
amplo leque de materiais, pode parecer descabida peran- e sociais;
te as reais condições das escolas, pois muitas não têm - perceber-se integrante, dependente e agente trans-
sequer giz para trabalhar. formador do ambiente, identificando seus elemen-
Sem dúvida essa é uma preocupação que exige posi- tos e as interações entre eles, contribuindo ativa-
cionamento e investimento em alternativas criativas para mente para a melhoria do meio ambiente;
que as metas sejam atingidas. - desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo
e o sentimento de confiança em suas capacidades
Considerações finais afetiva, física, cognitiva, ética, estética, de inter-
-relação pessoal e de inserção social, para agir
A qualidade da atuação da escola não pode depender com perseverança na busca de conhecimento e no
somente da vontade de um ou outro professor. É preciso a exercício da cidadania;
participação conjunta dos profissionais (orientadores, su- - conhecer e cuidar do próprio corpo, valorizando
e adotando hábitos saudáveis como um dos as-
pervisores, professores polivalentes e especialistas) para
pectos básicos da qualidade de vida e agindo com
tomada de decisões sobre aspectos da prática didática,
responsabilidade em relação à sua saúde e à saúde
bem como sua execução. Essas decisões serão necessa-
coletiva;
riamente diferenciadas de escola para escola, pois depen-
- utilizar as diferentes linguagens — verbal, matemá-
dem do ambiente local e da formação dos professores.
tica, gráfica, plástica e corporal — como meio para
As metas propostas não se efetivarão a curto prazo. É
produzir, expressar e comunicar suas ideias, inter-
necessário que os profissionais estejam comprometidos,
pretar e usufruir das produções culturais, em con-
disponham de tempo e de recursos. Mesmo em condi- textos públicos e privados, atendendo a diferentes
ções ótimas de recursos, dificuldades e limitações sempre intenções e situações de comunicação;
estarão presentes, pois na escola se manifestam os confli- - saber utilizar diferentes fontes de informação e
tos existentes na sociedade. recursos tecnológicos para adquirir e construir
As considerações feitas pretendem auxiliar os profes- conhecimentos;
sores na reflexão sobre suas práticas e na elaboração do - questionar a realidade formulando-se problemas e
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

projeto educativo de sua escola. Não são regras a respei- tratando de resolvê-los, utilizando para isso o pen-
to do que devem ou não fazer. No entanto, é necessário samento lógico, a criatividade, a intuição, a capaci-
estabelecer acordos nas escolas em relação às estratégias dade de análise crítica, selecionando procedimen-
didáticas mais adequadas. A qualidade da intervenção do tos e verificando sua adequação.
professor sobre o aluno ou grupo de alunos, os materiais
didáticos, horários, espaço, organização e estrutura das Estrutura organizacional dos Parâmetros Curricula-
classes, a seleção de conteúdos e a proposição de ati- res Nacionais
vidades concorrem para que o caminho seja percorrido
com sucesso. Todas as definições conceituais, bem como a estru-
tura organizacional dos Parâmetros Curriculares Nacio-
nais, foram pautadas nos Objetivos Gerais do Ensino

82
Fundamental, que estabelecem as capacidades relativas
aos aspectos cognitivo, afetivo, físico, ético, estético, de
EXERCÍCIOS COMENTADOS
atuação e de inserção social, de forma a expressar a for-
mação básica necessária para o exercício da cidadania.
Essas capacidades, que os alunos devem ter adquirido ao 1. (PREF. ITUIUTABA-MG – PROFESSOR DE EDUCA-
término da escolaridade obrigatória, devem receber uma ÇÃO BÁSICA – INSTITUTO EXCELÊNCIA – 2016) Os
abordagem integrada em todas as áreas constituintes do PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais), apresentam
ensino fundamental. A seleção adequada dos elementos quais são os temas transversais que devem estar presen-
da cultura — conteúdos — é que contribuirá para o de- tes no currículo escolar, são eles:
senvolvimento de tais capacidades arroladas como Obje-
tivos Gerais do Ensino Fundamental. a) Meio ambiente, globalização, tecnologia, desenvolvi-
Os documentos das áreas têm uma estrutura comum: mento, solidariedade.
b) Meio ambiente, respeito, cidadania, democracia,
iniciam com a exposição da Concepção de Área para
política.
todo o ensino fundamental, na qual aparece definida a
c) Meio ambiente, ética, saúde, pluralidade cultural,
fundamentação teórica do tratamento da área nos Parâ-
orientação sexual.
metros Curriculares Nacionais. d) Nenhuma das alternativas.
Os Objetivos Gerais de Área, da mesma forma que os
Objetivos Gerais do Ensino Fundamental, expressam ca- RESPOSTA: Letra C.
pacidades que os alunos devem adquirir ao final da esco- Em “c”: Certo – MEC - PCNs – Apresentação dos Te-
laridade obrigatória, mas diferenciam-se destes últimos mas Transversais . O conjunto de temas aqui proposto
por explicitar a contribuição específica dos diferentes (Ética, Meio Ambiente, Pluralidade Cultural, Saúde e
âmbitos do saber presentes na cultura; trata-se, portanto, Orientação Sexual) recebeu o título geral de Temas
de objetivos vinculados ao corpo de conhecimentos de Transversais, indicando a metodologia proposta para
cada área. Os Objetivos Gerais do Ensino Fundamental sua inclusão no currículo e seu tratamento.
e os Objetivos Gerais de Área para o Ensino Fundamen-
tal foram formulados de modo a respeitar a diversidade 2. (PREF. PETRÓPOLIS-RJ – PROFESSOR DE EDUCA-
social e cultural e são suficientemente amplos e abran- ÇÃO BÁSICA – IBFC – 2015) Com base nos Parâme-
gentes para que possam conter as especificidades locais. tros Curriculares Nacionais (PCN), leia o trecho a seguir
O ensinar e o aprender em cada ciclo enfoca as ne- e assinale a alternativa correta: Os conteúdos escolares
cessidades e possibilidades de trabalho da área no ciclo que são ensinados devem estar em consonância com as
e indica os Objetivos de Ciclo por Área, estabelecendo as questões ___________ que marcam cada momento históri-
conquistas intermediárias que os alunos deverão atingir co. Isso requer que a escola seja um espaço de formação
para que progressivamente cumpram com as intenções e informação, em que a aprendizagem de ______________
educativas gerais. Segue-se a apresentação dos Blocos deve necessariamente favorecer a inserção do aluno no
de Conteúdos e/ou Organizações Temáticas de Área por dia a dia das questões sociais marcantes e em um uni-
Ciclo. Esses conteúdos estão detalhados em um texto verso cultural maior. A formação escolar deve propiciar
explicativo dos conteúdos que abrangem e das princi- o desenvolvimento de capacidades, de modo a favorecer
pais orientações didáticas que envolvem. Nesta primeira a compreensão e a intervenção nos fenômenos sociais
fase de definição dos Parâmetros Curriculares Nacionais, e culturais, assim como _____________ aos alunos usufruir
das manifestações culturais nacionais e universais.
segundo prioridade dada pelo Ministério da Educação e
Assinale a alternativa que completa correta e respectiva-
do Desporto, há especificação dos Blocos de Conteúdos
mente as lacunas.
apenas para primeiro e segundo ciclos.
A eleição de objetivos e conteúdos de área por ciclo a) Sociais – conteúdos – possibilitar.
está diretamente relacionada com os Objetivos Gerais do b) Particulares – valores – impossibilitar.
Ensino Fundamental e com os Objetivos Gerais de Área, c) Religiosas – valores – possibilitar.
da mesma forma que também expressa a concepção de d) Sociais – dogmas – possibilitar.
área adotada.
Os Critérios de Avaliação explicitam as aprendizagens RESPOSTA: Letra A.
fundamentais a serem realizadas em cada ciclo e se cons- Em “a”: Certo – Com base nos Parâmetros Curricu-
tituem em indicadores para a reorganização do processo lares Nacionais (PCN): Os conteúdos escolares que
de ensino e aprendizagem. Vale reforçar que tais critérios são ensinados devem, portanto, estar em consonância
não devem ser confundidos com critérios de aprovação e
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

com as questões sociais que marcam cada momento


reprovação de alunos. histórico. Isso requer que a escola seja um espaço de
O último item são as Orientações Didáticas, que dis- formação e informação, em que a aprendizagem de
cutem questões sobre a aprendizagem de determinados conteúdos deve necessariamente favorecer a inserção
conteúdos e sobre como ensiná-los de maneira coerente do aluno no dia-a-dia das questões sociais marcantes
com a fundamentação explicitada anteriormente. e em um universo cultural maior. A formação escolar
deve propiciar o desenvolvimento de capacidades, de
modo a favorecer a compreensão e a intervenção nos
fenômenos sociais e culturais, assim como possibilitar
aos alunos usufruir das manifestações culturais nacio-
nais e universais.

83
3. (PREF. CASCALHO RICO-MG – ESPECIALISTA EM
EDUCAÇÃO – REIS & REIS – 2016) Assinale a alterna- APRENDENDO A APRENDER
tiva INCORRETA em relação aos Parâmetros Curriculares
Nacionais:

a) Organiza os conteúdos em ciclos de três anos a partir Imagine um sistema educacional no qual os alunos
da análise da experiência educacional acumulada em estudam os conteúdos curriculares em suas casas só para
todo o território nacional; depois irem à escola encontrar professores e colegas, ti-
b) Traçam um novo perfil para o currículo, apoiado em rar suas dúvidas e fazer exercícios. Em outras palavras,
competências básicas para a inserção dos jovens na onde a lição de casa é feita em sala e a aula é dada em
vida adulta; orientam os professores quanto ao signi- casa.
ficado do conhecimento escolar quando contextuali- Eis o princípio por trás da metodologia da “sala de
zado e quanto à interdisciplinaridade, incentivando o aula invertida” (Flipped Classroom, em inglês), que pro-
raciocínio e a capacidade de aprender; põe a inversão completa do modelo de ensino. Sua pro-
c) Foram elaborados para difundir os princípios da re- posta é prover aulas menos expositivas, mais produtivas e
forma curricular e orientar os professores na busca de participativas, capazes de engajar os alunos no conteúdo
novas abordagens e metodologias; e melhor utilizar o tempo e conhecimento do professor.
d) Servem como norteadores para professores, coorde- “A metodologia tradicional deixa o aluno num papel
nadores e diretores, que podem adaptá-los às pecu- passivo, simplesmente ouvindo as explicações do profes-
liaridades locais. sor. Ao inverter esse modelo e fazer com que o aluno
assista às aulas fora do ambiente da escola ou universi-
dade, há um aumento na presença e participação em sala
RESPOSTA: Letra A.
de aula”, explica a educadora Andrea Ramal, diretora do
Em “a”: Errado – Os Parâmetros Curriculares Nacio-
GEN | Educação.
nais estão organizados em ciclos de dois anos, mais
Quando um conteúdo totalmente inédito é apresen-
pela limitação conjuntural em que estão inseridos do
tado ao aluno, a introdução se dá, em geral, por meio
que por justificativas pedagógicas. Da forma como es-
de textos e videoaulas que apresentam os conceitos bá-
tão aqui organizados, os ciclos não trazem incompati-
sicos e exercícios resolvidos como exemplos. “A leitura
bilidade com a atual estrutura do ensino fundamental.
antecipada incita o raciocínio prévio e eleva o papel do
Assim, o primeiro ciclo se refere à primeira e segunda professor. Esse passa de expositor para tutor, auxiliando
séries; o segundo ciclo, à terceira e à quarta séries; e e incentivando o aprendizado mais profundo do aluno
assim subsequentemente para as outras quatro séries. quando ele traz dúvidas, raciocínios e discussões prévias”.
Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/ Segundo Andrea, é possível aplicar essa metodologia
pdf/introducao.pdf a todas as disciplinas escolares obtendo o mesmo efeito.
Em “b”: Certo – A alternativa está correta de acordo “Pelos estudos obtidos em diversas instituições em todo
com os PCN. o mundo, há sempre um ganho em relação à metodolo-
Em “c” : Certo – A resposta está preconizada de acordo gia tradicional, independente da disciplina”.
com os PCN. Segundo um levantamento feito na Universidade de
British Columbia, nos Estados Unidos, com professores
Em “d” : Certo – A alternativa contempla os PCN. de Física que aplicaram a metodologia, dentre os quais
Carl Wieman, prêmio Nobel de Física em 2001, houve um
aumento de 20% na presença e 40% na participação dos
alunos com o modelo. Além disso, as notas dos alunos
participantes foram duas vezes maiores que as das clas-
BRINCAR E APRENDER ses que utilizaram a metodologia tradicional.
Na Universidade de Harvard, por sua vez, professores
de Matemática conduziram um estudo de 10 anos em
suas classes de Cálculo e Álgebra e descobriram que alu-
Prezado candidato, o tópico acima já foi abordado nos inscritos em aulas invertidas obtiveram ganhos de 49
anteriormente! a 74% na aprendizagem em relação aos alunos inscritos
em aulas tradicionais.
Nesse contexto, onde praticamente toda a dinâmica
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

da aula se altera, é essencial capacitar o professor para


aplicar o modelo com sucesso. Isso começa, diz Andrea,
em uma mudança de paradigma ou forma de pensar.
“O professor necessita ser convencido que o méto-
do irá facilitar sua vida e a dos alunos. Se não houver
isso, não adianta capacitar, pois o professor estará re-
ticente em usar a metodologia, o que irá atrapalhar seu
desempenho”.
Para o estudo em casa, os alunos contam com recur-
sos como vídeos, textos, áudio, games, entre outros. No
entanto, a metodologia não implica necessariamente em

84
repensar todo o material didático hoje disponível. “Por CURRÍCULO E AVALIAÇÃO
exemplo, a utilização de uma leitura prévia antes da aula
e de deveres de casa já são exemplos de uma sala de aula Este texto tem como propósito propiciar uma reflexão
invertida”, aponta a educadora. sobre aspectos da avaliação escolar que estão presentes
no cotidiano da escola. Pensar a avaliação e seus proces-
REFERÊNCIA sos no âmbito das reflexões acerca do currículo escolar
<http://www.cartaeducacao.com.br/reportagens/ reveste-se de grande importância pelas implicações que
como-funciona-a-sala-de-aula-invertida/> podem ter na formação dos estudantes.
Avaliação é um termo bastante amplo. Avaliamos a
todo instante: “o dia estará quente? Que roupa usar?
Irá chover? A decisão de ontem foi a mais acertada?
Devo levar adiante aquele projeto? Assumo este novo
compromisso?”
Mesmo nos processos de avaliação mais simples,
IDENTIFICAÇÃO DA POPULAÇÃO A SER
sabemos que para tomar determinadas decisões faz-se
ATENDIDA, A ATIVIDADE ECONÔMICA, O ES-
necessário que alguns critérios e princípios sejam consi-
TILO DE VIDA, A CULTURA E AS TRADIÇÕES derados seriamente. Não é o mesmo avaliar a roupa que
iremos usar por conta do clima, se compararmos com a
avaliação que fazemos sobre os rumos de nosso projeto
de vida. As implicações são bem diferentes.
Prezado candidato, o tópico acima já foi abordado
Pois bem, o mesmo acontece na escola. No entan-
em HISTÓRIA DO MUNICÍPIO DE ITABORAÍ!
to, no espaço escolar, nem sempre as decisões estão nas
mãos dos mesmos sujeitos: estudantes, professores, di-
retores, coordenadores, pais, responsáveis. Na maioria
das vezes, a tomada de decisão fica sob a responsabi-
lidade dos professores e/ou do conselho de classe. Isso
INTERAÇÃO SOCIAL; RESOLUÇÃO DE faz com que o peso da avaliação fique redobrado e co-
PROBLEMAS. loca o professor no lugar daquele que deve realizar tal
tarefa a partir de critérios previamente estabelecidos, de
preferência, coletivamente. A avaliação é, portanto, uma
atividade que envolve legitimidade técnica e legitimida-
Prezado candidato, o tópico acima já foi abordado de política na sua realização.
anteriormente! Ou seja, quem avalia, o avaliador, seja ele o professor,
o coordenador, o diretor etc., deve realizar a tarefa com
a legitimidade técnica que sua formação profissional lhe
confere. Entretanto, o professor deve estabelecer e res-
peitar princípios e critérios refletidos coletivamente, re-
ORGANIZAÇÃO DO CURRÍCULO ferenciados no projeto político-pedagógico, na proposta
curricular e em suas convicções acerca do papel social
que desempenha a educação escolar. Este é o lado da
legitimação política do processo de avaliação e que en-
Currículo e Avaliação; volve também o coletivo da escola.
Se a escola é o lugar da construção da autonomia e
INDAGAÇÕES SOBRE CURRÍCULO: CURRÍCULO da cidadania, a avaliação dos processos, sejam eles das
E AVALIAÇÃO aprendizagens, da dinâmica escolar ou da própria ins-
tituição, não deve ficar sob a responsabilidade apenas
Em “Currículo e Avaliação”, de Cláudia de Oliveira Fer- de um ou de outro profissional, é uma responsabilidade
nandes e Luiz Carlos de Freitas, a avaliação é apresentada tanto da coletividade, como de cada um, em particular.
como uma das atividades do processo pedagógico ne- O professor não deve se eximir de sua responsabili-
cessariamente inserida no projeto pedagógico da escola, dade do ato de avaliar as aprendizagens de seus estu-
não podendo, portanto, ser considerada isoladamen- dantes, assim como os demais profissionais devem tam-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

te. Deve ocorrer em consonância com os princípios de bém, em conjunto com os professores e os estudantes,
aprendizagem adotados e com a função que a educação participar das avaliações a serem realizadas acerca dos
escolar tenha na sociedade. A avaliação é apresentada demais processos no interior da escola. Dessa forma,
como responsabilidade coletiva e particular e há defesa ressaltamos a importância do estímulo à autoavaliação,
da importância de questionamentos a conceitos crista- tanto do grupo, quanto do professor.
lizados de avaliação e sua superação. O texto faz consi- Entendendo a avaliação como algo inerente aos pro-
derações não só sobre a avaliação da aprendizagem dos cessos cotidianos e de aprendizagem, na qual todos os
estudantes que ocorre na escola, mas a respeito da ava- sujeitos desses processos estão envolvidos, pretende-
liação da instituição como um todo (protagonismo do mos, com este texto, levar à reflexão de que a avalia-
coletivo de profissionais) e ainda sobre a avaliação do ção na escola não pode ser compreendida como algo à
sistema escolar (responsabilidade do poder público). parte, isolado, já que tem subjacente uma concepção de

85
educação e uma estratégia pedagógica. Também preten- A avaliação é uma atividade orientada para o futuro.
demos estimular a equipe escolar a questionar conceitos Avalia-se para tentar manter ou melhorar nossa atuação
já arraigados no campo da avaliação, bem como desper- futura. Essa é a base da distinção entre medir e avaliar.
tar para novas e possíveis práticas na avaliação escolar. Medir refere-se ao presente e ao passado e visa obter in-
Há a avaliação da aprendizagem dos estudantes, em formações a respeito do progresso efetuado pelos estu-
que o professor tem um protagonismo central, mas há dantes. Avaliar refere-se à reflexão sobre as informações
também a necessária avaliação da instituição como um obtidas com vistas a planejar o futuro. Portanto, medir
todo, na qual o protagonismo é do coletivo dos profis- não é avaliar, ainda que o medir faça parte do processo
sionais que trabalham e conduzem um processo com- de avaliação. Avaliar a aprendizagem do estudante não
plexo de formação na escola, guiados por um projeto começa e muito menos termina quando atribuímos uma
político-pedagógico coletivo. E, finalmente, há ainda a nota à aprendizagem.
avaliação do sistema escolar, ou do conjunto das escolas A educação escolar é cheia de intenções, visa a atingir
de uma rede escolar, na qual a responsabilidade principal determinados objetivos educacionais, sejam estes relati-
é do poder público. Esses três níveis de avaliação não são vos a valores, atitudes ou aos conteúdos escolares.
isolados e necessitam estar em regime de permanentes A avaliação é uma das atividades que ocorre dentro
trocas, respeitados os protagonistas, de forma que se de um processo pedagógico. Este processo inclui outras
obtenha legitimidade técnica e política. ações que implicam na própria formulação dos objetivos
A avaliação, como parte de uma ação coletiva de for- da ação educativa, na definição de seus conteúdos e mé-
mação dos estudantes, ocorre, portanto, em várias esfe- todos, entre outros. A avaliação, portanto, sendo parte de
ras e com vários objetivos. um processo maior, deve ser usada tanto no sentido de
um acompanhamento do desenvolvimento do estudan-
A avaliação e o papel social da educação escolar te, como no sentido de uma apreciação final sobre o que
este estudante pôde obter em um determinado período,
Que relações se estabelecem? sempre com vistas a planejar ações educativas futuras.
Quando a avaliação acontece ao longo do processo, com
o objetivo de reorientá-lo, recebe o nome de avaliação
Até que ponto, nós, professores, refletimos sobre nos-
formativa e quando ocorre ao final do processo, com a
sas ações cotidianas na escola, nossas práticas em sala de
finalidade de apreciar o resultado deste, recebe o nome
aula, sobre a linguagem que utilizamos, sobre aquilo que
de avaliação somativa. Uma não é nem pior, nem melhor
pré-julgamos ou outras situações do cotidiano? Muitas
que a outra, elas apenas têm objetivos diferenciados.
vezes, nosso discurso expressa aquilo que entendemos
como adequado em educação e aquilo que almejamos.
A concepção de educação e a avaliação
Isso tem seu mérito! Contudo, nossas práticas, imbuídas
de concepções, representações e sentidos, ou seja, reple- Para se instaurar um debate no interior da escola, so-
tas de ações que fazem parte de nossa cultura, de nossas bre as práticas correntes de avaliação, é necessário que
crenças, expressam um “certo modo” de ver o mundo. explicitemos nosso conceito de avaliação. Qual a função
Esse “certo modo” de ver o mundo, que está imbricado da avaliação, a partir do papel da educação escolar na
na ação do professor, traz para nossas ações reflexos de sociedade atual? Às vezes, aquilo que parece óbvio não
nossa cultura e de nossas práticas vividas, que ainda es- o é tanto assim. Para que é feita a avaliação na esco-
tão muito impregnados pela lógica da classificação e da la? Qual o lugar da avaliação no processo de ensino e
seleção, no que tange à avaliação escolar. aprendizagem?
Um exemplo diz respeito ao uso das notas escolares Tradicionalmente, nossas experiências em avalia-
que colocam os avaliados em uma situação classificató- ção são marcadas por uma concepção que classifica as
ria. Nossa cultura meritocrática naturaliza o uso das no- aprendizagens em certas ou erradas e, dessa forma, ter-
tas a fim de classificar os melhores e os piores avaliados. mina por separar aqueles estudantes que aprenderam os
Em termos de educação escolar, os melhores seguirão conteúdos programados para a série em que se encon-
em frente, os piores voltarão para o início da fila, refazen- tram daqueles que não aprenderam.
do todo o caminho percorrido ao longo de um período Essa perspectiva de avaliação classificatória e seleti-
de estudos. Essa concepção é naturalmente incorporada va, muitas vezes, torna-se um fator de exclusão escolar.
em nossas práticas e nos esquecemos de pensar sobre o Entretanto, é possível concebermos uma perspectiva de
que, de fato, está oculto e encoberto por ela. avaliação cuja vivência seja marcada pela lógica da inclu-
Em nossa sociedade, de um modo geral, ainda é bas- são, do diálogo, da construção da autonomia, da media-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tante comum as pessoas entenderem que não se pode ção, da participação, da construção da responsabilidade
avaliar sem que os estudantes recebam uma nota pela com o coletivo.
sua produção. Tal perspectiva de avaliação alinha-se com a proposta
Avaliar, para o senso comum, aparece como sinônimo de uma escola mais democrática, inclusiva, que conside-
de medida, de atribuição de um valor em forma de nota ra as infindáveis possibilidades de realização de apren-
ou conceito. Porém, nós, professores, temos o compro- dizagens por parte dos estudantes. Essa concepção de
misso de ir além do senso comum e não confundir avaliar avaliação parte do princípio de que todas as pessoas são
com medir. Avaliar é um processo em que realizar provas capazes de aprender e de que as ações educativas, as es-
e testes, atribuir notas ou conceitos é apenas parte do tratégias de ensino, os conteúdos das disciplinas devem
todo. ser planejados a partir dessas infinitas possibilidades de
aprender dos estudantes.

86
Pode-se perceber, portanto, que as intenções e usos importante, capaz de propiciar maior responsabilidade
da avaliação estão fortemente influenciados pelas con- aos estudantes acerca de seu próprio processo de apren-
cepções de educação que orientam a sua aplicação. dizagem e de construção da autonomia.
Hoje, é voz corrente afirmar-se que a avaliação não A avaliação formativa é aquela em que o professor
deve ser usada com o objetivo de punir, de classificar está atento aos processos e às aprendizagens de seus es-
ou excluir. Usualmente, associa-se mais a avaliação so- tudantes. O professor não avalia com o propósito de dar
mativa a estes objetivos excludentes. Entretanto, tanto uma nota, pois dentro de uma lógica formativa, a nota é
a avaliação somativa quanto a formativa podem levar a uma decorrência do processo e não o seu fim último. O
processos de exclusão e classificação, na dependência professor entende que a avaliação é essencial para dar
das concepções que norteiem o processo educativo. prosseguimento aos percursos de aprendizagem.
A prática da avaliação pode acontecer de diferentes Continuamente, ela faz parte do cotidiano das tare-
maneiras. Deve estar relacionada com a perspectiva para fas propostas, das observações atentas do professor, das
nós coerente com os princípios de aprendizagem que práticas de sala de aula. Por fim, podemos dizer que ava-
adotamos e com o entendimento da função que a educa- liação formativa é aquela que orienta os estudantes para
ção escolar deve ter na sociedade. Se entendermos que a realização de seus trabalhos e de suas aprendizagens,
os estudantes aprendem de variadas formas, em tempos ajudando-os a localizar suas dificuldades e suas poten-
nem sempre tão homogêneos, a partir de diferentes vi- cialidades, redirecionando-os em seus percursos.
vências pessoais e experiências anteriores e, junto a isso, A avaliação formativa, assim, favorece os processos
se entendermos que o papel da escola deva ser o de in- de autoavaliação, prática ainda não incorporada de ma-
cluir, de promover crescimento, de desenvolver possibi- neira formal em nossas escolas.
lidades para que os sujeitos realizem aprendizagens vida Instaurar uma cultura avaliativa, no sentido de uma
afora, de socializar experiências, de perpetuar e construir avaliação entendida como parte inerente do processo e
cultura, devemos entender a avaliação como promotora não marcada apenas por uma atribuição de nota, não é
desses princípios, portanto, seu papel não deve ser o de tarefa muito fácil.
classificar e selecionar os estudantes, mas sim o de auxi- Uma pergunta, portanto, que o coletivo escolar ne-
liar professores e estudantes a compreenderem de forma cessita responder diz respeito às concepções de educa-
mais organizada seus processos de ensinar e aprender. ção que orientam sua prática pedagógica, incluindo o
Essa perspectiva exige uma prática avaliativa que não processo de avaliação. Qual o entendimento que a es-
deve ser concebida como algo distinto do processo de cola construiu sobre sua concepção de educação e de
aprendizagem. avaliação?
Entender e realizar uma prática avaliativa ao longo do Há pelos menos dois aspectos sobre os quais a escola
processo é pautar o planejamento dessa avaliação, bem precisa refletir, como parte de sua concepção de edu-
como construir seus instrumentos, partindo das intera- cação. Um diz respeito à exclusão que ela pode realizar,
ções que vão se construindo no interior da sala de aula caso afaste os estudantes da cultura, do conhecimento
com os estudantes e suas possibilidades de entendimen- escolar e da própria escola, pela indução da evasão por
tos dos conteúdos que estão sendo trabalhados. meio de reprovação, como já foi abordado no texto so-
A avaliação tem como foco fornecer informações bre currículo e cultura.
acerca das ações de aprendizagem e, portanto, não pode Aqui os processos de avaliação podem atuar para le-
ser realizada apenas ao final do processo, sob pena de gitimar a exclusão, dando uma aparência científica à ava-
perder seu propósito. Podemos chamar essa perspectiva liação e transferindo a responsabilidade da exclusão para
de avaliação formativa. o próprio estudante.
Segundo Allal (1986), “os processos de avaliação 1. É fundamental transformar a prática avaliativa em
formativa são concebidos para permitir ajustamentos prática de aprendizagem.
sucessivos durante o desenvolvimento e a experimenta- 2. É necessário avaliar como condição para a mudan-
ção do curriculum”. Perrenoud (1999) define a avaliação ça de prática e para o redimensionamento do pro-
formativa como “um dos componentes de um dispositi- cesso de ensino/aprendizagem.
vo de individualização dos percursos de formação e de 3. Avaliar faz parte do processo de ensino e de apren-
diferenciação das intervenções e dos enquadramentos dizagem: não ensinamos sem avaliar, não apren-
pedagógicos”. demos sem avaliar. Dessa forma, rompe-se com a
Outro aspecto fundamental de uma avaliação forma- falsa dicotomia entre ensino e avaliação, como se
tiva diz respeito à construção da autonomia por parte do esta fosse apenas o final de um processo.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

estudante, na medida em que lhe é solicitado um papel Outro aspecto diz respeito ao papel esperado dos estu-
ativo em seu processo de aprender. Ou seja, a avaliação dantes na escola e o desenvolvimento de sua autonomia
formativa, tendo como foco o processo de aprendiza- e auto direção. Neste caso, a avaliação pode ser usada
gem, numa perspectiva de interação e de diálogo, co- para gerar a subordinação do estudante e não para valo-
loca também no estudante, e não apenas no professor, rizar seu papel como sujeito de direitos com capacidade
a responsabilidade por seus avanços e suas necessida- para decidir.
des. Para tal, é necessário que o estudante conheça os A escola, portanto, não é apenas um local onde se apren-
conteúdos que irá aprender, os objetivos que deverá al- de um determinado conteúdo escolar, mas um espaço
cançar, bem como os critérios que serão utilizados para onde se aprende a construir relações com as “coisas”
verificar e analisar seus avanços de aprendizagem. Nessa (mundo natural) e com as “pessoas” (mundo social).
perspectiva, a autoavaliação torna-se uma ferramenta Essas relações devem propiciar a inclusão de todos e o

87
desenvolvimento da autonomia e auto direção dos estu- estamos avaliando nossos estudantes e crianças, mas as
dantes, com vistas a que participem como construtores aprendizagens que eles realizam. Entre o formal e o in-
de uma nova vida social. formal na avaliação vimos que todo processo avaliativo
A importância dessa compreensão é fundamental para implica na formulação de juízos de valor ou em aprecia-
que se possa, no processo pedagógico, orientar a ava- ções. É próprio do ser humano projetar o seu futuro e,
liação para essas finalidades. Entretanto, isso não retira, depois, comparar com o que conseguiu, de fato, realizar
nem um pouco, a importância da aprendizagem dos con- e emitir um juízo de valor. Pode-se dizer que, nesse sen-
teúdos escolares mais específicos e que são igualmente tido, a avaliação faz parte do ser humano.
importantes para a formação dos estudantes. Se, por um Porém, é importante chamar a atenção para o fato de
lado, a escola deve valorizar a capacidade dos estudantes que se o juízo de valor é algo inerente ao ser humano, o
de criar e expressar sua cultura, por outro, vivendo em uso que é feito de tal juízo, com o objetivo de classificar
um mundo altamente tecnológico e exigente, as contri- e excluir, não é. Em páginas anteriores, vimos como isso
buições já sistematizadas das variadas ciências e das ar- depende da concepção de educação que se quer utilizar.
tes não podem ser ignoradas no trabalho escolar. Na sala de aula, boa parte das atividades que vão sen-
do realizadas tende a gerar juízos de valor por parte de
professores e estudantes. Não é apenas em uma situação
A característica processual da avaliação
de prova que os juízos se desenvolvem tendo por base as
respostas dadas pelos estudantes.
Normalmente, a noção de avaliação é reduzida à me- Esses juízos de valor interferem (para o bem ou para
dição de competências e habilidades que um estudante o mal) nas relações entre os professores e os estudan-
exibe ao final de um determinado período ou processo tes. Não são raras as situações em que os professores
de aprendizagem. Vista assim, a avaliação é uma forma começam a orientar suas estratégias metodológicas em
de se verificar se o estudante aprendeu ou não o conteú- função de seus juízos de valor sobre os estudantes, con-
do ensinado. Embora isso possa fazer parte do conceito figurando uma situação delicada, principalmente quando
de avaliação, ela é mais ampla e envolve também outras os juízos negativos de valor passam a comandar a ação
esferas da sala de aula. metodológica do professor. Nesses casos, há um con-
É sabido, por exemplo, que o professor procura tínuo prejuízo do estudante, pois o preconceito que se
respaldo na avaliação para exercer o controle sobre o forma sobre ele termina por retirar as próprias oportuni-
comportamento dos estudantes na sala de aula. Isso dades de aprendizagem do estudante.
acontece porque a sala de aula isolou-se tanto da vida O acompanhamento dessas situações revela que, ao
real que os motivadores naturais da aprendizagem agirem assim, esses professores terminam por afetar ne-
tiveram que ser substituídos por motivadores artificiais, gativamente a autoimagem do estudante, o que repre-
entre eles a nota. Assim, o estudante estuda apenas para senta um fator contrário à motivação do aluno para a
ter uma nota e não para ter suas possibilidades e leitura aprendizagem. Podemos dizer que a reprovação oficia-
do mundo ampliadas. Isso, é claro, limita os horizontes lizada em uma prova, por exemplo, é de fato, apenas a
da formação do estudante e da própria avaliação. O consequência de uma relação professor-aluno malsuce-
poder de dar uma nota não raramente é usado para dida durante o processo de ensino-aprendizagem.
induzir subordinação e controlar o comportamento do Quando o estudante é reprovado em uma situação
estudante em sala. de prova, de fato, ele já havia sido reprovado, antes, no
Além disso, nem sempre o professor avalia apenas o processo. Foi a relação professor-aluno que o reprovou.
conhecimento que o estudante adquiriu em um deter- Isso deve alertar o professor para a necessidade de uma
minado processo de aprendizagem, mas também seus relação bem-sucedida, motivadora e positiva para com o
estudante durante o processo de aprendizagem, no qual
valores ou atitudes. Dessa forma, ao conceituarmos a
se evite o uso de procedimentos e ações que contribuam
avaliação escolar, realizada nas salas de aula, devemos
para a criação de uma autoimagem negativa.
levar em conta que são vários os aspectos incluídos nesta
Pode-se afirmar, igualmente, que mesmo nas situa-
definição: o conhecimento aprendido pelo estudante e ções de organização curricular baseada em ciclos e em
seu desenvolvimento, o comportamento do estudante e progressão continuada, o fato de se eliminar o poder de
seus valores e atitudes. reprovação dos instrumentos avaliativos não significa
Alguns desses aspectos são avaliados formalmente que não esteja havendo avaliação.
(em provas, por exemplo), mas outros são avaliados in- Tanto os ciclos quanto a progressão continuada, em
formalmente (nas conversas com os estudantes, no dia- algumas situações, permanecem fazendo uso de técni-
-a-dia da sala de aula). Investigar, portanto, como está cas informais de avaliação (observações, trabalhos sem
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ocorrendo a avaliação em sua sala de aula – consideran- critérios muito definidos etc.) inerentes ao processo de
do os aspectos formais e informais – pode ser um bom ensino-aprendizagem que podem até ser mais perversos
começo para aprimorar as práticas avaliativas usadas. que as próprias provas formais, quando usadas com pro-
Em decorrência desses aspectos informais, avaliamos pósito classificatório e excludente.
muito mais do que pensamos avaliar. Nas salas de au- Dessa forma, podemos perceber o quanto é funda-
las, estamos permanentemente emitindo juízos de valor mental avaliar os processos de aprendizagem dos es-
sobre os estudantes (frequentemente de forma pública). tudantes na escola em ciclos. Como fazer com que os
Esses juízos de valores vão conformando imagens e re- estudantes aprendam aquilo que não vêm conseguindo
presentações entre professores e estudantes, entre estu- aprender? É preciso, antes de mais nada, avaliar. Depois,
dantes e professores e entre os próprios estudantes. traçar estratégias e maneiras de intervenção junto aos
Devemos ter em mente que, em nossa prática, não estudantes que favoreçam a aprendizagem.

88
Um equívoco que parece persistir, ainda entre par- uma professora, em dia de prova, muitas vezes diz para
te dos educadores, desde as primeiras experiências com sua turma: “hoje faremos uma avaliação!” Essa fala traz
ciclos básicos e promoção automática no Brasil, é o de uma incorreção conceitual, comum em nosso cotidiano
que combater a reprovação implica em não avaliar o pro- escolar, e importante de ser refletida. Se a avaliação é um
cesso de ensino-aprendizagem dos estudantes, em não processo que não se resume a medir ou verificar apenas,
fazer provas, em não fazer testes, em não atribuir notas como pode ser feito em um dia? A fala adequada da
ou conceitos que reflitam tal processo. professora deveria ser: “Hoje, vamos fazer um exercício
Um outro equívoco ainda parece relacionar-se com que servirá de base para a avaliação de vocês!”.
essa questão: há uma máxima de que os estudantes, ao Ao falarmos de instrumentos utilizados nos proces-
não serem reprovados, não aprendem e saem da escola sos de avaliação, estaremos falando das tarefas que são
sem aprender o básico de leitura, escrita e matemática. planejadas com o propósito de subsidiar, com dados, a
Diz o senso comum que “os estudantes estão sain- análise do professor acerca do momento de aprendiza-
do da escola sem aprender, porque não são avaliados e gem de seus estudantes.
não são reprovados!” Tal equívoco nos remete a outra Há variadas formas de se elaborar instrumentos. Eles
máxima, que já faz parte de nossa cultura escolar: a de podem ser trabalhos, provas, testes, relatórios, interpre-
que a reprovação é garantidora de uma maior qualida- tações, questionários etc., referenciados nos programas
de do ensino. Poderíamos reduzir toda a riqueza do ato gerais de ensino existentes para as redes escolares e que
de educar ao momento da promoção ou retenção dos definem objetivos e conteúdos para uma determinada
estudantes? etapa ou série, ou podem ser referenciados no conhe-
Ora, o que viabiliza uma melhor qualidade de ensino cimento que o professor tem do real estágio de desen-
são professores bem formados e informados; condições volvimento de seus alunos e do percurso que fizeram na
de trabalho; recursos materiais; escolas arejadas, claras aprendizagem.
e limpas, com mobiliário adequado, com espaços de es- É importante ressaltar também que os resultados
tudo, de pesquisa e prazer para professores e estudan- advindos da aplicação dos instrumentos são provisórios
tes, sempre, é claro, fazendo uso dessas condições com e não definitivos. O que o estudante demonstrou não
seriedade e responsabilidade, de maneira a garantir a conhecer em um momento poderá vir a conhecer em
aprendizagem e desenvolvimento dos estudantes. outro. A questão do tempo de aprendizagem de cada
estudante é um fator, na maioria das vezes, pouco levado
O cotidiano e suas possíveis práticas de avaliação em consideração.
das aprendizagens É importante ressaltar ainda que a simples utilização
de instrumentos diferenciados de provas e testes
(memorial, portfólio, caderno de aprendizagens etc.) já
Inúmeras práticas avaliativas permeiam o cotidiano
propicia uma vivência de avaliação distinta da tradicional.
escolar. Em uma mesma escola, ou até em uma sala de
O que queremos dizer é que, muitas vezes, a prática
aula, é possível identificarmos práticas de avaliação con-
concreta leva a uma posterior mudança de concepção
cebidas a partir de diferentes perspectivas teóricas e con-
de avaliação. A descrição dos instrumentos será colocada
cepções pedagógicas e de ensino.
mais adiante. Retomemos agora a discussão acerca de
Isso é natural, uma vez que nossas práticas incorpo-
sua construção.
ram diferentes vivências e modelos, bem como são per- A construção dos instrumentos, quando é feita a
meadas por nossas crenças e princípios, nem sempre tão partir de programas e objetivos gerais, toma como refe-
coerentes assim. A escola, ao longo das décadas, vem rência tais programas e não as aprendizagens reais dos
passando por inúmeras transformações do ponto de vis- estudantes ou do grupo. Se, por um lado, isso faz com
ta das concepções pedagógicas e correntes teóricas. que a questão do tempo de aprendizagem específico
A cada período, podemos considerar que a escola in- de cada estudante seja um fator quase inexistente na
corpora determinadas práticas, rejeita outras, perpetua elaboração desse tipo de instrumento, por outro, é um
outras tantas. No entanto, é importante perceber que, importante fator de geração de equidade entre os obje-
mais do que defender uma ou outra corrente teórica, tivos e conteúdos que se espera que as escolas ensinem
a busca pela coerência nas ações educativas deve ser a seus estudantes. Sem isso, correríamos o risco de que
o norte do professor. Por exemplo, se, como professor, cada professor fixasse o seu próprio conteúdo ou nível
propicio sempre estudos em grupo em sala de aula, no de aprendizagem para seus estudantes. Dessa forma, a
momento de avaliar também devo manter uma certa coe- coleta dos dados obtidos com os instrumentos que se re-
rência com essa metodologia implementada em sala de ferenciam nos programas gerais de ensino revelará aqui-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

aula. Se mobilizo os estudantes a estarem sempre iden- lo que os estudantes aprenderam ou não aprenderam.
tificando informações e pouco promovo situações de Voltaremos a falar desse tipo de instrumento quando
análise e reflexão, tal competência não será cobrada no examinarmos a avaliação de sistemas de ensino.
momento da avaliação. Primeiro ela terá que ser viven- O professor, porém, não necessita e não deve limitar-
ciada pelos estudantes no seu nível de desenvolvimento. -se a esse tipo de instrumento. Ele pode construir outros
que sejam mais sensíveis ao estágio de desenvolvimento
Os instrumentos específico de seus alunos, confiando que tais instrumen-
tos proporcionarão a dimensão da possibilidade, do “vir
É importante reproduzir aqui uma fala recorrente em a saber”, revelando melhor o papel inclusivo da escola e
nossas salas de aula. Nossas falas representam nossas da educação, a crença no potencial do aprendizado do
concepções e ideias sobre as coisas e o mundo. Pois bem, estudante.

89
Se bem planejados e construídos, os instrumentos No entanto, como tornar a avaliação dos processos
(trabalhos, provas, testes, relatórios, portfólios, memo- de aprendizagem dos estudantes mais interativa, dialógi-
riais, questionários etc.) têm fundamental importância ca, formativa? Vimos que a avaliação formativa é aquela
para o processo de aprendizagem ainda que não devam que orienta os estudantes para realização de seus tra-
ser usados apenas para a atribuição de notas na perspec- balhos e de suas aprendizagens, ajudando-os a localizar
tiva de aprovação ou reprovação dos estudantes. suas dificuldades e suas potencialidades, redirecionan-
O que significa um instrumento de avaliação bem ela- do-os em seus percursos.
borado? Certamente, copiar tarefas de livros didáticos ou Nesse sentido, como já vimos, um aspecto funda-
planejar atividades, sem se ter a clareza do que estariam mental de uma avaliação formativa diz respeito à cons-
objetivando, não são boas estratégias para a elaboração trução da autonomia por parte do estudante, na medida
de tais instrumentos. em que lhe é solicitado um papel ativo em seu processo
Um exemplo de prática avaliativa inadequada pode de aprender.
ser visto quando uma tarefa é retirada de um livro di- Além disso, a avaliação formativa considera em que
dático para servir de questão de teste ou prova. Muitas ponto o estudante se encontra em seu processo de
vezes, uma boa atividade de um livro didático não se en- aprendizagem. Para Villas Boas (2004), a avaliação for-
quadra no propósito de avaliar a aprendizagem realizada mativa é criteriada, ou seja, toma como referenciais os
por um estudante, simplesmente porque ela não foi pen- objetivos e os critérios de avaliação, mas ao mesmo tem-
sada com esse fim. po toma como referência o próprio estudante. Isso sig-
Um instrumento mal elaborado pode causar distor- nifica que a análise de seu progresso considera aspectos
ções na avaliação que o professor realiza e suas implica- tais como o esforço despendido, o contexto particular do
ções podem ter consequências graves, uma vez que todo seu trabalho e o progresso alcançado ao longo do tem-
ato avaliativo envolve um julgamento que, no caso da po. Consequentemente, o julgamento de sua produção
educação escolar, significa, em última instância, aprovar e o retorno que lhe será oferecido levarão em conta o
ou reprovar. processo desenvolvido pelo estudante e não apenas os
A elaboração de um instrumento de avaliação ain- critérios estabelecidos para realizar a avaliação. A avalia-
da deverá levar em consideração alguns aspectos ção formativa é realizada ao longo de todo o processo de
importantes:
ensino e aprendizagem.
a) a linguagem a ser utilizada: clara, esclarecedora,
O professor, trabalhando na perspectiva da avaliação
objetiva;
formativa, não está preocupado no dia-a-dia em atribuir
b) a contextualização daquilo que se investiga: em
notas aos estudantes, mas em observar e registrar seus
uma pergunta sem contexto podemos obter inú-
percursos durante as aulas, a fim de analisar as possibi-
meras respostas e, talvez, nenhuma relativa ao que,
lidades de aprendizagem de cada um e do grupo como
de fato, gostaríamos de verificar;
um todo. Pode, dessa forma, planejar e replanejar os pro-
c) o conteúdo deve ser significativo, ou seja, deve ter
significado para quem está sendo avaliado; cessos de ensino, bem como pode planejar as possibi-
d) estar coerente com os propósitos do ensino; lidades de intervenção junto às aprendizagens de seus
e) explorar a capacidade de leitura e de escrita, bem estudantes.
como o raciocínio. O registro da avaliação formativa pode ser feito de di-
Podemos fazer algumas considerações em relação ferentes maneiras. O professor deve encontrar uma for-
aos instrumentos que podem ser utilizados ou construí- ma de documentar os dados que for coletando ao lon-
dos com a finalidade de acompanhar a aprendizagem go do processo. A periodicidade de coleta desses dados
dos estudantes, em vez de fazer uma medição pontual também deve ser realizada de acordo com a realidade
do seu desempenho. de cada grupo e do contexto em geral (possibilidades do
Comumente já encontramos, nas práticas da Educa- professor, turma, escola).
ção Infantil, instrumentos que revelam um processo de O importante não é a forma, mas a prática de uma
avaliação muito voltado ao acompanhamento das apren- concepção de avaliação que privilegia a aprendizagem.
dizagens e desenvolvimento das crianças, ou seja, uma Em uma prática de avaliação formativa, o instrumento de
avaliação incorporada ao cotidiano e ao planejamento registro do professor deve ter o propósito de acompa-
diário. nhar o processo de aprendizagem de seus estudantes.
Sabemos também que, na Educação Infantil, os (as) A finalidade é registrar este acompanhamento, os
professores (as), de um modo geral, já realizam uma ava- avanços e recuos dos estudantes, a fim de informar o
liação muito próxima da formativa, uma vez que exercem professor acerca do processo, para que, assim, possa
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

uma avaliação mais contínua do processo das crianças, mediar e traçar estratégias de ação adequadas a cada
desvinculada da necessidade de pontuá-la com indica- estudante e às suas potencialidades.
dores numéricos ou de outra ordem, para fins de apro- Outros instrumentos de registro podem e devem coe-
vação. As práticas avaliativas na Educação Infantil, de um xistir: planilhas de notas, relatórios do desempenho dos
modo geral, primam pela lógica da inclusão das crianças estudantes, anotações diárias das aulas, diários do pro-
com vistas à sua permanência e continuidade nas cre- fessor, no qual ele anota o que fez, o que foi produtivo,
ches, pré-escolas e escolas de Ensino Fundamental. como poderia ser melhorado, enfim, há uma infinidade
Podemos considerar também que, tradicionalmente, de possibilidades de registro da prática e do crescimen-
nossas experiências, principalmente no Ensino Funda- to dos estudantes e crianças. Na Educação Infantil é co-
mental, são marcadas por uma avaliação classificatória, mum a prática de relatórios discursivos acerca dos pro-
seletiva e, muitas vezes, excludente, como já vimos. cessos das crianças. Os professores costumam registrar

90
sob forma de relatórios tais processos. Nesses registros, Assim sendo, constitui-se um processo contínuo e
é comum os professores relatarem considerações a res- abrangente que considera a criança em sua integralida-
peito do processo de desenvolvimento e aprendizagem de. É considerada como parte inerente do processo de
de cada criança individualmente, do coletivo (da turma formação e, portanto, deve ser parâmetro para o desen-
como um todo) e do seu próprio trabalho. Ao avaliar seu volvimento de todo o trabalho pedagógico na Educação
processo de ensino, o professor poderá considerar mais Infantil.
amplamente o processo de aprendizagem de cada crian- Um procedimento de avaliação que cumpre a função
ça e do coletivo. Portanto, é fundamental considerar que de ser também instrumento de registro e que propicia a
a avaliação das ações de ensino está diretamente relacio- memória dos processos de ensino e de aprendizagem,
nada à avaliação das aprendizagens. tanto para estudantes, quanto para professores, é o
Finalmente, há ainda a possibilidade de se ter instru- portfólio.
mentos destinados a informar aos estudantes e respon- O portfólio é uma tarefa de suma importância para os
sáveis, bem como às secretarias de educação acerca da estudantes e crianças, pois os coloca em contato com sua
aprendizagem dos estudantes. São os registros do tipo aprendizagem constantemente.
boletins, relatórios quantitativos ou qualitativos. Estes Além disso, também é um instrumento de avaliação
são resumos daquilo que foi coletado ao longo de um importante, pois serve para valorizar seu trabalho, seu
período e expressam não o processo, mas o resultado crescimento e suas aprendizagens. No portfólio, os es-
do mesmo. tudantes deixam registrado de maneira concreta o seu
Cabe-nos refletir acerca do papel desses registros. caminho ao longo da escolaridade. Funciona como “um
Seria coerente com a proposta de uma educação voltada baú de memórias”. Ao final do ano ou ciclo, o estudante
para a construção da cidadania e da autonomia, que os terá um dossiê de sua trajetória e poderá ter um acer-
estudantes, por exemplo, só tomassem contato com o fi- vo de material rico para lhe auxiliar nas suas próximas
nal de seu processo de aprendizagem, depois de findo o etapas.
bimestre, trimestre, semestre ou ano? Estariam acompa- Segundo Villas Boas (2004, p.38), “o portfólio é um
nhando seu processo e podendo, dessa forma, ser mais procedimento de avaliação que permite aos alunos par-
autônomos e responsáveis pelo mesmo? ticipar da formulação dos objetivos de sua aprendizagem
No caso da Educação Infantil, essas informações acer- e avaliar seu progresso. Eles são, portanto, participantes
ca da avaliação da aprendizagem, ao longo do processo ativos da avaliação, selecionando as melhores amostras
educativo, geralmente são apresentadas em forma de de seu trabalho para incluí-las no portfólio”. O portfólio
relatórios de grupo e relatórios individuais, ou ainda, por pode constituir-se, tanto para estudantes quanto para
meio de reuniões coletivas ou individuais com pais e/ou
professores, como uma coleção dos trabalhos que con-
responsáveis pelas crianças.
ta a história de seus esforços, progressos, desempenho,
criações, dúvidas etc. Nesse sentido, o portfólio pode ser
Práticas que podem ser incorporadas ao Ensino
considerado um instrumento de registro que serve para
Fundamental.
a avaliação dos processos.
Ao selecionar os trabalhos que comporão o portfólio,
Dentro da perspectiva de uma avaliação contínua,
professores e estudantes devem fazer uma autoavalia-
cumulativa, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na-
cional recomenda às Escolas de Ensino Fundamental, em ção crítica e cuidadosa, a partir dos objetivos estabele-
seu artigo 24: cidos, dos propósitos de cada tarefa ou atividade que
“V - A verificação do rendimento escolar observará os estará compondo o instrumento. Podemos ainda dizer
seguintes critérios: que, além de servir como instrumento de autoavaliação e
a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho de registro da memória dos processos, o portfólio pode
do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos so- ser um instrumento de comunicação com os pais e/ou
bre os quantitativos e dos resultados ao longo do perío- responsáveis. É prática corrente, na Educação Infantil, as
do sobre os de eventuais provas finais...” crianças rememorarem as tarefas que elaboraram duran-
A partir da recomendação legal, estaríamos utilizando te um período, selecionarem e colocarem essas tarefas
os instrumentos de registro de informação do processo em uma pasta que será enviada para casa, a fim de que
de aprendizagem mais adequados? os responsáveis possam ver o que foi realizado no perío-
Lembramos ainda o quanto é fundamental uma prá- do. Ou seja, aquilo que não sabiam bem e agora já sa-
tica que tenha memória. Memória que só pode existir a bem. Entendemos que tal prática possa ser ressignificada
partir do registro dos processos, das descobertas, das para os outros níveis de ensino.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tentativas, dos percursos das turmas. Os conhecimentos Um outro instrumento que facilita a prática de uma
construídos pelos professores ao longo de sua prática, avaliação formativa é o Caderno de Aprendizagens, um
os instrumentos elaborados, os planejamentos feitos, as caderno no qual os estudantes se depararão com suas
atividades realizadas, tudo isso registrado significa a legi- dúvidas e possibilidades de avanço; um caderno de estu-
timação de um saber elaborado a partir da prática. dos paralelos, digamos assim.
Isso fica bastante evidente quando nos reportamos à Pode ser uma iniciativa do próprio estudante ou
Educação Infantil, pois a LDB diz em seu Art. 31 que “na uma prática a ser incorporada pelo professor em seu
Educação Infantil a avaliação far-se-á mediante acom- planejamento.
panhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o
objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao Ensino
Fundamental”.

91
O Caderno de Aprendizagens pode ser utilizado concepção de que se avalia, especialmente, para dar con-
em duas situações: tinuidade à aprendizagem dos estudantes e crianças e
não para medir ou dar notas.
1. Atividades de acompanhamento dos conteúdos
escolares A autoavaliação
São atividades com o propósito de superar as difi-
culdades e dúvidas que tenham ficado dos conteúdos já Algumas práticas que levariam a uma maior autono-
estudados nas aulas. mia e compromisso dos estudantes, a um diálogo mais
Podem ser atividades de áreas variadas, bem como profícuo entre os sujeitos da aprendizagem, à constru-
de apenas uma área. Essa prática pode orientar uma ção do conhecimento de forma mais criativa e menos
maior reflexão quanto ao conteúdo estudado e quanto mecânica ainda continuam distanciadas do cotidiano da
às aprendizagens que o estudante vem realizando. maioria de nossas escolas. Ainda não incorporamos em
2. Registros Reflexivos nossa prática cotidiana, por exemplo, a autoavaliação do
Os registros reflexivos têm por objetivo servir de au- ensino (feita pelo professor) e a autoavaliação da apren-
toavaliação para os estudantes. Podem ser registrados os dizagem (feita pelo aluno). Na maioria das vezes, quando
caminhos que o estudante fez para sanar suas dúvidas, esta é realizada, aparece de forma assistemática ou ape-
para compreender aquilo que ainda não sabia e agora já nas em determinados momentos do ano letivo, quase
sabe, as dúvidas que ainda permanecem. que separada do processo.
Acreditamos que refletir sobre sua própria aprendi- A autoavaliação ainda não se tornou um hábito em
zagem faz com que o estudante adquira uma maior res- nossas salas de aula. Se é papel da escola formar sujei-
ponsabilidade sobre sua escolaridade. Porém, responsa- tos autônomos, críticos, por que ainda não incorpora-
bilidades são aprendidas, construídas. mos tal prática? Por que ainda insistimos em uma ava-
Somente uma prática constante de reflexão e in- liação que não favorece o aprendizado e que não está
corporada como algo natural ao processo pode, com o coerente com nosso discurso atual? Por que insistimos
tempo, levar a uma mudança de postura por parte dos em uma avaliação que coloca todo o processo nas mãos
estudantes. do professor, eximindo assim o estudante de qualquer
Um outro instrumento de avaliação pode ser o Memo- responsabilidade?
rial. Em que consiste e qual seu propósito? O Memorial Ainda hoje, apesar de nossos discursos pedagógicos
se constitui em uma escrita livre do estudante acerca de terem avançado bastante, insistimos em uma avalia-
suas vivências ao longo do ano. Devem ser registrados os ção que não favorece o aprendizado, pois é concebida
avanços, os receios, os sucessos, os medos, as conquis- como algo que não se constitui como parte do processo
tas, as reflexões, sobre todo o processo experienciado. de aprendizagem, mas apenas como um momento de
O propósito do memorial é fazer com que o estudan- verificação.
te tenha um momento de reflexão não apenas de suas Em uma concepção de educação cujo foco do pro-
aprendizagens relativas aos conteúdos específicos, como cesso de ensino e aprendizagem seja o professor, há
já faz no Caderno de Aprendizagens, mas que possa re- coerência com uma prática de avaliação cujos critérios
fletir sobre seu compromisso, seu envolvimento e em que e expectativas estejam somente a cargo do professor.
este está contribuindo para seu crescimento e o cresci- No entanto, orientar a avaliação para uma prática forma-
mento do grupo. É no memorial que o estudante exercita tiva, contemplando a autoavaliação, torna-se um pres-
sua capacidade reflexiva sobre sua atuação, empenhos suposto para avançarmos em direção a uma necessária
e compromisso consigo, com os colegas e professores. coerência com uma concepção mais atual de ensino e
Escrever o Memorial também cumpre o propósito de aprendizagem.
fazer com que o estudante desenvolva sua capacidade Os processos de autoavaliação podem e devem ser
de se expressar por um texto escrito, pois sabemos da individuais e de grupo. Não devem ficar restritos ape-
fundamental importância do estudante saber registrar, nas aos aspectos mais relativos a atitudes e valores. Os
em um texto escrito, suas ideias de forma organizada, estudantes, em todos os níveis de ensino, devem refletir
clara, coerente, desenvolta e correta, no sentido estrito sobre seus avanços não só relativos à sua socialização,
do uso da língua escrita. bem como sobre aqueles relativos às suas aprendizagens
Como desenvolver esse instrumento na Educação específicas.
Infantil? Os mesmos propósitos podem ser trabalhados Ter clareza sobre o que é esperado dele é o primeiro
na Educação Infantil. As crianças podem falar sobre suas passo para que o estudante possa realizar sua autoava-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

conquistas, dúvidas, sucessos, medos. Podem registrar liação. Como poderia saber se estou aprendendo o que
a partir de desenhos, painéis, mímicas etc. As professo- deveria, da forma como deveria, se não sei o que vou
ras podem gravar, escrever pelas crianças, arquivar os aprender? Todos nós, para podermos fazer uma análise
registros. de nossos potenciais e necessidades, em primeiro lugar
Para sintetizar, são aspectos importantes de uma devemos conhecer o que vamos aprender. A autoavalia-
prática de avaliação formativa: utilização de instrumen- ção ainda não faz parte da cultura escolar brasileira.
tos de avaliação diferenciados; autoavaliação que leve a Entretanto, se quisermos sujeitos autônomos, críticos,
uma autorreflexão e maior responsabilidade sobre sua devemos ter consciência de que tal prática deve ser in-
própria aprendizagem, retirando das mãos do profes- corporada ao cotidiano dos planejamentos dos profes-
sor tal responsabilidade; utilização de diferentes formas sores, do currículo, por fim.
de registro da aprendizagem dos estudantes; uma forte

92
Isso, na escola, se traduz em conhecer não só o pro- uma maior qualidade do trabalho pedagógico, avaliação
grama de ensino do ciclo, etapa ou série, mas principal- das metas e princípios estabelecidos no projeto político
mente, as expectativas dos professores, as nossas pró- pedagógico da escola e sua concretização junto aos es-
prias, refletir sobre por que frequentar a escola, sobre tudantes e às turmas, formas de relacionamento da esco-
o que é mais importante aprender e sobre aquilo que la com as famílias etc.
queremos conhecer. Como transformar o conselho de classe em um mo-
Depois, para além disso, é importante que o professor mento de integração e discussão do processo pedagó-
propicie uma prática constante de autoavaliação para os gico? É importante lembrar que para ser um espaço de
estudantes, que se torne uma rotina, incorporada ao pla- discussão coletiva, é importante que os professores pla-
nejamento, com instrumentos elaborados para esse fim nejem suas ações e práticas de forma coletiva, desde o
e, especialmente, que os resultados obtidos da autoa- início. Como traçar estratégias de encaminhamento con-
valiação sejam utilizados, seja em conversas individuais, juntas se as ações não são planejadas em conjunto?
tarefas orientadas ou exercícios de grupo. O processo de Para isso, o conselho de classe, no ensino funda-
avaliação, seja ou não autoavaliação, não se encerra com mental, deve ser convocado periodicamente, visto como
a aplicação de um instrumento e com a análise dos resul- momento de interação entre professores, planejamento,
tados obtidos. Avaliar implica em tomar decisões para o estudo e decisões acerca de como trabalhar com as di-
futuro, a partir desses resultados. ficuldades e as possibilidades apresentadas pelos estu-
A autoavaliação quando realizada no grupo significa dantes. O conselho não deve mais ser entendido como
verificar e avaliar, no coletivo, se os propósitos estabe- momento de fechamento de notas e decisões acerca da
lecidos com o grupo estão sendo contemplados. Nova- aprovação ou reprovação de alunos. É também um espa-
mente, coloca-se a situação do grupo ter conhecimento ço privilegiado para o resgate da dimensão coletiva do
daquilo que é esperado dele, da construção coletiva de trabalho docente.
metas e regras. A partir daí, pode-se então, fazer uma O conselho existe para que as decisões sejam compar-
autoavaliação dos processos do grupo, seja em termos tilhadas. Mas como compartilhar decisões, se não estiver-
mos a par de todo o processo, desde seu planejamento?
atitudinais, seja em relação aos conhecimentos construí-
dos coletiva e individualmente.
Outros espaços de avaliação
A autoavaliação deve favorecer ao estudante a autor-
reflexão acerca de sua postura, suas atitudes individuais e
Embora tenhamos privilegiado o tratamento das
no grupo, seu papel no grupo, seus avanços, seus medos
questões relativas à avaliação da aprendizagem do es-
e conquistas. Deve ajudar na superação das dificuldades
tudante, portanto, com foco na relação professor-estu-
de aprendizagem, naturais a todo e qualquer processo
dante, a sala de aula não é o único espaço em que os
de aprender. processos devem ser avaliados. Muito do que o professor
consegue ou não em seu local de trabalho depende de
O conselho de classe fatores que estão presentes no âmbito da escola e do
sistema de ensino. Tais fatores ou facilitadores precisam
Outro aspecto diretamente relacionado à avaliação igualmente ser avaliados como parte integrante da expli-
diz respeito ao conselho de classe. Esse espaço precisa cação das conquistas e fracassos que possam ocorrer no
ser ressignificado e a sua real função resgatada. Existiria âmbito da sala de aula. Esses outros espaços possuem
espaço mais rico para a discussão dos avanços, progres- seus próprios procedimentos de avaliação.
sos, necessidades dos estudantes e dos grupos? Existi- O espaço mais próximo da sala de aula é o espaço
ria espaço mais privilegiado de troca entre professores da escola como um todo. A escola é uma organização
que trabalham com os mesmos estudantes para traçar complexa com múltiplos atores e interesses.
estratégias de atuação em conjunto que favoreçam os A avaliação da escola é chamada de avaliação insti-
processos de aprender? Não seria o conselho de classe, tucional. Nesta, o ponto de apoio é o projeto político-
o momento no qual deveríamos estudar os desafios de- -pedagógico da escola construído coletivamente e que
correntes da prática? Por fim, o conselho de classe tam- deve orientar o conjunto dos profissionais envolvidos no
bém ajudaria a resgatar a dimensão coletiva do trabalho processo de formação dos estudantes.
docente. No entanto, o conselho de classe, em boa parte O projeto político-pedagógico deve fixar indicadores
das escolas, ou tornou-se uma récita de notas e concei- a serem alcançados pelo coletivo da escola. Indicadores
tos, palco de lamúrias e reclamações ou, simplesmente, não são padrões a serem obedecidos cegamente, mas
inexiste. Acontecendo dessa forma, o conselho de classe marcas que o coletivo da escola espera atingir e para
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

coaduna-se com a perspectiva da avaliação classificatória as quais se organiza. Pode envolver a fixação de índices
e seletiva, perdendo seu potencial. menores de reprovação, índices maiores de domínio de
O espaço do conselho de classe poderia estar desti- leitura ou outro conteúdo específico, expectativas de
nado a traçar estratégias para as intervenções pedagógi- melhoria do clima organizativo da escola etc. Pode en-
cas com os estudantes, com os grupos. Poderia também volver ainda a obtenção de uma melhor articulação com
se constituir em espaço de estudo e discussão acerca de a comunidade local, ou a luta por demandas a serem fei-
questões teóricas que ajudariam na reflexão docente so- tas ao poder público e que sejam vitais para o melhor
bre os desafios que o cotidiano escolar nos impõe: vio- funcionamento da escola.
lência escolar, estudantes com necessidades educativas A avaliação institucional é também uma forma de
especiais, as formas e procedimentos de avaliação dos permitir a melhor organização do coletivo da escola com
professores, construção coletiva de ações que levariam a vistas a uma gestão mais democrática e participativa que

93
permita à coletividade entender quais os pontos fortes e
fracos daquela organização escolar, bem como mobilizar, LÍNGUA PORTUGUESA: LETRAMENTO E
criar e propor alternativas aos problemas. ALFABETIZAÇÃO, PROCESSO DE APREN-
Finalmente, ainda existe o espaço do próprio sistema
DIZAGEM DA LEITURA E DA ESCRITA
ou rede escolar, enquanto o conjunto das escolas per-
tencentes a este. Dentre as várias formas de avaliação
que esta instância comporta, destacamos a avaliação de
rendimento do conjunto dos estudantes pertencentes a ALFABETIZAÇÃO, LEITURA E ESCRITA
uma rede de ensino ou a chamada avaliação de sistema.
Aqui, além do rendimento dos alunos, são feitas avalia- LINGUAGEM ORAL E ESCRITA
ções de fatores associados a tais rendimentos e pesqui-
sadas as características das escolas que podem facilitar #FicaDica
ou dificultar o trabalho do professor e a obtenção dos
resultados esperados pelos alunos. A aprendizagem da linguagem oral e escri-
Essa avaliação, apesar de ser externa à escola, não ta é um dos elementos importantes para as
necessariamente tem que ser externa à rede, ou seja, crianças ampliarem suas possibilidades de
preparada fora da rede avaliada. Ela pode ser construí- inserção e de participação nas diversas prá-
da pelas secretarias de educação de forma a envolver as ticas sociais.
escolas e os professores no próprio processo de elabora-
ção da avaliação, de maneira que esta seja realizada com
legitimidade técnica e política. Os resultados obtidos na O trabalho com a linguagem se constitui um dos ei-
avaliação de sistema devem ser enviados às escolas para xos básicos na educação infantil, dada sua importância
serem usados, tanto na sua avaliação institucional, como para a formação do sujeito, para a interação com as ou-
pelo professor na avaliação da aprendizagem dos alunos. tras pessoas, na orientação das ações das crianças, na
E por fim, temos os sistemas de avaliações nacionais construção de muitos conhecimentos e no desenvolvi-
como SAEB, Prova Brasil, Enem, Enade, que passaram a mento do pensamento.
ser implementados no Brasil ainda nos anos 90 e que Aprender uma língua não é somente aprender as
cumprem a função de traçar para professores, pesqui- palavras, mas também os seus significados culturais, e,
sadores e para a sociedade, em geral, um panorama da com eles, os modos pelos quais as pessoas do seu meio
situação da educação no país, em seus diversos níveis de sociocultural entendem, interpretam e representam a
ensino. Tais sistemas cumprem um papel social impor- realidade.
tante, na medida em que têm como propósito dar sub- A educação infantil, ao promover experiências sig-
sídios para a construção de uma escola de melhor quali- nificativas de aprendizagem da língua, por meio de um
dade. Os resultados dessas grandes avaliações devem ser trabalho com a linguagem oral e escrita, se constitui em
amplamente divulgados e debatidos nas escolas, redes, um dos espaços de ampliação das capacidades de co-
meios de comunicação para que, de fato, se tornem um municação e expressão e de acesso ao mundo letrado
instrumento de democratização do sistema educacional pelas crianças. Essa ampliação está relacionada ao de-
brasileiro. senvolvimento gradativo das capacidades associadas às
quatro competências linguísticas básicas: falar, escutar,
REFERÊNCIA: ler e escrever.
BRASIL: Ministério da Educação. Indagações sobre
currículo: currículo e avaliação / [Cláudia de Oliveira Fer- Presença da linguagem oral e escrita na educação
nandes, Luiz Carlos de Freitas]; organização do docu- infantil: ideias e práticas correntes
mento Jeanete Beauchamp, Sandra Denise Pagel, Aricélia
Ribeiro do Nascimento. – Brasília: Ministério da Educa- A linguagem oral está presente no cotidiano e na prá-
ção, Secretaria de Educação Básica, 2007. tica das instituições de educação infantil à medida que
todos que dela participam: crianças e adultos, falam, se
comunicam entre si, expressando sentimentos e ideias.
As diversas instituições concebem a linguagem e a ma-
neira como as crianças aprendem de modos bastante
diferentes. Em algumas práticas se considera o aprendi-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

zado da linguagem oral como um processo natural, que


ocorre em função da maturação biológica; prescinde-se
nesse caso de ações educativas planejadas com a inten-
ção de favorecer essa aprendizagem.
Em outras práticas, ao contrário, acredita-se que
a intervenção direta do adulto é necessária e determi-
nante para a aprendizagem da criança. Desta concepção
resultam orientações para ensinar às crianças pequenas
listas de palavras, cuja aprendizagem se dá de forma
cumulativa e cuja complexidade cresce gradativamente.
Acredita-se também que para haver boas condições para

94
essa aprendizagem é necessário criar situações em que permissão para escrevê-la sem copiar. Essa concepção
o silêncio e a homogeneidade imperem. Eliminam-se as considera a aprendizagem da linguagem escrita, exclusi-
falas simultâneas, acompanhadas de farta movimentação vamente, como a aquisição de um sistema de codificação
e de gestos, tão comuns ao jeito próprio das crianças se que transforma unidades sonoras em unidades gráficas.
comunicarem. As atividades são organizadas em sequências com o in-
Nessa perspectiva a linguagem é considerada apenas tuito de facilitar essa aprendizagem às crianças, baseadas
como um conjunto de palavras para nomeação de obje- em definições do que é fácil ou difícil, do ponto de vista
tos, pessoas e ações. do professor.
Em muitas situações, também, o adulto costuma imi- Pesquisas realizadas, nas últimas décadas, baseadas
tar a maneira de falar das crianças, acreditando que as- na análise de produções das crianças e das práticas cor-
sim se estabelece uma maior aproximação com elas, uti- rentes, têm apontado novas direções no que se refere
lizando o que se supõe seja a mesma “língua”, havendo ao ensino e à aprendizagem da linguagem oral e escrita,
um uso excessivo de diminutivos e/ou uma tentativa de considerando a perspectiva da criança que aprende. Ao
infantilizar o mundo real para as crianças. se considerar as crianças ativas na construção de conhe-
O trabalho com a linguagem oral, nas instituições de cimentos e não receptoras passivas de informações há
educação infantil, tem se restringido a algumas ativida- uma transformação substancial na forma de compreen-
des, entre elas as rodas de conversa. Apesar de serem der como elas aprendem a falar, a ler e a escrever.
organizadas com a intenção de desenvolver a conversa, A linguagem oral possibilita comunicar ideias, pen-
se caracterizam, em geral, por um monólogo com o pro- samentos e intenções de diversas naturezas, influenciar
fessor, no qual as crianças são chamadas a responder em o outro e estabelecer relações interpessoais. Seu apren-
coro a uma única pergunta dirigida a todos, ou cada um dizado acontece dentro de um contexto. As palavras só
por sua vez, em uma ação totalmente centrada no adulto. têm sentido em enunciados e textos que significam e são
Em relação ao aprendizado da linguagem escrita, significados por situações. A linguagem não é apenas
concepções semelhantes àquelas relativas ao trabalho vocabulário, lista de palavras ou sentenças. É por meio
com a linguagem oral vigoram na educação infantil. do diálogo que a comunicação acontece. São os sujeitos
A ideia de prontidão para a alfabetização está pre- em interações singulares que atribuem sentidos únicos
sente em várias práticas. Por um lado, há uma crença de às falas. A linguagem não é homogênea: há variedades
que o desenvolvimento de determinadas habilidades de falas, diferenças nos graus de formalidade e nas con-
motoras e intelectuais, necessárias para aprender a ler venções do que se pode e deve falar em determinadas
e escrever, é resultado da maturação biológica, havendo situações comunicativas. Quanto mais as crianças pu-
nesse caso pouca influência externa. Por meio de testes derem falar em situações diferentes, como contar o que
considera-se possível detectar o momento para ter iní- lhes aconteceu em casa, contar histórias, dar um recado,
cio a alfabetização. Por outro lado, há os que advogam a explicar um jogo ou pedir uma informação, mais poderão
existência de pré-requisitos relativos à memória auditiva, desenvolver suas capacidades comunicativas de maneira
ao ritmo, à discriminação visual etc., que devem ser de- significativa.
senvolvidos para possibilitar a aprendizagem da leitura e Pesquisas na área da linguagem tendem a reconhe-
da escrita pelas crianças. Assim, os exercícios mimeogra- cer que o processo de letramento está associado tanto
fados de coordenação perceptivo-motora, como passar à construção do discurso oral como do discurso escrito.
o lápis sobre linhas pontilhadas, ligar elementos gráficos Principalmente nos meios urbanos, a grande parte das
(levar o passarinho ao ninho, fazer os pingos da chuva crianças, desde pequenas, está em contato com a lingua-
etc.), tornam-se atividades características das instituições gem escrita por meio de seus diferentes portadores de
de educação infantil. texto, como livros, jornais, embalagens, cartazes, placas
Em outra perspectiva, a aprendizagem da leitura e da de ônibus etc., iniciando-se no conhecimento desses ma-
escrita se inicia na educação infantil por meio de um tra- teriais gráficos antes mesmo de ingressarem na institui-
balho com base na cópia de vogais e consoantes, ensina- ção educativa, não esperando a permissão dos adultos
das uma de cada vez, tendo como objetivo que as crian- para começarem a pensar sobre a escrita e seus usos.
ças relacionem sons e escritas por associação, repetição Elas começam a aprender a partir de informações pro-
e memorização de sílabas. A prática em geral realiza-se venientes de diversos tipos de intercâmbios sociais e a
de forma supostamente progressiva: primeiro as vogais, partir das próprias ações, por exemplo, quando presen-
depois as consoantes; em seguida as sílabas, até chegar ciam diferentes atos de leitura e escrita por parte de seus
às palavras. Outra face desse trabalho de segmentação familiares, como ler jornais, fazer uma lista de compras,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

e sequenciação é a ideia de partir de um todo, de uma anotar um recado telefônico, seguir uma receita culinária,
frase, por exemplo, decompô-la em partes até chegar às buscar informações em um catálogo, escrever uma carta
sílabas. Acrescenta-se a essa concepção a crença de que para um parente distante, ler um livro de histórias etc.
a escrita das letras pode estar associada, também, à vi- A partir desse intenso contato, as crianças começam
vência corporal e motora que possibilita a interiorização a elaborar hipóteses sobre a escrita. Dependendo da im-
dos movimentos necessários para reproduzi-las. portância que tem a escrita no meio em que as crianças
Nas atividades de ensino de letras, uma das sequên- vivem e da frequência e qualidade das suas interações
cias, por exemplo, pode ser: primeiro uma atividade com com esse objeto de conhecimento, suas hipóteses a res-
o corpo (andar sobre linhas, fazer o contorno das letras peito de como se escreve ou se lê podem evoluir mais
na areia ou na lixa etc.), seguida de uma atividade oral lentamente ou mais rapidamente. Isso permite com-
de identificação de letras, cópia e, posteriormente, a preender por que crianças que vêm de famílias nas quais

95
os atos de ler e escrever tem uma presença marcante Crianças de zero a três anos
apresentam mais desenvoltura para lidar com as ques- Orientações didáticas
tões da linguagem escrita do que aquelas provenientes
de famílias em que essa prática não é intensa. Esse fato A aprendizagem da fala se dá de forma privilegiada
aponta para a importância do contato com a escrita nas por meio das interações que a criança estabelece desde
instituições de educação infantil. que nasce. As diversas situações cotidianas nas quais os
Para aprender a ler e a escrever, a criança preci- adultos falam com a criança ou perto dela configuram
sa construir um conhecimento de natureza conceitual: uma situação rica que permite à criança conhecer e apro-
precisa compreender não só o que a escrita representa, priar-se do universo discursivo e dos diversos contextos
mas também de que forma ela representa graficamente nos quais a linguagem oral é produzida. As conversas
a linguagem. Isso significa que a alfabetização não é o com o bebê nos momentos de banho, de alimentação,
desenvolvimento de capacidades relacionadas à percep- de troca de fraldas são exemplos dessas situações. Nes-
ses momentos, o significado que o adulto atribui ao seu
ção, memorização e treino de um conjunto de habilida-
esforço de comunicação fornece elementos para que ele
des sensório-motoras. É, antes, um processo no qual as
possa, aos poucos, perceber a função comunicativa da
crianças precisam resolver problemas de natureza lógica
fala e desenvolver sua capacidade de falar.
até chegarem a compreender de que forma a escrita al- É importante que o professor converse com bebês e
fabética em português representa a linguagem, e assim crianças, ajudando-os a se expressarem, apresentando-
poderem escrever e ler por si mesmas. -lhes diversas formas de comunicar o que desejam, sen-
Quais são as implicações para a prática pedagógica e tem, necessitam etc. Nessas interações, é importante que
quais as principais transformações provocadas por essa o adulto utilize a sua fala de forma clara, sem infantiliza-
nova compreensão do processo de aprendizagem da ções e sem imitar o jeito de a criança falar.
escrita pela criança? A constatação de que as crianças A ampliação da capacidade das crianças de utilizar a
constroem conhecimentos sobre a escrita muito antes do fala de forma cada vez mais competente em diferentes
que se supunha e de que elaboram hipóteses originais contextos se dá na medida em que elas vivenciam ex-
na tentativa de compreendê-la amplia as possibilidades periências diversificadas e ricas envolvendo os diversos
de a instituição de educação infantil enriquecer e dar usos possíveis da linguagem oral. Portanto, eleger a lin-
continuidade a esse processo. Essa concepção supera a guagem oral como conteúdo exige o planejamento da
ideia de que é necessário, em determinada idade, insti- ação pedagógica de forma a criar situações de fala, escu-
tuir classes de alfabetização para ensinar a ler e escrever. ta e compreensão da linguagem.
Aprender a ler e a escrever fazem parte de um longo pro- Além da conversa constante, o canto, a música e a es-
cesso ligado à participação em práticas sociais de leitura cuta de histórias também propiciam o desenvolvimento
e escrita. da oralidade. A leitura pelo professor de textos escritos,
em voz alta, em situações que permitem a atenção e a
Conteúdos escuta das crianças, seja na sala, no parque debaixo de
uma árvore, antes de dormir, numa atividade específica
O domínio da linguagem surge do seu uso em múl- para tal fim etc., fornece às crianças um repertório rico
tiplas circunstâncias, nas quais as crianças podem perce- em oralidade e em sua relação com a escrita.
ber a função social que ela exerce e assim desenvolver O ato de leitura é um ato cultural e social. Quando o
diferentes capacidades. professor faz uma seleção prévia da história que irá con-
tar para as crianças, independentemente da idade delas,
Por muito tempo prevaleceu, nos meios educacionais,
dando atenção para a inteligibilidade e riqueza do tex-
a ideia de que o professor teria de planejar, diariamente,
to, para a nitidez e beleza das ilustrações, ele permite às
novas atividades, não sendo necessário estabelecer uma
crianças construírem um sentimento de curiosidade pelo
relação e continuidade entre elas. No entanto, a apren- livro (ou revista, gibi etc.) e pela escrita. A importância
dizagem pressupõe uma combinação entre atividades dos livros e demais portadores de textos é incorporada
inéditas e outras que se repetem. Dessa forma, a organi- pelas crianças, também, quando o professor organiza o
zação dos conteúdos de Linguagem Oral e Escrita deve ambiente de tal forma que haja um local especial para
se subordinar a critérios que possibilitem, ao mesmo livros, gibis, revistas etc. que seja aconchegante e no
tempo, a continuidade em relação às propostas didáticas qual as crianças possam manipulá-los e “lê-los” seja em
e ao trabalho desenvolvido nas diferentes faixas etárias, momentos organizados ou espontaneamente. Deixar as
e a diversidade de situações didáticas em um nível cres- crianças levarem um livro para casa, para ser lido junto
cente de desafios. com seus familiares, é um fato que deve ser considera-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A oralidade, a leitura e a escrita devem ser trabalhadas do. As crianças, desde muito pequenas, podem construir
de forma integrada e complementar, potencializando-se uma relação prazerosa com a leitura. Compartilhar essas
os diferentes aspectos que cada uma dessas linguagens descobertas com seus familiares é um fator positivo nas
solicita das crianças. Neste documento, os conteúdos aprendizagens das crianças, dando um sentido mais am-
são apresentados em um único bloco para as crianças plo para a leitura.
de zero a três anos, considerando-se a especificidade da Considerando-se que o contato com o maior número
faixa etária. Para as crianças de quatro a seis anos, os possível de situações comunicativas e expressivas resul-
conteúdos são apresentados em três blocos: “Falar e es- ta no desenvolvimento das capacidades linguísticas das
cutar”, “Práticas de leitura” e “Práticas de escrita”. crianças, uma das tarefas da educação infantil é ampliar,
integrar e ser continente da fala das crianças em con-
textos comunicativos para que ela se torne competente

96
como falante. Isso significa que o professor deve ampliar Orientações didáticas
as condições da criança de manter-se no próprio texto
falado. Para tanto, deve escutar a fala da criança, deixan- O trabalho com a linguagem oral deve se orientar
do-se envolver por ela, ressignificando-a e resgatando-a pelos seguintes pressupostos:
sempre que necessário.
Em uma roda de conversa, por exemplo, a professora
pediu que uma criança relatasse o motivo de suas faltas,
explicitada pelo seguinte diálogo:
Criança: Porque sim.
Professor: Porque sim não é resposta. (Ri.)
Criança: Eu “tava” doente.
Professor: Você faltou então porque estava doente? E
que doença você teve? Você sabe?
(Criança faz que não com a cabeça.)
Professor: Não? Você não consegue falar pra gente
como era sua doença?
Criança: Deu umas... era vermelho... que coçava.
Professor: Você teve catapora, que dá umas bolinhas
que se coçar viram feridas, né? Alguém já ouviu falar des-
sa doença? Cabe ao professor, atento e interessado, au-
xiliar na construção conjunta das falas das crianças para O trabalho com as crianças exige do professor uma
torná-las mais completas e complexas. Ouvir atentamen- escuta e atenção real às suas falas, aos seus movimentos,
te o que a criança diz para ter certeza de que entendeu gestos e demais ações expressivas. A fala das crianças
o que ela falou, podendo checar com ela, por meio de traduz seus modos próprios e particulares de pensar e
perguntas ou repetições, se entendeu mesmo o que ela não pode ser confundida com um falar aleatório. Ao con-
quis dizer, ajudará a continuidade da conversa. Para as
trário, cabe ao professor ajudar as crianças a explicita-
crianças muito pequenas uma palavra, como “água”,
rem, para si e para os demais, as relações e associações
pode ser significada pelo adulto, dependendo da situa-
contidas em suas falas, valorizando a intenção comunica-
ção, como: “Ah! Você quer água?”, ou “Você derrubou
água no chão”. Os professores podem funcionar como tiva para dar continuidade aos diálogos.
apoio ao desenvolvimento verbal das crianças, sempre A criação de um clima de confiança, respeito e afeto
buscando trabalhar com a interlocução e a comunicação em que as crianças experimentam o prazer e a neces-
efetiva entre os participantes da conversa. sidade de se comunicar apoiadas na parceria do adul-
O professor tem, também, o importante papel de to, é fundamental. Nessa perspectiva, o professor deve
“evocador” de lembranças. Objetos e figuras podem ser permitir e compreender que o frequente burburinho que
desencadeadores das lembranças das crianças e seu uso impera entre as crianças, mais do que sinal de confusão,
pode ajudar a enriquecer a narrativa delas. é sinal de que estão se comunicando. Esse burburinho
cotidiano é revelador de que dialogam, perguntam e res-
Crianças de quatro a cinco anos pondem sobre assuntos relativos às atividades que estão
desenvolvendo — um desenho, a leitura de um livro etc.
Falar e escutar — ou apenas de que têm intenção de se comunicar.
Ao organizar situações de participação nas quais as
crianças possam buscar materiais, pedir informações ou
fazer solicitações a outros professores ou crianças, elabo-
rar avisos, pedidos ou recados a outras classes ou setores
da instituição etc., o professor possibilita às crianças o
uso contextualizado dos pedidos, perguntas, expressões
de cortesia e formas de iniciar conversação. Deve-se cui-
dar que todos tenham oportunidades de participação.
É importante planejar situações de comunicação que
exijam diferentes graus de formalidade, como conversas,
exposições orais, entrevistas e não só a reprodução de
contextos comunicativos informais.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Uma das formas de ampliar o universo discursivo das


crianças é propiciar que conversem bastante, em situa-
ções organizadas para tal fim, como na roda de conversa
ou em brincadeiras de faz-de-conta. Podem-se organi-
zar rodas de conversa nas quais alguns assuntos sejam
discutidos intencionalmente, como um projeto de cons-
trução de um cenário para brincar, um passeio, a ilustra-
ção de um livro etc. Pode-se, também, conversar sobre

97
assuntos diversos, como a discussão sobre um filme visto relatos por se configurarem como ficção e não como
na TV, sobre a leitura de um livro, um acontecimento re- fato, como realidade; relacionam-se, portanto, com o
cente com uma das crianças etc. construído e não com o real.
A roda de conversa é o momento privilegiado de diá- Uma atividade bastante interessante para se fazer
logo e intercâmbio de ideias. Por meio desse exercício com as crianças é a elaboração de entrevistas. A entrevis-
cotidiano as crianças podem ampliar suas capacidades ta, além de possibilitar que se ressalte a transmissão oral
comunicativas, como a fluência para falar, perguntar, ex- como uma fonte de informações, propicia às crianças
por suas ideias, dúvidas e descobertas, ampliar seu vo- pensarem no assunto que desejam conhecer, nas pes-
cabulário e aprender a valorizar o grupo como instância soas que podem ter as informações de que necessitam
de troca e aprendizagem. A participação na roda permite e nas perguntas que deverão fazer. Para tanto, deve-se
que as crianças aprendam a olhar e a ouvir os amigos, partir dos conhecimentos prévios das crianças sobre en-
trocando experiências. Pode-se, na roda, contar fatos às trevistas para preparar um roteiro de perguntas. É preci-
crianças, descrever ações e promover uma aproximação so, também, pensar sobre a melhor forma de registrar a
com aspectos mais formais da linguagem por meio de fala dos entrevistados. Pode-se incluir essa atividade em
situações como ler e contar histórias, cantar ou entoar projetos que envolvam, por exemplo, o levantamento de
canções, declamar poesias, dizer parlendas, textos de informações junto aos pais sobre a história do nome de
brincadeiras infantis etc. cada um, sobre as histórias da comunidade etc.
A ampliação do universo discursivo das crianças tam- Outra atividade a ser realizada refere-se às apresen-
bém se dá por meio do conhecimento da variedade de tações orais ao vivo, de textos memorizados, nas quais as
textos e de manifestações culturais que expressam mo- crianças reproduzem os mais diferentes gêneros, como
dos e formas próprias de ver o mundo, de viver e pen- histórias, poesias, parlendas etc., em situações que en-
sar. Músicas, poemas, histórias, bem como diferentes volvem público (seu grupo, outras crianças da instituição,
situações comunicativas, constituem-se num rico mate- os pais etc.), como sarau de poesias, recital de parlendas.
rial para isso. Além de propiciar a ampliação do universo Outra possibilidade é a preparação de fitas de áudio ou
cultural, o contato com a diversidade permite conhecer e vídeo para a gravação de poesias, músicas, histórias etc.
aprender a respeitar o diferente.
Algumas crianças, porém, por diversas razões, não Práticas de leitura
chegam a desenvolver habilidades comunicativas por
meio da fala, como, por exemplo, crianças com deficiên-
cia auditiva, algumas portadoras de paralisia cerebral,
autistas etc. Nesses casos, a inclusão das crianças nas ati-
vidades regulares favorece o desenvolvimento de várias
capacidades, como a sociabilidade, a comunicação, entre
outras. Convém salientar que existem certos procedi-
mentos que favorecem a aquisição de sistemas alternati-
vos de linguagem, como a que é feita por meio de sinais,
por exemplo, mas que requerem um conhecimento es-
pecializado. Cabe ao professor da educação infantil uma
ação no cotidiano visando a integrar todas as crianças no
grupo. As crianças com problemas auditivos criam recur-
sos variados para se fazerem entender. O professor deve
também buscar diferentes possibilidades para entender
e falar com elas, valorizando várias formas de expressão.
Além da inclusão em creches e pré-escolas regulares, as
crianças portadoras de necessidades especiais deverão Orientações didáticas
ter paralelamente um atendimento especializado.
A narrativa pode e deve ser a porta de entrada de toda Práticas de leitura para as crianças têm um grande va-
criança para os mundos criados pela literatura. A criança lor em si mesmas, não sendo sempre necessárias ativida-
aprende a narrar por meio de jogos de contar e de histó- des subsequentes, como o desenho dos personagens, a
rias. Como jogos de contar entendem-se as situações em resposta de perguntas sobre a leitura, dramatização das
parceria com o adulto, os jogos de perguntar e respon- histórias etc. Tais atividades só devem se realizar quando
fizerem sentido e como parte de um projeto mais amplo.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

der, em que o adulto, inicialmente, assume a condução


dos relatos sobre acontecimentos, fatos e experiências Caso contrário, pode-se oferecer uma ideia distorcida do
da vida pessoal da criança. Estimulando as perguntas que é ler.
e respostas, o professor propicia o estabelecimento da A criança que ainda não sabe ler convencionalmente
alternância dos sujeitos falantes, ajudando as crianças a pode fazê-lo por meio da escuta da leitura do professor,
detalharem suas narrativas. As histórias, diferentemente ainda que não possa decifrar todas e cada uma das pala-
dos relatos, são textos previamente construídos, estão vras. Ouvir um texto já é uma forma de leitura.
completos. As histórias estão associadas a convenções, É de grande importância o acesso, por meio da leitu-
como “Era uma vez”, frase de abertura formal, “e foram ra pelo professor, a diversos tipos de materiais escritos,
felizes para sempre”, fecho formal. Distinguem-se dos uma vez que isso possibilita às crianças o contato com
práticas culturais mediadas pela escrita.

98
Comunicar práticas de leitura permite colocar as o momento no qual a personagem fala e consultar o tex-
crianças no papel de “leitoras”, que podem relacionar a to, procurando indícios que permitam localizar a palavra
linguagem com os textos, os gêneros e os portadores so- ou trecho procurado.
bre os quais eles se apresentam: livros, bilhetes, revistas, A leitura de histórias é um momento em que a criança
cartas, jornais etc. pode conhecer a forma de viver, pensar, agir e o universo
As poesias, parlendas, trava-línguas, os jogos de pa- de valores, costumes e comportamentos de outras cul-
lavras, memorizados e repetidos, possibilitam às crianças turas situadas em outros tempos e lugares que não o
atentarem não só aos conteúdos, mas também à forma, seu. A partir daí ela pode estabelecer relações com a sua
aos aspectos sonoros da linguagem, como ritmo e rimas, forma de pensar e o modo de ser do grupo social ao qual
além das questões culturais e afetivas envolvidas. pertence. As instituições de educação infantil podem res-
Quando o professor realiza com frequência leituras gatar o repertório de histórias que as crianças ouvem em
de um mesmo gênero está propiciando às crianças opor- casa e nos ambientes que frequentam, uma vez que essas
tunidades para que conheçam as características próprias histórias se constituem em rica fonte de informação so-
de cada gênero, isto é, identificar se o texto lido é, por bre as diversas formas culturais de lidar com as emoções
exemplo, uma história, um anúncio etc. e com as questões éticas, contribuindo na construção da
São inúmeras as estratégias das quais o professor subjetividade e da sensibilidade das crianças.
pode lançar mão para enriquecer as atividades de leitu- Ter acesso à boa literatura é dispor de uma informa-
ra, como comentar previamente o assunto do qual trata ção cultural que alimenta a imaginação e desperta o pra-
o texto; fazer com que as crianças levantem hipóteses zer pela leitura. A intenção de fazer com que as crianças,
sobre o tema a partir do título; oferecer informações que desde cedo, apreciem o momento de sentar para ouvir
situem a leitura; criar um certo suspense, quando for o histórias exige que o professor, como leitor, preocupe-se
caso; lembrar de outros textos conhecidos a partir do em lê-la com interesse, criando um ambiente agradável
texto lido; favorecer a conversa entre as crianças para e convidativo à escuta atenta, mobilizando a expectativa
que possam compartilhar o efeito que a leitura produziu, das crianças, permitindo que elas olhem o texto e as ilus-
trocar opiniões e comentários etc. trações enquanto a história é lida.
Quem convive com crianças sabe o quanto elas gos-
O professor, além de ler para as crianças, pode or- tam de escutar a mesma história várias vezes, pelo prazer
ganizar as seguintes situações de leitura para que elas de reconhecê-la, de apreendê-la em seus detalhes, de
próprias leiam: cobrar a mesma sequência e de antecipar as emoções
que teve da primeira vez. Isso evidencia que a criança
que escuta muitas histórias pode construir um saber so-
bre a linguagem escrita. Sabe que na escrita as coisas
permanecem, que se pode voltar a elas e encontrá-las tal
qual estavam da primeira vez.
Muitas vezes a leitura do professor tem a participa-
ção das crianças, principalmente naqueles elementos da
história que se repetem (estribilhos, discursos diretos, al-
guns episódios etc.) e que por isso são facilmente memo-
rizados por elas, que aguardam com expectativa a hora
de adiantar-se à leitura do professor, dizendo determina-
das partes da história. Diferenciam também a leitura de
uma história do relato oral. No primeiro caso, a criança
espera que o leitor leia literalmente o que o texto diz.
Recontar histórias é outra atividade que pode ser de-
senvolvida pelas crianças. Elas podem contar histórias
conhecidas com a ajuda do professor, reconstruindo o
texto original à sua maneira. Para isso podem apoiar-se
nas ilustrações e na versão lida. Nessas condições, cabe
Nesses casos, os textos mais adequados são as em- ao professor promover situações para que as crianças
balagens comerciais, os folhetos de propaganda, as his- compreendam as relações entre o que se fala, o texto
tórias em quadrinhos e demais portadores que possibi- escrito e a imagem. O professor lê a história, as crianças
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

litam às crianças deduzir o sentido a partir do conteúdo, escutam, observam as gravuras e, frequentemente, de-
da imagem ou foto, do conhecimento da marca ou do pois de algumas leituras, já conseguem recontar a his-
logotipo. tória, utilizando algumas expressões e palavras ouvidas
Os textos de histórias já conhecidos possibilitam ati- na voz do professor. Nesse sentido, é importante ler as
vidades de buscar “onde está escrito tal coisa”. As crian- histórias tal qual estão escritas, imprimindo ritmo à nar-
ças, levando em conta algumas pistas contidas no texto rativa e dando à criança a ideia de que ler significa atri-
escrito, podem localizar uma palavra ou um trecho que buir significado ao texto e compreendê-lo.
até o momento não sabem como se escreve convencio- Para favorecer as práticas de leitura, algumas condi-
nalmente. Podem procurar no livro a fala de alguma per- ções são consideradas essenciais.
sonagem. Para isso, devem recordar a história para situar São elas:

99
da escrita em diferentes circunstâncias, considerando as
condições nas quais é produzida: para que, para quem,
onde e como.

O trabalho com produção de textos deve se cons-


tituir em uma prática continuada, na qual se reproduz
contextos cotidianos em que escrever tem sentido. Deve-
-se buscar a maior similaridade possível com as práticas
de uso social, como escrever para não esquecer alguma
Uma prática constante de leitura deve considerar a informação, escrever para enviar uma mensagem a um
qualidade literária dos textos. A oferta de textos suposta- destinatário ausente, escrever para que a mensagem
mente mais fáceis e curtos, para crianças pequenas, pode atinja um grande número de pessoas, escrever para iden-
resultar em um empobrecimento de possibilidades de tificar um objeto ou uma produção etc.
acesso à boa literatura. O tratamento que se dá à escrita na instituição de
Ler não é decifrar palavras. A leitura é um processo educação infantil pode ter como base a oralidade para
em que o leitor realiza um trabalho ativo de constru- ensinar a linguagem que se usa para escrever. Ditar um
ção do significado do texto, apoiando-se em diferentes texto para o professor, para outra criança ou para ser
estratégias, como seu conhecimento sobre o assunto, gravado em fita cassete é uma forma de viabilizar a pro-
sobre o autor e de tudo o que sabe sobre a linguagem dução de textos antes de as crianças saberem grafá-los.
escrita e o gênero em questão. O professor não precisa É em atividades desse tipo que elas começam a participar
omitir, simplificar ou substituir por um sinônimo familiar de um processo de produção de texto escrito, construin-
as palavras que considera difíceis, pois, se o fizer, correrá do conhecimento sobre essa linguagem, antes mesmo
o risco de empobrecer o texto. A leitura de histórias é que saibam escrever autonomamente.
uma rica fonte de aprendizagem de novos vocabulários. Ao participar em atividades conjuntas de escrita a
Um bom texto deve admitir várias interpretações, supe- criança aprende a:
rando-se, assim, o mito de que ler é somente extrair in-
formação da escrita.

Práticas de escrita
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Orientações didáticas

Na instituição de educação infantil, as crianças po-


dem aprender a escrever produzindo oralmente textos
O professor pode chamar a atenção sobre a estrutura
com destino escrito. Nessas situações o professor é o es-
do texto, negociar significados e propor a substituição
criba. A criança também aprende a escrever, fazendo-o
do uso excessivo de “e”, “aí”, “daí” por conectivos mais
da forma como sabe, escrevendo de próprio punho. Em
adequados à linguagem escrita e de expressões que mar-
ambos os casos, é necessário ter acesso à diversidade
cam temporalidade, causalidade etc., como “de repente”,
de textos escritos, testemunhar a utilização que se faz
“um dia”, “muitos anos depois” etc. A reelaboração dos

100
textos produzidos, realizada coletivamente com o apoio uso, quando têm problemas a resolver e precisam colo-
do professor, faz com que a criança aprenda a conce- car em jogo tudo o que sabem para fazer o melhor que
ber a escrita como processo, começando a coordenar os podem.
papéis de produtor e leitor a partir da intervenção do As crianças que não sabem escrever de forma con-
professor ou da parceria com outra criança durante o vencional, ao receberem um convite para fazê-lo, estão
processo de produção. diante de uma verdadeira situação-problema, na qual se
As crianças e o professor podem tentar melhorar o pode observar o desenvolvimento do seu processo de
texto, acrescentando, retirando, deslocando ou transfor- aprendizagem. Tal prática deve favorecer a construção
mando alguns trechos com o objetivo de torná-lo mais de escritas de acordo com as ideias construídas pelas
legível para o leitor, mais claro ou agradável de ler. crianças e promover a busca de informações específicas
No caso das crianças maiores, o ditado entre pares de que necessitem, tanto nos textos disponíveis como re-
favorece muito a aprendizagem, pois elas se ajudam correndo a informantes (outras crianças e o professor). O
mutuamente. Quando uma criança dita e outra escreve, fato de as escritas não convencionais serem aceitas não
aquela que dita atua como revisora para a que escreve, significa ausência de intervenção pedagógica. O conhe-
por meio de diversas ações, como ler o que já foi escrito cimento sobre a natureza e o funcionamento do sistema
para não correr o risco de escrever duas vezes a mesma de escrita precisa ser construído pelas crianças com a
palavra, diferenciar o que “já está escrito” do que “ainda ajuda do professor. Para que isso aconteça é preciso que
não está escrito” quando a outra se perde, observar a ele considere as ideias das crianças ao planejar e orientar
conexão entre os enunciados, ajudar a pensar em quais as atividades didáticas com o objetivo de desencadear
letras colocar e pesquisar, em caso de dúvida, buscando e apoiar as suas ações, estabelecendo um diálogo com
palavras ou parte de palavras conhecidas em outro con- elas e fazendo-as avançar nos seus conhecimentos. As
texto etc. crianças podem saber de cor os textos que serão escritos,
Saber escrever o próprio nome é um valioso conhe- como, por exemplo, uma parlenda, uma poesia ou uma
cimento que fornece às crianças um repertório básico de letra de música.
letras que lhes servirá de fonte de informação para pro- Nessas atividades, as crianças precisam pensar sobre
duzir outras escritas. A instituição de educação infantil quantas e quais letras colocar para escrever o texto, usar
deve preocupar-se em marcar os pertences, os objetos o conhecimento disponível sobre o sistema de escrita,
pessoais e as produções das crianças com seus nomes. buscar material escrito que possa ajudar a decidir como
É importante realizar um trabalho intencional que leve grafar etc.
ao reconhecimento e reprodução do próprio nome para
que elas se apropriem progressivamente da sua escrita As crianças de um grupo encontram-se, em geral,
convencional. A coleção dos nomes das crianças de um em momentos diferentes no processo de construção
mesmo grupo, registrados em pequenas tiras de papel, da escrita. Essa diversidade pode resultar em ganhos
pode estar afixada em lugar visível da sala. Os nomes po- no desenvolvimento do trabalho. Daí a importância de
dem estar escritos em letra maiúscula, tipo de imprensa uma prática educativa que aceita e valoriza as diferenças
(conhecida também como letra de fôrma), pois, para a individuais e fomenta a troca de experiências e conhe-
criança, inicialmente, é mais fácil imitar esse tipo de le- cimentos entre as crianças. As atividades de escrita e de
tra. Trata-se de uma letra mais simples do ponto de vista produção de textos são muito mais interessantes, por-
gráfico que possibilita perceber cada caractere, não dei- tanto, quando se realizam num contexto de interação.
xando dúvidas sobre onde começa e onde termina cada No processo de aprendizagem, o que num dado mo-
letra. mento uma criança consegue realizar apenas com ajuda,
As atividades de reescrita de textos diversos devem posteriormente poderá ser feito com relativa autonomia.
se constituir em situações favoráveis à apropriação das A criação de um clima favorável para o trabalho
características da linguagem escrita, dos gêneros, con- em grupo possibilita ricos intercâmbios comunicativos
venções e formas. Essas situações são planejadas com de enorme valor social e educativo. Para que a intera-
o objetivo de eliminar algumas dificuldades inerentes à ção grupal cumpra seu papel, é preciso que as crianças
produção de textos, pois consistem em recriar algo a par- aprendam a trabalhar juntas. Para que desenvolvam essa
tir do que já existe. capacidade, é necessário um trabalho intencional e sis-
Essas situações são aquelas nas quais as crianças temático do professor para organizar as situações de
reescrevem um texto que já está escrito por alguém e interação considerando a heterogeneidade dos conhe-
que não é reprodução literal, mas uma versão própria de cimentos das crianças. Além disso, é importante que o
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

um texto já existente. professor escolha as crianças que possam se informar


Podem reescrever textos já escritos e para tal pre- mutuamente, favoreça os intercâmbios, pontue as difi-
cisam retirar ou acrescentar elementos com relação ao culdades de entendimento, ajude a percepção de deta-
texto original. Pode-se propor às crianças que reescre- lhes do texto etc. Deixando de ser o único informante, o
vam notícias da atualidade que saíram no jornal que lhes professor pode organizar grupos, ou duplas de crianças
interessou, ou uma lenda, uma história etc. que possuam hipóteses diferentes (porém próximas) so-
Nas atividades de escrita, parte-se do pressuposto bre a língua escrita, o que favorece intercâmbios mais fe-
que as crianças se apropriam dos conteúdos, transfor- cundos. As crianças podem utilizar a lousa ou letras mó-
mando-os em conhecimento próprio em situações de veis e, ao confrontar suas produções, podem comparar
suas escritas, consultarem-se, corrigirem-se, socializarem
ideias e informações etc.

101
Para favorecer as práticas de escrita, algumas condi- Projetos
ções são consideradas essenciais. São elas:
Os projetos permitem uma interseção entre conteú-
dos de diferentes eixos de trabalho. Há projetos que vi-
sam o trabalho específico com a linguagem, seja oral ou
escrita, levando em conta as características e função pró-
prias do gênero. Nos projetos relacionados aos outros
eixos de trabalho, é comum que se faça uso do registro
escrito como recurso de documentação. Elaborar um li-
vro de regras de jogos, um catálogo de coleções ou um
fascículo informativo sobre a vida dos animais, por exem-
plo, podem ser produtos finais de projetos.
Da mesma forma, preparar uma entrevista ou uma
comunicação oral, como um convite para que outro gru-
po venha assistir a uma apresentação, são atividades que
podem integrar projetos de diversas áreas. Os projetos
de linguagem oral podem propor, por exemplo, a grava-
ORIENTAÇÕES GERAIS PARA O PROFESSOR ção em fita cassete de histórias contadas pelas famílias
para fazer uma coleção para a sala, ou de parlendas, ou,
Organização do tempo ainda, de brincadeiras cantadas para o acervo de brinca-
deiras da instituição ou para outro lugar a ser definido
Atividades permanentes pelo professor e pelas crianças. A pesquisa e o reconto
de casos ou histórias da tradição oral envolvendo as fa-
Contar histórias costuma ser uma prática diária nas mílias e a comunidade, que contarão sobre as histórias
instituições de educação infantil. Nesses momentos, que povoam suas memórias, é outro projeto que oferece
além de contar, é necessário ler as histórias e possibilitar ricas possibilidades de trabalho com a linguagem oral.
seu reconto pelas crianças. É possível também a leitura Pode-se também organizar saraus literários nos quais
compartilhada de livros em capítulos, o que possibilita as crianças escolhem textos (histórias, poesias, parlen-
às crianças o acesso, pela leitura do professor, a textos das) para contar ou recitar no dia do encontro. Elaborar
mais longos. um documentário em vídeo ou exposição oral sobre o
Outra atividade permanente interessante é a roda de que as crianças sabem de assuntos tratados num proje-
leitores em que periodicamente as crianças tomam em- to de outro eixo, como, por exemplo, instruções sobre
prestado um livro da instituição para ler em casa. No dia como se faz uma pipa.
previamente combinado, as crianças podem relatar suas No que se refere à linguagem escrita, os projetos fa-
impressões, comentar o que gostaram ou não, o que vorecem o planejamento do texto por meio da elabora-
pensaram, comparar com outros títulos do mesmo autor, ção de rascunhos, revisão (com ajuda) e edição (capa, de-
contar uma pequena parte da história para recomendar dicatória, índice, ilustrações etc.), na busca de uma bem
o livro que a entusiasmou às outras crianças. cuidada apresentação do produto final.
A leitura e a escrita também podem fazer parte das Os diversos textos que podem ser produzidos em
atividades diversificadas, por meio de ambientes orga- cada projeto devem utilizar modelos de referência cor-
nizados para: respondentes aos gêneros com os quais se está traba-
lhando. É aconselhável que sejam apresentados textos
impressos de diferentes autores. Se o texto for um cartaz,
devem-se apresentar às crianças alguns cartazes sobre
diversos assuntos, para que elas possam perceber como
são organizados, como o texto é escrito, como são as
imagens etc. Se for um jornal, é necessário que as crian-
ças possam identificar, entre outras coisas, as diversas se-
ções que o compõem, como se caracteriza uma manche-
te, uma propaganda, uma seção de classificados etc. Para
se montar uma história em quadrinhos, é necessário o
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

conhecimento de vários tipos de histórias em quadrinhos


para que as crianças conheçam melhor suas característi-
cas. Pode-se identificar os principais temas que envol-
vem cada personagem, os recursos de imagens usadas
etc. Assim, se amplia o repertório em uso pelas crianças
e elas avançam no conhecimento desse tipo de texto. Ao
final, as crianças podem produzir as próprias histórias em
quadrinhos.
Os projetos que envolvem a escrita podem resultar
em diferentes produtos: uma coletânea de textos de um
mesmo gênero (poemas, contos de fadas, lendas etc.);

102
um livro sobre um tema pesquisado (a vida dos tubarões, viabilizar o diálogo entre interlocutores distantes ou que
das formigas etc.); um cartaz sobre cuidados com a saúde não se encontram no mesmo ambiente; para realizar en-
ou com as plantas, para afixar no mural da instituição; um trevistas; para troca de informações, entre outras possibi-
jornal; um livro das receitas aprendidas com os pais que lidades. Pode ser utilizado para gravar histórias contadas
estiverem dispostos a ir preparar um prato junto com as pelas crianças por meio de um rodízio de contadores.
crianças; produção de cartas para correspondência com Nessa situação, as crianças podem observar o tom e
outras instituições etc. o ritmo de suas falas, refletir sobre a melhor entonação a
Pode-se planejar projetos específicos de leitura, arti- ser dada em cada momento da história etc.
culados ou não com a escrita: produzir uma fita cassete Outra possibilidade interessante é utilizar a gravação
de contos ou poesias recitadas por um grupo, para ouvir das rodas de conversa ou outras situações de interlocu-
em casa ou para enviar a uma turma de outra instituição; ção. Com isso, o professor pode promover novas ativi-
elaborar um álbum de figuras (de animais ou de plantas, dades para que as crianças reformulem suas perguntas,
de fotos, de ícones diversos, de logotipos da publicidade justifiquem suas opiniões, expliquem a informação que
ou marcas de produtos etc.) colecionadas pelas crianças; possuem, explicitem desacordos.
elaborar uma antologia de letras das músicas prediletas Além disso, o gravador é também um excelente ins-
do grupo, para recordá-las e poder cantá-las; elaborar trumento para que o professor tenha documentado o
uma coletânea de adivinhas para “pegar” os pais e ir- que aconteceu e possa a partir daí, refletir, avaliar e reo-
mãos etc. rientar sua prática.
O trabalho com a escrita pode ser enriquecido por
Sequência de atividades meio da utilização do computador. Ainda são poucas as
instituições infantis que utilizam computadores na sua
Nas atividades sequenciadas de leitura, pode-se ele- prática, mas esse recurso, quando possível, oferece opor-
ger temporariamente, textos que propiciem conhecer tunidades para que as crianças tenham acesso ao manu-
a diversidade possível existente dentro de um mesmo seio da máquina, ao uso do teclado, a programas simples
gênero, como por exemplo, ler o conjunto da obra de de edição de texto, sempre com a ajuda do professor.
um determinado autor ou ler diferentes contos sobre sa-
ci-pererê, dragões ou piratas, ou várias versões de uma Observação, registro e avaliação formativa
mesma lenda etc.
A avaliação é um importante instrumento para que o
Os recursos didáticos e sua utilização professor possa obter dados sobre o processo de apren-
dizagem de cada criança, reorientar sua prática e elabo-
Dentre os principais recursos que precisam estar dis- rar seu planejamento, propondo situações capazes de
poníveis na instituição de educação infantil estão os tex- gerar novos avanços na aprendizagem das crianças.
tos, trazidos para a sala do grupo nos seus portadores de A avaliação deve se dar de forma sistemática e con-
origem, isto é, nos livros, jornais, revistas, cartazes, cartas tínua ao longo de todo o processo de aprendizagem. É
etc. É necessário que esses materiais sejam colocados à aconselhável que se faça um levantamento inicial para
disposição das crianças para serem manuseados. Algu- obter as informações necessárias sobre o conhecimento
mas vezes, por medo de que os livros se estraguem, aca- prévio que as crianças possuem sobre a escrita, a leitu-
ba-se restringindo o acesso a eles. Deve-se lembrar, no ra e a linguagem oral, sobre suas diferenças individuais,
entanto, que a aprendizagem em relação aos cuidados sobre suas possibilidades de aprendizagem e para que,
no manuseio desses materiais implica em procedimentos com isso, se possa planejar a prática, selecionar conteú-
e valores que só poderão ser aprendidos se as crianças dos e materiais, propor atividades e definir objetivos com
puderem manuseá-los. uma melhor adequação didática.
Além disso, sempre que possível, a organização do As situações de avaliação devem se dar em atividades
espaço físico deve ser aconchegante, com almofadas, ilu- contextualizadas para que se possa observar a evolução
minação adequada e livros, revistas etc. organizados de das crianças. É possível aproveitar as inúmeras ocasiões
modo a garantir o livre acesso às crianças. Esse acervo em que as crianças falam, leem e escrevem para se fazer
deve conter textos dos mais variados gêneros, oferecidos um acompanhamento de seu progresso. A observação
em seus portadores de origem: livros de contos, poesia, é o principal instrumento para que o professor possa
enciclopédias, dicionários, jornais, revistas (infantis, em avaliar o processo de construção da linguagem pelas
quadrinhos, de palavras cruzadas), almanaques etc. Tam- crianças.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

bém aqueles que são produzidos pelas crianças podem Em uma avaliação formativa é importante a devolu-
compor o acervo: coletâneas de contos, de trava-línguas, ção do processo de aprendizagem à criança, isto é, o re-
de adivinhas, brincadeiras e jogos infantis, livros de nar- torno que o professor dá para as crianças a respeito de
rativas, revistas, jornais etc. Se possível, é interessante ter suas conquistas e daquilo que já aprenderam. Por exem-
também vários exemplares de um mesmo livro ou gibi. plo: “Você já sabe escrever o seu nome”, “Você já conse-
Isso facilita os momentos de leitura compartilhada com o gue falar o nome do seu amigo”, “Você já consegue ler o
professor ou entre as crianças. nome de fulano” etc. É imprescindível que os parâmetros
O gravador é um importante recurso didático por de avaliação tenham estreita relação com as situações
permitir que se ouça posteriormente o que se falou. didáticas propostas às crianças.
Pode ser usado para a organização de acervos ou cole-
tâneas de histórias, poesias, músicas, “causos” etc.; para

103
São consideradas experiências prioritárias para as anotações como observador da produção de cada uma.
crianças de zero a três anos a utilização da linguagem Com esse material, é possível fazer um acompanhamen-
oral para se expressar e a exploração de materiais es- to periódico da aprendizagem e formular indicadores
critos. Para isso, é preciso que as crianças participem de que permitam ter uma visão da evolução de cada criança.
situações nas quais possam conversar e interagir ver- Mesmo sem a exigência de que as crianças estejam
balmente, ouvir histórias contadas e lidas pelo profes- alfabetizadas aos seis anos, todos os aspectos envolvi-
sor, presenciar diversos atos de escrita realizados pelo dos no processo da alfabetização devem ser considera-
professor, ter acesso a diversos materiais escritos, como dos. Os critérios de avaliação devem ser compreendidos
livros, revistas, embalagens etc. Há um conjunto de in- como referências que permitem a análise do seu avanço
dícios que permitem observar se as oportunidades ofe- ao longo do processo, considerando que as manifesta-
recidas para as crianças dessa faixa etária têm sido su- ções desse avanço não são lineares, nem idênticas entre
ficientes para que elas se familiarizem com as práticas as crianças.
culturais que envolvem a leitura e a escrita. Por exemplo,
se a criança pede que o professor leia histórias, se procu- A CRIANÇA, O NÚMERO E OS JOGOS;
ra livros e outros textos para ver, folhear e manusear, se
brinca imitando práticas de leitura e escrita. O professor A criança e a matemática
pode também observar se a criança reconhece e utiliza
gestos, expressões fisionômicas e palavras para comuni- As noções matemáticas (contagem, relações quanti-
car-se e expressar-se; se construiu um repertório de pa- tativas e espaciais etc.) são construídas pelas crianças a
lavras, frases e expressões verbais para fazer perguntas partir das experiências proporcionadas pelas interações
e pedidos; se é capaz de escutar histórias e relatos com com o meio, pelo intercâmbio com outras pessoas que
atenção e prazer etc. possuem interesses, conhecimentos e necessidades que
A partir dos quatro e até os seis anos, uma vez que podem ser compartilhados. As crianças têm e podem ter
tenham tido muitas oportunidades na instituição de várias experiências com o universo matemático e outros
educação infantil de vivenciar experiências envolvendo que lhes permitem fazer descobertas, tecer relações, or-
a linguagem oral e escrita, pode-se esperar que as crian- ganizar o pensamento, o raciocínio lógico, situar-se e lo-
ças participem de conversas, utilizando-se de diferentes calizar-se espacialmente. Configura-se desse modo um
recursos necessários ao diálogo; manuseiem materiais quadro inicial de referências lógico-matemáticas que re-
escritos, interessando-se por ler e por ouvir a leitura querem outras, que podem ser ampliadas. São manifes-
de histórias e experimentem escrever nas situações nas tações de competências, de aprendizagem advindas de
quais isso se faça necessário, como, por exemplo, marcar processos informais, da relação individual e cooperativa
seu nome nos desenhos. Para que elas possam vivenciar da criança em diversos ambientes e situações de diferen-
essas experiências, é necessário oferecer oportunidades tes naturezas, sobre as quais não se tem planejamento
para que façam perguntas; elaborem respostas; ouçam e controle. Entretanto, a continuidade da aprendizagem
as colocações das outras crianças; tenham acesso a di- matemática não dispensa a intencionalidade e o plane-
versos materiais escritos e possam manuseá-los, apre- jamento. Reconhecer a potencialidade e a adequação de
ciá-los e incluí-los nas suas brincadeiras; ouçam histórias uma dada situação para a aprendizagem, tecer comen-
lidas e contadas pelo professor ou por outras crianças; tários, formular perguntas, suscitar desafios, incentivar a
possam brincar de escrever, tendo acesso aos materiais verbalização pela criança etc., são atitudes indispensáveis
necessários a isso. do adulto. Representam vias a partir das quais as crianças
Em relação às práticas de oralidade pode-se observar elaboram o conhecimento em geral e o conhecimento
também se as crianças ampliaram seu vocabulário, incor- matemático em particular.
porando novas expressões e utilizando de expressões de Deve-se considerar o rápido e intenso processo de
cortesia; se percebem quando o professor está lendo ou mudança vivido pelas crianças nessa faixa etária. Elas
falando e se reconhecem o tipo de linguagem escrita ou apresentam possibilidades de estabelecer vários tipos de
falada. relação (comparação, expressão de quantidade), repre-
Em relação às práticas de leitura, é possível observar sentações mentais, gestuais e indagações, deslocamen-
se as crianças pedem que o professor leia; se procuram tos no espaço.
livros de histórias ou outros textos no acervo; se con- Diversas ações intervêm na construção dos conhe-
sideram as ilustrações ou outros indícios para antecipar cimentos matemáticos, como recitar a seu modo a se-
o conteúdo dos textos; se realizam comentários sobre o quência numérica, fazer comparações entre quantidades
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

que “leram” ou escutaram; se compartilham com os ou- e entre notações numéricas e localizar-se espacialmente.
tros o efeito que a leitura produziu; se recomendam a Essas ações ocorrem fundamentalmente no convívio so-
seus companheiros a leitura que as interessou. cial e no contato das crianças com histórias, contos, mú-
Em relação às práticas de escrita e de produção de sicas, jogos, brincadeiras etc.
textos pode-se observar se as crianças se interessam por As respostas de crianças pequenas a perguntas de
escrever seu nome e o nome de outras pessoas; se recor- adultos que contenham a palavra “quantos?” podem
rem à escrita ou propõem que se recorra quando têm de ser aleatoriamente “três”, “cinco”, para se referir a uma
se dirigir a um destinatário ausente. suposta quantidade. O mesmo ocorre às perguntas que
O professor deve colecionar produções das crianças, contenham “quando?”. Nesse caso, respostas como “ter-
como exemplos de suas escritas, desenhos com escrita, ça-feira” para indicar um dia qualquer ou “amanhã” no
ensaios de letras, os comentários que fez e suas próprias lugar de “ontem” são frequentes. Da mesma forma, uma

104
criança pequena pode perguntar “quanto eu custo?” ao
subir na balança, no lugar de “quanto eu peso?”. Esses
são exemplos de respostas e perguntas não muito pre-
cisas, mas que já revelam algum discernimento sobre o
sentido de tempo e quantidade. São indicadores da per-
manente busca das crianças em construir significados,
em aprender e compreender o mundo.
À medida que crescem, as crianças conquistam maior
autonomia e conseguem levar adiante, por um tempo
maior, ações que tenham uma finalidade, entre elas ativi-
dades e jogos. As crianças conseguem formular questões
mais elaboradas, aprendem a trabalhar diante de um
problema, desenvolvem estratégias, criam ou mudam
regra de jogos, revisam o que fizeram e discutem entre Os domínios sobre os quais as crianças de zero a seis
pares as diferentes propostas. anos fazem suas primeiras incursões e expressam ideias
matemáticas elementares dizem respeito a conceitos
Objetivos aritméticos e espaciais.
Propõe-se a abordagem desses conteúdos de forma
Crianças de zero a três anos não simplificada, tal como aparecem nas práticas sociais.
Se por um lado, isso implica trabalhar com conteúdos
A abordagem da Matemática na educação infantil complexos, por outro lado, traz implícita a ideia de que a
tem como finalidade proporcionar oportunidades para criança vai construir seu conhecimento matemático por
que as crianças desenvolvam a capacidade de: meio de sucessivas reorganizações ao longo da sua vida.
Complexidade e provisoriedade são, portanto, inse-
paráveis, pois o trabalho didático deve necessariamente
levar em conta tanto a natureza do objeto de conheci-
mento como o processo pelo qual as crianças passam ao
construí-lo.

Crianças de quatro a cinco anos Crianças de zero a três anos

Para esta fase, o objetivo é aprofundar e ampliar o


trabalho para a faixa etária de zero a três, garantindo,
ainda, oportunidades para que sejam capazes de:

Orientações didáticas

Os bebês e as crianças pequenas estão começando a


conhecer o mundo e a estabelecer as primeiras aproxi-
Conteúdos
mações com ele. As situações cotidianas oferecem opor-
tunidades privilegiadas para o trabalho com a especifi-
A seleção e a organização dos conteúdos matemáti-
cidade das ideias matemáticas. As festas, as histórias e,
cos representam um passo importante no planejamento
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

principalmente, os jogos e as brincadeiras permitem a


da aprendizagem e devem considerar os conhecimentos
familiarização com elementos espaciais e numéricos, sem
prévios e as possibilidades cognitivas das crianças para
imposição. Assim, os conceitos matemáticos não são o
ampliá-los. Para tanto, deve-se levar em conta que:
pretexto nem a finalidade principal a ser perseguida. As
situações deverão ter um caráter múltiplo para que as
crianças possam interessar-se, fazer relações sobre várias
áreas e comunicá-las.
As modificações no espaço, a construção de diferen-
tes circuitos de obstáculos com cadeiras, mesas, pneus e
panos por onde as crianças possam engatinhar ou andar
— subindo, descendo, passando por dentro, por cima,

105
por baixo — permitem a construção gradativa de concei- Orientações didáticas
tos, dentro de um contexto significativo, ampliando ex-
periências. As brincadeiras de construir torres, pistas para Os conhecimentos numéricos das crianças decorrem
carrinhos e cidades, com blocos de madeira ou encaixe, do contato e da utilização desses conhecimentos em
possibilitam representar o espaço numa outra dimensão. problemas cotidianos, no ambiente familiar, em brinca-
O faz-de-conta das crianças pode ser enriquecido, orga- deiras, nas informações que lhes chegam pelos meios de
nizando-se espaços próprios com objetos e brinquedos comunicação etc. Os números estão presentes no coti-
que contenham números, como telefone, máquina de diano e servem para memorizar quantidades, para iden-
calcular, relógio etc. As situações de festas de aniversário tificar algo, antecipar resultados, contar, numerar, medir
podem constituir-se em momento rico de aproximação e operar. Alguns desses usos são familiares às crianças
com a função dos números. O professor pode organi- desde pequenas e outros nem tanto.
zar junto com as crianças um quadro de aniversariantes,
contendo a data do aniversário e a idade de cada crian- Contagem
ça. Pode também acompanhar a passagem do tempo,
utilizando o calendário. As crianças por volta dos dois Contar é uma estratégia fundamental para estabele-
anos já podem, com ajuda do professor, contar quan- cer o valor cardinal de conjuntos de objetos. Isso fica evi-
tos dias faltam para seu aniversário. Pode-se organizar denciado quando se busca a propriedade numérica dos
um painel com pesos e medidas das crianças para que conjuntos ou coleções em resposta à pergunta “quan-
elas observem suas diferenças. As crianças podem com- tos?” (cinco, seis, dez etc.). É aplicada também quando se
parar o tamanho de seus pés e depois olhar os números busca a propriedade numérica dos objetos, respondendo
em seus sapatos. O folclore brasileiro é fonte riquíssima à pergunta “qual?”. Nesse caso está também em ques-
de cantigas e rimas infantis envolvendo contagem e nú- tão o valor ordinal de um número (quinto, sexto, décimo
meros, que podem ser utilizadas como forma de apro- etc.).
ximação com a sequência numérica oral. São muitas as A contagem é realizada de forma diversificada pelas
formas possíveis de se realizar o trabalho com a Mate- crianças, com um significado que se modifica conforme
mática nessa faixa etária, mas ele sempre deve acontecer o contexto e a compreensão que desenvolvem sobre o
inserido e integrado no cotidiano das crianças. número.
Pela via da transmissão social, as crianças, desde mui-
Crianças de quatro a cinco anos to pequenas, aprendem a recitar a sequência numérica,
muitas vezes sem se referir a objetos externos. Podem
Nesta faixa etária aprofundam-se os conteúdos in- fazê-lo, por exemplo, como uma sucessão de palavras,
dicados para as crianças de zero a três anos, dando-se no controle do tempo para iniciar uma brincadeira, por
crescente atenção à construção de conceitos e procedi- repetição ou com o propósito de observar a regularida-
mentos especificamente matemáticos. Os conteúdos es- de da sucessão. Nessa prática, a criança se engana, pára,
tão organizados em três blocos: “Números e sistema de recomeça, progride. A criança pode, também, realizar a
numeração”, “Grandezas e medidas” e “Espaço e forma”. recitação das palavras, numa ordem própria e particu-
A organização por blocos visa a oferecer visibilidade às lar, sem necessariamente fazer corresponder as palavras
especificidades dos conhecimentos matemáticos a serem da sucessão aos objetos de uma coleção (1, 3, 4, 19, por
trabalhados, embora as crianças vivenciem esses conteú- exemplo).
dos de maneira integrada. Embora a recitação oral da sucessão dos números seja
uma importante forma de aproximação com o sistema
Números e sistema de numeração numérico, para evitar mecanização é necessário que as
crianças compreendam o sentido do que se está fazendo.
Este bloco de conteúdos envolve contagem, notação O grau de desafio da recitação de uma série depende
e escrita numéricas e as operações matemáticas. dos conhecimentos prévios das crianças, assim como das
novas aprendizagens que possam efetuar. Ao elaborar
situações didáticas para que todos possam aprender e
progredir em suas aprendizagens, o professor deve levar
em conta que elas ocorrem de formas diferentes entre as
crianças. Exemplos de situações que envolvam recitação:
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

106
Na contagem propriamente dita, ou seja, ao contar Para as crianças, os aspectos relevantes da nume-
objetos as crianças aprendem a distinguir o que já conta- ração são os que fazem parte de suas vidas cotidianas.
ram do que ainda não contaram e a não contar duas (ou Pesquisar os diferentes lugares em que os números se
mais) vezes o mesmo objeto; descobrem que tampouco encontram, investigar como são organizados e para
devem repetir as palavras numéricas já ditas e que, se que servem, é tarefa fundamental para que possam ini-
mudarem sua ordem, obterão resultados finais diferentes ciar a compreensão sobre a organização do sistema de
daqueles de seus companheiros; percebem que não im- numeração.
porta a ordem que estabelecem para contar os objetos, Há diversos usos de números presentes nos telefo-
pois obterão sempre o mesmo resultado. Podem-se pro- nes, nas placas de carro e de ônibus, nas camisas de jo-
por problemas relativos à contagem de diversas formas. gadores, no código de endereçamento postal, nas eti-
É desafiante, por exemplo, quando as crianças contam quetas de preço, nas contas de luz etc., para diferenciar e
agrupando os números de dois em dois, de cinco em cin- nomear classes ou ordenar elementos e com os quais as
co, de dez em dez etc. crianças entram em contato, interpretando e atribuindo
significados.
São muitas as possibilidades de a criança investigar as
regras e as regularidades do sistema numérico. A seguir,
são apresentadas algumas.
Quando o professor lê histórias para as crianças, pode
incluir a leitura do índice e da numeração das páginas,
organizando a situação de tal maneira que todos possam
participar.
É importante aceitar como válidas respostas diversas
e trabalhar a partir delas. Histórias em capítulos, coletâ-
neas e enciclopédias são especialmente propícias para o
trabalho com índice. Ao confeccionar um livro junto com
as crianças é importante pesquisar, naqueles conhecidos,
como se organiza o índice e a numeração das páginas.
Colecionar em grupo um álbum de figurinhas pode
Notação e escrita numéricas interessar às crianças. Iniciada a coleção, pode-se pedir
que antecipem a localização da figurinha no álbum ou, se
A importância cultural dos números e do sistema de abrindo em determinada página, devem folhear o álbum
numeração é indiscutível. A notação numérica, na qual para frente ou para trás. É interessante também confec-
os símbolos são dotados de valores conforme a posição cionar uma tabela numérica (com o mesmo intervalo nu-
que ocupam, característica do sistema hindu-arábico de mérico do álbum) para que elas possam ir marcando os
numeração, é uma conquista do homem, no percurso da números das figurinhas já obtidas.
história, e um dado da realidade contemporânea. Há diferentes tipos de calendários utilizados social-
Ler os números, compará-los e ordená-los são proce- mente (folhinhas anuais, mensais, semanais) que podem
dimentos indispensáveis para a compreensão do signifi- ser apropriados para diferentes usos e funções na insti-
cado da notação numérica. Ao se deparar com números tuição, como marcar o dia corrente no calendário e es-
em diferentes contextos, a criança é desafiada a apren- crever a data na lousa; usar o calendário para organizar a
der, a desenvolver o seu próprio pensamento e a pro- rotina, marcando compromissos importantes do grupo,
duzir conhecimentos a respeito. Nem sempre um mes- como os aniversários das crianças, a data de um passeio
mo número representa a mesma coisa, pois depende do etc.
contexto em que está. Por exemplo, o número dois pode As crianças podem pesquisar as informações numéri-
estar representando duas unidades, mas, dependendo cas de cada membro de seu grupo (idade, número de sa-
da sua posição, pode representar vinte ou duzentas uni- pato, número de roupa, altura, peso etc.). Com ajuda do
dades; pode representar uma ordem, segundo, ou ainda professor, as crianças podem montar uma tabela e criar
representar um código (como nos números de telefone problemas que comparem e ordenem escritas numéricas,
ou no código de endereçamento postal). Compreender o buscando as informações necessárias no próprio quadro,
atual sistema numérico envolve uma série de perguntas, a partir de perguntas como: “quantas crianças vestem
como: “quais os algarismos que o compõem?”, “como se determinado número de roupa?”, “quantos anos um tem
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

chamam?”, “como são escritos?”, “como podem ser com- a mais que o outro?”, “quanto você precisará crescer para
binados?”, “o que muda a cada combinação?”. Para res- ficar do tamanho de seu amigo?”.
ponder essas questões é preciso que as crianças possam É possível também pesquisar a idade dos familiares,
trabalhar desde pequenas com o sistema de numeração da pessoa mais velha da instituição, da cidade, do país
tal como ele se apresenta. ou do mundo.
Propor situações complexas para as crianças só é Jogos de baralho, de adivinhação ou que utilizem
possível se o professor aceitar respostas diferentes das dados também oferecem inúmeras situações para que
convencionais, isto é, aceitar que o conhecimento é as crianças pensem e utilizem a sequência ordenada dos
provisório e compreender que as crianças revisam suas números, considerando o antecessor e o sucessor, façam
ideias e elaboram soluções cada vez melhores. suas próprias anotações de quantidades e comparem
resultados.

107
Fichas que indicam a ordinalidade — primeiro, se- Grandezas e medidas
gundo, terceiro — podem ser sugeridas às crianças
como material para uso nas brincadeiras de faz-de-con-
ta, quando é necessário, por exemplo, decidir a ordem de
atendimento num posto de saúde ou numa padaria; em
jogos ou campeonatos.

Operações

Nos contextos mencionados, quando as crianças con-


tam de dois em dois ou de dez em dez, isto é, quando
contam agregando uma quantidade de elementos a par-
tir de outra, ou contam tirando uma quantidade de outra,
ou ainda quando distribuem figuras, fichas ou balas, elas
Orientações didáticas
estão realizando ações de acrescentar, agregar, segregar
e repartir relacionadas a operações aritméticas. O cálculo
De utilidade histórica reconhecida, o uso de me-
é, portanto, aprendido junto com a noção de número e a
didas mostrou-se não só como um eficiente processo
partir do seu uso em jogos e situações-problema. Nessas
de resolução de problemas práticos do homem antigo
situações, em geral as crianças calculam com apoio dos
como teve papel preponderante no tecido das inúme-
dedos, de lápis e papel ou de materiais diversos, como
ras relações entre noções matemáticas. A compreensão
contas, conchinhas etc. É importante, também que elas
dos números, bem como de muitas das noções relati-
possam fazê-lo sem esse tipo de apoio, realizando cálcu-
vas ao espaço e às formas, é possível graças às medidas.
los mentais ou estimativas. A realização de estimativas é
Da iniciativa de povos (como os egípcios) para demarcar
uma necessidade, por exemplo, de quem organiza even-
terras fazendo medições resultou a criação dos números
tos. Para calcular quantas espigas de milho precisarão ser
fracionários ou decimais. Mas antes de surgir esse nú-
assadas na fogueira da festa de São João, é preciso per-
mero para indicar medidas houve um longo caminho e
guntar: “quantas pessoas participarão da festa?”, “quan-
vários tipos de problemas tiveram de ser resolvidos pelo
tas espigas de milho cada um come?”. As crianças pe-
homem.
quenas também já utilizam alguns procedimentos para
As medidas estão presentes em grande parte das ati-
comparar quantidades.
vidades cotidianas e as crianças, desde muito cedo, têm
Geralmente se apoiam na contagem e utilizam os de-
contato com certos aspectos das medidas. O fato de que
dos, estabelecendo uma correspondência termo a termo,
as coisas têm tamanhos, pesos, volumes, temperaturas
o que permite referir-se a coleções ausentes.
diferentes e que tais diferenças frequentemente são assi-
Pode-se propor para as crianças de cinco e seis anos
naladas pelos outros (está longe, está perto, é mais bai-
situações em que tenham de resolver problemas aritmé-
xo, é mais alto, mais velho, mais novo, pesa meio quilo,
ticos e não contas isoladas, o que contribui para que pos-
mede dois metros, a velocidade é de oitenta quilôme-
sam descobrir estratégias e procedimentos próprios e
tros por hora etc.) permite que as crianças informalmen-
originais. As soluções encontradas podem ser comunica-
te estabeleçam esse contato, fazendo comparações de
das pela linguagem informal ou por desenhos (represen-
tamanhos, estabelecendo relações, construindo algumas
tações não convencionais). Comparar os seus resultados
representações nesse campo, atribuindo significado e
com os dos outros, descobrir o melhor procedimento
fazendo uso das expressões que costumam ouvir. Esses
para cada caso e reformular o que for necessário permite
conhecimentos e experiências adquiridos no âmbito da
que as crianças tenham maior confiança em suas pró-
convivência social favorecem a proposição de situações
prias capacidades. Assim, cada situação de cálculo cons-
que despertem a curiosidade e interesse das crianças
titui-se num problema aberto que pode ser solucionado
para continuar conhecendo sobre as medidas.
de formas diversas, pois existem diferentes sentidos da
O professor deve partir dessas práticas para propor
adição e da subtração, os problemas podem ter estrutu-
situações-problema em que a criança possa ampliar,
ras diferentes, o grau de dificuldade varia em função dos
aprofundar e construir novos sentidos para seus conhe-
tipos de perguntas formuladas. Esses problemas podem
cimentos. As atividades de culinária, por exemplo, possi-
propiciar que as crianças comparem, juntem, separem,
bilitam um rico trabalho, envolvendo diferentes unidades
combinem grandezas ou transformem dados numéricos.
de medida, como o tempo de cozimento e a quantidade
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

dos ingredientes: litro, quilograma, colher, xícara, pitada


etc.
A comparação de comprimentos, pesos e capacida-
des, a marcação de tempo e a noção de temperatura são
experimentadas desde cedo pelas crianças pequenas,
permitindo-lhes pensar, num primeiro momento, essen-
cialmente sobre características opostas das grandezas e
objetos, como grande/pequeno, comprido/curto, longe/
perto, muito/pouco, quente/frio etc. Entretanto, esse
ponto de vista pode se modificar e as comparações feitas
pelas crianças passam a ser percebidas e anunciadas a

108
partir das características dos objetos, como, por exemplo, do dinheiro constitui-se uma oportunidade que por si
a casa branca é maior que a cinza; minha bola de futebol só incentiva a contagem, o cálculo mental e o cálculo
é mais leve e menor do que a sua etc. O desenvolvimento estimativo.
dessas capacidades comparativas não garante, porém, a
compreensão de todos os aspectos implicados na noção
de medida.

As crianças aprendem sobre medidas, medindo. A


ação de medir inclui: a observação e comparação sen-
sorial e perceptiva entre objetos; o reconhecimento da
utilização de objetos intermediários, como fita métrica,
balança, régua etc., para quantificar a grandeza (compri-
mento, extensão, área, peso, massa etc.). Inclui também
efetuar a comparação entre dois ou mais objetos res-
pondendo a questões como: “quantas vezes é maior?”,
“quantas vezes cabe?”, “qual é a altura?”, “qual é a dis-
tância?”, “qual é o peso?” etc. A construção desse conhe-
cimento decorre de experiências que vão além da edu-
cação infantil.
Para iniciar esse processo, as crianças já podem ser
solicitadas a fazer uso de unidades de medida não con-
vencionais, como passos, pedaços de barbante ou pali-
tos, em situações nas quais necessitem comparar distân-
cias e tamanhos: medir as suas alturas, o comprimento
da sala etc. Podem também utilizar-se de instrumentos Orientações didáticas
convencionais, como balança, fita métrica, régua etc.,
para resolver problemas. Além disso, o professor pode O pensamento geométrico compreende as relações
criar situações nas quais as crianças pesquisem formas e representações espaciais que as crianças desenvolvem,
alternativas de medir, propiciando oportunidades para desde muito pequenas, inicialmente, pela exploração
que tragam algum instrumento de casa. O uso de uma sensorial dos objetos, das ações e deslocamentos que
unidade padronizada, porém, deverá aparecer como res- realizam no meio ambiente, da resolução de problemas.
posta às necessidades de comunicação entre as crianças, Cada criança constrói um modo particular de conceber o
uma vez que a utilização de diferentes unidades de me- espaço por meio das suas percepções, do contato com a
dida conduz a resultados diferentes nas medidas de um realidade e das soluções que encontra para os problemas.
mesmo objeto. Considera-se que as experiências das crianças, nessa
O tempo é uma grandeza mensurável que requer faixa etária, ocorrem prioritariamente na sua relação com
mais do que a comparação entre dois objetos e exige re- a estruturação do espaço e não em relação à geometria
lações de outra natureza. Ou seja, utiliza-se de pontos de propriamente dita, que representa uma maneira de con-
referência e do encadeamento de várias relações, como ceituar o espaço por meio da construção de um modelo
dia e noite; manhã, tarde e noite; os dias da semana; os teórico. Nesse sentido, o trabalho na educação infantil
meses; o ano etc. Presente, passado e futuro; antes, ago- deve colocar desafios que dizem respeito às relações ha-
ra e depois são noções que auxiliam a estruturação do bituais das crianças com o espaço, como construir, deslo-
pensamento. car-se, desenhar etc., e à comunicação dessas ações. As-
O uso dos calendários e a observação das suas ca- sim, à educação infantil coloca-se a tarefa de apresentar
racterísticas e regularidades (sete dias por semana, a situações significativas que dinamizem a estruturação do
quantidade de dias em cada mês etc.) permitem marcar espaço que as crianças desenvolvem e para que adqui-
o tempo que falta para alguma festa, prever a data de um ram um controle cada vez maior sobre suas ações e pos-
passeio, localizar as datas de aniversários das crianças, sam resolver problemas de natureza espacial e potencia-
marcar as fases da lua. lizar o desenvolvimento do seu pensamento geométrico.
As crianças exploram o espaço ao seu redor e, pro-
O dinheiro também é uma grandeza que as crianças gressivamente, por meio da percepção e da maior coor-
denação de movimentos, descobrem profundidades,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

têm contato e sobre a qual podem desenvolver algumas


ideias e relações que articulam conhecimentos relativos analisam objetos, formas, dimensões, organizam mental-
a números e medidas. O dinheiro representa o valor dos mente seus deslocamentos. Aos poucos, também ante-
objetos, do trabalho etc. As cédulas e moedas têm um cipam seus deslocamentos, podendo representá-los por
valor convencional, constituindo-se em rico material que meio de desenhos, estabelecendo relações de contorno
atende várias finalidades didáticas, como fazer trocas, e vizinhança. Uma rica experiência nesse campo possibi-
comparar valores, fazer operações, resolver problemas lita a construção de sistemas de referências mentais mais
e visualizar características da representação dos núme- amplos que permitem às crianças estreitarem a relação
ros naturais e dos números decimais. Além disso, o uso entre o observado e o representado.

109
Nesse terreno, a contribuição do adulto, as intera- e considerar as propriedades reais dos materiais para,
ções entre as crianças, os jogos e as brincadeiras podem gradativamente, relacioná-las e transformá-las em fun-
proporcionar a exploração espacial em três perspectivas: ção de diferentes argumentos de faz-de-conta. No início,
as relações espaciais contidas nos objetos, as relações as crianças utilizam os materiais buscando ajustar suas
espaciais entre os objetos e as relações espaciais nos ações a eles — por exemplo, deixando de coloca-los na
deslocamentos. boca para olhá-los, lançá-los ao chão, depois empilhá-los
As relações espaciais contidas nos objetos podem e derrubá-los, equilibrá-los, agrupá-los etc. — até que os
ser percebidas pelas crianças por meio do contato e utilizam como objetos substitutos para o faz-de-conta,
da manipulação deles. A observação de características transformando-os em aviões, castelos, casinhas etc.
e propriedades dos objetos possibilitam a identificação As crianças podem utilizar para suas construções os
de atributos, como quantidade, tamanho e forma. É pos- mais diversos materiais: areia, massa de modelar, argila,
sível, por exemplo, realizar um trabalho com as formas pedras, folhas e pequenos troncos de árvores.
geométricas por meio da observação de obras de arte, Além desses, materiais concebidos intencionalmente
de artesanato (cestas, rendas de rede), de construções para a construção, como blocos geométricos das mais
de arquitetura, pisos, mosaicos, vitrais de igrejas, ou ain- diversas formas, espessuras, volumes e tamanhos; blocos
da de formas encontradas na natureza, em flores, folhas, imitando tijolos ou ainda pequenos ou grandes blocos
casas de abelha, teias de aranha etc. A esse conjunto po- plásticos, contendo estruturas de encaixe, propiciam não
dem ser incluídos corpos geométricos, como modelos de somente o conhecimento das propriedades de volumes
madeira, de cartolina ou de plástico, ou modelos de figu- e formas geométricas como desenvolvem nas crianças
ras planas que possibilitam um trabalho exploratório das capacidades relativas à construção com proporcionali-
suas propriedades, comparações e criação de contextos dade e representações mais aproximadas das imagens
em que a criança possa fazer construções. desejadas, auxiliando-as a desenvolver seu pensamento
As relações espaciais entre os objetos envolvem no- antecipatório, a iniciativa e a solução de problemas no
ções de orientação, como proximidade, interioridade e âmbito das relações entre espaço e objetos.
direcionalidade. Para determinar a posição de uma pes- O trabalho com o espaço pode ser feito, também, a
soa ou de um objeto no espaço é preciso situá-los em partir de situações que permitam o uso de figuras, de-
relação a uma referência, seja ela outros objetos, pessoas senhos, fotos e certos tipos de mapas para a descrição
etc., parados ou em movimento. Essas mesmas noções, e representação de caminhos, itinerários, lugares, loca-
aplicadas entre objetos e situações independentes do lizações etc. Pode-se aproveitar, por exemplo, passeios
sujeito, favorecem a percepção do espaço exterior e dis- pela região próxima à instituição ou a locais específicos,
tante da criança. como a praia, a feira, a praça, o campo, para incentivar a
As relações espaciais nos deslocamentos podem ser pesquisa de informações sobre localização, caminhos a
trabalhadas a partir da observação dos pontos de refe- serem percorridos etc. Durante esse trabalho, é possível
rência que as crianças adotam, a sua noção de distân- introduzir nomes de referência da região, como bairros,
cia, de tempo etc. É possível, por exemplo, pedir para as zonas ou locais aonde se vai, e procurar localizá-los nos
crianças descreverem suas experiências em deslocar-se mapas ou guias da cidade.
diariamente de casa até a instituição. Pode-se também
propor jogos em que elas precisem movimentar-se ou Orientações gerais para o professor
movimentar um objeto no espaço. As estratégias adota-
das, as posições escolhidas, as comparações entre tama- Jogos e brincadeiras
nhos, as características da construção realizada e o voca-
bulário adotado pelas crianças constituem-se em objeto Às noções matemáticas abordadas na educação in-
de atenção do professor. fantil correspondem uma variedade de brincadeiras e jo-
Para coordenar as informações que percebem do es- gos, principalmente aqueles classificados como de cons-
paço, as crianças precisam ter oportunidades de obser- trução e de regras.
vá-las, descrevê-las e representá-las. Vários tipos de brincadeiras e jogos que possam in-
O desenho é uma forma privilegiada de representa- teressar à criança pequena constituem-se rico contexto
ção, na qual as crianças podem expressar suas ideias e em que ideias matemáticas podem ser evidenciadas pelo
registrar informações. É uma representação plana da rea- adulto por meio de perguntas, observações e formulação
lidade. Desenhar objetos a partir de diferentes ângulos de propostas. São exemplos disso cantigas, brincadeiras
de visão, como visto de cima, de baixo, de lado, e propor como a dança das cadeiras, quebra-cabeças, labirintos,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

situações que propiciem a troca de ideias sobre as repre- dominós, dados de diferentes tipos, jogos de encaixe, jo-
sentações é uma forma de se trabalhar a percepção do gos de cartas etc.
espaço. Os jogos numéricos permitem às crianças utilizarem
Pode-se propor, também, representações tridimen- números e suas representações, ampliarem a contagem,
sionais, como construções com blocos de madeira, de estabelecerem correspondências, operarem. Cartões,
maquetes, painéis etc. Apesar de estar intrinsecamente dados, dominós, baralhos permitem às crianças se fa-
associado ao processo de desenvolvimento do faz-de- miliarizarem com pequenos números, com a contagem,
-conta, o jogo de construção permite uma exploração comparação e adição. Os jogos com pistas ou tabuleiros
mais aprofundada das propriedades e características as- numerados, em que se faz deslocamento de um obje-
sociativas dos objetos, assim como de seus usos sociais to, permitem fazer correspondências, contar de um em
e simbólicos. Para construir, a criança necessita explorar um, de dois em dois etc. Jogos de cartas permitem à

110
distribuição, comparação de quantidades, a reunião de problemas tornam-se mais complexos conforme aumen-
coleções e a familiaridade com resultados aditivos. Os jo- tam as coleções. O aumento das quantidades com a qual
gos espaciais permitem às crianças observarem as figuras se opera funciona como uma “variável didática”, na me-
e suas formas, identificar propriedades geométricas dos dida em que exige a elaboração de novas estratégias, ou
objetos, fazer representações, modelando, compondo, seja, uma coisa é agregar 4 elementos a uma coleção de
decompondo ou desenhando. Um exemplo desse tipo 5, e outra bem diferente é agregar 18 a uma coleção de
de jogo é a modelagem de dois objetos em massa de 25. As estratégias, no último caso, podem ser diversas e
modelar ou argila, em que as crianças descrevem seu supõem diferentes decomposições e recomposições dos
processo de elaboração. números em questão. É comum, por exemplo, as crianças
Pelo seu caráter coletivo, os jogos e as brincadeiras utilizarem “risquinhos” ou outras marcas para anotar a
permitem que o grupo se estruture, que as crianças esta- quantidade de peças que possuem, sem necessariamen-
beleçam relações ricas de troca, aprendam a esperar sua te corresponder uma marca para cada objeto.
vez, acostumem-se a lidar com regras, conscientizando- Ao confrontar os diferentes tipos de registro, surgem
-se que podem ganhar ou perder. questões, como ter de contar tudo de novo. Dessa forma,
analisando e discutindo seus procedimentos, as crianças
Organização do tempo podem experimentar diferentes tipos de registro até
achar o que consideram mais adequados.
As situações de aprendizagem no cotidiano das cre- Conforme a quantidade de peças aumenta, surgem
ches e pré-escolas podem ser organizadas de três manei- novos problemas: “como desenhar todas aquelas pe-
ras: as atividades permanentes, os projetos e as sequên- ças?”, “como saber qual número corresponde àquela
cias de atividades. quantidade?”. Usar o conhecimento que possuem para
Atividades permanentes são situações propostas de buscar a solução de seu problema é tarefa fundamental.
forma sistemática e com regularidade, mas não são ne- Uma das formas de procurar resolver essa questão é
cessariamente diárias. A utilização do calendário assim utilizar a correspondência termo a termo e a contagem
como a distribuição de material, o controle de quantida- associada a algum referencial numérico, como fita métri-
des de peças de jogos ou de brinquedos etc., no cotidia- ca, balança etc. Essa busca de soluções para problemas
no da instituição pode atrair o interesse das crianças e se reais que surgem ao longo do registro e da contagem, le-
caracterizar como atividade permanente. Para isso, além vando as crianças a estabelecerem novas relações, refle-
de serem propostas de forma sistemática e com regulari- tir sobre seus procedimentos, argumentar sobre aquelas
dade, o professor deverá ter o cuidado de contextualizar que consideram a melhor forma de organização de suas
tais práticas para as crianças, transformando-as em ati- coleções, possibilita um avanço real nas suas estratégias.
vidades significativas e organizando-as de maneira que Projetos são atividades articuladas em torno da ob-
representem um crescente desafio para elas. Pelo fato de tenção de um produto final, visível e compartilhado com
essas situações estarem dentro de uma instituição edu- as crianças, em torno do qual são organizadas as ativida-
cacional, requerem planejamento e intenção educativa. des. A organização do trabalho em projetos possibilita
É preciso lembrar que os jogos de construção e de divisão de tarefas e responsabilidades e oferece contex-
regras são atividades permanentes que propiciam o tra- tos nos quais a aprendizagem ganha sentido. Organizar
balho com a Matemática. uma festa junina ou construir uma maquete são exem-
As sequências de atividades se constituem em uma plos de projetos. Cada projeto envolve uma série de ati-
série de ações planejadas e orientadas com o objetivo de vidades que também se organiza numa sequência.
promover uma aprendizagem específica e definida. São
sequenciadas para oferecer desafios com graus diferen- Observação, registro e avaliação formativa
tes de complexidade.
Pode-se, por exemplo, organizar com as crianças, Considera-se que a aprendizagem de noções mate-
uma sequência de atividades envolvendo a ação de cole- máticas na educação infantil esteja centrada na relação
cionar pequenos objetos, como pedrinhas, tampinhas de de diálogo entre adulto e crianças e nas diferentes for-
garrafa, conchas, folhas, figurinhas etc. mas utilizadas por estas últimas para responder pergun-
Semanalmente, as crianças trazem novas peças e tas, resolver situações-problema, registrar e comunicar
agregam ao que já possuíam, anotam, acompanham e qualquer ideia matemática. A avaliação representa, neste
controlam o crescimento de suas coleções em registros. caso, um esforço do professor em observar e compreen-
O professor propõe o confronto dos registros para que der o que as crianças fazem, os significados atribuídos
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

o grupo conheça diferentes estratégias, experimente no- por elas aos elementos trabalhados nas situações vi-
vas formas e possa avançar em seus procedimentos de venciadas. Esse é um processo relacionado com a ob-
registro. Essas atividades, que se desenvolverão ao longo servação da criança nos jogos e atividades e de seu en-
de vários dias, semanas ou meses, permitem às crianças tendimento sobre diferentes domínios que vão além da
executar operações de adição, de subtração, assim como própria Matemática. A avaliação terá a função de mapear
produzir e interpretar notações numéricas em situações e acompanhar o pensamento da criança sobre noções
nas quais isso se torna funcional. Por outro lado, é pos- matemáticas, isto é, o que elas sabem e como pensam
sível comparar, em diferentes momentos da constituição para reorientar o planejamento da ação educativa. De-
da coleção, as quantidades de objetos colecionados por ve-se evitar a aplicação de instrumentos tradicionais ou
diferentes crianças, assim como ordenar quantidades e convencionais, como notas e símbolos com o propósito
notações do menor ao maior ou do maior ao menor. Estes classificatório, ou juízos conclusivos.

111
Os significados e pontos de vista infantis são dinâmi- TRANSVERSALIDADE E INTERDISCIPLINARIDADE.
cos e podem se modificar em função das perguntas dos
adultos, do modo de propor as atividades e do contexto
nas quais ocorrem. A partir do que observa, o professor FIQUE ATENTO!
deverá propor atividades para que as crianças avancem A transversalidade e a interdisciplinaridade
nos seus conhecimentos. Deve-se levar em conta que, são modos de se trabalhar o conhecimento
por um lado, há uma diversidade de respostas possíveis que buscam uma reintegração de aspectos
a serem apresentadas pelas crianças, e, por outro, essas que ficaram isolados uns dos outros pelo
respostas estão frequentemente sujeitas a alterações, tratamento disciplinar. Com isso, busca-se
tendo em vista não só a forma como pensam, mas a conseguir uma visão mais ampla e adequa-
natureza do conceito e os tipos de situações-problema da da realidade, que tantas vezes aparece
envolvidos. fragmentada pelos meios de que dispomos
Nesse sentido, a avaliação tem um caráter instrumen- para conhecê-la e não porque o seja em si
tal para o adulto e incide sobre os progressos apresenta- mesma.
dos pelas crianças.
São consideradas como experiências prioritárias para
a aprendizagem matemática realizada pelas crianças de Vamos exemplificar lançando mão de uma
zero a três anos o contato com os números e a explora- comparação:
ção do espaço. Para isso, é preciso que as crianças par- Quando a luz branca passa por um prisma, divide-se
ticipem de situações nas quais sejam utilizadas a con- em diferentes cores (as cores do arco-íris). Ao estudar-
tagem oral, referências espaciais e temporais. Também mos alguma realidade a fim de conhecê-la muitas vezes
é preciso que se criem condições para que as crianças torna-se necessário fazer um trabalho semelhante. En-
engatinhem, arrastem-se, pulem etc., de forma a explo- focamos por diferentes ângulos, com a metodologia e
rarem o máximo seus espaços. os objetivos próprios das Ciências Naturais, da História,
A partir dos quatro e até os seis anos, uma vez que da Geografia... Podemos assim aprofundar em diferentes
tenham tido muitas oportunidades na instituição de parcelas, fazendo um trabalho de análise. Esse aprofun-
educação infantil de vivenciar experiências envolvendo damento é rico e muitas vezes necessário, mas é preciso
aprendizagens matemáticas, pode-se esperar que as ter consciência de que estamos fazendo um “recorte” do
crianças utilizem conhecimentos da contagem oral, re- nosso objeto de estudo. A visão obtida é necessariamen-
gistrem quantidades de forma convencional ou não con- te fragmentada
vencional e comuniquem posições relativas à localização Com a interdisciplinaridade questiona-se essa seg-
de pessoas e objetos. mentação dos diferentes campos de conhecimento.
A criança utiliza seus conhecimentos para contar oral- Buscam-se, por isso, os possíveis pontos de convergên-
mente objetos. Um aspecto importante a observar é se cia entre as várias áreas e a sua abordagem conjunta,
as crianças utilizam a contagem de forma espontânea propiciando uma relação epistemológica entre as disci-
para resolver diferentes situações que se lhe apresentam, plinas. Com ela aproximamo-nos com mais propriedade
isto é, se fazem uso das ferramentas. Por exemplo: se, ao dos fenômenos naturais e sociais, que são normalmente
distribuir os lápis, distribuem um de cada vez, tendo de complexos e irredutíveis ao conhecimento obtido quan-
fazer várias “viagens” ou se contam primeiro as crianças do são estudados por meio de uma única disciplina. As
para depois pegar os lápis. Também pode-se observar interconexões que acontecem nas disciplinas são causa e
se, ao contar objetos, sincronizam seus gestos com a se- efeito da interdisciplinaridade.
quência recitada; se organizam a contagem; se deixam Existem temas cujo estudo exige uma abordagem
de contar algum objeto ou se o contam mais de uma vez. particularmente ampla e diversificada. Alguns deles fo-
O professor deverá acompanhar os usos que as crianças ram inseridos nos parâmetros curriculares nacionais, que
fazem e os avanços que elas adquirem na contagem. os denomina Temas Transversais e os caracteriza como
Em relação ao registro de quantidades, pode-se ob- temas que “tratam de processos que estão sendo in-
servar as diferentes estratégias usadas pelas crianças, tensamente vividos pela sociedade, pelas comunidades,
como se desenham o próprio objeto, se desenham uma pelas famílias, pelos alunos e educadores em seu coti-
marca como pauzinhos, bolinhas etc., se colocam um nú- diano. São debatidos em diferentes espaços sociais, em
mero para cada objeto ou se utilizam um único numeral busca de soluções e de alternativas, confrontando posi-
para representar o total de objetos. cionamentos diversos tanto em relação a intervenção no
âmbito social mais amplo quanto a atuação pessoal. São
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A localização de pessoas e objetos e sua comunica-


ção podem ser observadas nas situações cotidianas nas questões urgentes que interrogam sobre a vida huma-
quais esses conhecimentos se façam necessários. Pode- na, sobre a realidade que está sendo construída e que
-se observar se as crianças usam e comunicam posições demandam transformações macrossociais e também de
relativas entre objetos e se denominam as posições de atitudes pessoais, exigindo, portanto, ensino e aprendi-
localização. zagem de conteúdos relativos a essas duas dimensões”.
Estes temas envolvem um aprender sobre a realidade,
na realidade e da realidade, destinando-se também a
um intervir na realidade para transformá-la. Outra de
suas características é que abrem espaço para saberes

112
extraescolares. Na verdade, os temas transversais pres- Usemos novamente um exemplo: se pensarmos que
tam-se de modo muito especial para levar à prática a estamos estudando um bolo, e que cada fatia do bolo
concepção de formação integral da pessoa. corresponde a uma disciplina, o tema transversal irá apa-
recer como um ingrediente totalmente diluído na massa,
Considera-se a transversalidade como o modo ade- e não como uma fatia a mais.
quado para o tratamento destes temas. Eles não devem
constituir uma disciplina, mas permear toda a prática 2. Devem ser trabalhados de modo coordenado e
educativa. Exigem um trabalho sistemático, contínuo, não como um intruso nas aulas.
abrangente e integrado no decorrer de toda a educação.
Na verdade, estes temas sempre estão presentes, pois O risco de que um tema transversal apareça como um
se não o estiverem explicitamente estarão implicitamen- “intruso” é grande. Não sendo algo diretamente perti-
te. Tomemos como exemplo a ética. Não falar de aspec- nente às disciplinas e principalmente não havendo o há-
tos éticos, em muitos casos, é uma omissão que por si bito do professor de ocupar-se dele, pode acontecer que
só representa uma postura. Não apenas por palavras, seja visto não como um enfoque a ser colocado ao longo
mas por ações, a escola sempre fornece aos alunos uma de toda a aprendizagem, mas como algo que aparece
formação (quem sabe uma deformação?) ética. Podemos esporadicamente, interrompendo as demais atividades.
dizer o mesmo com relação ao meio ambiente; o próprio Seguindo no exemplo do bolo, o tema transversal não
tratamento dado ao ambiente escolar caracteriza a visão pode ser um caroço que se encontra repentinamente e
das pessoas que ali trabalham e pode ser parte impor- no qual corremos o risco de quebrar um dente... No má-
tante na formação dos alunos sobre essa questão. ximo, pode aparecer como uma uva passa ou uma fruta
Como os temas transversais não constituem uma dis- cristalizada, algo que percebemos ser diferente, mas que
ciplina, seus objetivos e conteúdos devem estar inseridos se harmoniza com o restante do bolo. Entretanto, quanto
em diferentes momentos de cada uma das disciplinas. mais diluído ele estiver na massa, melhor.
Vão sendo trabalhados em uma e em outra, de diferentes Por exemplo, não faz sentido que um professor de
modos. História, ou de Biologia, de repente interrompa o seu as-
Interdisciplinaridade e transversalidade alimentam-se sunto para dizer: agora vamos tratar de ética. Mas, sem-
mutuamente, pois para trabalhar os temas transversais pre que estiver fazendo uma análise histórica, o professor
adequadamente não se pode ter uma perspectiva dis- terá a preocupação de abordar os aspectos éticos envol-
ciplinar rígida. Um modo particularmente eficiente de vidos; ao dar uma aula sobre problemas ambientais ou
se elaborar os programas de ensino é fazer dos temas sobre biotecnologia, haverá também um enfoque ético.
transversais um eixo unificador, em torno do qual orga-
nizam-se as disciplinas. Todas se voltam para eles como 3. Não aparecerão “espontaneamente”, com faci-
para um centro, estruturando os seus próprios conteú- lidade, principalmente no começo.
dos sob o prisma dos temas transversais.
As disciplinas passam, então, a girar sobre esse eixo. O modo e o momento em que serão tratados os te-
De certo modo podemos dizer que temos então um fe- mas transversais deve ser cuidadosamente programado
nômeno similar ao observado na Física com o disco de em conjunto pelas diversas disciplinas. É preciso lembrar
Newton: neste, a mistura das cores recupera a luz branca; que cada um deles tem os seus próprios objetivos educa-
no nosso caso, a total interação entre as disciplinas faz cionais a serem atingidos, ou seja, não se trata apenas de
com que possamos recuperar adequadamente a realida- tocar um determinado tema, mas também de verificar se
de, superando a fragmentação e tendo a visão do todo. será totalmente contemplado ao longo do programa de
ensino, podendo-se prever o cumprimento dos objetivos.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fun-
damental preveem seis Temas Transversais a serem tra- 4. “O que é de todos não é de ninguém.”
balhados durante todo o processo de ensino / aprendi-
zagem: ética, meio ambiente, saúde, trabalho e consumo, Temos essa experiência, infelizmente, com a maior
orientação sexual e pluralidade cultural. Sejam ou não parte das coisas que são “públicas”. Se não se definem
trabalhados como um eixo unificador, tal como sugerido encarregados para uma determinada função, porque to-
acima, é importante ressaltar que: dos deveriam preocupar-se com aquilo, é muito freqüen-
te que na verdade aquela necessidade fique a descoberto.
1. Os Temas Transversais não constituem uma dis- Por isso, convém salientar novamente que é necessário
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ciplina à parte. um estudo conjunto, por parte da escola, para definir


como cada disciplina irá tratar os temas transversais e
Isso já foi colocado, mas convém salientá-lo. Como verificar se eles estão sendo suficientemente abordados.
estamos acostumados a trabalhar em uma perspectiva Isso não exclui, naturalmente, certa flexibilidade com
disciplinar, a tendência muitas vezes será ter essa visão o planejamento. Temas que têm tamanha relação com
também para os Temas Transversais. Entretanto, o pró- a vida, com o cotidiano, certamente aparecem nos mo-
prio destes temas é exatamente permear toda a prática mentos mais inesperados e o professor deve estar pre-
educativa. parado para não desperdiçar ocasiões que muitas vezes
são preciosas.

Fonte

113
GARCIA, Lenise Aparecida Martins. Transversalidade e Resposta: Letra E. O trabalho didático necessário é
Interdisciplinaridade. Disponível em: a longo prazo e compromete todos os níveis de es-
<http://smeduquedecaxias.rj.gov.br/nead/Biblioteca/ colaridade, devendo começar nos primeiros anos. O
Forma%C3%A7%C3%A3o%20Continuada/Artigos%20 critério geral deveria ter presente tanto as questões
Diversos/garcia-transversalidadeprint.pdf> específicas relativas à apropriação dos diversos siste-
mas de representação como as relações que devem
ser estabelecidas com os objetos que representam,
EXERCÍCIOS COMENTADOS cuidando especialmente de favorecer uma atividade
matemática tendente a que as diversas representa-
ções funcionem como tais. Particularmente, se deveria
1. (Pref. Alumínio/SP - Professor de Educação Artís- proporcionar aos alunos, desde o começo da escolari-
tica - Superior - VUNESP/2016) O questionamento da dade, atividades com diferentes formas de representa-
segmentação entre os diferentes campos de conheci- ção (representações verbais, simbólicas, icônicas, etc.)
mento, produzido por uma abordagem que não leva em (Duval, 1993, 1995), a fim de que estejam em contato
conta a inter-relação e a influência entre eles e a visão com experiências que lhes permitam conhecer tanto o
compartimentada da realidade sobre a qual a escola, tal funcionamento dos sistemas simbólicos como os di-
como é conhecida, historicamente se constitui, diz res- versos aspectos dos objetos matemáticos que estes
peito à permitem representar. Para isso, o professor preci-
sa identificar as características dos diversos sistemas
a) transdisciplinaridade. simbólicos, as relações que têm com os objetos que
b) transversalidade. representam, a complexidade que sua apropriação
c) multidisciplinaridade. supõe em cada caso, a diversa pertinência de uns e
d) interação disciplinar. outros em função dos conhecimentos que se pretende
e) interdisciplinaridade. abordar, bem como ter acesso às pesquisas didáticas
sobre seu ensino.
Resposta: Letra E.
Em “e”: Certa – é a abordagem correta. 3. Quanto ao processo de avaliação na educação infantil,
A interdisciplinaridade questiona a segmentação en- analise as assertivas, e em seguida, assinale a alternativa
tre os diferentes campos de conhecimento produzida que aponta a(s) correta(s).
por uma abordagem que não leva em conta a inter-
-relação e a influência entre eles — questiona a visão I. A expectativa em relação à aprendizagem da criança
compartimentada (disciplinar) da realidade sobre a deve estar sempre vinculada às oportunidades e expe-
qual a escola, tal como é conhecida, historicamente riências que foram oferecidas a ela.
se constituiu. Refere-se, portanto, a uma relação entre II. Deve-se ter em conta que não se trata de avaliar a
disciplinas. criança, mas sim as situações de aprendizagem que lhe
Parâmetros curriculares nacionais : apresentação dos foram oferecidas.
temas transversais, ética / Secretaria de Educação Fun- III. Será necessária uma observação cuidadosa das crian-
damental. – Brasília : MEC/SEF, 1997. Página 39 ças, buscando compreender as situações e planejar situa-
ções que contribuam para superação das dificuldades.
2. (Prefeitura Municipal de Três Fronteiras - SP - Pro-
fessor de Educação Básica I- Educação Infantil – Ins- a) Apenas I.
tituto Excelência/2017) A função social da escola tem b) Apenas II e III.
sido cada vez mais diversificada. Ela se funda na pre- c) Apenas I e III.
mente necessidade do acompanhamento, por parte das d) I, II e III.
instituições educativas, das mudanças que se processam Resposta: Letra D. O processo de avaliação em edu-
aceleradamente em função dos avanços da ciência e da cação infantil sempre deve estar voltado às situações
tecnologia e o mundo do trabalho. Nesse sentido, é cor- apresentadas para a criança que devem favorecer o
reto afirmar que seu desenvolvimento, assim quanto mais situações e
estímulos forem proporcionados àquela criança tanto
a) a cultura escolar deve priorizar o ensino interdisciplinar. maior será a possibilidade de que ela se desenvolva, a
b) a função do currículo escolar é reforçar o ensino de partir disto é sempre importante que o educador es-
linguagem e da matemática para atender ao mundo teja constantemente observando a realização das ta-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

do trabalho. refas para que possa organizá-la e planejá-la de forma


c) os conteúdos curriculares devem priorizar o ensino de que possibilite a criança superar suas dificuldades.
ciências e suas conexões com a vida prática do aluno.
d) os conteúdos curriculares devem reforçar o ensino 4. Sobre a avaliação na Educação Infantil, podemos afir-
de conteúdos da prática e minimizar os conteúdos mar que ela:
teóricos.
e) a cultura escolar deve desenvolver um ensino que crie a) deve ser baseada em julgamentos.
conexões entre o que o aluno aprende e as experiên- b) avalia-se para quantificar o que foi aprendido.
cias de vida. c) faz parte do processo de aprendizagem e é essencial
conhecer cada criança.
d) considera o “erro” como parte do resultado final.

114
Resposa: Letra C. É importante que o educador te- fantasia, é questionamento, e dessa forma consegue aju-
nha em mente que a avaliação em educação infantil dar a encontrar respostas para as inúmeras indagações
faz parte do processo de aprendizagem, porém é im- do mundo infantil, enriquecendo no leitor a capacidade
portante conhecer cada criança em suas habilidades e de percepção das coisas. ”.
dificuldades, para que busque o seu desenvolvimento No entanto, não podemos esquecer que os livros di-
constante. rigidos as crianças são escritos por adultos. Adulto esse,
que possui a intenção de transmitir através de seus tex-
tos, ensinamentos que julga, conforme sua visão adulta,
interessante para criança.
De modo que, em suma o “o livro infantil”, se bem
que dirigido à criança, é de invenção e intenção do adul-
TRABALHO COM TEXTOS DE LITERATURA
to. Transmite os pontos de vista que este considera mais
INFANTIL úteis à formação de seus leitores. E transmite-os na lin-
guagem e no estilo que adulto igualmente crê adequa-
dos à compreensão e ao gosto do seu público.
Alguns escritores escrevem para criança e apresen-
LITERATURA INFANTIL NA ESCOLA
tam uma linguagem simplista ao extremo, considerando-
-a como ser menor oferecem textos de menor qualidade
#FicaDica e que não acrescentam significação ao leitor, subestima,
dessa forma, a capacidade intelectual da criança. Ou, em
Neste material elaborado por Paiva e Oli- outros casos, não raros, escritores tentam incutir o tom
veira , verificamos que no Brasil, a Literatura moralizador para marcar sua obra. Contraria assim, a
Infantil e a escola sempre estiveram mutu- pretensão de agradar o gosto e satisfazer o apetite in-
amente atreladas. Os livros infantis encon- telectual infantil, causando, no entanto, o desprezo da
tram na escola, o espaço ideal para garantir criança pela obra.
atenção de seus leitores, mesmo que estes
sejam utilizados como leitura obrigatória e O livro infantil e a escola
usados como pretextos utilitários, informa-
tivos e pedagógicos. Lajolo, (2008) garante Por representar a chave de um patrimônio valioso, o
que se ler é essencial, a leitura literária tam- livro, objeto de leitura, durante muito tempo foi conside-
bém é fundamental. rado como um símbolo mágico, pois permitia por meio
dele, desvendar segredos. Ao longo da Idade Média,
membros da casta de religiosa tinham acesso à leitura,
condição esta, que possibilitava o acesso as informações
É à literatura, como linguagem e como instituição,
dos conteúdos de caráter sagrado e profano. Sendo as-
que se confiam os diferentes imaginários, as diferentes
sim, o clero gozava de grande poder espiritual e manti-
sensibilidades, valores e comportamentos através dos
nha prestígio perante os mais altos funcionários do po-
quais uma sociedade expressa e discute, simbolicamen-
der social.
te, seus impasses, seus desejos, suas utopias. Por isso a
O processo de industrialização no século XVIII ace-
literatura é importante no currículo escolar: o cidadão,
lerou a modernização da sociedade, com a migração da
para exercer, plenamente sua cidadania, precisa apossar-
população do campo para a cidade, fortalecendo a classe
-se da linguagem literária, alfabetizar-se nela, tornar-se
operária e intensificando a vida urbana. O livro ganha,
seu usuário competente, mesmo que nunca vá escrever
nesse processo, outra conotação, passa ser produto de
um livro: mas porque precisa ler muitos.
consumo da sociedade capitalista e atinge, também, a
Emprega-se a expressão Literatura Infantil ao conjun-
massa popular. O Capitalismo exige da população, além
to de publicações que em seu conteúdo tenham formas
do seu espaço consumidor na sociedade, aptidão aos
recreativas ou didáticas, ou ambas, e que sejam desti-
serviços especializados, adquiridos por uma instrução
nados ao público infantil. No entanto, especialistas que
melhor através dos livros.
debruçam nesta área consideram esta conceituação um
No entanto, o livro nunca perdeu sua magia. Por meio
tanto restrita, haja vista que muito antes da existência
do livro o leitor é capaz de projetar-se ao mundo da fic-
de livros e revistas infantis, a Literatura Infantil atuava na
ção. A leitura é a passagem do mundo real para o mundo
tradição oral, transmitindo a expressão da cultura de um
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

encantado dos livros. “Através do livro e da leitura, a hu-


povo de geração em geração. Arroyo (1990)
manidade pode divinizar-se, homens e mulheres podem
A literatura infantil é arte. E como arte deve ser
ser deuses, porque imantados pelas verdades expostas
apreciada e corresponder plenamente à intimidade da
nas escrituras. ”
criança. A criança tem um apetite voraz pelo belo e en-
Encontramos em Cervantes, o exemplo da projeção
contra na literatura infantil o alimento adequado para os
do leitor ao mundo da ficção. Na obra de Dom Quixo-
anseios da psique infantil. Alimento, esse, que traduz os
te de La Mancha, seu personagem Alfonso Quejana, não
movimentos interiores e sacia os próprios interesses da
cultivava dos prazeres de sua classe social, pois se entre-
criança. “A literatura não é, como tantos supõem, um
gava a leitura, ocupando seu precioso tempo devorando
passatempo. É uma nutrição. ”
livros sobre a cavalaria. Passava dias e noites acorda-
Para Frantz, “a literatura infantil é também ludismo, é
do, envolvido com a leitura, tanto que, declarou ser ele

115
mesmo, o Cavaleiro Andante. O leitor fictício morre ao A natureza e intensidade dessas emoções podem re-
final da obra, quando faltam os livros de que se alimen- percutir na vida do pequeno leitor de maneira definitiva.
tou durante anos. Não apenas ele se lembrará, até a morte, desse primeiro
A criança busca a mesma emoção que a personagem encantamento, [...]; muitas vezes, a repercussão tem re-
de Cervantes sentia em relação à leitura. E para que o sultados práticos: vocações que surgem, rumos de vida,
livro literário infantil atenda as expectativas da criança, determinações futuras.
Sosa (1978) pontua quatro elementos que servem de A técnica de desenvolvimento é outro elemento im-
base de sustentação da literatura infantil: o caráter ima- portante da literatura infantil. “Na técnica, nos é dado ad-
ginoso, o dramatismo, a técnica do desenvolvimento e a mirar o modo como o autor desenvolve o entrecho dos
linguagem. acontecimentos ante a avidez do leitor. ” Alguns livros
O livro interessante para criança deve recorrer ao ca- infantis são desprezados pelas crianças, pois apresenta
ráter imaginoso: traduzidos em mitos, aparições da anti- em seus textos a puerilidade que chegam a aparentar
guidade, monstros ou realidades dos tempos modernos;
a banalização da inteligência infantil, não preenchem
exposto numa forma expressiva qualquer: lenda, conto,
as exigências intelectuais e sentimentais da criança. “A
fábula, quadrinhos, etc.; descrito com beleza poética e
criança exige do adulto uma representação clara e com-
ilustrações que mais sugerem do que dizem. As crianças
deslumbram com o fabuloso, pois o gosto pelo mistério, preensível, mas não infantil. Muito menos aquilo que o
fantasia, prazer e emoção são inerentes a criança. Essa adulto costuma considerar como tal”.
característica de primar à imaginação é que afirmará o A linguagem é outro ponto a ser considerado de im-
máximo de interesse da criança. portância vital para degustação da obra e que resume
A criança é criativa e precisa de matéria-prima sadia, de certo modo a habilidade do autor. O leitor infantil re-
e com beleza, para organizar seu “mundo mágico”, seu quer uma linguagem simples, bem cuidada e agradável,
universo possível, onde ela é dona absoluta: constrói e para que não se torne um texto medíocre. “Quanto mais
destrói. Constrói e cria, realizando tudo o que ela deseja. depurada a expressão, quanto mais simples e bela a en-
A imaginação bem motivada é uma fonte de libertação, tonação da linguagem, mais a criança apreciará a leitura,
com riqueza. É uma forma de conquista de liberdade, para qual se sentirá mais atraída. ” Lajolo (2008) suge-
que produzirá bons frutos, como a terra agreste, que se re ainda, referindo seu estudo à linguagem dos poemas
aduba e enriquece, produz frutos sazonados. Isso explica utilizados na escola, que estes aproximem da cultura da
o fato dos contos de fadas serem fascinantes até os dias criança, ou seja, para que a criança tenha percepção e
atuais, pois atingem diretamente o imaginário da crian- reconhecimento da linguagem que o texto utiliza.
ça. Pois, a criança possui, ainda, uma sensibilidade esté-
tica, muitas vezes mais apurada que o adulto. “A criança Em outras palavras: leitor e texto precisam participar
mistura-se com as personagens de maneira muito mais de uma mesma esfera de cultura. O que estou chaman-
íntima do que o adulto. ” do de esfera de cultura inclui a língua e privilegia os vá-
O dramatismo é assim, o segundo traço essencial des- rios usos daquela língua que, no correr do tempo, foram
sa literatura infantil na visão de Sosa, “o drama é impor- constituindo a tradição literária da comunidade (à qual o
tante para a criança como tradução de seus movimentos leitor pertence) falante daquela língua (na qual o poema
interiores e quanto o pequeno leitor, nele, se sente viver. foi escrito). Monteiro Lobato, em sua obra “D. Quixote
Invenção e drama são, pois, os dois pilares essenciais de das crianças”, adaptação do clássico Dom Quixote de La
toda literatura que serve aos interesses da criança, não Mancha, de Miguel de Cervantes, retrata nos diálogos
importa a idade”
entre seus personagens Dona Benta e Emília, a necessi-
Os contos infantis possibilitam o despertar de dife-
dade em tornar a linguagem familiarizada pela criança:
rentes emoções e a ampliação de visões de mundo do
E Dona Benta começou a ler: -“Num lugar da Man-
leitor infantil. E nesse encontro com a fantasia, a criança
entra em contato com seu mundo interior, dialoga com cha, de cujo nome não quero lembrar-me, vivia, não há
seus sentimentos mais secretos, confronta seus medos muito, um fidalgo dos de lança em cabido, adarga antiga
e desejos escondidos, supera seus conflitos e alcança o e galgo corredor” Ché! – Exclamou Emília. – Se o livro
equilíbrio necessário para seu crescimento. “O espírito da inteiro é nessa perfeição de língua, até logo! Vou brincar
criança precisa do drama, da movimentação das perso- de esconder com o Quindim. Lança em cabido, adarga
nagens, da soma das experiências populares e tudo isso antiga, galgo corredor.... Não entendo essas viscondadas,
dito por meio das mais elevadas formas de expressão e não... [...] –Meus filhos – disse Dona Benta – esta obra
com inegável elevação de pensamento”. está escrita em alto estilo, rico de todas as perfeições
Por meio da projeção da criança nos contos infantis, e sutilezas de forma, razão pela qual se tornou clássi-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ela vive intensamente seus conflitos, medos e dúvidas. ca. Mas como vocês ainda não tem a necessária cultura
Referimos à projeção da criança nos contos infantis e para compreender as belezas da forma literária, em vez
ilustrações, considerando o pensamento de Benjamin, de ler vou contar a história com palavras minhas. [...] E
quando nos diz que “não são as coisas que saltam das Dona Benta começou, da moda dela: - Em certa aldeia da
páginas em direção à criança que as vai imaginando - a Mancha (que é um pedaço da Espanha) vivia um fidalgo
própria criança penetra nas coisas durante o contemplar, aí duns cinquenta anos, do que têm lança atrás da porta,
como nuvem que se impregna do esplendor colorido adarga antiga, isto é, escudo de ouro, e cachorro magro
desse mundo pictórico”. É por meio do imaginário que a no quintal – cachorro de caça. (LOBATO, 2004)
criança reconhece suas próprias dificuldades e aprende a A moralidade é um traço desmotivador para crian-
lidar com elas, podendo assim, se reconhecer melhor e se ça, quando esta percebe a ideia artificial estabelecida
conhecer como parte integrante do mundo que a cerca. da virtude como recompensa e o vício como castigo.

116
Acrescentamos ainda, que nesse processo, a escola apre- absolutamente nada a fazer para vos compreender. É
senta uma lógica de dominação, estabelecendo uma re- preciso que o amor-próprio do professor deixe sempre
lação de poder por meio de um controle disciplinar exer- algum espaço para o seu; é preciso que ele possa pensar:
cido pelo professor. Eu compreendo, eu entendo, eu ajo, eu me instruo.
Nesta lógica, o professor é considerado a figura do- Sosa (1978) explica que não é a moral da história
minante e guardião do saber. O aluno é vencido pelo que fica registrada como experiências de conhecimento,
ambiente escolar, sendo peça a ser moldada conforme mas o que fica registrada na alma da criança é o acon-
a visão do adulto. É obrigado seguir o que o professor tecimento dramático da fábula, as espertezas e astucia
determina. O uso da literatura infantil restringe ao servi- embutidas nas ações das personagens. É o drama apre-
ço do processo de manipulação da criança, cumprindo o sentado na fábula que dialogará com seu mundo íntimo
papel de transmissor de conhecimento conforme o de- e colaborará no conhecimento que necessitará para seu
sejo do adulto. O professor, figura dominante, utiliza a desenvolvimento. Portanto, a educação moral não é apli-
literatura infantil para transmitir normas de obediência e cada na vida da criança por meio de suas leituras, mas
bom comportamento. sim, por meio de suas próprias experiências com a vida
A etapa do imagismo ocupa uma pequena faixa de e ações.
tempo na vida da criança, quando a lógica característica Para Arroyo “a natureza da literatura infantil, o seu
da criança é substituída naturalmente pela lógica própria peso específico, é sempre o mesmo e invariável. Mudam
do adulto. Sendo assim, o didatismo moralizante da lite- as formas, o revestimento, o veículo de comunicação que
ratura infantil, que apresenta geralmente nas escolas, do é a linguagem”. O encantamento que a literatura infantil
qual tende a antecipar a lógica do adulto, predispõem proporciona ao leitor permanecera sempre e em todos
destruir a capacidade mítica, queimando, de certa forma, os lugares. No entanto, os problemas ainda não supe-
etapas de desenvolvimento interior da criança. rados pela Literatura Infantil encontram-se nas práticas
Mais tarde, escolar, depara-se com um ambiente, um pedagógicas que ainda insistem apresentar a Literatura
professor e um livro que não são os que ela ambiciona. Infantil com exercícios intelectuais ou pedagógicos, en-
sino da moral e bons costumes. Desviando, assim o po-
Um ambiente coercitivo, áspero e banal, em vez de liber-
der da imaginação que a Literatura Infantil proporciona e
tador, amigo e original; um professor que, na maioria dos
que seria o ideal na formação do leitor.
casos, é carcereiro e déspota, mais ditador do que pre-
O livro infantil só será considerado literatura infantil
sidente, mais inimigo do que colega, transmissor e não
legítima mediante a aprovação natural da criança. Para
receptor; um homem que, se lhe dirige uma pergunta,
isso o livro precisa atender as necessidades da criança,
não responde ou que se tem vontade de responder, não
que seriam: povoar a imaginação, estimular a curiosida-
é capaz de provocar perguntas; a criança depara com um
de, divertir e por último, sem imposições, educar e ins-
inimigo; e como necessidade de saber, depara-se com truir. Como afirma Oliveira: Os livros infantis, além de
o desencontro formal e a medida inexorável para seus proporcionarem prazer, contribuem para o enriqueci-
sentidos; um livro que é decalque piorado de obras de mento intelectual das crianças. Sendo esse gênero obje-
outros países, por vezes nem sequer adaptado ao seu to da cultura, a criança tem um encontro significativo de
meio, à sua realidade e à sua aspiração. Um livro frio, sem suas histórias com o mundo imaginativo dela própria. A
interesse para sua imaginação, desprovido de luz e graça criança tem a capacidade de colocar seus próprios signi-
para seus olhos. ficados nos textos que lê, isso quando o adulto permite
Um dos recursos literários muito utilizados no tra- e não impõe os seus próprios significados, visto estar em
balho com as séries iniciais do ensino fundamental são constante busca de uma utilidade que o cerca.
as fábulas. Enquanto gênero, as fábulas são narrativas Sendo assim, entendemos que a Literatura Infantil é
curtas, os personagens são animais, plantas ou objetos arte literária, destinada a determinado público. Serve ao
animados que ganham características humanas e no des- ensino, no entanto, não pode perder a faculdade estéti-
fecho trazem um ensinamento, uma moral. Habitualmen- ca. “Importa que o livro infantil não se limite e nem se de-
te, as fábulas refletem um método pedagógico em que termine, mas que sempre extrapole e convide à fruição.”
o aluno não precisa questionar ou refletir. Nessa visão Atualmente, a crescente circulação dos textos infan-
tradicionalista, a finalidade de seu uso é que os alunos se to-juvenis nos ambientes escolares. Ainda que essa pro-
identifiquem com a moral imposta pela fábula. moção dos textos literários tenha, quase sempre, a inten-
Todavia, poder-se-ia questionar, com base no próprio cionalidade voltada ao exercício didático e transferência
Rousseau, se o problema não se situa mais no suporte de informação. A escola é o espaço de encontro entre
teórico-metodológico tradicionalista que aprisionou este criança e livro. Cabe, então, a escola, a responsabilidade
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

gênero literário do que exclusivamente no conteúdo ou de inserir a criança ao mundo da leitura, e principalmen-
no formato das fábulas. Diz Rosseau: Nada é tão vão nem te, transformar os neoleitores em leitores permanente-
tão mal-entendido quanto a moral pela qual se termina mente interessados. Utilizamos o termo neoleitor confor-
a maior parte das fábulas. Como se essa moral não fosse me a definição de Almeida na apresentação de sua obra
ou não devesse ser compreendida na própria fábula, de “práticas de Leituras para neoleitores” (2008). Segundo
modo que a tornasse sensível ao leitor! Por que, então, o autor, o termo refere-se, grosso modo, aos leitores re-
acrescentando no fim essa moral, retirar-lhe o prazer de cém-formados, aqueles que acabam de sair de um pro-
encontrá-la por si mesmo? O talento de instruir é fazer cesso de alfabetização, sejam eles crianças ou adultos
com que o discípulo encontre prazer na instrução. Ora, Os discursos provenientes do meio educacional rela-
para isso, seu espírito não deve permanecer tão passi- cionam a falta do gosto pela leitura, por parte de crianças
vo diante de tudo o que lhe disserdes que não tenha que não receberam de suas famílias o incentivo à leitura,

117
como uma das causas do fracasso escolar do aluno e futu- A leitura se faz a partir um espectro múltiplo: homem,
ramente seu fracasso enquanto cidadão. A partir disso, ini- ação social e o conhecimento. Se a leitura for individual,
ciativas são criadas com o intuito de sanar este problema solitária, ela se torna inócua. Quando pensamos e refleti-
educacional. Iniciativas estas que se traduzem em projetos mos, pensamos a partir de uma realidade específica.
de leitura, expansão do mercado editorial de livros didá- No entanto, entendemos que, para ler e escrever é
ticos, paradidáticos e livros infanto-juvenis, o incentivo a preciso, antes de tudo, que a criança seja alfabetizada. E
pesquisas acadêmicas, e as discussões sobre a leitura em a escola é a instituição historicamente responsável para
encontros, seminários e congressos, dentre outras. cumprir a tarefa de alfabetizar em nossa sociedade. Lem-
Tornou-se clichê dizer que a leitura é a chave do sa- brando que, geralmente, os primeiros textos de leitura
ber, e com isso, recai sobre ela, o peso de responsabi- que as crianças entram em contato após vencer as car-
lidade da aprendizagem e, consequentemente, incide tilhas, são os textos dos livros didáticos, especialmente
sobre a literatura, o papel de agente instrumentalizador designados nas aulas de Língua Portuguesa.
da transformação social. Peso este, creditado pela falsa É comum encontrarmos nos livros didáticos da Língua
crença que os livros, por si só, resolvem o problema do Portuguesa, bons textos seguidos de maus exercícios, ou
analfabetismo, repetência e evasão escolar. quando não, depararmo-nos com conteúdo de um texto
Para Lahire, a construção do sucesso escolar da crian- geralmente fragmento ou adaptado, utilizado como pre-
ça não se limita na ausência ou presença de livros em texto para atividades de gramática e redação, ocupando,
casa. Mas estão ligadas as dinâmicas internas de cada assim, todo o tempo do aluno em desenvolvimento de
família: a afetividade entre os membros da família, a or- atividades. Não garantindo com isso, o desenvolvimento
dem doméstica, formas de autoridade familiar, as formas de uma leitura crítica e transformadora.
de investimento pedagógico, as formas familiares da cul- Comungamos da opinião de vários estudiosos reno-
tura e da escrita. Portanto, é a transmissão desse capital mados, que a escola precisa ensinar o aluno a explorar
cultural existente na família que influenciará o sucesso o texto e dominar a multiplicidade de gêneros textuais,
escolar da criança ou não. O autor explicita que, pois o neoleitor não possui habilidade linguística como
Quando a criança conhece, ainda que oralmente, his-
um leitor proficiente. Para isso, espera do educador, além
tórias escritas lidas por seus pais ela capitaliza- na relação
da leitura prévia do material oferecido ao aluno, que este,
afetiva com seus pais – estruturas textuais que poderá re-
ofereça diferentes gêneros textuais para a degustação de
investir em suas leituras ou nos atos de produção escrita.
leitura para o leitor.
Assim, o texto escrito, o livro, para a criança, faz parte
É comum perceber, em relação ao material determi-
dos instrumentos, das ferramentas cotidianas através dos
nado e utilizado pelos educadores para iniciação do leitor
quais recebe o afeto de seus pais. Isto significa que, para
e promoção da leitura que, talvez, por falta de formação
ela, afeto e livros não são duas coisas separadas, mas que
são bem associadas. Não é raro encontrarmos em família específica, os educadores não conseguem distinguir o
de pais leitores, livros cuidadosamente guardados, sendo livro didático, ou o livro paradidático dos livros de litera-
a criança impedida de manuseá-lo ou pais que investem tura infanto-juvenil. Sendo assim, acabam na maioria das
na compra de livros e enciclopédias, mas não acompa- vezes, utilizando o material meramente com finalidades
nham seus filhos em suas descobertas na leitura. Enten- pedagógicas ou utilitárias.
demos que o ideal seria a família desempenhar o papel Os livros paradidáticos são muito utilizados nas esco-
de intermediários no processo de descobertas, o que las por apresentarem características utilitaristas, ou seja,
possibilitaria a apropriação do capital cultural. com intencionalidade determinada vinculada à escola.
Em contrapartida, também não é raro encontrarmos Neste sentido, o livro paradidático extingue a experiência
em famílias com pouco acesso à leitura, mas que cul- estética e trata seus leitores de forma homogênea, o que
tivam hábitos de fazer anotações, lembretes, agendar, os distingue dos livros literários. Os livros paradidáticos
racionalizar, prever, planejar, calcular o tempo e gastos. apresentam uma metodologia determinada de trabalho.
Pais que fazem que os filhos leiam e escrevam histórias, Pretendem, com este tipo de trabalho, que os leitores
fazem-lhes perguntas sobre o que estão lendo, envol- cheguem a uma única interpretação do texto lido. Geral-
vem seus filhos na organização familiar e mantém com mente, contém fichas de leituras, elaboradas por autores
a criança uma relação que permita a transmissão da ma- ou especialistas para serem preenchidas pelos leitores.
neira de ver e sentir o mundo a sua volta, possibilitando Educadores assumem um papel coadjuvante nesse
assim, o bom encaminhamento escolar. Pois, “o aluno processo, pois delegam a outros, o planejamento das
que vive em um universo doméstico material e temporal- atividades de literatura que serão desenvolvidas com
mente ordenado adquire, portanto, sem o perceber, mé- seus alunos. Pois, nos livros paradidáticos, as atividades
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

todos de organização, estruturas cognitivas ordenadas e são pré-determinadas e as fichas de leituras, já elabora-
predispostas a funcionar como estruturas de ordenação das, são utilizadas pelo educador, somente como critério
do mundo”. de avaliação e garantia de leitura realizada, camuflando
Pelo que vimos, não seria possível, somente por meio assim, o despreparo do educador com a prática da lite-
dos livros, alcançarem um bom desenvolvimento do pen- ratura e a pouca familiaridade com a leitura dos livros
samento do leitor e assim, garantir condições para mo- desenvolvida em sala de aula.
bilidade social do aluno. Para que haja êxito no processo É importante lembrar que os livros literários não são
de formação de leitor, o educador deve ter clareza de livros paradidáticos, mesmo que muitos professores es-
sua metodologia com a literatura infantil em sala de aula, vaziem seu significado, utilizando-os com o mesmo fim.
despertar questionamentos e promover a construção de “O texto literário é aquele que não possui compromisso
novos significados. com o leitor, com os textos paradidáticos ou com o texto

118
didático. Ele é estético, criação, imaginário, fantasia, pen- Desta forma, entendemos que o simples fato de sa-
samento e atitude”. Estas características do texto literário, ber ler não transforma o indivíduo em leitor competente,
por sua vez, podem desencadear, como consequência, a mas sim, na medida em que são desafiados por leituras
construção da criticidade nos educandos. progressivamente mais complexas e que compartilham
Acredita-se que a literatura vem solidificar o espaço suas visões de mundo, é que se tornam leitores literários.
da leitura na escola enquanto formação de leitores, sen- Cosson define o bom leitor como “aquele que agen-
do assim, torna-se importante que o educador não dê a cia com os textos os sentidos do mundo, compreenden-
todos os gêneros textuais, um caráter utilitário, porque do que a leitura é um concerto de muitas vozes e nunca
o prazer de ler está relacionado ao prazer de criar no- um monólogo. Por isso, o ato físico de ler pode até ser
vas situações, de adentrar num mundo diferente através solitário, mas nunca deixa de ser solidário. ”
das histórias infantis, num mundo de sonhos e ações Sendo assim, torna-se imprescindível ressaltar que os
dos personagens das histórias infantis, desmistificando educadores precisam ver o aluno como parte essencial
preconceitos, relacionando fatos com sua própria vida, deste processo, promovendo a interação texto-leitor,
pensando assim, uma forma de tornar o mundo com- não podendo fazer do processo educativo uma corrente
preensível e mais humano. Pois, a literatura, ao nos con- de mão única. Como afirma Cosson “Ler implica troca de
vidar para o contato com diferentes emoções e visões de sentidos não só entre o escritor e leitor, mas também
mundo, proporciona condições para o crescimento inte- com a sociedade onde ambos estão localizados, pois os
rior, possibilitando a formação de parâmetros individuais sentidos são resultado de compartilhamentos de visões
para medir e codificar seus próprios sentimentos e ações. do mundo entre os homens no tempo e no espaço. ”
De outro ponto de vista, Abramovich discute como Assim, percebemos que a escola nem sempre está
desenvolver por intermédio da literatura, o potencial crí- preparada e atenta para formar bons leitores, pois não
tico da criança. Argumenta que por meio de um material proporciona possibilidades de encontro significativos da
literário de qualidade, a criança é capaz de pensar cri- criança com a obra quando limita a criança ao contato
ticamente e reformular seu pensamento. Considerando apenas com textos didáticos. Pois, o leitor quando en-
aqui, como qualidade do material literário para o bom volvido numa relação de interação com a obra literária,
desempenho do processo da formação do leitor literário, encontra significado quando lê, procura compreender o
textos que apresentam uma proposta ficcional que aten- texto e relaciona com o mundo à sua volta, construindo
ta o imaginário dos leitores e os excita a compor novas
e elaborando novos significados do que foi lido. Só as-
possibilidades para perceber o mundo a sua volta. Con-
sim, a leitura pode contribuir de forma significativa numa
trariando, desta forma, os textos que objetivam inculcar
sociedade letrada, no exercício da cidadania e no desen-
valores, mudar comportamentos ou informar ao leitor,
volvimento intelectual.
por meio da história ficcional ou dos personagens, sobre
Podemos pensar sobre o letramento literário no sen-
determinado assunto.
tido que a literatura nos letra e nos liberta, apresentan-
No entanto, é preciso rever a postura do educador
do-nos diferentes modos de vida social, socializando-nos
que se preocupa em formar leitores sem analisar pro-
fundamente para quê quer formar leitores. Essa revisão e politizando-nos de várias maneiras, porque nos textos
implicará, sem dúvida, na construção e uso de uma me- literários pulsam forças que mostram a grandeza e a
todologia mais adequada para a formação do leitor lite- fragilidade do ser humano; a história e a singularidade,
rário, promovendo como práticas literárias na escola a entre outros contrastes, indicando-nos que podemos ser
leitura efetiva dos textos, rompendo com atividades es- diferentes, que nossos espaços e relações podem ser ou-
téreis de literatura, ou seja, que exigem o domínio das tros. O outro nos diz a respeito de nós mesmos – é na
informações sobre a literatura ou impera a ideia que o relação com o outro que temos oportunidade de saber
importante é que o aluno leia, não importando o que, de nós mesmos de uma forma diversa daquela que nos
pois, o que o importa é prazer de ler. “Ao contrário, é é apresentada apenas pelo viés do nosso olhar: Portan-
fundamental que seja organizada segundo os objetivos to, entendemos que a escola que objetiva a formação
da formação do aluno, compreendendo que a literatura do leitor literário, deve ter como princípios o ensino da
tem um papel a cumprir no âmbito escolar. ” Papel este, literatura “sem o abandono do prazer, mas com o com-
que permita que a leitura literária seja exercida com pra- promisso de conhecimento que todo saber exige”. Para
zer, mas, também, com o compromisso construção do isso, torna-se inevitável pensar a qualidade do material
conhecimento, já que na escola, a literatura é um lócus literário oferecido aos alunos e a formação dos professo-
de conhecimento e deve ser desenvolvida de maneira res mediadores da leitura literária.
correta com o objetivo de formar o sujeito intelectual- A pesquisa investiga a existência de uma proposta
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

mente e eticamente mais humanizado. para o letramento literário nas séries iniciais do ensino
O insucesso na formação do bom leitor ocorre quan- fundamental, para isso, busca a compreensão da concep-
do a escola denota a importância ao aluno que lê, não ção dos professores e o desenvolvimento da prática da
importando com o que se lê, pois, a escola concebe a literatura infantil. No entanto, neste momento, que é o
literatura como mera fruição. Magnani alerta-nos sobre a momento inicial da pesquisa, alguns elementos devem
liberdade de escolha da leitura dos alunos: ser considerados dentro da perspectiva de um primeiro
Se propomos ao aluno que ele deve ler apenas o que olhar. A coleta de dados, durante esse período, se res-
gosta, não podemos nos esquecer de que esse gosto tringiu ao registro de observações em sala de aula.
não é tão natural assim. Pelo contrário, é profundamen- Podemos perceber, logo nos primeiros acompanha-
te marcado pelas condições sociais e culturais de acesso mentos dos professores nas aulas de literatura infantil, a
aos códigos de leitura e escrita. grande dificuldade dos professores, na escolha adequada

119
do material literário para o desenvolvimento da forma- algum tempo. Na mesma ocasião, começam a despontar
ção do leitor literário. Isso porque, a relação entre lite- autores novos, como Francisco Marins, Maria José Dupré,
ratura e educação é contraditória, ou seja, a literatura é Lúcia Machado de Almeida, entre outros. As modifica-
um espaço de liberdade, que prima pela imaginação e ções revelam o limiar de uma nova era, não apenas da li-
prazer, enquanto a educação traz, ainda, resquícios de teratura, mas da sociedade brasileira, dando lugar a uma
uma educação reprodutivista dos comportamentos tra- arte de orientação pós-modernista.
dicionais, que valoriza mais a lógica e racionalista que a
imaginação. Gouvea diz que: Entre estes dois limites cronológicos, 1920-1945,
A imaginação permite-nos desenvolver o pensamen- toma corpo a produção literária para crianças, aumen-
to criativo, fundamental para nossa inserção no mundo. tando o número de obras, o volume das edições, bem
Contudo, a escola pouco valoriza e trabalha a imagina- como o interesse das editoras, algumas delas, como a
ção, como se ela fosse apenas resultado de uma racio- Melhoramentos e a Editora do Brasil, dedicadas quase
nalidade pouco desenvolvida na criança, como se, ao que exclusivamente ao mercado constituído pela infân-
longo do processo de desenvolvimento, a imaginação cia. E, se Lobato abre o período com um best-seller, o su-
fosse substituída pela razão, característica do pensamen- cesso não o abandona; nem a ele, nem ao gênero a que
to adulto. se consagra, o que suscita a adesão dos colegas de ofício,
Como mencionamos anteriormente, a leitura praze- a maior parte originária da recente geração modernista.
rosa não exclui a aquisição de conhecimentos, ao contrá- Todavia, a proliferação de textos não acontece ime-
rio disso, por meio de textos abertos e variados, o leitor diatamente. Na década de 20, destacam-se, dentre as
é estimulado à curiosidade, assimila novas informações e criações de autores nacionais, quase que solitárias, as
experimenta diferentes emoções, construindo, desta for- obras de Lobato. Suas raras companhias foram: as histó-
ma, novos conhecimentos. rias de Tales de Andrade, publicadas na coleção Encanto
e Verdade, da Melhoramentos; e o livro de Gondim da
Livros e autores Fonseca, O reino das maravilhas (1926) que, editado no
conjunto da Biblioteca Quaresma, prolonga, nesse perío-
Em 1921, Monteiro Lobato publica Narizinho Arrebi- do, certos traços da fase anterior, dependente, como se
tado (Segundo livro de leitura para uso das escolas pri- viu, das adaptações dos contos tradicionais.
márias), após ter se preocupado com a literatura infantil, Dez anos depois de seu primeiro empreendimento
conforme sugere a correspondência trocada com Godo- literário na área da literatura infantil, Lobato remodela a
fredo Rangel, com quem comenta a necessidade de se história original de Narizinho e a reúne a algumas outras
escreverem histórias para crianças numa linguagem que que escrevera até então. O texto resultante constitui as
as interessasse. Na mesma época, quando esse objetivo Reinações de Narizinho que, em 1931, dá início à etapa
era ainda vago e distante, faz uma enquete a respeito do mais fértil da ficção brasileira, pois, além do aparecimen-
Saci, entidade mágica cuja popularidade o impressiona, to de novos autores, como Viriato Correia (que concorre
vindo a reaparecer na sua segunda obra para a infância, com Lobato na preferência das crianças, graças ao suces-
lançada também em 1921. so de Cazuza, de 1938) ou Malba Tahan, incorporam-se à
No princípio, Narizinho Arrebitado repetiu o sucesso literatura infantil escritores modernistas que começavam
de vendas de Saudade, de Tales de Andrade, sendo, ao a se salientar.
mesmo tempo, adotado nas escolas públicas do Estado
de São Paulo. A partir de então, Lobato, já escritor famo- Com isso, romancistas e críticos de 30 compartilham a
so, passa a correr numa outra faixa: investe progressiva- evolução da literatura infantil brasileira, embora de modo
mente na literatura para crianças, de um lado como autor, diferenciado. Alguns recorreram ao folclore e às histórias
de outro como empresário, fundando editoras, como a populares: José Lins do Rego publicou as Histórias da ve-
Monteiro Lobato e Cia., depois a Companhia Editora Na- lha Totônia (1936), Luís Jardim, O boi aruá (1940), Lúcio
cional e a Brasiliense, e publicando os próprios livros. O Cardoso, Histórias da Lagoa Grande (1939), Graciliano
comportamento é original, pois, na ocasião, havia poucas Ramos, Alexandre e outros heróis (1944). Outros criaram
casas editoras, a maioria aparecida e moldada no século narrativas originais, como Érico Veríssimo, em As aven-
XIX, como a Francisco Alves, a Briguiet ou a Quaresma, e turas do avião vermelho (1936) ou, de novo Graciliano
eram raros os livros infantis. Reunir ambas as iniciativas Ramos, em A terra dos meninos pelados (1939). Alguns
era ainda mais ousado, mas é gesto de quem inaugura lançaram um único título, como os citados José Lins do
novos tempos enquanto está se iniciando a uma nova Rego e Lúcio Cardoso; outros, porém, mantiveram uma
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

modalidade de expressão literária. Tantas novidades se produção regular por certo tempo, como Érico Veríssi-
associam à época, marcada por revoluções e mudanças mo, entre 1936 e 1939, Menotti del Picchia, escrevendo
em todas as áreas, que se justifica que o período domi- histórias de aventuras como as de João Peralta e Pé-de-
nado por este indivíduo que mescla atividades artísticas -Moleque, Cecília Meireles, com seus livros didáticos,
e industriais receba a classificação de modernista. Max Yantok, até então ilustrador da revista O Tico-Tico. E
Lobato encerra o ciclo de aventuras dos netos de há ainda os não tão assíduos, como Lúcia Miguel Perei-
Dona Benta com a narração de episódios transcorridos ra, Marques Rebelo, Jorge de Lima e Antônio Barata. No
na Grécia clássica, editados parceladamente durante conjunto, predominou soberanamente a ficção, ficando
1944 e reunidos a seguir em Os doze trabalhos de Hér- quase ausente a poesia, mas também ela foi representa-
cules. A partir daquele ano, Lobato não publica livros no- da por modernistas: Guilherme de Almeida, autor de O
vos no Brasil, e sim na Argentina, para onde se muda por sonho de Marina e João Pestana, ambos de 1941, Murilo

120
Araújo, com A estrela azul (1940), e Henriqueta Lisboa, processo de industrialização que acompanha, em para-
que escreveu o livro de poesias mais importante do pe- lelo, a história dos livros para a infância no Brasil. Assim,
ríodo: O menino poeta (1943). após a fase de estruturação do gênero através de inicia-
O crescimento quantitativo da produção para crian- tivas pioneiras e corajosas, como a de Monteiro Lobato,
ças e a atração que ela começa a exercer sobre escri- o momento seguinte foi uma etapa de produção inten-
tores comprometidos com a renovação da arte nacional sa e fabricação em série, respondendo de modo ativo
demonstram que o mercado estava sendo favorável aos às exigências crescentes do mercado consumidor em
livros. Essa situação relaciona-se aos fatores sociais: a expansão.
consolidação da classe média, em decorrência do avan- Alguns autores estrearam ainda nos anos 30, como
ço da industrialização e da modernização econômica Ofélia e Narbal Fontes (Precisa-se de um rei é de 1938),
e administrativa do país, o aumento da escolarização Jerônimo Monteiro, que, com O ouro de Manoa (título
dos grupos urbanos e a nova posição da literatura e da original: O irmão do diabo), de 1937, inicia seu ciclo ama-
arte após a revolução modernista. Há maior número de zônico, ou Vicente Guimarães, diretor de revistas infantis,
como Caretinha (1935) e Sesinho (1947-1960), e criador
consumidores, acelerando a oferta; e há a resposta das
de personagens como João Bolinha, nos livros João Roli-
editoras, motivadas à revelação de novos nomes e títu-
nha virou gente (1943) e Boa vida de João Rolinha (1968).
los para esse público interessado, seja de modo parcial,
Porém, a maior parte do grupo publica seu primeiro
como a Globo, que edita Érico Veríssimo, Lúcio Cardoso, livro depois de 1940. Nesse ano, Maria José Dupré lança
Cecília Meireles, entre outros. Ao final desses 25 anos, a A mina de ouro e O cachorrinho Samba na Bahia, histó-
literatura para crianças oferece um largo espectro de au- rias em que aparece o elenco de personagens de livros
tores envolvidos com ela e contempla os leitores forma- posteriores, como A ilha perdida (1946) ou O cachorrinho
dos pela assiduidade às obras a eles destinadas. Sendo, Samba (1949); e, em 1943, edita Éramos seis, até hoje seu
no início do período, uma produção rala e intermitente, maior sucesso de vendas.
vai se fortalecendo, até os anos 40, quando o Moder- Também do início da década de 40 é a publicação
nismo encerrava seu ciclo, num acervo consistente, de da primeira narrativa de Lúcia Machado de Almeida, No
recorrência contínua, integrado definitivamente ao con- fundo do mar (1943), que, reunida a outras da mesma
junto da cultura brasileira. época, como O mistério do polo (1943) e Na região dos
peixes fosforescentes (1945), veio a formar, em 1970, as
Escritores em série Estórias do fundo do mar.

Em 1942, Lourenço Filho, em palestra para os mem- Em 1945, aparecem os primeiros livros de outros es-
bros da Academia Brasileira de Letras, apresentou um critores, alguns ativos até nossos dias: O caranguejo bola,
balanço da literatura infantil de seu tempo, constatando de Maria Lúcia Amaral, A estrela e o pântano, de Elos
que, naquele ano, encontravam-se à venda “nada menos Sand, Nas terras do rei Café, com o qual Francisco Marins
de 605 trabalhos, dos mais diversos gêneros e tipos”. abre a série das histórias passadas em Taquara-Poca (Os
A quantidade, no entanto, não justificava grandes en- segredos de Taquara-Poca. O coleira preta e Gafanhotos
tusiasmos, pois o conferencista também denunciava que, em Taquara-Poca, todos de 1947), O pajem que se tor-
“dessas, 434 representam traduções, adaptações e mes- nou rei, de Renato Sêneca Fleury (que, desde então, pro-
mo grosseiras imitações”; e que, “das 171 obras originais duziu inúmeros contos similares, como História do cor-
de autores brasileiros, cerca de metade são de medíocre cundinha, de 1946, Os anões feiticeiros, de 1950,0 vaso
qualidade, quer pela concepção e estrutura, quer tam- de ouro, e 1950, ou O príncipe dos pés pequenos, de
1955), Araci e Moacir e O curumim do Araguaia, ambos
bém pela linguagem. Não mais de metade desses livros
de Luiz Gonzaga de Camargo Fleury. Um pouco mais tar-
mereceria figurar em bibliotecas infantis, se devidamente
de, em 1947, Virgínia Lefèvre publica seu primeiro livro, A
apurados quanto à forma e ao fundo”.
lagostinha encantada, a que se seguiram várias histórias
Se a quantidade não conferia atestado de qualidade, de semelhante teor.
mostrava ao menos que a indústria do livro para crianças A maioria dos escritores que surgem nessa década
se afirmara como consequência do trabalho da geração caracteriza-se por produzir quantidade considerável de
modernista. Para os autores novos, a tarefa não era mais obras, dando sequência ao fenômeno apontado por Lou-
a de conquistar um mercado, mas a de mantê-lo cativo renço Filho. Raros são os escritores que, como Alfredo
e interessado. Mesquita, autor de Sílvia Pélica na Liberdade (1949), res-
Para tanto, havia uma infraestrutura de melhor nível, tringiram-se a um único título. No geral, as histórias repe-
com editoras especializadas em literatura para crianças, tem temas e/ou personagens, explorando cada veio até a
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

como ocorreu com a Brasil, Melhoramentos e Saraiva e, exaustão, o que, por sua vez, facilita a profissionalização.
em menor proporção, com a Brasiliense, herdeira da obra Nos anos 50, a tendência não se modifica, embora os
de Monteiro Lobato, principal acervo de nossas letras motivos literários variem. A ficção histórica volta a ser ex-
infantis. De sua parte, os escritores se profissionalizam plorada nas obras de Francisco Marins, Baltazar de Godói
nesse campo, produzindo apenas livros destinados ao Moreira e Virgínia Lefèvre. Destacam-se também as bio-
público infanto-juvenil. grafias, assinadas por Renato Sêneca Fleury (autor, en-
tre outros, de O Duque de Caxias, de 1947, Anchieta, de
A profissionalização, acompanhada de especializa- 1948, Santos Dumont, de 1951, O padre Feijó, de 1958),
ção, por parte de editoras e escritores, é um dos traços Clemente Luz (Infância humilde de grandes homens, de
marcantes do período que ocupa as décadas entre 1940 1957) e Cecília Meireles (Rui: pequena biografia de um
e 1960. Ele baliza, portanto, a etapa subsequente do grande homem, de 1949).

121
Predominam as histórias transcorridas na floresta ou, Essa mobilização do Estado, apoiando e agilizando
sobretudo, no campo, como se vê nos livros de Baltazar entidades envolvidas com livros e leitura, correspon-
de Godói Moreira (A caminho d’Oeste), Ivan Engler de Al- deu, no plano da iniciativa privada, ao investimento de
meida (... E a Malhada falou, de 1951, e Na fazenda do Ipê grandes capitais em literatura infantil, quer inovando sua
Amarelo, de 1962), Clemente Luz (Bilino e Jaca, de 1956), veiculação (agora também confiada a revistas e livros
Francisco Barros Jr. (cuja série dos três garotos escoteiros vendidos em bancas ou diretamente comercializados
começa com Três garotos em férias no rio Tietê, de 1951) em colégios), quer aumentando o número e o ritmo de
e Osvaldo Storni, autor de O caipirinha Mané Quixi, edi- lançamento de títulos novos. Outra forma de adequação
tado em 1955. Leonardo Arroyo, por sua vez, escolhe a a esse mercado ávido porém desabituado da leitura foi
cidade de Salvador para cenário de Você já foi à Bahia? a inclusão, em livros dirigidos à escola, de instruções e
de 1950, ano em que também publicou História do galo. sugestões didáticas: fichas de leitura, questionários, ro-
A enumeração de autores e obras dedicados à nar- teiros de compreensão de texto marcam o destino es-
rativa revela a fertilidade literária desse período. Porém, colar de grande parte dos livros infanto-juvenis a partir
a poesia, como já ocorrera antes, não teve muitos se- de então lançados, quando também se tornam comuns
guidores, limitando-se unicamente ao livro de Olegário as visitas de autores a escolas, onde discutem sua obra
Mariano, Tangará conta histórias (1952). com os alunos.
Ambos os fatos são significativos, porque, se é mar- O reflexo dessa nova situação não se fez esperar:
cante a quantidade de textos novos, possibilitando a traduziu-se no desenvolvimento de um comércio espe-
profissionalização do escritor, fica claro também o tipo cializado, incentivando, nos grandes centros, a abertura
de profissionalização facultada: a que adere à produção de livrarias organizadas em função do público infantil e
de obras repetitivas, explorando filões conhecidos e evi- atraiu, para o campo dos livros para crianças, um grande
tando a pesquisa renovadora. O resultado levou ao me- número de escritores e artistas gráficos que, com mais
nor reconhecimento artístico e à maior marginalização rapidez que muitos de seus colegas dedicados exclusiva-
da literatura infantil, se comparada aos demais gêneros mente ao público não-infantil, profissionalizaram-se no
existentes. Talvez se tratasse de uma profissionalização ramo.
precária, não compensando os riscos. Por isso, não atraiu,
Muitos autores, inclusive os consagrados, não des-
ao contrário do ocorrido nos anos 30, artistas de renome
prezaram a oportunidade de inserir-se nesse promissor
ou intelectuais comprometidos com os projetos literários
mercado de livros, o que trouxe para as letras infantis o
em voga.
prestígio de figuras como Mário Quintana, Cecília Meire-
Decorre desse fato um descompasso estático entre
les, Vinícius de Morais e Clarice Lispector.
a literatura infantil e a não-infantil, esta, profundamente
Não é, assim, de se estranhar que, mais do que em
permeável ao processo de renovação estimulado pelas
vanguardas que se impunham na mesma época. É por qualquer época anterior, nos últimos anos, em particular
outro caminho que se estabelece a relação entre elas: de na década de 70, a produção literária infantil brasileira
um lido, com os rumos da industrialização nacional, que conte com tantos autores e títulos, que deixam a perder
viabiliza sua produção e consumo regulares; de outro, de vista os 605 trabalhos que Lourenço Filho registra no
com os temas dominantes, transmitidos pelos segmentos balanço que faz, em 1942, da literatura infantil de seu
erudito e popular da cultura. Por causa disso, a literatura tempo.
infantil reforça sua atuação enquanto proposta de leitura Livros infantis constituem, contemporaneamente, um
da sociedade brasileira em expansão modernizadora, no próspero segmento de nossas letras. Cresce o prestígio
sentido do crescimento industrial e da urbanização. do autor nacional e os títulos brasileiros vão se impondo.
Entre 1975 e 1978, por exemplo, de um total de 1.890
Indústria cultural & renovação literária títulos, 50,4% constituem traduções (953 títulos) e 46,6%
são textos nacionais*. Essas percentagens, comparadas
Escritores de hoje às cifras mencionadas por Lourenço Filho a propósito
dos anos 40, quando o total de traduções ultrapassava
Multiplicam-se, nos anos 60, instituições e programas 70% do conjunto, parecem indicar que, ao contrário do
voltados para o fomento da leitura e a discussão da lite- que sucede em outras áreas da produção cultural brasi-
ratura infantil. É por essa época que nascem instituições leira, no setor de livros destinados à infância o material
como a Fundação do Livro Escolar (1966), a Fundação brasileiro está conquistando espaços progressivamente
Nacional do Livro Infantil e Juvenil (1968), o Centro de maiores.
Estudos de Literatura Infantil e Juvenil (1973), as várias
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Associações de Promissores de Língua e Literatura, além Essa produção maciça de obras para crianças inse-
da Academia Brasileira de Literatura Infantil e Juvenil, re-se num contexto social, político e econômico que
criada em São Paulo, em 1979. favorece um modo de produção bastante moderno e
Ao longo dos anos 70, o Instituto Nacional do Livro condizente com a etapa do capitalismo que os anos 60
(fundado em 1937) começa a coeditar, através de convê- inauguram no Brasil. Desde os tempos de Lobato, a li-
nios, expressivo número de obras infantis e juvenis, o que teratura infantil é pioneira na inserção do texto literário
representa, do ponto de vista do Estado, um investimen- em instâncias que modernizam sua forma de produção
to bastante significativo na produção de textos voltados e circulação. Hoje, ao responder adequadamente ao de-
para a população escolar, cujo baixo índice de leitura, safio de modernização da produção cultural, a literatura
por essa mesma época, começa a preocupar autoridades infantil brasileira assume um dos traços mais fortes da
educacionais, professores e editores. herança lobatiana.

122
O fato de os livros para crianças serem produzidos casa da madrinha (1978), de Lygia Bojunga Nunes; Coisas
dentro de um sistema editorial mais moderno implica re- de menino (1979), de Eliane Ganem; Os meninos da rua
gularidade de lançamento no mercado e agenciamento da Praia (1979), de Sérgio Caparelli.
de todos os recursos disponíveis para criação e manuten-
ção de um público fiel. Como consequência, alguns escri- Pivete faz parte da Coleção do Pinto, lançada em 1975
tores lançam vários livros por ano, perfazendo dezenas e pela editora Comunicação: parece ter cabido a ela a con-
dezenas de títulos que independentemente da qualidade solidação (mesmo que ao preço de um certo escândalo)
garantem seu consumo graças à obrigatoriedade da lei- de uma literatura infantil comprometida com a represen-
tura e à agressividade das editoras. tação realista e às vezes violenta da vida social brasileira.
Ao lado destas, porém, inspiradas pela necessidade O resultado é um esforço programado de abordar temas
de produção industrial, outras soluções seguem também até então considerados tabus e impróprios para meno-
na esteira lobatiana, tal como o reforço da produção por res. O menino e o pinto do menino (1975), de Wander
séries, isto é, grupos de obras que repetem, ao longo de Piroli, inaugura a coleção e a moda, tematizando a baixa
vários títulos, personagens e/ou cenários. Depois de Lo- qualidade de vida num condomínio apertado. No ano se-
bato, que não abandona o sítio de Dona Benta nem seus guinte, Os rios morrem de sede, do mesmo autor, aponta
netos e moradores, vários escritores contemporâneos re- a poluição da natureza como decorrência da urbaniza-
petem figuras e ambientes, fazendo sua obra correr o ris- ção desenfreada. A partir daí, várias obras se ocupam da
co da redundância e aproximando-se perigosamente da representação de situações até então evitadas na litera-
cultura de massa. E o caso (para ficarmos em exemplos tura infantil: O dia de ver meu pai (1977), de Vivina de
que souberam evitar a massificação) dos livros de Edy Assis Viana, trata da separação conjugal. Cão vivo leão
Lima (A vaca voadora, 1972; A vaca deslumbrada, 1973; morto (1980), de Ary Quintella, trata do extermínio dos
A vaca na selva, 1973) e de João Carlos Marinho que, a índios. Iniciação (1981) e Zero zero alpiste (1978), ambos
partir de O gênio do crime (1969), renova a circulação de Mirna Pinsky, focalizam, respectivamente, o amadu-
de sua turma de personagens modelados pela alta classe recimento sexual de uma menina e a repressão social ao
média paulista em O caneco de prata (1971) e mais re- choro do menino. Xixi na cama (1979), de Drummond
centemente em Sangue fresco (1982). Amorim, e Nó na garganta(1979) de Mima Pinsky falam
do preconceito racial. Vovô fugiu de casa (1981) de Sér-
A literatura infantil brasileira mais contemporânea gio Caparelli trata da marginalização dos velhos. E assim
também reata pontas com a tradição lobatiana por ou- por diante, num rodopio que fez submergir a velha prá-
tras vias. Por exemplo, pela inversão a que submete os tica de privilegiar nos livros infantis apenas situações não
conteúdos mais típicos da literatura infantil. Essa tendên- problemáticas. Com isso, submergiu também o compro-
cia contestadora se manifesta com clareza na ficção mo- misso do livro infantil com valores autoritários, conserva-
derna, que envereda pela temática urbana, focalizando o dores e maniqueístas.
Brasil atual, seus impasses e suas crises. Assim, a imagem exemplar da criança obediente e
Nesse percurso de urbanização, o sinal de partida é passiva frente à rotina escolar sai bastante desgastada
dado por Isa Silveira Leal, e sua série de Glorinhas: Glo- de A fada que tinha ideias (1971), de Fernanda Lopes de
rinha (1958), Glorinha e o mar (1962), Glorinha bandei- Almeida. E o próprio mundo fantástico tradicional que
rante (1964), Glorinha e a quermesse (1965), Glorinha sofre uma revisão drástica em obras como Soprinho
radioamadora (1970). (1973), de Fernanda Lopes de Almeida, A breve histó-
Se o Brasil das Glorinhas já é urbano, é só com Jus- ria de Asdrubal, o terrível (1971), de Elvira Vigna, A fada
tino, o retirante (1970), de Odette de Barros Mott, que desencantada (1975), de Eliane Ganem, História meio ao
a literatura infantil brasileira passa a apontar crises e contrário (1979), de Ana Maria Machado, Onde tem bru-
problemas da sociedade contemporânea. A partir dessa xa tem fada (1979), de Bartolomeu Campos Queirós.
obra, a tematização da pobreza, da miséria, da injustiça,
da marginalização, do autoritarismo e do preconceitos Essa linha social da narrativa infantil brasileira con-
torna-se irreversível e progressivamente mais amarga. Se temporânea tem desdobramentos importantes, que a
na história de Justino em 1970 ainda havia a alternati- fazem debruçar-se, por exemplo, sobre a perda da iden-
va da fuga à seca nordestina, A rosa dos ventos (1972), tidade infantil: nos apertos da vida de uma família po-
da mesma autora, é menos otimista: Luís, morador da bre e impaciente, como a retratada em A bolsa amarela
periferia paulistana, ao contrário das personagens típi- (1976), de Lygia Bojunga Nunes, nas perplexidades de
cas dessa escritora, não é feliz para o resto da vida: na um menino a quem a separação dos pais deixa inseguro
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

cena final, sua dependência das drogas é a medida de e dividido, em O dia de ver meu pai (1977), de Vivina de
sua derrota. Assis Viana, na menina órfã de Corda bamba (1979), de
A crítica mais radical da sociedade brasileira contem- Lygia Bojunga Nunes, têm-se histórias que internalizam,
porânea, tematizada principalmente através da miséria na personagem infantil, as várias crises do mundo social.
e do sofrimento infantil, vai desde então se encorpan- Em O reizinho mandão (1978), de Ruth Rocha, e em
do progressivamente. E se exprime numa representação História meio ao contrário (1979), de Ana Maria Macha-
realista do contexto social, a partir de 1977, com Pivete, do, delineiam-se as balizas que norteiam uma fração
de Henry Correia de Araújo, muito embora antes e de- bastante significativa dessa ficção infantil contemporâ-
pois dessa obra vários livros aludam à marginalização e nea mais renovadora. Na irreverência de Ruth Rocha, em
pobreza: A transa amazônica (1973), de Odette de Bar- suas histórias irônicas que têm o contorno nítido da fá-
ros Mott; Lando das ruas (1975), de Carlos de Marigny; A bula e da alegoria — estruturas que, de forma menos ou

123
mais ortodoxas, manifestam-se também em Os colegas caminhos que sugerem o esgotamento da representação
(1972), Angélica (1975) e O sofá estampado (1980), todos realista. Os livros de Clarice Lispector, A vida íntima de
de Lygia Bojunga Nunes, e Uma estranha aventura em Laura (1974), O mistério do coelho pensante (1967), A
Talalai (1978), de Joel Rufino dos Santos — estão as mar- mulher que matou os peixes (1968), Quase de verdade
cas de um texto que se quer libertário. E em Ana Maria (1978), trazem para a literatura infantil a perplexidade
Machado a proposta explícita de uma história de fadas e a insegurança do narrador moderno. Uma ideia toda
invertida, onde o príncipe se casa com a pastora e a prin- azul (1979), de Marina Colasanti, revigora o fantástico
cesa vai cuidar de sua vida, pode ser considerada o em- com requintes de surrealismo e magia. O misterioso rap-
blema do que pretende essa narrativa infantil moderna. to de Flor-do-Sereno (1979), de Haroldo Bruno, dá novo
A industrialização da cultura, além de afetar o modo sentido à utilização, na literatura infantil, de formas da
de produção do livro infantil contemporâneo, favorece literatura popular, e João Carlos Marinho, ampliando a
também alguns gêneros e temas, como a ficção científica violência, chega ao non-sense e ao surrealismo. Todos
e o mistério policial. Nessa linha, muitos dos livros inte- esses autores e obras parecem apontar o encerramento
grantes de coleções são histórias de ficção científica ou de um ciclo em que a literatura infantil pautou-se pela
novelas policiais, como por exemplo O gênio do crime, representação desmistificadora do real.
Contextualizando, permeando e muitas vezes expli-
de João Carlos Marinho, ou A vaca voadora, de Edy Lima.
cando essas tendências contemporâneas da nossa lite-
Igualmente aventuras de detetives são os livros de Luís
ratura infantil, a sociedade brasileira dos anos 60 e 70,
de Santiago: Operação a vaca vai pro brejo, Operação a
através do golpe militar de 64, estreitou e atualizou a de-
falsa baiana; ou os de Lino Fortuna: Toquinho ataca na pendência do país ao mundo ocidental capitalista.
televisão, Toquinho banca o detetive, Toquinho contra o
bandido da luz vermelha ou Toquinho contra o supergê- Em busca de novas linguagens
nio, todos de 1973. O mesmo vale para os de Stella Carr:
O caso da estranha fotografia (1977), O enigma do au- As reflexões até agora sugeridas pela literatura in-
tódromo de Interlagos (1978), O incrível roubo da loteca fantil contemporânea apontam para a consolidação do
(1978), O fantástico homem do metrô (1979), O caso do gênero: bem visível na perspectiva concreta da produção
sabotador de Angra (1980). e consumo das obras para crianças, manifesta-se tam-
bém no plano interno, isto é, nas formas e conteúdos
Os livros infantis brasileiros contemporâneos vão destes livros. No entanto, nem a documentação crítica
manifestar ainda outro traço de modernidade: a ênfase da realidade contemporânea brasileira, nem a absorção
em aspectos gráficos, não mais vistos como subsidiários muitas vezes criativa de elementos da cultura de massa,
do texto, e sim como elemento autônomo, praticamente nem mesmo o esforço de renovação poética dão conta
autossuficiente. Isso ocorre em certos momentos de O de todas as faces assumidas pela atual produção literária
caneco de prata (1971), de João Carlos Marinho, onde infantil brasileira.
letras e palavras, abandonando a linearidade peculiar à Marca bastante típica dos livros infantis de 1960
linguagem verbal, estruturam-se em grafites e caligra- para cá é a incorporação da oralidade, tanto na narra-
mas. Também em Chapeuzinho Amarelo (1979), de Chico tiva quanto na poesia. A tentativa de fazer uso de uma
Buarque com programação visual de Donatella Berlendis, linguagem mais coloquial é outra forma de a literatura
letras e palavras se encorpam e configuram visualmente para crianças aproximar-se tanto das propostas literárias
o significado do texto. Mas é principalmente através de assumidas pelos modernistas de 22, quanto da herança
obras como Flicts (1969), de Ziraldo, Domingo de ma- lobatiana.
nhã(1976), Ida e volta (1976), ambos de Juarez Machado,
O ponto (1978), de Ciça e Zélio, Depois que todo mun- Essa oralização do discurso nos textos para crianças
torna-se bastante coerente com o projeto de trazer para
do dormiu (1979), de Eduardo Piochi e O menino malu-
as histórias infantis o heterogêneo universo de crianças
quinho (1980), de Ziraldo, que livros infantis brasileiros
marginalizadas, de pobres, de índios. Da mesma forma
contemporâneos têm o visual como centro, e não mais
que suas personagens e enredos deixaram de ser exem-
como ilustração e/ou reforço de significados confiados à plares do ponto de vista dos valores dominantes, tam-
linguagem verbal. bém a linguagem distanciou-se do padrão formal culto,
Enquanto linhagem literária, no polo oposto do mis- indo buscar na gíria de rua, em falares regionais e em
tério policial e da ficção científica, a poesia para crianças dialetos sociais a dicção adequada aos novos conteúdos.
desenvolveu-se muito nos últimos anos. Aparentemen- Em Apenas um curumim (1979), de Werner Zotz, e em
te, foi apenas neste último período que ela incorporou O curumim que virou gigante (1980), de Joel Rufino dos
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

as conquistas da poética modernista, através de obras Santos, a sintaxe coordenada, os paralelismos e os des-
como A televisão da bicharada (1962), de Sidônio Mu- bastamentos sintéticos são tentativas de aproximação de
ralha, Ou isto ou aquilo (1964), de Cecília Meireles, Pé uma linguagem, senão indígena, ao menos primitiva: é o
de pilão (1968), de Mário Quintana, Os bichos no céu caso de certos usos anacrônicos e descontextualizados
(1973), de Odylo Costa Filho, O peixe e o pássaro (1974), de expressões de gíria e da superposição não significa-
de Bartolomeu Campos Queirós, A arca de Noé (1974), tiva de diferentes registros linguísticos. No entanto, com
de Vinícius de Morais, A dança dos picapaus (1976), de Lando das ruas (1976), de Carlos de Marigny, e com Pive-
Sidônio Muralha, Chapeuzinho Amarelo (1979), de Chico te (1977), de Henry Correia de Araújo, o uso literário de
Buarque. diferentes dialetos sociais parece atingir a maturidade e,
Ao lado, e além de todas essas tendências, algumas a partir daí, a manifestar-se maciçamente em vários livros
obras infantis contemporâneas apontam para outros e autores.

124
Mas nem todos os traços que permeiam a linguagem Contextualizar no hospício uma narrativa que come-
da literatura infantil contemporânea são nítidos. Alguns ça com discos voadores, crianças e marcianos comendo
não chegam a configurar uma tendência: deixam-se ape- morango com chantili no pico do Jaraguá e que no seu
nas entrever, manifestando-se esparsamente em certos desenvolvimento incorpora grafites, cartas sem pé nem
momentos de algumas obras, ou em obras isoladas den- cabeça, um leopardo verde e o esquadrão da morte tem
tro do conjunto de títulos de um autor. consequências sérias: acarreta a diluição do non sense e
Um deles é o considerável espessamento que o tex- do surrealismo e enfraquece o projeto de desmontagem
to infantil sofreu enquanto discurso literário, o que lhe e fragmentação da narrativa, de indisfarçável figurino
abre a possibilidade de autorreferenciar-se, quer incluin- oswaldiano.
do procedimentos metalinguísticos, quer recorrendo à Marcelo marmelo martelo (1976), de Ruth Rocha, é
intertextualidade, ou seja: às vezes o texto tematiza seu outro livro que mergulha seus leitores na aventura da lin-
próprio processo de escrita e produção, às vezes faz re- guagem. Tematiza a arbitrariedade do signo linguístico,
ferência a outras obras, instaurando uma espécie de diá- vivenciada comicamente pelo protagonista, um menino
logo entre textos. entretido em explorar a elasticidade sonora e semântica
Analisadas superficialmente, metalinguagem e in- das palavras.
tertextualidade parecem aproximar a literatura infantil Ao chamar seu cachorro de Latildo, travesseiro de
contemporânea de obras não-infantis, que encontram orelheiro e pegar fogo de embrasar-se, Marcelo vive,
na metalinguagem a manifestação de sua modernidade. através de suas experiências linguísticas, a aventura de
Face às transformações que a modernização capitalista nomear e significar. Na medida em que os novos nomes
trouxe para seu ofício, o escritor encena, perante os lei- que ele atribui às coisas fazem-no viver situações proble-
tores, suas perplexidades e inseguranças frente à lingua- máticas, a história incorpora a ambiguidade do compro-
gem de que dispõe. misso entre, de um lado, os usos sociais da linguagem e,
de outro, os limites que tal uso impõe às interferências
Na literatura infantil, porém, perplexidades e des- do falante no sistema linguístico.
confianças são muito raras. Quem escreve para crianças Se nesse livro o questionamento da linguagem se faz
parece acreditar na docilidade e transparência da lingua- sobre a componente léxica, um livro posterior da mesma
gem enquanto instrumento, o que confina o questiona- autora leva adiante a reflexão, fazendo-a incidir sobre
mento da linguagem a poucas obras e o torna, mesmo a prática da linguagem. Trata-se de O reizinho mandão
nestas, pouco radical. (1978), que conta a história de um povo reduzido ao si-
Talvez o escritor infantil que primeiro e com mais em- lêncio por um governante autoritário e que tem sua voz
penho tenha trazido para a narrativa infantil os dilemas e sua fala restauradas por uma criança que enuncia as
do narrador moderno seja Clarice Lispector. Suas obras palavras mágicas: cala a boca já morreu: quem manda na
para crianças abandonam a onisciência, ponto de vista minha boca sou eu.
tradicional da história infantil. Esse abandono permite o Na tradição das fórmulas de encantamento e desen-
afloramento no texto de todas as hesitações do narrador cantamento, a frase que opera o milagre é ritmada e ri-
e, como recurso narrativo, pode atenuar a assimetria que mada. E além disso, nela, enunciado e enunciação coin-
preside a emissão adulta e a recepção infantil de um livro cidem, isto é, ela constitui um ato de fala (condição do
para crianças: Não tenho coragem ainda de contar agora desencantamento), que proclama o direito individual à
mesmo como aconteceu. Mas prometo que no fim deste palavra.
livro, contarei e vocês, que vão ler esta história triste, me Trata-se, ainda, de um provérbio, cuja origem popular
perdoarão ou não. reforça a noção de um uso libertador da linguagem, não
Vocês hão de perguntar: por que só no fim do livro? mais instrumento de comunicação, mas forma de atua-
E eu respondo: ção na realidade.
— É porque no começo e no meio vou contar algu- Outra obra onde o poder emancipador da palavra é a
mas histórias de bichos que eu tive, só para vocês verem espinha dorsal do texto é Chapeuzinho Amarelo (1979),
que eu só poderia ter matado os peixinhos sem querer. de Chico Buarque. De concepção bastante sofisticada, a
história retoma e reescreve alguns elementos da velha e
Nesse projeto, além da marca inconfundível de Clari- popular história do Chapeuzinho Vermelho. Na reescri-
ce, pode-se reconhecer também um procedimento niti- ta, o lobo passa a simbolizar uma espécie de arquétipo
damente moderno: a fragmentação e a diluição da nar- dos medos infantis, inventariados num texto de muita
rativa, sempre postergada, o que exige ostensivamente a musicalidade:
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

participação do leitor a quem o narrador se dirige com


frequência, explicando o que narra e fazendo perguntas. Era Chapeuzinho Amarelo.
Também O caneco de prata (1971), de João Carlos Amarelada de medo.
Marinho, aspira à modernidade narrativa, mas como que Tinha medo de tudo, aquela Chapeuzinho.
se arrepende no fim do caminho. O último fragmento Já não ria.
da história explica pela loucura o que parecia ter se de- Em festa não aparecia.
senrolado como aventura de linguagem: Mas o dono do Não subia escada
hospício veio dançando pelo corredor e depois pegou no nem descia.
meu livro e escreveu fim. Não estava resfriada
mas tossia.
Ouvia conto de fada

125
e estremecia. reescrita paródica, História meio ao contrário representa
Não brincava mais de nada, outra forma de diálogo entre a literatura infantil contem-
nem de amarelinha. porânea e suas fontes mais remotas.
(...) Se a encenação da linguagem e a recuperação pa-
Mesmo quando está sozinha, ródica do discurso tradicional são formas de a literatu-
inventa uma brincadeira. ra infantil mais moderna inserir-se no presente, outras
E transforma em companheiro modalidades dessa inserção parecem ser as estruturas
cada medo que ela tinha: alegóricas que sustentam várias histórias para crianças.
o raio virou orrái, Parentes longínquos das fábulas, mas recusando os
barata é tabará, valores tradicionais que elas difundiam, todos os livros de
a bruxa virou xabru Lygia Bojunga Nunes (Os colegas, 1972, Angélica, 1975,
e o diabo é bodiá. A bolsa amarela, 1976, A casa da madrinha, 1978, Corda
bamba, 1979, e O sofá estampado, 1980) representam,
A superação do medo decorre de um trabalho com nas histórias que contam, desajustes, frustrações, margi-
a palavra, a partir de sua decomposição em sílabas e da nalização social e familiar.
inversão destas. Através dessa operação, LOBO trans-
forma-se em BOLO e, nessa transformação, anulam-se Mais do que a representação de situações sociais ten-
seus traços amedrontadores e instaura-se uma relação sas, Lygia Bojunga Nunes traz para suas histórias a inte-
inversa, onde ele é que fica à mercê da criança. Assim, riorização das tensões pela personagem infantil, muitas
Chapeuzinho Amarelo é um texto que tematiza a relação vezes representada por animais.
da palavra com as coisas e que sugere o poder da lingua- As personagens dessa autora vivem, no limite, crises
gem na transformação da realidade. de identidade: divididas entre a imagem que os outros
De raízes antigas e da linhagem dos contos de fadas têm delas e a autoimagem que irrompe de seu interior,
mais tradicionais são os textos com os quais dialoga a manifestando-se através de desejos, sonhos e viagens,
História meio ao contrário (1979), de Ana Maria Macha- os livros de Lygia registram o percurso dos protagonistas
do, que recupera, discute e inverte diametralmente situa- em direção à posse plena de sua individualidade:
ções e valores correntes nas histórias infantis. A inversão Eu tenho que achar um lugar pra esconder as mi-
repercute no andamento da narrativa, que se abre pela nhas vontades. Não digo vontade magra, pequenininha,
fórmula que tradicionalmente encerra o conto de fadas: que nem tomar sorvete a toda hora, dar sumiço da aula
... e então eles se casaram, tiveram uma filha linda como de matemática, comprar um sapato novo que eu não
um raio de sol e viveram felizes para sempre. aguento mais o meu. Vontade assim todo o mundo pode
ver, não tô ligando a mínima. Mas as outras — as três que
Logo no início do texto, o narrador manifesta cons- de repente vão crescendo e engordando toda a vida —
ciência da inversão sistemática a que submete os cons- ah, essas eu não quero mais mostrar. De jeito nenhum.
tituintes tradicionais do gênero e do reflexo disso no Não sei qual das três me enrola mais. Às vezes acho
modo de narrar: que é a vontade de crescer de uma vez e deixar de ser
criança. Outra hora acho que é a vontade de ter nascido
Tem muita história que acaba assim. Mas este é o co- garoto em vez de menina. Mas hoje tô achando que é a
meço da nossa. vontade de escrever
Quer dizer, se a gente tem que começar em algum
lugar, pode muito bem ser por aí. Sua narrativa flui num ritmo vagaroso, atento à mi-
núcia de comportamento e de ambiente que às vezes
O diálogo narrador-leitor, em que o primeiro temati- se aproxima do fluxo de consciência. O resultado é uma
za seu fazer literário, é constante na literatura não-infan- narrativa original que, além de romper com a linearida-
til contemporânea e é um dos modos de manifestação de, parece ter a intenção de colar-se ao modo infantil de
do encorpamento do texto infantil enquanto discurso li- perceber e dar significado ao mundo.
terário. Nesse livro, que a partir do título coloca-se sob o Outras obras e outros autores abandonam definiti-
signo da inversão (atenuada pelo advérbio), a revisão de vamente a representação do real e a pedagogia, mesmo
conceitos é total: o rei não é todo-poderoso, o príncipe que seja a pedagogia do avesso, que os anos 70 pare-
casa-se com a pastora e o povo é quem resolve seus pro- ceram decretar. Abandono bem-vindo, na medida em
blemas. Além dos conteúdos fantásticos que esse livro que parecem esgotadas — Marina Colasanti, em Uma
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

reescreve, ele parodia também elementos de outra fonte, ideia toda azul (1979), faz reingressar na literatura infantil
como a figura do gigante, cuja apresentação se inspira toda a população de reis, fadas, princesas e rainhas que
em versos do hino nacional: costumavam povoar os contos tradicionais. O reingresso
coincide com o aparecimento de muitas obras cujo pro-
— Mas alguém já viu o Gigante acordado? Ele passa o jeto consistia na desmistificação das criaturas do reino
tempo todo deitado, esse gigante adormecido. das fadas.
— É mesmo... Deitado eternamente... Nos textos da tradição de Perrault e de Grimm, os
elementos fantásticos, em constante intercâmbio com
Assim, colocando lado a lado elementos de origem o real, acabaram servindo a interpretações que os viam
tão díspar como os contos de fadas e o hinário pátrio como metáforas de situações sociais e psicológicas mui-
e submetendo ambos ao mesmo procedimento de to marcadas. É, de certa forma, contra o maniqueísmo

126
dessas interpretações que A fada que tinha ideias e So- Representa uma forma moderna de aproveitamento do
prinho, de Fernanda Lopes de Almeida, A fada desen- material folclórico, sempre reivindicado como fonte de-
cantada, de Eliane Ganem, História meio ao contrário, sejável de literatura infantil, desde os tempos de Figuei-
de Ana Maria Machado, e Onde tem bruxa tem fada, de redo Pimentel e Mexina de Magalhães Pinto.
Bartolomeu Campos Queirós, se insurgem.
A ressurreição do fantástico operada por Marina Co- Fonte:
lasanti dialoga, então, não só com as fontes originais do LAJOLO, M.; ZILBERMAN, R. Literatura Infantil Brasilei-
conto de fadas, como também com a contestação desse ra: História ε Histórias, 2007.
acervo. E por esse caminho, seu projeto encontra eco em JOLIBERT, Josette. Formando crianças leitoras. Edito-
textos contemporâneos não-infantis, como os de Murilo ra: Artmed.
Rubião, igualmente mergulhados no imaginário. REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDU-
As personagens dos contos de Uma ideia toda azul e CAÇÃO INFANTIL /Ministério da Educação e do Des-
do mais recente Doze reis e a moça do labirinto do vento porto, Secretaria de Educação Fundamental. — Brasília:
(1983) são todas de estirpe simbólica: tecelãs princesas, MEC/SEF, 1998.
fadas, sereias, corças e unicórnios, em palácios, espelhos,
florestas e torres, não têm nenhum compromisso com
a realidade imediata. Participam de enredos cuja efabu-
EXERCÍCIO COMENTADO
lação é simples e linear, dos quais emergem significa-
dos para a vivência da solidão, da morte, do tempo, do
amor. O clima dos textos aponta sempre para o insólito, 1. (Prefeitura de Várzea Paulista- Agente de Políticas
e o envolvimento do leitor se acentua através do traba- Sociais-Educador Infantil- BioRio Concursos/2016)
lho artesanal da linguagem, extremamente melodiosa e Nas escolas de educação infantil, a criança aprende mais
sugestiva: ou menos a brincar com outras crianças e a se tornar
familiarizada com os materiais que a preparam para as
Sem saber o que fazer, a princesa pegou o alaúde e aprendizagens futuras. No entanto, o que mais influencia
a noite inteira cantou sua tristeza. A lua apagou-se. O nessas experiências primordiais é o encontro com a pro-
sol mais uma vez encheu de luz as corolas. E como no fessora. Isso se explica pelo fato de que:
primeiro dia em que se haviam encontrado, a princesa
aproximou-se do unicórnio. E como no segundo dia, a) a escola é o segundo lar e a professora tem que ser
olhou-o procurando o fundo de seus olhos. E como no igual à mãe;
terceiro dia segurou-lhe a cabeça com as mãos. E nesse b) a professora é a segunda mãe e a criança deve se iden-
último dia aproximou a cabeça de seu peito, com suave tificar com ela;
força, com força de amor empurrando, cravando o espi- c) é através da professora que a criança se encontra com
nho de marfim no coração, enfim florido. o sistema educacional, suas normas e regras;
d) é uma falácia acreditar que toda escola é boa;
Em direção semelhante aponta O misterioso rapto de e) é uma utopia dizer que toda criança gosta de ir à
Flor-do-Sereno (1979), de Haroldo Bruno. É uma histó- escola.
ria narrada numa linguagem popular e oral, que lembra
tanto a novela arcaica quanto o romance de cordel. Os Resposta: Letra C. O professor em educação infan-
capítulos têm títulos longos que inventariam e resumem til é a ponte entre a criança e a escola, é o professor
o conteúdo narrativo: que transmite e ensina as regras e normas da escola
O rapto da meiga e branca Flor-do-Sereno, com a à criança, sempre cuidando para que a o caráter edu-
casa sendo violentamente atirada nos ares e outras de- cacional da instituição seja transmitido de forma mais
sordens do natural. adequada possível para que a criança não seja sobre-
carregada, utilizando-se na base de conhecimento de
De como o mágico Segismundo-corre-mundo sabe que a criança já dispõe.
do endereço do monstro Sazafrás pela inscrição de fogo
que se abre num céu de estrelas e relâmpagos.
A história é longa, incorpora vários elementos da cul-
tura pernambucana, e é composta de episódios que se
superpõem sem necessariamente se interpenetrarem. O
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

livro conta a história de Zé Grande em busca de sua mu-


lher, Flor-do-Sereno, raptada pelo gigante Sazafrás “de
antiga e negra memória”.
Na oralidade de sua narração, no diálogo constante
com o leitor, são apontadas as conotações simbólicas da
história que, em última análise, é a história de um herói
popular em quem a missão libertadora não exclui a di-
mensão amorosa.
Essa fusão entre o social e o individual, entre universal
e regional, também presente em Guimarães Rosa, sugere
que o caminho trilhado por Haroldo Bruno é promissor.

127
E) Textos argumentativos (dissertativo) – Demar-
cam-se pelo predomínio de operadores argumen-
FUNÇÕES DOS TERMOS NOS TEXTOS. GÊNE- tativos, revelados por uma carga ideológica cons-
ROS TEXTUAIS E SEUS COMUNICATIVOS. TI- tituída de argumentos e contra-argumentos que
POLOGIA TEXTUAL E SUA PREDOMINÂNCIA justificam a posição assumida acerca de um deter-
COM GÊNEROS ESPECÍFICOS. minado assunto: A mulher do mundo contemporâ-
neo luta cada vez mais para conquistar seu espaço
no mercado de trabalho, o que significa que os gê-
neros estão em complementação, não em disputa.
TIPOLOGIA E GÊNERO TEXTUAL
Gêneros Textuais
A todo o momento nos deparamos com vários textos,
sejam eles verbais ou não verbais. Em todos há a presença São os textos materializados que encontramos em
do discurso, isto é, a ideia intrínseca, a essência daquilo nosso cotidiano; tais textos apresentam características
que está sendo transmitido entre os interlocutores. Estes sócio-comunicativas definidas por seu estilo, função,
interlocutores são as peças principais em um diálogo ou composição, conteúdo e canal. Como exemplos, temos:
em um texto escrito. receita culinária, e-mail, reportagem, monografia, poema,
É de fundamental importância sabermos classificar editorial, piada, debate, agenda, inquérito policial, fórum,
os textos com os quais travamos convivência no nosso blog, etc.
dia a dia. Para isso, precisamos saber que existem tipos A escolha de um determinado gênero discursivo
textuais e gêneros textuais. depende, em grande parte, da situação de produção,
Comumente relatamos sobre um acontecimento, um ou seja, a finalidade do texto a ser produzido, quem são
fato presenciado ou ocorrido conosco, expomos nossa os locutores e os interlocutores, o meio disponível para
opinião sobre determinado assunto, descrevemos algum veicular o texto, etc.
lugar que visitamos, fazemos um retrato verbal sobre Os gêneros discursivos geralmente estão ligados a
alguém que acabamos de conhecer ou ver. É exatamente esferas de circulação. Assim, na esfera jornalística, por
nessas situações corriqueiras que classificamos os exemplo, são comuns gêneros como notícias, reportagens,
nossos textos naquela tradicional tipologia: Narração, editoriais, entrevistas e outros; na esfera de divulgação
Descrição e Dissertação. científica são comuns gêneros como verbete de dicionário
ou de enciclopédia, artigo ou ensaio científico, seminário,
As tipologias textuais se caracterizam pelos conferência.
aspectos de ordem linguística
Os tipos textuais designam uma sequência definida REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
pela natureza linguística de sua composição. São CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Co-
observados aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, char. Português linguagens: volume 1 – 7.ª ed. Reform.
relações logicas. Os tipos textuais são o narrativo, – São Paulo: Saraiva, 2010.
descritivo, argumentativo/dissertativo, injuntivo e CAMPEDELLI, Samira Yousseff, SOUZA, Jésus Barbosa.
expositivo. Português – Literatura, Produção de Textos & Gramática –
A) Textos narrativos – constituem-se de verbos de volume único – 3.ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2002.
ação demarcados no tempo do universo narrado,
como também de advérbios, como é o caso de an- SITE
tes, agora, depois, entre outros: Ela entrava em seu Disponível em: <http://www.brasilescola.com/
carro quando ele apareceu. Depois de muita conver- redacao/tipologia-textual.htm>
sa, resolveram...
B) Textos descritivos – como o próprio nome indica,
descrevem características tanto físicas quanto psi-
cológicas acerca de um determinado indivíduo ou EXERCÍCIO COMENTADO
objeto. Os tempos verbais aparecem demarcados
no presente ou no pretérito imperfeito: “Tinha os
1. (TJ-DFT – CONHECIMENTOS BÁSICOS – TÉCNI-
cabelos mais negros como a asa da graúna...”
CO JUDICIÁRIO – ÁREA ADMINISTRATIVA – CESPE
C) Textos expositivos – Têm por finalidade explicar
um assunto ou uma determinada situação que se – 2015)
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

almeje desenvolvê-la, enfatizando acerca das ra-


zões de ela acontecer, como em: O cadastramento Ouro em Fios
irá se prorrogar até o dia 02 de dezembro, portan-
to, não se esqueça de fazê-lo, sob pena de perder o A natureza é capaz de produzir materiais preciosos,
benefício. como o ouro e o cobre - condutor de ENERGIA ELÉTRICA.
D) Textos injuntivos (instrucional) – Trata-se de O ouro já é escasso. A energia elétrica caminha para isso.
uma modalidade na qual as ações são prescritas de Enquanto cientistas e governos buscam novas fontes de
forma sequencial, utilizando-se de verbos expres- energia sustentáveis, faça sua parte aqui no TJDFT:
sos no imperativo, infinitivo ou futuro do presente: - Desligue as luzes nos ambientes onde é possível usar a
Misture todos os ingrediente e bata no liquidificador iluminação natural.
até criar uma massa homogênea. - Feche as janelas ao ligar o ar-condicionado.

128
- Sempre desligue os aparelhos elétricos ao sair do Formas de se garantir a coesão entre os elementos
ambiente. de uma frase ou de um texto:
- Utilize o computador no modo espera.
Fique ligado! Evite desperdícios. • Substituição de palavras com o emprego de
Energia elétrica. sinônimos - palavras ou expressões do mesmo
A natureza cobra o preço do desperdício. campo associativo.
Internet: <www.tjdft.jus.br> (com adaptações) • Nominalização – emprego alternativo entre um
verbo, o substantivo ou o adjetivo correspondente
Há no texto elementos característicos das tipologias ex- (desgastar / desgaste / desgastante).
positiva e injuntiva. • Emprego adequado de tempos e modos verbais:
Embora não gostassem de estudar, participaram da
(  ) CERTO   (  ) ERRADO aula.
• Emprego adequado de pronomes, conjunções,
Resposta: Certo. Texto injuntivo – ou instrucional – é preposições, artigos:
aquele que passa instruções ao leitor. O texto acima
apresenta tal característica. O papa Francisco visitou o Brasil. Na capital brasileira,
Sua Santidade participou de uma reunião com a Presidente
Dilma. Ao passar pelas ruas, o papa cumprimentava as
pessoas. Estas tiveram a certeza de que ele guarda respeito
COESÃO E COERÊNCIA por elas.
• Uso de hipônimos – relação que se estabelece com
Na construção de um texto, assim como na fala, base na maior especificidade do significado de um
usamos mecanismos para garantir ao interlocutor a deles. Por exemplo, mesa (mais específico) e móvel
compreensão do que é dito, ou lido. Estes mecanismos (mais genérico).
linguísticos que estabelecem a coesão e retomada do • Emprego de hiperônimos - relações de um termo
que foi escrito - ou falado - são os referentes textuais, de sentido mais amplo com outros de sentido mais
que buscam garantir a coesão textual para que haja específico. Por exemplo, felino está numa relação
coerência, não só entre os elementos que compõem de hiperonímia com gato.
a oração, como também entre a sequência de orações • Substitutos universais, como os verbos vicários.
dentro do texto. Essa coesão também pode muitas vezes
se dar de modo implícito, baseado em conhecimentos Verbo vicário é aquele que substitui outro já utilizado
anteriores que os participantes do processo têm com o no período, evitando repetições. Geralmente é o verbo
tema. fazer e ser. Exemplo: Não gosto de estudar. Faço porque
Numa linguagem figurada, a coesão é uma linha preciso. O “faço” foi empregado no lugar de “estudo”,
imaginária - composta de termos e expressões - que evitando repetição desnecessária.
une os diversos elementos do texto e busca estabelecer A coesão apoiada na gramática se dá no uso de
relações de sentido entre eles. Dessa forma, com o conectivos, como pronomes, advérbios e expressões
emprego de diferentes procedimentos, sejam lexicais adverbiais, conjunções, elipses, entre outros. A elipse
(repetição, substituição, associação), sejam gramaticais justifica-se quando, ao remeter a um enunciado anterior,
(emprego de pronomes, conjunções, numerais, elipses), a palavra elidida é facilmente identificável (Exemplo.: O
constroem-se frases, orações, períodos, que irão jovem recolheu-se cedo. Sabia que ia necessitar de todas
apresentar o contexto – decorre daí a coerência textual. as suas forças. O termo o jovem deixa de ser repetido e,
Um texto incoerente é o que carece de sentido ou assim, estabelece a relação entre as duas orações).
o apresenta de forma contraditória. Muitas vezes essa
incoerência é resultado do mau uso dos elementos Dêiticos são elementos linguísticos que têm a
de coesão textual. Na organização de períodos e de propriedade de fazer referência ao contexto situacional
parágrafos, um erro no emprego dos mecanismos ou ao próprio discurso. Exercem, por excelência, essa
gramaticais e lexicais prejudica o entendimento do texto. função de progressão textual, dada sua característica: são
Construído com os elementos corretos, confere-se a ele elementos que não significam, apenas indicam, remetem
uma unidade formal. aos componentes da situação comunicativa.
Nas palavras do mestre Evanildo Bechara, “o Já os componentes concentram em si a significação.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

enunciado não se constrói com um amontoado de Elisa Guimarães ensina-nos a esse respeito:
palavras e orações. Elas se organizam segundo princípios “Os pronomes pessoais e as desinências verbais
gerais de dependência e independência sintática e indicam os participantes do ato do discurso. Os pronomes
semântica, recobertos por unidades melódicas e rítmicas demonstrativos, certas locuções prepositivas e adverbiais,
que sedimentam estes princípios”. bem como os advérbios de tempo, referenciam o momento
Não se deve escrever frases ou textos desconexos da enunciação, podendo indicar simultaneidade,
– é imprescindível que haja uma unidade, ou seja, que anterioridade ou posterioridade. Assim: este, agora, hoje,
as frases estejam coesas e coerentes formando o texto. neste momento (presente); ultimamente, recentemente,
Relembre-se de que, por coesão, entende-se ligação, ontem, há alguns dias, antes de (pretérito); de agora em
relação, nexo entre os elementos que compõem a diante, no próximo ano, depois de (futuro).”
estrutura textual.

129
A coerência de um texto está ligada: 2. (BANCO DA AMAZÔNIA – TÉCNICO BANCÁRIO –
1. à sua organização como um todo, em que devem CESGRANRIO-2018) A ideia a que o pronome destacado
estar assegurados o início, o meio e o fim; se refere está adequadamente explicitada entre colchetes
2. à adequação da linguagem ao tipo de texto. Um em:
texto técnico, por exemplo, tem a sua coerência
fundamentada em comprovações, apresentação a) “Ela é produzida de forma descentralizada por
de estatísticas, relato de experiências; um texto milhares de computadores, mantidos por pessoas que
informativo apresenta coerência se trabalhar com ‘emprestam’ a capacidade de suas máquinas para criar
linguagem objetiva, denotativa; textos poéticos, por bitcoins” [computadores]
outro lado, trabalham com a linguagem figurada, b) “No processo de nascimento de uma bitcoin, que
livre associação de ideias, palavras conotativas. é chamado de ´mineração´, os computadores
conectados à rede competem entre si” [bitcoin]
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA c) “O nível de dificuldade dos desafios é ajustado pela
CAMPEDELLI, Samira Yousseff, SOUZA, Jésus Barbosa. rede, para que a moeda cresça dentro de uma faixa
Português – Literatura, Produção de Textos & Gramática – limitada, que é de até 21 milhões de unidades” [rede]
volume único – 3.ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2002. d) “Elas são guardadas em uma espécie de carteira, que
é criada quando o usuário se cadastra no software.”
SITE [espécie ]
Disponível em: <http://www.mundovestibular.com. e) “Críticos afirmam que a moeda vive uma bolha que em
br/articles/2586/1/COESAO-E-COERENCIA-TEXTUAL/ algum momento deve estourar.” [bolha]
Paacutegina1.html>
Resposta: Letra E
Em “a”: “Ela é produzida de forma descentralizada por
milhares de computadores, mantidos por pessoas que
EXERCÍCIOS COMENTADOS
(= as quais – retoma o termo “pessoas”)
Em “b”: “No processo de nascimento de uma bitcoin,
1. (BANESTES – ANALISTA ECONÔMICO FINANCEIRO que é chamado de ‘mineração’ (= o qual - retoma o
GESTÃO CONTÁBIL – FGV-2018) termo “processo de nascimento”)
Em “c”: “O nível de dificuldade dos desafios é ajustado
Texto 2 pela rede, para que a moeda cresça dentro de uma
faixa limitada, que é de até 21 milhões de unidades” =
“A prefeitura da capital italiana anunciou que vai banir a retoma o termo “faixa limitada”
circulação de carros a diesel no centro a partir de 2024. O Em “d”: “Elas são guardadas em uma espécie de
objetivo é reduzir a poluição, que contribui para a erosão carteira, que é criada (= a qual – retoma “carteira”)
dos monumentos”. (Veja, 7/3/2018) Em “e”: “Críticos afirmam que a moeda vive uma bolha
que (= a qual) em algum momento deve estourar.”
A ordem cronológica dos fatos citados no texto 2 é: [bolha] = correta
GABARITO OFICIAL: E
a) redução da poluição / banimento da circulação de
carros / erosão dos monumentos; 3. (PETROBRAS – ADMINISTRADOR JÚNIOR
b) banimento da circulação de carros / erosão dos – CESGRANRIO-2018-ADAPTADA)
monumentos / redução da poluição;
c) erosão dos monumentos / redução da poluição / O vício da tecnologia
banimento da circulação de carros;
d) redução da poluição / erosão dos monumentos / Entusiastas de tecnologia passaram a semana com
banimento da circulação de carros; os olhos voltados para uma exposição de novidades
e) erosão dos monumentos / banimento da circulação de eletrônicas realizada recentemente nos Estados Unidos.
carros / redução da poluição. Entre as inovações, estavam produtos relacionados
a experiências de realidade virtual e à utilização de
Resposta: Letra E inteligência artificial — que hoje é um dos temas que
“A prefeitura da capital italiana anunciou que vai banir mais desperta interesse em profissionais da área, tendo
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

a circulação de carros a diesel no centro a partir de em vista a ampliação do uso desse tipo de tecnologia nos
2024. O objetivo é reduzir a poluição, que contribui mais diversos segmentos.
para a erosão dos monumentos”. Mais do que prestar atenção às novidades lançadas
Primeiro ocorreu a erosão dos monumentos (=1) no evento, vale refletir sobre o motivo que nos leva a
devido à poluição; optou-se pelo banimento da uma ansiedade tão grande para consumir produtos que
circulação dos carros (=2) para que a poluição diminua prometem inovação tecnológica. Por que tanta gente se
(=3), o que preservará os monumentos. dispõe a dormir em filas gigantescas só para ser um dos
GABARITO OFICIAL: E primeiros a comprar um novo modelo de smartphone?
Por que nos dispomos a pagar cifras astronômicas para
comprar aparelhos que não temos sequer certeza de que
serão realmente úteis em nossas rotinas?

130
A teoria de um neurocientista da Universidade de Oxford d) “O ato de seguir esse impulso cerebral e comprar
(Inglaterra) ajuda a explicar essa “corrida desenfreada” o mais novo lançamento tecnológico dispara em
por novos gadgets. De modo geral, em nosso processo nosso cérebro a liberação de um hormônio chamado
evolutivo como seres humanos, nosso cérebro aprendeu dopamina” [mapeamento cerebral]
a suprir necessidades básicas para a sobrevivência e a e) “Ele é liberado quando nosso cérebro identifica algo
perpetuação da espécie, tais como sexo, segurança e que represente uma recompensa.” [impulso cerebral]
status social.
Nesse sentido, a compra de uma novidade tecnológica Resposta: Letra B
atende a essa última necessidade citada: nós nos sentimos Ao texto:
melhores e superiores, ainda que momentaneamente, Em “a”: “relacionados a experiências de realidade
quando surgimos em nossos círculos sociais com um virtual e à utilização de inteligência artificial — que
produto que quase ninguém ainda possui. hoje é um dos temas que mais desperta interesse
Foi realizado um estudo de mapeamento cerebral que em profissionais da área” [experiências de realidade
mostrou que imagens de produtos tecnológicos ativavam virtual]
partes do nosso cérebro idênticas às que são ativadas Nesse caso, a resposta se encontra na alternativa:
quando uma pessoa muito religiosa se depara com um inteligência artificial
objeto sagrado. Ou seja, não seria exagero dizer que o
vício em novidades tecnológicas é quase uma religião Em “b”: “tendo em vista a ampliação do uso desse
para os mais entusiastas. tipo de tecnologia nos mais diversos segmentos”
O ato de seguir esse impulso cerebral e comprar o mais [inteligência artificial]
novo lançamento tecnológico dispara em nosso cérebro Texto: Entre as inovações, estavam produtos
a liberação de um hormônio chamado dopamina, relacionados a experiências de realidade virtual e à
responsável por nos causar sensações de prazer. Ele utilização de inteligência artificial — que hoje é um
é liberado quando nosso cérebro identifica algo que dos temas que mais desperta interesse em profissionais
represente uma recompensa. da área, tendo em vista a ampliação do uso desse tipo
O grande problema é que a busca excessiva por de tecnologia nos mais diversos segmentos.= correta
recompensas pode resultar em comportamentos
impulsivos, que incluem vícios em jogos, apego excessivo Em “c”: “a compra de uma novidade tecnológica atende
a redes sociais e até mesmo alcoolismo. No caso do a essa última necessidade citada” [segurança]
consumo, podemos observar a situação problematizada Texto: (...) suprir necessidades básicas para a
aqui: gasto excessivo de dinheiro em aparelhos eletrônicos sobrevivência e a perpetuação da espécie, tais como
que nem sempre trazem novidade –– as atualizações de sexo, segurança e status social. / Nesse sentido, a
modelos de smartphones, por exemplo, na maior parte compra de uma novidade tecnológica atende a essa
das vezes apresentam poucas mudanças em relação ao última necessidade citada... = status social
modelo anterior, considerando-se seu preço elevado. Em
outros casos, gasta-se uma quantia absurda em algum Em “d”: “O ato de seguir esse impulso cerebral e
aparelho novo que não se sabe se terá tanta utilidade comprar o mais novo lançamento tecnológico dispara
prática ou inovadora no cotidiano. em nosso cérebro a liberação de um hormônio
No fim das contas, vale um lembrete que pode ajudar chamado dopamina” [mapeamento cerebral]
a conter os impulsos na hora de comprar um novo (...) vício em novidades tecnológicas é quase uma
smartphone ou alguma novidade de mercado: compare religião para os mais entusiastas. / O ato de seguir esse
o efeito momentâneo da dopamina com o impacto de impulso cerebral e comprar
imaginar como ficarão as faturas do seu cartão de crédito
com a nova compra. Em “e”: “Ele é liberado quando nosso cérebro identifica
O choque ao constatar o rombo em seu orçamento pode algo que represente uma recompensa.” [impulso
ser suficiente para que você decida pensar duas vezes a cerebral]
respeito da aquisição. (...) a liberação de um hormônio chamado dopamina,
DANA, S. O Globo. Economia. Rio de Janeiro, 16 jan. responsável por nos causar sensações de prazer. Ele é
2018. Adaptado. liberado = dopamina

A ideia a que a expressão destacada se refere está 4. (PETROBRAS – ENGENHEIRO(A) DE MEIO


CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

explicitada adequadamente entre colchetes em: AMBIENTE JÚNIOR – CESGRANRIO-2018)

a) “relacionados a experiências de realidade virtual e à Texto I


utilização de inteligência artificial — que hoje é um dos
temas que mais desperta interesse em profissionais Portugueses no Rio de Janeiro
da área” [experiências de realidade virtual]
b) “tendo em vista a ampliação do uso desse tipo de O Rio de Janeiro é o grande centro da imigração
tecnologia nos mais diversos segmentos” [inteligência portuguesa até meados dos anos cinquenta do século
artificial] passado, quando chega a ser a “terceira cidade portuguesa
c) “a compra de uma novidade tecnológica atende a essa do mundo”, possuindo 196 mil portugueses — um
última necessidade citada” [segurança] décimo de sua população urbana. Ali, os portugueses

131
dedicam-se ao comércio, sobretudo na área dos d) “O homem ama a companhia, mesmo que seja apenas
comestíveis, como os cafés, as panificações, as leitarias, a de uma vela que queima”;
os talhos, além de outros ramos, como os das papelarias e) “As pessoas que nunca têm tempo são aquelas que
e lojas de vestuários. Fora do comércio, podem exercer as produzem menos”.
mais variadas profissões, como atividades domésticas ou
as de barbeiros e alfaiates. Há, de igual forma, entre os Resposta: Letra B
mais afortunados, aqueles ligados à indústria, voltados Em “a”: “A civilização converteu a solidão num dos
para construção civil, o mobiliário, a ourivesaria e o bens mais preciosos que a alma humana pode desejar”
fabrico de bebidas. = retoma “bens preciosos”
A sua distribuição pela cidade, apesar da não formação de Em “b”: “Todo o problema da vida é este: como romper
guetos, denota uma tendência para a sua concentração a própria solidão” = o pronome se refere ao período
em determinados bairros, escolhidos, muitas das vezes, que virá (= catáfora)
pela proximidade da zona de trabalho. No Centro da Em “c”: “É sobretudo na solidão que se sente a
cidade, próximo ao grande comércio, temos um grupo vantagem de viver com alguém que saiba pensar” =
significativo de patrícios e algumas associações de porte, retoma “solidão”
como o Real Gabinete Português de Leitura e o Liceu Em “d”: “O homem ama a companhia, mesmo que
Literário Português. Nos bairros da Cidade Nova, Estácio seja apenas a de uma vela que queima” = retoma
de Sá, Catumbi e Tijuca, outro ponto de concentração “companhia”
da colônia, se localizam outras associações portuguesas, Em “e”: “As pessoas que nunca têm tempo são aquelas
como a Casa de Portugal e um grande número de casas que produzem menos” = retoma “pessoas”
regionais. Há, ainda, pequenas concentrações nos bairros
periféricos da cidade, como Jacarepaguá, originalmente 6. (MPE-AL - TÉCNICO DO MINISTÉRIO PÚBLICO
formado por quintas de pequenos lavradores; nos – FGV-2018)
subúrbios, como Méier e Engenho Novo; e nas zonas
NÃO FALTOU SÓ ESPINAFRE
mais privilegiadas, como Botafogo e restante da zona
sul carioca, área nobre da cidade a partir da década de
A crise não trouxe apenas danos sociais e econômicos.
cinquenta, preferida pelos mais abastados.
Mostrou também danos morais.
PAULO, Heloísa. Portugueses no Rio de Janeiro:
Aconteceu num mercadinho de bairro em São Paulo.
salazaristas e opositores em manifestação na cidade. In:
A dona, diligente, havia conseguido algumas verduras
ALVES, Ida et alii. 450 Anos de Portugueses no Rio de
e avisou à clientela. Formaram-se uma pequena fila e
Janeiro. Rio de Janeiro: Ofi cina Raquel, 2017, pp. 260-1.
uma grande discussão. Uma senhora havia arrematado
Adaptado.
todos os dez maços de espinafre. No caixa, outras
freguesas perguntaram se ela tinha restaurante. Não
“No Centro da cidade, próximo ao grande comércio, temos tinha. Observaram que a verdura acabaria estragada.
um grupo significativo de patrícios e algumas associações Ela explicou que ia cozinhar e congelar. Então, foram
de porte”. No trecho acima, a autora usou em itálico a ao ponto: caramba, havia outras pessoas na fila, ela não
palavra destacada para fazer referência aos poderia levar só o que consumiria de imediato?
“Não, estou pagando e cheguei primeiro”, foi a resposta.
a) luso-brasileiros Compras exageradas nos supermercados, estoques
b) patriotas da cidade domésticos, filas nervosas nos postos de combustível –
c) habitantes da cidade teve muito comportamento na base de cada um por si.
d) imigrantes portugueses Cabem nessa categoria as greves e manifestações
e) compatriotas brasileiros oportunistas. Governo, cedendo, também vou buscar o
meu – tal foi o comportamento de muita gente.
Resposta: Letra D Carlos A. Sardenberg, in O Globo, 31/05/2018.
Ainda hoje é o utilizado o termo “patrício” para se
referir aos portugueses. “Patrício” significa “da mesma “A crise não trouxe apenas danos sociais e econômicos.
pátria”. Mostrou também danos morais”. A palavra ou expressão
do primeiro período que leva à produção do segundo
5. (BANESTES – TÉCNICO BANCÁRIO – FGV-2018) Todas período é
as frases abaixo apresentam elementos sublinhados que
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

estabelecem coesão com elementos anteriores (anáfora); a) a crise.


a frase em que o elemento sublinhado se refere a um b) não trouxe.
elemento futuro do texto (catáfora) é: c) apenas.
d) danos sociais.
a) “A civilização converteu a solidão num dos bens mais e) (danos) econômicos.
preciosos que a alma humana pode desejar”;
b) “Todo o problema da vida é este: como romper a Resposta: Letra C
própria solidão”; 1.º período: A crise não trouxe apenas danos sociais e
c) “É sobretudo na solidão que se sente a vantagem de econômicos.
viver com alguém que saiba pensar”; 2.º período: Mostrou também danos morais.

132
A expressão que nos dá a ideia de que haverá mais Subentende-se da argumentação do texto que o pronome
informações que complementarão a primeira “tese” demonstrativo, no trecho “desse tipo de investimento”,
apresentada é “apenas”. refere-se à ideia de “fermento do crescimento econômico
e social de um país”.
7. (IBGE – RECENSEADOR – FGV-2017)
(  ) CERTO   (  ) ERRADO
Texto 3 – “Silva, Oliveira, Faria, Ferreira... Todo mundo
tem um sobrenome e temos de agradecer aos romanos Resposta: Errado
por isso. Foi esse povo, que há mais de dois mil anos Ao trecho: (...) É necessário investir em pesquisa
ergueu um império com a conquista de boa parte das para devolver resultados satisfatórios à sociedade. No
terras banhadas pelo Mediterrâneo, o inventor da moda. entanto, os resultados desse tipo de investimento =
Eles tiveram a ideia de juntar ao nome comum, ou investir em pesquisa / desse tipo de investimento.
prenome, um nome.
Por quê? Porque o império romano crescia e eles 9. (MPU – ANALISTA DO MPU – CESPE-2015)
precisavam indicar o clã a que a pessoa pertencia ou o
lugar onde tinha nascido”. Texto I
(Ciência Hoje, março de 2014)
Na organização do poder político no Estado moderno,
“Todo mundo tem um sobrenome e temos de agradecer à luz da tradição iluminista, o direito tem por função a
aos romanos por isso”. (texto 3) O pronome “isso”, nesse preservação da liberdade humana, de maneira a coibir a
segmento do texto, se refere a(à): desordem do estado de natureza, que, em virtude do risco
da dominação dos mais fracos pelos mais fortes, exige
a) todo mundo ter um sobrenome; a existência de um poder institucional. Mas a conquista
b) sobrenomes citados no início do texto; da liberdade humana também reclama a distribuição do
c) todos os sobrenomes hoje conhecidos;
poder em ramos diversos, com a disposição de meios
d) forma latina dos sobrenomes atuais;
que assegurem o controle recíproco entre eles para o
e) existência de sobrenomes nos documentos.
advento de um cenário de equilíbrio e harmonia nas
sociedades estatais. A concentração do poder em um só
Resposta: Letra A
órgão ou pessoa viria sempre em detrimento do exercício
Todo mundo tem um sobrenome e temos de
da liberdade. É que, como observou Montesquieu, “todo
agradecer aos romanos por isso = ter um sobrenome.
GABARITO OFICIAL: A homem que tem poder tende a abusar dele; ele vai até
onde encontra limites. Para que não se possa abusar do
8. (MPU – ANALISTA – ANTROPOLOGIA – CESPE-2010) poder, é preciso que, pela disposição das coisas, o poder
Inovar é recriar de modo a agregar valor e incrementar limite o poder”.
a eficiência, a produtividade e a competitividade nos Até Montesquieu, não eram identificadas com clareza
processos gerenciais e nos produtos e serviços das as esferas de abrangência dos poderes políticos: “só se
organizações. Ou seja, é o fermento do crescimento concebia sua união nas mãos de um só ou, então, sua
econômico e social de um país. Para isso, é preciso separação; ninguém se arriscava a apresentar, sob a forma
criatividade, capacidade de inventar e coragem para de sistema coerente, as consequências de conceitos
sair dos esquemas tradicionais. Inovador é o indivíduo diversos”. Pensador francês do século XVIII, Montesquieu
que procura respostas originais e pertinentes em situa-se entre o racionalismo cartesiano e o empirismo
situações com as quais ele se defronta. É preciso uma de origem baconiana, não abandonando o rigor das
atitude de abertura para as coisas novas, pois a novidade certezas matemáticas em suas certezas morais. Porém,
é catastrófica para os mais céticos. Pode-se dizer refugindo às especulações metafísicas que, no plano da
que o caminho da inovação é um percurso de difícil idealidade, serviram aos filósofos do pacto social para a
travessia para a maioria das instituições. Inovar significa explicação dos fundamentos do Estado ou da sociedade
transformar os pontos frágeis de um empreendimento civil, ele procurou ingressar no terreno dos fatos.
em uma realidade duradoura e lucrativa. A inovação Fernanda Leão de Almeida. A garantia institucional do
estimula a comercialização de produtos ou serviços Ministério Público em função da proteção dos direitos
e também permite avanços importantes para toda a humanos.
sociedade. Porém, a inovação é verdadeira somente Tese de doutorado. São Paulo: USP, 2010, p. 18-9.
quando está fundamentada no conhecimento. A Internet: <www.teses.usp.br> (com adaptações).
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

capacidade de inovação depende da pesquisa, da geração


de conhecimento. É necessário investir em pesquisa No trecho “controle recíproco entre”, o pronome “eles” faz
para devolver resultados satisfatórios à sociedade. No referência a “ramos diversos”.
entanto, os resultados desse tipo de investimento não
são necessariamente recursos financeiros ou valores (  ) CERTO   (  ) ERRADO
econômicos, podem ser também a qualidade de vida
com justiça social. Resposta: Certo
Luís Afonso Bermúdez. O fermento tecnológico. In: Ao período: (...) reclama a distribuição do poder
Darcy. Revista de jornalismo científico e cultural da em ramos diversos, com a disposição de meios que
Universidade de Brasília, novembro e dezembro de assegurem o controle recíproco entre eles para o
2009, p. 37 (com adaptações). advento de um cenário de equilíbrio e harmonia.

133
10. (PC-PI – AGENTE DE POLÍCIA CIVIL – 3.ª CLASSE A IMPESSOALIDADE
– NUCEPE-2018 - ADAPTADA) Alguém apaixonado Diferentemente do gênero narrativo, em que o narra-
sempre atrai novas oportunidades, se destaca do grupo, dor tem a liberdade de expressar seus sentimentos, suas
é promovido primeiro, é celebrado quando volta de impressões pessoais e vontades particulares diante dos
férias, é convidado para ser padrinho ou madrinha e acontecimentos e personagens, no texto argumentativo
para ser companhia em momentos prazerosos. Quanto a impessoalidade é uma obrigatoriedade. O gênero ar-
melhor vivemos, mais motivos surgem para vivermos gumentativo pede certo distanciamento entre o texto e
bem. A prosperidade é um ciclo que se retroalimenta. O quem o escreve, justamente por se tratar de um estilo
importante é decidir fazer parte dele. mais formal de escrita. Impessoalidade significa omitir os
Em: O importante é decidir fazer parte dele, a palavra agentes do discurso, de modo a não expressar a opinião
Dele retoma, textualmente, pessoal – o que é diferente do ponto de vista sobre o
tema tratado.
a) ciclo. Uma opinião pessoal no texto argumentativo faria
b) Alguém. com o que o leitor não se atentasse apenas aos fatos,
c) padrinho. mas também voltasse seu foco para as emoções e ques-
d) grupo. tões pessoais do autor enquanto expositor de sua tese,
e) apaixonado. o que poderia comprometer a objetividade do texto. No
texto argumentativo, não se deve usar a narração de uma
Resposta: Letra A experiência pessoal como argumento, mas justificar o de-
Voltemos ao período: senvolvimento do raciocínio que leva à tese de maneira
A prosperidade é um ciclo que se retroalimenta. O lógica e sem a interferência do lado particular do autor.
importante é decidir fazer parte dele. Um dos recursos linguísticos da impessoalidade é o
GABARITO OFICIAL: A uso do sujeito na terceira pessoa do plural (nós, nossos,
estamos, somos, pensamos etc.) e evitar o discurso na
primeira pessoa do singular (eu, meu, minha, estou, sou,
O TEXTO ARGUMENTATIVO penso, etc.).
Omitir o agente das orações também é uma técnica
O gênero textual argumentativo tem como principal de auxílio na construção do texto argumentativo. Frases
objetivo convencer o leitor da ideia exposta pelo autor. como “é necessário” ou “torna-se indispensável”, são
A apresentação de sua tese, ou seja, seu ponto de vista exemplos de sujeitos ocultos ou indeterminados que tor-
sobre o assunto, deve ser feita de maneira clara, concisa nam o discurso mais neutro, bem como o uso da voz
e objetiva. A estrutura deste tipo de texto consiste em passiva, como no trecho “descobertas estão revolucio-
introdução, desenvolvimento e conclusão, assim como em nando a biotecnologia”, em que não se pode identificar
outros gêneros textuais. Mas antes de passar por todas um sujeito responsável pela descoberta mencionada.
as etapas, é necessário que o tema esteja bem definido. A impessoalidade no texto argumentativo é impres-
cindível e faz com que o leitor se sinta informado e for-
O TEMA me sua própria opinião a partir dos fatos e argumentos
expostos, ainda que eles tenham sido desenvolvidos a
Antes de identificar o tema de um texto argumenta- partir de uma convicção pessoal do autor.
tivo, é necessário atentar-se a um equivocado conceito
que confunde os leitores: a diferença entre tema e título. A CARTA-ARGUMENTATIVA
O título pode ser um indicador do tema em questão, mas A carta argumentativa é um braço do texto argumen-
não é o tema em si. Em sua maioria, títulos servem para tativo em que, assim como o nome indica, busca defen-
indicar apenas o destaque que o autor dará ao assunto. der o ponto de vista ou a tese do remetente (autor) para
Já o tema se trata do contexto geral, é a partir dele que o destinatário (o leitor) a quem a carta é enviada. Por
o autor faz o recorte que servirá como base para seus meio da carta argumentativa, é possível enviar uma in-
argumentos. satisfação, preocupação ou tese à órgãos públicos, re-
Ao realizar a leitura de um texto argumentativo, deve presentantes da sociedade, instituições privadas, veícu-
ficar claro para o leitor o assunto geral do texto, ou seja, los jornalísticos, entre outros tipos de destinatários. Esta
o tema e o recorte que o autor faz dele, podendo ex- tipologia textual segue um padrão estrutural específico
pressar o ponto central, “a identidade do texto”, através em sua construção.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

do recurso do título. Um título como “Influências da tec- ● Data e local: na primeira linha, vem a indicação do
nologia na juventude” pode ter como tema a tecnologia momento e do local em que se encontra o reme-
móvel, o avanço da tecnologia na medicina, segurança tente enquanto escreve a carta.
na web, maternidade e paternidade, entre muitas outras Ex.: “São Paulo, 23 de fevereiro de 2020”
opções. A partir da leitura completa do texto, o leitor é ● Destinatário: em seguida, o remetente indica o
capaz de, não apenas, identificar o tema, mas também vocativo a quem se refere a carta, ou seja, usa o
discernir o recorte que o autor fez dele. pronome de tratamento adequado a quem preten-
de se dirigir. Caso se dirija à um juiz, usa-se “Exce-
lentíssimo, Senhor” ou “Vossa Excelência; caso se
dirija a alguém conhecido “Prezada senhora Joana”
ou “Caro senhor José”.

134
● Corpo da carta: onde é desenvolvido o aponta- 2. Persuasão
mento dos argumentos do remetente, com in- O texto persuasivo é diferente do texto argumenta-
trodução do assunto, desenvolvimento da ideia e tivo. O texto persuasivo destina-se apenas a convencer
conclusão da tese. o leitor de uma ideologia, um posicionamento ou per-
● Saudação ou despedida: refere-se ao fechamento suadir o leitor a tomar ou não uma decisão. O marke-
da carta, a finalização que saúda o destinatário. É ting e a publicidade são conhecidos por utilizar recursos
comum ver palavras como “atenciosamente”, “cor- persuasivos para atrair o público consumidor e vender
dialmente” ou até mesmo um simples “saudações” seus produtos. O profissional dessas áreas sabe que deve
ou “grato” em cartas argumentativas. apresentar uma situação e tomar uma posição, favorável
● Assinatura do remetente: ao fim de tudo, é ne- ou não, a fim de provar ao leitor que algo é benéfico ou
cessário que o destinatário saiba quem o escreveu, maléfico para ele.
portanto o autor da carta deve assinar seu nome. No entanto, dentro do texto argumentativo, usa-se
Em alguns casos o remetente pode indicar tam- técnicas da persuasão para dar força às ideias expostas.
bém sua profissão ou formação. Persuasão não é apenas apresentar pontos e recortes do
tema de maneira convincente, muito menos impor uma
A CRÔNICA ARGUMENTATIVA ideia ao leitor por força do argumento. A persuasão no
Este subgênero do texto argumentativo, apresenta texto argumentativo diz respeito a um viés ideológico,
sua tese através da estrutura de uma crônica, um gênero temporal, particular e subjetivo do locutor, dando aber-
que transita entre tipos textuais. A palavra crônica vem tura ao questionamento, ao diálogo e à reflexão por par-
do grego khrónos que significa tempo. A crônica utili- te do leitor. Não se trata de ludibria-lo a acreditar em
za o recurso similar ao do gênero narrativo, para expor qualquer coisa, sem o uso da razão.
um acontecimento ocorrido dentro de um determinado Para escrever um texto persuasivo, é preciso entender
tempo e espaço, geralmente concernentes à temas da bem o contexto e a realidade do assunto escolhido. Um
atualidade, ligadas ao cotidiano. texto argumentativo sobre política, por exemplo, precisa
No caso da crônica argumentativa, a narração ou ex- estar muito bem fundamentado em fatos, mas não ape-
posição desses acontecimentos não possuem um pro- nas isso, o locutor deve saber pontuar suas opiniões de
pósito de apenas narrar situações com personagens e maneira lógica, crítica e estudada.
cenários da perspectiva de um narrador, mas também de Podemos ver algo semelhante em reportagens jorna-
argumentar e convencer o leitor do ponto de vista de lísticas. Se há uma crise econômica que se alastra pelo
quem escreve. país, por exemplo, é provável que números, estatísticas e
A linguagem da crônica costuma ser ácida, um pouco gráficos sejam apresentados no decorrer da reportagem.
de sarcasmo e ironia, através do humor busca convencer Um público leigo no assunto, entretanto, não entenderá
o leitor. Ele pode ser escrito na primeira pessoa do sin- muito bem como sua realidade é afetada por esta situa-
gular, retratando vivências até mesmo pessoais do autor, ção se os jornalistas se limitarem a termos de economia
justamente por ser um gênero hibrido, diferentemente apenas. Uma maneira de fazê-lo entender a realidade é
das características originais de um texto dissertativo-ar- citar o exemplo de um personagem que foi afetado pe-
gumentativo. O discurso na crônica argumentativa cos- los problemas econômicos. Exemplo: “seu João teve que
tuma retratar assuntos ligados à realidade cultural, social, cortar gastos em seu comércio, os preços subiram e as
econômica ou política de um país, estado, cidade, bairro vendas caíram, tudo por causa da crise.”
ou até mesmo de uma rua, denunciando os problemas e Apesar de textos jornalísticos serem outro tipo de gê-
mazelas enxergues pelo autor. nero textual, recursos linguísticos como a comparação, a
hipérbole, a metáfora, a metonímia, no texto argumen-
ARGUMENTAÇÃO E PERSUASÃO tativo, tornam uma argumentação subjetiva em algo
1. Argumentação palpável presente na realidade, aproximando o leitor do
Algo de extrema importância na construção de todo tema. A aproximação dos exemplos no texto com a rea-
e qualquer texto argumentativo é o uso não ape- lidade de seu público-alvo serve também para prender a
nas da argumentação, mas também da persuasão. atenção do leitor.
Argumentar consiste em convencer o leitor dos
pontos apresentados no texto pelo locutor. Exis- O TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO
tem diversos métodos de argumentação a fim de O gênero dissertativo-argumentativo é um tipo tex-
dar embasamento à tese: tual que discute assuntos de relevância social. Assim
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

● Citação: citar a obra ou a fala de especialistas, auto- como outros textos argumentativos, ele busca convencer
res “consagrados”, entre outros nomes importan- o leitor de seu ponto de vista por meio de argumentos
tes na área que o tema do texto aborda. e explicações. Ele deve ser escrito na norma culta da lín-
● Dados e estatísticas: a comprovação a partir de gua portuguesa, sem gírias ou regionalismos, e sem dar
dados, gráficos de comparação, percentuais, esta- voltas desnecessárias em volta do tema, ou seja, o autor
tísticas e cálculos. deve ser capaz de sintetizar os fatos e suas ideias. O es-
● Raciocínio lógico: estabelecer relações de causa e tudo e a produção deste gênero textual é comumente
consequência dos fatos apontados, para que o lei- solicitado em vestibulares e concursos, tendo em vista a
tor entenda que os conhecimentos abordados não necessidade de o candidato estar por dentro dos assun-
são fruto apenas da imaginação ou opinião própria tos da atualidade.
do autor.

135
FORMAS DE DESENVOLVIMENTO DO TEXTO ● Argumento de autoridade: quando há uma cita-
DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO ção de alguém considerado autoridade na área;
A escrita de um texto dissertativo-argumentativo ● Argumento por comparação: quando analogias
deve ser concisa e clara para a leitura flua de maneira são feitas entre fatores semelhantes evidenciados
prática. Sua estrutura pouco flexível, é dividida em três por dados;
partes fundamentais: introdução ao tema, argumentação ● Argumento por exemplificação: quando fatos são
e conclusão. Veja a seguir um exemplo de um texto divi- apresentados para exemplificar um ponto;
dido entre estas partes. ● Argumento por causa e consequência: quando se
● Introdução ao tema: trata-se da apresentação do estabelecem relações de causa e consequência en-
tema, explicação da tese que se pretende provar. tre fatos de maneira lógica.
Exemplo: “o uso de aspectos da cultura africana em
modelos brancas incita a apropriação cultural na
indústria da moda”. #FicaDica
● Argumentação: é a comprovação da tese men-
cionada anteriormente através de um argumen- Uma ótima maneira de exercitar os seus co-
to embasado em provas que fundamentam sua nhecimentos é lendo e praticando por meio
perspectiva. Expor conceitos teóricos e científicos, de exercícios simples. Leia textos argumen-
dados e estatísticas, citações de especialistas, no- tativos e tente identificar os diferentes tipos
tícias e referências históricas são tipos de evidên- de argumentos escolhidos pelo autor.
cias para embasar a argumentação. Em seguida,
deve ser feita a análise dos dados apresentados
A CONTRA-ARGUMENTAÇÃO
e estabelecer a relação entre a prova levantada e
a tese apresentada na introdução ao tema. Exem- Parte importante do texto dissertativo-argumentativo
plo: “de acordo com o sociólogo e especialista em é o contra-argumento. Ao invés de apenas argumentar
culturas de matriz africana, José Borges (...)”, “sen- baseando-se em convicções próprias, o contra-argu-
do assim, a normalização da apropriação cultural mento serve como a oposição de uma determinada ar-
diminui a representatividade da população negra gumentação, em termos linguísticos chamamos este re-
diante da sociedade (...)”. curso de antítese, ou seja, a oposição à tese apresentada
● Conclusão: diz respeito à síntese do que já foi abor- em algum argumento inicial.
dado anteriormente, podendo também apresentar Na contra argumentação, o locutor se preocupa em
uma proposta de resolução do problema levan- não apenas defender seus pontos de vista, mas de ex-
tado no decorrer do desenvolvimento do texto. É plicitar os erros da argumentação inicial em que se ba-
imprescindível que a sua proposta de solução seja seia, segundo seu ponto de vista. O autor do contra-ar-
prática e simples. Não se deve deixar nada implíci- gumento propõe, então, um debate em torno do tema
to. É necessário evidenciar agentes solucionadores, tratado e convida o leitor a refletir quando expõe duas
como a população, organizações privadas ou go- diferentes perspectivas sobre o assunto.
vernamentais, as ações que devem ser tomadas, os
meios que serão usados para realiza-las e as con- O PARÁGRAFO
sequências desse processo inteiro. Exemplo: “para O termo “parágrafo” pode ser definido como uma
que esta realidade mude, devemos exigir da Secre- unidade autossuficiente de um discurso. Sabe-se que
taria da cultura do Estado de São Paulo, a criação cada parágrafo de um texto possui sua devida importân-
de políticas públicas de incentivo à propagação da cia e todos eles em conjunto constroem a ideia do autor
cultura africana em nosso estado (...)” de maneira progressiva até a sua conclusão. Uma regra
importante para o desenvolvimento de um texto argu-
Tendo passado por todas estas etapas, identificamos mentativo é limitar cada parágrafo a apenas uma ideia-
o que é um texto dissertativo-argumentativo. -núcleo. Os parágrafos existem para estabelecer interva-
los entre um assunto e outro, assim que a ideia principal
A CONSISTÊNCIA DOS ARGUMENTOS daquele trecho se finda e um outro assunto é iniciado,
A fim de serem considerados válidos e verídicos, os deve-se iniciar também um novo parágrafo.
argumentos apresentados em todo e qualquer texto de- É fato que cada parágrafo irá dialogar com o anterior
vem ter consistência. A consistência argumentativa se e o próximo, no entanto, é necessário que cada parágra-
apresenta na propriedade do argumento, ou seja, devem fo inicie, desenvolva e conclua a ideia central dos acon-
passar ao leitor lógica, solidez e coerência, evitando re- tecimentos, fatos ou argumentos exprimidos pelo autor,
ainda que de maneira geral a tese do texto argumentati-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

dundâncias, ambiguidades e fontes duvidosas. É através


dos argumentos que o locutor comprova a sua tese e o vo esteja permeada por ele todo e a conclusão geral do
leitor só poderá ser convencido através de uma boa es- assunto só se apresente no último parágrafo.
truturação e fundamentação dos fatos descritos. Não há um número especifico de palavras ou linhas
Argumentar sem conhecimento do assunto, sem para cada parágrafo em textos argumentativos. Contanto
aprofundar-se no tema escolhido, é como um tiro no pé. que o autor seja capaz de expressar a ideia de maneira
O texto será permeado de “achismos” e opiniões basea- clara e completa, mesmo três linhas podem ser conside-
das no senso comum, o que enfraquece a argumentação radas um parágrafo. É por isso que o autor precisa ter
e impede o leitor de uma reflexão informada. Existem di- bem claro quais tópicos pretende abordar sobre o assun-
ferentes tipos de argumentos consistentes para usar no to, assim ele será capaz de desenvolver em cada um dos
texto argumentativo. Confira abaixo alguns deles: parágrafos, um tópico que fará parte do contexto geral
do tema.

136
A INFORMATIVIDADE E O SENSO COMUM ● Citação: fazer referência a autores consagrados e
Chamamos de informatividade a qualidade de um renomados em suas respectivas áreas dá credi-
texto capaz de trazer novos conhecimentos para o leitor. bilidade à informação e pode deixar mais claro o
A informatividade de um texto pode ser alta, média ou assunto que o locutor pretende tratar. Se alguém
baixa e esse fator pode determinar se o texto prenderá especializado no assunto já publicou algo a respei-
ou não a atenção do leitor, se ele será ou não persuadido to do tema escolhido, utilizar o que está em suas
pelos argumentos e se o discurso o afetará de alguma obras para explicar o tema e o ponto de vista do
maneira, seja de modo a desenvolver pensamento crítico locutor, pode ser um bom recurso introdutório.
ou tomar ciência de um fato.
Para exemplificar, podemos pensar num texto argu- A CONCLUSÃO
mentativo sobre física quântica. Este assunto pode ser A conclusão de qualquer texto argumentativo deve
considerado de alta informatividade, pois refere-se à ser sucinta. É o último parágrafo do texto inteiro e ne-
uma área de interesse de uma minoria da população, nhuma informação nova deve ser deixada para o final.
um público restrito que domina o assunto. O restante Tudo que o locutor intendeu expor limita-se até o pará-
do público-leitor, porém, adquirirá novos conhecimentos grafo anterior ao parágrafo da conclusão. O leitor deve
justamente por ser leigo. É por isso que um bom texto
sentir que foi informado sobre tudo e que soube de to-
argumentativo expõe seus pontos principais de maneira
das as opiniões do autor no decorrer da leitura, para que
fundamentada e informada, para poder informar e insti-
chegue ao final e saiba o que concluir de tudo isso.
gar a reflexão, afastando o leitor do senso comum.
Senso comum é outro termo concernente à criação Antes mesmo da apresentação de uma proposta de
de textos dissertativos e argumentativos. Diz respeito a intervenção para a problemática, a técnica da retomada
argumentos aceitos universalmente, sem necessidade de da tese deve relembrar o leitor dos pontos principais an-
comprovação, informações que já são de conhecimento teriormente abordados desde a introdução. Este recurso
público ou já foram comprovadas historicamente. Ten- retoma a ideia central de todo o texto, resumindo-o com
tativas de argumentos ou explanações como “o governo o propósito de, mais uma vez, argumentar a necessidade
precisa melhorar a educação” ou “a mulher tem ocupado da discussão levantada pelo texto e convencer o público
cargos de liderança no mundo todo”, apesar de verda- da tese desenvolvida em seu desenvolvimento.
deiros, são muito fracos em sua informatividade, pois Só depois de retomar a tese, o autor do texto poderá
trazem de fatos do conhecimento popular, o que pode propor uma ou mais soluções para a problemática, esta
desinteressar o leitor ao invés de convencê-lo da tese em proposta de intervenção deve dar ao leitor a sensação
questão. de que o autor não apenas levantou a poeira do pro-
blema, suas causas e consequências, mas também teve
A INTRODUÇÃO o interesse em desenvolver uma solução para a situação
Já estudamos sobre a construção da introdução de exposta. Estas propostas devem ser aplicáveis e fiéis à
diferentes gêneros textuais, mas existem tipos diferentes realidade do que foi retratado no texto.
de introdução que devem ser mencionados. A introdu- Não faz sentido algum propor investimentos do go-
ção serve para mostrar ao leitor do que se trata o texto, verno em melhores cadeiras e mesas nas salas de aula
qual tema pretende-se retratar e o motivo da escolha da se o texto retrata o vandalismo dentro das escolas. O
temática e seus recortes. A introdução pode ser feita por autor precisa estar consciente da realidade no momen-
meio de: to da conclusão do texto. Tendo seguido estas etapas, a
● Exemplificação: através de dados estatísticos e re- conclusão estará adequada ao texto e compreensível ao
latos de acontecimentos de conhecimento geral, público-leitor.
noticiados no mundo, pode-se introduzir a temá-
tica do texto. É necessário tomar cuidado com as
fontes utilizadas para apresentar o assunto e não
omitir suas diferentes vertentes para não condicio- EXERCÍCIO COMENTADO
nar o leitor a acreditar em opiniões disfarçadas de
verdades absolutas. 1. (CETRO CONCURSOS – ANALISTA EM C&T PLENO
● Definição: conceituar determinadas palavras, ter- 1-L – AGÊNCIA ESPACIAL BRASILEIRA – 2014)
mos ou fenômenos ligados ao tema, pode ser feito Assinale a alternativa correta quanto às características de
através de enciclopédias e dicionários, documenta- um texto dissertativo.
ção histórica, teses comprovadas por autoridades
em uma determinada área; tudo isso pode apre- a) É um texto em que se faz um retrato por escrito de um
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

sentar ao leitor a ideia geral que vai se estender até lugar, uma pessoa, um animal ou um objeto.
o final do texto. b) Indica como realizar uma ação. Utiliza linguagem obje-
● Alusão histórica: o autor introduz o assunto atra- tiva e simples. Os verbos são, em sua maioria, empre-
vés do recorte de um acontecimento de algum pe-
gados no modo imperativo, porém nota-se também
ríodo histórico que possa ser relevante para com-
o uso do infinitivo e o uso do futuro do presente do
parar e problematizar o tema tratado.
modo indicativo.
● Narração: recurso que utiliza elementos da narra-
ção para ilustrar o tema em questão, por meio de c) Caracterizado por predizer algo ou levar o interlocutor
uma pequena parábola o autor faz uma alusão a a crer em alguma coisa, a qual ainda está por ocorrer.
não apenas o assunto, mas explicita seu posiciona-
mento desde a introdução.

137
d) É o mesmo que desenvolver ou explicar um assunto, preocupa em relatar os fatos através de uma sequência
discorrer sobre ele. Dependendo do objetivo do autor, cronológica. Neste tipo de enredo, pode-se observar a
pode ter caráter expositivo ou argumentativo. seguinte estruturação:
e) Há uma relação de anterioridade e posterioridade. O ● Apresentação - a introdução ao assunto tratado,
tempo verbal predominante é o passado. descrição e identificação dos personagens, do
tempo e do espaço em que estão inseridos;
Resposta: Letra D. O texto dissertativo tem como ● Complicação - o conflito que move os aconteci-
objetivo principal discorrer sobre um assunto a fim de mentos cujos personagens estão envolvidos;
expor ou argumentar sobre ele. ● Clímax - o momento de tensão na narrativa que
exige uma solução para o conflito apresentado
anteriormente;
Referências Complementares: ●Desfecho - a resolução do conflito, o encerramento
do enredo.
Portal Globo. Disponível em: <http://educacao.glo-
bo.com/portugues/assunto/texto-argumentativo/argu- O enredo linear é comumente utilizado em fábulas e
mentacao.html>. contos infantis, a fim de atingir seu público-alvo. Pen-
Blog do ENEM. Disponível em: <https://blogdoe- se em contos como Chapeuzinho Vermelho ou Os Três
nem.com.br/redacao-tema-titulo/>. Porquinhos. Você conseguiria identificar com precisão o
Portal Escrevendo o Futuro. Disponível em: <ht- início, o meio e o fim de cada uma dessas histórias? Só se
tps://www.escrevendoofuturo.org.br/caderno_virtual/ consegue fazer isso porque a história é claramente cro-
etapa/tipos-de-argumento/> nológica e segue uma sequência lógica de tempo. Estes
Portal Descomplica. Disponível em: <https://des- são claros exemplos de enredos lineares.
complica.com.br/artigo/como-produzir-a-conclusao-de-
-uma-dissertacao-argumentativa/45c/> 2. Enredo não linear
O enredo não linear, por sua vez, é um recurso não
O TEXTO NARRATIVO formal de escrita. Ela trata a descrição dos fatos de ma-
neira não cronológica, ou seja, há uma descontinuidade
proposital na narração. O autor faz saltos no tempo, dá
O texto narrativo é um gênero textual muito usado no
espaços longos entre um acontecimento e outro, vai e
campo da literatura. Os mais aclamados livros da litera-
volta entre situações de diferentes períodos na história
tura brasileira são recheados de exemplos deste gênero.
e não segue a ordem padrão do tempo. Recursos como
Mas o que é um texto narrativo? Já vimos anterior-
cortes, rupturas espaciais e temporais, retrospectivas e
mente o conceito de texto, um fragmento de símbolos
flashbacks são característicos deste tipo de linguagem.
que dão sentido à uma mensagem. Já o verbo “narrar”
O tempo cronológico e o tempo psicológico se fun-
vêm do latim narro, que significa contar, expor, dar a sa-
dem em meio às vivencias dos personagens, ou seja, os
ber. Portanto, o texto narrativo é um recurso da comuni- elementos exteriores da realidade retratada estão direta-
cação escrita usado pelo autor a fim de relatar um fato, mente ligados aos espaços interiores da memória, imagi-
contar uma história ou acontecimento ao leitor. nação e sentimentos dos personagens criados.
Para que um texto seja narrativo é necessário que A densidade de uma narrativa não linear está pre-
ele seja caracterizado pelo relato de uma sucessão de sente em livros como Cem Anos de Solidão de Garcia
acontecimentos reais ou imaginários em uma sequência Márquez. Na obra, o autor não se preocupa com tempo-
lógica com introdução, desenvolvimento e conclusão. ralidade e trafega entre os fatos que moldam os perso-
No decorrer desta estrutura construída, apresentam-se nagens de maneira não cronológica. Muitas outras obras
os principais elementos do texto narrativo: narrador, per- da literatura utilizam este recurso para dar dinamismo e
sonagem, tempo, espaço e enredo. Para entender melhor movimento ao texto.
o texto narrativo, deve-se observar cada um de seus ele-
mentos individualmente. O TEMPO E ESPAÇO
1. O tempo na narrativa
O ENREDO O tempo na narrativa é a indicação do período crono-
Um dos mais importantes elementos do texto narrati- lógico em que se passa o enredo, que vai desde o início
vo, o enredo, pode ser definido como a trama da história, até o fim da história. A narração pode estar situada em
o que faz com que a narração tenha uma sequência de um curto período de tempo, pode se estender por mui-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

acontecimentos, uma gama de situações que os perso- tos anos ou sofrer quebras e interrupções sem padrão
nagens vivem no decorrer da descrição dos fatos. Dife- específico, como visto anteriormente sobre os tipos de
rentes tipos de enredo podem ser usados para criar a enredo.
narração. Ele pode ser linear ou não linear. A compreensão do texto e a mensagem que se pre-
tende passar também se dá através do entendimento do
1. Enredo Linear contexto histórico, social e cultural construídos na narra-
O enredo linear apresenta os personagens, o tempo tiva e do contexto histórico, social e cultural do próprio
e o espaço de maneira lógica em que se pode observar autor, que influenciam sua escrita.
claramente o começo, o meio e o fim da história. Assim Ao interpretar um texto narrativo, também é neces-
como o ritmo da própria vida humana que consiste em sário estar ciente de que existem dois tipos principais de
nascer, crescer, envelhecer e morrer, um enredo linear se marcação de tempo.

138
● Tempo externo ou histórico: refere-se ao tempo escombros de sua pobre mente um bicho papão que de-
cronológico em que se passa a história contada, vora todo o amor (...)” da poesia da escritora Anna Corvo,
ou seja, o período histórico em que o enredo se há um exemplo de um espaço não físico (a mente) com
desenvolve. Alguns autores preferem narrar utili- características de um ambiente físico (escombros).
zando o tempo passado, como a escritora contem-
porânea Julia Quinn. Ela não escreve personagens A TÉCNICA DA DESCRIÇÃO
do século XXI, mas sim romances de época, um Descrição significa detalhar, usar adjetivos e advér-
estilo similar ao de Jane Austen que, por sua vez, bios como recursos para tornar conhecidas as caracte-
escreveu sobre seu próprio tempo e contexto his- rísticas de algo ou alguém. Dentro do gênero textual em
tórico. Outros escritores de ficção narram um fu- questão, o gênero narrativo, a técnica da descrição é co-
turo imaginário, como no gênero ficção cientifica. mumente utilizada pelo autor no decorrer da história a
Portanto, o tempo externo se refere ao que vemos fim de chamar atenção do leitor para o que é importante
no calendário, seja ele passado, presente ou futuro. dentro de um determinado enredo. A descrição pode ser
● Tempo interno ou psicológico: refere-se à um subjetiva ou objetiva.
campo metafísico, imaterial, que não se apresen- Na descrição objetiva transmite-se de forma precisa
ta por meio de datas, não obedece à cronologia e e concreta do que se descreve, de modo a aproximar
não está diretamente relacionado com a passagem o leitor da real imagem do objeto da descrição. Já na
de tempo. Diz respeito ao tempo interior de cada descrição subjetiva, o narrador apresenta um ponto de
personagem. Para entender melhor este concei- vista pessoal sobre o objeto em questão, não se limitan-
to, pense no dilema da traição de Capitu em Dom do apenas àquilo que qualquer observador poderia en-
Casmurro. O suposto envolvimento de Capitu com xergar. Este recurso pode denunciar os sentimentos que
Escobar pode ter durado apenas poucas horas o narrador pode ter em relação à momentos, lugares e
cronologicamente, no entanto a desconfiança da personagens.
traição acompanha Bentinho ao longo de todo o Observe no esquema a seguir exemplos de caracterís-
romance. Ou seja, o autor, Machado de Assis, esco- ticas físicas e psicológicas usadas em um texto narrativo
lhe um fato e torna o tempo psicológico em volta descritivo:
dele um elemento preponderante para manter o
clímax da narrativa, a problemática que necessita
resolução, através de Bentinho.

A indicação do tempo na narrativa situa o leitor e per-


mite que ele compreenda em que momento da história o
texto se passa. A ausência da marcação de tempo crono-
lógico também pode ser um recurso utilizado. Situar ou
não o leitor deve ser uma escolha consciente do autor.

2. O espaço na narrativa
Assim como a marcação do tempo, a indicação do es-
paço neste gênero textual é uma das suas mais importan-
tes características. A poesia, por exemplo, não necessaria-
mente exige uma indicação do espaço em que o locutor
ou personagem descrito se encontra. Mas em um texto As características citadas não costumam ser apresen-
narrativo, a ideia do espaço físico é inerente à história e tadas todas de uma só vez pelo narrador. É no decorrer
torna-se uma tarefa difícil desvencilhar os acontecimen- de toda a narração que detalhes vão sendo distribuídos
tos de seus ambientes. por todo o texto, do início ao fim.
Pense em O Diário de Anne Frank, e enxergue o escon-
derijo em que viveu Anne, durante o Holocausto. Pense
em O Cortiço e enxergue os morros do Rio de Janeiro, FIQUE ATENTO!
pense em Harry Potter e enxergue os corredores da esco- Textos descritivos e textos narrativos são
la de magia Hogwarts. Seja o espaço real ou imaginário, a semelhantes, mas diferentes. Os textos des-
descrição do ambiente em que a história se situa faz com critivos são minuciosos e fazem descrições
detalhadas a fim de que o leitor possa
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

que o leitor consiga imaginar com mais clareza.


Veja a seguir os tipos de espaço: identificar o objeto descrito com clareza,
● Espaço geográfico ou físico: local real ou imagi- independentemente de seu propósito. Já
nário em que transitam os personagens, seja este espaço os textos narrativos utilizam o recurso da
um país estrangeiro, uma sala de estar, um aquário ou descrição para dar “cor” aos personagens,
mesmo uma galáxia criada pela imaginação do autor. ambientes e fenômenos da natureza, e a
● Espaço psicológico ou metafórico: os pensamen- descrição não é o foco principal da comu-
tos, as emoções, os sentimentos e a imaginação dos per- nicação, mas sim um estilo de escrita que
sonagens, ou do próprio narrador, são exemplos de es- incita a imaginação do leitor.
paços não físicos em que o autor tem a liberdade de criar
“cômodos” e ambientes metafóricos. No trecho “Há nos

139
O NARRADOR
EXERCÍCIO COMENTADO
Quem narra um fato é um narrador. Dentro da escrita,
o narrador é aquele que conta a história, relata os acon-
tecimentos e torna tudo, desde personagens às situa- 1. (COMPANHIA DOCAS DA PARAÍBA – CONTADOR
ções, familiares ao leitor, a partir de sua singular perspec- – INSTITUTO BRASILEIRO DE FORMAÇÃO E CAPACI-
tiva. O narrador pode ser o próprio autor do texto, uma TAÇÃO – 2015)
entidade, um personagem, etc. Existem diversos tipos de
narrador, cada qual com especificidades que conferem Texto:
ao enredo diferentes visões e interpretações que apenas Sinto-me um pouco intrusa vasculhando minha infância.
ele próprio pode fazer. Observe a seguir o conceito de Não quero perturbar aquela menina no seu ofício de so-
cada tipo de narrador: nhar. Não a quero sobressaltar quando se abre para o
1. Narrador-personagem: o narrador-personagem mundo que tão intensamente adivinha, nem interromper
possui uma relação íntima com os demais elementos da sua risada quando acha graça de algo que ninguém mais
narração. Ele narra a história na primeira pessoa e participa percebeu.
do desenrolar da trama juntamente com os demais per- Tento remontá-la aqui num quebra-cabeças que vai for-
sonagens, podendo ser ou não o protagonista da trama. mar um retrato - o meu retrato? Certamente faltarão al-
Sua visão é raramente imparcial, pois a descrição que faz gumas peças. Mas, falhada e fragmentária, esta sou eu, e
dos acontecimentos ao seu redor é subjetiva, ou seja, exer- me reconheço assim em toda a minha incompletude. Al-
cendo juízo de valor sobre tudo que relata de acordo com gumas destas narrações já publiquei. São meu rebanho, e
suas preferencias, gostos, afinidades, opiniões e ideologias. posso chamá-las de volta quando quiser. Muitas eu mes-
Como exemplo desde tipo de narrador, pode-se citar Brás ma vi e vivi; outras apanhei soltas no ar, pois sempre há
Cubas, personagem e narrador em Memórias Póstumas de quem se exponha a uma criança que finge não escutar
Brás Cubas de Machado de Assis. Os relatos de suas me- nem enxergar muita coisa da sua vida ao rés-do-chão.
mórias no livro partem de uma perspectiva particular de Aqui onde estou - diante deste computador, nesta altu-
Cubas, são percepções exclusivas daquele personagem e o ra e deste ângulo -, afinal compreendo que não são as
leitor possui acesso a apenas este ponto vista no decorrer palavras que produzem o mundo, pois este nem ao me-
da trama. nos cabe dentro delas. Assim aquela menina dançando
2. Narrador-observador: este tipo de narrador é no pátio na chuva não cabia no seu protegido cotidiano:
imparcial, ou seja, é neutro enquanto narra os aconte- procurava sempre o susto que viria além.
cimentos. Está sempre do lado de fora e a linguagem Então enfiava-se atrás dos biombos da imaginação, co-
usada é a terceira pessoa, sem ter qualquer participação locava as máscaras e espiava o belo e o intrigante, que
nos acontecimentos. O narrador-observador não tem co- levaria o resto de sua vida tentando descrever.
nhecimento a respeito dos pensamentos, sentimentos e (LUFT, Lya. Mar de dentro. P. 13-14)
opiniões mais íntimos dos personagens que retrata. Este O texto acima pode ser entendido como pertencente
tipo de narração é comum em textos jornalísticos, em à tipologia narrativa. Desse modo, todos os elementos
que apenas se relata o que se pode enxergar no exterior. abaixo comprovam essa classificação, exceto:
Seja na hora de detalhar um acidente de trânsito ou ex-
plicitar a expressão de tristeza no rosto de quem perdeu a) a presença de um narrador em primeira pessoa que re-
um ente querido em meio à tragédia, o narrador-obser- lata, com parcialidade, os fatos e elementos descritos.
vador se abstém de qualquer julgamento sobre os per- b) referências espaciais como o estar “diante deste com-
sonagens, como uma testemunha ocular dos ocorridos. putador, nesta altura e deste ângulo”.
3. Narrador-onisciente: este também narra em ter- c) a presença de personagens como “aquela menina no
ceira pessoa e se assemelha ao narrador-observador, não seu ofício de sonhar”.
participando das ações. No entanto, ele tem conhecimen- d) a defesa de um posicionamento que fica claro na opo-
to íntimo e profundo dos pensamentos, sentimentos, sição entre o adulto e a criança no texto.
medos, sonhos, fragilidades e planos de cada um dos
personagens. Ele é o deus da narrativa, uma entidade Resposta: Letra D. A argumentação não é um fator ca-
quase mística, que conhece tudo e todos e até do que racterístico do gênero narrativo e sim do texto argumen-
virá a acontecer. É um narrador objetivo e utiliza os ele- tativo. A autora se preocupa em descrever e narrar seus
mentos da descrição para aprofundar o leitor no univer- pensamentos, acontecimentos passados e lembranças.
Não tem a intenção de inserir na narrativa qualquer tipo
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

so interno dos protagonistas e personagens secundários.


Chamamos esta linguagem de discurso indireto livre. Não de juízo de valor ou argumentação para convencer o lei-
apenas os personagens, mas a natureza e os fenômenos tor de seu ponto de vista ou fazer uma denúncia, como é
climáticos também estão em seu pleno conhecimento. o caso do gênero textual argumentativo.
Existem inúmeras obras com narradores-oniscientes es-
palhadas pelo mundo todo. É muito comum esse tipo
de narração, pois fica mais fácil para o autor desenvolver
as ações na trama quando o narrador usufrui de todo o
saber durante a história.

140
professor conheça os sete processos mentais básicos
para aprendizagem da matemática: correspondência,
MATEMÁTICA: A CONSTRUÇÃO DOS CON- comparação, classificação, sequenciação, seriação, inclu-
CEITOS MATEMÁTICOS. são e conservação.
Sem o domínio desses processos, ainda de acordo
com o autor, as crianças poderão até dar respostas cor-
retas, segundo a expectativa e a lógica dos adultos. To-
Linguagem Matemática davia, provavelmente sem significado ou compreensão
para elas. É importante entender o que significa cada um
Desde que nascem, as crianças vivem uma cultura em desses processos que podem referir-se a objetos, situa-
que as pessoas lidam constantemente com noções mate- ções ou ideias. Lorenzato:
máticas. Situações como pagamentos e trocos, cálculos de 1 - CORRESPONDÊNCIA: é o ato de estabelecer a
tamanhos, contagem do número de pessoas que estão em relação, por exemplo, de “um a um”.
um ambiente, indagações a respeito da quantidade de dias Exemplos: um prato para cada pessoa; cada pé com
que faltam para uma data determinada, entre outras, estão seu sapato; a cada aluno, uma carteira. Mais tarde,
sempre presentes no cotidiano das crianças. a correspondência será exigida em situações do
Ainda pequeninas, as crianças recorrem a certos co- tipo: a cada quantidade, um número (cardinal); a
nhecimentos para resolver situações-problema, como cada número, um numeral; a cada posição (numa
apontar com os dedos a idade que têm, escolher o canal sequência ordenada), um número ordinal. Pode
de TV, marcar o resultado de um jogo, brincar com o te- haver também a correspondência “um para mui-
lefone, verbalizar a sucessão numérica, repartir figurinhas tos”, por exemplo, Maria é um nome que se refere
entre os colegas, contar quantas vezes o companheiro a várias pessoas.
pulou corda. São conhecimentos que compõem o que 2 - COMPARAÇÃO: é o ato de reconhecer diferenças
se entende por conhecimentos matemáticos, que lidam ou semelhanças.
com a noção de número. Exemplos: esta bola é maior que aquela; moro mais
As noções matemáticas que as crianças possuem, longe que ela; somos do mesmo tamanho? Mais
mesmo antes de ingressarem na escola, evidenciam um tarde, virá: Quais destas figuras são retangulares?
vocabulário matemático, basicamente oral, ainda que 3 - CLASSIFICAÇÃO: é o ato de separar em catego-
marcado por tentativas de escrita e reconhecimento de rias, de acordo com semelhanças ou diferenças;
símbolos. As crianças, nas situações lúdicas do brincar, para tanto, escolhe-se uma qualidade que servirá
aprendem a estrutura lógica da realidade e, por conse- para estabelecer a classificação.
guinte, aprendem a estrutura matemática. Exemplos: na escola, a distribuição dos alunos por sé-
A matemática é composta por um sistema de códigos ries; arrumação de mochila ou gaveta; dadas várias
e conceitos de modo que as pessoas possam controlar peças triangulares e quadriláteras, separá-las con-
quantidades, espaço e grandezas. Por isso, pode ser en- forme o total de lados que possuem.
tendida como uma linguagem. 4 - SEQUENCIAÇÃO: é o ato de fazer suceder a cada
Ao assegurar às novas gerações a apropriação dos elemento um outro, sem considerar a ordem entre
conhecimentos matemáticos produzidos historicamente, eles; portanto, é ordenação sem critério preexistente.
ou seja, o ensino da linguagem matemática possibilita-se Exemplos: chegada dos alunos à escola; entrada de
jogadores de futebol em campo; compra em su-
a inserção da criança na sociedade das letras e dos nú-
permercado; escolha ou apresentação dos núme-
meros à qual pertence, indo ao encontro de suas neces-
ros nos jogos loto, sena e bingo.
sidades de interação social.
5 - SERIAÇÃO: é o ato de ordenar uma sequência
Seja qual for a noção e o campo matemático (espaço
segundo um critério.
e forma, número e operações, grandezas e medidas, tra-
Exemplos: fila de alunos, do mais baixo ao mais alto;
tamento da informação) a ser trabalhado, sempre haverá
lista de chamada de alunos em ordem alfabética;
uma relação com um dos conceitos seguintes:
numeração das casas nas ruas; calendário.
- Tamanho - lugar - distância – forma, bidimensiona- 6 - INCLUSÃO: é o ato de fazer abranger um conjun-
lidade e tridimensionalidade; to por outro, ou seja, considerar que um conjunto
- Quantidade – contagem oral – notação numérica e de coisas distintas pode ter uma qualidade que as
ou registros não convencionais – ideias de juntar, inclua num conjunto maior.
tirar, colocar, comparar, repartir e distribuir - agru- Exemplos: incluir as ideias de laranjas e de bana-
pamento – relação entre quantidades - capacidade
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

nas, em frutas; meninos e meninas, em crianças;


– tempo; varredor, professor e porteiro, em trabalhadores
- Posição - medição - direção; na escola; losangos, retângulos e trapézios, em
- Volume - comprimento – massa – peso – utilização quadriláteros.
de unidades convencionais e não convencionais; 7 - CONSERVAÇÃO: é o ato de perceber que a quan-
- Tratamento da informação: gráficos e tabelas, grá- tidade não depende da arrumação, da forma ou
ficos pictóricos. da posição.
Exemplos: uma roda grande e outra pequena, ambas
Segundo Lorenzato (2009), para o sucesso na orga- formadas com a mesma quantidade de crianças;
nização de situações que propiciem a exploração ma- um copo largo e outro estreito, ambos com a mes-
temática pelas crianças, é também fundamental que o ma quantidade de água.

141
Os exemplos apresentados são sugestões para abor- verificamos que o ensino da matemática na Educação
dagem dos processos mentais no âmbito escolar, e não Infantil pode ser trabalhado de várias formas, sendo im-
como conteúdos a serem ensinados. É importante lem- portante trazer atividades diferentes para que as crianças
brar que crianças de uma mesma idade podem apre- possam associá-las mais facilmente e a ludicidade é um
sentar igual desempenho diante desses processos. Essas caminho pertinente nesse ensino, trazendo para os in-
defasagens momentâneas são superadas por meio de fantes desafios, soluções, formação de atitudes, intuição
atividades diversificadas, intencionalmente planejadas. e estratégias a partir de jogos, brincadeiras e construção
Lorenzato (2009) reitera que esses processos mentais de materiais para esse fim.
não estão restritos ao campo matemático. Na verdade, Segundo Piaget (1967) “o jogo não pode ser visto
são abrangentes e estão presentes em situações do coti- apenas como divertimento ou brincadeira para desgastar
diano, constituindo-se em um alicerce que será utilizado energia, pois ele favorece o desenvolvimento físico, cog-
para sempre pelo raciocínio humano, independentemen- nitivo, afetivo e moral”.
te de idade, profissão, assunto ou tipo de problema a ser A relação professor-aluno deve ser uma característica
encarado. efetiva, no que diz respeito à ludicidade, pois é na sala de
aula que o educador atuará como motivador, trazendo
O aguçamento da curiosidade pelos conhecimentos
jogos relacionados à matemática que estimulam a me-
matemáticos e sua apropriação acontecem na instituição
mória, o raciocínio, o compartilhamento e a socialização
educativa, a partir da organização de experiências de re-
de conhecimento. Assim o processo de aprendizagem da
lacionar quantidades, usar grandezas, realizar medidas e matemática, a partir do lúdico visa o jogo livre, o jogo
construir a noção de número. A curiosidade para compa- planejado, o jogo comparativo, o jogo envolvendo me-
rar elementos, para perceber o valor relativo das coisas mória e raciocínio lógico, os jogos demonstrativos, e até
pode ser estimulada desde cedo. mesmo, a estimulação para que as crianças construam
As demandas sociais contemporâneas impulsionam a seus próprios jogos através dos que já brincaram.
necessidade de compreender as estatísticas e elaborar Para Dohme (1998), a primeira relação da criança com
procedimentos para entender os dados por meio do tra- a aprendizagem é justamente o fato de a criança apren-
tamento das informações que, frequentemente, apare- der a brincar, o fato da brincadeira estar intimamente li-
cem no dia a dia, inclusive das crianças. gada à comunicação com outros indivíduos e ao contato
A orientação espaço-temporal deve ser alvo de aten- com suas próprias emoções, o que favorece à criança,
ção na Educação Infantil. A orientação espacial agrega o desenvolvimento de sua autoestima e a formação de
a noção de direção, de distância e de organização pe- vínculos.
rante o que nos cerca e as coisas entre si. Já a orienta- Com isso, fazer com que a criança conviva em um
ção temporal é a capacidade de situar-se em função da ambiente cheio de materiais e situações diferentes fazem
sucessão dos fatos (antes, durante e após), da duração com que ela construa e elabore seus próprios conheci-
dos intervalos (hora, minuto, rápido, lento), da renovação mentos, sendo aprimorados com o tempo e na medida
cíclica de determinados períodos (dias da semana, meses em que a professora for trabalhando os assuntos. Desse
e estações) e do caráter irreversível do tempo (noção de modo, manter presente os jogos no planejamento é uma
envelhecimento, por exemplo). iniciativa que abre novos caminhos e práticas para apre-
As atividades pedagógicas desenvolvidas pela escola sentar e ensinar a matemática na Educação Infantil, além
devem possibilitar a observação, a exploração e a discus- de motivar os alunos, pode desenvolver o senso crítico
são sobre os fenômenos socioambientais que envolvam e criativo instigando na descoberta de novos conceitos.
o uso de estratégias de quantidade, de agrupamento, de Segundo Moyles “Os jogos são tipos de atividades que
deslocamento etc. Essas estratégias contribuem para a podem ser praticadas de diversas maneiras, facilitando a
aprendizagem, desenvolvendo a criatividade dos alunos,
construção dos conhecimentos matemáticos, base para
enriquecendo a vivência de fatos.”
a compreensão de conceitos e formulação de hipóteses
A educação lúdica está distante da concepção in-
na resolução de problemas.
gênua de passatempo, brincadeira vulgar e diversão su-
Os conhecimentos matemáticos precisam ser apre- perficial. Ela é uma ação intrínseca da criança e aparece
sentados e explorados de forma significativa e prazerosa sempre como forma de relação em direção a algum co-
por meio de situações concretas, histórias, músicas, jogos nhecimento, que se redefine na elaboração constante do
e brincadeiras. Para tanto, as mediações dos profissionais pensamento individual e em trocas com o pensamento
pela palavra e as interações entre as próprias crianças são coletivo. Educar ludicamente tem um significado relevan-
fundamentais, inclusive porque a mais desenvolvida au- te e está presente em todas as situações do dia-a-dia. As-
xilia nas aprendizagens das outras, beneficiando a todas. sim, conduzir à criança na busca, no domínio de conhe-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

As crianças podem, assim, ter as condições para o de- cimentos mais abstrato combinando com habilidades,
senvolvimento do pensamento e a tomada de decisões. esforços e juntamente com a brincadeira pode-se trans-
Fundamental é permitir que elas ajam como produtoras formar o aprendizado, num jogo bem-sucedido, momen-
de conhecimento e não apenas executoras de instruções, to este em que a criança pode mergulhar inteiramente
ampliando as questões tanto para alcançar as respostas nas brincadeiras e ter um aprendizado significativo.
desejadas como para formular novas perguntas. Para Antunes, “O jogo ajuda o educando a construir
Ensino da Matemática acompanhado da Ludicidade suas descobertas, desenvolve e enriquece sua personali-
dade e simboliza um instrumento pedagógico que leva
Neste texto de autoria de Mundim e Oliveira1, ao professor a condição de condutor, estimulador e ava-
liador da aprendizagem. ”
1 MUNDIM, J. S. M.; Guilherme Saramago de OLIVEIRA, G. S. de. O
Trabalho com a Matemática na Educação Infantil. Revista Encontro de Pesquisa em Educação Uberaba, v. 1, n.1, p. 202-213, 2013.

142
Além de todos os assuntos matemáticos que envol- De acordo com Antunes (2000): a criança não é atraí-
vem a Educação Infantil é importante visar na apresen- da por algum jogo por forças externas inerentes ao jogo
tação dos números para as crianças, em que estes são e sim por uma força interna, pela chama acesa de sua
usados por elas em todas as situações do dia-a-dia e evolução. É por esta chama que busca no meio exterior
para isso, pode ser usada a ludicidade, considerando que os jogos que lhe permitem satisfazer a necessidade im-
aprender números vai além de quantificar objetos. periosa posta pelo seu crescimento.
Reis afirma que: as noções básicas em matemática, As brincadeiras sugeridas não são as únicas para con-
lógica e geometria começam a ser elaboradas a partir seguir que as crianças construam seus conhecimentos
dos 4,5 anos de idade, portanto é vital que a base seja matemáticos, mas com certeza, a partir delas, o educador
sólida, bem construída e bem trabalhada, para que nela tem a oportunidade de preparar inúmeras possibilidades
se assentem os conhecimentos matemáticos futuros. Os de atividades lúdicas, que exploram um trabalho com a
jogos que envolvem números, quantidades e significados matemática. É indispensável que o professor pondere
estimulam as crianças a usar a memória e o raciocínio lo- se o trabalho desenvolvido está atingindo os objetivos
gico, em que elas simulam as situações em momentos do preestabelecidos, para assim poder direcionar sua práti-
cotidiano que acontecem em casa, nas ruas, nas lojas e ca pedagógica, com o intuito de promover uma aprendi-
nos locais de passeio. No processo de desenvolvimento zagem de matemática para as crianças.
da criança, há uma realidade externa, que faz com que a Para Antunes (2000), o jogo jamais pode surgir como
mesma normalmente crie suas próprias soluções, cons- um trabalho ou estar associado a alguma forma de san-
truindo o conhecimento de formas variadas, se adaptan-
ção. Ao contrário, é essencial que o professor dele se
do ao ambiente em que vive e esta adaptação só se dá,
utilize como ferramenta de combate à apatia e como ins-
se houver uma troca recíproca de experiências. O jogo é
trumento de inserção e desafios grupais. O entusiasmo do
um processo que auxilia a evolução da criança, utiliza a
análise, a observação, a atenção, a imaginação, o voca- professor e o preparo dos alunos para um momento espe-
bulário, a linguagem e outras capacidades próprias do cial a ser propiciado pelo jogo constitui um recurso insubs-
ser humano. E os jogos são uma maneira de fazer que as tituível no estímulo para que o aluno queira jogar.
crianças compreendam e a utilizem regras que serão em- Portanto, o uso de jogos e curiosidades no ensino da
pregadas no processo de ensino-aprendizagem ao longo matemática tem o objetivo de fazer com que as crianças
da caminhada escolar. se interessem, mudando a rotina da classe e despertan-
Para Piaget (1989), “Os jogos não são apenas uma do o empenho do aluno envolvido. A aprendizagem, a
forma de divertimento, mas são meios que contribuem e partir de jogos permite que o aluno faça do ensino um
enriquecem o desenvolvimento intelectual. Para manter processo interessante e divertido, e, além disso, tenha
seu equilíbrio com o mundo, a criança necessita brincar, vontade de criar e aprender associando sempre às suas
criar, jogar e inventa”. experiências.
Utilizar sucatas, palitos, materiais tragos pelos alu-
nos, confeccionados em conjunto com os pais, colegas Referências:
e professores pode-se organizar um estoque precioso na Currículo em Movimento da Educação Básica Educa-
disposição do uso de material didático na aula. O im- ção Infantil. Distrito Federal, 2013.
portante não é ter um material aparentemente bonito, REIS, Silvia Marina Guedes dos. A Matemática no co-
apenas, mas que permita problematizações. As junções tidiano Infantil: jogos, atividades com crianças de 3 a 6
de materiais podem trazer a criação de jogos que irão anos. Campinas: Papirus.
beneficiar no processo de desenvolvimento e conheci- REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDU-
mento da matemática, sendo que o manuseio e a conta- CAÇÃO INFANTIL /Ministério da Educação e do Des-
gem dos materiais vão se valorizando na aprendizagem porto, Secretaria de Educação Fundamental. — Brasília:
das crianças. MEC/SEF, 1998.
Esse processo de uso de materiais concretos pode
auxiliar a criança a desenvolver noções significativas, em
que o professor irá auxiliar se atentando para não perder FIQUE ATENTO!
as oportunidades que se apresentam no dia-a-dia de-
safiando os infantes a buscarem novas informações ou Para saber mais sobre conteúdo, leia “ Refe-
mesmo empregarem em situações novas, conhecimen- rencial Curricular Nacional para a Educação
tos obtidos anteriormente. Infantil volume 3” na parte bibliográfica des-
As crianças já trazem para a escola conhecimentos, te material.
ideias e discernimentos construídos através das expe-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

riências que vivem em seu cotidiano. Elas chegam à sala


de aula com as ferramentas básicas para, por exemplo,
classificar, ordenar, quantificar e medir. E, além disso, EXERCÍCIO COMENTADO
aprendem a atuar de acordo com os recursos, depen-
dências e as restrições de seu meio. Sendo assim, cabe
ao educador construir uma estruturação da ação peda- 1. Nas décadas de 1960/1970, o ensino de Matemática
gógica que respeite e propicie o desenvolvimento inte- no Brasil foi influenciado pelo Movimento Matemática
gral das crianças. As contribuições são muitas quando o Moderna. Este movimento nasceu como um movimento
professor leva o jogo para a sala de aula, quando os alu- educacional relacionado a uma política de modernização
nos confeccionam seus jogos e quando a professora se econômica e foi inserido na linha de frente do ensino
envolve nas atividades. do país por se considerar que, juntamente com a área

143
de Ciências, ele constituía uma via de acesso privilegiada
para o pensamento científico e tecnológico. Para tanto, SISTEMA DE NUMERAÇÃO EM
procurou-se aproximar a Matemática desenvolvida na DIFERENTES BASES
escola de Nível Básico da Matemática como trabalhada
e inventada pelos estudiosos e pesquisadores de Insti-
tutos de Pesquisas e Universidades. O ensino proposto
fundamentava-se em grandes estruturas que organizam LERNER, DELIA; SADOVSKY, PATRÍCIA. O SISTE-
o conhecimento matemático e, por causa disso, enfati- MA DE NUMERAÇÃO: UM PROBLEMA DIDÁTI-
zou, principalmente, a teoria dos conjuntos, as estruturas CO. IN: PARRA, CECÍLIA (ORG.). DIDÁTICA DA
algébricas, a topologia. MATEMÁTICA: REFLEXÕES PSICOPEDAGÓGI-
(Adaptado dos Parâmetros Curriculares Nacionais de CAS. PORTO ALEGRE: ARTES MÉDICAS, 1996. P.
Matemática – PCN‟s) 73-155.

Com base na discussão apresentada, é correto afirmar


que, em linhas gerais, #FicaDica
A em questão propõe reflexões sobre qual
a) este movimento ainda é defendido pelos autores para
é a matemática que deve ser ensinada na
ampla implementação no ensino atual de Matemática,
educação básica obrigatória; aspectos re-
uma vez que o ensino de geometria passou a ser valo-
lativos ao desenvolvimento da didática da
rizado e, portanto, acabou sendo expandido nos livros
matemática no mundo; análise da situação
didáticos até a década de 1990.
atual do ensino e da aprendizagem de con-
b) este movimento ainda é defendido pelos autores para
teúdos importantes da escola primária; pro-
ampla implementação no ensino atual de Matemáti-
postas didáticas que, ao mesmo tempo em
ca, uma vez que os professores foram orientados a ter
que pretendem dar ao aluno oportunidade
intensas preocupações com as formalizações algébri-
de colocar em jogo suas conceitualizações,
cas e, portanto, o que se propunha está ao alcance da
suas reflexões e seus questionamentos, ou-
maioria dos estudantes do país.
torgam um papel fundamental ao profes-
c) este movimento ainda é defendido pelos autores para
sor, que assume a responsabilidade social
ampla implementação no ensino atual de Matemática,
de conseguir mais e melhor conhecimento
uma vez que não influenciou as práticas pedagógicas
para todas as crianças.
dos professores, apenas a modificação do nome prova
para teste em concursos e avaliações escritas.
d) este movimento não é defendido pelos autores para
ampla implementação no ensino atual de Matemática, O trabalho compõe o capítulo O Sistema de Nume-
uma vez que, dentre outros motivos, o que se pro- ração: Um Problema Didático, o grande responsável pela
punha em sala de aula não estava ao alcance de boa divulgação da obra no Brasil. Essa investigação trou-
parte dos alunos do país; e o ensino de geometria fi- xe respostas para muitas das indagações que fazíamos
cou comprometido devido à busca de se atrelar todos sobre o ensino dos números, em especial, na Educação
os conceitos a uma linguagem simbólica e complexa. Infantil. Na época, eu era professora de uma turma de 5
e) este movimento não é defendido pelos autores para anos e, com as minhas colegas, devorei avidamente cada
ampla implementação no ensino atual de Matemáti- trecho do artigo. A pesquisa permitiu que enxergásse-
ca, uma vez que, dentre outros motivos o que se pro- mos os processos pelos quais toda criança passa ao ten-
punha em sala de aula era uma contextualização dos tar entender o funcionamento do sistema de numeração.
conceitos matemáticos, bem como a interdisciplinari- Considerando os resultados da investigação, as auto-
dade como metodologia por excelência nas salas de ras questionam o enfoque usual do tema e, em seguida,
aula das escolas do país. apresentam uma série de situações didáticas que podem
ser desenvolvidas com os estudantes em classe. Foi uma
época de muito entusiasmo e de aprendizagens inten-
Resposta: Letra D. A Matemática a ser ensinada era
sas. Líamos, discutíamos, estudávamos, fichávamos cada
aquela concebida como lógica, compreendida a partir
parte, atentas a cada detalhe, e voltávamos para a sala
das estruturas, conferia um papel fundamental à lin-
de aula animadíssimas a fim de propor as atividades aos
guagem matemática. Os formuladores dos currículos nossos alunos. Depois da leitura desse artigo, nunca mais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

dessa época insistiam na necessidade de uma reforma olhei da mesma forma uma sala de aula. Em 1996, o li-
pedagógica, incluindo a pesquisa de materiais novos vro foi traduzido e lançado no Brasil. Corri à livraria para
e métodos de ensino renovados — fato que desenca- comprar meu exemplar, que carrego comigo até hoje.
deou a preocupação com a Didática da Matemática, As marcas - anotações, grifos, post-its, manchas de café,
intensificando a pesquisa nessa área. dedicatórias - que hoje fazem parte do meu exemplar
são o testemunho das repetidas leituras realizadas nos
últimos 14 anos. Aos poucos, fui me aventurando pelos
outros artigos e me encantei ainda mais com a obra, fun-
damental para estudar e conhecer a didática da Mate-
mática, já que os principais autores da área estão nela
representados.

144
No capítulo Os Diferentes Papéis do Professor, o fran- - História dos conhecimentos que as crianças elabo-
cês Guy Brousseau, pioneiro da didática da disciplina, fala ram a respeito da numeração escrita
sobre as diversas funções que um educador assume em
diferentes momentos do desenvolvimento de uma se- A pergunta levantada pelos pesquisadores é: como
quência didática. Ele expõe conceitos fundamentais da as crianças compreendem e interpretam os conhecimen-
teoria das situações didáticas, como situação a didática e tos vivenciados no seu cotidiano no meio social familiar
devolução. O texto concentra muitas das ideias difundi- de utilização da numeração escrita? A hipótese era que
das hoje não só no ensino da Matemática como também as crianças elaboram critérios próprios para produzir re-
de outras disciplinas. Outros textos apresentam temas presentações numéricas e que a construção da notação
importantes, como o significado do cálculo mental. Esse convencional não segue a ordem da sequência numérica.
é, enfim, um daqueles livros que permite nos defrontar Para buscar a resposta às hipóteses levantadas, situações
com algo surpreendente a cada leitura. experimentais, através de jogos foram projetadas e rela-
Neste contexto, a autora pontua: “Então, se pretende- cionadas à comparação de números. Através das respos-
mos que o uso da numeração seja realmente o ponto de tas das crianças entrevistadas chegou-se a suposição que
partida da reflexão, se esperamos que seja efetivamente elas elaboram uma hipótese de “quanto maior a quanti-
possível estabelecer regularidades, torna-se necessário dade de algarismos de um número, maior é o número”,
adotar outra decisão: trabalhar desde o começo e si- ou “primeiro número é quem manda”.
multaneamente com diferentes intervalos da sequência As crianças usam como critério de comparação de
numérica. Deste modo, será possível favorecer compara- números maiores ou menores elaborando a partir da
ções entre números (...) e promover conclusões.”. interação com a numeração escrita, quando ainda não
conhecem a denominação oral dos números que com-
O Sistema de Numeração: Um Problema Didático param. Ao generalizarem estes critérios, outras crianças
mostraram dificuldades com afirmações contraditórias
Delia Lerner e Patrícia Sadovsky quando afirmavam que “o numeral 112 é maior que 89,
por que tem mais números, mas logo muda apontando
A relação entre os grupamentos e a escrita numérica para o 89 como maior por que - 8 mais 9 é 17 -, então é
tem sido um problema para as crianças nas experiências mais.” Assim concluiu-se que a elaboração de critério de
escolares o que tem levado pesquisadores e educadores comparação é importante para a compreensão da nu-
realizarem esforços, com experimentos de recursos didá- meração escrita. (p. 81). A posição dos algarismos como
ticos diversos, para tornar real a noção de agrupamentos critério de comparação ou “o primeiro é quem manda”
numéricos às crianças nas series iniciais. A gravidade do Um dos argumentos usados pelas crianças respondentes
problema foi detectada através de entrevistas com crian- é que ao comparar os números com a mesma quantida-
ças que não eram trabalhadas nos programas que usavam de de algarismos, diziam que, a posição dos algarismos
estes recursos. Elas utilizavam métodos convencionais é determinada pela função no sistema de números (por
nas operações de adição e subtração (vai um) sem en- exemplo: que 31 é maior que 13 por que o 3 vem primei-
tenderem os conceitos de unidades, dezenas e centenas. ro). Assim elas descobrem que além da quantidade de al-
Mesmo naquelas que pareciam acertar, não demonstra- garismos, a magnitude do número é outra característica
vam entender os algarismos convencionais na organiza- específica dos sistemas posicionais.
ção de nosso sistema de numeração. (Lerner, D 1992). As Tais respostas não são precedidas de conhecimentos
dificuldades foram detectadas e analisadas em crianças das razões que originaram as variações. Para as crianças
de vários países. Chamou a atenção dos pesquisadores o da 1a série que ainda não conhecem as dezenas, mas
fato das crianças não entenderem os princípios do siste- conseguem ver a magnitude do número, fazem a seguin-
ma numérico. Foi verificado que as práticas pedagógicas te comparação: o 31 é maior porque o 3 de 31 é maior
não consideravam os aspectos sociais e históricos vividos que o 2 do 25. Assim “os dados sugerem que as crianças
pelas crianças, ou seja, o dia-dia que traziam para escola se apropriam primeiro da escrita convencional da potên-
não era importante quando os alunos chegavam à esco- cia de base.”
la, e mesmo no decorrer do ano letivo; a preocupação
estava centrada apenas na fixação da representação grá- - Papel da numeração falada
fica. Era necessário compreender o caminho mental que
essas crianças percorriam para adquirirem este conheci- Os conceitos elaborados pelas crianças a respeito
mento. Para tornar claro esse fenômeno, iniciaram pela dos números são baseados na numeração falada e em
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

elaboração de situações didáticas. Assim foi necessário seu conhecimento descrita convencional dos “nós”. “Para
testá-las em aula para descobrir os aspectos relevantes produzir os números cuja escrita convencional ainda não
para as crianças no sistema de numeração, tais como: as haviam adquirido, as crianças misturavam os símbolos
ideias elaboradas sobre os números, formulação de pro- que conheciam colocando-os de maneira tal, que se cor-
blemas e conflitos existentes. Foi por meio de entrevistas respondiam com a ordenação dos termos na numeração
com as crianças de 5 a 8 anos que se esclareceu o cami- falada” (p.92). Sendo assim, ao fazerem comparações de
nho que percorrem, de forma significativa, na construção sua escrita, o fazem como resultado de uma correspon-
de conceito de número. Através das ideias, justificações e dência com a numeração falada, e por ser esta não posi-
conflitos demonstrados nas respostas foi possível traçar cional. “Na numeração falada a justaposição de palavras
novas linhas de trabalho didático. supõe sempre uma operação aritmética de soma ou de
multiplicação - elas escrevem um número e pensam no

145
valor total desse número. Como exemplo: duzentos e mil trezentos e quarenta e cinco, fazem 600030045. Ao
cinquenta e quatro - escrevem somando 200+ 50+ 4 ou mesmo tempo escrevem 63045. Isto mostra que nesse
200504 e quatro mil escrevem 41000- dando a ideia de momento encontra-se em conflito pela aproximação da
multiplicação”. A numeração escrita regular é mais fecha- escrita convencional e a falada. O conflito é percebido
da que a numeração falada. É regular porque a soma e após compararem e corrigirem a escrita numérica feita
a multiplicação, são utilizadas sempre pela multiplicação por eles mostrando uma solução mais ou menos satis-
de cada algarismo pela potência da base corresponden- fatória. É percebido que pouco a pouco a criança vai to-
te, e se somam aos produtos que resultam dessas multi- mando consciência das contradições procurando superar
plicações.” É fechada porque não existe nenhum vestígio o conflito, mas sem saber como; pouco a pouco através
das operações aritméticas racionais envolvidas, sendo da ressignificação da relação entre a escrita e a numera-
deduzidas a partir da posição que ocupam os algarismos. ção falada elaboram ferramentas para superar o confli-
Ex: 4815 = 4x 103 + 8x102 + 1x 101 + 5x10. to. Essa parece ser uma importante etapa para progredir
Através destes insipientes resultados acima citados, na escrita numérica convencional. Portanto, as crianças
é possível deduzir “uma possível progressão nas corres- produzem e interpretam escritas convencionais antes de
pondências entre o nome e a notação do número até poder justificá-las através da “lei de agrupamento re-
a compreensão das relações aditivas e multiplicativas cursivo”. Sendo assim torna-se importante no ensino da
envolvidas na numeração falada”. As crianças que reali- matemática considerar a natureza do objeto de conheci-
zam a escrita não-convencional o fazem a semelhança da mento como valorizar as conceitualizações das crianças à
numeração falada, pois demonstraram em suas escritas luz das propriedades desse objeto.
numéricas que as diferentes modalidades de produção
coexistem para os números posicionados em diferentes - Relações entre o que as Crianças sabem e a organi-
intervalos da sequência ao escreverem qualquer núme- zação posicional do sistema de numeração.
ro convencionalmente com dois ou três algarismos em
correspondência com a forma oral. Exemplo: podem Devido a convivência com a linguagem numérica não
escrever cento e trinta e cinco em forma convencional percebemos a distinção entre a propriedade dos núme-
(135), mas representam mil e vinte e cinco da seguinte ros e a propriedade da notação numérica, ou seja, das
forma: 100025. Mesmo aquelas crianças que escrevem propriedades do sistema que usamos para representá-lo.
convencionalmente os números entre cem e duzentos, As propriedades dos números são universais, enquanto
podem não generalizar esta modalidade a outras cente- que as leis que regem os diferentes sistemas de nume-
nas. Por exemplo, escrevem 80094 (oitocentos e noventa ração não o são. Por exemplo: oito é menor que dez é
e quatro). Assim é que a relação numeração fala/nume- um conceito universal, pois em qualquer lugar, tempo ou
ração escrita não é unidirecional. Observa-se também cultura será assim. O que muda é a justificativa para esta
que a numeração falada intervém na conceitualização da afirmação, pois varia de acordo com os sistemas quali-
escrita numérica. O que parece é que algumas crianças tativos e quantitativos dos números ou posicionai dos
demonstram que utilizam um critério para elaborar a nu- algarismos.
meração escrita. Assim acham que mil e cem e cem mil
sejam a mesma coisa, pois elaboram o elemento símbolo, - A posicionalidade é responsável pela relação quan-
qualificação e não quantificação. Desta forma as crianças tidade de algarismos e valor dos números.
apropriam-se progressivamente da escrita convencional
dos números a partir da vinculação com a numeração A criança começa pela detecção daquilo que é ob-
falada. Mas pergunta-se, como fazem isto? Elas supõem servável no contexto da interação social e a partir deste
que a numeração escrita se vincula estritamente à nume- ponto os números são baseados na numeração falada
ração falada, e sabem também que em nosso sistema de e em seu conhecimento da escrita convencional (“dos
numeração a quantidade de algarismos está relacionada nós”).
à magnitude do número representado.
- Questionamento do enfoque usualmente adotado
- Do conflito à notação convencional para o sistema de numeração

Há momentos em que a criança manipula a contradi- O ensino da notação numérica pode ter modalidade
ção entre suas conceitualizações sem conflito. Às vezes diversa como: trabalhar passo a passo através da admi-
centram-se exclusivamente na quantidade de algarismos nistração de conhecimento de forma “cômoda quotas
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

das suas escritas que produziram, e parece ignorar qual- anuais” - metas definidas por série - ou através do saber
quer outra consideração a respeito do valor dos núme- socialmente estabelecido. Pergunta-se: é compatível tra-
ros representados. Assim também parece claro que não balhar com a graduação do conhecimento? Ou seja, tra-
é suficiente conhecer o valor dos números para tomar çar um caminho de início e fim, determinado pelo saber
consciência do conflito entre quantidade de número e oficial? E qual é o saber oficial? E o que se estar adminis-
a numeração falada. Em outros momentos a criança pa- trando de conhecimento numérico nas aulas? O processo
rece alternar os sistemas de conceitualizações dos nú- passo a passo e aperfeiçoadamente, não parece compa-
meros. Em outro momento, o conflito aparece, pois ao tível com a natureza da criança, pois elas pensam em mi-
vincular a criança a numeração falada na produção da lhões e milhares, elaboram critérios de comparação fun-
escrita, mostra-se insatisfeita achando que é muito al- damentados em categorias. Podem conhecer números
garismo. Exemplo: Ao pedir-se para escreverem seis grandes e não saber lidar com os números menores. Os

146
procedimentos que as crianças utilizam para resolver as serem capazes de resolver situações-problema que ainda
operações tem vantagens que não podem ser deprecia- não foram trabalhadas e à socialização do conhecimento
das se comparadas com procedimentos usuais da escola. do grupo. As experiências nas aulas são de caráter pro-
No esforço para alcançar a compreensão das crianças no visório, às vezes complexas, mas são inevitáveis, porque
sistema de numeração e não a simples memorização é no trabalho didático é obrigado a considerar a natureza
que muitos educadores leem utilizado diferentes recur- do sistema de numeração como processo de construção
sos para materializar o grupamento numérico. Alguns do conhecimento. No trabalho de ensinar e aprender um
utilizam sistemas de códigos para traduzir símbolos dan- sistema de representação será necessário criar situações
do a cada grupamento uma figura diferente como, triân- que permitam mostrar a organização do sistema, como
gulo para potências de 10, quadradinho para potências ele funciona e quais suas propriedades, pois o sistema de
de 100, ou a semelhança do sistema egípcio para traba- numeração é carregado de significados numéricos como,
lhar a posicionalidade de um número ou empregam o os números, a relação de ordem e as operações aritméti-
ábaco como estratégia para as noções de agrupar e rea- cas. Portanto comparar e operar, ordenar, produzir e in-
grupar a fim de levar a compreensão da posicionalidade. terpretar, são os eixos principais para a organização das
No entanto todos estes pressupostos não são viáveis por situações didáticas propostas.
razões próprias da natureza da criança, como também
considerando o ambiente social, no qual convivem com - Situações didáticas vinculadas à relação de ordem
os números. As crianças buscam desde cedo a notação
numérica. Querem saber o mais cedo possível, como fun- O entendimento do sistema decimal posicionai está
ciona, para que serve, como e quando se usa. Inicialmen- diretamente ligada a relação de ordem. Por isto as ativi-
te, não se interessam pela compreensão dos mesmos e dades devem estar centradas na comparação, vinculada
sim pela sua utilidade. Dessa forma, a compreensão pas- à ordenação do sistema. Alguns exemplos podem me-
sa a ser o ponto de chegada e não de partida. Outro pro- lhorar o entendimento dessas relações, são elas: simula-
blema com as aulas de aritmética é que os professores ção de uma loja para vender balas, em pacotes de dife-
oferecem respostas para aquilo que as crianças não per- rentes quantidades. Ao sugerir que as crianças decidam
guntam e ainda ignoram as suas perguntas e respostas. qual o preço de cada tipo de pacote, estarão fazendo
comparações em conjunto com os colegas, notações,
- Mostrando a vida numérica da aula comparam as divergências, argumentam e discutem as
ideias, orientadas por uma lógica. Assim os critérios de
O ensino do sistema de numeração como objeto de comparação podem não ser colocados imediatamente
estudo passa por diversas etapas, definições e redefini- em ação por todas as crianças, pois algumas irão reali-
ções, para então, ser devidamente compreendida. Usar zar com maior ou menor esforço o ordenamento, outras
a numeração escrita envolve produção e interpretação ordenam parcialmente alguns números, e os demais se
das escritas numéricas, estabelecimento de comparações limitam a copiar a que os outros colegas fizeram. Todos
como apoio para resolver ou representar operações. nesta atividade se interagem.
Inicialmente o aprendiz, ao utilizar a numeração escri- Os primeiros têm a oportunidade de fundamentar
ta encontra problemas que podem favorecer a melhor sua produção e conceitualizar os recursos que já utiliza-
compreensão do sistema, pois através da busca de so- vam. As crianças que ordenam parcialmente aprendem
luções torna possível estabelecer novas relações; leva às ao longo da situação, levantam perguntas e confirmam
reflexões, argumentações, a validação dos conhecimen- as ideias que não tinham conseguido associar. As crian-
tos adquiridos, e ao início da compreensão das regulari- ças que não exteriorizaram nenhuma resposta, também
dades do sistema. se indagam e podem obter respostas que não tinham en-
contrado. As crianças que se limitam copiar, é importante
- O sistema de numeração na aula. que o professor as estimule com intervenções orientadas
para desenvolver nelas o trabalho autônomo. Também
A seguir serão discutidas algumas ideias sobre os devem ser estimuladas a perguntarem a si mesmas antes
princípios que orientam o trabalho didático através da de ir aos outros, recorrer ao que sabem e descobrir seus
reflexão da regularidade no uso da numeração escrita. As próprios conhecimentos, e que são capazes de resolver
regularidades aparecem como justificação das respostas os problemas. Enfim, deve ser incentivada a autonomia.
e dos procedimentos utilizados pelas crianças ou como Uma segunda experiência é aquela que pode usar ma-
descobertas, necessários para tornar possível a generali- teriais com numeração sequencial com fita métrica, ré-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

zação, ou a elaboração de procedimentos mais econômi- gua, paginação de livros, numeração das casas de uma
cos. P.117 Assim, a análise das regularidades da numera- rua. Todas estas atividades ajudam as crianças buscarem
ção escrita é uma fonte de insubstituível no progresso da por si mesmas as informações que precisam. No trabalho
compreensão das leis do sistema. O uso da numeração conjunto todas as crianças leem oportunidade de apren-
escrita como ponto de partida para a reflexão deve, des- der, mesmo que em ritmos diferentes, aprendem com o
de o início ser trabalhada com os diferentes intervalos da trabalho cooperativo na construção do conhecimento.
sequência numérica, através de trabalho com problemas, Outra proposta de atividade pode ser direcionada a
com a numeração escrita desafiadora para a condução interpretação da escrita numérica no contexto de uso so-
de resoluções, de forma que cada escrita se construa em cial do cotidiano de cada uma. Pode ser realizado através
função das relações significativas que mantem com as de: comparação de suas idades, de preços, datas, medi-
outras. Os desafios e argumentações levam as crianças das e outras. Experiências como: formar lista de preços,

147
fazer notas fiscais, inventariar mercadorias, etc. Através em dez, fazer lista de preço, colocar novos preços aos
de experiências semelhantes, é possível levar as crianças que já tem, contar livros das prateleiras das estantes de
considerar a relevância da relação de ordem numérica. uma biblioteca, e ao comparar a numeração das páginas
As atividades desenvolvidas produzem efeito no sentido de um jornal, é possível analisar o que transforma nos
de modificar a escrita, ou da interpretação originalmente números quando lhes soma dez, utilizar dados nos as-
realizada. A longe prazo, devem ser capazes de montar pectos multiplicativos em que cada ponto do dado vale
e utilizar estratégias de relação de ordem para resolver dez e vão anotando a pontuação de cada um dos parti-
problemas de produção e interpretação. Se nas ativi- cipantes do grupo. A partir desta atividade são levadas
dades a professora detecta que determinado número a refletir sobre o que fizeram e sobre a função multipli-
leem diferentes notações na turma, deve trabalhar com cativa e relacioná-la com a interpretação aditiva. Desta
argumentações até que cheguem a interpretação corre- forma, levá-los a uma maior compreensão do valor po-
ta. Percebe-se através dos argumentos utilizados pelas sicional. Através de diferentes comparações estabelecem
crianças a busca pela relação de ordem, mesmo naquelas regularidades numéricas para os dezes e os cens e refletir
que utilizaram anotações não convencionais, a ponto de sobre a organização do sistema.
transformarem a partir de sucessivas discussões e obje-
ções que elas fazem a si próprias. As crianças têm oportunidade de formular regras e leis
A relação numeração falada/numeração escrita é um para as operações com números e concentram nas repre-
caminho que as crianças transitam em duas direções: da sentações numéricas.
sequência oral como recurso para compreensão da escri-
ta numérica e como sequência da escrita como recurso Na segunda série a calculadora pode ser introduzi-
para reconstruir o nome do número. Para isso é impor- da, desde que de forma adequada, pois leva as crianças
tante desenvolver atividades que favoreçam a aplicação aprofundarem suas reflexões, tomarem consciência das
de regularidade podendo ser observado nas situações operações numéricas e torna possível que cada um de-
de comparação, de produção ou interpretação. Mas per- tecte por si mesma quando é que estão corretas e o que
gunta-se: quais as regularidades necessárias trabalhar não está certo, autocorrija os erros e formule regras que
na contagem dos números? Estabelecer as regularida- permitam antecipar a operação que levará ao resultado
des tem o objetivo de tornar possível a formulação de procurado. Assim, refletir sobre o sistema de numeração
problemas dirigidos às crianças, mas também para que e sobre as operações aritméticas levam as crianças a for-
adquiriram ferramentas para autocriticar as escritas ba- mularem leis para acharem procedimentos mais econô-
seadas na correspondência com a numeração falada e na micos. Leva a indagações das razões das regularidades
contagem dos números. Exemplo: as dezenas com dois de forma significativa. Busca resposta para organizar os
algarismos, as centenas com três algarismos. Depois do sistemas, para novas descobertas da numeração escrita.
nove vem o zero e passa-se para o número seguinte.
Fonte:
Como intervir para que as crianças avancem na http://novaescola.org.br/biblioteca-virtual/
manipulação da sequência oral? didatica-matematica-reflexoes-psicopedagogicas-
brousseau-584736.shtml
Pode-se sugerir as crianças que procurem um mate- http://www.professorefetivo.com.br/resumos/O-
rial que tenha sequência correspondente e descubra-se Sistema-de-Numeracao-Um-Problema-Didatico.html
por si mesma a regularidade. Buscar nos números de um
a cem quais os que terminam em nove, identificar e no-
mear os números seguintes do nove. Esta é uma ativida-
de de interpretação e tão importante quanto a produção EXERCÍCIOS COMENTADOS
na contagem dos números. Exemplo: Como descobrir as
semelhanças e diferenças entre os números de um a qua-
renta. Localizar em todos os números de dois dígitos que 1. (SEDUC-AM - Professor de Educação Especial –
terminam em nove e anotar qual é o seguinte de cada FGV/2014) A “resolução de problemas é um caminho
um deles. Esta atividade pode ser encontrada em mate- para o ensino de Matemática que vem sendo discutido
riais como calendário, régua e fita métrica. Um critério ao longo dos últimos anos” (PCN - Matemática, 1997, p.
importante para trabalhar é estabelecer primeiro as re- 32).
gularidades para um determinado intervalo. A partir daí A respeito da resolução de problemas, assinale a afirma-
tiva incorreta.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

passar a sua generalização através do uso de materiais


que contenham números maiores.
Só então o indivíduo começa a questionar o seu sig- a) O ponto de partida da atividade matemática não é a
nificado. As crianças são capazes de inventar algarismos definição, mas o problema.
próprios e colocam em jogo as propriedades das opera- b) O problema certamente não é um exercício em que o
ções como conhecimento implícito sobre o sistema de aluno aplica, de forma quase mecânica, uma fórmula
numeração, importante para descobrir as leis que regem ou um processo operatório.
o sistema. Ao estudar o que acontece quando se realizam c) Aproximações sucessivas ao conceito são construídas
as somas é possível estabelecer regularidades referentes para resolver um certo tipo de problema.
ao que muda e ao que se conserva. As atividades como
colocar preços em artigos de lojas, contar notas de dez

148
d) O aluno não constrói um conceito em resposta a um Ex: O sucessor de 0 é 1.
problema, mas constrói um campo de conceitos que Ex: O sucessor de 1 é 2.
tomam sentido num campo de problemas. Ex: O sucessor de 19 é 20.
e) A resolução de problemas é uma atividade a ser de-
senvolvida em paralelo ou como aplicação da aprendi- b) Se um número natural é sucessor de outro, então
zagem, não como uma orientação para esta. os dois números que estão imediatamente ao lado
do outro são considerados como consecutivos. Ve-
Resposta: Letra E jam os exemplos:
Resolver um problema não se resume em compreen- Ex: 1 e 2 são números consecutivos.
der o que foi proposto e em dar respostas aplicando Ex: 5 e 6 são números consecutivos.
procedimentos adequados. Aprender a dar uma res- Ex: 50 e 51 são números consecutivos.
posta correta, que tenha sentido, pode ser suficiente
para que ela seja aceita e até seja convincente, mas c) Vários números formam uma coleção de números
não é garantia de apropriação do conhecimento naturais consecutivos se o segundo for sucessor
envolvido. do primeiro, o terceiro for sucessor do segundo, o
Além disso, é necessário desenvolver habilidades que quarto for sucessor do terceiro e assim sucessiva-
permitam pôr à prova os resultados, testar seus efei- mente. Observe os exemplos a seguir:
tos, comparar diferentes caminhos, para obter a so- Ex: 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7 são consecutivos.
lução. Nessa forma de trabalho, o valor da resposta Ex: 5, 6 e 7 são consecutivos.
correta cede lugar ao valor do processo de resolução. Ex: 50, 51, 52 e 53 são consecutivos.
O fato de o aluno ser estimulado a questionar sua pró-
pria resposta, a questionar o problema, a transformar d) Analogamente a definição de sucessor, podemos
um dado problema numa fonte de novos problemas, definir o número que vem imediatamente antes
evidencia uma concepção de ensino e aprendizagem ao número analisado. Este número será definido
não pela mera reprodução de conhecimentos, mas como antecessor. Seja m um número natural qual-
pela via da ação refletida que constrói conhecimentos. quer, temos que seu antecessor será sempre de-
finido como m-1. Para ficar claro, seguem alguns
exemplos:
Ex: O antecessor de 2 é 1.
Ex: O antecessor de 56 é 55.
Ex: O antecessor de 10 é 9.
RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS ENVOLVENDO
AS QUATRO OPERAÇÕES
FIQUE ATENTO!
O único número natural que não possui an-
tecessor é o 0 (zero) !
NÚMEROS NATURAIS E SUAS OPERAÇÕES FUN-
DAMENTAIS

1. Definição de Números Naturais 1.1. Operações com Números Naturais

Os números naturais como o próprio nome diz, são Agora que conhecemos os números naturais e temos
os números que naturalmente aprendemos, quando es- um sistema numérico, vamos iniciar o aprendizado das
tamos iniciando nossa alfabetização. Nesta fase da vida, operações matemáticas que podemos fazer com eles.
não estamos preocupados com o sinal de um número, Muito provavelmente, vocês devem ter ouvido falar das
mas sim em encontrar um sistema de contagem para quatro operações fundamentais da matemática: Adição,
quantificarmos as coisas. Assim, os números naturais são Subtração, Multiplicação e Divisão. Vamos iniciar nossos
sempre positivos e começando por zero e acrescentando estudos com elas:
sempre uma unidade, obtemos os seguintes elementos:
Adição: A primeira operação fundamental da Aritmé-
tica tem por finalidade reunir em um só número, todas
ℕ = 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, … . as unidades de dois ou mais números. Antes de surgir
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

os algarismos indo-arábicos, as adições podiam ser rea-


Sabendo como se constrói os números naturais, po- lizadas por meio de tábuas de calcular, com o auxílio de
demos agora definir algumas relações importantes entre pedras ou por meio de ábacos. Esse método é o mais
eles: simples para se aprender o conceito de adição, veja a
figura a seguir:
a) Todo número natural dado tem um sucessor (nú-
mero que está imediatamente à frente do número
dado na seqüência numérica). Seja m um núme-
ro natural qualquer, temos que seu sucessor será
sempre definido como m+1. Para ficar claro, se-
guem alguns exemplos:

149
Observando a historinha, veja que as unidades (pedras) foram reunidas após o passeio no quintal. Essa reunião das
pedras é definida como adição. Simbolicamente, a adição é representada pelo símbolo “+” e assim a historinha fica da
seguinte forma:
3 2 5
+ =
𝑇𝑖𝑛ℎ𝑎 𝑒𝑚 𝑐𝑎𝑠𝑎 𝑃𝑒𝑔𝑢𝑒𝑖 𝑛𝑜 𝑞𝑢𝑖𝑛𝑡𝑎𝑙 𝑅𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑑𝑜

Como toda operação matemática, a adição possui algumas propriedades, que serão apresentadas a seguir:

a) Fechamento: A adição no conjunto dos números naturais é fechada, pois a soma de dois números naturais será
sempre um número natural.

b) Associativa: A adição no conjunto dos números naturais é associativa, pois na adição de três ou mais parcelas
de números naturais quaisquer é possível associar as parcelas de quaisquer modos, ou seja, com três números
naturais, somando o primeiro com o segundo e ao resultado obtido somarmos um terceiro, obteremos um re-
sultado que é igual à soma do primeiro com a soma do segundo e o terceiro. Apresentando isso sob a forma de
números, sejam A,B e C, três números naturais, temos que:
𝐴 + 𝐵 + 𝐶 = 𝐴 + (𝐵 + 𝐶)
c) Elemento neutro: Esta propriedade caracteriza-se pela existência de número que ao participar da operação de
adição, não altera o resultado final. Este número será o 0 (zero). Seja A, um número natural qualquer, temos que:

𝐴+0 = 𝐴

d) Comutativa: No conjunto dos números naturais, a adição é comutativa, pois a ordem das parcelas não altera a
soma, ou seja, somando a primeira parcela com a segunda parcela, teremos o mesmo resultado que se somando
a segunda parcela com a primeira parcela. Sejam dois números naturais A e B, temos que:

𝐴+𝐵 =𝐵 +𝐴
Subtração: É a operação contrária da adição. Ao invés de reunirmos as unidades de dois números naturais, vamos
retirar uma quantidade de um número. Voltando novamente ao exemplo das pedras:

Observando a historinha, veja que as unidades (pedras) que eu tinha foram separadas. Essa separação das pedras é
definida como subtração. Simbolicamente, a subtração é representada pelo símbolo “-” e assim a historinha fica da se-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

guinte forma:
5 3 2
− =
𝑇𝑖𝑛ℎ𝑎 𝑒𝑚 𝑐𝑎𝑠𝑎 𝑃𝑟𝑒𝑠𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑜 𝑎𝑚𝑖𝑔𝑜 𝑅𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑑𝑜

A subtração de números naturais também possui suas propriedades, definidas a seguir:

a) Não fechada: A subtração de números naturais não é fechada, pois há um caso onde a subtração de dois núme-
ros naturais não resulta em um número natural. Sejam dois números naturais A,B onde A < B, temos que:
A−B< 0

150
Como os números naturais são positivos, A-B não é um número natural, portanto a subtração não é fechada.

b) Não Associativa: A subtração de números naturais também não é associativa, uma vez que a ordem de resolução é
importante, devemos sempre subtrair o maior do menor. Quando isto não ocorrer, o resultado não será um número
natural.
c) Elemento neutro: No caso do elemento neutro, a propriedade irá funcionar se o zero for o termo a ser subtraído
do número. Se a operação for inversa, o elemento neutro não vale para os números naturais:
d) Não comutativa: Vale a mesma explicação para a subtração de números naturais não ser associativa. Como a
ordem de resolução importa, não podemos trocar os números de posição

Multiplicação: É a operação que tem por finalidade adicionar o primeiro número denominado multiplicando ou
parcela, tantas vezes quantas são as unidades do segundo número denominadas multiplicador. Veja o exemplo:

Ex: Se eu economizar toda semana R$ 6,00, ao final de 5 semanas, quanto eu terei guardado?

Pensando primeiramente em soma, basta eu somar todas as economias semanais:


6 + 6 + 6 + 6 + 6 = 30

Quando um mesmo número é somado por ele mesmo repetidas vezes, definimos essa operação como multiplica-
ção. O símbolo que indica a multiplicação é o “x” e assim a operação fica da seguinte forma:

6+6+6+6+6 6𝑥5
= = 30
𝑆𝑜𝑚𝑎𝑠 𝑟𝑒𝑝𝑒𝑡𝑖𝑑𝑎𝑠 𝑁ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑚𝑢𝑙𝑡𝑖𝑝𝑙𝑖𝑐𝑎𝑑𝑜 𝑝𝑒𝑙𝑎𝑠 𝑟𝑒𝑝𝑒𝑡𝑖çõ𝑒𝑠
A multiplicação também possui propriedades, que são apresentadas a seguir:

a) Fechamento: A multiplicação é fechada no conjunto dos números naturais, pois realizando o produto de dois ou
mais números naturais, o resultado será um número natural.

b) Associativa: Na multiplicação, podemos associar três ou mais fatores de modos diferentes, pois se multiplicarmos o
primeiro fator com o segundo e depois multiplicarmos por um terceiro número natural, teremos o mesmo resultado
que multiplicar o terceiro pelo produto do primeiro pelo segundo. Sejam os números naturais m,n e p, temos que:
𝑚 𝑥 𝑛 𝑥 𝑝 = 𝑚 𝑥 (𝑛 𝑥 𝑝)

c) Elemento Neutro: No conjunto dos números naturais também existe um elemento neutro para a multiplicação
mas ele não será o zero, pois se não repetirmos a multiplicação nenhuma vez, o resultado será 0. Assim, o elemento
neutro da multiplicação será o número 1. Qualquer que seja o número natural n, tem-se que:
𝑛𝑥1=𝑛

d) Comutativa: Quando multiplicamos dois números naturais quaisquer, a ordem dos fatores não altera o produto,
ou seja, multiplicando o primeiro elemento pelo segundo elemento teremos o mesmo resultado que multiplicando
o segundo elemento pelo primeiro elemento. Sejam os números naturais m e n, temos que:
𝑚𝑥𝑛 = 𝑛𝑥𝑚

e) Prioridade sobre a adição e subtração: Quando se depararem com expressões onde temos diferentes operações
matemática, temos que observar a ordem de resolução das mesmas. Observe o exemplo a seguir:

Ex: 2 + 4 𝑥 3
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Se resolvermos a soma primeiro e depois a multiplicação, chegamos em 18.


Se resolvermos a multiplicação primeiro e depois a soma, chegamos em 14. Qual a resposta certa?

A multiplicação tem prioridade sobre a adição, portanto deve ser resolvida primeiro e assim a resposta correta é 14.

FIQUE ATENTO!
Caso haja parênteses na soma, ela tem prioridade sobre a multiplicação. Utilizando o exemplo, temos
que: . Nesse caso, realiza-se a soma primeiro, pois ela está dentro dos parênteses

151
f) Propriedade Distributiva: Uma outra forma de re-
solver o exemplo anterior quando se a soma está FIQUE ATENTO!
entre parênteses é com a propriedade distributiva.
Multiplicando um número natural pela soma de A divisão tem a mesma ordem de prioridade
dois números naturais, é o mesmo que multiplicar o de resolução que a multiplicação, assim ambas
fator, por cada uma das parcelas e a seguir adicionar podem ser resolvidas na ordem que aparecem.
os resultados obtidos. Veja o exemplo:
2 + 4 x 3 = 2x3 + 4x3 = 6 + 12 = 18

Veja que a multiplicação foi distribuída para os dois


números do parênteses e o resultado foi o mesmo que do
item anterior. EXERCÍCIO COMENTADO

Divisão: Dados dois números naturais, às vezes neces-


sitamos saber quantas vezes o segundo está contido no 1. (Pref. De Bom Retiro – SC) A Loja Berlanda está com
primeiro. O primeiro número é denominado dividendo e promoção de televisores. Então resolvi comprar um tele-
o outro número é o divisor. O resultado da divisão é cha- visor por R$ 1.700,00. Dei R$ 500,00 de entrada e o res-
mado de quociente. Nem sempre teremos a quantidade tante vou pagar em 12 prestações de:
exata de vezes que o divisor caberá no dividendo, poden-
do sobrar algum valor. A esse valor, iremos dar o nome de a) R$ 170,00
resto. Vamos novamente ao exemplo das pedras: b) R$ 1.200,00
c) R$ 200,00
d) R$ 100,00

Resposta: Letra D: Dado o preço inicial de R$ 1700,00,


basta subtrair a entrada de R$ 500,00, assim: R$
1700,00-500,00 = R$ 1200,00. Dividindo esse resulta-
do em 12 prestações, chega-se a R$ 1200,00 : 12 = R$
100,00

No caso em particular, conseguimos dividir as 8 NÚMEROS INTEIROS E SUAS OPERAÇÕES FUNDA-


pedras para 4 amigos, ficando cada um deles como 2 MENTAIS
unidades e não restando pedras. Quando a divisão não
possui resto, ela é definida como divisão exata. Caso con- 1.1 Definição de Números Inteiros
trário, se ocorrer resto na divisão, como por exemplo, se
ao invés de 4 fossem 3 amigos: Definimos o conjunto dos números inteiros como a
união do conjunto dos números naturais (N = {0, 1, 2, 3,
4,..., n,...}, com o conjunto dos opostos dos números na-
turais, que são definidos como números negativos. Este
conjunto é denotado pela letra Z e é escrito da seguinte
forma:
ℤ = {… , −4, −3, −2, −1, 0, 1, 2, 3, 4, … }
Sabendo da definição dos números inteiros, agora é
possível indiciar alguns subconjuntos notáveis:

Nessa divisão, cada amigo seguiu com suas duas pe- a) O conjunto dos números inteiros não nulos: São
dras, porém restaram duas que não puderam ser distri- todos os números inteiros, exceto o zero:
buídas, pois teríamos amigos com quantidades diferen- ℤ∗ = {… , −4, −3, −2, −1, 1, 2, 3, 4, … }
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tes de pedras. Nesse caso, tivermos a divisão de 8 pedras


por 3 amigos, resultando em um quociente de 2 e um
resto também 2. Assim, definimos que essa divisão não b) O conjunto dos números inteiros não negativos:
São todos os inteiros que não são negativos, ou
é exata.
seja, os números naturais:
Devido a esse fato, a divisão de números naturais não
é fechada, uma vez que nem todas as divisões são exa- ℤ+ = 0, 1, 2, 3, 4, … = ℕ
tas. Também não será associativa e nem comutativa, já c) O conjunto dos números inteiros positivos: São to-
que a ordem de resolução importa. As únicas proprieda- dos os inteiros não negativos, e neste caso, o zero
des válidas na divisão são o elemento neutro (que segue não pertence ao subconjunto:
sendo 1, desde que ele seja o divisor) e a propriedade
distributiva. ℤ∗+ = 1, 2, 3, 4, …

152
d) O conjunto dos números inteiros não positivos: Neste caso, estamos somando duas perdas ou dois
São todos os inteiros não positivos: prejuízos, assim o resultado deverá ser uma perda maior.
ℤ_ = {… , −4, −3, −2, −1, 0, }
E se tivermos um número positivo e um negativo? Va-
e) O conjunto dos números inteiros negativos: São mos ver os exemplos:
todos os inteiros não positivos, e neste caso, o zero
não pertence ao subconjunto: Ex: (+8) + (−5) = ?
ℤ∗ _ = {… , −4, −3, −2, −1}
1.2 Definições Importantes dos Números inteiros Neste caso, temos um ganho de 8 e uma perda de 5,
que naturalmente sabemos que resultará em um ganho
Módulo: chama-se módulo de um número inteiro a de 3:
distância ou afastamento desse número até o zero, na
reta numérica inteira. Representa-se o módulo pelo sím- +8 = Ganhar 8
bolo | |. Vejam os exemplos: -5 = Perder 5

Ex: O módulo de 0 é 0 e indica-se |0| = 0 Logo: (Ganhar 8) + (Perder 5) = (Ganhar 3)


Ex: O módulo de +7 é 7 e indica-se |+7| = 7
Ex: O módulo de –9 é 9 e indica-se |–9| = 9 Se observarem essa operação, vocês irão perceber
que ela tem o mesmo resultado que 8 − 5 = 3. Basica-
a) O módulo de qualquer número inteiro, diferente de mente ambas são as mesmas operações, sem a presença
zero, é sempre positivo. dos parênteses e a explicação de como se chegar a essa
simplificação será apresentado nos itens seguintes deste
Números Opostos: Voltando a definição do inicio do capítulo.
capítulo, dois números inteiros são ditos opostos um do Agora, e se a perda for maior que o ganho? Veja o
outro quando apresentam soma zero; assim, os pontos exemplo:
que os representam distam igualmente da origem. Ve-
jam os exemplos: Ex: −8 + +5 = ?
Ex: O oposto do número 2 é -2, e o oposto de -2 é 2,
pois 2 + (-2) = (-2) + 2 = 0 Usando a regra, temos que:
Ex: No geral, dizemos que o oposto, ou simétrico, de
a é – a, e vice-versa. -8 = Perder 8
Ex: O oposto de zero é o próprio zero. +5 = Ganhar 5

1.3 Operações com Números Inteiros Logo: (Perder 8) + (Ganhar 5) = (Perder 3)


Adição: Diferentemente da adição de números natu- Após a definição de adição de números inteiros, va-
rais, a adição de números inteiros pode gerar um pouco mos apresentar algumas de suas propriedades:
de confusão ao leito. Para melhor entendimento desta a) Fechamento: O conjunto Z é fechado para a adição,
operação, associaremos aos números inteiros positivos o isto é, a soma de dois números inteiros ainda é um número
conceito de “ganhar” e aos números inteiros negativos o inteiro.
conceito de “perder”. Vejam os exemplos:
b) Associativa: Para todos 𝑎, 𝑏, 𝑐 ∈ ℤ :
Ex: (+3) + (+5) = ?
𝑎 + (𝑏 + 𝑐) = (𝑎 + 𝑏) + 𝑐
Obviamente, quem conhece a adição convencional,
sabe que este resultado será 8. Vamos ver agora pelo Ex: 2 + (3 + 7) = (2 + 3) + 7
conceito de “ganhar” e “perder”:
Comutativa: Para todos a,b em Z:
+3 = Ganhar 3 a+b=b+a
+5 = Ganhar 5 3+7=7+3

Logo: (Ganhar 3) + (Ganhar 5) = (Ganhar 8) Elemento Neutro: Existe 0 em Z, que adicionado a


CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

cada z em Z, proporciona o próprio z, isto é:


Ex: (−3) + (−5) = ? z+0=z
7+0=7
Agora é o caso em que temos dois números negati-
vos, usando o conceito de “ganhar” ou “perder”: Elemento Oposto: Para todo z em Z, existe (-z) em
Z, tal que
-3 = Perder 3 z + (–z) = 0
-5 = Perder 5 9 + (–9) = 0

Logo: (Perder 3) + (Perder 5) = (Perder 8)

153
Subtração de Números Inteiros b) (+12) – (–40) = 12 + 40 = 52
c) (+5) + (–16) – (+9) – (–20) = +5 -16 – 9 + 20 = 25 – 25
A subtração é empregada quando: =0
- Precisamos tirar uma quantidade de outra d) (–3) – (–6) – (+4) + (–2) + (–15) = -3 + 6 – 4 – 2 – 15
quantidade; = 6 – 24 = -18
- Temos duas quantidades e queremos saber quanto
uma delas tem a mais que a outra; 1.4. Multiplicação de Números Inteiros
- Temos duas quantidades e queremos saber quanto
falta a uma delas para atingir a outra. A multiplicação funciona como uma forma simplifica-
da de uma adição quando os números são repetidos. Po-
A subtração é a operação inversa da adição. deríamos analisar tal situação como o fato de estarmos
ganhando repetidamente alguma quantidade, como por
Observe que: 9 – 5 = 4 4+5=9 exemplo, ganhar 1 objeto por 30 vezes consecutivas, sig-
nifica ganhar 30 objetos e esta repetição pode ser indi-
diferença cada por um x, isto é: 1 + 1 + 1 ... + 1 + 1 = 30 x 1 = 30
subtraendo Se trocarmos o número 1 pelo número 2, obteremos:
2 + 2 + 2 + ... + 2 + 2 = 30 x 2 = 60
minuendo Se trocarmos o número 2 pelo número -2, obteremos:
(–2) + (–2) + ... + (–2) = 30 x (-2) = –60
Considere as seguintes situações: Observamos que a multiplicação é um caso particular
da adição onde os valores são repetidos.
1- Na segunda-feira, a temperatura de Monte Sião Na multiplicação o produto dos números a e b, pode
passou de +3 graus para +6 graus. Qual foi a variação da ser indicado por a x b, a . b ou ainda ab sem nenhum
temperatura? sinal entre as letras.
Esse fato pode ser representado pela subtração: (+6) Para realizar a multiplicação de números inteiros, de-
– (+3) = +3 vemos obedecer à seguinte regra de sinais:
(+1) x (+1) = (+1)
2- Na terça-feira, a temperatura de Monte Sião, du- (+1) x (-1) = (-1)
rante o dia, era de +6 graus. À Noite, a temperatura bai- (-1) x (+1) = (-1)
xou de 3 graus. Qual a temperatura registrada na noite (-1) x (-1) = (+1)
de terça-feira?
Esse fato pode ser representado pela adição: (+6) + Com o uso das regras acima, podemos concluir que:
(–3) = +3
Sinais dos números Resultado do produto
Se compararmos as duas igualdades, verificamos que
(+6) – (+3) é o mesmo que (+5) + (–3). Iguais Positivo
Diferentes Negativo
Temos:
(+6) – (+3) = (+6) + (–3) = +3
(+3) – (+6) = (+3) + (–6) = –3 Propriedades da multiplicação de números intei-
(–6) – (–3) = (–6) + (+3) = –3 ros: O conjunto Z é fechado para a multiplicação, isto é, a
multiplicação de dois números inteiros ainda é um número
Daí podemos afirmar: Subtrair dois números inteiros inteiro.
é o mesmo que adicionar o primeiro com o oposto do
segundo. Associativa: Para todos a,b,c em Z:
a x (b x c) = (a x b) x c
2 x (3 x 7) = (2 x 3) x 7

Comutativa: Para todos a,b em Z:


EXERCÍCIOS COMENTADOS axb=bxa
3x7=7x3
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

1. Calcule:
Elemento neutro: Existe 1 em Z, que multiplicado por
todo z em Z, proporciona o próprio z, isto é:
a) (+12) + (–40) ;
zx1=z
b) (+12) – (–40)
7x1=7
c) (+5) + (–16) – (+9) – (–20)
d) (–3) – (–6) – (+4) + (–2) + (–15)
Elemento inverso: Para todo inteiro z diferente de
zero, existe um inverso z–1=1/z em Z, tal que
Resposta: Aplicando as regras de soma e subtração
z x z–1 = z x (1/z) = 1
de inteiros, tem-se que:
9 x 9–1 = 9 x (1/9) = 1
a) (+12) + (–40) = 12 – 40 = -28

154
Distributiva: Para todos a,b,c em Z: - Toda potência de base positiva é um número in-
a x (b + c) = (a x b) + (a x c) teiro positivo.
3 x (4+5) = (3 x 4) + (3 x 5) Exemplo: (+3)2 = (+3) . (+3) = +9

1.5. Divisão de Números Inteiros - Toda potência de base negativa e expoente par é
um número inteiro positivo.
Dividendo divisor dividendo: Exemplo: (– 8)2 = (–8) . (–8) = +64
Divisor = quociente 0
Quociente . divisor = dividendo - Toda potência de base negativa e expoente ím-
par é um número inteiro negativo.
Exemplo: (–5)3 = (–5) . (–5) . (–5) = –125
Sabemos que na divisão exata dos números naturais:

40 : 5 = 8, pois 5 . 8 = 40 Propriedades da Potenciação:


36 : 9 = 4, pois 9 . 4 = 36
Produtos de Potências com bases iguais: Conserva-
Vamos aplicar esses conhecimentos para estudar a -se a base e somam-se os expoentes. (–7)3 . (–7)6 = (–7)3+6
divisão exata de números inteiros. Veja o cálculo: = (–7)9
(–20) : (+5) = q  (+5) . q = (–20)  q = (–4) Quocientes de Potências com bases iguais: Conser-
Logo: (–20) : (+5) = +4 va-se a base e subtraem-se os expoentes. (+13)8 : (+13)6
= (+13)8 – 6 = (+13)2
Considerando os exemplos dados, concluímos que,
para efetuar a divisão exata de um número inteiro por Potência de Potência: Conserva-se a base e multipli-
outro número inteiro, diferente de zero, dividimos o mó- cam-se os expoentes. [(+4)5]2 = (+4)5 . 2 = (+4)10
dulo do dividendo pelo módulo do divisor. Daí:
Potência de expoente 1: É sempre igual à base. (+9)1
- Quando o dividendo e o divisor têm o mesmo si- = +9 (–13)1 = –13
nal, o quociente é um número inteiro positivo.
- Quando o dividendo e o divisor têm sinais diferen- Potência de expoente zero e base diferente de
tes, o quociente é um número inteiro negativo. zero: É igual a 1. Exemplo: (+14)0 = 1 (–35)0 = 1
- A divisão nem sempre pode ser realizada no con-
junto Z. Por exemplo, (+7) : (–2) ou (–19) : (–5) são Radiciação de Números Inteiros
divisões que não podem ser realizadas em Z, pois
o resultado não é um número inteiro. A raiz n-ésima (de ordem n) de um número inteiro a
- No conjunto Z, a divisão não é comutativa, não é é a operação que resulta em outro número inteiro não
associativa e não tem a propriedade da existência negativo b que elevado à potência n fornece o número a.
do elemento neutro. O número n é o índice da raiz enquanto que o número a
1- Não existe divisão por zero. é o radicando (que fica sob o sinal do radical).
Exemplo: (–15) : 0 não tem significado, pois não
existe um número inteiro cujo produto por zero A raiz quadrada (de ordem 2) de um número inteiro
seja igual a –15. a é a operação que resulta em outro número inteiro não
2- Zero dividido por qualquer número inteiro, dife- negativo que elevado ao quadrado coincide com o nú-
rente de zero, é zero, pois o produto de qualquer mero a.
número inteiro por zero é igual a zero.
Exemplos: a) 0 : (–10) = 0 /b) 0 : (+6) = 0 /c) 0 : (–1) = 0 Observação: Não existe a raiz quadrada de um nú-
mero inteiro negativo no conjunto dos números inteiros.
1.6. Potenciação de Números Inteiros
Erro comum: Frequentemente lemos em materiais
A potência an do número inteiro a, é definida como didáticos e até mesmo ocorre em algumas aulas apare-
um produto de n fatores iguais. O número a é denomina- cimento de:
do a base e o número n é o expoente.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

an = a x a x a x a x ... x a 9 = ±3
a é multiplicado por a n vezes
mas isto está errado. O certo é:
Exemplos:
33 = (3) x (3) x (3) = 27 9 = +3
(-5)5 = (-5) x (-5) x (-5) x (-5) x (-5) = -3125
(-7)² = (-7) x (-7) = 49 Observamos que não existe um número inteiro não
(+9)² = (+9) x (+9) = 81 negativo que multiplicado por ele mesmo resulte em um
número negativo.

155
A raiz cúbica (de ordem 3) de um número inteiro a 7x0=0
é a operação que resulta em outro número inteiro que 7x1=7
elevado ao cubo seja igual ao número a. Aqui não res- 7 x 2 = 14
tringimos os nossos cálculos somente aos números não 7 x 3 = 21
negativos. 7 x 4 = 28
7 x 5 = 35
Exemplos
O conjunto formado pelos resultados encontrados
(a)
3
8 = 2, pois 2³ = 8. forma o conjunto dos múltiplos de 7: M(7) = {0, 7, 14,
21, 28,...}.
(b)
3
−8 = –2, pois (–2)³ = -8.
Observações:
(c)
3
27 = 3, pois 3³ = 27.
- Todo número natural é múltiplo de si mesmo.
(d)
3
− 27 = –3, pois (–3)³ = -27. - Todo número natural é múltiplo de 1.
- Todo número natural, diferente de zero, tem infi-
Observação: Ao obedecer à regra dos sinais para o nitos múltiplos.
produto de números inteiros, concluímos que: - O zero é múltiplo de qualquer número natural.
(a) Se o índice da raiz for par, não existe raiz de nú- - Os múltiplos do número 2 são chamados de núme-
mero inteiro negativo. ros pares, e a fórmula geral desses números é .
Os demais são chamados de números ímpares, e a fór-
(b) Se o índice da raiz for ímpar, é possível extrair a mula geral desses números é .
raiz de qualquer número inteiro.
1.1. Critérios de divisibilidade:

MULTIPLICIDADE E DIVISIBILIDADE São regras práticas que nos possibilitam dizer se um


número é ou não divisível por outro, sem efetuarmos a
Um múltiplo de um número é o produto desse nú- divisão.
mero por um número natural qualquer. Já um divisor
de um número é um número cujo resto da divisão do Divisibilidade por 2: Um número é divisível por 2
número pelo divisor é zero. quando ele é par, ou seja, quando ele termina em 0, 2,
4, 6 ou 8.
Ex: Sabe-se que 30 ∶ 6 = 5, porque 5× 6 = 30.
Exs:
Pode-se dizer então que: a) 9656 é divisível por 2, pois termina em 6.
b) 4321 não é divisível por 2, pois termina em 1.
“30 é divisível por 6 porque existe um numero natural
(5) que multiplicado por 6 dá como resultado 30.”
Um numero natural a é divisível por um numero na- Divisibilidade por 3: Um número é divisível por 3
tural b, não-nulo, se existir um número natural c, tal que quando a soma dos valores absolutos de seus algaris-
c.b=a. mos é divisível por 3.

Voltando ao exemplo 30 ∶ 6 = 5 , conclui-se que: 30 Exs:


é múltiplo de 6, e 6 é divisor de 30. a) 65385 é divisível por 3, pois 6 + 5 + 3 + 8 + 5 = 27,
e 27 é divisível por 3.
Analisando outros exemplos:
b) 15443 não é divisível por 3, pois 1+ 5 + 4 + 4 + 3 =
a) 20 : 5 = 4 → 20 é múltiplo de 5 (4×5=20), e 5 é 17, e 17 não é divisível por 3.
divisor de 20
Divisibilidade por 4: Um número é divisível por 4
b) 12 : 2 = 6 → 12 é múltiplo de 2 (6×2=12), e 2 é quando termina em 00 ou quando o número formado
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

divisor de 12 pelos dois últimos algarismos for divisível por 4.

1. Conjunto dos múltiplos de um número natural: Exs:


a) 536400 é divisível por 4, pois termina em 00.
É obtido multiplicando-se o número natural em b) 653524 é divisível por 4, pois termina em 24, e 24
questão pela sucessão dos números naturais: 0, 1, 2, 3, é divisível por 4.
4, 5, 6,... c) 76315 não é divisível por 4, pois termina em 15, e
15 não é divisível por 4.
Ex: Conjunto dos múltiplos de 7. Para encontrar esse
conjunto basta multiplicar por 7 cada um dos números Divisibilidade por 5: Um número é divisível por 5
da sucessão dos naturais: quando termina em 0 ou 5.

156
Exs: Divisibilidade por 8: Um número é divisível por 8
a) 35040 é divisível por 5, pois termina em 0. quando termina em 000 ou quando o número formado
b) 7235 é divisível por 5, pois termina em 5. pelos três últimos algarismos for divisível por 8.
c) 6324 não é divisível por 5, pois termina em 4. Exs:
a) 57000 é divisível por 8, pois termina em 000.
b) 67024 é divisível por 8, pois seus três últimos alga-
rismos formam o número 24, que é divisível por 8.
EXERCÍCIO COMENTADO c) 34125 não é divisível por 8, pois seus três últimos
algarismos formam o número 125, que não é divi-
1. Escreva os elementos dos conjuntos dos múltiplos sível por 8.
de 5 positivos menores que 30.

Resposta: Seguindo a tabuada do 5, temos que: EXERCÍCIO COMENTADO


{5,10,15,20,25}.

2. Escreva os elementos dos conjuntos dos múltiplos


Divisibilidade por 6: Um número é divisível por 6 de 8 compreendidos entre 30 e 50.
quando é divisível por 2 e por 3.
Resposta: Seguindo a tabuada do 8, a partir do 30:
Exs: {32,40,48}.
a) 430254 é divisível por 6, pois é divisível por 2 (ter-
mina em 4) e por 3 (4 + 3 + 0 + 2 + 5 + 4 = 18).
b) 80530 não é divisível por 6, pois não é divisível por Divisibilidade por 9: Um número é divisível por 9
3 (8 + 0 + 5 + 3 + 0 = 16). quando a soma dos valores absolutos de seus algarismos
c) 531561 não é divisível por 6, pois não é divisível por formam um número divisível por 9.
2 (termina em 1).
Exs:
Divisibilidade por 7: Para verificar a divisibilidade por a) 6253461 é divisível por 9, pois 6 + 2 + 5 + 3 + 4 + 6
7, deve-se fazer o seguinte procedimento. + 1 = 27 é divisível por 9.
b) 325103 não é divisível por 9, pois 3 + 2 + 5 + 1 + 0
- Multiplicar o último algarismo por 2 + 3 = 14 não é divisível por
- Subtrair o resultado do número inicial sem o últi-
mo algarismo Divisibilidade por 10: Um número é divisível por 10
- Se o resultado for um múltiplo de 7, então o núme- quando termina em zero.
ro inicial é divisível por 7.
Exs:
É importante ressaltar que, em caso de números com a) 563040 é divisível por 10, pois termina em zero.
vários algarismos, será necessário fazer o procedimento b) 246321 não é divisível por 10, pois não termina em
mais de uma vez. zero.
Divisibilidade por 11: Um número é divisível por
Ex: 11 quando a diferença entre a soma dos algarismos de
Analisando o número 1764 posição ímpar e a soma dos algarismos de posição par
Procedimento: resulta em um número divisível por 11.

- Último algarismo: 4. Multiplica-se por 2: 4×2=8 Exs:


- Subtrai-se o resultado do número inicial sem o últi- a) 43813 é divisível por 11. Vejamos o porquê
mo algarismo: 176-8=168
- O resultado é múltiplo de 7? Para isso precisa verifi- Os algarismos de posição ímpar são os algarismos
car se 168 é divisível por 7. nas posições 1, 3 e 5. Ou seja, 4,8 e 3. A soma desses
algarismos é 4 + 8 + 3 = 15
Aplica-se o procedimento novamente, agora para o
Os algarismos de posição par são os algarismos nas
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

número 168.
- Último algarismo: 8. Multiplica-se por 2: 8×2=16 posições 2 e 4. Ou seja, 3 e 1. A soma desses algarismos
- Subtrai-se o resultado do número inicial sem o últi- é 3+1 = 4
mo algarismo: 16-16=0 15 – 4 = 11→ A diferença divisível por 11. Logo 43813
- O resultado é múltiplo de 7? Sim, pois zero (0) é é divisível por 11.
múltiplo de qualquer número natural.
b) 83415721 não é divisível por 11. Vejamos o porquê
Portanto, conclui-se que 168 é múltiplo de 7. Se 168 é
múltiplo de 7, então 1764 é divisível por 7. Os algarismos de posição ímpar são os algarismos
nas posições 1, 3, 5 e 7. Ou seja, 8, 4, 5 e 2. A soma desses
algarismos é

157
Os algarismos de posição ímpar são os algarismos Exemplos:
nas posições 1, 3, 5 e 7. Ou seja, 8, 4, 5 e 2. A soma desses a) 5º = 1
algarismos é 8+4+5+2 = 19 b) 9º = 1

Os algarismos de posição par são os algarismos nas Propriedade 3: potenciação com expoente 1
posições 2, 4 e 6. Ou seja, 3, 1 e 7. A soma desses algaris- Qualquer que seja a potência em que a base é o nú-
mos é 3+1+7 = 11 mero natural n e o expoente é igual a 1, denotada por n1
, é igual ao próprio n. Em resumo, n1=n
19 – 11 = 8→ A diferença não é divisível por 11. Logo
83415721 não é divisível por 11. Exemplos:
a) 5¹ = 5
Divisibilidade por 12: Um número é divisível por 12 b) 64¹ = 64
quando é divisível por 3 e por 4.
Propriedade 4: potenciação de base 10
Exs: Toda potência 10n é o número formado pelo algaris-
a) 78324 é divisível por 12, pois é divisível por 3 ( 7 + mo 1 seguido de n zeros.
8 + 3 + 2 + 4 = 24) e por 4 (termina em 24).
b) 652011 não é divisível por 12, pois não é divisível Exemplos:
por 4 (termina em 11). a) 103 = 1000
c) 863104 não é divisível por 12, pois não é divisível b) 108 = 100.000.000
por 3 (8 + 6 + 3 +1 + 0 + 4 = 22). c) 104 = 1000

Divisibilidade por 15: Um número é divisível por 15 Propriedade 5: multiplicação de potências de mes-
quando é divisível por 3 e por 5. ma base
Em uma multiplicação de duas potências de mesma
Exs: base, o resultado é obtido conservando-se a base e so-
a) 650430 é divisível por 15, pois é divisível por 3 (6 + mando-se os expoentes.
5 + 0 + 4 + 3 + 0 =18) e por 5 (termina em 0).
b) 723042 não é divisível por 15, pois não é divisível Em resumo: xa × xb = x a+b
por 5 (termina em 2). Exemplos:
c) 673225 não é divisível por 15, pois não é divisível a) 23×24 = 23+4 = 27
por 3 (6 + 7 + 3 + 2 + 2 + 5 = 25). b) 34×36 = 34+6=310
c) 152×154 = 152+4=156
POTENCIAÇÃO
Propriedade 6: divisão de potências de mesma
Define-se potenciação como o resultado da multi- base
plicação de fatores iguais, denominada base, sendo o Em uma divisão de duas potências de mesma base, o
número de fatores igual a outro número, denominado resultado é obtido conservando-se a base e subtraindo-
expoente. Diz-se “b elevado a c”, cuja notação é: -se os expoentes.
Em resumo: xa : xb = xa-b
𝑏𝑐 = 𝑏 × 𝑏 × ⋯ × 𝑏
Exemplos:
a) 25 : 23 = 25-3=22
𝑐 𝑣𝑒𝑧𝑒𝑠

b) 39 : 36 = 39-6=33
Por exemplo: 43=4×4×4=64, sendo a base igual a 4 e c) 1512 : 154 = 1512-4 = 158
o expoente igual a 3.
Esta operação não passa de uma multiplicação com
fatores iguais, como por exemplo: 23 = 2 × 2 × 2 = 8 → FIQUE ATENTO!
53 = 5 × 5 × 5 = 125 Dada uma potência xa , onde o número real a
1. Propriedades da Potenciação é negativo, o resultado dessa potência é igual
1
ao inverso de x elevado a a, isto é, 𝑥 𝑎 = 𝑎
Propriedade 1: potenciação com base 1 𝑥
se a<0.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Uma potência cuja base é igual a 1 e o expoente na-


1
tural é n, denotada por 1n, será sempre igual a 1. Em re- Por exemplo, 2−3 =
1
, 5−1 = 1 .
sumo, 1n=1 23 5

Exemplos:
a) 13 = 1×1×1 = 1
b) 17 = 1×1×1×1×1×1×1 = 1

Propriedade 2: potenciação com expoente nulo


Se n é um número natural não nulo, então temos que
nº=1.

158
Propriedade 7: potência de potência problemas simples, além de utilizar seus conceitos em
Quando uma potência está elevado a outro expoente, o outros temas, como frações, simplicação de fatoriais, etc.
expoente resultante é obtido multiplicando-se os expoentes Porém, antes de iniciarmos a apresentar esta teoria, é
Em resumo: (xa )b=xa×b importante conhecermos primeiramente uma classe de
números muito importante: Os números primos.
Exemplos:
a) (25 )3 = 25×3=215 1. Números primos
b) (39 )2 = 39×2=318
c) (612 )4= 612×4=648 Um número natural é definido como primo se ele tem
exatamente dois divisores: o número um e ele mesmo.
Propriedade 8: potência de produto Já nos inteiros, p ∈ ℤ é um primo se ele tem exatamente
Quando um produto está elevado a uma potência, o quatro divisores: ±1 e ±𝑝 .
resultado é um produto com cada um dos fatores eleva-
do ao expoente
Em resumo: (x×y)a=xa×ya FIQUE ATENTO!
Por definição,  0,  1  e  − 1  não são números
Exemplos: primos.
a) (2×3)3 = 23×33
b) (3×4)2 = 32×42
c) (6×5)4= 64×54 Existem infinitos números primos, como demonstra-
do por Euclides por volta de 300 a.C.. A propriedade de
ser um primo é chamada “primalidade”, e a palavra “pri-
#FicaDica mo” também são utilizadas como substantivo ou adje-
Em alguns casos podemos ter uma multipli- tivo. Como “dois” é o único número primo par, o termo
cação ou divisão potência que não está na “primo ímpar” refere-se a todo primo maior do que dois.
mesma base (como nas propriedades 5 e O conceito de número primo é muito importante
6), mas pode ser simplificada. Por exemplo, na teoria dos números. Um dos resultados da teoria dos
43×25 =(22 )3×25= 26×25= 26+5=211 e 33:9 = 33 números é o  Teorema Fundamental da Aritmética, que
: 32 = 31. afirma que qualquer número natural diferente de 1 pode
ser escrito de forma única (desconsiderando a ordem)
como um produto de números primos (chamados fato-
res primos): este processo se chama decomposição em
fatores primos (fatoração). É exatamente este conceito
que utilizaremos no MDC e MMC. Para caráter de me-
EXERCÍCIOS COMENTADOS morização, seguem os 100 primeiros números primos
positivos. Recomenda-se que memorizem ao menos os
1. (MPE-RS – 2017) A metade de é igual a: 10 primeiros para MDC e MMC:

a) 220 2, 3, 5, 7, 11, 13, 17, 19, 23, 29, 31, 37, 41, 43, 47, 53, 
b) 239 59, 61, 67, 71, 73, 79, 83, 89, 97, 101, 103, 107, 109, 113, 
c) 240 127, 131, 137, 139, 149, 151, 157, 163, 167, 173, 179, 181,
d) 279 191, 193, 197, 199, 211, 223, 227, 229, 233, 239, 241, 251,
e) 280 257, 263, 269, 271, 277, 281, 283, 293, 307, 311, 313, 317,
331, 337, 347, 349, 353, 359, 367, 373, 379, 383, 389, 397,
Resposta: Letra D. 401, 409, 419, 421, 431, 433, 439, 443, 449, 457, 461, 463,
Para encontrar a metade de 440, basta dividirmos esse 467, 479, 487, 491, 499, 503, 509, 521, 523, 541
440
número por 2, isto é, 2 . Uma forma fácil de resolver
essa fração é escrever o numerador e denominador 2. Múltiplos e Divisores
dessa fração na mesma base como mostrado a seguir:
Diz-se que um número natural a é múltiplo de outro
440 22 40 280
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

= = = 280−1 = 279 natural b, se existe um número natural k tal que:


2 2 2 .

Note que para resolver esse exercício utilizamos as


𝑎 = 𝑘. 𝑏
propriedades 6 e 7.
Ex. 15 é múltiplo de 5, pois 15=3 x 5
NÚMEROS PRIMOS, MDC E MMC
Quando a=k.b, segue que a é múltiplo de b, mas tam-
O máximo divisor comum e o mínimo múltiplo co- bém, a é múltiplo de k, como é o caso do número 35 que
mum são ferramentas extremamente importantes na é múltiplo de 5 e de 7, pois: 35 = 7 x 5.
matemática. Através deles, podemos resolver alguns

159
Quando a = k.b, então a é múltiplo de b e se conhe- Decompõe-se cada número dado em fatores primos.
cemos b e queremos obter todos os seus múltiplos, basta O MDC é o produto dos fatores comuns obtidos, cada
fazer k assumir todos os números naturais possíveis. um deles elevado ao seu menor expoente.

Ex. Para obter os múltiplos de dois, isto é, os números Exemplo: Achar o MDC entre 300 e 504.
da forma a = k x 2, k seria substituído por todos os nú-
meros naturais possíveis. Fatorando os dois números:

FIQUE ATENTO!
Um número b é sempre múltiplo dele mes-
mo. a = 1 x b ↔ a = b.

A definição de divisor está relacionada com a de


múltiplo.

Um número natural b é divisor do número natural a, Temos que:


se a é múltiplo de b.
300 = 22.3 .52
Ex. 3 é divisor de 15, pois , logo 15 é múltiplo de 3 e 504 = 23.32 .7
também é múltiplo de 5.
O MDC será os fatores comuns com seus menores
expoentes:
#FicaDica
mdc (300,504)= 22.3 = 4 .3=12
Um número natural tem uma quantidade fi-
nita de divisores. Por exemplo, o número 6
MMC
poderá ter no máximo 6 divisores, pois tra-
balhando no conjunto dos números natu-
O mínimo múltiplo comum de dois ou mais números
rais não podemos dividir 6 por um número
é o menor número positivo que é múltiplo comum de
maior do que ele. Os divisores naturais de 6
todos os números dados. Consideremos:
são os números 1, 2, 3, 6, o que significa que
o número 6 tem 4 divisores.
Ex. Encontrar o MMC entre 8 e 6

Múltiplos positivos de 6: M(6) =


MDC
{6,12,18,24,30,36,42,48,54,...}
Agora que sabemos o que são números primos, múl-
Múltiplos positivos de 8: M(8) =
tiplos e divisores, vamos ao MDC. O máximo divisor co-
{8,16,24,32,40,48,56,64,...}
mum de dois ou mais números é o maior número que é
divisor comum de todos os números dados.
Podem-se escrever, agora, os múltiplos positivos co-
muns: M(6)∩M(8) = {24,48,72,...}
Ex. Encontrar o MDC entre 18 e 24.
Observando os múltiplos comuns, pode-se identificar
Divisores naturais de 18: D(18) = {1,2,3,6,9,18}.
o mínimo múltiplo comum dos números 6 e 8, ou seja:
Divisores naturais de 24: D(24) = {1,2,3,4,6,8,12,24}.
Outra técnica para o cálculo do MMC:
Pode-se escrever, agora, os divisores comuns a 18 e
Decomposição isolada em fatores primos: Para ob-
24: D(18)∩ D (24) = {1,2,3,6}.
ter o MMC de dois ou mais números por esse processo,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

procedemos da seguinte maneira:


Observando os divisores comuns, podemos identifi-
car o maior divisor comum dos números 18 e 24, ou seja:
- Decompomos cada número dado em fatores
MDC (18,24) = 6.
primos.
- O MMC é o produto dos fatores comuns e não-
Outra técnica para o cálculo do MDC:
-comuns, cada um deles elevado ao seu maior
expoente.
Decomposição em fatores primos: Para obter o
Ex. Achar o MMC entre 18 e 120.
MDC de dois ou mais números por esse processo, proce-
de-se da seguinte maneira:

160
Fatorando os números: No conjunto Q destacamos os seguintes subconjuntos:

• 𝑄 = conjunto dos racionais não nulos;
• 𝑄+ = conjunto dos racionais não negativos;
• 𝑄+∗
= conjunto dos racionais positivos;
• 𝑄− = conjunto dos racionais não positivos;
• 𝑄−∗ = conjunto dos racionais negativos.

Módulo ou valor absoluto: É a distância do ponto


que representa esse número ao ponto de abscissa zero.
Temos que:
Exemplo: Módulo de é. Indica-se
18 = 2 .32
120 = 23.3 .5 Módulo de é . Indica-se

O MMC será os fatores comuns com seus maiores Números Opostos: Dizemos que e são números ra-
expoentes: cionais opostos ou simétricos e cada um deles é o oposto
do outro. As distâncias dos pontose ao ponto zero da
mmc (18,120) = 23.32.5 = 8 .9 .5 = 360 reta são iguais.

1.1. Soma (Adição) de Números Racionais

Como todo número racional é uma fração ou pode


EXERCÍCIOS COMENTADOS ser escrito na forma de uma fração, definimos a adição
entre os números racionais e , da mesma forma que a
soma de frações, através de:
1. (FEPESE-2016) João trabalha 5 dias e folga 1, enquan-
to Maria trabalha 3 dias e folga 1. Se João e Maria folgam 1.1.1. Propriedades da Adição de Números
no mesmo dia, então quantos dias, no mínimo, passarão Racionais
para que eles folguem no mesmo dia novamente?
O conjunto é fechado para a operação de adição,
a) 8 isto é, a soma de dois números racionais resulta em um
b) 10 número racional.
c) 12
d) 15 - Associativa: Para todos em :
e) 24 - Comutativa: Para todos em :
- Elemento neutro: Existe em , que adicionado a
Resposta: Letra c. todo em , proporciona o próprio , isto é:
COMENTÁRIO: O período em que João trabalha e fol- - Elemento oposto: Para todo em , existe em Q, tal
ga corresponde a 6 dias enquanto o mesmo período, que
para Maria, corresponde a 4 dias. Assim, o problema
consiste em encontrar o mmc entre 6 e 4. Logo, eles 1.2. Subtração de Números Racionais
folgarão no mesmo dia novamente após 12 dias pois
mmc(6,4)=12. A subtração de dois números racionais e é a própria
operação de adição do número com o oposto de q, isto
.NÚMEROS RACIONAIS: FRAÇÕES, NÚMEROS é:
DECIMAIS E SUAS OPERAÇÕES
1.3. Multiplicação (Produto) de Números Racionais
1. Números Racionais
m Como todo número racional é uma fração ou pode
Um número racional é o que pode ser escrito na for- ser escrito na forma de uma fração, definimos o produto
n
ma , onde m e n são números inteiros, sendo que mn
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

de dois números racionais e , da mesma forma que o


deve ser diferente de zero. Frequentemente usamos produto de frações, através de:
n
para significar a divisão de m por n .
Como podemos observar, números racionais podem O produto dos números racionais e também pode
ser obtidos através da razão entre dois números inteiros, ser indicado por , ou ainda sem nenhum sinal entre as
razão pela qual, o conjunto de todos os números racio- letras.
nais é denotado por Q. Assim, é comum encontrarmos na Para realizar a multiplicação de números racionais,
literatura a notação: devemos obedecer à mesma regra de sinais que vale em
Q= { m
n
: m e n em Z,n diferente de zero } toda a Matemática:
(+1) × (+1) = (+1) – Positivo Positivo = Positivo
(+1) × (-1) = (-1) - Positivo Negativo = Negativo

161
(-1) × (+1) = (-1) - Negativo Positivo = Negativo 1.5.1. Propriedades da Potenciação aplicadas a
(-1) × (-1) = (+1) – Negativo Negativo = Positivo números racionais

Toda potência com expoente 0 é igual a 1.


#FicaDica
0
O produto de dois números com o mesmo  2
sinal é positivo, mas o produto de dois nú- +  = 1
meros com sinais diferentes é negativo.
 5
- Toda potência com expoente 1 é igual à própria
1.3.1. Propriedades da Multiplicação de Números base.
Racionais
 9 =− 9
1

O conjunto Q é fechado para a multiplicação, isto é,  − 


o produto de dois números racionais resultaem um nú-  4 4
mero racional.
- Toda potência com expoente negativo de um nú-
- Associativa: Para todos em : mero racional diferente de zero é igual a outra potência
- Comutativa: Para todos em : que tem a base igual ao inverso da base anterior e o ex-
- Elemento neutro: Existe 1 em , que multiplicado poente igual ao oposto do expoente anterior.
por todo em , proporciona o próprio , isto é:
 3  =  − 5  = 25
2
- Elemento inverso: Para todo em , diferente de −2

zero, existe em : , ou seja, −   


- Distributiva: Para todos em :  5  3 9

1.4. Divisão de Números Racionais - Toda potência com expoente ímpar tem o mesmo
sinal da base.
A divisão de dois números racionais p e q é a própria
operação de multiplicação do número p pelo inverso de  2  =  2  .  2  .  2  = 8
3

q, istoé: p ÷ q = p × q-1  
De maneira prática costuma-se dizer que em uma di-  3   3   3   3  27
visão de duas frações, conserva-se a primeira fração e
multiplica-se pelo inverso da segunda:
- Toda potência com expoente par é um número
positivo.
#FicaDica
 1   − 1   − 1 
2
É possível encontrar divisão de frações da 1
seguinte forma: . O procedimento de cálculo
−  = . =
 5   5   5  25
é o mesmo.
- Produto de potências de mesma base. Para redu-
1.5. Potenciação de Números Racionais zir um produto de potências de mesma base a uma só
potência, conservamos a base e somamos os expoentes.
A potência do número racional é um produto de fa-
3
tores iguais. O número é denominado a base e o número
2 2+3 5
 2  2  2 2 2 2 2  2 2
é o expoente.   .   =  . . . .  =   = 
,    (q aparece n vezes)  5  5 5 55 5 5 5 5

Exs: 3 - Quociente de potências de mesma base. Para redu-


2 2 2 2 8
        zir um quociente de potências de mesma base a uma só
125
a)  5  =  5  . 5  .  5  = potência, conservamos a base e subtraímos os expoentes.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

 1
3
 1  1  1 1
−  −  −  −  −
b)  2  =  2 . 2  .  2  = 8 3 3 3 3 3
5 2 . . . . 5− 2 3
3 3 2 2 2 2 2 3 3
c) (– 5)² = (– 5) � ( – 5) = 25   :  = =  = 
2 2 3 3 2 2
.
d) (+5)² = (+5) � (+5) = 25 2 2
- Potência de Potência. Para reduzir uma potência de
potência a uma potência de um só expoente, conserva-
mos a base e multiplicamos os expoentes.

162
3
 1  2  2 2
1 1 1
2
1
2+ 2+ 2
1
3+ 2
1
6

   =   .  .  =   =  = 
 2   2 2 2 2 2 2

1.6. Radiciação de Números Racionais

Se um número representa um produto de dois ou mais fatores iguais, então cada fator é chamado raiz do número.
Vejamos alguns exemplos:

Ex:
4 Representa o produto 2. 2 ou 22. Logo, 2 é a raiz quadrada de 4. Indica-se 4 = 2.

Ex:
1 1
2
1 Representa o produto 1 . 1 ou  1  .Logo, 1 é a raiz quadrada de 1 .Indica-se =
 
9 3 3 3 3 9 9 3
Ex:
0,216 Representa o produto 0,6 � 0,6 � 0,6 ou (0,6)3 . Logo, 0,6 é a raiz cúbica de 0,216. Indica-se 0,216 = 0,6 .
3

Assim, podemos construir o diagrama:

FIQUE ATENTO!
Um número racional, quando elevado ao quadrado, dá o número zero ou um número racional positivo.
Logo, os números racionais negativos não têm raiz quadrada em Q.

100 10 10 100
O número − não tem raiz quadrada em Q, pois tanto − 3 como + 3 , quando elevados ao quadrado, dão 9 .
9
Um número racional positivo só tem raiz quadrada no conjunto dos números racionais se ele for um quadrado
perfeito. 2 2
O número 3 não tem raiz quadrada em Q, pois não existe número racional que elevado ao quadrado dê 3 .

FRAÇÕES
x
Frações são representações de partes iguais de um todo. São expressas como um quociente de dois números ,
sendo x o numerador e y o denominador da fração, com y ≠ 0 . y
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

1. Frações Equivalentes

São frações que, embora diferentes, representam a mesma parte do mesmo todo. Uma fração é equivalente a outra
quando pode ser obtida multiplicando o numerador e o denominador da primeira fração pelo mesmo número.

Ex: 3 e 6 .
5 10
A segunda fração pode ser obtida multiplicando o numerador e denominador de 3 por 2:
5
3�2 6
=
5 � 2 10

163
6 Devemos proceder, agora, como no primeiro caso,
Assim, diz-se que é uma fração equivalente a 3 simplificando o resultado, quando possível:
10 5

2. Operações com Frações 9 20 29


+ =
24 24 24
2.1. Adição e Subtração

2.1.1. Frações com denominadores iguais: 3 5 9 20 29


Portanto: + = + =
8 6 24 24 24
Ex:
3
Jorge comeu 8 de um tablete de chocolate e Miguel
5 #FicaDica
8 desse mesmo tablete. Qual a fração do tablete de cho-
colate que Jorge e Miguel comeram juntos? Na adição e subtração de duas ou mais frações
que têm os denominadores diferentes, reduzi-
A figura abaixo representa o tablete de chocolate.
mos inicialmente as frações ao menor denomi-
Nela também estão representadas as frações do tablete
nador comum, após o que procedemos como
que Jorge e Miguel comeram:
no primeiro caso.

2.2. Multiplicação

Ex:
3 2 5 De uma caixa de frutas, 4 são bananas. Do total de
Observe que = = bananas,
2
estão estragadas.
5 Qual é a fração de frutas
8 8 8
3 estão estragadas?
da caixa que
Portanto, Jorge e Miguel comeram juntos 5
do table-
te de chocolate.
8

Na adição e subtração de duas ou mais frações que


têm denominadores iguais, conservamos o denominador
comum e somamos ou subtraímos os numeradores. Representa 4/5 do conteúdo da caixa

Outro Exemplo:

3 5 7 3+5−7 1
+ − = =
2 2 2 2 2

2.1.2. Frações com denominadores diferentes: Representa 2/3 de 4/5 do conteúdo da caixa.
3 5
Calcular o valor de 8 + 6 Inicialmente, devemos Repare que o problema proposto consiste em cal-
2
reduzir as frações ao mesmo denominador comum. Para cular o valor de de 4 que, de acordo com a figura,
isso, encontramos o mínimo múltiplo comum (MMC) en- equivale a do total de5 frutas. De acordo com a tabela
8 3
2 4
tre os dois (ou mais, se houver) denominadores e, em se- acima, 2 de 4 equivale a � . Assim sendo:
15
3 5
guida, encontramos as frações equivalentes com o novo 3 5
2 4 8
denominador: � =
3 5 15
Ou seja:
3 5 9 20
mmc (8,6) = 24 = = = 2 de
8 6 24 24
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

4 2 4 2�4 8
= � 5 = 3�5 = 15
3 5 3

24 ∶ 8 � 3 = 9
O produto de duas ou mais frações é uma fração cujo
24 ∶ 6 � 5 = 20
numerador é o produto dos numeradores e cujo denomi-
nador é o produto dos denominadores das frações dadas.

2 4 7 2�4�7 56
Outro exemplo: � � = =
3 5 9 3 � 5 � 9 135

164
Observação:
#FicaDica
Note a expressão: . Ela é equivalente à expressão 3 1
Sempre que possível, antes de efetuar a :
2 5
multiplicação, podemos simplificar as fra-
ções entre si, dividindo os numeradores e os
denominadores por um fator comum. Esse Portanto
processo de simplificação recebe o nome de
cancelamento.

NÚMEROS DECIMAIS

De maneira direta, números decimais são números que


possuem vírgula. Alguns exemplos: 1,47; 2,1; 4,9587; 0,004;
2.3. Divisão etc.
Duas frações são inversas ou recíprocas quando o nu- 1. Operações com Números Decimais
merador de uma é o denominador da outra e vice-versa.
1.1. Adição e Subtração
Exemplo
2 é a fração inversa de 3 Vamos calcular o valor da seguinte soma:
3 2
5,32 + 12,5 + 0, 034
5 ou 5 é a fração inversa de 1
1 5
Transformaremos, inicialmente, os números decimais
Considere a seguinte situação: em frações decimais:
Lúcia recebeu de seu pai os 4 dos chocolates con-
tidos em uma caixa. Do total de5chocolates recebidos, 352 125 34 5320 12500 34 17854
5,32 + 12,5 + 0,034 = + + = + + = = 17,854
Lúcia deu a terça parte para o seu namorado. Que fração 100 10 1000 1000 1000 1000 1000
dos chocolates contidos na caixa recebeu o namorado
de Lúcia? Portanto: 5,32 + 12,5 + 0, 034 = 17, 854
A solução do problema consiste em dividir o total de Na prática, a adição e a subtração de números deci-
chocolates que Lúcia recebeu de seu pai por 3, ou seja, mais são obtidas de acordo com a seguinte regra:
4
:3
5 - Igualamos o número de casas decimais, acrescen-
tando zeros.
Por outro lado, dividir algo por 3 significa calcular 1 - Colocamos os números um abaixo do outro, deixan-
desse algo. 3
do vírgula embaixo de vírgula.
- Somamos ou subtraímos os números decimais
Portanto: : 3 = de 4
4 1
5 3 5
como se eles fossem números naturais.
- Na resposta colocamos a vírgula alinhada com a vír-
1 4 1 4 4 1 gula dos números dados.
Como de =
5 3
� =
5 5

3
, resulta que
3
4 4 3 4 1 Exemplo
:3 = : = �
5 5 1 5 3
3 1 2,35 + 14,3 + 0, 0075 + 5
Observando que as frações e são frações inver-
1 3
sas, podemos afirmar que: Disposição prática:
Para dividir uma fração por outra, multiplicamos a pri-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

meira pelo inverso da segunda. 2,3500


4 4 3 4 1 4 14,3000
Portanto 5 : 3 = 5 ∶ 1 = 5 � 3 = 15
+ 0,0075
Ou seja, o namorado de Lúcia recebeu 4
do total de 5,0000
chocolates contidos na caixa.
15
21,6575
4 8 41 5 5
Outro exemplo: : = . =
3 5 3 82 6

165
1.2. Multiplicação

Vamos calcular o valor do seguinte produto: 2,58 � 3,4 .

Transformaremos, inicialmente, os números decimais em frações decimais:

258 34 8772
2,58 � 3,4 = � = = 8,772
100 100 1000

Portanto 2,58 � 3,4 = 8,772

#FicaDica
Na prática, a multiplicação de números decimais é obtida de acordo com as seguintes regras:
- Multiplicamos os números decimais como se eles fossem números naturais.
- No resultado, colocamos tantas casas decimais quantas forem as do primeiro fator somadas às do
segundo fator.

Exemplo:
Disposição prática:
652,2  1 casa decimal

X 2,03  2 casas decimais


19 566

1 304 4

1 323,966  1 + 2 = 3 casas decimais

1.3. Divisão

Vamos, por exemplo, efetuar a seguinte divisão: 24 ∶ 0,5

Inicialmente, multiplicaremos o dividendo e o divisor da divisão dada por 10.

24 ∶ 0,5 = (24 � 10) ∶ (0,5 � 10) = 240 ∶ 5


CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A vantagem de tal procedimento foi a de transformarmos em número natural o número decimal que aparecia na
divisão. Com isso, a divisão entre números decimais se transforma numa equivalente com números naturais.

Portanto: 24 ∶ 0,5 = 240 ∶ 5 = 48

166
#FicaDica
Na prática, a divisão entre números decimais é obtida de acordo com as seguintes regras:
- Igualamos o número de casas decimais do dividendo e do divisor.
- Cortamos as vírgulas e efetuamos a divisão como se os números fossem naturais.

Ex: 24 ∶ 0,5 = 240 ∶ 5 = 48

Disposição prática:

Nesse caso, o resto da divisão é igual à zero. Assim sendo, a divisão é chamada de divisão exata e o quociente é
exato.

Ex: 9,775 ∶ 4,25

Disposição prática:

Nesse caso, o resto da divisão é diferente de zero. Assim sendo, a divisão é chamada de divisão aproximada e o
quociente é aproximado.

Se quisermos continuar uma divisão aproximada, devemos acrescentar zeros aos restos e prosseguir dividindo cada
número obtido pelo divisor. Ao mesmo tempo em que colocamos o primeiro zero no primeiro resto, colocamos uma
vírgula no quociente.

Ex: 0,14 ∶ 28

Ex: 2 ∶ 16
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

2. Representação Decimal das Frações


p
Tomemos um número racional q tal que não seja múltiplo de . Para escrevê-lo na forma decimal, basta efetuar a
divisão do numerador pelo denominador.
Nessa divisão podem ocorrer dois casos:

167
1º) O numeral decimal obtido possui, após a vírgula,
um número finito de algarismos. Decimais Exatos: 9
0,9 =
10
2
= 0,4
5 57
1 5,7 =
4
= 0,25 10
35
= 8,75
4 76
153 0,76 =
50
= 3,06 100

2º) O numeral decimal obtido possui, após a vírgula, 348


infinitos algarismos (nem todos nulos), repetindo-se pe- 3,48 =
riodicamente. Decimais Periódicos ou Dízimas Periódicas: 100

1 5 1
= 0,333 … 0,005 = =
3 1000 200
1
= 0,04545 … 2º) Devemos achar a fração geratriz da dízima dada;
22 para tanto, vamos apresentar o procedimento através de
alguns exemplos:
167
= 2,53030 … Ex:
66
Seja a dízima 0,333...

FIQUE ATENTO! Façamos e multipliquemos ambos os membros por


Se após as vírgulas os algarismos não são 10:
periódicos, então esse número decimal 10x = 0,333
não está contido no conjunto dos números
racionais.
Subtraindo, membro a membro, a primeira igualdade
da segunda:

3.Representação Fracionária dos Números


Decimais 3
10x – x = 3,333 … – 0,333. . . 9x = 3 x =
9
Trata-se do problema inverso: estando o número ra-
cional escrito na forma decimal, procuremos escrevê-lo Assim, a geratriz de 0,333... é a fração
3
.
na forma de fração. Temos dois casos: 9
Ex:
1º) Transformamos o número em uma fração cujo Seja a dízima 5,1717...
numerador é o número decimal sem a vírgula e o deno-
minador é composto pelo numeral 1, seguido de tantos Façamos x = 5,1717. . . e 100x = 517,1717. . .
zeros quantas forem as casas decimais do número deci-
mal dado: Subtraindo membro a membro, temos:
99x = 512 x = 512⁄99
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

512
Assim, a geratriz de 5,1717... é a fração .
99
Ex:

Seja a dízima 1,23434...

168
Façamos x = 1,23434 … ;10x = 12,3434 …; 1000x = 1234,34 …

Subtraindo membro a membro, temos:


1222
990x = 1234,34. . . – 12,34 … 990x = 1222 x =
990
611
Simplificando, obtemos x = , a fração geratriz da dízima 1,23434...
495

Analisando todos os exemplos, nota-se que a idéia consiste em deixar após a vírgula somente a parte periódica (que
se repete) de cada igualdade para, após a subtração membro a membro, ambas se cancelarem.

EXERCÍCIO COMENTADO

1. (EBSERH – Médico – IBFC/2016) Mara leu 1/5 das páginas de um livro numa semana. Na segunda semana, leu mais
2/3 de páginas. Se ainda faltam ler 60 (sessenta) páginas do livro, então o total de páginas do livro é de:

a) 300
b) 360
c) 400
d) 450
e) 480

Resposta: Letra D.
1 2 3+10 13
Mara leu 5 + 3 = 15 = 15 do livro. Logo, ainda falta 1
13 15−13 2
− = = para ser lido. Essa fração que
falta ser lida equivale a 60 páginas 15 15 15
2 1
Assim:  60 páginas. Portanto,  30 páginas.
15 15
Logo o livro todo (15/15) possui: 15 � 40 = 450 páginas

RAZÃO

Quando se utiliza a matemática na resolução de problemas, os números precisam ser relacionados para se obter
uma resposta. Uma das maneiras de se relacionar os números é através da razão. Sejam dois números reais a e b, com
𝑎
b ≠ 0,define-se razão entre a e b (nessa ordem) o quociente a ÷ b, ou .
𝑏

A razão basicamente é uma fração, e como sabem, frações são números racionais. Entretanto, a leitura deste núme-
ro é diferente, justamente para diferenciarmos quando estamos falando de fração ou de razão.
3
a) Quando temos o número 5 e estamos tratando de fração, lê-se: “três quintos”.
3
b) Quando temos o número 5
e estamos tratando de razão, lê-se: “3 para 5”.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Além disso, a nomenclatura dos termos também é diferente:

O número 3 é numerador

3
a) Na fração 5

O número 5 é denominador

O número 3 é antecedente

169
b) Na razão
3
#FicaDica
5
A razão entre um comprimento no desenho
O número 5 é consequente e o correspondente comprimento real, cha-
ma-se escala
Ex. A razão entre 20 e 50 é = já a razão entre 50
20 2
50 5 50 5
e 20 é = . Ou seja, deve-se sempre indicar o antece- Razão entre grandezas de espécies diferentes: É
20 2
dente e o consequente para sabermos qual a ordem de possível também relacionar espécies diferentes e isto
montarmos a razão. está normalmente relacionado a unidades utilizadas na
física:
Ex.Numa classe de 36 alunos há 15 rapazes e 21 mo-
ças. A razão entre o número de rapazes e o número de Ex. Considere um carro que às 9 horas passa pelo qui-
moças é5 15 , se simplificarmos, temos que a fração equi- lômetro 30 de uma estrada e, às 11 horas, pelo quilô-
valente 7 , o que significa que para “cada 5 rapazes há 7
21
metro 170. Qual a razão entre a distância percorrida e o
moças”. Por outro lado, a razão entre o número de rapa- tempo gasto no translado?
zes e o total de alunos é dada por 15 = 5 , o que equivale Para montarmos a razão, precisamos obter as
a dizer que “de cada 12 alunos na classe, 5 são rapazes”. informações:
36 12

Razão entre grandezas de mesma espécie: A razão Distância percorrida: 170 km – 30 km = 140 km
entre duas grandezas de mesma espécie é o quociente Tempo gasto: 11h – 9h = 2h
dos números que expressam as medidas dessas grande- Calculamos a razão entre a distância percorrida e o
zas numa mesma unidade. tempo gasto para isso:
Ex. Um automóvel necessita percorrer uma estrada de 140 𝑘𝑚 70
360 km. Se ele já percorreu 240 km, qual a razão entre a 𝑣= = = 70 𝑘 𝑚 ⁄ℎ
distância percorrida em relação ao total?
2ℎ 1
Como os dois números são da mesma espécie (distân-
cia) e estão na mesma unidade (km), basta fazer a razão: Como são duas espécies diferentes, a razão entre elas
será uma espécie totalmente diferente das outras duas.
240 𝑘𝑚 2
𝑟= =
360 𝑘𝑚 3 #FicaDica
No caso de mesma espécie, porém em unidades di- A razão entre uma distância e uma medida
ferentes, deve-se escolher uma das unidades e converter de tempo é chamada de velocidade.
a outra.
Ex. Uma maratona possui aproximadamente 42 km de
extensão. Um corredor percorreu 36000 metros. Qual a
Ex. A Região Sudeste (Espírito Santo, Minas Gerais,
razão entre o que falta para percorrer em relação à ex-
Rio de Janeiro e São Paulo) tem uma área aproximada de
tensão da prova?
927 286 km2 e uma população de 66 288 000 habitantes,
Veja que agora estamos tentando relacionar metros
aproximadamente, segundo estimativas projetadas pelo
com quilômetros. Para isso, deve-se converter uma das
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o
unidades, vamos utilizar “km”:
ano de 1995. Qual a razão entre o número de habitantes
36000 m=36 km e a área total?
Dividindo-se o número de habitantes pela área, obte-
Como é pedida a razão entre o que falta em relação remos o número de habitantes por km2 (hab./km2):
ao total, temos que:
66288000 ℎ𝑎𝑏 ℎ𝑎𝑏
42 𝑘𝑚 − 36 𝑘𝑚 6 𝑘𝑚 1 𝑑= = 71,5
𝑟=
42 𝑘𝑚
= =
42 𝑘𝑚 7 927286 𝑘𝑚² 𝑘𝑚2

Ex. Uma sala tem 8 m de comprimento. Esse compri-


CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

mento é representado num desenho por 20 cm. Qual é a #FicaDica


razão entre o comprimento representado no desenho e
o comprimento real? A razão entre o número de habitantes e a
Convertendo o comprimento real para cm, temos que: área deste local é denominada densidade
20 𝑐𝑚 1 demográfica.
𝑒= =
800 𝑐𝑚 40
Ex. Um carro percorreu, na cidade, 83,76 km com 8 L
de gasolina. Dividindo-se o número de quilômetros per-
corridos pelo número de litros de combustível consumi-
dos, teremos o número de quilômetros que esse carro
percorre com um litro de gasolina:

170
83,76 𝑘𝑚 𝑘𝑚 Outro jeito de ver a proporção: Já vimos que uma
𝑐= = 10,47 proporção é verdadeira quando realizamos a multiplica-
8𝑙 𝑙 ção em cruz e encontramos o mesmo valor nos dois pro-
dutos. Outra maneira de verificar a proporção é verificar
se a duas razões que estão sendo igualadas são frações
#FicaDica equivalentes. Lembra deste conceito?
A razão entre a distância percorrida em rela-
ção a uma quantidade de combustível é de- FIQUE ATENTO!
finida como “consumo médio” Uma fração é equivalente a outra quando
podemos multiplicar (ou dividir) o nume-
Proporção rador e o denominador da fração por um
mesmo número, chegando ao numerador e
A definição de proporção é muito simples, pois se tra- denominador da outra fração.
ta apenas da igualdade de razões.
3 6
Na proporção = (lê-se: “3 está para 5 assim Ex.
4 12
e são frações equivalentes, pois:
5 10
como 6 está para 10”). 3 9
Observemos que o produto 3 x 10=30 é igual ao pro-
duto 5 x 6=30, o que caracteriza a propriedade funda- 4x=12 →x=3
mental das proporções 3x=9 →x=3
4
#FicaDica Ou seja, o numerador e o denominador de 3 quan-
do multiplicados pelo mesmo número (3), chega ao nu-
Se multiplicarmos em cruz (ou em x), tere- merador e denominador da outra fração, logo, elas são
mos que os produtos entre o numeradores equivalentes e consequentemente, proporcionais.
e os denominadores da outra razão serão
iguais. Agora vamos apresentar algumas propriedades da
proporção:
2 6
Ex. Na igualdade = , temos 2 x 9=3 x 6=18, logo, a) Soma dos termos: Quando duas razões são pro-
temos uma proporção.3 9
porcionais, podemos criar outra proporção somando os
numeradores com os denominadores e dividindo pelos
Ex. Na bula de um remédio pediátrico recomenda-se numeradores (ou denominadores) das razões originais:
a seguinte dosagem: 7 gotas para cada 3 kg do “peso” da
criança. Se uma criança tem 15 kg, qual será a dosagem
correta? 5 10 5 + 2 10 + 4 7 14
= → = → =
Como temos que seguir a receita, temos que atender 2 4 5 10 5 10
a proporção, assim, chamaremos de x a quantidade de
gotas a serem ministradas: ou

7 𝑔𝑜𝑡𝑎𝑠 𝑥 𝑔𝑜𝑡𝑎𝑠 5 10 5 + 2 10 + 4 7 14
= = → = → =
3 𝑘𝑔 15 𝑘𝑔 2 4 2 4 2 4

b) Diferença dos termos: Analogamente a soma,


Logo, para atendermos a proporção, precisaremos temos também que se realizarmos a diferença entre os
encontrar qual o número que atenderá a proporção. termos, também chegaremos em outras proporções:
Multiplicando em cruz, temos que:
4 8 4−3 8−6 1 2
= → = → =
3x=105 3 6 4 8 4 8
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ou
105 4 8 4−3 8−6 1 2
𝑥= = → = → =
3 3 6 3 6 3 6

x=35 gotas c) Soma dos antecedentes e consequentes: A soma


dos antecedentes está para a soma dos consequentes as-
Ou seja, para uma criança de 30 kg, deve-se ministrar sim como cada antecedente está para o seu consequente:
35 gotas do remédio, atendendo a proporção.
12 3 12 + 3 15 12 3
= → = = =
8 2 8+2 10 8 2

171
d) Diferença dos antecedentes e consequentes: Resposta : Letra D.
A soma dos antecedentes está para a soma dos conse- Ambos aplicaram R$ 9000,00+R$ 16000,00=R$
quentes assim como cada antecedente está para o seu 25000,00 e o lucro de R$ 2222,00 foi sobre este valor.
consequente: Assim, constrói-se uma proporção entre o valor apli-
12 3 12 − 3 9 12 3 cado (neste caso, R$ 9000,00 , pois o exercício quer o
= → = = = lucro de quem aplicou menos) e seu respectivo lucro:
8 2 8−2 6 8 2
9000 25000
= → 25x = 19998 → x = R$ 799,92
x 2222
FIQUE ATENTO!
Usamos razão para fazer comparação entre
duas grandezas. Assim, quando dividimos
uma grandeza pela outra estamos compa- CIÊNCIAS: ÁGUA, AR E SOLO. TRANSFOR-
rando a primeira com a segunda. Enquanto MAÇÕES DOS MATERIAIS NA NATUREZA.
proporção é a igualdade entre duas razões.

A ÁGUA

EXERCÍCIOS COMENTADOS A água no planeta

1. O estado de Tocantins ocupa uma área aproximada de Cerca de 71% da superfície da Terra é coberta por
278.500 km². De acordo com o Censo/2000 o Tocantins tinha água em estado líquido. Do total desse volume, 97,4%
uma população de aproximadamente 1.156.000 habitantes. aproximadamente, está nos oceanos, em estado líquido.
Qual é a densidade demográfica do estado de Tocantins? A água dos oceanos é salgada: contém muito cloreto
de sódio, além de outros sais minerais.
Resposta : Mas a água em estado líquido também aparece nos
A densidade demográfica é definida como a razão en- rios, nos lagos e nas represas, infiltrada nos espaços do
tre o número de habitantes e a área ocupada: solo e das rochas, nas nuvens e nos seres vivos. Nesses
casos ela apresenta uma concentração de sais geralmen-
1 156 000 hab. te inferior a água do mar. É chamada de água doce e
d= = 4,15 ha b⁄k m² corresponde a apenas cerca de 2,6% do total de água
278 500 km² do planeta.
Cerca de 1,8% da água doce do planeta é encontra-
2. Se a área de um retângulo (A1 ) mede 300 cm² e a do em estado sólido, formando grandes massas de gelo
área de um outro retângulo (A2 ) mede 100 cm², qual é o nas regiões próximas dos polos e no topo de montanhas
valor da razão entre as áreas (A1 ) e (A2 ) ? muito elevadas. As águas subterrâneas correspondem a
0,96% da água doce, o restante está disponível em rios
Resposta : Ao fazermos a razão das áreas, temos: e lagos.
A1 300
= =3
A2 100

Então, isso significa que a área do retângulo 1 é 3 ve-


zes maior que a área do retângulo 2.

3.(CELESC – Assistente Administrativo – FEPESE/2016)


Dois amigos decidem fazer um investimento conjunto por
um prazo determinado. Um investe R$  9.000 e o outro
R$ 16.000. Ao final do prazo estipulado obtêm um lucro de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

R$ 2.222 e decidem dividir o lucro de maneira proporcional


ao investimento inicial de cada um. Portanto o amigo que in-
vestiu a menor quantia obtém com o investimento um lucro:

a) Maior que R$ 810,00


b) Maior que R$ 805,00 e menor que R$ 810,00
c) Maior que R$ 800,00 e menor que R$ 805,00
d) Maior que R$ 795,00 e menor que R$ 800,00
e) Menor que R$ 795,00 Oceanos e mares - 97%
Geleiras inacessíveis - 2%
Rios, lagos e fontes subterrâneas - 1%

172
A presença de água nos seres vivos H2O. Em cada 1g de água há cerca de 30. 000. 000. 000.
000. 000. 000. 000 (leia: “trinta sextilhões”) de moléculas
Um dos fatores que possibilitaram o surgimento e a de água.
manutenção da vida na Terra é a existência da água. Ela
é um dos principais componentes da biosfera e cobre a
maior parte da superfície do planeta.
Na Biosfera, existem diversos ecossistemas, ou seja,
diversos ambientes na Terra que são habitados por seres
vivos das mais variadas formas e tamanhos. Às vezes, nos
esquecemos que todos esses seres vivos têm em comum a
água presente na sua composição. Veja alguns exemplos:

Representação da molécula de água com os dois áto-


mos de hidrogênio e um de oxigênio. As cores são mera-
mente ilustrativas e o tamanho não segue as proporções
reais.

Estados físicos da matéria

Quando nos referimos à água, a ideia que nos vem de


imediato é a de um líquido fresco e incolor. Quando nos
Água viva referimos ao ferro, imaginamos um sólido duro. Já o ar nos
remete à ideia de matéria no estado gasoso.

Toda matéria que existe na natureza se apresenta em


uma dessas formas – sólida, líquida ou gasosa. É o que
chamamos de estados físicos da matéria.

Melancia

A água-viva chega a ter 95% de água na composição do


seu corpo. A melancia e o pepino chegam a ter 96% de água
na sua composição. Portanto, a água não está presente apenas No estado sólido, as moléculas de água estão bem
nas plantas; ela também faz parte do corpo de muitos animais. “presas” umas às outras e se movem muito pouco: elas fi-
É fácil comprovar que o nosso corpo, por exemplo, con- cam “balançando”, vibrando, mas sem se afastarem mui-
tém água. Bebemos água várias vezes ao dia, ingerimos to umas das outras. Não é fácil variar a forma e o volume
muitos alimentos que contém água e expelimos do nos- de um objeto sólido, como a madeira de uma porta ou o
so corpo vários tipos de líquidos que possuem água, por plástico de que é feito uma caneta, por exemplo.
exemplo, suor, urina, lágrimas etc.

O que é a água?

A água é uma das substâncias mais comuns em nosso


planeta. Toda a matéria (ou a substância) na natureza é
feita por partículas muito pequenas, invisíveis a olho nu,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

os átomos. Cada tipo de átomo pertence a um determi-


nado elemento químico. Os átomos de oxigênio, hidro-
gênio, carbono e cloro são alguns exemplos de elemen-
tos químicos que formam as mais diversas substâncias,
como a água, o gás carbônico etc.

Os grupos de átomos unidos entre si formam mo-


léculas. Cada molécula de água, por exemplo, é forma-
da por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio. A
molécula de água é representada pela fórmula química

173
O estado líquido é intermediário entre o sólido e o gasoso. Nele, as moléculas estão mais soltas e se movimentam mais
que no estado sólido. Os corpos no estado líquido não mantêm uma forma definida, mas adotam a forma do recipiente
que os contêm, pois as moléculas deslizam umas sobre as outras, na superfície plana e horizontal. A matéria, quando em
estado líquido, também se mantém na forma plana e horizontal.

No estado gasoso a matéria está muito expandida e, muitas vezes, não podemos percebê-la visualmente. Os corpos
no estado gasoso não possuem volume nem forma próprias e também adotam a forma do recipiente que os contém.
No estado gasoso, as moléculas se movem mais livremente que no estado líquido, estão muito mais distantes umas
das outras que no estado sólido ou líquido, e se movimentam em todas as direções. Frequentemente, há colisões entre
elas, que se chocam também com a parede do recipiente em que estão. É como se fossem abelhas presas em uma
caixa voando em todas as direções.

Em resumo: no estado sólido as moléculas de água vibram em posições fixas. No estado líquido, as moléculas vi-
bram mais do que no estado sólido, mas dependente da temperatura do líquido (quanto mais quente, maior a vibração,
até se desprenderem, passando para o estado gasoso, em um fenômeno conhecido como ebulição). Consequentemen-
te, no estado gasoso (vapor) as moléculas vibram fortemente e de forma desordenada.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

PROPRIEDADES DA ÁGUA

A água é um solvente

No ambiente é muito difícil encontrar água pura, em razão da facilidade com que as outras substâncias se misturam
nela. Mesmo a água da chuva, por exemplo, ao cair, traz impurezas do ar nela dissolvidas.
Uma das importantes propriedades da água é a capacidade de dissolver outras substâncias. A água é considerada
solvente universal, porque é muito abundante na Terra e é capaz de dissolver grande parte das substâncias conhecidas.
Se percebermos na água cor, cheiro ou sabor, isso se deve a substâncias (líquidos, sólidos ou gases) nela presentes,
dissolvidas ou não.

174
As substâncias que se dissolvem em outras (por Ela funciona, assim, como reguladora térmica. Por
exemplo, o sal) recebem a denominação de soluto. A isso, em cidades próximas ao litoral, é pequena a dife-
substância que é capaz de dissolver outras, como a água, rença entre a temperatura durante o dia e à noite. Já em
é chamada de solvente. A associação do soluto com o cidades distantes do litoral, essa diferença de temperatu-
solvente é uma solução. ra é bem maior.
É essa propriedade da água que torna a sudorese (eli-
minação do suor) um mecanismo importante na manu-
tenção da temperatura corporal de alguns animais.

A propriedade que a água tem de atuar como solvente


é fundamental para a vida. No sangue, por exemplo, vá-
rias substâncias – como sais minerais, vitaminas, açucares,
entre outras – são transportadas e dissolvidas na água.
Quando o dia está muito quente, suamos mais. Pela
evaporação do suor eliminado, liberamos o calor exce-
dente no corpo. Isso também ocorre quando corremos,
dançamos ou praticamos outros exercícios físicos.

Flutuar ou afundar?

Você já se perguntou por que alguns objetos afun-


dam na água? Porque um prego afunda e um navio flu-
tua na água? O que faz com que a água sustente alguns
objetos, de forma que eles consigam flutuar nela?

Porcentagem de água em alguns órgãos do corpo


Entender porque alguns objetos afundam na água en-
humano.
quanto outros flutuam é muito importante na construção
Nas plantas, os sais minerais dissolvidos na água são de navios, submarinos etc. Se na água um prego afunda
levados das raízes às folhas, assim como o alimento da e um navio flutua, está claro que isso não tem nada a ver
planta (açúcar) também é transportado dissolvido em com o fato de o objeto ser leve ou pesado, já que um pre-
água para todas as partes desse organismo. go tem algumas gramas e um navio pesa toneladas.
No interior dos organismos vivos, ocorrem inúme- Na água, podemos erguer uma pessoa fazendo pou-
ras reações químicas indispensáveis à vida, como as que co esforço, enquanto fora dela não conseguiríamos se-
quer movê-la do chão. Isso acontece porque a água em-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

acontecem na digestão. A maioria dessas reações quími-


cas no organismo só acontece se as substâncias químicas purra o corpo de uma pessoa para cima. A força que a
estiverem dissolvidas em água. água exerce nos corpos mergulhados de baixo para cima
(como um “empurrão”), é denominada empuxo.
• A água como regulador térmico A quantidade de água deslocada pelos corpos é um
importante fator para a flutuação ou afundamento dos
A água tem a capacidade de absorver e conservar ca- objetos. O prego, por ter pouco volume, desloca um mí-
lor. Durante o dia, a água absorve parte do calor do Sol e nimo de água quando mergulhado. Já o navio por ser
o conserva até a noite. Quando o Sol está iluminando o muito volumoso, desloca uma grande quantidade de
outro lado do planeta, essa água já começa a devolver o água. Então seu “peso” fica equilibrado pela força com
calor absorvido ao ambiente. que a água o “empurra”, ou seja, pelo empuxo.

175
• Tensão superficial

Uma outra característica da água no estado líquido é


a tensão que ela representa em sua superfície. Isso acon-
Quando o empuxo (E) é igual ao peso (P) tece porque as moléculas da água se atraem, manten-
o objeto flutua, porém quando o peso é maior do-se coesas (juntas), como se formassem uma finíssima
que o empuxo o objeto afunda. O submarino membrana da superfície, como na figura a seguir:
quando quer afundar aumenta seu peso enchendo seus
tanques de água do mar.
A água exerce pressão

Você já tentou segurar com o dedo o jato de água que


sai de uma mangueira? O que aconteceu? A água impedi-
da pelo dedo de fluir, exerce pressão e sai com mais força.
Todos os líquidos em geral exercem pressões. Uma
maneira de demonstrar a pressão exercida por uma co-
luna de “líquido” é efetuar orifícios numa garrafa plástica
de 2 litros (destas de refrigerante) e enchê-la de água.
• O princípio de Pascal
A experiência ilustrada abaixo indica que a pressão
exercida por um líquido aumenta com a profundidade,
pois a vazão do primeiro furo é menor que a vazão dos Pascal foi um cientista francês que viveu de 1623
outros dois. Pode-se verificar que quanto maior a pro- a 1662. Entre muitas colaborações para a ciência, for-
fundidade ou altura de líquido, o filete de água atinge mulou o seguinte princípio: “A pressão exercida sobre
uma maior distância. Diz-se que a pressão é maior e de- um líquido é transmitida integralmente para todos os
pende da profundidade do orifício considerado. pontos do líquido”. Observe a figura a seguir:

Quando empurramos fortemente uma rolha para


Pressão e mergulho dentro de uma garrafa que contém líquido, essa pres-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

são é transmitida integralmente ao líquido existente


Quando uma pessoa mergulha pode sentir dor na no recipiente. A pressão da água dentro da garrafa au-
parte interna da orelha. Você sabe por que isso aconte- menta e empurra a outra rolha para fora.
ce? Novamente, a explicação está relacionada à pressão
que a água exerce.
O ciclo da água
Quando mergulhamos, à medida que nos desloca-
mos para o fundo, aumenta a altura da coluna líquida
acima de nós. Quanto maior a altura dessa coluna, maior A água no estado líquido ocupa os oceanos, lagos,
será a pressão exercida pelo líquido sobre nós. Por essa rios, açudes etc. De modo contínuo e lentamente à tem-
razão, nas profundezas dos oceanos a pressão da água peratura ambiente, acontece a evaporação, isto é, a água
é grande e o homem não consegue chegar até lá sem passa do estado líquido para o gasoso.
equipamentos de proteção contra a pressão.

176
Quanto maior for a superfície de exposição da água Ciclo da água
(por exemplo, um oceano ou nas folhas de árvores em
uma floresta), maior será o nível de evaporação. Quando
o vapor de água entra em contato com as camadas mais
frias da atmosfera, a água volta ao estado líquido, isto é,
gotículas de água ou até minúsculos cristais de gelo se
concentram formando nuvens.

A qualidade da água

O vapor de água, quando resfriado, pode também A vida humana, assim como a de todos os seres vivos
formar a neblina (nevoeiro), ou seja, aquela “nuvem” que depende da água. Mas a nossa dependência da água vai
se forma perto do solo. além das necessidades biológicas: precisamos dela para
limpar as nossas casas, lavar as nossas roupas e o nosso
corpo. E mais: para limpar máquinas e equipamentos,
irrigar plantações, dissolver produtos químicos, criar no-
vas substâncias, gerar energia.
É aí que está o perigo: a atividade humana muitas ve-
zes compromete a qualidade da água. Casas e indústrias
podem despejar em rios e mares substâncias que preju-
dicam a nossa saúde. Por isso, escolher bem a água que
bebemos e proteger rios, lagos e mares são cuidados
essenciais à vida no planeta.

Água potável

Ao se formar nas nuvens um acúmulo de água muito A água potável é aquela popularmente chamada água
grande, as gotas tornam-se cada vez maiores, e a água pura. Para ser bebida por nós, a água deve ser incolor, in-
se precipita, isto é, começa a chover. Em regiões muito sípida (sem sabor) e inodora (sem cheiro). Ela deve estar
frias da atmosfera, a água passa do estado gasoso para o livre de materiais tóxicos e microorganismos, como bacté-
estado líquido e, rapidamente, para o sólido, formando a rias, protozoários etc., que são prejudiciais, mas deve con-
neve ou os granizos (pedacinhos de gelo). ter sais minerais em quantidade necessária à nossa saúde.
A água da chuva e da neve derretida se infiltra no A água potável é encontrada em pequena quantidade
solo, formando ou renovando os lençóis freáticos. As no nosso planeta e não está disponível infinitamente. Por ser
águas subterrâneas emergem para a superfície da terra, um recurso limitado, o seu consumo deve ser planejado.
formando as nascentes dos rios. Assim, o nível de água
dos lagos, açudes, rios etc, é mantido. Água destilada
A água do solo é absorvida pelas raízes das plantas.
Por meio da transpiração, as plantas eliminam água no A água potável deve ter certa quantidade de alguns
estado de vapor para o ambiente, principalmente pelas sais minerais dissolvidos, que são importantes para a
folhas. E na cadeia alimentar, as plantas, pelos frutos, nossa saúde. A água sem qualquer outra substância dis-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

raízes, sementes e folhas, transferem água para os seus solvida é chamada de água destilada. Veja como se con-
consumidores. segue água destilada.
Além do que é ingerido pela alimentação, os animais ob- Para retirar sais minerais e outros produtos dissolvi-
têm água bebendo-a diretamente. Devolvem a água para o dos na água, utiliza-se um processo chamado destilação.
ambiente pela transpiração, pela respiração e pela elimina- O produto dessa destilação, a água destilada, é usado
ção de urina e fezes. Essa água evapora e retorna à atmosfe- em baterias de carros e na fabricação de remédios e ou-
ra. No nosso planeta, o ciclo de água é permanente. tros produtos. Não serve para beber, já que não possui
os sais minerais necessários ao nosso organismo.
Veja como funciona o aparelho que produz água des-
tilada, o destilador:

177
O mar pode “morrer”?

Na Ásia, há o famoso mar Morto, que é um exemplo


de que um mar pode “morrer”. O mar “morre” e os lagos
também quando o nível de salinidade, isto é, a concen-
tração de sais da sua água, é tão alto que não permite
que os peixes, a flora e outros seres vivam nele. Esse fe-
nômeno ocorre por vários fatores, entre eles: pouca chu-
va aliada à evaporação intensa (clima quente e seco) e
corte ou diminuição do regime de escoamento de rios.

Observe que a água ferve (1) com ajuda do (2) Bico de


Bunsen (chama que aquece a água), transformando-se
em vapor (3), e depois se condensa (4), voltando ao es-
tado líquido. Os sais minerais não vaporizam, mas ficam
dentro do vidro onde a água foi fervida (chamado balão
de destilação).
Açude no Acre secando.
Água mineral A consequência da falta de tratamento de esgoto

A água do mar é salgada porque tem muito cloreto de O grande número de dejetos dos populosos núcleos
sódio, que é o sal comum usado na cozinha. Justamente residenciais, descarregado em córregos, rios e mares
por ter tanto sal, não é potável. Se bebermos água do mar, provoca a poluição e a contaminação das águas. Febre
o excesso de sal nos fará eliminar mais água na urina do tifoide, hepatite, cólera e muitas verminoses são doen-
que deveríamos, e começamos, então, a ficar desidratados. ças transmitidas por essas águas.
Há rios como o Tietê e o Guaíba – nas quais, às mar-
Já a água doce, dos rios, lagos e fontes, tem menos sal
gens, surgiram a cidade de São Paulo e Porto Alegre –
que a água do mar e pode ser bebida –desde que esteja
que já estão comprometidos. Além desses, há vários rios
sem micróbios e produtos tóxicos ou que tenha sido trata-
expostos à degradação ambiental.
da para eliminar essas impurezas.
A MINERAÇÃO, A EXTRAÇÃO E O TRANSPORTE
DE PETRÓLEO

Atividades econômicas importantes têm causado


inúmeros acidentes ecológicos graves. O petróleo ex-
traído dos mares e os metais ditos pesados usados na
mineração (por exemplo, o mercúrio, no Pantanal), lan-
çados na água por acidente, ou negligência, têm pro-
vocado a poluição das águas com prejuízos ambientais,
muitas vezes irreversíveis.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A chamada água mineral é água que brota de fon-


tes do subsolo. Ela costuma ter alguns sais minerais em
quantidade um pouco maior que a água utilizada nas re-
sidências e, às vezes, outros sais.
A água mineral é, em geral potável e pode ser bebida
na fonte ou engarrafada – desde que a fonte esteja pre-
servada da poluição e da contaminação ambiental e que
o processo de engarrafamento seja feito com higiene. Derramamento de petróleo ocorrido
na Baía de Guanabara, Rio de Janeiro, Jun. 2000

178
A poluição causada pelas indústrias filtro. Por isso, a água recebe produtos contendo o ele-
mento cloro, que mata os micróbios (cloração), e o flúor,
Mesmo havendo leis que proíbam, muitas indústrias um mineral importante para a formação dos dentes.
continuam a lançar resíduos tóxicos em grande quanti- A água é então levada por meio de encanamentos
dade nos rios. Na superfície da água, é comum formar-se subterrâneos para as casas ou os edifícios.
uma pequena espuma ácida, que, dependendo da fonte Mesmo quem recebe água da estação de tratamen-
de poluição, pode ser composta principalmente de chum- to deve filtrá-la para o consumo. Isso porque pode haver
bo e mercúrio. Essa espuma pode causar a mortandade contaminação nas caixas d’água dos edifícios ou das casas
da flora e da fauna desses rios. E esses agentes poluido- ou infiltrações nos canos. As caixas-d’água devem ficar
res contaminam também o organismo de quem consome sempre bem tampadas e ser limpas pelo menos a cada
peixes ou quaisquer outros produtos dessas águas. seis meses. Além disso, em certas épocas, quando o risco
de doenças transmitidas pela água aumenta, é necessário
tomar cuidados adicionais.
Doenças transmitidas pela água

A falta de água potável e de esgoto tratado facilita a trans-


missão de doenças que, calcula-se, provocam cerca de 30 mil
mortes diariamente no mundo. A maioria delas acontece entre
crianças, principalmente as de classes mais pobres, que morrem
desidratadas, vítimas de diarreia causadas por micróbios. No
Brasil, infelizmente mais de 3 milhões de famílias não recebem
água tratada e um número de casas duas vezes e meia maior
que esse não tem esgoto. Isso é muito grave.
Estima-se que o acesso à água limpa e ao esgoto re-
duziria em pelo menos um quinto a mortalidade infantil.
Para evitar doenças transmitidas pela água devemos
tomar os seguintes cuidados:
Acidente no rio dos Sinos onde milhares • Proteger açudes e poços utilizados para o
de peixes morreram pela contaminação do abastecimento;
rio com dejetos químicos lançados pelas empresas, Rio • Tratar a água eliminando micróbios e impurezas no-
Grande do Sul, outubro, 2006. civas à saúde humana;
• Filtrar e ferver a água;
As estações de tratamento da água • Não lavar alimentos que serão consumidos crus com
água não tratada como verduras, frutas e hortaliças.
Muitas casas das grandes cidades recebem água enca-
nada, vinda de rios ou represas. Essa água é submetida a As principais doenças transmitidas pela água são:
tratamentos especiais para eliminar as impurezas e os mi- • Diarreia infecciosa;
cróbios que prejudicam a saúde. • Cólera;
Primeiramente, a água do rio ou da represa é leva- • Leptospirose;
da por meio de canos grossos, chamados adutoras, para • Hepatite
estações de tratamento de água. Depois de purificada, a • Esquistossomose
água é levada para grandes reservatórios e daí é distri-
buída para as casas. Água, mosquitos e doenças
Na estação de tratamento, a água passa por tanques
de cimento e recebe produtos como o sulfato de alumínio Muitos mosquitos põem ovos na água parada. Dos ovos
e o hidróxido de cálcio (cal hidratada). Essas substâncias fa- saem larvas, que depois se tornam mosquitos adultos.
zem as partículas finas de areia e de argila presentes na água Uma forma de combater as doenças transmitidas por
se juntarem, formando partículas maiores, os flocos. Esse mosquitos é justamente evitar o acúmulo de água parada
processo é chamado floculação. Como essas partículas são em vasos de plantas, latas vazias, pneus velhos, garrafas etc.
maiores e mais pesadas, elas vão se depositando aos poucos Caixas-d’água, tanques e outros reservatórios devem ficar
no fundo de outro tanque, o tanque de decantação. Desse sempre tampados.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

modo, algumas impurezas sólidas da água ficam retidas. Veja a seguir algumas doenças transmitidas por mosquitos.
Após algumas horas no tanque de decantação, a água - Dengue
que fica por cima das impurezas, e que está mais limpa, - Febre amarela
passa por um filtro formado por várias camadas de peque- - Malária
nas pedras (cascalho) e areias. À medida que a água vai
passando pelo filtro, as partículas de areia ou de argila que
não se depositaram vão ficando presas nos espaços entre
os grãos de areia. Parte dos micróbios também fica presa
nos filtros. É a etapa conhecida como filtração.
Mas nem todos os micróbios que podem causar doen-
ças se depositam no fundo do tanque ou são retidos pelo

179
NOÇÕES BÁSICAS DE SISTEMAS DE CONTROLE MONITORAMENTO AMBIENTAL
AMBIENTAL: CONTROLE DA POLUIÇÃO AMBIEN-
TAL E MONITORAMENTO DO SOLO, ÁGUA E AR O monitoramento ambiental é uma ferramenta de
gerenciamento ambiental que consiste na avaliação qua-
O processo de desequilíbrio ecológico começou com litativa e quantitativa, contínua e/ou periódica, da pre-
a urbanização. A primeira notícia sobre o surgimento sença de poluentes no meio ambiente.
da cidade data de mais de 3500 anos a.C. Na sociedade É uma ferramenta para a administração dos recursos
moderna, esse processo se desencadeou no séc. XVIII, naturais que oferece informações sobre conservação,
em consequência da Revolução Industrial, beneficiando preservação, degradação e recuperação ambiental da
o progresso dos transportes. Desta maneira, a cidade área em estudo. Ela fornece conhecimento e informações
tem assumido um crescente papel, já que a população úteis na avaliação, por exemplo, da presença de contami-
mundial é majoritariamente urbana, com tendência a nantes, e dos sistemas ambientais.
aumentar.
O processo de urbanização sofre vários problemas
FIQUE ATENTO!
de ordem ambiental e social; impactos significativos no
ambiente ocorrem em razão dos moldes de produção e Não se deve esquecer que o monitoramen-
consumo nos espaços urbanizados. Poluições, engarra- to ambiental nada mais é que uma série
famentos, violência e desemprego são aspectos comuns de avaliações ambientais, realizadas siste-
nas cidades. maticamente e de forma repetitiva, tendo
A degradação ambiental pode ocorrer em: como principal objetivo a introdução de
medidas de controle, recuperação, preser-
a) Ecossistemas vegetais – como a destruição das vação e conservação do ambiente em es-
florestas. tudo. É realizada ao longo de vários anos e
b) Ecossistemas marinhos – como mangues, pânta- tem caráter preventivo e prospectivo.
nos e recifes.
c) Ecossistemas terrestres – como a extinção de ani-
PRINCIPAIS MÉTODOS DE MONITORAMENTO
mais e plantas.
AMBIENTAL
Os principais métodos que avaliam os riscos de con-
Controle ambiental são agrupamentos de regras des-
taminantes para os organismos são mostrados a seguir:
tinados à fiscalização dos impactos ambientais negativos
de intervenção física (antrópica), como emissões atmos-
féricas, resíduos sólidos gerados pela atividade instala- MÉTODO DE OBJETIVO
da e efluentes líquidos, de modo a corrigir ou reduzir os MONITORAMENTO
seus impactos sobre a qualidade ambiental. Químico Avaliar a exposição, aferindo os
O alicerce do controle ambiental se dá através de níveis de contaminantes bem
três princípios básicos: o licenciamento, a fiscalização e conhecidos nos compartimentos
o monitoramento. ambientais.
a) O licenciamento é o instrumento de controle pre- Bioacumulação Avaliar a exposição, aferindo os
ventivo, através do qual pode se prever as possíveis níveis de contaminantes na biota
intervenções no meio ambiente. O licenciamento ou determinando a dose crítica
usa de diversas ferramentas que possibilitam esta no local de interesse.
prevenção, entre elas o EIA/RIMA, o qual subsidia o Efeito biológico Avaliar a exposição e o efeito
órgão de controle a decidir sobre a melhor alterna- determinando as primeiras alte-
tiva a ser definida num empreendimento de modo rações adversas que são parcial
que minimize os impactos ambientais. ou totalmente reversíveis.
b) A fiscalização é um instrumento de correção, que Saúde Avaliar o efeito através do exa-
tenta reparar um dano ou um potencial de risco me da ocorrência de doenças
de degradação ambiental. Ele tenta corrigir os ru- irreversíveis ou danos no tecido
mos de um empreendimento, de modo que o im- dos organismos.
pacto causado possa ser reparado ou pelo menos
Ecossistemas Avaliar a integridade de um
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

minimizado.
c) O monitoramento é o instrumento que estabele- ecossistema através de um in-
ce o elo entre o licenciamento e a fiscalização. É ventário de composição, densi-
a partir dele que o órgão de controle estabelece dade e diversidade das espécies,
as metas a serem atingidas pelo empreendedor do entre outros.
ponto de vista de manutenção da qualidade am- Biológico ou Avaliar mudanças no meio am-
biental, ratificando as exigências do licenciamento biomonitoramento biente ou na qualidade da água
para subsidiar uma boa ação fiscalizadora. através do uso de organismos
vivos.

180
REALIZAÇÃO OU IMPLANTAÇÃO • Usar a proteção auricular adequada quando estiver-
A sua implantação se ocorre através de: mos expostos a intensos ruídos.
• Adequar o volume do som ao ambiente.
a) Seleção prévia de indicadores. Estes indicado-
res devem descrever, de forma compreensível e COMO O SOLO SE FORMOU
significativa, os seguintes aspectos:
• O estado e as tendências dos recursos ambientais. A camada de rochas na superfície da Terra está, há mi-
• A situação socioeconômica da área em estudo. lhões de anos, exposta às mudanças de temperatura e à ação
• O cumprimento e a supervisão das leis pelos órgãos da chuva, do vento, da água dos rios e das ondas do mar.
responsáveis Tudo isso vai, aos poucos, fragmentando as rochas e pro-
b) Planejamento – recursos humanos e financeiros. vocando transformações químicas. Foi assim, pela ação do
• A metodologia e os meios a utilizar, tanto análise intemperismo, que, lentamente, o solo se formou. E é dessa
mesma maneira que está continuamente se remodelando.
como coletas.
Os seres vivos também contribuem para esse proces-
• O local da amostragem ou de coleta e sua frequência.
so de transformação das rochas em solo. Acompanhe o
• A análise das informações – comparações.
esquema a seguir.
• A forma de divulgação dos resultados – relatórios

CONTROLE DAS EMISSÕES POLUIDORAS


Esse controle deve ser feito tanto através de medidas
gerais (planejamento urbano) quanto por meio de medi-
das específicas, dentre as quais citamos: análise de pro-
cessos industriais usando fontes alternativas de energia,
manutenção dos equipamentos industriais e instalação
de equipamentos para retenção de poluentes como co-
letores, filtros e precipitadores.

CONTROLE DOS NÍVEIS DE POLUIÇÃO


Água para consumo humano – através da purificação
da água se tem a remoção indesejável de contaminantes
químicos e biológicos da água bruta. Os métodos utiliza-
dos para este fim incluem processo físico, como a filtra-
ção e sedimentação, processos biológicos, tais como fil-
tros de areia ou lodos ativados, processo químico, como
a floculação e cloração e ainda a utilização de radiação
eletromagnética como a luz ultravioleta.
Águas residuais – Estações de Tratamento de Águas A chuva e o vento desintegram as rochas. Pedaços
Residuais (ETAR’s) são responsáveis pelo tratamento de de liquens ou sementes são levados pelo vento para
efluentes residenciais, onde se faz a eliminação de mi- uma região sem vida. A instalação e a reprodução desses
crorganismos destas águas ou de origem doméstica, ou organismos vão, aos poucos, modificando o local. Os li-
proveniente da escorrência superficial (como açudes, re- quens, por exemplo, produzem ácidos que ajudam a de-
presas), predominantemente água da chuva. sagregar as rochas. As raízes de plantas que crescem nas
fendas das rochas irão contribuir para isso.
A medida que morrem, esses organismos enriquecem
COMO PRESERVAR A QUALIDADE DO SOLO o solo em formação com matéria orgânica e, quando ela
Para defender e preservar a qualidade do solo se decompõe, o solo se torna mais rico em sais mine-
deve-se: rais. Outras plantas, que necessitam de mais nutrientes
• Tratar lixos e resíduos domésticos e industriais. para crescer, podem então se instalar no local. Começa a
• Colocar o lixo nos recipientes próprios. ocorrer o que se chama de sucessão ecológica: uma série
• Proteger as florestas. de organismos se instala até que a vegetação típica do
• Utilizar materiais reciclados e preferir produtos solo e do clima da região esteja formada.
ecológicos.
O que existe no solo?
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

• Colaborar na reciclagem de vidro, papel, cartão, alu-


mínio e plásticos, fazendo a separação dos lixos.
Há muitos tipos de solo. A maioria deles é composta
de areia e argila, vindas da fragmentação das rochas, e de
MEDIDAS PREVENTIVAS DE POLUIÇÃO SONORA restos de plantas e animais mortos (folhas, galhos, raízes,
As principais medidas para prevenir os efeitos da po- etc.). Esses restos estão sempre sendo decompostos por
luição sonora podem ser: bactérias e fungos, que produzem uma matéria orgânica
escura, chamadas húmus. À medida que a decomposição
continua, o húmus vai sendo transformado em sais minerais
• Reduzir o ruído na fonte emissora.
e gás carbônico. Ao mesmo tempo, porém, mais animais e
• Evitar exposição ao som por um longo período.
vegetais se depositam no solo e mais húmus é formado.
• Promover a conscientização populacional.

181
A decomposição transforma as substâncias orgânicas • Solos arenosos: são aqueles que têm uma quantida-
do húmus em substâncias minerais, que serão aprovei- de maior de areia do que a média (contêm cerca de 70%
tadas pelas plantas. Desse modo, a matéria é reciclada: de areia). Eles secam logo porque são muito porosos e
a matéria que formava o corpo dos seres vivos acabará permeáveis: apresentam grandes espaços (poros) entre
fazendo novamente parte deles depois se decomposta. os grãos de areia. A água passa, então, com facilidade
Vemos, então, que o solo é formado por uma parte entre os grãos de areia e chega logo às camadas mais
mineral, que se originou da desagregação das rochas, e profundas. Os sais minerais, que servem de nutrientes
por uma parte orgânica, formada pelos restos dos orga- para as plantas, seguem junto com a água. Por isso, os
nismos mortos e pela matéria orgânica do corpo dos se- solos arenosos são geralmente pobres em nutrientes uti-
res vivos que estão sofrendo decomposição. Vivem ainda lizados pelas plantas.
no solo diversos organismos, inclusive as bactérias e os
fungos, responsáveis pela decomposição da matéria or-
gânica dos seres vivos.
Nos espaços entre os fragmentos de rochas, há ainda
água e ar – ambos importantes para o desenvolvimento
das plantas.

• Solos argilosos: contêm mais de 30% de argila. A ar-


gila é formada por grãos menores que os da areia.
Além disso, esses grãos estão bem ligados entre si,
retendo água e sais minerais em quantidade ne-
cessária para a fertilidade do solo e o crescimento
das plantas. Mas se o solo tiver muita argila, pode
ficar encharcado, cheio de poças após a chuva. A
Por baixo da camada superficial do solo encontramos
água em excesso nos poros do solo compromete
fragmentos de rochas. Quanto maior a profundidade em
a circulação de ar, e o desenvolvimento das plantas
relação ao solo, maiores são também os fragmentos de
fica prejudicado. Quando está seco e compacto, sua
rocha.
porosidade diminui ainda mais, tornando-o duro e
O ser humano retira recursos minerais das camadas
ainda menos arejado.
abaixo do solo. Parte da água da chuva, por exemplo, se
infiltra no solo, passando entre os espaços dos grãos de
argila e de areia. Outra parte vai se infiltrando também
nas rochas sedimentares e em fraturas de rochas, até
encontrar camadas de rochas impermeáveis. Formam-se
assim os chamados lençóis de água ou lençóis freáticos,
que abastecem os poços de água.
Finalmente, na camada mais profunda da crosta ter-
restre, encontramos a rocha que deu origem ao solo – a
rocha matriz.

Tipos de solo

O tipo de solo encontrado em um lugar vai depender


de vários fatores: o tipo de rocha matriz que o originou,
o clima, a quantidade de matéria orgânica, a vegetação
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

que o recobre e o tempo que se levou para se formar.


Em climas secos e áridos, a intensa evaporação faz a
água e os sais minerais subirem. Com a evaporação da Solo argiloso
água, uma camada de sais pode depositar-se na superfí-
cie do solo, impedindo que uma vegetação mais rica se
desenvolva. Já em climas úmidos, com muitas chuvas, a
água pode se infiltrar no solo e arrastar os sais para re-
giões mais profundas.
Alguns tipos de solo secam logo depois da chuva,
outros demoram para secar. Por que isso acontece? E
será que isso influencia na fertilidade do solo?

182
No Brasil, esse tipo de solo aparece nas porções oci-
dentais dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catari-
na, Paraná, São Paulo e sudeste do Mato Grosso do Sul,
destacando-se, sobretudo, nestes três últimos estados
por sua qualidade.
Historicamente falando, esse solo teve muita impor-
tância, já que, no Brasil, durante o fim do século XIX e
o início do século XX, foram plantadas nestes domínios
grandes lavouras de café, fazendo com que surgissem
ferrovias, propiciando o crescimento de cidades, como
São Paulo, Itu, Ribeirão Preto e Campinas. Atualmente,
além do café, são plantadas outras culturas.
O nome terra roxa é dado a esse tipo de solo, em
razão dos imigrantes italianos que trabalhavam nas fa-
zendas de café, referindo-se ao solo com a denominação
Terra rossa, já que rosso em italiano significa vermelho.
E, devido à similaridade entre essa palavra, e a palavra
“roxa”, o nome “Terra roxa” acabou se consolidando.

Solo argiloso compactado pela falta de água

• Terra preta: também chamada de terra vegetal, é


rica em húmus. Esse solo, chamado solo humífe-
ro, contém cerca de 10% de húmus (composto de
materiais orgânicos, ou seja, restos de animais e
plantas mortas) e é bastante fértil. O húmus ajuda
a reter água no solo, torna-se poroso e com boa
aeração e, por meio do processo de decomposição
dos organismos, produz os sais minerais necessá-
rios às plantas.

Os solos mais adequados para a agricultura possuem


uma certa proporção de areia, argila e sais minerais uti-
lizados pelas plantas, além do húmus. Essa composição
facilita a penetração da água e do oxigênio utilizado pe- O solo de terra roxa também existe na Argentina, aonde
los microrganismos. São solos que retêm água sem ficar é conhecida como “ tierra colorada”, bastante presente
muito encharcados e que não são muito ácidos. nas províncias de Misiones e Corrientes.

• O solo é um grande filtro

Para que se obtenham plantas saudáveis e uma horta


produtiva é necessário que o solo contenha água. A ca-
pacidade de retenção de água depende do tipo de solo.
A água, por ser um líquido solvente, dissolve os sais exis-
tentes no solo e, assim, as plantas podem absorvê-los.
Nem toda a água da chuva flui diretamente para os
córregos, riachos e rios. Quando chove, parte da água
infiltra-se e vai penetrando na terra até encontrar uma
camada impermeável, encharcando o solo. Por exemplo,
1 metro cúbico (1m³) de areia encharcada pode conter
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

até 400 litros de água.


• Terra roxa: é um tipo de solo bastante fértil, carac- O ar também ocupa os poros existentes entre os
terizado por ser o resultado de milhões de anos grãos de terra. As raízes das plantas e os animais que
de decomposição de rochas de arenito-basáltico vivem no solo precisam de ar para respirar.
originadas do maior derrame vulcânico que este
planeta já presenciou, causado pela separação da
Gondwana – América do Sul e África – datada do
período Mesozoico. É caracterizado pela sua apa-
rência vermelho-roxeada inconfundível, devido a
presença de minerais, especialmente Ferro.

183
Esquema mostrando camadas do solo e subsolo, em corte

Quando o solo se encharca, a água ocupa o lugar antes ocupado pelo ar, dificultando o desempenho das raízes e
a vida dos animais no solo.
Se o solo estiver muito compactado, não filtrará a água com facilidade. Acontecerão, por exemplo, as grandes
enxurradas após uma forte chuva. A urbanização, com a pavimentação de ruas e estradas, a canalização de rios e o
desmatamento de grandes áreas dificultam o escoamento da água das chuvas.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

184
SERES VIVOS. SUAS RELAÇÕES E INTERAÇÕES AMBIENTAIS, CADEIA E TEIA
ALIMENTAR.

SERES VIVOS

Espera-se que a candidata e o candidato tenham uma visão geral das principais características e da organização dos
reinos da natureza, identificando as diversas funções vitais que viabilizam sua existência.

CONCEITUAÇÃO

Os seres vivos podem ser diferenciados da matéria bruta por apresentarem as seguintes propriedades: ciclo de
vida (nascem, crescem, se reproduzem e morrem); metabolismo próprio (transformações químicas autoreguladas
no interior do seu organismo); nutrição (obtém sua energia se alimentando de outros seres vivos – hetrótrofos – ou
produzindo seu próprio alimento a partir da matéria disponível no ambiente – autótrofos). Distinguem-se também
por serem organismos celulares, tendo a célula como sua unidade fundamental. Assim, existem seres unicelulares
(formados por uma única célula) e pluricelulares (formados por várias células).
Dessa forma, os vírus, por serem acelulares, não podem ser considerados seres vivos, e, por não possuirem meta-
bolismo próprio, são parasitas intracelulares obrigatórios.

Variedade dos seres vivos – sistemas de classificação e níveis de organização.


Os níveis de organização biológica correspondem a uma hierarquia na qual todos os seres vivos e sua composição
estão relacionados, desde os átomos até o universo.
Começando do nível microscópico, a matéria viva é formada de átomos, que se reúnem formando as moléculas
das diversas substâncias orgânicas. As moléculas orgânicas estão organizadas de modo a formar diversos tipos de or-
ganelas celulares que se integram na formação das células. Nos organismos pluricelulares, as células se especializam
e se juntam formando os tecidos. Os tecidos se organizam para formar os órgãos, unidades anatômicas e funcionais
essenciais à manutenção da vida. Os órgãos funcionam integrados uns aos outros para o desempenho de determina-
das funções do corpo, constituindo um sistema. Em conjunto, os sistemas constituem um organismo. O conjunto de
organismos individuais de uma mesma espécie que habitam uma determinada região geográfica ao mesmo tempo
constitui uma população biológica. As populações diferentes que coexistem em determinado lugar, interagindo direta
ou indiretamente, formam uma comunidade biológica. O conjunto formado pelas comunidades e pelo ambiente em
que vivem recebe o nome de ecossistema. Ao conjunto que reúne todos os ecossistemas da Terra dá-se o nome de
biosfera – a camada do planeta que ocorre todas as vidas.

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Níveis de organização biológica.


Disponível em: http://www.netxplica.com/figuras_netxplica/exanac/biologia/organizacao.hierarquica.areal.editores.png

185
A classificação biológica ou taxonomia é um sistema que organiza os seres vivos em categorias, agrupando-os de
acordo com suas semelhanças, bem como por suas relações de parentesco evolutivo. Seu precursor foi o naturalista
sueco Carl von Linnée (1707-1778), mais conhecido como Lineu, que utilizou como critério de classificação as caracte-
rísticas estruturais e anatômicas. Lineu desenvolveu também um método para nomear as espécies – a nomenclatura
binomial, publicada no seu livro Systema Naturae em 1735 eque é aceita até hoje, por facilitar a identificação dos
organismos em qualquer parte do mundo.
A nomenclatura binomial é composta por dois nomes, sendo o primeiro escrito em letra maiúscula, definindo o
gênero; e o segundo em letra minúscula, definindo a espécie. Os nomes científicos devem ser escritos em latim e des-
tacados em itálico ou grifados.
Assim, por exemplo, o nome científico do cão é Canis familiaris. O nome Canis também pode ser usado sozinho,
indicando somente o gênero, sendo portanto comum aos animais que tenham relação de parentesco, nesse caso po-
dendo ser o cão ou o lobo (Canis lupus).
A categoria taxonômica básica é, portanto, a espécie, que se define como os seres semelhantes entre si capazes de
se reproduzir naturalmente e gerar descendentes férteis.
Organismos da mesma espécie são reunidos na outra categoria que compõe a nomenclatura binominal, o gênero.
Todos que pertencem ao mesmo gênero são agrupados em famílias, que são agrupadas em ordens, que por sua vez
se reúnem em classes, reunidas em filos e por fim, em reinos. Dessa forma, temos a classificação taxonômica em ordem
decrescente:

Reino ⇒ Filo ⇒ Classe ⇒ Ordem ⇒ Família ⇒ Gênero ⇒ Espécie

Até recentemente, era adotado pela maioria da comunidade científica o sistema de classificação proposto pelo
microbiólogo Carl Woese (1977), que divide, acima do nível taxonômico de reino, os seres vivos em três domínios:
Archaea, Bacteria e Eukarya. Estes são diferenciados quanto à composição do RNA ribossômico, estrutura da parede
celular e metabolismo.

Classificação dos seres vivos.


Disponível em: https://blog.maxieduca.com.br/wp-content/uploads/2018/09/Classificacao-dos-seres-vivos-1.jpg

Caracterização dos principais grupos de organismos.


CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Em 2015, o biólogo inglês Cavalier-Smith revisou a classificação taxonômica, propondo o sistema aceito atualmente
com 7 reinos: Archaea, Bacteria, Protozoa, Chromista, Fungi, Plantae e Animalia.
Reinos Archaea e Bacteria – compreendem todos os organismos procariontes existentes, ou seja, todos aqueles
que não apresentam núcleo delimitado por membrana nuclear. Nesse grupo, todos os representantes também são
unicelulares. As Archaea diferem das bactérias principalmente em características moleculares, adaptações relacionadas
à sobrevivência em ambientes extremos.
Protozoa – anteriormente conhecidos como Protoctistas. São os protozoários – eucariontes, heterótrofos e
unicelulares; incluem ainda algumas algas.
Chromista – um dos reinos mais recentemente determinados, inclui os organismos que fizeram endossimbiose
duas vezes, tendo uma membrana extra ao redor do cloroplasto inicial. Dentro desse grupo estão as diatomáceas, as
algas marrons e douradas.

186
Fungi – organismos eucariontes e heterótrofos, po- Observe a ilustração a seguir.
dendo ser unicelulares ou pluricelurares. Diferem dos
animais por não apresentarem tecidos verdadeiros e a
nutrição ser por absorção; e das algas e plantas, por não
serem fotossintetizantes.
Plantae – organismos eucariontes, autótrofos e
pluricelurares.
Animalia – organismos eucariontes, heterótrofos e
pluricelurares.

Reinos dos seres vivos.


Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipe-
dia/commons/thumb/b/ba/Tree_of_Living_Organisms_2.
png/220px-Tree_of_Living_Organisms_2.png

A cadeia alimentar
A cadeia alimentar começa com a energia luminosa
Para repor as energias gastas durante o dia, os seres captada por algas, plantas e bactérias que fazem fotos-
vivos heterotróficos se alimentam. Pessoas comem ani- síntese. Como você viu, elas utilizam a energia captada
mais e plantas. Animais comem outros animais e plantas. para a produção de substâncias orgânicas, armazenando
As plantas produzem seu próprio “alimento” por meio da a energia luminosa como energia química.
fotossíntese e dos nutrientes presentes no solo e no ar. Por essa razão, esses seres são chamados de produ-
A esse conjunto de relações, no qual seres vivos se tores primários, ou simplesmente produtores. São pro-
alimentam de outros, dá-se o nome de cadeia alimentar, dutores primários as plantas e determinadas bactérias
que representa a transferência de matéria e energia entre (bactérias fotossintetizantes) que usam a energia do Sol
uma série de organismos. e, por meio do processo de fotossíntese, a transformam
em energia química para sua própria alimentação.
Ao comerem seres fotossintetizantes, os consumi-
dores primários aproveitam a energia contida nas molé-
culas das substâncias orgânicas ingeridas, usando-a em
seus processos vitais como fonte de energia e na forma-
ção de suas próprias substâncias orgânicas.
São consumidores primários os seres vivos que se ali-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

mentam de plantas, algas e bactérias fotossintetizantes.


Os consumidores secundários, por sua vez, ao comerem
consumidores primários, utilizam as suas substâncias
como fonte de energia, e assim por diante.

Portanto, a transferência de energia na cadeia ali-


mentar é unidirecional: ela tem início com a captação da
energia luminosa pelos produtores e termina com a ação
dos decompositores.

187
É fácil imaginar que existem vários seres vivos que utilizam os mesmos alimentos como fonte de energia, o que faz
que suas cadeias alimentares se misturem, constituindo uma teia alimentar.
Chama-se de teia alimentar um conjunto de cadeias alimentares que se intercalam com outras e têm, pelo menos,
um ser vivo em comum, como você pode ver na figura a seguir.

Teias alimentares

É a reunião das diversas cadeias alimentares existentes nos ecossistemas; a posição de alguns consumidores pode
variar de acordo com a cadeia alimentar da qual participam – é o caso dos organismos onívoros, que podem se alimen-
tar tanto de plantas quanto de animais.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Teia alimentar com consumidores onívoros ocupando diferentes níveis tróficos.


Disponível em: https://tse3.mm.bing.net/th?id=OIP.iP1ZhJaP05PVi9M0cvwGeAHaHX&pid=15.1

Ciclos biogeoquímicos
São a transferência contínua de elementos químicos que ocorre entre os seres vivos e o meio ambiente. Observe
abaixo os principais.

188
Ciclo da água: Ciclo do nitrogênio:

Fenômenos físicos e processos vitais do ciclo da água.


Disponível em: http://www.daev.org.br/educacao/ciclo-
daagua.asp

Ciclo do carbono:

Fenômenos atmosféricos e processos vitais do ciclo


do nitrogênio.

Disponível em: https://escolakids.uol.com.br/upload/


conteudo_legenda/c622d68255c0a55c84e768aea-
6b794b8.jpg

Ciclo do fósforo:

Fenômenos atmosféricos e processos vitais do ciclo


do carbono.
Disponível em: https://image.slidesharecdn.com/
ciclos-bio-geo-qui-1232218901783376-2/95/ciclos-bio-
-geo-qui-4-728.jpg?cb=1232197598

Fenômenos físicos e processos vitais do ciclo do


fósforo.
Disponível em: https://www.sobiologia.com.br/conteu-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

dos/figuras/bio_ecologia/ciclo_fosforo.jpg

Ciclo do oxigênio:
Sucessão ecológica
Fenômenos físicos e processos vitais do ciclo do
Desenvolvimento de uma comunidade, compreen-
oxigênio.
dendo a sua origem, crescimento, até o alcance de um es-
Disponível em: https://image.slidesharecdn.com/
tado de equilíbrio dinâmico com o meio ambiente. Tal di-
ciclodoox-160829012650/95/ciclo-do-ox-4-638.
namismo é uma característica essencial das comunidades.
jpg?cb=1472434054

189
Estágios da sucessão ecológica diminuir gradativamente, chegando a um ponto de equi-
líbrio, no qual a sucessão ecológica atinge seu desenvol-
A sucessão não surge repentinamente, de forma vimento máximo compatível com as condições físicas do
abrupta, mais sim em um aumento crescente de espé- local (solo, clima, umidade). Essa comunidade é a etapa
cies da comunidade, até atingir uma situação que não final do processo de sucessão, a comunidade clímax.
mais se modifica com o ambiente, mantendo-se estável Cada etapa intermediária entre a comunidade pioneira e
– quando então é denominada comunidade clímax. a clímax é chamada de série.

Tipos de sucessão ecológica Características de uma sucessão ecológica


1) Sucessões ecológicas primárias: instalações
dos seres vivos em um ambiente que nunca foi Em todas as sucessões, pode-se observar que:
habitado. - aumenta a biomassa e a diversidade de espécies;
2) Sucessões ecológicas secundárias: surgem em - nos estágios iniciais, a atividade autotrófica supera
um meio que já foi povoado, mas em que os seres a heterotrófica. Daí a produção bruta (P) ser maior
vivos foram eliminados por modificações climáti- que a respiração (R) e a relação entre P e R ser
cas (glaciações, incêndios), geológicas (erosão) ou maior do que 1;
pela intervenção do homem. Uma sucessão secun- - nos estágios de clímax há equilíbrio e a relação P/R
dária leva muitas vezes à formação de um disclí- = 1.
max, diferente do clímax que existia anteriormente.
O ecótono
Sucessão primária
Geralmente a passagem de um ecossistema para ou-
Uma sucessão pode iniciar-se de diversas maneiras: tro nunca ocorre de forma abrupta; costuma haver uma
numa rocha nua, numa lagoa, num terreno formando por zona de transição, designada ecótono. Em tal região o
sedimentação etc. Exemplificaremos através das suces- número de espécies é grande, existindo, além das es-
sões que ocorrem nas rochas. pécies próprias, outras provenientes das comunidades
limítrofes.
Sucessão numa rocha nua
Pirâmides ecológicas
O primeiro passo é a migração de espécies vegetais
de outras áreas para a região onde irá iniciar-se a suces- Pirâmides ecológicas representam, graficamente, a
são. As espécies chegam a essa região através dos ele- estrutura trófica de um ecossistema. Para tal, cada retân-
mentos de reprodução (esporos ou sementes). gulo representa, de forma proporcional, o parâmetro a
As condições desfavoráveis – excesso ou falta de ilu- ser analisado.
minação, solo muito úmido ou seco, temperatura eleva- As pirâmides ecológicas podem ser de três tipos
da do solo – só permitem o desenvolvimento de algumas principais:
espécies. 1) Pirâmides de número
Essas espécies que se desenvolvem inicialmente no 2) Pirâmides de biomassa
ambiente inóspito são chamadas de pioneiras. São es- 3) Pirâmides de energia.
pécies de grande amplitude, isto é, não são muito exi-
gentes, não tolerando apenas as grandes densidades. Pirâmides de número
Os organismos pioneiros são representados pelos lí-
quens (associação entre fungos e algas) – o tipo mais Quando falamos em pirâmides de números, esta-
simples de produtores. Através de ácidos orgânicos mos nos referindo ao número de indivíduos envolvidos
produzidos pelos líquens, a superfície da rocha vai sen- em uma cadeia alimentar. Nessa representação gráfica,
do decomposta. A morte destes organismos, associada à são indicados quantos indivíduos existem em cada nível
decomposição da rocha, forma um substrato, deixando- trófico.
-o úmido e rico em sais minerais. Suponhamos que sejam necessárias cinco mil plan-
A partir de então as condições, já não tão desfavo- tas para alimentar 500 insetos. Esses insetos servirão de
ráveis, permitem o aparecimento de plantas de pequeno alimento para 25 pássaros, que, por sua vez, serão co-
porte, como musgos, que necessitam de pequena quan- midos por uma única cobra. Nesse exemplo, você pode
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tidade de nutrientes para se desenvolverem e atingirem perceber que a base apresenta um número maior de in-
o estágio de reprodução. Novas e constantes modifica- divíduos, quando comparado aos outros níveis tróficos.
ções se sucedem permitindo o aparecimento de plantas Quando isso acontece, dizemos que a pirâmide é direta.
de maior porte como samambaias, bromélias, gramíneas Algumas vezes, a base não se apresenta larga, como
e arbustos. Também começam a aparecer pequenos ani- nos casos em que um único produtor serve de alimento
mais como insetos e moluscos (consumidores primá- para uma grande quantidade de consumidores primários.
rios). Estes, por sua vez, permitem o aparecimento de Ela ocorre normalmente quando há poucos produtores
espécies maiores, de consumidores secundários, terciá- ou o produtor apresenta grande porte – uma árvore, por
rios e quaternários. exemplo. Nesses casos, temos uma pirâmide invertida.
Dessa forma, etapa após etapa a comunidade pionei-
ra evolui, até que a velocidade do processo começa a

190
Pirâmides de biomassa As operárias são encarregadas de obter o alimento (pólen
ou néctar) e produzir a cera e o mel; a cera é usada para
Quando nos referimos a uma pirâmide de biomassa, construir as celas hexagonais, onde são postos os ovos; o
estamos falando da quantidade de matéria orgânica dis- mel é fabricado por transformação do néctar. A única ati-
ponível em cada nível trófico. A biomassa é expressa em vidade dos zangões é a fecundação da rainha; após o voo
massa do organismo por unidade de área, por exemplo, nupcial, são expulsos da colmeia.
kg/m2 ou g/m2.
A pirâmide de biomassa só se apresenta invertida nos 1.2 Relações harmônicas interespecíficas
ecossistemas aquáticos, onde os produtores possuem Ocorrem entre indivíduos de espécies diferentes. São
uma vida muito curta, são pequenos e multiplicam-se ra- o mutualismo, a protocooperação e o comensalismo.
pidamente, acumulando, assim, pouca matéria.
1.2.1 Mutualismo
Pirâmides de energia Relação obrigatória, sendo necessária à sobrevi-
vência das espécies envolvidas, que não podem viver
A pirâmide de energia representa a quantidade de isoladamente.
energia distribuída em cada nível trófico. Esse tipo, dife- Como exemplo, há os líquens, constituídos por algas
rentemente dos outros apresentados, não pode ser re- clorofiladas e fungos que vivem em estreita associação.
presentado de forma invertida. Ele é sempre direto, pois As algas, por meio da fotossíntese, fornecem alimento
representa a produtividade energética em cada ecossis- ao fungo. Por sua vez, o fungo consegue reter umidade e
tema. nutrientes que a alga utiliza, além de lhe conferir prote-
Os produtores sempre representam o nível energé- ção. O mutualismo entre a alga e o fungo permite que os
tico mais elevado, sendo que os outros seres da cadeia líquens sobrevivam em ambientes em que nem a alga e
ficam dependentes dessa energia. Conclui-se, portanto, nem o fungo conseguiriam sobreviver sozinhos.
que parte da energia dos produtores será transmitida
para os herbívoros e apenas parte da energia destes pas- 1.2.2 Protocoperação
sará para os carnívoros. Sendo assim, cadeias alimentares Relação facultativa, podendo cada espécie viver
menores possuem um maior aproveitamento de energia. isoladamente.
Representamos a quantidade de energia disponível em Como exemplo, o pássaro-palito se alimenta dos res-
cada nível trófico por Kcal/m2.ano. tos alimentares e de vermes existentes na boca do croco-
dilo. A vantagem é mútua, porque, em troca do alimento,
Relações entre os seres vivos o pássaro livra o crocodilo dos parasitas.

Nos ecossistemas, os fatores bióticos são constituí- 1.2.3 Comensalismo


dos pelas interações que se manifestam entre os seres vi- Nessa relação, a primeira espécie, chamada de co-
vos que habitam um determinado meio. Essas interações mensal, é a única beneficiada na relação, já a segunda
são classificadas da seguinte maneira: espécie, chamada de hospedeira, não recebe vantagem,
mas também não é prejudicada.
1. Relações harmônicas Como exemplo, a rêmora se fixa no tubarão por meio
Nas relações harmônicas não existe desvantagem de sua ventosa, e ali se alimenta dos restos alimentares
para nenhuma das espécies consideradas e há benefício do tubarão, além de economizar energia no deslocamen-
pelo menos para uma delas. Tais relações podem ser di- to; para o tubarão, este processo da rêmora não lhe é
vididas em intra-específicas e interespecíficas. vantajoso, nem prejudicial.

1.1 Relações harmônicas intraespecíficas 2. Relações desarmônicas


Ocorrem entre organismos da mesma espécie. São as Nas relações desarmônicas há prejuízo para uma das
colônias e as sociedades. espécies consideradas. Tais relações também podem ser
divididas em intra-específicas e interespecíficas.
1.1.1 Colônias
São organismos da mesma espécie que se mantêm 2.1 Relações desarmônicas intra-específicas
anatomaticamente unidos entre si. Ocorrem entre organismos da mesma espécie. São o
canibalismo e a competição.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

1.1.2 Sociedades
São associações de indivíduos das mesma espécie que 2.1.1 Canibalismo
não estão unidos anatomicamente e formam uma orga- Relação em que um animal se alimenta de outro da
nização social que se expressa através do cooperativismo. mesma espécie. Ex: viúva-negra fêmea que, após o ato
Sociedades altamente desenvolvidas são encontradas reprodutivo, arranca e devora a cabeça do macho. Fê-
entre os chamados insetos sociais, representados por meas de louva-a-deus também devoram seus machos.
cupins, vespas, formigas e abelhas.
Na sociedades das abelhas, por exemplo, distinguem- 2.1.2 Competição intra-específica
-se três castas: a rainha, o zangão e as operárias. A rainha Indivíduos da mesma espécie competem por um ou
é a única fêmea fértil da colmeia; os zangões são os ma- mais recursos que, na maioria das vezes, não estão dis-
chos férteis, enquanto as operárias são fêmeas estéreis. poníveis em quantidade suficiente no ecossistema. Pode

191
delinear uma população, principalmente em seu tama- seguro destaca que a ausência de contaminações quí-
nho. Quando o ambiente não permite a migração de micas, físicas e microbiológicas garante segurança aos
indivíduos e o alimento começa a ficar escasso, natural- alimentos.
mente os mais velhos e os menos aptos são prejudicados Entende-se por perigos as contaminações ou agentes
e acabam morrendo. de natureza física, química ou microbiológica que po-
dem tornar um alimento não seguro para o consumo.
2.2 Relações desarmônicas interespecíficas Os perigos físicos são aqueles provocados por materiais
Ocorrem entre indivíduos de espécies diferentes. São que podem machucar o consumidor do alimento, são
a competição interespecífica, o amensalismo, o pre- exemplos: pregos, pedaços de plástico, fragmentos de
datismo e o parasitismo. ossos, pedaços de vidros, pedras, fragmentos de uten-
sílios utilizados na preparação do alimento e fragmentos
2.2.1 Competição interespecífica das embalagens dos alimentos, entre outros. Os perigos
Ocorre quando diferentes espécies, com o mesmo químicos são aqueles advindos da adição de substâncias
hábitat e o mesmo nicho ecológico, competem pelos tóxicas, em excesso, utilizadas na higienização e sanitiza-
mesmos recursos. ção de equipamentos e utensílios usados, da utilização
de diluições em desacordo àquelas recomendadas pelo
2.2.2 Amensalismo fabricante e pela incorporação de aditivos, metais pesa-
Associação em que uma espécie, chamada de amen- dos, antibióticos e praguicidas às matérias-primas. Como
sal, é inibida no crescimento ou na reprodução por perigos microbiológicos destacam-se: vírus, bactérias,
substâncias secretadas por uma outra espécie, chamada fungos, protozoários e helmintos que venham contami-
inibidora. nar os alimentos em sua origem ou durante seu proces-
Como exemplo, há os fungos que produzem substân- samento. Vale salientar, que os perigos microbiológicos
cias antibióticas que inibem o crescimento de bactérias. são as principais causas de contaminação dos alimentos
e que os manipuladores de alimentos constituem a ori-
2.2.3 Predatismo gem do problema e são grandes responsáveis pela con-
Associação em que os consumidores de uma cadeia taminação microbiológica dos alimentos.
alimentar, alocados em um nível trófico superior (preda- Assim, uma manipulação inadequada dos alimentos
dores), se alimentam do nível trófico inferior – a presa, em certamente oferece perigos físicos, químicos e microbio-
se tratando de carnivoria, ou o produtor, na herbivoria. lógicos aos alimentos. Logo, visando evitar ferimentos,
doenças e até a morte das pessoas é necessária uma ma-
2.2.4 Parasitismo nipulação adequada, consciente, capacitada e responsá-
Associação em que uma espécie se instala no organis- vel dos alimentos.
mo de outra, dela retirando matéria para a sua nutrição É correto afirmar que o manipulador de alimentos,
e causando-lhe, em consequência, danos cuja gravidade quando executa sua higiene pessoal erroneamente e
pode ser muito variável, desde pequenos distúrbios até quando não se conduz por boas práticas de fabricação,
a própria morte do indivíduo parasitado. Dá-se o nome é um fator de contaminação dos alimentos, pois, sen-
de hospedeiro ao organismo que abriga o parasita. De do uma pessoa oferece várias vias de contaminação:
um modo geral, a morte do hospedeiro não é conve- mãos, ferimentos, boca, nariz, pele, cabelo, entre outros.
niente ao parasita. Mas, a despeito disso, muitas vezes Em linhas gerais, um ser humano sadio carrega consigo
ela ocorre. milhões de microrganismos por centímetro cúbico. As
mãos constituem um importante foco de microrganis-
mos, assim quando mal higienizadas, podem veicular mi-
crorganismos deterioradores, patogênicos e de origem
fecal. Assim, microrganismos provenientes do intestino,
CORPO HUMANO: HIGIENE, ALIMENTAÇÃO,
da boca, do nariz, da pele, dos pelos, dos cabelos e até
ESTRUTURA, FUNÇÕES, REPRODUÇÃO E mesmo de secreções e ferimentos são transferidos dos
SEXUALIDADE manipuladores para os alimentos.
Todas as pessoas que manipulam alimentos devem
ter cuidados com a higiene pessoal e aparência.
HIGIENE PESSOAL Portanto, alguns hábitos e comportamentos devem
ser praticados:
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O consumo de um alimento está diretamente rela-


cionado com as suas características e propriedades ex- - Tomar banho diariamente e se enxugar com toalha
ternas, tais como tamanho, formato, grau de maturação, limpa
cor, sabor, textura, consistência e grau de frescor. Não
obstante, tais características sensoriais e nutritivas, de- Para evitar odores desagradáveis deve-se tomar
vem estar compatíveis e coerentes com as características banho com sabonete para retirar a gordura do corpo
internas que revelam a segurança química, física e micro- e utilizar, sempre, toalha limpa. Além disso, no nosso
biológica do alimento. corpo e mãos podem estar presentes microrganismos
Um alimento apto para o consumo, isto é, com segu- que podem ser transferidos para os alimentos durante
rança, é aquele alimento que não causa doença ou injúria a manipulação.
ao consumidor. Um outro entendimento para alimento

192
- Trocar de roupas diariamente alimento e tiveram seu dente quebrado! Por outro lado,
nas empresas, uma corrente, uma pulseira ou brinco,
Não adianta tomar banho diariamente e utilizar a pode causar acidentes para o manipulador, provocando
mesma roupa! Usar roupas limpas é demonstração de desde o seu afastamento das atividades até danos maio-
higiene e asseio e evita-se qualquer contaminação nos res, se por acaso uma corrente ou uma pulseira engan-
alimentos que estão sendo manipulados. Para os clientes char em um equipamento.
de uma empresa que fabrica ou manipula alimentos, isso
é sinal de cuidado e preocupação com a segurança dos - Não comer, mascar chiclete, fumar, tossir, espir-
alimentos e com a saúde do consumidor. rar e evitar falar enquanto estiver manipulando
alimentos.
- Lavar a cabeça pelo menos 2 vezes por semana
Enquanto falamos, expelimos gotículas de saliva que
Os cabelos podem conter microrganismos existentes contêm os já mencionados estafilococos, que podem
no ar. Para retirar esses microrganismos, os cabelos de- contaminar os alimentos. Da mesma forma, isso aconte-
vem ser lavados com água e xampu. Este sim irá retirar a ce quando tossimos ou espirramos. Mascar chiclete tam-
sujeira. Não adianta lavar os cabelos apenas com água. bém é anti-higiênico, além de haver a possibilidade dele
cair no alimento que está sendo preparado.
- Escovar os dentes quando se levanta e sempre após
as refeições - Não provar alimentos com talheres e colocá-los de
novo na panela, sem antes lavá-los
Este ato é muito importante, pois retira resíduos de
alimentos dos dentes que favorecem a multiplicação de Quando fazemos isso, os microrganismos que estão
bactérias que ficam na boca. Na boca, assim como no presentes em nossa boca são transferidos para o talher
nariz e na garganta, existem microrganismos perigosos. que, se voltar para a panela levará o contaminante para o
São os chamados estafilococos (Staphilococcus aureus). restante do alimento que está sendo preparado. Por isso,
Além disso, deixa um hálito mais agradável e previne as os talheres devem ser lavados devidamente com água e
cáries. sabão e posteriormente desinfetados.

- Manter as unhas curtas, limpas e sem esmalte - Lavar as mãos com água e sabão, sempre, quando
for manipular alimentos
As unhas daqueles que manipulam alimentos devem
sempre estar curtas para se evitar que embaixo delas As mãos podem conter microrganismos que vêm da
fiquem sujidades que poderão ser transferidas para os boca, nariz, superfícies sujas e fezes, que são provenien-
alimentos. Unhas curtas são mais fáceis de ser mantidas tes da má higiene pessoal. Se as mãos estiverem sujas,
limpas. E também o esmalte pode descascar e cair no ali- os manipuladores podem transferir microrganismos pa-
mento que estiver sendo manipulado, e acabar indo para togênicos aos alimentos.
o prato do consumidor, o que irá causar uma péssima
impressão. Por isso, é extremamente importante lavar as mãos
nas seguintes ocasiões:
- Manter sempre os cabelos presos - Antes e depois de manipular os alimentos;
- Depois de ir ao banheiro;
Ao manter os cabelos presos, evita-se que eles caiam - Após tocar os cabelos, o rosto ou partes do corpo;
nos alimentos. Imagine que sensação desagradável você - Depois de espirrar, tossir ou usar lenço de papel;
encontrar um fio de cabelo na comida que está no seu - Depois de fumar, comer, beber ou mascar chicletes;
prato! Além do mais, os fios de cabelos contêm micror- - Depois de usar qualquer produto químico de limpe-
ganismos que encontrarão nos alimentos um meio para za, polimento ou sanitizante;
se multiplicarem. - Depois de retirar o lixo;
- Após mexer com dinheiro;
- Os homens devem manter os cabelos e bigodes - Depois de tirar a mesa ou ajudar a tirar a louça suja;
aparados - Depois de tocar em qualquer coisa que possa conta-
minar as mãos, tais como equipamentos não sani-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Melhor ainda é não usar bigode quando se trabalha tizados, superfícies sujas ou panos de limpeza
com alimentação

- Retirar acessórios para manipular os alimentos


(brincos, anéis, relógios, pulseiras).

Os adornos podem abrigar resíduos de alimentos e


ser fonte de contaminação. Além disso, podem cair no
alimento sem você perceber, caracterizando- se como
um perigo físico. Sabe-se de casos de pessoas que en-
contraram tarraxas de brinco enquanto mastigavam o

193
Passo a Passo para Correta Higienização das mãos:

1 - Abra a torneira e molhe as mãos, evitando encostá-las na pia.


2 - Aplique o sabonete para cobrir toda a superfície das mãos, friccionando as palmas entre si.
3 - Esfregue a palma da mão direita contra o dorso da mão esquerda (e vice-versa), entrelaçando os dedos.
4 - Entrelace os dedos palma com palma e friccione os espaços interdigitais.
5 - Esfregue o dorso dos dedos de uma mão com a palma da mão oposta, segurando os dedos, com movimentos
de vai e vem.
6 - Esfregue o polegar direito com auxílio da palma da mão esquerda (e vice-versa), utilizando movimento circular.
7 - Esfregue em movimentos circulares as polpas digitais e as unhas para frente e para trás de uma mão na palma
da outra.
8 - Esfregue o punho esquerdo com auxílio da palma da mão direita (e vice-versa), utilizando movimento circular.
9 - Enxague as mãos com água, retirando resíduos de sabonete.
10 - Seque as mãos com papel toalha descartável, iniciando pelas mãos e seguindo pelos punhos.
11 - Utilize o papel toalha para fechar a torneira, se esta não for automática.
Se tiver disponível álcool 70%, passe-o nas mãos e antebraço e deixe secar naturalmente.

#FicaDica
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária proíbe o uso de álcool na forma líquida para
prevenir a ocorrência de acidentes. Porém algumas empresas produtoras de álcool ain-
da conseguem vender devido a uma liminar. Nas empresas, o uso de álcool na forma
de gel é para a antissepsia. Pode ser utilizado com as mãos úmidas, deixando-as secar
naturalmente.

As luvas de borracha devem ser usadas para proteção das mãos e punhos do funcionário quando forem utilizados
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

produtos de limpeza. Não devem ser usadas para manipular alimentos.


As luvas descartáveis devem ser utilizadas no momento da distribuição dos alimentos ou quando não for possível
realizar o procedimento de lavagem de mãos.
As luvas cirúrgicas não devem ser utilizadas de forma alguma para manipulação de alimentos!

Fonte: Escola Estadual de Educação Profissional – EEEP. Higiene e Legislação dos Alimentos. Governo do Estado
do Ceará Secretaria da Educação. 2011

194
EXERCÍCIOS COMENTADOS

1 - (GESTÃO CONCURSO/ EMATER-ENGENHARIA DE ALIMENTO/2018) Medidas de higiene, cuidados e boas prá-


ticas podem ser adotadas pelos produtores que fornecem matéria-prima para os laticínios, pois elas serão capazes de
diminuir a contagem de patogênicos no leite. Não representa uma medida de higiene, cuidados e boas práticas

a) incentivar a lavagem do piso onde é realizada a ordenha a cada 5 dias, com detergente e cloro.
b) barrar a entrada de cachorros, gatos, galinhas ou outros animais no local da ordenha.
c) utilizar roupas limpas, unhas cortadas, mantendo hábitos limpos na hora da ordenha, quando possível usando luvas,
botas de borracha e bonés.
d) lavar os utensílios usados em solução de água clorada por 15-20 minutos (1,0ml de solução de hipoclorito de sódio,
contendo 10% de cloro ativo/ para cada litro de água).

Resposta: Letra A A lavagem do piso onde é realizada a ordenha deve ser feita todos os dias, com detergente e
cloro.

2 - (FGV/ FIOCRUZ/ NUTRIÇÃO/ 2010) De acordo com a portaria CVS – 6/99, a periodicidade da higiene ambiental
deverá ser a seguinte:

a) semanal para pisos, rodapés e ralos.


b) quinzenal para tomadas e interruptores.
c) mensal para paredes, portas e janelas.
d) semestral para estoque e estrados.
e) diária para sanitários, maçanetas e pias.

Resposta: Letra E

16.1 - Periodicidade de limpeza

Diário: - Pisos, rodapés e ralos; todas as áreas de lavagem e de produção; maçanetas; lavatórios (pias); sanitários;
cadeiras e mesas (refeitório); monoblocos e recipientes de lixo;
Diário ou de acordo com o uso: - Equipamentos, utensílios, bancadas, superfícies de manipulação e saboneteiras,
borrifadores.
Semanal: - Paredes; portas e janelas; prateleiras (armários); coifa; geladeiras; câmaras e “freezers”.
Quinzenal: - Estoque; estrados.
Mensal: - Luminárias; interruptores; tomadas; telas.
Semestral: - Reservatório de água.
OBS: - Teto ou forro; caixa de gordura; filtro de ar condicionado, de acordo com a necessidade ou regulamentação
específica.

O QUE É NUTRIÇÃO?

Nutrição é um processo biológico utilizado pelos seres vivos (animais, vegetais, fungos e microrganismos) para
obter os nutrientes necessários para a manutenção de funções vitais, como a respiração, a digestão e a reprodução.
Na maior parte das vezes, esses nutrientes são obtidos de forma natural, ou seja, com a ingestão de alimentos. Em
alguns casos, quando a pessoa não consegue se alimentar de forma convencional, os nutrientes precisam ser forneci-
dos por nutrição enteral ou parenteral.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

#FicaDica
A nutrição enteral consiste na ingestão controlada de nutrientes (na forma líquida) por via oral ou por
sondas que levam o alimento diretamente ao estômago ou ao intestino. Já na nutrição parenteral, os
nutrientes são administrados por via intravenosa, isto é, diretamente na veia.

195
1. Alimentos

Alimento é todo e qualquer produto de origem animal (carnes, leite e ovos), vegetal (frutas e legumes) ou mineral
(água e sais minerais) que, ao ser ingerido, fornece nutrientes para o crescimento, manutenção e reparo do organismo.

Os nutrientes presentes nos alimentos estão divididos em dois grandes grupos:


a) macronutrientes: carboidratos, gorduras e proteínas.
b) micronutrientes: vitaminas e minerais.

De acordo com a função que desempenham, os nutrientes são classificados como:


a) energéticos (carboidratos e gorduras): fornecem energia para o corpo.
b) reguladores (proteínas): essenciais para a construção de tecidos como ossos, pele e músculos.
c) construtores (vitaminas e minerais): auxiliam na prevenção de doenças e no crescimento do corpo.

2. Grupos alimentares

Do ponto de vista nutricional, os alimentos estão divididos em oito grupos que, juntos, formam a pirâmide alimentar.
A pirâmide alimentar funciona como um guia da alimentação saudável. Ela mostra, de forma gráfica, quais alimentos
devem ser consumidos diariamente e em que proporções.

Pirâmide alimentar (Fonte: Mesa Brasil SESC)

a) Grupo 1 (energético): composto por cereais (arroz, milho, cevada, aveia, centeio), pães, raízes (cenoura, beterraba,
rabanete) e tubérculos (batata, inhame, mandioca). Esses alimentos são ricos em fibras e carboidratos (principal
fonte de energia do corpo).
b) Grupo 2 (regulador): composto por verduras (alface, couve, brócolis, repolho, rúcula, espinafre) e legumes (abo-
brinha, pimentão, pepino, quiabo). Esses alimentos são ricos em vitaminas, minerais e fibras.
c) Grupo 3 (regulador): composto pelas frutas (maçã, banana, mamão, laranja, morango, abacaxi, melancia, melão,
jabuticaba, uva e outros) e seus sucos. Esses alimentos também são fontes de vitaminas, minerais e fibras, essen-
ciais para o bom funcionamento do organismo.
d) Grupo 4 (construtor): composto por leite e derivados (queijos, manteiga, iogurte). Esses alimentos são fontes de
proteínas, gorduras e minerais como o cálcio.
e) Grupo 5 (construtor): composto pelas leguminosas (feijão, lentilha, soja, ervilha). Esses alimentos fornecem fibras
e proteínas de origem vegetal.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

f) Grupo 6 (construtor): composto por carnes (aves, boi, porco) e ovos. Esses alimentos fornecem gorduras, vitami-
nas e proteínas de origem animal.
g) Grupo 7 (extra energético): composto por alimentos ricos em óleos e gorduras (óleos vegetais, azeite, castanha,
linhaça e amêndoas). Fornecem energia para o corpo.
h) Grupo 8 (extra energético): composto por alimentos ricos e açúcar, como mel, balas e chocolates. Não possuem
fibras e fornecem poucos nutrientes. Por isso, devem ser consumidos com moderação.

Para garantir a ingestão de todos os nutrientes essenciais para o bom funcionamento do organismo, é recomenda-
do o consumo diário de:
a) 8 porções de alimentos energéticos (como pães, cereais, massas e tubérculos).
b) 6 porções de alimentos reguladores (3 porções de frutas e 3 porções de hortaliças).

196
c) 6 porções de alimentos construtores (2 porções de Dentre essas informações, devem estar:
carnes e ovos, 1 porção de leguminosas e 3 por- a) Denominação de venda do produto: indica a natu-
ções de leite e derivados). reza e as características do produto.
d) 4 porções de alimentos extra energéticos (2 por- b) Origem do produto: nome e endereço do fabricante.
ções de óleos e gorduras e 2 porções de açúcares). c) Conteúdo: indica a quantidade de produto presen-
te na embalagem.
3. Como escolher os alimentos d) Número de registro: registro do produto no Minis-
tério da Saúde e carimbo de inspeção do Minis-
A qualidade de um alimento pode ser influenciada tério da Agricultura (alimentos de origem animal).
por vários fatores. Por isso, na hora da compra, é preciso e) Lista de ingredientes: indica todos os ingredientes
estar atento a algumas orientações para escolher alimen- e ativos presentes no produto.
tos nutritivos e saudáveis. f) Instruções para uso e preparo: informa a forma de
Para alimentos embalados, por exemplo, é importan- uso e preparo quando necessário.
te observar: g) Modo de conservação: indica as condições neces-
a) o prazo de validade e outras informações presentes sárias para a conservação da qualidade e integri-
no rótulo (ingredientes, composição nutricional, dade do produto.
modo de conservação e forma de preparo); h) Prazo de validade: informa o tempo máximo que o
b) a integridade da embalagem (não pode estar ras- produto pode ser consumido com segurança, ou
gada, amassada, enferrujada ou estufada); seja, sem o risco de causar problemas para a saúde
c) as características do alimento (cor, cheiro e ou de ter suas características alteradas.
consistência); i) Número de lote: mostra o código presente em um
d) as condições de armazenamento do alimento em conjunto de produtos processados por um mes-
prateleiras, refrigeradores e freezers. mo fabricante em mesmas condições e espaço de
tempo.
Alimentos de origem animal (carnes, peixes e ovos) j) Informações nutricionais: informa as quantidades
precisam ter o selo de garantia do Serviço de Inspeção de carboidrato, proteína, gordura, fibra e sódio
Federal (SIF) do Ministério da Agricultura. Além disso: presentes no produto.
a) carne bovina ou de porco devem apresentar cor k) Advertências: indica a presença de substâncias ca-
vermelho brilhante, cheiro agradável e consistên- pazes de causar alergias ou prejuízos para pessoas
cia firme e compacta; portadoras de certas doenças (hipertensão, diabe-
b) aves precisam ter superfície brilhante, cor entre tes etc.).
amarelo e branco, cheiro agradável e consistência
firme; 4. Como conservar os alimentos
c) peixes e frutos do mar devem ter cheiro suave, a
superfície brilhante, escamas firmes, consistência A conservação de um alimento é influenciada por fa-
firme, olhos arregalados e guelras vermelhas; tores como temperatura e umidade. Por isso, é indicado
d) ovos precisam estar com casca limpa e sem que:
rachaduras; a) Alimentos não perecíveis: sejam armazenados à
e) miúdo como fígado, coração e língua devem ter temperatura ambiente (25 º C), em local limpo, are-
cheiro suave, cor regular, consistência firme, super- jado e sem umidade. Nesse grupo estão alimentos
fície brilhante e sem pontos brancos; como arroz, milho, aveia, feijão, lentilha, farinha,
f) embutidos como salame, salsicha e presunto biscoitos, óleos, açúcares e produtos enlatados.
não podem ter a presença de bolores ou áreas b) Frutas e hortaliças: sejam armazenadas em local
endurecidas. seco, fresco, livre de insetos e protegido da luz do
sol. Podem ser mantidas na geladeira para evitar o
Frutas e hortaliças não devem apresentar: ressecamento.
a) partes ou casca amolecidas ou mofadas; c) Carnes, ovos, embutidos, leites e derivados: sejam
b) alteração de cor, consistência ou cheiro;
armazenados em geladeira. Nesse caso, é preciso
c) polpa amolecida com mofo;
separar os alimentos crus para evitar a contami-
d) talos, folhas ou raízes murchas ou mofadas;
nação dos já cozidos. Carnes, leites e derivados
e) superfície com perfurações;
devem ser mantidos nas prateleiras mais altas que
f) falta ou excesso de umidade.
são mais frias.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

d) Produtos congelados: sejam conservados em tem-


Embora exista uma grande quantidade de alimentos
peraturas mais baixas (-18 º C) para evitar sua de-
naturais (frutas, verduras e outros alimentos retirados di-
retamente da natureza), grande parte do que é consumi- terioração. Carnes já descongeladas não devem ser
do pela população precisa passar por processos indus- congeladas novamente.
triais antes de chegar até a mesa do consumidor.
Por isso, a legislação determina que todos os alimen-
tos embalados na indústria apresentem uma série de in-
formações em seus rótulos que permitam ao consumidor
fazer escolhas mais conscientes e seguras, garantindo a
promoção e a proteção de sua saúde.

197
c) Clostridiose: causada pela ingestão de alimen-
#FicaDica tos como caldos, molhos, sopas e carnes malco-
zidas, contaminados pela bactéria Clostridium
Para aproveitar ao máximo, o valor nutritivo perfringens.
de frutas e verduras, é recomendado: d) Botulismo: causado pela ingestão de alimentos em
a) consumir produtos frescos; conserva contaminados pela bactéria Clostridium
b) ingerir o alimento inteiro ou em pedaços; botulinum.
c) cozinhar as verduras no vapor; e) Intoxicação por bacilo cereus: causada pela inges-
d) não cozinhar demais os vegetais; tão de alimentos à base de arroz, amido e cereais
e) aproveitar a água de cozimento dos ve- contaminados pela bactéria Bacillus cereus.
getais na preparação de outros pratos; f) Shigelose: causada pela ingestão de alimentos
f) não usar substâncias para realçar a cor como saladas e mariscos contaminados por bacté-
dos vegetais (bicarbonato de sódio, por rias do gênero Shigella.
exemplo); g) Colibacilose: causada pela ingestão de água ou sa-
g) cozinhar os vegetais em fogo brando; ladas cruas contaminadas pela bactéria Escherichia
h) conservar os alimentos de forma coli.
adequada. h) Infecção por rotavírus: causada pela ingestão de
água e alimentos contaminados por vírus do gê-
nero Rotavirus.
5. Higiene dos alimentos 5.1 Como evitar a contaminação dos alimentos
Manusear e preparar os produtos em boas condições Para reduzir a quantidade de microrganismos e evitar
de higiene evita a contaminação do alimento e uma série a contaminação dos alimentos durante seu manuseio e
de doenças. preparo, é necessário combinar medidas de higiene pes-
soal e ambiental.
Normalmente, a contaminação do alimento acontece Todas as pessoas envolvidas nas etapas da prepara-
durante as etapas de sua preparação e pode ser biológi- ção dos alimentos, precisam:
ca, química ou física. a) tomar banho todos os dias;
a) Contaminação biológica: acontece pela presença b) escovar os dentes após as refeições;
de microrganismos (como fungos, vírus, bactérias c) manter as unhas limpas, curtas e sem esmalte;
e parasitas) nos alimentos. Esses microrganismos d) manter os cabelos presos ou protegidos e a barba
sobrevivem e se multiplicam na presença de fato- aparada;
res como calor, umidade e nutrientes. e) lavar as mãos.
Os microrganismos podem ser classificados em bons
(utilizados na produção de queijos, iogurtes e bebidas), Os manipuladores de alimentos devem lavar as mãos,
maus (estragam os alimentos, os deixando com cheiro sempre:
e aparência desagradáveis) e perigosos (não modificam a) antes de pegar ou comer o alimento;
o sabor nem a aparência dos alimentos e podem causar b) depois de ir ao banheiro ou tocar em dinheiro, par-
doenças). tes do corpo, objetos sujos e animais;
b) Contaminação química: é provocada pela presença c) toda vez que trocar de atividade no trabalho;
de produtos químicos como agrotóxicos e ferti- d) depois de fumar ou assoar o nariz;
lizantes (utilizados no cultivo de alimentos como e) depois de manipular alimentos crus;
frutas verduras e cereais); medicamentos (usados f) antes de entrar na área de preparação dos alimentos.
para tratar e prevenir doenças em aves, porcos e g) retirar brincos, anéis, relógios e outros acessórios
bois que fornecem alimentos como carnes, leites e antes de iniciar o preparo do alimento;
ovos); e produtos de limpeza (quando os alimentos h) usar roupas limpas e sapatos fechados;
são armazenados juntamente como sabão, água i) usar máscaras e luvas no preparo de alimentos ser-
sanitária e desinfetantes). vidos crus.
c) Contaminação física: causada pela presença de pe-
dras, ossos, vidro, madeira, metal e outros mate- Além de todos esses cuidados, é recomendado que o
riais que possam contaminar os alimentos.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ambiente utilizado para preparo dos alimentos seja sem-


pre mantido em boas condições de higiene. Ou seja, é
Dentre as principais doenças causadas pela ingestão preciso limpar:
de alimentos contaminados, estão: a) equipamentos e utensílios após o uso;
a) Intoxicação estafilocócica: causada pela ingestão b) bancadas e pisos após o preparo de cada refeição;
de bolos e tortas com recheio e/ou cobertura, con- c) refrigeradores a cada 15 dias;
taminados pela bactéria Staphylococcus aureus. d) portas e janela uma vez ao mês;
b) Salmonelose: causada pela ingestão de carnes e) latas de lixo (devem ter tampa e estar longe dos
e ovos contaminados por bactérias do gênero alimentos).
Salmonella.

198
Outras orientações importantes, são: Está(ão) correta(s) apenas a(s) afirmativa(s):
a) tocar nos alimentos, com as mãos limpas, somente
na hora de lavá-los ou prepara-los; a) I
b) usar apenas água filtrada ou fervida; b) II
c) lavar bem frutas, verduras e legumes em água cor- c) I e II
rente, usando sabão, água sanitária ou vinagre; d) II e III
d) preparar os alimentos perto do horário de consumo; e) I, II e III
e) usar somente produtos de origem animal que con-
tenham o selo do SIF; Resposta: Letra C. Uma alimentação saudável deve
f) cozinhar bem as carnes, aves e peixes (usar tempe- ser variada e colorida para garantir o consumo de to-
ratura maior que 70 º C); dos os nutrientes necessários. Por isso, embora seja
g) descongelar bem os produtos congelados antes de um alimento de alto valor nutritivo, o ovo não deve
prepara-los; substituir outros alimentos proteicos, como legumino-
h) preparar a quantidade adequada para evitar sobras; sas, carnes, leite e seus derivados.
i) guardar as sobras de alimento na geladeira em po-
tes fechados;
j) aquecer os alimentos refrigerados por igual; 3. (SES-DF – TÉCNICO EM NUTRIÇÃO – MÉDIO – IA-
k) não misturar alimentos crus e cozidos; DES – 2014) Considerando a contaminação cruzada em
l) evitar o uso de utensílios de madeira; unidades de alimentação e nutrição, assinale a alternativa
m) guardar os alimentos em potes fechados, prote- correta.
gendo de insetos e animais;
n) não falar, tossir ou espirrar perto dos alimentos; a) Esse conceito abrange apenas as operações de pré-
o) não consumir alimentos com aparência, textura ou -preparo e de distribuição dos alimentos, em que não
cheiro alterado; se permite que o produto acabado tenha qualquer
p) ler atentamente as informações presentes no rótu- forma de contato com a matéria-prima.
lo do alimento;
q) sempre verificar o prazo de validade do alimento; b) Cuidados higiênicos com o manipulador e constante
r) conservar o alimento em local apropriado. vigilância das suas condições de saúde e da existência
de portadores assintomáticos são medidas importan-
tes para evitar a contaminação cruzada
EXERCÍCIOS COMENTADOS
c) O conceito não se aplica ao pessoal encarregado de
reparos em equipamentos e em instalações.
1. (COMLURB-RJ – AGENTE DE PREPARO DE ALIMEN- d) É possível que os operadores das zonas consideradas
TOS – FUNDAMENTAL – CESGRANRIO – 2009) O Mi- limpas trabalhem nas zonas consideradas sujas, desde
nistério da Saúde vem alertando para a necessidade de que sejam tomadas medidas preventivas.
uma alimentação saudável, divulgando orientações apli- e) Temperatura, umidade e ventilação adequadas no am-
cáveis a pessoas com mais de dois anos de idade. Uma biente evitam a contaminação cruzada.
dessas orientações é que se deve consumir, por dia,
Resposta: Letra B. Para reduzir a quantidade de mi-
a) 1 porção de fruta. crorganismos e evitar a contaminação dos alimentos
b) 1 porção de leites e derivados. durante seu manuseio e preparo, é necessário combi-
c) 2 porções de manteiga. nar medidas de higiene pessoal e ambiental. Além de
d) 3 porções de legumes e verduras. manter boas condições de higiene, os manipuladores
e) 4 porções de cereais. de alimentos precisam estar em boa saúde e fazer o
uso de equipamentos de proteção individual como lu-
Resposta: Letra D. Para garantir o consumo de todos vas, toucas e máscaras.
os nutrientes essenciais, é necessário consumir, por
dia, 3 porções de verduras e legumes.

2. (PREFEITURA DE PORTO VELHO-RO – COZINHEIRO


– FUNDAMENTAL – CONSULPLAN – 2012) Analise as
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

afirmativas.

I. Ovos frescos têm a casca porosa, fosca e afundam


quando colocados em uma vasilha com água.
II. O leite pasteurizado é isento de germes patogênicos,
causadores de doenças.
III. Os ovos, apesar de bastante proteicos, não devem
substituir a carne nas refeições.

199
FISIOLOGIA
A Fisiologia é a parte da Biologia que estuda o funcionamento do corpo como um todo. Ao estudar Fisiologia, com-
preendemos melhor como cada órgão e sistema funcionam para garantir o equilíbrio do organismo.

Sistemas que constituem o corpo humano.

1. Sistema Digestório
O sistema digestório tem a função primordial de promover nutrientes para o corpo. O alimento, após passar pela
boca, é propelido, por meio do esôfago, para o estômago e, em seguida para os intestinos delgado e grosso, antes
de ser esvaziado pelo ânus. O sistema digestório prepara o alimento para ser usado pelas células por meio de cinco
atividades básicas.

1.1 Boca
A abertura pela qual o alimento entra no tubo digestivo é a boca. Aí encontram-se os dentes e a língua, que pre-
param o alimento para a digestão, por meio da mastigação. Os dentes reduzem os alimentos em pequenos pedaços,
misturando-os à saliva, o que irá facilitar a futura ação das enzimas.

Os dentes
Os dentes são estruturas duras, calcificadas, presas ao maxilar superior e mandíbula, cuja atividade principal é a
mastigação.

A língua
A língua movimenta o alimento empurrando-o em direção a garganta, para que seja engolido. Na superfície da lín-
gua existem dezenas de papilas gustativas, cujas células sensoriais percebem os quatro sabores primários: amargo (A),
azedo ou ácido (B), salgado (C) e doce (D). De sua combinação resultam centenas de sabores distintos. A distribuição
dos quatro tipos de receptores gustativos, na superfície da língua, não é homogênea.

As glândulas salivares
A presença de alimento na boca, assim como sua visão e cheiro, estimulam as glândulas salivares a secretar saliva,
que contém a enzima amilase salivar ou ptialina, além de sais e outras substâncias. A amilase salivar digere o amido e
outros polissacarídeos (como o glicogênio), reduzindo-os em moléculas de maltose (dissacarídeo). Três pares de glân-
dulas salivares lançam sua secreção na cavidade bucal: parótida, submandibular e sublingual.
Os sais da saliva neutralizam substâncias ácidas e mantêm, na boca, um pH neutro (7,0) a levemente ácido (6,7),
ideal para a ação da ptialina. O alimento, que se transforma em bolo alimentar, é empurrado pela língua para o fundo da
faringe, sendo encaminhado para o esôfago, impulsionado pelas ondas peristálticas, levando entre 5 e 10 segundos para
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

percorrer o esôfago. Através dos peristaltismo, você pode ficar de cabeça para baixo e, mesmo assim, seu alimento chegará
ao intestino. Entra em ação um mecanismo para fechar a laringe, evitando que o alimento penetre nas vias respiratórias.
Quando a cárdia (anel muscular, esfíncter) se relaxa, permite a passagem do alimento para o interior do estômago.

1.2 Faringe e esôfago


A faringe, situada no final da cavidade bucal, é um canal comum aos sistemas digestório e respiratório: por ela pas-
sam o alimento, que se dirige ao esôfago, e o ar, que se dirige à laringe.
O esôfago, canal que liga a faringe ao estômago, localiza-se entre os pulmões, atrás do coração, e atravessa o mús-
culo diafragma, que separa o tórax do abdômen.

200
1.3 Estômago e suco gástrico água, enzimas e grandes quantidades de bicarbonato de
O estômago é uma bolsa de parede musculosa, loca- sódio. O pH do suco pancreático oscila entre 8,5 e 9. Sua
lizada no lado esquerdo abaixo do abdome, logo abai- secreção digestiva é responsável pela hidrólise da maio-
xo das últimas costelas. É um órgão muscular que liga ria das moléculas de alimento, como carboidratos, pro-
o esôfago ao intestino delgado. Sua função principal é teínas, gorduras e ácidos nucleicos.
a digestão de alimentos proteicos. Um músculo circular, A mucosa do intestino delgado secreta o suco enté-
que existe na parte inferior, permite ao estômago guar- rico, solução rica em enzimas e de pH aproximadamente
dar quase um litro e meio de comida, possibilitando que neutro.
não se tenha que ingerir alimento de pouco em pouco No intestino, os movimentos peristálticos das pare-
tempo. des musculares, movimentam o quimo, ao mesmo tem-
O estômago produz o suco gástrico, um líquido claro, po em que este é atingido pela bile, enzimas e outras
transparente, altamente ácido, que contêm ácido clorí- secreções, sendo transformado em quilo.
drico, muco, enzimas e sais. O ácido clorídrico mantém A absorção dos nutrientes ocorre nas regiões do
o pH do interior do estômago entre 0,9 e 2,0 (ácido). jejuno e do íleo. A superfície interna, ou mucosa, des-
Também dissolve o cimento intercelular dos tecidos dos sas regiões, apresenta, além de inúmeros dobramentos
alimentos, auxiliando a fragmentação mecânica iniciada maiores, milhões de pequenas dobras (4 a 5 milhões),
pela mastigação. chamadas vilosidades; um traçado que aumenta a super-
A pepsina, promove o rompimento das ligações pep- fície de absorção intestinal. As membranas das próprias
tídicas que unem os aminoácidos e o resultado do tra- células do epitélio intestinal apresentam, por sua vez, do-
balho dessa enzima são oligopeptídeos e aminoácidos brinhas microscópicas denominadas microvilosidades. O
livres. intestino delgado também absorve a água ingerida, os
A mucosa gástrica é recoberta por uma camada de íons e as vitaminas.
muco, que a protege da agressão do suco gástrico, bas- Os nutrientes absorvidos pelos vasos sanguíneos do
tante corrosivo. Apesar de estarem protegidas por essa intestino passam ao fígado para serem distribuídos pelo
densa camada de muco, as células da mucosa estomacal resto do organismo. Os produtos da digestão de gor-
são continuamente lesadas e mortas pela ação do suco duras (principalmente glicerol e ácidos graxos isolados)
gástrico. Por isso, a mucosa está sempre sendo regene- chegam ao sangue sem passar pelo fígado, como ocorre
rada. Estima-se que nossa superfície estomacal seja to- com outros nutrientes.
talmente reconstituída a cada três dias. Eventualmente
ocorre desequilíbrio entre o ataque e a proteção, o que 1.5 Intestino grosso
resulta em inflamação difusa da mucosa (gastrite) ou É o local de absorção de água, tanto a ingerida quan-
mesmo no aparecimento de feridas dolorosas que san- to a das secreções digestivas. Uma pessoa bebe cerca de
gram (úlceras gástricas). 1,5 litros de líquidos por dia, que se une a 8 ou 9 litros de
A mucosa gástrica produz também o fator intrínseco, água das secreções. Glândulas da mucosa do intestino
necessário à absorção da vitamina B12. grosso secretam muco, que lubrifica as fezes, facilitando
O bolo alimentar pode permanecer no estômago por seu trânsito e eliminação pelo ânus.
até quatro horas ou mais e, ao se misturar ao suco gástri-
co, auxiliado pelas contrações da musculatura estomacal, 1.6 Glândulas anexas
transforma-se em uma massa acidificada e semilíquida,
o quimo. 1.6.1Pâncreas
Passando por um esfíncter muscular (o piloro), o qui- O pâncreas é uma glândula de aproximadamente 15
mo vai sendo, aos poucos, liberado no intestino delgado, cm de extensão e se localiza atrás do estômago, entre o
onde ocorre a maior parte da digestão. duodeno e o baço. Ele é tanto exócrino (secretando suco
pancreático, que contém enzimas digestivas) quanto en-
1.4 Intestino delgado dócrino (produzindo hormônios como insulina, glucagon
O intestino delgado consiste em um tubo com pouco e somatostatina). O suco pancreático atua no processo
mais de 6 m de comprimento por 4cm de diâmetro e digestivo e, através do ducto pancreático é lançado na ca-
pode ser dividido em três regiões: duodeno (cerca de 25 vidade do duodeno. Sua secreção digestiva é responsável
cm), jejuno (cerca de 5 m) e íleo (cerca de 1,5 cm). pela hidrólise da maioria das moléculas de alimento, como
A porção superior ou duodeno tem a forma de ferra- carboidratos, proteínas, gorduras e ácidos nucleicos. O pH
dura e compreende o piloro, esfíncter muscular da parte do suco pancreático oscila entre 8 e 8,3.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

inferior do estômago pela qual este esvazia seu conteú- O pâncreas tem as seguintes funções:
do no intestino. - Dissolver carboidrato (amilase pancreática);
A digestão do quimo ocorre predominantemente no - Dissolver proteínas (tripsina, quimotripsina, carboxi-
duodeno e nas primeiras porções do jejuno. No duo- peptidase e elastáse);
deno atua também o suco pancreático, produzido pelo - Dissolver triglicerídios nos adultos (lípase
pâncreas, que contêm diversas enzimas digestivas. Outra pancreática);
secreção que atua no duodeno é a bile, produzida no fí- - Dissolver ácido nucleicos (ribonuclease e
gado e armazenada na vesícula biliar. O pH da bile oscila desoxirribonuclease).
entre 8,0 e 8,5 (básico). Os sais biliares têm ação deter-
gente, emulsificando (quebrando) as gorduras.
O suco pancreático, produzido pelo pâncreas, contém

201
1.6.2 Fígado penetram nos pulmões. Seu epitélio de revestimento
O fígado é uma das glândulas anexas do sistema di- muco-ciliar adere partículas de poeira e bactérias pre-
gestório do corpo humano e se localiza no abdômen, sob sentes em suspensão no ar inalado, que são posterior-
o diafragma, e é a maior glândula do corpo. Ele armaze- mente varridas para fora (graças ao movimento dos cí-
na substâncias, como glicose, ferro e vitaminas; sintetiza lios) e engolidas ou expelidas.
proteínas; inativa produtos tóxicos; metaboliza e elimina
resíduos gerados no próprio corpo (como a ureia, o áci- 2.1.5 Pulmões
do úrico e o ácido lácteo). Os pulmões humanos são órgãos esponjosos, com
aproximadamente 25 cm de comprimento, sendo en-
A bile é um fluido produzido pelo fígado, que fica ar- volvidos por uma membrana serosa denominada pleura.
mazenada na vesícula biliar e atua na digestão de gor- Nos pulmões os brônquios ramificam-se profusamente,
duras, de alguns alimentos e na absorção de substâncias dando origem a tubos cada vez mais finos, os bronquío-
nutritivas da dieta ao passarem pelo intestino. Ela é ex- los. O conjunto altamente ramificado de bronquíolos é a
cretada pelo fígado, segue pelos ductos biliares, passa à árvore brônquica ou árvore respiratória. Cada bronquíolo
vesícula, indo ao intestino, onde emulsiona as gorduras. termina em pequenas bolsas formadas por células epite-
A vesícula biliar tem de 7 a 10 cm de comprimento e liais achatadas recobertas por capilares sanguíneos, de-
tem capacidade para até 50 ml de bile. nominadas alvéolos pulmonares.
O diafragma serve como base de cada pulmão. Este
2. Sistema respiratório fino músculo que separa o tórax do abdômen (presen-
O sistema respiratório humano é constituído por um te apenas em mamíferos) promove, juntamente com os
par de pulmões e por vários órgãos que conduzem o ar músculos intercostais, os movimentos respiratórios.
para dentro e para fora das cavidades pulmonares. Es-
ses órgãos são as fossas nasais, a boca, a faringe, a 2.2 Mecânica da respiração
laringe, a traqueia, os brônquios, os bronquíolos e os Os pulmões ocupam a maior parte da cavidade to-
alvéolos – estes três últimos localizados nos pulmões. rácica. Neles ocorre o processos de renovação do ar co-
nhecido como mecânica da respiração.
2.1.1 Fossas nasais
As fossas nasais são duas cavidades paralelas que 2.2.1 Movimentos respiratórios
começam nas narinas e terminam na faringe. Elas são Na inspiração, os músculos da caixa toráxica (dia-
separadas uma da outra por uma parede cartilaginosa fragma e músculos intercostais) se contraem e se acha-
denominada septo nasal. Em seu interior possuem um tam; o tórax se expande, a pressão interna diminui em
revestimento dotado de células produtoras de muco e relação a atmosférica, e o ar entra.
células ciliadas, também presentes nas porções inferio- Na expiração, todos os músculos relaxam, voltando
res das vias aéreas, como traqueia, brônquios e porção a posição inicial, a pressão interna na da caixa torácica
inicial dos bronquíolos. No teto das fossas nasais existem aumenta, e o ar é expelido.
células sensoriais, responsáveis pelo sentido do olfato.
Têm as funções de filtrar, umedecer e aquecer o ar. 2.2.2 Regulação dos movimentos respiratórios
Os movimentos respiratórios são involuntários, mas
2.1.2 Faringe podem ser alterados de forma voluntária.
A faringe é um canal comum aos sistemas digestório O centro nervoso, que controla os músculos do tórax
e respiratório e comunica-se com a boca e com as fossas e o diafragma, localiza-se numa parte do sistema nervo-
nasais. O ar inspirado pelas narinas ou pela boca passa so central denominado bulbo.
necessariamente pela faringe, antes de atingir a laringe.
3. Sistema Cardiovascular
2.1.3 Laringe O principal órgão desse sistema é o coração, que
A laringe é um tubo sustentado por peças de cartila- bombeia o sangue, de forma que ele possa circular por
gem articuladas, situado na parte superior do pescoço, todas as células do organismo pelos vasos sanguíneos,
em continuação à faringe. levando oxigênio; e retorne ao coração trazendo gás car-
A entrada da laringe chama-se glote. Acima dela en- bônico. O tempo médio para que o sangue complete um
contra-se a epiglote, que funciona como válvula. Quando ciclo completo de circulação é de um minuto.
nos alimentamos, a laringe sobe e sua entrada é fechada Os nutrientes, hormônios e resíduos metabólicos
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

pela epiglote. Isso impede que o alimento ingerido pene- também tem a contribuição do sistema cardiovascular
tre nas vias respiratórias. para serem transportados aos órgãos de destino.
O epitélio que reveste a laringe apresenta pregas, as
cordas vocais, capazes de produzir sons durante a pas- 3.1 Circulaçõoes
sagem de ar. O sangue flui por duas circulações: a circulação pul-
monar e a circulação sistêmica.
2.1.4 Traqueia A Pequena Circulação ou Circulação Pulmonar é
Consiste em um tubo de aproximadamente 1,5 cm de o caminho que o sangue percorre do coração aos pul-
diâmetro por 10-12 centímetros de comprimento, cujas mões, e dos pulmões ao coração. Assim, o sangue ve-
paredes são reforçadas por anéis cartilaginosos. Bifurca- noso é bombeado do ventrículo direito para a artéria
-se na sua região inferior, originando os brônquios, que pulmonar que se ramifica de maneira que uma segue

202
para o pulmão direito e outra para o pulmão esquerdo. o lado esquerdo bombeia o sangue arterial para diversas
Já nos pulmões, o sangue presente nos capilares dos al- partes do corpo, enquanto o lado direito bombeia o san-
véolos libera o gás carbônico e absorve o gás oxigênio. gue venoso para os pulmões.

Por fim, o sangue arterial (oxigenado) é levado dos O coração funciona impulsionando o sangue por
pulmões ao coração, através das veias pulmonares, que meio de dois movimentos: de contração, denominado
se conectam no átrio esquerdo. sístole e de relaxamento, denominado diástole.
A Grande Circulação ou Circulação Sistêmica é o
caminho do sangue que sai do coração até as demais Estrutura do Coração
células do corpo, e vice-versa. No coração, o sangue ar- - Átrios: cavidades superiores por onde o sangue
terial, vindo dos pulmões, é bombeado do átrio esquer- chega ao coração.
do para o ventrículo esquerdo e deste para a artéria - Ventrículos: cavidades inferiores por onde o san-
aorta responsável por transportar esse sangue para todo gue sai do coração.
o organismo. - Válvula Tricúspide: impede o refluxo de sangue do
Assim, quando esse sangue oxigenado chega aos átrio direito para o ventrículo direito.
tecidos, os vasos capilares refazem as trocas dos gases: - Válvula Mitral: impede o refluxo de sangue do átrio
absorvem o gás oxigênio e liberam o gás carbônico, tor- esquerdo para o ventrículo esquerdo.
nando o sangue venoso. Por fim,o sangue venoso faz o
caminho de volta ao coração e chega ao átrio direito pe-
las veias cavas superiores e inferiores, completando o
sistema cardiovascular.

3.2 Componentes do Sistema Cardiovascular

3.2.1 Sangue
O sangue é um tecido conjuntivo líquido altamente
especializado, produzido na medula óssea vermelha, que
flui pelas veias, artérias e capilares sanguíneos. O sangue é
formado por alguns tipos de células (parte figurada) disti-
bruídas em um meio liquido chamado de plasma.
Os constituintes celulares são os glóbulos vermelhos
(eritrócitos ou hemácias), os glóbulos brancos (leu-
cócitos) e as plaquetas (trombócitos). O plasma com-
põe-se principalmente de água com diversas substâncias
dissolvidas, que são transportadas através do corpo.

Hemácias Os batimentos cardíacos


Continuamente produzidas pela medula vermelha Os batimentos cardíacos tem origem num impulso rít-
(tecido hematopoiético) dos ossos longos; são armaze- mico que partem de um grupo de células especializadas da
nadas no baço, destruídas no fígado e na medula óssea. própria parede muscular do coração, chamado de nódulo
Tem duração média de 120 dias. Na fase embrionária, sino-atrial, que funciona como um marca-passo. Entretanto,
são produzidos pelo fígado. Contêm hemoglobina, pig- o ritmo das pulsações é controlado pelo sistema nervoso
mento vermelho que tem função de se combinar e trans- autônomo, através de um nervo inibidor que libera acetilco-
portar oxigênio. lina, e de um acelerador, que libera adrenalina.

Leucócitos 3.2.3 Vasos Sanguíneos


Continuamente produzidos pela medula óssea, baço Os vasos sanguíneos são tubos do sistema cardiovas-
e gânglios linfáticos, apresentam grande variedade mor- cular, distribuídos por todo o corpo, por onde circula o
fológica,relacionada a função exercida no sistema de de- sangue. São formados por uma rede de artérias e veias
fesa do organismo. Os mais frequentes são os neutrófi- que se ramificam formando os capilares.
los (70%), que defendem o organismo contra os agentes
estranhos, como fungos e bactérias; em seguida há os Artérias
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

linfócitos, que participam do sistema imunológico com a As artérias são vasos do sistema cardiovascular, que
produção de anticorpos. saem do coração e transportam o sangue para todas as
células do corpo. A parede da artéria é espessa e forma-
Plaquetas da de tecido muscular elástico, que suporta a pressão
Produzidas pela medula óssea, têm um papel impor- do sangue. O sangue venoso, rico em gás carbônico, é
tante na coagulação do sangue. bombeado do coração para os pulmões através das ar-
térias pulmonares; enquanto o sangue arterial, rico em
3.2.2 Coração gás oxigênio, é bombeado do coração para os tecidos do
O coração é um órgão muscular do sistema cardio- corpo, através da artéria aorta. As artérias se ramificam
vascular, que se localiza na caixa torácica entre os pul- pelo corpo, ficam mais finas, formam as arteríolas, que se
mões e funciona como uma bomba dupla de modo que ramificam ainda mais, originando os capilares.

203
Veias é de apenas 15mmHg, em média. Desse modo, a pressão
As veias são vasos do sistema cardiovascular, que sanguínea média nos capilares é da ordem de 25 mmHg.
chegam ao coração trazendo de volta sangue dos te- Esta pressão é suficiente para fazer o líquido extravasar
cidos do corpo. Suas paredes são mais finas que as arté- o plasma sanguíneo (sem a maior parte das proteínas) e
rias e apresentam válvulas para evitar o retorno do fluxo chegar aos espaços intercelulares (interstício).
sanguíneo devido a gravidade. O sangue venoso, rico em Em virtude da maior concentração do plasma sanguí-
gás carbônico, é levado do corpo para o coração através neo (apresenta proteínas) em relação ao liquido interce-
das veias cavas; enquanto o sangue arterial, rico em gás lular, há uma maior pressão osmótica no interior do vaso.
oxigênio, é transportado dos pulmões para o coração Em consequência dessa diferença, tem-se movimento
através das veias pulmonares. As veias, ao se aproxima- do liquido dos espaços intercelulares para o interior da
rem do coração, ficam mais espessas, sendo formadas parede capilar (semipermeável). A pressão osmótica das
pela junção das vênulas, provenientes dos capilares. proteínas plasmática é da ordem de 25mmHg. Desse
modo, observa-se um equilíbrio dinâmico do movimento
Capilares do liquido entre o sangue dos capilares e do liquido in-
Os capilares são ramificações microscópicas de arté- tercelular dos tecido.
rias e veias do sistema cardiovascular. Suas paredes apre- A pressão sanguínea força o fluido para fora do capi-
sentam apenas uma camada de células, que permitem a lar, de maneira decrescente, da terminação arterial para
troca de substâncias entre o sangue e as células. a terminação venosa. A pressão osmótica das proteínas
força o fluido dos espaços intercelulares para o interior
4. Sistema linfático do capilar. Na terminação arterial sai mais fluido do que
O sistema linfático está representado por um sistema entra e, na terminação venosa, verifica-se o contrário.
de vasos que recolhe o liquido intercelular e o devolve ao
sangue. O líquido intercelular (intersticial) é semelhan- 5. Sistema excretor
te ao plasma sanguíneo, embora contenha bem menos O sistema excretor é formado por um conjunto de ór-
proteínas. A pressão sanguínea faz com que o plasma gãos que filtram o sangue, produzem e excretam a urina
sanguíneo atravesse a parede dos capilares, com exceção - o principal líquido de excreção do organismo. É consti-
das proteínas de grande peso molecular, e passe para os tuído por um par de rins, um par de ureteres, pela bexiga
espaços intercelulares. urinária e pela uretra.
O liquido intercelular é mantido normalmente em Os rins situam-se na parte dorsal do abdome, logo
equilíbrio entre o sangue e o fluido dos tecidos, uma vez abaixo do diafragma, um de cada lado da coluna verte-
que ele é continuamente reconduzido à corrente san- bral.Cada rim é formado de tecido conjuntivo, que sus-
guínea pelo sistema de vasos linfáticos. O fluido, agora tenta e dá forma ao órgão, e por milhares ou milhões
dentro dos vasos passa a ser chamado de linfa e, ao con- de unidades filtradoras, os néfrons, localizados na região
trário do sangue, circula em apenas um sentido, isto é, da renal.
periferia em direção ao coração. O néfron é uma longa estrutura tubular microscópica
De acordo com o calibre, os canais do sistema são que possui, em uma das extremidades, uma expansão em
chamados capilares (menor calibre), vasos e ductos lin- forma de taça, denominada cápsula de Bowman, que se
fáticos (maior calibre).A parede dos dutos linfáticos tem conecta com o túbulo contorcido proximal, que continua
estrutura semelhante à das veias. pela alça de Henle e pelo túbulo contorcido distal; este
No trajeto dos vasos linfáticos, encontram-se dila- desemboca em um tubo coletor. São responsáveis pela
tações denominadas gânglios linfáticos ou linfonodos. filtração do sangue e remoção das excreções.
Tais gânglios são constituídos de tecido conjuntivo he-
matopoiético linfoide. Por sua riqueza em macrófagos os 5.1 Funcionamento dos rins
linfonodos representam filtros para a linfa, fagocitando O sangue chega ao rim através da artéria renal, que se
elementos estranhos. Neles, formam-se glóbulos bran- ramifica muito no interior do órgão, originando grande
cos do tipo monócitos e, principalmente, linfócitos. Além número de arteríolas aferentes, onde cada uma ramifica-
disso, por sua riqueza em plasmócitos, representam lo- -se no interior da cápsula de Bowman do néfron, forman-
cais de formação de anticorpos. do um enovelado de capilares denominado glomérulo.
As proteínas plasmáticas desempenham um papel O sangue arterial é conduzido sob alta pressão nos ca-
importante na transferência de liquido através da pare- pilares do glomérulo. Essa pressão tem intensidade sufi-
de do capilar. O líquido pode sair da corrente sanguínea ciente para que parte do plasma passe para a cápsula de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

para o liquido intercelular e também pode passar dos es- Bowman, processo denominado filtração. Essas substân-
paços intercelulares para a corrente sanguínea. O sentido cias extravasadas para a cápsula de Bowman constituem
da passagens desses líquidos é determinado pela pres- o filtrado glomerular, que é semelhante, em composição
são sanguínea dos capilares e pela pressão osmótica das química, ao plasma sanguíneo, com a diferença de que
proteínas do plasma. não possui proteínas, incapazes de atravessar os capila-
Pressão sanguínea: em razão da sístole ventricular, o res glomerulares.
sangue é bombeado pelo sistema arterial sob alta pres-
são. Essa pressão decresce à medida que o sangue se
distancia do coração, de tal modo que, ao passar das ar-
teríolas para os capilares, atinge valores de 35 mmHg.
Na saída dos capilares, o valor da pressão sanguínea

204
O filtrado glomerular passa em seguida para o túbu- 6. 1 A célula nervosa
lo contorcido proximal. Nesse túbulo, ocorre reabsorção O sistema nervoso é constituído por elementos alta-
ativa de sódio. A saída desses íons provoca a remoção mente diferenciados, as células nervosas, ou neurônios.
de cloro, fazendo com que a concentração do líquido Os neurônios podem variar em forma e tamanho. Todos
dentro desse tubo fique menor (hipotônico) do que do tem em comum, entretanto, um corpo celular, os den-
plasma dos capilares que o envolvem. Com isso, quando dritos e o axônio.
o líquido percorre o ramo descendente da alça de Hen-
le, há passagem de água por osmose do líquido tubular
(hipotônico) para os capilares sanguíneos (hipertônicos)
– ao que chamamos reabsorção. O ramo descendente
percorre regiões do rim com gradientes crescentes de
concentração. Consequentemente, ele perde ainda mais
água para os tecidos, de forma que, na curvatura da alça
de Henle, a concentração do líquido tubular é alta.
Esse líquido muito concentrado passa então a percor-
rer o ramo ascendente da alça de Henle, que é formado
por células impermeáveis à água e que estão adaptadas
ao transporte ativo de sais. Nessa região, ocorre remoção
ativa de sódio, ficando o líquido tubular hipotônico. Ao
passar pelo túbulo contorcido distal, que é permeável à Os dendritos e o axônio são prolongamentos do cor-
água, ocorre reabsorção por osmose para os capilares po celular. Os dendritos são, geralmente, expansões cur-
sanguíneos. Ao sair do néfron, a urina entra nos dutos tas e muito ramificadas (dendron = árvores). O axônio é
coletores, onde ocorre a reabsorção final de água. geralmente longo e pouco ramificado.
Dessa forma, estima-se que em 24 horas são filtrados
cerca de 180 litros de fluido do plasma; porém são for- Há neurônios cujo axônio apresenta um envoltório
mados apenas 1 a 2 litros de urina por dia. chamado bainha de mielina. Esta bainha é formada por
células especiais, as células de Schwann, que envolvem
Além desses processos gerais descritos, ocorre, ao
os axônio e os revestem com várias camadas de proteí-
longo dos túbulos renais, reabsorção ativa de aminoá-
nas e lipídeos. A bainha funciona como isolante elétrico
cidos e glicose. Desse modo, no final do túbulo distal, e permite condução mais rápida de impulso.
essas substâncias já não são mais encontradas. Os corpos celulares dos neurônios se localizam no cen-
tros nervosos, como o cérebro, a medula e os gânglios; os
5. 2 Regulação da função renal nervos por exemplo, são formados por feixes de axônios.
A regulação da função renal relaciona-se basicamen- As células nervosas se comunicam umas com as ou-
te com a regulação da quantidade de líquidos do corpo. tras através de seus prolongamentos: as terminações dos
Havendo necessidade de reter água no interior do corpo, axônios com as ramificações dos dendritos, sendo este o
a urina fica mais concentrada, em função da maior reab- sentido obedecido na propagação do impulso nervoso.
sorção de água; havendo excesso de água no corpo, a
urina fica menos concentrada, em função da menor reab- 6.1.2 Tipos de neurônios
sorção de água. Os neurônios sensitivos conduzem o impulso nervo-
O principal agente regulador do equilíbrio hídrico so das células para o Sistema Nervoso Central.
no corpo humano é o hormônio ADH (antidiurético), Os neurônios motores conduzem o impulso nervoso
produzido no hipotálamo e armazenado na hipófise. A do Sistema Nervoso Central para os músculos ou glândulas.
concentração do plasma sanguíneo é detectada por re- Os neurônios de associação encontram-se no Siste-
ceptores osmóticos localizados no hipotálamo. Haven- ma Nervoso Central e servem de ligação entre os neuró-
do aumento na concentração do plasma (pouca água), nios sensitivos e os motores que processam e coorde-
esses osmorreguladores estimulam a produção de ADH. nam a informação.
Esse hormônio passa para o sangue, indo atuar sobre
os túbulos distais e sobre os túbulos coletores do né- 6.1.3 Sinapse
fron, tornando as células desses tubos mais permeáveis à As sinapses são regiões de conexão química estabe-
água. Dessa forma, ocorre maior reabsorção de água e a lecidas entre um neurônio e outro; entre um neurônio e
urina fica mais concentrada. Quando a concentração do uma fibra muscular ou entre um neurônio e uma célula
glandular.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

plasma é baixa (muita água), há inibição da produção do


ADH e, consequentemente, menor absorção de água nos
O impulso nervoso
túbulos distais e coletores, possibilitando a excreção do
Em um neurônio, os estímulos se propagam sempre
excesso de água, o que torna a urina mais diluída.
no mesmo sentido: são recebidos pelos dendritos, se-
guem pelo corpo celular, percorrem o axônio e, da extre-
6. Sistema nervoso midade deste, são passados à célula seguinte (dendrito
A coordenação nervosa refere-se ao controle de fun- – corpo celular – axônio). O impulso nervoso que se pro-
ções de um organismo, desempenhado pelo sistema paga através do neurônio é de origem elétrica e resulta
nervoso. de alterações nas cargas elétricas das superfícies externa
e interna da membrana celular.

205
A membrana de um neurônio em repouso apresenta- O sistema nervoso somático inclui, também, o sis-
-se com carga elétrica positiva do lado externo (voltado tema nervoso periférico, que compreende os nervos
para fora da célula) e negativa do lado interno (em conta- formados por prolongamentos de neurônios sensoriais e
to com o citoplasma da célula). Quando essa membrana efetuadores, que conduzem, respectivamente, impulsos
se encontra em tal situação, diz-se que está polarizada. dos receptores sensoriais ao sistema nervoso central e,
Essa diferença de cargas elétricas é mantida pela bomba deste, de volta para as parte periféricas do corpo, onde
de sódio e potássio. Assim separadas, as cargas elétri- estão os efetuadores de respostas.
cas estabelecem uma energia elétrica potencial através O encéfalo forma-se a partir de um dilatação do tubo
da membrana: o potencial de membrana ou potencial de neural, que se subdivide em três porções: anterior, poste-
repouso (diferença entre as cargas elétricas através da rior e médio. Num estágio posterior, a porção anterior do
membrana). encéfalo se subdivide, constituindo o cérebro (grande-
Quando um estímulo químico, mecânico ou elétrico mente expandido sob a forma de hemisférios cerebrais) e
chega ao neurônio, pode ocorrer a alteração da permea- o diencéfalo (tálamo, hipotálamo e hipófise posterior).
bilidade da membrana, permitindo grande entrada de O cérebro é a sede de todas as ações voluntárias e
sódio na célula e pequena saída de potássio dela. Com cognitivas, como raciocínio e memória.
isso, ocorre uma inversão das cargas ao redor dessa O diencéfalo estabelece numerosas conexões com
membrana, que fica despolarizada gerando um potencial outras partes do encéfalo. O tálamo contém feixes as-
de ação. Essa despolarização propaga-se pelo neurônio cendentes e descendentes que ligam o cérebro a me-
caracterizando o impulso nervoso. dula. O hipotálamo engloba os centros que controlam o
Imediatamente após a passagem do impulso, a mem- sono, vigília, fome, sede, osmorregulação, temperatura,
brana sofre repolarização, recuperando seu estado de instinto sexual, prazer e dor. A parte superior da hipófi-
repouso, e a transmissão do impulso cessa. se, considerada a glândula mestra do sistema endócrino,
O estímulo que gera o impulso nervoso deve ser for- é formada por uma projeção do diencéfalo, abaixo do
te o suficiente, acima de determinado valor crítico, que hipotálamo. Ela armazena secreções produzidas por cé-
varia entre os diferentes tipos de neurônios, para induzir lulas neuro-secretoras.
O cerebelo é o órgão responsável pela coordenação
a despolarização que transforma o potencial de repouso
das atividades dos músculos esqueléticos, do tato, visão
em potencial de ação. Esse é o estímulo limiar. Abaixo
e audição, em nível inconsciente, a partir de informações
desse valor o estímulo só provoca alterações locais na
recebidas. Indivíduos com lesão no cerebelo exibem
membrana, que logo cessam e não desencadeiam o im-
fraqueza e perda do tônus muscular, assim como movi-
pulso nervoso.
mentos descoordenados. Suas atividades estão relacio-
Qualquer estímulo acima do limiar gera o mesmo po-
nadas com o equilíbrio e postura corporal. O cerebelo
tencial de ação que é transmitido ao longo do neurônio.
trabalha em conexão com o córtex cerebral e o tronco
Assim, não existe variação de intensidade de um impulso encefálico.
nervoso em função do aumento do estímulo; o neurônio O bulbo, além de ser caminho para todos os feixes
obedece à regra do “tudo ou nada”. nervosos que ligam a medula espinhal ao cérebro, con-
De um ponto de vista funcional o sistema nervoso hu- têm centros de controle das funções vegetativas,como
mano está dividido em somático e autônomo. respiração, deglutição e circulação.
6.2 Sistema Nervoso Somático
A porção somática do sistema nervoso compreende
todas as partes envolvidas no controle voluntário. Dos
organismos. Compreende o sistema nervoso central,
formado pelo encéfalo e pela medula nervosa, onde
ocorrem a interpretação e a integração dos impulsos ner-
voso, e de onde partem ordens para todo o organismo. O
sistema nervoso central é protegido por um sistemas de
membranas, as meninges: pia-mater, em contato direto
com os órgãos do sistema nervoso; dura-máter, sob os
ossos do crânio e da coluna vertebral e aracnoide, que
situa-se entre as duas anteriores.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A medula espinhal é uma extensão do encéfalo, es-


tendendo-se da base do crânio até logo abaixo das cos-
telas. E uma haste de tecido cerebral, com um pequeno
canal passando através de todo seu comprimento, que
contém o líquido céfalo-raquidiano, e coloração bran-
ca por fora e cinzento por dentro. É uma importante via
de comunicação com os centros nervosos superiores,
contendo inúmeros feixes ascendentes e descendentes.
Além disso, atua como centro de coordenação autôno-
ma, que controlam algumas ações reflexas.

206
6.3 Sistema nervoso autônomo
O sistema nervoso autônomo controla a função involuntária de diversos órgãos, já que a maior parte da sua ativida-
de não chega ao córtex. Divide-se em sistema nervoso simpático e sistema nervoso parassimpático. Estes trabalham
de forma antagônica, podendo-se afirmar que o sistema parassimpático restaura os níveis de equilíbrio alterados pelo
simpático.
A função do sistema nervoso simpático (SNS) é a de preparar o corpo para uma emergência, de responder a um
estímulo do ambiente quando o organismo se encontra ameaçado, excitando e ativando os órgãos necessários às
respostas.
Já o sistema nervoso parassimpático (SNP) visa reorganizar as atividades desencadeadas pelo SNS, relaxando as
atividades. Relaciona-se diretamente com a capacidade de regulação do organismo face às condições ambientais em
que se encontra – homeostasia, equilíbrio interno mantido pelo hipotálamo. Por exemplo, se o SNS faz com que o ritmo
cardíaco acelere, a função do SNP é estabilizar esse ritmo.

7. Sistema sensorial
O Sistema sensorial consiste nos receptores sensoriais, nos neurônios aferentes, e nas partes do cérebro envolvidas
no processamento da informação.
Os sentidos são os meios através dos quais se percebem e reconhecem os estímulos do ambiente em que se en-
contram – em outras palavras, são as traduções do mundo físico para a mente. Os mais conhecidos são cinco: a visão,
a audição, o tato, o paladar e o olfato; havendo ainda outros mais, como a propiocepção, as percepções térmicas e de
pressão, entre outras.
Os estímulos provenientes do ambiente são captados através de células altamente especializadas, chamadas de
células sensoriais; ou através de simples terminações nervosas dos neurônios. Essas células ou terminações nervosas
podem ser encontradas espalhadas pelo corpo e nos órgãos dos sentidos (olfato, paladar, tato, visão e audição),
formando o sistema sensorial.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Embora cada órgão do sentido apresente um tipo de célula sensorial diferente, elas funcionam de maneira muito
semelhante. Ao serem estimuladas, ocorre uma alteração na permeabilidade da membrana plasmática da célula senso-
rial, gerando impulsos nervosos que chegam até o sistema nervoso central, onde serão interpretados. Esses impulsos
nervosos gerados pelas células sensoriais (através de uma luz que atinge os olhos ou de um odor que chega às nari-
nas) são muito semelhantes. Somente quando chegam às áreas do cérebro responsáveis, nesse caso, pela visão e pelo
olfato, é que os impulsos serão interpretados como sensações visuais e olfativas. Dessa forma, quem na verdade vê e
cheira não são os olhos e o nariz, e sim o cérebro.

207
pelo alvo, os hormônios desencadeiam uma série de rea-
ções químicas, regulando o metabolismo das células; seu
efeito pode ser imediato ou levar vários dias para apare-
cer, persistindo por meses ou até anos, dependendo do
hormônio.
Ao contrário das glândulas endócrinas, as glândulas
exócrinas não produzem hormônios e liberam suas se-
creções por dutos ou canais, como é o caso das glându-
las lacrimais, sudoríparas e salivares. Existe ainda glându-
la mista, representada pelo pâncreas, que apresenta uma
porção endócrina que secreta hormônios e uma porção
exócrina, que secreta suco pancreático no duodeno atra-
vés do duto pancreático.
Além das glândulas endócrinas, existem órgãos que
também secretam hormônios, como é o caso do coração,
do estômago, do intestino delgado e dos rins. Os hormô-
nios secretados por esses órgãos geralmente apresen-
tam efeitos locais.
O controle hormonal é realizado por um sistema de
retroalimentação (feedback). Observe no exemplo abaixo
como ocorre esse processo.
A nossa pele é responsável pelo tato e nela podemos
encontrar mecanoceptores que captam estímulos mecâ-
nicos, transmitindo-os ao sistema nervoso central.
Em nossa língua estão as papilas gustativas, que são
as responsáveis pelo nosso paladar. Há papilas gustativas
especializadas na percepção dos quatro sabores (azedo,
salgado, doce e amargo). O olfato também tem papel
importante na percepção dos sabores, pois também
apresenta quimiorreceptores.
Nossas narinas são as responsáveis pelo sentido do
olfato. Nelas está o epitélio olfativo, um tecido especia-
lizado onde encontramos milhares de células olfativas,
que possuem pelos que captam moléculas dissolvidas no
ar que respiramos.
Os ouvidos são os órgãos responsáveis pela audição
e pelo equilíbrio. Nele encontramos mecanoceptores 8.2 Glândulas do Sistema Endócrino
que captam estímulos mecânicos retransmitindo-os ao As glândulas endócrinas estão localizadas em dife-
sistema nervoso central. rentes partes do corpo: hipófise, tireoide e paratireoi-
Já nos olhos encontramos células sensoriais que são des, suprarrenais, pâncreas e as glândulas sexuais.
estimuladas pela luminosidade, chamadas de fotocepto-
res, responsáveis pelo sentido da visão. Essas células são Hipófise
encontradas na retina e podem ser do tipo cone ou bas- A hipófise também denominada glândula pituitária,
tonete. Os bastonetes são muito sensíveis a variações na é uma pequena glândula com cerca de 1 cm de diâme-
tro localizada na base do cérebro. A hipófise é conside-
luminosidade, mas não distinguem cores, enquanto que
rada uma glândula mestra, pois secreta hormônios que
os cones as distinguem.
controlam o funcionamento de outras glândulas, sendo
grande parte de suas funções reguladas pelo hipotálamo.
8. Sistema Endócrino A hipófise é dividida anatomicamente e funcional-
O Sistema Endócrino é o conjunto de glândulas res- mente em duas partes (anterior e posterior). Cada parte
ponsáveis pela produção dos hormônios que são lan- será responsável por funções fisiológicas diferenciadas.
çados no sangue e percorrem o corpo até chegar aos Sendo assim, reconhece -se na hipófise:
órgãos-alvo sobre os quais atuam. Junto com o sistema
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

nervoso, o sistema endócrino coordena todas as funções Adeno-hipófise (hipófise anterior):Secreta os hor-
do nosso corpo. O hipotálamo, grupo de células nervosas mônios que controlam o funcionamento de outras glân-
localizadas na base do encéfalo, faz a integração entre dulas endócrinas, quando estimuladas a fazer isso pelo
esses dois sistemas. hormônios do hipotálamo.
- TSH (hormônio tireotrófico): estimula e regula a ati-
8.1 Controle hormonal vidade da tireoide na produção dos hormônios T3
Hormônios são substâncias produzidas por glându- e T4;
las endócrinas. Eles são liberados dessas glândulas dire- - ACTH (hormônio adrenocorticotrófico): controla a
tamente no sangue e atuam em células-alvo geralmente atividade do córtex da glândula suprarrenal, esti-
distantes do seu local de produção. Uma vez recebidos mulando a liberação de cortisol e aldosterona;

208
- LH (hormônio luteinizante): regula as atividades das pelo nosso metabolismo basal, ou seja, estimulam as cé-
gônadas masculinas e femininas, como a produção lulas a trabalharem e garantem que tudo funcione corre-
de testosterona nos testículos e estrogênio nos tamente no corpo.
ovários, indução da ovulação e formação do corpo A função da tireoide, bem como das demais glândulas
lúteo. endócrinas, é regulada por um mecanismo de auto con-
- FSH (hormônio folículo-estimulante): atua na produ- trole que envolve o cérebro – o feedback ou retroalimen-
ção dos folículos, nos ovários; e dos espermatozoi- tação. Quando os níveis de hormônios da tiroide estão
des, nos testículos. baixos, o hipotálamo no cérebro produz um hormônio
- Prolactina: promove a produção de progesterona conhecido como liberador de tirotrofina (TRH), que faz
nos ovários femininos e também a produção de com que a adenoipóifise libere o hormônio estimulador
leite nas glândulas mamárias, durante a gravidez e da tireoide (TSH).
a amamentação.
- Somatotrofina, hormônio do crescimento ou GH: hor- Problemas relacionados a tireoide
mônio que promove a captação de aminoácidos Os distúrbios da tireoide ocorrem quando essa glân-
para a formação de proteínas. Com isso, esse hor- dula para de funcionar corretamente, podendo produzir
mônio atua no crescimento de todo o organismo, mais ou menos hormônios do que o normal. Uma vez
incluindo tecidos, ossos e cartilagens, promovendo que a glândula tireoide é controlada pela hipófise e pelo
o aumento na estatura principalmente dos jovens hipotálamo, distúrbios nestes órgãos endócrinos tam-
na puberdade. Após a puberdade, a produção des- bém podem afetar a função da tireoide.
se hormônio cai consideravelmente.
Há casos em que, em virtude de uma disfunção na hi- Hipertireoidismo
pófise, a pessoa continua a produzir esse hormônio mes- O hipertiroidismo, também conhecido como hiper-
mo após a puberdade. Quando isso ocorre, há aumento funcionamento da tiroide, é uma doença metabólica
da estatura, mas os ossos do crânio, da face, das mãos e caracterizada pela produção excessiva de hormônios
dos pés aumentam, causando uma doença que chama- tireoidianos (chamados T3 e T4). Esses hormônios de-
mos de acromegalia. sempenham um papel fundamental da regulação do me-
O excesso do hormônio do crescimento provoca o au- tabolismo, incluindo funções vitais como as frequências
mento exagerado no tamanho do corpo, o que chamamos cardíaca e respiratória.
de gigantismo; já a sua deficiência (que geralmente é cau-
sada por fatores genéticos), provoca o nanismo. Algumas Hipotireoidismo
crianças que têm deficiência na produção do hormônio Assim como o hipertireoidismo, o hipotireoidismo tam-
do crescimento podem ser tratadas com injeções desse bém causa um aumento de volume da tireóide (bócio). Con-
hormônio para promover o seu crescimento. tudo, esse aumento não é acompanhado de mais produção
Neuro- Hipófise (hipófise posterior): Só armazena dos hormônios tireoidianos, mas sim pela queda na produ-
hormônios produzido pelo hipotálamo. ção dos hormônios T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina).
Os hormônios secretados pela hipófise posterior são:
- Ocitocina: hormônio que atua nas contrações Paratireoide
do útero durante o parto, estimulando a expulsão do As paratireóides são quatro pequenas glândulas que
bebê. Também promove a liberação de leite durante a se localizam atrás da glândula da tireoide, na região do
amamentação. pescoço. Essas glândulas secretam um hormônio chama-
- ADH (hormônio antidiurético): esse hormônio atua do de paratormônio (PTH) e são responsáveis pelo equi-
no controle da eliminação de água pelos rins, portan- líbrio do cálcio e manutenção da massa óssea.
to tem efeito antidiurético, ou seja, é liberado quando Além de aumentar a concentração de Ca2+ plasmá-
a quantidade de água no sangue diminui, provocando tico, o hormônio da paratireóide reduz a concentração
uma maior absorção de água no túbulo renal e diminuin- de fosfato sanguíneo. Este efeito resulta da atividade do
do a urina. Quando o nível desse hormônio está acima paratormônio em células dos túbulos renais, diminuindo
do normal, ocorre a contração das arteríolas, provocando a reabsorção de fosfato e aumentando sua excreção na
um aumento da pressão arterial, por isso o outro nome urina. O paratormônio aumenta indiretamente a absor-
que esse hormônio é conhecido – vasopressina. Há casos ção de Ca2+ no trato digestivo, estimulando a síntese de
em que a quantidade de ADH no organismo da pessoa é vitamina D, que é necessária para esta absorção. A se-
deficiente, provocando excesso de urina e muita sede. A creção das células paratireóides é regulada pelos níveis
esse quadro damos o nome de diabetes insípida.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

sanguíneos de Ca2+.
Tireoide Hipoparatireoidismo
Glândula localizada na parte anterior pescoço. Age na É a doença resultante da falta de produção de pa-
função de órgãos importantes como o coração, cérebro, ratormônio pelas glândulas paratireóides. A falta desse
fígado e rins. Interfere, também, no crescimento e de- hormônio causa a redução do cálcio no sangue.
senvolvimento das crianças e adolescentes; na regulação
dos ciclos menstruais; na fertilidade; no peso; na memó- Hiperparatireoidismo
ria; na concentração; no humor; e no controle emocional. É a doença resultante do excesso de produção de
A tireoide utiliza o iodo para produzir os hormônios paratormonio pelas glândulas paratireóides. O excesso
vitais, sendo que os principais são a tiroxina (T4) e a deste hormônio causa o aumento do cálcio no sangue
triiodotironina (T3). Esses hormônios são responsáveis e na urina.

209
Pâncreas Diabetes tipo II
O pâncreas é uma glândula mista situada acima do As células musculares e adiposas são incapazes de
estômago, que pode ser classificado de acordo com seu utilizar toda a insulina secretada pelo pâncreas. Assim, a
funcionamento: glicose no sangue é pouco aproveitada por essas células.
Pâncreas Exócrino: Tem a função de produzir sucos
digestivos e enzimas que ajudam a partir em pedaços Hiperinsulinemia
menores as proteínas, os açúcares e as gorduras, para Algumas das causas da hiperinsulinemia são: obesi-
que possam passar para o intestino, auxiliando na diges- dade, sedentarismo e consumo elevado de carboidratos
tão dos alimentos e metabolismo dos nutrientes; refinados, que provoca aumento de glicose no sangue
Pâncreas Endócrino: Tem uma função importante na e consequentemente aumento na produção de insulina.
produção de hormônios, como a insulina e glucagon,
os quais regulam a forma como o organismo utiliza os Resistência à insulina
açúcares. Ocorre dificuldade de penetração da glicose nas cé-
Por terem funções diferentes, o pâncreas exócrino lulas e dessa forma é produzido mais insulina, já que este
e endócrino são formados por células diferentes, por é o seu papel, levar glicose à célula, só que devido a essa
exemplo, o pâncreas endócrino é formado por conglo- dificuldade este hormônio não atua de forma ideal, não
merados de células chamadas ácinos que irão produzir desempenha sua função por completo. Esse excesso de
o suco pancreático. Misturados com os ácinos, encon- insulina pode gerar um estado de pré-diabetes ou dia-
tram-se os Ilhotas de Langerhans, que são grupos iso- betes mesmo.
lados de células que produzem os hormônios que fazem
o controle dos níveis de açúcar no sangue. Suprarrenais
As glândulas supra-renais têm este nome devido ao fato
Insulina de se situarem sobre os rins, apesar de terem pouca relação
A insulina é um hormônio sintetizado no pâncreas, com estes em termos de função. As supra-renais são glându-
que promove a entrada de glicose nas células e também las vitais para o ser humano, já que possuem funções muito
desempenha papel importante no metabolismo de lipí- importantes, como regular o metabolismo do sódio, do po-
deos e proteínas. Existem algumas patologias relaciona- tássio e da água, regular o metabolismo dos carboidratos e
das à função da insulina no corpo, como: diabetes, resis- regular as reações do corpo humano ao stress.
tência à insulina e hiperinsulinemia. Conheça agora um
pouco mais sobre a importância deste hormônio para Hormônios produzidos pelas suprarrenais:
nossa saúde. - Aldosterona: A principal ação da aldosterona é a re-
Atuação no organismo: Os carboidratos que ingerimos tenção de sódio. Onde há sódio, estão associados íons
através dos alimentos (pão, massas, açúcares, cereais) e água. Portanto, a aldosterona age profundamente no
são mais rapidamente convertidos em glicose quando equilíbrio dos líquidos, afetando o volume intracelular e
precisamos de energia. Para a glicose penetrar em cada extracelular dos mesmos. Glândulas salivares e sudorípa-
célula do corpo é necessário que haja insulina circulante, ras também são influenciadas pela aldosterona para reter
que faz com que o hormônio chegue aos receptores de sódio. O intestino aumenta a absorção de sódio como
insulina nas células. reação à aldosterona.
Quando a glicemia (taxa de glicose no sangue) au- - Adrenalina e Noradrenalina: Tais hormônios são se-
menta após uma refeição, a quantidade de insulina tam- cretados em resposta à estimulação simpática e são con-
bém aumenta para que o excesso de glicose possa ser siderados como hormônios gerais. Liberados em grandes
rapidamente absorvido pelas células. quantidades depois de fortes reações emocionais como,
por exemplo, susto ou medo, estes hormônios são trans-
Diabetes portados pelo sangue para todas as partes do corpo,
O diabetes é uma síndrome metabólica de origem onde provocam reações diversas, principalmente cons-
múltipla, decorrente da falta de insulina e/ou da inca- trição dos vasos, elevação da pressão arterial, aumento
pacidade de a insulina exercer adequadamente seus dos batimentos cardíacos, etc.
efeitos, causando um aumento da glicose (açúcar) no Tais reações resultam no aumento do suprimento
sangue. O diabetes acontece porque o pâncreas não é de oxigênio às células. Além disso, a adrenalina, que au-
capaz de produzir o hormônio insulina em quantidade menta a glicogenólise hepática e muscular e a liberação
suficiente para suprir as necessidades do organismo, ou de glicose para o sangue, eleva o metabolismo celular.
porque este hormônio não é capaz de agir de maneira A combinação dessas reações possibilita, por exemplo,
adequada (resistência à insulina). A insulina promove a reações rápidas de fuga ou de luta frente a diferentes
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

redução da glicemia ao permitir que o açúcar que está situações ameaçadoras.


presente no sangue possa penetrar dentro das células, Cortisol: O cortisol serve para ajudar o organismo a con-
para ser utilizado como fonte de energia. Portanto, se trolar o estresse, reduzir inflamações, contribuir para o fun-
houver falta desse hormônio, ou mesmo se ele não agir cionamento do sistema imune e manter os níveis de açúcar
corretamente, haverá aumento de glicose no sangue e, no sangue constantes, assim como a pressão arterial.
consequentemente, o diabetes.
As células do pâncreas são incapazes de produzir in- Glândulas sexuais
sulina e se não há insulina circulante a absorção de gli- O hipotálamo produz GnRH, que estimula a adeno-
cose fica prejudicada e ocorre o aumento de glicose no -hipófise a liberar LH e FSH que, por sua vez, agirão sobre
sangue. Neste caso é necessário injetar insulina subcutâ- as gônadas, estimulando a produção de testosterona, es-
nea para que possa ser absorvida pelo sangue. trógeno e progesterona.

210
Testículos A Ovulação
Os hormônios do sistema genital masculino são A ovulação é a liberação de um óvulo maduro feita
produzidos nas gônadas masculinas, conhecidas como por um dos ovários por volta do 14º dia do ciclo mens-
testículos. São os hormônios que determinam as carac- trual, contado a partir do primeiro dia de menstruação.
terísticas sexuais secundárias, induzem a formação dos No ovário (o local de onde sai o óvulo) surge o corpo
gametas masculinos e promovem o impulso sexual. lúteo ou amarelo – uma estrutura amarelada que passa a
É na puberdade, aproximadamente entre os 11 e os produzir o estrogênio e progesterona. Esses hormônios
14 anos, que começam a ocorrer as mudanças fisioló- atuam juntos, preparando o útero para uma possível gra-
gicas no corpo dos meninos. Nessa fase da vida, dois videz, além disso, o estrogênio estimula o aparecimen-
hormônios produzidos pela adeno-hipófise agem sobre to das características sexuais femininas secundárias. O
os testículos, estimulando a produção de testosterona. óvulo liberado é “captado” por uma das tubas uterinas,
Esses hormônios são o hormônio folículo-estimulante que ligam os ovários ao útero. Revestindo essas tubas
(FSH) e o hormônio luteinizante (LH), também chamados internamente, existem células com cílios que favorecem
de gonadotrofinas por atuarem sobre as gônadas. o deslocamento do óvulo até a cavidade do útero.
No homem, o hormônio luteinizante também pode A Fecundação
ser chamado de hormônio estimulador das células in- A mulher pode ficar grávida se, quando o óvulo es-
tersticiais (ICSH), porque age estimulando as células in- tiver nesses tubos, ela mantiver relação sexual com o
tersticiais, ou de Leydig, a produzirem testosterona. A parceiro e um espermatozoide (célula reprodutora mas-
testosterona e os hormônios gonadotróficos FSH e LH culina) entrar no óvulo. O encontro de gametas (óvulo e
atuam juntos na ativação da espermatogênese (produ- espermatozoide), na tuba uterina, chama-se fecundação.
ção de espermatozoides). Apenas um dos milhões de espermatozoides contidos
A testosterona é o principal hormônio masculino. Ela no esperma penetra no óvulo, na fecundação. Depois da
determina o desenvolvimento dos órgãos genitais, a des- fecundação, ocorre então a formação da célula-ovo ou
cida dos testículos para a bolsa escrotal e o aparecimen- zigoto. Essa primeira célula de um novo ser sofre divisões
to das características sexuais secundárias masculinas, durante o seu trajeto pelo tubo até o útero. O sexo bio-
como a distribuição de pelos pelo corpo, engrossamento lógico desse novo ser humano – ou seja, o sexo do bebê
da voz, desenvolvimento dos músculos e dos ossos, en- – é definido na fecundação pelos cromossomos X ou Y.
tre outras. Também é a testosterona que induz o ama- Os seres humanos, salvo raras exceções possuem 46
durecimento dos órgãos genitais, além de promover o cromossomos, sendo que dois deles são os cromosso-
impulso sexual. mos sexuais (que definem o sexo). As mulheres possuem
A testosterona começa a ser produzida ainda na fase dois cromossomos X (portanto ela á XX) e os homens, um
embrionária e é a presença dela que determina o de- X e um Y (portanto XY).
senvolvimento dos órgãos sexuais masculinos. Se hou- Na divisão celular (meiose) para a formação dos ga-
ver ausência desse hormônio, ou a falta de receptores metas (óvulo e espermatozoide) a mulher só gera game-
compatíveis a ele nas células do embrião, o sexo que se tas (óvulos) X enquanto que o homem pode gerar game-
desenvolverá será o feminino. tas (espermatozoides) X e Y. Então:
- Se o espermatozoide que contém o cromossomo X
Ovários fecundar o óvulo (X), o embrião será do sexo feminino
Na mulher o aumento de LH e FSH é o estímulo para (XX).
a maturação folicular. O folículo, em processo de ama- - Se o espermatozoide que contém o cromossomo Y
durecimento, passa a secretar estrógeno, o qual prepara fecundar o óvulo (X), o embrião será do sexo masculino
o útero para receber o embrião, provocando espessa- (XY).
mento da parede do endométrio, aumento da irrigação
sanguínea e da produção de muco. Quando o folículo A Menstruação
rompe, o nível de estrógeno cai e, como ele tem efeito A menstruação ocorre quando não há fecundação e
inibitório sobre a secreção de LH e FSH, esses hormônios o óvulo é eliminado pelo canal vaginal com o sangue e
têm um pico, provocando a liberação do óvulo de 16 a o material resultante da descamação da mucosa uteri-
24 horas depois. Forma-se, então, o corpo lúteo, que co- na. O ciclo menstrual é o período entre o início de uma
meça a secretar progesterona. menstruação e outra. Esse período dura, em média 28
Caso haja a fecundação, os níveis de estrógeno e de dias, mas pode ser mais curto ou mais longo. A primeira
progesterona seguem aumentando, inibindo o eixo hi- menstruação se chama menarca e, na maioria das vezes
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

potálamo-hipófise ao longo da gestação. Assim, nesse ocorre entre 11 e 13 anos, embora não exista uma idade
período, o LH e o FSH se mantêm baixos, e a mulher se determinada para isso. A menstruação representa o iní-
torna anovulatória. Se não houver a fecundação, o óvulo cio da vida fértil, isto é, o período em que a mulher pode,
entra em involução em até 72 horas. A progesterona e o se não houver problemas, engravidar.
estrógeno começam a cair e o estímulo para manutenção Por volta dos 50 anos o “estoque” de óvulos se esgo-
da parede do endométrio cessa, provocando sua desca- ta, pois alguns foram liberados nas ovulações e outros se
mação, caracterizando a menstruação. Então, o LH e o degeneraram. Cessam as menstruações e, com isso a fer-
FSH, que estavam baixos, começam a subir novamente, tilidade da mulher −essa fase é denominada menopausa.
iniciando um novo ciclo.

211
9. Sistema tegumentar transforma-se em osteócito. Existem outras células im-
O sistema tegumentar reveste o corpo, protegendo-o portantes no tecido ósseo: os osteoclástos. Essas células
contra o atrito, a perda de água, a invasão de micro-or- são especialmente ativas na destruição de áreas lesadas
ganismos e a radiação ultravioleta. Tem papel na percep- ou envelhecidas do osso, abrindo caminho para a rege-
ção sensorial (tato, calor, pressão e dor), na síntese de neração do tecido pelos osteoblastos.
vitamina D, na termorregulação, na excreção de íons e na
secreção de lipídios protetores e de leite. Estrutura dos Ossos
A estrutura óssea é constituída de diversos tipos de
Constituintes tecido conjuntivo (denso, ósseo, adiposo, cartilaginoso e
O sistema tegumentar (ou tegumento) é constituído sanguíneo) e de tecido nervoso.
pela pele e os seus anexos: pelos, unhas, glândulas sebá- Os ossos longos são formados por distintas camadas,
ceas, sudoríparas e mamárias. sendo estas:
A pele é o maior órgão do corpo. É composta pela - Periósteo: a mais externa, é uma membrana fina
epiderme, de epitélio estratificado pavimentoso quera- e fibrosa (tecido conjuntivo denso) que envolve
tinizado, e pela derme, de tecido conjuntivo. Subjacente, o osso, exceto nas regiões de articulação (epífi-
unindo-a aos órgãos, há a hipoderme (ou tecido sub- ses). É no periósteo que se inserem os músculos
cutâneo), de tecido conjuntivo frouxo e adiposo. e tendões.
A pele apresenta diferenças segundo a sua localização. - Osso compacto: O tecido ósseo compacto é com-
A palma das mãos e a planta dos pés, que sofrem um atrito posto de cálcio, fósforo e fibras de colágeno que
maior, possuem uma epiderme constituída por várias cama- lhe dão resistência. É a parte mais rígida do osso,
das celulares e por uma camada superficial de queratina bas- formada por pequenos canais que circulam nervos
tante espessa. Esse tipo de pele não possui pelos e glândulas e vasos, entre estes canais estão espaços onde se
sebáceas, mas as glândulas sudoríparas são abundantes. A encontram os osteocitos.
pele do restante do corpo tem uma epiderme com poucas - Osso esponjoso: o tecido ósseo esponjoso é uma
camadas celulares e uma camada de queratina delgada. A camada menos densa. Em alguns ossos apenas
epiderme da pele grossa mede 0,8 a 1,4mm, enquanto a da essa estrutura está presente e pode conter medula
pele fina, 0,07 a 0,12mm. óssea.
Epiderme - Canal medular: é a cavidade onde se encontra a
A epiderme é constituída de tecido epitelial, cujas cé- medula óssea, geralmente presente nos ossos
lulas apresentam diferentes formatos e funções. Na ca- longos.
mada mais superficial (camada córnea) as células estão -Medula óssea: A medula vermelha (tecido sanguí-
mortas (e sem núcleo) e são compostas em grande parte neo) produz células sanguíneas (processo chama-
por queratina. do de hematopoiese), mas em alguns ossos deixa
de existir e há somente a medula amarela (tecido
Derme adiposo) que armazena gordura.
Também chamada de pele verdadeira, a derme é
elástica, rija e flexível. É a camada intermediária da pele Esqueleto
que fica abaixo da epiderme. Nela encontra-se a elastina É o conjunto formado pelos 206 ossos que consti-
e o colagénio responsáveis pela elasticidade. tuem o Sistema Esquelético humano, sendo estes:

Tecido Subcutâneo Classificação dos ossos:


Esse parte não é considerado como parte da pele e Os ossos são classificados de acordo com a sua forma
por isso recebe o nome de hipoderme ou tecido sub- em:
cutâneo. Ele é formado essencialmente pelo tecido adi- - Longos: têm duas extremidades ou epífises; o corpo
poso e tecido conjuntivo frouxo. Possui as seguintes fun- do osso é a diáfise; entre a diáfise e cada epífise
ções: fixar a pele e isolar o corpo de mudanças extremas fica a metáfise. A diáfise é formada por tecido ós-
no meio ambiente. seo compacto, enquanto a epífise e a metáfise, por
tecido ósseo esponjoso. Exemplos: fêmur, úmero.
10. Sistema esquelético - Curtos: têm as três extremidades praticamente
O sistema esquelético é constituído de ossos e carti- equivalentes e são encontrados nas mãos e nos
lagens, além dos ligamentos e tendões. O esqueleto sus- pés. São constituídos por tecido ósseo esponjoso.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tenta e dá forma ao corpo, além de proteger os órgãos Exemplos: calcâneo, tarsos, carpos.
internos e atua em conjunto com os sistemas muscular e -Planos ou Chatos: são formados por duas camadas
articular para permitir o movimento. Outras funções são de tecido ósseo compacto, tendo entre elas uma
a produção de células sanguíneas na medula óssea e ar- camada de tecido ósseo esponjoso e de medula
mazenamento de sais minerais, como o cálcio. O osso é óssea Exemplos: esterno, ossos do crânio, ossos da
uma estrutura viva, muito resistente e dinâmica pois tem bacia, escápula.
a capacidade de se regenerar quando sofre uma fratura.
11. Sistema muscular
Tipos de células do osso A nossa capacidade de locomoção depende da ação
As células ósseas quando jovens são chamadas os- conjunta de ossos, articulações e músculos, sob o con-
teoblastos. Quando a célula óssea se torna madura, trole do sistema nervoso.

212
O corpo possui mais de 600 músculos, que, além de associada ao contato com água, alimentos ou solo con-
promoverem a movimentação do corpo, também apre- taminados pela urina de animais portadores do Leptospi-
sentam outras importantes funções, tais como a manu- ra. As bactérias são ingeridas ou entram em contato com
tenção da temperatura corporal (por isso que trememos a mucosa ou pele que apresentem solução de continui-
de frio) e garantir o fluxo sanguíneo. dade. Os animais classicamente lembrados são os roedo-
res mas bovinos, equinos, suínos, cães, e vários animais
Os músculos são classificados em: selvagens são responsabilizados pela difusão da doença.
- Liso ou visceral: é composto por células fusiformes A contaminação entre pessoas doentes é absolutamente
com apenas um núcleo, apresenta contração involuntária rara.
e é encontrado na parede de vasos sanguíneos, bexiga,
intestino e útero, ou seja, estruturas ocas do corpo. Res- Cólera
ponsável pela impulsão de líquidos como sangue, urina, O cólera é uma doença infectocontagiosa do in-
bile, entre outros. As células do músculo liso reagem a testino delgado causada pela bactéria Vibrio cholerae,
sinais químicos oriundos de outras células ou hormônios. geralmente transmitida por meio de alimento ou água
A principal das funções desse músculo é a compressão contaminados.
do conteúdo das cavidades a que pertencem, participan-
do, assim, de processos como digestão e regulação da Amebíase e giardíase
pressão arterial. São chamados de lisos porque suas fi- São infecções intestinais parasitária causadas, respecti-
bras não apresentam estriações. vamente, pelos protozoários Entamoeba histolytica e Giar-
-Estriado cardíaco: Formado por uma rede de fibras dia sp. São bastante comuns em áreas do mundo onde o
conjugadas e ramificadas que compõe o miocárdio, re- saneamento básico é deficiente, permitindo que alimen-
vestimento muscular do coração. Produz contrações tos e água sejam expostos à contaminação fecal.
involuntárias, sendo controlado pelo sistema nervoso Esquistossomose
vegetativo. A esquistossomose é uma doença que leva a proble-
-Estriado esquelético: formado por fibras muscula- mas de saúde crônica. A infecção é adquirida quando
as pessoas entram em contato com água doce que está
res, apresenta terminações nervosas e está diretamente
infectada com as formas larvais de vermes platelmintos
ligado ao movimento e à postura corporal. Recebe esse
da espécie Schistosoma mansoni. Os vermes adultos mi-
nome por apresentar estriações formadas pelas proteí-
croscópicos vivem nos vasos linfáticos do trato urinário
nas actina e miosina.
e dos intestinos. A maioria de seus ovos fica presa nos
tecidos e a reação do corpo a eles pode causar grandes
A contração muscular
danos à saúde.
-Os miofilamentos: actina e miosina
Quando uma pessoa infectada urina ou defeca na
Toda a célula muscular contém filamentos protéicos água, ela contamina o líquido com os ovos de Schistoso-
contráteis de dois tipos: actina e miosina. Esses miofila- ma. Esses ovos eclodem e invadem os tecidos de caracóis
mentos (ou miofibrilas) são diferenciados um do outro que vivem naquele lago ou rio. Os parasitas então cres-
pelo peso molecular, maior no filamento de miosina. Ao cem e se desenvolvem no interior desses animais.
microscópio eletrônico, a actina aparece sob a forma de Após crescerem, as larvas deixam o caracol e pene-
filamentos finos, enquanto a miosina e representada por tram na água, onde podem sobreviver durante cerca de
filamentos grossos. 48 horas. O Schistosoma é capaz de penetrar na pele de
A interação da actina com a miosina é o grande even- pessoas que pisam descalças, nadam, tomam banho ou
to desencadeador da contração muscular. A disposição lavam roupas e objetos na água infectada.
regular dessas proteínas ao longo da fibra produz o pa- Dentro de algumas semanas, os vermes crescem no
drão de faixas claras e escuras alternadas, típicas do mús- interior dos vasos sanguíneos do corpo e produzem
culo estriado. ovos. Alguns desses ovos viajam para a bexiga ou intes-
As unidades de actina e miosina que se repetem ao tinos e são passados para a urina ou fezes.
longo da miofibrila são chamadas sarcômeros. As faixas
mais externas dos sarcômeros, claras, são denomina- 2. Doenças transmitidas por mosquitos
das de banda I e contêm apenas filamentos de actina.
A faixa central mais escura é denominada banda A. As Malária
extremidades da banda A são formadas por filamentos Malária ou paludismo é uma doença infecciosa trans-
de actina e miosina sobrepostos, enquanto a sua região mitida por mosquitos e provocada por protozoários pa-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

mediana mais clara, denominada banda H, contém ape- rasitários do gênero Plasmodium. A doença é geralmente
nas miosina. transmitida através da picada de uma fêmea infectada do
mosquito Anopheles, a qual introduz no sistema circula-
DOENÇAS tório do hospedeiro os microrganismos presentes na sua
saliva, os quais se depositam no fígado, onde maturam e
1. Doenças transmitidas pela água se reproduzem. A malária manifesta-se através de sinto-
As principais doenças causadas pela falta de trata- mas como febre e dores de cabeça, que em casos graves
mento da água são: podem progredir para coma ou morte. A doença encon-
tra-se disseminada em regiões tropicais e subtropicais ao
Leptospirose longo de uma larga faixa em redor do equador, englo-
A infecção humana na maioria das vezes está bando grande parte da África subsariana, Ásia e América.

213
A malária é prevalente em regiões tropicais e subtro-
picais devido à chuva abundante, temperatura quente e EXERCÍCIO COMENTADO
grande quantidade de água estagnada, o que proporcio-
na habitats ideais para as larvas do mosquito. A transmis-
são da doença pode ser combatida através da prevenção 1. (ENEM - 2011) Durante as estações chuvosas, au-
das picadas de mosquito, usando redes mosquiteiras ou mentam no Brasil as campanhas de prevenção à dengue,
repelente de insetos, ou através de medidas de erradi- que têm como objetivo a redução da proliferação do
cação, como o uso de inseticidas ou o escoamento de mosquito Aedes aegypti, transmissor do vírus da dengue.
águas estagnadas. Que proposta preventiva poderia ser efetivada para di-
minuir a reprodução desse mosquito?
Febre amarela
A febre amarela é uma doença infecciosa aguda, fe- a) Colocação de telas nas portas e janelas, pois o mosqui-
bril, de natureza viral, encontrada em países da África e to necessita de ambientes cobertos e fechados para a
Américas Central e do Sul. Caracteriza-se clinicamente sua reprodução.
por manifestações de insuficiência hepática e renal, que b) Substituição das casas de barro por casas de alvenaria,
pode levar à morte, em cerca de uma semana. Apre- haja vista que o mosquito se reproduz na parede das
senta-se como febre amarela urbana ou febre amarela casas de barro.
silvestre. c) Remoção dos recipientes que possam acumular água,
O vírus infecta humanos e outros vertebrados, porque as larvas do mosquito se desenvolvem nesse
principalmente macacos. Os vetores são fêmeas de meio.
pernilongos. d) Higienização adequada de alimentos, visto que as larvas
do mosquito se desenvolvem nesse tipo de substrato.
Na febre amarela urbana das Américas, o vírus é
e) Colocação de filtros de água nas casas, visto que a
transmitido de um homem a outro pela picada de fêmeas
reprodução do mosquito acontece em águas conta-
infectadas de Aedes aegypti. Este mosquito de hábitos
minadas.
predominantemente urbanos, procria-se ao redor das
habitações, em recipientes que acumulam água parada.
Resposta: Letra C. Essa questão é uma dentre várias
É condição necessária para a ocorrência de transmissão que abordam problemas de saúde pública – forma
urbana natural de febre amarela a existência de um caso como as doenças são cobradas no ENEM. Observe que
pelo menos, de portador da forma silvestre proveniente o que você precisa saber para responder a essa ques-
de área endêmica brasileira ou de um caso importado de tão é que o mosquito da dengue coloca seus ovos em
outro país em área infestada pelo A. aegypti. Os mosqui- água parada.
tos pertencentes ao gênero Aedes apresentam duas fases
de vida. Uma que envolve ovos, larvas e pupas e se passa
na água e outra que compreende os mosquitos adultos.
Dengue EDUCAÇÃO SEXUAL
A dengue é um dos principais problemas de saúde
pública no mundo. A Organização Mundial da Saúde O país tem mais mães adolescentes. 99% das gestan-
(OMS) estima que entre 50 a 100 milhões de pessoas se tes entre 11 e 19 anos conhecem a camisinha e 98% co-
infectem anualmente, em mais de 100 países, de todos nhecem também a pílula anticoncepcional.
os continentes, exceto a Europa. Cerca de 550 mil doen- Uma explicação para os desencontros entre informa-
tes necessitam de hospitalização e 20 mil morrem em ção e atitude é que as campanhas de sexo seguro e pre-
consequência da dengue. Em nosso país, as condições venção de doenças sexualmente transmissíveis podem
socioambientais favoráveis à expansão do Aedes aegypti estar atingindo as mulheres a partir de uma certa idade,
possibilitaram a dispersão do vetor, principalmente nas mas não estão tendo impacto entre as adolescentes.
áreas urbanas.
Sua forma de transmissão e seus sintomas são simi-
lares aos de várias outras infecções virais que possuem
mosquitos como vetores: febre amarela, zika e chikun-
gunya – todas estas epidêmicas no Brasil.

Filariose ou elefantíase
A filariose ou elefantiase é a doença causada pelos
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

parasitas nemátodes da espécie Wuchereria bancrofti,


comumente chamados filária, que se alojam nos vasos
linfáticos, cujo inchaço levou a denominação popular
desta doença como elefantíase. Tem como transmissor
os mosquitos dos gêneros Culex, Anopheles ou Aedes e a
mosca Chrysomya ,conhecida como varejeira, presentes
nas regiões tropicais e subtropicais.
O mosquito é infectado quando pica um ser humano
doente. Dentro do mosquito as microfilárias modificam-
-se ao fim de alguns dias em formas infectantes, que mi-
gram principalmente para a cabeça do mosquito. Fecundação

214
Para evitar a gravidez é preciso impedir o encontro do espermatozoide com o óvulo.
O espermatozoide é o gameta masculino e o óvulo é o gameta feminino. A concepção ocorre quando há a união dos
gametas. Alguns métodos foram criados para evitar a concepção, por isso, são chamados de métodos anticoncepcionais.
A pílula anticoncepcional é um método hormonal. Hormônios são substâncias produzidas por órgãos do próprio
corpo. Alguns hormônios viajam pelo sangue e disparam ou bloqueiam processos quando passam em certas regiões
ou órgãos.
Cada comprimido da pílula anticoncepcional tem uma quantidade de hormônio que provoca alteração no ciclo
menstrual e impede o amadurecimento de óvulos.
Além da pílula existem outros métodos hormonais, todos baseados em doses de hormônios sexuais femininos
para alterar o ciclo. Esses métodos são as injeções mensais ou trimestrais e os implantes. Implantes são cápsulas que
parecem palitos de fósforo e são colocados sob a pele. Durante três anos a mesma cápsula libera pequenas doses de
hormônio e impede o amadurecimento de óvulos.

Os métodos hormonais só devem ser recomendados pelo médico, porque nem toda mulher pode usá-los. As que
fumam ou têm pressão alta, por exemplo, devem evitá-los. Esses métodos são seguros e eficientes para evitar a gravi-
dez, mas não protegem das Doenças Sexualmente Transmissíveis (que podem ser passadas de uma pessoa a outra pelo
contato sexual), conhecidas como DSTs.

O hábito de marcar num calendário o primeiro dia de cada menstruação é importante.


Conhecendo o ciclo menstrual, é possível interpretar as modificações do corpo no período, como um pequeno
aumento de peso ou inchaço nas pernas por retenção de líquidos. Pode-se fazer a estimativa dos dias mais propícios à
fecundação e determinar o início de uma gravidez. Essas anotações são conhecidas como “tabelinha”.
Como método anticoncepcional, não é seguro, e também não protege das DSTs, mas ajuda a conhecer melhor o
próprio corpo.
O DIU é uma peça de cobre colocada pelo médico no útero. O nome completo desse anticoncepcional é Dispositivo
Intrauterino e a união das letras iniciais deu origem ao nome pelo qual ficou mais conhecido. O DIU de cobre tem a
característica de matar os espermatozoides que chegam ao útero ou diminuir os seus movimentos, impedindo que
encontrem o óvulo, por isso não ocorre a fecundação. Esse método é eficiente quando a mulher faz consultas médi-
cas para saber se a peça não saiu do lugar ou se não foi eliminada na menstruação, por exemplo. O DIU também não
protege contra as DSTs.
Os métodos cirúrgicos de esterilização podem ser realizados no homem e na mulher. Na mulher, é conhecido como
laqueadura e, nos homens, como vasectomia.
Quando um casal opta por esses métodos deve ter certeza de que está tomando uma resolução definitiva. Na mu-
lher, a operação é feita pelo abdômen, com anestesia local ou geral. Exige internação e cuidados hospitalares e, por
isso, é um método caro.
No homem, é feito um corte na pele do saco escrotal; a seguir, os canais deferentes são cortados e o percurso dos
espermatozoides é interrompido. A cirurgia é mais simples que na mulher e a anestesia é local. Pode ser realizada num
consultório e não requer internação. Apesar dos pontos positivos, em comparação com a laqueadura, muitos homens
preferem não se submeter a essa cirurgia. É o receio de que alguma coisa se altere em relação à potência e ao prazer
sexual. Conversando com um médico ou lendo sobre o assunto, vão perceber que não precisam ficar preocupados. A
vasectomia não afeta a relação sexual.

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Aparelho reprodutor feminino.

215
Doenças Sexualmente Transmissíveis A partir de um prognóstico ambiental, cujo objetivo
é identificar, valorar e interpretar os possíveis impactos
A camisinha é o único método que evita a gravidez e provenientes da ação a ser executada. Os fatores am-
previne contra a Aids e as outras doenças sexualmente bientais a serem impactados devem ser determinados
transmissíveis. Esse método é muito antigo, só que não com base no diagnóstico ambiental e abranger os meios
era tão usado nem conhecido quanto hoje. Por causa da físico, biótico e antrópico.
Aids, que é uma doença para a qual não há cura ainda, De acordo com o IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio
as pessoas tiveram que saber que a camisinha existe, fa- Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), estas
lar sobre ela e aprender a usá-la. A camisinha masculina medidas ainda podem ser subdividias em:
ou preservativo precisa ser colocada corretamente para Medidas Mitigadoras Preventivas: estas têm como
cumprir seu papel protetor. O pênis deve estar ereto, principal objetivo erradicar ou minimizar ocorrências
duro. É necessário deixar uma folga na ponta para re- que se revelem com capacidade de causar danos aos
ceber o sêmen. A borracha fina de que ela é feita está elementos ambientais do meio natural – biótico, físico e
cada vez mais fina e resistente, para cumprir seu papel antrópico. A medidas preventivas procuram preceder os
preventivo sem tirar a sensibilidade. Lembre-se: nenhum impactos negativos.
outro método anticoncepcional previne contra as DSTs, Medidas Mitigadoras Corretivas: têm por finalidade
só a camisinha. reconstruir o cenário precedente à ocorrência de um
Existem muitas DSTs, algumas bastante comuns são evento danoso sobre o recurso ambiental destacado nos
Aids, sífilis, gonorreia e hepatite B. Para se prevenir e fa- meios físico, biótico e antrópico, por meio de atividades
cilitar o tratamento dessas doenças, deve-se usar cami- de controle ou de erradicação do agente provocador do
sinha nas relações sexuais e procurar um médico sempre impacto.
que houver dor, ardência, dificuldade para urinar, cocei- Medidas Mitigadoras Compensatórias: são as me-
ra, irritação nos órgãos genitais ou secreção na vagina didas que visam à reposição dos patrimônios socioam-
ou no pênis. bientais lesados, em virtude das atividades indiretas ou
Uma pessoa pode ter uma dessas doenças e não sen- diretas do empreendimento. São alguns exemplos des-
tir nada, mesmo assim ela transmite a doença. Então, ob- tas medidas: o plantio compensatório de mudas pela ne-
serve o seu corpo, não ignore os avisos que ele dá. cessidade de supressão vegetal, a aquisição de áreas de
reserva ambiental pela empresa, as atividades ambientais
junto à população local.
Medidas Potencializadoras: estas, por sua vez, têm
por objetivo maximizar e intensificar o efeito de um
impacto positivo resultante direta ou indiretamente da
MEIO AMBIENTE. IMPACTOS AMBIENTAIS.
construção do empreendimento.
MANEJO E CONSERVAÇÃO. LIXO. POLUIÇÃO. Cada tipo de empreendimento demandará medidas
EXPERIÊNCIAS de controle específicas, de acordo com os impactos so-
cioambientais que forem gerados. Tem-se abaixo uma
lista com alguns impactos ambientais negativos e suas
O impacto ambiental caracteriza-se como qualquer respectivas medidas mitigadoras, comuns à implantação
alteração das características do sistema ambiental, seja de alguns empreendimentos.
esta física, química, biológica, social ou econômica, cau- Fonte: Portal Mata Nativa. Disponível em: http://www.
sada pelas ações do empreendimento, as quais possam matanativa.com.br/blog/medidas-mitigadoras-e-com-
afetar direta ou indiretamente o comportamento dos pensatorias-de-impactos-ambientais. Acesso 11.03.2020
parâmetros que compõem os meios físico, biótico e/ou
socioeconômico do sistema ambiental na sua área de MEIO FÍSICO
influência.
As medidas mitigadoras são aquelas estabelecidas Aceleração de processos erosivos: para conter e evitar
antes da instalação do empreendimento, e visam à re- erosões, algumas medidas recomendadas são:
dução dos efeitos provenientes dos impactos ambientais
negativos gerados por tal ação. Para definir essas medi- - Reduzir, ao mínimo a retirada de vegetação ciliar;
das, as avaliações devem ser executadas juntamente aos - Reconstituir as formas originais de relevo nas áreas
demais profissionais envolvidos na elaboração dos proje- que serão modificadas, tentando reintegrar a área
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tos do empreendimento, a fim de obter soluções viáveis à paisagem do entorno;


para amenizar os danos ambientais. - Fiscalizar, de maneira rigorosa, a execução de ater-
Estas medidas são empregadas com o auxílio gover- ros e cortes,
namental e constituem leis específicas que subjugam o - De acordo com o empreendimento, é importante
uso dos ambientes e recursos naturais. As referidas me- que seja elaborado o Programa de Recuperação de
didas também funcionam como critério de avaliação dos Áreas Degradadas.
prejuízos ambientais que venham a ser causados por em-
preendimento explorem áreas destinadas à preservação
ambiental ou caso estes, de alguma forma, extrapolarem
os limites preestabelecidos para as suas atividades.

216
Alteração nas propriedades do solo: uma das prin- Afugentamento da fauna:
cipais medidas mitigadoras recomendadas, em grande
parte dos casos, é armazenar, separadamente, em áreas - Uma avaliação prévia da fauna e flora existente deve
específicas, os produtos químicos, bem como construir ser feita, para que seja possível reconhecer a di-
estruturas de contenção para possíveis vazamentos. versidade e a funcionalidade dos ecossistemas ali
presentes,
Assoreamento de corpos hídricos: nesse caso, a prin- - Desenvolver um Programa de Educação Ambiental.
cipal medida de controle indicada, é recuperar a vegeta-
ção nas áreas desmatadas e limpas; Perda de habitat:

Interrupção e alteração do fluxo dos corpos d’água: - Deve-se estabelecer áreas protegidas, consideran-
do a singularidade e diversidade dos ecossistemas
- Para mitigar tal dano, é pertinente elaborar e exe- presentes,
cutar um projeto que tenha o mínimo de interven- - Implantar o Programa de Fauna e Bioindicadores.
ções nos corpos d’água;
- Quando a intervenção nos corpos d’água for inevi- MEIO SOCIOECONÔMICO
tável, a bacia de drenagem deve ser recuperada, Algumas alterações passíveis de ocorrerem no meio
- Desenvolver e implantar o monitoramento hidroló- socioeconômico são aquelas que estão ligadas direta ou
gico e meteorológico na área para avaliar as alte- indiretamente à população e ao patrimônio público.
rações nos padrões. Alguns empreendimentos podem causar a ocupação
Impermeabilização do solo e diminuição da capacida- desordenada nas áreas do entorno do mesmo, afetando
de de infiltração da água: a vida e convivência da população local. Quando se tratar
de interferência com terrenos indígenas, deve-se implan-
- A impermeabilização do solo deve ser restrita ape- tar um plano de vigilância e proteção das respectivas ter-
nas às áreas onde esse processo é indispensável, ras, além de garantir a regularização das mesmas.
- Monitoramento das condições hidrológicas e me- Para evitar a perturbação nas demandas por servi-
teorológicas, para notificar quando as mesmas se ços, é interessante que se priorize a contratação de mão
tronarem adversas. de obra e estabelecimentos locais, sempre que possí-
vel, a fim de fomentar e desenvolver a economia local e
Alteração da qualidade da água: regional.
É necessário ressaltar, como citado anteriormente,
- É fundamental que seja executado o Programa de que cada tipo de empreendimento gera seus impactos
Monitoramento de Qualidade da Água, específicos e os mesmo devem ser analisados e estuda-
- Todos os procedimentos de limpeza de maquinário dos separadamente. Não é possível elaborar um plano
e veículos devem ser executados a uma distância geral de medidas Mitigadoras e Compensatórias, que sir-
segura das áreas de cursos d’água. va para diversos tipos de atividades. Cada projeto deverá
contar com as referidas análises de impactos ambientais
MEIO BIÓTICO e sociais, para que assim, sejam elaboradas e tomadas as
medidas de controle necessárias para que o meio sofra o
- Alterações comuns no meio biótico em decorrência menor grau de perturbação possível.
de alguns empreendimentos são:
HIDROGRAFIA: MANEJO DE BACIAS HIDROGRÁFI-
Flora Retirada da cobertura vegetal: algumas medidas CAS E RECURSOS HÍDRICOS
de controle consistem em:
Hidrografia é o ramo da Geografia responsável por
- Não deixar o solo nu, recobrir o mesmo plantando estudar as águas do planeta Terra. O conjunto das águas
gramíneas e espécies arbóreas e herbáceas, de uma região ou país também pode ser chamada de
- Elaborar e executar o Programa de Recuperação de Hidrografia. Entre os objetos de estudo dessa área estão:
Áreas Degradadas e de Supressão de Vegetação. oceanos, rios, lagos, mares, geleiras, águas da atmosfera
e do subsolo, etc.
Perda da diversidade vegetal: algumas medidas miti- Bacia hidrográfica é uma área física delimitada por di-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

gadoras e compensatórias recomendadas são: visores de água, onde existe uma drenagem principal. Ela
é considerada uma unidade hidrológica que disciplina a
- Retirar o mínimo de vegetação possível, sempre passagem da água na fase litosfera do ciclo hidrológico.
procurando evitar atingir o número mínimo de Pelo seu manejo entende-se: conjunto de atividade téc-
espécies; nicas capazes de influir positivamente no melhor apro-
- Buscar sempre gerar a menor quantidade de resíduo veitamento da água da bacia.
possível, Existem, na prática, três grandes formas de “manejo”,
- Evitar a abertura de novas vias de acesso, priorizan- a saber:
do aquelas já consolidadas.

217
a) gerenciamento de bacias hidrográficas – termo utilizado pelos Engenheiros Civis de órgãos públicos encarrega-
dos de administrar grandes bacias. Significa basicamente a melhor forma de usar o recurso água dentro da calha;
b) ordenamento de bacias utilizado por agências de planejamento do uso do território. Consiste no disciplinamento
do uso do solo e
c) microbacias – programa originado no Paraná e difundido no País. Outras formas de “manejo” consistem em re-
cuperar a vegetação ciliar, estabilizar as margens dos rios, proteger estradas, etc.

RECURSOS HÍDRICOS
Os estados brasileiros e o Distrito Federal possuem órgãos específicos para a gestão da água. O gerenciamento é
realizado por meio da emissão da autorização de uso dos recursos hídricos de domínio dos Estados e através da fisca-
lização dos usos da água. Além disso, os órgãos gestores são responsáveis por planejar e promover ações direcionadas
à preservação da quantidade e da qualidade das águas.
Esses órgãos fazem parte da estrutura do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH) e
atuam de forma integrada e articulada com os demais entes do Sistema.
Eles podem ser estruturados de diversas maneiras, tais como entidades autônomas (ex. agência ou autarquia) e, em
sua maioria, como administrações diretas dos Estados (ex. secretarias específicas ou órgãos dessas secretarias).
O Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH) é o conjunto de órgãos e colegiados que
concebe e implementa a Política Nacional das Águas.
Instituído pela Lei das Águas (lei nº 9.433/97), o papel principal do SINGREH é fazer a gestão dos usos da água de
forma democrática e participativa. Além disso, o Sistema tem como principais objetivos:

- Coordenar a gestão integrada das águas;


- Arbitrar administrativamente os conflitos relacionados aos recursos hídricos;
- Planejar, regular e controlar o uso, bem como a recuperação dos corpos d’água;
- Promover a cobrança pelo uso da água.

O Singreh é composto pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), pela Secretaria de Recursos Hídricos e
Qualidade Ambiental (SRQA), pela Agência Nacional de Águas, pelos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos (CERH),
pelos Órgãos gestores de recursos hídricos estaduais (Entidades Estaduais), pelos Comitês de Bacia Hidrográfica e pelas
Agências de Água.
O SINGREH foi idealizado para realizar a gestão dos recursos hídricos de forma:

• Descentralizada
• Integrada
• Participativa

Estrutura-se como uma rede capaz de abarcar toda a complexidade da questão hídrica, por meio de ações compar-
tilhadas entre os usuários de água, sociedade civil e governos das esferas federal, estadual e municipal que se encon-
tram inseridos nos componentes do SINGREH.

Os entes do Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos integram o SINGREH:

1.Conselho Nacional de Recursos Hídricos;


2.Agência Nacional de Águas;
3.Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal;
4.Comitês de Bacia Hidrográfica;
5.Os órgãos dos poderes públicos federal, estaduais, do Distrito Federal e municipais cujas competências se relacio-
nem com a gestão de recursos hídricos; e
6.Agências de Água.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

218
Esses entes do SINGREH podem ser distribuídos em uma matriz institucional de acordo com as respectivas compe-
tências e segundo a esfera de atuação: nacional, estadual ou no nível de bacia hidrográfica.

OS CONSELHOS DE RECURSOS HÍDRICOS DOS ESTADOS E DO DISTRITO FEDERAL

As funções dos conselhos estaduais são semelhantes às do Conselho Nacional de Recursos Hídricos, guardados a
proporção e o respectivo domínio sobre as águas dos estados. As funções dos conselhos estaduais são semelhantes às
do Conselho Nacional de Recursos Hídricos, guardados a proporção e o respectivo domínio sobre as águas dos esta-
dos. Os conselhos Estaduais de Recursos Hídricos – CERH estão instalados na maioria dos estados Brasileiros e exercem
funções de caráter normativo e deliberativo, sendo assim as instâncias máximas dos Sistemas Estaduais de Gerencia-
mento de Recursos Hídricos na esfera estadual. Resolvidos em âmbito local. Portanto, os conselhos estaduais/distrital
são colegiados com competência para decidir questões referentes a esta esfera governamental. Além disso, soluciona
conflitos, nos casos em que estes não possam ser resolvidos em âmbito local.

Conservação do Meio Ambiente

Embora sejam semelhantes, preservação e conservação possuem conceitos distintos. Ambos são ideologias criadas
em meados do século XIX, nos EUA, seguindo uma tendência mundial de proteção à natureza. Para o preservacionismo,
o homem é o fator de desequilíbrio da natureza e, para que ela seja protegida, é preciso que não haja aproximação
humana.
Os mais radicais, além de serem contra a exploração ambiental, também não aceitam o consumo e utilização de
recursos naturais mesmo que sejam para pesquisas.
Já o conservadorismo discute a necessidade do homem em interagir com a natureza e acredita que, com raciona-
lização dos recursos e critérios rigorosos de manejo, o homem pode até mesmo ajudar a tornar a natureza protegida.

Preservação Ambiental

A corrente ideológica da preservação da natureza motivou a criação de inúmeros parques nacionais em diversos
países, como tentativa de isolar a natureza do homem e conseguir preservar espécies de fauna e flora, permitindo que
a natureza evolua como desejar.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Sem se preocupar com o valor econômico, o preservacionismo acredita na criação de verdadeiros santuários into-
cáveis, sem nenhum tipo de avanço tecnológico e do progresso. Ele exclui o consumo, a exploração, e até mesmo as
pesquisas que podem ferir os princípios básicos que permeiam essa ideologia.
O naturista John Muir é um dos maiores nomes dessa corrente: criou o Sierra Club, em São Francisco, como pri-
meiro grupo de ambientalistas do mundo. Se destacou ao ser contra a criação de um reservatório de água no Parque
Nacional de Yosemite. Era 1880 e o projeto de água Hetch Hetchy propunha o represamento do rio e a criação de um
reservatório para atender a grande demanda de água que existia em São Francisco. John Muir foi contra desde o início
e lutou para manter Hetch Hetchy intocada, mas os argumentos dos conservadores venceram pela escassez crescente
de água no local.

219
Conservação Ambiental Perspectiva ambiental

A ideologia da conservação ambiental acredita que A perspectiva ambiental consiste num modo de ver
seja necessário conservar o meio ambiente e toda a o mundo no qual se evidenciam as inter-relações e a in-
sua biodiversidade, mas permitir que o homem utilize de terdependência dos diversos elementos na constituição
seus recursos de forma responsável e consciente. e manutenção da vida. À medida que a humanidade au-
Os valores da natureza são observados pelos conser- menta sua capacidade de intervir na natureza para satis-
vadoristas, para que sejam utilizados de forma susten- fação de necessidades e desejos crescentes, surgem ten-
tável onde os recursos naturais sejam usados, mas não sões e conflitos quanto ao uso do espaço e dos recursos.
aniquilados, tendo capacidade de se renovar continua- Nos últimos séculos, um modelo de civilização se
mente num ambiente saudável. impôs, alicerçado na industrialização, com sua forma de
Um dos nomes mais significativos da definição da produção e organização do trabalho, a mecanização da
conservação ambiental foi Gifford Pinchot, líder do mo- agricultura, o uso intenso de agrotóxicos e a concentra-
vimento de conservação nos Estados Unidos. Ele se opôs ção populacional nas cidades. Tornaram-se hegemônicas
à forma como o país estava expandindo seu progresso, na civilização ocidental as interações sociedade/natureza
sobretudo nas florestas e na remoção de árvores, sem adequadas às relações de mercado.
se preocuparem com o reflorestamento. Para Pinchot, a A exploração dos recursos naturais se intensificou
utilização da madeira era importante para o desenvolvi- muito e adquiriu outras características, a partir das re-
mento humano, mas sem o cuidado adequado ela sim- voluções industriais e do desenvolvimento de novas tec-
plesmente deixaria de existir, o que impactaria o futuro nologias, associadas a um processo de formação de um
da humanidade. mercado mundial que transforma desde a matéria-prima
Com a proposta do reflorestamento e de técnicas até os mais sofisticados produtos em demandas mun-
mais adequadas para derrubar as árvores, era possível diais. Quando se trata de discutir a questão ambiental,
manter a floresta viva e todos os seus recursos sendo ge- nem sempre se explicita o peso que realmente têm essas
rados saudavelmente. Todas as árvores não poderiam ser relações de mercado, de grupos de interesses, na de-
removidas ao mesmo tempo, o que dizimaria a floresta terminação das condições do meio ambiente, o que dá
ou bosque. margem à interpretação dos principais danos ambientais
Pinchot organizou a fundação do Serviço Florestal como fruto de uma “maldade” intrínseca ao ser humano.
dos EUA e conseguiu que o Governo Federal adotasse A demanda global dos recursos naturais deriva de
métodos de conservação em todo gerenciamento de ter- uma formação econômica cuja base é a produção e o
ras, o que melhorou radicalmente a situação ecológica consumo em larga escala. A lógica, associada a essa for-
da região. mação, que rege o processo de exploração da natureza
Em 1940, o cientista Aldo Leopold foi o precursor hoje, é responsável por boa parte da destruição dos re-
da Biologia da Conservação, indicando a necessidade cursos naturais e é criadora de necessidades que exigem,
do manejo correto da natureza para sua manutenção. A para a sua própria manutenção, um crescimento sem fim
partir desse foco, estudos e ações foram direcionados a das demandas quantitativas e qualitativas desses recur-
utilização coerente dos recursos, inclusive na pesca. sos. As relações político-econômicas que permitem a
Como princípio dessa corrente está à utilização em continuidade dessa formação econômica e sua expansão
menor escala das matérias-primas, o respeito pela bio- resultam na exploração desenfreada de recursos natu-
diversidade e toda sua variedade e necessidade, o apoio rais, especialmente pelas populações carentes de países
irrestrito a políticas ambientais e de áreas de proteção subdesenvolvidos como o Brasil. É o caso, por exemplo,
do ecossistema e, claro, a preservação das espécies em das populações que comercializam madeira da Amazô-
extinção. nia, nem sempre de forma legal, ou dos indígenas do sul
A conservação ambiental passou a ser vista com a sua da Bahia que queimam suas matas para vender carvão
importância devida, a partir da compreensão das conse- vegetal.
quências das ações indiscriminadas do homem. Espécies
da fauna e da flora deixaram de existir, florestas foram Exploração de Recursos Naturais
desmatadas e foram invadidas pelo progresso, além da
contínua e violenta poluição da terra, água e ar. Os rios, Os rápidos avanços tecnológicos viabilizaram formas
principalmente os das grandes cidades, ficaram pratica- de produção de bens com consequências indesejáveis
mente sem vida e o ar dos centros urbanos causa inúme- que se agravam com igual rapidez. A exploração dos
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ras doenças, principalmente respiratórias. recursos naturais passou a ser feita de forma demasia-
Esse triste quadro começou a ser alterado com o iní- damente intensa, a ponto de pôr em risco a sua reno-
cio do debate mundial sobre a conservação da natureza vabilidade. Sabe-se agora da necessidade de entender
e o posicionamento de grandes líderes para a criação de mais sobre os limites da renovabilidade de recursos tão
políticas públicas efetivas visando evitar mais danos. básicos como a água, por exemplo.
Com isso, a questão ambiental passou a ser discutida Recursos não-renováveis, como o petróleo, ameaçam
por todos, inclusive nas escolas, como forma de cons- escassear. De onde se retirava uma árvore, agora retiram-
cientizar toda a população a fazer a sua parte e a lutar -se centenas. Onde moravam algumas famílias, consu-
para que a natureza fosse respeitada. E termos como mindo escassa quantidade de água e produzindo poucos
“desenvolvimento sustentável” e “sustentabilidade” pas- detritos, agora moram milhões de famílias, exigindo a
saram a ser utilizados até na indústria. manutenção de imensos mananciais e gerando milhares

220
de toneladas de lixo por dia. Essas diferenças são definiti- própria sobrevivência. Assim sendo, algo deveria ser feito
vas para a degradação do meio. Sistemas inteiros de vida para alterar as formas de ocupação do planeta estabele-
vegetal e animal são tirados de seu equilíbrio. E a riqueza, cidas pela cultura dominante. Esse tipo de constatação
gerada num modelo econômico que propicia a concen- gerou o movimento em defesa do ambiente, que luta
tração da renda, não impede o aumento da miséria e da para diminuir o acelerado ritmo de destruição dos re-
fome. Algumas das consequências são, por exemplo, o cursos naturais ainda existentes e busca alternativas que
esgotamento do solo, a contaminação da água e a cres- conciliem, na prática, a conservação da natureza com a
cente violência nos centros urbanos. À medida que tal qualidade de vida das populações que dependem dessa
modelo de desenvolvimento provocou efeitos negativos natureza. Toda essa situação colocou em xeque a ideia
mais graves, surgiram manifestações e movimentos que desenvolvimentista de que a qualidade de vida dependia
refletiam a consciência de parcelas da população sobre unicamente do avanço da ciência e da tecnologia. Todos
o perigo que a humanidade corre ao afetar de forma tão os problemas sociais e econômicos teriam, nessa visão,
violenta o seu meio ambiente. solução com a otimização da exploração dos recursos
Em vários países, a preocupação com a preservação naturais. Diante dos problemas que emergiram desse
de espécies surgiu há muitos anos. No final do século sistema surgiu a necessidade de repensar o conceito de
passado, iniciaram-se manifestações pela preservação de desenvolvimento.
sistemas naturais que culminaram na criação de Parques Do confronto inevitável entre o modelo de desen-
Nacionais e em outras Unidades de Conservação. volvimento econômico vigente, que valoriza o aumento
Nas regiões mais industrializadas, passou-se a cons- de riqueza em detrimento da conservação dos recursos
tatar uma deterioração na qualidade de vida, o que afeta naturais, e a necessidade vital de conservação do meio
tanto a saúde física quanto a saúde psicológica das pes- ambiente, surge a discussão sobre como viabilizar o cres-
soas, especialmente das que habitam as grandes cidades. cimento econômico das nações, explorando os recursos
Grandes extensões de monocultura, por exemplo, po- naturais de forma racional, e não predatória. Estabelece-
dem determinar a extinção regional de algumas espécies -se, então, uma discussão que está longe de chegar a um
e a proliferação de outras. Vegetais e animais favorecidos fim, a um consenso geral.
pela plantação, ou cujos predadores foram exterminados, Um desastre numa usina nuclear atinge, num primei-
reproduzem-se de modo desequilibrado, prejudicando a ro momento, apenas o que está mais próximo: pessoas,
própria plantação. Eles passam a ser considerados então alimentos e todas as formas de vida. Num segundo mo-
uma “praga”! A indústria química oferece como solução mento, pelas correntes de água, pelos ventos e pelas
o uso de praguicidas que acabam, muitas vezes, enve- teias alimentares, dentre outros processos, o desastre
nenando as plantas, o solo, a água e colocam em risco a pode chegar a qualquer parte do mundo. Com a cons-
saúde de trabalhadores rurais e consumidores. tatação da inevitável interferência que uma nação exerce
sobre outra por meio das ações relacionadas ao meio
Ecologia ambiente, a questão ambiental, isto é, o conjunto de te-
máticas relativas não só à proteção da vida selvagem no
A Ecologia começou como um novo ramo das Ciên- planeta, mas também à melhoria do meio ambiente e da
cias Naturais, e seu estudo passa a sugerir novos campos qualidade de vida das comunidades passa a compor a
do conhecimento como a ecologia humana e a economia lista dos temas de relevância internacional.
ecológica. Mas só na década de 1970 o termo passa a ser Em todos os espaços, os recursos naturais e o próprio
conhecido do grande público. Com frequência, porém, meio ambiente tornam-se uma prioridade, um dos com-
ele é usado com outros sentidos e até como sinônimo de ponentes mais importantes para o planejamento político
meio ambiente. e econômico dos governos, passando então a ser anali-
Entende-se por ecossistema o “conjunto de intera- sados em seu potencial econômico e vistos como fatores
ções desenvolvidas pelos componentes vivos (animais, estratégicos.
vegetais, fungos, protozoários e bactérias) e não-vivos
(água, gases atmosféricos, sais minerais e radiação solar)
de um determinado ambiente”. #FicaDica
Hoje, além de ser um dos maiores países do mun-
Deve-se cuidar, para que o uso econômi-
do em extensão, o Brasil ainda possui inúmeros recur-
co dos bens da Terra pelos seres humanos
sos naturais de fundamental importância para todo o
tenha caráter de conservação, isto é, que
planeta: desde ecossistemas como as florestas tropicais,
gere o menor impacto possível e respeite
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

o pantanal, o cerrado, os mangues e restingas, até uma


as condições de máxima renovabilidade
grande parte da água doce disponível para o consumo
dos recursos.
humano. Dono de uma das maiores biodiversidades do
mundo, este país tem ainda uma riqueza cultural vinda
da interação entre os diversos grupos étnicos — ameri-
canos, africanos, europeus, asiáticos etc. — que traz con- Nos documentos assinados pela grande maioria dos
tribuições singulares para a relação sociedade/natureza. países do mundo, incluindo-se o Brasil, fala-se em ga-
Após a Segunda Guerra Mundial, principalmente a partir rantir o acesso de todos aos bens econômicos e cultu-
da década de 60, intensificou-se a percepção de a hu- rais necessários ao desenvolvimento pessoal e a uma
manidade caminhar aceleradamente para o esgotamen- boa qualidade de vida, relacionando-o com o conceito
to ou a inviabilização de recursos indispensáveis à sua de sustentabilidade. Sabe-se que o maior bem-estar das

221
pessoas não é diretamente proporcional à maior quan- das necessidades, além de relações sociais que permitam
tidade de bens consumidos. Entretanto, o atual modelo qualidade adequada de vida para todos. A própria pers-
econômico estimula um consumo crescente e irresponsá- pectiva das necessidades do mercado mundial dificultam
vel condenando a vida na Terra a uma rápida destruição. muitas iniciativas nesse sentido.
Impõe-se, assim, a necessidade de estabelecer um O debate dos problemas ambientais nos diferentes
limite a esse consumo. A primeira conferência interna- meios e, em especial, nos meios de comunicação, tem
cional promovida pela Organização das Nações Unidas levado, em muitos casos, à formação de alguns precon-
(ONU) foi a de Estocolmo, em 1972. E a segunda foi no ceitos e à veiculação de algumas imagens distorcidas
Rio de Janeiro, em 1992, a Rio/92. O debate em torno do sobre as questões relativas ao meio ambiente. Às vezes
conceito de desenvolvimento sustentável, apresentado isso ocorre por falta de conhecimento, o que se justifica
pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambien- diante da novidade da temática. Mas, outras vezes, essas
te (Pnuma) como sendo a “melhoria da qualidade da vida distorções visam a minimizar os problemas e/ou banali-
humana dentro dos limites da capacidade de suporte zar princípios e valores ambientais, assim como depreciar
dos ecossistemas”, trouxe à tona essa outra terminologia. os movimentos ambientalistas de maneira geral.
Optou-se pelo termo “sustentabilidade”, pois muitos Tratar a questão ambiental, abrange a complexidade
consideram a ideia de desenvolvimento sustentável am- das intervenções: a ação na esfera pública só se conso-
bígua, permitindo interpretações contraditórias. Desen- lida atuando no sistema como um todo, sendo afetada
volvimento é uma noção associada à modernização das e afetando todos os setores, como educação, saúde, sa-
sociedades no interior do modelo industrial. Um dos as- neamento, transportes, obras, alimentação, agricultura
pectos mais relevantes para a compreensão da discussão etc.
diz respeito a uma característica fundamental dessa ideia Os que defendem o meio ambiente são pessoas radi-
de desenvolvimento: a busca da expansão constante e, cais e privilegiadas, não necessitam trabalhar para sobre-
de certo modo, ilimitada. Neste sentido, a necessidade viver, mantêm-se alienadas da realidade das exigências
de garantir o desenvolvimento sustentável, consenso nos impostas pela necessidade de desenvolvimento; defen-
pactos internacionais, é uma meta praticamente inatin- dem posições que só perturbam quem realmente produz
gível numa sociedade organizada sob este modelo de e deseja levar o país para um nível melhor de desenvolvi-
produção. mento. Atualmente grande parte dos ambientalistas con-
De fato, o que se tem de questionar vai além da sim- corda com a necessidade de se construir uma sociedade
ples ação de reciclar, reaproveitar, ou, ainda, reduzir o mais sustentável, socialmente justa e ecologicamente
desperdício de recursos, estratégias que não fogem, por equilibrada. Isso significa que defender a qualidade do
si, da lógica desenvolvimentista. É preciso apontar para meio ambiente, hoje, é preocupar-se com a melhoria das
outras relações sociais, outros modos de vida, ou seja, condições econômicas, especialmente da grande maio-
rediscutir os elementos que dão embasamento a essa ria da população mundial que, de acordo com dados da
lógica. ONU, se encontra em situação de pobreza ou miséria.
A forma de organização das sociedades moder- O crescimento econômico deve ser também subor-
nas constitui-se no maior problema para a busca da dinado a uma exploração racional e responsável dos
sustentabilidade. recursos naturais, de forma a não inviabilizar a vida das
gerações futuras.

FIQUE ATENTO!
A crise ecológica, a primeira grande crise
#FicaDica
planetária da história da humanidade, tem Todo cidadão tem o direito a viver num
dimensão tal que, a despeito das dificulda- ambiente saudável e agradável, respirar ar
des, e até impossibilidade de promover o de- puro, beber água potável, passear em luga-
senvolvimento sustentável, essas sociedades res com paisagens notáveis, apreciar mo-
se veem forçadas a desenvolver pesquisas e numentos naturais e culturais etc. Defender
efetivar ações, mesmo que em pequena es- esses direitos é um dever de cidadania, e
cala, para garantir minimamente a qualidade não uma questão de privilégio.
de vida no planeta.

É um luxo e um despropósito defender, por exemplo,


CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

No interior dessas relações mundiais, porém, somen- animais ameaçados de extinção, enquanto milhares de
te ações atenuantes têm sido possíveis, pois a garantia crianças morrem de fome ou de diarreia na periferia das
efetiva da sustentabilidade exige uma profunda transfor- grandes cidades, no Norte ou no Nordeste. Se para salvar
mação da sociedade (e do sistema econômico do capita- crianças da fome e da morte bastasse deixar que se ex-
lismo industrial), substituindo radicalmente os modelos tinguissem algumas espécies, estaria criado um dilema.
de produção da subsistência, do saber, de desenvolvi- Mas, como isso não é verdade, trata-se, então, de um fal-
mento tecnológico e da distribuição dos bens. so dilema. A situação das crianças no Brasil não compete
Sustentabilidade, assim, implica o uso dos recursos com a situação de qualquer espécie ameaçada de extin-
renováveis de forma qualitativamente adequada e em ção. O problema da desnutrição e da miséria não tem,
quantidades compatíveis com sua capacidade de renova- de forma alguma, sua importância diminuída por haver
ção, em soluções economicamente viáveis de suprimento preocupações com as espécies em extinção. A falta de

222
condição de vida adequada que vitima inúmeras crianças Não pesque em épocas de reprodução e obedeça às
no Brasil é um problema gravíssimo e deve receber tra- regras que indicam a quantidade de pescado permitida.
tamento prioritário nas ações governamentais, sem dúvi- Também é importante não realizar a caça ilegal.
da. Como esse, existem muitos outros problemas com os Nunca compre animais silvestres sem registro. Ao
quais se deve lidar, e a existência de um problema (como comprar animais ilegais, você está construindo para
a miséria) não anula a existência de outro (como a extin- o tráfico de animais, um problema mundial que afeta a
ção de espécies), tampouco justifica a omissão diante de biodiversidade de uma região, podendo até mesmo levar
qualquer um deles. espécies à extinção.
As pessoas que sofrem privações econômicas são as Cuide bem do seu lixo. Nunca jogue lixo no chão, im-
maiores vítimas da mesma lógica que condena os ani- portando-se sempre com o destino adequado dele. Se-
mais à extinção e que condenará cada vez mais as crian- parar o lixo reciclável é importante para diminuir a quan-
ças das próximas gerações: a lógica da acumulação da tidade de lixo nas grandes cidades.
riqueza a qualquer custo, com exploração irrestrita da Reutilize, reaproveite e recicle tudo que for possí-
natureza e o desrespeito ao próprio ser humano. vel. Caixas e plásticos, por exemplo, podem ser utilizados
Cada espécie extinta é uma perda para toda a socie-
para acondicionar alguns objetos. Roupas que você não
dade presente e futura. Uma espécie ameaçada é sinal
utiliza mais podem ser doadas. Alguns produtos podem
de alerta para uma situação geral muito mais ampla, de
virar itens de decoração. O importante é sempre ter em
grande perigo para todo um sistema do qual dependem
os seres vivos. mente que quanto mais diminuímos a nossa produção
Quem trabalha com questões relativas ao meio am- de lixo, mais preservamos o meio ambiente.
biente pensa de modo romântico, ingênuo, acredita que Reduza o consumo de água. Para isso, basta criar ma-
a natureza humana é intrinsecamente “boa” e não perce- neiras de aproveitar melhor água, como reutilizar a água
be que antes de tudo vem a dura realidade das necessi- da máquina de lavar, armazenar a água da chuva, não
dades econômicas. Afinal, a pior poluição é a pobreza, e lavar calçadas com água e diminuir o tempo de banho.
para haver progresso é normal algo ser destruído ou po- Reduza o consumo de energia elétrica. Evite o con-
luído. Os seres humanos não são intrinsecamente “bons” sumo exagerado, lembrando-se sempre de deixar apa-
nem “maus”, mas são capazes tanto de grandes gestos relhos desligados quando não estiverem sendo usa-
construtivos e de generosidade quanto de egoísmo e de dos e apagar as luzes que estão iluminando ambientes
destruição. No entanto, a sociedade humana só é viá- desnecessários.
vel quando o comportamento das pessoas se baseia na Evite andar apenas de carro. Os carros poluem o meio
ética. Sem ela, não é possível a convivência. E, sem con- ambiente, por isso, sempre que possível, opte por deixar
vivência, sem vida em comum, não há possibilidade de o carro em casa. Você sempre pode optar por utilizar o
existência de qualquer sociedade humana, muito menos transporte público de sua região, criar sistemas de caro-
de uma sociedade saudável. nas, andar de bicicleta ou ainda ir a pé, dependendo da
Um grande equívoco seria associar qualidade de vida distância a ser percorrida.
somente com riqueza material. A qualidade de vida está Compre apenas o necessário. A dica aqui é sempre se
diretamente vinculada à qualidade da água que se bebe, perguntar antes de uma compra: Eu realmente preciso?
do ar que se respira, dos alimentos que se consome e A produção exagerada de produtos ocasiona a explora-
da saúde que se obtém por meio desse conjunto. Sem ção de nossos recursos de maneira descontrolada. Assim
isso, de nada adiantará toda a riqueza. Sabe-se que a sendo, só consuma o necessário e só adquira produtos
formação de um mercado mundial instituiu relações que realmente importantes.
induziram à deterioração do ambiente e seria ingenui-
dade ignorar essa dimensão do problema. No entanto,
a dura realidade econômica não justifica a destruição e
a poluição, quando se sabe que há processos de produ- EXERCÍCIOS COMENTADOS
ção mais adequados. Também não se justifica que, para
poucos acumularem mais riquezas, muitos tenham de se 1. (Secretaria da Administração do Estado da Bahia
submeter à destruição, ao dano à saúde e à pobreza. De - Cargo: Especialista em Meio Ambiente - Nível: Su-
fato, poluição não implica progresso: é antes, na maior perior - Banca: Centro de Seleção e de Promoção de
parte das vezes, sinal de ignorância, ou egoísmo e desca-
Eventos UnB (CESPE) – 2012)
so, bastante característicos daqueles que, apesar de pos-
Considera-se uma espécie extinta de determinada loca-
suírem conhecimento e consciência das implicações das
lidade quando
sua atividades produtoras, continuam poluindo.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Dicas importantes  a) a espécie não é mais encontrada nessa localidade por


determinado tempo.
Preserve as árvores. Não realize podas ilegais e nun- b) poucos indivíduos dessa espécie são encontrados na
ca desmate uma área. É importante também não colo- natureza.
car fogo em propriedades, pois isso pode atingir matas c) essa espécie não se reproduz mais em ambientes
preservadas. naturais.
Cuide bem dos cursos de água.  Nunca coloque lixo d) suas populações são muito pequenas.
em rios, lagos e outros ambientes aquáticos e, principal-
mente, preserve a mata em volta desses locais. Essa mata
protege contra erosão e assoreamento.

223
Resposta: Letra A Lixo de fontes especiais: são os resíduos origina-
O termo extinção é usado para designar um ser vivo dos em função da realização de atividade em ambientes
que não existe mais em determinado ecossistema. como industrias e hospitais (lixo radioativo, lixo indus-
A  extinção, apesar de bastante triste, é um processo trial, lixo hospitalar ou qualquer outro resíduo que exija
que ocorre na natureza constantemente. Algumas cuidados especiais em seu acondicionamento, manipula-
espécies, por exemplo, sofrem transformações tão ção e descarte).
grandes, em face do meio em que vivem, que podem Os resíduos gerados e agrupados nessas quatro clas-
ser consideradas novas espécies. Assim sendo, aque- ses ainda podem ser classificados quanto a sua natureza
la espécie inicial extingue-se e uma nova espécie é em: orgânico, inorgânico, tóxico e altamente tóxico.
formada. Lixo orgânico: é representado por resíduos como
galhos, folhas, papéis, madeiras, restos de alimento, se-
2. (Companhia de Saneamento Básico de São Paulo mentes entre outros.
– SP - Cargo: Biólogo – Superior - Banca: Fundação
Carlos Chagas (FCC) – 2014)
Para o uso racional da água é necessário

a) investir na ampliação do sistema produtor de água a


fim de fornecer água em quantidades que garantam o
desenvolvimento futuro.
b) incentivar o desenvolvimento de novas tecnologias,
voltadas ao aumento da produção de água, a fim de
manter o nível do consumo.
c) investir na criação de novos mananciais, garantindo a
curto e médio prazos, o fornecimento da água neces- Lixo inorgânico: são os resíduos que podem ser reci-
sária à população. clados como garrafas de vidro, latas de metal e materiais
d) incentivar mudanças de hábitos e eliminar vícios de feitos de plástico como garrafas pet.
desperdício, com foco na conservação, e consequente
aumento da disponibilidade de água.
e) investir na ampliação do sistema de tratamento de es-
goto de modo que a degradação da água por efluen-
tes clandestinos seja minimizada.

Resposta: Letra D
Cuide bem dos cursos de água.  Nunca coloque lixo
em rios, lagos e outros ambientes aquáticos e, princi-
palmente, preserve a mata em volta desses locais. Essa
mata protege contra erosão e assoreamento. Reduza Lixo tóxico: são resíduos como pilhas, baterias, tintas
o consumo de água. Para isso, basta criar maneiras de entre outros.
aproveitar melhor água, como reutilizar a água da má-
quina de lavar, armazenar a água da chuva, não lavar
calçadas com água e diminuir o tempo de banho.

Lixo
Podemos definir lixo como todo e qualquer resíduo
sólido originado em razão de atividades humanas que
deve ser descartado ou materiais provenientes da natu-
reza espalhados pelo vento como folhas, galhos de árvo-
re, areia, terra entre outros. Lixo altamente tóxico: são resíduos provenientes de
De acordo com sua origem, o lixo pode ser agrupa- hospitais (agulhas, seringas, luvas) e industrias nucleares
do em quatro classes: residencial, comercial, público e de (resíduos radioativos).
fontes especiais.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Lixo residencial: são os resíduos produzidos diaria-


mente em decorrência da realização de atividades em
casas, apartamentos e demais propriedades residenciais.
Lixo comercial: são os resíduos gerados a partir de
atividades realizadas em estabelecimentos comerciais
como supermercados, bares, lojas, restaurantes etc.
Lixo público: são os resíduos provenientes das ati-
vidades de varrição, capina e raspagem de ruas e praças
(móveis velhos, galhos de árvore, entulho de obras, entre
outros materiais deixados indevidamente nas ruas e pra-
ças pela própria população).

224
DESTINO DE CADA TIPO DE LIXO Nos aterros sanitários, todo o lixo orgânico é degra-
dado por bactérias, produzindo o gás metano, que pode
De acordo com sua natureza, os lixos orgânicos, inor- tanto ser descartado (queimado), quanto usado para ge-
gânicos, tóxicos e altamente tóxicos podem ser destina- ração de energia elétrica.
dos para lixões, aterros sanitários, compostagem, recicla-
gem, incineração ou unidades de tratamento especial. Compostagem
Do ponto de vista ambiental e econômico, a compos-
Lixões tagem constitui uma boa alternativa para o tratamento
Infelizmente, os lixões ainda constituem o destino do lixo orgânico.
mais utilizado no Brasil para descarte de lixo. Neles, os Nesse sistema, resíduos de origem animal (casca de
resíduos orgânicos e inorgânicos, provenientes de indús- ovo) e vegetal (restos de frutas e verduras) são transfor-
trias, residências e estabelecimentos comerciais, são de- mados em um composto orgânico que pode ser usado
positados, de maneira indevida, em grandes áreas a céu para adubar (enriquecer) o solo de hortas e jardins, sem
aberto, normalmente, localizadas em regiões periféricas causar riscos ao meio ambiente.
de cidades, que acabam se tornando verdadeiros focos
de proliferação de doenças.
Coleta seletiva e reciclagem
Caracterizados pelo mau cheiro, os lixões concentram
A coleta seletiva é um sistema em que o lixo orgânico
uma grande quantidade de pragas como ratos, baratas
e outros insetos. Além disso, é comum encontrar nesses (papel, galhos, folhas e restos de alimento) é separado
locais um grande número de pessoas muito pobres que do lixo inorgânico (latas de alumínio, potes e sacos plás-
frequentemente colocam sua saúde em risco ao recolher ticos, garrafas pet, potes e garrafas de vidro etc.).
materiais recicláveis (latinhas e garrafas pet) e restos de Nesse caso, o lixo inorgânico é entregue diretamente
alimento. a empresas ou cooperativas que os reciclam para serem
Dentre os grandes problemas que o lixo pode trazer, novamente usados na cadeia produtiva.
como como o do mau cheiro e da proliferação de doen-
ças, está o de ordem ambiental. Isso porque, ao entrar
em decomposição, os resíduos de natureza orgânica #FicaDica
produzem chorume (um líquido de cor escura e odor Além de reduzir a contaminação do meio
desagradável) que pode contaminar rios, lagos e lençóis ambiente por materiais não-biodegradá-
freáticos situados próximo ao lixão.
veis, a reciclagem é uma boa opção, porque
ainda gera emprego e renda para todas as
FIQUE ATENTO! pessoas envolvidas no processo.
Outros problemas provocados pelos lixões são:
a) Contaminação do solo e de pessoas: o Incineração de lixo
descarte indevido de RESÍDUOS TÓXICOS A incineração é o destino mais adequado para os re-
NOS LIXÕES PODE contaminar não apenas o síduos que apresentam o risco de contaminação, como
solo, mas também as pessoas que entram em por exemplo, o lixo gerado no hospital.
contato com o lixo. Nesse sistema, o lixo é queimado em incineradores
b) Deslizamentos de encostas: quando o lixo apropriados e garantem a segurança das pessoas envol-
é descartado próximo a encostas, aumenta vidas no processo. E a fumaça gerada pela queima dos
consideravelmente o risco de ocorrência de resíduos passa por um sistema de filtragem, reduzindo
deslizamentos. ao máximo a poluição do ar.
c) Assoreamento de mananciais e enchentes:
o acúmulo de lixo, e outros materiais, em rios Tratamentos especiais
e lagos pode provocar enchentes pluviais Resíduos como pilhas, baterias, lâmpadas e compo-
(enchentes decorrentes da água de chuva). nentes eletrônicos não podem ser misturados com o lixo
d) Armazenamento de materiais não biode- comum, pois apresentam elementos químicos que po-
gradáveis: materiais como plástico, vidro e dem contaminar o meio ambiente.
eletrônicos não podem ser degradados pela Dessa forma, após a utilização desses materiais, é indica-
natureza, ficando acumulados. do que seus consumidores os separem e entreguem a locais
específicos para que, posteriormente, possam ser tratados
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

de forma adequada e segura por empresas especializadas.


Aterros sanitários
Os aterros sanitários representam outro destino mui-
to usado no Brasil para o tratamento do lixo. Neles, o
solo de uma área pré-determinada é impermeabilizado
para receber apenas os resíduos orgânicos. Nesse sis-
tema, o lixo é depositado em camadas alternadas com
a terra, impedindo a ocorrência de fatores como mau
cheiro, contaminação e a proliferação de pragas (ratos
e insetos).

225
locais um grande número de pessoas muito pobres que
EXERCÍCIOS COMENTADOS frequentemente colocam sua saúde em risco ao recolher
materiais recicláveis (latinhas e garrafas pet) e restos de
alimento.
1. (CRESS-PE – AUXILIAR DE SERVIÇOS GERAIS – QUA- Dentre os grandes problemas que o lixo pode trazer,
DRIX – 2017) A separação do lixo em lixeiras coloridas como como o do mau cheiro e da proliferação de doen-
deve seguir a lógica abaixo. ças, está o de ordem ambiental. Isso porque, ao entrar
em decomposição, os resíduos de natureza orgânica
produzem chorume (um líquido de cor escura e odor
desagradável) que pode contaminar rios, lagos e lençóis
freáticos situados próximo ao lixão.

FIQUE ATENTO!
Outros problemas provocados pelos lixões são:
a) Contaminação do solo e de pessoas: o
descarte indevido de RESÍDUOS TÓXICOS
NOS LIXÕES PODE contaminar não apenas o
solo, mas também as pessoas que entram em
contato com o lixo.
b) Deslizamentos de encostas: quando o lixo
é descartado próximo a encostas, aumenta
consideravelmente o risco de ocorrência de
deslizamentos.
c) Assoreamento de mananciais e enchentes:
Com base nos dados informados, assinale a alternativa o acúmulo de lixo, e outros materiais, em rios
correta. e lagos pode provocar enchentes pluviais
(enchentes decorrentes da água de chuva).
a) Objetos em MDF devem ser depositados na lixeira preta. d) Armazenamento de materiais não biode-
b) Pilhas velhas devem ser depositadas na lixeira amarela. gradáveis: materiais como plástico, vidro e
c) Lenço de papel usado deve ser depositado na lixeira azul. eletrônicos não podem ser degradados pela
d) Garrafas PET devem ser depositadas na lixeira cinza. natureza, ficando acumulados.
e) Termômetro de mercúrio quebrado deve ser deposita-
do na lixeira verde.
Aterros sanitários
RESPOSTA: Letra A. O MDF (Medium-Density Fiber- Os aterros sanitários representam outro destino muito
board) é uma placa de densidade média produzida a usado no Brasil para o tratamento do lixo. Neles, o solo
partir da aglutinação de fibras da madeira. Portanto, de uma área pré-determinada é impermeabilizado para
deve ser descartado em lixeiras de cor preta. receber apenas os resíduos orgânicos. Nesse sistema, o
lixo é depositado em camadas alternadas com a terra, im-
pedindo a ocorrência de fatores como mau cheiro, conta-
minação e a proliferação de pragas (ratos e insetos).
DESTINO DE CADA TIPO DE LIXO Nos aterros sanitários, todo o lixo orgânico é degra-
dado por bactérias, produzindo o gás metano, que pode
Os detritos ou lixos devem ser separados e destina- tanto ser descartado (queimado), quanto usado para ge-
dos conforme sua origem. Os lixos orgânicos, inorgâni- ração de energia elétrica.
cos, tóxicos e altamente tóxicos podem ser destinados
para compostagem, reciclagem, lixões, aterros sanitários, Compostagem
incineração ou unidades de tratamento especial. Do ponto de vista ambiental e econômico, a compos-
tagem constitui uma boa alternativa para o tratamento
Lixões do lixo orgânico.
Infelizmente, os lixões ainda constituem o destino Nesse sistema, resíduos de origem animal (casca de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

mais utilizado no Brasil para descarte de lixo. Neles, os ovo) e vegetal (restos de frutas e verduras) são transfor-
resíduos orgânicos e inorgânicos, provenientes de indús- mados em um composto orgânico que pode ser usado
trias, residências e estabelecimentos comerciais, são de- para adubar (enriquecer) o solo de hortas e jardins, sem
positados, de maneira indevida, em grandes áreas a céu causar riscos ao meio ambiente.
aberto, normalmente, localizadas em regiões periféricas
de cidades, que acabam se tornando verdadeiros focos Coleta seletiva e reciclagem
de proliferação de doenças. A coleta seletiva é um sistema em que o lixo orgânico
Caracterizados pelo mau cheiro, os lixões concentram (papel, galhos, folhas e restos de alimento) é separado
uma grande quantidade de pragas como ratos, baratas do lixo inorgânico (latas de alumínio, potes e sacos plás-
e outros insetos. Além disso, é comum encontrar nesses ticos, garrafas pet, potes e garrafas de vidro etc.).

226
Nesse caso, o lixo inorgânico é entregue diretamente Com base nos dados informados, assinale a alternativa
a empresas ou cooperativas que os reciclam para serem correta.
novamente usados na cadeia produtiva.
a) Objetos em MDF devem ser depositados na lixeira preta.
b) Pilhas velhas devem ser depositadas na lixeira amarela.
#FicaDica c) Lenço de papel usado deve ser depositado na lixeira azul.
d) Garrafas PET devem ser depositadas na lixeira cinza.
Além de reduzir a contaminação do meio
e) Termômetro de mercúrio quebrado deve ser deposita-
ambiente por materiais não-biodegradá-
do na lixeira verde.
veis, a reciclagem é uma boa opção, porque
ainda gera emprego e renda para todas as
Resposta: Letra A. O MDF (Medium-Density Fiber-
pessoas envolvidas no processo.
board) é uma placa de densidade média produzida a
partir da aglutinação de fibras da madeira. Portanto,
Incineração de lixo deve ser descartado em lixeiras de cor preta.
A incineração é o destino mais adequado para os re- Pilhas – lixeira roxa; Lenço usado - lixeira cinza; Garrafa
síduos que apresentam o risco de contaminação, como Pet – lixeira vermelha;
por exemplo, o lixo gerado no hospital. Termômetro de mercúrio – lixeira roxa.
Nesse sistema, o lixo é queimado em incineradores
apropriados e garantem a segurança das pessoas envol-
vidas no processo. E a fumaça gerada pela queima dos
resíduos passa por um sistema de filtragem, reduzindo
ao máximo a poluição do ar. HISTÓRIA E GEOGRAFIA: BRASIL: ASPEC-
TOS SOCIAIS E POLÍTICOS. DESIGUALDA-
Tratamentos especiais DES REGIONAIS NO BRASIL DE HOJE
Resíduos como pilhas, baterias, lâmpadas e compo-
nentes eletrônicos não podem ser misturados com o lixo
comum, pois apresentam elementos químicos que po-
História e Geografia do Brasil
dem contaminar o meio ambiente.
Dessa forma, após a utilização desses materiais, é in-
O processo de formação da Geografia do Brasil  é a
dicado que seus consumidores os separem e entreguem
área especializada em compreender os aspectos físicos e
a locais específicos para que, posteriormente, possam
humanos do espaço brasileiro, envolvendo o seu territó-
ser tratados de forma adequada e segura por empresas
rio, suas regiões, paisagens e lugares. É, portanto, através
especializadas.
da Geografia do Brasil que compreendemos melhor a
dinâmica de funcionamento das composições territoriais
nacionais.
Sendo assim, o Brasil é considerado um país com di-
EXERCÍCIOS COMENTADOS mensões continentais, pois possui uma ampla área terri-
torial, que totaliza 8.514.976 km², o que o torna o quinto
1. (CRESS-PE – AUXILIAR DE SERVIÇOS GERAIS – FUN- maior país existente, atrás de Rússia, Canadá, China e Es-
DAMENTAL – 2017) A separação do lixo em lixeiras co- tados Unidos. A título de comparação, a área da Europa
loridas deve seguir a lógica abaixo. (menos a Rússia) é de aproximadamente 6.220.000 km².
Com isso, apesar de suas amplas dimensões continen-
tais, a população do Brasil historicamente concentrou-se
nas áreas litorâneas, sobretudo na região Sudeste, que,
desde o período da economia cafeeira, transformou-se
no centro econômico do país. Mesmo com as sucessivas
“marchas para o oeste”, ainda a maior parte dos mais de
200 milhões de habitantes do país é de áreas relativa-
mente próximas aos litorais.
Outrossim, a economia do Brasil é considerada emer-
gente, ou seja, a de um país historicamente subdesen-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

volvido que apresenta padrões relativamente avançados


em comparação com boa parte das demais economias
periféricas. O PIB de US$2,25 trilhões é o sétimo maior do
mundo, podendo subir algumas posições nos próximos
anos.
Desta forma, o Brasil está localizado na América do
Sul, integrando também o conjunto de países latino-a-
mericanos. No geral, o território nacional encontra-se em
três hemisférios diferentes: oeste, uma pequena parte no
norte e a maior parte no sul. Faz fronteira com todos os

227
países sul-americanos, com exceção do Chile e Equador. designação oficial de Reino Unido de Portugal, Brasil e
Portanto, o fato de o país ser cortado pelo Trópico Algarves, tendo Dona Maria I de Portugal acumulado as
de Capricórnio e pela Linha do Equador, fato esse que três coroas.
evidencia as variações de latitude, é responsável por uma Assim sendo, em 7 de setembro de 1822, Dom Pedro
ampla diversidade climática e, consequentemente, em de Alcântara proclamou a Independência do Brasil  em
sua vegetação. O Brasil também abriga a floresta com a relação ao Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, e
maior diversidade do mundo: a Amazônica. fundou o Império do Brasil, sendo coroado imperador
como Dom Pedro I. Ele reinou até 1831, quando abdi-
cou e passou a Coroa brasileira ao seu filho, Dom Pedro
FIQUE ATENTO! de Alcântara, que tinha apenas cinco anos. Aos catorze
Geografia do Brasil refere-se aos aspectos anos, em 1840, Dom Pedro de Alcântara (filho) teve sua
físicos naturais do país que, com mais de maioridade declarada, sendo coroado imperador no ano
8,5 milhões de quilômetros quadrados de seguinte como Dom Pedro II
extensão, é o quinto maior país do mundo. Portanto, em 15 de novembro de 1889, ocorreu a
Proclamação da República pelo Marechal Deodoro da
Fonseca, dando início à chamada República Velha, que
No que tange a História do Brasil, as análises se ini- só veio a terminar em 1930 com a chegada de Getúlio
ciam começa com a chegada dos primeiros humanos no Vargas ao poder.
continente americano há pelo menos 12 mil anos. Em fins A partir daí, têm destaque na história brasileira a in-
do século XV, quando do Tratado de Tordesilhas, toda dustrialização do país, sua participação na II Guerra Mun-
a área hoje conhecida como Brasil era habitada por tri- dial ao lado dos EUA, e o Golpe Militar de 1964, quando o
bos seminômades que subsistiam da caça, pesca, coleta general Castelo Branco assumiu a Presidência. A ditadura
e agricultura. Em 26 de janeiro de 1500, o navegador e militar, a pretexto de combater a subversão e a corrup-
explorador espanhol Vicente Pinzón atingiu o litoral de ção, suprimiu direitos constitucionais, perseguiu e cen-
Pernambuco, e, aos 22 de abril do mesmo ano, Pedro surou os meios de comunicação, extinguiu os partidos
Álvares Cabral, capitão-mor da expedição portuguesa a políticos e criou o bipartidarismo. Após o fim do regime
caminho das Índias, chegou ao litoral sul da Bahia, tor- militar, os deputados federais e senadores se reuniram
nando a região colônia do Reino de Portugal. no ano de 1988 em Assembleia Nacional Constituinte e
Após trinta anos, a Coroa Portuguesa implementou promulgaram a nova Constituição, que amplia os direitos
uma política de colonização para a terra recém-desco- individuais. O país se redemocratiza, avança economica-
berta que se organizou por meio da distribuição de ca- mente e cada vez mais se insere no cenário internacional.
pitanias hereditárias, a membros da nobreza, porém esse
sistema malogrou, uma vez que somente as capitanias
de Pernambuco e São Vicente prosperaram. Em 1548 é FIQUE ATENTO!
criado o Estado do Brasil, com consequente instalação de Muita atenção no processo de construção da
um governo-geral, e no ano seguinte é fundada a primei- linha do tempo, pois cada um dos períodos
ra sede colonial, Salvador. deixa uma marca predominante na política
Desta forma, a economia da colônia, iniciada com o brasileira.
extrativismo do pau-brasil  e as trocas entre os colonos
e os índios, gradualmente passou a ser dominada pelo
cultivo da cana de açúcar para fins de exportação, tendo CONFLITOS GEOPOLÍTICOS EMERGENTES
em Pernambuco o seu principal centro produtor, região
que chegou a atingir o posto de maior e mais rica área de Para início de conversa, convém apresentar a defini-
produção de açúcar do mundo. ção de Geopolítica para basearmos a discussão. A Geo-
Com isso, no fim do século XVII  foram descobertas, política é uma área de estudos ampla que sofre cons-
através das bandeiras, importantes jazidas de ouro  tantes atualizações, pois está diretamente ligada aos
no interior do Brasil que foram determinantes para fenômenos políticos e históricos de uma sociedade. Tem
o seu povoamento e que pontuam o início do chamado como objetivo principal analisar criticamente a realidade
Ciclo do Ouro, período que marca a ascensão da Capita- global, seus conflitos e disputas em todos os níveis.
nia de Minas Gerais, sendo desmembrada da Capitania
de São Paulo e Minas de Ouro, na economia colonial. Em
1763, a sede do Estado do Brasil foi transferida para o #FicaDica
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Rio de Janeiro.
Ademais, em 1808, com a transferência da corte por- O termo Geopolítica foi usado pela primei-
tuguesa para o Brasil, fugindo da possível subjugação da ra vez em 1899, pelo cientista político Ru-
França, consequência da Guerra Peninsular travada entre dolf Kjellén, para estabelecer uma relação
as tropas portuguesas e as de Napoleão Bonaparte, o entre o Estado e o seu território.
Príncipe-regente Dom João de Bragança, filho da Rainha
Dona Maria I, abriu os portos da então colônia, permitiu
o funcionamento de fábricas e fundou o Banco do Brasil.
Em 1815, o então Estado do Brasil foi elevado à condição
de reino, unido aos reinos de Portugal e Algarves, com a

228
AMBIENTAIS

Para entendermos o cenário geopolítico ambiental temos que iniciar a partir da Revolução Industrial cuja fonte de
energia era o carvão, com isso ocorreu um aumento da produção, e consequentemente, do consumo. Neste cenário de
consumo, houve a necessidade do aumento de exploração dos recursos naturais e, com isso, surgiram grandes impac-
tos ambientais. Sendo assim a partir da Revolução Industrial tivemos um desenvolvimento predatório, ou seja, geramos
riquezas, mas, paralelamente, degradamos o ambiente.
Esta situação gerou vários conflitos no mundo, levando as nações a participarem de reuniões e assinarem vários
acordos sobre diversos temas do meio-ambiente, temas recorrentes até hoje, vejamos abaixo:

Fonte: Portal O Globo. Disponível em: <https://infograficos.oglobo.globo.com/sociedade/mapa-dos-conflitos-am-


bientais-no-mundo.html>.

FIQUE ATENTO!
Desenvolvimento predatório: é o desenvolvimento sem preocupação com os impactos na natureza.
Desenvolvimento sustentável: é o equilíbrio entre o homem (desenvolvimento) e a natureza.
Biomassa e terras: tipo de conflito mais recorrente no Brasil.

SOCIAIS
Conflitos sociais são diferenças de pensamento, trata-se de ideologias. É quando existe uma divergência de opi-
niões entre países no âmbito internacional.
O controle da produção, comercialização, fatores religiosos foram responsáveis por grandes conflitos sociais entre
países ao redor do mundo. O país que domina a tecnologia permanece sobre os demais, apesar das diferenças que
ocasionaram o conflito.
Fatores influenciadores dos conflitos sociais:
– Influencia dos EUA na economia Mundial;
– Uso dos recursos energéticos e domínio de técnicas cibernéticas e bélicas;
– Relacionamento entre os países.

FIQUE ATENTO!
Mais um conceito importante para você!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Domínio da tecnologia: fator determinante na relação de domínio.

RELIGIOSOS
A questão religiosa sempre um foi uma grande geradora de conflitos. Grupos radicais Extremistas e fundamentalis-
tas religiosos podem contribuir, utilizando-se de medidas radicais e pacificadores muitas vezes são criticados.
Exemplos de Grupos Radicais: os conflitos religiosos no Oriente Médio são causados principalmente pela atuação
de grupos radicais como al-Quaeda e Estado Islâmico.

229
Estes conflitos ocorrem nos continentes africano, asiático e europeu em menor escala, envolvendo islâmicos, judeus
e cristãos.

#FicaDica
O conflito religioso pode ser motivado por diferentes crenças, por outras ideologias ou por sentimentos
contrários a religião.

ECONÔMICOS
As questões geopolíticas ambientais, sociais e religiosas impactam diretamente na economia, pois geram instabili-
dade no mercado econômico.
Por exemplo: como um país vai comprar petróleo de outro pais que está em um conflito?
As seguintes perguntas poderão ser feitas:
– Qual será o desfecho deste conflito?
– Este país irá ter condição de saldar a dívida, já que está investindo neste conflito?
– E seus parceiros econômicos?
– Este país está aberto a negociações?
Podem ocorrer diversos tipos de ataque, desde ataques terroristas a ataques cibernéticos, em suma, é uma situação
instável que abala a economia.

#FicaDica
As questões geopolíticas ambientais, sociais e religiosas impactam diretamente na economia, pois ge-
ram instabilidade no mercado econômico.

Fonte: LS Sistema de Ensino. Disponível em: <https://www.lsensino.com.br/artigo/


enem-2019-principais-topicos-sobre-geopolitica/>.

ORDEM MUNDIAL E TERRITÓRIOS SUPRANACIONAIS


Definição de Ordem Mundial: domínio de um grupo sobre restante do planeta.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Sobre o gráfico acima:


– Até 1945 tínhamos a VELHA ORDEM MULTIPOLAR;
– De 1945 até 1941 tínhamos a VELHA ORDEM BIPOPAR;
– De 1941 até hoje temos a NOVA ORDEM MUNDIAL.

230
CENÁRIO: VELHA ORDEM MULTIPOLAR MOVIMENTOS SOCIAIS INTERNACIONAIS.
São movimentos que reúne grupos de indivíduos que
Na velha Ordem Multipolar, o domínio europeu vi- juntos defendem uma luta ou uma causa, veja alguns
gorava sobre o planeta, e também, iniciava-se a Revolu- exemplos abaixo:
ção Industrial na Inglaterra. Exemplos de movimentos sociais:
Na velha Ordem Bipolar, figurava a disputa entre dois – Movimentos ambientalistas
países sobre o planeta, de um lado o EUA (capitalismo) – Movimentos políticos
e do outro a União Soviética (socialismo), esta disputa
foi conhecida como Guerra Fria. Os dois países tinham REGIONALIZAÇÃO E A ORGANIZAÇÃO DO NOVO
planos econômicos para emprestar dinheiro aos outros SISTEMA MUNDIAL
países: Plano Marshal (EUA) e COMECOM (União Sovié- Regionalizar é dividir uma determinada área do globo
tica), e tratados militares, como o OTAN (EUA) e Pacto de acordo com suas características comuns, por exem-
de Varsóvia (União Soviética). Também é um período de
plo: pode-se agrupar os países de acordo por uma di-
corrida armamentista (poder bélico), espacial e conquista
visão geográfica, também é possível agrupar os países
de áreas.
por desenvolvimento econômico e outras características

CENÁRIO: NOVA ORDEM MUNDIAL comuns.
Vamos dar um exemplo de países agrupados pela sua
Esta é a organização do mundo hoje. Na Nova Ordem influência econômica, por exemplo: União Europeia, EUA,
Mundial, tem-se a Globalizacão vejamos: Japão e China.
Em um mundo multipolar, já não temos 2 países em
disputa como na Velha Ordem. Na década de 90, desta-
ca-se a Multipolaridade Econômica, em que vemos paí-
ses como: EUA, e Japão, e blocos econômicos, como a
União Europeia. Atualmente a China também exerce um MUNICÍPIO DE ITABORAÍ: ASPECTOS HIS-
papel fundamental neste cenário Multipolar. TÓRICOS, GEOGRÁFICOS E ECONÔMICOS

FIQUE ATENTO!
UE (União europeia) – Principal Bloco econô- Prezado candidato, o tópico acima já foi abordado
mico – está passando por crises – refugiados em HISTÓRIA DO MUNICÍPIO DE ITABORAÍ!
e a saída da Inglaterra (BREXIT);
UA e CHINA – São protagonistas neste cená-
rio da Nova Ordem;
Dica de estudos: analise os acontecimentos ESPAÇO E TEMPO: LOCALIZAÇÃO, ORGA-
de acordo com as datas em que ocorreram, NIZAÇÃO, REPRESENTAÇÃO
vide figura. Para memorizar, identifique as
palavras-chave e as e relacione aos eventos.
A ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DO ESPAÇO EM
Dentro deste contexto temos a participação e a cria- EDUCAÇÃO INFANTIL.
ção de alguns territórios supranacionais tais como: ONU
(Organização das nações Unidas) e OTAN (Organização Organização do trabalho pedagógico – materiais,
do Tratado do Atlântico Norte). ambientes, tempos

BLOCOS E FLUXOS ECONÔMICOS E POLÍTICOS Para mediar as aprendizagens, promotoras do de-


Blocos econômico são associações entre países, estes senvolvimento infantil, é preciso tencionar uma ação
blocos têm por finidade facilitar o relacionamento entre educativa devidamente planejada, efetiva e avaliada. Por
eles e, desta forma, fortalecer o comercio e acordos. isto, é imprescindível pensar o tempo, os ambientes e os
A União Europeia e o MERCOSUL são exemplos de materiais. Ressalte-se, entretanto, que o que determina
blocos econômicos. as aprendizagens não são os elementos em si, mas as
O MERCOSUL reúne Brasil, Argentina, Paraguai e Uru- relações propostas e estabelecidas com eles.
guai, que são os países efetivos. Junto com eles, tem- Materiais: os materiais compõem as situações de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

-se Chile, Peru, Bolívia, Colômbia, Equador e Venezuela, aprendizagem quando usados de maneira dinâmica,
como países associados. apropriada à faixa etária e aos objetivos da intervenção
A UE – A União Europeia, é um bloco com circulação pedagógica.
livre de pessoas, mercadorias, capitais e serviços, além da Assim, materiais são objetos, livros, impressos de
integração a partir da adoção de fluxo de moeda única modo geral, brinquedos, jogos, papéis, tecidos, fantasias,
por parte dos países membros. tapetes, almofadas, massas de modelar, tintas, madeiras,
ALIANÇAS MILITARES gravetos, figuras, ferramentas, etc.
Sem a dúvida o OTAN (organização do Atlântico Nor- Podem ser recicláveis, industrializados, artesanais, de
te) e o Pacto de Varsóvia, representaram um exemplo de uso individual e ou coletivo, sonoros, visuais, riscantes e
pactos militares de países de buscavam o domínio do ou manipuláveis, de diferentes tamanhos, cores, pesos e
planeta. texturas, com diferentes propriedades.

231
Entretanto, a intencionalidade pedagógica não pode - Possibilidades estimuladoras dos sentidos das crian-
ignorar e sobrepujar a capacidade da criança de tudo ças, em relação a odores, iluminação, sons, sensação tátil
transformar, de simbolizar, de desprender-se do mundo e visual, entre outros;
dos adultos e ver possibilidades nos restos, nos destro- - Observância da organização do espaço para que
ços, no que é desprezado. Significa dizer que as crianças seja um ambiente estimulante, agradável, seguro, fun-
produzem cultura e são produto delas, de modo que a cional e propício à faixa etária;
interpretação e releitura que a criança faz do mundo e - Garantia da acessibilidade a crianças e adultos com
das coisas que estão à sua volta reverte-se em possibili- visão ou locomoção limitadas;
dades de novos conhecimentos e aprendizagens. - Organização que evite, ao máximo, acidentes e
Um objeto, um livro, um brinquedo pode oportunizar conflitos;
diferentes ações, permitir a exploração e propiciar intera- - Renovação periódica mediante novos arranjos no
ções entre as crianças e os adultos. Para tanto, é funda- mobiliário, materiais e elementos decorativos.
mental que os materiais: Tempo: as aprendizagens e o desenvolvimento das
- Provoquem, desafiem, estimulem a curiosidade, a crianças ocorrem dentro de um determinado tempo.
imaginação e a aprendizagem; Esse tempo é articulado. Ou seja, o tempo cronológico
- Fiquem ao alcance da criança, tanto para serem – aquele do calendário - articula-se com o tempo his-
acessados quanto para serem guardados; tórico – aquele construído nas relações socioculturais e
- Estejam disponíveis para o uso frequente e ativo; históricas, - visto que as crianças carregam e vivenciam
- Não tragam danos à saúde infantil; as marcas de sua época e de sua comunidade. E ainda
- Sejam analisados e selecionados em função das podemos falar do tempo vivido, incorporado por nós
aprendizagens e dos possíveis sentidos que as crianças como instituição social e que regula nossa vida, segundo
possam atribuir-lhes; Norbert Elias (1998).
- Estejam adequados às crianças com deficiência vi- Quando a criança tem a oportunidade de participar,
sual, auditiva ou física, com transtornos globais, com al-
no cotidiano, de situações que lidam com duração, pe-
tas habilidades / superdotação;
riodicidade e sequência, ela consegue antecipar fatos, fa-
- Contemplem a diversidade social, religiosa, cultu-
zer planos e construir sua noção de tempo. É importante
ral, étnico-racial e linguística; • possam ser colhidos e
que o planejamento e as práticas pedagógicas levem em
explorados em diversos ambientes, para além das salas
conta a necessidade de:
de atividades, mas também em pátios, parques, quadras,
- Diminuir o tempo de espera na passagem de uma
jardins, praças, hortas etc;
- Sejam analisados e selecionados em função das atividade para outra;
aprendizagens e de acordo com a idade. - Evitar esperas longas e ociosas, especialmente ao
Ambientes: quando planejamos, algumas questões final da jornada diária;
nos norteiam: que tipos de atividades serão seleciona- - Flexibilizar o período de realização da atividade, ao
das, em que momentos serão feitas e em que local é mais considerar os ritmos e interesses de cada um e ou dos
adequado realizá-las? A depender do espaço físico, po- grupos;
dem ser mais qualitativas as aquisições sensoriais e cog- - Distribuir as atividades de acordo com o interesse e
nitivas das crianças. O espaço é elemento fundamental as condições de realização individual e coletiva;
para o desenvolvimento infantil. E qual a relação entre - Permitir a vivência da repetição do conhecido e o
espaço e ambiente? contato com a novidade;
Espaço e ambientes são elementos indissociáveis, - Alternar os momentos de atividades de higiene, ali-
ou seja, um não se constitui sem o outro. Dessa forma, mentação, repouso; atividades coletivas (entrada, saída,
apreende-se do termo espaço como as possibilidades de pátio, celebrações, festas); atividades diversificadas (brin-
abstração feita pelo ser humano, sobre um determinado cadeiras e explorações individuais ou em grupo); ativida-
lugar, de modo a torná-lo palpável. Já ambiente é consti- des coordenadas pelo professor (roda de conversa, hora
tuído por inúmeros significados, que são ressignificados da história, passeios, visitas, oficinas etc); atividades de
pelo sujeito de acordo com suas experiências, vivências livre escolha da criança, ainda que supervisionadas pelos
e culturas. profissionais.
Os ambientes da Educação Infantil têm como cen- Aqui, cabe uma breve consideração sobre as possí-
tro a criança e precisam ser organizados em função de veis denominações que um currículo pode comportar em
suas necessidades e interesses, inclusive com mobiliário relação à organização do trabalho pedagógico: ativida-
adequado. É interessante que permitam explorações in- des, temas geradores, projetos, vivências, entre outras.
dividuais, grupais, simultâneas, livres e ou dirigidas pelos É plausível insistir que o importante é que essas estraté-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

profissionais. Para tanto, é fundamental que os ambien- gias adquiram sentido para a criança e não sirvam ape-
tes sejam organizados para favorecer: nas para mantê-la ocupada, controlada, quieta, soterrada
- Construção da identidade da criança como agente por uma avalanche de tarefas.
que integra e transforma o espaço; Não interessa banir essas denominações (e seus usos)
- Desenvolvimento da independência. Por exemplo: de nosso vocabulário e cotidiano. Interessa fazer com
tomar água sozinha, alcançar o interruptor de luz, ter que as atividades, temas geradores, projetos, vivências
acesso a saboneteira e toalhas, circular e orientar-se com e outras práticas sejam ressignificadas, sejam objetos de
segurança pela instituição; reflexão, colocando as crianças em “situação de aprendi-
- amplitude E segurança para que a criança explore zagem”. Interessa, portanto, dialogar historicamente com
seus movimentos corporais (arrastar-se, correr, pular, pu- essas práticas, reexaminá-las e restituí-las na organiza-
xar objetos, etc.); ção do trabalho pedagógico.

232
Existem muitas possibilidades de organização do tra-
balho pedagógico ao longo da jornada diária, semanal, #FicaDica
bimestral. Elegemos quatro situações didáticas que po-
dem integrar/articular as linguagens não somente em A contemplação do tempo é fundamen-
cada turma, mas também no coletivo escolar. Em qual- tal ao indivíduo, afinal, a partir do mesmo,
quer uma das situações didáticas, cabe levar em conside- podemos aplicar a cronologia aos estudos
ração os objetivos, conteúdos, materiais, espaços / am- das Ciências Humanas, possibilitando en-
bientes, tempos, interesses e características das crianças. tender os desdobramentos do mesmo na
Ou seja, ter sempre em mente: onde está a criança nas humanidade.
situações de aprendizagem propostas pelos professores?
Atividades permanentes: ocorrem com regularidade
(diária, semanal, quinzenal, mensal) e têm a função de Deste modo, não sendo apenas baseada em uma per-
familiarizar as crianças com determinadas experiências cepção da realidade material, a forma com a qual o ho-
de aprendizagem. Asseguram o contato da criança com mem conta o tempo também pode ser visivelmente in-
rotinas básicas para a aquisição de certas aprendizagens, fluenciada pela maneira com que a vida é compreendida.
visto que a constância possibilita a construção do conhe- Em algumas civilizações, a ideia de que houve um início
cimento. É importante planejar e avaliar com a criança em que o mundo e o tempo se conceberam juntamente
e todos os envolvidos no processo como o trabalho foi vem seguida pela terrível expectativa de que, algum dia,
realizado. esses dois itens alcancem seu fim. Já outros povos en-
Sequência de atividades: trata-se de um conjunto tendem que o início e o fim dos tempos se repetem por
de propostas que geralmente obedecem a uma ordem meio de uma compreensão cíclica da existência.
crescente de complexidade. O objetivo é trabalhar ex- Ademais, apesar de ser um referencial de suma im-
periências mais específicas, aprendizagens que requerem portância para que o homem se situe, a contagem do
aprimoramento com a experiência. Os planejamentos tempo não é o principal foco de interesse da História. Em
diários, geralmente, seguem essa organização didática. outras palavras, isso quer dizer que os historiadores não
Atividades ocasionais: permitem trabalhar com as têm interesse pelo tempo cronológico, contado nos ca-
crianças, em algumas oportunidades, um conteúdo con- lendários, afinal sua passagem não determina as mudan-
siderado valioso, embora sem correspondência com o ças e acontecimentos (os tais fatos históricos) que tanto
que está planejado. Trabalhada de maneira significativa, chamam a atenção desse tipo de estudioso. Assim sendo,
a organização de uma situação independente se justifica, se esse não é o tipo de tempo trabalhado pela História,
a exemplo de passeios, visitas pedagógicas, comemora- que tempo tal ciência utiliza?
ções, entre outras. A concepção de tempo empregado pelos historiado-
Projetos didáticos: os objetivos são claros, o período res é o chamado “tempo histórico”, que possui uma im-
de realização é determinado, há divisão de tarefas e uma portante diferença do tempo cronológico. Enquanto os
avaliação final em função do pretendido. Suas principais calendários trabalham com constantes e medidas exatas
características são objetivos mais abrangentes e a exis- e proporcionais de tempo, a organização feita pela ciên-
tência de um produto final. cia histórica leva em consideração os eventos de curta e
longa duração. Dessa forma, o historiador se utiliza das
Referências: formas de se organizar a sociedade para dizer que um
CARVALHO, M.T.V.; ORTIZ, C. Interações: ser profes- determinado tempo se diferencia do outro.
sor de bebês – cuidar, educar e brincar, uma única ação.
Coleção Interações. São Paulo: Editora Edgard Blucher.
2012. FIQUE ATENTO!
Currículo em Movimento da Educação Básica Educa-
ção Infantil. Distrito Federal, 2013. O “tempo histórico” nos permite compreen-
Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação In- der as transições ocorridas no decorrer das
fantil. Ministério da Educação. sociedades humanas, entendendo assim, os
desdobramentos de cada período histórico.

TEMPO
Outrossim, seguindo essa lógica de pensamento, o
Ao pensarmos as possibilidades em torno do tempo, tempo histórico pode considerar que a Idade Média dure
praticamente um milênio, enquanto a Idade Moderna se
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

precisamos compreender que o tempo é uma questão


fundamental para a nossa existência e a vida em co- estenda por apenas quatro séculos. O referencial empre-
munidade. Inicialmente, os primeiros homens a habitar gado pelo historiador trabalha com as modificações que
a terra determinaram a contagem desse item por meio as sociedades promovem na sua organização, no desen-
da constante observação dos fenômenos naturais. Assim volvimento das relações políticas, no comportamento
sendo, as primeiras referências de contagem do tempo das práticas econômicas e em outras ações e gestos que
estipulavam que o dia e a noite, as fases da lua, a posição marcam a história de um povo.
de outros astros, a variação das marés ou o crescimento Ademais, o historiador pode ainda admitir que a pas-
das colheitas pudessem metrificar “o quanto de tempo” sagem de certo período histórico para outro ainda seja
se passou. Na verdade, os critérios para essa operação marcado por permanências que apontam certos hábi-
são diversos. tos do passado, no presente de uma sociedade. Assim

233
sendo, podemos ver que a História não admite uma
compreensão rígida do tempo, em que a Idade Moderna,
EXERCÍCIOS COMENTADOS
por exemplo, seja radicalmente diferente da Idade Mé-
dia. Nessa ciência, as mudanças nunca conseguem varrer
definitivamente as marcas oferecidas pelo passado. 1. História, como área do conhecimento, possui, hoje, es-
Portanto, mesmo parecendo que tempo histórico e pecificidades que a definem, dentre as quais encontra-se
tempo cronológico sejam cercados por várias diferenças, a característica de
o historiador utiliza a cronologia do tempo para orga-
nizar as narrativas que constrói. Ao mesmo tempo, se o a) ater-se apenas a documentos escritos, não aceitando
tempo cronológico pode ser organizado por referenciais como fonte outros tipos de informação tais como in-
variados, o tempo histórico também pode variar de acor- formações originadas na oralidade ou produzidas pela
do com a sociedade e os critérios que sejam relevantes mídia.
para o estudioso do passado. Sendo assim, ambos têm b) não se ater apenas aos fatos realizados por governan-
grande importância para que o homem organize sua tes e poderosos, tomando os eventos cotidianos e as
existência. práticas sociais como importantes temas históricos.
c) entender o tempo histórico e o tempo cronológico
Tempo histórico e cronológico como iguais, uma vez que ambos são caracterizados
por ter medidas constantes e exatas de tempo.
Basicamente, as diferenças entre tempo cronoló- d) reconhecer apenas grandes eventos documentados
gico e tempo histórico estão na forma como o tempo oficialmente como um fato histórico.
é entendido. Ambas as denominações são fundamen-
tais para compreender a história e seus impactos no Resposta: Letra B
presente e futuro da sociedade Os conceitos de macro-história e micro-história são
O tempo cronológico leva em questão as informa- amplamente difundidos no “fazer” História enquanto
ções numéricas e datadas (dias, anos, meses ou sécu- ciência atualmente.
los). Ele apresenta os fatos de forma linear. Por exem-
2. Considere o texto a seguir.
plo, o Brasil foi descoberto quase 520 anos atrás. Essa
é uma referência de tempo cronológico.
“A essência de medir a passagem do tempo é comparar
Enquanto isso, o tempo histórico se baseia nos
durações: o tempo de uma gestação, o tempo de uma
acontecimentos históricos, sem se prender às datas,
colheita, o tempo de uma vida. Dentre os instrumentos
especialmente. Um determinado período da história
de medidas mais conhecidos da antiguidade encontram-
se diferencia de outro por seus acontecimentos e ca-
-se o gnômon, ou relógio de Sol, para medir as frações
racterísticas marcantes. Mensurar esse tempo é utili-
do dia e a clepsidra, um relógio de fluxo de água usado
zar o tempo histórico. principalmente para medir as frações da noite. A evolu-
ção dos medidores prosseguiu com a invenção, na idade
média, da ampulheta, um relógio de fluxo de areia fina
FIQUE ATENTO! pelo orifício que separa duas câmaras de um recipiente
O Tempo Histórico É Bastante Usado Por His- de vidro”.
toriadores Para Compreensão Da História. RODRIGUES, Flavio Napole. A Física na Medição do Tem-
po. Rio de Janeiro: UFRJ, 2012, p 01 e 02.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Identifique as afirmações com (V) para verdadeiro ou (F)


para falso, sendo a sequência de cima para baixo, e mar-
que a alternativa correta.

(  ) O autor sugere que existe uma limitação no tempo


histórico.

234
(  ) A cronologia apontada pelo autor não é suficiente ORGANIZAÇÃO ESPACIAL
para medir o tempo e não soluciona totalmente a pro-
blemática do calendário histórico em questão. As diferentes escalas de organização espacial e regio-
(  ) O homem optou por medir o tempo e criou inúme- nal, permeia a formação de aglomerados uranos e tam-
ros instrumentos ao longo da História para esse fim. bém núcleos rurais, além de organizar as características
(  ) O autor demonstra que o homem passou a medir o da vida na sociedade. Portanto, para começarmos essa
tempo não somente com instrumentos, mas também se análise, devemos compreender a diferença existente en-
apoiou nos efeitos da natureza. tre um município e uma cidade.
(  ) Segundo o autor, a medição do tempo foi revolu- Sendo assim, o município é a área territorial total admi-
cionária ao longo da Idade Média após a invenção da nistrada por uma prefeitura e o conjunto de vereadores. É
ampulheta e do relógio de pulso. a divisão de um estado em várias partes, ou seja, em vários
(  ) O calendário explicitado pelo autor soluciona toda municípios. Eles possuem a sua divisa legalmente delimitada,
a problemática humana no que se refere à medição do contando, inclusive, com várias cidades em seu território.
tempo histórico. Quando pensamos em cidade, a cidade nada mais é
do que a parte mais urbanizada do município. Se for um
a) V, V, F, V, F, V. agrupamento residencial muito pequeno e isolado, não
b) V, F, V, V, V, F. chamamos de cidade, mas sim de vila, povoado ou no-
c) F, F, V, V, V, V. mes equivalentes. Portanto, ao falarmos de cidade, esta-
d) F, F, V, V, F, F. mos nos referindo a uma área que apresenta grande ou
e) F, V, V, V, V, V. média concentração de pessoas, além de ruas, bairros,
escolas, entre outros.
Resposta: Letra D Portanto, se fosse perguntado, qual é maior cidade do
Em nenhum momento do texto o autor versa sobre país, a resposta seria “São Paulo”, pois essa cidade é a mais
tempo histórico. Além disso, ao falar das formas de populosa, afinal um município, como já dissemos, pode
medir o tempo, o autor não cita a invenção do reló- ter várias cidades ou distritos. A cidade principal é chama-
gio de pulso, nem a qualifica como revolucionária. da de distrito-sede, enquanto as menores não possuem
Ele, apenas, cita variadas formas de medida de tempo autonomia municipal, ou seja, não são emancipadas.
criadas pelo homem e, ao fazê-lo, não explicita todas
as variáveis criadas pela humanidade nesse senti- #FicaDica
do. Logo, não encerra a problemática humana nesse
sentido. O município é um território composto por
uma área rural e algumas áreas urbaniza-
3. As sociedades mudam suas práticas sociais e conser- das, que chamamos de cidades.
vam outras através da sua convivência no decorrer do
tempo histórico. Na época da colonização portuguesa,
havia, no Brasil, uma sociedade marcada pela escravidão Devido ao crescimento, as cidades passaram a ser di-
e a injustiça social. Nos engenhos produtores de açúcar, vididas por bairros, assim sendo, para facilitar a localiza-
ção dos endereços. Os bairros são compostos por casas,
a) predominava o trabalho escravo e o poder dos pro- edifícios residenciais e comerciais, escolas, parques e
prietários, sem a interferência da religião, ausente do praças públicas. São formados também pela comunida-
núcleo de dominação. de, ou seja, o grupo de pessoas que moram no bairro.
b) havia mais liberdade social do que nos centros urba-
nos, devido à presença de núcleos de trabalho livre em
quantidade expressiva. FIQUE ATENTO!
c) permaneciam relações de poder patriarcais na vida so- Uma casa é um edifício para habitar, o ter-
cial, sendo a riqueza produzida importante para Por- mo costuma ser usado para fazer referência
tugal e sua colonização. à construção de um ou vários andares, des-
d) mantinham-se práticas sociais hierarquizadas para os tinada à habitação de uma única família, em
escravos, havendo liberdade para as mulheres. oposição aos edifícios de múltiplos aparta-
e) existia uma participação dos valores do catolicismo mentos. Exemplos: “A minha tia vive numa
numa luta cotidiana contra a escravidão dominante casa com jardim e piscina”, “Eu adorava viver
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

nas relações sociais. numa casa porque me sinto como uma pri-
sioneira neste apartamento”, “Os delinquen-
Resposta: Letra C tes invadiram a casa e ameaçaram o casal de
A sociedade colonial era religiosa, patriarcal e, no perí- velhinhos”.
odo açucareiro, polarizada entre senhores e escravos.
O trabalho escravo era a base da atividade produtiva, Quando moramos muito tempo em um bairro passa-
baseada no latifúndio monocultor e exortador, respon- mos a conhecer várias pessoas e nos tornamos amigos. Isso
sável pelo enriquecimento da metrópole portuguesa. é muito bom porque conviver com pessoas conhecidas nos
dá segurança e tranquilidade. É dever de todos  cuidar e
manter o bairro em que vivemos em ordem, respeitando
os direitos e os deveres de toda a comunidade.

235
Cada um pode  cooperar com a organização do bair- termo como sendo  o espaço geográfico apropriado e
ro como: não fazer bagunça e algazarra, cuidar das praças delimitado por relações de soberania e poder. Em alguns
e parques, mantendo seus objetos e ornamentos conserva- casos, o território possui fronteiras fixas e muito bem de-
dos, não jogar lixo nas ruas, ser mais tolerante com os vizi- limitadas (a exemplo do território brasileiro); em outros,
nhos, não destruir os telefones públicos, entre outras formas. seus limites não são muito claros (como o território deli-
Os bairros possuem pequenas  associações que são mitado por algum grupo terrorista ou por um consórcio
formadas para buscar os interesses das pessoas que ali de grandes empresas).
moram. Os dirigentes dessas organizações mantêm con- Portanto, quando falamos, por exemplo, em “território
tato com pessoas importantes, como os vereadores, a brasileiro”, não estamos falando do Brasil propriamente
fim de exigir o cumprimento dos direitos da comunidade. dito, mas do seu espaço delimitado correspondente, de-
Os bairros variam de acordo com a condição eco- limitação essa exercida por meio de um domínio que é
nômica das pessoas  que nele habitam, podendo ser reconhecido internacionalmente, o qual chamamos de
mais sofisticados ou mais simples. Alguns deles foram soberania. Por assim dizer, podemos entender que o Bra-
formados em áreas que proporcionam perigo para a sil é soberano sobre o seu território, exercendo sobre ele
comunidade, como as favelas construídas em cima dos a sua vontade, ou seja, os interesses de seus habitantes.
morros.  Além de não receberem condições adequadas Assim sendo, a soberania territorial é exercida pelo
de moradia, como saneamento básico, correm o risco de Estado  brasileiro. Perceba que esse termo, com “E”
serem arrastados pelos desmoronamentos em época de maiúsculo, difere-se do estado (com “e” minúsculo), que
chuva. A fiação de energia elétrica também é um fator de é apenas uma unidade federativa ou uma província do
risco, pois comumente são feitos os “gatos” – ligações país. O Estado é, portanto, um conjunto de instituições
irregulares, captando energia da rua para as casas, ofere- públicas que administra um território, procurando aten-
cendo risco de acidentes graves e morte. der os anseios e interesses de sua população. Dentre
essas instituições, podemos citar as escolas, os hospitais
públicos, os departamentos de política, o governo e mui-
#FicaDica tas outras.
Um bairro é uma subdivisão de uma cidade
ou localidade, que costuma ter uma identi-
dade própria e cujos habitantes partilham #FicaDica
um sentido de pertença. É necessário, contudo, estabelecer a diferen-
ça entre Estado e País. Enquanto o primeiro
Podemos classificar os bairros em residenciais, aque- é uma instituição formada por povo, terri-
les nos quais prevalecem as residências; com pequenos tório e governo, o segundo é um conceito
comércios para facilitar a vida das pessoas, como pada- genérico referente a tudo o que se encon-
rias, açougues, quitandas e frutarias, lojas de presentes, tra no território dominado por um Estado
etc. Nos comerciais prevalecem as lojas, são movimenta- e apresenta características físicas, naturais,
dos em razão do grande número de lojas que possuem, econômicas, sociais, culturais e outras. No
sendo que essas variam muito em todos os artigos, como nosso caso, o Brasil é o país e a República
lojas de sapatos, roupas, tecidos, brinquedos, materiais Federativa do Brasil é o Estado.
de construção, bancos, etc. Já os bairros industriais ficam
mais afastados dos centros das cidades. Neles são en- Por outro lado, o conceito de Nação, por sua vez,
contradas as indústrias de alimentos, indústrias têxteis, também possui suas diferenças e particularidades em
de materiais de construção, produtos farmacêuticos, etc. relação aos demais termos supracitados. Nação significa
uma união entre um mesmo povo com um sentimento
de pertencimento e de união entre si, compartilhando,
FIQUE ATENTO! muitas vezes, um conjunto mais ou menos definido de
Para melhor compreendermos algumas no- culturas, práticas sociais, idiomas, entre outros. Assim
ções geográficas, geopolíticas e sociais do sendo, nem sempre uma nação equivale a um Estado, ou
mundo que nos envolve, muitas vezes pre- a um país ou, até mesmo, a um território, havendo, dessa
cisamos compreender corretamente alguns forma, muitas nações sem território e sem uma soberania
conceitos que nos servem de base para es- territorial constituída.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tudar e analisar a realidade. Dentre esses


conceitos, podemos citar os de Estado, país,
não e território, termos diferentes entre si,
mas que costumam se inserir em um mesmo
contexto.

É importante, primeiramente, definir o que é territó-


rio. Na Geografia, assim como ocorre com a maioria dos
conceitos básicos de todas as ciências humanas, não há
um consenso exato sobre o que seja, simplificadamen-
te, o território. Mas, aqui, podemos compreender esse

236
FIQUE ATENTO!
EXERCÍCIOS COMENTADOS
A Espanha é um exemplo clássico de Estado
multinacional, ou seja, com um grande nú-
mero de nações vivendo em seu território. 1. A análise geográfica é feita a partir de várias lentes e
Existem os espanhóis, mas também existem conceitos. Assim, é preciso conhecer bem esses concei-
os catalães, uma nação atualmente sem um tos para que a leitura da sociedade e do espaço seja feita
Estado soberano e, portanto, sem um ter- de forma adequada. Pensando por esse prisma, observe
ritório político definido, além dos bascos, o conceito a seguir:
navarros e alguns outros. A maior parte
dessas nações reivindica, inclusive, a criação “É uma instituição formada por povo, território e governo.
de seus Estados independentes, com a deli- Representa, portanto, um conjunto de instituições públicas
mitação de seus respectivos territórios, algo que administra um território, procurando atender os an-
que ainda não foi conseguido. seios e interesses de sua população.”
A que conceito refere-se a afirmação acima?

a) Território
Muitos Estados, para garantirem o exercício de suas b) Nação
soberanias em seus territórios, tentam criar entre os seus c) Estado
habitantes um sentimento nacional, ou seja, a ideia de d) Governo
que aquele país equivale a uma nação geral, o que cos- e) País
tuma ser chamado de nacionalismo. O estímulo ao na-
cionalismo é visto com bons olhos por muitas pessoas Resposta: Letra C. O Estado corresponde ao conjunto
no sentido de essas valorizarem os seus territórios e suas de instituições no campo político e administrativo que
populações, mas é preciso ter cuidado, pois os fatos his- organiza o espaço de um povo ou nação. Para o Esta-
tóricos já demonstraram que um nacionalismo extremo do existir, é necessário que ele possua o seu próprio
pode provocar uma onda de fascismo. Nesse caso, o go- território e que exerça sobre este a sua cidadania, ou
verno e até as pessoas passam a considerar que a sua seja, o Estado deve ser a autoridade máxima na área a
nação (ou “raça”) é naturalmente superior às demais, jus- ele correspondente.
tificando ações bélicas e formas de preconceito diversas,
tal qual foi o caso do Nazismo na Alemanha em meados 2. A respeito do conceito de território, é correto afirmar
do século XX. que:
Por fim, é preciso compreender o que é um Continen-
te e um País, sendo assim, um Continente é uma grande I) Ao nos referirmos ao território brasileiro, referimo-nos
massa de terra cujas fronteiras são definidas por ocea- ao espaço soberano reconhecido internacionalmente.
nos. Um país é definido principalmente por fronteiras II) Os limites do território podem ser bem definidos ou
geopolíticas. Um País, é definido como uma região ou não muito claros. As fronteiras podem variar de acordo
uma área de terra, que é controlada pelo seu próprio go- com o espaço em análise.
verno. O termo “continente” é definido como as grandes III) Na Geografia, há um consenso exato sobre o que seja
massas de terra do planeta. o conceito básico de território. Esse conceito é único para
Desta forma, existe um total de sete continente no todas as análises espaciais, sociais e territoriais.
mundo e todos os países pertencem a um dos sete con- IV) É possível entender o conceito de território como
tinentes, que na atualidade são representados por 196 sendo o espaço geográfico apropriado e delimitado por
países em todo o mundo. relações de soberania e poder.

Estão corretas as alternativas:


FIQUE ATENTO!
  O termo “continente” é derivado da  pala- a) I, III e IV.
vra latina “continere” que significa “manter b) I, II e IV.
juntos”. Temos sete continentes no mundo, c) I e III.
sendo eles: Ásia, Austrália, África, Antártica, d) Todas as alternativas.
América do Norte, América do Sul e Europa.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

e) Apenas a alternativa IV.

Resposta: Letra B. A alternativa III está incorreta por-


que, na Geografia, assim como ocorre com a maioria
dos conceitos básicos de todas as Ciências Humanas,
não há um consenso exato sobre o que seja, simpli-
ficadamente, o território. O conceito é construído de
acordo com a análise espacial a ser realizada e o enfo-
que teórico escolhido.

237
3. “Significa uma união entre um mesmo povo com
um sentimento de pertencimento e de ligação entre si, HORA DE PRATICAR
compartilhando, muitas vezes, um conjunto mais ou me-
nos definido de culturas, práticas sociais, idiomas, entre
outros.” 1. SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA - SP (SESI/SP) -
ANALISTA PEDAGÓGICO - SUPERIOR- CENTRO DE
Esse fragmento explica um conceito importante da análi- SELEÇÃO E DE PROMOÇÃO DE EVENTOS (CESPE)
se espacial. Que conceito é esse? - 2008 Assinale a opção correta a respeito de concei-
tos relacionados a alfabetização e letramento, conforme
a) Estado proposta de Magda Soares.
b) povo
c) território a) Alfabetizar e letrar são duas ações distintas, mas não
d) nação inseparáveis, sendo ideal ensinar a ler e escrever no
e) país contexto das práticas sociais de leitura e escrita.
b) Letramento corresponde ao processo pelo qual se ad-
Resposta: Letra D. A nação tem seu conceito ligado quire a tecnologia de codificar em língua escrita e a de
à identidade, à cultura e aos aspectos históricos. Por decodificar a língua escrita.
isso, pode ser entendida como um agrupamento ou c) Alfabetizado é não só aquele que sabe ler e escrever,
organização de uma sociedade que partilha dos mes- mas aquele que responde às demandas sociais de lei-
mos costumes, características, idioma, cultura e que já tura e escrita.
possuem uma determinada tradição histórica. d) Como alfabetizar e letrar são duas ações distintas, é
necessário que o sujeito tenha aprendido a ler e escre-
ver para envolver-se nas práticas de leitura e escrita.

2. (UFRN – COMPERVE – 2017) Para Piaget, o cresci-


mento cognitivo é um processo que ocorre em duas eta-
pas: pela assimilação e pela acomodação. Tal processo
é acompanhado de três princípios inter-relacionados,
quais sejam: 

a) assimilação, esquema e acomodação. 


b) esquema, organização e acomodação. 
c) organização, adaptação e equilíbrio. 
d) equilíbrio, organização e esquema. 

3. TJ – PE (Tribunal de Justiça de Pernambuco) – Ana-


lista Judiciário – Superior – FCC (Fundação Carlos
Chagas) 2011
A formação continuada dos professores é uma impor-
tante ação para o aperfeiçoamento e atualização das
práticas docentes. Uma estratégia privilegiada para o
desenvolvimento de uma formação voltada a garantir o
compromisso com a qualidade da ação educativa é

a) o fornecimento gratuito de curso pelas redes educa-


cionais municipais e estaduais, visto que é um dever
do estado proporcionar o desenvolvimento do profis-
sional docente.
b) o desenvolvimento de cursos de pós-graduação, nos
quais os docentes poderão aperfeiçoar seus conheci-
mentos teóricos a respeito de temas de seu interesse.
c) a implementação de formações nas unidades escola-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

res, nas quais os docentes poderão refletir sobre sua


prática e trocar informações junto a seus pares.
d) o estabelecimento de quantidade e periodicidade mí-
nima para o desenvolvimento de cursos para recicla-
gem dos docentes.
e) a exigência de que cada professor, após sua formação
inicial, continue a se aperfeiçoar por meio de curso de
pós-graduação stricto-sensu.

238
ANOTAÇÕES
GABARITO

1 A ___________________________________________________________
2 C ____________________________________________________________
3 C
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

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239
ANOTAÇÕES

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

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